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SINOPSE

Brad finalmente consegue o que quer. Ele está de volta ao seu mundo,
onde é o melhor cã o e os ú nicos machos alfa ao redor sã o os irmã os da
fraternidade que o adoram como um lendá rio festeiro.

Entã o, por que voltar para Raul e o resto dos personagens do romance
cafona que ele estava tã o ansioso para escapar de tudo o que consegue
pensar?

Quando Brad descobre que Constantine, o vilã o de Wolf's Mate, o seguiu,


ele vai precisar de uma ajudinha de seus irmã os - literal e
figurativamente - para voltar para onde ele pertence.

Ah, e reviravolta na histó ria? Constantine nã o é a ú nica parte de The


Wolf's Mate que o seguiu até o mundo real. Em nove meses, ele estará
lidando com um baita spoiler.
THE WOLF’S MATE
BRO AND THE BEAST
PARTE 3
CAPÍTULO UM

BRAD

— Raul? — Eu resmungo, minha voz quase um sussurro enquanto abro meus


olhos para o quarto de hospital estéril.
A ú ltima coisa que me lembro é de ir para a cama sendo hella emo1, mas agora,
de repente, estou aqui.
Piscando para afastar a névoa, vejo meu irmã o, Devon, cochilando em uma
cadeira de aparência desconfortá vel ao lado da minha cama. Nã o parece real,
como um sonho dentro de um sonho.
— Devon? — Eu chamo, mais alto desta vez, e seus olhos se abrem em
descrença. Num piscar de olhos, ele está ao meu lado, me envolvendo em um
abraço de urso que parece reconfortante e sufocante. Ele tem o corpo de um
galho comparado a mim, entã o isso nã o é um bom sinal. Todo o meu corpo
parece estranho e pesado. Como se eu empilhasse perna, braço e core day de
uma só vez e aumentasse para onze.
— Brad! — Devon exclama, com lá grimas escorrendo pelo rosto. — Você está
acordado. Puta merda, eu nã o sabia se você acordaria. Sinto muito por aquela
briga estú pida...
— Ei, ei, — digo, engolindo minhas pró prias lá grimas enquanto o abraço de
volta, embora o menor movimento faça tudo doer. Nada comparado a ser
amarrado por um lobisomem, no entanto. — Sou eu quem deveria se
desculpar. Eu estava sendo um idiota de primeira classe, como sempre.
Ele ri e enxuga os olhos enquanto se afasta para dar uma olhada melhor em
mim.

1 Hella é tipo uma gíria para muito; extremamente.


— Talvez você tenha batido a cabeça ainda mais forte do que eles pensavam.
Meu olhar vagueia ao redor da sala, absorvendo a explosã o floral que parece
ter ultrapassado todas as superfícies estéreis da sala. E entã o eu o vejo, a cesta
de melhoras rá pidas exclusiva da Kappa Nu, transbordando de torresmo e
salsichas. É o suficiente para me fazer sorrir, apesar da confusã o esmagadora.
— Fico feliz em ver que incluíram o essencial —, provoco, mas meus
pensamentos continuam voltando para Raul. Ele era apenas uma invençã o da
minha imaginaçã o? Um sonho bom demais para ser verdade?
Tudo ainda está tã o nebuloso. Eu sinto que este é o sonho em que acordei
agora, nã o o contrá rio.
— Brad, tente nã o se preocupar com nada agora.— Devon diz suavemente, o
que me faz pensar se estou tã o destruída por fora quanto me sinto por dentro.
— Apenas relaxe, ok? Você vai ficar bem.
— Sim, claro —, murmuro, embora por dentro eu sinta que estou
desmoronando. — Devon, quanto tempo eu estive fora? — Eu pergunto,
tentando soar um pouco mais junto. Tenho certeza que nã o está funcionando.
— Alguns dias —, ele responde com um sorriso gentil. — Você realmente me
assustou pra caralho.
— Isso é impossível —, eu digo, sentando. O som do monitor cardíaco acelera
o ritmo. — Eu estive perdido por semanas. — A certeza em minha voz
surpreende até a mim.
— Perdido? — A testa de Devon franze em confusã o. — Você esteve aqui o
tempo todo. Você entrou em coma depois que aquele babaca bêbado te tirou
da estrada e você bateu a cabeça, mas eles disseram que era incrível que nã o
houvesse mais danos.
Provavelmente mais do que eles pensam, se eu tivesse tempo para inventar
uma vida inteira enquanto estava fora.
Antes que eu possa responder, há uma batida na porta e um médico de jaleco
branco entra. Pelo menos nã o é o Dr. Idiota. Embora parte de mim ficaria
aliviada, porque isso significaria que Raul também está por perto.
— Você está acordado —, diz a médica, com a voz calma e profissional. —
Agora que é uma surpresa agradá vel.
Por que tenho a sensaçã o de que ela nã o esperava isso? Entã o, novamente,
estou todo enfaixado e enquanto cada parte de mim dó i como uma cadela, é
minha cabeça que está realmente latejando. Pensando bem, há fios saindo de
mim por toda parte. Na verdade, tenho certeza que tem um saindo da minha...
Ah, filho da puta, eles me cateterizaram.
A médica caminha até o lado da minha cama e olha para Devon enquanto diz:
— Se você nã o se importa, eu gostaria de examiná -lo.
— Claro,— Devon acena com a cabeça, seus olhos ainda fixos em mim. — Eu já
volto. Vou ligar para mamã e e papai, e... seus irmã os de fraternidade também
—, acrescenta ele a contragosto. — Eles finalmente partiram ontem, entã o
acho que merecem saber que você acordou.
— Obrigado, Devon.— Murmuro, tocado por ele e todos os outros estarem
aqui. Ele sai da sala e eu volto minha atençã o para a médica, que começa a
examiná -lo.
Enquanto a médica verifica meus sinais vitais, minha mente dispara. Se fiquei
inconsciente por apenas alguns dias, isso significa... Raul e o mundo que deixei
para trá s foram mesmo apenas um sonho?
Eu aperto meus olhos fechados, desejando nã o entrar em pâ nico.
Nã o, isso nã o é possível. Parecia tã o real, tã o vívido. Os braços fortes de Raul
em volta de mim, o jeito que seus olhos pareciam ver dentro da minha alma...
Nã o tem como ser tudo falso. Inferno, de vá rias maneiras, parecia mais real do
que este mundo.
Tudo o que eu conseguia pensar enquanto estava lá era voltar para cá , e
agora...
— Seus sinais vitais parecem bons —, diz a médica, alheio ao que estava
acontecendo dentro da minha cabeça. — Se você está acordado tã o cedo, você
deve fazer uma recuperaçã o completa. Claro, vamos querer fazer alguns testes
só para ter certeza.
— Faça o que você tem que fazer —, eu digo, mal conseguindo me concentrar
em suas palavras. Só consigo pensar em Raul e nos outros em casa.
Nã o... Esta é a minha casa. Mesmo querendo desesperadamente voltar para
minha vida real, agora que estou aqui, nã o posso deixar de sentir que preciso
encontrar meu caminho de volta para ele.
— Ei, doutora —, eu digo enquanto ela começa a se virar em direçã o à porta,
— eu sei que isso parece loucura, mas uh... é possível sentir que muito mais
tempo passou enquanto você está em coma? ... semanas?
Ela olha para mim por um momento, considerando a minha pergunta.
— Nã o é incomum que as pessoas tenham sonhos vívidos enquanto estã o
inconscientes —, explica ela.
— Vívido, claro, mas... e se parecesse... real? — Eu pergunto. — Tipo, real-real.
Realidade alternativa real.
Ela levanta uma sobrancelha.
— Você bateu a cabeça com muita força, Brad. O fato de você dirigir aquele
caminhã o monstruoso e estar usando cinto de segurança é provavelmente a
ú nica razã o pela qual você está vivo. Nã o há evidências científicas para apoiar
a existência de realidades alternativas, mas eu Ficaria surpresa se você não
tivesse alguns efeitos estranhos de um TBI2 como esse.
Meu coraçã o afunda, mas nã o posso deixar de me apegar à esperança de que
Raul e meu tempo com ele tenham sido mais do que apenas um sonho. Ou uma
alucinaçã o. Deve haver alguma maneira de encontrá -lo novamente. Por mais
aliviada que esteja por ver meu irmã o, agora é com ele que estou preocupada.
Nã o consigo parar de pensar em como ele deve estar preocupado agora.
A menos que…
A menos que ela esteja de volta ao meu lugar, onde deveria estar desde o
início. Catalina. A mulher que Raul realmente ama.
O pensamento afunda no meu estô mago como uma pedra, ou um prato de
Reese's Legendary 17-Layer Nachos depois de ficarem sentados por um dia,
entã o eu tento afastá -lo.
— Sim. Obrigado, Doc —, eu digo novamente, forçando um sorriso. — Alguma
chance de eu tirar esse tubo do meu pau em breve?
Ela franze os lá bios e posso dizer que ela está tentando nã o rir.
— Quando você conseguir se levantar e se movimentar sozinho,
conversaremos com a enfermeira sobre isso. Agora, descanse um pouco —, ela
aconselha antes de sair do quarto.
Assim que ela sai, fecho os olhos, deixando meus pensamentos voltarem para
Raul enquanto minha cabeça bate no travesseiro. Tudo o que eu quero é sair
desta maldita cama, mas estou exausto só de ficar sentado por um curto
período de tempo. Atravessar a sala parece uma façanha impossível neste
momento, muito menos voltar para outra realidade.
2A traumatic brain injury; Disfunçã o cerebral causada por uma força externa, geralmente um golpe
violento na cabeça.
A parte mais chocante de tudo isso é que... eu quero voltar. Mais do que tudo,
quero saber se foi real.
Eu preciso que seja real.
CAPÍTULO DOIS

RAUL

Ficar no meio da sala de estar da mansã o, cercado por minha matilha; Lenore,
Curtis, Kyle, Matthew, Hannah e os outros. A tensã o na sala é palpá vel, e posso
praticamente sentir o gosto da ansiedade deles enquanto tentamos descobrir
o que aconteceu com Brad.
— Alguém me explica isso! — Eu exijo, minha voz crescendo em toda a sala. —
Como ele pode simplesmente desaparecer?
— Raul, — Dra. Donahue começa cautelosamente, sua voz tensa com
preocupaçã o. — Eu entendo que você está chateado, mas a melhor coisa que
qualquer um de nó s pode fazer por Brad agora é apenas se acalmar.
Sim. Ele estava certo sobre essa ser a frase menos produtiva da língua inglesa.
Definitivamente tirando isso do meu léxico permanentemente.
— Calma?— Eu estalo, minha raiva queimando. — Você deveria estar
ajudando ele, e agora ele se foi! Como você pô de deixar isso acontecer?
— Raul, por favor —, interrompe o Dr. Wilson, tentando acalmar a situaçã o. —
Isso nã o é culpa da Dra. Donahue.
— Nã o? — eu rosno. — Porque ele estava bem até eu deixar essa médica que
você me convenceu a deixar entrar em nossa casa falar com ele, e agora de
repente ele se foi? E você nã o acha isso suspeito?
Ele nã o responde de imediato, e a sala está tã o silenciosa que posso ouvir os
coraçõ es batendo ao meu redor como tambores de guerra. Eles nã o estã o
acostumados a ver seu alfa perder a calma, e é por isso que mandei Mina para
cima, mas quando se trata de meu companheiro...
— O que você disse a ele exatamente? — Eu exijo, ligando o psicó logo. — E
nã o me venha com essa besteira de confidencialidade. Meu companheiro se
foi, e agora, você é a suspeita nú mero um.
Por um segundo, o profissionalismo da Dra. Donahue vacila e estou encarando
outro shifter alfa em vez de um médico.
— Raul —, diz ela, com a voz calma e medida, apesar da tensã o em sua
mandíbula. — Eu entendo que você está preocupado, mas posso garantir que
nunca faria nada para prejudicar Brad. Discutimos brevemente sua histó ria
pessoal, ou pelo menos sua versã o dela.
— E que parte dessa histó ria o fez parecer um fantasma quando entrei na
sala? — Eu pressiono.
Eu posso vê-la em guerra consigo mesma, mas antes de qualquer um dos
outros títulos que colocamos em nossos ombros, somos lobos primeiro. E
alfas.
— Ele mencionou algo sobre seu irmã o —, ela finalmente responde. — Seus
pais o enviaram a um terapeuta de conversã o para tentar “consertar” sua
sexualidade, e Brad o tirou. Eu poderia dizer que era uma memó ria traumá tica
para ele, entã o nã o queria forçar muito, mas isso é tudo . Ele nunca disse nada
que me levasse a acreditar que ele era um perigo ativo para si mesmo, ou para
qualquer outra pessoa,— ela disse, e pela tensã o em sua voz, eu podia sentir
que ela estava dizendo a verdade.
O que nã o me deixou com mais respostas do que quando comecei.
— Ainda há Trent,— Lenore falou, segurando meu olhar. — Curtis e eu o
questionamos, mas ele insiste que nã o sabe de nada. Talvez você tenha mais
sorte.
Por sorte, ela quer dizer que talvez eu possa torturá -lo, e isso parece uma
grande ideia no momento.
— Continuem procurando —, eu rosno para os outros antes de me virar para
caminhar em direçã o ao porã o. Posso ouvir passos atrá s de mim e nã o preciso
olhar para cima para saber que Lenore e Curtis sã o os que vêm atrá s.
É o melhor, eu decido. Preciso de testemunhas para me tirar de cima de nosso
prisioneiro antes que eu o mate. Eu desço as escadas, meu coraçã o batendo
forte no meu peito. Minhas mã os se fecham em punhos ao meu lado enquanto
me preparo para o que está por vir. Quando chego ao pé da escada, posso ver
Trent sentado no chã o, com as costas contra a parede de pedra fria. Eu nem
me preocupo em destrancar a porta, apenas abro com minhas pró prias mã os.
Seus olhos se arregalam quando eles pousam em mim, e ele imediatamente se
levanta, um olhar furioso em seus olhos.
— Onde ele está ? — Eu exijo, minha voz baixa e perigosa. — Onde está Brad?
— Raul...— Lenore avisa, com a mã o no meu braço, tentando me impedir de
perder o controle. Eu afasto isso, meu foco apenas em Trent.
— Nã o sei! — Trent exclama, sua voz em partes iguais desesperada e
enfurecida enquanto ele caminha até o fim da coleira fornecida pela corrente
em torno de seu tornozelo. — Você é quem deveria estar cuidando dele, nã o é?
Como você pode deixá -lo simplesmente desaparecer assim?
Antes que eu possa pensar, eu me atiro e o prendo contra a parede. Para um
beta, ele é surpreendentemente forte enquanto luta contra o meu aperto.
— Nã o se atreva a tentar colocar isso em mim.— Eu rosno, meu rosto a
centímetros do dele. — Você é o ú nico com laços com o bando que o quer de
volta. Você deve saber de algo.
— Raul! — Curtis grita, e eu sinto a mã o de Lenore em meu braço novamente,
tentando me afastar de Trent. — Calma! Isso nã o vai ajudar!
— Saia de cima de mim! — Trent rosna, empurrando contra mim, seu rosto
vermelho de raiva. — Nã o sei onde Brad está , mas é melhor torcer para que
Blue Fang o tenha encontrado, se ele realmente estiver por aí sozinho.
Sinto um peso pesado se instalar em meu estô mago. Ele está certo, claro. Há
coisas muito piores que podem acontecer a um ô mega sozinho, nã o importa o
quã o atípico ele seja.
— Suficiente! — Lenore comanda, sua voz firme e autoritá ria. Eu
relutantemente libero meu aperto em Trent e dou um passo para trá s, a raiva
em mim ainda fervendo sob a superfície. Curtis me lança um olhar de
advertência, como se pudesse ver os pensamentos correndo pela minha
mente. E ele está certo. Nã o podemos perder nossa ú nica moeda de troca se
Blue Fang realmente está com Brad.
Respiro fundo, tentando recuperar o controle sobre minhas emoçõ es.
— Tudo bem —, eu digo, forçando as palavras com os dentes cerrados. — Se
você realmente nã o sabe onde ele está , entã o para onde ele iria sozinho?
Por mais que eu odeie admitir, Trent conhece Brad melhor do que ninguém.
Trent retribui meu olhar, e posso dizer que ele está tentando decidir se quer
me contar alguma coisa. Quando decido que estou mais do que feliz em
arrancar dele, ele responde:
— Há um lugar para onde ele pode ter ido.
— Onde? — Eu exijo rispidamente. Nã o tenho certeza se acredito em uma
palavra que sai da boca dele, mas que outras opçõ es eu realmente tenho
agora?
— Salt Lick —, ele murmura.
Curtis piscou.
— Desculpe, você disse Salt Lick?
— É uma cidade em Ohio —, diz Trent em tom seco. — Quando éramos
crianças, costumá vamos roubar o mapa do meu pai e falar besteiras sobre
todos os lugares para onde iríamos quando tivéssemos idade suficiente para
fugir. Brad via a cidade, achava hilá rio e sempre dizia que ia vá lá e comece
uma nova vida como mecâ nico.
— Isso soa como Brad, tudo bem —, murmuro a contragosto. Talvez eu
acredite nele um pouco mais do que antes. Ele é definitivamente o tipo de
pessoa que escolheria um lugar aleató rio em um mapa porque parecia
engraçado e decidiria começar sua vida ali.
Mas também há uma chance de ele tentar encontrar seu irmã o. Ele acha que é
de outro mundo, e também nã o posso descartar isso. Entã o há a possibilidade
muito real de que Blue Fang — ou Constantine — possa interceptá -lo antes
que eu possa alcançá -lo, e nem sei por onde começar a procurar.
— Você vem comigo —, eu digo, olhando para Trent. Ele nã o discute, mas se
pensa que há pelo menos uma chance de escapar sob minha supervisã o, está
completamente enganado.
E se ele tentar uma merda que comprometa minha capacidade de encontrar
Brad, ele está simplesmente morto.
CAPÍTULO TRÊS

BRAD

Estou deitado no sofá da fraternidade, sentindo como se tivesse sido


atropelado por um caminhã o. Tecnicamente, foi um carro que me atropelou,
mas parece um caminhã o.
Eu estremeço, esfregando minha cabeça dolorida enquanto os efeitos
prolongados da minha concussã o tornam difícil pensar direito, embora eu
tenha saído do hospital por quase uma semana inteira. Mas mesmo em meio à
névoa de dor e exaustã o, um pensamento continua abrindo caminho em
minha mente.
Raul.
Estou em casa. Isso é o que eu queria desde o começo, entã o por que sinto
saudades de casa? É possível sentir saudades de uma pessoa? Aquele que nem
existe?
Ele com certeza existe na minha cabeça, no entanto.
Nas ú ltimas noites, continuo esperando que talvez adormeça e acabe de volta
ao mundo dele, mesmo que seja apenas por um sonho, mas sem sorte. Eu
sonho com ele, claro, mas nã o é a mesma coisa. Nã o importa o quã o realistas
sejam os sonhos, eles nã o sã o nada parecidos com o que eu experimentei, e é
assim que cheguei à conclusã o, nã o importa o quã o maluco seja, que era real.
Pelo menos em algum nível.
— Ei, mano —, diz Reese, se aproximando com um prato de seus lendá rios
nachos de dezessete camadas. — Parece que você precisa de um estimulante.
Nada que esses garotos maus nã o possam curar, nem mesmo um TCE.
— Seus nachos sã o um milagre médico moderno, Reese,— eu digo secamente,
forçando um sorriso. — Mas eu nã o estou com tanta fome agora.
Os olhos de Reese se arregalam de preocupaçã o e ele chama os outros caras.
— Isso é sério, rapazes. Brad nã o quer nachos. Precisamos de uma
intervençã o!
— Brad nã o quer nachos? — Steve pergunta, espiando da porta para o salã o
onde montei acampamento.
Eu teria apenas voltado para o apartamento, mas com Devon tendo que ir para
a aula e trabalhar tanto, e o médico só querendo me deixar ir se alguém
estivesse lá o tempo todo, isso simplesmente nã o era uma opçã o. . Entã o aqui
estou eu, presa no sofá enquanto meus irmã os da fraternidade se revezam
para brincar de enfermeira quando Devon nã o pode estar aqui.
Pelo menos Reese é um bom cozinheiro. Talvez nã o seja bom para curar um
TBI como ele pensa, mas em uma escala de restaurantes de gente rica de
merda, onde eles servem uma semente de azeitona de cada vez no fogo para
TGI Friday's no happy hour, ele é um pã o Panera só lido.
— Estou bem, cara —, murmuro, mudando de canal, já que o jogo que está
passando é chato pra caramba e estou tendo problemas para acompanhar as
jogadas de qualquer maneira. — Pare de ser dramá tico.
Steve me dá um olhar cauteloso.
— Eu nã o sei, cara. Talvez você devesse voltar para o hospital. Que porra
vamos fazer se você entrar em coma de novo?
— Podemos sempre fazer com que ele cheire uma de suas meias de giná stica
—, retruca Reese. — Tenho certeza de que isso o tiraria disso.
Steve o encara com raiva e o desanima.
— Foda-se, o médico me deu pó . Eles cheiram a rosas agora.
De alguma forma, duvido disso e prefiro comer meu pró prio pé do que
descobrir.
— Talvez os chili nachos nã o tenham sido uma boa ideia —, Reese reflete,
esfregando a nuca. — Eu poderia tentar fazer vegetais ou algo assim.
— Eu estava em coma, mano, nã o é tã o sério assim —, digo a ele. — Vou
comer os nachos daqui a pouco. Prometo. Só preciso relaxar.
Reese nã o parece convencido, mas concorda.
— Sim, tudo bem. Use a buzina se precisar de alguma coisa.
Olho para o megafone na mesa de centro. Nã o é exatamente um alerta de vida,
mas perto o suficiente.
— Obrigado, cara. Eu vou ficar bem.— Eu insisto, verificando se ele está
realmente saindo antes de relaxar.
Eu fecho meus olhos pelo que provavelmente é a centésima vez esta tarde.
Porque aparentemente, eu sou um cara cochilo agora. Mesmo que eu esteja
me recuperando fisicamente, me sinto mais esgotado do que nunca.
Estou flutuando em algum lugar naquele estado de sonho entre o sono e a
consciência, que geralmente é onde tento evocar o mundo de fantasia do qual
estava tã o ansioso para escapar. Eu nem deveria estar no meu telefone, mas
tenho pesquisado no Google sempre que tenho um minuto sozinha, e isso me
levou a lugares estranhos. Há algo chamado “mudança de realidade” que todos
os garotos do teatro no TikTok estã o fazendo e, embora eu duvidasse
seriamente de suas afirmaçõ es de que sã o capazes de meditar para namorar o
vilã o de seu anime favorito antes de toda essa merda, estou desesperado o
suficiente para tentar qualquer coisa.
Até agora, tudo o que consegui para meus problemas foi um sonho sensual e
desconfortá vel sobre usar uma fantasia de banana, mas isso é a Internet para
você.
— Brad? — A voz de Devon me tira do meu mergulho no que provavelmente
seria outro cochilo improdutivo, e eu olho para cima para encontrar meu
irmã o gêmeo na porta da sala, sua mochila pendurada no ombro. — Desculpe
—, ele sussurra. — Eu nã o sabia que você estava dormindo.
— Eu nã o estava —, asseguro, sentando-me com um bocejo. — Pensou que
você tinha aula?
— É apenas filosofia. Eu abandonei —, diz ele, caminhando para deixar sua
mochila no sofá antes de se sentar ao meu lado. — Eu queria ver como você
estava.
— Estou bem —, resmungo. — Você nã o deveria matar aula. Você é a pessoa
com quem mamã e e papai estã o contando para cuidar deles quando eles se
aposentarem.
— Nã o sei por que eles acham que vou fazer isso —, diz ele em tom irô nico,
levantando uma sobrancelha. — Reese diz que você está morrendo.
— Nã o estou morrendo. Só nã o quero nachos.— Esclareço, revirando os olhos.
— É a mesma coisa! — Reese chama enquanto ele passa.
— Ele tem razã o —, diz Devon, lançando um olhar crítico para a TV antes de
pegar o controle remoto e desligá -lo. — Você tem estado afastado desde que
foi para casa e essa merda definitivamente nã o está ajudando. Você ouviu o
que a médica disse, sem telas por pelo menos duas semanas.
— Sim, sim, — eu gemo. — Ela nã o estava levando em conta o que acontece se
eu morrer de tédio.
Devon revira os olhos, mas posso dizer que ele está preocupado.
— Vamos lá , Brad. Algo está acontecendo com você além do acidente. O que é?
Hesito, sem saber como explicar o que aconteceu sem parecer uma completa
luná tica. Mas Devon é meu irmã o, e se alguém pode entender, é ele.
— Ok —, eu suspiro, esfregando a parte de trá s do meu pescoço. — Sabe
aquele livro que você estava lendo? The Wolf’s Mate?
Ele acena com a cabeça, parecendo confuso.
— Sim, nã o consegui encontrar em lugar nenhum, na verdade, agora que você
mencionou.
— Bem, é porque eu peguei —, confesso, me preparando para a reaçã o dele.
— Espere, por quê? — ele pergunta, claramente confuso.
— Eu queria ler isso como um pedido de desculpas, sabe? Para me conectar
com você ou algo assim —, murmuro, me sentindo envergonhado. Ele parece
emocionado com o gesto, mas posso dizer que ainda está preocupado.
— Ok, entã o você pegou o livro. O que isso tem a ver com a forma como você
está agindo agora?
— Aqui está a parte maluca —, eu digo, respirando fundo. — Quando sofri o
acidente e desmaiei, algo aconteceu que eu... uh, nã o consigo explicar. Acabei
no livro.
Devon pisca, tentando processar minhas palavras.
— Você estava em coma, Brad. Tenho certeza de que teve alguns sonhos bem
realistas.
— Nã o, isso foi diferente —, eu insisto. — Foi real. Raul, Mina, Curtis e os
outros... eles eram todos tã o reais. — Faço uma pausa, procurando as palavras
certas para fazê-lo entender. — Eu sei que parece loucura, mas nã o consigo
me livrar dessa sensaçã o de que realmente estava lá , vivendo no mundo deles.
— Brad, isso é o que a leitura faz —, diz Devon com uma pequena risada. —
Você se sente imerso em outro mundo. Esse é o ponto.
— Sim, mas...— Eu percebo que nã o vou chegar a lugar nenhum com isso -
pelo menos nã o sem ele chamar o médico preocupado, entã o murmuro: —
Sim, eu acho.— Mas eu sei que foi mais do que apenas um sonho.
Devon sorri e diz, um pouco entusiasmado:
— Se você gosta de ler agora, tenho uma tonelada de recomendaçõ es que
posso compartilhar com você. Sei que você também nã o deveria ler por muito
tempo, mas também existem audiolivros... Pode ajudá -lo a passar pela
recuperaçã o mais rapidamente.
— Claro —, eu digo, nã o tendo coragem de dizer a ele que prometi a mim
mesmo que nunca mais leria. Foi quando eu quis fugir do mundo de Raul, nã o
voltar para ele.
— Ó timo! — Devon sorri, claramente feliz em compartilhar seu amor pelos
livros comigo. Mas enquanto aceno com a cabeça, um momento de luz me
atinge.
— Ei, você sabe onde estavam as coisas na minha caminhonete?— Eu
pergunto, tentando soar casual. — Sabe, depois do acidente?
Devon dá de ombros.
— Os caras da loja estã o consertando para você, entã o suas coisas
provavelmente ainda estã o lá .
— Certo —, eu digo, sentindo uma sú bita onda de determinaçã o. Se eu
encontrar aquele livro de novo, talvez encontre um caminho de volta para
Raul e os outros. Para o meu pacote. Porque, por mais louco que pareça, é isso
que eles se tornaram. Minha família. Minha casa.
E desta vez, estou levando Devon comigo.
Ele vai ter que acreditar em mim entã o, e considerando como ele prefere viver
entre as capas de um livro de qualquer maneira, eu sei que ele nã o vai
reclamar. Pelo menos nã o uma vez que ele dê uma olhada em Curtis e nos
outros shifters bonitõ es que ele está sempre babando pessoalmente.
Raul, nã o. Ele é a ú nica coisa que nã o estou disposto a compartilhar, mesmo
com meu irmã o gêmeo.
O que diabos está errado comigo?
— Ei, Dev, você acha que poderia me fazer um grande favor?— Eu pergunto.
— Qualquer coisa —, ele insiste. — O que é?
— Eu sei que você odeia ir até a loja, mas uh, você acha que poderia pegar
aquele livro para mim? — Eu pergunto.
— The Wolf’s Mate?— Ele pisca.
— Sim. Eu meio que parei em uma parte importante, e uh, eu quero saber o
que acontece —, eu digo timidamente.
Ele ri.
— Ok... mas você sabe, eu li. Eu poderia apenas te contar.
— Nã o! — Eu digo rapidamente. — Quero dizer. Eu só nã o quero spoilers.
Ele inclina a cabeça.
— Você realmente levou uma surra, nã o foi? — ele murmura. — Mas tudo
bem, eu vou parar na garagem hoje depois da minha ú ltima aula. Você quer
que eu pegue mais alguma coisa?
— Nã o, apenas o livro —, digo a ele.
Essa é a ú nica coisa que importa.
CAPÍTULO QUATRO

