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INALCANÇÁVEL

Ariela Pereira
Copyright© 2023 Ariela Pereira

Todos os direitos reservados de propriedade desta edição e


obra são da autora. É proibida a cópia ou distribuição total ou de
partes desta obra sem o consentimento da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei


n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

1º Edição
2023
ÍNDICE
SINOPSE

Cassius
Ruby
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 20 (Parte 2)
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
EPÍLOGO
REDES SOCIAIS
SINOPSE

Ela é filha da empregada da sua casa e sempre foi apaixonada por


ele.

Ele é herdeiro de um império milionário e nunca a enxergou


realmente.

Depois daquele verão, seus destinos tomarão rumos inesperados.


Cassius

Ruby sempre esteve presente em minha vida, como uma figura


constante, mas nunca a enxerguei além disso. Ela era apenas a filha da
empregada, uma jovem bonita e inteligente que cresceu nos bastidores de
minha vida de luxo.
No entanto, algo mudou. Desde que nos reencontramos no último
verão, quando ela começou a trabalhar na casa em Malibu, percebo que há
algo de diferente nela. Seus olhos brilham com determinação e seus gestos
revelam uma confiança que antes passava despercebida.
Eu nunca fui um homem de relacionamentos sérios. Mulheres
sempre estiveram ao meu redor, disponíveis para um momento de diversão,
mas nunca me interessei em aprofundar qualquer ligação. Talvez seja
porque nunca encontrei alguém que despertasse meu verdadeiro interesse,
alguém que fosse além das aparências.
Ruby desperta algo em mim que não consigo explicar. Ela é
diferente das outras mulheres com quem me envolvi. Existe uma conexão
especial, uma faísca que parece existir entre nós.
No entanto, sei que essa atração é proibida. Os mundos em que
vivemos são separados por uma linha invisível que nos impede de cruzar
para o outro lado. As convenções sociais, as expectativas de minha família
e os padrões de nossa sociedade nos mantêm afastados.
Ruby

Cassius sempre foi o cara rico e poderoso, o herdeiro de um


império. Eu, por outro lado, sou apenas a filha da empregada. Nossas vidas
são tão diferentes que seria loucura imaginar algo além de uma amizade
platônica.
Mas desde que comecei a trabalhar nesta casa, algo mudou. Eu o
vejo de uma forma diferente. Seus olhos verdes e penetrantes parecem
revelar uma alma inquieta, e eu me pego desejando conhecê-lo além das
aparências. Há uma atração mútua entre nós, mas é uma força que luta
contra as barreiras impostas pela sociedade.
Mas esses pensamentos são perigosos e ilusórios. Eu conheço meu
lugar nesta vida. Sempre fui ensinada a aceitar as limitações impostas pela
sociedade, a não sonhar além do que é considerado apropriado para alguém
como eu.
No entanto, uma parte de mim deseja desafiar essas convenções. Eu
vejo em Cassius uma pessoa além do dinheiro e do status social. Vejo um
homem com um coração e uma alma que anseiam por algo mais
significativo.
CAPÍTULO 1

Ruby

É madrugada de domingo. Estou em um conversível com meus


amigos, percorrendo as estradas da Califórnia em direção a Malibu, onde
moro atualmente.
O carro pertence ao chefe de Mathew, um diretor de cinema
milionário, para quem ele trabalha como motorista e, às vezes, pega
algumas coisas emprestadas sem permissão.
No banco da frente estão Mathew e Jessica. Atrás, estão Riley e eu,
cantando e nos balançando ao som alto de "Dance The Night", de Dua Lipa,
que toca no rádio do carro. Jéssica e Riley são minhas melhores amigas.
A festa desta noite aconteceu na casa de Riley, um pequeno
apartamento em Watts. Estamos comemorando a bolsa de estudos que
recebi para cursar Direito na American University, em Washington. Partirei
para lá assim que o verão terminar.
Serei a primeira pessoa da minha família a ir para a universidade.
Meus pais, assim como meus tios e avós, sempre trabalharam como
empregados nas residências de pessoas ricas.
Desde que me lembro, meus pais trabalham na residência dos
Kensington, em Los Angeles. Minha mãe é cozinheira, meu pai é jardineiro.
Moramos nas instalações para os empregados, uma construção secundária e
pequena nos fundos da grande mansão, onde nasci e cresci.
Meus pais nunca me deixaram trabalhar, queriam que eu tivesse
mais tempo para me dedicar aos estudos e assim ter sucesso na vida. Essa
motivação me levou a conquistar a bolsa de estudos.
Há alguns meses, desde que a Sra. Kensington se mudou para a casa
de praia em Malibu com o filho caçula, fomos transferidos para esta
residência, onde meu pai cuida das plantas e da segurança e minha mãe
cozinha.
Pela primeira vez, estou ajudando na limpeza desde o término do
ano letivo, já que a casa estava precisando de alguém com urgência. Farei
isso apenas até o final do verão, quando finalmente partirei para a
faculdade.
A música agitada chega ao fim, e Jessica abaixa o volume, dando
lugar a uma música mais suave. Paro de dançar e me ajeito no banco ao
lado de Riley.
A melodia romântica que preenche a escuridão da noite me leva a
pensar na pessoa que preciso evitar.
— Caramba! Não acredito até agora que você não quis ficar com o
bonitão do Paul! — Riley diz, com a voz alta para se sobressair à música e
um pouco embolada devido às cervejas que bebemos durante a noite toda.
Paul é o cara que trabalha na loja de conveniências de um posto de
gasolina e passou a noite toda flertando comigo.
— Ele não é tão atraente assim. Aquele cigarro de menta que ele
fuma tem um cheiro muito desagradável. Além disso, ele é grosseiro no
tratamento com as pessoas — Me justifico.
— Nada que não possa ser corrigido. As qualidades dele superam os
defeitos. Esse cara é um gato!
— Se você acha ele tão bonito assim, deveria ter ficado com ele.
Riley solta uma gargalhada.
— Se ele não tivesse passado a noite toda atrás de você, eu estaria
fazendo algo mais interessante do que ir para Malibu no meio da
madrugada.
Ela gargalha novamente, e os outros dois a acompanham.
— Eu não o acho tão interessante assim. Foi chato ter que aguentar
essa perseguição a noite toda.
— Você nunca vai achar outro homem interessante enquanto não
tirar Cassius da cabeça — diz Jessica, tocando em um assunto delicado e
íntimo para mim.
— Qual Cassius, o Kensington? — Mathew pergunta.
— Sim, ele mesmo.
O namorado da minha amiga desvia os olhos da direção do carro por
um momento e me lança um olhar rápido, cheio de diversão, o que me
deixa um pouco mais irritada.
Não é segredo para ninguém que pessoas ricas, como Cassius,
jamais se envolvem com pessoas como eu. Essa é a lei da vida, uma regra
que jamais é quebrada. Pobres e ricos não se misturam afetivamente nesse
mundo implacável em que vivo.
Talvez alguns milionários tenham tido relacionamentos com
garçonetes ou atendentes de lojas, mas envolvimentos com empregados
domésticos, ou com seus filhos, isso nunca acontece. Nunca se ouve falar
disso.
Na melhor das hipóteses, o que ocorre é uma noite de sexo sem
compromisso, algo que jamais será mencionado.
— Ruby é apaixonada por ele desde que se entende por gente, por
isso não fica com nenhum cara que se interesse por ela — continua Jessica.
Somos amigas desde crianças. Ela anda um pouco irritada
ultimamente, desde que descobrimos que irei embora no final do verão e
teremos que nos afastar. Por isso, está falando sobre o meu segredo mais
bem guardado.
Apenas ela e Riley sabem sobre meus sentimentos por Cassius. É
humilhante que mais uma pessoa conheça a minha loucura.
— Isso não é verdade. Já fiquei com alguns caras, embora nenhum
deles fosse alguém que valesse a pena — Me defendo.
— Então não é verdade que você gosta do seu chefe? — Mathew
sorri, divertindo-se com a situação.
— Claro que não! Apenas acho ele bonitinho. Só isso.
— Admita. Você é louca por ele. Sempre foi.
Suspiro, constrangida com a exposição do meu sentimento mais
insano.
— Não seja tola. Essa paixonite aguda que eu tinha por ele já passou
há muito tempo. Era coisa de criança.
Mathew e Riley sorriem alto, em uníssono.
Que humilhante!
— Mas já aconteceu algo entre vocês? — Mathew insiste.
— Claro que não! Você está louco?! Eu não sou uma qualquer que
vai para a cama desses caras ricos, apenas para ser mais uma com quem eles
transam e depois ignoram. Tenho princípios.
— Talvez nem todos sejam assim. — intervém Riley, a romântica
convicta que acredita que eu deveria me declarar para Cassius. — Talvez se
você tentar, ele também possa se interessar por você. Você é linda e
inteligente, está seguindo seu sonho de se tornar uma advogada.
— Não é tão simples assim. Ele me conhece desde que éramos
crianças e nunca me viu como uma mulher. Nunca me enxergou dessa
maneira.
— Porque você nunca mostrou seus verdadeiros sentimentos. Além
disso, vocês mal se viam antes, mas agora é diferente. Você está
trabalhando na casa e tem a chance de se aproximar dele a qualquer
momento.
— Claro! Tenho certeza de que ele me acharia muito mais
interessante agora que estou vestida como uma faxineira, limpando a casa,
inclusive o banheiro que ele usa.
— Ainda acho que você deveria tentar.
— Ruby está certa. Minha prima se envolveu com o filho do chefe
dela e acabou sendo usada e descartada. Esses caras têm vergonha de
assumir um relacionamento com a empregada da casa diante da família e
dos amigos. Eles só querem se aproveitar. É por isso que não tenho pena de
usar as coisas desse idiota quando ele não está em casa.
Apesar de Mathew falar sério, todas nós sorrimos com seu
comentário.
CAPÍTULO 2

Ruby

Pouco depois, o carro para em frente à imponente mansão à beira-


mar. Sinto saudade dos meus amigos mesmo antes de nos despedirmos.
Voltarei a vê-los apenas no próximo final de semana, já que
continuam morando em Los Angeles.
Não tem sido fácil lidar com essa mudança repentina: uma nova
escola, uma nova vizinhança, um novo estilo de vida. Já faz meses que
estou aqui, mas ainda estou me adaptando.
— O que faremos no próximo fim de semana? — pergunto assim
que saio do conversível.
— Vamos conversar durante a semana. — Jessica e Riley também
saem do carro. Quero convidá-los para entrar, mas sei que precisam fazer
uma longa viagem de volta. — Desculpe por ter falado sobre você e
Cassius. Acho que foi a cerveja.
— Tudo bem. Foi bom ouvir a opinião de Mathew e saber que não
sou a única que pensa assim.
— Venha cá. Já estou com saudade.
Jessica e Riley me abraçam ao mesmo tempo, mostrando a mesma
saudade que sinto. Em seguida, entram no carro e voltam pela mesma rua,
enquanto observo-os da calçada até que desapareçam na noite iluminada
pelos postes.
Na mansão dos Kensington, em Los Angeles, os funcionários
tinham uma entrada separada, nos fundos da casa. Aqui, isso não é possível,
pois a frente da casa dá para a praia. Portanto, todos que chegam vêm pelo
mesmo portão.
Uso minha chave para abrir o portão e sigo em direção à pequena
casa onde moro com meus pais.
Outros funcionários também moram aqui, mas apenas minha família
tem uma casa só nossa. É pequena, mas é só para nós.
Estou atravessando o imenso jardim com seu gramado em diferentes
tons de verde e diversas plantas ornamentais quando ouço um leve tossido
vindo da direção da piscina.
A princípio, fico paralisada, assustada, sem saber se devo correr ou
gritar. Imagino que possa ser um ladrão invadindo a propriedade. Mas logo
meus olhos se fixam em um homem deitado na grama, aparentemente
desacordado.
Corajosamente, dou alguns passos em sua direção e reconheço-o
imediatamente. É Cassius, o amor da minha vida, ou pelo menos é o que eu
gostaria que ele fosse.
O que ele está fazendo deitado na grama a essa hora?
Aproximo-me até ficar a poucos centímetros dele. Como sempre
acontece quando o vejo de perto, meu coração dispara incontrolavelmente
no peito.
Cassius não parece bem. Está pálido e com os olhos fechados, com a
face contraída, como se estivesse agoniado.
Ainda está vestido como se tivesse acabado de sair de uma festa,
como se tivesse chegado em casa e caído ali mesmo antes de entrar.
Mas isso não é surpresa. Ultimamente, ele tem enfrentado sérios
problemas.
Ele é o filho mais novo dos Kensington. Costumava ser uma pessoa
alegre, sorridente e extrovertida. Mas tudo mudou no verão há dois anos,
depois de uma viagem a Bali. Ele abandonou a faculdade, começou a usar
drogas e a beber em excesso, se entregando às festas e aos vícios, o que
levou sua família a interná-lo em uma clínica de reabilitação.
Pelas poucas conversas que ouvi entre os membros da família, ele
está se recuperando. A Sra. Kensington trouxe-o para morar na praia, longe
das pessoas que o influenciaram negativamente.
Mas não foram apenas as pessoas que o levaram a esse ponto. Desde
aquele verão em Bali, Cassius nunca mais foi o mesmo.
Algo muito grave aconteceu durante aquela viagem, e eu daria cinco
anos da minha vida para descobrir o que foi.
No entanto, a família não comenta sobre isso na presença dos
funcionários, e nada foi divulgado na internet.
Na época, pesquisei em vários sites de notícias e redes sociais de
pessoas que moram em Bali, mas não encontrei absolutamente nada sobre
Cassius.
Aproveitando que ele está dormindo e posso me aproximar, fico
observando seus traços físicos. Ele é incrivelmente bonito! Tem cabelos
escuros curtos, pele bronzeada e olhos verdes intensos, irresistíveis.
Como alguém tão bonito pode ter tantos problemas? Eu não consigo
entender.
Talvez por causa das cervejas que bebi durante a noite, ou talvez
pelo encantamento que Cassius exerce sobre mim, demoro um pouco para
perceber que ele precisa de ajuda.
Meu primeiro impulso é chamar meus pais para que o levem para
dentro da casa. Mas se eu fizer isso, eles acordarão a Sra. Kensington, e
tenho certeza de que Cassius não gostaria disso.
Preciso acordá-lo eu mesma. Então, abaixo-me ao seu lado e seguro
seu ombro, sacudindo-o.
Percebo com fascínio o quão rígidos são os músculos do seu ombro.
— Cassius! Cassius! Cassius! — Chamo em voz baixa, com medo
de acordar alguém na casa. Os aposentos dos funcionários estão a poucos
metros daqui. — Cassius, acorde! Você está no meio do jardim e logo
amanhecerá o dia.
Finalmente, ele abre os olhos, revelando um verde intenso que causa
um impacto na minha alma.
Ele está acordado, mas parece distante. Seus olhos estão vermelhos
por causa das drogas, quase fechados, confusos, como se não me vissem.
— Você está bem? — pergunto, sacudindo-o mais uma vez.
Ele faz um esforço para se conectar com a realidade ao seu redor e
fixa os olhos em meu rosto, com uma expressão vazia.
— Quem é você?
— Ruby. Trabalho aqui na sua casa.
— Aqui? — Ele olha ao redor, como se só agora percebesse onde
está. — Droga, já estou em casa.
— Não se lembra de como chegou aqui?
— Não faço ideia. Pensei que não viveria até hoje, mas as pessoas
não tornam meu trabalho fácil.
Suas palavras me chocam e me levam de volta àquele verão em
Bali.
— Que coisa horrível de se dizer!
— Assustei você?
— Claro que sim! A vida é muito preciosa para ser menosprezada.
— Nem todos pensam assim.
— O que te fez pensar dessa maneira? — Me arrependo de fazer
essa pergunta quando sua expressão muda repentinamente, como se fosse
tomado por uma dor insuportável. — Desculpe, eu não deveria ter me
intrometido.
Ele segura meu braço firmemente no momento em que tento me
levantar.
— Não vá ainda. Vamos nos divertir um pouco. A noite está apenas
começando.
Nunca antes ele se dirigiu a mim de forma tão informal. Certamente
está sob efeito das drogas, em meio a uma recaída, algo comum para ex-
viciados.
Meu primeiro instinto é puxar meu braço e chamar alguém para
ajudá-lo a chegar em seu quarto.
Mas estamos falando de Cassius Kensington, o homem que mexe
com todas as minhas estruturas desde que eu tinha cinco anos, aquele que
povoou meus sonhos mais íntimos desde a adolescência, o príncipe que eu
sempre imaginei aparecendo em minha janela montado em um cavalo
branco.
Enquanto minhas amigas sonhavam com Robert Pattinson, eu
sonhava com ele.
Apesar de parecer errado estar perto dele nesse estado, é exatamente
o que eu faço.
— E o que você tem em mente para nos divertirmos a essa hora?
Um sorriso se insinua em seus lábios, como se ele já soubesse que
eu ficaria.
Certamente ele está acostumado a ouvir "sim" de todas as mulheres
com quem tenta algo, o que não me surpreende.
Em resposta à minha pergunta, Cassius envolve sua mão em torno
da minha nuca e, cuidadosamente, me puxa para perto dele, convidando-me
a me deitar ao seu lado na grama.
Em seguida, ele vira-se para mim, sua proximidade fazendo meu
coração bater ainda mais acelerado.
Embora seus olhos avermelhados estejam fixos em meu rosto,
consigo perceber que ele ainda está distante, como se uma cortina de
fumaça turvasse sua visão e uma parte significativa dele não estivesse
presente.
— Qual é mesmo o seu nome? — ele pergunta.
— Ruby.
— Você realmente trabalha nesta casa?
— Sim. Quer dizer, meus pais trabalham aqui. Eu comecei a ajudar
na limpeza há alguns dias, desde que as aulas terminaram.
— Você é filha da Mary e do Antony, não é?
— Sim. Nos conhecemos desde crianças, embora não nos vejamos
muito, já que eu passava a maior parte do tempo na escola.
Ele ergue a mão até meu rosto e sinto um arrepio percorrer meu
corpo quando ele toca delicadamente uma mecha do meu cabelo,
colocando-a atrás da orelha.
— Você é linda. Como eu nunca percebi isso?
— Acho que você não estava olhando na direção certa da casa.
— Ou talvez eu estivesse cego para não te notar. — Sorrio,
sentindo-me feliz por ele me achar bonita. — De onde você está vindo a
essa hora?
— Fui a uma festa com meus amigos em Los Angeles.
— Fico surpreso que os homens de lá tenham deixado uma garota
linda como você terminar a noite sozinha.
— Eu não sou do tipo que namora muito.
Ele parece surpreso com minha resposta.
— Eu nem sabia que ainda existia esse tipo de pessoa. Todo mundo
está sempre tentando pegar alguém num sábado à noite.
— Não é o meu caso.
— Mas a festa foi boa?
— Muito. Principalmente porque reencontrei meus amigos.
— Minha mãe a obrigou a deixá-los para vir morar nesse fim de
mundo, não foi? — Ele deixa transparecer um certo ar de tristeza ao se
referir à mãe.
— Aqui não é um fim de mundo. É um lugar lindo.
— Então já fez novos amigos?
— Não. Não que eu seja antissocial, só não quero me apegar a mais
pessoas antes de ir para a faculdade. Já está sendo difícil me despedir de
todos que amo.
— Então não pretende seguir a carreira dos seus pais?
— Ninguém que tenha opção escolhe essa carreira. Ser empregada
doméstica não é algo que se deseje por vontade própria.
Ele franze a testa.
— Pois eu acho que é um trabalho bastante digno.
— Eu também acho. Mas muitas pessoas nos inferiorizam, e isso é
uma droga. Além disso, não há um plano de carreira. Não importa se você é
promovida de arrumadeira a governanta ou cozinheira.
— São pessoas idiotas, as que menosprezam esses profissionais, e
sua opinião não merece ser levada em consideração. Que curso você vai
fazer?
— Direito.
— É um ótimo curso. Quando você parte?
— No final do verão. — Percebo que estamos falando muito sobre
mim e mudo o foco da conversa — E quanto a você, o que fez de bom esta
noite? Se divertiu muito?
Ele aperta os olhos, como se eu tivesse tocado em uma ferida aberta.
— Não vamos falar sobre mim. Aqui só tem tragédia e escuridão.
Você não ia querer saber o que ando fazendo da minha vida.
Na verdade, é o que mais quero saber, mas não me sinto encorajada
a insistir para que ele fale, com medo de afastá-lo.
Estar tão perto de Cassius, recebendo toda a sua atenção, é tudo que
sempre desejei. Não vou arriscar estragar tudo.
— Quer beber alguma coisa? — ele pergunta.
— Pode ser.
CAPÍTULO 3

Ruby

Cassius se levanta e me ajuda a fazer o mesmo. Ele segura meu


pulso firmemente enquanto me puxa em direção à casa.
Enquanto caminhamos, olho para o relógio e percebo que já passa
das três da manhã.
Dentro de algumas horas, minha mãe irá para a casa grande preparar
o café da manhã, e é bem provável que ela nos flagre juntos, o que seria
uma tragédia. Preciso ir embora antes que ela chegue.
Mas Cassius não para em nenhum outro cômodo da casa. Assim que
entramos, ele continua me puxando e subimos as escadas que levam ao
segundo andar, onde ficam todos os quartos, incluindo o dele.
Então é isso, ele pretende me levar direto para o seu quarto, tentar
transar comigo sem enrolações ou disfarces.
Não posso dizer que fui enganada ou que ele tentou me iludir.
Minhas pernas tremem enquanto o sigo escada acima. A voz da
razão insiste em me lembrar o quão errado isso é, o quanto eu deveria soltar
sua mão e voltar, mas simplesmente não consigo me afastar.
Deixo-me levar, afinal, quando terei outra chance com esse homem?
Nada tenho a perder, já que logo após o verão irei embora daqui e
dificilmente o verei novamente, a não ser nas raras ocasiões em que
visitarei meus pais.
Passar uma noite nos braços de Cassius e ser descartada depois,
como todos os homens ricos fazem, não parece uma ideia tão ruim. Pelo
menos terei algo dele.
Pelo menos terei um momento, uma lembrança mais profunda do
homem a quem meu coração sempre pertenceu.
Só preciso ter em mente que ele não vai nem olhar para a minha
cara no dia seguinte. Essa noite jamais será mencionada, como se nunca
tivesse acontecido.
Muito provavelmente, ele nem se lembrará do que vai acontecer,
pois está visivelmente embriagado e drogado.
Pensar nisso faz com que minha dignidade desça para os pés. Sinto
que estou me aproveitando dele, embora, no fundo, saiba que não é bem
assim.
Assim que entramos em seu quarto, ele solta meu pulso e vai direto
para o frigobar em um canto, em busca de algo para beber.
Conheço esse cômodo como a palma da minha mão, pois tenho feito
a limpeza aqui ultimamente. Os lençóis brancos que arrumei de manhã
continuam impecáveis na cama.
No entanto, mesmo com a familiaridade do ambiente, o nervosismo
ainda toma conta de mim, fazendo minhas pernas tremerem e minhas mãos
suarem.
Fico surpresa quando Cassius liga o som em volume baixo,
permitindo que a voz agradável de Beyoncé preencha o ambiente com uma
música romântica.
Nunca imaginei que ele fosse um cara romântico, apesar de
conhecê-lo desde criança. Estava até esperando que colocasse um filme
pornô na TV, já que isso parece ser mais o seu estilo.
Cassius me entrega um copo com uísque, seus olhos intensos me
encarando.
Bebo um gole grande sem nem perceber o ardor na garganta,
tamanha é minha ansiedade.
Se alguém me dissesse que um dia estaria bebendo uísque com ele
em seu quarto no meio da madrugada, eu não acreditaria.
Ele bebe quase todo o uísque de seu copo e volta a me encarar. Seus
olhos verdes são hipnotizantes e, de repente, sinto-me mais calma, certa de
que é isso que realmente quero.
Todos os medos anteriores desaparecem na intensidade do olhar que
trocamos, na certeza de que ter Cassius é o maior desejo do meu coração.
— Dança comigo? — ele pergunta.
— Claro.
Ele nem precisava perguntar.
Cassius segura minha mão e me puxa para perto dele, unindo nossos
corpos e nos embalando conforme a música suave.
Fico fascinada com a firmeza dos músculos de seu corpo e me
encaixo neles, deitando minha cabeça em seu ombro, desfrutando de seu
calor e do delicioso cheiro de seu perfume misturado com o uísque.
Mesmo estando mais calma agora, meu coração ainda bate em ritmo
acelerado. Mal posso acreditar que realmente estou aqui, em seu quarto, em
seus braços.
Estamos no meio da música quando seus lábios macios roçam
minha pele do pescoço, num toque suave que provoca uma verdadeira
tempestade dentro de mim, fazendo o calor da excitação se espalhar por
todo o meu ser.
Seus lábios deslizam pela minha pele, roçando meu rosto e beijando
o lóbulo da minha orelha, até que eu levanto a cabeça para encará-lo e ele
toma minha boca em um beijo delicioso, suave no início e depois mais
profundo.
Ele beija ainda melhor do que nos meus sonhos.
Sua boca maravilhosa me pressiona, sua língua brincando com a
minha. Quando sinto sua ereção pressionando meu ventre, a excitação se
intensifica a tal ponto que um nervosismo constante faz meu corpo tremer.
Sem interromper a dança suave de nossos corpos, Cassius
interrompe abruptamente o beijo e levanta a cabeça para me encarar.
— Por que você está tremendo?
Sinto meu rosto esquentar e ficar vermelho. Como vou dizer a ele
que nunca experimentei uma sensação tão arrebatadora como estar em seus
braços?
— Não é nada. Estou apenas um pouco nervosa.
Ele fica pensativo por um momento.
— Por acaso você é virgem?
— Não. Claro que não.
Não tenho coragem de confessar que minha única experiência
sexual se resume a uma transa rápida e ruim, entre dois adolescentes de
dezesseis anos, no banco de trás de um carro.
O que senti na ocasião não se compara ao que estou sentindo agora.
Por um tempo, cheguei a acreditar que era frígida. Apenas agora
tenho certeza de que estava enganada.
Cassius segura delicadamente a lateral do meu rosto, seus olhos
lindos fitando profundamente os meus.
— Você é linda demais.
— Você também.
Sua mão desliza até minha nuca e me puxa. Seus lábios novamente
se apossam dos meus, desta vez com mais intensidade, com avidez. Nossas
línguas se entrelaçam, os dentes se encontram, sua boca voraz me consome,
despertando correntes de excitação que percorrem todo o meu corpo,
fazendo minha calcinha molhar e os bicos dos meus seios doerem.
Ele me segura com mais força. Sua outra mão desliza pelas minhas
costas lentamente e aperta minha cintura, pressionando meu ventre contra a
rigidez da sua ereção.
Solto um gemido de puro descontrole em sua boca, e em resposta,
Cassius me conduz pelo quarto.
Ele se deita na cama e me coloca por cima de seu corpo grande e
sólido.
Agindo puramente por instinto, monto em seu colo e me esfrego na
protuberância dentro de sua calça jeans. Outro gemido escapa da minha
boca, o calor entre minhas pernas aumentando e minha excitação crescendo.
Com um gesto rápido, ele me vira na cama, deitando-me no colchão
e se colocando sobre mim. Em questão de segundos, tira todas as minhas
roupas, deixando-me completamente nua sob o brilho da claridade do
quarto. Começo a tremer, tomada pela expectativa.
— Tem certeza de que é isso que você quer? — ele pergunta,
observando meu tremor.
— Como jamais quis algo nesta vida.
Ele me observa por mais um instante e então fica de pé ao lado da
cama, se despindo por completo, iluminado pela luz do quarto.
Não consigo desviar os olhos de seu corpo escultural.
Ele é perfeito, exatamente como imaginei em minhas fantasias mais
eróticas. Ombros largos, peito musculoso sem pelos, abdômen definido.
Seu membro é impressionante, com a glande rosada exsudando
líquido transparente da ponta, completamente ereto.
Sem dizer uma palavra, ele retorna a mim, estendendo seu corpo
sobre o meu.
Seu toque é perfeito, o peito musculoso roçando os bicos dos meus
seios, seu peso apoiado nos cotovelos.
O contato de sua pele nua com a minha é a melhor sensação que já
experimentei na vida. Seu calor é lascivo e excitante.
Apalpo-o para ter certeza de que ele é real, de que isso está
realmente acontecendo, e sou tomada pela sensação de que passei toda a
minha existência esperando por esse momento, de que fui feita para esse
homem e ele para mim.
Cassius volta a me beijar e, intuitivamente, abro minhas pernas,
pronta e ansiosa por recebê-lo.
Ele segura seu membro pela base, roçando a cabeça em toda a
extensão do meu sexo molhado, e então entra em mim com um golpe rápido
e brusco.
Gemo de puro contentamento, sentindo sua rigidez preencher as
paredes sensíveis da minha vagina, desejando que ele me invada mais forte,
mais fundo.
Anseio por mais, abrindo ainda mais as pernas e segurando seus
quadris, me entregando completamente, silenciosamente pedindo por mais.
E ele me dá o que eu preciso, estocando com força, cada vez mais
rápido e intenso.
Sua boca percorre meu corpo, dos seios à barriga, enquanto gemidos
roucos escapam da minha garganta.
Meus dedos se entrelaçam em seus cabelos macios, até que toda a
tensão se concentra abaixo do meu umbigo e eu explodo em um orgasmo
arrebatador, gemendo e tremendo, seus olhos brilhantes fixos em meu rosto,
apreciando o espetáculo.
Ele faz mais alguns movimentos bruscos e profundos, e então seus
olhos se fecham enquanto ele atinge o clímax dentro de mim.
Quando os espasmos de seu corpo cessam, Cassius sorri lindamente,
me dá um beijo rápido nos lábios e se deita ao meu lado, me puxando para
junto de si. Adormece incrivelmente rápido, e um silêncio completo se
instala.
Sei que preciso ir embora, mas não consigo me afastar. Quero que
esse momento dure para sempre, não quero que termine. Não sei como ele
vai me tratar amanhã.
Adiando o inevitável, me aninho ainda mais em seu corpo nu,
apreciando sua textura áspera e seu calor delicioso.
Se pudesse, passaria o resto da minha vida agarrada a ele, mas
talvez ele sequer se lembre do que aconteceu esta noite, ou simplesmente
decida ignorar.
Enquanto os ânimos do meu corpo se acalmam e meu coração volta
a bater em seu ritmo normal, percebo que não usamos preservativo. Cassius
gozou dentro de mim!
Meu Deus! E se eu engravidar?
Não é possível que eu tenha tão pouca sorte assim. Uma gravidez
não acontece com uma única transa, a não ser por uma força incalculável do
destino. Melhor nem pensar nisso.
Afasto o pensamento e fecho os olhos, apreciando um pouco mais o
momento, até que adormeço sem perceber.
CAPÍTULO 4

Ruby

Não tenho noção de quanto tempo dormi quando sinto uma pressão
no meu ombro e abro os olhos. O pânico toma conta de mim ao perceber
que já é dia.
Ao me acostumar com a claridade, vejo a Sra. Kensington ao lado
da cama, me encarando com ódio, apertando meu ombro para me acordar.
Cassius continua dormindo ao meu lado, coberto por um lençol da
cintura para baixo.
— Levante-se imediatamente, sua desgraçada!
Fico chocada com as palavras sussurradas pela Sra. Kensington,
numa tentativa de não acordar o filho, mas seu ódio transborda mesmo
assim.
Meu Deus! Tenho certeza de que todos seremos demitidos! Como
pude deixar isso acontecer?
Não me arrependo de ter ficado com Cassius, apenas de ter
adormecido ao seu lado e ter sido pega dessa forma.
Maldição!
A Sra. Kensington sai do quarto com passos firmes e furiosos,
esperando que eu a siga.
Levanto-me às pressas e me visto. Antes de sair, dou uma última
olhada em Cassius, que parece um anjo adormecido na cama.
Uma força quase sobrenatural me puxa em sua direção.
Minha vontade é voltar para a cama e nunca mais sair de lá. Mas o
destino não foi gentil com meus sentimentos.
Saio do quarto relutante, com o coração na boca, não só por ter que
me afastar de Cassius, mas pelo medo de enfrentar sua mãe.
Meu Deus! O que ela vai fazer comigo e minha família? Nem
consigo imaginar!
Não é segredo que os Kensington detestam qualquer envolvimento
de seus filhos com os empregados.
Já presenciei a Sra. Kensington quase destruir a casa quando Isaiah,
o filho mais velho, apareceu em um jantar familiar com uma estagiária da
empresa.
Encontro a Sra. Kensington na sala, andando de um lado para o
outro, fumando um cigarro.
Ela está claramente furiosa e nervosa.
Gonzales, o motorista, está parado perto da porta, como um guarda-
costas. Além de motorista e segurança, ele é o puxa-saco da Sra.
Kensington, informando-a de tudo o que acontece na casa, inclusive sobre
os outros empregados.
— Senhora, por favor... — tento falar ao me aproximar dela, mas
sou bruscamente interrompida.
— Cale a boca, sua vagabunda! Como se atreve a se deitar com meu
filho? Está tentando engravidar e ganhar dinheiro com isso? É só isso que
pessoas como você querem!
Não vale a pena responder, pois ela já tirou suas próprias
conclusões.
Fico parada, aguardando a demissão dos meus pais e a culpa que vai
me acompanhar pelo resto da vida.
Meu Deus!
— Há quanto tempo isso está acontecendo entre vocês? — ela
pergunta com raiva.
— Foi a primeira vez ontem, eu juro.
— Você sabe que posso descobrir a verdade analisando as câmeras
de segurança!
— Sim, senhora. Pode verificar. Foi apenas ontem.
— Você saiu de casa com ele? Onde o levou? O que aconteceu?
— N-não, senhora. Fui a uma festa com meus amigos em Los
Angeles. Quando cheguei em casa durante a madrugada, o encontrei
desacordado no jardim.
Ela faz uma pausa.
— Então você aproveitou a situação para tentar engravidar dele?!
Como ousa?
— E-eu só estava tentando acordá-lo para que entrasse na casa.
Conversamos um pouco e aconteceu. Não foi planejado.
— Claro que foi! Você nunca vai admitir, mas se só quisesse que ele
entrasse em casa, teria me acordado. Aproveitou-se de um momento de
fraqueza dele para se beneficiar! Não quero pessoas como você na minha
casa!
Sem dizer mais nada, ela caminha determinada em direção aos
fundos, pisando firmemente e com raiva.
Ela está indo demitir meus pais, tenho certeza.
Meu Deus! Onde eles vão arranjar outro emprego nessa idade?
Desesperada, sigo atrás dela, com Gonzales logo atrás de mim.
— Senhora, por favor, não os demita. Eles não têm culpa do que eu
fiz. A culpa é toda minha. Por favor...
— Eles têm culpa de não darem uma educação adequada à filha que
têm.
Como ainda é cedo, minha mãe não está na cozinha, onde passa a
maior parte do seu dia.
A Sra. Kensington atravessa o amplo e bem mobiliado cômodo,
avançando pelo jardim ensolarado em direção à nossa pequena moradia.
Encontramos meus pais na pequena sala de estar. Minha mãe já está
uniformizada, pronta para começar o dia de trabalho, enquanto meu pai está
acomodado no sofá.
Assim que entramos, os dois ficam alarmados, meu pai se levanta
respeitosamente, e minha mãe alterna seu olhar aflito entre mim, sua chefe
e o motorista.
Pela forma como nos olha, é possível perceber que ela já entendeu o
que aconteceu, mesmo antes da outra mulher falar.
Na verdade, esse sempre foi o maior temor dela diante da minha
incessante admiração por Cassius.
— O que vocês estão fazendo que não mantêm a sua filha longe da
cama do meu filho? — vocifera a Sra. Kensington.
Os olhos do meu pai se arregalam de choque.
— Do que a senhora está falando? Nossa filha não...
— Ela estava dormindo com o meu filho! Acabei de flagrar os dois
juntos, e estou procurando um único motivo para não demiti-los agora
mesmo!
— Isso é verdade, Ruby? — Meu pai me encara incrédulo.
— É claro que é verdade! Ou você acha que estou inventando?
Meu pai a ignora, seu olhar inquisitivo ainda fixo em mim.
— É verdade, pai. Desculpe. Mas foi apenas uma vez. Eu juro.
— Se está procurando engravidar, pode esquecer! Meu filho não
assumiria o filho de uma empregada.
— Minha filha não é esse tipo de garota. — Minha mãe me defende.
— E que tipo de garota se deita com um homem que encontrou
desacordado no jardim?
Meus pais me encaram simultaneamente, atordoados.
Puta merda!
— Eu deveria demiti-los agora mesmo, mas como são funcionários
antigos e estão muito velhos para arranjar outro emprego com moradia, vou
dar-lhes mais uma chance. Uma única chance! — A Sra. Kensington
continua — Espero que controlem essa menina e a mantenham longe do
meu filho! Se eu souber que ela se aproximou dele novamente, não só vou
demiti-los imediatamente desta casa, como também garantirei que nunca
mais arranjem emprego em lugar algum! Está claro?
— Sim, senhora. Obrigado por essa chance. Eu garanto que isso não
vai acontecer novamente. Estou muito envergonhado. — É meu pai quem
fala.
A mulher elegante olha para minha mãe, esperando que ela diga
algo semelhante.
— Também lhe dou minha palavra de que isso não voltará a
acontecer. Peço desculpas pelo inconveniente e agradeço pela segunda
chance.
— E quanto a você, garota?
— E-eu nunca mais vou me aproximar dele. Pode acreditar. Além
disso, em breve partirei para a faculdade, como a senhora bem sabe.
— Estou lhes dando essa segunda chance, mas não me
decepcionem. Se eu encontrar Ruby sequer conversando com Cassius
novamente, não apenas os demitirei desta casa, mas também me assegurarei
de que nunca mais arranjem emprego em lugar algum! Ficou claro?
— Sim, senhora.
A Sra. Kensington nos observa em silêncio por um momento, com
aquele irritante ar de arrogância e autoridade.
Em seguida, ela vira as costas e acena para Gonzales, que a segue
como um cachorrinho obediente.
O alívio que me inunda é indescritível, porém, sequer tenho tempo
para aproveitá-lo. Antes disso, meu pai avança em minha direção como uma
fera raivosa, fazendo-me correr para trás de minha mãe.
— O que você pensa que está fazendo? Como ousa me envergonhar
dessa forma? — Ele grita.
Ele está tão furioso que tenho quase certeza de que vai me bater,
embora nunca tenha feito isso antes.
— Mãe, por favor.
— Deixe-a em paz! Nem pense em encostar um dedo na nossa filha!
Meu pai recua.
— É por isso que essa menina está assim. Você não sabe educá-la.
— Ela é jovem. Está deslumbrada. Não sabe o que está fazendo!
— Ela já tem dezoito anos! Sabe o que é certo e errado!
— Quer mesmo que eu comece a falar sobre o que estávamos
fazendo quando tínhamos essa idade? — Meu pai bufa de raiva, mas não
diz mais nada — Ela já disse que foi apenas uma vez e que não vai
acontecer de novo. Temos que relevar.
— Vamos mandá-la passar o verão com a tia no Arkansas. Isso é o
que ela precisa.
— Não, pai, por favor!
Sinto calafrios só de pensar na fazenda onde minha tia mora, nos
recônditos do Arkansas, um lugar esquecido pela civilização, onde não há
nada além de galinhas, vacas e plantações.
— Quando eu voltar do trabalho, conversaremos sobre isso. Agora
tenho que ir, ou darei mais motivos para enfurecer a Sra. Kensington. —
Ela olha para mim — Quanto a você, fique quieta no seu quarto e nem
pense em sair de lá.
— Mas hoje é domingo. Em breve, os outros filhos da Sra.
Kensington estarão aqui, e alguém precisa servi-los.
— Você acha mesmo que ela ainda vai querer que você trabalhe na
casa?
— Acha que não vou mais fazer a limpeza?
— Eu não sei. Veremos o que o Sr. Kensington vai dizer. Duvido
que eles permitirão que você se aproxime da casa novamente. Agora vá
para o seu quarto e fique lá.
Não penso em desobedecer, já basta toda a confusão que causei.
Então, vou para o quarto quase correndo.
Me jogo de bruços na pequena cama, e aos poucos a aflição vai
diminuindo, enquanto meus pensamentos me levam de volta a Cassius, aos
momentos maravilhosos que compartilhamos.
Mesmo que não voltemos a ficar juntos, guardarei para sempre o
gosto dele em minha boca e a sensação do calor de seu corpo.
Não sei se o que sinto por ele é amor. Se for, estou ainda mais
apaixonada do que antes de tê-lo em meus braços.
CAPÍTULO 5

Cassius

Acordo com a sensação de que o quarto está pegando fogo.


Ao abrir os olhos e me acostumar com a claridade do dia, percebo
que não se trata de um incêndio. Minha mãe está fumando um cigarro em
uma poltrona próxima à cama.
— Será que dá pra fechar as malditas cortinas?! — resmungo.
— Olha como fala comigo, garoto! Cuidado com essa boca suja!
Desanimado, rolo na cama com vontade de voltar a dormir, mas sei
que minha mãe não vai embora até dizer o que quer.
E pelo visto é algo sério, já que ela invadiu meu quarto a essa hora.
Fecho os olhos novamente, tentando relembrar o que fiz de tão
terrível, mas os acontecimentos da noite passada são apenas borrões em
minha mente.
Lembro de ter saído com os caras de Los Angeles e ter bebido além
da conta. Depois disso, tudo fica escuro. Não consigo me recordar de mais
nada, nem mesmo de como cheguei em casa.
Parece que consegui o que queria, pois esquecer a realidade era o
objetivo daquela saída.
O único vestígio que me resta dessa noite são lembranças
embaçadas de um sonho erótico, muito prazeroso, que tive com alguém.
Tento lembrar o rosto da garota ou seu nome, mas não faço ideia de
quem era.
Provavelmente alguém com quem me envolvi durante a festa e que
não quis me acompanhar até em casa.
Eu devia estar completamente chapado.
— Onde esteve ontem à noite? — Minha mãe dispara asperamente.
— O que a senhora quer, mãe? Me deixa dormir.
— Responda à minha pergunta, Cassius! — Ela grita dessa vez.
— Fui a uma festa em Los Angeles. É isso que quer saber?
— Você se drogou de novo?
— Sim, mãe, eu me droguei. Usei muita cocaína e bebi bastante
uísque.
Ela se silencia e percebo que fui muito duro.
— Foi apenas uma festa idiota. — Emendo.
Minha mãe deveria desistir de mim. Mais do que ninguém, ela
deveria saber que nunca vou me curar desse vício.
A dor da culpa continuará me perseguindo ao longo dos anos, e as
drogas são a única forma de entorpecer essa dor, embora não sejam
suficientes.
No dia seguinte, ela sempre volta ainda mais intensa.
— Como ousa se comportar assim depois de toda a luta que tivemos
para você se livrar desse vício?
Ela se levanta e se aproxima da cama. A luz do dia que entra pela
janela ilumina seu rosto angustiado.
— Eu nunca vou me livrar desse vício, mãe. A senhora já deveria ter
desistido.
— Não diga uma coisa dessas! É isso que você quer para sua vida?
Ser um viciado? Dormir com garotas que só querem engravidar e garantir
um futuro às suas custas?
— Eu não dormi com ninguém, mãe.
— Não minta para mim. Eu a vi esta manhã.
— A senhora deve ter sonhado. Não estive com ninguém. Usei
drogas, bebi muito. Mas foi só isso.
Ela faz uma pausa, um momento de silêncio.
— Você não se lembra de ter passado a noite com alguém?
— Nem sei como cheguei em casa. Mas pelo visto, a senhora já
tirou todas as conclusões possíveis.
— Como você pode dizer com tanta tranquilidade que não se lembra
de como chegou em casa? Você tem noção do perigo disso?
— Não há perigo algum. Provavelmente os caras com quem saí me
trouxeram de volta.
— Não quero que você ande com esses "caras"! São eles que te
levam para o caminho errado!
— A senhora não sabe de nada. Sou eu que os influencio.
Ela solta um soluço, indicando que já começou a chorar.
Droga!
— Mesmo assim, não quero que ande com eles. — Parece que ela se
recompôs rapidamente. — Se continuar nesse caminho, vou ter que interná-
lo novamente em uma clínica de reabilitação.
A menção àquele inferno me faz sentar na cama rapidamente, a
irritação me consumindo.
— A senhora não pode fazer isso. Sou adulto e dono do meu nariz.
— Posso sim, e você sabe disso. Da mesma forma que o internei
uma vez, farei de novo se você insistir em continuar nesse maldito vício!
Relembro mentalmente a ocasião em que me encontrava na casa de
um amigo, na manhã seguinte a uma festa, completamente bêbado e
drogado, quando ela e meu irmão apareceram com uma equipe médica que
me colocou em uma camisa de força e me levou para a clínica contra a
minha vontade.
Com a influência que minha mãe tem, ela faria isso de novo sem
hesitar, a menos que eu estivesse do outro lado do planeta.
Mas não tenho intenção de me mudar. A verdade é que sei que
preciso melhorar, esquecer o que aconteceu em Bali e seguir com a minha
vida.
Mas como esquecer o que não sai da minha cabeça nem por um
minuto sequer?
— Foi apenas uma recaída boba. — As palavras escapam da minha
boca enquanto a ausência de cocaína em meu organismo causa certa agonia.
— Você passou tantos meses sóbrio. Por que voltou a se drogar?
— A senhora, mais do que ninguém, sabe os meus motivos. — Ela
faz uma careta de dor, e o remorso me atormenta. — Mas foi apenas ontem.
Não vou usar de novo. Eu juro! Agora saia daqui. Quero voltar a dormir.
Deito-me novamente enquanto ela permanece parada, decidindo se
acredita em mim.
— Tudo bem. Ainda é cedo. Durma um pouco mais. Mais tarde seu
pai e seus irmãos estarão aqui. Não vou contar a eles sobre essa recaída,
mas por favor, recomponha-se antes de eles chegarem.
Dito isso, ela finalmente me dá as costas e deixa o quarto.
CAPÍTULO 6

Cassius

É domingo e o sol brilha intensamente lá fora. Como acontece toda


semana, meus irmãos e meu pai vieram nos visitar.
Após dormir até meio-dia, decido deixar o quarto para encontrá-los,
embora minha única vontade seja dirigir até Los Angeles e encher a cara de
novo.
A necessidade do álcool e das drogas sussurra silenciosamente em
meu sangue, enquanto eu luto para ignorá-la.
Preciso me juntar aos meus irmãos antes que eles invadam meu
quarto com perguntas indesejadas.
Encontro todos reunidos na área gourmet, perto da piscina no
jardim. Isaiah, meu irmão mais velho, está sentado à sombra de um guarda-
sol, próximo ao meu pai, provavelmente discutindo negócios.
Os dois são muito parecidos, sempre pensando em trabalho.
Com trinta anos, Isaiah está prestes a assumir a presidência de nossa
corporação, um grupo de empresas de grande importância no setor das
telecomunicações.
Leonard, meu irmão do meio, tem vinte e oito anos e só pensa em
mulheres. Esta tarde, ele está acompanhado de uma bela loira, cujo rosto
está sempre estampado nas redes sociais, devido ao seu trabalho como
influenciadora.
É a segunda semana consecutiva que ele a traz aqui. Isso é um
verdadeiro recorde quando se trata de Leonard.
Os dois estão nadando nas águas claras da piscina.
Eu costumava ser como ele, aventureiro e feliz. Não levava a vida
muito a sério, até aquele verão em Bali tirar de mim o sentido de tudo.
— Olha quem resolveu nos dar o ar da graça. — Meu pai é o
primeiro a me ver e levanta-se para me receber em seus braços fraternais.
— Eu já ia subir até seu quarto para verificar se você ainda estava vivo.
Aproximo-me de onde eles estão e abraço-o, ciente de que meus
óculos escuros escondem as olheiras profundas em meu rosto.
— Como você está, pai? — pergunto, sentindo meu coração se
aquecer com o afeto.
— Não muito diferente de como estava na semana passada. E você,
pelo visto, está bem. Está ficando forte novamente.
Minha mãe realmente não contou a ele sobre a recaída que tive na
noite passada. Ainda bem.
— É verdade, cara. Você está ficando em forma de novo. — Isaiah
fala, abraçando-me com força.
Eles estão se referindo ao fato de que fiquei extremamente magro
quando permiti que o vício me consumisse, chegando ao fundo do poço.
Aos poucos, estou recuperando peso.
Leonard sai da piscina e também me cumprimenta com um abraço.
Sua namorada me dá dois beijos no rosto.
Logo minha mãe aparece e todos nos reunimos em um grande
círculo formado pelas espreguiçadeiras confortáveis da área gourmet, diante
da vastidão do mar agitado.
Conversamos animadamente, enquanto as empregadas servem
petiscos e bebidas geladas.
Todos estão ingerindo álcool, exceto eu, que me entupo de
refrigerantes.
Esses momentos são sagrados para nós, quando podemos desfrutar
da companhia uns dos outros sem a interferência do trabalho ou de outros
assuntos estressantes.
Tudo o que falamos nessas reuniões são amenidades, e nosso único
objetivo é contar piadas para fazer os outros sorrirem.
A mudança de minha mãe e eu para Malibu, após minha passagem
pela clínica de reabilitação, não alterou nossos hábitos de final de semana.
Segundo minha mãe, viemos morar aqui para que eu me afastasse da
agitação da cidade, como se essa agitação fosse a responsável pelo meu
envolvimento com as drogas.
Na verdade, ela só queria me afastar dos meus amigos, aos quais
também joga a culpa, como se meia hora de carro não me levasse até eles.
Duas empregadas uniformizadas circulam com bandejas pela área
gourmet, entre as espreguiçadeiras onde estamos sentados. Confesso que
não presto muita atenção nelas.
Até que uma delas se inclina para recolher os copos de uma mesinha
ao meu lado, e subitamente tenho uma sensação de déjà vu.
O vento sopra contra seu corpo e seu perfume alcança meus
sentidos, me deixando embriagado e confuso. Parece que a conheço
intimamente, embora não me lembre de já ter conversado com ela.
Olho mais atentamente para o seu rosto e constato o quanto ela é
linda, com feições delicadas, pele clara, cabelos escuros presos em um
coque no alto da cabeça e olhos castanhos.
É filha da nossa cozinheira, a quem minha mãe obrigou a se mudar
para Malibu conosco quando decidiu que seria mais seguro para mim.
A conheço desde criança, embora nunca tenha reparado em sua
beleza, o que não é surpreendente, já que não nos encontramos com
frequência.
Somente há poucos dias ela começou a trabalhar na casa. Antes, ela
aparecia rapidamente na residência principal apenas para falar com os pais
durante o expediente deles.
A proximidade dela desperta algo inexplicável em mim. Lembro-me
do sonho erótico que tive durante a noite e repreendo-me por ter esse tipo
de pensamento com uma moça que mal conheço. Isso é coisa de pervertido.
Enquanto termina de recolher os copos, ela se vira para mim e fixa
seus olhos diretamente em meu rosto.
Parece que ela percebe algo incomum na minha forma de observá-
la, fica nervosa e deixa a bandeja cair no chão, os copos com restos de
bebidas espalhando-se por todos os lados.
O barulho atrai a atenção de todos, e ela fica ainda mais nervosa.
Com um gemido de constrangimento, a garota se ajoelha no chão e
começa a recolher os cacos.
— Eu te ajudo. — Ofereço-me.
Junto-me a ela, ajoelhando-me ao seu lado e ajudando-a a recolher
os cacos de vidro.
Ela fica ainda mais trêmula, seu olhar fixo no chão, embora eu
perceba que me observa pelo canto do olho.
Estando tão perto, seu perfume alcança meu olfato novamente,
revelando o quão delicioso deve ser seu calor feminino.
Observo uma tatuagem de uma borboleta em sua nuca, o que me
atrai de uma maneira inexplicável, fazendo com que uma corrente de
excitação indesejada percorra meu corpo.
Definitivamente, acho que tive sonhos eróticos com a filha da
cozinheira.
Em que tipo de pervertido o isolamento social está me
transformando?
— Deixe isso aí, Cassius. Você pode se cortar. Gonzales, por favor,
recolha essa bagunça. — Minha mãe esbraveja de seu lugar.
A garota olha para minha mãe aterrorizada, como se esta a
ameaçasse com uma granada, e simplesmente se levanta e sai correndo para
dentro da casa, sem que eu compreenda o motivo de tal reação.
— O que deu nela? — Leonard pergunta, observando a cena com
diversão.
— Não faço ideia. Não dá para entender o que se passa na cabeça
dessas pessoas. — Minha mãe responde.
— A senhora foi rude com ela. — Eu retruco, enquanto continuo a
recolher os cacos do chão.
Minha mãe me observa com um olhar penetrante por trás do copo de
vodca com suco de frutas.
— Deixe isso aí, você pode acabar se machucando. Gonzales, por
favor, recolha os cacos. — Ela repete, e o motorista, sempre presente
mesmo quando não é necessário, se aproxima e recolhe os cacos de vidro
do chão.
CAPÍTULO 7

