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Copyright © 2023

Título Original: A Obsessão do Capo

LIVRO 3

Capa: Angel Dias

Diagramação: Angel Dias

Ilustração: Angel Dias

Leitura Reader e Beta: Helô Oliveira

Imagens: Canva e Midjourney

Todos os direitos reservados. É expressamente proibida e

totalmente repudiável a venda, aluguel ou quaisquer usos comerciais do

presente conteúdo sem o consentimento escrito da autora. A violação dos

direitos autorais é um crime, estabelecido na Lei n. º9.610/98 e punido pelo

artigo 184 do Código Penal.

Criado no Brasil.

Obra Registrada.
Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes,
personagens, sobrenomes, lugares e acontecimentos reais, é mera
coincidência.
Sumário
Sumário
Dedicatória
Sinopse
Playlist
Notas da Autora
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Epílogo
Sobre a Autora
Outras obras
Agradecimento
Em meio aos suspiros sussurrados nos corações sombrios da máfia, dedico
este livro a vocês, cúmplices da emoção e da complexidade de um amor que
se teceu em meio ao caos.
Que a tensão da lealdade e traição, a delicadeza das segundas
oportunidades concedidas pelo destino, e a inegável intensidade de um
amor complicado, envolvam cada leitor como um abraço furtivo à beira do
perigo.
A vocês, leitores, que embarcam nesta jornada sombria e romântica, meu
mais profundo agradecimento. Que as páginas deste livro se tornem um
portal para um mundo onde a esperança floresce mesmo nos corações mais
frios.
Com gratidão,
Angel.
O que você faria se perdesse a pessoa que você ama pela segunda
vez?
Luigi Marino, um homem cujo coração foi dilacerado pela perda da
mulher que amava não uma, mas duas vezes. Fechou-se para o amor e
concentrou-se em sua vida na Camorra.
Depois de quase entrar uma guerra mortal contra o Don da
Ndrangheta, Luigi concorda com um frágil pacto de paz pelo bem da
mulher que ambos amam. Contudo, a paz não traz consigo a cura, e Luigi se
vê afundado em suas próprias cicatrizes.
Em um momento complicado, ele é surpreendido por um pedido de
Giulia, a mulher que o lembrava tanto de sua amada, e é nesse momento
que ele reencontra Nina.
Nina Romanov, a sobrinha do Pakhan da Bratva. Criada nos rígidos
costumes da máfia russa, anseia por libertar-se das correntes que a prendem
e buscar sua própria identidade. Entretanto, o destino, muitas vezes
implacável, tem outros planos para ela.
Quando o tio de Nina a promete em casamento a alguém que ela
odeia, Nina busca a ajuda de sua prima e reencontra o homem que viu
apenas uma vez e que fez seu coração acelerar. Mas Luigi está
completamente preso ao seu passado, e para ela, já não resta mais tanto
tempo.
Para ouvir enquanto lê.
Escaneie o código:

Ou acesse: A obsessão do Capo


Este livro contém: Cenas de sexo explícito e palavras de baixo calão, não
sendo recomendado para menores de 18 anos.
Contém gatilhos: Agressão, assassinato, pressão psicológica e
relacionamento abusivo.
A autora não romantiza os tópicos citados acima.
As regras da máfia são inventadas pela autora e o livro não se
desenvolve para contar o convívio dentro da máfia, mas sim o romance entre os
personagens.
Estou afogado até o pescoço em trabalho, e, curiosamente, é assim
que prefiro me manter. Ser o Capo da Camorra consome grande parte do
meu tempo, especialmente desde que Damon e eu estabelecemos um tratado
de paz. Nossa união chamou muita atenção indesejada. A Ndrangheta,
Camorra e Bratva unidas, graças a Giulia, irmã gêmea de Ana e filha do
Pakhan, essa aliança improvável se solidificou, e isso certamente está
causando desconforto em muitos dos nossos rivais.
Desde a morte de Anastácia, meu único propósito na vida era
aniquilar Damon Lucchese. No entanto, com o surgimento da irmã gêmea
de Ana, sinto como se feri-la fosse como perder Ana novamente. Agora,
percebo que não tenho mais nenhum objetivo claro; estou apenas existindo,
vivendo sem qualquer motivação. A ausência de um propósito definido
deixou um vazio gritante.
Ouço uma batida na porta.
— Entre.
Hettore, meu Sub-chefe, adentra meu escritório.
— Luigi, como está hoje? — Ele observa meu semblante
preocupado. — Sua expressão está terrível; seria bom que tentasse
descansar de vez em quando.
— Não tenho tempo para isso agora. — Joguei algumas fotografias
em sua direção. — Reconhece esses homens?
Hettore examina atentamente cada foto.
— Acho que nunca os vi.
— Não sei, mas não estou gostando dessa movimentação ao nosso
redor. E, falando em movimentação... — Lembro-me de algo que queria
perguntar. — Você disse que não iria ao casamento de Damon dois meses
atrás. Pode me explicar o que estava fazendo lá?
— Estava lá pela irmã da Giulia. — Ele dá de ombros. — A conheci
por acaso algum tempo atrás, mas não foi por isso que vim até aqui.
— E para que veio então?
— Giulia Lucchese está aqui. — Levantei-me abruptamente. —
Pediu para falar com você, disse que será rápido, mas que tem que ser
agora.
— Por que não me disse isso logo? Mande-a entrar!
Ele me olhou com um ar de desaprovação.
— Não se esqueça que ela não é a Ana e que é casada com Damon,
Luigi. Não faça nada imprudente.
— Entendido, Hettore. — Respirei fundo, tentando conter a
turbulência de emoções. — Pode trazê-la.
Hettore saiu do meu escritório e, alguns instantes depois, entrou
com Giulia Entrou. Seu olhar carregava uma mistura de determinação e
apreensão.
— Luigi, precisamos conversar. — Ela começou de forma direta,
sem rodeios.
— Estou ouvindo. — Respondi, mantendo uma expressão
impassível.
— A paz entre as nossas famílias é frágil, e eu sei que você não está
exatamente feliz com a minha escolha. — Ela pausou, avaliando minha
reação. — Mas eu preciso da sua ajuda.
A aliança que mantínhamos era delicada, e qualquer deslize poderia
resultar em tragédia para ambas as famílias. Só por sua presença aqui, sei
que Damon poderia querer destruir o mundo.
— Do que precisa, Giulia? — Perguntei, ponderando as palavras.
Ela lançou um olhar significativo em direção à porta, indicando que
Hettore deveria sair e me pareceu que trocavam palavras com o olhar, ela
não parecia feliz em vê-lo.
— Se lembra de Nina, minha prima, a moça que você salvou de
Vittorio? — Assenti. — Preciso que a esconda. Damon não pode saber que
ela veio até mim; ele vai falar para meu pai. — Deu um suspiro pesado. —
Por favor, Luigi, você é a única pessoa em quem posso confiar para
protegê-la, mesmo que eu não te conheça direito.
O olhar de Giulia transmitia uma urgência que não podia ser
ignorada. Eu ponderava sobre a complexidade da situação.
— Você sabe no que está me metendo, não sabe? O que sua vinda
até aqui implica? — questionei, procurando saber se estava realmente
ciente.
— Não sabia a quem mais recorrer. — Ela admitiu, a voz carregada
de sinceridade. — Luigi, entendo que isso é arriscado, mas Nina é minha
família, e não posso permitir que ela sofra.
A confissão de Giulia adicionou um novo elemento à equação já
complicada. A lealdade à família era um conceito que ambos entendíamos
bem, mesmo que nossas famílias não estivessem exatamente do mesmo
lado.
— Farei o que for possível para protegê-la. — Garanti. — Mas
temos que ser cuidadosos. A menor falha pode desencadear consequências
devastadoras. Está disposta a enfrentar isso? — Ela assentiu. — E se, por
acaso, seu pai souber que ela está aqui, tenho que deixar que ele a leve.
— Sei que você nem tem por que aceitar fazer isso, então agradeço
mesmo assim. Farei o que for preciso para que ela esteja segura e que meu
pai não desconfie.
— Fique tranquila, Giulia. Faremos o que for preciso para manter
Nina segura. A Camorra é território seguro, farei o que estiver ao meu
alcance para protegê-la. — Afirmei, encerrando a conversa com a certeza
de que estávamos envolvidos em algo muito maior do que poderíamos
imaginar.
— Nina está no meu carro, vou buscá-la.
Capítulo
1
Ainda bem que quem se casou com aquele demônio não fui eu.
Essa é a primeira coisa que passa na minha cabeça depois do
casamento que quase acabou em tragédia. E logo eu, que nem tinha nada a
ver com os noivos, acabei virando escudo humano do ex-marido maluco da
minha prima.
O jardim estava decorado com requinte, mas a tensão no ar podia ser
cortada com uma faca. Os convidados, desconcertados e curiosos,
observavam a cena que se desenrolava diante deles. Entre suspiros
exasperados e olhares de irritados, meu coração batia acelerado, não apenas
pela confusão, mas também pela presença de Giulia, a prima que eu mal
conhecia, mas cuja vida se entrelaçou com a de uma maneira inesperada.
Damon exibia uma expressão de pura ira controlada, contrastando
com o nervosismo de Giulia.
E, no meio dessa tempestade, eu me encontrava, nas mãos do ex
dela, com a vida ameaçada. A adrenalina pulsava em minhas veias, mas, se
eu quiser ser honesta comigo, aquele desfecho era melhor do que ter me
casado com Damon.
A realidade da situação estava além do surreal. Eu, um observador
casual daquele drama familiar, agora era o alvo de um homem cuja raiva
podia desencadear acabar com a minha vida. Contudo, ao invés de lamentar
minha posição, uma estranha sensação de alívio percorreu meu ser.
A ironia do destino pairava no ar enquanto. Por mais que minha vida
estivesse ameaçada, eu não conseguia deixar de pensar que aquela era um
escape afortunado de um destino que teria sido infinitamente pior.
Damon conseguiu impedir que uma merda maior acontecesse
quando o homem estava para atirar. Ele derrubou a mim e ao ex no chão, e
um homem incrivelmente lindo me arrastou para longe do meio da
confusão.
— Você está bem? — Procurei a voz, mas não a encontrei, então
apenas balancei a cabeça. — Fique aqui dentro.
— Pode ficar aqui comigo? — Ele olhou para fora apreensivo. —
Não quero ficar sozinha, me sinto cansada, como se tivesse sido atropelada.
— É a adrenalina indo embora.
O homem misterioso conduziu-me para um canto mais tranquilo da
casa. Os ruídos da confusão ainda eram audíveis, mas ali, a atmosfera era
menos carregada de tensão.
— Obrigada por me tirar de lá. — Agradeci, tentando focar minha
visão na figura ao meu lado.
— Não foi nada. Faria isso por qualquer pessoa. — Seu tom era
seco e frio, sabia que ele não estava falando a verdade, a maioria dos
homens ali não salvariam alguém à toa.
Eu me sentia vulnerável, mas sua presença servia como um refúgio
momentâneo da tempestade que ainda rugia ao redor. Enquanto a adrenalina
começava a ceder, a exaustão e o peso do que aconteceu começavam a me
atingir. Agradeci, mais uma vez, por não ter me casado com Damon, e,
estranhamente, agradeci por ter sido arrastada para longe por esse homem
desconhecido.
— Qual é o seu nome? — Perguntei, tentando trazer alguma
humanidade para aquele momento tumultuado.
— Luigi. — Ele respondeu, olhando para fora com uma expressão
pensativa.
Luigi. O nome ressoava em minha mente.
— O que está acontecendo lá fora? — Indaguei, ansiosa por
informações.
— Damon o matou. — Luigi explicou de maneira breve. — Parece
que você escapou ilesa, pelo menos fisicamente.
A porta se abriu abruptamente antes que eu pudesse responder.
Mikhail, um dos soldados do meu tio, um homem de semblante sério por
quem eu era apaixonada, adentrou a sala. Seu olhar varreu o ambiente,
encontrando-me no canto com Luigi. Instantaneamente, uma mistura de
alívio e preocupação dominou sua expressão.
— Nina! — Exclamou, cruzando a sala rapidamente até mim.
— Mikhail... — Murmurei, surpresa por ele demonstrar sua reação
tão intensa.
Ele me envolveu em um abraço apertado, como se temesse que eu
desaparecesse a qualquer momento. Olhei para Luigi, observando
atentamente sua reação diante da demonstração de afeto entre nós.
Luigi permanecia impassível, mas seus olhos capturaram cada
detalhe do abraço entre mim e Mikhail. Uma tensão sutil, quase
imperceptível, se instalou no ar. Parecia que cada gesto, cada olhar, estava
sendo analisado silenciosamente por ele.
— Está tudo bem, Mikhail. — Tentei acalmá-lo, embora minhas
palavras soassem quase como um sussurro diante da sua intensidade.
Luigi permanecia em silêncio, observando a cena com uma
expressão imperturbável, mantendo seu olhar fixo em nós como se tentasse
decifrar nossos segredos

Pouco depois do acontecimento, estava conversando com minha


prima, Giulia, quando Luigi apareceu e informou que iria embora. Giulia
acabou dizendo a ele que me tirasse para dançar, e como eu queria explicar
a ele sobre a interação entre Mikhail e eu, aceitei.
A música preenchia o ambiente, mas meus pensamentos estavam
centrados em como abordar o assunto delicado que me afligia. Luigi
conduzia-me pelo salão, sua postura era firme, mas seus olhos denotavam
uma curiosidade cautelosa.
— Você está bem? — Sua voz, suave e profunda, quebrou o silêncio
entre nós.
— Estou, Luigi. Só foi um susto. — Tentei sorrir, mas sabia que
meus olhos traíam a ansiedade que eu tentava esconder.
Ele não disse mais nada, apenas continuou a me guiar pela pista de
dança. A música lenta proporcionava um ritmo sereno, mas havia uma
tensão subjacente em nossos passos.
— Sobre Mikhail...
Luigi franziu o cenho, seus olhos se estreitaram em uma expressão
de compreensão misturada com algo que eu não conseguia identificar.
— Vocês deveriam ter mais cuidado com o que fazem na presença
de outras pessoas. — Respondeu em um tom cortante. — Não me importo
com seus assuntos pessoais. — Seu tom frio me fez engolir seco.
Ele permanecia distante, olhando constantemente para Giulia, como
se ela fosse a única presença que realmente o interessasse, como se eu fosse
apenas uma sombra insignificante em seu campo de visão.
— Luigi, eu... preciso que não fale nada para o meu tio sobre o que
viu aqui. — Pedi, temendo as possíveis consequências de uma indiscrição.
Ele me olhou com indiferença, sem prometer nada.
— Vamos deixar isso claro, Nina. O que você faz ou deixa de fazer
não me interessa. — Sua resposta cortante deixou-me desconcertada, e eu
me perguntei se Luigi era tão insensível quanto aparentava.
— Você é uma peça interessante neste tabuleiro, Nina. O que seu tio
fará com você agora? — Sorriu de canto e eu senti algo se remexer dentro
de mim. — Mas não se iluda pensando que suas escolhas me afetam de
alguma forma.
A frieza de suas palavras revelou a natureza impiedosa de Luigi.
Enquanto dançávamos naquela sala repleta de máscaras e segredos, eu
entendia que Luigi era um homem que tentava não ser afetado por qualquer
laço emocional.
A música chegou ao fim, e Luigi soltou-me com uma indiferença
que me deixou momentaneamente atordoada. Ele se afastou, indo em
direção a saída depois de olhar um longo tempo para Giulia.
— Nina? Ouviu o que eu disse? — A voz do meu tio me trouxe de
volta ao presente. — Está pensando em quê assim tão concentrada?
— Nada de mais, tio. No casamento da Giulia, estava tudo lindo —
sorri. — Que bom que evitaram uma tragédia maior.
— Que bom que você está bem, jamais me perdoaria se deixasse
algo te acontecer. Prometi ao seu pai que cuidaria bem de você.
A conversa com Luigi ainda reverberava em minha mente, mas eu
me esforcei para manter uma expressão despreocupada. Meu tio, Pakhan da
Bratva, era um homem de negócios astuto e respeitado, mas também um
guardião zeloso da família e de seus costumes.
— Eu sei, tio. Agradeço por estar sempre preocupado comigo. —
Respondi, tentando manter o tom calmo de sempre.
Ele assentiu, satisfeito, antes de olhar pela janela do jatinho dele que
nos levava de volta à Rússia.
— Você e Giulia parecem estar se dando bem. Fico feliz que ela
tenha se casado com Damon, mesmo tendo sido criada longe dos nossos
costumes.
— Sim, a vida se encarregou de fazer com que tudo desse certo no
final.
— Agora tenho que procurar um bom homem para você. — A
respiração ficou presa em minha garganta. — Afinal de contas, Damon era
para ter se casado com você, não com Giulia. Você está na idade e eu estou
ficando velho.
A notícia atingiu-me como um soco no estômago. Meu tio já estava
considerando outro pretendente para mim, enquanto eu ainda lidava com
meus sentimentos e buscava desesperadamente um meio de ficar com
Mikhail.
— Tio, por favor, não quero apressar as coisas. — Tentei soar firme,
mas minha voz traía a angústia que tomava conta de mim.
Ele virou-se para mim com um olhar analítico, como se tentasse
olhar minha alma.
— Nina, a vida na máfia é assim. Você sabe disso, foi criada para
isso. Precisamos assegurar alianças e manter nossa linhagem forte. Damon
agora já se tornou um aliado. O primo está fora de cogitação... — Ele
continuou falando, mas eu já não o escutava.
A pressão aumentava, e eu me sentia encurralada entre as
expectativas de meu tio e a busca por minha própria identidade. Minha
liberdade parecia um sonho cada vez mais distante.
Capítulo
2
A perseguição pelas ruas estreitas de Nápoles estava em andamento
quando troquei um olhar rápido com Hettore. A tensão era palpável, e
ambos sabíamos que não podíamos deixar o suspeito escapar. A invasão no
território da Camorra exigia uma resposta imediata.
— Hettore, mantenha-se alerta. Não podemos permitir que essa
invasão fique impune. — Me comuniquei pela ligação que estava conectada
ao carro.
— Sim, Luigi. Vamos pegá-lo antes que esteja longe demais.
Meu carro cortava o silêncio da noite, aproximando-se
perigosamente do suspeito. A adrenalina corria em minhas veias, o homem
a nossa frente percebendo a perseguição, acelerou.
— Este é mais do que um intruso comum. Alguma ideia de quem
poderia estar por trás disso?
— Pode ser uma jogada de alguma família rival, Luigi. Eles
procuram qualquer motivo para nos atacar, ou para que nós sejamos
obrigados a dar o primeiro passo.
Mantive os olhos na estrada escura, minhas mãos presas firmemente
no volante. As ruas desertas tornaram-se o campo de batalha silencioso
entre a Camorra e o intruso desconhecido.
— Ele está virando à direita. Prepare-se, Luigi.
Acelerei, seguindo a direção indicada por Hettore. O suspeito,
percebendo que sua fuga estava prestes a terminar, aumentou a velocidade,
adentrando becos cada vez mais estreitos.
— Não o deixe escapar.
Os carros faziam curvas fechadas, cada manobra testando nossa
habilidade. O suspeito, agora desesperado, dirigiu-se a um beco sem saída.
— É uma armadilha, Luigi. Ele não tem para onde ir.
Freiei o veículo bruscamente, bloqueando a saída do beco. Ambos
saímos do carro, prontos para o confronto.
— Quem é você, e quem o enviou? — encarei o homem que
também havia descido do carro.
Ele, sem saída, permaneceu em silêncio por um momento antes de
finalmente falar.
— Não tenho nada contra vocês. Fui contratado para fazer esse
trabalho.
Hettore, olhando para mim, questionou:
— Quem poderia ter interesse em invadir nosso território?
— Descobriremos isso. Hettore, chame nossos homens. Vamos levá-
lo de volta.
Enquanto Hettore fazia a ligação, o suspeito, ciente de sua derrota,
manteve-se em silêncio. A invasão na Camorra abrira uma caixa de Pandora
de perguntas sem respostas claras.
Ao voltarmos para a sede, o suspeito permanecia em silêncio,
resistindo a qualquer tentativa de obter informações. A sala escura e
intimidante estava pronta para servir como palco para os meios mais
perversos de obter informações.
— Quem está por trás disso? — questionei, olhando fixamente para
o suspeito.
Hettore, ao meu lado, exibia a mesma expressão séria, pronto para
agir conforme necessário.
— Vocês não sabem com quem estão mexendo. — Cuspiu as
palavras, seu rosto mostrando uma mistura de dor e desafio.
Sem hesitar, dei um soco rápido, visando deixá-lo ciente de que não
toleraríamos resistência.
— Acho que você subestimou a seriedade da situação. — Minha
voz era firme, ecoando pela sala.
Hettore, por sua vez, aproximou-se, seu olhar penetrante sondando o
suspeito.
— Pode ser mais fácil para você se cooperar. Queremos saber quem
o contratou e por quê.
O suspeito permanecia em silêncio, sua mandíbula cerrada,
desafiando-nos com seu olhar.
— Não vão conseguir nada de mim. — Ele soltou uma risada fraca,
como se estivesse disposto a suportar qualquer sofrimento.
Diante da resistência, decidimos intensificar a pressão. Utilizamos
métodos que, embora não letais, eram cruéis.
Arranquei um por um de seus dedos, perguntando a cada um deles
se estava pronto para falar e colocando sal para estancar o ferimento. Sua
recusa constante em abrir a boca estava me deixando cada vez mais irritado.
— Não vamos facilitar as coisas. — Hettore fez um gesto, e dois
homens entraram na sala.
A tensão aumentou enquanto o suspeito observava, agora
compreendendo que suas escolhas determinariam o curso dos
acontecimentos. Ficou claro que nossa paciência estava se esgotando.
— Se não falar agora, as coisas vão piorar para você. — Ameacei,
meu tom endurecido refletindo a urgência da situação. — Podem começar.
Sentei-me e fiquei observando enquanto meus homens davam no
sujeito golpe após golpe, usando-o como um saco de pancadas.
Não demorou muito para que o suspeito começasse a ceder à
pressão. As informações começaram a fluir.
— Eu não sei quem foi o contratante! Não sei! Mas é um homem
poderoso e influente. Sequer tentaram negociar nosso preço, só pagaram.
— Nosso?
— Sim... eu não fui o único, não sou apenas eu quem está
observando vocês.
Enquanto ele falava, mantínhamos a vigilância, conscientes de que
nem todas as palavras proferidas seriam verdadeiras. Nós estávamos
acostumados a lidar com traições e mentiras, e nosso instinto afiado
desconfiava de tudo.
Ao obter o máximo de informações, sabíamos que precisávamos
agir rapidamente para evitar que a situação se agravasse. E descobrir quem
estava por trás daquilo era crucial. O prisioneiro, agora exausto e ciente das
consequências que teria que enfrentar, permanecia na sala, o primeiro que
iria encarar o destino que aguardava aqueles que ousavam desafiar a
Camorra.

— Você precisa relaxar um pouco, Luigi. Vai acabar tendo algum


mal súbito. — Hettore mencionou enquanto nos servíamos de uma dose. —
Posso pedir que mandem alguém para o “quarto”?
Por mais que eu odiasse ter alguém comigo, tinha que admitir que
meu humor estava ainda pior do que o normal.
Ao final da conversa com Hettore, senti a tensão acumulada ao
longo do dia pesando em meus ombros. O aroma do álcool pairava no ar,
misturando-se com a atmosfera carregada.
— Talvez você tenha razão, Hettore. Um momento de relaxamento
não faria mal. Pode mandar alguém para o quarto, alguém que já saiba
como eu sou e como gosto das coisas. — Depois de Ana, meu quarto nunca
mais foi frequentado por mulher nenhuma, havia um cômodo específico na
casa para quando eu queria receber alguma visita.
Com passos cansados, dirigi-me ao quarto. Ao abrir a porta, a
semiescuridão do ambiente proporcionou um refúgio momentâneo da
agitação lá fora. Decidi ir direto para o banho, deixando a água quente
escorrer sobre minha pele, tentando aliviar as tensões que se acumularam.
Quando saí do banho, envolto em uma toalha, uma presença
capturou minha atenção. Uma mulher deslumbrante estava parada próxima
à cama, sua figura esguia iluminada pela luz fraca que emanava do abajur.
— Quem é você? — questionei, mantendo minha expressão
impassível.
Ela sorriu, um sorriso que carregava uma mistura de confiança e
curiosidade.
— Sou Isabella. Fui enviada para garantir que se sinta mais...
confortável.
Seus olhos penetrantes me observavam atentamente. Era evidente
que ela havia sido enviada com essa proposito, mas não era uma das que eu
conhecia, o que já me deixou irritado.
— Não preciso de uma babá, Isabella, preciso de alguém que me
faça gozar. — Minha voz ecoou com frieza, mas ela não parecia intimidada.
— Às vezes, mesmo os líderes precisam de alguém para cuidar
deles. — Ela se aproximou, seus movimentos graciosos revelando uma
confiança intrigante. — E garanto que lhe farei gozar, senhor.
Permaneci cauteloso, observando cada gesto dela.
— Mandei que enviassem alguém que já me conhece.
— Eu aprendo rápido, senhor. — Ela deixou a frase pairar no ar
antes de se retirar silenciosamente.
Apesar da relutância inicial, permiti que Isabella permanecesse. A
tensão que carregava parecia dissolver-se na penumbra do ambiente.
Enquanto me aproximava da janela, Isabella se aproximou lentamente e
soltou a toalha que envolvia minha cintura.
— Seu dia foi longo e desgastante, senhor. — Sua voz suave cortou
o silêncio, deixe-me te ajudar a relaxar.
Ela tentou dissipar a frieza que eu insistia em manter. Seus dedos
roçaram levemente minha pele, como se buscasse uma conexão. O toque
estranho fez meu corpo se retesar.
— Às vezes, todos nós precisamos de um momento de suavidade.
— Seus olhos, cheios de intenções encontraram os meus.
Isabella, com uma graça deliberada, começou a despir-se, revelando
a delicadeza de seus movimentos. Cada peça de roupa caía no chão com
uma leveza que desafiava a gravidade. O quarto ficou carregado com uma
tensão diferente da que eu estava acostumado.
Ela se aproximou, seu corpo nu à vista, uma oferta clara. Seus lábios
encontraram os meus, tentando insuflar calor e intimidade.
—O senhor não precisa carregar o peso do mundo o tempo todo. —
Ela sussurrou, seus dedos traçando linhas suaves em meu peito.
Minha expressão permanecia inabalável, mas internamente, eu
lutava contra as correntes do passado que moldaram minha frieza. Isabella,
apesar de sua intenção de ser carinhosa, não estava nem perto de causar
qualquer reação do meu corpo.
Enquanto seus dedos exploravam minha pele, tentei concentrar
meus pensamentos naquele momento, mas foi impossível. Segurei sua mão
e a encarei.
— Eu odeio que me toquem, é exatamente por esse tipo de erro que
prefiro que venham as que já me conhecem! — Reclamei.
— O que devo fazer? — Seus olhos grandes me olharam. — Está
machucando... — sussurrou e notei que a apertei mais do que deveria.
— Fique de quatro na cama, não quero ouvir nada mais do que seus
gemidos. — Ela assentiu e fez o que mandei.
Coloquei a camisinha e me posicionei atrás de seu corpo, invadindo-
a de uma só vez em uma estocada rápida e forte, arrancando dela um grito
de dor e prazer.
Usei seu corpo até estar completamente saciado, o dia estava quase
amanhecendo quando isso aconteceu, e mandei que ela saísse.
Aquele era o máximo de contato que eu conseguia aguentar.
Capítulo
3
Caminhei pelos corredores imponentes da mansão do meu tio,
sentindo o peso da atmosfera rígida e formal que sempre cercava aquele
lugar. A máfia russa impunha suas regras, e eu, Nina Romanov, estava
destinada a seguir esse caminho. Tornara-me uma peça no jogo de poder da
família.
Minha rotina começava com o treinamento rigoroso. As artes
marciais eram uma necessidade na família Romanov, mas que meu tio só
permitia que eu fizesse graças a promessa que fez ao meu pai, uma forma
de proteção em um mundo onde as alianças eram frágeis e a traição estava
sempre à espreita. No ginásio privado da mansão, eu dedicava horas a
aprimorar minhas habilidades, canalizando a frustração e a revolta contra os
movimentos calculados e graciosos. Cada golpe era um grito silencioso.
Após o treinamento, encaminhei-me ao meu quarto. Vestir o papel
de “princesa” da máfia russa era uma tarefa árdua. Os vestidos e roupas
elegantes escondiam as cicatrizes do meu treinamento, enquanto a
maquiagem escondia as marcas da minha verdadeira natureza. Tudo era
uma encenação, uma fachada para manter as aparências.
Foi durante uma pausa no meu cotidiano guiado por protocolos que
decidi enviar a mensagem a Mikhail. O celular escondido sob o travesseiro
tornou-se minha conexão com o mundo fora das paredes frias da mansão.
“Precisamos nos encontrar esta noite. Há algo importante que
preciso te contar.”
A resposta de Mikhail não demorou.
“Encontro você no lugar de sempre”
Senti um alívio quase imediato no meu coração tumultuado. O
“lugar de sempre” era nossa zona de conforto, um refúgio nos arredores da
mansão onde as árvores altas e a escuridão nos envolviam.
À medida que a noite se aproximava, eu me preparei para o encontro
clandestino. Cada passo pelos corredores da mansão era como navegar em
um campo minado. O tio sempre vigilante, os guardas que sussurravam
sobre os últimos acontecimentos, todos eram observadores de uma dança
silenciosa e qualquer passo em falso poderia colocar nós dois em sérios
problemas.
Cheguei ao local marcado antes de Mikhail, e as sombras que
dançavam ao redor da campina me davam um pouco de segurança.
Sentindo a urgência em cada batida do coração, me escondi na escuridão,
ansiosa pela chegada da única pessoa que representava um vislumbre de
liberdade naquele mundo de amarras e compromissos.
As sombras da noite se transformaram em cúmplices silenciosos
enquanto eu aguardava Mikhail. Cada segundo de espera era um suspiro de
expectativa e ansiedade. Quando finalmente ele emergiu da escuridão, o
mundo pareceu desacelerar por um breve instante.
Mikhail, que sempre foi conhecido por sua frieza e rudeza no
mundo da máfia, revelou-se um homem completamente diferente comigo.
Seu olhar, normalmente sério e cortante, amaciou ao encontrar os meus. Seu
olhar carregado de emoção, um fogo ardente que derrete as barreiras que ele
mantém com o resto do mundo.
— Nina... — Sua voz, geralmente áspera, soava agora como uma
melodia suave, cheia de calor. — Senti sua falta.
A proximidade entre nós aumentou, e, como se guiados por uma
força irresistível, nos encontramos em um abraço apaixonado. Seus braços
fortes envolveram-me, proporcionando um refúgio seguro contra o caos ao
nosso redor. Era uma expressão de ternura que contrastava com a dureza
que ele exibia diante dos outros.
— Sinto sua falta todos os dias — sussurro sentindo meu peito
afundar. — Não consigo mais ficar assim.
—Eu sei meu amor, você mudou algo em mim, despertou
sentimentos que pensei que jamais iria sentir. — Sua confissão era
carregada de sinceridade, revelando uma vulnerabilidade que ele raramente
permitia ser vista.
Olhei fundo nos seus olhos, perdendo-me na profundidade do azul
intenso.
— E você mudou algo em mim também, Mikhail. Algo que eu não
sabia que existia.
— Nunca conheci alguém como você, Nina. — Seus dedos
traçavam padrões delicados em minha pele. — Você me faz querer ser
alguém melhor.
E então, como se toda a minha angústia pudesse ser amenizada por
um simples toque, Mikhail inclinou-se lentamente em minha direção. O
beijo começou de forma tímida, um encontro de lábios que expressava uma
profunda conexão, uma tentativa de encontrar consolo no calor do outro.
À medida que o beijo se intensificava, nossas respirações se
sincronizavam, criando uma dança íntima de emoções compartilhadas.
Cada movimento dos lábios era carregado de paixão, como se estivéssemos
tentando transmitir, por meio daquele gesto, todo o amor que sentíamos um
pelo outro.
Mikhail deslizou as mãos pelos meus cabelos, aprofundando o beijo
em um abraço apaixonado. Era um momento fugaz de escape, onde as
palavras não eram necessárias, apenas a comunhão silenciosa de dois
corações que batiam juntos, buscando conforto no meio do caos.
— Há algo que preciso te contar. — Seus olhos, que antes
irradiavam calor e ternura, agora refletiam uma sombra de preocupação. —
Mikhail, meu tio está planejando um casamento para mim. Ele quer
solidificar alianças e está disposto a me usar para isso. — As palavras
escaparam de meus lábios, carregadas de um peso que eu mal podia
suportar.
O silêncio que se seguiu foi mais ensurdecedor do que as palavras
que pronunciei. Mikhail, normalmente destemido e imperturbável, parecia
perdido em pensamentos sombrios.
— Eu quero fugir. Mikhail eu quero fugir com você — prossegui.
— Nina, fugir não é uma opção viável. Isso é perigoso, para nós
dois. — Sua voz soou firme, mas o desconforto estava estampado em seu
rosto.
— Você sempre foi meu porto seguro, Mikhail. Não posso me
submeter a esse casamento, a essa vida que meu tio quer para mim. —
Meus olhos buscaram desesperadamente os dele, esperando encontrar um
reflexo da determinação que sempre admirara nele.
Mikhail desviou o olhar, uma sombra de incerteza cruzando seu
rosto.
— Nina, você não entende. Fugir da Bratva não é algo simples.
Envolve riscos que não podemos ignorar.
As palavras dele eram como uma faca cortante, penetrando meu
coração. A sensação de desespero cresceu dentro de mim, misturada com a
frustração de sentir que a única pessoa em quem confiava estava se
desfazendo diante de meus olhos.
— Eu não posso aceitar isso. Não posso aceitar ser forçada a uma
vida que não escolhi. — Minha voz tremia com a intensidade das emoções.
— Você não pode ser tão covarde, você não é covarde, Mikhail.
Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos escuros.
— Não é covardia, Nina. É pragmatismo. Temos que pensar nas
consequências, na nossa segurança.
A irritação borbulhava dentro de mim, uma chama alimentada pela
sensação de abandono iminente.
— Pragmatismo? Mikhail, eu pensei que você fosse diferente, que
fosse corajoso o suficiente para enfrentar qualquer desafio por mim. Por
nós!
A discussão se intensificou, as palavras voando entre nós como
flechas afiadas. Em meio ao caos emocional, percebi que uma fenda entre
nós estava crescendo.
— Você está pedindo que eu desista de tudo, da única pessoa que
realmente importa para mim. — Minha voz tremia, uma mistura de tristeza
e raiva.
Mikhail olhou para o horizonte, as estrelas testemunhando o fim da
única certeza que eu acreditava ter.
— Não é sobre desistir, Nina. É sobre sobreviver. — Seus olhos
colaram nos meus. — Eu não sou um traidor.
As palavras finais dele pairaram no ar, ecoando a amarga realidade
que eu não estava pronta para aceitar. O vento noturno, agora mais frio e
impiedoso, carregava consigo as cinzas de uma esperança queimada pela
crua realidade.
O eco da nossa discussão ressoava no silêncio da noite, criando um
abismo doloroso entre nós. As palavras trocadas eram como facas afiadas,
cortando fundo em sentimentos que, até então, acreditávamos ser
inabaláveis.
— Você é covarde, Mikhail! — As lágrimas borbulhavam nos meus
olhos enquanto as palavras ferviam em meu peito. — Eu te amo, mas você
está disposto a me ver sofrer, a me ver viver uma vida que não escolhi?
Ele permanecia em silêncio, uma muralha impenetrável de
racionalidade em meio ao turbilhão emocional. Seu olhar, antes caloroso,
agora era um oceano de conflitos internos.
— Nina, você não entende. Eu também te amo, mais do que
qualquer coisa neste mundo. Mas fugir não é a solução. Os riscos são
grandes demais, não só para nós, mas para todos que nos importam. Minha
família, Nina. Todos estariam em risco.
Cada palavra dele era um soco no estômago. Eu ansiava por sua
bravura, por uma fuga que nos permitisse escapar das amarras da máfia.
Mas ele via as coisas de forma diferente.
— Não posso aceitar isso, Mikhail. — A voz vacilante revelava
minha dor e desespero. — Não posso aceitar viver uma vida de submissão,
uma vida onde sou forçada a ser algo que não escolhi.
Ele se aproximou, tentando enxugar uma lágrima solitária que
escapava por minha bochecha. Seus dedos ásperos eram gentis, mas o toque
era frio, como se a realidade dura estivesse queimando nossa conexão.
— Eu não quero que você sofra, Nina. Eu faria qualquer coisa por
você, mas fugir assim é arriscado demais. Não podemos deixar a paixão nos
cegar para os perigos.
O conflito interno de Mikhail era evidente, suas palavras ecoando o
dilema entre o amor por mim e a sua fidelidade. A raiva se misturava com a
tristeza enquanto eu encarava aqueles olhos azuis que agora eram um mar
tempestuoso.
— Então, você está disposto a abrir mão de nós dois? De tudo que
poderíamos ser? — O desespero impulsionava minhas palavras.
Ele segurou meu rosto entre as mãos, um gesto que costumava ser
reconfortante, mas agora era um lembrete cruel da distância que ele estava
disposto a manter.
— Eu não estou abrindo mão de nós dois, Nina. Estou tentando
garantir que ambos sobrevivamos a isso. — Sua voz era um sussurro
carregado de tristeza. — Eu preciso pensar nos riscos, nas consequências.
A discussão, como uma tempestade, deixou um rastro de destruição
entre nós. O amor que compartilhávamos agora estava envolto em nuvens
escuras de incerteza, uma tormenta que ameaçava apagar as chamas de uma
paixão que queimava intensamente.
Capítulo
4
À medida que as sombras da noite envolviam a campina, eu me
encontrava desolada e sozinha, perdida em pensamentos tumultuados. O
murmúrio suave do vento entre as árvores parecia zombar da minha dor.
A discussão com Mikhail ecoava em minha mente, me lembrando
do quão boba fui. Eu precisava de um plano, uma estratégia para escapar
das vontades do meu tio.
Caminhando pelos campos vazios, meu olhar se perdia na imensidão
da noite. Era hora de ser a arquiteta do meu destino, de encontrar um
caminho para a liberdade que tanto almejava. Os riscos eram imensos, mas
a prisão em um casamento sem amor era um destino que eu não estava
disposta a aceitar.
Eu precisava de aliados, de pessoas em quem pudesse confiar.
Mikhail, mesmo relutante em fugir, ainda era o único com quem eu falava.
Mas se ele não estivesse disposto a assumir esse risco, eu teria que
encontrar outros meios de garantir minha fuga.
Os contornos do plano começaram a se formar em minha mente.
Primeiro, eu precisava criar uma distração, algo que desviasse a atenção de
meu tio e dos outros membros da máfia. Uma situação caótica que
permitisse a minha fuga sem levantar suspeitas.
Além disso, era crucial garantir um local seguro para onde eu
pudesse escapar. Minha prima, que havia demonstrado ser contra os
costumes. Talvez ela entendesse e me ajudasse.
Enquanto eu traçava mentalmente os passos do meu plano, percebi
que a solidão da campina se misturava com a solidão que eu sentia dentro
de mim.
Respirei fundo, absorvendo a noite ao meu redor. Não havia espaço
para hesitação. Era hora de agir, de enfrentar os desafios com coragem e
determinação. A lua testemunharia minha busca por liberdade enquanto eu
tecia os fios da minha própria narrativa, pronta para desafiar o destino que
tentavam forjar para mim.

