Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O livro possui conteúdo sensível que pode ser gatilho para alguns leitores:
abandono parental, abuso sexual e psicológico, tentativa e suicídio
Livro não recomendado para menores de 18 anos.
Copyright © 2023 Thamy Bastida
Todos os direitos reservados
Revisão: Lidiane Mastello
— Às vezes temo que ela não vá dar conta de tudo, sei que muitas
vezes sou protetor em excesso, mas apenas não gosto de sentir que ela está
sobrecarregada. Ninguém nasce sabendo, eu não nasci, mas compreendo
que talvez para ela seja mais difícil do que o normal cuidar dos trigêmeos.
Tem noites que acordo, e ela está sentada olhando para o nada e há dias que
vejo que ela está prestes a surtar, mas estou de mão atadas. Não posso
simplesmente chegar nela e dizer o que fazer, ela tem que seguir a própria
direção. Dizer a ela que tipo de mãe ela deve se tornar não é uma escolha
minha, eu queria que fosse, mas não é! — disse ao doutor. — Dói muito vê-
la sofrer, mas não posso tomar essas dores para mim... Não posso obrigá-la
a fazer o que não quer, só posso segurar sua mão e não permitir que ela
afunde dentro de si mesma. Acho que no momento é só isso que posso
fazer. — Sorri triste e olhei para o relógio. — Acho que por hoje nossa
sessão acabou. — Despedi-me e saí marcando uma próxima consulta.
Eu sempre sonhei em ter a família que tinha hoje, assim como a vida
que conquistei e obviamente sempre soube que nada nesta vida era fácil.
Tudo possuía suas dificuldades e era isso que fazia com que as coisas
fossem ainda mais interessantes.
Eu, Dante Boltoni, demorei para ter a família que tinha hoje e ainda
não estávamos cem por cento, mas nada era cem por cento, muito menos a
felicidade, a tristeza ou o amor.
É tolice querer tudo sempre no máximo sempre, às vezes tínhamos
que nos contentar com o mínimo. Era preciso saber viver com pouco para
que um dia, quando tivesse o máximo, você soubesse lidar e aguentar as
consequências que isto trazia.
Aprendi ainda novo que tudo que vinha fácil, ia embora fácil demais,
por este motivo sempre busquei as coisas mais perenes[1], os mais imutáveis
momentos, os mais duradouros sentimentos e sempre fugi de coisas
fugazes[2].
Queria passar para meus filhos o que havia de melhor nesta vida, mas
também desejava mostrar para eles o que havia de pior. Queria que eles
soubessem lidar com todas as situações diversas que viessem e não queria
que se perdessem dentro de si mesmo.
Quando você se perdia dentro de si era ainda mais complicado para se
encontrar, mas não era algo impossível. É apenas preciso ter força de
vontade e saber lidar com as situações que viessem sem querer a todo
instante se afundar, mas acho que não era a pessoa certa para falar algo
assim. Afinal, cada um enfrentava um problema ou lidava de uma
determinada forma e nem todos éramos fortes, mas não ser forte não
significava ser fraco.
Dirigi com cuidado pela estrada e estacionei no acostamento para
poder apreciar o final da tarde. Saí do carro olhando a tarde que se despedia
para a noite chegar com a lua e as estrelas. Adorava esses fenômenos
naturais da natureza, certas coisas que o homem não precisava tocar e nem
fazer, pois já era lindo e perfeito do jeito que era. O vento em meu rosto me
lembrava que ainda estava vivo, à beira de surtar, mas vivo. Estava muito
perto de matar um certo Rizzi e só precisava não perder a cabeça e colocar
tudo a perder.
Rizzi!
Rizzi!
André Rizzi, era esse o nome do meu mais novo e velho problema.
Sorri ao saber que quando pensei que havia me livrado dos filhos da
puta dos Rizzi do mal, descobri que ainda havia um deles à solta por aí.
Voltei a focar meus pensamentos na vista linda que estava sendo
agraciado, definitivamente era nisto que devia me focar.
Quando estava mais calmo e em paz comigo mesmo entrei no carro e
segui para casa. O caminho foi rápido, passei pelos portões e logo
estacionei. Como sempre fui para a porta da frente, subi os lances de escada
e me preparei para a recepção calorosa. Abri a porta e contei até sete. 1, 2,
3, 4, 5...
— Papai! — três vozes gritaram assim que passei pela porta e me
abaixei para sentir o abraço dos trigêmeos mais lindos do mundo.
— Meus pequenos! — disse, beijando o rosto de cada um. — Papai
estava morrendo de saudade de vocês e não via a hora de voltar para casa.
— Se sentiu tanta saudade, por que não veio antes? — perguntou
Bruna.
— Bruna! — repreendeu Anny. — Mamãe já falou que papai tem que
trabalhar.
— Mas mamãe, todo mundo fala que papai é birionário — disse toda
séria.
Minha filha era maravilhosa.
— Filha, não é porque somos afortunados que tenho que parar de
trabalhar — falei sorrindo. — Não trabalho só por mim, Bruna, tem pessoas
que não possuem muito e precisam do meu trabalho para ajudá-los. Papai os
ajuda sem cobrar nada em troca, aliás, não custa nada ajudar alguém.
Gentileza gera gentileza... Quando criamos esse ciclo em volta de nós,
conseguimos viver melhor e ainda mudamos um pouco do mundo para
melhor.
— Eu quero criar um ciclo assim diante de mim... — Nicholas disse
baixinho.
Olhei para ele e me vi refletido.
Meus filhos não eram idênticos, mas Nicholas era minha cópia quase
perfeita. Tínhamos os mesmos olhos, cabelo e cor de pele. Anny falava que
ele era minha mini versão e quanto mais ele crescia mais acreditava nisso.
— Papai, então tenho que trabalhar mesmo já tendo tudo? —
perguntou Bruna.
— Um dia você compreenderá melhor o que digo, mas por agora seja
apenas uma criança — disse, puxando seu nariz.
— Ser criança é bem melhor pai — comentou, fazendo com que
Anny e eu caíssemos na gargalhada.
— Papai, quando crescer quero trabalhar com o senhor — avisou
Pietro. — Mas agola quero brincar muito, muito! — exclamou rindo.
— Mais tarde...
— Mais tarde — afirmei, subindo a escada.
Acordei sentindo um arrepio no meio das minhas pernas, arqueei as
costas do colchão ao sentir um beijo grego. O dente puxava meus lábios
maiores antes de afundar a língua em meu canal. Ah, Dante e sua língua
mágica! Eu amava sua boca em mim, adorava ser acordada desse jeito.
Definitivamente ele sabia como me deixar contente pela manhã.
Quando ele sugou meu clitóris soltei um grito, o suor escorria por
minhas pernas assim como minha lubrificação. Era uma mistura gostosa.
Porra! Oh, isso é tão bom!
Dante apenas me chupou com mais velocidade sem tirar seus olhos
dos meus, ele mexia a língua dentro de mim de uma forma tão erótica e
particular que me enlouquecia. Ele levou seu polegar até meu clitóris
massageando com delicadeza. Apertando na hora certa.
— Quero seu líquido doce na minha boca, senhora Boltoni, e só irei
ter um bom dia após beber do seu doce e delicioso gozo — rosnou.
Bastou essas palavras para que eu gozasse em sua boca gritando seu
nome com força. Ele sugou até a última gota e se levantou passando o dedo
em minha intimidade, ergueu-se e lambeu um por um.
— Como sempre delicioso — disse sorrindo de lado.
Ele estava gloriosamente nu, tão lindo, sensual, musculoso, tão meu...
— Agora, senhora Boltoni, irei ouvi-la gritar mais uma vez meu
nome, só que com meu pau atolado bem fundo e forte em você, está pronta?
— perguntou, massageando seu pênis longo e grosso.
— Como nunca estive! — exclamei, arrancando uma gargalhada dele.
Deixei-a em seu quarto, saí e tranquei a porta, só assim para ela não
me desobedecer, para minha alegria havia grades na janela, se não temeria
sua queda. Bruna era geniosa e infelizmente só obedecia o pai. Tinha três
filhos opostos um do outro que na maioria das vezes faziam meus dias
difíceis. Porém, me recusava a ter uma babá. Dava conta dos meus
pirralhos. Dante era presente em tudo, muitas vezes sentia que o
sobrecarregava, mas não era como se eu fosse conseguir pará-lo. O homem
era pior que um trator.
Meu celular apitou avisando que uma mensagem chegou, destravei a
tela e abri a mensagem sem verificar o número.
— NÃO! — Um grito ecoou pela minha garganta ao mesmo tempo
em que uma lágrima estúpida escorreu por meu rosto.
Eu, Dante Ettore Boltoni, algumas vezes era ferido e sangrava como
se tivesse levado um tiro no peito, porém, por eles, minha família, sorria e
engolia a dor. Afinal, se eles me virem no chão remoendo de dor também
iriam cair, por isso, eles precisavam me ver em pé para que também não
caíssem.
Por eles estou de pé!
Hoje quando recebi a ligação de Nicholas pedindo para que eu viesse
para casa, quase bati com o carro no processo, pois eles nunca me ligaram
chorando. Meu coração quase saiu do peito ao ouvir a voz suplicante do
meu filho e por alguns segundos fiquei sem direção, sem chão e sem saber o
que fazer. Precisei de algum tempo para entender o nível da situação e no
fundo consegui ouvir os gritos da minha esposa, o que me levou a quase ter
um infarto.
Eu me vi sem saber o que fazer.
Quando cheguei ao andar de baixo, fui até o bar para beber algo bem
forte, mas desisti e optei por um chá, por isso segui até a cozinha para
prepará-lo.
Sentei-me na rede e com calma tomei meu chá. Precisava ser sábio,
pois minha família precisava de mim.
Quando voltei para o Brasil para ajudar Anny, sabia que não iria
permitir que ela saísse da minha vida. Lutei até mesmo contra mim para
mantê-la em pé e consequentemente me esqueci de mim, mas consegui me
levantar e passar pelas grandes ondas, inclusive, esqueci que a vida era
como o mar em que uma hora estava calmo e em outra agitado. Agora era o
momento em que as ondas estavam se levantando bravamente contra nós e
me questionava se saberia lidar com isso. Antes era apenas Anny e eu, mas
agora havia mais três crianças, os nossos filhos.
Olhei para as estrelas tentando encontrar entre as constelações paz.
Caralho, sentia-me exausto, havia tantas coisas pendentes, ainda precisava
entrar em contato com Eduardo, o filho da puta iria surtar, mas vejamos,
quem não iria? Puta merda! O que estava fazendo da minha vida? Meus
pensamentos estavam desalinhados a ponto de nem saber como dar o
próximo passo.
Merda, estou sem chão após muito tempo!
— Meu amor, vem cá! — disse, puxando-a para o meu colo. Abracei-
a apertado, beijei seu rosto e depois seus lábios. — Eu sempre vou estar ao
seu lado e jamais irei me afastar.
— O que vi foi tão... — Ela não completou a frase, e eu sabia
perfeitamente o motivo.
— Anny o que você viu não é a realidade — falei, tentando não
transparecer o quão chateado estava.
— Não beijei nenhuma outra mulher e nem vou, pelo amor de Deus!
— exclamei um pouco mais alto, cortando-a. — Anny, por favor, nunca
mais se humilhe assim por ninguém. Meu amor, sou completamente seu e
sempre serei. Nem ao menos olho para outra mulher. Vamos averiguar
quem enviou esta foto e veremos que é montagem. Olhe para mim senhora
Boltoni.
— Dante eu...
— Olhe para mim, Anny Bella Rizzi Boltoni. Estou pedindo para que
olhe para mim! — ordenei, puxando seu queixo fazendo com que ela
olhasse em meus olhos. — Não estenda isso em sua consciência e muito
menos em suas atitudes, se um dia esse casamento ir à ruína não será por
traição, mas sim por falta de confiança.
Vi lágrimas descendo por seu rosto e enxuguei cada uma delas com
delicadeza e precisão. Feria-me tanto vê-la assim, mas não sabia o que fazer
para mudar isto e sinceramente temia não ter muito o que fazer. Era uma
questão dela, não minha, porém acabava se tornando nossa.
— Pai, mais uma coisa. Se não conseguir fazer a pessoa sorrir, o que
devo fazer? — perguntou, fazendo com que meu coração se apertasse um
pouco.
— Continuar tentando ou somente abraçar a pessoa e até mesmo ficar
ao seu lado sem falar nada — disse com calma, passando a mão em seus
fios negros. — Às vezes o silêncio é mais acolhedor do que qualquer outra
coisa. Não precisamos dizer ou fazer muito, só demonstre o quão sincero é
seu sentimento e não há nada melhor do que isso.
Por alguns instantes ele não disse absolutamente nada, sabia que neste
momento sua mente estava absorvendo tudo que disse e até mesmo devia
estar tentando achar a melhor forma de compreender minhas palavras.
O que ele ainda não sabia era que possuir benignidade[4] por alguém
muita das vezes era como ter uma faca cortando seu coração e você
precisava suportar, mas ele veria que no final valeria a pena, não
importando o quanto doesse.
— Papai, vamos ficar bem, né? — indagou com a voz arrastada.
— Sim, vamos ficar bem — afirmei, apertando-o mais contra meu
peito.
Temos que ficar bem!
Observei Dante que estava brincando com as crianças no pequeno
parquinho que construímos e meu coração se aqueceu com a cena diante de
mim. Dante era tão perfeito como pai, ele sempre dizia que nasceu para isso
e não duvidava.
Desde minha crise, há três dias, ele não ia para empresa e resolveu
tudo do escritório. Sentia que o estava sobrecarregando. Dante estava se
dividindo em cuidar de mim, da casa, das crianças e ainda tinha que
trabalhar. Estava me sentindo uma inútil, mas não era algo que pudesse
simplesmente mudar. Sofria de ansiedade, entre outras coisas e havia dias
em que estava bem, mas havia outros em que estava péssima.
A foto que me enviaram de Dante beijando outra mulher e que
verificamos ser uma montagem, fez com que eu desabasse e caísse em uma
forte crise. Na verdade, fazia dias que não estava me sentindo bem, mas
como fui avisada teria dias de glória e dias de luta. Achei que suportaria
sem ajuda, mas foi só algo aparecer que surtei.
Jane estava viajando e não achei justo tirá-la do seu momento de
descanso por minha causa. Ela era uma ótima psicóloga, mas ainda assim,
não podia deixar que suas férias em família fossem arruinadas por minha
causa. Pedi a Dante que me deixasse em casa quieta e por alguma razão
estranha ele concordou, mas confesso que foi bastante estranho ele ter
aceitado de bom agrado minhas decisões.
O que me deixava feliz, confusa e apavorada, acredito que apavorada
era o que me definia. Estava acostumada e a ter meu fabuloso marido
cuidando de tudo em cada detalhe, cada crise que passei ele tomou à frente
e resolveu tudo antes de conversar comigo ou melhor me avisar o que
estava fazendo e sempre afirmava que era para o bem da nossa família, mas
fazia um tempo não muito longo em que ele não estava fazendo tudo.
— Seu pai é o farol guia. Quando estamos perdidos ele nos guia...
Quando estamos no escuro ele se acende nos dando luz. Quando estamos a
naufrágio ele nos acha. Seu pai é um porto seguro.
— Papai não é de aço, mas é tão forte quanto o Superman —
comentou empolgado. — Sempre digo na escola que papai é melhor do que
os Vingadores.
— Sim, meu amor, seu pai é o melhor — concordei rindo.
Anny era frágil como uma folha e se passasse um vento por ela, iria
se mexer e até mesmo cair. Devido à sua última crise vinha tentando de
todas as formas deixá-la quieta para que lidasse com seus próprios
demônios. Não era algo fácil de fazer para mim, mas era algo que ela
precisava fazer por si mesma.
Doía-me o coração vê-la tão perdida, mas não podia dizer a ela o que
fazer. Precisávamos conversar, mas sempre era eu que iniciava a conversa e
no final ela sempre me deixava para resolver tudo.
