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Livro 2

Sumário

1. Abra seus Olhos

2. Perto de Casa

3. Outros Amantes

4. Ponto de Virada

5. O pé Errado

6. Paus e pedras

7. Homem de Família

8. Conversa Íntima

9. Sinais Misturados

10. A Verdade sobre Angela

11. Um Encontro tardio

12. Ilusões amorosas

13. Uma velha chama

14. Mudança de coração

15. O Jubileu de Prata

16. Começar de Novo

17. Sempre teremos Paris

18. Mal-me-quer

19. MINHA

20. Lembretes

21. Histórias de Guerra

22. Ferida

23. Passado e Presente

24. Em seus Braços

25. Doce Reunião

26. Uma dança final

27. Tudo28. Tarde demais

29. Ok

30. Anjo
Capítulo 1 Abra seus Olhos

Brad

Fogo.

Destroços.

Eu não conseguia tirar meus olhos da tela. Eles finalmente encontraram os restos do avião, mas ainda não haviam falado
nada sobre sobreviventes. Eu não tinha ideia se meu filho e minha nora estavam vivos ou...

Eu não podia me permitir pensar nessa palavra. Recusei-me a dizer essa palavra em voz alta. A mesma palavra que as
pessoas usaram quando falaram sobre minha esposa. Minha amada Amelia.

E pensar que, além de perdê-la, também poderia perder a única família que me restava, era demais para um velho como
eu.

As vozes na televisão recusaram-se a me dar paz.

— Acabou de chegar. Agora soubemos que há várias vítimas na queda do avião no Caribe. Mas nada ainda sobre o
destino do bilionário Xavier Knight ou de sua nova esposa, Angela Knight...

Peguei o controle remoto e silenciei as vozes. Assistir minha vida desmoronar era uma coisa, mas ter que ouvir isso?

— Isso é tudo culpa sua, — eu sussurrei para mim mesmo com os dentes cerrados. — Se você não os tivesse forçado a ir
naquela lua de mel...

Lágrimas me atacaram. Eu joguei o controle remoto contra a parede, encontrando algum prazer nele se despedaçando.
Foi bom destruir algo agora.

Mas, no fundo, eu sabia que esse prazer teria vida curta.

Como eu deveria continuar a partir daqui? Como eu iria me perdoarse meus piores medos se concretizassem?

De repente, meu celular vibrou no bolso e corri para pegá-lo, com as mãos tremendo. Eu sabia que, com um apertar de
botão, minha vida, minha dinastia, meu futuro como eu sempre imaginei, poderiam ser apagados.

Mas quando abri as mensagens de texto do meu assistente, Ron, meus olhos se arregalaram em descrença.

Ron: Chefe!!!

Ron: Acabei de falar com as autoridades haitianas.

Ron: Você não vai acreditar…

Brad: O quê?

Brad: Pelo amor de Deus, Ron!

Brad: FALA.

Ron: Eles estão vivos!!!

Ron: Xavier e Angela.

Ron: Ambos estão vivos.

Ron: Eles estão sendo transportados para Miami agora.

Brad: Eles estão bem?


Ron: Apenas ferimentos leves. Alguma perda de sangue, desidratação.

Ron: Mas eles vão ficar bem.

Brad: Você tem CERTEZA?

Brad: Você tem certeza absoluta?

Brad: Não vou aguentar outra perda, Ron.

Brad: Preciso de provas.

Essas mãos. A aliança de casamento no dedo da garota. Eu reconheceria aquele anel em qualquer lugar. Afinal, o anel de
Angela já pertenceu à minha Amelia.

Era verdade. Ron estava certo. Eles realmente estavam vivos.

Ron: Isso é de dentro do helicóptero.

Ron: Disseram a eles para não tirar fotos de rostos, caso isso vaze.

Ron: Mas tenho certeza que você pode dizer se são eles...

Brad: Prepare meu avião, Ron.

Brad: Eu vou até eles em Miami.

Ron: É pra já, chefe!

Rapidamente peguei minhas coisas e saí do meu escritório, tentando conter as lágrimas de alívio. Normalmente, eu
nunca demonstraria emoção na frente de meus funcionários.

Mas hoje não era um dia normal.

Eu podia sentir todos eles me observando enquanto corria para o elevador. Eu podia sentir sua pena, sua preocupação,
sua angústia, mas eles não sabiam o que eu sabia — que Xavier e Angela estavam a salvo.

Eu não acreditaria até que os visse com meus próprios olhos, mas meu coração me dizia que era verdade.

Amélia, pensei. Você vai ter que esperar um pouco mais, meu amor. Seufilho e sua nora têm muito mais vida para viver.

Xavier

Minhas pálpebras pareciam duras como concreto. Não havia maneira de elas se moverem tão cedo.

Sabia que precisaria abrir meus olhos uma hora, mas a escuridão era tão reconfortante. Claro, pensava assim depois de
toda aquela luz forte, aquele sol implacável, aquele breve tempo que ela e eu compartilhamos na ilha... Angela

Eu me lembrei agora. Angela. Como ela cuidou de mim, me alimentou, cuidou de minhas feridas. A garota que eu
constantemente insultava, a garota que eu chamava de puta oportunista, a garota com quem eu era casado.

Minha esposa.

Pisquei e abri um olho. Depois o outro. Tudo ao meu redor estava embaçado, mas eu podia vagamente distinguir o
ambiente frio e estéril de um quarto de hospital.

Por um segundo, eu queria fechar meus olhos e voltar para a escuridão — eu estava tão cansado — mas então pensei
em Angela novamente.
Eu precisava vê-la. Eu precisava ter certeza de que ela estava bem também. Que ela estava ao meu lado, mas quando
virei a cabeça, a cama ao lado da minha estava vazia.

Onde ela estava?!

— Enfermeira... — eu resmunguei. — ENFERMEIRA!!!

Minha boca estava tão seca, como se alguém tivesse derramado areia em minha garganta, mas nada disso importava
agora. Eu precisava encontrá-la.

Uma enfermeira robusta e carrancuda entrou com um tablet e começou a verificar meus sinais vitais. Ela nem me olhou
nos olhos.

— Onde ela está? — Eu perguntei. Mas a enfermeira ou não me ouviu ou só deu de ombros. Percebi que ela estava com
um fone de ouvido, o outro pendurado no peito, tocando REM. Quem ainda ouvia REM?

— Eu te fiz uma pergunta, — eu disse, ficando irritado. — Onde ela está?!

A enfermeira finalmente fez contato visual comigo e encolheu os ombros. Não pude acreditar na audácia da filha da
puta. Senti a raiva crescendo em meu peito, brotando em meu pescoço, avermelhando o meu rosto.

Essa gorda desleixada tem ideia de com quem ela está falando? Eu sou o Xavier Knight. Eu deveria ter dez enfermeiras,
todas me idolatrando ao mesmo tempo!

Claramente, ninguém comunicou o quão importante eu era para a enfermeira porque ela começou a caminhar em
direção à porta.

— EI! — Eu gritei, e ela finalmente se virou. — Minha esposa. Angela Knight.

— O que é que tem? — ela perguntou friamente.

— Ela está... — eu comecei e parei.

De repente, achei difícil completar a frase. Emoção, carinho, esses sentimentos estranhos me pegaram e me
estrangularam. Eu ainda não sabia se ela tinha sobrevivido.

— Por favor, — eu disse, embora não estivesse acostumado a usar essa palavra. — Apenas me diga. Ela está bem?

Algo nos olhos da enfermeira mudou. Um toque de compaixão, talvez. Então ela acenou com a cabeça.

— Ela está bem no final do corredor. Não se preocupe.

Então ela saiu, me deixando sozinho. Soltei um suspiro de alívio, grato.

Eu não sabia em que ponto Angela havia se tornado alguém que eu parei de odiar, mas tudo parecia diferente agora.

Não esquecia a maneira como ela olhou para mim com aqueles olhos azuis brilhantes. Esse cabelo loiro despenteado.
Aquele corpo perfeito descendo na água...Mas que porra é essa?

Eu estava fantasiando com Angela agora?

Talvez eu simplesmente tenha sofrido uma concussão e por isso não estava pensando direito por ora. Estávamos de
volta ao mundo real, e isso significava que teríamos que continuar nossas rotinas e eu teria que aprender a odiá-la
novamente.

Não é?

De alguma forma, agora, eu não tinha tanta certeza.

— Xavier!
Algumas horas depois, a porta do meu quarto de hospital se abriu e meu pai correu para dentro. Eu nunca o tinha visto
tão... desleixado.

Seu cabelo normalmente penteado estava apontando para diferentes direções. Parecia que ele tinha jogado seu terno
Brioni feito sob medida em um liquidificador. Seus olhos estavam inchados e vermelhos, e nada parecidos com aqueles
olhos claros e duros do CEO que eu sempre respeitei e temi enquanto crescia.

— Pai? — Eu perguntei, surpreso. — Você está uma bagunça. Você está bem?

— Eu estou...?

Meu pai balançou a cabeça, agarrando meu ombro, sorrindo, mas o sorriso parecia tão cheio de dor.

— Eu pensei que tinha perdido você, Xavier. Eu pensei...

— Ei, está tudo bem, velho, — eu disse, me sentindo um pouco desconfortável.

Não gostei de ver alguém tão poderoso cair de joelhos. A única outra vez na minha vida em que vi meu pai agir assim foi
quando minha mãe morreu.

— Xavier, — ele disse, sentando-se ao lado da minha cama, com os olhos lacrimejantes. — Quando a notícia saiu, eles
disseram que havia vítimas e...— Quem? — Eu perguntei, de repente tenso. — Quem morreu no avião?

Meu pai olhou para o lado, triste.

— O piloto, Jim.

Merda. Eu conhecia Jim quase toda a minha vida. Ele voou com meu pai e eu ao redor do mundo mais vezes do que eu
poderia contar.

— Meu Deus, — eu disse, surpreso com o quão devastado eu me sentia. — Alguém falou com a família dele?

Meu pai acenou com a cabeça solenemente.

— Já entramos em contato e oferecemos uma compensação generosa, não que isso possa substituí-lo.

— Isso é bom, — eu disse, mas não me senti bem. Não parecia certo de jeito nenhum.

— Estou muito grato, filho, — disse meu pai novamente. — Depois da sua mãe, a ideia de perder você também... Eu não
aguentaria.

A enormidade do que ele viveu, as noites sem dormir, o terror e a angústia, finalmente me atingiu. Por pior que tenha
sido para Angela e eu na ilha, pelo menos tínhamos um ao outro.

Não havia nenhuma área cinzenta. Nós sobreviveríamos ou morreríamos, mas para meu pai, cada segundo que passava
sem saber o que havia acontecido conosco deve ter sido uma agonia indescritível.

Peguei sua mão, embora fosse estranho para mim ser tão emotivo.

— Estou bem, pai. Está tudo bem.

Ele acenou com a cabeça, enxugando uma lágrima. Então ele olhou em volta, carrancudo.

— Onde está Angela?

Quando a enfermeira, com a atitude mal-humorada de sempre, finalmente concordou em me deixar sair do quarto com
meu pai e visitar Angela, nos aproximamos lentamente de seu quarto.As feridas em meus braços ainda doíam e eu tinha
que tomar cuidado para não me esforçar demais. Meu pai gentilmente me deu apoio e, abrindo a porta, me conduziu
para a sala.
Lá estava ela. Quieta e imóvel como a própria Bela Adormecida.

Minha esposa.

Angela Knight.

A garota estranha que eu sempre pensei ser um demônio, mas que era, na verdade, um anjo disfarçado. Meu pai
balançou a cabeça, olhando para ela.

— Ela é tão linda e pura, Xavier, — ele disse. — Não apenas sua aparência. Mas sua alma também. Você não consegue
ver?

Eu nunca fui capaz de entender o que meu pai viu em Angela até agora, observá-la deitada ali, seu peito subindo e
descendo, seus olhos fechados... Eu senti uma sensação estranha tomar conta de mim.

A princípio pensei que, assim que voltássemos ao mundo real, tudo voltaria ao normal. Mas agora, enquanto olhava
para ela, percebi que isso era impossível.

O que tínhamos compartilhado na ilha era tão primitivo, tão puro, tão real, que não havia mais retorno.

— Eu sei o que você quer dizer, pai, — eu admiti. — Eu não acho que teria sobrevivido sem ela.

— Ela salvou você?

Em mais de uma maneira, pensei. Em vez disso, eu apenas balancei a cabeça. Então eu lentamente me aproximei de sua
cama e sentei ao lado dela, segurando sua mão fria.

Quando ela acordaria? E o que ela pensaria quando olhasse para mim agora?

Angela me veria como um monstro por todos os meus maus tratos?

Ou ela me veria como alguém diferente?

Como o homem que realmente era por baixo dessa pele dura.

— Acorde, Angela, — eu implorei a ela. — Abra os olhos.

Mas seus olhos permaneceram fechados. Por um segundo, o pensamento mais estúpido do mundo passou pela minha
cabeça. Que eupoderia ter que beijá-la para trazê-la de volta à vida. Como aquele conto de fadas idiota.

Sim. Definitivamente concussão.

Abaixei-me e apertei suavemente a mão dela. Ela parecia tão delicada.

Vulnerável.

Ela começou a se mexer ao meu toque e meu coração deu um salto no peito.

Ela abriu os olhos, aquelas orbes azuis brilhantes olhando direto para mim.

— Você está acordada, — eu disse, com uma voz gentil.

Angela olhou em volta e pude ver a confusão se instalando.

— Você está segura agora, — eu assegurei a ela.

— Onde estou? — ela perguntou, com voz trêmula.

Algo em sua voz me preocupou. Ela parecia apavorada.

— Angela, estamos em um hospital. Está tudo bem.


Ela olhou para baixo e viu que sua mão estava na minha. Ela puxou a mão de mim e guardou-a sobre o peito, tentando
se inclinar para longe de mim em sua cama.

— Angela...? — Eu poderia dizer que algo ruim estava acontecendo.

Mas eu nunca poderia estar preparado para o que ela disse a seguir.

— Quem... — Ela respirou fundo, tentando se acalmar. — Quem é você?

Capítulo 2 Perto de Casa

Xavier
— Sua esposa tem um caso raro de amnésia retrógrada, — disse o médico.
— E o que é isso? — Eu exigi.
O médico e eu estávamos sentados no quarto de Angela. Ela estava dormindo em paz e parecia uma pessoa
perfeitamente saudável.
A não ser pelo fato de seu problema não ser visível.
— É essencialmente uma reação mental retardada a eventos de extrema angústia psicológica ou física. Sobreviver a um
acidente de avião é muito estressante...
— Ok, sim, claro. — Eu o interrompi, impaciente. — Ela vai melhorar?
— Esperamos uma recuperação total, Sr. Knight, — ele me garantiu.
— Pode demorar alguns dias, ou mesmo algumas horas. A melhor coisa que você pode fazer é estar aqui para ela.
O médico saiu para nos dar um pouco de privacidade.
Olhei para Angela, sem ter a menor ideia do que fazer.

Angela
Eu mastiguei o sanduíche que a enfermeira tinha me dado enquanto olhava para o homem em meu quarto.
Ele olhava pensativamente para fora da janela, recusando-se a fazer qualquer contato visual comigo.
— Então, Xavier... — eu tentei. — Somos casados?
Eu o vi enrijecer.
— Sim.
— Hmm...
As enfermeiras disseram que minha memória voltaria em breve, mas até então, este homem era um estranho.
Um estranho muito bonito, admito.
Eu não conseguia identificar exatamente o porquê, mas era como se houvesse uma parede de aço entre nós. Não era
exatamente como eu esperava ser tratada por meu marido.
— Fomos felizes? — Eu perguntei.
Ele riu, um som curto e amargo.
— Na verdade não, — ele admitiu. — Desculpe.
— Oh.
O silêncio entre nós se estendeu. Continuei a mordiscar meu sanduíche, mais para ter algo a fazer do que por fome.
— Talvez fosse melhor se sua memória de mim nunca mais voltasse, — ele disse de repente. — Você não precisa ser
casada com um estranho.
Pisquei para ele, pego de surpresa.
— Por que isso?
— Eu não tenho sido exatamente... bom para você... — Sua voz falhou, e eu pude sentir a imensa dor que suas palavras
carregavam.
— Não.. eu acho que seria muito triste. Eu quero minha memória de volta.
— Mesmo que ela não seja boa? — ele perguntou.
— Eu confio em mim no passado, — eu disse. — Devo ter me casado com você por um bom motivo, certo? — Eu sorri,
tentando confortá-lo.
Ele parecia tão angustiado.
Ele suspirou e balançou a cabeça, cruzando olhares pela primeira vez.
Meu coração quase parou. Eu poderia me perder nesses olhos...
— O que eu fiz para merecer você? — ele se perguntou.
— Eu não sei, você me diz, — eu disse. — Amnésia, lembra?
Ele riu de novo, mas desta vez parecia genuíno. O som enviou borboletas vibrando em volta do meu estômago.
Xavier estava tão preocupado com nosso passado, mas ele parecia bom para mim.
Quão ruim poderia ter sido?
Muito ruim.
Depois que minhas memórias voltaram para mim, nós rapidamente voltamos para Nova Iorque.
Tínhamos acabado de sair do aeroporto e Marco estava nos conduzindo pela agitação normal da cidade.
Este era o Xavier do qual me lembrava — frio, insensível, olhando pela janela durante todo o trajeto para casa. Ele não
disse uma palavra para mim.
Mas o que havia a dizer?
Como deveríamos processar tudo o que acabamos de passar? Xavier continuaria a me odiar agora que estávamos de
volta?
Eu tinha que admitir, se ele ainda me odiava ou não, o silêncio era certamente preferível a ele gritando comigo o tempo
todo.
— Marco, — Xavier disse, sacudindo-me do meu estupor. — Me deixe no trabalho, sim? Eu tenho muito que colocar em
dia.
— Claro, senhor, — disse Marco, sempre obediente.
Eu pensei sobre Xavier, surpresa. Ele já era realmente capaz de voltar ao trabalho? Ele tinha acabado de sobreviver a um
acidente de avião!
Mas com certeza, cinco minutos depois, Marco estava estacionando no prédio da Knight Enterprises e abrindo a porta
do carro para Xavier.
Ele estava prestes a sair quando parou e olhou para mim.
— Hum, — ele disse, parecendo incerto sobre o que dizer. — Vá devagar... eu acho?
Então ele bateu à porta do carro e se dirigiu para dentro de seu prédio. Petrifiquei-me em descrença. Vá devagar? Isso
era tudo que ele tinha a dizer?
Eu me encontrei confusa e nem um pouco surpresa. Quem era eu para fazer o grande Xavier Knight mudar? Ele era
quem ele era.
Um acidente de avião, uma experiência quase mortal, um vínculo estranho em uma ilha distante — nada disso
importava agora que ele estava de volta ao lugar a que pertencia.
Marco voltou para o carro.
— Tudo bem, Sra. Knight. De volta para casa?
Eu pensei sobre isso. Casa. Claro, Marco se referia ao apartamento de cobertura que eu dividia com Xavier, mas onde
nunca me senti em casa, não de verdade.
Não. Eu sabia para onde queria ir.
— Quer saber, Marco, — eu disse. — Eu gostaria de parar em algum lugar primeiro.
— Angie!!!
A porta da frente se abriu e braços fortes me envolveram, me levantando do chão. Mesmo quando minha perna bateu
contra a dele e latejou de dor, eu sorri.
Porque, finalmente, eu estava cercada pelas pessoas que amava. De volta para casa em Heller, onde fui criada.
— Danny, você pode me colocar no chão, — eu disse, rindo um pouco. — Estou bem.
— Você não tem ideia de como todos nós estávamos com medo, irmã, — disse Danny, me abaixando e acenando para
que eu entrasse. — Lucas começou a tricotar apenas para acalmar os nervos.
— Ele começou?
Atrás dele estava Lucas, balançando a cabeça, mas sorrindo. Claro que não. Mesmo nos momentos mais assustadores,
Danny estava sempre brincando. Fazendo todos nós nos sentirmos melhor.
Ao lado de Lucas, fiquei surpresa ao ver Em. Por um segundo, não consegui entender o que ela estava fazendo aqui. Ela
era uma das minhas melhores amigas, não me entenda mal, mas ela não era da família.
— Graças a Deus você está bem, — ela disse, correndo e me abraçando com força. Havia lágrimas em seus olhos. E de
repente me lembrei.
Em e Lucas estavam juntos. Eram um casal.
Como eu havia esquecido?
— Estou... estou feliz por você estar aqui, — consegui dizer.
Na verdade, a ideia de minha melhor amiga namorar meu irmão ainda me deixava um pouco brava. Eu estava feliz por
eles, obviamente, mas era difícil entender isso.
E não era um fato que eu esperava confrontar ao voltar para casa.
Finalmente, meu pai apareceu. Suas bochechas pareciam rosadas e saudáveis, e seu sorriso era enorme.
— Lá está ela, — ele disse. — Minha filhinha.
De repente, havia lágrimas em meus olhos. Quando fiquei presa na ilha, quando toda esperança parecia perdida, pensei
em meu pai e se algum dia o veria novamente.
E aqui estava eu. Aqui estava ele. Aqui estávamos nós juntos.
— Pai, eu estou... — eu disse, mas não pude continuar. Um soluço involuntário deixou minha garganta e eu estava
correndo em sua direção, jogando meus braços em volta de seu pescoço.
— Está tudo bem, — ele disse, segurando-me, acariciando suavemente minha cabeça. — Está tudo bem, Angie. Estou
bem. Estamos todos aqui.
Ficamos todos ali mais tempo, congelados, tentando nos agarrar a esse momento, a essa gratidão por termos nos
reunido, apesar de tudo.
Finalmente, me afastei do meu pai e enxuguei minhas lágrimas.
— Você vê essa garota? Pele e osso! — ele disse a Lucas. — Vamos, temos que alimentá-la e pronto!
Eu ri, sentindo um calor dentro do qual nenhum sol do Caribe poderia chegar perto de competir.
— Você fez o quê?!
— Eu peguei um peixe! É tão difícil de acreditar?
Danny estava me olhando com descrença. Todos na mesa estavam olhando para mim como se eu fosse uma pessoa
completamente diferente.
— Gente, não é grande coisa, — eu disse, corando. — Papai costumava levar todos nós para caçar. Você não acha que
aprendi alguns truques ao longo do caminho?
— Não achei que você fosse capaz de matar alguma coisa, — disse Danny. — Eu vou na verdade. Estou com medo de
você agora.
Todos nós rimos. Notei Lucas e Em segurando as mãos debaixo da mesa e desviei o olhar. Esse era um assunto que eu
pretendia evitar o máximo que pudesse.
Em vez disso, olhei para meu pai.
— Então, como você está se sentindo? — Eu perguntei.
— Melhor, minha filha, — ele disse, dando uma grande mordida na lasanha. — Muito melhor. Meu apetite voltou e, em
alguns dias, posso até correr um pouco.
— Então, o tratamento está realmente funcionando?
Meu pai deu de ombros, mas quando olhei para Danny, ele estava sorrindo, como se dissesse: Sim, Angie. Está
realmente funcionando.
Havia tantas perguntas que eu queria fazer, mas elas podiam esperar.
Por enquanto, eu só queria comer uma deliciosa refeição caseira, rir das
piadas de Danny e ser grata por estar passando esse momento em casa.
Em minha verdadeira casa.
Não com Xavier.
Como se ela estivesse lendo minha mente, Em acenou com a cabeça
para mim.
— Aliás, como está o marido?
Xavier
Alguém estava falando comigo sobre fluxogramas, sobre um novo hotel
Knight, sobre uma próxima apresentação, mas eu não ouvi uma palavra.
Tudo o que eu conseguia pensar era em Angela.
— Sr. Knight? Temos a sua aprovação?
— Oh, claro, — eu disse, com os olhos vidrados.
— Maravilhoso, — disse um dos meus principais executivos. — Vamos fazer a bola rolar e mantê-los atualizados!
Eu balancei a cabeça e preguiçosamente virei de lado na minha cadeira quando ele saiu do meu escritório. Eu olhei pela
janela para Manhattan. Claro, era uma ilha, mas poderia ter sido mais diferente do que a última em que estive?
Eu sei que deveria ter dito algo para Angela no hospital, no avião, no carro, mas não sabia por onde começar.
Oh, então agora que você salvou minha vida e tudo, você acha que podemos superar o fato de que você se casou
comigo pelo meu dinheiro e fez da minha vida um inferno?
Eu coloquei minha cabeça em minhas mãos. Eu gostaria de ainda poder odiá-la, que eu pudesse me reconectar com
minha raiva e chamá-la exatamente do que ela era — uma puta atrás de dinheiro.
Mas só de pensar nisso, me fez passar mal.
É isso que eles chamam de culpa?
O que diabos estava acontecendo comigo? Um segundo, eu queria cuspir na cara da garota, e no próximo, eu queria
abraçá-la. Meu cérebro estava um caos. Parecia que eu não conseguiria pensar direito nem se minha vida dependesse
disso.
Eu queria culpar a queda do avião. Uma doença física era mais fácil de diagnosticar, mas não podia me enganar. Isso era
sobre meus sentimentos por Angela de alguma forma.
Eu simplesmente não conseguia entender o que diabos meus sentimentos estavam me dizendo.
— Xavier?
Virei-me para ver meu pai entrar em meu escritório. Ele parecia melhor, embora ainda exausto. As bolsas sob seus olhos
traíram seu comportamento.
— Você realmente deveria estar em casa, — ele disse, sentando-se à minha frente.
— Isso é o que todo mundo vive me dizendo.
Ele bateu na mesa entre nós, suspirando.
— É muito cedo para falar, mas se você está insistindo em trabalhar, acho que posso também.
— O que é? — Eu perguntei, franzindo a testa.
Meu pai tinha aquele olhar, o olhar que dizia que ele estava prestes a lançar algo em mim. Algo que eu não gostaria. De
jeito nenhum.
— No momento, sua imagem de relações públicas é... como posso dizer isso? — Meu pai fez uma pausa. — É ruim,
Xavier. As fotos de Angela...
— Isso foi culpa dela.
— Os rumores de que você andou dormindo por aí. — Fiquei em silêncio sobre isso. Meu pai estava me olhando com um
daqueles olhares furiosos que significava: Não vou nem perguntar se isso é verdade porque não quero saber.
— E então o avião caiu.
Eu zombei.
— Isso não deveria nos fazer parecer... não sei, como vítimas?
— Sim. Patético. Impotente. Incapaz de dirigir um negócio porque você ficou muito traumatizado.
— Por favor, — eu disse, desaprovando. — Você sabe que eu...
— Não, Xavier. No momento, não sei de nada. E nem o conselho.
Você precisa fazer algo para mostrar a eles que está no controle.
— Tudo bem, — eu disse. — Diga.
— O Jubileu de Prata é daqui a dois meses. Como você sabe, parte da noite inclui uma competição anual de dança.
— Você não pode estar falando sério.
— Você e Angela vão participar. Você precisa dançar na frente de todos. Mostre como você está confiante. Como você
está apaixonado.
Entendeu?
— Isso é ridículo. Achei que seria algo relacionado a negócios. Não um maldito...
— Xavier, — meu pai disse severamente. — Eu não te peço muito, mas estou pedindo isso. Quase perdi você e a Angela
e... Por favor. Se não for pela empresa, faça isso por mim.
Suspirei e desviei o olhar, sabendo que convencer Angela a dançar comigo, especialmente quando ela tinha uma lesão
na perna, seria quase impossível.
Xavier: Onde você está?
Xavier: Estou em casa e você não está aqui.
Angela: Desculpe.
Angela: Eu precisava ver minha família.
Xavier: PORRA
Xavier: POR QUE VOCÊ NÃO...
Xavier: Deixa pra lá.
Xavier: Tanto faz.
Xavier: Eu preciso te pedir uma coisa.
Angela: O que é?
Xavier: Não
Xavier: Pessoalmente.
Angela: Ah, tudo bem se conversarmos amanhã?
Angela: Já é tarde...
Xavier: Tá bom
Eu joguei meu telefone de lado, frustrado. Sentei-me sozinho na minha cobertura. Bem, não totalmente sozinho. Lucille
já havia me abraçado e tentado me fazer sentar e comer.
Mas agora, eu não tinha apetite. A ideia de pedir um favor a Angela estava me consumindo por dentro.
Depois de todas as coisas horríveis que eu disse a ela, depois da maneira baixa como a tratei, como ela me retribuiu?
Salvando minha vida.
Presumir que ela faria mais por mim agora era a definição de insanidade.
Se eu fosse ela, odiaria cada célula do meu corpo. Eu nunca iria querer me ver novamente, muito menos ser minha
parceira de dança no Jubileu de Prata.
Nunca pensei em um milhão de anos que esse seria o meu problema.
Seja legal, pensei. Seja encantador. Mas com essa garota, com Angela, eu nunca pensei que teria que tentar.
Eu sabia que, se não conseguisse convencê-la, meu pai poderia muito bem me substituir como CEO da Knight
Enterprises. Os negócios sempre vêm em primeiro lugar. E pensar que todo o meu futuro dependia de alguma dança
idiota!
Isso me fez querer arrancar meu cabelo. Nada fazia sentido agora. No trabalho. No relacionamento com a minha doce
esposa oportunista.
A questão se repetia indefinidamente em minha própria cabeça, parecendo cada vez mais ridícula. Mas eu tive que
admitir que não tinha ideia de como achar uma solução.
Como diabos eu convenceria minha própria esposa a dançar comigo?
O elevador para nossa cobertura se abriu e uma mulher entrou. A princípio pensei que fosse Angela, mas o barulho de
saltos altos no chão me disse que não podia ser ela.
Uma morena peituda entrou na cozinha, seu vestido preto apertava suas curvas pecaminosas.
— Ei, Xavier — ronronou Serena. — Seu porteiro me deixou subir.
— O que diabos você está fazendo aqui? — Eu perguntei. Serena era uma das muitas mulheres com quem eu dormia
regularmente.
Ela se aproximou de mim e sentou-se no meu colo, seu perfume inebriante.
— Ouvi dizer que você acabou de voltar de um acidente de avião... deve ter sido muito assustador para você. — Ela
começou a passar a mão pela minha coxa. — Você deve ter muito... estresse para ser aliviado.
Normalmente, Xavier Knight teria carregado Serena de volta para seu quarto e fodido com ela.
Mas agora, o rosto de Angela apareceu em minha mente.
Merda.
Nosso tempo juntos na ilha me mudou... para melhor ou para pior.
Serena continuou a piscar os cílios para mim, mordendo o lábio inferior suculento.
Merda! O que devo fazer?

Capítulo 3 Outros Amantes

Xavier
Na manhã seguinte, acordei e, por um segundo, poderia jurar que ainda estava na praia. Eu podia sentir os grãos de
areia arranhando minhas costas, ouvir os sons das ondas batendo na praia, e cheirar a brisa fresca do oceano.
Mas quando abri os olhos, vi o teto com painéis de madeira e percebi que estava de volta à minha enorme e luxuosa
cama king-size. De volta à cidade de Nova Iorque.
Suspirei de alívio. Eram os mesmos lençóis de microfibra, a almofada Zen Chi com casca de trigo sarraceno, o
humidificador centrífugo que mantinha a temperatura e a qualidade do ar do meu quarto agradáveis...
Essas eram as marcas da casa de um bilionário. A riqueza que acumulei, as riquezas que ganhei por meio de pura
coragem, todas essas coisas eram minhas por direito.
Minhas.
De Xavier Knight.
Mas...
Tendo sido despojado de todos esses itens naquela ilha, reduzido a nada mais do que um homem tentando sobreviver,
vivendo cada hora como se fosse a última, eu não pude deixar de me sentir... transformado.
Os bens materiais que uma vez me trouxeram tanto prazer pareciam tolos e vazios agora. Eu estava confortável, mas a
que custo?
Meu Deus.
Que diabos está acontecendo comigo?
Pensei em Angela e me lembrei que hoje teria que falar com ela sobre essa competição de dança do Jubileu de Prata.
Ugh.
A ideia por si só me fez estremecer. A última coisa no mundo que eu queria era pedir um favor a uma mulher, mas
depois de falar com meu pai, eu sabia que não tinha escolha.
Talvez fazer isso ajude a esclarecer o que você sente por ela! Meu cérebro estava tentando encontrar justificativas
agora. Ótimo.
Eu me levantei e me estiquei, vestindo um robe. Eu esperava que ela ainda não tivesse voltado da casa de seu pai em
Heller. Eu precisava de uma xícara de café primeiro.
Café Kopi luwak, o melhor do mundo. Mais uma lembrança da minha riqueza ridícula.
Dei um passo para o corredor e ouvi duas vozes distantes. Risadas.
— ... você sabe que isso não é verdade!
— Angela, pare de agir de forma tão humilde pelo menos uma vez na vida.
Um homem estava falando com minha esposa, fazendo-a rir e gritar.
Quem é esse agora?
Apressei meu passo, correndo pelo corredor e virando uma esquina.
Lá estava ela. Angela, vestindo nada além de um quimono, exibindo uma sugestão de decote, com as pernas nuas
expostas.
A VAGABUNDA!
— Que porra é essa? — Eu disse, fervendo.
Sentado em frente a ela estava um homem cujo rosto eu ainda não tinha visto. Ele virou a cabeça e sorriu, acenando.
— Xavier, bem-vindo ao lar! — Disse Dustin.
Dustin. Claro, era a porra do Dustin. O projeto de estimação de Angela, o artista que ajudamos a transformar em um
superstar. Seu pequeno brinquedo.
— O que você está fazendo aqui, Dusty? — Eu perguntei, bagunçando intencionalmente seu nome mais uma vez.
— Dustin, — ele corrigiu. — Eu só queria checar como estava minha melhor amiga. E você, é claro, Xavier. Estou tão feliz
que vocês dois estejam bem.
Fiquei surpreso com o olhar que Dustin me deu. Como se seus olhos estivessem viajando. Como se ele estivesse me
examinando.
Mas por que diabos ele estaria fazendo isso se estava obcecado por Angela? Eu empurrei o pensamento de lado e
permiti que minha raiva inflamada crescesse em vez disso.
— Achei que tivéssemos combinado que você e eu íamos conversar, — falei para Angela com os dentes cerrados. — O
que ele está fazendo aqui?
— Oh, eu não sabia exatamente que horas você queria... — Mas ela parou, vendo que cada palavra que saía de sua boca
estava apenas me deixando com mais raiva.
Minhas mãos estavam cerradas em punhos. Se eu fosse um desenho animado, o vapor estaria saindo das minhas
orelhas agora mesmo.
Por quê? Porque ela desconsiderou nossos planos, foi por isso. Não tinha nada a ver com o fato de que ela parecia tão
confortável com outro homem, não é?
— Não há necessidade de ficar chateado, Xavier, — disse Dustin, levantando-se. — Passei sem avisar. Angela...
— Angela pode falar por si mesma. Não é verdade?
— Xavier... — ela disse. — Eu... eu só queria falar com meu amigo.
— Seu amigo?!
Eu olhei para Dustin. Para seu olhar de hipster tão descolado, seu rosto perfeitamente simétrico. E por alguma estranha
razão que não consegui explicar, fiquei com ciúmes.
Eu gostaria de poder fazer Angela sorrir e rir do jeito que Dustin fez.
Eu gostaria de poder ter seu charme descontraído. O calor dele.
Eu gostaria que ela olhasse para mim do jeito que ela olhava para ele.
Eu estava louco? Talvez. Eu não sabia o que diabos tinha acontecido comigo. Meu cérebro estava me dizendo que eu
não deveria me importar nem um pouco. Ela era um meio para um fim, minha esposa apenas no papel. A maneira como
mantenho meu papel como CEO da Knight Enterprises. Era isso.
Mas meu corpo estava dizendo algo diferente. Cada segundo passado com aqueles dois juntos na mesma sala estava
fazendo minha pele arrepiar. Era um inferno.
— Esta é a minha casa! — Eu gritei. — Quem entra e sai depende de MIM, entendeu? E não de você, porra. E
definitivamente nenhum Dustin é bem-vindo aqui.
— Por favor, Xavier... — Angela gaguejou.
Ela parecia apavorada, mas por quê?

Angela
Eu estava olhando para Xavier, mas não estava realmente vendo ele. Eu estava vendo o Sr. Lemor, meu antigo chefe,
que tentou arruinar minha carreira e minha vida por rejeitá-lo.
Eu estava vendo o parceiro de negócios de Xavier, aquele francês assustador, Jacques, que tentou fazer o que queria
comigo.
Quando eu olhei para Xavier agora, eu estava vendo cada homem violento, cada homem zangado, cada monstro terrível
que assombrava meus sonhos.
Desde a queda do avião, eu fiquei mais assustada com tudo. Mas nada, ninguém me assustou tanto quanto o homem a
quem chamei de marido.
— Desculpe, Angela, — Dustin disse baixinho para mim entre as explosões de Xavier. — Eu vou sair... — Eu queria
implorar a Dustin para ficar, para me proteger, mas também sabia que era a presença dele que havia irritado Xavier.
Seria melhor se ele fosse embora?
Finalmente, ouvimos as portas do elevador se fecharem, e éramos apenas Xavier e eu sozinhos. Ele ficou quieto de
repente, e sua expressão mudou.
Eu não conseguia entender o que ele estava pensando. Eu nunca fui capaz de entrar na cabeça de Xavier Knight. Que
bem isso me faria agora?
Ele claramente ainda me odiava mais do que odiava qualquer pessoa no mundo. Não é?

Xavier
Ela parecia assustada. Ela parecia traumatizada. Ela parecia que desmaiaria bem ali, no meio da nossa sala.
E o pior é que era por minha causa.
Eu parei e balancei minha cabeça. Eu tinha entrado nesta sala para pedir um favor a Angela e, em vez disso, explodi com
ela, gritando sobre a presença desse amigo dela. Mas agora ele se foi e eu ainda estava bravo.
Tinha raiva de mim mesmo.
Eu precisava limpar minha cabeça. Eu precisava ficar longe dela. E rápido.
— Angela, eu... — comecei, mas não sabia como terminar. Por um segundo, ela quase pareceu esperançosa, como se eu
pudesse tentar consertar as coisas.
Mas isso só me confundiu mais.
Sem uma segunda olhada, me virei e saí da sala. E daí, se eu tinha assustado Angela um pouco. Não foi minha culpa que
eu a peguei flertando com outro homem.
Talvez ele fosse seu amante. Como eu deveria saber? Aposto que sim.
Aposto que ela já se prostituiu e só usava o olhar inocente para me fazer pensar que ela era dócil e doce.
De qualquer forma, o que isso me importa? Ela não tinha nenhum significado para mim.
Eu certamente tive minhas amantes, não? Talvez fosse disso que eu precisava agora. Um pouco de sexo sem sentido
para tirar minha mente de toda essa merda.
Com essa ideia martelando em meu cérebro, peguei meu telefone. Eu sabia exatamente qual garota estaria disposta.
Ela era bonita. Tímida. E muito boa na cama.
Xavier: Ei.
Xavier: Estou de volta.
Penny: MDS!!!
Penny: XAVIER!!!
Penny: Você está bem???
Penny: Tenho assistido ao noticiário… Não acredito...
Xavier: Estou bem.
Penny: Graças a Deus.
Penny: Bem-vindo de volta.
Xavier: Obg
Xavier: O que você está fazendo?
Penny: Só estudando. Você sabe como são as aulas de administração... o prestígio da NYU e tudo mais.
Penny: Oh! Eu consegui um show cantando jazz em um clube no Brooklyn!
Penny: Você deveria vir. (emoji feliz com as bochecas rosadas)
Xavier: Que seja. Esqueça os estudos.
Xavier: Venha.
Penny: Por quê?
Xavier: Você sabe por quê.
Penny: Xavier... Gosto muito de você, mas sua esposa não ficaria chateada?
Xavier: Chateada com o quê? Quero sua opinião sobre alguns relatórios trimestrais
Xavier: O que você estava pensando? (emoji piscando o olho)
Penny: (emoji revirando os olhos)
Xavier: estou brincando. Mas, sério, venha.
Penny: Ah, por favor, ainda sou uma estudante! Não sou uma empresária famosa. (emoji de olhos fechados e língua
para fora)
Xavier: Você é a pessoa mais inteligente que conheço.
Xavier: Vamos.
Penny: Ok, tudo bem.
Penny: Vejo você daqui a pouco!
Senti uma pontada de culpa quando coloquei meu telefone no gancho.
Penny era uma garota gentil... acabou de sair de um relacionamento de merda. E eu sabia que uma vez que a tivesse
sozinha, ela não seria capaz de resistir a mim.
Eu afastei esses sentimentos.
Qualquer que seja.
Eu preciso de uma boa foda.

Angela
Depois do estranho encontro com Xavier esta manhã, todos os tipos de pensamentos estavam passando pela minha
cabeça. Então decidi correr e limpar minha mente.
Suar, ofegar, me mexer — ajudou muito.
Minha perna ainda estava doendo, obviamente, mas eu notava que estava melhorando e logo eu estaria saudável como
antes.
Saudável fisicamente, mas não mentalmente.
Percebi que talvez tenha sido errado da minha parte convidar Dustin esta manhã. Ele tentou me proteger, alegando que
ele apareceu sozinho, mas a verdade é que eu sentia falta do rosto do meu amigo e queria que ele soubesse que eu
estava bem.
De qualquer forma eu deveria ter pensado sobre os sentimentos de Xavier. Eu sabia o quanto ele não gostava de Dustin
e sabia que tínhamos planos para discutir algo. Planos que eu estraguei totalmente.
Sim, eu poderia ter ficado com medo das explosões de Xavier, mas desta vez, sua raiva não parecia vir de um ódio
genuíno.
Ele não me chamou de oportunista. Nem uma vez.
Ele não mencionou o fato de que eu me casei com ele por causa de seu dinheiro, por mais impreciso que isso possa ser.
Ele parecia perturbado e fora de si, latindo como um cachorrinho ferido. Eu me perguntei do que realmente se tratava.
Fiquei pensando no Xavier que conheci naquela ilha e em como ele parecia distante agora. Talvez, se eu apenas pedisse
desculpas, eu pudesse me reconectar com ele?
Eu tive que tentar.
Quando cheguei em casa, corri para o chuveiro. Eu não queria aparecer na porta de seu quarto toda suada e nojenta.
Eu queria estar no meu estado mais apresentável.
Ao sentir a cascata de água quente pelo meu corpo, suspirei, satisfeita.
Era tão bom estar limpa depois de estar coberta de areia e sujeira naquela ilha.
Cada banho agora parecia um renascimento completo. Eu apreciava cada gota.
E quando saí, me enxugando e me vestindo, pensei em tudo o que tinha a agradecer.
Eu pude ver minha família. Meu melhor amigo de infância. Meu artista/barista favorito.
E agora eu tinha a chance de acertar as coisas com meu marido distante. Depois da experiência de vida ou morte na ilha,
como uma pequena conversa poderia me assustar?
Eu respirei fundo, olhando no espelho.
— Apenas diga a ele que você sente muito, — disse a mim mesma. — Você pode fazer isso, Angela.
Não usei nenhuma maquiagem. Eu queria estar o mais perto de mim mesma quando me aproximasse do quarto de
Xavier.
Reunindo minha coragem, caminhei pelo corredor, me aproximando de sua porta.
— Xavier, — comecei a dizer enquanto levantei minha mão para bater.
Mas então eu ouvi.
Uma voz de mulher. Gemendo. De homem. Grunhindo.
O bater repetido que só poderia significar uma coisa.
Xavier estava fazendo sexo com outra mulher.
Abaixei minha mão em descrença e lentamente dei um passo para trás, os olhos lacrimejando. Como pude ser tão
idiota? Claro que ele não mudou!
Nada mudou!
Xavier Knight transaria com quem quisesse enquanto vivesse, casado ou não. Por que eu estava tão chateada? Por que
eu estava com tanta raiva?
Eu não sabia, mas decidi naquele momento nunca mais tentar me desculpar com Xavier novamente. Se ele queria me
machucar, tudo bem.
Mas eu não tenho que aguentar nada disso.
Lucas gostava de dizer que eu não tinha um osso maldoso em meu corpo, mas escapava de Danny todas as suas
travessuras e piadas desagradáveis. Posso não ser má, mas era uma mestra em dar gelo.
Xavier Knight estava prestes a perceber que não tinha ideia de com quem estava se metendo.