Cassius

Ao pensar na reação da garota e a forma como minha mãe a tratou,


sinto uma pontada de raiva.
Talvez minha mãe não perceba, mas sua atitude foi
desnecessariamente rude. Afinal, foi apenas um acidente.
Olho para minha mãe com desaprovação, mas ela não parece se
importar com meu olhar.
Decido deixar a situação de lado por enquanto e me afasto do local
onde os cacos de vidro foram recolhidos.
Caminho em direção à beira da piscina, onde Isaiah e meu pai
continuam dialogando. Eles estão absortos em sua conversa sobre negócios,
discutindo estratégias e planos para o futuro da empresa.
Sento-me em uma das espreguiçadeiras vazias e tento me concentrar
nas conversas ao meu redor.
Meu irmão Leonard está contando uma história engraçada sobre
uma de suas aventuras amorosas, e todos riem.
Sinto-me um pouco desconectado daquilo tudo. Meus pensamentos
continuam voltando para a garota que acabou de sair correndo.
A presença dela despertou algo em mim, algo que eu não consigo
explicar. Talvez seja apenas curiosidade ou uma atração momentânea, mas
há algo nela que me intriga.
Decido que vou procurá-la mais tarde e pedir desculpas pelo
incidente com os copos.
Enquanto observo as ondas do mar agitado, sinto uma sensação de
vazio interior.
Mesmo rodeado por minha família, sinto-me sozinho. A luta contra
o vício tem sido árdua, e mesmo que eu esteja me recuperando, ainda há
momentos em que a tentação é forte.
Respiro fundo e tento afastar esses pensamentos negativos. Preciso
aproveitar esse momento com minha família, mesmo que haja tensões e
preocupações pairando no ar. Eles estão aqui por mim, e eu devo valorizar
isso.
Decido que vou me juntar às conversas animadas e tentar me
divertir um pouco. Mesmo que existam problemas e desafios em minha
vida, esse é um momento de descontração, e eu não quero deixar que as
preocupações me consumam.
Levanto-me da espreguiçadeira e me aproximo do círculo formado
por minha família.
Dou um sorriso sincero e me permito aproveitar aquele momento de
união e alegria. Afinal, mesmo que haja obstáculos em minha jornada,
ainda tenho pessoas que me amam ao meu redor, e isso é algo valioso.
Enquanto me envolvo nas conversas e risadas, guardo em minha
mente a lembrança da garota misteriosa.
Talvez ela seja apenas um raio de luz em meio às minhas batalhas
internas, ou talvez seja algo mais. A única maneira de descobrir é me
aproximar e conhecê-la melhor.
Mas, por enquanto, vou aproveitar a companhia de minha família e
deixar as preocupações de lado.
A vida é feita de momentos como esse, e é importante valorizá-los e
encontrar alegria nas pequenas coisas, mesmo que o peso do passado ainda
esteja presente.
***

É fim de tarde e a atmosfera está descontraída. O álcool já deixou as


pessoas mais soltas e falantes, embora eu, que não estou bebendo nada
alcoólico, seja o único a perceber isso.
Leonard está rindo até mesmo do que não tem graça, tão
embriagado que está.
Depois de muita insistência da parte dele, acabo cedendo e o
acompanho até a garagem para conhecer sua nova aquisição: um Rolls
Royce Daw vermelho conversível.
— Uau! Que máquina! — falo, verdadeiramente impressionado ao
ver seu novo carro.
— A segunda melhor parte é que comprei com meu próprio
dinheiro, sem precisar pedir ao papai.
Ultimamente, ele está envolvido com a criação de jogos para
videogame, algo que nosso pai não aprova, pois deseja que todos os filhos
se interessem pelos negócios da família.
Pelo menos ele já tem Isaiah para cuidar de tudo, já que não pode
contar com Leonard e muito menos comigo, que não tenho qualquer
perspectiva de futuro.
Nem sei se estarei vivo daqui a cinco anos. O que vivi em Bali me
ensinou que a vida é efêmera e muito mais frágil do que imaginamos.
Balanço a cabeça para afastar esses pensamentos.
— E qual é a primeira melhor parte? — pergunto.
— As garotas ficam fascinadas com essa coisinha. Mal me veem e
já querem dar uma voltinha.
— E por que você quer impressionar ainda mais garotas? Pensei que
estivesse a sério com a Brenda.
— Gosto da Brenda, mas compromisso não é comigo. Nunca vou
casar ou ter filhos. Não quero abrir mão de toda a diversão que a vida de
solteiro pode oferecer.
Sorrio diante de suas convicções. Ele repete essa história desde a
adolescência. Porém, como minha avó costumava dizer, os homens que
dizem isso são os primeiros a se apaixonarem e se casarem.
— Cara, essa coisa de videogames dá mesmo muito dinheiro! —
exclamo, admirando o carro vermelho à minha frente.
— Assim que tiver um tempo, vou te levar para dar uma volta e
conquistar algumas garotas. Há quanto tempo você não transa?
— Para falar a verdade, faz tanto tempo que nem me lembro mais.
O barulho de algum objeto sólido se chocando contra o piso de
concreto vem dos fundos da garagem, atraindo nossa atenção.
É a garota que derrubou os copos na área gourmet. Ela está
segurando um esfregão, limpando o chão da garagem.
Entendo imediatamente o motivo pelo qual ela não voltou à área
para continuar servindo as mesas.
Com certeza, minha mãe a encarregou de fazer aquela limpeza como
uma forma de punição pelo acidente que causou.
Só mesmo minha mãe para fazer alguém trabalhar tão pesadamente
em pleno domingo, quando todos deveriam estar de folga.
Caminho até ela, seguido por meu irmão. Preciso me desculpar pela
grosseria da minha mãe.
— Você está bem? — pergunto, colocando-me diante dela.
Seus olhos castanhos se arregalam, fixos em meu rosto, como se
minha proximidade a assustasse.
— Sim, claro. Desculpe pelo barulho. Foi um acidente.
— Outro acidente, você quer dizer. — Leonard solta uma
gargalhada e tenho vontade de mandá-lo calar a boca.
— Imagine. Sou eu que preciso me desculpar pela grosseria da
minha mãe. Ela não devia ter falado daquele jeito.
Por alguma razão desconhecida, sinto-me desconcertado na
presença dessa garota e, ao mesmo tempo, atraído por ela.
— Não há necessidade de desculpas. Sua mãe é assim mesmo.
— E você é uma gatinha. Tá a fim de dar uma volta de carro
comigo? Não hoje, mas outro dia. — Leonard tem o descaramento de falar.
— Não vai rolar. Mas tenho certeza de que a loira com quem você
está acompanhado vai adorar dar uma volta com você.
Gosto da forma firme e direta como ela rebate o mulherengo do meu
irmão e acabo sorrindo alto, o que faz com que Leonard me dê um tapinha
nas costas.
É algo novo para ele levar um fora de uma mulher. Talvez por isso,
ele nos dá as costas e volta para perto de seu carro.
Eu deveria fazer o mesmo, mas algo desconhecido me mantém
próximo daquela garota, impedindo-me de desviar o olhar daquele rosto
lindo, salpicado de sardas, com os lábios voluptuosos formando um
biquinho tão sensual que tenho vontade de mordê-los.
Enquanto a observo, tento me lembrar se realmente sonhei com ela
ou se é apenas coisa da minha cabeça.
— Você é filha da Mary, não é? Qual é mesmo o seu nome?
Seus olhos se arregalam ainda mais, expressando uma mistura de
irritação e incredulidade que não consigo entender.
— É melhor eu voltar ao trabalho. Sua mãe não vai gostar de nos
ver conversando. Com licença.
Dito isso, ela se afasta, caminhando rapidamente com passos firmes.
Certamente, a assustei de alguma forma, encarando-a fixamente,
sem desviar o olhar nem por um segundo.
Não posso culpá-la por me confundir com um assediador, embora
essa não tenha sido minha intenção.
CAPÍTULO 8

Ruby

— Já sabia que homens ricos costumam ignorar as empregadas


depois de se envolverem com elas, mas Cassius superou todas as
expectativas. — desabafo com Jessica pelo telefone.
É domingo à noite, estou no meu quarto, com as mãos ainda doendo
após ter limpado toda a garagem.
A Sra. Kensington considerou isso como meu castigo por me
aproximar de Cassius na área gourmet.
Não consigo entender como ela esperava que eu servisse bebidas
para a família sem me aproximar dele.
— O que você queria? Que ele falasse com você na frente de todo
mundo? Isso não vai acontecer.
— Não esperava que ele fosse tão longe, mas fingir que não conhece
meu nome é demais.
— Ele agiu assim porque Leonard estava perto. Você precisa
encontrar um jeito de ficar sozinha com ele, preferencialmente à noite,
quando a Sra. Kensington estiver dormindo. Aí as coisas entre vocês vão se
desenrolar.
— Não quero correr o risco de me aproximar dele novamente! Por
mais que eu esteja apaixonada, não quero que meus pais sejam demitidos.
Além disso, da próxima vez, ela pode me mandar lavar o telhado da casa.
— Basta não deixá-la ver vocês juntos. A casa é grande, há muitos
lugares para se esconder.
— Mas há câmeras de segurança por toda parte. Depois do que
aconteceu, a Sra. Kensington provavelmente verifica as imagens
diariamente.
— Então marquem um encontro em outro lugar. Que tal irem dar
uma volta na praia?
— Por mais que eu goste dele, acho melhor não arriscar. É doloroso
demais a forma como ele está me ignorando, após passarmos uma noite
juntos. Não quero essa vida para mim. Prefiro guardar meu coração para
alguém que realmente o mereça.
Jessica solta um longo suspiro.
— A decisão é sua. Mas se eu fosse você, aproveitaria essa
aventura até o final do verão, só para guardar as memórias para sempre.
Afinal, pode ser que você nunca goste de alguém como gosta dele.
— Espero que não seja assim. — Solto um bocejo, sentindo meus
olhos pesarem — Vou dormir. Falamos mais amanhã. Boa noite.
— Boa noite.
Encerramos a ligação e me aconchego sob as cobertas. Assim como
durante todo o dia, minha mente me leva até Cassius, aos momentos que
passamos juntos na noite passada, e é com essas imagens na cabeça que
adormeço.

***

Como todos os funcionários trabalham aos domingos, cada um de


nós tem um dia de folga durante a semana. Hoje é o dia de folga da minha
mãe, e ela aproveitará para limpar nossa modesta casa e costurar, que é sua
grande paixão.
Isso significa que sua assistente na cozinha ficará encarregada das
refeições, o que resulta em mais trabalho para mim, pois tenho que ajudar
na lavagem da louça suja.
Como de costume, acordo cedo e começo minha rotina de limpeza.
Consigo terminar de limpar a casa toda antes mesmo de Cassius acordar.
Desde que nos mudamos para Malibu, descobri que ele tem o hábito
de acordar tarde. A luz em seu quarto fica acesa até tarde da noite, e não
tenho certeza se ele a apaga em algum momento.
Deixo a área gourmet por último e, depois de terminar a limpeza em
toda a casa, começo a trabalhar nessa área, onde a maior parte da bagunça
da reunião da família de ontem ainda está presente.
Como sempre, estou usando meus fones de ouvido, ouvindo uma
música animada do Coldplay enquanto trabalho, quando sinto que estou
sendo observada.
Dou um pulo e quase solto um grito ao me virar e encontrar Cassius
parado ali como uma estátua, me olhando.
Primeiro, sou tomada pela admiração e pelo encantamento com sua
beleza, sua estatura imponente e seu olhar poderoso.
Ele fica ainda mais irresistível quando os raios do sol banham sua
pele morena e destacam seus olhos verdes.
Mas, em meio ao meu deslumbramento, lembro-me de como ele me
ignorou ontem, e a irritação toma conta de mim.
— Precisa de alguma coisa? — pergunto firmemente.
— Não. Estava apenas apreciando... a vista. O mar fica tão calmo
nesse horário, não é mesmo?
Olho para o mar e vejo as ondas agitadas, batendo na costa em
frente à mansão.
— Estava mais calmo de manhã cedo. A maré está subindo rápido.
Volto a esfregar o chão, dando a entender que estou ocupada e que a
conversa terminou.
No entanto, ele permanece ali, me observando, com as mãos nos
bolsos do moletom.
Ele se aproxima da grade de vidro e contempla o oceano de perto,
com um olhar pensativo.
— Você entende de marés. Já morou perto do oceano antes?
Por que ele está puxando assunto?
— Não, mas não é difícil ter acesso às informações das marés em
vários sites.
— Já ouvi falar disso. É como os surfistas calculam a melhor hora
para surfar.
— Sim, e também como os banhistas sabem o momento ideal para
aproveitar a praia.
— Nunca parei para pensar nisso. Há muitos banhistas por aqui?
Nada me faria mais feliz do que continuar conversando com ele,
recebendo sua atenção.
No entanto, se a Sra. Kensington nos pegar, as consequências serão
piores para mim e para minha família.
— Desculpe, a conversa está boa, mas tenho que continuar
trabalhando. Com licença.
Coloco apenas um dos fones de ouvido e tento voltar ao trabalho,
mas é impossível me concentrar com ele ali.
— Por acaso fiz algo que te incomodou? — Ele pergunta, se
aproximando alguns passos.
Meu coração acelera com sua proximidade. O vento vindo do mar
traz seu aroma até minhas narinas, uma deliciosa mistura de menta e
colônia.
— C-claro que não. Por que está perguntando?
— Sei que pareci um pouco assediador ontem, mas não era minha
intenção. Eu só queria saber seu nome, e ainda quero.
A raiva ferve dentro de mim, fazendo meu sangue pulsar. Como ele
pode continuar fingindo que não sabe meu nome ou que nada aconteceu
entre nós, duas noites atrás?
— Não precisa fingir que não me conhece. Não tem ninguém
olhando agora.
Ele me olha com surpresa e confusão em seus olhos.
— Como assim? Não sei do que você está falando.
Merda! Ele deve saber de alguma câmera escondida por aqui. O que
ele não parece entender é que eu tenho muito mais a perder com essas
imagens.
Não se trata apenas de manter as aparências, como parece ser o caso
dele.
Cassius está sendo egoísta ao conversar comigo assim em um lugar
onde sua mãe pode nos pegar. É óbvio que ela também disse a ele que não
quer nos ver juntos.
— Acabei de lembrar que preciso arrumar seu quarto.
— Isso é um convite? — Ele sorri, mas ao ver minha expressão de
espanto, seu sorriso desaparece aos poucos, até sumir por completo. —
Desculpe. Foi apenas uma brincadeira.
— Parece que gosta de fazer piadas, mas não estou brincando. Se
sua mãe nos ver conversando, ela demitirá meus pais.
— Por que ela faria isso?
— Não finja que não sabe o motivo.
— Eu realmente não sei, mas agradeceria se você me explicasse.
— Como você consegue ser tão descarado, fingindo que nada
aconteceu?
Ele parece genuinamente surpreso.
— Não sei do que está falando.
Não consigo lidar com sua audácia em fingir que não passamos uma
noite juntos. É melhor sair daqui antes que a raiva me faça cometer uma
loucura.
— Preciso continuar trabalhando. Com licença.
Dito isso, deixo o esfregão de lado e saio da área antes que ele tenha
a chance de dizer mais alguma coisa.
No momento em que saio da área gourmet, sinto-me aliviada por ter
evitado uma conversa constrangedora com Cassius.
A última coisa que eu queria era ficar perto dele e reviver a dor de
ser ignorada após a intimidade compartilhada entre nós.
No entanto, minha mente continua repleta de pensamentos confusos
e emoções conflitantes.
Encontro a assistente da minha mãe na cozinha, preparando o
almoço. Ela sorri ao me ver e pergunta como foi a minha manhã de
trabalho.
Decido não mencionar o encontro breve com Cassius, pois sei que
ela falaria para a minha mãe, que ficaria preocupada com as possíveis
consequências para a nossa família.
Enquanto ajudo na cozinha, minha mente continua a divagar. A voz
de Jessica ecoa em minha cabeça, lembrando-me das possibilidades que
poderiam surgir se eu me arriscasse e tivesse um momento a sós com
Cassius.
Ela argumentou que essa aventura poderia ser única e inesquecível,
e que eu poderia nunca mais encontrar alguém por quem me apaixonasse da
mesma forma.
No entanto, a voz da razão também ecoa dentro de mim. Lembro-me
das câmeras de segurança e do risco que corremos se formos vistos juntos
novamente.
Além disso, a máscara de indiferença que Cassius usa quando
estamos rodeados pela família dele me machuca profundamente. Não quero
viver uma vida em que meu coração seja descartado tão facilmente.
Enquanto o almoço está sendo preparado, não consigo evitar pensar
em Cassius e nas imagens vívidas dos momentos que passamos juntos.
O desejo de reviver aquela conexão intensa ainda está presente, mas
a dor da sua indiferença também é avassaladora. A incerteza paira sobre
mim, tornando difícil tomar uma decisão clara sobre como lidar com meus
sentimentos.
Após o almoço, retomo minhas tarefas de limpeza e sigo com a
minha rotina.
Ainda estou inquieta com os acontecimentos do dia e com a
presença de Cassius na área gourmet. Tento me concentrar no trabalho, mas
é difícil afastar as lembranças dele da minha mente.
No final do dia, encontro-me novamente em meu quarto. Pego o
telefone e disco o número de Jessica. Preciso desabafar e obter algum
conselho sobre como lidar com toda essa situação complicada.
Jessica atende a ligação e eu começo a compartilhar com ela todos
os eventos do dia.
Explico a minha hesitação em arriscar minha segurança e a
estabilidade da minha família ao ter um encontro com Cassius novamente.
Jessica ouve atentamente e, após um momento de silêncio, ela diz:
— Ruby, eu entendo completamente suas preocupações. Sua família
é importante e você não deve colocá-la em risco. Mas também acredito que
você merece ser feliz e experimentar o amor. Talvez haja uma maneira de
conciliar essas duas coisas, de encontrar um equilíbrio entre suas emoções
e a segurança da sua família.
Suas palavras me fazem refletir. Talvez haja uma maneira de
explorar meus sentimentos por Cassius sem colocar em perigo a
estabilidade da minha família.
Talvez eu possa encontrar uma maneira de ter um momento a sós
com ele, longe dos olhares curiosos e das câmeras de segurança.
— Você tem alguma sugestão de como eu poderia fazer isso? —
pergunto a Jessica, ansiosa por qualquer ideia que possa me ajudar a
resolver essa situação complexa.
Jessica pensa por um momento e finalmente responde:
— Que tal marcar um encontro em um lugar fora da propriedade?
Talvez uma caminhada tranquila na praia à noite, onde vocês possam
conversar sem serem interrompidos. Pode ser arriscado, mas se vocês
forem cuidadosos e discretos, talvez seja possível.
A sugestão de Jessica me deixa hesitante, mas ao mesmo tempo,
sinto uma pontada de empolgação. Talvez haja uma chance de ter um
momento genuíno com Cassius, onde ele não precise usar essa máscara de
indiferença. Mas também sei que há riscos envolvidos.
Agradeço a Jessica por suas palavras de apoio e encerramos a
ligação. Fico ali, deitada na cama, ponderando sobre as possibilidades e as
consequências de seguir em frente com essa ideia.
Eventualmente, o cansaço toma conta de mim e adormeço, com
imagens de Cassius e os momentos que compartilhamos ocupando meus
sonhos.
CAPÍTULO 9

Cassius

O tempo na casa de praia passa de forma arrastada e irritante,


principalmente depois da escapada de sábado à noite. Minha mãe parece
estar em todo lugar, me vigiando, como se fosse capaz de impedir que eu
tenha outra recaída.
A única coisa que ameniza um pouco o tédio é a presença da garota
misteriosa, Ruby.
Agora sei o seu nome, após perguntar à assistente de cozinha que
trabalha junto com a mãe dela.
No entanto, não consegui me aproximar dela. Ela foge de mim o
tempo todo, evitando qualquer contato. Quando tento iniciar uma conversa,
ela responde de forma ríspida.
Ruby é linda, estressada e intrigante. Seu comportamento é algo
novo para mim, pois normalmente são as mulheres que tentam se aproximar
de mim.
Não entendo por que Ruby age assim comigo, mas é divertido esse
jogo de gato e rato que jogamos quando nos encontramos pela casa.
Pela primeira vez em meses, tenho algo minimamente interessante
ocupando minha mente, mesmo que o vazio interior continue a me
atormentar.
Na manhã de quinta-feira, minha mãe anuncia que precisará passar
alguns dias em Los Angeles cuidando do meu pai, que está doente. Ela me
faz prometer que me comportarei bem e não terei outra recaída, como se
isso dependesse apenas de mim.
Eu realmente estava disposto a cumprir essa promessa, mas minha
determinação vai se esvaindo à medida que a tarde avança e minha mente
anseia pela droga e pelo álcool.
Para piorar, Ralf, um dos meus amigos, me liga no final do dia e,
quando digo a ele que estou sozinho, ele acaba me convencendo a fazer
uma festa na casa à noite, com muitas bebidas, drogas e garotas.
Para que isso dê certo, preciso subornar o motorista que minha mãe
deixou para me vigiar. E é exatamente o que faço, não só porque não espero
que minha mãe volte antes da hora, o que arruinaria tudo, mas porque não
quero que ela deixe meu pai sozinho por minha causa.
Quando a noite cai, cerca de vinte pessoas se reúnem na área da
piscina, usando trajes de banho.
Entre eles estão meus amigos de infância, Ralf e Patrick; os caras
que conheci na faculdade, alguns dos quais sequer lembro o nome, e as
garotas que eles convidaram, universitárias animadas em busca de diversão.
Kristen, com quem eu costumava ficar antes dos eventos em Bali,
também está presente. Ela está tentando se aproximar de mim, mas nossa
história é coisa do passado.
Minha atenção está voltada para Ruby, que, junto com as outras
duas empregadas, serve bebidas e petiscos aos convidados na área gourmet.
Ela mantém sua expressão séria e emburrada enquanto circula pela
festa.
Chego a cogitar convidá-la para se juntar à diversão, mas não quero
levá-la para o caminho errado.
Ao contrário dela, as pessoas ao meu redor são, em sua maioria,
viciadas e sem futuro, assim como eu.
— Cara, Kristen não para de olhar para você. Acho que ela está
louca para ir para a cama com você — Ralf diz, soltando uma gargalhada.
Estamos sentados ao redor de uma mesa com Patrick e uma garota
morena que está no colo dele. Enquanto isso, os outros convidados se
espalham pela área, algumas garotas brincando na piscina.
A festa é regada a uísque, cerveja e cocaína, embalada por uma
playlist variada que toca em alto volume, desde Coldplay até Anitta.
Não nos preocupamos em esconder o uso de drogas, já que minha
mãe instalou câmeras em volta da casa. Não temos como escapar do olhar
dela, que certamente surtará ao ver essas imagens.
— Kristen é coisa do passado. Não vai acontecer mais nada entre
nós dois — respondo a Ralf.
— Só falta você avisá-la disso — diz Patrick, e todos sorrimos.
— E você, está de olho em alguém? Donna está interessada em você
— a garota sentada no colo de Patrick diz.
— No momento, não estou interessado em ninguém. Estou de boa
ultimamente.
— Acho que você está tranquilo demais. Está na hora de agir, senão
vai esquecer como as coisas funcionam — Ralf comenta, sem noção.
— Anos de prática não são esquecidos assim tão facilmente.
— Não custa nada praticar mais. Aqui não faltam garotas. E aquela
gostosa da sua empregada, já ficou com ela?
Não preciso fazer muito esforço para entender que ele está se
referindo a Ruby.
Percebo que a observei durante quase todo o tempo, notando que
metade dos homens ali presentes está tentando conquistá-la, enquanto ela se
mantém séria e distante, sem dar atenção a nenhum deles.
— Claro que não. Você está louco? Ela é de uma família respeitável.
Não sai se envolvendo com qualquer um.
— Essas são as melhores. Fazem de tudo para agradar um homem,
achando que podem conseguir um bom casamento.
— Isso é um absurdo!
— É verdade, cara. Já saí com todas as empregadas que passaram
pela minha casa. Agora, minha mãe só contrata as mais velhas e
desinteressantes.
Todos riem, exceto eu, que não vejo graça nenhuma naquilo.
Sem perceber que estamos falando dela, Ruby se aproxima
inocentemente da nossa mesa para reabastecer os copos vazios.
— Vocês querem mais uísque? — ela pergunta, gentilmente.
— Com certeza. Pode servir os copos — responde Ralf.
Quando ela se inclina sobre a mesa para servir a bebida, Ralf
aproveita para tentar espiar por baixo de sua saia.
Cheio de raiva, perco o controle e me levanto, empurrando-o com as
duas mãos.
— Pare com isso, idiota! — ordeno, furioso.
— O que foi? É só uma empregada.
Sem saber o que ele fez, Ruby interrompe seu trabalho e se vira para
ele.
— O que tem a empregada? — ela pergunta, com sua expressão
emburrada.
— Nada, gatinha. Só estava dizendo o quanto você é gostosa. — Ele
dá um passo em sua direção, aumentando minha raiva. — Por que não tira
esse uniforme e se diverte com a gente?
— Agradeço o convite, mas minha ideia de diversão é diferente.
Ela aponta com o queixo para a mesa repleta de cocaína, revelando
sua repulsa pela droga.
— Nunca experimentou? Já está na hora de tentar — insiste Ralf, de
forma inconveniente e irritante.
— Vou fingir que não ouvi isso. Com licença.
Ruby vira as costas e caminha em direção à entrada da casa, e eu a
sigo.
— Desculpe pelo comportamento dele. Ralf perde a noção quando
bebe.
Estamos na cozinha quando ela finalmente para e se vira para mim.
— Não é culpa sua que ele seja um idiota. Tem gente assim em todo
lugar. Você não precisa se desculpar.
— Por que você não vai para casa descansar? Deixe as outras duas
cuidarem dos convidados.
— Deus me livre de deixar minha mãe sozinha com esse bando de...
— Drogados e bêbados. Pode falar.
— Por que você anda com essa turma?
— São meus amigos. E, no momento, eu sou como eles.
Ela me observa em silêncio por um momento, seu olhar penetrante.
— Você não é como eles. Está apenas passando por uma fase difícil.
Por algum motivo desconhecido, dou um passo para trás.
— Como você pode saber como eu sou? A gente mal se conhece.
— Eu te conheço desde sempre, mesmo que você nunca tenha
percebido. Você costumava ser uma pessoa feliz e legal. O que aconteceu
em Bali?
Sinto como se ela tivesse cutucado a minha ferida mais profunda, e
dou mais um passo para trás.
A dor que nunca me deixa volta a me atingir, enquanto seus olhos
perspicazes registram minha reação, analisando meu rosto com atenção.
— Se você não quer deixar sua mãe, pelo menos descanse um pouco
antes de voltar para a festa.
— Não estou cansada. Você trouxe seus convidados e agora temos
que servi-los. É nossa obrigação. Só não espere que eu os sirva do jeito que
seu amigo quer, nem que eu tolere esse tipo de comportamento.
— Claro. Isso não vai mais acontecer.
— Como você pode me garantir isso, se eles estão ficando cada vez
mais bêbados e, consequentemente, mais abusados?
— Quer que eu os tire daqui? Podemos ir festejar em outro lugar.
— Você não pode dirigir depois de beber tanto, está louco? — Não
consigo evitar um sorriso, que faz meus lábios se curvarem. — O que é
engraçado?
— Você não me odeia tanto quanto tenta me convencer. Até está
preocupada comigo.
Ela fica sem jeito, cruzando os braços na frente do peito.
— Preocupo-me com você, como me preocuparia com qualquer
pessoa. Até mesmo aquelas que não gosto. Agora, se me der licença, tenho
que pegar mais uísque.
Ela dá as costas e tenta se afastar. Eu a sigo, segurando-a pelo pulso
e fazendo com que ela se vire novamente para mim.
CAPÍTULO 10

Cassius

Percebo a mudança em sua expressão. Ela está reagindo ao toque da


minha mão em seu pulso. Há um brilho intenso em seu olhar.
— Por que você não gosta de mim? Me diga o que eu te fiz.
— O que você acha que fez?
— Eu não faço ideia. Me explique.
— Você me ignorou depois do que aconteceu entre nós. Eu já sabia
que seria assim, mas não pensei que seria tão intenso.
— E o que aconteceu entre nós?
Seu queixo cai e seus olhos se arregalam de perplexidade.
— Você realmente não se lembra? Como pode ter esquecido?
Agora estou verdadeiramente intrigado.
— E o que eu esqueci? Você pode me explicar?
Seus olhos se entristecem.
— Não importa. Se você não se lembra, então não foi importante.
Com licença.
Dito isso, ela puxa seu pulso da minha mão e sai andando em
direção aos fundos da cozinha.
Volto para a festa com as palavras de Ruby ecoando em minha
mente. O que aconteceu entre nós que eu esqueci?
Tento puxar pela memória, buscar alguma pista, mas nada surge. As
palavras dela me deixam intrigado, pois se algo aconteceu, certamente seria
importante o suficiente para afetar a forma como ela me trata. Reviro os
eventos passados em busca de respostas, mas nada vem à tona.
Enquanto caminho de volta para a área da piscina, percebo que a
atmosfera da festa mudou um pouco.
As risadas estão mais altas, as conversas mais animadas, e as
pessoas parecem estar se entregando cada vez mais ao clima de excessos.
Por um momento, a imagem de Ruby, séria e reclusa, contrasta com
toda essa euforia ao meu redor.
Meus amigos estão imersos em suas próprias diversões, ignorando
minha breve ausência. Ralf e Patrick estão envolvidos em uma conversa
animada com algumas garotas, enquanto a música continua a pulsar ao
fundo.
Eu me sinto desconectado daquilo tudo, como se estivesse
observando a festa de fora.
Meus pensamentos voltam para Ruby. Ela parece saber algo sobre
mim que eu mesmo não sei. Talvez seja hora de tentar descobrir mais sobre
o que aconteceu entre nós.
Eu decido procurá-la novamente, na esperança de que ela esteja
disposta a me explicar.
Encontro Ruby nos fundos da cozinha, recostada no batente da porta
que dá para o jardim, de costas para mim, alheia à minha proximidade.
Ela está em uma ligação telefônica, e tento não ouvir, mas é tarde
demais.
— Eu não acredito que ele não se lembra. Talvez ele nem soubesse o
que estava fazendo naquela noite. Meu Deus, que humilhação! — Ruby fala
com a pessoa do outro lado da linha, e minha curiosidade me impede de
fazer o certo, que seria recuar.
— O álcool sozinho não é capaz de apagar um momento tão intenso.
A menos que tenha sido intenso somente para mim. — Ela continua
falando, alheia à minha presença. — Não vejo a hora de ir embora daqui e
não ter mais que olhar para ele sabendo que nem se recorda da nossa transa.
Nossa transa? Meu Deus! Então quer dizer que fui para a cama com
ela naquela noite de sábado, quando acordei achando que era apenas um
sonho erótico.
Bem que minha mãe mencionou que havia uma garota em meu
quarto e desistiu do assunto ao perceber que eu não me recordava de nada.
Ruby tem toda razão em estar chateada comigo. No lugar dela, eu
nem olharia na minha cara.
Como se fosse capaz de sentir o peso do meu olhar, ela se vira de
súbito, seus olhos castanhos se arregalando pelo susto.
— Você estava ouvindo a minha conversa? — dispara ela,
asperamente.
— Sim, mas não foi de propósito. Me desculpe.
Ela avisa à pessoa do outro lado da linha que ligará mais tarde e
encerra a ligação, guardando o aparelho no bolso da saia.
— O que você quer?
Aproximo-me alguns passos, colocando-me diante dela, enquanto
minha mente relembra a forma como me senti na manhã de domingo, após
passar a noite com ela.
Mesmo acreditando que se tratava de um sonho erótico, há muito
tempo eu não me sentia tão bem.
— Eu realmente não me lembrava do que aconteceu entre nós. Não
porque não tenha sido importante, mas porque eu estava muito chapado
naquela noite.
— Vai repetir o que sua mãe disse e me acusar de ter me
aproveitado de você?
Aproximo-me mais um passo, colocando-me muito perto.
O ritmo da sua respiração muda com a minha proximidade.
— Claro que não. Eu jamais faria isso. — Uma mecha de cabelo
escapa do seu coque e não resisto à tentação de colocá-la atrás de sua
orelha, numa carícia suave que a faz estremecer. — Quando acordei naquela
manhã, achei que havia tido um sonho erótico. Já fazia muito tempo que eu
não me sentia tão bem. No domingo, perto da piscina, eu reconheci o seu
perfume. Tive certeza de que algo havia acontecido entre nós, embora não
conseguisse me lembrar. Será que você pode me perdoar por ter sido tão
idiota?
Os olhos com que ela me encara estão carregados de uma paixão
genuína.
— Eu achei que você estivesse com vergonha de falar comigo na
frente da sua família. Me senti tão magoada.
— Eu jamais sentiria vergonha de uma pessoa como você. —
Seguindo um impulso, repouso minha mão na lateral do seu rosto. Ela fecha
os olhos e pressiona sua pele contra a minha, apreciando meu toque. —
Você é que teria que ter vergonha de mim, do que eu faço.
Seus olhos se abrem, fixando-se nos meus, ao passo em que ela
repousa sua mão sobre a minha.
— Você não precisa fazer isso. Pode parar de se drogar.
— Não é tão fácil quanto parece, embora eu esteja tentando. Preciso
do efeito das drogas e do álcool para me entorpecer e parar de sentir.
— O que você quer parar de sentir?
— Coisas que fariam com que você nem chegasse perto de mim se
soubesse.
Seus olhos castanhos se ampliam de espanto.
— O que aconteceu em Bali, naquele verão?
Desta vez, sou eu quem fica espantado. Como ela sabe sobre Bali?
— Não quero falar sobre isso. Não quero que você volte a fugir de
mim.
— E o que você quer?
— Quero ter você e mais nada.
Sem mais palavras, inclino a cabeça e me aposso dos seus lábios,
em um beijo ao qual Ruby tenta resistir, mas logo se entrega, permitindo
que minha língua encontre a sua, ao mesmo tempo em que meus braços a
envolvem.
Puxo-a firmemente para mim e a beijo com mais intensidade.
No instante em que ela corresponde, permitindo-me saborear seu
gosto da forma que desejo, o tesão feroz incendeia dentro de mim,
impedindo-me até de raciocinar com clareza.
É então que me lembro da noite de sábado, do que aconteceu entre
nós. Embora sejam lembranças formadas por imagens borradas, sei o
quanto foi bom, de um jeito intenso demais.
— Agora eu me lembro. — sussurro, ofegante de excitação. — Você
foi a melhor coisa que me aconteceu em meses. Quero tê-la de novo, desta
vez sóbrio. Vamos para o meu quarto.
Em resposta, Ruby me empurra com suas duas mãos, afastando-me.
Ela cobre seus lábios com a ponta dos dedos e olha na direção da
porta que leva à área gourmet, certificando-se de que ninguém está nos
observando.
— Não podemos fazer isso. Sua mãe deixou bem claro que vai
demitir meus pais se eu chegar perto de você novamente.
Sou egoísta e não aceito menos do que tê-la novamente na minha
cama. Então, puxo-a mais uma vez para os meus braços.
— Mas acontece que minha mãe não está aqui.
Tomo novamente seus lábios, num beijo quente, selvagem, ao qual
ela vai se rendendo aos poucos, até estar totalmente entregue, roçando sua
língua na minha.
Quase posso sentir o cheiro da excitação dela, no jeito como ofega,
no modo como pressiona seu corpo contra o meu.
— Venha comigo. Minha mãe nunca vai saber.
Ruby hesita, reluta, mas acaba se rendendo.
— Tudo bem. Mas minha mãe não pode nos ver.
— Ela não vai.
Seguro-a pela mão, e seguimos em direção ao segundo andar, nos
esgueirando pelos cantos das paredes para que não sejamos vistos por
ninguém.
CAPÍTULO 11

Cassius

Antes de alcançarmos as escadas, um casal de pessoas bêbadas e


sorridentes surge da área gourmet, indo em direção ao segundo andar.
Para que não sejamos vistos, precisamos nos esconder no pequeno
espaço sob as escadas.
— Acho que eles estão indo transar lá em cima. E se for no quarto
da sua mãe, a situação vai ficar ainda mais séria quando ela voltar.
— Eu não me importo. Será apenas mais um motivo para minha
mãe arrumar confusão.
Impaciente e cheio de tesão, encurralo Ruby contra uma parede,
pressionando meu corpo contra o seu, extasiado com o quanto ela é frágil,
feminina e delicada, deixando-se guiar por mim, atendendo a todos os
desejos do meu corpo entorpecido.
Volto a me apossar dos seus lábios, num beijo faminto e demorado,
enquanto nossos corpos se encaixam, o calor do tesão me consumindo e
tirando-me os sentidos.
Incapaz de esperar, enfio a mão por baixo de sua saia, deslizando-a
pela sua coxa, até o fundo de sua calcinha. Infiltro os dedos no tecido
delicado, e Ruby solta um gemido abafado quando toco sua carne macia e
quente.
Ela está toda molhada, e isso me deixa ainda mais excitado.
Irracional como um animal selvagem, afasto sua calcinha para o
lado, abro o zíper do meu jeans, liberando meu pau completamente duro, e
a penetro, suas paredes escorregadias apertando meu pau tão deliciosamente
que solto um gemido abafado, movimentando meus quadris em um ritmo
constante.
— Porra... que delícia... — balbucio, ofegante, enlouquecido de
prazer.
— Cassius... precisamos de um preservativo.
— Claro... você está certa. Devo ter algum aqui na carteira.
— Então coloque.
— Está bem.
Ambos sabemos que precisamos parar para colocar o preservativo,
mas nenhum de nós parece disposto a interromper o momento.
Até que Ruby nos interrompe, empurrando-me delicadamente.
Saio dela e abro a carteira. O único preservativo que tenho está ali
dentro há muitos meses, com a embalagem toda amassada. Pego-o e abro a
embalagem com os dentes.
— Espero que não tenha perdido a validade. Está aqui há muitos
meses.
Ruby sorri enquanto coloco a proteção, embora eu não entenda onde
está a graça.
Consumido por uma necessidade urgente de estar dentro dela, tomo-
a novamente, beijando-a ao mesmo tempo em que a encurralo contra a
parede.
Desta vez, seguro-a pela cintura e a ergo do chão, fazendo com que
ela se pendure em mim, suas pernas me circundando, se abrindo ainda mais.
Quando volto a penetrá-la, o encaixe é perfeito, delicioso.
Com meu pau enterrado nela até a raiz, dou início à sequência de
movimentos de vai e vem, estocando forte, bruto, indo bem fundo. Seus
gemidos delicados me deixam mais maluco, incentivando-me a continuar.
Separo minha boca da sua e fixo meu olhar em seu rosto, fascinado
com o quanto ela fica linda enquanto sente prazer, seu rosto salpicado de
sardas contraído, seu corpo todo balançando com os meus movimentos.
— Goza pra mim. — ordeno, e ela obedece, seu corpo inteiro
tensionando antes de explodir em um orgasmo.
Dou mais algumas estocadas e gozo também, enchendo o
preservativo.
Por alguma razão desconhecida, ambos sorrimos alto, em uníssono,
como se internamente celebrássemos a perfeição daquele ato.
— Acho melhor a gente sair daqui antes que apareça alguém. — é
Ruby quem fala, e reluto em soltá-la.
— Isso foi incrível. Queria nunca mais sair de dentro de você.
— Foi incrível para mim também. — Ela ergue o rosto e beija
suavemente meus lábios, deixando-me pronto para continuar. — Mas temos
que ir.
Com relutância, liberto-a do meu agarre e ajeitamos nossas roupas.
Vestidos, penso em voltar para a festa, a ansiedade pelas drogas e
pelo álcool me ordenando a ir até lá.
Contudo, o desejo de ter Ruby completamente nua em meus braços
é mais forte do que qualquer outro sentimento e sobressai em meu interior.
— Venha, vamos sair daqui. — falo, segurando-a pela mão e
conduzindo-nos escada acima.
— O que você pensa que está fazendo? Eu preciso servir as mesas.
— Hoje não. Quero que passe a noite comigo.
Ela hesita, mas acaba sorrindo e me seguindo para cima.
— Espero que você não me ignore amanhã, fingindo que nada
aconteceu.
— Eu jamais faria isso de caso pensado. E estou bem sóbrio hoje.
Continuamos subindo as escadas, deixando para trás o frenesi da
festa e adentrando o corredor silencioso.
O ambiente tranquilo contrasta com a agitação que vivemos
momentos antes.
Caminhamos de mãos dadas, sentindo a eletricidade do contato
entre nossos dedos entrelaçados.
Enquanto avançamos pelo corredor, conversamos sobre coisas
triviais, tentando aliviar a tensão que ainda paira no ar.
Ruby parece um pouco preocupada, talvez receosa com as
consequências do que acabamos de compartilhar. Eu entendo suas
inseguranças e faço o possível para tranquilizá-la.
— Eu não vou ignorar você amanhã. Você é especial para mim,
Ruby —, digo com sinceridade, olhando diretamente em seus olhos. — O
que aconteceu entre nós foi incrível, e eu não quero esquecer ou fingir que
não aconteceu.
Ela sorri, um sorriso tímido, mas genuíno.
— Eu também não quero esquecer. Só estou um pouco nervosa,
sabe? É tudo tão novo para mim.
— Eu entendo, e estamos juntos nisso. Vamos descobrir como
seguir adiante, passo a passo. Não precisa se preocupar com o amanhã
agora. Apenas aproveite o momento presente.
Continuamos andando pelo corredor até chegarmos à porta no final.
Abro-a, revelando o quarto no qual tenho passado minhas noites de solidão
e tormento.
— É aqui que vamos passar a noite — anuncio, olhando para Ruby
e vendo uma mistura de excitação e nervosismo em seu rosto.
Ela se aproxima e abraça-me, aconchegando-se em meus braços.
— Eu confio em você. — murmura.
Eu seguro-a com carinho, envolvendo-a em um abraço
reconfortante.
— Eu prometo cuidar de você, Ruby. Vamos aproveitar essa noite
juntos, sem preocupações ou expectativas. Apenas nós dois.
Nos desvencilhamos lentamente e sentamos na beira da cama,
olhando um para o outro. Há uma conexão especial entre nós, algo que vai
além do físico.
É uma conexão emocional, uma ligação de almas que nasceu
daquela troca intensa de afeto.
— Eu desejo você com uma intensidade absurda. — digo,
surpreendendo a mim mesmo com as palavras que escapam dos meus
lábios.
Ruby sorri, uma mistura de felicidade e surpresa.
— Eu te desejo demais. — responde ela, sua voz carregada de
emoção.
Nossos lábios se encontram novamente, em um beijo cheio de
ternura e paixão.

***

Estamos estendidos sobre a cama, nus, suados e ofegantes.


Sob a claridade do quarto, observo o corpo de Ruby, ainda trêmulo
pelos orgasmos.
Ela é simplesmente perfeita, com a pele aveludada, os seios
pequenos, a barriga lisinha, os quadris bem torneados.
Seus cabelos escuros, agora soltos, são longos e macios como seda e
se espalham lindamente sobre o travesseiro.
— Eu seria capaz de passar a noite inteira olhando para você e não
me cansaria. Você é simplesmente linda. — declaro.
Ela sorri, a emoção evidente na expressão do seu olhar.
— Eu sempre quis estar assim com você, só não imaginava que seria
tão bom. Acho que nunca me senti tão bem.
— É como me sinto quando estou com você. Como se estivesse vivo
pela primeira vez depois de muito tempo. Foi a sensação que tive na manhã
de domingo. Ainda não posso acreditar que não me lembrei do que
aconteceu entre nós.
— Talvez o fato de você ter esquecido, seja um indício de que está
na hora de dar um basta nas drogas e na bebida.
Não consigo evitar a tensão que se instala sobre meus ombros.
Lembro-me da naturalidade com que as pessoas consomem cocaína na
festa, na frente de todos, inclusive dela.
— Ver as pessoas usando drogas te deixa horrorizada, não é?
Ruby solta um suspiro.
— É impactante para quem não usa. Mas não é isso que me
preocupa e sim o seu bem-estar. O vício pode te levar ao fundo do poço.
— Eu já estive lá. Confesso que não é bom.
Ela segura minha face com a palma da sua mão, seus olhos
preocupados me fitando de perto.
— Então pare. Ainda não é tarde para você.
— Eu vou parar. Agora tenho um bom motivo para isto.
O momento que se segue é de completo silêncio, a emoção
crepitando entre nós.
Até que uma batida na porta irrompe pelo aposento, fazendo com
que Ruby sente-se sobressaltada, seus olhos arregalados de aflição.
— Quem é? — indaga com um sussurro carregado de tensão.
— Eu não sei. Vou verificar.
Ruby usa um lençol para esconder sua nudez e corre para o
banheiro, enquanto enrolo outro em volta dos quadris e vou até a porta.
É Ralf quem está do outro lado.
— Ei cara, vai mesmo abandonar a festa? — Indaga ele.
— Vou descer daqui a pouco.
— Vamos logo. Ainda tem muito pó pra ser cheirado e as gatas
estão perguntando por você.
Ruby surge no meu campo de visão, no fundo do quarto, e posso ver
o misto de preocupação e decepção na expressão do seu olhar.
— Vai indo. Daqui a pouco eu desço.
— Tá. Mas vê se não demora. Não é educado convidar os amigos
pra sua casa e se ausentar. — Ele estica o pescoço, tentando ver quem mais
está no quarto, mas Ruby se esconde — Quem está aí com você?
— Isso não é da sua conta. Agora desça. Daqui a pouco estarei lá.
Ele não se move e acabo fechando a porta na sua cara.
— Você vai mesmo voltar pra lá? — indaga Ruby, saindo do seu
esconderijo na penumbra.
— Claro que não. Não vou deixar de ficar com uma gatinha como
você pra ir cheirar pó com um monte de marmanjo cabeludo.
Ela sorri, a emoção reluzindo no brilho dos seus olhos.
CAPÍTULO 12

Ruby

A emoção transborda do meu coração e preenche todo o meu ser.


