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“Em algum ponto, duas estradas bifurcavam em um bosque, e eu...

Eu trilhei a menos percorrida e isto fez toda a diferença”

- Robert Frost
D entro dessas paredes, ele se tornou o meu consolo, meu santuário e minha força.

Como um cavaleiro branco, ele me salvou de uma vida cinzenta e me mostrou um


mundo cheio de cor.

Dentro dessas paredes, eu me entreguei a um homem que disse que sempre iria
lutar por mim e me amar até o fim dos tempos.

Mas, às vezes, nem mesmo o amor era o suficiente quando a vida ficava no
caminho.

Quando o seu coração já foi danificado além do reparo, o que foi deixado para
quebrar?

Dentro dessas paredes, dei o meu coração menos perfeito para o homem que eu
amava.

E então... Ele se afastou.


B EEP, BEEP, BEEP…

Muito lentamente, comecei a registrar o que estava acontecendo ao meu arredor.


Meus ouvidos despertaram primeiro, depois o meu corpo lento e cansado despertou. Eu
ouvi o som do monitor de oximetria de pulso1 quando ele apitou longe ao fundo, me
puxando para fora da terra dos sonhos. Como a maioria dos dias, antes de ainda conseguir
abrir minhas pálpebras, eu observaria o meu entorno, ouvindo o mundo ao meu redor e
mentalmente identificaria as coisas que ouvia para determinar onde eu estava.

Alguém virou um carrinho pelo corredor, as rodas giravam e rangiam, enquanto


eram empurradas para o seu destino final. No fim do corredor, alguém conversava fora de
um quarto. Perto de mim, constantes sons do equipamento buzinando e zumbindo
enquanto monitorava o meu oxigênio e o ritmo cardíaco.

Todos esses sons juntos só podiam significar uma coisa.

Eu estava no hospital - ainda.

1
Dispositivo médico que mede indiretamente a quantidade de oxigênio no sangue de um paciente. Em geral é
anexado a um monitor, para que os enfermeiros, farmacêuticos, dentistas, médicos, pacientes, educadores físicos
e fisioterapeutas possam ver a oxigenação em relação ao tempo. A maioria dos monitores também mostram a
frequência cardíaca.
A maioria das crianças tinha a casa de uma avó como favorita, ou um amigo
especial que não poderia ficar sem - eu tinha o Memorial Regional. Ele tinha sido o meu
lar longe de casa, desde que eu era uma criança.

Ele definitivamente não era a mesma coisa.

Casa era tranquila e acolhedora.

O hospital fervilhava de ruídos em cada bendita hora do dia, independentemente se


fosse sol ou a lua que estava atualmente ocupando o céu.

Passar a noite aqui também me fazia sentir como se eu tivesse dormido em um


frigorífico. Eu aprendi através dos meus muitos anos internada aqui que o calor poderia
levar a uma infecção, razão pela qual os enfermeiros enterravam os pacientes em
cobertores dobrados, em vez de acionarem o forno. Na ponta dos pés, eu tinha 1,65 m de
altura e pesava um pouco mais de 45 kg. Nenhuma quantidade de cobertores poderia me
manter quente. Eu amava seriamente aquecedores.

Esfrego meu peito enquanto respiro ofegante apesar dos meus pulmões. Ele
vibrava um pouco enquanto eu exalava. Mordendo meu lábio, eu tentei ignorá-lo,
focando em meu único objetivo do dia.

Ir para casa hoje. Vou para casa hoje, eu cantava.

Minhas pálpebras relutantemente se abriram e minha visão embaçou no início, até


o quarto vir à tona. Nada havia mudado desde que dormi na noite passada. Eu vi a mesma
paisagem chata, paredes da cor de casca de ovo sem brilho e o mesmo quadro branco
listrando. Minha enfermeira de plantão com uma carinha feliz desenhada ao lado de seu
nome.

Grace estava trabalhando esta manhã. Ela era jovem, da minha idade, e ela acabara
recentemente de se formar em enfermagem. Ela amava carinhas felizes, corações e
qualquer outra coisa que pudesse desenhar com uma caneta marca-texto. Ela me
lembrava de uma princesa da Disney. Mesmo de uniforme, ela era totalmente feminina.
Eu jurava que um dia destes, ela ia sair cantando, convocando uma floresta inteira cheia
de pequenos animais e faria um musical, recheado com esquilos dançando, brincando e
cantando.

Mas tudo teria que esperar por mais um dia, porque eu estava saindo - hoje.

O que era para ser um procedimento de rotina comum tinha acabado por ser outra
internação prolongada. Eu estava mais do que pronta para chegar em casa e ficar em
minha própria cama. Eu odiava leitos hospitalares. Eles eram desconfortáveis, duros,
nunca me senti bem.

Sério, quem faz essas coisas? Será que eles realmente testam as camas antes de
colocá-las no mercado? Eu sei que as camas devem ser funcionais, mas realmente, eles
poderiam adicionar um pouco de espuma.
Eu tinha chegado ao hospital há duas semanas, com a expectativa de ficar dois dias
para trocar a bateria do meu marca-passo, mas como sempre, as coisas não tinham saído
como o planejado e acabei internada - novamente.

A história da minha vida.

Mas não hoje. Hoje, eu estava livre - bem, tão livre quanto minha vida permitiria.

Eu nasci com um defeito no coração. Basicamente, o meu coração era maior do


que deveria ser. Ele tornava a respiração e principalmente tudo mais difícil, porque o meu
coração tinha que trabalhar dez vezes mais do que normal. Em poucas palavras, este
pequeno defeito controlava toda a minha vida.

Estava também me matando lentamente, era isso que não me libertava dessa
prisão. Quando você vivia sua vida com os dias contados, cada segundo que você gasta
vendo os dias passarem através de uma janela do quarto do hospital era um momento a
menos que você podia fazer algo significativo.

Na minha vida limitada, a ideia de significativo podia ser definida como algo
completamente sem brilho e convencional, mas pelo menos não seria gasto aqui.

Eu exalei lentamente outra respiração ofegante através da minha boca no exato


momento que Grace decidiu caminhar através da porta.

— Bom dia! — ela quase cantou.

Ela me deu seu sorriso deslumbrante que era inteiramente muito alegre por ser tão
cedo ainda. Seus cachos escuros balançavam atrás dela quando ela saltou para o monitor
de computador e começou seu ritual matinal.

— Bom dia, Grace. Como você está? — perguntei.

— Estou fantástica! O sol está brilhando e os pássaros estão cantando! Minha


paciente favorita terá alta hoje! É um dia fantástico!

Uau, ‘dois fantásticos’ em um só fôlego.

O canto da minha boca se curvou em um sorriso, imitando o dela. — Você está


arrasando hoje. Alguma razão especial? — perguntei, sabendo que ela havia mencionado
ir a um encontro especial com o namorado na noite passada.

Eles estavam namorando há dois anos, e ela estava insinuando um compromisso


por um tempo. Meu palpite era que seu namorado finalmente entendeu a dica.

Grace se fez de desentendida. — Eu não sei o que você está falando. — ela
estendeu a mão esquerda até sua bochecha enquanto balançou a cabeça para trás e para
frente.
Lá, em seu dedo anelar, estava um perfeito, deslumbrante anel de diamante
branco, que combinava com seus olhos brilhantes.

— Você está noiva! Que surpresa! — exclamei.

Não foi uma surpresa. Ela tinha falado sobre isso desde que eu tinha chegado.

Eu realmente quero ficar feliz por ela - não, nada disso. Estou feliz por ela. Ela
merece toda a felicidade do mundo.

Minha vida não é horrível. É apenas diferente, me lembrei.

— Obrigada! Foi tão doce. Ele ficou de joelhos em seu terno - na praia, e sem
mais nem menos, me disse que eu era a única mulher que ele já quis compartilhar sua
vida e depois ele tirou esse anel. Foi tão romântico.

— Parece bonito. — eu disse.

Ela começou a anotar os números ao me analisar. Suas sobrancelhas se franziram


de repente, fazendo com que eu ficasse alarmada.

— O que foi? — perguntei.

— O quê? Ah, nada. Eu não acho que seja nada de grave. A leitura de oxigênio do
seu pulso está apenas um pouco mais baixa. — ela se inclinou para frente com um
estetoscópio e ouviu meus pulmões por um momento. — Deixe-me apenas atualizar o Dr.
Marcus e ele virá conversar com você daqui a pouco.

Eu balancei a cabeça, distraída quando ela fugiu rapidamente, me deixando


sozinha com meus pensamentos.

Olhando para o meu dedo indicador, que estava ligado à máquina que monitorava
os meus níveis de oxigênio, eu suspirei. A leitura não estava terrivelmente baixa - pelo
menos, não o suficiente para disparar um alarme, felizmente. Deixei escapar um pequeno
gemido e minha cabeça caiu para frente em derrota. Eu sabia o que isso significava - algo
não estava certo e Grace não queria dizer nada, porque isso era acima da sua
competência.

Então, agora, eu tinha que apenas sentar aqui e esperar - sozinha.

Sentar em um hospital, dia após dia, era tedioso. Havia tanta coisa que eu poderia
assistir na TV, tantos livros que eu poderia ler, antes da minha cabeça parecer que ia
explodir. Às vezes, o desejo de interação humana poderia se tornar tão intenso que eu me
sentia mal fisicamente.

Minha mãe esteve aqui todos os dias, e sua presença significava o mundo para
mim, mas o desejo e a necessidade de interagir com alguém da minha idade era
esmagador. Eu só queria alguém que não tinha me ajudado a ir ao banheiro ou que não
observasse todos os meus movimentos com a ansiedade, com medo que na minha
próxima respiração eu pudesse voltar ao hospital.

O livro que minha mãe estava lendo - algo acadêmico, um livro de texto, sem
dúvida - estava sobre a almofada da cadeira azul desgastada no canto, esquecido
juntamente com sua jaqueta e um notebook. Ela deve ter ficado até tarde e saído depois
que eu adormeci. Ela geralmente não fica depois das sete horas, mas ela estava
desesperadamente tentando terminar seu programa para o próximo semestre antes de eu
voltar para casa. Ela ficava tão paranoica sempre que eu tinha alta de uma internação
hospitalar. Ela temia que eu tivesse algum tipo de recaída e acabasse de volta onde
comecei - no leito esperando minha próxima alta. Portanto, em sua mente, a minha
necessidade de supervisão dobrava, triplicava até. Ela acabaria quase se matando,
tentando deixar tudo preparado para o meu retorno.

Minha mãe, Molly Buchanan, era professora de estudos religiosos na faculdade da


comunidade local. Ela era, provavelmente, uma das mulheres mais ecléticas do planeta.
Quando eu era jovem, uma vez perguntei a ela sobre o porquê dela ensinar religião, se
nós não vamos à igreja. Ela sorriu docemente e me disse que ela adorava aprender sobre
as religiões, tanto que ela não poderia escolher apenas uma, por isso, ela nunca seguiu
nenhuma em especial. Fazia sentido para mim quando eu era uma criança ingênua, mas
agora, isso só me fazia rir. Eu decidi anos atrás depois de ter sido uma das suas alunas,
que a minha mãe era apenas uma curiosa sobre o comportamento dos seres humanos e
não havia melhor maneira de aprender o como e os porquês das pessoas, do que através
das suas religiões.

Passei o que era esperançosamente a minha última manhã no hospital comendo


menos do que ovos estrelados e torradas de uma bandeja enquanto eu casualmente
passava pelos quatorzes canais de TV. Depois olhei as notícias e assisti a uma reprise de
Boy Meets World2, decidi que era hora de fazer as malas.

Cuidadosamente para não mexer no acesso que estava na curva do meu braço,
lentamente, me levanto e faço meu caminho para o banheiro.

Escovei meus dentes e tentei prender meu longo cabelo loiro em um rabo de
cavalo. Eu, então, reuni todos os meus produtos de higiene pessoal e os coloquei na
nécessaire que minha mãe tinha trazido. Depois de voltar para o quarto, joguei a
nécessaire dentro da mala ao lado da cama. Joguei várias outras coisas também e depois
de alguns minutos, eu estava pronta para ir embora.

Eu podia ouvir minha cama chamando por mim, sussurrando meu nome. Dormir
ininterruptamente era algo seriamente desprezado por aqueles que tinham a sorte de
apreciar. Agora, eu estava exausta - provavelmente mais exausta do que deveria estar,
mas ignorei isso porque eu estava indo para casa.

2
Série de TV que buscava explorar a forma como a família, os amigos e os professores influenciam a nossa vida a
partir da perspectiva de um jovem adolescente, acompanhando-o da infância/pré/adolescência à fase adulta.
Depois de tudo arrumado, eu me acomodei de volta para esperar o dia passar.
Sempre que uma enfermeira dizia que o médico estaria com você daqui a pouco, ela
realmente faria com que o médico viesse me ver em algum momento, então você não
deve prender a respiração. Vendo que Grace tinha saído há menos de uma hora do quarto,
fiquei bastante surpresa quando o Dr. Marcus de repente apareceu na minha porta.
Vestido com uniforme azul, ele passou as mãos grandes através dos seus cabelos
grisalhos.

Minha mãe tinha ajustado as aulas do dia, ela havia trocado suas aulas do curso de
um verão, e ela agora estava sentada em seu lugar de sempre no canto. Ela estava
profundamente imersa em seu livro anterior, rabiscando notas, mas ela se animou
instantaneamente quando meu médico, um coroa bonitão entrou.

Ele deu alguns passos, hesitou um pouco, e depois andou para perto da cama. Ele
parecia desconfortável e seus olhos estavam vagando ao redor do quarto, como se
estivesse tentando desesperadamente desviar o olhar de mim. Finalmente, ele encontrou o
meu olhar, e imediatamente, eu soube que ele tinha uma má notícia.

— Ei, Lailah. — disse ele.

— Oi, Dr. Marcus.

— Escute criança. — ele começou.

Eu o interrompi: — Eu não sou mais uma criança.

— Certo. Eu sempre esqueço. Vinte e dois. Louco isso.

Dr. Marcus era meu médico desde que eu era criança. Eu tinha ido a outros
hospitais para procedimentos mais complexos e outros médicos e especialistas tinham me
visto ao longo dos anos, mas eu sempre estive sob os cuidados do Dr. Marcus. Além da
minha mãe, ele era a pessoa mais próxima que eu tinha de família.

— Eu vi seus exames, e você não terá alta hoje, Lailah.

— Por quê? — sussurrei.

Ele arqueou a sobrancelha, dando-me um olhar aguçado.

— Minha respiração. — eu respondi minha própria pergunta.

Ele acenou com a cabeça. — Sim, sua respiração não está boa e eu posso te dizer
do outro lado do quarto que seu coração está batendo de forma irregular. Sinto muito. Eu
sei que você queria pegar a estrada hoje, mas até chegarmos à melhor forma, eu não
posso deixar isso acontecer.

Eu me virei para minha mãe, que estava olhando para mim com uma expressão
triste, preocupada. Nossos olhos se encontraram e ela me deu um sorriso hesitante. Ela
não discutiria com ele. Eu sabia por experiência própria. Ela seguia todas as instruções
médicas à risca. Quando se tratava da minha saúde, ela não estava disposta a arriscar.

— Tudo bem. — eu disse, voltando para o Dr. Marcus, enquanto tentava lutar
contra as lágrimas. — Eu acho que é hora de ter comida ruim e TV durante o dia mais
uma vez.

— Vou me certificar de que eles lhe enviem sobremesa extra. — ele disse com
uma piscadela.

Seu foco depois foi para a minha mãe e eu a vi se levantar de sua cadeira para se
juntar a ele no canto do quarto. Amontoados, eu podia ouvir muito pouco do que eles
estavam dizendo, mas pelo que consegui pegar, eu ia ficar presa dentro destas paredes
por um período mais longo.

A liberdade de repente desapareceu diante dos meus olhos.

De volta à prisão, eu vou.


H oje foi meu aniversário.

Eu tinha vinte e quatro - espera, talvez vinte e cinco?

Merda, eu provavelmente deveria saber disso.

Fazia três anos desde o acidente. Umas férias de comemoração tinham me levado
à Califórnia, mas se transformou em nada além de sonhos despedaçados e tristeza. Desde
então, eu não estava muito interessado em aniversários ou todas as celebrações em geral.

Fazia três anos que eu a perdi.

Imaginei que significava que eu estava fazendo vinte e cinco hoje.

Feliz aniversário, Jude.

Quatro anos atrás, no dia em que eu ia completar vinte e um anos, passei o meu
aniversário em um bar dançando e em boates com meus irmãos da fraternidade, jogando
dinheiro fora como se eu tivesse uma fortuna - e na época, eu tinha.

— Vá se divertir. — meu pai havia dito.


E nós tínhamos feito exatamente isso. Eu não conseguia me lembrar de metade do
que tinha acontecido naquela noite. Tudo o que eu conseguia lembrar era de passar a
manhã seguinte com a cabeça debruçada sobre um vaso sanitário enquanto Megan tinha
me ajudado a me recuperar.

Naquela noite, porém, eu tinha um encontro de aniversário quente com alguns


penicos, um bando de gráficos, e se eu tivesse sorte, uma pausa de quinze minutos na
máquina de venda automática. Talvez eu pudesse realmente fazer tudo e ter uma Milky
Way3 esta noite.

Há dois anos, eu trabalhava no Memorial Hospital em Santa Monica como técnico


de enfermagem - basicamente, um funcionário glorificado depois que fui obrigado a
passar por testes e ganhar certificados. Eu comecei como um zelador, uma mulher
simpática do HR, Margaret, tinha tido piedade de mim depois de me ver vagando pelos
corredores do hospital por semanas. Percebendo que eu nunca iria embora de outra
forma, ela me ofereceu uma vaga de zelador, e eu disse que sim na hora. Quando disse
que era graduado em negócios na Princeton recentemente, ela ergueu as sobrancelhas um
pouco, mas ela nunca fez qualquer pergunta. Quando eu firmemente pedi para não ter o
meu último nome listado no meu crachá de identificação, por motivos pessoais, ela
apenas arqueou a sobrancelha um pouco mais, entregou-me o meu recém-feito crachá, e
me disse para ir trabalhar.

Eu mal tinha deixado o hospital desde então.

Eu tinha um pequeno apartamento do outro lado da cidade onde eu ia dormir entre


os turnos e fazer refeições medíocres, mas este lugar foi onde vivi a maior parte das
minhas horas de vigília. Eu costumava trabalhar horas extras e tomar turnos extras
quando as pessoas precisavam de dias de folga apenas para que eu pudesse ficar dentro
das paredes deste hospital.

Era um tipo de casa para mim.

Eu realmente não tinha vivido um dia da minha vida desde que cheguei aqui, há
três anos, com sangue escorrendo pelo meu rosto enquanto eu gritava o nome de Megan
várias vezes, tentando trazê-la de volta à consciência. Não funcionou na sala de
emergência e não funcionou nos dias terríveis que se seguiram também. Eu estava
andando nesses corredores vazios sem ela desde então, seguindo o seu fantasma em torno
dos cantos e em corredores, enquanto eu tentava, em vão, apenas existir.

Eu não poderia viver quando tudo pelo que eu tinha vivido estava morto.

Parando pela máquina de venda automática, peguei o dinheiro trocado no bolso até
que eu encontrei a quantidade exata para o meu jantar deleite de aniversário. Jogando as
moedas na abertura, pressionei a combinação correta de botões e esperei a barra de
chocolate empurrar para frente antes de despencar para o fundo. Ela caiu com um baque
duro e eu rapidamente me abaixei para pegá-la.

3
Barra de chocolate com recheio de caramelo.
Menos de três minutos depois, eu tinha devorado a barra de chocolate e a
embalagem estava no fundo de uma lata de lixo. Eu voltei da máquina de venda
automática, para o posto de enfermagem, para verificar novamente. Eu tinha acabado de
dobrar a esquina quando eu fiquei cara-a-cara com Margaret.

— Ei, Jude. Você é a pessoa que eu estava procurando. Você se importaria de me


seguir? Eu queria falar com você por um minuto. — disse ela.

Eu dei um breve aceno de cabeça e segui atrás dela, assistindo seu cabelo castanho
escuro balançar em todas as direções enquanto ela rapidamente caminhava pelo longo
corredor. Em um mar de uniformes, ela parecia excêntrica vestindo um terninho de lã
azul barato. Parecia dar coceira, e julgando pelas marcas vermelhas ao longo de seu
pescoço, eu suponho que ela concordaria.

A lã barata poderia dar alergia mais rápido do que caminhar através de uma
floresta de hera venenosa. Quando eu tinha uns nove anos, nossa babá, Lottie, havia sido
instruída a me levar para comprar um novo blazer de lã para a véspera de Natal. Era algo
que minha mãe sempre adorava fazer, mas me lembrei daquele ano como sendo
particularmente estressante, então ela enviou Lottie em seu lugar. No meio da missa, meu
pai me puxou para fora, porque eu não conseguia parar de me coçar. Descobriu-se que
Lottie tinha comprado o blazer de uma loja de imitação barata e ela guardou o resto do
dinheiro que meus pais lhe deram. Desnecessário dizer, que foi o último Natal que ela
passou com a gente. Foi uma aventura alucinante para um menino de dez anos. Quando
eu recontei a história para os meus amigos, havia polícias e ladrões envolvidos.

Enquanto Margaret e eu fizemos o nosso caminho pelo corredor, ela continuou a


mexer com sua gola, mas absteve-se de fazer quaisquer comentários. Eu tinha deixado
para trás a vida de ternos caros e reuniões do conselho.

Jude, assistente de enfermagem, não sabia nada sobre isso. Ele ficava quieto, ele
não tinha amigos e ele nunca respondia às perguntas sobre o seu passado. Levou algum
tempo, mas meus colegas de trabalho tinham aprendido a respeitar esses limites. Após o
primeiro ano recusando todos os convites de happy hour, encontros e festas, eles
rapidamente descobriram que eu era um solitário com uma fortaleza de paredes grossas,
impenetráveis construídas em torno de mim.

Eu não estava prestes a estragar tudo fazendo algum comentário sarcástico à


minha chefe no HR sobre seus dedos coçando seu pescoço. Se eu fosse fazer isso, eu
poderia muito bem dar-lhe conselhos sobre sua 401 (k)4 e me oferecer para olhar sua
carteira de ações.

Margaret destrancou a porta de seu escritório e acendeu as luzes fluorescentes


acima de nós.

— Sente-se, por favor? — ela pediu, apontando para os assentos na frente de sua
mesa.

4
Plano de aposentadoria.
Eu estabeleci-me em uma das poltronas estofadas e me inclinei para frente, me
preparando para o que estava por vir.

Ela arrastou alguns papéis em torno de sua mesa e clicou em seu teclado antes de
finalmente voltar seu olhar para mim. — Você provavelmente está se perguntando o que
está fazendo aqui.

Assenti.

— Bem, você vê, houve alguns ajustes e...

Meu pulso acelerou, e eu a cortei: — O que você quer dizer, com ajustes? Estou
sendo demitido?

Eu não podia perder esse emprego. Este foi o último lugar que eu a vi, onde
segurei sua mão. Se eu não estivesse aqui, não seria capaz de senti-la comigo e eu não
sabia como agir sem ela.

— Acalme-se, Jude. Ninguém será demitido. Você está apenas mudando de


departamento.

— O quê? Para onde?

Eu estava trabalhando na sala de emergência desde o meu primeiro dia como um


enfermeiro. Era exatamente o tipo de lugar que eu precisava estar. A emergência era
acelerada e mantinha minha mente ocupada. Foi também onde eles nos levaram após
sermos atingidos e feridos, depois de colidir de frente em um obstáculo em Jersey, após
Megan ter adormecido ao volante. Eu tinha sido tratado e tive alta rapidamente, tive
apenas um braço quebrado, alguns inchaços e contusões. Megan, porém, havia tomado a
maior parte do impacto, por isso, seus ferimentos tinham sido muito piores.

— Você está sendo transferido para a cardiologia.

Eu gemi interiormente. Tudo o que eu podia imaginar eram idosos com corações
envelhecidos e suas cirurgias de desvio. Meus deveres de comadre seriam postos à prova.

— Por quê? Existe uma razão particular? — Eu queria saber o que tinha feito para
merecer esse inferno.

— Nós só pensamos que seria bom para você fazer algo diferente. — Ela
respondeu com um sorriso encorajador.

Ela tinha feito isso de propósito.

— Eu não quero ser fixo, Margaret. Eu não sou seu caso de caridade. — disse com
os dentes cerrados.

Havia um punhado de outros como ela, mas Margaret era persistente. Ela foi
aquela que me conseguiu esse emprego, sabendo que eu era um homem de luto,
quebrado, vagando por esses corredores. Ela provavelmente assumiu a responsabilidade
de me contratar e me dar oportunidade de me curar e seguir em frente. Ela estava errada.
A cura exigia que eu a desejasse. Eu não queria me curar, e eu certamente não queria
seguir em frente. Eu não tinha deixado a minha antiga vida para trás e começado um
trabalho no local onde minha noiva morreu para acalmar minha alma. Não, eu vinha aqui
todos os dias para lamentar a vida que eu tinha tomado de forma egoísta e eu gostaria de
ficar aqui para fazer exatamente isso - sem importar o departamento que Margaret me
transferisse.

— Sinto muito, Jude. — ela sussurrou. — Você não foi o único transferido. Por
favor, não se sinta escolhido.

— Quando eu começo? — questionei, tentando acalmar a raiva que sentia rolando


por mim.

— Hoje à noite. Você pode ir lá agora, se quiser. — Ela respondeu com um sorriso
educado.

Quando ela voltou para suas pilhas de papéis, me levantei da cadeira e fiz meu
caminho para fora, mas fui interrompido quando a voz baixa de Margaret cortou o
silêncio.

— Ah, Jude? — disse ela. — Feliz Aniversário.

Cada passo que eu dava em direção ao terceiro andar parecia mais um quilômetro,
criando uma distância do casulo que consegui construir ao longo dos últimos três anos.
Gostar provavelmente era uma palavra muito forte, mas eu fiquei mais complacente na
minha simplicidade. Eu tinha ajustado a minha nova vida do jeito que estava, e esta
mudança súbita que tinha sido adicionada à mistura, estava fazendo minha mente pirar.

Megan nunca passou pela cardiologia. O olhar dos pais de Megan em súplica para
mim quando eles contaram que seu coração parou, passou diante dos meus olhos, mas eu
empurrei de volta a memória dolorosa. Depois da emergência, ela passou poucos dias na
UTI após várias cirurgias malsucedidas para reparar não só os danos no seu cérebro, mas
no coração, as feridas eram irreversíveis e fatais. Assim como todo o resto.

Quando me aproximei do posto de enfermagem, minha hesitação se dissipou com


a visão do Dr. Marcus Hale. Dr. Marcus, como gostava de ser chamado, era um
cardiologista que eu conhecia desde os meus dias de zeladoria. Ele não era como a
maioria dos outros médicos. Ele era descontraído, sem o menor sinal de esnobismo. Ele
sempre chegava em calções de praia depois do surf e seu cabelo ainda molhado com a
água do mar. Ele vinha tentando há anos me fazer comprar uma prancha.
A primeira vez que o encontrei era tarde da noite, quando eu fui chamado para
limpar um banheiro. Um paciente que ele vinha tratando havia vomitado. Quando eu
cheguei, comecei imediatamente a trabalhar, limpando algo que não deve ser descrito,
enquanto eles estavam ocupados conversando no quarto. Eu tinha terminado ao mesmo
tempo em que o Dr. Marcus e nós saímos do quarto juntos.

Ele soltou um suspiro exasperado e se virou para mim. — Você quer uma xícara
de café? Estou exausto.

Eu pensei que ele estava brincando. Eu era um zelador caramba, e ele era um
cardiologista, que provavelmente tinha visto mais espirros do que eu em um ano inteiro.

Ele não estava brincando embora. Juntos, nós caminhamos para o refeitório e ele
falou sobre o café e os bolos ruins. Tornou-se um hábito nosso desde então.

— Ei, Dr. Marcus. — Cumprimentei, tirando sua atenção da tela do computador.

— Ei, Jude. O que o traz até essas partes?

— Minhas novas atribuições. Eu fui transferido. — respondi.

Sua sobrancelha levantou-se em curiosidade. — Sério? Bem, essa é a melhor


notícia que eu tive durante toda a noite. É bom tê-lo a bordo.

Olhei em volta e imediatamente notei um homem velho se arrastando pelo


corredor. Eu gemi interiormente. Então, eu senti um tapinha duro nas minhas costas.

— Talvez você goste daqui com o tempo.

Seu incentivo não estava ajudando a situação.

Dei-lhe um olhar duvidoso.

Seu rico riso encheu o ar. — Tudo bem, talvez não, mas nunca se sabe. Este
poderia ser exatamente o lugar onde você está destinado a estar.

Depois de conhecer a enfermeira chefe noturna, que me lembrou um pouco a


enfermeira Ratched5, eu fiz a minha primeira ronda no meu novo andar. Ajudei
enfermeiros, troquei lençóis, respondi botões de chamada dos pacientes e concluí todas as
outras tarefas que eu tinha realizado um milhão de vezes. O trabalho não era diferente só
porque tinha sido colocado em outro lugar. As coisas eram um pouco mais lentas. As

5
Enfermeira Mildred Ratched é a principal antagonista do livro de Ken Kesey e no filme de Miloš Forman "Um
Estranho no Ninho".
enfermeiras se moviam em um ritmo calmo aqui. O estilo de vida apressado da
emergência tinha ido embora e tinha sido substituído por algo muito mais discreto.

Este tipo de movimento.

O ritmo lento me ofereceu a oportunidade de conhecer alguns personagens


interessantes ao longo da noite. Isso era uma coisa que diferia da emergência. Não havia
muita oportunidade para a interação social com os pacientes da emergência quando todos
estavam lá temporariamente. Eles teriam alta ou seriam movidos para outro lugar no
hospital. No departamento de cardiologia, no entanto, os pacientes geralmente
permanecem por um tempo.

O cara no quarto 305 estava se recuperando de uma ponte de safena tripla, e assim
que entrei em seu quarto, sabia que ele tinha uma história ou duas para contar. Livros
preenchiam o espaço pequeno. Romances encadernados em couro, livros de arte e livros
sobre quase qualquer outra coisa que eu poderia imaginar estavam empilhados em quase
todas as superfícies.

— Eles são lindos, não são? Como uma mulher nua coberta de seda, você só quer
chegar e tocá-lo, devorá-lo e possuí-lo. — disse o homem com uma voz rica, profunda,
que sugeria sua herança Latina.

Hum... Tudo bem...

Eu não tinha certeza de como reagir a isso, então eu fiz o meu habitual aceno de
cabeça evasivo e continuei. Chequei seus sinais vitais enquanto tentava não fazer contato
direto que poderia encorajá-lo a falar mais.

Ele sorriu um pouco com a minha evasão óbvia, e seu peito subia no riso
silencioso. — Sou Nash. — disse ele.

— Jude. — respondi rapidamente.

Seus olhos me avaliaram, tomando nota do meu cabelo loiro escuro que estava
precisando desesperadamente de um corte e as tatuagens que enrolavam em meus braços
e bíceps sob as mangas da minha camisa. Eu estava acostumado a essa rotina. Eu era
encarado e via as bocas se abrirem descaradamente quando viam as tatuagens. Eu
abandonei a aparência perfeita de classe alta que ostentei desde o nascimento para algo
um pouco mais áspero.

Eu não era mais o homem que tinha sido antes. Quando Megan morreu, eu deixei a
minha família e a vida que eu deveria ter. Quando olhava no espelho, eu não queria ver o
velho Jude, então mudei tudo em mim. Eu tinha comprado alguns aparelhos de ginástica
em casa, e quando não estava no hospital, eu levantava pesos, corria no início da manhã e
trabalhava em me certificar de nunca ver o que eu tinha sido quando cheguei aqui um
tempo atrás.

— Você não é de falar muito, não é? — disse Nash, cortando todo o lixo
entupindo meu cérebro.
— Não muito. — respondi honestamente.

— Está tudo bem. Eu falo o suficiente para duas pessoas.

E ele falou. Dentro de 20 minutos, eu sabia mais sobre Nash do que sabia sobre a
minha própria mãe. Um hippie aposentado, Nash passou seus primeiros anos vivendo em
comunidades para cima e para baixo na costa oeste.

Como ele disse: — Eu estava amando a vida e respirando tudo.

Eu traduzi como, ele tinha dormido com um monte de mulheres e feito uso de
todas as drogas imagináveis, mas achei que ele era um homem de palavras poéticas.

Mais tarde na vida, ele se estabeleceu e casou - várias vezes. Ele teve alguns
filhos, que, eventualmente, tiveram seus próprios filhos. Ele era um escritor, e,
aparentemente, foi muito bem-sucedido. Eu fiz uma nota mental para pesquisar por ele
quando chegasse em casa. Seu amor por filé mignon e bolo de chocolate tinha o
apanhado, e agora, ele estava pagando o preço com uma temporada prolongada no
hospital.

— Mas cada parte da nossa vida é uma jornada, não é? — disse ele.

Eu fiz meu caminho até a porta sem uma resposta antes de entrar no corredor.

Minha vida era tudo, menos uma jornada. Era um beco sem saída.

Quando passei pelo quarto 307, notei que a porta estava entreaberta. Era um quarto
que eu ainda não tinha visitado. Eu calmamente espiei no interior e vi uma jovem sentada
na cama. Fluindo pelas costas, seu longo cabelo estava solto e em linha reta, como palha
sedosa beijada pelo sol. Pálida e magra, ela parecia frágil e angelical. Seu olhar estava
focado na TV posicionada do outro lado no canto do quarto, e ela riu silenciosamente,
cobrindo a boca.

Foi quando eu percebi que ela tinha pudim de chocolate em seu dedo.

Na outra mão, ela segurava um potinho de pudim. Ela estava escavando o


chocolate com o dedo e chupando-o como uma criança com sua chupeta favorita. Eu não
pude evitar o sorriso que se espalhou pelo meu rosto ao vê-la usando o dedo em vez de
uma colher. Era meio nojento, mas um pouco cativante. Ela lentamente continuou este
processo, com pequenos bocados de sobremesa, até que o potinho estava completamente
vazio. Ela, então, começou a lamber as bordas.

Eu não sabia por que estava tão fascinado com isso. Talvez tenha sido a
simplicidade ou a pura estupidez de testemunhar algo tão inocente.

Quando foi a última vez que eu gostei de ver uma coisa tão simples? Eu já gostei?

Desde pequeno, minha vida teve privilégios e influência. Eu gostava, mas eu não
sabia se já tinha tido tempo para apreciar algo tão fácil e insignificante.
Eu me permiti a oportunidade?

Antes que ela pudesse notar o estranho parado em sua porta, desapareci de volta
para o corredor. O leve sorriso ainda estava espalhado nos meus lábios quando fixei meus
olhos no refeitório do hospital. De repente, eu tinha uma entrega especial de fim de noite
para fazer.
N enhuma lista de verificação era necessária esta manhã. Levou um segundo
para que os meus pequenos tímpanos reconhecessem o sussurro suave do oxigênio sendo
bombeado para dentro de mim. Quando meus olhos se abriram e focaram, levantei a mão
sentindo o tubo de plástico em volta do meu nariz. Eu imediatamente franzi o cenho. Meu
nariz já estava seco e escamoso dos tubos estúpidos.

Saco.

Eu odiava dormir assim. Era desconfortável, desagradável e me deixava de mau


humor, mas uma vez que a minha respiração estava insuficiente ontem, eu tinha sido
colocada no oxigênio durante a noite.

O lado bom era que eu tinha pelo menos máquinas e monitores em dias como
estes.

As coisas poderiam ser muito piores, e quando eu me via tendendo para o lado
ruim das coisas, eu sempre tentava me lembrar de que faltava pouco. Eu poderia ter
nascido há meio século e nunca conseguir sair do hospital. Em meus 22 anos, eu tinha
feito o meu quinhão de reclamações. Eu chorei até dormir mais vezes do que poderia
contar. Eu discuti com a minha pobre mãe. Eu implorei e insisti com ela quando me
trouxe de volta ao hospital para mais um procedimento.
Mas apesar de tudo, a parte racional, realista de mim sabia uma coisa muito
importante - eu era tão incrivelmente sortuda por estar viva.

Eu tive a sorte de nascer em um século com tecnologia moderna e em um país com


médicos experientes que poderiam tratar a minha saúde e me ajudar a passar de um
aniversário para o outro. Sem eles, eu sabia que não teria chegado tão longe. Minha vida
seria sempre uma batalha difícil, e mesmo que ninguém soubesse o que o futuro
reservava para mim, eu sabia que era abençoada pela curta vida que tive até agora.
Longevidade não era uma garantia para mim. Era uma realidade que eu tinha chegado a
um acordo há muito tempo, muito mais jovem do que qualquer pessoa deveria, mas era a
minha realidade e só minha.

Sendo reincidente nesse estabelecimento médico, eu não me incomodei em chamar


uma enfermeira para me ajudar. Eu simplesmente desliguei o oxigênio. Tirando os tubos,
eu respirei fundo e limpei meu nariz, odiando o modo como a minha pele ficava depois
de uma longa noite de cânulas soprando ar sobre ela.

Eu andei um pequeno trecho e rapidamente olhei através do pequeno quarto. O


último livro da minha mãe estava mais uma vez na cadeira, esquecido juntamente com
seu suéter. Um copo vazio estava em uma mesa próxima. Eu procurei em torno pelo meu
diário. Eu escrevi até tarde da noite.

Foi quando eu percebi. Um único potinho de pudim de chocolate - com uma colher
- na bandeja ao lado da minha cama.

Olhei em volta, como se as paredes do hospital de alguma forma fossem me dar


uma resposta. Elas não deram e cocei a cabeça em confusão.

Como isso veio parar aqui?

Parecia do mesmo tamanho do pudim que eu tinha comido na noite anterior.

Eu comi isso ontem à noite, não foi?

Minha mente voltou para a noite anterior.

Deitada na cama com os meus chinelos felpudos, eu tinha visto uma reprise de
New Girl6 para me manter entretida. Dr. Marcus tinha feito bem sua promessa de me
trazer uma sobremesa extra. Não só tinha duas porções de bolo de cenoura entregues,
mas também tinha um pouco de pudim. Eu tinha guardado aquele pequeno pedaço para o
final.

6
Série estrelada por Zooey Deschanel como Jessica "Jess" Day, uma garota esquisita e adorável que descobre que
o namorado a traiu e por isso precisa arrumar um novo lugar para morar. Ela acaba arrumando um lugar onde
moram três homens: Nick, um barman; Schmidt, um conquistador profissional, e Winston, um ex-jogador de
basquete. Completam este grupo improvável a esperta amiga modelo de Jess, Cece. Juntos, os amigos tentam
ajudar Jess a aprender sobre o amor, a vida e principalmente sobre si mesma, enquanto ao mesmo tempo, eles
aprendem mais sobre si mesmos.
Depois que a minha bandeja tinha sido tirada, percebi que eu entreguei a minha
colher com o resto da minha louça, então eu não tinha mais nada para usar com o pudim.
Eu sentei lá, olhando para o meu pudim por um tempo, enquanto eu decidia se realmente
queria incomodar o pobre pessoal da enfermagem pedindo para que trouxessem uma
colher, ou se eu deveria esperar até mais tarde. Então, eu me lembrei dos acontecimentos
do dia e do fato de que eu deveria estar confortável na minha própria cama. Então, tirei o
plástico da parte de cima do potinho e decidi o que ia fazer.

Ninguém estava por perto de qualquer maneira, e eu não estava tentando


impressionar ninguém.

Então, sim, eu tinha comido com os dedos - depois de lavar as mãos primeiro,
claro.

Minha pequena viagem ao passado provou uma coisa - bem, na verdade, duas. Eu
não estava ficando louca, e isso era realmente uma nova delícia de chocolate deixada bem
na minha frente.

Mas de quem?

Dr. Marcus tinha trazido o primeiro, então eu imaginei que seria lógico supor que
ele tinha trazido o segundo. Um pequeno sorriso dançou no meu rosto. Ele sempre gostou
de me mimar. Eu fiz uma nota mental para agradecer-lhe quando ele viesse ver como eu
estava depois.

Eu me levantei e me preparei para o dia - banho, escovar os dentes e passar uma


escova pelo meu cabelo molhado. Então, eu poderia possivelmente comer o pudim antes
do café da manhã.

— Ei, você, por acaso, se esgueirou no meu quarto ontem à noite - sabe, depois
que adormeci - e deixou um potinho de pudim na minha bandeja para mim? — perguntei
ao Dr. Marcus.

Ele olhou por cima da tela do computador, com a boca entreaberta, conforme me
olhava com uma expressão perplexa no rosto. Eu realmente gostaria de ter uma câmera
para registrar isso.

— Eu o quê?

— Se esgueirou no meu quarto? Para me trazer pudim de chocolate? — repeti,


nem mesmo tentando esconder o sorriso rapidamente se espalhando por todo o meu rosto.
— Não, eu definitivamente não fiz isso. Eu posso ser pouco convencional, mas
entrar furtivamente nos quartos dos meus pacientes tarde da noite é uma coisa que eu não
tentei ainda. — ele respondeu com uma piscadela.

Ele terminou o meu check-up e me deu um pouco de boas notícias.

— Sem oxigênio à noite Lailah. Vamos ver como as coisas vão. Eu voltarei para
verificar você amanhã. — anunciou ele, com um sorriso caloroso, encorajador.

Meu batimento cardíaco ainda estava irregular e eu não me sentia tão bem. Eram
dois sinais de que eu não sairia tão cedo deste lugar. Todos os sorrisos acolhedores do
mundo não poderiam me distrair desta verdade dura e fria.

Os próximos dois dias se passaram sem grandes alterações. A única mudança na


minha existência mundana no hospital foi a chegada do novo auxiliar de enfermagem. Eu
só o tinha visto algumas vezes, mas cada vez que passava pela minha porta, eu me
inclinava para frente só para pegar o último pequeno vislumbre dele passando. Ele era
como um deus grego coberto de tatuagens - e uniforme.

Pelo menos é assim que as enfermeiras o descreviam.

Depois de ter passado a maior parte da minha vida em uma cama de hospital, eu
sabia que era um pouco inocente quanto a espécie masculina, mas eu entendia quente
quando isso batia no meu rosto - ou passava pela minha porta, e pelo pouco que vi era
definitivamente de babar.

Ele não era apenas quente. Ele era diferente.

Diferente e quente era uma combinação mortal para todas as mulheres, mesmo eu,
e isso o fazia interessante.

Ele veio no meu quarto algumas vezes, verificou meus sinais vitais, mas ele mal
tinha falado uma palavra. Ele só resmungava um ‘Olá’ ou algo quando digitava no
teclado. Com a cabeça baixa, ele fazia apenas o seu trabalho, metodicamente verificando
minha pressão sanguínea - que eu tinha certeza que só sua presença já a alterava - e então
ele passava para a próxima tarefa. Seu toque era sutil, quase com medo. Era algo que eu
não podia compreender. Quando tudo concluía, eu ganhava uma breve olhada dos seus
olhos verdes assombrados, dando um aceno rápido em minha direção. Em seguida, ele
desaparecia.

Cada vez que ele vinha ao meu quarto, eu queria falar com ele - perguntar alguma
coisa, qualquer coisa - só para ouvi-lo falar de novo, mas eu nunca tinha falado com
pessoas da minha idade.
O que eu diria?

Ei, você viu Jimmy Fallon7 na noite passada?

E as festas da faculdade são tão loucas quanto nos filmes?

As pessoas realmente dizem palavras como totalmente e real8?

Fora da TV e livros, eu não tinha ideia do que se passava no mundo real. Minha
vida existia dentro e fora de um hospital. Quando eu não estava aqui, eu estava em casa.
Então, com medo do que o mundo exterior poderia fazer para a minha saúde, a minha
mãe tinha me protegido de quase tudo além da segurança do que ela podia controlar. Eu
tinha sido educada em casa desde que estava no jardim de infância, eu nunca fui
autorizada a fazer qualquer coisa ao ar livre, e não conseguia me lembrar de alguma
situação na minha vida que não envolvesse um médico de algum tipo.

Além do enfermeiro tatuado, a outra emoção na minha vida era a continuação das
minhas entregas especiais de pudim. Assim como no primeiro dia, eu acordava para
encontrar um único potinho de pudim de chocolate me esperando quando me levantava
da cama todos os dias.

No quarto dia, eu tinha criado uma lista de potenciais suspeitos. Já que o Dr.
Marcus estava fora, a minha lista estava reduzida para três pessoas - Grace, minha
enfermeira excessivamente entusiasmada e recentemente noiva; a menina do fundo do
corredor, que às vezes me visitava; e minha mãe, que sabia que eu estava precisando de
alguma animação.

Mexendo meus brócolis pelo meu prato de almoço, olhei para a minha lista. Sim,
eu realmente tinha escrito uma lista no papel. Eu tinha um monte de tempo sobrando.

Receber presentes misteriosos na forma de pudim era o destaque do meu dia.

Tudo bem, foi o destaque do meu ano até agora.

Enquanto minha unha rosa mexia contra o laminado de madeira da minha bandeja,
eu estudava a minha lista de suspeitos e finalmente cheguei a uma conclusão. Tinha que
ser Grace.

Sabendo que ela estava vivendo um dos melhores momentos da sua vida, ela
naturalmente, queria espalhar essa alegria aos outros. Além disso, ela estava sempre
cantarolando pelo corredor e amava Hello Kitty, por isso não foi uma conclusão difícil de
chegar.

Por que ela simplesmente não entregava os pudins durante o dia, quando ela
trocava o plantão, em vez de deixar no meio da noite?

7
Jimmy Fallon, é um ator, comediante e ganhou fama ao atuar no programa de comédia Saturday Night Live da
rede NBC.
8
No original: totes e fo’ rizzle. Que são gírias para as palavras totalmente e real.
Eu não tinha uma resposta.

Quem precisa de lógica?

Decidi dizer a Grace que sabia que ela era a minha benfeitora do pudim na
próxima vez que ela visitasse o meu quarto. Uma bondade como essa não poderia passar
despercebida, e eu queria que ela soubesse que eu apreciava o gesto. Eu também queria
ver se ela poderia talvez trazer-me mais - apenas no caso do primeiro se perder por aí.

Isso poderia perfeitamente acontecer.

Eu não tive que esperar muito tempo. Cerca de 30 minutos depois, ouvi um canto
familiar. Em poucos segundos, ela estava enfeitando minha porta, com seu belo sorriso
iluminando o quarto, fluorescente como um raio de sol.

— Essa cara de felicidade é por estarei-casada-em-breve? — perguntei.

— Mmm... Sim. Em cerca de seis meses, acho que vai se transformar em um eu-
sou-casada, e, eventualmente, um eu-estou-grávida, e... Ah! — ela congelou no meio da
valsa, cobrindo a boca, quando ela percebeu suas palavras.

— Grace. — disse suavemente. — Você não tem que esconder a alegria em sua
vida em torno de mim. Todos nós temos momentos felizes. Os meus são apenas
diferentes dos seus.

— Eu sei. Eu só... Eu sinto muito. Aqui estou, tagarelando sobre bebês.

— Não tem problema. Sempre soube que não poderia ter filhos. Não é um segredo
ou uma grande surpresa. Além disso, não tenho uma fila de pretendentes no corredor,
lutando pela minha mão. — zombei.

Sua boca se curvou quando ela se juntou a mim e sentou-se na beirada da cama.
Seu cabelo preto sedoso estava puxado em um rabo de cavalo, e seus olhos de safiras
azuis encontraram os meus. Ela não era apenas a minha enfermeira. Ela era uma amiga,
minha única amiga.

— Isso é só porque eles não viram você. Você é como Rapunzel, presa, distante,
na alta torre de pedra, apenas esperando pelo seu belo príncipe vir e roubar seu coração.

Sorri quando ela foi verificar os sinais vitais e ouvi quando ela continuou sobre
algum escândalo de celebridade que eu tinha ouvido falar. Meus pensamentos se
voltaram para o que ela disse sobre eu estar trancada, à espera de alguém para roubar o
meu coração. Normalmente isso era tão esperançoso sobre a minha condição, eu não sei
por que, mas meu primeiro pensamento foi que, quem quer que seja o príncipe, era
melhor ele se apressar. Eu não tinha certeza de quanto tempo esse meu coração iria durar.
Grace tinha surpreendentemente me deixado em um beco sem saída, e conforme a
semana passou, a minha lista de suspeitos diminuiu. Minha mãe definitivamente não era a
culpada, uma vez que eu a via sair todas as noites às oito horas. Isso só deixava Abigail, a
menina do fim do corredor.

Ela realmente não era uma paciente do hospital, mas eu não sei mais como
descrevê-la, então sempre me referia a ela como a menina do fim do corredor. Eu pensei
que ela fosse neta de um dos pacientes e às vezes ela passeava no meu quarto quando ela
se cansava de ouvir seu avô.

Abigail apareceu no meu quarto bem na hora em que eu estava aconchegando no


terceiro capítulo do meu novo livro favorito. O livro que eu estava lendo no momento
seria sempre o meu favorito, e aquele que eu estava prestes a ler sempre seria meu
próximo favorito. Eu adorava ler. Eu passei a maior parte da minha vida com o meu nariz
enfiado em um livro. Eu tinha herdado o amor pela palavra escrita com a minha mãe
acadêmica, e eu tinha conseguido ver o valor de um mundo de conhecimento dentro das
páginas empoeiradas. Eu lia tudo, de Chaucer a Shakespeare até mesmo Anne Rice.

— O que você está lendo? — perguntou Abigail, com seus cabelos cacheados
castanhos chocolate saltando atrás dela enquanto ela se jogava na minha cama.

— Na verdade, é um livro sobre uma menina por volta de sua idade, talvez alguns
anos mais velha.

— Você está lendo um livro infantil? — ela se abaixou para tentar inspecionar a
capa da brochura gasta na minha mão.

Eu li este livro em particular várias vezes ao longo da minha juventude e minha


cópia tinha sido bem utilizada.

— Anne Frank. O Diário de uma jovem. Quem é ela? — ela perguntou.

— Ela foi uma menina que viveu durante a Segunda Guerra Mundial, e este é o
diário que ela escreveu.

Inspecionando a capa um pouco mais, ela olhou para o rosto em preto e branco da
jovem judia olhando para ela. — Eu tenho um diário. — ela respondeu.

— Você tem? Eu também.

— Sério? Você não é um pouco velha demais? — seu nariz enrugou quando ela
olhou para mim.

Eu podia ver as pequenas sardas pontilhando suas bochechas rosadas.


— Absolutamente não! — fingi estar ofendida, mas depois acrescentei: — Mas eu
o chamo de diário apenas por segurança.

Eu fiz cócegas nas suas costelas, e ela soltou um risinho.

— O que você escreve?

— Eu não sei. — respondeu ela. — Vovô deu-me no meu aniversário. Ele me


disse para escrever o que está na minha alma, mas eu não sei o que é uma alma
exatamente, então, geralmente, apenas escrevo o que fiz na escola e coisas que eu gosto.

É isso mesmo.

Agora eu me lembrei de Grace me contando sobre o avô de Abigail. Ele era um


escritor e muito falador. Grace disse que não poderia sair de seu quarto sem levar uma
cantada ou ouvir uma das histórias coloridas de seu passado.

— Sua alma é como o seu coração. Então, eu acho que o seu avô disse para você
escrever o que você sente aqui. — eu disse, apontando para o lugar onde seu coração
pequeno e perfeito batia dentro do peito. — Aqui, por que não lê isso? — sugeri,
entregando-lhe o livro das minhas mãos.

Ela o pegou hesitante, e seus olhos flutuaram até os meus. — Você tem certeza?
Você ainda não terminou de ler.

— Eu li isso vezes o suficiente para tê-lo praticamente memorizado. É a sua vez.

Seu rosto se iluminou com um sorriso, e ela mergulhou em meus braços, me dando
um abraço tão forte que eu tive que me preparar para o impacto. Eu ri e passei meus
braços em torno de seu pequeno corpo.

Ela relutantemente soltou e pulou da cama antes de endireitar seu vestido de verão
cor de rosa.

— Bem, é melhor eu ir. Obrigada mais uma vez pelo livro. Vou trazê-lo de volta
quando eu terminar.

— Sem pressa. Não tenha pressa.

Ela fez seu caminho até a porta.

Chamei para detê-la: — Ah, Abigail? Você por acaso deixou pudim no meu
quarto?

— Pudim? Como o que minha mãe coloca na minha lancheira? — ela perguntou
com um olhar curioso.

Eu bufei de frustração: — Deixa pra lá. — de volta à estaca zero.


Q ualquer dia a senhora da cafeteria ia montar uma intervenção, por causa do
meu hábito de consumir pudim. Ou isso, ou ela inventaria algum apelido ridículo.

Ah, espere - ela já fez isso.

— Ei, Pudim. O de sempre de novo esta noite? — ela perguntou com um sorriso
doce.

Eu balancei a cabeça quando paguei meu pudim e uma garrafa de água, e então eu
voltei para o elevador.

Durante a semana passada, tinha me acostumado com a programação da menina


no quarto 307. Por volta das onze horas, ela geralmente estava dormindo, e eu podia
entrar despercebido e deixar o pequeno lanche de chocolate para ela ver de manhã.

Isso começou como uma coisa de apenas uma vez. Naquela noite, quando eu a
tinha visto lambendo o chocolate do seu dedo, senti como se eu estivesse vendo a
humanidade pela primeira vez em anos. Era uma loucura, considerando onde eu
trabalhava. Hospitais parecia ser um lugar onde a humanidade renascia. A vida de entes
queridos ou os próprios pacientes seria colocada nas mãos de outra pessoa e tudo isso
seguido de sentimentos inimagináveis - medo esmagador, amor sem fim, alegria
insuperável e dor lancinante. Tudo seria jogado em uma cesta bagunçada.
Estando dentro destas paredes do hospital, eu tinha visto tudo, mas eu não sentia
nada mais. Eu me tornei imune a tudo.

A morte de Megan tinha sido como uma bomba atômica para a minha psique,
apagando todas as emoções que possuía, até que eu não vi mais nada. Uma sobrecarga
emocional, imagino que alguém chamaria assim.

Todo paciente que eu tratava era apenas mais um rosto em branco me levando para
o próximo.

A única razão de eu estar aqui era Megan. Não tinha nada a ver com cuidar do
meu próximo paciente ou me conectar com a família dessa pessoa. Eu não conseguia me
lembrar de quando deixei de ter sentimentos.

Então, eu a vi. Como se ela não tivesse nenhuma preocupação no mundo,


comendo pudim sem uma colher durante a sua estada em um hospital, como se fosse a
coisa mais normal do mundo. Naquele momento, eu tinha experimentado a mínima
sensação de algo diferente de dor novamente.

E eu a ajudava a manter o seu hábito desde então.

Eu não sabia por quanto tempo manteria a farsa ou se poderia continuar sem ser
pego, mas era o único evento do meu dia que não me deixava exausto com tons de cinza
sem emoção.

Com um potinho de pudim no meu bolso, eu era o epítome da discrição.

Eu escorreguei pela porta calmamente, ignorando o fato de que parecia um


perseguidor assustador e entrei no quarto escuro como se eu tivesse um propósito.

Eu trabalhava aqui, então poderia haver uma dúzia de razões para eu entrar no
quarto de um paciente.

A desculpa esfarrapada do lanche noturno provavelmente não era uma delas.

Como muitas vezes antes, eu tentei não demorar quando entrei no quarto, mas a
cada visita, se tornava cada vez mais difícil.

A primeira noite que decidi fazer isso, eu tinha feito rapidamente, entrei e saí
correndo. Eu fui para dentro e para fora, num piscar de olhos.

Mas então, a conheci. Eu fui até o quarto dela e me encontrei cara a cara com a
menina que era responsável pelas minhas corridas noturnas de pudim. Ela era acanhada e
tímida, seus gestos desajeitados e inexperientes. Ela era tão diferente das meninas polidas
e sofisticadas com quem eu tinha crescido. Até seu nome era estranho. Parecia a canção
clássica de Eric Clapton "Layla", mas o dela foi escrito todo errado.

Ela me deixou curioso. De repente, eu queria saber o que mais neste mundo a fazia
sorrir.

O que a faz rir? Por que ela rapidamente puxa a gola de sua camisa sempre que
entro no quarto?

A curiosidade era algo que eu não experimentava há algum tempo, e eu demorava


um pouco mais cada vez que entrava em seu quarto à noite. Eventualmente, se tornaria
minha ruína final.

— Ai! Merda! — murmurei baixinho quando meu joelho colidiu com a porta do
banheiro que tinha sido deixada aberta.

Eu congelei, prestando atenção ao menor movimento. Minha mente pulou à frente,


tentando pensar em alguma razão plausível para estar em seu quarto nesta hora.

Mudar os lençóis?

Não, idiota, ela está sobre eles.

Ouvi um barulho e só vim checar as coisas?

Sim, está bem. Isso pode funcionar.

Não importava o fato de que eu era aquele fazendo o barulho.

Cinco segundos se passaram enquanto eu estava nas sombras, como uma estátua,
os meus ouvidos em alerta enquanto esperava por qualquer movimento que pudesse
sinalizar a minha necessidade de uma história de cobertura.

Mas nada aconteceu - nenhum movimento, nenhum grito ou berro.

Então, eu continuei com a minha estranha missão de fim de noite. Isso era o que os
caras com mais nada para fazer à noite faziam, certo? Entregar pudim em quartos de
hospital no escuro?

Totalmente normal.

Puxando o pequeno pacote de lanche do meu bolso, eu cuidadosamente coloquei


junto com a colher de plástico sobre a mesa de madeira da bandeja ao lado da sua cama.
Eu não tinha certeza se comer o pudim com o dedo era uma coisa escolhida ou não. Todo
mundo tinha suas peculiaridades, então eu pensei em dar-lhe a opção. Higiene era uma
coisa necessária, especialmente em um hospital.

O luar da janela iluminou as mechas do seu cabelo, fazendo parecer como se um


arco dourado rodeasse seu rosto. Ela parecia inocente, mas uma sabedoria, além de
qualquer coisa que eu tinha visto, parecia brilhar através dos poros. Eu queria alcançar e
tocar um único fio só para ver como era a sensação de ter os cabelos de anjo entre meus
dedos.

Em vez disso, me virei. Eu tinha feito traquinagem suficiente para esta noite.

Muito mais silencioso desta vez, caminhei levemente até a porta. Estendi a mão
para a maçaneta e girei um pouco antes de fazer a minha saída.

Em seguida, uma voz suave atrás de mim soltou: — Você definitivamente não
estava na minha lista.

Pego.

Sabendo que havia pouco que eu pudesse fazer para escapar, enfiei as mãos nos
bolsos e girei sobre os calcanhares. Achei-a bem acordada. Sentada na cama em uma
camiseta solta e calções, ela me avaliou calmamente com os joelhos puxados para o
peito.

— Sua lista? — perguntei, voltando-me para ligar o interruptor na parede que


acendia a luz de cima. Ficar de pé no escuro, enquanto ela estava acordada, agora parecia
estranho e esquisito.

— Sim, eu fiz uma lista de suspeitos daqueles com maior probabilidade de ser a
pessoa por trás dos meus pudins. Você definitivamente não estava nela. Huh, eu não erro
muitas vezes. — ela disse com um pouco de surpresa.

— Como se sente?

— O quê?

— Estando errada sobre a sua lista.

— Ah... Bem, eu meio que gosto disso. É emocionante. — ela deu um sorriso
tímido.

— Então, quem estava na sua lista? — minhas mãos ainda estavam nos bolsos, eu
dei alguns passos de volta para o quarto.

— Ah, hum... Bem, estava a minha mãe. Ela foi tirada quase que imediatamente.
Ela sai muito cedo. Ela dá aulas de manhã agora. Ela não costumava porque me ensinava
na parte da manhã, mas, obviamente, isso não é um problema, já que eu não estou mais
na escola, e... Ooooh, uau, eu estou divagando.

— Então, você não vai para a escola? — sentei-me na velha e degastada cadeira
no canto, esperando meus nervos se acalmarem.

Ela olhou para baixo e brincou com os dedos um pouco. — Não, nunca. Eu estava
estudando em casa. — respondeu ela lentamente. — Minha mãe leciona em uma
faculdade comunitária local. Ela costumava ser uma professora da UCLA9, mas quando
comecei o jardim de infância, ela decidiu desistir da sua posição como presidente do
departamento de estudos religiosos. Em vez disso, ela lecionou à noite, para que pudesse
estar em casa durante o dia. Eu sempre odiei o fato dela ter desistido da carreira, ela
trabalhou tão duro para apenas ensinar álgebra e história americana para mim ao longo
dos anos, mas ela nunca pareceu se importar - ou pelo menos, ela nunca mostrou. Minha
avó ficava comigo à noite, quando eu era mais jovem, e, em seguida, depois que ela
morreu, uma enfermeira ajudou. — ela disse a última parte em voz baixa.

— Quem mais estava na lista? — perguntei, movendo-me para longe de um


assunto que eu tinha a sensação ser difícil para ela.

— Grace. — ela respondeu.

— Quem?

— Grace. Ela é uma enfermeira do dia. Ela tem cabelo preto comprido e usa
uniformes da Disney e da Hello Kitty, mesmo que ela não trabalhe em nenhum lugar
perto da pediatria.

— Ah, você quer dizer a Branca de Neve? — perguntei.

Ela bufou, e isso me fez sorrir. Ninguém que eu tinha conhecido em casa jamais
bufou em público. Era um som bom, honesto.

— Esse é um bom apelido para ela. É perfeito.

— Eu não o inventei. Um dos outros caras por aqui fizeram isso. Ele disse que a
ouviu cantando e ele jurou que as aves estavam se reunindo na janela para ouvir. Assim,
desde então, ela se tornou Branca de Neve.

— Ela gosta de cantar. Mas eu descobri que não era dela também na minha lista.
Então, sobrou Abigail.

— Ah, a neta de Nash? Eu a vi por aí. Ela é doce, mas ela nunca iria partilhar
pudim com você. As crianças não compartilham pudins. — eu disse com um pequeno
sorriso.

— Essa é uma boa regra para viver. — ela respondeu calmamente, antes de
perguntar: — Como está o joelho?

Meus olhos voaram até os dela em surpresa. — Você estava acordada?

Ela assentiu com a cabeça. — De que outra forma você acha que eu ia descobrir a
identidade secreta da pessoa que fazia a entrega do meu pudim?

— Hmm... Mulher inteligente.

9
Universidade da Califórnia, Los Angeles.
— Que bom que você percebeu.

— Todas as mulheres inteligentes comem pudim com os dedos? — inclinando-me


para trás na cadeira um pouco mais, eu arqueei a sobrancelha questionando.

Sua boca se abriu em constrangimento. — Oh meu Deus, você viu aquilo?

Um breve aceno e um sorriso leve, que eu não pude conter, foram minhas únicas
respostas.

Ela começou a balbuciar novamente.

— Eu normalmente uso uma colher. Como uma pessoa normal. Quer dizer, quem
lambe pudim dos dedos? Nojento. E as minhas mãos estavam limpas. Tipo, realmente
limpas! — ela guinchou.

— Ninguém estava olhando.

Eu levantei uma sobrancelha e assisti a cabeça cair em seu colo.

— Bem, aparentemente, tinha alguém assistindo. Que vergonha! — ela riu.

— Ei, não é grande coisa, Lailah. Todos nós temos nossos hábitos estranhos.
Tenho certeza que eu tenho o meu. Algumas pessoas comem manteiga de amendoim e
sanduíches de picles ou mergulham batatas em sorvetes. Somos todos um pouco loucos
da nossa própria maneira.

— Tenho certeza de que esses exemplos que você acabou de dizer, apenas dizem
respeito às mulheres grávidas. — ela ressaltou.

— Quais?

— Eu realmente não acho que alguém que não está carregando outra pessoa em
seu útero seria capaz de apreciar manteiga de amendoim e picles juntos. Isso é
simplesmente nojento. E para deixar registrado, eu sempre uso uma colher - com exceção
de uma única vez.

— Tudo bem, claro. — respondi, deixando a descrença na minha voz derivar.

Ela bufou em frustração. Eu não pude deixar de rir um pouco quando me levantei
da cadeira.

O som da minha própria risada registrou em meus ouvidos, e de repente eu me


senti em conflito. Eu não me lembro da última vez que ouvi qualquer coisa remotamente
perto de uma risada explodindo dos meus pulmões. Eu não tinha certeza de como me
sentia sobre isso.
— É melhor eu voltar ao trabalho. Você precisa de mais alguma coisa antes de eu
ir? — perguntei rapidamente, olhando ao redor e brevemente verificando seu monitor de
oxigênio.

— Ah, hum... Não, eu estou bem.

Em reação ao meu tom clínico, ela imediatamente se retraiu para a garota


acanhada e tímida que eu conheci dias antes.

— Está bem. Bem, eu vou passar em outros quartos.

— Tudo bem.

Desta vez, eu abri a porta até a metade antes da sua voz lírica, mais uma vez, me
parar.

— Jude? — ela chamou.

Ouvir meu nome em seus lábios pela primeira vez fez algo apertar no meu peito.
Era algo estranho e por isso, há muito tempo esquecido, que nem sequer reconheci.

Eu me virei para encará-la. — Sim?

— Está tudo bem eu chamá-lo assim? — ela perguntou hesitante, seus olhos azuis
brilhantes olhando através do quarto para o crachá que estava pendurado no meu
pescoço.

Assenti, puxando o crachá de plástico na minha mão. — É o meu nome.

— Da próxima vez, talvez você pudesse vir um pouco mais cedo e ficar um
tempo?

Não pude conter o sorriso que se espalhou pelo meu rosto e me encontrei
acenando. — Claro. Até lá, então.
J ude é meu admirador secreto.

Meu admirador secreto é Jude.

Posso chamá-lo assim? Como chamo a pessoa que me trouxe pudim de chocolate
de sobremesa tarde da noite? Existe um nome para isso?

Eu gosto de admirador secreto, então eu vou com isso.

Jude.

Chocolate.

Eu suspirei.

— Lailah? Você ouviu uma palavra do que eu disse?

— Hein? — soltei, afastando-me da roda ridícula de pensamentos de menina


girando incontrolavelmente pela minha cabeça.

— Você está se sentindo bem? Você tem estado um pouco distraída hoje.

— Eu me sinto bem. Só um pouco cansada.


Depois da minha visita de fim de noite, eu estava bem acordada, a cabeça cheia de
perguntas, pensamentos e possibilidades. Minha primeira e mais importante questão era,
por que ele está fazendo isso? Qual é a sua motivação? Ele está apenas sendo gentil, ou
é algo mais?

Eu rapidamente descartei qualquer coisa que tenha a ver com algo mais e concluí
que ele estava apenas sendo gentil. Aquele homem poderia facilmente ter qualquer
mulher que quisesse. Ele provavelmente poderia estalar os dedos e groupies
deslumbradas com uniforme de “Nós amamos Jude”, apareceriam prontas para brincar de
enfermeiras impertinentes. Ele definitivamente não precisava entregar sobremesas para
pacientes no hospital para que eu caísse na dele.

Mesmo que em algum universo alternativo, ele possivelmente pudesse me ver


como alguém mais do que um paciente - eu não poderia ir por esse caminho. Minha vida
era muito estressante e emocionalmente turbulenta para compartilhar com outra pessoa.
Pedir a alguém para entrar no meu mundo seria como pedir-lhe para abdicar da sua
própria vida para cuidar da minha. Eu nunca faria isso.

O amor não era uma opção para mim.

Eu, entretanto, fiquei com a ideia de ter outro amigo. Fora Grace, eu não conhecia
ninguém da minha idade. As conversas com o Dr. Marcus e Abigail eram divertidas, mas
às vezes, eu realmente queria me conectar com alguém em pé de igualdade.

— Bem, eu preciso que você preste atenção. — minha mãe disse, me trazendo de
volta para a conversa. — Eu conversei com Marcus no início desta manhã.

— Por que ele não falou comigo? — eu odiava que ela ainda me tratasse como
uma criança.

— Ele ia, mas eu perguntei se poderia falar com você primeiro, em particular. Ele
estará aqui em poucos minutos.

Isso não parece bom.

— Ele está revendo os resultados dos exames ao longo da última semana, e


comparando-os com os da semana anterior. — disse ela, hesitante.

Os olhos dela se afastaram dos meus, mas eu vi uma lágrima escorrendo pelo seu
rosto. Seu cabelo loiro escondia seu rosto, mas eu sabia que era ruim.

— Sim? E o que ele descobriu? O que está acontecendo, mãe?

— Ele acha que o seu coração está piorando.

— Sempre piora, mãe. — eu disse, tentando não deixar que as palavras me


abalassem tanto.

— Está na hora, Lailah.


Suas palavras eram suaves, mas eu podia ver o quanto doía para ela dizê-las.

Insuficiência cardíaca congestiva.

Eu tinha ouvido as palavras antes e eu sabia que cada tratamento e cirurgia ainda
acabaria por levar a isso.

— Mas isso já aconteceu antes, quando disseram que um transplante era a minha
única opção. Eles conseguiram fazer outras coisas, como substituir o meu marca-passo.
Eu me saí muito bem.

— Não há nada que possa corrigir isso, Lailah. Não há mais tratamentos, cirurgias
ou procedimentos que podem fazer. Nós tivemos muita sorte depois da última vez, e
Marcus foi capaz de dar-lhe alguns anos a mais, mas não desta vez. A única coisa que
pode corrigir isso é um coração novo.

Sua única lágrima se multiplicou, e seu rosto estava agora molhado e manchado
com faixas de rímel escorrendo por ele.

— Então, o que fazemos agora? — perguntei em voz baixa. Não chore Lailah.
Não chore.

— Marcus está trabalhando para conseguir uma internação novamente no hospital


da UCLA. Além disso, oramos para que a companhia de seguros faça o que precisa ser
feito.

Eu balancei a cabeça, sentindo-me dormente, quando ela veio sentar ao meu lado
na cama antes de me puxar para os seus braços. Tudo ficou duvidoso e desconhecido
desde que o empregador da minha mãe tinha mudado a companhia de seguro no ano
passado. Seus prêmios tinham ido para o telhado, e depois adicione todas as novas leis de
saúde, ninguém sabia o que ia acontecer.

Os sons familiares do quarto - os bipes, o arrastar de fora da porta - tudo


desapareceu. Tudo o que eu podia ouvir era o rugido em meus ouvidos e as palavras
repetindo e repetindo na minha cabeça.

Transplante de coração.

Nenhuma outra opção.

Minha mãe tinha gasto cada centavo que tinha com as minhas contas médicas. Nós
vivemos de salário em salário em um pequeno apartamento na periferia de Santa Monica.
Ela não falava sobre isso, mas eu sabia que ela tinha esvaziado suas economias e o plano
de aposentadoria para pagar contas vencidas do hospital. Se o meu transplante fosse
negado ou algo acontecesse comigo, ela não conseguiria cobrir. Isso iria arruiná-la.

