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Copyright © 2023 Yule Travalon

ARROGANTE:
O GUARDA-COSTAS DA PRINCESA
1ª Edição

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra poderá ser


reproduzida ou transmitida por qualquer forma, meios eletrônicos ou
mecânico sem consentimento e autorização por escrito do
autor/editor.

Capa: Vitoria Maria | @Vic_Designer_


Revisão: Lidiane Mastello
Diagramação: AB Serviços Editoriais

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência.
Nenhuma parte desse livro pode ser utilizada ou reproduzida sob
quaisquer meios existentes – tangíveis ou intangíveis – sem prévia
autorização da autora. A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido na lei nº 9.610/98, punido pelo artigo 184 do código
penal.

TEXTO REVISADO SEGUNDO O ACORDO ORTOGRÁFICO DA


LÍNGUA PORTUGUESA.
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Epílogo
Os membros da Sociedade das Princesas Dadoras de C*
insistiram muito e eu tenho orgulho de apresentar a história da
presidente da sociedade: a Princesa Claudia!

É uma história curta, para manter vocês com material


enquanto produzo o livro do nosso querido degustador de casadas,

o Raffaello.

Espero que essa história arranque boas risadas, suspiros e

lhes façam odiar e amar vários personagens.

Boa parte da escrita deste livro ocorreu entre a minha

mudança de São Paulo para a Bahia (coisa que tenho detalhado


nos storys do instagram, então me acompanhem por lá!). Por isso,

preciso dizer que este trabalho não seria possível sem Tatiana
Moreira, a minha nova assessora, que tomou as rédeas da coisa e

fez tudo funcionar enquanto eu estava encaixotando, pintando


paredes e arrancando os cabelos brancos para a viagem.

Sem você, Tati, nada disso seria possível. Obrigado por


acreditar nesse projeto, virar madrugadas me ajudando em

inúmeros assuntos referentes a essa obra e minha mudança, e

manter tudo funcionando quando me tranquei em minha caverna


para escrever.

Agradeço também à Brena Luz, Vanessa Pavan e Lidiane

Mastello por terem sido tão atenciosas e dado todo o suporte


necessário para o lançamento.

Agradeço às minhas leitoras pela espera, não só deste, mas

do próximo que está por vir. Agradeço pelo carinho, por continuarem

apoiando, vibrando e me animando, vocês têm sido constantemente

o motivo pelo qual continuo a escrever.

E não poderia deixar de mencionar a minha irmã Zoe X, que


segurou a minha mão e me deu forças. Uma nota de autor não seria

o suficiente para contar o quanto vocês me ajudaram neste

momento agitado, corrido, estressante, mas que valeu cada

segundo.
Uma vez uma leitora me perguntou: por que todas as suas
notas de autor contam um pedacinho da sua vida? Refleti muito

sobre isso. A verdade é que gosto de deixar registrado, feito um

retrato, o momento que cada obra foi produzida.

Quando releio, lembro do que estava acontecendo e vejo

como superei — e acreditem, eu superei e sobrevivi cada coisinha


escrita.

E me sinto honrado por tê-las aqui em mais uma etapa da

jornada!

Obrigado!

Toma Carinho!

Yule Travalon <3


Prólogo

DESPACHADA DO PALÁCIO

Claudia Þórhildur

Entro pela porta dos fundos e ando na ponta dos pés para
não chamar a atenção dos funcionários da cozinha do palácio.

Retiro o capuz do moletom da minha cabeça, ajeito os


cabelos loiros amassados e vou me livrando das vestes de disfarce
conforme subo as escadas em direção à minha prisão num andar

alto, que chamam de meus aposentos.

Suspiro por ter passado incólume pela segurança.

Abro a porta do meu quarto e corro em direção ao banheiro


para remover a maquiagem e tomar um banho rápido. Preciso estar
na cama o mais breve possível, porque meus pais vão aparecer por

aqui a qualquer momento para averiguar como passei a noite.

Louca, na balada, dançando como se o mundo fosse acabar.

Saio da suíte em direção ao closet para pegar meus pijamas

e assim que entro no lugar espaçoso e cheio de armários, vejo o rei


e a rainha da Dinamarca sentados um de frente para o

outro,encarando-se feito cúmplices.

— Mamãe? — Soluço e dou um passo para trás. — Pai? O

que fazem aqui? Nem amanheceu ainda. — Espio pela janela que
mostra que o dia continua escuro lá fora.

— A pergunta é: o que você estava fazendo fora da cama a

noite toda, Claudia? — minha mãe retruca.

Se eu contasse, acho que perderia o título de princesa.

Contorno o balcão cristalino cheio de colares, anéis e tiaras.

Passo o dorso da mão por cima dos olhos para tirar a maquiagem

pesada, mas tenho a sensação de que estou borrando o rosto ainda


mais.

— Não consegui dormir. Então fui andar por aí, me exercitar...

— balanço os ombros.

— Quando diz “andar por aí” significa que ficou a madrugada


inteira no Chateau Motel, gritando, pulando e se comportando feito

uma louca enquanto girava sobre luzes estroboscópicas? — As

narinas do meu pai inflam, de tanta raiva.

— Isso é um tipo de exercício, né? — Pisco os olhos.


— Sente-se, querida. — Minha mãe indica a poltrona vazia
diante deles.

— E como sabem de tudo isso? Agora estão me espionando?

— Não! — minha mãe prontamente responde, enrubescida.

— Óbvio — meu pai é direto.

Mostra que está furioso com o meu comportamento, porque

mal consegue me encarar nos olhos.

— Claudia, há menos de uma semana a princesa Melissa foi

sequestrada. Você, Youssef e Haakon, esse trio dinâmico,

inventaram de resgatá-la. Atiraram em vocês, o carro quase capotou

e ainda entraram numa caverna com um tigre — vocifera irritado.

— Nossa, saudades! — Comprimo os lábios, sinto uma

nostalgia só de lembrar.

— Minha filha, nós somos seus pais, estamos preocupados


com a sua segurança — mamãe umedece os lábios.

— E o que eu deveria fazer? Me trancar no quarto, esperar o

mundo ficar seguro e abrir mão de aproveitar a vida? — Respiro

fundo. — Eu não sou mais uma criança. Sou adulta, sei me cuidar e
não quero passar mais da metade da minha vida escondida atrás

dessas paredes, vivendo sob protocolos medievais, e...

— Já chega! — Sou interrompida pelo meu pai. — Claudia,

você precisa tomar jeito.

Bebi muita coisa de madrugada, mas isso aí eu evitei, porque

dá uma ressaca horrível.

— Pai, agora tudo ficou bem. Foi a Princesa Sahira da

Jordânia que armou tudo, porque ela era apaixonada pelo Youssef e
queria tirá-lo da Melissa, e... — tento explicar.

— Já te falei para tomar cuidado com as amizades — ele diz,

como se todas as minhas amigas não fossem filhas de reis de


outros países. — Vou ser sincero com você, Claudia.

— Por favor — peço.

— Estou pensando em casá-la.

— Isso jamais — o interrompo antes que continue. — Não


vem com essa palhaçada antiquada de casamento, porque vou

causar um incidente diplomático internacional, mas não caso!

— Filha... — minha mãe abaixa a cabeça.


— Mãe! — respondo de um jeito incisivo. — Eu tenho 23

anos. Estou descobrindo a vida. Nem sou herdeira do trono da


Dinamarca, nesse momento sou tipo… a sétima na linha de

sucessão, então não. Não vou me casar. Vou aproveitar a vida. Fim.

Surpreendo-me ao ver meu pai concordar.

Sempre tivemos problemas em nossa relação pessoal,


porque ele é controlador e gosta de decidir dizer cada passo que

vamos dar. Eu sou libertária, quero tomar conta do meu próprio nariz
e não vou seguir regras estúpidas de mais de 500 anos.

— Sendo assim, sua mãe e eu decidimos que você irá para


Nova York.

— Oba?! — Animo-me e começo a bater palmas. — Semana

de moda?

— Estudar — minha mãe esclarece.

— Opa, aí vem a minha carreira na sexologia!

— Não! — Meu pai engrossa a voz.

— Terapeuta sexual? — Tento e vejo o ódio nos olhos dele.

— Médica especialista em reprodução? Fisioterapeuta de bunda?


— Claudia, você tem duas opções: Música Clássica ou
História da Arte. — Minha mãe sorri, parece que espera uma
empolgação que não vem da minha parte.

— Não tinha nada mais monótono, não? Que tal se eu fizer


Cinema e Audiovisual e me tornar roteirista ou câmera de filmes

por...?

— Claudia! — Minha mãe limpa a garganta. — Música

Clássica ou História da Arte.

— História da Arte… — Abaixo os ombros e suspiro. — Só

porque as estátuas renascentistas têm o pinto à mostra. São


pequenos, mas são pintos. E estão à mostra.

Meu pai cobre o rosto avermelhado e resmunga pelo menos

uns quinze palavrões em todas as línguas diferentes que sabe. A


minha mãe fica satisfeita.

— Ótimo! — Ela bate palmas.

— Amanhã assinamos os papéis da compra do seu

apartamento. Você irá acompanhada do Erik. E terá a obrigação de


fazer aulas de artes marciais para se defender. — Meu pai indica

como será a minha vida em Nova York.


Mal sabe que quando eu chegar lá, vou fazer do meu jeito.

Ou melhor, ele sabe.

— Espera. Quem é Erik? — Arqueio a sobrancelha.

Ele bate palmas para chamar a atenção de alguém. Ouço a

porta do meu quarto se abrir, passos largos vêm até o closet,


observo um homem todo de preto, topete charmoso, olhar neutro.

Está cheio de glitter pelo pescoço e braços.

Semicerro os olhos e tento me lembrar de onde conheço

esse Erik.

Um flashback rápido da noite anterior passa em minha mente


e vejo esse querido dançando feito uma borboleta saltitante,

beijando a boca de todos os homens que encontrou pela frente e

quando esbarramos um no outro no bar, decidimos que seríamos


melhores amigos pela vida inteira. Ou seja, as 5 horas que eu ficaria

na casa noturna.

— Você contratou um segurança para me seguir e fingir que

era gay para ser meu melhor amigo?! — Demonstro o quanto estou

ofendida no tom de voz.


— Você não é a única espertinha por aqui! — Meu pai aponta

para que eu me sente. — Erik será a sua sombra a partir de agora.


Ele te seguirá da porta do seu apartamento para qualquer lugar que

vá e vai reportar tudo a mim.

— Esse é o nível da sua confiança em mim? — Faço drama.

— A minha confiança vai melhorar quando você der provas

de que a merece. — Ele aumenta o tom. — Agora tome seu banho,

durma e se prepare para viajar em 5 dias.

— 5 dias?! — Arregalo os olhos. — Estou sendo despejada


do palácio?

— Não disse que era adulta?

— Sim, eu disse.

— Então está na hora de agir como tal. — É a palavra final


dele.
Capítulo 1

RECONHECIMENTO DE PERÍMETRO

Matthew Fraser

É a primeira vez desde o acidente que Daisy e eu ficamos

distantes um do outro.

Chego a Nova York, um oceano atlântico de distância da


minha filha, justamente para lhe dar condições de uma boa vida e

um tratamento adequado para as sequelas que ficaram.

Entro no país com passaporte oficial do governo da

Dinamarca, embora seja escocês e nunca tenha pisado naquelas


terras. Fiquei surpreso quando meu amigo de longa data, Raffaello
Savaş, entrou em contato com uma missão importante:

— Tem tempo para cuidar de uma princesa mimada, rica e


que está fora de controle? — ele disse aos risos.

— Raffaello, passo. Quem tem bebê grande é elefante, não

sou babá de adulto — neguei prontamente. — São 3 características

que não suporto numa pessoa, ao invés de cuidar dessa princesa,


vou acabar algemando-a na cama.
— Talvez ela goste. — Ele riu.

Quando saí do exército do Reino Unido, me uni ao Raffaello

em algumas missões nos países árabes caçando bandidos e

protegendo mercadorias valiosas que transitavam


internacionalmente.

Um dia, quando um acidente de carro matou Julie e

sobramos apenas Daisy e eu, larguei essas missões e assumi


serviços mais simples e menos perigosos, porque eu tinha uma

criança totalmente dependente do pai e que não podia correr nem

mais um risco.

Evito pensar no acidente que tirou Julie de nós, porque é uma


lembrança dolorosa. Tenho me culpado por essa perda por todos os

anos desde então, mas me esforço para pensar que Daisy merece

mais de mim e por isso sigo em frente. Minha filha — nossa filha —

é a maior bênção e herança que Julie poderia ter me deixado, e eu

preciso ser um pai digno de seu amor e admiração.

A nossa segurança, no entanto, teve um preço: o dinheiro de

reserva que eu tinha quase zerou, os novos ganhos eram

insuficientes e o tratamento de Daisy se tornou cada vez mais caro.

Eu estava pronto para voltar ao mundo perigoso quando essa


proposta caiu do céu: ser guarda-costas de uma princesa fora da
casinha.

Para me convencer, o rei da Dinamarca autorizou que

Raffaello me oferecesse o pagamento integral do tratamento da

minha filha, o custeamento da nossa estadia em Nova York e um

salário anual que supera o que ganhei nos últimos 5 anos. Não me
restou opção, senão aceitar esse trabalho medíocre, mas com as

condições ideais para dar à Daisy tudo o que ela precisa para ser

uma criança feliz e sadia.

A única condição desse trabalho absurdo é manter essa

princesa na linha, vigiá-la 24 horas por dia e garantir sua segurança.

— Que merda de lugar! — Franzo a testa, observando o

trânsito caótico.

O Soho, bairro de Nova York, lembra muito as ruas de

Edimburgo: o chão de paralelepípedos, os prédios com fachada de

tijolos vermelhos ou pintados de branco, as pessoas fingindo que


estão num desfile de moda e vestindo toda sorte de coisa estranha

para chamar atenção.

Não é o meu tipo de lugar.


Sempre gostei de morar afastado, numa rua tranquila, sem

barulho ou fumaça de carro por todo o ar, mas aqui é impossível. O


cheiro do CO2 se mistura com todo tipo de perfume e esse lugar me

parece um inferno.

— 100, Vandam Street — digo o endereço em voz alta e


acompanho pelo GPS o percurso que devo fazer.

Ao chegar ao prédio alto e com arquitetura que começa

clássica e de repente vira algo moderno de concreto e vidro,


percebo que cheguei ao destino final. Apresento o cartão que recebi

previamente para entrar no estacionamento do subsolo. Lá acesso o


elevador e aperto o botão que o faz me levar ao décimo andar, onde
serei vizinho da princesa.

Minha primeira missão oficial é vasculhar o apartamento dela.


Faço uma varredura criteriosa por cada cômodo à procura de

câmeras, microfones, quaisquer censores que firam a privacidade.

— Perímetro limpo, vou checar os sinais de perigo — registro


na escuta que trago comigo para que o rei fique informado de cada

passo.
Meu celular vibra no bolso, pego o aparelho e vejo uma foto

de Daisy com uma flor diante dos de seus olhos, vesga.

— Oi, docinho. — faço um aceno de cabeça rápido. — Foi

para a escola?

— Aham. — Ela sacode a cabeça.

Seus olhos grandes se aproximam da câmera.

— O que está fazendo, papai?

— Checando o fogão, se o cano do gás está bem instalado,

se há algo vazando, se o chuveiro funciona corretamente... estou


deixando tudo pronto para sua chegada — explico.

— Quando eu vou aí? — Daisy fica agitada.

— Em uma semana, meu amor. O papai vai te buscar, mas


antes preciso conhecer sua nova escola, acertar seu tratamento na
clínica de fisioterapia e deixar a casa pronta.

— Papai eu senti dores hoje… — Ela fecha os olhos e respira

com dificuldade. — Minha barriga e quadril doeram, eu precisei


sentar, não conseguia andar.
Estava prestes a subir as escadas para a parte superior onde
estão os quartos. Paro apreensivo e a observo. Só percebo que
estou segurando a respiração quando ela volta a falar:

— Meu remédio não funciona mais.

— Não tem problema, docinho, em breve vai começar um


novo tratamento e vai melhorar, te prometo.

Daisy fica quieta, porque está observando os detalhes por

onde eu passo. É uma criança curiosa e não esconde sua


ansiedade para descobrir onde ficará em Nova York.

Após checar a parte aberta da sacada, a varanda e o


parapeito, fecho o apartamento e sigo pelo corredor até o que
ficaremos hospedados, logo ao lado.

— Ansiosa para conhecer sua nova casa?

— Aham! — Ela balança a cabeça.

— Então obedeça à vovó e se comporte direitinho, mais tarde


te envio alguns vídeos do seu novo quarto. Irei decorá-lo antes da

sua chegada.
— Vai ter unicórnios e marshmallows? — Semicerra os olhos
com ar de exigência.

— É claro. Tudo o que quiser.

— Tá bom. Papai eu vou desligar, a professora está

chamando. — Ela balança a mãozinha para se despedir e depois


mancha a câmera quando toca os lábios na tela do celular.

— Te amo, docinho. Se comporta, hein!

— Te amo, papai. — Desliga.

Comparado ao apartamento em que a princesa da Dinamarca

vai ficar, meu novo lar é um caixote. O estúdio tem um conceito


aberto, com sala, cozinha e varanda unificadas. No espaço amplo

que seria um quarto vou erguer uma parede de gesso para fazer o

quarto de Daisy e lhe dar alguma privacidade. O banheiro tem um


tamanho adequado e bastará instalar barras de suporte no boxe

para que minha filha use com segurança e independência.

No geral, sinto que vou morar numa lata de sardinhas

gourmetizada. E isso só vale a pena porque conseguirei dar uma

vida melhor para a pequena.


Vou até a janela e observo a rua movimentada. E no espaço

da cozinha e varanda, é possível ver a lateral do apartamento ao


lado. Meço a distância entre as sacadas e a altura em que estamos,

para simular uma emergência em que eu tenha de atravessar os

lugares.

— Nenhum sinal de perigo dentro do apartamento, vou

conferir extintores, saídas de emergência e conhecer os vizinhos


dos andares de cima e de baixo — reporto mais uma vez pela

escuta que carrego comigo.

Após um dia inteiro cuidando dos preparativos para a

chegada da princesa, que só virá em 5 dias, tomo um banho frio


para deixar o corpo desperto e me jogo no sofá.

Não consigo descansar ou ficar parado. Sou um maldito


workaholic e, contrariando o planejamento inicial onde a varredura

em ruas da cidade ocorreria apenas 48h antes da chegada da

princesa, ligo para nosso contato na cidade e peço que providencie


uma lista das boates e bares ao entorno que poderiam ser destino

da princesinha mimada.

Pego uma das malas, que ainda não desfiz, e tiro dela um

uniforme militar preto, coturnos e as facas que estão no colete


tático. Desço pelo elevador e faço uma última ronda pelo prédio:

visito a área de exercícios, a piscina interna, a sala de jogos, o

cinema e a brinquedoteca.

Reporto tudo o que vi e deixo o prédio para vasculhar a

região.

A minha roupa chamaria muita atenção, mas percebi desde


cedo que as pessoas se vestem de forma ousada por aqui, então

parece que estou na moda, ao invés de ser um ex-soldado britânico.

Nova York exala uma energia caótica que torna suas ruas

movimentadas, tráfego turbulento de veículos e barulho que nunca

cessa. Todos parecem estar sempre com pressa e se empurram o


tempo todo, por isso chama a minha atenção quando vejo uma

senhorinha idosa andando calmamente com seu buldogue inglês,

apreciando as vitrines dos restaurantes e lojas que estão fechando,


uma a uma.

No centro comercial na Escócia as ruas são movimentadas e


barulhentas, mas não há essa pressa descomunal: todos admiram

as construções antigas, os castelos, a história do lugar.


Nova York é frenética, ansiosa, parece que cada segundo

aqui é valioso.

Levo um tempo visitando as casas noturnas, pesquisando os


bares e observando para onde todas as pessoas vão. Passo pela

“Noir”, “Marquee New York” e “1OAK”. A que mais me chama

atenção se chama Luxury Labyrinth, onde uma fila quilométrica se

forma ao redor da entrada e as pessoas ficam à espera de uma


oportunidade para poder entrar. É nítido o clima de exclusividade e

me parece o ambiente ideal para uma princesa rebelde se

aventurar.

— Entra na fila como todo mundo. — O segurança empurra o


meu peitoral. — Se não tiver convite ou for amigo de um promoter,

terá que esperar na fila!

— O clube está precisando de seguranças nesse final de

semana? — pergunto despretensiosamente. Apesar de ter a

cobertura de nosso contato local, manter as aparências é


indispensável para não ter minha identidade revelada para a

princesa.

Os norte-americanos se acham superiores, sempre. Seus

imigrantes são latino-americanos, chineses, indianos e filipinos, que


eles sempre tratam com algum desdém.

Ao ouvir meu sotaque escocês, o homem abaixa os ombros e


se mostra interessado. Ingleses aqui são tratados como se fossem

seus irmãos mais velhos, afinal de contas, os norte-americanos são

emigrantes de lá.

— Inglês? — Aponta para mim.

— Escocês.

— O que usa saias? — Ele ri, diminuindo minha cultura a

apenas uma característica.

— O kilt, é. — Aceno. — O país da gaita de foles, do


arremesso de tronco...

— Espera! Você consegue carregar um tronco de árvore nas


costas? — O homem arregala os olhos.

— Você não? — Franzo a testa com desdém.

— Só um minuto — ele pede e pega o rádio para se

comunicar. — Chefe, tem um cara novo aqui, veio da Escócia e quer

trabalho de segurança. Temos vagas?

Ele troca vários “ahams” até me dizer:


— Pode entrar. No final do corredor, à esquerda. O chefe te

aguarda.

— Fácil assim? — Encaro-o de soslaio.

Ele me indica a entrada e me deseja boa sorte.

Entro no lugar escuro e vou direto para o local indicado.

Próximo à porta da saleta, onde devo me encontrar com o chefe,


está a recepção do local. As luzes são fracas, frias e iluminam um

balcão luxuoso, rodeado de vasos com palmeiras douradas.

— Escocês? — Um homem da minha altura, usando roupas

sociais e com um cavanhaque marcante vem e aperta a minha mão.

— Me chamo Chad.

— Matthew. Mas pode me chamar de Escocês, não tem


problema.

— Ótimo. Novo por aqui?

— É, me instalei mais cedo. Na verdade, tenho um trabalho


importante na cidade nos próximos dias, mas não quero ficar parado

até lá, então me perguntei se não precisam de um segurança extra

neste final de semana.


— Sempre. — Balança a cabeça positivamente. — Já
trabalhou com isso antes?

— Servi ao exército britânico por 10 anos. Desde que saí,

trabalho como segurança particular.

O jeito sério como falo e me comporto sempre transparece

essa aura de quem é incapaz de mentir e Chad não pede nada para
verificar se o que estou dizendo é verdade. Amador.

— Isso aqui se torna um caos aos finais de semana, apesar


do acesso limitado e exclusivo. Acha que pode trabalhar aqui todos

os sábados e domingos?

— Só este final de semana e se você me pagar muito bem.

— Dou umas palmadas nas costas dele. — Mas posso te ajudar a

melhorar a segurança e diminuir o caos. Qual o problema da sua


casa noturna?

— O dark room.

— O que é isso? — Arqueio a sobrancelha.

— Pelo visto não conhece a Labyrinth, não é? — Ele ri.


— Não, mas foi o lugar que mais me chamou atenção assim
que passei. Vocês têm uma fila enorme lá fora e parece que pouca
gente aqui dentro... — Olho pelo monitor do computador na

recepção que mostra algumas das câmeras de segurança.

— Temos 5 espaços: uma piscina, uma área VIP, uma pista


de danças, uma praia artificial e um dark room. Onde o sexo é
permitido.

— Isso é uma casa noturna ou um motel? — resmungo.

— Este é um espaço exclusivo onde pessoas ricas e


previamente selecionadas vêm para se divertir e podem fazer o que

quiser, sem o risco de exposição. É a Vegas das casas noturnas de


NY, mas sem a jogatina — explica.

— Onde tem sexo e bebida sempre tem uma boa dose de


confusão — concluo. — Soma-se a isso riquinhos inconsequentes

e... — Balanço os ombros para indicar que essa equação não tem
como dar certo.

E ele concorda.

— É isso. Sempre precisamos de bons seguranças, nossa


rotatividade é alta. A maioria da equipe é demitida porque cai na
pilha dos clientes e acabam...

— Acabam... o quê?

— Agindo fora do decoro. Entram no dark room, fazem coisas

impróprias, etc.

— Ah, não terá isso da minha parte, eu garanto.

— É, você tem um jeito meio durão e arrogante, gostei de


você, inglês.

— Escocês — corrijo.

— Contratado. Pago 350 dólares a noite, das 22h até as 6h


da manhã.

Em três dias vou conseguir mais de mil dólares fácil, o que é

um excelente bônus. É mais do que o suficiente para comprar


algumas bugigangas e guloseimas para mimar ainda mais Daisy em
sua chegada.

— Me mostre o lugar — peço.

— Agora mesmo! — Chad me convida para entrar e conhecer


o Luxury Labyrinth.
Capítulo 2

CONVITE VIP

Claudia Þórhildur

Tudo estava muito bem planejado: a minha ida para Nova

York seria em alguns dias, eu já estava inscrita para as aulas de


História da Arte na NYU e o apartamento, que descobri ser no Soho,
estava em fase final de liberação.

O único problema é que eu não sigo planos, a vida é uma


aventura e só há uma forma de usufruir: se jogando.

Pedi para a minha melhor amiga, a Princesa Melissa do


Setentrião, me dar uma carona em seu jatinho, e ela prontamente
atendeu ao meu pedido. Saí escondida, no meio da noite, só que ao

invés de ir para uma balada, arrumei minha mala de mão com três

mudas de roupa, alguns cremes, perfumes e acessórios, e


embarquei na cara e na coragem.

— Por que parece que está fugindo de casa? — Melissa me

pergunta desconfiada.

Sentamos uma de frente para a outra em poltronas enormes

de couro bege e observamos a aeronave levantar voo.


Despeço-me do meu país com um sorriso. Amo os fiordes

gelados dinamarqueses, mas amo ainda mais a liberdade de estar


longe dos meus pais e fazer o que me der vontade.

— Não estou fugindo, só ressignificando as coisas. — Pisco


devagar. — Acredita que meus pais estão me obrigando a estudar,

morar num apartamento que escolheram e o pior: colocaram um

segurança para me seguir o tempo todo?

Ela joga os cabelos escuros para trás e procura por mais

alguém no cômodo.

— Onde ele está?

— Tratei-o como uma princesa: a Bela Adormecida —


comento entre gargalhadas. — Dei um sonífero, óbvio, e agora o

querido deve estar dormindo igual um anjinho... — Faço uma careta.

— Claudia! — minha amiga me repreende.

— Amiga, o preço da liberdade é muito caro e estou disposta


a pagá-lo.

— Ou seja: está fugindo sim e acaba de me tornar sua

cúmplice! — Meneia o rosto e me analisa em silêncio por um breve


momento. — Eles só querem te proteger e garantir que seja mais do
que apenas uma devassa.

— E qual o problema de ser uma devassa? — Franzo a testa.

— Nenhum. Mas é como minha mãe diz: se quer ser uma

puta, pelo menos seja uma com diploma, independente e que dê

orgulho à sua família.

— É isso! É esse tipo de conversa que gostaria de ter com a

minha mãe! — reclamo.

— Ah, mas você acha que a minha mãe diz isso para mim?

— Mel põe a mão no peito e ri. — A Rainha Ravena fala isso com as
amigas dela, eu escuto de intrometida.

Isso não aplaca o amargor que sinto no fundo da boca.

Há quanto tempo os meus pais planejam toda essa cilada?

Odeio a sensação de que eles querem controlar cada passo que

dou. E é nesses momentos que ajo de forma inconsequente, como

agora, e tento estragar todos os planos.

— Sua mãe tem razão — admito. — Vou me divertir muito em

Nova York, mas também vou garantir um diploma.


— É isso aí! — Mel me apoia.

Observo pela janela redonda ao meu lado que já estamos

acima das nuvens. Mal consigo ver Copenhage daqui de cima.

Costumo viajar bastante, estou acostumada a ver minha terra


ficando para trás, mas dessa vez parece que é definitivo.

Não sei quando vou voltar e se vou voltar.

E isso me dá um frio na barriga e me deixa ansiosa.

— E se pensa que vou permitir que fique em Nova York sem


um segurança, está muito enganada. Vou pedir para um dos
homens de Youssef ficar na sua cola! — diz num tom protetor.

— Eu sei me cuidar.

— Não tenho dúvidas disso, mas segurança naquela cidade


frenética nunca é demais. — Ela dá o assunto por encerrado.

Embora seja mais nova do que eu, Melissa tem esse ar

superprotetor e maternal. Estou feliz de que estaremos mais


próximas agora, porque após se casar, ela e Youssef se mudaram

para Nova York também. Mas ela se engana se acredita ser capaz
de me domar.
— Como está sendo a vida de casada? — Mudo de assunto.

— Longe do palácio, das obrigações e vigília eterna dos


meus pais? Um paraíso. — Sorri.

Concordo imediatamente.

É sobre isso que estou falando: é exaustivo ser colocada

numa redoma de proteção e só sair dela para outra, quando se


casa. No caso de Melissa, ela sempre foi a certinha e que se

enquadrava nas regras, já Youssef, o completo oposto. Fico feliz


que essa combinação tenha dado certo.

— Só preciso ser discreta em público para não dar margem

para paparazzi e fofocas. E Youssef é reservado, sempre se


comporta na frente dos outros. É entre quatro paredes que ele se

torna outra pessoa...

Abro um sorriso gigante quando minha amiga toca nesse


assunto, pois vamos entrar no meu tema favorito.

— Falando nisso... como vai a vida de casada? — Faço a

mesma pergunta de antes, só que numa entonação que deixa claro


o real propósito por detrás dela.
Melissa fica vermelha e massageia as bochechas. Encara as
nuvens que estamos sobrevoando e solta um:

— Como vivi uma vida inteira sem isso?

— Pois é! — concordo.

— Não, tudo bem que eu era mais jovem, só que você, por
exemplo, perdeu a virgindade com... 15? — Arrisca.

— Mel, meu amor… — estendo a mão aberta e seguro na

dela — eu nunca perdi a minha virgindade. — Pisco.

Nós duas caímos na gargalhada.

— Estou intacta, selo de fábrica, meus pais ainda não


surtaram porque cada ginecologista que já consultaram — e foram

muitos — garante de pé junto que sou intocada. — Coloco o dedo


indicador na boca, pela lateral da bochecha, e puxo-o para fora,

fazendo um barulho característico. — Se eles sonhassem...

— Vida longa à sociedade das princesas que dão o cu! — ela


celebra, e brindamos com duas taças imaginárias.

— Sim, gatinha, não fuja do assunto. Eu quero saber como é

dar a outra coisa, não o que estou acostumada. — Aperto o braço


dela.

— Quer saber a verdade? — Arqueia a sobrancelha.

— Por favor.

— Eu prefiro dar o cu. Se Youssef e eu transamos, tipo, 12

vezes na semana...

— Número bom — aprovo imediatamente.

— 10 vezes ele quer o prato preferido dele. E eu quero as 12.

Só vantagens: evito bebês, é mais apertado, sinto cada centímetro

dele me abrindo e preenchendo e continuo me sentindo pura e

recatada — conta nos dedos.

Se não estivesse presa a um cinto de segurança, a abraçaria


com todas as forças. Somos praticamente irmãs de mães diferentes.

— E você? Nunca teve vontade de descobrir como é perder a


virgindade? — Melissa chama o serviço de bordo da aeronave

particular para nos servir algumas bebidas assim que o voo fica

estável.

— Isso vem com um preço muito alto: o casamento. Tenho


cara de que um dia irei me casar, Melissa? — provoco.
A resposta dela é uma risada bem contida. Segura a taça

enquanto a enchem com espumante e me oferece no fim.

— Nunca se sabe. Vai que acha o homem perfeito? —


retruca.

— Ele teria que ter no mínimo 25cm e estar em celibato por

anos, faminto para me saciar. — Gargalho. — Não. Ser livre é muito

melhor e agora que estarei em Nova York quero garantir que vou

aproveitar cada oportunidade.

— A Nova York então! — Ela puxa um novo brinde.

O único plano que irei seguir nessa jornada é sobre os meus

estudos. De resto, quero aproveitar todo o caos que a cidade que


nunca dorme tem a oferecer.

Bebo o espumante vagarosamente.

— Me diga quais são os seus planos — ela pede.

— Bem, tudo o que eu sei é que o meu loft fica no Soho, mas
não está pronto ainda. Então vou ficar em um hotel naquela região,

vou sair para as compras e depois vou virar a noite numa festa.