RAUL

Semicerrando os olhos para o novelo de lã gigante à nossa frente, imaginando


que tipo de mente distorcida pensou que isso seria uma boa atraçã o turística.
Faz alguns dias desde que Trent e eu pegamos a estrada em busca de Brad, e
acabamos em Salt Lick, uma cidade que parece se orgulhar de seu absurdo.
— Cara, este é definitivamente o tipo de lugar que Brad adoraria —, diz Trent
com uma risada. — Ele estaria comendo sushi questioná vel de posto de
gasolina e rindo pra caramba com essa bola de lã cafona.
Sinto uma onda de ciú me ao lembrar de sua amizade e da conexã o que eles
compartilham, mesmo que eu acredite em Brad quando ele diz que sempre foi
platô nico. Pelo menos do lado dele. Nã o há dú vida de que o beta sente algo por
ele, que é a ú nica razã o pela qual nã o acredito que ele esteja mentindo para
mim sobre nã o saber onde Brad está . Eu nã o acredito que ele colocaria Brad
em perigo intencionalmente, e ele certamente entende o suficiente sobre seu
bando para saber exatamente onde ele está se eu nã o o encontrar.
— Sim, provavelmente —, murmuro.
Nó s procuramos em toda a maldita cidade sem sorte. O cheiro de Brad está
longe de ser encontrado.
— Ele nã o deve estar mais aqui —, eu digo. — Nó s já teríamos captado o
cheiro dele se ele estivesse.
Trent suspira.
— Devíamos ter ido primeiro a Blue Fang.
Eu olho para ele.
— No segundo em que chamarmos Blue Fang perante o Conselho, terei que
reivindicá -lo como meu companheiro para revistar o bando. Depois que eu
fizer isso, ele estará no radar de Constantine ainda mais, e será Blue Fang. e
Grayridge correndo contra Stone Hollow para encontrá -lo. Você realmente
acha que é uma boa ideia?
— Sim, que seja —, murmura Trent.
— Vamos voltar para Stone Hollow —, sugiro, tentando manter minha
frustraçã o sob controle. Trent concorda relutantemente, e nó s entramos no
carro, partindo para o aeroporto mais pró ximo, que está longe de ser tã o
longe.
Enquanto dirigimos, nã o consigo deixar de pensar em como sinto falta de
Brad. Sua risada, sua inteligência, até mesmo sua teimosia irritante. O carro
fica em silêncio por um longo tempo, a tensã o entre Trent e eu palpá vel.
Depois do que pareceram horas, Trent finalmente quebra o silêncio, sua voz
hesitante.
— Entã o... quanto tempo você acha que tem?
— Hum?— Eu pergunto, confuso. — O que você está falando?
— Antes que você se torne selvagem —, ele esclarece. — Você sabe, como
qualquer outro alfa cujo companheiro é tirado deles.
Meu aperto no volante fica mais forte, meus dedos ficando brancos enquanto
me forço a manter minha voz firme.
— Vou me controlar o tempo suficiente para encontrar Brad. Essa é minha
ú nica opçã o.
— Certo —, diz Trent, olhando pela janela. — Porque isso funcionou tã o bem
para todos os outros que tentaram.
Cerro os dentes, desejando manter a calma.
— Eu nã o sou todo mundo. E vale a pena lutar por Brad. Entã o, eu vou
encontrá -lo. Nã o importa o que aconteça.
— Espero que você esteja certo —, Trent responde calmamente.
E pela primeira vez, acho que ele quis dizer isso.
Seguimos em silêncio, a tensã o entre nó s diminuindo um pouco enquanto nos
concentramos em nosso objetivo comum: encontrar Brad. O sol começa a se
pô r quando chegamos ao aeroporto, e fico aliviado por um jato particular ser
um dos muitos recursos disponíveis para mim como um alfa regional, porque
realmente nã o estou com vontade de estar em uma lata cheia de humanos
agora.
À medida que a noite cai, meus pensamentos se voltam para a teoria de Brad,
como sempre fazem ultimamente, sua teoria de que este mundo em que
vivemos é uma obra de ficçã o. Parece totalmente ridículo.
Mas de que outra forma Brad simplesmente desapareceu no ar?
Eu olho para Trent, me perguntando se Brad já disse alguma coisa a ele sobre
isso.
— Brad já mencionou alguma coisa para você sobre... um livro?
— Um livro? — ele ecoa, levantando uma sobrancelha. — Brad nã o é
realmente do tipo que lê.
Eu bufo.
— Nã o... Mas este livro era algo diferente. Ele achava que éramos personagens
de algum tipo de histó ria.
Trent franze a testa para mim, perplexo.
— O quê? Nã o, ele nunca disse nada assim. Nó s nã o guardamos segredos um
do outro.
Sua confusã o parece genuína. Sua indignaçã o também, mas isso só torna tudo
ainda mais bizarro.
É um risco apenas dizer isso a ele, considerando que ainda é uma
possibilidade de que ele ainda esteja trabalhando com seu bando e esteja por
trá s do desaparecimento de Brad, ou pelo menos ciente disso. Mas é um risco
que devo correr, já que ele conhece Brad melhor do que ninguém.
— Eu sei como isso soa —, murmuro. —E nã o estou dizendo que acredito
nisso, mas Brad certamente acredita.
Trent hesita e realmente parece estar considerando minhas palavras.
— Ele disse algumas coisas estranhas, agora que você mencionou. Eu nã o
pensei muito nisso na época. Ele pode ser estranho, e eu percebi que ele
estava apenas estressado.
— Ele falou em ir embora?— Eu pressiono. Quando vejo suas paredes
subirem, suspiro: — Nã o vou descontar em você. E nã o sou idiota. Sei que ele
estava planejando escapar, pelo menos inicialmente. Só estou tentando
descobrir se ele disse alguma coisa que possa nos dar uma pista de onde ele
está agora.
Trent parece estar considerando isso também, para meu alívio. Ele finalmente
balança a cabeça.
— Eu acho que nã o. Ele apenas me disse para ser paciente. Que ele me tiraria
eventualmente, e eu acho que ele meio que o fez —, diz ele. — Se o seu porã o
conta.
Eu suspiro.
— Era disso que eu tinha medo.
— Você nã o acha seriamente que ele saiu para voltar a este livro ou algo
assim, acha? — Trent pergunta.
— Na cabeça dele, este é o livro —, corrijo. — Ele estava tã o convencido de
que nada disso era real. Que ele nã o pertencia aqui.— Engulo em seco,
odiando a dor no peito ao pensar em Brad querendo me deixar para trá s.
Fugir para algum mundo de fantasia - ou melhor, o real - onde eu nã o existo.
— Você nã o pode realmente pensar que ele encontrou uma saída para a
realidade —, diz Trent, mas há uma nota de incerteza em sua voz.
— Nã o sei mais o que pensar —, admito. — Nada disso faz sentido. Ele deveria
ter sido fá cil de encontrar, mas é como se ele tivesse desaparecido no ar. Ele é
um ô mega, pelo amor de Deus. Meu ô mega, e ele nem tem sua forma de lobo
ainda. E agora ...— Eu paro, balançando a cabeça.
— Olha, Brad é um pouco estranho. Ele sempre andou no ritmo de seu pró prio
baterista —, diz Trent cuidadosamente. — Mas ele nã o é louco. Ele tem uma
cabeça decente em seus ombros. Ele provavelmente só estava fodendo com
você. Agora isso definitivamente soa como ele.
— Ele nã o estava,— eu rosno, parecendo mais animalesco do que eu
pretendia. Eu levo um segundo para me acalmar, preocupado que toda a coisa
selvagem esteja se instalando mais cedo do que eu temia. — Você acha que eu
quero acreditar nisso? Que meu companheiro de alguma forma transcendeu a
realidade, ou foi sugado para outra dimensã o, ou o que diabos está
acontecendo? Eu só o quero de volta. Eu nã o me importo como.
Trent fica em silêncio por um longo momento.
— Você realmente o ama, nã o é? — ele pergunta baixinho, com um toque de
derrota em seu tom.
Mantenho meus olhos fixos na janela do aviã o enquanto ele desce lentamente.
— Mais do que tudo.
Trent suspira.
— Pelo que vale... espero que você o encontre.
Eu aceno rigidamente.
— Obrigado. — É mais do que eu esperava receber de Trent. Talvez ele nã o
seja tã o ruim quanto eu pensava. Ou talvez nó s dois estejamos muito
preocupados com a mesma coisa impossível para nos incomodar em lutar
agora.
De qualquer maneira, ficamos em silêncio pelo restante do voo. E minha
mente continua circulando o mesmo pensamento, recusando-se a deixar ir.
Onde quer que Brad esteja, e como ele foi tirado de mim, eu o trarei de volta.
Mesmo que eu tenha que rasgar as pá ginas da pró pria realidade.
CAPÍTULO CINCO

BRAD

Estou andando pela sala como um animal enjaulado, o que parece irô nico, já
que passei todo esse tempo em um maldito romance shifter e ainda nã o tenho
uma forma de lobo durã o para mostrar isso.
Nã o consigo me concentrar em mais nada além de recuperar aquele livro.
Devon tentou ir ontem, mas a loja estava fechada quando ele chegou lá , entã o
ele prometeu que iria depois da aula hoje. Cada minuto passa mais devagar
que o anterior.
Ele finalmente aparece e eu praticamente me jogo do sofá correndo para
pegar o livro dele.
— Você é um salva-vidas —, murmuro. Eu teria ido sozinho, mas Reese e os
outros estã o rondando desde que voltei, entã o nã o há como eu passar pela
porta da frente.
Acho que eles estã o felizes por finalmente terem uma desculpa para mandar
em mim, para variar.
— Você realmente gosta desse livro, hein? — Devon pergunta com uma risada,
observando enquanto eu o abro apressadamente, tentando encontrar o local
em que estava antes. — Eu nunca vi você rasgar nada com tanta fome que nã o
fosse uma pizza suprema de massa recheada.
— Ha ha, muito engraçado —, resmungo, sem tirar os olhos do livro. Meu
coraçã o está batendo forte no peito quando abro a capa e percebo que a
primeira pá gina está assinada abaixo do título.

Para Devon,
Esperamos que você encontre seu próprio HEA3 em breve.
-Luna Daycrest

OH. Portanto, é uma có pia assinada. Provavelmente nã o deveria ter fugido com
isso do jeito que eu fiz, entã o. Meu erro.
Eu folheio as pá ginas, tentando descobrir se alguma coisa mudou. À primeira
vista, parece que está tudo bem. Entã o noto o pouco de sangue manchado na
borda das pá ginas douradas e me sinto um pouco enjoada com a lembrança do
acidente.
Ops duplo.
Fora isso, o livro está exatamente como eu o deixei, e o nome de Catalina ainda
está em todas as cenas, incluindo a escaldante que eu instintivamente coloco,
o que me deixa com ciú mes insanos.
Ela está de volta ao livro ou eu estava imaginando tudo para começar? Quase
nã o tenho certeza de qual possibilidade é pior.
— O que você está fazendo? — Devon pergunta.
— Apenas tentando descobrir onde parei —, eu respondo. Deixei um pedaço
de casca de porco entre as pá ginas para marcar meu lugar, mas agora sumiu.
Se ao menos houvesse algum tipo de coisa que você pudesse colocar em um
livro para manter seu lugar.
Como... um guardiã o do lugar.
Talvez eu entre no Shark Tank com essa merda assim que descobrir tudo isso.
Devon faz um som de reconhecimento e se joga no sofá ao meu lado, pegando
seu telefone. Enquanto continuo a ler, posso senti-lo olhando por cima do meu
ombro.

3 Happily Ever Afte (Felizes para sempre)


— Ooh, essa é uma boa cena —, ele comenta enquanto eu passo para a cena
em que me lembro de parar, logo antes de Constantine atacar o bando. — Raul
é tã o gostoso, ficando entre Constantine e Catalina sem nem mesmo pensar
nisso. Entã o, a maneira como ele leva ela e suas irmã s para um lugar seguro
—, diz ele com um olhar sonhador em seus olhos. enquanto eu estava no calor.
Provavelmente.
Reviro os olhos, tentando me lembrar de que nã o há como meu irmã o saber
que Raul é meu. E nã o posso explicar isso exatamente sem um, saindo como
algo que nem mesmo estou pronta para aceitar, e dois, fazendo-o pensar que
perdi completamente o controle.
— Sim, claro, ele é um verdadeiro Clint Eastwood —, murmuro, virando a
pá gina. Essa é a parte em que parei para ir à festa porque estava ficando bom
e nã o queria arriscar passar o dedo.
— E Catalina é tã o doce e corajosa, confortando Mina assim —, ele continua
com um suspiro melancó lico.
— Doce e corajosa? — Eu zombo, incapaz de conter meu aborrecimento. —
Por favor. E Mina é a ú ltima pessoa que precisa ser consolada. Mais como
trancada em um armá rio de vassouras e impedida de atacar Constantine com
seu garfo de jantar.
Devon levanta uma sobrancelha para mim, claramente confuso com a minha
reaçã o.
— Eu pensei que você realmente gostasse deste livro. Por que você está
odiando o personagem principal de repente?
Eu dou de ombros, tentando jogar fora.
— Apenas pense que Catalina é um pouco insípida. Como um pã o-de-ló
amanhecido.
— Se você nã o gosta do personagem principal, por que está tã o interessado na
histó ria?— Devon pressiona.
Eu me contorço sob seu olhar questionador, lutando por uma resposta que
nã o me faça parecer uma luná tica completa.
— O resto dos personagens estã o bem —, respondo, tentando nã o soar tã o
investido quanto eu. — Se alguém deveria ser o MC, é Lenore. Ela é inteligente.
E durona.
Ele franze o nariz.
— Nã o sei. Nunca gostei muito dela.
— Por que diabos nã o? — Eu exijo. Tanto para nã o ficar na defensiva.
— Caramba, o que subiu na sua bunda e morreu? — ele pergunta, piscando
para mim. Seu rosto fica completamente branco e sua pele fica pá lida de
repente.
— Você nã o precisa ser tã o dramá tico —, murmuro.
— Nã o é isso —, diz ele, com a voz um pouco embargada. — É ... o livro. Está
mudando.
Eu olho para baixo e meu coraçã o pula na minha garganta. O texto na pá gina
está desaparecendo diante dos meus olhos, as palavras desaparecendo no
nada. Folheio o livro em pâ nico e encontro passagens inteiras desaparecendo,
uma apó s a outra, até a ú ltima pá gina ficar em branco.
— Que porra é essa? — Eu sussurro enquanto olho para o livro em descrença.
Volto para a primeira pá gina e meus olhos se arregalam quando percebo que o
texto ainda está lá , mas está mudando. Em vez da linha de abertura do livro de
que me lembro, ela começa com algo ainda mais familiar, mas impossível.
Brad piscou lentamente para abrir os olhos e olhou confuso para o pavimento
rachado abaixo dele. As luzes do teto estavam obscurecidas pela chuva, mas um
brilho fraco vinha do poste do outro lado da rua. Ele ouviu o som distinto de
gotas de chuva batendo na calçada e piscou novamente quando uma caiu bem
em seu olho.
— Puta merda,— Devon respirou, lembrando de sua presença e me
assegurando que eu nã o era o ú nico testemunhando isso.
— Você também vê, certo? — Eu exijo, me virando para encará -lo enquanto as
palavras continuam a reaparecer até que a pá gina seja preenchida, e enquanto
eu folheio, percebo que está preenchendo rapidamente o resto também, só
que nã o é a histó ria original.
É meu.
Devon abre a boca para responder, mas parece nã o ter palavras. Ele apenas
olha para o livro em um silêncio atordoado.
Folheio as pá ginas cada vez mais rá pido, folheando o suficiente para perceber
que nã o é apenas uma estranha coincidência. O livro se tornou literalmente a
histó ria da minha vida, contando tudo o que vivi desde que cheguei ao mundo
de Raul, nos mínimos detalhes.
Meu coraçã o bate forte enquanto eu corro mais rá pido, tomando cuidado para
pular as partes obscenas, já que tenho certeza que Devon nã o precisa de
nenhuma dessas imagens mentais, e eu particularmente nã o preciso que ele as
tenha - apenas para descobrir a histó ria é interrompida abruptamente depois
que saí do quarto de Raul.
Nã o há mais nada, nã o há mais texto escrevendo-se magicamente. Apenas
pá ginas em branco esperando para serem preenchidas.
— Que diabos? — Devon chora, sua voz cada vez mais em pâ nico. — Como
isso é possível? Como você fez isso?
— Eu nã o fiz nada —, digo a ele, pulando do sofá . — É este livro. Nã o sei como
ou por que, mas é... porra de magia ou algo assim, e quando entrei em coma,
nã o estava apenas dormindo. Eu vim para cá —, digo, cutucando as pá ginas
com meu dedo. — Eu entrei em The Wolf's Mate e me tornei o personagem
principal de alguma forma. Raul e Lenore, Trent e Mina e todos os
outros ...eles estavam lá . Eu os conheci. Todos, exceto Catalina.
Devon escuta enquanto eu falo, e apesar do que nó s dois acabamos de ver com
nossos pró prios olhos, posso ver o lado ló gico de seu cérebro, o lado que
sempre foi dominante, assumindo o controle. Ele balança a cabeça.
— Brad, ouça a si mesmo. Isso é loucura. É apenas um livro.
— Você acha que eu nã o sei como isso soa? — Eu pergunto. — Mas é verdade.
De que outra forma você explica o que acabou de ver?
Ele estremece um pouco, como se quisesse desviar o olhar, mas nã o consegue.
— Eu nã o sei, mas tem que haver uma explicaçã o racional.
— Pelo amor de Deus, chega de besteira racional —, eu rosno, andando de um
lado para o outro no sofá para nã o jogar o livro. — Você sabe o que viu e eu sei
o que experimentei. Fiquei fora por apenas alguns dias aqui, mas passei mais
de um mês lá . Tudo parecia real. A passagem do tempo, as pessoas, a comida, o
clima , tudo.
Ser amarrado por um lobisomem gigante...
Especialmente isso.
Mas nã o estou prestes a discutir isso com meu irmã o literal.
Devon hesita, mas posso dizer que ele está pelo menos considerando minhas
palavras. Como se ele tivesse outra escolha.
— Diga que eu acredito que tudo isso seja possível —, diz ele, pressionando a
mã o na têmpora como se lhe causasse muita dor apenas para entreter o
pensamento. Para um cara que passa o dia todo com a cabeça em uma
fantasia, ele é irritantemente pé no chã o. — Você realmente espera que eu
acredite em você, o quê, substituiu Catalina na histó ria de alguma forma? Você
?
Eu dou de ombros.
— Nã o estou dizendo que entendo, mas sim, foi o que aconteceu.
— Entã o, onde está Catalina?— ele exige.
Eu hesito, porque isso é honestamente algo que eu realmente nã o tinha
considerado. Meu erro.
— Uh... eu nã o sei. Poof? Ela era meio que... qual é a palavra? Uma Betty Boop?
— Uma Mary Sue? — ele pergunta, levantando uma sobrancelha. — Você sabe
que é um termo misó gino completamente desatualizado, certo?
— O que, como Batman nã o é um? — Eu desafio. — Além disso, se há algo
misó gino, é ter um personagem principal sem personalidade que existe para
pensar no abdô men de Raul, cagar nas outras mulheres do livro sem motivo e
ser resgatada o tempo todo pelos caras.
— Ok, Sr. Durã o, e o que você fez quando Constantine bateu na porta?—
Devon pergunta, cruzando os braços. Eu li esse maldito livro na tentativa de
acabar com uma briga com ele e agora estamos discutindo sobre isso.
— Eu nã o cheguei a essa parte ainda —, admito com um encolher de ombros.
— Mas eu tenho um plano. Coloque algumas balas de prata em uma Glock e
carregue um Super Soaker com á gua benta para garantir. Bang bang, squirt
squirt, o filho da puta está morto e todos viveram felizes para sempre, vadia.
A expressã o de Devon fica em branco mais uma vez, mas desta vez, é mais
irritaçã o do que descrença.
— Você é um idiota —, ele murmura, mas posso ver as rodas girando atrá s de
seus olhos. — Eu simplesmente nã o entendo. Eu é que li o livro centenas de
vezes. Por que você?
— Ah, entã o é isso —, eu zombo. — Você acredita nisso. Você só está chateado
por ter sido eu e nã o você.
Eu posso dizer pela maneira como suas narinas se abrem e seu rosto fica
vermelho que eu atingi um nervo.
— Foda-se.
— Olha, você é o cérebro aqui —, raciocinei, tentando difundir a situaçã o
antes que ela se transformasse em outra de nossas lutas lendá rias. — Você me
ajuda a descobrir uma maneira de voltar e nó s dois podemos ir. Confie em
mim, Curtis é mais o seu tipo de qualquer maneira.
Seus olhos se estreitam ligeiramente, e ele está me olhando com desconfiança.
— Você realmente quer voltar?
— Entã o você acredita em mim? — Eu pergunto esperançoso.
— Nã o! — ele estala com uma careta. — Eu só ... vamos fingir por um segundo
que sim. Por que você iria querer voltar para lá ? Especialmente se você for um
substituto para Catalina, o que significa que você era...— Ele para e eu nã o
gosto do olhar conspirató rio em seus olhos. — Espera, você era um ô mega?
Agora é meu rosto que está ficando vermelho.
— Espere o que? — Devon pergunta com uma risada que faria qualquer vilã o
do mal estremecer. — Você está falando sério? Entã o isso significa que você e
Raul...?
— Nó s nã o estamos tendo essa conversa —, eu digo entre dentes.
— O inferno que nã o estamos —, diz ele com uma firmeza que nã o estou
acostumada. De forma alguma. — Você está me pedindo para ajudá -lo a fazer
algo que é literalmente impossível, entã o você vai me contar a histó ria
completa. Tudo isso.
— Você quer a histó ria completa? — Eu pergunto, segurando o livro para ele.
— Aqui está . Tudo isso.
Devon hesita um momento antes de pegar o livro das minhas mã os, e sinto
como se estivesse entregando uma parte da minha alma, mas tenho que
apenas sentar com aquela sensaçã o desconfortá vel enquanto ele examina as
pá ginas. Ele sempre foi um leitor rá pido, e posso dizer quando ele chega à s
partes sensuais pela maneira como faz caretas, mas ele continua assim como
eu faço sempre que Magic Mike traz o ponche para uma festa.
Quando chega ao meio do livro, ele parece um pouco mais pá lido quando olha
para mim, sua expressã o uma mistura de descrença, choque e resignaçã o.
— Você... realmente sobreviveu a tudo isso? — ele pergunta, sua voz
vacilando.
— Sim —, eu respondo. Por mais vulnerá vel que pareça deixá -lo ler tudo isso,
sei que nã o tenho outra escolha. — Você é a ú nica pessoa em quem confio. A
ú nica pessoa que poderia entender o que tudo isso significa para mim. O que...
ele significa.
Seu olhar suaviza um pouco, embora eu possa dizer que há uma parte dele que
ainda está um pouco amarga. E nã o posso dizer que o culpo. Afinal, sou eu
quem vive a fantasia dele.
— Você é bi? — ele finalmente pergunta.
Eu hesito, porque nã o tenho certeza de qual é a resposta para mim mesmo.
— Eu... nã o sei o que sou —, admito. — Só sei como ele me faz sentir. E sei
como me sinto desde que voltei para cá . Quando estava lá , tudo o que queria
era voltar para cá . Para acertar as coisas com você, principalmente , e agora....
— Tudo o que você quer é voltar para ele —, Devon diz suavemente.
— Sim —, eu suspiro, passando a mã o pelo meu cabelo curto. — Muito louco,
hein?
— Oh, isso é um eufemismo —, diz ele em tom irô nico. — Mas acho que
realmente acredito nisso, entã o acho que isso também me deixa louco.
Sinto a primeira explosã o de esperança desde que começamos esta conversa.
Conversa, discussã o, é meio que tudo igual entre irmã os. Gêmeos,
especialmente.
— Entã o você vai me ajudar?
— Eu... sim. Acho que vou —, diz ele, como se estivesse questionando sua
pró pria sanidade. E justo o suficiente. — Antes que você fique muito animado,
eu nã o tenho a porra da ideia de como fazer isso.
— Bem, você está no mesmo barco que eu, entã o,— eu digo, olhando para o
livro em suas mã os. — Mas você está certo sobre uma coisa. Se a pura
obsessã o foi suficiente para fazer essa merda acontecer, você deveria ter sido
sugado para o livro. O que significa que o pró prio livro tem que ser a chave
para tudo isso. Tem que haver algo sobre isso que me fez ficar preso lá dentro.
— Ok, entã o vamos descobrir o que há de especial no livro má gico —, Devon
concorda, respirando fundo como sempre faz quando está perdido, mas
determinado a provar ao professor da terceira série que o colocou na classe
superdotada e a mim em uma lista de observaçã o “prová vel comer cola”
correta. — Quã o difícil isso pode ser?
— Esse é o espírito —, digo, embora, no fundo, acho que provavelmente
estamos ferrados. Mas eu tenho que tentar de qualquer maneira. Nã o importa
o que o resto dessas pá ginas em branco guarde no futuro, nã o posso deixar
que seja assim que nossa histó ria termine.
CAPÍTULO SEIS

RAUL

O cheiro de tensã o e preocupaçã o enche o ar enquanto estou no hall da frente


da mansã o, informando Lenore e Curtis sobre tudo o que planejei. Nã o consigo
evitar o aperto no peito quando anuncio que convoquei uma reuniã o com o
Conselho e pedi a presença de Caninos Azuis. A guerra paira sobre nossas
cabeças como uma nuvem escura e tempestuosa que está pronta para
desencadear o caos a qualquer momento.
— Raul —, diz Lenore, ainda mais sombria do que o normal. — Você tem
certeza que esta é a melhor idéia? Podemos enviar batedores para passar as
linhas do territó rio disfarçados.
— Já pensei nisso —, admito. — Mas se Brad estiver no territó rio de Blue
Fang, ele já teria sido capturado. E eu preciso chegar ao pacote interno para
poder sentir seu cheiro. Enquanto Blue Fang ainda estiver fingindo querer a
paz com o Conselho , eles nã o terã o escolha a nã o ser aceitar nosso convite
para sediar a reuniã o.
— Tudo bem —, Lenore suspira. — Vou preparar uma equipe de segurança.
Apenas no caso.
É mais uma probabilidade do que uma possibilidade, uma vez que o alfa de
Blue Fang descobre que estou reivindicando um ô mega Blue Fang como meu
companheiro, mas decido nã o discutir o ponto.
— Isso vai ser um banho de sangue —, murmura Curtis, nunca medindo
palavras. — Mas estou com você, Raul. Brad faz parte do nosso bando agora.
Temos que fazer tudo o que pudermos para protegê-lo.
— Obrigado —, eu digo, grato por seu apoio.
Só espero que seja o suficiente. Vou rasgar a garganta do alfa do Blue Fang na
frente do maldito Conselho se for preciso, mas prefiro evitar uma guerra
direta, se possível.
Só entã o, Trent emerge de onde quer que tenha estado. Eu já mandei Mina e
Hannah embora para o caso de Blue Fang decidir partir para a ofensiva, entã o
ele tem vagar relativamente livre pela mansã o agora. Se ele quisesse escapar,
ele o teria feito em nossa viagem, e ele sabe que nã o vai sair daqui sem que
alguém perceba.
— Eu quero ir com você —, diz ele.
— Você nã o pode estar falando sério —, Lenore zomba. — Assim que Blue
Fang colocar as mã os em você novamente, eles vã o matá -lo. E se nã o o
fizerem, Constantine o fará .
— Eu nã o me importo —, diz Trent com firmeza. — Se isso significa trazer
Brad de volta, faça o que quiser comigo. Ofereça-me como moeda de troca.
Eu o encaro em um silêncio atordoado. Para um beta, ele é muito corajoso.
— Você entende que é essencialmente uma sentença de morte —, eu digo
lentamente. — Blue Fang nã o vai simplesmente deixar você ir depois disso.
Eles vã o fazer de você um exemplo.
— Eu nã o me importo —, diz Trent novamente. — Desde que Brad esteja
seguro.
Estou chocado com sua bravura. Ou estupidez. Talvez ambos.
Mas ele está certo, se for preciso, posso definitivamente usá -lo como moeda de
troca.
— Você tem minha palavra —, digo a ele. — Farei o que puder para protegê-lo.
Mas se for preciso...
Ele acena em compreensã o.
— Vamos, entã o. Quanto mais cedo o encontrarmos, melhor.

