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Teoria da

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Inteligência
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Multifocal e Gestão
Aqui
da Emoção
Os Bastidores da Mente Humana

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Augusto Cury

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Os Bastidores da Mente Humana

Fonte: Getty Images


Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:
• Introdução;
• O Processo de Interpretação;
• A Memória Humana;
• O Processo de Construção dos Pensamentos À Luz da Teoria
da Inteligencia Multifocal;
• O Que Tudo Isso Tem a Ver com a Aprendizagem?
• Circuito Fechado da Memória;
• As Armadilhas da Mente Humana;
• Atuação do Eu no Processo de Construção do Pensamento.

Objetivo
• Conhecer os principais fenômenos psíquicos envolvidos na construção dos pensamentos,
os papéis consciente e inconsciente da memória e a formação e intervenção do Eu como
líder de si mesmo, frente às armadilhas da mente.

Caro Aluno(a)!

Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl-
timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material
trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas.

Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você
poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns
dias e determinar como o seu “momento do estudo”.

No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões


de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e
auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de
discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de
propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de
troca de ideias e aprendizagem.

Bons Estudos!
UNIDADE
Os Bastidores da Mente Humana

Contextualização
Se considerarmos a personalidade humana como um grande edifício, a maioria dos
seres humanos nunca saiu do piso térreo, da sala de recepção. A maioria jamais entrou
no subsolo da sua mente nem nos andares mais elevados da sua inteligência. São des-
conhecidos de si próprios.

Perdemos muitas oportunidades de aprendizagem e crescimento, por exemplo, por


rotularmos as pessoas ou reagirmos a determinadas situações de acordo com experiên-
cias passadas que não têm base no presente.

Um indivíduo que poderia ser um exímio profissional por ser capaz de alavancar a
carreira, pode tornar-se seu próprio inimigo por conta de algumas convicções e emo-
ções tóxicas.

Outras vezes, deixamos de aprender lições importantes com uma pessoa, simplesmen-
te, porque sentimos antipatia por ela. Na maior parte das vezes, não questionamos as
nossas emoções e pensamentos. Nós nos deixamos dominar por eles, permitindo que
se tornem grandes entraves em nossos relacionamentos ou na nossa carreira profissional.

Quantas vezes seguimos instruções ou acreditamos em informações sem questionar?


Quantas vezes agimos por impulsividade e nos arrependemos depois? Quantas vezes,
por um apelo da mídia, por padrões sociais, ou por necessidade de sermos aceitos
somos levados a comprar determinado produto ou marca ou ir a certos lugares? Se isso
acontece, onde fica nossa liberdade de escolha?

O objetivo desta Unidade é proporcionar reflexões acerca de como podemos


ser manipulados ou presos em armadilhas mentais quando não conhecemos os basti-
dores da mente e não aprendemos a questionar nossas verdades e nossos pensamen-
tos perturbadores.

Estudaremos, aqui, o processo da interpretação e da construção dos pensamentos e


o território multifocal como fruto da construção e da atuação crítica do Eu.

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Introdução
A Teoria da Inteligência Multifocal engloba a Psicologia Multifocal (o funcionamento
da mente, o desenvolvimento da personalidade, a construção de pensamentos e a for-
mação do Eu), a Sociologia Multifocal (o processo de construção das relações sociais), a
Psicopedagogia Multifocal (o processo de aprendizagem e de formação de pensadores),
a Filosofia Multifocal (o processo de interpretação e a lógica do conhecimento).

Segundo essa teoria, o Eu representa nossa consciência crítica, nossa capacidade de


escolha, de filtrar os estímulos psíquicos. Ele entra no segundo momento em que todo esse
teatro psíquico (pensamentos e emoções) já está armado pelos fenômenos inconscientes.

Cuidar de nosso futuro emocional e interpessoal é de capital relevância. É muito mais


fácil desenvolver um Eu com “defeitos” estruturais: radical, extremista, robotizado, fó-
bico, obsessivo, tímido, inseguro, omisso, dissimulador, intolerante, impulsivo, ansioso,
hipersensível, insensível, controlador, punitivo, autopunitivo, com necessidade neurótica
de poder, de evidência social e, até mesmo, de estar sempre certo.

Quem não tem alguns desses defeitos, ainda que minimamente? Que psiquiatra, psi-
cólogo ou médico não tem avarias em seu arcabouço psíquico?

O problema não é tê-las, mas reconhecê-las. A questão não é só reconhecê-las, mas


saber o que fazer com elas.

Só se acha perfeito quem nunca se arriscou a sair da superfície. Temos a possibili-


dade de ficar na superfície ou de entrar em camadas mais profundas da nossa mente.
É uma escolha fascinante. Uma coisa é possível afirmar: quem procurar conhecer os
mecanismos básicos da formação do Eu terá grande chance de nunca mais ser ou pen-
sar da mesma maneira.

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UNIDADE
Os Bastidores da Mente Humana

O Processo de Interpretação
Querido(a) aluno(a), para iniciarmos nossa jornada, peço que observe fixamente a
imagem a seguir e responda se ela está parada ou em movimento.

Figura 1
Fonte: plato.stanford.edu

Sabemos que está parada, mas nosso cérebro interpreta como se ela estivesse em
movimento. Trata-se de uma ilusão de ótica.

Isso se dá devido à combinação de cores e sombras da figura, portanto, a imagem


ganha movimento em nossa mente.

Quer outro exemplo?

Veja o vídeo a seguir e responda se o trem está indo ou vindo em sua direção?
Ilusiotrem. Disponível em: https://youtu.be/7Rg9CCqYuPY

Se você vê o trem indo, você está certo. Mas se você vê o trem vindo, você também
está certo.