Eu não me importava, mas percebi que minhas ações, por mais
simples e de boa fé que fossem, estavam atrapalhando seu crescimento
individual, mental e materno. Por isso que desde sua crise estava no meu
canto quieto, observando como ela estava, mas ela se isolou perdida em
seus pensamentos. Como sempre fazia, cuidei e cuidava dela só que a
distância, o que para mim era bem torturante, mas era preciso.
Estava aguardando com uma paciência de Jó, ela pular esta mesa e se
sentar bem gostoso em mim, mas via em seus olhos dúvidas sobre o que
devia fazer.
Ter controle era algo que sempre tive e algo que admirava muito em
possuir. Se não fosse por esse autocontrole já teria cruzado esta mesa e a
tomado para mim, mas graças a Deus, conseguia me controlar
perfeitamente. Meu pau em minha calça estava duro feito pedra,
necessitado dela como sempre, mas precisava ser coerente. Sempre era eu
que atacava, deixei-a mal-acostumada e por isso estava aqui nesta tortura
infernal, esperando-a se levantar e me foder. Até mesmo estava contando os
segundos para que isto acontecesse.
Quando ela passou pela porta sem bater, não que eu me importasse,
confesso que fiquei curioso, mas deixei que ela falasse. Compreendi
imediatamente que ela estava sentindo falta do meu excesso de carinho e
proteção. Seu corpo estava com urgência do meu toque, mas ainda assim,
ela se encontrava perdida sem saber o que fazer.
Anny sempre esperou por mim no ato do sexo, não era algo que eu
me importasse já que amava manter o controle e lhe dar prazer acima de
tudo.
Adorava dar prazer a ela, mas tinha dias como o de hoje que queria
mais um pouco de atitude dela. Anny raramente falava besteira durante o
sexo, ela apenas gemia o meu nome e não reclamava disso. Cheguei uma
vez a pensar que devido ao fato dela ter adorado medir meu pau e espalhar
o tamanho dele para o mundo a deixaria ainda mais aflorada durante o sexo.
Ela não era mais tão tímida quanto antes, mas ainda possuía certa timidez e
era algo que compreendia perfeitamente.
— Por que não tira a roupa, senhor? — perguntou.
— Tiro sem problema algum — falei já retirando minha camisa, e
Anny na mesma hora desceu o olhar para o meu abdome trincado e
malhado. — Admirando a vista? — inquiri, sabendo que ela tinha uma
queda particular pelo meu másculo abdome.
Este másculo abdome já fez com que eu tivesse que ficar sob seu
olhar cerrado. De acordo com minha esposa, chamava muita atenção com
minha beleza e masculinidade. Acreditem, até mesmo já quase a vi brigar
em uma praia por minha causa. Tudo culpa da sunga branca que raramente
usava hoje em dia em lugares como a praia.
— Sempre admiro. Você tem malhado mais?
— À noite não tem muito que eu possa fazer para queimar calorias ou
me distrair, então desço para malhar um pouco.
Ela gemeu baixinho, conforme meu pau ia entrando cada vez mais
fundo dentro dela.
— Morri de saudade de estar dentro de você, meu amor — afirmei
com voz mais rouca que o habitual. — Geme para mim, meu bem, geme
vai.
— Oh, Dante, isso é tão bom.
— Você gosta, né? Você gosta de ter meu pau bem fundo na sua
boceta? — perguntei ao pé do seu ouvido e na mesma hora seu corpo ficou
arrepiado. — Fala para mim se gosta ou não?
— Gostar? Eu não gosto... Eu amo, Dante — disse entre gemidos. —
Você é tão grande... Tão meu, apenas meu! E não te divido com ninguém.
— Sou apenas seu, senhora Boltoni.
— Sim, só meu!
Ao dizer isto ela começou a cavalgar em mim com uma força até que
admirável, era como se uma leoa tivesse sido solta. Ela descia e subia de
forma que tinha que me segurar para não gozar. A forma como sua
bocetinha apertava meu pau era alucinante.
— Oh, baby, você está me matando.
Esta pergunta quase me fez rir, mas seria cruel rir da minha esposa
nesta situação.
Como ela podia ainda me perguntar algo assim?
— Podemos fazer no nosso quarto, na escada, no sofá, na cozinha e
na nossa cama se assim desejar — disse, beijando suas costas.
Daniella Boltoni, minha mãe, não era uma pessoa fácil de lidar, bem
ela era, mas desde o dia em que Anny voltou para minha vida, ela vinha
tendo certos surtos de ódio contra minha esposa. Nos Natais que passamos
juntos, ela se manteve contida e até mesmo próxima às crianças, mas não
tão próxima quanto Anny e eu gostaríamos. Anny não tinha mãe e a minha
mãe se recusava a apoiar nossa relação, o que complicava bastante. Meu pai
no início foi contra, mas depois me deu todo seu apoio, e até passava dias
conosco sem ser feriado, o que deixava meus pequenos felizes e minha doce
esposa mais aliviada pelas crianças terem ao menos o avô por perto.
Olhei para meu irmão que estava me olhando sério com seus olhos
negros, sua barba por fazer estava meio grisalha, o que aparentemente lhe
dava um certo charme, mas meu irmão era um solteiro convicto e nem
tentava entrar neste assunto. Thales e ele diziam que não precisavam se
casar e terem filhos para serem felizes, eu não estranhava esta atitude deles
já que desde sempre eu era o único que possuía o sonho de ter uma linda
esposa e filhos.
Eu era tão dependente dela, que não sabia o que faria caso a perdesse
mais uma vez. Eu a perdi por dez anos e com toda certeza não sabia se
conseguiria passar por isso novamente...
Ela não percebia o quão dependente era dela.
Depois de colocar as crianças em suas devidas camas e dar boa noite
aos meus irmãos antes de cada um se enfiar em um quarto de hóspedes. Eu
me vi pensativo mais uma vez enquanto senti o jato quente d’água cair
sobre mim com pressão. Se minha esposa fosse esperta, certamente estaria
aqui comigo. Eu adoraria jogá-la contra esta parede de vidro do boxe e me
enfiaria bem fundo dentro da sua boceta, mas aqui estava ficando de pau
duro e totalmente ferrado por não querer bater uma.
Fechei meus olhos, encostando minha cabeça na parede com pesar e
me desliguei do mundo por alguns instantes, até que senti mãos pequenas
esfregarem minhas costas com certo cuidado.
— Sabia, senhor Boltoni, que suas costas são extremamente largas e
bem atraentes? — perguntou minha amada esposa, entrelaçando minha
cintura com seus braços.
— Não, eu não sabia — respondi ainda com os olhos fechados e feliz
por meus desejos serem atendidos.
— Estes braços também são bem sensuais — disse, beijando minhas
costas. — Eu amo cada pedacinho seu — sussurrou, beijando minha pele.
— Anny — gemi quando sua mão desceu por minha barriga.
Puta merda, ainda bem que meus cunhados estavam dormindo, se não
assistiriam a um drama e tanto. Parando para pensar era estranho ter Thales
e Alexandre Bolton, já fazia um tempo desde que eles estiveram aqui sem
ser em alguma data festiva e sentia que tinha algo de errado. Não queria
questionar nada, vi que meu marido estava feliz com a presença dos irmãos
e meus filhos também. Eles precisavam deste contato com o resto da família
e não queria que meus pequenos crescessem em uma família destruída
como a minha.
Família, era tão difícil para mim falar sobre meus familiares já que os
que mais me importavam estavam mortos. Pietro, meu irmão e meus avós já
não estavam mais entre nós, sentia tanta falta deles.
Eduardo e eu não éramos próximos e pelo que vi nestes últimos anos
não seríamos. Ele assim como eu se fechou no seu casulo, mas ainda estava
conseguindo passar pela metamorfose para poder voar como uma borboleta,
era um processo lento que precisávamos aceitar e o maior problema era
aceitar.
— Por favor, não me diga que brigaram por nossa causa — disse
Thales, fazendo com que quase caísse do balanço. — Oh, me desculpe, não
é minha intenção te assustar.
— Oi, Thales, não ouvi você chegar — falei, olhando para ele que
estava sentado em um banquinho de madeira que Dante colocou na intenção
de descansar enquanto as crianças brincavam.
— Só achei que seria uma boa hora — respondo —, mas acho que
estou errada.
— Sim, você está. — Sua voz soou firme e grave. — Não é a hora.
— É nessa hora que pulamos do barco? — perguntei brincando,
tentando mudar a tensão entre nós dois.
Nem sempre era preciso correr, mas ele só saberia disto mais para
frente, por agora deixaria meu menino sonhar e acreditar, pois era disso que
era feita a vida.
— Amo as árvores, meu filho — disse Anny com um sorrisinho
malicioso que se não fosse pelos nossos filhos neste cômodo, a teria a
jogado em cima desta bancada e enfiado meu pau bem fundo dentro dela.
— Depois vamos plantar algumas árvores lá trás, okay? — perguntou a
Nick que na hora se animou.
Anny estava melhor, eu acho, fazia dois dias que ela me falou sobre
ter mais um filho e tivemos uma conversa sobre isso. Ela disse que
compreendia, mas sabia que ainda havia coisas em sua cabeça e não havia o
que eu pudesse fazer a respeito, só me restava esperar. O bom desta história
foi que no fim fizemos sexo encostados na árvore, depois no chão, o que foi
bastante prazeroso. Amei devorar minha esposa enquanto ela estava
inclinada, segurando forte o tronco de uma árvore, enquanto metia forte
dentro dela.
Porra!
Só de me lembrar já me sentia excitado e pronto para mais algumas
rodadas. Respirei fundo para tentar abaixar a fera dentro da minha calça,
não queria assustar meus filhos.
Meu telefone tocou no meu bolso chamando minha atenção e quando
vi o nome da minha mãe na tela sabia que algo bom não era.
— Mãe, Anny é mãe deles. Ela é minha esposa, a mulher que escolhi
amar.
— Dante, compreenda, meu filho — disse minha mãe com a voz
chorosa. — Eu amo meus netos, mas não consigo me entender com sua
esposa.
Ela nem ao menos tentava, mas me mantive quieto e deixei-a falar.
— Gostaria que eles passassem as férias aqui em casa comigo, seria
ótimo para minha reaproximação com meus netos e Sara também adoraria
passar mais tempo com os sobrinhos. Apenas os envie para ficar ao menos
quinze dias comigo.
Fechei meus olhos sabendo o quão ruim isso foi para ela, mas gostaria
que minha mãe compreendesse que o que Anny fez para mim, foi uma
forma de me proteger e sabia perfeitamente que o que ela fez foi errado. Ela
deveria ter me contado a verdade, mas o que isso importava nesta altura do
campeonato?
Todos nós fomos feridos drasticamente, mas o que podia fazer para
melhorar a situação?
Como posso desfazer este nó?
Só eu enxergo Anny como uma vítima da circunstância?
Por qual razão tenho tantas perguntas e poucas respostas?
— Mãe, foi imprudência minha ter me lançado penhasco abaixo —
disse com uma voz cortante. — Eu agi por impulso e acabei pulando.
Que mentira mais mentirosa.
Quem estou tentando enganar?
Eu sabia o que estava fazendo, pulei porque não aguentava mais a dor
em meu peito, mas isso não vinha mais ao caso. O que passou já se foi e
assim como o rio não voltava, também não devíamos viver do passado.
— Dante, meu filho, hoje você é pai, me diga como se sentiria se
visse seu filho neste estado? — perguntou, insistindo nesse assunto tão
doloroso.
— Iria me sentir morto e falho — sussurrei mais para mim do que
para ela. — Eu choraria com ele e não o julgaria, estenderia minha mão e
lhe daria meu colo, enxugaria suas lágrimas e tentaria pegar suas dores para
mim — disse ao me lembrar como minha mãe reagiu. — Eu não o
condenaria ou muito menos gritaria em sua cabeça, mãe, tentaria curar sua
dor nem que fosse preciso pegá-la para mim — falei, sabendo que estava
por um fio. Este assunto era algo que ainda não superei, mas era algo que
evitava para o meu próprio bem. Anny e eu já nos perdoamos por isso. — A
senhora nunca me consolou, me lembro de vê-la amaldiçoando o mundo,
mas em momento algum chorou ao meu lado me abraçando. Senti falta da
senhora como mãe naquele momento.
— Eu fiz o que pude, não permiti que aquela menina se aproximasse
de você. Ela havia abortado um filho que nem ao menos era seu.
— Era meu, mas não foi ela que abortou. Ela foi obrigada a tomar os
medicamentos e o verdadeiro culpado assumiu a culpa por este ato. Ela,
assim como eu, foi vítima das circunstâncias, e, mãe, ela também sentiu a
dor de perder um filho.
— Para mim tanto faz. Vou desligar já que não poderei ficar um
tempo com meus netos, não tem motivo para ficar discutindo com você —
disse e desligou.
Amava a minha mãe, mas tinha horas que simplesmente não sabia
lidar com ela e com sua implicância descabida com minha esposa, mãe dos
seus netos. Achei que com o tempo ela deixaria a razão falar mais alto e
compreenderia que não havia motivo para ficar olhando para trás, mas acho
que ela não pensava assim.
“Dante, sei que está nervoso, mas podemos fazer isto de outra
maneira.
Você não precisa entrar na linha de frente.
Eu faço isso.”
Sorri lendo sua mensagem, pois não estava a fim de mudar de ideia.
Desta vez iria ficar na linha de frente.
Peito a peito, cara a cara, olho por olho.
“Obrigado, irmão, mas é minha família que está em jogo e eles vêm
em primeiro lugar.
Não se preocupe, sei me cuidar.”
Ele visualizou e não respondeu, pois sabia que não mudaria de ideia.
Alexandre sabia que por Anny e pelas crianças faria o impossível se tornar
possível. Gostaria de não ter que fazer tudo isso, mas nem sempre querer é
poder e eu me recusava a perder.
Agora com toda certeza é guerra!
Coloquei o pen drive, esperei o arquivo abrir, cliquei na única página
que havia para abrir e respirei fundo mais uma vez antes de dar play nos
vídeos que estavam ali.
Se eu soubesse o que veria jamais teria aberto, foi tolice e uma total
imprudência fazer isto, mas achei que daria conta do recado.
Minhas mãos tremiam...
Estava desolado!
Oh, meu Deus, como doía!
Quando era criança ouvi minha avó me dizer que amar era dar e
receber, mas que, além disso, era saber apoiar seu parceiro em todas as
situações, respeitar quem te amava e receber o respeito de volta. Me lembro
que ela me dizia que muitas das vezes era preciso deixar seu parceiro
respirar um pouco sozinho para que na hora certa ou em caso de algum
problema, ele viesse até você e era isso que estava fazendo, esperando
Dante vir até mim.
Suspirei, vendo-o brigar com alguém do outro lado da linha
telefônica. Ele estava estranho tinha alguns dias, mas assim como ele me
deu um tempo para pensar, estava fazendo o mesmo com ele. Sabia que não
era a única com problemas internos e por isso compreendia que precisava
deixá-lo se dar um tempo. Não era boa em ler as pessoas, entretanto,
compreendia que meu marido precisava se resolver com ele mesmo.
Gostaria de poder ajudá-lo, mas neste exato momento estava nadando
contra as ondas da minha própria mente.
É frustrante e muito, mas o que posso fazer?
Precisava lidar com minha luta interna para que eu pudesse ajudá-lo
na sua. Apenas precisava continuar nadando sem deixar que as fortes ondas
me afundassem.
— Anny, temos que ir logo senão iremos nos atrasar para sua consulta
— disse, fazendo com que eu desse um pulo de susto e colocasse a mão no
peito. — Desculpa, não era minha intenção te assustar — falou, pegando
minhas mãos com carinho.
Ele era tão perfeito que era quase impossível não o amar ainda mais a
cada dia.
— Estava distraída — disse, selando nossos lábios de leve.
— Posso saber quem estava tomando sua atenção? — perguntou,
mordendo meu queixo.
— Sim. Ela foi breve e deixou claro que gostaria de passar mais
tempo com os meninos. Eu achei a ideia ótima — disse sorrindo levemente.
— Não tenho mais pais para eles chamarem de avós, só resta os seus, e é
muito importante que eles tenham uma boa conexão com os avós da mesma
forma que eu tive com os meus — falei com calma, estudando bem o que
estava dizendo. — Será bom para eles e para nós.