***

Uma vez que Blue Fang concordou em aceitar nosso convite - a contragosto,
tenho certeza - eu me encontro no salã o do bando de Blue Fang com Lenore,
Curtis, Kyle, Matthew e Trent, que está algemado para fazê-lo parecer um
prisioneiro de verdade... Mesmo que ele tenha elevado um pouco seu status
acima disso, graças ao sacrifício que estava disposto a fazer para ter Brad de
volta.
O Conselho está sentado diante de nó s, sentado ao redor de um estrado,
esperando para mediar o assunto entre os bandos. Mesmo que eu seja o Alfa
regional, ainda estou sujeito a leis e costumes. Vou quebrar cada um deles se
for preciso para recuperá -lo.
O alfa do Blue Fang, Liam, entra no corredor, ladeado por seus betas. Ele é alto
e largo, com olhos azuis gelados e um perpétuo sorriso de escá rnio. Nã o o vejo
há anos, mas sinto um ó dio familiar bem dentro de mim.
Assim como seu pai, ele é uma cobra que sempre joga dos dois lados, nunca
querendo se comprometer com nenhum deles.
Evidentemente, ele finalmente escolheu um.
— Alpha Raul —, diz ele com uma reverência zombeteira. — A que devemos o
prazer?— Seu olhar desliza para Trent, algemado ao meu lado. — E o que é
isso? Você nos trouxe um presente?
— Nã o exatamente —, eu digo calmamente. Por dentro, estou fervendo. —
Convoquei esta reuniã o para discutir o ô mega que você roubou de meu
territó rio. Quero Brad de volta e estou preparado para ir à guerra para pegá -
lo, se for preciso.
Os olhos de Liam se arregalam brevemente antes de sua expressã o suavizar.
— Brad? — ele pergunta com uma risada amarga. — Se estamos falando do
mesmo ô mega, ele é um lobo Blue Fang, nascido e criado. E ele está
desaparecido há mais de um mês. Suponho que agora estou olhando para o
principal suspeito?
— Ele nã o é realmente um lobo,— eu retruco incisivamente. — Ele é?
Eu posso dizer pelo olhar no rosto de Liam que nã o é algo que ele espera que
eu saiba. Muito menos expressar ao Conselho. Ele age como se estivesse
envergonhado, o que me enche de raiva. Seus olhos se estreitam e ele dá um
passo à frente, com os pelos arrepiados.
— O que você está implicando? — ele rosna.
— Brad nã o é um shifter lobo —, eu digo calmamente. — Ele é humano. E ele
veio para o meu territó rio apavorado, e implorando por santuá rio de você e
seu bando.
Isso nã o é bem verdade, mas Blue Fang nã o hesitará em mentir, entã o por que
eu deveria?
— Agora, vou perguntar de novo —, continuo. — Onde ele está ?
— Mesmo se eu soubesse, por que diabos isso é da sua conta? — Liam rosna—
Ele é um ô mega Blue Fang.
— Porque ele é meu companheiro.— Eu respondo, olhando para Liam.
A sala fica em silêncio, todos esperando o pró ximo movimento neste jogo de
alto risco.
Os olhos de Liam se arregalam em descrença.
— Seu mentiroso!
— Por que você parece tã o chateado, Liam? — Eu provoquei. — É porque você
já planejou acasalá -lo? Para o maior inimigo do Conselho que você alegou
desejar se juntar no ano passado, nada menos?
A cor desaparece de seu rosto, e eu sei que o tenho. O Conselho sussurra entre
si, horrorizado, enquanto Liam parece estar procurando uma maneira de
salvar isso.
— Isso nada mais é do que mentiras e boatos, mas com quem eu escolho aliar
meu bando nã o é da sua conta —, ele sussurra.
— É quando você está casando meu companheiro para fazer isso —, eu
respondo friamente.
— Ele nã o pertence a você! — Liam ruge.
— Brad é meu companheiro destinado —, eu digo, encontrando seu olhar
furioso uniformemente. — Eu tive um imprinting com ele. E, como tal, estou
invocando o antigo estatuto que permite que um alfa procure o territó rio de
outro bando para recuperar seu companheiro se eles acreditarem que estã o
em perigo ou contra sua vontade. Considerando seu pedido pendente para
ingressar as terras do Conselho, você concordará , a menos que deseje
rescindir sua associaçã o e reconhecer sua lealdade ao inimigo.
Liam gagueja em indignaçã o.
— Você nã o pode fazer isso!
Eu me viro para o Conselho, ignorando seu pequeno acesso de raiva, já que ele
nã o tem como se apoiar e nó s dois sabemos disso.
— Você me concederá permissã o para procurar meu companheiro no
territó rio Blue Fang?
Quer eles aprovem ou nã o, está acontecendo, mas prefiro seguir o caminho
mais fá cil.
O Conselho murmura entre si antes de se voltar para Liam.
— Você nega a alegaçã o deste alfa de seu companheiro destinado? — o mais
velho pergunta.
Liam hesita, como se soubesse que isso seria tã o bom quanto uma declaraçã o
de guerra.
— Eu nã o nego isso —, diz ele, claramente aflito. — Nem eu afirmo isso. Mas o
fato é que há um ô mega desaparecido, e se ele realmente nã o está sob nossa
custó dia, entã o esse assunto deve ser resolvido antes de avaliar os méritos de
tal reclamaçã o.
— Entã o nó s concordamos em algo —, eu digo incisivamente. — E você nã o
deveria ter nenhuma razã o para recusar uma busca em seu bando. De boa fé.
— Claro —, diz Liam entredentes. — Mas devo insistir em uma busca em
Stone Hollow também. No interesse da justiça. Pelo que sei, você pode estar
escondendo ele.
O Conselho olha para mim como se esperasse que eu recusasse.
— Nã o tenho objeçõ es —, respondo. — Eu falo a verdade.
— E o prisioneiro deve ser devolvido —, diz Liam, seu olhar voltado para
Trent, igualmente frio e calculista. — Nó s exigimos uma troca pelo ô mega,
caso ele seja encontrado e sua reivindicaçã o seja verdadeira.
Meus olhos encontram Trent, que permanece orgulhoso apesar de seu
cativeiro. Ele tem sido um espinho no meu lado desde a sua chegada, mas nã o
posso negar a coragem necessá ria para enfrentar uma possível sentença de
morte pelo bem de alguém de quem ele gosta.
— Tudo bem, se chegar a isso —, eu digo com relutâ ncia. — Mas ainda nã o.
Nã o até encontrarmos Brad.
Trent parece surpreso, mas aliviado. Nã o vou entregá -lo a menos que nã o
tenha outra escolha, pelo bem de Brad. E tenho a honra de fazer isso depois de
tudo que Trent fez para me ajudar a encontrá -lo.
— Está resolvido, entã o —, diz Nona, a fêmea alfa que atualmente atua como
chefe do Conselho. — Os representantes de cada bando terã o permissã o para
fazer buscas no territó rio de Stone Hollow e Blue Fang. Quaisquer descobertas
serã o relatadas diretamente a mim e ao Conselho.
Liam acena com a cabeça, embora esteja claramente furioso. Eu mantenho
minha expressã o neutra. Deixe-o pensar que ganhou esta rodada. Se ele está
escondendo Brad, todo o blefe do mundo nã o vai adiantar nada.
E se ele nã o for...
O pensamento é muito preocupante para ir por esse caminho antes que seja
necessá rio.
CAPÍTULO SETE

BRAD

Sentar no chã o no quarto vago na casa da fraternidade, olhando para o círculo


má gico que Devon montou. É difícil acreditar que já faz uma semana desde
que começamos a tentar me colocar de volta no livro, e estou começando a
duvidar de todo esse processo.
The Wolf’s Mate está no centro do círculo, me provocando com sua
representaçã o brilhante de Raul, olhos dourados brilhantes e tudo.
Deus, ele é gostoso. Eu pensei que estar de volta ao mundo real me ajudaria a
me livrar desses sentimentos, mas nã o.
Eles ainda estã o lá , teimosos e gays como sempre.
— Devon,— eu digo, frustraçã o em minha voz, — você tem certeza que isso
vai funcionar? Parece que já tentamos uma centena de vezes.
Ele olha para mim com aquela determinaçã o nerd que sempre teve.
— Estamos tentando colocar você em um livro, Brad. Nã o há ciência exata
aqui. Mas eu encontrei um feitiço que afirma permitir que você mude para
outra realidade, que é o que eu acho que você fez de alguma forma. — Ele faz
uma pausa e sorri. — E a ú nica outra maneira de fazer isso é recriar como
você fez da primeira vez e atropelá -lo com um caminhã o. Quer tentar de novo
?
Na verdade, era um sedã , mas de jeito nenhum vou lembrá -lo disso.
— Tudo bem, tudo bem —, resmungo. — Acenda a maldita vela já .
Com um aceno de cabeça, Devon acende a vela no centro do círculo e nos
damos as mã os para recitar o encantamento do livro. Quando as palavras
saem da minha boca, posso dizer que nã o estã o certas e, aparentemente,
Devon também.
— Você está pronunciando errado —, diz Devon.
— Como diabos eu vou saber como pronunciar essa merda quando está tudo
inventado?— Eu estalo.
Devon revira os olhos.
— Você está brincando comigo? Latim é real! Você pensou que era apenas
uma linguagem de fantasia que eles inventaram para filmes élficos ou algo
assim?
Eu dou de ombros, sentindo minhas bochechas esquentarem.
— Eu pensei que era como todas aquelas mú sicas da Enya.
Gemendo, Devon diz: — Nesse ritmo, vamos invocar um demô nio em vez de
colocar você naquele livro.
— Bem, nã o podemos ser todos gênios —, murmuro.
Devon aperta minha mã o.
— Apenas se concentre, ok? Tente repetir depois de mim, devagar.
Eu respiro fundo e aceno. A vela pisca, lançando sombras dançantes sobre as
paredes. Enquanto Devon fala as palavras do encantamento novamente, faço o
possível para imitar as sílabas.
Meu coraçã o martela contra minhas costelas e me sinto meio enjoado, mas
provavelmente é apenas um efeito colateral de toda a má gica que temos feito.
Isso e o bife de frango frito que comi no café da manhã .
Continuamos com o encantamento, minha pronú ncia ficando um pouco
melhor, embora ainda longe de ser perfeita. A luz da vela pisca mais
intensamente agora, e nã o posso deixar de pensar que talvez, apenas talvez,
desta vez funcione.
— Et in alteram dimensionem me transferre4 —, Devon termina com um
floreio.
— Et in... uh, alteram di...mensionem me transferre5,— eu ecoo, tropeçando na
ú ltima frase e esperando que esteja perto o suficiente para funcionar.
— Bom o suficiente —, diz Devon, embora ele nã o pareça muito convencido. A
luz das velas tremeluz descontroladamente, lançando sombras sinistras em
nossos rostos. Meu coraçã o bate ainda mais rá pido, a expectativa crescendo
em meu peito.
Pode ser isso. Talvez eu finalmente volte para Raul.
A cintilaçã o se intensifica, mas entã o a vela se apaga tã o repentinamente
quanto começou, deixando-nos na escuridã o.
— Droga! — Eu grito, soltando a mã o de Devon. — Isso nã o está funcionando!
— Brad, se acalme —, diz Devon. — Como eu disse, magia nã o é uma ciência
exata. Só temos que continuar tentando.
— Estamos tentando há mais de uma semana! — Passo a mã o pelo cabelo, a
frustraçã o fervendo dentro de mim. A raiva é uma má scara para o pâ nico, que
é muito pior.
E se eu ficar preso aqui para sempre?
E se eu nunca mais ver Raul?
— Uh, o que vocês estã o fazendo?
Eu olho para cima para encontrar Reese nos observando da porta aberta, seus
olhos arregalados de curiosidade.
Para ser justo, entre o círculo de convocaçã o que Devon montou e a vela, isso
parece bem estranho. Nã o é a coisa mais estranha que ele já encontrou na casa
da fraternidade, de longe, mas estranho.
4 E me transfira para outra dimensão.
5 E para me transferir para... uh, outra dimensão.
— Ritual má gico —, digo, porque é mais fá cil do que inventar uma mentira.
— Legal —, diz Reese sem perder o ritmo. — Minha irmã é uma bruxa.
— Nã o, sua irmã só faz compras na Urban Outfitters —, diz Devon
incisivamente.
Reese encolhe os ombros, imperturbá vel.
— Vocês podem fazer um feitiço para me ajudar a passar em biologia?
Devon revira os olhos.
— Até a magia tem seus limites.
— Vale a pena experimentar.— Reese sorri. — Vocês querem lanches ou o
quê?
Devon parece que está prestes a dizer nã o quando meu estô mago ronca alto.
Nã o comi desde o café da manhã na pressa de voltar ao feitiço.
— Inferno, sim, queremos lanches —, eu digo. — Você pode trazer aquele
molho de manga e as cascas de porco?
Reese parece horrorizado.
— Você quer comer isso junto?
— Ei, nã o critique até experimentar.
— Tudo bem, o que quer que flutue no seu barco, cara.— Reese encolhe os
ombros e sai para buscar os lanches.
— Devemos estar fazendo algo errado —, digo, folheando um dos bilhõ es de
impressos que Devon obteve online.
— Claramente —, diz Devon secamente. — Eu ainda nã o posso acreditar que
você disse a Reese que está vamos fazendo má gica.
— O que eu deveria dizer?— Eu protesto. — Ele viu o círculo e a vela!
— Eu nã o sei, literalmente mais alguma coisa?— Devon sugere. — Como se
estivéssemos filmando um filme, ou é um projeto de arte, ou...
— Reese nã o teria acreditado em nada disso —, eu digo. — Ele sabe que eu
odeio arte.
— Você odeia arte? — Devon pergunta em um tom monó tono.
— Sim, é apenas um bando de esnobes ricos tentando passar pilhas de latas de
feijã o vazias como uma grande declaraçã o sobre a humanidade —, eu digo,
acenando com as mã os. — Essa e todas aquelas fotos de macacos imaginá rios
que as pessoas estã o vendendo por milhõ es de dó lares online quando você
pode clicar com o botã o direito e baixar a mesma merda. BLTs ou qualquer
outra coisa.
— Tenho certeza de que sã o NFTs, mas nã o há como dizer com você —, diz
Devon com um suspiro.
— Meu ponto é, Reese é tranquilo —, digo a ele. — Ele nã o vai dar a mínima se
estamos tentando trazer de volta os mortos.
— Se você diz.
Devon nã o ficou exatamente emocionado quando descobriu que eu estava
entrando para a Kappa Nu no primeiro ano, e antes do meu acidente, ele
evitou a fraternidade como uma praga, entã o nã o estou realmente surpreso
que ele esteja cauteloso.
— Sabe —, diz ele de repente, — se até mesmo Reese está olhando de soslaio
para suas escolhas alimentares, talvez você devesse reconsiderar.
— Salsa e torresmo é uma combinaçã o de ouro —, eu argumento.
— Uh-huh —, diz ele, levantando uma sobrancelha. — Isso é estranho até para
você. E você tem parecido um pouco pastoso ultimamente.
— Foda-se —, eu digo, levantando minha camisa e olhando para o meu
tanquinho com indignaçã o. Claro, nã o está tã o rasgado como de costume, mas
tenho estado muito estressado. — Estou aumentando!
— Ou você está grá vida —, raciocina Devon.
Sinto um frio na espinha.
— Ok, foda-se duas vezes.
— Estou falando sério —, diz Devon. — Você disse que era um ô mega no livro,
certo? E você e Raul foderam. Presumo que ele te deu um nó , entã o...
Eu olho para a porta aberta em pâ nico.
— Você poderia manter a porra da sua voz baixa? — eu assobio. — E eu nã o
estou grá vida!
— Como você sabe? — ele exige.
— Por um lado, estou de volta ao mundo real —, digo, apontando para o
espaço ao nosso redor. — E por outro lado, eu simplesmente nã o sou, entã o
esqueça.
— Ok, tudo bem —, diz ele, levantando as mã os em sinal de rendiçã o. — Estou
apenas dizendo.
Reese volta entã o, me entregando o molho de manga e as cascas de porco. A
julgar por seu comportamento frio, tenho certeza de que ele nã o percebeu
nada disso.
Agradeço a ele e compro ansiosamente, os sabores salgados e picantes
explodindo em minha língua. Devon parece levemente enojado, enquanto
Reese parece preocupado, o que eu acho mais ofensivo.
— Eu vou sair do seu cabelo, entã o —, diz Reese, voltando para a porta.
— Espere um segundo —, chama Devon, para nossa surpresa. — Na verdade,
talvez ter uma terceira pessoa ajude. Talvez o problema seja que nã o temos
energia suficiente apenas nó s dois.
— Uh, claro, contanto que nã o estejamos invocando nenhum demô nio ou algo
assim.— Reese parece um pouco cauteloso enquanto olha para o círculo
má gico no chã o.
Devon acena com a mã o com desdém.
— Provavelmente nã o.
Eu posso dizer que isso nã o é exatamente reconfortante para Reese, mas ele
cavalga ou morre, entã o ele se senta entre nó s de qualquer maneira.
— O que eu faço?
— Apenas dê as mã os a nó s e repita o encantamento depois de mim —, instrui
Devon.
Reese dá de ombros antes de pegar nossas mã os. Na verdade, ele faz um bom
trabalho repetindo o latim depois de Devon, e Devon parece impressionado.
— Nada mal —, diz Devon. — Como você aprendeu a pronunciar latim tã o
bem?
Reese dá de ombros.
— Fiz no ensino médio. Conheci uma garota gostosa em uma viagem à
Espanha e queria impressioná -la.
Devon abre a boca, provavelmente para dizer algo mordaz, mas depois a fecha
e apenas suspira.
— Nã o importa. Vamos começar o ritual.
Todos nó s nos damos as mã os e tento me concentrar, deixando de lado os
pensamentos sobre Raul e nossas tentativas fracassadas enquanto recitamos
os encantamentos novamente. Se der uma olhada em todas as impressõ es,
pelo menos metade da má gica é acreditar que funcionará . Meio chato para
mim, mas estou dando o meu melhor.
As velas tremulam um pouco e por um segundo penso que talvez esteja
funcionando, mas nada mais acontece.
De volta para onde começamos.
Reese olha em volta nervosamente, mas parece relaxar quando percebe que
nada vai acontecer. Ficamos sentados em silêncio por um longo momento
antes de Reese soltar nossas mã os.
— Desculpe manos, mas eu tenho que ir para a aula.
— Obrigado por tentar —, digo a ele, batendo em seu ombro. Nã o posso deixar
de sentir o peso da decepçã o se acalmar ainda mais do que antes.
— Talvez da pró xima vez —, diz Reese, tentando ser encorajador. — Mate um
lobisomem para mim se a coisa toda do livro funcionar enquanto eu estiver
fora.
— Sim, vai servir —, eu digo, acenando para ele enquanto ele sai.
— Isso foi estranho —, diz Devon, olhando para a porta onde Reese acabou de
sair.
— O que, as velas piscando um pouco? — Eu pergunto.
Devon balança a cabeça.
— Nã o, nã o isso. Quero dizer o fato de que você está disposto a dizer a Reese
que está tentando entrar em um livro com bruxaria, o que parece loucura, mas
nã o que você possa estar interessado em um cara.
Sinto meu rosto esquentar.
— É diferente, ok? — eu murmuro.
Devon estreita os olhos para mim, claramente nã o deixando passar.
— Por que é diferente? Você sempre me apoiou por ser gay.
— Porque simplesmente é! — Eu estalo, a frustraçã o borbulhando dentro de
mim. — Podemos esquecer isso e voltar a descobrir como voltar a essa porra
de livro clichê para que possamos encontrar Raul e reescrever o final?
Os olhos de Devon se arregalam e ele sorri.
— Brad, você é um gênio.
— Definitivamente é a primeira vez que ouço isso —, digo secamente.
— Nã o, sério —, diz Devon, inclinando-se para frente com entusiasmo. —
Talvez estivéssemos lidando com tudo errado. Está vamos culpando o pró prio
livro por de alguma forma transportar você para ele, mas talvez nã o seja o
livro. Talvez seja a pessoa que o escreveu.
— Mas essa coisa vendeu o quê, um milhã o de có pias? — Eu pergunto. —
Tenho certeza de que sou a ú nica pessoa com quem isso aconteceu.
Caso contrá rio, a ideia de um bando de outras pessoas obtendo sua pró pria
versã o de Raul é o suficiente para me deixar com ciú mes, entã o preciso
acreditar que isso é besteira.
— Talvez —, diz Devon com um encolher de ombros. — Mas precisamos de
respostas, e o melhor lugar para procurar é na pessoa que escreveu a maldita
coisa.
Eu olho para a capa do livro e o nome escrito em letras brancas pequenas
abaixo do título. Luna Daycrest.
— Algo me diz que esse nã o é o nome legal dela. Como devemos encontrá -la?
Nã o é como se a editora fosse simplesmente dar o nú mero dela para alguns
caras aleató rios que pensam que seus personagens sã o pessoas reais.
— Vamos encontrá -la no mesmo lugar onde você encontra qualquer outro
autor que deveria estar escrevendo —, diz Devon, pegando seu telefone.
Quando nã o entendo, ele acrescenta: — Mídia social. Já sigo o Instagram dela
e... sim, ela postou seis vezes hoje desde o almoço.
Ele me oferece seu telefone e eu percorro todas as fotos de gatos, café e
citaçõ es de seus livros. Alguns deles eu reconheço como merda Raul disse que
me fez revirar os olhos com força suficiente para ficar com dor de cabeça, e
esses sã o os que recebem todos os gostos.
Figuras.
— Droga, essa garota posta muito —, murmuro, clicando na foto do perfil. Ela
é apenas uma mulher de trinta e poucos anos de aparência normal com o
cabelo escuro preso em um coque bagunçado, segurando o gato preto que está
na metade de suas outras fotos.
Talvez ela seja uma bruxa, o que explicaria muita coisa. Nã o é a razã o pela
qual ela escolheu um estranho aleató rio para recontar seu romance shifter
obsceno, mas muito.
— Entã o, qual é o plano, você apenas manda uma mensagem para ela e conta a
verdade? — Eu pergunto.
— Uh, sim, se queremos ser bloqueados e colocados em uma lista negra para
cada convençã o de livros de todos os tempos —, Devon zomba, pegando o
telefone de volta. — Mas este post diz que ela está fazendo uma sessã o de
autó grafos em New Haven no dia 15. Se conseguirmos fazê-la olhar para esta
versã o claramente fodida de seu livro, talvez possamos convencê-la a ouvir.
— Mas ela nã o vai pensar que nó s mexemos com isso? — Perguntei.
— Talvez —, ele concorda. — Mas eu consegui que ela assinasse antes, e é
uma ediçã o especial, entã o espero que conte para alguma coisa.
— Sim —, eu digo, com medo de aumentar minhas esperanças. — Eu acho que
vale a pena tentar.
Nã o é como se tivéssemos opçõ es melhores.
CAPÍTULO OITO