Eu odiava que tivéssemos chegado a isso.

Eu era um fardo sem fim.


— Nós vamos dar um jeito nisso, mãe. — eu disse contra seu ombro.

— Sim, nós daremos. É só você e eu.

Minha mãe trouxe o jantar naquela noite, e nós nos sentamos juntas na minha
cama, debruçadas sobre uma refeição de sanduíches simples e frutas.

Sempre que recebíamos uma má notícia, minha mãe trazia o jantar. Eu achava que
era a sua maneira de lidar com a situação. A má notícia era algo que ela não podia
controlar. Minha mãe adorava controle. Ela praticamente me criou em uma redoma de
vidro, tentando me proteger de tudo o que poderia prejudicar o meu frágil coração.
Quando as coisas davam errado, ela ficava tranquila, interiorizando, reagrupando.

Depois do jantar, ela anunciaria seu plano mestre. Quando a má notícia chegava,
mamãe sempre reagia com algum tipo de plano. Mesmo se fosse tão simples como seguir
as ordens do médico ou enviar-me para a cama uma hora mais cedo, isso parecia colocá-
la de volta no controle da situação.

Mamãe adorava ter controle.

Eu temia que essa fosse uma situação que ela não podia controlar com qualquer
um dos seus planos.

Não foi muito tempo depois que minha mãe saiu naquela noite, quando comecei a
brincar com o meu cabelo.

Eu trançava para o lado e, então, prontamente escovava com meus dedos. Juntei-o
em um rabo de cavalo, mas, em seguida, o soltei. Por fim, eu apenas deixei os fios
platinados loiros caírem nos meus ombros.

Estou seriamente sentada aqui, brincando com o meu cabelo?

Uma conversa com Jude - que estava apenas sendo gentil, me recordei - e eu
estava sendo uma daquelas meninas durante a noite. Sentindo-me totalmente ridícula, eu
balancei meu cabelo, deixando-o fazer o que quisesse. O fato de eu ter mudado para um
dos meus tops mais agradáveis e legs pretas foi apenas uma coincidência.

Eu sou tão idiota.

Me afundei de volta contra o meu travesseiro, pegando o meu mais recente livro e
abrindo-o onde eu tinha parado. Eu quase não tinha lido uma página inteira quando ouvi
uma batida na minha porta.

— Entre. — respondi.
A maçaneta girou e Jude apareceu vestido de uniforme verde azulado. Ele estava
carregando um pudim de chocolate e...

Um jogo de tabuleiro?

— Vamos jogar Scrabble10? — eu questionei, colocando meu cabelo atrás da


minha orelha enquanto tentava não corar. Colocando meu livro de lado, eu cruzei as
pernas na minha frente e o vi entrar no quarto.

— Não, nós vamos jogar Operando. — ele respondeu, colocando o jogo no pé da


minha cama. — Eu o encontrei em uma sala dos funcionários. Eu acho que um dos
cirurgiões ganhou isso como uma piada. De qualquer forma, espero que a escolha de jogo
não a incomode, mas eu pensei que você pudesse querer fazer algo diferente.

Olhei para aparência do homem pateta exibida na frente da caixa e sorri.

— É perfeito. — soltando um suspiro que eu não sabia que estava segurando. —


Justo o que eu precisava.

Ele colocou não apenas um, mas dois pudins na bandeja ao lado da cama, e então
ele deixou duas colheres ao lado. — Um deles é meu. — ele disse com um leve sorriso.

Ele virou-se para puxar a cadeira do canto, e ele a trouxe para mais perto da cama.
Eu considerei sugerir que ele se sentasse na cama comigo, mas rapidamente tirei isso da
cabeça. A ideia de tê-lo tão perto me dava arrepios. Ele me entregou um potinho de
pudim e nós dois mergulhamos no doce. Não houve comentários sarcásticos sobre comer
com uma colher em vez do meu dedo esta noite.

— Então, dia ruim? — ele perguntou quando começamos a arrumar o jogo.

Ela abriu a tampa de papelão e puxou o grande tabuleiro. O mesmo homem que
estava na capa olhou de volta para nós. Sua expressão inquieta, com olhos arregalados
era divertida, e ele já estava ajudando a levantar o meu humor.

— Como você sabe? — perguntei. Eu pareço tão mal assim?

— Apenas um palpite. Parece que você precisa de um descanso mental.

— Eu preciso. — admiti. — Eu realmente preciso. Tem sido bem difícil para mim.

— Quer falar sobre isso? — ele ofereceu.

Comecei o jogo. Minha pequena pinça puxou uma casquinha de sorvete que estava
congelando a cabeça do homem.

Sem zumbido.

10
É um jogo de tabuleiro em que dois a quatro jogadores procuram marcar pontos formando palavras interligadas,
usando peças com letras num quadro dividido em 225 casas (15 x 15).
Sucesso.

— Tem um tempo? — brinquei rindo, sem olhar em seus olhos.

— Eu tenho tempo. Para que servem os intervalos? — seu olhar quente encontrou
o meu enquanto ele tomava o seu lugar.

— Quer dizer, você não tem quaisquer encontros quentes no intervalo?

— Bem, eu tinha planos.

— Ah, eu sinto muito. Você não tem que cancelar. Quer dizer, você ainda pode
tentar... — as palavras saíram da minha boca como maçãs caindo de um carrinho.

— Eu estou brincando, Lailah. — disse ele, com a mão estendida para tocar a
minha.

Meus olhos vagaram até onde sua mão tocou a minha pele e eu não consegui
desviar o olhar. Eu me senti marcada. Como nos breves momentos que seus dedos
roçaram minha pele antes, enquanto ele removeu uma mangueira de pressão arterial ou se
inclinou para ver o meu acesso IV, meu coração acelerou, e eu senti meu rosto corar.
Toda a minha vida tinha sido gasta sendo tocada e examinada. Por esta altura, em meus
22 anos, eu estava acostumada a pessoas aleatórias invadindo meu espaço pessoal, mas
meu corpo reagiu a Jude de uma forma muito diferente e completamente nova. Minha
pele quase queimava ao menor toque dele.

— O único encontro quente que eu já tive na minha hora de intervalo foi com a
máquina de venda automática. Acredite em mim, não há outro lugar que eu tenho para
estar. — disse ele, puxando a mão para pegar a pinça.

— Ah... Bem, tudo bem, se você tem certeza. Quer dizer, podemos sempre fazer
isso outra hora.

— Você está se esquivando - de propósito. Vamos, diga-me sobre o seu dia. — ele
desafiou, me tirando do meu divagar proposital.

— Eu tenho que fazer um transplante de coração. — disse simplesmente.

A atenção de Jude no jogo imediatamente terminou e seu olhar verde encontrou


meus olhos instantaneamente. — Eles têm certeza?

— Sim, quase certeza. Eu nasci com um coração maior que o normal. Eu fiz a
cirurgia aberta de coração quando eu tinha dias de vida. Desde então, eu fiz várias
cirurgias e dezenas de outros procedimentos. Eles me mantiveram viva, mas um coração
danificado como o meu não pode durar tanto tempo.

— Você está com medo? — ele perguntou suavemente.

— Sim, mas principalmente por causa a minha mãe.


— Por quê?

— Eu só temo os ‘Se’. E se o seguro não cobrir? E se algo der errado? E se eu não


fizer isso... Então, como vão ficar as coisas?

— Você não tem mais ninguém da família para ajudar? — ele jogou seu potinho
de pudim vazio no lixo.

— Não, eu nunca conheci meu pai. Ele sumiu antes de eu nascer. Desde que a
minha avó morreu, a minha família tem sido apenas a minha mãe e eu. Eu odeio ter que
vê-la passar por tudo isso de novo.

— O que quer dizer, de novo? — perguntou ele, o jogo agora muito esquecido.

— Esta não é a primeira vez que me disseram que eu precisaria de um transplante.


Meu coração começou a falhar há alguns anos. Eles me disseram que um transplante era
a melhor opção, então, por isso fui colocada na lista de doadores. Então, milagrosamente,
um tornou-se disponível.

Suas sobrancelhas franziram em confusão. — O que aconteceu?

— Eu não deveria saber. Eles não costumam dizer até que é uma coisa certa e você
está sendo chamado para a cirurgia, mas o Dr. Marcus estava tão esperançoso. Não foi
culpa dele. — esclareci.

Ele só estava tentando fazer a coisa certa.

— Encontrar um doador e no mesmo hospital era como anjos trazendo-me um


milagre. Ele estava apenas tentando me certificar de que tudo estava se encaixando. Ele
entrou no meu quarto e me disse que uma mulher tinha sofrido um acidente de carro e ela
era uma doadora de órgãos. Ele disse que nós éramos compatíveis e estava esperançoso.

— O que aconteceu? — ele perguntou baixinho.

— A família mudou de ideia no último minuto.

O silêncio encheu a sala enquanto eu olhava para as nossas sombras escuras contra
a parede. Eu finalmente olhei para Jude sentando na velha cadeira azul. Havia crescido
um silêncio incrível no quarto.

— E você disse que isso aconteceu aqui - neste hospital? — ele perguntou.

— Sim, aqui. — eu respondi, imaginando por que ele estava perguntando.

— Há quanto tempo?

— Hum... Estava bem perto do meu aniversário de dezenove anos por isso foi há
três anos. No final de maio, eu acho.
Mais silêncio encheu o ar enquanto Jude permanecia imóvel. Eu não entendi essa
mudança brusca no humor.

Eu o perturbei de alguma forma?

De repente, quase me assustando, ele se levantou da cadeira e virou-se para mim.


— É melhor eu ir. Eu acho que meu horário de intervalo já está acabando. — disse ele
em uma forma quase monótona.

— Ah, tudo bem. — respondi.

— Estou fora nos próximos dois dias e quando voltar estarei muito
sobrecarregado, então eu não tenho certeza se conseguirei dar uma fugida. — disse ele
rapidamente, dando um passo para trás em direção à porta com cada palavra pronunciada
até que ele desapareceu.

Olhando ao redor do quarto, eu respirei fundo. Então, meus olhos se voltaram para
a porta fechada.

Eu estava sozinha - de novo.

Fiquei olhando para o jogo de tabuleiro abandonado, que mal tínhamos começado,
e meu potinho de pudim vazio ao lado dele. Naquele momento, a realidade do meu dia
finalmente me alcançou.

Nenhuma quantidade de chocolate, jogos bobos, ou visitas estranhas de assistentes


de enfermagem poderia esconder o fato de que meu coração estava desistindo de viver.

E se eu não estiver pronta para isso?

Depois que descobri que a família tinha mudado de ideia, eu estava tão chateada
que pedi ao Dr. Marcus para fazer qualquer coisa que pudesse para adiar a necessidade de
um transplante. Ele não ficou feliz com a minha decisão, mas ele conseguiu fazê-la
funcionar, encontrar métodos de tratamento alternativos ao longo dos últimos anos.
Naquela noite eu tinha me assustado e me lembrado de como a vida era preciosa.

Uma vida tinha que ser dada para que outra pudesse viver. Eu não estava pronta
para essa responsabilidade ainda.

Depois de dar uma última olhada ao redor do quarto, fechei os olhos. Finalmente
quebrando as paredes que eu tinha construído em volta de mim para manter minhas
emoções sob controle, me enrolei na minha cama, sucumbi às emoções do dia e chorei
até dormir.
E u não consegui lembrar o resto do meu dia depois de ter deixado o quarto de
Lailah naquela noite. Acabei de me lembrar de que me desloquei com movimentos
rápidos, passando de uma tarefa para outra, enquanto suas palavras ecoavam na minha
cabeça mais e mais até que tinham praticamente queimado em minha alma.

Encontrar um doador e no mesmo hospital era como anjos trazendo-me um


milagre.

A família mudou de ideia no último minuto.

Não podia ser. Não era possível. Eu não me permitiria acreditar que fosse
verdade.

Quando saí do hospital e fui para casa, eu tinha me convencido de que estava
louco por sequer pensar nisso em primeiro lugar.

Mas então, quando me sentei no escuro do meu apartamento sozinho naquela


noite, me permiti fazer a única coisa que eu jurei que nunca faria novamente. Eu deixei
minha mente voltar para aqueles momentos horríveis no hospital há três anos, quando me
vi afundando nas partes mais egoístas que haviam em mim.
— Você não pode fazer isso. Ela ainda está lá. Você está matando-a! — eu gritei
em desespero, o som rouco da minha voz ecoando no corredor totalmente branco.

— Jude. — o pai de Megan, Paul disse em um tom passivo, soando calmo.

Não foi suave embora. Isso só alimentou a minha agressividade ainda mais.

— Ouça-me. — disse ele. — Isso é difícil para nós, todos nós. — sua voz falhou, e
ele levou seu punho tremendo ao queixo em um esforço para estabilizar suas emoções.

A mãe de Megan, Susan, deu um passo adiante e teceu sua pequena mão na dele e
deu-lhe um aperto amoroso. Eu me virei.

— Os médicos disseram que não há nada mais que possam fazer. Ela se foi, meu
filho. Temos que deixá-la ir agora.

Suas palavras bateram no meu peito como um martelo. Ela não tinha ido embora.
Eu podia vê-la. Ela estava atrás daquela porta.

— Seu coração ainda está batendo. Eu posso ver seu peito subindo quando ela
respira. Eu ainda posso tocar sua pele. Ela não foi embora. — eu disse, minha voz
ficando baixa, com cada palavra.

— Os médicos disseram que por ela ser uma doadora de órgãos, poderíamos
deixar alguém viver. Seu coração ainda é saudável. Ela vai viver através de outra
pessoa. Isso é algo que ela gostaria Jude. Nós já lhes dissemos que sim.

Eu não conseguia entender isso. Eu não podia suportar a ideia deles tomarem
essa decisão, apagando sua vida. Eles não sabiam o que o futuro reservava.

— Como você sabe que ela foi embora? E se você estiver matando-a? — eu gritei
as palavras, estremecendo, enquanto as lágrimas nublavam a minha visão. Eu caí contra
a parede e caí no chão.

Meu futuro estava atrás daquela porta. Ela era tudo para mim. Eles não podam
fazer isso. Eu não permitiria. Ninguém levaria seu coração ou sua vida - para sempre.

Eu ganhei a batalha naquele dia. Depois de mais algumas rodadas de discussão, os


pais de Megan não tinham forças para lutar. Eu tinha plantado a semente da dúvida em
suas mentes, eles finalmente se desintegraram. Eles haviam negado aos médicos
quaisquer doações de órgãos e eu passei o resto do dia ao lado de Megan, segurando sua
mão e tentando trazê-la de volta à consciência. Eu queria provar que todos estavam
errados e pensei que poderia trazê-la de volta apenas com o meu amor.

Mas nem mesmo o amor pode trazer alguém de volta quando a mente se perdeu.

Ela morreu três dias depois.


Naquela época, os pais de Megan ainda poderiam ter doado seu coração e muitos
dos seus outros órgãos que não tinham sido danificados no acidente de carro, mas então
eles tinham perdido a vontade de fazer isso. Ao dar-lhes a esperança de que ela de
alguma forma voltaria, eu tinha feito dos últimos dias um inferno para eles. Dois médicos
diferentes haviam declarado morte cerebral, mas de alguma forma, eu pensei que sabia
mais que eles. Eu não tinha permitido seus pais lamentarem como eles precisavam. Eu
não fui ao seu funeral, e eu não deixei a Califórnia desde então.

Eu vivia com uma culpa horrível, eu fui egoísta. Os pais de Megan tinham sido
capazes de olhar por sua própria dor e ver a situação de modo amplo. Eles tinham a
oportunidade de ajudar alguém a viver, mesmo que não fosse a sua filha.

Por que eu não poderia?

Eu tinha sido egoísta, tão malditamente egoísta.

Era por causa do meu egoísmo também, a razão de Lailah ainda estar sentada em
um quarto de hospital, vendo a vida passar em vez de vivê-la?

Eu precisava descobrir.

Meu primeiro dia de folga, passei o dia inteiro enjaulado dentro do meu
apartamento. Eu odiava meus dias de folga. Eu levantei pesos, comi macarrão, assisti a
um jogo de futebol e até o final do dia, ainda estava agitado. Dias como este eram a causa
de eu trabalhar tanto no hospital. Ao contrário da maioria das pessoas, eu não suportava
ficar sozinho. Quando estava sozinho, eu não tinha nada além das lembranças
assombrosas do meu passado para me fazer companhia. Nada poderia parar os
sentimentos de perda e a enorme sensação de vergonha vir à tona, quando eu não tinha o
caos do hospital para impedir minha mente de viajar por esse caminho escuro e deserto.

Posso não falar muito e meus colegas de trabalho podem considerar-me um pouco
estranho, mas pelo menos a agitação do meu trabalho me mantinha ocupado. Também me
permitia voltar a um lugar onde eu ainda sentia Megan. Minha família me pediu para
voltar para casa. Depois de cancelar a minha linha de celular, eu tinha praticamente os
ignorado e basicamente desapareci. Eu não ia voltar para casa. Eu não tinha mais
ninguém em casa.

A viagem para a Califórnia com Megan tinha sido um presente surpresa dos meus
pais. Na noite da nossa formatura na faculdade, nossas famílias estavam reunidas para
celebrar o nosso sucesso. Eu tinha ficado de joelhos e pedi à garota que eu tinha sido
apaixonado desde Business 101, quatro anos antes, se ela aceitaria ser a minha noiva.
Todos haviam ficado felizes, e para comemorar no estilo típico da minha família
estranha, meu pai tinha reservado para Megan e para mim, duas semanas de férias na
Califórnia e em Maui.

Ele fez um discurso sobre como ele estava orgulhoso e como não podia esperar
para finalmente trazer-me para o negócio da família. Eu já estava no negócio da família
desde que estava no ensino médio. Abençoado com o dom para números e análises, eu
tinha sido uma mina de ouro nos olhos de meu pai. Com a idade de quinze anos, eu
poderia prever e avaliar o mercado melhor do que ele com sessenta. Eu encontrei meu
caminho para fora da casa e fui para a faculdade.

Quatro anos, Jude. Isso é tudo que você tem.

Do outro lado da mesa, ele segurou seu copo no alto e brindou ao casal feliz. Ele
nos desejou boa sorte na nossa viagem enquanto me dava um olhar que dizia: É hora de
ganhar dinheiro.

Diversão e jogos haviam chegado ao fim.

Eu tinha saído para a Califórnia, sabendo que meu pai era dono da minha vida
mais uma vez. Então, eu faria o melhor que pudesse para que Megan e eu tivéssemos o
melhor momento das nossas vidas na Califórnia, porque eu tinha muito medo de pensar
como a nossa vida seria quando voltássemos.

Uma semana em nossas férias, no dia anterior da nossa partida para o Havaí,
tínhamos saído com amigos locais que fizemos. Depois de cambalear para fora da festa
tarde da noite, tínhamos jogado Pedra, Papel, Tesoura no meio de uma rua deserta. O
perdedor do jogo tinha que dirigir de volta para o hotel.

Eu perdi três vezes seguidas.

— Eu não quero. — eu gemia, arrastando meus pés lentos atrás de mim, só para
enfatizar.

— Jude! Estou cansada e você claramente perdeu! Você tem que dirigir! —
Megan gritou de volta, andando na minha frente.

A saia preta justa acentuou sua bunda enquanto ela passeava para frente e para
trás em seus saltos. Eu gastei um momento para apreciar a vista.

Minha futura esposa é quente.

Suas pernas longas pareciam ter quilômetros e ela tinha belos cabelos castanhos
escuros que eu gostava de correr minhas mãos e...

— Você está checando a minha bunda? — disse ela, de repente, girando. Sua mão
disparou para seu quadril e ela levantou uma sobrancelha.

Pego.
— Mmm... Talvez. Se eu te contar o quanto é boa você vai nos levar de volta ao
hotel? — perguntei com um sorriso de lobo.

— Ugh! Talvez devêssemos passar a noite aqui. — disse ela.

— Não! — imediatamente rebati a sugestão. Minhas pernas reviveram em um


instante com a ideia de passar a noite em qualquer lugar, exceto em uma cama king-size
com Megan, e eu corri para alcançá-la.

Nós finalmente chegamos até o nosso carro alugado a alguns quarteirões de


distância, e eu diminuí os últimos passos.

Reduzindo a distância entre nós, eu a empurrei contra o carro. — Se ficarmos


aqui, nós vamos acabar dormindo em algum sofá fedorento com um grupo de jovens
universitários bêbados.

— Éramos jovens universitários bêbados apenas algumas semanas atrás, se você


esqueceu.

— Sim, mas nós não somos mais e nós temos aquele incrível... — beijei-a nos
ombros. —... Maravilhoso... — atravessei a clavícula. —... Enorme... — deixei um rastro
de beijos até seus lábios onde eu parei. —... Quarto de hotel. Eu realmente quero fazer
bom uso dele, você não quer?

Eu podia sentir sua respiração ficando pesada a cada beijo em sua pele. No
momento em que meus lábios estavam quase tocando os dela, ela estava praticamente
ofegante.

— Sim. — ela respirou.

— Sim, o que, Megan?

— Sim, eu quero voltar para o quarto de hotel. — ela respondeu.

Eu não pude evitar o sorriso que se espalhou pelo meu rosto. Eu rapidamente dei
um beijo em seus lábios e bati na sua bunda. — Bom, então você vai dirigir?

Sendo a pessoa amorosa e agradável que era, ela tomou as chaves e entrou no lado
do motorista do carro, pronta para dirigir, mesmo que devesse ser eu.

Esses foram alguns dos últimos momentos que eu tive com ela enquanto ela ainda
estava consciente. Minutos depois estava chovendo sobre nós quando um guincho de
metal queimou permanentemente no meu cérebro.

Eu olhei para ela quando o mundo girou e pensei em todas as coisas que eu queria
dizer antes de morrer e não conseguia. Tantas coisas que eu poderia ter dito nesses
últimos minutos no estacionamento, se eu soubesse.
Nunca tínhamos vivido juntos. Após a formatura, tínhamos encaixotado tudo e
íamos decidir se finalmente moraríamos juntos, mas em primeiro lugar, tínhamos um
pouco de diversão planejada.

Depois que ela morreu, eu não tinha mais nada dela e nenhum lugar para ir, onde
ela ainda estaria presente. Seus pais haviam levado suas cinzas e as enterraram em um
jazigo da família perto da sua casa em Chicago. Eu abandonei tudo e eu não queria ir
para casa, porque ela não estava lá. Então, eu nunca deixei a Califórnia. Eu nunca saí do
hospital. Eu fiquei vagando pelos corredores até que Margaret me ofereceu um emprego.

Por isso que os dias de folga eram tão difíceis. Eu não tinha vida na Califórnia fora
do hospital. Não era apenas um trabalho para mim. Era onde me sentia vivo - ou tão vivo
quanto poderia estar.

Quando a pessoa que você deveria passar sua vida morre antes que a vida tenha a
chance de sequer começar, como você sobrevive? Para mim, eu só ficava colocando um
pé na frente do outro, voltando para o lugar onde eu podia sentir a sua presença.

Eu era como um fantasma vivo.

Eu tinha dias que eram piores do que outros, então eu me via de volta ao corredor,
de volta para o quarto onde tinha segurado a sua mão, olhando para seu corpo golpeado e
ferido e tentando trazê-la de volta à vida. Andando pelos corredores do hospital agora, eu
sabia que ela não estava mais lá, mas ela esteve uma vez. Se eu fechasse meus olhos, eu
quase podia vê-la lá.

Isso era uma espécie de vida, não era?

Em uma tentativa desesperada de fugir dos meus pensamentos escuros em meu


apartamento vazio, tentei aventurar no mundo no meu segundo dia de folga. De manhã
cedo, eu coloquei um short e uma camiseta velha, escorreguei no meu tênis e parti para a
praia. Corri por pelo menos oito quilômetros de distância do meu apartamento, que era
absolutamente perfeito. Eu não queria voltar para casa até que estivesse tão exausto que
mal conseguisse ficar de pé.

Por cerca de seis quilômetros, eu tinha estabelecido um ritmo bom, e minhas


pernas estavam queimando. Meus pés tocaram o chão, um após o outro, e minha mente
ficou em branco enquanto ouvia o ruído ao meu redor. Era um dia de semana, por isso, as
ruas estavam quase sem crianças rindo e brincando, mas ainda havia muita vida para
ouvir. Um grupo de mães passou, conversando sobre as coisas que as mães sempre
falavam, cortadores de grama ruidosos e os carros passando. Eu deixei a minha mente
vagar e no que pareceu ser uma questão de minutos, eu me vi olhando para a água azul
cristalina do Pacífico.
Era início de Junho. Apesar de na Califórnia crianças ainda estarem na escola, o
resto dos EUA estava feliz desfrutando de férias de verão. Não tinha alcançado a alta
temporada para o turismo ainda, mas estava começando. O Píer de Santa Monica estava
ocupado hoje. Eu decidi ficar longe de lá. Em vez disso, fui para a esquerda para esfriar e
caminhar pela areia.

Tirei meus sapatos e me dirigi até a água. A areia estava quente do calor do sol, e
eu senti o forte contraste quando a água fria do oceano bateu nos meus pés. As ondas
turquesa eram intermináveis, estendendo-se em todas as direções, tanto quanto meus
olhos podiam ver. Os raios do sol acima tremeluziam e brilhavam na água, enquanto
dançava em seu caminho indo e vindo para a costa.

Eu andei, provavelmente, quatrocentos metros na praia quando ouvi meu nome


sendo gritado por trás de mim. Eu conhecia talvez quatro pessoas em toda a região de LA
- cinco, se eu incluir meu entregador de pizza - então de início, eu não respondi. Mas
quantas pessoas no mundo se chamavam Jude? Minha mãe não tinha exatamente
escolhido entre os dez melhores nomes de bebê.

Eu me virei e vi o Dr. Marcus se aproximando de mim. Com areia ainda em seu


cabelo, ele estava vestido com uma roupa de mergulho preta molhada.

— Ei, J-Man! — ele me cumprimentou, me dando um tapinha molhado forte nas


costas. Seu traje de mergulho estava aberto até a cintura, expondo seu peito como um
surfista bronzeado.

Eu tinha que dar crédito ao homem. Para um cara de meia-idade, o Dr. Marcus era
definido.

— O que você está fazendo no sol e na minha área? Você finalmente decidiu levar
em consideração a minha oferta para aulas de surfe? — ele brincou, sorrindo, enquanto
olhava para mim através dos seus óculos escuros.

Dei uma olhada rápida em direção às ondas e balancei a cabeça. —


Definitivamente não. Eu ainda sou muito nova-iorquino para surfar uma onda. —
brinquei. Imediatamente, eu me arrependi das minhas palavras. Eu nunca disse ao Dr.
Marcus de onde era. Tentando evitar quaisquer perguntas em relação a minha cidade de
origem, acrescentei: — Só dando uma volta, eu queria espairecer um pouco.

— Bom. Bem, estou saindo. — ele disse enquanto seus olhos iam até o calçadão.
— As ondas estão uma merda hoje. Quer comer alguma coisa comigo? Eles fazem
ótimos tacos de peixe. — ele apontou para um lugar de comida mexicana no caminho.

Eu hesitei, preocupado que meu pequeno deslize pudesse trazer uma enxurrada de
perguntas pessoais, mas o Dr. Marcus parecia não se incomodar, e sua oferta era
verdadeira. Nos muitos anos que nos conhecíamos, ele nunca me pressionou para dar
informações pessoais. Eu não sei por que, mas de repente eu estava paranoico com a
possibilidade.
— Claro. Parece bom. — respondi.

Paramos em sua camionete e ele fez aquela troca mágica de roupas que os surfistas
fazem. Menos de dois minutos depois, ele estava fora da sua roupa de mergulho e
ostentando um short e uma camiseta. Eu olhei para a minha camiseta inútil e pensei sobre
o fato de que eu corri até aqui, então eu provavelmente não estava com um cheiro muito
agradável.

Enquanto caminhávamos pelo estacionamento e entramos no restaurante, eu senti


a tensão aliviar.

O lugar era pequeno e tinha talvez quatro mesas, todas de incompatíveis plásticos
verdes e brancos com algumas mesas semelhantes do lado de fora. O cardápio era escrito
com giz em um quadro e não estava escrito uma palavra em Inglês. Com um lugar tão
descontraído e atmosfera casual, eu percebi que a minha aparência não muito estelar não
seria um problema.

Nós escolhemos uma mesa verde do lado de fora. Sentei e as pernas da cadeira de
plástico se curvaram um pouco. Uma velha televisão de tubo estava montada na esquina
com a transmissão da CNN. Dr. Marcus pediu para nós - em espanhol, é claro. Além de
conhecer as palavras dos e gracias11, eu não tinha ideia do que ele tinha dito.

Meu pai tinha gasto uma fortuna com professores particulares de idiomas para que
eu tivesse uma base em várias línguas quando fui para a escola preparatória. Nós
rapidamente descobrimos que a língua estrangeira não era um dos meus pontos fortes. Eu
acredito que meu professor tinha dito ao meu pai que com base na minha aptidão para a
linguagem, eu tive sorte de ter aprendido Inglês.

— Você está por dentro da economia? — perguntou o Dr. Marcus, tirando a minha
cabeça dos pequenos números que rolavam na parte inferior da tela da TV.

Eu tinha deixado minha antiga vida para trás, mas eu ainda me encontrava
verificando os números de vez em quando. Talvez eu quisesse vê-los falhar sem mim - ou
talvez eu quisesse vê-los ter sucesso.

Eu era uma bagunça fodida.

— Não, é apenas complexo de cara. A TV está ligada, então eu tenho que olhar
para ela. — eu disse em uma tentativa desesperada de fazer uma piada.

Ele me deu um olhar duvidoso, mas nós continuamos. Depois disso, nós
conversamos um pouco sobre coisas estúpidas - o clima, os eventos atuais e se
achávamos que a marca de café no refeitório do hospital tinha sido mudada - até que
nossa comida finalmente chegou.

Ele não estava brincando. As tortillas e tacos de peixe estavam incríveis. Nós
devoramos tudo em questão de minutos. Digerindo aos poucos, ainda tomamos cervejas e

11
Dois e obrigado.
comemos batatas fritas e salsa, enquanto observávamos skatistas e corredores passarem.
Dr. Marcus parecia não ter pressa. Ou era seu dia de folga, ou ele trabalharia no turno da
tarde.

De repente, o meu último intervalo de lanche com Lailah veio à tona, e lá estava
eu, almoçando com seu médico.

Não há melhor momento para encontrar algumas respostas.

— Ei, Dr. Marcus, você é o médico de Lailah Buchanan, certo?

Depois de tomar um gole da sua Corona, ele afastou lentamente a garrafa dos
lábios e colocou em cima da mesa. — Sim, eu sou. Na verdade, eu sou desde que ela era
uma criança. Por quê?

Isso me surpreendeu. — Desde que ela era uma criança? Mas você fez pediatria?
Você tem duas especialidades?

Ele olhou para fora, para areia e para a água que ele tão desesperadamente amava.
Sem olhar de volta para mim, ele apenas continuou a olhar para a água azul cristalina
enquanto respondia: — Pediatria não, eu nunca fiz. Há algumas histórias entre sua mãe e
eu. É... Complicado. Quando eu descobri sobre Lailah, eu imediatamente a peguei como
paciente. Não havia nenhuma dúvida sobre isso. Ela via um cardiologista pediátrico
também quando estava crescendo, mas eu supervisionava tudo relacionado a ela. — ele
fez uma pausa enquanto seus olhos viajaram de volta para a mesa e, eventualmente, para
mim. — Por que o súbito interesse em Lailah? — ele perguntou com um pouco de
desconfiança.

Isso me lembrou da primeira vez que conheci o pai de Megan. Depois que Megan
e eu estávamos namorando há cerca de dois meses, sua família havia me convidado para
o fim de semana de Páscoa. Seu pai tinha me seguido nesse fim de semana como um
falcão. Eu acho que toda vez que me virava, ele estava lá, cara a cara com os seus olhos
azuis.

— Estou apenas curioso, eu acho. Eu estive em seu quarto e conversei com ela
algumas vezes. Eu falei com um monte de pacientes do andar. — eu disse, tentando tirar
o foco de Lailah. — É tão diferente da emergência. Cada quarto que eu visito, me
encontro com a pessoa e os conheço um pouco mais. — menti.

As duas únicas pessoas que eu realmente conversei foram Nash, o escritor louco e
Lailah. Em minha mente, todo mundo que eu tinha interagido no andar permanecia
exatamente como os pacientes da emergência - apenas um rosto a mais.

— Pacientes fazem isso com você. — ele ofereceu. — Lailah é especial para mim.
Ela tem um caminho difícil pela frente. Ambas têm. — disse ele, obviamente, falando da
sua mãe.

— Lailah disse que ela quase teve um transplante antes. — eu disse, contente por
ele ter conseguido levar a conversa de volta para a Lailah.
— Sim, foi devastador.

— Você sabe o que aconteceu? — eu já sabia o que ele diria.

O que Lailah tinha me contado já confirmou o que eu temia. Quando maio chegou
ao fim, há três anos, eu estava de joelhos em um corredor do hospital, implorando para o
meu futuro sogro para não levar Megan para longe de mim.

— A família mudou de ideia. Acontece mais do que você imagina. Eu fiquei fora
da coisa toda. Era muito pessoal para mim. Considerando que eu tinha ido contra o
protocolo e contei tudo para Lailah antes de ter certeza, eu não podia arriscar minha
licença médica me envolvendo mais. Eu não posso te dizer o quanto eu queria pedir à
família para reconsiderar.

Se ele soubesse que eu fui a razão deles terem mudado de ideia...

— Mas ela terá uma chance de novo, certo? — eu perguntei em um tom otimista.

— Espero que sim. Eu realmente espero que sim. — disse ele.

Terminamos nossas cervejas e eu insisti em dividir a conta.

— De jeito nenhum. Convidei você J-Man. — disse ele, levantando as mãos em


sinal de protesto.

— Vamos dividir Dr. Marcus. Caso contrário, isto vai parecer um encontro. Ao
pagar tudo, você iria me fazer parecer a garota e eu definitivamente não vou colocar uma
saia para você. — sorri.

— Tudo bem, tudo bem. Eu não vou pagar por seus malditos tacos, cara! Relaxa.
— ele riu.

Depois que recusei sua oferta de uma carona, nos despedimos, e eu segui a estrada
em direção à casa. O sol estava empoleirado no alto do céu, apenas começando a pairar
sobre a água, que se preparava para a sua exibição do pôr do sol deslumbrante. Eu decidi
andar a maior parte do caminho para casa. Eu ainda estava muito cheio do almoço, e
precisava de um pouco mais de tempo para me debruçar sobre todas as ideias passando
pela minha mente.

É verdade.

Eu sou a razão de Lailah Buchanan ainda estar lutando por sua vida.

Se eu tivesse sido uma pessoa melhor, se eu tivesse sido capaz de deixar o meu
egoísmo e se eu tivesse pensado nos outros além de mim, Lailah teria... o coração da
minha noiva batendo dentro do seu peito.

Porra, eu não posso lidar com isso.


A caminhada se transformou em corrida, que se transformou em pânico. Tão
culpado quanto me senti naquele dia, tanto quanto me doeu saber que eu poderia ter
salvado a vida de Lailah, o pensamento de alguém possuindo o coração de Megan, me
matou - não, isso me exterminou. Eu não podia suportar a ideia de um pedaço de Megan
vivendo e eu não poder ser uma parte disso. Eu sabia que o seu coração não tinha feito
quem ela era, mas ele ainda teria sido parte dela. Ele tinha dado a sua vida e tinha
bombeado sangue em suas veias.

Se ainda havia algo de Megan, como eu poderia não querer estar perto dele?

Antes que eu soubesse para onde eu estava correndo, encontrei-me na entrada do


hospital. Sentei-me no banco vazio e abaixei minha cabeça em minhas mãos.

Desde a noite do acidente de Megan, eu não só destruí a vida de Megan, mas eu


também, aparentemente, arruinei a de Lailah também. Minha Megan tinha ido embora,
mas para mim, suas lembranças ainda estavam flutuando em torno dos corredores deste
hospital como pedaços esquecidos de papel através do vento. Mas Lailah ainda estava
viva, sua alma brilhando por tudo que ela fazia. Pensei nela e nas conversas sem
importância, na sua obsessão por pudim de chocolate e do jeito que ela nunca pareceu se
deixar abalar demais por todo o tratamento que ela passou.

De alguma forma, eu tinha que compensar Lailah, e eu tinha que ter certeza que
ela iria receber outro transplante.

Eu não sabia como eu faria isso, mas pela primeira vez na minha vida, eu queria
fazer alguma coisa para alguém - sem importar as consequências.
T RANSPLANTE DE CORAÇÃO.

Transplante de coração.

Talvez se eu escrever bastante, realmente vou assimilar.

Transplante de coração.

Não, não está funcionando.

Eu sempre soube que esse seria o fim do jogo, o “grand finale”. Por que estou
tendo tanta dificuldade para envolver meu cérebro em torno dessas duas palavras
estúpidas?

Não foi tão difícil da última vez.

Transplante de coração.

Não, ainda não dava para acreditar.

Mamãe realmente estava esperançosa, mas eu? A minha atitude positiva usual
atualmente estava preenchida apenas com temor. Desta vez, eu sinto que vou ser pega
em uma violenta tempestade e não sobrará mais nada da jovem que eu era antes.
Uma batida na minha porta me tirou das palavras que eu estava despejando nas
páginas do meu diário e eu rapidamente o fechei e coloquei no meu colo. Desde que
alguém me disse um tempo atrás que as palavras poderiam ajudar a acalmar, eu estava
consumindo revistas e jornais em preto e branco mais rápido que a minha mãe poderia
armazená-las.

— Entre. — respondi.

Meu coração acelerou na expectativa de quem poderia ser. Jude não apareceu desde
a sua saída estranha há quatro dias.

Talvez ele veio me verificar?

Meu pulso começou a abrandar no instante em que vi Abigail. Seus olhos


encontraram os meus por um breve momento e depois foram para o chão. Ela estava mais
quieta do que o normal e ela tinha alguns livros debaixo do braço.

Ela está bem? Fiz algo para aborrecê-la?

Em vez da sua corrida louca exuberante para o meu quarto, ela caminhou
lentamente para a minha cama e sentou-se hesitante na borda.

— Ei, Abigail. Está um pouco atrasada esta noite. O que aconteceu? — eu perguntei
alegremente.

Ela puxou os livros no colo. Eu vi a minha cópia de Anne Frank: O Diário de uma
jovem e o que parecia ser um diário. Era de couro marrom e gravado com uma letra
elegante que tinha as iniciais de Abigail escritas na frente, talvez um pouco formal e um
pouco adulto para uma criança de nove anos de idade, mas considerando que tinha sido
um presente do seu avô, não me surpreendeu.

— Você queria que eu lesse isso, por que você está morrendo? — ela perguntou.

Sua pergunta me pegou de surpresa e foi necessário um momento ou dois para eu


responder.

— O quê? Por que você perguntou isso?

Lágrimas se formaram em seus olhos, e ela olhou para a foto antiga na capa da
brochura.

— Porque ela morre no final. Eu apenas pensei que talvez, uma vez que você está
aqui... — ela olhou para o meu quarto de hospital e os diversos tipos de equipamentos me
cercando. — Talvez tenha sido a sua maneira de me dizer que você vai morrer também.

Deus, eu sou burra.

— Oh, querida, venha aqui. — eu disse, colocando meu diário na mesa ao lado da
minha cama.
Abri os braços, para que ela pudesse rastejar para dentro deles. Seu pequeno corpo
se encaixou perfeitamente ao lado da meu na cama. Eu alisei seu cabelo castanho escuro
e envolvi as extremidades nos meus dedos.

— Sinto muito. Eu não devia ter-lhe dado o livro sem ter avisado do final triste. Isso
foi irresponsável.

— Ela realmente morreu? — ela perguntou.

Eu apenas assenti contra seu rosto.

— Às vezes, o mundo não anda do jeito que queremos. — ofereci, continuando a


brincar com seu cabelo.

Ela se aninhou contra mim.

— E você? — ela perguntou hesitante, levantando a cabeça para que seus grandes
olhos castanhos encontrassem os meus.

— O que tem eu? — perguntei.

— Você vai morrer, Lailah?

Eu respirei fundo e considerei mentir. Muitas pessoas mentem para as crianças. É


realmente terrível fazerem isso para poupá-las da angústia de saber a verdade.

Mas quantas vezes adultos mentiram para mim quando eu era jovem? Quantas
vezes minha mãe omitiu a verdade para torná-la mais palatável para mim?

Eu sabia que minha mãe tinha feito isso porque me amava e não queria me
machucar, mas me fez sentir diminuída e fraca.

A última coisa que uma criança quer sentir, é diminuída.

— Eu não sei Abigail. Eu honestamente não sei. Os médicos estão fazendo tudo o
que podem. — respondi honestamente.

Seus olhos procuraram os meus por um momento mais longo e, finalmente, ela
afundou de volta para o meu peito.

— Espero que eles consigam.

— Eu também.
Essa foi a posição exata que Jude encontrou Abigail e eu alguns minutos mais
tarde quando ele entrou no meu quarto. Meu coração vacilou com a simples visão dele, e
eu tinha certeza de que a criança deitada no meu peito pôde sentir isso também. Ela olhou
para cima quando ele entrou. Ele imediatamente congelou quando viu nós duas nos
abraçando na cama, percebendo que ele entrou em um momento íntimo.

— Ei, você é o cara que fala de livros com meu avô. — disse Abigail, sentando-se
para enfrentar Jude.

O rosto de Jude aqueceu um pouco e ele passou o peso de um pé para o outro


sorrindo para Abigail.

Ele tinha um sorriso lindo. Seu sorriso tímido, sem prática, mal puxava o canto dos
lábios, fazendo a menor covinha aparecer em sua bochecha esquerda.

Ele realmente deveria sorrir mais vezes, talvez o tempo todo.

— Sou eu. Seu avô gosta de falar sobre livros. — ele disse sorrindo no final.

Isso me levou a acreditar que Nash falou a maior parte do tempo nessas conversas
e não me surpreendeu. Jude parecia ser mais um ouvinte.

— O que as duas senhoras estão fazendo até tarde hoje à noite? — ele deu mais
um passo para frente ocasionalmente, antes de enfiar as mãos nos bolsos.

— Nós estávamos falando sobre a morte. — Abigail respondeu claramente.

Meus olhos se arregalaram e dispararam sobre ela. Não havia lágrimas, apenas
honestidade.

As crianças podem ser tão estranhas. Eu me perguntava se eu tinha sido tão direta
quando tinha a idade dela.

— Ah... Bem, uh... — Jude lutou por um momento, chegando a agarrar a parte de
trás do seu pescoço com a mão, enquanto ele olhava para mim por algum tipo de
sinalização.

Eu só encolhi os ombros, então seus olhos em pânico continuaram a vagar até que
pararam no diário de Abigail.

— Ei, o que é isso? — perguntou ele.

— Ah, é meu diário. Vovô o deu para mim. Eu lhe pedi um rosa com joias sobre
ele, mas ele disse que este era para escritores de verdade.

Como ele tinha feito na noite em que me visitou, Jude atravessou o quarto, puxou
a cadeira de canto até a cama e sentou-se. Ele se inclinou para perto de Abigail. — Você
vai ler alguma coisa?
Ela franziu o nariz e balançou a cabeça.

— Oh, vamos lá. Tenho certeza de que você tem alguma coisa grande aí dentro.

— É tudo estúpido.

— Contanto que você escreva sobre o que te faz feliz, nada disso poderia ser
considerado estúpido. — acrescentei, esfregando suas costas em incentivo.

— Está bem. Promete não rir?

Olhei para Jude sobre sua cabeça, e nós dois sorrimos. Depois de tanto cruzar
nossos dedos e jurar, ela concordou em ler um poema.

Pandas são fofos.

Golfinhos são bonitos.

O açúcar é doce,

Assim como você.

Nós dois aplaudimos em uníssono e Jude saltou para seus pés dando-lhe uma
ovação de pé.

Ela pulou fora do quarto para contar tudo para o seu avô e seus risinhos agudos
encheram meu quarto e aqueceram meu coração por muito tempo depois.

— Isso foi muito gentil da sua parte. — comentei depois que ela deixou o quarto.

— Ambas pareciam tão tristes quando entrei. Eu tinha que fazer alguma coisa para
aliviar o clima.

— Bem, funcionou. Vê-la pular fora daqui foi perfeito. É assim que eu costumo
vê-la, cheia de vida e energia. Eu odeio pensar que tirei isso dela.

— Você não tirou isso dela. — disse ele, voltando para o seu lugar ao lado da
minha cama. Ele se inclinou para trás colocando os sapatos em cima dos trilhos da cama.

Ele parecia relaxado e casual, e por alguma razão, me deixou tensa. De repente eu
queria alisar meu cabelo e ver se a minha camisa tinha manchas.

Qual camisa que estou usando?

Minha mão voou para a minha gola, e exalei quando eu senti o material de algodão
liso cobrindo meu peito. Foi então que percebi que ele tinha testemunhado o meu
comportamento estranho e estava agora em silêncio me observando.

— Oh, um... Quer dizer, eu simplesmente odeio que a deixei triste. — eu disse,
tropeçando nas minhas palavras, enquanto eu tentava nos levar de volta ao tópico e
menos focado na minha obsessão com a minha camisa. Eu precisava mudar de assunto.
— Então, hum... Sem pudim hoje?

— Não, a cafeteria fechou. — ele respondeu.

Seus olhos não encontraram os meus, o que me fez pensar se ele estava dizendo a
verdade.

— Você esteve ocupado? — eu perguntei, querendo saber por que ele não tinha
aparecido alguns dias. Ele tinha me evitado propositalmente?

— Sim, eu tive dois dias de folga e depois corri praticamente desde o início do
meu turno até o fim de cada dia desde então. Nem sequer tive tempo para dar uma pausa
para o intervalo de hoje, é por isso que eu só posso ficar alguns minutos esta noite.

Mais uma vez, ele não estava fazendo contato com os olhos.

— O poema dela era fofo. — aquele mesmo sorriso tímido se espalhou pelo seu
rosto quando ele finalmente olhou para mim.

— Sim, era. Fico feliz que ela compartilhou com a gente. Não é fácil expor sua
alma, mesmo que seja sobre pandas. — eu sorri.

— Você tem um pouco de poeta, Lailah? — sua sobrancelha direita levantou


formando um arco sexy acima dos seus olhos verdes.

Arco sexy? Sério? Preciso ter uma vida.

— Não, a poesia não é definitivamente a minha praia. A vida é muito sem graça
por aqui, então eu escrevo.

— Sobre o quê?

— Tudo, nada. Eu balbucio principalmente. Eu sou boa em balbuciar. Eu escrevo


sobre meus dias dentro e fora do hospital. Se estou tendo bons dias, eu escrevo. Se estou
tendo dias ruins, escrevo. Eu faço listas. — disse com um sorriso.

— Listas, hein? Isso não é uma surpresa. — disse ele, lembrando-se, obviamente,
da nossa primeira conversa, quando eu trouxe a minha lista de suspeitos. — Que tipo de
listas?

— Todos os tipos, como tipos de tratamentos que tive, livros que li, livros que
quero ler, e então eu tenho a lista.

— Isso soa ameaçador. — disse ele com um pouco de humor.

— É a minha lista de coisas para fazer antes de morrer, eu acho. Eu chamo a


minha lista de ‘Algum Dia’.

— Assim como mergulhar no Taiti ou saltar de paraquedas?


— Sim, alguma coisa assim, mas a minha é um pouco diferente. — eu disse,
abrindo a gaveta do meu lado e puxando o caderno preto e branco onde guardava minha
lista.

— Eu posso ver? — ele perguntou, inclinando-se para frente.

— Não! — eu disse com um pouco de entusiasmo demais.

Com derrota, ele estendeu as mãos na frente dele e se afastou. — Tudo bem, não
toque no livro de uma mulher. Entendi.

— Sinto muito. — eu ri. — É só que... Eu nunca mostrei a ninguém. Mas eu vou


ler um pouco para você, se você quiser.

Ele se recostou na cadeira e acenou com a cabeça. — Sim, eu adoraria. Quantas


coisas você tem nesta lista Algum Dia?

Eu rapidamente folheei as páginas até chegar ao último número. Foi tudo um


show. Eu não precisava olhar para saber quantas eram. Eu passei muitas horas com este
pequeno caderno. — Cento e quarenta e três. — respondi.

Seus olhos se juntaram quando ele sorriu. — Qual é o número um?

Eu balancei a cabeça, olhando para a longa lista que eu tinha feito. — Não, não
vou lhe dizer isso. Escolha um número diferente.

— Certo. — ele riu. — Dê-me o número catorze.

— Hmmm... Colocar meus pés no oceano.

— O quê?

— Eu quero colocar meus pés no oceano.

— Mas você vive a menos de 15 minutos da praia. — ele me lembrou.

Eu suspirei. — Irônico, não é? Essa é uma das alegrias de ser eu e ter a minha mãe
como uma cuidadora. Eu estive doente toda a minha vida, o que significa que eu tive que
ser cuidada desde o dia em que nasci. Minha mãe teve que trabalhar muito. Andar pela
areia é um trabalho árduo. Deus me livre, eu fico sem fôlego. Portanto, nenhum passeio
para a praia e sem pés na água.

Seus olhos fixaram nos meus por um momento, como se estivesse pensando sobre
alguma coisa.

— Dê-me outro. Pode ser sessenta e dois? — perguntou.

Eu segui o meu dedo para baixo passando os números até que o encontrei. —
Fazer uma refeição do início ao fim.
— O que sua mãe tem contra cozinhar?

— Eu não sei se ela tem alguma coisa contra isso por si só. Ela nunca me deixa
fazer isso. Se um membro da equipe do hospital não está esperando por mim, então ela
me serve. Você sabe o que é ser cuidado como uma criança quando você é um adulto? É
enlouquecedor.

— Você não é uma criança. — disse ele.

A maneira como ele olhou para mim fez minhas bochechas corarem com o calor.

— Você vai compartilhar um pouco mais comigo amanhã à noite? — ele


perguntou, levantando-se da cadeira.

Ele esticou um pouco a bainha da sua camisa que subiu, revelando uma pequena
parte da pele bronzeada. Eu deveria ter desviado o olhar, mas não fiz isso. Eu consegui
olhar para cima a tempo de encontrar o seu olhar enquanto seus braços se acomodaram ao
seu lado.

— Sim, eu vou compartilhar um pouco mais, mas só se você fizer algo para mim.
— eu disse, pousando o pequeno caderno na cama.

— Depende do que é. — ele disse, arqueando as sobrancelhas novamente.

Ainda assim sexy.

— Traga-me mais pudim? — eu perguntei, sorrindo.

Ele riu. — Você tem um acordo.


S entado no banco de fora do hospital algumas noites atrás, eu estava certo de
uma coisa e apenas uma coisa. Para o futuro próximo, eu dedicaria a minha vida para
fazer o futuro de Lailah melhor.

Por causa do meu egoísmo, talvez ela tivesse perdido a chance de ter uma
existência livre do hospital. Eu tinha que recompensá-la.

Eu tinha causado o acidente que matou Megan. Eu tinha ido contra a vontade da
minha noiva e não permiti que seus órgãos fossem doados. Eu tinha gritado e ferido sua
família naquele momento de luto e de dor e eu dei as costas para minha própria família.

Eu era um ser humano terrível.

Mas com a garota sentada naquela cama de hospital, eu poderia me redimir. De


alguma forma, eu poderia fazer tudo certo. Eu não tinha certeza de como, mas eu tinha
deixado o hospital naquela noite me sentindo vingado e resolvido. Eu ia correr para casa,
deixando a queimadura em meus pulmões atingir todo o caminho para os meus pés
quando eles batiam na calçada, e eu sabia que de alguma forma iria acertar as coisas.

Era isso que eu queria fazer agora.


No dia seguinte, quando pisei no hospital, vestido com meu uniforme azul, eu bati
meu cartão, coloquei meu crachá, e foi quando percebi uma coisa...

Eu sou apenas o enfermeiro assistente.

Eu não era Jude Cavanaugh mais. Eu era Jude, o técnico em enfermagem. Eu era
apenas um homem esquecido que trabalhava em um hospital típico, paga o aluguel, e
depois de tudo o que foi dito e feito, mal fazia o suficiente para comprar uma pizza e
alugar um filme a cada semana.

Quem estou enganando? Eu não posso salvar o dia. Eu mal consigo me salvar.

O homem que eu havia me tornado não poderia mover montanhas e fazer as coisas
acontecerem, só porque queria isso. Eu tinha perdido esse poder quando deixei minha
antiga vida para trás e coloquei este uniforme.

Eu marchei até o posto de enfermagem na ala de cardiologia, me sentindo


derrotado, sem esperança e perdido.

Aos vinte e cinco anos, eu tinha conseguido estragar tantas vidas.

Como eu consegui isso?

Nos próximos dois dias, eu tinha evitado o quarto de Lailah, pegando todas as
tarefas que evitasse ter que entrar naquele quarto de hospital. Eu não podia suportar ver
seus grandes olhos azuis olhando para mim, sabendo que eu era a razão pela qual ela
ainda estava aqui.

Se eu soubesse que alguém como Lailah seria o fim da tragédia de Megan, eu


teria feito uma escolha diferente? Eu teria sido capaz de autorizar o transplante,
sabendo que uma jovem tão cheia de esperança e de vida ia começar a viver, mesmo se a
minha Megan não pudesse?

Eu realmente não sei.

E foi por isso que eu acabei no quarto dela, mesmo que tivesse me dito que eu não
iria.

Eu não aguentei.

Ela me confundia e me intrigava como nenhuma outra pessoa que já conheci. Ela
estava enfrentando circunstâncias extraordinárias com a morte olhando-a de frente. No
entanto, quando eu entrei no quarto, sua mão tinha ido imediatamente para o cabelo dela,
e ela corou.

Por que ela faz isso?


Ela balbucia quando fica nervosa, e ela faz listas como uma velha perdendo a
memória. Diante de tais desafios, ela era exatamente o oposto do tipo de pessoa que eu
esperaria que ela fosse.

Quando Megan morreu, eu havia me tornado duro e amargo. Eu tinha me fechado


para todos que conhecia. Eu tinha me desligado da vida que era para eu levar e
desaparecido. A vida de Lailah tinha sido um acontecimento ruim após o outro e ainda
assim ela estava enfrentando tudo de cabeça erguida.

Quando ela mencionou sua lista de coisas para fazer antes de morrer, eu sabia que
tinha encontrado a minha missão.

Eu posso não ter o poder da minha antiga vida, mas eu ainda podia mover
montanhas - bem, talvez colinas.

Eu só tinha que aprender a cozinhar primeiro.

Depois disso, descobrir uma maneira de levá-la ao transplante.

— Ei, Nash. Ouvi dizer que você está querendo sair logo daqui. — eu disse depois
de pisar em seu quarto bagunçado.

— Bem, eu tentei falar com a menina bonita de cabelos negros para fugir comigo,
mas ela apenas riu e disse que ela já está comprometida.

— Quem? Grace? — eu perguntei, indo para seu lado, conferir os sinais vitais.

— Sim, ela me faz lembrar uma princesa exótica. Eu quero remover os uniformes
de desenhos animados que ela usa e cobri-la em nada, apenas seda. Eu também gostaria
de lamber o creme dela até ela ronronar.

Essa descrição me parou quando eu estava no meio de envolver o manguito de


pressão arterial em torno do seu bíceps desgastado. — Uh... Bem... — eu tentei pensar
em algo para desviar o assunto, mas eu não tinha nada.

Ele deu um grande sorriso do gato Cheshire que ocupou metade do seu rosto. Seus
dentes brancos eram um forte contraste com sua pele escura. — Você não estava
brincando. Você realmente não fala muito.

Depois de verificar sua pressão arterial, eu puxei o manguito do seu braço e


caminhei de volta para o carrinho que eu tinha trazido para inserir as informações no
computador. — Acho que estou um pouco fora de prática.

— Não tem amigos?

— Não realmente. — voltei para o outro lado verificando o seu acesso IV.

— Nenhuma família?
— Não. — movi de um lado para o outro, me sentindo desconfortável pelo ataque
súbito de perguntas.

— E quanto a uma mulher? Certamente, um homem como você tem que ter uma
mulher.

— Não, não mais. — doía dizer as palavras, parecia como se uma espada
apunhalasse meu coração - um coração que ainda batia ao contrário de Megan que eu
egoisticamente impedi de seguir em frente.

Ele, obviamente, viu a dor em meus olhos, porque não disse mais nada. Ele apenas
permitiu-me fazer o meu trabalho, passando de uma tarefa para outra, até finalmente
acabar.

Assim, quando estava prestes a sair, lembrei-me de uma história que Nash tinha
me dito no início da semana. Nash era cheio de histórias. Sua vida era uma cascata
interminável de histórias, e como se ele não tivesse um número suficiente delas, ele as
fantasiava.

Com mais de quarenta romances em seu currículo, eu aprendi - graças ao Google -


que Nash Taylor foi um dos escritores de ficção mais bem-sucedidos do nosso tempo. Ele
ganhou todos os prêmios literários conhecidos pelo homem e ele também era conhecido
por ser um pouco extravagante. Solto com sua moral e até mesmo mais flexível com o
seu dinheiro, o homem tinha uma reputação de mal, é por isso que ele tinha uma enorme
quantidade de ex-esposas e vários filhos e netos.

Desde que eu conheci o homem, ele me contou várias histórias sobre a sua vida.
Eu sentia como se soubesse sua autobiografia melhor do que sabia da minha. Uma
história em particular estendeu mais do que as outras porque poderia ajudar a minha
situação atual.

Na década de oitenta, durante um período particularmente longo de bloqueio de


escritor, Nash decidiu aceitar um emprego como cozinheiro. Ele não tinha absolutamente
nenhuma experiência, e ele disse que o gerente estava provavelmente bêbado ou era
incrivelmente estúpido para contratá-lo, mas ele pensou que o trabalho iria dar-lhe
alguma inspiração. Durante seis meses, ele explorou o mundo da culinária.

— Eu era o pior cozinheiro na face da Terra - em primeiro lugar. — ele disse. —


Mas quanto mais tentava, melhor eu ficava. Como uma virgem, eu era descuidado e
desajeitado para começar, mas eu pratiquei, e continuei praticando, praticando! Em
seguida, BAM! Parecia tudo natural!

Nash sempre conseguia levar cada história e relacioná-la com o sexo. Eu diria que
é uma espécie de dom, mas na verdade, eu pensava que ele era apenas um homem velho e
sujo.

— Ei, Nash. — eu disse, virando.

— Sim, meu amigo calado?


— Você poderia me ajudar a planejar uma refeição? Eu quero fazer o jantar para
alguém, mas eu realmente não sei cozinhar merda nenhuma.

Seus lábios se viraram em direção ao céu e sua expressão aqueceu.

Trinta minutos mais tarde, eu tinha escrito uma tonelada de receitas e fiquei com
um pouco de dor de cabeça de tanto que ele falou, mas eu tinha uma refeição e um plano.

Eu sabia que o que tinha planejado provavelmente levaria muito mais tempo do
que o meu intervalo, então no dia seguinte, eu apareci no hospital, vestido com minhas
roupas civis e pela primeira vez não bati ponto. Em vez disso, eu fui até o refeitório,
passando pelos funcionários e visitantes esperando para pagar suas guias, e dei a Betty, a
senhora da cafeteria, uma piscadela. Ela corou e franziu os lábios, dando-me um beijo
sedutor de volta, quando ela acenou através da cozinha.

Dez minutos mais tarde, eu tinha praticamente tudo quase pronto, e eu estava no
elevador indo até a unidade de cardiologia. Eu ansiosamente batia o pé enquanto
esperava chegar no andar e ouvir o sinal que a porta do elevador estava prestes a abrir.

Eu estava irritado... Ou nervoso.

Eu não sabia. Eu definitivamente estava tenso.

Inquieto com um toque de ansiedade, talvez?

E se ela odiar? E se algo der errado e ela se machucar? Quanto de atividade


diferente ela pode lidar? E se eu a deixar exausta?

Um milhão de coisas estavam passando pela minha mente quando a porta do


elevador finalmente se abriu e eu entrei no corredor familiar. Eu não queria nada mais do
que tornar a vida de Lailah melhor. Depois de tudo o que eu tinha feito para acabar com
isso, era algo que precisava fazer. Eu só esperava que ao entrar em seu mundo e me
tornar uma parte da sua vida, eu não fizesse nada mais que o bem para ela.

Talvez eu devesse falar com o Dr. Marcus primeiro.

Fiz uma rápida parada no posto de enfermagem, perguntando se eu poderia pegar


emprestada uma cadeira de rodas. Aparecer fora do turno não era normal para mim.
Depois de alguns olhares estranhos do resto do pessoal, consegui o que pedi, e eu estava
no meu caminho para o quarto de Lailah quando eu vi justamente o homem que estava
procurando.
Dr. Marcus estava de pé em um canto, falando intensamente com alguém. Sua voz
era baixa, mas era evidente pela forma como suas mãos estavam se movendo e pela
expressão em seu rosto que ele estava em uma discussão acalorada.

— Por que você sempre sente a necessidade de ser tão independente, Molly? —
ele assobiou.

— Eu nunca vou depender de um homem para cuidar de mim, nunca mais. — ela
retrucou. Os braços cruzados sobre o peito com raiva.

Ela parecia familiar, mas eu não me lembrava de onde a tinha visto antes. O cabelo
loiro claro e ardentes olhos azuis me lembravam alguém, mas as loiras eram muito
comuns no sul da Califórnia. Ela poderia ser qualquer uma delas.

Tentei desviar o olhar, ciente de que eu estava escutando uma conversa pessoal,
mas eu nunca tinha visto Dr. Marcus perder a calma antes. Ele era o que chamaria de
californiano frio - bem-educado e sempre descontraído.

Agora, olhando para o seu rosto e o vendo inquieto de pé, eu podia ver que seus
olhos eram selvagens, cheios de fogo e calor.

— Você acha que isso é tudo? Você acha que tudo isso que fiz... — ele fez um
gesto unindo as mãos — Foi apenas para que eu pudesse protegê-la? E Lailah, também?

Meus olhos se arregalaram, e eu dei um passo para o canto, não querendo desistir
da minha posição agora que eu descobri que ele estava falando com a mãe de Lailah.

Não era de admirar que seus cabelos platinados e estrutura pequena parecessem
tão familiares. Olhando para ela novamente, ela tinha uma impressionante semelhança
com a filha. Eu nunca conheci a Sra. Buchanan. Eu só tinha ouvido falar sobre ela das
poucas histórias que Lailah tinha me contado. A maioria das trocas do meu plantão,
geralmente eram feitas tarde da noite, e ela normalmente saía antes de eu entrar no
quarto.

— Não, eu sinto muito. Eu sei que você se importa Marcus. — disse ela, hesitante
tocando seu bíceps quando a sua raiva começou a abrandar.

— É mais que isso, Molly.

Alguém virou a esquina oposta, e eles se separaram antes de dizer um rápido adeus
virando em diferentes direções. A mãe de Lailah foi em direção ao elevador e Dr. Marcus
marchou pelo corredor onde eu estava. Comecei a empurrar a cadeira novamente,
tentando agir indiferente.

— Ei, J-Man. Vestido para o trabalho hoje? — Dr. Marcus perguntou enquanto ele
se aproximava.

Ele tentou encobrir a tristeza em seus olhos com um sorriso, mas não estava
funcionando. Eu ainda podia vê-la ali, persistente por trás daqueles olhos azuis
profundos. Dor reconhecia dor, e eu estava olhando para o mesmo conjunto de olhos no
espelho, nos últimos três anos.

— Eu não bati ponto esta noite. Na verdade, estou aqui para visitar Lailah.

Um pouco de surpresa dançou em suas feições. — Lailah? Sério?

— Sim.

Expliquei o meu plano para ele, e ele silenciosamente ouviu, me olhando e me


avaliando como uma figura paterna. Depois que terminei de falar os detalhes, ele ficou
mais quieto. Eu nervosamente enfiei as mãos nos bolsos, esperando algum tipo de
resposta. Parecia uma eternidade ser encarado como se eu fosse uma daquelas lagostas
em um aquário de um restaurante de frutos do mar.

Em seguida, ele finalmente disse: — Isso é muito gentil da sua parte, Jude. Eu
acho que ela vai gostar e ela deve ficar bem, desde que você não a enfie em uma esteira
de corrida. — ele disse com uma risada.

— Vou fazer o meu melhor para evitar a esteira. — eu brinquei.

— Apenas certifique-se que você não fique muito apegado a Lailah. Ela é inocente
- em todos os sentidos. — frisou. — Tenho toda a esperança de que tudo vai correr como
planejado com ela, mas eu não quero que ela se machuque.

Minhas sobrancelhas franziram em confusão. — Eu não acho que você entendeu


Dr. Marcus. Eu não estou dando em cima da Lailah. Ouça, eu perdi alguém. Ela era única
e isso aconteceu um tempo atrás. Eu não posso... Eu não sou capaz de ter esses tipos de
sentimentos mais. — eu disse, tateando sobre minhas palavras.

A mão dele tocou no meu ombro, me firmando. — Então, acho que não teremos
um problema, não é?

Seus olhos encontraram os meus e eu podia ver a compreensão lá. Em algum lugar
ao longo do caminho, ele tinha perdido a sua única também.

O único problema era que o fantasma de Marcus ainda estava muito vivo.
A lguns dias no hospital passavam rápido.

Eu abri meu diário, encontrei um ritmo e as palavras começaram a voar. Antes que
eu percebesse, alguém bateu na minha porta para entregar o almoço. Eu adorava dias
assim. Fazia o tempo parecer fluido e precioso.

Hoje não era um desses dias.

Era quase meio-dia e eu tinha passado os últimos 30 minutos olhando para o


relógio, cada minuto parecendo durar mais tempo do que o anterior, até que eu estava a
ponto de rasgar as paredes.

Eram dias longos e intermináveis como este que me faziam pensar: qual é o
sentido de tudo isso?

Eu odiava esses dias. Eles me faziam duvidar de tudo - cada ação, cada decisão.

Eu estava sentada em um quarto de hospital sozinha, olhando para um relógio.

Isso é jeito de viver? A vida é isso? Por que ter um coração batendo, se eu não sei
por que ele bate em primeiro lugar?
Estas eram as minhas dúvidas mais profundas e obscuras. Eu mantinha esses
sentimentos engarrafados dentro de mim, e me recusava a reconhecê-los, até que outro
dia como este chegasse novamente. Então, encontro-me mais uma vez olhando para um
relógio ridículo, querendo saber por que eu estava mesmo nesta Terra se era obrigada a
passar minha vida neste quarto.

Uma batida suave me tirou do meu transe de olhar fixamente para o relógio,
desviei para encontrar Jude entrando pela porta.

Puta merda.

Eu respirei fundo e tentei não babar.

Eu tinha me acostumado a ver Jude em seu uniforme característico. Muitos


enfermeiros e técnicos de enfermagem usavam uma variedade de uniformes para
trabalhar. Nenhum deles era tão louco como Grace com seus personagens de desenhos e
gravuras estranhas, mas Jude era muito simples, usando a mesma cor tradicional a cada
dia que eu o via.

Ele não estava usando azul hoje.

E ele definitivamente não estava usando uniforme.

Hoje, ele estava de calça jeans preta e uma camiseta preta que abraçava a parte
superior do corpo de uma maneira que seu uniforme definitivamente não podia. Seu
cabelo ainda estava precisando de um corte, mas parecia que ele tinha tentado, pelo
menos, passar as mãos por ele.

Eu adoraria passar minhas mãos por ele.

Oh meu Deus, pare com isso, Lailah.

Eu não sei quanto tempo fiquei olhando para ele, mas de repente percebi que não
tinha lhe cumprimentado.

Não, eu estava apenas sentada ali com minha boca aberta.

— Hmmm... Oi! — eu finalmente disse com muito entusiasmo.

Ele sorriu com aquele sorriso tímido que eu tinha visto antes, e então ele olhou
para o chão antes de olhar para mim.

— Oi. Eu sei que eu disse que não te visitaria esta noite, mas eu pensei que você
pudesse desfrutar um pouco da minha companhia durante o dia.

— Quer dizer, você pode realmente sair à luz do sol? Eu estava começando a me
perguntar se você brilhava. — eu ri.
A piada passou, obviamente, despercebida por ele, porque ele só me deu uma
expressão divertida e balançou a cabeça.

— De qualquer forma, eu tenho uma surpresa para você, se você estiver disposta.

— Envolve pudim? — eu perguntei.

— Hmmm... Não, mas envolve chocolate. — ele respondeu.

— Você deveria ter começado com isso. Sempre comece com chocolate.

— Então, isso é um sim? — ele questionou.

— Para a surpresa misteriosa? Mesmo que eu não tenha ideia do que estamos
fazendo ou para onde estamos indo? Hmm... Eu tinha uma tarde movimentada planejada.
— comecei a dizer em um tom sarcástico. — Eu ia pintar as unhas e assistir novela. Você
sabe que Stefano quase foi assassinado, certo? Muito escandaloso.

Ele revirou os olhos, o seu sorriso se alargou e ele girou sobre os calcanhares.
Virando-se, ele caminhou os poucos passos até a porta e saiu.

Ah não!

Eu o aborreci? Foi um sarcasmo não socialmente aceitável?

Assim, quando eu estava prestes a ter um surto de nervos, a porta abriu e ele
reapareceu, juntamente com uma cadeira de rodas.

Meu primeiro pensamento foi: Sim! Ele está de volta! Eu não o assustei!

Meu segundo pensamento foi: Ugh, cadeira de rodas estúpida.

Considerando que eu tinha passado a manhã xingando o relógio e o destino que


me tinha trazido a este lugar, naquele momento, eu ficaria feliz em ir a qualquer lugar em
uma cadeira de rodas desde que estivesse fora deste quarto de hospital e com Jude.

— Então, aonde vamos? — eu perguntei, sentando na cadeira de rodas.

Quando me inclinei para empurrar para baixo os apoios dos pés, eu vi Jude
avançar para me ajudar, mas eu recusei com um aceno de mão. Ele não estava
trabalhando e eu definitivamente não era tão frágil quanto aparentava.

— Não. — ele respondeu, dando um passo atrás de mim. Suas mãos roçaram a
pele do meu ombro quando ele se moveu para agarrar os pegadores.

Ele deu um passo para frente me empurrando pelo corredor.

— O que quer dizer, não?

— Não, não vou lhe dizer.