Capítulo 4 Ponto de Virada

Xavier
Xavier: Angela.
Xavier: Ainda precisamos conversar.
Angela: Claro.
Angela: Quando?
Xavier: Eu só preciso fazer um café primeiro.
Angela: Já fiz alguns.
Xavier: Oh
Xavier: Ótimo
Xavier: Acho que agora então.
Angela: Já estou lá embaixo.
Não funcionou. Transar não funcionou, porra. No momento em que gozei, esperava que uma espécie de liberação me
invadisse. Mas assim que terminei e sai de Penny, a cantora de lounge com quem eu dormia intermitentemente nos
últimos meses, a frustração voltou.
O que diabos estava acontecendo comigo?
Até meu corpo parecia estar se rebelando contra mim.
Penny estava quente com sua pele lisa, sua bunda gostosa e aquelas malditas covinhas.
Não era possível ver à primeira vista, com seus suéteres enormes e estilo de nerd dos livros.
Mas uma vez sem roupa...
— Pegue suas coisas e vá embora, — eu disse rispidamente.
Penny suspirou enquanto vestia suas roupas. Ela olhou para mim, e a tristeza em seus olhos enviou uma pontada de dor
em mim.
— Não devíamos ter feito isso, — ela disse.
— Você parecia estar se divertindo muito, — murmurei. Ela gritava e suas notas altas quase quebraram todas as janelas
do apartamento.
Penny corou, pegando suas coisas.
— Essa é a última vez, Xavier. Eu me sinto mal por sua esposa.
— Isso não é da sua conta.
Ela foi embora, e eu sabia o quão magoada ela estava.
Mas eu me importava? Ela era apenas uma peça secundária. Eu me perguntei se minha amada esposa tinha nos ouvido.
Não tínhamos ficado quietos.
Por que uma parte de mim esperava que Angela nos tivesse ouvido?
Possivelmente apenas o meu lado mais cruel, aquele que queria esfregar isso no rosto dela, para dizer — Eu também
tenho meu próprio Dustin.
Eu também estou me lixando pra você!
Isso era mesmo verdade? Filha da puta, minha mente estava uma bagunça ultimamente.
Eu sabia que, assim que Penny saísse daqui, teria que falar com Angela sobre essa competição de dança. Droga. Foi a
última coisa no mundo que eu tive vontade de trazer à tona.
Especialmente agora que eu gritei com ela por nada, mas eu tinha que acabar com isso eventualmente.
Para minha surpresa, porém, Angela respondeu muito rapidamente às minhas mensagens, e algo sobre o tom delas
parecia frio.
Era tão diferente da garota sempre tão gentil, tão inocente, e isso me pegou completamente desprevenido. Será que
Angela estava finalmente aprendendo a se defender?
Ainda que fosse dessa forma passivo-agressiva das mensagens de texto?
Não importa. Eu simplesmente tiraria esse negócio do Jubileu de Prata do caminho e voltaria meu foco para o que mais
importava: o
trabalho.
Desci as escadas e encontrei Angela já servindo duas xícaras de café.
Ela colocou o meu no balcão e se virou de lado, olhando o calendário e tomando goles com os lábios finos.
Sim, ela estava definitivamente chateada.
— Eu tenho que falar com você sobre uma coisa, — eu disse. — Eu
queria fazer isso antes, mas você me surpreendeu com Dustin e...
Ela ainda não tinha se virado para me encarar. Meu Deus, isso é estranho. Eu senti aquela sensação estranha subir em
minhas entranhas, aquela que as pessoas tendem a chamar de culpa. Mas eu não admitiria nenhum delito. De jeito
nenhum.
Quando você era um Knight, você nunca estava errado. Ou pelo menos era o que eu sempre me dizia.
— De qualquer forma, — eu disse, — é sobre um evento chamado Jubileu de Prata. Acontece uma vez por ano e...
Ugh. Eu não podia acreditar que realmente tive que convidá-la para dançar comigo. Isso me fez sentir tão humilhado.
Garotas pediam para dançar comigo e não o contrário.
— Eu sei, — disse Angela, interrompendo minha linha de pensamento. — Brad já me contou sobre isso. Devemos dançar
juntos.
Eu parei, em choque total. Ela tinha acabado de dizer que já tinha falado com meu pai sobre isso?
— Espere, — eu disse, tentando me orientar. — Você quer dizer... há quanto tempo você...
— Ele me enviou uma mensagem na noite passada. — Desde quando Angela e meu pai trocavam mensagens de texto?
Senti uma estranha pontada de ciúme crescendo em meu peito novamente, mas a reprimi. É do meu pai que estávamos
falando.
Não era como se ele estivesse dando em cima de Angela.
— Ok, — eu disse, tomando um longo gole de café.
— Então, uh, o que você acha?
Angela olhou para mim e eu vi aquela inocência se mexendo em seus olhos. Isso, misturado com sua nova frieza, era um
coquetel estranho de engolir.
— Eu disse a ele que sim, claro. Depois de tudo que ele fez por mim, eu faria qualquer coisa por Brad.
Por Brad. Tudo o que ele fez por ela.
Ela estava tentando me deixar louco? Desnecessário dizer que estava funcionando, porra. Não era preciso ser um
cientista para analisar o significado oculto de suas palavras.
Eu não estou fazendo isso por você, Xavier. Não te devo nada, Xavier. Eu te odeio, Xavier.
Ok, talvez ela não me odiasse, mas ela tem razões pra isso, eu acho.
— Bem, isso resolve tudo, — eu disse, olhando para o meu café para evitar seu olhar. — Nós vamos ter que ter aulas. Já
se passaram anos desde que dancei. Bem, quero dizer.
— Tudo o que você disser, — ela disse, obediente.
Mesmo assim, pude detectar um traço de atrevimento. Meu Deus, isso a tornava ainda mais atraente!
— Obrigado pelo café, — eu disse.
Então me virei para subir as escadas e me preparar para o dia. Era um sábado, claro, mas isso não significava que eu não
pudesse trabalhar.
— Xavier, — disse Angela, parando-me. — Você provavelmente deveria tomar banho. Você ainda cheira a... a ela.
Eu senti como se tivesse levado um soco no estômago. Ela tinha me ouvido com Penny. Então, por que não parecia nem
um pouco satisfatório?
E daí, disse para mim mesmo. Não seria a primeira vez que ela me viu — traindo. Mas desta vez, Angela sabia, e eu
sabia, que algo estava diferente.
Angela: Ei, Em.
Angela: Você está trabalhando hoje?
Em: Sim!
Em: Você quer passar por aqui?
Em: Pegar algumas flores?
Angela: Sim.
Angela: E falar com você, claro.
Em: Duh
Em: Vem logo pra cá!
Angela
A última vez que vi Em, ela estava segurando a mão do meu irmão embaixo da mesa de jantar na casa da minha infância.
Eu não precisava dessa Em agora. Eu precisava da Em que me deu um emprego na floricultura quando Curixon me
rejeitou.
Precisava da garota que compraria sushi comigo à meia-noite, mesmo quando nós duas sabíamos que o peixe tinha uma
grande chance de nos causar uma intoxicação alimentar.
A garota que eu chamei de minha melhor amiga por anos.
Entrando na floricultura, fui imediatamente confrontada com um milhão de aromas avassaladores, todos eles se
sobrepondo. O toque atraente de Daphne, o aroma frutado da madressilva e o picante dos lírios Stargazer.
Juntos, as flores deveriam ter entrado em conflito. Os aromas deveriam ter sido completamente esmagadores, como às
vezes era quando você entrava em uma loja de flores.
Mas na loja de Em, esse nunca foi o caso. De alguma forma, todas as fragrâncias se misturam perfeitamente, como se
ela tivesse criado uma química quase perfeita, vaso por vaso, planta por planta.
Era como, pensei, era como se as flores tivessem assinado um acordo de paz.
Acordo.
Essa palavra nunca significaria a mesma coisa para mim agora.
— Aí está você! — Em disse, largando a tesoura. — Você quer me ajudar a embrulhar isso?
— Claro, — eu disse, me aproximando, sorrindo. — Isso se eu ainda consigo me lembrar como fazer.
— É como andar de bicicleta, Angie. Você sempre foi melhor nisso do que eu, de qualquer maneira.
Fiquei ao lado de Em e comecei a organizar as flores, pensando novamente nessa palavra. Acordo. Quase me fez
estremecer.
— O que é? — Em perguntou, percebendo minha carranca. — Você parece... desligada.
— Oh, é só... o Xavier. De novo.
— Ele ainda está sendo terrível?
Comecei a acenar com a cabeça. Então parei. Eu balancei minha cabeça. Então parei. Eu não tinha certeza do que sentia,
mas não era clareza. Quando olhei para Em, sabia que ela me ouviria. Mesmo que saísse tudo confuso, ela ouviria e seria
compreensiva.
Então comecei a dizer a ela como me sentia.
— Na ilha, Xavier e eu... pensei que tínhamos criado um vínculo. Era como se estivéssemos compartilhando algo intenso,
e não sei... especial?
Parece bobo.
— Não, não parece, Angie, — disse Em, agarrando minha mão. — Continue.
— Bem, — eu disse, respirando, — Eu cuidei dele. Ele estava mais ferido do que eu, então eu cuidei de suas feridas e o
alimentei, e... o jeito que ele olhou para mim, Em... Ninguém nunca olhou para mim desse jeito antes.
— Isso parece lindo.
Eu balancei a cabeça tristemente.
— Era. E então voltamos para Nova Iorque e... tudo mudou.
— Como? — Em perguntou, franzindo o cenho.
Eu não sabia por onde começar. Então, eu apenas contei a ela toda a história, ocasionalmente parando para continuar
arrumando as flores e para pensar sobre meus sentimentos. Quando terminei, Em suspirou.
— Angie, parece que... ele está deixando você muito infeliz.
— Nem sempre.
— Mas na maioria das vezes, não é?
Eu concordei. Em me virou para que eu a olhasse bem nos olhos.
Portanto, não pude desviar para as flores pela primeira vez.
— Não é somente porque seu pai está doente que você aceitou se casar com o Xavier?
— Sim. O que você está dizendo?
— Ele está melhorando, Angie! Você o viu com seus próprios olhos.
Em estava certa. Parecia que a saúde do meu pai estava melhorando drasticamente, mas isso não mudou nada, mudou?
— Então? — Eu perguntei.
— Então, — Em disse, impaciente, — isso significa que você não precisa mais respeitar o acordo por muito mais tempo.
Especialmente agora que você conseguiu aquele grande acordo daquela enorme revista.
Você pode pagar a maioria das contas sozinha.
Desde que a primeira revista online vazou meus nudes, Brad os atacou com tanta força legal que eles concordaram com
um pagamento em dinheiro ridiculamente grande, que agora estava descansando feliz em minha conta bancária.
Foi um dos gestos mais gentis do pai de Xavier.
Mas nunca parei para pensar que...
— Angie, — disse Em, — talvez você não precise mais desse acordo.
Talvez seja hora de acabar com isso.
Acabar com meu casamento com Xavier Knight. Pedir o divórcio.
Deixá-lo.
Depois de tudo que passamos, poderia ser tão simples assim?
E, mais importante, era isso que eu realmente queria?

Capítulo 5 O pé Errado

Angela
Quadris balançando. Gotejamento de suor. Mãos apertando.
Eu estava no meio de uma aula de dança e nunca tinha estado tão perto de outra pessoa na minha vida. Muito menos...
Xavier.
— E vire!
Com a mão agarrada às minhas costas, Xavier me girou de repente e eu senti o ar escapar de meus pulmões. Eu me
sentia desequilibrada, vacilante e desajeitada, diferente de todas as outras pessoas na sala, todas as quais se moviam
como dançarinas profissionais.
Todo mundo era tão ágil, gracioso e irritantemente bom nisso. Todos, exceto eu.
Felizmente, Xavier estava guiando. Caso contrário, provavelmente teríamos caído no chão agora.
— Bom! Agora, mais perto.
Kiki, nossa instrutora de dança, uma loira linda com um corpo fino como papel, vestindo nada além de uma malha muito
reveladora, colocou a mão no pescoço de Xavier.
— Ainda mais perto, Sr. Knight, — ela ronronou.
Senti os cabelos da minha nuca se arrepiarem. Um instinto animal dentro de mim despertou. Foi uma repulsa tão pura,
um ódio repentino tão inebriante que quase esqueci de mim.
Eu acabei de dizer... ódio? Eu não odiava nada nem ninguém! O que estava acontecendo?
— Você se move muito bem, Sr. Knight, — ela disse enquanto Xavier me conduzia em outro passo. — Com uma parceira
adequada, quem sabe do que você seria capaz.
Meu Deus, eu queria fazer essa mulher tropeçar e vê-la cair em cima de sua bunda magra! Então era assim ser alguém
possessivo? Eu acabei de sentir ciúme de Xavier?
Isso não fazia sentido. Alguns dias atrás, eu estava conversando com Em e discutindo a possibilidade de terminar
totalmente o casamento.
Agora eu estava com ciúme?
Talvez fossem apenas meus hormônios ou um efeito colateral de sentir as mãos de Xavier em mim, tocando meu corpo,
me girando como uma boneca de pano.
Como se eu fosse dele para fazer o que ele quisesse.
E de certa forma, suponho que sim. Afinal, eu era a esposa de Xavier, pelo menos no papel.
— Deixe-me guiar, — ele disse em voz baixa.
Mas ele não parecia zangado, mais entretido do que qualquer coisa.
Franzi a testa, confusa, e então percebi que, tomada pela ansiedade, comecei a direcionar nossos movimentos.
— Você precisa ser mais graciosa, Sra. Knight, — disse Kiki com uma risada. — Tente parar de pensar demais e apenas
respirar...
É fácil falar.
Um casal passou por nós, movendo-se em perfeita sintonia, e me vi tão maravilhada com seus belos movimentos fluidos
que não consegui observar meus pés e...
— Angela!
BUM! Eu caí de bunda no meio da pista de dança. Ouvi algumas pessoas suspirarem. Eu juro que peguei Kiki rindo antes
que ela se abaixasse para oferecer ajuda, colocando um olhar de pena em seu rosto.
— Oh, coitadinha, — ela disse sem sinceridade.
— Deixa que eu ajudo, — disse Xavier, ajoelhando-se e me dando uma mão. — Vamos. Está tudo bem.
Fiquei surpresa com seu tom de voz gentil, com sua falta de impaciência com a minha inépcia óbvia quando se tratava
de dança.
Era este o mesmo Xavier que estava gritando comigo apenas alguns dias atrás? Foi difícil acreditar.
Quando ambos nos levantamos, respirei fundo e olhei para Xavier.
Era como se eu o estivesse vendo pela primeira vez. Como seus músculos, encharcados de suor, incharam. Como seu
queixo forte e seus olhos escuros brilharam com malícia.
Ele parecia, e eu nunca tinha descrito ninguém dessa forma antes, sexy.
De dar água na boca.
Um tipo único.
E pensar que este lindo espécime era meu marido...
Angela! Eu me castiguei. Saia dessa. Este é o XAVIER com o qual você está fantasiando.
Mas parecia que eu não era a única que tinha olhos para Xavier.
Quando olhei ao redor da sala, vi muitas mulheres olhando para ele, praticamente babando.
Kiki era a pior de todas. Ela pegou a mão dele.
— Aqui, Sra. Knight, — ela disse secamente. — Deixe-me mostrar como isso é feito.
Ela acenou com a cabeça para um colega instrutor, que reiniciou a música, e de repente Xavier e Kiki estavam girando ao
redor da sala. Ela não conseguia manter as mãos longe dele.
Suas mãos estavam vagando por ele, eu percebi. De suas costas, mais para baixo, para seu...
Oh meu Deus. Ela acabou de apertar a bunda dele?
Senti aquela raiva estranha explodir dentro de mim novamente. Um desejo de pisar na pista de dança e arrancá-lo dela
me consumiu, mas consegui me controlar.
Lembre-se. Ele é ruim para você. Você estava pensando em um divórcio!
Mas enquanto Xavier e Kiki dançavam, percebi que seus olhos nunca encontraram os dela. Eles ficaram apenas comigo.
Mesmo enquanto segurava outra mulher, ele estava olhando para mim.
Isso me fez corar quando um calor pulsante me atingiu.
Ninguém nunca havia me olhado com esses olhos.
Especialmente nunca Xavier...

Xavier
Chegamos em casa, suados e nojentos, e imediatamente nos separamos para tomar banho. Marco havia nos levado e,
embora não falássemos, eu disse a ele para tocar a mesma música que dançamos na aula.
Notei o canto do lábio de Angela se curvando em um sorriso e torci por dentro. Então ela gostou! Eu sabia!
Quando a aula de dança começou e nossas mãos se entrelaçaram, parecia que algo em minha mente tinha sido
invertido. Toda a minha raiva, minha confusão, por um breve momento... desapareceu.
Em seu lugar estava uma atração física pura. Meu cérebro ainda não estava fazendo nenhum sentido, mas caramba,
sentir o corpo de Angela contra o meu fez todo tipo de coisa comigo.
Quando entrei no banheiro, pronto para tomar banho, pensei em como poderia melhorar essa sensação. Eu estava
prestes a me despir e começar quando ouvi uma exclamação silenciosa.
— Sr. Knight!
Eu parei. No chuveiro, a empregada, Lucille, estava limpando. Droga.
— Oh, Lucille, — eu disse, corando, tentando cobrir meu crescente tesão. — Eu não sabia que você estava aqui.
— Desculpe, Sr. Knight. Eu estou limpando!
Pude ver. Merda. O que eu vou fazer? Estava fedendo. Eu precisava tomar banho, mas o banheiro estava ocupado.
Então, um pensamento cruzou minha mente.
— Devo sair e deixar você...
— Não, Lucille, — eu disse. — Há mais de um chuveiro neste apartamento.
Entrei no banheiro da Angela sem me preocupar em bater. Afinal, esta era minha casa. E as mulheres eram
notoriamente lentas no banheiro. Eu provavelmente seria capaz de pular no chuveiro antes mesmo que ela...
Oh.
Meu.
Deus.
Com um pequeno grito, Angela se cobriu. Ela estava seminua, sem camisa, parada no meio do banheiro, vestindo nada
além de sua calcinha preta.
E, meu Deus, ela era linda.
— Xavier, — ela disse, sem fôlego. — O que... o que você está fazendo aqui?
Ela estava cobrindo os seios, mas eu ainda podia ver a leve curva deles sob suas mãos e como eram perfeitamente
formados.
Por um segundo, me perguntei se deveria me virar e dar espaço a ela.
Talvez fosse algum tipo de violação, mas pensei melhor.
Por que eu tinha que me esconder de minha esposa?
Tirei minha cueca e depois a deixei cair, e Angela rapidamente se virou, corando.
— Desculpe, querida, — eu disse com um sorriso. — Lucile está limpando meu banheiro. E estou com pressa para
trabalhar. Espero que você não se importe.
Eu me aproximei de Angela e vi seus olhos baixarem e se arregalarem.
Como se ela nunca tivesse visto a aparência de um homem de verdade.
Até agora.

Angela
Eu não conseguia acreditar no que estava vendo. Xavier, totalmente nu, caminhando em minha direção. Ele estava
prestes a tentar algo? Eu instintivamente dei um passo para trás, com medo, mas para minha surpresa, Xavier apenas
passou direto por mim e entrou no chuveiro.
Segurei meus seios, temendo por minha vida. Eu não queria que ele visse NADA, mas eu o tinha visto e... uau.
Foi tudo o que consegui pensar.
Foi tudo o que pude dizer.
Eu continuei olhando, não conseguia parar. Eu queria...
Não, muito obrigada, eu não queria nada! Eu queria correr o mais rápido que pudesse para fora do banheiro, mas senti
como se meus pés estivessem amarrados ao chão. Era como se eu estivesse congelada.
Xavier entrou no chuveiro e abriu a água. Eu observei quando ela espirrou contra seu corpo. Contra o... você sabe o
quê...
Meu Deus eu precisava parar com isso!
— Hum, desculpe, — eu disse estupidamente. — Eu só vou...
— Eu deixei a porta do chuveiro aberta por um motivo, Angela, — disse Xavier com um sorriso. — Você é bem-vinda
para se juntar a mim.
Nós dois precisamos de um banho, não é? — Eu definitivamente precisava de um banho, mas de forma alguma eu
entraria naquele banho com ele e com... aquilo.
Eu não conseguia acreditar como ele era ousado. Mas então me lembrei de com quantas mulheres ele dormiu, e tudo
fez sentido.
Lembrando daquelas garotas, seus gemidos, seus olhos arregalados em êxtase, eu tive uma visão repentina de mim
mesma sendo uma delas.
Mas não.
Eu não daria a Xavier Knight essa satisfação.
Eu estava prestes a me virar quando Xavier se virou e vi suas costas expostas. A longa cicatriz descendo por ele.
A mesma que ele havia me falado na ilha. Eu me perguntei novamente como exatamente ele a tinha conseguido. Quais
foram as circunstâncias?
Mas, enquanto Xavier não estava disposto a se abrir, eu não estava disposta a me considerar atraída por ele. Mesmo
que meu corpo implorasse por seu toque.
Eu me virei e saí do banheiro, ouvindo Xavier chamar atrás de mim.
— Minha doce esposa é uma puritana!
Ai. Eu estava tão envergonhada. Mesmo que eu tivesse saído do banheiro, parecia que sua imagem tinha sido gravada
em minhas retinas.
Ver Xavier nu era diferente de tudo que eu já experimentei. Meu pulso disparou, minha pele formigou e meu interior
alcançou sua temperatura máxima.
Meu corpo estava reagindo sem consultar minha mente, e eu não pude deixar de me perguntar quando isso aconteceria
novamente.
Quando eu veria o corpo nu do meu marido novamente?

Capítulo 6 Paus e pedras

Angela
— Oh. Meu. Deus. Angela!
Dustin quase deixou cair meu cappuccino no chão quando contei a ele o que tinha acontecido entre mim e Xavier no
banheiro.
Ele rapidamente se sentou na minha frente, deslizando por cima do balcão, ignorando os outros dois clientes que
esperavam ele voltar para fazerem o pedido.
— Detalhes, garota. Eu preciso deles. Agora mesmo.
Corei, sem saber por onde começar. Eu não conseguia parar de repetir a cena indefinidamente na minha cabeça.
Xavier me pegando seminua.
Xavier tirando a roupa.
Xavier no chuveiro, a água brilhando contra seu peito musculoso, escorrendo para o seu...
— Alôôôôô? — Dustin disse, acenando com a mão diante dos meus olhos. — Pare de sonhar acordada e comece a falar,
mocinha.
— Uh, bem... — eu disse, incerta. — Eu pensei por um segundo que ele estava vindo em minha direção, mas... então ele
entrou no chuveiro.
— E ele deixou a porta do chuveiro aberta, não é? Dizendo
basicamente: entre. Em mais de uma maneira.
Eu engasguei um pouco com a piada, mas Dustin deu uma
gargalhada, se achando o homem mais engraçado do mundo. Eu neguei
com a cabeça.
— Não, eu acho que ele estava apenas bagunçando minha cabeça. Ele realmente não quer…
— Angela!
Dustin ergueu as mãos e suspirou, exasperado.
— Sua vida está finalmente começando a ficar interessante! Por que você está tentando diminuir o tom quando está tão
emocionante?
— Estou apenas sendo realista, Dustin, — eu disse defensivamente. — Ele não gosta de mim. Ele dorme com quem ele
quer. Eu sou apenas a garota com quem ele tem que viver.
— E com quem ele tira a roupa.
— Talvez...
Dustin sorriu maliciosamente.
— Então?
Eu fiz uma careta, confusa.
— O quê?
— Você viu o dele?
Eu desviei o olhar, sentindo a cor subir às minhas bochechas. — Dustin, — disse baixinho, — por favor, estamos em
público.
— Com certeza! Você viu o dele! Quão grande era? Era enorme? Não, era minúsculo, não era? Isso explicaria sua
obsessão por todos aqueles enormes hotéis Knight. Está compensando. Estou errado?
— NÃO! — Eu gritei sem querer. Coloquei a mão na boca, cobrindoa, surpresa comigo mesma. Os dois clientes, agora
batendo os pés com impaciência, me lançaram olhares curiosos.
O sorriso de Dustin cresceu ainda mais.
— Então não é pequeno. Entendo...
Na verdade, ver o de Xavier... aham... certamente foi memorável, mas não era no que me fixava. Tudo o que eu
conseguia pensar era naquela cicatriz nas costas.
Para mim, foi um lembrete de como nos tornamos próximos na ilha.
Como ele finalmente se abriu sobre o acidente de carro, apenas para me ignorar novamente.
Eu queria muito saber a história toda, mas como poderia perguntar a ele?
— Por favor, Dustin, — falei, tentando mudar de assunto. — Isso já é tão estranho para mim. Você tem que deixar isso
ainda mais estranho?
— Desculpe, Angie, — ele disse, dando de ombros. — Não posso evitar. Sou um artista sem um tostão que precisa de
inspiração. O que posso dizer?
Eu ri e virei meus olhos.
— Quase sem um tostão ultimamente, pelo que ouvi.
— É verdade, — ele disse com um aceno cortês. — Estou muito melhor, graças a toda a sua ajuda. Com a galeria e tudo
mais. Mas também sou um grande gastador, então...
— É por isso que você ainda trabalha aqui.
— Sim.
— Como eles ainda não demitiram você?
— Eu não faço ideia. Espere um momento.
Dustin finalmente se levantou e se aproximou dos clientes, agora parecendo positivamente furiosos com o tempo que
eles tiveram que esperar. Dustin não pareceu se importar nem um pouco. Ele apenas deu um sorriso e anotou os
pedidos.
Eu ri para mim mesma. Não havia ninguém como Dustin no mundo.
Claro, eu poderia falar com Em sobre a maioria das coisas, mas quando se tratava de qualquer coisa relacionada a sexo,
Dustin era sempre minha primeira parada.
Porque ele já fez muito isso e gostava de falar sobre o tema, e de alguma forma, mesmo sendo um homem gay, ele sabia
muito mais sobre corpos femininos do que eu.
Além disso, não era como se eu pudesse falar com Em sobre essas coisas quando ela estava namorando meu irmão. Eu
tinha zero interesse em ouvir sobre sua vida sexual ou em sequer correr o risco em abrir essa porta.
Ai. Só de pensar nisso me deu vontade de vomitar. Era tudo super confuso, mas quando se tratava de conversar com
Dustin, eu não reclamava. Como uma virgem de 23 anos, eu precisava de toda informação que pudesse obter.
Eu estava prestes a tomar um gole do meu cappuccino — esfriando rapidamente — quando senti meu telefone vibrar na
minha bolsa. O que foi agora? Eu me perguntei, suspirando.
Número desconhecido: Olá, linda senhora. (emoji piscando o olho)
Número desconhecido: Sentiu minha falta?
Angela: ???
Angela: Quem é?
Número desconhecido: Oh, Angela...
Número desconhecido: Não aja como se não soubesse.
Angela: ???
Angela: Quem é?
Angela: Isso é meio estranho.
Angela: Por favor, me deixe em paz.
Número desconhecido: Por favor, me deixe em paz.
Número desconhecido: (emoji com cara de esperto)
Número desconhecido: Oh não, não.
Número desconhecido: Acho que não.
Número desconhecido: Nós dois sabemos que você sente minha falta.
Número desconhecido: Você precisa de mim.
Angela: Pare.
Angela: Isso não é engraçado.
Angela: Vou à polícia.
Número desconhecido: (3 emojis de gatos rindo)
Número desconhecido: tão fofo quando você resiste.
Angela: NÃO ESTOU BRINCANDO.
Número desconhecido: Por favor, Angela.
Número desconhecido: Você sabe a verdade.
Número desconhecido: Ninguém me diz não...
Joguei meu telefone de lado como se estivesse em chamas. Eu escorreguei para trás na minha cadeira. Eu não conseguia
respirar.
Minhas mãos tremiam. Meus dentes batiam. Meus dedos do pé estavam dormentes.
Eu estava apavorada.
Não poderia ser ele, poderia?
— Angie?
Eu virei minha cabeça, os olhos arregalados, certa de que estava prestes a vê-lo se materializar. Mas era apenas Dustin.
Ele parecia preocupado.
— Angie, qual é o problema? Você parece ter visto um fantasma.
— Eu... eu... — gaguejei, incapaz de falar com coerência. — Ele me mandou uma mensagem, Dustin.
— Quem? Xavier?
Eu neguei com a cabeça. Eu mal conseguia pronunciar seu nome em voz alta. Era como aquela brincadeira de infância da
loira do banheiro, dizer o nome no espelho três vezes e ela aparecer e me agarrar?
Eu estava enlouquecendo, mas não sabia de que outra forma poderia estar agora.
— Angie, fale comigo! — Dustin disse, sentando na minha frente, agarrando minhas mãos.
— Eu acho que é o... Sr. Lemor.
O rosto de Dustin ficou pálido. Eu tinha contado a ele tudo sobre meu antigo chefe, como ele fez da missão de sua vida
me destruir, para garantir que eu nunca fosse contratada por nenhuma empresa novamente.
Tudo porque ousei rejeitá-lo.
Depois que Brad o prendeu naquela armadilha, alguns meses atrás, pensei que nunca mais teria que ouvir ou pensar em
seu nome novamente.
Ele estava na prisão agora! Como ele poderia me mandar mensagens?
— Posso dar uma olhada? — Dustin perguntou, pegando meu telefone.
Eu confirmei, inclinando-me para desbloquear para que ele pudesse ler as mensagens. Mas, para minha surpresa, Dustin
franziu a testa.
— Tem certeza que é ele? Ele está na prisão, certo? Isso significa que ele precisaria usar o sistema de mensagens da
prisão. Este número não está listado.
Meus olhos se arregalaram. Sistema de mensagens da prisão? Como Dustin sabia disso? Ele me deu um sorriso tímido.
— Eu tenho um tio estranho que venho visitando na prisão há anos.
Você aprende essas coisas.
— Mas tem que ser ele, Dustin, — eu disse, balançando a cabeça. —
Não há mais ninguém que queira me machucar como ele. Especialmente depois do que fiz. Depois que o mandei para a
prisão.
Dustin acenou com a cabeça, mas encolheu os ombros.
— Mesmo que seja ele, Angie, posso te dizer uma coisa. São apenas palavras. Ele está atrás das grades. Ele não pode
tocar em você na vida real. Você está segura.
— Mas e se…
— Não perca tempo imaginando os piores cenários. Confie em mim.
Fiquei surpresa com o quão sério Dustin estava se tornando agora.
Ele nunca tinha realmente se aberto comigo sobre seu passado antes.
Portanto, esta era uma nova camada do meu amigo geralmente despreocupado.
— Desde que eu era criança, meu tio sempre manteve contato e fez essas promessas na prisão. Dizendo que vai sair em
breve. Dizendo que vai me levar para a Disneylândia. Depois, quando ficasse mais velho e ele sair da prisão, me levaria a
Milão para o fashion week.
Eu sorri.
— Ele parece fofo.
— Ele é, — disse Dustin, sorrindo tristemente. — Mas ele também é um mentiroso, Angie. Ele nunca vai sair da prisão.
Todas as suas mensagens, todas as suas promessas, são apenas isso. Conversa vazia.
Dustin bateu no meu telefone de forma tranquilizadora.
— Esse é o mesmo caso. Conversa vazia. Você vai ficar bem, minha amiga.
Eu me senti tão confortada por Dustin, tão cuidada, que não pude evitar. Eu joguei meus braços em volta do pescoço e o
abracei com força.
— Obrigado, Dustin.
— Não por isso. Agora, é melhor nos soltarmos. Existem mais clientes que parecem querer me matar.
Eu ri e o deixei ir, observando enquanto ele se aproximava para receber mais pedidos, e grata além das palavras que
alguém estava lá para me acalmar quando eu estava com medo.
São apenas palavras vazias, eu repeti para mim mesmo. Elas não podem te machucar. Você está segura.
Corri de volta para casa, sentindo-me cafeinada, rejuvenescida e pronta para enfrentar o mundo, com as garantias de
Dustin repetindo-se em minha cabeça.
Parecia uma frase que eu poderia aplicar a quase qualquer situação.
Mesmo se Em estiver me dizendo detalhes íntimos demais sobre ela e meu irmão?
Apenas palavras.
Mesmo se nosso médico estivesse descrevendo ainda mais coisas que poderiam dar errado com meu pai?
Apenas palavras.
Se Xavier estava gritando comigo?
Apenas palavras. Apenas palavras. Apenas palavras.
Então, quando as portas do elevador se abriram, me senti preparada para qualquer que fosse seu último ataque.
Imagine minha surpresa quando o vi rolando uma mala em minha direção.
Oh, meu Deus. Ele está... se mudando?
— Finalmente você chegou, — disse Xavier.
— Apresse-se e tome um banho.
— Espere, — eu perguntei, confusa. — O que está acontecendo?
— Arrume suas malas. Estamos saindo para o fim de semana.
Saindo? Para onde?
De repente, percebi que havia apenas um problema com o mantra de Dustin. Apenas palavras não ajudava quando uma
ação era necessária.
— Onde estamos indo? — Perguntei a Xavier quando ele passou por mim, entrando no elevador.
Ele me olhou e deu um meio sorriso, dando de ombros.
— E estragar a surpresa? Onde está a diversão nisso?

Capítulo 7 Homem de Família

Angela
A bela paisagem estava passando por nós enquanto rodavamos ao longo da rodovia Sunrise. Eu nunca fui aos Hamptons
na minha vida, mas tinha ouvido tantas histórias sobre a área ao longo dos anos que tive uma imagem mental de como a
área poderia ser.
Meus sonhos mais loucos não poderiam ter me preparado para a visão.
As praias, as fazendas, as casas de cascalho do século XVIII, todas gigantescas e imaculadamente cuidadas, eram coisas
demais para processar para uma garota de cidade pequena como eu.
Eu olhei para Xavier. Ele estava dirigindo, o que era uma novidade.
Ele decidiu dar a Marco uma merecida folga, algo que me pareceu estranhamente caridoso.
Não que eu estivesse questionando isso. Se alguém merecia um tempo com sua família, era Marco, talvez o meu
favorito da equipe pessoal de Xavier.
Xavier usava luvas de dirigir e óculos escuros de grife, tão focado na estrada que mal parecia notar nossos arredores
deslumbrantes.
Acho que ele estava acostumado com eles.
Mas então ele percebeu que eu o observava e me lançou um olhar divertido.
— Tem algo em mente, Angela?
— Ah, não. Eu só estava... admirando como é lindo aqui.
— Você realmente quer saber para onde estamos indo, não é?
Eu concordei. Na verdade, o suspense estava me matando. As surpresas com Xavier raramente eram boas.
— Tudo bem, para que não nos envergonhemos andando às cegas, vou te falar, — disse Xavier, sorrindo, — desta vez.
Foi esta a sua tentativa de flertar? Eu não sabia o que fazer com isso.
Só esperei que ele me dissesse para onde estávamos indo.
— Você se lembra da tia Heather?
Eu pisquei para ele, confusa. Quem?
— Não? — ele perguntou. — Que tal seus filhos, Liam ou Cole? Ou minha outra tia, Stella? Ou...
Ele continuou a dizer nomes que soavam confusos, e eu continuei a olhar para ele sem expressão. Finalmente, ele
percebeu que eu não tinha ideia de quem eles eram.
— Eles são minha grande família. Você os conheceu brevemente no casamento.
Isso explica tudo. Poucos dias eu conseguia me lembrar com menos clareza do que o dia do meu casamento. Tinha sido
um borrão de excitação, horror e confusão.
Todos os rostos, os nomes... nenhum deles ficou comigo. Apenas as palavras sussurradas de Xavier para mim no altar
eram o que eu conseguia lembrar.
— Eu sou um homem poderoso. Eu consigo o que quero. E o que eu quero é arruinar você.
Estremeci só de pensar nisso. Xavier percebeu minha expressão, porque ele tirou os óculos e olhou para mim de perto.
— Ei, — ele disse, — não há nada para se preocupar. Meus parentes são legais. Um pouco exagerados, claro, mas legais.
Tenho certeza que eles gostam de você. Muito.
Diferente de você, pensei, mas fiquei muito surpresa com o quão legal ele estava sendo, para variar.
— Lembre-se, — ele disse, voltando-se para a estrada, — eles pensam que somos casados. Casados de verdade. Então,
vamos ter que brincar um pouco. Acha que dá conta?
Eu confirmei com a cabeça, mas estava nervosa. Eu odiava ter que fingir qualquer coisa. Isso ia contra a minha natureza.
E fingir que se ama um homem que não me ama parecia especialmente difícil.
— Sabe, — ele disse, pensando: — Sei que você não é a pior pessoa do mundo, Angela. Eu costumava pensar assim. Mas
agora...
Isso abateu meus pensamentos negativos. Xavier estava realmente tentando ser decente pela primeira vez. Talvez só
para que ele pudesse me levar nessa viagem ridícula. Mas ainda assim...
— Eu ainda não te entendo. Não entendo por que uma mulher se casaria com um estranho. De qualquer maneira, não
importa. Está feito.
Somos um casal, então temos que agir como um.
Agora, ele não estava me chamando de puta oportunista, mas acho que ainda estava pensando nisso.
Grande melhoria.
A chicotada que eu estava experimentando agora não podia nem ser colocada em palavras. Ele foi bom em um segundo
e frio no seguinte.
Ele era lindo, sexy e flertava comigo por um momento, e então ele era um idiota.
Em vez de comentar sobre isso, eu apenas acenei com a cabeça solenemente.
— Eu entendo, Xavier, — eu disse, lembrando que ainda tinha uma carta na manga.
Eu ainda poderia encerrar o acordo, se fosse necessário.
Quando finalmente chegamos à propriedade Knight, senti como se minha língua tivesse inchado, tornando qualquer
conversa impossível.
Foi o resultado da minha ansiedade ou do meu espanto.
Nunca tinha visto uma casa tão bonita em minha vida. Um lar. Quem eu estava enganando? Você poderia colocar
cinquenta casas na propriedade. Era ampla e tinha uma impressionante arquitetura colonial.
Parecia um sonho.
Xavier e eu saímos do carro, e um motorista rapidamente pegou as chaves, acenando para Xavier e eu.
— Sr. e Sra. Knight, bem-vindos!
Eles pegaram nossas malas e Xavier me levou em direção a um pequeno grupo de pessoas de aparência bela reunidas
sob um gazebo, servindo-se de aperitivos gourmet e espumantes.
Eu reconheci apenas um deles, e fiquei muito grata por ele estar aqui.
— Angela, querida! — Brad exclamou, se aproximando e me puxando para um abraço caloroso. — Bem-vinda. Considere
esta sua casa longe de casa.
— Obrigado, Brad, — eu disse, ainda um pouco atordoada.
— Todo mundo quer falar com você, é claro. Eles quase não tiveram a chance de ir ao casamento.
Eu concordei, mas sentindo meus nervos assumirem o controle e meu corpo enrijecer. Como eu seria capaz de lembrar
do nome de todos que me cumprimentassem?
Felizmente, no fim das contas, não precisei me preocupar com isso.
— Bem, ela é absolutamente radiante!
Virei-me para ver uma mulher de aparência plástica com um sorriso excessivamente grande, embora amigável, se
aproximando de mim. Ela agarrou minha mão como se fôssemos velhas amigas.
— Tia Heather, querida, — ela disse, me lembrando. — Não se preocupe. Eu não esperava que você se lembrasse. Ao
contrário deste bando, todos pensam que são o centro do universo. Venha, deixe-me mostrar a você.
Ela pegou meu braço antes que eu pudesse impedi-la. Virei-me para ver Xavier pegando uma taça de champanhe e
segurando-a na minha direção, ligeiramente divertido, como se dissesse vivas!
— E aquela ali é minha sobrinha Rochelle. Apenas dezoito anos, mas de acordo com o mexerico, muito rodada na nossa
cidade. Se você me entende.
Eu não entendi metade das palavras que saíram da boca da tia Heather, mas pelo menos ela estava me apresentando a
todos. Ela acenou com a cabeça para dois caras de aparência semelhante.
— Esses são os irmãos dela, Ethan e Henry. Ethan é bem-apessoado.
Henry... nem tanto.
Henry me olhou de cima a baixo e zombou. A aversão imediata que senti por ele foi poderosa e confusa. Quase sempre
dei a todos o benefício da dúvida.
Talvez fosse apenas a influência maliciosa da tia Heather passando para mim.
— Há um pequeno boato circulando sobre Henry, você sabe —
Heather disse, balançando a cabeça enquanto eu o observava se aproximar de Xavier no gazebo. — Ele estava
concorrendo para assumir a empresa da família. Ficou entre ele e seu marido. Desnecessário dizer que Xavier venceu.
Isso era novidade para mim. Sempre pensei que Xavier fosse o único herdeiro potencial da empresa e da fortuna.
— Então, poderia ter sido Henry em vez disso? — Eu perguntei, surpresa.
A Tia Heather assentiu.
— E ele está chateado com isso até hoje, se quer saber minha opinião.
Observei os dois homens conversando e me perguntei o que eles poderiam estar discutindo. Não que fosse da minha
conta, mas aprender toda essa história da família com a tia Heather despertou minha curiosidade.
O que mais você está escondendo, Xavier?

Xavier
— Então, Xavier, me diga. Os rumores são verdadeiros?
Henry, o porco de merda, estava tentando me incitar a uma discussão. Mas eu não ia dar a ele a satisfação de uma
resposta.
— O conselho está realmente tão preocupado com sua competência como CEO que está forçando você a competir no
Jubileu de Prata? Para provar a si mesmo através da dança? O que é isso, Footloose? Se eu fosse você, me sentiria...
humilhado.
— Pelo menos tenho uma empresa, Henry, — respondi friamente.
— Porque papai está entregando para você. Seja honesto, Xavier.
Quando você construiu algo por conta própria?
Eu balancei minha cabeça, fingindo simpatia.
— Deve ser difícil, Henry. Ficar sentado à margem. Assistir a empresa crescer dez vezes mais do que antes em dois anos,
enquanto tudo o que você pode fazer é dar um passo aqui e outro ali.
— Poderia ter sido vinte vezes comigo no comando, — Henry respondeu com um sorriso de escárnio.
— Poderia, poderia, poderia. Você quer a verdade, primo? Tenho pena de você.
Era sempre bom esfregar sal na ferida do desgraçado. Anos atrás, ele tentou de tudo para roubar o que era meu por
direito.
Se não fosse pelo fato de que compartilhamos sangue, eu o teria matado enquanto dormia. Ultimamente, no entanto,
meu temperamento não estava tão explosivo como costumava ser.
O fato de que fui capaz de ignorar um insulto de Henry, dentre todas as pessoas, foi um grande avanço. Eu não tinha
certeza o que tinha mudado para me deixar com menos raiva o tempo todo... mas tinha uma ideia.
Eu olhei para Angela novamente, ocupada conversando com a tia Heather e, uma sensação estranha brotou dentro de
mim. Na verdade, eu gostava de vê-la perto da minha família.
Eu gostei de trazê-la para os Hamptons.
Eu estava começando a realmente gostar dela como pessoa e, por sua vez, acho que estava começando a gostar mais de
mim mesmo. Henry me insultou? E daí? Eu poderia aguentar.
Angela estava me ensinando uma ou duas coisas sobre compaixão, acho.
Eu estava prestes a me virar — não mais interessado em nada que Henry tinha a dizer sobre negócios — quando ele
agarrou meu braço.
— Há outro boato, sabe? — ele disse, sorrindo. — Sobre você e sua esposa. O casamento aconteceu de repente. Num
segundo, um estranho, e no próximo, você é casado. Parece quase... forjado.
— Cuidado, — eu rosnei.
Meus punhos estavam cerrados e meus dentes, trincados. Falar merda sobre mim, ok, mas falar merda sobre minha
esposa? Henry percebeu que a provocação estava funcionando. Porque ele se aproximou.
— Será que ela é uma daquelas esposas por correspondência? Ou talvez algo mais simples? Uma prostituta humilde que
você encontrou na rua?
Henry percebeu que eu estava ficando bravo. Ele queria me incitar a uma briga. Ele se aproximou, um sorriso de filho da
puta em seu rosto.
— Quanto é? — ele sussurrou. — Eu quero saber se ela é boa o suficiente.
Eu não sei o que aconteceu a seguir.
Eu vi vermelho.
E depois havia sangue por toda parte.

Capítulo 8 Conversa Íntima

Xavier

Senti mãos me agarrando, puxando e rasgando, tentando me fazer parar.