Ela me julga com o olhar, por isso esclareço:


— As aulas ainda não começaram, gatinha. Preciso me

ocupar.

— Sei… não quer ficar no nosso apartamento? É espaçoso e

seguro.

— Olha para a minha cara, Melissa! — resmungo. — Youssef

e você acabaram de se casar. Devem estar batizando todos os


cômodos do apartamento pelo menos uma vez por dia. Eu lá tenho

cara de empata foda?

— Definitivamente não.

— Eu sou caçadora de fodas, minha filha! — Jogo o cabelo

para trás. — Eu, hein?! Meus ancestrais caçavam mamutes, eu lá

vou ter medo de caçar homem?

— Ao seu esporte favorito! — Ela ri e brindamos novamente.

Faço um aceno positivo com a cabeça e pressiono meu corpo

para trás, sinto a poltrona confortável praticamente me abraçando.

— E eu tenho algumas horas de liberdade até que os meus


pais descubram que fugi. Fugi, não! — me corrijo rapidamente. —

Usei toda a minha independência para explorar meu novo lar

sozinha.
— Corajosa — ela apoia num tom debochado.

— Eles que mandem aquele segurança me procurar!

— O que houve com o segurança russo? Não é mais ele? —

Melissa recorda do homem que estava me protegendo antes do


casamento dela.

— Eu comi ele. — Abro um sorriso de canto e pisco os olhos


devagar enquanto a observo cuspir o champanhe no ar.

— Como assim?

— Se comer é o ato de colocar para dentro, mastigar e

engolir, foi exatamente o que fiz: comi ele — esclareço.

— Não, sua doida! Como assim transou com o segurança?

— Melissa, eu não resisto a um homem de terno, que tem

cara de mau e que segura em meu pescoço como se fosse quebrá-

lo. Nem Freud explica.

— Ah, tenho certeza de que explica! — Ela tomba a cabeça

para trás enquanto ri. — Então é isso, novos começos, uma dose de
responsabilidade e, como estaremos pertinho, poderemos nos ver

muito mais.
— É isso aí! — celebro.

Nós duas estamos exaustas, então tiramos um cochilo ali


mesmo. Terminamos de tomar a garrafa de espumante e fecho a

cortina para espantar a luminosidade que está surgindo lá fora.

As luzes do ambiente começam a ficar fracas e em alguns

minutos estou entregue aos braços de Morfeu.

Claudia Þórhildur

Para evitar que os meus pais descubram onde estou, uso


essa coisa antiquada e ultrapassada: dinheiro vivo. Primeiro troco

meus euros por dólares numa casa de câmbio do aeroporto, depois

Melissa me deixa em um dos melhores hotéis no bairro Soho para

me instalar. Sei que em breve algum segurança enviado por ela irá
se plantar em minha porta, então preciso ser rápida.

Melissa e Youssef vão comigo tomar um café no “Le Pain

Quotidien” e de lá seguem para seu ninho de amor. Eu, por outro


lado, saio para explorar o bairro.

As ruas são amplas e limpas. As calçadas são largas e

sempre cheias, com pessoas indo e vindo, mas não parecem

apressadas. O clima é bom e mesmo com prédios altos, há uma


sensação de cidade de interior, turística, que ficou cheia de repente.

Por mais que sinta uma pitada de medo por estar sozinha em

um lugar desconhecido, tenho a sensação de liberdade que eu tanto

pedi todos esses anos.

Ninguém me conhece aqui. Posso ser e fazer o que eu

quiser.

Saio da região com restaurantes e vou em busca dos bares e


casas noturnas. É óbvio que vou inaugurar a minha chegada nessa

cidade com um momento inesquecível, por isso preciso escolher

bem o primeiro lugar onde irei ficar louca.

Tiro foto da fachada dos lugares para pesquisar mais tarde,


mas os dois que chamam atenção são o “1OAK” e o “Luxury

Labyrinth”, pois parecem ser os mais exclusivos.

Meu breve tour termina no hotel, com os meus pés dentro de

um balde com gelo enquanto pesquiso tudo sobre os dois clubes.


Ambos parecem ótimos, mas algo prende a minha atenção: a LL
possui um dark room.

Ligo imediatamente para Samantha Jones, a promoter e RP

mais fascinante do mundo, sentindo a eletricidade correndo pelas

veias.

— Sam, estou na cidade e gostaria de saber como faço para


conseguir um convite para entrar no Luxury Labyrinth. — Vou direto

ao ponto.

— Claudia? — Ela se surpreende de imediato, mas

prossegue. — Não ouvi notícias sobre sua chegada precoce.

Imagino que esteja aqui em missão confidencial?

— Estou adiantada, como deve perceber. Quero

experimentar Nova York antes que essa viagem se torne o novo


projeto dos meus pais.

— Você sabe que não sou uma das que julgam! — Samantha
gargalha antes de prosseguir: — Para entrar precisa de um contato
interno ou de um dos passes VIPs. Posso te enviar um convite para

hoje, mas, caso o rei descubra, essa conversa nunca aconteceu.


— Obrigada, era tudo o que eu precisava ouvir. Te envio o
endereço do hotel por mensagem — afirmo contente e encerro a
chamada.

Tomo um banho caprichado em minha suíte e me visto com a

roupa mais sexy que trouxe na bagagem, porque essa noite sem
planos promete.
Capítulo 3

LUXURY LABYRINTH

Claudia Þórhildur

Queria passar a noite inteira com as minhas amigas tomando


drinks, conversando sobre homens e planejando a próxima viagem.

Como todas estão ocupadas, tudo o que tenho é um vestido cheio


de brilhantes, um salto louboutin preto com a sola vermelha e uma
lace de cabelo humano preto.

Samantha me enviou o passe VIP junto de uma caixinha


preta onde havia uma elaborada máscara veneziana dourada,

incrustada de brilhantes Swarovski e penas negras.

Pego a minha bolsa de mão da Chanel, retoco o batom e o

perfume, saio do hotel quando o ponteiro do relógio indica o número


12.

Quero chamar atenção, mas não antes de entrar no lugar e

curtir a noite, então vestirei a máscara apenas quando o carro parar

em frente à boate.
É bem capaz que eu seja descoberta antes de passar pela

porta e meus pais darem um jeito para me impedir de aproveitar a


noite.

Os contos de fadas dizem que a Cinderela precisa voltar para


casa antes da meia-noite, caso contrário, toda a magia que a

auxiliou até sua chegada ao baile rapidamente se desfazia.

Mas, para esta princesa, a magia começa à meia-noite.

Os letreiros e fachadas das lojas ganham vida com luzes

neon. As calçadas não são o suficiente para manter o grande


volume de pessoas andando, então usam as ruas para se

movimentar.

Sigo para o meu destino, mas aproveito para me maravilhar

com tudo o que há pelo caminho.

Um cantor toca violão na calçada e quem passa deposita um

dólar em seu chapéu. Os restaurantes estão lotados, as mesas

estão na rua para comportar tanta gente e o Luxury Labirinth tem


uma fila que vira a esquina, além de um aglomerado na porta.

Preciso empurrar e dar leves cotoveladas para abrir caminho

e quando enfim encontro os dois seguranças que guardam a porta,


abro um sorriso convencido.

— Olá. Falei com Samantha mais cedo…

— Fim da fila — os dois dizem juntos e continuam a exigir

espaço para que os convidados VIP possam passar.

Um DJ famoso entra junto com sua namorada. Dou um passo


para o lado e depois retorno para o campo de visão dos

brutamontes.

— Eu tenho um passe VIP, caso não tenha notado. — Pisco

os olhos de um modo encantador.

Tiro o cartão preto e dourado da bolsa e esfrego na cara dele.

O homem faz uma breve checagem entre a foto impressa e o meu


rosto. Ok, não é que estando morena eu seja irreconhecível, mas

fico bem diferente, ainda mais usando máscara.

— É uma peruca. — Reviro os olhos e levanto a peça para

que os dois vejam meus cabelos loiros, e volto a encaixá-la na

cabeça logo em seguida. — Sou eu mesma.

Os seguranças abrem passagem, retêm o passe VIP de uso

único e piscam docemente como se tudo não tivesse passado de

um equívoco.
— Obrigada — agradeço irritada e entro.

O lugar tem diversos ambientes e é realmente muito bem

frequentado. Acabo de ser apalpada por uma Kardashian que

passou atrás de mim e vejo um cantor americano que leva as


mulheres ao delírio beijando três caras ao mesmo tempo.

— Ok, vamos fazer a magia acontecer! — Gravo stories para


o meu close friends do instagram e imediatamente sou visualizada

pelas minhas amigas.

Sinto o celular vibrando dentro da bolsa, mas sigo pela casa


noturna para conhecê-la melhor.

Tem um show ao vivo rolando, a animação é contagiante.


Fico alguns minutos pulando e curtindo o som até sentir sede, então

vou para o bar.

É neste momento que o vejo.

O som de batidas eletrônicas fica em segundo plano e tudo


parece borrado ao redor do homem de ombros largos, braços fortes,

cara de quem conseguiria imobilizar um animal feroz no chão sem


muito esforço. Então é nele que eu vou.
— Posso te pagar uma bebida? — Chego atrevida, do jeito

que eu gosto.

Ele me ignora.

Eu gosto dos difíceis. Um desafio sempre é bem-vindo.

— A minha amiga pediu para te perguntar… — aponto para

uma garota qualquer no meio do lugar — se você não quer beber o


melhor uísque desse bar? No meu corpo.

— Segurança — ele informa, mostrando o crachá com


apenas uma olhada para o próprio peito, onde o exibe pendurado.

A voz é rouca, máscula e fica em minha mente. Seus olhos


frios e sérios me observam da cabeça aos pés e depois ergue o

rosto para fazer um raio-x do lugar e garantir que não perdeu nada
enquanto estava sendo distraído.

Tem muita gente gata por aqui, mas ele é diferente. Tem um
jeito de macho que na primeira socada vai me desmontar inteira,
então vou insistir nessa conversa, porque a minha sentada vai tirar

esse jeito amargo dele.

Nunca achei que pensaria isso, mas é o primeiro segurança

que não odeio no mundo inteiro.


— Quando acaba o seu turno? — pergunto.

— Não interessa. Vaza — responde com rispidez.

— Não gosta das morenas? — Faço um biquinho. — Olha


que eu posso te surpreender.

Ele decide me ignorar. E essa é a pior escolha do mundo.

Vou para o bar e entrego a minha comanda.

— Uma margarita. Capricha no álcool. — Tamborilo as unhas


afiadas no balcão e olho ao redor.

Não importa quantos caras passem, meus olhos sempre


voltam para o homem de terno, cara de experiente e que não está
feliz em receber a minha atenção. Ainda assim, não me escapa as

olhadas de soslaio que ele me dá.

— Aqui, senhorita. — O bartender me entrega.

— Obrigada. Quem é o daddy? — Aponto com o nariz para


minha vítima.

— O novo segurança. Algum problema?

— Sim, ele ainda não arrancou a minha calcinha… —

Suspiro. — Que horas acaba o turno dele?


— Às 6, como todo mundo.

— Tá. E qual o nome dele? — Vou direto ao ponto.

— Não faço ideia, esse tipo de informação é sigilosa. — O


homem joga uma toalha por cima do ombro e vai para o próximo

cliente.

Tento desencanar, afinal de contas, ficar muito em cima de

um alvo faz parecer que ele é mais do que vale. Consigo outro
homem desse fácil, então vou conhecer os outros ambientes e me

divertir.

Matthew Fraser

A noite estava indo bem até a chegada de uma engraçadinha

que tentou me tirar do sério. Logo ela foi para o bar e seguiu seu

caminho, o que foi bom. Não estava conseguindo me concentrar


enquanto ela estava no mesmo ambiente que eu. A forma como se
aproximou, sem qualquer tipo de receio ou pudor, me deixou

agitado.

Tive a impressão de conhecê-la de algum lugar,


principalmente quando a encarei no fundo dos olhos. Tentei puxar

da memória onde já vi aquele rosto antes, mas a máscara e

iluminação do local não colaboraram, e não me veio nada.

Continuei fazendo a segurança na área do bar e recepção

por mais duas horas e eventualmente ela voltava, dava uma


desfilada na minha frente e depois seguia para os outros locais.

— Código 99 no darkroom, Escocês, cuide disso — o chefe

de segurança avisa.

Deixo o bar e vou para o andar superior onde a luz é amena.

A cor azul reflete nas paredes e ilumina a entrada do lugar onde

ninguém faz a guarda.

Entro no ambiente completamente escuro, com minhas mãos


na frente do corpo para não esbarrar em qualquer objeto ou cenário

do lugar.

— É a minha mulher! Ela me enganou, e... — um sujeito grita.

— Senhor, me acompanhe — digo calmamente.


O homem me empurra e tenta discutir com alguém no escuro.

Quando percebo que vai avançar, puxo-o pelo pescoço, imobilizo e

levo-o para fora do dark room enquanto ele chuta o ar e se debate


em meus braços.

Deixo-o para fora do lugar e indico que desça as escadas,


porque a presença dele não é bem-vinda aqui em cima.

— Ela é a minha mulher! — resmunga, mostrando que vai

subir.

— Não importa. A partir do momento que entra naquele lugar,

não pode fazer qualquer outra coisa, que não seja se divertir. —

Aponto novamente para que ele desça.

Ele vai, a contragosto. Em contrapartida, uma mulher de


cabelos escuros sobe, pé ante pé, encarando-me com um sorriso

malicioso em seus lábios.

Fecho o cenho e me afasto abrindo passagem para que ela

alcance o hall dos darkrooms.

— Não vai me revistar, senhor segurança? — pergunta com a

voz sedosa. — Posso ser perigosa.


— A senhorita foi devidamente revistada quando entrou,

então não é necessário — informo, sentindo a pele esquentando,


mas mantenho a compostura.

— Na verdade... — Ela se aproxima sorrateiramente, passa o

dedo indicador por cima do meu terno. — Não fui revistada. Um

erro, imagino. Então acho que você deveria corrigir isso.

— Vou chamar uma segurança mulher para revistá-la. —

Aceno positivamente.

Ela é rápida e segura em minha gravata. Puxa


vagarosamente e, ao perceber que não estou indo em sua direção,

começa a vir até mim, fazendo com que seu corpo fique colado ao

meu.

— Quero ser revistada por você, se não for um problema —

murmura.

— Abra as pernas — respondo.

— Ah, começamos bem dessa vez. — Ela afasta os membros

inferiores.

— Mantenha os braços erguidos e esticados — digo sério,


passo as mãos pelo corpo dela, contornando-o.
Ao chegar à cintura, ela abaixa os braços e segura por cima

das minhas mãos, as unhas grudadas no meu dorso.

— Qual o seu nome? — me pergunta.

É esquisito ser abordado por uma mulher desse jeito. Não

gosto. Sou do tipo caçador, gosto de dar as investidas e conquistar

a mulher com quem quero ficar.

Bom, era assim até alguns anos, porque ultimamente tenho

me dedicado apenas à minha filha e não sobra tempo para mais


nada.

— Não pode sequer dizer o seu nome? — Ela ri.

— Matthew — respondo sem pensar muito, contrariando uma

das regras da casa, que pede sigilo sobre nossa identidade para

evitar envolvimento com os clientes.

— Nome bonito, Matt. — Enche a boca para me chamar

assim. — Qual a sua história? Por que fiquei curiosa, disse para o
seu gerente que só vai trabalhar esse final de semana.

Levanto a sobrancelha, surpreso por ela saber isso. Quer


dizer que a confidencialidade e a discrição aqui são seletivas ao que

parece.
— Conversei com o seu chefe, não me contive. Queria saber

tudo sobre você. — Bate as unhas pelo meu dorso e vai subindo
vagarosamente até meu braço.

Puxa-me para si, para ser mais incisiva no toque.

— O que quer saber? — Franzo o cenho.

Que tipo de famosa ela é para conseguir conversar com o


chefe de segurança e ainda obter informações sobre mim?

— Por que se ofereceu para trabalhar aqui apenas por 3


noites?

— Porque tenho outro compromisso na próxima semana.

— ... que seria? — Ela ri.

— É um trabalho sigiloso. É tudo o que posso dizer.

Ela concorda. Não pisca, não desvia, olha no fundo dos meus
olhos.

Isso me deixa excitado, porque ela parece decidida. Admiro

isso numa mulher.

— Qual o seu interesse nisso?


— O meu interesse é você — ela diz com tranquilidade. —
Soube também que trabalha até às 6h, como os demais. — Balança

os ombros. — Não sou uma mulher ansiosa, entende?

Ela solta o aperto ao redor do meu braço e se afasta alguns

passos. Ergue a perna esquerda, puxa a calcinha vermelha e desce


a peça lentamente enquanto mantém as coxas coladas uma na

outra.

Gira a peça entre os dedos sem quebrar nosso contato

visual.

— Você é o tipo de cara certinho que sempre segue as

regras, não é?

Não preciso responder, porque ela fez uma leitura perfeita do

meu perfil.

— Vou entrar nesse darkroom e aguardar pacientemente a

sua presença — me provoca.

— Não faça isso. Terá de sair no fechamento da boate e


precisarei usar a força para retirá-la.

— Não quero sentir sua força me arrancando, quero senti-la

colocando. — Ela se aproxima e passa a calcinha pelo meu queixo,


quase toca meus lábios.

— Está passando dos limites — aviso.

Ela me olha dos pés à cabeça. Coloca sua calcinha no bolso


do meu terno e segue adiante sem olhar para trás e, a cada passo

que dá, dobra o vestido até que o tecido esteja firme em seu cóccix
e toda sua bunda esteja à mostra.

— Eu não tenho limites. Nem pressa.

— Como é? — pergunto.

E a vejo sumir no meio da escuridão da porta.

Matthew Fraser

Às 05h30 ouço um comando pelo ponto eletrônico,


orientando-me a vistoriar todos os darkrooms para a finalização da
noite. Os ambientes devem estar desocupados até o horário limite
do clube, impreterivelmente.

Desloco-me ao segundo andar, lembrando-me da misteriosa

abusada que me cercou no início da noite, e começo a varredura de


ambiente.

Poucas pessoas ainda transitam pelo espaço e o trabalho

parece fácil, até que eu alcanço a última porta e, ao abri-la, me


deparo com a mulher que me atormentou.

Ela mantém o corpo apoiado na parede e percebo apenas

sua silhueta no ambiente completamente escuro, mas a reconheço


pela máscara incomum que desde as luzes mais fortes
apresentavam um brilho incomum.

— Demorou — diz com um sorriso travesso na voz.

— Ainda está aqui? As luzes se acenderão automaticamente


às 6h, é hora de sair. — Indico a porta.

Quando me aproximo percebo que mantém um sorriso

provocante nos lábios. Apesar da escuridão do ambiente consigo


perceber seu olhar intenso.
— Então teremos que ser rápidos. — Ela segura em minhas
mãos.

Vira de costas para mim e me guia minhas mãos até as alças

de seu vestido tão brilhoso quanto a máscara. Encosta a bunda e


rebola devagar em minha virilha, me deixando paralisado. Quando

menos percebo, vejo que está totalmente nua, pois deslizei seu
vestido para o chão, já que estava desde antes sem calcinha.

O corpo dela é curvilíneo e tem um cheiro tentador. Sinto a

língua estalar com a vontade de lamber cada centímetro da sua


pele, meu coração acelera e a respiração fica pesada. Sei que
preciso me afastar, cumprir meu compromisso como funcionário do

clube e retirá-la daqui, mas a atração que ela exerce sobre mim é
irresistível e não consigo afastar seu corpo do meu.

Pelo contrário, contorno-o lentamente, massageando a pele

macia com as mãos firmes. Não é a coisa certa a se fazer, mas


agora que estamos apenas nós dois aqui, não consigo conter o meu
instinto primitivo.

— Eu só tenho uma condição. — Segura por cima das

minhas mãos que estão em suas nádegas.


— Qual?

— Pode me foder do jeito que quiser, mas somente por trás.

A boceta é área proibida. — Entrega-me uma camisinha que estava


no centro da mesa do ambiente.

Pisco os olhos, tentando repetir essa frase na minha cabeça


até entender. Essa maluca deve ser a mulher de algum figurão e
precisa se manter discreta para seu homem. Isso não é um

problema para mim, aliás, torna tudo ainda mais excitante.


Capítulo 4

COM FORÇA E TALENTO

Claudia Þórhildur

Não me enganei a respeito do segurança.

As mãos dele são firmes, quentes e quando toca meu corpo


parece que vai me tirar do lugar. Sinto a pegada intensa
massageando a minha pele, contornando minha cintura e subindo

lentamente pelo meu baixo ventre até meus seios.

Os dedos começam a friccionar os meus mamilos e minha


pele se arrepia inteira em resposta. Um calor sobe pelo meu

pescoço, principalmente quando as mãos grandes dele cobrem


meus seios e ele me pressiona contra seu corpo.

Sinto o volume grande e grosso contra a minha bunda e

rebolo instintivamente. O perfume dele toma conta de todo o meu


olfato, sem sombra de dúvidas um Tom Ford suntuoso, quente e

que me deixa eriçada.

Ele me pressiona contra a parede e com isso solto um

suspiro. É delicioso ter meu corpo sendo esmagado por um homem


tão grande e com a atitude que eu precisava para começar com o

pé direito em Nova York. Sinto que não me equivoquei na escolha e


fico cada vez mais sedenta para tê-lo dentro de mim.

— Sabe quanto tempo ainda temos, Matthew? — pergunto,


ofegante.

— Pouco — diz prontamente.

E junto com a informação seus lábios deslizam por minha

nuca, deixando um rastro tão quente quanto o perfume que usa. Ele

entreabre os lábios para deixar um beijo molhado pela minha pele, o


que imediatamente me deixa molhada.

A abertura da boca aumenta e com isso vem subindo e me


virando devagar até chegar ao meu queixo.

Matthew envolve sua mão direita em meu pescoço e aperta

suavemente, aproxima seu nariz pontudo do meu e pressiona

ambos os toques.

— Eu disse que não pode penetrar a minha boceta — rosno e

abro um sorriso delicado, vendo os olhos dele na escuridão.

— Eu gosto de foder encarando os olhos, então vai ser do

meu jeito — diz.


Quase solto um grito quando sinto a mão esquerda dele me
puxar para seu corpo e me levantar sem grandes dificuldades.

Seguro com firmeza em seu pescoço enquanto o brutamontes me

direciona para uma superfície estofada no canto do ambiente e me

deposita sobre o encosto do móvel.

Matthew apoia as minhas costas contra a parede atrás e solta


o aperto ao redor do meu pescoço. Usa as duas mãos para corrigir

a minha postura e quando estou muito bem encaixada, sentindo seu

pau pressionando a minha entrada, ele desliza o polegar por minha

boceta e leva à boca para provar do meu gosto, descendo logo em

seguida até o meu clitóris, onde pressiona e começa a fazer

movimentos circulares.

Seguro por cima da mão dele para garantir que não vai me
penetrar. E com isso sinto as veias sobressaltadas, a mão pesada,

os músculos se movimentando vagarosamente enquanto me

proporciona prazer.

— Eu não vou te penetrar aí, mas vou te deixar pronta para

me receber do outro lado. — A voz dele, rouca e sexy, me


tranquiliza.
Estico a cabeça para trás e respiro com dificuldade. Começo

a sentir as batidas do meu coração pelas extremidades do corpo de


tão sensível que estou.

Ao perceber que já estou estável nessa posição, Matthew


afasta seu corpo lentamente e se curva, mantendo minhas pernas
sobre seus ombros para aproximar o rosto da minha boceta.

Com isso sua boca fica na altura da minha virilha e sua língua

exposta me chupa por inteiro.

— Isso! — Seguro nos cabelos dele para direcioná-lo e


empurro a parede com as minhas costas.

Matthew suga o meu clitóris bem devagar, seu dedo indicador


massageia por cima também, o que quase me leva à loucura. Sinto

minhas pernas terem movimentos involuntários e meu corpo se


contrai de prazer.

Mas o que me faz perder o ar é quando ele desce e contorna


o meu cu com a língua. É vigoroso e quente, ele aperta as minhas

nádegas com gosto e me força a abrir as pernas ainda mais para


encaixar o rosto e me chupar com vontade.
Sinto a pressão me invadir quando a língua dele entra em

mim. Minhas pernas começam a formigar de tanto ficarem erguidas,


mas não quero sair dessa posição.

Mesmo sem conseguir enxergá-lo, sinto que está olhando


para mim, examinando as minhas reações, se divertindo com as
expressões de completo descontrole que tenho a cada toque.

— Mais rápido, por favor… — arfo de tesão quando Matthew

enfia a língua e a movimenta lentamente, feito uma serpente,


tentando chegar o mais fundo que pode.

Meu cu se contrai, apertando a língua dele involuntariamente.

Matthew afasta o rosto de mim, segura em minha cintura e


me puxa para o seu colo de novo. A princípio perco o equilíbrio, mas

me seguro nele. Meu desespero termina quando ele me joga no


assento, do que eu percebi ser um sofá, onde repouso o corpo.

Ele se ajoelha no chão, segura firme em minhas coxas e


empurra para o alto, para que meu cu fique disponível para ser

linguado mais uma vez.

Matthew faz isso com tanta paixão e desejo que eu passaria

horas sentindo a língua dele em meu interior, mas a verdade é que o


relógio está contra nós. E se demorarmos mais do que o necessário,
as luzes vão se acender.

— Você precisa me foder agora — murmuro.

Ele continua o que está fazendo, mostrando que não vai

obedecer a qualquer ordem que eu dê. Mete e tira a língua de um


jeito tão rápido e intenso, intercalando com os dedos, que sinto
minha respiração falhar.

Quando se levanta, ele desce o zíper, desabotoa a calça e


põe o pau para fora. Sinto quando bate em cima da minha virilha,

pesado, quente e maior do que eu esperava.

Não contenho a minha curiosidade, seguro com as duas


mãos e mesmo assim parece não ser suficiente. Masturbo devagar,

deslizando o dedão sobre a glande molhada dele, e sinto-o


deliciosamente quente, duro e pulsando.

Mordisco o lábio enquanto observo na escuridão Matthew

abrir a camisinha e depois colocá-la em seu pau.

Ele contorna a minha boceta melada com os dedos e leva


toda a lubrificação para o meu cu, pressiona dois dedos para entrar

e me deixa molhada por toda a entrada para recebê-lo.


— Entra devagar, quero sentir você me abrir… — choramingo
assim que ele posiciona a glande e pressiona.

Meu coração vem à boca, bate tão forte que sinto todo o

corpo aquecer e parece que vou entrar em combustão

— Você precisa parar de me dar ordens — ele retruca.

Não respondo a seu comentário ácido porque tudo o que

quero é esse pau imenso socando dentro de mim com vontade.


Deslizo o corpo mais para baixo, em direção a Matthew, para que

ele invista logo contra mim.

Sinto minha garganta arder quando Matthew coloca a glande

inteira dentro de mim. Seguro firme no terno dele enquanto rebolo

devagar em seu pau, que entra aos poucos em meu cu e vai me


deixando cada vez mais excitada.

O escocês me tortura e entra tão devagar que o puxo contra

mim, para que me satisfaça logo.

— Você não queria devagar? — ele me provoca.

— Você vai esperar que as luzes acendam antes de me

comer? — rosno.
Parece que meu comentário ativou algo dentro do homem

porque no segundo seguinte ele empurra o quadril para frente de


uma vez, entrando em mim com vontade e me fazendo perder o ar.

Fico tão distraída com sua estocada repentina que custo a

perceber que minha boceta está pingando de tanto tesão. Só noto

quando ele pega o líquido espesso que sai dela, lubrifica seu pau,

passa na minha entrada e se afunda mais uma vez.

Matthew começa a estocar lentamente e quando correspondo


rebolando, ele agarra meu quadril com as mãos firmes e se

posiciona em cima de mim, segura em minhas pernas e as empurra

a ponto dos meus joelhos ficarem próximos do meu rosto.

O jeito com que ele começa a foder o meu rabo me deixa

muda. Mesmo com a boca entreaberta não consigo pronunciar


qualquer palavra, apenas sai o som do meu gemido constante e

agudo, porque a cada estocada que dá, ele chega mais fundo e

mesmo assim não colocou nem a metade do pau.

— Não era isso o que você queria? Então agora aguenta.

Calada — diz, com um sorriso de canto.


Mete tão forte que o próprio sofá sai do lugar e balança com

força contra a parede.

Matthew pousa as minhas pernas em seus ombros, deixando

as mãos livres para espalmar a minha bunda.

Quase dou um salto quando sinto a mão dele pesar em cima

do meu clitóris e, em movimentos rápidos e que me deixam


descontrolada, começa a masturbar meu ponto sensível.

— Não foi isso que você quis a noite toda? — pergunta.

— Sim — respondo apenas em um sussurro enquanto sinto o


suor deslizando pelo meu rosto.

— Então solta todo esse líquido dentro de você, goza no meu

pau e eu vou meter tudo aí dentro — ele diz.

A combinação da penetração e do quanto ele está dedicado

em me estimular, leva meu corpo à combustão. No momento em

que digo que vou gozar, Matthew tira o pau de dentro de mim e
recebe todo o esguicho, espalha calmamente por cima do caralho

teso e o devolve para onde estava.

Está quente, bem molhado e entra cada vez mais fundo.


A ideia de ser fodida com o meu próprio gozo me deixa

alucinada.

Matthew une as minhas pernas e puxa o meu corpo em sua


direção. Sinto que fico mais apertada, mas não só isso: o pau dele

parece cada vez mais inchado, seus espasmos em meu canal

tornam-se frequentes e me estimulam.

As estocadas firmes continuam e não consigo mais segurar

meus gemidos e gritos de prazer. Peço que entre cada vez mais
fundo enquanto ele soca com vontade. Mesmo que esteja de

camisinha, consigo sentir quando ele goza, porque além da

estocada ganhar mais força, sua pegada fica mais intensa.

As luzes do lugar começam a acender lentamente. Começa

num tom brando e que ilumina o local aos poucos, até o momento
em que se torna intenso e meus olhos queimam.

O segurança sai de dentro de mim, tira a camisinha e faz um

nó. Pega as minhas roupas espalhadas pelo chão e me entrega.

— Vou precisar de uns minutos para me recompor — admito.

Vejo-o guardar o pau dentro da cueca e depois abotoar a

calça. Um volume enorme fica visível. Pelo rápido relance entre meu
incômodo com a luminosidade e examiná-lo, percebo que é

realmente maior do que pensei.

— Precisa sair. Agora — fala num tom sério e mandão,

enquanto estende a mão.

Seguro e sou puxada, fico de pé e sinto minhas pernas

bambas. Espasmos de prazer e agitação ainda percorrem meu


corpo.

Ajeito o vestido e peço para que ele feche o zíper. Matthew é


bem prestativo neste momento.

— A calcinha — me oferece.

— Pode ficar, de recordação. — Abano-me com as mãos. —

Para se lembrar de mim, já que nunca mais vamos nos ver.

Ele a guarda no bolso interno do paletó e indica com o rosto a

saída.

— Pode deixar, grandão — digo, enquanto me viro e caminho

vagarosamente em direção à porta.

É divertido encará-lo sob a luminosidade agora, porque

parece um homem fechado, muito sério e que ninguém imaginaria


que teria um devasso dentro dele, como se escondesse isso muito

bem. Mas não conseguiu esconder de mim, porque por minha visão
periférica consigo detectar um sorrisinho de canto.

Saio do lugar extremamente satisfeita, mas sinto que estaria


muito mais com uma coisa: queria ter sentido aquela esporrada forte

dentro de mim.
Capítulo 5

VIZINHOS?

Claudia Þórhildur

Retornei para o hotel em que estava hospedada e dormi por


quase 24h, levantando esporadicamente para beber água e comer

alguma coisa.

A mudança de fuso horário junto à minha aventura mexeu

com o meu relógio biológico e para recuperar todas as energias


dormi igual a uma rainha.

No dia seguinte ao meu apagão, me acordam às 7 da manhã

com batidas à porta. Ainda com os olhos pesados e rastejando o


corpo até a entrada, escancaro a porta e levo um tempo até

perceber quem está diante de mim: Erik, o meu segurança.

— Ah, você me achou, até que enfim! — Suspiro, como se a


culpa fosse dele.

O homem está com o rosto vermelho e visivelmente irritado.

Passa rente ao meu corpo e vasculha o quarto inteiro.

— Como chegou até aqui? — pergunto.


— Você pediu serviço de quarto durante a madrugada, o

hotel não oferece tal coisa sem cadastrar um cartão de crédito. O


banco nos ligou assim que ele foi usado e aqui estou — diz irritado,

mas a voz vai se acalmando lentamente.

Começo a rir da minha própria desgraça. Poderia ter

aproveitado muito mais caso não tivesse acordado feito um zumbi.

Devia estar faminta, por isso pedi algo para comer, em outra ocasião
teria almoçado ou jantado fora. Mas, depois da noite intensa com

aquele segurança gostoso, precisava de um repouso para recuperar

as forças.

