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Capa: @designs.

safados
Betagem: Aline, Lays
Raisla, Rianna, Lili, Vanessa. e Thayná
Leitura Crítica: Aline Alves
Projeto Gráfico e Diagramação Digital: @designs.safados
Revisão: Vanessa e Aline
Ilustrações: @carlosmiguelartes

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.

1ª EDIÇÃO – 2023 Formato Digital Brasil


Sumário

Sumário
Nota da autora
Sinopse
Playlist
Dedicatória
Dedicatória
Prólogo
“São fantasmas que me assopram aos ouvidos”
Capítulo 1
“Estou de volta pro meu aconchego”
Capítulo 2
“Mudei, o mundo gira num segundo”
Capítulo 3
“Bala de prata acerta para matar”
Capítulo 4
“Hoje, eu senti o peito apertar de dor’
Capítulo 5
“Chamam isso de destino, eu não sei’
Capítulo 6
‘Quero ficar, não sei se vou’
Capítulo 7
“Se jogar de primeira e fazer besteira”
Capítulo 8
“Estranho séria se eu não me apaixonasse por você’
Capítulo 9
“A amizade é tudo’
Capítulo 10
“Eu tô em queda livre, caindo, caindo...”
Capítulo 11
“Imagina eu e você entre quatro paredes”
Capítulo 12
“Não dá mais para negar que eu me apaixonei”
Capítulo 13
“Mesmo que o tempo e a distância, digam não”
Capítulo 14
“Isso não é medo de te perder, é pavor”
Capítulo 15
“Jogo de orgulho, nada a ver”
Capítulo 16
“Você tem o que quiser”
Capítulo 17
“Mesmo sendo simples, vira inesquecível ‘
Capítulo 18
“Eu só tô buscando a minha melhor versão”
Capítulo 19
“Dizendo não para, não para”
Capítulo 20
“Tenho dó de quem não te conhece”
Capítulo 21
“Pobre coração o dos apaixonados”
Capítulo 22
“Para pra pensar, porque eu já me toquei”
Capítulo 23
“Vai me perdoando, esquece aqueles planos”
Capítulo 24
“Cuide bem do seu amor”
Capítulo 25
“Frágeis testemunhas de um crime sem perdão”
Capítulo 26
“Vem pra minha vida, vem”
Epílogo
“Que você me adora, que me acha foda”
Agradecimentos
Nota da autora

Não vou me delongar falando sobre a história. Só quero dividir com


vocês que o caminho até foi de muito aprendizado. A cada nova história, a
cada novo personagem é uma entrega diferente. Bruno e Viviam não são
nada do que idealizei, mas no final são muito melhores do que qualquer
predefinição que eu tenha feito deles.
Vamos falar sobre gatilhos?
Essa é uma história onde trato sobre as relações humanas, sobre amizade
e amor. Mas como nem tudo na vida é preto no branco, nessa história nosso
mocinha é vítima de tentativa de estupro, aliciação e abandono parental.
Além de contar cenas de violência. Se você é sensível a alguns desses temas
não leia o livro. Mas é importa salientar que na parte mais pesada da
história há um aviso de gatilho, então você pode pular essa parte. A história
e seu entendimento não serão prejudicados.
Atenção! Se você é menor de dezoito anos, recomendo parar a leitura
aqui. Esta obra apresenta palavras de baixo calão, uso de linguagem vulgar,
assim como cenas de sexo descritas com detalhes. Nada de burlar as regas
hein!? Esse livro é para maiores de dezoito.
Toda história contada, da qual não se tem vivência ou domínio sobre o
assunto, é necessária muita pesquisa. Para a construção desta história, não
foi diferente. Mas gostaria que soubesse que me dei ao luxo de usar de
licença poética em alguns momentos, para que tudo acontecesse conforme o
destino (eu), planejou.
Espero que você goste de ler sobre a evolução e as descobertas do casal.
Que se apaixone por eles e fique tão ansioso (a) como estou pelos próximos
livros.
Sinopse

Até onde você iria para proteger a pessoa que ama?


Ela é uma pessoa solitária.
Ele só quer se aproximar.
Ela acha que não merece ser amada.
Ele já está apaixonado.
Ela tem um segredo que pode afastá-los.
Ele tem certeza de que nada irá mudar o que sente.
.
Há seis anos, Vivian Montenegro fugiu.
Ela continua fugindo.
Tudo que ela pensava precisar era de um trabalho, manter-se longe de
encrenca e principalmente, não deixar que se aproximassem dela.
Mas isso foi antes dele.
Bruno é a única pessoa que conseguiu fazer com que suas defesas caíssem, ao
ponto de arriscar a coisa mais frágil que tem, sua liberdade.
Ela sabia que era arriscado.
Mas como resistir quando tudo o que a pessoa te oferece é aquilo que você
sempre quis?
Quando o passado colide com o presente, Vivian tem a certeza de que
nem todos os monstros estão adormecidos e que fugir dessa vez não é
uma opção.
Playlist

Todo os momentos do meu dia são embalados por uma música. Cada
palavra deste livro, foi escrita enquanto eu escutava canções que me
inspiraram na construção da história, no desenvolvimento das relações e na
criação das personalidades de cada um dos meus personagens.
Espero que você possa ter uma experiência incrível ao ouvi-las.

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Dedicatória

Dedico a todos que carregam suas próprias cicatrizes emocionais.


Epígrafe

“Entrei pra ver se dava pé nesse amor


Mergulhei
Que atire a primeira pedra
Quem não se entregou
Como eu me entreguei
Se jogar de primeira e fazer besteira
Entrar de cabeça sem nada a perder
É tão bom quando a gente encontra a metade da gente
Assim de repente, o inesperado aconteceu, iê
Por mais você na minha vida a todo tempo
Por mais vida nesse amor, mais sentimento
Meu olhar refletido na curva do teu sorriso
Você aqui faz todo sentido”

Inesperado – Jorge e Mateus


Prólogo

Vivian Montenegro
“São fantasmas que me assopram aos ouvidos”

Tudo que queria era algo pequeno e intimista com meus poucos
amigos, mas é claro que Teresa não ia permitir. Para minha mãe, tudo que
importa é a aparência, “O que os outros vão pensar? O que os outros vão
dizer?”. É sempre o mesmo discurso, desde que me entendo por gente.
Depois de comemorar meus dezoito anos com todos as pessoas de posse e
influentes de Santana do Riacho, finalmente subi para meu quarto para
tomar um banho e relaxar. Meu quarto que parecia mais de uma princesa,
todo montado por Teresa bancado por seu marido.
Tinha apenas quatro anos quando meu pai, seu primeiro marido,
faleceu. Não tenho muitas lembranças dele, o que escuto é o que conheço
dele. Augusto Montenegro, era o filho único de uma longa linhagem de
filhos únicos, de uma família tradicional, que já foi uma das mais ricas da
região, e que nos deixou apenas dívidas, depois da sua morte prematura
aos quarenta e seis anos, em um acidente de carro na velha estrada de
terra. O que ninguém sabe é o que ele estava fazendo por lá, já que há
muito tempo ela não era usada para chegar à capital.
Um ano após a morte dele, Teresa se casou novamente com Sebastião
Mendonça, um homem quinze anos mais velho que ela, dono de vários
postos de gasolina nas redondezas. Sebastião praticamente manda na
cidade e na política. Ele é conhecido por sua simpatia e bondade, quase um
santo. Além dos postos de gasolina, é dono de três padarias, dois
supermercados e foi graças a ele que o primeiro shopping de Santana foi
construído, se é que podemos chamar aquilo de shopping. Mas o fato é que
para uma cidade pequena, todas as benfeitorias dele são vistas com bons
olhos.

Ele é o maior empregador da cidade, basicamente se ele fechar todos


os seus comércios, várias famílias perderão seu sustento. E tem mais, as
escolas todo ano recebem uma verba especial. Não tem como não amar
Sebastião, todos os amam.
Menos eu.
A gente sempre teve uma relação boa, não me entendam mal. Ele foi a
única presença masculina que realmente conheci e me proporciona uma
vida que Teresa sozinha não poderia. Como ele não tem outros filhos, toda
sua atenção é direcionada à mim. “Sempre o melhor para minha princesa”,
é o que ele sempre diz. Viagens, joias, roupas caras, tudo que uma menina
da minha idade poderia sonhar. Mas o problema está nos sonhos, são eles
que me atormentam.
Um pouco antes de completar treze anos, tive um pesadelo, sonhei que
ele me tocava de uma forma que um pai jamais tocaria uma filha e dizia
baixo que eu era dele. Acordei assustada, mas não havia ninguém no meu
quarto. No dia seguinte quando contei para minha mãe, ela disse que eu
tinha uma mente perturbada, que eram os hormônios da juventude me
deixando transtornada, mas que um remédio me deixaria mais tranquila
pois afastaria esse tipo de pesadelo e eu dormiria bem.

Infelizmente, eu acreditei nela.


Capítulo 1

Bruno Avelar
“Estou de volta pro meu aconchego”

Meu coração acelera assim que o avião começa a descer em direção ao


Aeroporto Internacional de Confins. Enfim, em casa. Não só uma visita,
mas de volta. Como senti falta da minha gente, da minha terra. Saudades de
me sentar na rede no final do dia, ouvindo os sons da natureza, depois de
me empanturrar de queijo, broa de fubá e do melhor café do mundo. Aquele
que só minha amada Madá sabe fazer.
Mineiro é o bicho mais desconfiado que você vai conhecer, mas também
é acolhedor. Se um mineiro te vir cabisbaixo vai chamar para tomar um
“cafezin quentin” e trocar dois dedos de prosa para levantar seu astral.
Assim que somos liberados para desembarcar, pego minha mochila e me
dirijo a saída. Quando decidi voltar para o Brasil, a primeira coisa que fiz
foi procurar um lugar para doar todas as coisas que não traria para casa.
Basicamente, após viver quase oito anos nos Estados Unidos, vim embora
com duas malas e minha mochila, acreditem ou não, a mesma que eu levei.
Ela foi um presente da minha madrinha, nos últimos anos tive cuidado para
que ela não estragasse. Não por apego material, mas sentimental. Quando
você está longe das pessoas que ama, qualquer coisa que te conecte a elas
traz conforto.
Assim que saio da área de desembarque avisto meu velho. João Castro
Avelar, no auge do seus sessenta anos, é um coroa boa pinta. Alto, pele
morena clara, dourada do sol, cabelos quase grisalhos, a barba um pouco
maior que o normal, os olhos castanhos esverdeados encontram os meus.
Olhar para ele é como me ver daqui uns anos, a diferença são meus olhos.
Esses, puxei da minha mãe. Diz meu pai que a cor deles varia de acordo
com meu humor, assim como os dela.
— Bem-vindo de volta, filho! — sou recebido com um abraço forte e
depois um aperto no ombro. — Fez boa viagem?
— Fiz sim pai, e o senhor?
— Sabe como são as estradas por aqui, um buraco a cada cem metros,
mas fora isso correu tudo bem. Está com fome?
— Morrendo. Daria tudo por um frango com quiabo e bastante angu.
— Chico da Kafua então— Aceno concordando. Ir na capital com ele, te
garante uma passagem por seu restaurante preferido.
— Veio dirigindo?
— Uma parte do caminho. O Zé está lá fora, disse que não ia entrar em
ambiente de grã-fino. — Sorrio de lado, balançando a cabeça. Zé é filho do
nosso capataz Firmino e da minha madrinha, pensa num rapaz bicho do
mato. Pensou? Multiplica por mil. Ele é um bom homem, muito apegado ao
meu pai, que é seu padrinho. Temos pouca diferença de idade, não chega a
um ano para ser mais exato, onde meu velho tá, Zé chega primeiro. Diz que
é para proteção.
Ele é um bom homem, muito apegado ao meu pai, que é seu padrinho,
onde meu velho tá, Zé chega primeiro. Diz que é para proteção.
Entendo e fico feliz por todo cuidado, a verdade é que João Castro
Avelar é o maior criador de cavalos da América Latina, e mesmo tentando
levar a vida da forma mais simples e pacata possível, não pode
simplesmente fingir que sua fortuna hoje não está estimada em mais de
vinte bilhões de reais. Andar com escolta é algo que ele teve que se
acostumar. E da qual eu não o deixo fugir.
A melhor coisa dos meus últimos nove anos vivendo fora do país, foi
poder andar pelas ruas de Nova Iorque como um cidadão normal no mundo.
Sem o letreiro em néon de príncipe dos cavalos piscando em minha cara,
como acontece aqui por essas bandas.
— Seu Bruno — Zé se aproxima assim que nos vê — me deixa pegar
essas malas, o senhor deve de tá cansado.
— Que merda é essa de Seu Bruno? Não tem nenhum outro velho aqui
além do seu padrinho para você chamar de senhor. Além do mais amigos
não tratam os outros com essa formalidade.
— Velho é teu pai — Encaro o homem ao meu lado — Merda, eu sou
seu pai. —rimos juntos.
— Mas é patrão, e a gente tem que tratar com respeito. — diz Zé,
novamente tentando pegar as malas da minha mão.
— Quem disse que me chamar de Bruno é falta de respeito? Deixa disso,
eu fico fora por alguns anos e você já esquece que crescemos juntos? — ele
assente e me ajuda a colocar as malas no carro. Assim que finalizamos,
estendo as mãos em sua direção, e ele logo entende o gesto me entregando a
chave da caminhonete Ram 3500. Amo dirigir. Antes de entrar aceno para
as duas Ram 2500 paradas logo atrás, com dois seguranças em cada uma.
A viagem de cinquenta minutos até um dos bairros centrais de Belo
Horizonte é regada a muito modão. Enquanto meu pai e Zé me atualizam
sobre as coisas na fazenda, Chitãozinho e Xororó tocam no rádio.
— Franciele está toda feliz que você está voltando — meu pai solta e
recebe um olhar de rabo de olho meu.
Velho casamenteiro.
— Acabou, pai. Na verdade, já tinha acabado antes mesmo da minha ida.
— Franciele foi minha primeira namorada. Foi com ela que perdi minha
virgindade e naquela época eu realmente achava que tinha encontrado um
amor como o dos meus pais. Mas era puro hormônio. Não vou dizer que
não existiu um sentimento ali, existiu sim, mas não um forte o bastante.
Fran é uma menina linda, por fora. E durante algum tempo, era tudo que eu
via. Mas com o passar dos meses, os defeitos que antes eu não enxergava
começaram a me incomodar. Quanto mais tempo nosso namoro durava,
mais acentuados, eles iam ficando, então preferi terminar.
— Ela é uma boa moça, filho. Até hoje não entendo por que vocês
terminaram. — Indaga.
Meu pai sempre foi meu melhor amigo, mas preferi manter para mim
algumas atitudes de Franciele, afinal, ela é filha do seu compadre e um dos
seus amigos mais antigos. Não queria que a visse como eu passei a vê-la.
Diferente de mim, ele não tem papas na língua.
— Não é ela, pai. Ainda não encontrei a tampa da minha panela. Mas
pode ter certeza, Seu João, que o dia que isso acontecer, vou laçá-la e nunca
mais ela sairá do meu lado. — digo encerrando o assunto. Aumento um
pouco o volume e deixo que Evidências[1] preencha o silêncio que se instala
na cabine.
Depois de quatro horas na estrada, adentramos a porteira da fazenda
Castro Avelar. Meus olhos percorrem cada espaço possível, mapeando cada
mudança que ocorreu desde que me mudei. Apesar de conseguir vir
algumas vezes para casa, a última vez foi há quase dois anos. No último
Natal passamos em Nova Jersey, com Georgina, minha ex e sua família.
Meu pai não pensou duas vezes para entrar no avião e ir passar a data
comigo e minha, até então, namorada.
Paro a caminhonete em frente à casa grande e logo vejo alguns rostos
conhecidos se aproximarem, mas é o rosto sorridente e com algumas rugas
da minha Madá que aquece ainda mais meu coração. Maria Madalena é a
figura materna que conheço. Não somente eu, mas muitos peões aqui da
fazenda a tem como a figura de uma verdadeira mãe.
— Meu menino, meu menino — ela vem dizendo — Benzadeus, como
pode ficar ainda mais lindo. As moças dessa cidade vão ficar em polvorosas
quando verem o homão que você se tornou. — A abraço forte, tirando-a do
chão. Madá é uma mulher de quase cinquenta anos, pequena e brava.
— Que saudade, madrinha.
— Saudade de mim ou da minha comida? — Pergunta com a mão na
cintura, assim que a coloco no chão.
— Do pacote completo, uai.
— Cresceu, mas não deixou de ser descarado.
— Não sou descarado, madrinha, sou sincero.
— Sei, sei. Vamos entrar que você precisa se banhar e descansar antes da
festa. — diz enquanto me empurra em direção às escadas.
— Festa? Que festa? — olho para meu pai que dá de ombros, fingindo
inocência.
— Achou mesmo que não daríamos uma festa de boas-vindas para você?
Não, eu não achei.

Quase duas horas de festa, e já perdi as contas de quantas vezes precisei


desmentir a história de que voltei para me casar com Franciele. Não sei de
onde surgiu isso, apesar de ter uma boa ideia. No momento certo vamos ter
uma conversa, mas isso não significa que vou deixar essa mentira ganhar
força e se propagar. Voltei por sentir falta de casa, estava inquieto e não
conseguia mais me concentrar em nada que não fosse a saudade do meu pai
e de tudo por aqui.
A ideia de expandir a fazenda Avelar para a américa do norte era
excelente, na verdade foi melhor que o esperado, visto que nossas três
fazendas nos Estados Unidos estão indo muito bem e se tornaram
referências nos estados em que estão localizadas. Imaginei que estudando
lá, criaria raízes e ficaria mais fácil com os anos me acostumar a uma nova
cultura, o contrário aconteceu. A cada dia eu me sentia mais inquieto, mais
infeliz, os relacionamentos começaram a se tornar um tapa buraco, até o
momento em que percebi que nada mudaria o fato de que eu não estava
feliz vivendo longe de casa. Dinheiro nenhum no mundo compensaria anos
longe e a falta das pessoas que amo.
— Vai tocar hoje, meu filho? — Seu João pergunta assim que para ao
meu lado. Estamos numa roda cheia de trabalhadores da fazenda. Grande
parte da cidade está aqui hoje, mas é junto deles que me sinto bem, são
essas pessoas que estão ao nosso lado todos os dias. Ou me viram crescer
ou cresceram comigo, sem eles nada aqui funcionaria.
— Não sei. Tem tanto tempo que não toco em público, e o senhor sabe
que gosto de tocar quando estamos na fogueira.
— Se não quiser não tem problema, mas sinto saudade de te ouvir
tocando e cantando, me lembra tanto minha Helen. — Diz olhando para o
céu. Meu pai nunca deixou de amar minha mãe. Ele já teve outras
namoradas durante os anos, mas nada que superasse o amor que os dois
viveram. — Você tem os olhos dela e o mesmo talento para a música.
Puxo meu velho em um abraço de lado e ficamos em silêncio por um
tempo, antes que eu siga em direção ao palco montado. Assim que a música
pausa, peço a dupla que está fazendo o show que me deixe dar uma palinha.
Pego o violão que um deles me oferece e testo a afinação.
Me sento no banquinho e ajusto a altura do microfone, enquanto observo
algumas pessoas se aproximam do palco quando percebem que sou eu aqui
em cima agora.
— Boa noite a todos. Primeiramente, me desculpem por isso. Meu pai
me ilude desde moleque dizendo que tenho talento para música. Então se eu
desafinar, a culpa é dele. — dedilho algumas notas. — Obrigado por todos
estarem aqui hoje. É muito bom estar de volta. Pai — Olho para ele —
Madá — aponto em direção a minha madrinha. — Essa é especial para
vocês.
“Espere minha mãe, estou voltando, que falta faz pra mim um beijo seu,
o orvalho da manhã cobrindo as flores, e um raio de luar que era tão
meu...”
Vejo algumas pessoas cantando, alguns peões tirando o chapéu, e
algumas moças suspirando.
“Pegue a viola e a sanfona que eu tocava. Deixe um bule de café em
cima do fogão. Fogão de lenha, e uma rede na varanda, arrume tudo mãe
querida, o seu filho vai voltar...”
Cresci ouvindo sertanejo. Algumas pessoas podem achar que é porque
sou um cara do interior, mas a verdade é que o sertanejo canta da vida no
campo, dos amores. Apesar de me considerar um cara eclético, são os
“modão xonado” que mais falam comigo.
— ... espera minha mãe, estou voltando! — encerro a música sob uma
enxurrada de palmas e assobios. Agradeço a dupla Paulo e Gustavo e
devolvo o violão. Assim que termino de descer do palco, sou interceptado
por Franciele.
— Sua voz continua linda, Bruno. Senti tanta saudade de te ouvir cantar
— ela toca em meu peito com intimidade. Franciele sabe que é uma mulher
muito bonita e que qualquer homem babaria por ela. Mas sua beleza não me
afeta, não mais. Tentando ser o menos rude possível, me afasto do seu toque
enquanto a agradeço pelo elogio. — Você deveria investir na música.
— A música para mim é um lugar de conforto, nunca foi uma opção
profissional. Você sabe disso, além do mais, trabalhar com os cavalos e na
fazenda ao lado do meu pai é tudo que sempre quis. Já é o suficiente ter que
me dividir com escritório.
— Não consigo te entender, Bruno. Depois de morar em Nova Iorque e
Chicago, voltar para esse fim do mundo e ter como meta de vida
permanecer aqui, sendo que pode gerenciar isso de longe, viver como um
príncipe. Você poderia... — a corto antes de acabar a frase.
— É por isso que não demos certo, Franciele, porque você nunca me
entendeu. — Ela consegue me tirar do sério, em dois minutos de conversa
— Aproveitando, gostaria que você começasse a desmentir esse boato de
que voltei para nos casarmos. Isso não vai acontecer, terminamos antes
mesmo de eu viajar, não existe nenhuma chance de reatarmos. Espero que
estejamos entendidos — Ela me olha com um bico enorme nos lábios de
garotinha mimada do papai, mas o nariz continua empinado e mesmo
engolindo em seco, não perde a pose e a arrogância.
— Você nunca achará ninguém melhor que eu — Diz se virando e
batendo o pé com mais força no chão, indo em direção onde suas amigas
estão.
Sendo seu oposto, eu já me dou por satisfeito.
— Pelo visto a patricinha não conseguiu o que queria — Zé diz assim
que me aproximo de sua família. Ele é o filho mais velho da minha
madrinha Madá e do meu padrinho Firmino, capataz da fazenda. Eles têm
também uma filha, a pequena Poliana. A menina de tranças, que quando fui
embora tinha acabado de fazer onze anos, agora mora na capital e faz
faculdade de odontologia. Lembro que ela sempre estava atrás do irmão, de
mim e do Fernando, que não perdia uma oportunidade de implicar com ela.
— Olha como fala, moleque — Seu pai o repreende, dando um peteleco
na sua nuca.
— Num falei mentira, pai. Essa Franciele é uma metida a besta e anda
espalhando na cidade inteira que Bruno voltou para casar com ela. — diz
confirmando aquilo que já sabia.
— Já desconfiava disso. Inclusive já pedi que desminta a fofoca.
— Fofoca que ela criou — emenda minha madrinha.
— Sim, madrinha. — beijo sua bochecha — obrigado pela festa, tá tudo
muito gostoso. Me acabei de comer os doces que a senhora fez. Amanhã
vou ter que correr a fazenda inteira para perder os quilos que ganhei.
— Você tá com o peso bom, meu filho, pode comer à vontade.
— Não me dê munição para voltar para a mesa, Madá. — Ela gargalha.
— Como se precisasse. Você, Fernando e Zé sempre foram sacos sem
fundos.
Há dois anos Fernando foi fazer um curso na Europa, e há quase o
mesmo tempo não nos vemos. Somente conversamos por mensagem ou
chamada de vídeo. Ele também está com volta marcada para esse mês, já
prevejo como será estarmos nós três reunidos de novo. Desde pequenos
sempre estivemos juntos, tirando o juízo dos meus padrinhos e aprontando
por toda fazenda.
— Dança comigo? — uma coisinha pequena, que não deve ter mais que
seis anos, me convida para dançar.
— E qual é o nome da minha futura parceira de dança? — Sorrio me
agachando para ficar a sua altura.
— Eu sou a Bruna. Meu nome é igual ao seu — Ela diz com um sorriso
no rosto. Me viro para encarar meus padrinhos, tentando entender de quem
a pequena falante e desinibida é filha. Minha madrinha logo esclarece.
— Ela é filha da Joana e do Tadeu, eles deram o nome em agradecimento
ao seu pai. — Me levanto e ela completa de forma mais baixa, para que
somente eu posso ouvir — Joana não podia engravidar, seu pai custeou todo
o tratamento. — Sorrio com a informação. Essas coisas que meu pai faz, só
me enchem mais de orgulho em ser seu filho.
— Vamos? — estendo a mão e logo a pequena segura e começa a me
puxar. — E com quem você aprendeu a dançar?
— Sozinha. Minha mãe diz que tenho talento natural. — Sorrio me
lembrando de quantas vezes ouvi as mesmas palavras vindas do meu velho.
— Não precisa ficar acanhado, eu te ensino, sou boa em ensinar também.
Passo a próxima hora entre dançar e aprender todos os passinhos que
Bruna me ensina. Eu poderia facilmente passar mais algum tempo me
divertindo em sua companhia, mas seu pai me agradece e diz que é hora
dela ir dormir. Dou-lhe um beijo na bochecha e digo que ela é a melhor
parceira de dança que já encontrei.
— Podemos sempre dançar juntos. Eu não tenho nenhum outro amigo
que gosta de dançar. — A fala dela ao mesmo tempo que me alegra, me
corta o coração. Entendo que talvez as outras crianças da fazenda,
principalmente os garotos, não queiram brincar de dançar, mas é triste saber
que ela não tem ninguém para compartilhar sua paixão. — Papai até tenta,
mas ele tem dois pés esquerdos, como diz a mamãe. — completa já
segurando a mão de Tadeu.
— Ficarei muito honrado em ser sempre seu parceiro e fiel aluno. —
Assim que falo, ela se solta do pai, corre para mim e abraça minhas pernas.
— Obrigada, Bruno, você é o melhor amigo de todos. — Não tenho
tempo de reagir, porque com a mesma velocidade com que ela veio, ela se
afasta e volta para perto do pai. Com os olhos marejados e a voz
embargada, a única coisa que consigo dizer é: você também, xará.
...
Capítulo 2

Vivian Montenegro
“Mudei, o mundo gira num segundo”

— Te vejo errando e isso não é pecado, exceto quando faz outra pessoa
sangrar...— vou cantando enquanto finalizo a lavagem do meu cabelo. Não
é sempre que consigo comprar um xampu e condicionador que realmente
funcione para o meu tipo de cabelo. Então hoje é realmente um dia feliz.
Há muito tempo, eles se tornaram raros.
— ...Tô aproveitando cada segundo, antes que isso aqui vire uma
tragédiaaa.... — canto mais alto, extravasando. Porque aqui somos somente
eu e minha dor, aquela que ninguém conhece.
Desligo o chuveiro, puxo a cortina de plástico decorado com golfinhos,
que separa o chuveiro do restante do banheiro. Passo uma das mãos no
espelho para desembaçar e encaro a pessoa que me olha de volta.
— Mais um dia, Vivian, você consegue! — Há oito anos esse é o mantra
que me mantém viva, que me mantém sã.
Outra música começa e eu volto para o quarto/sala para vestir minha
roupa e começar mais um dia.
— Andei por tantas ruas e lugares, passei observando quase tudo.
Mudei, o mundo gira num segundo... — Continuo a cantar. Hoje é meu
último dia de prova. Está acabando, mal posso acreditar que em breve terei
meu tão sonhado diploma em mãos. Só preciso me manter focada. Foco é
tudo que preciso. Porque a fé, essa já perdi, perdi no dia que descobri a
podridão que corre pelas minhas veias, da qual eu não posso fugir, não
posso me esconder.
Abaixo o som, que obviamente não estava tão alto, afinal ainda são…
olho para o relógio. Merda estou atrasada! Passo a mão na mochila surrada,
que está no chão ao lado da mesa que serve para jantar, estudar e qualquer
outra tarefa. Tiro o celular e o carregador da tomada, enfio os dois no bolso
lateral e desligo o rádio. Confiro se as janelas estão fechadas, e saio de casa.
São vinte minutos de caminhada até a clínica, a passos calmos. Faltam
doze minutos para o horário e se tem uma coisa que sei que Ângelo preza é
pela pontualidade. Mesmo que eu saiba que ele não vá reclamar por uma
vez na vida eu chegar atrasada, não gosto de dar motivos. Então corro.
Passo correndo pela padaria e o cheiro de pão quentinho atiça o monstro
dentro de mim. Se tem uma coisa que amo na vida é comer. Graças a Deus,
tenho um metabolismo que acompanha meu estômago, se não, nesse
momento, não estaria conseguindo correr.
Paro na porta da veterinária, olho para o letreiro e deixo um sorriso
escapar. “Patinhas e Companhia: Uma Clínica Animal” quando li esse nome
pela primeira vez, pensei onde ele estava com a cabeça para escolher algo
assim. Mas desde que ouvi a história por detrás, sempre sorrio quando paro
aqui antes de abrir.
Desligo o alarme e aciono o botão para as portas de metal subirem.
Assim que percebem que cheguei, uma algazarra se inicia na parte de trás
da clínica.
— Ei, ei, aguentem aí, amiguinhos. Já vou aí ver vocês.
— Conversando com os bichos de novo, Vivian? — Carmela diz assim
que entra na loja. A mulher de quase quarenta anos trabalha comigo aqui na
clínica. É a responsável pelos atendimentos no balcão e no caixa, eu fico
nos fundos, nos atendimentos, banho e tosa. Sou quase uma médica
veterinária, mas eu realmente não ligo de cuidar dessa parte, fora que é um
dinheiro extra que estou ganhando enquanto Ângelo não contrata outro
tosador.
— Eles são os melhores ouvintes, Carmela. — digo sendo sincera. Nós
duas desenvolvemos uma boa relação no trabalho, mas ela é na dela e eu
sou na minha. Não existe nenhum laço fora desse ambiente.
— Você precisa sair, menina, socializar e arrumar um namorado, não é
sadio viver para o trabalho. Precisa gastar energia com outras coisas. —
Apesar de saber que ela tem razão, simplesmente não posso contar os
motivos pelos quais me relacionar com outras pessoas é... complicado.
— Sou feliz desse jeito — minto — pessoas são difíceis de lidar. —
Apesar disso não ser uma mentira, não é a razão pela qual eu vivo no meu
próprio mundinho. — Vou alimentar as ferinhas e já volto. — Aviso antes
de ir para o hotelzinho.
Enquanto converso com meus amigos de quatro patas, coloco ração e
troco a água de todos. Daqui a pouco Fabinho virá para sair com eles.
Organizamos passeios de dois em dois, e assim todos saem para se exercitar
pelas ruas de Luiz Afonso. Hoje temos um total de seis cachorros e três
gatos vivendo no hotelzinho. Carmela diz que aqui é um orfanato dos pets,
mas eu e Ângelo preferimos dizer que é um lar de transição, aqui os
preparamos para irem para um lar definitivo, onde ganharão uma família
que os amará como merecem.
Todos os nossos animais foram resgatados das ruas. Temos uma
campanha de adoção, muito bem engajada juntamente à prefeitura. A
pequena cidade se orgulha de ser amiga dos animais, mas como em todo
lugar, sempre tem um espírito pouco evoluído para abandonar um bichinho
indefeso à sua própria sorte.
— Bom dia, Vi! Como eles estão hoje? — ouço a pergunta atrás de mim
e sorrio. Fábio é um garoto de dezesseis anos que sonha em ser veterinário.
Ele “trabalha” aqui na clínica há quase quatro anos. Quando ele veio
procurar emprego disse que precisava guardar dinheiro para ir para
faculdade, que mesmo que fosse para uma pública, precisava de grana para
se manter em outra cidade até arrumar um emprego.
Filho do meio de sete irmãos, seus pais trabalham em uma fazenda da
região que fabrica queijos. O que ganham é o suficiente para manter a
família alimentada e sob um teto. O menino me ganhou no primeiro dia,
com sua determinação e força de vontade e, nesses quatros anos, foram
raríssimas as vezes que ele faltou ao passeio da galerinha aqui.
— Estão bem e animados para o passeio. E você, passou direto ou ficou
preso de recuperação?
— Passei em tudo e estou de férias. Acredita que minha média de
aproveitamento foi acima de noventa por cento? — questiona orgulhoso do
próprio feito.
— Acredito sim! Você, além de inteligente, é esforçado e comprometido
com seu futuro. Tenho certeza que será um dos melhores veterinários desse
país. — digo enquanto sustento seu olhar. E digo com sinceridade, porque
realmente é o que acredito.
— Obrigado, Vi. Se eu for tão bom quanto você, já me dou por satisfeito.
— Não fala bobagem, nem sou veterinária ainda.
— Só falta o diploma, mas isso é questão de tempo. — sorrio.
Ele coloca Tunico e Tinoco em suas respectivas coleiras e vamos em
direção a saída. Os dois cachorros são vira-latas e bem parecidos, quando
chegaram até nós, após terem sido resgatados na estrada, Fábio lhes deu os
nomes. É claro que no começo a gente não queria, mas acabaram ficando
esses mesmo. Assim que chegamos à entrada damos de cara com Ângelo.
— Bom dia, crianças. Tudo bem por aqui?
— Sim — respondemos juntos. — Até daqui a pouco, gente. — Fabinho
diz enquanto se afasta caminhando em direção à praça principal da cidade.
— Como foi a prova ontem, Vivian? — dessa vez a atenção de Ângelo
está toda em mim.
— Correu tudo bem. Mesmo que eu tenha ido mal, coisa que não acho
que fui, estou bem na matéria. Não corro risco de precisar repetir.
— Isso quer dizer então que já posso preparar os papéis para sua
contratação como veterinária? — Ele me olha com aqueles olhos azuis que
sempre parecem me investigar, e dou de ombros.
— Já posso entrar em período de experiência — Ele gargalha com minha
resposta.
— Bobagem. Eu vou me aposentar logo e entregar tudo em suas mãos.
— Ele pausa, vira e me encara. — Aproveitando, hoje você vai para a
fazenda Avelar comigo.
Ângelo não espera uma resposta, ele vai em direção ao escritório
enquanto eu fico parada como uma tonta no meio da recepção. Tem dois
anos que ele vem falando em se aposentar e me deixar com a clínica e os
cuidados com os animais da fazenda Avelar. Mas nunca pensei que esse dia
poderia mesmo chegar.
Capítulo 3

Bruno Avelar
“Bala de prata acerta para matar”

Uma semana que estou de volta e já me inteirei de todas as mudanças


que aconteceram por aqui. A fazenda Avelar, ou melhor, fazendas, visto que
temos mais oito espalhadas pelo Brasil e América Latina, são referência na
criação de cavalos Quarto de Milha. A raça é uma das mais presentes em
todo mundo, representando um total de cinquenta e três por cento da
população equina mundial.
A segunda raça da qual somos criadores é Cavalo Árabe, que está entre
as raças mais valiosas e antigas de todas. É um dos cavalos mais caros
atualmente, tendo seu preço médio em torno de trezentos mil reais.
Entretanto, nossa estrela e cavalo mais valioso é o Trovão, um puro
sangue inglês. Avaliado hoje em torno de duzentos milhões de euros. É um
verdadeiro campeão e colecionador de títulos. Também é muito procurado
para reprodução.
Essa fazenda é o legado do meu avô, que meu pai fez crescer e se tornar
ainda maior. Meu desafio como o próximo administrador é elevar ainda
mais o sobrenome Avelar entre os grandes criadores de equinos do mundo.
O primeiro passo comecei a dar quatro anos atrás, quando abrimos a
primeira filial nos Estados Unidos. Hoje, além de sermos fortes na criação
do Quarto de Milha em solo americano, abrimos a primeira reserva de
proteção ao Mustang Selvagem, que tem atraído benfeitores apaixonados
pela raça de todos os lugares e dado um retorno positivo aos nossos
negócios.
A rotina na fazenda começa cedo, aqui dizemos que dormimos com as
galinhas e acordamos com o galo. Não são nem dez da manhã e já visitei
cada setor da fazenda, conferi com Luiz como estão os estoques de comida,
remédios e já verifiquei que precisamos fazer um reparo nas cercas ao norte
das nossas terras. A fazenda Avelar, com cento e vinte e sete mil hectares, é
a terceira maior fazenda do Brasil.
— Vem, Bruno, preciso te mostrar o que acabou de chegar. — Levanto
os olhos dos papéis que analiso e encaro meu pai que está parado na porta
do escritório com um olhar esperançoso.
—Posso saber o que está te deixando assim tão animado? — digo já me
levantando.
— Não, ainda não.
Sigo ele em direção aos estábulos e quando percebo a movimentação em
torno do arado onde fica Zeus. Há três anos o alazão que era do meu avô e
havia ficado para mim, faleceu, na última vez que estive em casa, meu pai
me presenteou com um lindo quarto de milha de pelagem marrom, quase
bronze. Contrariando a docilidade da raça, o potrão não me deixou nem
aproximar dele, e ninguém mais, pelo que entendi. Zeus é extremamente
temperamental e selvagem.
— O bom filho à casa retorna. — ouço a voz de Ângelo, meu padrinho,
melhor amigo do meu pai e também o veterinário responsável por todos os
nossos cavalos aqui da fazenda, além de coordenador da equipe de
especialistas de todas as outras fazendas. Vou em sua direção, com meu pai
do lado.
— Sua benção, padrinho — digo abraçando-o— Senti sua falta essa
semana. Como estão as coisas no Mato Grosso?
— Deus te abençoe filho. Queria estar aqui para te receber, mas você
sabe que gosto de acompanhar os transportes e as chegadas dos animais.
Eu sabia, isso era uma das coisas que ninguém conseguia convencê-lo a
não fazer. Um dia antes da minha chegada, enviamos três cavalos para
nossa fazenda em Querência, e ele foi acompanhar o trajeto junto de mais
três funcionários nossos, fora a equipe de segurança. Apesar desse tipo de
transporte ser feito uma parte em avião, outra era com trailers, e sempre nos
cercamos de garantias para o bem-estar dos animais, e também contra
assaltos.
— Você não deveria ter chegado há dois dias? — inquiro. Ele dá uma
olhada para meu pai que responde com um aceno de cabeça.
— Seu pai e eu resolvemos trazer uma companhia para Zeus, quem sabe
ele não se apaixona e melhora de humor — rio da situação.
Poderia funcionar, ou não.
— Ele continua não deixando ninguém se aproximar?
— Somente ela — responde e indica alguém com o queixo. Olho na
direção para qual ele aponta e meu coração para por um instante. Não, o
mundo para por um instante e tudo que vejo, tudo que percebo e ao que
todos meus sentidos reagem, é à mulher linda, que está montada no meu
cavalo, no cavalo que ninguém mais consegue montar.
— Quem é ela? —- questiono assim que encontro novamente minha voz,
mas sem desviar meu olhar da perfeição que conversa com Zeus e alisa seu
pelo como se fossem velhos amigos.
— Vivian.
Vivian...Vivian, o nome não me era estranho, mas com certeza me
lembraria dela, se já a tivesse visto. Seria impossível esquecer alguém
assim. Quando dou por mim, percebo que fiquei para trás. Meu pai e meu
padrinho já estão perto da cerca onde Zeus e Vivian se encontravam. A cada
passo que dou meu coração martela mais forte em meu peito, se não fosse
um homem com saúde de ferro e que pratica exercícios regularmente, diria
que estou sofrendo um ataque cardíaco.
Mesmo a uma certa distância, posso observar seus traços. Ela é
simplesmente a mulher mais linda que já vi. E olha que não foram poucas
mulheres que conheci nesses meus vinte e sete anos. A pele clara, os
cabelos longos que chegam à cintura são de um tom de castanho diferente,
ela tem uma postura altiva, apesar de ser pequena. Não resisto e me
aproximo mais da cerca que nos separa.
Como se sentisse que é observado, Zeus, vira-se em minha direção e
vem galopando velozmente, parando com o focinho quase rente a cerca. Ele
me encara, bufa e relincha, parece que minha presença o incomoda. Mas
não consigo lhe dar muito da minha atenção, porque meus olhos logo
seguem novamente para a mulher que o domina e o mantém rendido aos
seus encantos.
Nosso olhar se encontra, e porra, eu me perderia naquela mata. Seus
olhos parecem folhas secas do outono, suas bochechas estão vermelhas, não
sei se por conta do sol ou por qualquer outro motivo, mas isso a torna ainda
mais adorável. A pele é ainda mais clara de perto, e parece tão macia.
Eu queria tocá-la, testar a maciez.
— Calma, garoto, somos só eu e você. — Sua voz doce e suave, mas ao
mesmo tempo carregada de muita autoridade, faz todo o meu corpo reagir.
— Isso, bom menino... — diz enquanto desce e se aproxima para lhe
abraçar e beijar. — Eu volto. — fala como uma promessa.
Num instante ela está ao seu lado e no outro está por cima da cerca,
pulando com uma agilidade incrível. Quando aterriza do lado de cá, é
impossível não correr meus olhos por todo seu corpo.
Gostosa, gostosa pra caralho.
— Vivian — seu nome sai como um sussurro dos meus lábios. Ela me
olha com as sobrancelhas encrespadas e um olhar de poucos amigos.
— Eu, e você quem é?
— Pelo visto já se conheceram — Ângelo diz parando ao lado dela,
juntamente ao meu pai.
— Não chamaria de conhecer — ela retruca.
— Vivian, que bom vê-la novamente. — Meu pai a cumprimenta
estendo-lhe a mão. O sorriso que ela lhe oferece, é lindo e genuíno.
Ei, eu quero um desses também.
— Esse é meu filho, Bruno, que estava estudando fora e acabou de
retornar dos Estados Unidos — ele completa. E lá se foi o sorriso, o
semblante fechou novamente como o céu em um dia de chuva.
Qual o problema dela comigo?
—É um prazer, Vivian. — digo estendendo a mão e logo sou
correspondido. Quando nossas mãos se tocam, mil volts percorrem meu
corpo e se concentram novamente naquele ponto, onde nossas peles se
encontram. Uma emoção toma seu olhar, mas com a mesma rapidez que
vem, se vai. Assim que sua mão abandona a minha, sinto falta do contato.
— O prazer é meu. — diz, mas sinto que está incomodada com alguma
coisa.
— Bem, agora que já se conheceram, vamos todos juntos conhecer a
Estrela. A égua que trouxemos para fazer par com Zeus. — Sentindo o
clima tenso entre nós dois, meu pai muda o foco e vamos todos em direção
à estrebaria.
— Não acho que ele vai gostar de uma aproximação forçada — Ouço-a
dizer para meu padrinho. Quem é essa garota? Tento ouvir mais alguma
coisa que ela diz, mas quando percebe que a estou observando, para de falar
e começa a andar na frente de todos.
A vejo se aproximar da baia onde a égua está, cumprimentar os
funcionários e entrar no espaço como a dona do pedaço. Com cuidado ela
se aproxima do animal, conversa com ela e faz carinho, alisando seu pelo.
Como um espectador, observo enquanto Vivian examina Estrela e vejo que
rapidamente as duas se acostumam com a presença uma da outra.
— É incrível a conexão que ela cria com os cavalos. — A aproximação
do meu pai me faz desviar a atenção do que está acontecendo dentro da
baia. — Não tem um cavalo desta fazenda que não se renda aos encantos
dela. — Vejo alguns peões que pararam seus afazeres para acompanhar o
que Vivian está fazendo.
Acredito que não sejam só os cavalos.
— Vejam quem está aqui hoje — dessa vez é a voz de Zé que chama
nossa atenção. — Então, feiticeira, já domou essa também. — A vejo
revirar os olhos de forma carinhosa para ele antes de responder.
— Já disse para não me chamar assim, moleque.
— E eu já disse que não sou moleque.
— Estamos quites então.
— Ângelo, vamos colocá-la junto ao Zeus...
— Não acho uma boa ideia, Seu João. Vamos manter eles separados pela
cerca, e deixar que ele se acostume com a presença dela antes.
— Ok, faremos como achar melhor, Vivian.
Observo toda interação, tentando juntar as peças e entender por que
parece que todos estão seguindo as ordens dela, até mesmo meu padrinho.
— Essa não é uma decisão que você, Ângelo, deveria tomar? — Assim
que as palavras deixam meus lábios, todos os olhares se voltam para mim.
— Estou deixando que Vivian já se acostume com a rotina de tomar as
decisões. Ela ficará no meu lugar, vou me aposentar. — Meu padrinho solta
essa bomba, como se tivesse contando que decidiu comer queijo com
goiabada ao invés de queijo com doce de leite.
— Como assim vai se aposentar? E ela… ela, ela vai ficar no seu lugar?
Isso é algum tipo de brincadeira? Porque é o que tá parecendo.
— Não, Bruno, seu padrinho irá se aposentar, assim como eu. Chegou
nossa hora, a fazenda precisa de sangue novo e você e Vivian farão uma
dupla e tanto a frente de tudo.
— Pai, você está se ouvindo? Olha para essa menina, ela não tem nem
idade para assumir algo tão grande assim...
— Olha, eu não vou ficar aqui calada ouvindo você me julgar por conta
da minha idade, uma que inclusive, você nem sabe qual é. E tem mais, você
não sabe de nada, acha que só porque estudou fora tem o direito de
humilhar as pessoas?
— Não estava te humilhando, eu só não acho que uma mulher como
você tenha estrutura para lidar com um trabalho desse porte.
— Agora está sendo sexista e escroto. — Seus olhos parecem labaredas,
prontas para me queimar. —Me julgando por ser mulher e por minha
aparência. Que tipo de estudo te deram na terra do Tio Sam, heim? Porque
tenho certeza que isso não é obra do seu João, afinal, ele é um homem
muito educado.
Que atrevida.
— Olha aqui menina…
— Primeiro que aqui não tem nenhuma menina. Segundo, não sou
obrigada a ficar aqui ouvindo asneiras.
— Você me chamou de asno?
— Para um bom entendedor basta um pingo.
— Isso nunca vai dar certo, nós não podemos trabalhar juntos.
— Nisso, sou obrigada a concordar.
— Então pronto. Nada de aposentadoria para você por enquanto,
padrinho. Até acharmos outra pessoa qualificada para ficar em seu lugar.
— Agora sou desqualificada também?
— Não coloque palavras em minha boca. Você concordou que não
daríamos certo trabalhando juntos, eu só preciso de outra pessoa para ficar
no lugar…
— Eu não disse que ia abrir mão do meu emprego. Você além de
machista, sexista, escroto agora é louco também?
— Não sou nenhuma dessas coisas. Porra, que garota irritante. Como os
cavalos te suportam?
— Talvez seja porque eles são mais inteligentes e sensatos que alguns
homens. Olha, eu não vim aqui para ser ofendida. Se o Ângelo quer que eu
fique no lugar dele e se for a vontade do senhor João, é o que farei. E você
vai ter que me engolir. Passar bem.
Observo a mulher que não deve ter mais que um e sessenta e cinco de
altura se virar e ir embora, me deixando de boca aberta com seu
atrevimento e meu coração de quatro, porque a potranca é linda, ainda mais
linda quando está brava.
— Filho — Meu pai aperta meu ombro e eu encaro seus olhos — Boa
sorte! — diz indo em direção a porta do estábulo.
— Como assim boa sorte? Volta aqui, pai — ele não me responde, só faz
sinal com a mão dizendo para eu deixar para lá.

