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Ariela Pereira
Copyright© 2023 Ariela Pereira
1º Edição
2023
ÍNDICE
SINOPSE
Cassius
Ruby
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 20 (Parte 2)
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
EPÍLOGO
REDES SOCIAIS
SINOPSE
Ruby
Ruby
Ruby
Ruby
Não tenho noção de quanto tempo dormi quando sinto uma pressão
no meu ombro e abro os olhos. O pânico toma conta de mim ao perceber
que já é dia.
Ao me acostumar com a claridade, vejo a Sra. Kensington ao lado
da cama, me encarando com ódio, apertando meu ombro para me acordar.
Cassius continua dormindo ao meu lado, coberto por um lençol da
cintura para baixo.
— Levante-se imediatamente, sua desgraçada!
Fico chocada com as palavras sussurradas pela Sra. Kensington,
numa tentativa de não acordar o filho, mas seu ódio transborda mesmo
assim.
Meu Deus! Tenho certeza de que todos seremos demitidos! Como
pude deixar isso acontecer?
Não me arrependo de ter ficado com Cassius, apenas de ter
adormecido ao seu lado e ter sido pega dessa forma.
Maldição!
A Sra. Kensington sai do quarto com passos firmes e furiosos,
esperando que eu a siga.
Levanto-me às pressas e me visto. Antes de sair, dou uma última
olhada em Cassius, que parece um anjo adormecido na cama.
Uma força quase sobrenatural me puxa em sua direção.
Minha vontade é voltar para a cama e nunca mais sair de lá. Mas o
destino não foi gentil com meus sentimentos.
Saio do quarto relutante, com o coração na boca, não só por ter que
me afastar de Cassius, mas pelo medo de enfrentar sua mãe.
Meu Deus! O que ela vai fazer comigo e minha família? Nem
consigo imaginar!
Não é segredo que os Kensington detestam qualquer envolvimento
de seus filhos com os empregados.
Já presenciei a Sra. Kensington quase destruir a casa quando Isaiah,
o filho mais velho, apareceu em um jantar familiar com uma estagiária da
empresa.
Encontro a Sra. Kensington na sala, andando de um lado para o
outro, fumando um cigarro.
Ela está claramente furiosa e nervosa.
Gonzales, o motorista, está parado perto da porta, como um guarda-
costas. Além de motorista e segurança, ele é o puxa-saco da Sra.
Kensington, informando-a de tudo o que acontece na casa, inclusive sobre
os outros empregados.
— Senhora, por favor... — tento falar ao me aproximar dela, mas
sou bruscamente interrompida.
— Cale a boca, sua vagabunda! Como se atreve a se deitar com meu
filho? Está tentando engravidar e ganhar dinheiro com isso? É só isso que
pessoas como você querem!
Não vale a pena responder, pois ela já tirou suas próprias
conclusões.
Fico parada, aguardando a demissão dos meus pais e a culpa que vai
me acompanhar pelo resto da vida.
Meu Deus!
— Há quanto tempo isso está acontecendo entre vocês? — ela
pergunta com raiva.
— Foi a primeira vez ontem, eu juro.
— Você sabe que posso descobrir a verdade analisando as câmeras
de segurança!
— Sim, senhora. Pode verificar. Foi apenas ontem.
— Você saiu de casa com ele? Onde o levou? O que aconteceu?
— N-não, senhora. Fui a uma festa com meus amigos em Los
Angeles. Quando cheguei em casa durante a madrugada, o encontrei
desacordado no jardim.
Ela faz uma pausa.
— Então você aproveitou a situação para tentar engravidar dele?!
Como ousa?
— E-eu só estava tentando acordá-lo para que entrasse na casa.
Conversamos um pouco e aconteceu. Não foi planejado.
— Claro que foi! Você nunca vai admitir, mas se só quisesse que ele
entrasse em casa, teria me acordado. Aproveitou-se de um momento de
fraqueza dele para se beneficiar! Não quero pessoas como você na minha
casa!