— Usou drogas? — Aproxima-se de mim, mas não me toca.

— Bebeu?

Começa a observar o meu corpo.

— Eu só me diverti em uma boate. — Bocejo.

— Nada de diversão ou boates — fala sério e quase me

arranca uma gargalhada, já que ele não aparenta ser muito mais
velho que eu e já o vi em situações, digamos assim, exóticas.

Erik começa a recolher as minhas roupas do chão e colocar

na mala. Pega minha bolsa da Chanel que ainda contém algum


dinheiro e confisca.

— O rei pediu que eu ficasse com isso. A partir de agora

apenas cartão de crédito — informa.

— Ele quer saber de cada passo que dou, não é?

O segurança assente.

— Vossa Alteza deseja tomar um banho? Vamos encerrar a

estadia no hotel e iremos para o seu loft que já está adequado para

habitação.

— Ah, quero tomar banho no meu novo apartamento. Vou me

sentir mais à vontade. — Sorrio.

— Quando estiver pronta, iremos. — Ele me avalia dos pés à

cabeça, julgando meu pijama.

Pego meu sobretudo preto na mala e visto, fecho cada botão

e dou uma voltinha para mostrar que estou prontíssima.

— Uma pergunta, Alteza. — Erik continua a me encarar


fixamente.

— Sim? — Pisco os olhos.


— O que aconteceu com seu cabelo? — Inclina a cabeça

para o lado, feito um cachorro curioso e confuso.

Arranco a peruca mal posicionada da cabeça e olho os fios

emaranhados e embaçados. Jogo-a na mala e a fecho, mostrando


que, agora sim, estou pronta.

— Segredos femininos, Erik. E não adianta pedir emprestado,


porque lace não se divide — respondo debochada, enquanto coço

os olhos e saio do quarto. — Agora vamos!

Erik acerta tudo na recepção e depois leva a minha mala até


o Land Rover preto e blindado, abre o porta-malas e coloca minha

bagagem lá. Ao se sentar no banco do motorista, me dá as


instruções de como será a minha vida em Nova York:

— Sem cozinheira particular, sem governanta. A equipe de


limpeza estará uma vez por semana no loft para uma faxina geral.
Eu sou seu segurança e motorista, não pode se deslocar para

qualquer outro lugar sem a minha presença...

Reviro os olhos ao escutar todo esse blá-blá-blá. Minha


atenção se volta para as ruas lá fora, onde o movimento é frenético

comparado às ruas de Copenhague.


— As suas aulas serão à tarde, então tem a manhã e noite

livres. Use-as com sabedoria.

— Posso faltar à aula hoje? Só hoje? — Abro um sorriso de

desespero.

Erik me encara pelo espelho retrovisor.

— Não. Lembre-se do motivo de estar aqui: estudar e adquirir


responsabilidade.

— Meu pai fez uma lavagem cerebral em você, não é?


Quando te conheci você estava chupando a língua de um careca
musculoso que estava com a mão enfiada bem no seu...

Ele limpa a garganta e ajeita os óculos escuros no rosto.

— Só estava cumprindo minhas obrigações.

Que obrigação deliciosa, beijar um homem enorme enquanto


ele enfia a mão na minha bunda. Queria obrigações assim também,

quem sabe eu não seria mais responsável?

— Chegamos — avisa.

O prédio começa com uma arquitetura clássica de Nova York,

recoberto até o quinto andar com tijolos vermelhos, a parte superior


que é bem alta é moderna, feita de concreto e vidro.

Erik coloca o carro na vaga da garagem e vamos para o


elevador que é antigo, de porta pantográfica e que parece ter saído

de um filme de terror.

— Olha a minha claustrofobia gritando! — Mostro meu braço


arrepiado quando entro no equipamento de transporte.

Nunca tive medo de estar em espaços apertados, mas este

elevador em especial me desperta um horror inexplicável.

O som metálico vindo das grades ao fechar as portas faz

parecer que estamos em um ambiente inseguro e com risco de


queda a qualquer minuto.

Parece que fico horas no elevador. Assim que chego ao


décimo andar me jogo para fora dele e me afasto o mais rápido

possível.

— Nunca mais entro nisso. Vou descer 10 andares da escada


de incêndio, mas não coloco mais os meus pés nisso aí! — reclamo.

Erik me indica o último apartamento em um corredor com 4.


Vou até a porta e ao abrir a passagem vejo um loft charmoso,
espaçoso, muito bem equipado e moderno, diferente da máquina de
tortura que acabei de presenciar.

A sala e a cozinha são divididas por uma ilha de quartzo

branco e ambas possuem uma varanda que conecta toda a casa:


consigo acessar o meu quarto, quarto de visitas, o banheiro social,

lavanderia e escritório com estantes vazias para montar uma


biblioteca.

As paredes do apartamento são todas em vidro e aço, por

isso cortinas cor de creme cobrem toda a luminosidade que vem de


fora.

Saio pela varanda e tenho uma vista linda de Nova York: de


um lado os prédios de vários tamanhos, do outro lado o Hudson

River e uma vista panorâmica do centro comercial da cidade e um

espaço para o apartamento vizinho, onde vou fofocar com a minha


nova amiga, pois sou simpática e vou socializar o máximo possível.

— Eu adorei! — Fico surpresa ao dizer isso.

Odeio admitir, mas os meus pais foram cuidadosos comigo.


Me colocaram em um loft muito bom, com vista para tudo, numa
região animada e com um segurança que após beber umas duas ou

três doses de tequila vai soltar a franga junto comigo.

— Sua Majestade ficará feliz em ouvir isso. — Erik limpa a


garganta. — Agora precisa tomar um banho para ir à faculdade,

depois faremos compras para encher a geladeira e armários.

Concordo imediatamente com ele.

Enquanto meu segurança leva todas as malas que trouxe da

Dinamarca com minhas roupas e produtos de beleza para o closet,

vou para a suíte.

Deito numa banheira oval, espaçosa e na esperança de que

haja uma champanhe no frigobar ao meu lado, abro e confiro


apenas para descobrir que não há nada para beber. Mesmo assim

comemoro:

— A um novo começo! — Ergo uma taça invisível no ar.

Pego o celular depois de me acomodar na banheira espaçosa

e ligo para Melissa por chamada de vídeo.

— Olá, gatinha! — Aceno para ela.


Com a mão livre espalho as espumas ao redor do meu colo e

busto para cobrir meus seios.

— Adivinha onde estou?

— Já liberaram seu apê? — Melissa olha atentamente para a

tela.

— Sim. E posso falar? É babilônico! — Remexo-me inteira na

água. — Melissa, eu vou fazer um open house digno da Sociedade


das Princesas Dadoras de Cu! — celebro.

Ela solta uma gargalhada e se senta à na mesa, pois está


tomando café da manhã. Sinto meu estômago roncar e a xingo

mentalmente.

— Eu vou sacudir as estruturas desse prédio! Vou chamar

todos os homens gostosos do Soho, Manhattan e Midtown!

Minha amiga cobre a boca enquanto ri.

— Como foi o final de semana? Aproveitou muito? —

pergunta.

— Foi de abalar Paris em chamas! — Volto a me remexer. —


Eu fui numa balada na Luxury Labirinth que fica logo aqui do lado. E
minha filha, posso dizer?

— Diga tudo, não me esconda nada.

— Eu peguei um segurança g-o-s-t-o-s-o, Melissa!

— Se soletrou é porque valeu a pena. — Assente.

— Valeu a pena? Minha filha, ele não tinha um pau, tinha um

cabo de marreta! Era uma coisa assim, fora do comum.

— E foi bom, amiga?

— Foi ótimo, só queria ter mamado e engasgado… — Faço

um bico. — Mas o mais importante eu fiz: cumpri minhas obrigações

com a SPDC.

— Não esperava menos da presidente! — Ela ri.

Quando Youssef, seu marido, aparece no vídeo, ela o enxota


para fora da cozinha, põe os fones de ouvido e volta a me encarar.

— Quero ir aí conhecer seu loft. Está livre hoje?

— Daqui a pouco vou para a minha primeira aula na


faculdade… — Balanço os seios. — E depois vou fazer compras no

mercado. Nunca fiz. Não faço ideia do que devo comprar.


— Eu adoro fazer compras! — Melissa arregala os olhos. —

Youssef e a minha mãe têm isso em comum: adoram escolher

minuciosamente o que vão comer, então estou muito bem treinada

nessa arte. Te levo para algum supermercado e vamos abastecer


sua despensa!

— Obrigada. Você é um anjo! — Mando um beijo no ar.

— E o tal segurança? Pegou o telefone dele? — Melissa

dedilha uma mecha de cabelo enquanto termina de tomar seu café.

— Não. Era tipo o penúltimo dia dele na casa noturna, depois

ele iria para um emprego supersecreto...

— Uh, que misterioso. — Ela faz uma careta. — Não importa,

tenho certeza de que vai achar um boy à altura para te satisfazer.

— À altura e grossura, espero! — Ergo o dedo indicador. —

Amiga, preciso ir senão vou me atrasar. Você vem para o meu open
house?

— Não sei se o Youssef vai gostar da ideia... — Suspira.

— Eu faço um dark room exclusivo para vocês no meu


quarto. Olha essa banheira, Melissa. — Ergo o braço para pegar

mostrar tudo.
— Não me leve à mal, nós temos uma maior. — Ela ri.

— Óbvio, cacete! Você é casada com um Sheik árabe

riquíssimo, minha filha! Não dá para competir!

— Vou tentar convencê-lo. Nos vemos mais tarde?

— Ótimo, pois farei uma festa faraônica!

— E seu segurança, hein? Ele vai deixar?

— Melissa, da fruta que eu gosto o Erik engole até o caroço,

então ele não vai resistir aos homens maravilhosos que virão à

minha festa!

— Uh, não perco por nada! — Ela me manda vários beijos. —


Te amo, maluca!

— Te amo, gatinha! Beijo! — Desligo.

Termino de tomar o meu banho rapidamente e depois me


enxugo com a toalha branca felpuda que foi colocada aqui para

mim, visto o roupão e vou até o closet.

Faço uma verdadeira bagunça tentando encontrar uma roupa

legal para vestir e, quando enfim estou pronta, encontro Erik na

sala.
— Ansiosa para o meu primeiro dia de aula! — Bato palmas.
— Onde estão meus materiais?

— Materiais? — Arqueia a sobrancelha.

— Ué, meu caderno, minhas canetas, as coisas para levar...

Erik olha ao redor, franzindo as sobrancelhas, mostrando que


essa não era sua função.

— Entendi, eu sou uma mulher adulta, independente e que

precisa fazer tudo sozinha. — Jogo o cabelo para trás. — Então vou

comprar tudo!

— Ok. — Ele me segue.

Pego uma pasta de couro branca onde está meu iPad e

coloco meu celular, carregador, documentos e cartão de crédito,

tudo o que vou precisar para o meu dia.

Ao sair do loft, me deparo com a silhueta de um homem


musculoso, camiseta regata preta e veias sobressaltadas
carregando latas enormes de tinta para dentro do apartamento ao

lado do meu.
Como está apressado para entrar e buscar todo o material
que está amontoado no elevador, mal percebe a minha presença.

Paro na porta dele e observo o apartamento estúdio limpo,


organizado e arejado. Quando está voltando para buscar os outros

materiais, ele praticamente me atropela, de tão apressado que está.

— Oi, vizinho! — Aceno com um sorriso fino nos lábios.

Levo um segundo para identificar quem é, quando sinto seu

perfume que não escapa da minha lembrança.

— Matthew? — chamo-o pelo nome.

Ele pisca os olhos e me encara fixamente, sem compreender.

— Nos conhecemos?

— Ah, nós nos conhecemos, sim. Profundamente. — Sorrio.

— Ainda está com meu presente, não é?

Vejo-o ficar pálido e arregalar os olhos. Encara Erik atrás de

mim, que está ocupado numa ligação, informando ao meu pai


detalhes de como foi o início do dia.

— Você? — Ele franze o cenho.

— Sou mais bonita loira, né, pode falar? — Dou uma voltinha.
Matthew parece surpreso e um tanto constrangido. Não para
de encarar Erik.

— Ele é meu segurança, relaxa. — Estendo a mão. — Eu me

chamo Claudia Þórhildur e sou sua nova vizinha! — digo animada —


Quer ajuda? — Viro o rosto para o elevador.

— Não, eu dou conta de carregar tudo sozinho. — Ele evita a

minha mão.

— Não para carregar essas coisas, para te dar um banho. Eu


tenho uma banheira maravilhosa onde cabem duas pessoas! —

aviso, divertindo-me com seu rubor.

Surpreendo-me com sua reação ao me ignorar e seguir para


o elevador, onde pega o restante dos materiais e leva para casa
depressa.

— O que houve com ele? — Erik pergunta assim que sai do


celular e me acompanha.

— Não sei, deve estar ocupado. — Observo-o carregar todo

o peso e fico admirando seus músculos.

— Alteza, não podemos nos atrasar — Erik murmura em meu


ouvido.
— Ok. Ok! Vamos começar esse dia empolgante!
Capítulo 6

COMI O CU DA PRINCESA,
ALGUÉM VAI COMER MEU CU

Matthew Fraser

Retiro todas as latas de tinta do elevador, coloco-as na sala

do apartamento estúdio e fecho a porta.

Pego as duas pastas-arquivo que recebi sobre o caso da

princesa dinamarquesa e começo a folhear as páginas rapidamente.


Observo todas as fotos que tenho dela: oficiais, expostas na mídia,
de paparazzi amadores.

Reconheço imediatamente os cabelos loiros lisos que sempre


terminam em ondas feito o mar, os olhos claros cintilantes, o rosto
travesso de garota que gosta de ser castigada.

Merda, no que estou pensando agora?

— Raffaello, seu porra! — Pego o celular e ligo para ele.

Continuo a folhear tudo o que tenho sobre a princesa. Não a


reconheci por causa da máscara e cabelo diferente, ainda assim,
houve um erro nas informações e preciso tirar isso a limpo.

— Fala… — resmunga, quando me atende.

— Estou te esperando no apartamento, venha o mais rápido

que puder.

— Algum problema? O que seria tão urgente?

— Só vamos conversar pessoalmente. — Desligo e jogo o

aparelho no sofá.

Para me distrair e manter meus pensamentos sob controle,


pego as latas de tinta e coloco diante da parede drywall que construí

para ser o quarto de Daisy, agora só falta pintar, fazer os desenhos

que ela pediu e esperar a tinta secar.

Neste momento já não tenho mais certeza se

permaneceremos aqui. Não depois do erro que, sem querer, cometi.

Não posso colocar minha imagem e reputação em jogo.

Sempre fui profissional e ético em tudo o que fiz, mas, infelizmente,

não pude resistir àquela mulher no Luxury Labyrinth. Não foi apenas

o toque ou o cheiro, estava além do olhar.


A forma como ela me encarava – e me encarou, agora há
pouco – despertou um lado que gosto de manter oculto.

Enquanto espero o desgraçado que me colocou nessa cilada

chegar, abro a lata de tinta rosa, pego o rolo e começo a pintar a

parte interna do quarto.

Em meia hora o interfone toca e libero para Raffaello subir.

— Cadê ele? Pegou? Está preso? Onde está o bandido? —

Raffaello entra como se estivesse alucinando.

— Bandido? — Faço uma careta, seguro firme nos ombros

dele e dou uma sacolejada forte. — Muito pior do que isso. Tem
ideia do que aconteceu?

— Não. — Pisca os olhos, encara o ambiente e mostra que

está perdido. — O que houve?

— A pior coisa que pode acontecer no nosso tipo de trabalho:

houve uma falha no comando de comunicação. A princesa Claudia

Þórhildur deveria chegar hoje no fim da tarde.

— Correto. — Anui imediatamente.

— Raffaello, essa garota está aqui há pelo menos dois dias!


O turco franze a testa e como se fizesse uma conta mental,

move os olhos para cima de sua cabeça e depois me mostra que


não entendeu.

— Ela chegou a Nova York no sábado, pelo menos. Sabe o


que fez de madrugada? Foi para uma casa noturna! E domingo ficou
por aí, perdida e sem vigilância. Como você chama isso?

— Alguém foi incompetente — ele afirma, e concordo

imediatamente. — Deve ter sido o garoto que coloquei para ser o


segurança fake dela. O Erik é um bom rapaz, mas é meio

atrapalhado, signo de peixes, etc.

— Quê? — Faço uma careta, porque quem não está


entendendo agora sou eu.

— O Erik está em treinamento. Nunca pegou um caso. Mas


pelo perfil dela, ele era o único que eu poderia encaixar para fingir
ser seu segurança e ela não desconfiar de você — explica. — Matt,

eu já te falei, essa garota dobra todo mundo. Se ela souber sua


verdadeira identidade, vai te fazer de gato e sapato.

— Nunca. — Limpo a garganta.


— Por isso coloquei outro cara para ser o segurança oficial,

ele receberá toda atenção, enquanto você a seguirá discretamente.


— Sacode os ombros. — Simples, né?

— Não dá mais para ser discreto. — Umedeço os lábios.

— Por quê? Vai se pintar inteiro com aquela tinta e sair igual
a pantera cor-de-rosa atrás dela?

— Ah, Raffaello... você não sabe no que me meteu... —

Esfrego a palma da mão no rosto.

— Eu não meti em ninguém — se defende. — Meu plano é


bom, alguém que foi incompetente.

— Lembra que eu disse que a princesa foi parar numa boate?

Ela foi parar na Luxury Labyrinth. — Aguardo ele acenar


positivamente. — Eu estava de segurança na casa noturna, porque

sou um workaholic fodido e queria observar o perímetro antes da


mimadinha chegar.

— Sem problemas. — Ele pensa rápido. — Você é um

escocês em busca de oportunidades em Nova York. Trabalhou para


o exército do seu país. É instrutor de artes marciais. Normal ser

segurança de balada, ela não vai suspeitar.


Não sei como dizer isso sem me complicar.

Mas a amizade que tenho com esse cara é de extrema


transparência, então...

— Eu a comi. No darkroom. — Comprimo os lábios.

A expressão dele é de enorme surpresa. Até porque poderia


esperar isso de qualquer um dos caras que já trabalharam conosco,
mas jamais de mim.

— Comeu, tipo, comeu... do jeito bíblico ou do cultural?

— Tem diferença? — retruco.

— Do jeito bíblico é Gênesis três: meia a nove, né? Tomou


[do fruto] e comeu. Deu pro marido e ele comeu [o fruto] também.

Pisco os olhos tentando absorver o que ele quis dizer.


Eventualmente entendo a piada do 69 e o trecho em que Adão e

Eva comem do fruto proibido.

— Foi tipo isso aí.

— Não a coma de novo, me ouviu? — Aponta o dedo


indicador diante do meu rosto, tentando simular uma bronca como
se fosse em seu filho. — Ela é uma princesa, fora de controle. E eu
te escolhi porque ninguém é mais controlador e inflexível que você.

Vira o rosto para admirar o lugar.

— Me admira que tenha caído na tentação… mas é que cada

serpente tem uma lábia e dizem que aquela princesa colocaria a do


Éden para mamar. — Cruza os braços e me olha de esguelha.

— É. Por isso quero me retirar do caso… — Suspiro.

— Negativo. — Faz o gesto com a cabeça. — Você tem um

histórico bom, preparação militar, aquela garota corre perigo e


sempre corre em direção a ele. E a sua filha precisa do tratamento!

— apela para o meu psicológico.

Acabo concordando, não posso lutar contra a realidade.

O caso de Daisy está ficando cada vez mais sério e todos os

médicos que passamos durante os últimos anos foram imprestáveis.

Os remédios já não servem mais, agora ela precisa de uma

equipe para tratar intensivamente dela e o rei da Dinamarca


ofereceu isso, contanto que mantenha a filha dele intacta.
— Olha, contanto que não tire a virgindade dela, pode comer.

— Raffaello me encara de soslaio, finge que nem disse nada.

— Como é?

— É. Você é o vizinho gostosão, 40 anos mais velho, se é


para ela sentar em um macho, que seja você.

— 40 anos mais velho é o caralho! — rosno. — E não vai


rolar mais nada, vou tratá-la com indiferença e de um jeito

profissional.

— Você mente para sua mãe, pro papa e para si mesmo,

mas para mim não mente! — Ele ri. — Tratar com indiferença?

Você? Um paizão?

— Nunca transo com a mesma mulher duas vezes, você


sabe disso. — Cruzo os braços. — Desde que a mãe da Daisy

faleceu naquele terrível acidente, jurei a mim mesmo que nunca

mais me envolveria com ninguém. No máximo tenho um caso de


uma madrugada e acabou, como infelizmente aconteceu com

Claudia.

Raffaello se aproxima de mansinho, um pé de cada vez, até

encostar o ombro no meu.


— Mas esse teu pau não explode de tanto tesão, não? Essas

bolas aguentam segurar tanto tempo assim?

Dou uma cotovelada nele para que se afaste e o julgo com o

olhar.

— Amigo, o pai dela só quer garantir que ela permaneça

virgem para um futuro casamento. Você violou o lacre?

Arqueio a sobrancelha, perguntando-me como ele tem tanta


certeza disso.

— Não, não violou, porque a Princesa Claudia é a fundadora


da SPDC, está tudo no relatório que te enviei, você não leu?

— Tinha sim uma sigla SPDC, mas não havia uma legenda

para isso, então não entendi o que significava.

— Sociedade das Princesas Dadoras de Cu — me elucida

sobre essa sandice como se fosse a coisa mais comum do mundo.

Fico quase um minuto inteiro contemplando o silêncio, o rosto

dele sério e as latas de tintas.

— Chega. Deu pra mim. Estou indo embora — aviso.


— Matthew, pense em Daisy — diz quase em tom de

ameaça.

— Deixa o Erik cuidando de tudo enquanto procura outro cara


para esse trabalho.

— O Erik vai ser o primeiro homem a entrar para a SPDC,

meu filho. Por que acha que o escolhi? É o único segurança em

quem a princesa não vai dar uma surra de cu. Eu só posso confiar

em você, Matthew! — Agora é ele quem segura em meus ombros e


me sacode. — Você é o adulto da situação. Então coloque ordem

em tudo! E a vigie de perto enquanto vocês são os vizinhos que já

transaram. Qual o problema? Uma mamada, um copo d’água e uma


metida não se nega a ninguém.

Reviro os olhos e ignoro todas as loucuras que ele diz.

Tenho um objetivo para me manter aqui e me concentrarei


nisso.

Não deixarei que nada influencie as minhas decisões, a não

ser o trabalho que fui contratado para fazer e os benefícios disso.

Repito para mim mesmo com o máximo de convicção que posso,

mas por dentro sinto as lembranças daquela noite me agitarem.


— Quando sua filha chega? — Ele muda de assunto.

— Amanhã de manhã. — Coço a nuca. — Vou levá-la para


conhecer a nova escola assim que chegar e voltamos para casa

para descansar do jet lag. À noite tem fisioterapia intensiva, começa

amanhã também e precisa estar bem-disposta.

Ele assente e anda em direção ao quarto que construí.

— Você quem fez?

— Sim, coloquei as divisórias e agora estou pintando. Ela

merece privacidade, eu fico no sofá.

— Nós fazemos tudo por eles, não é? — Raffaello abre um


sorriso de canto. — Ter filhos nos muda completamente. Meu sonho

é ter uma menina.

— Elas dão trabalho. Você precisa vigiar, observar tudo, ter

cuidado com quem estão...

— É, sei disso. Tive 3 terroristas que se tornaram

independentes cedo.

Quando começamos a falar das nossas crianças parece que

o clima muda.
Raffaello e eu temos isso em comum, fazemos

absolutamente qualquer coisa pelos nossos filhos. Temos visões,


comportamentos e formas diferentes de atuar na vida, mas nisso

somos semelhantes.

— Daisy vai ser grata para sempre pelos sacrifícios que fizer

por ela, então fique aqui, seja o vizinho quarentão com quem a

princesa já transou e ganhe a confiança dela. Assim poderá


protegê-la com mais facilidade, porque ela foge dos seguranças.

Exemplo disso é que fugiu do próprio país e enganou a todos. —

Coça o queixo.

— Vou fazer o possível, mas acho que vai dar merda.

— Chega de pessimismo e vamos terminar de pintar o quarto

da sua pequena.

— Sabe desenhar unicórnios?

— O quê? É óbvio que eu sei desenhar unicórnios, são


cavalos com casquinha de sorvete na testa! — Revira os olhos. —

Eu adoro unicórnios.

Raffaello vai até as latas menores de tinta, pega os pincéis de

desenho e mede na parede do quarto onde ficarão suas pinturas. Eu


cubro toda a parte branca de rosa para agilizar o tempo.

Não sei se estou preparado para lidar com alguém com quem
já tive intimidade, ainda mais nesse contexto.

Normalmente descarto essas pessoas da minha vida, porque

não estou aberto a viver algo que dure mais do que uma noite.

Claudia me pegou desprevenido. Infelizmente terei de vê-la

dia após dia a partir de agora e pior: segui-la, garantir sua

segurança, impedir que seja ímã de problemas como costuma ser.

Isso é horrível, porque ela me deixou intrigado. Não sei se foi

o jeito com que me olhou, com aquele brilho intenso e rebelde que
fez meu coração acelerar. Ou a maneira como seu sorriso quase

inocente me arrancou um arrepio, deixando-me sem reação.

Não quero lidar com isso agora, mas também não posso me
afastar.

Só preciso garantir que aquela noite jamais se repita, porque

foi um erro.
Capítulo 7

A PRINCESA DO BRONX

Claudia Þórhildur

Chego à Universidade de Nova York poucos minutos depois


que deixamos o loft, desço do carro e dou uma olhada panorâmica

no campus: eu esperava mais, para falar a verdade.

Não é tão belo quanto o ambiente da Columbia, por exemplo,

mas, pelo menos, é agradável.

Tem um bosque adorável bem perto do prédio principal, onde


está hasteada uma bandeira roxa com as letras NYU na cor branca

e quando entro, os ambientes se mostram sofisticados.

Soube que aqui tem vários blocos com nomes específicos e

que é tradição escolher um para se agregar e estudar em conjunto.

Só espero não ter problemas para me adaptar.

— Não se afaste de mim! — Erik corre para me alcançar. —


Não vou mais te perder de vista!

— Vai entrar comigo em sala de aula para estudar também?

— Coloco a bolsa no ombro, baixo os óculos escuros até a ponta do


nariz e observo o movimento do lugar.

— Não, mas da porta da sala de aula para fora, estarei na

sua cola.

Reviro os olhos e resmungo baixinho. Aproximo-me de um


local onde as paredes são todas de vidro e as pessoas estão

envolvidas em afazeres tecnológicos. Definitivamente não deve ser

ali onde as aulas do departamento de artes ocorrem.

Erik me segue a dois passos de distância, eu sigo em frente

em busca da minha sala.

Pego o celular na bolsa, abro o cronograma de aulas e vejo o

mapa do campus, me localizo e vou para a minha primeira aula de


Introdução à História da Arte num imenso auditório com colunas

gregas e algumas estátuas na entrada.

Sei que estou no lugar certo porque existem dois paparazzi

com câmeras enormes perturbando os alunos que tentam entrar.

Quando me aproximo, eles viram as lentes em minha direção e


começam a fotografar e a me perseguir.

— Princesa Claudia, o que faz tão longe de casa? — um

deles pergunta.
— Veio atrás de algo ou alguém específico, princesa? — o
outro indaga e me persegue.

O flash das câmeras é forte e me deixa cega por um

segundo. Cubro o rosto e tento entrar no auditório, mas eles se

colocam na minha frente formando uma barreira.

— Não se aproximem dela! — Erik puxa os dois pelo


colarinho e os arranca da minha frente.

— Só estamos fazendo o nosso trabalho!

— Façam à distância!

— Caiam fora da minha faculdade, otários! — Ouço uma voz

feminina.

Consigo ver de relance uma garota de cabelos encaracolados

girando uma mochila jeans no ar e acertando a cabeça de um dos

paparazzi.

— Agora corre! — ela me diz e passa na minha frente.

— Alteza? — Erik continua detendo os homens, enquanto eu

sigo a garota.
Viramos às pressas dois corredores até chegar numa sala

vazia. Ela tira o moletom roxo com o símbolo de uma tocha acima
da sigla da universidade e me oferece.

— Melhor trocar de roupa para eles não te reconhecerem.

— Eles vão me reconhecer de qualquer forma, acredite...

A garota enfia a mão na mochila e tira óculos escuros


enormes, bem diferentes do que eu usava, um modelo gatinho da

Versace, e me entrega junto com uma touca preta.

— Eles te viram com essa roupa, então se trocar agora, pode


ter uma chance de não ser reconhecida hoje.

Coloco o moletom folgado e a touca para cobrir os cabelos,

os óculos dão o toque final de alguém que está de ressaca e não


quer ser incomodada.

— Qual é a dos saltos altos? — ela me julga.

— Eu preciso estar elegante o tempo todo. — Sorrio.

— Por quê?

A resposta vem na ponta da língua, mas logo se perde.


Arqueio a sobrancelha e tento recuperar o que ia dizer, mas acabo
sacudindo a cabeça.

— Desculpe a minha falta de educação, sou Mila Brown. —


Estende a mão.

— Eu sou Claudia Þórhildur. Sou a princesa da Dinamarca —

digo.

— Legal, eu sou a princesa do Bronx. — Balança os ombros,


remexe mais uma vez na bolsa e tira tênis brancos enormes e vejo

que tem meias dentro do calçado.

— Essa é a bolsa da Hermione? O que mais vai tirar daí de


dentro? — Meu tom incrédulo a faz rir.

— O que você precisa? — Mila abraça a mochila que

continua estufada e faz uma cara de que aceita o meu desafio.

— Um spray de pimenta? — arrisco.

Puxa o zíper dianteiro e tira um frasquinho escuro de lá.

— Um gloss da Fenty Beauty?

Mila faz uma careta, guarda o spray de pimenta e joga a


mochila nas costas.
— Eu sou bolsista, gata. Sou princesa, mas não tenho
dinheiro. — Sai desfilando de um jeito confiante, e eu a sigo.

Nunca tive direito ao anonimato. E todas as pessoas que se

aproximaram de mim foi porque meus pais assim permitiram ou


porque tinham algum interesse. Mila desde o princípio não se

importou por eu ser princesa, acho até que ela sequer me conhece,
o que é ótimo.

— Qual seu curso? — me pergunta.

— História da Arte. E o seu?

— Também. — Analisa-me dos pés à cabeça. — Mas


estamos no prédio errado, hoje a aula é no departamento de
Ciências Humanas, não no de Arte.

Quase não saio do lugar quando voltamos para a entrada

onde Erik e os paparazzi estão discutindo.

Mila envolve as alças da mochila com as mãos e continua a


caminhar em frente. Ao perceber que parei logo atrás, vira o rosto e

faz um gesto para que eu ande.

A princípio nenhum deles percebe que sou eu, então a

acompanho.
— Você não tem cara de caloura. — Arqueio a sobrancelha,
desconfiada.

Faz o tipo do meu pai colocar pessoas para me vigiar sem

que eu saiba. E se esse for o caso de Mila, ficarei extremamente


irritada, porque se tem uma coisa que não aceito é mentira.

— Eu sou, acredite. Minha bolsa é como jogadora de


basquete, então treinei nas férias aqui e conheci todo o lugar — Mila

explica. — Posso não ser tão alta, mas sou ágil. — Me encara de

olhos semicerrados.

— Que legal! Então é realmente a princesa do Bronx! — digo

animada.

— É isso aí. Seu inglês é meio britânico, de onde você é?

— Dinamarca — repito o que já deveria ser óbvio.

— E onde fica? — Mila acena para alguns colegas quando

chegamos à frente do prédio.

— Na região norte da Europa. É um país escandinavo,


culturalmente conhecido por causa dos vikings — explico.
— Que legal! — Mila se mostra empolgada. — E saiu de lá

para vir estudar História da Arte?

— Fui obrigada. Mas sinto que vou gostar, porque adoro


Nova York, conhecer novas pessoas e estudar.

— Saquei. E é comum ter paparazzi na sua cola? Que

irritante! Eles gostam de assediar os jogadores também, mas não

tenho paciência.

— É. Eles são chatos e intrometidos. Mas não faço ideia de

como foram avisados de que eu estaria aqui hoje… — suspiro —


pensei que pelo menos no meu primeiro dia teria um segundo de

paz.

— Aceita uma dica, Claudia? Na próxima vez traga uma

muda de roupas. Mas não uma chique como se fosse para festa,

uma de povão mesmo, para se misturar, como se fosse do Brooklyn,


Bronx ou Nova Jersey.

— E como faço isso? Não tenho ideia.