Mas não consegui. Eu queria fazer o desgraçado sofrer pelas palavras sujas que saíram de sua boca.
— XAVIER, JÁ CHEGA!
Eu congelei no meio de um soco, erguendo os olhos para ver meu pai me encarando, horrorizado.
— Ele... — eu disse, ofegante. — Você não ouviu o que ele disse sobre Angela.
Henry era uma poça de sangue, deitado no chão e segurando o nariz.
— Meu Deus, acho que está quebrado! IDIOTA!
— Oh, cale a boca, Henry, — sua mãe, Stella, repreendeu. — Todos nós sabemos que você mesmo causou isso.
— Não é desculpa, — disse Brad, olhando para mim com severidade.
— Alguém o ajude a se levantar. Tire-o daqui.
Ethan, irmão de Henry, chamou a ajuda, que correu e levou Henry embora. Ele me lançou um último olhar de ódio antes
de ser levado para dentro de casa.
Eu me virei para meu pai.
— O quê?
— Quer saber, Xavier, — ele disse, fervendo, — essa sua raiva vai ser a sua morte, eu juro.
— Ele a chamou...
— Eu não me importo como ele a chamou. Pelo que Marco me contou, sei que você também a chama de algumas coisas
cruéis.
Eu olhei para baixo, com vergonha. Sempre esqueço que Marco costumava levar meu pai de carro também e que às
vezes eles conversavam em particular.
Enfim, era verdade. Eu já chamei Angela de puta.
Uma prostituta.
Uma vadia.
Até de monstro.
Eu a chamei de nomes muito piores do que qualquer um que escapou da boca de Henry, com certeza. Talvez, eu pensei,
quando eu estava dando um soco nele, eu estava realmente imaginando como seria dar um soco em mim mesmo.
Ser punido por ser tão nojento, tão cruel.
— Olhe para sua esposa, Xavier, — disse meu pai. — Olhe para o rosto dela.
Eu me virei e olhei para Angela. O que vi fez meu coração doer, um coração que eu não sabia que era capaz de doer.
Apenas a raiva e a amargura haviam inflamado ali por anos.
Mas agora, quando olhei para Angela, vi como toda a minha raiva, minha violência, a estava afetando. Eu tinha
aterrorizado a menina.
Ela estava se encolhendo como se eu tivesse agredido fisicamente ela, não Henry. Ela era tão empática ou simplesmente
tão traumatizada? Ela tinha sido fisicamente ferida antes?
Eu não queria que ela me visse assim. Agora não. Nunca. Meus dedos estavam ensanguentados e manchas do sangue de
Henry cobriam minha camisa.
— Eu... — eu disse, sem saber o que dizer ao meu pai. — Eu vou me trocar.
— Faça isso, — disse Brad. — Troque-se, Xavier. Pelo amor de Angela.
Eu olhei mais uma vez para Angela, que estava sendo consolada pela tia Heather agora, e então me virei. O que diabos
aconteceu comigo?
Desde quando eu me importava o suficiente com a garota para defender sua honra?

Angela
Eu estava com medo do jantar. A ideia de ter que sentar ao lado de Xavier e fingir que o amava depois de vê-lo bater na
cara de alguém era estranha demais.
Mas depois que tia Heather e Brad me garantiram que Xavier estava simplesmente exagerando, que Henry ficaria bem e
que eu não gostaria de perder uma comida tão ridiculamente boa, confortei-me um pouco e segui adiante com o
planejado.
Basta passar o fim de semana, disse a mim mesma. Em seguida, aguarde mais uma semana de aulas de dança. Depois,
atravesse o Jubileu de Prata.
Por Brad. E acabou.
Então, era o fim.
De alguma forma, eu sabia que era uma ilusão, que meu acordo com Xavier se estenderia por mais tempo. Sempre
haveria algo a seguir.
Algum evento. Alguma reunião de família. Algum motivo para manter a questão suspensa.
A não ser que eu colocasse meu pé no chão e dissesse que já não dava mais, isso duraria para sempre.
Eu não sabia quanto mais raiva e pressão meu coração poderia aguentar.
Mas, pelo menos esta noite, para Brad, eu continuaria a desempenhar o papel de esposa amorosa de Xavier, mesmo se
tivesse medo dele.
Quando entramos na sala de jantar, uma linda sala que parecia poder acomodar cem pessoas, não apenas as vinte ou
mais que estavam aqui, vi que Xavier já estava sentado, esperando por mim.
Ele usava um smoking e parecia que tinha se barbeado pela primeira vez — sem barba por fazer. Ele se limpou muito
bem, eu tinha que admitir, embora seus nós dos dedos, machucados, falassem a verdade.
Sentei-me ao lado dele e mantive meus olhos grudados no meu prato vazio. Contanto que eu não tivesse que interagir
muito com ele, estaria tudo bem.
— Ei, — ele disse, mas eu não olhei para cima. — Sobre hoje, eu só queria dizer...
Agora eu não pude deixar de olhar para ele. Eu precisava saber. Xavier Knight estava realmente prestes a se desculpar?
— Eu... eu não queria te assustar, Angela. Meu primo, ele pode me irritar e...
Ele não iria se desculpar. Ele provavelmente nunca o fez em sua vida adulta inteira. Afinal, ele era um Knight. Mas isso
foi o mais perto que chegou disso e, o fato de que ele estava tentando me comoveu de alguma forma.
Sua expressão, dolorida e frustrada como estava, mostrava que ele se importava o suficiente para tentar.
— Está tudo bem, Xavier, — eu disse, e eu realmente quis dizer isso.
— Eu não sei a história toda de qualquer maneira. Quem sou eu para julgar?
A maneira como ele olhou para mim foi estranha. Quase como se ele estivesse sentindo verdadeira devoção por mim.
Quase como se... ele pudesse me beijar.
Deve ser coisa da minha cabeça, certo?
— O jantar está servido!
Um grupo de garçons entrou na sala e todos se sentaram, prontos para comer o que parecia ser uma refeição incrível.
Nunca tinha visto tantos pratos na minha vida!
Até Henry, com o nariz enfaixado, estava sentado em um smoking, levando uma garfada de comida à boca e comendo
em um silêncio carrancudo.
Depois de um tempo, Xavier se virou para mim, sussurrando:
— Você notou?
— O quê? — Eu perguntei, confusa. — Quão boa é a comida? Seu pai não estava brincando.
— Não, boba, — ele disse. — Que todo mundo está nos observando.
Dei uma olhada ao redor da sala. Era verdade. Embora eles tenham feito um bom trabalho escondendo isso, usando
conversa fiada e sua comida como disfarce, todos continuavam olhando para nós.
— Porque eles estão fazendo isso? — Eu perguntei, corando, de repente autoconsciente.
— Eles querem ver se somos afetuosos. Se somos, você sabe, um casal amoroso.
— Oh, — eu disse, lembrando-me do que Xavier tinha me perguntado no carro. — Temos que, hum, beijar ou algo
assim?
Até mesmo perguntar me fez estremecer. A única vez que beijei Xavier foi em nosso casamento, e esse foi um dos piores
momentos da minha vida.
— Não, isso seria muito chamativo. Muito óbvio, — ele disse, e eu dei um suspiro de alívio.
— Então o que vamos fazer?
Xavier considerou uma das travessas de prata, que continha um peixe perfeitamente grelhado com couve e pesto, e
seus olhos brilharam.
— Você se lembra de me alimentar na ilha?
— Com o peixe, claro, — eu disse, sorrindo um pouco. Foi uma das nossas únicas boas lembranças. — O que tem isso?
— Por que não fazemos isso de novo?
— Você quer dizer...
Ele acenou com a cabeça docemente. Foi um dos gestos mais adoráveis que eu já vi um homem fazer. Um olhar de — vá
em frente, — um olhar de — por favor, por favor — um olhar que eu não pensei que Xavier Knight, de todas as pessoas,
pudesse me dar.
Servi o peixe no meu prato e, em seguida, peguei delicadamente meu garfo e o perfurei. Ele se desfez com o contato,
exatamente como os peixes deveriam. Então, com cuidado, levantei o garfo e levei aos lábios de Xavier.
Ele fechou a boca em torno dele e fechou os olhos, sorrindo. Como se fosse o peixe mais saboroso que ele já tinha
comido.
— Como está? — Eu perguntei, rindo um pouco. Era engraçado vê-lo tão apaixonado por um peixe.
— Bom. Não tão bom quanto o que você pegou. Mas muito bom.
Quando ele abriu os olhos e olhou para mim, senti que poderia continuar olhando para eles para sempre. Tão escuros,
sem fim e cheios de mistério.
Então eu pisquei e me lembrei de onde estávamos — cercados por seus parentes no jantar. Voltei para o meu prato e
continuei a comer.
Eu vagamente percebi quando olhei ao redor da mesa que todos pareciam estar sorrindo, especialmente tia Heather.

Xavier
Quando subimos para o nosso quarto depois do jantar, percebi que Angela e eu íamos ter que dividir a mesma cama. Eu
não tinha parado para pensar nisso antes.
Agora, é claro, parecia óbvio. Se estivéssemos em uma casa cheia de parentes, não poderíamos entrar em dois quartos
sem que alguém percebesse.
Mas não era algo que havíamos discutido, e me senti mal por ter jogado isso sobre ela.
Eu tinha que admitir que outra parte mais diabólica de mim gostaria de ver o choque no rosto tão inocente daquela
garotinha.
— Espere... — Angela disse quando entramos. — Eu só vejo uma cama. Eu durmo em outro lugar ou...
— Receio que não, — eu admiti, lentamente começando a desabotoar meu smoking.
O rosto de Angela ficou vermelho como um tomate.
— Xavier... eu não vou... dormir naquela cama com você.
— Você não tem muita escolha, Angela. Não se preocupe. Eu vou me comportar. Sem brincadeiras. Eu prometo.
Uma promessa, admiti, que pode ser difícil de manter. Um lampejo de como ela seria, parcialmente despida em seu
caminho para o chuveiro, me atingiu como um maremoto.
Comporte-se, Eu me repreendi. Você deve muito a ela.
A boca de Angela abriu e fechou. Ela mal conseguia processar o que estava para acontecer, e eu não a culpei.
Nós nunca tínhamos compartilhado uma cama antes. Portanto, este foi um grande passo. Mesmo se fôssemos
tecnicamente marido e mulher.
Eu me virei, dando-lhe privacidade para se trocar, resistindo à vontade de virar a cabeça e dar uma olhada nela.
Eu estava apenas vestindo minha cueca boxer agora, como contorno claro do meu pau, mas eu não me importei. Era
natural. E, de qualquer maneira, Angela já tinha visto mais de mim. Quando finalmente me virei, ela já estava na cama,
as cobertas até o queixo.
Eu ri um pouco. Ela parecia uma garotinha de olhos arregalados, assustada e inocente.
— Aqui, — eu disse, agarrando um cobertor para fazer uma barreira entre nós. — Uma divisão. Assim você se sente
ainda mais confortável, ok?
Ela acenou com a cabeça e corou, os olhos passando rapidamente para minha boxer e depois para longe.
— Tudo bem olhar, — eu disse com uma piscadela enquanto me sentava ao lado dela, me cobrindo com um cobertor.
Havia uma parede de tecido nos separando — eu poderia dizer que Angela estava usando uma camisola de qualquer
maneira, então não era como se ela estivesse nua por baixo — mas ainda assim, a garota estava dura como uma tábua.
— Eu não quero te deixar desconfortável, mas você se importa se eu, uh, virar de lado? — Eu perguntei. — Eu não
consigo dormir de costas.
— Você quer dizer de... conchinha?
— Sim, assim.
— Uh... ok.
Angela se virou e eu também. Ainda havia muito espaço entre nós, mas eu podia sentir o calor irradiando de seu corpo,
me aquecendo, fazendo-me sentir ainda mais atraído por ela.
Eu queria tanto me jogar pra mais perto... sentir aquela bunda bem torneada contra meu pau... ouvir sua vozinha
gemer.
Ok, se eu não parasse de pensar assim, e rápido, minha ereção provavelmente rasgaria esses lençóis. Eu precisava
mudar de assunto na minha cabeça.
O que não foi sexy?
O que não me excitou?
Então o rosto dele passou pela minha mente, e eu sabia exatamente sobre o que falar.
— Posso, uh, te perguntar uma coisa, Angela? — Eu disse.
Ela se virou lentamente para me encarar, constantemente desviando o olhar. Nossos rostos estavam tão próximos que
eu podia sentir sua respiração no meu queixo.
— Dustin... — eu disse. — Então ele é... alguém com quem você...
Angela franziu a testa, tentando juntar o que eu estava perguntando.
Então sua expressão mudou. Ela riu — riu de verdade!
Eu fiquei ainda mais confuso. Ninguém nunca riu na minha cara.
— O que é? — Eu perguntei, me sentindo frustrado por algum motivo. — O que é tão engraçado?
— Dustin, ele é...
Mas ela não conseguia se controlar. Eu senti uma pequena chama de raiva queimando em meu peito. Eu era ridículo
assim para ela? Ele era um homem muito melhor do que eu?
Então ela terminou a frase, e tudo fez sentido.
— Ele é gay, Xavier, — ela disse, continuando a rir.
Rolei de costas e espalmei o rosto, sentindo-me o maior idiota do mundo.
— Como é que eu não... — comecei. — Meu Deus.
E agora eu estava rindo também. Estávamos ambos rindo, e foi um dos melhores e mais arrebatadores momentos que já
compartilhamos.
A sensação de alívio que senti, sabendo que Dustin não era meu concorrente, foi enorme. Eu ainda não tinha certeza de
por que me importava tanto.
Mas quando apagamos as luzes e nós dois conseguimos respirar, com nossos corpos a apenas alguns centímetros de
distância, senti Angela lentamente começar a relaxar.
— Boa noite, Xavier, — ela disse calmamente.
— Boa noite, Angela, — respondi.
Ela pode não ter notado, mas sua mão, espalmada entre nós, estava a apenas alguns centímetros da minha metade
inferior. Eu me senti crescendo novamente.
De alguma forma eu sabia, se um de nós não adormecesse primeiro, Angela estava prestes a sentir exatamente do que
Xavier Knight era feito...

Capítulo 9 Sinais Misturados

Angela
Eu nunca tinha ouvido falar do bolero antes, mas no segundo em que a música começou, eu sabia que seria o que Xavier
e eu dançaríamos no Jubileu de Prata.
Desde que voltamos daquele estranho fim de semana nos Hamptons, Xavier e eu estávamos... não sei como descrever, a
não ser como... mais próximos.
Não era como se estivéssemos conversando o tempo todo ou mesmo respirando o mesmo ar. Quase não o via porque
ele estava muito ocupado no trabalho. Mas à noite, quando ele voltava do trabalho, nos sentávamos juntos e comíamos
o que Lucille havia preparado para nós.
Normalmente, comíamos em silêncio, mas de vez em quando, eu pegava Xavier olhando para mim estranhamente do
outro lado da mesa.
E então ele baixava os olhos, quase como se fosse tímido.
Xavier Knight, tímido?!
Não poderia ser possível. Provavelmente não o estava lendo direito, só isso.
Mesmo assim, eu tinha que admitir que, desde que compartilhamos a mesma cama, parecia que havíamos ultrapassado
algum tipo de barreira imaginária. Como se tivéssemos passado de nos odiarmos para nos aceitarmos para então...
Talvez realmente gostando da companhia um do outro?
Novamente, eu provavelmente estava apenas sendo otimista. Xavier Knight deixou claro em muitas ocasiões o que ele
realmente sentia por mim.
Mas esta noite, quando voltamos para nossas aulas de dança com Kiki, explorando os diferentes tipos de dança de salão
e decidindo qual seria a mais adequada para a competição, pude sentir uma espécie de eletricidade no ar.
Nunca tínhamos nos tocado tanto fisicamente. Mesmo que nenhuma das danças fosse realmente boa para nós, ainda
era emocionante.
— Sra. Knight, por favor, tente se soltar, — Kiki repreendeu.
Estávamos no meio de uma valsa e me senti uma idiota. Um, dois, três.
Um, dois, três. Um, dois, três. Era repetitivo e minha mente não parava de vagar.
Claramente, Kiki notava porque ela estava estalando a língua, com os braços cruzados. Corei, dando um passo para trás
de Xavier e colocando a mão no meu pescoço.
— Podemos tentar outro... tipo?
— Você precisa dominar os passos básicos de toda dança de salão se deseja aprender bem uma, — respondeu Kiki.
Mas, para minha surpresa, Xavier se virou para Kiki.
— Na verdade, eu concordo com minha esposa. Eu também não gosto de valsa. Qual é o próximo?
Kiki olhou para o lado, surpresa e frustrada, e então se aproximou do cara que comandava a música. Eu dei a Xavier um
pequeno sorriso como se quisesse agradecer. Ele enxugou a testa.
Eu não tinha percebido como ele estava suado até agora, mas não era nojento para mim. Foi viril. Sua pele parecia
brilhar, cada um de seus músculos mais claramente definidos do que eu já tinha visto.
Isso me fez imaginar o que ele era capaz de fora da dança...
— Angela? — ele perguntou, sorrindo um pouco.
Eu desviei o olhar, corando.
— Desculpe, acabei de me distrair.
— Eu notei, — ele respondeu com um sorriso.
A música mudou, felizmente, e o assunto também. Estávamos experimentando o tango agora. Mas, Jesus, isso era muito
difícil. Era muito sexy, e cada vez que Xavier agarrava minha perna ou me puxava para seu peito, minha resposta era
corar e enrijecer.
Depois disso, veio o balanço. Foi emocionante e divertido, mas Xavier e eu não conseguimos acertar o tempo, que era
extremamente rápido.
Kiki parecia que estava prestes a enlouquecer conosco. Seu corpo ridiculamente esguio, seu rosto estreito, de repente
não pareciam mais tão intimidantes para mim.
Não quando Xavier parecia ter olhos apenas para mim.
— Tudo bem, — ela disse, batendo palmas. — Vamos experimentar o bolero. Eu vou acompanhar vocês dois. Passo a
passo. Mesmo se você não precisar da minha ajuda, Xavier.
Quando ela falou com Xavier, sua voz normalmente estridente e comandante tornou-se suave e amanteigada. As
técnicas de sedução dela poderiam ser mais transparentes?
Mas então a música espanhola sensual começou a tocar, e eu senti a mão de Xavier pressionar contra minhas costas, e
todos os pensamentos negativos deixaram minha mente.
O ritmo lento, os movimentos sensuais deliberados, os olhos fixos um no outro.
Eu estava hipnotizada.
De alguma forma, meu corpo começou a se mover por conta própria, encontrando o ritmo, movendo-se em sintonia
com o de Xavier. Parecia tão natural e certo.
Por um momento, parecia que não havia ninguém na sala além de nós. Sem Kiki. Nenhum outro dançarino profissional.
Só Xavier e eu...
Então eu vi uma mão estranha vagar pelo bíceps protuberante de Xavier, e minha fantasia foi destruída.
— Bom, Xavier, — Kiki sussurrou. — Não tenha medo de assumir o comando. Esta dança é sobre dominação, sobre
tomar o que é seu... sobre ser um homem.
Lentamente, Kiki trouxe suas mãos para onde as nossas estavam entrelaçadas, e ela deslizou entre nós, fazendo de nós
um estranho trio giratório.
Xavier olhou para ela de cima a baixo, e eu poderia jurar que o vi lamber os lábios. Como se ter duas mulheres em cima
dele fosse o melhor presente que um homem pudesse receber.
Idiota!
Eu queria sair da dança. Eu queria ir embora, mas a música, suave, melódica e atraente, não me deixava ir.
Senti o calor do corpo de Xavier contra o meu, a frieza da mãozinha frágil de Kiki. A cada movimento, seus olhos
pareciam passar rapidamente dela para mim, como se ele não pudesse decidir qual parceiro preferia.
— Nunca tenha medo de fazer uma escolha, Xavier, — Kiki sussurrou.
— Esta dança, ao contrário das outras, pode até ser executada sozinha...
Eu entendi o que ela estava dizendo. Ela queria que Xavier me colocasse de lado, para me deixar na pista de dança
sozinha.
Ela estava louca?
A competição deveria ser sobre nós dois mostrando à companhia de Xavier o quão forte éramos como um casal. Eu
precisava colocar meus sentimentos de lado — por mais confusos que fossem — e considerar isso de uma perspectiva
puramente profissional.
Como dançar com Kiki ajudaria Xavier?
Ele não pareceu se importar. Não agora. Ele sorriu e a girou, claramente apreciando a maneira como o corpo dela
balançava em direção ao dele com total abandono, com paixão.
Devo ter parecido um bloco de tetris em comparação, encaixando no lugar certo, mas um quadrado sem graça.
— Angela, — disse Xavier, me pegando de surpresa, — você tem o dom pra coisa.
Agora ele estava me girando. O que diabos estava acontecendo? Ele me queria ou Kiki ou nós duas? Uma vez playboy,
sempre playboy, eu acho.
Quando a música finalmente terminou, eu recuei abruptamente, respirando fundo, tentando recompor meus
pensamentos. Kiki continuou segurando Xavier por alguns segundos a mais.
Mais uma vez, fiquei chateada, consumida por uma raiva ciumenta que mal conseguia entender. Não era como se Xavier
e eu fôssemos um casal de verdade. Ele poderia olhar e tocar a garota que quisesse.
Talvez eu tenha sido enganada por uma falsa sensação de segurança.
Só porque estávamos gostando de estar perto um do outro não significava que Xavier tivesse algum sentimento por
mim.
Claro que não, Angela, eu me reprimi. Ele nunca se importou com você.
Com esse pensamento constante em minha mente, me virei e me dirigi para a porta. Eu ia tomar banho, me trocar e
tentar não pensar naqueles primeiros belos momentos do bolero, onde fomos só eu e o Xavier...
E mais ninguém no mundo.

Xavier
Eu nunca pensei que Angela conseguiria. Quando meu pai nos pediu pela primeira vez para fazer esta competição de
dança, eu estava com medo. A ideia de ter que dançar com alguém tão claramente inocente e desacostumada a ser
tocada parecia terrível.
Como ela seria capaz de dançar se mal conseguia segurar a porra da minha mão sem tremer? Quando começamos, eu
senti como se tivesse provado que estava certo.
A garota era descoordenada demais, pisando nos meus pés, dizendo "desculpe" a cada segundo como uma idiota.
Mas então o bolero começou e...
Era como se eu estivesse dançando com outra mulher.
Quando Kiki se juntou a nós, eu me diverti com a reação de Angela.
Ela claramente não gostou da nossa instrutora de dança, e você poderia culpá-la?
Kiki era magra como um graveto, com cabelo descolorido de Khaleesi e tinha os movimentos furtivos de um gato. Ela era
a concepção de beleza pura de muitos homens, mas não minha.
Não, sinceramente, achei Kiki totalmente repulsiva, especialmente a maneira como ela se agarrou a mim.
Mas eu entretive suas provocações desagradáveis porque eu gostava de ver o quão incomodada e brava isso deixava
minha esposa. Isso foi cruel? Talvez um pouco.
O ciúme era uma cor nova no rosto tão angelical de Angela. Isso mexeu comigo.
A ideia de que faríamos essa dança novamente na frente de centenas de pessoas me excitou além da medida.
No caminho para casa, me perguntei se deveria dizer a Angela o quanto gostava de dançar com ela, mas decidi não fazer
isso. Sempre mantive minhas cartas perto do meu peito quando se tratava de cortejar alguém.
Eu não estava prestes a mudar meus métodos agora.
Só quando estávamos em casa e ouvi um grito distante, junto com uma porta sendo batida, que pensei que talvez
tivesse me enganado...

Angela
Um colar. O colar de outra garota estava lá no armário esperando por mim. Como se eu fosse uma segunda opção
barata. Como se Xavier pudesse dar a mesma joia e pensar que eu não notaria.
O que havia de errado com ele?!
Não foi o suficiente para flertar com Kiki bem na minha frente. Será que ele realmente pensou que me deixar este colar
usado, obviamente para outra garota, iria me conquistar?
Antes que eu pudesse me recompor, gritei de raiva.
— AHHH!
Então peguei o colar, com um pingente gravado com duas iniciais de outra garota "Para PS", e joguei o mais forte que
pude.
Ricocheteou na parede oposta do meu quarto e depois deslizou para debaixo da minha cama.
Eu desabei no meu colchão.
Eu estava tão chateada que não conseguia nem pensar direito. Como Xavier pode ter sido tão estúpido, me deixando um
colar para outra garota? Ele estava apenas tentando bagunçar minha cabeça?
Neste ponto, eu estava cansada de fazer suposições estúpidas. Talvez
Em estivesse certa. Talvez fosse realmente hora de encerrar o acordo de uma vez por todas.
Fiquei deitada lá com o rosto enterrado nos travesseiros por um tempo, fumegando.
Eu estava prestes a me preparar para dormir quando ouvi uma batida na minha porta.
— Angela? — Xavier chamou enquanto entrava.
— O que você... — Minha voz morreu na minha garganta.
Xavier estava ali, seminu com apenas uma toalha em volta da cintura.
A água escorria de seus ombros largos, para baixo em seu abdômen esculpido...
O repentino calor queimando dentro de mim expulsou toda a raiva do meu corpo... e a substituiu por outra coisa.
— Eu estava pensando que poderíamos conversar... — ele disse, sua voz baixa.
Eu engoli em seco.
Por que parecia que isso não terminaria apenas... falando?

Capítulo 10 A Verdade sobre Angela

Angela
Marco me levou até Heller, embora eu tenha insistido que poderia pegar o trem. Ultimamente, ele tem feito todos esses
pequenos favores para mim, como esperar do lado de fora do café de Dustin, mesmo quando eu disse a ele que ficaria
feliz em correr na volta.
Eu não sabia exatamente quando tínhamos nos tornado próximos, mas estava grata por ter um aliado. Lucille, por mais
legal que fosse, nunca colocaria nada ou ninguém acima de sua lealdade a Xavier.
No momento, ter Marco lá para me levar para casa o mais rápido possível foi extremamente bom. Ele deve ter notado a
angústia em meu rosto, porque ele estava pisando no acelerador um pouco mais forte do que o normal hoje.
Era isso ou ele poderia ver como eu ficava nervosamente checando meu telefone a cada cinco minutos, esperando que
Danny me atualizasse.
A ideia de que algo poderia estar errado com a saúde do meu pai... de novo... eu não sabia se meu coração aguentaria.
— Droga, Danny, — eu disse, jogando meu telefone na minha bolsa e colocando minha cabeça em minhas mãos. —
Apenas me responda. Por favor.
Mas meu telefone permaneceu em silêncio.
Como isso pôde acontecer?
Depois de tudo que investi para ter certeza de que meu pai ficaria bem. Depois de experimentar este novo tratamento
experimental.
Depois de concordar em me casar com Xavier Knight, entre todas as pessoas...
Não poderia ser tudo em vão, não é?
Pensei novamente naquele colar horrível que encontrei no meu quarto e me perguntei o que Xavier estava tramando.
Poderia ter sido apenas um erro honesto?
Sabendo o quão cruel ele poderia ser, eu duvidei.
Meu telefone vibrou e eu saltei em sua direção, correndo para desbloqueá-lo, esperando que me desse algumas
respostas sobre meu pai.
Mas não foi Danny quem havia mandado uma mensagem…
Xavier: Cadê você?
Xavier: Por que você saiu?
Angela: Tudo bem. Você não precisa fazer isso.
Xavier: ?
Xavier: O quê?
Xavier: Você está bem?
Angela: Você não precisa fingir que se importa.
Angela: Vou ficar bem.
Angela: Tchau.
Eu desliguei meu telefone. Doeu falar assim com Xavier, mas eu precisava disso agora. Eu não conseguia lidar com tantas
crises de uma vez.
Foi estranho ouvir como ele estava... preocupado. Não estava acostumada com esse seu lado, mas eu disse a mim
mesma para limpar minha mente.
Agora, eu só tinha tempo para meu pai.
Quando Marco parou ao lado da minha casa de infância, pulei do carro o mais rápido possível. Eu abri a porta da frente.
— Danny? Lucas? Pai?!
— Estamos aqui! — Eu ouvi Danny gritar.
Corri para a sala, esperando ver algo terrível. Mas, para minha surpresa, os meninos estavam sentados no sofá,
assistindo ao jogo de futebol americano, passando petiscos de um lado para outro. Ao lado deles estava meu pai,
parecendo feliz e em forma como sempre.
— O quê... — eu comecei, sem fôlego. — O que está acontecendo?
— O que você quer dizer? — Danny perguntou. — Você está falando sobre as boas novas? Minhas mensagens não
foram enviadas ou... oh.
Danny pegou seu telefone, percebendo que estava em modo avião. Ele me lançou um olhar de desculpas.
— O último texto não deve ter ido.
— Por que você simplesmente não ligou para ela? — meu pai perguntou.
— Achei que ela tivesse recebido minhas mensagens, pai.
— Gente, podemos ficar quietos? — Lucas perguntou, com os olhos grudados na tela. — Os Giants estão na linha de dez
jardas.
— Alguém, por favor, explique o que está acontecendo! — Eu quase gritei, pasma.
Finalmente, papai se levantou e, se aproximou. Ele estava sorrindo, seus olhos brilhando.
— Adivinha o quê, filhinha. Seu pai vai ficar bem.
— Você quer dizer...
Danny se aproximou e me deu um abraço.
— Isso mesmo. Funcionou, Angie. O tratamento. Ele... ele salvou o papai.
Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Eu olhei de Danny para o rosto do meu pai. Finalmente, Lucas se
levantou e, embora doesse para ele parar de assistir ao jogo, ele se juntou a nós também.
— É verdade, — disse Lucas. — Ele ainda estará conosco por mais tempo.
— E te dando uma surra na bocha, Lucas, — disse Danny.
Todos nós rimos, mas eu podia sentir as lágrimas, as lágrimas mais felizes do mundo, transbordando em minhas
pálpebras.
— Pai, eu não posso acreditar. Eu estava tão assustada. Eu pensei...
— Eu sei, — ele disse. — Você nunca terá que se preocupar de novo, filhinha. Eu prometo.
Sem mais, me joguei nos braços de meu pai e chorei. Não, eu não só chorei. Chorei aos prantos. Eu estava tão
sobrecarregada de sentimento que tremia.
E meu pai e meus dois irmãos me seguraram sabe-se lá por quanto tempo. Éramos a família mais grata do mundo.
Por fim, nos separamos e Lucas olhou para a TV, estremecendo.
— Perdemos o touchdown, droga!
E novamente todos nós rimos. E eu sabia que, quando se tratasse de minha família, haveria muito mais risos e muito
menos lágrimas de agora em diante.

Xavier
Bati na porta do escritório do meu pai. Ele estava localizado em um canto de vidro maciço do quadragésimo terceiro
andar, com uma vista deslumbrante do centro de Manhattan.
Quando eu entrei, ele estava terminando uma ligação com seu típico comportamento horrível à vista de todos. Era a
arma secreta do homem — a capacidade de desarmar qualquer pessoa com seu charme direto.
Não havia jogos, não havia besteira quando se tratava de Brad Knight.
Ele era o verdadeiro negócio. E sua gentileza, junto com a mente de um capitalista calculista, fez dele o CEO mais
poderoso de toda a cidade.
Murdoch, Soros, Musk — eles não tinham nada contra meu pai.
À
Às vezes eu me perguntava por que não havia herdado o gene bom. — Por que eu sempre fui um desgraçado mal-
humorado o tempo todo?
Isso me serviu bem nos negócios, não me entenda mal, mas onde estava o coração aberto do meu pai? Tinha sido
esmagado, junto com tudo o mais, naquele acidente de carro há mais de um ano?
— Filho, estou feliz que você esteja aqui, — disse meu pai, jogando o telefone de lado. — Queria perguntar como vão as
aulas de dança.
Eu revirei meus olhos.
— Por favor, podemos falar sobre qualquer coisa além da minha vida privada pelo menos uma vez?
— Temos uma reunião às cinco da tarde para falar de negócios.
Então, o que mais isso poderia ser?
Como de costume, ele era sagaz demais. Suspirei e me sentei em uma cadeira, de frente para ele.
— Eu queria te perguntar... sobre a mamãe.
Meu pai franziu a testa, surpreso. Este foi um assunto que evitávamos a todo custo. Eu sabia que ele queria falar comigo
sobre ela, mas foi para isso também que ele pagava três terapeutas.
Brad Knight e Xavier Knight não conversavam sobre sentimentos, não normalmente.
— O que tem ela? — ele perguntou. — Vá em frente. Você pode me perguntar qualquer coisa.
— Como... como você soube que ela era a mulher da sua vida?
Eu quase fiz essa pergunta ao meu pai uma vez antes, mas felizmente, eu resisti. A mulher por quem eu estava
apaixonado não era digna de comparação.
Mas Angela...
De alguma forma, ultimamente, eu estava ficando cada vez mais obcecado por ela. Eu queria saber se isso era apenas
algum efeito colateral ridículo, se isso estava de acordo com o casamento mais estranho da história ou...
Ou era algo de verdade.
Meu pai sorriu gentilmente.
— Filho, eu soube no momento em que coloquei os olhos nela.
— Mesmo? — Eu perguntei, surpreso. — Você sabia que era a mamãe desde o primeiro segundo?
Era difícil de acreditar, como um conto de fadas estúpido. Amor à primeira vista. Só de pensar nessas palavras me deu
vontade de vomitar um arco-íris.
— Não. — Meu pai balançou a cabeça. — Eu não estava falando sobre Amélia.
— Você quer dizer...
Ele assentiu. Ele soube desde o primeiro momento em que pôs os olhos em Angela que ela era a pessoa certa para
mim?! Eu queria zombar.
Eu queria me levantar e sair furioso de seu escritório. Eu senti como se ele estivesse zombando de mim.
Pela expressão sincera que ele tinha, eu sabia que não era o caso.
— Amélia e eu, demoramos para nos aproximarmos. Todos os casais verdadeiros, os que duram, também demoram. Às
vezes era difícil, mas quando finalmente nos vimos como realmente éramos, isso fez toda a diferença no mundo.
Eu me perguntei se o mesmo poderia ser verdade para Angela e eu.
Nossa história ser como a de meu pai e minha mãe, um lento desenvolvimento construído em mal-entendidos, raiva e
desconfiança?
— Pai, estou muito confuso sobre como me sinto agora, — admiti. —
Nunca acreditei realmente que pudesse... hum... de novo.
Eu não queria dizer a palavra que ficava entre "poderia" e "de novo".
Dizer amor em voz alta tornaria isso real. E ainda havia muita incerteza.
Por que ela teria se casado comigo pelo meu dinheiro se valia a pena amar? Finalmente fiz a meu pai a pergunta que
estava morrendo de vontade de fazer há semanas.
— Onde você a encontrou, pai?
Meu pai parou de olhar pela janela, com seus olhos nadando em sentimentos.
— Nós tínhamos um acordo, ela e eu. Não devíamos falar sobre isso.
Mas... acho que é hora de você saber.
— Saber o quê? — Eu perguntei, franzindo a testa. — Que acordo?
— Filho... Angela não se casou com você por sua fortuna. Ela não concordou em se casar com um estranho porque você
era um Knight. Ela se casou com você porque o pai dela estava doente e eu me ofereci para ajudar a pagar suas contas
médicas em troca.
Meu queixo caiu. Meus olhos saltaram. Meu estômago parecia estar se revirando. Isso não podia ser verdade, não é? O
tempo todo... Angela agia com um desejo altruísta de salvar seu próprio pai?
E meu pai escondeu isso de mim?!
— Diga-me que isso não é verdade, — eu disse, com a voz baixa e baixa. — Você não faria isso.
— Eu fiz, Xavier, — disse meu pai, encontrando meu olhar. — E eu
sinto muito por enganar você. Mas eu sabia que se você fosse informado, você teria visto isso como caridade e nunca
teria dado a ela um momento sequer. Eu tive que mentir para você. Para que você possa aprender a amar novamente.
Eu me levantei. Minha cabeça estava girando. Tudo ao meu redor parecia derreter. Todas as vezes que gritei com Angela
voltaram correndo para mim.
Todas as coisas horríveis de que a chamei. Por nada.
— Como você pôde fazer isso? — Eu perguntei, e então senti minha voz se elevar. — COMO DIABOS VOCÊ PÔDE FAZER
ISSO COMIGO?!
Eu nunca tinha gritado com meu pai antes na minha vida. Isso ia contra a minha própria natureza. A raiva estava
reservada para meus inimigos, não para minha família, mas nunca me senti tão traído por ninguém em minha vida.
E pensar que... todo esse tempo, Angela realmente era um anjo.
— Eu sei que você está com raiva, — ele disse. — Você tem todo o direito de estar assim.
— Eu não consigo nem olhar para você! — Eu soltei, jogando minhas mãos na minha cabeça. — Como você pôde fazer
isso comigo? Com ela?
Você sabe o quão cruel eu tenho sido com ela? O que eu já disse a ela?
— Eu imaginei, — ele disse, balançando a cabeça tristemente. — Mas eu sabia que ela iria ficar. Porque eu sabia que ela
era pura e cuidaria de você, apesar de tudo. Você não entende, filho? Isso é o que é amor.
Eu me virei para a porta. Eu precisava ir até Angela. Eu precisava consertar isso, mas parei quando minha mão encontrou
a alça.
— Como... — eu comecei. — Como vou ganhar Angela, pai?
Eu me virei e olhei para meu pai mais uma vez. Eu não queria seu conselho. Não acreditei em uma palavra que ele diria,
mas também sabia que, sem ele, estava condenado.
Ele sorriu e encolheu os ombros, como se o que estava prestes a dizer fosse a tarefa mais simples do mundo.
— Se você a quiser, Xavier, — ele disse, — diga a ela como se sente.
Diga a ela como você se sente.
Eu não tinha a menor ideia de como conseguiria fazer isso. Mas eu sabia que precisava tentar. Angela merecia muito.
Abri a porta e corri para fora do escritório sem dizer outra palavra.
Eu não quis dizer isso, Angela. Perdoe-me, Angela. Estou apaixonado por você, Angela.
Mas Angela acreditaria em mim?

Capítulo 11 Um Encontro tardio

Angela
Xavier: Ei.
Xavier: Você está em casa?
Angela: Sim, por quê?
Xavier: Isso pode parecer loucura, mas…
Xavier: Eu tenho uma surpresa.
Angela: ...
Angela: Você quer dizer para mim?
Xavier: Não, para Lucille.
Xavier: Claro, para você!
Xavier: Marco estará pronto com o carro em 30.
Xavier: Vista algo legal, ok?
Xavier: (emoji piscando)
Eu encarei meu celular sem acreditar. Xavier Knight tinha realmente acabado de me enviar um emoji? Um emoji de uma
carinha piscando?
O mundo deve ter virado de cabeça para baixo enquanto eu dormia, porque ele não se parecia nem um pouco com o
homem a quem chamava de meu marido. Desde que soube das notícias maravilhosas sobre a saúde de meu pai, quase
não conseguia pensar direito.
Voltei para casa e passei o dia andando de um lado para o outro e limpando, tentando me acalmar. Mas não podia
acreditar. O acordo valeu a pena, e agora meu pai estava bem de saúde.
Isso significava que ele estava seguro, ele viveria, ele continuaria a cozinhar o peru ridiculamente gorduroso todos os
anos, mas também significava...
Meu casamento falso com Xavier, finalmente, poderia acabar. Não havia necessidade de continuar a fingir, não se meu
pai continuasse saudável. Quanto às contas médicas, eu mesma poderia pagá-las com o tempo, imaginei.
Certamente Brad entenderia, mas e quanto a Xavier?
Eu não sabia como falar com ele. Eu tinha certeza de que ele ficaria louco de raiva. Eu precisava me preparar e colocar
qualquer armadura mental que me restava para resistir ao que com certeza seria um xingamento e um insulto atrás do
outro.
Aí esse texto apareceu, me surpreendendo ainda mais. Que surpresa Xavier estava planejando para esta noite?
Mesmo que tivesse que dar más notícias, estava decidida a ir com uma boa aparência. Afinal, ele me disse para me vestir
bem. Então, vasculhando meu armário, escolhi um vestido que Dustin escolheu para mim pessoalmente.
Um vestido vintage Christian Dior de 1990 feito de seda preta e branca com botas pretas e um blazer vermelho
impressionante. Era possivelmente a roupa mais ousada que eu já vi, uma que eu tinha certeza que não poderia usar.
Mas quando saí do provador, o queixo de Dustin praticamente caiu no chão.
— Garota, — ele disse, — você parece a própria definição de sexo. É sério. Pegue um dicionário. Procure. Abaixo de
sexo, haverá uma foto sua com essa roupa. Muito SEDUTORA.
Eu corei, é claro, mas agora, olhando para mim mesma no espelho, pude ver o que Dustin estava dizendo. Eu parecia
bem.
Eu não sabia sobre a definição de sexo, visto que sabia pouco sobre o assunto de qualquer maneira, mas me fez sentir
bem em me vestir como alguém confiante.
Mesmo que não fosse exatamente assim que eu me sentia por dentro, às vezes você tinha que projetar para fora para
enganar a si mesma ou aos outros. Algo assim.
Novamente, eu estava citando Dustin.
Finalmente, quando terminei de aplicar a maquiagem, uma mistura minimalista de sombra lavanda e uma pitada de
rímel, saí e me aproximei do carro.
Marco segurou a porta aberta e acenou com a cabeça, grunhindo. Foi o mais próximo que ele chegou de um sorriso.
— Sra. Knight.
— Obrigada, Marco.
Ele fechou a porta quando entrei. Na hora em que ele se sentou no banco do motorista, inclinei-me para a frente.
— Será que meu marido lhe disse aonde está me levando?
Marco me olhou com cautela pelo retrovisor.
— Você sabe que eu não posso te dizer isso, Srta. Knight.
Suspirei e recostei-me na cadeira. — Valeu a tentativa.
Sempre gostei do fato de Marco me chamar de Srta. Knight, e não de senhora, mesmo que tecnicamente eu fosse uma
mulher casada, isso me fazia sentir mais perto da minha idade.
Mais importante ainda, me lembrou que meu casamento com Xavier não era cem por cento autêntico. Depois desta
noite, eu nunca teria que ser chamada de Sra. Knight novamente se não quisesse, pensei.
Observei o carro nos levar por Manhattan e fiquei surpresa quando deslizamos tão perto do rio ao longo da 29ª. O céu
noturno estava se tornando um lindo tom de azul e, ao nosso redor, as luzes da cidade estavam piscando.
— Marco, você tem certeza de que está certo? — Eu perguntei quando ele estacionou ao lado de um grande restaurante
chique.
— Apenas cumprindo ordens, Srta. Knight.
Ele saiu e abriu a porta para mim. O que está acontecendo? Este lugar parecia um lugar onde você poderia levar um...
encontro, não a esposa com quem você foi forçado a se casar.
— Angela, aqui está você.
Virei-me, surpresa ao ver Xavier sentado em um banco, vestido com um de seus melhores ternos. Ele se levantou e se
aproximou, sorrindo.
— Espero que você esteja com fome.
— Você quer dizer que... nós vamos para lá...
— Para comer, obviamente. Isso é surpreendente?
Certamente foi. Eu não sabia o que dizer. Eu apenas olhei para Xavier como se ele fosse um estranho, uma pessoa
completamente nova. E, de certa forma, era isso que ele parecia.
Havia uma suavidade por trás de seus olhos escuros que eu nunca tinha reconhecido. Ele pegou minha mão e me levou
em direção à porta.
— Vamos lá, mal posso esperar para você ver a vista.
O restaurante era um dos espaços mais bonitos e ornamentados em que já estive. A vista do East River, juntamente com
a decoração chique e moderna do próprio restaurante, era absolutamente deslumbrante.
Não havia uma única pessoa sentada além de Xavier e eu — ele claramente alugou o restaurante inteiro para a ocasião
— e quando os garçons nos cumprimentaram e nos levaram para a nossa mesa, tive a suspeita de que era, de fato, um
encontro.
— Xavier, — eu disse enquanto chegávamos a nossos lugares, — isso é muito bom, mas o que está acontecendo?
— Um marido não pode levar a esposa para uma boa refeição?
Eu corei. Por mais gentil que fosse o sentimento, também era extremamente estranho. Eu entendia que nós fingirmos
ser casados na frente de sua família e colegas, mas por que isso quando éramos apenas nós dois?
Estávamos cercados por velas acesas e flores frescas. Parecia o set do The Bachelor. Excessivamente romântico, quase
falso.
Assim como nosso casamento.
Eu olhei para o menu. Tudo estava em francês e impossível de entender. Eu o abaixei e respirei fundo.
— Eu realmente aprecio que você esteja, hum, sendo tão legal, mas...
— O que há de errado?
— Eu simplesmente não entendo por que de repente.
— Você está certa, — ele disse, me interrompendo. — Você merece uma explicação. Angela. Há muito que quero dizer,
mas acho que vou começar dizendo que...
Ele está prestes a se desculpar? O rosto de Xavier parecia em conflito.
Era claramente contra todos os seus instintos ser tão autoconsciente.
— Percebi que nunca agradeci de verdade por ter salvado minha vida, Angela. Na ilha.
— Por favor, — eu disse, olhando para baixo. — Eu só fiz o que qualquer um faria.
— Não! — Xavier exclamou ferozmente e, em seguida, novamente com mais suavidade. — Não, Angela. Eu não acho
que isso seja verdade.
Acho que você é a pessoa mais altruísta que já conheci.
Uau. De onde está vindo isso?! Eu me senti oprimida, e o ambiente, por mais bonito que fosse, certamente não estava
ajudando.
— E tudo isso? — Eu perguntei.
— Achei que seria uma boa maneira de retribuir. É apenas o começo, mas...
— Xavier, — eu disse, balançando minha cabeça, — isso é muito gentil de sua parte, mas você mal me conhece. Se você
me conhecesse, saberia que não me sinto confortável em grandes restaurantes chiques.
— Oh... Você não quer?
Eu balancei minha cabeça. Não tive a intenção de ignorar o que era claramente a ideia romântica de Xavier, mas ele
tinha o direito de saber.
— Se você realmente parasse para conversar comigo, — eu disse baixinho, — você saberia que o que eu realmente
gosto são coisas simples. Como uma pizzaria de última geração.
Xavier acenou com a cabeça, compreendendo, seus olhos brilhando com uma ideia. O que ele estava pensando agora?
Eu estava muito nervosa para perguntar.
O garçom se aproximou.
— Senhor, madame, vocês decidiram o que gostariam de comer?
— Nada, — disse Xavier, levantando-se e jogando o guardanapo na mesa. — Vamos, Angela.
Ele me ofereceu sua mão e eu o encarei, estupefata. O garçom parecia igualmente confuso.
— Sr. Knight, me perdoe. Há algo errado? Vocês pagaram para ter todo o estabelecimento só para vocês esta noite.
— Estou ciente, — ele disse com um sorriso. — Aproveite uma noite de folga. É por minha conta. Angela.
Antes que eu percebesse, Xavier pegou meu braço e estávamos saindo pela porta.
— O que estamos fazendo? — Eu perguntei, envergonhada.
Xavier piscou.
— Você gosta de pizza. Vamos comer pizza.
E com isso, ele me levou até o carro. Marco ligou o motor e deixamos o restaurante chique à beira do rio para trás.
Eu odiava admitir, mas foi talvez a coisa mais espontânea e romântica que alguém já fez por mim...
Estávamos na Joe's Pizza em Greenwich, ambos ridiculamente bem vestidos, dando uma mordida em nossa segunda
fatia quando caímos na gargalhada.
Todo nova-iorquino normal que entrou nos deu um olhar infeliz como se dissesse: Ótimo. Gente rica. Lá se vai a
vizinhança.
Foi tão engraçado que mal consegui comer. Xavier pegou minha mão.
— Xavier, não, — eu disse, tentando me afastar. — Está gordurosa!
— Eu não me importo, — ele disse.
Senti um frio na barriga quando meu coração parou e olhei para Xavier sob uma luz completamente nova. E pensar que
tinha começado esta noite planejando anunciar nosso divórcio.
Como eu possivelmente traria isso à tona agora?
Eu não podia.
Não quando ele estava sendo tão doce.
Vou ter que esperar o momento certo, disse a mim mesma. Com certeza, essa noite acabaria e tudo voltaria ao normal,
como sempre acontecia.
— Angela, — ele disse, interrompendo minha linha de pensamento, — você está certa. Eu mal te conheço. E... eu quero
saber tudo. Então.
Conte-me algo sobre você.
— Como o quê?
— Não sei. Sobre o que as pessoas costumam falar nos encontros? O que te excita e te irrita? Maneiras favoritas de
passar uma tarde de domingo? Você é uma garota de longas caminhadas na praia? Ou é mais como uma compradora
compulsiva?
Xavier parecia nervoso. Ele realmente parecia e soava nervoso. Foi adorável. Eu me peguei sorrindo e ele parou de
divagar para olhar para mim.
— O quê?
— Você disse encontro, — eu apontei.
— Bem, e não é?
Eu concordei. Eu acho que sim. Ele suspirou, parecendo um pouco melancólico.
— Me desculpe por ter demorado tanto, Angela. Se eu soubesse...
Eu queria perguntar a ele o que ele quis dizer. Se soubesse o quê? Mas eu nunca tive chance. Porque Xavier pegou o
último pedaço de pizza do meu prato e deu uma mordida enorme.
— Ei! — Eu gritei de brincadeira. — Eu ia comer isso.
— Essa é uma implicância minha, — ele admitiu entre mordidas. —
Deixando a comida esfriar.
— E se o meu for dividir refeições?
— Então... acho que estamos ferrados.
Novamente, nós rimos. E foi a sensação mais maravilhosa do mundo.
Parecia fácil, sem amarras. Parecia honesto.
Enquanto Xavier continuava a comer, me perguntei se eu estava errada em fazê-lo esperar.
Talvez quando ele estava tão feliz, desse tipo... talvez esta fosse a melhor hora para falar sobre o fim do acordo.
Mas agora, quando olhei para ele, não tive certeza de que era isso que eu queria.
— Xavier, — eu disse baixinho, — eu preciso te dizer uma coisa...
Ele acenou com a cabeça pacientemente. Eu respirei fundo, abri minha boca e falei.