Sem dizer mais nada, ela caminha determinada em direção aos
fundos, pisando firmemente e com raiva.
Ela está indo demitir meus pais, tenho certeza.
Meu Deus! Onde eles vão arranjar outro emprego nessa idade?
Desesperada, sigo atrás dela, com Gonzales logo atrás de mim.
— Senhora, por favor, não os demita. Eles não têm culpa do que eu
fiz. A culpa é toda minha. Por favor...
— Eles têm culpa de não darem uma educação adequada à filha que
têm.
Como ainda é cedo, minha mãe não está na cozinha, onde passa a
maior parte do seu dia.
A Sra. Kensington atravessa o amplo e bem mobiliado cômodo,
avançando pelo jardim ensolarado em direção à nossa pequena moradia.
Encontramos meus pais na pequena sala de estar. Minha mãe já está
uniformizada, pronta para começar o dia de trabalho, enquanto meu pai está
acomodado no sofá.
Assim que entramos, os dois ficam alarmados, meu pai se levanta
respeitosamente, e minha mãe alterna seu olhar aflito entre mim, sua chefe
e o motorista.
Pela forma como nos olha, é possível perceber que ela já entendeu o
que aconteceu, mesmo antes da outra mulher falar.
Na verdade, esse sempre foi o maior temor dela diante da minha
incessante admiração por Cassius.
— O que vocês estão fazendo que não mantêm a sua filha longe da
cama do meu filho? — vocifera a Sra. Kensington.
Os olhos do meu pai se arregalam de choque.
— Do que a senhora está falando? Nossa filha não...
— Ela estava dormindo com o meu filho! Acabei de flagrar os dois
juntos, e estou procurando um único motivo para não demiti-los agora
mesmo!
— Isso é verdade, Ruby? — Meu pai me encara incrédulo.
— É claro que é verdade! Ou você acha que estou inventando?
Meu pai a ignora, seu olhar inquisitivo ainda fixo em mim.
— É verdade, pai. Desculpe. Mas foi apenas uma vez. Eu juro.
— Se está procurando engravidar, pode esquecer! Meu filho não
assumiria o filho de uma empregada.
— Minha filha não é esse tipo de garota. — Minha mãe me defende.
— E que tipo de garota se deita com um homem que encontrou
desacordado no jardim?
Meus pais me encaram simultaneamente, atordoados.
Puta merda!
— Eu deveria demiti-los agora mesmo, mas como são funcionários
antigos e estão muito velhos para arranjar outro emprego com moradia, vou
dar-lhes mais uma chance. Uma única chance! — A Sra. Kensington
continua — Espero que controlem essa menina e a mantenham longe do
meu filho! Se eu souber que ela se aproximou dele novamente, não só vou
demiti-los imediatamente desta casa, como também garantirei que nunca
mais arranjem emprego em lugar algum! Está claro?
— Sim, senhora. Obrigado por essa chance. Eu garanto que isso não
vai acontecer novamente. Estou muito envergonhado. — É meu pai quem
fala.
A mulher elegante olha para minha mãe, esperando que ela diga
algo semelhante.
— Também lhe dou minha palavra de que isso não voltará a
acontecer. Peço desculpas pelo inconveniente e agradeço pela segunda
chance.
— E quanto a você, garota?
— E-eu nunca mais vou me aproximar dele. Pode acreditar. Além
disso, em breve partirei para a faculdade, como a senhora bem sabe.
— Estou lhes dando essa segunda chance, mas não me
decepcionem. Se eu encontrar Ruby sequer conversando com Cassius
novamente, não apenas os demitirei desta casa, mas também me assegurarei
de que nunca mais arranjem emprego em lugar algum! Ficou claro?
— Sim, senhora.
A Sra. Kensington nos observa em silêncio por um momento, com
aquele irritante ar de arrogância e autoridade.
Em seguida, ela vira as costas e acena para Gonzales, que a segue
como um cachorrinho obediente.