Eu murmurei um palavrão e ouvi-o soltar um pequeno riso quando passamos pelo
posto de enfermagem. Ele parou brevemente para informar que ele ia me levar por um
tempo. Ele encostou-se ao balcão enquanto falava em sussurros baixos, dizendo aos
enfermeiros o nosso destino secreto. Seus braços incharam contra o peso da parte
superior do corpo e avistei várias das suas tatuagens tribais escuras que cobriam seu
braço esquerdo, enquanto eu ouvia o som da sua voz baixa.

Notei várias das enfermeiras jovens solteiras me observando curiosamente


enquanto ele falava. De repente fiquei desconfortável com a atenção. Nunca tendo
frequentado escola ou eventos sociais com os meus colegas, eu não sabia como reagir a
esse tipo de aprovação. O desejo de correr e me esconder foram crescendo a cada
segundo que passava.

O que ele está dizendo para fazê-las olhar para mim desse jeito?

Grace, que estava voltando do fundo do corredor, deu uma olhada para mim e
deve ter visto a minha aflição. Ela rapidamente andou para trás do posto de enfermagem
antes de olhar na minha direção me dando uma piscadela.

— Todas viram o meu anel? — disse alto o suficiente para eu ouvir.

Gritinhos de meninas se ouviam de longe.

Eu ri, sabendo que ela tinha propositadamente desviado a atenção indesejada para
longe de mim.

Eu realmente amo essa mulher.

Felizmente, Jude tinha terminado seu assunto na estação das enfermeiras quando
os gritos irromperam e nós fizemos nosso caminho para o elevador sem quaisquer outros
olhos curiosos nos seguindo. Ele apertou o botão e esperamos em um silêncio um pouco
estranho.

— Então, você vai me dizer agora? — eu finalmente disse.

— Não.

Eu cruzei os braços contra o peito e soltei um suspiro exasperado.

Ele riu atrás de mim. O elevador apitou e as portas se abriram. Ele me virou e nos
guiou sempre para frente.

— Você tem a paciência de um mosquito. — disse ele.

A porta se fechou e fomos para baixo.

— Eu tenho uma grande dose de paciência.

— Bem, não hoje. — disse ele.


Então, senti sua respiração quente em meu ouvido quando ele se abaixou atrás de
mim. — Talvez seja só eu que eriça suas penas.

— Hmmm...

Eu não tinha uma resposta divertida, nada que dissesse se comparava ao que ele
tinha acabado de dizer, porque ele tinha acabado de me deixar sem palavras. Tentei me
recompor, mas tudo o que saiu foram sobras de palavras. Sua respiração contra minha
orelha havia me reduzido a uma confusão total de murmúrios de letras e sílabas.

Por que a sua presença me afeta tanto?

Eu cresci no hospital. Eu passei minha adolescência – o momento mais vulnerável


da minha vida jovem - sendo analisada, investigada e exposta a inúmeras pessoas,
incluindo vários homens.

Mas ninguém nunca tinha feito minha pele arrepiar e meu coração vibrar do jeito
que ele fazia.

Era algo que eu nunca tinha sentido antes - e também algo que eu precisava
esquecer.

Jude não era para mim.

Ele não poderia desejar uma garota tão bagunçada como eu.

Além disso, uma vida fora destas paredes do hospital não era uma coisa que eu
conseguia pensar agora. A esperança era um sentimento que poderia dar ao menor
homem a força para mover montanhas. Mas, se a esse homem for dada muita esperança
em uma situação extrema, qualquer palavra dita poderia esmagá-lo, a crença do
impossível que as coisas de alguma forma ficariam melhor, quando não havia nenhuma
chance na sua vida.

Até que eu soubesse mais sobre a minha probabilidade de transplante, eu ficaria


longe desse sentimento de esperança.

— Eu não tenho penas. — finalmente respondi, encontrando a minha voz


novamente.

— O quê? — perguntou ele.

O elevador apitou novamente e a porta abriu. Ele empurrou a cadeira de rodas para
frente, e eu dei uma olhada ao redor, mas tudo o que vi foi o mesmo corredor chato que
cobria todos os andares. Isso não dava muitas pistas.

— Você disse que minhas penas estavam eriçadas. Eu não tenho asas. Eu não sou
um pássaro. — apontei.
Ele empurrou a cadeira de rodas para um conjunto de portas de vidro. Eu olhei e vi
pessoas em uniformes e em roupas normais andando, carregando bandejas.

Estamos no refeitório? Ele me comprará o almoço?

Olhei para cima e encontrei os olhos verdes olhando para mim.

— Todo anjo tem asas, Lailah. — ele respondeu.

Ele me empurrou pela porta dupla, e em vez de encontrar um lugar no salão com o
resto das pessoas esperando para pegar algo para comer, ele deu uma guinada em direção
à cozinha.

— O que vamos fazer? — perguntei.

— Relaxe! Estamos quase lá. — disse ele atrás de mim com um tom divertido. —
Ei, linda. — disse Jude, cumprimentando alguém.

Minha cabeça voou para cima para ver a quem ele estava se dirigindo.

Ele me apresentaria à sua namorada? Essa não seria a minha ideia de uma tarde
divertida.

Uma mulher mais velha, provavelmente com seus sessenta anos, com longos
cabelos prateados torcidos em um coque complicado, olhou para cima da caixa
registradora e bateu os cílios para Jude. — Ei, Pudim. — ela respondeu. — Esta é sua
garota? — ela olhou para mim com um sorriso caloroso e enrugado que me fez lembrar
minha falecida avó.

— Esta é Lailah. — ele simplesmente respondeu.

— Bem, o seu material está ali e pronto para você. Leve o tempo que precisar
querido.

Sua grande mão foi para seu pequeno ombro e apertou-a por um momento. —
Obrigado por isso. — disse ele antes de empurrar a cadeira de rodas para frente mais uma
vez.

Outro conjunto de portas e alguns segundos depois, estávamos na cozinha do


refeitório.

Dei uma olhada em volta, percebendo as enormes geladeiras de aço inoxidável,


fornos e bancadas. Tudo brilhava e cintilava sob as luzes fluorescentes. No balcão
localizado no centro havia vários sacos de compras de um supermercado local onde a
minha mãe passava a caminho do hospital. Ao lado dos sacos havia pilhas de produtos,
diferentes tipos de carnes e queijos e um bolo de chocolate.

— O que estamos fazendo aqui? — eu perguntei, meu olhar continuava a passear


ao redor do grande espaço.
— Vamos preparar o almoço. — disse ele.

Minha expressão deve ter sido de extrema surpresa ou talvez medo, pois uma
risada estrondosa saiu dele. Foi a primeira risada real que eu tinha ouvido dele e foi lindo.
Nas outras vezes que eu o peguei rindo, tinha sido tímido e apreensivo, como se ele não
tivesse certeza que era permitido o prazer de rir. Ouvir esta risada, parecia como se eu
estivesse finalmente visto e ouvido a sua alma.

— Você parece mortificada. — ele finalmente disse, ainda rindo.

— Talvez um pouco, mas eu estou mais surpresa. Vamos cozinhar? Sério?

Um sorriso surgiu em seus lábios. — Sim, eu não posso te levar para a praia - você
sabe, sem você sair do hospital e eu ser demitido. Então, eu percebi que poderia fazer
isso. Não é muito...

— É perfeito. — eu disse, interrompendo-o.

— Bom. — ele respondeu. — Vamos começar a trabalhar.

— Antes de começar, eu tenho uma pergunta rápida. — eu disse, olhando para a


minha situação atual. — Eu tenho que ficar sentada nessa coisa o dia todo? Você sabe, eu
posso andar.

— Ah! Desculpe. Eu estava apenas tentando manter a política do hospital. Sim,


você pode se levantar. Apenas sem esteiras de corrida.

— O quê? — eu perguntei completamente sem entender seu comentário.

Ele sorriu, movendo-se para frente e me oferecendo uma mão, como apoio. Eu
normalmente recusaria. Eu gostava de ser capaz de fazer as coisas por mim mesma, mas a
ideia de tocá-lo novamente era muito tentadora.

Só porque eu sei que ele não é para mim não significa que eu não quero que ele
seja.

Uma garota pode sonhar.

Quando a mão dele deslizou na minha, eu senti o mesmo tremor que eu senti
quando seu hálito acariciou minha orelha. Sentindo o calor instantâneo, meu estômago se
apertou e meu pulso começou a palpitar.

E não tinha nada a ver com insuficiência cardíaca.

Nossos olhos se encontraram quando ele me ajudou a levantar.

— Nada. Desculpe. Piada fraca. — ele murmurou rapidamente. — Vamos fazer


um lanche. Estou morrendo de fome. — ele soltou a minha mão e virou-se para o balcão.
Ele começou a tirar as coisas dos sacos e colocá-las para fora.
— Então, o que vamos fazer?

— Pensei em fazer algo simples, já que é sua primeira vez em uma cozinha e eu
sou um péssimo cozinheiro.

Eu fiz um som quando bufei antes de levar a mão à boca. — Você deveria estar
me ensinando a cozinhar uma refeição e você não sabe cozinhar? — eu perguntei, ainda
segurando o riso.

Ele dobrou o saco de compras reutilizável, colocou sobre o balcão e se virou para
mim. Sua expressão estava mais leve e divertida. O constrangimento que ele estava
momentos antes, quando nossas mãos se tocaram, pareceu se dissipar.

— Eu não disse que não sabia cozinhar. Eu só disse que eu era um péssimo
cozinheiro. Há uma diferença.

— Ah, tudo bem. Então, que terrível comida teremos hoje? — eu perguntei,
olhando em volta para as várias coisas alinhadas no balcão de aço.

— Pensei em ir com calma e fazer pizza. Como podemos errar em uma pizza?

— Isso parece como um desafio. — eu ri.

— Bem, vamos pelo menos tentar deixar comestível. Eu tive um pouco de ajuda.
O avô de Abigail, Nash, me deu algumas dicas, então eu estou animado. — ele balançou
as mãos e esticou o pescoço como se estivesse se preparando para uma luta. — Sim, nós
podemos fazer isso.

Eu ri. — Tudo bem, vamos lá.

Ele felizmente comprou massa pronta e tudo o que tínhamos a fazer era abrir a
massa com um rolo.

Era mais fácil dizer do que fazer.

— Não basta você abrir com um rolo? — eu perguntei, olhando ao redor


procurando por um.

— Achou que eu fosse jogar a massa no ar?

— Só se você tivesse um bigode sinuoso e chamasse Luigi. Acho que iniciantes


devem apenas estender a massa.

Depois de olhar de cima abaixo procurando um rolo, ele conseguiu finalmente


encontrar um na parte de trás de uma prateleira de canto.

Jude puxou a massa pegajosa para fora do saco e jogou-a sobre o balcão limpo. —
Precisamos de farinha. — metade da massa ainda estava presa à palma da sua mão.
Eu tinha a missão de encontrar farinha e felizmente não demorou muito. Puxando
um punhado do recipiente, eu cobri a massa e o balcão, e então eu joguei um pouco em
suas mãos.

— Ajude-me a tirar o resto disso. — disse ele, estendendo seus dedos ainda
cobertos de massa.

Certificando de que as minhas mãos estavam devidamente enfarinhadas, eu


comecei a mover minhas mãos sobre a dele, tirando pedaços de massa. Nossos dedos se
tocaram e teceram juntos e nenhuma palavra foi dita. Ele me olhava enquanto seus olhos
absorviam cada movimento como se estivesse me estudando.

— Tudo feito. — eu disse suavemente.

Ele pareceu sair do seu transe. — Bom. Tudo bem, eu vou estendê-la.

Com a adição de farinha, conseguimos estender a massa sem grandes estragos.


Não ficou redonda como as do entregador de pizza, mas era plana e não tinha nenhum
buraco.

— Que tal molho, chef? — eu perguntei, admirando a nossa pizza de forma


estranha.

Procurando dentro dos sacos de compras, Jude ergueu um frasco verde e vermelho
brilhante momentos mais tarde.

— Nash recomendou este molho de macarrão caro. Ele disse que era o melhor do
que tudo que ele já tentou. Eu não discuti. — ele abriu a tampa e espalhou um pouco
sobre a nossa obra-prima.

— Então, como é que um homem adulto na casa dos vinte anos não sabe cozinhar?
— eu vasculhei o restante dos ingredientes e encontrei o queijo.

— Da mesma forma como a maioria, acho - preguiça e a invenção do macarrão


instantâneo.

— Duvido - pelo menos a parte da preguiça. Não, deve haver alguma outra razão.
— eu disse, rasgando o saco com queijo ralado.

Mergulhei minha mão no saco frio e comecei a polvilhar o queijo na pizza.


Pareciam grandes pedaços de neve caindo - ou pelo menos, eu achava que sim, mas eu
não tinha certeza uma vez que nunca tinha visto neve.

— Bem, eu posso te dizer, estou em boa companhia. Eu posso lhe garantir que a
maioria dos homens em seus vinte anos que não são casados ou envolvidos, geralmente
vivem fora e comem coisas que podem ser feitas no micro-ondas.

A única coisa que eu ouvi em toda essa explicação foi o fato de que ele era
solteiro. O que devo ter em foco é o fato de que ele estava se esquivando de qualquer tipo
de resposta real, mas o meu lado feminino – aquele que nunca teve a chance de ficar com
um menino na sala de aula ou dançar com o namorado no baile – não notou nada disso.

Não importava que ele estivesse solteiro. Eu deveria ter ignorado, mas meu
estômago pulou no instante em que as palavras saíram da sua boca.

Jude era solteiro e ele estava aqui - comigo.

Não, isso não importa.

Isso não muda nada. É claro que não.

A negação era algo que eu sempre destaquei entre meus sentimentos.

Após a pizza estar devidamente coberta por uma boa camada de queijo, passamos
para coberturas.

— Então, o que você gosta na sua pizza? — ele pegou as sacolas e começou a
puxar para fora mais coberturas do que uma pizza poderia suportar. Havia cogumelos,
corações de alcachofra, azeitonas, pepperoni, presunto, pimentão verde, cebola e cerca de
uma dúzia de outras coisas.

— O que você quiser está bem. — respondi, olhando em volta para tudo.

Suas sobrancelhas subiram em diversão. — Lailah, talvez eu não te conheça muito


bem ainda, mas posso dizer quando você está mentindo. Você não é muito boa nisso.
Agora, você está olhando para metade dessas coisas como se elas fossem saltar para cima
e atacá-la. Apenas me diga o que você não gosta, e eu não vou colocar.

— Tudo bem, mas não ria.

Ele enrugou seu rosto, tentando manter o sorriso que estava ameaçando se formar.
— Sem promessas.

— Eu odeio cogumelos. — eu comecei, olhando para o balcão, em vez de para ele.


— Eles são esquisitos. E pimentões tem gosto engraçado. Não só cozido, mas cru
também. Além disso, você é tão doce, mas metade dessas coisas não posso comer, porque
eles são muito ricos em sal e eu estou em uma dieta com pouco sal por causa do meu
coração. Você me odeia?

Eu arrisquei um olhar para cima e encontrei-o sorrindo com um sorriso torto que
me roubou o fôlego.

— Que tal queijo? — perguntou.

— Adoro.

— Bom. Teremos uma pizza simples de queijo então. — ele pegou a pizza,
equilibrando-a com uma mão na bandeja de pizza que tinha encontrado em uma das
nossas muitas missões de busca em torno da cozinha, e ele parou na minha frente.
Agarrando meu queixo, ele me olhou com aqueles olhos verdes. — E não, eu
definitivamente não te odeio.
N ossa primeira tentativa em fazer uma pizza realmente saiu muito bem,
apesar dos vários tropeços no começo. Conforme eu tirei a pizza do forno, percebendo a
crosta perfeitamente cozida e o queijo dourado, eu percebi uma coisa surpreendente.
Lailah e eu formamos uma grande equipe.

Eu nunca tinha esperado nada desta pequena aventura. Eu tinha planejado esta
tarde como forma de pagamento. Eu tinha uma dívida com a mulher que estava na minha
frente. Ela podia não entender ou perceber isso, mas eu sabia, e faria tudo ao meu alcance
para ter certeza de que sua vida fosse melhor a partir de agora.

O que eu não tinha planejado era curtir o tempo que passei com ela. Desde que eu
tinha a espionado lamber o chocolate dos dedos, rindo como se ninguém estivesse
olhando para ela, eu estava intrigado com esta garota com olhos azuis e cabelos da cor de
trigo. Quanto mais tempo eu passava com ela, mais a minha fascinação se transformava
em algo genuíno.

Ela não era apenas uma dívida ou uma obrigação. Eu realmente gostava de ficar
perto dela.

Era como se eu estivesse no subsolo durante anos, trancado em um calabouço da


minha própria autoria e incapaz de me libertar. Após o encontro com Lailah, eu senti
como se minhas correntes tivessem derretido e finalmente tinha me arrastado até a
superfície para pegar meu primeiro vislumbre ofuscante do sol.

Lailah era o sol, e eu estava deslumbrado com sua presença suave e pura.

Eu sabia que era egoísmo da minha parte desejar sua companhia apenas para
preencher um vazio do que restou do meu coração, mas pela primeira vez em três anos,
eu senti um lampejo de esperança na minha vida. Depois de tudo o que aconteceu com
Megan e sua família, eu tinha certeza de que minha vida tinha acabado e eu não seria
nada além de uma concha vazia vagando por esses corredores pela eternidade. Mas se a
esperança ainda vivia dentro de mim, então talvez uma amizade com Lailah fosse
exatamente o que eu precisava.

Sempre parecendo estar um passo à minha frente, Lailah vasculhou as gavetas da


cozinha enorme e encontrou um cortador de pizza. Ergueu-o com a intenção de fazer mal
a nossa obra-prima de queijo.

— Calma aí, Chucky. Por que você não me dá o objeto pontiagudo e eu vou cortar
a pizza? Eu prefiro não fazê-la retornar ao Dr. Marcus com um apêndice faltando.

Sua sobrancelha levantou-se em desafio, mas ela me entregou facilmente. Os


braços cruzados sobre o peito, empurrando seus seios juntos sob o suéter azul escuro. Em
transe, minha respiração de repente vacilou. Meus punhos se apertaram ao meu lado, e eu
rapidamente desviei o olhar.

Que diabos foi isso?

Escolhendo ignorar a confusão óbvia do meu corpo, eu dediquei a minha atenção


em cortar a nossa pizza. Momentos depois, eu servi cada um de nós com uma fatia. No
balcão, ela sentou-se na cadeira de rodas, e eu fiz uma escadinha de cadeira.

— Está perfeito. — disse ela depois de dar a primeira mordida. Ela parecia casual
e confortável, recostou-se na cadeira de rodas com as pernas apoiadas contra a borda da
minha escadinha. Ela estava mais relaxada que eu já tinha visto, pelo menos ao meu
redor.

Eu levei a minha primeira mordida e eu fiquei realmente surpreso. — Huh... Que


tal? Está muito bom.

— Então, isso significa que você vai fazer pizzas a partir do zero agora? — ela
perguntou quando pegou um guardanapo para limpar o canto da sua boca.

— Claro que não. Tenho que dar uma chance ao meu menino da entrega. Além
disso, eu não tenho sempre a minha subchefe.

Quando a segunda sentença saiu dos meus lábios, eu tive uma visão de Lailah em
pé na minha cozinha, rindo com salpicos de farinha cobrindo o nariz e as bochechas,
conforme eu alcançava atrás dela, passando os braços ao redor da sua cintura fina e
beijando-lhe o ombro.
Não, não Lailah. Sempre Megan. Sempre.

Eu balancei minha cabeça, tentando apagar a imagem da minha mente. Culpa


varreu minhas entranhas e me senti mal.

— Jude, você está bem? — ela disse, cortando através da névoa na minha mente.

— Sim. Tudo bem. — as palavras eram pouco mais que um sussurro. Eu não me
incomodei em sequer tentar encobrir o desespero vazando por todos os poros do meu
corpo.

Sua mão tocou meu joelho e eu recuei instantaneamente. Eu sabia que ela estava
tentando ser reconfortante, mas depois dos truques que meu cérebro estava fazendo, eu
não podia permitir isso.

Eu não podia permitir nada disto.

— Desculpe. — eu disse, sem sequer olhar para cima para encontrar seu olhar. —
Eu não estou me sentindo bem de repente. Você acha que poderíamos encerrar por aqui?

— Ah, hum... Com certeza. Apenas deixe-me limpar tudo. — disse, rapidamente
saltando para ficar de pé e começar a reunir tudo de volta nos sacos.

Levantei-me do meu lugar na escadinha. — Não se preocupe com isso, Lailah. Eu


vou voltar em poucos minutos e cuidar de tudo.

— Mas você fez muito e olha para toda essa comida. Eu deveria pelo menos
ajudar a guardar, especialmente se você não se sente bem. — as palavras foram rolando
para fora dela.

A mudança óbvia no meu humor tinha a deixado nervosa, e ela estava agora
voltando ao balbuciar.

Eu descansei minha mão sobre a dela, desesperadamente tentando ignorar a


sensação da sua pele macia sob a minha. — Está tudo bem. Eu posso lidar com isso. —
eu finalmente olhei para ela.

Seus olhos estavam arregalados e incertos e vi quando eles procuraram os meus


por uma pista ou uma peça que faltava que ela não conseguia entender. Ela sabia que eu
não compartilharia coisa alguma e ela estava certa. Mas ela não sabia que não era apenas
alguma coisa. Era tudo.

Não houve muita conversa durante a nossa viagem de elevador de volta à


cardiologia. Eu estava atrás dela enquanto ela estudou as unhas e depois observou os
diferentes pisos acenderem.

Dissemos um rápido adeus. Dei mais uma desculpa sobre não me sentir bem e
precisar descansar antes do meu turno e então corri. Eu acho não que respirei até os
elevadores se fecharam atrás de mim, eu estava me movendo para baixo, para longe do
departamento de cardiologia e de Lailah.

Voltei para o refeitório e diminuí o passo. Entrei na cozinha e comecei a guardar


todo o produto sem uso, deixando lá com um bilhete que dizia que era tudo para eles. O
pessoal da cozinha ia encontrar um destino muito melhor para todos os ingredientes. Eu
não saberia o que fazer com tudo que tinha uma data de validade.

Eu, infelizmente, olhei para o bolo fechado que tinha comprado. Nós nem sequer
chegamos na sobremesa.

Outra nota foi sobre o bolo.

Terminei a limpeza, limpei os utensílios e lavei os poucos pratos que tínhamos


usado. Depois que eu terminei, agradeci a Betty e comecei a fazer o meu caminho para
fora do refeitório.

— Ei, Pudim. Você esqueceu algo? — perguntou Betty, segurando dois potinhos
de pudim de chocolate.

Eu dei um sorriso fraco e enfiei as mãos nos bolsos. — Não, não hoje à noite.
Obrigado.

Passei a hora seguinte fazendo o que fazia quando eu começava a sentir que as
ondas estavam me puxando para baixo. Andei pelos corredores e me vi de volta ao lugar
onde eu segurei sua mão pela última vez, onde eu inclinei-me e beijei sua bochecha
machucada antes de dizer a ela que a amava, embora soubesse que ela não podia me
ouvir, onde ouvi seu coração bater pela última vez.

Durante o primeiro ano, eu sempre acabava andando pelos corredores. Às vezes,


eu descansava contra uma parede ou até mesmo sentava no chão se fosse um dia
realmente ruim. Depois que comecei a ter aulas para me tornar assistente de enfermagem,
voltava depois de uma aula particularmente ruim sobre pacientes de trauma e encontrava
um banco onde costumava sentar. Eu não sabia quem tinha decidido colocá-lo lá, mas eu
tinha minhas teorias e todos elas giravam em torno de uma certa mulher do RH.

Durante muito tempo, o banco havia me deixado com raiva.

Lembrei-me de pensar: Como alguém ousa se intrometer na minha dor e invadir a


santidade do meu inferno pessoal?

Mas quanto mais tempo o banco estava lá, cada vez menos, me sentia mal. À
medida que os dias se passaram, eu deixei o entorpecimento da vida assumir até que nada
restou, apenas a minha dor e lembranças.
No corredor onde eu gritava e pedia pelo coração de Megan, sentei-me no banco
de madeira situado em frente ao quarto onde eu tinha perdido minha alma gêmea e os
meus pensamentos começaram a se voltar para Lailah.

Eu ri hoje, senti emoções além do desespero e perda.

Com Lailah, eu me senti humano pela primeira vez em anos.

É a amizade que traz essas emoções à tona novamente? Ou é mais do que isso?

Inclinando para frente, eu descansei minha cabeça em minhas mãos. Olhei o


caminho para a porta fechada do quarto que tinha sido de Megan.

Foi há muito tempo, mas se eu fechasse meus olhos, eu ainda podia vê-la.
Lembrei-me de como era o cheiro do seu cabelo de manhã depois que ela tomava banho e
o som da sua risada quando contava uma piada. Ela deveria ser minha para sempre, mas
eu a tinha perdido.

Esse era o fim. Minha história era essa.

Meses depois que ela morreu e eu tinha tomado a minha posição no hospital, eu
chegava em casa tarde da noite. Eu me sentia tão cansado que eu basicamente fui como
um sonâmbulo para minha casa, onde eu tinha encontrado alguém sentado à porta.

— Quem diabos é você? — minha voz soava rouca e tensa com a falta de sono.

Eu tinha feito dois turnos seguidos, tentando fazer mais dinheiro para construir a
minha conta poupança para que pudesse comprar um carro.

— É bom ver você também, irmão. — Roman disse, levantando-se do seu lugar ao
pé da minha porta empoeirada. Ele bateu a sujeira para fora das suas calças de terno,
sem dúvidas xingando baixinho sobre o dano que tinha feito.

Só meu irmão para viajar com um Armani.

— O que você está fazendo aqui? — eu perguntei, esfregando os olhos e piscando


várias vezes. Talvez se eu apertasse os olhos o suficiente, ele desapareceria.

— Vim tentar trazê-lo de volta aos seus sentidos. — ele respondeu, olhando para o
meu uniforme escuro com nojo.

— Ah... Bem, vamos fazer isso lá dentro, não é?

Eu passei por ele para abrir a porta. Ele me seguiu. Coloquei minhas chaves no
balcão da cozinha e virei-me a tempo de vê-lo avaliar meu apartamento com as mãos no
bolso.

Seus olhos vagaram sobre as paredes brancas vazias e falta de mobiliário. A mesa
e cadeiras dobráveis, basicamente, muito simples. Eu era pobre.
Ele provavelmente imaginou que poderia precipitar-se em assinar um cheque
grande e então nós dois estaríamos em Nova Iorque pela manhã.

Pena que não ia acontecer.

— Então, você está vivendo dessa forma ridícula ainda? — ele se sentou em uma
das cadeiras dobráveis de plástico.

— Você acha que eu sou ridículo? Depois de tudo o que passei nos últimos meses,
você acha que eu sou ridículo, Roman?

— Acho que não poderia ser pior, Jude. Ninguém poderia imaginar, mas a forma
como você está lidando com isso é uma merda. Ela se foi e você desistiu, cara. Você tem
22 anos de idade e tem uma vida, agora é bola pra frente.

Eu pulei em cima dele, agarrando o colarinho da sua camisa branca. — Ela era a
minha noiva, porra, e ela morreu! — rugi.

Eu apertei o tecido, amontoando-o nos meus punhos. Suas mãos foram para cima
como a bandeira branca universal de rendição e eu o empurrei de volta na cadeira.

— Eu não espero que você entenda o que eu sinto, porque você tem um novo sabor
na sua boca a cada duas semanas, mas ela foi muito importante para mim. Você não tem
isso mais do que uma vez na vida.

Ele me estudou por um momento e então ajustou a camisa e o terno. Olhar para
Roman era como olhar para um espelho. Tínhamos os mesmos olhos verdes e cabelos
loiro escuro, mas foi aí que nossas semelhanças terminaram. Roman era como nosso pai,
frio e calculista. Nunca deixando ninguém entrar, a menos que a pessoa fosse útil para
seu próprio ganho pessoal. Eu era o filho da minha mãe, o que significava que eu
realmente amava alguém além de mim.

Só podia haver uma razão para ele voar todo o caminho até aqui. Ele precisava
de mim.

— Por que você está realmente aqui, Roman? — eu dei um passo para trás
encostando-me no balcão.

Ele olhou para mim com um brilho sem emoção em seus olhos. — Nós precisamos
de você, Jude. Não tem mais como brincar, não há mais jogos. A família precisa de você.

Eu empurrei para fora do balcão e comecei a andar ao redor da sala. —


Inacreditável. Eu deveria saber que isso não era sobre mim. É sempre sobre você, não é,
Roman? A sua satisfação e a do papai? Precisa de um pouco de ajuda? Bem, foda-se.
Lide com isso sozinho.

— Ouça você, sua família precisa de você. Mamãe precisa de você. — disse,
sabendo que ele tinha acabado de acertar um nervo. — Será que ela não significa nada
para você?
— É claro que sim! — gritei. — Mas isto não é sobre ela. É sobre você e papai.
Você precisa de mim para tirá-lo de qualquer confusão que você se meteu. Bem, esqueça.
Você queria o controle total da empresa? Você tem isso. — eu dei vários passos largos e
puxei a porta aberta. — Eu acho que você e minha porta da frente estão bem
familiarizados. Tenha um voo agradável.

Seu olhar duro encontrou o meu enquanto ele caminhava alguns passos à frente e
fez uma pausa. — Se você fizer isso - se você for embora, você entende que não há como
voltar atrás? Papai não vai te perdoar. Você vai ser cortado, esquecido e rejeitado para
sempre.

— Parece perfeito. — respondi sem afastar do seu olhar severo.

Eu sabia que minha teimosia significava que eu nunca mais veria minha mãe. Eu
nunca poderia ir para casa e segurá-la e eu sempre seria um fracasso em seus olhos.
Mas eu também sabia que eu nunca seria nada além do que já era. Eu já era um
fracasso. Era melhor se ela nunca mais me visse mesmo.

Roman deu mais uns passos e se aproximou do limite. Ele se virou, com seu olhar
abatido e as sobrancelhas franzidas, como se estivesse escolhendo as últimas palavras
com cuidado. — Como você sabia que era ela? — ele perguntou me pegando de
surpresa.

— O que você quer dizer? — eu me adiantei em raiva.

Ele deu um passo para trás e estendeu as mãos em sinal de rendição silenciosa. —
Eu não estou tentando causar outra briga. Eu só quero te dar uma questão para pensar
na nossa de despedida, irmãozinho. Se ela era a única, por que você está sozinho com
vinte e dois anos? Com certeza, a vida não seria tão cruel.

Eu fechei os olhos, segurando a onda de emoções que ameaçaram me consumir.


Mantendo a minha voz e minha raiva sob controle, eu respondi: — Quando você perder
a única pessoa que vale a pena viver me ligue e deixe-me saber o que você pensa sobre a
crueldade de tudo.

Meu irmão cumpriu bem as suas ameaças naquele dia.

Eu não tinha ouvido falar da minha família desde então, nem mesmo da minha
mãe.

A única informação que eu tinha eram as breves atualizações financeiras que ouvia
no noticiário, mas eu tentava evitar qualquer coisa relacionada com o negócio da família.

Eu não era nada mais do que um apoio para Roman quando as coisas ficavam
difíceis. Ele sempre quis toda a glória, mas ele nunca estava disposto a fazer o esforço
para alcançá-la.

Quando ele apareceu na minha porta naquela noite há muito tempo, eu tive um
vislumbre de esperança de que ele veio, porque ele se importava, mas eu deveria saber
melhor que ninguém. Tudo o que importava para o meu irmão, era Cavanaugh
Investimentos e quem ele iria levar para casa naquela noite.

Enquanto eu me sentei naquele banco familiar, olhando para o corredor onde eu


tinha passado horas incontáveis ao longo dos últimos três anos, suas palavras de
despedida voltaram para a minha mente.

Se ela era a única, por que você está sozinho com vinte e dois anos? Com certeza,
a vida não seria tão cruel.

Não, a vida realmente era tão cruel, porque conforme passei a tarde, em silêncio,
sentado no meu banco, eu pensei sobre Lailah e a vida que ela teve e todas as
oportunidades que ela nunca tinha experimentado. Fazer uma refeição juntos hoje era
apenas a ponta do iceberg para ela. Dezenas de coisas que ela tinha vontade de fazer
foram escritas naquele caderno porque ela passou sua vida em um hospital.

E se ela nunca tivesse a chance de fazer qualquer uma delas?

Essa era a definição de crueldade - de uma pessoa especial como Lailah trancada
onde ninguém podia ver o fogo em seu espírito e a beleza em sua alma. A parte irônica, a
reviravolta real da história que fez o destino rir e gargalhar no alto das nuvens, foi a
constatação de que eu ainda não tinha visto a extensão da crueldade da vida, porque
naquele momento, percebi duas coisas:

Um, eu estava me apaixonando por Lailah Buchanan.

E dois, ela estava morrendo.


—E u vou sentir sua falta. — disse Abigail suavemente, envolvendo os
braços pequenos no meu pescoço. — E eu vou te visitar toda semana.

Eu a segurei em meus braços com seu pequeno corpo em volta de mim. Apertando
os olhos com força, eu sabia de uma coisa.

Ela não vai voltar.

Eu tinha ouvido essa promessa de visitas, junto com promessas de telefonemas,


cartas, e-mails de muitos amigos ao longo dos anos. Mas após as primeiras tentativas, o
esforço para manter contato ia reduzindo e eventualmente, parava completamente.

Isso não me deixava com raiva. Era do jeito que deveria ser.

A vida era corrida fora destas paredes.

O avô de Abigail, Nash, ia ter alta hoje. Ele deixaria de ficar confinado a uma
cama de hospital. Sua vida estava seguindo em frente e assim também estaria a de
Abigail. Ela não me visitaria mais no hospital e não teríamos mais longas conversas. Ela
estava indo embora, de volta para a vida que ela tinha antes de ser apresentada a coisas
assustadoras como cirurgias cardíacas e IVs. Seu mundo voltaria à vida simples de uma
menina de nove anos de idade, que era exatamente como eu queria que fosse. Nenhuma
menina deveria ter que crescer tão rapidamente.

Eu a abracei um pouco mais apertado, enviando um milhão de votos para o seu


futuro com cada aperto firme.

— Continue escrevendo. — eu disse na curva do seu pescoço. — Mas não faça


isso para agradar o seu avô ou por que eu disse isso. Não escreva porque te pedem.
Escreva o que te faz feliz, mesmo se você escrever sobre pandas e golfinhos todos os dias
pelo resto da sua vida.

Ela se afastou do nosso abraço e o sorriso mais ínfimo beijou seu precioso rosto.
— Bem, eu gosto de pandas. — ela disse com uma leve risadinha.

Nesse momento, sua mãe apareceu na porta para buscá-la. Eu dei a Abigail outro
abraço e ela pulou fora, correndo para a porta e pelo corredor de volta ao quarto do seu
avô.

Eu pensei sobre Abigail o resto do dia, vendo seu rostinho de querubim no fundo
da minha mente, quando eu reli Anne Frank: O diário de uma jovem e depois escrevi em
meu diário.

Ela seria uma escritora ou ia crescer para fazer algo completamente diferente?

O mundo estava aos seus pés e ela não sabia. Nenhum deles sabia - os normais; os
que não têm que se preocupar com o dia a dia, hora a hora e minuto a minuto; as massas
de pessoas que acordam a cada dia não temendo as próximas horas e dias que seguem; ou
aqueles que não se preocupam se estarão vivos para comemorar o próximo feriado.

Quão facilmente as pessoas tornam a vida difícil, com coisas tão simples.

Como eu desejava tal simplicidade.

Quando o sol começou a se estabelecer no horizonte e meu jantar tinha ficado frio,
enfiei a mão na gaveta ao lado da minha cama e tirei a lista que eu tinha criado há tantos
anos.

Uma noite, enquanto estava sentada em casa no meu quarto, eu resolvi ver um
filme de cotidiano escolar ridículo. O enredo era o típico e chamava, Ele disse, Ela disse.
E era um musical adolescente. Era horrível e eu gostaria de poder negar ter assistido. Mas
quando eu estava sentada ali, observando essas meninas em uniformes de torcida
tentando se exibir nos jogos da escola, chorando por namorados e discutindo sobre
vestidos de baile, eu percebi que a minha vida nunca teria qualquer coisa assim.
Exceto o drama médico na minha vida, eu nunca tinha tido qualquer um dos altos
e baixos que uma pessoa comum vive. Como os fãs tinham cantado sobre corações
partidos e sonhos roubados, eu puxei para fora um novo caderno e comecei esta lista.
Tornou-se uma maneira de quase purgar a minha alma e deixar a vida que eu nunca tive.
Eu sabia que eu nunca faria nenhuma das coisas escritas nas páginas deste caderno, mas
vê-las ali ao menos me lembrava que as coisas poderiam ter sido diferentes.

Eu parei de escrever e corri as pontas dos meus dedos sobre as páginas da minha
lista, minha lista Algum Dia. Meus olhos vagaram para baixo de cada item até que eu
parei no último listado em uma página perto do meio do livro.

Fazer uma refeição do início ao fim.

Um fio de sorriso apareceu em meus lábios enquanto eu me lembrava de estar pé


na cozinha industrial do refeitório, abrindo massa de pizza com Jude. Alcancei até onde
guardo o meu diário ao lado de minhas pernas, peguei a caneta que eu tinha usado e tirei
a tampa.

Sentindo-me como se algo monumental estava prestes a acontecer, eu respirei


fundo e lentamente desenhei uma linha preta escura através do número sessenta e dois.

Ele havia feito isso por mim. Jude tinha realizado um desejo na minha lista Algum
Dia.

Por um dia, eu me senti real e finalmente alguém tinha olhado para mim como um
todo, em vez de apenas algumas peças quebradas.

Mas, como todas as outras vezes que eu passei com Jude, assim que ele começou a
se abrir, ele fugiu. Sem aviso, o humor dele tinha ido na velocidade da luz, de calmo e
descontraído, para nervoso e tenso.

O que fazia um homem agir dessa forma? Arrependimento? Culpa? Eu fiz algo ou
disse alguma coisa?

Eu não sabia muito sobre a vida do lado de fora, mas meus instintos me diziam
que algo muito mais profundo estava acontecendo com Jude. Ele nunca compartilhou
nada pessoal e pelo que aprendi com as fofocas que Grace me disse, ele era a pessoa mais
antissocial no hospital. Ele era conhecido por fazer cada plantão que podia. Ele,
aparentemente, não tinha amigos conhecidos e ele nunca participava de qualquer função
social.

Que prisão autoinfligida ele está se fazendo como refém, e por quê?
Finalmente começando a ceder às minhas pálpebras pesadas, comecei a cochilar
quando fui acordei agitada por um barulho no meu quarto. Meus olhos se abriram e
através da minha visão embaçada, vi Jude ao lado da minha cama.

— Merda, eu sinto muito. Eu não queria te acordar. — ele pediu desculpas,


puxando um pudim de chocolate do bolso. Colocou-o sobre a mesa de bandeja ao lado da
minha cama com uma colher por cima.

— Não pensa em se juntar mais a mim? — eu perguntei, apontando na direção do


único lanche.

— Você estava dormindo. Eu não queria incomodá-la.

— Bem, eu estou acordada agora. Nós podemos compartilhar. — eu me empurrei


na cama até que estava em uma posição sentada.

Peguei o pudim sobre a bandeja e comecei a puxar a tampa de alumínio do topo.


Eu assisti quando Jude olhou ao redor do quarto, como se estivesse decidindo para onde
ir. Seus olhos se dirigiram para a cadeira onde minha mãe sempre se sentava, antes de
finalmente viajarem de volta para mim.

Ele deu um passo para frente e se sentou na beirada da cama de frente para mim.
Seu joelho encostou no meu debaixo do cobertor e eu me tornei muito consciente do quão
perto estávamos. Colocando uma perna sobre a outra, ele cruzou os braços sobre o peito e
se inclinou para frente.

Ah tudo bem, bem mais perto agora.

Olá, frequência cardíaca.

— Então, você vai compartilhar? Ou você apenas vai ficar segurando-o a noite
toda?

— O quê? — eu disse em confusão, esperando meu cérebro pegar no tranco.

Eu podia sentir o cheiro do seu sabonete ou loção pós-barba, seja lá o que o fazia
cheirar tão saboroso. Era como a água da chuva, pinho e algo de terra, tudo embrulhado
em um burrito chamado Jude.

— Nosso pudim. Dá aqui. — ele instruiu, estendendo a mão para pegar a


sobremesa das minhas mãos.

— Ei!

— Cochilou, perdeu. — ele murmurou, sua boca agora cheia de pudim roubado
em uma colherada.

— Isso é maldade - roubar a comida de uma pessoa doente. — provoquei.


Ele estremeceu visivelmente e eu me arrependi instantaneamente das minhas
palavras.

— Eu só estava brincando, Jude. — eu disse, colocando minha mão sobre a dele.

Tocá-lo estava se tornando algo que eu não podia deixar de fazer. Minhas mãos e
dedos queriam alcançá-lo sempre que ele estava por perto. Era como se eu não tivesse
uma escolha.

Ele colocou o pudim na bandeja ao nosso lado e olhou para as nossas mãos. Os
meus frágeis dedos pequenos estavam deitados suavemente sobre os seus grandes,
calejados. Lentamente, com um gesto, ele virou a mão para que nossas mãos se tocassem.
Estendendo os dedos, ele acariciou as pontas dos meus dedos com os seus até que nossos
dedos se entrelaçaram e ele segurou a minha mão.

Eu acho que não tinha tomado um fôlego desde que sua mão tinha começado a se
mover sob a minha. Seus olhos finalmente encontraram os meus, e vi algo que eu nunca
esperava ver naquelas íris verdes desbotadas brilhando para mim.

Desejo.

Sua mão livre alcançou o pudim esquecido e tirou uma colherada do potinho.

— Abra a boca. — disse ele em voz baixa.

Suspirando rapidamente para ter coragem, eu separei meus lábios quando ele
levou a colher à minha boca. Ela passou pela minha língua e eu fechei a minha boca em
torno dela, lembrando-me dele fazendo a mesma coisa momentos antes. Nunca
quebrando o contato visual com ele, eu chupei o chocolate da colher enquanto ele a
afastava. Ele mergulhou-a de volta para o pudim e pegou uma colherada para si,
chupando e lambendo a mesma colher que eu tinha acabado de tocar.

Foi o evento mais erótico da minha vida.

— Viu? Agora, nós estamos compartilhando. — disse ele.

Ele mergulhou a colher no potinho e me alimentou mais uma vez.

— Bem, então, eu acho que você ganhou.

Continuamos revezando até que nada foi deixado no potinho. Ele jogou tudo no
lixo perto da cama, mantendo nossas mãos unidas.

— Vai me contar mais sobre sua lista Algum Dia? — perguntou.

Seu olhar encontrou o caderno gasto ao meu lado, onde eu tinha deixado quando
adormeci.
— Claro. — respondi, pegando o caderno e o colocando no meu colo. Abri e li as
páginas, lembrando-me das horas que passei escrevendo e reescrevendo quando
apareciam coisas novas para adicionar na lista.

— Escolha um número. — disse, recordando o nosso jogo anterior.

— Um. — ele respondeu.

— Não. Tente de novo. — eu disse, não estou pronta ainda para divulgar o que o
número um determina.

— Está bem, pode ser dez?

— Ir em uma montanha-russa.

— Hmm... Disneylândia ou Six Flags12?

— Ah, eu não sei. Eu realmente nunca pensei sobre isso. — respondi.

— Bem, pense sobre isso agora. Você é uma garota grande para encarar uma
montanha-russa ou uma garotinha de carrossel?

Minha boca tremeu quando tentou esconder o sorriso que floresceu no canto dos
meus lábios. — Mickey Mouse, sempre.

— Boa resposta. Tudo bem, mais um. Trinta e oito.

— Hum... — disse rolando através da lista. — Ah, ir em um baile.

Seu rosto se contorceu em desgosto divertido. — Não, eu preciso rabiscar essa.


Dê-me uma caneta. — ele procurou por uma caneta.

Eu agarrei uma que estava perto da minha coxa segundos antes que ele, nos
fazendo rir.

— Fique feliz, você perdeu este ritual de passagem. É um item superestimado da


sua lista.

Segurando a caneta contra o meu peito, eu perguntei: — Então, presumo que seu
baile foi incrível?

— O melhor. — ele respondeu com sarcasmo. — Meu encontro se embebedou na


limusine e acabou no banheiro feminino. Eu sentei lá fora e ouvi enquanto ela alternou
entre vomitar e atirar cada palavrão para mim que ela podia imaginar. Mesmo em sua
névoa induzida pelo álcool, a menina podia arremessar algumas obscenidades. Eu tenho
certeza que eu não tinha ouvido falar de metade delas.

12
Six Flags Entertainment Corp. é a maior corporação de parques de diversão do mundo, com várias propriedades
no México, Estados Unidos e Canadá, sendo a quinta mais popular em termos de público.
— Bem, eu ainda vou deixar esse item na lista. Uma vida normal não são apenas
as coisas boas. Tem altos e baixos. Querendo ou não, formatura sendo uma experiência
boa ou ruim, é uma experiência do mesmo jeito.

— Tudo bem, bom ponto. Eu mencionei que ela acabou ficando com o rei do
baile? E não fui eu, a propósito. — acrescentou com um meio sorriso, fazendo com que a
pequena covinha na bochecha aparecesse.

— Então, ela não se tornou o amor da sua vida?

Sua expressão ficou em branco e seus olhos ficaram vagos.

— Não, ela não se tornou. Setenta e dois. — disse ele distraído, sua voz rouca e
suave.

— O quê? — eu perguntei antes de comunicar o próximo. — Ah, hum... Tudo


bem. — olhei para a lista facilmente encontrando o número que ele tinha pedido.

— Ter o meu coração partido. — eu disse baixinho, percebendo que


provavelmente era melhor não revelar considerando a devastação atual escrita no rosto de
Jude. Eu deveria ter escolhido o que está acima dele - ir a um cinema.

Seus olhos procuraram os meus. — Por que você iria querer isso?

— Pela mesma razão de querer um baile de baixa qualidade. Você não pode viver
uma vida normal, sem a dor de cabeça. Tudo isso faz parte do pacote. Minha vida tem
sido nada além de cirurgias, procedimentos e viver de um resultado de exame para o
próximo. Eu de bom grado trocaria tudo isso por um pouco de normalidade. Dê-me um
terrível baile e um dia quente pegajoso na Disneylândia. Deixe-me amar mesmo que isso
signifique que vou me machucar no final. Pelo menos assim, eu sei que estou vivendo.

Seus dedos roçaram os meus quando ele pegou o livro do meu colo. Ele o fechou
com a mão livre. Seu olhar nunca deixou o meu quando moveu para frente, diminuindo a
distância entre nós. O meu coração bateu mais rápido, sentindo o calor do seu corpo
quando ele veio mais perto de mim. Sua mão em concha ao lado do meu rosto, me
inclinei com seu toque.

— Eu quero que todas essas coisas aconteçam para você, Lailah. Eu quero ver
você riscar cada item nessa lista, se é isso que é preciso para fazer você se sentir viva ou
normal. A verdade é que você está longe de ser normal. Você está há anos luz de
distância desta palavra. Você é excepcional. A palavra normal seria um insulto à sua
própria natureza. Eu entendo que você quer experimentar tudo sob o sol, tudo o que a
vida lhe tomou, trancando-a e mantendo-a presa nessa cama, mas há uma coisa que eu
não vou permitir. — seus dedos deslizaram em meu cabelo e seus olhos me seguiram
bem de perto antes dele sussurrar: — Ninguém nunca vai quebrar seu coração. Eu posso
prometer-lhe isso.
D esde que bati o ponto, estava me ocupando com meus deveres, tentando
concentrar no meu trabalho. Mal tinha passado um minuto sem pensar na noite anterior.
Minha revelação sobre Lailah, a minha percepção de que o que estava acontecendo entre
nós estava muito além dos limites da amizade, me levou a uma conclusão absoluta.

Eu não tinha ideia do que eu estava fazendo.

Eu passei os últimos três anos sem sentir nada além de dor e pesar. Poucas
emoções tinham filtrado através da minha psique desde que perdi Megan.

Lailah me fez sentir... Tudo.

Eu estava em desacordo comigo mesmo. Um cabo de guerra interno estava me


puxando em duas direções diferentes e eu não tinha ideia de qual caminho seguir. Atrás
de mim, estava a minha vida com Megan. Ela tinha sido o meu futuro e quando tudo
tinha acabado eu não queria seguir em frente. Eu não sabia como. Eu me recusei. Eu
nunca esperei que houvesse qualquer outra coisa. Agora quando eu olhava para frente,
havia um caminho brilhante, tão brilhante que me assustava pra caramba. Lailah era um
curinga e eu não tinha garantias de que não acabaria de volta onde eu comecei - quebrado
e sozinho.
Eu não tinha certeza se poderia arriscar meu coração novamente, mas talvez eu já
estivesse arriscando. E se eu já tinha dado um pedaço de mim para a garota com a risada
contagiante e tímida e sorriso inocente? Talvez eu fosse um caso perdido desde o início.

Balançando a cabeça, eu caminhava pelo corredor em direção ao seu quarto e


então parei no meio da etapa.

Talvez ela merecesse mais do que o homem que tinha destruído o seu futuro. Ela
era muito frágil para saber a verdade. Inferno, eu também estava muito frágil para
admitir isso.

Dois corações quebrados - que iriam destruir um ao outro antes mesmo de ter a
chance de começar.

Mas não importa quantas razões dei a mim mesmo para ficar longe, eu ainda
acabaria de volta na sua porta, pronto para mais um pudim de chocolate, balbuciados
nervosos e breves vislumbres do céu.

Seu zelo pela vida era viciante e eu precisava da minha dose. Eu precisava da luz
que só meu anjo poderia trazer.

Eu sou um bastardo egoísta.

Minha batida foi respondida por sua doce voz melodiosa. Virei a maçaneta, abri a
porta e a encontrei em pé ao lado da cama, dobrando algumas camisas. Várias pilhas de
roupas estavam cuidadosamente arrumadas no colchão.

— Dia de lavanderia? — eu perguntei, apontando para as pilhas de roupas.

— Hum... Não, não é bem assim. — ela colocou a camisa rosa que estava
dobrando e girou para me encarar. Ela parecia hesitante e no limite. — Eu recebi alta. —
anunciou ela.

— O quê?

— Dr. Marcus me deixou ir para casa. Ele disse que desde que eu estou bem ou
tão saudável quanto se pode esperar, considerando... — ela parou de falar, uma vez que
ambos sabíamos para onde essa frase estava indo.

Considerando que ela está morrendo...

— Ele decidiu que seria melhor eu ficar em casa enquanto esperamos por notícias
sobre o transplante.

Olhei para cima e vi lágrimas em seus olhos. Ela não estava feliz. Ela estava
chateada.

Vendo que notei as lágrimas perdidas, ela rapidamente limpou de lado e voltou
para a roupa, continuando a dobrar.
— Quando? — eu perguntei, vendo-a na luz do luar que entrava pela janela.

— Amanhã de manhã. Eu poderia ter ido antes do jantar, mas eu queria um pouco
de tempo para arrumar as coisas, e...

Para dizer adeus para mim.

Ela não tinha dito isso, mas eu podia sentir as palavras pairando no ar. Eu era a
razão pela qual ela não estava feliz em sair. Isso deveria ter sido um momento de
comemoração, mas eu tinha tomado isso dela. Estando aqui e interrompendo a sua vida,
eu tinha afastado a única coisa normal dela - ir para casa.

Afaste-se. Deixe-a ir.

— Bem, essa é uma grande notícia. — digo, tentando reunir um pouco de falso
entusiasmo.

Ela se virou e eu vi surpresa e talvez um toque de dor em seus olhos.

— Hum... Sim, é incrível. — ela agarrou a camisa em suas mãos e em seguida


jogou-a na cama.

— Quer dizer, ninguém quer...

— Qual é o seu problema, Jude? — ela gritou, dando vários passos na minha
direção.

— Meu problema?

— Sim, você é doce e cativante em um minuto e em seguida, me afasta


bruscamente. Eu não te entendo. O que você quer de mim? Eu sou um caso de caridade?
Você começa dando atenção à pobre garota doente, mas, em seguida, se afasta de mim
com facilidade?

Fechando os últimos centímetros entre nós, eu fico cara a cara com ela. — Você
não tem ideia do que você está falando. — assobiei.

— Não. — ela respondeu. — Eu realmente não tenho. Você não me disse nada.
Você é este grande mistério, tão grande que eu não sei nada. Por que, Jude?

— É demais... — eu disse simplesmente.

— Quer dizer, eu não posso lidar com isso. — interfere.

— Não foi isso que eu disse Lailah.

— Não, mas isso é o que você quis dizer. Você é igual a todos os outros. Sou
muito frágil. Eu sou muito fraca. Vamos adoçar a verdade, não podemos perturbar a
Lailah. Deus nos livre de aborrecê-la. — disse ela em um tom zombeteiro. — Bem, eu
não sou nem fraca, nem frágil. Eu já sofri mais dor do que a maioria das pessoas pode
sofrer em uma vida, por isso não pense por um segundo sequer que eu não posso lidar
com qualquer coisa que você pode.

— Eu sei que você pode.

— Então, por que me fazer passar tudo isso? Você se importa um pouco comigo?
— sua voz era calma e tímida.

— Eu me importo muito, demais, Lailah.

Sem pensar duas vezes, peguei a nuca dela e puxei seu corpo para o meu antes de
fundir nossas bocas. Ela ofegou de surpresa, se afastando um pouco, mas depois ela se
rendeu a mim completamente. Minhas mãos apertaram ao redor da sua cintura enquanto
eu aprofundava o nosso beijo. Eu sabia que isso tinha que ser seu primeiro beijo e eu
pretendia ter certeza de que valeu a pena a espera.

Uma nova guerra se alastrou dentro de mim. Minhas mãos queriam sentir cada
centímetro da sua pele, rastrear cada linha do seu corpo e deitá-la de costas na cama para
devorá-la. Meus dedos tremiam enquanto eu me acalmava.

Ela é inocente em todos os sentidos.

As palavras do Dr. Marcus voltaram para mim como um balde de água fria em um
dia quente de verão e eu acalmei. Eu precisava ser o homem que ela merecia, mesmo que
eu não fosse. Ser apalpada em um quarto de hospital não era o jeito que ela tinha de se
lembrar desta noite.

Com minha respiração saindo em baforadas pesadas, toquei meus lábios nos dela,
saboreando o céu uma última vez. Eu me afastei um pouco, enquanto passava minhas
mãos através dos seus fios sedosos. Ela me olhou com olhos arregalados e curiosos e eu
sorri.

— Acabei de riscar mais um daqueles números da sua lista?

Seu rosto corou e ela balançou a cabeça. — O que foi isso, Jude?

Eu levantei minha sobrancelha, em diversão. — Isso foi um beijo. Eu não fiz


direito? Porque eu ficaria feliz em tentar novamente.

— Não! — ela gritou. — Quer dizer, sim! Merda!

Um sorriso malicioso se espalhou pelo meu rosto. — Está tudo bem, Lailah.
Respire.

Seus olhos se fecharam e ela respirou fundo, deixando encher o peito lentamente.
Eu não conseguia parar. Inclinei-me e brevemente toquei meus lábios nos dela.

— Tudo precisa de um começo... — eu disse, levantando os olhos para os dela. —


Este é o nosso.
— Mas eu vou embora.

— Sim e eu vou deixar de ver o seu rosto bonito aqui, mas eu não moro aqui.

Algo deve ter clicado nesse momento porque um sorriso bobo lentamente se
espalhou em seu rosto e ela corou novamente.

— Você nem sabe onde eu moro. Oh Deus! Você terá que conhecer a minha mãe!

A loira com raiva que eu tinha visto no corredor com Marcus de repente passou
pela minha mente e honestamente o pensamento de conhecê-la era um pouco assustador.

Lailah riu e o som de diversão ecoava cada nota. — Você está nervoso!

— Talvez um pouco, mas eu vou ficar bem. — assegurei a ela.

Ela me deu um olhar duvidoso, mas eu passei meus braços apertados ao redor da
cintura dela e apertei-a com segurança.

— Além disso, nós vamos ter que fazer isso funcionar se quisermos começar a
trabalhar naquela lista. Eu acho que uma viagem para o mar pode estar em pauta.

Seus olhos iluminaram com a ideia. Eu não podia esperar para a lista chegar em
minhas mãos e começar a riscar todos e cada um daqueles cento e quarenta e três desejos
ou aventuras misteriosas.

— Então, o que fazemos agora? — ela mordeu o lábio inferior nervosamente.

Inclinei-me perto, milímetros dos seus lábios. Ela respirou fundo e seus olhos se
arregalaram em antecipação. Um sorriso que eu não conseguia parar varreu meu rosto
quando dei um beijo na bochecha antes de dar um passo para trás.

— Eu vou tentar explicar a minha longa ausência dos meus deveres para o meu
supervisor. — eu disse.

Um leve rubor apareceu em suas bochechas.

— E então eu vou precisar dar um jeito nisso. Vou fazer meu horário de intervalo,
depois eu tento me esgueirar de volta aqui. É a sua última noite e eu tenho o dever de
entregar a sua sobremesa.

— Sim, você sabe que tem. — ela respondeu.

Dei um passo para trás em direção a porta, mantendo meus olhos treinados sobre
ela, até que minha mão estendida sentiu o metal frio da maçaneta. Virei-me para fazer a
minha saída, ainda sorrindo como um tolo.

Em seguida, ela gritou: — Jude?

— Sim? — eu respondi, chicoteando de volta.


— Basta trazer um pudim hoje à noite. Vamos compartilhar de novo. — ela
timidamente sugeriu, manchas vermelhas cobrindo suas bochechas já rosadas.

— É isso aí.

Deus abençoe o criador do pudim.

— Diga-me algo sobre você, algo que eu não sei. — digo.

Estamos recostados sobre o travesseiro, compartilhando o único pudim que eu


trouxe, conforme foi pedido.

Eu corri com o resto dos meus deveres, me certificando que eu tinha tudo em
ordem antes das refeições. Eu não queria ser negligente, mas eu também não queria que
Lailah esperasse até depois da meia-noite por mim. Eu tinha cronometrado sair e peguei
um sanduíche rápido e um potinho de pudim do refeitório antes de correr de volta para
cima devorando meu sanduíche quase todo. Se as enfermeiras tinham notado minhas
visitas no quarto de Lailah mais do que o necessário, ninguém disse nada. Gostaria de
saber se isso era obra do Dr. Marcus.

Quando eu entrei de volta, não me incomodei com a cadeira ou o final da cama


neste momento. Eu precisava estar perto dela. Lado a lado com as pernas entrelaçadas,
nós compartilhamos uma colher e começamos um jogo de vinte perguntas.

— Hum... O que você quer saber? — perguntou ela, mergulhando a colher no


creme de sobremesa escuro.

— Qualquer coisa.

Ela pensou por um momento e finalmente respondeu: — Desde que eu era jovem,
eu sempre quis ter um irmão. Eu realmente não me importava se fosse um irmão ou irmã.
Eu só queria passar um tempo com alguém da minha idade. Eu acho que isso vem de
estar sozinha o tempo todo. — disse ela. — Você tem irmãos?

Eu balancei a cabeça. — Um irmão.

— Mais velho ou mais novo?

— Velho.

— Você gosta dele? — ela perguntou.

Deixei escapar um suspiro pensativo. — Gostar é uma palavra forte. Tolerar é


provavelmente mais apropriado. Mas tem sido um longo tempo desde que eu o vi.
— Como assim? — ela deu uma pequena mordida no chocolate entre os lábios.

Eu assisti a colher mergulhar em sua boca e reaparecer enquanto eu pensava como


responder.

Quanto devo dizer a ela?

Não sou nem fraca, nem frágil. Não pense nem por um único segundo que eu não
posso lidar com qualquer coisa que você pode.

Ela foi tratada como uma boneca de porcelana toda a sua vida. Se eu fizesse o
mesmo, eu não seria diferente do que qualquer outra pessoa em sua vida e eu queria ser
diferente. Eu queria ser quem ela podia confiar.

Minha consciência tomou naquele momento para me lembrar de flashbacks


detalhados de uma versão mais jovem, quebrada e mais desesperada de mim implorando
ao pai de Megan para não desistir dos seus órgãos.

Eu disse àquele idiota para ir passear.

O passado não pode ser desfeito. Não havia nada que eu pudesse fazer para mudar
o que tinha acontecido nos corredores deste hospital há três anos. A única coisa que eu
podia fazer era tornar a vida da mulher ao meu lado melhor em todos os sentidos
possíveis.

Nada mudaria se eu dissesse a ela que eu era a razão pela qual ela não conseguiu
o coração?

Não. Então, por que se preocupar?

Era terrível, uma horrível desculpa esfarrapada. No fundo da minha mente, eu


sabia que ainda estava tentando protegê-la. Eu estava fazendo a mesma coisa que a sua
mãe e os médicos tinham feito sua vida inteira – suavizando e sufocando a verdade - mas
eu também estava fazendo isso para me proteger.

Então, eu decidi fazer a única coisa que podia fazer, dizer tudo daquele momento
terrível da minha história. Seria mais do que eu tinha dito a qualquer outra pessoa no
planeta desde o dia em que cheguei na Califórnia.

— Nós tivemos uma briga. Eu não falo com ninguém da minha família há quase
três anos.

Seus olhos encontraram os meus e suavizaram. — Isso é horrível. Como é que isso
aconteceu?

— Bem, é uma história triste, longa e complicada.

— Eu tenho tempo.
— Tudo bem, mas primeiro, eu preciso explicar algumas coisas. — eu disse.

Abaixei e agarrei meu crachá de identificação. Tinha uma foto terrível com má
iluminação e minha expressão vazia estampada na frente. Debaixo estava o meu nome -
Jude C.

— Eu nem sei seu sobrenome. — ela disse antes de cobrir a boca com a mão. Ela
parecia mortificada.

Eu tirei os dedos do seu rosto um de cada vez, e notei que ela parecia mais quente
do que o normal. — Você parece quente. Está se sentindo bem?

— O quê? Sim, eu estou bem. Você só está tentando mudar de assunto!

Eu deixei para lá, mas eu fiz uma nota mental para verificar como ela estava mais
tarde. — Ninguém sabe meu sobrenome. Foi algo que eu pedi quando fui contratado.
Meu sobrenome é... Bem conhecido.

Seus olhos se estreitaram. — Você é, assim, um príncipe ou algo parecido? É esta


a parte do filme em que me mudo para um castelo? Eu não acho que eu possa andar em
saltos.

— Meu sobrenome é Cavanaugh.

Não houve reação. Ela apenas olhou para mim, tentando juntar todas as peças.

— Como o banco de investimentos Cavanaugh, em Nova Iorque? A família que


faz com que os Trumps pareçam pobres? Eles estão em todos os noticiários ultimamente.
Você deve ser confundido com eles o tempo todo. Não têm um filho chamado Jude,
que... — sua mão foi para sua boca e seus olhos se arregalaram.

— Não é visto em público há três anos. — eu terminei a frase.

— Eles continuam dizendo que ele está de férias ou muito ocupado em reuniões.
— disse ela distraidamente.

— Meu irmão e meu pai sempre foram muito bons em mentir. Deus me livre
termos um escândalo familiar. Eles sumiram com ele, porque eu não estava por perto
muito anos antes de... Eu os deixar. Pessoas mal se lembram de mim. Eu estava na
faculdade há muito tempo e o público perdeu o interesse, o que deixou meu irmão,
Roman, com tempo de sobra para aproveitar e ser o centro das atenções.

Ela olhou para mim, os olhos procurando o meu rosto, como se estivesse me
vendo pela primeira vez. Isso era o que eu temia - que ela fosse me ver de forma
diferente.

Eu ainda sou Jude? Ou será que eu sempre seria Jude Cavanaugh, herdeiro de
uma empresa de bilhões de dólares?
Ela continuou avaliando-me, os olhos viajando nas minhas características, ao
longo dos meus braços tatuados e de volta para os meus cabelos bagunçados. Eu respirei
fundo, fechando os olhos, enquanto eu esperava o tom alterado ou o suspiro chocado por
vir.

O que eu recebi foi pudim no meu rosto. Abri os olhos de espanto e a encontrei
rindo. Pudim ainda se agarrava a seu dedo indicador, e ela só estava inclinando para
lamber.

Eu a parei, puxando o único dedo na minha própria boca e limpando-o. Seus olhos
aqueceram pelo contato e, em seguida, ouvi risos quando ela mais uma vez passou pudim
pela minha bochecha direita.

— Você não se parece com ele. Você está um pouco mais áspero de se olhar. —
ela disse, ainda rindo da sua bagunça.

— Bem, essa era a ideia. Um novo visual...

— Uma nova vida? — ela terminou.

Senti-me estremecer.

Freada brusca, vidros estilhaçados, Megan gritando.

Eu não posso chegar até ela.

Depois, o silêncio. Nada além de silêncio.

— Algo parecido com isso. — murmurei. — Então, quem é que eu pareço? — eu


consegui, piscando rapidamente para me puxar de volta do inferno. Permanecendo no
presente.

— Jude. Apenas Jude.

— Sim?

— Sim.

— Então, você vai me ajudar com isso? — eu apontei para a bola de pudim ainda
agarrada à minha pele.

Seus olhos viajaram para onde a direção do meu dedo estava estendido e eu podia
ver a hesitação. Finalmente, ela se inclinou para mim, seus longos fios de cabelo fazendo
cócegas no meu braço, quando ela se aninhou em meu peito. Eu podia sentir o cheiro da
essência frutal do seu shampoo enquanto sua língua quente e úmida arremessou para
tocar a minha pele. Eu instintivamente movi a mão para sua cintura, puxando-a para mais
perto e me deliciei com a sensação dela. Ela não mostrou um pingo de inocência quando
seu corpo moldou ao meu. Sua boca se moveu para baixo, deixando um rastro de beijos
molhados, até encontrar meus lábios ansiosos.
Eu gemi, sentindo o toque tímido dos seus dedos aquecidos contra o tecido da
parte superior do meu uniforme. Minha mão escorregou debaixo da sua camisa enquanto
eu a deitava, puxando-a comigo. Assim que minha mão tocou a pele nua, eu sabia que
algo estava errado. Meus olhos se abriram, eu parei, e fiquei mudo assustado.

— Você está queimando. — eu gentilmente coloquei-a de volta na cama.

— Só está quente aqui. — ela respondeu, sentando-se para ajustar sua camisa.

Suas mãos voaram para a gola de sua camisa, e eu vi quando ela recuou em sua
colcha. Ela estava com medo que eu tivesse mudado de ideia?

Eu dei uma olhada no seu rosto. Eu tinha confundido o leve rubor que eu vi antes
por nervosismo ou paixão, mas não foi devido a qualquer emoção.

Lailah estava com febre.

Deixei escapar um sopro de ar enquanto me preparava para ser o cara mau.

Ela definitivamente não ia para casa amanhã.


Q ualquer especulação sobre o que estava ou não acontecendo entre mim e um
certo técnico de enfermagem, ficou clara quando o alfa latente do Jude veio borbulhando
para a superfície de uma forma significativa no momento que ele sentiu minha pele febril.
Ele voou para fora do meu quarto e exigiu que as enfermeiras chamassem o Dr. Marcus.
Eu podia ouvi-lo da minha cama enquanto ele berrava ordens e esperava resultados
imediatos.

O sobrenome poderoso que ele acabou de me revelar de repente pareceu


conveniente.

Eu deveria estar constrangida. Eu deveria ter abaixado na minha cama de hospital,


revirando os olhos e contando os minutos até que o som de sua voz profunda apaziguasse
no corredor e eu tivesse a oportunidade de castigá-lo por seu comportamento arrogante.

Mas não fiz nada disso.

Em vez disso, na minha fascinação induzida pela febre, eu vi quando ele marchou
para fora do meu quarto, com um andar cheio de propósito e apressado. Eu fiquei
ouvindo o timbre profundo dos seus comandos e me lembrei da briga que tivemos
quando eu o acusei de não se importar. Então, pensei no beijo que tinha seguido a
discussão.
Ele me beijou.

E agora ele está cuidando de mim.

Descobriu-se ao longo das próximas horas, que eu precisava de toda a ajuda que
pudesse conseguir. A febre me levou a calafrios, que em seguida se transformou em
vômitos e suores frios. Eu tinha pegado um vírus que era agressivo e, é claro, que não
respondia aos antibióticos. A ironia da vida em viver em um hospital era que, na verdade,
era que um dos lugares mais limpos, também poderia ser infestado de germes. Havia
tantas pessoas doentes, todos enfiados em um só lugar. Não importa o quanto a equipe
tentava manter-se limpa, ainda era uma petri dish13 gigante para bactérias e vírus.

Dr. Marcus me contou que esse vírus em particular teria que fazer o seu caminho
através do meu sistema antes de eu me sentir humana novamente. Dentro de poucas horas
de febre, eu estava convencida de que ele estava tentando me matar.

A notícia da minha febre se espalhou, todo mundo que entrava no meu quarto
usava uma máscara de hospital, com exceção de Jude.

Pelo restante do seu turno, ele não saiu do meu lado e ficou comigo depois que
acabou. Depois da sua exibição de heroísmo, ninguém parecia disposto a discutir com ele
sobre sair, nem mesmo o Dr. Marcus. Embora, ele não parecesse muito satisfeito quando
entrava no meu quarto e encontrava Jude deitado ao meu lado na cama.

Eu adormeci por volta das cinco da manhã, depois de Jude ter me visto no meu
pior absoluto. Ele segurou meu cabelo enquanto eu vomitava e chorava no banheiro.
Secando minhas lágrimas, ele tinha me dado um copo de água e me ajudado a voltar para
a cama, só para me levar de volta ao banheiro quando a náusea e o mal-estar começavam
tudo de novo. Ele nunca se queixou ou pareceu repudiar, mas imaginei que era devido ao
seu trabalho.

Eu só não queria ser parte do seu trabalho - ou pelo menos, não dessa forma.

Vomitar poucas horas depois do meu primeiro beijo não era exatamente como eu
tinha imaginado.

Talvez uma ou duas horas depois de adormecer, acordei, ouvindo a porta fechar
rapidamente. Meus olhos espiaram e eu olhei para encontrar um Jude dormindo ao meu
lado. Sentado na cadeira azul, seu grande corpo estava inclinado para frente, e ele estava
descansando a cabeça sobre os antebraços.

Levantei a minha mão, estremeci lembrando-me da IV que agora estava ligada.


Líquidos claros estavam sendo bombeados para o meu corpo para combater a falta de
água e comida. Eu delicadamente passei a mão pelos seus cabelos, cuidando para não
acordá-lo. Ouvi um barulho de passos, lembrando que a porta se fechou e me despertou
momentos antes.