Capítulo 12 Ilusões amorosas

Angela
Eu não poderia dizer a Xavier que queria terminar nosso casamento. Eu não tinha isso em mim.
Eu tinha me acovardado na noite do nosso encontro e disse a ele que estava nervosa com o próximo Jubileu.
Eu sabia que não conseguiria esta noite também, não enquanto seus braços me segurassem com força, me puxando
para mais perto, me envolvendo em um abraço repentino.
Xavier e eu estávamos dançando de novo, ensaiando para o grande show, daqui a apenas uma semana. Mas algo sobre
este ensaio parecia estranho.
Por um lado, não havia sinal de Kiki. Na verdade, quando olhei ao redor do estúdio, não havia sinal de nenhum instrutor
ou dançarino em qualquer lugar.
Xavier e eu estávamos completamente sozinhos.
Ele me girou, a batida sedutora do bolero nos impulsionando para frente e para trás, enquanto nos virávamos um para o
outro. Eu podia sentir o calor que emanava de seu peito toda vez que estávamos separados por um fio de cabelo.
Como eu desejava descansar minha cabeça nele, sentir os músculos que eu admirava por tanto tempo.
Angela, Eu me repreendi, o que deu em você?
Percebi então que as habituais luzes de LED no teto estavam apagadas esta noite. Em vez disso, um holofote parecia
estar nos iluminando enquanto dançávamos, resistindo e depois cedendo aos movimentos um do outro.
Nós nos sentimos em sincronia esta noite. Sentimos como se estivéssemos fazendo essa dança por séculos, esse cabo de
guerra sensual, essa estranha relação de amor e ódio, essa dança.
— Você nem sempre é um anjo, é? — Xavier perguntou, com os olhos misteriosos.
Ele me empurrou suavemente e eu caí, esperando sentir o piso de madeira, mas para minha surpresa, embaixo de mim
havia uma cama de almofadas.
Onde isso estava um segundo atrás? Como chegou aqui? Eu tinha tantas perguntas, mas conforme Xavier lentamente se
abaixou em cima de mim, cada pensamento fugiu do meu cérebro.
Ele estava arrastando os dedos ao longo da minha pele nua, me fazendo estremecer de prazer. Eu empurrei sua mão,
envergonhada.
— Xavier, não... — eu disse.
— É isso que você quer? — ele perguntou, sorrindo. — Você quer que eu pare, Angela?
Eu não disse nada. Eu não podia admitir que queria muito que ele continuasse. Para chegar ainda mais perto de mim.
Para respirar em meu pescoço e... e...
— Um demônio disfarçado... — ele disse com um sorriso malicioso.
— Eu sabia.
E então, antes que eu soubesse o que estava acontecendo, Xavier me beijou. Eu só tinha provado seus lábios uma vez
antes — em nossa noite de núpcias — tinha sido forçado, não natural e errado.
Mas isso... isso foi tudo que eu sempre esperei. O puxão de seus lábios famintos. A sugestão de dentes quando ele
mordeu meu lábio suavemente. O gemido suave escapando do meu.
Isso me fez esquecer de mim mesma. Isso me fez esquecer que, apenas alguns segundos atrás, estávamos praticando
uma dança. A música continuava, provocando-nos, incitando-nos a ir mais longe.
Para explorar os corpos um do outro. Para...
— Xavier, — eu engasguei, com medo. — Eu não sei o que estou fazendo. Eu... eu...
— Confie em mim, — ele disse. — Eu vou cuidar de você.
Eu olhei dentro daqueles olhos escuros e balancei a cabeça. Havia um milhão de razões pelas quais eu deveria ter
resistido, mas havia uma influência irresistível nas palavras de Xavier agora.
Eu não pude ignorar isso. Eu não pude lutar contra isso. Eu tive que ceder. Eu queria ceder.
Ele me beijou novamente, mas desta vez, sua língua entrou na minha boca, deslizando contra a minha, persuadindo-me
a fazer o mesmo.
Com cada lambida e gosto lúdico, eu me sentia umedecer em lugares que nunca tinham estado tão quentes antes.
— Eu quero você, Angela, — Xavier sussurrou. — Só você.
— Xavier... — Suspirei, fechando os olhos.
Então ele estava beijando meu pescoço e eu arqueava todo o meu corpo em sua direção, como se implorasse para
invadir outras partes de mim.
Eu ouvi seu cinto desabotoar. Eu o senti puxar lentamente minha calcinha para baixo.
Oh, meu Deus.
Isso finalmente iria acontecer. Eu ia perder minha virgindade com Xavier Knight, bem aqui no meio da pista de dança,
iluminada por um holofote enquanto o ritmo lento do bolero nos fazia serenatas.
— Você está pronta, Angela? — Xavier perguntou.
Eu abri meus olhos e olhei para ele. Eu puxei seu rosto para perto do meu e o beijei. Sim, silenciosamente me
comuniquei com ele. Me tome.
E assim que Xavier pressionou para frente, e meus olhos rolaram para trás em êxtase, e uma explosão de sentimentos
tomou conta de mim...
— O QUÊ?
Sentei-me na cama com um sobressalto, hiperventilando. Eu estava sozinha. Era no meio da noite. Eu estava no meu
quarto.
Tudo que eu tinha acabado de experimentar era um sonho...
Um sonho sexual. Eu tinha acabado de ter um sonho sexual com Xavier.
O que.
Foi.
Isso.
Levantei-me e corri para o banheiro, lavando meu rosto e me olhando no espelho. Mal pude reconhecer a garota que
me encarou de volta.
— Angela, — disse a mim mesma, — estamos com grandes problemas agora.
Angela: Em.
Angela: Preciso falar com você.
Angela: O mais rápido possível.
Em: Algo errado, Angie?
Angela: Não consigo explicar por texto.
Em: Ok
Em: Você pode me encontrar na minha casa?
Angela: (emoji de dedo para cima) Angela: Chego em 15 minutos.
— E então ele colocou seu... hum... na minha...
Em estava olhando para mim, confusa, depois que eu me desconectei um pouco do sonho e fui para a casa dela na
manhã seguinte. Ela nunca foi uma puritana. Então, minha dificuldade em falar sobre o assunto sempre a confundiu.
— Diga logo, Angie, — ela disse. — Foi apenas um sonho. Você transou?
Ã
— NÃO! — Eu gritei.
Ela ergueu as sobrancelhas, surpresa. Até eu me surpreendi. Por que eu estava reagindo a isso de maneira tão
exagerada?
— Quer dizer... não, — eu disse mais baixinho. — Acho que não.
Estávamos prestes a fazer isso, e então acordei.
— Parece muito... confuso.
Em voltou a arrumar a máquina de lavar louça, parecendo preocupada, mas uma pitada de aborrecimento em seu tom
me fez franzir a testa.
— Eu disse algo errado, Em?
— É só... quer dizer, Angie, vamos lá. Você ao menos sabe o que quer?
— O que você quer dizer?
— Olha, — ela disse, Virando-se com um prato na mão, — estou ficando cansada de ouvir você ficar indo e vindo. Um
segundo você o odeia. No próximo você está obcecada por ele. Como sua amiga, devo avisar quando algo não for
saudável. Acho que isso se qualifica.
Minhas bochechas enrubesceram. De repente, me senti confusa e indignada, uma emoção à qual não estava
acostumada.
— Você não sabe nada sobre nós, — eu disse, tentando e falhando em impedir que minha voz vacilasse.
— Agora existe um 'nós’? Uma semana atrás, você estava falando sobre se divorciar.
— Você está certa, ok! Eu sou confusa! Me desculpa!
Eu me virei, cruzando os braços. Eu não podia acreditar que minha própria amiga não estava disposta a me apoiar agora,
quando eu mais precisava dela.
Ela suspirou e abaixou o prato, sentando-se ao meu lado.
— Ei, eu não queria julgar, Angie, — ela disse. — Desculpa.
— Eu simplesmente não entendo por que você está reagindo assim.
Eu entendo que Xavier e eu estamos em um lugar estranho, mas por que você não pode tentar ser mais compreensiva?
Então eu olhei para ela e percebi que havia lágrimas em seus olhos.
Era eu quem estava percebendo algo aqui? Fui eu que não foi compreensiva?
— Em, o que é?
— Faz um tempo que quero falar com você sobre isso, mas não sei como. Porque ele é seu irmão, e percebo que é
estranho que estejamos juntos e...
Lucas. Isso era tudo sobre Lucas. Claro!
— O que está acontecendo, Em? — Eu perguntei, agarrando a mão dela. — Você pode me dizer qualquer coisa. Lamento
ter sido tão egoísta ultimamente.
Ela balançou a cabeça.
— Entendo. Se fosse meu irmão, seria difícil para mim também. É apenas...
— O quê?
— Ultimamente, Lucas tem estado tão distante. Não sei o que fiz. Por semanas, tudo foi incrível entre nós. Estava
perfeito. Mas agora? Não sei mais, Angie.
Em chorou um pouco e eu peguei um lenço para ela.
Eu gostaria de ter sabido sobre isso antes para poder ter falado com o Lucas. De repente, me senti uma péssima amiga.
Eu estava tão envolvida no meu mundo e no de Xavier que não tinha parado para pensar em mais ninguém.
Mas eu sabia que Lucas estava levando Em a sério. Eu vi a maneira como ele olhou para ela. Antes de Em, as meninas
eram apenas distrações para ele.
Era algo sobre a qual Danny e eu costumávamos brincar. Mesmo sendo irmãos, Lucas e eu não poderíamos ter saído
mais diferentes.
— Angela, a santa. E Lucas... o galinha, — Danny diria, esquivando-se enquanto eu tentava bater nele.
Era tudo verdade de qualquer maneira. Ele nunca tratou nenhuma garota da maneira como tratou Em. Eu sabia que ela
era especial. Eu sabia disso mesmo quando éramos crianças e Lucas agia tímido perto dela durante nossas brincadeiras.
— Em, — eu disse, sorrindo, — Lucas provavelmente está apenas sendo um idiota. Você não precisa se preocupar. Ele
vai mudar de ideia.
— Mas e se ele não mudar? E se eu fiz algo errado e tudo acabar? Eu só queria que ele falasse comigo, Angie.
Um plano começava a se formar na minha cabeça. Então me levantei repentinamente. Em franziu a testa, surpresa.
— Levante-se, Em.
— Por quê?
— Confie em mim, ok?
Em seguiu minhas ordens, levantando-se, ainda enxugando os olhos.
— Me dê suas mãos.
— Pra quê?
— Vai fazer ou não?
Em suspirou e deixou o lenço sobre a mesa, oferecendo as mãos. Eu as peguei e olhei em seus olhos.
— Me escute, Em, — eu disse calmamente. — Eu conheço meu irmão.
E eu sei o que ele sente por você. Deixe-me falar com ele e acertar as coisas, pode ser?
— Angie, não dá. Eu não quero que ele pense que eu preciso de terceiros para...
— Em — eu disse insistentemente. — Por favor. Lucas merece uma chance de se explicar, mas ele não é o melhor
quando se trata de expressar seus sentimentos. Deixe-me fazer o que deveria ter feito semanas atrás. Deixe-me ajudá-a.
Em suspirou e sorriu.
— Tudo bem, Angie. Se você insiste.
Eu a puxei para um abraço. Ela riu.
— Eu acho que Xavier está começando a contagiar você. Não me lembro de você nunca ter sido tão exigente.
Nós duas rimos.
Ela estava certa. Eu me sentia diferente, mas eu teria que lidar com Xavier mais tarde.
No momento, havia apenas uma pessoa em quem eu precisava me concentrar, e essa pessoa era meu irmão.
Angela: Lucas. (emoji bravo) Angela: Qual é o seu problema?
Lucas: hein?
Lucas: do que você está falando?
Angela: ESTOU FALANDO SOBRE A EM.
Lucas: ah
Lucas: É meio complicado, mana.
Angela: Por que você não fala com ela?
Angela: Por que você está tão distante?
Lucas: Espera
Lucas: O quê?
Lucas: É isso que ela pensa?
Angela: SIM, Lucas.
Lucas: Merda.
Lucas: Não era isso que eu queria.
Angela: O que você queria?
Lucas: Angie
Lucas: Acho que preciso da sua ajuda.
Angela: Com o quê???
Angela: O que você fez?
Lucas: Não foi o que eu fiz.
Lucas: É o que estou prestes a fazer...
Angela: Você não está fazendo sentido, Lucas Lucas: Angie...
Lucas: Eu preciso que você me ajude a escolher um anel.
Angela: UM ANEL???
Lucas: Vou propor a Em em casamento.

Capítulo 13 Uma velha chama

Xavier
Penny: Ei.
Penny: É penny.
Xavier: Eu sei.
Xavier: Eu tenho o seu número...
Penny: Ah, certo
Penny: Você está em casa?
Penny: Eu preciso te ver.
Xavier: Eu pensei que você disse que não transaríamos mais.
Penny: Não, é isso...
Penny: Caramba... você tem que deixar tudo estranho?
Xavier: O que você quer então?
Penny: Estou procurando algo.
Puta que pariu. A última coisa que eu queria pensar era na Penny agora.
Mas acho que não tive escolha a não ser deixá-la vir se ela realmente tivesse deixado algo aqui. Isso ou ela estava
apenas procurando outra desculpa para tirar minha roupa.
Isso ainda estava para ser determinado.
Agora que eu tinha aprendido a verdade sobre Angela — sobre o anjo que ela realmente era — e depois do nosso
encontro com pizza, que foi uma das melhores noites que tive em meses, eu não tinha olhos para nenhuma outra
garota.
Meu pau tinha alguns desejos aqui e ali? Claro, mas estava fazendo o possível para resistir à tentação. Angela
claramente não era esse tipo de garota. Levaria tempo para conquistá-la.
E levá-la para minha cama.
À noite, eu ficava fantasiando sobre ela e como seria deixá-la nua.
Me angustiava saber que ela estava a apenas algumas portas de distância e eu não podia tocá-la.
Um Knight bilionário como eu não estava acostumado a não conseguir o que queria. Mas, pela primeira vez, eu teria que
aprender a ser paciente.
Angela valia a pena.
Quando ouvi o barulho do elevador, me preparei. Não ceda à tentação, Xavier. Ela não é nem tão boa assim. Apenas dê
a ela o que ela quer e dê o fora.
Mas quando as portas se abriram e vi Penny parada ali, fiquei imediatamente impressionado com o quão gostosa ela
estava.
Lembrei-me da sensação de bater nela, o tapa naquela bunda gostosa, o gosto de seu suor quando mordi seu ombro...
— Ei, Xavier, — ela disse, sorrindo. — É bom te ver. — Ela estava alheia aos meus pensamentos enquanto se inclinava
para um abraço sem jeito. Senti a pressão de seu peito através de seu grande suéter de lã.
Limpei minha garganta, tentando clarear minha mente no processo.
Foco, Xavier. Você pode se masturbar mais tarde. Não estrague tudo com Angela.
— Então o que você quer? — Eu perguntei, tentando parecer estar calmo.
— Me desculpa por aparecer assim. É só que... da última vez que estive aqui, acho que quando estávamos, hum... você
sabe... estávamos tirando tudo às pressas, o meu colar deve ter...
— Você pode ir direto ao ponto, Penny?
Eu estava rapidamente ficando impaciente. Penny acenou com a cabeça, colocando a mão em seu pescoço delicado.
Pensei em como ela me disse para estrangulá-la da última vez...
Pare com isso, Xavier, minha voz interior avisou novamente. Mantenha o controle.
— Meu colar, — explicou Penny. — Eu perdi ele aqui.
— Então? Pegue outro. Vou te dar um cheque.
O rosto de Penny corou um pouco quando ela olhou para o lado, horrorizada.
— Eu não sou uma prostituta, Xavier. Eu não quero seu dinheiro. Vim aqui porque gosto mesmo de você.
Suspirei. A desgraçada estava tentando me fazer sentir culpado e estava funcionando.
— Ok, ok, — eu disse, tentando parecer. — O que ele tem de tão especial? Não podemos simplesmente substituí-lo?
Ela balançou a cabeça. — Tem um pingente com minhas iniciais. É insubstituível. Um de cada tipo.
— Não me diga que... É do seu ex, não é?
Seu silêncio me disse tudo que eu precisava saber.
— Droga, Penny, é melhor que você perca de vez essa coisa então.
Agora vá para casa e...
— Por favor, — ela interrompeu, sua voz baixa. — Eu só... eu preciso dele, tá bom?
Ela se recusou a encontrar meus olhos, e eu poderia dizer que ela estava lutando contra as lágrimas. Eu esfreguei minha
nuca, com o silêncio constrangedor se estendendo entre nós.
Meu Deus, eu odiava essa merda.
Por que ela ainda estava presa a um idiota abusivo estava além de mim. Eu nem conhecia o cara e pensar nele fez meu
sangue ferver.
Espere... Por que eu estava me importando com isso?
— Tudo bem, tudo bem, — eu disse, dando um passo para o lado. —
Vamos dar uma olhada.
Estávamos revistando meu quarto, mas achamos o colar? Não. Então continuamos nossa busca. A certa altura, olhei
para Penny, curvada, olhando embaixo da cama...
Senti uma vontade repentina de pular em cima dela, de tomá-la por trás, de torná-la minha novamente.
Droga, cara! Eu claramente precisava transar, e o mais rápido possível, ou o problema só pioraria. Ela se virou e caiu
contra a parede, parecendo agitada.
— Não consigo encontrar em lugar nenhum, — Penny gemeu. — Onde está, Xavier?
— Não sei.
— Mas eu tenho que encontrá-lo. Você não entende!
De repente, Penny parecia desesperada. Quando perco algo importante também fico chateado, mas por que o pânico?
Normalmente, minha paciência já teria se esgotado, e eu a teria chutado para fora da minha casa. Mas talvez a bondade
de Angela tenha tido um impacto sobre mim ou algo assim, porque, em vez disso, me sentei ao lado de Penny.
— Você pode me dizer, você sabe, — eu disse sem jeito. — Porque isso... é importante para você.
Penny me olhou estranhamente, quase como se ela não pudesse me reconhecer, mas então ela começou.
— Você se lembra do meu namorado, certo?
Eu concordei. Nunca fui um grande ã dele, mas trabalhamos juntos e tínhamos que manter o relacionamento cordial.
Quando Penny finalmente criou coragem e terminou com ele... bem, eu estava lá.
Não de uma forma romântica e emocional.
Apenas para o sexo.
Felizmente, o idiota do ex de Penny morava principalmente em Paris, então eu não precisava ver sua cara feia com
frequência.
— Ele está vindo para Nova Iorque na próxima semana, — Penny continuou.
— E... eu meio que concordei em vê-lo novamente.
Eu a encarei como se de repente nela tivesse crescido uma segunda
cabeça.
— Você é idiota?
— Talvez...
Ela nem estava negando.
— Olha, eu não sei todos os detalhes e não me importo o suficiente para ouvi-los, mas ele era abusivo, certo? Foi por
isso que você terminou com ele!
— Ele diz que mudou...
— Não me venha com essa merda, Penny. Você sabe tão bem quanto eu que ele está mentindo descaradamente.
— Você não o conhece como eu. — Sua voz começou a aumentar, e eu não sabia se ela estava tentando me convencer
ou a si mesma. — Eu posso mudá-lo. Eu posso ajudá-lo com seus problemas.
Por que ela estava sendo tão teimosa?
Por que ela não conseguia ver o óbvio?
Por que isso me deixou tão furioso?
— Eu conheço o tipo dele, — eu soltei. — Ele é manipulador, sem coração e, assim que conseguir o que quer de você,
ele a jogará no lixo.
As lágrimas escorreram pelo rosto de Penny.
— Tipo como você?
Suas palavras foram como um tapa na cara — uma chuva fria de realidade bem sobre minha cabeça quente.
— Você trata sua esposa como todas as outras mulheres em sua vida?
— ela perguntou.
Era isso então.
A razão pela qual suas palavras me atingiram com tanta força. Por que vê-la tão chateada com seu ex me irritou
imediatamente.
Era como se olhar no espelho.
Angela era como Penny.
E eu era como o ex-namorado idiota da Penny.
Eu não aguentava mais um segundo.
— Você precisa ir, — eu disse em voz baixa.
Penny nem mesmo discutiu. Ela se levantou, cabisbaixa. Ela parecia tentar desaparecer em seu suéter enorme.
— Eu pensei que você tivesse mudado, Xavier, — ela disse calmamente. — Eu pensei que talvez houvesse alguma
bondade em você, mas você ainda é o mesmo. Sem coração.
Então ela saiu pela porta, me deixando sem palavras.
Ela estava certa?
Eu era realmente tão frio?
Enquanto a seguia até o elevador, senti uma necessidade repentina e bizarra de me desculpar. Dizer apenas as palavras
— sinto muito — e pronto. Não pode ser tão ruim, não é?
Não, disse a mim mesmo. Ela é indigna de seu pedido de desculpas.
Deixe-a ir e continue com sua vida.
Mas quando Penny estava prestes a apertar o botão para chamar o elevador, as portas se abriram. Parada do outro lado
estava...
NÃO!!!!
Angela
Eu me senti positivamente tonta enquanto voltava para casa depois de ver Lucas. Eu não conseguia acreditar que meu
irmão realmente proporia casamento a minha melhor amiga.
Fazia um dia que ele havia me contado a notícia, e decidi passar a noite em Heller para ajudá-lo a deixar tudo pronto.
Agora, eu estava voltando para a cobertura de Xavier, mas tudo que eu conseguia pensar era em Lucas e Em.
Foi estranho me acostumar com os dois como um casal. Mas agora que eu sabia que eles estavam levando muito a sério,
e tão sério que possivelmente se casariam, parecia que toda a estranheza tinha valido a pena.
Minha melhor amiga estava prestes a se tornar minha cunhada.
Claro, eu tinha dado uma bronca em Lucas sobre como se comunicar corretamente para que ele pudesse acertar as
coisas com Em primeiro.
Mas então nós nos divertimos muito comprando o anel. Eu sabia exatamente o que minha amiga gostaria. Como florista,
ela tinha uma obsessão específica por todas as coisas terrenas e refeitas.
Em vez de ir a uma joalheria típica, levei Lucas a um lugar famoso por seus diamantes sem conflito e joias refeitas. Havia
peças antigas impressionantes que as mulheres usaram por centenas de anos antes de serem remodeladas em algo
moderno e deslumbrante.
Esse tipo de história era algo que eu sabia que Em apreciaria. Quando Lucas bateu no meu ombro e disse: — O que você
acha deste? — Eu senti minha respiração parar.
Foi o anel mais lindo que eu já vi.
Uma delicada faixa de prata entrelaçada com um rubi rosa no centro, circundado por minúsculos diamantes. Parecia
algo de um sonho.
Como algo feito para Em.
Meus olhos brilharam com lágrimas enquanto sorria para meu irmão.
— É perfeito, Lucas. Ela vai adorar.
Depois que ele comprou e discutimos a maneira como ele proporia, eu corri para casa, sentindo uma mistura de alegria
e inveja.
Eu nunca teria um momento como Em estava prestes a experimentar, o momento em que o amor da sua vida se ajoelha
e pede que você passe a vida com ele.
Não, minhas memórias eram de um acordo de vida ou morte que fui forçada a fazer com o pai do meu marido.
Sim, Xavier tinha sido mais doce ultimamente, mas eu ainda não estava convencida de que ele havia mudado
totalmente. Eu também sabia que nunca seríamos capazes de retroceder o relógio para que pudéssemos ter um dia de
casamento adequado.
Então, novamente... talvez eu estivesse subestimando Xavier. Talvez um casamento de verdade, um amor verdadeiro
entre nós, ainda estivesse na mesa.
Depois de ver esse milagre acontecer entre Em e Lucas, tudo parecia possível.
Quando finalmente saí do táxi e entrei no prédio, senti que estava prestes a explodir de positividade e entusiasmo pelo
futuro.
Entrei no elevador, esperando pacientemente enquanto ele me levava para o último andar. Com uma campainha, as
portas se abriram e eu entrei no meu apartamento, apenas para parar, congelada.
De pé na minha frente estava outra mulher, com as bochechas molhadas de lágrimas. Ela parecia adorável, linda e
melhor do que eu em todos os sentidos.
E atrás dela estava Xavier.
Parecia que eu tinha acabado de pegar meu marido traidor em flagrante. Novamente.
E tudo dentro de mim, todos aqueles pensamentos otimistas e arrepios de excitação, desapareceram tão rapidamente
quanto vieram.

Capítulo 14 Mudança de coração


Xavier
— Angela, não é o que parece!
Mesmo quando as palavras saíram da minha boca, eu sabia o quão clichê e ridículo elas soavam, mas não pude evitar.
Ela estava olhando para Penny e… MERDA! CARALHO! — ela ia pensar que eu estava transando com alguém de novo.
Depois de todo o progresso que estávamos fazendo ultimamente, essa era a última coisa de que eu precisava. Pela
primeira vez, eu não a estava traindo ativamente. Sinceramente, estava apenas tentando ser legal e foi isso que recebi
em troca.
Porra, nenhuma boa ação fica impune, eu acho.
Eu queria xingar Penny, chamá-la de vadia inútil. Ela estava tornando minha vida tão complicada, e para quê?
Por um pingente que seu ex-namorado deu a ela? Quem se importa!
Antes que eu pudesse gritar com Penny ou tentar me desculpar, algo ainda mais surpreendente aconteceu.
Penny segurou a mão de Angela.
— É verdade, — ela disse. — Meu nome é Penny. Eu estava aqui procurando por algo. Nós não estávamos...
Os olhos de Angela se arregalaram. Por um segundo, uma emoção varreu seu rosto. Quase parecia alívio. Então ela se
importava!
— Não é da minha conta, de qualquer maneira, — ela disse humildemente. — Vocês dois podem fazer o que quiserem,
de verdade.
— Não, tente entender, — disse Penny. — Xavier e eu... costumávamos ser próximos. Mas não mais. Nós terminamos.
Ele se preocupa muito mais com você do que comigo.
Os olhos de Angela se voltaram para os meus. Não consegui ler a expressão, mas senti minha respiração ficar presa na
garganta. Como se este fosse um momento decisivo. Se ela acreditasse em Penny...
Ainda tínhamos uma chance.
Eu ainda poderia conquistá-la.
Eu ainda poderia mostrar a Angela que eu mudei.
Mas se ela não acreditasse em Penny...
Penny se virou e olhou para mim, e mesmo que ela ainda parecesse magoada com o quão cruel eu fui com ela, ela deve
ter lido minha expressão, porque sorriu gentilmente.
— Xavier... ele estava realmente apenas tentando ser legal. Para me ajudar a encontrar algo que deixei aqui.
Não pude acreditar em sua gentileza, sua bondade.
Ela sempre foi legal, mas eu nunca a tinha visto como algo mais do que a linda estudante de administração que era boa
na cama. Mas claramente havia uma pessoa real ali.
Uma pessoa com quem eu tinha sido desnecessariamente horrível.
Assim como com Angela antes dela...
— O que você deixou? — Angela perguntou com uma carranca.
— Um colar. Um pingente de... de alguém muito especial para mim.
Tem minhas iniciais nele. PS Angela parecia ainda mais surpresa agora. Suas bochechas se encheram de cor.
— Eu sei onde está, Penny. Um segundo.
Angela entrou na cobertura, passando por nós dois e caminhou pelo corredor, nos deixando sozinhos. Eu me virei para
Penny, me sentindo envergonhado.
— Você não precisava fazer isso, — eu disse. — Para me defender.
— Eu não fiz isso por você, Xavier, — ela disse. — Eu fiz isso por ela.
Ela claramente se preocupa muito com você. Eu podia ver nos olhos dela.
— Penny, me...
Eu queria me desculpar, mas minha boca simplesmente não conseguia formular as palavras. Eu balancei minha cabeça,
enojado comigo mesmo.
— Eu não deveria ter gritado com você. Liguei para você... Não sei o que há de errado comigo.
O olhar de Penny se suavizou. Ela deu um passo em minha direção.
— Eu sei, Xavier. Eu sei que você ainda está com raiva. Com raiva do mundo, de todos. Com você também, eu acho.
Mas... pela primeira vez, posso sentir outra coisa.
— O quê? — Eu perguntei. Eu não tinha ideia do que Penny estava falando.
Ela sorriu.
— Não é óbvio? Amor, Xavier.
Eu? Apaixonado por... Angela? Isso parecia um exagero. Claro, eu estava desenvolvendo sentimentos, mas não havia
necessidade de soltar essa bomba. Antes que eu pudesse me defender, Penny colocou a mão no meu ombro, me
interrompendo.
— Você não precisa explicar. É óbvio. Na maneira como você olha para ela. A maneira como você está tentando, embora
nem sempre conseguindo, ser mais decente. Se você pode ver ou não, Xavier, não sei, mas eu posso. Você está
apaixonado.
Penny estava certa? Era essa a sensação estranha e desconfortável?
Não parecia com nada que eu havia sentido antes. Com Claudia, minha ex, tinha sido uma fonte jorrando felicidade
seguida pela tristeza mais profunda que eu já conheci.
Eram esses altos e baixos loucos que imaginava ser normal. Era como eu pensei que o amor deveria ser.
Mas com Angela... foi uma chama lenta, impulsionada pela confusão e mal-entendidos, e então um desenvolvimento
silencioso de confiança, pra depois...
Eu não sabia dar nome a isso.
— Xavier, — Penny disse, me puxando de volta para o planeta Terra, — não lute contra isso. A mudança. Posso ver que a
Angela revela o que há de melhor em você. Tente ceder, ok?
Eu deveria concordar com Penny? Desde quando alguma garota com quem eu transava tinha o direito de me dizer como
devo conduzir minha vida?
Desde quando ela se tornou uma expert no assunto?
Mas era como se meu corpo estivesse se movendo contra minha própria mente, porque de repente eu estava
confirmando com a cabeça.
Ela sorriu, enxugando uma lágrima de seus olhos enquanto passos ressoavam atrás de nós. Eu me virei para ver que
Angela havia retornado, com um colar na mão.
— É isso, Penny? — ela perguntou docemente, entregando-o. — Eu o encontrei no meu quarto outro dia. Lucille deve
ter pensado que era meu. — Penny olhou para ele, girando-o de forma que as iniciais gravadas ficassem visíveis. Então
ela o segurou contra o peito, parecendo muito grata.
— É isso. Muito obrigado, Angela.
— Claro. Posso perguntar... o que isso significa para você?
Os olhos de Penny se voltaram para mim e depois de volta para Angela.
— É de alguém com quem me importo muito. Algo que tenho certeza de que você pode entender.
As bochechas de Angela coraram, mas ela acenou com a cabeça.
— Obrigado novamente. Muito. E boa sorte com tudo.
Então, com isso, Penny se virou e saiu pela porta, deixando nós dois sem palavras. Por um segundo, olhei para Angela,
me perguntando se eu devia a ela mais alguma explicação.
Mas ela se virou para mim.
— Bem, isso foi meio estranho.
Eu ri.
— Foi.
— Vejo você no jantar? Eu esperava dar uma corrida.
— Claro.
Ela acenou com a cabeça e se dirigiu para seu quarto. Eu me perguntei se ela precisava correr apenas para se afastar de
mim, mas decidi não pensar demais.
Antes que eu pudesse me conter, gritei o nome dela.
— Angela!
Ela se virou, surpresa.
— Sim?
— Estou... uh... contando os minutos até o jantar.
Que porra é essa? Isso foi o melhor que eu poderia fazer? Eu costumava ser tão bom. O que aconteceu com o Knight
Xavier que deixava as garotas com as pernas tremendo?
Mas Angela sorriu.
— O mesmo aqui, Xavier.
Então ela saiu e percebi que estava prendendo a respiração.
Em: Não sei o que você disse ao Lucas.
Em: Mas MUITO obrigada, Angie.
Em: Ele voltou a ser ele mesmo!!!
Angela: De nada, Em.
Angela: Eu sabia que tudo daria certo.
Em: Como estão as coisas com o Xavier?
Angela: Hum...
Angela: Bom, eu acho.
Angela: Não tenho certeza.
Angela: É confuso.
Em: Bem
Em: Estou aqui se precisar conversar sobre isso, ok?
Angela: Obrigada.
Angela
Era tão difícil manter segredos de Em. Claro que estava feliz que meu irmão estava sendo gentil com ela novamente,
mas eu gostaria que ela soubesse o que eu fiz...
Que ele estava prestes a propor em casamento!
E então, eu sabia que provavelmente poderia contar a ela tudo sobre o estranho incidente com Penny e Xavier, mas
parecia muito para mandar por mensagem. E ela provavelmente interpretaria mal. E… deixa pra lá.
A corrida ajudou a clarear minha cabeça, de modo que, quando nos sentamos para jantar, eu fui capaz de relembrar o
dia com alguma clareza e novas percepções.
Estávamos comendo em silêncio, alguma música espanhola tocando ao fundo, quando decidi fazer uma pergunta a
Xavier.
— Então, — comecei, — você está nervoso?
— Sobre hoje? Como você disse, foi estranho, mas...
— Não sobre hoje, — eu disse, rindo levemente. — Sobre este fim de semana. O Jubileu de Prata finalmente chegou!
— Oh, merda, você tem razão.
Nós dois rimos, percebendo que não éramos páreo para o que viria.
— Não vamos ganhar de jeito nenhum, não é? — Xavier perguntou.
Eu fiz uma careta, fingindo estar ofendida.
— Talvez seja assim que você se sinta, mas eu sou uma Knight, e os Knight ganham competições, não é?
O sorriso de Xavier se alargou.
— Eu gosto quando você fala assim.
— Como o quê?
— Como uma capitalista. É sexy.
Eu corei. Tudo tem que ser sobre sexo com esse cara?
— No entanto, já faz um tempo desde o nosso último treino, — eu disse, mudando de assunto. — Espero me lembrar de
todas as etapas.
— Bem, — ele disse com um encolher de ombros, baixando o garfo e a faca, — por que não praticamos agora?
— Você quer dizer aqui?
— Por que não! O apartamento é grande o suficiente para parecer uma pista de dança, não é?
Baixei meus talheres, sorrindo e aceitando o desafio.
— Tudo bem, — eu disse. — Vamos lá.
Nós nos movemos no ritmo da batida no meio do apartamento, com nossos pés descalços deslizando pelo chão de
madeira. Nossas mãos se tocaram delicadamente, tomando cuidado para não segurar muito forte para que pudéssemos
completar nossos movimentos facilmente.
Eu me peguei curtindo a dança pela primeira vez. O ritmo do bolero em um espaço tão confortável e familiar como este
apartamento parecia íntimo agora.
— Eu não acho que precisávamos praticar, Angela, — disse Xavier entre as voltas. — Somos mestres já.
— Vai dar azar, Xavier! — Eu o repreendi de brincadeira.
Ele me puxou para trás, continuando.
— Só estou dizendo que, mesmo que não ganhemos, somos bons nisso.
— Você acha?
— Eu sei que sim.
Eu sorri. Nunca me senti tão segura nos braços de alguém antes. Eu queria que a música continuasse indefinidamente.
Para nos dar uma desculpa por estarmos tão perto.
Mas é claro, como sempre, acabou.
— Sr. Knight, — eu disse, balançando a cabeça e fazendo um cumprimento cordial.
— Sra. Knight, — ele respondeu com uma reverência.
Então, nós dois nos viramos e seguimos nossos caminhos separados.
Eu senti minha nuca formigar... como se os olhos de alguém estivessem em mim. E quando me virei, peguei Xavier
olhando para mim. Ele rapidamente se virou e entrou em um corredor.
Eu ri, divertida e um pouco chocada pela descrença. Xavier estava agindo como um garoto de colegial apaixonado, e isso
era adorável.
Quando voltei para o meu quarto, porém, notei uma enxurrada de novas mensagens na minha tela. A princípio, pensei
que fosse Em.
Mas quando vi quem era o remetente, meu sorriso se evaporou instantaneamente.
Número desconhecido: Olá de novo, linda senhora.
Número desconhecido:já faz muito tempo...
Angela: Quem é?!
Angela: Sr. Lemor???
Número desconhecido: Errado!
Número desconhecido: Tente novamente, doce Angela.
Angela: Eu disse para você me deixar em paz!!!!
Angela: O QUE VOCÊ QUER?!
Número desconhecido: Você, é claro.
Número desconhecido: Eu quero você.
Número desconhecido: Eu terei você.
Angela: NÃO
Ê
Angela: VOCÊ NÃO VAI!
Número desconhecido: Você nunca aprende?
Número desconhecido: Ninguém me diz não...