Nossa mente possui limitações de percepção e nosso corpo possui limitações físicas,
não conseguimos captar a complexidade da realidade com nossos órgãos sensoriais.

Existem interferências do mundo externo e interno que alteram essa percepção do


real; nós não temos o alcance do todo. Não conseguimos nos voltar para tudo ao mesmo
tempo, observar todos os Fenômenos, captar o todo da realidade complexa.

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E como isso pode impactar nosso dia a dia?
Nossos relacionamentos?

Como vimos na Unidade anterior, nossos pensamentos são de natureza virtual.


Os pensamentos não são reais em si mesmos, não retratam a realidade de forma fidedig-
na, pois não incorporam o objeto pensado, é apenas uma interpretação dele.

Tudo o que eu e você pensamos sobre nós mesmos e sobre os outros não é real,
mas fruto de um sofisticado sistema de interpretação. E toda interpretação é passível de
inúmeras distorções devido a:
• Fatores internos, por nossos modelos mentais, conceitos e preconceitos, crenças
e valores, isto é, por todas as Janelas da Memória arquivadas durante toda a nos-
sa existência;
• Fatores externos, como na imagem acima, por ilusão de ótica.

Phil McAleer, pesquisador do Laboratório de Neurocognição da Voz da Universidade


de Glasgow, na Grã-Bretanha, coordenou um estudo mostrando que as pessoas tiram
conclusões imediatas sobre a personalidade de um falante, apenas pelo tom vocal.

O estudo foi aplicado com 320 pessoas que relatavam suas impressões após ouvir às
gravações de diferentes indivíduos dizendo “olá”, com base em dez critérios.

A partir desse estudo, afirmam a importância do tom vocal na formação em julga-


mentos de personalidade baseados em uma primeira impressão, em apenas 300 a 500
milésimos de segundos.

Phil McAleer | Ph. D. | University of Glasgow, Glasgow | UofG | School of Psychology.


Disponível em: http://bit.ly/2U4CZ2u

Outro estudo, conduzido para Empresa de cosméticos Dollar Shave Club, com 2 mil
americanos, revelou que a primeira impressão sobre as pessoas é formada em menos de
30 segundos, sem ao menos conversar com a pessoa.

Primeira impressão: estudo revela em quanto tempo ela é formada.


Disponível em: http://bit.ly/38KXFAE

Vamos refletir um pouco a respeito. Se apenas em alguns segundos somos capazes


de formar uma primeira impressão de alguém, e se nossas interpretações não são fide-
dignas, mas baseadas em nossos arquivos da memória, passíveis de distorções também
de fatores externos, podemos supor que somos mais propensos a cometer erros de
julgamentos quanto menos conhecemos alguém.

Nossas interpretações podem estar, então, macro ou micro distantes da realidade.


Quanto mais nos permitimos conhecer alguém ou uma situação, praticamos o olhar

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Os Bastidores da Mente Humana

multifocal, questionamos nossos pensamentos e nossas verdades, mais próximos fica-


mos da realidade. Dessa forma, ampliamos as possibilidades de interpretação e de agir
de forma mais assertiva e eficaz.

Se estivermos conscientes de todas essas limitações da percepção mental e das in-


terferências externas e internas que acontecem a todo momento, vamos desenvolver,
no mínimo, uma postura mais humilde e crítica diante de nossas próprias convicções e
julgamentos. Vamos aprender a pensar antes de agir e reagir, a nos colocar no lugar do
outro e a entender que a limitação não é só do outro, mas nossa também.

A Memória Humana
A memória é uma das estruturas mais misteriosas e fundamentais da inteligên-
cia humana.

A localização anatômica da memória no córtex cerebral, bem como a fisiologia e a


bioquímica dela pertencem à área de pesquisa da Neurociência.

Aqui, estudaremos algo mais importante do que sua anatomia: seus papéis e o supor-
te na construção do mundo intelectual.

Áreas da Memória
O conceito global de Inteligência Multifocal retrata três grandes áreas. As duas pri-
meiras são inconscientes e a última, consciente.

A primeira área corresponde à atuação dos Fenômenos inconscientes que constro-


em, resgatam e organizam as informações na memória.

A segunda área corresponde à atuação das variáveis que influenciam os fenômenos


que leem a memória e produzem os pensamentos, imagens mentais, ideias e fantasias
das variáveis da interpretação intraorgânicas, intrapsíquicas e extrapsíquicas:
• Variáveis intraorgânicas: carga genética, drogas psicotrópicas, distúrbios metabó-
licos, doenças orgânicas;
• Variáveis intrapsíquicas presentes no momento da interpretação de cada estímulo:
» Qualidade da energia emocional: stress, ansiedade, humor, reação fóbica, pra-
zer etc.;
» Qualidade da energia motivacional: ímpeto, desejo etc.;
» Qualidade do conteúdo da história de vida (memória);
• Variáveis extrapsíquicas:
» Stress psicossocial; ambiente sociofamiliar, estímulos socioeducacionais;
» Perdas, frustrações existenciais, adversidades, contrariedades, apoio, segurança,
rejeição etc.

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A primeira e a segunda grande áreas formam a terceira área, que corresponde aos
comportamentos perceptíveis do ser humano, capazes de serem analisados, avaliados
e aferidos, tais como a rapidez de raciocínio, o nível de tolerância e a capacidade de
gerenciamento do Eu.

Fenômenos inconscientes
– RAM
– Janela da Memória
– Gatilho da Memória
– Autofluxo

Comportamentos observados
analisados e aferidos
Variáveis
– Intraorgânica: carga genética
– Intrapsíquica: Quem sou?
Como estou? Como atuo na
gestão psíquica?
– Extrapsíquica: Onde estou?
Com quem estou?

