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Psicologia Familiar

1º SEMESTRE- 2015
Psicologia Familiar
Nós
Famílias:
Como a Psicologia pode
contribuir?
PSICOLOGIA FAMILIAR- AULA 2
O que são as famílias?

 Chegamos ao mundo incapazes de sobreviver sozinhos(as)


 Período prolongado de dependência
 Importância e centralidade do cuidado
 Os cuidados são indispensáveis para a sobrevivência física
 Os cuidados são indispensáveis para nos tornarmos quem somos, para
desenvolvermos nossa vida psíquica ativamente e criativamente
O que são as famílias?

 A dedicação intensa e contínua necessária para o cuidado é atravessada


por afetos
 Famílias: caldeirões afetivos
 Assim, as famílias pode ser definida como a rede que propicia
cuidados, permeada por afetos.
O que são as famílias?

 Rede que propicia cuidados, permeada por afetos


 Vínculos significativos
 Grande influência na formação, na construção de quem somos
 Muitos sentimentos... e também ressentimentos
 Carinho, dedicação, amor
 Raiva, rancor, agressividade
O que são as famílias?

 Importância de refletirmos criticamente sobre os modelos idealizados


que colocam a família como sinônimo de felicidade plena e amor
incondicional
 Muitas formas de violência têm na família seu contexto mais frequente
O que são as famílias?

“(...) uma família é composta por aqueles que


nunca foram nem serão indiferentes entre si,
porque eles são a fundação sobre a qual se
equilibra tudo aquilo que vamos construindo e
transformando em nós mesmos”
(Diana Corso e Mário Corso, A Psicanálise na Terra
do Nunca, 2001, p. 210- 211).
Como são as relações familiares?

 Cuidado
 Proximidade
 Contato = Atrito
 Conflitos
 Ambivalência
Os Feridos das Festas
Contardo Calligaris

“No dia 1º de janeiro, os prontos-socorros recebem sempre alguma vítima


dos fogos de artifício do Réveillon.

Retomando o trabalho depois dos feriados, os psicoterapeutas e os


psicanalistas também costumam atender os feridos da estação. São as
vítimas de rojões tão explosivos quanto os outros: os encontros de família
das festas de fim de ano.

Existe uma explicação básica para essa patologia: o Natal, em particular,


idealiza a reunião de família a tal ponto que uma decepção é dificilmente
evitável”.
Conflito

“Seja de qual tipo forem, as famílias parecem ter


como vocação o conflito entre seus membros.
Algumas famílias têm grandes brigas nas ocasiões
festivas, outras se focam em torno de disputas
monetárias, são comuns os desentendimentos a
respeito da distribuição de responsabilidades e
tarefas, outras convivem com um silêncio contido,
que nem por isso guarda menos fantasmas em
seu interior”
(Diana Corso e Mário Corso, A Psicanálise na Terra
do Nunca, 2001, p. 505- 506).
Culpas e ressentimentos

“Para aqueles que marcaram nossa personalidade nos


anos de formação, geralmente reservamos inúmeras
queixas, considerando que o pai foi fraco ou forte demais,
enquanto a mãe é julgada presente ou ausente em
excesso. A família como um todo tampouco escapa dessa
crítica mordaz: será considerada sufocante ou dispersa,
infantilizante ou gélida. (...) A família é a grande
destinatária da tendência, humana e universal, de
terceirizar nossos fracassos e justificar nossas frustrações,
jogando a culpa pelo nosso destino nos outros”
(Diana Corso e Mário Corso, 2011, p. 211).
Como são as relações familiares
hoje?

 A forma como compreendemos e como nos organizamos como famílias


hoje é historicamente muito recente
 Antes: famílias mais extensas
 Recentemente: família nuclear
 Hoje: múltiplos arranjos familiares
 Família nuclear: a família tem como base a escolha e a escolha tem como
base o amor
 Discurso recorrente: “a família está em crise”
A família hoje está em crise?

 Desde quando a família se considera em crise?


 A família se considera em crise desde o momento que ela passou a se
considerar como família.
A família hoje está em crise?

 Anos 60 e 70: a família era criticada como berço da loucura


 Maio de 68: contestação da família e de qualquer forma de
relação de poder e autoridade na busca por relações mais
livres
 Família = aprendizado da submissão e da docilidade
 Reforma psiquiátrica: o que fazer?
A família é enlouquecedora?

 Atualmente: muitos manuais que ensinam como as famílias


devem ser, como as famílias podem melhorar, como as
famílias devem educar...
 A família promove loucura ou saúde?
 Família sim... Ou família não?
Como é a educação hoje?

 Quem cuida acha que tem muito pouco para ensinar, mais a desabrochar, a
desenvolver
 É grande o medo de traumatizar, o que culmina em uma espécie de
ausência
 Muitas pessoas, principalmente mães, têm a sensação de que falhar na
educação do(a) filho(a) seria como criar um monstro, como acionar uma
bomba
Famílias: como a Psicologia pode
contribuir?