— Depois eu te ajudo. Agora vamos para a aula, porque


dizem que a Sra. Roberts é bem exigente.
Entramos numa sala de aula em formato de auditório,

provavelmente menor que aquele do departamento de Artes.

A professora da disciplina é baixinha, óculos fundo de garrafa

e usa um vestido preto com um cardigan vermelho. Ela aponta para

o quadro que cobre toda a parede atrás de si:

— O que estão esperando? Comecem a escrever! — exige.

Sento, tiro o iPad da bolsa e fotografo o quadro.

Estou muito animada para o meu primeiro dia de aula e feliz

por conhecer Mila.

Matthew Fraser

Odeio quando as coisas saem do controle.

Sou do tipo que precisa ter cada mínimo detalhe garantido,


pois só assim tudo funciona adequadamente. E descobrir que
Claudia chegou antes do tempo e já aprontou – comigo, inclusive –

me deixa fora do sério.

A minha irritação tem uma pausa quando busco Daisy no


aeroporto. Seguimos para a escola – que fica próxima ao prédio

onde moraremos enquanto eu estiver encarregado da segurança da

princesa – para que ela conheça o local e as instalações principais.

Noto que há rampas inclusivas e me sinto mais calmo quando

percebo os olhos de minha filha brilhando de empolgação, apesar


do cansaço.

— Como foi a viagem, filha?

— Eu vi o oceano todinho — diz animada. — E dormi


bastante. O ar-condicionado do avião fez meus ossos doerem, mas

eu não chorei. A aeromoça me deu um cobertor extra e ficou tudo

bem.

— Você é sempre muito forte e corajosa. — Aceno


positivamente com a cabeça. — Animada para iniciar as aulas em

sua nova escola? Mais tarde vamos conhecer a equipe médica que

vai cuidar de você.

— Sim.
— Não parece a resposta de alguém animada. Você está ou

não?

— Sim!!! — grita, mostrando sua animação.

— Ótimo. Estamos quase chegando em casa. Você precisa

descansar.

Se não fosse por Daisy, eu não teria forças para essa grande

mudança em nossas vidas. Faço tudo por ela e manter a esperança

de que tudo ficará bem é o que me deixa vivo.

Quero ver a minha filha forte, correndo por aí, livre das suas
limitações.

— O que foi, papai? Por que está com essa carinha?

— Lembranças, filha. Se sua mãe estivesse aqui, as coisas


seriam mais tranquilas e ela cuidaria de nós dois.

— Mas ela está cuidando de nós, no céu, e está tudo bem! —

Daisy abre um sorriso fino e olha pela janela.

Observa os prédios iluminados e o avanço da tarde pela

cidade de Nova York.


Eu sempre me esqueço de que ela está crescendo e, mesmo

sendo uma criança, já é muito madura para a idade dela.

— É. Ela está.

— E ela sempre quer o melhor para nós! — Daisy conclui.

Quando estamos perto de chegar em casa, meu telefone toca

e a secretária da clínica informa que nossa consulta foi antecipada.

A mudança repentina nos planos me deixa desconfortável,

mas evito reagir expressivamente para não deixar Daisy em alerta.

— Mudança de planos, docinho. Parece que estamos com


sorte e o novo médico vai nos receber mais cedo! — Tento parecer

animado, mas por dentro estou congelado de ansiedade e medo.

Em 10 minutos chegamos à clínica de fisioterapia que está

sendo paga pela coroa dinamarquesa para cuidar do tratamento de

Daisy.

Segundo informações fornecidas pelo Raffaello, é um espaço


de excelência em ortopedia e fisioterapia, responsável pela

recuperação de lesões graves – em parceria com o departamento

de saúde da NYU.
Ajudo a minha filha a sair do carro e entramos no edifício
imponente.

Por onde passa, ela chama atenção, não porque é uma

menina de 8 anos com muletas canadenses e uma cinta que cobre

seu tronco e abdômen para mantê-la ereta, mas pelo olhar


carismático e sorriso encantador que distribui a todos durante o

percurso até o consultório.

Somos muito bem recepcionados e encaminhados para a

sala do doutor Yan que irá avaliá-la.

— Filha, o papai está de olho, mas precisa atender uma

ligação — aviso após colocá-la sobre a cama hospitalar.

Afasto-me e a observo de longe enquanto é examinada pelo

médico.

Atendo a ligação de Erik.

— O que houve?

— Deixei a margarida real no prédio em que teria aula e tive

que lidar com dois paparazzi nojentos. Quase duas horas para
conseguir expulsá-los daqui, precisei do apoio da segurança do

campus — reporta.
— E imagino que isso não ocorreu agora… — Umedeço os
lábios.

— Foi há umas 4 horas, agora já retornamos para o loft, a


margarida real está tomando banho. Eu estou guardando as

compras que ela fez com o diamante nórdico após a aula.

— Erik, o ato de reportar precisa ser feito imediatamente, na

hora, no momento em que as coisas ocorrem. Não posso te dar


cobertura se as notícias chegam até mim horas depois — disparo
em um tom baixo e acusatório. — E que tipo de código é esse? Diga

o nome delas ou se refira ao seu título. Isso pode nos confundir.

— Pelo menos eu a estou acompanhando, diferente de você


que parece ter outro compromisso.

Acho o comportamento dele bastante insolente e se


estivéssemos frente a frente é possível que eu o derrubasse no

chão com apenas um movimento.

— Escuta aqui, moleque, eu segui à risca o cronograma. Não

é culpa minha se sempre a perde de vista, inclusive, deixando-a


fazer uma viagem internacional sozinha. Era para essa garota
chegar aqui apenas hoje e ficar ocupada em sala de aula, enquanto
eu fosse buscar a minha filha no aeroporto — cuspo as palavras
demonstrando minha irritação.

— Tá . — Ouço seu tom monótono em apenas uma sílaba.

— Mas não se preocupe, Erik, eu garanto que a partir de


amanhã vigiarei vocês de longe. Os dois. Ela e você. Por que é
evidente que não é só a princesa quem precisa de

acompanhamento.

Ele desliga após ouvir tudo o que eu disse.

Retorno para próximo da minha filha, a ajudo a descer da


cama hospitalar e aguardo os posicionamentos do médico.

— E então, doutor?

— Traga-a aqui amanhã de manhã para fazer uma


ressonância magnética. Precisa estar em jejum por 12 horas. Já

adianto que ela precisa de fisioterapia de segunda a segunda, e


vamos diminuir a carga de remédios para dor apenas conforme o
tratamento avançar. Demais detalhes só consigo dar com o

resultado dos exames em mãos.

— Perfeito.
— Eu também quero exames de sangue para saber todas
essas coisas... — Ele vira a tela do computador para que eu veja.

Há pelo menos 20 itens marcados.

— Ela reclama de frio e dores nos ossos, então precisamos


identificar exatamente de onde isso vem e se há algum processo

inflamatório não mapeado. Assim que tivermos os resultados,


partiremos para a ação.

Abro um sorriso confiante para Daisy se tranquilizar.

— Tem medo de agulhas, mocinha?

— Não — ela responde, mas segura em meu braço.

— Tudo bem. Acha que consegue fazer exame de sangue


amanhã?

Daisy me encara quase pedindo socorro. Não devia estar em

seus planos chegar a Nova York e refazer uma bateria de exames.

— Vai ficar tudo bem, meu amor. Dessa vez eles vão
conseguir te ajudar. — Comprimo os lábios.

— Tá bom… — Abaixa a cabeça.


— Estão liberados, podem ir para casa, e nos vemos assim

que os resultados saírem. Mas até lá, fisioterapia todos os dias. Os


pulmões dela estão em bom funcionamento, mas eu indico natação
no horário oposto à fisio, três vezes na semana, para trabalhar todo

o corpo sem impacto. Vamos ver como ela reage.

— Ok.

Daisy e eu saímos do consultório e vamos para casa.

A droga do elevador é horrível, nada acessível, Daisy tem

muita dificuldade para sair dele e isso me irrita. Preciso travar a


grade pantográfica com meu próprio corpo para que ela tenha
tempo de sair da caixa metálica. Como um prédio tão caro e luxuoso

pode pecar nessa parte?

— Pronta para a surpresa? — pergunto. — Feche os olhos.

Ajudo Daisy a entrar em nosso apartamento estúdio. Ligo as

luzes e a levo para frente do seu quarto.

— Pode abrir.

Vejo o rosto dela se iluminar e seus olhos brilharem ao ver o


quarto que construí e pintei para ela.
— Tem um unicórnio! — Ela vai o mais rápido que pode e
observa a pintura na parede. — Ele está dando a língua! — Cai na
risada. — Ah, tem ursinhos também! E mais um unicórnio! — diz

animada ao observar a cama.

— Deixei do jeitinho que você queria, para se sentir em casa


— aviso.

— Eu amei, papai, obrigada! — Vem até mim com lentidão e


abraça a minha perna. — Tudo ficou lindo.

— Enquanto aproveita o quarto, vou trazer suas malas, tá?


Se comporte e não saia daqui.

— Sim, papai.

Saio do apartamento para buscar tudo o que não consegui


trazer nessa primeira leva, porque precisava dar suporte a Daisy, e

assim que fecho a porta, escuto uma música alta vindo do


apartamento vizinho. As paredes e a porta tremem de tão intenso
que é o som.

— Não serão dias fáceis… — Suspiro e retorno ao elevador,

percebendo que a princesinha decidiu dar uma festa.


Tenho vontade de chutar essa porta pantográfica e no mínimo
cortar a energia do apartamento de Claudia, mas me contenho.

Parece até que tudo isso está virando um filme de terror.


Capítulo 8

UM BECO EM NOVA YORK

Matthew Fraser

Acordo bem cedo para levar Daisy ao laboratório onde vai


fazer os exames. Começamos com a coleta de sangue e, a seguir,

aguardamos numa antessala até que ela seja chamada para a


ressonância.

Ela se comporta direitinho e, de lá, levo-a para seu primeiro


dia de aula. Apesar da mudança inesperada e todo o caos que lidar
com a princesa Claudia traz para nossa vida, fico feliz por saber que

Daisy terá uma educação de qualidade e oportunidades muito


melhores em seu futuro.

Erik me envia a localização de onde está com Claudia e


depois de deixar minha filha na escola vou para o lugar: um café no

Soho, no térreo de um imenso prédio corporativo.

O local tem a aparência de acolhedor e pelo lado de fora sou

capaz de ver a princesa dividindo a mesa com uma outra mulher,


com quem conversa animadamente.
Estaciono a algumas quadras do lugar e faço uma varredura

do perímetro. Como estamos numa região movimentada, redobro a


atenção e observo cada pessoa que entra no estabelecimento.

Quando Claudia está distraída, entro no café e me sento


numa mesa mais afastada, em um lugar onde ela não possa me ver.

A mulher que a acompanha é uma garota negra e de olhar astuto,

com cabelos cacheados bastante volumosos. Riem alto sobre algum


acontecimento da aula do dia anterior e brindam às novas loucuras

que a NYU guarda para elas.

Erik está sentado na mesa ao lado dela e olha fixamente para


a princesa.

É um amador, não deixo de reparar, já que devia prestar

atenção em tudo ao redor, menos nela. Raffaello deveria ter

escolhido um figurante melhor para a situação, mas um detalhe me

chama a atenção: ela até fica à vontade perto dele. E isso é um

péssimo sinal.

É indício claro de que vai aprontar a qualquer instante,

porque em nenhum nível essa garota teme ou respeita o segurança

fajuto que a acompanha.


Um homem de boné preto e jaqueta grossa que está sentado
no balcão da cafeteria come seu lanche devagar e mantém sua

atenção no celular.

Esporadicamente, sem que ninguém perceba, vira o aparelho

para Claudia e tira uma foto, esconde o aparelho e volta a mexer a

colher na xícara diante de si.

Mando uma mensagem para Erik: “Saia e tire foto de todas

as placas de carros no estacionamento da cafeteria, em frente e aos

lados.”

Alguns segundos após ele sair, o homem no balcão retira um

objeto preto do bolso da jaqueta e logo percebo que é uma faca


retrátil.

Ele se levanta, olha para os lados para conferir que Erik está

fora de radar e apressa o passo em direção onde Claudia e sua

amiga estão tagarelando distraidamente.

Ele mantém o braço rente ao corpo de modo que só é

possível ver a ponta da lâmina.

Não aguardo nem mais um segundo para intervir: me levanto

e com passos largos, puxo-o pelo colarinho da camiseta e o


empurro até a mesa vazia onde Erik estava.

— Coloque as mãos onde eu posso ver — mando.

— Me solta. Eu não fiz nada. Só estava indo ao banheiro... —

Tenta se soltar, então o imobilizo a ponto de ouvi-lo gemer.

— Eu disse para colocar as mãos onde eu possa ver.

Há certa agitação no local após minha investida contra o


homem e ouço o arrastar de cadeiras e expressões de surpresa das

pessoas que não esperavam uma cena como essa.

Diante da minha insistência o homem finalmente apoia as

palmas em cima da mesa mas o barulho do objeto com lâmina


caindo no chão chama atenção.

— Vizinho? — Claudia se surpreende ao notar a minha


presença. — O que faz aqui?

— É o melhor café do bairro, todo mundo vem aqui. —

Encaro-a rapidamente. — Esse cara está com uma faca.

— Não é uma faca! — o homem protesta.

Pego o objeto e passo os dedos pela lâmina, encosto-a no


pescoço dele e pressiono levemente.
— Não te parece uma faca?

O meliante fica em silêncio e encara Claudia de um jeito


raivoso, então seguro firme nos cabelos dele, viro seu rosto para o

outro lado e pressiono a cabeça na mesa.

— Não terminei com você — aviso.

Claudia e sua amiga se levantam. Pela forma que encaram o


sujeito parece que estão tentando reconhecê-lo.

— Não é o paparazzo de ontem? — a amiga de Claudia


pergunta.

— É. Sou eu. Seu segurança quebrou a minha câmera, então


vim conversar... — explica.

— Com uma faca? — Ergo a cabeça dele sutilmente, só para


batê-la de novo na mesa. — Que tal uma conversinha no

departamento de polícia?

— Só quero o conserto da minha câmera — o homem rosna.

— Pode soltá-lo — Claudia cruza os braços. — Eu pago o


conserto da sua câmera, mas fique longe de mim, ou peço para o

meu segurança quebrá-la novamente.


Pego a faca retrátil e guardo no meu bolso. Claudia tira
algumas notas de cem dólares da bolsa que parece ter sido criada
só para carregar o dinheiro e entrega ao homem que tenta sair

correndo, mas é impedido por mim.

Noto mais uma falha em nossa segurança e me dou conta de

quão esperta é a princesa: Erik me assegurou que tinha confiscado


todo o dinheiro em espécie da garota, mas, de alguma forma, ela
conseguiu mais dinheiro e se continuarmos com esses furos em

breve ela vai aprontar novamente.

— Apague as fotos — digo sério para o homem preso sob


minhas mãos.

Não espero a boa vontade dele. Enfio a mão no bolso, pego o

aparelho e coloco diante do rosto dele para desbloquear. Vou direto


na galeria, apago mais de dez fotos que ele tirou hoje e algumas

ontem. Após checar que não há vestígio das imagens, devolvo o


aparelho.

— Agora vaza.

O homem desaparece o mais rápido que pode, vai pelo lado

contrário de onde Erik está registrando as placas dos carros.


— Quem é ele? — A amiga de Claudia faz uma careta.

— Meu vizinho. O que eu falei que é grosso.

— Ah! — A garota parece surpresa. — Bem, eu tenho treino,


então preciso ir. Nos vemos à tarde?

— Claro. Adorei te ver, obrigada por me ouvir. — Claudia


acena e se despede da amiga. — E então, senhor vizinho misterioso

e grosso, pode explicar por que imobilizou aquele homem?

Retiro a faca do bolso e mostro a ela.

— Tá bom. — Ela vai até o caixa, paga a comanda e não diz

mais nada.

Quando chega na porta da cafeteria, olha para cada lado da


rua e decide sair correndo, pura e simplesmente.

É tão inesperado que eu fico preso no lugar, tentando digerir


o que essa garota acabou de fazer. Após 10 segundos vendo-a

sumir pelo fim da quadra, entre as pessoas distraídas, decido ir

atrás.

O idiota do Erik desapareceu, deve estar registrando as


placas da cidade inteira, enquanto a louca não perde uma
oportunidade sequer de aprontar.

Sigo Claudia, tentando não a perder de vista no meio de

todas as pessoas que vêm na direção contrária empurrando e


pedindo espaço.

Paro diante de um beco por onde ela entrou e noto que o

local está vazio, um tanto escuro e não tem sem saída.

Olho para os lados e decido entrar no beco, examinando-o.

Parece a saída dos estabelecimentos que ficam na avenida

movimentada e para todo lado há sacolas de lixo e uma imensa


caçamba à esquerda, por trás de onde surge a princesa.

— Eu já entendi qual é a sua. — Claudia cruza os braços.

Sinto meu coração bater forte, engulo em seco. Limpo as


mãos na calça jeans e paro a alguns metros dela.

— Eu posso explicar, é bem simples e compreensível, na

verdade — digo.

— É claro que é. — Claudia meneia a cabeça e me chama

com o dedo indicador.


Odeio ter de ir até ela, mas para manter uma conversa sadia

e sem grandes emoções, mantenho meus movimentos previsíveis.

— Sempre está em todos os lugares para onde vou e está de

olho em mim... — Umedece os lábios e me encara fixamente. —

Você é ciumento e superprotetor. Um tipo sexy de stalker.

Ela me pega de surpresa ao dizer isso. Esperava tudo,


menos essas palavras.

— Sou? — Minha voz quase não sai, mantenho a expressão

fria e centrada.

— E eu adoro. Um homem mais velho obcecado em mim. —

A cada palavra ela se aproxima lentamente até que esteja colada

em meu corpo. — Ciumento, possessivo, que tomou um chá bem


dado e agora não consegue pensar em outra coisa que não seja o

segundo round.

O nível dela de ilusão é grande, mas para fins de manter

minha identidade secreta, faço um gesto sutil de que concordo.

— O que posso dizer? Você me pegou. — Ergo os ombros.

Claudia sorri, vitoriosa. Encosta suas unhas afiadas na minha

camisa social branca, desfaz o botão que cobre meu peitoral e


começa a arranhar a minha pele.

— Não, Matthew. Você me pegou. Eu adorei. E quero de

novo.

— Ótimo. Tenho certeza de que teremos outras


oportunidades...

— Agora — dita, com os olhos em chamas.

— Aqui? — Imediatamente viro o rosto para o início do beco,


onde pessoas transitam livremente. — Perdeu o juízo?

— Eu nunca tive, na verdade.

Usa os cinco dedos para deixar o rastro das unhas por meu
peitoral e abdômen.

Com a outra mão segura firme em meu cinto e o retira

calmamente, mas quando está prestes a abrir a minha calça, eu

seguro por cima da mão dela e a encaro de perto.

— Odeio homens que ficam na minha cola, mas há algo

charmoso em você. Possessivo, rude e grosso, do jeito que eu


gosto.

— Você tem um gosto duvidoso para o tipo de homem...


— Não estou falando da sua personalidade... — me

interrompe e pisca.

Claudia se abaixa lentamente, não se ajoelha, fica de cócoras

diante de mim. Termina de abrir a minha calça e não precisa de

esforço, assim que puxa a minha cueca meu pau pesado pula para
fora e bate em seu rosto.

Ela sorri de um jeito malicioso. Passa a ponta da língua na

base até chegar à glande, contorna lentamente a região sensível e

depois a abocanha.

Até tento impedir, no início, mas Claudia não é o tipo de

mulher que pode ser dissuadida facilmente. E por algum motivo não
consigo resistir ao desejo dela.

— Porra, não faz isso… — Olho para o início do beco,


sentindo a pressão em minha cabeça aumentar só de imaginar que

alguém vai vir.

E no pior dos casos seria o Erik.

— Quem vai me impedir? — Claudia me provoca.

Parece que ela tem o interruptor que me transfere do meu

lado certinho para o cara devasso que tento esconder de todas as


pessoas que conheço.

Seguro firme na nuca dela e a puxo em direção ao meu corpo

para engolir o meu pau o máximo que puder.

Claudia é hábil, abre bem a boca e deixa o caralho ir até sua

garganta. Seus olhos brilham com lágrimas quando chega ao limite


e depois se afasta subitamente, respira fundo e começa a me

masturbar.

— É esse o Matthew que eu gosto — diz vitoriosa, por ter

libertado esse meu lado mais uma vez.

— Cala a boca e chupa. — Seguro nos cabelos dela e a puxo

de volta.

Ela segura firme em minhas coxas e as arranha conforme


tenta ir ao limite, suga lentamente, força a garganta para me sentir o

mais fundo que consegue me abrigar e com um sorriso vencedor, se

levanta.

Encara-me com os lábios a um centímetro dos meus, segura

em meu pau com as duas mãos e continua a me masturbar.

— Quero que goze dentro de mim.


Pisco os olhos, mostrando que não entendi.

— Quero sentir sua porra entrando bem forte no meu cu e


não ouse parar de socar, mesmo que as minhas pernas fraquejem.

Queria poder contestar cada palavra e voltar à racionalidade,

mas o meu pau lateja tão forte que ela entende isso como um sim.

Vira de costas para mim, abaixa a calça jeans e rebola bem devagar
enquanto simula os movimentos de vai e vem, empina bem a bunda

e a esfrega em minha virilha.

— Não temos tempo, então soca tudo e não para até gozar.

Afasto a calcinha branca de Claudia para o lado e percebo


que sua boceta está encharcada. Uso esse lubrificante natural para

deixá-la preparada para me receber.

— Me abrace bem forte e cubra a minha boca, senão vou


gritar e chamar a atenção de todo mundo.

Ao sentir o toque da pele dela em minhas mãos, sinto meu

tesão aumentar. Claudia e eu temos essa conexão estranha,


magnética. Nossos corpos juntos têm uma reação química explosiva
que torna todo o ar ao nosso redor quente e expansivo.
Seguro bem firme no baixo ventre dela e posiciono a outra
mão em seu queixo, pronto para cobrir sua boca.

Ela direciona o meu pau até seu buraco e rebola até encaixar
a glande.

— Isso… — Seu corpo treme por inteiro quando entro em seu


cuzinho apertado. — Agora mete tudo, com a mesma raiva que

bateu com aquele cara na mesa.

— Você não vai aguentar... — murmuro.

— Cala a boca e me fode, escocês — replica, insolente.

Só para colocá-la em seu devido lugar, empurro o meu corpo

para frente e entro em Claudia com intensidade. O grito começa,


junto de uma respiração pesada, mas não termina, porque cubro
sua boca com a mão.

Posiciono bem as minhas pernas para manter o equilíbrio e

pegar mais impulso, deslizo para fora dela até ouvi-la gemer de dor
e prazer e me afundo nela de uma vez, apreciando a reação da
princesa quase despencando para frente, o corpo mole e com leves

espasmos.
— Não para, eu quero bem forte até sua porra estar toda
dentro de mim — diz com o som abafado pela minha mão, ainda
assim entendo.

Movo a cintura para trás, pego impulso para entrar nela até
onde é capaz de me receber e prontamente me afasto, tornando as
estocadas intensas e rápidas.

O barulho da bunda de Claudia batendo contra a minha


virilha é alto, mas não tanto quanto os gemidos que tento impedir
que chamem a atenção das pessoas na região.

Meu corpo se retrai e fica em alerta quando sinto o cuzinho


dela me apertando e depois soltando, seu canal praticamente me
suga, prende e torna cada vez mais difícil as minhas estocadas

serem rápidas.

— Continua, mais forte, quero te sentir inteiro em mim! —


Claudia chupa a minha mão enquanto delira de prazer ao sentir as
estocadas violentas que tanto quer.

Em alguns segundos pega o meu ritmo e começa a empurrar


a bunda para trás no momento em que a penetro, é delicioso porque
está bem apertada e ainda sinto seu músculo se contraindo em
mim.

Nossos gemidos são roucos e primitivos. Enquanto nossos

corpos se chocam, o suor escorre pelas costas de Claudia e nosso


cheiro me deixa inebriado.

O resultado são alguns jatos fortes e espessos dentro dela.


Gozo tanto que sinto meu pau pulsando e quente.

— Não para! Continua! — ela implora.

Abandono a pegada em seu baixo ventre e a cobertura na

boca, seguro em seus ombros e começo a estocar de forma ágil e


sem parar, até que ela cambaleie para frente, se segure na parede,
ofegante, gozando também.

— Tudo bem? — pergunto, indo em direção à princesa.

Ela se vira subitamente, me agarra pelo pescoço e me beija


desesperadamente. Chupa meus lábios com tamanha intensidade

que sinto que estão ficando inchados.

Retribuo quase de imediato, sem pensar muito.


Abraço-a pela cintura e encaixo nossos corpos enquanto

tomo sua boca e controlo o beijo. Claudia acaricia o meu rosto e


suga a minha língua bem devagar.

Meu pau continua em riste, pulsando de tanto tesão por essa


atitude inusitada e o jeito desinibido dela. E da mesma forma que se

aproximou sem avisar, ela se afasta, subindo a própria calça e


andando para fora do beco.

— Obrigada, vizinho! Nos vemos a qualquer hora! — Pisca e


sai andando com dificuldade, ajeitando os cabelos com as mãos.

Abotoo a camisa e tento fechar a calça, mas o volume


sobressalente chama muito atenção, então fico no lugar até sentir

que o sangue baixou.

— Princesa dos infernos!


Capítulo 9

UMA PEQUENA MARGARIDA

Claudia Þórhildur

Retorno caminhando ao apartamento para arrumar as minhas


coisas para a aula, sem me dar ao trabalho de procurar Erik para

me acompanhar.

— Segura para mim, por favor! — grito ao perceber que o

elevador está prestes a fechar as portas.

Vejo a ponta de uma muleta impedir que as portas se fechem


e assim que chego ao lugar encaro uma garotinha de cabelos

castanhos, olhos grandes e expressivos, com uniforme da escola.

— Obrigada — agradeço e entro.

Noto a semelhança entre ela e o meu vizinho e continuo a


encará-la. A menina olha também, mas disfarça isso melhor do que

eu.

— Nunca te vi por aqui antes. — Puxo assunto. — Qual o seu


nome?
— Daisy Fraser. E o seu?

— Claudia. — Noto que o décimo andar já está apertado, o

que só aumenta a minha suspeita. — Você é filha do Matthew?

A reação dela ao ouvir o nome do pai é imediata, as orelhas


até se mexem e vira o rosto em minha direção completamente.

— Sim, eu sou.

— É, o sotaque escocês não engana! — Sorrio. — Cadê sua

mãe? Ela que te buscou na escola?

— A minha mamãe está no céu. — Daisy me encara com

suspeita. — De onde conhece meu pai?

— Sinto muito, Daisy… — Suspiro, encarando seu rostinho

que é tão indecifrável quanto o do pai. — Ah, nós sempre nos

esbarramos por aí, ele é muito gentil e sempre me ajuda no que

preciso.

— Huum… — a menina diz.

Quando chegamos ao andar, Daisy tenta sair, mas tem muita

dificuldade.
A porta pantográfica definitivamente não foi projetada para
uma pessoa com deficiência. Ajudo-a, segurando a porta e

suspendendo uma de suas muletas quando trava no vão, então ela

tenta sair de lado com o máximo cuidado para não tropeçar.

— Acabei de encontrar seu pai na rua — digo quando ela

está diante de seu apartamento. — Não quer ficar um pouco


comigo?

Daisy semicerra os olhos, desconfiada. Balança as chaves

diante da fechadura e me olha com atenção.

— Eu moro bem aqui. — Mostro a porta que fica logo ao lado

e destranco. — Não se preocupe, se ele achar ruim eu levo a culpa.

Até porque estou doidinha para ver o Matthew irritado.

Parece que quanto mais fora do si ele fica, mais forte é a

socada.

— Ok... — Daisy me segue de um jeito acanhado. — Uau,

sua casa é tão grande e bonita! — Ela observa a sala espaçosa, as


plantas que coloquei para decorar e vai direto para a mesa.

— Está com fome?


A menina não consegue mentir, faz um ‘sim’ com a cabeça.

— Ótimo! Eu odeio comer sozinha. E o Erik não está por aqui.

— Começo a rir só de pensar na bronca que ele vai levar quando

meu pai descobrir que está sendo desleixado e me deixando dar


essas escapadinhas.

— Quem é Erik, seu namorado? — Me acompanha com o


olhar, curiosa, para ver o que vou tirar da geladeira.

— Não, não. É o meu segurança particular.

Não temos cozinheira ou empregados por aqui, então as


refeições são todas compradas em aplicativos de entrega ou feitas

por mim.

Com minha vasta experiência culinária, que se resume a


lanches, coloco carnes de hambúrguer congeladas para grelhar.

Enquanto isso corto rodelas de tomate, cebola roxa e alface


americana. Coloco fatias de queijo sobre a carne para derreter
enquanto grelha e pego pão de forma integral, deixo-o tostando na

torradeira.

— Por que precisa de um segurança? — Daisy faz uma

careta.
— Se eu te contar um segredo, promete guardá-lo?

— Uhum! — Balança a cabeça.

— Já conheceu uma princesa de verdade?

— Tipo a Branca de Neve ou a Bela Adormecida? — Daisy


franze a testa.

Fica idêntica ao pai. Acho incrível o quanto são parecidos.

— Sim, mas eu sou uma princesa de um país de verdade.

— E qual delas você é? A Rapunzel? — Examina meu cabelo


de longe. — Ou a Pequena Sereia?

Tamborilo as unhas na mesa enquanto penso um pouco.

— Eu estou mais para Chapeuzinho Vermelho.

— Chapeuzinho Vermelho? — Não esconde a surpresa e a


incompreensão.

— Sim. Sempre atrás de um lobo mau para comer. — Rio


baixinho e volto ao preparo do hambúrguer.

— Mas a Chapeuzinho é princesa? — Daisy acompanha tudo

o que eu faço, admirada.


Seus olhos brilham quando coloco o sanduíche na sua frente.

— Daisy, toda mulher tem um pouco de princesa dentro de si.


— Pisco. — Até a Chapeuzinho Vermelho.

— Espera. Mas não é lobo que come ela? — A criança

continua a estranhar o que digo.

— Depende da versão da história. — Limpo a garganta e vou


até a geladeira buscar uma garrafa de suco de laranja. — Mas me

conte sobre você. Por que usa muletas?

— Minha família sofreu um acidente de carro há alguns anos.

— Daisy comprime os lábios. — Minha mamãe não conseguiu se


recuperar e foi ficar com o papai do céu. Meus ossos ficaram frágeis
e meio fora do lugar. O papai foi o único que não teve nada grave,

mas não conte isso para ele, porque esse pensamento sempre o faz
se sentir mal.

Não passa despercebida a forma concisa e fluente com que

constrói as frases e diz coisas que a fazem parecer uma pequena


adulta.

— E se me permite saber... — Sento-me diante dela para

comer. — O que vieram fazer em Nova York?


— É para o meu tratamento. Meu papai conseguiu um
emprego bom e agora vou ter assistência médica todo dia.

Estou impressionada com o quanto ela é esperta e tão lúcida

de tudo. Quando eu tinha essa idade mal sabia me comunicar.

— Você é tão esperta. — Sorrio.

— Sim, eu estudo todos os dias com o meu papai. — Daisy

se lambuza inteira conforme come o sanduíche.

Isso me acalma, porque aí fica nítido de que é de fato uma

criança.

— E são só vocês dois agora?

— Sim. Tem a minha vovó, mas ela ficou em Edimburgo —


responde de boca cheia. — Desculpe.

— Não precisa se desculpar por nada, estou feliz em ter


companhia — afirmo e sorrio.

— E o que uma princesa está fazendo tão longe de um

palácio ou do seu príncipe encantado? — Daisy retruca.

Que menina afiada. Acho que Mila e Melissa ganharam uma

concorrente para a disputa de melhor amiga na cidade que nunca


dorme.

— Bem... digamos que eu seja uma princesa bem

aventureira. E a minha nova aventura é estudar. O príncipe


encantado pode esperar, neste momento essa princesa precisa de

independência e construir seu futuro. — Tento simplificar para ver se

ela entende.

Acho que sim. Pela forma como me encara e mantém um

brilho no olhar, acho que Daisy e eu temos muitas coisas em


comum.

— Conhece outras princesas?

— É óbvio, eu sou amiga de todas! — digo animada. —


Menos de Sahira, ela é uma vaca. — Cubro a boca com a mão e a

encaro com os olhos alarmados. — Perdão.

— Tudo bem. O que Sahira fez?

— Sequestrou a princesa Melissa e quando ajudei a resgatá-

la, quase me sequestrou também!

Daisy faz uma careta impagável.

— Ela é uma princesa ou uma bruxa?


— Daisy, às vezes bruxas são princesas, princesas são

bruxas, princesas são loucas, loucas são princesas. Mas Sahira

não. Ela só é uma vaca mesmo.