Figura 2
Fonte: Adaptado de CURY, 2006

Um aspecto importante é que não existe lembrança das informações contidas na


memória, mas reconstrução delas mesmas.

Partindo dessa premissa, todas as vezes que um arquivo da memória é resgatado,


um novo processo de leitura é feito, com a influência de inúmeros fatores do momento
atual do sujeito – todas as experiências e conhecimentos que adquiriu desde o registro
da memória original, suas emoções atuais e nível de maturidade do seu Eu.

Figura 3
Fonte: Getty Images

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Os Bastidores da Mente Humana

Tipos de Memória
Segundo a Teoria da Inteligência Multifocal, existem três grandes tipos de memória:
• a Memória Genética (MG);
• a Memória de Uso Contínuo (MUC);
• a Memória Existencial (ME).

Para descrevê-las e entender a coexistência e a cointerferência que existe entre elas,


usaremos a metáfora da cidade física.

Nessa metáfora, a Memória Genética (MG), herdada dos nossos pais biológicos, re-
presenta o solo da cidade. É única para cada ser humano, tanto na construção do bioti-
po, expresso pelo tamanho, forma, peso, altura, cor da pele, quanto na construção da
complexa fisiologia, expressa pelo metabolismo, hormônios, neurotransmissores cere-
brais e anticorpos.

Cada uma das características genéticas para o comportamento pode produzir uma
reação em cadeia, que influenciará o processo de interpretação e as experiências emo-
cionais do feto, do bebê, da criança, do adolescente e do adulto. O solo e o clima da
cidade da memória, ou seja, a carga genética, influenciam os alicerces, a estrutura, o
padrão de segurança e a acessibilidade de casas e edifícios que representam as informa-
ções e as experiências arquivadas na MUC e ME, ao longo da existência.

Na metáfora da cidade, a MUC – Memória de Uso Contínuo, é a Memória Consciente.


Ela representa o centro da cidade ou o bairro no qual reside, suas ruas, avenidas, lojas,
farmácias, supermercados, local de trabalho, teatro, enfim, lugares que o Eu frequenta
rotineiramente, que faz parte de sua rotina. A MUC representa, talvez, menos de 1%, de
toda a memória, composta por todas as informações que acessamos diariamente para
desenvolver e dar respostas sociais, tarefas, comunicação, localização tempo-espacial,
operações matemáticas usuais e outras.

A Memória Existencial – ME representa todos os extensos bairros periféricos edifica-


dos desde os primórdios da vida. São regiões do inconsciente ou do subconsciente que
o Eu e outros Fenômenos que constroem cadeias de pensamentos não utilizam frequen-
temente, mas que também nos influenciam.

Fobias, humor depressivo, ansiedade, reações impulsivas, inseguranças que não sa-
bemos de onde vêm ou por que vieram, foram emanadas da ME.

Quem forma a ME é a MUC. Todos os registros são feitos na MUC e a partir daí
serão lidos continuamente. Com o passar do tempo, os registros que deixam de ser utili-
zados de maneira diretiva e constante são, aos poucos, deslocados da MUC para a ME.

Existe uma enorme dança ou um deslocamento da MUC para a ME e vice-versa.

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MG

ME

MUC

Figura 4
Fonte: Adaptado de Getty Images

Diariamente, produzimos inúmeras cadeias de pensamentos, ansiedades, sonhos,


ideias negativas, pensamentos antecipatórios, angústias, prazeres, que são arquivados
automaticamente na memória.

Em um ano, registramos milhões de experiências. O registro das experiências na


memória é involuntário, não depende de nossa vontade. Você pode ser livre para ir onde
quiser, mas não é livre para decidir o que quer registrar na memória.

Se hoje passou por uma angústia, uma situação de medo, uma crise de agressividade,
tenha certeza de que tudo isso está registrado em sua memória.

À medida que as experiências são registradas automaticamente na memória, ocorre


a formação da história de vida ou história da existência.

O Processo de Construção dos Pensamentos


À Luz da Teoria da Inteligencia Multifocal
Construir pensamentos parece uma tarefa intelectual simples, mas até a mais débil
das ideias tem uma construção psicodinâmica extremamente complexa. O processo de
construção e resgate de pensamentos acontece em milésimos de segundos.

Qualquer estímulo externo e interno é registrado, automaticamente, sem a permissão


do Eu, pelo Fenômeno chamado RAM – Registro Automático da Memória. À medida

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que as experiências são registradas automaticamente na memória, ocorre a forma-


ção da história de vida ou história da existência.

Todas as experiências registradas se materializam, metaforicamente, em Janelas, em


nossa psique, acionando um outro fenômeno inconsciente, o Gatilho da Memória ou a
Autochecagem que faz a primeira interpretação da Janela, a partir do acesso a milhões
de Janelas ou áreas de leitura do córtex cerebral.

Enquanto o leitor está lendo esses textos, ele está detonando milhares de vezes o
Gatilho da Memória para abrir as janelas, checar as informações que possui e realizar
o processo de assimilação e de entendimento. Sem o Gatilho da Memória, o EU ficaria
completamente confuso, desorientado, pois não entenderíamos milhares de estímulos
captados pelos sentidos.

A Âncora da Memória é um fenômeno intrapsíquico inconsciente que desloca e é


deslocada psicodinamicamente pelos três outros fenômenos que fazem a leitura da me-
mória: o Gatilho da Memória, Autofluxo e o Eu. A Âncora da Memória, como o próprio
nome diz, fixa em determinadas regiões da memória, restringindo o seu território de
leitura e fornecendo informações para serem utilizadas pelos fenômenos que leem a
memória e constroem pensamentos.