Meu pai estava certo por um lado. Eu precisaria de sorte, mas também de
muito mais que isso para conviver com Vivian. Agi como um idiota com
ela, reconheço isso. Simplesmente não consegui evitar. Aquele furacão
disfarçado de meio metro de gente, mexeu comigo de um jeito que ninguém
nunca fez. Me senti atraído desde o primeiro momento que meus olhos
reconheceram sua presença, mas a mulher por algum motivo que
desconheço, simplesmente não foi com a minha cara, e se tem uma coisa
que não me desce na goela é que as pessoas me julguem sem antes me
conhecer.
Sigo em direção ao cercado e observo de longe novamente sua interação
com os cavalos. É natural a forma como lida com eles, e não somente os
animais, parece que todos nessa fazenda estão rendidos pela potranca.
O vento atiça seus cabelos, fazendo uma grande bagunça nos fios
castanhos claros, quase dourados. Zeus se aproxima dela e passa o focinho
pelo seu rosto como se tentasse ajudá-la a se ajeitar. É uma cena diferente, e
quando ela consegue liberar a face dos fios, o sorriso que ela libera para o
animal é arrebatador.
Linda.
Sei que preciso me desculpar pelo que fiz a pouco. Mas a verdade é que
eu realmente tenho dúvidas se será uma boa ideia trabalharmos juntos. E
isso não tem nada a ver com a idade dela, droga, eu também a julguei pela
aparência, supondo que não seria capaz de assumir uma posição de trabalho
baseado simplesmente no que meus olhos estavam vendo.
Grandíssimo idiota.
A vejo passar novamente por cima da cerca e se aproximar de onde estão
meu pai, meu padrinho e alguns outros empregados. Eles trocam algumas
palavras e então ela caminha em minha direção. Sinto meu peito subir e
descer, num ritmo anormal, meu coração volta a acelerar assim que nossos
olhos se encontram e eu realmente me preparo para o que vem, mas quando
a distância encurta, ela desvia o olhar e passa direto por mim, indo de volta
às cocheiras.
Arisca.
Sigo-a, pois sei que precisamos nos acertar. Se o que meu pai quer é que
trabalhemos juntos é isso que vamos fazer. Não sou um moleque, e sei que
agi errado e vou fazer a minha parte para resolver as coisas e dar uma
oportunidade para que essa relação aconteça da melhor forma possível.
Assim que entro no espaço, a vejo lavando as mãos, tomo meu tempo a
observando. Tenho feito muito isso desde que a conheci e isso tem o quê?
Uma hora? Menos talvez. Que porra essa mulher tá fazendo comigo?
— Me seguiu para ficar me observando ou tem algo em que eu possa te
ajudar? — diz me surpreendo, me fazendo reagir e me aproximar.
— Eu... eu, queria me desculpar. Agi como um idiota antes. Não sei o
que me deu, mas você... — ela se vira e volta a me encarar com aqueles
olhos verdes folhas secas, engulo em seco, porque novamente meu corpo
reage de forma extrema a ela.
— Eu... — continua a frase me incentivando a continuar, assim que
percebe que travei. Porra Bruno, você não é um adolescente, reage.
— Você me desestabiliza — Sou sincero e assim que falo vejo a surpresa
perpassar seu rosto. Ela balança a cabeça, tentando entender o que está
acontecendo.
Nem eu mesmo entendo.
— O que você quer dizer com: eu te desestabilizo?
— Olha, me desculpa por ter te julgado por sua aparência e sua idade,
que eu nem sei qual é, esse não sou eu, não é a educação que tive, eu só...
me desculpe, por favor? Vamos tentar mais uma vez? — estico meu braço e
ofereço minha mão para um aperto — Prazer, sou o Bruno, filho do Seu
João e você deve ser a Vivian?
Ela sacode a cabeça algumas vezes antes de sorrir e segurar a minha
mão. Não é o sorriso que eu esperava, mas é melhor que nada.
Capítulo 4

Vivian Montenegro
“Hoje, eu senti o peito apertar de dor’

Assim que solto novamente sua mão, sinto imediatamente falta do


contato. Eu só posso estar ficando louca. Todas as coisas que ouvi sobre
Bruno Avelar, não fazem jus a ele. Sua beleza está em outro nível, não é
algo próximo de nós, meros mortais, tenho certeza de que a forma na qual
ele foi feito lá no Olimpo foi descartada, porque os deuses não permitiriam
duas maravilhas dessas andando pela terra.
Franciele sortuda.
Todos na cidade estão cientes que ele voltou para se casar com a filha do
prefeito, ela não deixa ninguém esquecer isso. Eu a vi poucas vezes, é uma
mulher linda, parece mais uma modelo da Victoria’s Secrets. Olhando-o
agora entendo por que todos dizem que formam o casal lindo e, não sei por
que, isso agora me incomoda, de um jeito que não deveria.
— Sei que temos muito o que conversar… — sua voz traz meu foco de
novo para nossa conversa. — Só quero que saiba que farei tudo que estiver
ao meu alcance para tirar a má impressão que lhe causei. — Seus olhos
estão me analisando, escaneando cada parte de mim, e isso é perigoso. Na
verdade, tudo em torno dele grita PERIGO, e eu sei que preciso me manter
distante, o máximo que for possível, visto que vamos trabalhar juntos de
agora em diante.
— Aos poucos vamos ajustando as coisas, sei que você esteve fora por
anos estudando e tem muita coisa para absorver, pode contar comigo
também para colocá-lo a par de tudo que aconteceu nos últimos meses. —
Ele concorda com um meio sorriso e aceno de cabeça.
— Preciso voltar para a cidade, a clínica está sozinha. Mas amanhã
estarei aqui nas primeiras horas do dia. Só vim hoje para ajudar Ângelo
com a égua nova. — Digo, já me afastando dele.
— Você veio com Ângelo, se ele vai ficar, posso te levar. — Não, não
mesmo, penso assim que as palavras saem da sua boca. Distância, o
máximo possível.
— Obrigada, mas José sempre me leva. — Vejo seu semblante mudar,
assim que as palavras saem da minha boca.
— Tudo bem. Até amanhã, Vivian. — diz saindo sem me olhar uma
segunda vez.

Durante todo o dia fiquei remoendo as coisas que aconteceram na


fazenda. E mesmo agora deitada em minha cama eu simplesmente não
consigo me desligar. Repasso novamente todos os acontecimentos, desde
nossa primeira interação até a última, quando ele agiu como se estivesse
com ciúme de mim com o Zé.
Mas isso seria totalmente absurdo. Primeiro, porque não somos nada um
para o outro, nem nos conhecemos. Segundo, porque ele é um homem
comprometido, e com uma mulher linda, diga-se de passagem. A cidade
está eufórica com o retorno dele e com a festança que dizem que será o
casamento. Festa essa que eu com certeza não irei, assim como não fui à
sua de boas-vindas. Confraternizações, para mim, estão fora de cogitação.
Meu limite de convivência é rígido. Costumo dizer que meu horário
social é o mesmo do profissional, encerram as horas de trabalho, encerram-
se as interações humanas. Mas isso é por que eu quero? Não. Eu preciso!
Infelizmente, nem sempre na vida há escolhas. Aprendemos a viver da
melhor forma com aquilo que temos.
E eu tenho aprendido, diariamente.
Pego meu celular debaixo do travesseiro e começo a stalkear as redes
sociais do povo da cidade. Bem, não de todo mundo da cidade, mas de
alguém específico. Sei que não deveria, mas não consigo evitar, a
curiosidade que me bate é maior que a vontade de tentar me manter alheia a
forma como me sinto.
Claro que não tenho uma conta pessoal no Instagram, apaguei todas as
minhas redes assim que deixei Santana do Riacho, aquela Vivian não existe
mais. Na verdade, na maioria dos dias, nem sei quem sou. Eles me tiraram
tudo, não somente a minha liberdade, mas a minha essência. Sinto falta de
ser quem eu era, antes de descobrir que tudo era uma ilusão.
Com a conta da clínica, procuro pelo perfil dele, o que não é uma tarefa
difícil, visto que as contas se seguem. Bruno não é uma pessoa muito
constante na rede social. A maioria de suas fotos são paisagens, acredito
que de lugares que visitou. Algumas selfies, fotos com seu pai, com Madá e
muitas fotos da fazenda. Em uma delas, uma postagem de dez anos atrás,
está ele, mais dois rapazes e uma menina de tranças. Um dos rapazes é o
Zé, o outro eu não conheço, nem a menina. Encaro um Bruno bem mais
jovem na foto, com um sorriso gigante no rosto. Leve, feliz e
despreocupado. Sinto uma pontinha de inveja dessa alegria. Uma a qual eu
já experimentei.
— Não seja burra, Vivian! — Converso comigo mesma. — Pare de ficar
olhando essas fotos, isso não vai te levar a lugar nenhum. — Saio do seu
perfil, escolho minha playlist favorita e deixo que Pitty embale meus
pensamentos até que o sono chegue.
Que seja uma noite sem sonhos.

Ontem, quando voltou da fazenda, Ângelo me informou que hoje ficaria


na clínica e que eu iria para a fazenda sozinha. Me pediu para deixar Bruno
ciente dos novos cavalos, cuidar das éguas que estão gestantes e ajudar na
aproximação de Zeus e seu dono. Como não tenho carro e ele não pode
ficar sem o dele, informou também que, às seis horas, Zé estará aqui para
me buscar.
Olho para o relógio, percebendo que faltam apenas cinco minutos para o
horário combinado. Decido fechar tudo e já esperar na calçada. Assim que
abro meu portão, vejo a caminhonete parada na minha porta, não é a Strada
que Zé costuma usar para me buscar e definitivamente não é Zé que está
dirigindo a Ram 350 que me deixa momentaneamente sem palavras. Nunca
fui uma pessoa ligada a automóveis, mas é quase impossível não babar na
quatro por quatro, mais difícil ainda não cair o queixo quando o motorista
desce e a rodeia se aproximando de mim.
Bruno está usando calças de jeans, camisa xadrez com as mangas
puxadas até o cotovelo e botas. Meus olhos escaneiam todo o corpo
definido e bem distribuído em seus mais de um e oitenta de altura, mas é
quando chego no rosto, que minhas pernas amolecem e meu coração
acelera. Seus lábios estão puxados em um sorriso satisfeito e o olhar que me
dá, não deixa dúvida que me pegou secando seu corpo, assim como ele fez
comigo ontem na fazenda.
Por Deus, Vivian, ele é noivo!
— Bom dia, Vivian, pronta para ir para a fazenda? — Pergunta ao se
aproximar mais, quase invadindo meu espaço pessoal. Engulo em seco e
tento recuperar a fala. Que ele é lindo, eu já sabia, mas eu definitivamente
não estava preparada para essa visão logo cedo assim. Fui pega totalmente
desprevenida.
— É... hum, bom dia! E o Zé? — Assim que a pergunta deixa meus
lábios, o sorriso morre nos seus. E suas sobrancelhas crispam.
— Vim no seu lugar, ele precisava resolver outras coisas na fazenda — E
os outros empregados? Por que nenhum outro veio no lugar? Como se
pudesse ouvir meus pensamentos, ele complementa. — Eu precisava deixar
um documento importante com uma pessoa, então matamos dois coelhos.
— Ok, entendi. — Digo, sentindo um gosto amargo na boca. Deve ser
para a noiva o tal documento, algo do casamento. E por que você se
importa? Eu não me importo, não mesmo. Digo balançando a cabeça na
tentativa de clarear as ideias. — Tudo bem, obrigada pela carona.
— Não tem de quê. — E lá está de volta o sorriso.
Antes que eu possa esboçar qualquer reação, ele já estava abrindo a porta
do carona e me oferecendo a mão para subir. Penso em recusar, mas sendo
bem sincera, a caminhonete é alta, não há porquê ser orgulhosa, enquanto
ele só está sendo educado e solícito. Me aproximo e seguro sua mão
estendida, e no mesmo instante me arrependo de ter cedido. O simples
contato faz todo meu corpo ficar em alerta. Nossos olhos se encontram e
pela intensidade com que me fita, sei que não é indiferente às sensações que
me afetam.
Aproveito que ele precisa dar a volta para inspirar profundamente
tentando me recompor. Mais um erro. E olha que o dia mal começou. Seu
cheiro que está por toda parte do carro, agora preenche também meus
pulmões e é tão bom que duvido que algum dia possa esquecer.
Bruno se acomoda ao meu lado, no banco do motorista e por alguns
segundos, parece também precisar se concentrar antes de ligar o carro. Meu
“apertamento” é bem perto da rua principal, aproveito que o movimento nas
ruas já está começando para focar minha atenção no que acontece da minha
janela para fora. Porque, se for bem honesta, não sei como agir na sua
presença.
— De onde você é, Vivian? — A primeira pergunta que Bruno me faz, é
uma das que menos gosto de responder, porque geralmente ela vem seguida
de outras, eu acabo mentindo. E eu odeio mentir, mas mentir se tornou uma
questão de sobrevivência.
— Rio Grande do Sul. — Respondo sem ânimo, na expectativa que ele
perceba que não quero falar, mas minhas esperanças duram pouco.
— De qual cidade?
— Da capital — minto.
— Porto Alegre... uma cidade linda. E por que Minas, por que Luiz
Afonso?
— Por que não? — respondo com outra pergunta, tentando evitar ao
máximo ter que dar respostas que não quero, porque as verdadeiras eu não
posso. Mas como se rastreasse meu medo de falar sobre mim, ele continua.
— Só isso que vai me dar? Uma pergunta como resposta? — me encara
por um segundo, antes de voltar sua atenção para a estrada. Prevejo que os
próximos trinta minutos até a fazenda Avelar, serão os mais longos da
minha vida.
— Não há mais nada para mim lá, nada que me prendesse — Essa era
uma meia mentira, visto que prisão era a única coisa que eu teria se ficasse.
— E sua família? — O pesar em sua voz, me faz olhar em sua direção.
— Sem família — E essa não é uma mentira completa. Família é lugar
de acolhimento, de amor, de segurança. Isso eu nunca tive.
Como ainda estava olhando em sua direção, nossos olhos se encontram
assim que as palavras deixam meus lábios, o que vejo neles, mexe mais um
pouco comigo. Não é pena, é entendimento, empatia.
O silêncio volta a reinar dentro do carro, mesmo sabendo que Bruno tem
outras perguntas, me sinto feliz por não as fazer nesse momento. É normal
que esteja curioso sobre a pessoa que irá trabalhar lado a lado com ele, e
principalmente que será responsável por tudo aquilo que faz o império dos
Avelar se manter de pé. Se fosse eu em seu lugar, também iria querer obter
o máximo de informações possíveis. E se levarmos em consideração que
nem mesmo Ângelo sabe muito sobre mim, a única fonte de informações
para Bruno, sou eu mesma.
— Desculpa. — inspira — Não quis ser invasivo ou tocar em algum
assunto que te deixa triste.
— Tá tudo bem, não precisa se desculpar. — Apesar de não gostar e
principalmente não poder falar do meu passado, Bruno não fez nada de
errado.
Não é ele o errado nessa história.
Os cabelos pretos e a barba escura por fazer, tornam esse homem ainda
mais atraente. É difícil manter meus olhos longe quando tudo que quero é
mapear cada detalhe dele e gravar na minha mente a visão que esse homem
é. Os deuses capricharam nele. Bruno não tem uma beleza delicada, pelo
contrário seus traços são marcantes, mas é tudo milimetricamente
perfeitinho. Os olhos que não consigo definir se são verdes, azuis, ou os
dois. Acho que a cor da roupa influencia. A pele bronzeada que deixa claro
o tempo que esse homem passa debaixo do sol, os braços fortes, os ombros
largos, as pernas torneadas... Para de secar o homem, Vivian, ele é noivo.
Minha consciência me alerta daquilo que tenho fingido demência, mas que
é a mais pura verdade. Estou aqui babando por um homem que está noivo.
Eu sou uma boa garota, o que não quer dizer que sou santa. Santa nunca fui.
Mas também não sou talarica, jamais me envolveria com um homem
comprometido. Ok, ok eu jamais me envolveria com homem nenhum, eu
não posso.
— Está tudo bem? —observa ele.
— Sim, por que pergunta?
— Você estava suspirando. Um suspiro meio pesaroso.
— Não é nada, só lembrando que preciso dar uma faxina na minha casa.
Deus, como a mentira sai fácil da minha boca. Mas o que eu podia dizer?
“Estava suspirando, porque você é um tremendo gostoso, mas está fora do
mercado, o que significa que eu jamais vou me sentar em você. Não que
isso fosse o único empecilho, porque só transo com caras que nunca mais
vou ver nada vida. E não é seu caso.”
O sorriso de lado, me dá a certeza de que minha mentira não foi
comprada. Minha análise do seu porte físico não deve ter sido sutil, e claro
que ele percebeu. Como exatamente estou fazendo agora encarando suas
mãos firmes no volante. Elas devem fazer um estrago. Subi minha inspeção
para o antebraço que só me faz sentir mais calor, as veias quase saltam com
os movimentos que ele faz no volante. Mesmo em quase estado de
combustão, não deixo de notar que ele não usa aliança, não há sequer
marquinha.
Isso me faz lembrar que não vi nenhuma foto dele com a noiva.
Estranho, no mínimo. Que tipo de casal é esse? Que tipo de noivo não usa
aliança estando com o pé no altar, que não tem uma fotinha da noiva em seu
perfil pessoal?
— Pergunta.
— Oi?
— Pergunta Vivian, você está me encarando e posso ver daqui a grande
interrogação sobre sua cabeça. O que quer saber?
— Só estou curiosa por você não usar aliança de noivado. — Não é uma
pergunta.
— Talvez por eu não ser noivo?
— Mas... mas a Francielle...
— Está espalhando essa mentira pela cidade, estou ciente. Tivemos uma
conversa, mas pelo visto não foi suficiente.
Será verdade?
— Eu não mentiria sobre algo assim, e nem teria porque, Vivian. Eu não
estou noivo, nunca estive. — A firmeza em suas palavras não deixa
nenhuma dúvida. Mas ainda não entendo porque uma mulher espalharia
algo assim. A cidade inteira acredita que esse casamento vai acontecer em
breve. Inclusive disseram que ela foi para os EUA para escolherem juntos o
enxoval.
Deixa de ser curiosa, isso não é da sua conta.
Uma música começa a tocar e logo identifico que é de Jorge e Mateus.
Sou bem eclética, gosto de tudo quanto é ritmo, mas confesso que tenho um
fraco por essa dupla. E como ironia, a canção fala sobre duas pessoas que
nem ficaram, mas que não conseguem tirar o outro da cabeça. Não estou
dizendo que isso acontece com ele, mas comigo sim. Desde ontem não
consigo tirá-lo dos meus pensamentos, e isso é perigoso. Ainda mais agora
que sei que ele e Franciele não são um casal.
Capítulo 5

Bruno Avelar
“Chamam isso de destino, eu não sei’
Droga.
Essa merda já está indo longe demais. Não sei o que deu naquela cabeça
de titica para ficar espalhando por aí que vamos nos casar. Essa mulher só
pode estar delirando. Observo Vivian pelo canto do olho e agora tenho
certeza de que sua reação ontem foi por conta do “meu noivado”. Eu
basicamente a sequei, depois de babar como um cachorro faminto vendo
frango girar no forno e ela me achando um canalha por fazer isso sendo
noivo. Mas isso não vai ficar assim, Franciele passou dos limites. Odeio
mentiras. Se meu nome está envolvido, vejo vermelho na minha frente.
Seguro o volante com mais força, imaginando ser o pescoço daquela
loira manipuladora. E por que diabos papai deixou essa merda se espalhar?
Por que simplesmente não cortou o mal pela raiz? Ah! Seu João, nós dois
também iremos ter um dedo de prosa. Avisto o portão da fazenda e já sinto
uma dor no peito por termos chegado. Estar com ela tão perto, poder sentir
seu cheiro tomar conta do meu carro é uma delícia. Uma tortura, também,
mas uma delícia.
Queria o cheiro dela no meu corpo.
Vai com calma, cowboy, você acabou de conhecê-la. Mesmo sendo a
mulher mais linda que já vi, ainda não sei nada sobre ela e todas as
respostas que me deu foram vagas demais.
Quem é você, Vivian Montenegro?
— Chegamos!
— Obrigada por me buscar Bruno, foi muito gentil da sua parte. — diz já
descendo do carro, distanciando-se, indo em direção onde os cavalos ficam.
Não deixo que ela se afaste, vou em sua direção, permanecendo um
pouco atrás, por alguns segundos até a alcançar. Ela fica ainda mais linda
quando a luz do sol bate em seu rosto. O cabelo de um tom de loiro escuro
fica mais claro e o verde dos olhos brilha de uma forma que eu poderia
admirar por horas. Vivian é uma mulher linda, ela tem um ar de menina,
mas anda com passos firmes de mulher decidida. O nariz pequeno e
arrebitado sempre empinado, como se dissesse que nada a faria baixá-lo
para ninguém. A boca carnuda e bem desenhada, com aquele tom de rosa
que a deixa ainda mais atraente, é uma perdição.
Vivian é toda uma mistura de menina e mulher, sua beleza não é comum,
é selvagem, ela não usa uma grama de maquiagem, a pele parece um veludo
macio, que a cada minuto fico mais tentado a tocar. E tem seu cheiro, não
de perfume, é o cheiro dela misturado com o do xampu, que eu posso jurar
que tem algo com baunilha, é doce, mas não de um jeito enjoativo. Nada
nela é demais, ela é perfeita.
Mas tem aquela sombra em seus olhos. Eu sou um bom observador de
pessoas, sempre fui. E mesmo tendo menos de vinte e quatro horas que a
conheço, posso apostar minha caminhonete, que Vivian carrega uma grande
dor dentro de si. Peguei seu olhar vagando por alguns momentos durante o
caminho, principalmente quando ela respondia algo sobre o seu passado.
Olho para ela que agora cumprimentava alguns trabalhadores. O que
aconteceu com você, Vivian? Eu vejo aquela mesma dor nos olhos do meu
pai e do meu padrinho. Os dois perderam pessoas que amavam. É isso
Vivian, você também perdeu alguém? Paro de andar quando ela se vira para
mim e pergunta algo, custo a desviar dos meus pensamentos e me
concentrar no que ela fala.
— Você vai me acompanhar o dia inteiro? — Ela questiona com uma
cara estranha, parece incomodada, mas... também esperançosa. Informo que
se não for incomodá-la gostaria que me deixasse por dentro da saúde dos
animais, já que agora ela é a responsável por eles.
Vamos direto para a baia de Zeus, óbvio que ele seria o primeiro a
receber sua atenção. Quero entender a ligação entre eles. Quando ela entra
no campo de visão do cavalo, ele começa a relinchar e só para quando se
aproxima e toca seu focinho com carinho.
Será que se eu fizer esse show todo também ganho carinho?
É normal ficar com ciúmes de um cavalo? Claro que não, Bruno.
Respondo ao meu próprio questionamento. Não sei o que essa mulher fez
comigo, mas o fato é que desde ontem eu fico remoendo cada sorriso que
ela dá para alguém, e fico ruminando sozinho por não entender o que está
acontecendo comigo. Nunca senti nada parecido. A observo conversar com
o cavalo como se fosse seu confidente, fazendo um relatório do que fará
antes de poder realmente ter um tempinho com ele.
— Vou examinar a égua que tá prenha, você vem? — Vivian pergunta
me tirando dos meus devaneios, mas sem ao menos me dar tempo de
responder começa a se dirigir para onde Estrela está.
Com uma gestação de quase onze meses, as éguas que ficam prenhas
aqui na fazenda Avelar, têm todo o cuidado especial que necessitam,
começando por sua transferência para um piquete onde se encontram
somente éguas na mesma situação, até a alimentação balanceada e
suplementos alimentares que garantem saúde a ela e ao potro. O
acompanhamento de um veterinário ou zootecnista é fundamental para a
determinação da dieta adequada, por isso além de Vivian e meu padrinho,
temos também o Antônio, que é um dos responsáveis por acompanhar os
animais durante todo esse processo e que responde agora diretamente a
nova veterinária responsável da fazenda.
— Bom dia, Toni, como passamos a noite? — Vejo-a se aproximar da
égua e começar a examiná-la. Vivian tem carinho em cada gesto, é visível o
amor que dispensa para cada animal. É lindo ver alguém que trabalha com o
coração, principalmente em uma profissão que lida diretamente com seres
vivos.
Quem dera se todos os profissionais fossem assim.
— Ela estava meio agitada, acho que tá se aproximando o grande dia. —
Antônio a responde antes de me cumprimentar tirando o chapéu da cabeça e
parando ao meu lado. — Bom dia, Seu Bruno, é bom ter o patrãozinho de
volta. — Antônio deve ter uns trinta e cinco anos, e trabalha na fazenda
desde que atingiu a maioridade. É de total confiança do meu pai e minha.
— Bom dia, Antônio, é bom estar de volta. Como estão as outras éguas?
— Todas estão bem. Eu que ainda não me recuperei do ocorrido com a
Margarida — Sua voz soa triste, aperto seu ombro em apoio.
Há três meses perdermos uma de nossas éguas mais velhas, ela teve uma
gestação gemelar, que não é comum em equinos, e na maioria das vezes
quando identificados com antecedência, precisa ser interrompida.
Margarida teve um aborto espontâneo, o que é muito comum nesses casos.
O que veio depois é que abalou nosso zootecnista. Em exames feitos alguns
dias depois, Ângelo descobriu que Margarida estava com um tumor
maligno, mesmo fazendo todo o tratamento que o dinheiro podia
proporcionar, ela não resistiu. Todos ficamos sentidos, mas nada se compara
a Antônio, Margarida foi a primeira potra que ele ajudou a trazer a esse
mundo.
— Vamos ter que fazer vigília, ela pode parir a qualquer momento —
Vivian avisa, assim que termina de examinar Estrela — Vou avisar ao
Ângelo. — diz, pegando o celular e se afastando de nós. Não evito que
meus olhos acompanhem cada movimento seu. Não comando meu corpo
desde ontem, cada ação minha é puro reflexo quando ela está perto.
— Ela é uma boa menina. Apesar de não sabermos nada sobre o passado
dela, todos aqui temos um carinho muito grande pela senhorita Vivian. —
Antônio diz, mesmo que nenhuma pergunta tenha deixado meus lábios.
— Ela realmente parece ser legal, tivemos um truncado ontem, mas
passou.
— Ela é muito reservada. Não fala sobre a vida pessoal, e nunca aparece
em nenhuma comemoração. Mas enquanto está aqui trabalhando é
sorridente, cordial e trata a todos com respeito, indiferente de quem seja. E
o que mais gosto nela é seu amor pelos animais.
— Percebi isso em pouco tempo, é perceptível como ela é apaixonada
por aquilo que faz. — continuo olhando na direção por onde Vivian sumiu.
Me pego preso nas coisas que meu funcionário falou. Reservada, nunca vai
a lugar nenhum... recordo da nossa interação no caminho para cá e nas
respostas evasivas que ela deu, posso estar enganado, mas apostaria meu
violão que Vivian tem um segredo, não como os que todos temos, mas
daqueles que não confia em dividir com ninguém.

Faríamos uma vigília.


Vivian, acreditava que a qualquer momento Estrela poderia dar à luz ao
potrinho, mas isso poderia acontecer daqui uma, vinte quatro horas ou até
mais. Mas como a égua já tem uma idade avançada e o parto pode ter
complicações, é imprescindível que estejamos a postos para o momento, e
todos os recursos à disposição.
A cada minuto que passo ao lado de Vivian, minha admiração pela
mulher só cresce. Parece loucura que alguém possa me fazer sentir tantas
coisas ao mesmo tempo em menos de dois dias de convivência, mas quanto
mais eu fico perto, mais quero ficar.
Depois de examinar os outros animais que careciam de atenção, a vejo
organizar tudo que possa precisar em caso de emergência. Ela calcula cada
imprevisto que pode acontecer e deixa meu padrinho de sobreaviso. Apesar
da evidente experiência, Vivian acabou de se formar, na verdade nem isso,
visto que ainda nem recebeu seu diploma e certificado de conclusão de
curso. Esse será o primeiro parto que ela acompanhará como veterinária
chefe, por mais que esteja tentando manter a serenidade, eu vejo em seus
olhos que ela está preocupada.
Não por falar, mas por fazer algo que possa prejudicar os animais. Mas
se Ângelo confia nela, não tenho motivos para não confiar nela também.
Ela precisa saber que todos estamos ao seu lado. Me aproximei um pouco
mais dela que está parada no gradil observando Estrela.
— Vai dar tudo certo, vocês duas estão preparadas para esse momento.
— Ela me encara com olhos emocionados, não imaginei que minhas
palavras pudessem ter esse efeito, só estava tentando passar confiança. —
Você sabe o que está fazendo, Vivian, mesmo que seja a primeira vez que
irá fazer isso sem a presença do Ângelo, só o fato dele não sentir
necessidade de estar presente, diz o bastante sobre a confiança que ele tem
em você como profissional e isso basta para que todos nós confiemos
também.
— Obrigada, Bruno. Isso significa muito para mim. Eu amo cada animal,
independente do tempo que passo com eles, e só de imaginar que eu possa
fazer algo...
— Pode parar. Não deixe seus pensamentos te sabotarem. Vamos ser
positivos, ok? Vai dar tudo certo, estarei aqui com você. — Ela não diz
nada, só assente e voltar a olhar para égua, que está calma, o que me
tranquiliza.
Passamos mais um tempo conversando sobre os outros animais da
fazenda, e principalmente sobre Zeus, ela ama aquele cavalo. Me contou
que desde o primeiro dia que veio na fazenda com meu padrinho, ele a
deixou se aproximar, mesmo que todos dissessem que o cavalo era indócil e
que não gostava de pessoas. Eu já sabia dessa parte da história, mas era
diferente ouvi-la saindo daqueles lábios lindos que pareciam tão macios.
Quanto mais ela contava sobre sua ligação com Zeus, mais me sentia
impelido a conhecê-la mais e mais. Quero saber tudo, mesmo as coisas que
sinto que ela não quer que ninguém saiba.
Quem é você?.
Minha mente está uma bagunça, a atração que sinto por essa mulher é
visceral. É como se todos os meus vinte e sete anos vividos, ficassem em
branco por conta dela. Me sinto como um adolescente que se encanta pela
primeira vez, como se tivesse voltado a ser inexperiente, não entendesse
como meu corpo funciona e todas as reações que ela me causa fossem
novidades. Mas talvez sejam mesmo, com ela tudo parece novo, intenso e
perfeito.

Eu tinha reunião por vídeo chamada, por isso não pude levar Vivian em
casa. Ela precisava buscar roupas e outros itens pessoais. Zé foi o
incumbido da tarefa, e parecia bem feliz com isso. Sei que parece insano
sentir ciúmes de uma situação assim, até porque Vivian não é nada minha, e
não parece ter nenhum interesse no meu amigo, mesmo assim a sensação
incômoda não me abandona, mesmo depois da reunião e do banho que
tomei para tentar organizar meus pensamentos e a agitação do meu corpo. A
sensação inquietante está aqui.
O cheiro de broa de fubá invade meu quarto, minha barriga ronca como
em todas as outras vezes que o aroma das delícias de Madá domina o
ambiente. Eu sempre pareço um menino cheio de lombrigas quando o
assunto é a comida da minha madrinha. Sigo até onde sei que todos estarão
reunidos, mas paro um pouco antes da porta. E observo.
A cozinha ampla está abarrotada de gente, alguns tomam café de pé,
próximos às grandes janelas, outros estão sentados em torno da grande
mesa de madeira. Aqui na fazenda todos são bem-vindos para o café da
tarde. Seu João sempre sonhou em ter uma família grande, muitos filhos,
depois muitos netos, mas a morte precoce da minha mãe, pôs fim a parte
dos seus planos. Hoje temos uma grande família, não formada pelos laços
sanguíneos, mas por um amor que é mais forte que qualquer outra coisa.
Viro quando ouço alguém falar o nome que há dois dias permeia meus
pensamentos.
— Venha Vivian, sente-se para tomar seu café. A noite vai ser longa e
precisa de energia, para ajudar Estrela e o potrinho. — Vejo minha
madrinha direcionar Vivian, para uma cadeira próxima onde meu pai está
sentado, ela sorri tímida para ele e não consigo evitar o meio sorriso em
meus próprios lábios.
Madá a serve com uma fatia de broa e me perco no momento em que ela
leva a boca, morde e fecha os olhos, como se nunca tivesse saboreado algo
tão bom em toda sua vida. Leva apenas alguns segundos, mas seu
semblante fica totalmente relaxado, para logo em seguida a barreira estar de
volta. Aquela que impõe sobre si e os outros, que acha que ninguém vê, mas
está lá, eu a vi, eu vejo. Só não sei por que ela existe. Ainda.
— Vai ficar aí parado ou vai se sentar com a gente? — Meu pai
questiona e só então me dou conta dos olhares em mim. Coço a garganta,
puxo uma cadeira e me sento quase de frente para Vivian. Nosso olhar se
cruza, mas ela não me dá o prazer de mergulhar naquele rio revolto por
muito tempo, desviando sua atenção para uma das meninas que mora aqui
na fazenda e está de casamento marcado, engatando em uma conversa que
sei que ela fará estender pelo maior tempo possível.
Passo uma camada de manteiga sobre a broa que está em meu prato, e
tento manter minha atenção nas conversas que estão acontecendo. Mas meu
cérebro só tenta captar cada palavra que sai da boca da encantadora de
cavalos. E de homens. Porque é isso que ela fez comigo, me encantou. Deve
ser alguma espécie de magia, feitiçaria, toda essa coisa que está
acontecendo comigo.
Sacudo a cabeça quando noto quão idiota são meus pensamentos. Magia,
que merda é essa, Bruno? Solto uma lufada de ar olhando para frente.
Como se pego com a boca na botija, vejo meu pai me escrutinando com seu
olhar matreiro e um sorriso que sabe mais do que eu gostaria que soubesse.
É pai, eu acho que ela é minha pessoa e o quão louco eu pareço por pensar
nisso, a conhecendo há apenas dois dias? Claro que esse é um
questionamento que não deixa os meus lábios, posso estar sendo irracional
em meus pensamentos, mas daí a deixar que os outros saibam, é outra coisa.
Capítulo 6

Vivian Montenegro
‘Quero ficar, não sei se vou’

Um suspiro de alívio me deixa assim que entro no cômodo e não sou


diretamente sugada pela sua presença. Porque é assim que me sinto toda vez
que seus olhos pousam sobre mim. Sugada, magnetizada, como se a
presença dele fosse a gravidade sendo exercida sobre meu corpo, me
direcionando.
Aceito o café e a broa, apesar de saber que não devia, era tão bom ser
normal, poder simplesmente sentar-me ali e comer junto às outras pessoas.
Levo um pedaço de broa à boca. E sou acometida por uma explosão de
sabor, minhas papilas gustativas estão em festa, tenho certeza de que se elas
pudessem cantar e dançar estariam nesse momento fazendo passinhos da
Macarena. Mas o prazer não dura. Nunca dura. Na mesma velocidade que
veio, o relaxamento se foi, e volto a ser a Vivian que tem medo. Medo de
criar raízes, medo de ganhar espaço, de ser descoberta.
— Vai ficar aí parado ou vai se sentar com a gente? — a voz de Seu João
faz algumas pessoas se calarem. Eu nem preciso ouvir a resposta, porque
sei para quem a pergunta foi dirigida. Meu corpo está todo em sinal de
alerta. Escuto o arrastar da cadeira, e sei que ele agora está sentado, mesmo
que esteja do outro lado da mesa, sinto como se estivesse ao meu lado. Seu
cheiro se sobressai aos aromas dos alimentos e me preenche.
Luto em vão contra a vontade de olhá-lo. E quando acontece, nos
encaramos por alguns segundos, antes que eu puxe um assunto aleatório
com Lúcia que está sentada ao meu lado. Sei que não posso criar raízes,
mas isso não evita que eu pergunte: — Como estão os preparativos para o
casamento?
Passo a próxima meia hora ouvindo Lúcia me contar como planejar um
casamento pode ser maravilhoso e aterrorizante ao mesmo tempo. Lúcia é
enfermeira e trabalha na parte da manhã no único hospital particular que
tem na cidade. Sempre morou com a família aqui na fazenda, e só vai se
mudar depois do casamento. O noivo, Jorge, é dono do melhor açougue
daqui. E eles estão juntos há mais de seis anos, começaram a namorar no
ensino médio. A história dos dois é linda, seria um ótimo livro, eu a
escreveria se tivesse algum dom para isso, mas a única coisa que sou boa
quando o assunto são livros, é em lê-los. Os romances hots então são meus
favoritos.
Uma pontada de inveja me toma enquanto ouço tudo com atenção.
Nunca conversamos antes, não dessa forma, com uma de nós
compartilhando tanto da própria vida. Queria ter amigas, queria ter com
quem conversar. E eu queria muito também poder me apaixonar, casar, ter
filhos e um cachorro.
Mas eu não posso, eu não mereço nada disso.

Escondida.
Sim, é exatamente isso que você ouviu. Eu estou me escondendo de
todos, mas principalmente dele. Do seu olhar perspicaz, do jeito como ele
esquadrinha cada parte minha e o pior de tudo, como ele parece me ler. Ele
não me olha simplesmente, me analisa, profunda e minuciosamente. Não
queria ter tomado café com todos eles, eu nunca me permito esses
momentos. Mas foi praticamente impossível dizer não, porque quando vi,
Zé e Lúcia já estavam me arrastando para a cozinha da casa grande.
Em parte, foi bom ter um momento assim, há anos não sei o que é me
sentir parte de algo, de me sentir acolhida. E todos aqui na fazenda parecem
realmente gostar de mim, mesmo que eu não faça nenhum esforço para isso,
pelo contrário, sempre recuso qualquer convite para interagir, para passar
mais tempo que o necessário com as pessoas. Eles deveriam me achar
insuportável, mas é exatamente ao contrário, todos me respeitam. Apesar de
não me entenderem, eles me aceitam do jeito que eu sou. Ou melhor, do
jeito que eu preciso que acreditem que sou.
A parte não tão boa, é que ficou aquela sensação de que eu poderia ter
mais desses momentos, aquela vontade de sentar-me e conversar com
pessoas da minha idade, prosear, como os mineiros dizem. Ou até mesmo
com os mais velhos. Seu João, Angelo, Madá, todos eles são tão zelosos.
Amo como Madá parece saber tudo que todos estão precisando, mesmo
antes deles. Como uma super mãezona que cuida de cada um que trabalha e
mora por aqui. Mãe, dói lembrar, dói saber que eu nunca tive alguém que
me amasse assim, nunca fui protegida. Dói saber que nunca fui amada de
verdade, nem pela pessoa que naturalmente deveria me amar.
Observo Estrela do outro lado da baia, ela está calma, o que me
tranquiliza. Eu amo meu trabalho, amo cuidar de todos os animais, mas os
cavalos e os cachorros sempre tiveram um peso especial em minha vida. Eu
nunca tive uma real experiência em ter um cachorrinho de estimação, mas
desde pequena sempre amei assistir a filmes que contam suas aventuras. Os
meus preferidos eram os filmes do Bud, o cão amigo, aquele golden
retriever me ganhou no primeiro olhar.
Nunca me permitiram ter um cachorrinho.
“Esses animais só servem para fazer sujeira e soltar pelo por todo lugar.
Você nunca vai ter um desses.”
Sacudo a cabeça para afastar as lembranças, pelo menos essa é menos
dolorosa. Decido sair do meu esconderijo e ver como Zeus está. Ele é o
cavalo mais indócil da fazenda, mas somente com os outros. Entre nós
existe uma conexão. Ele me entende, e toda vez que estou perto dele, o
modo como ele me cerca, é como se dissesse que vai me proteger, e
realmente sinto isso.
Assim que passo pela porta, ele vem ao meu encontro, roçando seu
focinho na minha bochecha direita, bem ao seu modo de me dizer que está
feliz em me ver. Abraço-o com força, como se o mundo dependesse disso,
talvez o meu dependa. Zeus é amigo, meu confidente, ele é o único que
sabe todas as merdas que me aconteceram, todas as coisas que preciso abrir
mão diariamente para manter minha liberdade, ou o que quer seja esse tipo
de vida que levo.
— Sabia que te encontraria aqui! — Deus, porque além de lindo,
precisava ter essa voz. o Senhor também não facilita. — Vim te chamar
para jantar. — não havia percebido que já tinha escurecido, olho para meu
relógio e vejo que já são quase oito da noite, viro-me para responder, afinal
se tem uma coisa que Teresa me deu foi uma boa educação. Sou totalmente
pega desprevenida, porque quando penso que esse homem não pode ficar
ainda mais gostoso, ele vem esfregar na minha cara que consegue sim.
— Não estou com fome. Na verdade, não tenho costume de jantar —
uma mentira e uma verdade. Eu estou com fome. Uma coisa sobre mim;
estou sempre com fome. Mas realmente, não tenho costume de jantar.
Cozinhar só para mim é algo que me deprime, e só aumenta minha solidão,
então geralmente como algo prático de se fazer. — Mas obrigada pelo
convite. — Finalizo engolido a saliva, porque daqui a pouco vou estar
literalmente babando em cima do homem.
Também quem mandou ser gostoso desse jeito. Vestido nessa blusa cinza
justa que molda seus músculos e não deixa nada para a imaginação, e nem
vou falar da calça jeans, que abraça as pernas, as coxas grossas e as pernas
torneadas. Mesmo não querendo, meu cérebro começa a desenhar uma
imagem desse homem sem roupa... Para Vivian, só para.
— Tem certeza que não quer comer pelo menos um pouco, a noite vai
ser longa.
— Tenho sim, Bruno. Eu trouxe um lanche para mais tarde.
— Tudo bem. Se precisar de alguma coisa, ou se quiser comer, sabe que
pode ir até a cozinha da casa grande não sabe.? — Faço que sim com a
cabeça. — Vou deixar vocês continuarem de onde pararam antes deu
chegar. — assim que ele deixa o meu campo de visão e recobro o controle
sobre o meu corpo é que me dou conta.
Será que ele ouviu alguma coisa?