13
Frasco plano usado para exames e experiências em laboratórios.
Eu me virei para ver minha mãe em pé perto da porta, me olhando. Seus olhos
estavam congelados no homem dormindo ao meu lado, enquanto meus dedos estavam
completamente congelados no cabelo rebelde de Jude.

— Dr. Marcus não me chamou até hoje de manhã. — ela disse suavemente, seu
olhar ainda fixo em Jude.

— É só um vírus. — disse. — Noite difícil embora.

Vi quando ela o observou - seu uniforme, a tinta escura da tatuagem rolando em


seus braços e de volta para o lugar onde minha mão estava descansando em seu cabelo.
Comecei a puxar minha mão de volta, mas me contive.

Você é uma adulta, Lailah, eu cantei, enquanto desejava que meus dedos
continuassem sua trajetória anterior, através dos cabelos grossos de Jude.

— E quem é esse? — ela perguntou em seu tom cortante e formal.

Ela não estava usando uma máscara também. Aparentemente, ela não tinha medo
de pegar o que eu tinha também.

Jude agitou sob meus dedos, o cabelo caindo sobre seus olhos com sono evidente.
Afastei-me da postura rígida da minha mãe na entrada para ver os olhos suaves cor de
musgo olhando para mim.

— Bom dia. — ele sussurrou.

Mesmo que eu me sentisse como se tivesse sido atropelada por um caminhão e em


seguida, caído para fora de uma ponte e pisoteada, não pude evitar o sorriso espalhando
por meus lábios.

— Dia.

Minha mãe fez um som em sua garganta e eu estalei, sentando-me ainda mais na
cama. Limpei a garganta e respirei fundo.

— Mãe, este é Jude... — eu olhei para ele, pedindo permissão.

Ele me deu um único aceno como um sinal verde.

— Cavanaugh. Ele é assistente de enfermagem aqui no hospital e nós nos


tornamos muito próximos. — disse, tentando reunir o máximo de maturidade possível.

Falar com minha mãe era algo que eu nunca tinha dominado. Tê-la na minha
frente sempre me fez sentir pequena e fraca.

Como esperava, o sobrenome de Jude não dizia nada para minha mãe. Seu nariz
estava geralmente enterrado em um livro ou ela estava em pé na frente de uma sala de
aula. De qualquer maneira, ela realmente só prestava atenção aos eventos atuais, se eles
tinham a ver com conflito religioso ou investigação médica. Todo o resto - política,
moda, fofocas de celebridades, ou de negócios - era filtrado e esquecido.

Sendo o cavalheiro que era, Jude se levantou da cadeira esfarrapada e deu a volta
para o outro lado da cama para cumprimentá-la formalmente. De pé em seus 1,82 m de
altura, ele superava a estrutura pequena da minha mãe.

— Muito prazer em conhecê-la, Sra. Buchanan. — disse ele cordialmente,


oferecendo a mão para ela.

Ela olhou para baixo e eu mordi meu lábio, esperando que ela o cumprimentasse.

— Igualmente. — ela finalmente disse, pegando a mão dele.

— Jude ficou comigo e cuidou de mim a noite toda. — eu disse com tanto
entusiasmo quanto o meu estado frágil permitiu.

Pela forma como os seus lábios estavam tensos em desagrado, parecia que eu tinha
falado: Ei, mãe! Jude e eu fizemos sexo selvagem aqui nesta cama! Quer ver o vídeo?

— Bem, muito obrigada, Sr. Cavanaugh. Eu vou conseguir ficar com ela a partir
de agora. — sua voz era fria. Ela perdeu o controle das coisas e ela não gostou. Para ela,
a vida estava sempre sob controle.

— Com todo o respeito, Sra. Buchanan. — Jude começou, aquele tom Cavanaugh
profundo de comando retornando à sua voz.

Ele causava arrepios na minha espinha e me perguntei se ele tinha sido assim em
sua vida alternativa.

— Jude... — eu disse em voz baixa, interrompendo-o, antes que ele tivesse a


chance de dar a minha mãe a censura que ela merecia.

Por mais que eu quisesse ver alguém finalmente dando o troco na forma que ela
tratava desde quando conseguia me lembrar, eu não queria que a minha mãe o odiasse. A
coisa bad boy não seria muito atraente, quando eu contava com a minha mãe para
gerenciar a maior parte da minha vida. Eu precisava que ela gostasse do meu namorado.

Namorado... Hmmm...

Carinhos quentes.

— Você está cansado. Você ficou acordado a noite toda. Por que você não corre
para casa e tira um cochilo, toma uma ducha, em seguida, volta aqui para o almoço?

Eu podia ver a confusão em seus olhos. Ele não queria sair. Ontem à noite, quando
Jude – assistente de enfermagem - deu ordens aos enfermeiros que ganhavam duas ou
três vezes mais que seu salário, eu descobri rapidamente que ele tinha um instinto de
condução para proteger os outros. Ou talvez fosse apenas comigo.
Sim, carinhos mais quentes.

— Tudo bem. — ele cedeu.

Ele caminhou de volta para o meu lado da cama, sem se importar que os olhos de
minha mãe estivessem atirando raios laser virtuais de morte para ele, e se inclinou para
baixo.

— Estarei de volta em poucas horas. — disse ele.

Quando eu balancei a cabeça, ele seguiu com uma lista de instruções: — Tente
beber um pouco de água. Peça para a sua mãe usar essa toalha fria na sua testa e tente
dormir. — ele apertou minha mão e deu um rápido beijo na minha testa. Em seguida, ele
se foi.

Eu olhei para minha mãe que apareceu no espaço vazio da minha cama, olhando
para mim como se eu fosse uma adolescente rebelde e eu bufei um suspiro frustrado.

Mãe - Um.

Idade adulta - Zero.

— Vamos falar sobre isso? — minha mãe perguntou momentos depois que Jude
deixou meu quarto.

Ela deu vários passos em direção ao banheiro e em seguida, girou de volta,


refazendo seus passos, só para fazer a mesma coisa tudo de novo. Ela parecia um pouco
agitada.

— Falar sobre o quê? — eu perguntei, afundando ainda mais em meus cobertores.


Um arrepio viajou pela minha espinha e eu enterrei minhas mãos sob os lençóis, tentando
cobrir o máximo de pele possível.

— Por que você não me contou sobre seu visitante secreto?

— Jude não é um segredo. Eu não estava tentando esconder nada de você. Você
simplesmente nunca estava aqui quando ele vinha me visitar.

— E você nunca pensou em me dizer que você estava... Fazendo amizade com um
homem que trabalha no hospital?

Ela disse as palavras fazendo amizade como se estivesse pingando gasolina e


provavelmente fosse pegar fogo a qualquer momento. Isso me irritava e era um problema
que precisava ser resolvido rapidamente.

— Olha mãe, eu não estava tentando enganá-la. Jude é um amigo para mim. Ele
me fez companhia nas noites solitárias.

Suas sobrancelhas se ergueram.


Eu rapidamente puxei minha mão de debaixo das cobertas e levantei-a para
silenciá-la. — Eu sei o que você vai dizer. Ele é um amigo. É isso aí. Eu sei o que você
pensa, só porque eu estive nessa cama e por trás dessas paredes pela maioria da minha
vida, sou inocente sobre os caminhos do mundo até certo ponto, provavelmente você está
certa, mas não sobre isso. Amigos, eu juro.

Ela fez um som ilegível de humph na garganta e puxou os braços contra o peito.
— E agora? Essa exibição de afeto na despedida que eu vi quando ele estava saindo? Não
era como se você tivesse dito adeus a um amigo, Lailah. Eu posso estar sem prática, mas
eu me lembro disso.

Isso doeu um pouco. Eu sabia que ela não queria dizer isso de uma maneira dura.
Minha mãe era direta, exigente e simples, mas ela nunca era cruel ou vingativa. Sua
personalidade vinha da necessidade. Eu não sabia muito sobre seu passado, mas sabia que
ela tinha sido abandonada pela pessoa que ela pensou que podia confiar - meu pai. Eu não
acho que ela já tinha superado isso. Desde então, ela lutou por tudo na vida e eu sabia que
a minha doença só tinha deixado isso dez vezes mais difícil. Ela passou a vida cuidando
de mim e abdicou de uma vida amorosa.

— E agora, somos mais. — simplesmente respondi, sem saber exatamente o que


éramos Jude e eu.

A palavra namorado soava bem, mas ele não disse isso e eu certamente não ia sair
por aí chamando-o de namorado sem a sua aprovação. Amigos com benefícios soava
sujo, e nós definitivamente não estávamos lá ainda. Flashes dos seus lábios nos meus,
enquanto sua mão se moveu por baixo da minha camisa dançaram na minha cabeça e eu
senti meu rosto corar. Enquanto eu estava esperando por mais do que amigos, estava
ansiosa para a parte dos benefícios.

Minha mãe balançou a cabeça em frustração antes de sair do quarto. Eu tinha


certeza que ela ia encontrar o Dr. Marcus, ter outra das suas reuniões secretas que eu não
estaria a par. Eles não gostavam de falar sobre a minha própria saúde na minha frente.

Eu deixei o aborrecimento derreter e me aconcheguei de volta na minha cama,


permitindo que meus pensamentos voltassem para Jude. Seja qual for a nossa situação -
amigos ou algo mais - eu queria continuar, embora soubesse que não deveria. Eu era
egoísta por não afastá-lo. Minha vida estava em uma encruzilhada. Quem sabia em qual
caminho eu acabaria? Era justo pedir-lhe para andar em qualquer uma dessas estradas
comigo? Mesmo se eu tivesse a sorte de conseguir um transplante, não haveria garantias
de que fosse bem-sucedido.

Mas haviam quaisquer garantias na vida?

Eu disse a Jude que acreditava que uma vida normal era sobre coisas boas e ruins.
Os altos e baixos, sem saber onde nossa vida acabaria – isso é o que nos tornava
humanos.

Não é isso que eu quero? Uma vida normal, sem garantias?


Se eu tenho vivido de um mau momento para o outro com muito poucas coisas
boas no meio, eu não podia simplesmente ter Jude como meu curinga? Ele não poderia
ser meu salvador de todo o mal que eu tive de suportar?

Mas um relacionamento normal, era sobre dar e receber.

Se Jude fosse meu alívio para tudo de ruim na minha vida, eu poderia ser o dele?

Mas e se eu fosse o contrário?

Uma única pergunta não parava de repetir através dos meus pensamentos enquanto
eu tentava aproveitar alguns momentos tranquilos de descanso antes da minha mãe voltar.
Joguei todos os cobertores de cima de mim e então, prontamente puxei de volta alguns
minutos depois, quando fiquei gelada. Quando desisti da ideia de dormir, peguei meu
laptop e pesquisei o nome fazendo voltas na minha cabeça.

Milhares de resultados da busca apareceram no Google. Muitos não eram


especificamente relacionados com Jude, mas sim à família como um todo. Achei
relatórios financeiros e fotos glamorosas do que eu assumi que eram seus pais em eventos
de caridade e outros encontros sociais de elite. Eu enrolei-me ainda mais para baixo e
encontrei um antigo artigo intitulado: “Os Cavanaughs encontram a Mina de Ouro no
filho mais novo”.

Olhando ao redor do quarto, eu senti como se estivesse traindo algum tipo de


confiança no segredo entre mim e Jude. Por que eu sinto a necessidade de fazer isso? Eu
não deveria perguntar a ele?

Mas meu dedo deslizou pelo touchpad e cliquei no artigo.

Olhei para o texto, retirando os pedaços de informação que achei relevantes, e


minha mente derrapou até parar cerca de um terço do caminho para baixo após a
introdução, onde o jornalista havia escrito sobre os vastos elogios e realizações da família
Cavanaugh.

Jude era inteligente, tipo muito inteligente.

Ele também tinha sido preparado desde quase a infância para assumir os negócios
da família.

De acordo com este artigo, depois de mostrar um amor por matemática em idade
precoce, seus pais o enviaram para as melhores escolas que o dinheiro podia pagar. A
partir do momento que ele estava no jardim de infância, ele foi orientado em privado. O
jornalista comentou que o dinheiro tinha sido desperdiçado, porque todos os professores
do mundo não poderiam ensinar Jude a única coisa que ele possuía desde o nascimento -
o instinto. Com treze anos, em vez de participar de atividades extraescolares, Jude tinha
ajudado seu pai fazer grandes decisões de negócios.

Uma batida na minha porta me assustou de minha leitura, e eu rapidamente bati


meu laptop fechado com vergonha.

Grace entrou rápido pela minha porta como uma lufada de ar fresco no outono. —
Bom dia, docinho. Ouvi dizer que você teve uma noite difícil. Você não está tentando me
deixar mais uma vez, não é? — perguntou ela com uma piscadela.

— Ugh, não mais.

A máscara sobre o rosto escondeu seu sorriso de mim, mas eu podia ver as rugas
ao redor dos olhos, então eu sabia que estava lá, enterrado sob aquele revestimento
descartável feio.

— Bem, não importa. Nós vamos tirar você daqui em breve.

Ao contrário de vezes no passado, eu não estava tão ansiosa para chegar em casa.
Eu ainda queria, especialmente sabendo que ainda veria Jude, mas quando eu estava aqui,
podia vê-lo praticamente todos os dias. Seria o mesmo fora dos limites do hospital? Ou
seria diferente?

Eu tinha tantas perguntas sem resposta.

— Oi, Grace. Você sabe alguma coisa sobre a família Cavanaugh? — eu soltei.

— Como, a família Cavanaugh? — ela se moveu ao redor do quarto enquanto


começava a verificar os meus sinais vitais e substituir meus fluidos.

— Sim, eu, humm... Assisti ao noticiário no outro dia e alguma coisa sobre eles
apareceu. — menti. Era uma mentira boba, por isso não contava.

— Bem, se eles não estiveram em um filme ou em um programa de TV, eu não


prestei muita atenção, mas sei algumas coisas sobre o filho.

Meu coração acelerou, mas eu tentei não parecer nem um pouco afetada. — Ah, é?
— perguntei.

— Sim, ele é lindo - não tão lindo como o meu Brian, é claro. — ela se sentou na
beira da minha cama ao lado dos meus pés para terminar a nossa conversa.

— Eu pensei que ele não fosse visto em um longo tempo. — ofereci.

— Ah, não. Estou falando de Roman Cavanaugh, o mais velho. Ele esteve nas
revistas de fofoca desde que estava no colégio. Ele é um daqueles homens que são
difíceis de domar. Todo mundo sempre quer saber quem está namorando ou onde ele foi
visto pela última vez. Ele é como o George Clooney do mundo dos negócios.
— E o outro irmão? — eu perguntei, ajustando meus cobertores para que eu não
tivesse que olhar nos olhos dela.

— Ah, certo. Qual o nome dele? Jude! Ah, ei, como o nosso Jude. Eles são
parecidos, exceto que o nosso tem todas as tatuagens e músculos. Eu não sei,
honestamente. Ele nunca se tornou realmente muito uma figura pública. Sempre foi
recluso. A imprensa especulou que Jude se tornou extremamente introvertido após sua
noiva morrer.

Noiva?

Morreu?

— Sério? — resmunguei.

— Sim, a família não divulgou muitos detalhes até meses após o fato. Ninguém
sabia que ele estava noivo. É claro, o único Cavanaugh que as pessoas prestavam atenção
era Roman. — disse ela com olhos sonhadores e um encolher de ombros.

Jude estava noivo? E ele a perdeu?

Eu senti dor e tristeza por ele. Tudo isso ferveu como um inferno até que eu me
senti tonta com isso.

Meu coração começou a bater em um ritmo irregular que não tinha nada a ver com
o meu conhecimento repentino do passado de Jude.

Grace levantou do seu lugar no final da minha cama e voltou à sua rotina. Ela
virou as costas para mim quando desligou a bolsa de soro vazia do suporte IV. —
Falando de Jude, o que está acontecendo com você e nosso Jude? Ouvi dizer que ele
causou uma grande comoção por aqui ontem à noite.

O quarto começou a girar e gotas de suor escorreram na minha testa enquanto eu


tentava vocalizar uma resposta. Tudo o que saiu foi um monte de sílabas inúteis. A
cabeça de Grace bruscamente virou e vi sua expressão de surpresa através da névoa de
movimentos antes de ela estender a mão para apertar o meu botão de chamada.

Ouvi-a gritar as palavras “Código azul”, logo antes de eu desmaiar.


E u estava uma bagunça, uma bagunça fodida total.

Eu a sentia agitando dentro de mim, fervendo em minhas veias como um veneno


que não conseguia me livrar.

Não havia chance de dormir. O sol entrava pelas cortinas frágeis do meu quarto e
eu sentei na cama. Passando minhas mãos pelo meu cabelo, olhei em volta do meu quarto
modesto.

Saltando para fora da cama, desisti de qualquer chance de cochilar e eu fiz o que
queria fazer desde que entrei pela porta da frente do meu apartamento duas horas mais
cedo. Eu comecei a ficar pronto para voltar para ela.

Quando eu estava com Lailah o ar puro enchia meus pulmões, me curando de


tudo, pelo que parecia ser a primeira vez em anos. Ela me deu um propósito e me fez
querer ver o sol nascer novamente. No momento em que saí do seu lado, a culpa veio
correndo de volta como uma corrente no oceano.

Eu não mereço nada disso.

Nada do que eu tinha feito na minha vida até este ponto me dava ao luxo de
desfrutar de um único minuto de felicidade com Lailah.
Eu tinha causado a morte da minha noiva. Eu não tinha dirigido naquele dia, mas
eu olhei em seus olhos cansados e caídos, seu hálito cheirava a álcool e ainda lhe
entreguei as chaves, sabendo que eu não deveria ter feito isso.

Porque eu tinha sido egoísta.

Quando ela tinha estado além de qualquer intervenção médica, a necessidade de


ser colocada para descansar para que sua família pudesse chorar, eu tinha prolongado o
sofrimento de todos, tentando provar que nosso amor poderia sobreviver a qualquer coisa
– até mesmo danos cerebrais. Eu ouvia seus pais chorando atrás de mim enquanto eu
segurava suas mãos nas minhas. Com lágrimas escorrendo pelo meu rosto, implorei para
ela voltar para mim, mas ela já não estava mais viva.

Eu machuquei tantas vidas quando perdi Megan, incluindo a única pessoa que eu
nunca tinha esperado.

Eu não merecia Lailah.

Mas eu a aceitaria. Eu aceitaria tudo que ela me desse porque eu era egoísta e
estava cansado de ficar sozinho. E iria oferecer-lhe tudo o que ainda tinha para dar.

Com certeza, a vida não seria tão cruel.

Era irônico que eu estava seguindo o conselho da única pessoa que eu desprezava.

Meu irmão não tinha sofrido um dia em toda a sua vida privilegiada. Ele não sabia
nada sobre a perda ou dor. Conforme suas palavras ecoavam na minha cabeça, eu não
podia deixar de ponderar se elas tinham um pouco de verdade.

Uma pontada de culpa atravessou meu interior com a simples ideia de alguém
substituindo Megan, mas meu irmão estava certo. Ela se foi. Eu pensei que meu mundo
tivesse acabado quando ela morreu há três anos. No entanto, aqui estava eu, com ar
preenchendo meus pulmões e bombeando sangue através do meu coração, sentindo que
eu estava vivo. Eu ainda estava aqui.

Meu exílio autoimposto, havia me despojado de tudo do que uma vez eu fui. Eu
tinha deixado minha família e amigos para trás.

Não é o suficiente?

Eu ainda estou aqui. Eu ainda estou vivo.

Trinta minutos após desistir de dormir, eu estava de banho tomado, vestido e


dirigindo meu carro de merda de volta para o hospital.

Quando eu disse que deixei a minha antiga vida para trás, eu não estava brincando.

Meus pais tinham descoberto rapidamente que eu tinha uma afinidade com
números. Eu não era como o cara da previsão da chuva, nem nada. Eu não conseguia
resolver equações em meu sono. Eu era mais como o cara no cassino que era acusado de
trapacear nos caça-níqueis, mas eles não podem provar nada, porque eu era realmente
muito bom. Eu era um desses. Eu via padrões e simplicidade enquanto outros viam o
caos. Eu estava sempre dois passos à frente do mercado, vendo as tendências e as
armadilhas antes de qualquer pessoa. Desde esta pequena descoberta, tudo o que meu pai
podia ver eram cifrões. Não havia nenhuma equipe de futebol ou natação para Jude. Em
vez disso, eu tinha ido a reuniões do conselho e escutado as chamadas de conferência de
uma hora.

É um bom treinamento. Meu pai dizia.

Ele não pareceu perceber que eu também era inteligente o suficiente para ver
através da sua merda. Eu sabia exatamente o que ele estava planejando. Eu tinha
conseguido fugir para a faculdade, mas ele ainda tinha suas garras afundadas nas minhas
costas, enchendo o meu celular, sempre que ele precisava de algo, eu voava para casa
quando ele dizia ser muito importante.

Eu tinha conseguido manter a maior parte de Megan, mas ela sabia que a vida
depois que nos formássemos seria diferente. Eu seria diferente. Eu passei todas as noites
das nossas últimas férias acordado, observando-a dormir, enquanto me preocupava com o
que iria acontecer quando meu pai me empossasse na empresa.

Suma, disse uma voz na minha cabeça, fuja com ela, a voz declarou.

Mas eu não tinha feito isso, porque me sentia obrigação com a minha família. Eles
eram o meu sangue e eu pensava que devia isso à empresa e às pessoas que trabalhavam
para nós, garantindo a sobrevivência do negócio.

Isso tudo tinha terminado na noite que Roman me visitou, me implorando para
voltar. Ele não tinha dado a mínima para Megan ou o que eu estava passando.

Cifrões - isso era tudo o que eu era, mas não mais.

Eu tinha resistido toda inclinação para investir qualquer extra que eu tinha de
sobra mês a mês. Em vez disso, eu guardava, conseguindo salvar algumas escassas
centenas para cobrir um mês de aluguel, se necessário. Eu era pobre e ia continuar como
a porra de um pobre.

Se apenas o papai pudesse me ver agora...

Parei meu calhambeque no estacionamento atrás do hospital e olhei para o prédio


que serviu como meu refúgio desde que me mudei para a Califórnia. Este era o lugar
onde eu trabalhava, mas também era onde eu podia sentir Megan - nos corredores,
caminhando pela emergência, nas lágrimas das famílias em luto.

Era meu monumento vivo para ela, eu era o zelador.

Movi para a frente do estacionamento e olhei para a janela de Lailah no andar da


cardiologia, como se fosse um farol branco brilhante me dirigindo para a praia.
O hospital não pode ser apenas um memorial. Tinha que ser algo mais.

Eu tinha que ser mais - por ela.

Assim que me aproximei do posto de enfermagem, eu sabia que havia algo errado.
Os enfermeiros neste andar se moviam em um ritmo mais lento do que os da emergência.
Eles normalmente conversavam sobre suas vidas e fofocas no corredor.

Hoje eles estavam em modo acelerado.

As enfermeiras de plantão estavam zumbindo ao redor, agitadas e em estado de


alerta, como se tivessem sido assustadas. Alguma coisa tinha acontecido e elas ainda
estavam trabalhando para baixar a adrenalina. Eu tinha visto isso antes, uma dúzia de
vezes na emergência. Cada pessoa neste andar – inferno, neste hospital - foi treinada para
uma emergência, mas não significava que eles não iriam se assustar quando finalmente
algo muito grave acontecesse.

E em um lugar como este, sempre acontecia.

Olhei em volta, tentando encontrar alguém que eu reconhecia. No turno da manhã


as pessoas eram em sua maioria desconhecidas para mim, já que só via um ou outro de
passagem, e desde que eu não era a pessoa mais social com a equipe, eu conhecia ainda
menos pessoas

Mas eu conhecia uma pessoa.

Branca de Neve.

Onde ela está?

Olhei para o chão e finalmente a vi aparecer do quarto de Lailah. A máscara estava


cobrindo seu rosto enquanto ela rapidamente foi até o posto de enfermagem. Ela olhou
para mim do outro lado do balcão e isso bastou. Seus olhos me disseram tudo o que eu
não queria saber.

Eu saí correndo a curta distância do corredor em direção ao quarto de Lailah, mas


fui parado quando eu fui agarrado por trás. Meu punho subiu e eu me virei para acertar
quem estava me impedindo de entrar naquele quarto.

— Que porra é essa, Marcus? — rosnei.

— Ela está dormindo e estável agora.

— Agora? Agora! O que diabos isso significa?

O aperto que tinha no meu braço diminuiu.


— O vírus que ela pegou piorou. A febre disparou em um curto espaço de tempo e
seu corpo entrou em sofrimento. Fomos capazes de estabilizá-la e baixar a febre. Agora,
ela está descansando.

Enquanto ele falava, tudo que conseguia pensar era que eu não estava aqui. Ela
poderia ter morrido e eu não estava aqui. Ela poderia ter escapado desta Terra e eu nunca
teria visto o seu sorriso de novo, nunca mais sentiria a alegria da sua ternura. Se soubesse
que eu não poderia deixar esta menina por um curto período de tempo, eu não teria feito.

Quando é que ela começou a importar tanto para mim?

— Eu posso vê-la? — eu engoli o caroço de emoções que senti brotando na minha


garganta.

— Sim, mas primeiro, eu acho que nós precisamos conversar.

Eu deveria saber que isso ia acontecer. Depois da minha exibição exigente ontem à
noite e o fato de que sua mãe sabia, era apenas uma questão de tempo antes que isso
acontecesse.

Mas por que isso tem que acontecer agora?

Olhei para a porta fechada de Lailah. A necessidade de entrar e rastejar ao seu lado
estavam queimando dentro de mim.

— Tudo bem. — concordei.

Pelo olhar que Marcus estava me dando, eu sabia que não havia nenhuma maneira
de escapar disso.

Ele se dirigiu para o elevador e eu o segui, odiando que cada pisada era um passo a
mais para longe dela.

Ela poderia ter morrido.

O pensamento repetia na minha cabeça enquanto nós silenciosamente entramos no


elevador e eu o segui até o refeitório. Eu já sabia onde estávamos indo. Essa tinha sido a
nossa tradição muito antes de Lailah. Tomaríamos café de baixa qualidade e teríamos
uma conversa onde ele falaria a maioria e eu ouviria.

Dando uma olhada no seu andar rígido e expressão tensa, imaginei que os nossos
papéis seriam invertidos esta noite.

Ficamos na fila, pedimos e sentamos na parte de trás do refeitório. Era por volta de
onze horas da manhã, de modo que o movimento da hora do almoço estava apenas
começando, mas ainda estava relativamente calmo.

Marcus recostou-se na cadeira e pôs o seu olhar de aço em mim.


— Qualquer coisa que você queira me dizer, Jude?

Nada de J-Man hoje. Apenas Jude.

— O que você quer saber? — eu tomei um gole de café que tinha gosto de lama.

— Eu quero saber por que você mentiu para mim.

— Eu não menti para você, Marcus... — comecei.

Ele interrompeu: — Não? Você não disse que ficaria longe de Lailah? Que você
seria um amigo e nada mais? — seus olhos estavam em chamas.

Durante a nossa conversa sobre Lailah, eu nunca tinha feito nenhuma promessa
para Marcus e eu não podia evitar me perguntar de onde tudo isso estava vindo. — Olha,
eu não planejei isso. Eu não entrei esperando que isso fosse acontecer.

— Você disse que não era capaz de amar ninguém, Jude. Eu confiei em você. —
ele cuspiu.

Com o uso da palavra amor, senti como um golpe nos joelhos, uma espiral de volta
para a noite que eu tinha pedido a mão de Megan, quando eu jurei que iria amar somente
ela para o resto da minha vida.

— Mas eu a amo. — minha voz resmungou incrédula enquanto eu olhava para a


mesa, perdido na minha própria cabeça. Saber e reconhecer algo eram duas coisas
completamente diferentes.

— Você não parece tão certo.

— Não, eu tenho certeza. Apenas estou surpreso. Eu não achei que eu fosse capaz
de amar alguém de novo.

Eu finalmente olhei para ele e encontrei-o me observando. A punição de seus


olhos azuis trabalhou e me processou como se estivesse desmantelando um relógio ou
contemplando o contínuo espaço de tempo.

— O que mudou?

— Lailah. Ela mudou tudo. Ela me faz sentir humano novamente. Eu não temo
viver mais.

— Mas o que você está fazendo por ela?

— O quê? — perguntei.

— Você acabou de dizer como ela faz você se sentir. O que você está fazendo por
ela? O que você a fez sentir? Eu me preocupo com ela muito mais do que eu me
preocupo com você, amigo. Se você quer minha bênção sobre isso, me diga o que você
está fazendo para a minha menina?
Meu olhar se estreitou quando eu olhei para ele, realmente olhei para ele. — Qual
é a sua conexão com Lailah e a Sra. Buchanan?

— Eu sou o médico de Lailah. — ele respondeu em um tom cortante.

— Tudo bem. — cedi, deixando isso por agora.

Ansioso para voltar para o lado da cama de Lailah, nos levantamos da mesa e
jogamos o nosso café de merda no lixo antes de ir para o elevador. Quando as portas se
fecharam e fizemos o nosso caminho, senti a presença de Lailah crescendo enquanto a
distância entre nós diminuía.

— Você não respondeu minha pergunta. — disse Marcus, cortando o silêncio


como uma faca.

— Que pergunta?

— O que você vai fazer por Lailah?

O elevador apitou e a porta abriu. Nós pisamos no assoalho laminado gasto do


andar e eu olhei pelo corredor em direção ao meu anjo adormecido.

— Tudo. Eu vou dar-lhe tudo.


F ormas lentamente voltaram e eu vi algumas coisas quando minhas pálpebras
hesitantes se abriram pelo que parecia ser a primeira vez em séculos. Puxei minha mão
para esfregar o sono dos meus olhos, mas minha mão estava contida, envolta em uma
ternura quente que reconheci imediatamente. Virei a cabeça e encontrei os suaves olhos
verdes de Jude olhando para mim.

— Bom dia. — ele sussurrou, levando a minha mão que estava segurando aos seus
lábios.

O toque enviou instantaneamente fez arrepios correrem pela minha espinha, e não
tinha nada a ver com a minha febre ou doença.

— Dia? Que horas são? Quanto tempo eu dormi? — eu perguntei, minha voz
ainda grogue e cansada.

Eu me mexi e notei a ausência das dores e náuseas que tinha tido anteriormente.
Na verdade, me sentia muito melhor. Eu não estava cem por cento, mas eu
definitivamente senti uma melhora.

— Pouco mais de dois dias. Marcus propositadamente a manteve dormindo no


primeiro dia, esperando que você combatesse a doença mais rápido dessa forma. Pareceu
ajudar, porque a febre finalmente cedeu, então ele foi capaz de diminuir os remédios.
Você dormiu desde então.

Eu estive dormindo por dois dias?

Olhando para ele, notei as profundas olheiras sob seus olhos e a vermelhidão em
volta das suas pupilas. Seus ombros caídos sob o peso da sua exaustão e suas roupas
estavam amarrotadas e desgastadas.

— E você? Há quanto tempo você está sem dormir, Jude? — perguntei.

Ele passou a mão cansada pelo cabelo bagunçado. — Eu estou bem. — respondeu
ele.

Quando eu dei a ele um olhar aguçado, ele emendou: — Eu tive algumas horas de
sono aqui e ali. Eu não queria ir embora. Eu não podia deixá-la, Lailah.

Eu queria discutir. Eu queria dizer a ele que estava sendo ridículo. Ele precisava
sempre cuidar de si mesmo em primeiro lugar. Mas, quando eu o vi, cansado e exausto,
enquanto falava com tanta convicção na minha cabeceira, pensei em tudo o que ele
passou em seu passado e eu sabia que não podia.

Ele estava com medo de perder alguém.

Para que tipo de destino doente e torcido eu o atraí?

— Eu não vou a lugar nenhum. — tentei assegurar-lhe, sabendo que eu não tinha
motivos para fazer tais promessas.

Como uma segunda natureza, meus dedos encontraram a pele áspera da barba por
fazer do seu rosto e ele imediatamente se inclinou para o meu toque.

— Eu sei. — respondeu.

O elefante caiu oficialmente no quarto.

Não houve mais conversas francas de morrer e não teríamos mais essas conversas.
As apostas foram levantadas. Tínhamos ido de amigos casuais para muito mais, mais do
que eu mesmo tinha palavras para descrever e a morte não tinha lugar com o tipo de
sentimento que agora compartilhávamos.

Como poderia algo crescer das cinzas? Como poderíamos esperar uma rosa
florescer nas sombras?

O que quer que seja, o que estava sentindo por Jude, eu queria que crescesse. Eu
queria ver onde nos levaria e nenhum de nós poderia permitir que a morte pairasse sobre
nós.
Aquela pequena bastarda, que eu gostava de chamar de esperança, veio
balançando de volta na minha mente. Eu não podia evitar me perguntar se Jude era o meu
sinal de que tudo iria se resolver.

Por que outro motivo me foi dada uma chance no amor tão tarde no jogo, se eu
não seria salva no final?

— O que você está pensando? — ele se inclinou para frente para descansar os
cotovelos na borda da cama.

Ele trouxe sua cabeça a centímetros da minha e eu podia sentir o cheiro persistente
do seu shampoo no cabelo.

— Como você sabe que eu estava pensando em alguma coisa?

Ele ergueu a mão e passou os dedos sobre minha testa. — Você tem essas bonitas
linhas pequenas e vincos até aqui quando você está imersa em seus pensamentos.

— Eu não!

— Tem sim. Eu sou um mestre em todas as coisas, Lailah. Você não pode discutir
com o mestre.

— Você não poderia ser um mestre ainda. Eu não sou tão fácil de quebrar. —
debati.

— Não, você não é, mas eu presto atenção. Tem sido tão difícil não prestar
atenção em você. — disse ele.

Seus olhos escureceram um pouco, o que fez minhas bochechas incendiarem.

— Tudo bem, grande mestre, se você me conhece tão bem, por que você não me
ensina?

Ele sorriu, levantando-se da cadeira. Senti a cama afundar um instante antes do seu
corpo roçar contra o meu enquanto ele se posicionava ao meu lado, de frente para mim.
Virei-me um pouco sob as cobertas, para que eu pudesse encará-lo e admirar a vista.

Eu nunca pensei que eu poderia desfrutar de uma cama de hospital, mas Jude
acabou de deixar aqui muito mais suportável. Então, o pensamento da minha mãe ou Dr.
Marcus entrarem enquanto Jude estava na cama comigo me deixou incrivelmente
nervosa. Aparentemente, a adulta Lailah tinha saído para uma caminhada, enquanto eu
estava desmaiada.

Como se estivesse lendo meus pensamentos, Jude disse: — É o dia de folga do Dr.
Marcus e sua mãe está dando aula agora. Além disso, eu não deixei este quarto em dois
dias. Eu acho que é certo dizer que o nosso pequeno segredo foi por água abaixo.

Havia tantas coisas para processar nessa declaração.


— Como está lidando com a minha mãe? Como você conseguiu não sair quando
você tem que trabalhar? Oh meu Deus, você não perdeu o seu emprego por minha causa,
não é?

— Primeiro, você balbucia quando está nervosa, como agora. — disse ele com um
sorriso caloroso. — Sua mãe não é uma grande fã minha, mas estamos fazendo
progressos. Não, eu não fui demitido. Eu consegui ficar aqui, porque eu me recusei a usar
uma máscara, então eu não tive permissão para trabalhar até que eu provasse que estava
livre dos sintomas. Então, quando provar que eu ainda não apresento sintomas até
amanhã, eles vão me permitir bater o ponto novamente.

— Mas, Jude, todas aquelas horas perdidas... — eu disse, me sentindo tão culpada.

— Eu não teria ido a qualquer outro lugar, Lailah.

Sua mão chegou até a minha cintura e eu podia sentir o calor da sua mão
queimando através do tecido do cobertor. Meus olhos vagaram por seu corpo, admirando
a forma como a sua camiseta cinza agarrava ao seu corpo. Seu jeans escuro era usado e
desbotado, mas pendurado nos seus quadris apenas no ponto certo.

— Em segundo lugar, você cora quando você está envergonhada ou excitada.


Então, qual deles é agora?

Meu cérebro voltou e meus olhos voaram para os dele. — O quê?

— Você está corando. Você está com vergonha ou excitada?

— Você está louco! — eu respondi, desviando.

Seu sorriso se alargou em algo maldoso e sua covinha tornou-se ainda mais
evidente. Ele inclinou a cabeça para frente, aninhando na curva do meu pescoço, onde ele
começou lentamente espalhar um rastro de beijos quentes até minha orelha.

— Eu acho que é o último. — ele soprou em meu ouvido.

Nossos lábios se encontraram em um beijo febril quando trocamos as palavras


pelo toque físico.

Eu poderia ter perdido você, seu corpo disse através do seu toque desesperado.

Mas você não perdeu, meu beijo respondeu de volta.

Eu afundei ainda mais no calor do seu peito, para que ele pudesse me fazer sentir
viva e inteira.

Nossos movimentos desaceleraram, a ternura substituindo a paixão ardente, antes


de finalmente nos afastarmos.
— Sinto muito. Eu não deveria ter feito isso. — disse ele, encostando a testa
contra a minha.

— Por quê?

— Você dormiu por dois dias. Você já passou por um inferno, e eu estou te
maltratando em sua cama. Você ainda está se recuperando. Eu deveria esperar até que...

Até que eu não esteja doente?

Isso poderia acontecer nunca.

Seus olhos encontraram os meus, e nós dois vemos a declaração pairar no ar,
inacabada, até que finalmente entrou em erupção.

O elefante grande, gigante, estava firmemente de volta no lugar e nenhum de nós


escolheu enfrentá-lo.

— No cardápio de hoje, temos uma linda seleção de arroz, bolachas água e sal,
caldo de galinha e – espere - molho de maçã. Hummm. — Jude anunciou, descobrindo
meu almoço que tinha sido entregue momentos antes.

— Uau, isso parece...

— Horrível? — completou, colocando a bandeja de plástico sobre a mesa grande


de madeira.

— Eu ia dizer uma combinação estranha, mas, sim, horrível é uma boa descrição
também. Embora, o arroz não pareça tão ruim.

— Bem, bem. Então, coma o arroz – lentamente embora. Você não teve comida
sólida por alguns dias.

Ele sentou-se na cadeira que tinha usado como uma cama nas últimas noites.
Peguei a pequena tigela de arroz em minhas mãos. Ele foi feito levemente com manteiga,
mas por outro lado, estava sem graça, sem sal. Eu dei uma mordida hesitante e quase
gemi. Poderia ter gosto de papelão e eu ainda teria adorado. A falta de comida tinha
reduzido bastante minha seletividade sobre comida do hospital naquele momento. Três
mordidas, eu percebi que o quarto estava tranquilo. Olhei para cima para encontrar Jude
me olhando, os olhos semicerrados intensos.

— Você sempre faz esses sons quando você come? Não me lembro disso no nosso
encontro para o almoço. Eu acho que não me lembro de um gemido assim escapar dos
seus lábios.

— Hum... — foi tudo o que consegui balbuciar.

Sua boca se transformou em um sorriso de lobo, e ele riu. — Você está corando
novamente.
— Bem, como eu posso não corar, quando você diz coisas como essas? — eu
disse, finalmente encontrando a capacidade de falar.

Peguei um pacote de bolachas e joguei em sua cabeça. Ele riu muito e apanhou no
ar. Ele então começou a rasgar a embalagem de plástico transparente e enfiou um biscoito
inteiro em sua boca, dando-me um sorriso bobo quando fez isso.

— Então, dê-me um pouco mais da lista Algum dia. — ele enfiou o último biscoito
na boca.

Isso me fez pensar quanto tempo se passou desde que ele teve uma refeição
decente. Eu fiz uma nota mental para pedir a Grace para mexer seus pauzinhos e
conseguir um pouco de comida. Por agora, eu tinha que me virar com o que tinha. Eu lhe
entreguei o molho de maçã que eu não tinha a intenção de comer, e ele me deu um olhar
desconfiado. Quando eu o empurrei ainda mais em sua mão e levantei minhas
sobrancelhas, ele cedeu e fechou os dedos ao redor do copo de plástico. Joguei-lhe uma
colher e em seguida, estendi a mão para a gaveta ao meu lado para pegar o caderno gasto
que continuava lá.

— Que número vai ser hoje? — eu abri para mais uma vez encontrar a lista
manuscrita que eu meticulosamente tinha criado ao longo dos anos.

Ele me observou enquanto seu olhar se estreitava. Minha atenção se desviou para a
página diante de mim e meu coração acelerou ao ver a primeira coisa que eu tinha escrito
na lista há muito tempo.

— Vinte e cinco.

Eu respirei um suspiro de alívio, mas me senti corar instantaneamente com a


simples menção de um número particular. Não era o número um, mas era um passo
importante e eu tinha desenhado uma linha vermelha escura apenas alguns dias antes.

— Foi riscado. — eu disse, incapaz de olhar para ele. Deus, eu nunca vou crescer?

— O que era? — ele perguntou a voz baixa e rouca.

— Ser beijada até que eu ficasse sem fôlego.

Eu encontrei o seu olhar e os cantos da sua boca viraram para cima em um sorriso
arrogante, revelando apenas o menor indício da covinha na bochecha.

— Cinquenta e um.

Eu não pude evitar o sorriso que se formou em meus lábios quando achei esse em
particular. — Ter uma conversa inteira apenas por mensagens de texto.

— Então, você quer ser uma adolescente por um dia? — brincou.

— Vamos lá, Jude! — eu gemi, jogando meu guardanapo nele.


Ele abaixou-se e ouvi uma risada suave escapar dos seus belos lábios.

— Desculpe, eu não entendo. Ser capaz de manter uma conversa com você sem o
seu nariz enterrado em um telefone é uma das coisas mais interessantes sobre você.

Minha sobrancelha arqueou em diversão.

Tenho chifres que desconheço?

Não ter um telefone celular é a minha característica mais atraente?

— Tudo bem, não uma das mais. Existem várias - não, centenas de outras coisas
que eu acho muito mais atraente, sexy mesmo. Merda, eu estou cavando um buraco aqui.
Apenas acabe com meu sofrimento e assuma.

Cobri minha boca com a mão, tentando abafar o riso borbulhando. — É apenas
uma daquelas coisas que as pessoas normais fazem. Eles têm conversas por e-mails e
mensagens de texto. Eles compartilham segredos e piadas que ninguém mais sabe,
porque nada foi proferido fora do ciberespaço. Eu acho que as pessoas se sentem mais
ousadas com suas palavras quando estão se escondendo atrás de um teclado. Acho que eu
só me pergunto como seria.

— Para ser mais ousada com suas palavras? — ele perguntou suavemente. — O
que você diria?

— Eu não sei. Eu nunca tive um telefone celular. Eu provavelmente não seria


capaz de escrever mais de três palavras sem estragar alguma coisa.

Tentei ignorar o assunto com um aceno de mão.

Mas ele insistiu e falou: — Se você pudesse me pedir alguma coisa em uma
mensagem de texto, sem temer que essas bochechas corassem, o que você seria?

Eu sabia o que eu queria pedir a ele, mas o medo tomou conta e de repente estava
guiando cada movimento meu.

Ele ficaria com raiva por eu saber? Falar sobre isso poderia machucá-lo?

Eu realmente quero saber?

Eu olhei para aqueles lindos olhos de jade, e eu sabia que não podia perguntar
sobre sua noiva. Eu não estava pronta para saber. Eu não estava com ciúmes ou com
raiva que ele não tivesse compartilhado essa parte da sua vida comigo. Era o medo de que
uma vez que ele dissesse, eu estaria diante de algo que eu já sabia. Eu deveria deixá-lo ir.
Ele merecia mais do que uma segunda chance que tinha pouquíssima esperança. O
elefante no quarto poderia estar firmemente plantado no canto a esta altura, eu tinha
conseguido me esquivar e tecer em torno dele, fingindo não existir a possibilidade da
minha morte, mas isso não a torna menos verdadeira.
Eu estava egoisticamente permitindo que tudo isso acontecesse, sabendo que ele já
tinha perdido alguém antes e sabendo que poderia acontecer novamente.

— Por que eu? — perguntei.

— Por que não você, Lailah? — argumentou, inclinando-se para pegar minha mão.
— Por que você pergunta isso?

— Você poderia ter qualquer uma. Por que você...

— Eu não quero mais ninguém. — ele respondeu, parando minhas palavras. Ele
estendeu a mão roçando a pele macia da minha bochecha com o polegar. — Eu quero
você.

Eu não tinha palavras enquanto o observava afastar minha bandeja do almoço


antes de rastejar para a cama comigo. Fiquei sem palavras quando eu senti os braços
sólidos me envolverem e me puxarem para perto. Eu deveria deixá-lo ir, mas eu não faria
isso. Eu precisava dele - seu toque, suas palavras ternas e de cura, e do jeito que me
sentia perto dele. Eu me sentia restaurada e renovada com sua presença e era melhor do
que qualquer medicamento ou tratamento médico.

— Conte-me mais um, e depois você vai descansar um pouco. — ele instruiu
quando descansou a cabeça no travesseiro e fechou os olhos.

Meu caderno ainda estava aberto no meu colo e ele não fez nenhuma tentativa de
espreitar as páginas atualmente em exposição.

— Você vai escolher o número, ou devo?

— Você escolhe desta vez. — ele respondeu.

Fiz uma varredura na página com o dedo indicador, tentando encontrar um que
fosse interessante e não muito embaraçoso.

— Visitar um país estrangeiro.

Seus olhos espiaram e ele sorriu. — Qualquer país estrangeiro? Ou você tem
alguma preferência?

Eu pensei por um momento. — Eu não sei. Eu acho que nunca pensei que fosse se
tornar realidade, então eu nunca tive tempo para escolher um lugar específico.

Ele traçou meu braço com os dedos, um rastro de arrepios subindo enquanto ele
subia, até que ele finalmente entrelaçou com a minha própria mão e apertou.

— Escolha um, em qualquer lugar do mundo. Para onde você iria?

Havia tantos lugares do mundo. Como eu poderia escolher apenas um?


Minha mente buscou um único destino, lembrando das aulas de história com a
minha mãe e os filmes que eu tinha visto, e um lugar preso em minha mente acima de
todos os outros. — Irlanda. — respondi.

— Um país bonito para uma mulher bonita. — ele respondeu. — Vamos.

Eu ri, amando o timbre doce da sua voz. — O quê? Agora?

— Sim, feche os olhos.

— Você é louco.

— Provavelmente. Feche os olhos, Lailah. — ordenou.

Eu dei uma bufada indiferente e fiz o que ele pediu. Fechei os olhos e me ajeitei
no travesseiro.

— Tudo bem, imagine-se em um daqueles carros europeus. Eles são compactos e


de aspecto chato. Tudo está do lado errado. Estamos dirigindo por uma estrada pequena
perto da pitoresca paisagem da Irlanda.

— Espere - já estamos lá? — eu perguntei, com as minhas pálpebras abertas


apenas ligeiramente.

— O que quer dizer, com já estamos lá?

— Quero dizer, como chegamos lá? Nós voamos?

— É claro que nós voamos.

— Você é um péssimo contador de histórias.

Ele bufou, o que me fez rir. — Está bem, tudo bem. Foi um voo muito normal,
chato. Você dormiu a maior parte da viagem. Depois de alugar o nosso carro incrível,
minúsculo, nós estávamos em uma pitoresca e pequena cama com um café da manhã, e
tivemos uma rapidinha para superar o nosso fuso horário. Agora, estamos visitando o
campo.

— Por que apenas uma rapidinha? — eu perguntei com uma risada.

— Que tal isso? Tive você de sete maneiras diferentes, começando contra a porta
do nosso quarto, porque eu não podia esperar um único segundo a mais depois do nosso
voo longo. Melhor? Ou você gostaria de mais detalhes?

Meus olhos se abriram para encontrar sua íris verde ardente olhando para mim.

— Hum... Não. Eu acho que está bom assim. — engoli em seco. — Então, nós
estamos dirigindo para o interior da Irlanda?
Seu sorriso de lobo foi a última coisa que vi quando a minha cabeça caiu para trás
contra o travesseiro.

— Eu a levei para uma longa viagem ao redor do Ring of Kerry14. Nós paramos no
caminho para tirar fotos e caminhar na trilha batida. O céu estava cinza com pequenos
pontos de azul, onde as nuvens estavam falhadas. O ar tem o gosto salgado do mar. A
grama está tão verde que parece quase irreal, como se um pintor tivesse passado um
pincel diretamente. Você pode vê-la?

Com cada palavra que saltava dos seus lábios, uma imagem começava a se formar
na minha cabeça. Nuvens se formado e grama crescendo. Eu podia sentir o ar do oceano
contra a minha língua e eu podia ouvir os pássaros voando acima de nós.

— As pequenas propriedades, com muros de pedras antigas pontilham a paisagem


por quilômetros com águas cristalinas azuis a distância. Se você olhar longe o suficiente,
você pode ver um conjunto de ilhas. Talvez nós possamos pegar um barco no final do dia
e subir os degraus de pedra antiga até o topo?

— Você pode fazer isso?

— Quando o tempo está bom, e hoje está simplesmente perfeito. — ele respondeu.

— Você já esteve lá?

— Com a minha mãe quando eu era muito jovem.

Ouvi o suave murmúrio da voz dele, quando ele descreveu o nosso dia idílico na
Irlanda. A cadência profunda e até mesmo seu tom, eventualmente, começaram a me
acalmar para dormir. Lábios macios e quentes tocaram minha testa momentos antes de
sentir o sono me puxando para seu estreito poder.

— Esta foi apenas uma amostra de como vai ser, Lailah. — ele sussurrou. —
Algum dia, teremos o nosso dia no interior da Irlanda, juntamente com inúmeros outros
dias perfeitos. Você não vai a lugar nenhum. Você não pode...

Quando os últimos pedaços remanescentes da consciência foram engolidos pela


escuridão, eu jurei que eu o ouvi dizer: — Porque eu te amo.

14
Anel de Kerry é um popular circuito turístico no condado de Kerry, no sudoeste da Irlanda. O percurso abrange
179 km e é conhecido pelas suas belezas naturais e locais históricos.
E u odiava deixá-la, mas eu tinha que tomar algumas providências. Eu tinha
planos, aqueles que envolviam favores e provisões. Eu escutei sua respiração tranquila
quando sua cabeça moveu preguiçosamente para o lado. Eu puxei o caderno da sua mão e
coloquei sobre a mesa de bandeja ao lado dela. Eu não me incomodei em dar uma olhada
na lista misteriosa.

Eu já tinha feito isso. Eu posso ser um idiota por desrespeitar seus desejos, mas eu
tinha boas intenções. Eu queria tornar todos e cada um dos seus sonhos realidade –
menos o que eu tinha prometido a ela que nunca iria acontecer. Eu não poderia fazer
tudo, mas queria surpreendê-la um pouco ao longo do caminho.

Deitado na cama com ela, criando uma visão de nós caminhando ao longo da zona
rural da Irlanda, tinha me dado uma ideia.

Espaços reservados.

E se eu pudesse fazer isso com mais dos seus sonhos?

Ela estava presa aqui dentro das paredes do hospital, mas isso não significava que
ela tinha que estar emparedada.

Assim, enquanto seus olhos estavam fechados, dei uma espiada.


Eu a respeitava o suficiente para não olhar para o topo da lista. Eu sabia que o
número um estava fora dos limites e honestamente, eu queria que ela compartilhasse
comigo quando estivesse pronta. Era obviamente importante para ela. Então, depois de
dar uma olhada, enquanto seus olhos estavam fechados e sua mente estava do outro lado
do Atlântico, eu tinha encontrado o meu primeiro item para trabalhar.

E agora, eu estava em uma missão.

— Você é louco. — Grace riu depois que expliquei o meu plano para a noite. Ela
estava atrás do posto de enfermagem, verificando gráficos e socando coisas no
computador.

Eu me inclinei para frente, balançando a cabeça para o seu traje ridículo. Ela
estava usando roupas da Minnie hoje. Cada Minnie Mouse espalhada por todo o seu
uniforme estava com um uniforme rosa minúsculo. Era repugnante, mas nela, parecia se
encaixar.

— Você não é a primeira pessoa a me dizer isso hoje. Você vai me ajudar? —
perguntei.

— Eu faria qualquer coisa por Lailah. O que você precisa?

Falei mais sobre o meu plano, observando como seus olhos se iluminaram e
suavizaram. Ela assentiu com a cabeça e ofereceu a sua ajuda. Saí alguns minutos mais
tarde, pronto para enfrentar a minha próxima tarefa. Fiquei grato por Lailah ter uma
amiga incrível como Grace.

Eu mal cheguei ao fim do corredor quando ouvi meu nome sendo chamado atrás
de mim. Eu girei e encontrei Margaret e seu terno de lã que dava coceira bem atrás de
mim.

— Jude, você é a pessoa que eu estava procurando. Importa-se de fazer uma


caminhada comigo para o meu escritório? — ela perguntou puxando a bainha do seu
blazer.

— Claro, mas você sabe que eu não estou realmente no horário de trabalho, certo?

Ela olhou a minha aparência e deu um aceno hesitante. — Sim, eu estou ciente,
mas eu receio que isso não possa esperar.

Foda-se.

Segui-a até o elevador, onde ficamos em silêncio, viagem estranha até o andar,
onde a emergência estava localizada. Quando a porta se abriu, acenei para ela sair
primeiro e segui atrás, deixando minha mente correr solta enquanto eu pensava sobre
meu comportamento menos do que estrelar ao longo dos últimos dias.

Ela vai me demitir.

Meus planos, meus preciosos planos, serão destruídos.

Quando Margaret destrancou a porta de seu escritório, me dei conta de que, com a
ideia de perder meu emprego, meu primeiro pensamento foi a ideia de que eu não seria
capaz de realizar os meus planos de cumprir a lista Algum dia da Lailah. Não teve nada a
ver com sentar no banco, olhar para a sala onde Megan tinha morrido.

Eu empurrei o pensamento de volta para o meu cérebro para refletir sobre isso
outro dia e eu tomei um assento em frente a Margaret no pequeno escritório. Ela se
recostou na cadeira e cruzou as mãos ordenadamente na frente dela. Seus olhos corriam
pelos papéis espalhados sobre a mesa e, em seguida, de volta para mim. Ela não queria
estar aqui também.

— Eu ouvi que você tem passado muito tempo com um determinado paciente,
Jude.

— Sim, eu tenho. — eu respondi, sem me preocupar em elaborar ou explicar.

— Disseram-me que você pode ter sentimentos por essa paciente que vão além de
profissional.

— Eu tenho.

Ela soltou um longo suspiro. — Olha, o hospital não pode fazer nada a não ser que
o paciente ou sua família registre uma reclamação...

— E eles fizeram? — eu perguntei, interrompendo-a.

— Não.

— Então, por que estou aqui, Margaret? — eu perguntei friamente

— Porque tem havido alguma preocupação sobre o seu desempenho no trabalho,


Jude. Você se comoveu bastante na outra noite e não passou despercebido. Entendo que o
seu sentimento por esta garota...

— Eu a amo. — corrigi.

Seus olhos se arregalaram com a minha confissão, e ela imediatamente desviou


sua atenção de volta para sua mesa. — Você só precisa ter cuidado.

— Você está me repreendendo ou me mudando para outro departamento?

— Não, eu não estou fazendo nada ainda. Eu só quero que você seja mais
cauteloso. — advertiu, seu olhar finalmente encontrando o meu.
Vi compaixão e compreensão naquelas profundidades azuis lacrimejantes. O
aperto firme que não sabia que eu tinha na cadeira de repente diminuiu e eu afundei um
pouco para trás. — Eu vou fazer isso. Obrigado por cuidar de mim.

— Naturalmente, Jude. Isso é tudo que eu sempre tentei fazer. — disse ela com
sinceridade e carinho.

Era o mesmo calor que ela teve quando me encontrou nadando em tristeza,
incapaz de deixar os corredores onde eu tinha perdido minha noiva. Eram as mesmas
qualidades emocionais que ela provavelmente teve quando ela colocou aquele banco ao
longo da parede solitária para que eu tivesse um lugar para sentar, sabendo que era inútil
assumir que eu seguiria em frente sem Megan.

Mas eu segui.

De alguma forma, eu tinha conseguido o impossível, e mesmo que meu coração


ainda parecesse que estava se remendando devagar novamente de um acidente horrível,
eu estava avançando novamente.

Lailah foi a minha maneira de sair desse corredor e de voltar à terra dos vivos.

— Ei, Margaret, posso te pedir um favor? — eu me inclinei para frente.

A antecipação substituiu o medo conforme meus planos para a noite tomavam


forma.

Olhos curiosos me seguiram enquanto eu tentava transportar em uma única carga o


que provavelmente deveria ter sido transportada por três pessoas. Bolsas estavam
penduradas no meu ombro, sacos de supermercado estavam nas minhas mãos, e cerca de
um milhão de outras coisas estavam em qualquer outro lugar que pudesse encaixá-los.

Com os dois dedos que eu tinha livre, consegui abrir a porta de Lailah, sem me
preocupar em bater. O barulho que eu tinha feito, com tudo equilibrado em meus ombros
caindo para frente contra a porta foi um anúncio em si que eu estava chegando. Fui em
frente e quase caí de bunda. Eu realmente deveria ter feito duas viagens, mas se soubesse
o que eu ia ver quando cheguei aqui, eu não teria feito diferente.

Quando eu a ouvi rir, eu olhei para cima e derreti.

— Você está se mudando? — ela perguntou, conforme seus cabelos loiros claros
caíam na pele nua dos seus joelhos enquanto ela se curvava sobre seu diário. Seus olhos
azuis brilharam com diversão em me ver caindo em seu quarto.

Naquele momento, eu sabia que faria qualquer coisa para trazer aquele sorriso para
o seu rosto.

— Você acha que eles me deixariam? — eu comecei o longo processo de abaixar


as coisas - primeiro, as sacolas de supermercado, e em seguida, o grande equipamento
amarrado nas minhas costas.
— Hmm... Eu não sei. A cama é terrivelmente pequena para duas pessoas. — ela
respondeu.

Olhei para cima a tempo de ver seus olhos se arregalarem com a percepção das
suas palavras. O jeito que ela disse tinha sido de brincadeira, mas tudo o que eu tinha
ouvido foi a possibilidade de nós dois de volta na cama.

— Quer dizer, você sabe... Que seria apenas desconfortavelmente pequena. Eu


poderia expulsá-lo e roubar as cobertas e...

— Eu acho que eu poderia dar um jeito. — eu sorri, deixando meu olhar correr
pelo comprimento do seu corpo.

Os shorts cinza que usava pouco faziam para cobrir suas longas pernas e eu tive
dificuldade para afastar meus olhos da sua pele branca leitosa. Ela estava geralmente tão
coberta devido às temperaturas frias do hospital que era raro ver tanto dela exposto.

— Você está se sentindo bem? — eu perguntei, imediatamente passando a mão


para sentir suas bochechas e testa.

— Sim, tudo bem. Por quê?

— Você está geralmente mais empacotada do que isso. — eu disse, apontando


para as pernas nuas.

— Oh, eu hum... — ela se atrapalhou em suas palavras, ficando vermelha e


lançando o olhar para baixo.

— Você, hum, o quê? — eu perguntei baixinho, roçando os dedos sobre sua coxa.

— Eu não tenho nada de bom para vestir, mas eu pensei que eu pudesse pelo
menos tentar ser... Sexy.

Seus olhos estavam paralisados na carícia da minha mão contra sua pele. Ela
sugou um gole de ar e liberou lentamente enquanto eu afundei ao lado dela.

— Você poderia estar em um vestido de grife ou um roupão do hospital e eu ainda


te acharia irresistivelmente sexy de qualquer maneira. Não importa para mim o que você
usa... Ou não usa. — acrescentei com um sorriso. — Eu me sinto atraído por você, sua
risada, sua voz, a maneira sexy que sua respiração trava quando eu te beijo. Nada disso
tem qualquer coisa a ver com o que você escolhe para colocar em seu corpo.

Assim que a última palavra saiu dos meus lábios, ela estava sobre mim, me
beijando com paixão, a qual não sabia que ela possuía. Apenas quando eu pensei que
entendia esta menina tímida, inocente, ela vem e me bate de costas me lembrando o
mistério incrível que ela é para descobrir.

Afastando-se, ela me deu um sorriso feliz prazeroso, me avisando que ela estava
muito feliz com ela mesma.
— Então, isso significa que eu deveria colocar calças? — ela perguntou,
colocando a mão sobre a minha e passando por toda a extensão da sua coxa.

Inocente, minha bunda. Esta menina era uma aprendiz rápida.

— Não, estes shorts estão muito bem. Quer dizer, nós não queremos mandar mais
roupa para sua mãe lavar. — eu respondi, afundando meus dedos em sua carne.

Um sorriso tímido apareceu em seu rosto e ela tentou encobri-lo com a mão.

— Então, se você não está se mudando, o que são todas as coisas?

— Bem, primeiro, você tem que me prometer que não vai ficar com raiva de mim.
— eu disse, me preparando para possíveis impactos.

— Por quê? O que você fez? Será que isso envolve a minha mãe de alguma
forma? Ou algo embaraçoso? Oh Deus, é algo que envolve a minha mãe e é embaraçoso?

Deixei escapar uma risada. — Não, nada a ver com familiares e nada embaraçoso.

— Tudo bem, manda.

— Eu dei uma olhada em sua lista hoje. — eu disse rapidamente.

Seus olhos arregalaram. — Você disse que não era embaraçoso!

— Não é. — eu disse rapidamente, levantando minhas mãos em defesa. — Eu


juro, foi uma espiada e eu não olhei em qualquer lugar perto do topo. Eu queria
surpreendê-la com alguma coisa, e eu não poderia fazer isso sem olhar para a sua lista do
Algum dia.

Ela soltou um suspiro descontente. — Promete que não viu nada que me fizesse
estremecer?

— Havia uma coisa que envolvia chantilly... — eu comecei, tentando manter uma
cara séria.

Quando o rosto assustado voou até o meu, não pude conter o riso que veio
derramando-se.

— Eu estou brincando!

Ela deu uma tapa de brincadeira no meu braço e revirou os olhos.

— Eu segurei seu cabelo para trás, enquanto você estava doente e te alimentei para
ter a saúde de volta. Você vai ter que fazer um inferno de muito mais do que deixar-me
ver um caderno cheio de desejos secretos para me fazer correr.

— Incomoda que eu não tenha te contado todos eles ainda? — perguntou ela, de
repente séria.
— Não, não. Não considere a minha única olhada como algo além de eu querer te
dar numa noite especial. Sei que seu caderno é sagrado para você e o fato de você ter
compartilhado algumas coisas comigo é uma honra. Toda vez que você compartilha outro
desejo ou sonho, é como desvendar uma outra camada sua. Isso me ajuda a conhecer a
mulher que eu me - me preocupo tanto.

Covarde.

Eu podia admitir meus sentimentos para mim mesmo e até mesmo para o Dr.
Marcus. Inferno, eu provavelmente poderia contar a alguém passando no corredor, mas
quando confrontado em dizer à mulher que eu amava, eu tinha engasgado.

Parte de mim ainda estava vagando naquele corredor solitário no andar de baixo,
de luto pela perda de uma mulher que eu nunca teria uma vida novamente. Por mais que
eu soubesse que estava acabado e eu estava seguindo em frente, eu estava com medo de
fazer isso.

Dizer para Lailah que eu amava era o final. Não haveria mais volta a partir desse
momento, sabia que o segundo que eu fizesse isso, eu teria que dizer adeus ao fantasma
que agarrei por tanto tempo.

Dois caminhos e duas vidas muito diferentes estavam diante de mim.

Eu precisava encontrar uma maneira de deixar uma ir embora.


—V amos fazer o quê? — perguntei novamente, sem acreditar no que
ele tinha acabado de dizer.

— Nós vamos ao cinema. — ele disse e então rapidamente acrescentou: — Mais


ou menos.

— Como é que vamos mais ou menos ao cinema? — eu endireito-me na minha


cama e observo quando ele começa a se embaralhar através das muitas bolsas que havia
trazido.

— Bem, obviamente, Dr. Marcus iria desaprovar eu raptar você e levá-la para
assistir um filme de verdade. — disse ele, puxando o que parecia ser um mini leitor de
DVD e colocando na minha mesa de madeira.

Ele posicionou em direção à parede, ajeitando para a direita.

— Desde a noite que eu vi cinema na sua lista, eu fiz alguns contatos e consegui
emprestado este projetor digital pequeno do departamento de marketing, graças a um
favor do RH. Então, hoje à noite, vamos assistir a um filme de sua escolha na tela grande
- ou tão grande quanto nós podemos ter. — acrescentou.

Ele virou um interruptor e um quadrado branco brilhante apareceu na parede na


minha frente.
— Oh meu Deus, você está brincando comigo? — eu quase gritei.

Depois que ele terminou de instalar o projetor, ele se virou e sorriu. — Eu sei que
não é completamente o seu número setenta e um da lista, mas eu percebi que poderia
fazer dessa forma até que consigamos tirá-la deste hospital. Então, poderíamos levá-la a
um cinema real e você pode riscar de sua lista.

— Isso é perfeito.

— Bom, mas eu ainda não terminei. — disse ele, movendo-se através do quarto
para os sacos de papel de uma mercearia local. — O falso cinema seria completo sem
pipoca? Eu tenho o tipo sem sal e orgânico. Provavelmente vai ter gosto de merda, mas
pelo menos você vai poder comê-la. Além disso, eu trouxe para você M&M e pudim, é
claro.

Ele trouxe um saco enorme e derrubou na cama, fazendo-me rir. Pipoca estalada
em sacos plásticos, bem como grandes sacos de M&M, e pudim caindo para fora.

— Você é louco. — eu disse.

— Ouvi isso muitas vezes hoje. Então, o que você quer assistir, meu anjo?

Ele correu de volta para o saco preto que detinha o projetor e tirou um laptop preto
lustroso. Um logotipo do hospital estava fixado na parte superior. Aparentemente, o favor
do RH também incluiu um laptop.

— Eu não sei. Quais são as minhas opções?

— Bem, eu tomei a liberdade de perguntar para a Grace quais eram seus favoritos,
e ela se ofereceu para trazer vários durante a sua pausa para o almoço. — ele pegou um
case cheio de DVDs. — Ela também jogou alguns extras. Escolha o que você quiser.

Abri o case de couro recheado de DVDs, e eu não fiquei surpresa ao ver que Grace
tinha Frozen na primeira ranhura de plástico. Eu bufei e segui em frente, oprimida pela
generosidade de Grace. Ela conseguiu reunir todos os meus favoritos como Curtindo a
Vida Adoidado, Dirty Dancing, bem como outros que eu estava morrendo de vontade de
ver, mas não tinha conseguido ainda.

— Este. — eu disse, apontando para minha seleção.

— Eu não acho que já vi. E você? — ele perguntou, deslizando o disco brilhante
da sua capa de plástico transparente.

Eu balancei a cabeça e ele arrumou tudo antes de se juntar a mim de volta na


cama. Comecei tentando dar mais espaço no meu lado na pequena cama de hospital, mas
ele simplesmente me puxou por cima antes de puxar as cobertas sobre minhas pernas
nuas. Então, ele pegou um saco de pipoca para compartilharmos.
— Então, minha leitora ávida pega um filme sobre o mais famoso dramaturgo do
mundo. — disse ele.

O título de abertura de Shakespeare apaixonado rolou em toda a tela - ou parede.

— É tudo ficção, eu tenho certeza, mas gosto da ideia dele baseando algumas das
suas obras mais famosas na sua própria vida.

Jude estava certo. A pipoca não era fantástica, mas eu estava acostumada a comer
alimentos leves. Um par de M&Ms e alguns grãos de pipoca faziam uma boa combinação
e em breve, eu estava envolvida na vida dramática de William Shakespeare.

A personagem de Gwyneth Paltrow, Viola havia se obrigado a se vestir como um


homem para cobrir sua forma feminina da alta sociedade, para que ela pudesse atuar em
Romeu e Julieta. Quando sua mentira é descoberta, uma cena de amor ardente segue
rapidamente.

Meus olhos vagaram até a curva do maxilar forte de Jude. Ele havia se barbeado
desde esta manhã. Quando ele me beijou, eu tinha tocado seu maxilar, onde meus olhos
agora demoravam, amando a sensação crua masculina da sua pele contra a minha com
sua barba por fazer. Era tão estranho e diferente de tudo que eu já tinha experimentado, e
eu ansiava por mais.

— Você não está vendo o filme. — Jude sussurrou.

— Sim, eu estou. — respondi, rapidamente olhando para o filme.

William estava desembrulhando o corpete do corpo de Viola quando ela se virou e


riu. Ele estava completamente extasiada com ela, observando-a, enquanto ela girava
brincando, até que finalmente caiu o último pano e ele a pegou em seus braços.

— Não, você estava olhando para mim. — seu tom era abafado como a cena de
amor.

Minha respiração engatou no momento em que senti seu dedo passar pelo tecido
que cobria a minha clavícula e tremi quando ele afastou os fios soltos do meu cabelo.

— O que você estava pensando? — ele perguntou em voz baixa. Virei-me para
encontrar seu olhar intenso em mim.

— Quando você me beijou esta manhã. — eu respondi, esquecendo


completamente o filme. Meus olhos se voltaram para seus lindos lábios cheios, e eu senti
a minha língua passando fora para molhar os meus lábios.

— Você gostaria que eu te beijasse de novo, Lailah?

— Sim. — respondi, o suave som saiu mais como uma súplica.

— Aqui?
A ponta do seu polegar acariciou a carne rosada sensível do meu lábio inferior
enquanto ele pairava acima de mim. Ele não esperou por uma resposta e sua boca desceu
sobre a minha. Suave e gentil, ele me beijou com ternura dolorida que fez meu coração
saltar. Seus braços se moveram para embalar o meu corpo e ele me puxou para mais
perto. Então, senti o calor da sua mão se mover para o meu pescoço.

— E aqui? — ele murmurou contra a minha garganta.

Em vez de responder eu virei minha cabeça, expondo mais a pele. Sua cabeça se
moveu para baixo e sua língua lambeu um caminho ardente na minha carne marfim.
Quando sua mão se aproximou da barra da minha camisa, minha respiração ficou presa e
seus dedos pararam.

Seus olhos encontraram os meus. — Você ficou tensa. Eu fiz você se sentir
desconfortável?

Eu balancei minha cabeça, mas a minha tensão com a situação não passou
despercebida.

Ele rapidamente se sentou. — Lailah. — suplicou. — Fala comigo.

Esfreguei minhas mãos, evitando seu olhar. — Eu tenho grandes cicatrizes. —


finalmente admiti.

Ele vai olhar para mim de forma diferente agora que sabe?

No entanto, eu era diferente. Ele sempre soube disso.

Mas agora que ele sabia que eu tenho a prova física, vai mudar a forma como ele
olha para mim? Haverá piedade em seus olhos ou tristeza na maneira como ele vê a
minha situação?