Semanas se passaram, eu ainda estava triste demais para pedir ajuda


a Mikhail, mas o momento estava próximo, podia sentir isso em cada fibra
do meu ser.
A luz pálida da manhã penetrou pelas cortinas, revelando um novo
dia. Eu tinha adormecido com lágrimas nos olhos novamente, pensando nas
escolhas difíceis que se aproximavam. O destino, cruel e implacável, batia à
minha porta.
Fui chamada pelo meu tio, segui para o encontro que moldaria meu
futuro. O corredor parecia estreito e opressivo, como se estivesse
encurtando conforme eu avançava em direção ao desconhecido.
Ao entrar na sala, meu tio me lançou um olhar que misturava
expectativa e orgulho. Ele estava prestes a cumprir um acordo que
garantiria sua influência e poder.
— Nina, minha querida. Está linda esta manhã — o sorriso caloroso
do meu tio contrastava com o frio que eu sentia por dentro. — Vou deixar
que vocês conversem um pouco a sós.
Os olhos do estranho, frios como gelo, percorreram meu corpo
como se estivessem avaliando uma mercadoria. A tensão era palpável
enquanto eu tentava manter uma postura firme diante de sua presença
intimidadora.
— Então, você é a joia que está prometida para mim. — Sua voz,
carregada de desprezo, reverberou pela sala.
Tentei manter a compostura, forçando um sorriso educado.
— Meu nome é Nina. E quem é você?
Ele soltou uma risada cínica antes de responder.
— Nome? O que importa é que você será minha esposa. Não precisa
de mais nada.
A frieza de suas palavras cortou como uma faca. Engoli em seco,
tentando não mostrar o quanto estava infeliz.
— Veja bem, Nina, você não é nada além de uma barganha política.
Seu tio pode considerar você uma princesa, mas eu só vejo uma mulher
frágil e insignificante.
Minha indignação começou a se transformar em raiva contida.
— Eu não sou propriedade de ninguém. Tenho minha própria
vontade e...
Ele me interrompeu com uma risada sarcástica.
— Vontade? Mulheres como você não têm vontade. Vocês existem
apenas para obedecer e procriar. Prepare-se para uma vida de submissão,
pois é isso que o futuro reserva para você.
Cada palavra dele era um golpe, uma tentativa cruel de me rebaixar.
Respirei fundo, tentando manter a dignidade mesmo diante do desrespeito.
— Não deixarei que você me diminua. Sou mais do que uma peça
em um jogo.
Ele sorriu de maneira condescendente.
— Veremos, pequena Nina. Veremos como você se sai quando
estiver completamente sob meu controle.
O desafio em seu olhar só aumentou minha determinação. Mesmo
diante da humilhação, eu jurava a mim mesma que encontraria uma maneira
de escapar.
— Seu tio me disse que você é uma mulher forte, mas eu não vejo
nada além de uma garotinha mimada. — Ele continuou com seu desdém,
ignorando minha reação.
Minha raiva crescia, mas eu sabia que devia escolher minhas
batalhas com cuidado.
— Pode ter suas próprias impressões, mas subestimar alguém pode
ser um erro fatal.
Ele riu novamente, um som que ecoou como uma provocação.
— Fatal, você diz? Você não tem ideia do que é o mundo real,
minha cara, seu tio a protegeu demais. A realidade é que você está aqui para
ser minha esposa, e seus delírios de grandeza não vão mudar isso.
Antes que eu pudesse responder, a porta se abriu, revelando meu tio
acompanhado por Mikhail. O olhar de Mikhail era vazio, uma expressão
que não revelava emoção alguma. Aquele homem, que comigo demonstrava
ternura e compreensão, agora permanecia como uma sombra silenciosa.
Meu tio, satisfeito por reunir seu pretendente e sua sobrinha, sorriu
de maneira forçada.
— Parece que vocês estão se conhecendo. Nina, este é Kellen
Walsh, seu futuro marido.
Mikhail permaneceu em silêncio, como se estivesse em outro lugar,
distante da situação. Seu olhar cruzou com o meu por um breve momento,
mas não havia a chama de antes, apenas um vazio gélido.
— É um prazer, Nina. — Kellen estendeu a mão, mas eu recusei
educadamente.
— O prazer é meu. — Minha resposta soou mecânica, escondendo a
turbulência interna.
Meu tio não percebeu a tensão que pairava no ar. Ele estava ocupado
demais apreciando a aliança que aquele casamento proporcionaria.
Enquanto Kellen e meu tio discutiam detalhes do acordo, meus
pensamentos estavam fixos em Mikhail. Era como se o homem que me
amava nas sombras da noite tivesse desaparecido, substituído por uma
figura indiferente.
A ferida emocional profunda se formava dentro de mim, enquanto o
olhar vago de Mikhail, que um dia transmitira calor e proteção, agora me
cortava como uma lâmina afiada.
— Mikhail, precisamos conversar. — Sussurrei, alcançando-o no
corredor enquanto ele tentava se afastar.
Ele me encarou, seus olhos ainda vazios de emoção.
— Não há nada para conversar, Nina. Volte para o seu pretendente e
esqueça suas fantasias, por hora.
— Ele não é quem parece ser. — Insisti, bloqueando seu caminho.
— Por favor, ouça-me. Eu sei que você é capaz de enxergar a verdade,
mesmo de olhos fechados.
Mikhail suspirou, parecendo entediado.
— Você está apenas nervosa.
— Não, Mikhail, eu... — Minha voz vacilou por um momento antes
de retomar a firmeza. — Eu preciso da sua ajuda. Você pode não me amar
como eu o amo, mas pelo menos ajude-me a escapar deste pesadelo.
Ele franziu a testa, finalmente mostrando algum sinal de expressão.
— Fugir? Você está louca? Isso só traria problemas.
— Problemas maiores do que já enfrento? Não posso me casar com
aquele homem. Ele é cruel, manipulador, e meu tio parece não ver isso.
Preciso de alguém que possa me ajudar a fugir, e sei que posso confiar em
você.
Mikhail olhou em volta, como se estivesse calculando os riscos.
— Nina, isso é perigoso. Se algo der errado, ambos estaremos
mortos.
— Prefiro correr o risco do que aceitar esse destino que meu tio está
preparando para mim. — Meus olhos buscaram os dele, suplicantes. — Por
favor, Mikhail, mesmo que não possa ir comigo, me ajude.
Ele hesitou por um momento, seus olhos buscando os meus como se
tudo aquilo também estivesse ferindo-o.
— Está bem, eu a ajudarei. Mas saiba que isso pode não ter um final
feliz.
A sensação de alívio se misturou com a ansiedade quando ele
concordou em me ajudar. Mesmo que não desse certo, eu preferiria a morte
à me casar com aquele homem.
Capítulo 5
A chegada de Nina à Itália trouxe consigo uma mistura de tensão e
perigo, eu não deveria ajudá-la, o certo era mandá-la de volta para o tio,
mas não consigo dizer não a Giulia, a mulher que minha mente
constantemente diz que é Ana, mesmo que eu saiba que não é.
Ao me aproximar do veículo, encontrei os olhos de Nina, e naquele
breve instante, percebi a determinação que se manifestava em seu olhar. O
silêncio pairava entre nós enquanto Giulia nos observava.
— Luigi, Damon já deve estar procurando por mim. Não posso ficar
mais tempo aqui. — Giulia sussurrou. — Por favor, cuide dela até que eu
encontre um meio de escondê-la do meu pai.
Com um aceno discreto, me despedi de Giulia, ficando a sós com
Nina, que já estava de pé a minha frente. O silêncio ganhou densidade. Nina
olhava em meus olhos, buscando uma resposta para suas incertezas.
— Você está aqui. — Minha voz, controlada e serena não deixava
nada transparecer, mesmo que eu estivesse preocupado com a situação.
Nina assentiu, desviando o olhar antes de voltá-lo para mim
novamente.
— Eu precisava falar com você, explicar. As coisas estão
complicadas, e... — Ela hesitou, como se as palavras escorressem por entre
seus dedos.
Permaneci imperturbável, aguardando que ela continuasse. Estava
prestes a anoitecer, sua pele estava se arrepiando com o vento leve, o que
achei estranho, já que Nina é russa e o frio lá é muito maior do que aqui.
— Eu sei que isso pode parecer... inesperado. — Nina começou a
falar, e pude perceber um leve tremor em sua voz. — E eu realmente não
queria causar problemas para você, mas Giulia disse que eu poderia confiar
em você.
Silencioso, permiti que ela falasse, mantendo meu semblante
inexpressivo. Giulia havia confiado em mim, e isso era o suficiente para
que eu me envolvesse nessa situação.
— Eu... quero agradecer. — Nina prosseguiu, visivelmente
desconfortável.
Um gesto sutil de cabeça indicou que compreendia suas palavras,
mas a expressão em meu rosto permaneceu impassível. Nina, por sua vez,
parecia se afogar em um misto de gratidão e desconforto.
— Não me agradeça. Faço isso pela Giulia. — Minha resposta
cortante ecoou, ecoando as complexidades de meu próprio mundo.
— Sei que está fazendo isso por ela, não por mim, e eu entendo.
Mas ainda assim, obrigada. — Manteve seu olhar firme. — Se eu pudesse
escolher, não estaria causando problemas para você. Eu... sinto muito por
isso.
Minha resposta foi direta e sem rodeios.
— Só não se meta no meu caminho, e tudo ficará bem.
Os olhos de Nina capturaram os meus por um instante antes que ela
baixasse o olhar.
— Eu entendo. E eu prometo que farei o possível para não causar
mais problemas.
A noite avançava, a escuridão tomava conta do cenário ao nosso
redor.
— Vamos. — Minha voz soou firme. — Vou mostrar para você o
seu quarto.
Guiando Nina através do corredor, pude perceber seu olhar incerto
enquanto observava os arredores com curiosidade.
Abri a o quarto, deslizei a porta suavemente, revelando um ambiente
luxuoso e acolhedor. Um delicado perfume de madeira permeava o ar,
enquanto uma janela estrategicamente posicionada permitia a suave entrada
da luz da lua. Convidei-a a entrar.
— Este será o seu quarto enquanto estiver aqui. — Minhas palavras
eram econômicas, desprovidas de qualquer tom acolhedor. — Não saia sem
minha permissão. Vou pedir que alguém te oriente até onde pode ir amanhã.
Nina assentiu, seus olhos refletindo a compreensão de que a
liberdade que ela buscava estava agora suspensa por fios frágeis.
— Obrigada, Luigi. — Ela murmurou, seus olhos queimando em
fúria, mesmo que ela não colocasse nada em palavras.
— Já disse, não me agradeça.
— Há algum lugar na casa aonde eu possa ir para ler? — Nina
perguntou antes que eu saísse, sua voz carregada de cautela.
— Você, embora pareça inofensiva, Nina, foi criada na máfia, sabe
que eu não confio em você, não sabe. — Respondi, sem me deter em
detalhes. — Mas há uma biblioteca. Pode usá-la, contanto que não vá além
dos limites que vou estabelecer.
Ela assentiu, parecendo mais resignada do que satisfeita com minha
resposta.
— Existem lugares proibidos só porque sou eu? — Sua pergunta
revelava a curiosidade, mas eu não pretendia alimentar suas indagações.
— Esteja ciente de que não pode ultrapassar certos limites. Não se
atreva a explorar áreas que vou delimitar restritas. — Minha voz soou
firme, delimitando as fronteiras de sua liberdade temporária.
Nina assentiu novamente, absorvendo as regras não ditas que
governavam sua estadia em minha casa. Em meio ao silêncio que se seguiu,
podia-se sentir a tensão acumulada, como se o próprio ambiente estivesse
ciente das complexidades que envolviam nossa interação.
— Se precisar de algo, chame alguém pelo telefone interno que está
na mesa de cabeceira. — Minha voz cortou o silêncio, encerrando nossa
breve troca de palavras.
Antes que eu pudesse sair, ela murmurou um agradecimento quase
imperceptível. Não era necessário, e eu não estava ali para receber sua
gratidão. Giulia me pedira um favor, e eu cumpriria meu papel, mesmo que
isso significasse permitir a presença de uma estranha em minha casa.
— Amanhã pedirei a alguém que a mostre por toda a casa e explique
as áreas que estão fora dos limites. — Informei, mantendo minha postura
rígida.
Nina assentiu, parecendo compreender as regras que regiam sua
estadia. A expressão dela oscilava entre a ansiedade e a curiosidade, mas a
cautela prevalecia em seus olhos.
— Agradeço por me permitir ficar aqui. — Sua voz carregava uma
mistura de gratidão e incerteza.
— Não é uma questão de permissão, Nina. É uma questão de
circunstância. — Respondi friamente, enfatizando que sua presença ali era
uma obrigação, não uma escolha.
Ela baixou o olhar, como se estivesse acostumada a encontrar
resistência e desconfiança por onde passava. Talvez fosse a natureza de seu
mundo, mas eu não me importava. Giulia a trouxera para cá, e eu aceitei
para agradá-la, não pela estranha que se encontrava temporariamente sob
meu teto.
— Boa noite, Luigi. — Nina disse antes que eu fechasse a porta
saindo de seu quarto.
Assenti sem dizer mais nada, deixando que o silêncio retomasse seu
reinado na casa. No entanto, a presença de Nina parecia reverberar em cada
canto, como se as paredes fossem testemunhas silenciosas de uma intrusão
temporária.
Entrei em meu quarto com passos firmes, mas meu interior estava
longe de refletir a mesma determinação. O peso da presença de Nina na
casa ecoava em meus pensamentos.
Ao deitar-me, os traços do rosto de Nina se mesclavam aos de
Anastácia, uma fusão involuntária de duas mulheres que, embora distintas,
compartilhavam agora um espaço em minha mente. Era uma cruel ironia do
destino ver uma estranha vagueando pelos corredores da minha casa, onde
antes apenas Anastácia deixou sua marca.
O desconforto aumentava à medida que eu me debatia com a
sensação de estar profanando as lembranças da única mulher que, um dia,
ocupou aquele espaço sagrado em meu coração. As palavras de Giulia
ressoavam, lembrando-me que Nina não era uma escolha, mas uma
imposição indesejada.
O sono tardava em vir, enquanto eu tentava afastar as lembranças
que Nina inadvertidamente revivia. A dor que supostamente havia enterrado
há muito tempo voltava à superfície, como uma ferida antiga reaberta por
sua presença.
Por fim, mergulhei em um sono agitado, onde o passado e o presente
se entrelaçavam em um turbilhão.

A casa estava mergulhada na escuridão quando acordei e não


consegui voltar a dormir, decidi ir até a cozinha comer uma fruta.
Uma luz suave delineava os móveis, e foi então que me deparei com
Nina.
Ela estava lá, vestindo um pijama que parecia desafiar as leis da
física ao conseguir ser, ao mesmo tempo, recatado e sensual. A seda seguia
as curvas do corpo dela de uma maneira que tornava difícil desviar o olhar.
Seus soluços silenciosos e a fragilidade que emanava dela conferiam à cena
uma intensidade que me pegou de surpresa.
Hesitei por um momento, observando-a de longe. Seu rosto virou-se
na minha direção quando entrei, revelando olhos que carregavam uma carga
pesada de tristeza. Foi um retrato da vulnerabilidade humana, algo que eu,
muitas vezes, preferia ignorar.
Seus olhos demonstraram surpresa, enquanto os meus, talvez
involuntariamente, exploravam seu corpo mais do que deveria pelo pijama.
Uma batalha interna começou, uma tentativa de manter uma fachada
indiferente.
— Eu... Eu senti fome. — Ela tentou justificar, afastando as
lágrimas com um gesto rápido.
A justificativa dela se perdeu no ar. Silenciosamente, me aproximei
da geladeira, consciente do impacto que a visão de Nina naquele pijama
causava em mim. Uma mistura complexa de atração, desconforto e uma
estranha compaixão, talvez.
— Coma o que quiser. — Minha voz soou mais ríspida do que eu
pretendia, acho que estava começando a perder o jeito com pessoas.
O silêncio na cozinha tornou-se quase insuportável, apenas
quebrado pelos ruídos ocasionais da noite. Nina, com seus olhos fixos em
mim, parecia surpresa e envergonhada.
—Eu não disse que poderia chamar alguém pelo interfone do
quarto? — Fui intencionalmente mais áspero, uma tentativa de manter uma
distância necessária.
Ela assentiu timidamente, enxugando as lágrimas com as costas da
mão. A tristeza dela me deixou desconfortável, e eu, contra minha vontade,
me sentia inclinado a perguntar o que a afligia.
— Não quis incomodar ninguém.
— Nina, por que está chorando? — As palavras escaparam antes
que eu pudesse controlar minha curiosidade. Sua reação foi um olhar
surpreso, como se não esperasse que eu me importasse.
— Não é nada, Luigi. — Ela tentou minimizar, mas o tremor na voz
traía suas palavras.
Atravessei a cozinha em passos medidos, mantendo uma distância
calculada. Nina desviou o olhar, como se a intensidade do meu fosse demais
para suportar. Eu não estava acostumado a lidar com emoções,
especialmente as alheias, mas algo naquela situação me forçava a
reconsiderar minha habitual indiferença.
— Pode ser "nada" para mim, mas você não está chorando à toa. —
Disse um pouco mais suavemente.
— Às vezes, tudo fica tão difícil. — Ela murmurou, mais para si
mesma do que para mim.
Eu a encarei por um momento, sem dizer nada. O desconforto da
situação me irritava, mas também havia uma parte de mim que tentava
compreender o que a levava a chorar naquela noite.
— A vida é difícil para todos, Nina. Você não é exceção.
Ela assentiu, e eu, por fim, retornei ao meu quarto, deixando-a com
sua refeição e seus próprios pensamentos. Contudo, por mais que eu
tentasse ignorar, a presença dela na minha casa deixava uma sensação
desconcertante, como se algo estivesse mudando no meu mundo tão
meticulosamente organizado.
Capítulo
6
Os dias passaram com um peso constante sobre mim. A estranheza
de estar na casa de Luigi, rodeada por luxo e segredos, tornava-se cada vez
mais evidente. Luigi não fazia o mínimo para parecer um bom anfitrião e se
recusava a estar perto de mim, mesmo quando eu tentava agradar de alguma
forma, fazendo o almoço ou jantar, levando café para ele em seu escritório,
depois de algum tempo acabei desistindo de tentar fazer amizade.
Giulia, minha prima, veio me visitar alguns dias depois de minha
chegada. Sua presença era um alívio, um sopro de familiaridade em meio ao
desconhecido.
Nos sentamos em uma das salas elegantes, onde a luz suave realçava
as paredes adornadas. Giulia olhou para mim com preocupação, seus olhos
expressando a compreensão de uma cúmplice.
— Como você está se sentindo aqui? — Ela começou, a voz suave
carregando uma mistura de simpatia e curiosidade.
Suspirei antes de responder, escolhendo cuidadosamente minhas
palavras.
— É estranho, Giulia. Eu me sinto como se estivesse em um mundo
completamente diferente. E Mikhail... — Minha voz vacilou ao mencionar
o nome dele.
Giulia inclinou a cabeça, incentivando-me a continuar.
— Eu pensei que... que ele sentiria minha falta. Que, de alguma
forma, a distância faria com que ele visse que cometeu um erro ao me
deixar ir sozinha. Mas parece que eu estava errada. — Desabafei, a dor da
decepção transparecendo em minhas palavras.
Giulia apertou minha mão, oferecendo um apoio silencioso. Seus
olhos transmitiam compreensão, como se ela soubesse exatamente o que eu
estava sentindo.
— Às vezes, as pessoas agem de maneiras que não podemos
entender. Talvez ele esteja lidando com isso à sua maneira. — Ela tentou
oferecer uma perspectiva consoladora.
— Mas eu o amo, Giulia. E eu achei que isso fosse suficiente. —
Minha voz tremia, revelando a vulnerabilidade que eu tentava esconder.
— O amor nem sempre é suficiente, Nina. Às vezes, as
circunstâncias complicam as coisas. — Giulia suspirou, seus olhos
refletindo tristeza.
Conversamos por pouco tempo, ela só podia vir enquanto o marido
pensava que ela estava na empresa. Giulia me contou sobre os problemas de
sua própria vida, suas escolhas difíceis e sacrifícios. Foi reconfortante saber
que, Damon e ela enfrentaram muito para ficarem juntos e no final
conseguiram.
Enquanto conversávamos, Giulia e eu, a porta se abriu com
suavidade. Meus olhos se ergueram e se encontraram com os de Luigi. Sua
expressão era um mistério indecifrável, como sempre. Ele hesitou por um
momento antes de adentrar a sala, fechando a porta atrás de si.
— Boa noite, Nina. — Sua saudação foi calma, mas havia algo em
seu olhar que me intrigava.
— Boa noite, Luigi. — Respondi, mantendo um tom neutro.
Ele trocou algumas palavras com Giulia, algo sobre ter mais cuidado
ao ir até ali me visitar. Eu, por um instante, fiquei observando-os, tentando
entender a dinâmica entre os dois. Parecia haver uma tensão, mas não era
algo que eu conseguisse decifrar completamente.
— Seja cautelosa, Giulia. — Luigi a advertiu antes de se dirigir a
mim. — E você, Nina, precisamos conversar, pode me procurar quando
Giulia for embora, por favor?
Não consegui conter a curiosidade e perguntei:
— Sobre o que?
Luigi olhou-me por um instante, seus olhos penetrantes avaliando-
me antes de responder.
— Conversamos depois.
Assenti, ainda perplexa com a forma que ele sempre me trata.
Giulia, por sua vez, pareceu entender os motivos dele Luigi.
—Estou perto de conseguir um lugar para ela, Luigi. — Ela
assegurou a ele.
Luigi acenou antes de sair da sala, deixando-nos a sós novamente.
Giulia suspirou, revelando uma preocupação que ela tentava esconder.
— Nina, meu pai já está procurando por você aqui na Itália.
Precisamos ser extremamente cuidadosas.
A notícia me atingiu como um golpe. Olhei para Giulia, sentindo o
medo consumir minhas veias.
— O que faremos, Giulia? Como vamos lidar com isso?
Ela me encarou, seus olhos transmitindo uma determinação firme.
— Vamos encontrar uma solução, Nina. Precisamos ser astutas,
ágeis. Não podemos dar a ele a chance de te pegar.

Após a saída de Giulia, eu me senti novamente envolvida pela


atmosfera de medo e incerteza que permeava a casa de Luigi. Busquei por
ele, seguindo a orientação de procurá-lo após a partida de minha prima.
Encontrei Luigi em uma das salas menos iluminadas, onde o brilho
suave das luminárias criava uma penumbra que acentuava seus traços
sérios. Ele estava recostado contra uma estante, examinando alguns
documentos em suas mãos. Assim que me aproximei, ele ergueu os olhos,
sua expressão se mantendo enigmática.
— Boa noite, Nina.
— Giulia me disse que meu tio já está procurando por mim aqui. O
que faremos? — Perguntei, buscando orientação naqueles olhos
penetrantes.
Luigi respirou fundo antes de responder.
— Vou ter que fazer uma breve viagem nos próximos dias. Você
precisa informar a Giulia que não vou poder visitá-la por um tempo.
Senti um nó se formando em minha garganta. A sensação de solidão
e vulnerabilidade aumentava a cada instante. No entanto, eu sabia que
confiar em Luigi era uma necessidade inescapável naquele momento.
— Uma viagem? Mas, e eu? O que farei aqui sozinha?
Luigi ponderou por um momento antes de falar.
— Fique atenta, evite chamar a atenção. Eu deixarei alguns homens
para garantir sua segurança na minha ausência. Não saia da propriedade,
entendeu?
Assenti, compreendendo a importância de seguir suas instruções à
risca. Tudo ao redor de Luigi e suas intenções deixavam-me inquieta, mas
eu não tinha escolha a não ser confiar nele naquele momento.
— Informe Giulia e tenha certeza de que ela entenda as orientações
necessárias para sua segurança. — Luigi disse, indicando que a conversa
havia chegado ao fim.
Enquanto caminhava em direção a porta, me vi mais uma vez
mergulhada em um turbilhão de pensamentos. O amor por Mikhail
permanecia como uma ferida aberta em meu peito, e as circunstâncias
incertas em que me encontrava só intensificavam minha sensação de estar à
deriva. Meu futuro parecia mais incerto do que nunca.
Luigi chamou meu nome antes que eu estivesse fora da sala, algo
em sua expressão havia mudado. Ele se aproximou de mim, seus olhos
buscando os meus, e então, de forma inesperada, mudou de ideia.
— Nina, você quer me acompanhar? Será em um hotel. Pode
respirar um pouco mais aliviada lá do que aqui. E, além do mais, eu teria
que contratar uma acompanhante de qualquer maneira.
A proposta me pegou de surpresa. A ideia de sair da mansão e ter
algum tempo fora daquele ambiente tenso era tentadora, mas a incerteza
sobre os verdadeiros motivos de Luigi me deixava hesitante.
— Acompanhar você? — Repeti, buscando esclarecimentos. — Não
sou uma acompanhante de luxo, Luigi.
Ele franziu a testa, como se minha reação não fosse a que ele
esperava.
— Eu sei disso, Nina. Não é esse tipo de companhia que estou
buscando. Seria apenas uma viagem para tirá-la daqui, para animá-la um
pouco.
Por um lado, a oportunidade de sair daquela atmosfera sufocante era
tentadora, mas, por outro, a maneira como ele havia colocado a situação me
incomodava.
— Você não acha que eu iria aceitar ser apenas uma distração
temporária para você? — Perguntei, sentindo a indignação crescer dentro de
mim.
Luigi pareceu surpreso com minha reação, como se não tivesse
considerado que eu pudesse interpretar sua proposta dessa maneira.
— Não era essa a intenção, Nina. Eu só queria oferecer uma
oportunidade para você sair daqui por um tempo. Se não quiser, está tudo
bem.
A hesitação em sua voz revelava uma camada de sinceridade que me
pegou de surpresa. Ponderei por um momento, percebendo que, talvez,
minhas próprias inseguranças estivessem nublando minha compreensão das
intenções de Luigi.
— Talvez seja uma boa ideia sair daqui por um tempo. —
Murmurei, cedendo à tentação de um breve alívio.
Luigi assentiu, parecendo satisfeito com minha resposta.
— Então, prepare-se. Vamos partir assim que eu tiver tudo pronto.
Será apenas por alguns dias, mas espero que consiga aproveitar um pouco.
Concordei com um aceno de cabeça, ainda processando sua
mudança de atitude comigo. Uma viagem com Luigi, mesmo que por razões
desconhecidas, parecia ser um respiro bem-vindo.
Luigi limpou a garganta, e por um breve momento, sua expressão
denunciou uma certa incerteza. Parecia que havia algo que ele queria
perguntar, mas estava hesitante, como se estivesse incomodado.
— Nina, eu... — ele começou, escolhendo cuidadosamente as
palavras. — Eu ouvi, sem querer, parte da sua conversa com Giulia. Você
mencionou um homem... É o soldado? Aquele que vi no casamento?
A pergunta dele me pegou de surpresa. Senti uma pontada de
desconforto ao perceber que Luigi havia escutado minha conversa. Não
queria ter a minha privacidade invadida, especialmente por alguém como
ele.
— Sim, é sobre ele que estávamos falando. Por que quer saber? —
Respondi, mantendo minha expressão o mais neutra possível, embora a
curiosidade sobre o motivo de ele ter prestado atenção àquela conversa e ter
me perguntado começasse a me consumir.
— Nada de mais, apenas curiosidade.
Capítulo
7
Estava no quarto, terminando de fechar minha mala, quando Hettore
entrou no cômodo com uma expressão séria e desaprovadora. Seu olhar
fixou-se em mim.
— Luigi, espero que saiba o que está fazendo mantendo aquela
menina russa aqui. — Hettore começou, sem rodeios.
Suspirei, sentindo a impaciência começar a se acumular. As decisões
que tomava raramente eram questionadas, e não esperava que Hettore fosse
fazê-lo.
— Giulia me pediu para cuidar dela enquanto ela resolve alguns
assuntos. — Respondi, mantendo a voz firme.
Hettore franziu o cenho, claramente insatisfeito com minha resposta.
— Luigi, você precisa parar de viver à sombra de Ana. Giulia já é
casada, e você não pode continuar agradando-a desse jeito. Além do mais,
aquela não é a Ana. — Hettore pronunciou o nome de Ana como um
lembrete doloroso.
Minha paciência atingiu seu limite, e a raiva fervilhou dentro de
mim.
— Eu sei que ela não é a Ana! — Rosnei, irritado. — E o que faço
ou deixo de fazer por Giulia não é da sua conta.
Hettore manteve-se firme, seu olhar penetrante desafiando-me.
— Luigi, eu só estou te alertando. Não quero que você se machuque
mais do que já está.
A tensão no quarto atingiu um ponto crítico. Eu, como Capo da
máfia, estava acostumado a ter meu poder respeitado, mas Hettore, como o
segundo no comando, também tinha sua importância. Nossos olhares
chocaram-se em um impasse silencioso.
— Saiba o seu lugar, Hettore. Não me questione. — Minha voz soou
dura e autoritária.
Hettore respondeu com uma expressão determinada, mostrando que
entendia perfeitamente a hierarquia.
— Como Sub-chefe, não estou questionando, estou aconselhando.
Como seu amigo, estou pedindo que não se afunde novamente na dor. —
Hettore pronunciou cada palavra com cuidado, consciente da delicadeza do
assunto.
Eu o encarei por um momento antes de ceder, mesmo que
relutantemente.
— Você já fez o seu papel, Hettore. Agora vá cuidar dos seus
assuntos. — Minha resposta foi fria, encerrando a discussão. — Obrigado.
Hettore assentiu, aceitando a decisão, mas sua expressão preocupada
não passou despercebida.
— Cuide-se, Luigi. — Foi tudo o que ele disse antes de sair do
quarto.
Assim que a porta se fechou, fui tomado por uma sensação de
solidão. A presença de Nina na casa trouxe consigo uma complicação que
eu não previ. Eu tinha que admitir que Hettore tinha razão em parte, mas
não podia ceder a essa fraqueza. A ferida de perder Ana ainda doía, e não
queria permitir que mais ninguém se aproximasse o suficiente.
O quarto de Nina parecia conter uma presença sutil de sua
personalidade, mesmo que ela estivesse ali há pouco tempo. Eu não podia
deixar de notar alguns detalhes pessoais que a definiam: um livro em cima
da mesa de cabeceira, um pequeno vaso com flores colhidas do jardim,
algumas peças de roupa meticulosamente dobradas em cima da cama.
Peguei a mala dela com cuidado e descemos até o heliporto, o qual
oferecia uma vista deslumbrante da cidade à noite. O barulho do motor do
helicóptero reverberava no local, e Nina olhou para cima, seus olhos
brilhando com uma expressão de fascínio. Mesmo naquele momento de
transição, ela conseguia encontrar beleza no inesperado.
— Você já voou de helicóptero antes? — perguntei, tentando puxar
uma conversa casual enquanto esperávamos a decolagem.
Ela negou com a cabeça, ainda sorrindo.
— A vista lá de cima é incomparável. — comentei vendo-a assentir
ainda sorrindo.
A decolagem foi suave, e a cidade à noite se estendia diante de nós
como um manto de luzes cintilantes. Eu me permiti observar Nina por um
momento. Seu olhar brilhava com uma inocência que eu não via há muito
tempo. Era intrigante e, de certa forma, refrescante.
Chegamos ao aeroporto e, de lá, voamos para o Caribe. A mudança
abrupta de cenário era evidente na paisagem tropical que se desdobrou
diante de nós. O hotel luxuoso à beira-mar onde decidi ficar parecia um
refúgio tranquilo e isolado.
Ao entrarmos no lobby, Nina olhava ao redor com um sorriso
radiante. A recepcionista nos cumprimentou calorosamente e nos
encaminhou até nossos aposentos. O quarto era espaçoso e decorado com
elegância, proporcionando uma vista deslumbrante para o oceano. Nina
soltou um suspiro maravilhado, e eu não pude deixar de notar como ela
parecia à vontade no ambiente exuberante.
— É incrível, Luigi. Nunca imaginei que um lugar assim existisse.
— Seus olhos brilhavam enquanto ela falava.
Eu apenas assenti, observando-a com uma expressão indecifrável.
Aquilo era uma fuga temporária, uma pausa nos dramas da vida na máfia.
Nina merecia esse momento de tranquilidade.
— Vou deixar você se acomodar. — Anunciei, colocando a mala
dela no suporte designado. — Se precisar de algo, estarei por perto.
Nina agradeceu com um sorriso, e eu deixei o quarto, fechando a
porta suavemente. Meu olhar pousou na vista para o oceano, mas minha
mente estava mergulhada em pensamentos turbulentos. Aquela viagem seria
uma pausa temporária para ela, mas eu estava ali a negócios.