— Se minha mãe realmente quiser passar mais tempo com os netos
pode vir perfeitamente até nós — comentou de forma grosseira, o que quase
nunca aconteceu.
— Ettore, por favor, sua mãe não gosta de mim e entendo
perfeitamente, mas não posso permitir que por minha causa ela fique longe
dos netos. Isto não seria justo. Nossas diferenças podem se resolver com o
tempo, mas ela não pode e nem deve perder tempo com os netos — afirmei,
pegando sua mão e a apertando levemente. — Amor?
Se Dante usasse uma calça mais apertada, seu pau ficaria bem-
marcado que me deixava cheia de raiva. Ele é pauzudo demais e qualquer
coisa marcava o monumento que ele tinha entre as pernas, o que era bem
irritante para mim, pois as mulheres mal desviavam os olhos.
Ai que ódio!
Quando ele estava mais “calmo” descemos do carro e seguimos rumo
ao elevador. Dante segurou minha mão firmemente, já sabendo do meu
medo deste maldito troço metálico que sempre achava que ia cair. Quando
estava sozinha com as crianças e entrava em um elevador me segurava o
máximo possível para não surtar.
Sorri para a recepcionista ao passar por ela e seguimos até a sala da
doutora Jane. Dante largou minha mão quando chegamos à porta e me
beijou de leve. Sorri para ele e entrei, não precisávamos dizer uma só
palavra, sabia que ele me apoiava e me dava forças como sempre.
A Doutora Jane já estava sentada em sua poltrona e se levantou para
me cumprimentar.
— Anny, quanto tempo! Como vai? — perguntou, abraçando-me.
— Faz um tempinho, como foram suas férias? — perguntei de volta.
A melhor forma de evitar uma pergunta era fazendo outra.
— Foram ótimas — respondeu como se não tivesse evitado dizer se
estava bem ou não. — Sente-se, por favor.
Olhei para o divã e para o sofá, e optei desta vez pelo sofá marrom
que neste exato momento me parecia muito mais acolhedor. Tirei minhas
sandálias, me deitei no sofá como se aqui fosse minha casa e talvez até
fosse já que amava estar aqui. Gostava muito de conversar com a doutora
Jane.
— Sabe, Jane, estou um pouco confusa, mas também estou com raiva
e com uma clareza maior das coisas à minha volta.
Somente eles.
Podia suportar o que fosse por eles, pois por eles eu podia tudo.
Repetia isso para mim todos os dias e temia todos os dias o que isso
significaria daqui alguns anos. Eles me veem como seus portos seguros,
mas mal sabiam que eles eram o meu.
Levantei-me da cadeira e olhei o relógio, sabendo que a consulta hoje
iria demorar um pouco. Desci para o térreo e segui para a rua, pois
precisava tomar um pouco de ar para refrescar um pouco a mente. Na
calçada observei os carros passando, assim como eu no outro lado da rua
havia pessoas que queriam atravessá-la ou até mesmo só caminhavam por
caminhar como eu. Às vezes só queremos um tempo para nós mesmos.
— Oi, moço grande — disse uma voz infantil que na mesma hora
reconheci.
— Tento seguir o que creio e digo o que acho e acredito — disse mais
para mim do que para ele. — Sabe, Romeu, acredito que tudo posso por
quem amo e por acreditar nisso faço acontecer. Acredite em si mesmo e
faça acontecer.
— Um dia, serei como o senhor, mas por agora estou em fase de
crescimento. — Ele me arrancou uma gargalhada.
— Cresça devagar. Não tenha pressa.
Não podia lhe dizer que vi um vídeo que mal me permiti dormir a
noite ou que me levantei e chorei com as lembranças do que vi. Se eu disser
isto a ela teria que mostrar qual vídeo era, e isso a destruiria. Então, por
estas razões, me calei e sorri.
— Estou apenas com saudade da minha esposa cavalgando sobre mim
— disse sorrindo safado.
— Quando quiser conversar venha até mim — falou, fazendo com
que meu peito doesse mais um pouco. — Assim como você me espera, eu
também te esperarei — explanou sorrindo com os olhos cheios de lágrimas.
— Eu te amo e seja lá o que for venceremos juntos.
Este foi o gatilho para que fosse submerso pelas minhas dores. Chorei
na sua frente e caí de joelho no chão. Anny correu até mim e me abraçou
com força. Como um menino assustado a abracei com força. Ela beijou
meus lábios e enxugou minhas lágrimas com carinho. Não estava sabendo
lidar com o que vi e olha que estava preparado para tudo.
— Dante, meu amor, estou aqui — afirmou, apertando-me, enquanto
me beijava tentando enxugar minhas lágrimas.
— Estou com medo — confessei com a voz rouca.
— Papai deve chorar mais um pouco sim, mas não por agora —
respondi sincero. — Estou machucado ainda e a ferida é interna, por isso
ela leva mais tempo para sarar, mas logo estará curada — sussurrei para ele.
— Não é errado ou feio chorar, Nicholas, lágrimas não fazem ninguém mais
fraco só demonstram que somos humanos — disse e podia jurar que seus
olhos escuros estavam brilhando.
— Você é forte, papai, você é meu herói — afirmou, passando a mão
no meu rosto. — Prometo que um dia serei metade do homem que é. Quero
ser uma rocha igual a você — falou e me abraçou. Fechei meus olhos
sentindo o peso das suas palavras sobre mim e eu nem sabia o que dizer...
Na verdade, nem sabia o que me dizer. Eu era forte, mas neste
momento me sentia fraco e derrotado, mas estava tudo bem.
— Papai está sem sono, mas você tem aula amanhã — falei com
calma e baixo para não acordar os outros.
— Você trabalha amanhã. Posso ir com você amanhã para a empresa?
— perguntou animado.
— Você tem aula — relatei o óbvio.
— Ninguém tem culpa se você não sabe usar o seu, meu amigo —
rebateu Marco. — Olá, pequeno imperador, como você está? — perguntou
Marco indo até ele e o pegando no colo.
— Vou bem... — respondeu meu filho sorrindo. — Sou um pequeno
imperador?
Eles olharam para mim, depois para Nicholas e por fim se sentaram
nas cadeiras à minha frente.
— Esse menino é diferente. Ele tem sua inteligência, carisma,
simpatia, educação e percepção, mas não deseja ser igual a você — Pedro
comentou.
— Cada um segue seu caminho. Ele é uma criança e seja lá qual
caminho escolher, darei meu apoio se for algo certo — disse, encarando os
dois. — Sinto que o caminho dele será o oposto do meu, mas não sei ao
certo o que dizer. Ele é apenas uma criança e crianças crescem e mudam. —
Respirei fundo. — Nunca sabemos qual caminho eles seguirão até estar
nele. Se ele cair, o ajudarei a se levantar, mas se caso ele escolha cair o
deixarei no chão. Ser pai é muitas das vezes deixar que o filho crie asas e
voe. Ele ainda é um pássaro sem asas, por enquanto posso lhe dizer qual
caminho seguir, mas só por enquanto. Por agora não pensarei muito no
amanhã dele e sim no agora. Porque agora ele ainda está debaixo das
minhas asas — falei e percebi que ambos concordaram comigo.
— Ninguém me disse que ser pai era viver com medo — comentou
Pedro. — Já conversei com minha Jadyzinha que dois é o limite do negão
aqui. Se um dia tive o sonho de montar um time de futebol americano, já
não tenho mais — comentou, e gargalhei junto com Marco. — É sério,
ontem acordei com a criança correndo sem roupa alguma pelo corredor
gritando: “AH, EU TE AMO, MEU AMOR”. Eu nem ao menos sei onde ele
aprendeu a cantar a música do Sidney Magal — falou, e gargalhei mais
ainda. — Hoje de manhã Luther tentou descer da escada com uma garrafa
pet e eu não sei lidar com isso. — Dramatizou, levando a mão ao peito. —
Cara, eu não tenho mais vinte anos e meu coração é fraco.
Cheguei à minha casa antes das seis da tarde, mal tirei Nicholas da
cadeirinha e ele saiu correndo gritando pela mãe. Anny surgiu na porta e o
abraçou apertadamente o girando no ar. Gostava de assistir a interação
deles.
Subi os degraus com mais calma e antes que chegasse até minha
mulher para lhe dar um beijo, fui atacado por duas coisinhas pequenas. Abri
meus braços e me agachei para poder abraçar meus pequenos.
Lágrimas estúpidas!
Ele e eu nos amamos, fomos para o quarto de espelhos, mas ainda
sentia que não estava tudo bem. Não sabia como resolver isto e estava
entrando em desespero. Por minha causa meu marido chorava e não
conseguia dormir à noite. Por minha causa ele ficava se remoendo e se
sentindo culpado.
Porra, isto está demais para mim!
Não sei quando ele chegou aqui e muito menos se Marco o avisou, só
não sabia como meu marido veio parar aqui e precisava me explicar esta
situação toda.
— Não sou de aço, meu bem. Tenho dias bons e ruins, mas está tudo
bem eu não estar cem por cento — disse ainda me abraçando por trás, e eu
amava a sensação de ter seu corpo junto ao meu. — Agora vá buscar nossos
filhos que tenho uma reunião em poucos minutos. Dirija mais devagar, e,
por favor, se mantenha longe desta beirada. — Ele me virou para si
lascando um beijo intenso em minha boca, um beijo recheado de promessas.
— Te amo.
— Te amo.
Ele me acompanhou até meu carro e seguiu seu destino.
Guiei mais devagar, tentando entender como ele chegou tão rápido até
mim. Precisava ter uma conversa com os seguranças, mas antes iria buscar
meus filhos. Estacionei o carro em frente à escolinha, saí dele, indo até os
portões e assim como eu, havia outras muitas mãe e babás à espera das
crianças. Joguei meu cabelo para trás e ajeitei meus ombros, deixando-os
ainda mais reto.
Quando os vi vindo correndo, abri um sorriso imenso, mas não sabia
se era maior do que o deles. Acho que a recompensa por ser mãe estava em
pequenos atos de amor e carinho como este.
— Mãe, mãe! — gritaram em uníssono. — Mãe, mamãe...
Não sabia qual deles atender primeiro, então me abaixei e abri meus
braços.
— Se ficar falando para meu marido cada passo que dou, irei fazer
com que seja demitido, okay? — rosnei, mostrando minha raiva. — Pouco
me importa se está fazendo a merda do seu trabalho — disse, entrando no
carro e dando partida.
Coloquei uma música infantil e as crianças começaram a cantar
animadamente, o que me distraiu um pouco. Não gostei de saber que os
seguranças ficavam passando para o Dante cada passo dado.
Eu sei me cuidar!
Não sou louca...
Eu sou foda!
— Anny, podemos conversar? — perguntou Dante após colocar as
crianças para dormir.
Eu o segui no corredor até nosso quarto, onde ele fechou a porta e me
olhou sério. Eu amava este olhar sério em seu rosto. Ele ficava sexy e me
deixava cheia de tesão. Adorava seus olhos escuros, seus braços fortes que
marcavam qualquer coisa que ele vestisse, seu abdome sarado...
Eu sabia quando o buraco era bem fundo e este com certeza era bem
embaixo. Respirei fundo, sabendo que agora era hora de ser forte e ligar o
foda-se para quem além de nós fosse se ferir.
Esta guerra agora também era minha.
Anny Bella Boltoni chegou sem intenção de levantar bandeira de paz!
Férias, eu nunca pensei que ficaria com meu coração apertado em
saber que meus filhos estavam definitivamente de férias. Observei a
animação deles por saber que passariam quinze longos dias, para mim, com
a avó no Brasil, minha terra natal que tanto odiava. Eu já amei aquele lugar
de paixão, mas hoje só tinha más lembranças.
Más recordações que assombravam minha mente dia após dia e não
gostava destas lembranças. Não era algo que pudesse simplesmente apagar
da minha memória, infelizmente.
Anny não sabia para onde correr com as malas, os três estavam uma
agitação só, querendo levar tudo e ao mesmo tempo nada.
Ser legar...
Ser gentil...
Ser sempre o cara que levava um tiro pelas costas estava me ferindo
demais e meus braços estavam cansados de nadar contra as grandes ondas.
Precisava de um tempo para me reconstruir, mas não podia jogar tudo para
o alto e sair. Era exatamente por isso que ainda estava aqui de pé, tentando
ser mais forte do que era, assumindo batalhas e mais batalhas que pareciam
nunca ter fim. Estava cansado e saturado, essa era a dolorosa verdade.
— Papai, posso levar meu videogame? — perguntou Pietro.
— Não — disse, sorrindo para ele. — Filho, vocês vão levar somente
o básico, nada mais que isso. Agora temos que ir, senão perderemos o voo.
— Mas, papai, o senhor é dono do jatinho, ele tem que nos esperar. —
Bruna e sua mania de grandeza que só pioraria com o tempo em que ficaria
com minha mãe.
Anny não disse nada o que não sabia se era bom ou ruim.
O caminho até o aeroporto foi em total silêncio, o que para mim foi
bom, quer dizer, foi ótimo. Não queria ser incomodado e não fui.
Quando adentramos o jatinho, me assegurei de que a viagem seria
tranquila e cada um deles estava em sua poltrona, com os cintos afivelados
e quietos.
Ótimo!
Virei o pai chato que dava esporro nas crianças por nada.
Que cruel, hein, Boltoni?
Levantei-me e fui para a parte de trás sabendo que minha esposa me
seguia em silêncio, o que eu menos queria agora era uma discussão.
— Bruna é uma criança difícil. Fico com ela o tempo todo e sei quão
complicada ela pode ser. Sua mãe tem direito de passar mais tempo com os
netos. — Respirou fundo ao dizer tudo isso.
— Eu passo tempo com eles, Anny — rebati chateado com sua fala.
— Acho que não me entendeu. — Ela abaixou a cabeça e respirou
mais fundo que antes. — Eles passam mais tempo comigo do que com
você... Você trabalha e indiretamente a Bruna joga na sua cara que não
precisa trabalhar tanto já que possui muito. Ela chama sua atenção de tudo
que é lado. É óbvio para mim que você é mais próximo do Nicholas, assim
como sou do Pietro que é meu grude, mas Bruna não tem em quem grudar.
Ela se sente deslocada, eu a entendo completamente. Ela é uma menina
entre dois irmãos.
Acho que compreendi, mas Bruna sempre foi mais de ficar na sua e
mais independente de todos. O fato dela ser mais moleca sempre fez com
que eu preferisse deixá-la mais independente e não ficar tratando-a o tempo
todo como uma princesinha, mas acho que cometi um equívoco e
consertarei isso.
— O Nicholas é mais apegado a mim, mas dou atenção por igual a
eles. Anny, nunca desmereci nenhum deles para favorecer o outro e se
briguei com ela hoje foi porque mereceu.
— Eu sei, mas acho que na cabeça dela a razão está a seu favor e não
ao seu, Dante. Converse com ela, amor.
— Conversarei.
Anny me roubou um beijo antes de voltarmos.
Os três estavam quietos, o que era bom, mas preferia eles falando e
falando sem parar. Teríamos algumas horas de voo e esse silêncio era
perturbador.
— Crianças, papai vai contar uma história para vocês — disse,
ganhando a atenção deles. — Era uma vez um rapazinho que nasceu em um
lugar bem pobre, ele não tinha o que comer e nem o que vestir direito,
mesmo assim, ele era feliz. No outro lado da cidade havia um menino da
mesma idade só que este não passava dificuldade nem nada do tipo. Um
certo dia, eles ficaram cara a cara um com o outro. Eles não se maltrataram
e nem se trataram com indiferença, ambos sabiam que não havia diferença
entre eles, eram humanos e nada mais do que isto. Nem todos nascem com
uma vida privilegiada como a nossa, mas isso não significa que vocês têm
que tratar as pessoas como se elas fossem inferiores... Vocês não são
melhores que ninguém, mas sim iguais a todos. Ajudem quem precisa,
amem quem merece amor e sejam dignos do que possuem. Sejam
amigáveis e justos. Não humilhem ninguém e sempre ajude o próximo sem
esperar nada em troca, a melhor coisa que recebemos é um sincero obrigado
e um sorriso no rosto. Não sou melhor que ninguém porque sou milionário
e muito menos vocês — falei de uma forma suave. — Nunca maltratem
alguém por ter mais do ele e se fizerem isso irão me machucar muito,
crianças. Desde agora aprendam que a vida é um sopro, uma hora você tem
tudo e outra você não tem nada, mas por agora sejam só crianças e
brinquem muito — afirmei sorrindo.