Eu tinha visto os tristes olhares empáticos de todo mundo desde o dia em que
nasci. Eu tinha conseguido tapinhas no ombro e lágrimas perdidas daqueles que achavam
que eu teria uma vida curta.

Ele vai se juntar a eles, uma vez que ele vir a cicatriz irregular escorrendo pelo
meu peito?

Quando ele não respondeu, tomei coragem para um breve olhar para ele e fui
recebida com um olhar penetrante e quente.

— Todos nós temos cicatrizes, Lailah. Algumas são apenas mais visíveis do que
outras.

— Quais são as suas cicatrizes, Jude? — eu perguntei surpresa e assustada com as


minhas próprias palavras.
Seus olhos desfocaram por um breve momento, como se tivesse perdido o foco
com a realidade. Quando ele finalmente respondeu, deu um leve sorriso: — Eu estou me
escondendo em plena vista, lembra? Eu sou o herdeiro distante de uma fortuna de bilhões
de dólares. Não é possível ser muito mais marcado do que isso.

Meus olhos vagaram sobre os antebraços tatuados. Os padrões negros pareciam


não ter nenhum sentido, nenhum propósito. Eles só serpenteavam para baixo nos braços
sem fim.

Ele realmente fez as tatuagens para mudar sua aparência e desaparecer da


sociedade? Ou ele estava tentando desaparecer de si mesmo?

— Você vai me mostrar? — ele perguntou hesitante, sua voz cortando meus
pensamentos como uma faca.

Minhas mãos foram para a barra inferior da minha camiseta, e eu tomei uma
respiração profunda, fechando os olhos com força. Eu nunca usava uma camisa
desabotoada ou um decote em V, para não mostrar para os outros, mas para ele eu tinha
que mostrar tudo de mim.

Mãos quentes cobriram a minha e eu abri meus olhos para encontrar sua íris verde.

— Deixe-me ajudá-la. — seus dedos roçaram meus lados quando ele tomou o
tecido em suas mãos antes de levantar minha camisa sobre a minha cabeça.

O meu coração bateu mais rápido e eu tentei equilibrar em várias respirações


lentas. Assim que o tecido clareou minha cabeça, eu instintivamente movi-me para cobrir
a linha cor de rosa entre meus seios que eu tinha desde o nascimento. A mesma cicatriz
tinha sido ampliada e modificada com cada cirurgia, crescendo junto comigo, enquanto
eu envelhecia.

— Não se cubra. — disse Jude baixinho, puxando minhas mãos para longe do meu
corpo. — Você é linda.

Seus olhos estavam em todos os lugares e isso me surpreendeu. Quando eu ficava


sem camisa minha cicatriz sempre era o centro das atenções. Até mesmo os médicos com
formação, que tinham experiência, eram atraídos pela cicatriz.

No momento em que os olhos de Jude caíram sobre o meu corpo seminu, ele me
viu, só a mim. Ele não viu a minha cicatriz ou uma menina quebrada sem esperança para
o futuro. Ele me viu e em seus olhos, eu vi paixão e calor, sem dor nem piedade.

— Você é linda. — ele repetiu, traçando os dedos sobre a pele cor de rosa.

Meus olhos se fecharam e eu gemi quando sua língua traçou a borda do meu sutiã,
deixando um rastro molhado em meu peito até minha boca. Nossas pernas e corpos
entrelaçaram rapidamente quando o nosso beijo se intensificou. Sua língua se enroscou
com a minha, mais e mais, enquanto eu me movia contra ele. Eu o senti endurecer contra
mim, e em vez de corar, eu o beijei de novo, finalmente entendi o que era usar este corpo
feminino que tinha sido me dado. Seu toque errante desacelerou, e seu beijo frenético
começou a desvanecer até que ele se afastou completamente.

— Nós precisamos desacelerar. — ele disse, suavizando algumas mechas


selvagens de cabelo enquanto sorria para mim.

Eu balancei a cabeça, desviando do olhar verde, enquanto eu procurava a minha


camisa.

— Lailah, olhe para mim.

Eu não olhei. Eu apenas continuei minha caçada até que dedos suaves viraram
minha cabeça.

— O que eu disse? Diga-me o que eu fiz de errado.

— Você teria parado se eu fosse qualquer outra pessoa, Jude? — eu perguntei,


cruzando as mãos sobre o meu sutiã de algodão branco liso. Era o mesmo sutiã chato que
minha mãe comprava para mim desde que eu tinha treze anos.

— Por que você me pergunta isso?

— Eu não quero ser tratada de forma diferente. — eu cuspi, finalmente


encontrando a minha camiseta enrolada perto dos meus pés.

Inclinei-me para pegá-la, mas Jude me parou no meio do caminho.

— Bem, lide com isso. — ele retrucou. — Eu vou tratá-la de forma diferente, não
por causa do seu problema cardíaco ou o fato de que você acha que é fisicamente frágil
ou fraca. Vou tratá-la de forma diferente, porque você é diferente para mim. Você é
importante para mim. Eu não vou tirar a sua virgindade em um hospital qualquer quando
você ainda está se recuperando de um vírus que quase a matou. Você merece algo muito
melhor do que isso. Então, sim, eu vou continuar a tratá-la de forma diferente, porque eu
acho que você é digna de mais do que isso.

— Eu... Me desculpe... — eu disse, tropeçando nas minhas palavras. — Eu


pensei...

— Você achou que eu parei porque pensei que você era tão inocente e frágil? A
menina se contorcendo e gemendo debaixo de mim não era nenhuma dessas coisas. Eu
quero você, Lailah. Eu quero tudo de você em todos os sentidos, mas não vai ser aqui,
não assim. Eu quero você, lento e suave, rápido e forte, e tudo mais. Quando nos
encontrarmos, será há quilômetros deste lugar e eu vou passar horas ajudando você a
riscar esse número em sua lista. — ele disse com uma piscadela.

Eu abri minha boca para castigá-lo, mas ele falou antes que eu tivesse a chance: —
Eu sei que tem que estar em algum lugar.

— Está. — respondi. — Número 48.


Ele sorriu e se inclinou para roçar um beijo em meus lábios.

— Então, não é o número um? — ele estendeu a mão para pegar minha camiseta e
me entregou.

— Não.

— O que poderia ser melhor do que sexo? — brincou ele, a pequena covinha na
bochecha reaparecendo enquanto observava o tecido de algodão macio flutuar de volta
sobre a minha pele.

— Hmm... Eu não sei. Acho que você vai ter que descobrir.

Eu quero tudo de você em todos os sentidos.

As palavras acaloradas de Jude continuavam a passar pela minha mente bem


depois que ele deixou o quarto e ficaram na minha cabeça quando me levantei na manhã
seguinte.

Lento e suave... Rápido e forte.

Eu tinha sido uma estúpida, desde então. Eu não conseguia nem me lembrar do
que eu tinha comido no café da manhã. Eu estava olhando para a mesma página em
branco do meu caderno por mais de uma hora, quando a minha mãe entrou pela porta.

— Você chegou cedo. — eu disse, observando o que ela estava vestindo, ela
estava de calça jeans e uma blusa florida. Era diferente do look casual que usava para dar
aula.

— Cancelei minhas aulas hoje. — disse ela com um movimento de sua mão
enquanto se acomodava na cadeira azul desgastada.

— Você cancelou suas aulas? — eu repeti, inclinando a cabeça surpresa.

A menos que eu estivesse indo para a cirurgia ou uma emergência, minha mãe
nunca cancelava suas aulas. Seus alunos devem estar comemorando hoje.

— Sim, eu queria falar com você - sozinha. — respondeu ela, dando à última
palavra uma ênfase específica.

— Entendo.

Lá vem.

— Eu fiz uma pesquisa sobre o seu amigo Jude. — ela começou.


— Você fez uma pesquisa, mamãe? — eu perguntei, levantando a minha mão para
silenciá-la.

— Eu o pesquisei.

Um pequeno ronco se transformou em riso completo e eu passei meus braços em


volta dos meus lados, na tentativa de controlar o rugido infernal. — Você... Usou o
Google?

Minha mãe era uma professora, mas ela ainda não tinha se formado para o século
XXI. Ela carregava um telefone celular para emergências. Ele abria e tinha exatamente
três números programados nele, hospital, nossa casa e Dr. Marcus. O laptop que eu
possuía tinha sido dado para ela por um colega quando ela decidiu comprar um mais
atual. Minha mãe tinha dado uma olhada na coisa e se encolheu. Ela usava um
computador de mesa no trabalho e considerava isso uma punição.

De acordo com a minha mãe, toda pesquisa deve ser feita em uma biblioteca.
Google era para idiotas e pervertidos. O fato de que ela tinha usado para procurar Jude
significava que ela estava nervosa e seriamente frustrada.

— Sim, eu estava curiosa sobre o menino que você está passando tanto tempo.

— Mãe, ele tem vinte e cinco. Ele não é mais um menino.

Ela ignorou meu comentário e continuou a me observar do seu trono azul


esfarrapado. — Você acha que ele vai cuidar de você? É disso que se trata? Ele é rico e
poderoso, então você acha que ele vai protegê-la?

Olhei para ela, minha boca aberta, antes de eu deixar o choque tomar conta de
mim. — É isso que você pensa de mim? O que você pensa dele?

— Eu não o conheço. — respondeu ela.

— Não, mas você me conhece. Você acha que eu faria isso? Entregar-me numa
bandeja de prata? — eu cuspo.

— Eu acho. — disse ela suavemente.

— O quê?

— Os homens prometem todo tipo de coisas quando querem algo em troca,


especialmente quando se trata de uma mulher. Seu pai não foi diferente.

Minha respiração engatou quando a ouvi falar dele. Em meus 22 anos nesta Terra,
ela só falou sobre ele algumas vezes. Ela nunca o mencionava e sempre rapidamente
descartava o assunto. A maioria das coisas que eu sabia sobre o homem, eram pequenas
coisas que aprendi com os registros médicos.
— A partir do momento em que nos conhecemos, eu fiquei completamente
apaixonada por ele. Ele me fez sentir irresponsável com a sua busca constante. Ele me
prometeu a lua e as estrelas e eu acreditei em cada palavra. Ele disse que sempre ia me
proteger, mas quando fiquei grávida, ele desapareceu, assim como suas falsas promessas.

— Mãe... — eu comecei, minha voz rouca das lágrimas não derramadas que eu
estava segurando pela dor que minha mãe tinha sofrido. — Nem todos os homens são
como o meu pai. — percebi, então, que, mesmo depois da história sincera, ela ainda não
havia revelado o nome dele para mim. O único pai que eu conhecia era sem rosto e sem
nome.

— Como você pode ter tanta certeza? — perguntou ela, inclinando-se para pegar
minha mão na sua.

— Eu não acho que qualquer um pode ter. Mas não é isso que é a vida? Arriscar
em alguma coisa? Alguém? Jude é uma pessoa maravilhosa, mãe - muito pobre, uma
pessoa sem um tostão. — acrescentei.

Os olhos dela se arregalaram. — Mas eu pensei que... Ele se parece muito com...
— ela gaguejou.

— Ele é. É ele mesmo. Suas habilidades no Google estão boas. É uma longa
história e que você provavelmente deve perguntar a ele, mas só sei que eu não espero
nada dele e ele não espera nada em troca. Eu sei que isso é estressante para você. Eu
entendo que eu estou perturbando o seu senso de controle, mas, por favor, mamãe, deixe-
me correr esse risco, deixe-me amar alguém.

Ela assentiu com a cabeça, levantando-se da cadeira para se juntar a mim na cama.
E de bom grado ela me puxou para seus braços, amei o jeito que eu ainda cabia em seu
pequeno corpo. Ela era controladora e arrogante às vezes, mas ela era minha mãe. Ela era
a minha casa, e tudo o que ela tinha feito desde o momento em que vim gritando para este
mundo foi porque ela me amava.

— Só tome cuidado, meu anjinho.

Eu sorri contra seu peito, lembrando como Jude havia me chamado da mesma
coisa doce poucas horas antes. Mamãe me chamou de Lailah, que é o anjo da gravidez
em Hebraico. Quando ela descobriu o meu problema cardíaco durante um ultrassom de
rotina, ela queria me dar um nome que fosse forte e esperançoso. Ela pode não ser uma
pessoa religiosa, mas eu achava que era a sua maneira de pedir um pouco de ajuda a
quem pudesse estar ouvindo.

— Eu vou, mãe, eu prometo.

Ela me deu um pequeno aperto e eu fechei os olhos, sabendo que eu menti para
minha mãe.

Não havia qualquer cuidado sobre se apaixonar.


T inha passado pouco mais de uma semana desde aquele dia terrível que a febre
de Lailah quase a levou deste mundo. A febre era tão simples para a maioria, mas
extremamente mortal para ela. Não era de admirar que sua mãe houvesse se tornado tão
controladora sobre cada detalhe da vida de Lailah. Sua mãe tinha ido além do fundo do
poço para garantir a segurança de Lailah, mas estando do lado oposto da paternidade, eu
seria capaz de apostar que uma mãe faria tudo e qualquer coisa para evitar que sua filha
morresse, mesmo que isso significasse poupar a criança de viver uma vida normal.

Na maior parte, a vida no hospital havia retornado ao normal. Após meus dias
forçados de férias, eu tinha sido autorizado a retornar ao trabalho depois de ter provado
que não tinha nenhum sintoma do vírus da Lailah. E Lailah e eu tínhamos caído em
nossas visitas de pudim de fim de noite. A única diferença foi a adição das minhas visitas
diurnas fora de hora. A pausa para o almoço de uma hora não era mais suficiente e eu não
tinha uma conta bancária gorda para eu me apoiar. Eu precisava do meu trabalho. Agora,
mais do que nunca, o hospital tornou-se a minha casa. Ficava aqui de manhã, de tarde e
de noite, só correndo para casa para tomar banho, ter um sono rápido e voltar.

Eu estava sempre planejando.

A noite de filmes não tinha sido o único truque na manga. Desde aquela noite, eu
consegui de alguma forma tirar cartas da manga na esperança de fazer a pena da prisão de
Lailah um pouco mais palatável.
Nós tivemos uma sorveteria numa tarde que eu trouxe dez diferentes sabores de
sorvete. Nós tínhamos passado a tarde fazendo um sundae digno desse nome brega que
eu criei para a minha ficção de sorvete.

— Você vai chamá-lo de Jude’s Ice Cream Parlor? — ela perguntou com um
sorriso sarcástico.

— Ei, levei muito tempo para pensar isso. Eu perdi preciosas horas de sono.

— É bonito.

— Quer dizer, é sexy. — eu disse com um balançar de minhas sobrancelhas


quando eu peguei o de menta com gotas de chocolate em um cone.

— Mmm... Sim, isso também.

Eu tinha conseguido fazê-la rir durante toda a tarde, enquanto eu servia cones de
sorvete para toda a equipe que conseguia encontrar o caminho do sorvete sem orientações
ou convites. Lailah ficou em êxtase pela comoção e saudou a todos, conversando com
médicos e enfermeiros por horas enquanto eu brincava de anfitrião.

Quem diria que Jude, o solitário, poderia ser tão carismático?

Ela trouxe isso de volta - a versão antiga, mais leve de mim, a parte que eu tinha
pensado ter morrido quando assisti Megan dar seu último suspiro.

Eu ainda visito o corredor. Não era sempre, mas eu ia lá brevemente - pairando e


esperando... Por alguma coisa. Pelo o quê, eu não sabia.

Estou esperando por um sinal divino da minha noiva, me dizendo que tudo está
como deveria? Para ouvir sua voz dizendo que está tudo bem voltar a amar?

Foda-se, eu não sei.

Eu ainda sentia a atração entre a minha vida antiga e a nova, que parecia estar
vindo à tona, mas a culpa foi mudando. Quando entrei no corredor e sentei no meu banco,
olhando para a porta fechada que tinha pertencido a Megan por alguns dias, eu me sentia
culpado por estar lá e não compartilhar esta parte de mim com uma mulher que era para
eu amar.

Quando você ama alguém, diga-lhe tudo, incluindo o fato de que você a ama.

Mas eu não tinha tido a coragem de fazer isso.

Ainda estava lá, na ponta da minha língua.

Eu tive tantas oportunidades ao longo dos últimos dias, mas quando eu estava
deitado na cama, segurando-a em meus braços, eu sabia que ia deixar os momentos
escorregarem como poeira no vento. Cada vez que eu pensava, me imaginava de volta
naquele corredor solitário e eu odiava isso. Eu odiava que ainda estivesse preso quando
tudo o que estava à minha frente parecia tão claro, mas me sentia tão malditamente no
escuro.

A sorveteria tinha sido um sucesso tão grande que eu voltei para o hospital hoje,
pronto para outra. Foi o meu primeiro dia de folga depois de seis noites seguidas. Depois
de uma breve parada em um shopping nas proximidades, eu tinha chegado apenas
algumas horas antes do almoço, pronto para passar o dia inteiro com ela.

— Quer outro? — ela colocou o mais recente caderno sobre a cama enquanto
balançava os pés para o lado.

Os dedos dos pés balançando no ar, e eu peguei um flash de sua unha lavanda
brilhando no seu dedão do pé. Ela me viu jogar o saco de papel branco perto da sua cama,
mas ela não disse nada.

— Sim, me fale. — respondi com um sorriso.

Ela olhou para mim, com as mãos descansando perto de seus joelhos, enquanto
seus pés continuaram balançando para frente e para trás.

Ela é tão bonitinha.

— Tudo bem, número quarenta e três - dançar na chuva. — seus olhos brilharam
com o riso não derramado.

— Você quer um espaço reservado para isso? — eu perguntei genuinamente


chocado.

— Sim. Quer dizer, você trouxe toda uma sorveteria, com coberturas e cerejas,
aqui ontem. Quão difícil pode ser um pouco de chuva? — ela deu uma piscadela sedutora
no final apenas para me irritar.

Minha menina tagarela nervosa tinha rapidamente se transformado em uma mulher


sedutora de raciocínio rápido, e eu gostei.

— Você não poderia ter escolhido algo mais fácil? Não, você tinha que colocar na
lista uma chuva - e em um hospital? — acrescentei.

— Bem... — ela começou, puxando para fora a palavra com sua voz melódica. —
Se for muito difícil...
Eu nem sequer a deixei terminar. Eu só dei um passo à frente, fechando o pequeno
espaço entre nós e agarrei a mão dela. Seus olhos se arregalaram e o riso saiu
rapidamente dela.

— O que você está fazendo? — ela gritou.

Eu rapidamente a puxei até o banheiro. — Fazendo chover. — respondi.

Tirei meus sapatos e peguei meu celular e as chaves, lembrando que eu ainda tinha
que revelar o conteúdo que estava escondido no saco misterioso que eu trouxe.

Dei de ombros mentalmente. Isso pode esperar. É hora de um pouco de chuva.

Eu me virei para ela, e ela tinha um olhar o-que-você-vai-fazer.

Eu sorri e a transportei para o chuveiro. Estendi a mão para a maçaneta e virei. A


água fria caiu imediatamente em nossas cabeças.

— Oh meu Deus, você é louco! Estamos completamente vestidos e encharcados!

— Bem, se nós estivéssemos nus, seria apenas um banho. — meus olhos correram
sobre seu corpo encharcado, amando o jeito que as roupas dela agarravam a cada
centímetro. — Mas agora que você mencionou, um banho parece muito bom agora.

Sua respiração engatou, e seus olhos azuis cristalinos encontraram os meus.

Havia tantas possibilidades neste momento único.

— Mas você queria dançar na chuva, por isso as roupas ficam hoje. — acrescentei
com um sorriso de lobo.

Eu não ia empurrá-la contra esse azulejo branco feio e mostrar que tudo o que eu
queria fazer com ela naquele momento era fisicamente doloroso. Mas eu tinha feito uma
promessa para ela e para mim. Não era assim que eu a teria. Anjos não descem do céu
para ser tratados como algo normal. Eu nunca tinha recebido um presente como esse e
Lailah estava escolhendo me dar. Até agora, eu realmente não tinha considerado a
virgindade muito mais do que um interlúdio bêbado, uma deixa para trás na escola. Foi
assim que a minha tinha ido e vindo. Megan tinha namorado sério alguém do colégio, e
embora eu nunca quisesse detalhes, eu sabia que tinha sido íntimo.

A vida de Lailah poderia muito bem ser resumida dentro das paredes do hospital.
Sua doença - esse defeito que tinha nascido com ela tinha absorvido e roubado quase
cada minuto de sua existência. Eu estaria ferrado se eu a levasse de qualquer outra forma.

Deslizando minhas mãos por seus braços, peguei suas mãos e puxei-as ao redor do
meu pescoço. Seus dedos quentes e molhados agarraram meus ombros quando eu
encontrei sua cintura e a puxei para mais perto.
— Eu espero que você não se importe se eu dançar com você. — eu sussurrei,
amando a sensação do seu corpo contra o meu, quando comecei a balançar-nos
suavemente de um lado para o outro sob a cascata de água.

— Nunca. — respondeu ela, colocando a cabeça no meu ombro.

Eu não soube quanto tempo nós ficamos assim, dançando lentamente sob a falsa
chuva do chuveiro, enquanto fingíamos estar em outro lugar.

— Aham. — uma voz masculina áspera nos assustou de nossa valsa sonhadora na
névoa.

A cabeça de Lailah empurrou para cima do meu ombro enquanto eu virei-me para
encontrar o Dr. Marcus em pé na porta. Seus olhos estavam fixos nos meus com um olhar
que não era nada amigável.

— Vocês dois, é melhor se enxugarem. Lailah, sua mãe vai estar aqui em poucos
minutos. Ela disse que falou com alguém da companhia de seguros, e ela queria falar com
você.

E com essa afirmação vaga, ele saiu do banheiro.

Eu virei para encontrar minha garota despreocupada que estava dançando na


chuva, agora com medo. O que permaneceu foi o medo, apenas medo puro.

— Lailah. — eu a chamei, tocando suavemente seu rosto enquanto eu tentava


alcançá-la.

Eu podia vê-la recuando, fugindo para dentro de si, onde se sentia segura, como
uma tartaruga em seu casco.

— Ei, vai ficar tudo bem. Aconteça o que acontecer, estamos todos aqui, não
importa o quê.

Ela olhou para cima, finalmente, seus olhos se conectaram com os meus, e com as
minhas palavras.

— Não importa o quê. — eu repeti.

Ela assentiu com a cabeça, e eu a puxei para os meus braços, odiando Dr. Marcus
e seu comportamento insensível. Ele, acima de qualquer um, deveria saber que sua
observação a afetaria.

— Vamos aquecer você. — sugeri, desligando a água e pegando uma toalha. Eu a


enrolei como um burrito. Saí do chuveiro, não me importando com as minhas roupas
encharcadas, e comecei a secar suavemente seu rosto e os braços.

De repente, ela olhou para mim, e seus olhos se arregalaram. — O que você vai
vestir?
Eu dei um pequeno meio sorriso enquanto eu apertava água do seu longo cabelo
loiro. — Eu tenho um par extra de uniforme e algumas mudas de roupa no meu armário.
Eu tenho mantido roupas aqui desde que você ficou doente, e eu comecei a ficar e tomar
banho aqui.

— Você... Toma banho aqui? — ela perguntou, olhando rapidamente para o


chuveiro, como se estivesse de repente me imaginando lá.

— Sim, ali mesmo. Aposto que você gostaria que não estivesse dormindo, né? E
que eu tomasse banho com a porta aberta, também. — eu disse com um sorriso.

Sua boca estava aberta de espanto, e eu ri em felicidade por ver que eu tinha
conseguido desviar a sua atenção da notícia iminente do seu transplante.

— Eu vou para o meu armário e me trocar. Eu já volto. Cinco minutos no máximo.


— acrescentei. Peguei uma toalha e tentei me livrar do excesso de água pingando de
minhas roupas molhadas e depois eu tirei meus sapatos.

Vai ter que servir.

Eu dei um beijo rápido na testa, e então eu saí.

Agora, eu tinha que encontrar o Dr. Marcus.

Não demorou muito tempo para encontrá-lo.

Com meus sapatos fazendo barulho pelo corredor, encontrei-o no balcão das
enfermeiras. Ele estava me olhando com o mesmo olhar de desprezo que eu tinha por ele.

— Eu acho que nós precisamos conversar, Marcus. — eu disse com os dentes


cerrados.

— Eu acho que sim. — ele respondeu de volta.

— Bom, vamos dar um passeio.

Eu nem sequer dei uma pausa para esperar por uma resposta. Quando cheguei ao
elevador e apertei o botão com a água escorrendo dos lados do meu rosto, ouvi passos ao
meu lado. Minhas mãos caíram ao meu lado, mas eu permaneci em silêncio. Não havia
necessidade de fazer uma cena na frente dos colegas de trabalho. O elevador apitou e
entramos um de cada vez, esperando a porta fechar.

— Você não podia ter introduzido o assunto daquela forma. — eu disse.

— Você foi longe demais, Jude. — disse ele ao mesmo tempo.

— Eu fui longe demais? — eu gaguejava. — Você quase a destruiu lá, Marcus.


Como é que você entra e conversa com ela como se ela fosse apenas mais um paciente?
Você sabe o que fez com ela? Basta a simples menção do seguro para que ela se assuste.
Ela se apavorou porque acha que eles não vão aprovar o seu transplante.

Seu olhar estava nublado e distante. — Sinto muito. Eu não acho. Eu entrei lá e
vi... E eu pensei... E eu só...

— Você estava pensando como um pai, não como um médico. — eu disse.

Seus olhos se ergueram para os meus.

— Olha, Marcus, eu não sei a história que existe entre você e a mãe de Lailah, mas
eu não sou burro para pensar que é só uma relação médica. Há mais coisas acontecendo
aqui e é mais profundo do que este hospital. Você sente alguma coisa por aquelas duas e
eu não vou criticá-lo por isso.

O elevador apitou e nós fizemos a nossa saída em direção a entrada da sala de


funcionários. Eu encontrei o meu armário, abri a fechadura e tirei um conjunto extra de
roupas. Eu não podia fazer nada sobre os sapatos, mas pelo menos eu não teria a cueca
molhada mais. Eu girei para encontrar Marcus me dando as costas em um banco. Sua
postura era curvada, como se sentisse derrotado.

— Eu amei Molly Buchanan desde que eu estava na escola de medicina. Ela é a


única mulher que eu sempre quis.

— Ela sabe disso? — eu perguntei, puxando a minha camisa e substituindo por


outra azul e seca.

— Sim, ela sabe. Não era justo - como a fizemos escolher. Eu nunca ia ganhar.
Quem iria pegar o prêmio, o irmão chato?

Meus olhos se arregalaram enquanto eu terminava de me vestir e, em seguida,


fechar o meu armário. — Você é o tio de Lailah? — eu perguntei, juntando todas as
peças.

Sua cabeça balançou em um aceno. — Dois irmãos querendo a mesma menina, é


tão clichê. Nós estávamos do lado errado das trilhas, criados por pais adotivos. Brett e eu
não tínhamos ninguém além de nós mesmos. Eu usei nossas tragédias pessoais como uma
forma de crescer, ficar mais forte. Superei-me na escola e me apliquei para cada bolsa de
estudos que poderia chegar em minhas mãos. Meu irmão fez o oposto. Ele tinha uma
reputação que foi menos honrosa.

— Nós conhecemos Molly na mesma noite em um bar. Eu estava lá com alguns


dos meus amigos da faculdade, celebrando o fim de um semestre. Brett provavelmente
lidando pela porta dos fundos. Conheci Molly primeiro, e tivemos um momento e uma
dança, mas ele tinha um jeito com as mulheres, e ele acabou ganhando o coração dela.
Cinco semanas mais tarde, ela estava grávida, e ele se foi. Molly e eu não o vimos desde
então, e durante todo o tempo, eu venho tentando convencê-la de que eu não sou o meu
irmão.
— E Lailah não sabe nada disso? — eu perguntei enquanto fazíamos o nosso
caminho de volta para a ala de cardiologia.

— Não, eu estive ao seu lado desde o dia em que ela nasceu, e ela não tem ideia de
quem eu sou.

— Por quê?

— Molly estava com tanta raiva de ter tão facilmente caído nas mentiras do meu
irmão. Ela sempre se orgulhava de ser metódica e fazer escolhas sábias e, em cinco
semanas, ela bebeu, jantou e engravidou. Eu tentei avisá-la, mas no momento em que ela
começou a ouvir, já era tarde demais. Depois que ele foi embora, ela nunca quis falar
sobre ele de novo. Por causa disso, meu papel foi reduzido para Dr. Marcus. Eu tinha
permissão para ficar por perto, mas só em atendimentos médicos. Se não fosse pela
minha profissão, eu não teria tido qualquer envolvimento na vida delas.

— Uma bênção e uma maldição. — eu disse quando nós saímos do elevador.

— Sim, exatamente. Tentei convencer Molly que eu não sou ele, que eu nunca iria
machucá-la, mas ele a quebrou e eu não sei se ela vai confiar em outro homem
novamente.

Chegamos à porta da Lailah, e eu me virei para Marcus antes de entrar. —


Continue tentando. Não desista, Marcus.

— Parece bom. — disse a Sra. Buchanan com um olhar de esperança em seus


olhos azuis.

— O que significa isso? — perguntou Lailah, segurando a minha mão com dois
pares de olhos observando.

— Isso significa... — disse ela, olhando para a filha. — Que eu acho que as coisas
estão finalmente dando certo no nosso caminho. Falei com alguém da companhia de
seguros hoje para me certificar de que eles tinham tudo o que precisavam. Tudo está em
ordem com a UCLA - eles vão fazer a cirurgia quando for a hora e eu verifiquei
novamente se eles têm tudo o que precisam. Eu não quero que nada dê errado com o
seguro.

Lailah revirou os olhos e eu tentei esconder o meu sorriso. Lailah tinha dito o
quanto sua mãe era maníaca por controle e eu tinha que concordar. Ver a mulher em ação
era assustador. Ela era como um furacão em saltos.
— É sério que você falou com eles? — Lailah disse, com a cabeça balançando
para os lados.

— Sim, eu falei. Não é alguma asneira que ouvi de algum imbecil incompetente
em um cubículo. Eu liguei e confirmei. Foi-me dito que tudo estava correndo bem e
parecia bom. — disse ela.

— Você está levando em consideração a palavra do imbecil incompetente? —


perguntou Lailah, repetindo as palavras da sua mãe de volta para ela.

— Não, claro que não. Falei com alguém que realmente analisa os casos.

— Oh meu Deus, Mãe, você é demais.

— Eu faço as coisas acontecerem. — afirmou.

— Eu não quero nem saber como você conseguiu. — Marcus murmurou. — Mas é
bom ouvir isso. Felizmente, isso vai significar uma grande notícia para nós.

Sra. Buchanan teve que correr para uma aula e Marcus tinha outros pacientes para
ver. Depois de algumas despedidas curtas, éramos só nós dois de novo.

Lailah olhou pela janela, pensando profundamente. — Você pensa em como será
nossa vida depois que o transplante for aprovado? Se eu fizer um transplante e realmente
formos capazes de ficar juntos fora deste quarto?

— Sim, eu penso.

Ela olhou para mim, seus olhos azuis ainda perdidos em sua ponderação. — O que
você pensa?

— Eu penso em levá-la para o cais e finalmente, mergulhar aqueles dedos do pé


bonitos no Pacífico. — eu disse com um pequeno sorriso. — Eu acho que penso sobre a
Irlanda e a cama... E... Café da manhã e todas as coisas ruins que eu prometi fazer com
você.

Um rubor rápido subiu por suas bochechas. — Mas e se isso nunca acontecer? —
ela perguntou.

— Irá. — eu disse com convicção.

— Como você sabe? Como você pode ter tanta certeza?

— Porque eu me recuso a acreditar que isso não é possível. De alguma forma, de


alguma maneira, vamos fazer isso acontecer. Eu não vou desistir de você. — eu disse.

Ela não parecia totalmente convencida, mas ela se inclinou para frente.
Descansando a cabeça contra a minha, em sinal de rendição, ela me deixou pegá-la em
meus braços.
— O que há no saco? — ela perguntou depois de um longo momento de silêncio.

— Ah, quase esqueci minha surpresa.

Ela levantou a cabeça do meu ombro e eu rapidamente me levantei para recuperar


o saco de papel branco do chão. Juntei-me a ela de costas na cama e ri quando ela
ansiosamente olhou para dentro.

— Deixa de ser xereta! — exclamei.

Ela se afastou, sentando-se ereta e jogando as mãos atrás das costas como se ela
não tivesse feito nada de errado.

— Agora, eu creio que você me falou uma coisa na sua lista, que eu poderia ter um
pouco de dificuldade...

— O baile de formatura?

— Não, não é isso. — eu de repente tive uma ideia fantástica.

— Você já fez muito suspense. Então, por que você não me mostra? — ela sugeriu
com um sorriso provocante.

— Tudo bem. — enfiei a mão no saco e tirei uma pequena caixa branca.

— Você me comprou um telefone celular! — ela praticamente gritou.

Não era o modelo mais novo, mas era o máximo que eu podia pagar. Ela podia
navegar na web, instalar aplicativos, e claro, enviar mensagens de texto.

— Eu comprei.

— Então, agora, eu finalmente posso trocar mensagens de texto com o meu outro
namorado! — disse ela, sorrindo.

— Bonito Lailah. Realmente fofo. — brinquei.

Peguei a caixa, colocando sobre a mesa acessível ao lado dela, e dei-lhe um olhar
significativo quando eu me inclinei para frente. Eu vi o lampejo de consciência em seus
olhos antes de eu aliviar suas costas contra o colchão. Minhas mãos deslizaram para
baixo dos braços, fazendo com que sua respiração falhasse. Eu teci nossos dedos e levei
as suas mãos acima da cabeça.

— O único homem que você vai chamar por esse título sou eu. — sussurrei. Eu
toquei meus lábios no seu pescoço e, em seguida, mudei para a pele sensível da sua
orelha.

Liberei suas mãos, deixei meus dedos se moverem para baixo nas pequenas curvas
do seu corpo até que eu encontrei a pele nua, onde sua camisa tinha levantado. Meus
lábios se juntaram às minhas mãos ansiosas e eu mordisquei e beijei toda a pele nua,
enquanto as pontas dos meus dedos brincaram com o cós de sua calça.

— O único homem que vai te tocar assim serei eu. — disse com esforço
estrangulado.

Este jogo tinha começado como brincadeira e agora, ele estava se transformando
em algo completamente diferente. Cada parte do meu corpo estava em chamas,
precisando de mais dela. Eu tinha me empurrado longe demais, já era muito e agora, eu
estava morrendo.

Ela gemeu debaixo de mim, apertando as coxas, como se as chamas fossem


demais para ela suportar também. Segurando a borda das suas calças, eu enrolei meus
dedos por baixo, tocando seu quadril, e eu puxei suavemente antes de beijar a carne que
eu tinha acabado de revelar.

Eu sabia que estava brincando com fogo. Isso era exatamente o que eu disse que
não faria - não aqui, não assim.

Foda-se, mas eu quero.

Eu vou para o inferno.

— Por favor, Jude. — ela sussurrou. — Só isso. Mostre-me como é.

Qualquer um poderia entrar a qualquer momento. Nós não tínhamos nenhuma


privacidade, mas eu ainda estava pensando nisso. Eu queria dar-lhe tudo, inclusive isso.

Continuando meu caminho, eu beijei avançando lentamente o tecido para baixo de


seus quadris, expondo sua pele nua. Olhei para cima e a vi me olhando com olhos
semicerrados. Não havia inibição, apenas o leve rubor rosa da paixão e da antecipação.
Se eu já não estivesse duro no meu jeans, eu teria estourado instantaneamente com aquele
olhar.

Corri minhas mãos por suas pernas, sobre seus quadris e na união de suas coxas,
separando-as até que se abriu. Meus dedos deslizaram sobre sua pele brilhante pela
primeira vez e ela ofegou. Ela era impressionante, e eu estava completamente fascinado.
Eu alisei o meu dedo sobre seu clitóris, e ela gemeu instantaneamente.

— Shh, anjo. Você vai nos colocar em problemas. — eu sorri.

Ela franziu os lábios, um sorriso tímido se espalhando por todo o rosto.

— Diga-me para parar. — eu disse, passando meu polegar sobre sua pele macia
novamente.

— Não. — ela respirou

— Diga-me que você quer isso.


— Eu quero Jude. Por favor.

Eu me inclinei para frente e tive a minha primeira experiência com ela. Eu vi a


mão dela voar para sua boca enquanto ela tentava acalmar seus gemidos.

Eu tinha acabado de conhecer um anjo com sabor de céu. Separando as coxas, eu


trabalhei a minha língua - entrando e saindo de seu núcleo, movendo sobre seu clitóris,
lambendo e chupando até que me senti bêbado.

Por uma fração de segundo, antes que eu tivesse tomado a decisão de fazer isso, eu
tinha me preocupado que poderia ser muito, muito cedo para alguém tão novo no lado
físico do amor, mas vendo-a espalhar diante de mim, eu não pude resistir. Eu tinha que
mostrar a ela um vislumbre e ela floresceu sob o meu toque.

Ela se contorceu e se moveu contra mim, gemendo baixinho, enquanto sua mão
livre teceu no meu cabelo. Estávamos tão envolvidos um com o outro naquele momento
que eu pensei que o prédio poderia desabar em torno de nós, e nós não teríamos notado.
Felizmente, isso não aconteceu.

O choramingo de Lailah se tornou mais irregular e ela retirou a mão da sua boca.
— Jude, é... Eu não posso... Muito... — disse ela em frases entrecortadas.

Olhei para cima para ter certeza que não era o seu coração, e não, não era. Seus
olhos estavam aquecidos e seu rosto estava corado. Nunca quebrando o contato visual,
mudei apenas para o clitóris e joguei mais e mais implacavelmente. Então, eu assisti
Lailah quebrar em um orgasmo pela primeira vez em sua vida. Seu corpo se abalou e
tremeu, e seu despertar foi impressionante.

Agora, como que no inferno vou sobreviver ao resto da sua internação hospitalar,
sabendo que ela pode gozar assim?
Q uerido caderno/Diário/Guardião dos segredos,

Eu sei que nunca enderecei a você como diário ou até mesmo como uma entidade,
mas eu preciso que você seja a minha caixa de ressonância hoje. Eu preciso de alguém
para absorver todos os meus segredos e não deixá-los esquecidos. Você pode fazer isso
por mim?

Hoje, vamos falar como amigos. Você pode ser... Bem, você, e eu serei eu.
Amanhã, você pode voltar a ser um vazio sem fundo onde eu prendo todos os meus
pensamentos e sonhos errantes enquanto eles vibram e voam.

Hoje, sinto... Tudo - felicidade, amor, medo, desejo e sim, mesmo essa emoção um
pouco perigosa, esperança.

Um novo coração.

Um novo começo.

Uma nova vida.

Seria possível?
Poderia ser possível com Jude? Desde que ele entrou na minha vida, eu tenho
pisado em ovos, com medo do que meus sentimentos poderiam fazer com ele, comigo,
com aqueles que nos rodeiam.

Mas isso poderia ser a resposta que nós estávamos esperando? Poderia um novo
coração ser o nosso bilhete para uma vida normal? Para saborear o mundo que eu
desesperadamente queria ver com Jude ao meu lado?

Parece bom demais para ser verdade e eu aprendi a desconfiar nessas situações.
Elas nunca dão certo para mim.

Mas e se der certo?

Hoje, tive um vislumbre do que seria a vida com Jude além destas paredes do
hospital.

Querido Deus, eu quero mais.

Quando ele me tocou, me provou e moveu sua boca contra a minha pele inocente,
uma parte de mim despertou, uma parte da minha alma tornou-se viva. Meu coração
disparou e minha pele corou.

Isso me assustou.

Isso me emocionou.

Assim como Jude.

Assim como Jude. Eu me vi sorrindo enquanto esfregava meu polegar sobre meu
lábio inferior. Ele foi emocionante e assustador, mas ele também foi gentil, doce e
realmente sexy. Eu ri e fechei o caderno, tomando a decisão de voltar a ele mais tarde.

Estava começando a ficar tarde, era após onze horas e Jude tinha saído para casa
não muito tempo atrás, dizendo que eu precisava descansar.

— Eu estou bem. — insisti.

— Então, por que ainda está no hospital? — ele deu um beijo em meus lábios e
desapareceu antes que eu pudesse argumentar.

Dr. Marcus e minha mãe tinham conspirado para me manter aqui por um pouco
mais de tempo para me observar depois da minha doença recente. Eu podia entender o
controle e problemas de pânico da mamãe, mas eu não entendia por que o Dr. Marcus
tinha agido tão excessivamente cauteloso. Sim, eu tinha ficado doente, e bem, eu podia
admitir que foi ruim, mas eu estava bem agora - bem, tão bem quanto alguém com
insuficiência cardíaca congestiva poderia estar.

Que seja.
Até que suas artimanhas de superproteção terminassem, eu estava presa aqui.

Lembrei-me da minha tarde com Jude e um sorriso sorrateiro passou por minhas
bochechas.

O hospital não era tão ruim. Meu rosto de repente inflamou em vermelho com o
calor, e eu ri.

Jude tinha me despido e eu o deixei fazer coisas más comigo, e não mostrei um
segundo de constrangimento. Fiquei espantada com a minha ousadia e libertinagem
franca.

Mas agora, quando estou sozinha, eu coro.

Um ruído chiou e me tirou bruscamente dos meus pensamentos retrógrados e


peguei meu novo telefone da mesa de bandeja ao meu lado.

Jude: Você está corando?

Olhei em volta, como se o telefone de alguma forma o deixasse a par dos


acontecimentos no meu quarto. Mas não, era apenas um texto. Não havia mágica. Era
apenas uma simples tecnologia e um homem curioso.

Lailah: E por que você acha isso?

Mandei de volta o meu primeiro texto, sentindo-me orgulhosa de mim mesma.

Eu estava mandando mensagem de texto para o meu namorado. Incrível.

Eu percebi que essa deveria ter sido eu há cinco anos para que a declaração fosse
legal, mas a adolescente em mim, que nunca mandou mensagem, estava em êxtase.

Jude: Porque eu sei que você está pensando em mim.

Lailah: Você é convencido.


Jude: Essa é uma escolha interessante de palavras15.

Lailah: OMG!

Jude: Ei, olhe para você. Três mensagens, você é uma profissional.

Lailah: Bem, eu sou um produto da minha geração, mesmo eu não


conseguindo participar :-)

Jude: Ok, agora, você está apenas se exibindo.

Lailah: Alguém claramente perdeu suas lições ;-)

Jude: Culpe a educação de hoje em dia. Digitar frases incompletas me deixa


inquieto.

Lailah: Obrigada pelo telefone.

Jude: De nada. Vamos derrubar todos os itens dessa lista, Lailah. Eu prometo.

Lailah: Você é louco.

Jude: Sim, mas você gosta de mim de qualquer maneira. Noite.

Lailah: Boa noite. <3

Eu não pude evitar o sorriso estampado no meu rosto quando eu larguei o telefone.
Virando-me, retirei o caderno que abrigava minha longa lista de sonhos. Virando as
páginas, encontrei o número cinquenta e um. Depois de pegar a caneta ao meu lado, eu
desenhei uma longa linha preta nas palavras, ter uma conversa inteira usando apenas
mensagens de texto.

Folheando as páginas, notei alguns outros para riscar, e então meus olhos caíram
para o número um.

Rapidamente, sem pensar duas vezes, peguei a mesma caneta preta e coloquei uma
linha permanente através de um sonho que eu nunca pensei que se tornaria realidade.

15
Ele faz esse comentário por causa da semelhança de pronúncia e soletração da palavra cocky (convencido) e
cock (pênis).
1. me apaixonar.

Desde quase o primeiro momento em que conheci Jude Cavanaugh, ele esteve em
um modo de planejamento constante. Ele mudou de pudim para jantares no refeitório,
para telefones celulares, mas ele estava sempre planejando algo para mim.

Ao longo da última semana, eu poderia dizer que ele estava planejando algo
grande.

Seu nariz estava enterrado em seu telefone, e ele parecia desaparecer naquelas
reuniões secretas com a Grace, Dr. Marcus e até a minha mãe, nos momentos mais
estranhos. Depois de tudo o que ele tinha feito para mim, eu estava um pouco com medo
de perguntar o que poderia ser o próximo.

— Você tem estado muito reservado ultimamente. — eu disse uma noite durante a
sua breve pausa para o jantar.

Ele estava comendo um sanduíche de salada e ovo do refeitório e saboreando café


enquanto eu lentamente devorava um potinho de pudim que ele me trouxe.

— Tudo ao seu tempo. — ele respondeu com uma piscadela. Ele puxou outro
pedaço de pão e jogou na boca. Ele estava encostado na cadeira esta noite com os pés
apoiados sobre os trilhos da minha cama. Seu cabelo loiro estava para trás, fora dos seus
olhos, fazendo-o parecer mais jovem e mais despreocupado.

Meu olhar vagou sobre seu corpo longo, magro, admirando a forma como ele se
encaixava na cadeira. Eu sabia que ele corria e passava muito tempo levantando pesos,
quando ele não estava aqui. Ele mostrava em cada movimento que fazia. Quando seu
corpo flexionava e tencionava, as tatuagens espalhadas por seus braços pareciam ganhar
vida com o menor movimento.

— Suas tatuagens significam alguma coisa para você? — eu perguntei, olhando


para os arabescos pretos sinuosos que atravessavam o antebraço até que desapareciam
sob a camisa.

— Não, realmente não. — ele respondeu. — Eu estava em um momento escuro


quando as fiz. Eu queria ser outra pessoa, qualquer outra pessoa, menos a pessoa que eu
era quando cheguei aqui.

— Funcionou?

— Não. — respondeu ele. — Tatuagens e um penteado diferente não mudam


quem você é. A vida sim.
Estendi a mão para frente, colocando os dedos sobre a pele com tinta e tracei o
caminho no seu braço.

— Elas podem ter me ajudado a desaparecer, mas eu ainda sou um Cavanaugh.

Seus olhos pareciam perdidos, como se tivessem se afastado para um lugar em seu
passado.

— Conte-me sobre a sua família. — eu disse, puxando sua mão.

Ele pegou a dica e pousou o seu café e o lixo do seu jantar ao lado da cama. Ele se
juntou a mim, e eu me enrolei em seu calor enquanto eu esperava que ele respondesse.

— Minha família é uma variedade de coisas. Nós quatro somos pessoas diferentes,
todos jogados em uma casa, mas eu acho que provavelmente poderia resumir todas as
famílias no planeta. A minha só veio com a pressão adicional de uma empresa
multibilionária.

— Você disse bilhões?

Ele acenou com a cabeça.

— Minha mãe é gentil e amorosa, e meu pai a adora. Ao longo dos anos, a
imprensa ocasionalmente tentou encontrar provas de que meu pai pulava a cerca, mas
nunca vão encontrar. Eles teriam melhor sorte procurando traição em outras áreas, além
do seu leito conjugal. — observou ele, balançando a cabeça.

— O que isso quer dizer?

— Vamos apenas dizer que as práticas que meu irmão e meu pai fazem nos
negócios nem sempre são...

— Legais? — adivinhei.

— Não, elas são em sua maioria legais - ou pelo menos eles poderiam pagar a
alguém para atestar isso. Eu apenas nunca fui de acordo com a forma de fazer negócios.
Para eles, sempre foi pura ganância. Quanto podemos fazer, e com que rapidez podemos
fazer isso? Não importa quantas empresas temos que fechar ou a quantidade de pessoas
que temos que tirar do negócio. É tudo sobre o dólar baixo. Se a tendência era expandir,
nós faríamos. Se tivéssemos que reduzir o tamanho, cortávamos até que todos estivessem
fora. Eu odiava.

— É por isso que você foi embora?

— É por isso que eu fiquei longe. Não é por isso que fui embora.

Ainda enrolada em seu peito, eu me afastei um pouco e encontrei-o olhando para


mim, com os olhos cheios de conflitos.
— Eu estava noivo. — confessou ele, com a voz rouca e suave.

Eu envolvi minhas mãos em volta dele e apertei. — Eu sei.

— Você sabe?

— Sim, eu sinto muito. Eu encontrei um artigo sobre você...

— Que mencionava o acidente de carro. — ele adivinhou.

— Não, na verdade foi Grace que me contou sobre essa parte. Ela não sabia que
era de você que eu estava perguntando.

Ele assentiu, sem fazer barulho.

— Eu achei que você diria quando estivesse pronto. — ofereci.

— O nome dela era Megan... — disse ele, finalmente, depois de uma longa pausa.
— Ela era um fogo de artifício e uma piadista, todos a amavam. Cada um dos meus
amigos achava que eu era louco por pedir a sua mão no dia em que me formei na
faculdade, mas eu sabia que a queria do meu lado quando eu tivesse que voltar para casa
para unir forças com o meu pai e irmão. Megan e eu tivemos duas semanas de férias para
desfrutar na Califórnia e Havaí antes dos meus dias de diversão acabarem e eu teria que
trocar tudo. Deus, eu me lembro de estar tão assustado sobre como tudo iria acabar, ter
uma esposa e meu pai exigente. Eu não sei como isso poderia funcionar, mas eu queria de
qualquer forma.

— O que aconteceu? — perguntei.

— Megan e eu fomos a uma festa. Nós tínhamos conhecido alguns estudantes


universitários em um bar e eles nos convidaram para uma festa de final de ano no
campus. Pedi para ela nos levar de volta para o hotel, em vez de passar a noite. Foi tudo
minha culpa. — ele respondeu, com a voz embargada.

— Ah, Jude. — eu disse, com meu coração partido por ele.

Ele passou os braços em volta de mim, como se eu fosse sua âncora, quando ele
me segurou em silêncio.

— Você ficou aqui para punir a si mesmo. — sussurrei contra seu peito.

Ele tomou seu tempo antes de responder: — Eu fiquei porque eu não tinha outro
lugar para ir.

Eu me afastei, olhando em seus olhos que estavam tão cheios de tristeza.

— Mas você tinha uma família, Jude. E os seus amigos? Eles não se importavam
que você estivesse sofrendo, de luto?
— Amigos só podem tentar por certo tempo. Depois eu mudei meu número e
desapareci – e eles também. E a minha família deixou perfeitamente claro que eles
precisavam de mim para uma finalidade, que era ganhar dinheiro. — respondeu ele, com
a expressão um pouco mais dura com a menção de sua família.

— Além disso, minha vida tinha acabado, Lailah. Eu não tinha casa para voltar.

— Eu não posso nem começar a entender o que você passou, mas ouvi-lo dizer
que você pensou que sua vida tinha acabado, dói em mim de uma forma que não posso
descrever. Você tinha vinte e dois anos, Jude. Você perdeu alguém que amava, mas sua
vida, definitivamente, não estava acabada. Eu realmente espero que você não ache isso
mais.

— Eu não sei no que acredito mais. — ele sentou-se e passou as mãos pelos
cabelos de uma forma frustrada. Segui-o e sentei com as pernas cruzadas ao lado dele.

— Você já parou para pensar que talvez a sua vida tivesse acabado de começar?
— perguntei.

Seus olhos voaram para os meus, surpreso. — Como? — perguntou ele.

— Eu não sei, mas você disse que estava morrendo de medo do que poderia
acontecer quando você voltasse para Nova Iorque. Alguma vez lhe ocorreu que por ficar
aqui na Califórnia, você pode ter se dado a chance de criar algo novo, algo diferente?

Ele fugiu para frente, fora do meu alcance, até que ele saiu da cama
completamente. Ele andou pelo quarto. — Você está dizendo que a morte de Megan
aconteceu por uma razão? — suas palavras foram bruscas enquanto andava de um canto
para o outro.

Meu rosto caiu com as suas palavras iradas. — Deus, não, Jude. Não é isso que eu
estou falando.

— Porque você não tem ideia, não tem ideia como ela era ou o que eu passei. Ela
era tudo para mim. — gritou, fazendo-me saltar.

Lágrimas caíram dos meus olhos enquanto eu lutava para encontrar as palavras
para corrigir isso. — Eu sei. Sinto muito. Esqueça o que eu disse. — as palavras saíram
quando tentei me agarrar a qualquer coisa para impedi-lo de sair deste quarto, de me
deixar.

— Meu intervalo já acabou. Eu tenho que ir. — ele virou-se, caminhou para fora e
não se incomodou em olhar para trás.

Minhas mãos foram para o meu rosto, e eu deixei sair a inundação de lágrimas que
eu estava segurando por uma mulher que eu não conheci, uma mulher que ainda segurava
o coração do homem que eu amava.

Ele nunca será capaz de superar isso?


H avia se passado dois dias desde que eu saí do quarto de Lailah. Fazia 48
horas desde que eu vi seu rosto ou ouvi a voz dela. Inferno, até mesmo nossas conversas
de texto sedutoras haviam cessado.

Eu passei dois dias inteiros trabalhando e a evitando. Eu passava longe do seu


quarto e fazia meu intervalo sozinho no canto do refeitório, e enquanto eu estava lá
sentado, me perguntava o que ela estava fazendo. Mesmo que eu tivesse feito isso -
fizesse todos os esforços para evitar o confronto e fugir de uma conversa, eu sabia que
teríamos que conversar - eu continuei com meu plano. Eu estava tendo as reuniões que eu
tinha programado com vários funcionários do hospital para garantir as devidas
aprovações. Eu tinha discutido ao longo dos dias a lista com Grace, Marcus, e até mesmo
a mãe de Lailah, que me olhava com a indiferença e desconfiança de costume.

Eu continuava com o meu maior plano de todos, porque, no fundo, eu sabia que
Lailah estava certa.

Na outra noite, eu tinha ficado lá, pensando no meu futuro, enquanto olhava nos
olhos da mulher que eu queria passar o resto da minha vida.

E ela não era Megan.


Lailah não tinha dito aquelas palavras para me machucar ou irritar. Ela as disse
para tentar ajudar a me curar. Em vez de reconhecer isso, eu a ataquei com raiva,
defendendo um fantasma e uma memória.

Megan teria vergonha das minhas ações.

Megan nunca iria querer que eu continuasse de luto por ela como eu tinha feito.

No entanto, lá estava eu, três anos depois, ainda preso no mesmo lugar que eu
tinha estado no dia em que chegamos na ambulância. Mas talvez eu precisava ter feito
aquilo, para que eu pudesse terminar aqui.

Eu não sabia. Eu não poderia nem começar a compreender como o mundo


funcionava.

Eu precisava superar. Eu precisava dizer adeus à Megan, à mulher que eu tinha


perdido e à vida que eu já tive. E eu precisava me perdoar pelos erros que eu tinha
cometido e que me trouxeram até aqui.

Ela pode ter passado seus anos confinada em um quarto de hospital, mas a
sabedoria que Lailah possuía era mais do que a maioria das pessoas tinham.

Eu estava punindo a mim mesmo, vivendo em um purgatório com os meus


pecados e era finalmente tempo para me libertar.

— Você quer o quê? — Margaret perguntou mais uma vez.

— Eu gostaria de comprar uma placa para o banco no segundo andar. Não se faça
de boba comigo. Eu sei que você sabe qual banco eu estou falando. — disse, inclinando-
me para trás no alto da poltrona que parecia ser a minha casa recentemente.

Eu tinha me deixado cair por seu escritório esta manhã depois de ter tido cerca de
três horas de sono desde que bati meu cartão. Mas eu não podia esperar mais. Cada tique-
taque marcando a hora, marcava quanto tempo eu não tinha visto Lailah, e o tempo
passando estava começando a pesar sobre mim.

Ela achava que eu a deixei para sempre? Ela está bem? Ela me odeia?

Deus, eu sou um idiota.

Mas eu precisava fazer isso antes que eu pudesse pisar no quarto novamente.

Eu precisava voltar inteiro - ou pelo menos, no caminho. Além de voar para


Chicago e visitar onde Megan foi sepultada, essa era a única maneira que eu poderia
trabalhar com isso na minha cabeça. Eu queria uma maneira de dizer adeus - me lembrar
de algo concreto e real.
Eu não fui ao seu enterro. Muito absorvido pela dor e arrependimento, eu não
podia enfrentar nossas famílias e amigos. Então, eu nunca tive a chance de dizer adeus,
nunca tive aquele momento sagrado para desejar que sua vida após a morte fosse melhor.

Eu precisava disso agora.

— Eu não sou realmente a pessoa para falar sobre esse tipo de coisa, Jude. — ela
começou.

— Ah, qual é Margaret. Corta essa, está bem?

Sua boca se abriu.

— Eu sei que você mexeu os pauzinhos e conseguiu que o banco fosse colocado
lá. Ninguém mais no hospital, além de você e Dr. Marcus, dá a mínima para mim. E você
é a única que sabe sobre mim e aquele corredor. É um pouco estranho para mim o banco
aparecer de repente naquele exato lugar. — eu pressionei, encarando-a.

— Eles me ligaram e pediram para eu ficar de olho em você. — ela deixou


escapar.

Atordoado em silêncio por um momento, eu juntei meus pensamentos, tentando


descobrir o que ela queria dizer. — Quem? Quem ligou e pediu para ficar de olho em
mim?

— Os pais dela.

— Os pais de Megan pediram isso?

Ela assentiu com a cabeça. — Eu não sei todos os detalhes, mas alguns meses
depois que ela se foi, eles ligaram aqui, perguntando de você. Eu não sei a relação entre
suas famílias, mas quando a ligação finalmente chegou mim, pareceu que os pais de
Megan não tinham conseguido muitas informações suas, então eles estavam começando
pela estaca zero.

Considerando que o meu pai ainda estava mantendo o esquema que eu era
antissocial e ocupado demais para fazer qualquer coisa, além do trabalho, eu podia ver a
minha família não correndo o risco de dar qualquer informação sobre meu paradeiro a
ninguém, até mesmo aos pais de Megan. Além de um escândalo familiar, a ideia do nosso
negócio de família quebrando poderia causar turbulência nos acionistas. Fazê-los
acreditar que eu era apenas um caso peculiar e com medo das pessoas após a minha
tragédia pessoal, era melhor do que instigar qualquer indício de pânico.

— Eu disse a eles que você trabalhava aqui, o que os surpreendeu.

— Eu aposto. — eu disse.

— Eles perguntaram como você estava e depois...


— Vá em frente. — insisti.

— Bem, eu os atualizo desde então. — disse ela em voz baixa, sabendo que ela
provavelmente tinha quebrado uma dúzia de leis em dar informações pessoais de um
funcionário. — Eles não ligam muitas vezes, apenas uma ou duas vezes por ano para
checá-lo. Eles te amam, Jude.

Mesmo depois de tudo o que eu os fiz passar?

Olhei para ela por um minuto ou dois, juntando tudo – o cuidado especial, a oferta
de emprego, apenas um segundo olhar quando eu tinha pedido para evitar o meu
sobrenome do meu crachá.

— Você sabia quem eu era todo esse tempo. — eu disse, sem me preocupar em
dizer a frase como uma pergunta.

— Sim. Eu reconheci no segundo que vi o seu último nome sobre esse pedido de
emprego.

— No entanto, você nunca disse nada?

— Todos nós devemos ser capazes de nos lamentar privadamente, Jude. Eu queria
isso para você. Eu só não sabia que ia demorar tanto. — ela confessou.

— Eu acho que isso acabou.

Ela deu um leve sorriso, seus olhos brilhavam com lágrimas não derramadas. —
Estou feliz. — foi tudo que ela disse.

— E o banco? — eu perguntei, querendo saber como ele organizou tudo isso.

— O pai de Megan pediu. Quando eu lhe disse para onde ia depois dos seus
turnos, ele queria que você tivesse um lugar para sentar. Ele sabia que não poderia mudar
o que você estava fazendo, mas ele queria, pelo menos, tornar melhor para você.

— Eu gostaria de uma placa se você pudesse autorizar isso. — finalmente disse,


minha voz carregada de emoções.

— Vou fazer alguns telefonemas.

— E, Margaret? — levantei-me da cadeira. — Quando eles ligarem da próxima


vez, você poderia dizer-lhes que eu estou finalmente feliz de novo? E que eu os amo
também?

Ela sorriu calorosamente. — Eu ficaria feliz.

Deixando Margaret para fazer seus telefonemas, eu me dirigi até a cardiologia,


passando os olhos em todos os membros da enfermagem e nas pessoas que tiveram um
grande interesse particular na minha vida social ao longo das últimas semanas. Envolver-
se com um paciente era fofoca de primeira página - pelo menos, foi o que Grace tinha me
dito.

Não dou a mínima.

O corredor parecia não ter fim e meus braços ficaram inquietos, enquanto
esperavam para finalmente escancarar a porta, para que eu pudesse ver Lailah novamente.

Deus, eu tenho sido um tolo.

Meu passado não tinha me ensinado nada?

A vida é preciosa. Está lá e em um minuto, passou. Ela não deve ser desperdiçada.

Eu tinha perdido dois dias preciosos, indignado com Lailah por algo que eu já
sabia, mas estava com muito medo de admitir.

Finalmente chegando em sua porta, peguei a maçaneta e bati. Ouvi o som suave e
doce de sua voz, e entrei antes do clique da porta soar atrás de mim.

Ela estava de pé e de costas. Ela estava olhando uma pilha de livros que sua mãe
provavelmente tinha trazido. Sua mão alisou uma das capas de um dos livros de bolso,
traçando as letras em relevo do título.

Quando ela olhou por cima do ombro e fez contato visual comigo, ela congelou.
— Jude. — disse, com os olhos redondos e arregalados de surpresa.

Dei um passo para frente, mas parei.

O que falo primeiro? Sinto muito? Eu sou um idiota? Você estava certa?

Eu queria dizer tudo ao mesmo tempo, mas eu não sabia por onde começar.

Finalmente, eu fui em frente, removendo o ar e o espaço que nos separava.


Tecendo meus dedos pelo cabelo dela, eu a beijei. Ela ofegou, com as mãos segurando
meus ombros antes de correr em volta do meu pescoço.

— Sinto muito, Lailah. Eu sinto muito. — eu disse entre nossos beijos frenéticos.

— Não, eu sinto muito. Eu não deveria ter forçado você.

— Você não disse nada que eu já não soubesse.

Agarrando-a em torno da sua cintura, eu a levantei, e ela respondeu de imediato,


envolvendo suas pernas em mim. Debrucei-me contra a parede. Deslizando minhas mãos
para baixo em torno de sua bunda, apoiei seu peso para segurar o peso dela.

Também não era uma posição ruim para mim. Eu poderia ter escolhido a postura
do bom garoto e esperar até que eu pudesse tê-la em uma cama adequada, sem rodas, mas
não significava que eu era um santo.
Com suas pernas e seu corpo pressionado firmemente contra mim, eu não queria
nada mais do que atirá-la na cama e esquecer todos os motivos que eu tinha para esperar.
Mesmo com o meu tesão furioso e o calor do seu núcleo fazendo coisas engraçadas para
o meu cérebro, a minha consciência ainda lembrava o quanto eu queria amá-la pela
primeira vez na minha própria cama.

Mas isso não quer dizer que não poderia ter um pouco de diversão até então.

— Levante sua camisa. — eu sussurrei em seu ouvido.

Um pequeno sorriso puxou o canto dos lábios enquanto ela puxava a parte inferior
de sua camisa no meio do caminho, expondo sua barriga lisa.

— Mais para cima.

Ela o fez, levantando acima de seu peito.

— Sem sutiã hoje. — eu disse e meus olhos deslizaram sobre seu belo corpo.

— Eu não estava esperando visitas.

— Você devia não esperar visitas todos os dias. — eu respondi com um sorriso
malicioso.

Com minhas mãos ainda a segurando firmemente, eu me inclinei para frente,


movendo a minha língua sobre o seu botão rosa, até que ele estivesse duro de tesão.

— Lindo. — comentei antes de fechar a minha boca sobre o mamilo tenso.

Sua cabeça foi para trás, e um longo gemido seguiu enquanto suas mãos passavam
pelo meu cabelo. Eu mordisquei, suguei e beijei até que ela estava se contorcendo e se
movendo contra mim com tanta força que eu estava prestes a explodir.

— Jesus, Lailah, eu não vou aguentar.

Um rubor subiu em seu rosto quando ela olhou para mim. — Você não vai?

Eu dei-lhe um olhar perplexo. — Você está praticamente transando a seco comigo


enquanto está de topless. Estou prestes a morrer.

Sua cabeça caiu para o meu ombro, e ouvi risos logo em seguida. — Você é o
único que nos colocou nesta posição. — ela me lembrou.

— Sim, eu sei. — eu disse, deixando suas pernas deslizarem para o chão. — Eu


faço todo tipo de coisas estúpidas quando você está por perto.

Seus olhos maliciosos encontraram os meus. — Eu gosto quando você faz coisas
estúpidas.
— Eu posso dizer que sim. — eu respondi com um sorriso enquanto eu me afastei
da parede. Ar. Eu preciso de ar.

— Por que você não vem sentar-se comigo, e nós podemos conversar?

Eu balancei a cabeça, e me ajeitei na cama, mas, desta vez, sentei aconchegando


ao lado dela. Eu ainda podia sentir o gosto dela em meus lábios e seu toque na minha
pele. Se tivéssemos muito contato agora, estaríamos bem onde tínhamos estado há três
minutos. Agora, eu não tinha certeza se seria capaz de parar novamente.

Eu tinha ido mais longe com Lailah neste quarto do que eu tinha planejado, e cada
passo que eu dava era um pé mais perto de quebrar a promessa que tinha feito a ela.

— Como tem passado? — ela perguntou, cruzando as pernas na frente dela, estilo
indiano.

— Miserável. Solitário. Passei muito tempo pensando sobre Megan e meu


passado... E a vida que eu deveria ter com ela. Você estava certa, Lailah. Eu estava me
punindo. Eu sempre disse a mim mesmo que eu fiquei porque era a única maneira de
estar perto dela, mas ela não está aqui. Ela não está aqui há três anos.

Lailah pegou minha mão.

Eu continuei: — Mas eu estou. Eu estive aqui por três anos, perdido e sozinho,
segurando-me em uma vida que eu nunca tive. Então, você apareceu e me mostrou o que
era viver. Lembro-me de olhar para este quarto na primeira noite e a vi comendo pudim
com seu dedo. Era tão simples, tão humano. Eu queria isso. Você me faz sentir humano
novamente.

— Eu não quero nunca mais que você pense que estou tentando substituí-la. —
disse ela. — Nos últimos dois dias, eu estive com tanto medo que você não voltasse e se
você voltasse, que estivesse ressentido comigo.

— Eu nunca deveria ter me afastado. — eu disse, puxando nossas mãos unidas.

Ela descruzou as pernas e se arrastou para o meu colo, e eu deixei meus braços
caírem ao seu redor.

— Eu sei que você não está tentando substituí-la. Você é bom caráter demais para
sequer tentar. Ela foi meu primeiro amor e meu coração se partiu quando eu a perdi. Esse
foi o fim da minha história. — eu disse, colocando o queixo e inclinando-o para cima. —
Até que você veio. Meu coração está remendando por sua causa.

Quando nossos lábios se encontraram, desta vez, o nosso beijo foi suave e lento.
Não foi nada como o reencontro apaixonado de mais cedo. Eu saboreei cada momento,
doando toda emoção e sentimento que eu ainda não estava pronto para dizer. Eu sabia
que até que me perdoasse e dissesse adeus aos meus fantasmas e às lembranças que me
assombravam, eu nunca seria capaz de avançar completamente.
Lailah e eu passamos a tarde recuperando o tempo perdido. Nós conversamos e
rimos sobre a seleção dos livros que a mãe de Lailah lhe trouxe.

— The Baby Sitter Club16? — eu perguntei, segurando a brochura desgastada com


o título escrito em blocos.

— Minha mãe desmiolada às vezes apenas pega o que ela vê pela frente na
biblioteca.

— Faça uma lista. Vou pegar o que quiser.

— Sério? — ela perguntou com uma mistura de emoção e um pouco de vergonha.

— Por que está corando? — eu perguntei, deslizando os dedos pela sua face.

Ela mordeu o lábio antes de falar. — Há alguns livros que eu estava morrendo de
vontade de ter, mas eles são um pouco...

— O quê? — perguntei.

— Nada. Só alguns romances policiais.

— São estes livros mesmo ou você quer me pedir livros sensuais, talvez? — eu
perguntei, dando-lhe um sorriso torto.

— Talvez.

— Podemos ler algumas partes juntos?

Suas bochechas coraram com o comentário, me fazendo rir. Eu tenho a minha lista
de livros. Era longa.

— Ei, você quer assistir a um filme? — eu perguntei, jogando-me ao lado dela na


cama.

— Oh meu Deus, isso me lembra! — exclamou ela.

— O quê?

— Você já viu as notícias? — sua expressão era agora muito mais grave.

— Não, eu costumo evitá-las.

— Você provavelmente devia ligar na CNN ou entrar no site. — sugeriu ela,


estendendo a mão para pegar seu laptop.

16
O baby-sitters Club é uma série de romances escritos por Ann M. Martin entre 1986 e 2000. Ann M. Martin
escreveu os primeiros 35 romances da série sobre um grupo de alunos do ensino médio que vivem na cidade
fictícia de Stoneybrook, Connecticut. Eles executam um negócio chamado "The Baby-Sitters Club" que ajuda os
pais a encontrar babás do clube que estão disponíveis para os trabalhos.
Aquela coisa estava ficando idosa, mas com o Wi-Fi do hospital, era até aceitável
para o uso da Internet. Eu arranquei-o de suas mãos e o abri.

— Por quê? O que devo procurar? — eu perguntei, digitando CNN no site de


busca.

— Você vai ver.

Eu cliquei no site, e assim que carregou, vi várias manchetes - uma tempestade


tropical, algo sobre uma celebridade - e então meus olhos pararam.

— ‘Dinastia Cavanaugh a caminho do desastre’? — eu anunciei, repetindo o título


para mim.

Eu olhei para Lailah e ela balançou a cabeça.

— Está em todos os noticiários. — disse ela.

Eu cliquei no link para abrir o artigo completo. Uma imagem colorida do meu
irmão foi incluída, mostrando-o caminhando pelas portas da Cavanaugh Investments.
Parecia mais velho e seus olhos estavam baixos, enquanto tentava evitar as câmeras.

Meus olhos rapidamente passaram pelas palavras, e não precisava ser um gênio
para descobrir o que estava acontecendo. As frases de: más decisões de negócios, família
em crise e os investidores infelizes, apareceram para mim.

— O pequeno esquema do meu irmão e do meu pai para encobrir meu paradeiro
finalmente vazou, bem como a falta de habilidade deles nos negócios. Como meu pai
conseguiu não derrubar o negócio antes, nunca deixou de me surpreender. Era a visão de
negócios do meu avô, não dele. — eu balancei a cabeça, fechando o laptop e deixando-o
de lado.

— Você vai fazer alguma coisa sobre isso? — ela perguntou em voz baixa.