Daisy cobre a boca para rir, e eu a acompanho, só que

gargalhando bem alto.

— Eu conheço Melissa, Karina, Sofia… e recentemente


conheci a princesa do Bronx, Mila.

— Nova York não tem princesa! — Daisy parece indignada.

Deve achar que estou subestimando seus conhecimentos


geográficos.

— Tem sim, porque agora estou aqui. E você também. E na

noite das princesas você está convidada!

— O que é uma noite das princesas? — a pequena me

questiona imediatamente.

— É uma festa do pijama exclusiva para princesas, para

comer delícias e falar besteiras. Você vai gostar.

— Vou ver se o meu pai deixa...


— Vai deixar sim, porque eu vou conversar com ele. — Jogo

meu cabelo para trás.

Erik entra esbaforido no loft, assim que me vê abaixa os


ombros e respira. Pega o rádio e diz:

— Ela está no loft.

Limpa a testa e deixa a porta escancarada, vem até mim, me


encarando com ódio por trás dos óculos escuros.

— Eu já disse que não pode sair por aí sem minha

companhia! — ralha.

— Para de ser carente, Erik, e foi você quem me largou

sozinha e desapareceu. — Faço um bico. — Quer hambúrguer?

Ele fica todo sem jeito por eu ser sempre brincalhona e não

dar tanta atenção às preocupações dele. E ao observar minha


companhia, fica ainda mais sem graça.

— A senhorita tem uma hora até sair para a universidade —


me avisa de um jeito formal e percorre a casa como se estivesse

atrás de um bandido.
— Este é o tal segurança? — Daisy murmura, cobre o canto

da boca com a mão.

— É sim. Bravinho, né?

Falando em gente brava...

Escuto passos pesados vindos do corredor. O homem parece

que vira seu apartamento de cabeça para baixo e quando está indo

na direção oposta do corredor, decide vir aqui.

— Daisy? — Espia pela porta e vem apressado até a mesa.

— Filha, o que está fazendo aqui? O que conversamos? A escola te


deixa dentro do prédio e você precisa ir para casa, não pode desviar

do caminho! — O pai se agacha e a observa atentamente. — Está

machucada? Está tudo bem? O que houve?

Acho bem charmoso ele se preocupar desse jeito com a

criança. E o olhar de raiva que me direciona na verdade me diverte


e só me faz pensar no quão dedicado à filha ele é.

— Não queria ficar sozinha, então pedi para ela me fazer

companhia — explico. — Não brigue com ela. Se quer brigar com

alguém, que seja comigo.

— Vamos conversar depois — rosna.


— Na sua casa ou na minha? — Coço a nuca. — Pode ser na

escadaria de incêndio também... no elevador... em um beco na rua,


a gente conversa a hora que quiser.

— Perdeu o juízo? — Matthew mostra que está realmente


irritado.

— Sim. Me desculpe, não queria causar nenhum transtorno.

— Abaixo os ombros e olho para a filha dele. — Às vezes sou

impulsiva e não penso muito, além de que estava curiosa para


conhecer Daisy.

— Ótimo. Se já se conheceram, Daisy, é hora de voltar para


casa. — Matthew aponta para a saída com o rosto.

Ajuda a menina a se levantar, mas assim que a criança está

com as muletas bem firmes no chão, deixa que ela seja

independente e vá sozinha.

Meu vizinho ignorante e de semblante tempestuoso apoia as


duas mãos na mesa e me encara com raiva. Tudo o que consigo

ver, porém, são seus braços musculosos e as veias sobressaltadas.

— Está passando dos limites, Claudia.


— Me diga a punição que aí decido se paro de uma vez ou
extrapolo ainda mais — provoco.

— Não envolva a minha filha nas suas aventuras.

— Perdão por isso, não sabia que iria te chatear tanto. Mas

eu só a acompanhei no elevador, que inclusive não é nada inclusivo,

a menina teve a maior dificuldade para sair... — reclamo.

— É. — Coça a nuca e olha para a mesa.

— E odeio comer sozinha, de verdade, então a chamei.

Tenho certeza de que um pai tão zeloso quanto você, não quer

deixar Daisy abandonada dentro de casa, não é?

O semblante dele estava melhorando. Mas acho que me

comuniquei muito mal, porque Matthew volta a mostrar sua irritação

com o olhar.

— Não me diga como criar a minha filha — conclui num tom


rouco e bravo, dá as costas e vai embora.

— Não foi isso que eu quis dizer! — tento me explicar, mas

ele sai e bate a porta com força. — Eu tinha mesmo que dizer
aquilo? Meu Deus!
Levanto e coloco tudo na lava-louças, porque não consigo
terminar de comer.

Vou para a suíte e me jogo dentro da banheira, deixo a água


morna cair por cima do meu corpo e fecho os olhos para relaxar,

porque em alguns minutos preciso correr para a faculdade.

Enquanto penso em nossa dinâmica caótica, sinto meu corpo

aquecer. A água da banheira está morna e os sais de banho formam


uma espuma perfumada que me envolve e, de fato, relaxa.

Usando o chuveirinho anexo à banheira jogo água quente em


meu corpo e não me contenho. Ergo uma das pernas e uso a lateral

da banheira de apoio, enquanto deslizo um dedo sobre meu clitóris.

Pensar em Matthew me faz desejar senti-lo dentro de mim e


preciso me tocar para acalmar esse sentimento.

Uso o dedo médio em movimentos circulares, descendo e


subindo por toda a boceta em ritmo acelerado enquanto lembro do
pau grosso e quente do vizinho entrando com força em meu cu, no

beco.

As lembranças dessa manhã me deixam cada vez mais


excitada e me masturbo com vontade, sentindo meu corpo reagir ao
toque certeiro.

Já não aguentando de prazer, uso a ducha para me


satisfazer. A vibração quente da água tocando no ponto certo me

descarrega num orgasmo solitário e delicioso. Preferia que fosse


Matthew a me satisfazer, porém me sinto aliviada.

Começo a perceber que o grosseirão da porta ao lado de

alguma forma dominou meus pensamentos e sinto que preciso


encontrar uma forma de ele me comer mais vezes. Quem sabe todo
dia?

Matthew sempre está irritado comigo e se eu continuar lhe


dando motivos, acho que as coisas só vão desandar. Mas adorei ter
Daisy aqui, acho que nós duas temos uma energia de garotas

independentes e que podem se ajudar.

Talvez ela me conte, mesmo sem perceber, como conquistar


o pai rabugento dela e nos tornemos cúmplices para tirar Matthew
do sério.
Capítulo 10

KRAV MAGA

Claudia Þórhildur

Na semana seguinte, meus pais me ligam por facetime para

se atualizar de tudo o que estava acontecendo comigo em Nova


York.

— Não enrole e conte tudo sobre sua estadia — meu pai


exige, animado.

Estou saindo da aula de Introdução à História da Arte. A

professora Roberts é uma pessoa severa e que odeia tecnologia.


Durante o período, ela implicou muito comigo por tirar fotos do
quadro com o iPad. E agora me julga com o olhar, porque saio da

sala com o aparelho celular diante do rosto.

— Odeio admitir, mas vocês estavam certos. — Mostro um

sorriso fino. — Um pouco de ocupação e responsabilidade parecem


ter alinhado os meus chakras.

E um vizinho do pau grosso também, mas esse detalhe fica

em off.
— Estamos surpresos com o relato de Erik. Na semana

passada você compareceu a todas as aulas, passou o final de


semana ocupada organizando as coisas no loft, não deu trabalho

um segundo sequer... — meu pai informa admirado e um tanto

descrente.

Seu semblante é um misto de orgulho e preocupação.

— Tem certeza de que está tudo bem mesmo?

— Sim, papai, está. — Sorrio.

— Eu disse que ela ia tomar jeito… — minha mãe murmura,

mesmo com a mão na frente da boca, consigo ouvi-la.

— Eu ainda vou frequentar casas noturnas e me divertir por


aí, tá? Só fiquei ocupada demais essa semana… — Suspiro.

— Desde que esteja no radar do seu segurança, pode ir

aonde quiser, tem a minha aprovação. — Meu pai respira fundo,

rendido.

Sinto uma sensação estranha que nunca tive antes. Parece

que o estou surpreendendo de uma forma positiva e isso me deixa

feliz. Acho que nossa relação precisava disso: um pouco de espaço


e eu me aventurar em outro ambiente para jogar toda a minha
energia.

— Tenho que desligar, vocês interromperam minha aula com

essa chamada e agora que terminou estou prestes a encontrar Erik.

Ele passou a semana inteira insistindo para que eu tenha aula de

artes marciais. — Reviro os olhos. — Ah, e essa semana vou dar


uma festa do pijama no loft, então se receberem reclamação do

condomínio, já sabem...

— Tchau, princesa! — Meu pai manda um beijo, após fazer

um sinal positivo com o polegar.

— Tchau, meu amor, se cuida! — Minha mãe parece ainda


mais animada.

Jogo o celular dentro da bolsa e vou até o carro que me

aguarda.

Desde aquele dia na cafeteria não fui mais incomodada por

paparazzi e consegui ter um pouco de privacidade em todas as

coisas que fiz, embora continue chamando atenção com as minhas


roupas.
Queria muito ir às compras, mas não tive tempo, toda essa

mudança foi caótica e meus pais estão obstinados a me fazer ter


responsabilidade, então estou me virando como posso.

— Podemos ir numas lojas comprar roupas “normais” — faço


as aspas com os dedos, junto com uma careta — e depois ir nessa
aula de artes marciais?

— Não — Erik me encara por trás dos óculos escuros. —

Seus pais foram bem claros: precisa aprender técnicas de


autodefesa. Como já se instalou apropriadamente e pegou o ritmo

da faculdade, chegou a hora de aumentar seus deveres.

— Deveres, deveres, deveres... — Reclamo. — Garotas só


precisam se divertir, Erik!

Ele dá a partida e dirige atentamente.

— Onde está o amigo que conheci na Dinamarca? Chupando


os peitões de um bombado depois metendo a língua na boca de
cinco caras diferentes?

— Já disse que era um disfarce. — Quase perde o controle


da direção antes de ralhar comigo.
— Erik, que disfarces são esses? Se joga. Vamos pra noitada

e se disfarça de novo, estou vendo o branco do seu olho tremer de


tão difícil que é segurar a pose! — debocho.

Ele abre um sorriso de canto e isso me faz ganhar o dia.

É a primeira vez desde que nos mudamos para cá que ele dá


um sinal de que é um ser humano e não um ciborgue feito para
seguir as regras. E pior: me obrigar a segui-las também.

— Vamos às compras, vai ser divertido! — insisto.

— Não.

Cruzo os braços no banco de trás e fico vendo as ruas


passarem. Levamos 20 minutos para chegar ao nosso destino: um

prédio de cinco andares que toma boa parte do quarteirão.

É uma academia luxuosa com todos os tipos de modalidades

esportivas e salas para treinos diversos.

Passo por uma praia cenográfica dentro do lugar, digna de


Hollywood, um salão com centenas de aparelhos para musculação e

no quarto andar, entro numa sala espaçosa que possui um tatame,


bem iluminada e com ar-condicionado.
— Vou te deixar aqui com o professor e vou fazer meu
relatório. — Erik avisa.

— Vamos na Gucci! — Faço um bico e bato o pé no chão. —

Não quero lutar, quero fazer compras...

Ele não me escuta e vai embora.

Pego o celular e mando mensagem para Melissa e Mila


perguntando qual seria o dia e hora ideal para uma festa do pijama.

Assim que envio a mensagem, o aparelho é retirado das minhas


mãos bruscamente. E quando tento pegá-lo, sou empurrada.

Quando recupero a visão, porque foi tudo muito rápido e


fiquei cega devido à tensão, dou uma boa olhada no homem de
camisa preta básica, calça de poliéster folgada, uma faixa branca e

vermelha amarrada em sua cintura, descalço no tatame.

— Ei! Virou bandido agora?

— Estou aqui para te preparar para eles — Matthew


responde.

— Então esse era seu emprego secreto? Você é segurança


de boate e professor de luta? — Abro bem a boca e arregalo os
olhos. — Espera. Você ia ser o meu professor esse tempo todo e
estava me testando?

— Não. — O vejo engolir em seco e me encara com

seriedade.

— Droga, sempre quis dar para um professor... — resmungo


baixinho. — Que pezão você tem! — Olho para baixo.

— Nada de pisar no tatame de tênis, muito menos de salto


alto. — Estica o aparelho em minha direção. — Deixe os calçados

perto da porta e vamos começar.

— Começar o quê? Nem sei por onde começar! — Faço uma

careta. — É sério, você é meu professor mesmo? Tem licença para

ensinar?

Matthew me encara com olhar de tédio e irritação. Eu me


divirto só de ver que o deixo assim, fora do sério.

— Servi ao exército do meu país desde os 18 anos e tenho


formação em Kung Fu, mas aqui aprenderemos Krav Maga.

— Que isso?
— Uma técnica de autodefesa. É simples de entender, rápida

para pegar o jeito e fácil de praticar — informa e aponta para que eu


saia do tatame.

Retiro os saltos e deixo na porta, junto com a minha bolsa em

cima do suporte.

— É sério que vai ser meu professor?

— Chega de conversa! — reclama.

— É só que... se tivermos um momento de agarrar um ao

outro, não sei como vou reagir. E você sabe que eu gosto de uma

pegada mais hardcore... — Pisco.

Matthew limpa a garganta e dá uma volta ao meu redor, sem

tirar os olhos do meu corpo. Gosto de ser avaliada por ele, empino a
bunda para mostrar que tenho muito a oferecer.

— Vamos a um breve resumo sobre o Krav Maga — ele

chama a minha atenção. — Primeiro: não se coloque em perigo.

Fodeu, não nasci para isso. Eu vejo o perigo e quero ir direto

até ele, dar uma chupadinha e beliscada no mamilo.


— Se vir o perigo, evite-o. Segundo: todo golpe deixa uma

fragilidade exposta, então precisa aprender a pensar rápido e

acertar a parte mais sensível do oponente o mais veloz que puder.


Terceiro: sempre se posicione de uma forma que gere menos riscos.

Na teoria parece óbvio. Aceno com a cabeça para mostrar


que entendi.

— Se eu tentar pegar o seu celular...? — Matthew avança em

minha direção, abaixa o corpo e o rosto, estica as mãos para baixo

e agarra meu aparelho.

Tento escondê-lo nas costas e dou um passo para trás.

Ele não só toma o celular de minhas mãos, como me

imobiliza.

— Errado. Vamos de novo. — Devolve meu objeto. — Se


concentra, Claudia.

— Nunca treinei luta pessoal, não sei como agir. — Levanto


as sobrancelhas.

Quando ele repete o movimento vindo para cima de mim,

tento empurrá-lo. Estico as mãos em direção ao peito dele, mas não

sou forte o bastante. Sou empurrada e roubada.


Matthew balança o objeto diante dos meus olhos para mostrar

que está em vantagem.

— Lembre-se dos princípios: não se coloque em perigo,


encontre a minha fragilidade e se posicione para não correr riscos.

— Ele me dá uma terceira chance.

Após me rondar e avançar para cima de mim, em busca do

meu celular, eu estico a cabeça na direção dele e o beijo.

Isso o deixa completamente paralisado, pisca os olhos

devagar diante dos meus e se afasta subitamente. Olha pelos vidros


fechados da janela se alguém viu essa interação e me mostra que

pegou o celular.

— Ao ser roubada vai beijar o bandido? — rosna.

— Se for você? Talvez.

— Isso não é brincadeira, estamos fazendo algo sério aqui.

Quero te ensinar a se proteger e não depender do seu segurança.

— Volta a olhar lá para fora. — Você não é o tipo de garota forte e

independente? Que não quer estar sujeita aos outros?

Faço um sim com a cabeça.


— Então precisa ser capaz de garantir sua própria segurança.

Há alguns dias um cara se aproximou de você com uma faca, iria

beijá-lo para desarmá-lo?

— Ciumento! — Rio.

— Quê?

— Eu vejo a veia sobressaltada na sua testa toda vez que fica

com ciúmes. É fofo! — Abro um sorriso largo.

As bochechas de Matthew enrubescem, ele vira o rosto e

caminha em círculos até se recuperar, depois volta para diante de


mim.

— Preste atenção. — Me entrega o celular. — Estou

inclinando meu corpo, minhas mãos, minha cabeça. Qual seria a

coisa mais sábia a fazer?

— Correr para bem longe? — arrisco.

Matthew bufa de tanta irritação. Segura firme em minhas

mãos e as direciona até seus olhos, posiciona meus polegares em

cima deles e o resto da mão nas laterais do seu rosto.


— Aperte com força, não terei como me defender e vou

cambalear para trás. Aí você neutraliza ou corre — ensina.

Acaricio o rosto dele lentamente. Gosto de tocá-lo.

Sinto meu corpo acender mesmo que seja acariciando seu

rosto.

Matthew se afasta bruscamente quando percebe que estou


divagando.

— O que é neutralizar?

— Garantir que não terei um próximo movimento, que estarei


no chão ou imóvel. — Aprova minha pergunta com um olhar de

respeito.

— Por que ao invés dos seus olhos eu não dou um soco em

seu pescoço? — analiso.

— Boa pergunta. — Assente novamente. — Como minha

cabeça está se abaixando, não vai conseguir atingir o ponto mais


sensível do meu pescoço.

— Uma pancada na nuca, talvez?

— Boa. Isso provavelmente funcionaria. Quer tentar?


— Quer que eu te bata? — Mordisco o lábio inferior. — Olha
que sou eu quem gosta de apanhar, hein?

— Você não conseguiria. Nunca. — Abre um sorriso

presunçoso.

— Então vamos ver! — provoco e pisco para ele.

Mostro que vou dar mole com o celular e o vejo vir para cima

de mim. Meu corpo inteiro entra em estado de alerta, sinto um

arrepio subir pela coluna quando esse homem enorme se joga em


cima de mim para valer.

Até tento acertá-lo, mas ele me agarra pela cintura e me joga


no chão, cai por cima de mim no tatame, praticamente encaixando

entre minhas pernas.

— É... acho que não vai dar — admito.

— Onde você falhou? — Matthew pergunta.

— Me coloquei numa posição vulnerável? — arrisco.

— Você é esperta, Claudia. Inteligente, analítica e de


raciocínio rápido — aprova e tenta se levantar.
Eu o puxo com toda força que tenho para que continue
deitado em cima de mim.

— O que é isso? — resmunga.

— Nunca tinha sentido seu corpo pressionando o meu desse

jeito… — murmuro. — É tão bom.

— Pare de me provocar...

— Senão o quê? Não vai conseguir resistir?

Matthew sobe com a mão pelas minhas costas e agarra meus

cabelos na região da nuca principalmente, puxa para trás. Solto um


gemido baixinho, contra os lábios dele e fecho os olhos.

— Estou adorando Krav Maga. — Seguro o riso.

Essa estadia em Nova York está sendo um verdadeiro surto:

todas as coisas que sempre subestimei e tentei me afastar estão se


tornando minhas favoritas.

— Voltei, vos... — Erik diz, mas interrompe a palavra no meio


quando nos vê jogados no chão, praticamente agarrados.

Matthew se levanta rapidamente, limpa as vestes e sai do


tatame.
Eu recebo a ajuda de Erik para me pôr de pé e cruzo os
braços.

— Acho que a aula vai ser longa. Por que não sai por aí para

comprar algo para você? Desde que chegou está na minha cola,
quantos ternos pretos você tem? — Observo a roupa dele.

— Vários — responde.

— Então compre mais uns 20! — sugiro.

— Princesa, não posso deixá-la desprotegida — Erik diz com


seriedade.

— Então qual o sentido de ter aulas de luta? Vou estar com o

meu professor, né? E ele pode me levar para casa. Então... —


Balanço os ombros. — Tire umas horas de folga, Erik. Eu não vou
morrer até lá. E, na dúvida, estarei com o meu professor.

Ele ensaia um contra-argumento, mas desiste quando


entrego meu cartão de crédito em suas mãos.

— Se for comprar um vibrador, compra um para mim


também? — Mando um beijinho com a mão.
Erik suspira alto e sai do lugar sem nem olhar para trás. Acho
que precisava mesmo de um descanso de mim.

Quanto a mim, vou atrás do meu professor.


Capítulo 11

CARONA PRAZEROSA

Matthew Fraser

Sempre que estou perto de Claudia sinto tudo sair do


controle. E dessa vez nos colocamos em risco diante de Erik, o que
jamais poderia acontecer.

Preciso de um tempo na área reservada, atrás da sala do


tatame para respirar e colocar minha cabeça no lugar. Quando dou
meia-volta para retornar, vejo Claudia em silêncio, me olhando.

— O que foi?

— Nada, adoro te observar. Ainda mais quando fica

estressado.

— Não estou estressado. Só não gosto quando as coisas

saem de controle.

Ela ri e cruza os braços.

— Então você me odeia, não é? Porque estar perto de mim é

viver fora de controle.


Concordo de imediato com essas palavras. Claudia é um

risco e eu já deveria tê-la cortado há muito tempo, mas não posso


expor minha verdadeira identidade a ela, tampouco permitir que os

deslizes que estamos cometendo cheguem aos ouvidos de Erik ou

do rei dinamarquês.

— Vamos voltar para a aula — decido e indico o caminho.

Sigo-a até o centro do tatame e fico diante dela.

— Krav Maga é muito simples, Claudia. Resumindo tudo o

que aprendemos: mantenha-se em segurança, posicione seu corpo


sempre em modo defensivo, seja para fuga ou reação. Sempre

procure o ponto fraco e ataque com tudo.

— Vai me ensinar todos os pontos fracos? — Ela parece

ansiosa.

— Óbvio. Vou te mostrar vários movimentos e em cada um

deles irá perceber que o corpo sempre fica exposto a uma

fragilidade que o agressor não previu.

— E qual o seu ponto fraco, Matthew? — Une as duas mãos

atrás do corpo e me observa com um sorriso fino.


— Não é um ponto fraco estático. É uma fragilidade que fica
exposta no momento da ação — explico calmamente.

— Tipo roubar um beijo ou te convencer a fazer algo

indecente no fim do seu turno numa casa noturna? — relembra.

— É. Entendeu direitinho. Agora vamos nos concentrar.

Durante o restante da aula mostro para Claudia movimentos

que um possível agressor pode fazer para tentar surpreendê-la e

como sair disso rapidamente. Ela é astuta e, para uma primeira

aula, me deixa muito orgulhoso.

Suamos a camisa e encerro a aula.

— Você está liberada, nos vemos na próxima aula — me


despeço de Claudia e desço ao térreo para acompanhá-la até a

recepção.

Vou ao vestiário masculino e tomo uma ducha rápida para

afastar o cansaço do corpo, lavo meus cabelos e sinto a água

quente sobre o meu corpo.

Mesmo que evite pensar nisso, tenho uma reação inesperada

ao lembrar de Claudia avançando para cima de mim e nossa queda

ao chão.
Nossos corpos quando juntos sempre despertam um

magnetismo que me deixa ofegante, parece que meu cérebro para


completamente e se concentra apenas nela.

Enquanto penso nela, tenho uma ereção que me impede de ir


embora. Para me aliviar preciso bater uma rápido e gozo no
chuveiro, aliviando a vontade de comer a princesa de todo jeito, mas

mesmo assim o pau não fica mole completamente.

O cheiro dela parece estar grudado em mim. E, quanto mais


tento desviar os meus pensamentos de Claudia, mais lembro de

cada um dos nossos momentos.

Acho que só vou aliviar esse tesão quando a foder como um


animal — o que não pode acontecer, porque estou esticando a

corda para me enforcar.

— Claudia? — Surpreendo-me ao vê-la na recepção, de


cabelo molhado, me esperando. — Por que não foi embora?

— Erik já foi e levou o carro, parece que estava apressado. —

Sacode os ombros. — Pensei se meu vizinho não poderia me dar


uma carona?

Faço um gesto negativo com o rosto para responder.


— Por favor. Eu tomei banho, nem sequei o cabelo direito e

essa roupa está me deixando com frio. — Ela dá uma voltinha,


mostrando a blusa branca cropped e a calça jeans folgada.

— Princesa dinamarquesa sentindo frio? — Esboço um


sorriso. — Claudia, Claudia, como pode mentir tão mal?

— Ok, não estou com frio. Pode me dar uma carona?

Pego o celular para ligar para Erik e dar um sermão que

aquele garoto vai lembrar pela vida inteira. Mas quando percebo que
a princesa continua atenta à minha reação, tudo o que faço é

mostrar o caminho com o rosto.

— Tá. Mas isso não vai se repetir.

— Ok. Não vai — ela concorda.

Levo-a até o carro, ela joga a bolsa no banco de trás e se

ajeita ao meu lado, animada.

— Cinto de segurança — aviso, pois não sairei do


estacionamento sem que ela o coloque.

— Precisa parar de ser tão certinho, Matt. — Faz um bico.

— Matthew — a corrijo, e o bico aumenta.


Me parece adorável. Inferno.

Dirigir no horário de pico é algo bastante estressante. As


pistas estão lotadas, o som das buzinas gera uma poluição sonora

que faz os tímpanos doer e é preciso ficar atento às motos que


tentam cortar caminho entre os carros para escapar do trânsito.

Claudia não se importa com nada disso.

Com o carro em movimento, leva a mão até a minha

braguilha, puxa o zíper e começa a massagear o meu pau.

— O que pensa que está fazendo? — Tento afastá-la com o

cotovelo.

— Eu não consigo resistir, Matthew, você sabe disso.

Coloco minha mão sobre a dela e enquanto o trânsito para


por alguns instantes encaro seu olhar safado.

Há algo no jeito como ela me olha que desperta em mim o


lado obscuro que não permito vir à tona com frequência. De alguma
forma essa mulher me domina e acabo cedendo às suas investidas.

Claudia começa a me masturbar enquanto dirijo e fica cada

vez mais difícil me concentrar. Quando uma moto freia bruscamente


ao nosso lado, evitando uma colisão, a princesa se sobressalta.

— Matthew, para esse carro em algum lugar. Preciso sentar


em você.

— Não vou parar o carro — afirmo, tirando as mãos dela de

mim e fechando o zíper da calça. — Pare de brincar comigo e fique


quieta em seu lugar. Estamos chegando em casa.

Mas ela nunca me escuta, não seria agora que começaria.


Num impulso Claudia solta o cinto de segurança e pula para o meu

colo, fazendo com que eu freie o carro bruscamente.

Ela não parece se importar com a possibilidade das pessoas

fora do carro estarem vendo essa cena.

— Você continua dizendo que não quer, mas o seu pau

pulsando entre minhas pernas não concorda com você — ela fala de
um jeito sacana. — Pare o carro em uma rua escura, por favor.

Não consigo recusar. Atiro a princesa de volta no banco do


carona e dirijo até um beco próximo. Mal o carro para e a putinha já

está com a calça e calcinha abaixadas.

Ela volta para o meu colo, me ajuda a colocar o pau para fora

e com certa habilidade posiciona meu membro na entrada de seu


cu.

— Você está encharcada, Claudia. — Sinto meu pau latejar

quando percebo quão pronta ela está.

— Soca tudo em mim, agora — ela pede com a respiração


entrecortada, rebolando a bunda em mim enquanto se equilibra

segurando no volante.

Uso sua lubrificação para umedecer meu pau e encaixo a

glande na entrada do seu cu apertado. Claudia solta um suspiro

abafado, num misto de prazer e urgência, e sinto a princesa


depositar o peso do seu corpo sobre mim, fazendo meu pau se

enterrar inteiro dentro dela.

— Esse cuzinho apertado me deixa louco — falo, sem pensar,

enquanto aperto seus seios com as mãos e deixo mordidas leves

em suas costas.

— Quero sentir seu gozo quente dentro de mim de novo. — A


voz sai arrastada, como se estivesse bêbada.

Claudia rebola no meu pau com força e um ritmo frenético,


gemendo sem pudor. Nosso sexo é bruto e ardente, como dois

vadios sem limites numa rua qualquer da cidade.


Pressiono seu clitóris ansioso por ver a putinha se

contorcendo em cima de mim e aumento o ritmo das minhas

estocadas quando percebo que ela vai gozar.

— Vou gozar, Matt, vou gozar no seu pau.

— Me deixa melado, Claudia. Quero comer mais desse

cuzinho gostoso.

Ela goza enrijecendo o corpo, mas eu não alivio o ritmo,


enquanto a princesa tem espasmos de prazer intensifico as

estocadas e alcanço o clímax despejando minha porra quente

dentro dela.

Mesmo quando terminamos, não conseguimos nos separar.

Ficamos algum tempo unidos, ela sentada sobre mim, respirando


pesadamente sem nos mover.

Há uma eletricidade correndo por nossos corpos que parece

criar um campo magnético que nos aprisiona juntos.

Uma buzina distante me traz de volta à realidade e deposito

um beijo suave na nuca de Claudia, que se levanta e volta ao banco

do carona, subindo calcinha e calça e se recompondo.


Quando acho que a princesa finalmente vai permanecer

calada por um tempo, respeitando esse momento insano e único


que vivemos, descubro que ela é uma máquina incansável de

tagarelar.

— Gosto do jeito bruto como você come meu cu, mas da

próxima vez agradeço se puder ser numa cama.

Recuso-me a responder e apenas dirijo até nosso prédio,

depois de ter me limpado e recomposto para não deixar indícios do


que aconteceu entre nós essa noite.

Deixo Claudia em segurança, na porta do seu apartamento.

Ela se aproxima na tentativa de um beijo, porém percebo seu

movimento e lhe dou as costas.

Antes que ela possa reagir, já estou dentro do meu

apartamento fechando a porta em sua cara. Estou andando numa


corda bamba vezes demais, colocando em risco o que vim

conquistar em Nova York. Preciso começar a ser mais centrado e

deixar a princesa longe dos meus pensamentos de uma vez.

Percebo que todas as luzes estão apagadas, exceto o abajur

de unicórnio furta-cor no quarto de Daisy que mantém a porta


semiaberta.

Quando entro no quarto, vejo que minha filha dorme


tranquilamente abraçada a uma pelúcia que compramos no

aeroporto no dia em que ela chegou.

Apesar da reação eletrizante que Claudia causa em meu

corpo e da dificuldade que tenho em mantê-la longe, preciso ser


mais forte.

Estou aqui por Daisy. Para Daisy.

Não posso continuar sendo irresponsável e fraco, colocando


em risco o futuro da minha filha. Essa brincadeira com Claudia

precisa acabar.
Capítulo 12

SPA PARA PRINCESAS

Claudia Þórhildur

Após nosso momento de sexo no carro, uma aventura única


para mim, Matthew me deixou na porta de casa e sumiu para dentro

do seu apartamento sem demonstrar qualquer tipo de afeto.


Normalmente eu não me incomodaria com isso, mas, de
alguma forma inexplicável, esse daddy escocês abalou minhas

estruturas e me percebo ansiosa por sua atenção.


Deparo-me com Erik sentado no sofá do apartamento, logo
que atravesso a porta de entrada, rodeado de sacolas de lojas e

com meu cartão de crédito largado na mesinha de centro.


Trocamos um olhar de cumplicidade quando me dou conta de

que a borboletinha fez a festa em algumas das melhores lojas da

cidade.

— Como foi sua noite, melhor segurança do mundo? — Faço


um gracejo para Erik na expectativa de estreitar nossos laços e

trazer esse bravinho de vez para o lado crazy da força.


— Estou satisfeito por termos chegado seguros em casa,

Vossa Alteza, depois de tê-la levado às compras. — Ele mantém a


compostura e aponta para o ponto eletrônico em seu ouvido,

fazendo-me entender que de alguma maneira estamos sendo

monitorados.

Decido embarcar na história e contornar a situação, pois, se

de fato estivermos sendo monitorados assim, qualquer palavra em


falso fará o segurança ser demitido, e eu, por certo, serei castigada

por meus pais.

Ao que parece, alguém acredita que estivemos juntos a noite


toda e não desconfiam das escapadas que ambos demos.

— Ah, muito obrigada pela gentileza, Erik! Vejo que já subiu

todas as sacolas enquanto eu tomava um ar no terraço.

Ele meneia a cabeça em agradecimento, e me sento na

poltrona enquanto digito uma mensagem que vou lhe enviar no

celular.

Antes de enviar, no entanto, faço um sinal com as mãos e

aperto o enter apenas quando ele me dá um sinal positivo.

Eu:
Estamos sendo monitorados?

Erik:

Sim. O chefão da segurança parece não ter achado graça na sua

fuga da Dinamarca e agora anda ouvindo algumas de nossas

conversas para ter certeza de que não o estamos enganando.

Eu:

Que bobinho. Parece que vai continuar sendo enganado então.

Erik contém uma gargalhada e inicia uma tosse para

disfarçar.

