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Maya’s Pov.

Eu havia acabado de ser chutada. Literalmente chutada. No primeiro momento que cheguei a
festa, Olive ficou comigo. Ela me apresentou algumas pessoas — fiquei surpresa com isso.—, e
parte delas estudavam com a gente, numa das únicas escolas católicas de Los Angeles. Mas
óbvio que não lembravam de mim, — sou grata por isso — então só me apresentei como a prima
que morava fora e estava visitando durante o verão. A casa é bonita e não tão grande, e além
disso, a quantidade de pessoas é bem menor do que normalmente se há em uma festa. Parecia
mais com uma reunião. Então me perguntei o que diabos estou fazendo aqui, e lembrei que eu
sou apenas o bode expiatório de Olive. Depois de um tempo, ela foi dançar com o mesmo garoto
de ontem à noite. Tinha quase certeza que, assim como todo o ciclo social da minha prima, ele
estudava com a gente, apesar de eu não lembrar o nome dele. Então, foi nesse momento que
Lina havia me ligado. Eu fui até o jardim na parte da frente da casa, onde o barulho de música era
quase inexistente, além dos grilos que cantarolavam ali. Ela estava no aeroporto, indo para
Houston, sua cidade natal, com Josh. Ficamos conversando por um tempinho, até eu sentir algo
forte nas minhas costas e, antes que percebesse, acabar bolando na grama — por que esse
terreno tinha que ser íngrime? — e bater minha cabeça em alguma coisa incrivelmente dura,
uma pedra ou algo parecido, porque tenho certeza que se não tiver feito um buraco no meio da
minha cabeça, era um milagre. E agora, eu estava deitada na grama, com uma das minhas mãos
na minha testa, fazendo um esforço pra abrir meus olhos e entender o que tinha acabado de
acontecer.

— Mas que porr.. — abro meus olhos repentinamente ao ouvir uma voz masculina ao fundo. — Tá
tudo bem? — as estrelas que enfeitavam o céu e que ocupavam todo o meu campo de visão,
haviam desaparecido. No lugar delas, um corpo meio borrado era tudo o que eu conseguia ver.
— Merda..

“Ficar xingando não vai adiantar de nada” eu penso, mas não tinha ideia que aquilo havia saído
em forma de sussurro. Aparentemente sim, porque o garoto encima de mim deu uma breve
risada nervosa, se foi isso que eu ouvi mesmo. Juro que tentei manter meus olhos abertos,
apenas por curiosidade, mas o sono parecia enuviar todos os meus sentidos. Se antes eu estava
numa grama, parece que um travesseiro de pluma envolvia todo o meu corpo, e a dor na parte de
trás da minha cabeça ia sumindo pouco a pouco. Esse garoto só pode ser um ser mágico.

— Não, nem pense em dormir agora. Não feche os olhos, Maya. Olhe pra mim. —

Essa definitivamente é uma voz bonita.. mas como ele sabe meu nome? Um par de olhos
inundados por um azul oceânico é tudo o que eu vejo antes de fechar meus olhos.

Isso não é o meu quarto. E eu não estou em uma festa. As duas primeiras constatações que eu
faço, lentamente, antes de abrir meus olhos e me sentar em uma cama que definitivamente não é
minha. Consigo ouvir algumas risadas ao fundo, distantes de onde eu estava. Mas onde eu
estou? Observo o ambiente ao meu redor e, não, eu nunca estive aqui. Era um quarto com itens
básicos, sem nenhuma personalidade. A porta que dava acesso a algo que eu suponha ser um
corredor possuía luzes acesas. Eu..

— Você acordou. Oi. — o barulho de porta abrindo desperta todos os meus sentidos, se ainda
houvesse algum adormecido. E segundos depois, um garoto se materializa no quarto.

— Oi? Eu te conheço? — Digo, franzindo a sobrancelha. O garoto solta uma risada nasalada e eu
não entendo onde está a graça nisso.

— Provavelmente não. Eu sou o Levi. — ele diz, se sentando ao meu lado e me olhando em
seguida.

— Levi..Ward? Nós estudamos juntos? — o nome não era estranho para mim. Era bem familiar, na
verdade, mas eu ainda estava grogue o suficiente pra relacionar ele com alguém que eu me
lembrasse.

— Tenho quase certeza que sim.

— E você também tem quase certeza que me chutou e eu bati a cabeça em algum lugar? — digo,
em tom de brincadeira, mas ele não parece entender, pois sua musculatura enrijece e ele possui
uma expressão tensa no rosto.