— Não. Eles fizeram a bagunça, eles que limpem tudo. — respondi. — Meu lugar
agora é aqui.
E u tinha acabado o meu almoço insosso de lasanha e brócolis quando houve
uma batida na minha porta. Meu coração acelerou na expectativa, querendo saber se era
Jude prestes a enfeitar o quarto com sua presença, mas então eu percebi que não tinha
ideia de quando ou se até mesmo ele me visitaria hoje. Quando eu lhe perguntei ontem,
ele tinha sido especialmente vago, na verdade, evitou a conversa por completo.

Eu dei o meu ok para entrar e senti meu queixo cair no chão.

Sob o peso de uma variedade de vestidos brilhantes, caixas de sapatos, bolsas e


várias outras coisas, minha mãe e Grace entraram no meu quarto e quase tive um colapso,
pois largaram as coisas no final da minha cama.

— Que diabos? — eu disse, olhando para tentar conseguir alguma pista. — Nós
vamos brincar de desfile?

Os olhos de Grace se iluminaram, e foi então que eu percebi que ela não estava
vestida para o trabalho. Em vez disso, ela usava uma calça de brim escuro, sapatilhas cor
de rosa e um top florido. Seu cabelo estava puxado para trás em um grande coque
arrumado no topo da sua cabeça. Eu nunca a tinha visto sem uniforme. Ela estava linda e
exatamente como eu teria a imaginado - feminina com um toque de classe.

— Estamos aqui para arrumá-la. — Grace anunciou.


— Arrumar para quê? — meus olhos correram ao redor do quarto para a minha
mãe, que não estava tão animada, mas ainda mostrando mais emoção do que eu
costumava ver dela.

— Eu não posso te dizer. — disse Grace.

— Tudo bem.

— É mais uma daquelas ideias malucas do seu namorado. — minha mãe


acrescentou com um leve sorriso e um revirar de olhos.

Ela estava amolecendo por Jude. Ia levar tempo, mas aos poucos, ela estava
chegando perto. Talvez por estar em seus quarenta anos, ela podia estar caminhando para
um abraço.

— Então, por onde começamos?

Começamos com os vestidos. Grace tinha trazido uma enorme variedade, todos de
vários estilos e cores.

— Onde você conseguiu isso? — perguntei.

— Não importa. — ela respondeu com um aceno de mão. — Jude me pediu para
lidar com o lado da beleza das coisas, e eu fiz. Agora, qual deles você mais gosta?

Eu olhei através de todas as minhas escolhas. Alguns eram doces e alguns eram
sexy. Eu escolhi vários para experimentar, mas meus olhos continuavam indo para um
vestido sem alças verde hortelã que me lembrou dos olhos de Jude. Guardei aquele para o
final. Grace amou tudo e minha mãe ainda tinha lágrimas nos olhos de me ver em algo
diferente de moletom e jeans. Mas quando eu saí com o último vestido, fez-se silêncio.

Ele era impressionante. O corpete era simples com uma forma armada que deu
elevação e forma ao meu corpo reto. A parte que tornou interessante foi a sobreposição
de renda cobrindo minha cicatriz perfeitamente, curvando-se ao redor da minha clavícula,
mas ainda era transparente o suficiente para que o estilo fosse visível. O vestido abraçou
minha cintura e depois caía em cascata elegantemente até o chão.

Ambas olharam para mim.

— É perfeito. — Grace finalmente disse.

— É adorável. — minha mãe entrou na conversa.

— Sim! — exclamou Grace. — Agora, vamos escolher os sapatos!

Esses foram uma escolha fácil. Peguei uma sandália de prata baixa. O vestido era
longo o suficiente, de modo que ninguém veria meus sapatos de qualquer jeito, e desde
que eu nunca na minha vida tinha andado de salto, eu não queria começar agora. Na
verdade, eu queria sair do hospital em algum momento no futuro próximo.
Uma vez que a decisão foi tomada, passamos para a maquiagem. Grace me fez
tirar o vestido e voltei para as minhas roupas normais. Ela tirou aquela coisa enorme
como uma caixa de ferramentas, que tinha cerca de cinquenta mil compartimentos
amontoados dentro.

— Tem certeza de que você não tem um apartamento aí? — perguntei.

Ela abriu ainda outra gaveta escondida. — Não, eu só sou muito organizada
quando se trata de maquiagem.

— Obviamente.

Eu estava nervosa quando ela começou passando um pó e esfumaçando meu olho.


Eu nunca tinha usado maquiagem e mesmo que eu não tivesse ideia do que estava
acontecendo, eu sabia que não queria parecer como uma prostituta para ele.

— Tudo bem, hora da revelação. — disse ela, segurando um espelho na minha


frente.

Eu respirei fundo e olhei para o reflexo olhando para mim.

— Oh meu Deus, Grace.

— Eu sei. — disse ela.

Ela fez um trabalho incrível. Era eu, apenas um pouco melhorada, mas nada
exagerado. Não havia linhas pretas fortes ou sombra de olho ousada. Eu só tinha
destaques sutis aqui e ali para acentuar minhas maçãs do rosto e cor dos olhos.

— Obrigada, Grace. — minha mãe disse, dando-lhe um abraço.

— Então, alguém, por favor, me diga que vamos fazer alguma coisa com o meu
cabelo? — eu disse, olhando o espelho para o meu cabelo loiro puxado para o lado.

— Sua mãe pediu para fazer o seu cabelo. — Grace declarou com um sorriso.

Olhei para minha mãe, que estava tirando algumas coisas de uma sacola de
compras.

— O quê? — ela zombou. — Eu sei uma coisa ou duas!

Eu levantei minhas mãos e ri quando ela recolheu suas coisas e se sentou atrás de
mim.

Traços suaves e metódicos da escova moveram-se pelo meu cabelo, formigando


meu couro cabeludo e relaxando os meus ombros tensos.

— Quando eu era mais jovem, sua avó trançava o meu cabelo. Ela poderia fazer
todo o tipo de trança que você pode imaginar. Eu segurava um espelho e via todos os dias
como ela criava belos padrões em meu cabelo comprido.
As pontas dos seus dedos roçaram minha cabeça, e eu a senti pegar vários fios.

— Quando você nasceu, sua artrite havia tomado sua saúde, e ela não conseguia
fazer muitas coisas que fazia antes. Lamento dizer que de alguma forma ao longo dos
anos, eu esqueci as coisas simples.

— Mãe, você me manteve viva.

— Sim, mas o que tem lhe custado? Jude disse que você mantém uma lista. Tudo
o que ele tem feito é te dar um pedaço de uma vida normal. Eu deveria ter feito isso.

— Você está fazendo isso agora por trançar meu cabelo e tendo uma tarde com a
minha amiga e eu. — disse.

Grace sorriu da cadeira.

— Nunca é tarde demais.

— Ele realmente se importa com você, não é? — mamãe suavemente puxou e


alisou mechas do meu cabelo, colocando-as no lugar.

— Ele é o seu Flynn Rider17! — Grace disse com uma voz sonhadora.

— O quê? — minha mãe e eu dissemos ao mesmo tempo.

— Lembra quando eu disse que você era Rapunzel, sentada na sua torre,
aguardando pelo seu príncipe? Bem, ele é o seu Flynn. — disse ela com um sorriso. — E
ele a encontrou.

Quem diria que ser uma garota poderia tomar tanto tempo?

Nós três passamos toda a tarde ajeitando e nos preparando para uma noite que eu
não sabia nada.

Mas eu sabia que não passaria sozinha.

Depois que meu cabelo tinha sido trançado em um updo18, intrincado que mesmo
Katniss Everdeen teria inveja, minha mãe e Grace pegaram seus próprios vestidos e
foram se arrumar. Minha mãe estava discreta em um vestido de coquetel preto simples.
Ele ressaltou sua figura pequena e trouxe a vida de volta para suas bochechas.

— Mãe, você está quente. — eu disse, sorrindo.

17
Príncipe do Filme Enrolados da Disney.

18
— Ah, pare. É apenas algo simples que comprei.

— Está linda.

Grace usava azul safira, e o vestido que ela havia escolhido era lindo. Sem alças
com um corpete ajustado, que enfatizava sua cintura. Ele era curto e exibia suas pernas
tonificadas e saltos altos monstruosos.

— Como no mundo você anda nessas coisas? — eu perguntei, olhando com


cautela.

— Basta um pouco de prática. Além disso, sapatos como estes não foram feitos
para serem entendidos. Eles foram feitos apenas para serem admirados. — ela disse com
uma piscadela.

Às cinco horas, nós três estávamos vestidas e prontas... Para alguma coisa.

— Tudo bem. — eu disse, olhando para elas. — O que fazemos agora? —


perguntei.

As duas apenas se viraram para mim sorrindo, e logo veio a batida na porta.

— Bem na hora. — Grace cantou, pulando para a porta em seus saltos.

Ela abriu e eu a ouvi murmurando. Ela virou-se e acenou com a cabeça para a
minha mãe se juntar a ela. Em poucos segundos, as duas estavam saindo pela porta com
algumas piscadelas e sorrisos, deixando-me sozinha no quarto.

Outra batida e antes que eu pudesse responder a porta lentamente se abriu e Jude
apareceu.

— Puta merda. — ele sussurrou, parando no meio do caminho.

Ele se vestiu muito bem para a secreta ocasião. Até este momento, eu nunca tinha
visto Jude em outra coisa senão jeans e uniformes. Vestido da cabeça aos pés de preto,
ele escorria sensualidade, sem fazer esforço. Ele também tinha cortado o cabelo. Não
estava mais desgrenhado e selvagem, seu cabelo estava cortado curto, mas deixado
propositalmente bagunçado na frente.

— Você está de tirar o fôlego. — disse ele enquanto seus olhos me bebiam em
cada detalhe.

— E você também.

Ele deu um passo para frente, fechando a distância entre nós e segurou meu rosto
com ternura. Inclinando-se, seus lábios roçaram os meus muito brevemente. — Eu não
podia esperar mais um segundo antes de fazer isso. — ele sorriu contra minha bochecha.

— Você nunca vai me dizer o que vamos fazer?


Suas mãos curvaram em torno da minha cintura, e eu senti o seu sorriso aumentar.
Ele se afastou, e eu vi a emoção e antecipação em seus olhos.

— Ainda não. Primeiro, vamos jantar.

— Assim? — eu perguntei, olhando para o nosso traje formal.

— Não se preocupe. Não há bandejas para você esta noite. — ele correu de volta
para a porta, abrindo-a rapidamente para alcançar alguma coisa do outro lado. Ele voltou
com uma cesta de piquenique. — Vamos fazer um piquenique. — declarou ele.

— Número oitenta e dois. — lembrei-me de uma noite não muito tempo atrás,
quando eu disse a ele alguns novos sonhos e desejos da minha lista, incluía um
piquenique.

— Estou tentando riscar dois itens dessa lista hoje.

Ele tinha pensado em tudo, ele tinha trazido comida suficiente para alimentar todo
o andar. Nós nos sentamos na minha cama, desfrutando de frutas, sanduíches gourmet e
até mesmo pudim.

— Isto é muito melhor do que os pacotes de lanche. — comentei, mergulhando a


colher dentro do recipiente que estávamos compartilhando.

— Você não gosta dos meus pacotes de lanche? — brincou, parecendo ferido.

— Não, eu amo seus pacotes de lanche. Este é apenas diferente. É como o pacote
de lanche poderia ser, se ele quisesse.

Ele olhou para mim sem entender. — Por que eu acho que isso não teve nada a ver
com sobremesas?

— Sinto muito. Eu simplesmente não consigo parar de pensar em você e as coisas


acontecendo com a sua família. Você realmente não vai fazer nada?

— Não. — ele disse com firmeza.

— Você sente falta?

— Do quê?

— Dessa parte da sua vida e de usar essa parte de si mesmo - o lado analítico e
inteligente que não pode ser feliz com a verificação de comadres e checagem de sinais
vitais durante todo o dia.

— Às vezes, eu acho. — ele respondeu honestamente. — Eu era bom no que fazia,


mas o dinheiro sempre vinha em primeiro lugar. Eu não posso voltar para isso.

— Você não acha que eles te ouvirão? Especialmente agora? — eu perguntei.


Ele olhou para longe e finalmente balançou a cabeça. — Eu não tenho nenhuma
vontade de voltar. — disse ele, olhando para mim. — Eu tenho tudo que preciso aqui.

— Sem olhar! — Jude riu quando ele me empurrou na cadeira de rodas do hospital
que tinha insistido que eu usasse.

O tecido verde hortelã do meu vestido tinha sido dobrado ordenadamente debaixo
de mim conforme as rodas rangiam ao longo do piso desgastado. Nós tínhamos descido
vários andares no elevador e passamos por muitos corredores diferentes – o tempo todo
com a grande mão de Jude firmemente plantada sobre meus olhos.

— Eu não acho que eu poderia, nem mesmo se eu tentasse!

— Bom. Agora, só um pouco mais. Estamos quase lá. Está bem, eu vou tirar
minha mão. Não abra os olhos ainda.

Ouvi uma porta abrindo e o som estrondoso da música imediatamente extravasou.

— Tudo bem, levante-se e pegue minhas mãos, mas mantenha os olhos fechados.
— seu aperto firme fechou ao redor da minha mão, enquanto ele me orientou, e então
seus braços apoiaram minha cintura por trás. — Agora, abra os olhos. — ele sussurrou
em meu ouvido.

Minhas pálpebras se abriram, e eu imediatamente percebi que estávamos em uma


sala com iluminação suave. Balões coloridos e serpentinas forravam o teto. Um grande
grupo de pessoas estava dançando no centro da sala e mesas estavam ao lado, com
bebidas e alimentos.

— O que é isso? — perguntei.

— É o seu baile de formatura. — disse ele, apontando para uma bandeira perto do
teto.

Formatura Algum Dia, estava escrito ostensivamente em uma faixa no salão.

Emoções tão profundas que eu não poderia descrever derramaram por mim. Virei-
me e atirei-me em seus braços, enquanto as lágrimas fizeram o caminho pelo meu rosto.
— Obrigada.

Eu não me importava se tudo acabasse naquele momento. Nós podíamos nem


chegar à pista de dança, e eu não acho que me sentiria mais feliz.
Em todos os meus dias naquela cama de hospital - me perguntando por que eu
tinha sido escolhida para ter essa carga, levar tudo isso nas costas - eu nunca esperava
que tais coisas surpreendentes fossem acontecer comigo.

— Como você conseguiu fazer isso? Eu não sei o que dizer. — eu disse, olhando
ao redor. Comecei a reconhecer vários enfermeiros e funcionários da unidade de
cardiologia.

— Não chore. — disse ele, dando um pequeno sorriso, enquanto ele delicadamente
limpava as lágrimas. — Dança comigo?

Eu balancei a cabeça, e ele me puxou para o pequeno grupo de pessoas, no centro.


Reconheci Grace com um cara que devia ser seu noivo. Ela me deu uma piscadela
quando ela colocou a cabeça em seu ombro largo.

Eu fui para o abraço de Jude e me deixei levar quando uma nova música começou.
"All of Me" de John Legend tocou enquanto dançávamos de um lado para o outro e eu
escutei Jude cantarolar a melodia no meu ouvido.

— Eu mencionei que você está linda hoje? — ele disse suavemente.

— Jude. — eu disse, virando-me, quando senti o rubor começando a queimar.

Ele não precisava fazer isso.

— Não, olhe para mim. — ele exigiu, virando meu queixo para cima até que meus
olhos encontraram o seu olhar escaldante. — Você está deslumbrante. Eu não digo isso
porque eu tenho pena de você ou quero que você se sinta normal. Digo isso porque é a
verdade. Se eu te visse em qualquer outro lugar, eu pensaria a mesma coisa.

Ele me beijou e eu derreti em seus braços.

— Você me faz sentir bonita. — murmurei contra seus lábios.

— Isso, porque você é.

Eu descansei minha cabeça em seu ombro, enquanto ele continuava a cantarolar.


Estávamos perdidos um no outro e no momento.

— Eu espero que você não se importe se um velho tentar interromper? — eu ouvi


por trás uma voz masculina me trazendo de volta à realidade.

Olhei para cima para ver um dedo tocando o ombro de Jude e uma cara que eu não
conhecia, mas Jude aparentemente conhecia.

— Nash. — disse ele com um sorriso. Jude cumprimentou o homem com um


aperto de mão que se transformou em um grande abraço, que incluiu o grande homem
tirando Jude do chão.
— Eu senti sua falta e das nossas conversas tranquilas, Jude. — o homem disse
depois de colocar Jude de volta no chão.

— Eu, também, Nash. A unidade de cardiologia não tem sido a mesma sem você.
— ele riu. Olhando para mim, ele agarrou minha cintura novamente. — Nash, eu não
acho que você teve a chance de conhecê-la formalmente antes você sair. Esta é a minha
Lailah. — disse ele, me dando um aperto.

Minha Lailah.

Eu tive uma quantidade absurda de borboletas no estômago ao ouvir a palavra


‘minha’ antes do meu nome.

Apertei sua mão e ele tomou o lugar de Jude na pista de dança. Vi-o andar para a
mesa de bebidas para falar com o Dr. Marcus, que estava tomando ponche. Ele estava
bem vestido em um terno e gravata.

— Você o mudou. — disse Nash com um sorriso. — Ele não está mais quebrado.

— Ele fez isso por conta própria. — eu disse enquanto íamos de um lado para o
outro com uma música que eu não conhecia.

— Talvez sim, mas você deu a ele uma razão.

Ele não pressionou para mais conversa depois disso, mas ele insistiu muito em me
ensinar realmente a dançar. Eu tive visões de rosa na minha boca com minha perna no ar,
mas ele me domou e apenas me deu uma volta lenta antes de fazer um leve mergulho. Eu
não pude deixar de rir. O velho era um sedutor. Quando a música terminou, ele me
agradeceu pela dança e disse que tinha uma surpresa para mim. Desaparecendo pela
porta, ele reapareceu segundos depois com um pequeno querubim ao seu lado.

Abigail.

— Lailah! — ela gritou, correndo até mim com os braços estendidos.

Abaixei-me e ela entrou no meu abraço.

— Eu senti sua falta! — exclamou ela.

— Eu senti sua falta também.

— Eu tenho escrito quase todos os dias. Escrevi tanto que vovô teve que me
comprar outro diário, e desta vez, ele me deixou começar com um que é rosa. — disse ela
com um sorriso.

— Ótimo. — eu ri. — Certifique-se de conseguir um com brilhos e strass na


próxima vez.
Ela riu, e eu a puxei para a mesa de lanche para uma saudável dose de açúcar. Nós
nos juntamos a Jude em torno da mesa de guloseimas e empilhamos nossos pratos com
brownies e cookies. Jude me levou até uma mesa onde ele me fez sentar e descansar.

— Eu não quero que você exagere. — disse ele, puxando minhas pernas em seu
colo.

Ele tirou os sapatos e começou a esfregar meus pés quando eu mergulhei em um


brownie de chocolate.

— Obrigada.

Eu tinha comido um cookie ou dois em tempo recorde quando o Dr. Marcus se


juntou a nós em nossa mesa.

— Boa festa. — disse ele. — Não achei que você podia realmente conseguir isso
tudo, J-Man.

Jude sorriu. — Eu posso ser muito persuasivo.

— Eu vejo isso e ficou ótimo. É uma maneira perfeita de dizer adeus à Lailah. —
ele deu um sorriso maroto.

Meus olhos se arregalaram, imaginando o que Dr. Marcus estava falando.

Jude e eu olhamos um para o outro em confusão antes de nossos olhos se fixarem


no Dr. Marcus.

— Lailah terá alta amanhã.

— Oh meu Deus, você está falando sério? — eu disse em um suspiro de alívio


rápido.

Ele acenou com a cabeça. — Eu deveria ter mandado você para casa, há uma
semana, mas eu estava sendo superprotetor. Essa doença que você teve me assustou, e eu
odiava a ideia de não ter você aqui, mas não há nenhuma razão para você ficar. Estamos
aqui se algo acontecer, e se não, vamos esperar por mais notícias sobre o transplante.

Olhei para Jude, e seus olhos estavam cheios de entusiasmo e expectativa. Eu pulei
em seus braços, rindo e chorando, quando Marcus fez a sua saída.

— Eu vou para casa.

— Não, você vai para casa comigo. — disse Jude.

— O quê? — eu ri, recuando e vendo a seriedade no seu rosto.

— O que estamos esperando, Lailah? Chame de visita ou estadia prolongada. Eu


não me importo. Tudo o que sei é que eu quero você comigo.
Minhas mãos foram para o seu rosto, e eu o beijei. — Sim. Eu vou a qualquer
lugar com você.

— Bom. Agora, vamos encontrar sua mãe. Eu quero começar a me preparar para a
surra que ela vai me dar. Eu sei que ela não vai aceitar isso muito bem.

— Esse é o eufemismo do ano.

Olhei em volta, mas eu não a vi. Eu tinha a visto de pé no canto, conversando com
Grace e seu noivo antes, mas ela se foi agora.

— Talvez ela tenha feito uma pausa. — sugeri. — O corredor pode ser um bom
lugar para dizer a ela de qualquer maneira. — sorri.

— Sim, dessa forma ninguém pode me ouvir gritar. — brincou.

Eu ri quando saímos para o corredor e estava deserto. Andando para o final, eu me


virei e ouvi um movimento, e eu instintivamente segui o barulho. Em um canto escuro,
duas silhuetas compartilhavam um abraço apaixonado. Cheguei mais perto, e um suspiro
escapou da minha boca quando reconhecimento tomou conta de mim.

— Lailah. — minha mãe gritou, imediatamente se afastando do Dr. Marcus, como


se estivesse pegando fogo. — Sinto muito. Isso foi um erro.

Ela deu um passo em frente, mas eu estendi minha mão em uma tentativa de detê-
la. Eu não pude esconder a leve risada que escapou de encontrar minha mãe em uma
posição comprometedora, considerando todo o comportamento que Jude e eu havíamos
nos envolvido ao longo da última semana.

— Por favor, mamãe, não se desculpe. Se você quer namorar o meu médico, você
não deve se esconder em corredores de hospital e omitir seu relacionamento. Permita-se
ser feliz, mãe. — eu disse com um sorriso caloroso. De repente eu estava muito
orgulhosa da minha maturidade.

Ela e Dr. Marcus trocaram um olhar breve cheio de emoções que eu não consegui
decifrar. Ambos pareciam magoados, irritados e profundamente cheios de
arrependimento, e eu só podia me perguntar o porquê. Virei-me e peguei a mão de Jude
que estava quieto, e tinha o olhar fixo no Dr. Marcus.

— Molly, eu não posso continuar fazendo isso – as idas e vindas entre nós e as
mentiras. Nós precisamos contar para ela. — disse o Dr. Marcus com emoção em sua
voz.

— Por favor, Marcus, não. — uma voz baixinha implorou.

— Eu sou seu tio, Lailah. — ele sussurrou.

Virei-me e vi dor e remorso nos olhos do homem que havia tomado conta de mim
desde o dia em que nasci.
— Seu pai era meu irmão. Deveríamos ter dito a ela há muito tempo, Molly.

Virei-me para a minha mãe, esperando que ela o desmentisse ou oferecesse


alguma alternativa por que ambos sentiram a necessidade de mentir para mim durante
toda a minha vida. Mas ela não disse uma palavra. Ela apenas me olhou como se ela
tivesse sido mortalmente ferida.

— Por quê? — eu perguntei aos dois. — Por que vocês nunca me contaram?

— Eu queria, mas não era o meu segredo para contar. Mas eu estou cansado de ser
apenas um médico para você, Lailah. — disse Marcus. — E sua mãe tem suas razões.
Não se zangue com ela. Ela passou pelo inferno e voltou com a minha desculpa
esfarrapada de um irmão. O fato de que ela ainda me permitiu ser uma parte da sua vida
foi mais do que eu jamais poderia ter pedido.

Eu balancei a cabeça, tentando expulsar as palavras e as imagens da minha cabeça.

Não funcionou.

— Não, eu não posso lidar com isso agora. Vou ter alta amanhã. Na parte da
manhã, eu vou fazer as malas e vou embora - vou ficar na casa de Jude. Por favor, dê-lhe
toda a minha papelada de alta. Mãe, eu vou voltar para casa quando eu estiver pronta para
conversar.

Seu choro ecoando foi a última coisa que eu ouvi quando saí daquele corredor.

Às vezes, ser um adulto era uma merda.


O sono fugiu completamente enquanto eu esperava os minutos passarem para
chegar até amanhã.

Eu deveria ter dito a ela.

Eu deveria ter dito algo no segundo depois que aconteceu. Mas eu não tinha
conseguido. Eu afastei de Marcus e sua mãe chorando, segurando a mão de Lailah
enquanto ela soluçava baixinho. Então, eu a confortei enquanto voltamos para o andar da
cardiologia. Eu a ajudei a desmanchar o cabelo e lavar o que restava da sua maquiagem.
Ela tirou o vestido e eu abracei-a quando ela adormeceu.

Eu nunca disse uma palavra.

Eu sabia que Marcus era seu tio. Eu sabia e eu não tinha dito a ela. Eu tinha
mantido seu segredo porque, como Marcus disse, não era meu para contar. Muitas cartas
foram empilhadas nesta mentira louca e eu não queria ser aquele a fazer essa pilha de
cartas cair.

Mas agora, eu estava preso nela e eu tinha que encontrar uma maneira de dizer a
Lailah.
Os primeiros raios de sol começaram a escorrer pela minha janela, e eu me sentei.
Olhei ao redor da sala vazia, perguntando se eu a teria aqui comigo hoje à noite ou se eu
estaria sozinho de novo.

Só há uma maneira de descobrir.

Saltei da cama e fui para o chuveiro.

Vinte minutos mais tarde, eu estava colocando uma camiseta e pegando uma maçã
enquanto eu me dirigia para a porta.

Era cedo, mas eu sabia que Lailah estaria de pé com o sol, arrumando as malas e
se preparando para sair. Eu queria estar lá, a ajudando. Não demorou muito tempo para
dirigir até o hospital. Depois de uma curta viagem de elevador, e eu estava na porta dela.
A porta estava aberta hoje, e eu a vi antes dela me notar. Seus longos cabelos loiros
estavam soltos e caídos para frente, ainda ondulados das tranças que sua mãe tinha feito.
Enquanto dobrava a camisa e colocava em uma pilha, eu senti como se tivesse sido
golpeado com déjà vu. Na véspera de sua última recaída, eu entrei e a vi fazer exatamente
a mesma coisa. Descobrir que ela sairia naquele dia me deixou assustado e feliz, tudo ao
mesmo tempo. Eu estava com medo, porque ela estava deixando o hospital e feliz porque
ela estava finalmente indo para casa.

Hoje, eu senti tudo isso e muito mais.

Por favor, não mude de ideia. Por favor, venha para casa comigo, eu implorei
silenciosamente quando me adiantei, anunciando minha chegada.

Ela se virou e sorriu. — Você chegou cedo.

— Achei que você estaria acordada também, então eu pensei que você pudesse
querer alguma ajuda com a bagagem.

— Eu preciso, obrigada. Você pode pegar aquela mala ali? — ela perguntou,
apontando para a mala ao lado da cama.

Agarrei-a e coloquei-a na cama ao lado dela.

— Eu tenho que te contar uma coisa. — eu disse, minha hesitação pesando cada
palavra.

Ela se virou para mim com nervosismo alinhando suas feições. — O quê?

— Eu sabia que Marcus era seu tio. — eu admiti.

— Como? — ela se sentou na beira da cama com a camisa que ela ainda estava
dobrando enrolada em suas mãos.

— Imaginei pelo jeito que ele te protegia, como ele falava sobre você e sua mãe.
Ele ama vocês duas muito mais do que um médico ama seus pacientes.
— Por que você não me contou? — ela perguntou, olhando para cima.

— Honestamente, você realmente queria que essas informações viessem de mim?


Não cabia a mim dizer. Eu odiava saber para começar, mas eu sei que Marcus e sua mãe
não queriam magoar você.

Sentei-me ao lado dela e peguei sua mão.

— Então, por que manter isso em segredo? Eu não entendo.

— Marcus disse que sua mãe queria que seu pai fosse apagado da sua existência.
Eu acho que ter um tio perto de você só tornaria a vida mais complicada. Era mais fácil
se Marcus fosse apenas...

— Dr. Marcus. — ela terminou.

— Você precisa falar com ela. — eu encorajei.

— Eu vou... Em breve. Eu só preciso de um pouco de espaço.

— Bem, eu posso definitivamente ajudar com isso. Vamos lá, vamos guardar tudo.

Eu a puxei para fora da cama e ela agarrou meus ombros enquanto descansava a
cabeça no meu peito.

— Eu estava com tanto medo que você deixasse o hospital sem mim. — confessei.

Ela olhou para mim, confusa. — Por quê? Por causa disso? Você foi colocado em
uma situação incrivelmente difícil, Jude. Eu não o culpo por isso. Mas agora acabou. Sem
mais segredos. Então, vamos começar!

Seu sorriso radiante me destruiu.

Sem mais segredos.

Minha voz estava rouca e suplicante, o som dos meus gritos quando eu implorei-
lhes para não fazerem o transplante, para não tirá-la de mim, tudo isso rapidamente
voltou, fazendo minha cabeça girar.

Eu era o maior segredo de todos.

— Aqui estão os seus papéis da alta. — disse o Dr. Marcus, estendendo a mão
para uma Lailah cautelosa.
Ela tinha ficado calma e estranhamente quieta desde o momento em que ele entrou
com instruções sobre seus cuidados em casa.

— Nós fizemos isso muitas vezes antes, então eu sinto que estou sendo repetitivo.
Eu só vou dizer-lhe para ter cuidado, Lailah. Cuide-se. Não seja excessivamente
ambiciosa e evite voltar a esse quarto. Você pode não acreditar em mim, considerando
quão protetor sua mãe e eu temos sido ao longo dos anos, mas eu realmente quero que
você tenha uma vida fora daqui.

Ela olhou para ele da sua posição na cama. Suas pernas estavam cruzadas, e eu
podia ver as rodas girando em sua cabeça enquanto pensava o que dizer em resposta.

— Obrigada... — respondeu ela. — Eu nem sei do que te chamar mais.

— Que tal Marcus? Podemos começar com isso?

Ela assentiu com a cabeça, e eu vi a mais breve passagem de sorriso entre os lábios
antes de ela ficar séria novamente.

— O que exatamente está acontecendo entre você e minha mãe?

Marcus soltou um suspiro prolongado quando ele se inclinou contra a parede. Ele
parecia cansado. Seu cabelo grisalho, que geralmente o fazia parecer suave e sofisticado,
agora só servia para acentuar as linhas e círculos escuros sob os olhos.

— A mesma coisa que vem acontecendo entre nós por 22 anos. Eu chego muito
perto e ela me afasta. Ela se recusa a reconhecer que há algo entre nós, e eu sou tolo o
suficiente para continuar tentando convencê-la de outra forma.

— Você a ama. — ela disse suavemente, olhando para o homem que poderia ter
sido seu pai se as coisas fossem diferentes, se a vida tivesse sido diferente.

— Todos os dias, desde o primeiro dia em que coloquei os olhos nela. — ele disse
com tanta convicção que fez meu coração se contrair em dor por ele.

O técnico de enfermagem chegou, um cara que eu sabia que era do turno do dia,
para ajudar a escoltar Lailah para o estacionamento e ela ficou de pé, de frente para
Marcus com incerteza.

Finalmente, ela se adiantou e colocou os braços firmemente em torno do seu


pescoço. — Não desista dela, Marcus.

Sufocado pela emoção, ele ficou com os olhos fechados com força enquanto ele
segurava a garota que ele amava como a sua própria filha. — Eu nunca vou desistir - de
qualquer uma de vocês.

Juntei os pertences de Lailah e a ajudei a estabelecer-se na cadeira de rodas.


Dissemos breves despedidas para Marcus, prometendo dar notícias pelo menos uma vez
por semana e depois fomos para a porta.
— Jude? — Marcus chamou no meio do caminho.

Virei-me e encontrei-o parado no mesmo local ao lado da cama, observando-nos


sair.

— Tome cuidado com a nossa menina.

— Vou guardá-la com a minha vida. — prometi.

— Eu sei que você vai. Cuide-se, J-Man.

Eu me encontrei com Lailah, que estava no meio do corredor com o técnico de


enfermagem, conversando sobre o tempo bonito. Nós descemos e dentro de três minutos,
estávamos fora.

Agradeci ao cara, olhando para o nome em seu crachá e ajudei Lailah sair da
cadeira de rodas. — Temos o controle a partir daqui, Adam. — disse antes de me virar
para Lailah com uma piscadela.

Ela olhou em volta, fechou os olhos e respirou fundo o ar fresco, quando uma brisa
passou por ela.

— Eu estou livre! — ela gritou.

— Bem, então, por que estamos parados e perdendo tempo? Vamos dar o fora
daqui! — eu ri, pegando sua mão e puxando-a na direção do meu carro.

— Sinto muito, não é ótimo, mas funciona. — eu disse, em relação ao estado


menos estelar do meu carro, que provavelmente tinha visto mais aniversários do que ela.

— É verde! — exclamou ela.

Eu joguei as malas no porta-malas. — Sim, como ervilha e como merda de bebê.

— Eca... Nojento. Por que você tinha que arruinar uma sopa de ervilha para mim?
— ela riu quando entramos.

— Bem, isso é uma cor!

— Acho que devemos nomeá-lo. — declarou.

Virei a chave. — A cor? Eu pensei que tivesse acabado de fazer isso. — eu saí da
vaga do estacionamento e dirigi a curta distância para fora do hospital.

Estávamos oficialmente livres.

— Não. — ela riu. — O carro. Carros que são verdes-merda-de-bebê precisam ter
um nome.
Virei a cabeça com um olhar de falsa surpresa e choque. — Eu ouvi você xingar?
Eu não acho que já ouvi uma palavra ruim deixar os seus lábios consideravelmente
pequenos antes na minha vida. Dois segundos fora do hospital, e você já está xingando
como um marinheiro! Eu acho que estou tendo um efeito negativo sobre você.

Ela mostrou a língua e riu. — Eu já tinha xingado antes - na minha cabeça e talvez
uma ou duas vezes em voz alta. — disse ela, sorrindo. — Você está mudando de assunto.
Deste dia em diante, tenho a honra de nomeá-lo...

— Nomeá-lo? — eu não pude deixar de perguntar.

Ela estava literalmente vibrando com empolgação. Estar fora do hospital tinha
acordado seu espírito e tinha vida nova fresca em seus pulmões.

— Cale-se! É o meu discurso chique. Eu deveria soar como Shakespeare.

— Ah, desculpe. — eu fingi uma tosse quando viramos a oeste. — Vá em frente.


Você vai nomeá-lo?

— Tenho a honra de nomear este carro, hum... — ela olhou em volta, procurando
e, finalmente, seus olhos se arregalaram. — Yertle the Turtle19!

Ela estava tão orgulhosa de si mesma que ela nem percebeu onde estávamos
quando eu parei o carro.

— Muito inteligente. — eu ri. — Mas Yertle the Turtle era azul.

— Ele não era!

— Ele era. — insisti. — Nas ilustrações do livro, ele é azul.

Ela olhou para mim com os braços cruzados sobre o peito. — Como diabos você
sabe isso?

— Minha mãe costumava ler muito para nós quando eu era pequeno. — eu dei de
ombros. — E eu sou inteligente. — acrescentei com um sorriso, batendo na minha
cabeça.

— Bem, tanto faz. Vamos chamá-lo de Yertle, mesmo que não seja azul. Agora,
onde nós estamos? E o que vamos fazer? — ela perguntou, olhando para cima. Ela
suspirou quando seus olhos avistaram o oceano.

19
Livro Yertle the Turtle - Dr. Seuss. Yertle a Tartaruga, é o rei da lagoa, está insatisfeito com a pequena pedra que
serve como seu trono. Ele comanda as outras tartarugas a empilhar-se debaixo dele para que ele possa ver mais e
expandir o seu reino. Conforme a pilha de tartarugas cresce mais e mais, a pobre Mack, a tartaruga na parte
inferior da pilha, está com muita dor. Mack pede Yertle para um breve descanso, mas Yertle apenas diz para ele
ficar quieto. Finalmente farto do abuso de Yertle, a tartaruga Mack faz algo para perturbar o equilíbrio do poder e
libertar todas as tartarugas.
— Vamos colocar os dedos dos pés no oceano.
E u não tinha vivido a minha vida completamente em uma caixa.

Vivendo no sul da Califórnia toda a minha vida, eu tinha visto o oceano ao longo
do tempo quando nós dirigíamos ao redor da cidade. Mas, sentada ali no carro de Jude,
vendo o brilho turquesa infinito na minha frente, eu senti como se estivesse vendo-o pela
primeira vez. Meu olhar vagou até a longa extensão de areia entre mim e as ondas suaves
que batiam na costa.

Virei-me para ele. — Como? Eu não sei se eu posso fazer isso, andar no meio de
toda essa areia grossa sem ter problemas respiratórios ou ficar muito cansada. — eu
admiti, odiando as minhas limitações e fraquezas.

— Vou carregá-la. — ele simplesmente declarou.

— O caminho inteiro? Na areia?

— Sim. Agora, vamos, vamos!

Abriu a porta e saltou para fora, e eu fiquei olhando para um assento vazio.
Momentos depois, ele estava abrindo a porta do carro, sorrindo.

— A água não vai vir até aqui. — ele estendeu a mão.


Eu estendi a mão e ele me pegou.

— Mas é um longo caminho para me carregar, Jude. — eu disse.

Ele me deu uma expressão divertida duvidosa. — Você pesa tanto quanto uma
caixa de bolachas, e no caso de você não ter percebido durante todos aqueles momentos
em que você tinha as mãos enfiadas na minha camisa, eu estou em boa forma.

Sua piscadela deixou o meu rosto em chamas e eu não pude conter o riso que
brotou quando ele levantou-me em seus braços.

— Viu? Moleza. Agora, se você estiver terminado com as reclamações, acho que
temos algo a fazer.

Eu balancei a cabeça animadamente, envolvendo minhas mãos no seu pescoço,


quando ele me embalou e saímos em direção à areia.

— Onde estão todos? Pensei que praias da Califórnia estivessem sempre lotadas.
— eu disse, olhando para a praia muito vazia.

Apenas alguns surfistas pontilhavam a costa, carregando pranchas para a praia.

— É cedo ainda. A praia começa a encher na próxima hora ou duas, é por isso que
eu queria vir agora. Eu pensei que seria melhor estar aqui sem mil pessoas correndo.

Olhando para cima e para baixo da longa praia, eu sorri. — Sim, está tranquilo
agora. Eu gosto disso.

A areia mudou do claro ao escuro, quando as ondas se aproximaram.

— Eu posso andar o resto do caminho? — eu perguntei ansiosa para sentir a areia


úmida entre os dedos dos pés.

— Sim. — ele disse com ternura quente ecoando em sua voz.

Tirei minhas sandálias, assim que ele começou a me abaixar lentamente para o
chão. Nossos olhos se encontraram no segundo que meus pés tocaram a areia fria. Era
áspero e molhado, e me senti completamente maravilhada com a areia molhada entre os
meus dedos. Nossas mãos estavam entrelaçadas, quando um sorriso torto puxou o canto
de sua boca. Eu me virei em direção ao horizonte, e nós andamos os últimos passos para
a beira da água. A água gelada correu sobre os dedos dos meus pés, e eu ofeguei.

— Está fria! — eu gritei.

O riso profundo de Jude encheu o ar. — Por que você acha que os surfistas estão
em roupas de mergulho? Você vai se acostumar com isso. — prometeu. — Podemos
caminhar apenas um pouco.
De mãos dadas, nós caminhamos até a praia, conversando e rindo, enquanto os
outros passavam. Era a manhã mais normal que eu já tive, mas me senti
extraordinariamente emocionada. Era um sentimento que eu nunca queria que acabasse.

— Eu não achei que isso fosse acontecer. — admiti.

Chegamos a um ponto não muito longe de onde tínhamos começado.

— Eu nunca pensei que eu teria um dia como este, um dia em que eu não teria que
pensar sobre o que os outros estavam fazendo enquanto eu estava presa em casa.

— Nós vamos ter muito mais dias como este. — ele prometeu, inclinando meu
queixo.

Ele capturou meus lábios. O beijo começou doce e delicado quando nossas bocas
tocaram levemente contra a outra. Quando seus dedos encontraram seu caminho para o
meu cabelo, me puxando para mais perto, quando ele agarrou os fios das minhas ondas
loiras em suas mãos, se transformou em tudo, menos doce.

— Precisamos sair dessa praia. — insisti, afastando-me sem fôlego.

— Sim, boa ideia. — ele concordou.

Ele me agarrou na altura dos joelhos, e eu fui jogada em seus braços. Chegamos ao
carro e ele me colocou no chão.

— Para onde vamos agora? — perguntei.

— Vamos para casa. — ele respondeu, os olhos brilhando com fogo.

E minha barriga apertou em antecipação.

Nós dirigimos vários quilômetros e entramos em um prédio de apartamentos


velhos com palmeiras e uma placa de madeira desbotada. Jude estacionou em uma vaga
marcada, que eu assumi ser sua vaga de estacionamento e desligou o motor.

— Fique aqui, e eu vou dar a volta até a sua porta. — ele ofereceu antes de
desaparecer para fora do lado do motorista.

Ouvi o barulho do porta-malas abrindo e, momentos depois, ele estava na minha


porta. Peguei a mão dele e saí, tomando um momento para olhar ao redor. Mesmo que o
edifício mostrasse a sua idade, ele estava bem cuidado, obviamente, por um síndico ou
proprietário cuidadoso.

Nosso apartamento era de estilo semelhante e eu tinha praticamente a mesma


sensação. O proprietário tinha herdado de seu pai e se esforçava para se certificar que o
legado de sua família sobreviesse. Ele não tinha muito, mas ele era um senhorio amoroso
e estava sempre lá para ajudar quando algo dava errado. Os nossos aparelhos não eram
totalmente novos, e nosso tapete tinha alguns anos de idade, mas tudo funcionava
perfeitamente. Eu tinha quase certeza que ele cobrava menos de nós também, e por essa
razão minha mãe tinha ficado nos últimos 15 anos.

Jude caminhou sobre um lance de escadas e parou. — Desculpe, segundo andar,


sem elevador.

— Está tudo bem, Jude. Eu posso encarar alguns degraus. — eu disse, pisando no
primeiro degrau junto com ele.

Ele seguiu conforme fazíamos o nosso caminho para cima. A brisa fresca do
oceano fez cócegas na minha garganta quando nossos pés encontraram o último degrau, e
ele se virou para a direita nos levando ao longo do corredor aberto. Passando por mais
três ou quatro portas, paramos, e ele tirou uma chave.

Olhei para dentro, vendo uma pequena namoradeira e uma mesa na cozinha,
quando ele deixou cair as minhas malas no chão na minha frente. Eu tinha acabado de
cruzar a sala e ouvi a porta fechar quando ele me empurrou contra ela e a sua boca fechou
sobre a minha. Meu suspiro de surpresa rapidamente se transformou em um gemido de
desejo quando sua mão deslizou até minha coxa nua.

— Você não tem ideia de quanto tempo eu esperei para ter você para mim, sem
ninguém por perto. Sem distrações. — sua voz rouca retumbou. — Sem interrupções.

Minha barriga apertou e minhas pernas tremeram de ouvi-lo falar. Apenas sua voz
me deixava quase ofegante. — E agora, você me tem. — eu respondi, não acreditando
nas palavras ousadas que tinham acabado de escapar dos meus tímidos, lábios inocentes.

Seus lábios se curvaram para cima, quando ele repetiu: — Agora, eu tenho você.

A boca dele bateu contra a minha, e eu me perdi em seu toque. Ele puxou minha
coxa em torno da sua cintura, tocando a borda delicada da minha calcinha correndo ao
longo da curva da minha bunda debaixo dos meus shorts. Cada nervo do meu corpo ficou
em estado de alerta quando senti o toque dele contra a minha pele. Sua mão livre curvada
na minha nuca, inclinando a minha cabeça, enquanto sua língua empurrava mais
profundamente e mais forte.

Um pequeno sinal sonoro atrás da minha orelha assustou-me como um balde de


água fria e meus olhos se abriram. Senti o calor da mão de Jude deixar o meu pescoço e
então ele levantou-a na frente dele, olhando para um relógio. Curiosa, eu olhei para ele, à
espera de uma explicação para o sinal sonoro.

— Hora do almoço e dos comprimidos. — disse ele, apertando um botão na lateral


para desligar o barulho estridente.

— Você programou um alarme? — eu perguntei.

— Sim, eu tenho alarmes definidos para cada um dos seus horários de


comprimidos e cada refeição. Eu posso ter colocado um lá para uma verificação de sinais
vitais, uma vez ao dia.
— Você leva isso muito a sério. — eu ri.

— Nada será mais importante do que cuidar de você. Nunca. — disse ele.

Ah.

Bem, eu não podia pensar muito em uma resposta atrevida para isso.

Eu te amo. Você quer se casar comigo? Sim, isso provavelmente seria um pouco
cedo demais.

— Agora, pare de me distrair com suas formas femininas e vamos alimentá-la e


medicá-la.

Ele me beijou rapidamente na bochecha e deu uma tapa na minha bunda, o que me
levou a ganir. Pegando minhas malas onde ele havia deixado no meio da porta de entrada,
ele passou por um corredor e eu segui. Havia duas portas, que presumi serem o quarto e o
banheiro.

Ele parou na frente de uma e se virou. — Você não tem que dormir comigo. Você
pode ficar com a cama e eu vou dormir no chão ou no sofá. Eu não quero apressá-la. —
ele disse, hesitante.

Dei um passo para frente e depois outro até que eu rocei contra ele. Meus dedos se
moveram em torno de sua barriga, o peito e no ombro, onde a alça da minha bolsa estava
descansando. Deslizando os dedos por baixo, levantei-a e coloquei-a no meu ombro.

— Eu vou dormir com você.

— Graças a Deus. — ele respondeu com um suspiro de alívio escapando dos seus
pulmões.

Passei por ele sorrindo e entrei no quarto.

Como os outros poucos cômodos do apartamento que eu tinha visto, o quarto tinha
uma decoração escassa. Ele parecia com Jude. Sozinho e solitário por tanto tempo, eu não
esperava entrar em algo saído de um catálogo Pottery Barn20. Seu quarto era limpo e
arrumado, sem pilhas sujas de roupas ou lixo espalhados. Sua cama estava arrumada e ele
tinha um pequeno armário no canto.

Eu apoiei a minha bolsa no edredom azul escuro e abri a parte de cima para retirar
o pote gigante de frascos com comprimidos.

— As pessoas idosas não têm nada a ver comigo. — eu brinquei, abrindo a parte
superior para classificar os diferentes frascos.

Ele acomodou-se na cama e ficou me olhando. — Se eles irão te manter em meus


braços, não importa.
20
Rede de lojas de móveis, presentes, nos Estados Unidos e Canadá.
Achei os três frascos que eu precisava para o almoço e me virei para encará-lo.
Suas mãos se moveram para as minhas pernas enquanto eu deslizava em seu colo. Eu
amava a sensação dos seus braços em volta de mim.

— Isso é tudo que eu quero. — eu disse. — Permanecer em seus braços para


sempre.

Seus braços apertaram e sua convicção atou suas palavras quando ele falou: —
Você vai, eu prometo.

Eu só esperava que ele estivesse certo.

O alarme em seu relógio disparou mais duas vezes durante toda a tarde, e eu não
pude deixar de rir da sua dedicação.

— Você roubou o meu prontuário do hospital? — eu perguntei quando o segundo


alarme disparou.

— Eu não tive que roubá-lo. — ele zombou. — Eu sou um funcionário do


hospital. Eu só entrei e olhei. — um sorriso se espalhou pelo seu rosto.

— Bem, você não vai usar esse relógio o tempo todo, não é? — eu perguntei,
afundando-me em seu colo no sofá.

— Não. — ele disse suavemente. — Eu acho que eu poderia abandoná-lo na hora


de dormir.

A ponta do seu nariz passou na curva do meu pescoço, me fazendo tremer. Meus
lábios se separaram e meus olhos se fecharam. Suas mãos se fecharam ao redor da minha
cintura e apertaram. Então, ele me levantou. Eu abri meus olhos para encontrar seu
sorriso arrogante.

— Jantar primeiro. — disse ele.

Minha boca se curvou em um beicinho.

Ele riu, batendo em seu relógio. — Ok, ok... Relógio estúpido.

Ele agarrou minha mão e me puxou na direção da cozinha.

— Eu espero que você não se importe, mas eu pensei em comer por aqui. Podemos
sair amanhã, mas eu não estou pronto para compartilhar você ainda.

Sim, por favor.


— Parece bom. — eu respondi, observando a forma como a sua bunda se movia
enquanto ele caminhava na minha frente. Eu definitivamente não estava pronta para
compartilhá-lo também.

Eu poderia simplesmente mantê-lo refém aqui para sempre?

— Você quer me ajudar a fazer o jantar?

— Sim, absolutamente. Vamos fazer pizza novamente? — eu perguntei, sorrindo.

Lembrei-me dele dizendo que teve que obter instruções sobre como fazer, então eu
estava curiosa sobre o que ele ia cozinhar esta noite.

— Não, nada de pizza. Faremos frango assado, purê de batatas e feijão verde.

— Você foi à escola de chef, enquanto eu estava no hospital? — eu perguntei,


sentando-me em um banquinho que ele tinha colocado na cozinha para mim.

Depois de puxar várias coisas da geladeira, ele se virou para mim. — Pedir para
você ficar comigo não foi uma decisão precipitada. Eu estava planejando isso, esperando
e orando por isso. Eu sabia que você ia sair daquele hospital um dia, e eu esperava que
quando você saísse você viesse para casa comigo, então eu queria estar preparado. —
admitiu.

— Você aprendeu a cozinhar para mim?

— Eu apenas dei uma olhada na Internet. Não foi tão difícil. Eu olhei as receitas
básicas, comprei mantimentos e tentei algumas coisas.

Levantei-me, tirei as coisas que ele tinha em suas mãos, e as coloquei para baixo
no pequeno balcão. — Você aprendeu a cozinhar para mim.

— Sim, acho que eu meio que fiz isso. — ele sorriu.

— Eu não sei o que fazer com isso. — eu disse com espanto.

— Ajude-me. — ele riu.

— É isso aí!

Ele me fez ficar sentada o tempo todo, mas eu consegui ajudar lavando batatas e
cortando. Mais uma vez, formamos uma boa equipe, trabalhando em conjunto enquanto
nós conversávamos e ríamos. Um dia não tinha se passado e eu aprendi algo novo sobre
ele e vice-versa. Cada pequena coisa nova que eu aprendia era como me apaixonar por
ele novamente.
O jantar foi fantástico, e eu pensei que até mesmo Jude ficou agradavelmente
surpreso. Eu me ofereci para ajudar a limpar, e ele terminantemente recusou. Ele me
pegou e me colocou no sofá para descansar. Eu assisti TV, até que ouvi a máquina de
lavar louças ligar e então senti seus dedos deslizarem pelas minhas pernas.

— Você quer assistir a um filme? — perguntou.

— Não. — eu respondi, desligando a TV.

Eu coloquei o controle remoto no chão e movi suavemente os meus pés antes de


ficar de joelhos. Arrastei-me até onde ele estava sentado. Ele assistiu em silêncio
enquanto eu me movia em cima dele. Eu montei lentamente sua cintura enquanto suas
mãos encontraram minha pele nua.

— Tem certeza, Lailah? — ele perguntou sua voz pesada de emoção.

— Sim.

No segundo que a palavra foi falada, sua boca desceu sobre a minha - devorando,
lambendo e me degustando. Com a mão na minha cintura, ele levantou-se, e eu enrolei
minhas pernas em volta dele. Nosso beijo brevemente vacilou quando ele parou no
caminho para seu quarto para me pressionar contra a parede do corredor para tirar a
camisa.

Depois que ele nos levou ao quarto, ele me colocou em cima da cama. Foi a
primeira vez que eu o vi completamente sem camisa. A sua tatuagem escura que ia até
seu antebraço continuava por seu enorme bíceps e em torno do seu ombro. Eu queria
segui-la com os dedos e lambê-la com a minha língua.

— Você precisa parar de olhar para mim desse jeito. — advertiu, sua expressão
encoberta.

— Que jeito?

— Como se você quisesse me comer.

— Eu meio que quero. — eu admiti com minhas mãos serpenteando até seu torso
esculpido.

— Jesus, Lailah. — ele rosnou enquanto pairou acima de mim em seus joelhos. —
Você vai me matar.

Seus dedos dançavam ao longo da borda da minha camisa, levantando-a


ligeiramente, e ele se inclinou para beijar a pele exposta. Suas mãos deslizaram por baixo
do tecido até os lados do meu corpo com a camisa. Eu ajudei, levantando um pouco, para
que ele pudesse removê-la o resto do caminho.

— Eu preciso ver você toda. — disse ele enquanto seus olhos absorviam
avidamente o meu sutiã simples de algodão.
Ele não olhou para a grande cicatriz vermelha escorrendo pelo meu peito antes de
desaparecer no meu sutiã. Não houve suspiros ou olhos duvidosos. Ele olhou para mim
como se eu fosse uma mulher. Que não era quebrada e fraca a seus olhos. Eu era bonita,
sexy e sensual.

Ele tirou meu short, deslizando-o pelas minhas pernas, enquanto dava beijos
ávidos ao longo das minhas coxas e panturrilhas. Seus olhos vagaram pelo meu corpo, e
ele me observou quando alcancei atrás para tirar meu sutiã.

— Você é requintada. — ele sussurrou. Inclinando-se para frente, passou as mãos


sobre minhas coxas, provocando a carne sensível, em seguida, sobre os meus ossos do
quadril, e em toda a minha caixa torácica, até que ele foi apalpando meus seios. Quando
ele beliscou meu mamilo, eu gemi, juntando as minhas coxas para prolongar o prazer.

Ele me deu um sorriso perverso, enganchando os dedos no cós da minha calcinha,


que ele lentamente arrastou para baixo, retirando a última peça de roupa do meu corpo.
Ela caiu no chão e suas mãos desenharam um caminho lento até o interior das minhas
coxas, afastando minhas pernas, para que ele pudesse se mover no meio.

— Eu não quero te machucar, então nós vamos devagar. — disse ele.

Seus lábios se fecharam sobre o botão apertado do meu mamilo. Sua língua fez
círculos sobre a minha carne rosada e eu ofeguei alto quando seus dedos passaram pelo
meu núcleo sensível.

— Oh Deus! — eu gritei quando seu polegar esfregou meu clitóris.

— Merda, te tocar não é suficiente. Eu preciso te provar de novo. — ele rosnou


contra mim.

Ele se arrastou pelo meu corpo, beijando um caminho molhado. O segundo que
sua língua tocou minhas dobras escorregadias, eu instintivamente empurrei contra ele,
precisando de mais.

— É isso aí, meu anjo. Pegue o que você precisa.

Eu o ouvi gemer quando sua boca lambeu e chupou no meu âmago, e eu me


contorcia e me movia contra ele. Senti um aperto na minha barriga e um formigamento
na minha espinha, como eu nunca tinha experimentado antes, se intensificando até que eu
estava arranhando os lençóis e gritando seu nome. Suas mãos apertaram o cerco contra as
minhas coxas, me deixando impotente, e, em seguida, ele chupou com força o meu
clitóris. Eu vi estrelas, e eu poderia ter viajado para outro universo.

Ele se arrastou até o meu corpo e carinhosamente tirou o cabelo do meu rosto e
então ele se inclinou para me beijar. — A minha ideia era fazer isso mais duas vezes para
me certificar de que você está realmente pronta, mas estou com medo de que poderia
matá-la no processo. — disse ele com um pequeno sorriso.

— Eu estou pronta. — respondi.


Seu sorriso desapareceu, e ele tornou-se mais sério quando olhou nos meus olhos.
— Qual é o número um? — ele perguntou enquanto sua mão desenhava formas pelo meu
braço.

— Você já cumpriu. — respondi, fugindo da pergunta.

— O que é Lailah?

— Apaixonar-me. — eu finalmente respondi, olhando para os seus olhos com uma


expressão interrogativa.

Sem dizer nada, seus lábios desabaram sobre os meus, me marcando com o seu
beijo. Senti seu corpo elevar quando ele tirou a roupa. Minhas mãos enrolaram na curva
da sua bunda e puxei-o de volta para baixo. Pele na pele, seu olhar verde suave cortava
através de mim, e eu sabia a profundidade do seu amor, mesmo sem a declaração.

Ele me ama.

Senti-o duro e pronto contra mim, e meu coração disparou em antecipação.

— Eu preciso que você diga se eu te machucar. Se você se sentir fraca ou...

— Jude. — eu disse, agarrando-lhe o braço: — Eu não vou quebrar. Por favor,


faça amor comigo.

Seus olhos suavizaram e aqueceram. — Sempre. — prometeu.

Alcançando na gaveta ao lado da cama, ele pegou uma das camisinhas que havia
comprado como precaução. Eu tinha um implante de controle de natalidade em meu
braço há anos, mas, considerando que a gravidez era basicamente uma sentença de morte
para mim, ele não queria correr nenhum risco. Eu vi quando ele abriu o invólucro com os
dentes e puxou o preservativo. O processo todo meio que me fascinou. Eu não pude me
conter em ajudá-lo, e eu comecei a colocá-la. Seu suspiro estrangulado me assustou, e eu
rapidamente me afastei.

— Ter você me tocando é como puxar um pino de uma granada. Estou prestes a
explodir. — disse ele, levando a minha mão de volta para seu pênis.

Eu passei meus dedos pequenos em torno do seu grande perímetro e vi quando


seus olhos fecharam e sua cabeça caiu para trás.

— Acaricie-o. — ele ordenou.

Movi a minha mão passando pelo seu eixo descoberto e subi e desci a mão
novamente. Ele gemeu e seus olhos se abriram.

— Eu preciso estar dentro de você. — assumindo, ele rapidamente terminou de


colocar o preservativo e me empurrou de volta para o colchão.
Nossos olhos colidiram quando senti a ponta dele batendo no meu núcleo
molhado.

— Diga, Lailah. Eu quero ouvir as palavras.

Ele empurrou ligeiramente, e eu senti meu corpo apertar em torno dele.

— Eu te amo. — eu disse.

Ele se moveu lentamente, centímetro por centímetro. — Mais uma vez. — ele
exigiu.

Senti-o entrando completamente. Houve uma ligeira dor, mas quando ele se
afastou, movendo-se lentamente dentro de mim, rapidamente mudou de dor ao prazer.

— Eu te amo. — eu gemi.

Sua cabeça caiu, e ele beijou meu pescoço quando empurrou meu joelho para
frente. Isso mudou a sensação de prazer para êxtase intenso sexy. Eu gritei, agarrando
seus ombros, quando ele começou a empurrar lento e profundamente em mim.

Seu corpo era magnífico, ainda mais quando ele estava fazendo amor comigo.
Movia-se com graça e poder masculino cru. Cada impulso era exótico e emocionante de
assistir. Corri minhas mãos em todos os lugares sobre as curvas do seu traseiro, o V
profundo dos seus quadris e em torno da vasta extensão dos seus ombros.

Sua boca voltou para a minha, sua língua se movendo no mesmo ritmo que o seu
corpo. Uma mão serpenteou entre nós e foi para o ponto sensível entre as minhas coxas,
pressionando para baixo, enquanto ele se movia contra mim. Toda vez que ele batia no
meu corpo, o polegar batia no meu clitóris latejante.

— Oh Deus, eu vou... — eu gritei, sentindo tudo em meu corpo apertar.

Ele se moveu mais rápido, mais forte, e os nossos corpos começaram a bater
juntos em um ritmo acelerado. Eu gozei e meu corpo se apertou em torno do Jude, logo
que o senti ficar rígido acima de mim. Gemendo, ele me beijou furiosamente.

Algum tempo depois, ele se levantou e foi até o banheiro para se livrar do
preservativo. Quando ele voltou, caiu sobre a cama e me enfiou ao seu lado. Eu envolvi
minhas pernas nele e beijei-lhe o peito. Nós nos abraçamos enquanto conversamos, rindo
e nos beijando até tarde.

— Quero levá-la em um lugar amanhã. — disse ele.

Comecei a sentir o sono me dominando.

— Tudo bem. — respondi com um bocejo.


Seus dedos acariciaram meu cabelo, e seus lábios quentes na minha testa foram as
últimas coisas que eu me lembrei antes de adormecer.
O sono nunca vinha facilmente para mim neste lugar. Desde a noite que eu
tinha sido levado às pressas para o pronto-socorro, cortes e hematomas espalhados por
todo o meu corpo enquanto eu gritava o nome de Megan, a capacidade de sair da
consciência e encontrar a paz tinha me escapado.

Se eu fosse honesto comigo mesmo, sono e eu não tínhamos sido amigos por um
bom tempo antes do acidente. Eu não poderia contar o número de nascer do sol que
assisti incendiando no horizonte, manhã após manhã, enquanto eu contava os dias até a
formatura. Parecia como o dia do juízo final. O tempo estava passando e a liberdade logo
acabaria. Como a maioria dos nossos amigos, Megan estava emocionada. Depois de
quatro anos, todo o nosso trabalho duro tinha acabado. Todo o nosso trabalho duro valeu
a pena, e depois de atravessar essa fase com um diploma na mão, estaríamos prontos para
enfrentar o mundo - juntos.

Tarde da noite, eu a segurava enquanto ela dormia. Assistia a forma como a luz da
lua batia em seu cabelo castanho escuro e a forma como um pequeno sorriso se formava
em seus lábios enquanto ela sonhava. Observava e me preocupava. Eu me preocupava
com tudo que eu tinha escondido tão bem dela ao longo dos anos. Até onde ela sabia, eu
ia trabalhar para o meu pai. Era o que a maioria dos nossos amigos fariam também, por
isso não era nada demais. Exceto, que eu não teria ido trabalhar para o meu pai. Eu teria
entregado minha liberdade a ele em uma porra de uma bandeja de prata. Ele tinha me
mostrado o status da empresa, e não estava indo nada bem. Eles estavam contando
comigo para mudar as coisas, e isso não aconteceria em uma noite.

Minha vida estava prestes a mudar drasticamente, e eu ainda não tinha dito a ela.

Ela teria me odiado? Ela teria se ressentido por deixá-la a cega nessa situação?

Eu tinha planejado contar a ela tudo depois da nossa viagem para o Havaí, mas eu
nunca tinha tido a chance.

Ela morreu, acreditando que a nossa vida teria sido perfeita, e se Deus quisesse, eu
teria dado tudo para torná-la assim.

Eu estou repetindo o mesmo erro com Lailah omitindo a verdade sobre o acidente
de Megan?

Quando a primeira luz da manhã lançou seus raios pela janela do quarto, olhei para
o anjo dormindo em meus braços. Seus longos fios loiros caíam sobre seu corpo como
uma folha de seda dourada e eu não pude deixar de me curvar para beijar sua pele nua.

Seus olhos se abriram, e ela sorriu.

— Bom dia. — ela disse suavemente, sua voz ainda grogue de sono.

— Dia. — eu respondi. — Desculpe, eu não queria te acordar.

— Você pode me acordar desse jeito a qualquer hora. — ela sorriu timidamente,
esticando seu corpo de uma forma inocente que parecia tudo menos isso. Seus braços
foram acima da sua cabeça, o que acentuou os seios nus e quadris. Ela arqueou as costas
e ergueu os joelhos, enquanto soltou um pequeno suspiro.

— O quê? — ela perguntou se enrolando em mim.

— Essa foi a coisa mais sexy que eu acho que já vi.

— O quê? Eu me espreguiçando? — ela perguntou. — Você é louco.

Estendendo a mão, eu a coloquei sobre a dela e guiei através do meu estômago e


até o ápice das minhas coxas, deixando-a escovar os dedos contra a minha pele sensível
sob os lençóis. Quando os dedos alcançaram meu pau duro e pronto, ela ofegou.

— Isso é louco para você? — perguntei.

Eu não esperava que ela respondesse minha pergunta tocando-me nem suas
pequenas mãos ansiosas alcançando ousadamente e pegar meu eixo.

— Merda! — eu xinguei entre dentes.

Sua mão parou, e ela olhou para mim. — Está errado? Eu devo segurá-lo mais
forte... Ou mais suave? Sinto muito. Sou péssima nisso, não é?
Sua mão ainda estava me segurando, e eu ia pirar se em breve ela não começasse a
mover novamente a palma da mão.

— Você sabe que eu amo quando você balbucia. É bonitinho. Então, por favor,
não fique brava comigo quando eu digo isso, querida. — eu disse antes de parar. Eu
esperei até que ela encontrasse o meu olhar. — Cale a boca e pelo amor de Deus, por
favor, continue.

Seu rosto manchou de vermelho e um sorriso malicioso apareceu. — Assim? —


perguntou ela, enquanto sua mão abençoada voltou até meu pau e deslizou para baixo.

Minha cabeça caiu para trás enquanto eu gemia. — Sim. — respondi.

Eu estava completamente tomado pelo sentimento de sua mão se movendo para


cima e para baixo no meu pau para perceber que ela estava se movendo, deslocando-se,
até que seu corpo estava de frente para mim. Senti seus joelhos escovarem contra as
minhas coxas enquanto ela montou em mim e eu olhei para cima.

— Aqueles livros que você pegou para mim na biblioteca. — ela começou,
esfregando um círculo lento, com o polegar na minha ponta sensível. — Eles eram muito
educativos em certas áreas de estudo... E eu gostaria de... Tentar algo. — disse ela, com
um rubor se espalhando ainda mais pelo seu pescoço.

— Eu achei que nós íamos ler aqueles livros juntos. — eu brinquei, posicionando-
me em meus cotovelos para que eu pudesse vê-la me acariciar.

— Talvez mais tarde. — ela respondeu. — Mas eu queria ler alguns pela primeira
vez sozinha.

— Por quê? — perguntei.

Ela se inclinou para frente, seus olhos ainda fixos em mim. — Para que eu pudesse
aprender a fazer coisas como essa. — respondeu.

Ela se inclinou para frente, e eu assisti a língua arremessando para fora antes de
lamber meu eixo da raiz à ponta.

— Puta merda! — eu gritei quando sua boca quente e úmida se fechou sobre o
meu pau.

Olhos da cor da água do oceano encontraram os meus enquanto sua boca se movia
para cima e para baixo, com as bochechas esvaziando enquanto ela chupava e lambia.
Não houve hesitação, ela não duvidou de si mesma. Ela era feroz e confiante conforme
me amava. Eu assisti cada segundo, e era sexy pra caramba.

— Eu preciso estar dentro de você, Lailah. — consegui dizer.


Uma última lambida, e ela foi subindo o meu corpo, espalhando beijos até meu
torso e peito. Seu cabelo caiu para frente dos seus lábios rosados e macios quando
encontraram os meus, e um belo casulo dourado nos cercava.

Alcancei a gaveta ao lado da cama e peguei uma camisinha da caixa que eu havia
comprado. Isso era algo que eu nunca iria esquecer. Eu tinha lido o prontuário de Lailah
de trás para frente. Eu sabia dos riscos, e eu não podia esquecer essa regra simples.
Outros homens correm o risco de uma gravidez acidental com suas namoradas, mas não
eu, não quando isso poderia matá-la.

Descendo entre nós, eu deslizei o preservativo e depois escovei os dedos ao longo


do interior de suas coxas. Ela já estava molhada e pronta para mim.

— Você está dolorida? — eu perguntei, esfregando suavemente o polegar sobre


seu clitóris.

— Não. — ela respondeu suavemente, o vermelho voltando lentamente ao seu


rosto.

Ela tinha acabado de me dar um boquete – seu primeiro, nada menos - quase me
matado, e agora ela estava corando com a mera menção de nós fazermos amor na noite
passada.

As ponta dos meus dedos dançaram em suas bochechas rosadas. — Nunca perca
isso. Eu amo o jeito que você fica quando você se envergonha. — eu disse, olhando para
ela.

Posicionei-me e juntei nossos corpos mais uma vez. Seu olhar de puro êxtase iria
ficar comigo até o dia em que eu morresse. Seus olhos desfocaram quando ela empurrou
de volta contra mim.

— É isso aí, meu anjo. — eu persuadi.

Seus quadris começaram a mover e voltar contra mim. Minhas mãos dançaram até
as suas coxas e elas envolveram a sua cintura quando eu me sentei. Eu queria tocá-la em
todos os lugares de uma só vez e marcar cada centímetro de sua pele. Estar dentro dela,
senti-la se enrolar em mim enquanto ela ajeitava seu corpo ao redor do meu, me dava a
sensação de voltar para casa. Ela era o consolo que eu não tinha percebido que estava
procurando. Ela me deu força, paz e uma razão para ver o sol nascer novamente.

Ela continuou a me montar enquanto eu encontrava seus impulsos, agarrando seus


ombros, bati nela com abandono selvagem. Sempre consciente da sua saúde e da rapidez
com que ela pudesse se cansar, eu agarrei-a e nos virei, então ela ficou de costas contra o
colchão. Olhos fechados, ela enrolou as pernas em mim enquanto nós nos movemos
juntos. Ela gemeu e gritou quando meu polegar roçou a pele sensível de seu clitóris.

— Oh Deus, eu vou gozar! — ela gritou segundos antes de apertar em torno do


meu pau. Ela tencionou, tremendo e gritando o meu nome.
Foi como música para os meus ouvidos, porra.

Cada impulso que eu dei enquanto ela gozava me enviou em um espiral cada vez
mais perto da minha própria queda. Quando o orgasmo tomou conta do seu corpo, ela
apertou meu pau como um vício, até que perdi o controle, batendo nela. Fogos de
artifício explodiram enquanto meu corpo gozava com tanta força que eu caí ao lado dela.

Deitada ao meu lado, eu beijei levemente a curva suave do seu ombro antes de
tocar brevemente meus lábios nos dela.

— Você disse que queria me levar a algum lugar hoje. — disse ela.

Eu sorri. — Sim, eu disse. Mas, primeiro, eu acho que nós precisamos fazer uma
viagem para a biblioteca.

Ela arregalou os olhos enquanto seus lábios arredondaram com choque bem-
humorado. Um travesseiro foi lançado para o meu rosto segundos depois.

Provavelmente eu mereci isso.

— Por que estamos de volta ao hospital? — Lailah perguntou quando entramos no


estacionamento familiar.

— Este é o lugar onde eu queria levá-la. — eu respondi antes de sair do carro.

Eu dei a volta pela frente para abrir a sua porta.

— Você sabe que eu estive aqui algumas vezes antes, certo?

Ela sorriu quando eu peguei a mão dela, e fomos em direção à entrada.