Capítulo 15 O Jubileu de Prata

Angela
Luzes piscaram. Multidões gritaram. Sorrisos deslumbrados.
Estávamos no meio de um tapete vermelho para o Jubileu de Prata e eu mal conseguia ver direito. Havia tantos flashes
quanto membros da imprensa aqui.
Para onde quer que me virasse, alguém gritava comigo.
— Sra. Knight! Quem desenhou esse vestido?!
— Sra. Knight! Você pode posar com seu marido?!
— Sra. Knight! O que você tem a dizer aos seus ãs?!
Fãs? Desde quando eu tenho ãs? Xavier estava sorrindo e acenando, claramente acostumado com isso, vestido com um
smoking elegante. Eu, entretanto, usava um vestido de cocktail de chiffon com um glamoroso detalhe dourado, que eu
sabia que brilharia na pista de dança.
Mesmo que Xavier insistisse que eu parecia vestir — um milhão de dólares, — eu me sentia deslocada e extremamente
nervosa. Não era só porque eu estava prestes a dançar na frente de uma multidão enorme de pessoas importantes.
Foi por causa daqueles textos estranhos que eu recebi. Eu não tinha pensado em quem poderia estar tentando mexer
comigo por um tempo.
A última vez que recebi uma mensagem como essa foi depois do último ensaio em casa para o baile.
Achei que poderia ser o que Dustin havia dito. — Apenas palavras.
Agora eu não tinha tanta certeza. Parecia haver uma ameaça oculta nas palavras, uma promessa de que algo terrível
estava para acontecer. Eu não conseguia tirar a última frase da minha cabeça.
— Ninguém me diz não...
Ele, quem quer que fosse, havia dito isso da última vez também. Foi tão assustador. As ameaças permearam meu ser,
fazendo-me sentir como se minhas mãos fossem de gelo e minhas pernas de gelatina.
Como eu poderia dançar de forma coordenada esta noite depois de receber mensagens como essa?
— Ei, — eu ouvi uma voz rouca sussurrar ao meu lado. — Você está bem?
Virei-me para ver Xavier, parecendo preocupado. Acho que não estava escondendo meu nervosismo muito bem. Tentei
fingir um sorriso.
— Tudo bem, — eu disse. — Devíamos sorrir para uma foto, certo?
— Angela, se você não quiser, não precisamos. Já temos tarefas demais esta noite.
Ele estava sendo tão legal, tão apoiador. Eu mal podia acreditar que este era o mesmo Xavier que uma vez me chamou
de puta oportunista, entre outras coisas.
— Você tem certeza? — Eu perguntei. — Parece que é o que se espera de nós.
— Vamos.
Xavier pegou minha mão e me levou para dentro do enorme salão de baile sem dizer qualquer palavra. Fiquei
extremamente grata por estar longe das câmeras.
Mas agora havia novos obstáculos para enfrentar. Os ricos convidados do Jubileu de Prata, que incluía membros da
Knight Enterprises e outros empresários importantes.
Xavier tentou escapar da maioria das cordialidades e nos levar o mais rápido possível aos nossos lugares, mas alguma
conversa fiada foi necessária. Quando chegamos à nossa mesa, eu estava sem fôlego.
— Aqui, sente-se, — ele disse. — Vou pegar um pouco de água para nós.
— Quando começa a competição? — Eu perguntei.
Eu só queria acabar com isso logo. Ele colocou a mão no meu ombro nu. A sensação de sua pele áspera na minha me fez
estremecer de excitação.
— Assim que todos estiverem dentro, Angela. Não se preocupe. Está no papo.
Nós conseguimos.
Eu queria gravar essas palavras em meu cérebro. Elas eram tão casuais e reconfortantes, exatamente o que eu
precisava. Com isso, Xavier se virou para nos encontrar um pouco de água.
Eu sorri um pouco, tentando deixar aquelas mensagens assustadoras para trás. Eu tinha um novo mantra para
preencher esse espaço.
Nós conseguimos, pensei.
Isso mesmo...
— Por favor, seja bem-vindo ao palco... Sr. e Sra. Knight!
A multidão aplaudiu descontroladamente quando Xavier e eu nos levantamos e nos aproximamos da pista de dança. Eu
podia me sentir suando de ansiedade. Eu estava tanto assustada quanto animada.
Finalmente, quando chegamos ao meio da pista de dança, os aplausos cessaram e tudo ficou quieto, Xavier me puxou
para perto e sussurrou em meu ouvido.
— É só você e eu, Angela. Ninguém mais importa. Não agora. OK?
Aqueles olhos escuros nunca pareceram tão cheios de luz. Eu quase engasguei. Ele era tão lindo. Eu sei, é estranho
chamar um homem de belo, mas foi assim que Xavier apareceu naquele momento.
Como uma espécie de deus grego, elevando-se acima de mim, oferecendo-me sua mão perfeitamente esculpida.
Oferecia para mim, um nada, um ninguém, uma camponesa.
Ele queria me levantar, mostrar ao mundo que eu era dele, que, naquele momento, éramos tudo o que importava. E eu
queria dizer sim a tudo.
O bolero começou, o violão espanhol dedilhada suavemente, fazendo-nos balançar e deslizar em torno um do outro
como uma imagem no espelho...
Vagamente, eu podia sentir centenas de olhos nos seguindo, mas havia apenas dois olhos que me deixaram em transe. E
esses eram de Xavier.
A intensidade daquele olhar era diferente de tudo que eu já tinha visto. Enquanto ele me girava, eu podia sentir a força
de seus músculos fortes me impulsionando. Quando ele me puxou para perto, senti seu hálito quente contra minha
bochecha pálida.
Cada movimento seu era dominante e poderoso. E, ainda assim, nós circulamos em perfeita sincronia, nossa dança era
mais do que uma dança.
Era uma conversa que estávamos tendo desde o primeiro momento em que nos conhecemos, o momento em que ele
me xingou. Foi, ao mesmo tempo, assustador e seguro. Zangado e calmo. Sexy e doce.
Eram todos os opostos do mundo reunidos em um.
Enquanto ele me levantava no ar, com as mãos em volta da minha cintura, percebi que muito dessa dança parecia
exatamente como o sonho que eu tive com Xavier.
Os holofotes.
A sensação de que estávamos totalmente sozinhos.
A música sensual.
Só faltou a cama de almofadas e, quanto ao que se seguiu, nem acreditei que fui até lá no meio desta dança. Não parava
de pensar nisso.
O sonho sexual.
Mas eu podia ver nos olhos vorazes de Xavier. Ele estava sentindo o mesmo. A tensão sexual, a necessidade de
liberação.
Mas eu não poderia dar a ele, não é? Para Xavier Knight? Depois de tudo que ele fez comigo?
Eu poderia realmente fingir que estava tudo bem, que nosso casamento era um casamento normal e que agora era
esperado que fizéssemos sexo? Quando a dança terminasse, quem seria Xavier e eu?
A última etapa, a pose final. Em seguida, a sala estava de pé, cobrindonos de aplausos. Eu olhei para Xavier, sorrindo,
seus olhos brilhando, e eu sabia que não aguentaria.
Assim que saímos da pista de dança, não parei na mesa. Fui direto para as portas e corri do salão de baile para a noite o
mais rápido que meus pés conseguiram.
Estava nevando — a primeira neve do ano — e eu não tinha casaco, mas não me importei.
Eu precisava fugir.
Dele.
De mim.
De tudo.

Xavier
— Angela! ANGELA! ESPERA!
Eu estava correndo atrás dela o mais rápido que pude. Estava frio e ela não usava nada além de um vestido de festa,
pelo amor de Deus! Para onde ela estava indo?!
— Angela, por favor!
Eu finalmente consegui alcançá-la no meio de uma faixa de pedestres.
Eu agarrei seu braço antes que ela pudesse chegar ao outro lado da rua.
De cada lado de nós, carros passavam ruidosamente, aumentando a intensidade do momento.
— O que está acontecendo? — Eu perguntei a ela. — Angela, olhe para mim!
Tentei colocar meu casaco nela, mas ela resistiu, me afastando. Por um segundo, pensei que ela estava prestes a entrar
no trânsito e tive que agarrar seus ombros com força.
— Angela, PARE!
Ela finalmente parou e olhou para mim, e eu percebi que havia lágrimas naqueles olhos grandes e lindos.
— O que aconteceu? — Eu perguntei.
— Tudo, Xavier! — ela exclamou. — É tudo. Tudo o que somos. Tudo que não somos. Eu não consigo mais manter isso
direito. Eu sinto que estou enlouquecendo.
— Eu sei que foram uns meses confusos, mas…
— Confusos? Não consigo nem me reconhecer mais no espelho, Xavier!
Eu nunca a tinha ouvido levantar a voz assim. Suas bochechas estavam vermelhas, seu rímel escorrendo. O frio intenso a
fazia tremer.
— Vamos entrar, — eu disse, vendo o homenzinho na faixa de pedestres brilhar em verde. — Podemos conversar sobre
tudo.
— Não, — ela disse, resistindo. — Não quero mais falar. Eu quero saber. O que nós somos? O que isso significa para
você, Xavier? De verdade?
Eu respirei fundo. Por um tempo, eu sabia que precisava me confessar a Angela, mas tive muito medo de começar.
Agora, no meio da cidade de Nova Iorque, quando a neve começou a cair, eu sabia que não havia jeito.
Já era hora.
— Angela, eu sei por que você se casou comigo, — comecei. — Meu pai me contou tudo. Sobre as contas médicas do
seu pai. Sobre o acordo.
Eu... — E finalmente, eu disse a palavra que nunca havia dito antes, a única palavra certa para este momento.
— Eu sinto muito. Sinto muito, Angela. Por tudo. Pelas coisas que te chamei. Pela maneira como te tratei. Se eu
soubesse o tempo todo que não se tratava de dinheiro, que era um ato altruísta...
Meus olhos ardiam. Eu podia sentir as lágrimas que queriam fluir.
Mas não, porra — eu não permitiria. Eu ainda tinha muito a dizer.
Angela me observou com os olhos arregalados.
— Eu não posso me perdoar por quão horrível eu fui com você, Angela. Depois de tudo que você fez por mim. Depois
que você salvou minha vida. Eu entendo se você quiser terminar o casamento.
— Xavier, eu não posso... — Ela tentou falar. — Brad e eu tínhamos um acordo.
— Dane-se o acordo. Se você quer ser livre, deveria ser, Angela. Você merece isso. Eu mesmo vou rasgar o acordo!
Mas...
E agora eu olhei para baixo. Se eu continuasse olhando para aqueles olhos puros e perfeitos, eu sabia que eu quebraria.
Quebraria em mil pedaços. E perderia o controle.
— Vou deixar você ir se for preciso, Angela, mas você deve saber que é a última coisa que quero. Eu... eu quero que você
fique, Angela. Fique.
Eu não sabia o que Angela estava prestes a dizer, mas sabia que quaisquer que fossem as próximas palavras que saíssem
de sua boca, elas mudariam tudo...
— O que você quer, Angela? — Eu perguntei. — Você fica?

Capítulo 16 Começar de Novo

Angela
— O que você quer, Angela?
O que eu quero?
Em tinha me feito a mesma pergunta apenas algumas semanas atrás.
Meus lábios se separaram em resposta, mas descobri, novamente, que não conseguia formar as palavras.
A resposta não era tão simples.
Não era uma questão do tipo vestido vermelho ou azul. Sushi ou macarrão. Isso era felicidade e amor. Tristeza e morte.
Era minha vida. O futuro da minha família.
Quando minha mente começou a girar com pensamentos e memórias, fechei os olhos, incapaz de me concentrar com o
peso do olhar perscrutador de Xavier em mim.
Não era o suficiente que Xavier estivesse dormindo com outra mulher no dia em que se casou comigo. Não, ele tinha
que pegar uma mulher que eu conhecia, uma mulher com quem passei um tempo naquele dia. Uma mulher que sabia
como eram meus poros de perto. Era como se ele estivesse propositalmente tentando me machucar, me punir por ter
me casado com ele.
— Limpe, — ele disse.
O quê?
— Como é que é?
— Você me ouviu. Você quer causar problemas na minha vida, convidando meu próprio pai sem me dar nenhum aviso
prévio, então eu devolvo para você. Esta é uma bagunça que fiz. Você limpa.
— Ei, — ele disse, mais suavemente, como se estivesse tentando flertar. Como se eu fosse outra garota. — Você é minha
esposa, sabia disso?
— Eu sei, Xavier.
— Portanto, não se afaste de mim. — Ele estava tão perto de mim que eu podia contar seus cílios.
— Ok, — eu disse. Eu tentei me desvencilhar de suas mãos, mas ele me segurou com força.
— Sabe, as esposas devem fazer coisas para seus maridos. Para serem esposas de verdade, — ele disse, com um odor de
álcool saindo dele.
— ... o amor é paciente...
— ... puta oportunista...
— ... o amor é gentil...
— ... eu te odeio pra caralho...
— ... o amor nunca falha...
— ... o que eu quero é arruinar você...
— Não, — eu finalmente disse, me surpreendendo.
Com os olhos abertos, me forcei a não vacilar enquanto observava a expressão de Xavier cair.
— E-eu não estou pronta para ficar, para continuar casada com você.
Xavier engoliu em seco.
— Eu entendo. Eu...
— Mas — Eu levantei meu dedo — Eu gostaria de começar de novo.
Se estiver tudo bem?
Eu ouvi o ar whoosh saindo dos pulmões de Xavier como se ele tivesse levado um soco no estômago. Um sorriso
radiante se espalhou por seus lábios.
— Eu não gostaria de mais nada.
Ele me envolveu em seus braços, de repente me abraçando.
— Nesse caso — seu hálito doce soprou em minhas bochechas — Eu gostaria de convidar você para sair. Na próxima
sexta, talvez? Eu conheço uma pizzaria bonitinha...
Incapaz de me conter, eu ri.
— Isso parece maravilhoso.
— Angela, eu... — Xavier parou, lambeu os lábios e me apertou mais antes de recuar. — Vamos entrar. Está congelando.
E eles estão prestes a anunciar os vencedores.
Com os braços em volta dos meus ombros, deixei Xavier me levar de volta para o outro lado da rua e para o salão de
banquetes.
Apesar da neve caindo nas ruas, eu me sentia aquecida. Brilhante. Era como se estivesse andando nas nuvens.
Se havia uma coisa que eu sabia, era que você sempre precisava pesar o que era bom e o que era ruim. Desde que
conheci Xavier, minha vida teve seus altos e baixos, mas não havia dúvidas em minha mente de que o bem superava em
muito o mal.
Especialmente depois que voltamos da ilha.
Era como se meu marido tivesse se tornado uma nova pessoa. Não
seria justo usar tudo o que ele disse no passado contra ele.
— Chegou o momento que todos esperávamos, — falou o locutor enquanto Xavier e eu nos dirigíamos ao centro da
pista e ocupávamos É nosso lugar entre os outros participantes. — É hora de anunciar os vencedores. Primeiro, em
terceiro lugar...
Aplausos educados atravessaram o ar.
— Em segundo lugar...
Eu não conseguia me concentrar nas palavras que o locutor estava dizendo. De qualquer maneira, não importava se
ganhamos ou não. Eu já tinha ganhado um prêmio melhor do que poderia esperar esta noite.
Seria ganancioso esperar algo mais.
Em vez disso, deixei minha alegria irradiar através de mim, senti minha pele formigar quando minha mão tocou a de
Xavier, e minhas bochechas queimaram de tanto sorrir.
Houve um estrondo e o estouro do champanhe quando os vencedores do segundo e primeiro lugar foram anunciados.
Glitter e confete tomaram o ambiente. Balões caíram do teto.
Xavier praguejou ao meu lado, e então fui levantada, girando no ar.
Eu ouvi suas palavras sem fôlego enquanto seus lábios roçavam meu ouvido, — Eu não posso acreditar.
Então, eu estava em um pódio e um enorme ramo de flores foi colocado em meus braços enquanto a multidão aplaudia.
— Parabéns, meus filhos, — disse Brad, aparecendo abaixo de nós. Ele me ajudou a descer do degrau e esmagou o
buquê de rosas brancas entre nós enquanto me abraçava.
— Muito obrigado, Sr. Knight! Não posso acreditar que ganhamos. —
Lágrimas de alegria encheram meus olhos.
Brad sorriu.
— Você dançou lindamente! Estou orgulhoso de você. — Seus olhos brilharam para encontrar os de seu filho. — De
vocês dois. Agora, vamos pegar algumas bebidas. A noite ainda é uma criança!
Xavier me puxou através da multidão em direção ao bar. As luzes das câmeras e os sorrisos dos convidados não
pareciam tão malévolos agora.
Não, agora eu era invencível.
Eu rapidamente me desculpei, deixando Xavier fazer o pedido para nós enquanto eu deslizava para o banheiro. Depois
de dançar e chorar, eu sabia que devia estar uma bagunça.
Na pia do banheiro, joguei um pouco de água no rosto e apliquei novas camadas de rímel e batom. Então, decidindo
aproveitar o momento de calma, tirei meu celular da minha bolsa. Havia três mensagens de texto de Em.
Em: MDS! MDS! MDS!
Em: ANGIE!
Em: Lucas me PROPÔS EM CASAMENTO!
Eu não tinha certeza se era possível, mas parecia que meu sorriso ficou ainda maior. Rapidamente, digitei minha
resposta.
Angela: UHU! Parabéns!
Em: Você sabia?
Em: Como você me deixou reclamar semana passada!?
Angela: Eu sabia que tudo acabaria bem. Estou tão feliz por vocês dois!
Em: Você será minha dama de honra?
Angela: Claro! Você sabe que pode contar comigo sempre.
Fizemos planos de nos encontrar para começar a fazer os preparativos para o casamento e depois nos despedimos.
Era engraçado como a vida tinha um jeito de mudar as coisas.
Apenas algumas semanas atrás, eu não conseguia ver o lado positivo de nada. Agora era como se em todos os lugares
em que eu sintonizasse o mundo estivesse dourado com o mais brilhante e puro ouro.
Xavier
Ela disse sim.
Não conseguia me lembrar da última vez que estive tão feliz, da última vez que sorri tanto.
Angela concordou em namorar comigo, quis me dar uma segunda chance. Eu não merecia que um anjo tão perfeito
tivesse misericórdia de mim depois do ódio que destilei em Nova Iorque no ano passado.
Claro, não foi perfeito, mas foi muito mais do que eu merecia. Ela ainda era minha, e eu me certificaria de não
decepcioná-la novamente.
Subindo no pódio com Angela, aceitando nosso troféu de ouro, posso muito bem estar no topo do mundo.
Nada parecia tão bom — escalar o Everest, se tornar CEO, terminar uma maratona. Nem mesmo a porra do glitter que
caiu em meu terno de seda poderia me irritar.
Mais tarde, enquanto dirigíamos pela noite, com as luzes da cidade formando um caleidoscópio de cores no banco de
trás, deixei meus olhos vagarem sobre o anjo adormecido ao meu lado. Ela desmaiou no segundo em que o motor foi
ligado.
Sua melhor amiga e irmão estavam se casando, ela disse.
E ela seria a dama de honra.
Sim, ela disse.
Excitação demais, eu suponho.
— Devo ajudar a Srta. Knight a ir para o quarto dela, senhor? —
Marco perguntou baixinho quando paramos na frente do nosso prédio.
Ele desafivelou o cinto de segurança.
— Não, eu farei isso. Você pode ir para casa passar a noite.
Cuidadosamente, me levantei do carro e levantei Angela em meus braços. Com a cabeça pressionada contra minha
lapela, agradeci ao porteiro enquanto ele nos ajudava a atravessar o saguão e entrar no elevador. Mais e mais alto,
subimos até a cobertura.
Para nossa casa.
Deus, ela me derreteu como alguém apaixonado. Pior ainda, fiquei feliz com isso. Papai estava certo: Angela me tinha
nas mãos.
As portas do elevador se abriram e as luzes apagadas do corredor piscaram quando eu pisei no corredor, com minha
noiva em meus braços. Lá embaixo, o barulho e a vida da cidade zumbiam, distantes demais para nos perturbar.
Eu levei Angela para o quarto dela, embora eu tivesse pensado em levá-la para o meu. Ela não estava pronta para isso
ainda. Meus lençóis também não estavam limpos o suficiente.
Em vez disso, coloquei-a com cuidado em sua cama, ainda em seu vestido, tirei os Jimmy Choos de seus pés e a cobri
com uma colcha pendurada nas costas de uma poltrona próxima.
Quando o luar iluminou sua pele com um brilho iridescente, de repente eu senti que precisava correr, ou gritar, ou me
mover.
No entanto, essa não era a raiva costumeira que corria em minhas veias. Era algo que eu não sentia há muito tempo.
Algo melhor do que raiva — esperança.
Achei que não fosse possível. Depois de toda a dor e traição que experimentei no ano passado, eu tinha certeza de que
não era feito para amar. Eu tinha certeza de que o destino havia forjado um propósito diferente para mim, um de
conquista, retidão e poder.
Ninguém jamais teve sucesso por meio do amor, dizia a mim mesmo.
Era só um peso na vida. Apenas te atrapalharia. Era inútil.
Elon Musk e Oprah não precisavam de amor para dominar o mundo, nem eu.
Nas últimas semanas, tudo isso mudou.
Nada parecia mais importante do que isso. Do que ela.
Sentando na beira do colchão, afastei o cabelo dourado solto de sua testa.
— Que tipo de feitiço você colocou em mim?
Inclinei-me e pressionei o mais leve dos beijos em sua testa.
— Boa noite, meu anjo.
Capítulo 17 Sempre teremos Paris

Angela
Mergulhando no calor do café, sacudi meu guarda-chuva e o deixei pendurado no suporte ao lado da porta junto com
meu casaco úmido.
Em já estava na maior mesa, com xícaras de café e diversos materiais de casamento em sua parte superior. Ela ergueu os
olhos da revista de noivas que estava folheando enquanto eu deslizava para o banco ao lado dela.
— Você parece feliz.
Peguei uma revista.
— Estou muito animada por você.
— Eu não acredito, — Dustin zombou do outro lado da mesa. Ele tinha um raminho de flor na orelha e se abanava com
um punhado de amostras de tecido. — Acho que nossa pequena Rainha Dançante tem um segredo.
Eu examinei a cafeteria, tomando cuidado para me certificar de que estava vazia antes de revelar quaisquer detalhes. Eu
sabia muito bem como os boatos se espalham rapidamente e se transformam em notícias quando chegavam aos
ouvidos errados.
Pode não ser meu corpo nu desta vez, mas eu tinha certeza que se alguém soubesse que meu relacionamento com
Xavier estava em ruínas, eu veria no noticiário das seis.
— Xavier e eu estamos namorando.
— Oh. Olha só. Finalmente! — Dustin disse, batendo palmas. — Eu sabia que você cederia uma hora!
Minhas bochechas esquentaram e eu me senti encolhendo os ombros.
— Ele tem estado tão... diferente, ultimamente.
— Sim, desde que você viu seu...
— Em? — Interrompi antes que Dustin pudesse terminar a frase.
Minha amiga ficou de queixo caído com o meu anúncio, e um pouco da minha confiança também foi pra baixo.
Em fechou sua revista.
— Estou feliz por você. Realmente estou. Eu só... ele tem sido tão terrível com você, Angie. Você estava pronta para se
divorciar do homem há uma semana. Só não quero ver você se machucar.
Peguei sua mão, apertando seus dedos.
— Eu sei. Ele está diferente agora. Eu posso sentir isso.
Ela ofereceu um pequeno sorriso e acenou com a cabeça.
— Eu estou aqui, não importa o que aconteça. Sempre.
— Bem, eu, por exemplo, estou muito feliz. — Dustin deixou seus antebraços caírem sobre a mesa, suas palmas batendo
contra a madeira como se para acentuar seu ponto.
— Eu não estaria aqui se não fosse por vocês dois. Você e seu, às vezes marido, são os motivos pelos quais minha
carreira decolou. Quem sabe onde eu estaria se você não tivesse me ajudado com minha primeira exposição?
Ele acenou com a mão no ar. Poderia ter sido tão dramático quanto pretendia se não estivéssemos sentados no café
onde ele ainda trabalhava meio período.
Emily riu, ganhando um olhar furioso.
— Hater, — Dustin atirou de volta.
— Bem, você tornou isso mais fácil, — eu o assegurei. — Você é tão talentoso.
— Você tem que me deixar retribuir de alguma forma.
Eu balancei minha cabeça. Xavier tinha coisas mais do que suficientes para nós dois. Além disso, seria errado aceitar algo
do meu amigo por um favor tão simples.
— Eu não poderia.
Seus olhos se arregalaram.
— Eu sei exatamente o que você precisa... um original de Dustin Sterling. Oh, por favor, deixe-me pintar para você.
Um pequeno sorriso surgiu em meus lábios. Se isso o deixava tão feliz, eu não sabia como recusar.
— Sim, gostaria muito disso.
— Fabuloso! Espere só. Vou pintar algo tão bom que você vai se divorciar de seu terrível marido de verdade desta vez e
se casar comigo, — Dustin se emocionou.
— Ei! — Foi a vez de Em me defender. — Pare de nos assediar e vá fazer um café com leite.
— Tudo bem, mas você está pagando por eles desta vez, srta.
Sassafras. — Dustin se levantou da mesa.
Eu não pude conter minha risada quando Em gritou de volta:
— É SENHORA Sassafras para você!
Dustin a ignorou enquanto se abaixava atrás do balcão. Em nenhum momento, eu podia sentir o cheiro do café moído e
ouvir o whoosh e borbulhar do leite fumegante.
— Então, estou pensando no seguinte. — Em deslizou uma pilha de recortes de revistas e anotações rabiscadas em
minha direção. — Um casamento na primavera.
— Tão cedo! — Eu engasguei, honestamente surpresa.
Eu não deveria ter sido tão crítica; Xavier e eu tínhamos nos casado há apenas algumas semanas, sem nunca nos termos
conhecido. Em e Lucas estavam namorando há quase um ano e se conheciam desde sempre.
— Bem, eu quero que as peças centrais sejam peônias, e você sabe que elas estão melhores em maio, — explicou Em.
Ela folheou os papéis, retirando outro.
— Eu quero magenta e branco para as cores.
— Ah, não. Por favor, branco não. Isso é tão básico, — Dustin chamou enquanto colocava canela nos picos de espuma
recém-formados.
— É um casamento. — Em revirou os olhos. — Tem que ter branco.
— Oh, não, querida, — Dustin chamou. — É tudo sobre marfim no ano que vem. Além disso, marfim ficará muito melhor
com sua pele clara do que apenas branco.
— Isso foi quase um elogio, — eu disse. Então, com um bufo determinado, me virei para Em. — E como posso ajudar?
— Bem, precisamos de um oficiante, e acho que Lucas gostaria de se casar com o padre da capelinha que vocês
frequentavam. Você sabe o nome dele? Ah, e sua tia... ela é vegana, certo?
Eu não pude evitar, mas me joguei no planejamento do casamento.
Não era apenas a emoção de ver minha melhor amiga e meu irmão tão felizes juntos. É que nunca tive a oportunidade
de planejar meu próprio casamento.
Brad tinha organizado tudo. E embora tivesse sido grandioso e lindo, não tinha sido meu. Não havia nada de mim ou de
Xavier.
Em queria uma apresentação de slides com imagens dela e Lucas para mostrar durante a recepção.
Sua música favorita tocaria para sua primeira dança como marido e mulher.
Eles escreveriam seus próprios votos.
Parecia mágico. Ter tanto dos dois em detalhes tornaria esse dia memorável para sempre.
Eu nunca tive a oportunidade de ter meu dia perfeito e me lembraria do meu casamento por um motivo completamente
diferente.
Meu marido e eu não tínhamos dançado nossa música favorita.
Nós não tínhamos uma música favorita.
Não tínhamos dormido na mesma cama em nossa noite de núpcias.
Na verdade, meu marido dormiu com outra mulher.
Com um suspiro, passei para outra imagem de vestidos de noiva.
Não havia sentido em deixar o passado me derrubar. A noite passada foi espetacular. Se a minha vida e a de Xavier
continuassem assim, o que coisas tolas como dançar para Ed Sheeran importavam?
A campainha sobre a porta soou, tirando-me dos meus pensamentos.
Uma rajada de ar frio entrou, levantando fotos de vestidos e arranjos de flores da mesa. Lutei para agarrá-los antes que
pousassem no chão úmido.
— Olá! — Dustin falou. — Posso ajudar?
— O que você gostaria, mon coeur?
Um choque de medo percorreu minha espinha. Eu conhecia aquela voz. Ela havia assombrado meus sonhos por meses.
Eu estava de costas para o balcão, mas o pânico me prendeu no lugar, incapaz de me virar para confirmar se minhas
suspeitas estavam corretas.
— Um mocha frappuccino grande com granulado extra, baixo teor de gordura e chantili? — Mal ouvi a resposta da
mulher com as batidas do meu coração, mas uma pontada de familiaridade ecoou ao som de sua voz também.
— E um croissant de chocolate? — O homem perguntou com seu forte sotaque francês.
— Não, Jacques, já é o bastante.
Meu estômago embrulhou.
Eu tinha razão.
Era Jacques, o homem de Paris.
Minha respiração parou e fechei os olhos com força.
Eu podia sentir o fantasma de suas mãos em minhas coxas, seus lábios em meu pescoço.
Eu precisava sair daqui.
— Deixe-me mimá-la, mon coeur. Ninguém me diz não.
Foi como se um balde de água fria tivesse sido jogado sobre minha cabeça. Antes que eu pudesse me conter, minha
cabeça girou para encarar o casal.
Os olhos de Jacques estavam fixos em mim, um sorriso malicioso abria em seu rosto.
A mulher em seu braço era Penny. Penny, que esteve em casa há apenas alguns dias. Penny, que Xavier tinha...
Eu estava com náuseas.
Seguindo o olhar de Jacques, os olhos de Penny pousaram em mim.
— Oh, meu Deus, Angela!
— Angie? — Ouvi baixinho Em sussurrar.
Ela provavelmente se perguntou quem eram essas pessoas, porque minha pele ficou branca como a neve.
Penny me puxou para um breve abraço.
— Jacques, esta é Angela, uma... amiga. Angela, este é meu amigo Jacques. Ele é da França.
— Somos apenas amigos agora, mon cheri? — Ele beijou a mão de Penny, ela corou e desviou o olhar.
— S-sim, — ela gaguejou, soando totalmente não convincente. —
Amigos. — Ela olhou entre mim e Jacques. — Vocês dois se conhecem?
Jacques sorriu para mim como um lobo sorriria para uma ovelha.
— Nós nos encontramos brevemente. No baile de gala em Paris, não é? — Ele pegou a mão de Penny. — Como vocês se
conheceram? — Ele esperava uma resposta, mas eu não conseguia falar, não conseguia me mover.
Penny sabia o que ele fazia? Como ele era? Ela tinha hematomas como eu tive depois da última vez que encontrei seu
namorado? Era por ele que ela estava chorando da última vez que a vi?
— Ah... — Penny se atrapalhou, percebendo seu erro. — Eu acho que foi na festa sazonal do Iate Clube?
Eu não tinha ideia sobre qualquer tipo de iate clube, mas me encontrei confirmando com a cabeça.
— O que você está fazendo aqui? — Eu finalmente consegui falar.
— Só visitando. Tanto para negócios como para lazer. — Jacques piscou.
— Um mocha frappuccino grande com granulado extra, baixo teor de gordura, e chantili, com um croissant de chocolate
para... Jock? — Dustin chamou.
— Desculpe, estamos com um pouco de pressa. Que bom ver você, Angela! — Penny puxou Jacques em direção ao
balcão, onde o pedido estava esperando.
Houve outra rajada de vento frio e então eles se foram.
Abaixei minha cabeça em minhas mãos e tentei acalmar minha respiração frenética.
Inspira... um, dois, três. Expira... um, dois, três.
— Angie? Angela? O que há de errado? — Em colocou sua mão fria na minha nuca.
— Aquele homem... — Eu balancei minha cabeça. Aquelas palavras...
Eram iguais às mensagens que me foram enviadas.
Eu estava errada.
As mensagens não eram do Sr. Lemor, que estava na prisão.
Elas eram de Jacques.
Jacques, que agora estava em Nova Iorque…
Capítulo 18 Mal-me-quer

Angela
— O que está cozinhando, filhinha? Cheira muito bem! — Papai enfiou a cabeça na cozinha.
— Lasanha. — Eu sorri, passando manteiga em uma fatia de baguete.
— Bem, lembre-me de agradecer ao seu marido por trabalhar neste fim de semana. Não diga a Danny, mas não vejo
comida tão boa há semanas!
Papai pegou uma fatia de pão de alho que eu estava preparando. Eu bati na sua mão. — Sem manteiga! Ordens
médicas, lembra?
— Nosso segredinho? — Papai piscou e mudou de assunto: — Como está aquele seu marido?
— Oh, Xavier está bem.
— Bem? Nenhuma filha minha teria se conformado com muito bem!
— Papai brincou, indo buscar outro pedaço de pão.
Eu deslizei a tigela de salada para ele.
Uma ovação irrompeu da TV na outra sala.
— Os gritos da torcida! — Papai colocou o pão na boca, correndo em direção ao som.
Eu ri, ouvindo seu canto de vitória. Os Giants devem ter marcado.
Sorrindo, coloquei o pão de alho no forno para torrar.
Era bom estar de volta à pequena casa em que cresci. Fiquei feliz por ter aceitado a oferta de Em para visitar minha
cidade natal com o pretexto de verificar alguns locais de casamento. Isso me tirou da cidade e me deu algum tempo para
me reagrupar e descobrir o que fazer com Jacques.
Eu tinha enviado uma mensagem para Xavier antes, deixando-o saber que eu estaria fora. Eu sabia que ele trabalharia o
fim de semana todo e não queria ficar sozinha no apartamento.
Claro, talvez eu estivesse fugindo dos meus problemas, mas não queria preocupar Xavier, ou meu pai e irmão, que já
eram excessivamente cautelosos comigo depois do que tinha acontecido com o Sr. Lemor.
Outra ovação da TV.
— Que besteira! Foi o outro time, — papai relatou quando reapareceu na porta da cozinha. — Desculpe, filhinha, o que
você estava dizendo?
— Nada, Xavier e eu estamos indo muito bem.
— Bem, fico feliz em ouvir isso, querida, mas gostaria de ouvir um pouco mais do que 'ótimo'. Você vai se casar por um
ano em breve, e eu mal conheci o cara. Você quase nunca fala sobre ele.
A única desvantagem de ter papai de volta ao normal era que ele estava de volta ao normal. Ele não perdia um detalhe
sequer, como quando éramos crianças.
— É sério, pai
— Olha, filhinha, você tem estado quieta desde que você chegou aqui.
Há algo de errado? Está tudo bem entre vocês dois?
Eu não sei o que me fez dizer isso. Talvez eu estivesse preocupada em contar a ele sobre Jacques se continuasse a ser
pressionada, ou talvez tantos meses guardando segredos de meu pai tenham desgastado minha determinação, mas me
peguei dizendo: — Eu disse a Xavier que não quero ficar casada com ele.
Os olhos do meu pai se arregalaram. — O que ele fez pra você?
— Nada, — eu disse, rapidamente recuando.
— Isso não é verdade, — papai disse, esfregando minhas costas. — Ninguém quer terminar um casamento por nada.
— Não é tão simples assim.
Papai se encostou no balcão. — Você está falando algo sem sentido. O que foi, filha?
De repente, eu sabia que era a hora. Eu precisava contar a verdade ao meu pai. Eu valorizava seu conselho acima de
tudo. Ele me apoiou durante toda a minha vida. Se alguém pudesse me ajudar a resolver as coisas complicadas que eu
estava sentindo por Xavier, seria ele.
— Olha, pai, preciso te contar uma coisa, mas acho que você deveria se sentar.
— Você está me deixando nervoso aqui, Angie. — Ele riu desconfortavelmente enquanto eu o levava para o sofá.
— Por favor, deixe-me dizer tudo antes de falar e tente manter a mente aberta, ok?
Ele assentiu.
— Eu não conheci Xavier em uma loja de bolinhos. Não éramos perdidamente apaixonados um pelo outro. Os Knights
concordaram em pagar as contas do seu hospital se Xavier e eu nos casássemos.
Pronto. Eu disse. A verdade foi revelada.
Sentindo-me como se tivesse cinco anos de novo e tivesse roubado um biscoito antes do jantar, mordi minha bochecha
e esperei pelo veredito do meu pai.
— Eu sei.
Eu pisquei. — O quê?
— Eu sei, minha filha.
— Como?
— Em me contou, — papai admitiu.
Meu queixo caiu. — Em fez o quê?
— Olha, não fique brava com sua melhor amiga. — Papai ergueu a mão. — Ela só estava tentando te proteger. Veio a
mim alguns meses atrás. Ela pensou que talvez eu pudesse te convencer do contrário.
Eu balancei minha cabeça. — Você sabia esse tempo todo e não disse nada? Achei que você ficaria furioso comigo.
— Oh, eu quebrei umas coisas quando ouvi falar disso pela primeira vez. Depois de ter tempo para digerir, porém,
lembrei-me de como eu criei você inteligente. Como você fez a coisa certa quando aquele seu chefe maltratou você.
— E eu sabia que não devia enfiar o nariz em lugares onde não era bem-vindo. Eu tinha que confiar que você resolveria
as coisas por conta própria. Que você faria a coisa certa. Eu estava errado?
Com lágrimas transbordando de meus olhos, eu balancei minha cabeça. — Estamos namorando, pai.
— Namorando? Você acabou de me dizer que quer o divórcio!
— Não, não... — Eu funguei. — Pai, acho que...
A porta da frente se abriu e Em, Lucas e Danny entraram.
Eu rapidamente limpei as lágrimas dos meus olhos. Nossa conversa acabou por ora.
— Como estamos indo? — Danny perguntou.
— O quê? Oh, da última vez que verifiquei, tínhamos quatro de vantagem, — relatou papai.
Meus irmãos passaram pela cozinha e foram para a sala de estar, onde os ouvi vaiar na TV.
— O que você achou da sala? — Falei para Em.
— Nah, — ela respondeu, com a voz abafada enquanto puxava o cachecol. — Muita bagunça.
— Bem, sente-se, — eu disse a ela, colocando minha cabeça no corredor. — O jantar está quase pronto.
Papai desligou a TV. — Não vejo por que você não pode se casar no restaurante.
Em mordeu o lábio, fingindo estar ocupada se acomodando em seu assento.
— É perfeitamente razoável não querer que nossos convidados do casamento comam com cartazes de Johnny Cash os
observando, — Lucas respondeu, não pela primeira vez hoje.
— Quem não ama Johnny?
Antes que alguém pudesse responder, a campainha tocou.
— Quem poderia ser? — Papai se perguntou enquanto Danny gritava:
— EU ATENDO!
Meu cronômetro apitou e eu voltei para a cozinha para tirar a lasanha e o pão de alho do forno.
— Filha, — papai chamou. — É para você.
— Pra mim? — Com a lasanha nas mãos, chutei a porta do forno e voltei para a sala. — Quem está procurando...
Parado diante da porta da frente ao lado de Danny, parecendo tão surpreso quanto eu devo ter parecido, estava Xavier.
— Angela! — Xavier parecia aliviado. Em menos de cinco passos, ele cruzou a sala para ficar diante de mim. Houve um
momento estranho enquanto Xavier tentava me cumprimentar, o prato fumegante de lasanha entre nós.
— O que você está fazendo aqui? — Eu perguntei quando ele finalmente se conformou em beijar minha bochecha.
— Você realmente acha que eu te deixaria sozinha durante todo o fim de semana? — Ele respondeu, exibindo um de
seus sorrisos de cem watts.
— Angie? — Papai disse, provavelmente se perguntando se ele precisava pegar seu taco de beisebol.
Contornei Xavier e coloquei a lasanha na mesa. — Está tudo bem, pai.
Ele ergueu as mãos. — Tudo bem. Nesse caso, posso pegar seu casaco, bonitão?
— É com você, — murmurei enquanto passava por Xavier no caminho de volta para a cozinha.
— Oh, sim, obrigado... — Houve uma pausa hesitante enquanto Xavier provavelmente tentava se lembrar do nome do
meu pai.
— Kenneth, — ele finalmente declarou, parecendo um pouco surpreso.
Depois de guardar o casaco, papai disse: — A maioria das pessoas me chama de Ken.
Xavier riu. — Ken, então. É bom ver você de novo depois de todo esse tempo.
Papai pigarreou. — Sr. Carson talvez seja melhor.
Peguei o pão de alho do forno e outro par de utensílios incompatíveis da gaveta, depois fui para a sala de estar para
salvar os dois. — Pai, você vai começar a servir? Aqui, Xavier, você pode se sentar ao meu lado.
— Vou servir, filha. — Papai pegou a espátula que eu deixei na frente de seu lugar à mesa. — Como você quer, bonitão?
— Como? — Xavier tossiu.
Danny riu. Chutei sua canela por baixo da mesa.
— A lasanha, — disse papai.
Xavier colocou o guardanapo de papel que entreguei a ele em seu colo. — Eu normalmente os tenho ao dente.
— Temo que você não pode ter tudo, bonitão, — respondeu papai, me fazendo estremecer.
— Há queijo extra na metade, — expliquei.
Os olhos de Xavier se arregalaram. — Ah. Então, uma quantidade normal de queijo será suficiente, Sr. Carson.
Papai cortou um pedaço de lasanha e jogou no prato de Xavier.
— Você está de dieta? — Danny perguntou, ganhando outro chute.
Xavier pegou seu garfo. — Não, apenas prefiro provar a qualidade em vez de ter quantidade.
Papai encolheu os ombros. — Mais pra mim.
Um silêncio constrangedor encheu o ar enquanto papai servia o resto de nós. Xavier estava lá há menos de cinco
minutos e parecia tão confortável quanto Martha Stewart na prisão.
Depois da conversa que papai e eu tivemos antes da chegada surpresa de Xavier, eu tinha certeza que a prisão era
exatamente onde ele esperava que meu marido fosse parar.
Lucas pigarreou. — É uma surpresa ver você, Xavier. Angie disse que você estava trabalhando neste fim de semana.
Eu dei a ele um sorriso agradecido e aceitei a tigela de salada de Em.
— Decidi mudar minha programação. Sei que já estive aqui uma vez, mas isso foi há quase um ano. Não queria perder a
oportunidade de ver melhor onde Angela cresceu.
Xavier estendeu a mão e apertou meu antebraço. Eu não tinha certeza se era um gesto afetuoso ou um pedido de ajuda.
— Mudar sua programação? — Danny disse com a boca cheia de pão de alho. — Eu li no jornal que um de seus hotéis
está sendo destruído neste fim de semana. Isso não soa como algo que você gostaria de perder.
— Bem... — Xavier começou.
Papai o interrompeu. — Destruindo um hotel? Os negócios estão indo bem, bonitão?
Xavier largou o garfo, a linha de seu ombro ficando rígida. — Não tenho certeza se agora é realmente o momento
apropriado para...
Papai deu um tapinha nas costas dele. — Ah, vamos, somos todos uma família aqui, certo?
— O hotel está sendo destruído porque compramos todo o quarteirão ao redor dele. Um novo resort de última geração
será construído ao longo da orla.
Papai assobiou.
Xavier continuou. — Como está indo seu negócio?
Eu mordi meu lábio. Sim, minha família estava sendo um pouco injusta. Fiquei surpresa com o quão bem Xavier estava
aceitando isso, na verdade. Mas perguntar sobre o restaurante quase falido do meu pai foi um golpe baixo.
Não tinha certeza se deveria intervir ou se o comentário era merecido. Xavier sabia que a mesada mensal que ele me
deu contribuiu para tirar o negócio da minha família da sarjeta?
— Excelente! — Danny respondeu um pouco rápido demais.
Papai acenou com a cabeça. — Em e Lu vão se casar lá.
— É uma das nossas opções, pai, — Lucas emendou.
Grata pela mudança de assunto, fui rápida para embarcar.
— Em prefere se casar na cidade, — eu disse a Xavier.
— Um sonho, ao que parece. — Em suspirou. — Você sabe como é em Nova Iorque. Tudo custa um braço e uma perna.
— Por que você não se casa em um dos hotéis Knight? — Xavier perguntou.
Engasguei com o gole de água que acabara de tomar. — Xavier, hum... querido, acho que está um pouco fora da faixa de
preço deles.
— Seria por minha conta... nossa. Angela e eu. Pense nisso como um presente de casamento.
Um calor de agradecimento se espalhou por mim.
Desde quando Xavier fazia coisas boas?
Um desejo repentino de tocá-lo, de agradecê-lo, como eu já tinha visto casais fazerem dezenas de vezes antes,
borbulhou em mim. Xavier e eu normalmente não nos tocávamos, a não ser quando dançávamos.
Eu podia tocá-lo?
Hesitante, estendi a mão e coloquei dois dedos no joelho de Xavier.
As costas de Xavier se endireitaram com o toque e sua mão encontrou a minha, entrelaçando nossos dedos. O gesto
íntimo me fez corar.
— O que você acha, Lucas? — Em perguntou. Eu podia ver sua empolgação enquanto prendia a respiração, esperando a
resposta do meu irmão.
Depois de um rápido olhar para nosso pai, Lucas consentiu, dizendo:
— Se isso te agradar.
Em gritou. — Obrigada! Obrigada.
Tomando um gole de sua cerveja, papai bufou. — Isso é muito gentil da sua parte, bonitão.
Xavier sorriu. — É o mínimo que posso fazer.
— Por que você não me ajuda a limpar, bonitão? — Papai se levantou da mesa. — Eu quero falar com você por um
minuto.
Uma sensação pesada começou a crescer em meu peito e eu pulei de pé. — Eu vou te ajudar, pai.
— Deixe isso para nós, meninos, filha. Você já cozinhou tudo.
Lentamente, eu deslizei de volta na minha cadeira.
— Tudo bem. Fico feliz em ajudar, — disse Xavier, pegando meu prato.
Não estava convencida de que era uma boa ideia. Tive medo de que, se deixasse os dois sozinhos, um deles acabasse
morto.
Incapaz de detê-los, observei Xavier e papai desaparecerem na cozinha.

Xavier
— Então, Sr. Carson, Angela me disse que você é um ã dos Knicks.
— Sim, — o pai de Angela respondeu. Ele era charmoso... em um estilo caipira com flanela e espingarda em punho.
Fui até a máquina de lavar louça, com minha mente no passado.
Não pude deixar de me lembrar da primeira vez que visitei a casa de infância de Angela.
Naquela época, eu apareci com... intenções menos do que ideais.
Eu queria descobrir algo sobre a família que eu pensei que estava atrás do meu dinheiro — descobrir qualquer sujeira
que eu pudesse usar para destruir Angela e os Carsons.
Não que eu fosse dizer isso a Ken, a menos que eu quisesse morrer aqui.
Não, desta vez eu estava lá para conhecê-los. Para fazer parte do mundo de Angela.
Só não estrague tudo, Xavier.
Já fazia muito tempo que eu não brincava de — conhecer a família, — e os jabs que os irmãos e o pai de Angela estavam
jogando em mim eram, no mínimo, um teste de paciência.
Não tinha pensado muito no que aconteceria quando chegasse lá depois de receber a mensagem de que Angela estava
indo para casa no fim de semana. Eu simplesmente pulei no carro.
Você está aqui por ela, eu me lembrei, não pela primeira vez, enquanto colocava minha pilha de pratos sujos na pia.
Arregacei as mangas do meu suéter de cashmere. O único lugar onde eu seria pego lavando a louça era na casa dos
Carson.
— Olha, bonitão, — disse o Sr. Carson, colocando de lado sua própria pilha de pratos. Ele se virou para mim, com uma
carranca em seu rosto envelhecido. — Não sou um homem de muitas palavras, por isso vou ser breve. Há apenas uma
coisa que eu quero saber e espero que você me responda honestamente. Tudo bem?
— Tudo bem.
— Você realmente ama minha filha ou não?