BRAD

O ar está carregado com o cheiro de tinta fresca e antecipaçã o nervosa


enquanto Devon e eu atravessamos a lotada livraria de New Haven. Passando
entre os fã s empolgados, finalmente chegamos à mesa de autó grafos da nova
série de livros de Luna Daycrest, que parece ser tudo sobre o que todos estã o
falando, a julgar pelos banners laranja brilhantes com a capa que estã o
espalhados por toda a maldita loja.
— A editora dela está realmente pressionando muito essa nova série —,
murmura Devon, olhando para as pilhas de capas brilhantes onde se lê River of
Light and Shadow. — Eu gostaria que eles tivessem feito o mesmo para The
Wolf's Mate.
— Ei, olhe,— eu digo, vendo uma pequena pilha de livros The Wolf's Mate em
sua mesa de autó grafos. — Pelo menos está aqui, certo?
— Sim, mas ainda nã o houve uma sequência —, diz Devon com um suspiro. —
E a base de fã s da nova série é muito maior.
— É bom? — Eu pergunto, tentando avaliar se vale a pena todo o hype.
— Talvez para algumas pessoas —, diz Devon com um encolher de ombros. —
Mas eu nã o sou fã . Nã o tem o mesmo coraçã o, sabe? O Wolf's Mate era
especial.
— Sim, me conte sobre isso —, murmuro.
— Tudo bem, é a nossa vez —, Devon anuncia quando nos aproximamos da
mesa de autó grafos.
Luna se parece muito com ela em sua foto de perfil. Ela é uma mulher fofa,
embora de aparência cansada, com o cabelo preso em um coque bagunçado no
topo da cabeça e ó culos empoleirados no nariz.
Ela definitivamente se parece com alguém que pode trabalhar como uma
bruxa.
Ela nos cumprimenta com um sorriso gentil.
— Olá ! O que posso assinar para você?
Espero que Devon responda, mas ele está apenas parado, congelado,
segurando The Wolf's Mate em seu peito enquanto olha para ela com
admiraçã o.
Acho que cabe a mim assumir a liderança.
— Na verdade,— eu digo, gentilmente cutucando Devon com meu cotovelo, —
esta có pia de The Wolf's Mate já foi assinada. Mas esperá vamos que você
pudesse dar uma olhada dentro.
Luna levanta uma sobrancelha, claramente confusa, mas intrigada.
— Claro —, diz ela, pegando o livro das mã os sem resistência de Devon.
Enquanto ela folheia as pá ginas, seus olhos se arregalam. — O que está
acontecendo? Este nã o é o livro que escrevi.
— Uh, sim, nó s está vamos esperando que você pudesse nos dizer.— Eu digo,
tentando manter minha voz casual, mesmo que meu coraçã o esteja batendo
forte no meu peito.
A agente de Luna pigarreia impacientemente para o lado, obviamente
querendo que ela se apresse pela fila de pessoas esperando que seus livros
sejam autografados.
— Desculpe, mas eu realmente tenho que passar para os outros fã s —, diz
Luna, devolvendo o livro a Devon, que ainda nã o conseguiu encontrar sua voz.
— Por favor —, imploro. — Eu sei que isso é estranho, mas se você puder nos
dar apenas cinco minutos do seu tempo, eu prometo que valerá a pena.
Luna hesita, seus olhos piscando entre mim e meu irmã o, que finalmente
parece estar recuperando alguma aparência de compostura. A curiosidade de
Luna parece vencer, porque depois de um momento ela acena com a cabeça e
abaixa a voz como se nã o quisesse que o agente ouvisse.
— Me encontre lá embaixo na cafeteria depois que eu terminar aqui.
Devon dá um suspiro de alívio quando nos afastamos da mesa de autó grafos.
— Nã o acredito que ela realmente concordou em falar conosco —, diz ele,
segurando o livro contra o peito como se fosse um colete salva-vidas e ele
estivesse lutando no meio do oceano como figurante em Sharknado Ninety-
Five.
— Sim, nã o graças a você. — Eu resmungo. — O que diabos foi aquilo lá atrá s?
Devon cora, desviando o olhar.
— Eu sei, me desculpe. Eu só ... eu nã o podia acreditar que estava realmente
conhecendo ela. Ela é minha autora favorita.
— Bem, se recomponha —, eu assobio. — Esta pode ser nossa ú nica chance de
obter algumas respostas e convencê-la a nos ajudar.
Devon acena com a cabeça, respirando fundo.
— Sim, você está certo. Vou ficar bem assim que tomar um café.
— Melhor temperar com Bailey's —, acrescento.
Ele revira os olhos.
Percorremos a loja um pouco antes de descermos para a cafeteria. Colocar
Devon na escada rolante e longe de todas as exibiçõ es de livros que ele
continua vagando é como pastorear gatos.
Pedimos no café e resisto à vontade de experimentar tudo atrá s do balcã o de
vidro porque, embora tenhamos comido alguns hambú rgueres na estrada
antes de virmos para cá , ainda estou morrendo de fome.
No fundo, continuo me perguntando se Devon está certo sobre toda a coisa da
gravidez, mas nã o posso nem me permitir pensar no que vai acontecer se eu
estiver grá vida deste lado da realidade sem volta. Esse pensamento é uma
presença constante no fundo da minha mente o suficiente para que eu resista
ao impulso de pegar algumas cervejas, no entanto.
Foda-se minha vida.
Ambos.
Eu mantenho meus olhos abertos na escada rolante enquanto esperamos - e
esperamos - mas quando a multidã o começa a diminuir, me pergunto se Luna
escapou pela porta dos fundos. Nã o que eu pudesse realmente culpá -la, e
ainda nem chegamos à loucura.
— Lá está ela! — Devon sussurra, sua espinha endurecendo quando ele olha
para mim. — Meu cabelo está bom? Eu pareço fria?
— Seu cabelo está bom, mas você está um pouco à esquerda do frio. Mais
como se alguém tivesse enfiado um pé de cabra congelado na sua bunda.— Eu
o informo.
Ele franze a testa, mas nã o tem tempo de responder antes que Luna nos veja e
se aproxime da mesa, parecendo compreensivelmente cauteloso. Seus olhos
movem-se entre nó s e o livro sobre a mesa, e ela lambe os lá bios antes de
falar.
— Ei, — ela diz cautelosamente enquanto ela fica de pé ao lado da cadeira
vazia na mesa.
Eu dou a ela um aceno de cabeça e Devon grita uma saudaçã o, limpando a
garganta quando sua voz sai uma oitava muito alta.
— Obrigado por ter vindo —, eu digo, já que está claro que eu vou ter que
falar. De novo.
Luna desliza para o assento à nossa frente, olhando para o livro como se ele
pudesse morder.
— Claro. Nã o tenho muito tempo, mas... o que está acontecendo aqui
exatamente?
Eu deslizo o livro para ela, empurrando-o sobre a mesa.
— Dê uma olhada mais de perto. Apenas uh, evite as pá ginas trinta e seis a
quarenta e oito.
Suas sobrancelhas franzem enquanto ela puxa o livro para mais perto,
folheando as pá ginas.
— Como eu disse antes, este definitivamente nã o é o livro que escrevi.
— Nã o, mas é o livro que você assinou —, eu digo, virando de volta para a
primeira pá gina onde a assinatura dela e a nota para Devon ficam logo abaixo
do título.
Ela pisca para a pá gina, entã o olha para mim bruscamente.
— O que é isso? Você reescreveu meu livro?
— Nã o exatamente —, eu digo, inclinando-me para frente. Devon passou todo
o caminho me repreendendo sobre deixá -lo falar, mas ele ainda está olhando
para ela como se fosse uma mariposa e ela a porra do sol, entã o vamos fazer
as coisas do meu jeito. — Olha, isso vai parecer loucura, mas aquele livro me
atraiu.
— Estou feliz que você tenha gostado —, diz ela com um sorriso estranho.
— Nã o, quero dizer, literalmente me sugou —, eu contraponho, e Devon sai de
qualquer transe em que está para me dar um olhar de olhos arregalados, como
se dissesse que estou pulando no fundo do poço rá pido demais. Mas nã o tenho
tempo para mexer no assunto. — Como um maldito portal, Luna. Em um
minuto, estou dirigindo pela estrada ouvindo Zeppelin e no pró ximo, sou
espancado por um babaca bêbado e acordo em seu livro.
Ela me encara fixamente por alguns segundos, seu queixo meio frouxo, e para
ser justo, acho que realmente nã o sei o que ela deveria dizer sobre isso.
Eu estava apostando que ela seria responsá vel por tudo isso diretamente e
esperando que ela confessasse, mas está claro por sua reaçã o atordoada que
ela tem uma carreira ainda melhor planejada para ela como atriz do que como
autora, ou ela é tã o sem noçã o como nó s.
Quando ela finalmente fala, sua voz está um pouco vacilante e ela está me
dando o olhar que todo mundo me dá ultimamente. Aquele que diz que acham
que perdi minhas bolas de gude.
— Sinto muito, mas isso é impossível.
— Mesmo? — Eu desafio. — Porque eu tenho cerca de cem pá ginas que dizem
o contrá rio.
— Você poderia ter apenas impresso isso —, ela protesta, batendo na capa do
livro. — Nã o há como provar que é o mesmo livro.
— É uma ediçã o especial —, Devon entra na conversa, finalmente. Antes tarde
do que nunca, eu acho.
Luna pisca para ele.
— O que?
— A capa de folha de ouro? — Devon pergunta. — Com os olhos de lobo
reflexivos? Você só vende isso em seu site e em sessõ es de autó grafos. E é
personalizado. Viu? — Ele bate na pá gina, apontando sua assinatura maluca.
— Você escreveu isso na sessã o de autó grafos em Boston no ano passado. E
todos os títulos dos capítulos sã o dourados. Deve ser um que você vendeu.
Seus olhos se estreitam, mas posso ver as engrenagens girando em sua cabeça.
Ela nã o é estú pida. Se ela realmente nã o teve nada a ver com isso, a ú nica
outra explicaçã o é que estamos falando a verdade. E isso nã o é exatamente
uma pílula fá cil de engolir.
Depois de um longo momento, ela solta o ar e esfrega as têmporas.
— Tudo bem. Digamos, para fins de argumentaçã o, que eu acredito em você.—
Seu olhar oscila entre nó s, desconfiado. — O que exatamente você quer de
mim?
— Respostas —, eu digo sem rodeios. — Como diabos eu acabei no seu livro
estú pido? E mais importante, como eu volto?
— Eu...eu nã o tenho ideia do que você está falando —, diz ela. Há uma nota de
hesitaçã o em sua voz desta vez que imediatamente toca meu radar de merda.
Ela está mentindo.
Eu estreito meus olhos para ela.
— Pare com essa merda. Eu sei que você fez alguma coisa. Um feitiço ou algo
assim.
Posso dizer que Devon está pronto para intervir e controlar os danos, mas
Luna fica um pouco mais pá lida, e essa é toda a confirmaçã o de que preciso.
— Nã o tem como —, ela murmura, aparentemente mais para si mesma do que
para nó s. Ela balança a cabeça e olha para nó s com olhos arregalados e em
pâ nico.
— Sim, caralho —, eu respondo, inclinando-me para frente com os braços
sobre a mesa enquanto apunhalo as pá ginas do livro com o dedo. — Você sabe
de uma coisa. Caso em questã o, você nã o está disposta a encontrar meus
olhos, o que de acordo com você é praticamente um teste de detector de
mentiras, entã o confesse, mana.
— Ok, olhe —, ela deixa escapar com uma careta. — Eu estava bêbada e tenho
um grimó rio antigo, e pensei, você sabe, talvez isso pudesse ajudar a aumentar
as vendas ou algo assim. Mas os feitiços nã o sã o reais.— Ela ri, um pouco
histericamente. — Eles nã o sã o reais. Nada disso é real.
Há um tom amargo nessas ú ltimas palavras que nã o consigo entender, mas
nã o tenho tempo para pensar nisso.
— Exceto que eu vivi isso —, eu digo categoricamente. — Cada maldito
segundo disso. Ser reivindicado pelo seu sonho molhado de lobisomem, lidar
com todo o drama do bando, e oh sim, entrar no cio.
Se possível, o rosto de Luna fica ainda mais pá lido, agora tingido de rosa. Ela
abre e fecha a boca algumas vezes, claramente sem palavras. Finalmente ela
deixa escapar: —Você está falando sério.—
— Eu pareço alguém que quer inventar essa merda?— Eu exijo, gesticulando
em minha direçã o de cima a baixo.
Ela hesita.
— EU...
— Sabemos como isso soa —, intervém Devon, um pouco mais calmo. — Mas é
a verdade. Eu nã o sei como, mas se você fez algum tipo de feitiço ao mesmo
tempo em que Brad sofreu o acidente, você tem que admitir, é uma
coincidência estranha.
Luna parece nã o saber o que dizer sobre isso. Ela olha para a mesa, mordendo
o lá bio.
— Eu nunca quis que nada realmente acontecesse —, diz ela calmamente. —
Definitivamente nã o é isso.
— Este feitiço —, Devon começa. Ele está claramente tendo mais sorte em
falar com ela, entã o decido apenas deixá -lo falar. — O que foi isso?
— É apenas um feitiço do grimó rio da minha avó —, ela responde, como se
fosse algo que a vovó de todo mundo tem no só tã o. — Ela gostava de todas
essas coisas, e eu também costumava gostar, quando era pequeno, mas nã o
faço nada assim há anos. Nunca funcionou antes.
— Sua avó tem um livro de feitiços que transporta caras aleató rios para
outros mundos para serem fodidos por um pau monstro? — Eu pergunto
categoricamente.
Luna e Devon me encaram horrorizados.
— Nã o! — ela grita, puxando para trá s alguns fios de cabelo que caíram de seu
coque. — Nã o, foi apenas um estú pido feitiço de amor! Mais ou menos...
— Um feitiço de amor?— Devon pergunta. — Esses nã o funcionam apenas em
pessoas?
Ela dá de ombros.
— O grimó rio apenas disse que era um feitiço para tornar algo tã o real para
outras pessoas quanto é para você. Muito disso estava em latim, mas essa era
a essência.
— Merda de latim,— eu gemo, enterrando minha cabeça em minhas mã os.
Devon me dá uma olhada antes de voltar para ela. — Continue. Diga-nos por
que você fez o feitiço, por favor.
Ela hesita.
— Eu estava apenas ... chateado. Depois que The Wolf's Mate fracassou, meu
agente começou a me pressionar para escrever algo mais comercializá vel, e
ela já me fez reescrever The Wolf's Mate , tipo, umas cem vezes para tornar
Catalina “mais identificá vel”.
— Bem, isso explica muita coisa —, murmuro.
Devon me dá um olhar mortal.
— O que você quer dizer com The Wolf’s Mate fracassou? — ele pergunta. —
As pessoas adoram!
— Sim, as pessoas que lêem —, diz ela, recostando-se na cadeira com uma
expressã o mal-humorada. — Ainda nã o cheguei nem perto de ganhar meu
adiantamento, e River of Light and Shadow se saiu tã o bem desde o início que a
editora imediatamente quis me prender em uma série de cinco livros.
— Isso soa como uma coisa boa, certo? — eu arrisco.
Ela suspira.
— Sim, é... é. Estou grata pelo sucesso do livro, nã o me interpretem mal, eu
só ...
— The Wolf's Mate foi especial —, diz Devon. Há sinceridade em seu tom que
claramente atinge o alvo, a julgar pelo sorriso de Luna.
— Sim —, ela diz calmamente. — É . Para mim, pelo menos. De qualquer forma,
pensei que talvez pudesse convencer o editor a fazer uma sequência baseada
no sucesso da nova série, mas eles decidiram engavetá -la porque “nã o fazia
nú meros”
— Entã o você se voltou para a bruxaria?— Eu pergunto, levantando uma
sobrancelha.
— Eu estava desesperada —, diz ela com uma nota defensiva em sua voz. — E
bêbada. Como eu disse, eu nã o faço nada assim há muito tempo e minha mã e
sempre agiu como se minha avó fosse louca. Inferno, eu pensei que ela
também fosse, até...
— Até que seu feitiço funcionou, — eu termino. — Talvez nã o do jeito que
você pretendia, mas oh, funcionou pra caralho.
Luna estremece.
— Olha, sinto muito por tudo o que aconteceu com você, mas nã o há como isso
realmente estar conectado a esse feitiço. A magia nã o é real.
— Você está tentando convencer a si mesma ou a mim, senhora?— Eu
pergunto. — Porque eu já sei o que experimentei e ninguém está me dizendo o
contrá rio.
— O que você quer que eu faça?— ela exige.
— Eu quero voltar —, eu respondo, chocando-me com a facilidade com que
essa resposta sai da minha boca, mesmo agora. Eu olho para Devon e aceno. —
E eu vou levá -lo comigo.
Luna dá uma risada seca e desajeitada.
— Você quer voltar? Por quê?
— Para limpar sua bagunça, para começar,— eu respondo, ignorando o rosto
de Devon, que é dez vezes mais alto do que minha voz jamais ficou, mesmo no
meu momento mais zangado. — Quero dizer, vamos lá , você matou Trent. Ele
é fodidamente adorá vel.
— Eu nã o queria! — ela chora. — Isso nã o estava na primeira versã o do livro,
mas a editora achou que muitas pessoas o enviariam com Catalina e isso
prejudicaria o final. O mesmo com Lenore e Raul.
— Espere o que? — Eu deixo escapar, olhando para cima tã o rá pido que fico
com uma chicotada. — Você matou Lenore?
— Ele ainda nã o terminou o livro —, diz Devon com uma careta.
— Desculpe pelo spoiler,— Luna suspira, cruzando os braços. — O editor nã o
queria nenhuma “competiçã o româ ntica” para Catalina, e os leitores beta
originais gostaram mais dela.
— Sim, sem brincadeira. Ela realmente tem uma personalidade —, eu atiro de
volta. — E ela nã o é uma donzela perpétua em perigo.
— Ei, Catalina era originalmente uma durona,— Luna protesta, seus olhos
brilhando de irritaçã o. — Ela deveria ser a pessoa que matou Constantine no
meu final.
— Seriamente? — Devon pergunta, seus olhos se arregalando.
Ele está gostando muito disso.
— Sim, ela teve todo um arco de personagem onde ela desafia a superproteçã o
de Raul e diz a ele que nã o vai trocar uma prisã o por uma gaiola dourada só
porque o ama —, diz Luna, acenando com a mã o no ar.
— Sim, nó s definitivamente tivemos essa conversa —, murmuro. Quando os
dois olham para mim, eu limpo minha garganta. — Entã o, você está me
dizendo que Catalina era realmente interessante antes de seu editor castrá -la
em um estereó tipo?
Luna estremece.
— Eu acho que você poderia colocar dessa forma. Eu tentei adiar algumas
coisas, mas...— Ela dá de ombros, impotente. — Eu pensei que eram sacrifícios
que eu tinha que fazer para trazer minha histó ria e os personagens que amo
para o mundo. Mesmo que nã o parecesse mais com a minha histó ria. Mas nã o
é como se isso importasse de qualquer maneira. A série ainda acabou .
Devon fica em silêncio, e até eu estou começando a me sentir meio mal. Eu
esperava encontrar algum mentor responsá vel por meus problemas e minha
incapacidade de voltar a eles. Apesar do fato de Luna ser uma autora de
sucesso com um lucrativo contrato de livro e uma tonelada de fã s, ela parece
alguém que está sofrendo a perda de pessoas que sã o reais para ela, mesmo
que nã o sejam para mais ninguém, e um mundo em que ela preferiria viver do
que este.
E posso me relacionar com isso mais do que gostaria.
— Olha, Luna,— eu digo, tentando ser menos idiota, considerando agora que
tenho certeza que ela nã o fez nada disso de propó sito. — Eu sei que isso é
muito para absorver, e confie em mim, é tã o louco para nó s. Mas nã o estamos
tentando mexer com você ou algo assim. Estamos apenas tentando descobrir
isso, assim como você. Você tem que admitir que algo estranho está
acontecendo com seu livro, e talvez possamos nos ajudar.
Luna olha entre Devon e eu, seus olhos revelando uma mistura de medo e
curiosidade.
— Nã o sei como posso ajudá -lo —, ela admite calmamente.
— O grimó rio, para começar,— eu digo. — Mesmo que você nã o saiba como
acabei em The Wolf's Mate, você é quem me colocou lá , o que significa que
você pode fazer isso de novo.
— Mas eu nã o estava tentando —, ela argumenta. — Claramente, nã o sei o que
estou fazendo.
— Talvez nã o,— eu concordo, recebendo outro olhar imundo de Devon, santo
padroeiro de Luna. — Mas você é uma bruxa, e sua má gica funciona. Isso é um
lugar para começar.
Ela nã o diz nada a princípio, e posso dizer que ela está realmente começando a
considerar minhas palavras ou à beira de um colapso nervoso. Parece que
poderia ir de qualquer maneira, realmente.
Antes que ela possa atender, seu telefone vibra e ela sacode forte o suficiente
para dar mais credibilidade à teoria do colapso nervoso. Ela olha para o
telefone e suspira.
— Meu agente está perguntando onde estou. Olha, eu tenho que ir.
— Espere —, implora Devon, pegando um guardanapo do suporte sobre a
mesa e anotando seu nú mero antes de oferecê-lo a ela. — Você nã o precisa
decidir nada agora, mas por favor, apenas pegue isso e nos ligue se mudar de
ideia.
Ela hesita alguns segundos antes de pegar o guardanapo e relutantemente
enfiá -lo em sua bolsa carteiro.
— Nã o sei o que posso fazer, mas... vou pensar a respeito. — Seu olhar viaja
entre mim e Devon. — Foi bom conhecê-lo.
— Da mesma forma —, eu digo, porque mesmo que ela tenha fodido
totalmente a minha vida, ela também é a ú nica que inventou o homem que eu
amo.
E assim, me atinge como se fosse atropelado por aquele carro novamente.
Eu amo ele.
Luna lança um ú ltimo olhar para o livro como se fosse alcançá -la e agarrá -la
antes de sair correndo.
Enquanto a observamos desaparecer na multidã o, Devon solta um suspiro
pesado ao meu lado.
— Isso poderia ter corrido melhor.
— Sim, bem, poderia ter sido pior.— Esfrego a mã o no rosto, ainda me
recuperando da revelaçã o de que nã o tinha nada a ver com Luna. — Como eu
poderia saber que ela estaria tã o nervosa?
— Nã o sei, talvez porque ela seja escritora?— Devon pergunta incisivamente.
— Eles sã o notoriamente neuró ticos. Você tem que ser gentil.
Eu apenas resmungo um reconhecimento.
— O mais pró ximo que já estive foi daquela professora de cinema com quem
transei no semestre passado.
— Vamos sair daqui —, diz Devon com um suspiro pesado.
— Claro —, murmuro. — Vamos.
Pego o livro e o enfio no forro da minha jaqueta, porque se tornou minha
tá bua de salvaçã o para um mundo do qual nunca esperei sentir tanta falta
quanto sinto.
Um mundo que eu daria absolutamente qualquer coisa para voltar.
CAPÍTULO NOVE

RAUL

Fico carrancudo enquanto estou no quarto da infâ ncia de Brad. Lenore, Curtis
e o resto de nossa equipe de busca vasculharam o territó rio do bando Blue
Fang nas ú ltimas horas, e tenho certeza de que Stone Hollow estará em ruínas
quando voltarmos, pelo menos por retribuiçã o.
Eu nem me importo. Eles nã o encontrarã o acesso a nenhuma informaçã o
sensível, e movi todos os membros vulnerá veis de nosso bando para fora do
alcance.
Até agora, minha busca nã o foi mais produtiva do que a deles. Nã o há sinal de
Brad. Trent está conosco, suas mã os ainda amarradas para manter as
aparências de que ele ainda é meu prisioneiro, porque ele conhece este lugar
melhor do que ninguém. Foi ele quem nos levou até a casa de Brad, mas
também nã o há sinal dele aqui.
No momento, estou sozinha no quarto de Brad. Ou, pelo menos, disseram-me
que é o quarto dele, embora haja uma notá vel falta de provas. O resto da casa
está vazio, mas este quarto em particular me enche de uma estranha sensaçã o
de mal-estar.
Está arrumado demais. Muito impessoal. Brad de alguma forma conseguiu
transformar seu quarto na mansã o em uma explosã o de lavanderia e puro
caos poucos dias depois de chegar, mas este lugar parece ter sido encenado
para uma revista, embora ele supostamente o tenha deixado recentemente.
Nã o há roupas sujas jogadas ao acaso no canto, nem recipientes de shake de
proteína meio vazios. Suponho que sua mã e poderia ter limpado o quarto
desde que ele saiu, mas ainda nã o há pô steres na parede, nem bolas de
futebol, nem sinal de sua personalidade ou interesses em qualquer lugar.
As paredes sã o de um tom claro de rosa, pelo amor de Deus.
Isso é algum tipo de brincadeira? A ú nica coisa que me impede de assumir que
o bando está fodendo com a gente é que Trent insistiu que era o lugar certo, e
há fotos na sala de estar do andar de baixo, algumas das quais com Brad nelas.
Mas até mesmo o Brad nessas fotos parece... estranho, de alguma forma. Seu
sorriso nã o alcança seus olhos.
Assim como esta sala, nã o há nada dele nessas fotos além de sua aparência
física. É uma coisa bizarra e estranha e, apesar do fato de ter roubado uma das
fotos menores, espero que ninguém perca, acho difícil de olhar. De alguma
forma, isso me enche de uma dor ainda mais profunda do que a ausência dele
já deixou dentro de mim, como se uma parte da minha alma tivesse sido
arrancada.
Ando até a cô moda do outro lado da sala e vasculho as pilhas de camisetas
brancas lisas e jeans, como se ele fosse um personagem de desenho animado
que sempre usasse apenas a mesma roupa.
Que diabos...?
Abro outra gaveta e encontro um ú nico item: um delicado colar de prata com
um medalhã o em forma de coraçã o claramente projetado para uma mulher.
Brad nã o tocaria nisso nem com uma vara de três metros. É como um
resquício de quando alguém limpou as coisas que pertenceram ao ocupante
original da sala e esqueceu que as deixou para trá s. Nã o pertence aqui.
Ele também nã o.
Coloco o colar no bolso, sentindo uma vontade estranha de guardá -lo em
segurança. Nã o sei por que, mas parece importante. Como se eu me
convencesse de que imaginei isso quando sair desta casa, se nã o guardar algo
como prova de que algo está muito errado aqui.
Enquanto volto minha atençã o para a estante estofada – outro detalhe bizarro
que certamente nã o esperava encontrar aqui – Trent se aproxima de mim,
com as mã os ainda amarradas à sua frente. Seus olhos percorrem a sala,
observando os mesmos detalhes estranhos que eu notei.
— O que você está procurando? — ele pergunta, sua voz tensa e um pouco
desconfiada.
Eu dou de ombros, mantendo meus olhos na estante.
— Nã o sei —, admito, examinando as lombadas dos romances clá ssicos que
parecem tã o deslocados nesta sala. Nã o faz sentido. Brad nã o gosta muito de
ler, com uma notá vel exceçã o.
Eu olho ao redor da sala novamente e pergunto: — Isso nã o parece estranho
para você?
Trent franze a testa, claramente confuso.
— O que você quer dizer?
— Olhe ao redor —, eu digo, gesticulando para o quarto. — Nã o há nada aqui
que sugira que Brad viveu aqui. É tã o... sem graça. Onde estã o as recordaçõ es
do futebol? As revistas sujas? Brad realmente parece o tipo de pessoa que
passa o tempo todo lendo romances clá ssicos?
Trent hesita, seu olhar varrendo a sala mais uma vez antes de pousar de volta
em mim.
— Nunca tive permissã o para entrar aqui desde que sou um beta —, ele
admite, parecendo quase envergonhado com a revelaçã o. — Passamos a maior
parte do tempo juntos do lado de fora.
— Ainda assim —, eu insisto, minha frustraçã o aumentando, — isso nã o está
certo. Este nã o é o Brad.— Quanto mais eu observo a sala, mais parece um
quebra-cabeça com peças faltando. E cada peça que encontro apenas leva a
mais perguntas.
Trent me observa de perto, seus olhos se estreitando como se ele estivesse
tentando descobrir o que está acontecendo na minha cabeça. Mas, neste
ponto, nem eu tenho certeza do que estou pensando. Tudo o que sei é que algo
nã o bate certo, e a sensaçã o de que estamos ficando sem tempo me dá um nó
no estô mago.
— O que você quer chegar? — ele pergunta, com uma pitada de acusaçã o em
seu tom.
Eu puxo o colar do meu bolso, a corrente de prata pegando a luz enquanto eu
a seguro.
— Você realmente acha que Brad compraria joias como esta? Mesmo que
fosse um presente para outra pessoa?
Os olhos de Trent se arregalam, sua boca abrindo e fechando algumas vezes
antes de conseguir responder.
— Eu nã o entendo.
— Exatamente —, eu digo. — Nada disso faz sentido. Os livros, o colar, a falta
de qualquer coisa que realmente pertença a Brad. É como se esta sala fosse
encenada. Mal, aliá s. Mas por quê?
Ele também nã o parece ter uma resposta para isso.
— Você cresceu com ele —, eu pressiono, tomada por uma teoria que tem me
atormentado desde o desaparecimento de Brad. — Diga-me algo que vocês
costumavam fazer juntos. Qualquer coisa.
Trent pisca e parece surpreso com a pergunta. Ele hesita, uma carranca
aparecendo em seu rosto enquanto pensa no passado.
— Como eu disse, passamos a maior parte do tempo do lado de fora. Correndo
pela floresta, nadando no riacho ...— Um leve sorriso aparece em seu rosto
quando ele diz: — Eu costumava revirar pedras e pegar minhocas debaixo
delas. para persegui-lo por aí.
— É exatamente disso que estou falando —, insisto. — Brad é do tipo que
engole um verme em um desafio, nã o tem medo de nenhum. Nada disso faz
sentido.
A carranca de Trent se aprofunda.
— O que você está implicando?
— Nã o tenho certeza —, admito. — Mas eu tenho certeza de uma coisa. Brad
nã o está aqui, e nã o apenas isso, mas eu... acho que ele nunca esteve.
— Isso é ridículo —, rebate Trent. — Claro que ele estava aqui. Nó s crescemos
juntos!
— Você fez? — Eu desafio. — Porque até agora você nã o me deu um ú nico
detalhe convincente para provar isso.
Trent abre a boca, depois a fecha novamente. Seus olhos disparam ao redor da
sala, pousando em vá rios itens como se ele estivesse agarrando a prova que
ele precisa tã o desesperadamente quanto eu quero, mas ele nã o diz nada.
Se eu ainda tivesse dú vidas de que ele estava sendo franco comigo, a angú stia
que surge em seus olhos neste momento as apagaria.
Eu suspiro e passo a mã o pelo meu cabelo.
— Olhe, nã o estou tentando acusá -lo de nada. Só quero encontrar Brad. E
agora, nada disso está fazendo sentido.
— Eu nã o sei o que você quer que eu diga —, diz Trent impotente. — Nó s
éramos crianças. Como vou me lembrar de cada pequeno detalhe? Só porque
as coisas estã o um pouco confusas e o quarto dele é estranho, isso nã o
significa que nada disso era real.
— Nã o —, murmuro, incapaz de acreditar que estou realmente tentando
confortá -lo. Mas independentemente de terem crescido juntos ou nã o, ele é
importante para Brad, e isso é motivo suficiente para ele ser importante para
mim. — Eu nã o estou dizendo isso.
— Entã o o que você está dizendo? — ele exige.
Eu olho pela janela enquanto o sol está começando a se pô r. Nã o adianta mais
ficar neste lugar. Brad nã o está aqui, e eu sinto que este é, ironicamente, o
ú ltimo lugar que eu vou encontrar uma maneira de chegar até ele.
— Eu nã o sei —, eu digo baixinho. — Vamos embora.
Trent me segue silenciosamente para fora da casa, e encontramos Lenore e
Curtis perto dos carros. Lenore dá uma olhada no meu rosto e suspira.
— Sem sorte, eu aceito.
Eu balanço minha cabeça.
— Nada. Isso foi uma perda de tempo.
— E agora? — Curtis pergunta. — Nó s procuramos em todos os lugares. Se ele
nã o está aqui, entã o onde diabos ele está ?
— Eu nã o sei —, eu digo novamente, frustraçã o e preocupaçã o guerreando
dentro de mim. Brad está desaparecido há dias sem nenhuma palavra ou sinal
de onde ele foi. Posso sentir a marca se estendendo e diminuindo entre nó s,
como uma corda desgastada que estou tentando desesperadamente segurar.
— Mas só resta um lugar para procurar.
Os olhos de Curtis se arregalam, e Lenore e Trent assumem um
comportamento grave quando minhas palavras se acomodam. Eles sabem tã o
bem quanto eu o que isso significa.
Só resta um lugar neste mundo em que posso pensar para onde Brad poderia
ter ido que nã o consigo alcançá -lo. Restou apenas uma pessoa que poderia tê-
lo levado.
— Grayridge —, murmura Lenore.
— Se você entrar lá , estará declarando guerra—, adverte Trent, como se eu já
nã o soubesse disso.
— Se Brad está em Grayridge, se Constantine colocou um dedo em meu
companheiro, entã o a guerra já foi declarada —, eu respondo. — É só uma
questã o de oficializar.
E acertando as contas entre nó s de uma vez por todas.
CAPÍTULO DEZ