A noite chegou carregada de uma atmosfera serena e exótica que só


o Caribe poderia proporcionar. Antes de sair do meu quarto, eu pedi para
que o hotel providenciasse um vestido e joias para Nina, querendo dar a ela
uma parte do que eu sei que ela tem. Quando ela finalmente entrou no
salão, fui tomado por uma surpresa silenciosa e involuntária.
O vestido que envolvia Nina parecia feito sob medida para realçar
sua beleza natural. O tom sutil se destacava na palidez de sua pele,
enquanto o corte elegante revelava suas curvas de forma discreta, mas
irresistível. As joias reluziam em seus pulsos e pescoço, adicionando um
toque de luxo ao conjunto. Por um momento, fiquei sem palavras diante de
tamanha beleza.
Assumindo meu papel de anfitrião, conduzi Nina até nossa mesa
reservada. Contudo, a tranquilidade da noite foi rapidamente interrompida
por um comentário inadequado de um dos homens presentes.
— Luigi, quando a sua "acompanhante" estiver disponível, será que
ela poderia me fazer companhia depois que o seu trabalho com você estiver
concluído? — O homem fez a pergunta com um sorriso malicioso.
A temperatura ao meu redor subiu instantaneamente, minha
paciência sendo testada. Nina, por sua vez, manteve a compostura, mas seus
olhos expressavam uma fúria contida. Eu, no entanto, não consegui conter
minha irritação.
— O que porra está insinuando? — Minha voz era uma mistura de
raiva contida e desprezo. — Respeite-a, ou vai se arrepender.
O homem parecia ignorar minhas palavras e insistiu na provocação,
olhando para Nina como se ela fosse uma sobremesa.
— É só que...
— Sei un idiota! Se le parli ancora così, ti strappo le palle e la
lingua e ti faccio deglutire![1]— Esbravejei em italiano para que Nina não
me entendesse.
Minha expressão cerrada e olhar penetrante deixavam claro que eu
não toleraria desrespeito à Nina. Ele ergueu as mãos parecendo entender seu
erro.
— Vai com calma, você nuca está acompanhado com alguém
importante eu pensei que...
— Não ouse desrespeitar a dama novamente. Não permitirei que
insulte Nina ou qualquer outra mulher dessa forma.
Minha voz ressoou com uma ferocidade que refletia minha fúria. O
homem, agora claramente desconfortável, assentiu. Nina, mesmo diante da
situação desconfortável, manteve-se serena. Ela interveio com elegância,
respondendo ao homem de maneira firme e direta.
— Mesmo que eu fosse "aquilo" que você está insinuando, eu
escolheria ficar sozinha do que ter a sua companhia. — Sorriu calmamente.
— Para alguém tão desagradável deve ser mesmo difícil encontrar alguém
que não seja paga para aturar.
Não consegui esconder o sorriso satisfeito com sua resposta.
A atmosfera tensa persistiu durante o restante do jantar, e o homem,
que era apenas convidado por quem eu vim fazer negócios, não ousou
proferir mais uma palavra. Minha raiva estava palpável.
Ao final do jantar, ofereci a Nina um sorriso de agradecimento e um
pedido de desculpas. Mesmo diante da adversidade, ela havia mostrado uma
força admirável. Perguntei se ela gostaria de dar um passeio pelos jardins
do hotel, buscando afastar um pouco as tensões da noite.
Nina aceitou, e enquanto caminhávamos sob a luz suave da lua, a
atmosfera relaxou gradualmente. Fomos envolvidos pela beleza tropical ao
nosso redor.
Em um momento de quietude, observei Nina com curiosidade e um
toque de admiração. Ela estava longe da mulher frágil que poderia ser
subestimada. A força que emanava dela, combinada com sua graça e
coragem, despertava um fascínio que eu hesitava em explorar mais
profundamente.
Capítulo
8
A brisa noturna acariciava suavemente a praia, trazendo consigo o
aroma salgado do oceano. A lua cheia lançava sua luz prateada sobre as
ondas que quebravam na areia. O cenário era hipnotizante, e eu sugeri a
Luigi que caminhássemos à beira-mar.
— Obrigada por me defender lá dentro. Foi gentil da sua parte. —
Agradeci, apreciando o gesto dele no jantar.
Luigi assentiu, os olhos intensos avaliando a linha do horizonte,
como se buscasse algo distante.
— Você lidou bem com a situação. Admiro seu autocontrole.
Sorri, mas meu sorriso carregava um peso de resignação.
— Fui treinada para ser a esposa perfeita, Luigi. Isso inclui ser
controlada, estável, segura. Infelizmente, não é a primeira vez que tenho
que aguentar um idiota.
Ele me olhou, talvez buscando mais em minhas palavras.
— A vida que você levava na Rússia não parece fácil.
— Não era, mas agora estou aqui. E há algo de libertador em
enfrentar o desconhecido. — Respondi, me permitindo absorver a
serenidade do ambiente.
À medida que caminhávamos pela praia, nossos passos deixavam
pegadas na areia úmida. O som suave das ondas proporcionava uma trilha
sonora relaxante para nossa conversa.
— Você gostava de viver na Rússia? — Luigi perguntou, rompendo
o silêncio confortável entre nós.
— Gostar é uma palavra complicada para descrever. Era a minha
realidade, e eu a aceitava. Mas agora... — Olhei para o horizonte distante.
— Agora, tudo parece diferente.
Ele assentiu, compreendendo minha mudança para esse novo
capítulo. Em meio à brisa salgada e à luz suave da lua, parecia haver uma
compreensão entre nós.
Em certo momento, percebi que Luigi, de tempos em tempos,
desviava o olhar para mim. O gesto não passou despercebido, e um arrepio
percorreu minha espinha. Engoli em seco, questionando se seus olhos
estavam realmente focados na vastidão do oceano ou se, de alguma forma,
estavam perdidos em meu corpo.
A sensação de ser observada de maneira tão intensa por Luigi
mexeu comigo, despertando uma mistura de insegurança e curiosidade. No
entanto, preferi não mencionar nada, deixando aqueles momentos de
silêncio preenchidos apenas pelo som das ondas.
Os contornos de um cais distante começaram a se desenhar contra o
céu noturno. Perguntei a Luigi se poderíamos nos aproximar um pouco
mais, e ele concordou com um aceno de cabeça.
O cais se revelou como um local pitoresco, iluminado por lampiões
que balançavam suavemente na brisa. O som suave da água batendo contra
os pilares de madeira proporcionava uma sinfonia relaxante. Sentamo-nos
em uma das extremidades, nossos pés balançando acima da água escura.
— É um lugar bonito. — Comentei, olhando para o horizonte
estrelado.
Luigi assentiu, sua expressão tornando-se mais suave, quase
reflexiva.
— Às vezes, é bom fugir um pouco da dureza da realidade,
encontrar refúgio em lugares como este.
Sua voz tinha uma melodia única, como se escondesse camadas de
experiências que ele não compartilhava facilmente. A proximidade naquele
cenário tranquilo criava algo diferente, menos marcado pela tensão que
parecia cercá-lo constantemente.
— Às vezes, as coisas que queremos esquecer acabam nos seguindo,
não é mesmo? — Comentei, me sentindo arrastada de volta ao meu
passado.
Ele permaneceu em silêncio por um momento, olhando fixamente
para o horizonte.
— Não podemos fugir do que somos, do que vivemos. Mas
podemos encontrar maneiras de suportar o peso dessas lembranças.
As palavras de Luigi ressoaram em mim, tocando áreas sensíveis
que, talvez, ele próprio conhecesse muito bem. A fragilidade que ele
revelava naquele momento estava distante da imagem do homem forte e
impenetrável que eu conhecia.
— Você não precisa carregar tudo sozinho, Luigi. Às vezes,
compartilhar o fardo torna-o mais suportável. — Falei, surpreendendo-me
com a ousadia de oferecer conforto a um homem que parecia estar
acostumado a lidar com seus próprios demônios.
Ele me olhou, um lampejo de vulnerabilidade atravessando seus
olhos escuros.
— Você é mais perspicaz do que aparenta, Nina — sorriu de canto.
— Por que fugiu?
— Eu só queria ter uma escolha, Luigi. Não quero ser um objeto de
troca, uma mercadoria para selar alianças. — Falei com os olhos fixos nos
dele. — Fugi porquê... — escolhi cada palavra com cautela. — Meu tio está
tentando me casar com um homem que mal conheço. Ele é cruel e
desagradável. Quando o conheci, ele me tratou como se eu fosse uma
mercadoria, não uma pessoa.
Os olhos de Luigi endureceram, revelando uma ira contida. Sua
mandíbula se contraiu enquanto ele ouvia atentamente minha narrativa.
Aquela intensidade no olhar dele acionava algo dentro de mim. Por um
momento, fiquei perdida em seus olhos, sentindo-me vulnerável.
— E quanto a Mikhail? — ele perguntou, sua voz suave
contrastando com a tensão no ar.
— Eu o chamei para fugir comigo. Mas ele... ele teve medo. Disse
que era arriscado demais e recusou. — Admitir aquilo doía mais do que eu
esperava.
Luigi permaneceu em silêncio por um momento, avaliando minhas
palavras. Então, ele se aproximou, seu olhar penetrando o meu com uma
intensidade que fazia meu coração acelerar.
— Se eu tivesse alguém como você ao meu lado, eu não hesitaria.
— Ele falou, seus olhos transmitindo sinceridade. — Mikhail foi covarde.
Ele não percebeu o tesouro que tinha diante de si.
O tempo pareceu congelar enquanto nossos olhares se entrelaçavam.
Era como se ele pudesse enxergar além das minhas palavras,
compreendendo as nuances ocultas dos meus sentimentos. Havia uma
conexão silenciosa entre nós, uma compreensão que escapava das barreiras
que a circunstância impunha. Meu foco estava no homem ao meu lado.
Seus olhos, suas palavras, tudo nele parecia ter uma atração irresistível.
Engoli seco, sem saber como responder.
— Eu não a deixaria escapar, Nina. — Sua voz soou mais baixa,
quase um sussurro carregado. — Às vezes, é preciso coragem para tomar as
rédeas do próprio destino.
Senti minhas bochechas queimarem enquanto eu tentava processar a
crueza da verdade. Luigi permanecia próximo, sua presença imponente,
mas não intimidadora. Era como se, naquele instante, estivéssemos
alinhados em uma sintonia única.
—Luigi eu... — Havia um magnetismo entre nós, uma atração que
escapava da lógica racional.
— O que você quer, Nina? — ele perguntou, seus olhos examinando
os meus, buscando compreender os desejos que eu mal ousava admitir para
mim mesma.
O beijo veio como um relâmpago, um ato impulsivo que incendiou
o espaço entre nós. Os lábios de Luigi encontraram os meus em um contato
que, por um instante, fez o tempo parar. Um choque elétrico percorreu meu
corpo, arrepiando cada centímetro da minha pele e aquecendo-me de dentro
para fora. Seus lábios eram firmes, mas carregavam uma ternura inesperada.
O sabor de uísque do beijo dele nublou meus pensamentos. Meu
coração martelava no peito, respondendo à intensidade do momento. Por
um breve instante, entreguei-me a ele, permitindo-me sentir algo que havia
reprimido desde que minha vida tomara um rumo inesperado.
Então, como se uma realidade cruel se impusesse, os lábios de Luigi
se afastaram dos meus. O silêncio que se seguiu era ensurdecedor,
preenchido apenas pelo eco das nossas respirações aceleradas. Luigi se
levantou abruptamente, deixando-me sozinha naquele espaço que agora
parecia impregnado pela eletricidade do momento que compartilhamos.
— Desculpe, Nina. Eu não deveria ter feito isso. — As palavras de
Luigi carregavam um tom de arrependimento, enquanto ele desviava o
olhar.
A abrupta mudança me atingiu como uma pancada. Senti um nó se
formar em minha garganta, um misto de confusão e chateação. As palavras
de Luigi ecoavam em minha mente, e eu me perguntava se, de fato, ele
lamentava o beijo ou se apenas reconhecia a complexidade da situação.
— Luigi, eu... — Comecei, mas as palavras pareciam ter perdido o
caminho, e minha voz falhou.
Ele se afastou, deixando-me ali, naquele espaço onde o calor do seu
beijo ainda pairava no ar. Meu coração, antes acelerado pela paixão
momentânea, agora pulsava em um ritmo irregular, como se tentasse se
reajustar. Eu estava sozinha novamente, com a perplexidade e a inquietude
como minhas únicas companhias.
O que significava aquele beijo? Como ficaríamos de agora em
diante?
Capítulo
9
A sensação de ter deixado Nina sozinha na praia pesava sobre mim
enquanto eu voltava para o meu quarto. Aquela troca de beijos, por mais
breve que fosse, tinha mexido com algo dentro de mim. Uma faísca que, de
alguma forma, desafiava a escuridão que eu costumava carregar.
O toque dos lábios de Nina era como um lembrete de que eu
também era humano, que sentimentos e impulsos não eram tão facilmente
controlados. O modo como ela conseguia mexer comigo desafiava toda a
minha resistência. Seus olhos, sua força contida sob a fachada de
vulnerabilidade, tudo isso acendia algo que eu preferiria manter
adormecido.
Anastácia era uma lembrança constante, um fantasma do passado
que teimava em ressurgir quando eu menos esperava. Seus olhos, sua
risada, tudo o que eu havia perdido. E agora, aqui estava Nina, uma
presença recém-chegada, despertando emoções que eu preferiria não
enfrentar.
Tentei afastar esses pensamentos, focar nos deveres que a vida como
chefe da máfia impunha. Mas o eco daquele beijo persistia, como um
sussurro insistente.
Nina, com seu magnetismo, representava uma ameaça às barreiras
que eu havia construído ao meu redor. Eu não queria que ela se tornasse
mais uma fraqueza em minha vida. Anastácia já havia deixado feridas
profundas, e eu não queria abrir espaço para novas cicatrizes.
Enquanto a noite avançava, eu me via imerso em pensamentos
tumultuados. A culpa se misturava com a atração que Nina exercia sobre
mim. Era como se eu estivesse traindo a memória de Anastácia, abrindo
portas que eu prometera manter fechadas.
— Che diavolo! — murmurei para mim mesmo, tentando afastar as
imagens do beijo de Nina que insistiam em retornar à minha mente. O
cheiro do perfume dela, o sabor inesperado e doce de seus lábios, o toque
suave que parecia deixar uma marca em minha pele. Era como se uma
tempestade silenciosa estivesse acontecendo dentro de mim, desconstruindo
as barreiras que eu havia erguido com tanto esforço.
Aquelas memórias eram uma confusão de sensações, e eu me vi
incapaz de me concentrar em qualquer outra coisa. Mesmo enquanto andava
de um lado para o outro no quarto, o eco do riso de Nina ainda pairava no
ar, ecoando como uma melodia tentadora.
Decidi voltar à praia. A imagem de Nina, que já se sentia
abandonada por Mikhail, ressurgiu com força. Ele a deixou, assim como eu
havia feito após dizer que não a deixaria escapar se a tivesse. Mas ela não
estava mais lá.
A lua refletia em suaves ondas sobre a água, criando um espetáculo
hipnotizante. Caminhei pela areia, perdido em meus próprios pensamentos.
Por que eu havia agido daquela maneira? Por que permiti que as defesas
que ergui ao longo dos anos cedessem tão facilmente diante de Nina?