— Sobre isso, foi sem querer. Desculpa. — tento dar minha melhor cara de brava possível, mas
não consigo e acabo rindo, enquanto o garoto me encarava com uma expressão confusa.

— Eu sei que foi sem querer, Sherlock. Não te conheço mas você não parece ser o tipo de
pessoa que sai chutando garotas por aí. Pelo menos, é o que eu espero.

— Não sou. Apenas as que ficam sentada na grama no meio do nada. — abro a boca para
respondê-lo, mas antes disso, ouço passos que pareciam mais com um furacão em nossa
direção do que qualquer outra coisa. Milésimos depois, a porta quase é arrancada do lugar por
alguém.

— Cadê ela? Ward, eu vou fazer picadinhos de voc..— uma cabeleira loira adentra meu campo de
visão e estava prestes a fazer o que tinha prometido, se outro garoto não a abraças se por trás,
fazendo com que Olive se contesse . — se você tiver quebrado minha prima..

— Juro que não quebrei ninguém— o outro loiro levanta as duas mãos.
— Vem me dizer que você espatifa ela no chão e ela não se machucou..

— Gatinha..

— Porra, o que é Griffin? Não tá vendo que eu vou matar seu melhor amig..

— Tree, a Maya está viva. — o outro garoto aponta pra mim e eu dou um sorriso sem graça. Óbvio
que eu não ia interferir nisso. Se eu conhecesse bem minha prima, quando ela ficava assim, era
melhor se afastar. Antes que pudesse perceber, sinto um corpo se lançar na minha direção.
Minha. prima. Estava. me. abraçando. Será que que quando eu bati a cabeça, morri e vim parar
em outra realidade?

— Que alívio..nossos pais iam me matar se eu não voltasse com você acordada. Tem certeza que
tá tudo bem? — Explicado o motivo de tanta preocupação. Só podia ser isso mesmo. Nem sei se
ela seria capaz de se preocupar genuinamente com alguém além de si mesma.

— Tá sim, Olive. Só quero ir pra cas..— digo, me levantando rapidamente. Péssima escolha, pois
logo sinto pontinhos pretos na minha visão e meu corpo ficar mole de novo. Sinto todas as
minhas forças se esvaírem, ao mesmo tempo que sinto braços firmes ao redor da minha cintura.

— É melhor eu levar ela pro hospital..— Levi fala e percebo que as mãos em meu corpo eram as
dele.

— Eu vou com vocês.

— Hospital? Sério? — consigo dizer, encarando minha prima e Levi.

— Sim, Tree. Olive, se você quiser ficar..

— Se eu quiser? O que te fez pensar que eu ficaria? Mas é óbvio que eu vou, seu babac…

— É melhor você ficar, Ol. Você mente bem, mas nunca passou no radar da minha mãe. Relaxa.

— Eu vou falando com você, Olive.

— Acho bom mesmo..

— Consegue andar? — o loiro ao meu lado pergunta, assim que saímos do cômodo. Solto uma
risada nasalada.

— Estou tonta, não perdi a capacidade de andar. — falo, me desvencilhando do corpo de Levi, e
mais uma vez, me arrependendo de novo. Aqui vemos que eu não faço boas escolhas. — Mas
uma ajudinha seria bom.
Sussurro as últimas palavras antes que eu apagasse de novo.

Eu havia acordado pela segunda vez na noite em uma cama que definitivamente não era minha.
Mas essa era pior, porque se eu ainda não estivesse meio grogue, chutaria que era uma cama de
hospital. As paredes brancas, junto com um monitor ao meu lado e o pequeno sofá à frente eram
dicas. Me sento na cama e balanço os pés involuntariamente, fazendo um checkup de como eu
estava. Minhas roupas estavam intactas, mas minha aparência..nem tanto. Consigo ver meu
reflexo em uma mesinha de aço e juro que quase levei um susto. Passo a mão nos fios escuros,
tentando de alguma forma penteados com meus dedos. O barulho da porta se abrindo capta
minha atenção, e as duas pessoas adentrando o quarto também. Uma, era o loiro de mais cedo e
a outra, bom, eu não sei. Uma mulher, que aparentava ser quase da nossa idade, mas um pouco
mais velha que isso, a expressão de cansaço e de “eu não queria estar aqui” estampadas em seu
rosto.

— Que bom que você acordou. Eu tinha ido pegar café. — Ward diz, me oferecendo um dos
copos que segurava.

— Por que diabos você está dando café pra paciente?