Música. Ao longe escuto uma melodia que desperta minha curiosidade,


não consigo identificar quem está cantando nem qual é a canção, então
decido sair do escritório para tentar ouvir melhor. Conforme vou me
aproximando da entrada do estábulo o som vai ganhando força, e mesmo
que agora outras vozes mais tímidas se juntem a inicial, ela ainda é
predominante e já a consigo reconhecer.
Paro ao lado da entrada e me encosto no batente da porta, enquanto sou
inundada por um sentimento que me aquece inteira. Um pouco afastados
estão alguns funcionários da fazenda em volta de uma fogueira, parecem
animados. É muito bom ver a harmonia que sempre parece prevalecer por
aqui, mas nada se compara a visão dele, cantando e tocando. Totalmente
entregue, como se no mundo só houvesse ele, o violão e a música.
“Você vai me vencer, eu vou me apaixonar...
Não há mais o que decidir, hey, yeh...[2]
Não sou uma pessoa de gosto musical variado, mas sei identificar uma
música boa, e apesar de não ser muito fã de sertanejo, já me sinto
hipnotizada pela melodia. E isso não tem nada com o locutor gostoso e com
voz rouca. A quem eu quero enganar? Claramente não a mim, porque sei
que estou irremediavelmente atraída por Bruno.
Antes ele fosse mesmo noivo, seria bem mais fácil me manter longe
desse problema. Porque é isso que ele é, um grande problema. Nunca me
senti assim em relação a nenhum outro homem. E não estou falando de
tesão, sou uma mulher e não uma menina na puberdade. O que ele me faz
sentir vai além, aquele além que nos faz cometer erros. Erros como
comprometer seu coração e perder nossa liberdade. E no meu caso, não
seria somente no caso não literal da palavra.
Fecho meus olhos aproveitando mais um pouco do momento. Quero
gravar na minha memória cada detalhe da sua voz, e como a cada nota que
ele atinge, uma nova parte minha se rende. Quando ele inicia uma nova
canção me permito novamente vagar os olhos por todo o seu corpo. Essa é
uma canção que já ouvi outras vezes aqui na fazenda.
“Tá faltando eu em mim
Pergunto, mas não sei quem sou
Não sei se é bom ou se é ruim
Quero ficar, não sei se vou...”
As pessoas se animam e cantam um pouco mais alta, enquanto outras
que antes não estavam ali vão chegando e se sentando em torno da fogueira
para curtir a moda de viola.
— Por que não se junta a eles?
— Jesus amado! — dou um pulinho para frente com o susto que levo. —
Seu João, que susto.
— Desculpa minha filha, não foi a minha intenção.
— Está tudo bem, eu estava distraída também.
— Notei que estava concentrada na canção — ele enfatiza a palavra
canção, mas poderia jurar que ele queria usar “meu filho”. Por que, bem,
sim, eu estava meio que secando o filho dele. — Por que não se junta a eles
na fogueira, ao invés de ficar aqui de longe?
— Não quero ficar longe, caso a Estrela entre em trabalho de parto. —
dou uma desculpa plausível.
— Pode monitorá-la pelas câmeras, você tem acesso a elas — responde
enquanto me encara, com aquele olhar, igualzinho ao filho. E descubro mais
uma coisa que esses dois têm em comum, além da beleza é óbvio, o jeito de
olhar como se pudesse descobrir até os nossos segredos mais bem
guardados.
— Eu...
— Filha, não quero parecer intrometido, mas é difícil para esse velho
aqui, no alto dos seus quase sessenta anos, simplesmente ignorar as coisas
que estão diante dos seus olhos e não costumo me enganar sobre as pessoas.
Não sei o que você passou antes de chegar aqui, mas está claro para mim
que você é uma boa moça, eu soube disso mesmo antes de te conhecer,
somente pelo que Ângelo me falava. — Faço de tudo para não piscar,
porque sei que meus olhos estão a ponto de transbordar. — Você não quer
ficar aqui, quer estar lá — olha em direção a fogueira. — Às vezes, a chuva
é bem-vinda, em um dia ensolarado. Deixe as coisas ruins irem, para que as
boas venham.
Ele não esperou uma resposta, simplesmente me deixou ali, com cada
palavra sua rondando meus pensamentos, levantando questionamentos que
nunca me permiti antes. Muitos ‘e ses’ martelando não somente minha
cabeça, mas minha alma.
Talvez, as coisas pudessem ser diferentes?
Capítulo 7

Bruno Avelar
“Se jogar de primeira e fazer besteira”

Cresci ouvindo meu pai contar como se apaixonou por minha mãe na
primeira vez que a viu. Não que ele soubesse naquele momento que estava
apaixonado, mas com o passar do tempo, ele teve certeza de que Helen era
a mulher com quem gostaria de viver todas as aventuras da vida. Ele era um
pouco mais velho do que sou hoje quando se conheceram. Mamãe
trabalhava em um restaurante de beira de estrada. Ela era uma jovem linda,
mas que de acordo com os fofoqueiros da pequena cidade, não tinha futuro
e estava fadada a trabalhar ali até os últimos dias na melhor das hipóteses,
visto ser filha de quem era.
Mas nada disso fazia diferença para meu pai. Não importava que fosse
filha da meretriz da cidade, e que ninguém soubesse quem era seu pai, nem
mesmo a própria mãe. Porque tudo que importava era que ele seria o pai
dos filhos dela. Que ela era a pessoa dele, a quem ele amaria e protegeria
até seus últimos dias.
Meus pais apesar da morte precoce da minha mãe tiveram um casamento
feliz e nos primeiros quatro anos, antes do meu nascimento e sua partida,
meu pai dedicou a ela cada segundo do seu tempo, deixando-a saber o
quanto a amava. Ele carrega dentro de si a certeza de ter vivido com sua
alma gêmea e mesmo que tenha sido por pouco tempo, não carrega nenhum
arrependimento, porque sabe que fez tudo por aquela que amava.
E por mais louco que pareça sinto uma certeza em meu coração toda vez
que olho para Vivian. uma que me faz querer cuidar e proteger. Que me faz
querer tomá-la em meus braços e dizer que agora ela não está mais sozinha.
Porque é isso que ela é, uma pessoa solitária. Eu vejo a dor em seu olhar,
vejo mais do que ela gostaria que visse e até mesmo mais do que a
racionalidade pode aceitar.
Termino de calçar uma das botas quando alguém bate à porta do meu
quarto. É uma vida inteira de convivência, mesmo antes de liberar sua
entrada sei que é meu pai quem espera do outro lado da porta.
—-Pode entrar, pai. — encaro o homem que é meu exemplo e orgulho.
Não por suas posses, mas por seu coração. Por todos valores que me
ensinou desde que eu era um moleque e que vem reforçando ao longo da
minha vida adulta.
— Bom dia, filho, estou indo tomar café e depois ver como a Estrela
passou a noite. Vim te chamar para me acompanhar. — pensa que me
engana né velho casamenteiro. Sei que não está indo somente ver a égua, e
sim a veterinária. Eu observei ontem enquanto eles conversavam na porta
do celeiro e depois como se não quisesse nada, ele me disse que Vivian é
uma boa menina. Ele me conhece o suficiente para saber que estou mexido
com a presença dela, e está tentando do jeito dele nos aproximar.
— Era o que eu ia fazer nesse exato momento — vou em sua direção,
agora já calçado, pego meu chapéu em cima da mesinha ao lado da porta,
antes de sair e passar um dos meus braços por seu ombro. — Já está
organizando uma grande festa de casamento nessa sua cabecinha não é
senhor João?
— Que conversa mais doida é essa, menino? — vira o rosto para me
olhar — Casamento ainda é cedo, mas noivado...
Caio na gargalhada, meu pai é impossível. Quer porque quer me ver
casado e enchendo a fazenda de netos e ao menor sinal que eu dou de
interesse por uma mulher, ele já começa e fazer planos, principalmente se é
alguém que ele aprova, o que parece ser o caso da nossa veterinária.
— Pai, tem três dias que a conheço!
— Mas não nega o interesse nela, eu sabia.
— Não nego, ela é ... não sei — balanço a cabeça tentando achar a
melhor explicação — linda, cativante e parece tão..
— Frágil e sozinha. — diz em um tom mais triste, saudosista até — Ela
me lembra tanto a minha Helen..
—Sério?
— Não fisicamente é claro, mas a postura determinada, confiante, e o
olhar. Aquele que diz que por cima tudo é uma armadura, que por detrás de
cada sorriso há um mundo de lagrimas e solidão. — Ele para se vira para
mim, e segura em meus ombros, me fazendo encará-lo enquanto diz. —
Filho, eu confio no homem que criei, mas só quero te pedir para que tenha
cuidado. Aquela menina, tem uma bagagem pesada, algo que a faz pensar
que não é merecedora de nada, sei disso porque sua mãe era assim. Então só
prometa para mim que será bom para ela.
Engulo seco, não porque ser bom para ela, não seja exatamente o que
pretendo ser, mas por meu pai assim como eu ter percebido tanto dela. O
que só confirma minhas suspeitas que preciso protegê-la, mesmo sem saber
contra o que ou quem.
— Pai, nós ainda...
— Você mesmo acabou de dizer “ainda”. Então me promete filho.
— Prometo, pai.

Parece que todo mundo entrou para o time Vivian, durante o café da
manhã fiquei ouvindo do meu pai, da minha madrinha e acreditem até
mesmo do meu padrinho elogios a pessoa dela. O mais engraçado disso
tudo é que nada saiu da minha boca sobre eu ter algum interesse nela, e por
Nossa Senhor de Fátima, a gente mal se conhece. Mas para eles isso não
está importando, estou me sentindo um homem encalhado aos vinte e sete
anos, cuja família está louca para vê-lo pelas costas.
Imagine se eles soubessem as coisas que se passam na minha mente?
Assim que chegamos ao celeiro vejo Vivian parada em umas das baias
mais próximas, acompanhada por Ângelo, Antônio e... espera não pode ser.
Esse filho da mãe chegou, nem foi na casa grande e já está aqui de gracinha
para cima dela. E aquele sorrisinho dela, é para ele? Aperto o passo e me
aproximo já dando um safanão em Fernando, esse idiota que chamo de
melhor amigo.
— Bom dia a todos, menos para você — aperto o ombro dele.— Por que
chegou e não foi até a casa grande?
— Cara, isso tudo é saudade? — o idiota brinca — vem cá, deixa eu te
dar um beijinho de bom dia, para melhorar esse humor — se vira para me
beijar, mas eu fujo. Não falei, idiota.
— Sai fora, Fernando — tento desvencilhar do seu agarre, mas ele me
puxa para mais perto — Que porra, cresce, caralho.
— Ah, Bruno, você já foi bem mais divertido esses anos fora não foram
bons para você — Diz se afastando e ajeitando a roupa. — Que bicho te
mordeu? — involuntariamente meus olhos correm para Vivian, e eu
entrego de bandeja para ele, o motivo do meu humor de merda. — Entendi.
— Não começa — digo baixo, só para ele entender.
— Eles sempre foram assim? — é Vivian quem pergunta, uma diversão
que nunca tinha sentido em sua voz.
— Pior — Meu pai e Angelo respondem ao mesmo tempo.
— Ah minha filha, esses dois já deram tanta dor de cabeça para mim e
para Afonso, pai do Fernando, que quase viramos sócios de uma indústria
farmacêutica.
— Não teria sido uma ideia de todo ruim. — outro tapa estala da cabeça
de Fernando — cara qual o seu problema hoje, para de me bater.
— Para de ser idiota, então. O que nossos pais entendem de indústria
farmacêutica?
— Nada, mas e daí? O dono da padaria não precisa ser padeiro, imbecil.
— minha vontade é dar mais uns tapas nele, mas a vontade logo é
transferida para outro idiota que chamo de amigo, quando o escuto falar
com Vivian.
— Bom dia, lindeza! Como foi sua noite? — que intimidade é essa? E
esse beijo na bochecha? Espera, ela tá corando? Porra, porra, ela fica tão
linda com vergonha.
— Bom dia, foi boa. Estrela não deu nenhum sinal de estar entrando em
trabalho de parto.— ela suspira antes de continuar — estou ansiosa, nem
consegui pregar o olho.
— Precisa descansar então. — dessa vez quem diz é Ângelo — vai para
casa, dorme e mais tarde você volta. — fala não como um chefe, mas
como alguém que se importa.
— Estou bem, vou ficar. Não quero ir para casa e ficar a quase uma hora
de distância. — é enfática.— posso dormir no consultório.
— Não mesmo. Você não irá conseguir descansar com todos trabalhando
em volta. Além do mais, o consultório vai ser usado durante todo o dia.
Você pode descansar em dos nossos quartos de hóspede. — contra-
argumento e dou uma solução.
— Mas...
— É uma ótima solução Vivian, assim você fica perto caso ela entre em
trabalho de parto. — meu pai endossa.
— Ok, mas não quero incomodar.
— Você jamais incomodaria — digo— Eu te acompanho.
— Eu vou junto, quero matar a saudade da minha Madá — Fernando diz
logo atrás de mim, e eu só queria jogar ele na baia do Zeus.
— Sua Madá uma ova. Vocês têm que parar de se apropriar da minha
mãe. Você só quer ir lá filar a boia, seu passa fome. — Zé não perde tempo
de alfinetar.
— Deixa de ser egoísta, pequeno polegar. Sua mãe é patrimônio popular,
aceita que dói menos.
— Vou te mostrar o tamanho do pequeno polegar...
— Ei, olha Vivian aqui, mais respeito. — ralho com os dois— Tenho
certeza que seus pais te deram educação.
— Calma, cowboy. Desculpa feiticeira.
— E para de chamar ela de feiticeira. — solto sem querer e todos param
para me encarar, principalmente ela. Jesus, passei dos limites. — É... é que,
sei lá, pareceu que ela não gostou muito do apelido da outra vez.
— Acho que é você quem não gostou — Ouço Fernando zombar da
minha cara.
— Eu não ligo — ela dá de ombros e volta a andar — Na verdade já me
acostumei.
Sem ter mais o que falar, caminhamos em silêncio até em casa. Não
resisto em analisá-la durante esse tempo. Ela parece mais leve, menos
retraída, o que de certa forma me deixa contente, mas também me faz
pensar o que aconteceu para ela ter mudado a postura de ontem para hoje.
Está mais sorridente, e senti que aceitou com mais facilidade descansar aqui
ao invés de ir para casa. Claro que ela quer ficar perto para o caso de uma
emergência, mas sinto que não é somente isso.
Subimos os degraus de pedra que dão acesso à porta da frente da casa
construída pelo meu bisavô no século passado. Ela ganhou uma reforma no
ano passado. A deixando mais moderna e funcional. Foram adicionadas
mais três suítes, a sala de televisão virou uma sala de cinema e a sala de
jogos também foi ampliada. A cozinha ganhou novos eletrodomésticos,
tudo moderno, mas o fogão a lenha continua sendo o grande mestre. Minha
madrinha não renuncia a uma boa comida feita da forma mais mineira
possível.
Assim que entramos na sala principal, Madá nos vê e acena para que
possamos esperar, ela está ao telefone e o vinco entre suas sobrancelhas diz
que algo não a está agradando. Zé percebe o mesmo e se aproxima da mãe,
tentando entender o que está acontecendo. Assim que finaliza, descobrimos
o motivo da preocupação.
— Meus filhos vão me deixar louca. Queria entender o que me deu
quando aceitei que essa menina fosse morar na capital sozinha. — exaspera.
— O que houve, mãe?
— Sua irmã, quer me matar de preocupação. Disse que está vindo para
casa de carona com um amigo da faculdade que mora em uma cidade
depois da nossa.
— Mas que porra...
— Olha a boca menino.
— Desculpa, mãe. —pede Zé, envergonhado. — Não estava combinando
que eu iria buscar ela no sábado?
— Estava, mas ela resolveu vir antes com esse tal amigo. Amigo esse
que ninguém conhece. Ai meu Santo Padroeiro das mães em desespero,
cuida e coloca juízo na cabeça da minha menina — diz olhando para o teto,
como se pudesse ter uma conversa mais íntima dessa forma com seu
santinho.— Desculpa, filho, to atarantada e nem te dei uma abraço — diz
puxando Fernando para um abraço. — Na França não tem comida não, tá
magrinho.
— Tem comida sim, mas nada se compara às coisas que suas mãos de
fada produzem, tia. — ele a abraça de volta de forma carinhosa. Apesar da
implicância de Zé, ele sabe que a mãe tem um papel importante na vida de
todos nós e que o amor que sentimentos por ela é imenso.
— E você menina, vem cá. — Agora é vez de Vivian ser puxada para um
abraço. — Como foi a noite, minha filha? Tá com cara de quem não dormiu
e nem se alimentou. Vem comer e depois, descanso. — sai levando Vivian
pela mão como uma criança de cinco anos em direção a cozinha.
— Você vai buscar sua irmã na cidade, José Armando. Ela deve chegar
por volta das cinco da quatro da tarde — fala enquanto a seguimos. — O tal
amigo vai deixá-la na prefeitura. Se fosse um bom rapaz, a traria aqui, e
conheceria sua família....
Não deixo de achar engraçado o desespero da minha madrinha, é claro
que é preocupante a Poli está vindo com um homem desconhecido para nós,
mas a verdade é que para ela não é. O que eles não veem é que a caçula da
família Mendonça já é uma mulher e sabe se virar sozinha.
— Calma, madrinha, Poliana é ajuizada, se ela decidiu vir com esse
amigo é porque se sente segura com ele. Já pensou que pode ser um
possível genro?
— Tá maluco? — quem questiona é Fernando para surpresa de todos. —
Ela, ela... é muito nova para pensar em namoro.
— Ela já vai fazer vinte e um, Fernando, se toca. Acha que só nós
envelhecemos — rio da reação dele — linda do jeito que ela é, deve ter uma
fila de marmanjo atrás dela na capital. Aqui na fazenda não deve ser
diferente.
—Não acho que ela deve pensar em namoro agora. Precisa focar nos
estudos. — sua cara de poucos de amigos me deixa com a pulga atrás da
orelha.
— Concordo, Poliana não vai namorar tão cedo. — Zé bate o martelo —
Ai do fedazunha que se engraçar para cima da minha irmãzinha.
— Acho que vocês deveriam parar de decidir sobre a vida dela, isso não
diz respeito a nenhum dos dois. No máximo meu padrinho e minha
madrinha podem opinar. — digo — Poliana já não é mais criança e teve
uma excelente educação, ela sabe o que faz da vida dela.
— Concordo com a parte da boa educação. — Madá diz sorridente —
Mas mesmo assim, como mãe não posso deixar de me preocupar. — Já
estamos sentados quando Vivian se pronuncia pela primeira vez desde que
chegamos.
— Não a conheço pessoalmente, mas por todas as coisas que já ouvi
falar dela e por tudo que disseram até agora, me parece uma menina muito
responsável. Só confiem que ela saberá fazer as melhores escolhas, e se no
final não forem, estejam preparados para serem o apoio dela. — a
encaramos, todos meio surpresos, o que a deixa acanhada. — Desculpem-
me, não quis ser intrometida, é só que...
— Não foi intrometida minha filha. Foi certeira no que falou. É uma boa
menina, vemos que sua mãe te educou bem — diz Madá sem maldade. Mas
assim que as palavras deixam sua boca e atingem Vivian, seu semblante
muda. E toda tristeza que estava quase escondida em seu olhar, volta a
transbordar.
O que te aconteceu Vivian? O que fizeram com você?
Capítulo 8

Vivian Montenegro
“Estranho séria se eu não me apaixonasse por você’

Depois do café da manhã animado, cheio de troca de fofocas entre Madá


e eu sobre os três homens que nos acompanhavam, finalmente consegui
descansar. Assim que tomei um banho e me deitei na cama de casal
convidativa de um dos quartos de hóspedes da fazenda, me entreguei aos
braços de Morfeu.
Não sei se foi a exaustão ou o colchão extremamente confortável que me
fez apagar, mas dormir de verdade, de uma forma que não fazia há alguns
anos. Acordei revigorada e com fome. Não me julguem, amo comer e já
faziam o quê, oito horas desde a última refeição. Por mais que todos
dissessem que era para eu me sentir em casa, estava decidida a ir direto para
o estábulo dar continuidade ao meu trabalho e por lá amenizar a fome com
algumas barrinhas de cereal que sempre tenho na bolsa.
Não consegui escapar. Assim que saí do quarto, dei de cara com Madá
que me avisou que tinha deixado um prato feito para mim. Que preferiu não
me acordar para almoçar, mas que não me deixaria voltar ao trabalho sem
antes fazer uma refeição decente. Claro que não me fiz de rogada, a
intenção era não incomodar, mas não tinha mais desculpa, aproveitei a
oportunidade e devorei a comida deliciosa. Não havia como questionar,
Maria Madalena era a melhor cozinheira de todas.
Estava feliz e satisfeita, caminhando em direção ao estábulo quando um
dos funcionários veio em minha direção e me informou que já estava indo
me chamar, pois Estrela havia entrado em trabalho de parto. Corri o restante
do caminho sentindo um misto de adrenalina, medo e ansiedade. Esse seria
o primeiro parto que acompanharia sendo a responsável caso fosse
necessário intervir. Angelo estaria presente supervisionando, mas todas
ações e decisões partiriam de mim.
Os partos das éguas geralmente são momentos rápidos. Elas começam a
sentir as contrações e minutos após a bolsa estourar o filhote nasce.
Adentrei a baia e observei que as patas dianteiras do potrinho já estavam
para fora. Estrela se remexia inquieta e logo depois deitou-se sobre o feno.
Ela começou a fazer movimentos de vai e vem e logo em seguida a cabeça
do cavalo estava para fora, sendo seguido rapidamente pelo restante do
corpinho.
Foi uma cena emocionante.
Estrela permaneceu imóvel por alguns momentos, parecia muito cansada
e se não tivesse acompanhado outros partos ficaria preocupada com sua
inércia. Ela só precisava de um momento para recuperar o fôlego. O puro
sangue inglês que acabara de nascer tinha as patas dianteiras e as traseiras
brancas e o restante do corpo num tom de marrom mogno. Lindo, lindo.
Seria um alazão que chamaria muito atenção.
Fiquei imersa no momento, experimentando uma alegria que há muito eu
não sentia. Acompanhei a gestação inteira desde o momento da descoberta
até o nascimento, o que me fazia sentir muito apegada ao potrinho que
descobrimos um pouquinho depois de se tratar de um macho.
Estou sentada no consultório fazendo as anotações sobre seu nascimento,
quando Bruno bate na porta pedindo licença para entrar.
Libero sua entrada e o analiso enquanto ele vem em direção a cadeira
que fica a frente da minha mesa. Se eu disser que esse homem é um pedaço
de mau de caminho, não estarei dando os devidos créditos a esse espécime.
Ele é o próprio mau caminho inteiro. O corpo trabalhado em músculos, mas
sem ser exagerado, a pele morena clara, a sombra da barba sempre
marcando o rosto perfeito e esses olhos que hora são verdes, hora azulados
me deixam atormentada. Não, atormentada não, excitada é a palavra certa.
Meu corpo superaquece toda vez que ele se aproxima e eu poderia até
justificar que essa atração que sinto por ele é falta de sexo, afinal são mais
de seis meses que não transo, mas a verdade é que é simplesmente o efeito
Bruno sobre mim, algo que ainda não consigo explicar.
Se é que tem explicação.
Tenho certeza de que eu poderia estar sexualmente saciada, que se ele
estivesse em um mesmo espaço que eu ainda me sentiria queimar, entrar em
combustão. Seria bem mais fácil se ele não fosse meu chefe e não
tivéssemos que nos ver todos os dias. Se ele fosse somente como os outras
caras com quem tive uma noite de sexo casual e com quem tenho a certeza
nunca mais esbarraria, me lançaria em seus braços. Mas não, ele tem que
ser extremamente gostoso e impróprio para mim.
Sei que com Bruno nunca seria somente sexo, nunca seria somente uma
noite para satisfazer desejos totalmente biológicos. Ele é diferente.
Diferente demais para a minha sanidade e ainda por cima parece querer
decifrar cada nuance minha, entrar não somente nas minhas calças como a
maioria dos homens, mas sim no meu coração. E isso é o que o tornava
extremamente perigoso.
Mas até quando resistirei? Até quando serei capaz de negar o desejo que
sinto e principalmente, negar esse sentimento que vem crescendo dentro de
mim? Sendo que sempre que olho para ele, tenho essa vontade de me jogar
do penhasco e ver o que a queda me reserva. Bruno será minha condenação,
posso sentir isso, mas também sei que será minha libertação.
Ele não faz questão de disfarçar seus olhares, seu interesse e por mais
que tente ser respeitoso, seu olhar de desejo está ali. Eu não o julgo, porque
sinto o mesmo. Eu o desejo. Já me peguei várias vezes imaginando como
seria ter suas mãos grandes percorrendo meu corpo, sua boca na minha e
sua voz deliciosa dizendo ao pé do meu ouvido todas as coisas que tem
vontade de fazer comigo.
Não me olhe assim, se fosse você no meu lugar, já estaria sentando nesse
homem ao menor sinal de interesse da parte dele. Eu quero, mas como diz
o livro sagrado dos cristãos, “tudo posso, mas nem tudo me convém.”
Então me contento em admirá-lo. Aos poucos estou começando a
decifrar seus olhares, suas mudanças de postura e até mesmo os sorrisos que
ele oferta. Bruno não percebe, mas ele se entrega completamente quando
algo não o agrada, seu semblante fecha e seu olhar diz tudo. Percebi que ele
não é indiferente ao que sinto e que inclusive fica incomodado quando
outro homem parece ter minha atenção.
O que Bruno não sabe é que nenhum deles me desperta como ele. Que
ninguém jamais chegou tão perto de mim quanto ele, e não estou falando da
parte física. Ele tem estado constantemente em meus pensamentos, até em
meus sonhos ele aparece. E apesar do pouquíssimo tempo que nos
conhecemos, algo dentro de mim grita que pertenço a ele. Que não tenho
como fugir.
— Vivian, está tudo bem? — balanço a cabeça tentando ajustar meus
pensamentos e tento recobrar a razão e controle do meu corpo. Encaro seu
olhar, e novamente sou pega na armadilha que eles são. Ele sabe o efeito
que causa em mim. — Está meio aérea, não ouviu nada do que eu disse, não
é?
— Desculpa, acho que ainda estou presa no parto da Estrela —minto —
estava aguardando muito por esse momento. O que dizia?
— Conversei com meu pai e queremos que você escolha o nome do
potro. — pisquei algumas vezes absorvendo a informação. — Você se
dedicou muito a Estrela nos últimos meses, Antônio me contou como você
conversava com a barriga dela, essa é uma coisa que você costuma fazer
muito — um sorriso sincero surge em seus lábios. Não há qualquer crítica
na sua fala, somente carinho. — Será legal se você der o nome a ele.
— Nossa, estou sem palavras, é ... sério, eu nem sei o que falar,
obrigada?! — meio que afirmo perguntando
— Não tem o que agradecer. Na verdade está ficando difícil escolher
nomes para tantos animais, então sinta como uma ajuda que está nos dando.
— Deus como ele é lindo — E aí, tem alguma ideia de nome?
— Nome? —ele gargalha.
__ Sim, Vivian. Para o filhote da Estrela.
— Ah sim, claro, claro. Não, não tenho ainda — levo a ponta da caneta
que nem lembrava que estava segurando até a boca e começo morder, uma
mania que tenho desde pequena quando me concentro em algo que preciso
resolver em pensamento. — Deus, eu não sei. — bufo frustrada.
—Nada, não vem nenhum nome em sua mente? — balanço a cabeça
negando— Você já fez isso antes, escolher o nome para um animal?
— Nunca, nunquinha. Não tive a oportunidade. — seu olhar era ainda
mais especulativo agora.
— Espera, vamos lá. Você nunca teve um animal de estimação? Tipo
um gato, cachorro ou até mesmo um passarinho?
— Não foi por falta de vontade, eu sempre quis ter. Na verdade ainda
quero, mas é complicado.
— Por quê? — perguntas, elas podem ser um caminho sem volta se
resolver responder.
— Porque Teresa, digo, minha mãe nunca deixou. Ela dizia que animais
só serviam para fazer sujeira. — novamente me lembro das inúmeras vezes
que pedi para que me deixasse adotar um cachorro ou gatinho e ela sempre
dizia não. — E agora que sou adulta não tenho um espaço adequado para
ter, não acho justo confinar um animal no meu “apertamento”. Ainda mais
que passo a maior parte do dia na rua trabalhando.
—Entendo. Aqui na fazenda sempre tivemos algum cachorro durante
algum tempo. Sempre adotados ou resgatados e gatos têm aos montes
espalhados por aí, todos cuidam e alimentam.
— Eu sei, andei ajudando o Ângelo a vacinar e castrar alguns. Mas é
difícil ter um controle, porque são livres, alguns vem e vão. Mas sempre
fico de olho, da forma que posso.
— Meu pai comentou sobre a onda de vacina que fizeram alguns meses
atrás. Que todos os funcionários foram movimentados para pegar os
bichanos. Achei muito bacana.— seus olhos estão em mim, e eu gosto da
forma como ele diz tudo através deles. — Sabia que o nome que dei para o
meu primeiro cachorro foi Chulé?
—Não... — ele balança a cabeça fazendo que sim — sério, sério mesmo
ou sério de brincadeira? — questiono ainda incrédula. E ele gargalha da
minha reação.
— Muito sério — diz ajeitando o corpo pecaminoso na cadeira — Eu
tinha oitos anos quando meu pai chegou com ele na fazenda. Ele estava
sujo e fedido, não importei com isso é claro. Corri, abracei o vira-lata e
quando meu pai questionou como seria o nome dele, não pensei duas em
responder, que seria Chulé, por conta do cheiro que lembrava meias velhas
e fedidas.
— No final das contas era um bom nome. Ele viveu muitos anos com
você ?
— Seis anos. Ele já era um cão adulto. Mas foi meu companheiro fiel em
muitas aventuras por essa fazenda, até não ter mais forças para me
acompanhar. Depois dele tivemos um pastor alemão, de nome Apollo, foi
um presente de aniversário do pai de Fernando. Ele nos deixou há três anos
e desde então não tivemos mais nenhum outro cachorro na casa grande.
— Essa é a parte difícil, ter que nos despedir deles. Eles se tornam
família e nunca é fácil dizer adeus para alguém que amamos.
— Não, não é. — por um momento apenas nos olhamos. Mesmo
sentindo a necessidade de retomar o assunto confortável que não oferece
risco, não consigo pensar em nada para continuar falando. Bruno parece
sentir a tensão que se apossa de mim e quebra o silêncio. — Temos que
achar um nome para o novo morador da fazenda Avelar, não podemos ficar
chamando-o de potrinho.
— Está certo. Gosto de Thor, mas não quero usar esse nome nele —digo
mais para mim. — Acho que já sei o nome perfeito para ele — faço
suspense, enquanto pego a ficha que estava preenchendo com seus dados.
— Vamos lá, Vivian, me conta— deixo Bruno um pouco mais no escuro
enquanto escrevo o nome na folha e lhe entrego. Assim que lê o nome, um
sorriso gigante brota em seus lábios.
— Uma fã de Vingadores? — aceno positivamente — Mas porque
Stark?
— Ele tem uma mancha no peito, quase um círculo perfeito. É o próprio
reator ARC dele. — explico orgulhosa dos meus conhecimentos avançados
em Homem de Ferro.
— Deus, você é uma caixinha de surpresas, doutora Vivian Montenegro.
— o sorriso no meu rosto morre com sua frase. Porque sei que estou mais
para a caixa de pandora, que qualquer outra que possa conter coisas boas.
Mas tento não deixar o clima pesar e nem abrir brechas para que Bruno crie
teorias sobre mim.
— Vamos até lá contar a todos que já temos um nome para o caçula da
manada.
Só reparo no que estamos fazendo quando o olhar de Fernando recai
sobre nossas mãos. Foi algo instintivo simplesmente ergui minha e segurei a
que Bruno me oferecia quando me chamou para vir contar a todos sobre a
decisão que chegamos sobre o nome do potrinho. Seu olhar acompanha o
meu e depois de nos encararmos por um milésimo de segundo, mas que
pareceram horas, desfazemos o enlace de nossos dedos.
Imediatamente sinto falta do contato.
Elimino a distância até a entrar da baia de Estrela e finjo que nada
aconteceu, troco algumas informações com a Ângelo, que diz o quanto está
orgulhoso de mim. Ouvir isso realmente me deixa em paz comigo mesma.
Ele foi um anjo em minha vida, confiou em mim, me deu trabalho e mesmo
sem muita informação sobre meu passado, nunca duvidou do meu caráter e
da minha capacidade. Só espero nunca lhe decepcionar.
— Vivian escolheu um nome para o potrinho — Bruno começa a falar—
vamos deixá-los tentar adivinhar? — questiona.
— Vamos poupá-los eu acho — sorrio de forma cumplice — estão todos
cansados e não é um nome muito usual. — Todos me olham esperando que
eu revele, enquanto me aproximo do cavalinho que está quase enfiado
embaixo da mãe. — Esse garotão aqui vai se chamar Stark.
— Como Tony Stark, o homem de ferro?— questiona Fernando e aceno
positivamente com a cabeça — Legal, eu gosto, mas por que esse nome?
— Ele tem uma macha branca redonda no peito, como o reator ARC, e
sou uma amante de Vingadores.
— Deu para perceber. —sorri, antes de continuar — Além de linda, tem
bom gosto. — Bruno o fulmina com o olhar — Bruno te contou que ele
prefere a DC?
— Não prefiro coisa nenhuma — Bruno é rápido em retrucar.
— Você sempre diz que a trilogia do cavaleiro das trevas é a melhor de
todas e que Batman é seu super herói favorito.
— Não enche Fernando, isso não quer dizer que todos da DC são
melhores, mas por que estamos discutindo isso mesmo?
— Não estamos discutindo — Fernando dá de ombro — só achei que a
Vivian poderia se interessar em saber...
— Na verdade... — interrompo-o— Bruno está certo sobre a “o
cavaleiro da trevas”, essa com certeza é uma trilogia e tanto, e Heath
Ledger foi o melhor Coringa de todos os tempos, a atuação foi memorável e
o Oscar póstumo merecido.
— Concordo com ela — quem diz é uma mulher linda que aparece logo
atrás de Fernando e Bruno que estão do lado de fora da baia, a reação de
Bruno é imediata. Ele se vira e a puxa para seus braços, ela é pequena,
talvez da minha altura, então praticamente some dentro do abraço.
— Como você está linda — ele passa uma das mãos por seu cabelo —
Deus agora entendo o medo do seu irmão — ele gargalha e a tensão que me
tomou começa a dissipar quando a compreensão de quem é ela chega. —
Estávamos todos esperando ansiosos você chegar, não é mesmo Fernando?
Só quando ele cita o amigo é que desvio minha atenção para o homem
moreno ao seu lado, mas que agora está branco como a neve. Seus olhos
estão cravados na mulher à sua frente, como se não pudessem acreditar no
que vê.
— Fernando, qual seu problema? O gato comeu sua língua? — Poliana
diz encarando-o, seu olhar é desafiador, e posso estar enganada no meu
julgamento, mas aí tem. Fernando balança a cabeça como se saísse de um
transe e se aproxima dela.
— Estou bem... — ele coça a garganta como se tivesse dificuldade de
falar — é que fiquei meio assustado com sua mudança. Fazem o que,
quatros anos?
— Mais ou menos isso — ela responde como se não fosse algo que se
importasse, mas sinto que se importa. — você não fez muita questão de
voltar enquanto Bruno não estava aqui, não é mesmo?
— Não é isso, é que...
— Não importa, estamos todos aqui agora — ela o interrompe, o clima
fica pesado. Quase posso ouvir a voz do Galvão Bueno na minha cabeça “E
vai se criando um clima gostoso”.— Você deve ser a Vivian? — sua atenção
agora está dirigida a mim, que estou do lado de dentro com os cavalos. —
Ouvi falar muito sobre você.
— Ouviu? — É a única coisa que consigo dizer.
— Meu irmão sempre tem muitas coisas para me contar durante nossas
ligações. Queria tanto ter te conhecido no Natal passado, mas você não veio
passar com a gente na fazenda. — engulo em seco. Porque sempre declinei
dos convites que me fizaram. — E como não consegui vir em julho, só
agora poderemos nos conhecer. Sinto que seremos boas amigas.
Quando percebo ela já está dentro da baia, me abraçando. Em um
primeiro momento fico sem reação, mas as palavras de Sr. João voltam a
minha mente e me permito aquele momento, retribuindo o abraço. Sem
conseguir evitar, meu olhar encontra o de Bruno, o brilho que eles refletem,
me diz que ele gosta do que vê.
Capítulo 9

Bruno Avelar
“A amizade é tudo’

— O que foi aquilo entre você e a Poli— indago meu melhor amigo, na
primeira oportunidade que ficamos sozinhos. Poliana está matando a
saudade da família enquanto tomam café e por incrível que pareça, Vivian
mais uma vez está em nossa casa, conversando com todos e mais solta que
imaginei que poderia vê-la.
— Não sei do que está falando — encaro o idiota sentado na poltrona
do meu quarto, o arrastei comigo com a desculpa de vir me ajudar encontrar
onde deixei o presente que havia trazido para Poli, mas eu sei onde o
guardei. Fiz questão de tirar da mala antes que arrumassem minhas coisas.
—Corta essa Fernando, eu percebi o clima pesado entre vocês. Não
somente eu, acho que somente quem estava muito distraído para não notar
como você ficou abalado com a chegada dela.
— Não fiquei abalado com a chegada dela, estava preparado para isso,
só não... — ele encara o tento — deixa pra lá. E aí encontrou, o que estava
procurando?
— Fernando, somos amigos há quase vinte anos. Sabe que pode
conversar comigo...
— Cara, esquece isso. Poliana só mudou muito desde a última vez que
a vi, foi meio impactante ver como ela mudou. Só isso.
— Ela tá realmente mudada, nem parece a mesma magrela descabelada
que vivia atrás da gente pela fazenda.
— Não mesmo. — ele se levanta, impaciente e querendo fugir. Eu sei
que nesse mato tem coelho, e dos grandes, e sei exatamente como empurrar
ele para a beirada. — Vamos? — pergunta já da porta.
— Acho que o cara que trouxe ela até a cidade, é algum namorado.
Você não acha?
— Não acho porra nenhuma Bruno, que caralho vamos mudar de
assunto.
— Porque está tão irritado.
— Vai se foder, Bruno. Vamos falar da Vivian que tal, acho ela um
assunto mais interessante — o filho da puta sabe onde atingir, essa é a
merda de ter um melhor amigo que te conhece tão bem. Tudo é uma via de
mão dupla.
— Com certeza ela é um assunto interessante, mas que só diz respeito a
mim. Diferente de você, não escondo meu interesse por ela.
— Não tenho interesse na magrela se é isso que está insinuado.
— Anham, ok. — não vou render o assunto, por enquanto. Estamos
quase na porta da cozinha quando paro meu amigo e coloco a mão no
ombro dele. — Eu realmente gosto da Vivian, Fernando. Mas ela é
diferente, não sei como me aproximar dela. — confesso. Porque apesar de
ser um grande cabeça dura na maioria das vezes, sei que posso contar com
ele.
— Acho que está no caminho certo.
— O que quer dizer com isso?
— Só relaxa Bruno e continua o que está fazendo. Posso não ser um
especialista em relacionamentos, mas a mão de vocês entrelaçada mais cedo
e a forma como se olharam deixou bem claro que você não é o único
envolvido. — Assim que termina de falar, ele passa por mim entrando na
cozinha, me deixando com muito o que pensar.
Será mesmo?
Entro na cozinha e me sento na mesma cadeira que estava antes de ir ao
meu quarto, bem de frente para Vivian. Ela está sorrindo enquanto minha
madrinha conta alguma coisa sobre quando éramos crianças — ... eles
chegaram correndo, quase sem fôlego, Zé foi o mais picado no corpo, mas
Bruno...— a história da vez é sobre quando subimos em uma árvore e não
sabíamos que tinha uma casa de marimbondo nela. Foi um ataque brutal o
que sofremos, hoje já conseguimos rir da situação, mas no dia foi
aterrorizante. Fiquei com a cara toda inchada por conta das ferroadas.
Vivian me encara sem saber se ri ou fica com pena quando Madá conta
exatamente este fato.
Estendo a caixa de presente em tamanho médio para Poliana por cima
da mesa. — Não pude deixar de comprar quando vi— quando éramos mais
novos, ela era apaixonada pela história do Pé Grande, em dois mil e
dezenove quando lançou o filme Abominável, ela fez o Zé e eu assisti-lo
em plena noite de Natal, isso porque ela já tinha visto uma cinquenta vezes.
Sorrio ao lembrar.
— Meu Deus, meu, Deus. É tão lindo — ela sacode o globo de neve
que tem o cenário do filme e os personagens dentro. — Bruno eu amei
demais, de verdade mesmo — diz abraçando o globo de neve. Desvia
minha atenção para a mulher ao seu lado e o que vejo faz um alerta gritar
em minha cabeça e meu coração gelar.
Vivian está pálida, como se tivesse visto um fantasma. Ela encara o
globo de neve que Poliana deixou sobre a mesa. Vejo sua garganta se
movimentar quando ela tenta engolir, a força que impõe faz parecer que tem
uma bola de ferro presa em sua garganta. Chamo seu nome, mas somente na
terceira vez seu olhar encontra o meu. Ela pede licença, se levanta e sai
correndo da cozinha.
— O que aconteceu? — ouço todos questionarem enquanto vou atrás
dela.
Passo pela porta de madeira e a vejo descendo os últimos degraus da
escada batendo em disparada em direção ao pasto. Já é noite, mas a lua faz
um ótimo papel iluminando o céu, então consigo ver sua silhueta
perfeitamente quando ela cai de joelhos e segura o rosto com as mãos. Me
aproximo devagar, não quero invadir seu espaço, mas preciso me certificar
que ela está bem.
— Vivian — chamo mas ela não se move. Me aproximo e vejo seu
corpo tremer. Ela está chorando. Caio de joelhos ao seu lado e a
trago para os meus braços. — Calma, estou aqui, vai ficar tudo bem.—
mesmo sem saber o que de fato está acontecendo, uma coisa tenho certeza.
O globo de neve foi o gatilho para toda essa dor transbordar. Acaricio seus
cabelos, enquanto a embalo em meus braços.
—Vai ficar tudo bem. — repito e agora não sei, se tentando convencer
a ela ou a mim mesmo. — Venha, vamos sair daqui. — tento me levantar e
trazê-la comigo, mas ela se agarra mais ao meu corpo, dificultando o
processo. Então continuo ali, embalando-a enquanto chora silenciosamente
em meu peito.

Desvio a atenção da estrada por um milésimo de segundo, somente o


necessário para dar uma conferida em Vivian, que permanece calada e com
a cabeça encostada no vidro, olhando para fora desde que saímos da
fazenda. As únicas palavras que saíram da sua boca desde que ela deixou a
mesa de café naquele rompante foram “me leva pra casa” e é o que estou
fazendo. Mesmo preocupado, com a cabeça fervilhando questionamentos,
me mantenho em silêncio também, respeitando seu momento, lhe dando
espaço.
Mil teorias rondam minha mente sobre o que pode ter acontecido com
Vivian, não hoje, mas em seu passado. Mesmo que várias coisas pareçam
possíveis, chego a conclusão que ficar tentando descobrir é um desgaste
desnecessário, no momento certo eu saberei. Não sou um homem que
costuma desistir do que quer. E eu quero Vivian, quero de uma forma que
nunca imaginei que fosse possível. Mesmo sem nunca tê-la tocado, sinto
que isso que está acontecendo entre nós é intenso e não por acaso.
Sei que ela sente algo, mesmo antes do que Fernando falou hoje mais
cedo, já havia notado como ela me olha, como seu corpo reage a minha
aproximação. E hoje quando ela segurou minha mão, entrelaçando nos
dedos, foi tão bom e pareceu tão certo.
— Me desculpa — sua voz é tão baixa— sei que te devo uma
explicação.
— Não me deve nada, Vivian. Mas estou aqui se quiser conversar, não
porque me deve alguma coisa, mas para dividir o peso. — sinto seu olhar
em mim.— Pode me contar qualquer coisa.
— Eu tinha globo muito parecido com aquele que você deu a Poliana—
continuo olhando em frente, mas pela visão periférica vejo que ela seca a
bochecha— era do meu pai na verdade. Foi a única coisa dele que ficou pra
mim depois que ele morreu.
— Sinto muito por sua perda— sou sincero.
— Não me lembro dele, tinha apenas quatro anos quando ele morreu.
Mas de alguma forma aquele globo era nossa conexão. — ela pausa,
enquanto olha para fora por um tempo, antes de continuar. — mas tudo isso
ficou pra trás.
E sua mãe? Você não mais alguma família? É o que quero perguntar,
mas me satisfaço com o que ela está disposta a entregar. Vivian é como uma
cebola, cheia de camadas, e sei que com paciência vou conhecer cada uma,
no tempo dela, não no meu.
—Chegamos.— informo assim que paro caminhonete na porta da sua
casa. Me viro em sua direção — tem certeza que vai ficar bem aqui
sozinha?
— Estou sozinha a muito tempo Bruno. — a tristeza é como coice no
meio do peito.
— Não está mais — é o que consigo dizer, a voz está embargada.
— Obrigada, por tudo e me desculpa novamente todo trabalho que te
dei. — quero dizer que carinho não se agradece. Mas apenas aceito e sou
pego de surpresa quando ela se inclina e deixa um beijo na minha bochecha
antes de descer do carro— Boa noite, Bruno.
Acompanho paralisado todos seus movimentos até que ela desapareça
atrás do portão de aço pintando de marrom. Levo a mão ao local onde
minha pele ainda queima depois do toque suave dos seus lábios. Inspiro
profundamente preenchendo meu corpo com seu perfume que ficou dentro
do carro.
É muito louco um homem experiente como eu, ficar mexido com um
simples beijo na bochecha. Mas o fato é que para mim é um grande passo.
Sei que aos poucos vou conquistar a confiança dela. Olho mais uma vez
para o portão, antes de dar partida.
Ligo o som e deixo a playlist rolar enquanto dirijo para casa. A
primeira música que toca é “Você já a dona do meu coração” da dupla Zé
Henrique e Gabriel. Vou batucando no volante enquanto repasso o dia em
minha mente, no segundo refrão me pego cantando — olha pra mim, você
vai ver, que todo meu amor é você e nada vai mudar a direção dessa louca
paixão. Você já é a dona do meu coração.— sorrio como um bobo
apaixonado, é por que assim que me sinto. Bobo, apaixonado e perdido.
Não sei o que essa mulher tem que me deixa louco, mas quero tudo
com ela. Lembro novamente da sensação de tê-la em meus braços, do toque
dos seus lábios, do seu sorriso lindo, mesmo que muitas vezes contido, de
como ela sempre morde os lábios inferiores sem perceber que o faz e como
sinto vontade de ser eu a mordê-los. Como ela fica linda corada e
inevitavelmente minha mente me leva longe. Sacudo a cabeça, dispersando
os pensamentos.
Não seja um babaca.
Não vou fingir que ela não me atrai e que não estou louco para me
perder em cada curva do seu corpo, porque seria até ridículo visto que a
primeira coisa que me chamou atenção foi a beleza física dela. Mas agora,
porra. Fica a cada dia mais difícil, porque além de linda, Vivian é doce,
gentil, inteligente ... puta que pariu, ela é perfeita. Tem todas as coisas que
mais me atraem em uma mulher.
Continuo meu caminho até a fazenda e entre uma música e outra que
tocam nos auto falantes, vou pensando na vida. Reflito sobre o dia, os
acontecimentos e principalmente sobre as coisas que descobri sobre Vivian
e sei exatamente o que fazer para trazer um pouco de alegria para sua vida.
Capítulo 10

Vivian Montenegro
“Eu tô em queda livre, caindo, caindo...”