O alívio que me inunda é indescritível, porém, sequer tenho tempo
para aproveitá-lo. Antes disso, meu pai avança em minha direção como uma
fera raivosa, fazendo-me correr para trás de minha mãe.
— O que você pensa que está fazendo? Como ousa me envergonhar
dessa forma? — Ele grita.
Ele está tão furioso que tenho quase certeza de que vai me bater,
embora nunca tenha feito isso antes.
— Mãe, por favor.
— Deixe-a em paz! Nem pense em encostar um dedo na nossa filha!
Meu pai recua.
— É por isso que essa menina está assim. Você não sabe educá-la.
— Ela é jovem. Está deslumbrada. Não sabe o que está fazendo!
— Ela já tem dezoito anos! Sabe o que é certo e errado!
— Quer mesmo que eu comece a falar sobre o que estávamos
fazendo quando tínhamos essa idade? — Meu pai bufa de raiva, mas não
diz mais nada — Ela já disse que foi apenas uma vez e que não vai
acontecer de novo. Temos que relevar.
— Vamos mandá-la passar o verão com a tia no Arkansas. Isso é o
que ela precisa.
— Não, pai, por favor!
Sinto calafrios só de pensar na fazenda onde minha tia mora, nos
recônditos do Arkansas, um lugar esquecido pela civilização, onde não há
nada além de galinhas, vacas e plantações.
— Quando eu voltar do trabalho, conversaremos sobre isso. Agora
tenho que ir, ou darei mais motivos para enfurecer a Sra. Kensington. —
Ela olha para mim — Quanto a você, fique quieta no seu quarto e nem
pense em sair de lá.
— Mas hoje é domingo. Em breve, os outros filhos da Sra.
Kensington estarão aqui, e alguém precisa servi-los.
— Você acha mesmo que ela ainda vai querer que você trabalhe na
casa?
— Acha que não vou mais fazer a limpeza?
— Eu não sei. Veremos o que o Sr. Kensington vai dizer. Duvido
que eles permitirão que você se aproxime da casa novamente. Agora vá
para o seu quarto e fique lá.
Não penso em desobedecer, já basta toda a confusão que causei.
Então, vou para o quarto quase correndo.
Me jogo de bruços na pequena cama, e aos poucos a aflição vai
diminuindo, enquanto meus pensamentos me levam de volta a Cassius, aos
momentos maravilhosos que compartilhamos.
Mesmo que não voltemos a ficar juntos, guardarei para sempre o
gosto dele em minha boca e a sensação do calor de seu corpo.
Não sei se o que sinto por ele é amor. Se for, estou ainda mais
apaixonada do que antes de tê-lo em meus braços.
CAPÍTULO 5
Cassius
Cassius
Cassius
Ruby
***
Cassius
Cassius
Cassius
***
Ruby
Cassius
Ruby
Ruby
Ruby
Ruby
Ruby
Ruby
Ruby
Ruby
***
Ruby
Cassius
Manhã de domingo.
***
Ruby
Ruby
Ruby
***
Ruby
***
Ruby
Cassius
Ruby
Ruby
***
Ruby
Cassius
***
***
Ruby
Ruby
***
Cassius
O sábado está sendo um dia incrível. Mal posso acreditar que Ruby
realmente está aqui, junto com sua filha.
Tenho certeza de que ela aceitará minha proposta de emprego e
então terei todo o tempo do mundo para conquistar de uma vez por todas
seu coração, e o coraçãozinho de Hazel.
Após deixar as duas no quarto, resolvo algumas pendências e tento
descansar um pouco, mas não consigo relaxar.
A curiosidade por saber o que Ruby tem a dizer me deixa tenso e
ansioso. Finalmente vou saber o real motivo pelo qual ela me deixou.
Espero mais um tempo, até que as duas descansem, e volto ao
quarto onde as deixei.
Ao bater na porta, é Hazel quem responde, me mandando entrar.