— Papai, tenho que ajudar meus coleguinhas, né? — perguntou
Pietro.
— Sim, meu anjo — respondi sorrindo.
— Agora quem está feliz em ir para o Rio de Janeiro? — indagou
Anny, animando a todos.
Meu Deus!
Ainda me recordava da nossa dança na chuva, uns dias antes da
audiência em que levou meu irmão Pietro, trouxe o Eduardo e fez com que
os culpados pagassem, mas entre tantas vitórias houve muitas perdas. Acho
que nada nessa vida era cem por cento certo, quer dizer, apenas a morte. Ela
sim era a única certeza de que tínhamos que um dia iria acontecer.
Houve uma época da minha vida em que eu desejei a morte como
uma pessoa perdida no deserto anseia por água. Eu a quis tanto, mas tanto
que até mesmo ousei ir até ela. Foi uma tolice que me levou a ter outras
consequências, as quais, sempre estariam marcadas em minha alma. Eu
poderia dizer que fazia tudo parte do processo, mas seria uma grande e tola
mentira.
O que houve comigo e o que aconteceu com outras meninas era uma
consequência da maldade humana. Fui vítima e por muito tempo me senti
culpada, me lembrava de ter noites em que me culpava tanto que até uma
faca cravada em meu peito doía menos do que minha consciência. Era
incrível a quantidade de labirintos que nossa mente nos levava e desolador a
quantidade de vezes que éramos afundados por ela. Sabia o quão cruel era
se perder dentro da própria mente. A mente se tornava uma prisão sem
grade, mas sem escapatória e era terrível!
— Bom dia, Anny — disse sem me olhar. — Dante saiu cedo e não
me disse aonde ia.
— Bom dia, Dudu — o chamei pelo velho apelido. — Ele tem
assuntos a tratar com os irmãos e com toda certeza precisava correr um
pouco para espairecer a mente — falei, enquanto me servia de uma xícara
de café, colocando leite. — Eu apaguei isto sim — confessei e nós dois
rimos. — Estava cansada e ficar algumas horas com minha sogra que me
odeia me deixou mais exausta.
— Não entendo isso. Não é novidade que ela pegou um ódio mortal
de você no passado, mas agora depois de tudo que foi revelado, manter isso
é tolice.
— O filho dela quase se matou por mim, foi embora por mim e quase
se destruiu por mim. Eu a entendo e por mais bizarro que seja isto eu faria o
mesmo se alguém fizesse um dos meus filhos sofrer assim. — Suspirei
cansada, nem parecia que acabei de acordar. — Ela gosta de mim, mas do
nada fiz o filho dela virar cacos. Ele é um homem praticamente perfeito,
vamos ser sinceros, mas ainda assim, eu o feri muito. Meu passado e nossa
família ainda estão o ferindo. Dante está sangrando assim como você e eu, e
não sei o que fazer para mudar isso. Me sinto em uma encruzilhada onde a
espada já foi cravada e a cruz está posta diante de mim.
Ele abaixou o rosto e suspirou.
— Perdemos dez anos das nossas vidas por causa da nossa mãe
maldosa, mas não podemos perder mais dez anos por medo de viver.
Escolhi viver e estou vivendo minha vida. Nada é perfeito, mas tenho a vida
dos sonhos pelo menos para mim. — Segurei sua mão. — Eduardo, vi o
quanto perdeu, mas se continuar assim vai perder muito mais. Não seja uma
casca oca, seja você o lagarto que vira borboleta. Se permita ter cores e
vida... Se permita ser feliz, seja feliz Eduardo Rizzi e busque por sua
felicidade.
Ele apertou minha mão e sorriu de leve para mim.
— Estou em busca da felicidade, Anny, mas a deixo escapulir a cada
palavra errada que digo. — Seu suspiro pesado fez com que meu coração
doesse. — Eu a perdi por causa do meu próprio medo.
Olhei para ele sem saber o que dizer, acho que a Maria o deixou.
— Você perdeu a batalha, mas não a guerra. Vá atrás dela.
— Se ela não me quiser?
— Lute pelo amor dela da mesma forma que ela lutou por você,
Eduardo.
— Mais tarde vejo essa luta, mas agora vamos conversar sobre André
Rizzi. — Sua rispidez era tão visível que até me arrepiei. — Eu tenho um
irmão gêmeo que surgiu das cinzas do inferno e está aterrorizando nossas
vidas... Acho que precisamos resolver isto o mais rápido possível. Vivo ou
morto para mim é a mesma merda, então, tanto faz, mas creio que para você
talvez vivo seja mais útil. — A raiva em sua voz era tanta que me assustou.
— Eu não sei quem ele é, só sei que está nos ferindo. Eu nem ao
menos até dias atrás sabia da existência dele... Eduardo estamos em um
barco à deriva e talvez ele tenha a sua versão da história. Ele cresceu longe
de todos nós... — Não sabia mais o que dizer.
— Então isto significa que ele teve uma vida melhor que a nossa
Anny — supôs. — Vamos lá, eu vivi em um circo de horrores, onde fui o
palhaço da história, assim como você, só que em vez de risos de alegria
demos gritos de dor e sorrimos lágrimas de tristeza, então, por favor, ele
teve uma chance de ter uma vida melhor que a nossa ao menos eu acredito
nisso.
A dor dele me feriu mais uma vez.
— Não sou um herói ou inocente, mas também não sou o vilão desta
história de terror em que vivo. Ele teve a chance de buscar ajuda e de nos
procurar, mas ao invés disso escolheu nos ferir. Então não, eu não o perdoo,
mas sim o condeno.
Bebi meu café com leite já frio e respirei fundo antes de tentar dizer
algo para ele, mas não sabia o que dizer. As palavras certas pareciam não
surgir, havia um grande quebra-cabeça em minha mente, a qual não sabia
nem onde estava a primeira peça. Estava perdida dentro disso tudo, tendo
muitas dúvidas e poucas certezas. Esperava tudo ao ver aquele vídeo que o
Dante me mostrou, menos um irmão idêntico ao Eduardo. Levei horas para
compreender o que o Dante dizia e me explicava. Era inacreditável, mas era
real.
Na minha cabeça se passavam várias teorias sobre o que podia ter
acontecido com ele, mas com nenhuma delas conseguia chegar a uma
conclusão definitiva.
— Talvez assim como nós, ele seja uma vítima da nossa mãe. Não
sabemos de nada a não ser que ele é cruel, mas eu duvido que ele tenha
nascido assim. Vamos ver no que isso vai dar e ter fé de que tudo vai acabar
bem. — Apertei sua mão e sorri para ele. — Agora me fala sobre a Maria
— pedi.
— Ela é sorridente, alegre, feliz e linda. — Ele parecia distante a
cada palavra que dizia. — Ela é meio que inocente, sabe? Enfrenta várias
lutas, principalmente com a irmã doente, mas isto não vem ao caso. Ela é
forte, determinada e não importava quantas vezes a afastava, ela sempre se
aproximava de mim até mesmo quando fui cruel, mas do nada ela se cansou
de mim e se foi. — Ele soltou uma risada sem vida. — Eu nem ao menos
tive chance de tentar...
— Você tem agora, vá atrás dela... Só para a morte não tem jeito, o
resto conseguimos ajeitar — repeti as palavras da vovó Rizzi.
Fechei meus olhos enquanto o vento forte batia em meu rosto. Meu
cabelo foi jogado para trás com a força do vento, o que me lembrava que
devia cortá-los o mais rápido possível, pois estavam enormes. Observei o
Oceano Atlântico diante de mim e ele era lindo. Abaixo de mim, as ondas
se chocavam contra as pedras da mesma forma que estava me chocando
contra estas ondas que vinham fortemente contra mim. A diferença era que
não era uma rocha, era de carne e osso e sentia que uma hora quebraria.
Estalei meu pescoço enquanto tentava aquietar minha alma que estava
tão agitada quanto o vento que vinha de todas as direções. Estava uma
bagunça por dentro em uma guerra silenciosa, que não sabia se venceria e
se vencesse em qual estado ficaria.
Fechei meus olhos tentando até mesmo calar as vozes que havia
dentro de mim. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto e minhas mãos
tremiam. Estava cansado de tanta, mas tanta coisa...
Olhei para minha esposa rindo junto com os meus irmãos e Eduardo
enquanto assistiam a um filme na TV. Era o final da tarde, tivemos uma
manhã estranha, mas a tarde melhorou, Lucy e Edward vieram para nos ver,
o que deixou Anny feliz e acabou me deixando um pouco mais alegre
também, pois sua felicidade sempre acabava se tornando a minha.
Não ligamos ainda para meus pais para conversar sobre as crianças,
chegamos ao consenso que meus pais precisavam passar mais tempo com
os netos sem nós dois em cima o tempo todo. Era difícil, mas não é como se
pudéssemos fazer algo, ao menos eu não podia. O celular de todos
começaram a tocar no mesmo instante, mas Alexandre fez um sinal e
atendeu o dele primeiro.
— Sim? Compreendo, passarei a informação a todos aqui, não precisa
se preocupar. — Ele desligou o telefone e olhou para todos nós antes de
suspirar fortemente.
— André Rizzi acabou de ser pego em Boston, tentando invadir uma
área privada da sua empresa, Dante.
— Acho que não iremos viajar de moto por aí tão cedo — comentou
Anny.
— Vamos sim, meu amor — disse em um tom suave, mas sem
certeza. — Resolvendo este assunto poderemos ir até Las Vegas de moto,
mas desta vez sem despedida de solteira e comigo ao seu lado — comentei,
relembrando um certo acontecimento do passado.
— Foram só algumas doses e homens dançando nus — Anny disse
sorrindo.
Quase mordi minha língua para não a lembrar em voz alta que sorriu
quando a fiz ficar horas desejando gozar, mas não podia. O castigo foi ruim
para nós dois, pois amava vê-la gozar, mas a torturei com raiva por ela ter
ido a um lugar cheio de homens nus e ainda ter ficado bêbada. Era ciumento
e possessivo, às vezes me irritava comigo mesmo, por causa desses
malditos sentimentos que não conseguia controlar, sem falar que isso me
deixava tão irritado que acabava descontando na parede que não tinha culpa
de nada.
É complicado demais amar alguém!
Quando o carro parou, sabia que daqui em diante teria que ser o mais
forte possível, não por mim, mas por Anny. Abri a porta do carro, saí
olhando para os lados, estendi a minha mão à Anny que a pegou e a ajudei a
sair do carro. Envolvi meus braços em volta da sua cintura, caminhei
rapidamente rumo à delegacia e Marco surgiu no topo da escada que nos
levava à entrada com a cara fechada. Subi os degraus largos com calma,
assim que chegamos ao topo da escada, Anny me soltou e abraçou meu
velho amigo, mais chegado que meus irmãos. Quando Anny o soltou,
apertei sua mão com firmeza e ele sabia que não falaria nada por agora.
Entramos na delegacia e Marco nos guiou até uma sala mais privada, onde
estavam o delegado da minha confiança e mais dois seguranças da nossa
equipe.
Ótimo!
— Senhor Boltoni — cumprimentou o delegado Aris. — Senhora
Boltoni. — Acenou para Anny. — Quando o senhor quiser pode entrar e
falar com ele.
Virei-me para minha esposa, beijei sua testa e saí porta a fora com
Marco e Alexandre me acompanhando em silêncio. Antes de entrar na sala
de interrogatório, parei e respirei fundo, tentando controlar minha fúria,
pois não podia estragar tudo.
— Entrarei sozinho e depois de sete minutos podem entrar, mas por
agora isso é algo entre mim e ele — disse, deixando claro que não queria
companhia, enquanto puxava a maçaneta para entrar e o policial que estava
na porta não disse nada.
O infeliz feriu a própria irmã por raiva ou sei lá o quê, queria tanto
socá-lo que só Deus sabia o quanto estava me segurando para não o matar.
Eu sentia como se um vulcão adormecido tivesse entrado em erupção
dentro de mim, e minha raiva eram as lavas quentes que destruía tudo o que
visse pela frente.
ÓDIO!
Entrei no banheiro masculino correndo até a pia para jogar água na
minha cara na tentativa de conter minha raiva, depois de três jatos gelados
no rosto ainda me sentia irritado e com bastante raiva. Precisava acalmar a
tempestade que estava se formando dentro de mim, por isso fechei meus
olhos tentando buscar o meu “eu” verdadeiro. Este ser refletido no espelho
com raiva e ódio não era eu...
Eu não era assim...
Eu era muito mais do que isto.
Se fosse sincero comigo, veria que estava mais incrédulo com esta
situação do que com medo. Era irreal ver tudo que minha menina teve e
ainda tinha que passar. Anny merecia mais do que este mundo oferecia a
ela, até mesmo mais do que eu lhe dava. Anny merecia o mundo, mas não
este mundo de dor, e sim um mundo onde ela só pudesse sorrir. Às vezes
sentia que ela chorava mais do que ria e era triste viver assim. Fazia o
possível pela sua felicidade, mas tinha horas que falhava. Afinal, não era
perfeito.
— Dante? — Ouvi sua voz, mas não abri meus olhos. — Amor? —
Senti suas mãos sobre meu braço descendo até meus pulsos. — Está tudo
bem?
Até onde iríamos pelo nosso amor? Quais os limites para quem se
ama?
Eu me via indo além de todos os limites, mas ela aguentava ir além?
Às vezes me perguntava se duvidava muito da sua dureza ou se apenas
temia vê-la ferida mais uma vez.
— Ficarei melhor quando tudo passar — repeti minhas palavras. —
Não se preocupe, senhora Boltoni, já, já, estarei sorridente, mas agora
temos que voltar e ver até onde tudo isso está indo — disse, abrindo um
sorriso para ela.
— Sabe que pode contar comigo para tudo, né? — perguntou com
uma carinha fofa.
— É claro que sei — concordei sorrindo. — Só estou perdido aqui
dentro, mas já me encontro, aliás, todos temos dias ruins, não é?
Anny se virou, caminhou até mim me abraçando apertado, devolvi o
abraço na mesma intensidade e seu corpo junto ao meu me acalmou.
Diziam que os filhos sempre puxavam algo dos pais e o André Rizzi
puxou o veneno da mãe, infelizmente.
— Não creio que o meu caso esteja em julgamento aqui, mas sim, eu
paguei e pago por meus crimes, mas na minha sentença final eu encontrei o
que poucos encontram — respondeu o ruivo sorrindo tranquilamente. —
Diga-me, André Rizzi, por qual motivo não apareceu antes?
— Não teria graça aparecer no início do show. Aliás, o melhor
espetáculo sempre é o último ou estou enganado?
— Às vezes no final só resta fechar as cortinas — comentou Marco.
— Mas por quê?
— Mais uma vez este porque irritante... Que chato! Vocês são
entediantes, esperava mais diversão — reclamou.
— Ah, por favor, vá para o circo, mas aquele da prisão — disse
Marco, ficando em pé. — Seja bem-vindo à família, André.
Vi os olhos do André se arregalarem com as últimas palavras do
Marco, por essa ele não esperava. O ruivo fez uma jogada de mestre ao
tocar naquilo que incomodava o meliante. Virei minha cabeça e observei
Anny respirar fundo fechando os olhos como se estivesse tentando acalmar
o próprio coração. Eu a puxei para os meus braços, beijei o topo da sua
cabeça e senti gotas quentes pingarem na minha camisa. Anny me apertava
forte sem emitir um único som, ela estava se calando, mas suas lágrimas a
denunciaram.
Ninguém falava nada...
— Sei disso, mas no Brasil ele não sairá impune — afirmei com raiva
na voz.