O sol começava a despontar no horizonte, tingindo o céu com tons


dourados que refletiam sobre o oceano. A noite na praia havia se
prolongado, e eu não consegui encontrar paz suficiente para voltar ao
quarto.
Decidi procurar por Nina, e, com passos firmes, segui para o quarto
dela. Ao chegar, constatei que ela não estava lá. Uma inquietação cresceu
dentro de mim.
A procura me levou ao restaurante, perguntei a alguns dos
funcionários, mas seus olhares indicavam que ela não havia passado por ali.
Uma última tentativa me levou à piscina do hotel, e foi lá que a encontrei.
Ela estava à beira da piscina, os raios de sol dançando sobre sua
pele, destacando suas curvas de maneira quase hipnótica. Os cabelos caíam
de forma despretensiosa sobre os ombros, e seus olhos fixavam o horizonte
como se estivesse completamente alheia ao seu redor.
Ela se assemelhava a uma sereia, irresistivelmente atraente e
misteriosa. Seu corpo, esculpido de forma graciosa, parecia dançar em
harmonia com a brisa que soprava suavemente. O cenário fantasioso se
tornou ainda mais encantador com a presença dela.
À medida que me aproximava de Nina à beira da piscina, não pude
deixar de notar a presença de outros hóspedes homens que estavam ali.
Todos estavam enfeitiçados pela beleza dela, olhando-a com um desejo
evidente nos olhos. Um impulso primal surgiu dentro de mim, como se a
racionalidade momentaneamente cedesse espaço a um instinto territorial.
A sensação de possessão se manifestou quando, de maneira quase
automática, peguei uma toalha próxima e delicadamente cobri o corpo dela.
Meus olhos, porém, não estavam mais direcionados a Nina; agora,
encaravam os homens ao redor. Cada um deles recebeu um olhar assassino,
como se quisesse transmitir uma mensagem clara de que ela não era um
objeto de contemplação para todos.
— Perdão pela interrupção, Nina. Parece que atraiu um pouco mais
de atenção do que esperávamos. — Meu tom de voz continha um misto de
possessividade e firmeza.
— E quem disse a você que estou incomodada por ser admirada? —
O tom frio de Nina me deixou frustrado. Sua indiferença, apenas
intensificou minha irritação. Não estava acostumado a ser tratado com
desdém.
— Se não quiser que eu perca o controle e acabe com a diversão
desses idiotas, atirando na cabeça de cada um deles, sugiro que levante e me
acompanhe para o café da manhã. — Minha voz soava firme, carregada
com a tensão que a situação impunha.
Eu não queria que ela se tornasse um espetáculo público, e a
maneira como ela me respondeu estava mexendo com meus nervos. Minha
proteção não era apenas um ato de cavalheirismo; era uma expressão
instintiva de posse.
Nina, sem dizer uma palavra, se levantou e começou a caminhar em
direção ao hotel. Seus passos eram decididos, e eu a segui, tentando conter
a raiva que borbulhava sob a superfície. A sensação de não ter controle
sobre a situação me incomodava profundamente.
Ao chegarmos ao restaurante do hotel, escolhi uma mesa mais
isolada, longe dos olhares curiosos. Sentamo-nos em silêncio, e o clima
pesado entre nós estava quase sufocante. O café da manhã seria uma
refeição silenciosa. O desconforto de Nina estava evidente.
— Você não me trouxe aqui para que eu me sentisse ainda mais
presa, trouxe? Eu sei cuidar de mim mesma. — Sua voz, apesar de firme,
carregava um leve tom de desdém junto com as suas sobrancelhas erguidas
desafiando-me.
Senti uma pontada de irritação, mas respirei fundo antes de
responder.
— Não é uma questão de eu pensar que você não pode cuidar de si
mesma. Apenas não quero que você se torne um espetáculo para esses
caras. Não é algo a que esteja acostumada, é?
Ela levantou as sobrancelhas em surpresa, como se não esperasse
esse tipo de preocupação vindo de mim.
— Não preciso de um guardião, Luigi. Se eu quisesse, poderia
muito bem lidar com esses homens, mas como disse, não me incomoda ser
admirada. — Deu um sorriso forçado.
— Talvez você possa, mas não muda o fato de que eu não gosto de
ver você sendo olhada daquela maneira.
Nina soltou um suspiro, como se estivesse exasperada com a
situação.
— Isso soa como algo que não é problema meu, Luigi. Lide você
com as suas loucuras, e não me envolva nisso.
— Você não está mais na Rússia. As coisas aqui são diferentes. —
Minha resposta saiu mais dura do que pretendia, mas não conseguia conter
a frustração.
Ela balançou a cabeça, como se estivesse concordando consigo
mesma.
— Eu sei que as coisas são diferentes. Estou fazendo o meu melhor
para aprender. Já aprendi, inclusive, que um beijo aqui não tem valor
algum. Obrigada por me ensinar.
Antes que eu pudesse responder, um garçom se aproximou para
anotar nossos pedidos. O diálogo tenso entre nós havia criado uma barreira,
e o resto da refeição transcorreu com uma troca de palavras limitada.
Capítulo
10
Sentada à mesa de café da manhã, meu olhar encontrou o dele de
forma desafiadora. Luigi parecia tenso. Eu, por outro lado, lutava contra
uma mistura de sentimentos confusos. Por que ele pediu desculpas? Como
se o beijo fosse um erro, um momento de fraqueza que deveria ser
repudiado.
— Tenho um almoço para ir hoje, será fora do hotel, você poderia
me acompanhar? — Era como se ele estivesse fazendo um enorme esforço
para pedir.
Sacudi a cabeça com firmeza.
— Vou passar o dia na praia. Preciso de um tempo sozinha. —
Minha voz soava mais fria do que eu pretendia, mas não conseguia ignorar
a irritação que ainda borbulhava dentro de mim.
Luigi assentiu, seu olhar penetrante fixado no meu rosto. Havia algo
naqueles olhos escuros que eu não conseguia decifrar. Talvez
arrependimento, talvez algo mais profundo. Ele parecia prestes a dizer algo,
mas, em vez disso, apenas se levantou da mesa.
— Como quiser. Nos vemos depois, então. — Sua voz soou calma,
mas havia uma nota de desconforto.
Conforme ele se afastava, eu permaneci na mesa por um momento,
observando-o se distanciar. Aquele beijo deixou uma marca em nós, uma
marca que ele parecia querer apagar. Talvez fosse mais fácil para ele se
manter distante, talvez fosse o melhor para ambos.
Decidi caminhar até a praia, deixando a brisa do mar acalmar meus
pensamentos tumultuados. O som das ondas era reconfortante,
proporcionando uma trégua temporária para as minhas inquietações.
Não demorou muito para que eu escolhesse um local isolado na
praia, afastado das outras pessoas. Ali, eu podia me permitir absorver a
tranquilidade do ambiente e tentar entender a confusão que me dominava. O
que eu queria de Luigi? E por que ele agia daquela maneira tão
contraditória?
Enquanto a água tocava suavemente a areia, eu me vi perdida em
pensamentos, tentando desvendar os segredos por trás daquele homem tão
enigmático.
Senti a incomum sensação de ser observada. Virando-me, percebi
alguns homens lançando olhares indiscretos na minha direção, homens a
mando de Luigi, com certeza. Mas entre eles, um se destacava, e sua
presença era mais marcante.
Antes que pudesse reagir, o homem se aproximou. Ele exalava um
ar de autoconfiança que, de certa forma, era intimidador.
— Olá, senhorita. Espero que não se importe, mas não pude deixar
de notar sua presença solitária aqui. — Sua voz era educada, mas sua
expressão carregava uma insinuação sugestiva.
Eu o observei com uma sobrancelha arqueada, sem me deixar
intimidar pela sua abordagem direta.
— Não me importo. Estou apenas desfrutando da praia e da
tranquilidade. — Respondi, mantendo uma postura firme.
Ele sorriu, como se soubesse algo que eu não sabia.
— Sou Carlo. Vim para este paraíso em uma viagem de negócios,
mas parece que acabei encontrando algo ainda mais fascinante. — Seu
sorriso tornou-se mais pronunciado, deixando claro o que ele queria
insinuar.
Enquanto a conversa prosseguia, eu mantive uma reserva cautelosa.
Carlo era hábil em manter um diálogo envolvente, mas havia algo em seu
olhar que me deixava alerta.
— Então, senhorita, qual é sua história? — Ele indagou, suas
palavras carregadas de curiosidade indiscreta.
— Me chame de Nina. Minha história é simples. Vim para cá em
busca de paz e privacidade. — Respondi, escolhendo as palavras com
cuidado.
Em pouco tempo, Carlo e eu nos encontrávamos em uma conversa
amigável, compartilhando risadas com suas histórias engraçadas que faziam
o tempo passar de maneira agradável. A brisa suave da praia
complementava o clima leve daquele momento, tornando-o quase
despreocupado.
— Nina, você não imagina as situações engraçadas que eu já me
envolvi durante minhas viagens. — Carlo compartilhava animadamente, e
eu ria ao ponto de precisar segurar a barriga.
À medida que a conversa fluía, Carlo, com um sorriso malicioso,
inclinou-se um pouco mais na minha direção, tentando criar uma atmosfera
mais íntima. Era evidente que suas intenções estavam se desviando para
além de uma amizade casual.
Ele tentou me beijar, mas foi puxado para longe de mim. O breve
momento foi interrompido pela chegada repentina e enraivecida de Luigi.
Sua expressão, normalmente controlada, estava tingida de fúria. Carlo
recuou instintivamente, percebendo a presença ameaçadora que agora
pairava sobre ele.
— O que pensa que está fazendo? — A voz de Luigi soava cortante,
cada palavra carregada de indignação.
Minha surpresa deu lugar à apreensão diante da explosão de raiva de
Luigi. Tentando manter a calma, eu me afastei de Carlo, observando a tensa
troca de olhares entre os dois homens diante de mim.
— Estava apenas fazendo companhia a mulher mais deslumbrante
deste lugar. — Me direciona uma piscadela. — Não sabia que ela estava
acompanhada.
— Agora já sabe! — O tom cortante de Luigi fez meu sangue gelar.
— Ela parece ter gostado da minha presença, não te vi em lugar
nenhum, eu jamais deixaria uma mulher como ela sozinha. — Estava
claramente provocando Luigi.
Luigi avançou na direção de Carlo com uma intensidade
ameaçadora. Seus olhos, antes faiscando de raiva, agora transmitiam uma
determinação feroz. Carlo recuou, mas um sorriso de deboche permaneceu
em seu rosto, como se desafiasse a tempestade que se aproximava. A mão
de Luigi foi para sua cintura e eu me atirei em cima dele.
— Luigi, por favor, não faça isso! — Minha voz expressava meu
pavor, enquanto tentava impedir que ele matasse aquele homem.
— Você não tem ideia do que está se metendo. Afaste-se dela, não
vou falar novamente. — A voz de Luigi ecoou com uma seriedade gélida,
cada palavra carregada de uma ameaça contida.
Carlo, apesar de seu sorriso, parecia compreender a seriedade da
situação. Ele recuou ainda, mantendo uma postura de indiferença, mas seus
olhos denunciavam cautela enquanto tentava verificar se havia mesmo uma
arma na cintura de Luigi.
— Não chegue perto dela novamente, não respire o mesmo ar que
ela. Entenda bem, você não quer testar os limites da minha paciência. —
Continuou com a ameaça clara.
— Luigi, você precisa se acalmar. Não quero que faça algo do qual
se arrependa depois. — Minhas palavras eram um apelo sincero.
— Eu jamais me arrependeria disso. — Um brilho assassino se fez
presente em seus olhos e eu sabia bem que era a verdade.
— Foi um prazer conversar com você, Nina. Espero que tenha uma
estadia agradável. — Carlo se afastou, deixando-nos a sós.
Luigi permaneceu, observando o lugar onde Carlo estava segundos
atrás, uma expressão sombria marcando seu semblante. O ambiente,
carregado de tensão, estava impregnado com uma energia densa e
desconfortável.
— O que diabos está acontecendo aqui? Você enlouqueceu? — Eu
não conseguia conter a frustração que fervia dentro de mim.
Luigi parecia determinado a controlar cada aspecto da minha vida,
como se eu fosse uma marionete em suas mãos. A discussão continuava, e
eu não estava disposta a baixar a guarda.
— Você poderia ao menos tentar explicar? O que aconteceu com
aquele homem para você agir desse jeito? — insisti.
Luigi finalmente quebrou o silêncio, sua voz mais áspera do que o
normal:
— Ele não é alguém que você deve ter em sua companhia.
Soltei uma risada cínica.
— E quem diabos você pensa que é para decidir com quem eu devo
ou não falar? Você age como se eu fosse sua propriedade! — esbravejei,
minhas palavras carregadas de indignação.
— Você não faz ideia do perigo que pode trazer para si mesma
dando espaço para qualquer um desse jeito. — Ele finalmente respondeu,
sua voz firme, raivosa, mas com um toque de inquietação.
— Eu não pedi por sua proteção, Luigi. Eu não pedi por nada disso!
— repeti, minha paciência se esgotando rapidamente.
— Engraçado, pensei que estivesse em minha casa justamente por
precisar ser protegida, uma donzela indefesa...
A tensão entre nós crescia, alimentada por palavras afiadas e olhares
penetrantes. Cada frase era uma barreira a mais, afastando-nos ainda mais,
enquanto um abismo se formava entre nós.
— Não se preocupe mais comigo, estarei fora da sua casa assim que
voltarmos. Não sou uma donzela indefesa. —Dei as costas a ele e caminhei
para retornar ao meu quarto.
Ouço Luigi me chamar, mas apenas ignoro e continuo andando.
Capítulo
11
Assisti Nina se afastar, cada passo dela uma sentença que ecoava em
minha mente. Eu queria chamar por ela, impedi-la de seguir adiante, mas as
palavras que trocamos ainda pairavam no ar como uma barreira invisível.
— Nina! — minha voz cortou o silêncio, mas ela não se virou, não
respondeu. Ela estava decidida a se distanciar, e eu fiquei ali, parado,
observando-a se perder na linha do horizonte.
— Ela vai embora. — Sussurrei.
As palavras dela ressoavam em meus ouvidos como um eco cruel. O
peso daquelas palavras me atingiu com uma força inesperada. O que antes
parecia ser a solução para a confusão que se instalou entre nós agora se
tornava um vazio incômodo.
Pensei em como, há pouco tempo, ansiava pela partida dela. Queria
paz, queria que Giulia encontrasse um lugar seguro para Nina, longe de
toda a complexidade que a vida na máfia poderia oferecer e longe de mim.
Mas agora, enquanto a via se afastar, uma confusão tomava conta de meus
pensamentos.
Era como se algo precioso estivesse escapando por entre meus
dedos, algo que eu não conseguia definir completamente. Havia uma
mistura de frustração, arrependimento e uma ponta de desconforto. Eu não
estava acostumado a ser confrontado dessa maneira, a questionar minhas
próprias ações.
— Ela não pode me deixar...
Fui atrás dela e entrei no quarto sem bater, sem pedir licença,
movido por uma urgência que não conseguia mais conter. Nina estava lá,
olhando-me com surpresa e descrença.
— Você está louco? — ela questionou, sua voz misturando
incredulidade e indignação.
Minhas mãos passaram pelos cabelos, buscando uma maneira de
expressar o turbilhão de pensamentos que me assombrava. A agonia crescia
dentro de mim, impedindo meu raciocínio lógico.
— Você não vai a lugar nenhum. — A firmeza em minha voz
contrastava com a tumultuada confusão em meus olhos.
Nina cruzou os braços, encarando-me como se tentasse decifrar
minhas intenções.
— Por que, Luigi? Por que você age assim? — a frustração
transbordava em sua voz.
Respirei fundo, tentando articular as palavras certas.
— Eu não sei, Nina. As coisas estão complicadas, e... — a verdade
crua da situação se chocava contra a barreira de minha própria relutância
em compartilhá-la.
— Complicadas? Isso é um eufemismo. Você age como se eu fosse
uma ameaça constante. — A expressão dela era uma mistura de raiva e
mágoa.
— Não é sobre você ser uma ameaça. É sobre eu... — hesitei por um
momento, antes de continuar — Eu não sei o que é.
O silêncio pairou entre nós, uma tensão quase sufocante enquanto
tentávamos desvendar os nós que se formavam entre nossas palavras.
— Você não pode decidir por mim, Luigi. Eu tenho minha própria
vida. — A assertividade dela cortou o ar, desafiando minha noção de
controle.
— Eu sei. Mas... — as palavras pareciam fugir de mim, como se a
verdade estivesse escondida em algum lugar que eu não conseguia alcançar.
Nina encarou-me com olhos intensos, desafiadores. A atmosfera do
quarto estava carregada com a eletricidade da discussão, como se cada
palavra trocada fosse uma faísca prestes a iniciar um incêndio.
— Luigi, você precisa entender que não pode controlar minha vida.
Eu não vim aqui para ser prisioneira das suas decisões, vim para ser livre.
— Ela expressou sua frustração, suas palavras cortando o ar entre nós.
Eu sentia a verdade crua de suas palavras, mas, ao mesmo tempo, a
sensação de perda iminente crescia dentro de mim. Ansiava por encontrar
uma explicação coerente, algo que justificasse minhas ações estarem fora
do meu controle.
— Nina, eu só... — Busquei as palavras certas.
Ela respirou fundo, como se tentasse conter a tempestade que se
formava dentro dela.
— Eu não pedi para você se incomodar comigo desse jeito. Se há
algo que precisa resolver, não faça isso me mantendo à margem. — Sua voz
era uma mistura de firmeza e vulnerabilidade.
Eu me sentia acuado, confrontado por emoções que não sabia como
gerenciar.
— Eu não sei o que está acontecendo, Nina. Só sei que a ideia de
você ir embora... — Minhas palavras vacilaram, revelando mais do que eu
pretendia.
— A ideia de eu ir embora? — Nina repetiu, sua expressão se
suavizando um pouco diante da confissão inesperada.
— Sim. — Admiti, como se aquilo fosse suficiente para explicar
tudo o que estava sentindo. Mas, na verdade, era apenas uma fração da
verdade que me consumia.
O silêncio que se seguiu foi carregado. Nina olhava para mim como
se estivesse buscando algo além das palavras que eu podia oferecer.
— Luigi, você precisa se resolver. Eu não posso ser parte de algo
que nem mesmo você entende. — Ela finalmente quebrou o silêncio, suas
palavras soando como um veredicto inevitável.
— Cazzo![2]
Os segundos que se seguiram foram como uma pausa no tempo.
Meu coração martelava no peito. Sem pensar, dei passos firmes em direção
a Nina, cada movimento carregado de uma decisão irrevogável. Quando
nossos corpos finalmente se encontraram, não houve palavras.
A intensidade daquele momento era quase brutal. Seus lábios
encontraram os meus com uma necessidade voraz, como se estivéssemos
buscando refúgio um no outro. O beijo era urgente, as línguas dançando em
uma coreografia que expressava a fome reprimida de algo que não
conseguíamos nomear.
Cada toque era como uma faísca inflamando uma chama, uma
combustão visceral de desejo. Minhas mãos se perderam em seus cabelos,
segurando-a como se temesse que ela pudesse escapar. Seu corpo estava tão
próximo ao meu que era difícil distinguir onde eu terminava e ela
começava. O calor que emanava dela era viciante, uma droga que me
envolvia em sua doce embriaguez.
A respiração era irregular, entrecortada pelos suspiros roubados
entre um beijo e outro. Era como se estivéssemos nos perdendo em um
abismo, sem a menor intenção de encontrar o caminho de volta. Cada
instante parecia uma eternidade, e a voracidade do beijo refletia a
complexidade de emoções que nem mesmo éramos capazes de
compreender.
Foi um beijo que ultrapassou a barreira da lógica, uma entrega
mútua a algo que estava além da razão. A paixão nos envolvia como uma
tempestade, deixando em seu rastro a sensação vertiginosa de que
estávamos prestes a desafiar todas as regras que havíamos estabelecido. E,
por um breve momento, nos permitimos afundar nesse desejo incontrolável.
Entre um beijo e outro, me afastei por um instante, mantendo nossos
rostos próximos, nossas respirações entrelaçadas. Olhei nos olhos dela,
tentando transmitir com o olhar todas as emoções que giravam
descontroladamente dentro de mim.
— Não vá, Nina. Eu... eu preciso que você fique. — As palavras
escaparam dos meus lábios quase como uma súplica, uma confissão
inesperada da verdade que estava se formando dentro de mim.
Era estranho, contraditório. Antes, eu a queria longe da minha vida.
Agora, a ideia de vê-la partir era quase insuportável.
Sem esperar por uma resposta, me inclinei novamente em sua
direção, capturando seus lábios em um beijo que carregava a intensidade de
um pedido silencioso para que ela ficasse. Cada toque era uma tentativa de
expressar o que as palavras pareciam incapazes de transmitir. Eu precisava
dela ali, ao meu lado, mesmo que não compreendesse completamente o
porquê. O desejo que ardia entre nós era como uma chama que ameaçava
consumir qualquer lógica ou resistência que ainda restasse.
Lentamente, minhas mãos deslizaram pelas alças do vestido de
Nina, e eu a puxei suavemente para que o tecido descesse. O beijo
continuou, aprofundando-se. A atmosfera ao nosso redor era carregada de
desejo, uma tensão que se manifestava na urgência dos nossos gestos.
Nina correspondeu ao movimento, permitindo que o vestido
escorregasse por seu corpo até cair ao chão. Seu toque era uma resposta, ela
me queria tanto quanto eu a desejava enfurecidamente.
A pele dela sob meus dedos era suave, e eu explorava cada
centímetro como se fosse completamente minha.
Ela é minha! — a voz do monstro possessivo em minha mente
rosnou em resposta.
Capítulo
12
Sob o calor do desejo, me vi perdida nas sensações que Luigi
despertava em mim. Seu beijo era feroz, como uma tempestade que
ameaçava levar tudo consigo. Seus lábios exploravam os meus com
urgência, e eu me entregava à intensidade do momento.
O toque de Luigi em meu corpo era eletrizante, um rastro de fogo
que deixava minha pele arrepiada. Ele parecia conhecer cada parte oculta
dos meus desejos, guiando-me por um território desconhecido, mas
extremamente excitante.
À medida que o beijo se aprofundava, meu corpo respondia de
maneira voraz. A respiração ofegante ecoava entre nós, a eletricidade que
preenchia o ar. Assim que meu vestido tocou o chão, minhas mãos
instintivamente buscaram esconder o corpo, sentindo-me completamente
vulnerável diante do olhar faminto de Luigi.
Ele continuou a somente me olhar durante vários segundos, e eu
estava enlouquecendo por ele estar mantendo um pouco de distância. Com
gentileza, ele afastou minhas mãos, revelando-me completamente a seus
olhos insaciáveis. Meu corpo reagiu com uma corrente elétrica de
nervosismo e excitação diante da intensidade do seu olhar.
— Você é linda, Nina. — Sua voz era rouca, carregada de um desejo
que ecoava no fundo da minha alma. As palavras ecoaram como uma
melodia sedutora, apagando qualquer hesitação que ainda pudesse existir.
— Não esconda seu corpo de mim, não tem do que sentir vergonha.
Antes que eu pudesse processar suas palavras, suas mãos quentes
seguraram minha cintura e puxaram-me em sua direção. Um gemido baixo
do fundo de sua garganta vibrou pela minha, e eu o capturei com uma
inspiração profunda. Seu peito pressionou contra meus seios conforme ele
me empurrava em direção a cama.
Sua boca era quente e molhada e devorava a minha, sua língua
circulando por dentro desesperadamente. Estava muito mais intenso do que
as últimas duas vezes em que nos beijamos. Dessa vez, era diferente, um
indício de algo a mais. Luigi parou de me beijar por um momento, e suas
mãos deslizaram até meu pescoço. Ele puxou meu cabelo, inclinando minha
cabeça para trás. Chupou a base do meu pescoço antes de trilhar um
caminho de beijos e mordeu levemente meu lábio inferior, gemendo entre
dentes.
Eu queria mais.
Eu estava pronta.
— Você está tremendo. — Disse afastando meu corpo do seu. —
Você está bem?
— É que eu... eu não... — ele estreita os olhos. — Ainda sou
virgem. — Digo, por fim, vendo a surpresa estampar seu rosto.
— Mas você estava se relacionando com...
— Sabemos o que isso implicaria, e ele nunca quis meu mal de
nenhuma maneira, jamais me tocou, e eu não me sentia pronta, então...
Então, num suspiro de compreensão, Luigi pareceu absorver a
revelação.
— Eu não deveria ter presumido nada. Sinto muito, Nina. — As
palavras saíram de seus lábios com uma sinceridade que me surpreendeu.
— Seja honesta comigo. Você quer continuar? — Luigi perguntou com uma
suavidade inesperada.
Meu coração martelava no peito, as dúvidas dançando em minha
mente. Mas algo na maneira como ele me olhava, com respeito e
compreensão, fez com que eu me sentisse mais à vontade.
— Sim, quero. — Minha voz saiu firme, apesar da hesitação
persistente.
Ele me beijou novamente, mas dessa vez era diferente. Era um beijo
mais lento, carregado de ternura e cuidado. Suas mãos exploravam meu
corpo com um pouco mais de sutileza.
Senti a umidade entre minhas pernas somente com a maneira como
ele estava me beijando.
Minhas mãos correram por suas roupas, na tentativa de arrancá-las e
sentir sua pele na minha por completo, mas Luigi me impediu.
— Calma querida — sorriu.
— Não é assim que funciona?
— Não.
— Não? Mas por que só eu estou nua?
— Você vai tirar a minha roupa. Mas só depois de brincarmos um
pouco.
— Brincar?
— Você não tem experiência alguma. Eu não posso só tirar a roupa e
começar a te foder. Você precisa estar pronta para mim. Vai doer na
primeira vez de qualquer maneira, então tenho que te deixar o mais
molhada possível.
Luigi se deitou na cama, recostando-se na cabeceira e me puxou
para cima de seu corpo. Minhas pernas ficaram uma de cada lado dele e o
senti duro debaixo de mim.
— Você parece pronto — brinquei, tentando aliviar minha própria
tensão.
— Estou pronto desde o dia em que a vi naquele maldito casamento.
Assim que te vi sabia que se estivesse perto de você estria fodido.
— Desde aquele dia, me quis assim? — Reborei e ouvi sua
respiração ficar mais ruidosa.
Ele me pressionou mais contra a sua ereção latente sob sua calça.
— É bem óbvio agora, não é? — Assenti.
Ele colocou as mãos em meu pescoço, deslizando-as para baixo e
envolvendo meus seios, massageando-os lenta e firmemente enquanto eu
me esfregava em seu colo. Pressionei-me contra seu pau buscado alívio
para a excitação que crescia com cada um de seus movimentos.
Manteve uma mão em um dos meus seios e subiu a outra até minha
boca, passando o polegar sobre meus lábios e, em seguida, empurrando dois
de seus dedos na minha boca.
— Chupe. — Sua voz saiu rouca de tesão.
Contraí os músculos entre minhas pernas, muito estimulada pela sua
expressão enquanto ele observava seus dedos entrando e saindo da minha
boca. Quando os retirou, ele esfregou a umidade da minha saliva no meu
mamilo direito e lambeu a outra mão antes de passar os dedos no esquerdo.
— Eles são perfeitos. — Ele desceu as duas mãos por meu torso e
me envolveu, apertando minha bunda. — Isso aqui também. — Ele deu
uma leve palmada e sorriu. — Eu quero fazer tantas coisas com essa bunda
— ele disse, apertando com mais força.
Passei as mãos por baixo de sua camisa e alisei seu abdômen
sentindo-o se retesar. Desabotoei a camisa para continuar explorando seu
corpo.
— Está com o os batimentos acelerados. — Notei ao tocar seu peito.
— Você não é a única a experimentar uma coisa nova. Nunca fui o
primeiro de ninguém, não quero te machucar.
— Você não vai, por favor, pare de se conter.
O beijei e ele correspondeu com a mesma fome fervente, torturando-
me com sua língua e gemendo na minha boca. Ele me colocou deitada de
costas e ficou de joelhos sobre mim, prendendo-me entre seus braços. Seus
cabelos desalinhados o deixaram ainda mais sexy, e seus lindos olhos me
observavam intensamente quando, mais uma vez, enfiou dois dedos em
minha boca.
Segurei sua mão e chupei seus dedos com força, tomando-os até o
fundo da minha garganta. Seus olhos me observavam entreabertos, com
atenção, e ele lambeu os lábios. E então desceu a mão e abriu bem as
minhas pernas.
— Linda — ele sussurrou ao deslizar um dedo dentro de mim. —
Cazzo, você está tão molhada. — Ele o tirou e, em seguida, acrescentou
mais um, penetrando-me lentamente e cada vez mais fundo. Arfei. — Está
gostoso?
— Sim.
Ele começou a movimentar os dedos para dentro e para fora, mais
forte e mais rápido. Eu podia até mesmo ouvir o quão molhada eu estava.
Apertando meus seios, joguei a cabeça para trás, e meu corpo se contorceu.
Comecei a perder o controle, movimentando meus quadris para ir de
encontro à sua mão. Ele sabia disso quando tirou os dedos de mim de
repente.
— Não. Goze. Ainda — disse pausadamente como se estivesse com
dificuldade de falar.
Por instinto segurei minha respiração, esperando pelo próximo
passo, ansiando pelo que ele faria a seguir.
Vejo-o levantar-se e ficar em pé ao lado da cama, ele me estende a
mão e eu me sento, meu rosto está muito próximo ao seu pau que parece
pulsar sob sua calça, implorando por liberdade e atenção, observo-o
terminar de tirar a camisa expondo seu abdômen perfeito... Minhas mãos
instintivamente alcançam seu corpo e um gemido rouco escapa de seus
lábios.
Suas mãos habilidosas movem-se até o cinto, abrindo a calça e
revelando a sua ereção, o tecido escorrega por suas pernas, deixando-me
com a boca seca, e um tanto preocupada com todo aquele tamanho.
Um sorriso devasso escapa dos seus lábios, ele tinha plena
consciência do quão grande era, e seus olhos pareciam dizer que estava
louco para se enterrar em mim.
Movi minhas mãos até a sua boxer e comecei retirá-la, seu pau
saltou bem diante dos meus olhos, passei a língua lentamente sobre meus
lábios, eu queria prová-lo, sentir seu gosto, mas não tinha ideia de como
fazê-lo.
Senti uma de suas mãos alcançar meu cabelo e, sem dizer nada, ele
me guiou até seu pau, é claro que ele sabia o que eu queria.
Aproximei meus lábios, e comecei a lamber devagar, gemidos
roucos começaram a escapar da sua boca, e senti o aperto ficar mais firme
em meus cabelos, fui abrindo meus lábios e aos poucos o colocando todo na
boca. Ele guiava meus movimentos de vai e vem, e logo pude senti-lo por
inteiro.
Ele sai de dentro da minha boca e me olhando como um felino
prestes a atacar a sua presa.
— Agora eu vou saboreá-la — ele me empurra delicadamente sobre
a cama, encaixando-se no meio das minhas pernas, minha respiração
acelerada denunciava o quanto estava ansiando por ter seus lábios em mim.
O primeiro contato fez meu corpo dar um sobressalto, porém ele me
manteve deitada, usando sua mão livre para segurar minha barriga.
Sua língua começou a fazer movimentos que pareciam desenhar um
oito sobre a minha carne molhada, demorando um pouco mais no meu
clitóris, já inchado de desejo, ele o mordiscava de leve, fazendo-me gemer
ainda mais alto.
— Você é deliciosa — sua voz carregada de desejo.
Instintivamente comecei a rebolar, querendo mais daquela tortura
maravilhosa, eu me sentia pronta para ele, pronta para tê-lo todo dentro de
mim.
— Eu te quero... — minha voz sai como um sussurro.
Ele me olhou, e aproximou seu rosto do meu, tomando meus lábios
e misturando nossos gostos, eu podia sentir seu pau roçar na minha entrada,
como se pedisse permissão para entrar e tudo oque eu conseguia fazer era
rebolar e erguer meu corpo buscando desesperadamente por esse contato.
Luigi se afastou, pegou um preservativo, desenrolou na extensão de
seu pau e voltou a se posicionar entre minhas pernas.
— Olhe para mim enquanto eu entro em você. — Sua ordem soou
entre dentes. Luigi se encaixa e eu me contraio. — Não posso afirmar que
não vai doer, mas vai passar logo, prometo.
— Quero você, Luigi. Não estou com medo.
Ele mete algumas vezes lentamente, abrindo espaço para si em meu
corpo. Vejo que está se esforçando muito para se controlar. Seus lábios se
colam aos meus, ao mesmo tempo em que se empurra inteiro para dentro de
mim.
Um gemido de dor escapa e lágrimas escorrem dos meus olhos.
— Vai passar, Nina. Sinto muito...
Ele sai e volta em um ritmo constante, mas lento, ensinando-me a
recebê-lo cada vez mais profundo. Seus beijos não param e, aos poucos,
meu corpo relaxa, a dor começa a dar espaço para um prazer que jamais
senti antes.
Luigi puxa uma das minhas coxas para sua cintura e estoca cada vez
mais rápido, num ritmo quase alucinado.
Cravo minhas unhas em seus ombros e tudo o que sai de meus
lábios são gemidos incoerentes e seu nome. Ensaio um rebolado sem jeito,
sentindo-me dolorosamente preenchida.
— Mais.
Ele segura minha bunda e agora mete sem pena. Seu corpo se afasta
e ele se mantem de joelhos, puxando minhas coxas para seu antebraço e
estoca duro dentro de mim. Seus quadris se chocam contra os meus com
cada vez mais necessidade, fazendo-me alcançar um prazer vertiginoso.
— Diga-me se for demais para você.
— Não pare, Luigi.
Ele emite um som rouco enquanto me encara com a mandíbula
contraída, em seguida toma minha boca, metendo a língua bem profundo,
tanto quanto seu pau.
— Você é muito apertada. — Ele agarra meus quadris e começa a se
movimentar, sem me dar chance de sequer respirar.
Eu me contraio em volta dele.
— Cazzo! — Rosna e morde meus lábios.
— Luigi... — meus gemidos ficam cada vez mais necessitados.
Agarro seus ombros, puxando-o para mim. Ele sai e entra
profundamente várias vezes. Começo a erguer os quadris, indo ao seu
encontro, e ele me segura pela cintura com força aumentando a intensidade
de todo o prazer que estou sentindo.
O clímax me atinge com fúria. Meus gemidos preenchem todo o
quarto. Eu o sinto pulsando, aumentando de tamanho, coisa que nem
imaginei ser possível, e meu corpo o comprime. Ele me diz palavras
obscenas, chupando e mordendo minha boca, metendo sem descanso até
aumentar as estocadas.
Luigi se retira de dentro de mim e retira o preservativo.
— Vire-se para mim. Fique de quatro.
Faço o que ele manda e o sinto se esfregar em minha boceta
encharcada. Logo em seguida sinto o primeiro jato quente na base das
minhas costas e espalha com uma das mãos em minha bunda.
Meu corpo está mole, ele me puxa para si e nem sei em que
momento pego no sono.
Capítulo
13
A luz fraca do dia banhava o quarto através das cortinas fechadas.
Nina dormia tranquilamente em meu peito. Seu corpo nu se entrelaçava ao
meu, e uma mistura de emoções tumultuava meu interior. A suavidade de
seu sono contrastava com a realidade crua dos nossos atos que pairava
sobre mim como uma sombra incômoda.
A pele dela, quente e macia, destoava com a frieza que começava a
se instaurar em meu coração. Eu me via preso em um dilema interno,
dividido entre o desejo insaciável por Nina e a lembrança constante de
Anastácia. Parecia uma traição, um sacrilégio contra a mulher que havia
sido meu amor.
Mas a atração por Nina crescia de forma descomunal, uma força que
beirava o insano. Enquanto ela dormia tranquilamente, eu me perguntava se
esse era o preço a pagar por ceder às tentações. O pecado que cometemos
naqueles momentos de paixão era como um fio tênue, ameaçando romper
qualquer resquício de moral que ainda restasse.
Minha mente vagueava entre o passado e o presente, entre o que já
foi e o que se desdobrava diante de mim. Ana, minha amada Ana, parecia
sussurrar em meu ouvido, repreendendo-me por cada toque, cada beijo
roubado. No entanto, o calor do corpo de Nina contra o meu clamava por
mais.
Eu a observava dormir, a inocência pintada em seus traços
delicados. Mas, ao mesmo tempo, a mulher que emergia de seu interior era
ardente, intensa, desafiando qualquer tentativa de contê-la. O conflito em
meu peito queimava.
Eu me vi condenado por escolhas que não podia desfazer. A linha
entre certo e errado, desejo e lealdade, tornava-se cada vez mais turva.
Enquanto Nina dormia em meu peito, eu me via prisioneiro de um desejo
que havia me proibido de sentir a muitos anos, e estava consciente de que o
preço dos nossos atos seria pago, cedo ou tarde.
Nina se mexeu suavemente, despertando. Seus olhos encontraram os
meus, e um sorriso brincou em seus lábios enquanto ela apoiava os braços
em meu peito.
— Como você está se sentindo, bela adormecida? — perguntei,
tentando mascarar a turbulência de pensamentos que ainda me assombrava.
Ela soltou um suspiro e sorriu novamente.
— Dolorida, mas acho que é normal, certo?
Concordei com a cabeça, embora já começasse a ficar preocupado.
— Vou preparar um banho para você. Talvez ajude a aliviar um
pouco.
Levantei-me da cama e fui até o canto do quarto onde ficava a
banheira, tentando focar nas tarefas práticas para não me perder nos
labirintos da minha consciência. Enchi a banheira com água quente,
adicionando algumas gotas de óleo essencial, enquanto Nina observava.
— Você não precisa fazer isso, Luigi. Posso cuidar de mim mesma
— ela disse, mas seu tom era suave e ela parecia um pouco envergonhada.
— Eu sei, mas por que fazer se estou aqui fazendo isso para você?
Deixe-me cuidar de você, tudo bem?
Assentiu levemente.
Ofereci-lhe a mão para ajudá-la a levantar. Nina aceitou com um
agradecimento silencioso, e seguimos para a banheira. Enquanto ela se
acomodava na água, permaneci ali.
Nina suspirou ao sentir a água quente, e eu me permiti sorrir, apesar
do peso que carregava. Percebi que, de alguma forma, aquele simples gesto
de cuidado começava a dissipar parte da tensão que se instalou entre nós.
— Isso está ótimo, obrigada, Luigi — ela disse, seu olhar
encontrando o meu.
— Ótimo. — Ia me levantar, mas seu toque me conteve. — O que
foi?
— Pode se juntar a mim?
Meus olhos encontraram os dela.
— Claro — respondi finalmente, cedendo ao pedido.
Despi-me rapidamente, atraindo um olhar curioso de Nina. Me
encaixei atrás dela e puxei seu corpo para que se deitasse em meu peito. O
calor da banheira e a proximidade física fez com que a excitação me
acertasse com força.
Nina sorriu, e meu coração pareceu se acalmar por um breve
instante. O silêncio entre nós era carregado de sentimentos não ditos, e eu
me questionava se poderíamos encontrar alguma paz naquele momento.
— Você é bastante contraditório, sabia? — ela comentou, quebrando
o silêncio.
Concordei, permitindo que a água morna envolvesse nossos corpos.
O desejo de tocar Nina, de buscar consolo em sua presença, lutava contra a
voz da razão que clamava por responsabilidade.
— Luigi... — começou ela, mas sua voz vacilou.
— Sim? — indaguei, tentando ler seus olhos.
Ela desviou o olhar por um instante antes de se encontrar comigo
novamente.
— Você parece preocupado, como se estivesse em alguma batalha
interna. O que está acontecendo?
Engoli em seco, tentando escolher minhas palavras com cuidado.
— Nina, a situação entre nós é complicada. Sabemos o que isso
implicaria se o seu tio a encontrasse, e não quero que ninguém te
machuque.
— Não é só isso, é? Há algo que você não está me contando.
— Nada que valha a pena ser mencionado — Falar sobre Ana com
ela estava fora de cogitação.
— Você é apaixonado pela minha prima, não é?
— Não, Nina. Não é nada disso. — Respondi com firmeza,
desejando esclarecer as coisas entre nós. — No começo pensei que sim. que
ela poderia suprir a falta, a necessidade que sentia...
Ela me encarou, esperando por uma explicação mais detalhada.
Respirando fundo, decidi abrir uma parte do meu passado que estava
guardada a sete chaves.
— Não é Giulia por quem fui apaixonado, não é ela quem eu amei
desesperadamente ao longo dos anos. Havia outra pessoa antes, alguém que
se parece muito com ela. — Vi uma sombra de surpresa nos olhos de Nina.
— Ana, a irmã gêmea de Giulia. Sua prima também, mesmo que não a
tenha conhecido.
Seus olhos refletiam uma dúvida persistente. Era evidente que havia
mais perguntas em sua mente.
— Eu me apaixonei por Ana, bem antes que ela conhecesse Damon,
mas ela se envolveu com ele e acabou assinando seu atestado de obito e foi
assassinada pelo pai de Damon. Deve ter ouvido as histórias, não é?
Ela apenas assentiu.
Nina ouviu em silêncio, seus olhos fixos nos meus em busca de
compreensão. Era difícil para mim compartilhar essa história, pois ela trazia
consigo uma carga de culpa e remorso.
— Sinto como se estivesse traindo a memória de Ana de alguma
forma. É uma situação complicada, Nina. Não quero que você saia
machucada disso.
Ela absorveu minhas palavras com seriedade, processando tudo que
contei. Depois de um momento, falou com sinceridade.
— É difícil para mim, Luigi. Não é muito fácil sentir como se
estivesse lutando com alguém que nem está aqui por algum espaço na sua
vida. Eu me senti atraída por você, desde o casamento e gostaria de tentar...
— Nina. — A cortei. Minha voz carregava uma melancolia. — Eu
não posso prometer mais do que prazer. É tudo o que posso oferecer neste
momento.
Percebi a mágoa nos olhos dela, uma dor silenciosa que não pude
evitar se não quisesse iludir, ou mentir para ela.
— Nunca esperei um conto de fadas, Luigi. Se é tudo o que tem
para oferecer, por hora, está bom para mim.
A resposta de Nina carregava um peso que reverberava em mim. Ela
estava disposta a aceitar o que eu podia oferecer, mas havia algo na maneira
como ela falou que me avisava que me arrependeria, que ela faria com que
eu me arrependesse. Ainda assim, era o mais honesto que eu poderia ser
naquele momento.
Assisti enquanto ela se levantava da banheira, a água escorrendo por
sua pele, revelando marcas roxas que eram testemunhas silenciosas dos
momentos que compartilhamos. O silêncio entre nós pesava, como se
estivéssemos dançando na borda de um abismo, conscientes de que um
passo em falso poderia nos levar a um lugar do qual não haveria retorno.
Nina começou a se vestir, e eu não pude deixar de notar a maneira
como as roupas ocultavam as marcas temporárias do nosso encontro.
Enquanto ela se preparava para sair do quarto, a necessidade dela de se
alimentar rompeu o silêncio.
— Estou com fome — ela avisou, antes de caminhar até a porta e
sair.
Permaneci ali por alguns momentos depois que ela saiu, absorvendo
a atmosfera carregada do quarto. O desejo por Nina ainda queimava em
mim, mas agora era acompanhado por uma sensação de incomoda. Eu
queria satisfazer minhas vontades, mas não a custo de feri-la, nem físicas
nem emocionalmente.
Saí do quarto quando a água da banheira já estava fria. O corredor
do hotel estava tranquilo quando o atravessei em direção ao restaurante,
diferente da minha mente que estava o puro caos.
Capítulo
14
Os dias que se seguiram no Caribe foram uma mistura intensa de
luxúria e êxtase. Luigi, quando não estava imerso em alguma reunião,
estava dedicado a explorar cada centímetro do meu corpo. Era uma entrega
completa, uma entrega que me deixava exausta e, ao mesmo tempo,
satisfeita de uma maneira que eu nunca tinha experimentado.
Agora, a bordo do jatinho particular de volta à Itália, eu me via
envolvida em uma conversa leve com Luigi. O ambiente elegante da
aeronave criava uma atmosfera íntima, e a conversa fluía como se
estivéssemos em um pequeno universo só nosso.
Luigi quebrou o silêncio, sua voz carregando um toque de
descontração.
— Como está se sentindo, carina[3]?
Olhei para ele, um sorriso dançando em meus lábios.
— Muito casada, mas de um jeito bom. — Dei uma risadinha. —
Você tem uma maneira única de tornar os dias emocionantes.
Ele sorriu, os olhos brilhando com aquela faísca característica.
— Bem, é um talento que desenvolvi ao longo dos anos. Espero que
esteja aproveitando.
— Definitivamente. — Recostei-me no assento, lembrando-me dos
dias de sol e mar no Caribe. — Aquele mergulho em alto mar foi incrível,
não acha?
Luigi assentiu, recordando o momento.
— Sim, a água cristalina, a sensação de liberdade. Foi uma escolha
excelente de passeio, mesmo ainda acreditando que poderíamos ter
aproveitado o tempo de outra maneira.
— Eu já estava dolorida...
— Sim, a água cristalina, a sensação de liberdade. Foi uma escolha
excelente de passeio, mesmo ainda acreditando que poderíamos ter
aproveitado o tempo de outra maneira.
— Eu faria valer a pena. — Me lançou um sorriso de canto de
derreter as calotas polares.
Conversamos sobre os detalhes do mergulho, sobre as cores vívidas
dos peixes e a imensidão do oceano. O jato continuava seu trajeto de volta à
Itália, e estávamos imersos em nossa própria bolha.
— A propósito, sobre a dor... — Luigi começou, sua expressão
carregada de malícia.
— Luigi! — Ri, dando-lhe um leve empurrão.
Ele riu também, e a atmosfera descontraída prevaleceu.
— Talvez possamos encontrar uma maneira mais suave de
aproveitar nosso tempo, especialmente agora que estamos voltando para
casa.
— Isso soa muito agradável. — Concordando, deixei escapar um
suspiro de alívio. — Precisamos encontrar um equilíbrio entre aventuras
emocionantes e momentos mais relaxantes.
Luigi assentiu, seus olhos fixos nos meus.
— Com certeza. Afinal, temos todo o tempo do mundo para
explorar isso juntos.
Senti um aperto no peito com as palavras de Luigi. A tristeza se
instalou brevemente, pois eu compreendia que o que tínhamos era efêmero,
marcado por momentos intensos, mas carente de promessas duradouras.
Sabia que ele me oferecia apenas momentos de prazer, por mais intensos
que fossem, não passaria disso.
Optei por não compartilhar meus pensamentos com ele. Quando
Luigi percebeu a mudança em minha expressão e perguntou sobre isso,
forcei um sorriso e desviei o olhar.
— Não é nada, Luigi. Apenas me perdendo em pensamentos. Acho
que o jet lag está começando a me atingir.
Tentei disfarçar a melancolia, desviando a conversa para assuntos
mais leves.
Chegamos à mansão, e a imponência da propriedade de Luigi
sempre me surpreendia. Assim que entramos, Luigi informou que teria que
passar as próximas horas lidando com assuntos da famiglia e que eu ficaria
sozinha por um tempo. Assenti, fui criada dentro da máfia e entendo seu
envolvimento com os negócios.
Horas depois, após um breve descanso em meu quarto, decidi avisar
Giulia sobre minha chegada. Pouco tempo depois, ela apareceu, exibindo
sua típica elegância e calor humano.
— Nina, querida, quanto tempo! — Giulia exclamou, abraçando-me
com entusiasmo. — Como foi a viagem?
— Foi interessante, Giulia. O Caribe é incrível, mas, bem, muita
coisa aconteceu por lá.
Ela arqueou uma sobrancelha, percebendo minha expressão mais
séria.
— Muita coisa como...?
— Bem, você sabe como é, coisas inesperadas e descobertas
surpreendentes.
— Você está me deixando curiosa, Nina. O que aconteceu?
Suspirei, decidindo ser direta.
— Conheci o Caribe, mas também conheci mais profundamente a
complexidade que é Luigi e seus dilemas. Estamos “juntos”, mas é
complicado.
Giulia franziu a testa, preocupada.
— Complicado como?
— Ele me oferece prazer, Giulia, momentos intensos, mas
passageiros. Sinto que, no fim, terei menos do que no começo e um coração
ainda mais machucado.
Giulia assentiu, compreendendo a situação.
— E como você se sente em relação a isso?
— Confusa, Giulia. Acho que estou tentando entender o que
realmente quero e o que estou disposta a aceitar.
Ela segurou minhas mãos com carinho.
— Nina, estar com um homem envolvido na máfia não é fácil. São
muitos desafios, perigos e segredos. Luigi vive em um mundo complexo,
onde as linhas entre certo e errado muitas vezes se tornam borradas. Você
melhor do que ninguém sabe disso.
Concordei.
— Eu sei que é complicado, Giulia. Mas sinto que não há nada real
entre nós.
Ela me olhou com um sorriso entendido.
— Às vezes, é difícil enxergar a verdade quando estamos no meio
de tudo. Luigi foi apaixonado pela minha irmã, buscou sua vingança e
agora está sem propósito, se enfiou de cabeça na Camorra e tem isso como
o norte em sua vida.
Fiquei em silêncio por um momento, processando suas palavras.
— Nina, pelo que me disse, ele sentiu ciúmes de você. Por isso agiu
daquela maneira.
— Você acha?
Ela riu suavemente.
— Querida, os homens desse mundo têm um jeito peculiar de
demonstrar suas emoções. Ciúmes, nesse caso, pode ser um indício de que
ele se importa mais do que admite. Homens como Luigi têm dificuldade em
ser vulneráveis, mas as ações falam mais alto.
Eu ponderava sobre suas palavras quando Giulia continuou:
— Não estou dizendo que será fácil, Nina. Haverá desafios,
momentos difíceis, mas se há uma chance de encontrar algo real, vale a
pena tentar. Desistir antes mesmo de começar pode deixar arrependimentos.
Assenti, agradecendo pela sua sinceridade e apoio.
— Você acredita que pode haver algo real entre nós, mesmo com
toda a parte ruim que esses mafiosos têm?
Giulia olhou diretamente nos meus olhos.
— Acredito, Nina. Mas só você pode decidir se está disposta a
enfrentar o desconhecido e descobrir.
Luigi entrou na sala, o que interrompeu nossa conversa, e
imediatamente senti a atmosfera mudar. Seus olhos, antes calorosos para
mim, adquiriram uma dureza perceptível na presença de Giulia.
— Giulia, você não pode aparecer assim. Pode chamar a atenção de
Damon. — Ele disse, sua voz mais fria e formal.
Ela levantou uma sobrancelha com um sorriso travesso.
— Relaxa, Luigi. Ele pensa que estou na empresa.
Luigi cruzou os braços, sua expressão séria.
— Você acha mesmo que Damon chegou à posição de Don sendo
ingênuo? Ele presta atenção a detalhes, Giulia, especialmente quando se
trata de você.
Giulia rolou os olhos, claramente contrariada.
— Sou a única pessoa aqui que ela tem, Luigi, não posso deixá-la
sozinha.
— Ela tem a mim. — Olhei para ele surpresa com a resposta.
Era evidente a dinâmica peculiar que existe os dois. Uma tensão
sutil pairava no ar, e eu me sentia como uma espectadora desconfortável de
uma dança complexa, cheia de segredos e lealdades divididas.
— Giulia, se Damon desconfiar que a Nina está aqui, ele não
hesitará em contar ao Dmitry. Isso a coloca em perigo, e eu não vou
permitir isso. Prometi que cuidaria dela e é o que estou tentando fazer.
Giulia franziu a testa, demonstrando irritação.
— Eu me lembro, fui eu quem pedi, mas não posso simplesmente
abandoná-la.
— Isso não é sobre abandonar ninguém. É sobre evitar problemas
desnecessários. Você precisa ser mais cautelosa.
Estava claro que havia tensões e rivalidades que ultrapassavam meu
entendimento. Eu não podia evitar me perguntar se minha presença ali
estava causando mais problemas do que eu imaginava.
Capítulo
15
— Luigi, meu amigo, você parece mais relaxado. Os dias no Caribe
fizeram maravilhas para você. O que aconteceu por lá?
— Hettore, você sabe que estava lá a negócios, fiz uma breve pausa,
e, de fato, foi revigorante. — Respondi tentando não entrar em detalhes,
mas Hettore parece ter um faro aguçado para notar quando estou tentando
desviar do assunto.
— Claro, claro. Mas algo mais aconteceu, não é? — Seu semblante
ficou mais sério. — Cuidado, irmão, muito cuidado.
— Não há nada que precise me preocupar referente a viagem.
— Luigi, você está cego? — Hettore cruzou os braços, seu tom
agora mais sério. — Esconder uma mulher na Camorra, ainda mais uma que
você claramente não vê apenas como um rosto bonito, é um risco. E se
Dmitry descobrir?
— Ele não vai descobrir. — Minha resposta foi firme, mas havia
uma sombra de incerteza em meu tom.
— Você está arriscando demais, meu amigo. E por quê? Por uma
mulher?
— Hettore, você não entende. Nina não é só mais uma mulher. Ela...
— ...é um risco. Você já deixou suas emoções nublarem seu
julgamento uma vez. Não cometa o mesmo erro novamente.
— Eu sei o que estou fazendo. — Minha paciência estava se
esgotando.
— Isso é o que você sempre diz, e geralmente acaba em problemas.
Dmitry não é um tolo, Luigi. Ele vai perceber qualquer movimento errado.
E se Damon souber das visitas da esposa grávida, coisa que eu acredito que
já sabe, acha que ele não vai ligar um mais um?
— Eu vou cuidar de Giulia, pedir que não venha mais. — Minha
determinação era inabalável.
Hettore soltou um suspiro de frustração.
— Luigi, às vezes você age como se fosse invencível desde que Ana
se foi. Mas a realidade é que todos têm pontos fracos, e essa mulher pode
ser o seu.
— Ela não é um ponto fraco. — Minha voz ficou mais áspera.
— Ser o Capo da Camorra é perigoso, Luigi, você sabe quantos
gostariam de tomar se lugar. Jogar com o coração pode custar caro. Pense
nisso.
— Temos mais assuntos a tratar, Hettore, eu sei que você é capaz de
lidar com problemas, mas o que diabos aconteceu aqui? — Perguntei,
minha preocupação indo além das minhas próprias questões pessoais.
Hettore suspirou, pesando suas palavras.
— Aparentemente, alguém aproveitou sua ausência para testar
nossas defesas. Tivemos algumas tentativas de invasão no território. E não
foram amadores. Eles sabiam exatamente onde atacar para encontrar as
brechas.
Minha testa se franziu enquanto eu processava a informação.
— Como você lidou com isso?
— Com a eficiência de sempre, Luigi. Você treinou bem os homens.
Mas aqui está o ponto: isso não foi um ataque aleatório. Alguém está nos
observando, estudando nossos movimentos. Eles querem nos desestabilizar.
O timing perfeito dos ataques enquanto eu estava fora, a precisão
nos alvos. Sentir que estava entrando em algum jogo, sem saber quem é
meu oponente, me deixa irritado.
— Precisamos descobrir quem está por trás disso antes que a
situação saia do controle. — Hettore fixou os olhos em mim, sério.
— Estamos trabalhando nisso. — Ele deu as costas indo em direção
a saída. — Se quiser continuar escondendo a menina, é bom que fale com
Giulia, ela está aqui novamente. — Ele inspirou com força. — E Damon
pediu para marcar uma reunião com você na próxima semana.
Hettore estava certo, alguém estava nos observando, e isso não
poderia ser coincidência. Cada ataque meticulosamente planejado enquanto
eu estava no Caribe só aumentava minha frustração e a urgência em
descobrir de onde vinha essa ameaça.
Enquanto meus homens estavam ocupados reforçando a segurança e
investigando possíveis ameaças, eu me via dividido entre dois mundos. Um,
onde a segurança da famiglia estava em jogo, e o outro, onde uma mulher
vulnerável podia estar em perigo, especialmente agora que Giulia estava
aqui novamente.
A fúria rugia dentro de mim, uma tempestade turbulenta. Precisava
proteger Nina a todo custo, mas ao mesmo tempo, não podia ignorar a
realidade de que minhas ações poderiam trazer consequências graves para
todos nós. A visita constante de Giulia trazia o risco de Damon descobrir, e
Dmitry poderia, a qualquer momento, encontrar Nina aqui.
Saí da sala em passos pesados, a mente girando com a
responsabilidade e a incerteza do que estava por vir. Enquanto avançava
pelo corredor, abri a porta e lá estava Giulia, que parecia ignorar o problema
que poderia causar.
Depois da discussão, Giulia finalmente foi embora, me virei para
Nina, meus olhos refletindo a intensidade da tempestade que se formava
dentro de mim.
— Giulia precisa ser mais discreta. Damon não é nenhum idiota; ele
provavelmente já sabe que você está aqui. Não podemos arriscar tudo pelas
visitas frequentes de sua prima. — Minha voz era firme, a preocupação
transbordando. — Se Dmitry souber, podemos ter uma guerra batendo a
nossa porta enquanto ainda estamos trabalhando para saber quem está
tentando invadir meu território!
Minhas palavras saíram em um rosnado controlado, uma tentativa
de alertá-la sobre a gravidade da situação. Ela franziu a testa, sem perceber
completamente o perigo.
— Luigi, eu entendo. Mas ela é minha família, a única que eu tenho
para conversar, desabafar...
— Converse comigo, tenha a mim como sua família, alguém com
quem você pode contar. — Tentei acalmá-la, mas a resposta dela
desencadeou uma nova onda de frustração.
Ela sorriu tristemente.
— Nem tudo posso conversar com você. — Senti a raiva aumentar.
Ela não percebia o risco que sua prima representava, nem a ameaça
iminente que pairava sobre nós.
— Nina, eu não quero que algo aconteça a você por causa de
escolhas impulsivas. Eu estou tentando proteger você, proteger a todos nós.
— Minhas palavras carregavam um apelo desesperado.
Ela suspirou, parecendo desanimada.
— Luigi, eu sei que você está tentando, mas também preciso de
alguém em quem confiar. Giulia é tudo o que me restou de família.
Minha paciência estava se esgotando, e a sensação de estar preso
entre dois mundos intensificava minha frustração. Eu queria protegê-la, mas
parecia que tudo o que fazia estava prestes a desmoronar. O perigo rondava,
e a minha maior preocupação era como manter Nina segura sem
comprometer tudo pelo qual lutamos na Camorra.
Estava dividido entre Nina e a segurança da famiglia. Dois mundos
que pareciam colidir, cada um exigindo mais da minha atenção e ação.
Diante da resposta de Nina, a raiva cresceu dentro de mim como
uma chama avassaladora. Eu precisava conter o ímpeto que ameaçava me
fazer perder o controle. Segurei a borda da mesa com força, tentando
manter a compostura.
— Você quer ser descoberta? — A pergunta saiu em um tom mais
áspero do que eu pretendia.
Ela me encarou, firme, mas com tristeza nos olhos.
— Luigi, eu não quero ser descoberta, mas preciso partir o mais
brevemente possível. Nada do que aconteceu entre nós muda o que eu tenho
que fazer. Preciso buscar o lugar que será minha casa. Você sabia desde o
início que minha estadia seria temporária.
Aquelas palavras me atingiram como um soco no estômago. Ela
estava certa, mas a realidade do que significava começava a pesar sobre
mim. Mesmo que soubesse que ela teria que ir embora em algum momento,
a ideia de perdê-la tão rapidamente me deixava desesperado.
— Nina, por favor, pense com cuidado. Você não está segura lá fora.
Dmitry não é alguém que podemos subestimar. Ele vai procurar você, e não
sabemos até onde ele está disposto a ir.
Ela suspirou, como se a decisão já estivesse tomada.
— Luigi, eu aprecio tudo o que você fez por mim, mas eu preciso
fazer isso. Preciso encontrar meu lugar, minha identidade, longe de tudo
isso.
Diante da resposta de Nina, uma explosão furiosa de emoções
tomou conta de mim. Eu não conseguia conter a tempestade que se agitava
dentro do meu peito. A raiva, o desespero, a frustração, tudo borbulhava
como um vulcão prestes a entrar em erupção.
— Partir? Depois de tudo? — Minha voz soou mais áspera do que
eu pretendia, carregada de uma mistura de indignação e desespero. — Você
acha que pode simplesmente partir e seguir em frente como se nada tivesse
acontecido?
Ela manteve o olhar firme, mas havia uma tristeza nos seus olhos
que refletia a tormenta dentro dela também.
— Luigi, eu não posso ficar aqui para sempre. Eu... eu me conheço,
sei que não aguentarei isso, as coisas da forma que estão, por muito tempo.
Nós somos apenas passagens temporárias na vida um do outro.
Aquelas palavras foram como uma facada direto no meu peito. Eu
queria gritar, queria implorar para que ela reconsiderasse, mas a sensação de
impotência era avassaladora.
— Apenas passagens temporárias na vida um do outro... — Repeti
sentindo um gosto amargo na boca.
A frustração me engolia enquanto lutava para processar a ideia de
perdê-la. Não conseguia aceitar mesmo sabendo que era o certo a fazer..
— Eu não vou permitir que você vá embora. — Minhas palavras
saíram como um rosnado, e meu autocontrole começava a se desintegrar. —
Você não pode simplesmente partir.
Nina permaneceu de pé diante de mim, mas as lágrimas começaram
a se acumular nos seus olhos.
— Luigi, por favor, entenda...
Antes que ela pudesse concluir, minhas mãos se fecharam em
punhos, e um impulso irracional tomou conta de mim. Em um movimento
rápido e impulsivo, segurei-a pelos cabelos, trazendo seus lábios de
encontro aos meus em um beijo desesperado, como se assim, pudesse
impedi-la de partir.
Capítulo
16
Minha mão desce por sua barriga e deslizo meus dedos em sua pele,
parando apenas quando se espalma sobre sua boceta, a qual desejo
desesperadamente desde que a tive pela primeira vez.
Ela arfa e geme com mais luxúria enquanto ergo seu vestido,
despertando meus instintos, como apenas ela consegue fazer, quando meu
dedo raspa sua calcinha molhada, tendo a sala inteira inundado com seu
doce cheiro.
— O que você quer, Nina? — Beijo seu pescoço e empurro dois de
uma única vez em sua boceta molhada. — Me quer aqui?
— Por favor... — ela choraminga e balança sua cabeça para os lados
em negativo, tentando segurar meu pulso para os afastar. — Você não pode
usar sexo para ter o que quer... preciso...
— Que te foda, talvez, aqui... — Puxo seu rosto e tomo sua boca,
deixando minha língua invadir seus lábios, roubando seus gemidos para
mim.
Em toda a minha vida, nada me parece tão perfeito quanto sentir seu
corpo quente vibrando contra o meu. Ela treme quando meus dedos saem da
sua boceta, e escorrego minha mão pela lateral do seu corpo, parando em
sua bunda e apertando seu rabo em meus dedos.
— Ou aqui... — rosno baixo, com meu peito se estufando devido a
respiração pesada e lambo sua garganta. — Me diga que não é isso o que
precisa agora, Nina. — Meus dedos se movem, parando em sua nuca,
mantendo-a colada ao meu corpo. Com a outra massageio seu rabo,
empurrando meus dedos entre as nádegas até sentir seu cu, fazendo lentos
círculos sobre ele.
— Luigi... — Suas palavras se entrecortam e ela gemeu alto no
segundo que empurro meu dedo para dentro do seu rabo, devagar, puxando-
a pela nuca em direção aos meus lábios.
Meu corpo incendeia, como se o fogo do Inferno estivesse
queimando minha pele, meu desejo mais ardente do que nunca. A afasto um
pouco e a encaro.
— Diga-me o que deseja, peça o que for e te darei! — Fecho meus
olhos quando o toque suave da sua mão passa por meu corpo.
— Você, eu desejo você! — sibila, trazendo o rosto de mansinho
para perto do meu. — Eu quero você!
Sorrio sabendo que consegui o que quero.
— Oh... — Ela se assusta, dando um gritinho de surpresa quando a
seguro pela cintura, tirando-a do chão e colocando-a em cima da mesa. — E
se alguém entrar aqui? — Olhou assustada para a porta.
— Se alguém entrar aqui está morto! — Beijei seu pescoço e ela
jogou o pescoço para trás dando-me mais acesso a sua pele. Mas peço
através dos comunicadores que as câmeras da minha casa sejam desligadas
até a segunda ordem.
Um gemido manhoso escapa dos seus lábios. Meu braço prende
firme seu quadril, e meu pau roça o interior de suas pernas. Nina rebola,
projetando o quadril para frente buscando mais contato.
Guiado pela urgência do desejo, nossos lábios se unem em um beijo
voraz, onde a fome e a paixão se entrelaçavam. Cada toque era carregado de
eletricidade, enquanto minhas mãos exploravam a pele macia. O calor entre
nós aumentava, impulsionado pela intensidade do momento.
Com uma destreza estudada, retirei o punhal que fica sempre em
minha cintura, deixando-o deslizar pelas curvas do vestido dela, revelando
seu corpo nu, quase pecaminoso, diante dos meus olhos.
Ao perceber o tecido cedendo, um sobressalto percorreu o corpo de
Nina, seus olhos expressando uma mistura de surpresa e excitação. Um
pequeno fio de sangue emergiu na barriga lisa. Passei a língua de maneira
suave sobre o rastro carmesim, sentindo o sabor metálico contrastando com
o calor da pele.
Um gemido sutil escapou dos lábios dela ecoando no ambiente, seus
lábios entreabertos revelando um suspiro carregado de desejo. Seu olhar,
fixo no meu, transbordava uma intensidade visceral, uma mistura de
curiosidade e entrega.
Nina encarava-me de maneira provocante, como se estivesse me
desafiando a continuar. Sua respiração entrecortada mostrando o quanto
estava ansiosa por meus toques, assim como eu também estava desejando
tocá-la.
A deitei sobre a mesa, e coloquei suas pernas para cima, deixando-a
completamente a minha disposição.
— Não vou te deixar partir, Nina… — Minha voz não passava de
um sussurro conforme me abaixava, em direção a sua boceta. Inspirei seu
cheiro e senti seu corpo estremecer.
Nina se apoiou sobre os cotovelos para me assistir, enquanto meus
olhos não deixavam os seus. Meus lábios roçaram a parte interna de sua
coxa, espalhei beijos, passei a língua, mordendo algumas vezes em seguida.
Ele estava ofegante, vermelha. Linda pra caralho.
Cansado de nos torturar, cheguei ao meu destino. Arranquei sua
calcinha com um só puxão.
— Cazzo! — O gosto dela com certeza me viciaria.
Nina ofegou ao sentir o primeiro contato da minha língua sobre seu
clitóris. Foi intenso, lento, e eu queria muito mais. Ela deitou a cabeça para
trás sentindo o prazer que estava lhe proporcionando, gemendo meu nome e
palavras incoerentes.
Agarrei suas coxas, deixando a sutileza de lado, e a fodi com a
língua, empurrando em seu canal apertado, saindo, chupando, lambendo,
mordendo, enquanto seu corpo vibrava e serpenteava em cima da mesa.
Ela levou uma mão à boca, tentando calar os gemidos. Aquilo só me
incentivou ainda mais. Minha língua girou várias e várias vezes sobre seu
clitóris, meus dedos acariciaram sua entrada e depois arrastei um de meus
dedos até sua bunda gostosa. Ela se retesou, mas não reclamou. Colocou
uma das mãos sobre meus cabelos, puxando-o, incentivando-me para que
eu continuasse chupá-la. Ela dançava com os quadris contra minha boca,
rebolando contra minha língua enquanto eu a tocava em todos os lugares
que eram possíveis.
Mantive o ritmo, e não parei enquanto a sentia perder
completamente o controle de seu corpo. Seu interior se contraiu em torno de
meus dedos e ela gemeu. Sua respiração acelerou e ela gritou, gozando
intensamente em minha boca. Continuei chupando até sentir seu corpo se
acalmar, então mordi o interno de sua coxa e subi beijando todo seu corpo
até colar nossos lábios novamente, fazendo-a provar de seu próprio gosto.
— Você... — ela começa ainda ofegante.
— Eu? — Abro meu melhor sorriso.
Ela se levantou e puxou meu corpo para si, sentindo meu pau roçar
em sua boceta sensível e arrancando de mim um gemido involuntário. Sua
mão segurou meu pau por cima da calça e ela olhou em meus olhos.
— Minha vez...
Ficou de quatro, com a bunda empinada e o rosto na altura do meu
quadril. Suas mãos tremulas libertaram meu pau que já pulsava
dolorosamente na calça. Envolveu a grossura com a mão e o apertou um
pouquinho, fazendo-me gemer e descer um tapa ardido contra sua bunda,
isso pareceu excitá-la ainda mais.
Fez o primeiro o movimento de sobe e desce, devagar, acariciando-
me da base ao topo e voltando. Repetiu isso algumas vezes, antes de
aumentar o ritmo, masturbando-me ao mesmo tempo em que colocava a
língua para fora e brincava com a cabeça do meu pau, lambendo,
colocando-o na boca e tirando com alguma pressão.
Ela queria me enlouquecer, estava bem claro para mim. Perdendo
completamente o controle, agarrei seus cabelos, puxando-a com brutalidade
pela nuca, forçando-a a sair de cima da mesa e caminhar comigo até o sofá.
Sentei-me na beira, a coloquei de joelhos em minha frente e, com a
mão livre, segurei seu queixo dando-lhe um beijo rápido.
Quando afastei o rosto do dela, segurei meu pau na frente de sua
boca, esfregando-o em seus lábios carnudos.
— Quero ver você olhando para mim enquanto me chupa, gostosa.
Seus olhos faiscaram no meu e ela engoliu seco.
Quase a engasguei quando tentei forçar tudo até o fundo de sua
garganta, mas era impossível para ela me colocar inteiro na boca, pelo
menos, naquela posição. Ainda assim, ela me levou a loucura com aquela
boca quase pecaminosa.
— Cazzo! Nina... — rosnei quando a puxei pelos cabelos para ficar
com o rosto na altura do meu. A beijei de maneira agressiva e insana e
caótica como nós dois. — Se você não parar agora, vou encher sua garganta
com a minha porra, mas depois vou ter o prazer de levar horas te comendo,
até gozar dentro de você.
Ela faz menção a continuar, mas eu preciso estar dentro dela. A ergo
do chão, carregando-a em meus braços. Caminho a passos largos até meu
quarto. O meu quarto. Não o quarto para minhas visitas, eu sequer pensei
nele antes de me ver parado diante da minha porta.
— Luigi, estou nua, alguém pode me ver... — Sua voz alarmada me
traz de volta e eu abro a porta.
Capítulo
17
Luigi me deitou delicadamente em sua cama. Seus olhos, intensos e
famintos, vagavam pelo meu corpo como um leão prestes a devorar sua
presa. Cada movimento do seu olhar deixava um rastro de fogo,
incendiando a pele e despertando sensações que eu mal compreendia.
Era como se ele pudesse ler cada pensamento oculto, cada desejo
sussurrado pelo meu corpo. A atmosfera estava carregada de eletricidade, e
eu me via capturada por aquele olhar penetrante. Sua expressão misturava
luxúria e uma espécie de possessividade que me fazia questionar até onde
isso iria.
Em meio à intensidade daquele momento, a vulnerabilidade se
entrelaçava com o desejo, e eu me sentia nua não apenas diante de seus
olhos, mas também diante das emoções que ele despertava em mim. Estava
prestes a me perder naquele fogo que ardia entre nós, mas, ao mesmo
tempo, uma sensação de urgência pairava no ar.
Sua figura imponente se desnudou diante dos meus olhos. A visão
da pele exposta dele, marcada por força e autoridade, era uma provocação
visual que despertava um desejo insaciável em mim. Seu corpo se inclinou
sobre o meu, engolindo-me em sua presença.
Seus lábios tomaram os meus em um beijo rude e urgente. Cada
traço de delicadeza desapareceu na voracidade daquele contato. Seu beijo
era uma tempestade que me envolvia, e eu me entregava à sua intensidade
com igual loucura.
A carícia dos lábios de Luigi, ásperos e famintos, era acompanhada
pela pressão do seu corpo sobre o meu. Era como se ele quisesse marcar
cada centímetro da minha pele com a sua presença, reivindicando-me sem
fazer uso das palavras.
— Luigi...
— O que? — pergunta, a voz rouca enviando arrepios pela minha
espinha.
— Por favor.
— O que quer, Nina? — Ele desce, trilhando um caminho de beijos
até meus seios e suga um dos meus mamilos, perdendo-o entre os dentes
fazendo com que eu me contorça como posso abaixo de seu corpo forte.
— Eu preciso de você dentro de mim — imploro tentando me
mover. Ele abre um sorriso satisfeito e morde o outro mamilo, fazendo o
que resta do meu juízo ser arremessado para longe.
— Não precisa pedir novamente, il mio prezioso gioiello[4] — seus
olhos prolfundos me fitam. — Se tem uma coisa que desejo
desesperadamente neste exato momento, é enfiar o pau por completo na sua
boceta molhada.
Meu corpo estremece de tesão.
Luigi toma meus lábios para si, enquanto uma de suas mãos
massageia meu seio e a outra se ocupa de encaixar a cabeça de seu pau em
minha entrada. Com uma única estocada firme, Luigi me soca fundo.
Gemo dentro de sua boca e ele sai quase por completo, apenas para
entrar de novo, enterrando o pau grosso até a base. Um som rouco e
poderoso escapa de sua garganta e ele aumenta a velocidade e a força das
estocadas.
Ele puxa meus cabelos e morde meu pescoço, a mistura de dor e
prazer me deixa beirando a insanidade.
— Você me enlouquece, Nina. — Dito isso, mete com mais força.
um novo gemido ameaça escapar, mas ele cobre meus lábios com os seus
novamente. Seu beijo é agressivo, tão forte quanto ele. Puxo seus cabelos e
o beijo de volta.
Luigi intensifica suas investidas, e tudo o que posso ouvir são meus
gemidos, o som dos nossos corpos se chocando e nossas respirações
aceleradas. Sinto o calor se intensificar em meu ventre, o orgasmo se
aproximando. Ele percebe e aumenta seus movimentos, agarrando meus
cabelos com mãos força.
— Olhe para mim! — praticamente rosna a ordem entre os dentes.
— Eu quero te ver gozar no meu pau, Nina.
Encaro suas íris escuras, me perdendo dentro do fogo que vejo
presente ali. E com mais uma estocada firme e funda, seu rosto sai do meu
foco ao sentir o orgasmo me atingir com força. Ele geme no momento em
que as paredes internas do meu corpo o comprimem com força e arqueio o
quadril fazendo com que ele se enterre ainda mais fundo. Grito seu nome e
cravo as unhas em suas costas suadas.
Luigi mete mais uma, duas, três vezes, até que o sinto pulsar dentro
de mim. Continuo olhando para ele vendo-o alcançar o próprio ápice. Seu
rosto se contorce enquanto um gemido rouco escapa de sua garganta. Sinto
o líquido quente se espalhar dentro de mim, antes de escorrer entre minhas
pernas. Ele desaba em cima de mim e afunda seu nariz na curva do meu
pescoço. Inspiro o cheiro amadeirado de sua pele completamente satisfeita.
Ele se deita ao meu lado e me puxa contra se peito. Acomodo-me
em seu abraço, e fecho os olhos. Adormeço rapidamente depois de controlar
a minha respiração, enquanto seus dedos acariciam meus cabelos.