Mal consigo acreditar que Cassius escolheu ficar comigo, em vez de voltar
a se entregar ao vício.
Não quero me iludir achando que posso ser a cura para ele, mas
mesmo assim me sinto vitoriosa por ter evitado que ele use drogas pelo
menos nesta noite.
— Nada poderia me deixar mais feliz. — As palavras escapam dos
meus lábios, e eu temo que ele perceba o quanto estou encantada com ele, o
que poderia me fazer parecer boba.
Cassius se aproxima de mim e me abraça com seus braços fortes.
Ele me beija com uma paixão tão intensa que meu corpo todo estremece, a
excitação percorrendo cada parte de mim, fazendo meu sangue ferver e meu
coração pulsar mais rápido.
Movida pela intensa atração que me deixa desorientada, deixo o
lençol que envolve meu corpo cair aos meus pés, revelando minha nudez
completa.
É nesse momento que meu telefone toca, trazendo-me de volta à
realidade, fazendo-me perceber o quão arriscado é ficar aqui com ele.
Nervosa, interrompo o beijo e me afasto de Cassius.
— Por favor, não atenda. — ele pede.
— Pode ser importante.
Sinto uma aflição ao pensar que poderia ser minha mãe ligando. Se
ela contar ao meu pai que saí da festa e ele descobrir onde estou, certamente
me castigará severamente.
Enrolo o lençol ao redor do meu corpo novamente e pego o celular.
É realmente minha mãe.
— Oi, mãe. — atendo.
— Menina, onde você está? Precisamos de você para ajudar a
servir as mesas.
Não posso dizer a ela que estou indo, pois não tenho a intenção de
deixar Cassius, não apenas porque quero estar com ele, mas porque não
posso permitir que ele volte para a confusão lá embaixo.
— Vocês terão que se virar sem mim. Não vou agora.
Há um momento de silêncio do outro lado da linha.
— Você está com Cassius, não está?
— Sim, vou passar a noite com ele.
— E você me diz isso com toda essa naturalidade?!
Procuro refúgio no banheiro para evitar que Cassius ouça minha
conversa.
— Mãe, você sabe o quanto eu o amo. Sempre amei. Não tire isso
de mim.
— Esse homem vai te magoar. Ele nunca assumirá um
relacionamento com você. É isso que você quer para sua vida?
— Ele não vai me magoar porque não haverá tempo para isso. Antes
disso, irei para a faculdade.
Minha mãe suspira, resignada.
— Isso se ele não fizer você desistir da faculdade.
— Isso nunca vai acontecer. Sou realista, não tola. Sei qual é o meu
lugar na vida dele. Não me iludo achando que ele vai me assumir um dia.
— Pelo menos nisso você tem os pés no chão. Agora, temos que
rezar para a Sra. Kensington não descobrir o que vocês estão fazendo.
— Ela não vai descobrir, por favor, não conte para o papai.
— Se eu contar, ele vai subir até aí e arrancar sua pele.
— Eu sei.
— Não vou contar. Mas seu pai é o menor dos problemas. Se a Sra.
Kensington descobrir, estaremos em apuros.
— Ela não vai descobrir.
— Como pode ter tanta certeza disso? Há câmeras de segurança
pela casa.
— Há, mas elas ficam apenas do lado de fora. Não há nenhuma
dentro de casa.
— Tem certeza?
Eu ainda precisava me certificar disso.
— Sim.
— Espero que você esteja certa.
— Tenho que desligar. Boa noite, mãe.
— Boa noite. Tome cuidado.
De volta ao quarto, encontro Cassius deitado na cama, com um
lençol cobrindo suas partes íntimas.
Nunca me acostumaria a olhar para ele sem sentir uma intensa
emoção interior. Sua aparência descontraída só realça ainda mais sua
beleza, com seus cabelos escuros desgrenhados e seu corpo irresistível em
exposição.
Embora pareça relaxado, posso ver sua aflição, na forma repetitiva e
impaciente como ele brinca com a embalagem rasgada de um preservativo
entre os dedos, dando indícios de que está ansioso, pensando em voltar para
as drogas que o esperam lá embaixo.
A luta interior que ele trava contra o vício, é quase tangível.
— Está tudo bem? — pergunto e ele me olha como se minha voz o
puxasse de volta para a realidade.
— Claro. E o que sua mãe disse?
— Ela sabe que estou aqui e não vai contar pro meu.
— Muito legal da parte dela.
— Ela é uma pessoa legal.
Agindo por instinto, deixo o lençol cair do meu corpo e vou até ele.
Movendo-me de um jeito sensual, monto sobre suas pernas estendidas no
colchão e dispo-me de qualquer inibição quando seu olhar devora a minha
nudez.
Ele solta a embalagem do preservativo e sei que sou dona de sua
total atenção, assim como dos seus pensamentos.
— E você é a coisa mais deliciosa que já conheci.
As palmas de suas mãos deslizam lentamente sobre minhas coxas,
fazendo meu corpo todo arder com o calor da lascívia.
— Preciso te perguntar uma coisa.
— Sim, tem uma caixa de preservativos no closet.
Solto uma gargalhada.
— É uma ótima informação, mas não é isso. Existem câmeras de
segurança escondidas pela casa?
— Não. Apenas lá fora. Minha mãe não chegaria tão longe.
— Ótimo. Isso me deixa mais tranquila.
— Nesse caso, venha aqui.
Assim falando, ele eleva seu corpo robusto, sentando-se e alinhando
nossos rostos, para então capturar meus lábios em um beijo ansioso, tão
prazeroso quanto o calor de suas mãos percorrendo cada parte do meu
corpo, explorando minha nudez.
CAPÍTULO 13

Cassius

A luxúria toma conta de mim enquanto me entrego ao toque suave e


provocante de Ruby.
Seus lábios macios se movem em perfeita sintonia com os meus, ao
mesmo tempo em que nossos corpos se entrelaçam em um desejo
incontrolável.
Sinto sua pele suave e quente contra a minha, suas mãos explorando
cada centímetro do meu corpo.
Nossos beijos se tornam mais intensos e urgentes, e eu me perco
naquele momento de pura paixão.
Toda a preocupação e tentação do vício se dissipam, substituídas
pelo prazer avassalador que só ela é capaz de me proporcionar.
Envolvo seus quadris com minhas mãos e a puxo para mais perto de
mim, nossos corpos colidindo com uma eletricidade palpável.
Ruby geme suavemente contra meus lábios, sua entrega me
impulsionando a explorar cada parte dela.
Deslizo minhas mãos por suas costas, apreciando a suavidade de sua
pele. Cada toque é como uma promessa silenciosa de que estaremos juntos,
independentemente dos desafios que possam surgir.
Em meio ao nosso êxtase, uma pequena voz de preocupação ecoa na
minha mente. Como será o amanhecer? Como enfrentaremos a realidade e
os problemas que inevitavelmente surgirão?
Mas, por enquanto, deixo essas preocupações de lado. Este
momento é nosso, um refúgio de prazer e paixão em meio a um mundo
tumultuado.
Estamos envolvidos em nosso próprio universo, onde apenas nós
importamos.
O tempo parece parar enquanto exploramos um ao outro,
desvendando segredos e desejos ocultos. Cada beijo, cada toque é uma
afirmação de nossa conexão profunda e da paixão que sentimos um pelo
outro.
Quando finalmente alcançamos o ápice do prazer, entregamo-nos
completamente um ao outro.
Nossos corpos tremem em êxtase, e é como se todos os problemas
do mundo se dissolvessem naquele instante.
Deitamo-nos lado a lado, nossas respirações ainda ofegantes, e eu
encaro o teto, contemplando o que acabamos de compartilhar.
Ruby se aconchega em meu peito, seus braços envolvendo-me com
carinho. Sinto uma mistura de gratidão e responsabilidade.
É minha responsabilidade lutar contra o vício, não apenas por mim,
mas também por ela.
Prometo a mim mesmo que farei o possível para deixar para trás os
demônios que me atormentam, que escolherei uma vida melhor, não apenas
por mim mesmo, mas por Ruby.
Enquanto descansamos nos braços um do outro, percebo que esse
momento marca o início de uma nova jornada. Não será fácil, mas estamos
juntos nessa. Juntos, podemos superar qualquer obstáculo que a vida nos
apresentar.
Com essa nova determinação, durmo ao lado de Ruby, sentindo uma
paz que há muito tempo não experimentava.
***

Desperto com a sensação de que o quarto está em chamas. Mesmo


antes de abrir os olhos, percebo que minha mãe está presente, fumando um
dos seus cigarros.
Inquieto, abro os olhos e examino rapidamente o ambiente,
procurando por Ruby.
Se minha mãe nos flagrou juntos, certamente vai despedir a família
dela.
Caramba! Isso não pode acontecer de jeito nenhum.
Respiro um pouco aliviado ao constatar que Ruby não está mais
aqui, foi embora enquanto eu dormia. Resta saber se minha mãe a viu antes
de sair.
— É assim que você honra sua promessa de se comportar?
Juntando-se a marginais? — Minha mãe reclama, abatida e visivelmente
cansada.
— Bom dia para a senhora também.
— Não brinque comigo, moleque! Como você se atreve a dar uma
festa enquanto estou fora?
— Já sou adulto. Não preciso de permissão para fazer uma festa.
— Você sabe do que estou falando! Se continuar usando drogas e
bebendo, vou te mandar para uma clínica novamente.
— Como a senhora descobriu?
— Acha mesmo que poderia me esconder algo assim?
— Foi o motorista?
— Ele me ligou ontem à noite e tive que deixar seu pai sozinho esta
manhã.
— Droga! Eu paguei esse cara para ficar calado.
— Ele me contou isso também. E mesmo que não tivesse contado,
temos as câmeras de segurança.
Preciso saber se minha mãe viu Ruby no meu quarto, ou se o
maldito motorista nos flagrou quando subimos, mas não posso perguntar
diretamente, para não delatar nossa relação.
— Foi um ato impensado. Desculpe-me. Como a senhora pode ver
pelas câmeras e também perguntar ao seu motorista, não fiquei na festa.
Subi e fui dormir cedo.
— Sim, ele me disse isso. — Sua voz calma indica que ela não sabe
sobre Ruby. Ainda bem. — Fico feliz que você esteja superando esse vício
maldito. Você ter deixado a festa pra vir dormia, indica que está vencendo,
não é?
— Sim, estou. E como está papai?
— Um pouco melhor. Contratei um enfermeiro para cuidar dele.
Só minha mãe mesmo para contratar um enfermeiro por causa de
uma gripe. Aposto que meu pai foi obrigado a aceitar os cuidados desse
profissional.
— Vou pedir à empregada para trazer o seu café daqui a pouco.
Descanse um pouco mais.
— Está bem. Obrigado.
Com isso, minha mãe deixa o quarto.
Sozinho, fecho os olhos e me aconchego entre as cobertas, sentindo
o adorável perfume de Ruby ainda presente nelas, tão vívido como se ela
estivesse aqui.
Meu Deus! O que é esse sentimento que experimento quando estou
nos braços dessa garota?
Ela é como um bálsamo para minhas dores. Quando estou com ela,
sinto-me verdadeiramente vivo pela primeira vez desde o que aconteceu em
Bali.
Finalmente, depois de tudo, tenho um motivo para continuar
respirando, embora ainda precise encontrar uma forma de impedir que
minha mãe prejudique a família dela, caso descubra sobre nós dois.
O melhor mesmo é jamais permitir que ela saiba.
Passo algum tempo deitado na cama, pensando nas palavras de
minha mãe e nas possíveis consequências se ela descobrir sobre Ruby e eu.
A pressão sobre meus ombros parece aumentar a cada momento,
mas não posso deixar que isso me impeça de ficar com a garota que quero.
Decido levantar da cama e me arrumar para enfrentar o dia.
Encontro minha mãe na cozinha, sentada à mesa, tomando seu café.
Ela parece um pouco mais descansada e menos abatida do que quando
acordei.
— Bom dia novamente, mãe. Desculpe pela festa de ontem à noite,
não vai se repetir. Eu prometo. — Digo, tentando mostrar arrependimento
genuíno.
Ela olha para mim com uma expressão séria, estudando meu rosto
em silêncio por alguns momentos antes de finalmente falar.
— Espero que esteja falando sério, filho. Não quero te ver se
perdendo novamente.
— Eu estou falando sério. Percebi que estava indo pelo caminho
errado e quero mudar. Você tem minha palavra.
Ela suspira e parece aliviar um pouco a tensão em seu rosto.
— Eu espero que seja verdade, querido. Sei que você tem passado
por momentos difíceis, mas não quero ver você jogando sua vida fora.
Eu me aproximo da mesa e me sento em frente a ela, olhando em
seus olhos.
— Eu entendo. E quero que saiba que estou lutando para superar
tudo isso. Eu tenho alguém em minha vida agora que me dá força e me
ajuda a seguir em frente.
Ela franze a testa, claramente intrigada.
— Quem é essa pessoa? Você não disse nada sobre ter uma
namorada.
— Na verdade, é alguém que conheci recentemente. Ela tem sido
uma grande influência positiva para mim.
Minha mãe parece ponderar minhas palavras por um momento antes
de falar novamente.
— Se essa pessoa está te ajudando a se recuperar, então talvez eu
deva conhecê-la. Afinal, se ela é importante para você, é importante para
mim também.
Sinto uma onda de alívio percorrer meu corpo. Minha mãe não sabe
sobre Ruby, mas está disposta a conhecê-la. Talvez isso seja um sinal de
que podemos encontrar uma forma de conciliar nossas vidas, sem que a
família dela seja prejudicada.
— Eu ficaria muito grato se você a conhecesse. Tenho certeza de
que você vai gostar dela. Ela é especial.
Minha mãe sorri levemente e pega minha mão.
— Eu confio em você, filho. Vamos encontrar uma maneira de lidar
com isso juntos. Mas lembre-se, não quero mais festas ou comportamentos
irresponsáveis. Você tem uma chance de recomeçar, não a desperdice.
Eu aperto a mão dela, sentindo um misto de gratidão e esperança.
— Eu prometo. Não vou desperdiçar essa chance. Eu amo você.
Ela sorri de maneira mais genuína agora.
— Eu também te amo, meu filho. Vamos enfrentar isso juntos.
Com um sorriso no rosto, nós nos levantamos da mesa e abraçamos
um ao outro.
Talvez depois de saber o quanto Ruby me faz bem, minha mãe
aceite nossa relação e esqueça essa história de demitir a família dela.
CAPÍTULO 14

Ruby

É noite de sexta-feira e estou radiante, aguardando ansiosamente


Cassius para nosso jantar.
É o nosso primeiro encontro oficial desde que começamos a nos
relacionar. Embora já tenhamos saído juntos anteriormente, em ocasiões nas
quais costumamos passear discretamente na praia, buscando evitar olhares
curiosos dos moradores da casa, principalmente sua mãe e do meu pai.
Minha mãe é a única confidente dos nossos encontros secretos, que
ocorrem com frequência desde a noite em que Cassius deu aquela festa.
Estamos quase sempre juntos, nos momentos em que não estou
trabalhando.
Seu quarto e a praia são os refúgios dessa paixão que vivemos nos
braços um do outro.
Estar com ele é como viver um sonho. Eu amo cada minuto ao seu
lado. Amo a maneira como ele me toca, sua voz, seu perfume, seu calor, a
forma como fazemos amor. Não há nada nele que eu não ame.
Apesar de estar feliz, sei que nosso relacionamento não durará muito
tempo. Ainda não discutimos o assunto, mas tenho consciência de que em
algum momento abordaremos minha ida para a faculdade.
E se há algo em que estou determinada, é não abrir mão da minha
formação por causa dessa paixão.
Não é porque não confio em Cassius. Eu confio nele e em suas boas
intenções. Aliás, se dependesse dele, já teríamos revelado nosso segredo
para sua mãe.
No entanto, pertencemos a mundos diferentes e, mais cedo ou mais
tarde, essa diferença acabaria atrapalhando nosso relacionamento. É algo
inevitável.
Infelizmente Cassius é inalcançável para mim, ele apenas não
percebeu ainda o imenso abismo intransponível que separa nossos mundos.
Depois de passar algumas horas me arrumando, sinto-me
deslumbrante. Estou usando um vestido preto de renda, costurado pela
minha mãe, assim como a maioria das minhas roupas.
É um modelo de comprimento médio, ajustado na cintura e com saia
rodada.
O forro cor de pele dá a impressão de que a renda é a única
cobertura do meu corpo, conferindo um toque sensual e, ao mesmo tempo
requintado ao traje.
Meus cabelos estão soltos, lisos até a metade e com cachos
generosos nas pontas.
Estou esperando Cassius em uma esquina, a uma quadra de distância
da mansão, para evitar olhares curiosos que possam nos flagrar juntos.
No horário previsto, avisto os faróis do carro dele se aproximando
do local onde estou e meu coração se acelera dentro do peito.
O reluzente jaguar azul metálico para diante de mim, impecável
como se fosse novo, e ele emerge, ostentando um sorriso encantador.
Seus olhos verdes fixam-se intensamente em mim, fazendo minha
pele arrepiar-se.
— Você está simplesmente deslumbrante — diz ele, percorrendo-me
com os olhos.
Ele se aproxima e deposita um beijo rápido e suave em meus lábios,
despertando em mim o desejo por um beijo mais profundo e um toque mais
íntimo.
— Você também está muito elegante.
E é verdade. Nesta noite, ele veste um terno azul-marinho sobre uma
camisa branca, sem gravata.
Seus cabelos curtos estão impecavelmente arrumados e levemente
fixados com gel. Pela primeira vez desde que o conheço, ele está deixando a
barba crescer e agora ela aparece como uma sombra acentuando seu maxilar
forte.
— Reservei um restaurante em Los Angeles, mas se você estiver
com fome, podemos jantar aqui mesmo. Conheço um lugar muito bom em
frente à praia.
— Não estou com fome. Além disso, será ótimo irmos até Los
Angeles.
— Perfeito. Vamos para Los Angeles.
Sigo-o enquanto ele contorna o carro e me acomodo no assento do
passageiro quando ele abre a porta para mim.
Cassius se acomoda ao volante e, assim que começa a dirigir, liga o
som do painel. Agradavelmente, a voz envolvente do vocalista do Coldplay
irrompe com "Paradise" em um volume suave dentro do carro.
Combinado com a paisagem de praias e colinas que acompanham a
estrada, cria-se uma atmosfera mágica e deliciosa.
Nada supera a sensação de estar a caminho de Los Angeles à noite,
em um carro elegante e novo, ouvindo uma música linda, exceto estar indo
com Cassius.
— Você sente muita falta de morar em Los Angeles? — ele
pergunta.
— Muita mesmo. Não é fácil se adaptar em uma cidade como
Malibu depois de ter nascido e crescido na agitação de uma cidade maior.
— Imagino que seus pais tenham ficado magoados por minha mãe
tê-los obrigado a se mudarem para cá.
— De forma alguma! Na verdade, meus pais adoram este lugar por
causa da tranquilidade. Sou eu quem sente falta da agitação e dos meus
amigos.
Durante a viagem, aproveitamos a música e a paisagem enquanto
conversamos sobre diversos assuntos.
Cassius compartilha histórias engraçadas de sua infância em Los
Angeles, e eu rio alto, sentindo-me mais próxima dele a cada momento. A
química entre nós é inegável.
Chegamos a Los Angeles e o restaurante que ele reservou é
sofisticado e aconchegante. As luzes suaves e a decoração elegante criam
um ambiente romântico.
Sentamo-nos em uma mesa próxima à janela, de onde podemos ver
as luzes da cidade cintilando ao longe.
Enquanto apreciamos a deliciosa comida, conversamos sobre nossas
paixões, nossos planos para o futuro e os lugares que gostaríamos de visitar
juntos.
Evito apenas falar sobre a minha partida para a faculdade, pois sinto
que esse assunto pode estragar as coisas entre nós.
Após o jantar, decidimos dar um passeio pelas ruas movimentadas
de Los Angeles, de mãos dadas, sentindo a energia vibrante da cidade.
Paramos em um café charmoso e pedimos duas xícaras de café para
nos aquecer na noite fria. Sentamos em uma mesa do lado de fora e
observamos as pessoas passando.
Enquanto tomamos o café, nossos olhares se encontram e um sorriso
se forma em nossos rostos.
Eu sinto uma mistura de felicidade e excitação, sabendo que
estamos construindo algo especial juntos. Não há pressa, apenas
aproveitamos a companhia um do outro.
Desde que entramos no carro em Malibu, percebo que Cassius está
constantemente recebendo mensagens no celular, às quais não responde.
Agora, a pessoa está ligando repetidamente, enquanto Cassius tenta
ignorar. No entanto, sua paciência se esgota e ele acaba atendendo.
— O que foi, Ralf? — Sua voz soa enérgica.
Ao ouvir o nome de seu amigo, pressinto que estão oferecendo
drogas e bebidas a ele.
Parece que a Sra. Kensington estava certa nas ocasiões em que a
ouvi culpando os amigos do filho por seu vício.
Após trocar algumas palavras com Ralf, Cassius encerra a ligação e
hesita antes de começar a falar.
— É o aniversário do Ralf hoje, e ele está dando uma festa.
— E você não quer deixar de dar os parabéns pessoalmente a seu
amigo.
— Será apenas uma passada rápida, tudo bem para você?
Consigo visualizar claramente as pessoas cheirando cocaína e
bebendo uísque, exatamente como na festa em Malibu, e um arrepio
percorre minha espinha.
— Claro, tudo bem.
Deixamos o café e partimos em direção à Silver Lake, onde Ralf
mora.
A casa dele é muito mais modesta do que a imponente mansão dos
Kensington em Beverly Hills, mas ainda assim é bonita.
Estacionamos no amplo jardim da frente, entre dezenas de outros
carros, e entramos.
A festa está acontecendo no jardim dos fundos, na área da piscina,
embora várias pessoas estejam espalhadas pelo interior da residência.
Como esperado, o lugar parece um inferno, com música eletrônica
tocando em volume ensurdecedor, várias pessoas dançando e muitas outras
consumindo drogas.
Assim como na festa de Cassius, a cocaína está alinhada em
algumas mesas, disponível para quem quiser usar.
Apesar da noite estar fria, a maioria das pessoas está vestindo
apenas trajes de banho.
CAPÍTULO 15

Ruby

Cassius e eu circulamos de mãos dadas entre os animados


convidados, a maioria dos quais cumprimenta Cassius como se fossem
velhos conhecidos.
Até que seu amigo Ralf corre em nossa direção, com a animação
evidente em seu rosto.
— Caralho! Você veio mesmo, irmão. — Eles se abraçam por um
instante. Após se separarem, Ralf olha para mim — Ora, se não é a gatinha
que estava servindo as mesas.
— Ralf, esta é Ruby. Minha amiga. — Cassius nos apresenta.
— Amiga, é? Não precisa mentir para um velho amigo.
— Feliz aniversário, Ralf. — falo timidamente.
— Obrigado. Eu queria me desculpar por ter passado dos limites
com você naquela noite. Se soubesse que você é amiga de Cassius, jamais
teria feito aquilo.
— Você não precisava ter feito mesmo se eu não fosse amiga dele.
Apenas por educação.
Ralf solta uma gargalhada descontraída.
— Cacete! Essa mina tem uma língua afiada, irmão. Acho que já
gosto dela.
— Bem feito. Isso é para você aprender a não sair por aí assediando
mulheres. — Cassius o repreende.
— Certo. Já aprendi a lição e já até me desculpei. — Ele passa o
braço sobre os ombros de Cassius e o conduz entre os convidados. Tenho a
impressão de que está tentando afastá-lo de mim, o que me incentiva a
segui-los — Você não vai acreditar na qualidade da droga que consegui para
esta noite. É das boas. Pura qualidade. — Ralf me lança um olhar de soslaio
enquanto fala perto do ouvido de Cassius.
Parece que ele já entendeu que Cassius estava comigo na noite em
que abandonou sua própria festa em Malibu.
Percebeu que posso influenciar o amigo a abandonar o vício. Ainda
assim, não entendo por que consideraria isso algo negativo.
Outros conhecidos de Cassius se aproximam, cumprimentando-o
animadamente, então sou obrigada a me afastar.
De onde estou, vejo Ralf espalhando algumas fileiras de cocaína
sobre uma mesa, usando um cartão de crédito para organizá-las. Em
seguida, ele utiliza um canudo metálico para cheirar e oferece a Cassius.
Meu coração falha uma batida ao ver sua hesitação, sua maneira
nervosa de brincar com os dedos, como se lutasse internamente para se
controlar e resistir ao vício.
Não consigo mais assistir. Não quero vê-lo consumindo uma
substância tão nociva. Então, simplesmente dou as costas e vou para longe.
Perambulo entre os convidados por um momento e me recosto em
um canto. Sinto-me deslocada, já que não conheço ninguém ali.
Minha vontade é ir embora, mas não posso deixar Cassius para trás,
no meio dessa atmosfera de perdição.
E mesmo que pudesse, não teria dinheiro para pegar um táxi de
volta.
Pouco tempo depois, um bêbado se aproxima de onde estou.
Sua aparência remete ao típico vagabundo desocupado e drogado,
usando uma bermuda folgada que vai abaixo dos joelhos, camiseta sem
mangas e um boné virado para trás, com os cabelos mal cortados escapando
por baixo.
— O que uma garota bonita como você faz aqui sozinha?
Era só o que me faltava!
— Estou esperando alguém.
— Posso esperar com você?
— Não.
Em vez de me atender e se afastar, ele se aproxima mais e estende a
mão.
— Sou Jeffrey.
Não aperto sua mão.
— Como vai, Jeffrey?
— Não precisa ter medo de mim. Todo mundo aqui é de boa.
— Acredite, não tenho medo de você.
— Está gostando da festa?
— Não muito.
— Posso te levar para conhecer a casa. Pode ser mais divertido.
Vem comigo.
— Não é necessário. Obrigada.
Sua mão se fecha em volta do meu pulso, e ele começa a me puxar
em direção à entrada da casa.
— Não precisa ter medo de mim. Não vou fazer nada que você não
queira.
— Me solta, porra!
Ele continua me puxando, enquanto luto para me soltar. Até que
perco minha paciência e parto para cima dele.
Lembro das aulas de defesa pessoal que tive na escola e pulo diante
do estrupício.
Com um golpe rápido e violento do meu joelho, acerto-o bem no
meio das pernas, onde posso machucá-lo mais, fazendo com que ele me
solte e se incline para a frente, cobrindo suas partes íntimas com as mãos e
gritando de dor.
— Eu disse para me soltar, idiota!
Dito isso, afasto-me dele o mais rapidamente possível, caminhando
entre os convidados em direção à saída, com a raiva fervendo em minhas
veias.
Mesmo que eu tenha que ir a pé daqui até Malibu, vou embora agora
mesmo.
Como Cassius ousa me trazer para o meio desse bando de drogados
e tarados filhos da mãe?! Eu posso ser pobre, mas essa gente sim é que é
uma gentinha.
Caminho apressadamente em direção à saída, minha raiva
alimentando cada passo que dou.
Sinto-me traída por Cassius, por ter me trazido para esse ambiente
perigoso e decadente.
Enquanto me afasto, uma voz familiar chama meu nome. Olho para
trás e vejo Cassius correndo em minha direção, com uma expressão de
preocupação no rosto.
Ele se aproxima e tenta segurar meu braço, mas eu me afasto.
— Ruby, espere! Por favor, deixe-me explicar. Não era para ser
assim.
Meu coração está cheio de ressentimento, mas uma parte de mim
ainda se importa com ele.
Respiro fundo e decido dar uma chance para que ele se explique.
— Tudo bem, fale. Mas seja rápido.
Cassius olha ao redor, como se estivesse preocupado com alguém ou
algo que pudesse nos ouvir. Então, em um sussurro tenso, ele começa a
falar.
— Ruby, eu não queria trazê-la para esta festa. Eu sabia que seria
um ambiente terrível, mas Ralf é meu amigo de longa data e eu precisava
estar presente no seu aniversário.
Suas palavras me deixam ainda mais furiosa.
— Porra nenhuma! Você quis vir aqui pra se drogar! E agora que
conseguiu o que queria, fique aí, continue se matando com essa porcaria. Eu
estou fora!
Tento me afastar, ele novamente me segura.
— Espere! Você acha que me droguei? Isso não é verdade!
— Vai me dizer que não estava cheirando até agora com essa
turminha? Fala sério! Não sou idiota!
— Eu não estava! Não vou negar que quase não consegui resistir,
mas no fim acabei não cedendo à tentação. Acredita em mim.
Fico momentaneamente em silêncio, olhando para ele com
desconfiança.
A parte racional de mim quer acreditar em suas palavras, quer
acreditar que ele resistiu à tentação e que está tentando se afastar desse
caminho autodestrutivo.
Mas a raiva e a frustração ainda estão fervendo em meu peito,
tornando difícil confiar plenamente nele.
— Cassius, eu vi você hesitar quando Ralf ofereceu a droga. Vi a
luta interna que estava acontecendo dentro de você. Como posso acreditar
que você não cedeu no final? — Minha voz está cheia de desapontamento.
Ele olha para baixo, parecendo triste e envergonhado, o que faz com
que meu coração se rasgue no peito.
Não suporto vê-lo assim, tão perdido e vulnerável. Se houvesse uma
forma de arrancar do seu peito toda a dor que o impulsiona ao vício, eu o
faria.
— Eu entendo que é difícil acreditar em mim agora, mas eu juro,
Ruby, eu não usei drogas hoje. Eu estou lutando contra isso, lutando para
me livrar desse vício.
As palavras dele mexem comigo. Vejo a sinceridade em seus olhos
e, aos poucos, a raiva começa a ceder espaço para a paixão.
Eu acredito nele, com todo o meu coração.
— Tudo bem. Desculpe ter te acusado. Estou furiosa com tudo isso.
Com um único passo, ele elimina a distância entre nós e me envolve
em seus braços fortes, dando-me ainda mais certeza de que está falando a
verdade.
— Me desculpe ter te trazido aqui.
— Por favor me tira daqui.
Subitamente lembro-me do tarado no qual bati e olho na direção de
onde ele estava. Posso enxergá-lo de longe, junto com dois amigos, me
procurando entre os convidados.
Droga! Precisamos sair daqui o mais rápido possível.
— Vamos logo. Não podemos ficar aqui.
— Por quê. O que houve?
— Eu meio que dei um chute nas partes íntimas de um tarado que
me assediou e acho que ele está me procurando. Vamos indo.
Faço menção de seguir rumo à saída, esperando que Cassius me
siga, mas não acontece. Ao invés de vir atrás de mim, ele se vira rumo à
festa.
Só me faltava ele se meter numa briga por minha causa.
— Quem é o safado? Vou ensiná-lo a respeitar minha garota!
— Não quero que brigue por minha causa. Por favor, vamos sair
daqui. Apenas não me traga mais a um ambiente como esse.
Meu tom de voz é de súplica e ele percebe. Ainda assim reluta,
percorrendo os olhos em volta, tentando decifrar qual dos convidados está à
minha procura e dou graças a Deus que o tal do Jeffrey foi me procurar do
outro lado.
CAPÍTULO 16

Ruby

— Por favor. Vamos embora daqui.


Por fim, Cassius me atende e deixamos a casa.
Do lado de fora, o silêncio e a quietude da noite contrastam com a
barulheira lá dentro.
Caminhamos lado a lado, em meio aos veículos caros, em direção ao
local onde está o jaguar dele.
— Então quer dizer que você chutou as partes íntimas de um tarado?
— Cassius diz, enquanto se esforça para conter o riso.
Ele está se divertindo com a situação.
— Pois é. As aulas de defesa pessoal que tive na escola de vez em
quando são úteis.
— Eu não me lembro de ter tido essas aulas. Em que escola você
estudou?
— Na escola pública, onde estudam os filhos dos empregados.
— Aparentemente é melhor do que a escola dos ricos.
Ele sorri alto, tão descontraidamente que me contagia e acabo
sorrindo também.
É satisfatório vê-lo tratando as diferenças que existem entre nós com
tamanha naturalidade e leveza, embora eu saiba que é questão de tempo até
essas diferenças começarem a pesar em nossas vidas.
Entramos no jaguar e Cassius precisa fazer várias manobras para
conseguir sair do estacionamento.
Quando para às margens da rua, esperando espaço para nos inserir
no trânsito, ouvimos o estampido ensurdecedor do que parece ser um tiro,
partindo de muito perto, ao mesmo tempo em que o vidro na janela do carro
se estilhaça.
A situação é tão surreal que tanto eu quanto Cassius demoramos um
segundo para processar o que está acontecendo.
Apenas quando outro tiro quebra o retrovisor do carro, bem ao lado
da cabeça dele, nos damos conta de que estamos sendo alvejados por um
atirador.
— Caramba! — Cassius rosna, dando partida no carro, bruscamente,
os pneus cantando no asfalto quando avançamos pela rua a uma velocidade
alta e perigosa.
— O que está havendo? — indago, com meu coração disparado por
causa da adrenalina.
— Estão atirando em nós.
— Isso eu já percebi. Mas quem?
— Não tenho ideia. Está vendo se alguém nos segue?
Avançamos pela rua desprovida de tráfego em altíssima velocidade.
Olho pelo retrovisor, à procura de algum carro que possa estar atrás de nós,
mas não vejo nada, além de uma moto.
— Não tem ninguém nos seguindo.
Mal fecho a boca e outro tiro atinge o carro, desta vez estilhaçando
o vidro de trás, e um grito agudo salta da minha garganta.
— Caralho! — Cassius esbraveja, tenso, sobressaltado,
Ele segura o volante com tamanha força que os nós dos seus dedos
estão ficando brancos, sua atenção concentrada na rua diante de nós.
— É a moto! — grito — É o cara da moto que está nos seguindo.
— Consigo vê-lo. Está perto e vai atirar de novo. Droga! Abaixe-se
e ligue para a polícia. Diga onde estamos e a descrição dos dois veículos.
Faço o que ele diz, espremendo-me no espaço apertado entre o
assento e o painel do carro.
Pego o celular da bolsa, mal conseguindo segurá-lo devido ao
tremor em minhas mãos, e ligo para a emergência, relatando tudo o que está
acontecendo, assim como nossa localização.
Alguns quarteirões adiante, outro tiro atinge o carro, desta vez na
lataria esquerda.
Meu coração desce para o estômago quando constato que Cassius
pode ser atingido a qualquer momento, pois as balas estão passando muito
perto dele, como se fossem direcionadas especificamente para ele.
Meu Deus! Não! Não permita que ele seja baleado.
Como se em busca de espaço para correr e se afastar do atirador,
Cassius pega a rua que leva à autoestrada e logo estamos nela, a velocidade
do carro subindo ainda mais, deixando a moto um pouco para trás.
Mas é questão de tempo até que o motoqueiro esteja em nosso
encalço novamente. O sujeito está mesmo muito determinado a acabar com
a gente.
Alguns quilômetros adiante, ele volta a atirar, desta vez acertando
um dos pneus, fazendo com que o jaguar perca velocidade.
Meu Deus!
Percebendo que isso pode nos parar, ele atinge outros pneus e o
carro perde sua capacidade de se locomover, o que obriga Cassius a afastá-
lo para o acostamento e parar.
Meu Deus! Não!
Saltamos e tentamos correr para o mato, mas é tarde. O motoqueiro
para sua moto atrás de nós e aponta seu revólver diretamente para a cabeça
de Cassius, enquanto se livra do seu capacete.
Ele grita algo em um idioma que não compreendo e na mesma hora
Cassius levanta suas mãos no ar, incentivando-me a fazer o mesmo.
O atirador é um jovem rapaz, não deve ter mais que dezoito anos.
Tem a pele morena e possui traços asiáticos, não como os japoneses, mas
como os indonésios.
Novamente ele esbraveja algo em seu idioma e Cassius responde na
mesma língua. Ambos enveredam em uma discussão acirrada, sem que eu
entenda nada do que estão dizendo.
Até que a palavra Bali é mencionada por um deles e sei que isso está
relacionado com o que aconteceu com Cassius naquele país.
Meu Deus, não deixe que ele seja morto!
— Por favor, não atire. Vamos conversar, resolver as coisas com
calma. — tento.
O sujeito crava seu olhar em mim, ao mesmo tempo em que
continua mantendo a arma apontada diretamente para Cassius, e começa a
falar com um inglês muito arranhado.
— Você não deveria andar com esse tipo de gente, moça. Ele matou
uma vez, pode matar de novo. Você pode ser a próxima vítima.
Um estremecimento varre meu corpo e impulsivamente olho para
Cassius, que não me encara de volta.
— Ele tem razão. Você não deveria andar comigo. — Cassius diz,
seu olhar fixo no atirador — Se vai me matar, acabe logo com isso! Mas
deixe ela em paz.
— Não! — Agindo mais uma vez por impulso, coloco-me na frente
de Cassius, entre ele e o atirador — Por favor, não faça isso. Ele é inocente.
— Ele não é inocente.
— Ele está certo, Ruby. Saia da frente.
Cassius tenta me afastar, mas estou obstinada e não saio. Ele me
empurra tão forte para um lado, que por pouco não caio no chão.
É nesse instante que duas viaturas da polícia param perto do jaguar,
cantando pneus no asfalto, uma de cada lado, e os policiais saltam com uma
rapidez impressionante, cerca de meia dúzia de homens, todos armados,
apontando os canos de suas armas para o jovem atirador.
— Solte sua arma agora mesmo e coloque suas mãos para cima!
O rapaz não obedece. Continua apontando o revólver para a cabeça
de Cassius e esbravejando palavras em seu idioma incompreensível,
enquanto meu coração ameaça seriamente parar de bater.
A tensão no ar é palpável. Os policiais mantêm suas armas
apontadas, prontos para agir, enquanto tentam se comunicar com o jovem
atirador.
Eu observo a situação com meu coração espremido, desejando que
tudo acabe bem, que ninguém saia ferido.
Cassius permanece imóvel, com as mãos no ar, encarando o rapaz
com olhos determinados.
— Abaixe a arma agora! Ou vamos atirar. — O policial volta a
gritar e Cassius diz algo no idioma do rapaz, aparentemente explicando-lhe
o que foi dito.
Ambos trocam mais algumas palavras tensas, até que, gradualmente,
o rapaz abaixa a arma e levanta as mãos lentamente.
Os policiais se aproximam cautelosos e o desarmam, garantindo que
ele não ofereça mais perigo.
Cassius solta um suspiro de alívio e eu corro em sua direção. Ele me
envolve em um abraço apertado, e eu retribuo o gesto com igual
intensidade.
A adrenalina ainda corre em minhas veias, mas agora estou grata
por estarmos vivos e a salvo.
CAPÍTULO 17

Ruby

Após conduzirem o rapaz algemado e coletarem nossas


informações, os policiais finalmente nos liberam.
Já passa das três da manhã quando chegamos a Malibu. Cassius
estaciona o carro, quase totalmente destruído pelos tiros, na mesma esquina
onde nos encontramos no início da noite.
Durante todo o percurso de Los Angeles até aqui, ele permaneceu
calado, e agora as palavras continuam a lhe faltar.
O silêncio dentro do carro é quase palpável.
Finalmente, decido perguntar o que está em minha mente:
— Aquele rapaz é de Bali, não é?
Cassius confirma.
— Sim.
Curiosa, insisto.
— Você vai me contar o que aconteceu com você naquele verão?
Ele mantém seu olhar fixo em suas mãos, seu rosto revelando uma
profunda dor.
— Eu não posso. — responde.
Sem entender, questiono.
— E por que não?
Ele me encara com tristeza nos olhos.
— Porque, se eu te contar, você nunca mais vai olhar para mim da
mesma forma.
Tento imaginar todas as possíveis atrocidades que ele poderia ter
cometido naquele lugar, o que teria deixado alguém tão furioso a ponto de
atravessar o oceano para tentar assassiná-lo.
No entanto, minha mente fica vazia. Não consigo imaginar Cassius
fazendo algo tão terrível. Ele não é esse tipo de pessoa. É um homem bom e
íntegro.
O fato de estar usando drogas é apenas um momento passageiro,
uma forma que ele encontrou para entorpecer sua dor.
— Você não pode ter feito algo tão horrível. Você é uma pessoa boa.
— expresso minha convicção.
Ele balança a cabeça, sua expressão angustiada.
— Não sou tão bom como você pensa.
— Então me conte, e eu julgarei se você é tão horrível assim.
Mais sério, ele balança a cabeça novamente antes de me encarar.
— Ruby, o que aconteceu hoje não foi um incidente isolado. Eles
vão tentar de novo. E é por isso que você precisa se afastar de mim. Não
posso sequer imaginar que algo possa acontecer com você por minha causa.
Meu coração afunda para o estômago. No mesmo instante,
questiono se ele está realmente preocupado comigo ou se está usando a
situação como uma oportunidade para se afastar da filha da empregada,
agora que já obteve tudo o que queria de mim.
Seja qual for a resposta, a dor me tortura, pois não quero ficar sem
ele. Não tão cedo. Ainda temos quase um mês antes de eu ir para a
faculdade. Quero viver esses momentos antes de dizer adeus.
— Eu não quero me afastar de você. — confesso.
— Eu também não. Essas semanas que passamos juntos foram as
melhores da minha vida em muito tempo. Mas é necessário. Não vou
colocar sua vida em risco, e essa é uma decisão definitiva.
O que mais posso dizer? Cassius está determinado a me afastar, e
não há nada que eu possa fazer para convencê-lo do contrário. Nossa breve
história chega ao fim.
Uma enxurrada de lágrimas se forma em meus olhos, e preciso
piscar várias vezes para contê-las.
Não vou chorar na frente dele e deixá-lo saber a quão desesperada
estou pelo seu amor. Seria humilhante.
— Está bem, se é isso que você quer. — resigno-me.
Ele segura meu queixo e aproxima seu rosto do meu.
— Não é o que eu queira. É o que precisa ser feito. Essas pessoas
virão atrás de mim novamente, e não vou colocar sua vida em risco.
— E você diz isso com toda essa naturalidade? Você precisa se
precaver, contratar seguranças.
— Não vou sair por aí com um bando de segurança atrás de mim.
— E o que você vai fazer? Deixar que eles te matem?
— Não quero mais falar sobre isto.
Dito isso, ele me puxa para si e nossos lábios se encontram num
beijo longo, profundo e apaixonado. Meu corpo se incendeia de desejo, meu
coração martela no peito.
Em seguida, ele me solta e observa meu rosto em silêncio por um
longo momento, como se tentasse memorizar cada detalhe de meus traços.
— Vá na frente. Ficarei aqui te observando até você entrar. — Ele
diz.
Assinto com a cabeça e saio do carro.
Sozinha, finalmente permito que as lágrimas caiam, banhando meu
rosto abundantemente.
Com o coração partido, caminho em direção aos portões da mansão.
Cada passo parece mais pesado do que o anterior, enquanto as lembranças
dos momentos felizes com Cassius se misturam com a dor da despedida
iminente.
Ao abrir a porta da minha pequena casa, encontro minha mãe
preocupada, de pé na sala, usando um roupão, me esperando a essa hora.
Seu rosto se ilumina com um sorriso ao me ver, mas rapidamente se
transforma em uma expressão de surpresa e preocupação ao notar minhas
lágrimas.
— Querida, o que aconteceu? Onde você estava? — ela pergunta, se
aproximando rapidamente.
Eu não consigo conter a dor que sinto e me jogo nos braços da
minha mãe, soluçando incontrolavelmente.
Ela me envolve em um abraço apertado, acolhendo minha tristeza.
— Oh, minha querida, me conte o que houve. Estou aqui para você.
— Sua voz é cheia de compaixão e conforto.
Entre soluços, desabafo sobre os acontecimentos da noite, desde o
ataque do atirador até o doloroso adeus com Cassius.
Minha mãe me escuta atentamente. Fica horrorizada e ainda mais
preocupada depois da minha narrativa.
— Ruby, sinto muito que você esteja passando por isso. Parece uma
situação terrível, mas você precisa se lembrar de que merece ser amada e
respeitada. Se Cassius está determinado a se afastar, talvez seja melhor
assim.
Eu fungo e limpo as lágrimas do rosto, olhando para minha mãe
com olhos vermelhos e inchados.
— Mas, mãe, eu o amo. Não sei como vou suportar a ideia de não
estar com ele novamente. Sinto como se algo estivesse sendo arrancado de
mim.
Minha mãe segura meu rosto gentilmente entre suas mãos e olha
profundamente nos meus olhos.
— O amor é um sentimento poderoso, minha querida, mas também
precisamos cuidar de nós mesmos. Às vezes, as circunstâncias nos forçam a
tomar decisões difíceis para proteger aqueles que amamos. Confie em
Cassius e no que ele acredita ser o melhor para vocês dois. O que nós
precisamos fazer agora é contar para os pais dele que tem alguém tentando
matá-lo, para que ajudem a protegê-lo.
— Não, mãe. Ele jamais me perdoaria se eu falasse sobre isso com
seus pais.
— Não é mais questão de perdoar ou não. Essa situação é muito
grave.
— Não podemos falar. Não quero que ele me odeie. — Solto um
soluço e minha mãe me abraça apertado.
— Tudo bem, meu amor. Se você não quer, não falaremos. Agora se
acalme. Você é jovem, terá oportunidades infinitas de conhecer alguém que
a ame acima de tudo mais.
Apesar do sofrimento persistente, as palavras reconfortantes da
minha mãe encontram um eco dentro de mim.
Ela está certa. Talvez, no meio desse caos, Cassius esteja tentando
me proteger de algo que não compreendo completamente.
Enxugo as lágrimas restantes e respiro fundo, encontrando forças
para enfrentar a dor da despedida e me concentrar em cuidar de mim
mesma.
CAPÍTULO 18

Ruby

Era mais fácil viver sem Cassius antes de conhecê-lo mais


profundamente. A cada dia, a ausência dele se torna uma verdadeira tortura,
agravada pelo fato de nos cruzarmos ocasionalmente na propriedade.
Se a fazenda da minha tia no Arkansas não fosse tão isolada e
decadente, eu me arriscaria a passar o restante do verão lá, apenas para
evitar vê-lo novamente.
Embora tenhamos estabelecido silenciosamente uma rotina na qual
não precisamos nos encontrar todos os dias, ainda o vejo ocasionalmente.
São momentos em que tenho que fingir que está tudo bem, que não sinto
mais nada por ele.
Os piores são quando o observo saindo de casa à noite, todo
arrumado, indo para alguma festa na cidade.
Fico angustiada ao vê-lo sair, ciente de que pode estar se
envolvendo com álcool e drogas novamente.
Além disso, a angústia aumenta quando penso na possibilidade de
que o atirador possa escapar da prisão e voltar a ameaçá-lo.
Às vezes, sinto vontade de contar tudo para os pais de Cassius, para
que possam protegê-lo, como minha mãe sugeriu.
No entanto, não posso trair a confiança que ele depositou em mim.
Somos apenas eu, minha mãe e a polícia que sabemos o que
realmente aconteceu naquela noite. Cassius nem mesmo revelou para sua
própria família que fomos alvejados por um louco armado.
A situação é delicada e cheia de segredos.
É noite de sábado, enquanto estou sozinha em meu quarto assistindo
séries, meu celular toca. É Jessica, que me convida para sair há dias, mas
tenho recusado devido ao meu estado emocional abalado.
Hoje ela está insistindo para que eu vá a um luau em Huntington
Beach, onde estaremos celebrando o sucesso de Riley, que conseguiu seu
primeiro papel em um filme após muita luta.
— Nem ouse dizer que não vai vir para o luau. Eu sou capaz de
roubar um carro e ir te buscar pessoalmente em Malibu. — Ela diz assim
que atendo.
— Não me entenda mal, mas não estou com vontade de sair hoje.
— Só hoje? Parece que você não tem vontade de sair há muito
tempo. O que está acontecendo com você, garota?
— Nada. Só não estou com disposição para sair de casa.
— Eu sei o que é isso. Você está assim por causa de Cassius. Mas
você precisa reagir. Tenho certeza de que ele nem lembra da sua existência
enquanto está se divertindo com aquele grupo de pessoas problemáticas.
Suas palavras me atingem como golpes.
— Eu sei que ele nem se lembra de mim.
Jessica suspira.
— Desculpe por ter sido tão dura. Mas você precisa encarar a
realidade e sair desse estado de sofrimento. O que vocês tiveram foi bonito,
mas acabou. Você sempre soube que seria assim. É hora de superar e
seguir em frente.
— Não é apenas por falta de vontade que não quero ir. Eu não me
sinto bem. Tenho sentido náuseas ultimamente. Acho que talvez tenha
comido algo estragado novamente.
— Você usou essa desculpa há três dias para não ir ao cinema
conosco. Está ficando repetitiva.
— Não é desculpa. Realmente tenho sentido náuseas. É um
desconforto constante.
Jessica solta um grito.
— Caramba! Você está grávida, garota!
— Você está louca? Não diga essas coisas.
— Foi assim com a Emma, aquela garota do segundo ano.
Começou com náuseas e depois descobriu que estava grávida. Parabéns,
você será mãe!
— Isso é impossível. Usei preservativos com Cassius.
— Exceto na primeira vez que vocês ficaram juntos, lembra?
Meu Deus! Ela está certa. Na primeira vez, não nos protegemos.
Estávamos ambos embriagados, Cassius de uísque e eu de paixão.
Puta merda!
— Meu Deus! Se isso for verdade, a Sra. Kensington vai dizer que
engravidei de propósito para obter dinheiro dele.
— E daí? Não se importe com o que essa mulher pensa. Você não é
esse tipo de pessoa. Antes de tirar conclusões, você precisa ter certeza. Sua
menstruação está atrasada?
Caramba!
— Agora que você mencionou, percebo que estou atrasada há
semanas. Puta merda!
— Não vamos entrar em pânico. Antes de mais nada, você precisa
fazer um teste. Venha para o luau hoje, durma na minha casa e amanhã eu
te ajudarei com isso.
— Está bem. Estarei aí em breve.
— Até mais tarde.
Encerramos a ligação.
Com a mente agitada com a possibilidade de estar grávida, tomo um
banho rápido e me visto. Sem energia para me produzir, coloco um simples
vestido de algodão, longo, estampado e com alças finas.
Olhando-me no espelho, entro em pânico ao notar que meus seios
estão maiores. O teste de gravidez parece quase desnecessário. Tenho quase
certeza de que estou esperando um filho de Cassius.
Meu Deus! Como vou contar isso aos meus pais? Como vou seguir
adiante se Cassius pensar como a Sra. Kensington e acreditar que planejei
engravidar para obter uma boa pensão?
Não vou suportar se ele me acusar de ser interesseira.
Após chamar um táxi, aviso minha mãe que estou saindo de casa e
deixo a pequena moradia.
Enquanto atravesso o jardim, ouço gritos vindos dos fundos da
mansão. Olho naquela direção e vejo Cassius saindo pela porta, dirigindo-se
à garagem, enquanto a Sra. Kensington o segue, repreendendo-o, tentando
impedi-lo de sair de casa.
Ela parece genuinamente desesperada, o que me leva a acreditar que
ele voltou a se envolver com drogas.
Minha nossa!
Percebo o quanto ele está diferente, usando uma jaqueta de couro
preta, com os cabelos arrumados de maneira que os deixam arrepiados e a
barba totalmente raspada. Ele parece um roqueiro drogado, mas ainda
consegue ser lindo o suficiente para acelerar meu coração.
Ao me notar, ele para e mantém seus olhos fixos em mim, o que me
faz acelerar meus passos em direção à saída e desaparecer de sua vista.
No caminho para o luau em Huntington Beach, minha mente está
em tumulto. A possibilidade de estar grávida de Cassius me assombra,
misturando-se à dor de vê-lo em um estado tão perturbado.
Não consigo parar de me preocupar com seu bem-estar, mesmo que
uma parte de mim saiba que preciso me afastar dele para superar nossas
experiências passadas.
Ao chegar ao luau, sou imediatamente envolvida pela atmosfera
festiva. Há música, dança e pessoas se divertindo ao redor das fogueiras na
praia. Jessica me recebe com um abraço apertado e tenta me animar, mas
minha mente está longe dali.
Enquanto a noite avança, tento me distrair, conversando com outras
pessoas e até mesmo participando de algumas danças. Mas Cassius continua
a assombrar meus pensamentos. Eu o vejo em cada rosto desconhecido, em
cada sombra que se movimenta.
Ainda assim, decido aproveitar o resto da noite no luau para distrair
minha mente e encontrar um pouco de alegria em meio a todo o caos
emocional.
Jessica me apresenta a outras pessoas, e gradualmente começo a me
soltar e me divertir. Por alguns momentos, consigo me permitir esquecer de
todos os problemas e apenas aproveitar a companhia dos novos amigos.
Enquanto danço ao som de uma música animada, sinto-me
momentaneamente livre das preocupações.
O ritmo me envolve, e eu me deixo levar pela energia contagiante
do luau. É uma pausa necessária em meio ao turbilhão de emoções que
tenho enfrentado.
No entanto, no fundo, sei que a realidade não pode ser adiada por
muito tempo. Eventualmente, terei que enfrentar as consequências das
minhas ações e tomar decisões difíceis.
Mas, por enquanto, vou aproveitar esse momento de liberdade e
escapismo, mesmo que seja temporário.
Enquanto danço sob o brilho das estrelas e o som das ondas
quebrando na praia, tento esquecer as preocupações e viver o presente.
Neste instante fugaz, consigo encontrar um breve alívio para minha
alma atribulada.
CAPÍTULO 19

Ruby

Em meio a esse momento de descontração, presto mais atenção em


Jared, um universitário que Jessica me apresentou assim que cheguei.
Ele é inteligente, mais maduro do que os caras do colégio, e está
dançando com muito charme diante de mim, de um jeito que não consigo
ignorar.
Além disso, ele foi o único aqui que percebeu o quanto estou
emocionalmente abalada.
— Você quer se sentar um pouco? — Ele me convida, após o
término de uma música agitada, que dançamos juntos.
— Claro. É tudo o que eu quero agora.
Não protesto quando ele segura minha mão e me deixo ser
conduzida pelas areias da praia, afastando-nos do barulho e da agitação.
Ao chegarmos a um ponto mais isolado da praia, onde o som da
música é quase inaudível, sentamos na areia fofa, de frente para o mar
tranquilo naquela noite quente.
— Tenho vontade de congelar o tempo quando penso que o verão
está acabando. — Ele comenta.
— Por quê? Não gosta da faculdade?
Ele sorri.
— Eu gosto sim. Mas nada se compara a essa sensação de liberdade
de poder fazer o que quero, quando quero, que só temos durante as férias.
— Deve ser mesmo agitado na faculdade, pelo jeito que você fala.
— Nossa, daqui a pouco vou te fazer ter medo de ir para a
universidade.
É a minha vez de sorrir.
— Não vou desistir de algo pelo qual lutei a vida toda.
A menos que eu esteja grávida.
O pensamento surge simultaneamente a um estremecimento que
percorre todo o meu corpo.
Uma gravidez agora arruinaria todos os meus planos para o futuro,
cancelaria todo o esforço dos meus pais para me manter na escola.
Meu Deus! Por favor, não deixe que eu esteja grávida.
— Você está bem? — Jared pergunta, preocupado.
— Sim, só um pouco nervosa.
— Com a faculdade?
— Mais ou menos.
— Não precisa se preocupar. Você é inteligente, vai encontrar
pessoas com o mesmo nível intelectual e se dar muito bem com elas. Fique
tranquila.
— Não é exatamente isso que está me preocupando.
— O que está te incomodando, então?
Antes que eu consiga responder, um grito agudo, meio histérico,
ecoa da direção da festa, e logo vejo Riley correndo em nossa direção pela
areia.
— Garota, por que você está aqui escondida? — ela pergunta,
eufórica.
— Não estou escondida. Apenas descansando um pouco.
— Você não vai acreditar quem acabou de chegar ao luau.
Com toda a empolgação dela, começo a pensar que pode ser o
Taylor Lautner.
— Quem é?
— O Cassius Kensington, pessoalmente!
As palavras dela me deixam agitada, meu coração quase saindo pela
boca. Estou prestes a me levantar e ir até lá falar com ele, quando percebo
que ele não está aqui por minha causa.
Cassius deixou claro que precisávamos ficar afastados. Ele não viria
a um evento para me encontrar. Certamente, sua presença neste mesmo luau
é apenas uma coincidência.
— E por que você acha que isso é importante para mim?
— Você não ouviu o que eu disse? Cassius está no luau!
— Ele não está aqui por minha causa. — afirmo, com tristeza —
Deve ser pura coincidência.
— Claro que não! Com tantas praias, ele não poderia ter vindo parar
aqui!
— Acredite, ele não sabe que estou aqui.
Riley fica confusa, sem entender. Sendo romântica como é, ela
continuará acreditando que Cassius veio até aqui para me procurar,
enquanto a verdade é que ele me vê praticamente todos os dias em sua casa
e mesmo assim não fala comigo.
— Você que sabe. Eu vou voltar para a festa. Com licença.
Com isso, ela vira as costas e volta correndo pelo mesmo caminho.
— É seu namorado? — Jared pergunta.
— Eu não tenho namorado. Ele é apenas um idiota com quem saí
algumas vezes.
— Quando uma garota fala assim de um cara com quem saiu,
geralmente há uma história mal resolvida.
— Não é o meu caso. Podemos mudar de assunto?
— Claro. Sobre o que você quer falar?
Voltamos a conversar sobre a faculdade e minha partida para
Washington, sem que eu consiga me concentrar muito no assunto.
Ainda um pouco agitada com a notícia da presença de Cassius no
luau, tento disfarçar meus sentimentos e retomar a conversa com Jared
sobre assuntos mais leves.
Falamos sobre nossos planos para a faculdade e minha mudança
para Washington, mas minha mente continua voltando a Cassius e à
possibilidade de ele estar ali por minha causa.
Enquanto tento manter o foco na conversa, sinto uma presença se
aproximando por trás de mim. Antes mesmo de me virar, reconheço o
perfume de Cassius, que desperta em mim uma mistura de nervosismo e
expectativa.
— Estou atrapalhando algo? — A voz profunda e poderosa de
Cassius alcança meus ouvidos, vindo de muito perto.
No instante seguinte, ele está sentado na areia ao meu lado, tão
próximo que seu braço roça suavemente no meu, enviando uma corrente
elétrica pelo meu corpo e fazendo meu coração acelerar no peito.
Ao olhar em seus olhos, percebo que ele não está completamente
sóbrio, embora também não pareça completamente drogado.
— Está sim. — Jared responde, bruscamente.
— Eu não perguntei a você, mas sim a ela. — Cassius retruca no
mesmo tom.
O clima tenso entre Jared e Cassius se intensifica, criando uma
atmosfera desconfortável ao nosso redor. Eu me viro para encarar Cassius,
tentando disfarçar minha surpresa e nervosismo diante de sua presença
inesperada.
— Não está interrompendo nada importante. Estávamos apenas
conversando. — Respondo, tentando manter a calma, embora meu coração
esteja acelerado.
Cassius olha para Jared com uma expressão desafiadora, e um breve
silêncio paira sobre nós. Finalmente, Jared suspira e se levanta.
— Ok, acho que vou dar uma volta pela festa. Nos vemos depois,
Ruby. — Ele diz, lançando um último olhar de desaprovação a Cassius
antes de se afastar.
Fico em silêncio, observando Jared se distanciar, e me viro
novamente para Cassius. Seu olhar está fixo em mim, sua expressão séria e
carregada de uma mistura de sentimentos difíceis de decifrar.
— O que você está fazendo aqui? — Pergunto, tentando manter uma
postura firme.
Ele suspira, passando uma mão pelo cabelo bagunçado.
— Sinceramente, não sei. Eu não deveria estar aqui. Mas depois que
vi você saindo, não consegui parar de pensar que outro homem poderia se
aproximar de você. E veja só no que deu. Eu estava certo.
Sua acusação provoca uma onda de irritação que percorre todo o
meu corpo.
— Você estava errado. Nenhum homem se aproximou de mim. Jared
e eu estávamos apenas conversando.
— Isso porque eu cheguei a tempo.
— Como se você tivesse o direito de exigir lealdade de mim!
Especialmente você, que não fica em casa. Provavelmente se drogando e se
envolvendo com várias mulheres por aí.
— Sim, eu me drogo, embora não me orgulhe disso. Mas não durmo
com nenhuma mulher. Eu não quero mais ninguém além de você.
— Se me quisesse, não teria se afastado.
— Eu me afastei porque me preocupo com você e preciso te
proteger. Eu não aguentaria se algo ruim acontecesse a você por minha
causa. Era o que eu achava que era certo, ficar longe. Mas enlouqueci
quando vi você saindo. Não consigo controlar a paixão que sinto. Não
suporto a ideia de você com outro homem.
Fico em silêncio por um momento, processando as palavras de
Cassius. Seu rosto revela culpa, desejo e vulnerabilidade. Toda a irritação e
incerteza que eu sentia são substituídas pela paixão que pulsa em meu peito.
— Como você me encontrou aqui?
Ele pigarreia, parecendo um garoto prestes a confessar uma
travessura.
— Olhei nas câmeras de segurança da minha mãe e descobri a placa
do táxi que te trouxe. Depois, foi só perguntar ao taxista.
Solto uma gargalhada e ele sorri também.
— Você já pode considerar uma vaga no FBI.
— Quer dar uma volta?
— Pode ser.
Nos levantamos e caminhamos lentamente pela areia, afastando-nos
da festa.
Há tanto para ser dito, para ser explicado.
Quero saber sobre sua batalha contra o vício e a situação com o
atirador.
No entanto, todos esses assuntos parecem delicados e sérios demais
para serem discutidos em uma noite tão bonita e mágica.
Então, não falamos sobre nada além de amenidades.
CAPÍTULO 20