Capítulo 19 MINHA

Angela
— Ainda vamos ao Marv's hoje à noite? — Em perguntou, puxando a perna dela para cima da cadeira. Estávamos
planejando ir tomar uns drinques no único clube da cidade esta noite para comemorar o noivado, só nós, garotas.
Eu tive um calafrio quando memórias confusas de Xavier me arrastando para fora de um clube começaram a vir à tona.
— Não tenho certeza se é uma ideia tão boa. Não acho que seja realmente a praia de Xavier.
— Seu homem não é famoso por festejar? — Danny gritou por cima do ombro, e então deu um soco no ar quando os
Giants marcaram.
Danny e Lucas tinham ligado a TV atrás de nós e estavam gritando com os jogadores.
— Ele pode ficar aqui e assistir futebol americano com os meninos, — Em ofereceu.
Eu a observei desenhar um pequeno coração em um pouco de sal que havia derramado sobre a mesa.
— Não sei.
Nosso sofá xadrez irregular da sala parecia algo que despertaria o mau humor de Xavier.
Eu não saberia o que fazer se as coisas realmente esquentassem entre Xavier e minha família. Quem eu escolheria?
No passado, escolheria minha família num piscar de olhos. As coisas com Xavier estavam tão boas ultimamente, que
seria uma vergonha ter que realmente encerrar as coisas por causa de uma discussão boba.
Em bufou.
— Bem, por que simplesmente não perguntamos a ele, hein? Xavier?!
Nem um segundo depois, Xavier saiu da cozinha, sua expressão estava em algum lugar entre "Estou com azia" e "Alguém
arranhou minha Ferrari". Ele foi rapidamente seguido por um pai de aparência presunçosa, que tinha uma cerveja nova
na mão.
Opa.
Eu sabia que não deveria ter deixado papai falar com ele sozinho. E se papai dissesse a Xavier que sabia sobre o acordo?
Ou que eu disse a ele que queria o divórcio? Ou perguntou a Xavier o que ele fez para me machucar?
— O que há de errado? — Xavier me perguntou, em vez de Em.
Em não pareceu notar.
— Angie e eu vamos sair para nos divertir hoje à noite. Você quer ir junto ou ficar aqui e assistir ao jogo com os
meninos?
A expressão de Xavier escureceu por um instante antes de seu sorriso de sempre iluminar seu rosto.
— Sair parece uma ótima ideia. Na verdade, por que não vamos todos?
Danny ergueu a mão.
— Prefiro ficar aqui com o papai.
— Um encontro duplo, então? — Xavier sugeriu, olhando para mim, Lucas e Em.
— Sério? — Eu soltei enquanto Em batia palmas e dizia: — Ótimo!
Xavier pescou as chaves do carro do bolso.
— Vão se preparar, garotas, e eu vou pegar minhas coisas do carro.

Xavier
— Você realmente ama minha filha ou não?
Foi uma boa pergunta. Uma que qualquer bom pai faria antes de um casamento. Claro, o velho estava no hospital, mas
ele poderia ter enviado um dos irmãos de Angela para me examinar.
Não, em vez disso ele deixou sua filha se casar comigo, e agora ele teve a audácia de perguntar se eu amava minha
esposa ou não.
Com a mala Louis Vuitton na mão, fechei o porta-malas com força demais.
Agora, além de tudo, Angela queria sair. Para a porra de um clube.
Esse era o último lugar que eu queria ir. Especialmente aqui no meio do nada. Mas havia apenas um lugar onde eu
queria ficar ainda menos, e era dentro daquela casa.
Eu já estava esperando aqui por dez minutos, porém não podia deixá-la sair sozinha. Eu não a perderia de vista. Se eu
fizesse, outro homem poderia...
Soltei um suspiro, fazendo uma grande baforada de vapor flutuar no ar frio como se eu tivesse fumado um charuto.
Quando a necessidade iminente de socar algo diminuiu, subi os degraus da frente e entrei pela porta destrancada.
Merda.
Minha bolsa escorregou dos meus dedos e caiu com um baque no tapete felpudo.
Angela estava parada na base da escada, usando o vestido vermelho mais curto e justo que eu já a tinha visto usar,
curvando-se para amarrar os saltos.
A porta se fechou atrás de mim, fazendo-a se levantar.
— Como estou? — Ela girou em um círculo, com seus olhos grandes piscando para mim.
Lentamente, corri meus olhos por seu corpo.
Como se você quisesse ser comida. Troque de roupa agora.
As palavras estavam na ponta da minha língua. Então, com o canto dos olhos, vi Ken.
E, em vez disso, engoli e dei um passo em direção a Angela, colocando minhas mãos em seus quadris.
— Bela.
Incapaz de evitar, puxei seu corpo apertado contra o meu. Ela soltou um pequeno suspiro que fez meu pau doer.
Eu tinha razão.
Esta noite seria terrível.
Vinte minutos depois, estávamos no Marv’s.
Visto de fora, parecia uma prisão, um prédio baixo e atarracado feito de lajes de concreto com um segurança obeso
verificando as identidades na frente.
Por dentro não era muito melhor, uma sala que fedia a mijo e cerveja velha com uma luz estroboscópica no centro.
O plano, meu plano, — quando chegamos era assumir uma das cabines de vinil pegajoso, beber um copo de uísque
aguado com Angela no meu colo, e então dar o fora do lugar.
Em vez disso, Em tinha arrancado Angela do meu braço no segundo em que entramos e gritou com um garçom que
passava por tequila.
— Onde elas estão indo? — Eu tive que gritar por cima da música eletrônica alta para que Lucas pudesse me ouvir.
Ele deu de ombros, passando por mim na direção do bar.
— Provavelmente dançar.
Sem outra escolha, mergulhei na pista com jovens de espinhas na cara e mães solteiras.
Eu precisava encontrar Angela. Agora.
No instante em que pisei na pista de dança, uma mulher com grossos cachos negros se jogou em mim e começou a
mexer sua bunda contra minha virilha. Reflexivamente, agarrei seus quadris e, com a mesma rapidez, a empurrei de
lado.
Ela agarrou minha mão, girou para me encarar e colocou os braços em volta do meu pescoço.
Estávamos tão perto que pude ver seus cílios grossos agrupados com pedaços de rímel barato.
— O que há de errado, gostosão? Não quer dançar? — ela ronronou.
— Não com você.
Eu me desvencilhei, apenas para encontrar em um bando de garotos de fraternidade vestindo camisas de time. Eles
estavam entoando algum tipo de grito de vitória enquanto dois de seus compadres bebiam cerveja no centro do grupo.
Finalmente, quando passei por eles, avistei rapidamente um cabelo loiro.
Lá estava ela, girando em círculos com Em, bem sob a porra da luz estroboscópica.
— Angela, — eu falei, passando meus braços em volta de sua cintura.
Ela se mexeu contra o meu aperto e riu.
— Xavier!
Eu a girei para me encarar, observando suas bochechas coradas e olhos vidrados.
Angela colocou os braços no meu ombro e deslizou uma de suas longas pernas por fora da minha.
— Dance comigo.
Envolvendo minha mão em sua coxa, gritei de volta:
— Quantos shots você tomou?
Ela bateu no queixo com o dedo indicador.
— Dois? Quatro? Dez?
— Dez?!
— TRÊS! — Em falou do nosso lado. Ela jogou as mãos para o alto e deslizou contra Lucas, que havia aparecido com uma
cerveja na mão.
Angela apontou para Em.
— É isso! Ela está certa. Foram três.
Dobrando meus joelhos, eu peguei a outra perna de Angela, pegandoa como uma noiva.
— Vamos pegar um pouco de água.
— Eu posso andar sozinha! — ela insistiu, mexendo-se novamente enquanto eu desviava para o bar. Seu sapato tinha
um papel higiênico grudado quando passamos.
— Eu sei, meu anjo, mas eu gosto de carregar você.
— Isso é gentil. Você tem sido tããão legal ultimamente. Você sabe disso?
— Você é sempre legal.
— Muito bom, — ela concordou solenemente.
Sentando Angela em uma banqueta, acenei para um dos bartenders.
Um cara alto e magro com um fiapo de uma barba ruiva apareceu. Ele devia ser apenas alguns anos mais novo do que
eu, mas claramente tinha ido muito menos longe na vida, se sua camiseta do Iron Maiden fosse um indicador.
— O que você quer?
— Imagino que você não tenha o Glenfiddich 1937?
Entendi seu olhar vazio como um não.
— Apenas me dê a coisa mais forte que você tem e um copo d'água.
Quando me virei, encontrei o segundo barman entregando a Angela o que parecia um Jack Daniels com Coca.
— Que porra é essa? — Eu gritei.
— Uau, cara. — O filho da puta com cavanhaque jogou as mãos para o alto. — Fica tranquilo.
Angela agarrou meu bíceps.
— Por favor, não fale assim com Bob.
— Você não consegue ver o quanto ela bebeu? — Eu disse, pegando o copo que ele colocou de Angela em meu punho.
O barman, aparentemente Bob, acenou com a mão para cima e para baixo.
— Ela parece ótima para mim.
Antes que eu pudesse pensar duas vezes, todo o conteúdo do drink, incluindo o copo, voou em direção ao peito do
barman.
O Sr. Cavanhaque gritou uma série de palavrões enquanto eu jogava Angela por cima do ombro.
Ela bateu seus pequenos punhos nas minhas costas.
— Ponha-me no chão!
— Estamos saindo, — eu gritei enquanto nos dirigíamos para os meninos da fraternidade. Eles me deram um sinal de
positivo quando eu passei, por ter uma garota em cima do meu ombro ou por ter encharcado o barman, eu não tinha
certeza. Não importava. Eu só precisava sair da porra do clube.
— Xa-vier! — Angela balbuciou quando saímos para a rua. — Ponhame no chão!
Assim eu fiz. Eu a deixei deslizar pelo meu corpo e, uma vez que ela parou de balançar nos calcanhares, dei um passo
para longe. Então outro.
Corri minhas mãos pelo meu cabelo.
— Que raios foi aquilo? — Angela colocou as mãos nos quadris. Se a última vez que eu a vi bêbada foi algo inesquecível,
o álcool fluindo em suas veias agora a estava deixando mal-humorada.
Isso era perigoso agora, quando eu estava procurando uma briga.
— Você me diz, — eu rosnei.
Ela se aproximou de mim.
— Eu conheço Bob desde o jardim de infância. Ele estava sendo amigável.
— Sim, vocês dois pareciam realmente amigáveis! Devo arrumar um quarto para você esta noite?
— Por que você sempre faz isso?
— O quê?
Angela jogou as mãos para o alto.
— Isso! Agir como um idiota possessivo sempre que sairmos para algum lugar. Sempre que outro homem diz oi para
mim. É sempre assim quando qualquer homem olha na minha direção.
Todo o fogo em mim de repente desapareceu.
— Angela, eu... sinto muito.
— O que disse? — Suas sobrancelhas se ergueram.
Eu ri baixinho e dei um passo em sua direção.
— Eu merecia isso.
Tomando-a em meus braços, recomecei.
— Sinto muito, Angela. Eu sei que posso ser um cuzão às vezes, mas... minha ex me deixou pelo meu melhor amigo. Eu
não posso... eu não posso fazer isso de novo. A ideia de outro homem te tocando me deixa louco.
— Estou bem aqui, Xavier. Eu não vou a lugar nenhum, — Angela sussurrou e então pressionou seus lábios nos meus.
Eu congelei, como um adolescente que nunca tinha sido beijado antes, em pânico.
Que porra é essa?
Eu já tinha sido beijado antes. Eu beijei centenas de mulheres.
Esta não era apenas outra mulher.
Foi Angela.
Angela, que não conseguia nem dizer a palavra "beijo" sem gaguejar ou corar, muito menos iniciar um.
No entanto, ali estava ela.
Ali estava ela.
Consegui mover meus lábios e enrolar meus dedos em seu cabelo dourado espesso.
Nós nunca tínhamos nos beijado antes, não de verdade, o que era uma pena, porque não foi como nenhum beijo que eu
já tive.
Quando nossos lábios se separaram e nós olhamos sem fôlego nos olhos um do outro, eu me peguei esperando que não
fosse o último.

Capítulo 20 Lembretes

Angela
Com um gemido, pressionei minhas mãos em meus olhos.
Minha cabeça latejava, minha boca tinha um gosto estranho e meu estômago estava embrulhado.
O que diabos aconteceu na noite passada?
Houve uma leve batida na porta.
— Sim?
Xavier entrou na sala, com um copo de água em uma mão e um grande sorriso no rosto.
— Bom Dia.
Eu apertei os olhos contra a luz que se filtrava pela árvore em frente de casa. Estávamos no quarto da minha infância.
Adesivos com estrelas foram colados no teto. E luzes cintilantes foram enroladas em colunas de madeira.
Esse não era um lugar para Xavier, não com seus ombros largos em sua camiseta apertada de dez mil.
— Bom Dia. — Eu me inclinei para um lado da cama e puxei meus lençóis de bolinhas até o queixo.
Xavier se sentou na beira do colchão, fazendo as molas rangerem. Ele me entregou o copo d'água e uma aspirina.
Grata, engoli a pílula e coloquei o copo na mesa de cabeceira.
— O que aconteceu ontem à noite?
Um brilho acendeu nos olhos de Xavier.
— Você não se lembra?
— Nada depois da terceira dose de tequila, — eu admiti.
A expressão de Xavier se desfez.
— Mesmo? Nada mesmo?
— Não, por quê? Aconteceu alguma coisa? — Minha frequência cardíaca aumentou um pouco, com o latejar na minha
cabeça ficando mais alto. Alguém se machucou?
— Foi a nossa primeira vez, — disse Xavier, pegando minhas mãos nas suas.
Meu estômago embrulhou.
— Você não quer dizer...?
Xavier acenou com a cabeça.
— Eu não posso acreditar que você não se lembra disso. Quer dizer, não foi exatamente do jeito que eu pensei que
seria, mas do jeito que você se jogou em mim, eu não pude resistir.
Xavier e eu transamos ontem à noite?
Não, não pode ser. Não era possível, mas o jeito que ele estava sorrindo para mim...
Eu não conseguia respirar.
Lágrimas encheram meus olhos.
— Por favor, me diga que você está brincando.
— Ei, ei, shh, — Xavier silenciou, enxugando minhas lágrimas com os polegares. — Estou brincando um pouco. Foi só um
beijo. Eu prometo que teremos mais.
Eu solucei.
— Um beijo?
— Sim. — Xavier franziu a testa. — O que você achou que eu quis dizer? Que dormimos juntos?
— Sim!
— Na casa do seu pai? Com seu irmão dormindo a menos de um metro e meio de distância? Enquanto você estava
bêbada?
Puxei os lençóis mais para cima, cobrindo meu rosto.
— Foi você quem disse que era 'nossa primeira vez'.
— Ei, — disse Xavier, puxando os lençóis de volta para baixo. Ele procurou meu rosto com cuidado, como se estivesse
tentando encontrar algo. — Angela, você é virgem?
Hesitei, não tendo certeza se estava pronta para compartilhar algo tão privado com ele, e então assenti lentamente uma
vez.
Xavier me pegou em seus braços fortes, me segurando perto de seu peito.
— Nunca pense que eu tiraria isso de você. Entendeu? Não, a menos que você queira. A não ser que você peça que o
faça.
— Ok, — eu respirei em seu pescoço.
Ele se afastou um pouco, observando meus olhos marejados e minhas bochechas manchadas de água.
— OK?
— Entendi.
— Bom. — Xavier sorriu. — E, querida, a primeira vez que fizermos sexo, você pode ter certeza de que nunca vai
esquecer.
Eu poderia ter derretido. Ali. Poderia desaparecer em meu lençol.
Porém, havia mais uma questão importante.
— Você está com raiva de mim por esquecer nosso primeiro beijo de verdade?
Em resposta, Xavier se aproximou e beijou o canto da minha boca e depois o centro.
— Não, — respondeu ele, com a voz grave, enquanto minha cabeça girava, — porque posso lembrá-la disso quantas
vezes você quiser.
Dustin: Ei, amiga.
Dustin: Eu tenho uma surpresa pra vocêêêê.
Dustin: Sua OBRA-PRIMA está quase pronta.
Angela: Estou tão animada!
Dustin: Você pode passar pelo meu estúdio hoje se quiser.
Dustin: Estou ANSIOSO pra você ver.
Angela: Voltando para a cidade com Xavier agora.
Angela: Posso aparecer esta tarde, está tudo bem?
Dustin: Ohhhh, um fim de semana quente fora?
Angela: Difícil. Eu vou te informar mais tarde.
Dustin: Com certeza.
Dustin: Até mais tarde, baby.
Xavier me deixou fora do estúdio de Dustin e me deu um beijo de despedida. Ele estava indo para casa para conseguir
adiantar algum trabalho de última hora antes de segunda-feira.
Lucille estava de folga, já que nós dois estávamos fora, então planejei comprar alguns mantimentos no caminho para
casa e fazer o jantar para Xavier. Eu deveria ter contado a Xavier sobre as mensagens de Jacques no caminho de volta
para a cidade, mas não tive coragem. Eu não queria estragar essa nova frágil coisa entre nós.
Isso poderia esperar até hoje à noite, depois da sobremesa.
— Olá? — Chamei, abrindo a porta deslizante do estúdio de Dustin.
Na verdade, era um loft apertado em uma igreja reformada no Brooklyn.
Eu estive aqui apenas uma vez antes, na época de sua exposição.
Quando entrei na sala, como chão manchado de tinta, as janelas enormes e o cheiro úmido de tinta secando me
acalmaram como da primeira vez.
— Na hora certa! — Dustin disse, saindo de trás de um cavalete. Ele estava descalço e usava um avental sujo. — Sente-
se.
Com cuidado para não empurrar as telas empilhadas ao longo das paredes, fui até o sofá e me sentei nas almofadas
cheias, enviando partículas de poeira pelos raios de sol da tarde.
— Conte-me sobre o seu fim de semana. Eu só preciso de um segundo para terminar isso, — Dustin murmurou,
franzindo a testa para a pintura à sua frente.
— Foi... ótimo, — eu disse a ele, sabendo que estava sorrindo muito.
— Excelente?
— Nós nos beijamos.
— Estava na hora! Se você esperasse mais, eu iria na frente. Como foi?
Ele é bom com a língua? Aposto que ele é um mordedor, — Dustin divagou com entusiasmo, flutuando de um
pensamento para outro.
— Não sei se devo dizer, — admiti, fazendo Dustin revirar os olhos.
— Garota, por favor. Você sabe que não vou dizer nada. Ninguém acreditaria em mim de qualquer maneira. Além disso,
se eu fosse contar qualquer coisa para aquela moça na Fox, esperaria por algo melhor do que um simples beijo. Sem
ofensa.
— Não ofendeu.
Dustin acenou para mim.
— Esqueça isso por enquanto e venha conferir isso.
Mandando mais poeira para voar enquanto eu me levantava, contornei os tubos de tinta descartados e pincéis ao seu
lado.
— Oh, uau.
Eu não pude evitar um suspiro quando olhei para a pintura diante de mim. A tela era tão alta quanto eu, com tons de
cinza e azuis escuros, com detalhes de ouro e vermelho. No centro, havia duas figuras.
O primeiro era um anjo, com longos cabelos dourados que caíam sobre asas com penas. Ela parecia serena, majestosa,
envolta em seu brilhante vestido de marfim.
Ela estendia a mão para a segunda figura — um cavaleiro das trevas.
Com a cabeça baixa, ele se ajoelhava aos pés do anjo, com seu escudo manchado de sangue e espada jogados atrás dele.
— É lindo, — eu respirei, incapaz de encontrar qualquer outra palavra.
— Não é? — Dustin soltou. — Estou tão feliz que você gostou. Você ainda não me mostrou todo o seu apartamento,
então não tenho certeza de onde vai colocá-lo. Acho que deve haver algum lugar naquela sua cobertura.
— Eu sei exatamente o lugar, — eu prometi. — Muito obrigado, Dustin, de verdade.
— Não me agradeça ainda. Eu tenho que ficar com ele só mais um pouco. Mandarei entregá-lo em sua casa o mais
rápido possível.
Depois de sair do estúdio de Dustin, passei pela Whole Foods e peguei os ingredientes de que precisava para o jantar.
Queria fazer uma torta, usando a receita que minha mãe me ensinou quando eu era pequena. Hoje parecia que
precisava de algo especial.
Peguei alguns petiscos extras também, alguns dos favoritos de Em seriam estocados para quando ela viesse planejar
mais o casamento.
Eu teria que convidar Dustin da próxima vez também, e então ele poderia ver seu quadro pendurado no apartamento.
Peguei um táxi com minhas sacolas de supermercado, para que Marco não precisasse dirigir pela cidade, e fui para casa.
Finalmente, as coisas pareciam fáceis, certas. Descobri, talvez pela primeira vez na vida, que estava animada para voltar
para o nosso apartamento. O sentimento era estranho para mim depois de meses temendo o enorme espaço em
branco, e eu não tinha certeza do que fazer com ele. Devia ser bom demais para ser verdade.
Eu praticamente saltei do saguão para o elevador quando chegou.
Xavier estava lá. Eu poderia dar um beijo de alô nele.
Quando o elevador diminuiu até parar no último andar, pensei ter ouvido os sons abafados de homens rindo e franzi a
testa.
Xavier disse que tinha trabalho a fazer, então por que parecia que estava acontecendo uma festa?
As portas se abriram e eu saí para a sala de estar quando outra rodada de risadas irrompeu.
O ar estava pesado com a fumaça, e o cheiro forte de bebida fez meu estômago, ainda sensível, revirar.
— Xavier?
Sem resposta.
Segui os sons até a sala de estar para encontrar cinco homens, em roupas igualmente chiques, recostados no sofá e nas
cadeiras.
— Angela. — Xavier sorriu, pulando da chaise longue.
Ele pegou as sacolas de compras de mim e jogou o braço sobre meus ombros.
— Senhores, para aqueles que ainda não a conhecem, esta criatura incrivelmente bela é minha esposa!
Os homens gritaram e aplaudiram quando Xavier me deu um beijo desleixado.
— Sinto muito pela surpresa, Angela, — disse Xavier, apenas para mim. — Eu adiei minha reunião com esses caras
ontem para que eu pudesse passar o fim de semana com você. Achei que o mínimo que poderia fazer era convidá-los
para que pudéssemos fazer negócios com uma bebida adequada.
— Sem problemas, — eu disse a ele. — Devo fazer alguns lanches?
— Isso seria maravilhoso!
Xavier beijou minha bochecha novamente e depois se juntou aos homens.
Eu estava prestes a ir para a cozinha quando meu sangue gelou.
Porque ali, sentado na última poltrona do sofá, uísque na mão, estava Jacques.
E ele estava olhando diretamente para mim.
Capítulo 21 Histórias de Guerra

Angela
Minhas mãos tremiam muito para cortar vegetais para o crudités. Em vez disso, enchi as tigelas com batatas fritas e
coloquei biscoitos e queijo nos pratos. Cada movimento parecia rígido e automático, como se eu tivesse me
transformado em uma esposa robô dos anos 1950.
Jacques está aqui. Jacques está aqui. Jacques está aqui.
O pensamento me acertava com as batidas de meu coração.
Meu abusador está na minha sala de estar.
Eu deveria ter contado a alguém imediatamente. Se não Xavier, então Brad. Brad, que foi tão incrível da última vez que
um homem me perseguiu.
Talvez se eu dissesse algo agora — mesmo que os outros homens, ou meu marido, não acreditassem em mim — isso
pudesse fazer Jacques ir embora, fazê-lo fugir de mim.
Tentando puxar a tampa de um recipiente com molho, sibilei quando cortei meu dedo. O sangue escorria da superfície
da ferida. Enfiei o dedo na boca e chupei o sangue.
— Precisa de ajuda com isso?
Eu dei um salto, com o coração martelando, e voltei para a geladeira.
Xavier. É apenas Xavier.
Sua sobrancelha franziu e ele deu um passo mais perto.
— Está tudo bem?
Está... agora é minha chance.
Só que as palavras não se formavam. Em vez disso, uma centena de pensamentos de Xavier atacaram minha mente.
Xavier me proibindo de estar perto de outros homens.
Xavier chutando Dustin para fora da cobertura.
Xavier jogando uma bebida em Bob.
— A ideia de outro homem tocar em você me deixa louco...
Se ele soubesse o que Jacques fez, que ele me tocou, de que lado ele estaria? Seria Jacques quem receberia a ira de
Xavier ou eu?
Eu me encontrei confirmando com a cabeça.
— S-sim, é claro. Você pode... você pode deixar as batatas. Eu vou atrás de você com o resto.
Xavier pegou as tigelas cheias.
— Você vai se sentar com a gente? Vou te servir uma taça de vinho.
Ele não esperou pela minha resposta. Por que ele iria? Eu não tinha aonde ir. Nada a fazer além de gastar seu dinheiro e
sentar ao seu lado e brincar de casinha.
Eu engoli a bile na minha garganta. Abri o molho. Peguei as travessas restantes.
E fui atrás dele.
Sempre atrás dele.
Os homens aplaudiram quando eu apareci com mais comida.
— Pegue isso da Angela, pode ser, Charlie? — Xavier chamou do bar.
Um homem careca em um colete de suéter azul — Charlie — se levantou e pegou os pratos de queijo e biscoitos de
mim.
Tentei agradecê-lo, mas não consegui, então passei meus braços em volta de mim. Se eu segurasse com força, talvez o
tremor parasse. Talvez eu me sinta mais inteira.
Xavier saiu do bar para reocupar seu lugar na chaise longue e estendeu o braço para mim. Juntei-me a ele, mas sentei-
me na extremidade oposta da espreguiçadeira, fora de alcance.
Ele ofereceu uma taça de vinho e eu neguei. Xavier tomou um longo gole do copo e se aproximou um pouco mais de
mim para que pudesse colocar a mão livre no meu joelho.
Eu vacilei, ganhando um olhar de soslaio.
Algo que um dos homens disse o distraiu antes que ele pudesse fazer um comentário.
Estando o mais imóvel possível, invisível, tentei ouvir, apenas tentei não estar aqui.
— Minha esposa me mataria se eu ficasse longe por mais de uma semana, — disse o homem bem na minha frente. Acho
que ouvi um dos homens chamá-lo de Carlos.
— Isso é porque você tem que treiná-la direito, — respondeu o homem ao lado dele. — Eu apenas mando a minha para
o spa quando preciso de um tempo sozinho.
— Vá se ferrar, Jim, — respondeu Carlos, pegando um punhado de batatas fritas. — Sua esposa estava no fim de semana
de meninos da Praxel Inc. no ano passado.
— Tinha um spa no resort, não tinha?
Eles começaram a rir novamente.
De repente, senti o peso de um olhar sobre mim e os pelos da minha nuca se arrepiaram.

Xavier
Angela estava branca ao meu lado. Ela era pálida normalmente, mas isso era diferente, mais fantasmagórico, como se
todo o sangue tivesse sido drenado dela.
Algo parecia errado, mas ela insistiu que estava bem. Talvez sua ressaca estivesse demorando um pouco mais do que o
normal para sumir.
Tomei um gole de Shiraz, saboreando o caramelo.
Como esperado, a visita dos meninos mudou de negócios para lazer.
Em nossos círculos sociais, às vezes era difícil distinguir entre os dois.
Normalmente, eu estaria lá com eles, trocando histórias de guerra.
Esta noite, por algum motivo, suas histórias de conquista não soaram tão engraçadas.
Eu esperava que Angela na sala os fizesse mudar de assunto, mas parecia que eles beberam Manhattans demais para se
importar.
— Acho que Jacques é quem tem o melhor plano, — brincou Paul. — Deixa sua senhora aqui enquanto ele corre pela
Europa. Como isso funciona?
Ouvi Angela inspirar rapidamente ao meu lado, então deslizei para mais perto dela.
É o assunto que a está incomodando?
Pelo menos ela me deixaria tocá-la agora.
É algo que eu disse?
Eu olhei para Paul.
— Mas essa não é bem a história verdadeira. Ele foi porque Penny deu um fora nele. — Eu ri e os meninos concordaram.
Mas quando olhei para Jacques, ele não estava sorrindo junto com o resto de nós.
— Eu cutuquei a ferida? — Eu provoquei. — Vamos, amigo, estamos apenas brincando com você.
Jacques abriu um sorriso, mas não chegou aos seus olhos.
— Penny está apenas se fazendo de difícil, — ele disse. — Ninguém diz não para mim.
Angela enrijeceu ao meu lado e eu lancei a ela outro olhar questionador. Ela não encontrou meu olhar.
— Você está bem? — Eu sussurrei para ela.
— Hum...
— Vamos, — Jim gemeu, interrompendo Angela. — Qual é o seu segredo? Claro, ela terminou com você, mas eu vi o
jeito que ela estava pendurada em seu braço, Jacques. Essa garota quer você dentro dela.
— Eu sou um amante latino bonito, — Carlos interrompeu, — e eu ainda teria minhas bolas arrancadas se eu não visse
minha garota por um mês.
Jacques tomou um gole de seu uísque e olhou para mim por um breve momento antes de se virar para Carlos.
— Nós dois somos solteiros. Tenho certeza que ela vê outros homens, e eu vejo outras mulheres. Basta ter um pouco de
mente aberta.
Eu engoli em seco. Ele sabe que eu dormi com Penny?
Se ele sabia, não soou como se ele se importasse.
Minha mão apertou meu copo. A coitada merece mais do que isso.
Espere.
De onde diabos saiu isso? Desde quando eu me importo com coisas tão triviais como transar?
Jim riu.
— Sim, todas elas dizem que têm a mente aberta até descobrirem que você tem algo a mais. Então elas enlouquecem!
Aposto que foi assim que Jacques conseguiu aquela cicatriz no pescoço. Penny o surpreendeu montando uma prostituta
e o atacou por trás.
Eu cerrei meus dentes, tentando não dizer algo de que me arrependeria. Normalmente, eu riria de um comentário como
esse, mas algo no tom de Jacques me arrepiou.
— Quase certo. — Jacques girou o licor âmbar em seu copo. — Eu ganhei isso de uma mulher em Paris. — Angela
choramingou e eu estendi a mão para colocá-la ao meu lado. Ela encolheu os ombros e tirou meu braço dela. Ela tremia
como uma folha ao meu lado.
Como um cachorro que foi chutado muitas vezes.
Todo o progresso por água abaixo.
Os outros caras ficaram em silêncio, esperando que Jacques continuasse sua história.
Ele torceu o lábio, os olhos brilhando em minha direção novamente.
— Foi em um baile. Uma mulher... ela era pequena e loira com seios grandes. A... como você diz? Uma mulher que dá
corda. A noite toda. Ela me queria. O que eu poderia fazer?
— Você está zoando, — disse Paul. — Coisas assim não acontecem na vida real.
Eu apertei minha mandíbula.
Jacques continuou.
— Fomos para uma sala privada. Ela arrancou minhas roupas. Pediume para dizer que ela era linda.
— Então? — Carlos perguntou.
— Eu não poderia mentir. — Jacques encolheu os ombros. — Eu disse a ela que não era verdade. Então ela me golpeou
com o sapato.
Os caras começaram a rir quando ouvi Angela murmurar:
— Com licença. Ela deu um pulo e correu pelo corredor.
— Ao sexo frágil. — Paul ergueu o copo.

Angela
Tudo o que tinha em meu estômago foi parar no banheiro.
Eu cuspi, de maneira muito desagradável, na privada antes de dar descarga.
Com a bochecha apoiada na porcelana fria, diminui a respiração.
Jacques estava falando sobre mim. Eu tinha certeza disso. Os detalhes podem ter sido distorcidos a seu favor, mas eu
sabia que era eu. Para ele, eu era apenas mais uma garota. Eu queria, estava pedindo por isso.
Xavier falou da mulher com quem ele dormiu assim. Eu o ouvi menosprezá-las e ouvi-o chutá-las para fora de casa
depois que ele já não queria mais.
Ele pensava em mim como Jacques pensava? Como uma conquista?
Como um prêmio?
Eu não tinha certeza do que era pior: ser seu brinquedo ou a escória sob o sapato.
A sala estava encolhendo, toda a cobertura ficando menor.
Eu não estava segura em lugar nenhum. Não em Nova Iorque. Não em Paris. Nem mesmo em minha própria casa.
Eu era casada com um dos homens mais poderosos do país e ainda era caçada.
Eu ainda não estava segura.

Xavier
— Foi algo que eu disse? — Jacques perguntou quando a porta do quarto se fechou atrás de Angela.
Todos os caras olharam para mim com os olhos arregalados.
— Ela está menstruada, — murmurei distraidamente, apenas para fazê-los calar a boca, e ganhei um coro de sons
simpáticos.
Definitivamente, algo estava errado com Angela. Ela passou pelo inferno nos últimos meses, principalmente nas minhas
mãos, e eu nunca a vi reagir assim.
Tive o desejo repentino de ir até ela, ajudá-la.
Eu só tinha que tirar esses filhos da puta da minha casa primeiro.
— Tudo bem, meninos. A festa acabou, — eu declarei e bebi o resto do vinho.
Meus colegas me olharam perplexos.
— Vocês me ouviram. Eu tenho coisas pra fazer.
Todos eles resmungaram, mas se levantaram, tontos demais para dar a mínima para minhas maneiras.
Eu disse um "bom te ver" enquanto eles vestiam suas jaquetas, só para me redimir de alguma forma.
Jacques parou em frente ao elevador, deixando a porta fechar com o resto dos homens dentro.
— Espero que sua esposa esteja bem.
Pressionei o botão para chamar o elevador. Apertei novamente.
— Eu também.
— Por favor, dê a ela meus cumprimentos. Espero ter a chance de vê-la novamente em breve.
— Podemos ligar e marcar algo. — Onde diabos está o elevador?
Eu não ouvi sua resposta ou as palavras que ele falou depois disso. Eu estava muito focado em chegar até Angela.
Finalmente, as portas do elevador se abriram novamente. Jacques sorriu e deu um tapinha no meu braço enquanto
entrava.
— Se não, guardarei a memória da festa de gala do ano passado!
No segundo em que ele desapareceu, girei nos calcanhares, indo para os quartos. Eu estava na frente da porta de
Angela, com a mão na maçaneta, quando as palavras de Jacques finalmente me atravessaram.
Gala do ano passado?
O que diabos isso queria dizer? Jacques e Angela se conheceram na festa de gala?
Um pensamento repentino me ocorreu, fazendo minha mão apertar a maçaneta.
Certamente, Angela não era a garota loira de sua história. Minha noiva virgem não poderia ser a prostituta devassa que
ele descreveu, não é?
Um calor familiar passou por mim e abri a porta do quarto.
— Angela?

Capítulo 22 Ferida

Angela
Eu consegui rastejar do banheiro e subir na minha cama. Em posição fetal, sob o enorme edredom fofo, eu me senti
como se tivesse sido engolida.
Eu não conseguia respirar, não conseguia me mover. Eu me senti em carne viva, como se tivesse sido aberta e deixada
para os pássaros me rasgarem em pedaços. Como isso pode estar acontecendo de novo?
Talvez eu precisasse me mudar para casa definitivamente desta vez.
Arrume um emprego na oficina mecânica da cidade. Ajude a cuidar do papai. Fique fora de vista.
Valeria a pena desistir de meus sonhos por um pouco de paz e sossego?
Não é como se eu os estivesse vivendo agora.
— Angela? — Xavier chamou, batendo à porta do meu quarto.
Eu estremeci, me encolhendo mais em minha posição, esperando seu ataque verbal.
O edredom foi jogado para trás. Xavier elevou-se sobre mim, o peito arfando.
— Sua menti... — ele rangeu e então parou.
Uma nova onda de pânico cresceu dentro de mim quando seu olhar escuro percorreu meu corpo, observando a posição
fetal que eu estava deitada e minhas bochechas manchadas de lágrimas.
Então algo mudou.
A testa de Xavier franziu e sua respiração desacelerou.
Ele se arrastou para a cama ao meu lado, apertando-me contra seu peito e puxando as cobertas sobre nós.
Eu congelei quando ele se acomodou atrás de mim, me apertou mais perto e deu o mais leve dos beijos na minha
bochecha.
— O que está machucando você, meu anjo? — Eu podia sentir suas palavras reverberando em seu peito contra minhas
costas.
Eu balancei minha cabeça, e minha voz, quando falei, soou seca.
— Eu não acho que posso te dizer.
Estou com medo de te dizer.
Xavier murmurou. Seus dedos começaram a traçar pequenos círculos em meu quadril. Não havia nada exigente no
toque, nada sexual.
Uma espécie de calma começou a tomar conta de mim, originando-se daquele ponto e se espalhando para fora.
Ele suspirou.
— Já que você não quer falar comigo, você iria comigo a um lugar?
Pensei por um momento, esperando que o terror surgisse e me agarrasse de novo, mas não veio.
Se Xavier quisesse ter a sua chance comigo, ele não perderia tempo me levando em público primeiro. Havia
testemunhas lá. Se Xavier odiava algo mais do que eu, era eu estragando sua imagem pública.
Eu acenei com minha cabeça uma vez.
— Você pode andar?
Eu confirmei, embora não tivesse certeza se era verdade, se minhas pernas seriam fortes o suficiente para me segurar.
— Vou buscar nossos casacos, — ele disse. — Espere aqui.
Xavier me levou ao Central Park. Caminhamos pelas trilhas sinuosas, subindo e contornando o Castelo de Belvedere,
passando pelo lago. As passarelas e os campos, que fervilhavam de gente no verão, estavam vazios agora.
Puxei meu cachecol sobre meu nariz frio e respirei fundo o ar gélido.
Parecia um pouco mais fácil respirar aqui enquanto caminhávamos.
O ritmo de Xavier começou a diminuir. Olhei em volta, tentando me orientar, e percebi que estávamos no caminho que
eu costumava tomar quando voltava da loja de Em para casa.
Havia algo mais que parecia especial naquele lugar. Mas eu não consegui me lembrar.
Ele me puxou para um banco que ficava de frente para um lago com um antigo salgueiro à sua margem. Ficamos
sentados, olhando para a água congelada, para o pôr do sol pintando sua superfície gélida com tons roxos e dourados.
— Eu venho aqui para pensar, — Xavier começou. — Para limpar minha cabeça.
Ele soltou um suspiro, fazendo o vapor sair de sua boca como a de um dragão.
— Papai me disse que foi aqui que ele conheceu você.
É por isso que este local parece tão familiar.
— Eu estava distribuindo lírios.
Xavier se virou para olhar para mim.
— Ele disse que foi assim que soube que você era especial. Eles eram os favoritos dela.
— De quem era o favorito? — Eu sussurrei.
Xavier acenou com a cabeça para a parte de trás do banco e a placa lá.
— Minha mãe.
Meus lábios caíram em um pequeno 'o'. A grama, o lago e o salgueiro pareciam sagrados de repente.
Xavier nunca tinha falado comigo sobre sua mãe antes, nunca tinha sequer mencionado ela. Eu estava com medo de
falar, de estragar esse momento congelado no tempo.
Eu senti um pouco da dor no meu peito se erguer. Este era o Xavier que eu tinha visto em breves flashes nos últimos
meses.
O verdadeiro Xavier. Eu tinha certeza disso — Eu vim muito aqui depois do acidente. Depois... — Ele parou e lambeu os
lábios.
Eu esperei, deixando-o tempo para escolher as palavras. Eu pude ver como era difícil falar sobre isso. Talvez ele nunca
tenha feito isso antes.
Quando ele começou de novo, sua voz estava mais forte.
— Você viu a cicatriz nas minhas costas.
Não foi uma pergunta. Nós dois sabemos que eu tinha visto muito mais do que antes.
— Estava chovendo na noite em que a consegui, — começou Xavier.
— Eu estava voltando de uma viagem de negócios para casa.
Ele parou, como se doesse lembrar, como se ele não quisesse lembrar.
— Quando eu entrei e encontrei eles juntos, eu perdi o controle. Saí correndo do apartamento para a rua. Claudia,
minha ex, me seguiu e saiu da calçada assim que um táxi apareceu virando a esquina. Eu a empurrei, mas não fui rápido
o suficiente para pular para fora do caminho também.
Xavier respirou fundo.
— Isso machuca. Isso ainda dói, Angela. Todos os dias. E sempre que vejo, penso nela e me machuco de uma maneira
totalmente nova.
Novas lágrimas brotaram em meus olhos e eu estendi a mão para pegar sua mão enluvada.
— Sinto muito que você se machucou.
Xavier deu uma risada sombria.
— Você não tem nada para se desculpar. Ainda mais você. Estou tentando te dizer algo aqui. Que a dor que tenho
carregado não foi tão ruim recentemente. Às vezes, até esqueço que está lá. Isso é por sua causa. Porque você distribui
lírios para estranhos. Porque eu sei de fato que você seria a única a pular na frente de um carro por mim.
— Xavier, eu.. — Comecei, mas parei quando um nó se formou na minha garganta. Em vez disso, joguei meus braços ao
redor dele.
— Você me salvou, Angela, — disse Xavier, com os lábios perto da minha orelha. — E não apenas naquela maldita ilha.
Eu solucei, apertando Xavier mais perto. O vazio em mim quase se foi agora, como se suas palavras tivessem me curado.
Eu nunca acreditei, nunca esperei, que Xavier fosse ser tão honesto comigo. Não achei que sua personalidade autoritária
de macho alfa permitisse tais gestos íntimos. Nunca estive tão feliz por estar errada.
— Eu posso ver que você está sofrendo, Angela, — Xavier continuou, afastando-se. Ele segurou minhas bochechas em
suas mãos grandes e ásperas. — Eu quero que você saiba que pode contar comigo também.
Que estou aqui. Eu posso ser essa pessoa novamente. O tipo de homem que pula na frente de um carro. Por você, eu
estaria disposto a fazer qualquer coisa, mesmo que isso significasse voltar para aquela porra de ilha. Eu só espero que
você me deixe provar isso para você. — Havia mais em suas palavras do que parecia. Eu podia ver isso agora.
Sua abertura foi algo novo para mim. Era como um ramo de oliveira.
Um trampolim na direção certa para nós como casal. Claro, os últimos dias desde que concordei em começar a namorar
Xavier foram tumultuosos. Mas eu tinha concordado em tentar.
Eu sabia o que tinha que fazer. Era hora de confessar. Eu só podia rezar para que isso nos aproximasse e não fosse a gota
d'água que arruinou nosso casamento.
Eu respirei fundo.
— Xavier, há algo que preciso te dizer...