Mudei-me definitivamente para o quarto de Luigi, e a convivência


entre nós tornou-se algo quase natural, apesar do apetite insaciável que ele
parecia ter por mim. Não havia sossego quando estávamos juntos, mas,
estranhamente, aquela agitação constante estava se tornando familiar. Cada
cantinho do quarto começava a carregar as marcas da nossa presença
conjunta. O cheiro do perfume dele misturava-se ao meu, as roupas dele
pendiam lado a lado com as minhas no armário.
Enquanto preparava o almoço, percebi como essa rotina começava a
se enraizar. A sombra do medo de ter que partir a qualquer momento
sempre pairava sobre mim, lembrando-me que essa paz momentânea
poderia ser interrompida a qualquer momento, mas, por ora, a sensação de
segurança me envolvia, era quase como se, em meio a esse mundo caótico,
estivéssemos criando uma pequena bolha de normalidade.
Luigi entrou na cozinha com a seriedade característica, seus olhos,
intensos como sempre, focaram-se em mim e eu sorri.
— O que acha d cheiro?
— Não poderei almoçar com você hoje, Nina. Precisarei ir a uma
reunião.
— Reunião de novo? Você mal tem tempo para respirar. —
Comentei, tentando esconder a pontada de desapontamento em minha voz.
Um sorriso gentil surgiu nos lábios dele, como se soubesse ler cada
nuance de emoção no meu rosto. Ele se aproximou, capturando minha
cintura com mãos firmes, e depositou um beijo suave em minha testa.
— Infelizmente, os negócios não esperam. — A resposta dele foi
carregada de uma resignação que eu aprendi a conhecer bem. — Mas assim
que terminar, vou querer algo delicioso preparado por essa chef talentosa.
— O sorriso dele amenizou a frustração, mas não a dissipou
completamente.
Assenti, mesmo que a frustração ainda estivesse presente.
Os assuntos da máfia eram parte do nosso cotidiano, mas cada
ausência dele deixava um vazio que nenhuma quantidade de momentos
apaixonados conseguia preencher por completo. As noites tornavam-se um
teatro de desejos satisfeitos, onde nossos corpos se uniam como se o tempo
estivesse suspenso.
O tempo parecia passar rápido demais, e os dias que passei na
mansão, tornaram-se meses em um piscar de olhos. Em meio a rotina que
construímos, percebi que Luigi era como um livro aberto em alguns
aspectos e um enigma em outros. Seu olhar penetrante, muitas vezes
refletindo uma intensidade que eu não conseguia decifrar completamente,
despertava uma curiosidade constante. O mistério por trás da máscara de
líder impiedoso da máfia acrescentava mais complexidade à nossa ligação.
A visita de Giulia, se tornou menos frequente, embora
aparentemente fosse inofensiva, começava a gerar um desconforto em Luigi
que ficava sempre alerta para as possíveis ameaças. Era como se
estivéssemos dançando na borda de uma faca afiada, tentando equilibrar
nossas vontades com a necessidade de manter meu segredo . E nos
momentos em que Luigi me deixava sozinha, era quando eu mais queria
poder ter minha família por perto, até mesmo meu tio, que eu tanto sentia
saudade.
Capítulo
18
O quarto estava imerso em uma serenidade pós-sexo, como se os
ecos de nossos suspiros e gemidos ainda flutuassem no ar. Os lençóis
desarrumados testemunhavam a intensidade que há pouco preenchia o
espaço, agora silencioso. Em meu peito, Nina descansava, com a respiração
ainda acelerada Seus cabelos caíam de maneira descontraída sobre mim, e
seus olhos, antes carregados de desejo, agora exibiam um lampejo de
tranquilidade.
Meu olhar vagou pelo corpo de Nina, vagando pelas curvas que eu
conhecia tão bem.
Com cuidado, eu a aconcheguei mais perto, meu corpo se
encaixando naturalmente ao dela. A pele dela sob os meus dedos era um
convite à exploração, uma textura que eu saboreava enquanto deixava meus
sentidos absorverem cada detalhe.
O olhar de Nina, antes carregado de luxúria, agora era um reflexo
tranquilo do prazer que compartilhamos. Seus dedos traçavam padrões
suaves em minha pele, uma linguagem silenciosa que falava de
cumplicidade e entendimento.
No silêncio que nos envolvia, palavras tornaram-se desnecessárias.
O quarto era um refúgio onde nada do mundo exterior importava.
A luz suave da lua iluminava o quarto quando me virei na cama para
encarar Nina, cujos olhos ainda guardavam um resquício do prazer que
compartilhamos. Um sorriso brincou em meus lábios enquanto acariciava o
rosto dela.
— Você está pensativo. Algum lugar distante ocupando sua mente?
Ajeitei-me um pouco e olhei nos olhos dela.
— Sim, há algo que preciso te contar. Tenho uma viagem de
negócios marcada para amanhã. Serão apenas três dias, mas é um lugar para
onde preferiria que você não fosse junto.
A expressão dela muda sutilmente, passando de satisfação para
curiosidade. Ela uniu as sobrancelhas, esperando que eu explicasse mais.
— Vou para Chicago resolver alguns assuntos relacionados aos
negócios da família. Há certas questões delicadas que precisam da minha
atenção pessoal, e sua presença não seria apropriada e poderia até ser
descoberta, já que seu tio também tem negócios por lá.
Ela franziu a testa levemente.
— Por que não posso ir com você? Eu poderia ser útil.
Soltei um suspiro.
— Não é sobre utilidade, Nina. É sobre segurança. Chicago é um
território complicado, cheio de rivalidades e alianças frágeis. Eu preciso
resolver algumas pendências sem trazer mais atenção do que o necessário.
Nina pareceu ponderar minhas palavras por um momento antes de
responder.
— Eu posso cuidar de mim mesma. Sou cuidadosa e detesto ficar
longe de você.
Sorri.
— Eu não duvido da sua capacidade, Nina, mas esse é um terreno
que conheço muito bem, envolver você nisso seria um risco desnecessário.
Ela suspirou, evidentemente insatisfeita com a resposta.
Meu olhar encontrou o dela, e a sinceridade em suas palavras tocou
algo profundo dentro de mim.
— Tudo bem, Luigi. Eu entendo. Mas não gosto disso.
Sorri, inclinando-me para beijar suavemente sua testa.
— Eu também não gosto, il mio prezioso gioiello, mas prometo que
será rápido. Três dias, e estarei de volta. Deixarei Hettore aqui para tomar
conta de você.
A luz da manhã infiltrava-se pelas cortinas entreabertas, lançando
uma aura suave no quarto. Ao acordar, a presença de Nina ao meu lado, de
alguma maneira, havia se tornado parte integrante da minha rotina. Sua
figura adormecida era uma visão de tranquilidade, e eu já estava me
perguntando se conseguiria lidar com a ausência dela nos próximos dias.
Tentei acordar Nina com gentileza, sugerindo que fossemos tomar
banho, mas ela recusou com uma suavidade sonolenta.
— Estou muito cansada, quero dormir um pouco mais.
— Tudo bem.
Dirigi-me ao banheiro, deixando a água escorrer pelo corpo. Sob o
calor reconfortante, permiti-me refletir sobre a dimensão que a presença de
Nina havia tomado em minha vida. Ela se infiltrou nos recantos mais
sombrios do meu mundo, desafiando a lógica fria e calculista que eu
mantinha.
Os pensamentos sobre o que éramos, sobre o que estava
acontecendo, dançavam em minha. Os sentimentos que Nina despertava em
mim eram complexos, um enigma que eu ainda não havia decifrado por
completo.
Ao sair do banho, meus olhos encontraram Nina adormecida, e algo
nela me fez parar por um momento. Sua beleza nua, vulnerável, era uma
visão que nunca deixava de me maravilhar. Uma onda de desejo e
preocupação, percorreu meu ser.
Decidi acordá-la, sabendo que teria que partir em breve. Aproximei-
me da cama, e meu coração errou uma batida enquanto eu contemplava a
beleza serena de Nina. Com cuidado, inclinei-me para beijar sua testa, um
gesto carregado de um afeto que eu nem sabia que era capaz de sentir. Ela
murmurou algo ininteligível, mas um sorriso brincou em seus lábios.
— Nina, está na hora de acordar. Tenho que ir, e não quero sair sem
me despedir de você.
Seus olhos se abriram lentamente, e um brilho reconhecível surgiu
quando me viu. Sorriu, ainda sonolenta, enquanto a realidade da partida
começava a se infiltrar em sua consciência.
— Luigi... já?
— Sim, piccola[5]. Ficarei o mínimo de tempo possível. — Toquei
seu rosto com suavidade. — Quero que se cuide, que não faça nada que
possa colocar sua segurança em risco. Prometa.
Ela assentiu, mas um toque de melancolia tingiu seus olhos.
— Prometo. Mas vou sentir sua falta.
Beijei-a novamente, desta vez nos lábios, sentindo o sangue virando
lava nas veias. Deixei o quarto, pensando justamente em ir atrás de Hettore,
mas o encontrei no corredor próximo ao meu quarto, e a seriedade em seu
olhar indicava que algo estava em sua mente. Cumprimentei-o, mas antes
mesmo que eu pudesse abrir a boca, ele tomou a iniciativa.
— Luigi, vejo que a presença dela ainda ocupa seus pensamentos...
— olhou na direção de onde eu vinha. — E seu quarto também.
Não havia como negar. Nina havia se tornado uma parte desalinhada
do meu mundo, um fio que se entrelaçava em todos os aspectos da minha
vida. Suspirei antes de responder.
— Qual o motivo de se incomodar tanto com a presença de Nina?
Pode me explicar?
— Você está fazendo o mesmo que fez com Ana, ela já conquistou
seu coração e você sequer consegue admitir isso para si mesmo.
— Meu coração está muito bem, Hettore, não precisa se preocupar.
Ela não é Ana. Você mesmo dizia que eu precisava de um passatempo. — A
resposta deixou o amargo da mentira em minha boca. É claro que ela não é
Ana, mas a verdade é que ela já me tem de corpo e alma. Meu coração é
dela para fazer o que quiser.
Hettore assentiu.
— Ainda assim, cuide dela para mim, prometi a Giulia que ela
estaria segura aqui.
— Pode deixar, Luigi. Cuidarei dela como se fosse uma de nós.
Agradeci a ele por sua disposição, mas o olhar de Hettore
permanecia penetrante.
— Mas você precisa se concentrar no que tem a fazer em Chicago.
Não deixe que a mulher o distraia.
O conselho de Hettore era prático, uma recordação incisiva de que a
máfia não admitia distrações.
— Eu sei, Hettore. — Assenti, embora a realidade de afastar Nina
dos meus pensamentos fosse mais fácil dita do que feita.
Ele apertou meu ombro, compartilhando um olhar de cumplicidade.
— Resolva o que precisa ser resolvido. Deixe que eu me encarrego
do resto.
Capítulo
19
Decidi sair do quarto para procurar por Luigi para acompanhá-lo até
o heliporto. Uma sensação de felicidade invadia meu peito, alimentada
pelos momentos que compartilhamos.
Contudo, assim que me aproximei da curva do corredor, comecei a
ouvir a conversa entre Luigi e Hettore. Não era preciso ser um gênio para
perceber que os dois falavam sobre mim, e a maneira como Luigi se referia
a mim cortava como facas afiadas.
“Meu coração está muito bem, Hettore, não precisa se preocupar.
Ela não é Ana. Você mesmo dizia que eu precisava de um passatempo.”
As palavras dele atingiram meu peito como uma faca. Algo para
passar o tempo. Não era a Ana pela qual ele ainda lamentava, nem alguém
com quem ele pudesse visualizar um futuro além do presente. Era como se
ele tivesse arrancado o tapete sob meus pés, deixando-me cair em um
abismo.
Meus passos hesitaram, mas decidi continuar escutando, mesmo que
cada palavra cortasse um pouco mais do meu coração. A dor da realidade
começou a emergir.
A sensação de rejeição pulsava dentro de mim, como se cada batida
do meu coração gritasse que eu não era suficiente. A felicidade que tinha
minutos atrás se desfez em amargura.
O ar ao meu redor parecia mais pesado, como se o ambiente
estivesse impregnado com a dor que eu estava tentando suportar. As
palavras de Luigi eram uma lâmina afiada que cortava fundo.
Meu peito doía, não só pela rejeição, mas também pela cruel
comparação com Ana. Eu não era ela, e aquilo estava claro. A sombra do
seu fantasma ainda pairava sobre nós, e antes eu me perguntava se Luigi
seria capaz de me ver além dessa assombração que o consumia, agora vejo
que isso é impossível para ele.
Entendi, naquele momento, que minha busca por um lugar
permanente na vida de Luigi era fútil. Eu não podia substituir alguém que
estava profundamente enraizado em sua alma. Mesmo que nosso presente
fosse intenso, a sombra do passado ainda lançava sua escuridão sobre o que
tentávamos construir.
E, enquanto eu tentava engolir a dor, o desespero formou um nó
apertado na minha garganta. Engoli em seco, lutando contra as lágrimas que
ameaçavam transbordar. Era difícil aceitar que, para Luigi, eu era apenas
uma breve pausa em sua história interminável com Ana.
O ar pareceu escasso quando regressei ao quarto tentando não fazer
barulho e um enjoo forte me atingiu. Uma opressão sufocante envolvia meu
peito, como se o ambiente que antes era meu refúgio tivesse se tornado uma
armadilha. Atrás da porta fechada, a solidão se transformou em uma
presença angustiante.
As paredes pareciam se fechar sobre mim, e o espaço que antes era
meu santuário agora se transformava em uma prisão. Tentei respirar fundo,
mas o ar parecia se recusar a preencher meus pulmões. Cada inspiração era
curta, superficial, como se meu corpo estivesse em alerta máximo.
O zumbido ansioso na minha mente se intensificava, transformando-
se em uma cacofonia ensurdecedora. Pensamentos caóticos dançavam em
espirais, cada um mais frenético que o anterior. A verdade que Luigi
revelara se enroscava em minha mente como uma serpente venenosa,
injetando dor a cada pulsar.
Meu corpo tremia, não por frio, mas por uma energia nervosa que
pulsava sob minha pele. As mãos formigavam, e eu as apertei contra o peito
na vã tentativa de conter a tempestade interior. Os músculos das minhas
pernas pareciam de borracha, incapazes de sustentar meu corpo frágil.
Um gosto metálico de ansiedade preenchia minha boca, e minha
visão se nublava como se lágrimas que eu ainda não tinha derramado
obscurecessem minha visão. O mundo ao meu redor parecia distante, como
se eu estivesse presa em um pesadelo do qual não conseguia acordar.
A sensação de não ser suficiente, de ser apenas uma sombra na vida
de Luigi, ecoava em cada canto da minha mente como uma sirene
estridente.
Afundei na cama, abraçando um travesseiro como se fosse um bote
salva-vidas em um mar de agonia. As lágrimas que eu segurava romperam
as comportas, banhando meu rosto em uma mistura de tristeza, frustração e
uma dor profunda demais para ser expressa em palavras.
Eu estava perdida na tempestade, sem bússola para me guiar de
volta à calmaria que um dia conheci.