Ruby

Enquanto caminhamos pela praia, o som das ondas quebrando


suavemente ao nosso redor cria uma atmosfera tranquila e reconfortante. O
céu está repleto de estrelas cintilantes, e a brisa do mar acaricia nossos
rostos.
— É uma noite tão linda, não é? — comento, apreciando a
serenidade do momento.
Cassius sorri e assente.
— Sim, é como se todo o universo estivesse conspirando a nosso
favor, como se o tempo tivesse parado só para nós.
Nossos passos vagarosos nos levam a um lugar mais afastado da
festa, uma parte deserta da praia, parcialmente iluminado pelas luzes dos
postes que ficam na rua acima da encosta.
— Ruby, eu sei que as coisas entre nós ficaram complicadas. Eu me
afastei e isso te magoou. Me desculpe por isso. Eu só queria te proteger,
mesmo que tenha sido da maneira errada. Eu nunca quis te afastar de
verdade, porque você é tudo o que eu mais quero.
Seus olhos encontram os meus, cheios de sinceridade e
arrependimento.
— Eu queria dizer que entendo e que está tudo bem, mas me senti
tão magoada com sua distância e fico ainda mais triste vendo a forma como
você está agindo ultimamente, se entregando às drogas e ao álcool dessa
maneira.
— Foi a forma que encontrei de anestesiar a dor da sua distância,
assim como todas as outras dores que me atormentam. — Sua mão forte se
fecha em volta do meu pulso e ele me puxa para junto de si, seu calor
gostoso me acolhendo com conforto, sua outra mão se espalmando na
lateral da minha face — Me dá uma chance de consertar as coisas. Te dou
minha palavra de que continuarei lutando contra esse vício maldito e que
jamais te deixarei ficar longe de novo.
E como eu poderia dizer não? Eu o amo, mais do que qualquer outra
coisa na vida. Sou completamente louca por esse homem e vê-lo assim tão
vulnerável me torna ainda mais rendida a esse amor.
Sem desviar meus olhos dos seus, repouso minha mão sobre a sua.
— Sem mais mentiras e segredos?
— Sem mais mentiras e segredos.
— Então tudo bem.
Tão logo me silencio, seus lábios cobrem os meus em um beijo
profundo e demorado, nossas línguas dançando contra a do outro, seus
braços me envolvendo, despertando-me sensações ardentes, lascivas, que
me fazem perder o juízo e me esquecer de tudo mais à minha volta.
Com movimentos vagarosos, Cassius me segura em seus braços e
me deita com cuidado sobre a areia fofa. Coloca-se sobre mim e continua
devorando minha boca com a sua.
Logo seus lábios deslizam sobre a pele do meu pescoço, deixando
um rastro de brasas por onde passam.
Ele desliza as alças do meu vestido para baixo e coloca um dos
meus seios na boca, sugando com sofreguidão, as labaredas do tesão me
incendiando ferozmente, fazendo minha vagina latejar e molhar.
Enfio os dedos entre seus cabelos curtos e arqueio as costas quando
sua boca passa a chupar meu outro mamilo, ao mesmo tempo em que seus
dedos habilidosos invadem minha calcinha, tocando meu sexo lambuzado,
fazendo com que gemidos suaves escapem dos meus lábios.
Uma lufada de vento frio acaricia minha pele, lembrando-me de que
nos encontramos em um local público, a céu aberto, embora completamente
deserto. Mas eu não ligo. Não quero interromper o momento. Preciso de
Cassius dentro de mim com uma necessidade absurda.
Seus lábios macios deslizam sobre a minha pele, beijam meu ventre,
sua língua me acariciando e enlouquecendo.
Suas mãos sobem a saia do meu vestido, enroscando-a na minha
cintura e tiram minha calcinha. Seus olhos brilhantes observam minha
nudez e no momento seguinte seu rosto está entre minhas pernas.
— Ahhh... — solto um gemido alto quando sua língua deliciosa
move-se freneticamente sobre o meu clitóris, deixando-o inchado, todo
sensível.
Abro um pouco mais as pernas e afundo os dedos na areia morna,
enquanto ele continua me chupando tão deliciosamente que por pouco não
me leva à insanidade.
Cassius percebe quando estou prestes a gozar.
Ele introduz dois dedos na minha vagina, movimentando-os em um
frenético vai e vem, no mesmo ritmo em que sua língua dança sobre meu
ponto sensível e é assim que explodo, gozando e gemendo, me contorcendo
toda sobre a areia.
Quando a tempestade passa, ele se despe da sua calça, da cueca e da
jaqueta, ficando com apenas a camiseta de malha.
Coloca o preservativo e sobe em mim, encaixando seus quadris
entre minhas pernas e me penetrando gostoso, o pau grosso e duro como
uma pedra me preenchendo, estocando forte, me alcançando tão fundo e
delicioso que meus gemidos se transformam em gritos.
Nos amamos intensamente, sem nenhuma pressa para terminarmos,
sobre a areia fofa, com o céu estrelado como testemunha.
Depois, Cassius me leva para seu apartamento no centro da cidade.
Um lugar requintado e sofisticado, como a maioria dos imóveis que
pertencem aos Kensington.
Como se jamais nos sentíssemos saciados, continuamos nos braços
um do outro, nos amando loucamente, enquanto a noite avança.
Até que a exaustão nos vence e ficamos imóveis, nus e abraçados
sobre a cama.
O mais profundo silêncio toma conta do quarto. Uma atmosfera
tranquila de paz e sossego nos envolve gostosamente.
O clima de cumplicidade e intimidade que existe entre nós se amplia
e não permite mais espaço para segredos e mentiras. Está na hora de ele me
contar o que aconteceu durante aquele verão em Bali.
O que poderia ter levado aquele cara irreverente e feliz, por quem
me apaixonei quando ainda era criança, a se transformar em um viciado em
drogas?
Eu preciso saber.
Ele não pode mais continuar escondendo a verdade.
— O que aconteceu com você durante aquele verão em Bali? —
pergunto sem rodeios, depois do longo silêncio.
Sinto os músculos do seu corpo se enrijecendo de tensão.
— Prefiro não falar sobre isso.
— Mas eu preciso saber porque quase fui baleada por aquele louco.
Além do mais, você prometeu que não haveria mais segredos e mentiras.
Cassius suspira, resignado.
— Se eu te falar, você vai sair correndo daqui e nunca mais vai olhar
na minha cara.
— Isso sou eu quem decide.
Ele faz um longo momento de silêncio, receando tocar ou relembrar
o assunto. Até que por fim começa a falar.
— Eu estava de férias em Bali, como sempre me divertindo com
alguns amigos com quem não tenho mais contato. Alguns dias depois de
chegarmos lá, eu estava bêbado em um bar, quando conheci uma garota
nativa chamada Bulan. Naquela época eu não tinha juízo, só queria transar.
Quanto mais mulheres caíssem na minha rede melhor e ela era linda, cheia
de vida. — Sua voz treme na última frase.
— O que aconteceu depois?
— Ela disse que seus pais não aceitavam seu envolvimento com
turistas e mesmo assim decidimos enfrentar o perigo, indo dormir no quarto
dela, na casa onde morava com sua família. Na ocasião aquilo me pareceu
divertido.
— E vocês foram pegos.
— Ainda era madrugada quando o pai dela nos flagrou. Um cara
parrudo, muito forte e mal-encarado. Ele partiu pra cima de mim,
determinado a me matar. Logo apareceu o irmão dela e tive que lutar contra
os dois pela casa, enquanto tentava escapar. — Ele faz uma pausa, sua
fisionomia revelando uma dor absurda, o que me impulsiona a apertá-lo
mais fortemente entre meus braços, meu corpo nu aconchegando-se mais ao
seu calor — Em certo momento, enquanto me agrediam, eles me
arremessaram em cima de alguns galões de gasolina que estavam
amontoados em um canto. No desespero para não ser morto, abri um dos
galões e deixei a gasolina se espalhar pelo chão. Eles ainda tentaram me
impedir de acender o isqueiro, mas fui mais rápido e causei o incêndio.
— Meu Deus!
Cassius faz outro momento de silêncio, seu olhar angustiado e
reflexivo, como se buscasse as lembranças no fundo da sua memória.
— O fogo se espalhou depressa pela casa. Atingiu os outros galões
de gasolina e causou um grande incêndio. Achei que dois homens fortes e
ágeis, como eles, fossem capazes de apagar o fogo, enquanto eu fugia. Mas
eles não conseguiram e todos morreram. Bulan, seus pais e seus irmãos.
Seguindo a um impulso incontrolável, afasto-me dele subitamente,
como num reflexo. No entanto, logo recupero a sensatez e volto a me
aninhar junto ao seu corpo.
— Preciso admitir que foi um acontecimento terrível, mas não foi
sua culpa. Você agiu em legítima defesa. Não fez de caso pensado.
— É claro que foi minha culpa. Eu provoquei o incêndio. Por minha
causa, uma família inteira foi dizimada. Cinco pessoas morreram na casa
naquela noite. Não há um só dia da minha vida em que eu não pense neles,
em que a culpa e o remorso não me torturem. Já faz mais de dois anos que
aconteceu e eu ainda tenho pesadelos com aquelas pessoas, como se tivesse
acontecido ontem. Eu nem mesmo merecia estar vivo.
— Não fale assim. Você não tinha a intenção de matar ninguém. Foi
só um ato desesperado que você cometeu enquanto lutava pela sua vida.
Qualquer pessoa teria tido o mesmo reflexo para não morrer.
— Foi minha culpa. Se eu tivesse levado Bulan para outro lugar
naquela noite, ou mesmo não me envolvido com ela, todos eles ainda
estariam vivos.
— Agora entendo porque você se afundou nas drogas. A culpa está
te torturando durante todo esse tempo.
— A cocaína e o álcool são a única forma que encontrei de
anestesiar essa dor maldita. Mas nunca é suficiente. No dia seguinte,
quando estou sóbrio, as lembranças voltam a me assombrar.
— Como algo assim nunca saiu nos sites de notícias? Eu pesquisei
na época, não há nada em lugar nenhum.
— Minha mãe conseguiu subornar as pessoas certas e nenhuma
acusação recaiu sobre mim. Acho que nem os registros da minha passagem
por Bali naquela época existem mais.
— Quem mais sabe sobre isso, além da sua mãe?
— Meu pai e meus irmãos. Todos pensam como você. Acham que
não foi culpa minha.
— Porque de fato não foi. Você só estava se defendendo. Foi um
infeliz acidente.
— Foi minha culpa e nada nunca vai mudar isso.
— E o atirador que nos abordou, quem é?
— O irmão mais novo de Bulan. Ele e o irmão do meio eram só dois
adolescentes naquela época. Estavam em uma festa da escola naquela noite
maldita.
— Foi a primeira vez que um deles veio atrás de você?
— Não. Os dois tentaram tirar meu carro da estrada há alguns
meses, pouco antes da minha mãe me internar em uma clínica de
reabilitação. Agora um deles está preso e o outro continua por aí.
Um calafrio desce pela minha espinha.
— Sua família não sabe que eles estão tentando te matar?
— Não e espero que continuem sem saber.
— Você deveria contar pelo menos para sua mãe. Ela tem muita
influência. Pode te ajudar a se livrar deles.
— Se eu contar, minha mãe nunca mais vai dormir à noite, de tanta
preocupação. Além disso, eles têm todo o direito de querer acabar comigo.
Outro estremecimento varre meu corpo e subo em cima dele, minha
pele nua e suada em contato direto com a sua, o calor do desejo se
espalhando como folhas secas no outono.
Olho diretamente em seu rosto lindo e percebo mais uma vez o
quanto o amo, desesperadamente. Eu seria capaz de morrer se algo de ruim
lhe acontecesse.
— Não fale assim. Eu não sobreviveria se algo acontecesse a você.
As palmas de suas mãos deslizam sobre minhas coxas, avançando
pelo meu ventre e seios. Ele segura-me pela nuca e me puxa para baixo.
Nos vira na cama, colocando-se por cima de mim e toma minha boca em
beijo selvagem e faminto, seus quadris se aninhando entre minhas pernas,
sua ereção empurrando deliciosamente meu sexo encharcado.
— Nada vai me acontecer. Eu devo ter um anjo muito poderoso me
protegendo, para que aqueles dois ainda não tenham conseguido colocar as
mãos deles em mim.
Dito isto, ele volta a se silenciar, pressionando sua boca gostosa na
minha.
CAPÍTULO 20 (Parte 2)

Ruby

É dia quando acordo de um sono profundo e tranquilo. Ainda estou


aninhada nos braços de Cassius, que dorme profundamente, parecendo um
anjo.
Depois de tudo o que ele me revelou durante a noite, me sinto ainda
mais íntima e próxima dele, dominada pela certeza de que poderei ajudá-lo
a se recuperar do seu vício, já que agora conheço e entendo os seus
motivos.
Não deve estar sendo fácil para ele carregar uma culpa tão grande,
durante tanto tempo. Contudo, ele não está sozinho nisso.
Agora tem a mim para tentar fazê-lo enxergar que tudo não passou
de um trágico e infeliz acidente.
Um ataque de náusea repentino me faz saltar da cama e correr em
disparada para o banheiro. Mal tenho tempo de me abaixar ao lado do vaso
sanitário, antes que o vômito venha, fétido e azedo.
Vomito tudo o que tenho e até o que não tenho no estômago, o que
me faz lembrar da possibilidade de estar grávida e da urgência em fazer um
teste de farmácia para ter certeza.
Após o vômito, escovo os dentes e vou direto para o chuveiro.
Ainda estou no banho, quando Cassius acorda e invade o banheiro.
Está ainda mais lindo, com seu rosto levemente inchado por causa
das horas de sono, desprovido dos vestígios do efeito das drogas e do álcool
em seu organismo.
Sob a água morna e gostosa, fazemos amor mais uma vez e por fim
nos vestimos.
— Vou até a padaria comprar algo pra gente comer, antes de irmos
pra Malibu. O que você vai querer? — Cassius indaga.
— Não quero nada. Preciso resolver algo em Los Angeles antes de
ir pra casa. Pode ir sem mim. Vou de taxi depois.
Ainda preciso passar na casa de Jessica, para que ela me ajude com
o teste de gravidez e me apoie caso o resultado seja positivo.
Além disso, não quero correr o risco de vomitar na frente de
Cassius. Não vou pagar esse mico.
— Onde é seu compromisso? Eu te levo.
— Não precisa. Já pedi um Uber. Nos vemos mais tarde.
Antes que ele tenha a chance de continuar protestando, dou um beijo
rápido em seus lábios e deixo o apartamento, indo direto para a casa da
minha amiga.

***

Chego à casa de Jessica e encontro-a esperando por mim na porta.


Ela me abraça com carinho e pergunta como estou.
Sinto um nó na garganta ao falar novamente sobre minhas suspeitas
de gravidez com ela.
Jessica me acolhe imediatamente, segurando minha mão com
firmeza e oferecendo seu apoio incondicional.
Entramos em sua casa e nos sentamos na sala, onde Jessica me
entrega um teste de gravidez.
Meu coração dispara de nervosismo enquanto sigo as instruções e
aguardo ansiosamente pelo resultado.
O tempo parece se arrastar até que finalmente o resultado aparece.
Olho para o teste e uma mistura de emoções toma conta de mim.
Estou grávida.
As lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto enquanto Jessica
me envolve em um abraço caloroso.
Ela me conforta com palavras gentis, reafirmando que estará ao meu
lado, não importa o que aconteça.
— Meus pais vão ficar furiosos quando souberem. — falo, aflita,
sobressaltada — E a Sra. Kensington vai inventar mentiras para prejudicar
minha reputação.
— Quem se importa com o que essa mulher cruel pensa? Deixe-a
falar o que quiser. Por enquanto, seu foco deve ser o seu bem-estar. Decida
se quer ter essa criança ou não. Talvez você nem precise contar a ninguém.
Pode considerar um aborto.
Refletindo sobre o assunto, percebo que sou incapaz de tirar a vida
de um ser tão inocente. É meu filho que está crescendo em meu ventre, não
apenas um pedaço de carne.
— Eu não vou abortar. Deus me livre.
— Nesse caso, você terá que se despedir da faculdade.
— Ai, meu Deus! Não quero desistir dos meus estudos!
— Eu entendo, mas será difícil conciliar os estudos e cuidar de um
bebê ao mesmo tempo, a menos que você considere a adoção. No entanto,
Cassius teria que concordar com essa decisão também.
— E se ele pensar como sua mãe e achar que engravidei por
interesse?
— Se ele pensar assim, é porque nunca te mereceu. Agora vamos.
Vou até Malibu com você para te ajudar a contar aos seus pais.
— Eles vão ficar furiosos.
— Eu sei. Mas, com o tempo, eles te perdoarão.
Nos abraçamos mais uma vez e pegamos um táxi em direção a
Malibu.
Ao chegarmos, minha mãe me informa que não haverá reunião de
família na piscina hoje, então eu não precisava ter vindo com tanta pressa.
Provavelmente, os Kensington se reunirão em outra de suas propriedades.
Eles têm muitas, uma em cada cidade, todas lindas e sofisticadas.
Não me sinto encorajada a falar com meus pais sobre a gravidez.
Sinceramente, não sei como vou conseguir contar a eles.
Não tanto por medo de sua reação, mas pela vergonha de
decepcioná-los depois de todo o sacrifício que fizeram para me dar uma boa
educação e de esperarem que eu fosse para a faculdade.
Não consigo nem imaginar o quanto eles se sentirão desapontados.
Enquanto adio o momento dessa conversa, decido limpar a garagem
apenas para passar o tempo. Jessica se oferece para me ajudar.
Estamos no meio de uma conversa sobre minha gravidez e como
Cassius vai reagir ao saber quando, de repente, a porta de um dos carros se
abre e Gonzales, o motorista da Sra. Kensington, sai lá de dentro.
Ele esteve o tempo todo próximo a nós, escondido, ouvindo nossa
conversa.
Ele nos observa com seriedade por um momento e nos dá as costas,
seguindo rumo ao interior da casa.
— Meu Deus! Ele vai contar tudo para a Sra. Kensington agora
mesmo! — exclamo, apavorada, todo o sangue sendo drenado do meu
rosto.
Espezinhada pelo nervosismo, sinto náuseas violentas e vomito ali
mesmo, no chão que acabamos de limpar.
— Fique calma. Uma hora ou outra ela teria que saber.
— Mas não antes dos meus pais. Ela vai correndo contar para eles e
vai inventar mentiras, dizendo que engravidei por interesse. E vai contar pro
Cassius. Ela vai fazer a cabeça dele contra mim. Dizer que engravidei por
dinheiro.
— Cassius não vai acreditar nela. Nem seus pais.
— Ela vai nos demitir.
Quanto mais penso nisso, pior me sinto.
— Cassius não vai deixar que ela demitia sua família. Esse filho
também é dele.
— Você diz isso porque não conhece a Sra. Kensington. Essa
mulher é uma víbora e sempre consegue tudo o que quer.
Estou certa de que, desta vez, a Sra. Kensington não fará quaisquer
concessões, como quando nos surpreendeu na cama juntos, eu e Cassius.
Ela nos demitirá implacavelmente e não poupará críticas à minha
família, dificultando nossa busca por emprego em outros lugares,
exatamente como ela prometeu anteriormente.
Além disso, ela revelará a Cassius sobre a gravidez, dando a
impressão de que eu pretendia ocultar essa informação dele até que
houvesse tempo para fazer um teste de DNA.
Por último, ela irá semear a discórdia entre nós, persuadindo-o a
acreditar que sou uma interesseira que planejava engravidar apenas por
motivos financeiros esse tempo todo.
Meu Deus! O que será de mim? O que será do futuro da minha
família sem emprego e um lugar para morar?
A ansiedade toma conta de mim enquanto Jessica tenta me acalmar.
Olho para a garagem vazia e me pergunto como será possível
enfrentar todos os desafios que estão por vir. Será que Cassius ficará ao
meu lado, mesmo diante das dificuldades?
Decidida a enfrentar a situação de frente, tomo uma respiração
profunda e me recomponho. Se Gonzales já ouviu a conversa, é apenas
questão de tempo até que a Sra. Kensington saiba sobre minha gravidez.
Talvez seja melhor ser eu mesma a contar aos meus pais antes que a
informação chegue até eles distorcida pela boca venenosa da nossa patroa.
— Jessica, acho que é hora de enfrentar meus pais. Vamos até a casa
e contar a eles juntas. Preciso da sua força e apoio nesse momento.
Jessica me encara com compreensão e assente com a cabeça. Ela
está ao meu lado, disposta a enfrentar qualquer consequência que surgir
dessa situação.
Juntas, caminhamos até a casa, prontas para encarar a tempestade
que se aproxima.
Ao entrar na sala, vejo meus pais conversando descontraidamente.
Sua expressão se transforma em preocupação quando percebem o estado em
que me encontro.
— Filha, o que aconteceu? Você está pálida! — exclama minha mãe,
levantando-se apressadamente.
Respiro fundo mais uma vez, reunindo toda a coragem que consigo
encontrar.
— Mamãe, papai, preciso contar algo muito importante para vocês.
É algo que vai mudar nossas vidas.
Os olhares atentos de meus pais se voltam para mim, enquanto
Jessica permanece ao meu lado, oferecendo suporte.
— Estou grávida. — A confissão escapa de meus lábios, carregada
de emoção e apreensão.
Um silêncio tenso toma conta do ambiente. Meus pais parecem
incapazes de processar a informação por um momento, mas depois a
expressão deles suaviza, e vejo a preocupação nos olhos de minha mãe.
— Minha querida... — sussurra ela, aproximando-se e envolvendo-
me em um abraço reconfortante. — Nós vamos enfrentar isso juntos. Seu
pai e eu estamos aqui para apoiá-la, independentemente das circunstâncias.
As palavras amorosas de minha mãe inundam meu coração de alívio
e gratidão. No entanto, meu pai jamais aceitará essa gravidez tão
facilmente.
— Perdoe-me, mãe. Sinto profundamente a decepção que causei a
vocês. — murmuro, com lágrimas nos olhos.
— Esse filho é do Cassius, aquele rapaz? — explode meu pai.
Não consigo encará-lo.
— Sim, pai.
— E o que ele disse quando soube que teria um filho com você?
— Ainda não tive a chance de contar a ele. Mas a Sra. Kensington já
sabe, e acredito que ela se encarregará de contar.
Meu pai dá um passo em minha direção, com uma expressão
ameaçadora.
— Ele jamais assumirá o filho da empregada. Você se tornará mãe
solteira.
— Isso não me importa.
— Você não se importa porque não tem juízo!
— Por favor, acalme-se. — Minha mãe o interrompe. Ele a ignora.
— Você tem noção do que fez com nossas vidas? Além de perder a
oportunidade de frequentar a faculdade, jogou todos nós na miséria. Acha
mesmo que a Sra. Kensington nos perdoará novamente? Tem ideia do
quanto é difícil encontrar emprego e moradia na nossa idade?
Cada palavra que sai de sua boca me atinge como um soco,
enquanto as lágrimas continuam a rolar abundantemente dos meus olhos.
— Não seja tão duro com ela! — Minha mãe intervém. — Ruby é
jovem e infelizmente se apaixonou pela pessoa errada.
— Ela já tem dezoito anos. Sabe muito bem o que está fazendo.
Agora será acusada de engravidar por interesse.
— Se isso acontecer, nós vamos provar que não dependemos do
dinheiro deles. Podemos criar essa criança, assim como criamos nossa filha.
Com simplicidade e dignidade.
— Sem um lugar para morar, quero ver como vamos criar alguém.
A discussão deles continua fervorosa, intensificando meu mal-estar,
minha culpa e remorso.
Até que, de repente, sinto uma fraqueza absurda tomando conta de
mim, minhas pernas ficam fracas e minha visão escurece.
Estou quase desmaiando quando Jessica me segura e me ajuda a
sentar em um dos sofás.
— Precisamos de ajuda aqui! Ela não está bem! — grita minha
amiga.
Meus pais correm para me socorrer.
— Deve ser pressão baixa. Traga um pouco de sal. — diz minha
mãe.
Logo em seguida, meu pai volta correndo da cozinha com uma
pitada de sal, que é colocada sob minha língua, e aos poucos começo a me
sentir melhor.
— Está se sentindo melhor? — pergunta minha mãe.
— Sim. Desculpem-me por ter engravidado. Se vocês quiserem,
posso fazer um aborto.
— Não. Não vamos tirar a vida de uma criança inocente. Daremos
um jeito. — diz meu pai, surpreendendo a todos nós. — Vamos criar essa
criança juntos. Os Kensington não são donos do mundo.
Minha mãe o abraça, seus olhos cheios de lágrimas, e logo me junto
a eles.
Tenho certeza de que a Sra. Kensington já sabe sobre a gravidez e
aparecerá em nossa casa a qualquer momento para nos demitir.
Enquanto esperamos por ela, arrumamos nossas malas, nos
preparando para deixar a propriedade.
Enquanto organizamos tudo, meu pai liga para amigos e parentes em
busca de um lugar onde possamos ficar até encontrarmos outro emprego e
moradia, o que não será fácil caso a Sra. Kensington cumpra a promessa
que fez quando me flagrou com Cassius.
Durante todo o dia, envio mensagens para o celular de Cassius, que
ele lê mas não responde. Obviamente, sua mãe já contou sobre a gravidez e
o convenceu de que sou uma interesseira.
A expectativa da espera é angustiante. Não saber o que se passa pela
cabeça dele, o que os dois estão discutindo sobre mim e essa criança, é
torturante.
CAPÍTULO 21

Ruby

Ao fim da tarde, a Sra. Kensington finalmente entra pela porta da


pequena casa dos empregados, seguida por Gonzales. Como esperado, seu
rosto revela fúria.
Nos levantamos do sofá, respeitosamente, assim que ela entra. Ela
percorre seu olhar pelas malas prontas no meio da sala e volta a nos encarar.
— Então, é verdade. Você está realmente grávida do meu filho. —
Sua voz soa fria, sem emoção.
— S-Sim, senhora.
— E tem alguma prova de que esse filho é dele?
— Eu não estive com outro homem além dele.
— Isso é o que todas dizem.
— Minha filha não mente! — Minha mãe vem em meu socorro,
enquanto a outra mulher a encara com altivez e autoridade, diante de suas
palavras.
— E eu avisei que não queria sua filha envolvida com meu filho.
Vocês não souberam controlar isso. Agora, vocês estão demitidos. Peguem
suas coisas e deixem minha casa imediatamente!
— Nós iremos. Felizmente, temos saúde para encontrar outro
emprego e nos sustentar. Não precisamos da sua caridade. — É meu pai
quem fala — Mas o rapaz terá que assumir a criança. Minha filha não
engravidou sozinha. Esse filho também é dele.
A Sra. Kensington o encara com raiva e amargura.
— Era exatamente isso que vocês queriam. Ganhar uma pensão
generosa com essa gravidez. Mas não vai acontecer. Meu filho não vai
assumir uma empregada vigarista. Podem esquecer essa ideia.
Meu pai perde o controle e dá um passo na direção da elegante
mulher. Porém, no mesmo instante, Gonzales se coloca entre os dois, como
um escudo humano, repousando sua mão sobre o revólver preso ao cós da
calça.
Ele não precisa dizer uma palavra para que meu pai entenda a
mensagem e recue.
— Sendo uma pessoa caridosa, vou depositar uma quantia na conta
de vocês para que possam lidar com essa situação e recomeçar em outro
lugar. Não vão conseguir mais nada de nós além disso.
Ela se prepara para sair quando encontro coragem e dou um passo à
frente, a raiva borbulhando em minhas veias.
— Guarde seu dinheiro! Não precisamos da sua esmola! Vou
conversar pessoalmente com Cassius. Tenho certeza de que a opinião dele
sobre nós é muito diferente da sua. Ele precisa ouvir de mim que vamos ter
um filho.
— Cassius não está em casa. Depois que contei a ele sobre sua
tentativa de golpe, ele saiu para não deixá-los ainda mais constrangidos
quando partirem.
— Ele não faria isso. A senhora está mentindo!
Movida por uma coragem e rebeldia que nem sabia que tinha, saio
da pequena casa e avanço pelo jardim em direção à mansão. Tenho certeza
de que Cassius está em seu quarto e ainda não sabe sobre a gravidez.
Ele não permitiria que sua mãe tratasse minha família dessa
maneira. Ele não é como ela. Conhece meu coração e sabe que eu seria
incapaz de engravidar intencionalmente por dinheiro.
— Ele não está lá. — diz Gonzales, que me segue de perto.
— Você é outro mentiroso, além de ser fofoqueiro.
— Veremos quem está mentindo.
Entro na casa com passos firmes e apressados. Vou diretamente para
o quarto de Cassius. Ele não está.
Olho em todos os outros cômodos. Nos quartos de hóspedes, na
academia, no mini cinema, na área gourmet e nada. Ele não está em lugar
algum.
Estou na cozinha, Gonzales e Consuelo — a ajudante da minha mãe
—, me observam com compaixão quando saco meu celular, desanimada, e
ligo para ele. Seu telefone toca até a ligação cair e ele não atende.
Quase desesperada, envio uma mensagem de texto, dizendo que
precisamos conversar com urgência. Assim como todas as outras
mensagens que enviei ao longo do dia, ele a lê imediatamente.
Começo a temer que ele me deixará sem resposta, como fez durante
todo o dia. Até que, subitamente, as três bolinhas indicam que ele está
digitando, e uma faísca de esperança renasce dentro de mim, meus nervos à
flor da pele.
Cassius digita durante um minuto interminável.
Até que finalmente sua mensagem chega:

Não há mais nada para conversarmos. Minha


mãe já me contou que você está grávida. Eu não quero
essa criança. Não estou pronto para ser pai, e tenho
certeza de que você não está madura o suficiente para
ser mãe. Você está apenas começando a sua vida,
prestes a entrar na faculdade; não pode levar adiante
essa gravidez. Seria imprudente.
Sinceramente, não sei o que você esperava com
isso. Será que é verdade o que minha mãe disse sobre
você ter engravidado por interesse em meu dinheiro?
Não sei em quem acreditar. É difícil imaginar que
alguém a quem me entreguei completamente tenha me
usado para obter vantagens. Enfim, não quero mais vê-
la. Já tenho problemas demais em minha vida, não
preciso de mais um. Por favor, vá embora com seus
pais e não apareça na minha frente novamente.
Adeus.

Leio e releio tudo de novo, me perguntando se estou alucinando,


simplesmente porque é difícil demais acreditar no que está diante dos meus
olhos.
Quando finalmente aceito que essa é a realidade e que estou tendo
dificuldade para aceitá-la, minhas pernas fraquejam e caio no chão, sem
forças, chorando desesperadamente, na frente de Gonzales e da outra
empregada, que continuam me observando com compaixão.
O que eu esperava? Que um homem como Cassius, bonito, rico e
que poderia ter qualquer mulher, assumiria um relacionamento com a filha
da cozinheira de sua casa?
Eu estava tão cegada pela paixão que, por um momento, realmente
acreditei que poderia significar algo em sua vida, além de um encontro
casual.
Quando a Sra. Kensington entra na cozinha, vinda do jardim, eu
ainda estou sentada no chão, com o rosto banhado de lágrimas.
— Eu te avisei que ele não estava aqui e que não te quer. — Ela diz,
olhando-me de cima, com altivez e arrogância — Agora que você viu com
seus próprios olhos, pode sair da minha casa e espero não ter que lidar com
esse assunto novamente.
Dito isso, ela me dá as costas e segue imperturbável para o interior
da residência.
Desolada e com o coração destroçado, eu me levanto do chão e,
apoiada em Consuelo, retorno à pequena casa dos empregados.
A tristeza me consome por completo, e a sensação de abandono é
avassaladora.
Meus pais, preocupados, se aproximam e me envolvem em um
abraço reconfortante, enquanto lágrimas silenciosas escorrem pelo meu
rosto.
Nossas malas permanecem no meio da sala, testemunhas silenciosas
da reviravolta em nossas vidas.
Com a demissão iminente e a rejeição de Cassius, o futuro se torna
incerto e assustador. Mas, mesmo em meio à dor, uma chama de
determinação começa a surgir dentro de mim.
Olho para meus pais, unidos em seu amor e apoio incondicionais, e
percebo que não estamos sozinhos. Temos um ao outro e a força para
enfrentar qualquer desafio que a vida nos apresente.
Se Cassius não quer assumir a responsabilidade, então eu serei mãe
solteira, mas não vou permitir que isso me defina ou limite meu potencial.
Com coragem renovada, limpo as lágrimas do rosto e encaro meus
pais com determinação.
Nós vamos encontrar um novo lar, um novo emprego e vamos criar
essa criança com amor e dignidade, assim como eles fizeram comigo.
Ainda existem pessoas que nos valorizam e que estarão ao nosso
lado nessa jornada.
Juntos, empacotamos as malas e nos preparamos para partir,
deixando para trás as lembranças amargas e o passado opressor.
Apesar da incerteza do futuro, a esperança começa a florescer em
nossos corações.
Eu sei que a estrada será árdua, mas estou determinada a construir
uma vida melhor para meu filho, mesmo sem o apoio de Cassius.
Enquanto saímos da propriedade dos Kensington, com nossas
poucas posses em mãos, eu lanço um último olhar à mansão que um dia
pareceu um refúgio, mas agora é apenas um símbolo de desilusão.
Prometo a mim mesma que farei de tudo para criar meu filho com
amor, para que ele saiba que é amado e valorizado, independentemente das
circunstâncias.
Assim, com o coração repleto de esperança e a determinação de
construir um novo caminho, partimos em busca de um recomeço.
Não será fácil, mas tenho fé de que o amor e a resiliência da minha
família nos guiarão através das adversidades.
E, um dia, quando meu filho olhar para trás, quero que ele se
orgulhe da coragem de sua mãe e da família que lutou por ele desde o
início.
CAPÍTULO 22

Cassius

Manhã de domingo.

Observo Ruby sair do apartamento apressadamente e retorno para a


cama.
A memória dos momentos íntimos que compartilhamos
recentemente, como o amor debaixo do chuveiro e a revelação do meu
segredo mais sombrio, me fazia acreditar que seus sentimentos por mim não
tinham mudado.
Às vezes, até sentia que ela realmente me amava.
No entanto, ao vê-la partir apressada, começo a questionar se ela
não ficou horrorizada com a história que lhe contei.
E, honestamente, não posso culpá-la. Qual garota não ficaria
chocada ao descobrir que o homem com quem está envolvida é responsável
pela morte de uma família inteira?
Esses pensamentos trazem à tona a angústia que tem me
acompanhado nos últimos anos, torturando-me sem descanso.
Balanço a cabeça, tentando afastar esses pensamentos perturbadores.
Viro-me na cama e ainda consigo sentir o aroma de Ruby misturado
com o cheiro do sexo impregnado nos lençóis.
Ruby tem todo o direito de se recusar a me encarar novamente
depois de tudo o que contei a ela.
Seria uma pena, pois realmente gosto dessa garota e não gostaria de
perdê-la.
O que já vivemos juntos é apenas uma pequena amostra do que
gostaria de compartilhar com ela.
Encontrei alguém com quem tenho uma conexão profunda e
verdadeira aos meus vinte e dois anos, e seria devastador perder isso, se ela
não conseguisse mais me olhar após descobrir que sou um assassino.
Mais uma vez, meu celular toca, com uma ligação da minha mãe,
mas decido não atender.
Depois da discussão acalorada que tivemos antes de eu sair de casa
ontem à noite, ela passou a noite inteira me ligando, certamente
preocupada, como sempre fica quando saio de casa.
Hoje, porém, não estou com disposição para falar com ela,
especialmente depois de suas ameaças de me internar novamente na clínica
de reabilitação.
Não acredito que aquele lugar seja a solução para os meus
problemas. Na verdade, só me deixa mais deprimido.
Ruby é a minha esperança de cura.
Ela é a garota que minha mãe tanto discrimina por ser uma
empregada doméstica, mas é a única pessoa capaz de me afastar das drogas,
pois quando estou com ela, o vazio no meu peito parece desaparecer.
Sua presença me faz sentir que não preciso de mais nada. Ela será
minha cura.
Não estou usando Ruby como uma muleta para fugir do abismo.
O que sinto por essa mulher é a coisa mais pura e verdadeira que já
experimentei.
Agora, preciso encontrar uma forma de convencer minha mãe a
aceitá-la na minha vida e, mais importante, protegê-la dos homens que estão
determinados a acabar comigo.
Preciso encontrar uma maneira eficaz de protegê-la. Não posso
permitir, de forma alguma, que aqueles dois homens lhe façam mal.
E menos ainda posso afastá-la da minha vida novamente. Não
cometerei esse erro de novo.
Enquanto os pensamentos sobre Ruby continuam a povoar minha
mente, fecho os olhos e tento voltar a dormir.
Não tenho noção de quanto tempo fiquei adormecido, quando um
pigarreio no quarto me faz despertar.
Abro os olhos e preciso piscar diversas vezes para me certificar de
que estou realmente vendo aquilo.
Ali, diante de mim, estão minha mãe, seu motorista Gonzales e os
dois enfermeiros parrudos que reconheço como os mesmos que trabalham
na clínica de reabilitação onde estive internado.
Um deles segura uma camisa de força branca.
— É sério isso, mãe? — questiono, minha mente tentando encontrar
possíveis rotas de fuga, embora saiba que não há escapatória daqueles
homens.
— É para o seu próprio bem, meu querido.
Permaneço deitado na cama, ciente das consequências se eu me
levantar.
— Não entendo por que você acha que aquele lugar infernal pode
me ajudar.
Minha mãe levanta-se da cadeira e se aproxima da cama.
— Eu te avisei várias vezes que iria te internar se você não
abandonasse esse vício. Não queria ter que fazer isso, mas você está
perdido, saindo, bebendo e se drogando todas as noites. Você tem noção do
quanto isso é perigoso?
— Eu não vou mais fazer isso. Juro que vou parar.
— Você diz isso sempre, mas não cumpre a promessa. A única
alternativa é o isolamento. Na clínica, tenho certeza de que você não terá
acesso a essas drogas que estão te destruindo.
— Não quero ir para a clínica, mãe. Por favor, não me obrigue.
— Você pode não querer, mas vai. Estou fazendo isso pelo seu
próprio bem. Agora cabe a você decidir se vai acompanhá-los por vontade
própria ou se os rapazes terão que usar a camisa de força.
Balanço a cabeça desanimado. Como minha própria mãe pode fazer
isso comigo? E ainda diz que me ama.
Gostaria de saber o que meu pai e meus irmãos pensam sobre isso.
Considerando que ela está sozinha aqui, eles certamente discordariam de
sua decisão.
Penso em ligar para eles, mas sei que os enfermeiros não me
permitirão chegar perto do telefone.
— Posso ligar para o meu pai?
— Claro, depois que você estiver na clínica.
— Ou ele vai interferir nos seus planos para mim, não é?
— O que estou fazendo é pelo seu próprio bem. Um dia você vai me
agradecer. Agora, você vai acompanhar os rapazes ou eles vão precisar usar
a força? Preferia que fosse por vontade própria.
— Não. Eles terão que me pegar se quiserem me levar.
Minha mãe suspira e olha para os enfermeiros, que trocam olhares
breves antes de se aproximarem de mim.
Eu tento recuar, mas a cama impede meu movimento. A realidade
começa a se impor, e percebo que não tenho escolha a não ser enfrentar a
minha situação atual.
Os enfermeiros se aproximam, prontos para me segurar e aplicar a
camisa de força.
Sinto uma mistura de raiva, medo e frustração correndo pelo meu
corpo.
Tento resistir, mas percebo rapidamente que a luta é inútil.
Eles são mais fortes e estão acostumados a lidar com situações como
essa.
Enquanto os enfermeiros começam a me imobilizar, minha mãe se
aproxima e coloca a mão no meu ombro, olhando-me nos olhos.
Sua expressão é uma mistura de tristeza e determinação.
— Eu sinto muito por ter que fazer isso, meu querido, mas é a única
maneira de te ajudar a se recuperar. Eu te amo muito e não suportaria te
perder para as drogas. Preciso ter certeza de que você está seguro.
Meu corpo todo estremece, enquanto os enfermeiros terminam de
me imobilizar. A sensação de impotência é avassaladora. Eu não entendo
como minha mãe pode acreditar que isso é bom para mim.
— Por favor, mãe, eu juro que vou tentar.
Ela acaricia meu rosto suavemente e beija minha testa.
— Vou visitar você todos os dias, meu filho. Prometo que vamos
superar isso juntos. A clínica vai te ajudar a se livrar desse vício, e quando
você estiver pronto, voltaremos a ter uma vida normal.
Enquanto os enfermeiros me conduzem para fora do quarto, eu olho
para trás uma última vez e vejo minha mãe com os olhos marejados.
Sinto uma mistura de tristeza e raiva.
Não sei se serei capaz de perdoá-la um dia.
Enquanto sou conduzido pelos corredores, meus pensamentos são
ocupados por Ruby, questionando como poderei informá-la sobre minha
localização.
A angústia toma conta de mim ao perceber que meu celular
provavelmente ficou para trás e tenho certeza de que não me permitirão
recuperá-lo.
Pode ser que, na clínica, me permitam fazer alguns telefonemas
quando considerarem que estou pronto.
No entanto, não consigo recordar o número do celular dela de
memória.
Minha mente se transforma em um turbilhão, tentando encontrar
uma solução para me comunicar com Ruby.
A preocupação toma conta de mim, pois não posso simplesmente
deixá-la no escuro, sem saber o que está acontecendo comigo.
Ela merece saber a verdade.
CAPÍTULO 23

Cassius, três anos depois.

É noite de domingo e ainda me pergunto como cedi aos encantos de


Genevieve para sair para jantar novamente, mesmo após a noite agitada de
sábado em uma boate, dançando e nos divertindo até tarde.
Atualmente, ela está envolvida nos negócios da sua família, que é
proprietária de uma vasta rede de restaurantes sofisticados espalhados por
todo o país.
Sua empolgação com a mais recente aquisição é contagiante, e por
esse motivo, não tive coragem de recusar quando ela me convidou para
jantar em seu novo restaurante, localizado na cobertura de um edifício
luxuoso em Los Angeles.
Essa é a primeira vez que Genevieve faz questão de que eu a
acompanhe a um dos seus estabelecimentos.
Será que espera que eu faça o pedido de casamento esta noite?
Talvez seja por isso que ela me convenceu a vir.
Não é segredo para ninguém, nem mesmo para ela, que tenho a
intenção de pedir sua mão.
Embora ela não desperte aquele sentimento avassalador que as
pessoas tanto mencionam — e que talvez nem exista — eu tenho certeza de
que ela é a mulher certa para mim. Afinal, nossas famílias possuem
negócios em conjunto e estão cogitando a fusão das corporações. Esse
casamento só fortalecerá essas relações.
Meu relacionamento com Genevieve começou puramente por
influência da minha família, em prol dos negócios.
Apesar de eu estar limpo e livre das drogas desde que saí da
reabilitação, há quase dois anos, sinto que devo isso a eles, pelo trabalho
que lhes dei e por todo o constrangimento que causei quando era viciado.
Segundo Genevieve o Regal, restaurante onde estamos, tem um
estilo futurístico e é considerado o melhor e mais sofisticado da cidade, por
isso fez questão de adquiri-lo.
Após fazer uma inspeção pelo lugar, ela volta à nossa mesa com um
sorriso largo no rosto.
— Não é lindo aqui, amor? — ela pergunta, olhando ao redor.
Eu observo o ambiente mais atentamente antes de dar minha
opinião.
— Realmente, é um lugar sofisticado e bonito. Imagino que você
tenha uma estratégia para proteger os clientes caso comece a chover de
repente.
Genevieve sorri.
— É uma estrutura inovadora. Claro que temos nossas estratégias.
O garçom se aproxima e fazemos nossos pedidos, incluindo uma
garrafa de vinho solicitada por Genevieve, o que me leva a me perguntar
mais uma vez se ela está esperando o pedido de casamento hoje.
Se for esse o caso, ficará desapontada, pois nem mesmo me lembro
onde coloquei o anel de diamante que comprei há duas semanas.
Provavelmente está perdido em algum canto do meu quarto, no
apartamento em Long Beach.
Enquanto esperamos pela chegada dos pratos, aproveito para
observar Genevieve mais de perto. Seus cabelos loiros e ondulados caem
sobre os ombros, contrastando com seu vestido vermelho elegante.
Seu sorriso encantador ilumina seu rosto e ela parece animada,
como se soubesse algo que eu não sei.
Enquanto isso, minha mente divaga sobre os últimos anos.
Desde que deixei a clínica de reabilitação, tenho trabalhado duro
para reconstruir minha vida. Terminei a faculdade, comecei a trabalhar nas
empresas do meu pai e tenho me dedicado a me manter sóbrio.
Embora eu tenha alcançado alguma estabilidade, a culpa e o
remorso pelo que fiz no passado ainda me atormentam todos os dias,
duramente, tirando-me o sono, me trazendo pesadelos.
No entanto, agora sei lidar com essa situação de maneira mais
madura, sem recorrer ao uso de drogas e álcool, embora ainda faça terapia.
Genevieve tem sido uma presença constante ao meu lado durante
todo esse processo.
Mais que uma namorada, ela tem sido uma amiga, me apoiando e
incentivando a seguir em frente.
Ela sabe sobre o fato de eu ter sido um viciado, porém desconhece
meus motivos.
Desisti de contar a mais alguém sobre o que aconteceu naquele
verão em Bali, desde que Ruby — a única garota com quem tive uma
conexão verdadeira —, saiu correndo do meu apartamento e depois da
minha vida, após saber porque me afundei nas drogas.
Falar a verdade só serviu para que Ruby me mostrasse que eu não
significava nada para ela, indo embora da minha vida, sem sequer dizer
adeus.
E quem pode culpá-la? No seu lugar, eu também me afastaria de um
assassino bêbado e drogado.
Sacudo a cabeça afastando os pensamentos. Essa garota ocupou
minha mente por tempo demais. Passou da hora de esquecê-la.
Genevieve é o melhor para a minha vida, já que não há nenhum
sentimento incontrolável entre nós, o que a impossibilitará de me magoar
algum dia.
Além disso, nossa união beneficiará os negócios entre nossas
famílias e isso é o mais importante.
Enquanto saboreamos o jantar, o clima fica mais descontraído.
Genevieve conta histórias engraçadas sobre a compra desse lugar e ri com
entusiasmo, me contagiando com seu bom-humor.
Seu espírito alegre é cativante e não posso negar que ela traz uma
leveza à minha vida que eu não tinha antes.
À medida que a noite avança, a tensão começa a se dissipar e me
pego pensando no anel de noivado que está esquecido em algum lugar em
meu apartamento.
Talvez seja hora de começar a levar nosso relacionamento a sério e
me comprometer de verdade, afinal isso será melhor para todos.
Após desfrutar da sobremesa, decido levantar-me para ir ao
banheiro. À medida que atravesso o salão repleto de mesas e pessoas, uma
das garçonetes atrai minha atenção.
Ela carrega três pratos de comida, equilibrando dois em um braço e
um na outra mão.
Ao perceber minha presença, ela imediatamente se vira, como se
tentasse ocultar o rosto.
No entanto, algo me intriga: sua semelhança impressionante com
Ruby. Mas não pode ser ela, já que Ruby está estudando na universidade em
Washington.
Essa garota tem ocupado meus pensamentos por tanto tempo que
estou tendo visões distorcidas.
Tento ignorar, mas não consigo. Será que é realmente Ruby?
Movido por um impulso, decido desviar do meu caminho e segui-la.
Ela caminha em direção oposta, como se estivesse fugindo.
Toco em seu ombro e ela se vira.
Para minha surpresa, é realmente Ruby ali na minha frente, em
carne e osso, exatamente como me lembro, com seu rosto angelical de pele
clara contrastando com os cabelos escuros, presos em um coque na nuca.
Meu coração dá um salto no peito quando nossos olhares se
encontram.
Meu Deus, ela é ainda mais linda do que eu me recordava!
Ao me ver de perto, Ruby reage como se tivesse visto um fantasma,
deixando os pratos caírem no chão.
Cacos de porcelana voam para todos os lados, fazendo um barulho
alto que chama a atenção de todos ao redor.
Por um longo momento, continuamos encarando um ao outro,
imóveis.
Meu primeiro impulso é abraçá-la com força e expressar o quanto
sinto sua falta em minha vida.
No entanto, ao lembrar dos motivos pelos quais ela me deixou e da
forma como o fez, uma frieza cortante toma conta de mim.
Mantendo o comedimento, enfio as mãos nos bolsos da calça e
endireito minha postura.
— Vejo que você continua desastrada como sempre — comento
educadamente.
Minhas palavras parecem tirá-la de um transe, e sua boca se abre em
perplexidade, seus olhos ainda mais arregalados.
— Ai, meu Deus! Minha chefe vai me matar!
Ela se abaixa para limpar a bagunça no chão e, embora eu tente
apenas observar, não consigo ficar parado. Então, me abaixo ao seu lado,
mais por cortesia do que qualquer outra coisa, e ajudo-a a recolher os cacos.
— Não precisa se preocupar. Eu posso cuidar disso sozinha — diz
ela.
— Não é nenhum incômodo para mim. Estou à disposição para
ajudar.
— É sério, não precisa me ajudar.
— Eu já disse que não me incomodo.
Em silêncio, terminamos de limpar a bagunça e nos levantamos.
Novamente, meu olhar é capturado pelo seu rosto encantador, e nos
encaramos sem dizer nada durante um longo momento.
Tento deixá-la em paz e me afastar, mas algo muito mais poderoso
do que possa controlar me mantém no lugar.
— O que você está fazendo aqui? Achei que estivesse em
Washington, na faculdade.
Seus olhos castanhos expressam uma mistura de surpresa e
aborrecimento, transmitindo a sensação de que estou incomodando.
— Me surpreende você acreditar que eu realmente iria para a
faculdade. — Seu tom de voz é ríspido, e não entendo o motivo de tamanha
hostilidade.
Eu é que fui abandonado por ela. Eu que deveria ser hostil.
— Era o que você pretendia fazer na última vez que nos vimos.
A raiva se intensifica no brilho do seu olhar.
— Muitas coisas aconteceram na minha vida desde a última vez que
nos vimos.
— O que aconteceu?
— Isso não é da sua conta.
— Fica calma. Por que tanta hostilidade? Eu só quero saber como
você está.
— Estou como você está vendo. Trabalhando como garçonete
porque não pude me formar.
— Mas por que você não se formou? Eu achava que você estava
morando em Washington esse tempo todo.
— O que está acontecendo aqui!? — A voz de Genevieve é áspera e
só então percebo que ela está bem ao meu lado.
— Não é nada, amor. Só um pequeno acidente.
Minha namorada não releva e crava seu olhar altivo em Ruby.
— Eu sei que me comprometi a manter todos os funcionários em
seus lugares, mas derrubar pratos e espalhar comida no meio do restaurante
é um pouco demais. Você não acha?
Sinto pena de Ruby ao vê-la engolindo em seco. Ela deve precisar
muito desse emprego.
— Me desculpe, senhora. Foi sem querer.
— Não dá para manter uma pessoa tão desastrada aqui. O que os
clientes vão pensar?
— Por favor, não a demita. — intervenho — A culpa foi toda
minha. Eu a abordei de forma repentina e ela levou um susto. Para me
redimir do meu erro, reporei todos os pratos quebrados.
Genevieve alterna seu olhar entre nós dois, como se pensasse sobre
como proceder. Até que, por fim, me dirige um largo sorriso.
— Não precisa repor os pratos. Acidentes acontecem. — Ela volta a
encarar Ruby com uma carranca — Quanto a você, volte ao trabalho.
— Sim, senhora. Com licença.
Ruby sai andando apressada rumo aos fundos do salão, e Genevieve
se pendura em meu braço, possessivamente.
— É muito difícil lidar com pessoas de tão baixo nível. Você tem
sorte de trabalhar apenas com executivos.
— Ruby não é uma pessoa de baixo nível.
Genevieve fica séria.
— De onde vocês se conhecem?
— Ela trabalhou na casa de Malibu durante um verão. É uma garota
muito inteligente.
— Se fosse tão inteligente assim, não estaria servindo mesas. Mas
vamos esquecer isso e voltar ao nosso jantar.
— Preciso ir ao banheiro. Te vejo daqui a pouco.