— Sim, espertinha, eu sei disso, mas você não foi para onde eu vou te levar. — eu
uni as nossas mãos nos lábios e beijei cada junta.

Quando nos aproximamos da porta dupla, eu parei e me virei para ela. — Isso é
algo que eu preciso fazer... — eu comecei antes de tomar um longo suspiro profundo. —
Para seguir em frente. Eu quero que você esteja comigo.

Sua expressão ficou suave, e ela balançou a cabeça. — Claro. Eu não quero estar
em nenhum outro lugar. — ela respondeu.

Ela silenciosamente seguiu atrás de mim quando nós fizemos nosso caminho
através do hospital e para o longo corredor solitário que eu tinha reivindicado como meu.
Quando chegamos ao banco de madeira, eu parei e me virei para a porta fechada do meu
passado.

— Este foi o lugar onde ela me deixou. — eu disse. — Onde teve seu último
suspiro.
Os médicos, os pais dela - todos eles estavam errados.

Eles não entendiam, eles não percebiam o quão forte ela era, quão forte nós
éramos.

Ela iria lutar.

Ela iria lutar por nós.

Porque se ela não estivesse aqui, eu não saberia como prosseguir. Eu não poderia
encarar a vida sem ela.

— Filho, é hora de dizer adeus. — disse o pai de Megan através de lágrimas


sufocadas enquanto sua mão repousava em meu ombro.

Olhei para cima vendo os olhos avermelhados olhando para mim. Seus olhos me
fizeram lembrar muito os de sua filha.

— Não. — eu sussurrei minha cabeça balançando de um lado para o outro,


enquanto as lágrimas derramavam em meu rosto.

Ela não estava morrendo.

Ela não podia.

Íamos nos casar.

Olhei para baixo em seu dedo anelar vazio onde eu tinha colocado o anel de
noivado nem duas semanas antes. Os paramédicos haviam tirado da sua mão em
preparação para a cirurgia, e nunca tinha sido devolvido.

Isso não podia estar acontecendo. A qualquer momento, eu acordaria e Megan


estaria deitada em meus braços. Ela estaria feliz e inteira, e tudo isso seria nada mais do
que um terrível pesadelo.

Mas, no fundo, eu sabia que não acordaria disso.

— Nós vamos dar-lhe alguns minutos a sós com ela. — disse a mãe de Megan
antes de uma porta se fechar.

Olhei ao redor do quarto escasso. Ele apitava e soava enquanto Megan dormia
diante de mim. A cabeça dela estava envolta em ataduras brancas e hematomas e
arranhões cobriam a pele perfeita.

Delicadamente, tomando-lhe a mão, tracei as linhas de sua palma e assisti suas


feições por algum tipo de resposta. Mas, como as centenas de vezes antes, não havia
nada.

— Por favor, volte para mim. — eu implorei. — Eu não posso fazer isso. Eu não
sei como dizer adeus para você.
Minha cabeça caiu para frente, e eu beijei nossas mãos unidas.

Um bipe alto e alarmes me sobressaltaram e vi quando enfermeiros invadiram o


quarto, tentando me empurrar para fora do caminho.

Os pais de Megan entraram correndo, e vi o momento que sua mãe caiu no chão,
gritando de agonia.

Com a minha mão ainda segurando a dela, tudo aconteceu em um borrão, e logo,
os enfermeiros e médicos desaceleraram antes de virar em direção a nós com expressões
vazias.

— Sinto muito. Ela se foi. — anunciou o médico.

— Nunca cheguei a dizer adeus. — disse, voltando-me para Lailah quando ela
pegou a minha mão. — Eu acho que eu me recusei a dizer desde então. Eu não posso
dizer-lhe o número de horas que passei neste corredor, olhando para a porta, sentado
neste banco. Eu desperdicei anos aqui. — um riso estrangulado escapou dos meus lábios.
— Deus, ela me bateria se soubesse como eu acabei.

— Você não é mais aquela pessoa. — Lailah me lembrou. — Ela teria orgulho do
homem que você é hoje e a viagem que fez para chegar até aqui.

Estendendo a mão, eu acariciei a pele macia de sua bochecha. — Ele me trouxe


para você. Mas agora, é hora de eu dizer adeus. — disse, voltando-me para o banco. —
Eu nunca entrei em contato com os pais de Megan depois que me recusei a comparecer
ao funeral. Eu não estava bem naquela época, e a única maneira que eu soube como lidar
foi afastando todo mundo que eu conhecia. Eles não mereciam isso. Eles sempre foram
muito bons para mim. Eles pediram para colocar este banco quando descobriram que eu
ainda estava aqui. Acho que pensaram que poderia me ajudar a lamentar de alguma
forma. Eu nem sei se eu entendia o significado da palavra até recentemente.

Ela sentou-se, e vi seus dedos traçando a borda dourada da placa que tinha sido
colocada no dia anterior.

— Vida: ela continua. É uma citação de Robert Frost21. — ela disse enquanto seus
dedos roçaram a escrita elegante.

Juntei-me a ela no banco e sorri. — Sim, ela amava essa citação. Ela tinha gravado
no visor do seu carro como um pequeno lembrete para continuar quando as coisas
ficassem difíceis. Ela era uma força constante de energia positiva, e nunca iria querer que
eu deixasse a vida passar por mim enquanto eu me sentava neste corredor, esperando ela
voltar.

21
Robert Lee Frost foi um dos mais importantes poetas dos Estados Unidos do século XX.
— Obrigada por compartilhar isso comigo. — disse ela, deslizando a mão sobre o
bronze brilhante pela última vez. — Obrigada por compartilhá-la comigo. Mas, como
você disse, é hora de você dizer adeus, e eu acho que isso é algo que só deve ser
compartilhado entre vocês dois. Derrame a tua alma, Jude. Eu estarei esperando lá fora.

Ela beijou meu rosto rapidamente, e eu a vi desaparecer pelo corredor.

Eu não sabia quanto tempo tinha passado enquanto fiquei sentado lá. Olhei para
aquela porta fechada - pensando, respirando, esperando as palavras que viriam. Pessoas
embaralhadas passavam enquanto eu tentava encontrar o caminho certo para dizer adeus
à mulher e à vida que eu estive segurando por muito tempo.

— Eu te daria tudo, Megan. Você teria sido o meu mundo, minha esposa e minha
razão de existir. Não teria um único momento que eu me arrependeria... — sussurrei em
minhas mãos enquanto eu embalava a minha cabeça.

— Mas a vida tinha um plano diferente para nós, para mim. E agora, eu tenho que
dizer adeus. — minha voz falhou, quando eu disse as palavras. — Eu conheci uma
garota. Ela me puxou para fora da escuridão e eu não posso mais ficar aqui. Eu não posso
ficar aqui com você e amá-la ao mesmo tempo. Ela merece tudo de mim e eu quero dar-
lhe tudo. Então, por favor, acredite em mim quando eu digo que eu te amo. Eu te amo o
suficiente para me lembrar de você, a mulher que você era e a bela vida que
compartilhamos. Eu te amo o suficiente para deixá-la ir, para que eu possa viver a vida
que você quer que eu tenha. Cada minuto que tenho nesta Terra é ainda mais precioso por
causa do tempo que passei com você.

Eu fiquei de pé, dando um último olhar para a placa que eu tinha colocado em sua
memória. Beijando as pontas dos meus dedos, coloquei-os contra o metal frio na parte de
trás do banco.

— Vida - ela realmente segue em frente, e eu vou viver a minha agora. Adeus,
Megan.

Cada passo no corredor parecia o final daquela vida, outro passo e vi o meu futuro.
Meus olhos secaram quando eu subi no elevador. Quando me virei em direção à saída, eu
a vi sentada no banco de concreto esperando por mim.

Deus, ela é linda.

Nossos olhos se encontraram quando ela se levantou, e saímos pelas portas duplas.

Puxei-a em meus braços. — Eu te amo, Lailah. — eu disse, sem fôlego. — Eu te


amo mais do que eu consigo me lembrar, mas eu não consegui encontrar uma maneira de
dizê-lo até agora. Agora, eu quero dizer mais e mais...

— Pare de tagarelar. — ela sorriu — E me beije.

Eu pressionei meus lábios nos dela conforme eu gentilmente a levantei do chão e a


girei no ar. Seus risos e gritos rapidamente encheram o ambiente.
— Venha, vamos para casa. — eu disse, deixando seus pés tocarem o chão mais
uma vez.

— Eu gosto do som disso.

— Sim, eu também.
—V amos às compras. — disse Jude em uma tarde preguiçosa enquanto
estávamos deitados no sofá, assistindo a um filme.

— Compras? — eu disse, parando o filme. Eu olhei para ele da minha posição


muito confortável em seu colo. — Por quê? Nós fizemos compras ontem.

— Eu quero comprar um vestido e levá-la para jantar. — ele respondeu antes de


abaixar a cabeça e beijar minha testa.

— Você não tem que fazer isso. Você já fez o suficiente.

Fazia mais de uma semana que eu me mudei para o pequeno apartamento de Jude.
Fazia uma semana que falei com minha mãe. Por mais que eu amasse meu novo arranjo
de vida, eu não podia deixar de me sentir culpada por uma série de coisas. Um toque de
pesar e saudade me batia toda vez que eu pensava na minha mãe e eu me perguntava
quanto dano eu tinha feito à nossa relação depois de me afastar dela naquela noite. Mas
por mais terrível que me sentisse, eu não tive coragem pegar o telefone e ligar para ela.
Eu precisava pedir desculpas, mas meu maldito orgulho estava ficando no caminho.

Por que ela sempre sentia a necessidade de me proteger e abrigar tanto?

Quanto mais eu pensava nisso, mais comecei a perceber que podia não ser eu que
ela estava protegendo afinal, mas sim a si mesma.
Viver com Jude também me deixava culpada de não ser capaz de contribuir em
nada financeiramente. Eu odiava esse sentimento. Eu tinha vinte e dois anos e eu nunca
tinha tido um emprego ou ido para a faculdade. Eu não tinha um único dólar no meu
nome. Eu me sentia como um parasita. Jude poderia ter nascido na riqueza, mas ele não
estava mais vivendo em um estilo de vida luxuoso. Ele não tinha dinheiro para jogar fora,
e parte de mim se preocupava como ele poderia sustentar outra pessoa em sua vida.

— Eu quero. Além disso, você não vai me dizer que ir a um encontro não está na
sua lista. — um sorriso malicioso se espalhou pelo seu rosto.

— Bem, considerando que eu mostrei a lista inteira na cama na noite passada, eu


diria que você já sabe a resposta para essa pergunta.

Seu sorriso se alargou. — Sim, eu sei, é por isso que nós vamos fazer compras.
Vamos, levante-se. Vamos!

— Está bem, está bem! — eu ri, levantando-me do sofá. — Eu nunca deveria ter
mostrado aquele caderno a você. — eu resmunguei.

Eu senti sua respiração quente no meu ouvido quando ele falou: — Eu me lembro
de que eu fui muito convincente, e eu queria ter certeza que um determinado número
estava completamente riscado.

Ele me virou lentamente ao redor, por isso ficamos cara a cara. Suas mãos
deslizaram pelas minhas costas.

— Eu acho que fizemos um bom trabalho naquele item durante a última semana.
— eu sorri.

— Só estou tentando fazer você se sentir tão normal quanto possível. — a covinha
na bochecha dele apareceu. — Uma garota quente como você? Como eu poderia estar
perto de você o tempo todo e não querer foder com você a cada segundo do dia?

Suas palavras atrevidas me deixaram sem fôlego.

— Viu? — disse. — Eu só estou dizendo a verdade.

— Uh-huh. — eu consegui dizer.

Uma tapa na minha bunda me tirou do meu transe sensual.

— Vamos lá. — ele riu.

Ele pegou as chaves do balcão e saímos, imediatamente sentindo a brisa quente de


verão passando por nós quando deixamos o apartamento. O sul da Califórnia estava tendo
uma onda de calor ao longo da última semana. Em vez de ser saudado pela brisa fresca
reconfortante do oceano, que era uma das vantagens de viver tão perto da costa,
estávamos todos sendo atolados pelo calor sufocante.
— Tão quente. — eu disse enquanto entravámos no carro quente em chamas.

— Deixe-me ligar o ar. Pelo menos isso funciona nesta merda de carro...

— Ei! Seja legal com Yertle! Ele vai te ouvir! — eu disse, esfregando as mãos no
carro amorosamente.

Jude sacudiu a cabeça quando nós saímos no tráfego. — Eu não tenho ideia por
que você ama tanto este carro.

— É seu. Por que eu não iria amá-lo?

Ele não respondeu, mas eu vi o canto da sua boca curvar em um pequeno sorriso.

Alguns minutos depois, chegamos a uma área popular em Santa Monica, que era
conhecida por pequenas lojas e ótimos restaurantes. Ele não se incomodou de me
perguntar onde eu queria ir. Ele sabia que eu diria algum lugar barato como Old Navy, ou
eu ia perguntar se havia algo barato por perto. Ele estava tão certo. Eu já estava
caminhando para a área vermelha do grande centro do alvo.

Cerca de uma quadra, ele nos puxou para uma loja grande. Não era tão abafada,
mas muitos passaram esbarrando em nós, e eu não fui bombardeada por balconistas na
hora que entrei, o que foi um bônus na minha mente. Eles também tinham prateleiras de
promoção.

Ponto.

— Sério? Você vai direto para as promoções?

— Você não pode me culpar por ser econômica. Além disso, não importa se é de
cinquenta por cento de desconto se parece com isso. — eu levantei o vestido que eu tinha
visto na porta, e vi seus olhos saltarem.

— Experimente-o - agora. — ele mandou.

Eu procurei o provador e fui direto para a entrada. Fiz contato visual com a
atendente da loja, e ela me levou até o primeiro provador. Jude sentou-se na frente. Eu
puxei a cortina para trás, levantei minha camisa e deslizei meu short pelas minhas pernas.

— Bom. — eu ouvi além da cortina.

Eu bufei uma risada e balancei minha cabeça enquanto eu tirava o vestido do


cabide. Ele cobria a minha cicatriz perfeitamente e amarrava um laço bem na minha nuca.
Quase sem costas, um modelo de verão vibrante em um padrão assimétrico. Parecia leve
e arejado contra a minha pele, e fazia coisas incríveis para a minha pequena figura.

Eu respirei fundo e me virei de frente para a cortina. Eu lentamente puxei-a para


trás, revelando-me para Jude. Seu olhar se levantou, e vi sua expressão mudar de surpresa
para a fome crua.
— Acho que o zíper não fechou todo na parte de trás. — disse ele, rapidamente se
levantando da cadeira.

Eu olhei para baixo imediatamente e me virei para verificar.

— O quê? Sim, ele está. Ah...

A cortina foi fechada repentinamente e sua boca caiu sobre a minha. Ele me
pressionou contra o espelho frio e mãos ansiosas deslizaram sob o meu vestido. Eu
agarrei punhados dos seus cabelos, puxando-o para mais perto, enquanto sua língua se
movia contra a minha, mais e mais, sem descanso.

— Está tudo bem aí? — a funcionária gritou do lado de fora da cortina.

Minhas mãos congelaram, e nossos beijos frenéticos desaceleraram. Um sorriso


malicioso apareceu no rosto de Jude segundos antes que ele estendeu a mão e agarrou a
etiqueta do vestido.

— Vá pagar por isso. — disse ele, entregando-me a carteira. — Eu vou pegar suas
roupas e sairei... Em um minuto.

Eu olhei para baixo, para o volume impressionante em suas calças, e eu tive que
morder o lábio inferior para não rir antes de eu o deixar para pagar no caixa.

— Oh meu Deus, quase fizemos sexo em um provador! — eu ri em seu ombro


enquanto andávamos de braços dados minutos depois na rua.

— Eu estava perfeitamente no controle. Eu não sei qual era o seu problema.

Divertidamente bati em seu peito enquanto continuamos nos provocando no


quarteirão. Paramos em um tranquilo e pequeno restaurante italiano. Havia um pouco de
espera, então fomos para o bar e sentamos.

— Você pode pedir alguma coisa, se você quiser. — eu disse, apontando para o
barman, do outro lado do bar.

— Eu não preciso de nada.

Eu coloquei minha mão sobre a dele. — Só porque eu tenho limitações, não


significa que você precisa.

— Não é isso. — respondeu ele. — Eu não bebo desde a noite do acidente. Eu


simplesmente não posso.

Balançando a cabeça, sorri calorosamente. — Então, água para nós dois?

Seus olhos enrugaram juntos. — Eu acho que vou ser ousado e ir com uma Coca-
Cola.

— Ah, que ousadia.


Nós pedimos nossas bebidas, e depois de 20 minutos, Jude começou a ficar
impaciente.

— Eu vou verificar a nossa mesa. Eu já volto. — sua mão roçou nas minhas
costas, e depois ele desapareceu no meio da multidão.

Fui deixada agitando o gelo no meu copo, esperando que ele voltasse.

As pessoas sentavam em torno do bar, rindo e brincando, sem perceber a sorte que
tinham por terem momentos como este. Eles eram completamente inconscientes do quão
incrivelmente abençoadas eram pela normalidade que tinham em suas vidas.

Por outro lado, eu estava finalmente tendo a minha chance também.

Eu era finalmente a sortuda.

— Você parece terrivelmente solitária, sentada aí, sozinha. — disse uma voz
profunda atrás de mim.

Sorrindo, eu pensei que Jude estivesse pregando uma peça em mim, mas eu me
virei para encontrar um homem de ombros largos, mais velho, de pé atrás de mim. Seus
cabelos escuros bem aparados e um sorriso branco deslumbrante me assustaram e me
perguntei por um momento se ele estava realmente falando com outra pessoa.

— Desculpe-me? — eu respondi baixinho.

— Eu disse você está terrivelmente solitária. Posso te pagar uma bebida e me


juntar a você?

— Uh... Na verdade, eu estou...

— Ela está comprometida. — a voz de barítono de Jude encheu o ar enquanto sua


mão possessiva deslizou pelo meu ombro.

O homem pareceu imediatamente entender e seu olhar se estreitou em Jude. —


Bem, eu acho que ela provavelmente tem uma palavra a dizer sobre isso, não é? — ele
disse presunçosamente, olhando para mim como se esperasse que eu afastasse Jude e me
atirasse nele em vez disso.

— Eu definitivamente estou comprometida. Obrigada. — respondi, virando-me


para Jude e esquecendo o homem com o sorriso de água sanitária.

As mãos de Jude seguraram meu rosto e ele balançou a cabeça. — Cinco


segundos. Eu a deixo sozinha por cinco segundos, e eles estão em cima de você como
abutres.

— Fui paquerada! — exclamei com uma ligeira emoção estridente na minha voz.
Ele revirou os olhos. — Isso foi uma coisa em sua lista que eu realmente poderia
ter deixado de fazer. Ou melhor, ainda, eu poderia ter feito isso sozinho. Na verdade,
vamos apenas dizer que eu fiz isso primeiro e esquecemos o que aconteceu.

— Ah, pobre Jude. — eu disse antes de fazer beicinho.

Ele veio para frente e mordeu meu lábio antes de sugá-lo em sua boca em um
beijo. — Minha. — ele rosnou. — Vamos comer.

Tudo bem.

— Você convidou minha mãe? — eu repeti, pela segunda vez desde que ele
anunciou.

Nós tínhamos acabado de terminar nosso incrível jantar, e estávamos entrando no


carro quando ele soltou a bomba da minha mãe em mim.

— Anjo. — ele se virou para mim depois de dar a ignição. — A Grace não pode
ficar com você esta noite e você sabe que eu não posso deixá-la sozinha enquanto eu
estou no trabalho.

Eu poderia ter revirado os olhos quando ele saiu da vaga no estacionamento.

— Liguei para ela hoje de manhã e ela realmente sente sua falta.

Culpa? Festa para um!

— Bem, ela não se preocupou em ligar. — disse rispidamente, cruzando os braços


sobre o peito.

— Ela disse que queria dar-lhe o espaço que você pediu, mas isso quase a matou.
Eu acho que ela conseguiu notícias através de Marcus.

— Isso que pensei. — resmunguei.

Ele me deu um sorriso enquanto fazia uma curva à direita em um semáforo.

— Ah, tudo bem! — eu disse para sua tortura silenciosa.

— Eu sei que você quer vê-la.

— Sim. — eu admiti.

— Bom. São apenas algumas horas. Eu consegui uma pequena mudança hoje à
noite, por isso vou estar em casa à meia-noite.

Eu balancei a cabeça enquanto eu observei quando ele desligou o motor e abriu a


porta. Olhei em volta e notei o carro da minha mãe algumas vagas acima. A porta do lado
do motorista se abriu e ela apareceu.
— Oi, Lailah. — ela me cumprimentou.

Subimos as escadas até o apartamento de Jude. Paramos na porta e ela


desajeitadamente torcia as mãos, sem saber o que fazer a seguir.

— Oi, mãe. — eu respondi, dando um passo à frente para envolver meus braços
nela.

Ela derreteu, suas mãos se movendo nas minhas costas, confortáveis e seguras. —
Eu senti sua falta. — disse ela, afastando para dar uma olhada em mim. — Você está
linda.

— Obrigada. Por que você não entra? — ofereci.

Ela balançou a cabeça quando Jude abriu a porta e nós entramos. Eu vi quando ela
avaliou o apartamento. Ao longo da última semana, eu tinha conseguido fazer com que
parecesse um pouco menos sombrio. Alguns travesseiros e cobertores no sofá e a falta de
caixas definitivamente ajudaram.

Ofereci-lhe um lugar no sofá e me virei para Jude.

— Eu tenho que começar a trabalhar, mas eu queria dar isso para a sua mãe. —
disse ele, entregando um saco plástico e um pedaço de papel. Ele se virou para minha
mãe. — Os remédios estão aí e eu escrevi o que ela precisa tomar e quando, para o caso
de ter mudado desde a última vez que ela estava em casa.

Achei que o respeito de minha mãe com Jude triplicou nesse momento que ela
olhou para o saco transparente e silenciosamente acenou com a cabeça.

— Obrigada. — respondeu ela.

— De nada.

Virei-me para ele, e ele me deu um beijo rápido na bochecha.

— Eu tenho uma muda de roupa no trabalho, então eu estou indo. Vocês duas
tenham uma boa noite. — disse ele com um sorriso antes de sair pela porta.

Juntei-me à minha mãe na sala e a assisti com curiosidade, enquanto ela


calmamente olhou para a nota manuscrita de Jude sobre meus remédios.

— Ele é muito responsável, controlado. — ela soltou uma risada curta quando uma
única lágrima escorreu pelo seu rosto.

— Assim como você. — eu respondi antes de ver seu rosto desmoronar. — Mãe?
— eu disse, aproximando-me dela. — O que está acontecendo?

— Não é nada, nada que eu não possa resolver.


Ela estava mentindo. Suas feições estavam dizendo muito. Ela, obviamente, estava
fazendo tudo em seu poder para se controlar. Ela era como um pote de areia. Parecia tão
forte do lado de fora, mas apenas um toque no lugar certo e tudo desmoronava.

— Mãe, por favor. Você passou sua vida escondendo suas coisas de mim, porque
você pensava que estava me protegendo. Olha onde isso nos levou. Diga-me. — implorei.

Seus olhos encontraram os meus e eu vi devastação completa.

— Seu transplante foi negado.

Eu não conseguia respirar. O ar ao meu redor estava muito pesado, eu não


consegui possivelmente entender e estava difícil engolir, a minha traqueia parecia
fechada. Meus olhos freneticamente foram até a porta, onde Jude tinha acabado de sair e
de repente eu queria arrebentá-la e gritar seu nome para voltar.

Eu preciso dele.

Eu preciso dele para... O quê?

Dizer que vai ficar tudo bem? Porque não vai.

Nada disso está bem.

Olhei para a minha mãe, com os olhos arregalados, com lágrimas escorrendo pelo
meu rosto enquanto ela esperava que eu dissesse alguma coisa.

— Negado? — eu repeti só para ter certeza que ouvi a palavra dos meus próprios
lábios.

Ela assentiu com a cabeça. — Mas nós vamos apelar. Eles não podem fazer isso.
Eles não podem. Nós vamos lutar. Eles não entendem o que nós passamos, o que você
passou. Vou explicar. Vou explicar tudo. Vou fazê-los ver. Marcus vai explicar e vamos
fazê-los mudar de ideia.

Todas as suas palavras soaram como ruído. Um zumbido nos ouvidos que só
ficava cada vez mais alto, mais forte e mais nítido.

Eu precisava parar.

Eu precisava parar tudo.

Eu passei meus braços em torno dela e solucei enquanto ela repetia várias vezes
que iria encontrar uma maneira de me salvar.

Eu não ouvi. Eu não ouvi nada disso.

Eu não fui feita para ser salva.


D eixar Lailah à noite era a minha parte menos favorita do nosso novo arranjo

de vida. Eu brevemente pensei em fazer um pedido para o turno do dia, mas com a mãe
dela e Grace disponível à noite, fazia mais sentido eu continuar trabalhando no turno da
noite.

Eu ainda odiava.

Eu odiava não adormecer com ela durante a noite e eu odiava saber que ela estava
dormindo sozinha em nossa cama.

Eu corri até as escadas do nosso prédio e sorri, pensando em quão rápido tudo
tinha se tornado nosso.

Há apenas duas semanas juntos e ela havia entrado, em meu corpo e alma. Mesmo
a ideia de mandá-la para sua mãe para uma noite, parecia tão horrível que eu realmente
pedi a mulher para ficar aqui em vez apenas dela ir, para que eu não tivesse que dormir
uma noite sem Lailah.

Eu calmamente destranquei a trava e entrei. Molly estava dormindo no sofá, e


depois de alguns toques, ela despertou.
— Ei, eu estou em casa. Mas você pode ficar aqui se você quiser. — eu ofereci.

Ela esfregou os olhos, que pareciam vermelhos e inchados, quando ela bocejou. —
Não, eu vou para casa. Vocês dois precisam de algum tempo sozinhos, eu acho. — disse
ela, colocando uma mão macia em meu ombro.

Olhei para o gesto com um olhar curioso. Claro.

Ela virou-se e eu tranquei a porta, balançando a cabeça com seu comportamento


estranho.

Talvez ela estivesse apenas cansada. Talvez ela tenha decidido que finalmente
gostava de mim.

Provavelmente não.

Afinal, eu estava dormindo com sua filha.

Puxando minha camisa sobre a minha cabeça, eu escapei para o quarto e parei
quando vi que Lailah estava acordada, sentada na cama.

— Ei. — eu disse. — O que você está fazendo acordada? Está tarde.

— Não consegui dormir. — ela respondeu vagamente.

Juntando-me a ela na cama, me coloquei debaixo das cobertas e segurei seu


queixo. — Está tudo bem entre você e sua mãe? Ela parecia um pouco estranha quando
saiu há poucos minutos.

— Pois é... Não. — ela respondeu, sua calma absoluta, nunca vacilou. — Eu sou
sempre esse problema que precisa ser corrigido. Por que não posso apenas ser sua filha?

— Anjo, por favor, você está me assustando.

— Meu transplante foi negado. — ela finalmente disse.

— Lailah, não. — minha voz falhou.

Puxei-a em meus braços, e ela veio de bom grado. Eu tentei diminuir o pânico
crescente que senti com seu anúncio repentino.

— Nós vamos dar um jeito nisso, está bem? — eu disse. — Isso ainda não acabou.
Eu tenho certeza que há uma maneira de convencê-los.

— Eu não quero apelar. — ela disse baixinho no meu peito.

Meu batimento cardíaco vacilou com suas palavras e eu empurrei de volta contra
ela até que eu vi aquelas íris azul-bebê. — O que quer dizer, você não quer apelar?
— Eu estou cansada de lutar, Jude. — ela suspirou. — Eles me negaram uma vez.
Por que de repente aprovar? Esta nova companhia de seguros não é como a antiga. Eles
não querem pagar a fatura. Quanto tempo vamos agonizar sobre um recurso apenas para
vê-lo negado novamente? Eu não aguento mais.

— Você está desistindo? — eu sussurrei completamente atordoado.

— Não é desistir. É só aceitar o que é.

Eu dei um passo para longe da cama, a raiva crescendo tão ferozmente que eu
queria dar um soco na parede. — E o que exatamente você está aceitando? Que você está
morrendo? — eu gritei, voltando-me para ela.

Ela se encolheu visivelmente. — Eu só quero aproveitar o tempo que me resta,


Jude.

Minha cabeça começou a balançar furiosamente. — Não, não, eu não aceito isso.

— Não é sua decisão.

Lágrimas ardiam nos meus olhos. — Isso tudo é a porra da minha culpa.

Seu toque suave roçou meu ombro nu. — Isso não é culpa sua. Você não teve nada
a ver com isso, Jude. — disse ela.

— Eu tive tudo a ver com isso. — eu respondi, afastando-me dela. — Eu sou a


razão de você não receber o primeiro transplante, Lailah. Eu sou a razão pela qual você
ainda está aqui, esperando por um.

Sua cabeça virou para o lado. — Eu não entendi.

— Megan. — eu respondi. — Megan era para ser a doadora do seu coração. Você
disse que isso aconteceu há três anos na semana do Memorial Day. Foi quando aconteceu
o acidente. Os pais de Megan queriam doar seus órgãos, ou os que não foram
danificados. Ela estava com graves danos cerebrais, mas seu coração estava em perfeitas
condições.

— Não, isso não é possível. — disse ela, com a voz distante.

— Sim, é. Eles sabiam que ela tinha ido embora, mas eu não deixei. Eu implorei e
insisti com eles para reconsiderarem. Eu lhes disse que estavam a matando. Eu disse que
eu poderia trazê-la de volta. Fiz tudo o que podia para mudar a ideia deles. Funcionou,
Lailah. Eu sou a razão pela qual você não conseguiu o transplante.

Eu não sabia quanto tempo ela ficou lá, olhando para a costura do edredom,
enquanto eu esperava que ela dissesse alguma coisa, qualquer coisa.
— Por favor, Lailah, berre comigo, grite comigo, me diz para dar o fora. Faça
alguma coisa, qualquer coisa, mas não o silêncio. — eu implorei.

Seus olhos encontraram os meus, e eles quase me cortaram em dois.

— Quando você veio para o meu quarto você sabia quem eu era?

Caindo de joelhos na frente dela, eu peguei a sua mão. — Deus, não, eu não tinha
ideia. Eu juntei tudo mais tarde.

— Eu era uma espécie de projeto? Uma maneira de se livrar da sua culpa? — ela
murmurou.

— Jesus, Lailah. — eu disse enquanto minha cabeça caía no colchão. — Não...


Talvez... Eu não sei. — eu levantei minha cabeça. — No começo, sim. Talvez eu me
senti responsável e agi por culpa, tentando te recompensar pelo o que eu tinha feito... Mas
não mais. — eu disse. — Não mais.

Seus longos cabelos moveram para trás conforme sua cabeça balançou contra as
palmas das mãos. — Eu não sei mais o que pensar.

Rastejando ao lado dela, peguei suas mãos nas minhas, segurando-as contra o meu
peito batendo. — Saiba que eu te amo. Saiba que isso é real, o que eu sinto por você.
Saiba que você tem que lutar por isso. Lutar por nós, Lailah. Não desista.

— Não vou desistir de querer passar o resto da minha vida com você. — ela disse
suavemente. — Independentemente de como nos conhecemos ou o que nos trouxe a este
momento, quero passar cada minuto que me foi dado com você, Jude. Isso não é desistir.
Isso é viver.

— É desistir quando sua vida está sendo cortada! Você não vê, Lailah? Você é a
porra da minha vida. Eu poderia ter sobrevivido à morte de Megan, mas se você me
deixar, vai me destruir. Vida - ela não continua sem você.

Lágrimas derramaram em seu rosto enquanto ela me encontrou no meio do


caminho. Nosso beijo se tornou frenético e não tive qualquer tipo de delicadeza. Era cru e
poderoso. Quando nossas roupas bateram no chão e nossos corpos se tornaram um, eu
olhei em seus olhos, em sua alma, e pedi-lhe para ficar comigo, pedi-lhe para não me
deixar em ruínas.

Eu não sei por que eu acordei, mas algumas horas antes do amanhecer, senti um
enorme sentimento de pavor. Olhando ao redor do quarto, sentei na cama, até que
encontrei a forma adormecida de Lailah. Ela estava deitada, imóvel. Sua respiração
estava superficial e curta.
— Lailah. — eu disse, balançando-a.

Seus olhos se abriram lentamente, e foi quando eu comecei a entrar em pânico.

— Eu não me sinto bem. — disse ela, apertando o peito.

— Onde está o seu balão de oxigênio? — eu perguntei, pulando para fora da cama
para acender a luz do teto.

Seu balão estava no canto, e eu rapidamente liguei, posicionando a máscara sobre


a cabeça.

— Meu batimento cardíaco está irregular. — disse ela através do plástico cobrindo
a boca.

— Eu vou ligar para o Marcus. — anunciei, pegando meu celular do criado-mudo.

Cinco segundos depois, ela desmaiou.

— Merda! Lailah! — eu gritei, socando 911 no meu celular.

Eu fiquei calmo e sereno, a minha formação ajudou, enquanto eu a embalei em


meus braços. Ela felizmente estava respirando, mas era curto e insuficiente.

— Vamos lá, meu anjo, fique comigo. — implorei antes de beijar seus lábios
pálidos.

Esperei os paramédicos chegarem. Em poucos minutos, a ambulância chegou, e


estavam transportando-a para o hospital. Eu segurei sua mão todo o tempo em que
colocaram sua IV e aferiram seus sinais vitais.

Marcus nos encontrou na entrada do pronto-socorro, correndo após a minha


ligação apavorada. Deixaram-me segui-la para um quarto, mas fui rapidamente deixado
sozinho quando a levaram para exames.

Passos apressados vieram para a porta, e eu olhei para cima para ver Molly ali de
pé, sem fôlego.

— Onde ela está?

— Eles a levaram de volta para alguns exames.

Ela assentiu com a cabeça, dando um passo à frente para tomar a cadeira vazia ao
meu lado. Eu estava honestamente surpreso que eu não estivesse sendo expulso. Eu
esperava ser responsabilizado por todo o evento. Olhando para trás na noite, eu me
preocupava que eu poderia ter forçado muito - jantar e fazer compras, a falta de sono,
tudo combinado com a forma como tínhamos rasgado um ao outro, poucas horas antes.
— O que aconteceu? — Molly perguntou em voz baixa.

— Eu acordei e me senti petrificado. Eu olhei e ouvi a respiração superficial.


Acordei-a, e quando eu estava chamando Marcus, ela desmaiou.

Ela balançou a cabeça e deixou-a cair em suas mãos. — A culpa é minha, por
contar sobre o transplante. Foi muito estresse. Eu nunca deveria ter dito a ela.

— Não, ela merecia saber.

— É tão difícil não protegê-la de tudo. — disse ela suavemente.

— Eu sei. — respondi.

Ficamos ali sentados em silêncio, esperando que ela voltasse. O relógio de plástico
barato lentamente assinalava os segundos na parede, lembrando-nos exatamente onde
estávamos e por que estávamos aqui.

— Eu queria te odiar. — disse Molly, de repente.

Eu virei para ela e observei as sobrancelhas franzirem.

— Quando apareceu pela primeira vez, tão jovem e arrojado, eu pensei que você
iria quebrar o coração dela. Ninguém poderia entender o custo de amar uma garota como
Lailah. No entanto, você ficou, e eu percebi uma coisa ontem. Você só quer a mesma
coisa que eu.

— E o que é isso? — perguntei.

— Mantê-la aqui, não importa o custo.

Eu coloquei minha mão sobre a dela. — Nós não vamos perdê-la. Não importa o
que, eu prometo.

Ela abriu a boca para responder, mas a porta balançou aberta, e uma mulher
apareceu, empurrando Lailah atrás dela.

— Ei. — ela disse fracamente.

Essa única palavra era como uma preciosa bênção do céu.

Ela estava acordada.

— Ei, você voltou. — eu respondi, levantando-me da cadeira para pegar a mão


dela. — Como você está?
— Eu estou bem. Já estive melhor, mas eu já estive bem pior, também. Marcus
disse que eu provavelmente só exagerei - talvez um pouco demais no sal do jantar e falta
de sono - mas ele está fazendo alguns exames para checar.

Fechando os olhos com força, eu balancei minha cabeça. — Eu sinto muito. A


culpa é minha. Devíamos ter ficado em casa.

— Não estamos jogando o jogo da culpa, Jude. É assim comigo. Às vezes, eu


tenho dias ruins, e ontem foi apenas um desses. Vai acontecer mais vezes desde...

Minha cabeça ergueu enquanto meus olhos se arregalaram.

Ela não poderia ainda considerar isso - não depois da noite passada, não depois de
eu ter derramado a minha alma. Olhando para Molly, ela olhou para Lailah e depois para
mim. Sua cabeça inclinada para o lado, enquanto tentava descobrir o que estava
acontecendo.

— Jude, você poderia dar à minha mãe e eu um minuto? — ela perguntou.

Meu olhar vagou para frente e para trás entre ela e Molly, eu finalmente me
acomodei em Lailah e dei-lhe um apelo silencioso final. Por favor, não faça isso, eu
implorei com os olhos.

Eu mergulhei para fora da sala atordoado e caminhei para o outro lado do corredor
onde eu deixei meu corpo deslizar para baixo na parede até que eu bati no chão. Olhando
fixamente para a porta fechada, eu esperei, imaginando o que ela estava dizendo, o que
ela tinha decidido.

Três minutos mais tarde, eu tive a minha resposta.

Soluços altos ecoaram pelo corredor quando Molly recebeu a notícia devastadora
da decisão da Lailah em renunciar quaisquer tentativas de um recurso.

Sentado no chão em um corredor de hospital só com as minhas costas pressionadas


contra a parede, eu senti minha vida terminando uma segunda vez.

A ironia é uma cadela.

Ela não pode fazer isso. Dane-se ela e seu senso de independência. Eu fiz uma
promessa para mantê-la viva, sem importar o custo.

Sem importar o custo.

Dando um salto, estendi a mão no bolso lateral. Retirando meu celular, disquei o
número que eu nunca pensei que precisaria novamente.

O telefone tocou três vezes antes do filho da puta atender.


— Alô? — a voz profunda e familiar respondeu.

— Roman, sou eu.

— Jude?

— A volta do filho pródigo. — eu respondi com os dentes cerrados.

— Este telefonema significa que você está pronto para vir rastejando de volta?

Eu podia ouvir o sorriso de escárnio claramente.

— Eu vi a notícia, idiota. Não aja como se você não precisasse de mim.

— Ouça irmãozinho, você nos deixou na mão. A cabeça do meu pai foi para a
merda nos últimos dois anos – demência de início precoce. Os membros do conselho
estão pedindo a minha cabeça, então, por favor, desculpe-me por não rastejar aos seus
pés, porra.

— Papai está doente? — eu disse.

— Sim, imbecil. Você saberia disso se você se preocupasse em verificar sua


família.

— Por que não é notícia? — eu perguntei.

— Porque eu mantive afastado do noticiário. — ele cuspiu.

Claro que ele manteve.

— Olha, eu sinto muito por não ligar e verificar as coisas. Eu estava fodido, mas
eu estou pronto para voltar.

— Não nos faça quaisquer favores, Jude. Eu não preciso de uma visita. Eu preciso
de alguém que está disposto a ir até o fim. Se você já viu as notícias, você só viu apenas
metade disso.

Eu tomei uma respiração profunda. — Eu vou voltar - finalmente. Mas eu tenho


condições.

— Eu estou ouvindo. — ele respondeu.

— Nós vamos executar as coisas do meu jeito desta vez. O que eu disser será feito.
Você entende?

— Se você puder salvar esta empresa e manter todos os empregados, eu vou fazer
o seu café da manhã, irmão.

Sua preocupação com os funcionários me surpreendeu. Talvez meu irmão tenha


realmente crescido desde que eu o deixei.
— E eu quero ter acesso a todas as minhas contas - imediatamente. Sem perguntas.
— eu disse.

— Feito.

— Bom. — eu respirei de alívio quando me apoiei contra a parede atualmente me


segurando. — Vejo você em alguns dias.

— Você está tomando a decisão certa, Jude. — disse ele.

Eu bati no botão para desligar, cortando a chamada antes que eu tivesse a chance
de mudar de ideia.

Não havia decisão certa ou errada aqui. De qualquer maneira, eu estava ferrado.

Lailah viveria. Eu tinha apenas que garantir isso.

Eu não estaria aqui para vê-la.

— Ela não pode saber. — eu pressionei Marcus, quando nós nos sentamos no
refeitório escuro.

— Durante todo esse tempo. — disse ele, olhando para mim de uma maneira
completamente diferente. — Eu deveria ter reconhecido. Você nunca pertenceu aqui.

— Eu estava exatamente onde eu deveria estar. — respondi.

Ele acenou com a cabeça, dor gravando suas feições cansadas. — Ela nunca vai
acreditar. A companhia de seguros nunca iria conceder um apelo, não agora. Ela sabe
disso. Por que você acha que ela desistiu?

— Faça-a acreditar, Marcus. Eu não me importo o que você vai dizer. Minta,
chame de um ato de Deus, diga que você pediu um favor pessoal. Eu não dou a mínima.
Faça-a acreditar que o impossível aconteceu. E Molly...

— Eu vou cuidar de Molly. — disse ele. — Ela é teimosa como uma mula, mas
quando se trata disso, ela vai fazer o que for preciso para salvar a filha.

Ele colocou o café na mesa e olhou para mim. — Por que você não disse a ela?

— Ela nunca me deixaria ir até o fim. Eu vi a convicção em seus olhos na noite


passada, Marcus. Ela fez as pazes com isso e aceitou o seu destino. Eu não posso permitir
isso.

— E se você destruí-la no processo?

— Você e Molly estarão aqui para pegar os pedaços. — botei para fora. — E ela
vai estar viva.
— Você sabe que não podemos impedi-la de ir atrás de você, uma vez que ela
estiver recuperada.

Eu balancei minha cabeça, meu estômago revirando com desgosto. — Você não
vai precisar. Depois de amanhã, ela não vai querer me ver nunca mais.
D izer para a minha mãe foi mais difícil do que eu pensei.

Vê-la quebrar na minha frente, sabendo que eu tinha causado isso, quase me
rasgou ao meio. Eu era o seu mundo desde sempre.

Manter-me viva havia se tornado sua vida.

E eu basicamente apenas joguei aquilo na sua cara e disse: — Não, obrigada.

Eu sabia que tudo o que eles pensavam é que eu estava desistindo, e de certa
forma, era.

Mas a escolha era minha.

Minha.

Eu fui mimada e me foram dadas meias-verdades. Eu era uma mulher adulta, e era
hora de eu começar a agir como uma. Se eu tinha um tempo limitado nesta Terra, eu
escolheria como gastá-lo.

Eu.

Ninguém mais.
No pouco tempo que eu tinha conhecido Jude, ele tinha me dado um gostinho de
como a vida poderia ser se as coisas tivessem sido diferentes, se eu tivesse nascido
normal. Foi agridoce, saber o tipo de vida que poderia ter tido, e minha alma doía,
sabendo que era algo que nunca teria. Mas crescendo anormal, além da sociedade, eu
sabia que tinha que ser grata pelo tempo que tinha sido me dado.

E eu queria passar esse tempo restante com Jude, não lutando por algo que nunca
foi feito para acontecer.

Uma batida na porta chamou minha atenção, e vi quando Jude entrou, me


lembrando de todas as vezes que ele tinha feito isso no passado. Eu tinha sido transferida
ao andar superior, na unidade de cardiologia, e mesmo que eu estivesse em um quarto
diferente do que eu fiquei anteriormente, ainda trouxe de volta boas lembranças vê-lo
entrar.

O dia tinha passado em um borrão, e eu tinha dormido a maior parte do tempo. O


luar agora iluminava o quarto, lançando um brilho quente em sua pele bronzeada.

— Só não consegui ficar longe. — disse ele, puxando uma cadeira para a cama.
Seu humor era pesado, embora suas palavras fossem leves e ternas.

— Bem, eles têm pudim aqui. — brinquei, tentando arrancar um sorriso dos seus
lábios. — Marcus disse que todos os meus exames estavam muito bons, por isso devo
sair em um dia.

— Bom.

Seus dedos entrelaçaram com os meus, e eu observei suas sobrancelhas franzirem.

— Fale comigo, Jude. Eu sei que você está chateado com o que eu decidi, mas
eu...

Ele se levantou da cadeira e se arrastou ao meu lado na cama.

— Eu não quero falar agora. — ele sussurrou, levantando a bainha da sua camisa
sobre a cabeça e deixando-a cair no chão.

Minhas mãos ansiosamente estenderam para tocá-lo, movendo-se sobre suas linhas
esculpidas e músculos definidos.

— E se alguém entrar e nos ver? — eu perguntei, meu olhar subindo lentamente


ao encontro do seu.

— Enviei sua mãe para casa agora à noite e Marcus está em seu intervalo. Eu não
me importo com qualquer outra pessoa.

Suas palavras ousadas me excitaram, e me movi para tirar rapidamente as minhas


roupas, mas sua mão me acalmou.
— Não, deixe-me. — disse ele.

Como se tivéssemos todo o tempo do mundo, ele teve o cuidado de retirar cada
peça de roupa, observando com fascinação absoluta cada parte minúscula de mim que era
revelada.

— Eu poderia passar a vida inteira olhando para você. — ele respirou contra a
minha pele.

Seus lábios beijaram cada centímetro de mim, até que eu estava movendo
incontrolavelmente contra ele. Ele puxou uma camisinha da sua carteira e tirou o resto
das suas roupas. Puxando o cobertor sobre nós, ele gentilmente se colocou em cima de
mim. Cada toque parecia deliberado - como se estivesse memorizando cada curva, com a
palma da mão, como se ele já estivesse me perdendo.

— Ei... — eu disse, virando seu queixo para cima. — Eu ainda estou aqui. Fique
aqui comigo.

Ele não disse nada. Em vez disso, ele respondeu com um beijo longo e torturante,
que eu senti da cabeça aos pés. Meus dedos mergulharam em seu cabelo, e eu o puxei
para perto, precisando de mais.

— Lento. — disse ele contra a curva do meu pescoço. — Eu preciso bem devagar
esta noite.

Era tão diferente do ato de amor impaciente, apaixonado que tínhamos feito na
noite anterior. Ele tinha sido quase frenético, tomado por emoções e raiva. Hoje à noite,
eu ainda sentia as emoções nele, pairando sob a superfície, mas elas eram diferentes.

Quando ele embalou meu rosto, olhando nos meus olhos com tanto amor e
devoção, eu lutei para encontrar a peça que parecia estar faltando.

— Eu te amo, Lailah Buchanan. — ele cantou.

Ele empurrou profundamente em mim, fazendo espirais de felicidade


ricochetearem pelo meu corpo.

Nunca quebrando o ritmo dolorosamente lento, ele permaneceu firme, enterrando-


se profundamente, enquanto sua boca capturou a minha. Suas mãos acariciaram meus
ombros e ele apertou os meus seios redondos antes de finalmente deslizar para baixo e
agarrar meus quadris enquanto continuava a se mover contra mim. Senti meu corpo
contrair e gemi, nosso beijo abafando os meus gritos de paixão, quando Jude empurrou
contra mim, encontrando seu próprio alívio segundos depois.

Nós paramos, e eu me enrolei ao lado dele, mais uma vez, amando o calor que seu
corpo exalava. Eu nunca me sentia fria quando estava em seus braços. Eu adormeci, seus
braços se fecharam em torno de mim, e eu me senti segura.
Eu tive um sonho.

Jude e eu estávamos andando de mãos dadas por um aeroporto. Com sorrisos


estampados em nossos rostos, orgulhosamente entregamos nossos passaportes para
serem carimbados.

Pegamos as chaves para o nosso alojamento, e sem indicações ou instruções, nós


pulamos em nosso carro pequeno de brinquedo, rindo quando a cabeça de Jude atingiu o
teto. Estávamos cansados do nosso voo, mas alegres e felizes. Estávamos aqui -
finalmente.

Ele enfiou a mão em uma mochila e tirou meu velho caderno antes de folhear
páginas e páginas de sonhos riscados.

— O último. — disse ele, segurando uma caneta para mim.

Olhei para baixo e vi, entre as linhas azuis escuras e pretas, número setenta e dois
intocado.

— Ter meu coração partido? — eu disse, olhando para ele em confusão.

Ele sorriu e acenou com a cabeça. — É o último. Nós não queremos deixar nada
por fazer.

— Mas eu pensei... — eu tropecei em minhas palavras enquanto eu observava sua


expressão transformando em algo sinistro. — Você prometeu... — eu sussurrei.

— Eu menti.

Eu acordei assustada, com meus braços estendidos... Procurando por ele.

Ele se foi.

Minhas mãos passaram nos meus braços rapidamente, tentando aquecer do frio
que eu senti com a sua ausência. Olhei ao redor do quarto escuro, na esperança de
encontrar sua figura dormindo em algum lugar, mas ele não estava.

Com o canto do meu olho, eu vi algo na mesa ao lado da minha cama. Quando o
meu olhar mudou, eu vi o potinho de pudim com uma colher de plástico ao lado dele.

Eu sorri e peguei antes de segurá-lo contra o meu peito como uma possessão. Foi
então que eu vi o bilhete embaixo.

Na caligrafia angular de Jude estava o meu nome escrito em um envelope simples.


Minha mão tremia quando o abri.

O bilhete se desintegrou em minhas mãos enquanto as lágrimas encharcaram


minhas bochechas.

Fechei os olhos e me lembrei do seu olhar torturado e seus toques persistentes,


quando tínhamos feito amor na noite passada. Ele sabia. Eu estava tentando descobrir por
que ele estava tão melancólico, ele estava dizendo adeus com cada beijo, cada última
carícia.

E agora, ele se foi.

Um soluço ecoou rasgando o silêncio quando entendi a realidade da minha


situação.

Ele me deixou sozinha.

Não, ele vai mudar de ideia. Ele só precisa de tempo.

Eu procurei ao redor do quarto pelo meu celular.


Vou mandar um texto para ele e dizer-lhe para voltar, para que possamos
conversar sobre isso.

Uma vez que eu explicar meu raciocínio, ele vai entender.

Saltei da cama e encontrei minha mochila que Jude tinha guardado para mim. Eu a
vasculhei e encontrei roupas, produtos de higiene pessoal, um diário e meu caderno.

Mas sem telefone celular.

Ele se foi.

Parando no meio do quarto, a enormidade do que havia acontecido finalmente


desabou sobre mim.

Jude tinha ido embora... E ele não ia voltar.

Eu virei para trás, sentindo as minhas pernas trêmulas, e puxei o caderno da


mochila no chão. Eu andei sem rumo de volta para a cama. Puxando uma caneta da
gaveta ao meu lado, eu o abri e encontrei o número que tinha acabado de sonhar.
Enquanto as lágrimas escorriam na página, eu arrastei a caneta ao longo do papel e
risquei a única coisa que Jude tinha prometido que nunca permitiria.

Eu puxei o caderno para o meu peito, enrolando em uma bola, e dormi com o meu
coração partido.

As paredes reconfortantes do meu quarto de infância agora me faziam sentir


claustrofóbica e confinada.

Eu costumava ficar no hospital e sonhar com o toque suave dos meus próprios
lençóis e o cheiro fresco do amaciante de roupa da minha mãe no meu travesseiro.

Agora, enquanto eu olhava para o teto branco eu sentia minhas pernas arrastando
contra os lençóis recém-lavados, isso só servia como um lembrete do que estava me
faltando.

Lençóis de Jude nunca tinham cheiro de nada além de Jude, e era tudo menos
suave. Áspero e barato, o tecido azul tinha vários buracos de anos de uso. Mas nada disso
jamais me incomodou porque eu estava em seus braços, segura e quente em seus braços.

Desde que ele foi embora, eu não me sentia quente há dias. Califórnia estava à
beira de calor recorde, e eu estava enterrada sob pilhas de cobertores, tentando replicar a
sensação do seu abraço quente.
Nada havia funcionado.

Nada jamais vai substituí-lo.

Ninguém sabia onde ele estava. Ele largou o emprego no hospital, e Marcus tinha
dito que o apartamento de Jude estava vazio.

Ele havia desaparecido sem deixar vestígios.

Uma batida na porta do meu quarto sinalizou que era o horário do exame da minha
mãe. Entre ela e Grace, eu nunca estava sozinha. Eu estava perfeitamente saudável - para
alguém que estava morrendo lentamente. Mas a minha saúde emocional era preocupante,
de acordo com Marcus.

Não brinca.

Eu não era deixada sozinha.

Então, eu tinha babás - de novo.

— Ei, querida. Eu trouxe o jantar. — disse minha mãe, equilibrando uma bandeja
entre as mãos.

— Não estou com fome.

— Lailah, você tem que comer. — ela empurrou, colocando a bandeja ao meu
lado.

Sentei-me, cruzando as pernas, enquanto eu olhava para o prato. — Macarrão com


queijo? — eu perguntei. — Eu não posso comer isso.

Ela sorriu. — Eu pesquisei uma receita on-line. E consegui fazer uma versão de
baixo teor de sódio.

Meu rosto fez uma careta. — Impressionante.

Ela bufou. — Vamos lá, Lailah. Estou tentando. Você mal comeu. Você não fala
com ninguém e você chora até dormir. Eu não sei o que fazer. Desde que ele...

— Não! Nós não vamos falar sobre ele. — eu disse, levantando as mãos em sinal
de protesto.

— Bem. Mas você precisa pelo menos comer. Estou preocupada.

Lágrimas escorriam pelo seu rosto, fazendo meu peito apertar.

— Sinto muito, mamãe. Eu vou ficar bem, eu prometo. Eu só preciso de tempo. E


veja? — peguei o garfo. — Eu estou comendo.

— Bom. — ela deu um sorriso fraco. — Posso ficar aqui com você?
Eu balancei a cabeça, afastando-me para dar um espaço para ela na cama. Peguei o
controle remoto e liguei a TV. Eu percebi que assistir algo estúpido seria muito melhor
do que conversar.

Não. Definitivamente estava errada.

Meu interior torceu com a comida e meu estômago de repente azedou. No


noticiário noturno em HD, em um terno apareceu Jude, entrando no arranha-céu
imponente da Cavanaugh Investments. Câmeras e microfones estavam sendo enfiados em
seu rosto e ele os empurrou.

A legenda na leitura de fundo, Indescritível Cavanaugh Filho volta aos holofotes.

— Jude! — um repórter gritou. — Onde você esteve?

— A queda recente da empresa da sua família é a razão para o seu reaparecimento


repentino? — outro gritou.

Ele virou-se rapidamente para enfrentar a multidão com confiança gritante. Seus
olhos olhavam para a câmera da frente, e meu coração deu cambalhotas com a visão dele.

Ele parecia real. Suas tatuagens estavam cobertas por baixo do tecido caro de seu
terno cinza sob medida. Seu cabelo tinha sido cortado curto, acentuando seu queixo
cinzelado e olhos verde-claros.

— Embora seja verdade que a Cavanaugh Investments teve a sua quota de


obstáculos nos últimos anos, como a maioria dos americanos, eu posso assegurá-los,
estamos melhorando. Minha prioridade número um neste momento é a minha família e as
milhares de pessoas que empregamos. Obrigado. — disse ele, voltando-se e
interrompendo a minha visão de seu rosto.

Eu assisti os últimos segundos que as câmeras o seguiram. Repórteres gritaram


mais perguntas, que ele ignorou, e então ele desapareceu atrás das portas duplas.

A TV desligou, mas eu continuei olhando para a tela preta.

— Você está bem? — perguntou minha mãe.

— Não. — eu respondi honestamente.

Pelo menos eu tive a minha resposta. Eu sabia onde ele estava. Ele voltou para
casa, de volta à sua vida normal e longe de mim.

Eu era muito difícil para amar, difícil demais para ficar ao redor.

Ele escolheu o caminho mais fácil, o caminho seguro.

Imaginei que eu também tivesse feito isso.


O s minutos passavam, enquanto sentava no meu escritório, olhando para a tela
do computador.

As coisas eram muito piores do que Roman tinha dito.

Financeiramente, a família ainda estava bem de vida, graças ao gênio que tinha
sido meu avô, mas a empresa estava falindo.

Se eu não tivesse voltado, as demissões teriam sido iminentes. Mesmo assim, eu


teria que ser muito criativo para manter as pessoas em seus empregos atuais.

Meus olhos foram até o relógio novamente, e em seguida, de volta para o meu
telefone.

Cinco minutos.

Bati minha caneta contra a mesa de vidro, esperando em silêncio, enquanto os


últimos minutos definhavam, sabendo que eu não iria ter nenhuma merda feita até o meu
telefone se iluminar.

Sete horas em ponto, o nome de Marcus passou pela minha tela.

Eu imediatamente peguei-o e respondi: — Ei.


— Ei, J-Man.

— Como ela está hoje? — perguntei.

Eu quase podia ouvir o sorriso através da linha telefônica.

— Você é como um disco arranhado.

— Marcus.

— Está bem, merda. Ela está bem. Ela finalmente comeu. Grace e Molly ficam
com ela o tempo todo e ela está voltando lentamente para a terra dos vivos.

— Já se passaram três semanas.

— Sim, eu entendo, mas você a deixou - no meio da noite. Como você esperava
que ela reagisse?

Inclinando-me para trás da cadeira de couro ridiculamente cara, eu belisquei a


ponta do meu nariz. — Quando é que você vai dizer a ela?

— Amanhã. Eu vou lá para o jantar e Molly vai anunciar que ela enviou o recurso,
e ele passou.

— Acha que Lailah vai acreditar nela?

— Eu não sei, mas é por isso que eu vou estar lá. Eu vou ajudar e apoiá-la.

— Bom.

— Ela não está feliz. — confessou ele, sua voz parecia cansada e cheia de
remorso.

— Nós dois não estamos. Mas eu prefiro tê-la me odiando e viver uma vida longa
e saudável do que tê-la me amando e morrer amanhã, sabendo que eu poderia ter feito
algo para impedir.

— Espero que você saiba o que está fazendo, Jude. — frisou.

Eu ignorei o comentário dele inteiramente. Eu não sabia o que diabos eu estava


fazendo mais.

— Você tem o dinheiro. Faça acontecer. Eu falo com você amanhã. — eu disse,
antes de terminar a chamada e jogar o telefone em cima da mesa.

— Você sabe, quando você pediu acesso imediato às suas contas bancárias, não
pensei duas vezes sobre isso. — meu irmão disse assim que entrou no escritório. Mãos
nos bolsos, ele caminhou vagarosamente até a minha mesa e sentou-se na minha frente.
— Garoto rico nas ruas por vários anos? Eu só achei que você tinha o suficiente. Mas
agora, eu me pergunto, para que você precisa de todo esse dinheiro, Jude?
— Não é da sua conta. — respondi, levantando da cadeira.

Seus olhos vagaram até meus braços expostos, onde a tinta escura das minhas
tatuagens estava. — Tudo bem, mas será o meu negócio se for algo ilegal.

Inclinando para frente, eu coloquei minhas mãos em cima da mesa na minha


frente, para que eu pudesse encontrar seu olhar presunçoso. — Olha quem fala, imbecil.

Ele voou para fora da sua cadeira, e seu rosto ficou a centímetros do meu. — Não
se atreva a me julgar, Jude. Você não estava aqui. Você me deixou com a porra de um pai
teimoso e um conselho que me achava um idiota. Bem, ao que parece, eles estavam
certos. Eu sou bom para uma coisa - relações públicas. Coloque-me em uma revista,
enfie-me na frente de uma câmera, e eu sou ouro. Mas peça-me para gerir uma empresa, e
isso é o que acontece – merda absoluta. Então, parabéns, irmão. Espero que tenha
gostado das suas férias prolongadas, fingindo ser um plebeu na Califórnia. Isso é culpa
sua. Divirta-se em limpá-la.

Eu pulei por cima da mesa e meu punho voou, acertando-o com força no rosto. Ele
saiu voando. — Você não tem ideia do que eu passei, porra, do que eu desisti para estar
aqui! — eu rugi, prendendo-o ao chão.

Seu lábio estava sangrando e seus olhos estavam fumegando com hostilidade. —
Parece que temos muito a aprender um com o outro, então. — ele sussurrou.

Eu me afastei dele e andei ao redor da sala. — Só dê o fora do meu escritório - e


me deixe em paz.

Limpando o sangue do seu lábio com o colarinho, ele se levantou e caminhou até a
porta e parou. — Você sabe, que se isso funcionar, nós teremos que trabalhar juntos.
Você pode ser inteligente, Jude, mas você não sabe nada sobre o lado público da
empresa. Tanto quanto se sabe, você esteve em uma caverna nos últimos três anos e todos
eles estão morrendo de vontade de saber o porquê. Temos que dar-lhes alguma coisa.

— Tenho certeza que você vai descobrir alguma coisa. — eu zombei.

E eu estaria ferrado se ele não fizesse isso.

Eu acordei na manhã seguinte para ver o meu rosto espalhado por toda a imprensa
nacional.

— Em seguida, o passado torturado de Jude Cavanaugh. Conseguimos um olhar


interior de como perder sua noiva tornou esse jovem um recluso.

— Você tem que estar brincando comigo. — eu murmurei, jogando o controle


remoto do outro lado do quarto.

Eu saí da cama e manobrei em torno das caixas intocadas até a cozinha. Desde que
cheguei à Nova Iorque semanas atrás, eu estava hospedado neste apartamento de luxo
mobiliado que Roman tinha encontrado para mim, e eu ainda não tinha desempacotado
uma única caixa.

Desembalar tornaria essa vida real e também permanente, eu estava tendo


dificuldades em confrontar a minha nova realidade. Era a razão pela qual eu contava os
minutos, todos os dias até Marcus ligar para a verificação do dia, e era a razão pela qual
eu ainda não tinha visitado os meus pais depois de estar em casa por três semanas.

Vestido com calça de pijama larga, eu fiz o meu caminho para a cozinha elegante
e moderna, balançando a cabeça com o tamanho dela. Por que Roman tinha pensado que
eu precisava de tudo isso, eu não conseguia entender. Ele sempre foi exagerado. Seu
próprio apartamento era o dobro deste tamanho e três andares acima. Éramos
praticamente companheiros de quarto.

Liguei a cafeteira para uma xícara de café e caminhei rapidamente até a porta,
onde o jornal do fim de semana tinha sido entregue. Durante três anos, eu vivi
praticamente fora da grade e agora, eu não poderia ficar cinco minutos sem ligar o
noticiário ou pegar o jornal.

Fiz um rápido café da manhã, peguei meu café e jornal, e sentei-me à mesa,
preparado para ler tudo sobre mim e qualquer história inteligente que meu irmão
conseguiu agitar durante a noite. Folheando, meus dedos pelas abas das páginas nítidas,
tive o flash brevíssimo de Lailah deitada em sua cama de hospital, lendo um de seus
livros de bolso desgastados, os dedos folheando as pontas desgastadas. Ela adorava
livros, livros de verdade, assim como eu amava jornais de verdade. Algo sobre o cheiro e
a sensação das palavras bem na sua frente era insubstituível.

Como ela.

Meu peito doeu com a pequena memória, e eu já não me preocupava com o que
dizia o jornal. Roman poderia fazer o que ele quisesse – pintar-me como pobre, o homem
quebrado enlutado - mas não mudaria nada.

Eu estava aqui e ela não estava.

Eu poderia ter sido esse homem quebrado após a morte de Megan, mas Lailah
tinha me salvado, e agora, eu estava salvando-a, por estar aqui.

Esqueci a comida, limpei meu prato e caminhei até uma caixa solitária no canto da
grande sala. Respirando fundo, eu a abri com uma faca e comecei lentamente o processo
de chegar a um acordo com a minha nova realidade.

Abrindo a última das caixas, dobrei e pendurei as poucas roupas que eu tinha lado
a lado, no armário cheio de roupas que meu irmão tinha comprado esperando por mim na
minha chegada. Como ele tinha conseguido minhas medidas eu nunca saberia.

Vendo minhas roupas velhas empilhadas ao lado das minhas novas era estranho.
Minhas camisetas velhas e maltrapilhas, desgastadas e desbotadas, com anos de uso, ao
lado de inestimáveis ternos de designers top de linha. Enquanto eu estava ali na minha
toalha, me preparando para a minha primeira visita à casa dos meus pais em mais de três
anos, era como olhar para duas metades de mim - o velho e o novo.

Mas o que era o velho? E o que era novo?

Toda a minha vida, eu tinha sido criado para uma coisa - o negócio da família.

Vocês são o futuro desta empresa, meu pai me dizia quando eu caminhava atrás
dele quando era um jovem rapaz.

Era o que eu queria, era legal, até que a pressão foi maior do que imaginei.

Meus três anos no hospital, tinham me ensinado que eu poderia ser mais do que
aquilo que simplesmente tinha sido criado para ser.

Agora, a questão era, eu poderia ser os dois? Eu ainda quero ser?

Olhando para o armário novamente, eu estendi a mão e peguei a camiseta mais


legal que eu pude encontrar, decidindo debater internamente esse assunto outro dia. Eu
tinha uma reunião de família para comparecer.

Desde que me lembro, nosso tempo crescendo tinha sido dividido entre Manhattan
e o que os meus pais descreveriam como província. Durante a maior parte do ano, o meu
pai tinha vivido e respirado trabalho, e durante esse tempo, que sempre parecia coincidir
com a escola, vivíamos na cidade. Embora meu pai estivesse ausente muito tempo, a
minha mãe tinha sido muito atípica de nosso estilo de vida da alta sociedade, e ela
mergulhou na vida do meu irmão e minha. Quando eu não estava com um tutor ou uma
babá ocasional, eu estava com ela. Crescer em um lugar como Nova Iorque pode ser
estressante para uma criança tímida, mas ela fazia disso um jogo, um mistério gigante
onde nós três éramos empregados para resolver.

Durante o verão, no entanto, quando o meu pai tirava suas merecidas férias,
éramos levados para o interior do Estado, na residência de verão. Era lá na província,
como os meus pais chamavam, que eu tinha encontrado minha verdadeira casa de
infância. Longe do barulho e do caos da vida da cidade, tudo mudava em um ritmo mais
lento lá fora. Mesmo o ritmo implacável do meu pai diminuía naquela casa. Eu o via em
caminhadas noturnas com minha mãe, colhendo rosas para ela no jardim e rindo com ela
enquanto tomavam limonada.

Enquanto dirigia para fora da cidade, naquela tarde de sábado, pelas estradas
sinuosas em direção à casa que meu avô tinha construído e deixado para a nossa família,
eu percebi que eu nunca conseguiria trazer Lailah aqui. Eu nunca andaria com ela pelos
jardins dos meus pais ou colheria rosas para ela como o meu pai fez uma vez para minha
mãe. Foi a primeira vez que eu duvidei da minha decisão.

Duas longas vidas um sem o outro - valeria a pena?

Cheguei ao fim da estrada e dirigi para a calçada arborizada até chegar ao portão
principal. Esperando que meu código de segurança não tivesse sido anulado, coloquei a
combinação de seis dígitos e esperei. O clique do portão fez-me avançar novamente.
Aparentemente, eles haviam mantido alguma esperança, afinal.

Depois de entrar pelo portão, a visão ainda era tão impressionante como eu me
lembrava. Intricados tijolos colocados faziam um caminho circular na propriedade
palaciana das minhas memórias de infância. Ainda me lembrava mais um castelo do que
uma casa, mas como uma criança brincando de esconde-esconde nos armários e
corredores, não importava do que era chamado, desde que não fosse eu a ser pego. Se não
fosse pela minha mãe, eu acho que não teria aqueles raros momentos longe dos tutores e
livros didáticos.

A porta da frente se abriu enquanto continuei em frente, e eu vi lágrimas vazando


dos olhos da minha mãe quando suas mãos foram para sua boca. Ela tinha envelhecido
desde a última vez que a vi. O cabelo loiro escuro que ela sempre mantinha o estilo
perfeito, agora era cinza em torno das bordas com corte curto. Pequenas linhas se
formaram ao redor de seus olhos verdes, e ela havia trocado seus terninhos de grife para
algo um pouco mais casual.

Erguendo-me do carro, caminhei lentamente a curta distância até onde ela estava.

— Meu menino. — ela ofegou, se lançando no meu abraço apertado.

— Sinto muito, mãe. — eu disse, desculpando-me por tudo, por ser uma pessoa
egoísta e um filho horrível.

— Você está aqui agora. — ela respondeu, dando um passo para trás. Seus olhos
me percorreram. — Isso é tudo o que importa. Vamos para dentro, não é?

Seu braço ainda ligado no meu, eu a segui pelas portas duplas, tomando uma
respiração profunda quando entrei. Havia sempre um leve cheiro de limões e flores
frescas na entrada. Quando o cheiro atingiu os meus sentidos, eu não pude deixar de
viajar de volta a um verão há muito esquecido, quando Roman e eu gostávamos de
atormentar o pessoal da limpeza, depois que haviam passado horas polindo o corrimão de
madeira ornamentado.

— Não mudou nada. — eu comentei, dando uma olhada em volta do foyer


circular.

Um grande buquê de flores brilhantes estava no centro de uma mesa antiga que
tinha sido da minha avó.

— Não, aqui não mudou nada. — disse ela tristemente. — Mas, em outros lugares,
sim. Seu pai e eu vivemos aqui permanentemente agora. Vendemos o apartamento na
cidade há dois anos quando...

Eu balancei a cabeça, não necessitando de maiores explicações. Roman já havia


me falado do desaparecimento físico do meu pai. Os primeiros sinais de demência tinham
apresentado poucos meses após o acidente e minha mãe tinha tomado a decisão de mudar
para o interior, tirando-o do jogo. Deve ter sido óbvio para os investidores que meu pai
não estava bem, mas Roman tinha acreditado que a diretoria tinha esperança que eu
voltasse e assumisse o lugar do meu irmão.

— Eu senti sua falta. — disse ela.

Tomamos um assento na grande sala de estar juntos.

— Eu sei. Eu senti sua falta também. Eu só tinha que... Eu não podia voltar.

— Você não me deve uma explicação, Jude. Eu não posso entender o que você
passou quando Megan morreu. Dói saber que você não veio até mim. Mas eu nunca vou
usar isso contra você. Um coração faz o que ele precisa a fim de se curar. Por favor, me
diga que você se permitiu fazer isso?

— Sim. — respondi. — Eu finalmente fui capaz de dizer adeus.

Ela pegou minha mão na dela. Elas pareciam mais suaves, mais finas do que eu
me lembrava.

— Então, por que você está tão destruído?

— É uma longa história.

— Nenhuma história é muito longa para uma mãe ouvir. — ela sorriu.

Eu não sabia por onde começar, então comecei logo no início. Eu disse a ela sobre
o acidente e perder Megan, como eu nunca tinha chegado a dizer adeus e a dor que tinha
causado, forçando seus pais a desistirem da doação de órgãos.