Levou horas até que o choro convulsivo cessasse e eu conseguisse


controlar a minha respiração.
Peguei meu celular, o aparelho tremia em minhas mãos quando
disquei o número de Giulia. Cada toque ecoava como uma batida acelerada
do meu coração ansioso. Finalmente, ela atendeu, e sua voz soou do outro
lado da linha.
— Giulia...
— Nina, o que está acontecendo? Você parece... — ela começou,
mas eu a interrompi antes que pudesse concluir.
— Giulia, preciso te contar algo. Algo que acabei de descobrir e que
está me destruindo por dentro. — Minha voz, antes firme, tremia com a
intensidade da emoção contida.
Eu hesitei por um momento, tentando organizar os pensamentos
tumultuados que giravam na minha mente. Finalmente, as palavras saíram,
um desabafo que se transformou em lágrimas enquanto eu tentava
verbalizar a dor que sentia.
— Eu escutei uma conversa entre Luigi e Hettore. Eles não sabiam
que eu estava lá, e eu ouvi... Eu ouvi Luigi falando sobre mim como se eu
fosse apenas um passatempo, como se ele não sentisse nada por mim. — As
palavras saíram em um sussurro, carregadas de uma tristeza que nem eu
mesma sabia que existia.
Do outro lado da linha, houve uma pausa silenciosa antes de Giulia
responder, sua voz agora misturada com compreensão e compaixão.
— Nina, eu sinto muito. Eu não consigo nem imaginar o que você
está passando agora. O que mais ele disse?
Limpei as lágrimas, tentando manter a compostura enquanto
revisitava as palavras cruéis que ecoavam na minha mente.
— Que eu não sou Ana...— Cada palavra era um soco no estômago.
Giulia suspirou do outro lado da linha, e eu podia sentir a
solidariedade naquele simples som.
— Nina, eu sinto muito que você tenha que passar por isso. Mas
talvez seja melhor saber agora do que continuar alimentando esperanças
falsas.
Uma risada amarga escapou dos meus lábios.
— Eu pensei que, depois de todos esses meses, finalmente
estávamos chegando a algum lugar. Que ele sentisse algo por mim além da
atração física. Mas eu estava errada, e agora sinto que fui tola por acreditar
nisso.
— Você não é tola, Nina. Amar alguém é sempre um risco, e nem
sempre as coisas saem como esperamos. Mas lembre-se, você merece mais
do que ser tratada assim. Se ele não reconhece o que tem diante de si, é ele
quem está perdendo. — Giulia tentou oferecer conforto, mas a dor persistia.
Desliguei o telefone depois de agradecer a Giulia por estar lá para
mim. Agora, eu estava diante de uma escolha difícil: continuar aceitando
migalhas de um amor unilateral ou encontrar a força para seguir em frente,
mesmo que isso significasse abrir mão do homem que, por um breve
momento, acreditei ser meu.
As lembranças de Mikhail ressurgiram como espectros do passado.
Eu me lembrei do momento em que pedi a Mikhail para ir comigo para
longe, e ele se negou, optando por permanecer na Bratva. Naquele tempo, a
dor foi aguda, uma sensação de perda, mas percebi que não chega nem
perto do que sinto agora.
A verdade era que, comparado ao que sentia por Luigi, meu
envolvimento com Mikhail era como uma vaga lembrança. As emoções
eram profundas, é verdade, mas não alcançavam a intensidade avassaladora
do que experimentava agora. Era como comparar uma leve garoa com uma
tempestade implacável.
Com Mikhail, houve tristeza, uma sensação de traição e um luto
pelo que poderia ter sido. No entanto, o que estava experimentando com
Luigi era uma tormenta de dor que ameaçava me engolir inteira. O vazio
deixado por Mikhail parecia agora insignificante diante do abismo doloroso
que Luigi abriu em meu coração.
Luigi, mexia com as entranhas da minha alma, tocava em lugares
que eu não sabia que existiam. Cada palavra dele, cada gesto, reverberava
em mim de maneiras que ultrapassavam qualquer experiência anterior.
Uma angústia profunda se instalou. A dor do amor não
correspondido por Luigi corroía meu peito. O coração, agora partido em
pedaços, carregava a marca daquilo que eu percebia ser um amor
verdadeiro, intenso e doloroso.
Peguei o celular novamente, minhas mãos tremiam enquanto
discava, eu sabia que aquela decisão selaria meu destino. O enjoo voltou,
mas tentei reprimi-lo enquanto o número chamava.
— Nina?
Capítulo
20
A ausência de Nina, mesmo que por um curto período, pesava sobre
mim como uma sombra inquietante. Cada mensagem dela, com respostas
curtas e evasivas, fazia meu peito apertar com uma sensação incômoda de
vazio. Eu estava apenas a um dia fora, mas a distância entre nós parecia se
estender infinitamente, muito além do que pensava.
Tentei ligar para ela, buscando ao menos ouvir o som da sua voz,
ansioso para saber que tudo estava bem. Mas as chamadas eram ignoradas,
e as mensagens recebiam respostas tão superficiais que mal conseguiam
esconder o distanciamento que ela mantinha.
A inquietação crescia em mim à medida que imaginava o que diabos
estava acontecendo com Nina. Eu precisava entender por que ela se retraiu
tanto. A decisão de chamar Hettore foi tomada mais por necessidade do que
por escolha. O único que tinha acesso a ela e que poderia me dar as
respostas que buscava.
— Hettore... — a tensão estava evidente em minha voz. — Como
ela está? Por que não atende minhas ligações?"
A voz de Hettore do outro lado da linha era tranquila.
— Ela deve estar com saudade, Luigi. Não saiu do quarto desde que
você partiu. Quando bato na porta, ela apenas responde que está tudo bem,
então deve estar.
A notícia atingiu como um soco. A imagem de Nina, isolada e
reclusa, mexeu com uma parte de mim que eu preferia manter oculta.
— Por que ela não me contou isso antes?
— Às vezes, as pessoas têm maneiras diferentes de lidar com a
ausência. E o que você poderia fazer?
Hettore é sempre prático, mas minha mente se debatia com a ideia
de que ela esteja precisando de mim. Nos últimos meses estávamos muito
unidos, não estou mais acostumado a sentir essa lacuna tão grande entre nós
e a incerteza sobre o que acontecia agravava a sensação de desconforto.
— Leve o celular até ela.
— Você deveria estar se concentrando na reunião que será em
breve, não nela.
— Então faça o que estou te mandando! — Ouve alguns minutos de
silencio do outro lado da linha, o que aumentou minha agonia.
— Alô. — Suspirei aliviado ao ouvir sua voz.
— Nina, por favor, me diz o que está acontecendo... Hettore me
disse que não saiu do quarto desde que eu viajei. — Minhas palavras
soavam com uma urgência que não conseguia conter.
— Está tudo bem, Luigi, não precisa se preocupar. Só estou me
sentindo sozinha, nada demais. — A resposta dela permanecia evasiva,
como se tentasse esconder o verdadeiro motivo de estar agindo dessa
maneira.
— Nina, por favor, fala comigo. Estou preocupado com você. —
Minha voz expressava a ansiedade que me consumia.
— Luigi, não é nada que você precise se preocupar. Estou com um
pouco de cólica, indisposta... nada anormal.
Suas palavras soavam vazias, uma tentativa frágil de manter as
aparências. Eu desejava estar ao seu lado, sentir seu toque e olhar em seus
olhos para entender o que ela não queria expressar em palavras. A incerteza
tornava cada minuto longe dela uma tortura.
Eu sabia que Nina estava escondendo algo, e sua resposta evasiva só
intensificou minha preocupação. Enquanto falávamos, eu imaginava seu
rosto, suas expressões, tentando ler nas entrelinhas o que ela não queria
admitir.
— Nina, por favor, não me esconda nada. Eu sinto que há algo mais,
algo que você não está me contando.
Um suspiro pesado ecoou do outro lado da linha antes que ela
respondesse.
— Olha, está tudo bem, como eu disse, cólica, estou tensa, inchada,
toda mulher passa por isso.
Eu apertei o telefone com força, sentindo a impotência se espalhar.
Queria estar lá, ao lado dela, para oferecer conforto. A ideia de Nina
enfrentando o que quer que fosse sozinha, enquanto eu estava longe, me
corroía por dentro.
— Eu deveria estar aí com você. Sei que algo está errado, e não
consigo simplesmente ignorar.
Houve uma pausa antes de ela falar, e sua voz soando fria.
— Aprecio sua preocupação, mas não há nada que pudesse fazer
por mim.
— Prometa que vai me ligar se precisar de alguma coisa.
Ela hesitou por um momento, e então falou em um tom mais baixo.
— Eu prometo, Luigi. Vou ficar bem.
A chamada terminou, mas a inquietação permaneceu. Olhei para o
celular por um momento antes de me virar para encarar a cidade à minha
frente. A visão dos arranha-céus de Chicago parecia calma comparada ao
caos dentro de mim.

A noite caía, iluminada pelas luzes da cidade que dançavam à


medida que me dirigia à reunião de negócios. Ao meu lado, mais uma
mulher deslumbrante, cuja presença elegante era rotineira para essas
ocasiões e como eu não queria levantar nenhuma suspeita, mantive meus
hábitos. Para o mundo exterior, ela era apenas mais uma das minhas
conquistas. Mas nos bastidores, sabia que aquele momento não era apenas
social.
O evento era uma ocasião famosa, atraindo indivíduos influentes e
poderosos da cidade. Mulheres deslumbrantes e homens engravatados
moviam-se elegantemente pelo salão, cumprimentando-se com sorrisos e
gestos cuidadosamente ensaiados. Eu, como sempre, estava atento a cada
detalhe, cada olhar, procurando por pistas, buscando aqueles que poderiam
ser aliados ou, talvez, traidores.
— Nem acredito que fui escolhida, o que faremos depois desse
jantar? — A mulher ao meu lado sorriu, seus olhos brilhando com desejo.
— Posso dar a você o que quer que precise.
Agradeci com um aceno de cabeça, mantendo minha atenção nas
pessoas ao nosso redor. Não era o momento de me deixar distrair, ainda
mais que a mulher ao meu lado não era quem eu desejava que estivesse ali.
O salão ressoava com conversas e risadas. Homens de negócios,
políticos e figuras da alta sociedade moviam-se pelo espaço, trocando
palavras cuidadosamente escolhidas, formando alianças e selando acordos.
E, é claro, havia aqueles que observavam cada movimento, testando limites
e paciência.
Ao me aproximar de um grupo de homens, todos os olhos se
voltaram para mim. Palavras eram trocadas com cuidado, mas o peso das
intenções ficava evidente nas entrelinhas.
— Luigi, meu velho amigo, parece que temos um novo jogador na
cidade. Ouvi dizer que alguém anda testando suas defesas. — Um homem
de meia-idade, rosto marcado pela experiência, dirigiu-se a mim com um
sorriso irônico.
Retribuí o sorriso, mantendo meu tom calmo.
— Parece que sim. Estou curioso para saber quem tem tanto
interesse em descobrir nossas fraquezas.
A conversa continuou, oscilando entre tópicos mundanos e
discussões mais sérias sobre a estabilidade dos nossos negócios. A tensão
no ar era evidente, e cada palavra pronunciada tinha uma carga política e
estratégica.
Enquanto isso, a mulher ao meu lado desempenhava seu papel
perfeitamente. Seus sorrisos e cumprimentos encantadores escondiam a
mente afiada por trás daquela fachada.
A noite progrediu, e eu continuei minha busca por respostas.
Conversei com aliados de confiança, trocando informações e avaliando
possíveis traições.
O nome de Hettore piscava na tela do meu celular, indicando uma
chamada. Com um aceno breve, me afastei do grupo, buscando um pouco
de privacidade em meio à agitação do evento.
— Luigi, temos um problema. — A voz de Hettore soou grave do
outro lado da linha, preparando-me para o impacto das palavras que se
seguiriam.
— O que aconteceu, Hettore? Fale de uma vez. — Minha
impaciência transparecia na voz, no fundo eu já sabia que o que quer que
fosse, era relacionado a Nina.
— Nina... ela foi embora. Com Dmitry Romanov. Ela disse que
ligou para o tio vir buscá-la.
A notícia atingiu como uma facada, fazendo meu coração afundar
em desespero e eu mal conseguia processar a realidade do que tinha
acabado de ouvir. Nina, minha Nina, havia ido embora. Sem sequer me
dizer o porquê.
— O que você está dizendo, Hettore? Como ela poderia fazer isso se
era justamente do tio que ela estava fugindo? — Minhas mãos cerraram-se
em punhos, a frustração e a raiva borbulhando dentro de mim.
— Ela disse que ligou para o tio, que estava indo embora. Eu não
pude impedi-la, Luigi. Ela estava decidida e eu não podia simplesmente
negar ao Romanov acesso a sua própria sobrinha.
A sensação de impotência era avassaladora. Eu, que sempre me vi
como o líder inabalável, enfrentava uma situação que escapava ao meu
controle. O furacão dentro de mim estava completamente fora de controle,
arrancando qualquer senso de estabilidade.
— Prepare o jatinho para mim, Hettore. Voltarei para a Itália
imediatamente. — Minha voz saiu firme, mas os sentimentos tumultuados
dentro de mim tornavam difícil manter a compostura.
Desliguei o telefone antes mesmo de ouvir a resposta de Hettore. O
ar estava carregado de uma mistura sufocante de incerteza e angústia.
A imagem de Nina, seu rosto, seus olhos, perseguia-me como um
espectro. Eu, que já havia perdido alguém que amava, falhei novamente
com a única pessoa que importava mais do que qualquer outra.
Eu vou trazê-la de volta!
Capítulo
21
— Nina, onde você está? Por que fugiu? — A voz de meu tio soava
com uma misturada com preocupação e reprovação.
— Tio Dmitry, eu... eu não queria me casar. — Minha voz vacilou,
carregada de arrependimento e desespero.
— Casar é uma responsabilidade das mulheres na máfia, Nina, você
cresceu sabendo disso. — A preocupação na voz estava presente. — Você
poderia ter sido ferida, morta! Prometi ao seu pai que cuidaria de você.
— Eu sei, tio, e eu sinto muito. Eu cometi um erro ao fugir. —
Minha confissão foi seguida por um silêncio pesado, antes que ele
retomasse a palavra.
— Onde você está agora?
— Estou na casa de Luigi Marino. — A revelação ecoou entre nós,
carregada de tensão e incerteza.
— Luigi Marino? O Capo da Camorra? — A surpresa na voz dele
era evidente.
— Sim, tio. Eu não sabia para onde ir, e ele foi a única pessoa em
quem pensei. — Menti para não envolver Giulia.
— Nina, você precisa entender o perigo que está correndo. Por mais
tranquila que a nossa relação aparente estar, nada nunca é como parece.
— Eu sei, tio. Eu não quis causar problemas. Só não sabia mais a
quem recorrer. — Suspirei. — Tio, por favor, você pode vir me buscar? Eu
não quero criar mais problemas.
Houve um breve silêncio antes que ele falasse novamente.
— Fique onde está. Vou providenciar para que você seja trazida de
volta em segurança. Você precisa enfrentar as consequências de suas ações.
— Eu entendo, tio. Eu só... eu só queria um pouco de controle sobre
a minha própria vida.
— Haverá resistência, Nina? Algum problema em tirá-la daí?
— Não, tio, não há resistência. Luigi não me fez prisioneira. Ele
está me ajudando.
— Luigi Marino? Ele está envolvido nisso? — A incredulidade na
voz do tio de Nina era evidente.
— Não, tio Dmitry, não está envolvido. Eu o procurei, e ele apenas
me deu abrigo. Por favor... não faça nada que gere algum desconforto para
ele.
Desliguei a ligação e ao olhar para o quarto que até pouco tempo
dividia com Luigi, uma onda de melancolia me atingiu como um soco no
estômago. A cama desfeita, as lembranças dos momentos que
compartilhamos, tudo parecia uma ilusão prestes a desmoronar. Lágrimas
escorreram pelo meu rosto enquanto eu absorvia a realidade cruel das
minhas escolhas.
Um enjoo forte me dominou, e, com pressa, corri para o banheiro.
Vomitei tudo o que tinha e o que não tinha. Lavei o rosto, tentando me
recompor diante do espelho.
Ao escovar os dentes, meu olhar caiu sobre o pacote de absorventes.
O ciclo menstrual irregular nunca foi uma característica minha, e a ausência
prolongada da menstruação me deixou em estado de alerta. Um nó se
formou no meu estômago, misturando-se a tudo o que já vinha passando.
Tentei afastar o pensamento, convencendo-me de que era apenas
estresse e ansiedade, frutos das recentes desventuras na minha vida. No
entanto, a dúvida persistia, se infiltrando em minha mente. Meu corpo
parecia estar me enviando sinais, e eu temia o significado por trás deles.
Com um suspiro profundo, encarei meu reflexo no espelho. A
incerteza em meus olhos refletia a tumultuada montanha-russa emocional
que se tornou minha vida. O que antes era uma busca por liberdade agora se
transformava em um pesadelo.
Arrumei minhas coisas em silêncio, tentando conter os pensamentos
que invadiam minha mente.
A Possibilidade de uma gravidez nesse momento faz com que eu
fique apavorada.
Antes que eu pudesse ponderar mais sobre o assunto, uma batida na
porta interrompeu meus pensamentos. Era Hettore. Ao abrir a porta, seu
olhar se encontrou com o meu.
— Dmitry está aqui para buscá-la — anunciou ele, mantendo uma
expressão séria.
— Eu sei. Eu quero ir embora — respondi, forçando firmeza em
minha voz. — Fui eu quem o ligou.
Hettore assentiu sem discutir.
O caminho até a saída foi permeado pelo som do silêncio, mas,
conforme nos aproximávamos da entrada, Hettore pareceu decidir que era
hora de expressar o que pesava em sua mente.
— Nina, tenho que te perguntar... Você realmente terá coragem de
fazer isso com Luigi? — Hettore questionou, sua voz carregada de
preocupação.
Senti um aperto no peito diante da pergunta direta, uma pergunta
para a qual eu mesma estava tentando encontrar uma resposta coerente.
Engoli em seco antes de responder, buscando encontrar as palavras certas.
— Hettore, eu... Eu não queria que as coisas fossem assim. Mas eu
não posso continuar ignorando a realidade. — Minhas palavras saíram com
hesitação, como se cada uma delas pesasse toneladas.
Hettore manteve o olhar fixo em mim, seus olhos parecendo analisar
não apenas minhas palavras, mas também minhas emoções. Ele suspirou
profundamente antes de continuar.
— Luigi não gostará nada diso, Nina. Eu nunca o vi tão afetado por
alguém antes.
Sorri amargamente me lembrando das palavras dele quando partiu.
— Você se lembra do que Luigi disse, não lembra? — Minha voz,
embora firme, carregava a ponta da vulnerabilidade que eu tentava
esconder. — Que eu era só um passatempo para ele, algo temporário.
Os olhos de Hettore encontraram os meus, um silêncio tenso entre
nós enquanto se dava conta da verdade.
— Nina, eu... — Ele começou, mas eu não estava disposta a permitir
explicações. Não naquele momento.
— Não há necessidade de justificar nada. Eu sei o que sou para ele.
Ouvi isso dele. — Meu tom era carregado de uma mistura de tristeza e
resignação.
— Nina...
— Você nunca me quis aqui, Hettore, não faça caso.
— Não pense que era exatamente a sua presença que incomodou a
mim, Nina... — iniciou.
— Não há necessidade de fingir, Hettore. — Sorri ironicamente,
mesmo que a mágoa estivesse estampada em meu rosto. — Você deve estar
aliviado que estou indo embora. Afinal, sempre fui um incômodo para você.
As palavras eram afiadas, um desabafo impulsionado pela dor.
Naquele momento, a dor e a tristeza tomavam conta, tornando-me incapaz
de conter as emoções que borbulhavam dentro de mim.
Sem esperar por uma resposta, eu atravessei a porta e me deparei
com Mikhail diante da porta esperando por mim. Seus olhos buscavam os
meus, mas eu o ignorei e caminhei até o carro.
O interior do carro seguiu em um silêncio pesado, apenas a melodia
suave do motor rompia a quietude. Meu olhar encontrou o do meu tio,
Dmitry, um homem de expressão séria, mas nos olhos dele, percebi sua
preocupação.
— Nina, minha sobrinha... — Ele cortou o silêncio incômodo depois
de algum tempo, buscando escolher as palavras certas. — Você não acha
que fugir assim não foi exagerado?
Suspirei, desviando o olhar para a paisagem que se movia
rapidamente pela janela.
— Eu só não podia ficar lá, tio. Não podia me casar com ele
sabendo o que ele realmente pensa de mim, que eu sou uma mercadoria, um
objeto... — Minhas palavras eram carregadas de amargura e decepção.
— Você sabe que seu pai confiou a minha proteção a você. Ele
queria que eu cuidasse de você como se fosse minha própria filha. —
Dmitry finalmente falou.
— Eu sei, tio, e eu aprecio isso. Mas casamento? Por quê? —
Perguntei deixando a amargura marchar minha voz.
— Porque preciso que alguém esteja aqui para você depois que eu
partir, Nina. Preciso que esteja a salvo.
O silêncio persistiu, mas não era desconfortável, na verdade eu
mesma não queria conversar. E meu tio estava respeitando o espaço que eu
precisava para processar tudo o que tem acontecido.
— Ficaremos no hotel dos Lucchese hoje e partiremos de volta para
a Rússia amanhã. Seu casamento já havia sido acordado, não posso voltar
atrás na minha palavra. Seu noivo estará nos aguardando.
Nadei tanto apenas para morrer na praia.
A pequena farmácia do hotel oferecia uma variedade de produtos,
mas meus olhos buscavam algo específico. A caixinha rosa do teste de
gravidez logo chamou minha atenção.
Ao chegar ao quarto, a atmosfera tranquila contrastava com a
agitação dentro de mim. Rasguei a embalagem, pegando os testes que
determinariam, de alguma forma, o rumo do meu futuro. Encarei-me no
espelho do banheiro, observando minha própria expressão ansiosa.
Fechei meus olhos e contei mentalmente o tempo enquanto
aguardava com a respiração acelerada, pelo veredicto que se desenharia
naquelas pequenas tiras. Cada segundo se esticava, prolongando a agonia da
espera.
Suspirei profundamente, ciente de que o que quer que estivesse por
vir, eu teria que enfrentar.
Capítulo
22
Cada segundo que se passou até que eu chegasse a Itália, pareceu
levar horas. A fúria que me consumia, e explodiu assim que avistei Hettore.
Sem tempo para formalidades ou perguntas, avancei em sua direção,
confrontando-o com a ira que só a ausência de Nina poderia gerar.
— Onde está ela, Hettore? Onde está Nina? — Rugi, minha voz
ressoando pelos corredores da mansão.
Hettore ergueu as mãos em um gesto de apaziguamento, mas a
expressão dele deixava claro que sabia bem do grande erro que havia
cometido.
— Luigi, precisamos conversar com calma. Ela partiu por escolha
própria, e...
Minha paciência atingiu seu limite. Ignorei suas palavras e desferi
um soco contra ele, o impacto ressoando na sala como um trovão. A
expressão de Hettore mudou de surpresa para indignação enquanto ele
retaliava com um golpe direto.
— Eu confiei em você para protegê-la! — Gritei, cada palavra
carregada de angústia e raiva.
Hettore tentava se defender, justificando-se entre os golpes.
— Eu fiz o que pude, Luigi. Você sabe que ela é teimosa, quando
soube que ela iria partir foi quando o tio já estava aqui!
Ela partiu por escolha própria. A verdade, por mais dolorosa que
fosse, começou a se materializar diante de mim. A intensidade da discussão
diminuiu à medida que a realidade se impunha.
— Preciso encontrá-la — Murmurei, a urgência na minha voz agora
tingida com um toque de desespero.
— Ela te ouviu, Luigi — olhei para ele sem entender do que estava
falando. — Ela ouviu nossa conversa no corredor, foi por isso que partiu.
O peso das palavras de Hettore caiu sobre mim como uma pedra.
Ela ouviu. Uma onda de angústia tomou conta de mim, misturada com a
raiva contra mim mesmo. Deixei que ela ouvisse palavras que não deveriam
ter sido sequer pronunciadas.
— Cazzo! — Esbravejei, cerrando os punhos. A sensação de
impotência se instalou, sufocando-me. —Por que ela não apareceu? Por que
não me confrontou? Poderíamos ter resolvido tudo sem que ela precisasse
fugir.
Hettore manteve o olhar fixo no chão, como se a resposta estivesse
gravada ali.
— Nina é uma mulher forte, mas todos têm seus limites.
As palavras dele cortavam como facas afiadas. Meu coração pulsava
com arrependimento e preocupação. Eu queria alcançá-la, queria trazê-la de
volta para casa e protegê-la, dizer a ela que tudo o que disse era mentira.
— Preciso encontrá-la — repeti, dessa vez em um tom mais calmo.
Hettore assentiu.
— Vou ajudá-lo, Luigi. Ela está com Dmitry, as coisas podem ficar
complicadas.
Ligueii para Damon e falar com ele foi como acender um pavio em
um barril de pólvora. Minha paciência estava esgotada, e a única coisa que
martelava em minha mente era o paradeiro de Nina. E se tinha alguém que
poderia saber onde ela estava, esse alguém é Giulia.
— Damon, eu preciso falar com Giulia agora. — Minha voz era
cortante.
— Você se lembra do que eu te disse, Luigi? Afaste-se da minha
esposa. Mantenha Giulia longe.
— Damon, eu só quero saber onde Nina está. Não tenho tempo para
joguinhos. Giulia sabe algo, e eu preciso de respostas.
A voz de Giulia entrou na conversa, repleta de raiva e angústia.
— Isso tudo é culpa sua, por que eu deveria ajudá-lo? Me dê um
bom motivo.
— Só me diga o que sabe, por favor — respondi entre os dentes.
— Ela voltou para a Rússia. — Meu coração errou uma batida. —
Ela vai se casar.
O impacto das palavras dela atingiu-me como um soco no estômago,
fazendo com que me sentisse sem fôlego. Uma dor intensa e sufocante que
se espalhava por todo o meu ser. Minha mente lutava para processar o
tamanho da merda que eu havia feit.
O telefone ainda estava pressionado contra minha orelha, eu me vi
paralisado, incapaz de articular uma resposta imediata. Me senti carregado
de um desespero que ameaçava me engolir por completo.
Ela voltou para a Rússia. Ela vai se casar.
Minha respiração estava irregular, e a sala ao meu redor parecia
desfocada, como se o mundo estivesse em câmera lenta. Cada célula do
meu corpo protestava contra a crueldade do destino. Nina, a mulher que
havia se tornado a essência da minha existência, estava agora a ponto de se
unir a outro porque pensa que eu não a amo.
Um nó apertou-se em minha garganta, dificultando a articulação das
palavras que, por um momento, pareceram não existir. Minha voz, quando
finalmente emergiu, soou carregada de uma tristeza profunda e de um
desamparo gritante.
— Não... não pode ser.
O vazio que se instalou em meu peito parecia insuportável, uma
ausência angustiante que corroía as fibras do meu ser.
A imagem de Nina, seu sorriso cativante e olhos cheios de vida, era
um espectro que dançava diante dos meus olhos, uma lembrança dolorosa
de um tempo que agora parecia distante demais. O sabor amargo da perda
se misturava à frustração de ter sido um idiota, de não ter evitado que ela
seguisse por esse caminho.
— Por que... — A pergunta escapou dos meus lábios em um
sussurro rouco, dirigida ao universo que, de maneira tão injusta, havia
conspirado para tirá-la de mim.
O silêncio que se seguiu foi a resposta mais cruel, uma confirmação
implacável de que, por minha culpa, eu havia perdido Nina.
Damon, ao fundo, soltou um suspiro irritado.
— Você a colocou nisso, Luigi. Agora, lide com as consequências.
— Encerrou a ligação.
Fiquei calado por mais algum tempo, antes de olhar para Hettore.
— Prepare tudo. Vamos para a Rússia. Preciso impedir que Nina se
case.
Minha voz soava firme, mas não conseguia esconder a angústia que
se alojava em meu peito. Sabia que o tempo era crucial, e cada segundo
perdido podia afastar Nina ainda mais de mim.
— E se o noivo descobrir que ela não é mais virgem? Ele pode
machucá-la... ou pior. Você conhece as regras, as consequências... O que
pretende fazer?
A resposta escapou de meus lábios carregada de determinação.
— Precisamos agir rápido. Eles podem não lidar bem com a
descoberta, e Nina pode ficar em perigo. Não podemos permitir que
ninguém a machuque.
— Vou cuidar dos preparativos. Precisaremos de documentos falsos
para atravessar as fronteiras sem levantar suspeitas.
Enquanto Hettore elaborava os detalhes do plano, minha mente
permanecia fixa em Nina. A imagem dela, vulnerável e à mercê de uma
situação perigosa, impelia-me a agir com rapidez.
— Quanto tempo levará para termos tudo pronto?
Hettore coçou a barba, calculando o tempo necessário.
— Eu diria que em dois dias estaremos prontos para partir. Vou
providenciar tudo o mais rápido possível.
— É muito tempo... — não havia como esperar tudo isso. —
Certifique-se de que os homens estejam prontos para nos seguir. Eu vou na
frente, vou trazê-la de volta, custe o que custar.
A determinação queimava dentro de mim como uma chama
insaciável.
— Luigi, você está deixando a raiva guiar suas decisões. Entrar na
Rússia, especialmente em território inimigo, é uma jogada perigosa. Não
podemos subestimar os riscos envolvidos — Hettore tentou argumentar, sua
voz carregada de preocupação.
Meus olhos encontraram os dele, e uma faísca de desafio refletiu em
meu olhar.
— Não há tempo para cautela, Hettore. Cada segundo que passamos
aqui é um segundo que ela está mais distante. Precisamos agir agora.
Hettore suspirou, a lealdade gravada em suas expressões.
— Eu entendo, Luigi. E estou com você, seja lá qual for a sua
decisão. Mas você precisa compreender os riscos. A Rússia não é nosso
território. Estaremos vulneráveis, e a chance de enfrentarmos resistência é
alta.
— Eu sei dos riscos, Hettore. Mas não posso simplesmente ficar
aqui e esperar. Sei que vai ser difícil, mas preciso trazê-la de volta, custe o
que custar.
Um silêncio tenso pairou entre nós, um entendimento não
verbalizado de que as próximas decisões moldariam o nosso destino.
Hettore finalmente assentiu, resignado.
— Muito bem. Eu vou com você. Não porque concordo com essa
decisão, mas porque sou leal a você, Luigi. Não posso ficar de braços
cruzados quando sei que você precisa de ajuda.
Agradeci-lhe com um aceno de cabeça, reconhecendo a
profundidade da lealdade que ele estava disposto a demonstrar.
— Se prepare. Vamos partir imediatamente.
A incerteza do que encontraríamos quando chegássemos a Rússia,
não era suficiente para vacilar minha resolução. A única certeza que eu
tinha era que Nina estava além daqueles limites, e eu faria qualquer coisa
para tê-la de volta.
Capítulo
23
Duas linhas, um simples sinal visual, mas carregando consigo um
peso monumental. Positivo. A palavra ecoou como um trovão em minha
mente.
Estou grávida.
O desespero se enraizou profundamente dentro de mim, como uma
planta venenosa crescendo rapidamente. O medo, que já tinha seu lugar na
minha alma, agora se misturava com uma ansiedade mais intensa e
dolorosa. A descoberta de que estava grávida, com uma vida florescendo
dentro de mim, era uma bênção ofuscada pela circunstância em que me
encontrava.
O pensamento de ter que me casar com Dmitry, que não era o pai
daquela pequena vida pulsante dentro de mim, era uma tortura inescapável.
O futuro que vislumbrava parecia sombrio, pintado com tons de sacrifício e
compromissos forçados. O coração apertou-se, como se as paredes da
minha própria existência estivessem se fechando sobre mim.
O receio de que Kellen pudesse fazer mal ao meu filho crescia
exponencialmente. Ele já havia demonstrado que não era um bom homem, e
agora, a simples ideia de que a criança dentro de mim poderia representar
uma ameaça a ele era o gatilho para um desastre iminente.
Senti uma onda de náusea, não apenas pelo enjoo matinal, mas por
toda a situação. Uma mistura de pânico e desespero varreu-me como uma
tempestade, e eu me vi apertando os testes de gravidez em minhas mãos,
como se isso pudesse alterar a cruel realidade à minha frente.
A gravidez, que em circunstâncias normais seria celebrada,
transformou-se em uma sentença de angústia. O que seria de mim e do meu
bebê em um casamento forçado? Como protegeria esse ser inocente de um
destino potencialmente cruel?
O banheiro parecia sufocante, e eu lutei para conter as lágrimas que
ameaçavam transbordar. O futuro que eu sonhei quando fugi estava
desmoronando, substituído por um cenário sombrio, onde minhas escolhas
eram limitadas e minha liberdade sacrificada.
Entre soluços, fui para o quarto e afundei-me na cama, abraçando
meu ventre como se pudesse proteger meu filho do mundo exterior. A
gravidez, que deveria ser um símbolo de esperança, tornou-se motivo do
meu tormento.