O Autofluxo é uma energia vital que possui dois papéis importantíssimos:


1. Trafegar pela memória, ler e reler contínua e diariamente inúmeros territórios
da memória. Ele faz uma varredura na memória, lendo janelas atuais e antigas,
construindo novas Janelas a partir dessas leituras, desencadeando cadeias de
pensamentos, imagens mentais e fantasias. A cada leitura, ele retroalimenta a
história existencial, multiplicando as Janelas na psique;
2. Produzir a maior fonte de entretenimento humano, o mundo dos pensamentos,
capaz de inspirar, aspirar, desejar, motivar e sonhar. Contudo, se as Janelas de
leitura forem Killer, de tristeza, dor, reclamações, então, o mundo dos pensa-
mentos nos induzirá à angústia e ao humor deprimido.

É importante saber que o Autofluxo não tem consciência se o conteúdo da Janela


é saudável ou não. Onde existe a emoção, ele se aloja e começa repetidamente a retro-
alimentar a experiência e a expandir as Janelas. O Autofluxo pode ser gerenciado, mas
jamais será plenamente controlável. Ele é o representante máximo da ansiedade vital.

As construções de novas Janelas se agregam a outras, formando plataformas em nos-


sa mente. As Plataformas de Janelas, por sua vez, irão determinar e influenciar nossas
atitudes, ações e comportamentos.

Janela da Memória é um território de leitura em um determinado momento exis-


tencial. O desafio de cada ser humano é abrir o máximo de Janelas num determinado
momento, para dar respostas lúcidas e coerentes.

Por meio da leitura das Janelas da Memória é que podemos nos localizar no tempo-
-espaço e resolver questões práticas no dia a dia. É pela leitura das Janelas da memória
que vemos, agimos e reagimos no mundo. Existem três tipos de Janelas em nossa

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memória, que são registradas conforme o impacto emocional: Janelas Neutra, Ligth
e Killer.

As Janelas Light, que significa, na língua inglesa, luz ou leve, são as experiências que
nos causam prazer, alegria, serenidade, coerência, sentimentos positivos e que, por isso
mesmo, ampliam nossa capacidade de reflexão e autoconsciência, tornam-nos flexíveis
e elásticos para as interpretações.

As Janelas Neutras, de baixo impacto emocional, correspondem à cerca de 90% dos


registros de nossa psique. São as milhões de informações, tais como números, endere-
ços, telefones, informações escolares, dados corriqueiros e conhecimentos profissionais,
entre outros dados.

As Janelas Killer, do inglês assassina, são as experiências que nos causaram dor e
tristeza e, se não forem trabalhadas e ressignificadas, causam tensão e limitação em
nossa capacidade de dar respostas inteligentes diante da realidade.

Correspondem a todas as áreas da memória que têm conteúdo emocional angustian-


te, fóbico, tenso, depressivo, compulsivo. Como o próprio nome diz, são Janelas que
assassinam não o corpo, mas o acesso à leitura de inúmeras outras Janelas da Memória,
dificultando ou bloqueando respostas inteligentes em situações estressantes.

Quanto maior o impacto emocional, maior será o registro, formando as Janelas Du-
plo P, que ficam no epicentro da memória. É por isso que nos lembramos de alguns
episódios com clareza e outros caem no esquecimento.

As Janelas Duplo P têm duplo poder: de atrair e de agregar Janelas rapidamente, for-
mando plataformas de Janelas. Quando essas Janelas poderosíssimas são do tipo Light,
representam experiências que tiveram altíssimo impacto emocional positivo e financiam
as características de personalidade mais saudáveis como o altruísmo, a generosidade, ou
são os registros daquelas experiências mais fantásticas que ficaram cravadas em nosso
inconsciente, como o nascimento de um filho, aquela viagem especial e a formatura,
entre outras.

Já as Janelas Killer Duplo P, de altíssima carga emocional negativa, construídas a


partir de estímulos intensamente estressantes, como traição, humilhação pública, ata-
ques de pânico, falência financeira, têm o poder de adoecer o ser humano.

A Plataforma da Memória é representada pelo agrupamento de Janelas e cria nossos


padrões mentais, nossa forma de ver o mundo, a nós mesmos e a maneira como inter-
pretamos a realidade.

Dependendo da Plataforma (Light ou Killer), nosso campo de visão pode se ampliar


ou ficar encarcerado e, por consequência, interferir em nosso modo de sentir e agir.

Por exemplo, uma pessoa extremamente coerente e competente em suas ativida-


des, mas que sofre um ataque de pânico ao falar em público. Em uma situação frente
a outras pessoas, aciona o Gatilho da Autochecagem que desloca a Âncora para de-
terminadas regiões da memória em que se sentiu incapaz e exposta, restringindo o
seu território de leitura.

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A partir desse território, o Autofluxo faz a leitura da história intrapsíquica que, por
sua vez, gera emoções intensamente ansiosas e pensamentos qualitativamente mórbidos
que, canalizados para o córtex cerebral, gerarão uma série de sintomas psicossomáticos.

Os mecanismos de produção da síndrome do pânico à luz da construção multifocal


de pensamentos são muito mais complexos do que a hipótese dos neurotransmissores
na gênese dessa síndrome.

Quais as experiências que mais marcaram sua história?


Quando você resgata as memórias de sua infância e juventude, consegue identificar mais
momentos prazerosos e felizes ou mais momentos tristes?

O Que Tudo Isso Tem a


Ver com a Aprendizagem?
Na Disciplina Desenvolvimento Humano, deste Curso, estudamos vários fatores que
interferem na aprendizagem do ser humano. Fatores relacionados à cultura, etnia, am-
biente e características pessoais de cada indivíduo e diferentes perspectivas de grandes
teóricos a respeito.