O delegado acenou com a cabeça e saiu da sala apressado
acompanhado pelos demais, ficando apenas Anny e eu. Virei minha cabeça
e através do vidro espelhado, vi que André estava sorrindo sozinho.
Desgraçado!
— Vamos superar mais essa, né? — perguntou minha doce menina.
— Sim, iremos superar mais essa — afirmei sem ter certeza. — É só
uma tempestade.
— Acho que podemos dançar na chuva, né? — indagou, levantando a
cabeça para me encarar.
— Sou um péssimo dançarino, mas aceito a honra desta dança —
respondi e beijei sua testa.
— Você dança melhor do que eu — disse sorrindo de leve.
— Só um pouco melhor — confessei, passando a mão por seus fios.
Ficamos um tempo grudado um no outro por um tempo nos
balançando de um lado para o outro, após um tempo perdidos no nosso
mundo decidimos sair de mãos dadas. Não fui atrás do delegado nem nada,
pois Marco resolveria tudo.
Quando saímos da delegacia, vi que todos ainda nos aguardava com a
cara fechada, os únicos sorrindo eram Pedro e Thales, dois idiotas, mas
eram idiotas que deixavam o ar mais leve.
— Sabe, Annyzinha, meu sonho é ver você se requebrando até o chão
em um baile funk — comentou Pedro quando nos aproximamos e arregalei
os olhos para ele. — Aqui não tem um baile, mas têm boates brasileiras. O
que acham de hoje irmos para dançar e esquecer um pouco dos problemas?
— perguntou sorrindo mais ainda.
— Eu amei a ideia, Pedrão! — disse Thales, batendo no ombro dele.
— Eu topo — respondeu Anny.
— Quero novinha não. Sou velho e quero alguém acima dos vinte e
sete, este negócio de papa anjo não é comigo — Thales falou sério. Ele
adorava provocar o Pedro.
— Do meu ponto de vista o amor não tem data, hora, cor, raça, aliás,
o amor é o amor e não há diferenças para ele. Idade é algo mínimo —
comentou Alexandre, cortando o barato do Thales.
— Você poderia ser um irmão mais velho gentil — reclamou Thales.
— Cresça que iremos ter uma conversa de adulto — disse Alexandre
sorrindo.
Era nosso dever construí-la todos os dias, mas construir uma ponte
sobre o oceano não era fácil e o resultado era que fazia valer a pena todo o
transtorno e dificuldade.
Olhei para a janela observando o sol ser pôr, hoje à noite teria muito
trabalho, e só queria poder ficar em casa sem fazer nada. Vejamos bem, o
lindo do Pedro inventou de todos sair hoje à noite, só não soquei a cara do
meu bom amigo mais chegado que irmão, por complacência[7] a mulher dele
que teria que cuidar do seu rosto ferido.
Merda!
Eu era caseiro e hoje não era um dia bom para sair, mas já que estava
diante de uma grande onda...
Por que não surfar sobre ela?
Nunca diga que a situação não pode piorar, pois acredite ela vai
piorar!
Estávamos sentados na área vip observando as meninas dançarem
loucamente. Minha esposa, para minha alegria, estava de calça comprida,
mas a blusa com um decote enorme estava me matando. Estava na minha
por puro cansaço e desgaste mental, sem falar que o som alto do inferno
estava me deixando com uma baita dor de cabeça e amanhã estaria
triturado...
Tudo culpa do Pedro!
— Dante, meu amigo, antes de tudo quero que me prometa que não
irá enlouquecer — Pedro disse do nada.
— O quê? — perguntei confuso.
— Promete? — insistiu.
Por alguma razão olhei para a pista de dança e vi uma cena que ferveu
meu sangue. Levantei-me na mesma hora e os meninos fizeram o mesmo.
Caminhei a passos rápidos em direção à minha esposa que estava dançando
com um desgraçado agarrado à sua cintura.
Vesti uma roupa qualquer, desci para o andar de baixo e o fato das
crianças não estarem em casa me deixava chateado, já que não teria que
preparar um grande café da manhã. Definitivamente, a casa ficava mais
vazia e triste sem eles.
Neste horário, o Nicholas já estaria acordado e me olhando com
curiosidade, a Bruna acordaria reclamando e Pietro seria quieto como
sempre. Que saudade da agitação matinal! Isso porque eles estavam apenas
há alguns dias fora. Era um pai coruja e não negava isto de forma alguma.
Entrei na cozinha já ligando a máquina de café, mas antes que
pudesse fazer qualquer outra coisa meu Iphone tocou no meu bolso.
Olhei o nome do Pedro e estranhei.
— Qual o problema? — perguntei sendo direto.
— Dante, um filho da puta tentou invadir meu sistema, melhor
dizendo nosso sistema — esbravejou. — Estou aqui na empresa e já
neutralizei o vírus deles jogando outro em cima — disse nervoso. — Mais
uma coisa... Nossa filial em Nova York sofreu um atentado — continuou, e
bufei. — Nenhum ferido, os seguranças agiram da forma que os treinei, a
polícia está fazendo a parte deles e nossa equipe interna também vai fazer.
Apoiei-me no balcão tentando entender como toda essa merda podia
estar acontecendo. Não podia mandar o Marco para Nova York agora, então
só me restava uma opção, eu mesmo ir.
— Eu irei. Eles estão tentando nos cercar por todos os lados, mas
estão esquecendo que sou peso pesado.
— Vamos acabar com essa palhaçada, Boltoni.
— Com toda certeza. — Desliguei e respirei fundo, pois ainda não
eram nem oito da manhã.
Chamei Anny para o escritório logo após o almoço para conversar, ela
me acompanhou e ao olhar para a mesa soltou um sorrisinho safado, o que
me fez balançar a cabeça ao também me recordar da cena.
Anny se sentou na quina da mesa, enquanto me sentei na minha
confortável cadeira.
— O que houve? — perguntou com as pernas meio abertas para mim.
Oh, baby, neste jogo sou bom e melhor do que você, então não
comece o que não vai poder continuar.
— Teremos que ir a Nova York, ou melhor dizendo, eu tenho que ir
— disse, e ela arregalou os olhos.
— Eu vou contigo. O que houve? — perguntou mais uma vez.
— Não sabemos ainda — disse, e coloquei minha mão sobre sua coxa
apertando-a de leve. — Eu te amo.
— Eu te amo — afirmou, colocando a mão em meu rosto com
delicadeza. — Ouvi dizer que em Nova York tem ótimas lojas e estou
precisando de umas comprinhas mesmo.
Sorri para ela, subi minha mão por sua perna até chegar à sua boceta,
colocando um dedo dentro dela, observando minha amada abrir a boca.
Não custa nada me atrasar um pouquinho...
Não gostava deste lugar, na verdade, odiava Nova York por diversas
razões, mas nenhuma que valesse a pena falar. Construir uma filial aqui foi
uma jogada para ajudar as pessoas, mas se não fosse por isso eu nem pisaria
nesta cidade. Anny ao meu lado olhava tudo à sua volta, já estava
concentrado em entrar logo na empresa e resolver tudo o mais rápido
possível. Assim que os seguranças me viram, sorriram e acenaram com a
cabeça, e o gerente correu em minha direção afobado, como sempre. Suel
Justin era um cara estranho para muitos, mas para mim era uma pessoa
honrada que foi digno da minha confiança, até agora.
Seu cabelo loiro e pele clara pareciam não combinar com seus olhos
escuros, e seus óculos fundo de garrafa sempre se destoava em seu rosto
retangular. Algumas mulheres diriam que ele era bonito, outras que era feio,
mas a maioria diria que ele era charmoso. No final, ele era um nerd que só
pensava em trabalho e computação, pior do que eu fui um dia.
— Senhor Boltoni — cumprimentou assim que se aproximou. — Que
bom que chegou. — Olhou para Anny e sorriu. — É uma honra conhecê-la,
senhora Boltoni.
— É um prazer conhecê-lo... — Ela parou e me olhou na esperança
de que eu dissesse o nome dele, mas ele tomou a minha frente.
— Suel Justin.
— Diferente seu nome. — Reparou minha esposa.
— Meu pai queria Samuel, mas minha mãe odeia esse nome — disse
sorrindo. — Foi o nome de um garoto que ela gostou quando menina, mas
tomou ranço do homem. Então na briga surgiu Suel Justin. — Ele coçou a
cabeça. — Senhor Boltoni, o delegado Webber deseja conversar com o
senhor.
— Vamos até ele.
— Ele está lá em cima nos aguardando.
Segurando a mão da Anny segui para o elevador.
Nossas filiais possuíam somente dez andares, para não acoplar a
função que pertence à sede. No elevador Anny grudou em mim com toda
sua força, eu sabia que o medo de elevadores ainda existia.
— Será o suficiente.
O caminho para a delegacia central que ficava no centro foi rápido e
tranquilo, graças a Deus. Anny não disse mais nada, muito menos eu e Suel
que nos acompanhava e abria a boca a cada segundo, mas logo fechava de
novo.
Desci do carro, segurando a porta para Anny e nossos seguranças
estavam atentos à nossa volta. De longe vi um paparazzi do inferno tirando
fotos nossas.
Odeio esses sites de fofoca de merda!
Caminhei escoltado à delegacia com Anny ao meu lado.
Anny não poderia entrar comigo, por isso a deixei na recepção e
seguindo o delegado indo de encontro ao Siltan. Quando abri a porta fiquei
tentando entender como não percebi antes que era ele, pois eu me lembrava
dele.
Fechei a porta de madeira atrás de mim e caminhei até a mesa onde
ele estava sentado algemado, sentei-me à sua frente e finalmente ele me
olhou.
David mudou muito desde a época da faculdade e ele era mais velho
do que eu. Devia ter quase quarenta anos enquanto eu trinta e seis, quase
trinta e sete.
— Dante, você veio! — exclamou feliz ao me ver. — Achei que não
te veria nunca mais.
— Você parece feliz em me ver. Por que está fazendo estas coisas,
David?
— Por você!
— Por mim?
— Sim. Você é a razão de fazer o que fazemos — disse, deixando-me
chocado. — Dante todos nós te admiramos, mas não conseguimos chegar
até você, então criamos o projeto Dante, tudo que queremos é a sua atenção
e conseguimos.
— Vocês feriram inocentes — acusei. — Minha esposa!
— Nem tudo é perfeito — falou sorrindo. — Sempre têm aqueles que
caem no processo, te admiramos, desejamos sua atenção e conseguimos —
disse radiante. — Sobre sua esposa não fizemos nada, isso foi obra do
André por vingança do passado dele. Nós te amamos, Dante. Você é
incrível!
— O quê?
— Os atentados nas empresas, as ameaças foi tudo por minha causa
para chamarem minha atenção.
— Por quê?
Chega de joguinhos!
Descobrimos que no total eram vinte e sete homens e dez mulheres
participantes de um grupo de fanáticos por mim, e na casa onde eles
estavam havia diversas fotos minhas, da minha família e da minha empresa.
Eles aparentemente só queriam chamar minha atenção, só que neste
processo feriram diversas pessoas. Eles estavam presos e confessaram todos
os crimes, afirmando que foi por amor a mim, eu sabia que havia um grupo
de fãs na rede social como no Instagram e Facebook, mas não neste nível.
Tudo isso fez com que Anny e eu ficássemos mais tempo em Nova
York. Foram longos sete dias e hoje finalmente poderíamos ir embora.
Todos os envolvidos foram condenados, pois havia provas o suficiente, sem
contar que confessaram seus crimes de uma forma diferenciada. O que mais
me chocou foi que eles atropelaram Anny há quatro anos e por causa deles
minha esposa ficou em coma entre a vida e a morte, sempre que me
lembrava daquele dia sentia medo de que pudesse se repetir.
Eu não estava conseguindo dormir direito e Anny percebeu, mas não
falava nada e era grato a ela por isso. A única coisa que me tranquilizava
era saber que meus filhos estavam seguros e em paz. Nunca pensei que meu
instinto de proteção ficaria tão aguçado por eles. Protegia a Anny de tudo e
de todos, mas com eles, meus filhos, sentia como se o mundo fosse uma
grande fera determinada a comê-los. Eu queria deixá-los seguros, mas ao
mesmo tempo queria fazer com que eles voassem. Temia não conseguir
guiá-los ao caminho certo e sabia que a vida era tão incerta quanto o mar,
uma hora a maré se encontrava calma, já na outra se encontrava disposta a
destruir tudo. Eu só desejava que eles soubessem lidar com os maus e os
bons momentos, pois a vida era uma escola que só concluíamos na morte.
No caminho para o aeroporto onde o jatinho nos esperava, fiquei em
silêncio e pelo retrovisor via os seguranças nos seguindo. Eu tive que
reforçar o nosso nível de segurança, e isso era desconfortável, mas era
preciso.
Quando o carro parou ao lado do jatinho, desci e aguardei Anny sair
pelo outro lado. Os seguranças pegaram nossa bagagem e entraram na
aeronave. Fiquei esperando minha esposa passar por mim, quando Anny
passou, peguei suas mãos e a puxei para mim. Segurei sua cintura e olhei
em seus olhos castanhos, houve um tempo em que os vi sem vida e
recheados de medo, já hoje estava vendo no fundo deles medo, mas não
mais dor ou morte.
— Me desculpe. Você não deveria ter que passar por tudo isso.
— Você é tão inteligente para certas coisas, mas tão tolo para outras
— disse, colocando sua mão macia em meu rosto. — Você não tem culpa de
nada, então, por favor, não me peça desculpa. Dante, você suporta tudo por
mim e porque não posso suportar tudo com você e por você? Eu sei que
posso ser forte, Dante.
Muito melhor!
Ele passou a mão por seu grosso pênis que apontava para cima. Sua
espessura e comprimento ainda me assustava, mas amava senti-lo todo
dentro de mim. Ele saiu de trás da mesa se masturbando de leve, seus olhos
nunca saíam de mim e tinha certeza de que seus passos eram calculados.
Dante é um pecado de tão gostoso que é!
Seu olhar ficou tão intenso que acabei recuando, o que fez com que
ele viesse até mim a passos lentos. Estava molhada e tinha certeza de que o
que escorria pela minha perna era minha excitação. Engoli em seco quando
meu corpo tocou na parede fria, fazendo-me sentir pequenas ondas de
choque por meu corpo estar em chamas. Fechei meus olhos por uns
segundos e quando abri novamente vi que ele se encontrava a centímetros
de mim, inclusive, sua ereção já me tocou e eu o queria tanto que até doía.
Uma das suas mãos grandes tocaram meu rosto com delicadeza e
carinho, enquanto a outra segurou minha cintura, descendo pelo meu
abdômen até minha vagina e ele não era tão delicado quanto estava sendo
no meu rosto. Abri minha boca para soltar um gemido, e ele sorriu com
meu ato, enquanto seus dedos brincavam comigo, causando-me ondas de
prazer. Quando seu dedão começou a massagear meu clitóris, gemi mais
alto, colocando minha mão em seu peito musculoso. Dois dedos
introduzidos em mim me torturavam de prazer, enquanto seu dedão
lentamente massageava meu clitóris. Sua mão em meu rosto desceu para
meu pescoço devagar até meu seio direito, onde ele passou as costas da mão
algumas vezes antes de segurar meu mamilo com dois dedos, apertando
bem de leve. Fechei meus olhos e acabei batendo minha cabeça na parede,
enquanto uma combustão de calor passava por meu corpo. Gozei sem
perceber e ele não parou. Levei uma das minhas mãos até seu pau, sentindo
o quanto ele estava molhado de pré-gozo. Comecei a masturbá-lo com força
e com voracidade, mas sabia que ele não gozaria agora por ter um controle
venerável.
Essa cidade um dia foi meu lar, mas hoje só me trazia dor e raiva.
Cidade das maravilhas. Cidade maravilhosa, mas para mim
significava apenas transtorno e dor.
Balancei minha cabeça, tentando me concentrar no que realmente
importava. Precisava ver meus filhos urgentemente.
— Estava pensando que poderíamos ficar um tempo na casa do lago
com as crianças — disse Anny, atraindo minha atenção. — O que acha?
— Acho que a Itália é mais atrativa, mas podemos ficar — respondi,
apertando sua mão que repousava em minha perna.