BRAD

A sensaçã o de ná usea em meu estô mago continua a se agitar enquanto nos


reunimos em torno do altar improvisado na sala que tomamos no andar de
cima da casa da fraternidade para fins rituais.
Devon e eu brigamos sobre o ú ltimo feitiço que encontramos em algum fó rum
de bruxaria incompleto, nossas vozes ficando mais quentes a cada troca
quando Reese nos interrompe.
— Cara, o cara desse livro de lobisomem gay tem o mesmo nome que você.
Eu me viro para encontrar Reese descansando do lado de fora do círculo
má gico, folheando as pá ginas de The Wolf's Mate, e sinto uma onda de pâ nico
no meu peito.
Eu me inclino para frente e pego o livro de suas mã os, apertando-o contra o
meu peito.
— Eu disse para você nã o tocar nisso! — Eu rosno. — É uma ediçã o especial.
Reese levanta as mã os em sinal de rendiçã o, embora seus olhos brilhem com
curiosidade.
— Estamos nisso há horas, cara, e deixei você picar meu dedo em busca de
sangue. Mereço saber o que estamos fazendo aqui.
Eu gemo. Ele tem razã o.
— Tudo bem, o que você quer saber?
Ele faz uma pausa, seus olhos se estreitando.
— Nã o quero tirar conclusõ es precipitadas nem nada, mas... estou começando
a achar que você pode ser um pouco gay, mano.
— Oh sério? — Devon fica inexpressivo, levantando uma sobrancelha. — O
que te deu essa impressã o?
— Cala a boca, Devon,— eu retruco, sentindo meu rosto esquentar de
vergonha. — Eu nã o sou gay.
Reese levanta as mã os defensivamente e diz: — Ei, cara, nã o estou julgando.
Meu primo é meio gay.
— Meio gay? — Devon ecoa incrédulo. — Você quer dizer bissexual?
Reese considera isso por um momento antes de balançar a cabeça.
— Nã o.
Eu cerro os dentes, segurando The Wolf's Mate mais apertado no meu peito.
Por que achamos que convidar Reese para ajudar com um feitiço era uma boa
ideia novamente?
— É apenas uma coincidência que o cara no nome do livro é Brad, ok?
Podemos, por favor, voltar para a bruxaria?
— Tudo bem —, murmura Reese, parecendo um pouco magoado. Nã o posso
deixar de sentir uma pontada de culpa por brigar com ele. Apesar de seus
comentá rios ridículos, ele tem sido surpreendentemente solidá rio durante
todo esse calvá rio.
— Tudo bem, vamos tentar de novo —, diz Devon, segurando o feitiço
impresso da Internet. — Precisamos nos concentrar na intençã o.
— Sim, eu sei o que fazer —, eu digo, tentando afastar o mal-estar persistente
que me atormentou durante toda a semana enquanto arrumamos as velas e os
cristais no chã o.
Parece que uma daquelas lojas new age no calçadã o que a garota que eu
levava para o baile sempre frequentava. Tenho certeza que ela me fez comer
um bolo com o sangue dela uma vez, mas era bom demais para fazer
perguntas. Essa foi a separaçã o que me ensinou a nã o namorar garotas que
querem saber a hora e o lugar exatos em que você nasceu.
E agora sou uma bruxa de puro desespero para voltar a ler essa porra de livro.
Se ao menos Samantha pudesse me ver agora.
Nã o consigo me livrar da ansiedade que está crescendo dentro de mim
enquanto tentamos outro feitiço que, no fundo, sei que nã o vai funcionar
melhor do que o anterior, mas já faz uma semana que nã o ouvimos nada de
Luna e eu nã o nã o tenho nenhuma ideia melhor.
Coloco o livro de volta no centro do círculo enquanto Devon e Reese tomam
seus lugares ao meu lado. Damos as mã os e estamos prestes a começar de
novo quando a porta se abre e Steve enfia a cabeça, sanduíche na mã o.
— O que você está fazendo? — ele pergunta, estudando o círculo má gico como
se fosse apenas a terceira coisa mais estranha que ele encontrou esta semana.
E conhecendo este lugar, provavelmente é.
Eu cerro os dentes.
— Trabalhando em um projeto de classe. Você se importa?
Ele dá de ombros e entra, acomodando-se no sofá do outro lado da sala.
— Nah, eu tenho tempo. Isso para a prova final de economia?
Devon apenas olha para Steve por um minuto, olha incisivamente para o
círculo e depois de volta para ele antes de perguntar: — Como isso poderia
estar relacionado à prova final economia?
Steve apenas dá de ombros novamente.
— Precisa de ajuda? — ele oferece com a boca cheia de sanduíche, claramente
despreocupado com a cena bizarra diante dele.
Devon aperta a ponta do nariz, mas antes que ele possa dizer qualquer coisa,
Reese entra na conversa: — Estamos fazendo bruxaria. Brad é um peludo gay
agora —, diz ele, como se esses pensamentos estivessem de alguma forma
remotamente conectados.
E eu quero dizer...
— Cala a boca, Reese! — Eu estalo, meu rosto esquentando. — Eu nã o sou a
porra de um peludo! Podemos voltar ao ritual, por favor?— Eu pergunto,
tentando recuperar alguma aparência de controle sobre a situaçã o.
— Calma, cara —, diz Steve com indiferença. — Você sabe que o primo de
Reese é meio gay.
Reese me dá um olhar aguçado de “eu avisei”.
— Oh meu Deus —, Devon murmura, esfregando a testa. — De quem é a vez
do cérebro hoje? Talvez possamos trazê-lo aqui.
Meu estô mago começa a revirar novamente, apesar de todos os remédios anti-
ná usea que tenho tomado.
— Eu nunca vou voltar para este livro filho da puta.
— Calma, cara —, diz Steve, segurando seu sanduíche meio comido. — Parece
que você vai desmaiar. Quer uma mordida?
É isso. A mera sugestã o de um de seus sete moedores de carne é suficiente
para me levar ao limite em que estive oscilando na semana passada. Eu pulo
da minha cadeira e corro para o banheiro, mal conseguindo chegar à pia antes
de começar a vomitar.
— Brad, você está bem? — Devon chama da porta alguns segundos depois,
fazendo uma careta no espelho ao ver e ouvir meu â nsia de vô mito.
Eu nã o posso responder, muito ocupado jogando na tigela. O que sobrou da
pizza que comi no almoço agora está escorrendo pelo ralo em uma bagunça
Technicolor.
Uma vez que meu estô mago se acomoda o suficiente para eu recuperar o
fô lego, eu gemo e agarro as laterais da pia para me firmar.
Devon vem ao meu lado, preocupaçã o gravada em seu rosto.
— Você percebe que em algum momento teremos que falar sobre a
possibilidade muito bizarra, mas muito real, de você estar grá vida, certo?
Eu cerro os dentes, olhando para ele.
— Hoje nã o.
Ele suspira, levantando as mã os em sinal de rendiçã o.
— Tudo bem. Mas isso nã o vai acabar, Brad.
— Nem minha ná usea —, eu digo, limpando minha boca com as costas da
minha mã o.
Steve coloca a cabeça para dentro.
— Ei, você está bem? Está ... oh, merda —, diz ele, ficando verde quando olha
para a minha posiçã o sobre a pia. — Você nã o está vomitando, está ? Porque se
você vomitar, eu vou... Oh, merda, você está vomitando —, diz Steve, cobrindo
a boca com uma mã o e correndo para a banheira. O som dele vomitando só
piora minha ná usea.
Bem quando eu pensei que já tinha derramado todo o conteú do do meu
estô mago, outra onda me atingiu ao som dele vomitando, e eu estava
abraçando a pia novamente. É como um ciclo horrível de vô mito sem fim à
vista e estou tendo flashbacks da ú ltima festa em que Steve teve permissã o
para levar o ponche.
Há uma batida na porta e ouço a voz de Ethan através da madeira.
— Que porra vocês estã o fazendo aí? — ele exige, abrindo a porta, dando uma
olhada no caos que se desenrola diante dele e imediatamente fechando-a
novamente. — Oh, diabos nã o! Eu nã o vou fazer isso de novo. Desculpe manos,
eu mal sobrevivi ao beer pong, eu nã o posso cair assim.
Seus passos rá pidos recuam pelo corredor enquanto eu continuo a vomitar na
pia, meu estô mago se contorcendo em nó s que poderiam ganhar um distintivo
de escoteiro.
Eu mal consegui parar de vomitar quando Reese apareceu, por que diabos
nã o?
— Uh, ei, se vocês terminaram com o papo, há uma garota gostosa lá embaixo.
Diz que ela está aqui para ver vocês.
— Ó timo —, murmuro. Eu limpo minha boca com as costas da minha mã o e
faço uma careta com o gosto azedo. — Se for uma Delta Psi, diga a elas que
estou com a peste.
Nã o parece muito longe no momento.
Reese balança a cabeça.
— Nã o é uma Delta Psi. Muito nerd.— Ele faz uma pausa, inclinando a cabeça
enquanto considera a mulher esperando lá embaixo. — Meio que tem uma
coisa gostosa de bibliotecá ria milf acontecendo. E peitos enormes.
Devon e eu trocamos um olhar.
— Luna! — choramos em uníssono.
Da banheira, Steve solta um gemido fraco de desespero.
— Eu quero ver a milf.
Eu o ignoro, saindo correndo pela porta atrá s de Devon. Posso ouvir Reese
tentando confortá -lo, dizendo: — Inspire pelo nariz e expire pela boca, mano.
Eu sigo Devon enquanto descemos as escadas, meu estô mago dando
cambalhotas, mas eu me forço a me concentrar.
Com certeza, Luna está lá embaixo na entrada, estudando as vá rias coisas
penduradas nas paredes. Ela está particularmente focada no Paddle of Shame
pendurado entre as fotos deste e do ano passado.
— Entã o esta é uma casa de fraternidade —, ela reflete, olhando em volta. — É
mais limpo do que eu esperava. Mas cheira como eu imaginei.
— Sim, bem, você definitivamente tem uma imaginaçã o ativa —, eu digo
secamente, estudando a bolsa carteiro pendurada em seu ombro que parece
que ela está pronta para uma estadia de um mês.
— Para que serve isso?— ela pergunta curiosa, cutucando a raquete até que
ela balance no prego em que está pendurada.
— Asnos, principalmente —, eu respondo.
Ela empalidece e puxa a mã o para trá s antes de limpá -la no jeans.
Devon me dá uma cotovelada nas costelas.
— Seja legal —, ele sussurra.
Reviro os olhos.
— Como diabos você nos encontrou aqui?
Luna dá de ombros.
— Nã o foi difícil. Procurei o nú mero de Devon, encontrei-o no Facebook e
depois encontrei você. Você tem coisas de fraternidade estampadas em todo o
seu perfil.
— Oh,— eu digo timidamente. — Sim, acho que isso é bem direto.
— Por que você nã o mandou uma mensagem? — Devon pergunta, verificando
seu telefone como se pudesse ter perdido alguma coisa. Considerando o quã o
obsessivamente ele está checando, eu duvido.
Luna suspira, entrando na casa.
— Eu queria a opçã o de me convencer até o ú ltimo minuto —, ela admite,
estudando a sala que dá para a entrada. — Boa sala de estar.
— É assim que se chama?— Eu pergunto, olhando para a mesa de bilhar. —
Nó s a usamos principalmente para sessõ es de beer pong e amassos.
Luna pisca para mim.
— Um com o outro, ou...?
— Nã o,— eu retruco, sentindo meu rosto esquentar por algum motivo. —
Entã o, já que você está aqui, imagino que você nã o conseguiu se convencer do
contrá rio.
— Tem sido uma daquelas semanas —, diz ela secamente.
— Entã o você vai nos ajudar? — Devon pergunta, uma nota esperançosa em
seu tom. Tã o resistente à coisa toda quanto ele era no início, acho que com o
tempo, ele ficou quase tã o animado com a ideia de ir para o mundo de The
Wolf's Mate quanto eu.
Luna respira fundo, como se precisasse reunir coragem para a resposta.
— Sim. Depois de muita reflexã o e mistura de grandes quantidades de á lcool
com pílulas que eu definitivamente nã o deveria estar bebendo, cheguei à
conclusã o de que vou ajudar.
Eu sorrio.
— Você daria um grande honorá rio Kappa Nu.
Ela revira os olhos, dando um tapinha na bolsa protuberante em seu quadril.
— Trouxe quase tudo que precisamos para tentar o mesmo ritual que usei,
mas nã o faço ideia se vai dar certo.
Meu coraçã o pula no meu peito. Pode ser isso. A resposta que procuramos.
— Estou disposto a tentar qualquer coisa —, digo a ela honestamente. — Nã o
pode ser pior do que os rituais incompletos que Devon encontra online.
— Ei —, diz ele com um olhar indiferente. — Você tenta da pró xima vez,
supondo que você saiba o que é um termo de pesquisa booleano.
— Tanto faz —, murmuro.
— Vocês têm algum lugar onde possamos fazer isso?— Luna pergunta,
olhando em volta enquanto um bando de calouros turbulentos passa por nó s e
entra na cozinha. — Em algum lugar um pouco menos... caó tico?
— Sim, claro —, eu digo, gesticulando para ela me seguir escada acima.
Talvez seja o fato de que nã o há vestígios de pizza no meu sistema, ou talvez
seja o fato de que eu realmente tenho um pingo de esperança pela primeira
vez em uma semana, mas nã o estou mais me sentindo mal.
É melhor você me esperar, Raul. Estou voltando para casa.
CAPÍTULO ONZE

BRAD

— Eh, vamos precisar de uma sala maior. De preferência um sem janelas,—


Luna diz, examinando o espaço ritual apertado. Devon olha para mim, e eu sei
o que ele está pensando.
— Porã o —, digo, embora saiba que é melhor avisá -la. — É onde guardamos o
equipamento de giná stica, entã o se você acha que o andar de cima cheira mal...
Ela levanta uma sobrancelha.
— As universidades nã o têm giná sios?
— Claro —, eu respondo, — mas é para malhar quando você nã o está com
vontade de andar pelo pá tio. O dia da perna nã o espera por ninguém.
Luna revira os olhos.
— Lidere o caminho.
Descemos as escadas para o porã o, onde um grupo de novos recrutas está
assistindo ao jogo.
— Desculpe, pessoal, mas vocês precisam dar um tempo —, eu anuncio.
Os calouros resmungam, mas pegam suas coisas e saem arrastando os pés,
deixando para trá s caixas de pizza vazias e latas de cerveja. Típica. Afasto o
sofá , abrindo espaço no piso de madeira.
— Tem certeza de que deveria estar levantando mó veis pesados agora?—
Devon pergunta incisivamente.
Eu atiro a ele um olhar mortal.
Luna inclina a cabeça, olhando entre nó s.
— Do que ele está falando?
— Você deveria saber —, eu digo. — Considerando que foi você quem decidiu
que caras cis poderiam engravidar em seu mundo literá rio.
Luna pisca para mim.
— Isso é... surpreendentemente inclusivo para um irmã o de fraternidade
especificar.
— Kappa Nu é uma fraternidade de oportunidades iguais —, eu respondo. —
Também temos alguns irmã os trans. Eles sofrem o mesmo que todos os
outros.
— Que... progressivo. Mais ou menos,— Luna diz, olhando ao redor do porã o.
— Mas você realmente acha que está grá vida?
— Ele acasalou com um alfa,— Devon diz incisivamente antes que eu possa
detê-lo.
Agora meu rosto está queimando, mas nã o adianta negar.
— Mas você nem está mais no livro —, protesta Luna.
— Nã o estou dizendo que entendo, mas tenho vomitado a semana toda e
faltam algumas cervejas para um pacote de seis —, admito a contragosto,
olhando para o meu estô mago, que nã o parece maior sob minha camiseta, mas
quando estou sem roupa, é uma histó ria diferente.
— Interessante —, diz Luna, batendo no queixo. — Você fez um teste?
— Claro, fui direto ao Walgreen's e peguei um —, digo secamente.
Ela dá de ombros quando começa a pegar os suprimentos que trouxe com ela,
incluindo algum tipo de giz branco em um copo de ketchup que ela está
usando para desenhar símbolos arcanos no chã o.
— Pode funcionar.
— Os ô megas masculinos ainda produzem os mesmos hormô nios?— Devon
pergunta curiosamente. — Isso nunca foi mencionado no livro, pelo que me
lembro.
Luna olha para cima de seu desenho e parece um pouco envergonhada.
— Uh... eu nunca realmente... fui tã o longe nisso —, ela admite. —
Honestamente, eu esqueci que mencionei que havia ô megas masculinos no
primeiro livro.
Tanto para todas as teorias de Devon sobre a genialidade de sua construçã o
de mundo.
— Ó timo —, murmuro. — Entã o, estou vivendo um buraco na trama.
— Ei, você tenta lançar livros no ritmo que tem hoje em dia para manter os
editores felizes —, Luna protesta, agitando as mã os em agitaçã o. — As coisas
vã o escapar de vez em quando. Você sabe quantos e-mails eu recebo de jovens
de dezenove anos com acesso de ediçã o da Wikipedia me dizendo “na
verdade, eles tinham telefones celulares nos anos 80”? Com certeza, alguns O
idiota do irmã o técnico pode ter um tijolo gigante sem fio em seu DeLorean,
mas eu cresci nos anos 90 e nem tinha um Blackberry, pelo amor de Deus!—
Devon e eu estamos meio que olhando para ela.
— Você uh, quer tomar um fô lego aí? — Eu ofereço. — Eu poderia pegar uma
cerveja para você.
— Nã o —, ela resmunga, voltando a desenhar um rabisco agressivo no sigilo.
— Estou bem. Foi apenas uma longa semana.
Enquanto ela ainda está desenhando e eu tentando limpar o lixo, a porta do
porã o se abre e Reese desce as escadas.
— Ei, Brad, os idiotas estã o armando um motim dizendo que você os expulsou
durante o jogo.
— Eles vã o viver —, eu digo com um bufo.
— Oh, a milf ainda está aqui —, diz Reese, parando enquanto olha para Luna,
seus olhos se arregalando como pires.
Luna olha para ele.
— Quem é esse idiota e alguém me diga por que nã o devo transformá -lo em
sapo?
— Nenhuma razã o que eu possa pensar —, brinca Devon.
— Comporte-se perto da dama, homem das cavernas, — advirto, agarrando o
ombro de Reese. — Reese, esta é Luna Daycrest. Ela é a autora do livro no qual
estamos tentando entrar.
— Você disse a ele sobre isso?— Luna pergunta, sua cabeça saindo do círculo
que reconhecidamente parece muito mais legítimo do que nossas tentativas.
— Eu disse a ele o que ele precisa saber.— Eu digo com um encolher de
ombros.
Reese olha entre nó s, claramente confuso.
— O que eu não preciso saber?
— Todo o resto —, diz Devon. — Agora saia.
— Espere —, diz Luna, levantando do chã o. Ela enfia a mã o na bolsa e, quando
tenho certeza de que vai pegar uma varinha má gica para bajular Reese, ela
pega o que parece ser uma lista de compras e se aproxima para entregá -la a
ele. — Eu poderia usar alguém para fazer alguns recados para mim. Presumo
que você tenha uma loja por perto?
— Claro, sem problemas —, diz Reese, pegando a lista e dando uma olhada em
Luna. — Precisa de acô nito e artemísia enquanto estou nisso?
—Você sabe que essas sã o ervas de verdade, certo?— Luna pergunta,
arqueando uma sobrancelha.
— Tudo o que você diz, linda —, diz Reese e pisca para ela antes de ir para a
porta. — Eu vou BRB. Nã o comece o ritual de sacrifício sem mim.
Sem Reese, Luna balança a cabeça.
— Este é um grande erro —, ela murmura.
— Provavelmente,— Devon concorda, parecendo preocupado. — Mas nó s
realmente apreciamos você estar aqui.
A curiosidade leva a melhor sobre mim.
— O que mudou sua opiniã o sobre nos ajudar, afinal?— pergunto Luna.
Ela hesita, mexendo na borda da bolsa. — Nã o consegui parar de pensar nisso
a semana toda, e se houver uma chance de você nã o ser louco, e se for
realmente possível entrar no mundo dos livros...
— Espere,— Devon interrompe, com os olhos arregalados. — Você quer ir
com a gente?
Luna dá de ombros, parecendo ao mesmo tempo nervosa e animada.
— Passei toda a minha vida criando outros mundos para viver. Se eu
realmente tiver a chance de literalmente ir para lá , tenho que aproveitá -la.
Minha mente corre, sem saber como me sinto sobre este desenvolvimento.
— Trazer o autor do livro ao mundo nã o vai criar algum tipo de... engano ou
algo assim?
— Quem sabe? — Luna pergunta, sua voz determinada. — Mas eu vou, e é
isso. Minha ajuda está condicionada a isso.
Eu troco um olhar com Devon. Nã o é o ideal, mas que escolha temos?
Precisamos que ela volte para aquele livro e descubra o que diabos está
acontecendo. Além disso, talvez ter o criador do mundo conosco nos dê uma
vantagem.
— Tudo bem —, eu cedi, sem me preocupar em esconder minha relutâ ncia. Há
tanta coisa que posso mudar como personagem principal substituto. — Mas
nã o diga que nã o avisamos se nã o for exatamente o que você inventou em sua
cabeça.
— Confie em mim —, diz Luna com um sorriso malicioso enquanto volta a
montar o círculo de convocaçã o, — nã o pode ser pior do que a vida real.
— Conte-me sobre isso —, Devon murmura.
Pelo menos eles podem concordar em algo. Eu me sinto um estranho,
considerando que antes, eu estava perfeitamente feliz com a minha vida.
Inferno, tanto quanto eu estava preocupado, eu estava no topo do mundo, e
entã o acabei no The Wolf's Mate no degrau mais baixo da escala social.
E, no entanto, aqui estou, disposto a fazer qualquer coisa para voltar. Mesmo
que isso signifique desistir da velha vida pela qual lutei tanto para voltar, tudo
porque me apaixonei por um homem que ainda pode existir apenas em minha
pró pria cabeça.
Mas eu tenho que tentar de qualquer maneira. Vale a pena se houver uma
chance, nã o porque eu queira fugir deste mundo, ou mesmo porque eu queira
fazer parte de outro. Porque nã o importa onde eu esteja, estar nos braços de
Raul é o ú nico lugar que realmente me faz sentir em casa.
Luna termina de arrumar vá rias velas brancas ao redor do círculo de
convocaçã o e, alguns minutos depois, Reese volta, carregando uma sacola de
papel cheia de suprimentos.
— Tenho tudo na lista, baby. Até peguei alguns extras, só por precauçã o.—
Luna franze a testa para ele. — Eu nã o sou seu baby. E isso nã o é um jogo,
entã o se você nã o está levando isso a sério, sugiro que saia agora.
Reese levanta as mã os em sinal de rendiçã o, seu sorriso arrogante
desaparecendo.
— Foi mal. Eu nã o quis dizer nada com isso.
— Ó timo,— Luna diz, voltando sua atençã o para o círculo. Ela começa a
acender as velas uma a uma, as chamas bruxuleantes lançando sombras nas
paredes do porã o. A atmosfera fica tensa e nã o posso deixar de sentir uma
mistura de excitaçã o e pavor.
É isso. Estamos realmente passando por isso.
— Ok,— Luna diz, respirando fundo. — Estamos prontos para começar. Agora
só precisamos de sangue —, diz ela, tirando uma adaga ritual de sua bolsa. A
visã o da lâ mina faz meu estô mago revirar, mas tento manter a calma.
Reese geme e esconde a mã o, claramente nã o entusiasmado com a perspectiva
de derramar mais sangue por isso. Reviro os olhos para sua encenaçã o e
ofereço minha mã o sem hesitar.
— De qualquer forma, precisamos do sangue de todos que estã o entrando no
livro —, explica Luna, com a voz firme e focada. — É necessá rio que o ritual
funcione.
— Tudo bem, mas por que o sangue é necessá rio? — Devon pergunta,
claramente cauteloso, como se nã o estivéssemos fazendo essa merda a
semana toda.
Luna olha para cima do círculo, seus olhos encontrando os meus.
— O sangue é poderoso. Ele contém força vital e, ao oferecê-lo, estamos
simbolicamente sacrificando uma parte de nó s mesmos para obter acesso ao
outro mundo. Isso, e eu tenho uma teoria.
— E o que é isso? — Eu pergunto, cruzando os braços.
— Bem, eu tenho tentado descobrir como meu ritual afetou você durante toda
a semana. Mais especificamente, como afetou apenas você e nã o os milhõ es de
outras pessoas que têm có pias do mesmo livro. Só posso pensar em uma coisa.
. Quando te encontrei na cafeteria, notei que o livro tinha uma mancha em
uma das pá ginas,— Luna explica, sua voz baixa e pensativa. — Do acidente,
presumo.
— Oh,— eu digo, piscando. — Sim, nã o estava lá antes, entã o definitivamente
é meu sangue.
— Entã o você deve ter se envolvido no acidente e sujou o livro de sangue ao
mesmo tempo em que eu estava fazendo o ritual —, diz Luna, com uma faísca
de excitaçã o em seus olhos. — Deve ser por isso que você foi transportado
para o livro quando ninguém mais tinha uma có pia. O sangue criou uma
conexã o entre você e o feitiço. Lancei um feitiço para tornar o livro importante
para as pessoas - para torná -lo tã o real para eles como é para mim - e de
alguma forma estranha, funcionou. Fez isso por você, entã o deve ser capaz de
fazer isso por todos nó s desta vez.
— Isso faz tanto sentido quanto qualquer coisa —, Devon murmura.
Pensar no acidente e em como quase morri me faz estremecer
involuntariamente. Se nã o fosse por aquela reviravolta bizarra do destino, eu
nem estaria aqui hoje, tentando descobrir como voltar a um mundo fantá stico
onde estou de alguma forma grá vida e atraída por um cara.
Sim, a vida é estranha assim.
— Tudo bem entã o —, eu digo, sacudindo as memó rias. — É sangue.
Luna acena com a cabeça, e um por um, cada um de nó s espeta nossos dedos
com sua adaga ritual - todos, exceto Reese, que tem dado a Luna um amplo
espaço desde que ela pegou aquela lâ mina - deixando algumas gotas caírem na
tigela ornamentada que ela segura.
Nã o dó i tanto quanto pensei, mas a visã o do meu pró prio sangue ainda me
deixa um pouco enjoada. Devon estremece ao fazer o mesmo, mas Luna
parece imperturbá vel, seus olhos firmes e focados.
— Ok —, ela diz, uma vez que todos adicionamos nosso sangue à tigela. —
Agora só precisamos adicionar isso ao círculo e entã o podemos começar o
ritual.
Enquanto Luna pinga cuidadosamente nosso sangue misturado em vá rios
pontos do círculo de convocaçã o, nã o posso deixar de sentir uma estranha
mistura de excitaçã o e pavor.
É isso.
Estamos realmente fazendo isso.
— Você está pronto? — Luna pergunta, olhando para cada um de nó s.
Eu aceno, e Devon também.
Luna respira fundo e começa a cantar em uma língua estranha que nã o
reconheço.
Provavelmente latim.
A princípio nada acontece, ao que estou acostumada. Quando alguns minutos
se passaram, com apenas os câ nticos fervorosos de Luna para preencher o
silêncio, a dor familiar do desapontamento volta com força total.
Mas entã o as velas queimam, suas chamas subindo cada vez mais alto, e um
vento frio agita o porã o fechado, sacudindo as janelas. Os cabelos da minha
nuca se arrepiam quando o ar ao nosso redor parece crepitar com energia.
Os olhos de Reese se arregalam e ele murmura: — Puta merda —, baixinho,
claramente entretendo a possibilidade de que isso seja real pela primeira vez.
Eu nã o posso culpá -lo.
Os cantos de Luna ficam mais altos e fortes, e o vento no porã o aumenta,
girando em torno de nó s como um tornado. Eu olho para Devon, que parece
em partes iguais alegre e aterrorizado. Nã o posso dizer que estou me sentindo
diferente.
— Continuem de mã os dadas —, Luna nos instrui, sua voz quase inaudível por
causa do vento uivante. — Aconteça o que acontecer, nã o deixe ir.
Aperto a mã o de Devon com mais força, determinada a nã o perdê-lo.
O canto de Luna atinge um crescendo e, de repente, uma luz azul brilhante
aparece acima do círculo de invocaçã o. Ele se expande rapidamente, abrindo
um portal que parece levar diretamente a uma floresta exuberante.
— É aquele...?— Devon começa, mas sua pergunta é interrompida conforme o
portal continua a se expandir, se fragmentando em mú ltiplas facetas, como
uma espécie de caleidoscó pio bizarro. Cada um revela uma cena diferente do
mundo dos livros, piscando e mudando diante de nossos olhos.
— Sim —, eu resmungo. — Eu acho que é.
O brilho do portal se intensifica, lançando uma luz misteriosa em nossos
rostos. Eu olho para Devon e noto seus olhos refletindo a luminescência azul,
quase como se ele estivesse brilhando por dentro. Estranhamente, isso nã o
aconteceu da ú ltima vez. Ou talvez sim, mas eu estava muito fora disso para
lembrar.
— Mantenha o foco,— Luna comanda, sua voz forte apesar do caos ao nosso
redor. — Estamos quase lá .
Concordo com a cabeça, meu coraçã o batendo forte no peito enquanto tento
manter meu olhar fixo nas cenas em constante mudança à nossa frente. O
vento agora é tã o forte que ameaça nos separar, e sinto o aperto de Devon em
minha mã o escorregando. Um segundo depois, o câ ntico de Luna é
interrompido e sinto sua mã o deixar a minha, enquanto mal consigo segurar a
de Devon.
— Devon! — Eu grito, tentando desesperadamente segurá -lo. Mas nã o
adianta… nossas mã os se separam, e eu observo horrorizado enquanto ele se
afasta de mim, engolido pela luz ofuscante.
Merda porra!
— Devon! — Eu grito de novo, mas minha voz se perde no caos.
Agora, o que eu devo fazer, porra?
Olho em volta, tentando me orientar na luz, mas nã o consigo ver nada. O
pâ nico aumenta em meu peito enquanto luto para me manter à tona no
ofuscante mar de luz.
Cometemos um grande erro?
De repente, vislumbro algo - ou alguém - através da luz. É uma mulher que nã o
reconheço à primeira vista. Ela é pá lida com cabelo castanho escuro e parece
confusa, como se estivesse tã o perdida e à deriva neste lugar quanto eu.
Estou tentando me mover em direçã o a ela quando seus olhos se abrem e se
estreitam quando pousam em mim. Ela parece estar prestes a dizer algo, mas
a luz está ficando cada vez mais intensa ao nosso redor. O tempo parece estar
se esgotando.
— Catalina? — Grito para ser ouvido em meio ao rugido crescente da luz, mas
antes de obter uma resposta, a luz parece explodir ao meu redor e tudo fica
escuro.
CAPÍTULO DOZE