Para minha surpresa, encontro Ruby profundamente adormecida na cama,
enquanto a pequena sapeca faz uma excursão pelo quarto, mexendo em
tudo, tirando objetos pequenos do lugar.
Ela vem correndo ao meu encontro, enroscando-se em minhas
pernas.
— Mamãe está “dolmindo”. — diz ela, com a vozinha embolada.
Pego-a no colo e afundo o nariz na curva do seu pescoço, aspirando
o cheirinho gostoso de bebê.
— Quer dar uma volta comigo enquanto ela descansa?
Hazel bate palminhas, animada.
— “Quelo”!
Deixo o quarto com a pequena em meus braços, fechando a porta
com cuidado para não fazer barulho.
A brisa suave da tarde acaricia nossos rostos enquanto percorremos
os jardins do clube.
Observo Hazel, seu sorriso radiante e os olhos curiosos explorando
o ambiente ao nosso redor.
É incrível como ela parece se encaixar perfeitamente em meus
braços, como se sempre tivesse pertencido a mim.
Apresento a pequena sapeca a alguns funcionários e continuamos
nosso passeio, mostrando-lhe todos os lugares onde poderá brincar quando
estiver morando aqui com sua mãe.
Estamos de volta ao setor privado, perto da piscina, quando vejo
minha mãe entrando pelo portão, na companhia do seu constante cão de
guarda, Gonzáles.
Fico surpreso ao vê-la por aqui em pleno sábado, visto que nosso
encontro semanal ocorre sempre no domingo.
Antes mesmo de me cumprimentar, ela fixa seu olhar em Hazel, que
continua em meu colo, fitando a garotinha com um misto de surpresa e
confusão na expressão de seu olhar, enquanto se aproxima de nós.
Seu rosto fica subitamente pálido, enquanto ela alterna seu olhar
entre o meu rosto e o de Hazel.
— Quem é ela? — indaga minha mãe.
— É a filha de Ruby. Não é linda?
Minha mãe me encara com seus olhos arregalados, seu rosto cada
vez mais pálido, por trás da maquiagem.
— Ruby, a filha da cozinheira?!
— Sim. Lembra dela?
— Só dela?
— Como assim só dela? É óbvio que a menina tem um pai. Ele está
na Itália.
Ela fixa seu olhar em Hazel, que a observa com timidez.
De repente, repousa sua mão sobre o peito, sua fisionomia se
contorcendo em agonia, como se estivesse passando mal.
Suas pernas falham e ela começa a desabar. Antes que caia no chão,
Gonzales corre em seu socorro e a deita cuidadosamente em uma
espreguiçadeira.
Alarmado, coloco Hazel no chão e ajudo a ampará-la.
— Por Deus! O que a senhora está sentindo? ALGUÉM CHAME
UMA AMBULÂNCIA!
— Não precisa de ambulância. Eu vou ficar bem. Por favor, me
tragam um copo d’água.
— Vou buscar. — Gonzales se adianta, indo buscar a água, mas já
com o celular colado no ouvido, chamando a ambulância.
— Não deixa a “ambulânxia” te levar, senão eles vão te dar uma
injeção. — Hazel fala, colocando-se ao lado da minha mãe, pousando sua
mãozinha na testa dela.
Minha mãe olha para a garotinha como se estivesse vendo uma
assombração, mas aos poucos vai melhorando, a cor em seu rosto voltando.
— É...? — Minha mãe balbucia.
— É “xim”. “Outlo” dia mamãe me levou no doutor e ele me deu
uma injeção. — Ela faz aquele beicinho lindo e minha mãe sorri.
— Qual é o seu nome?
— Hazel. Eu tenho “doix” aninhos.
Minha mãe olha para mim e novamente para a garotinha.
— Você é muito corajosa, pequena Hazel. — diz ela, sua voz suave
carregada de emoção. — Eu também não gosto de injeções. Mas você está
certa, às vezes é necessário enfrentar essas coisas para ficarmos bem.