Quero, aqui, destacar um outro fator de extrema importância: o nível de emoção.

A Teoria da Inteligência Multifocal nos alerta a respeito de que é a emoção que de-
termina a qualidade do registro. Quanto maior o volume emocional envolvido em uma
experiência, mais o registro será privilegiado e mais chance terá de ser lido.

Você registra milhões de experiências por ano, mas resgata frequentemente as ex-
periências com maior conteúdo emocional, como as que envolveram perdas, alegrias,
elogios, medos e frustrações. Portanto, quando não há emoção, a transmissão das in-
formações, seja na sala de aula, seja em qualquer outro ambiente, seja com crianças,
jovens ou adultos, gera dispersão, em vez de prazer e concentração e, provavelmente,
esses registros passarão rapidamente da MUC para a ME.

Convido-o, agora, caro aluno, a fazer uma retrospectiva na época de sua educação
formal. Quais os conhecimentos que consegue resgatar de sua memória?

Provavelmente recordará apenas das matérias e professores que, de alguma forma


o(a), impactaram com emoção.

Se queremos nossos alunos atentos e ávidos pelo que podemos transmitir, temos de
mudar nossas estratégias, buscar formas de fazer sentido para a vida do aluno. Ensinamos
mais por quem somos, por nossa postura diante do outro, do que pelo que sabemos.

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Circuito Fechado da Memória
A memória humana, diferentemente dos computadores, não se abre integralmente,
mas por territórios. O ideal é abrirmos o maior número de Janelas possível, para ampliar
nossas interpretações e reflexões. Contudo, de acordo com o ambiente em que estamos
e do estado emocional em que nos encontramos, abriremos mais ou menos Janelas.

A tranquilidade e a autoconfiança são elementos psíquicos que facilitam o processo


de abertura de um maior número de Janelas (registros), possibilitando, assim, um olhar
multifocal da situação.

O medo, a ansiedade, o estresse, as chantagens e as preocupações excessivas tendem


a reduzir a quantidade de Janelas abertas, encarcerando o Eu a uma leitura limitada.

O Circuito Fechado da Memória é uma forma de pensar, que encarcera nossas pos-
sibilidades emocionais e as funções mais nobres de nossa inteligência para enxergarmos
e realizarmos uma intervenção de forma diferente.

Pensamos, sentimos e agimos pela leitura viciada de apenas uma área da memória.

Temos um raciocínio limitado, unifocal, que não analisa nem o problema nem os
nossos pensamentos, emoções e atitudes por múltiplos ângulos e, consequentemente,
nos deixa cegos diante dos desafios e experiências. Com isso, alimentamos padrões de
pensamentos limitadores, agindo de forma unifocal.

De acordo com a Teoria da Inteligência Multifocal, podemos ser encarcerados pela Sín-
drome do Circuito Fechados da Memória Psicoadaptativa (SIFE-P), fruto de nossas cren-
ças e valores limitantes e a Síndrome do Circuito Fechado Tensional ou Killer (CIFE-T),
fruto das Janelas traumáticas.

SIFE-P (Síndrome do Circuito


Fechado da Memória Psicoadaptativa)
De acordo com a Teoria da Inteligência Multifocal, a Psicoadaptação é um dos mais
importantes fenômenos que atuam no inconsciente, nos bastidores de nossa mente, e
afeta toda a nossa história de vida. Inerente a todo ser humano, pode ser construtiva ou
extremamente destrutiva.

A Psicoadaptação é a incapacidade da emoção humana de sentir prazer ou dor diante


da exposição repetida de um mesmo estímulo. Cada vez que os estímulos se repetem ao
longo da nossa História de vida, nós nos psicoadaptamos a eles e, assim, diminuímos
inconscientemente a emoção que sentimos por eles.

A repetição do mesmo elogio, da mesma ofensa, mesma paisagem… faz com que a
emoção se psicoadapte e perca a capacidade de reação. Nesses casos, podemos buscar
novos estímulos, buscar melhorias em nossa vida. Por exemplo, escultores, pintores e
escritores que se psicoadaptam aos mesmos estímulos, aos traços, a descobertas e a
estilos da sua época.

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UNIDADE
Os Bastidores da Mente Humana

É o fenômeno da psicoadaptação que gera uma ansiedade vital, inconsciente e posi-


tiva, que impulsiona a curiosidade, a criatividade e a procura pelo novo. O fenômeno da
psicoadaptação gera uma explosão criativa.

Por meio desse fenômeno, uma mãe que perde seu filho, por exemplo, consegue
psicoadaptar-se à perda, diminuindo o processo de aceleração do pensamento e impe-
dindo a usurpação do fenômeno do Autofluxo para que o Eu possa assumir o controle.

Desse modo, o nível de ansiedade, de angústia e de dor diminui e, embora a saudade


nunca seja resolvida, ela abrirá um espaço emocional para se encantar novamente pela
vida, com o acesso às Janelas de sonhos, de prazeres e de motivação.

Contudo, a psicoadaptação também pode ser destrutiva, quando contribui para gerar
no palco da psique humana experiências de tédio, rotina, mesmice e solidão extrema, ou
quando nos psicoadaptamos a ambientes violentos, que levam as pessoas a perderem a
capacidade de se colocar no lugar do outro, promovendo o ciclo da violência.

Para muitas pessoas, a fama pode se tornar uma das maiores armadilhas da emoção.
Gradativamente, psicoadaptam-se aos aplausos, aos assédios e aos holofotes.