RAUL

A lua paira pesada no céu noturno, seu brilho pá lido lançando sombras pela
floresta. Minhas patas trituram folhas mortas e galhos enquanto corro em
direçã o ao territó rio Grayridge, meu coraçã o batendo forte no peito.
Estou sozinho. Eu tenho que ficar sozinho. Se isso der errado, se Brad nem
estiver lá , nã o posso arrastar meu bando para uma guerra que eles nã o
merecem. Meus mú sculos doem enquanto eu forço minha forma de monstro
bípede ao limite, mas nã o posso me dar ao luxo de desacelerar.
O vento sussurra por entre as á rvores e, de repente, percebo que nã o estou
sozinha. Um rosnado baixo me escapa quando eu giro, apenas para me
encontrar cercado por Lenore, Curtis e Trent, todos em suas formas de lobo,
exceto Curtis, que fica alto em sua pró pria forma de monstro bípede.
Raul, não vamos deixar você fugir sozinho, anuncia Lenore, com os olhos
ferozes de determinaçã o.
Leonor, o que você fez? Minha voz é uma mistura de raiva e preocupação. Isso
pode ser uma missão suicida e Brad pode nem estar lá.
Então nós vamos lidar com isso. Como um bando, diz Curtis, suas palavras
ecoando o sentimento do meu segundo em comando.
Eu olho para Trent, surpresa por ele estar aqui também, mesmo que ele nã o
seja oficialmente parte do meu bando. Mas seus olhos têm a mesma
determinaçã o de aço de Lenore e Curtis.
Eu aperto minha mandíbula, dividida entre a gratidã o por sua lealdade e a
frustraçã o por sua imprudência. Mas sei que nã o conseguirei convencê-los a
voltar.
Eu suspiro em resignaçã o. Vamos então.
Corremos pela floresta juntos, nossas patas batendo na terra em uníssono
enquanto atravessamos o territó rio Grayridge. O pró prio ar parece mudar,
ficando pesado com o cheiro de Constantine e seus lobos. Meus pelos se
levantam em alerta, e eu mostro minhas presas.
Com certeza, quando entramos em uma clareira, Constantine e seus três
executores estã o esperando por nó s, seus olhos brilhando no escuro. Os
outros sã o lobos normais, mas Constantine, como eu, é uma enorme fera
bípede. Seu pelo é branco como a neve, seus olhos de ouro ardente. Meu
sangue ferve ao vê-lo.
Faz tanto tempo desde a ú ltima vez que ficamos cara a cara e lutamos de presa
em presa, mas o ó dio está mais fresco do que nunca. Ele matou muitos de
meus parentes e agora quer levar minha companheira.
Os lábios de Constantine se curvam em um sorriso de escárnio. Bem, se não é o
poderoso Alfa de Stone Hollow. A que devo o prazer?
Pare de besteira, Constantine, eu rosno, dando alguns passos mais perto. Sei que
seu bajulador de Blue Fang avisou que estávamos chegando. Estou aqui pelo
Brad e não vou embora sem ele.
A risada de Constantine ressoa pela clareira, ecoando nas á rvores. Brad? Você
quer dizer o ômega que me foi prometido?
Eu me irrito com suas palavras. A ideia desse cretino colocando a mã o no meu
companheiro me enche de uma raiva tã o quente que ameaça me consumir. Eu
agarro o chã o com mais força, minhas garras cavando fundo na terra.
Brad não é sua propriedade, resmungo, lutando para manter minha fúria sob
controle. Ele é meu companheiro e não pertence a você.
É assim mesmo? Constantine sorri, seus olhos dourados cheios de malícia. Bem,
então teremos que ver isso, não é?
Antes que eu possa responder, Lenore dá um passo à frente, sua forma de lobo
tensa e eriçada. Sua lealdade aquece meu coraçã o, mas nã o consigo evitar a
pontada de culpa que vem com ela. Ela me ama, mas está disposta a arriscar
sua vida por meu companheiro.
Raul não precisa enfrentar você sozinho, ela rosna. Estamos todos aqui e
lutaremos como um bando.
Curtis e Trent permanecem firmes ao lado dela, sua pró pria determinaçã o
evidente. Também o medo deles, e é bastante justificado. A ú ltima vez que
Stone Hollow veio contra nosso bando, foi um banho de sangue. Concedido, foi
um ataque sem aviso e honra.
Veremos se Constantine é tã o covarde quanto seu pai.
Interessante, diz Constantine com um sotaque zombeteiro. Uma frente unida em
defesa do seu ômega. Que honra. Ele zomba. Vamos ver até onde isso leva você.
Lembro da última vez que você me desafiou, não foi muito bem.
Eu me irrito com suas palavras, mesmo que ele esteja dizendo a verdade. A
ú ltima vez que tentei enfrentar Constantine para vingar meus membros
caídos do bando, mal escapei com vida.
Eu estava sozinho naquela época, digo a ele, dando mais um passo à frente. Tudo
pelo que eu tinha que lutar era vingança.
Comovente, continua Constantine, mostrando suas presas em um sorriso
desagradável. E agora você tem algo muito mais precioso a perder. Um ômega
que me pertence.
A raiva ferve em minhas veias por sua reivindicaçã o sobre Brad. Ele nunca vai
pertencer a você, eu rosno.
Veremos isso.
Constantine avança em um flash de pelo branco e ranger de dentes. Eu o
encontro de frente, nossos corpos colidindo em um choque violento de
mú sculos e força. Posso sentir o impacto reverberar em meus ossos, mas
empurro para trá s com toda a minha força, determinada a nã o deixá -lo ganhar
vantagem.
Posso ouvir o caos de Lenore, Curtis e Trent enfrentando os reforços de Raul,
mas preciso manter o foco em Constantine. Podemos ter o mesmo tamanho
agora, considerando que eu era pouco mais que um filhote quando o enfrentei
pela ú ltima vez, mas ele ainda é mais rá pido e implacá vel.
Ele rasga meu ombro, e eu rosno de dor, passando minhas garras em seu
focinho em retaliaçã o. Sangue escorre entre seus dentes enquanto ele morde
com mais força, balançando a cabeça como um cã o raivoso.
Recuso a dar a satisfaçã o de gritar. Em vez disso, bato minha testa na dele,
atordoando-o por tempo suficiente para me libertar. Nó s circulamos um ao
outro, ambos ofegantes, sangue pingando na terra entre nó s.
Você ainda é fraco, provoca Constantine, embora o brilho em seus olhos sugira
que ele está mentindo. Você não podia me derrotar naquela época, e não pode
agora, ômega ou não.
Então por que você não cala a boca e prova isso? Eu rosno de volta, lançando-me
para ele novamente.
Ele me encontra de frente e caímos no chã o, uma confusã o de garras e dentes.
A dor explode em meus sentidos, mas eu a empurro, alimentada pela raiva e
pela necessidade de proteger o que é meu. O bando de Constantine já pode ter
tirado tudo de mim uma vez, mas não vou deixar que ele leve Brad.
Consigo prender um dos braços de Constantine, afundando meus dentes no
mú sculo de seu ombro. Ele uiva de fú ria, rebolando loucamente embaixo de
mim, mas eu me seguro com uma determinaçã o impiedosa. O sangue enche
minha boca, quente e metá lico, e cerro os dentes, rasgando tendõ es e ossos.
Onde ele está? Eu rosno telepaticamente.
Seus olhos se estreitam, mas ele se recusa a responder. Eu torço com força,
rasgando mais de seu ombro antes que ele consiga me jogar para fora e meu
corpo caia na terra. Eu derrapei até parar e me levantei, ofegante. Constantine
está segurando seu ombro mutilado, sangue escorrendo entre seus dedos, mas
seu olhar permanece desafiador.
Eu olho para onde meu bando está lutando contra os capangas de Constantine,
segurando os seus por enquanto. Curtis tem um preso embaixo dele, rosnando
enquanto rasga sua garganta. Uma onda de orgulho me preenche, seguida
rapidamente pela preocupaçã o. Há mais lobos no horizonte, e em questã o de
minutos, senã o segundos, eles estarã o aqui. Estamos em menor nú mero e essa
luta pode facilmente virar contra nó s.
Mas nã o posso recuar agora. Nã o quando a vida do meu companheiro está em
jogo.
Você realmente é patético, ele provoca. Ainda apenas um filhote assustado
desesperado por vingança por trás de tudo.
Lembre de como conseguiu essa cicatriz? Eu desafio, circulando-o, pronto para
ele atacar novamente. Ele está certo sobre uma coisa. Se eu agir por desespero
e pela raiva que corre em minhas veias com a simples mençã o de seu nome,
nunca vou derrotá -lo. Eu tenho que jogar com calma. Mais do que apenas
minha pró pria vida está em jogo aqui.
Uma inconveniência, ele responde, sorrindo de dor. Você vai pagar por isso, no
entanto. Seus olhos dourados se fixam nos meus, e posso ver a loucura à
espreita sob a superfície.
Ele avança para mim, mais rá pido do que antes. Eu mal evito seu ataque,
sentindo suas garras arranharem meu ombro. Sangue quente escorre pelo
meu braço enquanto eu giro, escapando por pouco de seu pró ximo golpe.
Um rugido de raiva escapa dele e ele ataca novamente. Eu me preparo,
esperando até o ú ltimo segundo antes de desviar. Ele bate em uma á rvore, a
madeira se estilhaça sob seu peso.
Eu atiro antes que ele possa se recuperar, prendendo-o no chã o e apertando
minha mandíbula em volta de seu pescoço. Ele se debate embaixo de mim, as
garras cravadas na terra, mas eu me seguro. Uma boa torçã o e sua espinha vai
quebrar.
Assim que estou me preparando para fazer isso, algo me chama a atençã o. É
uma luz azul ao longe que só consigo ver com o canto do olho a princípio, e
depois fica mais brilhante, impossível de ignorar. Eu hesito, meu aperto em
Constantine afrouxando ligeiramente.
À medida que a luz azul fica mais intensa, desviando minha atençã o de
Constantine, sinto uma mudança repentina na atmosfera. O ar crepita com
energia, e posso ouvir Lenore, Curtis e Trent rosnando inquietos atrá s de mim.
Até mesmo Constantine parece abalado quando a luz azul se estende e revela
uma extensã o de azul brilhante, como um rasgo no tecido da realidade. Parece
quase um portal, mas nã o pode estar certo.
Ou seja, porque os portais nã o existem.
Minha hesitaçã o custa caro. Com um rugido, Constantine me joga para longe
dele e eu caio no chã o, sem ar em meus pulmõ es. Ele se levanta e encara o
portal cautelosamente, os olhos dourados brilhando.
Eu me levanto com um rosnado, pronta para me lançar sobre ele novamente,
mas o portal me distrai. Está ficando cada vez maior, a luz azul pulsando como
uma batida de coraçã o. Ele forma um abismo entre nó s enquanto ele se
arrasta para trá s, e eu nem consigo ver o outro alfa do outro lado.
Que diabo é isso? Curtis grita do outro lado da clareira, seu pelo coberto de
sangue. Pelo menos parece que a maior parte nã o é dele. Ainda posso ver
Lenore e Trent de onde estou, entã o pelo menos sei que eles estã o vivos.
Fique atrás! Eu grito para o meu bando, medo e confusã o se infiltrando em
minha voz. Nenhum de nó s jamais viu algo assim antes, e nã o consigo me
livrar da sensaçã o de que é perigoso. Ou que é um dos truques de Constantine,
mas o olhar em seu rosto de antes me faz duvidar disso.
Isso é coisa sua? Constantine rosna do outro lado do portal cada vez maior, sua
voz quase inaudível sobre o zumbido de energia.
Não, eu rosno de volta, tentando manter meus olhos nele apesar da ofuscante
luz azul. Achei que era seu.
Raul, o que fazemos? Lenore chama, seu tom urgente e estranhamente incerto.
Seu olhar oscila entre mim e o portal, seu pelo eriçado de tensã o. Eu posso vê-
la tentando bolar um plano, mas eu também estou perdida.
Mantenha distância, ordeno, quebrando a cabeça para saber o que fazer
enquanto o portal se aproxima cada vez mais.
Assim que estou preparado para dizer aos outros para fugirem, há uma
explosã o de som e luz azul quando o portal se expande em todas as direçõ es, e
uma força intensa e irresistível me puxa para dentro.
Raul! O grito de Lenore atravessa o caos, mas é tarde demais.
Sinto meu corpo sendo arrancado do chã o e sugado pelo vó rtice. O pâ nico
toma conta de mim enquanto luto para resistir, mas é como tentar nadar
contra um maremoto.
Lenora! Curtis! Trento! Voltam! Eu grito, minha voz tensa com esforço. Nã o
consigo mais vê-los; tudo o que posso ver é um turbilhã o de luz azul e energia
ao meu redor.
Meu coraçã o dispara conforme sou puxada para dentro do portal e, de
repente, tudo fica escuro.
CAPÍTULO TREZE

BRAD

A luz azul se dissolve, me deixando esparramado no frio piso de madeira do


porã o. Eu pisco rapidamente, meu coraçã o afundando quando percebo que
ainda estou na fraternidade... o mundo real. Os cheiros familiares de mofo
atacam meus sentidos, e posso ouvir os gritos e risadas de meus irmã os da
fraternidade no andar de cima.
Onde está Devon?
Um pouco em pâ nico, eu me levanto, tropeçando nos restos do círculo má gico
enquanto procuro o porã o. Luna está caída no canto, inconsciente, e Reese
está inconsciente ao lado dela.
Mas Devon se foi.
Os novos gritos vindos do andar de cima perfuram meus pensamentos, e eu
subo as escadas correndo, subindo duas escadas de cada vez.
Irrompendo na sala de estar, encontro Steve segurando um atiçador de fogo
como se fosse uma porra de uma katana enquanto alguns dos outros caras se
escondem atrá s do sofá .
Mas nã o é um intruso que os deixa apavorados.
Pelo menos, nã o no sentido usual.
Há um enorme lobisomem no local onde a mesa de centro costumava estar,
sob um buraco gigante que rasgou o teto como se ele tivesse caído por ele. O
pêlo preto cobre os mú sculos ondulantes enquanto a fera se eleva em toda a
sua altura, cacos de madeira e gesso caindo de suas costas largas.
É a primeira vez que vejo Raul em sua forma de monstro, mas, de alguma
forma, sei imediatamente que é ele.
E por um segundo, só posso olhar para ele com admiraçã o misturada com
algum tipo de dor de aperto no coraçã o que só posso assumir que é amor,
porque parece um soco no estô mago.
Entã o, um familiar par de olhos dourados encontra os meus, e o
reconhecimento pisca neles.
— Raul? — Minha voz sai como um coaxar estrangulado.
Eu posso ver meu pró prio alívio refletido em seus olhos enquanto ele vem
pesadamente em minha direçã o, ignorando os gritos e gritos de pâ nico dos
meus irmã os da fraternidade. Eu levanto a mã o para impedi-los de fazer
qualquer coisa estú pida enquanto Raul se inclina, acariciando meu pescoço e
peito com seu focinho enorme. O gesto é estranhamente terno e íntimo, e eu
me derreto nele, meus dedos afundando na pele grossa em seus ombros.
— Nã o toque nessa coisa! — Steve grita ao fundo. — Provavelmente é raivoso!
Como se essa fosse a maior preocupaçã o que temos no momento.
Eu ignoro Steve e coloco meus braços em volta do pescoço de Raul,
pressionando meu rosto em seu pelo.
— Puta merda, eu nã o posso acreditar que é você —, murmuro, muito aliviado
em vê-lo para sequer dar a mínima para como isso parece para qualquer outra
pessoa.
Raul bufa em resposta, sua mã o em forma de garra acariciando meu rosto, seu
toque gentil enquanto ele inclina meu queixo para cima. Há algo em seus olhos
que parece quase desesperado enquanto ele olha para mim, como se estivesse
me bebendo, garantindo que estou realmente aqui.
Entendo. Depois de ser arrancada dele, nunca pensei que o veria novamente.
O momento nã o dura muito antes que o som de Steve e Kevin discutindo o
interrompa.
— Você nã o pode ligar para o 911 para isso! O que vamos dizer, que há um
lobisomem na sala? — Steve exige.
— Cara, olha isso! — Kevin grita de volta. — Caiu do maldito teto! Temos que
chamar alguém!
— O controle de animais é melhor —, Nathan oferece por trá s dos outros dois,
percorrendo seu telefone. — Encontrei uma linha direta.
Eu me viro para eles com um rosnado.
— Ninguém está chamando ninguém!
Eles ficam boquiabertos comigo.
— Você está brincando? — Steve chora.
— Brad, tem um lobisomem gigante na sala e nem é um mascote! Claro que
temos que chamar alguém! — Kevin insiste, gesticulando freneticamente na
direçã o de Raul.
Estou prestes a retrucar quando noto algo. Raul nã o é mais um lobisomem. Ele
mudou de volta para sua forma humana, parado ali atordoado e nu.
Pela primeira vez, noto a ferida no ombro de Raul e o sangue que seu pelo
escondia.
— Puta merda, você está ferido —, murmuro, correndo de volta para o seu
lado para inspecionar a enorme ferida que parece que alguém estava tentando
rasgar a porra de seu ombro e quase conseguiu.
— Estou bem —, Raul insiste, cobrindo minha mã o com a dele. — Já está
cicatrizando.
Eu hesito, percebendo que ele está certo. A ferida já está se recompondo nas
bordas, bem na frente dos meus olhos. Isso por si só seria o suficiente para me
deixar em um maldito colapso, mas nesse ritmo, mal dá para justificar uma
segunda olhada.
— De onde diabos veio o cara pelado? Nem é a semana do rush! — Kevin
chora.
— Puta merda, o pau dele é enorme —, diz Steve, com os olhos arregalados
como pratos de jantar.
— Porra, mano? — Kevin pergunta, olhando Steve com cautela. — Por que
você está olhando para o pau do lobisomem nu?
— Você está brincando? — Steven estala. — Aquela coisa é enorme, estava
olhando para mim primeiro!
Eu gemo, esfregando minha testa, já que estou com uma dor de cabeça
latejante.
Isso é um desastre.
— Calem a boca, todos vocês —, eu latido, e eles ficam em silêncio. — Se
algum de vocês disser uma palavra sobre o lobisomem para alguém, você está
fora da fraternidade. Entendeu?
Eles olham para mim, atordoados em silêncio.
Bom.
— E limpe essa bagunça, — eu ordeno, gesticulando para a madeira lascada e
cacos de vidro espalhados pelo chã o. — Ligue para o pai de Bryan. Ele é um
empreiteiro, ele pode consertar o teto.
— Isso nã o é tecnicamente o chã o? — Kevin murmura, mas nã o tenho
paciência para semâ ntica agora.
— Seja o que for, apenas traga-o aqui para consertar! — Eu estalo. Entã o me
lembro da minha preocupaçã o original. — Alguém viu Devon?
Todos se entreolham e me encaram confusos.
— Ele estava com você no porã o —, protesta Kevin. — Até onde eu sei, ele
nunca subiu.
Era exatamente disso que eu tinha medo.
Luna cambaleia escada acima e está tirando pedaços de gesso do cabelo,
parecendo compreensivelmente atordoada.
Eu me viro para ela e Raul.
— Porã o, agora —, murmuro.
Sem esperar que eles respondam, agarro o braço gigante de Raul e o arrasto
até a escada.
Luna e Raul me seguem de volta ao porã o mal iluminado. O círculo má gico
ainda está brilhando fracamente no chã o, mas Devon nã o está em lugar
nenhum.
Reese está meio ereto agora, gemendo ao acordar.
— Cara, o que diabos aconteceu?
— O feitiço funcionou —, eu respondo rispidamente, olhando em volta para o
caos que nosso pequeno grupo interdimensional deixou para trá s. — Mais ou
menos. Você nã o viu Devon?
— Cara, eu nã o vi nada desde aquela luz brilhante,— Reese geme, se
arrastando para ficar de pé. Quando ele percebe Raul pela primeira vez, ele
recua e grita. — Quem é o cara pelado?
— Deveria ser o Raul —, respondo, cruzando os braços.
Reese o encara fixamente por alguns segundos antes de perguntar: — Raul
como o cara lobisomem que estava fodendo aquele cara com o mesmo nome
que você no livro?
— Idiota,— Luna murmura, enterrando o rosto na palma da mã o.
— Sim, é esse —, eu digo com um suspiro, virando-me para Raul. — Raul, este
é Reese, um dos meus irmã os Kappa Nu. E esta é Luna. Sua... criadora ou o que
quer que seja.
— Minha o quê? — Raul pergunta, ainda parecendo um pouco atordoado, pelo
que nã o posso dizer que o culpo.
Luna se aproxima e estende a mã o, olhando para ele como se ele fosse... bem,
como se ele fosse um deus que ganhou vida, e também nã o posso culpá -la por
isso.
Claro, ela é uma bagunça neuró tica que se alimenta de á lcool e clichês, mas
seu gosto por homens?
Foda de primeira qualidade.
— Oi —, ela diz timidamente. — Eu sou um grande fã . Mais ou menos.
Raul retribui o aperto de mã o, cavalheiro como sempre, embora pareça
desnorteado.
— Prazer em conhecê-la. Uh... onde estamos, afinal?
— Você está no meu mundo —, eu respondo. Manter o controle de quem sabe
o que está me dando uma maldita enxaqueca. Talvez eu tenha sido um pouco
duro demais com Luna, afinal.
— Seu mundo? — Raul ecoa, aqueles intensos olhos dourados examinando a
sala em desâ nimo. — Isso nã o é possível...
— Sim, bem, essas palavras nã o significam merda nenhuma para mim hoje em
dia —, murmuro. — Para encurtar a histó ria, fui sugado de volta para cá de
alguma forma e recrutei a ajuda do autor de The Wolf's Mate para ajudar a
mim e Devon a voltar. Claramente temos algum trabalho a fazer.
— Você estava certo —, diz Raul, olhando para mim incrédulo. — Esse tempo
todo... sobre tudo isso.
— Sim, vou descontar o cheque “eu avisei” em breve, mas agora, temos peixes
maiores para fritar —, digo a ele, me virando para Luna. — Ou seja, onde
diabos está meu irmã o?
Luna hesita, balançando a cabeça.
— Eu nã o sei. Eu... eu nem esperava que funcionasse.
— Senhora, você precisa decidir se está dentro ou fora com toda essa coisa
má gica —, digo a ela. — Essa besteira vai acabar com todos nó s sendo sugados
para um buraco de minhoca.
— Isso pode acontecer? — Reese pergunta, soando recentemente apavorado.
Eu sinto por ele, considerando que tenho certeza que até este ponto, ele estava
apenas concordando com tudo isso para entrar nas calças de Luna.
—Você deve ter feito o feitiço errado —, eu insisto. — A gente ia parar lá , o
Raul nã o era pra vir aqui!
— Eu sei! — Luna diz com uma careta. Eu posso dizer que ela ainda está tendo
dificuldade em processar tudo isso, mas bem-vindo à festa. — Eu sei, eu... eles
devem ter sido trocados de alguma forma.
— Como? — Eu exijo. — Fomos nó s que fizemos o ritual, nã o ele!
Luna balança a cabeça como se nã o tivesse certeza, antes de um olhar de
realizaçã o surgir em seus olhos enquanto ela estuda Raul.
— O sangue.
— E daí?— Raul pergunta, tocando seu ombro, que agora está quase curado,
embora sua mã o saia coberta de sangue. — Eu estava lutando contra
Constantine.
— Você era o quê ?— Eu choro.
— Eu pensei que ele tinha levado você —, diz Raul, com a testa franzida
enquanto olha para longe. — Os outros ainda estã o lutando. Nã o posso
abandoná -los. Temos que encontrar um caminho de volta.
— Confie em mim, estou trabalhando nisso —, murmuro, olhando
desesperadamente para Luna.
Eu posso ver as rodas girando atrá s de seus olhos enquanto ela tenta
encontrar uma soluçã o. Realmente nã o é muito reconfortante que meu
destino esteja nas mã os de uma mulher que tenho certeza que neste momento
está apenas perdendo as vibraçõ es e improvisando, mas ela também é nossa
ú nica chance de voltar.
— Tem que ser o sangue —, ela repete. — Raul deve ter trocado a dele na
mesma hora em que está vamos fazendo o ritual.
— Isso ainda nã o explica por que ele está aqui —, eu protesto. — Ou como
Devon acabou lá e nó s nã o.
— Nã o sei, é só uma teoria —, admite ela. — Também pode ser...
— Também pode ser o quê? — Eu pergunto com cautela.
— Talvez nã o seja o sangue. Pelo menos nã o do ferimento de Raul —, ela
murmura. — Talvez seja porque uma parte dele já estava aqui, e foi isso que o
ajudou.
Leva um minuto para que suas palavras sejam absorvidas e, assim que o
fazem, como se fosse uma deixa, a ná usea que tem me atormentado a semana
toda volta com força total.
— O que você está falando? — Raul pergunta desconfiado, olhando entre nó s.
— O que quer dizer com uma parte de mim já estava aqui? Brad?
— Nã o exatamente, — Luna diz, olhando incisivamente para mim.
Engulo em seco. Eu realmente nã o estava pronta para aceitar isso, muito
menos na frente de Raul e Reese, mas ela está certa. É uma explicaçã o tã o boa
quanto qualquer outra.
— Sim —, eu digo, me virando para Raul. — Eu, uh, acho que estou grá vida.
CAPÍTULO CATORZE