Hazel sorri, seus olhinhos verdes brilhando com doçura. É como se
ela entendesse, de alguma forma, o que está acontecendo. Ela se sente à
vontade ao lado da minha mãe, como pouquíssimas pessoas conseguem.
Gonzáles retorna com um copo de água, e minha mãe bebe alguns
goles, recuperando-se lentamente. A preocupação ainda está presente em
seu rosto, mas agora também há curiosidade.
— Se sente melhor? — pergunto.
— Sim. Foi apenas um pequeno mal-estar. Nada demais.
— A senhora tem ido ao médico para fazer exames de rotina?
— Claro que sim. Olha só quem pergunta, o cara que não vai ao
médico nem quando precisa. Mas o que a filha de Ruby está fazendo aqui?
— É uma longa história. A mãe dela também está aqui. Está
descansando um pouco.
— Minha mamãe está “dolmindo” no quarto.
— Você não quis dormir com a mamãe?
— Eu acordei “plimeilo”. Você é a mãe do Cassius?
— Por que você acha isso?
— Porque ele te chamou de "xinhola".
Minha mãe sorri para ela, seu olhar carregado de admiração e uma
ternura genuína. Eu entendo como ela se sente. Hazel é realmente
encantadora.
— Sim, eu sou a mãe dele. E você é tão linda e esperta. Parece uma
bonequinha falante.
— O Cassius “dixe” que eu “palexo” uma bonequinha. — Hazel
sorri animada e minha mãe parece ficar ainda mais encantada por ela.
— Ela é apaixonante, não é? — digo.
Minha mãe alterna seu olhar espantado entre meu rosto e o de
Hazel, enquanto o sorriso vai se desfazendo de seus lábios.
— Como você pode não perceber isso?
— Perceber o quê?
Ela fica séria.
— Nada. Isso não é da minha conta. Me ajude aqui a levantar.
— É melhor ficar sentada enquanto a ambulância chega.
— Eu não preciso de uma ambulância. Me ajude aqui.
Seguro-a pelos braços e a ajudo a ficar de pé.
— O que a senhora veio fazer aqui hoje? Achei que nos reuniríamos
apenas amanhã.
— E é só amanhã mesmo. Vim apenas garantir que tudo está
organizado, para que não faltem os coquetéis como no domingo passado.
Voltaremos amanhã.
— “Voxê” já vai? — Hazel pergunta.
Minha mãe a observa com ternura evidente em sua expressão. Não a
julgo quando ela se abaixa e pega a pequena em seus braços, segurando-a
no colo. É o que se tem vontade de fazer quando se olha para Hazel.
— Quer ir para Los Angeles comigo conhecer minha casa?
— “Pleciso” “pelguntar” “pala” a mamãe.
— Está certa. Não pode sair sem permissão da mamãe.
— “Voxê” tem um “cheilo” bom. — Hazel sorri.
— É Chanel, querida. Quando você crescer, poderá ter esse cheiro
também.
Nesse momento, Ruby surge do interior do clube. Apesar de seu
leve inchaço e do rosto indicar que ela dormiu por longas horas, sua
fisionomia está desfigurada, e seus olhos arregalados exibem uma mistura
de ódio e horror enquanto fitam minha mãe segurando Hazel em seu colo.
— Por que essa mulher está com minha filha no colo?! — Ela
dispara, sua voz carregada de tensão.
— Ruby, é minha mãe. Lembra dela? — Tento acalmar a situação.
— Solta minha filha agora mesmo! — Dessa vez, Ruby grita,
completamente descontrolada.
Diante do olhar atônito de todos à nossa volta, inclusive de alguns
funcionários, ela avança sobre minha mãe e arranca Hazel de seus braços,
de forma agressiva.
— Nunca mais coloca suas mãos na minha filha, sua velha maldita!
Assustada com o comportamento de Ruby, Hazel começa a chorar.
— Ruby, o que está acontecendo aqui? Você está assustando a
menina.
— Pergunta para sua mãe o que está acontecendo. Vamos ver se ela
terá coragem de te contar a verdade.