Me jogo na cama e encaro o teto pintado com tinta barata que já está
descascando. Tudo nesse lugar é assim, frágil, barato, de segunda mão, mas
é tudo que eu tenho, e até ontem parecia ser tudo de que precisava. Eu
estava indo com minha vida do jeito que estava, a maioria dos dias eram
bons. Trabalhar, estudar, dormir e rezar para não sonhar.
Mas ... Jesus, minha mente está uma bagunça. Eu só queria poder me
entregar a tudo que estou sentindo, deixar que as coisas aconteçam sem
ficar fugindo. Levo uma das mãos aos lábios. Ainda posso sentir o calor da
sua pele em meus lábios, tudo parece tão certo, quando estamos próximos.
A forma com ele me abraçou e cuidou de mim, enquanto enfrentava um dos
piores momentos que já tive desde que tudo aconteceu.
Fico mais um tempo repassando os últimos dias, lembranças passando
como um filme em minha memória, do dia que conheci Bruno e até minutos
atrás. É inegável que existe uma atração entre nós, vejo os olhares dele, a
forma como trata, como parece estar sempre tentando me desvendar, e isso
me aquece e me assusta ao menos tempo.
Essa situação é tipo decidir pular de paraquedas de um avião. Você
quer ficar ali dentro só admirando por saber que é atitude segura, mas por
dentro tem aquela voz dizendo para pular e aproveitar a queda, porque é
nela que está a verdadeira emoção. Eu quero pular, quero muito. Mas o
medo não é somente sair machucado, é deixar um rastro de sofrimento
durante a queda.

É sábado, sei que precisava ir a fazenda para ver o potrinho, mas falei
com Ângelo que não acordei me sentindo bem, como se estivesse iniciando
uma gripe e ele avisou Antônio para fazer o check up de hoje em mãe e
filho e pediu que nos ligasse caso mãe ou filho precisasse da presença de
um dos veterinários. Depois do parto a recuperação das éguas é bem
tranquila, os potrinhos se estão saudáveis ao nascer demandam
acompanhamento no desenvolvimento, mas nada que precise ser diário.
É claro que estou fugindo dos meus sentimentos por Bruno, e toda a
confusão que vem com ele. Não vem me olhar com essa cara de
julgamento, não. Antes, se coloca um pouco no meu lugar. Ele é filho do
meu patrão, na verdade se olharmos bem, ele agora é mais meu patrão que o
Sr. João. É gostoso em um nível “tô molhada só de olhar”, é atencioso, me
olha como quem quer me proteger e me devorar ao mesmo tempo. Eu não
transo há muito tempo e sinto, não uma queda, mas a própria Catarata do
Iguaçu por ele. Se der merda? Porque a chance de dar é grande, eu perco
tudo.
Estou fodida e nem é do jeito bom.
Não posso ficar parada pensando em Bruno, e muito menos na palavra
que começa com F, mesmo que não seja no sentido gostoso dela, porque
imediatamente minha mente me leva para onde eu quero muito estar, mas
não devo. Decido dar uma geral na minha casinha, lavo o banheiro e
algumas roupas que estavam se acumulando da semana, ajeito meu guarda
roupas, varro, passo pano e tiro poeira de tudo ao som da minha musa do
rock Pitty.
Será que eu já posso enlouquecer?
Ou devo apenas sorrir?
Não sei mais o que eu tenho que fazer
Pra você admitir

Que você me adora (ouh, ouh, ah)


Que me acha foda (ouh, ouh, ah)
Não espere eu ir embora pra perceber

Não resisto e começo a cantar a segunda parte do refrão —... que você
me adora, que me acha foda, não espere eu ir embora para perceber—
continuo organizando minha pequena prateleira que tem alguns livros sobre
medicina veterinária com foco em equinos, alguns livros da faculdade e
alguns de romances. Amo ler desde pequena, a leitura sempre foi uma
companhia e sempre tive muitos livros à minha disposição. Hoje uso mais
meu app do Kindle pelo celular e tenho alguns poucos exemplares físicos,
que são meus xodós.
Seguro o exemplar de “Como domesticar um safado” e tiro a poeira da
capa. Eu amo esse livro. Maitê é minha mocinha preferida da trilogia dos
irmãos Cortês. Ela é forte, decidida, resiliente. Mesmo com todas as
adversidades da vida, não deixou que a dor que da perda e a que os outros
lhe imputaram tirassem seu brilho e alegria. Às vezes eu queria ser mais
como ela, não na parte de ser meio mão de vaca. Mas na parte de ser
corajosa.
É Maitê, a verdade é que mesmo se eu fosse corajosa, meu final não
tem muita perspectiva de ser feliz. Devolvo o livro para a prateleira, agora
devidamente limpo, quando Maneskin como a tocar na caixinha de som,
que apesar de pequena é muito potente e depois do meu notebook deve ser a
coisa mais valiosa aqui nesse apartamento E a única nova com certeza.
A caixa de som JBL Flip 6 foi um presente do Ângelo no meu
aniversário. Fiquei sem reação, não pelo valor do presente, mas por ser o
primeiro presente que ganhava desde os meus dezoito anos e por ser algo
tão significativo. Eu amo música, estou sempre com os fones ouvindo
minhas músicas favoritas, então significou demais para mim.
I wanna be your slave
I wanna be your master
I wanna make your heartbeat
Run like rollercoasters

I wanna be a good boy


I wanna be a gangster
'Cause you can be the beauty
And I could be the monster

Balanço meu corpo no ritmo da batida de I Wanna be your slave. A voz


de Damiano dominando o ambiente e me fazendo esquecer de tudo ao meu
redor — I wanna be a champion. I wanna be a loser. I’ll even bе a
clown.'Cause I just wanna amuse you...— canto usando um cabo de
vassoura como microfone. Que jogue a primeira pedra quem nunca se
sentiu um rockstar cantando em um microfone improvisado fazendo um
show particular para seus móveis.
Escuto a campainha tocar por cima da música que está um pouco alta,
abaixo o som, e antes de descer, prendo cabelo num rabo de cavalo para
domar a rebeldia dele. Não me preocupo em troca de roupa, o short jeans e
a blusa de malha sem gola e cortada estilo cropped tá ótimo para atender
quem quer que seja. Inclusive poderia apostar que é o senhor Geraldo, meu
vizinho da direita, ele sempre reclama quando meu som está um pouco mais
alto, diz que atrapalha ele a ver seu programa na TV. Mas pelo amor de
Deus, é meio-dia de um sábado.
Desço os últimos degraus, pedindo paciência aos seres supremos, por
que ultimamente não ando com muita paciência para vizinho folgado que se
acha dona do rua, porque se eles me deram força, é capaz que eu acabe
evoluindo para um Super Saiyajin, caso ele venha de novo com seu sermão
sobre respeitar os outros e o atinja com a minha Kamehameha .
Assim que abro o portão perco toda pose emputecida e fodona, meus
joelhos bambeiam, porque não é o senhor Geraldo que está do outro lado
portão. E sim a própria tentação em carne, osso, músculos e muita
gostosura. PUTA. QUE. PARIU. Nenhuma colaboração né universo?!
— Oi, Vivian — ele me cumprimenta enquanto tento sair da névoa que
me atordoada toda vez que vejo esse homem depois de algum tempo sem
apreciar a visão que ele é. — Desculpa vir sem avisar, mas Ângelo falou
que você estava meio gripada. — ele levanta uma bolsa térmica — Trouxe
algumas coisas para você. Posso entrar?
Entrar? Na minha casa? Olho para o homem à minha frente. Você
consegue resistir, Vivian. Dou um passo para o lado abrindo caminho para
— Claro, me desculpe a falta de educação e a roupa, não estava esperando
receber ninguém — seu olhar passa por todo o meu corpo, como se somente
agora tivesse realmente notando o que estou vestindo. E vejo um brilho
intenso surgir nele. Deus, isso vai ser no mínimo ...interessante.
— Com certeza! — só percebo que falei em voz alta quando ele me
responde. Queria fugir para as montanhas, mas faço a minha melhor cara de
paisagem e faço sinal para ele ir em direção a escada.
— Primeiro as damas — ele diz me dando passagem. Como a escada é
um pouco estreita, nossos corpos ficam bem próximos quando passo por
ele. Aproveito o momento para inspirar mais fundo e encher meus pulmões
com sua fragrância deliciosa., uma mistura de perfume amadeirado e
essência de Bruno. Uma combinação que desestabiliza.
Assim que passo pela porta, dou graças a Deus por ter levantado cedo e
dado uma geral em tudo. Minha casinha é modesta, mas está limpinha e
com cheiro de lavanda. Desço as cadeiras que ainda estavam de pernas para
cima sobre a mesa e ofereço uma para Bruno sentar-se.
—Maneskin? Bom gosto — ele fala sobre a música que agora toca
baixo na caixinha de som
— Você gosta? Achei que só curtisse sertanejo
— Cuidado com a estereotipagem, doutora — ele ri — sou eclético,
mas tenho preferência sim, pelo sertanejo.
— Desculpa, fui muito babaca fazendo pré julgamentos.
— Você não foi, só estou enchendo o saco. — continue sorrindo
Bruno, amo seu sorriso — Ouvi você cantando lá de baixo.
— Deus, que vergonha. Me perdoe por te obrigar a isso. Às vezes me
empolgo. — sinto meu rosto esquentar —Estava faxinando a casa, aí acabo
me soltando um pouco e tento aproveitar o momento.
— Sua voz é gostosa de ouvir, o inglês fluente ajudou também.
— Eu fiz aula de canto na escola quando pequena, isso ajudou a não
ser tão horrível. Mas sei que está sendo gentil sobre minha voz não ser tão
ruim.
— Não mentiria para você, nem sobre algo tão pequeno assim. —
engulo em seco. Porque mentir é o que venho fazendo desde os meus
dezoito anos —Só aceita o elogio.
— Ok, sendo assim, obrigada. — mudo o foco da conversa— Você
aceita algo para beber? Água, suco...
- Obrigado, estou bem. Não quero te dar trabalho. Na verdade, o
contrário, vim trazer algumas coisas para você. — colocando a bolsa sobre
a mesa e sem cerimônia nenhuma, e ele começa a tirar tudo de dentro dela.
Gosto da sua atitude, porque apesar de podre de rico, Bruno nunca agiu com
soberba perto de mim, pelo contrário, é sempre de uma simplicidade rara
hoje em dia. — Tem uma canja de galinha que Madá preparou
especialmente para você, frutas, suco natural, mel, própolis, folhas para um
chá que ela dá para gente desde pivetes e que é tiro e queda.
Enquanto ele vai tirando as coisas, sinto a culpa me dominar. Eu menti
sobre estar doente, Madá se preocupou em preparar tudo isso, ele deixou o
que quer que tivesse que fazer para trazer tudo isso para mim... — Bruno —
seguro sua mão, parando o que estava fazendo e ganho sua atenção.
— Não estou doente. — digo olhando em seus olhos.
— Percebi, no instante em que abriu o portão. — ele responde sem
julgamento em suas palavras ou em seus olhos. — Será um segredo nosso,
Ok. Vamos deixar a Madá acreditar que você foi mais uma curada com seu
cuidado e amor.
— Tenho certeza de que se fosse o caso, esse seria o melhor dos
remédios. — seguro sua mão com mais força, estou na porta do avião nesse
momento, a adrenalina tão alta quanto a aeronave — Fiquei com vergonha
pelo que aconteceu ontem e com medo de tudo que venho sentindo. — sou
sincera dessa vez, ele não merece menos que isso.
— Medo?
— Sim. Você me confunde, me desestabiliza, me faz querer coisas das
quais eu já estava conformada em abrir mão... — ele se aproxima e puxa a
mão que estava junto a sua e a leva até sua boca beijando-a. Nesse
momento eu salto, sem me preocupar se sei abrir o paraquedas. — Não
consigo e não quero mais fingir que não sinto nada.
— Então não finja — sua mão livre vem para meu pescoço, ele desliza
o polegar em um carinho inocente, mas que incendeia todo meu corpo. —
Pode pular Vivian, eu não vou te deixar cair. — como se lesse meus
pensamento, essa é última coisa que ele diz antes dos seus lábios se
chocarem com os meus.
Não é um beijo calmo, é urgente, denso e dominador. Sua língua me
invade, dita as regras e coordena cada movimento meu. O vigor com que
me prende pela nuca e pela cintura, fazendo meu corpo se pressionar ao seu
torna ainda mais delicioso o momento. Sentir seu cheiro assim de tão perto
é uma tortura deliciosa.
Aos poucos vamos nos acalmando e desacelerando o ritmo. Suas mãos
vêm para o meu rosto e ele as usa para me manter imóvel, totalmente à sua
mercê. Ele usa os polegares para massagear meus lábios — Tem ideia do
quanto esperei por esse beijo — nego — Desde o primeiro momento em
que te vi. — ele aproxima os lábios novamente dos meus e morde o inferior,
puxando-o um pouco.
E então me solta com delicadeza e se afasta. Sinto imediatamente falta
do contato, mas sei que precisamos ir com calma. — Vou guardar todas
essas coisas — começo a pegar as frutas e os sucos para colocar na
geladeira. Ele acompanha meu movimento e começa a me ajudar.
Guardamos tudo, deixando somente a vasilha com a canja sobre a mesa.
— Se você não quiser comer a canja, posso preparar outra coisa para
nós ou podemos sair para almoçar em algum lugar — não consigo evitar o
sorriso que toma meu rosto — Meio que me convidei para o almoço né?!—
ele coça a nunca meio acanhado, e eu me derreto um pouco mais por esse
homem.
—Podemos comer a canja, eu não ligo. E sabendo que foi a Madá que
preparou, deve estar divina. Vou colocar numa panela para esquentar. —
Pego a vasilha e me aproximo da pia, procurando no armário o que preciso.
Deixo a canja esquentando em fogo baixo para não queimar e começo a
arrumar a mesa. Bruno tenta me ajudar, mas não deixo, ele já trouxe tudo,
estou fazendo o mínimo. Forro a mesa com uma toalha, a melhorzinha que
tenho, coloco os pratos, talheres, guardanapo de papel mesmo, copo e pego
a jarra com o suco de laranja que ele trouxe, e por um último um tapetinho
de madeira para colocar a panela quente para não precisarmos levantar caso
um de nós queira repetir.
Bruno faz questão de nos servir e acho o gesto tão nobre que não
questiono, apenas aceito a gentileza. Assim que dou a primeira colherada,
sou invadida por pura satisfação. Fecho os olhos, me dando um tempinho
para apreciar o sabor. A canja está temperadinha, uma delícia, e os
torresmos que acrescentei a ela deu um toque crocante que deixou tudo
ainda melhor. Só percebo que gemi de prazer quando abro os olhos e vejo
Bruno se mexer na cadeira, o olhar de desejo que me lança, me deixa mais
quente que a comida que está na mesa.
Capítulo 11

Bruno Avelar
“Imagina eu e você entre quatro paredes”

Porra, já foi difícil acalmar meu corpo depois do beijo que trocamos,
mas ouvir Vivian gemendo por conta da comida, elevou meu tesão em um
nível hard e meu pau agora está latejando apertando dentro da calça jeans.
Me remexo na cadeira, tentando amenizar a situação e sou pego em
flagrante. Os olhos de Vivian demonstram que ela sabe exatamente o efeito
que tem sobre mim. Mas por sorte, ou não, ela desvia o olhar, quando volta
a comer.
O silêncio que se estende me dá uma chance de analisar a situação
como um todo. Realmente achei que Vivian estivesse gripada, tivemos uma
mudança brusca de temperatura nos dois últimos dias, justamente os dias
que ela se dedicou mais ao trabalho, cuidando do parto de Estrela.
Minha intenção era chegar aqui, entregar a comida, ver se ela precisava
de mais alguma coisa e ir embora. Porque de maneira nenhuma queria
forçar minha presença na casa dela. Mas assim que o portão abriu, vi que
ela parecia mais irritada que doente. E como estava linda, com cara de
poucos amigos.
Foquei em descobrir por que ela mentiu sobre estar passando mal, mas
admito que jamais pensei que ela se abriria sobre seus sentimentos e
admitiria ter mentido por ter medo do que vem sentindo por mim.
Se for totalmente sincero comigo, a rapidez e intensidade dos meus
sentimentos também me assusta, mas nunca fui de fugir do que sinto e do
que quero, por mais desafiador que fosse. Essa não seria a primeira vez.
Quero essa mulher para mim. E a terei.
— Vocês têm sorte por ter Madá e todas as delícias que ela cozinha. —
Vivian quebra o silêncio —Eu daria tudo por mais refeições saborosas
assim. Até sei cozinhar uma coisa ou outra, nada que se compara a isso —
aponta para o prato com a colher —me viro, mas fazer só para mim
desanima.
— Eu não ligaria se você cozinhasse para mim — ela gargalha.
— É claro que não. Já percebi que você é bom de garfo. Quem sabe um
dia desses não faço minha especialidade para você — diz com um sorriso
travesso rosto.
— E qual seria essa especialidade? — questiono, adorando o clima leve
que se instaurou entre nós.
—Arrozcovo! — ela diz e não dou conta, a gargalhada rompe em meus
lábios e lágrimas chegam a deixar meus olhos.
— Não vejo a hora de experimentar. — digo ainda rindo. Mas a
verdade é que eu comeria qualquer coisa que essa mulher colocasse na
mesa para mim.
Inclusive ela.
— Você está rindo, mas fazer um arroz soltinho, temperado e um ovo
estrelado perfeito requer muita expertise. — ela tenta ficar séria, mas é
quase impossível.
— Não duvido disso. Fernando é uma prova que fritar um ovo não é
para qualquer um — endireito a postura após a crise de riso. — ele tem até
uma cicatriz conquistada em uma de suas tentativas.
— Sério?
— Sim, ele fez uma tatuagem por cima. — digo me lembrando do dia
em que ele foi fazer a tal tatuagem e o tanto que tiramos sarro dele por
conta disso.
— Deus, vocês devem ter pegado demais no pé dele por isso.
— Com toda certeza. — digo sorrindo —ele não deixaria por menos se
fosse com um de nós.
— É visível como todos vocês se dão bem — seu tom agora é mais
melancólico — eu daria tudo por momentos assim com meus amigos. —
Percebendo a mudança de clima, ela se levanta da mesa e começa a tirar as
coisas que usamos. Imediatamente me levanto também e começo a ajudar.
— Bruno ...
— Sem Bruno. Eu lavo e você seca, depois guardamos tudo junto.
Nos minutos seguintes conversamos amenidades enquanto ajeitamos a
cozinha juntos. Conto sobre meu período fora do país e o motivo que me
faz voltar. Sentamo-nos novamente à mesa e enquanto tomamos água, ela
me conta sobre o curso de veterinária e sobre nunca ter tido dúvida do que
queria fazer quando fosse para a faculdade. Sem pressionar, Vivian acaba se
abrindo um pouquinho mais.
Estamos tão envolvidos em nossa conversa que só percebemos que
começou a chover, quando um vento forte entra pela janela trazendo gotas
de chuva.
— Deus, de onde veio essa tempestade — ela diz enquanto fechamos a
janela. — O dia estava claro quando você chegou — estamos parados lado
a lado olhando a chuva caindo lá fora. O céu escuro, os trovões e as rajadas
de vento são indícios de que a chuva não vai cessar tão cedo.
Ela se vira olhando seu “apertamento” como ela carinhosamente chama
sua casa. Que na verdade é um quarto/sala conjugado com a cozinha. É
muito pequeno, mas bem organizado e tem a sua personalidade. Vejo o
exato momento em que ela morde o lábio inferior, e fico tentando em ir
morder em seu lugar, mas como já sei identificar seus sinais seu que algo a
está perturbando.
— Estamos presos — ela diz me encarando. — não tenho muita opção
de diversão aqui, mas podemos ver um filme se você quiser. — então é isso
— Eu só preciso tomar um banho antes, porque estava na faxina.
— Vai lá, enquanto isso vou ligar para a fazenda e saber como as coisas
estão por lá. Os cavalos geralmente ficam agitados com tempestades assim.
— Verdade, bem pensado. É ...ok, então, vou lá — ela indica a porta do
banheiro — fica à vontade.
Nos minutos que passam tento fazer tudo para que minha mente não
foque na mulher que está na porta à minha frente, nua, tomando banho...
Deus, só pode estar me testando. Ligo para o meu pai. Conversamos sobre
algumas coisas, ele pergunta sobre o estado de saúde de Vivian, opto por
contar uma meia mentira, dizendo que ela “agora” está se sentindo bem, o
que não deixa de ser uma meia verdade.
Depois de finalizar a ligação com ele, troco algumas mensagens com
Fernando e respondo a dois e-mails. Fernando ontem estava super estranho
durante o jantar, calado demais, observando Poli de um jeito que não deixa
dúvidas que ele sente algo por ela. Sentimento esse nada fraternal na minha
opinião. Ouço o som da porta se abrindo, e paro de respirar por um
momento.
Uma Vivian secando os cabelos sai em meio o vapor causado pelo
banho quente. Ela está usando vestido azul com flores, que vai até o meio
das coxas. Ele é simples, de alças finas, mas modela os seios de uma forma
sexy, que faz minha boca salivar. Tento desviar meus olhos do seu corpo,
mas a tarefa se torna impossível quando ela se curva em direção ao que
parece ser uma mesinha próxima a cama e pega alguma coisa de lá. O
vestido sobe um pouco mais me dando uma visão mais ampla das coxas
grossas.
Me dou um murro mental por estar sendo um babaca a secando desse
jeito, desviando minha atenção novamente para o celular em minhas mãos.
Vivian estava errada, isso não seria no mínimo interessante, seria torturante
isso sim. Ajeito meu pau muito acordado na calça e tento me concentrar em
outro e-mail que preciso responder ao administrador de uma das nossas
fazendas no Texas.
— Demorei muito? — ela pergunta sentando -se na cama e penteando
os longos cabelos. O seu perfume domina todo o ambiente.
— Não, e não deveria se preocupar com isso, está na sua casa.
— Eu sei, mas não queria te deixar esperando.— ela passa um creme
nas mãos e depois leva aos cabelos, massageando as pontas. — Terminei
aqui. Já decidiu o que vamos assistir? — ela se levanta e pega o controle em
cima do suporte da TV que fica presa na parede.
—Não sabia que seria o responsável por essa decisão. — levanto-me
indo em sua direção.
—Visitas tem algumas regalias.
— E quais seriam as outras? — digo me aproximando mais. Ela engole
em seco, mas não devia do meu olhar. Ela sabe que está jogando gasolina
no fogo. — Diga, Vivian.
—Pode escolher o que vamos comer durante o filme.
Quero comer você, o que acha disso?
— E quais são as minhas opções?
— M&MS, amendoins, ou posso fazer pipoca. — diz de forma lenta,
passando a língua pelos lábios. — quando estou a menos de trinta
centímetro de distância ela dá um passo em minha direção, encurtando a
distância, deixando nossos corpos quase colados e ainda mais cientes um do
outro. — Qual você prefere?— pergunta me olhando de baixo para cima
por sob os cílios, mordendo o lábio do jeito que me deixa louco.
Juro que tentei...
Não sei quem agiu primeiro, ou se foi tudo coordenado. Nossas bocas
estão novamente se devorando, mas diferente de antes, dessa vez Vivian
está mais intensa, suas mãos me puxam cada vez mais para ela, como se
fosse possível estarmos mais colados do que estamos. Não há noção de
tempo e espaço que impeçam de continuar beijando essa mulher como se
fosse a nossa última vez.
A sensação de urgência se apossa do meu corpo, ao escutar seu
gemido quando infiltro uma mão por baixo do seu vestido, subindo pela
lateral do seu corpo. Desço beijos por sua mandíbula indo em direção ao
pescoço delicado e convidativo, chupo a pele sensível, mas sem força para
não ficar marcada, resvalo minha barba por fazer em seu ombro e depois o
mordo.
Vivian estremece e os gemidos que solta, me fazem perder o resto do
controle. Aperto o um dos seios redondinhos por cima vestido, eles estão
pesados , duros e os bicos estão quase furando o tecido delicado da roupa.
— Tem certeza de que é isso que você quer? — por mais dolorosos que
seria ter que parar agora, não posso deixar de questionar.
— Nunca tive tanta certeza antes sobre alguma coisa, como tenho
agora — a voz firme, apesar de um pouco mais baixa por conta do tesão e
ar que tenta recuperar após nosso beijo, derruba a última barreira que
segurava meu controle. Em um movimento rápido tiro seu vestido e sou
presenteado com a visão mais perfeita do mundo. Os seios de Vivian são
médios, o tamanho perfeito para as minhas mãos e boca. As aréolas são de
um tom de rosa que nunca vi antes.
— Gostosa — a puxo para meu colo, fazendo suas pernas entrelaçarem
minha cintura — seus mamilos ficam da altura ideal para possa abocanhá-
los. Sugo um com vontade, dando mordidas leves no bico, enquanto
confirmo que o outro cabe perfeitamente em minha mão. — Vivian geme e
se esfrega na minha ereção que está implorando para se libertar e se afundar
nela. Encosto seu corpo contra a parede ao lado da TV.
— Você está vestido demais — ela diz entre um gemido e roçar no meu
pau. E então começa a tirar minha blusa. As mãos pequenas, mais
habilidosas desabotoam o cinto e a calça, ela os empurra por minhas pernas.
Termino o trabalho, chutando-os para o lado, ficando apenas com a boxer
preta. Agora que estamos livres das roupas, volto a abocanhar os seios,
chupando-os com vontade.
Vivian arqueia a coluna me dando mais acesso ao seu corpo, totalmente
entregue. Dedilho seu clitóris por sobre a calcinha e a sinto totalmente
molhada. Num impulso puxo a peça do seu corpo arrebentando as tiras finas
das laterais, deixando exposta. Uso o dedo do meio para abrir sua boceta e
espalhar sua lubrificação natural, depois a fodo com ele, até junto o
indicador num vai e vem ritmado.
— Porra, eu sabia que seria apertada, mas pela forma como está
apertando meus dedos, meu pau vai ser ordenhado por você — Beijo-a com
fome, fodendo sua boca com minha língua, assim como meus dedos fazem
com seu sexo. Quando sinto que ela está quase pingando, afasto meus dedos
e meu corpo do seu, a descendo do meu colo.
Ouço o choramingo frustrado que ela solta, então seguro seu pescoço
com certa força e forçando a olhar para mim. Eles são brasas vivas, todo
tesão que sinto estão refletidos nos seus. — Preciso sentir seu gosto. —
beijo seus lábios antes de me ajoelhar aos seus pés. Levo sua perna
esquerda para o meu ombro, deixando aberta e a boceta rosada e toda
depilada exposta para mim. Passo a língua pelos lábios antes de dizer —
Quero que olhe para mim enquanto te com a minha boca, porque depois de
te fazer gozar assim, vou te foder de um jeito, que amanhã você sentirá
como se eu ainda estivesse dentro de você.
Chupo sua boceta com vontade, deslizo a língua para baixo e para
cima. Adiciono meus dedos ao ato e a penetro com tudo. Seu corpo ondula
e sei que seu orgasmo está perto.
— Eu vou gozar — sua voz é um fio
— Vai sim, porque é o que quero. — volto a fodê-la com mais força,
indo cada vez mais fundo — Goza agora, Vivian, nos meus dedos, na minha
boca.— Sinto sua vagina se contraindo em torno do meus dedos e ela tenta
fechar as pernas — Não, não, abre, quero você bem aberta enquanto te
como.— lambo todo seu gozo, o sabor é um manjar dos deuses. Eu poderia
viver dele.
Subo deixando beijos e leves mordidas pelo corpo languido de Vivian
que sustento em meus braços. Dou atenção novamente aos seios antes de
chegar aos lábios. Ela é receptiva e suga meus lábios sem nenhum resquício
de nojo por sentir seu próprio gosto em minha boca.
Os olhos de Vivian estão embebidos de tesão quando nos afastamos o
suficiente para nos encararmos. Ela leva a mão para a frente do meu corpo e
começa a massagear meu pau, numa carícia lenta que vai me deixando
ainda mais duro, se é que isso é possível. Ela encaixa os dedos nas laterais
da minha boxer e começa a descer pelo meu corpo. Adoro que ela tome a
iniciativa. Não há nada mais sexy que uma mulher que sabe o que quer.
Ela sustenta meu olhar até o momento em que tira totalmente a roupa
do meu corpo. Agora sua atenção oscila entre o meu rosto e o meu pau que
está na altura dos seus lábios. Ela os abre e quando percebo qual a sua
intenção. Seguro seu pulso com uma das mãos e outra embrenho entre os
fios ainda úmidos e a levanto — Não vai rolar agora, eu quero muito foder
essa boquinha gostosa, e levar meu pau bem fundo até sua garganta. Mas do
jeito que estou agora, eu não duraria nada.
— Isso não é justo — retruca com a voz manhosa, uma versão sua que
amei conhecer, ainda mais nessa situação. — ela se vira e caminha em
direção a cama. A visão da sua bunda redonda é a coisa mais perfeita do
mundo.
Quase morro quando a safada sobe na cama e engatinha para a
cabeceira. O traseiro arrebitado para cima me deixando louco para fodê-lo.
Ela quer me enlouquecer, mas não vou dar o gostinho de saber que sua
atitude me desestabilizou. Quando ela se vira e deita inclinada nos
travesseiros e almofadas que estão na cama, seguro meu pau e começo a me
masturbar ganhando rapidamente sua atenção.
Me aproximo aos poucos da cama, me tocando, fazendo movimentos
que vão da cabeça à base, vejo Vivian lamber os lábios e esfregar as pernas
uma na outra. Abaixo, pego minha carteira do bolso da calça e tiro dela um
pacote de camisinha.
— Posso e vou te foder de tantas formas e posições. É isso que você
quer, Vivian? — digo subindo na cama —Essa é a última chance...
— Cala a boca e me fode logo, Bruno — sua audácia termina de me
empurrar no abismo. Rasgo o pacotinho de camisinha com o dente e a visto
em tempo recorde. Puxo Vivian pelos pés e a viro de bruços. Ela solta um
gritinho com a surpresa do ato.
— Fica de quatro pra mim...— estalo um tapa em sua bunda gostosa.
Como a pele é branca, rapidamente a marca vermelha da minha mão
aparece e isso me deixa com mais tesão. — coloca o rosto no travesseiro.
Nessa posição vai me receber mais fundo.
Assim que ela faz o que mando, seguro meu pau rente a sua boceta e o
passo por toda a extensão brilhante e molhada, me aproveitando da sua
excitação. Aperto sua cintura e forço cabeça na sua entrada. Meu corpo
vacila quando entro mais e confirmo que ela é apertada. Meu controle indo
para puta que pariu.
—Porra, caralho.— Me afundo nela de uma vez como um selvagem.—
Apertada demais, simplesmente deliciosa! Quero morar dentro de você
Vivian. — a visão do meu pau sendo sugado por seu corpo é demais até pra
mim.
—Mais forte, cowboy — Vivian pede, e porra, ela quer acabar comigo
só pode. Levo minha mão até seu pescoço e trago seu corpo para cima,
colando suas costas ao meu peito, mordo seu ombro, depois o lóbulo da sua
orelha antes de apertar um pouco mais seu pescoço e dizer.
—Mas é uma safada mesmo — ela rebola no meu pau, me dando a
confirmação que eu precisava de que gosta de uma pegada mais bruta e
ouvir umas putarias. Impulsiono meu quadril contra sua bunda, invadindo
com mais força, fazendo-a ofegar e gemer como louca. — Gosta assim, é
safada?
— Gosto, Bruno... — ele geme quando gingo o quadril rodando meu
pau dentro do seu canal — Puta que pariu! Isso, assim,...—geme levando
suas mãos para trás tentando me puxar mais para si. — Ai, Bruno, isso, me
come com força.
O suor que escorre nas suas costas, se mistura ao meu. O cheiro de
sexo substituindo o de baunilha do seu banho recém tomado. Arremeto cada
vez mais forte, mais fundo e mais rápido dentro dela. — Goza comigo,
gostosa. Não vou durar muito mais. — levo a mão que estava em sua
cintura até seu clitóris e começo a esfregá-lo. Minha visão fica turva e
minha mente começa a ficar enevoada. Sua mão vem para a minha nuca e
ela vira o rosto capturando minha boca num beijo indecente..
— Vou gozar no seu pau, Bruno — diz entre gemidos, enquanto choca
seu corpo ao meu. Estamos no limite. Soco mais uma, duas, três vezes
dentro dela e a sinto me ordenhando, me apertando.
— Ca.ra.lho, isso. —. Meu corpo e mente me fazendo transcender em
níveis de prazer inimagináveis. Entro e saio mais duas vezes do seu canal e
na última investida me desfaço dentro dela. Sinto o meu gozo enchendo a
camisinha. As veias dos meus braços estão saltadas, meu corpo está rígido,
coração acelerando e saltando no peito.
— Isso foi... — ela começa dizer— o melhor sexo da vida — finalizo
sua frase, antes de cairmos exaustos na cama. Assim que me livro da
camisinha, a puxo para meus braços. Seguro seu queixo e o ergo para que
seu olhar encontre o meu — Você sabe que agora é minha né?— ela
gargalha, a safada ri como se eu tivesse contado a maior piada do último
século. Dou outro tapa em sua bunda, que a assusta e a faz arregalar os
olhos.
— Isso doeu—brada
— Não reclamou de dor uns minutos atrás. — mordo seu lábio inferior.
— É diferente — e está de volta a voz manhosa.
— Não foge do assunto, Vivian. Não tem a menor chance de você
escapar de mim — giro nossos corpos ficando cima dela, desço beijos por
seu pescoço, clavícula, até chegar nos seios. Levo um a boca e volto a
mamar nela — Não há a menor — chupo de novo e mordo o biquinho—
chance de você se livrar de mim.— sopro o bico que mordi e ela geme
gostoso impulsionando o corpo pra cima.
— Quer dar para mim de novo, Vivian? — desço minha mão para o
meio de suas pernas e afundo dois dedos nela sem aviso — Doida querendo
meu cacete aqui de novo, né? — ela assente, sem conseguir falar,
totalmente tomada pelo tesão. E Vivian com tesão é a coisa mais sexy que
já vi. — Diz que você é minha e te dou o que quer.
— Sou sua, Bruno — ela geme mais alto, conforme aumento a
velocidade dos meus dedos em sua boceta gulosa.
Paro para pegar outra camisinha e cubro meu pau novamente, não
perdendo nem mais um segundo fora do meu mais novo lugar preferido no
mundo. Abro bem suas pernas e fico de joelhos entre elas, dedilho seu
clitóris enquanto vejo meu pau entrando e saindo dela. — Minha — digo
indo mais fundo nela.
— Sim, sim.., — ela ofega — meto mais forte, dessa vez, não vou
prolongar, quero ela gozando dizendo que é minha. Mudo nossas posições e
a coloco por cima.
— Cavalga no meu pau, Vivian — ela rebola, sobe e desce sobre mim,
usando meu ombro como apoio. — Isso, engole meu pau, vai. Ele é seu, faz
o que quiser com ele.
— Vou gozar, Bruno — rebola mais rápido. Seguro sua cintura e
começo a socar fundo em sua boceta, os dois loucos de tanto tesão.— Isso,
aí... humm, tô gozando, Bruno.
—Eu sei amor, eu sei — digo me entregando também. — Essa boceta
vai ser meu fim. — me derramo mais uma vez em seu interior. E sinto que o
mundo pode acabar lá fora, tudo que importa, é esse momento. Aqui e
agora.
Ela desmorona em meu corpo, beija e alisa meu peito fazendo círculos
com as mãos. — Viu, nem foi tão difícil assim admitir que você é minha. —
digo dando um beijo em sua testa, sentindo o gosto salgado do suor.
— Você jogou pesado — diz mordendo meu peito— Mas ainda
precisamos conversar. — olha para mim agora e então sei que não, não vai
ser tão fácil assim.
Capítulo 12

Vivian Montenegro
“Não dá mais para negar que eu me apaixonei”

— Você prefere pipoca doce ou salgada? — de banho tomado, decidimos


que vamos maratonar Vingadores. A chuva diminuiu, mas ainda não
acabou. Bruno não fez menção de ir embora, e mesmo que ele tenha sido
todo possessivo durante o sexo, não tenho certeza sobre o que isso significa,
é claro que toda aquela coisa de “você é minha” é extremamente sexy
quando o cara tá te fodendo como um louco e de dando o melhor orgasmo a
sua vida. Mas como havia dito, precisamos conversar.
— Gosto das duas, mas acho que agora, prefiro a salgada — responde
enquanto prepara a TV para vermos o filme. Bruno me surpreende cada vez
mais. É atencioso, carinhoso e quem vê essa cara de bom moço, não tem
ideia do amante que ele é. Suspeito que o que houve entre nós hoje não é
nem a ponta do iceberg, por debaixo dessa camada romântica existe uma
selvagem, que eu estou louca para conhecer.
— Amo o cheiro de pipoca. É quase melhor que a própria pipoca — os
milhos estão estourando e o cheiro começa as espalhar por todo ambiente
— Vou tomar um guaraná, e você?
— O mesmo que você —diz se aproximando e beijando minha nuca —
Cheiro de pipoca realmente é muito bom, mas nada se compara ao seu —
mordisca minha orelha, jogando meu cabelo por cima do meu ombro
esquerdo — e o sabor... incomparável.
— Pode ir parando, você é insaciável homem? — estou rindo — você
me deu uma canseira e ainda fiz faxina — agora quem gargalha é ele.
— Vamos precisar melhorar esse condicionamento físico, doutora — dá
uma pausa enquanto seu olhar percorre meu corpo — o que fizemos hoje é
só um ensaio de tudo que pretendo fazer com você.
Deus, se um dia fui triste, nem me lembro. Obrigada!
— Está se achando demais, cowboy — digo virando a pipoca numa
bacia.
— Quer pagar para ver? Não fui eu que pedi arrego meia hora atrás —
pega um punhado de pipoca e leva a boca, enquanto arqueia a sobrancelha
me desafiando.
— Não vou cair na sua armadilha. Filme — aponto para a TV — é
somente isso para nós dois hoje.
— E uns beijinhos vai — faz cara de cão de caiu do caminhão — não
vou conseguir resistir a essa boca gostosa pelo resto do dia.
— Se fizer por merecer... — vou em direção a cama — senta primeiro,
quero me sentar no meio das suas pernas e encostar as costas em você.
— Tão mandona.
Nos acomodamos e logo estamos imersos no filme. Por mais que já
tenha assisto a toda série de filmes mais vezes que posso me recordar agora,
ainda fico hipnotizada com o desenrolar das cenas. Sempre amei filmes
com super-heróis, ainda era criança quando o primeiro homem de ferro foi
adaptado para as telonas e desde então venho acompanhando cada novo
lançamento. Gosto também dos filmes da DC, mas para mim é
inquestionável que as produções dos heróis da Marvel são superiores.
— Hulk é muito icônico, essa fala fez o cinema vibrar— Bruno comenta
sobre quando o herói bate Loki de um lado ao outro e o chama de Deus
fraco. — Qual é o seu favorito?
— Tony — nem preciso pensar duas vezes— Ele e o Peter Parker são
meus pontos fracos. Acho que nunca chorei tanto em por com ta um filme,
como chorei na morte deles.
— Vem aqui minha manteiga derretida — meu rosto é virado em sua
direção, seu nariz passa no meu, em um beijo de esquimó antes dos seus
lábios tocarem os meus. Não é um beijo ardente. É cheio de carinho, afeto,
sinto que posso me acostumar com momentos assim.
—Quer um pedaço do meu? — estamos comendo hambúrgueres
artesanais do Heroes Burguer, a nova hamburgueria da cidade. Além do
sabor delicioso, a decoração do lugar é toda temática. Confessei a Bruno
que queria ir lá desde a inauguração, ele tentou me convencer de irmos
hoje, mas preferi que não, então pedimos no delivery. Precisamos ter uma
conversa sobre o que está acontecendo entre nós, mas estou protelando
desde que falei sobre isso. Mordo um pedaço do seu sanduíche.
— Nossa — digo tampando a boca ainda cheia — Muito bom. — sua
escolha foi um Pantera Negra, com carne de hambúrguer de picanha, bacon,
cebola caramelizada, cheddar e pão preto. Ofereço o meu e o levo próximo
a sua boca, acompanho o movimento dos seus lábios e dentes ao morder
uma fatia, me lembro imediatamente do poder dela no meu corpo.
— O seu também é bom, mas prefiro o meu com bacon — pedi um
sanduíche mais leve, sem bacon e com salada, o baby Groot. — Vamos
conversar? — engulo em seco pega com a mudança brusca de assunto e
porque sei que o clima gostoso vai acabar. Me ajeito na cadeira e paro de
comer. Bruno analisa cada movimento meu, esperando que eu comece.
— Então, sobre aquela coisa de eu ser sua ...
— Sabe que falei brincando, não sabe? — Ah é, foi? Sinto meu
estômago revirar, eu aqui me iludindo — Sei que você não é minha, minha.
Não ainda. — Jesus, esse homem quer me enlouquecer. — Não quero te
assustar com minha intensidade, Vivian, tem pouco tempo que nos
conhecemos, mas quero muito, muito mesmo ficar com você.
Fôrma única viu, espécime raro esse.
— Você não me assusta, também quero ficar com você. Só precisamos ir
com calma. — olho bem em seus olhos antes de concluir — Conquistei o
respeito das pessoas que trabalham comigo, querendo ou não você é meu
patrão, não quero que me vejam como a mulher que dorme com o chefe...
— Vivian ..
— Só me deixe concluir. — ele assente — Ninguém paga as minhas
contas, Bruno, e não deveria me importar com o que as pessoas pensam de
mim, mas me importo, principalmente no meu ambiente de trabalho.
Preciso que por enquanto as coisas fiquem entre a gente, vamos nos
conhecendo melhor e ver onde isso tudo vai dar. Tem muitas coisas sobre
mim que você não sabe, que ainda não sinto segura para compartilhar —
finalizo e sinto sua mão segurar a minha por cima da mesa.
— Tudo bem, não precisamos ter pressa. Vamos fazer do seu jeito por
enquanto.
— Por enquanto?
—Sim, não vou ficar me escondendo e nem me privando de sair com
você, ou de demonstrar o que sinto. Não somos mais crianças, Vivian, sou
um homem que sabe o quer. E quero você.
— Me quer? — pergunto meio abobada, esse homem tem um dom
absurdo de deixar assim.
— Quero muito, vou conquistar sua confiança e te fazer sentir segura
para me contar seja o que for — um sorriso começa despontar no semblante
antes sério— E quero também poder te abraçar, te beijar e te apresentar
como minha namorada.
— Mas não sou namorada.
— É, ainda não é — diz balançando a cabeça ao mesmo tempo que se
levanta do seu lugar e me puxa para ficar em pé a sua frente. Uma de suas
mãos vem para minha cintura e a outra segura meu queixo erguendo meu
rosto até que nosso olhar esteja preso um no outro. — Mas vamos resolver
isso agora. Quer ser minha namorada, Vivian Montenegro?
— E tudo aquilo sobre irmos com calma?
— Estamos indo com calma, isso é só um pedido de namoro, não de
noivado — ele morde meu lábio, me deixando zonza — Ainda — sorri,
como se tivesse acabado de fazer planos sobre nós. — Vamos fazer do seu
jeito, mas quero muito ser seu namorado. Então, quer ser a minha?
Como que diz não para um homem lindo, romântico e que fode bem
como esse? Não, a gente não diz não, a gente só continua caindo e
aproveitando a vista. — Sim, cowboy. Aceito ser sua namorada.
Assistimos mais um filme antes de Bruno ir embora, não sei quanto
tempo estou deitada olhando para o teto sorrindo como uma boba, me
lembrando de tudo que fizemos hoje. Bruno é o homem mais gostoso que já
tive na cama, puta que pariu, nada que experimentei até aqui se compara em
como ele me fez sentir. Desejada, poderosa, saciada e esfomeada ao mesmo
tempo, quanto mais ele dava, mais eu queria.
Fodida, e de um jeito bom. O dia em que as humilhadas são exaltadas
existe, pode não durar muito, mas é bom pra caramba. Rolo na cama rindo
de mim mesmo, enfiando o rosto no travesseiro que agora tem seu cheiro.
Estou perdida em meus pensamentos quando o celular vibra na mesinha ao
lado da cama. Pego já sabendo quem é
Bruno: Acabei de chegar. É normal já estar com saudade?

Agora devo estar parecendo o próprio Coringa, meu sorriso é tão grande
que parece que vai rasgar o rosto
Eu: Acho que não. Mas confesso que também estou.
Bruno: Amanhã a gente resolve isso, 😊 .
Vou te deixar descansar, bons sonhos, namorada.
Eu: Pra você também, cowboy.

Seguro o celular contra o coração, como se o simples gesto pudesse


aquietar suas batidas frenéticas. Sei que no final as coisas podem acabar
muito mal, tudo que escondo, tudo que estou arriscando, mas estar com
Bruno parece tão certo. Abraço o travesseiro que ele usou, me recusando a
deixar meu passado tirar a alegria do que vivi hoje. Preciso disso, pelo
menos por hoje. Somente hoje vou fingir que os monstros não existem, e
que eu não sou deles.
Capítulo 13

Bruno Avelar
“Mesmo que o tempo e a distância, digam não”

— O filho pródigo a casa torna.


— Não enche, Fernando — digo subindo as escadas ainda tentando
controlar o sorriso que não deixa meu rosto desde que saí da casa de Vivian.
Quem pode me julgar? Fui para lá conferir se ela estava bem e decidido a
simplesmente oferecer meus cuidados como amigo, jamais imaginei que o
sábado fosse desenrolar do jeito que foi. — Tem nada melhor para fazer ao
invés de cuidar da minha vida não?