A chegada à Rússia foi marcada por um frio cortante que parecia


penetrar até os ossos, refletindo a atmosfera gélida e tensa que estava meu
interior. A paisagem, coberta por uma fina camada de neve, contribuía para
a sensação de isolamento e opressão que pairava sobre mim.
No dia seguinte, Kellen chegou à mansão Petrov. Seu olhar,
impregnado de uma fúria mal contida, denunciava a tempestade que se
aproximava. Meu tio, ciente de eu precisava me desculpar, nos deixou
sozinhos para uma conversa que eu temia mais do que podia admitir.
Assim que ficamos a sós, a raiva de Kellen explodiu como um
vulcão em erupção. Sua primeira pergunta, carregada de desconfiança,
rasgou o silêncio gelado que nos envolvia.
— Onde você estava? — rosnou, seus olhos faiscando em uma
mistura de ciúmes e possessividade.
A verdade estava presa em minha garganta, mas eu sabia que uma
explicação honesta iria apenas piorar as coisas. Antes que eu pudesse
responder, ele avançou, agarrando-me pelo pescoço com uma força
sufocante.
O medo corria por minhas veias enquanto eu tentava conter os
soluços que ameaçavam escapar. Suas palavras, sussurradas com uma
ameaça mortal, eram como punhais, cortando-me mais profundamente do
que qualquer lâmina física poderia fazer.
— Se eu descobrir que você me traiu, vou acabar com a sua vida. —
A promessa, fez com que um arrepio percorresse minhas espinha.
A sensação de impotência se intensificava a cada segundo, enquanto
eu tentava desesperadamente encontrar palavras que pudessem fazer com
que ele me soltasse. O nó apertado em minha garganta refletia não apenas o
aperto físico de Kellen, mas também a asfixia emocional que estava por vir.
O olhar dele, injetado de ira, atravessava-me como uma lança,
penetrando minha alma e deixando marcas permanentes. Tudo o que ele
fazia só confirmava o que seria meu casamento, um beco sem saída, uma
prisão de promessas distorcidas e ameaças veladas.
Enquanto a vida que crescia dentro de mim testemunhava
silenciosamente o caos ao seu redor, eu me via aprisionada em uma
realidade deplorável.
Kellen apertava ainda mais seu aperto em meu pescoço, seus olhos
furiosos sondando os meus em busca de qualquer sinal de fraqueza. Tentei
articular palavras, mas o medo paralisava minha voz.
— Você acha que pode brincar comigo, Nina? — ele rosnou, o
hálito quente varrendo meu rosto. — Eu não sou um tolo. Se tem algo
escondido, é melhor começar a falar agora.
Ofegante, lutei para respirar enquanto respondia com urgência:
— Kellen, por favor, eu não... — Não sabia o que poderia dizer a
ele.
Ele riu, um som amargo que reverberou pela sala como uma
sentença de condenação.
— Isso é o que todas dizem. Eu sou um Walsh, Nina. Ninguém me
trai e sai impune.
Tentei soltar-me de seu aperto, mas a força de sua mão resistia a
qualquer tentativa de escape.
— Você está me machucando, Kellen. Por favor, me solte.
Sua expressão permaneceu inabalável, desprovida de qualquer sinal
de empatia.
— Talvez eu devesse ensinar uma lição para que você entenda o que
significa pertencer a mim.
Sua ameaça pairava no ar, e o desespero se instalou em meu peito
como uma âncora pesada. Sentindo a situação escapar ao meu controle,
minha mente procurou por uma saída, mas cada pensamento era
obscurecido pela intensidade da ira que emanava dele.
—Vamos conversar. Podemos resolver isso de uma maneira
diferente. — Disse com dificuldade.
Ele me soltou abruptamente, fazendo-me cambalear para trás. Seu
olhar gélido me perfurou enquanto ele falava:
— Não há conversa que vá mudar o que você fez. Eu devia ter
percebido desde o início que uma mulher bocuda como você só me traria
problemas.
Cada tentativa de explicação ou apelo era recebida com mais
desdém e desconfiança.
Enquanto eu enfrentava uma tempestade, uma pequena vida pulsava
em meu ventre, alheia ao tumulto que a cercava. Em meio ao caos, a única
certeza que restava era que, de alguma forma, eu precisaria proteger esse
ser inocente que carregava dentro de mim.
— O casamento está marcado para amanhã — olhou-me de cima a
baixo. — Você já adiou demais os meus planos.
— Amanhã? Quais planos? — Olhei para ele desconfiada.
O sorriso macabro de Kellen pairava como uma ameaça silenciosa
enquanto eu absorvia suas palavras gélidas. O anúncio de que o casamento
ocorreria no dia seguinte foi como uma sentença de prisão, prendendo-me a
um destino que eu rejeitava com todas as fibras do meu ser.
— Você não entende que não tem escolha, Nina. — Kellen declarou
com frieza, como se estivesse discutindo o clima. — Já que resolveu fugir,
decidi antecipar nossos planos.
Meus olhos encontraram os dele em desafio.
— Quais planos? Do que é que você está falando?
Ele riu, um som que ecoava a crueldade que residia em sua essência.
— Ah, minha cara, você acha que poderia interferir nos meus
negócios se soubesse quais são? Isso não vai acontecer. O casamento é
amanhã, e você vai me ajudar a aumentar meu império, querendo ou não.
— Eu não posso fazer isso, Kellen. Eu não quero me casar com
você. — Minha voz tremia.
Ele se aproximou, seus olhos escurecendo com intensidade.
— Você vai fazer o que eu quiser. — Sua mão tocou meu rosto, um
gesto que arrepiou a minha pele. — Ou você acha que pode escapar
novamente?
O silêncio que se seguiu foi rompido apenas pelo som da minha
respiração acelerada. A realidade cruel estava diante de mim, sem espaço
para fugas ou ilusões. Eu estava encurralada, e a única escolha que restava
era enfrentar o que estava por vir.
— Não vou permitir que me trate dessa maneira. — Minhas
palavras foram um sussurro desafiador.
— Um bicho arredio é ainda mais interessante de se domar.
Kellen se afastou, deixando-me sozinha com a tristeza remoendo
meu interior.
A contagem regressiva para o casamento começou, e eu estava
prestes a mergulhar em um abismo do qual não havia retorno.
Capítulo
24
A vasta sala ao meu redor parecia me oprimir enquanto eu olhava
para o vestido de noiva que eu vestia. A suavidade do tecido parecia
contradizer a angústia que se aninhava em meu peito. Encarei-me no
espelho, mas a imagem refletida parecia distante, como se fosse uma
protagonista em um conto de fadas indesejado.
O vestido, uma obra-prima rendada que caía em cascata até o chão,
era um testemunho de um casamento que eu não escolhi, em um evento que
estava sendo delineado sem a menor consideração pelos meus desejos.
Olhei pela enorme janela que se estendia até o teto, oferecendo uma visão
do jardim sendo transformado em um cenário de casamento. Flores sendo
dispostas, mesas sendo preparadas, cada detalhe meticulosamente planejado
sem sequer me consultar.
Suspirei, sentindo o peso do vestido como um fardo emocional.
Minha mente estava tomada por uma tristeza silenciosa, uma amargura que
se misturava com a renda delicada e os bordados do traje nupcial. Aquela
não era a história que eu imaginei para mim mesma.
Cada toque de tecido era um lembrete doloroso da falta de controle
sobre minha própria vida. Eu era uma peça em um jogo, nada mais, e o
vestido era a representação da minha realidade opressora.
Olhei novamente para o jardim, onde a preparação para o casamento
prosseguia incansavelmente. A beleza artificial do evento contrastava com a
tristeza que eu carregava. Naquele momento, o vestido de noiva tornou-se
um símbolo não de celebração, mas de resignação.
A tristeza queimava em meus olhos enquanto eu me deparava com a
imagem da noiva no espelho, vestida para uma união que não era movida
pelo amor, mas sim por acordos onde eu era apenas a moeda de troca. O
vestido, que antes era um sonho romântico, tornou-se um lembrete de um
conto de fadas que nunca foi meu.
O tecido do vestido envolvia meu corpo, mas era o peso da
imposição que realmente me envolvia naquele momento. Fui tirada de meus
pensamentos sombrios quando a porta se abriu e Mikhail entrou na sala.
Seu olhar passeou por toda a extensão do meu corpo.
— Nina, você está deslumbrante. — Sua voz suave carregava um
tom de fascínio. — Nunca vi nada mais precioso do que você.
Revirei os olhos com uma pitada de ironia, incapaz de aceitar
qualquer elogio naquele momento.
— Obrigada pela gentileza, Mikhail. Aparentemente, eu sou o
espetáculo do dia.
Ele se aproximou com cuidado, como se soubesse da tempestade
que rugia dentro de mim.
— Fique calma, Nina. Eu tenho tudo sob controle.
A curiosidade picou minha mente, e eu não pude evitar perguntar:
— Controle? Do que você está falando?
Mikhail sorriu, mas seus olhos carregavam uma seriedade que não
passou despercebida.
— Fiz um acordo com Kellen. Assim que ele conseguir o que quer,
eu levo você embora. Você não vai ficar com ele por muito tempo, eu
prometo.
— E qual é o preço desse "acordo"? — questionei, desconfiada.
Mikhail suspirou, como se lamentasse o que estava prestes a dizer.
— Kellen quer a Bratva. Ele deixará você ser feliz ao meu lado
depois que eu cumprir minha parte.
A revelação me atingiu como uma punhalada. Eu não era uma
mercadoria a ser trocada em um acordo sujo entre dois homens. A raiva
borbulhava dentro de mim, mas eu precisava manter a compostura.
— E você aceitou isso? — perguntei, sem esconder a incredulidade.
Mikhail baixou os olhos por um momento antes de encará-los
diretamente nos meus.
— Eu aceitei para te tirar dessa situação, Nina. Nós vamos encontrar
uma maneira de sermos felizes juntos.
A revelação de Mikhail abriu um abismo de incertezas diante de
mim, e a fúria borbulhava como um vulcão prestes a entrar em erupção.
— O que você fez, Mikhail? O que planeja fazer com o meu tio? —
Minhas palavras saíram em um rosnado, enquanto meus olhos ardiam com
a intensidade da raiva.
Ele tentou se aproximar, mas dei um passo para trás, mantendo a
distância entre nós.
— Nina, eu só estou tentando...
— Tentando o quê? — interrompi, a voz elevada pelo desespero. —
Entregar a Bratva para Kellen e trair a nossa família?
Mikhail suspirou, como se a culpa pesasse sobre seus ombros, mas a
compaixão não tinha lugar em meu coração naquele momento.
— Você não entende. Ele faria isso com o sem a minha ajuda, ele já
tem sondado os italianos, invadido seu território, testado suas defesas...
Nina. Eu estou tentando nos salvar.
— Nos salvar? — ri, mas o som era áspero e cheio de desdém. —
Você está se vendendo para Kellen! Sabia que ele já me machucou? Em
apenas duas vezes que me viu? Que disse que me domaria.
Mikhail tentou me tocar, mas afastei sua mão com um gesto brusco.
— Não me toque! Você é um traidor, Mikhail. Como posso confiar
em alguém que barganha nossa liberdade em troca de favores sujos?
Ele baixou a cabeça, incapaz de encarar meu olhar acusador.
— Eu só queria te proteger, Nina. Não quero que você sofra.
Minha risada foi cheia de ironia e amargura.
— E você acha que entregar a Bratva para Kellen vai nos salvar?
Ele não tem a menor intenção de deixar que eu vá. Ele quer me controlar,
me submeter. E agora, você se tornou cúmplice desse jogo sujo. — Inspirei
com força sentindo raiva de tudo o que estava sendo obrigada a aguentar
apenas por ter nascido uma Romanov. — Kellen me olha como se eu fosse
uma propriedade dele, Mikhail. Como se eu fosse seu maior objeto de
cobiça. Você foi enganado, e agora vai me ajudar a sair dessa situação.
Ele tentou argumentar, dizer que eu poderia estar enganada, mas
levei a mão trêmula para limpar a maquiagem que camuflava as manchas
roxas em meu pescoço.
— Olhe. Foi Kellen quem fez isso, porque ele pensou que eu o traí,
que me entreguei a outro homem. Ele não vai cumprir o acordo, porque não
vê isso como uma troca justa. Preciso do meu celular. Preciso tentar buscar
ajuda.
Mikhail pareceu chocado diante do que mostrei, e o peso da verdade
parecia recair sobre seus ombros.
— Eu... eu não sabia, Nina. Não queria que isso acontecesse a você.
— Pois é o que está acontecendo. — Minha voz soou firme, apesar
da fragilidade que eu sentia por dentro. — E agora você precisa fazer algo
para consertar isso. Precisa conseguir meu celular. Precisamos impedir seja
lá o que for que ele está planejando.
Ele assentiu lentamente, ainda encarando meu pescoço com os olhos
injetados de pura raiva.
— Vou conseguir o celular para você, e começar a preparar nossos
homens, eles iriam me seguir nessa, por lealdade a mim. O ataque dele virá
de dentro, durante o casamento, não temos tanto tempo assim.
— Não podemos nos dar ao luxo de perder tempo, Mikhail. —
Encarei-o com urgência. — Prometa que fará o que estiver ao seu alcance
para ajudar meu tio. Prometa que não vai deixar Kellen se dar bem nisso.
— Sim. Eu te amo, Nina. Não tem um dia sequer nos últimos meses
que eu não tenha me arrependido de ter te deixado partir. Eu agi por
desespero... porque não aguentava mais estar longe de você.
— Esse não é o momento para falarmos disso.
Mikhail concordou, e, por um breve momento, vi um lampejo
arrependimento em seus olhos. Restava a esperança de que ele pudesse
corrigir seus erros e, de alguma forma, nos ajudar.
Capítulo
25
O som do celular cortou o silêncio tenso da cabine do avião, e meu
coração saltou quando vi o nome "Nina" piscando na tela. Atendi
imediatamente, o alívio fluindo através de mim apenas por ouvir a voz dela
do outro lado.
— Luigi... — sussurrou meu nome com uma urgência evidente.
— Nina, grazie a Dio![6] Estou a caminho. Você está bem? Por que
fugiu assim, sem me dar uma chance de explicar? — Minhas palavras mal
conseguiam disfarçar a ansiedade que sentia.
— Luigi, não está nada bem... Kellen não quer uma aliança, ele
quer a Bratva, quer dar um golpe e alguns de dentro o está apoiando.
Estamos em perigo, e eu... eu preciso da sua ajuda.
O impacto das palavras dela atingiu como um soco. Substituir o tio
dela? O que estava acontecendo na Rússia era pior do que eu imaginava. A
urgência na voz de Nina era nítida, e meu instinto de proteção se
intensificou.
— Estou quase aí, Nina. Vou fazer de tudo para resolver isso. Conte-
me mais sobre o que está acontecendo.
Nina rapidamente explicou a situação, sobre o acordo de Mikhail
com Kellen, o casamento ter sido apenas um meio de chegar até o
Romanov. O tempo era um inimigo, e eu senti a pressão aumentar enquanto
planejava o que faríamos assim que eu chegasse à Rússia.
— Luigi, por favor, você precisa falar com Damon, não consegui
falar com a minha prima, ela está grávida e eles provavelmente estão a
caminho para o meu casamento.
— Isso é bom... Damon pode nos ajudar.
— Não deixe que ele traga a minha prima para cá. Por favor,
rápido... meu tio disse que esperaria apenas pela chegada de Giulia e
Damon. Eu não tinha mais a quem recorrer, Luigi. Não deixe que nada
aconteça...
Nina precisava de mim, e eu não hesitaria em fazer o impossível
para protegê-la.
— Claro que não, Nina. Eu vou cuidar disso, vai ficar tudo bem.
Quando eu chegar faremos o que for necessário. Fique forte, il mio amore.
Estou indo buscar você.
O som da linha permaneceu mudo por um breve momento.
— Luigi, por que está me chamando assim? Você disse que eu era
apenas um passatempo para você. Está tentando se redimir agora?
A acusação dela perfurou meu peito como uma lâmina afiada. Eu
podia sentir a dor nas palavras dela, a confusão, a traição. Um suspiro
escapou de meus lábios antes de tentar explicar, mesmo sabendo que as
desculpas não mudariam o que já fora dito.
— Nina, eu... Eu disse coisas que não deveria ter dito. Fui estúpido.
Eu errei. Você não é apenas um passatempo para mim. Eu me importo, mais
do que posso expressar com palavras.
A pausa que se seguiu foi carregada de tensão. Eu podia imaginar
Nina processando minhas palavras, avaliando se poderia confiar novamente
naquilo que eu dizia.
— Não sei se posso acreditar, você parecia tão certo de que eu não
significava nada.
A frustração crescia dentro de mim. Como poderia convencê-la de
que tudo o que eu disse era apenas reflexo da minha própria confusão e
medo?
— Eu estava errado, Nina. Eu estava com medo de me envolver, de
admitir que já significava mais para mim do que qualquer outra pessoa no
mundo, mas não posso ignorar o que sinto por você. Você não é um
passatempo, é alguém que eu...
A voz dela cortou minhas palavras, interrompendo-me
abruptamente.
— Luigi, não agora. Eu não... não consigo ouvir isso agora.
A dureza nas palavras dela era evidente. Ela estava certa; tínhamos
problemas maiores a enfrentar.
— Eu entendo, Nina. Vou cuidar de tudo e de você.
Mais uma vez ela ficou em silêncio por alguns segundos.
— Luigi... — a voz dela, suave e carregada de emoção, quebrou o
silêncio. — Estou grávida.
— Grávida? — minha voz saiu em um sussurro, como se
necessitasse de uma confirmação.
O silêncio do outro lado da linha era assombroso. Eu estava mudo,
atordoado pela magnitude do que ela disse. O pensamento de Nina
carregando um filho meu trouxe uma complexidade adicional à nossa
situação já tumultuada. O instinto de proteção se misturava com uma
profunda preocupação, e uma sensação de impotência se apoderava de mim.
— Sim... — a resposta dela, quase um suspiro, continha uma mistura
de sentimentos. — Eu não queria que você soubesse assim, Luigi. Mas é a
verdade e eu estou com medo...
Alegria, medo, preocupação, uma mistura devastadora se
entrelaçava em um nó apertado dentro de mim. A revelação sacudiu meu
mundo, e por um momento, a cabine do avião parecia girar ao meu redor.
— Nina, eu... — as palavras escapavam, minha mente lutando para
encontrar a expressão adequada para o que estava sentindo. — Por que não
me contou antes? Eu... Eu queria estar ao seu lado, passar por tudo isso
juntos.
Ela estava grávida, e eu estava a milhares de quilômetros de
distância, incapaz de protegê-la ou oferecer o apoio necessário. As mãos
apertaram o celular com força.
— Eu pensei que você não fosse querer o bebê. Eu nem sabia antes
de ter ido embora. — A voz dela era chorosa, o que me partiu em pedaços.
— Você não está sozinha, Nina. Vamos enfrentar tudo juntos, eu
prometo. Vou cuidar de você e do nosso filho.
Ouvi alguém falar com ela.
— Preciso desligar.
— Nina... — A ligação com Nina foi interrompida abruptamente,
deixando-me com um aperto no peito e uma sensação de impotência que era
difícil de suportar.
O pânico começou a se instalar. Nina estava em perigo, grávida e
sozinha em meio a uma conspiração dentro da Bratva. A culpa por tê-la
afastado, o medo pelo que poderia acontecer a ela e ao bebê, tudo parecia
querer me sufocar.
Hettore me encarou com uma expressão interrogativa.
— Luigi. Ela está grávida?
Meu olhar encontrou o dele, e minha resposta foi uma mistura de
dor e determinação.
— Sim, Hettore, ela está grávida. Precisamos agir rápido, há muito
mais em jogo.
peguei meu celular e disquei o número de Damon. A ligação foi
atendida após alguns toques, e sua voz surgiu do outro lado.
— Damon. Precisamos conversar, há uma situação urgente na
Rússia.
O som de uma porta se fechando indicou que Damon estava
buscando um local mais privado para a conversa. Expliquei rapidamente a
situação, desde a conspiração de Kellen até a gravidez de Nina.
— Cazzo, Luigi! Já cheguei, deixarei Giulia em segurança e te
ajudarei, não por você, Giulia se apegou a prima e ao pai, ela não me
perdoaria se deixasse que algo acontecesse a eles.
— Precisamos agir estrategicamente. O plano deles envolve
substituir o tio de Nina e tomar o controle da Bratva. Eles estão dispostos a
tudo, Damon. Precisamos ser rápidos e eficientes.
Damon concordou, e começamos a traçar um plano para neutralizar
a ameaça representada por Kellen e Mikhail, que eu ainda não confiava.
Cada detalhe era crucial, e a urgência ditava cada decisão. O tempo parecia
escorrer pelos dedos, mas não podíamos nos dar ao luxo de hesitar.
Desliguei a chamada com Damon e me virei para Hettore, cuja
expressão refletia a gravidade da situação.
— Precisamos chegar lá antes que seja tarde demais. Vamos
mobilizar nossos aliados próximos da mansão, garantir que tudo esteja
pronto para a nossa chegada.
Hettore assentiu, e a dinâmica de nossos planos começou a se
desenrolar. Cada segundo contava, e o pensamento de Nina, grávida e
vulnerável, alimentava a urgência que ardia em meu peito.
Em questão de horas, estaríamos mergulhando em um território
perigoso, enfrentando inimigos internos e externos. O destino de Nina e de
nosso filho estava pendurado na balança, e eu estava determinado a fazer
qualquer coisa para garantir que ambos estivessem seguros.
Capítulo
26
O som dos convidados chegando ecoava pelo salão, cada risada e
conversa aumentando o ritmo acelerado do meu coração, tão frenético
quanto as asas de um beija-flor. Enquanto eu me olhava no espelho,
ajustando o véu sobre meus cabelos, meu reflexo mostrava uma noiva, mas
meus olhos revelavam o medo e a incerteza que me consumiam.
De repente, a porta se abriu e Kellan entrou, interrompendo meus
pensamentos turbulentos. Seu sorriso era arrogante, confiante, como se já
tivesse ganhado tudo que queria.
— Dizem que dá azar — disse tentando manter a calma. — Ver a
noiva antes do casamento não traz boa sorte.
Ele riu de forma desdenhosa, aproximando-se com passos lentos e
deliberados.
— O azar, querida Nina, é você estar se casando comigo.
— Por que precisa se casar comigo? Você sabe que nunca terá meu
coração, Kellan. Nunca. — Minha voz tremia ligeiramente, mas eu me
esforçava para manter a postura firme.
Ele se aproximou ainda mais, o olhar fixo no meu.
— Não preciso do seu coração, Nina. Só preciso que você seja
minha.
Antes que eu pudesse reagir, ele me puxou para si e me beijou
rudemente. Seus lábios eram duros e exigentes, mas eu não estava disposta
a ceder. Em desespero e repulsa, mordi seu lábio com força, sentindo o
gosto metálico de seu sangue.
Kellan se afastou, levando a mão aos lábios. O sangue que escorreu
antes de ele se afastar, pingou sobre o tecido branco do meu vestido de
noiva.
— Sua louca! — Ele cuspiu as palavras com raiva, tocando o lábio
ferido.
— Jamais pense que terá qualquer coisa de mim, sem enfrentar
resistência, Kellan. — Minha voz era firme, recusava-me a ser subjugada
por ele.
Kellan me encarou com um olhar que misturava raiva e interesse.
Deu um passo para trás, limpando o sangue de seu rosto.
— Eu deveria te dar o que você merece por isso, Nina. — A pressão
de sua mão em meu pescoço aumentava a cada palavra. — Mas não posso
machucar esse seu rostinho bonito antes do nosso grande dia.
O medo se entrelaçava com a dor, enquanto eu tentava manter uma
expressão neutra, escondendo o terror que me consumia por dentro. De
repente, com um movimento brusco, ele me empurrou com tanta força que
perdi o equilíbrio e caí, batendo com o abdômen na quina da mesa. Um
grito de dor quase escapou de meus lábios, mas engoli-o rapidamente,
mordendo a língua para me manter em silêncio.
A dor aguda no era quase insuportável, uma pontada aguda que me
fazia temer pelo bebê. Cada célula do meu corpo queria se contorcer de dor,
mas sabia que não podia me dar ao luxo de mostrar fraqueza. Se Kellan
desconfiasse da minha gravidez, estaria assinando a nossa minha sentença
de morte.
Forçando-me a me levantar, fingi ajustar o vestido, escondendo a
dor que sentia. Meu olhar encontrou o dele, e por um momento, vi uma
faísca de dúvida em seus olhos. Talvez ele estivesse se perguntando se tinha
ido longe demais, mas não demorou muito para que a expressão dele
voltasse a ser de frieza calculista.
— Arrume-se, Nina. Não quero que você me envergonhe diante de
todos os nossos convidados. — A voz dele era fria e desprovida de qualquer
traço de preocupação.
— Quero ver o meu tio.
— Ele estará aqui quando você estiver pronta para caminhar até o
altar.
Ele saiu do quarto sem olhar para trás, deixando-me sozinha
novamente. Eu me apoiei na mesa, tentando controlar a respiração e
aguentar a dor que me consumia.
— Luigi, por favor, chegue logo — sussurrei para mim mesma, uma
prece silenciosa para que ele pudesse nos salvar. A dor no abdômen ainda
latejava, mas eu tinha que ser forte. Por mim e pelo nosso bebê.
(..)
As horas pareciam se arrastar desde que fiquei sozinha. Meu tio
entrou na sala, sua postura sempre imponente, mas seus olhos revelavam
uma preocupação que ele raramente demonstrava. Ele parou por um
momento, olhando-me com um misto de admiração e tristeza.
— Nina, você está linda. Uma verdadeira joia. — Ele tentou sorrir,
mas era evidente que algo o incomodava. — Infelizmente, Giulia está se
sentindo mal e não poderá comparecer. Uma pena, ela queria muito estar
aqui.
Senti um alívio momentâneo ao saber que Giulia estava fora de
perigo, longe desse ninho de víboras. O olhar do meu tio desceu até o meu
vestido, e ele franziu o cenho ao ver as gotas vermelhas.
— O que é isso no seu vestido, Nina? — perguntou ele, a
preocupação em sua voz se aprofundando.
— Eu... eu mordi Kellen. — Minha voz era baixa, quase um
sussurro, enquanto tentava manter a compostura. — Mas isso não é o mais
importante agora, tio.
Respirei fundo, sabendo que o que estava prestes a revelar poderia
mudar tudo.
— Tio, há um golpe sendo planejado contra você. Kellen e alguns
outros estão envolvidos. — As palavras saíram apressadas, meu coração
batendo acelerado. — Você precisa fingir que não sabe de nada. Eu não sei
quem é amigo e quem é inimigo aqui.
O choque e a surpresa cruzaram o rosto do meu tio, mas
rapidamente foram substituídos por uma expressão calculista. Ele era um
homem acostumado ao jogo de poder e sabia como se manter um passo à
frente dos adversários.
— Como você soube disso, Nina? — Sua voz era baixa, mas firme.
— Mikhail me avisou. Ele estava evolvido. — Vi seu rosto
endurecer, Mikhail era seu homem de confiança, e o traiu. — Pedi ajuda a
Luigi, tio. E também pedi a ele que avisasse Damon para não trazer Giulia.
Não queria colocá-la em perigo.
Meu tio assentiu lentamente, processando as informações. Ele se
aproximou de mim, segurando meus ombros com firmeza.
— Você fez bem em me contar, Nina. Vou tomar as medidas
necessárias. Agora, vamos, precisamos manter as aparências. Se Damon já
sabe e está aqui, ele também deve ter um plano.
Com um aceno de cabeça, concordei. Meu tio ofereceu seu braço, e
juntos, caminhamos para fora da sala, em direção ao altar.
A cada passo que dava em direção ao altar, uma dor aguda irradiava
do meu ventre. Meu coração batia descompassado, as emoções me
sufocando. O medo de que Kellen saísse vitorioso me consumia,
misturando-se à dor física que tentava desesperadamente ignorar.
Respirei fundo, tentando manter a compostura, mas era difícil.
Sentia falta de ar, como se cada respiração fosse uma luta. Meus olhos
varriam a multidão, buscando algum sinal de ameaça, mas tudo o que via
eram rostos sem nenhuma emoção, esperando o espetáculo do casamento.
Damon estava na primeira fileira de pessoas, bem próximo ao altar,
o que me deixou aliviada.
Cheguei ao altar e olhei para Kellen, tentando disfarçar a repulsa e
medo que sentia por ele. Seu sorriso era confiante, arrogante, como se ele já
tivesse vencido.
Foi nesse momento que a confusão começou.
De repente, o som de um disparo ressoou pelo salão. Murmúrios e
pânico se seguiram, as mulheres começaram a correr em direção a casa,
enquanto os homens estavam se posicionando. Meu coração parou por um
segundo, o medo se transformando em terror. Não sabia de onde vinha o
tiro, nem quem era o alvo. Olhei ao redor, tentando entender o que estava
acontecendo, enquanto segurava a dor que ameaçava me dobrar ao meio.
Kellen reagiu rapidamente, puxando uma arma de dentro do paletó.
Ele parecia tanto surpreso quanto furioso, seus olhos vasculhando o salão
em busca do atirador. Ao meu lado, meu tio permanecia calmo, mas seus
olhos revelavam uma alerta que eu raramente via.
Não sabia se Luigi já tinha chegado ou se era algum movimento de
Kellen ou de um terceiro grupo tentando aproveitar o caos. Tudo o que eu
sabia era que precisava sair dali, longe de Kellen, longe do perigo que
ameaçava a mim e ao meu bebê.
A dor estava se tornando insuportável, a cada momento mais
intensa, como se cada fibra do meu ser estivesse sendo rasgada. Tentei me
concentrar, mas as vistas começaram a embaçar. O barulho ao meu redor
parecia distante, abafado, como se eu estivesse submersa.
Sentia um líquido quente escorrendo entre minhas pernas, um sinal
alarmante que fez meu coração disparar ainda mais. O medo por meu bebê
crescia, uma onda de pânico me invadindo.
Então, ouvi a voz de Luigi, distante, quase como um eco em meio
ao caos. Não conseguia ver onde ele estava, mas o som de sua voz trouxe
um pingo de esperança.
Tentei chamar por ele, mas minha voz saiu fraca, quase inaudível. A
dor estava se tornando tudo o que eu conseguia sentir, dominando cada
pensamento, cada pedaço de mim. Tentei dar um passo, mas minhas pernas
falharam, e eu senti meu corpo começando a ceder.
As vozes ao meu redor eram agora apenas um zumbido, e a figura
de Luigi parecia uma miragem distante em meio ao nevoeiro que tomava
minha visão.
E depois.
Nada.
Capítulo
27
Aos poucos, a consciência foi voltando, trazendo com ela o som
monótono dos bips dos aparelhos do hospital. Antes mesmo de conseguir
abrir os olhos, senti uma mão acariciando meus cabelos com delicadeza, um
gesto tão familiar quanto reconfortante.
Eu queria abrir os olhos, queria ver quem estava ali, mas minhas
pálpebras pareciam pesar toneladas. Com um esforço imenso, consegui
entreabri-los, permitindo que uma luz suave e difusa invadisse minha visão
turva.
Meu coração pulou uma batida quando reconheci o rosto
preocupado, mas aliviado, de Luigi. Ele estava ali, ao meu lado, exatamente
como eu havia desejado nos momentos mais sombrios.
— Luigi... — minha voz era um sussurro rouco, a secura da minha
garganta tornando difícil falar.
Ele se inclinou para mais perto, seus olhos cheios de uma emoção
que eu não conseguia decifrar.
— Nina, você está acordada. Vou chamar o médico. — Ele se
levantou por alguns instantes para apertar um botão e voltou para perto de
mim.
Eu queria perguntar sobre o bebê, sobre tudo o que havia
acontecido, mas as palavras pareciam se perder em algum lugar entre meu
pensamento e minha boca.
— O bebê... — consegui murmurar, a preocupação pela criança que
carregava se sobressaindo a tudo mais.
A expressão de Luigi se alterou. Ele pegou minha mão, segurando-a
entre as suas com uma força suave.
— Nina, você precisa descansar agora. Vou explicar tudo, mas
primeiro, você precisa se recuperar.
Eu queria insistir, queria saber, mas as forças me faltavam. Senti a
pressão suave dos lábios de Luigi na minha testa, um gesto terno que
aqueceu meu coração.
Assim que o médico entrou no quarto, senti uma onda de ansiedade.
Ele se aproximou da minha cama, começando a verificar os aparelhos e os
meus sinais vitais com um olhar concentrado. Cada movimento dele parecia
intensificar a minha preocupação, o meu coração batendo acelerado em
antecipação ao que ele poderia dizer.
— A senhora está se recuperando bem. — Disse ele, finalmente,
sem desviar o olhar dos monitores. — Mas precisaremos realizar mais
alguns exames para ter certeza de que tudo está progredindo como deveria.
Eu engoli em seco, reunindo coragem para perguntar o que mais me
atormentava desde que recobrei a consciência.
— E o bebê? — minha voz saiu fraca, carregada de medo e
esperança.
O médico finalmente me olhou, respirou fundo antes de falar, como
se escolhesse cuidadosamente suas palavras.
— Vamos fazer um ultrassom para verificar como está o bebê. Para
que você fique mais tranquila. — explicou ele, tentando manter um tom
neutro.
— Por favor — implorei com um fio de voz, — eu preciso saber.
O médico assentiu.
— Preciso lhe informar algo importante — começou o médico, com
uma seriedade que imediatamente me alertou. — Você tinha uma gestação
gemelar.
Minha respiração parou por um momento. "Tinha"? A palavra ecoou
em minha mente, carregando um peso terrível.
— O que quer dizer com... "tinha"? — perguntei, minha voz
tremendo.
Nesse instante, percebi que os batimentos cardíacos no monitor
começaram a acelerar. Luigi, que estava ao meu lado, segurou minha mão
com firmeza.
— Durante o trauma que você sofreu, houve complicações.
Infelizmente, você perdeu um dos fetos. — Ele fez uma pausa, observando
minha reação.
Ao ouvir a notícia da perda de um dos bebês, senti uma dor tão
intensa que parecia rasgar meu coração em pedaços. Meu coração, que batia
acelerado, agora parecia arder.
As lágrimas começaram a escorrer involuntariamente pelo meu
rosto, cada uma carregando uma parte da dor e do luto que eu sentia. A
respiração se tornou difícil, cada inspiração era como se eu estivesse
tentando puxar o ar através de um espaço cada vez mais estreito. Eu queria
chorar alto, gritar, expressar toda a dor que estava sentindo, mas tudo o que
conseguia fazer era soluçar baixinho, enquanto as lágrimas continuavam a
cair, uma após a outra.
— Calma, Nina. Tudo vai ficar bem — Luigi disse ele, tentando me
tranquilizar. — Você precisa se acalmar, pelo bebê. — Seus olhos
suplicaram.
Era uma dor física e emocional, um peso no peito que me fazia
sentir como se estivesse sendo esmagada sob o peso da minha própria
tristeza. Eu sabia que tinha que ser forte pelo outro bebê que ainda estava
lutando pela vida, mas naquele momento, a dor da perda era tão intensa que
parecia consumir todo o resto.
Eu senti como se o mundo estivesse desabando ao meu redor.
O médico continuou, com cautela em sua voz.
— O outro feto ainda está se desenvolvendo, é crucial que você
mantenha repouso absoluto e evite qualquer tipo de estresse. O risco de um
aborto espontâneo ainda é significativo, principalmente nas próximas
semanas.
Luigi apertou minha mão ainda mais forte, tentando transmitir
algum conforto.
— Como ele está? — perguntei, tentando me agarrar a algum fio de
esperança.
— Os sinais são estáveis no momento — explicou o médico. —
Realizamos um Doppler fetal e os fluxos sanguíneos uteroplacentários estão
dentro da normalidade, o que é um bom sinal. Mas insisto na importância
do repouso. Qualquer sinal de sangramento, dor abdominal ou contrações,
você deve nos informar imediatamente.
Eu assenti, engolindo em seco, tentando absorver todas aquelas
informações. A tristeza pela perda de um dos bebês era imensa, mas a
esperança de que o outro pudesse sobreviver me dava forças para lutar.
— Farei tudo que for necessário — prometi, com a voz embargada.
O médico me deu um aceno de cabeça compreensivo.
— Vamos monitorá-la de perto. Seu bem-estar e o do bebê são nossa
prioridade agora.
Lágrimas ainda escorriam pelo meu rosto quando me virei para
Luigi, um soluço escapando dos meus lábios.
— Me desculpa — murmurei com voz fraca. —Eu não fui forte o
suficiente para proteger nossos filhos.
Luigi, com os olhos já marejados, me olhou profundamente. Ele
segurou minha mão com delicadeza, e sua voz embargada me surpreendeu.
— Nina, você não tem que pedir desculpa por nada. Você é a pessoa
mais forte que eu conheço. — Sua voz falhou um pouco, e ele engoliu em
seco antes de continuar. — Eu é que devo pedir perdão por não ter te
protegido. Por ter feito com que você fosse embora.
Eu nunca tinha visto nenhum dos homens na máfia chorar. Sempre
os vi como um pilar de força, inabalável, um mafioso que não demonstrava
fraqueza. Ver lágrimas em seus olhos me chocou, mas também me fez sentir
uma conexão mais profunda com ele.
— Luigi, eu... — Minha voz falhou, as lágrimas tornando difícil
formular as palavras.
— Nina, não importa o que aconteça, eu estarei aqui. Eu vou
proteger você e nosso bebê. — Ele apertou minha mão, e uma lágrima rolou
pelo seu rosto. — Eu deveria ter te mantido segura. Isso nunca deveria ter
acontecido.
Sua confissão sincera e a dor em seus olhos me tocaram
profundamente. Era a primeira vez que o via tão vulnerável, tão humano.
— Eu só queria... queria que nossos filhos... — Minha voz se perdeu
em soluços.
— Eu sei, eu sei... — Ele se aproximou, acariciando meu cabelo
com gentileza.
Luigi respirou fundo, olhando nos meus olhos com uma intensidade
que eu nunca tinha visto antes.
— Nina, eu preciso que você saiba a verdade. — Sua voz era suave,
mas carregada de emoção. — Tudo o que você me ouviu dizer antes... era
mentira. Eu não te via apenas como um passatempo. Você é muito mais do
que isso para mim.
Ele fez uma pausa, buscando as palavras certas.
— Você se infiltrou no meu coração de uma maneira que eu nunca
imaginei possível. Eu tentei lutar contra isso, mas a verdade é que eu te
amo, Nina. Eu amo você de uma forma que nunca pensei que fosse capaz
de amar alguém.
— Você me mostrou o que é o amor verdadeiro, e eu não quero
passar um dia sequer sem você ao meu lado. — Ele passou a mão em meu
rosto. — Eu amo a família que estamos construindo juntos, e eu prometo,
Nina, que vou fazer tudo ao meu alcance para proteger você e nosso filho,
para construir um futuro onde possamos ser felizes.
— Eu também te amo... — sussurrei com as lágrimas escorrendo
livremente.
Capítulo
28
Quando vi Nina desmaiar no altar, meu coração parou por um
instante. O medo tomou conta de mim, uma sensação devastadora que
nunca tinha experimentado antes. Corri até ela, desesperado, enquanto os
disparos ecoavam ao fundo, mas minha mente só conseguia se concentrar
em Nina, em seu bem-estar.
Agora, sentado ao lado de sua cama no hospital, observando-a fraca
e abatida, uma culpa insuportável me consome. Eu me culpo por tudo que
aconteceu. Se eu tivesse sido honesto desde o início, se eu tivesse
expressado meus verdadeiros sentimentos por ela, talvez pudéssemos ter
evitado esse desastre. O pensamento de que um dos nossos filhos se foi, em
parte, por minha causa, é uma dor que não consigo descrever.
Sinto uma mistura de raiva e tristeza por dentro. Raiva de mim
mesmo por ter sido tão covarde, por ter escondido meus sentimentos atrás
de uma máscara de indiferença. Tristeza por ver Nina, a mulher que amo,
sofrendo tanto física quanto emocionalmente.
Ela está ali, deitada, tão vulnerável e ainda assim tão forte. Eu me
prometo, ali mesmo, que farei tudo que estiver ao meu alcance para
protegê-la e ao nosso filho que sobreviveu. Eu falhei uma vez, mas não
falharei novamente.
Nina e nosso filho são agora o meu mundo.
— Luigi, como tudo acabou? Conseguiram impedir Kellan? E meu
tio, como ele está? — perguntou com a voz fraca, mas com os olhos
inundados de preocupação.
— Sim, Nina, conseguimos. Kellan foi contido. Ele está agora nas
mãos de Dmitry, que decidirá o futuro dele — digo, segurando a mão dela,
tentando transmitir toda a calma e segurança que posso.
— Mas... como? — a voz dela está carregada de ansiedade.
Respiro fundo antes de explicar.
— Não tínhamos tempo de estudar nada, e quando chegamos
acabamos sendo descobertos, foi quando aconteceu o primeiro disparo,
então Damon e seu tio agiram, enquanto eu me aproximava.
Ela parece absorver cada palavra, sua expressão uma mistura de
alívio e exaustão.
— E meu tio?
— Seu tio está bem... Graças a ele, conseguimos agir rapidamente
— vendo seus olhos brilharem com orgulho imenso do homem que ela
considera uma figura paterna.
— Então... finalmente acabou? — Ela pergunta, uma lágrima
solitária escorrendo pelo seu rosto.
— Sim, Nina, acabou — respondo, beijando sua testa com todo o
cuidado do mundo. — Agora é hora de nos concentrarmos em você e no
nosso bebê.