— Podemos chamar o pessoal para ficar com a gente, inclusive já
vejo a Melanie dançando funk até o chão — disse sorrindo, e gargalhei.
— Vamos evitar que Marco tenha algum ataque cardíaco, mas é bem
capaz do Pedro ter. Ele com toda certeza é o rei do drama, é meu amigo e
irmão, mas, puta merda, não dá com o Pedro. Esses dias ele me ligou
porque o Luther tinha corrido pelado pela casa toda às sete da manhã —
contei, lembrando-me da voz de desespero do meu amigo.
— Aquele menino é a cópia fiel dele. Até em relação ao drama, já a
Leena é tão carinhosa e na dela.
— Do avesso é só Danielle, Bruna, James e Luther. O restante é
calmo e na deles — disse sorrindo.
— Não é drama, minha filha, é saudade que mal cabe no meu peito
— argumentei, beijando seu rosto.
— Também senti sua falta, papai... Sua e da mamãe — disse Pietro,
soltando-me e correndo até a mãe.
Soltei Nicholas e Bruna que correram para a mãe quase a derrubando.
Vi minha mãe se aproximando com meu pai, enquanto Sara, minha
irmã, se encontrava encostada na parede ao lado da porta me olhando.
Infelizmente, não éramos tão próximos, ela depois que se casou se
aproximou muito da família do marido, mas eu também não podia falar
muito, afinal meu caso não era diferente. Olhei meu pai que sorria
abertamente para mim, enquanto minha mãe me olhava com cautela.
Levantei-me indo de encontro a eles a passos curtos e ao me aproximar da
minha mãe, lhe dei um abraço apertado. Ela ficou em choque, mas na
mesma hora devolveu o abraço. Tendíamos a ignorar certos sentimentos
dentro de nós e por mais magoado que eu estivesse com minha mãe ainda
sentia falta dela, do seu carinho, do seu amor e dos seus abraços. Um lado
da história tinha que ceder e não dava para ambos ficarem eternamente
puxando a corda, por isso estava cedendo hoje...
Por ser filho e pai.
Não queria que no futuro meus filhos tivessem este tipo de relação
comigo ou com a Anny. Não queria ter uma família quebrada, já bastava os
Rizzi. Com os erros deles estava mudando os meus e aprendendo que tudo
que tínhamos era a família.
— Meu filho eu te amo tanto — disse minha mãe fungando.
— Mãe, eu também te amo. — Afastei-me, beijando sua testa com
carinho.
— O velho aqui também não ganha um abraço? — perguntou meu
pai.
Fui até ele sorrindo e o abracei apertado.
Eu me parecia com meu pai e meu filho se parecia comigo, era uma
geração de Boltoni que como dizia minha avó: “Uma geração linda pra
caralho”, eu só não tinha covinhas e dava graça a Deus por isso.
Caminhei até minha irmã e sorri para ela que me olhava séria.
— Meu irmão caçula, com três filhos nas costas e pelo no saco —
falou, batendo o pé no chão. — Toma vergonha nesta cara que quando tiver
ao menos vinte e três centímetros de pau conversaremos — disse com
deboche.
Pela primeira vez dei graças a Deus pela Anny ter medido meu pênis.
Obrigado, meu amor, por me medir mais de uma vez!
Podia jogar na cara da minha irmã meus vinte e oito centímetros e
meio. É isso, agora podemos conversar sério.
— Então, lhe informo que aqui, dentro dessa cueca boxer, tem mais
que vinte e três centímetros. Minha esposa mediu! ─ contei com orgulho
que nem ao menos deveria ter.
Ela abriu a boca e fechou, abriu novamente e fechou para em seguida
olhar para baixo, exatamente para o meu pau.
— Você é um cavalo! — exclamou alto.
— PAPAI NÃO É UM CAVALO! — berrou Nicholas. — Papai é
humano, titia, cavalos são animais, papai é um animal sim, mas racional,
então ele é humano — disse sério para a tia.
Sara me olhou e depois olhou para a minha mini cópia, balançou a
cabeça e por fim sorri para a criança que a olhava com indignação.
— Tem algo de mim nele. Agora podemos ter uma conversa séria?
— inquiri, tocando seu ombro.
Ela revirou os olhos algumas vezes antes de me responder.
— Vamos entrar — concordou e saiu andando.
Segui minha irmã até o escritório do papai e assim que entrei tranquei
a porta. Ela se sentou em uma poltrona preta no canto e eu puxei uma
cadeira para me sentar em frente a ela.
Observei minha irmã respirar fundo e passar a mão nos fios negros
que estavam na altura do seu ombro, enquanto abria a boca e fechava
constantemente. Era provável que ela estivesse buscando as palavras certas,
mas também era certo de que estivesse tentando não me ferir com sua
rispidez. Eu não esperava gentileza e muito menos empatia neste momento.
De certa forma os mantive distantes tanto no passado quanto no presente.
Quando fui embora para Boston anos atrás, deixei tudo para trás, inclusive
minha família. Estava ferido, desolado e perdido dentro de mim mesmo...
Eu só queria esquecer aquilo que me feria e recomeçar longe da dor,
mas me enganei e vivi achando que estava vivo. O estranho aqui só estava
passando o tempo sem certa direção, estava quebrado e achava que estava
bem. Fui tolo, mas foi essa tolice que me fez ser quem era e tinha orgulho
disso.
— Me perdoe — pediu baixo, e olhei para ela confuso. — Você é
meu irmão caçula e não te apoiei em quase nada. Fui viver minha vida,
esquecendo que vocês também faziam parte dela, me isolei dentro do meu
próprio mundo, porque para mim era mais fácil. — Ela sorriu. — Acho que
nenhuma família é perfeita, mas podia ter feito mais por você e ter lhe dado
mais apoio... Você é meu irmão... Eu vi você cair e não fiz nada, na
verdade, eu fiz algo sim... Virei minhas costas e fui embora. — Ela enxugou
uma lágrima e sorriu.
— Está tudo bem. Eu me afastei por escolha e por medo há anos, mas
não era sua obrigação correr até mim... Não era obrigação de nenhum de
vocês, optei por um caminho longe de casa em busca da minha própria casa
e encontrei meu lar. Um lugar para chamar de meu — expliquei, olhando
em seus olhos. — Todos nós seguimos nossos caminhos e está tudo bem,
Sara. Eu me mudei para outro país, me refiz e reconstruí minha vida. Hoje,
eu não sou o mesmo de três anos atrás ou o mesmo de cinco meses,
mudamos constantemente porque a mudança faz parte da vida de quem
somos. Não me peça desculpa por viver sua vida... Minha queda foi prevista
pelos céus, só eu que não vi... Escolhi travar minhas batalhas, mas vocês
não são meus soldados. É tempo de sermos mais próximos e unidos... É
tempo de sermos mais irmãos e não apenas parentes, mas não olhe para o
passado, é tudo aprendizado, ensinamento e vida — disse e sorri para ela.
— Vamos preparar um churrasco na casa do lago com todo mundo junto e
misturado — avisei, e ela gargalhou.
— A tropa de Boston vai vir?
Eu iria causar dor ao André Rizzi, mas entendi que ao fazer isso me
igualaria a ele. Eu não era caos, eu não era uma pessoa má...
Eu era benevolência e complacência...
Eu era mais do que eles pensavam de mim ou até mesmo mais do que
eu pensava de mim. Obviamente não era perfeito e nunca seria, mas
compreendia que era quem era e me orgulhava do homem que me tornei.
Ultimamente vinha passando por muitos dias ruins, mas até na
tempestade era possível sorrir e eu vinha sorrindo entre lágrimas e
gargalhadas, aliás, a vida não era um conto de fadas, onde tudo no final ia
dar certo e ponto final.
A vida era uma agridoce realidade, onde o ponto final era a morte.
Então, enquanto estivermos vivos tudo se tornava possível e todo ponto se
tornava vírgula.
Sorri, ao ver minha mãe conversando com a Anny alegremente.
Ambas se resolveram ontem, e por isso, ficamos na casa dos meus pais.
As crianças dormiram conosco na cama, o que para mim foi ótimo.
Amava tê-los perto de mim ao alcance dos meus braços. Era pai urso,
protetor ao extremo, mas acho que todos éramos de certa forma assim.
Gargalhei quando meu pai tentou fazer Nicholas colocar uma pipa no
alto, sabia que meu filho não gostava dessas coisas. Se eu fosse meu pai iria
tentar fazê-lo brincar com outra coisa, já Bruna estava com sua pipa rosa no
alto do céu.
Menina travessa!
Pietro se encontrava sentado no colo da mãe, ele era grudado a ela de
uma forma que me surpreendia. Pietro era igual ao irmão da Anny quando
mais novo, alguns podiam até dizer que era a reencarnação do falecido, mas
como não acreditava nisso via apenas como mera coincidência. Cada um
tinha um pouco meu e da Anny, quer dizer, Nicholas puxou a mim
completamente. Ninguém dizia que eram trigêmeos, inclusive eu não dizia.
Meus filhos eram tão diferentes. Tão únicos...
Meu telefone tocou e ao olhar a tela suspirei. Levantei-me e segui
para dentro da casa.
Quando me virei para avisar que ia sair, dei de cara com Nicholas me
olhando, parei por alguns segundos olhando para meu filho. Ele tinha uma
inteligência acima da média, era na dele e não gostava de interagir muito.
Não, meu filho era normal, mas acho que faria com que todos eles
passassem por um neuropsicólogo.
É isso, todos passariam por uma avaliação só por garantia.
— Papai, está tudo bem? — perguntou minha mini cópia.
— Está sim... Papai só vai ter que sair rapidinho, mas já volto —
disse sorrindo para ele. — Papai te ama.
— Te amo mais, papai! — respondeu sorrindo.
Ele era perfeito e não tinha nada... Ele era meu filho independente de
tudo... Ele era meu filho.
Acho que era assim o amor, você se doava e em troca recebia algo
além do que muitos podiam imaginar. Eu não conseguia calcular o tamanho
do meu amor por eles e não existiam números exatos...
Não para o amor.
Quando o motorista me deixou na entrada do hospital, entrei feito um
louco, desviei dos seguranças, das pessoas e de quem mais estivesse na
minha frente, só precisava chegar até ela. Cada passo longo que dava me
sentia ainda mais ansioso, era como se estivesse correndo uma maratona e
não terminasse. Minhas mãos estavam trêmulas e minhas pernas pareciam
que receberam uma dose exagerada de adrenalina. Sentia como se fosse
capaz de correr quilômetros e mais quilômetros, e só parei quando vi minha
mãe na recepção tentando ligar para alguém. Andei até ela e quando parei à
sua frente vi que ela estava chorando. Parei e por alguns segundos perdi o
ar. Minha mãe me olhou, engoliu em seco e fungou profundamente, com
seus atos já podia supor que o pior aconteceu. Olhei em seus olhos em
busca de alguma dica ou explicação, mas nada veio até mim.
Não havia sinais de que tudo se encontrava bem, minha mãe colocou
a sua mão esquerda sobre meu braço e o apertou como forma de conforto,
mas por qual motivo ela estava me consolando?
Eu não conseguia perguntar e ela não conseguia dizer, e não sabia ao
certo quanto tempo ficamos nos encarando, só paramos quando alguém me
chamou e ao me virar dei de cara com um policial civil.
Virei-me para sua voz e vi algo que fez com que meu mundo
desabasse mais um pouco. Sua blusa estava toda suja de sangue e seus
olhos estavam vermelhos de tanto chorar, aliás, ela ainda estava chorando.
— Por causa desta segurança meu filho foi ferido, ele estava
alimentando o morador de rua como o ensinamos. Vocês chegaram
agressivos e um de vocês tirou uma faca que acabou atingindo meu
pequeno menino — disse Anny, olhando com fúria para o investigador. —
Meu filho se feriu por causa de vocês, por preconceitos de vocês. A sorte é
que o corte não foi profundo e precisou apenas de alguns pontos, mesmo
assim, a negligência de vocês foi desnecessária. Não se trata ninguém da
forma como vocês o trataram — falou alterada para o investigador Cabral
que ouviu tudo calado.
Saber que um dos meus filhos estava ferido me corroía por dentro,
mas saber que apesar de tudo ele estava “bem” me deixava mais tranquilo.
Respirei com calma e olhei para minha esposa que parecia que ia pular no
pescoço do policial. Ela estava parecendo uma leoa prestes a pegar sua
caça, era algo sexy e quente de se ver. Balancei minha cabeça e caminhei
até ela, puxando-a para os meus braços. Beijei sua testa, ela me abraçou
com força e começou a chorar desesperadamente. Escondi meu rosto entre
seu pescoço para esconder as lágrimas que escorriam dos meus olhos.
Não conseguia nem imaginar o quanto tudo foi desesperador para ela.
— Ele sangrava tanto, mas tanto — disse entre soluços. — Dante
achei que iríamos perder nosso filho. Era tanto sangue, senti tanta dor...
Achei que iria perder nosso menino... Ele está bem, mas me doeu na alma.
— Foi qual deles?
— A sua mini cópia! — exclamou, olhando-me brava. — Aquele
menino tem seu gênio. Ele quer ajudar todo mundo, quer alimentar todo
mundo e quer adotar todos os cachorros da rua. Ele é definitivamente seu
filho, acredita que ele chorou quando disse que não poderíamos levar os
cãezinhos da rua para casa? — disse em um tom acusatório.
— Ele está bem? — perguntei, ignorando suas pequenas acusações.
— Levou sete pontos e ficará esta noite no hospital — respondeu, e
balancei a cabeça em afirmação. — Ele está bem, mas até agora não falou
nada. Ele olha para o teto ora suspirando ora chorando. Não sei o motivo —
disse e suspirou.
— Vá para casa com a minha mãe, tome um banho e fique com as
crianças, passarei à noite com ele — avisei, beijando seus lábios. — Vá
descansar.
Ela me olhou apreensiva antes de olhar para si, respirou fundo e fez
que sim com a cabeça.
Meia hora depois após fazer meu cadastro, fui levado até o quarto
particular em que Nicholas estava. Assim que abri a porta, entrei, vendo-o
deitado em uma cama grande demais para ele, coberto com um cobertor
meio azulado. Havia alguns aparelhos ligados a ele, monitorando seus
batimentos cardíacos e outro lhe dando soro na veia.
Ele me olhou e fechou os olhos novamente, envergonhado.
Ele estava envergonhado, por isso se encontrava mais quieto que o
normal.
Literalmente ele é meu filho!
Caminhei até ele, me sentei na poltrona ao seu lado e ele continuou na
dele, quieto. Sorri mais aliviado ao perceber que ele estava bem, pois quase
morri mil vezes no percurso para cá. A princípio achei que a Anny estava
ferida, mas quando falaram que foi um dos meus filhos quase desabei. Ao
ver Anny suja de sangue e quebrada me mantive forte e me manteria até
ficar sozinho, só então me permitiria chorar um pouco. Descobri com o
tempo que precisava ser o pilar da minha família e por isso me mantinha em
pé mesmo sem forças. Esse sentimento de proteção, amor e carinho dentro
de mim sempre fazia com que me sentisse mais forte para eles. Se não fosse
por isso já teria caído há muito tempo e duvido muito que conseguiria me
erguer outra vez...
Olhei para minha mini cópia e sorri, acho que precisava falar algo.
Enfrentar um leão por dia não era fácil, assim como era difícil pisar
na cabeça da serpente sem ser picado. A vida era cheia de temporais que se
formavam do nada, mas cabia a cada um lidar com seus dias de chuva.
— Dante e eu trabalhamos para que eles sejam boas pessoas, tanto
agora quanto no futuro — disse sorrindo.
Elas não falaram mais nada e saí da cozinha indo para a parte externa
da casa, pois precisava de ar fresco, além de pensar um pouco na vida.
Fiquei um bom tempo sentada no balanço olhando para o céu até que
senti a presença de alguém ao meu lado, virei-me e vi Eduardo.
— Como você está?
Hoje no Rio uma garoazinha caía do céu para muitos lavar a alma e
para outros fazer a máscara cair, mas bem, esse era o meu ponto de vista.