— Não mesmo. Cuidar da sua vida é meu passatempo mais divertido, te


encher o saco meu esporte favorito.

— Me pergunto como eu te aguento.

— Porque você precisa de alguém para equilibrar essa sua vida certinha.
— diz me entregando uma long neck que tirou do cooler ao lado — Senta
aí, toma uma gelada comigo e desembucha.
Sento-me na cadeira à sua frente e coloco os pés na mesinha no centro.
Adoro essa parte casa, a varanda larga bem ao lado da entrada é
aconchegante e muitas vezes é onde nos sentamos para prosear. — Não vou
te contar porra nenhuma. A única coisa que precisa saber é que estou
namorando.

— Caralho — engasga com a cerveja e cospe quase todo o liquido que


voltou na minha roupa, não posso deixar de rir da sua cara de espanto. —
Sabia que esse sumiço significava mulher em cena — ele arqueia a
sobrancelha — mas namorando, porra Bruno, conta essa merda direito.

— Não sei por que está agindo como se fosse uma coisa de outro mundo.
O único aqui que corre de mulher é você — aponto o gargalo da cerveja na
sua direção.
— Quem é que corre de mulher? — Zé chega e pega o bonde andando.
— Vocês. Dois cuzões que fogem de mulher igual o diabo foge da cruz.

— Meu ovo, Bruno, ninguém aqui foge de mulher, fugimos de


relacionamento. De emocionado já basta você. — Fernando se defende.

— Não fujo de mulher e nem tenho medo de relacionamento. Só não


encontrei a pessoa certa. — Zé encabeça. Dois idiotas, Deus, olha os
amigos que você me deu.

— Enquanto isso a gente vai fazendo os testes, para ver se alguma passa
no vestibular. — Fernando brinda com Zé. Como disse, idiotas — Agora
para de mudar o foco e conta logo essa história de namorada.

— Espera, você tá namorando? — Zé tira o chapéu de cowboy e coloca


na mesa — Não me diga que voltou a namorar a Francielle, porque ela
anda...
— Nem se vivesse num mundo apocalíptico e ela fosse a última mulher
na terra. — corto sua fala — Estou namorando a Vivian, mas não é para
espalhar.

— Você e a feiticeira? — jogo a tampinha da cerveja nele — Ei, calma.

— Para de chamar ela de feiticeira — comando — para você, é doutora


Vivian.

— Um caralho que é, conheço a Vivian há muito mais tempo que você,


enfia esse seu ciúme no rabo e se senta nele.

— Ei, meninas, não puxem os cabelos uma da outra — Fernando começa


a rir — Dá um desconto Zé Armando, nosso amigo já tinha sido fisgado e
acho que hoje tomou um chá daqueles.

— Tem gente que não vai gostar nada, nada dessa notícia — Zé diz já
prevendo as merdas que uma certa filha do prefeito vai aprontar. Conheço
bem Francielle e sei que ela não vai lidar bem com o fato de ficar como
mentirosa perante toda a cidade. Mas quer saber, foda-se, ela que cavou a
própria cova. — Já seu pai … — ele insinua.
— Vocês não vão contar nada para ninguém. Vivian pediu para a gente ir
com calma. Ela não quer misturar as coisas aqui na fazenda durante o
horário de trabalho — molho a garganta antes de continuar — Além dos
mais estamos nos conhecendo, é melhor assim.

— Se você diz — Fernando desdenha.

— Quer fazer uma aposta, Fernando — Zé instiga — quanto tempo você


acha que ele consegue ir levando com calma?

— Caralho, dois pés no saco vocês. Quer saber, isso é falta de mulher,
por que ao invés de me encheram o saco não vão arrumar uma para cada?

Os dois fazem sinal da cruz repreendendo, e não vejo a hora desses dois
caírem do cavalo. Fernando acho que cai primeiro e para o azar do Zé, a
responsável por esse tombo vai ser a irmãzinha dele. Ficamos por ali mais
um tempo conversando sobre o tempo que ficamos fora do Brasil e Zé nos
atualizando das fofocas dos outros caras que andávamos juntos quando
éramos mais novos.

— Bom dia filho. — Papai me cumprimenta ao entrar no escritório —


Não te vi chegando ontem.
— Cheguei tarde, acabei ficando na varanda tomando uma cerveja com
os caras. — Paro o que estou fazendo, quando sinto que ele está me
analisando. — Que foi?
— Não tem nada para me contar? — dou de ombros.

— Não, o senhor tem algo que queira me dizer?


— Vai ficar escondendo as coisas de mim agora, filho? — faz cara de
quem realmente está sentido, mas esse velho não me engana, ele desconfia
que fiquei na cidade ontem por conta da Vivian, até porque durante a chuva
liguei para ele da casa dela. Meu pai pode ser tudo, menos bobo. E esse
casamenteiro de carteirinha sente cheiro de romance de longe. — Ficou
muito tempo ontem na casa da nossa veterinária para não ter nada que me
contar.

Não disse?
— Já não tem idade o suficiente para ficar andando atrás de fofoca não,
Sr. João? — brinco com ele. — Fiquei lá por conta da chuva.

— E eu sou o Papai Noel...— mexe no chapéu em sua mão —


desembucha menino.
— A gente meio que está se conhecendo, gosto dela e pelo jeito é
recíproco.

— Sabia, nunca me engano. — Fala mais consigo mesmo que comigo


— Ela vem almoçar aqui hoje, vou pedir Madá para fazer algo especial.
— Não pai. Ela quer ir com calma — passo as mãos nos cabelos,
porque conter a empolgação do meu pai, vai ser tão difícil ou pior que a
minha própria. Precisava sermos tão parecidos? — Eu entendo o receio
dela, querendo ou não, é nossa funcionária e por mais que saibamos que
isso não importa para nós, ela se preocupa com o que os outros possam
dizer.

— Entendo filho.
— Sabemos o quanto as pessoas podem ser cruéis — nos entendemos
no olhar, por que tanto ele quanto eu sabemos, o tanto de preconceito que
mamãe sofreu. — Quero ser um motivo de alegria, não trazer
aborrecimento.
— Fico feliz em ouvir isso, Bruno. Vivian é uma boa menina, e sinto
aqui — ele fricciona a mão sobre o peito — que ela não chegou nas nossas
vidas por acaso.
“Nossas vidas”, encaro o homem à minha frente, o que dedicou cada
segundo dos seus dias a mim, que mesmo sofrendo a maior perda da sua
vida, não deixou que a dor o fizesse um escravo dela. Esse homem, que
mesmo após vinte anos continua amando minha mãe e honrando sua
memória com suas ações e todo amor que dedica a tudo que ela amava.
Ouvi-lo falar de Vivian como parte de nossas vidas, demonstra seu apoio a
nosso relacionamento, mesmo que seja tão recente.

— Você também tem uma ligação com ela. — Não é uma pergunta.
— Não sei te explicar, filho. Mas desde a primeira vez que a vi na
clínica do Angelo, senti uma empatia profunda pela menina. — Ele respira
fundo — Como disse em outra conversa nossa, Vivian me lembra muito sua
mãe. Mas não sei é somente por isso, gosto dela e faço gosto dessa relação.
— Antes de nos juntarmos aos outros para o café da manhã, conversamos
um pouco sobre Vivian, o tempo que a conhece e as coisas que percebeu
sobre sua personalidade durante esses meses em que ela começou a se
dedicar aos nossos cavalos. E principalmente sobre a incrível relação com
Zeus. Para meu pai, se um cavalo arisco como ele confia nela, não temos
motivos para não confiar. Ele leva a sério essa coisa sobre cavalos
enxergarem nossas almas.

Estou há um bom tempo no escritório colocando algumas coisas que


estavam pendentes em ordem. Minha caixa de e-mail está explodindo com
pendências das nossas fazendas aqui no Brasil, EUA, Argentina e Chile.
Fora de outros setores do Grupo Avelar que antes era restrito a criação de
cavalos, mas que há cinco anos criou também sua própria rede de vestuário
para quem pratica hipismo, seja de forma profissional ou amadora. São
inúmeras lojas espalhadas nas principais capitais do Brasil e do mundo.

Tínhamos contrato com uma empresa norte-americana que era


responsável por todo processo de design, produção e distribuição desse
produtos, mas devido a incompatibilidades inegociáveis e tendo que pagar
uma multa astronômica, rompemos o contrato. Meu pai e Afonso decidiram
que seria melhor abrir uma nova empresa aqui no Brasil que fosse
responsável por esse setor. O que foi ótimo porque têm gerado inúmeras
oportunidades de emprego, mas também dando alguns cabelos brancos a
mais ao tio Afonso.
Além de todas essas coisas, desde a última olimpíada, nos tornamos o
principal patrocinador da equipe de hipismo do Brasil. Em março deste ano
nos classificamos em Barcelona para as Olimpíadas de 2024, que
acontecerão na França. O que tem aumentado ainda mais a visibilidade do
grupo e também significativamente os convites para entrevistas em revistas,
jornais e programas de TV.
Mesmo que tenha tirado alguns dias para descansar antes de voltar de
fato ao trabalho, não consigo simplesmente deixar tudo nas costas dos
nossos diretores. Como dizia meu avô, “É o olhar do dono que engorda o
gado.”

Afonso, pai do Fernando, nosso vice-presidente e dono de vinte por


cento do GA é quem tem ficado à frente de tudo na sede da empresa em São
Paulo. Assim como nós, ele e meu pai são amigos desde a infância, temos
total confiança nele. Inclusive foi por seu olhar visionário que o grupo
Avelar é o que é hoje. A verdade é que meu velho gosta da fazenda, ele não
quer mais ficar enfiado dentro de um escritório, já fez isso durante muitos
anos, se dividindo entre a fazenda que sempre foi sua paixão e o grande
edifício na nossa matriz.

Sei que depois da virada de ano, as coisas ficarão um pouco mais


complicadas para mim. Terei que ir mais vezes para São Paulo do que
gostaria, fora outras viagens que sempre se fazem necessárias. Não estou
reclamando, sempre soube o ônus e o bônus de ser filho de quem sou, e da
responsabilidade de manter o legado iniciado pelo meu bisavô. E não acho
justo que tudo fique nas costas do vice-presidente.

Foi para assumir a presidência que me preparei durante anos, estudei e


me especializei fora do país. Assim como meu pai dedicou muitos anos de
sua vida para a manutenção e crescimento do nosso patrimônio, chegou o
momento de assumir meu lugar por direito e cumprir meu dever com minha
família.
— Estamos indo na cidade, quer vir? — Fernando se joga na cadeira à
minha frente, quebrando minha concentração, meneio a cabeça em negação.
— Vamos Bruno, é domingo, além do mais você está de férias. Estamos na
verdade.

Fecho a tela do notebook, deixo meu corpo relaxar no encosto da


cadeira, respiro umas duas vezes, antes de encarar meu melhor amigo —
Você sabe que as coisas agora em diante serão complicadas, com a
aposentadoria do meu pai, minhas responsabilidades irão triplicar. Não
posso decepcioná-lo.

— Não irá, Bruno. Você está preparado, e além do mais, tem a mim,
meu pai, Luiz — diz se referindo ao seu primo que é um dos nossos
diretores — somos uma equipe, além de família, é isso que faz o grupo
Avelar ser a força que é — levanta e dá duas batidinhas na mesa com os
nós dos dedos — Mas hoje não é dia de trabalho, Poliana marcou com
alguns “amigos “ — faz aspas na palavra amigos — Zé não quer deixar ela
ir sozinha — o Zé não quer, sei bem.— então vamos todos juntos. —
decide.
Capítulo 14

Bruno Avelar
“Isso não é medo de te perder, é pavor”
Até uns dez minutos atrás estava me perguntando por que cargas
d’água deixei que me arrastassem para esse barzinho. Confesso que teria
ficado mais animado se Vivian tivesse aceitado meu convite para vir, mas
ela declinou e disse que nos veríamos amanhã na fazenda. Mas agora estou
me divertindo muito com a cara do paspalho do meu amigo. Fernando está
se roendo de ciúmes de Poliana dançando forró com André Lins, o playboy
herdeiro da rede de supermercados Bonança.

Nunca fomos muito com a cara dele, sabemos que é bon vivant que
vive apenas de gastar o dinheiro do pai. Mas o cara além de ser rico é boa
pinta, o que faz com que as mulheres caiam matando em cima dele. Sei que
Poli, não é uma menina que se impressiona com isso e que apenas está
usando-o para atingir Fernando. Só o cego do meu amigo não vê isso.

José Armando está ocupado demais quase dentro de uma loira, para
perceber o clima entre a irmã e o nosso amigo, mas eu não deixei de notar
as engalfinhadas que eles vêm trocando desde que ela chegou na fazenda.
Vamos ver até onde isso vai durar.

— Merda — Fernando diz, e num primeiro momento acredito que


esteja falando da situação com a Poliana, mas quando acompanho seu olhar,
vejo quem está vindo em nossa direção. E merda, preciso concordar com
ele. — Óbvio que alguém deu com a língua nos dentes que te viu aqui. —
ele diz de forma que só eu posso ouvir, visto que estamos sentados lado a
lado.

— Boa noite, rapazes — Franciele se aproxima — e me levanto para


cumprimentá-la, fazendo jus a educação que meu pai me deu, mesmo tendo
zero vontade de ser amistoso com ela. — Estava com saudades — diz
beijando minha bochecha e segurando meus braços de forma íntima demais.

— Como está, Franciele? — pergunto afastando seu toque e voltando


ao meu lugar. Não me dou ao trabalho de convidá-la para a se sentar
conosco, mas ou ela não entende a deixa ou finge não entender, ocupando a
cadeira vazia a minha frente.

— Francielle? — ergue a sobrancelha bem feita — Onde ficou o Fran?


— questiona com ar de menina doce, coisa que ela nunca foi.

— Não me sinto mais confortável em tratá-la assim.

— Podia ter dormido sem essa. —Fernando fale baixo, mas não o
suficiente para que ela não ouça. Certamente era sua intenção ser ouvido.
Ele nunca suportou Francielle, sempre a achou fútil e mesquinha. Pena eu
não ter visto isso antes.

— Como sempre insuportável. — ela rebate.


— Somente com quem merece. Isso, minha querida, é o mínimo para
você. — diz se levantando — Vou dançar.
Observo-o indo em direção ao seu alvo. Ele só precisava de uma
desculpa para tirar Poliana dos braços de André, a chegada da minha ex
proporcionou isso a ele. Sem vontade de conversar, bebo minha cerveja.

— Não vai me oferecer uma bebida?


—Francielle, isso não é um encontro. E não aja como se não soubesse
que estou puto com você pelas mentiras que andou contando pela cidade. —
digo sem rodeios.

— Uma mulher pode sonhar. Não contei nenhuma mentira, só disse


que temos tudo em comum e que a chance de retomarmos de onde paramos
nosso relacionamento é grande. As pessoas dessa cidade adoram aumentar.

Me inclino um pouco por cima da mesa, ainda segurando a cerveja. A


posição parece casual para quem vê de longe, mas qualquer pessoa que
estiver olhando realmente para mim saberá que meu humor não está um dos
melhores, não mais pelo menos.

—Vamos deixar algumas coisas claras aqui. Entre nós não vai existir
mais nada. Vai ficar só nos sonhos mesmo. Não temos nada em comum,
nunca tivemos e isso ficou bem claro para mim, inclusive foi o motivo do
nosso rompimento. Agora o mais importante de todos — seguro seu olhar
no meu para garantir que entenda — eu tenho uma namorada, e claramente
ela não é você.

— Namorada? — questiona com deboche — e cadê ela que não está


aqui com você?
— Isso não é da sua conta.

— Eu quero saber quem é ela, Bruno, se é que realmente existe essa tal
namorada. — mimada — Exijo que me conte. — gargalho tanto, que chamo
atenção de algumas pessoas ao nosso redor. Não gosto de agir assim, mas
já bebi e ela realmente sabe tirar o pior das pessoas.
— Exige — rio de forma mais contida — Se poupe desse showzinho.
Aceita que nunca vamos voltar a nos relacionar e segue com sua vida.
Porque eu segui a minha vida há muitos anos atrás. Não é como se fosse a
primeira vez que namoro desde que terminamos, você sabe disso.

— Então ela é só mais uma na lista — dá de ombros em sinal de


menosprezo — esse seu casinho também não vai durar. E quando isso
chegar ao fim, estarei aqui.

— Não vai acontecer. Mas faz como preferir, só não fica no meu
caminho e para de inventar histórias com meu nome. Estou sendo paciente
pelos anos de amizade entre nossas famílias, mas não me teste. Você não irá
gostar do resultado.

Abandono a mesa, indo avisar Fernando que para mim a noite já deu.
Despeço dos meus amigos e sigo em direção a minha caminhonete. Como
viemos em dois carros por conta dos seguranças, eles podem ficar, não
precisam vir comigo. Entrego a chave para que Flávio um dos seguranças
vá dirigindo e me jogo no banco do passageiro. Seguimos para casa, mesmo
que minha vontade fosse bater na casa de uma certa veterinária. Que tem
me tirado o juízo.
Olho para o relógio, pelo que deve ser a centésima vez, os ponteiros
estão correndo e essa reunião parece que nunca vai terminar. Afonso
marcou uma videoconferência com um Sheik que está interessado nos
embriões do nosso garanhão vencedor. O homem quer fazer uma visita a
nossa fazenda e isso pode se tornar um grande evento.

Meu pai sugeriu que ele se hospedasse em nossa fazenda, visto que
nenhum hotel da cidade seria capaz de receber sua comitiva. A fazenda é
enorme e além da casa principal temos uma segunda residência dentro das
nossas terras, com quatro quartos, o que seria perfeito para sua
hospedagem. O secretário dele virá na primeira semana de janeiro, que já é
daqui a menos de quinze dias, verificar o espaço e ver se as acomodações
precisarão sofrer alguma alteração para receber o príncipe do deserto, como
é conhecido nosso futuro comprador.

Mesmo achando isso um grande exagero, concordo com todas as


exigências, não porque precisamos dessa venda, mas porque o pai do Sheik
foi quem presenteou o meu com o potro em uma das visitas dele ao seu
país. — Bruno, tudo bem por você? — percebo que estava divagando
quando a voz de Fernando chama minha atenção.
— Claro, por mim tudo certo. — merda, não faço ideia do que eles
estão falando. Depois de mais algumas palavras trocadas, a reunião é
encerrada e me pego dando graças a Deus. Me levanto já pegando o chapéu
que estava em cima da mesa, louco para ir ver Vivian.
— Cara, ela não vai fugir. Você nem sabe se ela já chegou, ainda é
cedo. — Olho para o relógio e vejo que já são quase oito horas, pelo que
conheço Zé com certeza já foi buscá-la em casa.
— Chegou sim. — me limito a dizer somente isso, saindo do escritório.
Sem perder tempo ele vem no meu encalço. Minha esperança é que Vivian
aceite vir tomar café comigo. Assim que saio de casa e chego no topo da
escada, uma imagem me faz parar, e o som que ouço me deixa em alerta.
Faço um sinal para Fernando esperar e desço os degraus de forma lenta para
não a assustar, assim que me aproximo da pequena, digo com a voz mais
suave que consigo.
— O que aconteceu, princesa? — os olhinhos sempre alegres, estão
vermelhos e inchados de chorar, imediatamente todo meu corpo fica tenso
imaginando o que pode ter acontecido para que esteja assim tão sentida. Ela
volta a olhar para frente, sem me dar uma resposta — Ei, me conta o que
está acontecendo Bruninha, somos amigos ou não?
— As outras crianças estão zombando de mim— a voz embargada e
tão baixa, me faz querer fazer qualquer coisa para deixá-la feliz. — só
porque falei que você é meu melhor amigo.

— Não entendi, me conta tudo direitinho. — o corpinho pequeno se


ajusta no degrau de forma que ela fique de frente para mim. Seus olhinhos
ainda brilhando pelas lágrimas encontram os meus. Sustento a conexão,
dando a ela tempo para começar a falar, deixando claro que estou aqui para
ela.
—Eles estão dizendo que você não pode ser meu amigo. Que adultos
não tem amigos pequenos como eu — mais uma lágrima rola por sua
bochecha. Com a ponta dos dedos seco a lágrima. A menina doce e esperta
que ganhou meu coração no nosso primeiro contato, encara suas mãozinhas,
aguardando uma reação minha.

— Olha para mim princesa. — ela o faz — Isso não é verdade. Sabe
por quê? — balança o rostinho negando — Porque o que torna duas
pessoas amigas é o quanto elas se gostam e o que estão dispostas a fazer
para ver o outro seguro e feliz. E tudo que quero é que você esteja sempre
segura e com um sorriso no rosto. — A trago para um abraço apertado.
— Tudo que ele falou é verdade — a voz de Fernando interrompe
nosso momento — Eu quero ser seu amigo também, mas é claro, só se
você quiser.
Os olhinhos antes tristes, agora brilham de alegria. Do jeito que sempre
deve ser. — Você também sabe dançar como o Bruno?

— Danço melhor que ele — puxa sardinha para si.

— Então aceito ser sua amiga, mas você ocupa o segundo lugar de
melhor amigo, o primeiro já é dele — diz apontando pra mim — Negócio
fechado ? — estende a mãozinha para selar o compromisso. Com tudo
resolvido, pedimos autorização a sua mãe para que ela vá comigo visitar os
cavalos. Me comprometo a cuidar dela e ela a não sair de perto de mim e de
Fernando.

— Você deveria namorar a médica de cavalos. — Estamos a caminho


do estábulo quando ela solta essa pérola — Ela é linda. Só preciso saber se
ela dança também.

Fernando e eu nos encaramos por um momento, antes que ele exploda


em uma gargalhada, fazendo Bruna parar a caminhada e encarar ele com
cenho franzido. — Por que você está rindo?

— Ele é um paspalho, princesa ... — digo me agachando para ficar na


altura dela — preciso te contar uma coisa, e apesar de não ser segredo,
gostaria que você não contasse para outras pessoas, somente seus papais
podem saber, porque nunca devemos esconder nada deles, ok?

— Sim, sim, juro, juradinho não contar para ninguém a não ser para
eles — ela fez sinal de cruz com os dedos selando os lábios — uma graça.

— Então, eu e a Vivian, já somos namorados — seus olhos se


arregalam — Mas não tem muito tempo, então por enquanto a gente quer
que fique somente entre os amigos. — a feição muda de surpresa para
pensativa.

— Será que ela aceita ser minha amiga também?


— Isso somente ela pode te responder. Mas eu poderia apostar que sim.
— seguro novamente sua mão e continuamos conversando indo para o
estábulo, mas antes mesmo de chegarmos vejo Vivian vindo em nossa
direção montada em Zeus. Ela sorri assim que seus olhos encontram os
meus. Meu coração se agita no peito e tudo que queria era ir até ela, tomá-la
em meus braços e me fartar da boca da qual estou louco de saudade.

— Isso vai ser interessante — Fernando diz ao meu lado — Eu deveria


ter aceitado fazer a aposta. Era um dinheiro fácil.

Vivian é ágil ao descer do cavalo e passar por cima da cerca. Ela


cumprimenta Fernando com um aperto de mão, se aproxima de mim, me dá
um beijo modesto na bochecha, mas toda sua atenção é dirigida para a
menininha em nossa companhia.

— Ora, ora vejam quem andava sumida e apareceu — diz ajoelhando


na frente de Bruna. — Zeus sentiu sua falta

— Eu também senti falta dele, mas minha mãe disse que não posso
ficar vindo aqui, porque acabo atrapalhando vocês.

— Você nunca atrapalha, mas pode ser perigoso para uma menina tão
pequena ficar andando por aqui — toca o nariz da pequena — Mas é muito
bom quando aparece, o dia fica mais bonito.

— Gosto de vir aqui, eu não tinha amigos, então os cavalos me faziam


companhia

— Te entendo, pequena, eu também não tenho muitos amigos além dos


cavalos — meu coração aperta.

— Se quiser pode ser amiga do Bruno. Ele é o meu melhor amigo, mas
se você não tem um melhor amigo, eu posso dividir ele com você. —
Bruna abraça Vivian. — Namorados podem ser amigos também né, Bruno?
— a pergunta dirigida a mim pega Vivian de surpresa.

— Claro que sim, princesa. Vivian também é minha amiga — dou de


ombros — agora somos todos amigos. — A mulher à minha frente não
sabe se olha para a menina, para mim ou para meu amigo, que
milagrosamente assiste toda interação calado, o que é um milagre vindo
dele.
— Não vamos contar a ninguém — finalmente ele dá o ar da graça —
Mas boa sorte em controlar seu namorado. — sorri amistoso para ela —
Vamos alimentar os cavalos, Bruna — Diz pegando a menina que estava
pendurada nos braços de Vivian.

— Quem mais está sabendo? — questiona, brava.

Coço a cabeça, porra, ela tá muito brava. Linda, mas brava — Meu pai,
Zé e a Poli. E talvez a Madá…

— Talvez, talvez? — ela anda de uma lado pro outro — Não demora
todo mundo está sabendo. Você sabe como são as coisas em cidade
pequena, por Deus, Bruno. Eu pedi para irmos devagar.

— Ei, ei, calma — Coloco as mãos em seus ombros — Me desculpa,


ok? Mas não consigo esconder as coisas das pessoas que eu gosto — seu
corpo fica tenso de repente — vai ficar tudo bem. Eles não vão contar.

— Preciso pensar... — se afasta de mim — Vou ver os outros cavalos,


depois conversamos — sem me dar a chance de falar mais alguma coisa,
me dá as costas e vai em direção ao estábulo. Merda, um passo para frente
e dois para trás.
Capítulo 15

Vivian Montenegro
“Jogo de orgulho, nada a ver”
Esse homem é impossível.
Caminho em direção a grande construção que além de abrigar vinte
cavalos, é onde também ficam o escritório, consultório veterinário e sala de
exames com aparelhos de última geração. Esse é o espaço onde deixamos
os cavalos que chegaram a pouco tempo na fazenda e estão passando por
exames, fase de adaptação ou aqueles que estão se recuperando de alguma
forma.
Assim que passo pela grande entrada, olho pela primeira vez para trás.
Tenho certeza de que ele não me seguiu, mas é inevitável não conferir.
Bruno não tem noção de que pensar em todo mundo sabendo sobre nós
desencadeia várias inseguranças em mim. E você pode culpá-lo por isso?
Quem tem o rabo preso não é ele. Minha consciência acusa. Sei que suas
intenções são as melhores, só preciso me acostumar com ideia do que tudo
isso implica.
Sabia exatamente tudo que estava arriscando quando me joguei nessa
relação. Puxo meu cabelo para o alto prendendo em coque frouxo. Foco
Vivian. Tenho muita coisa para fazer e não posso deixar que meus
problemas pessoais interfiram no meu trabalho, já estou uma bagunça
sentimental desde sábado, preciso me controlar. Vou para o consultório
pegar a ficha de Stark e Estrela antes de ir examiná-los e quando estou
voltando para a área das baias, vejo Poliana parada justamente na que vou
visitar.

Vamos lá Vivian, ela não vai te morder.


O sorriso que ela me dá quando me avista aquece meu coração.
Realmente simpatizei com ela, mesmo com o pouco tempo que
conversamos na sexta-feira, pude perceber que apesar do jeito de mulher
decidida e cheia de atitude, é ainda uma menina doce e cheia de sonhos. E
incrivelmente parecida comigo. Não somente na personalidade, mas
fisicamente, poderíamos passar por parentes tranquilamente.
— Ei, foi você mesmo que vim procurar — diz, passando o seu braço
pelo meu, como se fossemos velhas conhecidas, amigas de longa data. —
Preciso da sua ajuda— olho para ela sem entender. Minha ajuda? Com o
quê eu poderia ajudá-la é o que me pergunto.
— Sim, claro — é o que respondo para ela — Se tiver ao meu alcance.
— Preciso escolher um vestido para a ceia de Natal — ela olha para os
lados, como se para ter certeza que ninguém a está ouvindo — Algo que
seja sexy, sem ser vulgar. Que deixe claro que não sou mais uma menina —
Ah entendi, sei bem para quem ela quer mandar esse recado. Rio para mim
mesma.

— Talvez eu não seja a melhor pessoa para te ajudar nesse caso — ela
solta meu braço e se vira pra mim — Não sou boa com essas coisas sabe,
roupas, coisas da moda.
— Não acredito em você, Vivian — volta a se pendurar em meu braço
— É toda estilosa até para trabalhar, adoro as combinações de peças e cores
que faz. — ela está claramente me bajulando, porque basicamente visto,
jeans, cinto, botas e algumas variações de blusas dependendo do clima.
— Preciso muito de companhia, por favorzinho — faz a cara do gato
de botas — E acho que será um ótimo momento para nos conhecermos
melhor.
— Ok, ok — cedo, porque na verdade sei que também preciso de um
momento assim. Não falo de comprar roupas, mas sair com alguém da
minha idade. — Mas fora do meu horário de trabalho. Podemos ir amanhã
depois que eu terminar aqui na fazenda.

— Isso é perfeito. Agora me diga em que posso ajudar aqui? —


questiona me seguindo para dentro da baia — já estou entediada sem nada
para fazer. E olha que ainda tenho mais de um mês de férias.
— Bem — penso nas coisas que ela pode fazer e que não exigem
nenhum conhecimento específico. A verdade é que meu trabalho aqui na
fazenda é bem tranquilo. Os animais são saudáveis e além dos cuidados
com os que estão em recuperação ou avaliação, os outros só acompanho o
desenvolvimento, nutrição, vacinas e exames periódicos — Na verdade não
tem muito o que fazer aqui hoje. Vou examinar esse dois, depois a égua que
trouxeram do Mato Grosso, quero tentar uma aproximação dela com Zeus.
— Posso então só ficar te acompanhando? E aí, caso surja algo, estarei
a postos.
— Claro, será ótimo ter companhia feminina para variar. —- rimos
juntos, porque ela que na sua grande maioria os trabalhadores da fazenda,
principalmente os que lidam com os animais são do sexo masculino.

Passamos os próximos minutos conversando sobre coisas bobas, como


faculdade, nossas matérias preferidas, gostos musicais e outras coisas.
Nesse tempo acabo descobrindo que temos muito em comum. Ela também
gosta de filmes de heróis, mas prefere maratonar Harry Potter, ela gosta de
pagode, sertanejo e um dos poucos rocks que escuta com mais frequência é
a diva Pitty, o que a faz ganhar alguns pontos extras comigo. Quando me
conta que foi a um show dela na capital mineira, confesso que um dos meus
maiores sonhos é poder estar pertinho do palco em show dela e cantar
loucamente todas as músicas que mais amo.
— Sério, Vivian, você precisa muito ir. É tipo uma energia surreal.
Pitty é simplesmente perfeita, simpática e o show é perfeito. — fico
animada com nossa conversa, mesmo sabendo que as chances de ir a um
local cheio de pessoas e polícia para todo lado é quase zero.
— Quem sabe quando tiver outro dela em BH, você vai para lá para
podermos ir juntas.
— Seria ótimo — digo sorrindo. Por fora. Porque realmente seria
maravilhoso, mas a realidade não é tão boa quanto a nossa imaginação.

— Acabamos aqui. — guardo meus equipamentos na maleta, faço um


carinho em Estrela antes de sairmos — Boa menina, seu garoto está forte e
saudável.
— É uma cena linda de se apreciar — Poliana, me encara com o que
parece ser... admiração.
— Gosto de conversar com eles. Algumas pessoas preferem pensar que
os animais não têm sentimento, eu discordo. Para mim eles além de terem,
ainda compreendem os nossos.
Deixamos as baias e vamos ao consultório, onde conversamos mais
enquanto faço minhas anotações e respondo alguns e-mails. Temos dois
cavalos que serão transportados para a hípica de Campinas onde funciona
não somente o centro comunitário de hipismo, como também onde a
equoterapia é oferecida de forma gratuita para pacientes aos quais ela é
recomendada.
Todos os animais que são designados para lá são dóceis e bem
treinados, visto que a maioria dos nossos pacientes e alunos são crianças.
Estive lá ano passado e fiquei apaixonada por tudo que fazem por lá. Sei
que existem mais dois centros como este, um em Santa Catarina e outro no
Mato Grosso e que o grupo Avelar pretende expandir para outros estados.
Inclusive, Angelo me informou que a doutora Sandra Calasans,
responsável pelo centro de equoterapia do estado de São Paulo, irá nos
visitar em janeiro, para ajudar a escolher o melhor lugar na fazenda para a
implementação do projeto aqui na fazenda sede. E que sua filha, Suzana
Calasans, atual campeã brasileira de hipismo na modalidade de saltos e
nossa representante nas Olimpíadas 2024, virá junto com ela.
— Eu amo o Natal e você? — por alguns segundos olho para a minha
mais nova amiga, sim amiga, porque de acordo com ela, não tem nenhuma
chance de eu me livrar dela mais, sem saber o que responder. Eu gosto de
Natal? A data deveria ser regada de doces memórias afetivas, mas não é
assim. Nos últimos Natais estive sozinha. Seis natais, seis anos novos, eu e
mais ninguém.
— Gosto — e isso é verdade, amo ver as casas enfeitadas, o clima de
festa, confraternização e principalmente os filmes dessa época. Me julguem.
Pode não parecer, mas sou romântica e adoro os clichês natalinos.
Dezembro é o mês que mais agradeço a Nossa Senhora Padroeira dos
Streaming de filmes por eles existirem. Até porque, é somente nessa época
que me permito pagar o valor mensal para usar e abusar do cardápio
disponibilizado.
— Credo, não botei muita fé nessa sua resposta não — ela me olha
divertida — Inclusive, vamos aproveitar e comprar um vestido para você
também. Algo que deixe o príncipe dos cavalos ainda mais caidinho por
você.
— Você também sabe — não é uma pergunta.
— Na verdade, estava desconfiada — dá de ombros, como se não fosse
uma grande coisa — Bruno é a pessoa mais transparente que conheço e ele
anda todo de segredinho com os meninos. Além disso, ouvi uma meia
conversa do padrinho com a minha mãe, mas só tive a confirmação agora,
com sua pergunta.
— Era para irmos com calma — digo, segundos antes de sentir a mão
de Poliana segurar a minha sobre a mesa.
— Vivian, acabamos de nos conhecer, mas realmente sinto que isso
aqui — faz um gesto entre ela e eu — é só o início de uma grande amizade.
Conheço Bruno, literalmente a minha vida inteira e calma é uma coisa que
você não vai receber dele tratando de sentimentos. Ele é intenso e muito
dedicado às pessoas de quem gosta. — engulo em seco— Posso te dar um
conselho?
Concordo, assimilando tudo que ela falou e me preparando para o que
vem a seguir. Em algum lugar da minha mente, já sabia que manter meu
relacionamento com o homem mais desejado dessa cidade, estado, quiçá do
país, escondido, era totalmente inviável. Pois onde ele vai tem sempre no
mínimo dois seguranças o acompanhando e é óbvio que as pessoas irão
começar a comentar por ver sempre a caminhonete dele na porta da minha
casa. Não sou uma celebridade como ele, mas estamos numa cidade
pequena e todos sabem que sou veterinária da sua fazenda.
— Se você realmente gosta do Bruno, se joga, Vivian. Eu não sei quais
são os seus receios, se já esteve em outros relacionamentos, se alguém já te
machucou — lágrimas se formam em meus olhos e ela para um minuto me
estudando — mas pelo tanto que conheço do meu amigo, ele está
completamente envolvido, e não medirá esforços para ter você, te fazer feliz
e principalmente para te manter na vida dele.
— Eu ... eu gosto muito dele também — seco uma lágrima quando
esta rola por minha bochecha — eu só tenho medo, não quero fazer
ninguém sofrer.
— E por que faria isso se também está gostando dele?
— Pode acontecer, não que...
— Olha, tudo pode acontecer ou nada também — diz me cortando —.
Então faça uma coisa por si mesma. Viva. Não deixe que a incerteza do
amanhã que pode nem chegar, tire a beleza do hoje — aperta minha mão de
forma carinhosa — Pode contar comigo viu, quero muito que confie em
mim, por que de uma forma muito louca, sei que posso confiar minha vida a
você e espero que um dia se sinta assim também com relação a mim.
Não consigo dizer nada mais, e quando novas lágrimas molham meu
rosto, sou abraçada por ela, que nem percebo saindo do seu lugar vindo
parar perto de mim. Deixo-me acalentar. Nos últimos dias minhas emoções
têm andado à flor da pele, poderia culpar a TPM, mas sei que são os
segredos que carrego duelando com a vontade de viver.

A manhã foi uma sucessão de emoções que começaram com a


descoberta de que as pessoas mais próximas a Bruno já sabiam do nosso
envolvimento e depois veio a conversa com Poliana. Estaria mentindo se
dissesse que qualquer receio que eu tinha até algumas horas atrás foram
embora milagrosamente, mas eu realmente estou me sentindo melhor
depois das palavras que ouvi da minha mais nova amiga.
Saber que as pessoas que realmente importam para ele, gostam de mim,
me aceitam e principalmente, torcem para que nosso namoro dê certo, ajuda
muito para que cada vez fique mais confortável com a decisão que tomei no
sábado. São mais de seis anos nas sombras, deixando que a vida passe
diante dos meus olhos.
“Se não está vivendo a sua vida do jeito que quer, vai morrer mesmo
assim”, Max Yearwood[1] estava certo, mas no meu caso essa frase poderia
ser reformulada facilmente para “Se você está vivendo sua vida com medo
de perder sua liberdade, é sinal de que você já não a tem”. Respiro fundo,
termino de lavar minhas mãos, jogo uma água no rosto para afugentar um
pouco do calor e antes de sair do banheiro confiro minha aparência.
Nunca tive problemas com a minha imagem, sou feliz com meu corpo,
amo meu cabelo rebelde, mesmo sabendo que ele anda precisando de uma
hidratação. Sou feliz comigo mesmo, mas poxa, já repararam no Bruno. O
homem parece sempre pronto para ser fotografado para ser capa de alguma
revista famosa. Mesmo usando jeans e camiseta básica, parece mais um
modelo desses de comercial de cuecas. Melhor, na verdade, ele é muito
melhor que qualquer dos modelos que já tenha visto.
Passo a língua pelos lábios que se tornam secos mediante as
lembranças que minha mente projeta do seu corpo nu. A pele bronzeada,
pernas longas e torneadas, coxas grossas, barriga definida, braços fortes
com as veias saltando, a bunda deliciosa que não perdi tempo em apertar, e
o pau? Jesus nunca pensei que tal órgão poderia ser tão bonito, gostoso,
grande e grosso de forma tão assimétrica.. Nem Michelangelo seria capaz
de reproduzir tamanha beleza de forma fidedigna.

Encaro meu rosto novamente no espelho, as bochechas vermelhas


evidenciando a falta de controle do meu corpo, a mera lembrança dele.
Volto a jogar água no rosto para me recompor. Controle-se Vivian, tá
parecendo uma adolescente na puberdade. Solto o cabelo do coque e o
prendo num rabo de cavalo alto. — Isso. Agora vai lá, Vivian, você
consegue. — repito meu mantra diário.

[1] Personagem do livro Proposta de Verão da autor Vi Keeland


Capítulo 16

Bruno Avelar
“Você tem o que quiser”
Estamos esperando Madá nos liberar para almoçar. Uma coisa que você
precisa saber sobre o funcionamento aqui de casa, essa mulher manda e
todos obedecemos. Maria Madalena, foi a melhor amiga da minha mãe.
Elas conheceram logo que meu pai trouxe minha mãe para morar na
fazenda, quando ainda eram namorados. Naquela época, minha madrinha
era somente uma jovem que ajudava a mãe na cozinha e sonhava em se
casar e ter muitos filhos.
As duas tiveram uma conexão já no primeiro encontro, e fizeram
muitos planos juntas de se casarem, terem seus filhos e criarem todos
juntos. Infelizmente nem tudo foi como elas sonhavam. Com a morte da
minha mãe, mesmo grávida, Madá assumiu meus cuidados e foi o apoio que
meu pai precisava. Ela tomou as rédeas da situação e deixou que ele tivesse
paz para viver seu luto, mesmo que ela mesma estivesse lidando com sua
própria dor.
Como meu pai nunca se casou novamente e deixou muito claro que
jamais iria colocar outra pessoa no lugar da minha mãe, Madá se tornou o
alicerce da nossa casa. Por isso digo que aqui somos uma grande família.
Mesmo tendo sua própria casa dentro das terras da fazenda, a maior parte
do tempo a família Mendonça passa aqui com a gente. E graças a Deus por
isso. Com eles, nós formamos uma grande família.
— Madá, meu estômago já está quase nas costas de tanta fome. —
reclama o esfomeado do Fernando.

— Para de reclamar menino — ela o repreende — Ah, elas chegaram,


agora podemos almoçar. — olho para a porta e admiro as duas mulheres
entrando. Poliana está aos poucos derrubando todas as barreiras de Vivian.
As duas estão desde cedo juntas, cheias de conversas e segredos. Por duas
vezes fui até o estábulos para tentar uma conversa com Vivian, mas elas
estavam tão animadas juntas que recuei, não queria interferir, porque sinto
que essa amizade que está nascendo fará muito bem para a minha doutora.
— Ei — ela sorri ao me ver — Posso me sentar ao seu lado? —
pergunta me pegando de surpresa. Achei que depois do nosso rápido
encontro logo mais cedo, ela ainda estaria brava comigo. Levanto e puxo a
cadeira para ela.
— Claro — assim que ela se senta, não aguento a curiosidade —
Estamos bem?
— Estamos sim — ela segura minha mão por debaixo da mesa — Me
desculpa, por hoje mais cedo. É tudo novo para mim. Nunca namorei antes,
é tudo recente, intenso e ... — ela pausa e busca o ar numa respiração
profunda. Aperto sua mão incentivando-a a continuar — só preciso de um
pouquinho de tempo para me acostumar com a ideia de ser sua namorada e
todas as coisas que vem junto com isso.
— Você tem o tempo que precisar, só não me afasta — ela faz que não
com a cabeça — Fico feliz que estejamos bem. Me conta como foi sua
manhã?
— Foi ótima, gosto da Poli — é sincera ao dizer, vejo pela forma como
seus olhos brilham ao contar — Temos muita coisa em comum.
— Preciso ter uma conversa então com a magrela, para descobrir
alguns segredos seus.
— Ela não vai te contar nada. Existe uma regra no código da
irmandade feminina que a proíbe — diz rindo e a acompanho.
— Você acabou de inventar isso.
— Claro que não, testa para ver. — me desafia e como adoro uma boa
aposta não perco tempo em ir até a fonte.
— Poli, depois quero conversar com você
—Ai, Bruno nem vem. Não vou te contar nada sobre minha conversa
com a Vivian. — elas trocam um olhar — Se ela quiser que você saiba, te
contará.
— Nossa essa doeu até em mim — Fernando leva a mão ao peito e faz
cara de dor. Idiota.
— Isso mesmo minha filha, nós mulheres devemos cuidar uma das
outras. É muito feio uma mulher que trai a confiança de outra.
— Isso é um motim — Zé questiona — Revolta das saias?
— Deus, por que você me deu um irmão tão idiota?
— Achei engraçado. — Fernando rebate.
— É porque é outro idiota.
— Crianças — meu pai ri — e a gente achando que eles estavam
crescidos, Firmino. — se dirige ao compadre.
— Estão levando muito a sério aquela fala nossa de que para nós,
nunca deixarão de ser crianças.
O riso come solto e até mesmo Vivian que está menos acostumada com
nossa rotina durante as refeições entra no clima. O tempo que se segue
durante a refeição é regada a muita conversa fiada. Senti tanta falta desses
momentos enquanto estive morando fora. Não existe dinheiro no mundo
que compense momentos assim. Sabia que estava tomando a decisão certa
quando resolvi voltar para casa e nem imaginava que iria conhecer Vivian.
Roubo alguns minutos para admirá-la enquanto está distraída com a
conversa. O rosto que é ao mesmo tempo delicado e marcante livre de
qualquer maquiagem, os olhos verdes expressivos e os lábios bem
delineados compõem uma beleza única. Os cabelos longos e naturalmente
ondulados estão presos num rabo de cavalo alto, deixando a pele macia do
pescoço à mostra, imediatamente sinto vontade de afundar meu rosto ali,
entre ele e ombro, para sentir seu cheiro gostoso..
Minha mente vaga para sábado, e as lembranças do meu toque sobre no
corpo, fazem uma parte do meu corpo ganhar vida e imediatamente procuro
focar novamente na conversa que está rolando. O que menos quero é ter que
esconder uma ereção ao levantar da mesa. E o timing foi perfeito, por é no
exato momento que Poli está contando à mãe que ela e Vivian irão às
compras amanhã.
— Vocês irão se divertir muito juntas — minha madrinha diz.
— Esse ano você não tem desculpa para não passar o Natal com a
gente —diz Zé e no mesmo segundo as bochechas de Vivian ganham um
tom de vermelho adorável — Não é mesmo, Bruno?

— Ia conversar com você sobre isso mais tarde — prendo uma mecha
do seu cabelo que se soltou do penteado, atrás da orelha — Gostaria muito
que você passasse o Natal aqui com a gente, o que me diz?
— Eu adoraria — diz tímida, e não consigo evitar o sorriso que brota
em meu rosto. Dou beijo casto em sua bochecha porque preciso muito de
contato, mas não quero constrangê-la.
— Fico muito feliz com sua decisão, minha filha — sua atenção agora
é todo meu pai. — Seja bem-vinda a família.
— Obrigada, senhor João.
— Não tem o que agradecer. — sorri para ela — Eu amo Natal. E esse
será um dos melhores, tenho certeza. — diz confiante.