Passamos algumas horas sozinhos, Nina ainda estava um pouco


sonolenta, chegava a cochilar e acordava assustada, ainda pensando em
tudo o que tinha acontecido. Cada vez que ela se assustava eu me sentia
pior, eu deveria ter evitado que ela passasse por tudo aquilo.
Toquei seu ombro levemente para avisar que ela tinha visitas.
— Giulia chegou para te ver, Nina — digo, observando o brilho nos
olhos dela ao ouvir o nome da prima.
— E meu tio? — ela pergunta, a voz ainda fraca, mas cheia de
esperança.
— Ele também está aqui. Chegou junto com Giulia. Eles estão
ansiosos para te ver. — Digo sorrindo ao vê-la um pouco mais feliz.
Ela sorri, um sorriso que ilumina o quarto apesar de sua palidez.
— Chame-os, por favor. Quero vê-los — ela pede, e eu não posso
deixar de notar a força que ela está reunindo para enfrentar esse momento.
Levanto-me e caminho até a porta, abrindo-a. Giulia e Dmitry estão
do lado de fora, ambos ansiosos.
— Podem entrar — digo, dando espaço para que eles passem.
Giulia corre para o lado da cama, segurando a mão de Nina e
começando a falar sem parar, enquanto o tio se aproxima com um olhar
mais cauteloso, mas claramente aliviado ao ver Nina acordada.
Observando Giulia e o tio de Nina conversando com ela, sinto uma
mistura de alívio e inquietação. Eles riem e choram juntos, criando um
momento de ternura no meio do caos que tem sido nossa vida. Decido que é
hora de resolver algumas questões pendentes. Com um aceno discreto,
chamo Dmitry para fora do quarto.
Assim que fecho a porta atrás de nós, olho para Dmitry com
seriedade.
— Dmitry, preciso falar com você sobre algo importante — começo,
sentindo um nó se formar em minha garganta.
— O que é, Luigi? — Dmitry pergunta, seu olhar inquisitivo sobre
mim.
— É sobre Nina. Eu... Eu quero pedir sua permissão para me casar
com ela — digo, mantendo a voz firme.
Dmitry me olha por um momento, antes de sua expressão se
endurecer.
— Luigi, você conhece as regras. Você tocou a sobrinha de um líder
da máfia sem permissão. Como pôde ser tão imprudente? — ele repreende,
claramente desapontado.
— Eu sei, eu sei... Mas não foi algo que planejei. Aconteceu. Eu
amo ela, Dmitry, de verdade — tento explicar, sentindo o peso de cada
palavra.
— Amor? Na nossa vida, amor é um luxo que nem sempre podemos
nos dar. Você deveria ter pensado nela, nas consequências para ela! —
Dmitry continua, sua voz carregada.
— Eu sei que errei. Mas estou disposto a fazer o que for necessário
para reparar esse erro. Quero protegê-la, cuidar dela e do bebê — digo com
convicção.
Dmitry suspira, passando a mão pelos cabelos.
— Você realmente a ama, não é? — ele pergunta, seu olhar agora
mais suave.
— Mais do que tudo — afirmo, sem hesitar.
— Eu vou pensar no seu pedido, Luigi. Mas não sei se você merece
meu consentimento depois do que fez. — Dmitry adverte, seu olhar sério
novamente.
— Eu entendo sua hesitação, Dmitry. Sei que o que fiz foi errado,
mas quero que saiba que estou fazendo isso por mera formalidade. Eu não
deixarei Nina e meu filho. — digo com determinação, encarando-o nos
olhos.
Há um breve silêncio entre nós. Sinto a tensão no ar, mas sei que
preciso ser franco.
— Eu quero ter um bom relacionamento com a família dela, mas
farei o que for preciso para ficar ao lado dela, mesmo que isso signifique
entrar em conflito com você. — continuo com sinceridade.
Dmitry me observa por um longo momento, avaliando minhas
palavras.
— Você está disposto a me desafiar por ela?
— Sim, estou. Nina mudou minha vida. Ela e nosso filho são tudo
para mim agora. Eu lutarei por eles com tudo que tenho. — afirmo, minha
decisão é irrevogável.
Dmitry suspira, cruzando os braços.
— Você sempre foi teimoso, Luigi. Mas nunca pensei que chegaria a
esse ponto. — ele diz, um traço de respeito em sua voz.
— Dmitry, eu nunca quis desrespeitar sua família. Mas Nina... ela é
minha vida agora. — insisti, tentando transmitir minha sinceridade.
— Você sabe que não é tão simples, Luigi. Há regras, tradições... —
Dmitry começou, mas eu o interrompi.
— Eu sei das regras, das tradições. Mas também sei do que é mais
importante. E isso é a Nina, nosso filho. — minha voz era firme.
Dmitry suspirou, passando a mão pelos cabelos.
— Você está realmente disposto a tudo por ela? — perguntou,
olhando-me nos olhos.
— Sem hesitação — afirmei, sem desviar o olhar.
Por um momento, houve silêncio. Então, Dmitry deu um passo à
frente, estendendo a mão.
— Então, eu prefiro ser seu amigo do que seu inimigo, Luigi. —
disse ele, finalmente cedendo. — Você tem meu consentimento para se
casar com Nina.
Apertei sua mão, aliviado e grato.
— Obrigado, Dmitry. Você não vai se arrepender dessa decisão. —
disse eu, sentindo um peso se levantar dos meus ombros.
— É melhor mesmo que não me arrependa, Luigi. — Dmitry
respondeu, mas havia um leve sorriso em seu rosto. — Agora, cuide bem
dela e do seu filho. Eles são sua responsabilidade.
— Eu cuidarei. — Garanti, sabendo que minha vida havia mudado
para sempre, mas para melhor.
Com um aceno de cabeça, Dmitry se virou e voltou para o quarto.
Eu o segui, pronto para começar essa nova fase da minha vida ao lado de
Nina e de nosso filho.
Capítulo
29
Foram duas longas semanas na Rússia, esperando que Nina tivesse
alta. Cada dia parecia arrastar-se, mas finalmente chegou o momento de
retornarmos à Itália. Eu a observei enquanto fazia as malas, seu rosto ainda
mostrando sinais de tudo o que ela passou, mas com uma força que me
enchia de admiração.
Pedi que Hettore voltasse antes para cuidar das coisas por lá, não
queria que nosso território ficasse sem a supervisão de ambos.
— Luigi, o que meu tio disse sobre nós voltarmos para a Itália? —
perguntou Nina, enquanto eu fechava a mala.
Hesitei por um momento antes de responder.
— Não se preocupe com isso, Nina. — Respondi, tentando parecer
mais confiante do que realmente me sentia. — O importante agora é você se
recuperar completamente e garantir a segurança do nosso bebê.
Ela me olhou com uma expressão de quem não estava
completamente convencida, mas não insistiu no assunto.
— Está tudo bem, Luigi. Eu confio em você. — disse ela, sorrindo
fracamente.
Eu me aproximei, beijando sua testa suavemente.
Ao chegarmos à mansão, senti uma onda de alívio e satisfação. A
casa representava segurança, um refúgio para Nina e para o nosso futuro
juntos. Decidi que aquela noite seria especial, uma celebração da nossa
união e da nossa força juntos.
— Nina, tenho uma surpresa para você. — disse, entregando-lhe
uma caixa elegante. Dentro, um vestido deslumbrante, saltos altos e joias.
— Quero que você se sinta a rainha que é. Tome o tempo que precisar para
se arrumar.
Enquanto ela subia as escadas com a caixa, dirigi-me ao quarto de
hóspedes para me arrumar. Vestindo um terno sob medida, ajustei a gravata
e alisei os cabelos, ansioso pelo momento de vê-la novamente.
Esperando no hall de entrada, meu coração batia acelerado. Então,
ela apareceu no topo das escadas, e por um momento, o mundo inteiro
parou. Nina estava deslumbrante, o vestido caindo perfeitamente em seu
corpo, realçando sua silhueta elegante. Era um tom de azul-noite, com
detalhes em renda e um decote que lhe conferia um ar de sofisticação e
sensualidade. Os cabelos caíam em ondas suaves sobre os ombros, e as
joias que eu escolhera brilhavam com a luz.
Descendo as escadas com uma graça que me deixava sem fôlego,
ela se aproximou.
— Você está deslumbrante, Nina — eu disse, estendendo a mão para
ajudá-la nos últimos degraus. — Nada em todo o mundo consegue chegar
aos seus pés.
Ela sorriu e naquele momento, eu sabia que tudo que havíamos
passado valeu a pena. Nina era a luz que iluminava minha vida, e eu estava
determinado a fazer tudo ao meu alcance para fazê-la feliz.
Chegamos ao restaurante, e ao abrir as portas, vi seus olhos
brilharem. O local estava decorado com flores, criando uma atmosfera
mágica e acolhedora. Giulia, Dmitry, Damon, Hettore e Isa estavam todos
lá, esperando por nós. O olhar de Nina iluminou-se ao ver a família reunida,
um sorriso genuíno adornando seus lábios.
Ela se aproximou de cada um, distribuindo abraços e cumprimentos
calorosos. Observando-a de longe, senti um orgulho imenso e uma emoção
profunda ao ver a alegria em seu rosto. Enquanto ela conversava
animadamente com Giulia, discretamente retirei do bolso uma pequena
caixa de veludo, sentindo o coração acelerar.
Quando Nina se afastou um pouco, aproveitei o momento. Com o
coração batendo forte no peito, ajoelhei-me diante dela, abrindo a caixa
com a aliança. Seus olhos se voltaram para mim, surpresa e emoção
refletidas em seu olhar.
— Nina, desde o momento em que te conheci, minha vida mudou
completamente. Você me mostrou o que é amor verdadeiro, força e
compaixão. Ao seu lado, encontrei um propósito e uma felicidade que
nunca imaginei ser possível. — Eu pausei, engolindo a emoção. — Quero
passar o resto da minha vida ao seu lado, cuidando de você e do nosso filho.
Nina, você aceita se casar comigo?
As palavras saíram carregadas de sinceridade e amor. Olhando para
ela, esperando sua resposta.
Seus olhos brilharam com lágrimas de emoção. Por um momento, o
mundo pareceu parar, e tudo o que existia era o olhar dela sobre mim. Ela
cobriu a boca com as mãos pouco antes de jogar os braços em volta do meu
pescoço.
— Sim, Luigi, eu aceito! — Ela finalmente disse, a voz trêmula de
emoção.
Levantei-me rapidamente, deslizando a aliança em seu dedo, um
símbolo do nosso amor e compromisso. Puxei-a para mim, sentindo seu
coração batendo contra o meu.
Inclinei-me mais para perto de Nina, nossos olhares fixos um no
outro, carregados de paixão e promessas silenciosas. Nossos lábios se
tocaram, movendo-se um contra o outro com uma ternura que fazia meu
coração acelerar. Cada contato parecia acender uma chama dentro de mim,
uma que só ela era capaz de inflamar. Meu braço envolveu sua cintura,
puxando-a mais para perto, enquanto o outro acariciava gentilmente seu
rosto.
Nina respondeu ao beijo com igual fervor, suas mãos deslizando
pelos meus cabelos, puxando-me para mais perto. Nossos corpos se
encaixavam perfeitamente, como se fôssemos feitos um para o outro. O
mundo ao redor desapareceu, e só existíamos nós dois, perdidos nesse
momento de paixão e amor.
O beijo foi intensificando, explorando, reafirmando a conexão
profunda que compartilhávamos. Sentia cada respiração dela, cada batida
do seu coração, como se fossem minhas. Quando finalmente nos separamos,
nossos olhares se encontraram novamente e vi seu desejo refletido ali.
O restaurante irrompeu em aplausos e vivas, com a família se
aproximando para nos parabenizar.
Damon veio primeiro, com um sorriso contido no rosto, seguido de
perto por Dmitry, que me deu um olhar de aprovação. Giulia e Isa se
juntaram a nós, abraçando Nina calorosamente. Hettore, sempre mais
reservado, acenou com a cabeça, um gesto simples, mas significativo.
O jantar foi uma celebração alegre, cheia brindes e conversas
animadas. Observando Nina ao meu lado, conversando e rindo com a
família, senti uma paz e felicidade profundas. Ela era a peça que faltava em
minha vida, a luz em meio às sombras do meu mundo.
Enquanto a noite avançava, segurei a mão dela sob a mesa, sentindo
a aliança em seu dedo. Era um lembrete físico do nosso amor e da promessa
de um futuro juntos. Agradeci em silêncio por tê-la encontrado, e por ela ter
transformado minha vida.
Cinco anos depois...
Meu casamento foi mais do que perfeito, foi um sonho que se tornou
realidade. Cada detalhe estava impecável, desde a suave melodia que tocava ao
ndo até as delicadas flores que decoravam o ambiente, criando uma atmosfera
mágica. Luigi e eu trocamos votos sob um céu estrelado, com o suave brilho da
lua.
Os olhos de Luigi brilhavam com uma intensidade que aquecia minha
alma. Quando ele colocou a aliança no meu dedo, senti uma onda de felicidade e
certeza. Era o início de uma nova jornada, um novo capítulo em nossas vidas,
juntos.
Giulia estava radiante, e o tio Dmitry parecia orgulhoso, um sorriso suave
adornando seu rosto habitualmente sério.
A música enchia o ar enquanto dançávamos, nossos corpos movendo-se
em harmonia. Sentia-me segura nos braços de Luigi, como se nada no mundo
pudesse nos tocar. Seus sussurros de amor e promessas para o futuro, eram a doce
melodia que embalava meu coração.
Tudo foi perfeito, exatamente como nos meus mais lindos sonhos.
O nascimento da nossa filha foi um momento que transformou
completamente a minha vida. Desde o instante em que senti as primeiras
contrações até o mágico segundo em que a segurei nos braços pela primeira vez,
cada momento está gravado em meu coração com uma clareza eterna.
Quando a colocaram em meus braços, um sentimento de amor
incondicional e proteção inundou meu ser. Era uma menininha perfeita, com
pequenos dedos que se agarravam aos meus, olhos curiosos explorando o mundo
novo ao seu redor. Luigi estava ao meu lado, seus olhos brilhando de emoção e
orgulho, lágrimas de felicidade emoldurando seu rosto.
Nossa filha, com seu cabelo fino e sua pele suave, era a síntese de nosso
amor, um milagre que nos foi concedido. Luigi a segurou delicadamente, jurando
que seria o melhor pai que pudesse ser.
A presença de Chiara em nossas vidas trouxe uma nova dimensão de
felicidade e propósito. Cada sorriso, cada gargalhada dela iluminava nossos dias,
enchendo nossa casa com alegria e amor.
Ser mãe mudou minha perspectiva de vida. Cada decisão, cada
pensamento, agora era guiado pelo amor e pelo desejo de proporcionar o melhor
para nossa pequena.
Luigi e eu, nos tornamos mais unidos do que nunca. Chiara era o nosso
pequeno milagre, a personificação do nosso amor, um símbolo eterno da nossa
união.
Passo as mãos pela barriga, ciente de que ali há uma nova vida crescendo.
A sensação é indescritível, uma mistura de alegria, expectativa e um pouco de
ansiedade.
Imagino como será nosso bebê – será que terá os olhos expressivos de
Luigi ou o meu sorriso? Cada possibilidade me enche de entusiasmo e
curiosidade.
Luigi, um homem tão forte e protetor e, aos olhos do mundo, frio, quando
está com a nossa pequena família mostra um lado carinhoso e atencioso.
— Como está a minha rainha esta noite? — Viro-me para vê-lo.
Em suas mãos há um lindo buquê de rosas, hábito que ele desenvolveu no
decorrer dos anos e nunca mais parou.
— Estou muito bem, meu amor. — Caminhei lentamente até ele, peguei as
flores e depositei um beijo em seus lábios. — Como foi seu dia hoje?
— É sempre irritante quando não tenho você ao meu lado — sorri sentindo
suas mãos em minha cintura e vi seus olhos escurecerem. — Preciso estar no
melhor lugar do meu mundo.
Sorri.
— E onde seria?
— Enterrado dentro da minha preciosa esposa. — Sussurrou com o rosto
em meu pescoço.
Luigi me ergueu sem nenhum esforço, fazendo com que eu passasse as
pernas em torno de sua cintura, levou-me até nossa cama enquanto sua boca
tomava a minha para si.
— Sente-se — seu sorriso se abriu diante da minha ordem e ele obedeceu
prontamente.
Abri sua calça e a tirei junto com a cueca, liberando seu pau duro que me
fez ter água na boca. Luigi se livrou da camisa e ficou completamente nu para
mim. Apoiado nos cotovelos, me observou tirar a roupa com um olhar faminto e
parecendo prestes a se levantar e me agarrar.
Fiquei nua rapidamente e abaixei-me na beirada da cama, de joelhos no
chão e com as mãos nas suas coxas grossas o puxei, pedindo que se posicionasse
na beirada. Eu, como sempre, queria agradá-lo, e Luigi amava quando deixava
claro o quanto o desejava. Segurei seu pau e chupei lentamente a cabeça o
encarando a seguir e com meus olhos nos dele passei a língua de leve para
observar o quanto isso o deixava excitado.
Ele me encarou com os olhos em chamas, sua mão se prendeu em meus
cabelos, tomando parte do controle de meus movimentos. Separei meus lábios
levando-o até o fundo em minha garganta e voltei lentamente, chupando de novo a
glande. Luigi jogou a cabeça para trás de prazer e seu aperto em meus cabelos se
intensificou.
Eu me sentia excitada apenas por ver que eu conseguia deixá-lo a beira do
precipício.
— Já chega, il mio prezioso gioiello[7], se continuar fazendo isso vou gozar
na sua boca, e o que eu quero nesse momento é ver minha porra escorrendo de
dentro da sua boceta molhada. — Amava tanto esse jeito safado quanto amava o
homem amoroso que ele é.
Puxou-me pelos ombros e antes que me fizesse deitar na cama para tomar
as rédeas, eu o montei e bem devagar deslizei por sua extensão sem tirar meus
olhos dos dele. Apoiei-me em seu peito forte e rebolei em busca do meu prazer,
vendo Luigi se deliciar com cada movimento enquanto suas mãos apertavam meus
quadris.
Olhos nos olhos.
Respiração ofegante.
Prazer e amor.
Joguei minha cabeça para trás rebolando em cima dele. Meu corpo todo se
arrepiava com o seu toque e quando fitei seus olhos ele me virou com um
movimento rápido me deitou de costas na cama.
— Você me deixa louco, Nina — Penetrou-me lentamente e fechou os
olhos absorvendo a sensação. — É tudo que eu sempre quis. — Cravei minhas
unhas em sua pele e também fechei os olhos, me arrepiando com sua voz grossa
em meu ouvido.
Com o rosto em meu pescoço ele estocava, uma mão em minha bunda e a
outra em minha nuca, como se não quisesse deixar um centímetro de distância
entre nós. Fundindo nossos corpos como um.
— Eu te amo, Luigi — declarei e senti seus lábios se repuxando em um
sorriso. — Te amo — repeti em meio a um gemido.
Luigi ergueu seu rosto e me encarou, arremetendo fundo enquanto
mantinha seus olhos nos meus. Eu o apertava deslizando minhas mãos por sua
pele.
Eu era dele.
Toda dele.
Para sempre seria.
E o Capo frio da Camorra, e o homem mais incrível da Itália era
completamente meu.
Senti o orgasmo surgir a cada rebolada e investida que ele dava para dentro
de mim. Meu corpo se esquentou, meus gemidos se intensificaram, os tremores
me tomaram. Meu ventre se apertou e a onda de prazer me atingiu, o mesmo
aconteceu com ele e juntos nos perdemos no corpo um do outro.
Com a respiração ofegante Luigi deu um beijo em minha testa e fechou os
olhos ao sair de dentro de mim. Deitou-se ao meu lado puxando-me para si.
— Ti voglio bene, amore mio[8] — declarou apaixonado.
Ele se aproxima para um beijo que ainda arde com a mesma intensidade
dos primeiros, o som da nossa respiração compartilhada preenche o ambiente.
Às vezes, me pego pensando em como seria a vida se eu tivesse feito
escolhas diferentes, mas cada pensamento se desvanece diante da certeza de que
estou exatamente onde deveria estar. Ao lado de Luigi, construindo uma vida
repleta de amor.
— Eu te amo. — Sussurrei de volta.
E esse é apenas mais um dia comum em nosso “felizes para sempre”.
Angel veio ao mundo em 9 de fevereiro de 1995, em solo paulistano.
Desde tenra idade, com apenas 8 anos, sua mente já se perdia nas páginas dos
livros, mergulhando em mundos imaginários. Sua alegria era facilmente
conquistada por aqueles que compreendiam sua paixão: bastava presenteá-la com
um exemplar, e um sorriso genuíno iluminaria seu rosto.
Seu coração, entretanto, batia mais forte por um gênero literário em
particular: o romance. Nas páginas onde amores floresciam, ela encontrava refúgio
e inspiração. Crescendo e amadurecendo, essa paixão apenas se fortaleceu,
guiando suas leituras e, eventualmente, sua própria escrita.
A vida de Angel, repleta de capítulos coloridos, ganhou personagens
centrais: seu amado esposo, seu coração fora do peito que chama de filhos e uma
adorável trupe de três doguinhos.
Há pouco mais de três anos, Angel embarcou na jornada de escritora. Seu
talento encontrou um lar na plataforma Dreame, onde depositou pedacinhos de sua
alma em diversas obras. Sua preferência recaía sobre os romances clichês,
mergulhando também nas profundezas dos enredos dark e explorando as emoções
do new adult.
Em 28 de março de 2023 Angel lançou seu primeiro livro na plataforma
Amazon, intitulado “O Playboy e a Secretária”. Essa conquista representou um
passo significativo em sua jornada literária.
Acompanhem-na no Instagram para ficar por dentro de todas as novidades.
@angel_autora
Sinopse:
Ele é um playboy libertino;
Ela é uma secretária virgem;
Ele é arrogante;
Ela não o suporta.
Eduardo Alencar, no auge dos seus 29 anos, não quer responsabilidades,
tudo que ele quer é farra, bebidas e mulheres.
Sua mãe é quem comanda todas as empresas da família, mas tudo muda
quando ela decide que é hora de seu filho amadurecer.
A punição de Eduardo é ir morar em outra cidade para trabalhar como
faxineiro.
Cecília Richards é uma menina esforçada, aos 21 anos está terminando a
faculdade e trabalha como secretária de um dos gerentes da empresa Alencar, onde
ela lida constantemente com suas investidas.
Cecília conhece um faxineiro para lá de arrogante e imediatamente uma
inimizade entre ambos surge, porém, junto com as faíscas trocadas entre os dois,
uma chama da atração é acesa.
A vida da secretária nunca mais foi a mesma após cruzar com o playboy...
agora ela está GRÁVIDA!
Ele se decepcionou com o que julgou ser amor;
Ela tem medo de se entregar novamente;
Ele se fechou;
Ela é a chave para a sua felicidade.
Nenhum deles sabe o que é amor de verdade, até estarem
perdidamente apaixonados, até que o outro se torne mais vital para si do
que o próprio ar.

Lucas Jones trancou-se em seu mundo depois de ter seu coração


partido, focou em seu futuro como empresário, a meta é deixar de ser filial
e encerrar o contrato com a matriz para abrir uma empresa completamente
independente no mesmo local.
Conhecer alguém não está em seus planos, mas a vida sempre dá um
jeito de mostrar que não se pode estar no controle de tudo.
O destino tem o hábito de pregar peças, e Lucas vai perceber isso
quando em uma noite ele acabar na cama com uma belíssima ruiva e
descobrir que ela é noiva de um dos sócios de sua empresa.

Tessa Marshall filha do primeiro casamento de uma família muito


rígida, conta apenas com o carinho de seu noivo Cliff Livingston, rapaz de
boa família que diz amar Tessa desde o colegial.
Depois de muita insistência de Cliff, unida a vontade de seu pai que
ela se case logo, Tessa cede e os dois começam a namorar quando ela ainda
estava na faculdade, o tempo passa e eles ficam noivos.
Tudo parece estar perfeito, ela quer que seja assim, porque sabe
exatamente qual o melhor momento para se vingar de seu noivo e sua, até
então, melhor amiga.
O que Tessa não poderia prever é que será a partir daí que saberá o
significado do amor.
Ela é fria e libertina;
Ele amargurado e arrependido;
Ela vive presa em seus traumas;
Ele está envolto na dor de ter perdido a mulher que amou.
Os dois se amaram perdidamente no passado, agora se
reencontraram, mas nenhum dos dois reconhece o que amava no outro.
Resta saber se Cedric pode salvá-la ou se Blair irá arrastá-lo de volta para a
escuridão.
Cedric Roux
Não há sequer um dia nesses últimos quatro anos que não tenha
pensado nela, Blair Lennox, a irmã mais nova de seu melhor amigo.
Desde muito jovem, Blair parou de esconder seu interesse por
Cedric, ele precisou de todo o seu autocontrole para não acabar caindo em
tentação.
A pequena diaba sabia bem como usar tudo a seu favor, e não era de
desistir facilmente.
Era impossível não dizer que Blair seria de uma beleza absurda.
Com dezessete anos, seus olhos eram como portas para o inferno e
faziam todo corpo de Cedric queimar cada vez que o encarava com desejo.
Mas seu tormento teve início no dia em que Blair simplesmente
desapareceu.

Blair Lennox
Sempre soube exatamente o que queria, e isso era válido para todos
os sentidos de sua vida, carreira, sonhos, objetivos, desejos, absolutamente
tudo era detalhadamente definido. E sempre que fechava os olhos e
imaginava um futuro Cedric Roux fazia parte dele.
Cedric era o melhor amigo de seu irmão, inseparáveis como unha e
carne, oito anos mais velho, mas isso nunca a importou, observava-o desde
sempre, queria-o mesmo antes de saber ao certo o que era o desejo.
Mas em uma noite cruel e fria, sua vida mudou completamente.
Foi arrancada de seus objetivos, desfez os planos e foi impedida de
sonhar novamente.
Quatro anos depois de ter partido, se vê obrigada a voltar para
a sua antiga cidade e seus demônios interiores nunca estiveram mais
presentes do que agora.
Em um casamento que esconde segredos, Giulia e Vittorio Ricci
aparentam a perfeição, mesmo diante da desaprovação de suas famílias.
Vittorio é um empresário determinado a conquistar o sucesso, mas
em sua busca por riqueza, cruza o caminho de Damon Lucchese, um
mafioso impiedoso determinado a não conhecer a derrota.
Enquanto Giulia dedica seu tempo a um orfanato, Vittorio oculta sua
sombria conexão com Damon e seu verdadeiro eu.
Damon, fica obcecado por Giulia e, aproveitando um erro fatal de
Vittorio para oferecer um acordo: uma semana com a mulher que tanto
deseja.
Uma história de paixão, segredos revelados e sacrifício se desenrola,
onde os limites do amor e da lealdade são postos à prova em um jogo
perigoso. Será que Giulia se renderá a esse acordo sombrio?
Diana casou-se muito jovem com Christopher Rockefeller, um
homem de beleza avassaladora que irradiava poder por todos os poros.
Quando Christopher colocou os olhos em Diana, uma jovem doce e bela,
decidiu que ela o pertenceria. Inicialmente, agiu como um verdadeiro
cavalheiro, mimando-a, trazendo flores e encantando Diana e todos ao seu
redor. O homem perfeito. Pelo menos, foi o que ela pensou
Anos depois, Diana toma uma decisão audaciosa. Ela não quer mais
continuar ao lado de seu marido, e está disposta a tudo para sair desse
relacionamento. É quando o destino a leva a cruzar caminhos com Pierre
Lucchese.
Pierre é o Consigliere da Ndrangheta, um homem de aparência
sedutora e descontraída, mas, ao mesmo tempo, aterrorizante. Aqueles que
conhecem seu nome sabem que há muito mais por baixo da superfície
tranquila. Uma viagem de negócios se transforma em um ponto de virada na
vida de Diana, mexe com o mundo do Lucchese e perturba o Rockefeller
quando ele descobre que sua esposa desapareceu.
Queridos leitores,
Ao chegarmos ao final desta jornada emocionante, gostaria de expressar
meu mais sincero agradecimento a cada um de vocês que me acompanhou. Sua
presença, suas emoções e seu envolvimento foram fundamentais para dar vida a
esta história.
Através de cada palavra, cada momento de alegria e cada desafio
enfrentado pelos personagens, compartilhamos uma viagem incrível.
É uma honra ter tido a oportunidade de compartilhar esta história com
vocês e é com um coração cheio de gratidão que encerro “A obsessão do capo”.
Obrigado por fazerem parte deste mundo e desta aventura. A história de
Nina e Luigi pode ter chegado ao fim, mas espero que as memórias e sentimentos
que ela despertou, continuem vivos em cada um de nós.
Com carinho e gratidão,
Angel

[1]
Você é um idiota! Se você falar assim com ela de novo, vou arrancar suas bolas e sua língua e
fazer você engolir!
[2]
Porra!
[3]
Querida.
[4]
Minha joia preciosa.
[5]
pequena
[6]
Graças a deus!
[7]
Minha joia preciosa.
[8]
Eu te amo, meu amor.

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