RAUL

Encaro Brad, meu coraçã o batendo forte no peito enquanto suas palavras
ecoam em minha mente.
Grá vida?
Meu companheiro está grávida?
Desde que aquela luz azul desapareceu e eu acordei neste lugar estranho,
tenho estado confuso e desorientado, mas agora, a revelaçã o de que Brad pode
estar carregando meu filho envia uma onda de alegria através de mim.
Eu nã o posso ajudar a mim mesmo. Eu caminho em direçã o a ele, envolvendo
meus braços em volta de sua cintura e levantando-o do chã o. Nossos lá bios se
chocam em um beijo feroz e apaixonado, impulsionado pelo instinto e pela
posse.
— Raul! Que diabos?! — Brad exclama enquanto se contorce em meu aperto,
com as bochechas coradas de vergonha. Eu posso dizer que ele está nervoso,
especialmente com os outros nos observando em um silêncio atordoado. Mas
nã o consigo me conter.
— Brad,— eu sussurro em seu ouvido, — você me fez o alfa mais feliz do
mundo.
— É melhor você torcer para ter conseguido me engravidar, porque se você
nã o me descer nos pró ximos três segundos, você será castrado —, ele
resmunga.
Eu relutantemente solto Brad, colocando-o de pé, mas mantendo minhas mã os
em sua cintura. Meu olhar desce até seu estô mago, e nã o posso deixar de tocá -
lo gentilmente.
— Eu posso sentir isso —, murmuro, a maravilha me enchendo. — Você está
mole agora.
— Eu sou o quê ? Foda-se! — ele berra.
Agora há o Brad encantadoramente irado que conheço e amo.
Ele balança o punho para mim, acertando um soco só lido no meu estô mago
antes que eu possa detê-lo, e seu rosto se contorce de dor.
— Merda, acho que quebrei minha mã o! — Brad geme.
O pâ nico aumenta em meu peito ao pensar nele sendo ferido. Especialmente
agora que sei que ele está carregando meu filhote.
Agarro seu pulso delicadamente, examinando os nó s dos dedos. Já estã o
começando a inchar.
— Meu amor, você nã o pode se esforçar assim em sua condiçã o.— Eu o
admoesto suavemente, pressionando meus lá bios em seus dedos feridos.
— Cala a boca —, ele sussurra em tom de advertência, embalando o punho.
— Uh, espere um segundo,— Reese entra na conversa. — Você acabou de
dizer que está grá vido, mano?
Brad apenas geme.
— Foda-se minha vida.
— Como isso é possível? — Reese pressiona, olhando entre nó s com uma
mistura de confusã o e descrença gravada em seu rosto. — Quero dizer, eu sei
que dormi durante a maior parte da aula de biologia do primeiro ano, mas nã o
dormi durante essa parte.
— Ele é um ô mega —, eu digo, apenas tentando ajudar.
O olhar mortal que Brad está me dando sugere o contrá rio.
— É uma longa histó ria, Reese —, resmunga Brad. — Um que eu realmente
nã o sinto vontade de entrar agora.
Reese levanta as mã os em sinal de rendiçã o.
— Ei, que seja, cara. Eu nem pensei que portais e merdas fossem reais até
cinco minutos atrá s. — Ele se vira e dá a Luna um novo olhar cauteloso. —
Você estava brincando sobre aquela coisa toda do sapo, certo?
— Vamos ver —, diz ela em um tom monó tono, caminhando para pegar um
livro do centro do que restou do círculo ritual. Enquanto ela folheia as pá ginas,
seus olhos se arregalam. — Uh, pessoal? Você pode querer ver isso.
Brad e eu nos juntamos a ela, espiando por cima de seu ombro.
Olho para o homem sem camisa na capa e pisco.
— Isso deveria ser eu?— Eu pego o livro de Luna e o inclino, franzindo a testa
para o par de olhos dourados brilhantes olhando para mim. — Por que os
olhos brilham?
Brad arranca o livro das minhas mã os.
— Este é The Wolf's Mate, o livro sobre o qual eu estava falando. É a nossa
histó ria.
— Ou pelo menos costumava ser —, acrescenta Luna, com a voz cheia de
incerteza. — Há mais coisas sendo escritas apó s o ponto médio, onde a
reescrita parou.
— Tem mais? — Brad ecoa em descrença, folheando as pá ginas
apressadamente, seus olhos correndo sobre um bloco de texto que está
aparecendo na pá gina bem diante de nossos olhos.
— Capítulo vinte e três —, resmunga Brad, seus dedos traçando o nome
abaixo do título do capítulo. — Devon?
Eu me inclino para mais perto para ler por cima do ombro dele.
Devon abriu os olhos, desorientado e atordoado, e se viu no meio de uma
clareira. Sua cabeça girava como se tivesse acabado de acordar depois de uma
noite de bebedeira, muito cedo para estar totalmente de ressaca e muito tempo
para o zumbido ter silenciado a dor surda que se espalhava por seu corpo. Levou
um minuto para se lembrar de onde estivera por último, mas quando o fez, o
mundo ao seu redor fez ainda menos sentido.
O luar brilhava de cima, banhando todo o campo com um brilho etéreo. As
paredes do porão da casa da fraternidade haviam desaparecido há muito
tempo, substituídas por uma parede de árvores que o cercava em todas as
direções e parecia se estender para sempre. A grama abaixo dele estava coberta
por uma camada de sangue, como se tivesse acabado de servir como campo de
batalha para uma luta brutal.
Quando ele viu os três lobos parados no mato à frente, isso o atingiu.
Este era o outro mundo.
Ele finalmente havia chegado.
Mas onde estavam Brad e os outros? Ele olhou ao redor e percebeu que estava
sozinho, exceto pelos três lobos – um deles uma enorme besta bípede como o tipo
que ele só tinha ouvido falar nos livros que tanto amava – e todos eles estavam
vindo direto para ele.
— Puta merda, Devon está no livro —, Brad grita, virando a pá gina antes que
eu possa terminar de ler. Eu examino a pró xima pá gina mais rá pido, o alívio
me preenche quando percebo que esta histó ria – este orá culo – está de alguma
forma recontando tudo o que está acontecendo no mundo que deixei para
trá s.
Lenore, Curtis e Trent ainda estã o vivos.
Continuo lendo enquanto o livro continua.
Os três lobos o cercaram, e o monstruoso com grandes garras e presas que
parecia um homem e parecia uma fera se inclinou para cheirá-lo. Devon deu um
grito assustado e caiu de costas, o que levou os outros dois a olharem para ele de
forma estranha.
O lobo monstruoso mudou para a forma de um homem primeiro. Ele tinha o
mesmo cabelo escuro e pele bronzeada de Raul, e não havia como confundir as
semelhanças entre seus traços, mas seu cabelo era mais curto.
— Curtis? — Devon resmungou. Tinha que ser.
Os olhos do homem se arregalaram ligeiramente, como se estivesse surpreso, e
ele deu uma olhada curiosa no humano.
— Como você sabe meu nome, humano? — ele exigiu, seu tom firme, embora não
malicioso.
Devon hesitou, sua voz presa na garganta.
Como ele poderia explicar tudo isso? Que ele os conhecia de um de seus
romances? Que ele estava de alguma forma dentro dessa mesma história agora,
e todos eles eram personagens ganhando vida?
Antes que ele pudesse responder, Curtis inclinou-se novamente e cheirou-o.
Desta vez, o gesto fez Devon congelar.
— Um ômega,— ele murmurou em descrença.
A loba loira menor ao seu lado mudou para uma mulher com cabelo claro e um
corte sangrento em seu lado.
— Outro? — ela gritou indignada, com as mãos plantadas nos quadris enquanto
se virava para olhar para Devon. — Quem é você? De onde você veio?
O terceiro lobo foi o último a mudar, e a visão libertou qualquer esperança que
Devon tivesse de formular uma resposta. Ele poderia dizer imediatamente pela
aparência deles quem eram o homem e a mulher.
— Lenore e Trent —, ele murmurou com admiração.
Isso estava realmente acontecendo?
— Você com certeza sabe muito sobre nós —, disse Trent, a suspeita em sua voz
inconfundível enquanto ele estudava o homem menor. — Que tal você nos dar
alguma coisa?
— M-meu nome é Devon, — ele gaguejou.
— Devon? — O reconhecimento brilhou nos olhos de Lenore. — Irmão de Brad?
— Sim,— Devon murmurou, uma pitada de amargura por trás de suas palavras.
— É assim que a maioria das pessoas me chama.
— Ooh, ele é picante —, diz Luna, inclinando-se sobre o outro ombro de Brad
para ler. — Eu gosto disso.
Brad revira os olhos, voltando-se para as palavras que se formam na pá gina à
sua frente.
— Pelo menos eles estã o todos bem.
Isso é um peso pesado tirado dos meus ombros.
Mas isso nã o muda o fato de que tenho que voltar para minha casa e levar
minha companheira comigo. Mas ainda há muitas perguntas sem resposta,
entã o continuo lendo.
— Você acha que ele tem algo a ver com o desaparecimento de Raul e
Constantine? — Curtis perguntou, olhando para os outros.
— Eu não sei o que pensar —, disse Lenore com um suspiro pesado, oferecendo a
mão para Devon.
Ele a pegou com gratidão, surpreso com o quanto ela era mais forte do que
parecia quando o colocou de pé.
— Vocês realmente são eles, não é? — Devon perguntou, estudando cada um
deles. Ele tinha lido suas descrições inúmeras vezes, mas realmente vê-los cara a
cara – tocá-los – isso era outra questão. — Vocês são metamorfos.
— A última vez que verifiquei —, disse Curtis secamente. — Ser um esquisito
deve estar na família.
— Você conhece meu irmão, então? — Devon perguntou. — Ele estava
realmente aqui? Você se lembra dele?
— Claro que eu estava lá —, resmunga Brad, virando a pá gina com raiva. —
Merdinha cético.
Sob a má scara de irritaçã o - a má scara que estou começando a perceber que
ele usa como uma armadura - está o mesmo medo e preocupaçã o que sinto
por meu irmã o e pelos outros. Coloquei a mã o em seu ombro.
— Ele vai ficar bem —, asseguro. — Lenore e os outros vã o mantê-lo seguro
até que possamos voltar.
Brad nã o parece convencido, mas seu olhar se suaviza e ele balança a cabeça
um pouco. Ele parece exausto. Eu também, aliá s. Tudo o que quero fazer é
levá -lo a algum lugar onde possamos ficar sozinhos e segurá -lo, mas há muito
em jogo para descansar ainda.
Constantine ainda está por aí em algum lugar, e até que eu saiba exatamente
para onde ele foi e o que está planejando, nenhum de nó s está seguro.
O livro diz que Devon está sendo levado de volta para a mansã o com os outros,
mas assim que eles chegam e apresentam Devon a todos que nã o foram
evacuados para a visita de Blue Fang, o capítulo termina com Devon
desmaiando na cama de seu quarto e olhando para cima. o teto.
— Ah, vamos! — Luna chora. — Você nã o pode terminar um capítulo com uma
nota chata assim. Onde está o momento de angú stia?
— Nem comece —, diz Brad, olhando para ela. — Aquele ali é meu irmã o, nã o
um de seus personagens.
— O que acontece depois?— pergunto, estendendo a mã o por cima do ombro
de Brad para virar a pá gina para o pró ximo capítulo. A pá gina está em branco.
— Por que parou?
— Eu nã o sei —, diz Luna, balançando a cabeça enquanto olha fixamente para
a pá gina, como se estivesse esperando que algo mais acontecesse. Quando isso
nã o acontece, ela franze a testa.
Ainda nã o tenho certeza se essa mulher é quem criou toda a minha realidade,
mas se ela está preocupada, isso certamente nã o é um bom pressá gio.
— Talvez o resto ainda nã o tenha sido escrito,— Reese concorda com um
encolher de ombros. Todos nó s nos viramos para encará -lo e ele se encolhe
um pouco. — O que?
— O idiota traz um bom ponto —, diz Luna, pensativa. — Quem diabos está
escrevendo este livro?
— Tem que ser algum tipo de má gica —, raciocina Brad. — Sem ofensa, mas
acho que a histó ria escapou de você neste momento.
— Diga-me algo que eu nã o sei,— Luna zomba.
— Temos que tentar o ritual de novo —, diz Brad de repente. — Nó s temos
que voltar.
— Absolutamente nã o.— Eu rosno antes que eu possa me impedir. Brad se
vira para mim, com um olhar de desafio que conheço muito bem, mas nã o vou
recuar. Nã o quando a segurança dele – e a do nosso filho ainda nã o nascido –
está em risco. — Acabei de encontrar você de novo. Nã o estou fazendo nada
que possa nos separar.
— Ele tem razã o —, raciocina Luna. — Até agora, fizemos dois rituais, cada
um com resultados totalmente diferentes. Essa magia é muito poderosa para
brincar mais até que eu saiba o que estou fazendo, e vai levar algum tempo
para eu juntar tudo para outro ritual, de qualquer maneira.
Posso dizer que Brad quer discutir, mas ele sabe que ela está certa. Isso nã o o
impede de querer proteger o irmã o, e esse é um instinto que conheço bem,
considerando que querer protegê-lo é a ú nica coisa que me impede de voltar
para o meu, nã o importa quais sejam as consequências.
— Nó s vamos voltar. Eu juro para você —, eu digo, virando o queixo de Brad
para que ele encontre meus olhos. — Mas temos que fazer isso da maneira
certa. Enquanto isso, Devon nã o poderia estar mais seguro. Curtis e os outros
sabem quem ele é para você, e você é meu companheiro. Eles o protegerã o
com suas vidas.
Brad aperta a mandíbula, mas posso sentir um pouco da tensã o deixar seus
ombros. Ele se vira para Luna e pergunta: — Sem ofensa, mas nã o tenho
certeza se a terceira vez é o charme quando se trata de magia. Existe alguém
que... sabe, sabe o que está fazendo? Talvez isso vovó bruxa sua?
Luna suspira.
— A menos que eu abra um tabuleiro Ouija, tenho certeza que Nana nã o vai
ser de muita ajuda. Mas acho que posso ver se minha mã e sabe alguma coisa
que ela nã o me contou. Nã o seria a primeira vez que ela manteria um segredo
de família.
A julgar pela maneira como ela diz isso, nã o é um reencontro que ela espera.
— O que podemos fazer enquanto isso? — Brad pergunta ansiosamente.
— Apenas fique quieto e tente nã o envolver a Guarda Nacional antes que eu
possa descobrir alguma coisa —, diz Luna, apontando para o livro. — E
mantenha isso seguro.
Brad segura o livro mais perto do peito.
— Você nã o precisa me dizer isso —, ele murmura.
— Quanto a mim? — Reese pergunta, olhando entre eles. — Você nã o pode
esperar seriamente que eu volte para as aulas depois de toda essa merda.—
Luna ergue a cabeça e o estuda.
— Acho que preciso de um pouco de força. Vou precisar revirar um só tã o
cheio de caixas velhas e pesadas. O que você acha de aranhas?
Reese parece um pouco pá lido.
— Nã o tenho medo de aranhas —, diz ele, com a voz tensa.
— Ó timo,— Luna diz em um tom alegre, pegando a bolsa do chã o e jogando-a
sobre o ombro. — Eu entrarei em contato, entã o. Vamos, Reeve.
— É Reese —, diz ele, seguindo-a escada acima como um cachorrinho leal.
Uma vez que estamos sozinhos, eu me viro para Brad.
— Como você está se sentindo?
— Isso é uma pegadinha? — ele pergunta secamente.
— Bem, é fá cil para mim responder —, digo a ele, estendendo a mã o para
acariciar sua bochecha. Ele se esquiva do meu toque e me encara. — Procurei
por você em todos os lugares. Quando nã o consegui encontrá -lo, pensei que o
tinha perdido para sempre. E pensar que, todo esse tempo, você estava
tentando encontrar um caminho de volta para mim.
O rosto de Brad fica um pouco vermelho e ele se recusa a olhar nos meus
olhos, o que geralmente é um sinal de que ele está nervoso. Ou sentindo algo
que nã o quer sentir.
— Sim, bem, eu nã o ia deixar você se safar por me engravidar e voltar a morar
com o molho Thousand Island.
Nã o consigo evitar o sorriso que surge em meus lá bios enquanto deslizo meus
braços ao redor dele e o puxo para mais perto.
— Nã o há ninguém além de você, Brad. Nem naquela época, nem agora, nem
nunca.
Ele respira uma lufada de ar pelas narinas e desvia o olhar.
— Sabe, eu te dei o benefício da dú vida antes, mas você nã o pode culpar Luna
por essas falas bregas agora que você está escrevendo suas pró prias coisas.
— Eu quero dizer cada palavra,— eu digo a ele, virando seu rosto para o meu
para pressionar meus lá bios nos dele. O gosto dele é doce e familiar, e nã o
posso deixar de aprofundar o beijo. É como se uma parte de mim que estava
faltando finalmente tivesse retornado, e preciso segurá -lo perto para ter
certeza de que é real.
Quando eu finalmente me afasto, Brad se inclina contra mim como se estivesse
instá vel em seus pés.
— Acho que isso responde a essa pergunta.
— Que pergunta? — Eu pergunto.
— Eu ainda tinha esperança de ser apenas gay no mundo dos livros —, ele
responde.
Eu rio em compreensã o.
— É realmente tã o ruim me querer do jeito que eu quero você?
— Nã o —, diz ele com um suspiro dramá tico. — Eu acho que nã o. Só vai levar
algum tempo para se acostumar.
— Temos um pouco de tempo de inatividade —, eu digo, percebendo que nã o
estou tã o cansada afinal. — Que tal um pouco de prá tica?
Ele me dá uma olhada, mas nã o há como confundir a fome em seu olhar.
— Praticar, hein?
— Você tem um quarto neste lugar?— Eu pergunto, perfeitamente pronto
para levá -lo para o sofá .
Ou o chã o.
Ou contra uma parede.
O caos de todos os artefatos rituais espalhados pelo chã o parece ser uma
receita para alguns estilhaços em alguns lugares muito desagradá veis, mas
esse é um preço que estou disposto a pagar quando ele me pega pela mã o e
me leva pelo corredor. .
— Vamos —, diz ele, me levando a um quarto do outro lado do porã o que nã o
parece ser usado há algum tempo. Ele acende as luzes, revelando uma cama
coberta com cobertores e travesseiros cobertos com o logotipo da
universidade e faz uma pausa. — Talvez mantenhamos as luzes apagadas.
Eu rio, prendendo-o contra a porta.
— Eu nã o me importo com as roupas que a cama está vestindo —, eu o
informo. — Contanto que as suas saiam.
CAPÍTULO QUINZE