***

De volta à mesa, não consigo mais prestar atenção em minha futura


noiva, ou em qualquer coisa que ela diga durante todo o jantar.
Minha mente está completamente concentrada em Ruby, que circula
pelo salão com seu uniforme de garçonete, carregando pratos e bandejas.
Há tanto que preciso perguntar a ela. Há tanto a ser dito. Contudo,
ela deixou claro que, mesmo depois de tanto tempo, ainda carrega mágoa de
mim, por descobrir que estava dormindo com um assassino.
Por mais que eu queira, de todo o meu coração, me reaproximar
dela, saber sobre sua vida, como está indo, não posso fazer isso.
Afinal, estou comprometido com Genevieve, e ela não merece que
eu me aproxime de uma mulher que significou tanto para mim no passado.
Além do mais, Ruby foi embora da minha vida sem se dar ao
trabalho de dizer adeus.
Ela não merece um minuto da minha atenção.
Após o jantar, sinto uma incômoda dor de cabeça.
Era para eu ficar com Genevieve até às dez horas, quando o
restaurante fecha, mas prefiro ir para casa mais cedo e engolir um
analgésico.
Sozinho no meu apartamento, não consigo evitar pensar em Ruby,
no quanto ela está linda, no motivo pelo qual não foi para a faculdade. O
que será que aconteceu com ela, que a impediu de seguir esse sonho?
Sacudo a cabeça, tentando afastar os pensamentos.
Passei tempo demais da minha vida pensando nessa garota. Já
passou da hora de esquecê-la, e é exatamente o que farei.
Basta que eu não volte àquele restaurante. Los Angeles não é
pequena a ponto de nos esbarrarmos novamente por acaso.
Aconchego-me mais confortavelmente debaixo dos lençóis, mas não
consigo dormir.
Minha mente ferve com pensamentos. Não consigo parar de pensar
em Ruby, no quanto eu queria confrontá-la, fazê-la admitir porque foi
embora tão repentinamente da minha vida, enquanto eu era aprisionado
naquela maldita clínica de reabilitação.
Não consigo acalmar o turbilhão em minha mente, e quando dou por
mim, já estou me levantando da cama, indo até o meu carro e dirigindo em
direção ao restaurante onde Ruby trabalha.
CAPÍTULO 24

Ruby

Eu me vejo constantemente correndo de um lado para o outro,


tentando atender todas as mesas. Já se passou mais de dois anos desde que
comecei a trabalhar aqui, e nunca antes me vi em uma situação tão
constrangedora como esta noite.
Para complicar ainda mais, minha chefe, a nova proprietária do
restaurante, está me olhando de forma desaprovadora.
Não tenho certeza se é por ter quebrado os pratos ou por ela ter
percebido a tensão entre mim e Cassius, seu namorado.
O que tenho certeza é que não posso perder esse emprego.
Além de pagar melhor do que a maioria dos restaurantes, ele me
permite ter tempo para cuidar da minha pequena Hazel.
É realmente uma grande ironia que o restaurante onde trabalho há
tanto tempo tenha sido adquirido justamente pela namorada do homem com
quem eu tive um rolo.
No entanto, Cassius não foi apenas um flerte passageiro.
Eu o amava profundamente, era completamente apaixonada por ele.
Mas isso agora é história antiga.
Já nem acredito mais no amor, pelo menos não entre duas pessoas
que não compartilham laços familiares.
Já se passaram três longos anos desde a última vez que vi Cassius,
ou até mesmo ouvi falar dele.
De repente, ele surge diante de mim, mais encantador do que nunca.
Seu rosto agora exibe uma aparência saudável, livre dos efeitos das
drogas, com uma barba escura que cobre todo o maxilar.
É estranho como ainda sinto meu coração bater descompassado no
peito ao vê-lo, mesmo após tanto tempo e depois de ter sido tratada,
juntamente com nossa filha, de maneira tão cruel.
O que me deixou mais perplexa foi ele nem ter perguntado por ela,
ou o que aconteceu com a minha gravidez.
Quanta frieza!
Embora ele não conheça Hazel, estava ciente da minha gravidez
quando meus pais e eu fomos demitidos da sua casa.
Pelo menos poderia ter perguntado se ela nasceu saudável.
O fato de nem mencionar a existência dela foi o ápice da falta de
caráter.
Eu já sabia que ele era uma pessoa sem escrúpulos.
Ele deixou isso claro quando me acusou de engravidar por interesse.
Não sei porque ainda esperava que mostrasse algum interesse pela filha.
Provavelmente, ele acredita que fiz um aborto, pois é o tipo de coisa
que uma pessoa como ele faria.
Ou, como sua mãe, acredita que o filho não é dele.
No entanto, ele não me conhece realmente. Apesar de não ter ido
para a faculdade, crio nossa filha com todo amor e carinho, sem nunca
precisar da ajuda dele para nada.
Enquanto sirvo uma mesa próxima à janela, vejo um casal feliz com
seu filho pequeno. A cena me traz um misto de tristeza e determinação.
Eu prometi a mim mesma que nunca deixaria que a ausência de
Cassius prejudicasse Hazel de alguma forma.
Eu sou o porto seguro dela, a única figura paterna que ela conhece, e
vou fazer de tudo para garantir que ela cresça cercada de amor e cuidado.
Terminando de atender a mesa, aproveito um breve momento de
calma para me recompor.
Respiro fundo e lembro de todas as conquistas que alcancei sozinha
desde que deixei Malibu.
Comecei a trabalhar e me sustentar, criei uma rotina estável para
Hazel, cuidei da casa onde moramos com meus pais e nunca deixei faltar
amor e atenção.
Ao encerrarmos o expediente, fechamos o restaurante e organizamos
tudo.
Quando os funcionários estão saindo, o que eu mais temia acontece:
Genevieve me chama para uma conversa em particular, e nos acomodamos
ao balcão do bar, agora completamente vazio.
— E então, o que aconteceu entre você e meu namorado? — indaga
ela, direta, sem rodeios.
Engulo em seco, reconhecendo o tom de voz e o olhar de uma
mulher ciumenta.
Ainda penso em mentir, dizer que não aconteceu nada entre mim e
ele, para não ter que colocar meu emprego em risco.
No entanto, tenho certeza de que é inútil, pois Cassius falará a
verdade.
Pigarreio e me ajeito na cadeira, sentindo-me pouco à vontade.
— Nós ficamos juntos algumas vezes quando eu trabalhava como
faxineira na casa dele em Malibu.
— Foi só isso? Algumas vezes?
— Sim, nada mais do que isso. Apenas encontros casuais e rápidos.
Ela puxa um cigarro do maço e o acende entre os dedos, exibindo as
unhas longas pintadas de vermelho.
— Por que tenho a impressão de que não foi só isso?
Pisco repetidas vezes, invadida pelo receio de ser demitida.
Instintivamente, faço uma rápida incursão mental, tentando lembrar
se alguma vez ela viu minha filha.
Apenas isso poderia explicar o fato de ela achar que minha história
com Cassius não foi apenas um caso passageiro, já que Hazel é a cara do
pai, praticamente uma versão feminina dele.
Mas não. Felizmente, Genevieve nunca a viu pessoalmente, e não
posto fotos dela nas redes sociais.
Ela está apenas com ciúmes do namorado.
— Naquela época, eu era muito apaixonada por ele. Uma garota
ingênua. Mas isso faz parte do passado, e hoje penso de forma
completamente diferente. Além disso, ele nunca gostou de mim de verdade.
Era apenas interesse por sexo, e como homem, ele não recusou a oferta de
uma garota ingênua.
Apesar de falar com nervosismo, nenhuma palavra que sai da minha
boca é de fato mentira.
— Então você deu em cima dele, e vocês foram para a cama?
— Sim, foi mais ou menos isso.
— Os homens são todos iguais.
— Apenas mudam de endereço.
Ela fica reflexiva enquanto dá uma longa tragada no cigarro.
— Espero que você tenha superado esses desejos tolos da
adolescência e desistido dele.
— Claro. Eu nem lembrava mais dele até nos esbarrarmos esta
noite.
— Não é nada pessoal. É só que em breve nos casaremos, e não
seria adequado ter uma funcionária que teve um envolvimento com ele no
passado. Espero que você me entenda.
— Entendo perfeitamente. Pode ficar tranquila. Ele provavelmente
nem se lembra mais do meu nome.
— Assim espero. Já está tarde. Pode ir para casa.
— Boa noite. Até amanhã.
Saio do restaurante com o coração apertado, ciente de que nunca
mais poderei trazer Hazel para as comemorações dos funcionários sem
correr o risco de ser demitida.
Além disso, preciso revisar minhas redes sociais apenas para
garantir que não publiquei nenhuma foto dela que possa me comprometer.
Era só o que me faltava: Cassius aparecer em minha vida como uma
ameaça à estabilidade que tanto lutei para conquistar.
CAPÍTULO 25

Ruby

Sou a última funcionária a deixar o restaurante após mais de quatro


horas servindo mesas.
Apesar de sentir-me exausta, mantenho-me firme, impulsionada pela
certeza de que, ao chegar em casa, encontrarei minha pequenina dormindo
tranquilamente em nosso quarto, após ser cuidada e mimada pela minha
mãe dedicada, que optou por abrir mão do trabalho externo para se dedicar
inteiramente a costurar e cuidar da neta.
Meu pai continua trabalhando como jardineiro nas mansões dos
abastados, e juntos conseguimos cobrir todas as despesas da casa.
Descendo pelo elevador de serviço, dirijo-me ao ponto de ônibus e
aguardo.
Aos domingos o ônibus costuma demorar mais, e acabo enfrentando
o medo quando a última pessoa vai embora do ponto, deixando-me sozinha.
Enquanto espero, uma sensação de insegurança começa a tomar
conta de mim.
A rua está deserta e a escuridão da noite amplifica meus medos.
Penso em chamar um táxi, mas considerando o orçamento apertado,
o custo adicional seria pesado.
Decido aguardar um pouco mais, rezando para que o ônibus chegue
logo.
Penso em ligar para Jensen, que às vezes me busca, mas ele está
passando o final de semana com sua família em Sacramento, e não quero
incomodá-lo.
Sozinha e temerosa, meus pensamentos se voltam para Cassius.
Apesar de toda a raiva e decepção que sinto em relação a ele, ainda
há uma parte de mim que se pergunta como seria se ele estivesse presente
na vida de Hazel. Será que ele seria um pai amoroso? Ou suas atitudes
egoístas e frias se estenderiam também para a filha? A verdade é que não
posso contar com ele, e preciso aceitar isso.
O latido de um cachorro ecoa ao longe, ampliando a sensação de um
ambiente assustador ao meu redor.
Alguns metros adiante, avisto os faróis de um carro deixando a rua e
se aproximando pelo acostamento.
Meu primeiro impulso é sair correndo, imaginando que poderia ser
um assalto.
No entanto, ao observar melhor o veículo, concluo que alguém
dirigindo um Porsche dificilmente estaria envolvido em assaltos aleatórios.
O luxuoso carro para à minha frente, e para minha surpresa, é
Cassius quem sai dele e vem em minha direção, fixando em mim aquele
olhar intenso que um dia tanto amei.
Ao encará-lo de perto, uma mistura intensa de emoções me assalta.
Paixão e saudade se entrelaçam em meu peito, ao mesmo tempo em
que a raiva e o medo me consomem incontrolavelmente.
Sinto raiva por ele ter me acusado de ser interesseira e por nunca ter
procurado saber sobre nossa filha. Sinto medo de Genevieve nos ver
conversando e me demitir.
— O que você está fazendo aqui? — pergunta Cassius.
— Eu é que deveria fazer essa pergunta! — retruco, olhando ao
redor, receosa de que Genevieve possa ainda não ter saído do prédio e nos
ver ao passar pela rua.
Ele dá de ombros.
— Para ser sincero, eu não sei. Simplesmente não consigo parar de
pensar em você.
— Guarde seus pensamentos para sua namorada. Você sabe onde ela
está agora?
— Por que tanta raiva e ressentimento? — ele questiona.
— Se você não consegue entender meus motivos, não vale a pena
mencioná-los.
Ele recua um passo, como se minhas palavras o tivessem atingido
fisicamente.
— Acho que entendo e lamento que as coisas não tenham sido
diferentes.
— Concordo. As coisas aconteceram exatamente como deveriam.
Cada um seguiu seu próprio destino. Agora, se me der licença, estou
esperando o ônibus.
Cassius olha ao redor, com expressão perplexa.
— Você pega o ônibus nesse horário todos os dias?
— Como eu disse, cada um tem seu próprio destino.
— Mas isso é perigoso demais. Venha comigo, eu te levo para casa.
— Não precisa. Estou acostumada com isso. Não é perigoso.
— Claro que é. Você deveria trabalhar em outro horário.
— E quem você pensa que é para dar palpites na minha vida?
— Sou alguém que se preocupa com você, apesar de tudo.
— Provavelmente estarei mais segura aqui fora do que no seu carro.
Seu rosto empalidece e ele recua mais um passo, como se minhas
palavras o ferissem.
Ele age como se não compreendesse o quão repugnante foi sua
atitude ao me abandonar grávida e ainda me acusar de estar interessada
apenas em dinheiro.
— Tudo bem. Se não quer vir comigo, vou esperar o ônibus ao seu
lado. Não vou deixá-la aqui sozinha.
— Não quero sua companhia. Pode ir embora.
— O ponto de ônibus é um local público. Não vou embora.
— Então fique!
Dou as costas a ele e tento ignorá-lo, mas é impossível. Estamos a
mais de um metro de distância e ainda assim quase posso sentir o calor de
seus braços me envolvendo, o que me faz perceber o quanto estava
enganada ao presumir que o tinha esquecido.
Acho que nunca vou conseguir apagar completamente tudo o que
senti por esse homem, mas preciso seguir em frente apesar desses
sentimentos.
— Como estão as coisas com você? Ainda mora com seus pais? —
pergunta ele.
— Não quero conversar, Cassius!
— Só porque as coisas não deram certo entre nós, não significa que
não possamos agir de forma civilizada.
— Você é noivo da minha chefe. Ela não quer nos ver conversando!
— Ela te disse isso?
Ai, meu Deus! Acho que falei demais.
— Não. Mas dá pra presumir que não quer. Nenhuma mulher ia
gostar de ver o noivo dela conversando com outra a essa hora da noite, num
lugar deserto.
— Não estamos fazendo nada errado, apenas conversando. Além
disso, ela não é minha noiva, mas apenas namorada.
— Mesmo assim. Melhor não provocar.
— Se você não quer que ela nos veja juntos, entra no carro. Você
não será vista comigo e ainda chegará em casa mais rápido do que indo de
ônibus.
Olho em volta mais uma vez, tentando avistar algum carro igual ao
de Genevieve. Depois, lanço um olhar ao longo da rua, de onde o maldito
ônibus deveria estar vindo.
Cassius não vai desistir de ficar aqui, não sei quanto tempo ainda vai
demorar para o ônibus chegar.
Aceitar a carona dele parece ser a decisão mais sensata para não ser
pega pela namorada dele.
— Está bem, você pode me levar. Mas não quero conversar.
— Como você quiser.
Ele abre a porta do carona para mim e depois assume seu lugar ao
volante. Ao dar a partida, nos inserimos no trânsito pouco movimentado e
Cassius liga o som no painel, a voz suave de Ed Sheeran ressoa pelo
ambiente.
Durante um longo momento, a música é tudo o que se ouve dentro
do carro. Até que Cassius quebra o silêncio.
— Eu sei que você não quer conversar, mas precisa me dizer onde
mora.
— Seiscentos e quarenta, S Main St, Skid Row.
— É um bairro perigoso!
— É onde podemos pagar.
— Não é sobre isso, é sobre você vir sozinha a essa hora. Faz isso
todos os dias?
— Todo trabalhador faz isso. É bastante normal. Não há nada de
mais nisso.
— É um risco de vida. Vou falar com Genevieve para mudar seu
horário...
— Não! — interrompo-o abruptamente — Não quero que fale com
ela sobre mim.
— Ela pode ajudar.
— Não preciso de ajuda. Aliás, não preciso de você para nada. Só
entrei no seu carro para que minha chefe não nos visse conversando.
Cassius suspira e parece consternado diante da minha resposta. O
clima tenso no carro se intensifica, mas nenhum de nós se atreve a quebrar
o silêncio.
A música continua tocando suavemente ao fundo, enchendo o
espaço vazio entre nós.
Enquanto atravessamos as ruas da cidade, minha mente se enche de
lembranças dos momentos que compartilhamos juntos. Nossas risadas,
discussões acaloradas, abraços calorosos, os passeios na praia.
Nossa! Como eu amava esses momentos. Eu amava estar com ele.
Parece uma eternidade desde que tudo isso aconteceu, mas as
memórias ainda estão frescas em minha mente.
Cassius quebra o silêncio, interrompendo meus pensamentos.
— Lembro-me de quando você costumava rir das minhas piadas
bobas. Você tem um sorriso tão lindo.
— Não vamos falar do passado, Cassius. Já faz muito tempo.
— Eu sei que machuquei você, e eu me arrependo profundamente.
Sinto tanto a sua falta, Ruby. Às vezes, fico acordado à noite, pensando em
como as coisas poderiam ter sido diferentes entre nós.
Eu respiro fundo, tentando afastar a tristeza que suas palavras
trazem à tona.
— Não adianta pensar no que poderia ter sido. Você escolheu seu
caminho e eu segui em frente. Não havia um futuro possível para nós.
Nunca poderia existir um futuro entre duas pessoas tão distintas,
pertencentes a mundos tão opostos.
— Essa questão de mundos opostos é irrelevante, não foi isso que
nos separou.
— As diferenças entre nós foram o ponto central de tudo.
— Não somos tão diferentes assim. Até onde eu sei, você deveria
estar estudando direito, mas não foi para a faculdade. O que fez você
desistir do seu sonho?
— O que você acha que me levou a desistir do meu sonho?
— Eu não faço ideia, mas se quiser me explicar, estou aqui para
ouvir.
Nesse momento, percebo que ele realmente não tem conhecimento
de que temos uma filha.
Provavelmente, ele presumiu que usei o dinheiro que sua mãe nos
deu para me livrar da gravidez e seguir em frente com minha vida. É
realmente uma suposição sem noção.
Não vou permitir que ele saiba que é pai, não só porque estamos
indo muito bem sem ele e pelo fato de não querer alguém capaz de me
abandonar grávida em nossas vidas, mas principalmente para evitar ser
acusada novamente de interesseira.
A verdade é que Cassius nunca teve nenhum sentimento por mim,
caso contrário, não teria feito todas as acusações presentes naquela última
mensagem que me enviou, a qual guardo até hoje apenas para não esquecer
suas palavras.
Além de me chamar de golpista, ele rejeitou nossa filha e nunca
demonstrou interesse em saber sobre ela.
Provavelmente, ele voltou para o restaurante e está me levando para
casa acreditando que pode ter uma aventura frívola, uma relação passageira
com a suposta golpista que engravidou dele por interesse, enquanto sua
namorada oficial, aquela que sua família aceita, dorme inocentemente.
Que pessoa desprezível!
CAPÍTULO 26

Ruby

— Então é aqui que você mora. — diz Cassius, examinando a


moradia pequena e simples em comparação com o que ele está acostumado.
— Sim. Obrigada pela carona. Adeus.
Levo a mão à maçaneta da porta.
— Espere. Não vá ainda.
Ignorando-o, abro a porta e saio. Ele salta logo em seguida,
contornando o veículo e se aproximando de mim.
— O que você quer, Cassius?
— Quero conversar, saber como você está, relembrar o que
passamos juntos. Não tente me convencer de que não pensa em nós dois,
em tudo o que vivemos. Eu não acredito que você esqueceu.
— Você não é inesquecível.
— Não estou falando de mim, mas dos nossos momentos juntos.
Olho nos seus olhos e meu coração dispara involuntariamente. Eu
queria poder dizer a ele que jamais o esquecerei, que ele continua sendo o
dono do meu coração. Mas o passado não pode ser desfeito. Nada pode
apagar sua atitude quando eu disse-lhe que esperava um filho seu. Nossa
história jamais poderá ser revivida.
— Aquilo foi um momento passageiro entre dois jovens sem juízo
vivendo uma aventura sem importância. — Minto, descaradamente. — As
coisas são diferentes agora. Eu tenho minha vida, você tem a sua. Seja feliz
com Genevieve. Adeus.
Quando dou as costas, sua mão se fecha em volta do meu pulso,
puxando-me de volta, o contato da sua pele na minha causando correntes de
calor que se alastram por todo o meu corpo, mostrando a intensidade com
que ainda o quero.
Puxo meu braço depressa, desfazendo o contato.
— Espere. Não vá. Tenho uma viagem de negócios para Detroit na
próxima semana. Venha comigo.
Absorvo suas palavras e a raiva ferve em minhas veias.
— Você está falando sério? Está me propondo que fiquemos juntos
às escondidas, enquanto sua namorada te espera em casa, feliz e satisfeita?
Vai pro inferno, Cassius!
Sem esperar que ele retruque, viro-me e entro na casa.
Dentro da residência, fecho a porta com força, sentindo a raiva e a
frustração pulsarem através de mim. Respiro fundo, tentando acalmar meu
coração acelerado.
Aquela proposta absurda de Cassius mexeu comigo, despertando
sentimentos que eu achava estarem enterrados.
Enquanto caminho pela sala de estar, sinto-me dividida. Por um
lado, há uma parte de mim que ainda deseja Cassius, que anseia por reviver
os momentos apaixonados que compartilhamos no passado.
Por outro lado, minha mente racional lembra-me de todos os
motivos pelos quais nossa história não pode ser reescrita.
Sentando-me no sofá, olho ao redor do meu modesto lar, onde criei
uma vida independente para mim e para a minha filha.
Não posso me permitir abrir a porta para a incerteza e a dor
novamente. Minha filha merece uma vida estável e um exemplo sólido.
Não considero, nem por um momento, aceitar a proposta dele.
Embora eu tenha nascido em uma família pobre, não fui destinada a
ser a outra mulher.
Como se não bastasse todas as humilhações que ele me impôs no
passado, ele precisava reaparecer na minha vida com essa proposta,
fazendo-me sentir ainda mais humilhada.
Decididamente, não permitirei que esse homem esteja presente na
vida da minha preciosa Hazel. Ela não merece ser tratada dessa forma.
— Chegou tarde, filha! — Minha mãe diz, surgindo dos fundos da
casa, com expressão sonolenta e um xale repousando sobre seus ombros,
escondendo parte de sua camisola de algodão branca. — Você já jantou?
Quer comer alguma coisa?
Percebo que devo tê-la acordado quando bati a porta com muita
força.
— Já comi bastante no restaurante. Pode voltar a dormir, mãezinha.
— Alguma coisa aconteceu? Você está bem?
Prefiro poupá-la de saber que o homem que me engravidou e me
abandonou reapareceu na minha vida, me propondo ser sua amante.
— Está tudo bem. Só o ônibus demorou um pouco. E Hazel, como
está?
— Ela comeu tudo o que ofereci e está dormindo como uma pedra.
— Preciso vê-la. Boa noite.
Dou-lhe um beijo estalado na bochecha e sigo para o quarto
compartilhado com minha filha, onde a encontro profundamente
adormecida, parecendo um anjinho de cabelos escuros e pele clara.
Aproximo meu rosto do seu pescoço, aspirando o cheirinho
delicioso que ela tem. Observando-a mais de perto, não posso deixar de
notar o quanto se parece com Cassius.
Além dos traços faciais, ela tem o mesmo tom de verde em seus
olhinhos e a mesma personalidade descontraída e despreocupada que ele
tinha antes de se envolver com drogas.
É realmente uma pena que os dois nunca se conhecerão. Tenho
certeza de que Cassius se apaixonaria por ela instantaneamente.
Mas ele não a quis, e quem perdeu nessa história foi ele mesmo.

***

Uma das maiores vantagens de morar na ensolarada Califórnia é


acordar com o sol brilhando no céu.
Como diz a conhecida canção, "o choro pode durar uma noite, mas a
alegria vem pela manhã".
Com essa sensação inspiradora, desperto na segunda-feira, sentindo
que tudo será melhor e que tenho mais um dia pela frente para buscar a
felicidade.
Minha rotina diária consiste em trabalhar dois turnos no restaurante.
O primeiro inicia às dez horas e vai até às quatorze horas, quando
servimos o almoço. O segundo turno começa às dezoito horas e vai até às
vinte e duas horas, quando servimos o jantar.
Ao sair de casa, pouco antes das dez horas, não me surpreendo ao
avistar o carro de Jensen estacionado no acostamento da rua, esperando por
mim.
Jensen é um bom amigo que conheci quando ainda morava na
residência da família Kensington e reencontrei recentemente no Regal.
Desde então, ele tem sido um apoio constante, encorajando-me a
seguir em frente.
Embora eu perceba que ele deseja mais do que apenas amizade,
ainda não decidi se estou pronta para me envolver em um relacionamento
neste momento da minha vida, especialmente com alguém de uma classe
social superior à minha.
Já vivenciei uma experiência traumática ao me envolver com uma
pessoa desse contexto social.
No entanto, se um dia eu estiver pronta para me apaixonar
novamente, sem dúvida, será por Jensen.
Jensen sorri quando me aproximo do carro. Seus olhos azuis brilham
sob a luz do sol da manhã, complementando seu sorriso contagiante.
Ele abre a porta do carro e eu entro, cumprimentando-o com um
abraço caloroso.
— Bom dia. Obrigada por estar aqui — digo, sentindo uma mistura
de gratidão e um leve nervosismo.
— Sempre estarei aqui para você. É um prazer te acompanhar —,
responde ele, com um tom carinhoso na voz.
Cogito contar a ele sobre meu reencontro com Cassius, mas não
vejo razão para tocar no assunto.
Enquanto nos dirigimos em direção ao Regal, Jensen começa a
contar sobre seu fim de semana, cheio de eventos sociais luxuosos e
reuniões com pessoas da família.
Ele sempre foi um homem bem-sucedido, vindo de uma família rica
e com uma carreira promissora. No entanto, Jensen é diferente das outras
pessoas que conheci do mesmo círculo social.
Ele é genuíno, atencioso e parece verdadeiramente interessado em
quem eu sou como pessoa, independentemente da minha posição social ou
dos meus fracassos passados.
Essa é uma das razões pelas quais não consigo deixar de me sentir
atraída por ele.
Além disso, ele adora estar com Hazel e minha pequenina é
completamente apaixonada por ele. Jensen e meu pai, são suas únicas
referências de paternidade.
— Como você está hoje? — Jensen quer saber.
— Hoje é uma daquelas manhãs em que acordei com uma energia
positiva. Acho que vai ser um bom dia.
— Fico feliz em ouvir isso. Você merece toda a felicidade do
mundo, Ruby. Tenho certeza de que grandes coisas estão reservadas para
você.
— Obrigada por suas palavras. Você realmente acredita em mim,
mesmo quando eu mesma ainda estou tentando me convencer de que sou
capaz.
— Eu vejo o seu potencial. E não apenas como uma amiga, mas
como alguém que realmente se importa com você. Você é forte e corajosa, e
tenho certeza de que pode conquistar qualquer coisa que desejar.
Enquanto seguimos pela estrada, o rádio toca uma música animada
no fundo, e Jensen começa a balançar a cabeça no ritmo.
— Jensen, você está dançando no carro?
— É claro! A música é contagiante, e meu corpo não consegue
resistir ao groove matinal.
Não consigo conter o riso e solto uma gargalhada.
— Bom, só espero que você não tente dançar no trabalho quando
chegar lá. Não sei se os seus clientes estão prontos para uma performance
particular.
— Seria um espetáculo e tanto! Mas prometo me conter. Afinal, não
quero causar um rebuliço.
Chegamos ao Regal e Jensen estaciona o carro com cuidado. Ele
desliga o motor e vira-se para mim, com um olhar gentil e reconfortante.
— Aqui estamos. Mais um dia de trabalho, não é?
— Sim, mais um dia. Obrigada por me trazer até aqui. A sua
presença sempre faz com que as coisas pareçam mais leves.
— É um prazer estar ao seu lado. Agora, vá lá e arrase no trabalho.
Tenho certeza de que todos irão adorar sua simpatia e eficiência.
— Obrigada. Até mais tarde.
Damos um sorriso mútuo antes de eu sair do carro. Jensen acena
para mim enquanto dirige para longe, indo em direção ao seu próprio
trabalho.
Sinto-me grata por tê-lo na minha vida, e sei que, aconteça o que
acontecer, nossa amizade estará sempre firme.
CAPÍTULO 27

Ruby

Quando adquiriu o restaurante há alguns meses, Genevieve decidiu


manter toda a equipe, incluindo o chef. A única mudança que fez foi no
cargo de gerente, pois ela queria alguém em quem pudesse confiar
totalmente para liderar o estabelecimento.
Foi então que o descontraído Clark saiu e o meticuloso Benjamin
entrou. Esse homem é insuportável, sempre se mostrando autoritário,
carrancudo e exigente. No entanto, hoje ele está pior do que nos outros dias.
Assim que me vê entrando pela porta, ele me encarrega de lavar a
louça que os cozinheiros vão sujando, uma tarefa que não é minha, mas sim
do ajudante.
E como se isso não bastasse, ele me impede de ir servir as mesas,
alegando que o movimento de clientes está fraco e que minhas mãos serão
mais úteis na pia, limpando a sujeira.
Percebo que o problema dele é exclusivamente comigo quando ele
pede para o ajudante de cozinha assumir meu lugar no salão e me
sobrecarrega com as tarefas da cozinha.
Infelizmente, isso continua acontecendo ao longo do dia.
Não demora muito para eu perceber que isso é coisa de Genevieve.
Foi ela quem ordenou que ele agisse dessa forma, na esperança de me
forçar a pedir demissão.
Apesar de eu ter deixado claro durante nossa conversa de ontem à
noite que Cassius não significa mais nada para mim, ela simplesmente não
vai me deixar em paz.
Droga! Mil vezes droga! Lidar com uma mulher insegura é
realmente frustrante!
Tenho certeza de que esse tratamento tende a piorar. Genevieve não
vai descansar até que eu peça demissão.
E é exatamente o que pretendo fazer, mas não sem antes encontrar
outro emprego.
Nos dias seguintes, aproveito os momentos livres para distribuir
meu currículo em outros restaurantes renomados que ofereçam salários
equivalentes ao que ganho no Regal.
Chego a fazer algumas entrevistas, mas não é fácil encontrar um
lugar estável para trabalhar.
Enquanto isso, tenho que suportar a perseguição de Benjamin, que
me culpa por tudo o que dá errado no local de trabalho e me sobrecarrega
com tarefas que não são de minha responsabilidade.
Apesar de todo o estresse e pressão no trabalho, decido manter a
compostura e me esforçar para superar essa situação difícil.
Enquanto aguardo uma resposta dos lugares em que enviei meu
currículo, busco maneiras de lidar com Benjamin de forma diplomática,
evitando confrontos diretos.
Decido marcar uma reunião com Genevieve para discutir a situação.
Explico a ela que me sinto injustiçada e sobrecarregada com as
tarefas extras que Benjamin está me atribuindo.
Destaco que estou comprometida em fazer meu trabalho
corretamente, mas que as atitudes dele estão prejudicando minha
produtividade e motivação.
Genevieve parece surpresa com minhas palavras e garante que
nunca deu ordens específicas a Benjamin para me tratar de forma diferente.
Ela afirma que acredita na importância de uma equipe coesa e que
não deseja que eu deixe o emprego.
Promete investigar a situação e tomar as medidas adequadas para
resolver o problema.
No entanto, a situação permanece inalterada. O gerente persiste em
perseguir-me no trabalho, demonstrando cada vez mais determinação, o que
suscita dúvidas sobre a afirmação de Genevieve de que não está envolvida
nisso.
Além de ser uma pessoa insegura, ela revela-se falsa e mentirosa, o
que me faz entender por que Cassius a escolheu para ser sua esposa. Ambos
são compatíveis nesse aspecto.

***

Finalmente, a tão esperada quinta-feira chegou e estou de folga do


restaurante. Como costumamos fazer de tempos em tempos, Jensen, Hazel,
minha mãe e eu decidimos passar o dia na praia.
Aproveitando a agradável sombra de dois guarda-sóis, nos
acomodamos sobre uma toalha macia espalhada na areia fofa. Os quatro
desfrutamos de um dia incrível de descontração e alegria.
Durante todo o tempo, fico verdadeiramente encantada com a
relação carinhosa entre Jensen e minha filha.
Ele a trata com tanto amor, mergulhando com ela nos braços e até
tentando ensiná-la a surfar.
Obviamente, não espero que um bebê de dois anos e meio consiga
ficar em pé sobre uma prancha, mas é maravilhoso ver a diversão que a
Hazel tem enquanto Jensen tenta ensiná-la.
Estou sempre ao lado deles para garantir sua total segurança.
Além disso, algo que me fascina em Jensen é o quão simples ele é,
mesmo sendo dono de uma das maiores fortunas dos Estados Unidos.
Ao contrário de outras pessoas de sua classe social, ele não se
importa em se sentar na areia e comer as comidas dos vendedores
ambulantes que passam pela praia.
Ele interage conosco como se fôssemos parte de sua própria família.
É realmente inspirador.
Acho que chegou o momento de dar uma chance a ele e levar nosso
relacionamento para um novo patamar.
Afinal, Jensen não tem culpa dos acontecimentos passados com
Cassius e sua mãe, que me magoaram tão cruelmente apenas por causa da
minha condição financeira.
À noite, Jensen passa em minha casa para irmos a um show de
Andrea Bocelli, que se apresentará no prestigiado Walt Disney Concert
Hall.
O evento é tão concorrido e exclusivo que os ingressos custaram
uma pequena fortuna e precisamos reservá-los meses antes.
Para essa ocasião especial, escolho usar um dos maravilhosos
vestidos costurados pela minha mãe, que se inspirou em modelos da alta
costura que encontrou na internet. Se trata de um deslumbrante vestido
vermelho intenso, com um corpete ajustado, decote em V profundo e
detalhes de renda e bordados que ressaltam minha feminilidade.
A saia fluida, com camadas de chiffon, cria uma aparência volumosa
e graciosa. O vestido realça minha silhueta de maneira elegante,
proporcionando confiança e sensualidade.
Completo o visual com sandálias de salto, uma bolsa de mão e meus
cabelos soltos, escovados em generosas mechas onduladas.
Sinto-me extremamente grata por estar tão bem-arrumada ao entrar
no Walt Disney Concert Hall e perceber a elegância dos trajes e o
comportamento das pessoas ao meu redor.
Apenas a alta sociedade de Los Angeles está presente, um grupo
privilegiado que teve condições financeiras para adquirir esses ingressos.
Jensen e eu nos acomodamos nos assentos da primeira fila.
— Sinto-me abençoada por ter minha mãe, que costura, senão eu
nunca teria dinheiro para comprar uma roupa apropriada para esse show. —
comento, observando ao redor.
Jensen sorri gentilmente.
— Acredito que sua mãe deveria considerar vender os vestidos que
cria. Ela tem um talento incrível.
— Já sugeri isso para ela. Mas, ela é bastante tímida para lidar
diretamente com os compradores.
— Talvez ela precise apenas de um empresário. Quem sabe eu possa
apresentá-la a alguém que atue nesse ramo da moda.
Eu olho para Jensen com surpresa. A ideia de minha mãe ter um
empresário para vender suas criações nunca tinha passado pela minha
cabeça antes. Seria uma oportunidade incrível para ela mostrar seu talento e
alcançar um público maior.
— Você faria isso por ela? — pergunto, esperançosa.
Jensen sorri novamente.
— Claro, eu adoraria ajudar. Se sua mãe está disposta a dar uma
chance, posso apresentá-la a algumas pessoas influentes nesse ramo. Tenho
alguns contatos que podem ser úteis.
Fico emocionada com sua generosidade. Ele realmente se importa
não apenas comigo, mas também com minha mãe e seu talento.
Sinto meu coração aquecer ao pensar nas possibilidades que isso
poderia trazer para nós.
Sua atitude deveria me fazer perceber que ele é o homem certo para
mim, mas algo inexplicável insiste em contradizer essa ideia.
Talvez ele seja bom demais para ser verdade. Ou talvez minha
relação prejudicial com o pai biológico da minha filha tenha deixado
marcas profundas em mim para sempre.
O show de Andrea Bocelli começa, e somos envolvidos pela beleza
e emoção de sua música.
Enquanto escutamos sua voz poderosa ecoar pelo lugar, tento
imaginar o que o futuro reserva para mim, para minha filha e para minha
mãe, se eu aceitar Jensen definitivamente na minha vida.
Tento vislumbrar um futuro ao lado dele, mas meus pensamentos
são involuntariamente arrastados para Cassius.
Me pego desejando que ele estivesse aqui comigo, que fosse tão
gentil e atencioso como Jensen. Porém, sei que isso nunca acontecerá.
É uma loucura continuar permitindo que esses pensamentos sobre
ele me afetem.
Sacudo a cabeça, tentando afastar os devaneios, e volto minha
atenção para o show.
Sou profundamente tocada pela voz do cantor italiano, a ponto de
lágrimas começam a brotar dos meus olhos.
CAPÍTULO 28

Ruby

Após o show, Jensen e eu caminhamos pelos corredores do lugar,


ainda sob o encanto da apresentação.
As pessoas ao nosso redor estão animadas e comentam sobre a
grandiosidade do evento.
Enquanto caminhamos, Jensen segura minha mão com carinho.
Sinto-me segura e protegida ao seu lado.
Olho para ele e sorrio, sentindo que o futuro pode ser muito mais
brilhante do que jamais imaginei.
Paramos para conversar com um grupo de amigos de Jensen, aos
quais ele me apresenta como sua namorada.
Ao nos afastarmos deles, somos surpreendidos por duas pessoas que
atravessam nosso caminho.
Meu coração dá um salto quando percebo que são Cassius e
Genevieve, parados ali diante de nós, de mãos dadas, tão elegantes quanto
as outras pessoas presentes.
— Cassius, que surpresa encontrá-lo aqui! Quanto tempo faz! —
Jensen diz, com sua habitual descontração e simpatia.
Ele estende a mão em cumprimento, mas Cassius não a segura,
parecendo nem mesmo notá-la, seus olhos verdes alternando entre nossos
rostos e nossas mãos entrelaçadas.
— Querido, o rapaz está falando com você. — Genevieve fala,
exibindo um sorriso claramente forçado.
Sua voz parece trazer Cassius de volta à realidade.
— Ah, sim. Realmente faz muito tempo. Como você está? —
Cassius aperta a mão de Jensen.
— Estou ótimo, cara. E você, parece estar muito bem também. Não
vai me apresentar sua namorada?
— Claro. Essa é Genevieve. Amor, esse é Jensen, um velho amigo.
Genevieve e Jensen apertam as mãos em cumprimento.
— Ruby, você já conhece. Lembra-se dela?
— Claro que sim. Os pais dela trabalhavam na minha casa. Como
vai, Ruby?
— Muito bem. Obrigada por perguntar.
— O que você tem feito ultimamente? — Jensen continua, sem
parecer perceber a tensão que paira no ar — A última vez que nos
encontramos foi durante aquela viagem a Bali. Depois disso, você
simplesmente desapareceu.
Cassius empalidece e dá um passo para trás, reagindo às palavras de
Jensen. A tensão se instala nele, fazendo com que seus ombros fiquem
retesados.
Embora Jensen tenha mencionado Bali, ele não sabe sobre o
incêndio que Cassius causou acidentalmente e que resultou na morte de
tantas pessoas.
Depois que nos reencontramos, tentei abordar o assunto sutilmente
várias vezes para descobrir se ele tinha conhecimento do ocorrido, mas ele
não tinha.
Parece que Cassius se isolou em seu quarto de hotel após o
incidente, sentindo-se tão culpado que mergulhou em uma profunda
depressão.
Sua família teve que buscá-lo no país, em um avião particular. Ele
nem mesmo compartilhou com os amigos que estavam viajando junto o que
realmente aconteceu.
— Ruby, podemos conversar em particular? — Cassius propõe,
olhando-me com preocupação, uma ruga se formando entre suas
sobrancelhas.
— Na verdade, estávamos de saída. — tento.
— Será apenas um minuto. Não vai demorar.
Sem que ninguém ali espere, Cassius segura meu braço e me puxa
pelos corredores cheios de pessoas.
Paramos alguns metros adiante e ele se vira para mim, olhando-me
diretamente nos olhos.
Tento manter uma expressão indiferente, mas sinto um baque
interior ao encontrar seu olhar, meu coração batendo descompassado no
peito.
Tenho vontade de esquecer o mundo ao nosso redor, me jogar em
seus braços e dizer o quanto sinto falta dele na minha vida.
Num mundo perfeito e inalcançável, eu o escolheria para ser o
homem da minha vida, ao lado de quem criaria nossa filha. Mas não sou do
tipo que pode ter o que quer.
— O que você está fazendo? Genevieve vai me demitir! —
exclamo, alarmada.
— Ela não vai fazer isso. Você tem a minha palavra.
Abro a boca para falar sobre como ela tem me perseguido no
trabalho, simplesmente por nos ver conversando. Mas mudo de ideia,
porque, em primeiro lugar, não tenho provas, e, em segundo lugar, não
ganho nada causando discórdia entre os dois.
— O que você quer?
— Quero saber por que você está com esse cara. Será que você
enlouqueceu?
— Não sei do que você está falando.
— Ele estava comigo em Bali, quando tudo aconteceu. Não passou
pela sua cabeça que ele pode estar te usando para chegar até mim?
Refletindo sobre suas palavras, percebo que elas não fazem o menor
sentido. Por que diabos Jensen iria querer atingir Cassius de alguma forma,
se o acidente com o incêndio não teve nada a ver com ele? E, se fosse esse
o caso, haveria outras maneiras de afetá-lo que não envolvessem a mim.
É evidente que Jensen está ciente de que Hazel é filha de Cassius.
Não há como esconder isso dele, afinal, minha filha é a imagem do pai.
No entanto, Jensen também sabe o quanto Cassius me tratou de
forma desprezível quando descobriu minha gravidez.
Seria impensável para Jensen se aproximar de mim com intenções
de atingir Cassius.
Eu sou a última pessoa que ele buscaria para alcançar qualquer
objetivo relacionado a Cassius.
— Acho que você está delirando. Se Jensen quisesse chegar até
você, eu seria a última pessoa que ele procuraria. Além disso, o que ele tem
a ver com o que aconteceu em Bali?
— Eu não sei. Até onde sei, ele não sabe sobre o que aconteceu lá.
Mas você não acha estranho que logo ele esteja tão perto de você?
Cruzo os braços indignada.
— E você acha que um homem rico e bem-sucedido como ele não
ficaria com uma pessoa como eu? Você nunca muda!
— Não é sobre isso. Não tem nada a ver. Por que ele nunca
demonstrou interesse por você quando seus pais trabalhavam na minha
casa?
— Porque ele estava comprometido com outra pessoa naquela
época. Nem todos os homens são canalhas, se é que você me entende.
— Eu não sou um canalha, se é isso que está insinuando.
— Você me propôs ser sua amante enquanto está noivo de outra
pessoa. Não há atitude mais canalha do que essa.
Cassius passa a mão pelos cabelos, claramente nervoso.
— Não se trata disso. Essa proximidade de Jensen com vocês não é
normal. Como vocês se reencontraram?
— No restaurante, assim como eu me reencontrei com você. Foi
pura coincidência.
Minhas palavras parecem acalmar um pouco sua preocupação.
— Ainda assim, é muito estranho. Prometa que vai tomar cuidado
com ele.
— Não tenho que te prometer nada. Você não tem nada a ver com a
minha vida. Se era só isso que queria falar, com licença.
Dito isso, dou meia volta e volto para perto de Jensen.
Jensen encerra a conversa na qual estava envolvido com Genevieve
e olha para mim com curiosidade quando me aproximo, percebendo a
tensão que pairava no ar durante nossa conversa com Cassius.
Seus olhos azuis brilham com uma mistura de preocupação e
questionamento.
— Está tudo bem? — ele pergunta, sua voz suave transbordando de
carinho, seu olhar alternando entre mim e Cassius, que também se
aproxima.
— Sim, está tudo bem. Cassius só estava um pouco abalado com
algo pessoal. Nada para se preocupar. — Respondo, tentando disfarçar a
turbulência emocional que se esconde sob a minha expressão calma.
Jensen me envolve em um abraço reconfortante, e me sinto segura
em seus braços. Ele acaricia meu cabelo gentilmente enquanto sussurra
palavras tranquilizadoras no meu ouvido.
Enquanto ele me toca, quase posso sentir o peso de olhar de Cassius
sobre nós, mas não olho na direção dele.
— Não importa o que aconteça, estarei aqui ao seu lado, sempre.
Você é importante para mim, e farei tudo o que puder para te proteger.
Seus gestos e palavras calorosas me acalmam, mas minha mente
ainda está tomada pelas palavras de Cassius. Será que há algo que eu não
saiba sobre Jensen? Por que Cassius está tão preocupado com a nossa
proximidade?
Preciso confrontar Jensen e exigir a verdade, mas tenho que ter
cuidado para não comprometer Cassius ao mencionar o incêndio em Bali.
Talvez seja mais sensato deixar esse assunto de lado por enquanto.
Com uma despedida fria e tensa, deixamos Cassius e Genevieve na
casa de shows e seguimos em direção à minha casa.
— Que tal finalizarmos essa noite no meu apartamento? — propõe
Jensen, enquanto dirige em direção à minha casa.
Já está passando da hora de levarmos nossa relação a outro patamar,
e esse seria o próximo passo. Para falar a verdade, passou pela minha
cabeça finalmente ir para a cama com ele. No entanto, agora percebo que
não é o que realmente quero.
Apesar de Jensen parecer o homem perfeito para mim, o pai ideal
para Hazel, não sinto nenhum desejo sexual por ele.
Na minha cabeça e no meu coração, ele não passa de um bom
amigo, o que é lamentável.
— Hoje não. — respondo.
Com o canto do olho, percebo suas mãos apertando o volante, a
ponto de as juntas dos seus dedos ficarem brancas.
— Quando então?
— Eu não sei.
— Não quero te pressionar, mas tenho a sensação de que estou
nadando contra uma forte correnteza.
— Não sei o que isso significa.
— Significa que você está me enrolando. — diz ele, pela primeira
vez desde que o conheço, com um tom de voz ligeiramente ríspido.
Suas palavras me fazem sentir pressionada, causando certa repulsa.
— Vou entender se você quiser se afastar de mim.
— Eu não quero me afastar de você. Pelo contrário, quero estar
sempre na sua vida. Mas preciso ter certeza de que você também quer isso.
— Eu quero. Mas preciso de tempo antes de dar o segundo passo.
— Você vem repetindo isso há meses.
Novamente me sinto pressionada e decido não dizer mais nada.
Permanecemos em silêncio durante todo o restante do percurso, a tensão
tomando conta do interior do carro, até que ele estaciona em frente à minha
casa.
— Será que eu tenho o direito de pelo menos um beijo?
Minha vontade é dizer não, mas sinto que estaria sendo ingrata.
— Claro. E por que não?
Com um sorriso suave, Jensen se livra do cinto de segurança e se
inclina na minha direção. Fecho os olhos, esperando pelo beijo. No entanto,
antes que nossos lábios se encontrem, os faróis de outro carro batem
diretamente no vidro do veículo onde estamos, iluminando fortemente nós
dois, ofuscando nossos olhos, o que nos faz afastar rapidamente um do
outro.
— Que porra é essa?! — esbraveja Jensen, sobressaltado.
— Não sei. Talvez seja um assalto.
Fico assustada quando ele enfia a mão no porta-luvas e pega um
revólver, escondendo-o sob a perna, sua expressão se tornando mais
sombria do que eu jamais tinha visto.
CAPÍTULO 29