Levanto-me rapidamente e recolho algumas das sacolas,

para então dizer em alto e bom som, antes que eu mesma comece a

rir:

— Vou me retirar, Erik. Preciso de um banho quente para me

recuperar da terrível aula de Krav Maga e quero acordar cedo


amanhã para estudar — floreio um pouco. — Logo minhas provas

começam e não quero resultados ruins. Descanse você também.

— Boa noite, Vossa Alteza. Estarei de prontidão caso precise

de mim.
De fato me dirijo à suíte, onde preparo um banho revigorante

na banheira e volto a pensar em Matthew.

A vontade que tenho é de cruzar o corredor e tocar a

campainha da casa do vizinho, pedindo que me possua mais uma


vez.

Mas além de acreditar que ele me enxotaria, agora sei que


meu pai está com as orelhas de pé pronto para me pegar no pulo.

Claudia Þórhildur

Costumo acordar bem-disposta todos os dias, mas minha


aventura com Matthew na noite anterior, seguida por seu desprezo,

me deixou com a coluna travada e um certo desconforto.

Caminho vagarosamente até a sala e, espalhando-me

preguiçosamente no sofá, decido ligar para Melissa me dando conta


de que preciso de uma dose cavalar de endorfina.
— Mel, gatinha, preciso de uma massagista de mãos mágicas

— disparo a falar assim que minha amiga atende.

— O que você andou aprontando, Claudia? — a princesa

mais certinha de todos os reinos pergunta entre risadas.

— Tive uma noite de direção defensiva muitíssimo


interessante com meu vizinho daddy e agora estou com a coluna
toda travada.

— Direção defensiva? Não era de Krav Maga a aula?

— Ai, amiga… longa história. Porém, terei de te contar


pessoalmente. Depois te explico. — Mudo o rumo da conversa,

porque agora sei que tenho o risco de estar sendo ouvida. — Você
tem alguma massagista mágica para indicar?

— Meu condomínio tem spa. Que tal vir me visitar e ter umas

horas de princesa como gostamos? Aceita um brunch real?

Melissa não precisa repetir o convite.

Apronto-me rapidamente e faço Erik me levar até o

apartamento dela, que tem vista privilegiada do Central Park no East


Side. A cobertura onde Mel e Youssef moram é de tirar o fôlego.
As janelas vão do chão ao teto e sua privacidade é garantida
por grossas cortinas escuras com detalhes elaborados em dourado,
assim como pela altura.

Logo que chego ao apartamento, vejo que Mel preparou uma


recepção calorosa, com uma mesa repleta de quitutes e guloseimas

e duas moças prontas para cuidarem de nós. Que spa, que nada.
Essa princesa sabe como viver o luxo sem sair de casa.

— Quer dizer que a senhora mora em um spa, Mel? — Não


consigo evitar a piadinha. Sei o quanto Melissa é contida e não

podia perder a oportunidade de cutucá-la.

— A culpa é de Youssef que me mima tanto. Agradeça a ele,


pois se dependesse de mim estaríamos agora a caminho do terraço

para algumas horas no spa do condomínio.

— Exclusividade e privacidade! Tudo o que duas princesas

fofoqueiras precisam! — Gargalho à vontade.

Entro no banheiro que ela me indica para me despir e vestir


um roupão macio e luxuoso que foi deixado para mim. De volta à
sala, logo que a massagista inicia o trabalho em minhas costas,
começo a detalhar para minha amiga as aventuras da noite
passada.
Capítulo 13

UMA ESPERANÇA, AFINAL

Matthew Fraser

Ouço quando a princesa sai do seu apartamento para visitar

uma amiga e fico monitorando o retorno de Erik. Tenho certeza de


que o moleque deixará a princesa sozinha e voltará ao loft sem se
preocupar em protegê-la verdadeiramente.
Quando a porta do apartamento ao lado bate sem a

característica voz de Claudia ecoando pelo corredor, percebo que


não me enganei e vou até lá com o sangue pegando fogo nas veias.
Toco a campainha e aguardo alguns segundo até que Erik abra

a porta calmamente. Quando me vê, se sobressalta e corrige a


postura relaxada. Há medo e fúria em seu olhar, e ele sabe que foi

pego no pulo. Puxo o moleque pelo colarinho, trazendo-o ao

corredor.

— Qual o seu problema, moleque? Como você pode ser tão

burro a ponto de deixar a princesa sozinha em um endereço onde

você nem eu estejamos para protegê-la?


— Me solta, cara! Pare de ser maluco, a princesa está na

cobertura da Princesa Melissa e do Sheik Youssef. Sabia que eles


têm um tigre? UM FUCKING TIGRE! — ele responde entre dentes,

incomodado pela posição em que se encontra. — O que você acha

que poderia acontecer lá? Quem você acha que seria doido de
entrar naquela fortaleza para fazer algum mal à maluca?

— Seu idiota. Não é sobre alguém entrar. É sobre ela sair, de


novo, sem supervisão — o lembro com quem estamos lidando.

Parece que finalmente a ficha dele cai e o novato arregala os

olhos, dando-se conta de que Claudia pode estar, neste momento,


em qualquer canto de Nova York.

Ele tenta desviar de mim para descer à garagem, certamente

para correr até a cobertura do casal onde deixou a princesa Claudia

mais cedo, mas impeço sua passagem.

— Sai da minha frente, Matthew. Você está à paisana e, até

onde eu vejo, não tem feito grande coisa além de se agarrar com a
princesa. Vou agora mesmo buscar ela.

O jeito insolente como ele me afronta quase me faz perder o

juízo e me controlo para não arrebentar a cara dele com um murro,


mas desconto minha frustração com um soco barulhento na porta do
apartamento de Claudia.

Erik e eu nos encaramos por alguns segundos, até que uma

vozinha doce atrás de mim me tira do transe de fúria.

— Papai? Está tudo bem?

Daisy teve novos exames logo cedo e por isso não foi para

escola. Estava dormindo enquanto aguardava para finalmente irmos

à consulta com o especialista para analisar seus os resultados e

traçar o novo plano de tratamento.

Certamente meu conflito com Erik fez barulho suficiente para


acordar e assustar minha filha.

Quando Erik bate os olhos em Daisy, parece que algo nele

muda. É como se as engrenagens de sua mente conturbada

estivessem se movimentando num ritmo novo e ouço um sussurro

quase inexistente sair de sua boca:

— Eu não fazia ideia. Desculpe, Matthew.

Antes que eu tenha tempo de responder, ele desvia de mim e

corre em direção ao elevador.


— Está tudo bem, Daisy. Não se preocupe — falo com a voz

serena, para tranquilizar minha filha. — O papai só veio saber se


estava tudo bem com os vizinhos. Ouvi um barulhão.

— Ouviu ou fez um barulhão, papai? — Daisy é uma menina


esperta e me pega no pulo. — A princesa Claudia é bonitona. Será
que ela e Erik são namorados?

— Claro que não!

— Como o senhor sabe, papai? — Daisy dá uma risadinha


sapeca, e vejo que, mais uma vez, ela me encurralou. Essa
danadinha está aprontando algo.

— Sei porque ele é o segurança dela, docinho, e isso não


pode acontecer. Além disso, a princesa Claudia não parece

interessada no rapaz.

Antes que minha filha tenha tempo de retrucar qualquer outra


gracinha, pego-a no colo e levo de volta para o apartamento,
fazendo cócegas, de modo que ela esqueça qualquer besteira que

tenha cruzado sua mente.


Matthew Fraser

Quando chegamos à consulta, percebo que a ansiedade está

dando sinais em meu corpo.

As mãos suadas e os pés agitados são indícios de que não


estou conseguindo disfarçar o nervoso.

Tento a todo custo não transparecer para Daisy o quanto essa

consulta é importante, mas vejo que ela também está nervosa e


ansiosa quando, pela décima vez, ajeita uma mecha de cabelo atrás

da orelha.

— Daisy Fraser — anuncia o médico na porta de um


consultório e reconheço o Dr. Yan.

Levanto-me de sobressalto e ajudo Daisy a se acomodar nas


muletas para caminhar até o consultório.

Chegando à sala bem iluminada, minha filha se acomoda em

uma das poltronas enquanto eu permaneço de pé. Somente quando


o médico me encara com um olhar questionador, me dou conta da
gafe e me sento ao lado de Daisy, que estende sua mãozinha frágil
para segurar na minha.

— O resultado dos exames finalmente chegou e já somos


capazes de definir um diagnóstico e o tratamento ideal para Daisy,

Sr. Fraser.

— Certo, obrigado. E o que o senhor pode nos dizer sobre o

quadro de Daisy? Ela ficará curada?

O médico me encara em silêncio por alguns segundo e sinto

meu coração pulsar na garganta, tamanha é minha ansiedade.

Sinto todo meu corpo se contrair enquanto aguardo sua


resposta. Ele olha de mim para Daisy e neste segundo minha filha

nos surpreende:

— Doutor, pode falar qualquer coisa. Eu não tenho medo.

Apesar do que diz, a voz entrecortada de Daisy denuncia que


ela está tão agitada quanto eu.

Os segundos parecem durar horas. Quando o médico


finalmente decide falar, sinto todo o meu corpo formigar.
— Os exames estão dentro do esperado. A lesão, felizmente,
não é definitiva. Mas percebemos que a pequena não recebeu o
tratamento adequado e é possível que algumas más condutas

tenham piorado significativamente seu quadro.

As palavras do Dr. Yan caem sobre mim como uma bigorna

de ferro gigantesca e pesada. Afundo-me na poltrona, sentindo toda


a culpa invadir meu corpo e percebo meus olhos se encherem de

lágrimas quentes.

— Algo que foi feito prejudicou sua evolução definitivamente?


— É o máximo que consigo perguntar, enquanto tento travar o choro

e mantê-lo preso em minha garganta.

Daisy olha de mim para o médico, seus olhos arregalados e a

expectativa evidente em cada pesada respiração.

— Não, Sr. Fraser. Aparentemente, apesar do sofrimento

imposto à pequena, tenho convicção de que poderemos reverter seu

quadro. Mas o tratamento será longo e exigirá muita disciplina e


paciência. De ambos. Vocês podem começar respirando.

Quando o médico termina de falar, Daisy e eu

simultaneamente liberamos todo o ar contido em nós numa


respiração pesada.

Desisto de conter as lágrimas e me permito chorar. Minha

filha busca abrigo em meu colo e nos abraçamos enquanto


choramos, juntos. Finalmente esse pesadelo parece perto do fim.

— Eu te amo, papai. Vou ficar boa, vai parar de doer.

Não consigo responder a Daisy com palavras porque o choro


contido por tanto tempo em minha garganta decidiu se libertar todo

de uma vez.

Minha resposta para ela é cobri-la de beijos e abraços,

enquanto sorrio e choro ao mesmo tempo.

O Dr. Yan pigarreia, após alguns instantes, capturando nossa

atenção e informa:

— Aguardo vocês amanhã no Centro de Recuperação. Daisy


terá sessões diárias de RPG, fisioterapia, ozonioterapia e natação.

Estejam preparados. É esperado que tenha alguma dor e se canse,

mas precisamos fortalecer sua musculatura para que seja capaz de

suportar o próprio peso e se livrar das muletas e colete.

Daisy e eu assentimos com a cabeça e nos retiramos da sala,


ainda abraçados, inundados de felicidade e esperança pela primeira
vez depois de tantos anos.
Capítulo 14

PERDIDA NO METRÔ

Claudia Þórhildur

Passo a manhã com Melissa em seu apartamento e, após


nosso brunch, um Erik esbaforido e agitado surge no apartamento
pronto para me levar à faculdade.

Percebo em seu comportamento que algo aconteceu, mas a


borboletinha se recusa a me contar o motivo de sua nova postura.

— Erik, se não me contar o babado que te deixou agitado

desse jeito, juro que vou dar um jeito de fugir de você e ser pega só
para vê-lo levar uma comida de rabo do meu pai! — ameaço.

— Vossa Alteza, nada aconteceu. Apenas me dei conta de

que não deveria tê-la deixado sozinha na casa da sua amiga. A


partir de hoje não voltará a acontecer — ele diz sem me olhar uma

vez sequer.

Droga! Logo agora que estávamos nos aproximando e pensei

que estava trazendo o Sr. Bravinho para meu lado, ele vem com
essa mudança de comportamento para bagunçar meus planos de

ser mais livre em Nova York.

Pegamos um pouco de trânsito enquanto nos dirigimos para a

faculdade, mas não o suficiente para que me atrase.

Quando chego ao campus da NYU, encontro Mila me

aguardando na biblioteca e vamos juntas para a palestra de um

professor PHD em Teoria da Arte. Confesso que, apesar de adorar o


curso, algumas aulas são absolutamente entediantes e se eu

pudesse pularia todas.

E é quando esse pensamento cruza minha mente que decido

aprontar.

— Mila, o que você acha de me levar para fazer compras no

Bronx? — pergunto baixinho para que apenas ela me escute.

— Tá doida, mulher? Quer me fazer perder aula? Eu sou

bolsista ou você esqueceu que a princesa do Bronx é pobre? —

minha amiga retruca, no mesmo tom que eu, fingindo uma ofensa
que sei que não sente de verdade.

— Preciso espairecer e, sinceramente, essa aula parece um

dementador sugando toda a felicidade e alegria do meu corpo.


Mila contém uma gargalhada e revira os olhos antes de me
responder:

— Não posso faltar às aulas, gatinha. Minhas ausências

impactam na avaliação como atleta e, se eu vacilar, perco a bolsa —

ela fala sério agora —, mas ficarei muito feliz em te levar às

compras logo que as aulas terminarem. Trato feito?

— Depende. Preciso dar uma liçãozinha em Erik e estou

sedenta por aventura. Não podemos aprontar no campus, ok… mas

que tal me apresentar ao metrô de Nova York, Srta. Princesa do

Bronx?

Mila abre um sorriso largo e, discretamente, estende a mão


para mim, quando diz cheia de cumplicidade e animação:

— Combinado!

Quando a palestra termina, Mila e eu trocamos um olhar

cúmplice. Vamos despistar Erik para nos aventurar no metrô. Mas,

logo hoje, o bonitinho decidiu ser um segurança exemplar.

Tenho a ideia então de irmos ao banheiro, na tentativa de

enganá-lo.
Entramos no primeiro banheiro feminino que avistamos e Erik

fica parado na porta como uma estátua mal-humorada.

— Como vamos sair daqui, Mila? Esse querido decidiu

trabalhar firme logo hoje e está esgotando minha paciência,


roubando o restinho de vitalidade que o dementador da Teoria da
Arte não tomou para si. — reclamo com minha amiga.

— Já te ensinei como fugir de uma companhia indesejada,

Cau. Será que a princesa da Dinamarca demora para aprender? —


Mila me provoca, enquanto tira da mochila um moletom vermelho-

sangue e me entrega.

Finalmente entendo o que ela planeja, mas não acredito que


vá funcionar, até que ela me conta sua ideia.

— Você vai sair primeiro, amiga, com esse moletom e


calçando meus tênis. Eu saio depois, com seu sapato, esse
agasalho do avesso e a mochila por dentro para parecer que tenho

uma barriga imensa. Duvido que ele vá perceber.

Não estou confiante, porém sigo as instruções de Mila sem


questionar.
Mal não vai fazer, o máximo que pode acontecer é Erik

perceber e me arrastar de volta ao loft.

No entanto, o plano de Mila dá certo e nos encontramos do

lado de fora, perto de uma das saídas que dá acesso ao metrô.

É impressionante como meu segurança é despreparado, o


que me faz parar para pensar que há algo de errado. Meu pai,
controlador como é, seria capaz de uma falha dessas?

Antes que eu chegue a uma conclusão, Mila rouba minha


atenção para si, arrastando-me para o subsolo da cidade.

Apesar de Nova York ser uma cidade muito diferente de

Copenhague, e ter suas peculiaridades, não esperava que o metrô


tivesse essa aparência… suja.

As paredes são pichadas, as luzes parecem não iluminar

devidamente e o barulho da composição faz um eco ensurdecedor.

As pessoas andam apressadas em todas as direções e para


todo lado que olho há mendigos, cachorros sem dono, cartazes de

todo tipo e ratos. Sim. Ratos imensos como o mestre Splinter.

Devo estar fazendo uma careta muito escancarada, porque

Mila me encara e repentinamente começa a gargalhar sem pudor


algum, me irritando um pouco.

— Assustada, princesa? Bem-vinda a Nova York de verdade.

O tom que ela usa comigo me incomoda, mas tento não


estragar nosso clima de fuga e diversão.

Estou realmente surpresa e até mesmo assustada com o


local, contudo, não me dobro. Sigo a minha amiga enquanto ela
anda em direção à plataforma e me ajuda a pular uma roleta.

Entramos no primeiro vagão que vemos e me sinto uma


verdadeira meliante. A adrenalina correndo em minhas veias me faz

sorrir como uma garotinha sapeca.

Ao desembarcar do metrô, subimos a escadaria da estação

que dá acesso às ruas do bairro e percebo que não são como eu


esperava.

Os muros por todos os lados são cobertos por pichações


coloridas e há muito mais árvores do que no entorno do Soho.

— É um zoológico, Claudia, já visitou algum? — Mila me

questiona, me arrancando do meu transe de surpresa e fascínio


com o novo ambiente que estou explorando.
Nem sabia que havia zoológico por aqui.

— Podemos ir? No zoológico? Eu adoraria visitar! —


respondo empolgada.

— Você não queria fazer compras?

— Quero. E ir ao zoológico também. Quero de tudo um pouco


— digo animada, sentindo-me uma garotinha numa aventura

fascinante.

Mila revira os olhos e me esclarece que o zoo está prestes a

fechar. O expediente se encerra antes do final da tarde e logo não


será possível entrar.

Decidimos deixar esse passeio para outra oportunidade e

caminhamos pelas ruas do bairro em direção às lojas que Mila quer

me apresentar. São brechós imensos e apinhados de roupas de


todo tipo.

Meu celular vibra freneticamente dentro da bolsa, mas ignoro


completamente.

Tenho certeza de que Erik está desesperado à minha procura

e não vou facilitar a vida dele. Afinal, foi a borboletinha quem decidiu

não ser meu amigo.


Encontro algumas roupas coloridas e interessantes em um

dos brechós que entramos e decido experimentar as peças.

Me divirto com as combinações extravagantes de roupas que


eu nunca antes considerei usar. Decido pegar várias peças para

compor meus disfarces de escapadas.

Realmente, a vida em Nova York tem sido mil vezes melhor

do que eu jamais imaginei e sou muito grata por ter encontrado Mila

no caminho. Minha expertise em fugas e escapadas teve um


tremendo upgrade com minha nova amiga, a princesa do Bronx.

Quando saímos da loja, vejo que o sol está se pondo e

percebo que é hora de voltar para o loft.

Meu celular não vibra mais, o que significa que Erik desistiu

ou, pior, fiquei sem bateria. Retiro o aparelho da bolsa e percebo

que a segunda alternativa estava certa.

O aparelho não dá sinal de vida.

Mas a verdade é que não tenho vontade alguma de retornar.

Adoraria ficar mais algumas horas vagando por aqui, sabendo que
não há nenhum maldito paparazzi à espreita para me atormentar.
Todas as pessoas parecem focadas em suas próprias vidas e,

embora os locais por onde passamos sejam mais humildes do que

estou acostumada, não me sinto insegura de modo algum.

— Mila, nossa aventura está divertidíssima, mas preciso ir

embora. Preferia mil vezes ficar por aqui, achar um restaurante


bacana e comer uma refeição decente, mas acho que, pela sua cara

de cansada, você precisa do seu repouso da beleza — comento

com uma ponta de animação ainda presente. — Para falar a


verdade, eu também. Conseguimos um carro por aplicativo aqui ou

o ponto de táxi fica mais perto?

— Amiga, não viaja — afirma com seriedade. — Estamos no

Bronx, não é a Quinta Avenida ou a Times Square. O máximo que

você vai conseguir nessa área do Bronx é um táxi, mas não acho
que uma garota como você deva embarcar sozinha. Não é melhor

ligar para Erik te buscar? — Novamente, o jeito como Mila fala,

apesar de não ser agressivo, me incomoda. Como assim “uma


garota como você”?

— Não sei o número dele e meu celular está mortinho. Vou


me aventurar no metrô!
Percebo no olhar de Mila que ela não acredita ser uma boa

ideia e o julgamento dela me irrita profundamente. Quer dizer que


ela acha que eu sou o quê? Uma ameba?

— Você não pode pegar o metrô sozinha, Claudia. Vai se

perder e parar num canto absurdo da cidade, à noite, desprotegida

— declara. — Daí amanhã, antes de o sol nascer, vai aparecer

alguém do FBI, CIA, CSI, NCIS e todas as siglas possíveis, batendo


na minha porta e colocando uma arma na minha cara. Nem pensar.

Vou te levar até a universidade e de lá você encontra seu caminho.

Pode ser?

É isto, não consigo mais me conter.

— Mila, você acha que eu sou uma criança por acaso?

Realmente acha que não sou capaz de pegar o metrô sozinha? Eu


sou uma princesa, garota, não uma ameba! — me exalto. — Só

porque tive privilégios, não significa que seja menos capaz que você

ou qualquer outro de executar tarefas simples como comparar um


tíquete e embarcar num vagão.

Percebo que a ofendi pela forma como Mila me olha e,


quando me responde, tenho a certeza de que há uma rusga entre

nós.
— Abaixe o tom de voz para falar comigo, princesa — ela me

alerta. — Se você acha que é tão incrível e autossuficiente assim,

beleza. Vá em frente. Estava só tentando te proteger, Vossa Alteza.

Essa doeu.

A forma como Mila responde me decepciona e irrita

igualmente. Não me despeço dela, simplesmente viro as costas e


vou embora.

Caminho algumas quadras pisando firme, com raiva e pressa,


sem prestar atenção no caminho enquanto minha mente divaga

entre nosso diálogo acalorado e o sentimento de derrota

permanente, cada vez que alguém me trata como se eu fosse um


boneco de cera inanimado.

Depois de alguns minutos, no entanto, me dou conta de que


estou completamente perdida e o pavor começa a me consumir.

As ruas estão cada vez mais desertas e tudo por aqui parece

escuro. As paredes cobertas de pichações, os ônibus passando

quase vazios e mal iluminados e algumas pessoas nos cantos


cochichando entre si enquanto me olham de esguelha fazem todos
os pelos do meu corpo eriçarem. Quando acho que tudo está

péssimo, enxergo uma entrada do metrô e respiro aliviada.

Se durante a tarde a estação parecia assustadora, agora está

tenebrosa. Ainda mais escura e vazia, cada som aqui dentro parece
ecoar nas paredes e dentro da minha cabeça.

Para todo lado que olho encontro olhares inquisidores me

encarando e me encolho cada vez mais, sentindo o coração bater

tão forte dentro do peito que começa a me ensurdecer.

Abraço as sacolas de compras, como se dentro delas

houvesse ouro, mas, na verdade, estou apenas muito assustada e


tentando a todo custo me esconder de alguma forma.

Localizo um guichê e tento usar o celular para pagar o tíquete

com QR Code. Mas além de estar sem bateria, sou informada pelo

atendente que não oferecem essa facilidade.

Começo a perceber que não é tão fácil ser uma pessoa


comum e o sabor amargo da decepção e culpa começam a me

invadir.

Saco uma nota de cem dólares, que trago escondida no fundo

falso da bolsa, para comprar a passagem. A cara de ódio e deboche


do atendente me faz entender que sou um peixe fora d’água aqui e
sinto meu corpo tremer, como se estivesse correndo algum risco

real. Talvez de fato esteja.

Ando apressadamente para o embarque depois de recolher o

troco, que o atendente fez questão de me entregar em dezenas de


moedinhas de valor baixo, fazendo peso na minha bolsa e um tilintar

irritante cada vez que me movo.

Logo que cruzo a roleta, vejo a condução começando a

fechar as portas. Adianto-me e consigo embarcar, quase sendo

espremida entre as portas deslizantes que de fecham num som oco


e abafado.

Passo alguns segundos sentindo o gostinho da vitória e da

paz, finalmente.

No entanto, o sentimento não dura, quando percebo que

provavelmente embarquei no sentido errado e toda estação que o


transporte alcança parece pior que a outra.

Pelo mapa quase apagado na lateral do vagão vejo que estou

me afastando mais e mais da NYU.


Ok, eu talvez tenha subestimado os riscos de uma cidade tão
grande assim à noite. Mas, convenhamos, o transporte público
deveria ser mais acessível e fácil, não? É tudo tão complexo e

macabro, sem qualquer motivo aparente. Não há informação, tudo


parece sujo, abandonado e, pior, perigoso.

— A gatinha está perdida?

Ouço uma voz masculina, arrastada, bem próxima de mim,


que me tira do transe de pensamento e todo meu corpo gela. Fodeu.

Não consigo reagir e me mantenho em silêncio, de olhos


arregalados, respiração entrecortada, tentando lembrar das

instruções de Matthew em nossa aula de Krav Maga.

Tento evocar os passos mentalmente, considerando como


fazer para derrubar alguém que tente me abordar, mas meu rosto
parece queimar e mal consigo me concentrar em continuar

respirando.

Logo que as portas do transporte abrem, salto para fora, sem

me importar em qual estação esteja, e saio correndo em direção à


rua.
Atravesso a roleta com força, tropeçando em meus próprios
pés, e subo as escadas dois degraus por vez como se uma horda
de zumbis estivesse em meu encalço tentando comer meu cérebro

que, a essa altura, já virou gelatina devido ao pânico.

Quando finalmente alcanço o lado exterior e enxergo a


avenida suntuosa e iluminada, tenho a sorte de encontrar uma

viatura policial e não hesito em pedir ajuda.

Conto aos policiais sobre minha aventura no Bronx, tentando


parecer simpática e divertida, mas os oficiais só me dão alguma

atenção após verem o passaporte diplomático que retiro da bolsa e


lhes entrego.

Decidem me acomodar na viatura e dar uma carona para

casa, no Soho, a 40 minutos de onde estou atualmente! Erik vai me


matar.
Capítulo 15

RENDIÇÃO COMPLETA

Matthew Fraser

Ainda estou anestesiado pelas notícias do tratamento de


Daisy e a caminho de casa quando meu celular toca. Identifico no

visor o nome de Erik e já pressinto que teremos algum problema.

Nunca é uma notícia boa. Nunca.

— Fala, novato. O que você aprontou agora? — Não consigo


me conter e despejo minha amargura no moleque insolente.

— Matthew, me ajuda, tô fodido. Claudia sumiu.

O desespero na voz do garoto me deixa em total estado de


alerta. Se não fosse o tremor em sua voz e seu desespero quase

palpável, eu pensaria ser uma pegadinha de Claudia.

Mas não, no jeito apressado como o moleque despeja as

palavras percebo que o pavor já o dominou. Como esse imbecil

conseguiu perder a maluca de vista de novo?


— Me explica objetivamente o que aconteceu. Quando, onde

e como. Rápido.

Deixo Daisy dentro do nosso apartamento e vou para o

corredor continuar a ligação.

Não quero que minha filha escute qualquer coisa sobre

Claudia.

— Estávamos na universidade, depois da última aula, ela e

aquela amiga foram ao banheiro. Fiquei esperando do lado de fora.

Depois de uns minutos percebi que estavam demorando e quando


entrei não tinha ninguém lá. Elas deram um jeito de sair, disfarçadas

ou de outra forma, e eu as perdi.

A voz do moleque estava urgente e carregada de culpa, o

que, junto ao horário, me denuncia que isso não acabou de

acontecer.

— Que horas foi isso, Erik?

— Faz quase 3 horas, talvez um pouco mais — ele responde

de forma quase inaudível.

Não consigo controlar o impulso e dou um soco estrondoso

na parede. Esse incompetente filho da puta vai acabar com a minha


vida.

Logo agora que finalmente vamos dar um tratamento decente

para Daisy. Logo agora que minha filha tem chance de ser curada,

esse cuzão consegue fazer uma merda dessas.

— Eu já te falei, seu INCOMPETENTE DE MERDA, BURRO

DO CARALHO, que o reporte TEM QUE SER IMEDIATO. Você é


imbecil ou o quê? — esbravejo, tentando colocar a mente em

ordem.

Minha garganta queima e eu agradeço por não estar frente a

frente com Erik, porque seria capaz de arrancar a alma de dentro do

seu corpo à base de socos.

— Já fiz a ronda em todo o campus, ninguém as viu. Estive

no apartamento e está vazio. Acionei o alarme e como não foi

desativado nem soou, sei que em casa ela não está. Acredito que

ela tenha embarcado no metrô com a amiga e, se eu estiver certo, a

princesa está perdida no Bronx.

Sinto todo meu corpo se arrepiar em pavor.

O Bronx é um dos quatro condados de Nova York e, apesar

de ter muitas atrações, tem uma área de conflitos muito forte ao


leste.

Por muitos anos aquela região foi tomada pela criminalidade

e uma princesa imatura e rebelde seria um prato feito para qualquer

mau caráter que cruze seu caminho.

Um ambiente de gangues, máfia e que carrega parte da

história mais densa de Nova York jamais seria o local ideal para
alguém como Claudia transitar – principalmente sem um segurança.

— Me fale as medidas imediatas que você adotou, Erik. —


Busco me concentrar no trabalho, tentando impedir minha mente de
se encher de cenas de Claudia em risco. Todo meu corpo reage em

tensão ao pensar na garota correndo perigo.

— Liguei para ela incansavelmente, mas ela não atendeu

nenhuma das chamadas. Agora cai direto na caixa postal, acredito


que tenha ficado sem bateria.

Mal posso acreditar que isso foi tudo o que o molecote fez.
Ligar para a princesa? Se quisesse ser encontrada, ela não teria

fugido, no mínimo.

A falta de preparo e de empenho desse cara vai me

corroendo de forma que se eu não deitar ele no soco, hoje ainda,


vou precisar descontar toda minha ira no culpado original de todo

esse drama: o turco mais promíscuo do mundo.

— Ligue para Raffaello e peça para ele rastrear o aparelho.

Ele tem recursos para isso. E seja discreto, Erik. Precisamos


encontrar a princesa sem deixar essa situação vazar ou estaremos
os dois na rua e se isso acontecer, te juro, eu quebro você ao meio.

O moleque nem me responde, apenas encerra a chamada.

Entro apressado no apartamento, tentando pensar no que fazer.


Decido que vou rastrear Mila Brown, amiga de Claudia, para tentar

encontrá-la.

Daisy já está de pijamas, de banho tomado, mas não foi se


deitar. Sentada no sofá, segurando uma pelúcia nos braços, ela me

encara com seus olhos curiosos.

Certamente ouviu minha fúria no corredor e agora teme que

eu a deixe sozinha. Mais uma pica para a conta de Erik, aquele


maldito.

— Você vai sair, papai? — A forma como sua voz sai, fina e
quase inaudível, me deixa com um peso no peito.
— Sim, docinho. Tivemos um problema no trabalho e vou
precisar sair. Mas vou deixar comida para você no micro-ondas.
Pedirei à zeladora que fique de olho em você, também, caso precise

de alguma ajuda. Você fica bem sozinha em casa? Promete que não
abre a porta para ninguém?

Ela me olha de soslaio e anui com a cabeça. Quando acho


que o assunto está encerrado, Daisy me manda uma pérola:

— Posso ficar com a Claudia enquanto você sai, papai?

— Não! — respondo alterado, sem ter tempo de pensar.

Os olhos de Daisy se enchem de lágrimas, assustada com


meu rompante, mas ela não chora e ainda assim parte meu
coração. Não tenho o costume de tratá-la dessa forma, mas o

estresse da situação está me tirando do eixo. Ajoelho-me em frente


a ela para me desculpar.

— Filha, perdoe o papai. Estou nervoso e preocupado com o

trabalho, não queria gritar com você. — Uso um tom mais brando e
seguro em suas mãos com firmeza. — Mas, não, você não pode
ficar com Claudia por dois motivos. Primeiro, porque não a

conhecemos direito. Segundo, porque ela não está em casa — falo


calma e pausadamente, de forma controlada, para que Daisy se
sinta segura. — Preciso mesmo sair, embora não queira. Promete
para mim que vai obedecer, docinho?

— Prometo, papai.

Deixo um beijo suave na testa da minha pequena e saio do


apartamento às pressas, já discando para o 99º departamento de
polícia onde tenho contatos. Enquanto aguardo que puxem a ficha

de Mila Brown e me forneçam seu endereço, sou informado de que

2 oficiais estão com Claudia em uma viatura a caminho de casa.

Sinto todo meu corpo começar a relaxar, no entanto,

permaneço em alerta. Decido aguardar a princesa fujona no hall de


entrada e não ligo para Erik. Ao invés disso, disco o número de

Raffaello.

— Parece que a presidente da SPDC aprontou novamente,

meu amigo.