— Posso estar um pouco enciumado por saber que a Poli tem


informações privilegiadas sobre a minha namorada— digo abraçando-a por
trás assim que entramos na sua casa. Aproveitando o momento para cheirar
seu pescoço, como vinha desejando fazer desde hoje mais cedo e matar a
saudade que estou de sentir seu corpo junto ao meu desde sábado. E agora
que estamos a sós aqui, não preciso me segurar mais.
— Não precisa ficar, são coisas normais que mulher acaba
compartilhando umas com as outras. — diz se virando nos meus braços,
para ficar de frente para mim.
Depois de terminar seus afazeres na fazenda, ela precisou ir para a
clínica e ajudar com os animais de lá, porque meu padrinho precisou fazer
uma viagem para a capital. Um dos nossos funcionários a trouxe mais cedo,
mas combinamos que jantaríamos juntos. Vivian ficou meio receosa quando
informei que iríamos fazer nossa refeição no Cantinho Mineiro, uma
cantina que fica bem próxima da sua casa, mas depois relaxou quando
prometi me comportar e dizer que era um só um jantar.

— Obrigada pelo jantar. Desse jeito além de engordar vou ficar mal-
acostumada. — diz roçando os lábios nos meus.
— É essa a intenção.
— Me engordar e me deixar mimada?
— Não. Cuidar de você — o sorriso que recebo poderia iluminar um
estádio de futebol. Traço os dedos por seu queixo, bochechas, até que eles
estão segurando firme seus cabelos — Deixa eu cuidar de você, doutora
Vivian?
— É tudo que quero que faça — aperto seu corpo junto ao meu, para
que sinta o quanto a desejo, o gemido que ela deixa escapar acaba com o
resto do meu juízo. Ataco sua boca me esquecendo completamente de
qualquer romantismo e delicadeza. Vivian desperta meu lado mais voraz,
mais selvagem.
Os lábios macios não oferecem nenhuma resistência, ela está
totalmente entregue. Vivian me puxa cada vez mais para perto de si, o que
me permite sentir cada detalhe da sua anatomia perfeita. Me sinto incendiar
,superaquecer, esse é o efeito que essa mulher tem sobre mim. Minhas mãos
percorrem cada parte do seu corpo como se tivessem vontade própria,
conhecendo, explorando, ao mesmo tempo em que contribuem para manter
nosso tesão no limite.
Sinto que posso comer, foder essa mulher como se fosse o último ato
de minha vida. Quero fazê-la se derreter na minha boca, no meu pau até
ouvir seus gritos de prazer e suas súplicas por mais, enquanto crava suas
unhas e dentes em mim, tomando posse, me marcando como seu enquanto a
marco como minha também.
Nos despimos entre um beijo e outro, sem perder tempo em uma
respiração e outra. As roupas ficam pelo chão e por cima da mesa que está
próxima a nós. O desejo estalando, ardendo e qualquer segundo sem que
nossas peles estejam se tocando parece uma eternidade. Sua mão macia e
quente, me acaricia, fazendo movimentos de vai e vem que me
enlouquecem.

— Quero foder sua boca, suas mãos, sua bunda... — digo apertando a
carne redonda e durinha do seu traseiro, fazendo sua pélvis moer contra a
minha — mas agora eu quero outra coisa.
Me afasto dela, o mínimo para que consiga fazer o que quero, os olhos
deslizam até meu pau, banhados em luxúria— Agora sobe na mesa, Vivian.
— crispa uma sobrancelha em questionamento, mas nada diz — É hora da
minha sobremesa— sem que eu precise repetir, ela se deita na mesa — Boa
menina, agora deita e abre bem essas pernas para mim — sorri ao meu
elogio. E quase enlouqueço ao vê-la separar as pernas, apoiando-as na beira
da mesa, ficando toda exposta, sem pelos, brilhando com a própria
excitação. O lugar do meu desejo emoldurado pelas coxas grossas.
Molho a ponta do dedo em sua lubrificação — Nenhum sabor se
compara ao seu. Tem ideia do quanto senti falta do seu gosto na minha
boca?
— Não, mas você pode me mostrar — sorri maliciosamente e lambe os
lábios.

—Estava contando os minutos para tirar sua roupa e comer essa boceta
doce que você tem — Não consigo esperar, abro-a ainda mais para mim,
separando seus grandes lábios com as pontas dos dedos, passo a língua por
toda extensão bebendo de sua excitação. — Gostosa pra caralho.
Vivian se contorce a cada lambida, chupada e mordida que dou em seu
sexo, enquanto uso dois dedos para fodê-la. Quando substituo-os e uso todo
o comprimento da minha língua para penetrá-la, fodendo-a, me lambuzando
do seu prazer ela rebola, geme e me segura pelos cabelos pedindo mais. O
que faz meu cacete duro e dolorido, sofrer espasmos pelo tesão que sinto.
Vivian é quente, safada e sabe o que quer.
— Puta que pariu... isso Bruno, não para...— Não é minha intenção.
Sons ininteligíveis começam a deixar seus lábios quando sinto seu corpo
ficar tenso, O quadril vindo de encontro ao meu rosto, em busca de mais
contato.

—Goza. —comando antes de sugar seu clitóris — goza gostoso,


rebolando essa boceta na minha boca, como uma putinha safada — ela grita
meu nome no exato momento que penetro minha língua e giro-a mais uma
vez em seu canal apertado. Fazendo seu corpo tremer, antes de relaxar
totalmente entregue ao prazer.
Capítulo 17

Bruno Avelar
“Mesmo sendo simples, vira inesquecível ‘
Vivian vem a cada dia se soltando mais, está se aproximando de mim e
de todas as pessoas lá de casa. Desde segunda-feira, ela almoça com a
gente, e se está na fazenda até o final da tarde, também tomamos café
juntos. Ela tem um lado tímido e mesmo que às vezes pareça a ponto de se
fechar dentro de sua concha novamente, é descontraída, inteligente,
empática.
Meu pai diz que nada que é bom vem fácil. Vejo que apesar de toda
nossa aproximação ainda temos um longo caminho a percorrer. Fazer com
que ela confie em mim e entenda que não vou a lugar nenhum, se tornou
minha prioridade, mesmo que seja difícil e leve tempo. É evidente que ela
tem problemas para confiar completamente, principalmente para falar sobre
o passado.
Nos últimos dias tivemos pequenos avanços. Agora sei que ela perdeu
o pai quando ainda era muito nova, e que a mãe se casou novamente e não
tinham um bom relacionamento. Sei também que com dezoito anos, deixou
tudo para trás para seguir seu próprio caminho. Palavras dela, não minhas.
Sei que tem mais coisas nas entrelinhas, notei que apesar de falar que a mãe
se casou novamente, não tocou no nome do padrasto e nem falou nada da
sua relação com ele.
Contudo, percebi que qualquer assunto que se refere ao passado a faz
se transformar em outra pessoa. Como se toda sua luz fosse tragada para um
buraco negro. Então apenas estou deixando que fale aquilo que se sente
confortável em compartilhar. Estamos dando um passo de cada vez.
—Chegamos — Poli bate as mãos de forma animada— Isso é tão
emocionante, ela vai amar. — diz descendo do carro.
Viemos em Pedra Furada, cidade vizinha a nossa para tentar fazer uma
surpresa para Vivian. Ontem durante o café da tarde, ela comentou
novamente como gostaria de um dia ter um cachorro. Então aqui estamos
nós, em um abrigo mantido em parceria com a prefeitura, para animais
abandonados, para adotarmos um amigo de quatro patas para ela.
Você deve estar se perguntando por que não adotamos um da nossa
própria cidade, mas a verdade é que os únicos três animais para adoção já
estão sob os cuidados dela e de Ângelo no hotelzinho da clínica e para fazer
uma surpresa real para ela, precisamos vir em outro lugar.
Somos recebidos pelo gerente do lugar, que fez questão de vir
pessoalmente nos receber. Claro, que o peso do meu sobrenome tem tudo a
ver com o fato dele ter topado vir até aqui uma hora antes do local abrir,
somente para nos atender Não seria ingênuo acreditando que é por conta do
meu par de olhos verdes ou sua vontade de ver os animaizinhos ganhando
um lar.
— Espero que encontrem o animal que estão procurando. Todos estão
saudáveis e vacinados, somente esperando por uma nova família. —
Roberto, o gerente, abre a porta que dá acesso ao canil. Imediatamente os
latidos começam e alguns animais se aproximam das grades para ver a
movimentação.
— Vocês têm muitos cachorros aqui, — a alegria de minutos atrás da
minha amiga é substituída pela tristeza de ver tantos animais abandonados
— queria poder levar todos para casa.
Esse é um sentimento que compartilho também, se as pessoas
entendessem como o amor de um pet pode transformar nossas vidas, não
teríamos tantos animais pelas ruas sofrendo com a fome, mudanças
climáticas e principalmente com a crueldade humana. Observo que o espaço
aqui não é muito arejado e as áreas de alguns cachorros não são
proporcionais ao tamanho deles. Mesmo não podendo levar todos para a
fazenda, posso e farei algo para mudar a situação desse lugar.
— Infelizmente as pessoas acham que podem descartar os pobrezinhos
como se fossem uma mobília velha — a verdade dita pelo gerente, faz meu
sangue correr mais rápido nas veias. Infelizmente essa é uma realidade que
atinge milhares de animais — Alguns vão e voltam para abrigo, várias
vezes durante sua vida.
Enquanto andamos pelo corredor, Roberto vai nos dando algumas
informações. Quando viramos, para entrar em um novo corredor damos de
cara com um golden retriever solto, ele pula em cima de mim e começa a
me lamber todo e se não fosse pelo meu tamanho ele teria facilmente me
jogado no chão.
— Como você escapou, seu bagunceiro? — Roberto tenta afastá-lo de
mim, mas ele desvia e começa a correr em torno de mim e da Poli, que já ri
tanto que parece que vai ficar sem ar.
— Definitivamente, temos um escolhido — ela diz entre gargalhadas,
— Melhor, acho que fomos escolhidos né. Vem cá fofinho — ela se ajoelha
e começa a brincar com ele. — Alguém precisa de um banho urgente. —
fala ao cheirá-lo.
— Eu preciso alertá-los que ele foi devolvido três vezes ao abrigo, por
motivos de comportamento.
— Estamos acostumados com animais com problemas de
comportamento — digo sem conter o amplo sorriso que domina meu rosto,
ao lembrar de Zeus. — Minha namorada vai amar ele.
— Qual é o nome dele? — Poli questiona.
— Ele não tem nome. — diz ressabiado — Aqui o chamamos apenas
de garoto, amigo… Como já passou por três famílias cada vez ganhou um
nome diferente. Talvez seja por isso que ele não respeite a nenhum
comando.

— Tadinho gente — faz carinho nele — Agora você vai para casa com
a gente e vai conhecer minha amiga, que será sua mamãe. E vai se encantar
por ela assim como todos nós.
— Podemos resolver a parte burocrática — passo a mão no pêlo
dourado do cachorro, quando ele retorna para mim. Ansioso para chegar na
fazenda — Esse grandão vai com a gente — digo selando a decisão de
adotarmos o golden retriever.
— Você fica com ele, enquanto eu busco ela — Poli diz assim
que estaciono a caminhonete. — Mandei mensagem para seu pai e os
meninos, eles também estão vindo. Quero só ver a cara de todo mundo
quando o virem — pula para fora do carro — Já volto.
— Amigão, vou descer você, mas precisa ficar quietinho aqui do lado
do carro para não estragar a surpresa. — coloco a guia em sua coleira antes
de descer e abrir a porta do passageiro para ele. Como se fosse um cão
treinado, desce e fica sentado ao meu lado esperando o próximo comando.
O que me surpreende. Para um animal com problemas de comportamento
ele está se saindo super bem até aqui.
Vejo meu pai se aproximar, acompanhado pelos meus melhores
amigos, vindos lá de casa, ao mesmo tempo na direção oposta, as duas saem
pela entrada do estábulo caminhando em nossa direção. — Hora de
conhecer sua nova família, companheiro — digo baixinho somente para ele
ouvir , assim que todos estão próximos o suficiente

— O que está acontecendo? — Vivian questiona sem entender a


reunião repentina perto da caminhonete. Prendo nosso olhar e saio de trás
do carro. Leva apenas um segundo para seus olhos descerem do meu rosto e
encontraram o golden retriever. Suas mãos vão para boca, como se assim
ela pudesse conter a emoção que já transborda do olhar — Só posso estar
sonhando — diz antes de agachar e chamar o cachorro para si.
— Você é tão lindo — diz abraçando-o e recebendo muitas lambidas
pelo rosto. Os dois estão tão embolados que não sabemos o que é cabelo e o
que é pêlo. As lágrimas banham seu rosto, mas não me preocupo, porque
dessa vez tenho certeza de que são de alegria.
Desvio minha atenção para observar que minha família também assiste
a cena emocionados. Meu pai não para de sorrir, sei o tanto que ama os
animais e o tanto que tem se tornado próximo a Vivian. Os dois têm
conversado bastante, e ele já sabia da vontade dela de ter um cachorro
desde que era criança.
— Qual é o nome dele? — Zé é quem questiona.
— Ele não tem nome. Na verdade, já teve alguns, mas no abrigo não
nos deram nenhum. — Vivian fecha o semblante captando a informação nas
entrelinhas — Escolhe um nome para ele amor.

— Eu? Não prefere escolher você, já que ele é seu.


— Ele é nosso. — digo com firmeza — Melhor você escolher, tenho
certeza de que não vai querer ele sendo chamado de algo parecido com
chulé. — a gargalhada que ela solta, aquece meu coração.
Isso amor, é assim que quero te ver sempre.
— Thor — ela diz abraçando-o — Você é lindo, e tem esse pelo
dourado, não poderia ter outro nome, que não o do Vingador mais gato.

— Como assim? — indago em tom de brincadeira — sua cara nem


queima em falar isso na minha frente.
— Você deveria ter escolhido o nome — Fernando não perde a
oportunidade. E todos riem de mim .
— Errada ela não está — Poli se aproxima da amiga — Ei amigão, que
nome lindo você ganhou hein.
— Vocês duas são inacreditáveis — bufo

— Vem cá amor, não precisa ficar com ciúmes — Vivian se aproxima


— o cara nem sabe que eu existo.
— Mudaria alguma se soubesse?
— Então... — diz se afastando, mas não deixo
— Vivian — ela gargalha — quando puxo seu corpo para perto do
meu. — Acho que me deve um beijo, doutora.
— Devo?
— Claro, acabou de elogiar outro homem na minha frente.

— Achei que o beijo seria pela surpresa — passa os braços em torno do


meu pescoço e me dá um beijo casto antes de dizer baixinho somente para
que eu escute. — A noite te agradeço da forma correta.
Porra, aí sim.

— Quem vai tomar vinho comigo? — meu pai entra na sala segurando
duas garrafas de Chateau Margaux tinto. Ele não é de beber sempre, e
quando acontece sempre dá preferência para seus vinhos. Nossa adega tem
algumas garrafas que valem uma pequena fortuna. As duas que estão em
sua mão agora custam em média trinta mil reais.
— Vou ficar na cerveja— Zé é o primeiro a declinar, sendo
acompanhado por seu pai, Fernando, e por fim por mim, que estávamos
tomando cerveja.

— É véspera de Natal, deveriam apreciar algo diferente. — Madá entra


na sala trazendo mais uma travessa cheia de frios e coloca na mesa no
centro da sala. — Aceito uma taça compadre. — diz, fazendo a alegria do
meu velho.
— Prefiro minha gelada, mãe.
— Madá, essa carne quebra galho que você faz é dos deuses —
Fernando diz colocando mais um pedaço de pão com a carne na boca.
— Tudo que minha mãe faz é gostoso, — Zé alisa a barriga — olha só
para mim, sou a prova disso. — jogo uma das almofadas em sua direção.
— Deixa de ser ridículo. — digo rindo da sua cara.
— Inveja não te cai bem Bruno. — debocha.
Antes que possa responder, perco toda minha fala quando Vivian entra
na sala. Puta que pariu, que mulher é essa? Vermelho definitivamente
combina com ela. Observo cada detalhe enquanto caminha em minha
direção. O cabelo solto em ondas emoldura o rosto maquiado de forma leve
que realça sua beleza natural. Os lábios estão pintados de vermelho e fazem
meu pau endurecer com a imagem que projeto deles ao redor do meu pau.
Caralho, que visão.
A saia longa balança em sintonia ao movimento do seu quadril,
deixando a perna esquerda exposta pela fenda que chega até o meio da sua
coxa e o cropped completa a roupa que será minha tortura durante toda a
noite. O decote, acentua os seios e deixa parte da pele da barriga plana
exposta. Simplesmente perfeita, e deliciosa.
— Não fique me olhando assim — fala baixinho ao se encaixar em
meu abraço.
— Assim como?

— Como se fosse capaz de me tomar aqui e agora, sem se importar


com as outras pessoas presentes. — As bochechas ruborizadas me fazem
questionar se ela está com vergonha ou excitada. Apostaria na última opção.
— Não tem outra forma de te olhar, sendo que é exatamente o que
quero fazer. —seguro seu queixo e beijo seus lábios de forma cálida. —
Você é sempre linda, mas essa noite está radiante. Me sinto o homem mais
sortudo do mundo.
— Você também está lindo — Diz passando as mãos pelos meu braços
— amo quando você dobra as mangas da camisa assim , é sexy.
— Sexy, hein — Arqueio as sobrancelhas — é bom saber disso, talvez
eu use assim mais vezes.
— Faça isso.
— Cadê minha irmã?
— Ela está vindo, estava numa ligação com alguns amigos da
faculdade. — Vivian responde e vejo Fernando virar o resto da cerveja num
gole. Apesar de sentir o clima tenso entre os dois, será bom passarmos essa
data todos juntos depois de tantos anos e alguns desencontros.
O Natal da Fazenda Avelar é muito tradicional e acontece desde
quando meu pai era criança. Oferecemos bebidas, comida, música ao vivo e
fazemos uma ação solidária. Cada convidado que vem festejar com a gente,
traz um brinquedo novo, não importa o valor e deixa debaixo da grande
árvore de Natal que é montada próxima a entrada da casa grande.
No dia vinte e cinco, todos eles são levados até a quadra poliesportiva
da cidade, onde oferecemos um almoço de Natal para todas as crianças do
orfanato da região, são mais de cinquenta, em idades variadas aos cuidados
do governo. Nos anos que estive nos EUA senti muita falta de participar
desses momentos. Não existe nada mais gratificante que ser o responsável
por colocar um sorriso no rosto de uma criança.
Assim que Poliana se junta a nós, vamos para o lado de fora, onde a
festa acontece, para receber nossos convidados. Madá como sempre é a
responsável por organizar tudo, mesmo que há alguns anos tenhamos
acordado que contratar um buffet seria o melhor, ela é quem decide o que
será feito e fica de cima para que tudo saia do seu jeito.
Em média recebemos em torno de cem convidados, a maioria são
amigos e trabalhadores aqui da fazenda. É claro que algumas pessoas
preferem fazer a ceia em suas casas e vir somente depois para aproveitar a
música ao vivo. Então além do jantar que é servido, temos várias mesas
espalhadas em lugares estratégicos com muito tira gosto ao estilo mineiro.

— É incrível isso que vocês fazem aqui. — meu olhar segue o de


Vivian e preciso concordar com ela — A decoração está linda.
— Só perde para você — digo beijando seu rosto.
— Olha ali nosso filho — mostra Thor que deitado no gramado, roendo
um grande osso que Vivian trouxe para ele — Como que alguém tem
coragem de dizer que ele não se comporta bem. — a encaro rindo.
— Bem que falam que as mães tendem a defender as crias. Ele comeu
dois sapatos meus em um dia, Vivian — digo e safada ri.
— A culpa não é dele porque você deixa as coisas jogadas.

— Não estavam jogadas, estavam no meu quarto, só esqueci de fechar


a porta do closet.
— Viu, a culpa não foi dele. Já ouviu aquele ditado que diz “cachorro
só entra no closet se encontrar a porta aberta?”
— Tenho certeza que o ditado não é assim.
— Eu adpatei. — Dá de ombros, indo para uma mesa cheia de petiscos.
Capítulo 18

Vivian Montenegro
“Eu só tô buscando a minha melhor versão”
Se um mês atrás você dissesse eu estaria aqui hoje, sentada junto a
todas as pessoas, namorando Bruno e compartilhando de todos esses
momentos especiais com ele, eu fugiria para as montanhas. Seguro o
pingente de São Francisco de Assis, preso na correntinha de outro que
ganhei de presente de Angelo alguns minutos atrás e me emociono ao
lembrar de quando nos conhecemos.
Um professor comentou durante uma aula, que um grande amigo seu,
tinha uma clínica veterinária e precisava de alguém para ajudá-lo. Percebi
que nenhum dos meus colegas deu importância, visto que a cidade ficava a
um pouco mais de quatro horas da cidade.
Mas para mim era uma oportunidade como nenhuma outra que tinha
aparecido. Eu só precisava saber se poderia pedir a transferência visto que
era aluna bolsista e torcer para que quando chegasse na cidade,
conseguisse arrumar o estágio. Depois de ir até a secretária, descobri que
seria mais fácil do que pensava a transferência. O único problema era que
precisaria esperar o semestre fechar para fazer isso, o seria somente daqui
a dois meses.
Mesmo tendo que esperar esse tempo, não desisti da ideia. Continuei
trabalhando de caixa no supermercado do bairro onde morava e vendi as
poucas coisas que tinha. Claro que o dinheiro que consegui foi uma
merreca, por tudo era de segunda mão. A única coisa que deixei foi o
colchão que usava para dormir, e que já tinha combinado de doar para
minha vizinha.
O primeiro lugar que fui assim que desembarquei em Luiz Afonso, foi a
clínica que o meu professor havia comentado. Não pedi a ele referência ou
qualquer coisa assim, fui apenas com minha cara e coragem atrás de algo
que sentia ser muito maior que uma vaga de emprego. Desde que ouvi falar
dessa clínica senti no meu coração, que esse lugar era para onde eu
deveria ir.
Lembro de olhar a placa com o nome e me perguntar quem teria o
escolhido. Estava sentada no meio com uma mala e uma mochila do lado,
quando uma sombra tampou o sol que queimava minha cabeça e não eram
nem nove da manhã ainda.
— Manhã difícil? — a voz calma para potente, me fez olhar para o alto
e encarar o homem parado à minha esquerda. Ele era alto, moreno,
cabelos e barbas levemente grisalhos e muito bonito. Um coroa por volta
dos cinquenta e poucos anos. — Está precisando de ajuda? — me fez outra
pergunta, mesmo que não tenha respondido a primeira.
— Preciso de um emprego — respondi sem pensar duas vezes. Porque
essa era a verdade, eu precisava trabalhar e trabalhar para ele, para
conseguir me formar.
— Direta, gostei de você — disse pegando minha mala e indo em
direção a porta. Fiquei atônita— Vem garota, não posso fazer uma
entrevista de emprego aqui na calçada. — assim que ele abriu a porta de
vidro e começou a entrar na loja, corri para acompanhá-lo.
A sala de espera da clínica era grande, mas pouco aproveitada, notei
que tinha uma balcão alto, onde provavelmente sua recepcionista ficava
próximo a um corredor que levava a parte dos fundos, onde deveriam ficar
as salas de atendimento e exames. Só percebi que ele havia sumido quando
o vi, voltando com uma prancheta na mão.
— Vamos começar. Prazer sou Angelo Garcia, dono e veterinário
responsável pela clínica. E você quem é?
— Vivian Montenegro, estudante de medicina veterinária, atualmente
desempregada.

— Qual período e em qual faculdade você estuda?


— Vou iniciar o oitavo período na faculdade católica.
— Será minha aluna então, pelo menos nesse período— diz e um
sorriso de lado, mostra que ficou surpreso, pela minha cara de espanto —
Não sabia que eu era professor?
— Não senhor.
— Sem o senhor, somente Angelo aqui, na faculdade pode me chamar
de professor também. — diz com o sorriso ainda no rosto — como soube
que eu estava precisando de uma estagiária?
— Meu professor de microbiologia comentou durante uma aula...
— Paulo José? — questiona interrompendo minha fala. Aceno
positivamente — Se você passou na matéria dele, isso diz muito sobre a
profissional que será, ele costumava levar o apelido de carrasco. — não
posso deixar de rir, porque é exatamente esse o apelido pelos corredores da
faculdade.
—Ainda é o mesmo apelido.
— Pelo que notei, você acabou de chegar na cidade. Você é da capital
mesmo?
— Não senhor... — ele arqueia as sobrancelhas — Não Ângelo — me
corrijo — Sou gaúcha. Mas morei em Belo Horizonte por quase quatro
anos.
— E sua família? Ficou na capital?
— Não. — engulo seco, mas decido dizer a verdade, não toda ela, mas
uma parte. — Tenho apenas uma mãe viva, mas não nos falamos desde o
meu aniversário de dezoito anos. — seu olhar sustenta o meu por alguns
segundos e só percebo que estou segurando a respiração quando ele volta a
falar.
— Você começa hoje. Tem uma pousada no final da rua. É simples,
mas acho que te atende até que consiga outro lugar. Além do mais
Martinha, a dona, é minha amiga. Vá se hospede, diga que irá trabalhar
aqui na clínica e depois que estiver acomodada volte para eu lhe mostrar
tudo pelo que será responsável.
— Obrigada, Angelo — digo com a voz embargada, por mais que
esteja tentando segurar a emoção é difícil controlar quando um estranho,
que não tem nenhum motivo para lhe fazer o bem, te estender uma mão.
— Só faça o seu melhor Vivian. Me agradeça fazendo seu melhor.
Apesar de não entender naquela época, sabia que precisava vir para
essa cidade, como se meu coração ouvisse um chamado. Mas hoje sei que
algumas coisas não precisam de explicação. Eles simplesmente são do jeito
que são.
— Isso não é um presente de Natal, é um presente de formatura. Então
não reclama porque combinamos não trocar presentes. —diz rindo do jeito
dele — Você é muito dedicada Vivian, eu soube que iria longe desde o
momento que você me disse que precisava de emprego. Não desista nunca
daquilo que deseja, ok.
— Obrigada Ângelo, por tudo que fez por mim.
— Eu não fiz nada menina. Você conquistou tudo por mérito, tenho
muito orgulho de você.
Ouvi de Ângelo que ela sentia orgulho de mim, tinha o mesmo peso ou
até mais, que ouvir isso de um pai. E se eu parar e pensar, era exatamente
esse o papel que ele tem empenhado em minha vida.
Alguns meses depois de começar a trabalhar na clínica, ele me pediu
que abrisse a clínica para ele, porque iria à missa da manhã. Naquele dia
soube que meu chefe carregava uma dor muito profunda. Ele havia perdido
a esposa, os filhos, um casal de gêmeos de dezoito anos num acidente de
carro quando voltavam da capital, vindo de uma visita a sua sogra.
— Vivian, amiga. Terra chamando — desperto das minhas lembranças
e encaro Poliana. Ela está linda com o cabelo preso numa trança frouxa e
um vestido lindo, preto, frente única, levemente rodado da cintura para
baixo, mas marcando a cintura. Quem a vê na frente não imagina como as
costas é toda pelada. Fernando está tentando disfarçar, mas a verdade é que
não consegue tirar os olhos de cima dela.
— Desculpa, estava distraída.
— Percebemos. — ri — me ajuda a convencer seu namorado a cantar
umas duas músicas pelo menos para gente, se você pedir não tem como
negar.
— Amor — me viro ficando de frente para ele — canta por favor.
— Poliana, Poliana —diz rindo — somente duas. Podem escolher uma,
a outra eu já sei qual será.

— Boa noite a todos — diz antes de ajustar o microfone. — Me


pediram para tocar algumas músicas antes da meia noite, depois disso quem
realmente entende do assunto irá assumir, prometo. — todos riem. Bruno
pode até nunca ter pensado em seguir carreira na música, mas que esse
mundo combina com ele, é inquestionável.
— Vai lá gostoso! — Fernando grita — Só vim aqui para te ver.
— Vou pedir aos seguranças para te colocar para fora — Bruno retruca
e todos riem da situação. — Me pediram uma música muito especial, que
me sinto honrado em cantar para vocês essa noite.
Bruno começa a dedilhar no violão a música escolhida por José
Armando e Poliana, “Melhor versão” do cantor Gustavo Mioto. É linda a
entrega dele em cada estrofe, sua voz tem um timbre lindo, que faz a gente
querer ouvir para sempre.

— Eu não sou perfeito e nem tento ser, eu só 'to buscando minha


melhor versão. Pra quando lá no céu precisarem de mim, aqui vou ter
cumprido a minha missão —a letra é linda, sendo inevitável não se
emocionar — Ah, na vida a gente tem que aprender a se virar.... Ah, se a
minha carne for fraca, a fé nunca será... —
A letra termina, mas ele continua dedilhando o violão, deixando um
som suave pairar enquanto fala com os convidados —A segunda e última
para finalizar a tortura de vocês, é uma música, que hoje faz totalmente
sentindo para mim — as notas suavemente vão mudando de tom, fico
hipnotizada com a forma com que ele domina o que está fazendo, como se o
instrumento, a melodia e tudo ao seu redor fizessem parte dele. Não é a
primeira vez que o vejo cantar, mas hoje tem algo diferente.
— Faz do seu jeito que eu topo te acompanhar. Coração apaixonado,
dança do jeito que a banda tocar — assim que começa, sei que está
cantando para mim, o que a letra da música não diz, seu olhar revela— Nós
dois 'tá bom demais, que chega dar medo. Eu já amo você, mas se achar
que ainda é cedo — Meu coração começa acelerar, me perco no momento,
não existe nada além dele e o que sentimos.
—Eu vou no seu tempo, que seja em segredo de sexta a domingo, pra
mim 'tá perfeito. Não precisa mudar o status, deixa do jeito que 'tá. Se eu já
tenho você do meu lado, 'tá lindo, pra que complicar?
— Que romântico! — Poli diz ao meu lado, mas não desvio meu olhar
do palco — Ele tá muito apaixonado por você amiga. Sempre soube que
Bruno seria cadelinha quando encontrasse alguém que realmente valesse a
pena, mas olha, ele tá levando isso a outro nível.
— Deixa de ser besta — bato meu ombro no dela — É só uma música
— me faço de boba
— Deixa disso, que essa falsa inocência nem combina com você. Ele
poderia cantar qualquer música, mas escolheu justamente essa —. Sim, ele
poderia. Penso— Bruno tá se declarando.
— Se eu já tenho você do meu lado, 'tá lindo. Pra que complicar? —
assim que a música acaba, palmas, assobios e pedidos de mais, são
ofertados. Bruno agradece o carinho e diz que não faltarão oportunidades de
tocar para todos outra vez.

Seus passos são firmes, enquanto ele volta para nossa mesa, aproveito
o momento para analisar o conjunto da obra, jeans de lavagem escura,
camisa preta com as mangas enroladas até os cotovelos deixam exposto os
braços com as veias saltadas a mostra, o cinto, a fivela com o brasão da
família Avelar e as botas vestem quase um e noventa de pura gostosura,
bem definida e esculpida em músculos.
— Agora quem está olhando quem como se fosse devorá-lo? — diz no
meu ouvido assim que está de volta ao seu lugar — Vivian, Vivian você não
deveria fazer coisas assim meu amor.
— Por que não?

— Porque não posso fazer com você agora, as coisas que eu quero —
diz mordendo o lóbulo da minha orelha — e isso me deixa frustrado para
caralho, fora o tesão que preciso controlar, para não andar por aí com a pau
marcado na calça.
Antes que possa continuar nossas provações, meu sogro nos convoca
para tirarmos algumas fotos todos juntos. Seu João é um homem atípico,
que gosta de interagir, dançar e sempre está pronto para um dedo de prosa
seja com quem for. Nos últimos dias nos aproximamos muito e a cada dia
que passa, me sinto mais acolhida, mais amada.
Todos aqui na fazendo continuam a me tratar com respeito, não teve
nenhum olhar torto ou burburinho pelo fato de estar me relacionando com
Bruno. A forma como todos se tratam aqui e principalmente como os donos
tratam a todos, diz muito sobre as pessoas com quem venho convivendo. É
claro que não sou inocente de achar que todos são amigos e só me desejam
coisas boas. Até porque, o coração do homem é terra que ninguém pisa.
Mas enquanto isso não afetar meu desempenho como profissional e for
somente uma opinião pessoal e não me atingir diretamente, está tudo bem
para mim.
Depois que tiramos as fotos, o jantar foi servido. Várias mesas no estilo
banquete foram ocupadas por uma média de doze pessoas cada. Esse com
certeza é o melhor Natal da minha vida. Mas preciso confessar que estou
sentindo falta da minha foguetinho. Bruna e seus pais foram passar o Natal
com sua família por parte de mãe que moram na cidade vizinha. Desde que
ela decidiu que seríamos amigas, a vejo todos os dias e confesso que ela é
um sopro de ar fresco na minha vida. Sua alegria, inocência e esperteza me
deixam totalmente derretida por aquele meio metro de gente.
Assim que a ceia termina, a dupla contratada começa a tocar. Já são
quase duas horas de música boa, e que por incrível que pareça não fica
somente nas modas sertanejas, já rolou pagodinho, pop-rock com versões
de Pitty e Nando Reis. Os dois artistas brasileiros que dominam minhas
playlists. Agora eles estão tocando um pedido especial do meu namorado,
fechando a noite em grande estilo tocando Jorge e Mateus.
A dupla é realmente boa, mas nada se compara ao som da voz de
Bruno cantando “Seu astral” no pé do meu ouvindo, intercalando beijos e
mordidinhas no meu pescoço, enquanto suas mãos acariciam a pele exposta
da minha barriga. Tenho me segurado a noite toda para não cometer uma
loucura, mas está ficando cada vez mais difícil segurar a vontade de pedir
que ele me leve para seu quarto e me foder da forma que só ele sabe fazer.
De forma inconsciente, ou talvez nem tanto, roço minha bunda em sua
ereção, provocando-o, e o que tanto esperava acontece.
Capítulo 19

Bruno Avelar
“Dizendo não para, não para”
Me enlouquecer.
É exatamente o que essa mulher quer desde que decidiu passar esse
batom vermelho nos lábios. Cada segundo dessa noite, busquei não
imaginar meu pau dentro da sua boca gostosa ou estrangulado dentro da sua
boceta. Estava tentando ser um bom anfitrião e não esquecer a porra da
festa de Natal que é tão importante para todas e me trancar com ela no
primeiro cômodo e fodê-la até que ela pedisse arrego.
Mas tudo tem limite, até mesmo minhas boas maneiras. Sei que não
posso simplesmente sumir sem me despedir das pessoas. Meu pai é um cara
superbacana, mas existem coisas das quais ele não abre mão, educação e
respeito são duas delas. Pego Vivian pela mão e a faço me seguir até a parte
de trás da casa, onde sei que ninguém irá nos importunar. Essa pequena
provocadora terá um vislumbre do que a espera essa noite assim que for
minimamente razoável dar a noite por encerrada.
Assim que estamos fora das vistas, encurralo Vivian contra a parede.
— Tá gostoso me provocar? Ficar passando essa bunda que eu tô louco para
comer na minha rola? — seguro seu queixo, exercendo um pouco mais de
pressão, quando a safada inclina seu quadril em minha direção e morde o
lábio do jeito que sabe que atiça o animal dentro de mim. — Responde
Vivian.

— Sim Bruno, está muito gostoso — a luxúria derramando em cada


letra.
— Quero tanto foder essa sua boquinha atrevida, desde a primeira vez
que você a usou para me colocar no meu lugar.
— Faça isso. — PUTA. QUE . PARIU! Essa mulher será meu fim.
Suas mãos pequenas mais ágeis, rapidamente fazem o trabalho de abrir
minha calça e quando sinto o toque macio, mais firme no meu cacete que já
está doendo de tão duro, fico por um fio.
Seu olhar de desejo e os movimentos de vai e vem, vão se
intensificando conforme se ajoelha para ficar na altura ideal para nos dar
aquilo que ambos ansiamos— Chupa— ordeno enquanto passo o polegar
pelos lábios macios que imaginei tantas vezes em torno volta do meu pau.
Não preciso pedir duas vezes. Sua boca desliza da cabeça à base em um
ritmo obediente. É a porra do paraíso. Estou vidrado na imagem do meu pau
sumindo dentro da boca carnuda e vermelha, cada vez que ele entra e sai,
meu corpo sofre novos espasmos.
— Bruno.. — sua voz me demove do transe e fixo meu olhar no seu.
Ser chupado por ela assim, enquanto me encara com esse jeito safado é tudo
que poderia pedir. — Goza para mim, goza na minha boca.

— Que beber minha porra toda, putinha? —levo minha mão até sua
nunca e seguro com força, quando meneia a cabeça de forma positiva, sem
perder o contato visual comigo nem por um segundo — Ah, Vivian, vou dar
exatamente o que você quer — impulsiono meu quadril para frente quando
ela relaxa o maxilar me dando permissão para me afundar até sua garganta.
Quando a vejo começar a engasgar recuo e volto, dando apenas tempo para
que se recupere antes de me engolir novamente.
— A porra, caralho... — digo acelerando o movimento do quadril —
vou gozar, se prepara para tomar tudo, safada. — sinto minhas bolas
tensionarem, um arrepio subir por minha coluna e as veias da minha rola se
expandirem quando o orgasmo me atinge. Me derramo dentro de sua boca,
gozando de uma forma que nunca aconteceu antes.
Fecho os olhos aproveitando um pouco mais a sensação. Quando os
abro, a vejo lamber os lábios enquanto se levanta com uma elegância que
alguém vendo de fora, jamais imaginaria que a segundos estava me
chupando como uma profissional. Atrás desse semblante de menina doce,
Vivian é puro fogo, e estou pagando dobrado só para me queimar nele.
A trago para meus braços e a beijo fazendo sentir meu sabor, o que não
a incomoda, pelo contrário parece acender ainda mais seu corpo. Da mesma
forma que desabotoou, suas mãos voltam para mim calça, fechando-a — A
gente precisa voltar — diz assim que nossas bocas se afastam.
— Primeiro — digo e separo suas pernas com a minha, no mesmo
instante que passo a mão por sua coxa pelo acesso que a fenda da saia me
dá. Avanço em direção ao seu sexo e arrasto a calcinha enxarcada para o
lado.— vou te fazer gozar aqui, nos meus dedos. Depois vamos para meu
quarto, aí você vai gozar na minha boca, no meu pau, enquanto te fodo do
jeito selvagem que sei você gosta.

Baunilha, nunca pensei que fosse gostar tanto desse cheiro. Talvez seja
por ser nela. Os cabelos ainda úmidos do nosso banho estão espalhados pelo
travesseiro, contrastando o tom loiro acinzentado dos fios com tecido preto.
O lençol puxado somente até a altura das coxas, deixa a bunda exposta e um
dos seios que mamei como um louco minutos atrás, extremamente
convidativos.
Calma aí amigão, ela precisa descansar. Quem pode culpar meu pau
por se animar somente com a visão dela nua na minha cama. A mulher é
linda, gostosa e nossa química é inexplicável. Ajeito minha ereção, depois
de deixar a bandeja com comida na mesa que fica no meu quarto. Assim
que saímos do banho, Vivian falou que estava com fome, então fui buscar
algo para alimentar meu pequeno dragão. Mas pelo visto o cansaço foi
maior.
Uma coisa que não demorei a saber sobre minha namorada é que
sempre está com fome. Nunca vi uma mulher tão pequena, boa de garfo
igual a ela. Não tem frescura para comer e fica feliz com a mera menção da
palavra comida. Descobri também que preciso mantê-la alimentada, porque
seu humor não é dos melhores quando está com a barriga vazia.
Começo a tirar a calça de moletom para me deitar ao seu lado, mas
interrompo o movimento — Geleia de morango — paro e olho para cama,
ela continua na mesma posição, deve tá sonhando, quando começo a tirar
novamente a roupa escuto novamente — Nem pense em ficar pelado ao
meu lado de novo, antes de me alimentar, e agora estou falando de comida
de verdade. — não seguro a gargalhada e termino de tirar a calça mesmo
assim. Seus olhos indo direto para o meu cacete que já está meia bomba.
— Pensei que estava dormindo, parecia no sétimo sono.
— Eu estava, mas aí comecei a sonhar que um homem muito gostoso
estava me trazendo comida na cama — sorri para mim — e meu estômago
roncou tão alto que acordei.— diz empurrando o lençol para longe do seu
corpo com o auxílio dos pés, deixando à minha vista a bocetinha gostosa
que já estou louco para chupar de novo..
— Vou pegar sua comida.
— Não estou mais com fome — viro minha cabeça tão rápido na
direção dela, que até pareço a menina do filme O exorcista — não de
comida pelo menos. — a safada, morde os lábios. Juro, que iria deixá-la
descansar, mas porra fica difícil assim.
— Vem aqui — digo já pegando uma camisinha e me sentando na
cama— Se você está com fome, então agora quem vai me comer é você.
— mas antes que eu possa colocar a camisinha, sou pego de surpresa
— Sem — diz tirando o preservativo da minha mão e o jogando de
volta na mesinha — Quero sentir seu pau sem barreira nenhuma.
— Tem certeza disso? — questiono por que não quero que ela tome
nenhuma decisão que possa se arrepender depois. Já havíamos conversado
sobre sexo seguro, e assim como os meus, os seu exames estão em dia e
está tudo certo. Pelo que me contou ela não transava a mais de seis meses.
Uma coisa que gostei muito de ouvir, confesso. Não que meu histórico seja
muito diferente. E quanto aos filhos? Estamos protegidos, porque Vivian
usa anticoncepcional desde nova, para regular o fluxo menstrual.
— Tenho — a voz firme não deixa dúvidas.
— Porra — a puxo para meu colo, meu pênis ficando bem na sua
entrada, a safada rebola fazendo com que sua lubrificação o encharque —
Desce, vai rebolando assim, até me sentir todo dentro de você. — dou um
tapa em sua bunda e a sinto pingar. Gostosa pra caralho.
Vivian se apoia em meus ombros e começa sua descida, fazendo
exatamente o que pedi, rebolando a raba gostosa me deixando alucinado.
Deixo-a em posição de comando, ditando o ritmo em que sua boceta gulosa
me ordenha.
— Ai Bruno, que gostoso ... — geme como uma gatinha no cio — seu
pau é uma delícia. Ficaria sentada nele a vida toda —a velocidade das
reboladas aumenta e vejo que está perdendo o controle, se entregando ao
êxtase, seguro sua cintura e começo a me movimentar junto, para
intensificar seu prazer. Deslizo meu dedo pela fenda da bunda, e começo a
massagear seu buraquinho apertado.
— Quero tanto comer seu cu, Vivian —- falo em seu ouvido, porque
sei que adora putaria quando estamos assim — Imagina ele todo dentro de
você. — um rugido sobe pela minha garganta quando suas paredes me
apertam, o orgasmo se aproximando.
Sua boca vem de encontro ao meu ombro, sinto a mordida ao mesmo
que suas unhas me arranham e seu gozo mela minha rola. Não deixo que
seu corpo relaxe, mudo nossas posições deitando-a de costas na cama, ainda
afundado em seu interior quente e molhado.
— Minha vez — digo entrando e saindo, cada vez mais forte e mais
fundo, tocando tudo dentro dela.
— Gosto dessa sua versão — a voz dela é quase um sussurro . Minha
mão segura em seu pescoço com força, não para machucá-la, mas o
suficiente para mantê-la sob meu domínio.

— Qual versão Vivian? — pergunto enquanto me afundo em sua


boceta molhada. Seus gemidos ecoam por todo o quarto — Diga!
— A selvagem... — ela toma um segundo, antes de continuar quando
aperto o mamilo enrijecido, esmagando o seio em minha mão, deixando-a
no limite do prazer e da dor. — bruta, que me desmonta e não deixa
nenhuma dúvida que sou sua.
— Mas você é minha Vivian. Desde o dia em que a vi pela primeira
vez. — bombeio mais uma, duas vezes e a beijo, enquanto a encho com a
minha porra, marcando-a. Minha. — Você é minha Vivian.

— Acorda dorminhoca — desço beijos por seu rosto, pescoço e paro


— se não acordar, vou começar a chupar esses peitos gostosos e só vou
parar depois de tirar sua virgindade daqui — aperto sua bunda e ela
começa a rir com os olhos ainda fechados — e sabe o que vai acontecer?
— Não, amor, o que vai acontecer? — diz com a voz dengosa e cheia
de segundas intenções. Saio de cima dela e seus olhos abrem-se para me
fitar
— Fernando e Zé vão comer todo o panetone que a Madá fez — num
pulo Vivian está de pé, procurando as roupas para vestir.
— E você me diz isso nessa calma, anda Bruno me ajuda. — puxo para
a cama e caímos juntos, ela brava e eu rindo de chorar — me solta Bruno,
eu não posso perder o panet... — a calo com um beijo e ela me dá
soquinhos tentando me soltar do meu aperto.
— Calma meu dragãozinho, tem muito panetone e os meninos nem
acordaram ainda — desconfiada, arqueia as sobrancelhas e tenta se levantar
— Só quero te entregar seu presente de Natal — seu corpo relaxa e um
sorriso lindo ilumina seu rosto.
— Tenho que te entregar o seu também..
— Espero que seja o que tô pensando. Prometo ser carinhoso e entrar
devagarinho — um tapa estala no meu braço.
— Deixa de ser safado, é manhã de Natal, mais respeito.
— Vivian, você estava gemendo no meu pau, a menos de quatro horas
atrás e já era Natal.
— É diferente. — retruca, levanta da cama e vai em direção ao closet
— fica ai, vou pegar seu presente na minha bolsa. — Não passa nem dois
minuto e ela volta com um embrulho pequeno. — Não sabia o que dar para
uma pessoa que aparentemente tem tudo, então espero que goste.
— Tenho certeza que vou gostar, mas o melhor presente, já está bem
aqui na minha frente. — beijo sua têmpora e começo a abrir o embrulho.
Assim que tiro todo o papel dourado, percebo do que se trata.