Cassius

Depois que Ruby se foi, Genevieve se tornou ainda mais


insuportável, falando sobre ela incessantemente e querendo saber o que
conversamos quando chamei Ruby em particular.
No entanto, não posso simplesmente olhar para minha futura noiva e
confessar que fui responsável pela morte de uma família inteira, pois isso
certamente faria com que ela saísse correndo, assim como Ruby fez há três
anos, ao descobrir a verdade.
No fundo, talvez não seria tão ruim se Genevieve decidisse sair da
minha vida. Estou começando a sentir um certo desgosto nesse
relacionamento.
A única coisa que me mantém ligado a ela são os benefícios
comerciais que essa relação traz para nossas famílias.
Depois do show, levo Genevieve para casa, mas não consigo prestar
atenção em uma só palavra que ela diz enquanto dirijo.
Minha mente está totalmente focada em Ruby e no choque que foi
vê-la ao lado de Jensen.
Recuso-me a acreditar que seja apenas uma coincidência. É estranho
demais que um dos caras que estava comigo em Bali, naquela terrível
ocasião, esteja agora tão próximo da única garota que já significou algo
para mim.
Além disso, sempre achei que Jensen tinha um lado sombrio. Só
porque fomos juntos naquela viagem não significa que sejamos melhores
amigos.
Eu mal o conhecia. Apesar de frequentar minha casa naquela época,
ele era mais próximo dos meus outros companheiros de viagem do que de
mim, o que explicaria por que ele estava conosco.
Por outro lado, talvez Jensen tenha reencontrado Ruby por mero
acaso, e todas essas teorias conspiratórias na minha cabeça sejam apenas
especulações causadas pelo meu ciúme descontrolado ao vê-los juntos.
Apesar da forma cruel como Ruby saiu da minha vida,
desaparecendo sem nem dizer adeus, eu nunca consegui esquecê-la durante
todos esses anos.
Desde que a reencontrei no restaurante de Genevieve, tenho vivido
um verdadeiro inferno, segurando-me para não ir atrás dela.
Mas algo mudou agora, pois ela pode estar correndo riscos por
minha causa ao sair com esse homem sobre quem sabemos pouco.
Não tenho certeza se serei capaz de conter essa vontade insana de
procurá-la, pois minha prioridade é protegê-la, caso minhas suspeitas se
confirmem.
— Está entregue. — digo quando estaciono em frente ao prédio
onde Genevieve mora.
— Você não vai subir comigo?! — Sua voz está carregada de
perplexidade, e sua expressão revela uma mistura de desapontamento e
desconfiança.
— Hoje não. Estou com dor de cabeça.
— Uma dor de cabeça que sempre volta quando você encontra
aquela garçonete!
— Isso não tem nada a ver com ela. Realmente não estou me
sentindo bem.
— O que você tem com essa garota?!
— Como eu já te disse mais de dez vezes, não tenho nada com ela.
— Você me envergonhou ao convidá-la para conversar em particular
na frente de todo mundo. O que vão pensar de mim?
— É com isso que você está preocupada?
— Claro que não. Só não quero acordar um dia e descobri que eu fui
trocada por uma de minhas funcionários.
— Eu já disse que não tenho nada com ela. Agora preciso ir para
casa, tomar um analgésico e dormir.
— Prometa que não vai procurá-la.
— Não vou procurá-la.
Genevieve se vira para mim, olhando-me intensamente.
— É sério, Cassius. Me dê sua palavra de que não vai atrás dela.
— Já disse que não vou. O que mais você quer de mim?
— Que prometa.
— Eu prometo.
— Obrigada.
Com isso, ela se inclina em direção ao meu colo, e nos despedimos
com um beijo profundo e demorado.
Depois de esperar Genevieve entrar e me inserir novamente no
tráfego pouco movimentado, minha intenção é realmente cumprir minha
promessa e voltar para casa para dormir.
No entanto, Ruby invade meus pensamentos de forma inevitável,
roubando minha paz.
Não consigo parar de pensar que ela possa estar em perigo nas mãos
de Jensen e que o reencontro deles não seja apenas uma coincidência.
E se ele for amigo da família que acidentalmente eliminei em Bali?
E se ele estiver trabalhando em conluio com os dois irmãos que tentaram
me matar alguns anos atrás? Isso explicaria por que aqueles dois
desapareceram da minha vida, como se tivessem desistido de buscar justiça.
Lembro-me de Jensen dizendo que ia a Bali pelo menos cinco vezes
por ano durante nossa viagem, o que torna perfeitamente possível a hipótese
de ele conhecer aquelas pessoas.
Por outro lado, todas essas teorias podem ser apenas produtos da
minha imaginação. Um pretexto para concretizar aquilo que mais quero,
que é me reaproximar de Ruby.
Minha mente está fervendo de pensamentos. Uma inquietação
incontrolável toma conta de mim.
Não posso permitir que Ruby corra riscos por minha causa.
Quando me dou conta, estou entrando em um retorno, desviando do
caminho para o meu apartamento e seguindo em direção à casa de Ruby.
É provável que ela e Jensen estejam juntos agora, seja em um motel
ou na casa dele. Provavelmente, apenas perderei meu tempo indo até lá.
Ainda assim, não consigo parar e dirijo até Skid Row.
Ao me aproximar da modesta casa onde Ruby mora, vejo um
Mercedes caro demais para as pessoas que vivem nesse bairro estacionado
do outro lado da rua. Obviamente, é o carro de Jensen.
Então, eles ainda estão aqui. Ainda tenho tempo para impedir que se
dirijam para um lugar mais íntimo, como certamente costumam fazer.
Sinto-me patético por minhas ações insanas, mas paro o carro bem
em frente a eles e aumento o farol, vendo os dois no banco da frente do
Mercedes prestes a se beijarem.
Não tenho certeza se eles me reconhecem, quando salto e me
aproximo da porta do passageiro.
A expressão de Ruby vai de apavorada para atônita no instante em
que ela me vê.
Também percebo que Jensen esconde um revólver entre as pernas.
Eu sabia que esse cara não prestava!
— Ruby, precisamos conversar agora mesmo. — declaro diante das
duas pessoas boquiabertas, sem dar muita importância ao que estão
pensando de mim.
— Você ficou louco? O que está fazendo aqui? — Ruby indaga.
— Talvez eu tenha ficado louco, mas ainda assim quero falar com
você, é urgente.
— Não temos nada para conversar. Volte para Genevieve.
— Eu já disse que o assunto é urgente.
— E ela já disse que não quer conversar, cara. Saia daqui! — É
Jensen quem fala.
— Não vou sair daqui até você falar comigo!
— Você não vai forçá-la a nada. Estou aqui para garantir isso. —
Ele aponta o revólver diretamente para minha cabeça. — Ou você vai
embora, ou eu coloco uma bala na sua cabeça!
Ruby se projeta para frente, colocando-se entre mim e o cano da
arma.
— Chega, Jensen. Por favor, guarde isso antes que faça algo do qual
se arrependerá depois. — Ela olha para mim. — Tudo bem, Cassius, vou
falar com você.
— É sério que vai me deixar sozinho para falar com esse cara? —
Me satisfaço ao ver o quanto Jensen está desapontado e chateado.
— Vou ouvir o que ele tem a dizer. Se ele dirigiu até aqui, deve ser
importante.
— Eu te espero aqui.
— Pode ir. Assim que terminar de falar com ele, vou dormir. Nos
vemos depois.
Dito isso, Ruby sai do Mercedes e Jensen parte furiosamente,
cantando pneus no asfalto.
— Espero que o que você tenha a dizer seja realmente importante.
— Enquanto fala, Ruby atravessa a rua, me dando as costas e evitando me
encarar.
Desligo os faróis do meu carro e me apresso em segui-la,
alcançando-a antes que ela entre em casa.
— Você não pode andar com esse cara. Não sabe o que ele está
planejando.
Ela se vira e me encara com os olhos perplexos.
— Você atrapalhou meu encontro para me dizer isso?
— Sei que não está levando a sério minha teoria, mas esse cara está
tramando algo contra você. Ele não é confiável.
— Por acaso você ainda está usando drogas?
— Não. Estou limpo há dois anos, três meses e cinco dias.
— Nesse caso, acha que não sou o tipo de mulher por quem um
homem como Jensen se interessaria.
— Não é isso. Você é o tipo de mulher por quem qualquer homem
se interessaria. Você é linda, inteligente, carinhosa e todos os outros
adjetivos que não consigo lembrar agora. Mas essa situação está muito
estranha. Como pode estar namorando um dos caras que estava comigo em
Bali naquele verão maldito? Pense bem, Ruby. Há algo errado nessa história
e não consigo dormir enquanto acreditar que você está em perigo.
— Pode dormir tranquilo. Jensen não representa perigo algum para
mim. Ele nem sabe o que aconteceu em Bali naquele verão. Tentei tirar essa
informação dele, jogando indiretas. Tenho certeza de que ele não sabe.
Nosso reencontro foi por mero acaso, assim como foi o reencontro entre nós
dois. Los Angeles é uma cidade pequena.
— Talvez eu esteja ficando louco, mas não consigo tirar da cabeça
que ele pode te fazer mal de alguma forma. E eu jamais me perdoaria se
algo ruim acontecesse a você por minha causa.
— Se sua preocupação é culpa, pode voltar para casa tranquilo.
Nada de ruim vai acontecer. Jensen é uma pessoa ótima. Vocês eram
amigos, lembra? Agora preciso entrar e descansar. Daqui a algumas horas,
tenho que ir para o trabalho.
Antes que ela tenha tempo de se virar, eu a cerco entre meus braços,
prendendo-a entre mim e a porta, nossos corpos próximos o suficiente para
sentir seu calor deliciosamente feminino.
— Meu problema não é culpa. Não consigo nem imaginar alguém te
machucando porque... porque... sou louco por você. — Percebo a mudança
em seu olhar e no ritmo de sua respiração. — É isso mesmo. Nunca
consegui te esquecer durante todo esse tempo. Mesmo tentando evitar,
acordo pensando em você todos os dias. Seu cheiro, o som da sua voz, a
forma como você geme quando estamos fazendo amor, estão gravados na
minha mente o tempo todo.
Ficamos em silêncio, nos encarando por um longo momento. Meu
coração está prestes a explodir dentro do peito, as emoções dominam cada
parte de mim.
— Você não pode dizer essas coisas para mim, mas sim para sua
noiva.
— Ela não é minha noiva. Em breve, não será nem mesmo minha
namorada. Não é ela que eu quero, é você. Quero tanto que às vezes chega a
doer. Minha mente está uma bagunça desde que te vi com aquele cara.
— Você realmente acha que não fiquei com nenhum homem durante
todo esse tempo?
— Eu sei que ficou, mas não quero nem pensar nisso. Não suporto
ver você com outra pessoa. Isso acaba comigo, porque você é minha e eu
não quero você com mais ninguém.
— Eu não sou sua. Nem chego perto disso.
— Eu posso provar.
Já não consigo pensar racionalmente. As emoções intensas ditam
todas as minhas ações.
Com o coração acelerado, inclino o pescoço e tomo seus lábios em
um beijo ávido e faminto.
No começo, Ruby tenta resistir, empurrando-me com punhos
cerrados, mas logo ela cede, beijando-me de volta, e eu deliro ao sentir sua
língua na minha, provando que estou certo quando digo que ela me
pertence.
A verdade é que pertencemos um ao outro, e nem o tempo em que
estivemos separados pode mudar isso.
CAPÍTULO 30

Ruby

O beijo se prolonga, e a intensidade da paixão nos consome. Nossos


corpos se encaixam perfeitamente, como se nunca tivessem se separado.
Cada toque, cada carícia, reacende o fogo que sempre existiu entre
nós.
O desejo há tanto tempo reprimido se manifesta com uma força
avassaladora.
Nos beijamos durante um longo momento, nossos corpos
pressionando um ao outro, quase se fundindo, nossas línguas se
entrelaçando.
O calor do desejo se espalha pelas minhas veias.
Estou prestes a me render completamente a ele, mas forço minha
mente a lembrar de todos os motivos que nos separaram.
Recordo da acusação de interesseira feita pela mãe dele, que
resultou na demissão dos meus pais sob ameaça de prejudicar suas futuras
oportunidades de emprego.
Visualizo cada palavra daquela última mensagem que ele me
enviou, onde alegava que eu estava interessada apenas em seu dinheiro,
insinuando que eu teria engravidado intencionalmente.
A dor que esses pensamentos trazem é lancinante, e uma mistura de
raiva e angústia se instala em mim.
Sem perceber, cravo minhas unhas afiadas no rosto de Cassius,
arranhando-o do olho até o canto da boca, fazendo com que ele se afaste
imediatamente.
— Awww... por que você fez isso? — grita Cassius, levando as
mãos ao ferimento que causei.
— Para que você entenda de uma vez por todas que nada mais vai
acontecer entre nós. Volte para sua namorada e me deixe em paz.
— Não é ela que eu quero, e sim você! Caralho, o que diabos você
colocou nessas unhas!?
Entro em pânico ao perceber que minhas unhas não causaram
apenas um arranhão.
O sangue continua a escorrer abundantemente do lugar onde o
atingi, respingando em sua camisa branca.
Meu Deus! Como simples unhas podem causar tanto estrago!?
— Você está bem?
— Claro que não! Preciso estancar esse sangue.
— Venha, eu posso ajudar.
Alarmada, pego a chave da bolsa e abro a porta, convidando Cassius
a entrar.
O dia está quase amanhecendo. Nesse momento, meu pai já saiu
para o trabalho, pois ele atua em uma residência do outro lado da cidade e
precisa ir cedo. Minha mãe e Hazel ainda estão dormindo.
— Por favor, não faça barulho. Não quero acordar ninguém.
— Ainda mora com seus pais? — Cassius observa o ambiente ao
seu redor, aparentemente achando-o simples demais em comparação com o
que está acostumado.
— Sim, ainda moro. Nem todos têm a obsessão dos ricos em sair de
casa quando atingem a idade adulta. Nós, meros mortais pobres, vivemos
onde podemos.
— Você dá muita importância a essa questão de ricos e pobres.
Essas características não definem uma pessoa.
Conduzo-o até a cozinha e o faço sentar-se à pequena mesa. Vou até
a gaveta do armário e pego a caixa de primeiros socorros, tentando fazer o
mínimo de barulho possível.
Molho um pedaço de gaze com soro fisiológico e me sento diante de
Cassius, limpando o sangue do ferimento.
A ferida não está tão profunda assim. Começa com um corte perto
do olho e vai ficando mais rasa ao alcançar a bochecha.
— Não está tão terrível assim. Você vai sobreviver.
— Pelo menos agora sei que você é perfeitamente capaz de se
defender caso alguém tente algo contra você.
Cassius olha para mim com uma mistura de admiração e
preocupação em seus olhos verdes.
Enquanto continuo a limpar o ferimento, percebo que a raiva e a dor
que me consumiam estão diminuindo lentamente, substituídas por um
sentimento de culpa.
Eu não queria tê-lo machucado daquela maneira, não importa o
quanto estivesse magoada.
— Sinto muito por ter reagido daquela forma, Cassius. Eu... eu não
devia ter feito isso — murmuro, sentindo um aperto no peito.
Ele me olha com compreensão e toma minha mão suavemente,
interrompendo o processo de limpeza.
— Não se preocupe, está tudo bem. Fico feliz em ver que você não é
tão frágil como parecia. Espero que qualquer idiota que tente te aborrecer
tenha misericórdia de si mesmo.
Absorvo suas palavras e um riso escapa dos meus lábios, aliviando a
tensão da situação.
Retiro minha mão da sua e continuo cuidando do ferimento.
De repente, ouço o rangido de uma porta se abrindo e minha mãe sai
do meu quarto, segurando Hazel em seus braços.
Meu coração quase para de bater e um tremor intenso percorre meu
corpo quando ambas se aproximam de nós, e os olhos de Cassius se fixam
diretamente na minha filha.
Meu nossa! E se ele perceber a semelhança física entre si mesmo e
minha filha?!
— O que está acontecendo aqui? — minha mãe quebra o silêncio ao
avançar pela cozinha, seus olhos sonolentos atraídos pelo sangue
respingado na camisa de Cassius.
— Não foi nada. Eu caí na calçada e me machuquei. — Cassius se
levanta e estende sua mão para minha mãe. — Como vai, Mary? Já faz
muito tempo!
Ela aperta a mão dele enquanto segura Hazel com o outro braço.
— É, faz bastante tempo mesmo. Mas o que você está fazendo aqui?
— Nos reencontramos por acaso no show do Andrea Bocelli. — Me
apresso em dizer, sentindo-me culpada por não ter contado a ela sobre o
reencontro com Cassius no Regal alguns dias atrás.
— Mamãe, não "quelo celeal. Quelo" bacon. — Hazel fala.
— Mamãe!? — Cassius repete, observando a garota com um olhar
ligeiramente chocado, a boca entreaberta de surpresa. — Então você tem
uma filha?
— Sim, eu tenho uma filha.
— Posso segurá-la?
Cassius estende os braços para a pequena sapeca e meu corpo se
enrijece quando ela passa para o colo dele sem hesitar, como se o
conhecesse.
Observando os dois juntos, percebo que são ainda mais parecidos do
que imaginei. Parecem réplicas um do outro.
— Mas que coisinha mais linda! Parece uma bonequinha! —
Cassius a ergue no ar, acima de seu rosto, e em seguida aspira o cheirinho
dela, acomodando-a confortavelmente em seus braços.
Sentindo-me gelada, vou até minha mãe. Ao segurar suas mãos,
percebo que não sou a única que está tremendo.
— Quantos aninhos você tem, princesa?
Hazel estica os dois dedinhos no ar, indicando sua idade.
— Ela tem um ano e meio. — intervenho.
Minha mãe vira o pescoço para me olhar e eu lhe dou uma
cotovelada discreta nas costelas.
— Ela é grande para essa idade. Vai ficar bem alta quando crescer.
— E por que você caiu na calçada? Por acaso você é idiota? —
Hazel dispara, e Cassius solta uma gargalhada.
— Nossa! Você tem a língua afiada como sua mãe e é muito madura
para a sua idade. Com um ano e meio já fala tão claramente.
— "Clalamente".
Cassius sorri novamente.
— Não, coisa linda, eu não sou idiota. Apenas me descuidei e
tropecei. Espero que você tome cuidado com aquela calçada.
— Mamãe não me deixa "blincar" na calçada. — Hazel estica o
lábio inferior, fazendo charme e drama ao mesmo tempo.
— Sua mãe está certa. É perigoso para uma bonequinha como você
brincar lá fora. Mas eu tenho uma casa em Malibu com um quintal
gigantesco, onde você poderá correr o dia inteiro. Gostaria de conhecer?
— Ahan.
— Agora já chega. — intervenho, tirando Hazel do colo de Cassius.
— Hazel precisa tomar café da manhã e eu preciso descansar um pouco
antes de ir trabalhar.
Cassius me lança aquele olhar suplicante, igual ao de Hazel pedindo
para comer bacon em vez de cereal.
Ele espera que o convidemos para o café da manhã, mas não tenho
intenção de fazer isso.
— Bem, acho que essa é minha deixa para ir embora. — Ele toca
suavemente o esparadrapo que coloquei em seu ferimento. — Obrigado
pelo curativo. A gente se vê por aí?
— Dificilmente.
Ele se despede da minha mãe e depois dirige seu olhar para o
rostinho de Hazel.
— Até mais, coisinha linda. Foi um prazer conhecê-la.
— Até mais, moço descuidado.
— Meu nome é Cassius.
— Então até mais, Cassius.
Coloco Hazel no chão, sob os cuidados da minha mãe, que começa a
mexer nas panelas, e acompanho Cassius até a porta.
— Onde está o pai dela? Não vai me dizer que é Jensen. — Cassius
pergunta quando nos aproximamos da porta e já não podemos ser ouvidos
da cozinha.
Pigarreio antes de recorrer à mentira que sempre conto quando ouço
essa pergunta.
— Ele mora na Itália. É americano, mas se mudou para lá há muito
tempo. Tivemos um caso rápido enquanto ele estava de férias aqui.
Ele fecha os olhos e os aperta, como se estivesse sentindo dor.
— Tudo bem, não precisa entrar em detalhes. — Cassius volta a me
encarar, com aquele olhar intenso que um dia tanto amei. — O que acha de
levarmos Hazel para brincar no jardim da casa em Malibu? Tenho certeza
de que ela vai adorar.
— Melhor não.
— E por que não?
— Porque esse tipo de interação entre nós não é possível. Você tem
uma namorada ciumenta, eu estou tentando resolver as coisas com Jensen.
Além disso, não podemos inserir Hazel em uma realidade da qual ela não
fará parte. Não seria saudável.
— Meu Deus, ela poderia ser minha.
Lembro-me de sua reação quando contei que estava grávida, e a
raiva se acende dentro de mim.
— Mas ela não é e nunca será.
Ele recua um passo, como se eu o tivesse agredido fisicamente.
— Acho que entendo por que você não teria um filho com alguém
como eu.
— Pois é. Ainda bem que você entende.
Cassius suspira profundamente, resignado.
— Bem, vou te deixar em paz. Até outro momento.
— Até.
Ele me encara intensamente por um longo momento de silêncio
antes de finalmente deixar a casa.
CAPÍTULO 31

Ruby

Tranco a porta por dentro e retorno à cozinha, onde encontro Hazel


sentada à mesa, brincando com os cereais, enquanto minha mãe prepara
algo no fogão.
Me acomodo na cadeira ao lado da minha filha e a coloco no meu
colo, acariciando seus cabelos escuros com afeto.
Minha mãe deixa de lado o que estava fazendo e se senta em frente
a mim, olhando-me com ternura e curiosidade.
— É a primeira vez que vocês se encontram desde fomos demitidos?
— pergunta ela.
— Não. É a segunda vez. Ele esteve no Regal no domingo passado.
Ele é namorado da Genevieve. Segundo ela, estão prestes a ficar noivos.
Os olhos da minha mãe se arregalam de surpresa.
— Que azar ele ser noivo da sua chefe!
— É exatamente o que tenho pensado. E o pior é que ela é muito
ciumenta. Estou prestes a ser demitida.
Hazel salta do meu colo e se dedica entusiasmada a esvaziar um dos
armários da cozinha, espalhando panelas pelo chão.
Minha mãe enche uma xícara com café preto e dá um pequeno gole.
— Eu não entendo. Como ele não percebeu que Hazel é sua filha?
Além de se parecer muito com ele, você estava grávida quando fomos
demitidos. Ele teria que ser muito ingênuo para não perceber o óbvio, e
tenho certeza de que ele não é ingênuo. — Minha mãe fala em voz baixa,
para que Hazel não nos ouça.
— Eu também não entendo. Ele nunca mencionou minha gravidez.
Parece agir como se não soubesse, ou como se tivesse esquecido
completamente.
Minha mãe fica em silêncio, pensativa, enquanto seus olhos me
observam, e eu sei exatamente o que está passando pela sua mente.
— E se ele realmente não souber de nada?
— Já pensei nisso, mas é impossível. Eu enviei uma mensagem para
ele contando sobre a gravidez. Ele me respondeu com palavras duras e
insensíveis. Na minha opinião, ele está fingindo não lembrar só para me
seduzir. Se eu ceder, ele me abandonará no dia seguinte e se casará com
aquela loira sem graça.
— Não sei, filha. Se eu fosse você, não tomaria decisões
precipitadas. A mãe dele poderia ter pego o telefone dele e enviado aquela
mensagem.
— Isso é impossível, mãe. O telefone dele tinha senha.
— Essa mulher é capaz de qualquer coisa. Ela, sim, não é confiável.
— Os dois são iguais.
— Bem, você pensa o que quiser, mas acredito que algo esteja
errado nessa história. Além disso, a verdade sempre aparece. Mais cedo ou
mais tarde, ele descobrirá que Hazel é sua filha.
— Isso não vai acontecer, contanto que eu possa evitar.
— E se ele for inocente? E se tudo não passou de uma armação da
mãe dele? Você acha certo mantê-los separados?
Olho para minha pequena no chão, entre as panelas, tão inocente,
brincando com o escorredor de macarrão, usando-o como um capacete.
Já imaginei como seriam nossas vidas se Cassius tivesse aceitado
Hazel como filha.
Já sonhei com um mundo perfeito, onde nós três viveríamos juntos
sob o mesmo teto. Seria um mundo feliz e maravilhoso, mas impossível.
Mesmo que Cassius não tenha recebido aquela mensagem, mesmo
que ele nunca tenha sabido sobre minha gravidez, eu não teria coragem de
contar a ele sobre nossa filha.
Tenho certeza de que sua mãe humilharia e magoaria Hazel da
mesma forma como fez comigo e toda a minha família. E eu não aguentaria
isso.
Prefiro criar minha filha longe daquela família do que submetê-la ao
mesmo tratamento que aquela mulher nos deu há três anos. Hazel merece
ser feliz e não ser tratada como a filha ilegítima de uma trapaceira.
Enquanto observo Hazel brincando no chão da cozinha, minha
mente é invadida por uma mistura de emoções conflitantes.
Por um lado, sinto uma enorme tristeza ao presumir que Cassius
nunca soube da existência de sua filha. Por outro lado, o medo e a angústia
de expor Hazel a uma família que a rejeitaria e a machucaria são
avassaladores.
Minha mãe me olha com uma expressão de preocupação e
compreensão. Ela sabe o quanto essa situação é difícil para mim, e
compreende minha hesitação em revelar a verdade para Cassius.
— Filha, eu entendo o seu receio. Mas Hazel tem o direito de
conhecer o pai dela. Você não pode privá-la disso. E, mais cedo ou mais
tarde, a verdade virá à tona. Será melhor se for por você, em um ambiente
controlado, do que de uma forma inesperada e potencialmente traumática.
Suspiro profundamente e me levanto da cadeira, caminhando até a
janela para olhar para o quintal.
A brisa suave acaricia meu rosto, trazendo um pouco de calma para
minha mente agitada.
— Mãe, eu não sei como lidar com tudo isso. Tenho medo de que,
se eu contar a verdade para Cassius, ele se afaste de nós e queira manter
distância. Isso deixaria o coraçãozinho de Hazel em pedaços. E também
temo pelo bem-estar dela, pela maneira como a família dele possa tratá-la.
Minha mãe se aproxima de mim e coloca uma mão reconfortante no
meu ombro.
— Seja qual for a decisão que você tomar, eu te apoiarei. Se não
quiser contar a ele, continuaremos criando Hazel juntas, como temos feito
até agora.
— Obrigada, mãe. — Eu me viro para ela e nos abraçamos
afetuosamente. — Eu não vou contar. Não quero que minha filha passe pelo
sofrimento que nós passamos. Ela está feliz ao nosso lado, não precisa de
mais ninguém em sua vida.
— Está tudo bem, meu amor. Vamos fazer do jeito que você preferir.

***

Não consigo dormir quase nada antes de ir trabalhar, minha mente


fervilhando com os pensamentos.
Agradeço o fato de Genevieve raramente aparecer no restaurante, o
que me poupa de lidar com seu ciúme descontrolado.
Tenho quase certeza de que, depois de ver Cassius me convidando
para uma conversa em particular, ela está novamente desconfiada de que
existe algo entre nós.
Pelo menos ela não veio me incomodar dessa vez.
O movimento de clientes hoje não está tão intenso como de
costume, temos até uma mesa vazia, o que raramente acontece.
Estou terminando de servir uma mesa quando o gerente me chama,
interrompendo o meu trabalho.
— O que foi, Benjamim? Tenho mais mesas para servir.
— Pode deixar as mesas com a outra garçonete. Uma panela de
molho foi acidentalmente derramada no chão da cozinha e precisamos de
alguém para fazer a limpeza. Adivinha só quem foi escolhida?
— Ah, não! Meu trabalho aqui é servir mesas. Não fui contratada
para fazer a limpeza. Para isso temos o Timothy.
— Lamento, mas de acordo com a nova forma de gestão empregada
nas melhores empresas, todos os funcionários ajudam uns aos outros.
— Eu não me importo com essa nova forma de gestão. Não é minha
função limpar o chão.
— Você está me dizendo que vai desacatar uma ordem direta
minha?
A raiva toma conta de mim, fazendo meu sangue ferver. Esse sujeito
está me dando um ultimato, tentando me forçar a pedir demissão, ou a dar-
lhe motivos para me demitir.
Tenho certeza de que isso é coisa de Genevieve.
Ela não suportou me ver conversando com Cassius e agora quer se
livrar de mim.
Droga! Quando eu voltar a ver Cassius, vou dar a ela um motivo
real para implicar comigo. Aquela loira aguada não sabe com quem está
lidando!
— Tudo bem. Eu limpo o chão. Se é isso que você quer.
Entro na cozinha, ainda irritada com a situação. O ambiente está
movimentado, com cozinheiros apressados preparando pratos e lavando
louças.
Ignorando o tumulto, concentro-me em encontrar os materiais
necessários para limpar o molho derramado.
Enquanto começo a tarefa indesejada, minha mente volta a divagar
sobre Genevieve e sua implicância constante.
Desde que me viu conversando com Cassius no restaurante, no dia
em que nos reencontramos, ela tem demonstrado ciúmes e uma vontade
incessante de me fazer desistir do emprego.
Seja por sua insegurança ou pelo medo de perder o controle sobre
Cassius, ela parece empenhada em tornar minha vida um inferno.
Com um esfregão e um balde de água em mãos, começo a limpar o
chão ensopado de molho.
Cada movimento brusco que faço é uma liberação temporária da
minha frustração.
Enquanto esfrego com força, consigo visualizar Genevieve no lugar
do molho, e cada resquício de sujeira é um fragmento de sua influência
tóxica sendo eliminado.
Nem mesmo o trabalho árduo é capaz de acalmar os meus ânimos, e
quando deixo o estabelecimento, ao final do primeiro turno, ainda estou
furiosa.
Decido não ir em casa ver Hazel, como faço todos os dias.
Apenas ligo para minha mãe avisando que não irei e aproveito o
tempo livre para deixar meu currículo em alguns restaurantes e me
apresentar para algumas entrevistas em lugares onde estive antes.
Ao final do intervalo, ainda não consegui nada além de algumas
promessas e sou obrigada a voltar para o segundo turno no Regal.
A tarde começa com a mesma agitação da manhã, com Benjamim
me perseguindo, tratando-me mal e atribuindo-me tarefas que não fazem
parte do meu cargo.
Quando penso que a situação não pode piorar, Genevieve aparece,
elegante como sempre, atravessando o grande salão com sua postura altiva
e aquele nariz empinado.
Ela se tranca em seu escritório e, assim que o expediente termina,
manda Benjamim me chamar para uma conversa em particular.
Droga! Eu sabia que isso ia acontecer. Maldita hora em que Cassius
me abordou naquela casa de shows.
Encontro Genevieve sentada atrás de sua mesa, segurando um
cigarro aceso entre os dedos finos, com as unhas longas pintadas de
vermelho.
— Você queria falar comigo? — pergunto.
— Sente-se. Fique à vontade. — Sua voz é suave e gentil, mas a
expressão está tensa, carregada de preocupação. — Benjamim me disse que
você não está satisfeita com o trabalho aqui. É verdade?
— Não é verdade. Eu não estou satisfeita com o fato de ele me
atribuir tarefas que não são minhas. Inclusive, eu ia falar sobre isso com
você.
— Querida, o mundo de hoje está mais moderno. Hoje em dia, todos
ajudam em tudo nas empresas, inclusive nisso.
— Mas não vejo ninguém além de mim saindo de suas funções para
limpar o chão.
— Não posso fazer nada sobre isso. Benjamim tem autonomia para
gerenciar este lugar como achar melhor. Mas, se realmente não está
satisfeita e quiser se demitir, eu vou entender.
A raiva me consome por dentro. Como alguém pode ser tão cínico,
falso e dissimulado? É óbvio que ela está por trás disso, está dando ordens
para que Benjamim me persiga, para que eu me demita e não tenha que me
encontrar com Cassius quando ele aparecer aqui com ela.
Que mulherzinha escrota!
— Isso é por causa de Cassius, não é? — disparo, perdendo a
compostura.
— Não sei do que você está falando.
— Sabe sim. Você ficou furiosa porque ele me chamou para
conversar ontem, depois do show, e está me coagindo a pedir as contas.
— Não se trata disso. Mas já que mencionou, o que ele queria
conversar com você?
— Isso você teria que perguntar a ele.
— Estou perguntando a você.
— É um assunto particular dele. Não posso falar.
A expressão dela se endurece ainda mais enquanto ela dá uma
grande tragada no cigarro.
— O que você pensaria se uma das suas funcionárias tivesse
assuntos pessoais com o seu noivo?
— Como eu já disse, o que aconteceu entre mim e Cassius foi algo
passageiro. Um caso rápido.
— Eu sei que ele não se envolveria seriamente com alguém como
você, mas não gosto da sua presença perto dele. Acho melhor você procurar
outro emprego.
Embora eu já esperasse por isso, suas palavras me deixam
atordoada. Já faz quase dois anos que trabalho aqui. Me acostumar em outro
lugar vai ser difícil.
— Você está me demitindo?
— Sim, estou. Acredito que será melhor para todos.
— Não posso acreditar que você está fazendo isso. Você está me
demitindo por causa de seus ciúmes e inseguranças? Isso é ridículo! Eu
trabalho duro e me dedico a este restaurante há quase dois anos, e você está
disposta a jogar tudo fora por causa de suas próprias inseguranças pessoais?
Genevieve levanta-se de sua cadeira, olhando-me com um misto de
raiva e superioridade.
Ela esmaga o cigarro no cinzeiro com força, soltando uma pequena
nuvem de fumaça antes de responder.
— Não é apenas por causa de meus ciúmes, é por causa de sua falta
de profissionalismo e destruição constante do ambiente de trabalho. Não
posso permitir que você coloque em risco a reputação do restaurante. Além
disso, não quero mais ter que me preocupar com sua presença perto de
Cassius.
— Você está usando seu poder para se livrar de mim porque não
pode controlar seu próprio relacionamento. Isso é mesquinho e injusto. Eu
fiz um bom trabalho aqui e nunca deixei meus problemas pessoais
interferirem no serviço.
Genevieve me encara com um sorriso de desprezo nos lábios.
— Seu trabalho aqui não é tão incrível quanto você pensa. Você é
facilmente substituível. E acredite, vou encontrar alguém melhor e mais
confiável para ocupar seu lugar. Agora, pegue suas coisas e vá embora.
A raiva e a indignação se misturam dentro de mim, mas sei que
argumentar com Genevieve seria inútil. Ela já tomou sua decisão e está
determinada a me afastar de qualquer maneira.
Levanto-me e caminho em direção à saída, mas antes de sair pela
porta, viro-me para encará-la.
— Você pode pensar que venceu, Genevieve, mas não tem noção do
tamanho da merda que fez. Se está com ciúmes de Cassius, agora vou te dar
um motivo verdadeiro para esses ciúmes.
Ela me olha com desdém, confiante em sua vitória momentânea.
— Boa sorte, você vai precisar.
Após me despedir dos meus colegas de trabalho, saio do restaurante
com a cabeça erguida, mas o coração pesado devido à incerteza do meu
futuro.
Será difícil encontrar outro emprego que pague tão bem quanto esse,
e isso terá um impacto direto nas despesas da casa.
Meu pai, que trabalha como jardineiro, ganha uma quantia quase
insignificante, e Ruby sempre precisa de coisas para bebês que não são nada
baratas.
Maldita hora em que Cassius entrou na minha vida e bagunçou
tudo.
No entanto, a culpa não é dele, mas sim de Genevieve e sua
insegurança ridícula, embora não completamente infundada.
Enquanto caminho pela rua, minha mente está agitada com os
pensamentos, deixando-me inquieta.
Ao chegar ao ponto de ônibus, vejo os faróis de um carro se
aproximando pelo acostamento. Inicialmente, penso que é Jensen, que
geralmente me pega nesse horário.
No entanto, quando o veículo se aproxima, percebo que é o Porsche
de Jensen.
CAPÍTULO 32

Ruby

O carro estaciona no acostamento à minha frente, chamando a


atenção das outras pessoas no ponto de ônibus, e Cassius salta do veículo,
contornando-o e abrindo a porta do carona.
Mesmo tentando manter a indiferença, não consigo evitar a
enxurrada de emoções que toma conta de mim quando nossos olhares se
cruzam.
Sinto-me como se o tempo não tivesse passado, como se ainda fosse
aquela garota ingênua e despreocupada que passeava de mãos dadas com
ele na praia.
— Quer uma carona, gatinha? — convida ele, segurando a porta do
carro com um sorriso verdadeiramente irresistível.
Ainda abro a boca para recusar, mas mudo de ideia. Genevieve me
demitiu injustamente, e agora vou lhe dar um motivo para isso.
Ah, com certeza vou!
— Claro, aceito.
Cassius parece surpreso com a minha resposta, mas logo volta a
sorrir, ainda mais radiante. Provavelmente, ele ainda nutre esperanças de
que eu me torne sua amante.
Não é muito diferente da sua futura noiva.
Ao entrar no carro, sinto uma mistura de alívio e ansiedade. Estar
novamente ao lado de Cassius desperta emoções que venho reprimindo
durante todo esse tempo.
O sentimento de revolta pela injustiça cometida por Genevieve é
substituído pela euforia de poder estar com ele novamente, mesmo que seja
apenas por um breve momento.
Enquanto o carro desliza pela rua, meu coração bate acelerado, e
minhas mãos tremem levemente.
A proximidade com Cassius me faz lembrar dos momentos felizes
que compartilhamos no passado.
É como se o tempo se dissolvesse, e eu voltasse a ser aquela garota
apaixonada que se entregava aos sentimentos sem pensar nas
consequências.
Cassius dirige com habilidade, ao mesmo tempo em que, de vez em
quando, seu olhar penetrante se volta para mim.
Seus olhos verdes e intensos transmitem um misto de desejo e
nostalgia, revelando a atração que ainda existe entre nós.
— E então, como foi o seu dia? — ele pergunta, quebrando o longo
silêncio.
— Estressante. E o seu?
— A mesma coisa. Mas o que aconteceu que te deixou tão
estressada?
Não vou contar a ele que fui demitida por Genevieve e me fazer de
vítima. Detesto quando as pessoas têm pena de mim. Que ela mesma se
encarregue de contar a ele.
— Servir mesas é estressante.
— Um dia, vou comprar esse restaurante e te promover ao cargo de
gerente.
— Não acho que o cargo de gerente seja menos estressante.
— Como seu chefe, eu deixaria você escolher os dias em que
gostaria de trabalhar.
— Isso arruinaria o negócio em poucas semanas.
— Está a fim de dar uma volta na praia para relaxar?
Sinto um frio na barriga ao me lembrar do nosso último beijo na
praia, o calor dos seus lábios contra os meus, o cheiro do mar e a paixão
que incendiava nossos encontros no passado.
— Pode ser.
Cassius desvia do caminho que leva ao meu bairro e seguimos em
direção a Venice Beach.
Enquanto o carro se aproxima da praia, uma brisa suave invade o
interior do veículo, trazendo consigo o aroma do mar, o que me faz
relembrar ainda mais vividamente nossos momentos juntos, na praia em
Malibu.
Cassius estaciona o carro perto da areia, e assim que saímos, sinto a
textura macia e fresca sob meus pés.
O som das ondas quebrando na costa, mais adiante, embala nossos
passos, criando uma trilha sonora serena para o momento.
Caminhamos pela areia, nossos pés descalços afundando levemente
a cada passo.
Cassius olha para mim com aquele sorriso irresistível que sempre
fez meu coração disparar.
Seus olhos brilham com ternura e um desejo mútuo está evidente
entre nós. Ele segura minha mão suavemente, entrelaçando seus dedos nos
meus.
— Sabe, Ruby, mesmo depois de tanto tempo, nunca esqueci o que
vivemos juntos. A forma como você me faz sentir é única, intensa. É como
se tudo ao meu redor desaparecesse quando estou perto de você.
Sinto meu coração derreter diante das palavras de Cassius. Ainda
que eu tente lutar contra meus sentimentos, a atração que temos um pelo
outro é inegável.
— Também não consigo esquecer o que vivemos. Foi intenso,
mágico. E, mesmo com todos os obstáculos que surgiram entre nós, a
conexão que temos é especial. Não posso negar isso.
Ele se aproxima, seus lábios a centímetros dos meus.
Nossos olhares se prendem um ao outro, enquanto a tensão
romântica se intensifica.
O tempo parece congelar quando, finalmente, nossos lábios se
encontram em um beijo apaixonado.
É como se o mundo desaparecesse ao nosso redor. Sinto a suavidade
de seus lábios contra os meus, o calor do seu toque queimando minha pele.
Todo o estresse e preocupação do dia são dissipados em um instante,
substituídos por uma chama ardente de desejo e paixão.
O beijo é uma mistura de saudade, desejo e uma promessa de que,
mesmo que as circunstâncias sejam complicadas, ainda há algo especial
entre nós.
Nossas línguas se entrelaçam em um ritmo perfeito, como se
dançassem uma dança única e envolvente, ao mesmo tempo em que seu
corpo forte me protege do vento gelado da noite, aquecendo-me
gostosamente.
O tempo passa e nos perdemos naquele momento mágico. Só
quando a necessidade de ar se torna inevitável quebramos o beijo, nossas
testas se apoiando suavemente uma na outra.
— Eu te desejo tanto, Ruby. — sussurra ele, ofegante.
— Eu também te desejo com todas as minhas forças. Mas é tarde
para nós dois. O tempo passou, as coisas mudaram. Você tem Genevieve, eu
tenho Jen...
Ele suavemente pousa a ponta dos dedos em meus lábios.
— Shhh, não vamos falar sobre eles. Não aqui, não agora. Neste
momento, somos apenas nós dois, e isso é tudo o que importa.
Ele captura meus lábios novamente, em um beijo intenso e
apaixonado.
O beijo se prolonga, cheio de desejo e ternura.
Enquanto nos entregamos àquela conexão que pareceu estar
adormecida por tanto tempo, um sentimento de liberdade toma conta de
mim.
Estamos ali, naquela praia, como se não houvesse amanhã, apenas
aproveitando o momento presente.
Sem que nossos lábios se separem, sinto as mãos de Cassius
envolvendo minha cintura com firmeza, enquanto as minhas se perdem em
seus cabelos macios.
O som das ondas quebrando na praia parece se misturar com nossos
suspiros, criando uma sinfonia de paixão e entrega.
Aos poucos, o beijo vai se tornando mais suave e delicado, como se
nossos corações estivessem conversando por meio daquela troca de carícias.
Cassius me olha nos olhos, seu olhar repleto de sinceridade e afeto.
É como se ele quisesse me transmitir todas as emoções que guarda em seu
coração.
— Ruby, eu sei que as coisas estão complicadas e que há obstáculos
entre nós. Mas eu não consigo ignorar o que sinto por você. Desde o
momento em que ficamos juntos, naquela noite de sábado em Malibu, algo
dentro de mim se acendeu e nunca mais se apagou.
É como se você tivesse me resgatado de um poço profundo, no qual
eu estava perdido. E continuo me sentindo perdido sem você na minha vida.
Engulo em seco. Apesar de suas palavras parecerem sinceras, não
consigo deixar de pensar nas circunstâncias que nos separaram.
A maneira como sua mãe humilhou a mim e à minha família, com
sua crueldade ao rejeitar a própria neta e fazer-me acreditar que Cassius
compartilhava da mesma opinião, é algo que ficou profundamente marcado
em minha memória. Essas experiências são difíceis de esquecer e superar.
Se eu decidir me reaproximar dele, inevitavelmente não conseguirei
mais esconder que Hazel é sua filha. Isso significa que terei que enfrentar
novamente a crueldade de sua família e talvez até mesmo ouvir acusações
de interesseira vindo dele.
Diante dessa perspectiva, prefiro abrir mão dos meus próprios
sentimentos a submeter meus pais e minha filha a esse tipo de tratamento
mais uma vez.
— Cassius... Você mexe comigo de uma forma que ninguém mais
conseguiu. Mas temos que lidar com a realidade. Você está comprometido
com Genevieve, e eu tenho minhas próprias responsabilidades e
compromissos.
Ele segura meu rosto delicadamente, acariciando minha bochecha
com o polegar.
— Eu entendo as complicações, Ruby. Mas eu não consigo deixar
de pensar em você, de querer estar ao seu lado. Mesmo que seja por um
breve momento, eu quero aproveitar o que temos. Seja onde for que o
destino nos leve, quero ter essa lembrança para sempre.
Eu olho nos olhos de Cassius, tentando encontrar uma resposta em
meu coração.
A atração entre nós é forte demais para ser ignorada, mas as
consequências podem ser devastadoras. No entanto, nesse momento, a
razão dá lugar à paixão e ao desejo de viver o presente.
— Vamos aproveitar o tempo que temos juntos. Vamos viver o
agora e deixar as preocupações de lado. Amanhã pensamos no resto, essa
noite somos apenas nós dois.
Voltamos a nos beijar, apaixonadamente, sem que nada mais no
mundo pareça importar, ou sequer existir.
Um longo tempo depois, caminhamos de volta para o carro.
No caminho, trocamos carícias, beijos e palavras doces, desfrutando
do momento de intimidade e conexão que nos pertence.
Ao chegarmos ao carro, Cassius abre a porta do carona para mim e,
em seguida, senta-se no seu lugar ao volante, mas não liga o motor
imediatamente.
— Vem comigo para o meu apartamento. Vamos terminar essa noite
lá. — propõe ele.
— Hoje não.
— Por que não, se é exatamente isso que você também quer?
— Por várias razões. A primeira delas é que você é um homem
comprometido.
Ao dizer aquelas palavras, sinto como se fosse arrastada de volta
para a realidade e a indignação me rasga novamente por dentro ao lembrar
de Genevieve me demitindo injustamente.
Seguindo um impulso, pulo sobre o colo de Cassius, montando-o
com um joelho de cada lado e volto a beijá-lo intensamente.
— Isso não vai me ajudar muito a aceitar sua decisão de não ir
comigo para o meu apartamento.
— Mas vai me ajudar com uma coisinha.
Sem que ele entenda nada, pego o celular e o posiciono sobre nós
dois, de modo que a câmera capture exatamente a posição em que estamos.
Enfio uma mão sob a camisa dele, tocando o peitoral musculoso, faço uma
cara de safada e tiro a foto.
Depois, pulo de volta para o banco do carona e a envio para o
celular pessoal de Genevieve, uma corrente de prazer varrendo meu corpo
enquanto digito a legenda:
“Agora você tem um bom motivo para me deixar
desempregada, vadia”.
— Para quem você enviou nossa foto? — Cassius quer saber.
— Para Genevieve.
O queixo dele cai, de pura perplexidade. Quando penso que ele vai
me repreender, ele simplesmente começa a sorrir, dando gargalhadas altas.
— Onde está a graça?
— Só estou imaginando a cara dela agora.
— Você deveria ficar bravo, porque acabei de usar você para atingi-
la.
— Pode usar à vontade. Eu não me importo.
— Só para você saber, esse não foi o motivo pelo qual entrei no seu
carro. Eu estava sendo sincera lá na praia.
Ele fica sério, suas írises verdes fitando-me profundamente nos
olhos.
— Eu sei. Não teria tocado em você se não tivesse certeza de que
você também queria isso. — Cassius liga o carro e avança lentamente pela
rua pouco movimentada — E então, vai me dizer o que Genevieve fez para
que você reagisse dessa maneira?
Demoro a responder, hesitante, sem querer dizer isso a ele.
— Ela me demitiu.
— O quê?! Por quê?
— Simplesmente por ciúmes de você. Agora dei a ela um motivo
verdadeiro para sentir ciúmes.
Cassius começa a sorrir novamente, mas se detém ao perceber a
seriedade na minha expressão.
— Eu sinto muito que ela tenha feito isso. É uma pena. — Ele faz
uma pausa, tomando fôlego antes de continuar falando — Talvez não tenha
sido tão ruim assim. Na verdade, estou procurando uma gerente para um
clube de praia que comprei recentemente. O que acha de ocupar o cargo?
— Nem pensar. Não vou trabalhar para você.
— O salário é ótimo. Sem mencionar que temos um excelente
seguro de saúde e parcerias com várias escolas particulares que seriam
muito boas para Hazel. Quando ela tiver idade, claro.
Não posso negar que seria uma oportunidade e tanto. Um bom
seguro de saúde e escolas renomadas são essenciais na vida de uma criança.
Seria maravilhoso para Hazel.
Por outro lado, seria um pesadelo voltar a trabalhar para os
Kensington, considerando que a família dele frequenta o lugar, o que
certamente acontece, visto que são muito unidos.
Além disso, conviver no mesmo universo que ele não me permitiria
esconder que Hazel é sua filha. Ainda assim, a proposta é muito tentadora.
— Onde fica esse clube?
— Em Santa Mônica. Eu sei que não é tão perto, mas você pode
morar lá, se quiser, e ainda levar seus pais e sua filha.
— Não sei. Preciso pensar.
— Por que você e Hazel não passam o final de semana lá comigo?
Assim você pode conhecer o lugar, ver como tudo funciona e decidir o que
vai fazer.
— Não sei. Preciso pensar.
— Então pense e me responda depois.
— E quanto a Genevieve? Não vai arrancar os cabelos se eu
começar a trabalhar para você?
Cassius solta uma gargalhada, e tenho a sensação de que lhe fiz um
favor enviando aquela foto para Genevieve e estragando seu
relacionamento.
— Depois de hoje, tenho quase certeza de que Genevieve nunca
mais vai olhar na minha cara.
— Eu acho que ela não vai desistir de você assim tão fácil.
Cassius fica sério, uma ruga se formando entre suas sobrancelhas.
— Nosso relacionamento já está fadado ao fracasso há muito tempo.
— E o que isso quer dizer?
— Que nunca daria certo, porque ela não é a mulher que eu quero.
Ele me fita profundamente, e algo se agita dentro de mim.
É tarde da noite quando Cassius para o carro em frente à minha
casa.
Após trocarmos nossos números de telefone, nos despedimos com
um beijo demorado, apaixonado e repleto de promessas.
CAPÍTULO 33

Cassius

Deixo Ruby em casa e dirijo pelas ruas calmas da cidade.


Enquanto me afasto do bairro onde ela mora, ainda sinto o doce
sabor dos seus lábios nos meus.
O calor do seu corpo permanece comigo, seu perfume delicioso
ainda está impregnado em minhas roupas.
É incrível a intensidade dos meus sentimentos por essa garota.
Desde aquela primeira noite juntos em Malibu, sempre foi assim.
Foi ela quem me fez sentir vivo novamente, depois dos
acontecimentos em Bali quase me destruírem.
Por causa dela, lutei bravamente contra o meu vício enquanto estava
internado naquela maldita clínica de reabilitação.
O desejo de revê-la assim que saísse de lá foi o que me deu forças
para sobreviver a esse inferno.
O que sinto por Ruby não é apenas uma paixão passageira. Eu a
amo mais do que tudo nesta vida e começo a desconfiar que o fato de ela ter
descoberto sobre o que aconteceu em Bali não foi o que nos separou.
Existe algo mais nessa história, algo que ainda não consigo
compreender, mas estou disposto a descobrir.
A única certeza que tenho agora é que Ruby também sente algo
intenso por mim, de modo que não partiria da minha vida sem dizer adeus.
Paro no sinal vermelho e decido dar uma olhada no celular, que
repousa em silêncio no painel do carro há horas.
Vejo várias chamadas não atendidas e inúmeras mensagens de
Genevieve, todas enviadas depois que Ruby lhe enviou aquela foto de nós
dois.
Como eu esperava, Genevieve está enlouquecida com o que viu e
exige uma conversa. No entanto, não há mais nada a ser discutido entre nós
além de dizer adeus.
Eu realmente acreditava que poderíamos construir um
relacionamento baseado na união necessária de nossas famílias, em nome
dos negócios.
Mas não é possível viver uma vida sem amor, e o amor da minha
vida não é Genevieve, é Ruby, a mulher por quem lutarei com todas as
minhas forças.
Enquanto espero o sinal abrir, digito uma mensagem apressada para
ela:
Cassius: Onde você está?
Terminar nosso relacionamento pessoalmente, em vez de pelo
telefone, é a última coisa que farei por Genevieve.
Genevieve: Estou no seu apartamento. O porteiro me deixou entrar.
Cassius: Estou a caminho. Chego aí em poucos minutos.
Chego ao meu apartamento e estaciono o carro na vaga designada.
Respirando fundo, preparo-me para enfrentar a conversa difícil que
me aguarda dentro de casa. Caminho pelo corredor do prédio, a ansiedade
me corroendo por dentro.
Ao abrir a porta, me deparo com Genevieve, furiosa e impaciente,
sentada no sofá. Seus olhos vermelhos e inchados mostram que ela já
chorou bastante. Sinto uma pontada de culpa, mas sei que preciso seguir em
frente.
— Genevieve, precisamos conversar. — digo, tentando controlar
minha voz para que não soe brusca.
Ela me olha com os olhos faiscando de raiva.
— Finalmente você apareceu! Onde você esteve o tempo todo? E
por que aquela vagabunda me enviou uma foto com você? Desde quando
você está me traindo com ela?
Respiro fundo antes de responder.
— Ela enviou a foto porque você a demitiu sem motivo algum.
— A demiti porque ela está transando com você, mesmo sabendo
que estamos juntos!
— Nós não estamos transando. A verdade é que ela é a mulher que
amo. Sinto muito. Nós não podemos continuar juntos.
Ela levanta-se do sofá, furiosa.
— Você está me deixando por aquela garota? Depois de tudo o que
fiz por você? Pelo nosso relacionamento?
— Genevieve, não é só por causa da Ruby. É por causa de nós. Eu
não consigo mais fingir que estamos bem quando, na verdade, não estamos.
Não há mais amor entre nós, se é que um dia houve. Eu não posso continuar
vivendo uma vida de mentiras.
Ela me encara com os olhos cheios de lágrimas.
— Mas nós temos um compromisso, Cassius! Estamos quase
noivos! Como você pode simplesmente jogar tudo isso fora?
— Eu não estou jogando nada fora, Genevieve. Estou sendo honesto
comigo mesmo e com você. Não podemos construir uma vida juntos se não
existe amor verdadeiro entre nós. É melhor terminarmos agora, antes que
seja tarde demais.
Ela solta um grito de frustração e joga um objeto próximo a ela no
chão.
— Você vai se arrepender disso, Cassius Kensington! Eu fiz tudo
por você, e você está jogando tudo fora por causa de uma garota qualquer!
— Não é uma garota qualquer. É a mulher que eu amo. Eu tentei
fazer o nosso relacionamento funcionar, mas não aconteceu. É hora de
seguirmos caminhos diferentes.
Ela se aproxima de mim, os olhos vermelhos de raiva.
— Você vai se arrepender disso. Eu vou fazer da vida de vocês dois
um inferno! Você não tem ideia do que eu sou capaz de fazer!
Eu a encaro com firmeza.
— Não envolva Ruby nessa situação. Ela não tem culpa de nada.
Mesmo se eu não a tivesse reencontrado, nós dois não daríamos certo.
Como eu disse, não é possível construir um relacionamento sem amor.
— É claro que ela tem culpa. Essa garota influenciou você! Quem
sabe quais artifícios ela usou para te convencer a trocar uma empresária de
sucesso por uma garçonete qualquer. Mas ela vai pagar por isso!
— Deixe-a em paz! Se fizer algo contra ela, você terá problemas
comigo. Agora vá embora. Nossa conversa termina aqui.
Ela balança a cabeça, com uma expressão amarga.
— Você vai se arrepender de ter escolhido aquela vadia. Eu nunca
vou te perdoar por isso.
— Eu sinto muito se você se sente assim. Mas é a minha decisão e
eu não vou voltar atrás. Desejo que você encontre a felicidade. Adeus.
Abro a porta do apartamento, convidando-a a sair. Ela me encara em
silêncio por um momento, seus olhos faiscando de ódio, mas finalmente
parte, sem dizer mais uma palavra. Apesar da tristeza que sinto por vê-la tão
abalada, sei que tomei a decisão certa. Agora, é hora de seguir em frente e
lutar pelo amor da minha vida.
Com a certeza de que tomei a decisão correta, eu respiro fundo e,
aos poucos, começo a me libertar do peso do passado.
Agora, meu foco está em encontrar Ruby e reafirmar o meu amor
por ela, com a determinação de enfrentar qualquer desafio que surja em
nosso caminho.

***

O sábado amanhece repleto de expectativas e esperanças renovadas.