A emoção começa a ter uma necessidade inconsciente cada vez maior de grandes
estímulos para sentir um pouco de prazer. O mesmo princípio ocorre com as drogas
psicotrópicas. Doses cada vez maiores são necessárias para se ter um pouco de emo-
ção. Muitos famosos perdem as raízes das coisas simples, esfacelam seu prazer de viver,
entram em crises depressivas e ansiosas.

A Síndrome do Circuito Fechado da Memória Psicoadaptativa é responsável por pro-


vocar quase todos os transtornos psíquicos e suas consequências, tais como: destruição
de romances, das relações entre pais e filhos e entre professores e alunos.

É também responsável pelo engessamento das habilidades intelectuais e emocio-


nais de um ser humano. Todos os parâmetros são construídos pela sociedade, mídia,
família, valores e pautam nossos comportamentos sem que tomemos consciência des-
se processo.

Figura 5
Fonte: Getty Images

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Achamos natural pensar como pensamos e vamos construindo padrões mentais, tais como:
• Sucesso: cada Sociedade e cultura tem um padrão específico do que é sucesso:
ter mais dinheiro, cargo de poder ou influência, entre outros. O que é considerado
sucesso para a Sociedade realmente traduz o sentido de sucesso para todas as pes-
soas? O fato de não ser rico ou trabalhar como operário em uma Empresa em que
sou valorizado e sou feliz significa não ser um profissional de sucesso?;
• Relacionamentos: muitas pessoas não se sentem amadas porque esperam um
relacionamento de acordo com seus padrões. Cobramos do outro o mesmo nível
de afeto e cuidado que damos. Se uma pessoa não demonstra amor de acordo com
nosso padrão mental, não significa que não nos ama;
• Beleza: a Sociedade define o peso e estatura ideais, tipo de cabelo, a necessidade
de medidas invasivas para esconder a idade ou ficar mais parecida com determi-
nados estilos considerados belos. Assim, criamos Plataformas de Janelas do que é
belo e deixamos de ver a beleza única que existe em cada ser humano, inclusive em
nós mesmos.

Todos esses padrões (Plataformas de Janelas) são construídos ao longo de uma his-
tória existencial e pautam a nossa existência. Muitas mulheres e homens sofrem do que
a Teoria da Inteligência Multifocal identificou como Síndrome do Padrão Inalcançável de
Beleza (PIB), como resultado de uma vasta difusão de padrões irreais de beleza.

A preocupação excessiva com a estética, a aparência física, roupas e estilos da moda


em detrimento a outros aspectos da vida, como os sonhos, os projetos e as conquistas,
levam jovens e adultos do mundo todo a uma rejeição crônica de si.

O medo de não ser aceito, a baixa autoestima e o consumismo exacerbado, pois


pessoas infelizes, estatisticamente, consumem mais, mesmo que de forma inconsciente,
são alguns dos sintomas da PIB, além de casos mais graves como anorexia, bulimia e
abuso de medicamentos em busca do “corpo perfeito”, como anabolizantes e inibidores
de apetite.

Precisamos aprender a questionar nossas crenças e valores que nos limitam e sabo-
tam nossos relacionamentos, conosco e com outros. Assim, é possível reeditar e recons-
truir nossa vida pautada em escolhas mais saudáveis, não permitindo que nossa mente
seja controlada por “verdades” que não se inspiram em valores de saúde emocional e
social. Porém, é importante entender que o desejo de mudança não provoca mudanças.

Precisamos entender que Janelas Solitárias, ou seja, sozinhas, que não formam
Plataformas de Janelas, não têm poder de enfrentamento suficiente para lidar com
Plataformas de Janelas Traumáticas.

Muitas pessoas têm somente a intenção de mudar e, por isso, não conseguem realizar
o processo de mudança. Se não houver tensão emocional, ou seja, vontade com atitudes
provocadas pelo Eu, para transformar o simples desejo em Janelas Duplo P, não será
possível construir, na psique, Plataformas de Janelas Light para expandir o território
psíquico e financiar o raciocínio complexo, tendo, assim, atitudes inteligentes.

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Todos gostariam de remover a impaciência, a ansiedade, as fobias, o humor depres-


sivo e a timidez de seu psiquismo. Mas a vontade consciente de mudança ou superação
de um conflito, por mais forte e poderosa, não é eficiente.

Não basta o Eu querer reorganizar sua personalidade, é preciso utilizar estratégias


eficazes. É necessário identificar e mapear as crenças e os valores limitantes, ou seja,
que limitam a visão e a forma de agir no mundo.

Desenvolvemos crenças sobre autoestima, nosso corpo, nossas relações, carreiras...


Só que, geralmente, permitimos que algumas delas limitem nossas vidas, nossas atitudes
em direção a uma vida mais saudável.

Sife-T (Síndrome do Circuito


Fechado da Memória Traumática ou Killer)
Quando entramos numa janela traumática ou Killer, o volume de tensão é tão grande
que bloqueia milhares de outras janelas ou arquivos, impedindo o Eu de ter acesso a
milhões de dados para construir cadeias de pensamentos dialéticas lúcidas e antidialé-
ticas profundas. Nesse momento, o ser humano deixa de ser pensante e exacerba os
mecanismos instintivos que produzem sintomas psicossomáticos (taquicardia, aumento
da frequência respiratória, rubor, suor) para a pessoa fugir do estímulo estressante ou
lutar contra ele.

No foco de tensão, o Fenômeno RAM registra o evento e, na ausência de questiona-


mento, abre Janelas Killer. Consequentemente, elas interpretam a realidade por meio
de pensamentos perturbadores e destrutivos, e a pessoa toma atitudes não pautadas na
realidade em si, mas com base em sua mente dominada pelas emoções tóxicas.