— Ruby, será que podemos conversar em particular? — Minha mãe
indaga, aflita e sobressaltada, sem que eu entenda a razão, embora já faça
uma ideia do que se trata.
— Não tenho nada para falar com você. Se dependesse da sua
vontade, minha filha sequer existiria!
O assunto ao qual ambas se referem fica cada vez mais claro em
minha mente, embora seja terrível demais para admitir.
— Mãe, do que ela está falando? — Tento obter uma resposta, mas
minha mãe ignora minha pergunta.
— Ruby, preciso falar com você em particular. — Minha mãe tenta
novamente.
— Não tenho nenhum assunto a tratar com a senhora.
— Por favor, não conte a ele. Ele jamais me perdoaria.
— Devia ter pensado nisso antes.
— Já chega! — Perco a paciência — Do que diabos vocês duas
estão falando?
As palavras saem da minha boca em um tom carregado de angústia.
Meu coração aperta no peito enquanto observo a intensidade da
discussão entre Ruby e minha mãe. O receio e a incerteza se misturam
dentro de mim, formando um nó na minha garganta.
— Cassius, precisamos conversar. — Ruby repete, sua voz tensa —
Mas não aqui, nem agora. Preciso levar Hazel para casa.
A pequena Hazel continua choramingando no colo de Ruby.
— Claro. Eu te levo para casa. — Me volto para minha mãe, que
ainda está preocupantemente pálida e abatida — Você vai ficar bem, mãe?
— Sim. Vá com ela. Gonzáles vai me levar para casa. Amanhã nos
encontraremos novamente. — Ela encara o olhar de ódio que Ruby lhe
direciona — Sua filha é adorável, Ruby.
— Não graças a você. Se dependesse da sua vontade, ela nem tinha
nascido!
— O que está acontecendo?! Como assim?! O que minha mãe tem a
ver com Hazel?
— Me leva daqui, por favor.
Com um turbilhão de pensamentos invadindo minha mente, dirijo-
me ao interior do clube para pegar as chaves do carro.
Logo, estou levando Ruby para casa, junto com Hazel, que agora
dorme tranquilamente no colo da mãe após toda a tensão que presenciou.
Não conversamos muito durante o trajeto, minha mente fervendo
com perguntas contidas apenas pela promessa de Ruby de que
conversaremos depois de deixarmos Hazel em casa. Apesar disso, já
começo a ter uma ideia do que está acontecendo.
Na casa de Ruby, espero enquanto ela entrega Hazel aos cuidados de
sua mãe, e então saímos novamente.
— Para onde você quer ir? — pergunto.
— Um lugar tranquilo, onde possamos conversar sem interrupções.
Não consigo pensar em um lugar mais tranquilo do que a remota
praia de Malibu, então é para lá que nos dirigimos.
A noite começa a cair quando saltamos do carro e caminhamos na
areia fofa, com a brisa do mar aliviando o calor do dia.
O som das ondas batendo na costa cria uma atmosfera de
tranquilidade e sossego, apesar do vendaval de emoções que nos assola.
CAPÍTULO 37
Cassius
Ruby
***
Algum tempo depois, estamos prontos para irmos até Skid Row
buscar Hazel, devidamente arrumados e com os ânimos ansiosos pela
surpresa que temos preparada.
Mal posso esperar para ver a felicidade da minha menina quando
contarmos a ela que Cassius é seu pai.
Ela se apaixonou por ele no momento em que o viu e, embora não
tenha maturidade para entender tudo, vai ficar exultante ao descobrir que
ele estará sempre conosco.
Cassius está visivelmente nervoso e o acalmo com um sorriso
tranquilizador, envolvendo meus braços em volta do seu pescoço, buscando
conforto em seu abraço.
— Será que ela vai me chamar de pai?
— Tenho certeza de que ela vai fazer isso várias vezes ao dia,
apenas para ter o prazer de pronunciar essa palavra.
— E eu vou amá-la com cada batida do meu coração, assim como
amo a mãe dela.