Sinto que finalmente encontrei meu caminho e estou direcionando
minha vida no rumo certo.
O Shoreline Oasis Club é um clube esportivo imponente que adquiri
na costa de Santa Mônica, e estou torcendo para que Ruby aceite o cargo de
gerente. Assim, teremos mais tempo juntos e poderei conquistar o coração
dela de uma vez por todas.
Embora eu tenha oferecido o cargo a ela, ainda está ocupado pelo
atual gerente, Patrick.
Preciso encontrar uma maneira de realocá-lo sem prejudicá-lo, mas
deixarei essa questão para depois, quando Ruby aceitar minha proposta. Sei
que não será uma tarefa fácil convencê-la.
Estou ciente de que terei um trabalho árduo pela frente para
reconquistar o coração de Ruby e de sua filha.
Estou disposto a nunca desistir. Embora a garota não seja minha
filha biológica, com o tempo aprenderei a amá-la como amo sua mãe.
Não será um sacrifício, especialmente porque a menina é um doce
de criança, linda e inteligente. Por enquanto, meu foco é trazer a mãe dela
para o meu lado.
Pego o celular, antes mesmo de me levantar da cama para tomar café
da manhã e disco o número de Ruby. Ela atende no terceiro toque.
— Alô — diz ela com a voz sonolenta e um pouco rouca.
— Não me diga que ainda está na cama a essa hora.
— Acordei me lembrando de que estou desempregada. Não tenho
mais motivo para levantar cedo.
Um sorriso escapa dos meus lábios ao ouvir sua voz sonolenta do
outro lado da linha. Seu jeito descontraído sempre me encanta.
— Bem, fiz uma proposta de emprego ontem. Basta você aceitar, e
então terá um motivo para se levantar cedo todos os dias.
Há um breve silêncio do outro lado, e posso imaginar sua expressão
pensativa.
— Cassius... não sei o que dizer. É uma proposta muito tentadora,
mas... não sei se tenho a competência para gerenciar um clube.
— Claro que tem. Não é um trabalho difícil. Confio no seu
potencial.
— E se eu arruinar o seu negócio?
Não consigo conter um sorriso.
— Sei que não vai. Você é uma mulher inteligente e esforçada.
Tenho certeza de que é a pessoa certa para o cargo.
Ela suspira pesadamente.
— Preciso pensar.
— Como eu disse, passe esse final de semana comigo lá. Traga
Ruby. Após conhecer o lugar, você decide o que fazer.
Há um longo momento de silêncio do outro lado da linha.
— Não vai dar. Preciso aproveitar esse final de semana para
colocar minha cabeça em ordem. Acho que vai me fazer bem passar alguns
dias sem trabalhar.
— Claro. Eu entendo. — Já sabia que não seria fácil convencê-la,
Ruby ainda guarda muitas mágoas do passado, e não compreendo
completamente o que aconteceu para ela se sentir assim — Tire alguns dias
para descansar e curtir sua filha. Você merece.
— É o que pretendo fazer. — Ela hesita antes de continuar, como se
escolhesse as palavras com cautela — E como ficaram as coisas entre você
e Genevieve depois que enviei a foto?
— Não ficaram. Nós terminamos.
— Sinto muito ter destruído seu relacionamento.
— Não foi você. Essa relação já tinha tudo para dar errado. Nunca
foi ela a mulher que eu quero.
— Isso não ameniza minha culpa.
— Não se culpe. Nos falamos depois. Se precisar de qualquer coisa,
fraldas, leite em pó, ou qualquer outra coisa, é só me ligar. Estarei aqui para
você.
— Obrigada. Até mais tarde.
— Até.
Encerramos a ligação e guardo o celular.

***

Meu sábado é cheio de trabalho nas empresas da família, enquanto o


domingo é reservado para descontração.
Como é de costume, reúno-me com minha família às margens da
piscina particular do clube Shoreline, onde desfrutamos de coquetéis e
colocamos as conversas em dia.
O assunto deste domingo é meu término com Genevieve.
Ninguém entende por que rompemos, já que parecíamos um casal
muito unido. Poupo-os de falar sobre Ruby, pois é algo muito recente e
pessoal.
Na segunda-feira, ligo novamente para Ruby e descubro que ela está
em busca de emprego.
Apesar de me sentir magoado por ela recusar minha proposta, não
passa pela minha cabeça desistir de tê-la ao meu lado. Pelo contrário, farei o
possível para que ninguém a contrate.
Além de minha urgente necessidade de tê-la ao meu lado, desejo
afastá-la completamente de Jensen, pois não confio nele de forma alguma.
Não consigo acreditar que tenha sido apenas uma mera coincidência
o reencontro deles dois.
Especialmente ele, que estava comigo durante a trágica situação
ocorrida em Bali.
Sei que parece cruel da minha parte e que estou me mostrando uma
pessoa horrivelmente narcisista ao fazer isso, mas quero tê-la por perto e
estou disposto a tudo, absolutamente tudo, para conquistá-la.
Com um plano em mente, procuro pelos restaurantes mais
renomados da cidade, que é onde Ruby provavelmente buscará emprego.
Alguns dos proprietários eu já conheço, outros são amigos da minha
família, e alguns nunca nem ouvi falar.
Após alguns telefonemas, consigo convencer a todos a não contratá-
la.
Não falo mal dela, jamais faria isso. Apenas peço que façam esse
favor a um amigo, ou um possível cliente.
Considerando o peso do meu sobrenome na Califórnia, todos me
atendem, até mesmo aqueles que estavam prestes a dar-lhe uma vaga.
Durante a semana, envio vários vídeos do Shoreline para Ruby, para
que ela perceba como o lugar é bonito e acolhedor, um local onde ela
poderá viver em paz com sua família.
Além disso, trocamos mensagens algumas vezes, ocasiões em que
minha consciência pesa um pouco ao ouvi-la reclamar das dificuldades em
conseguir um emprego, sem imaginar que estou por trás disso.
Na sexta-feira à noite, estou em casa assistindo a filmes de ação na
televisão quando meu celular toca, uma chamada dela.
Atendo a ligação com o peito agitado, ansioso para ouvir a voz de
Ruby novamente.
Ela sempre desperta em mim uma mistura de emoções, e agora não
é diferente. Respirando fundo, seguro o telefone e digo:
— Oi, Ruby. Como você está?
Há um breve silêncio do outro lado da linha, e então ela responde,
com a voz embargada:
— Cassius, estou tão cansada... Tenho procurado emprego em todos
os lugares, mas parece que ninguém está disposto a me contratar.
Sinto um aperto no peito ao ouvir a tristeza em sua voz. Quero
protegê-la de todo o sofrimento, mas também não quero correr o risco de
perdê-la.
— Não fique assim. Quem está perdendo são esses donos de
restaurantes idiotas. Você é uma funcionária excelente.
Ela suspira, desalentada.
— Você realmente acha que eu conseguiria trabalhar no seu clube?
Meu Deus! O Shoreline é um lugar incrível. Não me canso de assistir aos
vídeos que você enviou.
— Claro que acho. Você será uma gerente perfeita. Estou mantendo
o cargo reservado para você, porque sei que é a pessoa certa.
— Talvez eu devesse começar com um cargo mais baixo, como
servir as mesas dos clientes, pelo menos até me familiarizar com o
funcionamento do lugar.
— O antigo gerente concordou em treiná-la para a vaga. Ele é muito
competente. Com esse treinamento, você estará pronta. Tenho certeza de
que dará o seu melhor.
— Será que eu sou capaz?
— Tenho absoluta certeza de que sim. Passe este final de semana lá
comigo. Traga sua filha. Depois, você tomará uma decisão.
Há um momento de silêncio.
— Tudo bem. Você me busca amanhã de manhã?
— Com certeza. Oito horas está muito cedo?
— Não, está ótimo. Até amanhã.
— Até. Tenha uma boa noite de sono.
E, assim, encerramos a ligação.
CAPÍTULO 34

Ruby

— Como você tem coragem de ir encontrá-lo depois de tudo o que


ele te fez?! — Jensen grita do outro lado da linha.
Na semana passada, após ter caminhado na praia com Cassius, eu
disse a ele que não havia mais possibilidade de acontecer algo entre nós.
Embora não tenha entrado em detalhes, deixei claro que meus sentimentos
por ele eram apenas de amizade.
Foi um momento difícil, no qual Jensen ficou profundamente
irritado, revelando um lado seu que eu não reconhecia, falando alto e de
forma quase ameaçadora.
Apesar de termos concordado em manter nossa amizade, ele
continua tentando algo a mais, às vezes ultrapassando os limites ou se
mostrando inconveniente como agora, ao me repreender por ter aceitado
passar o final de semana no clube de Cassius.
— Na verdade, não estou indo encontrá-lo exatamente. É uma
proposta de emprego e estou indo conhecer o lugar.
— Como se ele tivesse a intenção de te deixar sair de lá sem antes
ir para a cama com ele!
— Jensen, isso é uma acusação baixa. Cassius não é assim.
— Será que estamos falando da mesma pessoa? Ele não foi aquele
que te dispensou quando você estava grávida, te acusando de tentar dar o
golpe da barriga? Entenda uma coisa: as pessoas não mudam com o
tempo. Na primeira oportunidade, ele vai te magoar de novo.
— Agradeço pela sua preocupação, mas eu sei cuidar de mim.
Agora preciso desligar, ele vai passar para me buscar em breve. Até mais.
— Até mais. Cuide-se.
Encerramos a ligação.
Embora as palavras de Jensen tenham me irritado, elas continuam
ecoando em minha mente. E se ele estiver certo? E se Cassius estiver
planejando essa oportunidade de emprego apenas para me levar para a
cama?
É óbvio que ele quer me seduzir, não é novidade, e o pior é que é
exatamente o que eu também quero.
O problema é que não posso simplesmente ignorar tudo o que
aconteceu.
Não posso esquecer as acusações que ele me fez, o desprezo que
mostrou pela nossa filha, quando soube que eu estava grávida.
O fato de ele não ter mencionado o que aconteceu no passado me
faz pensar que talvez nem soubesse da minha gravidez na época em que saí
de sua vida, e que tenha sido sua mãe responsável pela mensagem que
recebi.
No entanto, não tenho certeza de nada. Antes de tomar uma decisão
definitiva, preciso conversar com ele e descobrir o que realmente
aconteceu.
Pretendo fazer isso durante esse final de semana, se tivermos a
oportunidade de ficarmos sozinhos. Já está passando da hora dessa conversa
acontecer.
Por precaução, é melhor resistir aos seus encantos por enquanto,
embora isso seja quase impossível, depois de ter passado cada minuto da
minha semana pensando nele, nos beijos que me deu enquanto
caminhávamos na praia.
Apesar do que sinto, estou indo passar esse fim de semana com ele
unicamente por causa do emprego, já que não consegui encontrar outra
oportunidade, mesmo depois de todas as tentativas.
Ou, pelo menos, é nisso que estou tentando acreditar.
Por volta das oito horas, meu pai está no trabalho e minha mãe está
comigo na cozinha, quando ouço uma batida na porta e meu coração
dispara. É ele.
Respiro fundo antes de abrir a porta, tentando controlar a ansiedade
que toma conta de mim.
Quando a porta se abre, encontro Cassius parado no batente, com
um sorriso charmoso no rosto. Seus olhos brilham ao me ver, e meu coração
acelera ainda mais.
— Oi, Ruby. Está pronta para irmos? — Ele pergunta, sua voz suave
e tranquila.
Eu assinto, lutando para manter a compostura diante dele. A verdade
é que, apesar de todas as incertezas e dúvidas, uma parte de mim ainda tem
esperança de que ele nunca tenha ficado sabendo sobre a minha gravidez e
que possamos construir algo além da atração física que existe entre nós.
— Sim, estou pronta. Só vou pegar minha bolsa e nos encontramos
lá fora — respondo, tentando disfarçar o nervosismo.
Enquanto caminho até o meu quarto, minha mente está cheia de
pensamentos conflitantes. Eu sei que Jensen tem razões para estar
preocupado e que há riscos envolvidos em me aproximar novamente de
Cassius.
Mas também sei que a vida é cheia de segundas chances, e talvez, só
talvez, Cassius mereça uma.
Pego minha bolsa e retorno à sala, onde encontro minha mãe e
Hazel conversando com Cassius. Minha mãe está com um sorriso radiante
no rosto, e Hazel já está no colo dele, totalmente à vontade, como se o
conhecesse desde sempre. Isso não tem nada a ver com o saquinho de
jujubas que ele entregou a ela.
Hazel nem gosta muito de jujubas, mas está animada com o
saquinho em suas mãos, um pretexto para ficar perto do homem que tem
seu sangue correndo nas veias.
— Podemos ir? Está ficando tarde. — falo, me aproximando.
Tento tirar Hazel do colo de Cassius, mas ela se recusa a vir e ele se
recusa a me entregá-la.
Era só o que me faltava!
— Pode deixar, eu a levo até o carro. Ela é tão levinha, apesar de ser
grande para um ano e meio. E é tão linda e esperta, parece uma bonequinha.
Cassius fala enquanto observa de perto o rostinho da filha, com um
afeto genuíno brilhando em seu olhar, como se a reconhecesse, como se,
mesmo inconscientemente, soubesse que ela é sua.
A semelhança entre os dois chega a ser espantosa, e fico
impressionada que ele não perceba isso. Os homens são tão desatentos!
— Até mais, Mary. Prometo cuidar bem das suas duas princesas. —
Cassius diz e caminha em direção ao carro estacionado do outro lado da
rua.
— Converse com ele. Tenho certeza de que ele não sabe que você
estava grávida quando aquela mulher nos demitiu. — Minha mãe sussurra,
certificando-se de que Cassius não possa ouvi-la.
— É o que pretendo fazer, embora ainda tenha receio de colocar
minha Hazel na mira daquela mulher.
— Você sabe que falar a verdade é a melhor decisão, Hazel merece
ter um pai. Agora vá. Ele está esperando.
Ela me dá um abraço apertado.
— Boa sorte, minha querida. Cuide-se e reflita sobre o que eu disse.
— ela sussurra em meu ouvido, preocupada.
Agradeço o apoio de minha mãe e me despeço, indo em direção ao
carro onde Cassius me aguarda.
Enquanto caminho, tento controlar a confusão de sentimentos que
me preenche.
A incerteza paira no ar, mas também há um desejo persistente de
descobrir a verdade sobre o passado e, talvez, encontrar um futuro diferente
com Cassius.
Encontro Cassius com metade do corpo dentro do carro, pela porta
de trás, tentando encaixar Hazel no bebê conforto.
No entanto, eles parecem estar com dificuldades e minha pequenina
não está colaborando. Embora esteja acostumada a usar o bebê conforto no
carro de Jensen, ela não está ajudando Cassius. Pelo contrário, parece estar
determinada a atrapalhar as coisas só para continuar brincando com ele.
— Hazel, não seja má. Ajude o Cassius a fechar a fivela do cinto. —
peço, tentando intervir.
A pequena sapeca sorri, evidenciando que descobri seu plano
travesso.
— “Quelo” ir no banco da “flente”.
— Você não pode. É mais seguro para você aqui. — Cassius
explica.
Hazel faz um adorável beicinho.
— Mas eu já sou “glande”.
O sorriso surge no rosto de Cassius.
— Sim, você é enorme, até grande demais para a sua idade. Mas
ainda não pode ir no banco da frente. Assim que for mais velha, vou levá-la
para passear todos os dias no assento dianteiro.
— “Plomete”?
— Juro que sim. Agora me ajude aqui.
Com a colaboração da pequena sapeca, ele consegue fechar o cinto
do equipamento de segurança, e finalmente pegamos a estrada rumo à Santa
Mônica.
Durante a viagem, Cassius se mostra o tempo todo gentil e
atencioso. Ele brinca com Hazel, fazendo-a rir e criando uma conexão entre
eles.
Observo a interação dos dois, tentando encontrar pistas sobre o tipo
de homem que ele se tornou.
Ao chegarmos ao Shoreline, o belo clube à beira-mar, somos
recebidos por uma equipe cordial. Cassius me mostra as instalações e me
apresenta a algumas pessoas que trabalham lá.
Sua postura profissional me impressiona, e é difícil não ser
envolvida pelo seu charme e habilidade social.
Durante nossas primeiras horas ali, Cassius se esforça para manter
as coisas profissionais entre nós.
Conversamos sobre o trabalho, sobre o futuro do projeto e sobre
nossas expectativas. Embora a tensão sexual esteja presente, não falamos
sobre nós dois.
No entanto, em alguns momentos, os olhares intensos e a atração
mútua se tornam quase insuportáveis.
É como se houvesse uma conexão magnética entre nós, uma chama
que não pode ser apagada, que me faz esquecer de tudo mais, inclusive das
mágoas do passado.
— Este lugar é realmente maravilhoso. — comento, expressando
sinceridade.
Cassius e eu estamos sentados à sombra de uma espreguiçadeira,
desfrutando de cerveja gelada, petiscando camarões e conversando
descontraidamente, enquanto Hazel se diverte na piscina infantil, usando
boias nos braços.
Esta área do clube é privada, reservada apenas para Cassius e seus
convidados, excluindo os clientes regulares.
— Concordo. Adoro essa vista para o mar. Aliás, estou começando a
praticar surfe. — Cassius responde.
— Por que você decidiu comprar um clube? Eu pensei que sua
família estivesse envolvida no ramo das telecomunicações, e você também
estivesse envolvido nisso.
— Na verdade, estou. O clube é apenas um passatempo. Um amigo
precisava vender, e achei que era um bom negócio.
— E é?
— Sim. Tem gerado bons lucros. Além disso, é perfeito para
realizarmos festas.
— Era onde aconteceria a festa do seu casamento, se eu não tivesse
estragado tudo.
— Você não estragou nada. Genevieve não é a mulher da minha
vida. Mais cedo ou mais tarde, isso ficaria claro. Além disso, ainda
pretendo me casar aqui quando a mulher que eu realmente desejo decidir
me aceitar.
Um brilho intenso surge em seus olhos, e ele me olha fixamente
durante um longo momento de silêncio, o que faz meu coração bater
descompassado no peito.
Eu desvio o olhar, sentindo um calor invadir meu rosto. A
proximidade entre nós é eletrizante, e é difícil resistir à tentação de me
entregar completamente a essa atração.
No entanto, há muitos assuntos pendentes entre nós.
Precisamos ter uma conversa franca sobre o passado, e eu preciso
descobrir se ele sabia que eu estava esperando um filho dele quando parti.
Minha mãe estava certa. É necessário abordar esse assunto.
A questão é encontrar coragem para falar, pois se ele descobrir que
Hazel é sua filha, sua mãe também ficará sabendo, e não sei se estou
preparada para ser acusada novamente de ser interesseira.
Minha única certeza é que precisamos ter essa conversa, pois a ideia
de ficar afastada dele parece cada vez mais impossível.
Neste momento, minha mente está tomada por uma avalanche de
emoções e pensamentos.
A sinceridade em suas palavras é evidente, mas as dúvidas ainda
persistem.
Será que Cassius realmente mudou? Será que ele está disposto a
assumir a responsabilidade por suas ações passadas? Será que posso confiar
nele novamente?
CAPÍTULO 35

Ruby

— E então, acha que pode vir trabalhar aqui? — Cassius pergunta,


entre um gole e outro da cerveja.
— Como você bem sabe, ainda estou insegura quanto à
responsabilidade de um cargo tão alto. Não sei se serei capaz de gerenciar
esse lugar.
— Você consegue. Patrick vai te treinar.
— Por que ele não trabalha mais aqui? Ele parecia tão inteirado com
os assuntos desse lugar.
Cassius sorri meio sem graça.
— Para ser sincero, eu o remanejei para outro negócio da minha
família. Fica mais perto da casa dele e o salário é o mesmo. Precisei fazer
isso para desocupar a vaga para você, porque preciso ter você ao meu lado.
Observo-o em silêncio por um momento, invadida por um misto de
perplexidade e desconfiança, minha mente repassando os momentos em que
fui rejeitada em cada restaurante onde tentei conseguir emprego durante a
semana.
— Por acaso você está por trás do fato de eu não ter conseguido
arranjar emprego essa semana?
Cassius desvia seu olhar para o mar agitado, fitando-o em silêncio
por um longo momento. Depois, volta a me encarar.
— Por favor, não fique com raiva de mim, mas estou sim. Eu não
podia mais ficar longe de você. Eu quero você ao meu lado e não estava
conseguindo viver sabendo que você poderia estar com outro homem. Me
perdoe pelas minhas atitudes insanas, embora eu não esteja arrependido.
Ao mesmo tempo em que quero sorrir diante de suas loucuras, uma
corrente de irritação me percorre por ele achar que pode manipular minha
vida dessa maneira.
— Por que, Cassius? Por que você me quer ao seu lado?
Seu olhar se intensifica sobre meu rosto.
— Como você pode não perceber, Ruby? Eu te amo. Sempre amei e
sempre vou amar.
Processo suas palavras e meu coração dispara no peito.
Eu também o amo, desesperadamente. Assim como amo a ideia de
criar minha filha ao seu lado. No entanto, há muito ainda a ser dito.
Precisamos colocar as cartas na mesa, falar sobre os motivos que nos
afastaram.
— Cassius... precisamos conversar sobre o que aconteceu há três
anos, sobre o motivo de termos nos afastado.
Ele apoia suas costas mais relaxadamente no espaldar da
espreguiçadeira, sua fisionomia se contraindo de tensão.
— Eu entendo por que você quis se afastar de mim. Eu também teria
ido embora se soubesse que a pessoa com quem eu dividia meus dias e
minhas noites é um assassino, como se já não bastasse ser um viciado.
Fito-o atônita.
— É por isso que você acha que fui embora?!
Ele me encara com uma expressão cheia de mágoa.
— E não foi?
— Claro que não.
— Ruby, você saiu do meu apartamento quase correndo depois que
te contei o que aconteceu em Bali.
Cada palavra que sai da boca dele me deixa mais aturdida.
— Eu não saí de lá correndo por causa disso.
— Então por que foi? Me diga por que saiu da minha vida sem ao
menos dizer adeus.
— Você realmente não sabe, não é?
— O que eu não sei?
Nesse instante, Hazel se aproxima, encharcada pela água da piscina
infantil. Seus cachinhos escuros estão colados na testa, e ela sorri ao nos ver
juntos.
— Cassius, olha só! Eu nadei até o “outlo” lado! — exclama,
empolgada.
Cassius se levanta rapidamente e pega a pequena nos braços,
girando-a no ar.
— Você é uma nadadora incrível, Hazel! Estou muito orgulhoso de
você.
Eu observo a interação deles com um misto de alegria e melancolia.
Alegria por ver a felicidade de Hazel ao lado do pai, mas melancolia por
esses dois anos e meio que ela passou sem ele, por um simples mal-
entendido, por uma possível armação da mãe dele.
Agora, não tenho mais nenhuma dúvida de que Cassius realmente
nunca ficou sabendo que eu estava grávida quando parti.
A Sra. Kensington fez parecer que ele enviou aquela mensagem,
mas agora tenho certeza de que não foi ele.
Durante todo esse tempo ele acreditou que fui embora por causa do
que aconteceu em Bali.
Ambos estávamos enganados.
Cassius é inocente de todas as acusações que lhe fiz.
Tanto ele quanto Hazel foram privados da presença um do outro em
suas vidas, por causa daquela maldita mulher.
Os pensamentos trazem lágrimas aos meus olhos, pelo tempo que
ambos foram privados um do outro.
— Cassius, tem algo que preciso te contar. Conversaremos quando
Hazel tirar o cochilo dela depois do almoço.
Cassius observa meu rosto com atenção.
— Está tudo bem?
— Está sim. Só precisamos conversar. Faremos isso quando Hazel
dormir.
— Mamãe, não “quelo” “dolmir”. — Hazel faz um beicinho
dengoso e Cassius solta uma gargalhada.
Meu Deus! Como é magnífico ver os dois juntos! Não há nada que
se compare a isso.
— Mas é preciso, princesa. Quando dorme, você cresce e você
precisa crescer para ficar grandona igual à mamãe. — Cassius diz.
Eu olho para Cassius, meu coração repleto de um turbilhão de
emoções.
Há tantas palavras não ditas, tantas lacunas a serem preenchidas.
Enquanto observo a interação entre ele e Hazel, sinto a felicidade e a
tristeza se entrelaçando dentro de mim.
A felicidade por ver meu amor com nossa filha, finalmente juntos, e
a tristeza pelo tempo perdido
Uma lágrima solitária escorre do canto do meu olho ao pensar em
tudo o que aconteceu.
Durante todo esse tempo, acreditei nas mentiras e armações,
culpando Cassius por algo que ele não fez.
Agora, a verdade se revela diante de mim, e meu coração se aperta
com arrependimento.
É difícil expressar em palavras todas as emoções que me consomem
neste momento.
Sinto uma mistura de alívio por finalmente entender a verdade, de
tristeza por todo o tempo perdido e de amor por esse homem que ainda é
capaz de fazer meu coração acelerar.
Quando Hazel finalmente adormecer, sentaremos e colocaremos
tudo em pratos limpos.
Compartilharemos nossas histórias, nossos medos e esperanças, e
deixaremos o passado para trás.
Pois agora, mais do que nunca, percebo o quanto Cassius é
importante para mim e o quanto nosso amor é verdadeiro.
Olho para ele mais uma vez, com gratidão e amor nos olhos,
sabendo que temos um longo caminho pela frente.
Não será fácil desvendar todas as peças desse quebra-cabeça e curar
as feridas do passado, mas estou determinada a enfrentar tudo ao lado dele.
Cassius, meu amor, eu te perdoo. Perdoo por todas as confusões,
mal-entendidos e momentos de dor. Agora é hora de construirmos nosso
futuro juntos, de cuidarmos um do outro e de proporcionarmos a Hazel uma
família completa.

***

O Sheroline é realmente o lugar dos sonhos, com residência ampla


para os funcionários, jardim florido e vários espaços privativos.
Ainda ali na área da piscina particular, dois garçons nos servem o
almoço e saboreamos a comida deliciosa ao som das ondas do mar batendo
na areia mais adiante.
Nada jamais me pareceu mais encantador e perfeito do que ver
Cassius dando comida na boca de Hazel.
Embora a pequena sapeca já saiba comer sozinha, ela fez questão de
que ele a ajudasse, como um pretexto para ficar mais tempo perto dele.
Dependendo do resultado de nossa conversa desta tarde, minha filha
nunca mais precisará de pretextos para ter a companhia do pai. Ele será
todo dela e ela toda dele.
Após a refeição, Cassius nos leva até um quarto amplo e arejado nos
fundos, onde posso colocá-la para dormir.
Ele pensou em tudo, providenciou inclusive um berço novo e mais
sofisticado do que o que ela tem em casa.
— Coloque a sapequinha para dormir. Daqui a pouco volto para
conversarmos.
Cassius se despede de mim com um beijo na testa e de Hazel com
outro na bochecha. Depois, se retira.
Não coloco Hazel no berço de imediato.
Enquanto ela se acostuma com o ambiente desconhecido e novo,
deito-me junto com ela na cama, ninando-a e logo ela adormece.
Estou completamente relaxada debaixo das cobertas, refestelada
pelo friozinho gostoso proporcionado pelo ar-condicionado e relaxada pelo
efeito das cervejas, a tal ponto que acabo adormecendo junto com minha
filha.
CAPÍTULO 36

Cassius

O sábado está sendo um dia incrível. Mal posso acreditar que Ruby
realmente está aqui, junto com sua filha.
Tenho certeza de que ela aceitará minha proposta de emprego e
então terei todo o tempo do mundo para conquistar de uma vez por todas
seu coração, e o coraçãozinho de Hazel.
Após deixar as duas no quarto, resolvo algumas pendências e tento
descansar um pouco, mas não consigo relaxar.
A curiosidade por saber o que Ruby tem a dizer me deixa tenso e
ansioso. Finalmente vou saber o real motivo pelo qual ela me deixou.
Espero mais um tempo, até que as duas descansem, e volto ao
quarto onde as deixei.
Ao bater na porta, é Hazel quem responde, me mandando entrar.
Para minha surpresa, encontro Ruby profundamente adormecida na cama,
enquanto a pequena sapeca faz uma excursão pelo quarto, mexendo em
tudo, tirando objetos pequenos do lugar.
Ela vem correndo ao meu encontro, enroscando-se em minhas
pernas.
— Mamãe está “dolmindo”. — diz ela, com a vozinha embolada.
Pego-a no colo e afundo o nariz na curva do seu pescoço, aspirando
o cheirinho gostoso de bebê.
— Quer dar uma volta comigo enquanto ela descansa?
Hazel bate palminhas, animada.
— “Quelo”!
Deixo o quarto com a pequena em meus braços, fechando a porta
com cuidado para não fazer barulho.
A brisa suave da tarde acaricia nossos rostos enquanto percorremos
os jardins do clube.
Observo Hazel, seu sorriso radiante e os olhos curiosos explorando
o ambiente ao nosso redor.
É incrível como ela parece se encaixar perfeitamente em meus
braços, como se sempre tivesse pertencido a mim.
Apresento a pequena sapeca a alguns funcionários e continuamos
nosso passeio, mostrando-lhe todos os lugares onde poderá brincar quando
estiver morando aqui com sua mãe.
Estamos de volta ao setor privado, perto da piscina, quando vejo
minha mãe entrando pelo portão, na companhia do seu constante cão de
guarda, Gonzáles.
Fico surpreso ao vê-la por aqui em pleno sábado, visto que nosso
encontro semanal ocorre sempre no domingo.
Antes mesmo de me cumprimentar, ela fixa seu olhar em Hazel, que
continua em meu colo, fitando a garotinha com um misto de surpresa e
confusão na expressão de seu olhar, enquanto se aproxima de nós.
Seu rosto fica subitamente pálido, enquanto ela alterna seu olhar
entre o meu rosto e o de Hazel.
— Quem é ela? — indaga minha mãe.
— É a filha de Ruby. Não é linda?
Minha mãe me encara com seus olhos arregalados, seu rosto cada
vez mais pálido, por trás da maquiagem.
— Ruby, a filha da cozinheira?!
— Sim. Lembra dela?
— Só dela?
— Como assim só dela? É óbvio que a menina tem um pai. Ele está
na Itália.
Ela fixa seu olhar em Hazel, que a observa com timidez.
De repente, repousa sua mão sobre o peito, sua fisionomia se
contorcendo em agonia, como se estivesse passando mal.
Suas pernas falham e ela começa a desabar. Antes que caia no chão,
Gonzales corre em seu socorro e a deita cuidadosamente em uma
espreguiçadeira.
Alarmado, coloco Hazel no chão e ajudo a ampará-la.
— Por Deus! O que a senhora está sentindo? ALGUÉM CHAME
UMA AMBULÂNCIA!
— Não precisa de ambulância. Eu vou ficar bem. Por favor, me
tragam um copo d’água.
— Vou buscar. — Gonzales se adianta, indo buscar a água, mas já
com o celular colado no ouvido, chamando a ambulância.
— Não deixa a “ambulânxia” te levar, senão eles vão te dar uma
injeção. — Hazel fala, colocando-se ao lado da minha mãe, pousando sua
mãozinha na testa dela.
Minha mãe olha para a garotinha como se estivesse vendo uma
assombração, mas aos poucos vai melhorando, a cor em seu rosto voltando.
— É...? — Minha mãe balbucia.
— É “xim”. “Outlo” dia mamãe me levou no doutor e ele me deu
uma injeção. — Ela faz aquele beicinho lindo e minha mãe sorri.
— Qual é o seu nome?
— Hazel. Eu tenho “doix” aninhos.
Minha mãe olha para mim e novamente para a garotinha.
— Você é muito corajosa, pequena Hazel. — diz ela, sua voz suave
carregada de emoção. — Eu também não gosto de injeções. Mas você está
certa, às vezes é necessário enfrentar essas coisas para ficarmos bem.
Hazel sorri, seus olhinhos verdes brilhando com doçura. É como se
ela entendesse, de alguma forma, o que está acontecendo. Ela se sente à
vontade ao lado da minha mãe, como pouquíssimas pessoas conseguem.
Gonzáles retorna com um copo de água, e minha mãe bebe alguns
goles, recuperando-se lentamente. A preocupação ainda está presente em
seu rosto, mas agora também há curiosidade.
— Se sente melhor? — pergunto.
— Sim. Foi apenas um pequeno mal-estar. Nada demais.
— A senhora tem ido ao médico para fazer exames de rotina?
— Claro que sim. Olha só quem pergunta, o cara que não vai ao
médico nem quando precisa. Mas o que a filha de Ruby está fazendo aqui?
— É uma longa história. A mãe dela também está aqui. Está
descansando um pouco.
— Minha mamãe está “dolmindo” no quarto.
— Você não quis dormir com a mamãe?
— Eu acordei “plimeilo”. Você é a mãe do Cassius?
— Por que você acha isso?
— Porque ele te chamou de "xinhola".
Minha mãe sorri para ela, seu olhar carregado de admiração e uma
ternura genuína. Eu entendo como ela se sente. Hazel é realmente
encantadora.
— Sim, eu sou a mãe dele. E você é tão linda e esperta. Parece uma
bonequinha falante.
— O Cassius “dixe” que eu “palexo” uma bonequinha. — Hazel
sorri animada e minha mãe parece ficar ainda mais encantada por ela.
— Ela é apaixonante, não é? — digo.
Minha mãe alterna seu olhar espantado entre meu rosto e o de
Hazel, enquanto o sorriso vai se desfazendo de seus lábios.
— Como você pode não perceber isso?
— Perceber o quê?
Ela fica séria.
— Nada. Isso não é da minha conta. Me ajude aqui a levantar.
— É melhor ficar sentada enquanto a ambulância chega.
— Eu não preciso de uma ambulância. Me ajude aqui.
Seguro-a pelos braços e a ajudo a ficar de pé.
— O que a senhora veio fazer aqui hoje? Achei que nos reuniríamos
apenas amanhã.
— E é só amanhã mesmo. Vim apenas garantir que tudo está
organizado, para que não faltem os coquetéis como no domingo passado.
Voltaremos amanhã.
— “Voxê” já vai? — Hazel pergunta.
Minha mãe a observa com ternura evidente em sua expressão. Não a
julgo quando ela se abaixa e pega a pequena em seus braços, segurando-a
no colo. É o que se tem vontade de fazer quando se olha para Hazel.
— Quer ir para Los Angeles comigo conhecer minha casa?
— “Pleciso” “pelguntar” “pala” a mamãe.
— Está certa. Não pode sair sem permissão da mamãe.
— “Voxê” tem um “cheilo” bom. — Hazel sorri.
— É Chanel, querida. Quando você crescer, poderá ter esse cheiro
também.
Nesse momento, Ruby surge do interior do clube. Apesar de seu
leve inchaço e do rosto indicar que ela dormiu por longas horas, sua
fisionomia está desfigurada, e seus olhos arregalados exibem uma mistura
de ódio e horror enquanto fitam minha mãe segurando Hazel em seu colo.
— Por que essa mulher está com minha filha no colo?! — Ela
dispara, sua voz carregada de tensão.
— Ruby, é minha mãe. Lembra dela? — Tento acalmar a situação.
— Solta minha filha agora mesmo! — Dessa vez, Ruby grita,
completamente descontrolada.
Diante do olhar atônito de todos à nossa volta, inclusive de alguns
funcionários, ela avança sobre minha mãe e arranca Hazel de seus braços,
de forma agressiva.
— Nunca mais coloca suas mãos na minha filha, sua velha maldita!
Assustada com o comportamento de Ruby, Hazel começa a chorar.
— Ruby, o que está acontecendo aqui? Você está assustando a
menina.
— Pergunta para sua mãe o que está acontecendo. Vamos ver se ela
terá coragem de te contar a verdade.
— Ruby, será que podemos conversar em particular? — Minha mãe
indaga, aflita e sobressaltada, sem que eu entenda a razão, embora já faça
uma ideia do que se trata.
— Não tenho nada para falar com você. Se dependesse da sua
vontade, minha filha sequer existiria!
O assunto ao qual ambas se referem fica cada vez mais claro em
minha mente, embora seja terrível demais para admitir.
— Mãe, do que ela está falando? — Tento obter uma resposta, mas
minha mãe ignora minha pergunta.
— Ruby, preciso falar com você em particular. — Minha mãe tenta
novamente.
— Não tenho nenhum assunto a tratar com a senhora.
— Por favor, não conte a ele. Ele jamais me perdoaria.
— Devia ter pensado nisso antes.
— Já chega! — Perco a paciência — Do que diabos vocês duas
estão falando?
As palavras saem da minha boca em um tom carregado de angústia.
Meu coração aperta no peito enquanto observo a intensidade da
discussão entre Ruby e minha mãe. O receio e a incerteza se misturam
dentro de mim, formando um nó na minha garganta.
— Cassius, precisamos conversar. — Ruby repete, sua voz tensa —
Mas não aqui, nem agora. Preciso levar Hazel para casa.
A pequena Hazel continua choramingando no colo de Ruby.
— Claro. Eu te levo para casa. — Me volto para minha mãe, que
ainda está preocupantemente pálida e abatida — Você vai ficar bem, mãe?
— Sim. Vá com ela. Gonzáles vai me levar para casa. Amanhã nos
encontraremos novamente. — Ela encara o olhar de ódio que Ruby lhe
direciona — Sua filha é adorável, Ruby.
— Não graças a você. Se dependesse da sua vontade, ela nem tinha
nascido!
— O que está acontecendo?! Como assim?! O que minha mãe tem a
ver com Hazel?
— Me leva daqui, por favor.
Com um turbilhão de pensamentos invadindo minha mente, dirijo-
me ao interior do clube para pegar as chaves do carro.
Logo, estou levando Ruby para casa, junto com Hazel, que agora
dorme tranquilamente no colo da mãe após toda a tensão que presenciou.
Não conversamos muito durante o trajeto, minha mente fervendo
com perguntas contidas apenas pela promessa de Ruby de que
conversaremos depois de deixarmos Hazel em casa. Apesar disso, já
começo a ter uma ideia do que está acontecendo.
Na casa de Ruby, espero enquanto ela entrega Hazel aos cuidados de
sua mãe, e então saímos novamente.
— Para onde você quer ir? — pergunto.
— Um lugar tranquilo, onde possamos conversar sem interrupções.
Não consigo pensar em um lugar mais tranquilo do que a remota
praia de Malibu, então é para lá que nos dirigimos.
A noite começa a cair quando saltamos do carro e caminhamos na
areia fofa, com a brisa do mar aliviando o calor do dia.
O som das ondas batendo na costa cria uma atmosfera de
tranquilidade e sossego, apesar do vendaval de emoções que nos assola.
CAPÍTULO 37

Cassius

Caminhamos em silêncio por um longo tempo até que as palavras


escapam de minha boca.
— Hazel é minha filha, não é?
Ruby para de andar e se vira para mim. Vejo ansiedade e expectativa
em seu olhar aflito.
— Durante muito tempo, acreditei que você tinha me rejeitado. Mas
agora percebo que tudo foi uma armação da sua mãe.
— O que ela fez?
— Naquela manhã de domingo, após o luau, eu não saí correndo do
seu apartamento por causa do que você me contou. Eu jamais faria isso. Eu
saí com pressa porque Jessica ia me ajudar a fazer um teste de gravidez,
antes de eu começar o expediente no trabalho.
— E o resultado foi positivo?
— Sim. Foi. Hazel é realmente sua filha.
Um turbilhão de emoções toma conta de mim. Ao mesmo tempo em
que sinto uma euforia por ser pai daquela linda criança, também sinto
tristeza pelo tempo que me foi negado ao seu lado.
— Por que você não me disse nada? Meu Deus, eu sou pai!
— Eu tentei te falar, mas não tive tempo. Quando cheguei na sua
casa naquele domingo, Gonzales me ouviu conversando com Jessica sobre a
gravidez e contou para sua mãe. Mais tarde, naquele mesmo dia, ela nos
demitiu, me acusando de ter engravidado por interesse no seu dinheiro.
— Por que você não me ligou?
— Eu tentei, mas você não atendeu. Te enviei uma dúzia de
mensagens, e essa foi a resposta que você me deu.
Ela pega seu celular do bolso do casaco, mexe nele e estende a tela
acesa diante de mim.
Fico chocado ao ler a mensagem no aparelho simples, enviada do
meu antigo telefone, na qual está escrito que Ruby deveria fazer um aborto,
entre outras coisas absurdas.
Durante todo esse tempo, ela acreditou que eu rejeitei nossa filha,
quando na verdade eu sequer sabia de sua existência.
— Eu não escrevi essa mensagem. — falo, ainda chocado.
— Agora eu sei. Percebi, muito recentemente, que você nem
imaginava que eu estava grávida quando saí da sua vida.
— Naquela manhã de domingo, depois que você saiu do meu
apartamento, voltei a dormir. Quando acordei, minha mãe estava lá com
dois funcionários da clínica de reabilitação e Gonzales. Ela me internou
naquele dia, me deixou trancado durante várias semanas, sem contato com
ninguém, exceto meus irmãos e meu pai. — Tenho dificuldade em
pronunciar a próxima frase, pois as palavras parecem terríveis — Ela ficou
com meu celular.
— Meu Deus! Eu não sabia que você tinha sido internado
novamente. Sinto muito.
— Minha mãe te enviou essa mensagem. Ela me internou para que
eu não soubesse que você estava grávida. Como ela pôde fazer isso?
Ódio e tristeza se misturam dentro de mim, causando um turbilhão
que por pouco não me derruba.
Minha mente fica repleta de questionamentos sobre minha mãe.
Como ela pôde ser capaz de tamanha crueldade? Ela privou-me de
uma das maiores alegrias da minha vida, do privilégio de acompanhar o
nascimento da minha própria filha.
Agora, os sentimentos de amor e felicidade pela descoberta de que
sou pai se misturam à dor da traição e do tempo perdido.
Sinto-me culpado por não ter percebido o que estava acontecendo,
por não ter sido capaz de proteger Ruby e minha filha do sofrimento
causado por minha própria mãe.
Os olhos de Ruby se enchem de lágrimas e as emoções se
intensificam dentro de mim, raiva e tristeza me consumindo.
— Por que você não me falou a verdade quando nos reencontramos?
Eu merecia saber que ela é minha filha.
— Como eu poderia, se durante todo esse tempo acreditei que você
a rejeitou e ainda me acusou de ser interesseira?
Balanço a cabeça, percebendo que estou direcionando minha mágoa
para a pessoa errada.
— Você está certa, me desculpe. Me perdoe por não ter conseguido
proteger você e nossa filha. Por ter permitido que minha mãe as tratasse
com tamanha crueldade e as afastasse. Eu não deveria ter deixado que isso
acontecesse.
— Não foi culpa sua. Sua mãe armou tudo direitinho.
— Eu jamais a perdoarei por ter nos separado, por ter me privado de
ver minha filha nascer. — O ódio corre em minhas veias, a tal ponto que as
lágrimas marejam meus olhos.
Ruby me observa com ainda mais tristeza no olhar e segura minha
mão entre as suas.
— Você precisa perdoá-la. Ela é sua mãe.
— Quem tem uma mãe como essa não precisa de inimigos.
— Eu sei que ela agiu com uma crueldade absurda, mas se você não
a perdoar, sentirei, em meu coração, que minha filha e eu separamos vocês
dois e, apesar de ser assim, ela ama você.
Ela espalma sua mão delicada sobre a lateral da minha face, e eu a
cubro com a minha, meu coração aquecido no peito, meu sangue
esquentando com seu toque reconfortante.
— Eu só a perdoarei se ela pedir perdão a você e a Hazel. Do
contrário, nem olharei mais para ela.
— Tenho certeza de que ela fará de tudo para não perder seu amor.
— E você a perdoará?
— Se ela pedir, sim. Não por mim, mas pela nossa filha.
A brisa do mar acaricia nossos rostos. O som das ondas quebrando
suavemente na areia traz uma sensação reconfortante, contrastando com a
turbulência emocional que nos envolve.
Olho para Ruby e percebo a tristeza em seu olhar, espelhando a
minha própria angústia.
Seguro suas mãos, sentindo a necessidade de expressar tudo o que
está fervilhando dentro de mim. As palavras escapam dos meus lábios,
embargadas pela emoção que transborda em cada sílaba.
— Ruby, eu sinto tanto. Sinto muito por todo o tempo que perdemos
juntos. Por todas as lágrimas que você derramou sozinha. Eu não sabia, não
tinha ideia do que estava acontecendo. Eu teria feito qualquer coisa para
estar ao seu lado, para ser o pai de Hazel desde o primeiro instante.
— Eu também sinto muito. Sinto por ter pensado que você nos
abandonou, que rejeitou a nossa filha. Eu estava tão perdida, tão machucada
pela forma como fui tratada pela sua mãe que acabei acreditando em suas
mentiras. Eu não deveria ter duvidado de você.
Nossas palavras se misturam ao som das ondas, e o silêncio paira
sobre nós por um momento. As emoções transbordam, mas também há um
sentimento de alívio por finalmente compartilharmos nossa dor e
arrependimento.
— Eu amo você. E amo a nossa filha. Não importa o que aconteceu
no passado, eu estou aqui agora, e vou fazer tudo o que estiver ao meu
alcance para ser o pai que Hazel merece. Eu quero estar presente em cada
momento da vida dela, quero cuidar de vocês, amá-las incondicionalmente.
— E eu te amo, Cassius. Sempre amei. Apesar de tudo o que
aconteceu, meu coração nunca deixou de pertencer a você. Eu quero que
Hazel tenha um pai presente, um pai que a ame e a proteja. E eu acredito
que você pode ser esse pai.
— Eu serei o pai dela e cuidarei de vocês agora.
Passo os braços ao redor da sua cintura e a trago para perto de mim,
abraçando-a com ternura.
O calor do seu corpo atravessa as roupas e chega até mim,
despertando um desejo intenso em minhas veias, fazendo meu sangue correr
mais quente.
Suavemente, mordo sua orelha e deslizo meus lábios pelo seu rosto
até alcançar sua boca sedutora.
Beijo-a com paixão, nossas línguas se entrelaçando em uma dança
sensual, uma mistura de saudade e desejo tomando conta de mim.
Ruby pressiona seu corpo contra o meu, apertando seu abdômen
delicado na ereção que se forma em minha calça jeans.
Com um suspiro, ela desliza suas mãos macias sob o tecido da
minha camisa, acariciando minhas costas e passando suas unhas
suavemente sobre minha pele, deslizando a palma de sua mão pelo meu
peito.
Deixo escapar um gemido em sua boca quando ela desliza a palma
da mão no espaço apertado entre o cós da minha calça e meu abdômen, os
dedos roçando suavemente meu membro.
— Eu te quero. Agora, aqui — murmuro as palavras em sua boca.
— Eu também te quero muito... mas aqui podemos ser vistos.
Olho ao redor e percebo que ela está certa. Apesar da penumbra que
toma conta da praia, algumas pessoas passam por perto.
— Venha comigo.
Guiado por uma urgência incontrolável, seguro sua mão e a conduzo
em direção à casa onde ficamos juntos pela primeira vez.
Percorremos o caminho de volta em metade do tempo que levamos
para chegar.
Conseguimos chegar apenas à área gourmet e não sou capaz de
esperar nem mais um segundo para tê-la.
Entre as plantas e as espreguiçadeiras, com as águas da piscina
como testemunha da nossa paixão, volto a beijá-la nos lábios com
sofreguidão, pressionando-os contra os dela e saboreando sua língua como
se fosse a última fonte de oxigênio na Terra.
— Não sei como sobrevivi todos esses anos sem você. Você é
minha, é toda para mim — sussurro enquanto deslizo os lábios pela pele
macia do seu pescoço.
— Eu também atravessei o inferno sem você. Mas agora estamos
juntos e nada mais importa.
O desejo ardente percorre minhas veias, correntes de lascívia me
envolvem. Com urgência, retiro suas roupas, deixando as peças delicadas
caírem no chão, admirando com fascínio sua nudez.
Não há criatura mais bela neste mundo.
— Linda — minha voz soa como um sussurro apaixonado.
Pego-a em meus braços e a deito sobre uma espreguiçadeira.
Observo novamente sua nudez, ela está ali estendida sobre o móvel,
completamente à minha disposição, totalmente minha, intensificando a
fome que tenho por ela.
Com um gemido de prazer, me inclino sobre ela, apoiando meu peso
nas mãos, e a beijo novamente, primeiro nos lábios, depois no pescoço e no
colo.
Minha língua e meus lábios percorrem sua pele macia, provando
cada centímetro dela.
Chupo seus seios delicados e ela arqueia as costas na
espreguiçadeira, pressionando-os mais fortemente contra minha boca,
enquanto seus dedos passeiam pelos meus músculos e se entrelaçam em
meus cabelos.
Beijo-a por inteiro, até os dedos dos pés, depois volto a subir e
posiciono meu rosto entre suas pernas, admirando sua feminilidade
depilada, com lábios avermelhados e o espaço úmido entre eles.
Ruby solta um gemido alto quando a ponta da minha língua invade
sua intimidade, percorrendo sua entrada melada, movendo-se com frenesi
sobre o clitóris sensível.
Ela se entrega por completo, abrindo ainda mais as pernas,
arqueando os joelhos e deixando-os cair para os lados, oferecendo-se
inteiramente a mim, seus gemidos descontrolados me deixando ainda mais
faminto pelo seu sabor.
Caramba! Como ela tem um gosto delicioso! É pura luxúria e
perdição. E é toda minha!
Coloco minhas mãos no interior de suas coxas e as afasto ainda
mais, lambendo e chupando sua intimidade sem pressa, alternando entre a
entrada de seu canal e o clitóris.
Percebo sua impaciência, a forma como ela mexe os quadris,
tentando se esfregar em minha boca.
Então, introduzo dois dedos em sua vagina e os movimentos em um
ritmo constante, enquanto concentro os movimentos da minha língua no
ponto sensível, levando-a ao ápice do prazer, fazendo-a gozar intensamente.
Seus gemidos ficam mais altos e descontrolados.
Espero que ela se acalme e volto a me posicionar sobre ela,
beijando-a com avidez. Com um movimento rápido, nos giro sobre a
espreguiçadeira, deixando-a por cima de mim.
Com impaciência, Ruby me ajuda a me livrar das minhas roupas,
deixando-me completamente nu.
Ela se curva sobre o meu corpo e leva meu membro à boca,
chupando com inexperiência, porém seu empenho é visível, e estou ansioso
para ensiná-la.
Quando não consigo mais esperar, seguro seus cabelos por trás e a
puxo para mim, deitando-a de bruços sobre meu corpo, nossas bocas se
devorando novamente, seus mamilos roçando contra meu peito nu.
Seguro meu pau pela base e o esfrego na entrada molhada da sua
vagina, desejando entrar nela, soltando um gemido rouco e incontrolável.
— Você tem um preservativo? — Ruby pergunta.
— Sim, na calça.
Estico a mão até minha calça jogada no chão, pego o preservativo e
me protejo.
Ruby monta em cima de mim, uma perna de cada lado, suas mãos
apoiadas em meu peito, e vai posicionando-se até que meu pau esteja
encaixado em sua entrada.
Ela desce os quadris e sua vagina quente e molhada engole meu
cacete de forma deliciosa, arrancando-me um gemido profundo.
Seguro-a pelos quadris e a penetro com força, indo cada vez mais
fundo, iniciando uma sequência frenética de movimentos, nossas pélvis se
chocando uma contra a outra, nossos gemidos se misturando em uma
sinfonia de prazer.
Quando a excitação se torna insuportável, mudamos de posição,
deitando-a de costas na espreguiçadeira e posicionando-me sobre ela.
Levanto suas pernas sobre meus ombros e a penetro ainda mais forte
e fundo, movendo-me em um ritmo frenético, seus gemidos se
transformando em gritos, até que chegamos juntos ao clímax, alcançando o
ápice do prazer, enquanto lágrimas escorrem dos seus olhos lindos.
CAPÍTULO 38

Ruby

Cassius e eu não dormimos muito durante a noite de sábado,


entregando-nos ao amor que sentimos um pelo outro como se não houvesse
amanhã.
Na manhã de domingo, acordo ao seu lado no quarto da casa de
Malibu, onde nossa história começou, onde nosso amor floresceu.
Um sentimento genuíno de felicidade invade meu peito ao vê-lo ali,
esparramado na cama, seu corpo perfeito, masculino e viril, completamente
nu, os olhos fechados e o rosto relaxado em um sono tranquilo.
Enquanto o observo, sinto que encontrei meu lugar no mundo.
Cassius é meu porto seguro, meu refúgio, e ele também será o pai de Hazel.
Criaremos nossa filha juntos, como deveria ter sido desde o começo.
No entanto, ainda há uma preocupação que me assola. Não consigo
fechar os olhos sem lembrar da mãe de Cassius segurando minha filha nos
braços.
A raiva e a aflição que senti naquele momento permanecem vivas
em minha mente.
Deus! Como será nossa convivência com aquela mulher? Como ela
nos tratará quando souber que Cassius deseja assumir sua paternidade?
Tenho certeza de que sua reação será terrível, e não sei se estou
preparada para enfrentar sua humilhação novamente, como no passado.
E o pior de tudo: imaginá-la humilhando minha filha, algo que
jamais permitirei, mesmo que isso signifique abrir mão do meu amor por
Cassius e de seu direito de ser o pai de Hazel.
Sacudo a cabeça para afastar esses pensamentos e levanto-me da
cama com cuidado para não acordar Cassius.
Não me lembro exatamente onde estão minhas roupas, então vou até
o closet e visto uma cueca e uma camiseta dele, que me serve como um
vestido curto.
Desço para o térreo e encontro a casa vazia.
Conforme Cassius explicou, nenhum empregado mora aqui, apenas
uma faxineira e um jardineiro vêm regularmente. Estamos sozinhos.
Na cozinha, começo a preparar panquecas, café e cortar algumas
frutas. Estou quase terminando quando me viro e levo um susto ao ver
Cassius encostado na porta, parecendo a personificação da masculinidade.
Ele é alto e imponente, está vestindo uma calça de pijama folgada
que escorrega em seus quadris, com o rosto ainda sonolento, os cabelos
bagunçados e os pés descalços.
Se há alguém mais atraente do que ele, Deus se esqueceu de mandar
para a Terra.
— Bom dia, dorminhoco. — Observo-o dos pés à cabeça, sem
esconder meu desejo evidente, como se uma força invisível me puxasse em
sua direção. — Você fica muito sexy de manhã, sabia?
Cassius me dá o sorriso mais encantador do mundo e se aproxima
devagar, meus olhos capturando cada movimento.
— Continue me olhando assim e vou ter que te comer antes do café.
Ele elimina a distância entre nós e me abraça pela cintura, trazendo-
me para perto de seu corpo nu da cintura para cima. Inclina o pescoço e
deposita um beijo rápido em meus lábios, deslizando sua boca até o meu
pescoço e deixando pequenas mordidas em minha pele, despertando todos
os meus sentidos para o desejo ardente que percorre minhas veias.
Retribuo mordendo seu ombro e seu peito, o tesão se manifestando
em cada parte do meu ser.
Antes que as coisas fiquem fora de controle, empurro-o suavemente,
afastando-nos e estabelecendo uma certa distância.
— Ei, antes de mais nada, precisamos satisfazer outras
necessidades. Vamos tomar nosso café da manhã. — Digo com bom humor.
Cassius sorri para mim, seus olhos brilhando com uma mistura de
desejo e amor. A atração entre nós é palpável, mas há algo mais profundo,
algo que vai além do físico. É uma conexão de almas, um laço inquebrável
que nos une.
— Diga isso para o meu amigo aqui embaixo. A necessidade dele
não é exatamente o café. — Ele aperta a ereção estufada na calça, tentando,
em vão, escondê-la, e não consigo evitar o riso.
— Diga ao seu amigo que há tempo para tudo. Agora, vamos comer.
Venha.
Sentamo-nos à mesa, lado a lado, nossas pernas se tocando,
compartilhando não apenas o café da manhã, mas também momentos de
cumplicidade e carinho.
As palavras se tornam desnecessárias, pois nossos olhares dizem
tudo.
Enquanto degustamos as panquecas e as frutas frescas, meu coração
se enche de gratidão por termos nos reencontrado. Eu o amo demais e estou
disposta a enfrentar qualquer obstáculo ao seu lado.
Eu estaria plenamente feliz e realizada, se a preocupação com a mãe
dele não persiste mais em minha mente.
Não posso ignorar o fato de que ela é a avó de Hazel e que,
inevitavelmente, nossos caminhos se cruzarão novamente.
O medo de reviver as humilhações passadas me assombra.
Olho para Cassius, seu rosto agora mais sério. Ele percebe a sombra
em meus olhos e entende meus receios. Sua mão toca a minha suavemente,
transmitindo conforto e segurança.
— Minha família se reunirá hoje no Shoreline. O que acha de
pegarmos Hazel e nos unirmos a eles?
Desvio meu olhar do dele por um instante, preocupada em causar
desconforto entre Cassius e sua mãe.
— Ainda não me sinto pronta para enfrentar sua mãe. Desculpe.
— Não precisa se desculpar. Eu entendo e apoio sua decisão, caso
não queira dar a ela a chance de ser avó da nossa filha. Na verdade, essa
reunião seria uma oportunidade para ela pedir desculpas pelo que fez.
— Eu não acredito que ela irá se desculpar. Ela não consegue aceitar
a ideia de ter o sangue dela correndo nas veias da filha de uma empregada.
— Eu também pensei o mesmo quando você me contou sobre como
ela a tratou no passado. Mas depois me lembrei do jeito como ela olhou
para Hazel. Acredite: ela já ama nossa filha e vai amá-la ainda mais quando
conhecê-la melhor.
— Mesmo assim, ainda não estou preparada para ter essa conversa.
Não sei como as coisas vão ficar se ela humilhar novamente, a mim e à
minha família.
— Tudo bem. Cada coisa ao seu tempo. — Ele morde um pedaço de
morango enquanto me observa em silêncio, pensativo. — O que acha de
pegarmos Hazel e passarmos o dia aqui, só nós três?
Um sorriso involuntário aparece em meus lábios.
— Eu adoro essa ideia.
— Ótimo, vamos buscá-la.
— Tenho certeza de que ela vai amar esta casa.
— Tem bastante espaço no jardim para ela correr.
Introduzo a ponta de um dedo na boca, lambendo um pouco de
geleia. Ao notar o olhar sedento e lascivo de Cassius observando esse
movimento tão simples, faço de novo e de novo, até que seu olhar se enche
de desejo e seus olhos se encontram com os meus, provocando um
formigamento no meu ventre.
— Antes de irmos, precisamos limpar essa bagunça. — falo.
Deliberadamente, me levanto da cadeira com uma aura de
sensualidade e antes que eu possa me afastar, a mão firme de Cassius agarra
meu braço e me puxa para seu colo.
— Você acha mesmo que pode me provocar desse jeito e depois
escapar tão facilmente?
Sinto a firmeza de sua ereção pressionando minha bunda e rebolo
sobre ela, o tesão percorrendo minhas veias.
— Acho que não.
— Acertou em cheio.
Cassius usa suas mãos fortes para me mover em seu colo, me
fazendo montar em suas coxas, uma perna de cada lado. Seus dedos
percorrem meu corpo, me explorando por completo, beliscando meus seios,
e eu jogo minha cabeça para trás, extasiada, quando suas mãos se infiltram
na parte da frente da cueca que estou usando, tocando meu sexo
lambuzando.
— Delícia... toda molhadinha... — Ele sussurra, enquanto acaricia
suavemente meu feixe de nervos, aumentando ainda mais meu desejo.
— É tudo pra... você... ah...
— Nesse caso, vou te dar o que você precisa.
Ele introduz dois dedos delicadamente em minha vagina, movendo-
os com calma e prazer, levando-me ao êxtase, o que me faz abrir ainda mais
as pernas, desejando que ele me penetre mais fundo e com mais
intensidade.
— Ahh... delícia... — gemo, inclinando a cabeça para trás e me
entregando à sensação, completamente enlouquecida.
— Quero sentir esse buraquinho quente e macia em volta do meu
pau.
Com sua mão livre, Cassius segura meus cabelos e guia minha boca
até a sua, beijando-me com uma paixão intensa, seus lábios pressionando os
meus, sua língua explorando cada centímetro da minha com a mesma
cadência dos seus dedos em meu interior.
— Ahh... porra... que gostoso... quero te sentir por completo.
Com movimentos habilidosos, Cassius se ajeita na cadeira, trazendo
seus quadris para a frente.
Ele afasta o fundo da minha cueca para o lado, baixa o cós da sua
calça de pijama, revelando sua virilidade, e eu me posiciono sobre ele,
entregue, sua intimidade me invadindo, enlouquecendo-me ao ponto de
gemer alto.
Apoio minhas mãos em seus ombros e começo a mover meus
quadris, rebolando suavemente, permitindo que seu membro grande e duro
deslize dentro de mim, ao mesmo tempo em que acaricio meu clitóris na
sua pélvis, molhada com a nossa excitação.
Não temos pressa, aproveitamos cada momento, pois sabemos que
temos toda uma vida pela frente.