O tom ameno e divertido na voz de Raffaello me faz ter

vontade de socá-lo. Enquanto estou aqui, alarmado, surtando com o


risco que a garota corre, ele parece achar graça de toda a situação.
— Você deve ser algum tipo de maníaco, cara. A princesa

desaparecida no Bronx e você achando graça?

— Ela já foi encontrada, ou estou enganado? Pura, casta e


com a cara mais deslavada do mundo. Certamente doida para

chegar em casa e se acalmar na sua rola. — Ele contém o riso

claramente.

— Raffaello, você tem sorte de não estar aqui ou eu te daria

um soco na cara.

— Acredito em você, irmão. Mas como não estou, você pode


fazer seu papel de daddy e socar na Claudia. Bem onde ela gosta.

— O maldito obsceno gargalha, e me deixa com ainda mais raiva.

— Hoje você está piadista, mas vou direto ao ponto. Preciso

que coloque um rastreador nos dispositivos dessa garota. Erik é um

insolente despreparado e dessa vez demos sorte, mas numa


próxima pode ser que o resultado seja irreversível.

— Você parece preocupado, Matthew. A princesa te deu um

chá tão bem dado assim?

— Estou pensando na minha filha, seu sociopata do caralho.

Finalmente estamos perto da cura. Não vou deixar que ela nem
ninguém prejudique a saúde de Daisy.

Do outro lado da linha escuto a respiração profunda e pesada


de Raffaello em consentimento.

A verdade é que Daisy é tudo o que eu tenho e o que importa

para mim. Mesmo consciente do efeito que Claudia tem sobre meu

corpo e mente, isso não é suficiente para me distrair do meu foco: o


bem-estar da minha filha.

— Considere feito, meu querido. E, quanto ao Erik, deixe que

eu mesmo vou resolver essa questão.

Raffaello desliga sem se despedir, mas não me incomodo

com isso, estou acostumado com seu jeito peculiar de lidar com as

coisas.

Logo após a ligação se encerrar, vejo a viatura parar em


frente ao prédio e a princesa desembarca, visivelmente abalada,

embora esteja falante como sempre.

Os policiais a acompanham até a porta e, quando me veem,

os oficiais apenas acenam com a cabeça e deixam que ela entre

sozinha no prédio.
A viatura se afasta, indo embora, e a princesa desliza

vagarosamente para dentro do edifício, a passos lentos.

Ela ainda não percebeu minha presença e, talvez por isso,


finalmente esteja cedendo à realidade dos fatos: hoje ela realmente

colocou sua vida em perigo por culpa única e exclusivamente da sua

imaturidade.

De certa forma, parece anestesiada e pensativa.

Quando Claudia ergue a cabeça e olha para frente, agora a

poucos passos de mim, finalmente me enxerga.

Em questão de segundos vejo seus olhos se enchendo de

lágrimas e sentimentos dúbios e nebulosos passarem rapidamente


por seu rosto. A garota arfa e corre em minha direção.

— Matthew!

Ela fala como se a voz estivesse presa em sua garganta há

muito tempo e se atira em meus braços afoita.

O jeito como a voz dela me atinge faz com que eu a abrace

de volta com força. O calor do seu corpo me aquece e faz com que

a sensação de eletricidade me percorra de ponta a ponta.


É nesse breve momento que finalmente me dou conta de

quão fodido eu estou. Embora Daisy seja minha prioridade número

um, agora sei que Claudia está logo em seguida.

— Você não faz ideia do que aconteceu, Matthew — conta

atropeladamente. — Eu estava no Bronx, Mila foi escrota comigo, fui


babaca com ela e no meio disso fui embora sozinha. Só queria

chegar em casa, sabe?

Puxa uma lufada de ar e quase se engasga.

— Queria provar que ela estava errada e que todo mundo que

sempre me trata como uma boneca de porcelana não faz ideia do

que sou capaz. Não sou um bibelô! Então simplesmente me perdi!


Eu achei que não conseguiria chegar em casa. Só conseguia pensar

em você, nas aulas e como eu queria que você estivesse lá para me

proteger.

Todo seu corpo treme quando ela fala de forma agitada e

percebo que lágrimas pesadas estão escapando dos seus olhos.

Claudia está em pânico e sua reação me atinge em cheio.


Seu perfume preenche meus pulmões e o calor da sua pele contra a

minha me deixa em um transe sem igual.


Quando ela me encara de volta, no fundo dos olhos, tudo o

que consigo fazer é beijá-la.

Ela corresponde ao beijo, primeiro com uma intensidade

afoita, quase desesperada, mas então se entrega de fato e nossas


línguas começam uma dança suave, envolvente.

Eu passaria a eternidade nesse beijo se pudesse. Deslizo a

mão por seu pescoço e seguro em sua nuca com firmeza, enquanto

continuo abraçado a ela. Parece que qualquer distância entre nós


seria mortal para mim agora.

Quando Claudia se afasta minimamente do meu rosto e me


encara, agora mais calma, mas de olhos arregalados, ela termina de

despejar a última gota que faltava para minha rendição completa.

— Eu não sabia o quanto precisava de você, até agora. —

Envolve seus braços em meu pescoço, aninhando-se em meu

corpo, e eu correspondo, apertando ainda mais os meus braços ao


seu redor.
Capítulo 16

ESCONDIDO É MESMO MAIS GOSTOSO?

Claudia Þórhildur

Subir até o apartamento em silêncio de mãos dadas com


Matthew não é constrangedor.

Na verdade, me sinto acolhida e com borboletas no


estômago, como se fosse uma adolescente apaixonada pela
primeira vez. Quando foi que o daddy gostoso da porta ao lado se

infiltrou no meu coração?

Dono do meu cu ele já era desde a noite na Labyrinth, mas

quem diria que seu jeito arrogante e bravo acabaria me deixando


tão rendida? Enquanto me perco em meus pensamentos, sinto meu
daddy acariciando o dorso de minha mão com seu polegar.

Quero pular em seu colo e enchê-lo de beijos, pedir que me


preencha e me deixe sentir como pulsa dentro de mim, ao mesmo

tempo em que quero apenas me deitar ao seu lado em silêncio e


curtir sua presença.
A porta do elevador abre num estrondo e quando saímos para

o corredor, Matthew solta minha mão. Antes que eu diga qualquer


coisa, meu vizinho gato desvia do caminho e vira em direção à

escada de incêndio ao invés de seguir em frente até nossos

apartamentos.

— Matthew? Para onde você vai, ficou doido? — pergunto

para as costas do homem, que me ignora completamente, então


apenas o sigo para descobrir o que está acontecendo.

Quando atravessamos a porta corta-fogo, vejo Matthew

recostado numa coluna, quase como se estivesse se escondendo


de algo. Ele não fala nada, mas faz um sinal com as mãos para que

eu me aproxime.

Ando até ele lentamente, desconfiada, mas sem falar nada.

Seja lá o que for que esteja rolando, minha dose de emoção do dia

já foi esgotada. Paro em sua frente e ele me beija docemente.

— Precisava de todo esse suspense para um beijo tão xoxo,


daddy?

— Daddy? — Matthew ri do apelido que uso, enquanto passa

seus braços em volta da minha cintura e me puxa para perto.


— Sim, daddy, um papaizão gostoso que me fisgou.

Vejo uma faísca nos olhos de Matthew quando ouve o que

digo e ele me aperta mais contra seu corpo, deixando toda a minha

pele arrepiada com o calor que circula entre nós quando sinto sua

ereção.

— Vou ser objetivo com você, Claudia. Não pretendia me


envolver com ninguém, nem agora nem nunca, mas parece que em

você existe uma fonte da única droga capaz de me viciar e não

consigo me manter distante. — A forma crua como ele faz essas

afirmações me confunde e excita ao mesmo tempo.

— Então estou aqui para a sua overdose, daddy — provoco o


vizinho enquanto deslizo as mãos suavemente por seu peito, mas

ele se mantém firme em sua posição, encarando-me no fundo dos

olhos como se estivesse vasculhando minha mente.

— O que eu mais quero agora, acredite, é te beijar e me

afundar em você. Mas não posso. Não antes de definirmos alguns


limites entre nós.

— Quem tem limite é município, Matthew. Eu sou o extremo

oposto do limite, você já deveria ter percebido. — Minha gargalhada


ecoa pela escada, mas ele não ri quando ouve o que digo.

— Não quero ser exposto, Claudia. Tenho uma filha pequena

para criar, que não precisa de mais caos e confusão em sua vida.

Não posso ser visto numa relação com você, então, se quiser estar
comigo tanto quanto eu quero estar com você, precisamos ser
discretos.

Ok, agora eu entendi onde ele quer chegar com isso e todo o

calor que eu estava sentindo aquecer meu corpo se esvai como se


um balde de gelo caísse sobre minha cabeça.

Não sei se estou entendendo o que ele diz, mas não evito

perguntar.

— Deixa eu entender. Você está com vergonha de mim? — A

voz mal sai quando eu sinto a garganta queimar com um choro


repentino que consigo impedir que caia.

— Vergonha? Não, é claro que não. — O jeito exasperado


com que me responde não me tranquiliza. — Eu apenas não posso

estar numa relação, Claudia. Não posso assumir uma relação com
você, entende?
— Ah, certo. Quer me comer às escondidas? — Isso seria

divertido, até alguns dias atrás. Mas agora, depois de provar do


gostinho de me apaixonar por Matthew, não é o bastante.

— Eu quero ser seu e quero que seja minha. Não para te


comer, mas para viver uma história. Só não posso torná-la pública
agora.

Antes que as lágrimas me escapem e façam parecer uma

princesa chorosa, o total oposto de quem sou, me afasto e enquanto


abro a porta de acesso ao corredor, estico o pescoço para

respondê-lo, sem deixar que veja meu rosto já que meus olhos
estão marejados.

— Vou pensar na sua ideia, garotão. Mas amanhã, porque

agora vou curtir um champanhe na banheira.

Atravesso a porta corta-fogo e corro o mais rápido que posso

para dentro do apartamento, mal contendo as lágrimas que teimam


em cair.

Seja pela adrenalina deixando meu corpo depois de um dia


tão caótico, seja pelo conflito interno que sinto depois desse

momento confuso com Matthew. Decido deixar tudo isso se esvair e,


sentada no chão, choro copiosamente até que não haja mais
nenhuma lágrima para sair.

Há muito tempo fantasio em ter um momento com o daddy

nas escadas de incêndio do prédio. Mas em nenhuma das vezes


que encenei esse encontro mentalmente imaginei que ele poderia

me desprezar. Querer me esconder. Considerar não estar ao meu


lado porque, de alguma forma, não quer ser visto comigo.

Já não bastam as pessoas me tratando como se eu fosse


uma boneca inanimada que precisa de ajuda até para respirar,

agora até o cara que come meu cu acha que eu não sou boa o
bastante?

Deixo toda a dor e confusão se esvair de mim em um choro

doloroso, pesado e como eu nunca tive antes. Quando parece não


haver mais nada em mim para externar, me levanto do chão e vou

até o quarto, onde me jogo de qualquer jeito na cama — sem banho,


sem pijama, sem recarregar celular, sem nada — e caio num sono

profundo e agitado.
Capítulo 17

A VISITA DO DIABO TERIA SIDO MELHOR

Claudia Þórhildur

Sinto o peito doer enquanto corro desesperadamente pelas


ruas.

O ar gelado de Nova York forma pequenas nuvens


esbranquiçadas cada vez que expiro com força. Ninguém parece me
notar e cada vez que me aproximo de alguém à procura de socorro,

sou completamente ignorada.

Minha voz parece inexistente, presa à garganta, deixando-me

ainda mais ansiosa e apavorada. Todo o cenário à minha volta


parece em looping e paro bruscamente, diante de uma parede de
pedras, enquanto minha respiração descontrolada me sufoca.

Onde está Matthew? Há poucos minutos eu estava


completamente rendida e protegida em seus braços quentes e

agora estou aqui, sozinha nas ruas frias e à mercê de qualquer


acaso inoportuno.
Os sons da cidade parecem cada vez mais altos e quando

meu grito gutural finalmente sai, acordo num sobressalto.

As batidas ocas na porta do quarto me despertam do

pesadelo mais realista de toda a minha vida, trazendo-me


diretamente para uma manhã cinzenta e fria em Nova York.

A voz de Erik do outro lado da porta me causa um mix de

sentimentos. Fico dividida entre a gratidão por me tirar de um sonho

tão pavoroso e o receio da bronca que certamente virá depois de tê-


lo enganado mais uma vez.

— Vossa alteza, precisamos conversar. — A voz de Erik é

neutra e contida, fazendo com que todo meu corpo se arrepie de

tensão.

Penso em ignorar completamente e fingir que estou

dormindo, mas duvido que ele vá desistir. No entanto, não estou

preparada para encarar o coitado agora, porque a última coisa que

pretendo é deixá-lo ver qualquer traço de medo ou arrependimento

em meu olhar.

— Preciso de alguns minutos, Erik. Me espere na sala por

favor.
— Certo. Apenas para recordá-la, alteza, estamos no décimo
andar e a única saída segura é pela porta de entrada. De uma

janela nessa altura a queda traria, realmente, danos irreversíveis.

A forma como Erik despeja essa curiosidade desnecessária

em sua fala seca e arrastada, me permite entender que estou de

fato encrencada.

Ele pensa que vou fugir a qualquer momento e que sou idiota

o bastante para colocar minha vida em risco.

O problema é que, depois de me perder no Bronx ontem,

nem posso questionar. Talvez eu seja mesmo meio idiota.

Ouço Erik se afastando conforme o som de seus passos se

tornam cada vez mais inaudíveis. Obrigo-me a sair da cama e faço

minha higiene matinal sem muito empenho, demorando o máximo

possível no banho.

Afundo o corpo na banheira de água quente, deixando

apenas a cabeça de fora, num silêncio desconfortável, na tentativa

de sentir a mesma proteção e acolhimento que o abraço de Matthew

me proporcionou ontem, mas é em vão.

Visto a roupa mais confortável que encontro no closet e

caminho, desinteressada, arrastando-me para a sala logo que


possível, porque sempre acreditei que o melhor a fazer em qualquer

situação é arrancar o band-aid de uma vez só.

Seja lá qual for a bronca, que ela venha logo para que vá

embora tão rapidamente quanto chegou. Será que uma bolsa


exclusiva da Prada e um kit exclusivo de maquiagem da Fenty

Beauty seriam capazes de amansar Erik?

Sigo divagando quando escuto uma conversa abafada ao


longe. Em meu peito cresce a esperança de encontrar meu vizinho

daddy-gostoso-tesão-absurdo na sala com meu segurança


amargurado e me adianto para o cômodo com um sorriso bobo no

rosto.

Eu apenas não esperava chegar à sala e encontrar um

homem bronzeado, de cabelos curtos dourados, olhos azuis


penetrantes e com certo ar de psicopatia. Onde está Matthew e, por

que Erik trouxe um doido para casa?

— Sua fama lhe precede, princesa, mas eu não imaginava


que além de presidente da sociedade das princesas dadoras de cu,

vossa alteza fosse adepta do escape room. Nem que os prazeres da


carne a deixassem tão pouco inteligente, se me permite dizer — o
homem despeja em tom de ironia. — prazer, alteza, Raffaello.
Olho de esguelha para Erik que, diferente do que imaginei,

não está sorrindo orgulhoso da bronca que vou levar. Ele está pálido
e os olhos estão tão arregalados que parecem duas bolas de tênis.

Seja lá qual for o papel de Raffaello em nossas vidas, certamente o


homem turco conhecido como o FBI em forma de gente não estava

aqui para um brunch.

Ok, agora é certeza: estou completamente fodida.

— Pode se sentar aqui, princesa — o homem diz, apontando

uma poltrona de suede branco à sua frente. — Eu não mordo. A


menos que me peça, e depende onde. — Ele gargalha

despreocupado.

Meu corpo responde ao comando de Raffaello, mas não

consigo verbalizar nada.

É como se sua presença fizesse minha mente virar gelatina e


todo pensamento que me vem é sobre como ele é lindo e

igualmente esquisito, com um ar de quem seria capaz de arrancar


cabeças enquanto devora um algodão doce de arco-íris.

— Para começar, princesa, vamos negociar sua rendição —

Raffaello começa seu discurso. — E, com ela, definiremos bônus e


ônus. E eu disse ônus, não ânus. Desse você pode cuidar como
quiser.

Não tem graça. Talvez em outro momento tivesse e eu até o


acharia sexy, mas aqui, falando desse jeito, me encarando sem

piscar e com um sorriso de coringa no rosto, Raffaello parece ainda


mais assustador do que qualquer descrição que me tenham dado
dele.

Só consigo assentir com a cabeça e sigo encarando-o. Vez


ou outra olho para Erik que não se move como se fosse uma
gárgula de Notre-Dame.

— A partir de hoje a princesa não sai de perto desse garotão

aqui — ele fala, apontando para Erik com o polegar. — Se sair,


perde alguma coisa. A virgindade não é opção infelizmente. —
Emite um som de frustração fingida. — Ao primeiro deslize, a

princesa deixa de morar sozinha e passa a morar num hotel como


se estivesse num reality show. Com câmeras por todos os lados e

muitas pessoas para vigiar, mas sem a diversão do sexo e da fama


repentina. Se continuar insistindo no erro, o ônus aumenta até que
volte para a Dinamarca e se case com o primeiro engomadinho

estranho que eu encontrar.


Ele olha para mim de um jeito maquiavélico antes de
prosseguir.

— E acredite, princesa, de gente estranha eu entendo bem.


Faço questão de lhe arrumar um marido sem pau e que goste mais

da fruta que você.

É a primeira vez que Erik emite algum som e, assim como eu,
imagino que ele tenha imediatamente pensado que era melhor se

manter em silêncio. Porque com a risada abafada que escapa do

meu jovem segurança, Raffaello parece finalmente ter se lembrado


da presença dele e o torna seu novo alvo.

— E você, meu jovem, não se esqueça do que conversamos.

Para cada erro, um dedo a menos. E quando lhe faltarem dedos, lhe

faltará também o pau. Talvez eu te torne um príncipe eunuco, já


pensou?

— Você não pode nos ameaçar.

Arrependo-me no segundo seguinte, mas agora que já disse

preciso encarar o que vier do turco.

Raffaello me encara como se eu estivesse sofrendo um AVC

diante de seus olhos e, diferente do que imagino, ele não esbraveja.


Apenas ri como se eu tivesse lhe contado a piada do século.
— Não posso, princesa? — O desdém na voz dele é quase

palpável e ele me encara profundamente enquanto tamborila os


dedos nas próprias pernas. — Não só posso como, se o fizer, ainda

terei o aval do Rei e da Rainha da Dinamarca. Imagine que incrível?

É um jogo de xadrez interessante onde eu não como a rainha, mas


dou um jeito de foder a princesa.

Erik permanece em silêncio, agora encarando o chão. Eu me

sinto congelada sob minha própria pele, sentada naquela poltrona

por todo o tempo sem me mover enquanto Raffaello se levanta,


animadamente, e caminha despreocupado em direção à porta.

— Espero que nosso próximo encontro seja mais agradável,

numa festa das princesas, talvez? — Ele sorri e ignora o pânico em

meu olhar. — Espero ainda mais não precisar voltar para obter o

bônus. Seria uma pena levar seu pequeno gafanhoto comigo, Erik.
Mas talvez combine com um pingente de colar. Vou pensar nisso.

O turco sai do apartamento como se tivéssemos encerrado

um brunch entre amigos e somente quando ele fecha a porta atrás

de si, me lembro de voltar a respirar. Erik parece ter o mesmo


impulso e ficamos os dois em silêncio por alguns minutos, nos

encarando, como que em um transe.


Capítulo 18

PRINCESAS UNIDAS

Claudia Þórhildur

Permanecemos em silêncio por todo o percurso de casa até a


faculdade e são alguns dos momentos mais constrangedores da
minha vida.

Mesmo sabendo que talvez eu tenha extrapolado e apesar de


Erik não ter dito sequer uma palavra sobre o quanto ele me odeia
pelo que fiz ontem, consigo sentir saindo dele uma energia de pura
fúria.

Depois de Raffaello ter nos deixado, Erik e eu nos encaramos


por vários minutos em silêncio até que o segurança decidiu sair do
cômodo e me deixou sozinha com as vozes da minha cabeça.

Algum tempo depois voltou, ainda furioso e com cara de

poucos amigos, e me avisou que precisávamos sair para não perder

o horário da primeira aula na NYU.

Enquanto caminho para a entrada do bloco de ciências

humanas onde terei a primeira palestra do dia, um flash estoura ao

meu lado, o clarão me deixando com a visão embaçada.


— De onde diabos veio isso? — esbravejo, tentando me

recuperar do susto apenas para me dar conta de que um maldito


paparazzi está ao meu lado fazendo dezenas de cliques.

— Saiam daqui imediatamente! Não estão autorizados a

permanecer no Campus. — Erik pula em minha frente, me cobrindo

com seu paletó e me encaminha para dentro do prédio. Pela


primeira vez me sinto protegida com ele e isso faz com que eu me

sinta bem. Talvez possamos voltar a ser amigos.

— Obrigada por isso, Erik. Não sei de onde aquela criatura


saiu, mas não tive tempo para reagir ou me esconder.

— O meu trabalho é mantê-la segura e protegida, Vossa

Alteza, e assim eu o farei — Erik diz a frase como se tivesse


ensaiado em frente ao espelho, e não consigo conter uma

gargalhada.

— Beleza, supergirl, obrigada mesmo. Mas agora vamos


acelerar o passo ou vou perder o primeiro tempo!

Erik que encara em silêncio e, por um segundo, tenho a

impressão de ver um flash de ira em seu olhar. Mas é tão breve que

não me prendo ao pensamento, tratando de andar o mais rápido


possível para o auditório agora que estou protegida dentro do
prédio. Deixarei para lidar com o paparazzi, eventualmente, quando
as aulas do dia forem encerradas.

Claudia Þórhildur

Foi estranho estar na aula e não contar com a companhia de

Mila.

Quando cheguei, ela já estava acomodada em uma poltrona


distante, no lado esquerdo do auditório, sem lugar vago para mim ao

seu lado.

Sentei-me no primeiro espaço disponível e tentei o máximo

possível focar na palestra, mas me peguei várias vezes olhando

para minha amiga e tentando entender se há um problema real


entre nós ou se apenas nos desencontramos eventualmente.

Quando a professora finalmente encerrou sua apresentação


e as luzes da sala foram novamente acesas, levantei rapidamente e
caminhei em direção à Mila, mas ela já estava a caminho da porta

de saída sem ao menos olhar para trás ou me procurar.

— Princesa, devagar. — Erik está esbaforido em meu

encalço. — Não esqueça de que precisamos permanecer juntos.

— Não estou fugindo, garoto. Estou tentando falar com Mila,

mas ela saiu daqui tão rápido que não faço ideia para onde foi.

— Problemas no paraíso? Sua amiga do crime decidiu seguir

carreira solo?

O deboche no tom de Erik me faz ter vontade de socá-lo, mas


decido respirar fundo e ser um pouco paciente. Afinal, se estamos

numa enrascada eu tenho a maior parte da culpa. Não toda, porque


não sou a culpada por ele ser o pior segurança do mundo, mas a

maior parte porque realmente dou trabalho.

— Não existe paraíso, nem problema. Deixe de ser abusado

e enxerido ou eu mesma resolvo te cortar um dedo. Ou algo além —


rosno.

Enquanto caminho e discuto com Erik, vejo Mila sair do

banheiro feminino o que me causa certo alívio. Aproximo-me de


minha amiga, doida para lhe contar todas as novidades.
— Vamos precisar recorrer ao pombo-correio real, princesa

do Bronx? Estou sofrendo por uma manhã inteira sem fofocar com
minha bff.

Mila me olha de cima a baixo e respira fundo antes de


responder, então percebo que sim, temos um problema. E ele vai

ser jogado bem na minha cara numa questão de minutos quando ela
toma fôlego e desata a falar:

— Sabe, Claudia, eu gosto de você. Muito. Mas eu não tenho

tempo para esse drama todo que ser sua amiga envolve. Você pode
ter vindo de um mundo cor-de-rosa, com fadas, príncipes e nuvens

de algodão. Mas eu cresci no gueto e não tô aqui para brincadeira


— ela despeja toda sua amargura em mim, e eu não poderia estar

mais confusa.

— Mila, não estou entendendo! Você me escorraçou ontem,

hoje mal me cumprimenta e já começa com isso? O que eu te fiz?


— Meus olhos ardem tanto quanto minha garganta quando me sinto

perdendo minha única amiga do mundo real.

— Você perdeu seu celular, Claudia?

— Não. Está bem aqui comigo e... — Ok, agora eu entendi.


Mila está furiosa porque não lhe dei notícias.
— Mila, eu cheguei bem ontem, apesar de tudo. Deveria ter
te avisado, mas nem pensei nisso. Foi uma noite tão peculiar. Hoje
de manhã o dia começou tão emocionante quanto a noite anterior,

então não me dei conta de que isso poderia ser um problema.


Esperava te encontrar aqui para colocar a fofoca em dia.

— Fofoca? Claudia, em que mundo você vive? — Há


amargor na voz de Mila. — Você foi embora sozinha do Bronx, à

noite, de metrô, com o celular descarregado e não se deu o trabalho


de me avisar que estava bem e viva. Sabe o quão egoísta é isso?

— Não tanto quanto me deixar sozinha como você fez.

Strike 1. Sei que acertei minha amiga em cheio porque ela

suspira pesadamente enquanto absorve o que eu disse e, agora que


estou com a torneirinha da sinceridade aberta, não consigo parar.

— Você está aqui me apontando o dedo e julgando como

todo mundo faz, mas se acha tão diferente. Não é mesmo, Mila?
Para você eu não passo de uma princesinha mimada e sem objetivo
na vida que existe para ser servida — uma lágrima me escapa

enquanto falo —, mas eu não sou isso. Não sou só isso. — Percebo
que a minha voz está embargada, então puxo o ar com força pelo

nariz para me controlar antes de continuar. — Ontem eu estava feliz


e confiante porque estava com você. Eu estava com a maldita
princesa do Bronx, que me protegeu no meu primeiro dia de aula,
mas que na primeira oportunidade me largou à própria sorte do

outro lado da cidade. Você estava tão preocupada comigo que não
se deu ao trabalho de checar como eu estava e se tinha realmente

chegado em casa.

Strike 2. Mila me encara atônita e parece sentir dor cada vez


que eu largo uma verdade em cima dela. Mas me surpreende

quando finalmente responde.

— Você tem razão — diz com a voz baixa. — Eu te deixei na

mão.

— Ai, amiga, relaxa. Está tudo bem. Vamos ficar bem. —

Tento abraçá-la, mas ela se afasta quando volta a falar:

— Eu não terminei, Claudia. Pare de agir como se fosse a


única pessoa com voz aqui. — Ouch! Essa doeu. — Você não é

uma ameba, nem é uma boneca de porcelana. Sequer deveria ser

tratada assim. Mas sabe o que acontece? Você é mimada e isso


não dá para negar. O jeito como você age muitas vezes é egoísta e

imaturo, mas você nem se dá conta, porque está dentro de uma

bolha de privilégios. Eu te abandonei quando você precisava de


mim, mas não foi por mal. Você consegue entender que embora

seja sua amiga, não é minha obrigação cuidar de você? Sou sua
amiga, não sua pajem.

Pisco várias vezes, absorvendo as palavras que ela jogou em

mim. Mila tem razão. Tenho me ocupado tanto em curtir a vida,

experimentar coisas e momentos que muitas vezes me esqueço de


olhar ao redor e perceber as necessidades dos outros.

Sequer me dei conta de que poderia estar me tornando um

peso para minha amiga. A constatação faz meu peito pesar e as

lágrimas irrompem sem que eu possa evitar.

Inesperadamente, é o abraço de Mila que me acolhe e


acalma.

— Não quero mais brigar com você, amiga. E te peço que me

desculpe. Mas, por favor, tente ser também uma pessoa melhor.

Não consigo responder ao pedido de Mila e apenas a abraço

de volta.

É estranho estar vivendo isso, tendo minha primeira amizade

totalmente verdadeira depois de tantos anos.


As outras princesas são incríveis, divertidas e acolhedoras.

Contudo, nunca estivemos em uma situação similar à que vivi com

Mila.

Embora eu tenha participado do resgate de Melissa no


passado, quando a princesa do Setentrião foi sequestrada, toda a

ação ocorreu longe de mim e fui mera espectadora dos fatos.

Agora não. Agora é real e é muito diferente de qualquer

expectativa que eu tivesse. Mila tem sido minha amiga desde que

nos conhecemos, e eu tenho sido egoísta em nossa relação sem


perceber.

— Me desculpe, Mila. Sei que sou difícil, mas estou

aprendendo. Obrigada por estar ao meu lado. Só, por favor, nunca

mais me deixe pegar o metrô sozinha.

Ambas gargalhamos, sem que as lágrimas parem de cair, e


nos abraçamos novamente para selar o pacto de paz na nossa

amizade. Enquanto estamos nos conciliando, percebo Erik distante

ao telefone e imagino que esteja reportando a Raffaello como tem

sido nosso dia.


Capítulo 19

VERDADES DISTORCIDAS

Matthew Fraser

Adormecer após todas as emoções do dia seria caótico.


Retorno ao apartamento depois do meu encontro com Claudia,
perguntando-me como diabos me meti nisso.

Como fui capaz de permitir que a princesa mais promíscua de


todo o mundo entrasse no meu coração desse jeito?

Entro no apartamento fazendo o mínimo de barulho possível,


ainda sentindo a adrenalina correr nas veias após meu momento

com Claudia nas escadas de incêndio.

Queria tê-la fodido ali. Queria ter me enterrado nela com

força até sentir toda a tensão se esvair, mas não posso pensar com
a cabeça de baixo agora.

Há uma linha muito tênue aqui, prestes a ser cruzada, entre o


que eu quero e o que eu preciso fazer.

Se fosse apenas pela vontade, pelo desejo, eu estaria com


Claudia em meus braços para fazer sexo – e amor – por toda a
noite, até adormecer.

Mas eu sou um pai, um homem responsável por uma

menininha linda de 8 anos que precisa de mim mais do que nunca e


não me perdoaria jamais por tirar dela a chance de ser feliz

novamente. Já há muita culpa e dor no meu peito, não sou capaz de

levar mais esse golpe da vida e continuar forte para cuidar dela.

Daisy dorme tranquilamente no sofá, abraçada a uma pelúcia

de unicórnio, presente de Raffaello. Encontrá-la assim me deixa

num mix de sentimentos.

Ao mesmo tempo em que fico feliz por vê-la tão serena, me


dói o peito saber que mais uma vez precisei deixá-la sozinha,

mesmo que por pouco tempo.

Desde que começamos essa jornada pela cura de Daisy

tenho me culpado cada vez mais pela ausência, percebendo que ao

crescer ela se sente ainda mais solitária – mesmo que não reclame
da vida que temos.

Somos apenas nós dois, embora a avó materna nos ajude

eventualmente. Estarmos em Nova York, a um passo da cura total,

me anima e assusta. Não saberei como reagir caso mais uma vez
nosso sonho vá por água abaixo. Se mais uma vez o tratamento
falhar e minha filha não se recuperar para ter a vida normal que uma
garota doce e incrível como ela merece.

Levo minha menina para o quarto e depois de colocá-la na

cama, permaneço alguns minutos observando seu sono sereno.

Faço uma oração baixa por sua cura, pedindo a Deus – ou

qualquer entidade que seja – que não tire dela a chance de ser uma

menina completa novamente.

Enquanto me perco nos pensamentos, sinto o telefone vibrar

no bolso dianteiro da calça e pelo visor vejo uma chamada de

Raffaello.

— Já está tudo resolvido, Raffaello. A princesa está em casa

e segura.

— Eu já sei, daddy, eu sou a porra do olho que tudo vê, e não

sou um cu! — O homem gargalha do outro lado da linha. — Amanhã


cedo estarei por aí e vou aparar as arestas com a fujona e seu fiel

escudeiro: Coragem, o segurança covarde.

— Por que insiste nisso, Raffaello? Não existe qualquer outro

homem de confiança que possa assumir a tarefa? Esse moleque é

irresponsável e despreparado demais — sussurro enquanto me


afasto do quarto de Daisy e fecho a porta do cômodo improvisado,

para que ela não acorde.

— A menos que você queira deixar de comer o cu dela para

comer na palma de sua mão, não.

Eu costumava achar o turco engraçado, mas agora a cada

vez que nos falamos considero mais intensamente a possibilidade


de socar a cara dele com toda a força.

— Não vou assumir a tarefa dessa forma, e você sabe. Estou


aqui pela Daisy e preciso me manter distante tanto quanto possível.

Não posso ficar de um lado para o outro pajeando a princesa


enquanto minha filha precisa de cuidados.