Por exemplo:

Chefe alterado, diz:


RAM Janela
“Você fez tudo errado!”

Não faço
Você fez tudo
nada certo!
errado! errado!

Sou
incompetente!

Figura 6
Fonte: Adaptado de Getty Images

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Frente ao estímulo externo, a fala do chefe, o registro é feito de forma privilegiada
pelo fenômeno RAM, abrindo uma Janela Killer na sua psique.

O Autofluxo fará a leitura dessa janela e produzirá outras janelas, aumentando a pla-
taforma e formando um núcleo doentio.

Esse núcleo poderá pautar a forma como a personagem percebe a si mesma e, con-
sequentemente, sua forma de agir e reagir no meio no qual vive.

As Armadilhas da Mente Humana


Quando o Eu não consegue ser gestor de sua psique e tem a leitura viciada, limitada
e unifocal de seus pensamentos pelo Circuito Fechado da Memória, fica preso em ar-
madilhas mentais.

Pessoas que têm ataques de pânico, transtornos obsessivos, fobia de avião, claustro-
fobia, fobia social ou que têm grandes preocupações com doenças, com o futuro e com
a opinião dos outros detonam o Gatilho da Memória para áreas traumáticas, saem de
um ambiente confortável para um “mar” de águas turbulentas.

Tudo é tão rápido que o Eu não tem sequer tempo para pensar.

O Eu só conseguirá se livrar dessa festa ou do prato azedo e fermentado propiciado


pelo Gatilho da Memória segundos depois de já tê-lo experimentado.

Vamos estudar, nesse encontro, as três principais armadilhas da mente e os entraves


que elas podem provocar:

Armadilha do Conformismo
O conformismo é a arte de se acomodar, de não reagir e de aceitar passivamente as
dificuldades psíquicas, os eventos sociais e as barreiras físicas.

O(a) conformista não assume responsabilidade como agente transformador do mun-


do e nem de seu mundo. Ele(a) bloqueia a energia vital do Eu, caracterizada pela proa-
tividade e ambição saudável, amordaça o Eu, impedindo-o de lutar pelos seus ideais, de
investir em seus projetos e de transformar a sua história. Ele(a) segue a vida de acordo
com as circunstâncias, acreditando que a responsabilidade para sua falta de atitude e
gestão é proveniente de fatores externos ou obras do destino.

Armadilha do Coitadista
Falar da armadilha do Coitadismo é falar de uma postura de vitimista. Os coitadis-
tas bloqueiam seu psiquismo, aprisionando suas mentes nas tramas da autopiedade e
da mesmice.

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O(a) Coitadista vai além do convencimento de que não é capaz, entra na esfera da
propaganda do sentimento de incapacidade. O coitadismo faz marketing de suas cren-
ças irreais, impotências, limitações: “Sou desafortunado!; “Sou um derrotado!”; “Nada
que faço dá certo!; “Ninguém gosta de mim!”; “Nada dá certo em minha vida!”.

São pessoas com notável potencial, mas que o jogam no lixo. Incorporam o papel
dramático e autopunitivo e estão programadas para serem fracassadas.

Armadilha do Medo de Errar


Há uma curiosidade importante que quase sempre esquecemos sobre os estudos
do desenvolvimento humano: aprendemos experimentando, caindo, machucando-nos,
errando e fazendo os primeiros rabiscos muito longe da caligrafia avançada desejada.

Imagine se os bebês ou as crianças pequenas sofressem da necessidade neurótica de


serem perfeitos?

Nenhuma conquista realmente valiosa na história dos grandes pensadores e invento-


res, executivos e artistas, líderes e religiosos se deu sem a experimentação, sem a busca
e projetos anteriores que não passavam de tentativa e erro.

Isso não significa o elogio do erro e a imprudência do ponto de vista profissional,


mas significa lembrar que, diante de um mundo que muda a todo instante e exige novas
habilidades, somos todos aprendizes.

Viver como adulto também não vem com manual. A vida é feita de muitas provas.
A matemática existencial é diferente da matemática tradicional.

Na existencial, perder pode ser ganhar, dividir pode ser multiplicar e, no processo da
experimentação e do erro, nós nos tornamos brilhantes, especialistas e plenos de expe-
riência, pois foi o processo que mais valeu na excelência profissional, e não a obra final.

Não é possível desenvolver as funções surpreendentes da inteligência, as ferramentas


mais importantes para explorar nossa psique, se não tivermos coragem de enfrentar
nossa realidade, descortinar algumas áreas de nossa personalidade.

Todos sabemos que errar é humano, mas insistimos em ser deuses, temos a necessi-
dade neurótica de sermos perfeitos. O medo de errar pode nos fazer regredir do ponto
de vista da criatividade, da inovação e do aprender a aprender.

O medo da rejeição, da crítica, não permite que exploremos nossos potenciais, pois
como em toda exploração e aprendizado, provavelmente, vamos falhar no início.

O problema é nossa obsessão com a perfeição que nos deixa aprisionados, e não o
erro em si. Tornar-se um sujeito de excelência pessoal e profissional significa se aventurar
no caminho de aprender a aprender. E aprender a aprender significa errar muitas vezes.

Você conhecia essas armadilhas? Consegue identificar situações em sua vida nas
quais ficou preso em algumas delas?

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Armadilha do Consumismo
Em uma sociedade extremamente capitalista como a nossa, que dissimina a felicidade
ligada exclusivamente aos valores materiais, é preciso muita cautela, pois muitas pesso-
as focam em ter pois não sabem ser. Pessoas que não se amam, não estão satisfeitas
consigo, com sua vida, tendem a projetar sua felicidade no ter, em tudo o que o dinheiro
pode comprar.