— É muito simples, mas além de ser uma peça única, feita sob
encomenda, gostei da ideia de poder fazer uma gravação. — tiro a
miniatura de violão da caixinha acrilica, mas não uma simples miniatura, é
uma réplica perfeita do meu violão. —Vira.
— A lua é sempre a mesma. Não importa de onde seja vista — olho
para minha namorada — Essa frase, onde você a ouviu? — pergunto
emocionado, sendo preenchido por um sentimento esmagador.
— Não lembro exatamente ... —suspira, e sinto que é uma lembrança
que a emociona — mas sei que era meu pai quem a falava para mim. É uma
das poucas coisas que me recordo dele. Por quê?
Vou até meu closet antes de responder. E volto com um diário em
mãos. Sento ao seu lado, e a abro exatamente na página que quero que veja
— Leia.
— A lua é sempre a mesma. Não importa de onde seja vista, filho.
Quando você for um homem e trilhar seu próprio caminho, não importa
onde você esteja , basta olhar para o céu e a mesma lua que ver, será a que
vejo, então saberá que sempre estarei com você.
— Minha mãe escreveu isso na véspera do meu nascimento. Meu pai
sempre perguntava porque ela escrevia para mim, e ela falava que era para
eu saber o quanto ela me amava e me desejava. Eu acho que no fundo ela
sentia que não teria muito tempo comigo. — uma lágrima rola na bochecha
de Vivian, sua emoção espelhando a minha. — Queria muito a ter
conhecido.
— Sua mãe parece ter sido uma mulher incrível, também gostaria de
tido a honra de conhecê-la. — ela seca novas lágrimas que surgem — Onde
quer que ela esteja, tenho certeza que sente muito orgulho do homem que
você se tornou — beija minha bochecha — eu sou grata a ela, por sua vida,
amor.
— Cada dia que passa, tenho mais certeza que esse nosso encontro não
foi acaso Vivian, nada na vida é — pego sua mão, coloco sobre o meu
coração. — Sente isso? — confirma — não era assim antes. Meu coração
bate num ritmo novo desde que te conheci.

— Você não pode ficar me falando essas coisas.


— Por que não? Seu medo é eu te amar ou descobrir que não pode me
amar da mesma forma?
— Nenhum dos dois, tenho medo do sofrimento que posso causar.
— Eu não entendo...

— Hoje não amor, por favor, — me corta. — é o melhor Natal da


minha vida. Um dia... — suspira — um dia você saberá tudo e então vai
entender, ou não. Mas não hoje.
— Ok. Me desculpe, prometi não pressionar. Estarei aqui quando se
sentir pronta para conversar. — acaricio seu rosto com as costas das mãos.
— Agora — digo indo até a mesinha que fica ao lado esquerdo da minha
cama. — seu presente. — estendo o envelope em sua direção.
— O que é?
— Abra— os dedos delicados abrem o envelope com cuidado, como se
fosse algo precioso. Ela pega os papéis e seus olhos se arregalam quando
percebe do que se trata.

— Não posso aceitar — tenta me devolver o documento, mas me nego


a pegar — Você tá louco, isso não é presente de Natal Bruno, isso.. isso é
demais. — passa as mãos pelo rosto e anda de um lado para o outro — e eu
achando que ia ganhar um celular — ri de si mesma — Você vive falando
mal do meu Samsung.
— Amor respira — tento me aproximar e ela se afasta. — Vivian, ele
sempre foi seu. — isso amor, olha pra mim. — Só resolvi a parte
burocrática. Ele é seu.
Zeus, agora é oficialmente de Vivian. Pedi que Fernando cuidasse da
documentação, após informar meu pai da minha decisão. Surpreendendo
um total de zero pessoas, ele ficou feliz e disse que se o animal não
estivesse em meu nome, afinal era um presente dele para mim, já o teria
dado para Vivian a muito tempo.
— Não tenho nem como cuidar dele Bruno.
— Amor, vem aqui — a trago para meu colo, passo seus cabelos para
trás, viro seu rosto na minha direção, encosto nossas testas, nossas
respirações se misturando — Sei que tudo está acontecendo a velocidade da
luz, mas não quero pisar no freio. Diferente do que Renato Russo cantava,
não temos todo tempo do mundo, nem sabemos se temos tempo algum.
Beijos seus lábios, deixo que seu sabor me preencha — Não vou me
arrepender de me entregar a esse sentimento que vem me consumindo, não
vou me podar de te cuidar, te mimar e dizer o quanto você é especial para
mim. Zeus escolheu você Vivian, aquele cavalo tem um espírito indomável,
selvagem, que somente o amor a ligação que existem entre vocês é capaz
de acalmar. Enquanto você quiser, ele ficará na fazenda e será cuidado
como vem sendo, e espero de coração que ele nunca saia daqui.
Firmo seu olhar no meu, porque preciso que saiba que nada que digo é
da boca para fora. — Obrigada. — finalmente cede. — Amo tanto aquele
cavalo, que não saberia expressar em palavras. — Eu entendo amor, eu
entendo.
— Deixa eu pegar seu celular novo. — digo rindo ao me lembrar de
minutos atrás — É inaceitável você ter que desligar nossas chamadas de
vídeo por seu celular está quente a ponto de explodir. Quero poder fazer
sexting seguro com você. — a gargalhada que ela solta, preenche cada
espaço vazio que porventura ainda existe em minha alma.
— Você é inacreditável, mas é o melhor namorado do mundo.
Capítulo 20

Vivian Montenegro
“Tenho dó de quem não te conhece”
— AAAAAAIIIIII... — escutamos um grito alto vindo da varanda dos
fundos. — QUE PORRAAAAA! — saímos todos correndo da cozinha,
largando o café da manhã para ir ver o que aconteceu. Thor é o primeiro a
sair latindo na direção de onde os xingamentos continuam a vir .Assim que
entramos na varanda vemos o homem moreno, alto e tatuado raspando o pé
em um tapete.
— Que merda aconteceu aqui Fernando? — Bruno é o primeiro a se
pronunciar — tomamos a porra de um susto com seu grito.
— Pisei numa aranha, porra. — encara o amigo, como se obvio sua
reação — tenho pavor desse bicho.
— Ah vê se te emenda, um homem do seu tamanho com medo de uma
aranhazinha — Zé não perde a chance de alfinetar. Mas a verdade é que
pelo tanto de restos mortais, não se trava de uma aranha tão pequena assim.
— Não fode, José Armando. Essa porra é nojenta, eu estava distraído e
pisei nela descalço. — continua limpando o pé no tapete. — Porra, me
assustei tanto, que até desmunhequei.
— Gritou igual uma menina — os dois começam a rir.
— Querem parar com essa merda vocês dois — Poli diz brava. —
Esse termo é totalmente pejorativo e desnecessário, Fernando. E você José
Armando, que comparação ridícula, fique sabendo que tem muita menina
por aí mais corajosa que marmanjos como os dois aqui.
— Desculpa, não quis ser um babaca — Fernando parece realmente
envergonhado, e eu até poderia sentir pena, poderia se não estivesse
totalmente do lado da minha amiga — É difícil desapegar de algumas
expressões.
— Então se esforce mais. É a droga de um advogado, e não um
qualquer. Estudou nos melhores lugares, viveu anos fora, precisa se livrar
dessa raiz machista e preconceituosa.
—Você está certa maninha, desculpa a gente vai?
— Vai magrela, não foi por maldade que falamos.
— Aff, desisto de vocês dois — Poliana sai batendo o pé, deixando os
meninos sem entender nada.
— Mereceram o esporro — meu namorado que até então só observava
tudo, se pronuncia — Poliana está certa, precisamos nos policiar quanto às
expressões que de geração em geração perpetuam preconceito, homofobia,
racismo entre coisas. Daqui a pouco “sem maldade” — faz sinal de aspas na
expressão para dar ênfase— estamos repassando isso aos nossos filhos.
Ignorância não é uma dádiva gente, ignorância mata, e todos os dias temos
várias notícias que nos provam isso.
— Estou me sentindo um lixo agora — Fernando ficou até amuado. —
Não queria chatear ninguém, e nem ser preconceituoso, vocês me conhecem
sabem que não sou assim.
— Nós sabemos, mas é quem ouve de fora? Até você explicar que
focinho de porco não é tomada, a merda já bateu no ventilador e foi
espalhada.
— Bem, acho que todos aprendemos uma lição hoje. — beijo o rosto
de Bruno — Nos vemos depois, preciso ir ver os animais.
— Mas nem terminou o café da manhã?
—Comi o suficiente. Preciso mesmo ir, Antônio deve estar me
esperando. Vem amigão — Thor levanta do chão de onde acompanha tudo
como um espectador muito compenetrado e me segue.

— Certo Vivian. Agora, sobre a égua que foi vendida, fiz a coleta do
sangue para os últimos exames, devem ficar prontos dia quatro. — Antônio
me atualiza — Devem vir buscá-la no dia oito.
— Certo. Doutor Felipe disse que virá somente no dia doze fazer as
coletas dos sêmens do Trovão. Bem na mesma época que o Sheik Khalid
estará hospedado na fazenda. — entrego para a ele a autorização para a
compra dos suprimentos que precisamos repor no estoque — As coisas vão
ficar movimentadas por aqui.
— Nem me fale. Fiquei sabendo que aquele assistente que o Sheik
enviou fez uma lista de coisas que precisam ser ajustadas na casa de campo.
— confirmo — Achei exagero, aquela casa é muito luxuosa. Fora a vista da
cachoeira que é um espetáculo à parte. Vai entender esse povo.
— Eles têm costumes muito diferentes dos nossos Antônio. O homem é
Khalid Abu Abin Aziz, ele é tipo a realeza do país dele, imagina ao que ele
está acostumado.
— Isso é. Deixa eu ir terminar meu trabalho. Se precisar de alguma
coisa me manda uma mensagem.
— Pode deixar — ele começa a sair — Ah Antônio, peça a um dos
meninos para selar a Aurora. Vou ensinar a Bruninha a montar e ela é a
nossa égua mais mansa.
— Peço sim.
— Obrigada meu amigo.

Volto a me concentrar nos relatórios que preciso terminar. Estamos


organizando a entrega de cinco cavalos que foram vendidos, dois aqui e três
na fazenda do Mato Grosso. Apesar do transporte na maioria das vezes ser
de responsabilidade do comprador, com os três da outra fazenda faremos a
entrega. É uma distância grande e o comprador, o dono de um resort de
luxo, resolveu pagar todos os custos para levarmos os cavalos até o local
com segurança.
Envio os últimos e-mails, confiro algumas anotações que Ângelo me
pediu para analisar, aproveitando que faltam alguns minutinhos para a
chegada de minha foguetinho. Hoje é a última sexta do ano e estou muito
feliz em aproveitar o fim da tarde ensinando a pequena a montar. Ela é
apaixonada pelos animais, Zeus e Thor já se renderam ao seu charme. O
golden retriever faz a festa sempre que ela aparece e a bagunça fica
generalizada quando os dois estão juntos.
— Cheguei Vivian — bem na hora.
— Mas que princesa mais pontual — a pego no colo quando se
aproxima da minha cadeira. — Animada para a aula de hoje ?
— Uipi, muito, muito — dá pulinhos ainda sentada no meu colo. —
Bruno disse que posso ser igual aquelas meninas que pulam com seus
cavalos e rodam em voltam daquelas coisas redondas de ferro... Qual é
nome mesmo?
— Tambor, meu amor.
— Isso, quero ser igual a elas quando crescer.
— Você pode ser tudo o que quiser. — deixo um beijo em sua
cabecinha. — Agora vamos lá que Aurora já deve estar pronta para sua
grande aula.

Passo com a égua pelo portão de madeira, com Bruna ainda montada.
Ela está indo super bem, é confiante, tem respeito pelo animal, obedece a
todas as instruções e está radiante com cada coisa que aprende. É um fim de
tarde lindo, vamos fazer apenas uma pausa para tomar água e depois
continuamos enquanto temos luz natural.
—Vem, deixa eu te descer — ela vira o corpinho na minha direção e
me deixa tirá-la de cima da égua. Bruna, apesar dos sete anos, é miúda e
magrinha, bem levinha — Que tal depois que terminamos aqui e se o
Bruno não demorar voltar, irmos tomar sorvete lá no seu Tião?
Antes que possa ouvir sua resposta, somos interrompidas por sons de
palmas sendo batida. Viro na direção do som e dou de cara com Franciele
— Não sabia que além atendente de pet shop você era também babá nas
horas vagas. — me olha como se eu fosse a poeira na sua sandália de salto,
que por sinal não tem nada a ver com o chão de terra da fazenda.
— Qualquer uma dessas funções me deixariam honradas em
desempenhar. Mas acho que está mal-informada. — a olho de cima a baixo,
medindo-a como fez comigo — Sou veterinária e a responsável por cada
animal dessa fazenda.
— É, talvez tenha me enganado quanto a isso, talvez quem falou que
Bruno estaria namorando com você também tenha se enganado. — joga o
cabelo loiro para trás — É óbvio que ele não se envolveria com alguém
como você.
— Como eu? — questiono incrédula, por que a petulância dessa
mulher está me tirando do prumo. — Acho melhor você ir embora
Franciele. Não tem nada para fazer aqui, principalmente perto dos
estábulos.
— E quem é você para me dizer o que eu posso ou não fazer? — se
aproxima, ficando muito perto de mim e de Bruna que ainda está em meu
colo, agarrada ao meu pescoço observando tudo. — Acha mesmo que tem
alguma chance? Olha para você. — revira o olho. — Eu serei a futura
senhora Avelar , e a primeira coisa que farei como dona dessa fazenda, será
dispensar seus serviços— encaro a mulher loira a minha frente e sinto
Bruna se remexer em meu colo.
— Você não briga com a minha amiga, sua feiosa — Foguetinho diz
antes que eu mesma possa me defender da loira aguada. E quando vejo ela
dá uma assoprada na cara de Franciele. Isso mesmo ela assopra a megera.
— Vou contar tudo para o Bruno quando ele chegar — diz e desce do meu
colo, ficando ao meu lado.
— Essa monstrinha cuspiu em mim — diz toda cheia de repulsa.

— Deixa de ser mentirosa, foi só uma assoprada.


— Seus pais não te ensinaram que mentir é feio? — Bruna questiona.
— E os seus não te deram educação, mas isso a gente resolve —
quando a loira dá um passo na direção da menina, movo meu corpo, ficando
entre as duas e a empurro para longe, fazendo-a se desequilibrar e quase
cair de bunda.
— Não coloque essas suas mãos fétidas em cima de mim de novo.
Você fede a esterco.
Ah isso não vai ficar assim, sem pensar duas vezes, vou em direção a
cerca e me abaixo e pego um punhado de coco de cavalo com as duas mãos,
me viro e jogo tudo em cima dessa abusada. O esterco bate na cara bem
maquiada, cabelo e roupas de marca.
— Ahhhhhhhhh— ela tenta se limpar — sua maldita, olha o que você
fez.
— Agora, estamos as duas fedendo a esterco, mas sabe qual é diferença
Franciele, do seu cheiro para o meu? — me aproximo dela, inspiro
profundamente. antes de voltar a falar — É que mesmo coberta de bosta, eu
ainda consigo sentir o cheiro podre do seu interior.
—Sua louca, eu vou acabar com você.— ela vem pra cima de mim. —
Seus dias estão contados nessa fazenda.
— Se afaste dela Franciele — a voz dura de Bruno faz a mulher
paralisar — e me escuta bem, porque só vou dizer isso mais uma vez.
Primeiro, mesmo que ela não existisse em minha vida, não haveria a menor,
a mais remota chance da gente ficar junto outra vez. — dá um passo se
aproximando dela — Segundo, tudo que seus olhos alcançam é do meu pai
e será meu um dia. O que quer dizer que também será dela. Porque a única
mulher que vejo no meu futuro se chama Vivian Montenegro.

— Você não...— ainda tenta, a mulher não se respeita mesmo.


— Quero você fora daqui e não volte sem ser convidada. Fui claro? —
Bruno dá as costas a ela e se aproxima de mim e de Bruninha que está
agarrada a minha perna — Vocês estão bem?
— Sim, estamos. — respondo, mas sem tirar meus olhos da loira que
observa a cena com ódio.
— Você vai se arrepender Bruno, juro que vai e ainda vai correr atrás
de mim — uma gargalhada irrompe atrás de nós e quando me viro, vejo que
a cena toda foi assistida por Fernando, José Armando, Firmino e meu sogro.
— Isso não vai acontecer — é a última coisa que Bruno diz, antes do
meu sogro tomar as rédeas da situação.
— Estou decepcionado com você, Franciele. Mas em respeito ao seu
pai, vou me abster de lhe dizer umas palavrinhas. — balança a cabeça
consternado — Agora, por favor, entre no carro e saia das minhas terras.

Assim que sai em seu carro. Bruno me pede que conte tudo que
aconteceu até o momento que eles chegaram e que descubro que foi logo
quando Franciele disse que eu fedia a esterco. Conto que ela já chegou
sendo passivo-agressiva, mas que só perdi a estribeiras quando ela foi em
direção a Bruna.
— Você soprou mesmo a cara dela? — Zé pergunta a Bruna, que
confirma e conta a versão dela dos acontecimentos— Queria muito ter visto
essa super assoprada. Mas já valeu a pena ver aquela metida coberta de
bosta.
— Todas as merdas se misturando — Fernando gargalha — Impagável.
Deixou a última sexta do ano memorável.
—Vamos esquecer esse assunto crianças. — pede meu pai.

— Desculpa padrinho, mas a gente precisa contar isso para Poli quando
ela chegar com a mãe — Zé tenta se controlar, mas desiste. — Alguém
tinha que ter filmado a Vivian jogando o esterco nela e falando aquelas
verdades.
Graças a Deus ninguém pensou isso antes.
Capítulo 21

Bruno Avelar
“Pobre coração o dos apaixonados”
Loucura.
É exatamente o que define o que estamos fazendo nesse momento e a
culpa é do meu pai. Deus como fui concordar com isso? Há três dias
recebemos o Sheik Khalid com sua comitiva aqui na fazenda, sua passagem
se tornando um evento como se estivéssemos sediando a copa do mundo.
Nunca vi esse lugar tão movimentado e decorado, nem no Natal. Fora que a
chegada antecipada de Khalid, coincidiu com a visita de Sandra e sua filha,
que vieram para conhecer a fazenda e me ajudar a decidir o melhor lugar
para construímos o centro de equoterapia.
Para homenagear nosso visitante, meu pai resolveu fazer um jantar
típico do seu país. Com a ajuda de uma consultoria, organizou toda
decoração, comidas e até mesmo música e dança típica dos Emirados
Árabes. Agora estamos acompanhando a apresentação feita pelas bailarinas
da companhia de dança. As mulheres que estão na festa já se entregaram ao
ritmo envolvente e apesar de não serem profissionais, estão se dando muito
bem nos movimentos que as dançarinas tentam ensinar para elas.
Enquanto José Armando está se divertindo, Fernando não está com
cara de muitos amigos. Ninguém imaginava que o irmão mais novo do
Sheik fosse vir também, o tal não para de jogar charme para cima de
Poliana. Sei que meu amigo não disse nada sobre o que sente por nossa
amiga, mas para mim é meio óbvio.

— Vem dançar comigo, amor. — Vivian vem jogando o quadril em um


movimento muito sexy em minha direção. Ela está usando uma roupa típica
que a deixou ainda mais linda. — Sempre achei linda essa dança, nunca
imaginei que um dia iria participar de algo assim.
A trago para mais perto de mim e digo em seu ouvido: — A única
coisa que quero fazer é te levar para o quarto, ver você dançar só pra mim e
depois te comer bem gostoso. — Beijo sua bochecha. — Mas sabemos que
não posso. — Ela ri.
— Vidas solteiras importam, sabia? — Diz nossa amiga. — É um saco
ficar vendo vocês se pegando o tempo todo. — Vivian ri, quando Poli a
puxa para a roda de dança novamente, nos distanciando. A risada de Khalid
ao meu lado me mostra que apesar de não dominar o português, entendeu
cada palavra dita por nossa amiga.
Acompanho o movimento da cabeça do Sheik mesmo sabendo quem é
a pessoa que ele está procurando no meio de tantas. E quando seu olhar
encontra seu alvo, o sorriso só confirma que toda aquela animosidade de
mais cedo com Suzana é fruto da atração que sentiu por ela.
— Meu pai comentou algo sobre você precisar se casar. — Khalid
confirma com um meneio de cabeça. — Não parece muito satisfeito com
essa decisão.

— Algumas tradições do meu país são arcaicas. Mas se quiser assumir


o comando, preciso de uma mulher ao meu lado. Nossa cultura valoriza
muito o matrimônio.
— Entendo. Não sei como me sentiria sendo forçado a me unir a uma
pessoa que não amo.
— Nem tudo é sobre amor, príncipe dos cavalos. — Me chama pelo
apelido que sabe me desagradar. — Quando o dever com seu povo chama,
sentimentos são somente empecilhos.
— O maior dever de um homem deve ser com ele mesmo, príncipe do
deserto. — Devolvo a gentileza. — Talvez em algum momento será preciso
decidir entre o que seu povo espera de você e o que seu coração deseja.
Seu olhar novamente busca por Suzana, no meio das outras mulheres.
É meu amigo, você tá muito fodido. Suzana já deixou claro mais cedo que
não gosta de ser tratada como algo frágil. Apesar da pouca idade, é uma
força da natureza. Decidida, não costuma mudar de opinião sobre o que
acredita ser o correto. Ativista ferrenha e defensora dos direitos das
minorias, está sempre engajada em algum movimento social.
Ano passado se recusou a fazer parte da equipe de hipismo porque um
dos atletas estava sendo acusado nas redes por homofobia e misoginia. Com
apenas vinte e um anos, ela coleciona conquistas no esporte e seguidores
nas redes sociais. Apesar do hipismo não ser um esporte de massa, ela tem
milhões de seguidores no Instagram. Além de ser a garota propaganda da
nossa linha de produtos e ter todo o peso do sobrenome Calasans. Seu pai
foi um dos melhores jogadores de futebol do mundo e foi vítima de muito
preconceito nos anos que morou na Europa, o que reforça muito a luta de
Suzana com esse tipo de coisa.
— Fiquei feliz em saber que o Grupo Avelar receberá uma honraria no
próximo mês pelo que vem fazendo em seu país no âmbito social. — Diz,
claramente mudando de assunto.
— Obrigado. Mas confesso que essas celebrações para mim não
passam de politicagem. — Ele ri.
— E não é tudo política, meu amigo?
— Verdade. Espero que pelo menos esse evento traga mais
patrocinadores para a causa. — Tomo um gole da minha cerveja porque, a
comida pode ser árabe, mas nesse calor não renuncio à gelada. — Inclusive
estou esperando sua generosa contribuição, Khalid.
— Sempre direto. — Irei pedir ao meu secretário para providenciar.
— Nossas crianças agradecem.

— Esse é o lugar que mais gosto em toda a fazenda. — Poli diz se


afundando mais na água. — Ter esse pequeno paraíso só para nós pode até
parecer egoísmo, mas fico feliz que fazendo parte de uma propriedade
particular sua preservação está garantida.
Estamos na cachoeira que fica dentro das nossas terras. A queda d’água
de um pouco mais de quatro metros desaguando num lago com pouco mais
de três metros de diâmetro e 2 e meio de profundidade cria um pequeno
oásis na parte mais distante da casa principal, mas bem mais próxima da
nossa casa de visitas. A construção dessa casa foi ideia da minha mãe. Ela
dizia que serviria como um refúgio para quando ela e meu pai decidissem
ter um momento só para eles, longe dos filhos.
— A primeira vez que vi, fiquei de boca aberta, literalmente. — Vivian
diz ao se aproximar da cascata. — É tão terapêutico, só ficar aqui, curtir e
ouvir os sons da natureza.
— É realmente perfeito — concordo — e era exatamente isso que
pretendia fazer, somente eu e você. Mas aí você teve que convidar esses
três. — Aponto para nossos amigos.

— Você queria era transar aqui, seu puto. — Fernando retruca e Poli
joga água na cara dele. — Tô mentindo?
— Não. Todo mundo já veio aqui com essa intenção.
— Ah, pelo amor de Deus, vocês dois. Não sou obrigada a ficar
ouvindo sobre a vida promíscua dos outros não, principalmente se uma
delas for do meu irmão. — Os dois gargalham da fala dela. — Vamos
mudar de assunto. Queria tanto poder ir com vocês na recepção em São
Paulo. — Faz beicinho.
— Não vai porque não quer. Já falei que mando te buscarem na capital
depois do trabalho no sábado e dá tempo tranquilo de chegar a São Paulo.
— Não é só o trabalho, Bruno, tenho outros compromissos na capital.
— Lança um olhar cúmplice para Vivian. — As férias foram ótimas, mas
segunda a realidade já bate à porta.
— Não sei que compromisso você pode ter em pleno sábado à noite. —
Joga verde Fernando. — Clube da Luluzinha com suas amigas de curso?
— Está mais para clube do bolinha. — A espertinha joga a bomba e
mergulha no lago.
— Que porra de clube do bolinha é esse, Poliana? — Fernando vai
atrás dela puto, o ciúme escorrendo pelos olhos e eu faço o que um bom
amigo faria, rio para caralho.
— Você gosta de ver o circo pegar fogo. — Minha namorada que está
linda em um biquíni azul com flores brancas se aproxima de mim, e apesar
dele ser bem comportado, dou graças de sermos só nós e nossos amigos
aqui, porque imaginar outro homem desejando o que é meu, faz meu sangue
ferver nas veias. — Não sei qual dos dois é o mais teimoso.
— Acho que é o Fernando, mas deixa eles se resolverem. — Seguro
sua cintura e aproximo seu corpo do meu, estamos totalmente cobertos pela
água. — Já que você convidou todo mundo e acabou com meus planos de
te foder bem aqui, — deslizo um dedo por sua boceta, por cima do tecido e
vejo seus pelinhos do braço arrepiarem — vamos passar a noite hoje na
casa de hóspedes.

— Bruno... — a beijo quando deslizo sua calcinha para o lado e


penetro com um dedo o seu canal. Sua unha crava no meu braço com
surpresa da invasão. Na mesma rapidez que a beijei, me afasto e ajeito o
biquíni no lugar. — Agora só vou ficar querendo que a noite chegue rápido.
— Exatamente do jeito que queria.
Passamos mais um tempo na cachoeira, antes de decidirmos voltar para
casa. Dobramos as toalhas, juntamos tudo que trouxemos e organizamos de
volta nas bolsas. Conferimos mais uma vez para ter certeza que não estamos
deixando nada para trás e vamos para o carro. Sim, carro. Porque apesar da
cachoeira ficar dentro da propriedade é uma caminhada de quase meia hora
até aqui, o que não seria nada demais, se não tivéssemos com tanta
bagagem.
— Mais tarde poderíamos ver um filme, o que acham? — Sugere Poli
animada.
— Eu topo, que filme vamos ver?
— Voto em um clássico antigo. — José Armando solta e acho estranho
pois ele odeia filmes antigos.
— Qual? — Pergunto mesmo sabendo que eu e Vivian vamos declinar
do programa com nossos amigos essa noite.
— Aracnofobia. — O filho da puta solta e recebe um soco de Fernando
e ninguém se aguenta de tanto rir.
— Aracnomeucu, seu merda.
— Vocês nunca combinaram, agora que vão brigar? — Entro na
zoação. — É um ótimo filme, mas tenho planos com minha namorada.
— Hoje tem hein, amiga? — Vivian gargalha.
— Deus, vocês não têm limites.
— Uai, e alguém aqui tem cara de município para ter limites? — Os
três respondem juntos como se tivessem ensaiado.
Capítulo 22

Vivian Montenegro
“Para pra pensar, porque eu já me toquei”
Jantamos todos juntos num clima de alegria e saudade. Mesmo loucos
para ficarmos sozinhos, Bruno e eu aproveitamos o máximo que pudemos
na companhia dos nossos amigos. Poliana amanhã volta para Belo
Horizonte e Fernando, na segunda, voa para São Paulo. Como diz ele, a
vida é uma megera, as férias acabaram e todos precisam voltar para a
realidade.
Confesso que estou tentando não pensar no fato que Bruno também
precisará se dividir entre a fazenda e a sede da empresa na capital paulista.
Por isso, quero aproveitar cada momento ao seu lado.
— Animada para nossa noite? — Sou prensada contra a porta da
caminhonete. — Porque eu não parei de pensar um minuto no que você
disse durante o nosso banho mais cedo.
Quando voltamos da cachoeira, não resistimos e acabamos fazendo um
sexo oral delicioso no chuveiro. Na verdade, Bruno estava decidido a se
manter celibato até quando estivéssemos totalmente sozinhos, mas eu
estava com muito tesão desde o nosso momentinho no lago. Então usei uma
carta na manga para poder fazê-lo ceder.

— Ficou pensando é? — Mordo seu queixo. — Aposto que imaginou


tudo que vai fazer comigo, mas principalmente em como vai me comer
gostoso por trás.
— Porra, Vivian. Entra logo nesse carro. — Gargalho e me jogo no
banco do carona. — Quero ver você rindo com meu pau atolado na sua
garganta, sua espertinha. — Num piscar de olhos, Bruno senta ao lado do
motorista e coloca o carro em movimento.
O que o tesão não faz?
Deslizo minha mão por sua coxa até parar em cima do membro duro,
que pulsa em resposta à carícia que faço. Vejo Bruno trincar o maxilar, mas
se manter concentrado na estrada que leva até nosso destino. Abro o botão
da sua calça, o zíper e com uma calma que não estou sentindo tiro seu pênis
para fora da boxer. As veias saltam pelo comprimento e minha boca saliva
enquanto passo o polegar pela cabeça rosada que já está babada.
— Presta atenção na estrada. — Bato uma punheta para ele antes de me
abaixar e tomá-lo em minha boca.
— Porra. — Passo a língua por toda sua extensão e engulo tudo até
sentir o toque na minha garganta. — Caralho, que delícia.

Passo os próximos minutos torturando-o, toda vez que sinto que seu
orgasmo está começando a se formar paro de chupar e Bruno solta vários
palavrões. É incrível como o homem se transforma quando estamos
sozinhos assim, entregues à luxúria.
— Amor, eu preciso gozar, caralho.
— E vai, dentro de mim, com seu pau enterrado bem fundo na minha
boceta. - Digo e me levanto assim que ele para o carro em frente a casa.
Passo a língua nos lábios, me deliciando com seu sabor. — Não sei onde eu
gosto mais de sentir sua porra.
— Foda-se. — Num movimento rápido, Bruno me puxa para seu colo.
Não ofereço resistência, passo uma perna por cada lado seu, o vestido
subindo até minha cintura por minhas mãos e descendo pela suas. Bruno
segura um dos meus seios com vontade. — Ah, Vivian, você gostou de me
torturar, né putinha? — Rebolo em seu colo. — Afasta a calcinha e coloca
meu pau na entrada. Mas somente isso, entendeu?

Faço o que ele manda e quando o caminho está livre, arremete dentro
de mim de uma vez só. Suas mãos firmes me prendem no lugar, quando ele
começa a socar forte, o ritmo das estocadas cada vez mais rápido. Sua boca
vem para meu seio, chupando com força, mordendo o biquinho duro, me
fazendo gritar como louca.
Lambidas, chupões, murmúrios. Um tesão do caralho. Sua rola me
preenchendo, mais e mais. A mão no meu pescoço, o toque possessivo, o
domínio, nossas respirações apressadas e o orgasmo avassalador. Gozamos,
rápido, juntos, entregues.
Bruno Avelar
Vivian adora me provocar, me deixar louco. Sempre caio no seu jogo
porque quando ela está perto de mim, a cabeça de baixo fala mais alto que a
de cima. Ela desce do carro ajeitando o vestido mesmo estando somente nós
dois aqui no escuro. Seguro sua mão e caminhamos em direção a entrada,
uso minha digital para abrir a porta e o comando de voz para acender as
luzes, deixo a bolsa que trouxemos no chão e a prendo contra a porta assim
que ela se fecha.
— Escolhe, Vivian, antes de te levar para a suíte, vou te comer em
todos os cantos do andar de baixo. — Mordo seu lábio. — Você quer
começar pela cozinha, pela sala ou pelo escritório? — Sua atenção se
prende no sofá de couro preto e sei que sua decisão foi tomada. Saindo da
prisão dos meus braços, ela tira o vestido, a calcinha enquanto caminha para
a grande sala de estar e as sandálias também ficam pelo caminho. A safada
sobe no estofado, empina a bunda e vira para me olhar.
— Me come assim, de quatro.
Tiro a roupa em velocidade recorde, antes de me posicionar. Massageio
seu clitóris inchado com meu cacete. Vivian rebola e pede mais, estapeio as
duas bandas da bunda redondinha e as abro bem, vendo o cuzinho rosado
que em breve vou foder. Aproveito a baba escorrendo da sua excitação para
lubrificar o buraco apertado, posiciono meu pau e começo a deslizar para
dentro da boceta ao mesmo tempo que meu dedão invade a parte de trás.
— Vai gozar assim, putinha. — Mordo suas costas e ela geme. —
Depois vai me dar esse rabo gostoso porque não posso mais segurar a
vontade de me enterrar nele. — Outro tapa estala em sua bunda. O som da
batida combinada aos seus gemidos.
— Ai, Bruno, mais forte. — Pede. — Isso, isso, ai Deus, que delícia.
Seguro seu quadril com a mão livre, mantendo-a na posição enquanto
meu cacete derrapa para dentro e para fora. Um gemido sôfrego rola por
meus lábios, quando sinto suas paredes me apertarem. Respiro, tentando
controlar o desejo de esporrar dentro dela. — Se toca, Vivian, dedilha seu
montinho inchado como se fosse eu, amor. — Rapidamente ela faz o que
peço, e isso é tudo que ela precisa para se desmanchar.
Continuo me movimentando, prolongando seu orgasmo. Quando seu
corpo para de tremer, puxo-a para cima e viro seu rosto, beijando-a. —
Agora é minha vez. — A deixo no sofá enquanto pego o frasco de
lubrificante e um óleo relaxante corporal na bolsa.

— Vem amor, vamos lá para cima.


— E a história de comer em todos os cômodos aqui de baixo primeiro?
— Pergunta a petulante.
— Prioridades. — Digo puxando-a em direção ao meu corpo. —
Monta em mim. Vamos para o quarto. — Com ela encaixada na minha
cintura, vou para o andar de cima, entro no cômodo ignorando a cama e
indo direto para a suíte. O banheiro é espaçoso e ideal para o que quero
fazer. Assim que entramos no box, a desço do meu colo e ligo o chuveiro.
Vivian vira para mim e escova seus lábios no meu enquanto apalpa
meu pau. — Vai ser aqui? — Confirmo. — Você é imenso, Bruno. — Não
posso deixar de rir. A verdade é que já estávamos nos preparando para esse
momento com auxílio de plugs anais em vários tamanhos.
— Agora você está com medo, mas na hora de me provocar, não estava
lembrando do tamanho dele, né? — Digo colocando minha mão sobre a
sua, forçando o aperto no meu cacete. Aproveito que está molhada para
passar o óleo por seu corpo, massageando seus pontos sensíveis. Ombros,
seios, desço a mão pela barriga plana e até o meio das suas pernas.
Separo seus grandes lábios e deslizo um dedo em seu canal quente e
encharcado, ela rebola em minha mão como uma gatinha no cio. Outro
dedo, depois outros, agora a fodo com mais vontade, enquanto abafo seus
gemidos com meus beijos, quando sinto que está perto, retiro os dedos e a
mando se virar para a parede.
— Apoia as mãos no azulejo e empina esse rabo gostoso, o máximo
que puder. — Passo o lubrificante por todo o meu pau e derramo uma
quantidade generosa em seu traseiro, concentrando o máximo no local
exato. Posiciono em sua entrada, no momento em que ela olha para trás,
começo a me enterrar no cuzinho apertado.
— Ai! — Solta um gritinho, mesmo que eu tenha basicamente
colocado só a cabeça dentro. — Vai, continua. Enfia mais.
Um gemido rouco escapa dos meus lábios quando Vivian me pede para
enfiar mais, bombeio meu pau até estar inteiro dentro dela, deixo que se
acostume, mas perco tudo quando ela rebola — Joga essa bunda para mim,
putinha. — Ela o fez e empina mais o quadril, me dando mais acesso. —
Porra, seu cu está me estrangulando. — Meto mais forte — Não vou durar
muito, vou gozar dentro dele.
Levo minha mão direita ao seu clitóris e a outra seguro seu pescoço,
apertando um pouco, não a ponto da privação do ar. Só dominando-a. —
Eu vou gozar Bruno, porra, isso.
— Vai minha, safada, goza, lambuza os meus dedos com seu gozo. —
Moo minha pélvis na sua bunda, sentindo minhas bolas batendo em sua
boceta. Cada vez com mais intensidade, mais fundo. — Vou encher seu cu
com a minha, porra. Goza agora, vai. Junto comigo, Vivian.
Seu corpo estremece, sua cabeça tomba para o lado, a boca procura a
minha e dou o que ela quer. Beijo seus lábios, enquanto meu gozo a
preenche. — Minha. — Digo para que ela entenda o que sempre será.

ALERTA SAFADO

NÃO PASSE VERGONHA.

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CENA HOT NO BANHEIRO
Na cena Vivian está virada para parede com as mãos apoiadas nos azulejos
e Bruno está posicionado atrás delas, os dois estão nus e os corpos
molhados
—.... esperando o tempo passar, para meu amor de uma vez entregar, e
não sentir solidão nunca mais valeu ter. — Como sabemos que
encontrarmos a pessoa certa?
Existe um tempo ideal para saber se amamos alguém? E o que é amor
realmente? Desde a primeira vez que vi Vivian senti como se meu mundo
girasse em uma nova rotação e cada dia que vivemos desde aquele
momento vem me provando que não existe a mais remota chance de o que
sinto não ser amor.
— … acorrentado em teus olhos me vi, quando te vi pela primeira vez.
— Acordei assustado algumas horas atrás com ela tendo um pesadelo. O
jeito que se debatia e pedia ajuda era tão real, tão sofrido que por um
momento tive dúvidas se era somente um sonho. A trouxe para meus
braços, a acalmei e desde então a mantenho cativa aqui, colada ao meu
corpo. Sua respiração cadenciada, o semblante agora tranquilo não denuncia
o horror que parecia viver em seus sonhos.
Tenho tantos questionamentos sobre o que ela viveu antes de chegar a
Luiz Afonso, por que ela e mãe não se falam mais e o mais importante, o
que leva uma filha querer ficar longe da própria mãe? Continuo a fazer
carinho em seus cabelos e a cantar baixinho como sei que ela ama que eu
faça. Sei que precisamos voltar para casa e despedir da Poli, mas não quero
sair dessa bolha nossa.

— Amo acordar ao seu lado. —ela beija meu peito, antes de olhar pra
mim — mas ouvindo você cantar não tem preço.
— Podemos providenciar para que isso aconteça todos os dias. — Digo
e ela ri.
— Claro que podemos, mas você sabe que não é assim que as coisas
funcionam. — Circula com a tatuagem do meu braço. — Essa semana sem
você será punk de aguentar. — Amanhã preciso ir para Mato Grosso com
meu pai, tivemos um problema com um dos nossos funcionários. Enquanto
ela cuida de assuntos na fazenda, vou precisar acompanhar os cavalos que
irão para o resort de Santa Catarina. Tudo dando certo, chegamos na sexta
de manhã.
— Vamos nos falar todos os dias pelo telefone, e agora que tem um
celular decente, podemos fazer sexo por vídeo chamada.
— Você é muito safado e não perde uma chance de falar do meu antigo
telefone.

— Claro que não, aquilo era um carcará. — Aperto sua bunda gostosa
— Não vejo a hora de testar seu iphone novo.
— Sei, sei. — Com a cabeça agora deitada em meu ombro, sinto sua
respiração pesada. A mudança repentina no clima, me deixando alerta, não
falamos do pesadelo e não quero tocar no assunto e fazê-la reviver o que
quer que seja.
— Que foi?
— Nada, eu só... só não queria que isso acabasse. — Acabar? Como
assim? — Mas precisamos voltar para casa. — Volto a respirar. É sobre
isso, então.

— Precisamos.
— Vou sentir saudades dos dois. — Fala de Fernando e Poliana que
vão voltar a trabalhar e deixar a fazenda. — Poliana se tornou a melhor
amiga que eu poderia ter e Fernando, bem , é o Fernando, né, não tem como
não gostar dele.
— Pelo menos, ele você vai ver no baile em São Paulo, e quando a
saudade apertar, podemos ir visitá-los. — Beijo sua testa — Helicóptero
existe para isso.
— Falando assim parece tão fácil.
— Não é, amor, mas posso facilitar. — Mudo nossas posições ficando
por cima dela — Olha, dinheiro é só dinheiro, mas não posso fingir que não
o tenho e os benefícios que ele traz. Se não posso usar esses recursos para
ter mais tempo com as pessoas que realmente importam na minha vida, de
que ele vale
— Você está certo.
— Estou sim. — Desço beijos por seu rosto, pescoço, até a altura dos
seios e ela se remexe debaixo de mim. — Queria muito ficar o dia inteiro
aqui, me fartando desse corpo gostoso. Mas precisamos voltar.
Capítulo 23

Vivian Montenegro
“Vai me perdoando, esquece aqueles planos”
Sexta-feira.
Os dias voaram, e não poderia agradecer mais por isso ter acontecido.
Como combinando trouxe minhas coisas para a fazenda ontem, inclusive o
vestido de festa maravilhoso que Poliana me ajudou a escolher. Ele é preto
ombro a ombro, e vai descendo junto até quase o meio da coxa, onde
começa a ganhar um leve movimento. É elegante e a sensualidade fica por
conta da fenda alta na lateral esquerda.
Bruno deve chegar até o horário do almoço, então vou aproveitar a
parte da manhã para organizar algumas coisas no consultório. Ontem
aproveitei para arrumar minhas unhas, passei um esmalte Renda tanto nas
mãos quanto nos pés. Por conta do meu trabalho, não uso a unha grande e
na verdade nem gosto muito. Prefiro elas mais curtas e sempre com um
esmalte clarinho e delicado, acho que combina mais comigo.
Ainda não sei o que vou fazer com meu cabelo amanhã. Peguei alguns
vídeos na internet com dicas sobre tranças e coques práticos para quem tem
pouco ou quase nenhuma habilidade. Como já tenho facilidade em arrumar
minha cabeleira selvagem, acho que vou me sair bem. Termino de calçar
minha bota e o telefone apita com um sinal de mensagem.

POLI: Bom dia, amiga.

Animada para amanhã? Espero que sim 😊


EU: Bom dia. Muito ansiosa.

Queria que você fosse com a gente.

POLI: Ai amiga, você sabe porque não.

Mas não vamos falar de mim e sim de você.

EU: Ainda acho que você está cometendo um erro.


Mas quem sou eu para julgar?

POLI: Tem uma surpresa para você.

Já que não posso estar lá para te ajudar a se arrumar. Consegui o contato de uma maquiadora e uma
cabeleireira que irão até o apartamento do Bruno para te atender.

EU: Amiga, sua louca. Não precisava, mas obrigada.

Que horas elas irão?

POLI: Claro que precisava. Pedi que chegassem às dezoito horas.

Como o evento é às vinte horas, acho que é o tempo suficiente.

Já fica de banho tomado esperando-as.

EU: Você é a melhor amiga do mundo.

Já falei que te amo?

POLI: Ainda não, rsrs.

Mas é sério, Vivian. Depois que ficar linda, me manda fotos, quero ver antes de todo mundo. Não me
faz ter de esperar para ver sua foto nos tabloides.

EU: Como assim, tabloides?

Sinto meu corpo gelar, o coração começa a bater na garganta.


POLI: Jornais, revistas, essas coisas. Esse é um evento muito importante, recheado de pessoas
importantes, empresários, políticos, celebridades. Todos que estão de alguma forma relacionados a
projetos sociais.

Não pode ser. Vivian, como foi tão estúpida por não pensar nisso
antes.? É claro que esse evento vai ter toda essa visibilidade. Não posso ir,
não posso. Mas como explicar para Bruno que não posso ir sem contar a
verdade? Não consigo contar, só de imaginar o julgamento em seu olhar
quando souber tudo que fiz, o monstro que sou. Eu sabia que tudo acabaria,
dentro do meu coração eu sempre soube que um dia precisaria ir embora.
POLI: Amiga, você sumiu.
Tá tudo bem, Vivian?

Ar, eu preciso de ar. Inspiro e expiro, uma, duas, três vezes. Olho para a
mochila na cadeira. Se eu sair com ela, todos vão desconfiar. Sei o que
preciso fazer, mesmo que isso me dilacere, perder Bruno dói. Eu não tinha
medo de perder, até porque eu não tinha nada. Não até ele aparecer. Agora
só consigo pensar na decepção que vou lhe causar quando ele descobrir
quem eu sou e o que eu fiz.
Saio do quarto espreitando para que ninguém me veja indo embora. Respiro
quando saio pela porta da frente, nem sei como consigo descer os degraus,
lágrimas não derramadas turvam minha visão. Saio correndo em direção ao
cercado onde sei que esse horário Zeus já está tomando banho de sol.
Quando me aproximo vejo alguns dos trabalhadores e tendo agir de maneira
profissional, cumprimentos os mais próximos, antes de pular para dentro do
cercado.
Zeus se aproxima de mim, ele sabe como me sinto. Ele sempre sabe. — Me
perdoa. — Abraço-o — Esse é o meu primeiro adeus. Eu não tinha alguém
que realmente se importasse comigo da outra vez que fugi, mas agora... —
não consigo mais segurar as lágrimas. — Eu preciso fazer isso, mas por que
mesmo sendo o certo, dói tanto ? — O abraço pela ultimas vez. — Seja um
bom menino e cuide dele por mim, ele vai precisar de você.
Seco as lágrimas. — Não implique com Thor, ele é um bom amigo. Mesmo
que às vezes se venda por uns petiscos. — Rio lembrando que ele me trocou
hoje por José Armando e foi para o outro lado da fazenda. — Não posso me
despedir, não posso me despedir de mais ninguém. Eu amo você, não posso
te levar comigo, mas isso não significa que não te amo.
Me viro para pular a cerca e ele morde minha blusa, me segurando no lugar.
Olho em seus olhos antes de dizer. — Preciso ir, Zeus. — Entende tudo,
mesmo que não lhe diga em palavras, ele recua.
— Preciso que alguém me leve em casa. — Digo para alguns dos rapazes
que trabalham nos cuidados dos cavalos e que sei que têm acesso às
caminhonetes.
— Está tudo bem, doutora? — Pedro pergunta.
— Está sim, só preciso resolver uma coisa urgente. Depois peço a Bruno
para me buscar quando ele chegar. — Minto.
— Vamos, eu a levo.