***
Algum tempo depois, estamos prontos para irmos até Skid Row
buscar Hazel, devidamente arrumados e com os ânimos ansiosos pela
surpresa que temos preparada.
Mal posso esperar para ver a felicidade da minha menina quando
contarmos a ela que Cassius é seu pai.
Ela se apaixonou por ele no momento em que o viu e, embora não
tenha maturidade para entender tudo, vai ficar exultante ao descobrir que
ele estará sempre conosco.
Cassius está visivelmente nervoso e o acalmo com um sorriso
tranquilizador, envolvendo meus braços em volta do seu pescoço, buscando
conforto em seu abraço.
— Será que ela vai me chamar de pai?
— Tenho certeza de que ela vai fazer isso várias vezes ao dia,
apenas para ter o prazer de pronunciar essa palavra.
— E eu vou amá-la com cada batida do meu coração, assim como
amo a mãe dela.
Nossos lábios se encontram em um beijo demorado e apaixonado,
que desperta todos os meus sentidos para o desejo que sinto por esse
homem.
Ainda estamos nos beijando quando meu telefone toca,
interrompendo o momento. É minha mãe.
— Oi, mãezinha. Já estamos indo.
A voz dela está carregada de aflição, e meu corpo se tensiona ao
ouvir a notícia que ela traz.
— Ruby, não sei como dizer isso, mas Hazel sumiu.
O horror toma conta de mim e sinto um aperto no coração.
— Como assim sumiu?
— Não sei como aconteceu. Nós estávamos na sala assistindo
desenhos. Deixei-a por um instante, enquanto esquentava o café pro seu
pai. Quando voltei, ela não estava mais lá. Já procurei nas ruas próximas e
na casa dos vizinhos, mas nada. Ela não está em parte alguma.
Cassius se aproxima, preocupado com a situação, enquanto tento
manter a calma diante da incerteza.
— A senhora já chamou a polícia? — pergunto, buscando agir com
racionalidade.
— Não. Você acha que devo chamar?
— É melhor sim, mãe. Alguma coisa aconteceu. Ruby não ia sair de
casa sozinha. Ela nem sequer conseguiria destrancar a porta.
O desespero se intensifica à medida que pensamentos terríveis
invadem minha mente. Preciso encontrar minha filha.
— Vou ligar para eles então.
— Cassius e eu estamos indo para aí. Me telefone se ela aparecer.
Encerramos a ligação, e o nervosismo toma conta de nós.
— O que aconteceu? Você está pálida como um pedaço de papel! —
diz Cassius, preocupado.
— Hazel sumiu. Estava brincando na sala, minha mãe a deixou por
um instante e quando voltou ela não estava mais lá.
— Meus Deus! Será que alguém a levou?
— Acho que sim, pois a porta da sala fica sempre trancada. Ela não
conseguiria sair sozinha. — Hesito antes de continuar falando — Será que
sua mãe a pegou?
— Claro que não. Ela jamais faria isso.
— Cassius, ela não quer ser avó da filha de uma empregada. Mas
vamos descobrir se isso for verdade. Agora me leve para casa, pelo amor de
Deus.
— Vamos.
Seguimos apressados rumo à saída. Antes mesmo de atravessarmos
a porta da casa, meu celular toca novamente, desta vez com uma chamada
de Jensen.
— Agora não, Jensen. Estou muito...
— Estou com sua filha. — A voz dele soa ríspida do outro lado da
linha, interrompendo minha fala, deixando-me paralisada.
— Por quê? O que está acontecendo?
— Venha me encontrar, você e Cassius. Estamos na seiscentos e
quarenta, S Main St. Se chamar a polícia, Hazel morre.
Ele desliga o telefone, e o desespero me consome, deixando-me
desolada e sem chão.
Dominada pela necessidade de ouvir a voz da minha filha e saber se
ela está bem, ligo de volta, mas ele não atende.
— O que ele disse? — pergunta Cassius, com olhar preocupado.
— Ele está com Hazel. Me deu um endereço em Skid Row, perto da
minha casa. Disse que não podemos chamar a polícia.
— O que diabos ele espera com isso?
— Não tenho ideia, mas precisamos ir.
Deixo a casa correndo, indo rumo à garagem. Se Cassius não me
seguir, pretendo pegar um dos carros dele e dirigir até onde Hazel está. Mas
ele me segue de perto, tão aflito quanto eu.
Pegamos o Jaguar antigo dele, por ser o mais veloz, e Cassius dirige
pelas ruas em alta velocidade, comigo sentada ao seu lado.
Enquanto me esforço por conter a aflição dentro de mim, ligo para
minha mãe e peço que não chame a polícia.
Não conto a ela o que está havendo, apenas peço que fique calma
enquanto levamos Hazel de volta para casa.
CAPÍTULO 39

Ruby

O coração bate descompassado, como se estivesse prestes a explodir


dentro do meu peito. Cada segundo parece uma eternidade enquanto o carro
percorre as ruas em direção ao endereço fornecido por Jensen.
Minhas mãos tremem, e é difícil conter as lágrimas que ameaçam
escorrer dos meus olhos.
Meu olhar se encontra com o de Cassius, e nele vejo o mesmo medo
e angústia que sentimos. Nossas mãos se entrelaçam, buscando um conforto
mútuo, uma força para enfrentar o que quer que esteja por vir.
O silêncio pesa no ar, mas não precisamos de palavras para nos
compreendermos.
— Eu sabia que não era coincidência Jensen ter se aproximado de
você. — diz Cassius, quebrando o longo momento de silêncio.
Surpresa, viro a cabeça para encará-lo.
— Você acha que isso tem a ver com o que aconteceu em Bali?
— Acho que sim. Ele era um dos caras que viajavam comigo,
embora eu não o conhecesse tão bem. Seria muita coincidência ele aparecer
do nada na sua vida.
Reflito por um instante. Não seria uma coincidência tão grande
assim, considerando que Los Angeles é uma cidade relativamente pequena.
Mas agora que ele pegou Hazel, o que me resta é acreditar que Cassius está
certo.
— Por que ele pegaria Hazel? Não faz sentido.
— Você disse a ele que ela é minha filha? —
— Disse. — Ele me encara com certa mágoa, mas compreendo que
esse não é o momento para discutirmos isso. — Mas por que ele iria querer
te prejudicar? Você não fez nenhum mal a ele.
— Isso eu não sei. Mas pretendo descobrir.
Chegamos à rua indicada, e o cenário desolador daquela parte de
Skid Row me faz tremer ainda mais.
O coração aperta, e a ansiedade parece sufocar cada fio de esperança
que resta. Cassius para o carro no endereço indicado, em frente a um
armazém abandonado, e eu me pergunto o que Jensen quer conosco.
Com passos trêmulos, caminhamos até a entrada do armazém. A
porta está entreaberta, e o som de vozes ecoa do interior. Meu peito arde de
apreensão.
Entramos cautelosamente, seguindo o som até uma sala nos fundos
do lugar amplo.
Ali está Jensen, sentado em uma cadeira, um sorriso doentio
estampado no rosto. No colo dele, está Hazel, sua pequena figura frágil e
indefesa.
Quando olho para minha filha, percebendo o quanto está assustada,
todos os órgãos do meu corpo se contorcem em um misto de aflição e
desespero.
Ao lado deles há dois homens bem jovens, com feições asiáticas, um
dos quais reconheço de imediato.
É o irmão da garota com quem Cassius saiu na noite em que
provocou o incêndio em Bali. Realmente, Jensen pegou minha filha por
causa dessa história.
— Mamãe! — A voz doce de Hazel chama por mim, e meu coração
se enche de dor e amor. Ela está com medo, e tudo o que eu desejo é tirá-la
dali, protegê-la de todo mal.
— Hazel, meu amor, a mamãe está aqui. — Minha voz trêmula tenta
passar a segurança que nem eu mesma sinto naquele momento.
Estendo os braços em sua direção, e ela se aproxima correndo para
se aninhar junto a mim, permitindo que eu a pegue no colo.
Examino-a atentamente, tentando descobrir se está machucada.
Graças a Deus ela está bem.
Cassius está ao meu lado, pronto para agir se necessário, mas ele se
mantém calmo, como sempre. Seu olhar firme transmite a mensagem de
que estamos juntos nessa luta, que ele não vai nos abandonar.
— Cassius! — Hazel olha para Cassius, seus olhinhos se enchendo
de alegria, sua inocência impedindo-a de entender o perigo que nos ronda.
— Oi, meu anjo. Estamos aqui por você.
Jensen ri, uma risada sinistra que me arrepia até o último fio de
cabelo. Ele parece estar se divertindo com toda a situação.
— Que bela família vocês formaram. Uma verdadeira cena de
novela. — Ele se levanta, aproximando-se alguns passos de onde estamos.
— Mas acho que essa história não terá um final feliz.
Meu coração parece parar. O medo toma conta de mim, mas uma
coragem que nem sabia que possuía surge em meu íntimo.
Eu faria qualquer coisa para proteger minha filha.
— O que você quer, Jensen? Por que está fazendo isso? — É
Cassius quem pergunta, seus dentes rangendo de raiva.
A intensidade do ódio nos olhos de Jensen é impressionante quando
ele olha para Cassius.
— Tem certeza que você não sabe?
Cassius lança um olhar para os dois rapazes indonésios antes de
voltar a encarar seu oponente.
— O que essa história tem a ver com você? Eu não falei pra
ninguém sobre o que aconteceu em Bali, além da minha família. Como
você descobriu e o que tem com isso?
A fisionomia de Jensen se contrai, tornando-se sombria, assustadora,
seus olhos expressando o ódio que ele tem dentro de si.
— Você achou mesmo que poderia sair impune, não foi? — Sem
esperar resposta, ele continua falando — Mas acabou seu tempo de sair por
aí achando que pode assassinar toda uma família, sem que nada te aconteça.
Você vai pagar pelo que fez e muito mais caro do que se tivesse se
entregado à polícia.
— Aquilo foi um acidente. Eu não fiz de propósito.
— Não importa de que forma você fez, ainda é culpado. E sabe
disso a ponto de ter se tornado um viciado em drogas, por culpa.
— Vamos logo com isso. Ficar conversando não vai resolver as
coisas. — Um dos rapazes indonésios se manifesta, mas é ignorado.
— Como você descobriu a verdade e o que tem com isso?
— Bulan estava esperando um filho meu! — Jensen vocifera e faz
uma pausa para apreciar a surpresa em nossos rostos. — É isso mesmo. Ela
era minha amante antes de você a matar. Por isso eu ia muitas vezes a Bali.
— Se ela era sua amante, por que a encontrei sozinha em um bar,
enquanto você ficava em casa?
— Isso foi um erro meu. Eu reagi mal quando ela me falou sobre a
gravidez e decidiu se vingar, ficando com um cara que eu conhecia. Você
tem ideia de como me senti quando fiquei sabendo que você a matou, junto
com o meu filho?
— Eu sinto muito. — A voz de Cassius soa trêmula.
— Não, Cassius! Você não sente! Se sentisse, teria se entregado à
polícia e pagado pelo seu crime. Durante muito tempo eu realmente
acreditei que aquele maldito incêndio tinha sido apenas um infeliz acidente.
Durante anos me atormentei com o peso da culpa, por tê-la rejeitado
grávida. Até que um dia precisei fazer negócios com a empresa da sua
família e resolvi ir conversar com você pessoalmente. Adivinha quem eu
encontrei rondando seu escritório? — Em resposta à sua própria indagação,
ele lança o olhar na direção dos irmãos de Bulan. Depois, continua falando
— Eles iam te eliminar ali mesmo, Cassius. Se eu não tivesse os
encontrado, a essa hora você já estaria morto! Mas, depois que eles me
falaram a verdade, eu achei que a morte seria pouco para você e foi então
que decidi fazer justiça eu mesmo. Com um detetive particular, não demorei
muito para descobrir que você tinha uma filha, depois foi só dar um jeito de
Genevieve comprar o restaurante onde a mãe dela trabalhava, para que você
a reencontrasse e agora vocês vão morrer todos juntos! Assim como Bulan
viu sua família ser morta.
Processo suas palavras e dou um passo atrás, o mais terrível horror
tomando conta das minhas entranhas enquanto aperto minha menina de
encontro ao meu peito.
— Por favor, não! — suplico, apertando Hazel mais forte entre meus
braços, minha mente trabalhando depressa, em busca de uma possível rota
de fuga.
Jensen olha para mim com um brilho diferente nos olhos.
— Eu não ia fazer isso com vocês. Eu realmente pretendia desistir
de tudo por vocês duas, formar uma família com você e com Hazel. Mas
você preferiu ficar com ele. Não passa de uma vagabunda que gosta de
bandido!
— Deixa elas fora disso. — Cassius intervém — O assunto é
comigo. Faça justiça me eliminando, mas não a elas. Elas não têm nada a
ver com essa história.
— Seria fácil demais te eliminar. Você não teve pena de matar a
família inteira de Bulan, junto com o meu filho. Merece perder quem você
mais ama também.
As palavras de Jensen cortam como lâminas afiadas em meu
coração, e o desespero toma conta de mim. Minha mente corre em busca de
uma saída, mas tudo parece sombrio e sem esperança. Meus olhos
encontram os de Cassius, e neles vejo a mesma angústia que sinto. Ele me
encoraja com um olhar determinado, mas não sei como podemos sair dessa
situação terrível.
— Jensen, por favor! Não faça isso! — Minha voz treme enquanto
tento apelar à sua humanidade, se é que ele ainda a possui. — Você não
precisa fazer mais mal a ninguém. A violência não vai trazer de volta quem
você perdeu.
Mas Jensen parece ter sido consumido pelo ódio e pela sede de
vingança.
Ele caminha lentamente em nossa direção, e meu corpo fica tenso
como uma corda de arco prestes a ser lançada.
Hazel agarra-se a mim, chorando, e eu só consigo abraçá-la ainda
mais forte, tentando protegê-la do que está por vir.
Cassius se posiciona à minha frente, como um escudo protetor. Ele é
corajoso e decidido, mas sei que enfrentar Jensen pode ser um desafio quase
impossível. A atmosfera fica densa, e o ar parece rarear à nossa volta.
— Afaste-se delas! — grita o pai da minha filha.
Jensen gesticula para os dois jovens rapazes, que se dirigem até um
canto, pegam alguns galões de gasolina e começam a derramar o líquido por
todos os lados, o fedor inflamável enchendo o interior do armazém.
O terror se intensifica em meu íntimo, fazendo meus dentes baterem
quando percebo o que eles pretendem fazer conosco.
— Não há nada que você possa fazer, Cassius. — Jensen ameaça,
fitando o outro homem com uma expressão diabólica — Vai morrer aqui e
agora, agonizando enquanto sente o fedor da sua carne queimando, da
mesma forma como Bulan e sua família morreram.
Cassius olha para Jensen, sem vacilar, e seus punhos se fecham com
força. Ele sabe que não pode vencer essa luta, mas não vai recuar.
— Deixe-as irem embora. Seu assunto é comigo.
Em resposta, Jensen enfia sua mão no bolso da jaqueta e saca um
revólver, apontando-o para Cassius.
— Jensen, por favor, não! — recuo outro passo, o terror correndo
solto em minhas veias.
— Vocês são patéticos, implorando pela vida um do outro. Ainda
não entenderam que não vão sair daqui com vida.
Um dos rapazes avisa Jensen que está feito, todo o lugar está
banhado pela gasolina, o suficiente para que um grande incêndio destrua
tudo, inclusive a nós. É então que Jensen mira sua arma em Cassius e
dispara, duas vezes, uma atrás da outra, os estampidos ensurdecedores dos
tiros ecoando pelos ares.
Solto um grito agudo de horror ao ver Cassius caindo no chão,
gritando de dor, com um ferimento de bala em cada uma de suas pernas, o
sangue banhando abundantemente sua calça jeans, Hazel chorando mais
alto pelo susto.
Então, Jensen aponta sua arma na minha direção e fico petrificada
pelo terror, com minha filha nos braços, Cassius gritando para que ele não
me machuque.
Jensen parece hesitar.
Observa-me durante um longo momento de silêncio e então guarda
o revólver de volta no bolso da jaqueta. Em seguida, se vira para Cassius,
que agoniza no chão, em meio à poça de sangue.
— Os tiros não são para te matar, mas apenas para te impedir de
fugir enquanto o lugar pega fogo. Peguem os celulares deles!
Tanto eu como Cassius não protestamos quando os dois rapazes se
apossam dos nossos celulares, pois sabemos que é inútil lutar contra eles.
Depois disto, Jensen saca um isqueiro do bolso, acende-o e o atira
sobre a gasolina, fazendo com que as labaredas do fogo surjam e cresçam
rapidamente, se espalhando depressa pelo chão e subindo pelas paredes.
Por Deus! Estamos mesmo perdidos!
— Por favor, não nos deixem aqui! — imploro, em prantos, olhando
para os três homens.
— É o preço que você vai pagar por escolher ficar do lado de um
assassino. E você nem pode me culpar por não ter te dado uma chance de se
salvar.
— Por favor, me desculpe. Eu faço qualquer coisa que você quiser.
Apenas leve minha filha.
— É tarde para ela, pobrezinha. Mas pensando bem, o mundo não
precisa de alguém que tem o sangue de Cassius correndo nas veias.
— Está na hora de irmos. O fogo está crescendo rápido. — Alerta
um dos rapazes.
Jensen nos dá uma última olhada, o desprezo evidente em sua
expressão.
— Então, acho que isso é um adeus.
Com isto, os três homens nos dão as costas e seguem rumo à porta
que dá para a rua, por onde entramos.
— Levem elas duas, porra! — Cassius grita, mas nenhum deles se
vira mais em nossa direção, antes de atravessarem a saída, trancando a porta
pelo lado de fora.
Desesperada, caio ajoelhada diante de Cassius, em prantos, com
Hazel nos braços, meus olhos correndo para o sangue que escapa dos seus
ferimentos, sem que eu saiba o que fazer para contê-lo.
— Ruby, não consigo caminhar, nem mesmo me levantar, me deixe
aqui. Salve a sua vida e a de Hazel. Encontre uma saída.
— Não! Eu não vou te deixar aqui!
— É preciso. Você tem que salvá-la. — Balanço a cabeça, dizendo-
lhe que não vou deixá-lo. Então Cassius se senta com dificuldade no chão e
segura-me pelos ombros, fitando-me diretamente nos olhos. — Escute, você
precisa encontrar uma saída. Procure por uma saída. Agora, Ruby.
Movida pelo desespero em sua voz, entrego-lhe Hazel, ciente de que
sem ela terei mais agilidade para procurar e corro direto para a porta da
frente, mas, como esperado, ela está muito bem trancada, impossível de ser
aberta.
Há outra porta na parede dos fundos, corro até ela, tento abri-la, mas
está muito bem trancada também. Tento as janelas, todas trancadas. Jensen
pensou muito bem naquilo. Não há nenhuma saída para nós.
CAPÍTULO 40

Ruby

A fumaça toma conta de tudo, enchendo nossos pulmões, quase nos


impedindo de conseguir respirar, enquanto o fogo cresce rapidamente, as
labaredas gigantescas lambendo as paredes e o teto, que pode desabar a
qualquer momento.
— Não tem saída. Estamos perdidos.
Volto para perto de Cassius, pego Ruby em meus braços e me
encolho junto a ele, esperando o fim que se aproxima. Todos nós estamos
tossindo, principalmente Ruby. Uma camada de suor cobre a testa de
Cassius.
— Eu sinto muito. — Cassius fala, repousando sua mão sobre a
minha — Me desculpe por ter metido vocês nessa situação.
— Não fale assim. Não é culpa sua.
— É sim. Eu deveria ter me entregado à polícia quando tudo
aconteceu. Isso não estaria acontecendo se eu tivesse pagado pelo meu
crime.
Olho para ele com meu peito apertado.
— Eu teria morrido mil vezes para viver o que vivi com você. Eu te
amo, Cassius, e nada vai mudar isto, nem a morte.
Os olhos dele se enchem de lágrimas enquanto ele alterna seu olhar
entre mim e Hazel.
— E eu amo vocês duas. Com todo o meu coração.
As chamas rugem à nossa volta, consumindo tudo o que está à sua
frente, enquanto o calor insuportável nos envolve como um abraço
implacável da morte e a fumaça toma conta de tudo, dificultando cada vez
mais a simples tarefa de respirar.
Nossos olhos se encontram, refletindo o amor, o medo e a
resignação que agora compartilhamos. Não há mais esperança de escapar
dessa armadilha cruel, e a certeza da despedida se instala em nossos
corações dilacerados.
Cassius, meu amor, você trouxe tanta luz para a minha vida, e
agora enfrentamos a escuridão juntos. Se ao menos pudéssemos ter tido
mais tempo, uma vida inteira para compartilhar nossos sorrisos, nossos
sonhos e nossas dores. Mas o destino foi implacável, nos conduzindo por
caminhos tortuosos e cruéis.
Minha pequena Hazel, sinto tanto por não ter conseguido protegê-la
como uma mãe deveria. Meu coração se despedaça ao pensar que você não
terá a oportunidade de crescer. Você é a minha razão de viver, meu raio de
sol nos dias mais sombrios.
Agora, a escuridão se aproxima, e sinto o meu corpo fraquejando. Já
não tenho mais forças para continuar acordada e aos poucos vou me
entregando à inconsciência.
Ao longe, como em um sonho muito distante, ouço pancadas
ecoando violentamente. Logo em seguida, meus ouvidos capturam o
rangido de uma porta se abrindo e depois vozes, mas isso é impossível, eu
devo estar delirando.
Com muito esforço, consigo abrir os olhos e vejo imagens
embaçadas de dois pares de pernas se aproximando de nós. Braços fortes
me seguram, erguendo-me gentilmente do chão, junto com Hazel, nos
carregando para o lado de fora.
"Por favor, ajude Cassius... você não pode deixá-lo aqui", tento
falar, mas minha voz não sai.
Do lado de fora do armazém, o oxigênio volta a circular em meu
pulmão, e aos poucos vou voltando a mim, tomando consciência do mundo
à minha volta.
Posso ver o armazém em chamas, outra pessoa carregando Cassius,
nos colocando dentro de um carro, para que logo em seguida este esteja em
movimento.
As janelas do veículo são abertas e quanto mais o ar bate em meu
rosto, mais lúcida me sinto. Tão logo consigo me mexer, volto meu olhar
para Hazel, que permanece encolhida em meus braços, toda agarrada a
mim. Ela está desacordada, mas seu coraçãozinho está batendo e ela está
respirando.
Ao meu lado, Cassius está inconsciente, seu rosto revelando a
angústia que pulsa em seu interior. Dois homens ocupam os bancos da
frente, um deles ao volante, o outro no assento do carona.
— Você se sente melhor? — pergunta um dos homens, e logo os
reconheço. São os irmãos de Cassius, Isaiah e Leonard.
— Como vocês nos encontraram? — indago, com um fio de voz.
— Nós estávamos reunidos no Shoreline, como fazemos todos os
domingos, quando sua mãe ligou para a minha perguntando se ela tinha
feito alguma coisa com sua filha. — Leonard lança um olhar para Hazel,
antes de continuar falando — Ela parecia muito aflita, então olhamos as
imagens das câmeras que minha mãe instalou na casa de Malibu e
percebemos que havia algo errado quando vimos vocês dois correndo na
direção da garagem. Depois localizamos o carro com o rastreador que
minha mãe mandou instalar quando Cassius estava usando drogas.
— Que bom que sua mãe é uma paranoica.
— Ela é quando se trata dos filhos. — Leonard abre uma garrafinha
de água mineral e oferece-me. — Beba isto, vai te fazer bem.
Aceito a bebida e molho a boquinha de Hazel, antes de dar dois
grandes goles. Logo minha pequenina começa a tossir e seus olhinhos se
abrem, o pranto voltando fraco ao seu rostinho quando ela me vê.
— Está tudo bem, meu amor. Vai ficar tudo bem agora. — Olho
para Cassius desacordado, com aflição crescente — Ele vai ficar bem?
— Sim. Já chegaremos ao hospital. Acho que ele perdeu muito
sangue. — É Leonard quem responde.
Isaiah desvia seu olhar da direção do carro por um breve instante,
olhando para mim e Hazel.
— Ela é mesmo filha do Cassius? — indaga.
— É sim.
— Mas não precisava nem perguntar, a menina é a cara dele. —
Leonard emenda, com aquele seu jeito displicente que se revela mesmo em
meio ao pesadelo que estamos atravessando.
— E quanto aos caras que tentaram nos matar, onde estão?
Isaiah me lança outro olhar rápido, antes de voltar a concentrar sua
atenção na rua à nossa frente.
— Vocês não precisam mais se preocupar com eles. Nunca mais.
Nem me atrevo a perguntar o que isso significa, por temer a
resposta. Em vez disso, tento fazer com que Cassius beba um pouco de
água.
Como ele não reage, rasgo um pedaço da minha blusa, embebo o
molambo com o líquido transparente e esfrego em seus lábios, tentando
hidratá-lo um pouco.
Os minutos que se seguem parecem uma eternidade.
O silêncio no carro é quebrado apenas pelos soluços de Hazel, que
ainda está atordoada com tudo o que aconteceu.
Meu coração aperta ao ver o estado de Cassius, sua palidez e a
expressão dolorida em seu rosto.
Ainda que estejamos a caminho do hospital, a incerteza e o medo
nos cercam como sombras implacáveis.
Enquanto Isaiah dirige com urgência, minha mente tenta processar
tudo o que aconteceu.
A violência, a vingança e o ódio de Jensen, que nos envolveu em
uma teia trágica.
Meus pensamentos retornam a Hazel, que agora repousa em meus
braços, ainda chorando baixinho.
Meus lábios tocam delicadamente sua testa, como uma tentativa de
acalmá-la, embora eu mesma esteja em pedaços.
— Eu sinto muito, meu amor. Vamos ficar bem. Vamos ficar juntos.
— sussurro em seu ouvido, desejando que minhas palavras a alcancem em
meio ao caos.
Os minutos finais são quase insuportáveis, o tempo parecendo
esticar-se à medida que chegamos ao hospital.
Assim que estacionam, os irmãos de Cassius saltam do carro,
ajudando-me a sair com Hazel em meus braços.
Em poucos segundos, uma equipe médica nos recebe e leva Cassius
em uma maca, enquanto uma enfermeira encaminha a mim e a Hazel para
outra sala, onde somos instruídas a deitarmos numa cama.
A enfermeira tenta tirá-la de mim, levá-la para a cama ao lado, mas
não permito. Minha filha fica comigo.
Pouco depois, somos examinadas por um médico, que me assegura
de que estamos fisicamente bem, embora tenhamos que ficar no hospital em
observação para garantir que não haja problemas de saúde decorrentes da
inalação da fumaça.
Quando pergunto por Cassius, ele nos diz que está sendo atendido
por outra equipe, mas que vai tentar se informar para me dar notícias.
Enquanto espero, tento acalmar Hazel, que ainda está assustada com
tudo o que aconteceu.
Algum tempo se passa, e finalmente o médico retorna com um
sorriso tranquilizador no rosto.
— Seu amigo está fora de perigo. Ele teve sorte, pois as balas não
atingiram nenhum órgão vital. Ele precisará de cuidados e repouso, mas vai
se recuperar.
Sinto um alívio profundo tomando conta de mim, e agradeço ao
médico por toda a ajuda prestada.
Enquanto esperamos o momento de podermos ver Cassius, Isaiah e
Leonard estão ao nosso lado, oferecendo todo o apoio e suporte. Eles nos
explicam que chegaram a tempo de nos resgatar do incêndio e enfrentaram
os homens de Jensen para nos proteger.
— Vocês foram corajosos demais! — agradeço, com lágrimas nos
olhos.
— Somos família, Ruby. Fazemos o que for preciso para proteger
uns aos outros — responde Isaiah, com um sorriso caloroso.
Horas se passam enquanto aguardo notícias. Minha ansiedade e
preocupação só aumentam a cada minuto que parece eterno.
Os irmãos de Cassius prontamente assumem a responsabilidade de
entrar em contato com meus pais, e logo eles chegam para me fazer
companhia, carregando consigo uma profunda inquietação. Somente após
isso, Isaiah e Leonard partem juntos, em busca de atualizações sobre
Cassius.
CAPÍTULO 41

Cassius

Acordo sentindo como se um peso de mil toneladas pairasse sobre


mim. Todo o meu corpo está dolorido, e até a tarefa simples de respirar
parece um sacrifício. Meus pulmões ardem, e minhas pernas latejam
intensamente.
Com muito esforço, consigo abrir os olhos e encontro toda a minha
família ao meu redor.
Minha mãe me observa com o rosto carregado de aflição, enquanto
meu pai está sentado ao seu lado. Isaiah lê algo em seu tablet, e Leonard
saboreia gelatina de um potinho de plástico.
Vasculho minha mente em busca do que aconteceu, e os eventos
voltam à tona com a força de uma bomba atômica explodindo.
Tento me levantar, mas qualquer movimento desencadeia uma dor
aguda em todo o meu corpo, me deixando fraco e paralisado.
— Ruby... Hazel... — balbucio com a voz muito fraca, e todos no
quarto voltam sua atenção para mim, formando um círculo em volta da
minha cama.
— Elas estão bem. — É Isaiah quem responde. — Estivemos com
as duas até pouco tempo atrás. Agora estão com os pais de Ruby.
— E você, como se sente? — Minha mãe me observa com aflição.
Olho para ela e meu sangue ferve, o ódio cego percorrendo meu
corpo, fazendo meus dentes rangerem.
Como foi possível ela humilhar e expulsar Ruby e sua família?
Como teve coragem de atirá-la na rua da amargura, quando ela esperava um
filho meu? Como pôde me negar a oportunidade de ver o nascimento da
minha filha e acompanhar seu crescimento?
Olho para a mulher diante de mim e tenho a sensação de que nunca
a conheci verdadeiramente.
— Saia da minha frente agora mesmo! — rosno, com os dentes
cerrados.
— Cassius, o que está acontecendo? — Meu pai reage.
— Essa mulher demitiu Ruby quando descobriu que ela esperava
meu filho. Ela a acusou de golpista e fez Ruby acreditar que eu pensava da
mesma forma, enquanto me internava na clínica, para que eu não soubesse
de nada. Não quero mais essa pessoa na minha vida e nem na vida da minha
filha. Pode sair daqui imediatamente!
O ambiente fica tomado por um silêncio carregado de tensão,
enquanto todos observam minha mãe com incredulidade estampada em seus
rostos.
Até que sua voz chorosa, carregada de súplica, quebra o pesado
silêncio.
— Por favor, me perdoe.
— Nunca!
— Eu sei que errei, reconheço isso. E não te internamos para que
você não soubesse de nada. Eu só queria que você saísse daquele vício. E
deu certo.
— Teria dado certo com Ruby também. Ela estava me ajudando a
superar o vício. Com o amor que sentimos um pelo outro, eu teria vencido
aquele pesadelo sem passar pelo que passei naquela maldita clínica. Mas a
senhora não venceu essa batalha. Ruby e eu ainda ficaremos juntos. Eu
criarei minha filha e não há nada que a senhora possa fazer para mudar isso!
Minha mãe começa a chorar.
— Não quero te impedir de ficar com sua filha. Eu reconheço que
errei ao separar vocês dois e espero que um dia você possa me perdoar.
— Nunca a perdoarei por me negar todos esses anos com a minha
menina e com a mulher que amo. Agora saia daqui. Não quero ter que olhar
para sua cara.
— Já chega. — Meu pai intervém. — Ele não pode passar por toda
essa agitação. É melhor você sair agora. Depois vocês conversam.
Minha mãe assente, olha para todos ao redor e deixa o aposento sob
olhares incrédulos dirigidos a ela.
— Você tem toda razão de estar com raiva. Mas vai ter que perdoá-
la. Afinal, ela é sua mãe. — É Isaiah quem diz.
— Não vou perdoar e não quero mais falar sobre isso. O que
aconteceu? Como vim parar aqui?
— Chegamos ao armazém bem a tempo de impedir que você virasse
um churrasquinho. Foi isso que aconteceu. — Leonard responde, sorrindo
com sua irreverência de sempre.
— Não fale assim, pode traumatizá-lo. — Meu pai o repreende antes
de voltar sua atenção para mim. — Você levou um tiro em cada perna e
precisou passar por uma cirurgia, mas vai ficar bem. Basta fazer repouso e
cuidar de si mesmo. Daqui a alguns dias, estará correndo por aí novamente.
Nós vamos cuidar de você. Assim que receber alta, levaremos você para
casa.
— Como vocês nos encontraram? E o que aconteceu com Jensen e
os indonésios?
— Rastreamos o seu carro. — É Isaiah quem responde.
— Meu carro tem um rastreador?
— Sim, mamãe colocou quando você saía por aí cheirando cocaína.
— Agora todos percebem que foi uma medida boa. — Leonard
completa.
— Quanto aos criminosos, você não precisa mais se preocupar com
eles. — Isaiah continua. — Os garotos foram extraditados para a Indonésia,
e eu resolvi a questão com o Jensen para que você nunca mais precise se
preocupar com ele.
Não questiono qual foi a ação de meu irmão contra Jensen. Para ser
sincero, sempre soube que Isaiah tinha um lado obscuro, e agora parece que
essa faceta se confirma.
— Por favor, preciso ver Ruby e Hazel. Alguém pode chamá-las?
— Antes de tudo, você precisa ver o médico. — Diz meu pai — Eu
vou chamá-lo. — Ele se prontifica e sai do quarto.
Um silêncio carregado de tensão se instala no ambiente. Percebo os
questionamentos expressos nas faces dos meus irmãos.
Conheço-os o suficiente para entender que querem saber como as
coisas estão entre mim e Ruby, além de desejarem saber mais sobre o
atentado contra nós. No entanto, não se sentem encorajados a perguntar,
provavelmente por causa do meu estado.
— Cara, essa gelatina que servem aqui até que não é ruim. —
Leonard dispara, ainda saboreando a gelatina, e ambos sorriem, dissipando
imediatamente a tensão.
À medida que o médico finalmente chega ao quarto, sua presença
traz consigo uma mistura de esperança e ansiedade.
Ele examina meu estado com atenção, explicando o plano de
tratamento e os próximos passos a serem tomados.
Minha família ouve atentamente, absorvendo cada palavra com
determinação e confiança.
Se há algo de que tenho certeza, é que minha mãe não me deixará
sair de sua casa e de sua vista até que eu esteja completamente recuperado.
Após a partida do médico e a administração da medicação prescrita
pela enfermeira, convenci Isaiah a avisar Ruby e nossa filha que preciso vê-
las.
Pouco depois, as duas entram pela porta do quarto, seguidas pela
mãe de Ruby. A pequena Hazel corre em minha direção e para ao lado da
minha cama, enquanto Ruby permanece perto da porta, tentando conter as
lágrimas que brotam em seus olhos assim que me vê, cobrindo a boca com
as mãos.
— Oi, Cassius — diz a pequena, de pé ao lado da cama.
Impulsionado por um instinto, estendo meus braços para ela e a
ergo, sentando-a na beirada da cama, ao meu lado.
— Oi, princesa. Como você está?
Olhando-a de perto, percebo mais uma vez o quanto ela é linda. Ela
parece uma bonequinha, com a pele clara como a de Ruby, cabelos escuros
e lisos, bochechas rosadas e pronunciadas, e olhos verdes como os meus.
Agora que sei que ela é minha filha, fico impressionado por não ter
percebido antes o quanto ela se parece comigo.
— O médico “dixe” que mamãe e eu engolimos muita “fumaxa”. —
Ela estica o lábio de forma adorável, e meu coração se enche de um afeto
genuíno, o mais intenso que já experimentei.
Tenho vontade de abraçá-la, apertar seu corpinho entre meus braços
e dizer-lhe que sou seu pai e cuidarei dela para sempre. No entanto, me
contenho, temendo assustá-la.
— Infelizmente, é verdade. Mas agora todos nós ficaremos bem.
— O médico te deu uma “injexão”?
— Não. Apenas administrou medicação no soro. E em você?
— Não. Mamãe “dixe” que ele não podia fazer isso. — Ela ergue o
queixo com orgulho.
— É porque mamãe te ama muito e jamais deixaria alguém furar o
seu bracinho. Mamãe é maravilhosa.
— Ela cuida de mim e vai cuidar de “voxê” também.
Desvio meu olhar para Ruby, que continua paralisada perto da porta,
enquanto todos os demais observam minha interação com Hazel,
ligeiramente boquiabertos.
— E você, mamãe, como está? — indago, sem desviar meus olhos
de Ruby.
Ela se aproxima, e a paixão transborda em meu peito de forma mais
intensa a cada passo que ela dá. Ela se posiciona ao lado da cama, e quando
cobre minha mão com as suas, percebo que está trêmula.
— Nós vamos ficar bem. Graças a Deus e aos seus irmãos.
— E à paranoia da minha mãe, que a motivou a colocar um
rastreador no carro. — Leonard dispara, com seu jeito bem-humorado de
sempre.
— Será que vocês podem nos deixar sozinhos? — peço.
— Claro. Vocês precisam conversar. Voltaremos mais tarde.
Com isso, todos saem do quarto, deixando-me sozinho com Ruby e
Hazel.
Olho para Ruby, meus olhos fixos nos dela, e tudo o que sinto
transborda em meu coração.
O medo, a gratidão, a alegria de estar vivo e de tê-la ao meu lado.
Necessito de um grande esforço para conter as lágrimas que amaçam aflorar
dos meus olhos.
Ruby se aproxima ainda mais, sentando-se delicadamente na beirada
da cama, nossas mãos entrelaçadas.
Seu toque é suave e reconfortante, uma promessa tangível de que
estaremos sempre juntos, de que nunca mais nos afastaremos.
— Ruby, eu... Eu amo você. E amo Hazel. Estou tão grato por
estarem seguras, por terem escapado dessa loucura.
As lágrimas agora inundam os olhos de Ruby, e ela soluça baixinho.
— Eu também te amo. Nunca duvide disso. Eu fiquei tão assustada,
pensei que nunca mais te veria. Mas você está aqui, está vivo. Eu não
poderia pedir por nada mais.
Envoltos em emoções intensas, nos abraçamos, procurando força e
conforto um no outro.
O tempo parece parar enquanto nos entregamos ao amor que
compartilhamos, uma conexão que foi testada e fortalecida ao longo das
adversidades.
E então, percebo Hazel observando-nos com seus olhinhos curiosos.
Ela sorri, seu sorriso inocente e cheio de esperança. Parece entender
a importância desse momento, mesmo que tão jovem.
— Eu também amo vocês. — Hazel diz com aquele jeitinho
dengoso, e ambos sorrimos em uníssono.
Ruby esfrega as mãos nos olhos, tentando secar as lágrimas.
— E nós amamos você, meu amor. — Ela diz.
— Amo vocês duas com todo o meu coração. — Olho diretamente
para Ruby. — Você já explicou a ela sobre o que somos um para o outro?
— Não. Eu estava esperando para falarmos juntos.
Com um nó na garganta, eu concordo com Ruby. Juntos, decidimos
que é hora de contar a Hazel a verdade sobre nosso vínculo. Precisamos que
ela saiba que eu sou seu pai, seu protetor, e que estarei ao seu lado para
sempre.
Segurando a mão de Hazel, começo a falar com voz embargada de
emoção:
— Hazel, meu amor, há algo muito importante que precisamos te
contar. Você sabe que a mamãe e eu te amamos mais do que qualquer coisa
no mundo, certo?
Ela assente com um olhar atento, esperando pela revelação que está
prestes a vir. Embora tenha ouvido as conversas entre Jensen e nós, sobre o
que somos um para o outro, ela é muito novinha para ter entendido com
clareza.
— Bem, querida, eu sou seu pai. Eu sou o seu papai de verdade.
Os olhos de Hazel se arregalam e uma mistura de surpresa e alegria
atravessa seu rosto. Ela olha alternadamente para mim e para Ruby,
processando essa nova informação.
Ruby continua:
— Cassius e eu nos conhecemos há muito tempo, quando a mamãe
trabalhava na casa dele. Por causa de um mal-entendido, um probleminha
que tivemos, precisamos nos afastar, mas depois nos reencontramos. Por
isso você só o conheceu há pouco tempo, recentemente.
As palavras parecem ecoar no quarto, e o silêncio que se segue é
preenchido pelo peso da revelação. Hazel se inclina para mim, envolvendo
seus bracinhos delicados ao redor do meu pescoço em um abraço apertado.
— Papai... — Ela sussurra, a voz cheia de emoção.
As lágrimas rolam pelo meu rosto enquanto seguro minha filha com
todo o amor que tenho dentro de mim. Ruby se junta a nós, formando um
abraço em família, e ali, naquele momento de profunda conexão, percebo
que finalmente encontramos a verdadeira felicidade e completude.
Nada mais importa além de nós três. O passado fica para trás, as
feridas cicatrizam, e agora seguiremos adiante, unidos por laços
indissolúveis.
O amor que compartilhamos é a força que nos sustenta, e juntos
enfrentaremos qualquer desafio que a vida nos apresentar.
A partir de agora, somos uma família de verdade, e nada mais
poderá nos separar.
EPÍLOGO

Ruby, um ano depois.

É domingo de sol e estamos todos reunidos perto da piscina na área


privada do clube Shoreline. Cassius, Ruby, eu, os pais e os irmãos de
Cassius e meus pais. Enquanto a área pública do clube está lotada de
pessoas, aproveitamos a área reservada exclusivamente para nós, como
fazemos todos os domingos.
O dia está cheio de animação, com Leonard contando suas piadas
engraçadas ao lado de uma garota bonita, sua nova conquista, fazendo todos
sorrirem, enquanto Isaiah e Cassius cuidam do churrasco.
Meus pais e eu participamos das conversas animadas, sorrindo e
desfrutando do momento de descontração e cumplicidade.
Quanto à Sra. Kensington, só tem olhos para Hazel. Além dos dias
da semana em que levo minha filha para vê-la, às vezes até passando o dia
juntas, ela aproveita cada minuto para estar ao lado de sua neta,
paparicando-a e mimando-a de uma maneira que eu nunca imaginaria ser
possível.
Entre todas as surpresas que a vida já me proporcionou, nenhuma
foi maior do que o amor daquela mulher pela minha pequena.
Um amor genuíno que se manifestou desde o primeiro instante em
que as duas se viram, e que me impediu de negar-lhe o meu perdão quando
ela se ajoelhou e suplicou que eu a perdoasse por ter me acusado de tentar
dar um golpe da barriga e por ter demitido injustamente meus pais.
Foi possível ver o arrependimento em seu rosto ao perceber que ela
havia cometido um erro ao afastar seu filho da mulher que ele ama e rejeitar
sua neta.
No entanto, hoje em dia tudo está resolvido. Não há mais conflito
entre nós e vivemos como uma família unida.
Embora o Sr. Kensington tenha tentado oferecer um cargo executivo
ao meu pai em sua empresa, visando ajudá-lo a melhorar de vida, meu
orgulhoso pai recusou embarcar nessa jornada e, no máximo,
relutantemente, aceitou um empréstimo oferecido por Cassius para abrir sua
própria empresa de jardinagem, um negócio que está crescendo a cada dia.
Quanto à minha mãe, ela está envolvida com a alta costura. Menos
orgulhosa que meu pai, ela aceitou a oferta da família Kensington de ser
apresentada a grandes estilistas e atualmente trabalha com um deles, dando
vida às suas criações.
Quanto a mim e Cassius, nos casamos em uma linda cerimônia
realizada na praia de Malibu, em um dia ensolarado, tendo Hazel como
nossa dama de honra, e agora moramos em nossa própria casa em Beverly
Hills, onde nossa pequena tem seu próprio playground, com vários
brinquedos, piscina infantil e até um pônei de verdade.
Talvez por ser a primeira neta, ela recebe presentes dos avós com
frequência. Tem tantas coisas que chega a ser quase um exagero.
Cassius e eu estamos planejando ter mais um filho. Tomamos essa
decisão há alguns dias, depois que desisti de cursar a faculdade de direito.
Embora estivesse buscando construir minha própria carreira, acabei
ingressando no curso de direito da faculdade de Los Angeles.
No entanto, percebi que estava sem tempo para estar com minha
filha, vê-la crescer e fazer parte de sua infância, e acabei desistindo de me
formar, optando pelo prazer de ser uma mãe de verdade e estar presente em
cada fase da vida da minha menina.
A vida segue em um ritmo tranquilo e pleno de felicidade. Eu e
Cassius nos dedicamos integralmente à criação de Hazel, que se torna cada
dia mais adorável e inteligente.
Nossa casa em Beverly Hills está repleta de risos, amor e momentos
preciosos em família.
Estamos animados com a perspectiva de dar a Hazel um irmãozinho
ou irmãzinha com quem ela possa compartilhar a infância e criar laços
especiais.
A vida continua a nos presentear com momentos preciosos.
Nossos aniversários são celebrados com festas repletas de amigos e
familiares. Hazel e sua avó, Sra. Kensington, mantêm uma conexão
especial, e juntas criam memórias inesquecíveis.
A cada dia, nosso amor e união se fortalecem. Superamos
obstáculos, perdoamos e aprendemos a valorizar cada momento. A família é
o alicerce que nos sustenta e nos inspira a buscar o melhor de nós mesmos.
E assim, enquanto o sol se põe no horizonte, sinto-me imensamente
grata pela vida que construímos, pela família que temos e por cada
momento de felicidade que compartilhamos.
Nosso futuro está repleto de possibilidades e estou animada para
viver cada novo capítulo ao lado daqueles que mais amo.

FIM
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