Essa armadilha que leva ao desequilíbrio de nossa saúde financeira é a impulsividade


em lidar com o dinheiro. Neste caso, o problema não é que a pessoa não tenha cons-
ciência de que já tem dívidas demais, mas não consegue gerenciar, no foco de tensão
(durante a oferta de consumo), as Janelas Killer de satisfação imediata. Uma Janela
de prazer intenso que impõe a ditadura do prazer imediato não edifica a inteligência,
pois nos torna vulneráveis a uma série de manipulações que podem ser nocivas à nos-
sa saúde, e mesmo à integridade física e psíquica. A partir dos estudos da anatomia
emocional do consumo, o marketing começou a desenvolver estratégias para atrair o
consumidor por meio do estímulo de emoções prazerosas, dessa forma, o Fenômeno
RAM, Registro Automático da Memória, registrará o consumo de forma a associá-lo ao
prazer, bem-estar, felicidade, segurança, paz, etc. As lojas transformaram seu cenário
em uma experiência de lazer, de prazer, estimulando todos os sentidos, lançando ima-
gens para associar seus produtos e serviços a diferentes emoções. O problema é que
podemos comprar o bilhete da festa, mas não a alegria; podemos comprar uma casa,
mas não um lar; podemos comprar um seguro de vida, mas não a paz interior. Por não
questionarmos o que tem valor realmente e o que é necessário, as Plataformas Killer da
impulsividade aumentam cada vez mais, acabamos por nos tornar reféns de emoções
do prazer e satisfação imediata, bem como a capacidade de gestão psíquica. A questão
não é o consumo, mas sim o quando o consumo é compulsivo e irresponsável, fazendo
muitas pessoas se tornarem dependentes e devedoras no mercado. Alguns exemplos
dessa influência e de como as pessoas compram e lidam com o dinheiro pelas emoções
são os grupos de apoio “Devedores Anônimos” e “Jogadores Anônimos”.

Atuação do Eu no Processo
de Construção do Pensamento
No processo de construção de pensamentos e atitudes, o Eu não pode impedir ou
intervir na atuação dos fenômenos inconscientes.

Não podemos deixar de registrar o que é captado pelos sentidos, nem impedir a
Gatilho, a Âncora ou o Autofluxo de agirem. Mas o Eu pode atuar na leitura e na inter-
pretação das Janelas da Memória, em três momentos:
1. O Eu tem 5 segundos para intervir na redução do impacto emocional, protegen-
do sua emoção;

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2. Na função do Autofluxo: quando ele começa a ler as Janelas formando as


cadeias de pensamentos, o Eu assume o comando aplicando a Ferramenta do
DCD – Duvidar, Criticar e Determinar, ou seja, duvidando que aqueles pensa-
mentos o dominem, duvidando que seja verdadeiro. Em seguida, criticando cada
um dos pensamentos com alto volume emocional negativo. Dessa forma, o Au-
tofluxo começa a ler essas novas Janelas, reproduzindo-as. Por fim, determine
agir diferente;
3. Na sua atitude, ou seja, frente aos pensamentos não saudáveis, o Eu pode deter-
minar agir diferente.

Explicaremos melhor esse processo na videoaula.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Crenças: caminhos para saúde e o bem-estar
DILTS, R. et al. Crenças: caminhos para a saúde e o bem estar. Summus, 1993.

Vídeos
Vida Maria
Vida Maria, um projeto premiado no 3º. PRÊMIO CEARÁ DE CINEMA E VÍDEO. Neste
curta, é possível identificar como Maria fica presa no Circuito fechado da Memória Psi-
coadaptativa, pelas crenças culturais passadas de geração em geração.
https://youtu.be/yFpoG_htum4

Filmes
Adolescência: O cérebro em transformação
Nittas Vídeo, 2009.

Os Croods
Retrata a história de uma família da era pré-histórica, que vive escondida na maior parte
do tempo dentro de uma caverna para sobreviver aos grandes perigos externos. A fa-
mília se psicoadaptou a viver desse jeito, acreditando estar segura, mas um membro da
família não se contenta com esse estilo de vida e começa a quebrar vários paradigmas.

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Referências
CURY, A. Ansiedade: como enfrentar o mal do século. São Paulo: Saraiva, 2013.

________. A Fascinante Construção do EU. São Paulo: Planeta do Brasil Ltda., 2011.

________. Gestão da Emoção. São Paulo: Benvirá, 2015.

________. Inteligência Multifocal: Análise da construção dos pensamentos e da


formação de pensadores. São Paulo: Cultrix, 2006.

FOUCAULT, M. A doença e a existência. Rio de Janeiro: Folha Carioca, 1998.

FREUD, S. Os Pensadores. Rio de Janeiro: Nova Cultural, 1978.

FROMM, E. Análise do Homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1960.

HEIDEGGER, M. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1989.

KAPLAN, H. I.; SADOCH, BENJAMIN, J.; GREBBJACK, A. Compêndio de


Psiquiatria: Ciência do Comportamento e Psiquiatria Clínica. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1997.

Sites visitados
CEREBRO Dividido Cortometraje Animado. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=Q7BqXLE1iqM>. Acesso em: 28 out. 2019.

DOLLAR SHAVE CLUB. Deles – iG @ <https://deles.ig.com.br/mundo-


masculino/2018-12-23/estudo-primeira-impressao.html>. Acesso em: 10 nov. 2019.

O PRAZER da Lógica. Documentário. 2013. Disponível em: <https://www.youtube.


com/watch?v=qQ1FzfbUTos>.

PESQUISA coordenada por Phil McAleer. Disponível em: <https://www.researchgate.


net/profile/Phil_McAleer>. Acesso em: 10 nov. 2019.

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