Bruno Avelar
Quatro dias longe dela foi o suficiente para ter certeza que não quero ficar
longe nunca mais. Sei que o ser humano se acostuma com tudo, e com o
tempo somos capazes de superar situações realmente dolorosas, meu pai e
padrinho são dois belos exemplos disso, os dois perderam suas esposas,
suas almas gêmeas e no caso de Ângelo, a dor foi triplicada.

Entro em casa e vou direto para cozinha, pelo horário devem estar todos
tomando café ainda. Meu pai acabou vindo ontem, mas eu só consegui hoje
mesmo. O tempo em Santa Catarina estava horrível e não conseguimos
licença para voar. Não mandei mensagem avisando que estava chegando,
preferi fazer uma surpresa, já que me esperavam somente para o almoço.
— Bom dia, família. — Entro na cozinha, beijo minha madrinha, meu pai,
estranho não encontrar Vivian. — Vivian não veio tomar café ainda?
— Achei que chegaria mais tarde. — Meu pai diz. — Vivian não está em
casa, fui chamá-la para me acompanhar, mas seu quarto estava vazio. Deve
ter ido até os estábulos e deve estar voltando.
— Deve ser isso. — Sento pegando uma xícara para me servir do melhor
café do mundo. — Que saudades de café e desse pão de queijo. — Digo
mordiscando o que está na minha mão.
— Falei com o Antunes que vamos para São Paulo logo depois do almoço.
— Informo ao meu pai. — Ele vai deixar o helicóptero pronto. Preciso dar
um pulo na sede e vou aproveitar para levar a Vivian para conhecer,
— Tudo bem, filho. Combinei com Afonso de ficar na casa dele, assim
você e Vivian aproveitam mais a viagem. — Ele pisca pra mim.
— Pai, não precisa, nós...

— Ah Bruno, pelo amor de Deus, eu já tive a sua idade. Sei como é estar
apaixonado. Eu e sua mãe éramos como coelhos.
—Pai, pelo amor de Deus. Não quero ouvir sobre a vida sexual dos meus
pais no café da manhã. — Ele gargalha,
— Me conta como foi lá no Sul?
— Bom dia patrão, patrãozinho. — Pedro cumprimenta entrando na
cozinha.
— Bom dia. — Respondemos juntos.
— Aqui Pedro, leva essas duas garrafas e esses pães de queijo quentinhos
para os meninos. — Madá lhe entrega uma sacola.
— Pedro, você viu a doutora Vivian lá pelo estábulo? — Ele coça a cabeça
e isso acende um alerta dentro de mim.
— Na verdade, acabei de chegar da cidade — Ok, é isso então — Ela me
pediu que a levasse em casa, disse que o senhor a buscaria depois. —
Relaxei rápido demais. — A doutora parecia bem triste, mesmo disfarçando
percebi que tinha chorado.
— Porra, o que será que aconteceu? — Alguém fez alguma coisa com ela?
— Pergunto já me levantando.
— Não, patrão, ela estava lá com Zeus, conversando, chorando eu acho, e
depois pediu que a levassem em casa.
— Vou atrás dela.
— Calma filho, liga primeiro no celular da Vivian. — Faço que ele pede,
mas ela não atende, chama até ir para a caixa postal. — Não atende, vou
pegar a chave da caminhonete. — Vou para meu quarto e assim que entro
vejo que suas coisas estão aqui, inclusive o celular.
O que está acontecendo?

Paraliso com a cena que encontro assim que entro no apartamento de


Vivian. Durante o trajeto até aqui eu sabia que alguma merda grande tinha
acontecido, sentia isso nos meus ossos. Mas nada, nem remotamente
chegou perto do que meus olhos estão vendo. Duas malas sobre a cama e
todas suas coisas jogadas dentro, não dobradas, jogadas, porque ela tem
pressa.
Tão distraída com o que está fazendo que só percebe minha presença
atrás dela quando escuta minha voz. — Você está indo embora. —Não é
uma pergunta, porque não há dúvidas do que ela está fazendo.
Imediatamente seu corpo tenciona, vejo que toma uma respiração antes de
me encarar. — O que aconteceu, Vivian?
— Eu preciso ir. — Diz , voltando a jogar as coisas dentro de uma das
malas.

— Porra nenhuma que precisa. — Puxo as malas de perto dela,


jogando-as para o outro lado da cama. — Olha pra mim Vivian, conta o que
aconteceu.
— Não aconteceu nada, só descobri que estava cometendo um grande
erro. — Que merda ela está falando? — Você, eu, isso tudo precisa acabar.
— Você não pode estar falando sério. Está se ouvindo? — Dou alguns
passos em sua direção, mas ela se afasta. — Não tem lógica em nada disso,
ontem você disse que eu era melhor coisa que já te aconteceu, que estava
louca de saudade, o que mudou Vivian?
— Nada mudou, você é a melhor coisa que já me aconteceu. — As
lágrimas irrompem e um soluço sofrido sobre por sua garganta. — É por
isso que preciso te deixar, você ficará melhor sem mim.
— Você não pode decidir isso. Ninguém além de mim mesmo pode
decidir o que é bom ou não para mim. — Passo as mãos pelo rosto. —
Porra, amor. Me ajuda a te ajudar. Me conta o que aconteceu.

— Nada aconteceu. — Diz firme.


— Não estou falando de hoje, Vivian, o que aconteceu há seis anos? —
Quebrar. Eu vejo a mulher que amo quebrar em milhares de pedaços bem
em minha frente. Sim, eu amo, de uma forma que seria humanamente
impossível explicar.
— Você vai me odiar quando souber. Eu posso viver sabendo que
nunca mais ficaremos juntos, mas eu não posso viver com seu ódio. — A
tomo em meus braços.
— Não existe a menor chance de não ficarmos juntos. Jamais poderia
te odiar, Vivian, porque eu te amo.
— Não, não... — Ela se solta dos meus braços. — Não me ame, não
ame. Eu não mereço, tá me ouvindo, não mereço ser amada por você, nada
disso que vivemos, nada, eu não mereço nada. — Fala sem parar. — Eu
sou um monstro, o sangue que corre nas minhas veias é podre, eu matei ele,
Bruno, matei e não me arrependo, não por ele, porque o que ele fez também
não tem perdão. O quão ruim eu sou, me diga Bruno, como você pode amar
uma assassina?
Assassina? Quem é ele?
— Vai embora, Bruno. — Ela pede. — Por tudo que vivemos e você
diz sentir por mim, só vai embora.
— Não. — Digo me aproximando. — Não vou a lugar nenhum, está
me ouvindo? E você também não vai. Me conta tudo, eu preciso saber. —
peço mesmo sabendo que isso vai me quebrar também. Mas para ajudar a
mulher que eu amo, preciso estar no mesmo lugar que ela, precisamos sair
juntos dessa escuridão. — Quem você matou Vivian? E porquê?
Sinto quando ela cede e deixa seu corpo ir em direção ao chão, ela
senta, puxa as pernas para perto do corpo e encosta a cabeça em seus
joelhos, fechando-se em seu casulo. Sento-me junto a ela, passando minhas
pernas em volta do seu corpo, abraçando-a. — Me conta, amor. Quem te fez
tão mal?
— Meu padrasto. — Diz baixo. — Ele tentou me estuprar na noite do
meu aniversário de dezoito anos. — PUTA QUE PARIU. Eu mesmo teria
feito com minhas próprias mãos. — Eu consegui pegar um peso de papel
que ficava na mesinha ao lado da minha cama e acertar a cabeça. Era um
peso no formato de um globo de neve. — Agora entendo o gatilho e o que
ela precisou reviver no dia que Poliana chegou.
— Você agiu em legítima defesa, meu amor. — Aperto-a mais contra
meu corpo. — Sei que se sente culpada, mas você não teve culpa, era só
uma menina assustada, lutando, se defendendo....
— Tem mais, Bruno. — Diz se virando pra mim. — Naquela noite eu
descobri tudo.
— Pode me contar amor, estou aqui e não irei a lugar nenhum.
Saio do banheiro e me deparo com Sebastião sentado em minha cama.
Imediatamente um arrepio sobe por minha espinha, uma sensação horrível
que tenho certeza que já senti antes, como uma memória.

— O que está fazendo no meu quarto, Sebastião?


— Esperando você, o que mais poderia ser? — Diz olhando para mim,
seus olhos passeando por todo meu corpo, com desejo.
— Quero me trocar. Se quiser falar comigo pode… — Num instante
estou sendo prensada contra a porta do guarda-roupa, enquanto ele roça
sua ereção nojenta em mim. — O que pensa está fazendo ?— Ele tampa
minha boca mas continuo tentando me soltar.
— Esperei muito pelo dia de hoje, Vivian. — Toca minha bochecha e
aproxima os lábios da minha orelha, seu hálito tocando minha pele. Sinto
meu estômago revirar. — Não via hora de todo mundo ir embora e poder
vir tomar o que é meu por direito.
Esse homem é louco.
Tento novamente me afastar, mas ele é forte, separa as minhas pernas
com o auxílio da sua. Continuo segurando o nó da toalha com força contra
meu corpo, como se de alguma forma isso me mantivesse segura. A outra
mão ele segura acima da minha cabeça.

— Eu vou te soltar e você vai ficar caladinha, vai subir naquela cama
e abrir as pernas para mim. Vai retribuir tudo que fiz por você esses anos
todos. Estamos entendidos? — Meneio a cabeça em confirmação. Mas nem
morta que farei isso. — Prefiro que seja prazeroso para nós dois, princesa,
mas se tentar dificultar as coisas, não me importo de ser somente eu a
curtir nossa noite.
Libera minha mão e destampa minha boca. Tomo uma inspiração antes
de pensar. Olho para a porta e seu olhar acompanha o meu. — Escolha
errada, querida — Quando tenta se aproximar de novo, desvio dele e tento
subir na cama para ir para o lado da janela e tentar gritar por ajuda. Meu
pé é puxando e meu corpo virado na cama. Grito por minha mãe, peço
socorro, mas nem um som é ouvido do quarto para fora. — Ela não virá,
Vivian, ninguém vai me impedir de ter o que quero, nunca.
Uma de suas mãos sobe pela minha coxa, enquanto a outra tampa
minha boca. Olho para todos os lados buscando uma solução. — Tão
novinha, essa carne macia e cheirosa. — Vejo o globo, o peso de papel que
era do meu pai, estico meu braço o máximo que posso, e quando consigo,
uso toda minha força para acertá-lo.
No mesmo instante, seu corpo perde a força e cai sobre mim, me
prendendo.

— Mamãe, mamãe, socorro. — Grito mais alto dessa vez. — Me ajuda,


mãeeeeeeeeeee, por favor. — Vejo Teresa entrando no quarto e quando vê a
cena, seu rosto fica pálido. — Ele tentou me estuprar, mãe, me ajuda. —
Peço sem força, sentindo que toda minha energia se esvaiu do meu corpo.
— O que você fez, Vivian? O que você fez ? — Pergunta tirando o
corpo de Sebastião de cima de mim, e conferindo o machucado em sua
cabeça. — Oh, meu Deus, olha o que fez.
Estou aqui, mamãe, você está me vendo? A sua filha pedindo ajuda.
Consigo me levantar e me afasta da cama, sentindo a bile subir por minha
garganta.

— Eu só me defendi. — Digo passando a mão por todo meu corpo,


como se alguma forma, isso fosse afastar a sensação ruim. — Ele me
atacou.
— Não seja estupida, garota. — Diz me direcionando um olhar
raivoso. — É só sexo, sua menininha mimada. O que custava abrir as
pernas para ele? Venho fazendo isso há quinze anos , no que você é melhor
que eu?
Eu não posso acreditar nas coisas que estou ouvindo.
— Você é uma assassina, um monstro. — Ela confere os sinais vitais
dele. — Tudo isso para quê? Todo o trabalho que eu tive pra manter essa
merda de casamento e agora vou pra sarjeta.

— O que você queria que eu fizesse? — Grito a todos pulmões. — Que


eu deixasse esse nojento abusar de mim?
— Eu falei para ele que você não aceitaria, que lutaria. — Meu corpo
congela. Ela sabia o que ele ia fazer? — Mas Sebastião queria sentir o
prazer de você vendo o que ele faria. — Meus Deus, Meus Deus. — Não
quis deixar eu te dar o remédio. Disse que se contentou em só te tocar nos
últimos anos enquanto dormia, mas que isso não bastava mais.
Quando as peças se encaixam na minha mente, tudo dentro de mim se
parte, mil pedaços meus espalhados pelo chão. Não eram sonhos, nunca
foi. Ela mentiu esse tempo todo, ela me dopava. Deus, o que ele não deve
ter feito comigo enquanto estava sendo drogada pela minha própria mãe?
Corro para o banheiro e vomito tudo que havia comido durante a festa.
Minha cabeça está rodando. Lavo o rosto ainda ouvindo-a no meu quarto.
— Sua ingrata, assassina... — Lavo meu rosto decidida a ir embora. Volto
para meu quarto, pego uma calça jeans, uma blusa de malha, me visto
rapidamente. — O que você está fazendo? Precisa me ajudar e pensar no
que vamos fazer com o corpo dele. — Bloqueio tudo da minha mente. Pego
mais uma calça, um casaco de moletom, calcinha, notebook, celular e todas
as minhas jóias e carteira. Jogo tudo que possa me ser útil dentro da
mochila e olho mais uma vez para os dois monstros em cima da cama.
— Onde você pensa que vai Vivian? Sua assassina. — Saio sem olhar
para trás. — Volta aqui sua maldita ingrata. — É a última coisa que ouço
da mulher que me trouxe ao mundo.
Capítulo 24

Bruno Avelar
“Cuide bem do seu amor”

— Como alguém pode fazer isso com a própria filha? — Andando de


um lado para dentro do escritório. — E aquele infeliz? Queria que ele
tivesse vivo, para matá-lo eu mesmo.
— Calma, meu filho. Precisamos ser racionais agora e ajudar nossa
menina.
Depois de ouvir tudo pelo que minha namorada passou, foi difícil me
manter são, mas precisei ser forte por ela. A trouxe para fazenda
novamente, logo que se acalmou. Assim que chegamos, meu pai notou que
algo havia acontecido, mas não pressionou por informações. Dei um banho
em Vivian e quando senti que ela estava pronta para ouvir o que eu tinha
para dizer, conversamos.

Expliquei que precisava contar para o meu pai e para os meninos o que
havia acontecido, precisamos saber exatamente quais os passos tomar de
agora em diante, que enfrentaremos tudo ao seu lado, como a família dela.
A fiz entender que era somente uma vítima nessa situação toda, que
moveria mundos e fundos para mantê-la segura.
Chamei todos para uma reunião de emergência. Angelo demorou um
pouco para chegar, mas assim que estávamos todos reunidos, fiz uma
chamada de vídeo para Fernando. Mesmo tendo sua vida exposta, Vivian
entendeu que não cabiam mais segredos. Que todos estando ciente de tudo
que ela passou não seríamos pegos com as calças nas mãos. Precisava me
assegurar, que caso eu não estivesse por perto, todos estariam a postos para
cuidar dela.
— Como posso me manter calmo pai? Sabendo que a mãe dela, mãe
não, aquilo não é mãe, está por aí livre vivendo sua vida, enquanto Vivian
vem passando por todas essas merdas durante anos. — Sento-me e encaro a
todos. — Preciso saber tudo que aconteceu depois que ela fugiu, onde o
infeliz foi enterrado .O que a ordinária da Teresa tem feito nos últimos anos,
tudo.
— Tenho alguém que pode nos ajudar. — É Fernando quem diz. — Um
colega sempre comenta que conhece um detetive excelente, o homem era
policial civil, agora trabalha por conta própria. De acordo com o Raul, ele
desenterra os pobres até dos seus antepassados.
— Faça o que precisa ser feito, Fernando.
— Enquanto conversávamos, fiz uma busca rápida Bruno — meu
amigo diz. — Não achei nenhum processo em nome de Vivian Ramos
Montenegro. O que nos leva à pergunta: será que a mãe dela não deu parte
do crime? E o que fez com o corpo do marido?

— Não sei, mas espero descobrir o quanto antes.


— Você ainda vem para a recepção de amanhã?
— Eu e meu pai iremos. Quanto à Vivian deixarei que ela decida. Mas
de qualquer forma, só iremos amanhã e vamos chegar já no local do evento.
Pedi ao Alisson que organizasse tudo com o hotel onde será realizado o
evento.
— Me encontro com você lá. Preciso ir para uma reunião, qualquer
coisa estou no celular. — se despede e encerra a chamada.

— Eu sempre soube que Vivian carregava uma dor muito grande, mas
isso? — Angelo, indaga. — Não consigo nem mensurar o tanto que essa
menina deve ter sofrido, por todos esses anos, desamparada, sozinha, se eu
ao menos desconfiasse.
— Você fez seu melhor, compadre. — meu pai aperta o ombro do
amigo — Se não tivesse aberto as portas para ela, talvez hoje ela não estaria
em nossas vidas.
—Verdade padrinho. Vivian tem um carinho muito grande pelo senhor,
e sempre serei grato por tudo que fez por ela.
—Não fiz — diz balançando a cabeça — ela é quem fez. Com seu
jeito, foi devolvendo a alegria que havia perdido. Quando a vi sentada na
porta da clínica, foi como se Deus estivesse me dando uma nova chance.
Ela era da idade da minha Ana e tão sozinha no mundo.
— Como vamos contar isso para minha mãe e para Poliana? — José
Armando questiona — elas precisam saber para poderem ajudar Vivian.
— Ela irá contar — aperto a ponte do nariz, uma dor de cabeça
ameaçando surgir — Foi a única coisa que pediu que não fizesse por ela. Se
me derem licença, vou ver como ela está.

Vivian Montenegro
Olho paro o homem no palco e mal posso acreditar que depois de tudo,
ele escolheu permanecer. Bruno está lindo num terno de três peças total
black Armani. O homem consegue ficar ainda mais charmoso dentro de
uma roupa social. Enquanto caminhava para o palco, recebeu vários olhares
desejosos, não somente das mulheres, mas também de alguns homens.
Assim que recebe a placa em homenagem ao Grupo Avelar, faz um
discurso lindo sobre comprometimento com a sociedade, valores e políticas
voltadas para os menos favorecidos. Me deixando ainda mais apaixonada.
Observo seus passos em direção, e a forma como seu olhar se ilumina ao
me ver, faz tudo ao redor ficar em segundo plano.
— Como me saí? — diz se aproximando da nossa mesa — Não me
senti confortável lá em cima. — diz se referindo ao palco.
— Foi perfeito, amor. — dou um selinho nele , assim que se senta.
— Falei com você que valia a pena as aulas de teatro — Fernando é
quem fala — Povo acha bobagem, mas realmente faz diferença para quem
tem dificuldade em se expressar diante de grandes multidões.
— Não é por conta da multidão, mas sei lá — diz inquieto — Tem um
tempo que estou com uma sensação ruim, como se estivesse sendo
observado.
— Mas você está Bruno. — Fernando ri, até seu pai cai na risada —
Olha a quantidade de gente. A Vivian que me perdoe, mas o que tem de
mulher comendo te com o olho e querendo se jogar em cima de você.
— Se fosse só as mulheres — brinco para distraí-lo, mas sei que
realmente está incomodado — Quem mandou ser lindo assim?

— Boba, vem cá. Preciso de um beijo melhor — seus lábios tocam os


meus com carinho, o beijo é doce, lento, cheio de significado, mas não dura
muito — agora sim.
— Estava só esperando você voltar para ir ao toalete. Volto rapidinho
— beijo sua bochecha e me levanto.
O salão do hotel é imenso , vejo várias saídas e fico indecisa de qual
dela pegar, então decido perguntar a um dos garçons — Oi, você pode
indicar onde ficam os toaletes ? — o rapaz me dá um sorriso educado antes
de falar.
— A senhorita está com sorte, acabaram de liberar os da área sul. Siga
naquela direção, final do corredor. Estão vazios. — agradeço e sigo para o
local indicado. Assim que entro no corredor indicado vejo que o rapaz tinha
razão e que realmente está vazio, até demais. Vou até o fim e paro em frente
a porta grande de madeira maciça admirando a decoração do lugar. O hotel
é tão luxuoso que não economizaram em nada.
Saio da cabine, ajeito meu vestido num espelho e corpo e lavo minhas
mãos, antes de retocar o batom. Escuto o barulho de um descarga e fico
feliz por não ser a única aqui. O espaço apesar de lindo, é grande demais,
frio e me faz querer sair correndo. Termino de usar o espelho, confiro mais
uma vez minha aparência e vou em direção a porta, mas não consigo
alcançá-la.
Meu corpo é puxado com brusquidão e direcionado a parede lateral,
bate a cabeça com força ficando um pouco zonza.
— Te procurei tanto sua ordinária — essa voz — Mas eu sabia que
uma hora ou outra eu ia te achar —sua mão vem para o meu pescoço,
apertando com força me tirando a capacidade de respirar.
Não pode ser, eu só posso estar presa em algum dos meus pesadelos.
Mas o ritmo acelerado do meu coração, o medo sendo bombeado através
das minhas veias e os olhos cruéis que me fitam, me mostram que tudo é
real. Tão real quanto naquela noite.
— Não abriu as pernas para mim, porque estava atrás de um peixe
maior — Aproxima o rosto do meu — A fruta não cai longe do pé não é
mesmo. É tão vagabunda quanto a mãe.

— Me solta — um som quase inaudível deixa meus lábios. — você


estava morto.
Ele gargalha.
— Nem para isso você prestou — aperta mais meu pescoço. Mesmo
sendo um homem de mais de sessenta anos, Sebastião sempre praticou
boxe, então além de ser homem o que lhe dá vantagem sobre mim, tem
muito mais força. — Mas dessa vez não vai fugir.
Decido parar de lutar contra a mão em meu pescoço e atingo seu rosto
com um tapa, mas isso só faz seu aperto aumentar. Ataco novamente
usando minhas unhas e ela bate minha cabeça novamente com força contra
a parede.
— Fica quieta, vagabunda — essa é a última coisa que ouço antes de
perder a consciência.
Capítulo 25

Bruno Avelar
“Frágeis testemunhas de um crime sem perdão”
— Vocês não acham que a Vivian está demorando demais?— pergunto
para meu pai e Fernando, que são nossas companhias essa noite.
—Realmente tem um tempinho que ela. — meu pai concorda.
—Vamos atrás dela — Fernando, já está de pé —Bom que aproveito e
uso o banheiro também.
Depois de ir no banheiro mais próximo de onde fica nossa mesa, uma
garçonete nos informa que tem outro mais distante, na ala sul do salão,
então seguimos para lá . Peço a duas mulheres que estão entrando para
olharem se ela está lá dentro, mas ao sair elas informam que não tem mais
ninguém dentro do toalete.

— Tem alguma coisa de errado Fernando — ando de um lado para o


outro — Tem algo de muito errado acontecendo.
— Vamos voltar para nossa mesa, talvez tenhamos nos desencontrado e
ela já esteja com seu pai.
— Talvez seja isso. Vamos voltar — nos viramos para voltar por onde
viemos e nesse momento um brilho próximo a porta do elevador me chama
atenção. Sigo na direção e quando me agacho conferir o que é sei que
Vivian não está na nossa mesa.
— Porra — me levanto rápido —É o cordão dela Fernando — meu
amigo se aproxima para ver o medalhão de São Francisco de Assis que
Angelo deu a ela, e nunca tira do pescoço. — Vamos buscar meu pai.
— Onde você ela foi?

— Não sei, mas ela não foi por vontade própria.


— O senhor precisa se acalmar — diz o funcionário do hotel.—

— Porra nenhuma que vou me acalmar. Se alguma coisa acontecer com


minha mulher, precisarão procurar emprego em outro lugar — aponto o
dedo para ele o gerente, que não me serviu de nada — Assim que falar com
o Bernardo e descobrir o que aconteceu com ela, me resolvo com vocês.
— Merda, ele não atende Bruno.
Nos trouxeram para uma sala reservada, mas estou me sentindo
enjaulado, sufocado. Cada minuto que perco ai com esses idiotas e sem
saber onde Vivian vai me matando aos poucos. Meu pai saiu para atender
uma ligação da fazenda e ainda não voltou, o que está me deixando ainda
mais preocupado.
Será que ela entrou em contato com alguém de lá?

Não ela ligaria para mim se pudesse, me agarro a isso. Ela não saiu
daqui por vontade própria. Mas com quem?
— Alguma novidade, filho — meu pais pergunta ao retornar.
— Nada, não conseguimos falar com o Bernardo e esse dois não
resolvem nada. — digo puto — O que aconteceu na fazenda — Observo
seu cenho franzir, ele passar a mão pela barba — Pai o que aconteceu?
— Zeus fugiu.
— Como assim?

— De acordo com Pedro , ele ficou louco. Começou a bater o corpo


contra a porta da baia, até arrebentar tudo e sair. Não conseguiram segurar
ele.
— Não sabem para onde ele foi, mas já estão procurando
Num rompante, seguro o gerente pelo colarinho — Você vai me dar
acesso a porra das câmeras de segurança ou eu vou quebrar sua cara — sou
puxado de cima do homem, que se treme todo.
— Quer tomar a porra de um processo Bruno? Ficou louco —
Fernando esbraveja — se continuar assim , vai terminar a noite numa cela
— agacha e pega meu celular que acabou caindo e me entrega — Tenta ser
racional e pensar.

Olho para o celular na sua mão e pego — É isso, porra é isso Fernando
— pego o iphone de sua mão, sem demora e verifico a localização do
celular de Vivian, e para minha surpresa ela está no hotel — Ela ainda aqui,
em algum lugar desse hotel, rastreador do celular mostra que ela está aqui.
— Como pode ter certeza? — meu pai se aproxima de mim— O
celular pode ter caído...
— Não tenho. Mas não foi ficar parado aqui, vou bater porta em porta
se for preciso.
— O senhor não pode...

— Na verdade não será necessário— Fernando — Seu chefe quer falar


com você — entrega o celular para o gerente do hotel. Depois de alguns,
sim senhor, entendo, sim senhor o homem nos pedi para acompanhá-lo até a
sala da segurança, para checarmos as câmeras.

Informamos ao chefe da segurança o horário que vimos Vivian pela


última vez e indicamos o elevador para ala sul onde achei seu pingente para
que ele começasse a busca pelas imagens. Assim que ele seleciona o local e
avança o horário identifico a imagem de Vivian surgir, ela caminha
tranquilamente em direção ao toalete e passa pela porta.
No minuto seguinte um homem, entra no corredor e caminho na mesma
direção, qualquer um poderia dizer que ele está ali pelo menos motivo que
ela, mas eu sei que não. Meu coração para no peito, quando sujeito olha
para os lados antes de entrar no banheiro feminino
— Mas que porra.
— Continuamos atentos a porta do banheiro — os minutos parecem
horas, quando a porta se abre novamente o homem coloca a cabeça para
fora antes de sair com Vivian desmaiada em seus braços — Eu vou matar
ele. — ele caminha com ela para o elevador e então some pelas portas de
aço.
— Esse homem estava na festa — a voz do meu pai me tira do meu
torpor — Tenho certeza de que o vi conversando com o deputado Jorge
Davena.
— Esse homem é nosso hóspede, ele o senhor Davena sempre ficam
com a gente — diz o funcionário da recepção que nos acompanha —
Sebastião Braga, ele está hospedado na suíte premium.
Sebastião Braga.

—Sebastião Braga não é o padrasto dela ? — Fernando tira as palavras


da minha boca. Mas antes de qualquer resposta estou indo em direção a
porta.
— Qual andar da suíte?
- Décimo quarto senhor.
Sou rapidamente seguido pelo meu pai, Fernando, o chefe da segurança
e os outros funcionários. Entramos todos no elevador. A cada andar que
subimos a fúria transbordando mais e mais, os punhos cerrados, o maxilar
trincado e o sangue fervendo na veia. Se aquele desgraçado não morreu a
seis anos atrás, hoje é o dia do acerto de conta dele.
O gerente se posiciona na frente informando que tem um código de
acesso que funciona como a chave mestra e destranca qualquer uma das
portas. Assim que saímos do ele corre na nossa frente, para em frente a
porta e digita o código. Passo por ele e vejo tudo em vermelho.
Vivian está desacordada na cama e o homem está em cima dela,
tocando seu corpo . Voando em cima dele e o jogo no chão, defiro o
primeiro soco, o segundo, o terceiro, o quarto . Sinto meu braços tentando
me tirar de cima do homem já desacordado, as vozes me alertam que ele
está desacordado, mas o desejo de matá-lo me cego.
— Bruno — essa voz — Bruno, por favor — abaixo o punho e me
viro em direção a voz. Vivian, me encara, as lágrimas banham seu rosto —
Eu preciso de você. — com apenas essas palavras, ela me faz lembrar que
ela é a prioridade. Me levanto e vou em sua direção. A pego no colo,
apertando seu corpo contra o meu.

— Vou te tirar daqui — ela deita a cabeça em meu peito. Troco um


olhar com meu pai. Nunca quis decepcioná-lo, mas existem coisas que
fogem ao nosso controle.

— Acorda, Bruno — levanto a cabeça, para encontrar meu pai e


Fernando parados próximos a cadeira onde passei a noite.— Acabei
pegando no sono — estico as mãos e sinto o ardor dos machucados
provocados pelos socos que desferi na cara do desgraçado.
— Precisamos conversar, meu filho — meu pai aperta meu ombro —
Poliana está lá fora. Vai ficar aqui com ela até você voltar .
— Poliana?
— Sim, assim que ficou sabendo o que tinha acontecido, me pediu para
trazê-la. Acho que Vivian vai se sentir melhor cercada das pessoas que ama.
— Obrigado, pai — puxo-o para um abraço.— me desculpar por dece..
— Nem continua, Bruno. — ele segura meu rosto com as duas mãos —
Estamos juntos, entendeu. Tenho orgulho do homem que eu eduquei.
— Posso entrar? — Poli passa pela porta e a recebo com um abraço —
Vou cuidar, pode ficar tranquilo.
— Eu sei que vai — beijo sua testa antes de acompanhar os outros para
fora do quarto.
— O que foi? — Sou direto, porque sei que as coisas podem se
complicar para o meu lado, afinal de contas o filho da puta tem mais de
sessenta anos e é protegido pelo estatuto do idoso.
— O desgraçado está vivo, mas foi colocado em coma induzido. Já foi
registrado o boletim de ocorrência pelo sequestro da Vivian e... — ele
engole em seco — você sabe.
— Contatei um amigo que é advogado criminalista para atuar no caso.
Ele já pediu prisão preventiva dele e exclusão da denuncia em seu nome por
tentativa de assassinato que o advogado dele pediu. Mas só conseguimos
reduzir para lesão corporal grave. Então você ainda responderá processo por
isso. — toma uma pausa para respirar — A “mãe” dela acabou de chegar no
hospital onde o infeliz está. — faz aspas na palavra mãe.
— Caralho. Eu não estou preocupado comigo. E que se foda toda essa
merda, eu quero a cabeça dele, dela e de todo mundo que ouso fazer mal par
aminha mulher. Não importa se fazem um, dois ou vinte anos. Eles irão
pagar.
— Filho, agora você só precisa focar em cuidar da Vivian. Tudo isso
pode ser demais para ela, o que passou ontem, junto a toda carga que já
vinha carregando sozinha — ele tem razão — Só deixa que cuidamos de
tudo, confia em mim.

— Eu confio, pai.
Volto para o quarto e encontro Vivian acorda conversando com Poliana.
Nossa olhar se perder um no outro, tantas coisas sendo ditas mesmo no
silêncio. Me aproximo, sento na beirada da cama.
— Como está se sentido amor?
—Melhor, a cabeça parou de doer. — Seguro a mão que está sendo o
intravenoso e levo aos lábios. — E você, está bem?
— Agora estou. Eu só preciso que esteja bem para que eu fique
também.
Capítulo 26

Vivian Montenegro
“Vem pra minha vida, vem”
Três meses depois
As coisas estão indo bem. Tenho feito terapia desde o evento do baile,
mas não foi somente por conta dos acontecimentos daquela noite que decidi
que era hora de fazer um acompanhamento com um profissional. Minha
vida tinha sido marcada desde nova. Eu precisava trabalhar meus medos,
minhas inseguranças e principalmente entender que os erros da minha
genitora não eram meus.
Foi difícil reviver tudo mais uma vez quando precisei prestar
depoimento. Claramente esses acontecimentos são uma cicatriz que levarei
para sempre, mas eles não me definem, nunca definiram e não será agora.
Teresa tentou contato comigo, por meio dos seus advogados. Se você me
perguntar o que ela queria, não sei dizer. Bruno me perguntou se eu tinha
algum interesse em ouvir o que ela tinha para dizer, e depois de ouvir que a
única coisa que me importava saber sobre ela, eram quantos anos de cadeia
ela pegaria por tudo que fez comigo quando eu ainda era uma criança,
Bruno me blindou de qualquer notícia.
Até agora.

— Amor, prometi que só falaria com você sobre Teresa, quando fosse
para falar sobre o fechamento do processo. —digo que sim e ele continua
— Mas diante das coisas que descobri não tem como não termos essa
conversa por que diz respeito a você.
Meu namorado coloca e cadeira de frente para mim e segura minhas
mãos, traçando os dedos em círculos por minhas palmas — Primeiro, quero
que entenda que se eu pudesse te privaria, mas não conseguiria te esconder
isso. — toco seu rosto, num carinho cúmplice.
— Eu sei amor, seja o que for, não pode ser pior do que tudo que já
passei— a dor em seus olhos, me diz que estou enganada.
—No dia que você contou com detalhes o que tinha acontecido no seu
aniversário de dezoito anos, uma coisa ficou martelando em minha cabeça e
pedi ao detetive que procurasse nos lugares mais remotos qualquer coisas
que pudesse nos ajudar a aumentar a pena da Teresa e do Sebastião, e nós
conseguimos.
— Não entendo, Bruno.
— Teresa disse que estava transando com Sebastião há quinze anos,
isso no seu aniversário de dezoito, amor. Ela estava traindo seu pai. Com
base nisso o detetive começou a cavar a vida dos dois e infelizmente acabou
encontrando provas contundentes que Teresa e Sebastião não só sabotaram
o carro do seu pai, como também falsificaram o testamento dele para Teresa
herdar uma pequena fortuna que era sua meu amor.

— Calma, eu preciso processar todas essas informações — inquieta,


levanto e começo a andar em círculos. — Teresa matou meu pai? Não
bastasse tudo que me fez, ela foi a culpada por eu ter perdido a única pessoa
que me amava?
— Sim. Seu pai provavelmente desconfiou do caráter da sua mãe.
Começou a vender todas as propriedades dele, que já pertenciam a sua
família a algumas gerações. E colocou todo esse dinheiro em uma única
conta, um fundo de investimento. Deixou que todos acreditassem que
estava falido, inclusive a esposa, Teresa.
— Mas como ela soube desse dinheiro?
— Provavelmente depois da morte do seu pai. Algumas informações
infelizmente eu não tenho. Mas, acreditamos que com a morte do seu pai, o
advogado deve ter informado a sua mãe que você era a única herdeira do
seu pai e foi ai que eles tramaram para mudar o testamento.

— O tal advogado mudou para os EUA, um ano depois da morte do


seu pai, com certeza recebeu dinheiro para ficar de bico fechado.
— Tenho medo das coisas que podemos descobrir ainda.
— Temos provas suficientes para os dois apodrecerem na cadeia.
Além do mais, Fernando disse que todo seu dinheiro será recuperado com
juros e correções monetárias.
— Eu não quero. — sou categórica.
— Vivian...
— Não Bruno, esse dinheiro não vai me trazer nada bom. Quero que
faça algo por mim — ele concorda — Depois que o Fernando conseguir
recuperar tudo que é meu. Garanta que todo ele, centavo por centavo seja
destinado a ONGs que cuidam e resgatam animais de rua.
— Você não existe, sabia? — me abraça — Eu amo tanto você Vivian
Montenegro.
— Eu também amo você cowboy.

Bruno Avelar
Dois meses depois
Pouco mais de sete meses atrás, quando retornava para casa depois de
nove anos morando nos EUA, não esperava viver tantas coisas em tão
pouco tempo. Eu sempre acreditei que nascemos predestinados a alguém, a
amar alguém tão profundamente, que seríamos capazes de fazer tudo por
essa pessoa. Existem várias lendas sobre esse tipo de ligação que vai além
do entendimento lógico.
Na cultura chinesa o Akai Ito ou fio vermelho, diz que no momento do
nosso nascimento, os deuses amarram uma corda vermelha invisível no
tornozelo daqueles que estão destinados a se encontrar, aqui no Brasil,
chamamos popularmente de alma gêmea.
Vivian é a pessoa no fim do meu Akai ito, ela é minha alma, e como
diz Zé Neto e Cristiano, eu sabia que em outras vidas eu já a queria, e vou
querer por quantas mais eu viver. Não existe nada que não faça para vê-la
feliz. Prova disso é eu estar aqui agora conversando com Zeus, o cavalo que
parece odiar o mundo e amar somente a minha noiva. Sim noiva, há um
mês a pedi em casamento e para minha alegria, fui contemplado com um
sonoro sim, é tudo que mais quero.
No dia que Sebastião sequestrou Vivan, Zeus fugiu, de alguma forma
esse cavalo a quilômetros de distância sabia que sua dona e amiga estava
correndo perigo. E acreditem se quiser, ele foi encontrado na estrada a
caminho de São Paulo. Não me pergunte como, porque eu já desisti de
entender a ligação desses dois. Talvez exista algum tipo de fio vermelho
que ligue nós humanos a nossa alma gêmea animal.
Estamos os dois aqui observando a mulher da nossas vidas, brincar
com Bruninha e Thor. Ah, só para esclarecer o golden retriever realmente
tem problemas comportamentais. Já perdi as contas de quantos sapatos ele
já destruiu e quantos mesas precisaram ser substituídas. Mas nada disso
importa, por ver a alegria que traz para Vivian compensa tudo. Eu seria
capaz de comprar uma fábrica de sapatos e pés de mesa para ele destruir, se
isso significar mais alegria para minha mulher.
— Não adianta ficar com ciúmes Zeus, precisamos aprender a dividir
atenção dela com ele. — o cavalo relincha como se entendesse o que digo,
mas que não concorda. — Entendo você, juro que entendo, mas precisa
melhorar seu gênio e aprender a controlar esse seu amor selvagem. Não te
faz bem.— Recebo uma cabeçada leve — Ok, ok, eu também preciso
aprender a me controlar.
—Ei vocês dois, venham para cá e parem de fofocar — Vivan chama
do meio do pasto onde brincam de bola. Me aproximo dela enquanto Zeus
vai em direção a égua que meu pai comprou para ser a companheira dele.
Aos poucos ela está derrubando as barreiras desse turrão, o que me deixa
muito feliz. Se ele arrumar mesmo uma namorada, vai parar de querer
monopolizar a minha.
— Que tanto vocês dois conversavam?
— Papo de macho, sabe como é — dou ombro — Não posso contar.
— Ah é não pode? — faço que não me aproximando e ela vai andando
para trás — Então também não posso te contar uma coisa que descobri hoje.
Se pode ter segredos eu também posso.
— Nada disso, me conta o que você descobriu — ela balança o corpo e
a cabeça de um lado para o outro.
— Na verdade eu já contei, você que é fofoqueiro de primeiro e estava
tão distraído que não viu.
— Não entendo, amor .
— Seu celular, dá uma olhada nele. — imediatamente pego o aparelho
e desbloqueio a tela, vejo a notificação de mensagem recebida e quando
abro o anexo, vejo uma foto dela que acabou de ser tirada, provavelmente
por Bruna. Mas não é isso que chama minha atenção e sim as mãos de
Vivian posicionadas em formato de coração na frente da barriga.
— Isso... você...— a voz não sai e ela começa rir — Isso significa o
que acho que significa.
— Significa muito amor. — ela se aproxima, por que eu ainda estou
estático, absorvendo a melhor notícia da minha vida — quase oito semanas.
A pego no colo, ela cruza as pernas em meu quadril e giro nos corpos
enquanto grito.
— Eu vou ser pai. — beijo seus lábios e volto a gritar —EU. VOU .
SER .PAIIIIIIII.
Epílogo

Vivian Montenegro
“Que você me adora, que me acha foda”
Descemos do carro e percebo rapidamente que estamos em algum lugar
muito movimentado. Mesmo com um fone de ouvido e a playlist tocando,
escuto sons que parecem ser de muitas vozes misturadas. Bruno segura
minha mão de uma lado, e passa e que está livre por mim cintura. Ele me
direciona por um caminho e de repente estamos subindo uma escada.
Não faço ideia de onde estamos indo. Bruno está cheio de frescura
comigo desde o dia que contei da gravidez, e apesar da nem barriga
aparecer direito, apenas um montinho quase imperceptível ele age como se
eu já estivesse quase parindo. Uma parte da nossa viagem foi feita de
helicóptero, confesso que a venda foi boa nessa hora, eu quase não tive
enjoo durante o voo. Assim que chegamos ao que penso ser nosso destino
final. Bruno para em minhas costas, tira os fones de ouvido e diz.
—Pode tirar a venda amor — demora para que eu realmente consiga
enxergar um palmo à minha frente logo que tiro a venda, depois do tempo
que fiquei usando-a. Mas assim que meus olhos se acostumam com
claridade, descubro para onde ele me trouxe.
— Não acredito que estou num show dela. Durante anos essa mulher e
cada música dela, foram minhas únicas companhias — revivo cada dia,
cada emoção em questão de segundos quando realmente me dou conta de
onde estou — Nem nos meus melhores sonhos, imaginei que você fosse me
trazer num show da Pitty.

— Obrigada amor — taco-lhe um beijo apaixonado — Eu te amo.


— Vocês são lindinhos — escuto a voz da minha amiga, e fico surpresa
por encontrar não somente Poliana, mas também Fernando e José
Armando.
— Vocês também vieram — abraço cada um deles — até você, Zé que
só gosta de sertanejo.
— O que não fazemos pelos amigos, não é? — beijo sua bochecha,
depois junto todos em uma abraço de grupo.
— Vocês são a melhor família que eu poderia ter — digo já em
lágrimas — Amo vocês.
— A gente também te ama —respondem em uníssono. No mesmo
instante que Pitty entra no palco cantando minha música favorita.
Tantas decepções eu já vivi
Aquela foi de longe a mais cruel
Um silêncio profundo, e declarei
Só não desonre o meu nome
Você que nem me ouve até o fim
Injustamente julga por prazer
Cuidado quando for falar de mim
E não desonre o meu nome

— ... não sei mais o que eu tenho que fazer para você admitir. Que
você me adora, que me acha foda, não espere eu ir embora para perceber. —
Me entrego a canção e deixo que novas memórias sejam criadas. Nunca
mais Pitty será sobre mim e minha solidão. Hoje Bruno me deu a chance de
levar para vida a alegria de compartilhar esse momento mágico com as
pessoas que mais amo.
Agradecimentos

Primeiro gostaria de agradecer ao Zézé di Camargo (não pensei que


diria isso depois da merda que ele aprontou) mas enfim. Obrigada pela
música Amor Selvagem, ela foi a inspiração para esse livro.
Meninas do meu grupo PutiAnnes, minhas amigas maravilhosa do
TDK, minhas Safadas maravilhosas, obrigada pelo carinho sempre e me
perdoem o sumiço nos últimos dias.
Aline, amiga obrigada pelas palavras de incentivo, por acreditar em
mim e estar pronta para me socorrer.
Vivian(e) espero que você tenha entendido a escolha do nome, se não
entendeu, agora já tá sabendo. Gratidão por tudo amiga.
Minhas betas maravilhosas, o que seria de mim sem vocês? Esse livro é
nosso. Obrigada por acreditarem tanto em mim e doarem seu tempo para
me ajudar a realizar mais esse sonho.
Meus filhos, eu amo vocês, mais que tudo, mesmo quando estou
cansada e precisando de férias.
Rafael (Rapha) obrigada pelo me feed lindo, por ter dado vida as
minhas ideias e por ter embarcado comigo nessa aventura. Você é foda e vai
muito longe.
Meus leitores amados, mais um livro. Espero que tenham gostado.
Gratidão por terem chegado até aqui.
Conto com vocês para avaliarem meu livro na Amazon e no Skoob. O
retorno de cada um é muito importante para meu trabalho, crescimento e
amadurecimento. Se você ainda não me acompanha nas redes sociais, vai
encontrar ali embaixo o link para meu Instagram e meu grupo de autora no
WhatsApp. Vou ficar imensamente feliz em ter vocês pertinho de mim.

Instagram
@autora.annemedeiros
Grupo WhatsApp

PutiANNES

[1]
|Música da dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó
[2]
Nada Normal – música da dupla Victor e Léo

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