Capítulo 23 Passado e Presente

Xavier
Pai: Xavier, o que está acontecendo?
Pai: Ron acabou de me informar que o contrato de Paris está cancelado.
Pai: Isso são meses de trabalho jogados no lixo.
Pai: Encontre-me no escritório às 6 da manhã para discutir.
Pai: Para deixar as coisas ainda mais claras, é uma reunião MANDATÓRIA.
— Bom dia, chefe, — Ron cumprimentou enquanto eu passava por sua mesa no dia seguinte. Ainda estava escuro, mal
amanhecia e o escritório estava vazio.
Feliz merda de segunda-feira para mim.
— Obrigado pelo café, — eu respondi, pegando a xícara fumegante de sua mão. — Ele já está aí?
— Pode apostar que sim. Você vai precisar que eu faça anotações? — Ron perguntou, sempre ansioso.
— Não. Preciso que você reúna todo mundo do projeto de Paris. Vou falar com eles às oito em ponto.
Não esperei pela resposta de Ron, simplesmente abri a porta do meu escritório. Papai estava parado no meio da sala.
Ele deveria estar semi-aposentado, o que quer que isso significasse, mas ele tinha o hábito de aparecer no meu
escritório como se ainda fosse o dono do lugar. Eu deveria estar grato por ele estar tão feliz em — ajudar, — mas na
maioria das vezes, isso apenas me irritava.
— Pai... — eu comecei, apenas para que ele me cortasse.
— Não estou interessado nas suas desculpas, filho.
Deixei-me cair na cadeira e esfreguei minhas têmporas, sentindo uma enxaqueca chegando. Não tive tempo para uma
bronca esta manhã. Eu não tinha dormido o suficiente para uma.
— Você cometeu um grande erro, — papai continuou, andando de um lado para o outro na frente da minha mesa. Ele
sempre se movia quando estava bravo, como se o problema fosse algum tipo de tigre ou urso que ele pudesse assustar
se tornando maior.
Só que eu já havia sido sua vítima vezes demais para me assustar com gestos e gritos.
— Não pude acreditar quando soube que você rescindiu nosso contrato com Jacques ontem à noite. Meu filho, meu
novo filho não faz esse tipo de coisa. Foi isso que o velho Xavier de corrida de carros, gastador de dinheiro e
irresponsável fazia. Não o Xavier a quem confiei a Knight Enterprises.
Tomei um gole do meu café e tentei novamente.
— Pai, eu...
Papai cruzou os braços.
— Como você pôde sabotar o projeto assim, Xavier? São meses de trabalho que foram jogados água abaixo. Levará
semanas para recolocar as coisas em funcionamento e encontrar outro parceiro.
Cansado da agressão verbal do velho, cerrei os dentes e gritei para ele.
— JACQUES TENTOU ESTUPRAR ANGELA!!!
O rosto de meu pai se desfez imediatamente. Ele caiu em uma das cadeiras de convidados no lado oposto da mesa.
— O quê?
— Jacques tentou estuprar Angela, — eu repeti, dessa vez em silêncio.
Doeu pra caralho dizer as palavras, saber que eu tinha falhado com ela.
A noite passada foi um grande testemunho de quanto eu estive trabalhando em meu temperamento. Sentei-me em
silêncio enquanto Angela me contava o que ele tinha feito com ela.
Como ele a encurralou. Tocou nela. Eu deixei a fúria tomar conta de mim, crescer no meu estômago. Então, depois que
chegamos em casa e Angela estava dormindo em segurança, eu canalizei a fúria para algo poderoso.
— Quando? Como? — Papai perguntou.
— Paris. Ele a perseguiu. Ele a prendeu em uma sala ao lado do local, — eu disse a ele. — Já liguei para o hotel e pedi
para liberar a filmagem da câmera de segurança para mim.
— Você chamou as autoridades? Preciso envolver minha equipe? — Papai puxou o celular do bolso. Ele era a expressão
da calma agora, focado apenas nos negócios e em sua determinação.
— Sim, sim, claro, — respondi. Doeu um pouco, sua falta de confiança em minhas habilidades, a falta de confiança em
meu desejo de proteger minha esposa.
Doeu ainda mais saber que eu merecia.
— A polícia está procurando por ele agora. Parece que o desgraçado pegou um avião particular de volta para a França. A
Interpol está esperando para pegá-lo no aeroporto.
Papai se recostou na cadeira, com as sobrancelhas levantadas.
— Você fez um bom trabalho, filho.
— Eles não o pegaram ainda.
— Elas vão pegar. Você tem alguma ideia de qual foi o motivo dele?
Eu esperava que ele não fizesse essa pergunta, mas ninguém se tornou tão poderoso quanto meu pai sem fazer
perguntas difíceis.
Limpei a garganta e olhei para baixo, incapaz de sustentar o olhar de meu pai quando admiti: — Acho que pode ter sido
por vingança.
— Vingança pelo quê, Xavier?
Senti a vergonha esquentar meu corpo.
— Por eu ter dormido com a namorada dele.
Papai ergueu a mão.
— Eu não quero saber mais. Apenas me diga que você terminou.
— Eu terminei.
— E a garota está bem?
Eu concordei.
— Eu a coloquei em um de nossos hotéis. Eu não queria que ela se machucasse por causa de algo que eu fiz.
Papai acenou com a cabeça.
— Você fez bem, filho. Agora saia.
— O quê? — Eu recuei, com a mão apertando minha caneca.
Foi só isso? Bom trabalho, agora saia enquanto eu cuido disso?
— Você precisa estar com Angela agora. Ela está extremamente vulnerável, — explicou papai.
Sim, com certeza.
Foi por isso que fiquei acordado a noite toda com ela nos braços até ela adormecer. Por isso eu estava fazendo ligações
para caçar o desgraçado francês. Por isso rasguei o maior contrato que a empresa já teve em meu período como CEO.
— Eu preciso estar aqui, e ver isso até o fim. Não ficar em casa, esperando que tudo acabe bem, — eu disse, fervendo.
— Ele colocou as mãos nela, pai. Ele a feriu. Não posso deixá-lo escapar impune.
— Não deixaremos, — respondeu papai. — Mas há mais nessa história que você não sabe, Xavier. Este não é o primeiro
homem a ameaçar Angela.
— O que diabos isso quer dizer?
Senti a fúria começar a crescer novamente quando meu pai me contou a verdade por trás dos nudes de Angela que
vazaram. Como seu antigo chefe a perseguiu, ameaçou, e como eles esconderam de mim a pedido de Angela.
Ela não tinha confiado em mim com a verdade. Por que ela iria? Eu a repreendi quando as fotos chegaram ao noticiário.
Eu a tinha chamado de uma caçadora de atenção, uma puta oportunista, uma vagabunda mentirosa.
Eu não poderia estar mais longe da verdade.
— Eu fui um filho da puta do caralho, — eu respirei quando papai terminou.
Os lábios de meu pai se curvaram em um pequeno sorriso.
— Sim, você foi. Você tem uma chance de se redimir agora. Vá até ela.
Eu vou cuidar de tudo aqui.
Eu me encontrei balançando a cabeça, de pé.
— Obrigado.
Eu falhei com Angela de mais maneiras do que eu imaginava. Eu não
deixaria isso acontecer novamente.
— E, filho? — Meu pai chamou quando eu estava na metade do caminho para fora da porta. — Estou orgulhoso de você.
Você fez um bom trabalho.

Angela
— Você achou as fotos do local? — Eu ouvi Em perguntar.
Sua voz parecia distante, como se eu estivesse debaixo d'água.
Eu balancei minha cabeça, tirando-me de meus pensamentos.
— Ah, não, desculpe.
Em franziu a testa e abaixou a tela do meu laptop.
— Está tudo bem, Angie? Você está horrível.
Eu provavelmente deveria ter ficado mais apresentável antes de ela chegar. A verdade é que eu estava simplesmente
cansada demais para tentar. Teria sido mais gentil com ela cancelar nosso encontro.
No entanto, um pouco de tempo com minha amiga parecia a receita perfeita para tirar minha mente da noite passada.
Em vez de ajudar, estive olhando para a tela do meu computador durante a última hora, incapaz de afastar a sensação
dos olhos de Jacques em mim.
Mas eu não poderia dizer isso a Em. Eu não poderia preocupá-la.
Eu já disse a Xavier na noite passada com resultados não tão bons. Ele não gritou. Na verdade, ele não fez nada.
Uma espécie de paralisia misteriosa o dominou enquanto ele fazia os movimentos de me levar de volta para casa e
sentar-se comigo até eu adormecer. A raiva teria sido melhor do que este silêncio. Qualquer coisa teria sido melhor do
que nada.
— Só não dormi bem. — Eu ofereci a ela um pequeno sorriso. — Mais café deve resolver o problema.
Eu me levantei e fui à cozinha fazer mais.
Tinha sido boba em acreditar que Xavier se importava mais comigo do que com seu trabalho. Eu não sabia muito sobre
as operações da Knight Enterprises, mas sabia o suficiente para entender que Jacques era uma peça-chave em suas
participações na Europa. Seria uma má publicidade se surgisse a notícia de que a Knight Enterprises estava trabalhando
com um estuprador.
Enchi minha caneca e voltei a me sentar ao lado de Em na mesa.
— Vou encontrar essas fotos agora. Você encontrou algum vestido de dama de honra de que goste?
— Sim, alguns. Há um vestido básico aqui que eu acho que fica bem.
— Enquanto ela girava seu laptop em minha direção, meu celular vibrou na mesa.
Eu o peguei, meu coração afundando ao ler as mensagens recebidas.
Dustin: Tenho notícias terríveis.
Dustin: Meu estúdio foi invadido ontem à noite.
Angela: Ah, não! Você está bem?
Dustin: Estou bem.
Angela: E suas pinturas?
Dustin: Intocadas, exceto por uma...
Dustin: O maldito roubou seu quadro.
Dustin: Sinto muito Angela: Não seja bobo. Estou feliz que você não esteja ferido!
Dustin: Eu prometo que vou fazer um novo para você
Angela: Alguma ideia de quem pode ser o responsável?
Dustin: A polícia está investigando isso.
Dustin: Espero que eles encontrem minha obra-prima em breve.
— Tem certeza que está bem? — Em perguntou, vendo minha expressão sombria.
— Alguém invadiu o estúdio de Dustin, — respondi, desligando o telefone.
— Ele está bem?
— Sim, eles roubaram a pintura que ele fez para mim. O de Xavier e eu.
— Sem ofensa, mas quem mais gostaria de uma pintura de vocês dois?
Só havia um nome que me veio à cabeça: Jacques.
Foi um pensamento ridículo. Jacques não conhecia Dustin. Não havia como ele saber que a pintura existia.
Se o tivesse feito, era mais provável que o queimasse do que pendurá-lo sobre a lareira. Ainda assim, de alguma forma
eu sabia que ele era o responsável.
Eu coloquei minhas mãos trêmulas no meu colo, escondendo-as de Em.
— Angie, você realmente não parece tão bem. — Em franziu a testa, seu olhar passando por mim. — Tem certeza de
que não há algo que você queira falar?
As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto e eu balancei minha cabeça.
— Sinto muito, Em. Eu não posso.
Parecendo entender, Em me puxou para um abraço.
Eu não deixaria que fosse como da última vez. Não deixaria ninguém se machucar por mim. Quando minhas fotos
vazaram no noticiário, isso não afetou apenas a mim, mas também a Brad, Xavier e minha família.
Desta vez, Dustin foi atacado. Era apenas uma questão de tempo antes que alguém se machucasse.
Jacques estava vindo atrás de mim.
A única pergunta era: quando?

Capítulo 24 Em seus Braços

Xavier
— Angela? — Eu chamei quando as portas do elevador abriram. Não fazia sentido, porque ainda era cedo e ela poderia
estar dormindo.
Angela era normalmente uma pessoa matinal, mas eu precisava ouvir sua voz, precisava vê-la para acreditar que ela
estava bem.
— Ela não está aqui, — respondeu uma voz. Eu congelei no meio de um passo e me virei em direção a sua fonte.
— Em, — eu disse em saudação. Ela estava sentada de pernas cruzadas no sofá, um computador no colo. — Onde ela
está?
Em passou a mão pelo cabelo.
— Ela desapareceu no corredor. Corri para um dos quartos. Tentei falar com ela, mas ela não quis.
Meu estômago se revirou.
— Aconteceu alguma coisa?
— Não sei. Ela simplesmente começou a chorar. Eu... — Em franziu a testa. — Eu acho que ela precisa de você agora.
O meu relacionamento com Em era difícil, para dizer o mínimo. Eu sabia que ela não gostava de mim. Por que ela
gostaria? As meninas sempre contavam tudo às suas melhores amigas.
Eu tinha certeza que ela sabia todas as coisas terríveis que eu fiz para Angela. Ouvi-la admitir que Angela precisava de
mim foi um grande passo, uma indicação de que devo ter feito algo certo.
Ela se levantou e começou a recolher suas coisas ao redor da sala.
Tirei meu telefone do bolso e digitei uma mensagem rápida.
— Marco vai te levar para casa.
— Tudo bem, — Em dispensou.
— Por favor, é o mínimo que posso fazer. Obrigado por estar aqui por ela.
Assim que Em desapareceu no elevador, fui em direção aos quartos.
No final do corredor, a porta de Angela estava aberta. Eu espiei para dentro, apenas para encontrar o quarto vazio. Com
uma carranca, me virei para encarar a porta do meu próprio quarto fechada e gentilmente a abri.
Angela estava deitada no centro da cama, os cobertores puxados para cima, a cabeça enterrada nos travesseiros.
Em qualquer outra situação, eu teria ficado emocionado em vê-la ali.
Sonhos com Angela na minha cama com as pernas bem abertas, gritando em êxtase, me atormentaram por semanas.
Apenas a memória deles foi o suficiente para fazer meu pau se contorcer.
Mas sacudi minha cabeça. Agora definitivamente não era a hora.
Com cuidado para não perturbá-la, sentei-me na beira do colchão.
— O que há de errado, meu anjo?
Eu ouvi sua respiração rápida.
— Xavier, — ela respirou. — O que você está fazendo aqui?
— Eu poderia te perguntar a mesma coisa, — eu provoquei enquanto ela se endireitava.
As bochechas de Angela ficaram rosadas.
— É o único lugar onde me sinto segura.
Quase me exaltei. Ela não estava tornando isso mais fácil.
Reposicionando-me, perguntei: — Segura do quê?
— O estúdio de Dustin foi invadido. A única coisa que foi roubada foi uma pintura nossa, — ela disse. — Foi Jacques.
Tinha que ser.
Suas palavras foram como um soco no estômago. Ela não se sentia segura, não se sentia protegida. Eu falhei com ela.
Estendi a mão e a envolvi em meus braços, passando a mão para cima e para baixo em suas costas.
— Ele se foi, Angela. As autoridades estão procurando por ele agora.
Marco está no saguão lá embaixo. Eu estou aqui com você. Você está segura.
Angela inspirou profundamente. Na expiração, eu a senti relaxar sobre mim.
— O que você está fazendo em casa?
— Você realmente achou que eu te deixaria sozinha depois do que você me disse? — Eu perguntei. — Tive que ir ao
escritório para verificar as coisas. Resolvi o contrato com o Jacques. Assim que o time de Paris foi informado, eu voltei.
— Você rescindiu o contrato de Jacques?
— Claro, Angela. Como eu poderia trabalhar com um homem que fez coisas tão terríveis com você?
Angela fungou.
— Você fez tudo isso por mim?
A resposta veio rapidamente, sem dúvida.
— Eu faria qualquer coisa por você.

Angela
Eu faria qualquer coisa por você.
No segundo em que as palavras saíram dos lábios de Xavier, eu sabia que estava errada. Ele estava aqui por mim.
Comigo.
— Eu não sei o que dizer, — eu disse a ele honestamente.
— Você não precisa dizer nada, — respondeu Xavier. — Apenas descanse.
— Mas Em... — Eu me lembrei de repente que tinha abandonado minha amiga na sala de estar.
— Deite-se.
— Mas... — Eu me movi para ficar de pé, mas Xavier me parou com uma mão no meu ombro.
— Angela, — ele rosnou. — Em foi embora. Agora, por favor, você precisa descansar.
Ele estava certo. Quase não dormi na noite anterior. E pelos círculos roxos sob seus olhos que Xavier também não tinha
dormido muito.
— Tudo bem, mas só se você ficar comigo.
As sobrancelhas de Xavier levantaram. Ele provavelmente estava chocado com o quão direta eu fui. Sendo sincera, eu
também fiquei um pouco surpresa.
Eu sabia que me sentiria mais segura com ele aqui. Não era nada para me envergonhar, era? Além disso, não seria a
primeira vez que dividiríamos a cama.
— Tudo bem, — ele disse e tirou os sapatos.
Eu joguei para trás o edredom que cheirava a ele. Xavier deslizou ao meu lado, ainda em sua camisa e calça sociais.
Deitamos lado a lado de costas, exatamente como nos Hamptons. Só que, ao contrário dos Hamptons, não havia
barreira de cobertor entre nós.
— Xavier? Você se importaria se eu virasse de lado? — Eu perguntei.
Xavier endureceu ao meu lado.
— Ok, — ele disse novamente.
Virei-me para encará-lo e, em seguida, com o coração acelerado, estendi a mão para colocar a mão no peito musculoso
de Xavier.
— Obrigada, — eu sussurrei, sabendo que ele entenderia que eu quis dizer as palavras mais do que apenas o
reposicionamento. Não era o suficiente, mas eu não sabia mais como expressar minha gratidão.
Em resposta, Xavier se virou para mim. Seu braço livre me envolveu, segurando-me contra ele até que cada centímetro
de nossos corpos estivesse pressionado um contra o outro.
Eu nunca tinha estado tão perto de um homem antes, nunca tinha sentido tanto de uma vez. De alguma forma, não
parecia o suficiente. Eu queria mais. De repente, eu sabia o que precisava fazer, como poderia agradecê-lo.
Xavier entendia mais ações do que palavras. Ele quebrou vasos, deu socos e já fez sexo violento.
Se eu quisesse agradecê-lo direitamente, precisaria falar sua língua.
— Xavier? — Eu olhei para cima para encontrar seus olhos escuros sobre mim, procurando. Perguntando.
— Está tudo bem, — eu sussurrei.
Esse foi todo o incentivo de que Xavier precisava. Ele fechou a lacuna entre nós e pressionou seus lábios nos meus.
O beijo foi suave no início, simples, nada exigente. Eu podia sentir seu desejo nele. Em seus lábios persistentes. Na
forma como sua mão pressionou minha parte inferior das costas.
Eu respondi avidamente.
O primeiro beijo se transformou em um segundo e depois em um terceiro.
Eu gemi quando ele chupou meu lábio inferior, pegou-o entre os dentes e, em seguida, deslizou sua língua em minha
boca.
Xavier nos virou, prendendo minhas mãos sobre minha cabeça.
Estávamos peito a peito, com os quadris se esfregando.
— Xavier, — eu ofeguei, minha cabeça nadando com seu cheiro.
Então eu engasguei quando senti algo duro roçar na minha coxa. — Xavier!
— Sim? — ele gemeu, movendo seus lábios para baixo para chupar meu pescoço.
Eu gritei quando a protuberância roçou contra mim novamente e me endireitei.
Xavier se ajoelhou sobre mim, o peito arfando, sua masculinidade ereta entre nós, mal contida em suas calças.
Eu não conseguia parar de olhar para ele. Mal pude engolir a necessidade repentina de tocá-lo, de senti-lo deslizar... Eu
rapidamente cobri meus olhos com as mãos.
— Eu não posso, — eu disse a ele. — Eu não estou pronta, Xavier. Me desculpa.
— Olhe para mim, Angela, — Ele respondeu Xavier. Então, quando eu não tirei minhas mãos, ele disse novamente:
— Olhe para mim. Eu espiei por entre meus dedos. Xavier olhou para mim, com a sobrancelha levantada.
— O que eu te disse?
— Que não faríamos sexo até que eu estivesse pronta.
— Então por que você está se escondendo de mim?
Eu deixei minhas mãos caírem no meu colo.
— Me desculpa. Eu só... entrei em pânico.
— Eu não posso evitar, Angela, — disse Xavier, deitando-se ao meu lado. Ele estendeu o braço como uma oferta
silenciosa, e eu me acomodei contra seu peito, com cuidado para evitar ficar muito perto de sua situação.
— Eu quero você, — Xavier continuou, descarado. — Não estou dizendo isso para forçá-la a nada. É apenas a verdade.
Eu não posso evitar.
Eu nunca tinha entendido como ele conseguia falar sobre coisas tão íntimas de forma tão clara. Suponho que talvez
tenha vindo com a prática.
Enquanto eu estava deitada em seu peito, com nossas pernas entrelaçadas, eu descobri que, pela primeira vez, eu não
estava com medo de quão atrevido Xavier era. Sendo honesta comigo mesma, estava gostando. Ele me fez sentir
desejada de uma forma que ninguém mais fez.
Finalmente segura, eu lentamente adormeci nos braços de Xavier, com uma verdade ressoando em minha mente.
Nunca estive tão perto de qualquer homem, mas não conseguia imaginar que fosse qualquer outra pessoa que não fosse
Xavier.
Naquela noite, e todas as noites depois, adormeci envolta em Xavier.
Lentamente, eu estava ficando cada vez mais incapaz de negar que algo parecia certo entre nós. Como se fossemos
feitos para nos encontrar.
Como se fôssemos um casal predestinado.
Eu tinha encontrado um lar no local mais improvável que poderia ter imaginado.
Todas as manhãs, quando acordei em seus braços, três palavras saltaram para a frente da minha mente. Todas as
manhãs, eu as engolia.
Era muito cedo. Não havia como elas serem verdadeiras. De jeito nenhum isso poderia ser real. Nunca esperaria por
isso.
Eu nunca entendi por que elas eram tão difíceis de dizer até este momento. Cada vez que elas estavam na ponta da
língua, meu estômago revirava e eu tinha que engoli-las de volta.
Não seja gananciosa, Eu me repreendia. Você já conseguiu mais do que poderia esperar. Jacques se foi. Você está
segura. Isso é o suficiente por agora.
Estava ficando cada vez mais difícil manter isso para mim.
— Bom dia, — Xavier sussurrou, puxando-me contra seu peito nu e esculpido.
Eu te amo.
— Bom dia, — respondi com um beijo em seu ombro.
Ele cobriu os olhos com o braço.
— Que horas temos que estar lá?
— Em uma hora. Você deveria entrar no chuveiro.
Xavier sorriu.
— Entra comigo?
— Em seus sonhos, — eu atirei de volta.
E então ele me beijou, e as três palavras borbulharam novamente.
Eu te amo.
Hoje era o dia do casamento de Em e Lucas. Um dia para celebrar o amor. Talvez, esta noite, eu finalmente teria
coragem para dizer as palavras em voz alta. Talvez eu dissesse a Xavier que o amava.
Enquanto ele se levantava da cama e se dirigia ao banheiro, uma sensação de aperto no estômago começou a crescer.
Não há nada para se preocupar, eu me repreendi quando ouvi o chuveiro ligar. Como sempre, ele deixou a porta do
banheiro aberta em um convite.
Por alguma razão, porém, não conseguia afastar a sensação de que tudo isso era bom demais para ser verdade.
Que eu não teria a chance de dizer a Xavier como me sentia.
Que toda a minha sorte estava prestes a se tornar muito, muito para mim...

Capítulo 25 Doce Reunião

Angela
A suíte nupcial do Midtown Knights Hotel fervilhava com tanta atividade. Meninas em vários estados de nudez corriam
de cômodo em cômodo. No centro de tudo, parecendo uma rainha com uma coroa de rolos empilhados na cabeça,
estava Em.
— Você está nervosa? — Eu perguntei da cadeira ao lado dela enquanto uma mulher aplicava base na minha testa.
— Um pouco, — Em admitiu, seguido rapidamente por, — Não sobre me casar com Lucas. É todo o resto. As pessoas. Os
votos. A dança. Eu só quero que o dia acabe.
— Eu entendo.
Mas eu não entendia na verdade, não realmente. Em e Lucas planejaram cada segundo deste dia. Não havia mais nada
com que se preocupar.
Em cobriu os olhos com as mãos, bloqueando o acesso do maquiador aos cílios.
— Eu não posso acreditar que estou me casando com seu irmão.
— Eu não aceitaria de outra maneira, — respondi honestamente. Ter duas pessoas que eu tanto amava se apaixonando
uma pela outra era um sonho.
Em sempre foi como uma irmã para mim. Agora seria oficial.
Um dos assistentes sorriu para Em.
— Acho que estamos prontos para colocá-la em seu vestido.
Todas as garotas, agora envoltas em seda magenta, amontoaram-se no closet para assistir Em deslizar em seu vestido
Vera Wang de costas abertas. Quando os rolos foram puxados de seu cabelo, uma série de oohs e aahs soou através do
espaço apertado.
— Você está linda, Em, — eu disse à minha amiga, apertando seus dedos.
Era verdade. Em estava deslumbrante com o vestido de renda marfim, a epítome de uma noiva corada. Tanto que não
pude evitar a pontada de ciúme que cresceu dentro de mim.
Em acenou para os olhos dela com a mão livre.
— Você vai me fazer chorar.
As lágrimas que chorei no dia do meu casamento não foram felizes como as dela. Eu temia caminhar pelo corredor até o
altar. Eu me perguntei se algum dia teria outra chance de ter o casamento perfeito ou se o dia do meu casamento
sempre seria marcado pela mágoa e raiva.
De qualquer forma, eu nunca teria um dia como Lucas e Em. O meu amor e o de Xavier nunca seria como o deles.
Meu celular vibrou no meu bolso. Com ele em mãos, pedi licença para sair do closet, deixando Em com as outras
meninas.
Xavier: Posso te ver em seu vestido?
Xavier: Não consigo parar de pensar nisso.
Angela: Desculpe, você conhece as regras...
Angela: O noivo não pode ver a noiva antes do casamento.
Xavier: Preciso te lembrar que já somos casados, Sra. Knight?
Xavier: Eu acho que isso me concede o direito de fazer o que eu quiser com você.
Angela: Não me lembro de me propor.
Xavier: Angela...
Angela: Suponho que um pequeno vislumbre não faria mal.
Angela: [anexo: Episódio55_Content2_leg@2x. png]
Xavier: Meu Deus.
Xavier: Eu preciso te ver agora.
Xavier: Encontre-me no elevador em 10.

Xavier
Coloquei meu telefone no bolso da camisa do meu smoking e estremeci quando uma pulsação familiar começou a
crescer em minhas bolas.
As últimas semanas foram terríveis. Dia e noite, pensamentos de Angela me atormentavam, deixando-me duro e com
muito tesão.
Não conseguia me lembrar da última vez que me masturbava tanto.
Mas não pareceu ajudar, por mais frequente que fosse. Meu pau duro voltava como um relógio, e geralmente com uma
vingança.
Agora, a visão dos tornozelos de Angela me fez como um adolescente privado de sexo.
Esta manhã, no chuveiro, tinha sido o pensamento dela entrando pela porta aberta do banheiro e se juntando a mim
sob o fluxo quente.
Riachos de água escorrendo por seus seios nus.
Seu suspiro quando eu chupei um de seus mamilos pontiagudos em minha boca.
Minha mão apertando sua bunda firme e escorregadia.
— Está tudo bem, bonitão?
Eu balancei minha cabeça.
— Huh?
O Sr. Carson estava me encarando do outro lado da sala, seus olhos se estreitando.
Porra.
— Sim, tudo bem. Muito trabalho. — Limpei a garganta e me reorganizei artisticamente no sofá. A última coisa que eu
precisava era o pai da minha esposa me pegando com uma ereção enorme.
Eu fui convidado para me preparar com o noivo e seus padrinhos.
Embora eu não estivesse na festa de casamento como Angela estava, eu aparentemente ainda contava como família e
era esperado que fizesse um bom show.
Que sorte a minha.
Honestamente, eu teria ficado mais feliz em trabalhar em casa por mais algumas horas do que ficar por aqui e fingir ser
um dos meninos. Eu sabia que significaria muito para Angela se eu fosse bonzinho.
O dia estava mais tranquilo do que um pau lubrificado até que decidi dar uma olhada em Angela. Até que ela me enviou
a foto de sua perna.
— Tem certeza de que está bem, bonitão? — O Sr. Carson perguntou novamente.
Não, não estou bem. Eu tenho fodido sua filha por semanas, e minhas bolas doem tanto que tenho certeza de que
qualquer esperança para futuros filhos desapareceu.
Eu precisava de algo para tirá-lo do meu pé. Felizmente, eu vim preparado.
Eu estive cogitando algo por algumas semanas, desde a última vez que estive com a família de Angela, na verdade. Com
toda a baboseira romântica flutuando no ar, eu sabia que hoje era minha melhor chance.
— Na verdade, eu gostaria de falar com você no corredor por um minuto, se estiver tudo bem, Sr. Carson.
Ele olhou de mim para os outros caras. Ao contrário das mulheres, esse lado da festa nupcial levou dez segundos para
vestir os ternos e colocar um pouco de gel no cabelo. Desde então, eles assistiam ao jogo na tela de plasma.
— Claro, bonitão, — o Sr. Carson falou lentamente e me seguiu para fora da suíte.
No segundo em que a porta se fechou, minhas mãos ficaram úmidas.
— Eu, ah...
Não conseguia me lembrar da última vez que me senti assim, a última vez que estive nervoso com qualquer coisa.
A boa notícia foi que os nervos fizeram meu pau recuar em direção ao meu estômago.
— Estive pensando no que você me perguntou da última vez que nos vimos, — comecei.
O Sr. Carson acenou com a cabeça.
— Você perguntou se eu amava sua filha ou não.
— E você me disse que precisava de mais tempo para responder.
Então?
— Eu a amo. — Foi a primeira vez que disse essas palavras em voz alta. — E gostaria de pedir sua bênção para fazer as
coisas certas dessa vez. Eu quero dar a Angela um casamento de verdade. Um onde você pode levá-la até o altar, onde
podemos compartilhar nossa primeira dança. Vou até escrever meus próprios votos, se ela quiser.
— Sim, — respondeu o Sr. Carson muito rapidamente, com lágrimas nos olhos.
— Mesmo? — Eu perguntei, antes que eu pudesse me impedir.
O Sr. Carson jogou seus braços em volta de mim.
— Bem, a escolha é dela, bonitão. Mas, do meu lado, nada me faria mais feliz. Você tem sido um verdadeiro cavalheiro
nos últimos meses, apoiando Angie nos altos e baixos com minha saúde, ajudando-a a sobreviver ao acidente de avião,
pagando para que meu filho pudesse se casar neste hotel. Você é um cara legal.
— Eu... — Meu celular vibrou no bolso, me fazendo dar um passo para trás. — Eu preciso atender. Eu sinto muito. E
obrigado, Sr. Carson.
Exultante, corri pelo corredor em direção aos elevadores.

Angela
— Idiota, — murmurei para mim mesmo. — Tão idiota.
Eu estava subindo e descendo no elevador por cinco minutos agora, e ainda não havia sinal de Xavier.
Ele estava apenas brincando com você.
E funcionou. Eu coloquei meu vestido e agarrei meu buquê, muito ansiosa para agradá-lo, para me distrair de toda a
felicidade conjugal ao meu redor.
Ele não estava vindo.
Apertei o botão do meu andar, pronta para retornar derrotada à suíte nupcial. A cerimônia começaria em breve, de
qualquer maneira.
Provavelmente foi melhor assim.
Quando o elevador se aproximou do sétimo andar, ele diminuiu a velocidade e as portas se abriram. Lá estava Xavier,
ofegante, seus olhos escuros de luxúria.
Em duas passadas, ele cruzou o elevador, me pressionou contra a parede espelhada e capturou minha boca na dele.
As mãos de Xavier desceram pela minha cintura até que ele estivesse segurando minha bunda. Eu engasguei quando ele
me levantou do chão e envolveu minhas pernas ao redor de seus quadris, gemendo quando senti sua excitação me
pressionar.
Meu buquê de peônias caiu na porta do elevador enquanto minhas mãos enrolavam em seu cabelo escuro.
— Você está me matando, — Xavier rangeu, mordendo minha orelha.
Ele pressionou um beijo em meu pescoço e então se moveu para baixo, arrastando beijos e mordidas na minha
garganta. — Você não pode ver o quanto eu te quero.
O elevador apitou e Xavier me deixou cair antes que as portas pudessem se abrir. Ele deu um passo na minha frente
protetoramente, bloqueando-me de quem quer que tenha se juntado a nós.
— Olá, — ele cumprimentou, sua voz cheia de luxúria. Eu o observei se abaixar e pegar meu buquê do chão, segurando
todas as flores na frente de sua virilha.
Uma risada feminina respondeu.
Com as bochechas queimando, eu rapidamente endireitei minhas roupas, com vergonha de espiar por trás dele para
investigar nossa companhia.
A porta se abriu novamente e nossa convidada saiu.
Xavier soltou um suspiro, a linha de seus ombros caiu e se virou para mim.
— Isso foi inesperado. — Ele sorriu, as mãos voltando para minha cintura.
— Eu já havia desistido de você, — eu disse a ele e então corei quando ele deu uma boa olhada em mim.
— E perder isso? Você está deslumbrante, Angela. — Ele me beijou de novo, mais lento dessa vez.
— Nós temos que ir, — eu disse quando nos separamos. — A cerimônia vai começar em breve. — Ele se inclinou como
se fosse me beijar pela terceira vez, e eu me virei com uma risadinha, fazendo seus lábios pousarem na minha bochecha.
— Xavier!
— Tudo bem, tudo bem, — ele disse e deu um passo para trás em derrota. — Mas vamos terminar isso mais tarde.
Chegamos à capela bem a tempo. Lá dentro, o piano já havia começado a tocar e as vozes dos convidados baixaram para
um sussurro maçante.
— Aí está você! — Em gritou quando Xavier e eu viramos a esquina, de mãos dadas.
— É minha culpa, — disse Xavier a ela, ganhando uma careta de volta.
Ele beijou minha bochecha antes de deslizar pelas portas para tomar seu lugar entre os outros convidados.
Eu tomei meu lugar na linha de damas de honra e padrinhos. Na hora certa, a marcha nupcial começou a tocar e
começamos nosso caminho pelo corredor.
Quando estávamos todos em nossos lugares na frente da capela, a música cresceu. Todos os convidados do casamento
se levantaram quando Em entrou, mais feliz do que eu já tinha visto.
Enquanto ela flutuava pelo corredor em direção a Lucas, um movimento no fundo da sala chamou minha atenção.
Senti o sangue sumir do meu rosto enquanto uma onda de terror me percorria. Jacques estava aqui. Eu tinha certeza
disso. Eu o vi.
Rapidamente, examinei os rostos dos convidados na última fila novamente, mas não consegui identificá-lo.
Fechei meus olhos, diminuindo minha respiração acelerada.
Ele não está aqui.
Você está segura.
Xavier prometeu.
Embora não tenha sido a primeira promessa que Xavier quebrou...

Capítulo 26 Uma dança final

Angela
Com os dedos tremendo, fiquei na mesa principal, esperando os convidados se acalmarem ao meu redor. Como dama
de honra, fui obrigada a fazer um discurso.
Foi realmente uma honra poder dar minha bênção ao meu irmão e melhor amiga. Isso não significava que eu não estava
nervosa, especialmente porque a única experiência que tive de amor não foi nada romântica.
Finalmente, respirei fundo, ignorando o peso de centenas de olhares sobre mim, e comecei.
— Hmm... Oi, meu nome é Angela, e eu... eu conheço Lucas e Emily minha vida inteira. Lucas, meu irmão, eu não tive
escolha em tê-lo na minha vida. Ele simplesmente estava lá, todos os dias, sem falhar. Em...
Emily eu conheci na escola e, desde então, tenho escolhido todos os dias mantê-la em minha vida.
Um coro de admiração irrompeu pela sala, dando-me coragem enquanto eu continuava.
— É nessa amizade que eu quero me concentrar, nessa escolha, enquanto eu lhes ofereço minhas palavras finais de...
hmm, conselho, enquanto vocês dão seus primeiros passos nesta jornada como marido e mulher.
— Eu... estou casada há menos de um ano, mas as lições que aprendi por ser amiga de Em me ajudaram em cada etapa
do caminho.
Meus olhos encontraram os de Xavier na multidão. Ele sustentou meu olhar, com seus olhos escuros ardendo, enquanto
eu continuava meu discurso.
— Amizades, como casamentos, não são um caminho fácil. Existem curvas, buracos e morros pelos quais você precisa
navegar. Nem sempre é fácil. Não é sempre um mar de flores.
— A coisa mais importante que aprendi é que você, hum, tem a chance de refazer tudo todas as manhãs. A cada dia,
você pode escolher novamente. Escolher um novo caminho. Escolher ser um bom amigo.
Um bom parceiro. Escolher o amor.
— Meu conselho para vocês, Lucas e Em, é continuar fazendo essa escolha. Se você fizer isso, vocês conquistarão todos
os obstáculos que encontrarem, não importa o caminho que vocês tomem.
Com os olhos marejados, levantei minha taça de vinho.
— Para Em e Lucas. Que vocês sempre escolham o amor.
Eu deslizei meu caminho através dos dançarinos, procurando por um par familiar de olhos escuros. Esta noite foi a noite.
Eu tinha certeza disso agora. Eu diria a Xavier que o amava. Eu escolheria o amor.
Eu só tinha que encontrar meu amado primeiro. Quanto mais demorava para encontrar Xavier, mais nervosa eu ficava.
Havia tantos corpos. Qualquer um deles poderia ser...
Não. Jacques não está aqui.
Ele não pode estar.
Não era ele na cerimônia.
Meus olhos estavam pregando peças em mim.
— Me concede essa dança?
Eu pulei quando um par de braços fortes se curvou em volta da minha cintura.
Encontrei.
— Seria um prazer, — respondi, já me sentindo mais à vontade.
Xavier me levou para o centro da pista de dança e começamos a balançar entre os outros casais. Eu coloquei minha
cabeça em sua lapela, respirando seu cheiro enquanto girávamos.
O jantar acabou, os discursos terminaram e o bolo foi cortado. Tudo o que restou foi dançar.
— Como foi sua refeição? — Eu perguntei preocupada. — Desculpe, não pude sentar com você.
Xavier não teve permissão para sentar comigo, pois eu estava sentada na mesa principal. Mas eu sabia que Em tinha
tentado encontrar alguém compatível com ele para se sentar junto.
Xavier bufou.
— Sentei-me ao lado de um idiota de meia-idade que possui um Airbnb. Tenho certeza que você pode imaginar sobre o
que ele queria falar.
Eu ri quando Xavier me jogou para trás, ganhando alguns olhares de dançarinos próximos.
— Seu discurso foi lindo, — disse Xavier quando ficamos cara a cara novamente.
As palavras borbulharam novamente. Eu te amo.
— Obrigada. — Eu corei.
Ele abaixou a cabeça, roçando os lábios na minha orelha, e sussurrou:
— Quando vamos para casa? Estive pensando em tirar esse vestido de você a noite toda.
A mão de Xavier deslizou pelas minhas costas até minha bunda.
Eu engasguei, golpeando sua mão.
— Comporte-se!
— Angie! Oh, meu Deus, Angie! — gritou Em, de repente se apertando entre Xavier e eu.
Ela jogou os braços em volta de mim.
— Muito obrigada!
Eu dei a Xavier um olhar de desculpas por cima do ombro da minha amiga. Claramente Em tinha bebido um pouco
demais.
— Eu não poderia ter feito tudo isso sem você! — ela continuou a falar. — E o seu discurso! Foi tão bom.
— Foi um prazer, — eu assegurei a ela, dando tapinhas em suas costas. — Você mereceu seu dia perfeito, Em.
Ron: 911 no escritório, Chefe.
Xavier: Meu pai está de plantão esta noite.
Ron: Eu tentei ligar para ele. Ele não está respondendo.
Xavier: Provavelmente porque estamos em um casamento.
Xavier: Isso pode esperar?
Ron: Receio que não!
Ron: Alguém acionou os alarmes de segurança Ron: Nossa
equipe de segurança está cuidando disso.
Ron: Eles precisam da sua aprovação para envolver a polícia.
Xavier: A polícia?
Xavier: O que aconteceu?
Ron: É difícil de explicar...
Ron: Seria melhor você mesmo verificar as coisas, senhor.
Xavier: Estou a caminho.

Xavier
Merda.
Esta era a última coisa que eu precisava agora.
Foi pra esse tipo de emergência que contratei seguranças. Agora eu tinha que ir ao escritório para mostrar àqueles
idiotas como fazer seu trabalho.
Eu olhei por cima do meu celular e peguei os olhos de Angela.
Em ainda estava falando a mil milhas por minuto com ela enquanto Angela acenou com a cabeça em resposta, incapaz
de falar uma palavra.
Fui para trás de Angela, tirei o cabelo de seu ombro e sussurrei: — Preciso ir ao escritório por um minuto.
— Você me prometeu que não trabalharia, — Angela sussurrou de volta. Emily continuou a tagarelar, sem se importar.
Corri minha mão pelo lado de Angela em um pedido de desculpas silencioso.
— Isto é uma emergência. O escritório fica na mesma rua. Estarei de volta antes que você sinta minha falta.
Angela acenou com a cabeça. Dei um beijo em seu ombro nu e depois voltei para a multidão.
Eu deixei claro que não estava disponível para negócios esta noite. É melhor Ron ter uma boa razão para isso.

Angela
Enquanto eu observava Xavier desaparecer no meio da multidão, a ansiedade familiar começou a rastejar de volta.
Tudo bem. Está tudo bem.
Mas não parecia. A sensação de estar numa areia movediça, que senti o dia todo, estava começando a parecer que me
engoliria.
Em tagarelou ao meu lado, e eu estava tão feliz que ela não percebeu que eu havia parado de contribuir com a conversa.
Ar. Talvez eu só precisasse de um pouco de ar fresco.
Tinha sido um longo dia.
Eu provavelmente bebi muito também.
— Acho que vou sair por um minuto, — anunciei de repente.
Em parou e disse:
— Devo ir com você?
— Não, não. Fique com seus convidados. Será só um minuto.
— Tudo bem, — disse Em, andando. — Mas você ainda me deve uma dança.

Xavier
Quando cheguei ao prédio, um membro da equipe de segurança me encontrou na porta.
— O que diabos aconteceu? — Eu exigi.
O homem de meia-idade e obeso, vestindo um colete com fita reflexiva, foi rápido em responder.
— Houve uma invasão no último andar, Sr. Knight. O diretor está lá agora esperando por você.
Fui para o elevador, sem esperar que ele me alcançasse.
O zelador provavelmente acionou o alarme por acidente. Ou algum estagiário sobrecarregado foi pego roubando
material de escritório. Algo que não vale meu tempo.
O elevador abriu. Ron estava no corredor, esperando minha chegada.
— Bom te ver, senhor, — ele disse, caminhando ao meu lado.
— É melhor não ser um alarme falso, — eu falei.
— Não, senhor. Receio que não seja, senhor.
— Sr. Knight, — chamou um homem alto de pele escura e bigode. Ele estava parado no final do corredor, em frente às
portas do meu escritório — Meu nome é Sr. Taff. Eu sou o chefe da sua equipe de segurança.
— Você me tirou de uma noite maravilhosa com minha esposa, Sr. Taff, — respondi. — É melhor que valha a pena.
O Sr. Taff abriu a porta do meu escritório.
— Veja por si mesmo, senhor.
No início, não consegui encontrar nada de errado. Meu escritório estava como eu o deixara, como sempre. Nenhum
vidro quebrado, nenhum fogo, nenhum cadáver.
Eu cerrei meus dentes. Como esperado, tudo estava em seu lugar.
Então eu vi. A fotografia do horizonte de Nova Iorque, que normalmente ficava acima da minha mesa, havia sumido.
Outra coisa estava pendurada em seu lugar.
Eu fiz uma careta, me aproximando.
A pintura era enorme, quase tão alta quanto eu. Fora lindo outrora.
Dava pra ver. Mas agora a tela estava destruída.
De um lado, um lindo anjo de cabelos dourados estava de pé, intocado. Outra figura, que antes estava ajoelhada a seus
pés, agora permanecia apenas parcialmente. A melhor parte de seu corpo foi arranhada, seu rosto havia sido arrancado.
Quanto mais eu olhava, pior ficava a sensação de aperto no estômago.
O anjo era a imagem cuspida de Angela. Não havia dúvida sobre isso, o que só poderia significar uma coisa: eu era o
cavaleiro destroçado. Eu teria que ser um idiota para chegar a qualquer outra conclusão.
A mensagem foi clara.
A pintura era uma ameaça.
Restava apenas uma pergunta: quem era o artista?
Meus olhos dispararam para o canto inferior da pintura.
— Alguém chame Dustin Sterling no telefone, agora.