BRAD

— Você é uma bola de queijo,— eu digo contra os lá bios de Raul enquanto ele
me prende na porta.
— Você ama isso —, ele acusa, inclinando-se para beijar meu pescoço logo
abaixo da minha orelha naquele ponto que me faz estremecer.
Ele está certo, claro.
Senti falta de tudo nele, desde suas falas cafonas, mas de alguma forma
completamente sinceras, até seus simples gestos de afeto.
Mas uma parte de mim temia que ele nã o sentisse minha falta. Que sua
devoçã o era um feitiço que duraria apenas enquanto eu estivesse preso em
seu mundo, e que qualquer vínculo que nos conectasse se dissolveria assim
que voltá ssemos para nossos pró prios lugares.
Mas nã o aconteceu, e depois desta noite, nunca mais vou dar como certo.
Raul pressiona sua testa contra a minha.
— Eu também senti sua falta —, ele sussurra.
— Pare de ler meus pensamentos —, resmungo sem entusiasmo.
Ele sorri, passando as mã os pelo meu corpo.
— Eu nã o preciso ler sua mente. Está escrito em todo o seu rosto. E na
maneira como você me beija.
Sinto meu rosto esquentar com a lembrança do quanto ele me afeta. Com que
facilidade. Esse filho da puta vai ser a minha morte ou o que resta da minha
suposta heterossexualidade.
Suas mã os deslizam sob minha camisa, roçando meu estô mago. Eu fico tenso,
envergonhado com o quã o mole eu fiquei desde a ú ltima vez que estivemos
juntos.
Raul percebe imediatamente, franzindo a testa enquanto se afasta para
examinar meu corpo.
— O que está errado? — ele pergunta, franzindo a testa em preocupaçã o.
— Nada —, minto, mas Raul percebe. Suas mã os deslizam até meus peitorais,
os polegares roçando meus mamilos. Eu suspiro quando a excitaçã o luta com a
minha insegurança, calor inundando meu corpo.
— Você é perfeito —, diz Raul com firmeza. — Cada centímetro de você.
Ele pontua cada palavra com um beijo, descendo pelo meu pescoço e peito. No
momento em que ele se abaixa e pega um dos meus mamilos em sua boca,
chupando com força, é difícil me preocupar com qualquer coisa além do
prazer crescendo dentro de mim.
— Foda-se —, eu cerro entre os dentes, tentando nã o me contorcer. — Você
nã o sabe o que é trabalhar tanto em seu corpo e vê-lo sendo destruído bem
diante de seus olhos. Você provavelmente saiu do ú tero com um tanquinho.
Raul ri, o som enviando vibraçõ es através do mamilo que ele está roçando
com os dentes. Esta é uma posiçã o perigosa para se estar com um cara que se
transforma em um monstro cheio de dentes - e tem algumas presas afiadas
pra caralho mesmo nesta forma - mas é bom demais querer que ele pare.
— Eu nã o vejo nada destruído —, diz ele, abaixando as mã os para o meu
estô mago mais uma vez antes de tirar minha camisa o resto do caminho. Suas
mã os imediatamente se acomodam na minha cintura, e seus dedos roçam as
linhas do abdô men que nã o estã o tã o definidas quanto estavam da ú ltima vez
que ele as apalpou. — Apenas prova de que você está carregando meu bebê.
Ou bebês. O que é absurdamente quente para um alfa, a propó sito.
Acho que posso arquivar essa informaçã o na minha coleçã o Fatos do
Lobisomem.
Essa outra parte me atinge do nada, porém, e eu quase tenho uma chicotada
emocional.
— Espere, você disse bebês ? Plural? — Eu deixo escapar.
— É possível —, diz Raul, piscando inocentemente para mim. — Gêmeos
correm na minha família. E na sua.
— Gêmeos? Oh, nã o comece porra. — Eu resmungo, o pensamento de carregar
nã o apenas um, mas dois bebês me fazendo empalidecer.
Mas antes que eu possa deixar meu cérebro entrar em uma espiral de pâ nico,
Raul me distrai inclinando-se e me beijando novamente.
Seus lá bios sã o quentes e insistentes, e eu rapidamente me entrego ao
momento, deixando a preocupaçã o desaparecer em segundo plano. Nossas
bocas se movem juntas enquanto Raul nos leva de costas para a cama, tirando
minhas roupas ao longo do caminho até que eu esteja nua.
Quando a parte de trá s dos meus joelhos bate na beirada do colchã o, Raul me
dá um empurrã ozinho e caio na cama. Eu quico na maciez por um segundo
antes de Raul rastejar sobre mim, me prendendo com seus braços.
— Tã o ansioso —, ele murmura, abaixando a cabeça para beliscar meu
pescoço. Calor corre sobre minha pele com a sensaçã o, e nã o consigo conter
um suspiro. — Assim como quando você estava no cio.
— Cale a boca —, murmuro, inclinando a cabeça para lhe dar melhor acesso.
Ele aproveita, salpicando beijos e mordidas na minha clavícula.
Suas mã os deslizam para beliscar meus mamilos, e eu me contorço embaixo
dele, uma onda de dor e prazer disparando por mim. Raul ri, rolando um
mamilo entre os dedos.
— Tã o sensível aqui —, diz ele. — Ainda mais do que da ú ltima vez.
Eu tento olhar para ele, mas provavelmente parece mais um olhar
desesperado.
— Apenas continue com isso.
— Paciência —, Raul repreende, mas ele escuta, deslizando uma mã o entre
nó s. Respiro fundo quando ele circula minha entrada e percebo que já estou
molhado para ele.
— Oh, porra, isso acontece aqui também? — Eu gemo, virando meu rosto no
travesseiro.
— Você ainda é um ô mega —, ele me informa. Antes que eu possa protestar
mais, Raul desliza dois dedos enormes em mim. Eu suspiro com o
alongamento, quadris empurrando para levá -lo mais fundo.
— É isso —, murmura Raul. Ele entorta os dedos, procurando, e roça um
ponto que envia faíscas pelo meu corpo.
— Porra! — Eu grito, arqueando as costas. Raul pressiona com firmeza minha
pró stata, esfregando em círculos lentos que me deixam louco.
Meu pau está duro e vazando entre nó s, e já estou perto. Apenas dele me
tocando um pouco.
— Raul —, eu ofego, — por favor, eu preciso de mais.
Raul me beija, profundo e reivindicativo.
— Eu tenho você —, ele rosna baixinho contra meus lá bios. Ele desliza seus
dedos para longe de mim, e eu gemo com a perda até sentir a ponta de seu pau
pressionando em mim.
Eu suspiro no beijo, agarrando seus ombros. Raul empurra lentamente,
abrindo-me ao redor de seu comprimento grosso. Queima, mas da melhor
forma possível, me iluminando de dentro para fora.
Só é preciso que ele empurre alguns centímetros - e eu sei que ele tem muito
mais de onde veio isso - para me fazer sentir como se fosse partir ao meio
como um maldito tronco.
Eu quebro o beijo com um suspiro.
— Demais —, eu resmungo. — Você é muito grande.
Raul para imediatamente. Seus olhos procuram meu rosto, preocupados.
— Você precisa que eu pare?
Eu balanço minha cabeça rapidamente. O trecho arde, mas nã o quero que ele
me deixe vazia de novo.
— Apenas... vá devagar. Deixe-me me acostumar com isso.
— Claro. — Raul beija minha testa, minhas bochechas, o canto da minha boca.
— Vamos tã o devagar quanto você precisar.
Ele empurra mais um centímetro, e eu gemo com a dor deliciosa disso. Raul
murmura encorajamento contra minha pele, suas mã os acariciando meu
corpo em um ritmo suave.
— Foda-se, acho que você ficou ainda maior —, murmuro. — Esse portal é
como uma bomba peniana có smica ou algo assim?
— E agora? — ele pergunta, levantando uma sobrancelha.
— Nada —, eu digo com um suspiro, envolvendo meus braços em volta de seu
pescoço para puxá -lo para mais perto. Eu me concentro em tentar relaxar, o
que é mais fá cil falar do que fazer com meio tronco de á rvore dentro da minha
bunda.
Gradualmente, a dor se transforma em prazer enquanto meu corpo aceita sua
circunferência. Gemendo, eu rolo meus quadris, levando-o mais fundo.
— Aí está —, diz Raul. — Você está indo tã o bem para mim.
Eu coro com o elogio, apertando em torno de seu pênis. Raul sibila, quadris
empurrando para frente para enterrar-se completamente na minha bunda.
Nó s dois ficamos parados, ofegando asperamente. Ser preenchido por ele é
sempre uma experiência, para dizer o mínimo, mas o fato de ele estar aqui
agora, em cima de mim no meu mundo, é ainda mais surreal.
— Mais,— eu suspiro, agarrando seus ombros. — Por favor, Raul, eu preciso...
Ele se afasta e empurra novamente, estabelecendo um ritmo brutal que me faz
ver estrelas. A cabeceira bate contra a parede com a força de seus golpes, mas
nã o consigo me importar. Pelo menos estamos no porã o, onde os outros nã o
ouvem nada.
Esperançosamente.
Tudo o que importa é o deslizar de seu pênis dentro e fora de mim, a sensaçã o
de seus lá bios e dentes em meu pescoço, o estiramento e a queimaçã o de ser
preenchido tã o completamente.
— Você é tã o bom —, Raul geme contra a minha pele. Suas unhas cavam em
meus quadris, seu â ngulo mudando para atingir aquele ponto dentro de mim
que me faz ver estrelas. — Tã o apertado e perfeito para o seu alfa, Brad. Você
foi feito para isso.
Ele tem aquela voz profunda e rouca que me faz querer ronronar em resposta
a palavras que normalmente me fariam querer bater em alguém. Qualquer um
menos ele.
Inferno, à s vezes ele também, mas estamos tendo um momento aqui e
trabalhei duro o suficiente para isso que vou aproveitar.
— Mais forte —, eu rosno, cravando minhas unhas em suas costas. Acho que
estou totalmente no modo ô mega aqui também. Isso nã o me incomoda tanto
quanto deveria. — Eu nã o cruzei dimensõ es por causa de uma merda meia-
boca. Eu quero o seu nó , a merda toda.
— A merda toda, hein?— ele pergunta, a diversã o dançando em seus olhos
enquanto ele olha para mim, embora sua voz ainda esteja rouca e tensa com o
mesmo desejo que eu tenho dificuldade em controlar caminho ainda.
— O que você quer dizer? — Eu pergunto, reposicionando meus quadris sob
ele. Dó i agora, mas vai facilitar o nó em um segundo, e já posso senti-lo
crescendo na base, abrindo meu buraco ainda mais.
A sensaçã o da minha excitaçã o nã o é suficiente para manter a dor aguda sob
controle, mas a promessa de prazer e libertaçã o que vem de seu nó me
enchendo vale a pena.
E quer eu queira admitir ou nã o, ele está certo sobre uma coisa, meu corpo
está claramente preparado para responder ao dele. Desejar tudo o que ele tem
a oferecer.
— Você enfiou a porra de uma bola de softball dentro da minha bunda. Se isso
nã o é a base, o que diabos é?
— Ainda nã o te marquei —, ele responde.
— Oh, sim —, eu digo, lembrando que ele mencionou algo sobre isso um
tempo atrá s. Eu estava muito chapado com dopamina pó s-sexo para pensar
muito nisso na época, no entanto. — Como você faz isso, exatamente?
— Isso nã o estava no livro? — ele pergunta em tom de provocaçã o.
— Eu só cheguei tã o longe no original antes de ser espancado por aquele
babaca bêbado —, eu protesto.
Mas, para ser sincero, a ideia de ler mais do que isso me deixa com ciú mes.
Nã o quero pensar no Raul com mais ninguém.
— Eu tenho que te morder —, diz ele, arrastando os dedos pela lateral da
minha garganta até o ponto onde minha nuca encontra meu ombro. Tornou-se
uma zona eró gena, a julgar pela forma como esse simples toque me faz tremer
e me contorcer. Minha bunda lateja em torno de seu pau duro enquanto sou
punida pelo movimento. — Bem aqui. Entã o você terá minha marca e todos
saberã o que você é minha. Para sempre.
— Parece permanente —, eu digo.
— Muito —, ele responde, a aprovaçã o brilhando em seus olhos, como se o
simples pensamento de marcar minha carne o excitasse.
E isso me excita mais do que quero admitir.
— Você sabe como é difícil passar todo esse tempo em uma fraternidade sem
ser tatuado? — Eu desafio. — Você sabe quantas vezes eu cheguei tão perto de
acabar com a cara de Steve na minha bunda se eu tivesse perdido uma aposta?
— Considere-me infinitamente grato por sua boa sorte —, diz Raul secamente.
— E eu espero que você esteja falando sobre uma tatuagem.
Reviro os olhos.
— O que acontece se você me marcar?
Estou tentado a deixá -lo, apenas para que possamos continuar com toda essa
coisa de amarrar, antes que meu bom senso supere minha libido.
— Bem, por um lado, se estivéssemos separados de novo, seria mais fá cil
encontrar você —, ele responde. — E nã o haveria o risco de eu me tornar
selvagem. A menos que você fosse...
Ele se cala, como se nem quisesse dizer isso, mas a mensagem é clara o
suficiente.
A menos que eu esteja morto.
— Eu acho que é uma grande vantagem —, murmuro.
— Nã o tenho intençã o de deixar você ir de novo —, diz ele com o tipo de
confiança que apenas um cara com um pau de trinta centímetros e um
exército de lobisomens pode reunir. — Mas há outros benefícios. Ou seja, eu
sou o ú nico que responderia ao seu cheiro quando você entrasse no cio.
— Você quer dizer que a casa inteira nã o vai saber que eu fico com fome de
pau todo mês que nã o estou grá vida? — Eu pergunto, um pouco ansioso
demais.
Raul hesita, inclinando a cabeça em confusã o.
— Eu nã o...?
— Nesse caso, me morda —, eu digo. A verdade é que eu já estava a bordo
mesmo quando pensei que a ú nica vantagem era ser marcado por ele.
Já estamos ligados.
Essas semanas de separaçã o deixaram isso dolorosa e dolorosamente claro, e
se houver algo que diminua as chances de perdê-lo novamente, estou bem
com isso.
Mesmo que isso signifique usar uma nova tatuagem no pescoço.
— Tudo bem, entã o —, diz Raul, abaixando a cabeça para roçar os lá bios
contra a minha garganta. Seu peito cai contra o meu, e ele dá um rosnado
baixo e estrondoso que se espalha por mim como fogo. — Vamos precisar
reajustar.
Ele sai de mim antes que eu possa protestar, e sinto o ar frio dentro do meu cu
aberto onde estava seu pau, deixando-me com uma sensaçã o de vazio. Raul
me vira de barriga para baixo e coloca a mã o na parte inferior do meu
abdome, me dando um puxã o para que meus joelhos fiquem embaixo de mim
com a bunda para cima. Eu me levanto de modo que estou pelo menos de
quatro, ao mesmo tempo irritado e excitado por quã o fá cil é para ele
manipular alguém tã o grande quanto eu como se eu fosse a porra de uma
boneca.
— Você já é meu —, ele murmura contra a minha pele, pressionando um beijo
no ponto entre meu ombro e minha nuca. Apenas ter seus lá bios roçando
aquele ponto faz um arrepio violento percorrer minha espinha e meu buraco
pulsa com uma nova necessidade de preenchê-lo. — Mas eu quero que o
mundo inteiro saiba disso.
— Basta colocá -lo já —, eu resmungo, cavando meus dedos no cobertor em
preparaçã o. Realmente começando a desejar que o logotipo da U Mass nã o
estivesse estampado em toda essa coisa, mas estou muito tenso para colocar
um amortecedor na minha excitaçã o.
Eu nã o preciso ver o rosto de Raul para saber que ele está sorrindo enquanto
alinha seu pau monstruoso na minha entrada, empurrando entre minhas
bochechas.
— Bom menino —, ele ronrona, o que parece ser a versã o lobisomem da
conversa suja.
Eu odeio a forma como meu pau lateja em resposta a isso.
De repente, ele empurra para dentro de mim de volta para onde estava, a base
de seu nó empurrando contra o meu buraco já esticado. É possível que ele
entre de uma vez, já que ele estava me fodendo tã o recentemente que ainda
nã o fechei totalmente, mas longe de ser fá cil.
Dou um grito assustado que ele abafa cobrindo minha boca com a mã o, e fico
grato, mesmo que também esteja tentada a morder seus dedos por nã o me
avisar.
Quando o sinto pressionar minha pró stata, porém, tudo é perdoado e começo
a me contorcer embaixo dele, como se realmente estivesse no cio.
Eu gostaria de ter isso como desculpa.
Raul envolve um braço em volta da minha cintura, puxando minha bunda
contra ele enquanto pressiona a ponta de seu nó contra mim com mais
insistência. Por mais que eu queira, o anel apertado de mú sculos se contrai em
protesto.
— Relaxe —, Raul sussurra em meu ouvido, seu há lito quente me fazendo
tremer. Seu cabelo comprido provoca meus bíceps enquanto cai ao meu redor
por trá s, fazendo có cegas em minha pele quente e sensível. Tento fazer o que
ele diz, concentrando-me na sensaçã o de seus braços fortes em volta de mim,
em vez do alongamento impossível de seu nó me rompendo.
Eu posso dizer que ele está empurrando, tentando me preencher e ser gentil
ao mesmo tempo, mas estou começando a pensar que estou muito apertado
para aguentar quando sua língua corre ao longo do local em meu pescoço que
ele pretende marca, e o prazer que vibra através de mim tem o efeito de me
relaxar apenas o suficiente para que deslize de uma vez.
Dou outro grito de dor e prazer que é apenas parcialmente abafado por sua
mã o e, desta vez, eu o mordo, nã o por despeito, mas por instinto. Sinto gosto
de sangue, mas Raul nã o reage. Ele apenas empurra seu nó em mim até que eu
sinto minha bunda selar em torno dele, nos prendendo juntos, e entã o ele
começa a se mover.
É lento no início, movimentos suaves de balanço que me fazem gemer e ofegar
em sua palma. Ele mantém o braço em volta do meu peito, segurando-me
perto, enquanto sua mã o livre viaja para baixo para agarrar meu pau dolorido.
Estou tã o duro que dó i, pré-sêmen vazando da ponta para cobrir seus dedos
quando ele começa a me acariciar no mesmo ritmo de suas estocadas.
O estiramento e a queimaçã o de seu nó estã o desaparecendo em uma dor
surda, e o prazer está começando a superá -lo. Eu balanço meus quadris para
trá s para encontrar os dele, incitando-o mais fundo, mais forte, mais rá pido.
Raul rosna contra o meu pescoço, mas obedece, jogando os quadris para a
frente em um ritmo punitivo que me faz ver estrelas.
Sua mã o deixa meu pau para agarrar meu quadril, me segurando no lugar
enquanto ele bate em mim e tira a outra mã o da minha boca para que ele
possa segurar a cabeceira da cama. Ele ainda bate contra a parede com a força
de seus golpes, mas ele consegue segurá -lo o suficiente para evitar que
atravesse a parede de gesso.
Provavelmente.
Esses sã o todos os pensamentos em algum lugar no fundo da minha mente, no
entanto. Em primeiro plano está a sensaçã o de seus lá bios naquele ponto na
curva do meu pescoço novamente, provocando a pele macia com beliscõ es
suaves e lambidas suaves.
— Raul,— eu gemo quando a antecipaçã o é demais para lidar e parece que
vou desmaiar só de querer tanto. — Por favor.
— Por favor, o que, amor? — Sua voz é provocante e baixa, retumbando
contra a minha pele enquanto ele continua a entrar em mim em um ritmo
implacá vel.
Eu posso sentir a pressã o crescendo dentro de mim, mas ele está
deliberadamente evitando tocar meu pau novamente. Nó s dois sabemos que
isso vai me levar ao limite.
— Por favor... me marque.— Eu imploro, meus quadris empurrando contra os
dele enquanto eu busco desesperadamente minha liberaçã o. — Me faça seu.
Eu o sinto estremecer em cima de mim, como se isso fosse exatamente o que
ele estava esperando para ouvir. Com um grunhido, ele crava os dentes no
local que estava provocando. A dor aguda da mordida se mistura com a
felicidade ofuscante inundando meus sentidos, e eu gozo com um grito que
provavelmente é alto o suficiente para acordar os vizinhos, muito menos
todos na casa da fraternidade.
Eu nunca vou superar isso.
Mas quem se importa?
Raul continua a bater em mim através dele, perseguindo seu pró prio prazer
agora. Ainda estou surfando nas ondas do meu orgasmo quando Raul se
enrijece em cima de mim, os quadris tremendo enquanto ele encontra sua
pró pria liberaçã o. Há uma onda de calor quando ele goza dentro de mim, e a
parte bá sica e primitiva do meu cérebro estremece com a sensaçã o.
Dele.
Marcado.
Reivindicado.
Essas palavras parecem se escrever em minha alma, pintadas com o gozo que
ele derrama dentro de mim.
Raul cai em cima de mim, nó s dois ofegantes. Estendo a mã o para trá s e corro
meus dedos por seu longo cabelo escuro, coçando levemente seu couro
cabeludo do jeito que ele gosta.
— Eu senti sua falta,— Raul murmura contra o meu pescoço, sua respiraçã o
quente na minha pele. Ele lambe o sangue que ainda escorre do meu pescoço.
— Mas eu nunca vou deixar você ir de novo.
Quando me encontrei em seu mundo pela primeira vez, isso teria soado como
uma ameaça, mas neste momento, é uma promessa que estou mais do que
ansioso para que ele cumpra.
Nã o tenho certeza de quando a felicidade pó s-orgasmo de estar nos braços de
Raul se transforma em sono, ou quando seu nó finalmente desce o suficiente
para ele sair de mim, mas estou exausto demais para acordar para mais do
que alguns segundos.
Em um minuto, estou envolta em seus braços, ouvindo o ritmo constante de
sua respiraçã o, e no seguinte, estou de pé no meio da floresta, completamente
nu e cercado pela selva até onde a vista alcança.
Que porra de amor eterno?
CAPÍTULO DEZESSEIS

BRAD

Já tive sonhos suficientes que começaram assim para saber que estou
sonhando, mesmo que geralmente esteja nu no meio da aula de economia, e
nã o na floresta. Decido que provavelmente é melhor, pelo menos até perceber
o par de olhos dourados me observando da escuridã o entre as á rvores à
frente.
Os olhos sã o familiares no sentido de que reconheço aquele tom particular e
nã o natural de ouro e a altura em que estã o na escuridã o como sendo
inegavelmente lupinos, mas nã o no sentido de que os reconheço.
— Raul? — Eu pergunto de qualquer maneira, esperando que meu mundo de
sonho esteja apenas fodendo com a aparência de seu lobo, considerando o
quã o recentemente eu o vi pela primeira vez.
Em vez de responder, os olhos se aproximam até que o luar ilumine o enorme
lobo branco que surge à vista. Uma enorme cicatriz se estende sobre seu olho
esquerdo, e eu imediatamente o reconheço. A ú ltima vez que o vi em meus
sonhos, ele estava despedaçando Raul.
O medo revira meu estô mago quando dou um passo para trá s.
— Constantine,— eu digo, me recusando a deixar meu medo transparecer.
Mais fá cil dizer do que fazer quando os lobos têm sentidos aguçados que os
permitem ver muito mais do que apenas seus olhos, mas este é o meu sonho,
entã o, teoricamente, ainda tenho algum controle.
E pelo menos sei que estou sonhando, entã o isso deve contar para alguma
coisa.
Alô, cordeirinho, ele responde com uma voz que parece vir de todos os lugares
e de lugar nenhum ao mesmo tempo. Muito menos assustador do que um lobo
bípede gigante falando em voz alta, no entanto. Você não vai correr?
— Quem diabos você está chamando de pequeno? — Eu exijo. Minhas mã os se
fecham em punhos ao meu lado. — Caso você nã o tenha percebido, eu nã o sou
a garota de um metro e meio que você está sempre tentando sequestrar.
Constantine ri, um som arrepiante que me dá arrepios na espinha. Oh, eu sei
exatamente quem você é, Brad Miller. Ele começa a listar as coisas em tom de
zombaria. Presidente da fraternidade Kappa Nu. Caixa de armário. Você
realmente achou que poderia fazer seu amiguinho fazer um feitiço e reescrever
o mundo ao seu gosto sem nenhuma consequência? Você realmente achou que
poderia me escrever tão facilmente?
Ele dá um passo mais perto, e eu recuo instintivamente para a floresta densa
atrá s de mim. Espinhos cortam meus braços e eu assobio com a picada. Na
verdade, dó i, o que é estranho, considerando que isso nã o é real, e você nã o
deveria ser capaz de sentir dor em um sonho.
Os olhos de Constantine brilham mais e ele lambe a boca em antecipaçã o
faminta. Que sangue delicioso, diz ele, aproximando-se enquanto os galhos das
á rvores ao meu redor começam a se esticar e se enrolar em volta dos meus
ombros, com a intençã o de me conter.
Enquanto estou distraída lutando contra os galhos que agora me levantaram
trinta centímetros do chã o, Constantine está de repente bem na minha frente,
seus dentes horríveis aparecendo em um sorriso perverso.
Estou mais perto do que você pensa, cordeirinho. E eu vou comer. Você.
Suas mandíbulas se abrem e ele avança como se estivesse planejando me
engolir inteiro. Eu grito, mas antes que ele consiga, eu acordo sobressaltada,
ofegante e coberta de suor frio.
Raul imediatamente acorda ao meu lado, me puxando para seus braços.
— Brad? O que foi? O que há de errado?
Mal consigo pronunciar as palavras, estou em pâ nico.
— Constantine,— eu engasgo, segurando seus ombros. — Ele está aqui!
A testa de Raul franze e ele me observa com preocupaçã o.
— Aqui? Quer dizer... no seu mundo? — Raul pergunta, sua voz carregada de
preocupaçã o.
Concordo com a cabeça, ainda incapaz de formar uma frase coerente.
— Brad, foi apenas um sonho —, diz ele, tentando me confortar, mas nã o
parecendo totalmente seguro.
Eu balanço minha cabeça, o medo do pesadelo se recusando a me deixar.
— Nã o. Ele estava na minha cabeça, me provocando. Você nã o entende, ele
está aqui.
No momento em que Raul parece prestes a responder, há uma batida na porta.
Nó s dois congelamos, e posso ver a dú vida brilhar nos olhos de Raul.
— Brad? — uma voz familiar chama pela porta, e eu sinto uma onda de alívio
tomar conta de mim. Steve. — Alguma garota está na porta para você.
— Eu vou subir em um minuto,— eu digo através da porta, apressadamente
recolhendo minhas roupas do chã o. No momento em que ambos estamos
vestidos, Steve se foi, entã o subo as escadas com Raul seguindo atrá s de mim.
— Tem que ser Luna —, eu digo, estendendo a mã o para a porta do porã o.
— Você acha que ela está de volta tã o cedo? — Raul pergunta cautelosamente,
me seguindo até o andar principal da fraternidade.
— Nã o pode ser nada bom se ela for,— eu digo com um suspiro, tentando
ignorar os olhares estranhos que estamos recebendo dos caras reunidos na
sala jogando pô quer.
Sim, eles definitivamente ouviram alguma merda ontem à noite.
Ou talvez seja apenas o fato de que tenho um filho da puta com cara de Adô nis
me seguindo como um cachorrinho perdido. De qualquer maneira, vou ter que
explicar algumas merdas no momento em que conseguir respirar.
Eu abro a porta, esperando encontrar Luna parada do outro lado.
Em vez disso, é uma mulher pequena e inegavelmente familiar que mal chega
ao meu ombro. Ela tem cabelos castanhos longos e ondulados e está vestida
com jeans largos e um moletom enorme com blocos de cores verde limã o e
rosa neon que faz meus olhos arderem, completo com muita maquiagem nos
olhos.
Ou essa garota é uma Delta Psi que se perdeu a caminho de uma festa a
fantasia dos anos 80, ou...
Eu bato a porta na cara dela, sentindo uma onda de pavor tomar conta de mim
que nem mesmo o fator assustador de Constantine pode rivalizar.
— Quem é? — Raul pergunta, piscando para a porta em confusã o.
Antes que eu possa responder, a campainha começa a tocar furiosamente,
seguida de batidas simultâ neas, como se houvesse um pequeno poltergeist de
néon irado na porta.
— Abra! — ela berra, sua voz aguda abafada pela madeira espessa.
— Ah, filho da puta,— murmuro, relutantemente abrindo a porta antes que os
outros possam vir ver o que está acontecendo. Agora a mulher do outro lado
está furiosa. Nã o posso culpá -la por isso, eu acho.
— O que diabos você quer?
Seus olhos dourados se estreitam, cheios de rancor.
— O que eu quero? — ela grita, sua voz subindo uma oitava. — Eu quero a
porra da minha vida de volta!
Raul se coloca entre nó s, com a testa franzida enquanto olha para a mulher
que mal chega até seu peito. Eu estava preocupado que um olhar para ela o
transformasse em uma poça de gosma apaixonada à primeira vista, como
acontece no livro, mas, em vez disso, ele está carrancudo para ela com
suspeita, como se ela fosse algum tipo de ameaça para mim. Eu realmente nã o
tenho certeza de como me sentir sobre isso.
— Brad, quem é essa? — ele pergunta.
Eu olho entre eles, tentado a mentir, mas isso voa pela janela rapidamente. Em
vez disso, suspiro ao contar a verdade. Mesmo que isso vire minha vida de
cabeça para baixo pela enésima vez.
— Raul, esta é Catalina —, eu digo, gesticulando para ela. — Conheça sua
companheira predestinada.

CONTINUA…
Caro leitor,

Obrigado por escolher este livro. Espero que você tenha amado a histó ria
desde a primeira pá gina até o final. Foi um prazer compartilhar com você!
Se você tiver um momento de sobra, ficaria extremamente grato se você
deixasse uma classificaçã o ou resenha deste livro. As resenhas sã o essenciais
para autores independentes, pois sã o um dos melhores canais para
alcançarmos os leitores e divulgarmos nossas histó rias. Cada classificaçã o ou
revisã o me ajuda a divulgar minhas histó rias e alcançar mais leitores.

Obrigado novamente por se juntar a mim nesta jornada e espero que você
aproveite sua pró xima aventura!

Melhor,
joel

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