— Eles não reconsideraram depois que ela se foi? — ela perguntou.

— Não. — respondi. — A mãe de Megan estava tão quebrada por sua morte. Eu
não acho que qualquer um deles tinha força para discutir esse assunto.

Eu disse a ela sobre o meu trabalho no hospital, e como obtive minha licença. Ela
realmente sorriu e parecia orgulhosa.

E então, eu contei a ela sobre Lailah.

Eu disse a ela sobre a maneira que Lailah iluminava o ambiente, como ela
balbuciava quando estava nervosa e que ela tinha o coração doente e mais surpreendente
do que qualquer um que eu já conheci.

— Ela está morrendo. — eu consegui dizer.

Eu passei a explicar e detalhar nossas conversas e pudim de fim de noite e como


eu descobri que eu era a razão pela qual ela perdeu seu primeiro transplante.

— Como ela ao menos soube? — ela perguntou.


— Seu médico. Ele é seu tio. No seu amor cego por ela, ele disse a ela antes que
fosse oficial.

— Ela nunca deveria saber.

— Eu sei, mas ela soube e eu não posso culpar Marcus por amá-la. É uma coisa
fácil de fazer. — disse.

Continuei e disse-lhe sobre o que Lailah tinha decidido após a recusa da


companhia de seguros e por que eu a tinha deixado.

— Jude, eu admiro o que você fez, e eu sou tão grata por tê-lo de volta em nossas
vidas novamente. Mas você tem certeza de que fez a escolha certa? — sua expressão era
quente e reconfortante.

Olhei para o chão, recolhendo meus pensamentos. — Se você tivesse a escolha,


agora, entre passar a vida inteira sozinha ou um último ano com o meu pai, o que você
faria?

— O último ano. — ela respondeu sem hesitar.

Eu balancei a cabeça, sem olhar para cima. — Mas e se fosse ao contrário? — eu


questionei, encontrando seu olhar. — E se você tivesse que escolher por ele? Apenas um
ano com você ou uma vida, mamãe? Você escolheria diferente?

Seus lábios franziram, e eu soube que ela entendeu.

— Por que tem que ser um ou o outro, meu filho? Por que você não pode ter
ambos?

— Porque eu não posso estar em dois lugares ao mesmo tempo. — eu respondi.


—V ocê entrou com um recurso? — eu gritei, batendo o meu garfo de
salada na superfície de madeira dura da mesa de jantar de carvalho da minha mãe.

Ela se assustou um pouco com o barulho e vi seus olhos se arregalarem de


surpresa.

— Sim, hum... — ela tropeçou antes de limpar os lábios com o guardanapo de


pano e colocá-lo na mesa. Ela olhou para Marcus, que eu tinha desconfiado porque se
juntou a nós nessa noite. Com um aceno de cabeça, ela se virou para mim. — Eu sei que
você nos pediu para não fazer, querida, mas é da sua vida que estamos falando, e eu - não
poderíamos apenas nos sentar e não fazer nada.

Olhei para os dois. — Então, vocês dois fizeram isso?

Eles concordaram com a cabeça.

— Quando?

— Quando o quê? — as sobrancelhas de Marcus franziram.

— Quando você enviou o recurso?

— Um ou dois dias depois que Jude a deixou. — disse ele.


O meu coração caiu com sua resposta. Por uma fração de segundo, quando tinha
mencionado um recurso, eu pensei que Jude poderia estar por trás disso também. Ele
tinha ficado tão irritado, tão firme contra a minha decisão, que eu pensei que talvez ele
tivesse feito algo.

Eu não queria isso dele, então eu não sei por que me entristeceu que ele não
tivesse nisso também.

— Assim, você apresentou um recurso. E agora? — eu perguntei, pegando o garfo


para empurrar um tomate e folhas verdes no meu prato.

— Nada.

Eu olhei para minha mãe, que estava sorrindo.

— O que quer dizer, nada? Eles já negaram?

— Não, Lailah. Eles aprovaram.

Meu garfo caiu dos meus dedos no chão com um som metálico barulhento. Meus
olhos ardiam com lágrimas reprimidas quando eu vi a expressão jubilosa de Marcus para
a minha mãe.

— Aprovaram?

Ambos assentiram, levantando-se de suas cadeiras de braços abertos em volta de


mim.

— Vocês têm certeza? — eu perguntei quando a barragem emocional quebrou, e


as lágrimas umedeceram minhas bochechas.

— Sim. — eles riram. — Temos certeza.

— Mas por quê?

— Eu não sei. Mudança de coração. Intervenção divina? — disse minha mãe.

Eu olhei para ela com uma expressão dúbia, e ela riu.

— Quem se importa? Foi aprovado!

— Oh meu Deus! Eu não acredito!

Minha mãe pegou minha mão, me puxando para cima da cadeira. — Vamos lá, eu
fiz algo especial para você. Está na cozinha.

Todos nós seguimos até a pequena cozinha e vimos quando ela moveu as coisas na
geladeira. Finalmente, ela se virou para nos encarar, exibindo orgulhosamente uma bacia
cheia de pudim de chocolate caseiro.
Olhei para ele, congelada no lugar.

— Eu sempre via os recipientes vazios em sua lata de lixo no hospital, então eu


percebi que tinha uma coisa por ele, mesmo que aquelas compradas em lojas serem tão
ricas em sódio. Realmente, Lailah, você deveria saber melhor.

Lembranças de Jude retirando potinhos de pudim, sua covinha cravada em seu


sorriso megawatt, quando passávamos a noite conversando sobre nossas colheres de
chocolate. A noite em que ele me alimentou no hospital, meu estômago tinha se
transformado em borboletas e fiquei em chamas, em seguida, não muito tempo atrás, no
apartamento dele, lambemos a sobremesa pegajosa do corpo um do outro.

— Eu realmente não estou com fome. — soltei, virando a cabeça para o lado
evitando as lágrimas que começaram a escorrer pelo meu rosto. — Talvez um pouco de
pipoca mais tarde? — acrescentei rapidamente, olhando para cima com um sorriso falso
estampado em meu rosto.

Minha mãe balançou a cabeça, olhando para Marcus, que apenas deu de ombros.

Nós nos estabelecemos no sofá e assistimos a um filme juntos. Eventualmente,


Marcus fez uma tigela de pipoca. Ninguém tocou no pudim. Eu pensei que tinha sido
colocado na lista negra, apesar de nenhum deles entender o porquê.

Fazia quase um mês desde que eu o vi, senti o toque dele na minha pele e ouvi a
sua voz profunda sussurrando em meu ouvido. Cada minuto parecia um ano. Eu sempre
pensei que vendo o tempo passar em uma cama de hospital estava agonizando. Vendo os
segundos passando sem Jude era um inferno.

Eu não podia ligar a televisão sem eventualmente encontrar seu rosto. Ele estava
em toda parte. Ele era como a cidade perdida de Atlantis para o mundo financeiro.
Mesmo as revistas de fofocas de Hollywood e programas de TV estavam em cima dele,
tirando fotos dele na rua, uma vez que contou a história de seu passado trágico.

Jude Cavanaugh encontrará o amor novamente?

O mundo todo queria saber.

— Você vai dizer a ele? — perguntou minha mãe.

Olhei para cima para encontrá-la olhando para mim. A TV estava desligada e
Marcus tinha ido embora. Duas horas se passaram, e eu tinha ficado presa dentro da
minha cabeça.

— Quem?

Ela levantou a sobrancelha como se dissesse, sério?

Eu dei uma bufo exasperado. — Não. — respondi. — Ele me deixou mãe. Ele não
foi forte o suficiente para ficar quando as coisas ficaram difíceis. Só porque eu tenho a
aprovação não significa que o caminho é pavimentado em ouro. E se ele voltasse e o
transplante não desse certo? Ele iria embora de novo?

— Eu não sei. — respondeu ela com tristeza gravada nas suas feições.

— Ele escolheu a sua própria vida e agora, eu acho que eu estou escolhendo a
minha - sozinha.

A espera de um coração se tornar disponível era muito parecida à espera de um


desastre natural. Eu sabia que acabaria por acontecer, mas eu não sabia quando, e eu não
sabia como.

Durante semanas, eu fiquei colada ao telefone e ao pager que o hospital tinha


fornecido.

Após a terceira semana, comecei a perder a esperança.

Isso nunca vai acontecer.

— Isso vai acontecer, Lailah. Dê tempo ao tempo. — Marcus me encorajava


quando nos sentamos no sofá, uma noite, assistindo The Vampire Diaries.

— Eu sei. Mas eu vou estar sã até lá?

— Provavelmente não, especialmente se você continuar assistindo esse seriado


ridículo. Sério, é horrível.

Eu dei pausa no controle remoto e me virei para ele. — Diga que você não falou
sério.

— O quê? — ele sorriu.

— Vire-se para a tela, olhe profundamente nesses lindos olhos azuis de Damon, e
diga que você não quis dizer isso.

— Hum...

— Eu te chamo de Tio Marcus. — eu cantei, fazendo-o rir.

— Tudo bem. — ele resmungou. Repetindo as palavras, que eram quase


inaudíveis devido à quantidade de resmungos.

— Isso foi terrível, mas eu vou aceitar. Damon e eu te perdoamos. Agora, silêncio,
tio Marcus e termine a série comigo. — eu disse.
Devo ter cochilado depois que a série terminou, porque de repente eu estava sendo
acordada.

— Lailah, acorda.

— O quê? Por quê? Apenas deixe-me dormir aqui. — eu protestei.

— O hospital ligou. — disse Marcus. — Está na hora.

Eu me levantei, olhando ao redor da sala, até que o encontrei em pé na minha


frente. Minha mãe estava correndo ao redor do apartamento, embalando as coisas em
uma mochila. O medo absoluto assumiu enquanto eu assistia.

Isso é real. Não há mais espera para o telefone tocar.

Está acontecendo - agora.

Eu poderia morrer. Eu poderia morrer na mesa de operação, e esses poderiam ser


meus últimos momentos com a minha família.

Eu morreria sem ver o rosto dele novamente.

— Lailah, respire. — Marcus disse, empurrando minha cabeça para o chão, entre
os joelhos. — Respire fundo, lento através do seu nariz. — ele instruiu.

— Eu não sei se eu posso fazer isso. — clamei.

Cada procedimento de cirurgia e exame veio correndo de volta naquele momento.


Lembrei-me de cada minuto de tempo da recuperação, de cada segundo de dor.

— Oh Deus. — eu gemi.

De repente, eu não estava olhando para os pés de Marcus mais, mas para o seu
rosto. Ajoelhando, ele agarrou meu queixo e me centrou.

— Você é a pessoa mais forte que conheço Lailah. A UCLA tem alguns dos
melhores cirurgiões do país. Você vai se sair muito bem.

— Está bem. — eu disse fracamente, balançando a cabeça.

Ele me segurou em seus braços como uma criança.

Minha mãe nos seguiu enquanto caminhávamos para o carro, e ele me enfiou no
banco traseiro. Estendi-me e descansei minha cabeça contra a almofada enquanto eu
observava os dois trabalhando em conjunto, jogando bolsas no carro. Marcus dirigiu
saindo do complexo. Minha mãe estava inclinada sobre seu telefone, os dedos dançando
furiosamente pelas teclas. Eu acho que eu nunca a tinha visto usá-lo para outra coisa
senão breves conversas.

— Para quem você está enviando mensagens de texto? — eu perguntei.


— Grace. — ela respondeu, parando brevemente, antes de continuar.

Eu percebi, sentada na parte de trás do carro, que esta foi provavelmente a coisa
mais próxima que conheceria que aproximava ao trabalho de parto. Eu observei os meus
entes queridos mencionarem meu nome, fazerem chamadas frenéticas e mensagens de
texto, antes do trajeto de carro correndo para o hospital no fim da noite. A única
diferença era, que no final do dia, a única vida nova seria a minha.

O que eu faria com ela?

Dentro de 15 minutos, estávamos parando no estacionamento da UCLA na praça


médica e caminhando através das portas de vidro do centro de transplante. Depois de
assinar um bilhão de papéis, que eu honestamente não prestei atenção, fomos para uma
sala e esperamos o cirurgião.

Já vestido de uniforme e botas, um homem de meia-idade nos cumprimentou


alguns minutos depois, apertando a minha mão com firmeza e apresentando-se como Dr.
Westhall.

— Prazer em conhecê-lo. — respondi baixinho.

Ele se virou e fez a mesma saudação à minha mãe. Em seguida, ele se animou
quando viu Marcus.

— É bom ver você de novo, Marcus.

— Você, também, Todd. — respondeu ele.

— Então, essa é a sua sobrinha? — disse Dr. Westhall, tomando um assento


ocasional na cadeira livre perto da porta.

— Sim. — respondeu Marcus. — Ela é a coisa mais próxima que eu tenho de uma
filha, por isso, tome conta dela.

Ele sorriu e piscou. — Nós vamos entregá-la como nova querido.

Bem, pelo menos um de nós tem certeza.

Dr. Westhall passou a falar sobre o procedimento em detalhes, descrevendo o


período de tempo e o que aconteceria durante a operação. Após perguntas serem feitas
por todos nós, ele se pediu licença, e ficamos esperando enquanto terminavam a
preparação para a cirurgia.

A espera era sempre a parte mais difícil, olhar a porta fechada enquanto me
perguntava quanto tempo restava até que abrisse de novo.

Uma hora se passou até que uma enfermeira veio finalmente me levar. Depois de
um adeus com lágrimas nos olhos e um abraço em grupo longo, eu estava sendo levada
para a sala de cirurgia e preparada. Eles limparam e rasparam os pelos finos do meu peito
e montaram a minha IV. Uma enfermeira maternal, de aparência amigável, acariciou
minha testa enquanto eu olhava para o teto. Respirando pela boca, eu contei os azulejos
em cima da minha cabeça.

— Nós vamos cuidar de você. Vá dormir agora. — ela sussurrou.

E o mundo desbotou em preto.

Nuvens brancas pairavam acima de mim enquanto meus olhos se abriram por um
breve segundo. Ouvi um grito alto e um sinal sonoro afiado. Tudo parecia distante e fora
do lugar, como se eu estivesse ouvindo de outro quarto com bolas de algodão enfiadas
nos meus ouvidos.

— Ela está acordada. — ouvi minha mãe dizer. — Ou pelo menos estava.

— Ela não pode me ver. — sussurrou uma voz profunda.

— Ela não vai lembrar de nada disso. Basta segurar a mão dela e falar com ela.
Estarei lá fora.

Um clique suave foi adicionado aos ruídos mecânicos, e senti um calor profundo
espalhar pelos meus dedos.

— Eu sinto tanto a sua falta, meu anjo.

Eu conheço essa voz.

— Tanto que às vezes dói para respirar.

Ele não deveria estar triste. Eu estou bem aqui.

— Eu não deveria estar aqui, mas eu não poderia ficar longe, não hoje. — ele
sussurrou. — Você conseguiu, Lailah. Você conseguiu, assim como sabia que faria.
Agora, você vai ter a vida que você merece. É tudo que eu sempre quis para você.

Tentei falar, mas nada saiu - sem palavras, sem som. Eu não tinha nada além de
boas intenções. Eu queria dizer a ele que seriamos nós, juntos, não só eu. Teríamos a vida
que merecíamos.

— Por favor, lembre-se de mim quando você olhar para as ondas do mar ou
mergulhar os pés na água. Saiba que o meu amor por você nunca vai acabar. Ele só vai
crescer a cada ano que passar. Quando você atravessar esse último sonho da sua lista,
lembre-se como fizemos a pizza na cozinha do refeitório e quando nós dançamos sob a
chuva em seu chuveiro no hospital. Lembre-se da madrugada com debates de pudim e
quando fizemos amor pela primeira vez, sentindo nossas almas se chocarem. Nunca se
esqueça das maneiras intermináveis que eu te amei e sei que nunca vou parar de lutar por
você, não importa onde eu esteja ou o que esteja fazendo. Eu sempre vou manter suas
asas em voo.
A cadeira rangeu e enquanto eu tentava forçar meus olhos cansados a abrirem
novamente, senti lábios suaves pincelando na minha testa.

— Eu te amo, Lailah. — disse ele suavemente.

Eu mergulhei mais profundamente na inconsciência, me perguntando se no meu


sonho Jude estaria lá quando eu acordasse.
A banda tocava ao fundo enquanto eu olhava para o líquido escuro do meu
copo. Debruçado sobre um banquinho no canto da área do bar, tentei desaparecer do resto
da multidão.

— Eu vou querer o que ele está bebendo. — disse uma voz feminina atrás de mim.

Virei-me lentamente e encontrei Melody Scott. Ela era a razão de eu estar aqui
sentado e de mau humor sobre um copo de Coca-Cola, em vez de me esconder no meu
apartamento, como eu fiz na maioria dos fins de semana nos últimos dias.

— Você provavelmente deveria pedir outra coisa. — eu respondi educadamente. —


Isso é apenas refrigerante.

Ela me deu um olhar de escrutínio e sorriu. — Há uma história aí, mas tenho certeza
que você não vai compartilhar.

Isso é mais que certo.

Voltei-me para o bar e vi quando ela deslizou para o banco ao meu lado. Ela
continuou falando com o barman, e cruzou as pernas de forma lenta, proposital, como se
ela soubesse que eu estava olhando para ela. Voltei-me para o meu copo e consultei o
relógio.
Porra, eu realmente só estou aqui há uma hora?

— Sabe, você poderia tentar ser um pouco mais feliz, Jude. Olhe ao seu redor, esta
noite é um enorme sucesso. — Melody comentou, varrendo a mão na direção do grande
salão de baile.

Eu tinha contratado Melody menos de três meses atrás e ela conseguiu fazer tudo o
que eu tinha pedido a ela. Quando eu voltei da UCLA, eu estava quebrado, mas aliviado.

Honestamente, eu ainda estava.

Vendo Lailah na sala de recuperação, sabendo que o coração que batia dentro do
peito dela já não iria destruí-la, tinha feito cada minuto que estávamos separados valer a
pena. Quando eu segurei sua mão e beijei sua pele, eu sabia que ela teria um futuro
brilhante à sua frente e me matava saber que eu não estaria lá para ver isso. Deixá-la pela
segunda vez tinha sido como deixar minha alma para trás.

Eu tinha voltado ainda mais confuso.

Eu fiz o que eu precisava fazer. A cirurgia de Lailah tinha sido paga e ela ia se
recuperar.

Eu não poderia voltar agora? Pegar o que era meu e ainda manter o negócio da
família?

Quando eu entrei na Cavanaugh Investments de manhã, depois que eu voltei de LA,


eu tinha encontrado o meu irmão me esperando.

— Papai faleceu ontem à noite. — ele disse. — O conselho se reúne em 30 minutos.

Naquele dia, eu perdi meu pai e meu irmão e eu tínhamos herdado o nosso legado.
Tudo, desde então, tinha sido um borrão de reuniões intermináveis, juntamente com o
luto da minha família por um homem que eu mal lembrava e toda a documentação que
veio com ele.

Eu não poderia voltar para ela.

Vendo a minha mãe sofrendo sobre o caixão do meu pai depois que ele tinha sido
posto debaixo da terra deixou isso bem claro. Entrar em uma sala de reuniões com
homens de meia-idade, que esperavam que eu salvasse a empresa, contribuiu para que eu
ficasse. Eu tinha tomado a minha decisão quando liguei para Roman, eu tinha escolhido o
meu destino.

Agora, eu estava vivendo com isso – mais ou menos.

Quando eu concordei em voltar para casa, eu disse a Roman que as coisas seriam
feitas de um modo diferente. Eu me segurei a isso e desde o dia em que eu cheguei, eu
reestruturei tudo nos negócios, principalmente financeiramente. Não era uma máquina
perfeitamente engrenada ainda, mas tudo estava correndo melhor. Estávamos ganhando
dinheiro de novo.

Era aí que Melody entrava.

Eu ainda me lembrava do olhar de completo choque e surpresa quando eu disse a


Roman que uma vez que estivéssemos estabilizados financeiramente, eu queria doar uma
porcentagem significativa dos nossos lucros para a caridade. Não só isso, mas eu queria
contratar alguém para executar as doações e também arrecadar fundos adicionais.

Nós já não focaríamos apenas no lucro. Daríamos de volta.

Se trabalhar nas trincheiras de um hospital por três anos me ensinou alguma coisa,
foi que as pessoas estavam sempre precisando de ajuda.

Esta noite, marcou o primeiro baile de caridade organizado pela minha diretora
recém-contratada de doações de caridade, e se o um milhão de dólares levantados esta
noite significasse algo, eu diria que ela era boa em seu trabalho.

Ela também esteve sutilmente dando em cima de mim por semanas.

Melody me via como o resto do mundo. Com um passado trágico, eu era o cachorro
ferido que precisava ser abraçado e amado pela pessoa certa.

Toda mulher no Upper East Side achava que era essa pessoa.

Nenhuma delas era para mim.

A respiração quente fez cócegas na minha orelha. — Você quer dançar comigo,
Jude? — Melody sussurrou. Ela cheirava a perfume caro misturado com uísque.

Olhei para cima e encontrei seu olhar semicerrado. O vestido que ela havia
escolhido era apertado e decotado, expondo as curvas perfeitas que seu corpo tinha a
oferecer.

Eu não senti nada.

— É melhor eu ir. — eu respondi, levantando-me do banquinho quando eu coloquei


uma nota de vinte na mesa.

— Mas a noite apenas começou.

— Eu tenho uma pilha de trabalho esperando por mim e eu ainda preciso visitar
minha mãe amanhã. — eu respondi antes de acrescentar: — Desculpe. Tudo está ótimo,
Melody, realmente. Eu só tenho que sair daqui.

Fugi, afrouxando a minha gravata assim que eu senti o frio do lado de fora, antes de
pegar um táxi para o centro. Meu estômago revirou quando passamos um outdoor coberto
de colinas verdes, a publicidade do turismo irlandês.
A vida realmente era cruel.

Acho que ninguém nunca disse que ser um mártir fosse fácil.

Meu pai tinha feito uma ou duas coisas certas durante sua gestão na Cavanaugh
Investments de trinta anos. Uma delas foi ter mudado a sede principal de sua localização
atual.

Quando olhei para fora, pelas janelas do chão ao teto, que colocam o horizonte de
Nova Iorque em plena exibição, senti uma espécie de parentesco com o homem que eu
mal conheci. Lembrei-me de andar em seu escritório, que agora era meu, e vê-lo de pé no
canto com uma bebida na mão enquanto olhava para os edifícios, pensando,
planejamento e conspirando.

A vida familiar sempre foi dividida na nossa casa. Eu era o filho da minha mãe e
Roman era o do meu pai. Era a razão pela qual eu era compassivo enquanto meu irmão
era ganancioso e a razão pela qual eu me colocaria acima dos outros quando Roman de
bom grado apenas tomava tudo para si.

Mas nosso pai tinha uma coisa que Roman ainda tinha que descobrir. Papai tinha
mamãe. Aquela mulher tinha mantido sua ganância e necessidade de poder contidos.
Quando ele ficava muito fora de mão, ela o trazia de volta para a Terra. Com certeza, ela
não poderia fazer muito, mas ela era sua âncora.

Meu irmão não tinha nada.

Nada o mantinha preso e eu temia que ele pudesse algum dia fazer algo que pudesse
queimá-lo. Então, ele finalmente entenderia o que era a perda verdadeira.

— De alguma forma, eu sabia que ia te encontrar aqui. — a voz profunda de Roman


disse quando ele entrou no escritório escuro.

— Você se lembra como o papai costumava beber uísque e contar em voz baixa? —
eu perguntei sem me preocupar em olhar para cima.

Passos soaram atrás de mim, até que eu vi o preto do paletó de smoking com o
canto do meu olho.

— Sim, ele ficava aqui, assim como você e saboreava lentamente o puro malte e
contava. Perguntei-lhe uma vez por que ele fazia isso, e ele simplesmente disse que o
mantinha são.

— Eu acho que todos nós precisamos de alguma coisa. — comentei enquanto


continuamos a observar a vida passar no outro lado do vidro.

— O que você precisa, Jude?

Virei-me para ele, surpreso com a pergunta. — O que você quer dizer?
— O que quero dizer? — ele zombou, dando um passo para trás. Ele começou a
andar. — Quero dizer, você está em espiral, irmãozinho. Eu vejo o trabalho que você está
fazendo para a empresa e caramba, Jude, é incrível, mas depois eu te encontro aqui, tarde
da noite, como um eremita assustado. Por que eu tenho a sensação de que voltar para casa
era a última coisa que você queria fazer?

— Estou aqui. Isso não é tudo o que importa?

— Não, caramba. Não é! — ele gritou, jogando as mãos para cima. — Eu sei que
você pode pensar que eu sou um idiota sem coração, e para a maioria das pessoas, eu sou.
O que eu fiz para você, depois que Megan morreu - eu tenho vivido com arrependimento
durante anos. Eu deveria ter voado para lá e ajudado, colocado você de pé novamente,
feito algo, além de pensar só em mim.

— O que o impediu? Se você estava tão perturbado sobre mim, tão cheio de culpa,
por que você não apenas pegou o telefone ou voou para me ver?

— Porque eu estava com raiva. Papai ficou doente. Você não estava aqui e minha
mãe - bem, ela não podia lidar com tudo isso. De repente eu estava segurando todos. —
ele soltou uma risada abafada. — Piada cruel, certo? Brincadeira à parte, todo mundo se
voltou para o entretenimento, e de repente eu estava no comando de tudo. Todos queriam
você e tudo que eu queria fazer era provar-lhes o quão errado eles estavam sobre mim.

— Quando você ligou e disse que estava voltando para casa, eu pensei que minhas
preces estivessem sido atendidas. Finalmente, eu poderia voltar atrás e ser o que eu era
antes. Mas você sabe o quê? Esses três anos me mudaram. Eu não posso sair agora e eu
não posso parar de me preocupar com esta empresa e a família que se formou em torno
dela.

Eu olhei para o meu irmão quando ele parou no meio da sala. Nós parecíamos de
muitas formas, mas éramos tão diferentes.

— Você não pode limitar-se a apenas cuidar de nós, Roman. Eventualmente, você
vai ter que ampliar seus horizontes e ter alguns extras ao longo do caminho.

Ele ignorou as minhas palavras, com os olhos brilhando. — Para que você precisou
do dinheiro, Jude?

Eu dei um suspiro exasperado. — Você sabe o dia que eu fui ver a mãe e o pai,
quando eu cheguei em casa? Sabe o que o pai me disse quando eu o vi?

Ele balançou a cabeça. — Provavelmente, quem diabos é você? Ele não me


reconheceu, em mais de um ano.

— Não. — eu respondi. — Seus olhos se arregalaram em reconhecimento imediato


quando entrei e seus lábios franziram, enquanto tentava encontrar as palavras. Ao vê-lo
assim, tão frágil depois de tantos anos olhando para ele como um homem tão formidável,
foi aterrorizante. Era como assistir Deus caindo no chão e se tornar um mero humano.
Não parecia real.
— Eu sei. — ele respondeu.

— Quando ele finalmente encontrou as palavras, as lágrimas molharam suas


bochechas, e ele me disse: ‘Sinto muito, filho. É tudo culpa minha. É tudo culpa minha’.
Ele ficou repetindo essa frase até que a enfermeira teve que acalmá-lo com drogas.

— O que foi culpa dele? — perguntou Roman, franzindo a testa em confusão.

— O acidente. Ele nos enviou para a Califórnia. Eu nunca voltei para casa. Mamãe
disse que depois que ele superou a raiva de mim por me recusar a voltar, ele caiu em uma
depressão profunda e é aí que a demência o atacou. Ele falava comigo quando eu não
estava lá, pedindo desculpas por tudo.

— Não foi culpa dele. — ele disse suavemente, movendo a cabeça de um lado para
o outro.

— Eu sei disso. — respondi. — Mas ele não sabia. E por causa das decisões
egoístas que fiz após o acidente, porque eu fiquei, eu mudei tantas vidas. Por isso eu
estou tentando fazer a coisa certa.

Ele caminhou até a porta antes de se virar.

— Sabe, não foi sua culpa também. É hora de você parar de se punir.

— O amor nunca é uma punição. — eu respondi.


—V ocê não está pronta ainda? — Grace gritou do outro lado da porta.

— Quase! Aguente. O zíper emperrou. — eu me abaixei, tentando espremer e


puxar o tecido apertado para permitir que o zíper subisse. — Eu juro, eu engordei desde a
minha última prova de roupa. — eu lamentei. Eu respirei fundo, os pequenos dentes se
reuniram para fechar o meu suprimento de oxigênio.

— Ah, pare com isso. Você não engordou. E mesmo que você tenha engordado
quem se importa? Um pouco mais de peso que você ganhou por causa das drogas para
antirrejeição, tem feito coisas incríveis para a sua aparência. Eu gostaria de poder ganhar
alguns quilos e me transformar em uma deusa do sexo.

Eu bufei, alisando o tecido para baixo em torno da minha cintura. — Deusa do


sexo? Acho que você está delirando.

Sem me preocupar em olhar para o meu reflexo, eu abri a porta do provador e


parei. Dois pares de olhos se arregalaram quando me viram.

— Lailah, você está linda. — disse minha mãe, escondendo as lágrimas de seus
olhos.

— Uau! Você parece quente. — Grace riu.


Andei até o centro da sala na plataforma ampla acarpetada, e finalmente olhei para
o meu reflexo no espelho.

— Você realmente tinha que escolher rosa, não é? — sorri.

Grace correu até mim, gritando. — É perfeito! E sim, eu tinha que escolher rosa. É
a melhor cor de sempre. Você está maravilhosa nele. Você não pode discutir.

O vestido era realmente bonito, mas eu tinha que lhe provocar um pouco.
Qualquer garota que o tema do seu casamento é Princesa Sofisticada merece um pouco
de incômodo. O decote e cintura alta davam lugar a uma saia que me fazia lembrar dos
lenços de seda que minha mãe sempre adorava usar. Ele subia e descia enquanto eu
caminhava e - bem, sim, isso me fez sentir como uma espécie de princesa.

— Estou apenas feliz por você ter escolhido algo sutil em vez de espectro de
algodão-doce com aquarela de cores.

— Eu disse: Princesa Sofisticada, não Barbie se Casa.

Eu ri quando ela começou a brincar com o meu cabelo loiro comprido, divagando
sobre ideias do que poderia fazer com ele.

— Você quer o cabelo solto ou preso?

Olhando para o meu reflexo, eu respirei fundo. O decote do vestido não deixava
nada para a imaginação quando se tratava das cicatrizes do meu passado. A linha rosa
que dividia meu peito agora estava mais escura por causa da cirurgia recente e destacava-
se de forma proeminente contra o tecido rosa. Ter o meu cabelo solto em torno de meus
ombros tiraria a atenção dela.

— Preso. — eu disse, sabendo que eu tinha que enfrentar meus medos, um de cada
vez.

A vida já não era sobre esconder nas sombras. Se eu quisesse experimentar todas
as normalidades dela, eu tinha que abraçar os lados mais escuros também, e que
começavam com alguns olhares e cochichos.

— Vai ficar lindo. — disse Grace, segurando-o longe do meu rosto.

Nós três olhamos para o meu sorriso com lágrimas nos olhos, encarando de volta.

A menina que nunca tinha chorado, agora não conseguia desligar as malditas
torneiras de água.

Eu sempre fui tão boa em manter as coisas juntas e em cheque. Eu não me


entregava e eu nunca tinha mostrado as minhas fraquezas.

Mas agora, eu deixava tudo para fora. Quando eu fiquei com dor durante a
recuperação, eu gritei por socorro e amaldiçoei o destino por me fazer passar por tantos
obstáculos. Quando eu me recuperei, eu chorei pela possibilidade de ter uma segunda
chance. E tarde da noite, eu chorava por sentir falta dele.

Seis meses se passaram e eu ainda acordava todas as manhãs, estendendo a mão


procurando pelo seu calor. O sonho que eu tive na sala de recuperação não foi o último.
Via-o todas as noites quando eu fechava meus olhos, mas eram sempre memórias - pizzas
e pudim, rir sob um chuveiro e sentir o seu toque suave quando ele fazia amor comigo,
enquanto dizia que nunca me abandonaria.

Mas ele abandonou.

— Vestido bonito. — uma voz masculina profunda ecoou por trás.

Olhei para cima e minha respiração ficou presa.

Jude.

Mas no segundo olhar, percebi que seu cabelo estava um pouco escuro, seus olhos
estavam um pouco duros, e ele se portava de maneira diferente.

— Minha nossa, esse é Roman Cavanaugh. — Grace sussurrou, virando


rapidamente para ver se o reflexo que ela viu no espelho era de fato real.

— Prazer em conhecê-la. — disse ele, dando um passo à frente para pegar a mão
de Grace.

Um beijo sensual lento foi dado em sua mão, deixando-a boquiaberta e com a
língua presa.

— Grace... — ela murmurou. — Eu sou Grace.

Seus lábios curvaram para cima, e ele sorriu quando a observou. Seus olhos
percorreram seu cabelo e figura curvilínea, até que finalmente fixaram no anel de noivado
na mão esquerda.

— Homem de sorte. — comentou.

Um leve rubor coloriu a pele de Grace quando ela retirou a mão, sacudindo-se do
transe que havia entrado. — Obrigada.

Ele deu um sorriso educado e em seguida, olhou para cima, fixando os olhos em
mim.

Seus olhos me lembravam tanto os de Jude.

Fechando a distância entre nós, ele estendeu a mão, e eu peguei.

— Roman Cavanaugh. — disse ele. — Você deve ser Lailah Buchanan.


Seu olhar se desviou brevemente para baixo na minha cicatriz, me fazendo sentir
nua em meu vestido.

— Sim. — eu respondi.

— Bom. Pois bem, esta é a sua mãe? — ele perguntou, olhando para onde minha
mãe estava de pé, em silêncio, observando tudo.

— Ela é.

— Ótimo. Faça-me um favor, sim? — ele perguntou, dando um passo à frente em


direção a ela. — Corra em casa e faça uma mala para Lailah. Talvez o suficiente para
uma semana ou duas. Tudo o que você puder. Qualquer outra coisa que ela precise, nós
podemos fornecer para ela.

Os olhos da minha mãe se arregalaram com o seu pedido arrojado.

— Desculpe? Eu não sei quem você pensa que eu sou, mas eu não vou a lugar
nenhum com você! — exclamei.

Ele se virou, seu rosto transformando em um largo sorriso. — Ah, querida, depois
do que eu tenho para lhe dizer, você vai me implorar para entrar naquele avião. E se você
não fizer isso, eu acho que, afinal, você não vale tudo o que meu irmão fez por você.

Depois que mudei o meu vestido, Roman e eu fomos a um café do outro lado da
rua, enquanto minha mãe e Grace foram para casa. Ele prometeu me entregar com
segurança de volta para minha mãe uma hora depois dele se explicar.

Ele pode parecer Jude, mas a atitude dominadora que ele carregava me fazia
querer dar um pontapé nele. Ele tinha exatamente 20 minutos para revelar exatamente por
que ele tinha voado por todo o país para pegar minhas malas e me dar ordens como se
fosse um dos seus empregados.

Ficamos na fila, e eu passava de um pé para outro, enquanto eu lia o menu.

Número trinta e três - Pedir uma xícara de café que tivesse um preço absurdo.

Eu nunca tinha estado em um café - muito menos, pedido uma xícara de café. Os
nomes me deixaram perplexa.

Por que não podiam simplesmente chamá-los de pequeno, médio e grande?

— Você está bem? — perguntou Roman, obviamente sentindo a minha angústia.

— O quê? — eu me assustei. — Ah, sim. hum... O que você vai pedir? — eu


perguntei.
Chegamos ao balcão, e eu quase me acovardei, dizendo que teria o que ele tivesse,
mas eu consegui passar por isso, pedi um grande Mocha ou uma coisa assim. Eu não
sabia. Soou decadente.

Ambos pedimos bolinhos também, e fomos até uma mesa pequena no canto da
janela. Eu sorri, pensando que era outra coisa que eu seria capaz de riscar da minha lista.

— Então desembucha. — eu finalmente disse. Dei uma mordida no meu bolinho


de chocolate.

Hum. Comida de verdade é incrível.

Roman repetiu minhas ações e deu uma mordida em seu bolinho de mirtilo. —
Quando Jude me ligou no verão passado e disse que estava voltando para casa, ele foi
muito específico sobre algumas coisas.

Tomando um gole do meu Mocha, eu o vi correr os dedos sobre a borda de sua


xícara. — Duas coisas, na verdade - uma, ele queria mais controle, mais poder sobre o
que fazemos e não fazemos.

— Por que isso me envolve? — eu odiava cada palavra, cada frase que envolvia
Jude. Era como uma lança no coração, me puxando para trás, fazendo-me lembrar
daqueles belos poucos meses em que eu senti o que era o amor – até que ele me deixou.

— E a outra. — Roman continuou sem se preocupar em me responder. — Foi o


acesso imediato à sua conta que eu tinha há anos congelada. Eu não pensei muito na hora
e eu concordei com as duas. Você viu a notícia, eu tenho certeza. Cavanaugh Investments
não estava em um bom momento, e eu teria concordado com qualquer coisa, para que eu
pudesse entregar as rédeas para o meu irmão mais novo.

— Mais uma vez, eu não entendo por que estamos tendo essa conversa.

Ele sorriu. — Você é muito impaciente.

— Você seria também, se você tivesse passado toda a sua vida preso do lado de
fora, olhando para dentro.

— Todos nós temos prisões e correntes que nos impedem da única coisa que
realmente queremos na vida, Lailah. As suas eram apenas maiores e mais fortes do que a
maioria.

— E o que você mais deseja na vida, Roman? — eu o desafiei, levantando minha


sobrancelha. Tomando um gole de café.

— Liberdade... — ele respondeu. — Assim como você.

— Entregar tudo para seu irmão não saiu do jeito que você esperava? — eu sorri,
vendo o sorriso agradável no rosto desaparecer.
— Ele poderia ter resolvido os nossos problemas, mas ele não está feliz. Ele está
malditamente miserável.

Eu balancei minha cabeça. — Ele não parece estar miserável nas revistas de
fofocas. Aparentemente, ele está namorando uma colega de trabalho. Eles estão muito
felizes. — zombei.

Seus olhos aqueceram de raiva. — Não acredite em tudo que você ouve na TV ou
vê nos jornais, Lailah. Deixar você destruiu meu irmão. Ele é nada mais que uma concha
vazia.

— Bem, então, por que ele não está aqui, me dizendo isso ele mesmo? — eu
respondi um pouco alto demais, fazendo com que algumas pessoas olhassem em nossa
direção.

Roman olhou em volta e xingou. — Você acha que poderia ser um pouco mais
discreta?

— Desculpe. — eu murmurei.

— Por que você acha que Jude precisava de todo esse dinheiro? De repente?
Quando chegou em casa e vi que ele havia trocado seus Sperrys e Polos por jeans sujos e
tatuagens, eu percebi que ele tinha mudado. Mas quanto mais eu ficava ao seu redor,
mais eu percebia que tinha menos a ver com ele, e mais a ver... Com você.

— Comigo? — meus olhos se arregalaram quando tudo começou a se encaixar.

Eu nunca vou parar de lutar por você.

— Oh Deus, não era um sonho. Ele esteve aqui - depois da minha cirurgia. Ele
estava aqui. — eu soltei quando meus olhos começaram a me confundir.

— Você realmente acredita que a companhia de seguros iria reverter uma negação
tão rapidamente?

— Ele pagou pelo meu transplante?

— Sim. — respondeu Roman. — Eu finalmente fiz uma investigação e descobri


para onde ele estava mandando todo aquele dinheiro. Com a ajuda de alguns amigos, eu
fui capaz de rastrear a trilha do banco que levava a você. Minha mãe me deu o resto das
informações, explodindo como uma represa quando eu mostrei a ela todas as evidências.
Aparentemente, ela está carregando o segredo de vocês por muito tempo.

— Sua mãe sabe sobre mim? — eu perguntei, enquanto enxugava as lágrimas.

— Sim. — ele respondeu. — Ela realmente gostaria de conhecê-la.

— Ele não me abandonou. — eu disse, conforme um enorme sentimento de


esperança se espalhava por mim. Pela primeira vez na minha vida, o sentimento não me
assustou. A esperança era um risco terrível para alguém como eu, mas como muitas vezes
eu tinha ficado decepcionada ou inundada pela alegria na vida, tudo me trouxe para o
hospital por uma razão.

— Então, o que fazemos agora? — perguntei.

— Agora, pegamos um voo e você salva o meu irmão do jeito que ele te salvou.

— Bom. Vamos.

Número oitenta e sete - Voar em um avião.

Confere.
A luz do sol da Califórnia derivava preguiçosamente através das janelas,
iluminando seu cabelo loiro como um halo. Ela sorria para mim, com a pele nua de seus
ombros espreitando debaixo dos lençóis cobalto escuro.

Era assim que sempre me lembrava dela.

Eu empurrei para trás da minha mesa e me afastei da foto. Eu tinha colocado lá


semanas atrás, porque eu precisava ver seu rosto novamente, e eu precisava de um
lembrete do por que eu estava aqui e não na cama, segurando a mulher que eu amava.

Talvez tenha sido um pouco sádico, colocar um símbolo que constantemente me


lembrava tudo o que eu tinha perdido. Mas todos os dias, desde que eu tinha ligado para
Roman e me afastado dela, minha vida era exatamente a mesma coisa. Ficar sentado aqui
neste escritório não me deixava esquecer.

Pelo menos ver seu belo sorriso, seu amor que irradiava em seus ternos olhos
azuis, confirmava tudo o que eu estava fazendo, a razão de eu estar aqui.

Ela estava viva.

Em algum lugar em Santa Monica, agora, ela estava recomeçando, tendo a vida
que sempre quis, e nada disso teria acontecido se eu não estivesse sentado aqui.
Olhei para o meu relógio e percebi que estava quase atrasado para uma reunião.
Apertei o botão do intercomunicador e esperei que Stephanie, minha secretária,
respondesse.

— Sim, Sr. Cavanaugh? — respondeu ela.

— Jude, Stephanie - é só Jude. — eu ri.

— Eu sinto muito, Sr. Cavanaugh - Jude... Senhor?

Stephanie era secretária de meu pai antes que eu a herdasse, e eu achei que a perda
de formalidade que eu tinha instituído com os poucos funcionários que trabalhavam
diretamente para mim a confundia e a deixava com medo.

Quando eu disse que ela era livre para usar o que ela quisesse para trabalhar a
partir de agora, a sua resposta foi: eu preciso?

Ela estava presa a suas saias lápis e terninhos personalizados, enquanto o resto de
nós usava roupas casuais de vez em quando.

Eu estava Californianizado - pelo menos, foi o que o pessoal tinha dito.

— Está tudo pronto para a minha reunião com Roman e o Conselho?

— Ah, hum... Na verdade... — ela gaguejou. — Seu irmão - quero dizer, Sr.
Cavanaugh cancelou a reunião ontem à tarde.

Eu levantei uma sobrancelha. Ele nunca tinha cancelado o que eu tinha


programado.

— Ele cancelou?

— Sim, senhor.

— Ele disse por quê?

— Ele disse sim. Ele disse que tinha alguns negócios a tratar, e ele não voltaria a
tempo.

— Que diabos? Que tipo de negócio? — eu clamei, lamentando instantaneamente


meu tom. — Eu sinto muito, Stephanie. Perdoe-me. Obrigado pelo recado. Eu vou me
certificar de achar imediatamente o meu irmão.

— Hum... Bem, na verdade...

— Obrigado. — eu bati o telefone antes dela terminar e antes que a raiva em


minha voz se levantasse novamente.

Eu rapidamente tentei o celular de Roman, mas foi diretamente para o correio de


voz.
Eu deveria ter pensado melhor antes de confiar nele. Nos últimos seis meses, ele
tinha sido nada mais que dedicado aos nossos planos para revitalizar e reformar esta
empresa. Nós estivemos na mesma página.

Agora, ele tinha sumido sem aviso prévio para mim, e cancelou uma reunião muito
importante com o conselho.

Levantando da minha cadeira, eu olhei pela janela e observei a movimentada


cidade abaixo.

— Um... Dois... Três... — eu comecei, tentando ver o método por trás da loucura
do meu pai. — Ele provavelmente pegou a primeira mulher que ele encontrou. — eu
murmurei. Imaginando o meu irmão em alguma ilha distante, bebendo, enquanto eu me
sentava ao redor, coçando a cabeça.

— Na verdade... — uma voz doce ecoou atrás de mim.

Virei-me e perdi a capacidade de respirar.

— Eu provavelmente não fui a primeira mulher. Ele demorou seis horas para
chegar a mim e ele viu Grace primeiro, então eu não sei o que isso faz de mim, mas
definitivamente não fui a primeira. — ela balbuciou.

Não encontrei palavras para responder, enquanto ela estava na porta do meu
escritório de Nova Iorque. Ela ganhou um pouco de peso, preenchendo curvas que eu
nunca soube que existiam. Vestida com uma blusa simples verde, jeans apertados e botas,
ela parecia a perfeição.

— Você está aqui. — eu consegui dizer.

— Sim. — ela sorriu.

— Você está realmente aqui. — eu disse de novo, checando a realidade. Eu movi-


me rapidamente, dando vários passos largos em direção a ela.

Levantando a mão trêmula, meus dedos roçaram sua bochecha. Meus olhos
cerraram, emoções muito fortes da minha alma sedenta. — Querido Deus, se eu estou
sonhando... Eu não quero nunca mais acordar. — eu sussurrei.

— Você definitivamente não está sonhando. Mas se você precisar de provas...

Meus olhos se abriram bem a tempo de ver a palma da sua mão fazer contato com
o meu rosto.

— Ai! — eu gritei. — Que diabos foi isso?

Não era exatamente o encontro que eu esperava.


— Isso. — disse ela, com os olhos em chamas. — Foi por você tomar a decisão
mais importante da minha vida sem mim, Jude.

— Bom. — a voz de barítono do meu irmão soou quando a sua figura imponente
apareceu atrás dela. — Eu gosto dela. — ele sorriu. — Nem cinco minutos aqui e ela já
está colocando você em seu lugar.

— Saia. — rosnei.

— Ah, eu vou. Vocês dois divirtam-se. A propósito, Jude, de nada.

Ele girou e eu ouvi a campainha do elevador no corredor.

Virei e caminhei até a sala de estar que meu pai tinha feito para pequenas reuniões
de negócios. Eu a usei como dormitório em várias ocasiões, quando eu não tinha vontade
de pegar um táxi para casa. Agora, eu achei que nós poderíamos usar um lugar
confortável para sentar e conversar.

Ainda esfregando o tapa na minha bochecha, eu assisti Lailah lentamente se sentar


no sofá, seus lindos olhos azuis fixaram nos meus quando ela se acomodou. Logo em
seguida, tudo em mim que estava inativo por meses rugiu de volta à vida.

Tome-a.

Tome-a agora.

Meus punhos cerraram ao meu lado enquanto eu mostrava a maior contenção


física da minha vida. Eu tinha sonhado, fantasiado e imaginando-a na minha mente quase
a cada segundo, desde o dia em que deixei sua cabeceira. Ao vê-la aqui, saudável e
recuperada, me deu vontade de fazer todo tipo de coisa clichê de homem das cavernas
com ela.

— Então, você quer se explicar? — ela perguntou, o pé subindo e descendo


enquanto ela estava sentada com as pernas cruzadas.

— Explicar o quê, Lailah?

— Por que você decidiu me deixar?

— Obviamente, você sabe por quê. — eu respondi.

— Eu sei. Seu irmão, aparentemente, é um bom investigador... Ou ele tem amigos


que são. Eu não pedi detalhes. Então, sim, eu sei exatamente por que você me deixou,
mas eu ainda não entendo por que você não me disse.

Deixei escapar um suspiro profundo. — Você me deixaria ir?

Sua boca se abriu rapidamente e depois fechou de novo.


— Exatamente. — eu disse. — Você nunca teria me deixado ir embora, Lailah.
Você tinha jogado a toalha, desistido, levantado sua pequena bandeira branca em sinal de
rendição ao seu destino. Eu compreendi. Você já passou por mais merda do que a maioria
das pessoas experimentam em uma vida inteira. Mas veja sob a minha perspectiva.
Ponha-se no meu lugar. Você estava morrendo, sem esperança de uma recuperação a
menos que você fizesse essa cirurgia. Eu fiz o que tinha que fazer para mantê-la viva. Era
a única opção para mim.

Ela assentiu com a cabeça, seus olhos brilhavam com lágrimas não derramadas. —
Mas por que você não voltou? — ela perguntou. — Eu me lembro agora - quando você
esteve no meu quarto no hospital após a cirurgia. Você queria ficar. Por que você não
ficou comigo?

— Eu deveria saber que você se lembraria disso. — eu disse com um leve sorriso.
— Eu queria mais do que você pode imaginar. Fugir uma segunda vez, especialmente
depois que você tinha acabado de passar por uma cirurgia muito arriscada, foi como levar
um tiro no meu coração cada quilômetro que coloquei entre nós. Mas eu não podia
administrar esta empresa de Santa Monica. Este foi o meu acordo com Roman para
voltar, a minha penitência por dar-lhe uma vida que você merece. Eu não posso
abandonar a minha família, não outra vez.

— Então, onde é que isso nos deixa? — ela perguntou, seus olhos fixos nos meus.

Eu respirei fundo, deixando o ar desocupar lentamente meus pulmões. — Eu não


sei, Lailah.

Silêncio pairou entre nós antes de ouvir a sua voz melodiosa de novo.

— Você sabia que NYU tem um excelente departamento de cardiologia?

Meu coração pulou uma batida.

— Eu não sabia disso. — eu respondi, tentando avaliar sua expressão em branco.

— Eles têm. Marcus diz que a transferência dos meus cuidados para a Costa Leste
seria relativamente fácil se...

— Se você se mudasse para cá? — eu terminei com meus olhos arregalados.

Ela assentiu com a cabeça, sua expressão cheia de emoção. — Já está feito.
Minhas coisas estão sendo enviadas na próxima semana. Viu? Você não é o único que
pode tomar decisões importantes por conta própria.

— Você está vindo para Nova Iorque? — eu perguntei confuso.

Isto não pode ser possível.

— Sim, mas eu não sei onde morar. Você acha que poderia me ajudar a encontrar
um lugar? — ela sorriu.
Estendendo a mão, agarrei-a pela cintura e puxei-a para mim. Ela soltou um grito
agudo e riu enquanto suas pernas caíram em torno das minhas coxas.

— Você vai viver comigo. — eu disse. — Para sempre.

Nossos lábios se encontraram e eu estava no céu novamente com o doce sabor do


seu beijo e com jeito que ela moldava seu corpo contra o meu. Ela era a minha salvação.

Vida - ela realmente continuaria, mesmo depois do pesar insuperável, tristeza


debilitante e uma vida esperando para começar. Enquanto nós formos capazes de amar e
ser amados neste mundo, nenhum coração jamais ficará sem conserto.

O amor me trouxe a ela e ali em seus braços, eu tinha encontrado uma razão para
viver novamente. Ela era o meu anjo, minha Lailah, meu amor.
B EEP, BEEP, BEEP…

Meus olhos ainda fechados, eu escutei, focando o meu arredor, enquanto eu sentia
os lençóis, cheirava o ar e fazia a minha lista mental.

— Oh meu Deus, Lailah! Desligue a merda do alarme! — Jude murmurou.

Eu ri, lembrando-me exatamente por que eu parei de fazer a lista mental há muito
tempo.

Não havia necessidade.

Toda manhã, eu acordava no mesmo lugar.

Em casa.
Não importava se estivéssemos em nosso arranha-céu de Manhattan ou em um
quarto de hotel na costa da Califórnia. O homem ao meu lado sempre seria o único lar
que eu sempre precisaria.

Eu abri meus olhos para encontrar Jude enterrado sob nossas cobertas com seu
travesseiro cobrindo firmemente a cabeça.

— Sabe, você pode desligá-lo. — sugeri com um sorriso.

O travesseiro levantou e vi sua expressão duvidosa mudar quando ele olhou para o
despertador do meu lado da cama. Um sorriso perverso atravessou seu rosto quando ele
pulou de repente, prendendo-me debaixo dele, enquanto ele estendia a mão para cessar o
sinal sonoro alto. Seu peito nu duro roçou contra o meu e eu senti meus mamilos
eriçarem instantaneamente.

— Essa foi uma excelente ideia. — disse ele, observando sua nova vista como um
rei.

— Não é bom ser preguiçoso. — sussurrei.

Sua boca tomou a minha. Minhas mãos mergulharam no cabelo curto e minhas
pernas envolveram a sua cintura.

Uma hora mais tarde, ele comprovou completamente quão necessários eram os
despertadores.

Corri em torno do nosso quarto de hotel, procurando o meu sapato perdido.

— Isso é tudo culpa sua! — eu gritei, empurrando minha cabeça debaixo da cama
em busca do que eu havia perdido.

— Você não estava reclamando ontem à noite. — ele zombou. — Na verdade, eu


me lembro de ter ouvido nada além de, ‘Oh Deus, Jude, nunca pare... Por favor, nunca
pare’. Não pode culpar um cara por tentar seguir as instruções.

Levantei minha cabeça que estava de baixo da cama e eu me virei para tentar
esconder o rubor que tinha causado. Senti seu toque terno envolver a minha cintura
quando ele me virou.

— Eu adoro ver isso. Nunca esconda isso. — ele sorriu, roçando o polegar pela
minha bochecha avermelhada.

— Não consigo encontrar o meu sapato. — eu disse com um beicinho.

Seu sorriso se alargou enquanto seus olhos se estreitaram em meu lábio inferior.

— Foco, tigre. — eu ri. — Sapatos. Eu preciso deles.

— Certo. — ele respondeu. — Tudo bem, um sapato chegando!


Depois de dez minutos, ele estava na cama, com os ombros caídos em aparente
derrota. — Tem certeza que você não pode simplesmente ir descalça?

Eu dei-lhe um olhar duro.

Ele balançou a cabeça, levantando as mãos em sinal de rendição. — Tudo bem,


dê-me o sapato.

Entreguei-lhe o pé esquerdo, e o assisti caminhar para o telefone do hotel. Ele


apertou um único dígito e esperou.

— Oi, sim. Eu preciso de alguém para pegar alguns sapatos para mim - e rápido.
Tamanho trinta e seis. Talvez um salto de cinco ou sete centímetros? — ele olhou para
mim para confirmação.

Meu rosto estupefato apenas balançou a cabeça.

— Bom. Obrigado.

— Oh meu Deus, o que você acabou de fazer? — eu perguntei, rindo.

— Eu usei os benefícios deste hotel ridiculamente caro.

— Isso foi como assistir a uma cena deletada de Uma Linda Mulher.

— Exceto? — ele saiu da cama e caminhou para frente.

— Exceto que você é muito mais quente. — eu respondi.

— Boa resposta. — ele parou há alguns passos de mim e virou. — Se eu te tocar


de novo, nós nunca vamos chegar lá na hora certa.

— Bem, então, fique aí. Se chegarmos atrasados novamente, Grace vai nos matar.

— Foi o jantar de ensaio. Não era nem mesmo um ensaio e foi, tipo, cinco
minutos. — ele acenou com a mão irreverente quando se deixou cair na cadeira e
começou a amarrar a gravata de seda.

Eu fui para o banheiro e terminei de enrolar meu cabelo, amando o modo como os
cachos leves caíam nas minhas costas. Tendo um novo interesse em roupas e maquiagem,
eu me transformei muito desde a minha recuperação. Grace tinha ficado feliz,
constantemente me enviando as marcas de cosméticos que ela amava.

No hospital, eu nunca tinha tido a oportunidade de me vestir do jeito que eu


queria. Tudo era feito para ser confortável e embora eu ainda amasse meu moletom e
calças de yoga, eu gostava de me arrumar para sair à noite. Esse meu corpo atravessou
uma jornada e ele sempre tinha algo que me orgulhava, mas apenas não ficava
particularmente interessada em enfeitar.

Agora, eu era orgulhosa e mostrava isso.


Terminei de prender a parte de trás dos brincos de diamante que Jude tinha me
comprado alguns meses antes e eu me olhei no espelho uma última vez, quando bateram
à porta da frente do nosso quarto de hotel.

Não podiam ser os sapatos.

— Ei, anjo, os seus sapatos estão aqui! — Jude chamou do outro cômodo.

Saí e encontrei uma pilha de sapatos, pelo menos, seis caixas empilhadas.

— Caramba! — eu disse, olhando para tudo aquilo.

— Bem, com tamanhos diferentes, eu queria ter certeza de que você tivesse
opções. Então, escolha o que você quer usar agora, e fique com o resto.

Eu tentei não deixar que as grifes me encantassem.

No segundo dia que eu estava em Nova Iorque, ele tinha me levado às compras.
Eu quase tive um acidente vascular cerebral, um curto-circuito no meu coração novinho
em folha, quando eu vi os preços das coisas nas etiquetas.

O dinheiro era parte da vida de Jude agora. Ele tinha levado um tempo para se
ajustar novamente depois de viver com tão pouco por tanto tempo, mas agora, ele tinha
uma visão diferente sobre tudo isso.

Era um presente e ele gostava de compartilhar, especialmente comigo.

Encontrá-lo em um jeans e uma camiseta velha surrada nos fins de semana ainda
fazia meu coração saltar, mas eu trocaria um uniforme por um terno a qualquer dia.

Esse homem foi feito para ternos.

Quando ele insistiu em pagar a minha faculdade, eu lutei com ele sobre isso. Tinha
sido uma batalha épica. Eventualmente, ele venceu, argumentando que eu nunca seria
capaz de trabalhar como uma conselheira sem um diploma. Eu finalmente decidi que
minha vocação da vida era ajudar as pessoas lá fora como eu - as pessoas que se sentiam
enganadas e sem esperança, porque nasceram diferentes do resto do mundo. Eu tive um
conselheiro incrível quando eu era mais jovem, e eu esperava que eu pudesse ter esse tipo
de impacto um dia na vida de outra pessoa. Era um longo caminho, mas um dia, eu
chegarei lá. Eu tinha planejado originalmente trabalhar para pagar a minha faculdade. Eu
também poderia ter tomado empréstimos e bolsas de estudos. Jude tinha me dado um não
firme para tudo isso.

— Vá trabalhar no McDonalds, não me importa, mas faça apenas se for isso que
você realmente quer fazer. — ele disse. — Você passou toda a sua vida internada. Agora,
é a sua hora de finalmente fazer o que te faz feliz. Vá para a faculdade, Lailah. Seja o que
você está destinada a ser.
Eu não tinha nada, mas o tempo agora estava a meu favor, e ele ia me ajudar a
tornar meus sonhos realidade.

O tempo não estava do nosso lado nesta manhã, porém, eu rapidamente tomei uma
decisão, e escolhi um par de sandálias semelhantes às que eu tinha trazido, ou achei que
eu tinha trazido.

Corremos para fora da porta e oramos para o tráfego estar a nosso favor quando
nos dirigimos para a praia.

Um belo dia para um casamento.

— Viu? Bem na hora. — eu disse quando parei o carro alugado em uma vaga de
estacionamento ao longo do calçadão.

Olhando para fora na beira da água, os olhos de Lailah procuraram ao redor até
que ela avistou o pequeno grupo de cadeiras brancas e sorriu. — Aí está. — disse ela.

— Eu realmente gostaria que eles tivessem nos deixado ajudar a montar na noite
passada. — eu respondi.

Eu pulei fora do carro para abrir sua porta. Se eu não fosse rápido com isso, ela
sempre me passava a perna. Ela revirou os olhos quando eu fiz isso, mas eu achava que
ela secretamente adorava. Um leve rubor apareceu em seu rosto quando ela saiu, e era
exatamente por isso que eu continuava abrindo a porta para ela.

— Pode querer tirar os sapatos quando chegarmos à areia. — eu sugeri enquanto


nós caminhamos de braços dados em direção às escadas que levavam até a areia abaixo.

— Ah, boa ideia. — ela abaixou-se os tirando, expondo os dedos dos pés cor-de-
rosa algodão-doce. — Eu me pergunto se eu deveria ver como ela está. — ela olhou de
volta para o hotel atrás de nós.

— Você está aqui! — gritou uma voz borbulhante, correndo para roubar um
abraço.

— Sua barriga! — Lailah exclamou, olhando para a pequena barriga redonda da


sua melhor amiga.

— Eu finalmente estou mostrando! — ela gritou, passando as mãos sobre a barriga


alargada.

Lailah riu, colocando as mãos sobre as de Grace.


— Eu acho que você pode ser a única mulher no planeta que ficou chateada por
não conseguir uma barriga de imediato.

Os olhos de Grace brilharam quando Brian, seu marido, veio e se juntou a nós.

Ele passou o braço em volta da cintura dela. — Ela queria ir comprar roupas de
bebê quando o teste deu positivo.

Eu vi quando Lailah balançou a cabeça, rindo.

— Isso é realmente a sua cara. — disse Lailah.

Grace estava grávida de quatro meses e sua barriguinha estava em perfeita


exibição em seu vestido floral. Eu não tinha dúvidas que ela tinha comprado ele há três
meses apenas para a ocasião. Aquela mulher era uma planejadora.

Depois de algum tempo de atraso, nos disseram para tomar nossos lugares.

Lailah e eu e caminhamos até a frente quando o ministro se juntou a nós.

— Eu não acredito que finalmente estamos aqui. — Lailah disse baixinho no meu
ouvido.

Todos nós viramos, Marcus veio se juntar a nós.

Dei-lhe um breve aceno de cabeça e sorri. — Já estava na hora.

Seu olhar era aquecido e eu senti o suor da sua mão. Olhando para baixo, eu vi cair
uma aliança de ouro branco elegante em minha palma.

— Não pode ser o padrinho sem isso. — disse ele. — Eu não estaria aqui sem
você, J-Man.

— Talvez não hoje, mas teria acontecido eventualmente.

Minha mão se fechou firmemente em torno do aro de metal frio assim que a
música começou a tocar suavemente ao fundo. Eu dei um olhar rápido em direção a
Lailah e peguei seu olhar. Ela sorriu, segurando o pequeno buquê de girassóis em sua
mão, que Grace entregou a ela no último momento.

Nós dois viramos bem a tempo de ver Molly fazendo seu caminho na areia. Ouvi a
respiração de Marcus travar quando ele viu sua noiva.

Seu cabelo estava trançado lindamente pelas costas e seu vestido marfim simples a
deixou sofisticada e majestosa. Conforme ela avançava lentamente para frente, ela passou
por amigos e familiares. Então, todo o mundo parecia derreter quando Marcus e Molly
tomaram as mãos um do outro.

Tudo o que eu podia ver era Lailah.


Quando o ministro falou palavras de amor e compromisso eterno, eu vi os olhos de
Lailah brilharem enquanto ela observava sua mãe e Marcus com as alianças. Meu coração
batia mais rápido quando a cerimônia chegou ao fim, e Marcus e Molly se beijaram pela
primeira vez como marido e mulher.

Todos aplaudiram e comemoraram, mas tudo que eu conseguia pensar era em


Lailah e o que eu estava prestes a dizer.

Tudo o que eu havia planejado me levou a este momento.

Abraços e parabéns foram compartilhados com os poucos convidados que se


juntaram ao casal sob o arco.

Eu apertei a mão de Marcus e ele sorriu, sabendo o que estava por vir.

— Vocês já fizeram as malas? — perguntou Molly, segurando Lailah em seus


braços.

— Malas? — ela perguntou. — Nós não vamos embora por mais alguns dias.

Molly sorriu, virando-se para mim.

— Na verdade... — eu disse, puxando o envelope do bolso. — Vamos sair hoje à


noite.

Eu entreguei à Lailah e ela abriu. Depois de retirar as passagens da primeira


classe, seus olhos arregalaram surpresos com as palavras escritas sobre elas. Seu lábio
começou a tremer, assim como suas mãos.

— Nós vamos para a Irlanda? — ela perguntou.

— Sim. Sem mais substitutos, Lailah. — eu disse. — Nós realmente vamos.

— Mas... — ela hesitou, olhando para a mãe recém-casada.

— Sabemos há semanas. Agora, fora daqui!

Molly riu e Lailah a engolfou em um grande abraço.

— Não se esqueça de mim. — disse Marcus.

Lailah o puxou para seu abraço de família. — Eu nunca te esquecerei... Papai.

A mão de Marcus apertou ao redor dela antes de soltar. — Vão andando, vocês
dois. — ele engasgou com os olhos piscando várias vezes, enquanto tentava se recompor.

Eu peguei a mão dela e fizemos o nosso caminho para o carro.

Ela nos parou logo que eu abri a porta.


— Eu não posso acreditar nisso. Você é cheio de surpresas loucas. — disse ela,
com uma expressão alegre.

— Ah, apenas espere. — eu disse, sorrindo, enquanto eu a ajudava a entrar no


carro.

Nós fomos para o aeroporto para fazer mais um dos sonhos de Lailah se tornar
realidade.

Dois dias mais tarde, entre flores silvestres e ruínas de castelo, com o sol
espreitando por entre as nuvens no nosso dia irlandês perfeito, eu ajoelhei e fiz com que
todos os meus sonhos se realizassem com uma única pergunta.

E ela disse. — Sim.


1. Apaixonar-me

2. Ganhar um diploma universitário

3. Aprender mais sobre a minha mãe

4. Conseguir um emprego

5. Ficar na fila por algo

6. Ir ao parque de diversões

7. Tirar férias

8. Passar um dia sem medicação

9. Assistir a um jogo de futebol da escola

10. Ir em uma montanha russa

11. Entrar na faculdade

12. Assistir fogos de artifício

13. Cantar em um bar karaokê


14. Colocar os dedos dos pés no oceano

15. Cortar grama

16. Ser uma melhor amiga

17. Viver por conta própria

18. Tingir meu cabelo de rosa

19. Ser paquerada

20. Ir a um jogo de beisebol

21. Ajudar um amigo a se mudar

22. Nadar nua

23. Fazer compras de supermercado

24. Comprar um carro

25. Ser beijada até perder o fôlego

26. Passar um dia na feira

27. Visitar um país estrangeiro

28. Furar minhas orelhas

29. Andar de moto

30. Ir para a biblioteca

31. Adotar um cão

32. Passear de barco a remo em um lago

33. Pedir uma xícara de café ridiculamente cara

34. Organizar uma casa

35. Jogar minigolfe

36. Comer algodão-doce

37. Ir para o drive-in e dar amassos o tempo todo

38. Ir para o baile de formatura

39. Experimentar uma ressaca


40. Pagar contas

41. Comprar um presente de aniversário para a minha mãe

42. Andar de patins

43. Dançar na chuva

44. Obter um mau corte de cabelo

45. Ir em um pula-pula

46. Ter uma festa do pijama

47. Fazer uma depilação

48. Fazer amor

49. Dançar em minha sala de estar

50. Cantar durante o Natal

51. Ter uma conversa inteira com apenas mensagens de texto

52. Comprar móveis

53. Cuidar de uma criança

54. Comprar lingerie

55. Visitar um museu de arte

56. Fazer anjos na neve

57. Jantar à luz de velas

58. Chupar bala de limão

59. Experimentar sushi

60. Ir para uma sorveteria

61. Aprender a patinar no gelo

62. Fazer uma refeição do início ao fim

63. Ir para uma festa de despedida

64. Fazer as unhas

65. Passar uma tarde de pesca


66. Passar um dia inteiro fora

67. Ir em um passeio de charrete

68. Ter aulas de salsa

69. Experimentar vestidos de casamento com minha mãe

70. Fazer uma torta de maçã

71. Ir ao cinema

72. Ter meu coração partido

73. Aprender a usar um martelo

74. Conseguir um novo visual

75. Comer fast food

76. Ir em uma roda-gigante todo o caminho até o topo

77. Casar

78. Capturar vagalumes

79. Acampar e dormir sob as estrelas

80. Receber uma massagem

81. Aprender a me defender

82. Fazer um piquenique

83. Trocar uma fralda

84. Passear

85. Falhar em um teste

86. Fazer tarefas sozinha

87. Voar em um avião

88. Adotar uma criança

89. Ter alguém para perder

90. Plantar um jardim

91. Fazer um castelo de areia


92. Celebrar um aniversário

93. Ter uma aula de yoga

94. Fazer bodyboard

95. Ir a algum lugar úmido

96. Fazer uma caminhada

97. Levar uma multa

98. Chamar um táxi

99. Ir a uma loja de adultos

100. Brincar de doces ou travessuras

101. Trabalhar como voluntária em um hospital infantil

102. Montar um cavalo

103. Ir para uma academia de ginástica

104. Aprender a comer com pauzinhos

105. Pegar o metrô

106. Comer um lote inteiro de biscoitos

107. Criar um perfil no Facebook

108. Andar um quilômetro do início ao fim

109. Ler um livro "sujo"

110. Ir para uma festa de aniversário

111. Ter uma noite de menina fora

112. Ir a um encontro

113. Ir a um clube de strip

114. Fazer uma tatuagem

115. Ir à colheita da maçã

116. Dirigir um carro

117. Pegar um bronzeado


118. Nadar

119. Limpar as folhas

120. Empinar pipa

121. Passear na parte traseira de um carro da polícia

122. Votar em uma eleição

123. Ter uma aula de redação

124. Dormir a noite toda

125. Comer sorvete no café da manhã, almoço e jantar

126. Pular de bungee jumping

127. Ser uma doadora de órgãos

128. Assistir o nascer do sol do topo de uma montanha

129. Ver uma cachoeira

130. Andar de caiaque

131. Salvar a vida de alguém

132. Pintar as paredes da minha própria casa

133. Ir para a Disneylândia

134. Mergulho submarino

135. Relaxar em um ofurô

136. Esquiar

137. Passar um dia inteiro na praia

138. Visitar alguém no hospital

139. Aprender a disparar uma arma

140. Viajar de carro

141. Servir ao serviço de júri

142. Fazer um novo amigo

143. Viver até que eu tenha visto tudo


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Be the Song - Foy Vance

Mercury - Sleeping At Last

All of Me - John Legend

Layla - Eric Clapton

You’re Beautiful - James Blunt

Holding a Heat (Stripped Version) - Toby Lightman

Dust to Dust - The Civil Wars

Human - Christina Perri

A Drop in the Ocean - Ron Pope

Beating Heart - Ellie Goulding

You Found Me - The Fray

When the Darkness Comes - Colbie Caillat


Angel - Sarah McLachlan

Lost - Toby Lightman

Bring Me to Life - Evanescence

Find a Way - SafetySuit

Story of My Life - One Direction

A Sky Full of Stars - Coldplay

Slow And Steady - Of Monsters and Men

Blue Ocean Floor - Justin Timberlake

Wings - Birdy

Only Time - Enya

My Immortal - Evanescence

Breath of Life - Florence and the Machine

If I Die Young - The Band Perry

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