Nossos lábios se encontram em um beijo demorado e apaixonado,
que desperta todos os meus sentidos para o desejo que sinto por esse
homem.
Ainda estamos nos beijando quando meu telefone toca,
interrompendo o momento. É minha mãe.
— Oi, mãezinha. Já estamos indo.
A voz dela está carregada de aflição, e meu corpo se tensiona ao
ouvir a notícia que ela traz.
— Ruby, não sei como dizer isso, mas Hazel sumiu.
O horror toma conta de mim e sinto um aperto no coração.
— Como assim sumiu?
— Não sei como aconteceu. Nós estávamos na sala assistindo
desenhos. Deixei-a por um instante, enquanto esquentava o café pro seu
pai. Quando voltei, ela não estava mais lá. Já procurei nas ruas próximas e
na casa dos vizinhos, mas nada. Ela não está em parte alguma.
Cassius se aproxima, preocupado com a situação, enquanto tento
manter a calma diante da incerteza.
— A senhora já chamou a polícia? — pergunto, buscando agir com
racionalidade.
— Não. Você acha que devo chamar?
— É melhor sim, mãe. Alguma coisa aconteceu. Ruby não ia sair de
casa sozinha. Ela nem sequer conseguiria destrancar a porta.
O desespero se intensifica à medida que pensamentos terríveis
invadem minha mente. Preciso encontrar minha filha.
— Vou ligar para eles então.
— Cassius e eu estamos indo para aí. Me telefone se ela aparecer.
Encerramos a ligação, e o nervosismo toma conta de nós.
— O que aconteceu? Você está pálida como um pedaço de papel! —
diz Cassius, preocupado.
— Hazel sumiu. Estava brincando na sala, minha mãe a deixou por
um instante e quando voltou ela não estava mais lá.
— Meus Deus! Será que alguém a levou?
— Acho que sim, pois a porta da sala fica sempre trancada. Ela não
conseguiria sair sozinha. — Hesito antes de continuar falando — Será que
sua mãe a pegou?
— Claro que não. Ela jamais faria isso.
— Cassius, ela não quer ser avó da filha de uma empregada. Mas
vamos descobrir se isso for verdade. Agora me leve para casa, pelo amor de
Deus.
— Vamos.
Seguimos apressados rumo à saída. Antes mesmo de atravessarmos
a porta da casa, meu celular toca novamente, desta vez com uma chamada
de Jensen.
— Agora não, Jensen. Estou muito...
— Estou com sua filha. — A voz dele soa ríspida do outro lado da
linha, interrompendo minha fala, deixando-me paralisada.
— Por quê? O que está acontecendo?
— Venha me encontrar, você e Cassius. Estamos na seiscentos e
quarenta, S Main St. Se chamar a polícia, Hazel morre.
Ele desliga o telefone, e o desespero me consome, deixando-me
desolada e sem chão.
Dominada pela necessidade de ouvir a voz da minha filha e saber se
ela está bem, ligo de volta, mas ele não atende.
— O que ele disse? — pergunta Cassius, com olhar preocupado.
— Ele está com Hazel. Me deu um endereço em Skid Row, perto da
minha casa. Disse que não podemos chamar a polícia.
— O que diabos ele espera com isso?
— Não tenho ideia, mas precisamos ir.
Deixo a casa correndo, indo rumo à garagem. Se Cassius não me
seguir, pretendo pegar um dos carros dele e dirigir até onde Hazel está. Mas
ele me segue de perto, tão aflito quanto eu.
Pegamos o Jaguar antigo dele, por ser o mais veloz, e Cassius dirige
pelas ruas em alta velocidade, comigo sentada ao seu lado.
Enquanto me esforço por conter a aflição dentro de mim, ligo para
minha mãe e peço que não chame a polícia.
Não conto a ela o que está havendo, apenas peço que fique calma
enquanto levamos Hazel de volta para casa.
CAPÍTULO 39
Ruby
Ruby
Cassius
FIM
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