— Deixa de bobagem, Davis. Ela só desmaiou e é só café. — bom, isso com certeza era alguma
coisa. A mulher revira os olhos, enquanto relia uma prancheta em sua mão, segundos antes de
me dar um sorriso cansado.

— Eu sou a Dra. Davis, e fiquei responsável por atender você e seu acompanhante intrometido.

— Cadê o profissionalismo? Vou reclamar para o seu chefe. — O loiro diz, com um semblante
divertido em seu rosto.

— Não vou nem tocar nesse ponto, Ward. Bom, você desmaiou duas vezes. Fizemos uma
tomografia, mas você provavelmente não deve lembrar. Enfim, tudo limpo, nenhuma concussão.

— E o outro desmaio? — indago, enquanto a mulher ainda me olha, e Levi beberica o café em sua
mão.

— Quase certeza que foi uma reação ao ver esse idiota. — solto uma risada fraca e o garoto
revira os olhos. — Brincadeiras à parte, mas pode ter sido várias coisas. Qual a última vez que
você comeu?

— Honestamente, não consigo lembrar. Tem algum tempo.


— Quanto tempo?

— Huuum. Horas. Muitas horas.

— Recomendo que você se alimente assim que sair daqui, para evitar outro desmaio. Bom, você
está liberada. — Ela me dá outro sorriso e eu agradeço, me levantando.

— Te vejo amanhã?

— Como sempre, Davis. — o loiro diz, dando um sorrisinho, e a mulher revira os olhos, saindo do
quarto logo em seguida.

— Pronta pra ir? E acho melhor você se apoiar em mim. — levanto uma das sobrancelhas e ele
engole seco. — só pra garantir. — bufo, mas eu não havia outra saída.

— Então, e a conta do hospital?

— Não se preocupa com isso, eu que chutei você.

— Você tem um ponto. Mas, isso tem alguma coisa haver com a médica?

— Sim e não.

— Então tem alguma coisa haver com o hospital ter seu sobrenome estampado nele? — ele me
encara e eu reviro os olhos.— Eu sei ler.

— Certo. Eu tinha minhas dúvidas. — disparo um tapa leve no ombro dele e rio
despretensiosamente. — Talvez tenha. É da minha família.

— Então é pra cá que você traz as garotas que você chuta por aí? — falo em tom de brincadeira,
mas sua expressão fica séria.

— Sobre isso, desculpa mesmo. Eu estraguei sua noite.

— Nah, já tinha acabado antes de você me chutar. Desmaiar duas vezes faz parte. — comento e
nós dois rimos.

— Aceito seu pedido de desculpas se você me levar pra casa.

— Eu já ia fazer isso, de qualquer forma. Mas me vejo na obrigação de te fazer comer.


— Não estou com muita fome..

— Ouviu a médica, não é? — ele parar de caminhar assim que chegamos em um Porsche azul
meia noite. E por alguma razão, não imaginei que ele teria um carro diferente de algum parecido
com esse. Entro no carro e me deparo com minha bolsa e agradeço aos céus por ela não ter
ficado com Olive. Não que eu me importasse, mas seria estranho se ela ficasse xeretando
minhas coisas.

— Tá bom. Mas eu pago a comida.

— Nada disso.

— Você já pagou o hospital..

— Tecnicamente. E ainda sim te devo um hambúrguer.

— Mas eu vou pagar o próximo, tá? — falo, enquanto colocava o cinto de segurança.

— Relaxa, Tree. Você prefere tacos ou hambúrguer?

— Uns tacos cairiam bem agora. Os de New York não se comparam com os tacos que se fazem
aqui.

— Nisso eu tenho que concordar. Tacos então.

Respiro fundo e observo o caminho que fica para trás no retrovisor a medida que Levi dirige até
o Barney’s, apenas onde são feitos os melhores tacos da cidade. Recapitulo tudo que havia
acontecido essa noite em minha mente, e tudo isso dentro de poucas horas, com mais emoção
do que minha vida inteira, escondida atrás dos livros. A Maya do Ensino Médio provavelmente
riria da minha cara agora se soubesse que eu saí com Olive — mesmo se fosse apenas parte de
um plano.— para uma festa, e que agora eu estava indo comer tacos com Levi Ward — mesmo se
fosse a única vez que eu saí com ele, e mesmo que isso se aplicasse em um contexto estranho.
— Talvez, pela primeira vez, minha mãe e minha melhor amiga estavam certas. Esse verão está
sendo.. estranho.

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