Nicholas assim como eu, era centrado e na sua, no tempo em que
ficamos no hospital, ele passou mais tempo lendo do que falando e não que
eu fosse reclamar, mas ele não era uma criança de muita interação ou de
gostar de fazer brincadeiras. Como a Anny dizia, nosso filho era um
mistério peculiar que um dia teríamos de descobrir, mas não agora. Sentia
que devia ensiná-lo tudo que sabia, e fazer com que ele se tornasse alguém
melhor do que eu, mas sabia que não podia mudar sua personalidade, cada
um construía sua própria história e ele estava construindo a dele da mesma
forma que eu estava escrevendo a minha. Nem sempre nossas pegadas eram
apagadas, algumas ficavam e marcavam todos aqueles que por ela passava,
quando eu morresse queria ao menos deixar nesta terra a verdadeira
herança...
Meus filhos. Queria que eles fossem pessoas benéficas. Oh, meu
Deus, por qual motivo meu coração se apertava sempre que pensava no
futuro deles? Não podia surtar agora, ao menos não agora!
Respirei aliviado quando o carro parou diante da casa dos meus pais,
saí e ajudei meu menino sair. Eu já esperava uma festa, mas creio eu que ele
não. Subi os degraus com ele, tomando cuidado para que ele não caísse ou
se machucasse, e ele me olhava vez ou outra como se fosse louco.
— Não vamos a baile de favela, mas tem um ponto aqui no Rio que
tem uma festa de rua, podemos ir lá... É isso ou nada, senhoras — disse, e
Anny bufou, enquanto Melanie e Jady abriram um sorriso.
Elas subiram para se arrumar e cocei minha cabeça enquanto o Pedro
se jogava no sofá bege da minha mãe, aliás, graças a Deus meus pais foram
com minha irmã a uma festinha de criança e levaram a turma toda. Minha
única preocupação era se meus pais conseguiriam dar conta de nove
crianças.
Uma hora depois estávamos todos na maravilhosa festa, as meninas já
chegaram dançando um funk qualquer que tocava nas grandes caixas de
som. Marco bufou, Pedro comprou uma cerveja, e eu fiquei na minha, só
observando todos e tudo ao meu redor. Anny dançava com as meninas
sorrindo, ela estava feliz por ter este momento com as garotas, mas não era
fã de lugares assim, preferia um pagode. Pedro começou a dançar e optei
por também me mexer, pois não queria ficar parado feito uma estátua.
Marco demorou, mas enfim começou a se mexer também.
Curtimos algumas músicas e de forma alguma ousamos tirar os olhos
das nossas esposas. Caminhei em busca de água para mim, mas no meio do
caminho fui parado pela mão de uma mulher alta e de cabelo escuro que
conhecia bem. Quando pensei em desviar, ela se jogou em mim quase
beijando minha boca, desviei e antes que pudesse fazer algo, ela voou
longe.
— Deixa eu te falar uma coisa, sua vagabunda. Ele é meu marido, pai
dos meus filhos, meu companheiro, meu amante e você é só uma piranha no
cio que não pode ver um homem bonito. — Apertei seu pescoço e por fim,
dei um soco na sua cara. Deixei a vagabunda no chão e me levantei, não
sem antes cuspir em sua cara. — Fica no chão que é o seu lugar!
Virei-me e Dante estava me olhando com uma expressão surpresa,
Mel estava com a mão na boca, Jady abraçada com Pedro e Marco me
avaliava calmamente. Desviei meus olhos deles e saí toda poderosa rumo à
porta de saída. Andei a passos rápidos, não ligava se meus saltos me
machucavam e não olhei para trás.
Olhei a minha vida praticamente toda para trás, mas não dava mais.
Cansei de ser a vítima ou protegida. Cansei de sofrer e simplesmente lutar
calada! Passei por um julgamento crucial e agora era a minha vez de levar
os verdadeiros culpados ao tribunal.
Não queria carregar mágoas, mas não podia simplesmente deixar tudo
passar batido. Dante estava se ferindo e sangrando mais uma vez por minha
causa, e ainda havia essas mulheres do inferno dando em cima do que era
meu.
Merda!
Eu tinha que proteger meu marido, deixar bem claro que ele era meu,
que éramos um par, ou melhor, éramos UM SÓ!
A vida era uma montanha-russa repleta de emoções, havia dias que
tudo que você mais ansiava era sair dela, pedir ao maquinário que parasse e
me deixasse pular fora do poderoso círculo que ora subia, ora descia e hora
parava no topo te deixando de cabeça para baixo. O problema era que essa
montanha-russa só parava na hora da morte, e até este dia chegar era nossa
obrigação viver o máximo que pudéssemos e da melhor forma possível.
Às vezes a vida te dava uma, duas ou até mais bofetadas, mas entendi
que isto fazia com que ficássemos mais fortes e resistentes às dificuldades.
Demorei anos para entender o quão forte era e quão maravilhoso era se
amar. Estava tudo bem eu não estar bem, pois haveria dias em que estaria
de cama devido à minha doença e okay não me envergonhava ter tal
doença, era consequência de tudo que vivi, superei e curei a ferida, mas a
cicatriz sempre iria existir. Peguei um táxi já sabendo para onde devia ir.
Devolvi o abraço grata por ele ser uma pessoa maravilhosa. Mais um
filho a caminho. Mais um milagre se encontrava dentro de mim...
Mais uma razão para que lutasse e vencesse qualquer atrocidade.
Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, ela voou da cama para
o chão e saiu correndo para o banheiro.
— Precisa de ajuda? — indaguei, entrando no banheiro onde ela já
estava tirando o pijama de Frozen.
— Só para lavar meu cabelo, mamãe! — respondeu rindo, sentindo-se
independente.
Ajudei minha princesa a tomar banho e lavei seu cabelo da cor do
meu com delicadeza, ele estava enorme e já passou do prazo de cortar.
— Mamãe quero cortar meu cabelo e doar para crianças com câncer
— disse e meus olhos se encheram d’água. — Papai diz que devemos
ajudar o próximo, eu não posso fazer muito ainda, mas já que tenho muito
cabelo e ele cresce rápido... Vou doar para quem precisa — falou toda feliz,
e precisei engolir em seco para não chorar na frente dela.
Pelo que parecia, a pequena bronca que Dante deu nela serviu, tudo
que ele desejava era que nossos filhos seguissem um caminho bom para
eles mesmos, um caminho íntegro e justo, e que eles jamais abrissem mão
da complacência que devia existir dentro de cada um de nós.
Meia hora depois, desci a escada com as crianças elétricas para uma
manhã. Só havia elas e eu acordados, todos estavam dormindo. Dei café da
manhã para eles que não paravam de matracar sobre a festa de ontem.
Quando meu sogro surgiu a festa piorou, ele me disse que iria sair com as
crianças mais uma vez, e respondi que para mim tudo bem.
Ficamos boa parte da manhã em casa e nada do Dante chegar ou dar
sinal de vida.
Avisei meus sogros que ia sair, me arrumei e pedi para os seguranças
me levarem ao lugar onde minhas feridas começaram.
Olhei para a escada e me lembrei da vez que minha mãe com raiva
empurrou Eduardo escada abaixo e ele quebrou o braço. Subi a escada
seguindo para o meu quarto e a porta se encontrava aberta. Chorei ao olhar
para minha antiga cama e na hora me recordei das múltiplas vezes em que
fui violentada. Eu venci e isto não me feria mais. Fui uma criança
maltratada por quem mais devia me amar, mas estava tudo bem, a vida não
era perfeita e se fosse qual seria a graça. Isto fez com que eu me tornasse a
mulher que era hoje e me orgulhava e muito de quem me tornei, minhas
cicatrizes eram sinais de que eu era mais do que vencedora.
Saí do quarto fechando a porta, desci a escada seguindo até a
garagem, lá encontrei um galão de gasolina e o peguei. Por todo caminho
que fiz, joguei um pouco de gasolina, fui à cozinha e peguei uma caixa de
fósforo velha que devia servir para algo. Subi até meu antigo quarto,
jogando uma boa quantidade de gasolina na cama que um dia foi minha e
onde passei por tantos horrores. Ao descer a escada, joguei o resto de
gasolina e quando estava no último degrau acendi o fósforo jogando-o para
trás. Na hora senti o calor do fogo surgir, apressei meus passos e quando
cheguei à porta da frente acendi outro fósforo jogando novamente para trás.
Abri a porta e saí do lugar que um dia foi meu “lar”.
Estou cansado!
— Senhor Boltoni, me chamo Daniel Fagundes, sou o psicanalista do
hospital, mas também sou formado em psicologia.
— Boa tarde, doutor — cumprimentei.
Cheguei à casa dos meus pais depois das cinco da tarde, ao adentrar a
casa fiquei espantado ao ver todos reunidos na sala, menos os meus pais
que provavelmente deviam ter saído com as crianças mais uma vez. Me
agradava que eles estivessem gostando de passar este tempo junto das
crianças.
— Boa tarde. — Olhei para Anny e sorri. — Oi, meu amor!
Ela sorriu para mim e mandou um beijo.
— Sabe, eu adoraria tentar fazê-la gozar mais de oito vezes esta noite,
mas tenho que saber como vai sua disposição... Você aguenta, senhora
Boltoni?
— Dante Boltoni me dê tudo.
Ele sorriu e chupou meu pescoço.
Dias depois...
Estava assada de tanto transar, minha libido aumentou intensamente e
acreditava eu que fosse por causa da gravidez. Ainda não contei para o
Dante e muito menos para as crianças, pois sentia que devo esperar mais
um pouco. Optamos por ficar mais um tempo no Brasil, o que estava
fazendo bem às crianças e a mim, estava me fortalecendo neste lugar que
tanto me feriu.
Eu não culpava o Rio de Janeiro pelo que me aconteceu, mas podia
dizer que daqui tinha poucas lembranças boas. Vinha construindo novas e
boas lembranças. A vida não era perfeita, mas eram estas imperfeições que
faziam com que ela fosse maravilhosa.
Hoje deixei Dante em casa com as crianças e seu pai, e vim trabalhar.
Dante precisava descansar, se cuidar e acalmar a mente e coração, era
estranho que ainda não tivéssemos tocado no assunto do seu desmaio na
noite em que dei umas bofetadas na Jenifer piranha. Ele chegou ao limite
naquele dia e teve um colapso nervoso. Fiquei contente em saber que ele
pediu ajuda e se deu um descanso, mas não imaginava que assumiria à
frente de alguns trabalhos seus e acabei tomando, por mais perdida que eu
estivesse iria dar meu melhor sem pensar muito no fracasso.
Entrei em uma das ONGs que tínhamos aqui no Brasil e logo vi uma
mulher vindo em minha direção sorrindo. Os seguranças também me
acompanhavam, mas de longe.
— Boa tarde, senhora Boltoni, sou Esmeralda e irei apresentar o
nosso espaço — disse a mulher negra e alta de cabelo encaracolado.
— Olá, Esmeralda — cumprimentei, apertando sua mão e dando dois
beijinhos em seu rosto, um em cada lado. — Obrigada por me guiar, mas
neste momento desejo participar da reunião que está havendo sobre uma
jovem, ouvi dizer que o caso é grave.
Ela passou a mão por seus cachos antes de me dar um sorriso triste.
— É um caso bem complicado, senhora, mas a levo sim até onde se
encontra a jovem que está sob nossos cuidados.
Ela pegou minha mão e me guiou até uma ala médica.
Passamos por algumas salas amplas com um excelente suporte
médico até parar diante de uma porta azul clara. Esmeralda abriu a porta e
me deparei com uma jovem menina chorando compulsivamente nos braços
de uma mulher que julgava ser sua mãe.
— DANTE! DANTE!
Ouvi seus passos apressados até que ele surgiu no alto da escada com
toda a sua glória, de bermuda e regata com o cabelo bagunçado. Uma visão
sexy e atraente que quase fez com que eu desistisse de lhe falar algo, mas
eu precisava.
— Anny, o que houve, meu amor? — perguntou, descendo a escada
apressado.
Ele suspirou e sorriu para mim com certa delicadeza que só ele
possuía.
— Anny mesmo se não me pedisse eu lutaria por esta menina. Eu
lutaria por ela da mesma forma que luto por você — disse, afastando-se. —
Não me implore complacência ou amor... Só me implore quando estiver
dentro de você, eu pegarei este caso e farei dele exemplo nacional e
internacional. Vou me arrumar e conversarei com ela...
Ao falar isto ele beijou minha testa e subiu a escada com pressa, nem
ao menos tive tempo de me desculpar por tirá-lo do seu descanso.
Passei a mão em meu ventre e sorri.
Ele ou ela ainda não nasceu, mas já estava sentindo o impacto que era
ser filho de Dante Boltoni.
Olhei para Sula Fernandes e tudo que via em seus olhos era tristeza.
Este olhar, mãos nervosas que oras se entrelaçavam, oras se afastavam, oras
mexiam em seu cabelo encaracolado e oras puxavam algum cacho para
baixo...
Ela estava nervosa e com medo.
Nesta sala, somente havia ela e eu, e talvez a assustasse um pouco,
mas não tinha certeza se era pelo simples fato de ser um homem.
— Por favor, não fique nervosa não irei te ferir — disse para ela, que
me olhou e arregalou os olhos. — Seus olhos dizem o que você teme falar
— falei, abrindo um sorriso gentil. — Sula, tenho uma esposa que já sofreu
abusos assim como você e eu não pude fazer nada porque não sabia na
época... — Abaixei minha cabeça e dei um sorriso triste. — Minha esposa
naquela época não tinha força para gritar e pedir por justiça como você está
pedindo e exigindo, ela se calou e se sufocou. Quero que seu caso se torne
exemplo mundial e seja exemplo para outras mulheres lutar e merecer mais
do que respeito. Então, lhe peço que me deixe fazer da sua história
pública... Me deixe mostrar ao Brasil e ao mundo que vocês mulheres não
estão só... Deixe que eu faça da sua força a força para as outras que se
calam assim como a minha esposa se calou... Me permita usar a mídia a
nosso favor, dando exemplo para o mundo de que vocês não estão só.
— E se eu perder o caso? — perguntou, olhando dentro dos meus
olhos.
Assim que cheguei à casa dos meus sogros, subi para o quarto onde
Dante e eu estávamos dormindo, e me deparei ao entrar com Dante sentado
com um notebook em seu colo e vários papéis em volta, com toda certeza
esta posição não era favorável a ele.
— Amor, por que não usa o escritório do seu pai?
Ele me olhou, levantou a cabeça e suspirou ao passar as mãos pelo
rosto.
— Prefiro ficar aqui, estou montando a defesa da Sula... Não será
algo fácil já que lidarei com lobos em pele de cordeiro, mas vencerei —
disse convicto, e sorri para ele. — Então, quando diremos para nossos filhos
que teremos mais um bebê ou dois pela casa? — perguntou do nada,
deixando-me abismada.
— Acho que ainda não é a hora — respondi, e ele sorriu.
Hoje veríamos como andava o baby dentro de mim e algo me dizia que
seria mais de um, mas seja o que Deus quiser e o que viesse estava pronta
para receber. Hoje ainda iríamos contar para as crianças do novo baby em
nossas vidas e esperava que eles compartilhassem da nossa alegria. Planejei
esta gravidez antes de ter minhas crises e quando ele disse que não era a hora,
entrei em desespero. Não sabia o que fazer ao certo, mas eu já havia deixado
de me prevenir, então o que me restou foi lidar com o milagre que estava por
vir e chegou.
Caminhei pelo corredor da ONG aguardando Dante sair da reunião,
todos que passavam por mim acenavam e sorriam, e eu devolvia feliz da vida.
O meu depoimento para o mundo fez com que outras mulheres também
viessem falar sobre seus traumas, o mundo me ouviu, mas o que esperava era
que com a minha declaração houvesse mais denúncias e as mulheres não se
calassem. Fizesse com que parassem de ter medo e de esconder suas dores
com vergonha ou até mesmo nojo de si mesma. Eu sabia o que era ter cada
um desses pensamentos negativos e por isso dizia...
CHEGA!