 Não cabe à Psicologia dizer como uma família deve ser


 Não cabe à Psicologia alimentar um modelo de família “normal”
 Não cabe à Psicologia ensinar como educar como se crianças funcionassem
de acordo com um manual de instruções
 A Psicologia pode contribuir para uma compreensão mais ampla sobre as
famílias
 Reconhecimento do conflito e da ambivalência como constituintes das
relações, não como algo a ser evitado, eliminado, mas sim, refletidos,
ressignificados
 Resgate da experiência: pessoas como capazes de fazer escolhas e
significar o que vivem
A Importância do Cuidado

 Profissionais da saúde
 Profissionais da educação
Como nos tornamos humanos?

Como somos
 Recebidos?
 Acolhidos?
 Protegidos?
 Inseridos?
 Reconhecidos?
 Interpelados?
 Cuidados?
Por que os cuidados são
importantes?

 Chegamos a um mundo que não entendemos, que não estamos


preparados para representar, para elaborar, para lidar
 São os cuidados que recebemos que promovem a possibilidade de
criarmos sentido, de que aquilo que percebemos tenha forma,
sequência, inteligibilidade, significado
Por que os cuidados são
importantes?

“Nascemos prematuros e despreparados se


comparados com outras espécies de animais; sem
cuidados físicos intensivos, morremos; sem um
grande investimento sobre nós, definhamos física
e psiquicamente. Ao nascer estabelecemos uma
espécie de continuidade com aquele que
desempenha a função materna em nossa vida.
Vivemos nesse outro ser humano que nos olha,
embala, fala conosco, zela por nós e nos inclui em
seus pensamentos e desejos. Existimos através
dele, a partir dele, na sua continuação ”
(Diana Corso e Mário Corso, A Psicanálise na Terra
do Nunca, 2001, p. 948).
Quem é aquele(a) que cuida?

 Cada pessoa que cuida é definida por sua presença


implicada, comprometida e atuante.
Formas de Cuidado

Formas de cuidado Funções


Sustentação (holding) Acolher
Hospedar
Agasalhar
Alimentar
Limpar
Proteger
É o que nos propicia continuidade física e psíquica
Base para o crescimento emocional e para a capacidade de sonhar
Reconhecimento Atenção
Espelhamento
Cumplicidade
Olhar para o que temos de próprio e singular
Interpelação Alteridade
Diferença
Outro como um enigma
Outra pessoa como incompleta, desejante, vulnerável
Demandas, exigências, convocações
Como os excessos podem interferir
nas formas de cuidar?

 Sufoco
 Aprisionamento psíquico
 Imobilidade
 Incapacitação
O que é fundamental para
cuidar?

“Cabe ao agente de cuidados oferecer ao objeto de seu


cuidado um espaço vital desobstruído, não saturado por sua
presença e seus fazeres. É neste espaço vital que o sujeito
poderá exercitar sua capacidade para fantasiar, sonhar,
brincar, pensar e, mais amplamente, criar o mundo na sua
medida e seguindo suas possibilidades. (...) Da alucinação, do
sonho e da brincadeira decorrem todos os processos psíquicos
criativos a que o sujeito pode ter acesso e de que pode se
apropriar. O pensamento mais racional e abstrato tem suas
raízes e condições de possibilidade na alucinação, no sonho e
na brincadeira” (Luís Cláudio Figueiredo, 2007, p. 22).
A importância dos vínculos

 Envolvimento
 (Des)envolvimento
Como é o cuidar atualmente?

“Estamos pouco preparados para cuidar, acompanhar os doentes,


receber os moribundos em seus últimos passos, estudar com os filhos,
escutar os amigos etc. Nossa capacidade de prestar atenção uns nos
outros, por exemplo, parece drasticamente reduzida. Recuperar esta
capacidade me parece uma tarefa urgente e preciosa, tanto para os
agentes de cuidados- entre os quais o psicólogo-, quanto para todos
os humanos” (Luís Cláudio Figueiredo, 2007, p.28).
INTRODUÇÃO
Os Cegos do Castelo
Titãs E se você puder me olhar
E se você quiser me achar
E se você trouxer o seu lar
Eu não quero mais mentir
Eu vou cuidar, eu cuidarei dele
Usar espinhos que só causam dor
Eu não enxergo mais o inferno que me atraiu Eu vou cuidar
Dos cegos do castelo me despeço e vou Do seu jardim
A pé até encontrar Eu vou cuidar, eu cuidarei muito bem dele
Um caminho, o lugar Eu vou cuidar
Pro que eu sou
Eu cuidarei do seu jantar
Do céu e do mar, e de você e de mim
Eu não quero mais dormir
De olhos abertos me esquenta o sol
Eu não espero que um revólver venha explodir
Na minha testa se anunciou
A pé a fé devagar
Foge o destino do azar
Que restou
Questão

 Relacione a importância do cuidado com as possibilidades de atuação da


Psicologia junto às famílias.
Leituras

 “Metapsicologia do Cuidado”- Luís Cláudio Figueiredo.


 “A família em mutação”- Diana e Mário Corso.

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