Angela
O ar frio da noite atingiu minhas bochechas muito quentes e braços nus quando entrei nos jardins do hotel.
Respirei fundo, deixando a quietude da noite de primavera me acalmar.
Você está sendo ridícula.
O dia todo foi perfeito. Em estava nas nuvens. Em breve, Xavier e eu poderíamos voltar para nosso apartamento e nos
aninhar na cama.
Eu poderia dizer a ele aquelas três pequenas palavras que eu estava morrendo de vontade de dizer a ele.
Atravessei o pátio de pedra e me sentei em um banco em frente a um pequeno lago.
O pensamento de Xavier me fez imaginar o que poderia tê-lo tirado do casamento.
Uma emergência, ele disse. Que tipo de emergência aconteceu às dez da noite de um sábado?
Estremeci quando outra brisa soprou pelas árvores, fazendo-me cruzar os braços contra o peito. Então, da sombra ao
lado das portas, uma voz falou: — Posso lhe oferecer uma bebida, mademoiselle?
Meu coração parou.
— O que você está fazendo aqui?
Jacques sorriu, dando um passo em minha direção.
— Eu vi você sair e você parecia tão... tão triste que pensei em vir me certificar de que você estava bem.
Estávamos no jardim do hotel. Havia centenas de pessoas do outro lado das portas. Ele não ousaria me tocar agora, não
é?
— Xavier está aqui. — Eu me descobri mentindo. — Se eu gritar, ele virá correndo.
Meu coração estava disparado no peito, e minhas mãos, úmidas no banco de pedra frio. Eu sabia o que viria a seguir. Os
dedos de Jacques agarrariam minhas coxas e seus lábios atacariam meu pescoço.
Nós já dançamos essa dança antes.
Frenética, virei minha cabeça, procurando desesperadamente por outra saída.
Eu não poderia deixá-lo vencer.
Não podia deixá-lo chegar tão perto de novo.
Jacques riu e lentamente começou a dar um passo em minha direção.
— Receio, mademoiselle, que seu marido esteja bastante ocupado no momento.
— Por favor... Por favor, pare, — eu disse, me levantando.
Jacques deu mais um passo à frente.
— Parar o quê?
Eu abri minha boca para gritar, mas não fui rápida o suficiente.
Jacques saltou para frente, jogando-me para trás.
Uma dor aguda floresceu em minha têmpora.
Minha visão turvou.
Então havia apenas... preto.

Capítulo 27 Tudo

Xavier
— Atenda o seu celular, — eu sussurrei. — Atenda o seu maldito celular.
Dustin não estava respondendo. Ele provavelmente estava se divertindo muito no casamento para ouvir seu telefone.
A linha caiu. Apertei o botão de rediscagem.
— Precisamos dar um jeito nisso, — gritei para Marco.
A primeira vez que Dustin não atendeu, eu decidi rastreá-lo e pulei de volta para o meu carro. Parecia uma ótima ideia
até que ficamos presos no trânsito a quatro quadras do hotel.
Do banco da frente, Marco murmurou sua resposta usual.
— É Nova Iorque.
Isso não foi bom o suficiente desta vez. Não estava atrasado para uma partida de pólo ou uma reunião no iate clube.
Angela estava em perigo.
— Esqueça, — eu bati e abri a porta dos fundos, guardando meu celular e saindo para a rua.
— Sr. Knight! — Marco me chamou. Mas era tarde demais. Eu já estava na metade do quarteirão.
Ela estava certa. Angela estava certa.
Jacques ainda estava na cidade.
Ela estava certa e eu não tinha escutado, eu não tinha acreditado nela.
Por que eu nunca acredito nela?
Corri passando por um casal, batendo no ombro do homem, e fui embora antes que ele pudesse gritar algo.
Angela. Eu preciso falar com Angela.
Se ele a tocou...
Não. Ela estava em um casamento. Em um salão de baile cheio de gente. Intocável.
Mesmo assim...
Eu corri mais rápido.
Eu não a perderia, não poderia perder outra pessoa que eu amava.
Eu derrapei até parar do lado de fora das portas da frente do hotel, meus sapatos sociais deslizando no cimento da
calçada.
O porteiro abriu a porta e eu entrei no saguão.
Papai já estava lá, esperando por mim.
— Xavier! — ele gritou, e então franziu a testa ao ver meu estado desgrenhado. — O que aconteceu, filho?
— Jacques, — eu ofeguei. — Ele está aqui. Ele está atrás de Angela.
Temos que encontrá-la.
— A polícia?
— Eu já liguei para eles. Pai, por favor, — eu implorei.
— Vá verificar o salão de baile. Vou mandar o pessoal vasculhar o hotel. Nós a encontraremos, Xavier.
— Obrigado. — Eu corri para as escadas, não precisando de mais instruções.
Dentro do salão, o casamento ainda estava em pleno andamento. Eu corri pela multidão freneticamente, esperando ver
um lampejo de cabelo dourado ou ouvir sua risada familiar.
Meu olhar procurava a cor magenta do vestido. Mas era impossível distinguir uma dama de honra da outra.
— Não, não, não, — eu murmurei, apoiando-me em um garçom e quase fazendo sua bandeja tombar.
Então avistei um cabelo penteado familiar num círculo de convidados.
Dustin.
Eu empurrei a multidão e agarrei seu braço.
— Por que você não está atendendo o celular?
— Xavier! — Dustin disse, jogando um braço sobre meus ombros. Ele estava feliz. Muito feliz. — Como você está? O que
posso fazer por você?
Ele está bêbado, eu percebi. Ótimo.
Eu apertei a base do meu nariz, tentando muito não gritar com o amigo de Angela.
— Eu tenho uma pergunta sobre uma de suas pinturas.
— Xavier Knight está interessado em uma de minhas pinturas? — Dustin perguntou, alto demais. Notei que algumas das
pessoas com quem ele estava falando se aproximaram.
O plebeu da ascensão social.
— Sim. Um anjo, — eu disse a ele.
— O que eu fiz para você e Angela? — ele perguntou.
Para mim e Angela? Fechei os olhos, tentando pensar. Angela disse algo sobre uma pintura.
— Ela não te contou? — Dustin disse, baixando a voz para que só eu pudesse ouvir. — Foi roubado.
— Por quem?
— A polícia investigou isso, — respondeu Dusty rápido demais.
— Não minta para mim, Dusty, ou vou encerrar sua carreira de pintor mais rápido do que você pode dizer moccachino.
— Eu não estava com humor para seus jogos.
Com um olhar de soslaio para seus novos amigos, Dustin suspirou.
— Ok, olhe. Vou te dizer a verdade, mas você tem que prometer não contar a Angela.
— Está bem.
— Eu vendi. Eu não queria, mas me ofereceram uma ridícula quantia de dinheiro por ele e....
— Para quem você vendeu? — Eu atirei de volta.
— Não me lembro do nome dele.
— Como ele era?
Dustin riu:
— Bem, posso te dizer uma coisa. Eu com certeza comeria a baguete dele, se é que você me entende.
Meu peito se apertou. Dusty havia revelado uma pista sem saber.
— Ele era francês?
— Ah, sim! Você deve saber de quem estou falando. Ele entrou no café outro dia com uma garota no braço. Angela
parecia conhecê-los. Ele...
Eu recuei, para longe dele, meus temores foram confirmados.
Jacques estava por trás disso.
Jacques estava solto em Nova Iorque.
Jacques havia levado o quadro.
E eu deixei Angela sozinha.
Eu precisava encontrá-la agora.
— Xavier! — uma voz chamou atrás de mim. Eu me virei para encontrar Em vindo em minha direção.
Eu tinha deixado Angela com Em. Talvez ela soubesse onde estava.
Será que...
— Você viu, Angela? — ela perguntou. — Ela me deve uma dança.
— Não, eu a deixei com você, — eu disse, um pouco rispidamente.
Em franziu a testa.
— Ela disse que precisava de um pouco de ar.
— Merda, — eu sussurrei, passando as mãos no meu cabelo.
Se ela foi para fora...
— Há algo errado, Xavier? — Em perguntou.
— Não tenho certeza. Eu só preciso encontrá-la.
Angela não tinha saído para a frente do hotel, então só havia um outro lugar onde ela poderia ter ido para tomar um
pouco de ar... os jardins.
Virei-me e fui para o outro lado da sala.
As portas se abriram para um pátio fechado. Se fosse uma noite mais quente, os convidados do casamento estariam
bebendo seu champanhe sob as luzes cintilantes. Em vez disso, os jardins estavam vazios.
Eu estava ficando sem opções, sem tempo. Minha única esperança agora era que eles a tivessem encontrado em outro
lugar do hotel.
Fui para o saguão e localizei meu pai.
— E então? — ele perguntou.
Eu já sabia pelo seu tom que o pessoal do hotel não a tinha encontrado.
— Ela sumiu. — Eu disse, desamparado. — O desgraçado a pegou...
Meu pai pigarreou.
— Xavier.
— Bonitão?
Virei-me para encontrar o Sr. Carson parado atrás de mim, junto com Em, Lucas, Danny e Dustin.
— Em disse que Angie está desaparecida, bonitão. Isso é verdade?
Seus olhos estavam em mim, esperando que eu os consolasse, que lhes dissesse que não era verdade.
Eu desejei a Deus que eu pudesse. Em vez disso, eu disse: — Ela está certa. Em começou a chorar, e então ela foi puxada
para o peito de Lucas.
— Estamos fazendo todo o possível para localizá-la, — meu pai disse.
Ele colocou a mão no meu ombro, como se soubesse que de repente falar era impossível para mim, que meu peito doía
muito para respirar. — Nós vamos encontrá-la.

Angela
— Por favor, — eu implorei, com a voz rouca de tanto gritar. — Por favor, deixe-me ir.
Como todas as outras vezes que perguntei, Jacques me ignorou.
Eu gemi quando fui sacudida para o lado e minha cabeça bateu contra o painel de metal frio atrás de mim.
Estávamos em um veículo. Isso eu sabia. Eu podia ouvir o motor próximo de mim. Sentia a frenagem e as curvas
enquanto passávamos pelo tráfego.
Há quanto tempo estávamos dirigindo, ou para onde, era um mistério.
Quando acordei, estava deitada de costas, cega. Jacques colocou algo escuro sobre minha cabeça. Eu podia sentir o
material áspero se mover e umedecer a cada respiração que eu dava.
Minhas mãos estavam entrelaçadas nas minhas costas, com os laços tão apertados que eu estava começando a perder a
sensibilidade nas pontas dos dedos.
Era isso. O fim. Tinha que ser. Ninguém sabia que eu estava desaparecida, para onde havia ido, com quem estava.
— Por favor, deixe-me ir. — Eu tentei de novo. — Você pode ter o que quiser. Se é dinheiro que você quer.
Uma risada sombria respondeu.
Pelo menos foi alguma coisa.
— Não estou atrás de dinheiro, — Jacques me disse.
— Então o quê?
— Vingança.
A caminhonete diminuiu a velocidade até parar. Ouvi a porta da frente abrir e fechar, o barulho de sapatos no cascalho
enquanto Jacques dava a volta na parte detrás.
As portas do painel se abriram e eu soltei um grito de gelar o sangue quando uma mão envolveu meu tornozelo e me
puxou para fora da caminhonete.

Xavier
Estávamos sentados na suíte nupcial — todos os sete de nós — esperando.
A polícia esteve aqui. Já havia contado tudo a eles.
Disseram que seu quarto de hotel estava vazio.
Que não havia cobrança em seus cartões de crédito.
E que estavam fazendo o possível para encontrá-la.
Não era o suficiente.
Isso não era bom o suficiente.
— Eu não posso simplesmente sentar aqui, — eu disse.
Não podia ser isso. Devia haver algo que eu não havia percebido.
Outra pista. Qualquer que fosse. Nada.
— Você já fez tudo que podia, filho, — meu pai disse, observando enquanto eu andava de um lado para o outro ao longo
da cama.
— Eu não acredito. Alguém deve ter visto algo. Alguém sabe onde ela está.
— Filho, — meu pai disse de novo, olhando de mim para os amigos e familiares de Angela.
Então eu entendi.
Eu estava assustando eles.
Bom. Eles deveriam estar com um puta medo. Angela estava desaparecida e ninguém estava fazendo porra nenhuma.
Não...
Penny.
Eu parei.
— Penny, — eu disse, em voz alta desta vez, remexendo no bolso em busca do telefone.
Talvez Jacques tenha entrado em contato com ela. Talvez ela soubesse onde ele estava.
Pressionei seu número com meu polegar.
A ligação caiu.
Eu caí de volta no sofá, derrotado.
Então meu telefone vibrou.
Penny: Você precisa de algo?
Xavier: Eu preciso falar com você.
Xavier: Atenda seu telefone.
Penny: Estou em uma palestra agora o que quer?
Xavier: Onde está Jacques?
Penny: MDS. nem me faça começar.
Penny: Você estava certo. Deveria ter cortado os laços com aquele canalha.
Xavier: Penny Xavier: Angela está desaparecida.
Xavier: Acho que Jacques pode estar por trás disso.
Penny: Ah não....
Xavier: Quando foi a última vez que você o viu?
Penny: Alguns dias atrás...
Xavier: Ele tem algum lugar na cidade? Algum lugar que ele possa levá-la?
Penny: Deixe-me pensar...
Xavier: rápido.
Xavier: por favor.
Xavier: Penny???
Penny: Ele é dono de um armazém à beira-mar!
Penny: geralmente está vazio. Ele gosta de dar festas lá às vezes.
Xavier: OBRIGADO.

Angela
De repente, o tecido foi arrancado da minha cabeça.
Pisquei enquanto meus olhos se ajustavam à luz brilhante artificial.
Com a cabeça latejando, tentei ficar de pé. Mantenha o foco.
Eu estava parada na entrada de uma espécie de armazém. Os caixotes estavam empilhados em fileiras altas,
estendendo-se na frente e atrás de mim.
Pisquei novamente quando uma sombra apareceu sobre mim, bloqueando a luz, e Jacques entrou em foco.
— Uma mulher tão bonita, — ele falou, passando um dedo pelo meu queixo. E riu quando eu recuei.
— Por que você está fazendo isso?
A expressão de Jacques ficou sombria.
— Você não deveria ter me rejeitado em Paris. Se você me deixasse ter o que eu queria, estaríamos quites. Agora ele
tirou tudo de mim. Então, vou tirar tudo dele.
Tirando uma faca do cinto, um sorriso se espalhou em seu rosto.

Capítulo 28 Tarde demais

Angela
Jacques cometeu um erro.
Embora seu plano tivesse funcionado até agora, ele negligenciou um pequeno detalhe.
Ele me subestimou.
Como se eu fosse uma donzela desmaiada em perigo, Jacques me deixou em pé no meio do armazém, acreditando que
eu estava fraca demais para pensar que poderia escapar.
Minha cabeça pode estar zumbindo e meus braços podem estar amarrados, mas eu ainda tinha minhas pernas, e ele era
um tolo em pensar que eu não as usaria.
Posso não ter sido a mais extrovertida ou autoconfiante, mas valorizava minha vida.
Eu queria ver minha família novamente. Dizer a Xavier que eu o amava. Ser uma boa esposa, filha, amiga. E eu não ia
deixar Jacques tirar isso de mim.
Assim que Jacques estava perto o suficiente, eu chutei, acertando-o bem entre as pernas com o salto do meu sapato
preto.
Com a faca caindo no chão, Jacques caiu de joelhos com um grunhido e eu corri para a porta.
Xavier
— Saia, — eu gritei, abrindo a porta do lado do motorista do meu Lamborghini.
Estávamos na frente do hotel. Alguns pedestres viraram a cabeça ao ouvir minha voz alta.
— Pra fora. Agora. — Eu gritei novamente quando Marco não se moveu. — Deixe as chaves.
Meu motorista saiu do carro e eu deslizei para o banco do motorista. Eu não tinha tempo para tráfego ou semáforos
vermelhos. Eu precisava chegar até Angela agora.
Ron tinha encontrado o endereço do armazém de Jacques e não queria deixar mais nada me impedir de chegar lá o mais
rápido possível.
— Filho, — meu pai chamou, aproximando-se da janela do carro. — Você deve esperar pela polícia.
— Eles podem me seguir. — Eu mudei de marcha. — Não tenho mais tempo a perder.
Se a pintura fosse um indicador, Jacques tinha feito tudo isso para se vingar de mim.
Pela Penny.
Por arruinar sua carreira.
Por mandar a polícia atrás dele.
Foi minha culpa ele ter levado Angela.
Se ele a tocasse, a machucasse, era por minha causa.
Eu não poderia deixar isso acontecer.
Com os pneus cantando, eu entrei na rua movimentada.
Uma sinfonia de luzes e sirenes apareceu diante de mim, cortando um caminho pela cidade.
— Estou indo, Angela, — murmurei para mim mesmo.
Eu só esperava chegar antes que fosse tarde demais.

Angela
Foi difícil correr com os braços atrás de mim, mas corri para as portas de metal abertas do armazém o mais rápido que
pude.
Eu estava no meio do caminho até a porta quando ouvi passos pesados se aproximando rapidamente atrás de mim, e
então Jacques me jogou com força no chão.
Meu queixo bateu no chão de concreto com uma força de bater os dentes, e o sangue encheu minha boca.
— Sua filha da puta, — Jacques cuspiu, montando sobre minha cintura.
Ele se levantou, me colocando de pé ao lado dele.
— Você quer brincar? Eu conheço um jogo.
Ele me empurrou, fazendo-me voar em direção a uma caixa próxima.
Ela se estilhaçou sob meu peso. Pedaços de madeira cortaram minhas costas, fazendo-me gritar.
Então Jacques já estava em cima de mim me levantando novamente.
— Shh agora, mademoiselle. Jacques está aqui.
Ele me arrastou até uma viga no centro do espaço e amarrou minhas mãos em torno dela.
— Você é mais corajosa do que eu pensava, não como as putas de sempre de Xavier.
Eu caí contra o poste de metal, os joelhos tremendo, e cuspi um bocado de sangue.
Garantido que eu não pudesse ir a lugar nenhum, Jacques cruzou a sala em direção a sua faca esquecida.
— Ele vai te matar, — disse em voz alta, surpreendendo-me com minhas palavras violentas.
Mas eu sabia que elas eram verdadeiras. Xavier tinha machucado as pessoas por muito menos do que isso. Se ele me
encontrasse assim, sangrando e ferida, ele caçaria Jacques até o dia em que ele morresse.
Jacques pegou a faca e segurou-a com força nas mãos.
— Talvez, mas não antes de eu conseguir o que quero.
Esperança era tudo que eu tinha agora. Espero que alguém tenha percebido que eu estava desaparecida. Espero que
Xavier esteja a caminho de me encontrar.
Eu só tinha que esperar um pouco mais.
Xavier
Com o coração martelando, eu corri pelas ruas.
Eu tinha deixado minha escolta pra trás. Eu mal conseguia ouvir suas sirenes agora.
Meu veículo era muito mais rápido, muito superior.
Mas ainda não rápido o suficiente.
Ainda esta manhã eu estava perguntando ao Sr. Carson se eu poderia me casar com Angela.
Eu estava pronto dessa vez. Eu sabia que Angela era tudo que eu poderia querer e muito mais.
Estávamos juntos há meses. Eu perdi muito tempo valioso odiando-a.
Agora era tarde demais.
Agora talvez eu nunca tenha a chance de dizer a verdade a ela.
Para dizer a ela que eu estava errado.
Para dizer a ela que a amava.

Angela
O sangue pingou no chão abaixo de mim, a escuridão começava a tomar conta da minha visão enquanto o metal afiado
da lâmina pressionava minha garganta.
Eu não duraria muito mais tempo.
— Vou marcar você como você me marcou. — Jacques sussurrou, empurrando a faca mais fundo na carne macia do
pescoço.
— Mas, primeiro, temos alguns negócios inacabados.
Senti a lâmina se mover para baixo, cortando minha clavícula, descendo pelo centro do meu peito, entre meus seios.
Então Jacques grunhiu, e ouvi o som de tecido rasgando.
O ar frio da noite sussurrou contra minha pele recém-exposta.
Pedaços do meu vestido de dama de honra caíram no chão.
Jacques me olhou de cima a baixo, observando minha calcinha de renda branca e o peito sem sutiã, com a cabeça
inclinada para o lado.
— Não é o que eu imaginei que Xavier Knight escolheria, mas você vai dar pro gasto.
Jacques se aproximou. Seu hálito azedo se espalhou pelo meu rosto coberto de lágrimas enquanto ele se atrapalhava
com o cinto.
Ele largou a faca, agarrou rudemente meus seios com as mãos úmidas e beliscou meus mamilos.
Eu gritei debilmente, já exausta e com a perda de sangue deixando meus membros fracos e pesados.
Jacques tentou enfiar a perna entre minhas coxas, espalhando minhas pernas. Usei minha força restante para mantê-las
fechadas, juntas.
— Não me faça amarrar suas pernas também, — ele sussurrou.
Eu apertei com mais força.
Não que eu estivesse com medo de morrer. Eu estava com medo de deixar tudo para trás. Eu conhecia a dor de perder
alguém, conhecia o buraco que isso deixou no seu coração, na sua vida.
Eu tinha visto o que isso tinha feito com meu pai e irmãos, com Brad, com Xavier. Eu não queria fazer isso com eles. Não
queria causar tanta dor a ninguém que eu amava. Ou, pior ainda, dar a Jacques a gratificação
de tê-los machucado.
Eu não tinha mais muita escolha. Lentamente, eu podia sentir minhas energias sendo drenadas do meu corpo.
— Isso tudo poderia ter terminado se você apenas me deixasse ter o que eu queria em Paris. — Jacques lambeu o lado
do meu pescoço. — Agora vai ser uma bagunça. Quando terminar, terei que te matar.
— Você não precisa, — eu disse, pulando enquanto seus dedos ásperos deslizavam ao longo do cós da minha calcinha.
— Sim, — disse Jacques. — Ele tirou tudo de mim. Meu amor. Meu trabalho. Minha vida. Ele tem que pagar.
Ele chutou minhas pernas.
Eu caí no chão de concreto e me encolhi como uma bola. Meus ombros doeram, enquanto meus braços eram torcidos
em torno do mastro, com as amarras mordendo a pele já em carne viva de meus pulsos.
Posso não ter muita força sobrando, mas com certeza usaria o pouco que restava para tornar isso o mais difícil possível
para ele.
— Sua vadia.
Eu deixei meus olhos fecharem.
Sinto muito, Xavier.
Eu te amo.
Brad
— Amélia, — eu sussurrei, com olhos fechados. — Nosso filho precisa de você agora.
Eu não era um homem que confiava nas igrejas para milagres — não quando minha Amélia morreu, não depois da
queda do avião — mas achei que agora seria a hora de começar. De joelhos, na capela do hotel, pude sentir um poder se
movendo por mim, um calor se instalando em meu peito.
— Nossa Angela foi tirada de nós. Xavier precisa de você, meu amor.
Ele não é forte o suficiente para perdê-la também. Dê a eles — dê a todos nós — a força de que precisamos para passar
por essas horas sombrias.
Guie-nos para o caminho certo. Mantenha-a segura. Por favor, mantenha Angela segura. Não há... não há mais nada que
eu possa fazer.
Não foi apenas pelo meu filho que orei, mas pelos amigos e familiares de Angela. Por mim.
Angela era uma das almas mais puras e brilhantes que já tive a chance de encontrar, e eu sabia que o mundo seria um
lugar muito mais sombrio sem ela.
— Por favor, — eu sussurrei, apertando minhas mãos diante de mim.
— Por favor, traga-os de volta em segurança.

Xavier
Encontrei o armazém, um prédio longo de um andar ao longo da costa.
Havia um furgão na frente dele. Luzes brilhavam de dentro.
Tinha que ser aqui. Mas eu será que cheguei a tempo?
Desliguei o motor do Lamborghini e pulei para fora do carro.
O cascalho rangia sob meus sapatos enquanto eu corria para as portas do armazém. Elas foram abertas, com a luz
vazando ao pátio externo.
Eu não sabia o que me esperava lá dentro. Não importava mais. Não havia tempo pra isso.
Com os olhos semicerrados pela forte luz sintética, passei pela porta do armazém.
E lá estava ele: Jacques. Com roupas manchadas de sangue e as mãos manchadas de vermelho, ele estava sobre um
corpo.
Abaixo dele, mole no chão de concreto, estava Angela, com seda magenta e sangue carmesim acumulando-se ao seu
redor.
Não.
Não pode ser.
Não estou muito atrasado.
Ele não pode vencer.
Uma onda de fúria tomou conta de mim, com minhas mãos se fechando em punhos.
Eu não aceitaria isso. Não poderia.
Esta deveria ser minha segunda chance.
Eu a amava.
Eu a amo, pelo amor de Deus.
O destino poderia ser tão cruel?
— JACQUES! — Minha voz ecoou pelo armazém.
Ainda curvado sobre Angela, Jacques se virou para mim, com um sorriso doentio se espalhando em seus lábios.
— Xavier. — Ele sorriu. — Que surpresa. Acho que há algumas coisas que devemos discutir.
Tirei meu paletó Armani, deixei-o cair no chão do armazém e agarrei um pé de cabra de uma caixa próxima, avançando
em direção a ele.
Não havia mais nada para discutir.
Ele destruiu tudo.
Arregaçando as mangas da minha camisa social, eu zombei.
— Terminamos isso agora.

Capítulo 29 Ok

Xavier
Eu golpeei o pé-de-cabra na cabeça de Jacques.
Ele caiu no chão, lutando por uma faca que estava em uma poça de sangue de Angela.
Começamos a circular um ao outro — com o corpo de Angela entre nós — como dois leões lutando por sua presa.
— Vamos, — eu provoquei. — Vamos, seu desgraçado francês imundo! Vem me pegar. Isso é o que você queria, não
era?
Jacques rosnou e mergulhou em minha direção.
Eu desviei, esquivando-me de sua lâmina, balançando meu pé de cabra nele novamente.
Houve um estalo nauseante quando o metal atingiu seu flanco.
Jacques grunhiu, caindo de joelhos.
Arrisquei um olhar por cima do ombro para Angela, tentei ver se ela estava se movendo, respirando.
— Você tirou tudo de mim! — Jacques gritou, pondo-se de pé. — Por quê?
Meu punho apertou o pé-de-cabra, preparando-me para seu próximo ataque.
— Por que não?
Era verdade. Não havia um bom motivo. Nada que o fizesse se sentir melhor. Tudo começou porque eu dormi com
Penny.
Eu fiz isso porque podia. Porque não me importei com as repercussões de nada do que fiz. Porque eu estava errado.
Mas agora era tarde demais.
— Você já tinha tudo, — gritou Jacques, atacando.
Não fui rápido o suficiente desta vez. O ombro de Jacques bateu em mim, me jogando no chão.
Eu gemi quando uma dor aguda cortou meu braço.
Então estávamos rolando. As pernas chutaram e os punhos voaram enquanto lutavamos.
Finalmente, consegui prender Jacques embaixo de mim e me levantei de modo que me sentasse em seu peito.
Eu joguei meu punho direito em seu rosto. Então meu esquerdo. E foi assim repetidamente enquanto ele resistia
embaixo de mim.
Eu o atacava implacavelmente.
Eu deixei a dor tomar conta de mim. Abastecer-me. Guiar-me.
Eu queria machucá-lo como ele me machucou, como ele machucou Angela.
Lentamente, Jacques parou de lutar, parou de se mover.
Eu sabia que poderia continuar. Eu poderia socá-lo até que seu último suspiro deixasse seu corpo, mas quando olhei
para cima, avistei Angela e meus punhos começaram a desacelerar.
Não valia a pena. A dor não resolveria isso. A raiva não melhoraria nada. Eu já tinha vivido isso antes, percorrido esse
caminho muitas vezes.
Desta vez, eu escolheria uma forma diferente.
Com os nós dos dedos cobertos de sangue — tanto os de Jacques quanto os meus, — eu me levantei e pisei em seu
corpo imóvel.
Cambaleei pelo chão do armazém e caí de joelhos ao lado de Angela.
Ela estava deitada no chão, quase nua, com os braços torcidos atrás dela em um ângulo terrível. Eu rapidamente puxei
as cordas que a prendiam à viga em que Jacques a amarrou. E com os dedos sangrando, consegui libertá-la.
Sirenes tocaram à distância enquanto eu colocava Angela em meu colo.
— Tarde demais, — gritei comigo mesmo. — Você chegou tarde demais.
Com as mãos trêmulas, afastei os fios dourados de cabelo de seu rosto, deixando os soluços me tomarem.
Não conseguia me lembrar da última vez que chorei. Não conseguia me lembrar da última vez que me permiti machucar
tanto. Por anos, eu tranquei a dor dentro de mim. Eu não aguentava mais, não suportava isso. A visão de Angela
ensanguentada em meus braços me destruiu.
Pressionei meu rosto ao dela, esperando — tendo esperanças — sentir sua respiração na minha pele. Veio, mas era
muito fraca.
Eu estava perdendo ela.
— Sinto muito, — eu sussurrei, balançando-a para frente e para trás.
— Sinto muito, Angela.
As sirenes ficaram mais altas. Eu a segurei contra meu peito, esperando que seus olhos abrissem. Esperando poder vê-la
sorrir mais uma vez.
— Eu escolho de novo, — eu disse a ela. — Eu escolho você.
Uma pequena linha apareceu entre os olhos de Angela.
Não era possível.
Pisquei e, com a voz trêmula, perguntei:
— Angela?
Pouco a pouco, os olhos de Angela se abriram.
Minha respiração ficou presa na minha garganta. Eu estava com medo de me mover. Com medo de respirar.
Angela franziu a testa por um momento, e então os cantos de seus lábios se curvaram quando seus olhos se focaram em
mim.
— Você veio, — ela disse, com a voz fraca.
Eu beijei sua testa.
— Claro, meu anjo.
De repente, o rosto de Angela caiu, seu doce sorriso foi substituído por terror.
Olhei por cima do ombro a tempo de ver Jacques parado atrás de nós, com o pé-de-cabra nas mãos, indo direto na
minha cabeça.

Angela
— Xavier! — Eu gritei quando Jacques balançou o pé-de-cabra na direção da cabeça de Xavier.
Em seguida, um grande estrondo ecoou pelo armazém, terminando com o conflito.
Jacques congelou, seus olhos reviraram, e ele desabou no chão.
— Está tudo bem, — Xavier respirou acima de mim como uma
oração. — Você está segura. Você está segura. Eu estou aqui.
Ele veio.
Xavier veio.
Estou a salvo.
Então fomos cercados. Os cães latiram. Pessoas gritaram. Sirenes soaram.
Meus olhos ficaram pesados novamente. Sons e imagens se misturaram num borrão.
— Você está ferido, Sr. Knight?
— Precisamos levá-lo ao hospital.
— Nós cuidaremos dela agora, Sr. Knight.
Mãos fortes se apertaram ao meu redor. Fui erguida.
Uma luz brilhante encheu minha visão e um calor começou a me encher.
— Você está segura agora, meu anjo.
— Estou aqui. Estou aqui.
Estou aqui.
Xavier
Quando Jacques caiu no chão atrás de nós, a polícia invadiu o armazém com as armas levantadas.
Eles se espalharam entre as caixas.
Eu fiquei no chão, segurando meu anjo em meus braços.
— Não me deixe, — ela sussurrou, com as pálpebras fechando novamente.
— Fique comigo, Angela, — implorei.
— Não me deixe, — ela disse novamente.
— Estou aqui, — prometi. — Estou aqui.
— Sr. Knight, — alguém disse.
Pisquei e olhei para o lado.
Havia um policial ajoelhado ao meu lado.
— Você está ferido, Sr. Knight?
Eu balancei minha cabeça, confuso com sua pergunta.
O que isso importa? Ele não conseguia ver o quanto Angela estava machucada?
Ele estendeu a mão e pressionou dois dedos contra a garganta de Angela.
— Precisamos deixar os paramédicos examinarem sua esposa.
— Sim, — eu concordei. — Por favor.
— Você tem que deixá-la ser tratada agora, Sr. Knight.
— Não, eu preciso ficar com ela. Eu prometi que ficaria com ela.
— Sr. Knight, temo que não seja possível. Vocês...
Eu parei de ouvir. O idiota não entendeu.
Pegando Angela em meus braços, eu me coloquei de joelhos, e de pé.
Eu podia ver a ambulância esperando do lado de fora do armazém.
— Você vai ficar bem, — sussurrei para Angela, dando um passo em direção à ambulância, depois outro. — Estamos
quase lá.
Os paramédicos pularam da traseira da ambulância, correndo em minha direção com uma maca entre eles.
— Nós cuidaremos disso a partir daqui, Sr. Knight, — disse um deles, parando diante de mim.
— Você precisa soltá-la agora, Sr. Knight, — disse o outro.
— Eu não vou. Eu preciso ficar com ela.
Por que ninguém entende como isso é importante?
O segundo paramédico — uma mulher pelo que percebi — falou novamente.
— Você pode ficar com ela, Sr. Knight, mas você precisa colocá-la na maca agora. Se você quer que a ajudemos, você
precisa deixá-la aqui.
Eu cedi, colocando Angela na maca. Em um segundo, ela foi levada embora pelo primeiro paramédico e carregada para a
parte de trás da ambulância.
— Vamos, Sr. Knight. Você também, — disse o segundo.
Eu os segui. Subi na parte de trás da ambulância. Sentei-me no banco.
As portas traseiras da ambulância se fecharam e as sirenes começaram a soar mais alto do que nunca.
Uma das mãos de Angela, a mais próxima de mim, estava pendurada na maca. Estendi a mão e a agarrei, enrolando seus
dedos frios nos meus.
— Ela vai ficar bem, Sr. Knight, — a mulher me disse, apertando meu ombro.
— Você não sabe disso, — rebati, agarrando com mais força a mão de Angela.
— Eu sei, — ela disse, — que faremos tudo o que pudermos por ela.
Eu sei que a Sra. Knight ficará muito chateada se você não nos deixar cuidar de você também.
Eu me calei e deixei a paramédica olhar para meu braço, minhas mãos, minha cabeça.
— Há alguém para quem você deveria ligar? — o paramédico perguntou.
Merda.
Meu pai. Em. Sr. Carson.
— Sim, — eu disse e tirei meu celular do bolso.
Com dedos trêmulos, encontrei o número de papai e apertei o botão de chamada.
Ele atendeu ao primeiro toque.
— Pai?
— Xavier, — disse meu pai, a voz cheia de um certo tipo de reverência.
— Estou aqui, pai, — eu disse. — Estou bem.
Houve um momento de silêncio enquanto ele reunia coragem para fazer a pergunta.
A única pergunta que importava.
— Angela?
Novas lágrimas encheram meus olhos.
— Não sei.
— Está tudo bem, filho. Tudo ficará bem.
— Estamos indo para o hospital, — eu disse a ele.
— OK. Estamos indo. Nos encontraremos lá.
A linha ficou muda.
As sirenes continuaram a soar.
O paramédico tirou o telefone das minhas mãos.
Deitei na maca e fechei os olhos.
Por favor, orei. Por favor apenas deixe ela ficar bem.
Deixe Angela ficar bem.

Capítulo 30 Anjo

Angela
Acordei com um barulho de bipe. O som tinha uma batida uniforme, no tempo com a minha cabeça latejante, no tempo
com o meu batimento cardíaco.
Com um gemido, abri meus olhos, estremecendo quando uma luz ofuscante e estéril tomou minha visão.
Eu estava em um quarto de hospital. Isso estava claro, mas como eu vim parar aqui?
Então lembrei de tudo rapidamente.
Jacques.
O armazém.
A faca.
Xavier. Onde está Xavier?
O bipe acelerou quando me movi para jogar para trás os cobertores do hospital, apenas para descobrir que não
conseguia. Algo estava segurando minha mão.
Eu olhei para baixo. Xavier estava sentado ao lado da minha cama, dormindo com um braço segurando sua cabeça. E sua
outra mão segurava a minha.
Eu sorri. Xavier estava aqui. Ele ficou comigo.
Estendi minha outra mão e gentilmente passei pelo seu cabelo.
Xavier se ergueu de um salto, seus olhos procurando freneticamente pela sala até que pousaram em mim.
— Você acordou.
— Sim, — respondi com um sorriso.
Xavier deu um pulo, jogando os braços em volta de mim, fazendo-me estremecer quando a dor desceu pelas minhas
costas.
— É tão bom ouvir sua voz.
É tão bom ouvir sua voz.
— Desde quando você diz coisas assim?
— Eu pensei que tinha perdido você, Angela, — Xavier chorou, afastando-se.
— Isso é mais sua cara.
— Como você está se sentindo? Quer que eu chame a enfermeira? Eu vou chamar a enfermeira. — Xavier se levantou,
alcançando o botão de chamada de emergência na parede.
— Estou bem, — eu disse a ele. — Calma.
Ele hesitou por um momento, pareceu decidir acreditar em mim e lentamente voltou à sua cadeira.
— Xavier, — eu disse, olhando para o meu colo. — O que aconteceu?
Eu não tinha certeza se estava pronta para saber a resposta. Sendo sincera comigo mesma, estava com medo de saber a
verdade.
Mas eu sabia que tinha que perguntar. Eu precisava saber o que havia acontecido. Do contrário, ficaria imaginando o
resto da minha vida. Eu imaginaria o pior.
Xavier pigarreou, tendo a decência de parecer desconfortável.
Esse não era o tipo de coisa sobre a qual falávamos normalmente.
Coisas difíceis. Coisas importantes.
Ele começou a recitar uma lista de palavras médicas como concussão, lacerações e suturas.
— Eu fui...? — Não consegui dizer a palavra.
Os olhos de Xavier se arregalaram, entendendo o que eu estava perguntando.
— Não. Eu, uh, eu pedi para os médicos verificarem.
Um peso repentino foi retirado de meus ombros. Jacques não conseguiu. Ele não tinha me estuprado.
— E Jacques?
— Morreu, — respondeu Xavier, não parecendo nem um pouco arrependido. — A polícia atirou nele. — Eu balancei a
cabeça, esperando que o toque de tristeza que caiu sobre mim com a notícia não transparecesse em meu rosto. Jacques
tinha feito coisas terríveis. Eu sabia disso, mas também sabia que ele as tinha feito por causa da dor. Ele havia perdido o
amor de sua vida e sua carreira. Pessoas já fizeram muito pior por muito menos.
— E você, Xavier? Você se machucou? — Com base em sua camisa amassada e na nuca, em sua mandíbula, Xavier não
tinha ido para casa ainda.
— Apenas alguns arranhões e hematomas, — ele desdenhou. Então ele pegou minha mão novamente, segurando-a com
as suas. — Eu estava apavorado, Angela.
— Estou aqui, — eu disse a ele, levando minha mão livre até sua bochecha. — Estou aqui por sua causa. Não sei como te
agradecer.
— Ver você sorrir de novo é mais do que eu jamais poderia esperar. — Ele levou minha mão aos lábios e deu um beijo
delicado em meus dedos.
— Há algumas pessoas lá fora que ficarão muito felizes em vê-la acordada.
Minhas sobrancelhas se ergueram.
— Aqui? Agora?
— Sim, anjo. Você está pronta para isso?
— Claro.
Xavier se levantou e cruzou a sala, desaparecendo pela porta. Ele voltou um momento depois com uma multidão de
pessoas atrás. Meu pai, Brad, Danny, Lucas e Em todos amontoados no quarto do hospital.
— Filhinha, — papai disse, correndo para o meu lado. — É tão bom ver você acordada.
Seus olhos azuis brilhantes nadaram com lágrimas. Estendi a mão para ele e segurei com força sua grande mão
envelhecida.
— Não achou que poderia se livrar de mim tão fácil, não é? Como estão os Giants?
— Eles estão indo para o Super Bowl, — ele respondeu, com um sorriso grande.
Em veio a seguir. Ela jogou os braços em volta dos meus ombros o melhor que pôde com todos os monitores e tubos ao
meu redor.
— Nunca mais faça isso!
— Eu sinto muito por ter arruinado o seu casamento, — eu disse a ela, apertando de volta.
— Nem comece com tudo isso! — Em disse.
— Mas...
— Eu disse não. Estou muito feliz por ter minha melhor amiga de volta.
Eles ficaram sentados mais um pouco, rindo e discutindo entre si.
Recostei-me na cama do hospital, ouvindo, observando e absorvendo minha família.
Eu me senti a garota mais sortuda do mundo.
Eu estava tendo uma segunda chance, um recomeço.
Haveria um novo dia, e outro depois desse, e eu poderia vê-los.
Conhecer os filhos de Em e Lucas. Assistir aos Giants com meu pai. Ver Danny se apaixonar.
E Xavier estaria lá. Ao meu lado. Sempre. Exatamente como ele prometeu.
Mais tarde naquele dia, houve uma batida na porta do meu quarto de hospital. As enfermeiras não batiam, minha
família havia ido embora e Xavier havia ido para casa tomar banho. Quem poderia ser?
— Olá?
A porta se abriu lentamente e Dustin enfiou a cabeça para dentro da sala.
— Oi.
Eu sorri, endireitando-me na cama do hospital.
— Que bom te ver!
— Mesmo? — As sobrancelhas de Dustin se ergueram. Ele rapidamente fechou a porta atrás de si e se aproximou da
cama. Ele estava carregando algo grande e quadrado e embrulhado em papel pardo.
— Claro, — eu disse a ele com uma careta. — Por que eu não ficaria feliz em te ver?
— Porque você ter sido sequestrada foi tudo culpa minha?
Naquele momento, meu peito apertou e meu coração doeu pelo meu amigo.
— É isso mesmo o que você pensa?
Os ombros de Dustin caíram.
— Se eu não tivesse vendido sua pintura para aquele francês horrível, nada disso teria acontecido. Eu fui
completamente egoísta.
— Você não tinha como saber o que aconteceria, Dustin. Eu entendo fazer coisas desesperadas quando o dinheiro fica
apertado. Eu o perdoo por vender o quadro, mas Jacques teria encontrado uma maneira de chegar até mim de uma
forma ou de outra. Não foi sua culpa.
— Bem, eu fiz uma nova pintura para você. Uma melhor ainda, — disse Dustin, levantando o pacote. Ele o colocou ao pé
da cama e começou a rasgar o papel da embalagem.
Eu me engasguei, com as mãos voando para cobrir minha boca enquanto a pintura abaixo era revelada.
— Você se superou.
A pintura não era tão fantástica quanto o estilo de sempre de Dustin, nem tão obscura quanto o anjo e o cavaleiro. Em
vez disso, havia um casal dançando no meio de uma movimentada rua de Nova Iorque.
Poucos dias depois, tive alta do hospital.
Xavier foi inflexível sobre ser o único a me pegar no hospital e se recusou a me deixar andar até o carro. Em vez disso,
ele me empurrou pelos corredores numa cadeira de rodas até a saída do hospital.
Ele tinha sido superprotetor nos últimos dias, ainda mais do que o normal. Mesmo assim, toda vez que ele mexia em
meus pés que ficavam frios ou uma enfermeira não arrumava meus travesseiros, eu sentia aquelas três pequenas
palavras borbulhando à superfície novamente.
Eu não conseguia me lembrar muito sobre a noite em que fui sequestrada, mas eu tinha certeza de uma coisa. Xavier
tinha vindo. Ele me salvou de Jacques. Foi a coisa mais corajosa e altruísta que alguém já fez por mim.
Embora Xavier não tenha dito isso, eu sabia que ele sentia por mim o mesmo que eu sentia por ele. Ele provou isso
naquela noite e todos os dias desde quando ele se sentou ao meu lado no hospital.
— É bom te ver de novo, Srta. Knight, — disse Marco, segurando a porta traseira do carro aberta para mim.
— É bom te ver também, Marco. — Eu sorri, aceitando a mão de Xavier quando me levantei da cadeira de rodas e
deslizei para o banco de trás do carro.
Xavier se sentou ao meu lado e pegou minha mão novamente, deixando nossos dedos entrelaçados deitarem no assento
do meio entre nós.
— Você está animada para chegar em casa? — ele perguntou quando entramos no trânsito.
— Mais do que você pode imaginar.
Meu estômago vibrou um pouco com suas palavras. Casa. Tínhamos uma casa juntos, Xavier e eu. Eu pertencia a algum
lugar. Pertencia a alguém.
Parecia impossível. Depois de tudo que passamos, do quão longe chegamos, Xavier e eu ainda estávamos juntos.
Papai estava saudável.
O restaurante da minha família não estava mais em dívida.
Em estava feliz.
Não havia mais nada que eu pudesse esperar.
Paramos em frente ao nosso prédio e borboletas começaram a vibrar no meu estômago.
Xavier me ajudou a entrar e atravessar o saguão até o elevador.
Lentamente, subimos cada vez mais alto em direção à cobertura.
Quando as portas do elevador abriram em nosso andar, Xavier deu um passo à frente, apenas para ser interrompido
quando nossas mãos, ainda ligadas, ficaram tensas entre nós.
Eu me congelei, com os dois pés firmemente plantados no elevador.
— Está tudo bem, Angela? — Xavier franziu a testa.
Eu sorri, e lágrimas de felicidade transbordaram de meus olhos.
— É só que…
Dar um único passo parecia uma distância intransponível. Era como uma linha de chegada de uma corrida da qual não
estava ciente.
No elevador, o velho mundo permaneceu, um passado cheio de ódio e mágoa.
A um passo de distância estava Xavier, um futuro impossível, que acenava para mim, esperava por mim, se eu apenas
fosse corajosa o suficiente para agarrá-lo.
Eu estava equilibrada, com cuidado, na beira de um precipício. Tudo o que restava era pular.
Fiquei emocionada, inundada, e as palavras saíram de meus lábios.
— Eu te amo.
Eu pulei

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