Só temos que parar de temer por sermos mulheres...
Parei meus passos diante de um homem alto, olhos verdes e cabelo
castanho-escuro e ele me olhou com certa percepção.
— Boa tarde, posso ajudá-lo com algo? — perguntei sendo simpática.
— Agradeço, mas tem certas coisas que precisam estar como estão —
disse, pegando dois papéis e me entregou indo embora logo em seguida.
Esse homem não estava bem, mas sentia que não podia ajudá-lo.
Às vezes você precisava deixar ir, igual à pétala que caía da rosa e
voava pelo vento, leve e sem destino, apenas sendo guiada...
Diziam que a vida não era feita de acasos, na minha concepção viver
era o maior dos acasos.
Dante segurava a minha mão enquanto a médica passava o gel frio pela
minha barriga.
Que alegria!
Olhei para o monitor e quase soltei um grito ao perceber que havia dois
bebês.
— Acho que não sabemos fazer apenas um bebê, meu amor — Dante
disse, beijando minha testa com carinho. — É acho que cinco é um número
bom, o que acha? — perguntou enquanto beijava meu rosto, melhor, beijava
onde as teimosas lágrimas insistiam em rolar de alegria.
— Parabéns papai e mamãe, vocês terão dois bebês, mas não idênticos
— disse sorrindo.
Eu só me concentrei no barulho rápido que saía pelo aparelho de som,
me dizendo o quão forte eles eram. Este tum, tum, só me dizia que mais uma
vez daria à luz a dois milagres, o que me fez sorrir e chorar ao mesmo tempo.
Dante segurou minha mão o percurso todo e não o larguei nem mesmo
quando entramos no carro para voltarmos para casa. Me perguntei o que ele
pretendia e como pretendia contar às crianças sobre os novos irmãozinhos que
vinham por aí. Sentia-me nervosa, sempre foi eles três e do nada vinha mais
dois para somar, era muito até para eu compreender.
Ao descermos em frente à casa dos pais de Dante, senti aquele friozinho
na barriga de nervosismo. Melanie e Marco estavam na cobertura de Dante
com as crianças, assim como Pedro e Jady. Não sabia até quando eles
ficariam no Brasil conosco. Na verdade, estava até estranhando eles estarem
ainda aqui. Me lembro que o sonho da Mel e da Jady era ficar no Rio por
tempo indeterminado. Eram duas doidas que quando juntavam com a doideira
do Pedro ferrava mais ainda. Eram pessoas leves que faziam com que
flutuássemos até no meio do deserto.
— Obrigado.
— Meu sonho é ser mãe um dia, mas tenho tanto medo que nem sei
como irei cuidar de um bebê. O mundo é assustador.
— O mundo é realmente assustador, eu também tive medo de ser pai
e fui logo de cara de três... Era meu sonho e realizei, é trabalhoso, cansativo
e tem horas que você se questiona se eles irão realmente para o caminho
que você tanto escolheu para eles, mas você fecha os olhos, se lembra que a
caminhada é deles e só cabe a nós pais saber guiá-los. No final a decisão
será somente deles — disse, e ela me olhou nos olhos. — Não se pode e
nem deve obrigar ninguém a seguir o caminho que você segue, não temos o
livre arbítrio? Eles também devem ter e se caso caírem no meio do caminho
os ajudarei se preciso for, se não, os deixarei se levantarem sozinhos para
entenderem que são fortes e capazes... Um pássaro só aprende a voar
quando arrisca o voo...
Ainda acreditava que tudo podia ficar bem, bastava ter paciência. Não
era porque eu caí que eu devia me manter no chão ou porque meu coração
foi quebrado que eu devia mantê-lo distante de todos, aliás, quantas vezes o
coração podia ser quebrado e não destruído?
Não era fácil ficar bem quando nada se encontrava bem, eu sabia o
quanto doía perder algo valioso, mas tia Ana dizia: “As entrelinhas têm
mais a dizer do que possamos imaginar”.
Um barco não veleja sozinho...
— Sim?
— Sua esposa assim como dona Sula Fernandes foi estuprada, ela
mesma disse isso em rede nacional, mas ela sofreu por tantos e por tantos
anos, me pergunto onde o senhor estava em todos os anos que ela sofreu?
Senti um chicote acertar minhas costas e uma faca invadir meu
coração.
Olhei dentro dos olhos dele e um filme do primeiro dia que conheci a
Anny passou pela minha cabeça. Eu era jovem e para mim só em vê-la me
deixava extasiado. Era alienado em relação à sua dor, foi um erro meu, mas
não era um fardo de culpa que eu tinha que carregar.
— Em alguns desses anos eu passei ao lado dela, e inclusive
namoramos, mas eu não sabia. Apenas sabia que ela se mutilava e com isso
tentei ajudar e conversar, mas ela não se abria e eu talvez fosse cego demais
para perceber o que se passava com ela. Nada é tão simples quanto
imaginamos, às vezes, não sempre, abrimos os olhos para o desconhecido e
fechamos para os conhecidos por ser mais fácil, mais prático, menos
dolorido e tudo bem. Ninguém é perfeito.
— O senhor se culpa pelo que sua esposa passou?
— Por um tempo me senti culpado, mas percebi que não tinha culpa
alguma da maldade humana, assim como ela e como todas as mulheres que
passam por isso não tem — disse e sorri de leve. — A vida é um mar e não
é de rosas, aliás, se fosse não só haveria beleza porque até as rosas mais
belas possuem espinhos e ao mergulhar na imensidão da sua beleza se
cortará todo — falei, e ele me olhou atento. — Temos que aceitar as
singularidades da vida e lidar com as consequências que ela traz... Algumas
lástimas valem a recompensa no fim.
— Como se sente após vencer esta grande causa?
Eu não pude ir ao júri defender a Anny, mas lutaria por cada mulher,
por cada vítima.
— Estou lutando tanto, mas tanto que me pergunto se conseguirei me
manter em pé por mais algum tempo. Eu nunca reclamei das minhas dores
ou das minhas lutas e agora preciso de uma perene estadia de paz, mas
dentro de mim mesmo.
Caminhei para mais perto da beira e admirei as ondas indo de quebra
as rochas.
— Me sinto agitado como o mar, entretanto, leve como a brisa da
manhã... Uma louca confusão de sentimentos... Que ironia, Ettore, pare de
tentar lutar contra a correnteza e deixe que ela te guie entre as águas
tranquilas. Ninguém disse que a vida seria fácil e por toda a vida não
precisa haver somente pedras no caminho...
Suspirei e me sentei no chão.
Puta merda!
Estava de terno e gravata sentado no chão, isto estava uma vergonha!
Fiquei um tempo sentado perdido olhando para o céu escurecendo e
para as ondas oscilando. Se até o mar se acalma e se agita, por que eu não
posso?
— Isto é algo que se vê todos os dias, o poderoso Dante Boltoni
jogado no chão na beira de um penhasco! — Ouvi meu pai dizer e não me
virei para olhá-lo. — Está tudo bem, filho? — perguntou, agachando-se
atrás de mim, colocando as mãos sobre meus ombros.
— Estou feliz pela causa ganha.
— Eu perguntei se está bem? — insistiu e se sentou ao meu lado. —
Deite a cabeça um pouco no meu colo, filho.
Suspirei pesadamente.
— Até você precisa de um pouco de carinho e de colo. Só se deite um
pouco aqui nas pernas deste velho, me deixe cuidar um pouco de você.
Fiz o que ele pediu e quando deitei minha cabeça em seu colo me
senti como uma criança desprovida de brandura. Fechei meus olhos,
sentindo suas mãos alisarem meu cabelo com delicadeza, o que me fez
sentir protegido do mundo...
Sentia-me em uma zona de conforto, era como se eu tivesse achado o
meu refúgio.
Alguns dias depois da audiência
Andei pelo corredor todo branco, o qual eu mesma já fiz mais de uma
vez, mas a situação era diferente e as coordenadas também. Hoje eu era a
visitante e aqui sabia que ninguém passava pelo que passei ao ser internada
em uma clínica psiquiátrica.
Hoje vim visitar quem tanto me fez mal, até antes mesmo de conhecê-
lo.
Que ironia da vida!
Um irmão mais velho que me odiava por achar que vivi uma vida
melhor do que a dele, mas algo me dizia que a vida dele também não foi
fácil.
Acho que tivemos o azar de nascer do ventre de uma mulher sem
amor no peito.
Parei diante da porta branca que faria com que pela primeira vez
ficasse cara a cara e sozinha com meu irmão, se é que podia chamá-lo de
irmão. Abri a porta e ao adentrar o vi sentado de frente para a janela
olhando o céu. Ele não se virou para me olhar nem nada do tipo, era como
se ele estivesse parado no tempo. Olhei para o outro lado e vi um dos
enfermeiros ali em pé, é claro, que Dante garantiria minha segurança. Meu
marido não se encontrava na sua melhor fase, ele tinha ultimamente ficado
mais com as crianças e bem largado até, inclusive, seu cabelo estava maior
e sua barba nem se fala, mas havia um certo alívio em seus olhos e menos
tensão sobre seus ombros. Definitivamente ele precisava relaxar um pouco.
Estava trabalhando e confesso que estava amando, era algo que vinha
me fazendo muito bem e estava me descobrindo cada dia mais.
— Sim, ele me resgatou das grandes ondas, mas fui eu que me libertei
das minhas prisões — respondi, e ele olhou para mim. — Esta prisão —
apontei para a minha cabeça —, fui eu que me libertei, porque somente sou
eu que a vejo e sabe como se soltar. Demorei anos para achar a chave e
abrir a cela que havia bem lá no fundo... Fui eu mesma que me coloquei
dentro dela por ter medo, vergonha e nojo de mim mesma, mas quando
percebi que eu também era um raio de sol, entendi que poderia e deveria
sair da escuridão que tanto me aprisionei. Fui minha heroína! Dante me
salvou de todo o mal que me cercava, mas a última prisão... A última grade
somente eu poderia me livrar — expliquei e sorri para ele. — Esta é a pior
de todas, mas saiba que é possível se livrar dela, basta aceitar e
compreender.
Falando isto me virei e saí com a consciência bem mais leve e
tranquila. Todos precisamos de um perene momento de paz. Todos
precisamos buscar refúgio na tempestade, mas o que muitas vezes não
compreendemos era que a prisão se encontrava dentro de nós mesmos. Era
preciso aceitá-la e depois caçar a chave da fechadura para enfim abrir e sair.
Eu saí de vez das minhas prisões quando me abri sobre o que havia
além de mim...
Eu me tornei livre!
Dias depois
Nosso penúltimo dia no Rio estava sendo cheio de comemorações,
ver minha mãe e a Anny se dando bem, era muito mais do que eu poderia
pedir. Assim como ver Eduardo aqui conosco me deixava extremamente
feliz, na verdade, vê-lo mais feliz me deixava contente. Ele era uma pessoa
recheada de traumas, mas aos poucos estava encontrando sua própria luz.
Olhei para meus filhos correndo no jardim dos meus pais e isto fez
com que eu percebesse o quão sortudo era por ter mais do que eu poderia
pedir ou imaginar. Estava sim em uma fase bem reclusa onde queria cuidar
de mim mesmo e nestes últimos dias vinha recuperando minha força. A
presença da minha família vinha me ajudando muito. É claro que a Anny e
as crianças eram minha maior origem de força, mas passei muito tempo
afastado daqueles que me deram a vida e me criaram. Tivemos nossos
impasses, mas família é família e pai e mãe eram apenas um.
Minha mãe e meu pai erraram feio, mas quando se havia perdão e
gratidão tudo ficava mais leve e fácil de se viver.
Se o meu “eu” criança soubesse o que sabia hoje a teria segurado com
ainda mais força, mas o que ele não pôde fazer eu fazia agora. Eu por um
tempo a protegi do mundo, mas agora o mundo precisava se proteger da sua
força e senso de justiça.
Minha avó tinha razão, mas cometeu um pequeno engano, um
pequeno e relevante engano. Não teria paz quando todos levantarem a
mesma bandeira que eu, teria paz no momento em que compreendesse que
eu era a minha própria paz, e hoje compreendia isso perfeitamente.
Eu era a minha paz...
— Acho que está pedindo para a pessoa errada, senhora Júlia Maria
— disse, olhando em seus olhos. — De forma alguma eu a ajudaria... A
senhora está apenas colhendo o que plantou.
— Dante, meu querido, eles me batem, inclusive me molestam! —
falou chorosa.
— Se fazem tais atos recomendo que denuncie ao diretor do presídio
— aconselhei.
— Sabe que não vai adiantar nada. Por favor, eu imploro. Me ajude
— pediu, olhando-me com os olhos marejados.
Nojo! Sentia cada dia mais nojo desta mulher que estava à minha
frente.
— Se eu gostasse de uma meretriz, não estaria casado com a mulher
mais incrível deste mundo todo.
— A mulher que já foi comida por metade dos enfermeiros da clínica
psiquiátrica em que estava.
— Basta!
— Uma vagabunda mais aberta que...
No futuro ele iria sofrer por tamanha bondade que havia no seu
coração.
Talvez ele perdesse a cabeça e tomasse decisões ruins...
Talvez ele se revoltasse com a vida...
Júlia Maria, mãe de Anny morreu vinte e nove dias depois da minha
visita. Morreu em uma tentativa falha de fuga com outras presidiárias. Não
houve enterro nem nada e Anny jogou no mar uma rosa por ela, apenas isto
e nada a mais.
Aprendi com Júlia Maria através dos seus erros, que devia amar meus
filhos mais do que tudo nesta vida e que nada nesta vida passava
despercebido por Deus.
O ditado popular se cumpriu, “aqui se faz, aqui se paga”.
Hoje com cinco filhos não conseguia compreender o que fazia um pai
e uma mãe abandonar seus filhos. Não sabia o que os faziam maltratar e
matar seus reflexos, pois filhos eram nossos reflexos.
Juro pelo que acho mais sagrado que não entendo...
Depois de ficar horas, dias e meses buscando explicações, não as
encontrei e acabei desistindo. Aceito o fato de que há uma diferença entre
ser pai e mãe e ser PAI E MÃE.
Encarei o céu estrelado tendo certeza de que tudo ia para o seu devido
lugar.
Hoje estava no meu devido lugar e era muito grato por ter feito
escolhas que me levaram a tudo que tinha hoje. Não desejava a ninguém
menos do que eu merecia ou tinha...
Desejava a todos a felicidade, paz e amor!
Queria que todos fossem como Anny e eu...
Uma fênix!
FIM.
ANOS DEPOIS...
— O que vamos fazer, Dante? — Anny perguntou entre lágrimas. —
Como deixamos chegar a este ponto?
Anny não aceitava o fato de que nosso filho estava indo seguir o
próprio caminho. Gostaria de ter todas as respostas que ela desejava, mas
infelizmente não as possuía. Optamos por ter apenas cinco filhos, desejei
muito tentar mais uma menina após o nascimento de Matteo e Noah,
entretanto, o destino já estava traçado e por isso tivemos apenas Bruna que
era a menina dos meus olhos.
— Não deixamos, meu amor. Ele tomou as próprias decisões, cabe a
nós agora assistir onde esse caminho o levará. Se preciso for, uma hora
iremos ter que interferir, mas por agora vamos ficar em paz.
— Uma mãe e um pai sempre irão chorar pelos seus filhos, seja de
felicidade ou de tristeza. Sua mãe apenas tem medo do mundo lá fora, mas
você precisa enfrentá-lo e por este motivo. Por esta razão deixarei que vá —
falei, olhando em seus olhos. — Tenho orgulho de você e não se deixe
abalar tanto pelas tempestades. Seja você a rocha que tanto deseja.
— Um dia serei metade do homem que você é, meu pai. Peço sua
benção para seguir meu caminho.
— Deus te abençoe! — exclamei.
Assim ele se foi. Sabia que ainda teria bastante dor de cabeça, mas
não iria interferir nas suas escolhas. Meu filho foi ferido pela vida de uma
forma brutal e cada um reage de uma forma as suas dores.
Ele por exemplo estava se rebelando com o mundo e o que ele não
sabia é que o mundo já era naturalmente rebelde!