— Então guarde seu rancor, meu amigo, porque coloquei o

chupacu para cuidar dela justamente para que você possa viver seu
conto de fadas. — Meu amigo faz uma piada que não entendo e,
percebendo o silêncio do outro lado da linha, decide explicar: — A

princesa e você têm o mesmo DNA da perversão. São o match, ou


mete, perfeito. A diferença é que ela não tem vergonha do que faz

enquanto você, meu amigo, gosta de ser sacana nos bastidores.


Acha que não sei que por baixo do kilt você deixa o pequeno William

Wallace1 balançando à procura de liberdade?


— Você está insinuando, por acaso, que me colocou nesse

trabalho para que eu me envolvesse com a princesa Claudia? Você


por acaso sofre de algum tipo de perturbação mental, homem? —

pergunto de forma retórica porque, obviamente, ele sofre.

— Nada disso. Não seja dramático. Eu apenas criei uma

chance no cenário ideal para que a garota encontrasse finalmente a


rola que a faria sossegar o facho. Ou o cu. Ou ambos. Essa garota

já aprontou todas pelo mundo e se fosse casada, garanto, eu teria


me divertido naquele fiorde dinamarquês. Mas dessa água não

beberei e o senhor pode se afogar à vontade.

Desisto de argumentar com Raffaello e apenas encerro a


chamada. Basta saber que o homem estará por aqui amanhã pela

manhã para me deixar desconfortável.

A língua do maluco parece mais rápida que o cérebro e

quando menos se espera ele despeja uma de suas pérolas.

Não quero que Claudia descubra sobre meu trabalho como


seu chefe de segurança local, tanto quanto não quero deixar de

estar com ela.

No mundo ideal, eu poderia me apaixonar e viver um


romance, mas na vida real as coisas são bem diferentes.
Como eu poderia encaixar uma nova mulher na vida de
Daisy? O lugar de Julie não está vago, de forma permanente.

E, pior ainda, como seria trazer a princesa para nossas vidas,


sabendo que depois de enjoar de Nova York, a qualquer momento

Claudia poderá ficar entediada da aventura com o vizinho e ir


embora para sua próxima história imperdível, deixando a mim e
Daisy para trás?

Tento ser racional e me desconectar de Claudia, embora a


cada novo pensamento sobre ela eu sinta a pele formigar. Sempre
que penso em nosso momento no dark room da boate e em cada

ocasião absurda em que nossos instintos falaram mais alto, sinto o


sangue correr quente pelas veias, me deixando em plena

combustão.

Decido
tomar um banho gelado antes de dormir, caso contrário corro o risco

de cruzar o corredor à procura da mulher que tanto perturba meus


pensamentos para me inebriar em seu perfume e me perder de vez
de mim mesmo.
Matthew Fraser

Acordo num sobressalto, com as vozes de Raffaello e Daisy

ao longe. Estava tão cansado ontem à noite depois de todo o


estresse da busca por Claudia que custei a dormir, o que resultou
numa noite péssima e uma bagunça no meu relógio biológico.

— Bom dia, papai! Olha só quem chegou, o titio Raffa! E ele

me trouxe um monte de marshmallows coloridos com sabor de


algodão doce!

— Parabéns, Raffaello, enchendo minha filha de açúcar logo


pela manhã. Belo padrinho de bosta você é. — A amargura na

minha voz não abala meu amigo, que mantém um sorriso largo no

rosto.

— Daisy, docinho, você poderia comer seus marshmallows


no quarto enquanto converso com seu papai sobre coisas de adulto

que vocês crianças fingem que não ouvem e nós adultos fingimos

que não dizemos?

— Tudo bem, titio. Mas vou ficar de orelhas em pé. — Daisy


afirma, sorridente, e vai para o quarto caminhando lentamente
apoiada em suas muletas, com o saquinho de doces em uma das

mãos.

Encaro Raffaello aguardando que despeje qualquer merda

que esteja guardando para si, porque uma visita dele a essa altura

não pode ser indicativo de boas notícias.

— O rei tá puto, cara — ele começa — e se algo mais

acontecer, você roda.

— Então o moleque inútil que você contratou apronta e sou


eu quem se fode? — Não consigo esconder a raiva na voz, embora

esteja falando o mais baixo possível para não alarmar Daisy.

— Cada um com seu problema. Você perde o emprego, ele

perde o pau.

Levo alguns segundos para perceber que o doido está


falando sério. Não é possível que ele ache esse diálogo normal.

Só consigo pensar que alguma bomba estourou perto demais

de Raffaello e seus miolos estão perturbados desde então, porque é

muita loucura para uma pessoa só.

— O pau? Sério? O cara deixa a princesa em risco e a Coroa


Real está cogitando cortar o pau dele fora, como se isso fosse a
solução?

— Veja bem, eu não faço as regras. Só me divirto com elas.


Capítulo 20

A PAZ NÃO É UMA OPÇÃO

Matthew Fraser

Logo que Raffaello vai embora, levo Daisy para seus


compromissos diários.

Com a nova rotina na fisioterapia, ela ficará cada vez mais

tempo fora de casa, o que me permite monitorar Claudia com mais


tranquilidade.

Enquanto minha filha está na escola, acompanho a princesa


na faculdade e a vejo, ao longe, no que parece ser uma discussão

acalorada com a amiga do Bronx. Embora a amizade entre elas


tenha surgido repentinamente, e apesar do que aconteceu em sua
última aventura juntas, acredito que Mila e Claudia sejam muito

próximas.

Vê-las discutindo em um local público como agora me chama

atenção e tento ouvir o que estão falando.

Penso em me envolver, mas não posso – nem quero – ser

visto. Mantenho-me distante e, pouco tempo depois, as duas estão

se abraçando entre sorrisos e lágrimas.


As mulheres são realmente criaturas muito peculiares…

espero que ao crescer Daisy não me deixe confuso desse jeito. Em


um segundo elas parecem prestes a se estapear, apenas para logo

em seguida estarem esbanjando sorrisos e elogios.

Claudia se afasta da amiga, após se despedirem, enquanto é

seguida de perto por Erik.

Continuo acompanhando-os à distância e consigo perceber

que mais à frente dois homens se escondem entre as pilastras de

um dos blocos do Campus.

Se estivesse realmente atento, Erik teria notado. Cada falha


dele parece me irritar mais profundamente do que antes, e evito

pensar que isso se deva aos sentimentos inoportunos que Claudia


plantou em meu coração.

Fujo dos pensamentos românticos, porque é um caminho

pelo qual não pretendo transitar novamente. Minha cota de romance


foi esgotada quando Julie se foi e não planejo abrir um novo capítulo

desses em minha história. Quando elas se vão, tudo o que fica é a

dor.

Aproximo-me um pouco mais, porém não denuncio minha


presença.
Tento sinalizar para Erik que há perigo à frente, mas o garoto
não para de olhar o celular como se estivesse monitorando um

cronômetro e então, como num flash, os brutamontes saem da

posição inicial e pulam em direção à Claudia, pegando sua bolsa e

correndo na direção oposta.

A cena toda não parece fazer sentido. Os dois correm, um


deles com a bolsa nas mãos, mas seguem em linha reta, permitindo

que Erik alcance-os com certa facilidade e os derrube no chão.

Aproximo-me o máximo que consigo sem ser visto e sigo

observando toda a ação.

Claudia parece consternada, tremendo e assistindo ao show

de Erik que acerta um cruzado de direita no homem que está em

posse da bolsa dela. Após recuperar o acessório, o segurança se

levanta, ajeitando o terno e limpando-se da terra e grama que

aderiram às suas roupas, enquanto os meliantes correm,


separando-se e sumindo no horizonte.

Como numa cena de filme clichê, tudo acaba tão rápido

quanto começou. Claudia continua a tremer e quando Erik entrega a

ela seu troféu, a bolsa recuperada dos assaltantes, ela o abraça


como se fosse a pessoa mais incrível do mundo.
Não consigo evitar de revirar os olhos, vê-la se derreter em

gratidão pelo magrelo me deixa irritado.

— Erik! Você é incrível, caramba!

— É o meu papel, Vossa Alteza. Estou aqui para mantê-la


segura — o jovenzinho se gaba e noto quando pressiona o ponto

eletrônico no ouvido.

É claro que ele vai usar toda e qualquer oportunidade para se

mostrar útil e limpar sua própria barra. Afinal, sabendo da fama que
o turco tem, Erik sabe que seu pau está em risco iminente. Talvez

esse projeto de segurança não seja tão burro, afinal.

O que me preocupa no momento é a possibilidade deste


abençoado estar provocando os ataques à Claudia apenas para se

mostrar útil e, pior ainda, a possibilidade de algo fugir do controle e


virar um caso sério.

— Nova York me parecia tão segura, estava tudo indo tão


bem. E agora para todo lado que vou só há ataques e roubo — a

princesa segue tagarelando. — Como pode, Erik? É o segundo de


hoje, estou apavorada. Me leve para casa por favor.

— Claro, princesa. Mas não se preocupe, Vossa Alteza está

em segurança!
Seria cômico se não fosse trágico. O moleque é um ator e

tanto e está de fato tirando uma casquinha da ocasião. Ou será que


a ocasião faz o ladrão? Dois ataques seguidos assim, dentro do

campus da universidade, logo depois de Raffaello ameaçá-lo? Me


parece que tem algo errado aí e, se tiver, eu vou partir esse garoto

ao meio e transformá-lo em purpurina.

Estou perdido em meus pensamentos e não vejo Claudia se

aproximar sorrateiramente.

Quando ouço sua voz meu sangue gela e tenho a sensação


de que está tudo indo pelo ralo abaixo.

— Matthew? O que faz aqui?

Mal tenho tempo para pensar antes de responder, porque

Claudia me pegou desprevenido. Fiquei tão irritado com o ocorrido e


focado em descobrir o que Erik está aprontando, que saí da posição
de vigilância e me expus.

Dessa vez, infelizmente, e embora queira muito, não posso

culpar Erik. Me perdi em meus pensamentos e denunciei a minha


presença. Agora tudo o que posso fazer é encontrar uma boa

desculpa que justifique minha presença aqui.


— Ei, está me ouvindo? O que está fazendo aqui, Matthew?
Não vá dizer que veio se matricular na NYU. Sou capaz de pensar
que está me seguindo, vizinho.

— Não. Não vim me matricular — me apresso em responder.

— Fiquei preocupado pelo que aconteceu ontem, decidi te buscar


para uma aula extra de Krav Maga.

É a única coisa que surge em minha mente. Por sorte, a

história colou e ela gostou da ideia de algum tempo a mais comigo


no tatame, já que um largo sorriso enfeita seu rosto enquanto me
encara com aquelas joias azuis que destacam seus olhos.

— Excelente. Até gosto de uma pitada de ciúmes e

obsessão, mas hoje não — Claudia se diverte enquanto sugere que


eu a estou perseguindo. — Estou precisando mesmo extravasar no
tatame. O meu dia foi o suco do caos!

— Vamos, alteza, os acompanharei até a academia. — Erik


surge com seu ar prepotente e se põe entre mim e Claudia.

A vontade que tenho é de derrubar o garoto com um soco


certeiro para não precisar mais lidar com sua postura irritante e

infantil, mas se eu o fizer é o fim da minha estadia em Nova York.


É duro ter que pensar o tempo todo em cada mínima ação,
sempre sentindo o risco de perder o tratamento de Daisy como
consequência de qualquer falha que eu cometa.

— Eu posso levá-la, Erik.

— Não. Esta é a minha tarefa, porque sou eu o segurança e

guardião da princesa, Senhor Fraser.

Quase deixo escapar uma gargalhada diante da insolência do

fedelho, mas decido entrar no seu joguinho.

Não posso julgá-lo, eu também ficaria assim se fosse

ameaçado de perder o pau como ele foi.

— Está certo. Vocês vão no carro dela e irei no meu — volto


minha atenção para a loira. — Nos encontramos na academia,

Claudia. Por favor, não demorem.

Despeço-me rapidamente e sigo direto para o veículo, sem

dar brecha para que um novo diálogo se inicie.

Ainda estou agitado por ter sido descoberto e preciso me


adiantar para chegar antes dos dois na academia e preparar a área

de treino. Obviamente esse não era o plano e não há nada

agendado para nós.


Felizmente, a academia é bastante exclusiva, frequentada

somente por pessoas selecionadas entre a nata de Nova York, e


basta mencionar o Rei da Dinamarca para que qualquer ajuste de

agenda seja feito sem muitos questionamentos. Aproveito para

adicionar aulas extras pelas próximas semanas, sob a justificativa


de que a princesa correu risco recentemente e precisa estar mais

bem preparada. Isso me dará margem para gerenciar melhor o

tempo em vigília.

Matthew Fraser

Claudia e Erik não demoram a chegar e vejo que passaram

em casa para buscar a bolsa de treino. Quando ela alcança o


tatame, já estou a postos, pronto para nossa aula. A presença dela

me desconcerta, mas me esforço para manter o foco.

Afinal, não deixa de ser verdade o fato da princesa não saber

se defender e precisar melhorar isso o mais rápido possível.


Ainda me pego pensando na sorte que ela teve ao sair ilesa

do seu passeio noturno no Bronx.

Sempre que imagino o que poderia ter acontecido, o nível de

violência a que poderia ter sido submetida, sinto o impulso de


acolhê-la num abraço e mantê-la segura.

Mas não posso, obviamente, nem devo. Claudia precisa

amadurecer e aprender a se defender, não para que possa

continuar com as escapadas, e sim para que esteja pronta se um

dia sua segurança estiver em risco.

— Começaremos com movimentos de defesa, Claudia.

Vamos relembrar o que aprendemos antes. Em posição, por favor!

— Já vai começar me dando ordens sem nem ao menos

perguntar se pensei em nossa última conversa? — questiona,

fazendo um biquinho sexy pra caralho, sem se importar se alguém


nos ouve.

Pela expressão jocosa em seu rosto, eu devo aparentar

pálido e assustado, porque Claudia se diverte com minha reação

exasperada.

— Precisamos focar na aula, princesa. E ser discretos. Pode


me ajudar nisso?
— Ah, claro. Discretos. Vou te ajudar com isso.

Sem que eu espere, Claudia se aproxima e tenta me


derrubar, não obtendo sucesso. Mas, embora não tenha conseguido

essa proeza, fica enroscada em mim e a proximidade basta para

despertar meus instintos ocultos. Quando me dou conta, estou

segurando em seu braço e cintura com firmeza.

Ter seu rosto tão perto me deixa hipnotizado. O cheiro


embriagante do perfume dela parece tomar todo o ambiente como

uma droga e quanto mais eu o sinto, mais preciso dele.

Respiro profunda e pesadamente, tentando me manter

controlado enquanto nossos corpos continuam colados.

— Eu poderia te beijar, se quisesse. Mas não vou. Estou


sendo discreta. — Ela ri e se afasta, divertindo-se.

— Claudia, por favor, não dificulte as coisas — peço em um

sussurro. — Agora, fique em posição de defesa.

A princesa não discute e se posiciona como ordeno. Um dos

pés mais para trás, o outro adiantado, mãos em punho na altura do

rosto e o dorso levemente inclinado para o lado. Excelente.


— Perfeito. Agora, como já vimos antes, o princípio básico do

Krav Maga é a prevenção. Nós nunca atacamos, sempre nos

defendemos. Você precisa saber usar o seu corpo para se defender,

sem armas — oriento enquanto me aproximo dela. — Agora vou te


puxar pelo cabelo. Tente me afastar usando seus braços para girar à

minha volta e me desequilibrar.

— Eu gosto que puxe o cabelo, sabe?

Definitivamente ela não tem foco, e eu deveria ficar irritado,

mas a verdade é que o jeito jovial de Claudia tem me deixado mais


flexível e acabo rindo de sua gracinha.

Ela se surpreende tanto quanto eu e, quando finalmente faço

o movimento, a garota reage corretamente. Não consegue me

derrubar, mas se posiciona melhor. É um avanço.

— Isso. Incrível, Claudia! Viu como é fácil? — a reforço


positivamente.

— Fácil? Não é nada fácil e ainda quebrou minha unha — ela

lamenta enquanto verifica a própria mão —, mas realmente não é

tão difícil assim — admite.

Mais uma vez ela me arranca um sorriso e se isso se tornar

rotina, vou me meter em ainda mais problemas do que já me meti


até então.

Com o passar do tempo, percebo que, mesmo dispersa e

brincalhona, Claudia está absorvendo as lições. Se continuarmos


nesse ritmo, em breve ela estará apta a se defender de um eventual

ataque e essa constatação traz certo alento pra mim. Após 40

minutos mantendo o ritmo, decido encerrar a aula.

— Você evoluiu muito, Claudia. É impressionante.

— Talvez você seja um bom professor, embora um namorado


terrível — ela diz como se fosse a coisa mais natural do mundo e

sinto meu rosto queimar —, aliás, amante.

Evito responder e fico alguns segundos apenas a encarando.

Ninguém parece ter escutado sua gracinha e estou tão agitado que

talvez não me importasse se tivessem ouvido.

Só consigo pensar em como a palavra namorado saiu macia

de seus lábios e como, por algum lapso de loucura que me

acometeu, eu adoraria que isso fosse uma verdade. Junto o máximo

de autocontrole que consigo e me afasto, porque se eu continuar


junto dessa mulher por mais um segundo sequer vou ultrapassar os

limites.
— Até mais, Claudia. A aula está concluída. — Viro de costas
e caminho apressadamente para o vestiário, ignorando a princesa

completamente.
Capítulo 21

SE NÃO PODE COM ELES, JUNTE-SE A ELES

Claudia Þórhildur

Enquanto vejo Matthew praticamente correndo em direção ao


vestiário, após encerrar bruscamente nossa aula, percebo que a cada
segundo que passa o meu desejo por ele aumenta.

Eu o teria derrubado no chão antes se o objetivo fosse tê-lo


afundado em mim. Porém, não é mais apenas uma questão de desejo. Eu
me desmancho inteira quando o homem de gelo, de ar arrogante e
indiferente, sorri pra mim. Ou quando ele me toca com delicadeza, quase

que de forma imaculada.

Tentei não admitir, mas chegar em casa e encontrar Matthew de

braços abertos para me acolher depois daquela noite caótica foi como

provar um néctar sagrado.

O alívio que me dominou foi uma sensação que eu jamais havia


experimentado. Seu beijo doce e apaixonado, os braços firmes me
cercando e protegendo, seu olhar de posse e domínio. Tudo nele me

causa êxtase.

— Alteza? ALTEZA?
A voz de Erik me traz de volta à realidade e percebo que permaneci

no tatame, estática, observando o local onde Matthew estava e onde


agora só há uma parede da lateral do vestiário.

Não sei dizer quantos minutos se passaram, mas essa percepção

me deixa com a sensação de que embora não esteja consciente de como


cheguei a esse ponto, já fui totalmente cativada pelo vizinho.

— Claudia? Vossa alteza? Está tudo bem?

— Sim, Erik! Está tudo ótimo! — respondo incomodada com sua

voz. — Só estava distraída. Vamos embora?

— Vamos, claro. Não pretende tomar banho na academia,

princesa?

— Não. Vamos para casa, preciso da minha banheira para relaxar e


pensar.

— Certo. Deixe que levo sua bolsa de treino, por favor.

Antes que Erik tome a bolsa de minhas mãos, abro-a e retiro um


moletom Adidas, que visto rapidamente, então me afasto, caminhando a
passos largos até a área externa.

A noite em Nova York, nesta época do ano, costuma ser fria e


suada como estou, qualquer corrente de ar é capaz de me deixar
resfriada. E com os pensamentos impuros que estou tendo, ficar doente

não faz parte dos planos.


Seguimos para casa em silêncio, mas percebo que Erik parece

inquieto e mexe no celular o tempo inteiro durante o percurso.

Isso não me incomodaria normalmente, porque costumo estar


sempre distraída com minhas mensagens enquanto ele dirige, mas hoje

estou tão ansiosa e agitada que mal consigo olhar para o aparelho.

Pensei em ligar para Melissa e contar sobre a proposta de Matthew,


mas, apesar de amar profundamente minha melhor amiga e acreditar que
ela deseja sempre o melhor para mim, minha dose de julgamentos do

semestre já foi esgotada.

Estou cansada de todos sempre me avaliando e medindo como se


me conhecessem mais e melhor do que eu mesma.

Um som estridente rouba minha atenção e quando olho para Erik,


noto que o segurança está pálido, focado na direção, com suor descendo
pela testa.

Ele dirige rápido por um caminho que não reconheço, com ruas e
becos escuros, que não identifico como o caminho normal que fazemos da
academia para casa.

— Erik! O que está acontecendo? — pergunto entre gritos.

— Estamos sendo seguidos, alteza. Mas fique calma, estou


preparado para lidar com isso. A senhorita está segura!
— SEGURA? Você diz que estamos sendo seguidos, enquanto
dirige como um primata, subindo em calçadas e freando bruscamente, e

acha que estamos seguros? Você é doido?

Ele não me responde, apenas continua dirigindo alucinadamente


pelas ruas da cidade, como se estivéssemos num desses filmes de zumbi
quando uma horda se aproxima e tudo o que se pode fazer é fugir a toda
velocidade.

Inclino-me para trás à procura de qualquer carro ou moto que


esteja nos perseguindo, mas não enxergo nada além de poucas pessoas
pelas calçadas sujas dessa parte da cidade.

— Erik! Não tem ninguém atrás de nós!

— Ufa, estamos seguros, eu os despistei — ele afirma e após um


longo suspiro, noto que pressiona o ouvido. — Estamos em segurança,
base, mas fomos seguidos. No momento estamos na parte norte do
Central Park. Consegui despistá-los. Vamos retornar à rota de casa,
câmbio.

Câmbio? O quê? Nós estávamos sendo ouvidos todo esse tempo?

Erik por acaso usa um maldito ponto eletrônico e eu não sabia?

— Com quem você estava falando, Erik?

— Estava reportando à base de segurança, alteza. É o protocolo —


ele responde com tanta polidez que me irrita ainda mais.
— Que base, criatura? Que protocolo? Do que diabos você está
falando, Erik? — Minha voz sai esganiçada quando o questiono. A
frustração toma conta de mim quando me dou conta de que durante todo
esse tempo estávamos sendo rastreados. Não é um problema, mas é
estranho demais pensar que tem alguém — ou várias pessoas — em

algum lugar, escutando tudo o que acontece comigo durante os dias. Sem
que eu saiba, aliás.

— A senhorita tem uma equipe de segurança, princesa. E depois


dos últimos acontecimentos nossos protocolos de segurança foram
atualizados. Agora toda e qualquer ocorrência precisa ser reportada
imediatamente e é o que estou fazendo. Sou responsável pelo seu bem-

estar.

O jeito prepotente como Erik faz essa afirmação me deixa enojada.


Eu sou capaz de derrubar esse garoto com um golpe mal dado de Krav
Maga. Mas não vou fazê-lo, porque a verdade é que eu semeei o caos e
estou colhendo a minha tempestade.

Quem diria que um passeio inocente pelo Bronx seria capaz de me


trazer tanta dor de cabeça e desconforto?

Sinto-me exaurida, decepcionada e aborrecida como nunca antes.


Tudo o que eu quero agora é chegar em casa, me esconder na banheira
quente com uma taça de vinho e esquecer que os últimos dias
aconteceram. Contudo, com a sorte que eu tenho, é capaz de nem isso
acontecer.

Matthew Fraser

Depois de um banho gelado na academia, sigo apressado em


direção à clínica onde Daisy tem se tratado.

Algumas noites da semana ela tem tido aula de natação, para


fortalecer a musculatura das costas e pernas, como forma de evoluir em
sua recuperação. Chego a tempo de ver minha menina dando braçadas
lentas, porém firme, na piscina coberta.

A evolução dela nas últimas semanas é emocionante e faz tudo


isso valer a pena. Jamais teria condições de proporcionar esse tratamento
para ela se não tivesse aceitado esse trabalho, se a Coroa Real não
estivesse custeando tudo.

Sinto-me igualmente grato e ansioso, porque a felicidade de vê-la


se curando é imensa, quase tão grande quanto o receio de cometer um
erro e perder isso.

A aula acaba em poucos minutos, depois de terem feito diversos


exercícios na água, e enquanto o fisioterapeuta ajuda Daisy a sair da
piscina ela finalmente percebe minha presença. Um sorriso doce ilumina
seu rosto e faz meu coração errar uma batida. Minha filha é a maior
preciosidade de todo o mundo.

— Papai! Você veio me buscar? — Daisy pergunta, sorridente,


enquanto caminha lentamente em minha direção apoiada pelo
fisioterapeuta e suas muletas.

— Vim, docinho. Estava morrendo de saudades.

— Eu também, papai! Viu como eu nadei hoje? Não afundei


nenhuma vez e agora já sei mergulhar!

Daisy está tão orgulhosa de si mesma que o sorriso largo não


abandona seu rostinho adorável. É a primeira vez, em muitos anos, que a
vejo assim e essa percepção me abala profundamente.

Passamos anos complicados após a partida de Julie e a vida

parece ter, finalmente, decidido nos dar alguma trégua. Avanço em


direção à minha filha e a ergo em meus braços, girando-a no ar em
comemoração. A felicidade me inunda e sinto as lágrimas de alegria
escapando dos meus olhos.

— Você está chorando, papai?


— É de felicidade, docinho. Muita felicidade. Estou orgulhoso de
você! — digo alto, sem soltar minha pequena joia.

— Ok, ok, papai. Mas agora pode me colocar no chão. Já me


abraçou demais! — Daisy gargalha enquanto a abaixo novamente para
que se equilibre em suas muletas.

— Boa noite, Sr. Fraser, sou John Schwartz, fisioterapeuta da


Daisy. Pode dispor de alguns minutos para conversarmos enquanto sua
filha se arruma no vestiário?

O jeito como o John me convida para uma conversa faz com que
meu sangue pareça esfriar. É como se estivesse congelado em minhas

veias, tamanho o receio que sinto com suas palavras. Não sei se aguento
uma notícia ruim agora, depois de tê-la visto tão bem e feliz.

No entanto, não posso permitir que Daisy perceba meu receio.


Mantenho o sorriso no rosto, ainda que vacilante, enquanto estendo a
mão para cumprimentar o profissional.

— É um prazer, John. Obrigado por cuidar dela tão bem. E, claro,


podemos conversar — meu tom soa comedido, mas a voz não falha. —
Daisy, docinho, depois de se arrumar me encontre aqui novamente, ok?
Ficarei te esperando.

— Tudo bem, papai. Não vou demorar!


Daisy se afasta lentamente para o vestiário, enquanto John me
direciona para uma mesa ali perto. Ele se senta e me aponta uma cadeira
para que me acomode. O silêncio entre nós beira ao constrangedor e a
ansiedade me corrói, dificultando a minha respiração.

— O senhor já pode respirar, Senhor Fraser, está tudo bem com


Daisy. Tenho boas notícias para vocês.

Que filho da puta maldito. Ao mesmo tempo que respiro


profundamente, aliviando toda a tensão retida em meu corpo, penso em
avançar nele e acertar um chute em suas bolas. Esse maldito não podia
ter sinalizado de alguma forma que eram boas notícias, caralho? Pra que
me assustar desse jeito?

— Antes que o senhor decida me jogar na piscina, me ouça — ele


diz com certa graça na voz, percebendo pela minha expressão o meu
estado contraditório. — Não pretendia assustá-lo. Mas é importante
mantermos o decoro perto dos pacientes em tratamento intensivo com a
Daisy. As notícias boas são bem-vindas mas, se dadas antecipadamente,
podem fazer o paciente relaxar no tratamento, o que compromete
completamente o resultado.

Ouço e entendo o que ele diz, mas ainda assim, tenho vontade de
socar esse cara. Daisy não é uma garotinha tola que abriria mão de ser
saudável novamente, ele não conhece minha filha.
Essa menina já caminhou pelas trevas sem derramar uma lágrima
sequer. Daisy é uma lutadora, ela é forte como eu e doce como a mãe.

— Não vou negar que por um segundo pensei em te fazer engolir


essa cadeira, mas entendo o seu ponto. Agora que já estamos sozinhos,
no entanto, por favor me dê as boas novas. Preciso de uma dose de
serotonina — exijo quase em agonia.

— Claro! Daisy tem evoluído bastante no tratamento. As sessões


de infravermelho e hidroterapia estão apresentando excelentes
resultados. Em breve a equipe médica deverá reduzir a carga
medicamentosa dela.

Sinto-me no céu. A atual montanha russa de emoções, presente


nos meus últimos dias, está me deixando à beira de um colapso, mas não

reclamo.

Saber que a cura de Daisy está cada dia mais próxima me deixa
com a alma leve.

— Obrigado, John! Muito obrigado!

— Estamos todos muito felizes com o avanço dela. Mas, lembre-se,


ainda não vencemos. Daisy precisa continuar com as sessões, evitar
esforço e se preservar o máximo possível.

— Sem dúvidas. Acredite, não há nada no mundo que seja mais


importante pra mim do que ver essa menina saudável de novo.
Encerro a conversa com John ao mesmo tempo que percebo a
aproximação de Daisy. Observo que mesmo com o apoio das muletas, ela
está caminhando com mais firmeza.

Noto também que não tem reclamado de dor com tanta frequência
e decido que as boas notícias são motivo de comemoração.

Afinal, desde que chegamos aqui temos vivido tantos


compromissos que não tivemos um momento sequer apenas para nós

dois.

— Que tal tomarmos sorvete, filha?

— Sorvete, papai? Nesse frio? Acho que o senhor está ficando


biruta! — Daisy gargalha e me encara com seus olhinhos brilhantes e
astutos.

— Você tem razão, o inverno está chegando. Que tal então

fazermos pipoca e chocolate quente em casa e assistirmos o seu filme


preferido novamente, juntos?

— Lilo & Stitch? UAU, papai! Sim, por favor! — sua animação me
contagia e potencializa a sensação de alegria que percorre meu corpo
desde que John me trouxe as novidades.
Capítulo 22

LOUCURAS E INSEGURANÇAS

Claudia Þórhildur

Apesar de ter ficado um bom tempo imersa na banheira


acompanhada da minha taça de vinho, não relaxei de forma alguma.

Sinto uma agitação crescente e percebo que se não


conversar com alguém vou explodir. Minha cabeça parece uma
antena de rádio captando diversos sinais simultâneos, sem
sintonizar em estação alguma. É uma confusão imensa.

Decido ligar para Melissa, porque ainda que eu tenha receio


de que ela me julgue, Mel ainda é a minha melhor amiga desde que

me entendo como princesa.

Ela viveu um amor proibido com Youssef e talvez seja capaz

de me ajudar a entender o que estou sentindo. Não estou

comparando minha relação com Matthew e a de Mel e Youssef,


obviamente. Eles se amavam desde crianças, apenas não haviam

se declarado.
Nós, no entanto, sequer temos uma relação. Envolvemo-nos

num momento de luxúria e prazer, que eventualmente virou algo


além.

Mas não consigo definir o que esse além significa, nem


entender se quero continuar com isso. Depois do pedido de Matthew

por discrição me questionei diversas vezes sobre sua intenção.

Quero estar com ele, ardentemente, mas sempre pensei que


quando finalmente gostasse de alguém poderia viver isso sem

precisar me esconder.

— Quem é vivo sempre aparece, ou liga, não é mesmo,

maluca? Bom saber que seu celular já está funcionando. — Pelo


jeito como Melissa atende minha chamada, percebo que ela já sabe

da minha aventura.

— Ok, ok, quem foi o boca aberta que te contou sobre o

Bronx? Isso está ficando chato, nem das minhas fofocas eu sou
dona agora? — reclamo para minha amiga, um tanto irritada.

— Esqueceu que Raffaello é padrinho de Youssef, Claudia?

— Mel gargalha do outro lado da linha. — Ficamos sabendo da sua


aventura no mesmo dia, afinal todo o departamento de polícia de

Nova York estava à sua procura. O que deu em você?


— Era só o que me faltava. Não sabia que tinha tanta gente à
minha procura. Podiam ter me encontrado logo, então, teria evitado

que eu corresse por aí feito uma louca sem saber onde eu estava!

— Ainda há irritação na minha voz, mas eu solto uma risadinha e

suspiro em seguida.

— Claudia, você não tem jeito mesmo! Maluca! Mas não acho
que você tenha me ligado para contar sobre seu passeio, acertei?

Melissa é perspicaz e é uma das pessoas mais próximas de


mim. Embora não tenhamos nos visto com tanta frequência, nossa

sintonia é incrível, e ela me acolhe como ninguém.

Minha melhor amiga tem a capacidade de entender meu

ponto de vista, mesmo discordando de mim, como poucas pessoas

são capazes de fazer. Ainda que sejamos totalmente diferentes,


nossa conexão é muito verdadeira e valiosa.

— Não, amiga. Te liguei pra pedir conselhos. Amorosos. —


Jogo a bomba e fico em silêncio, degustando o surto que Melissa

tem do outro lado da linha.

— O QUÊ? CLAUDIA? AMOROSOS? Ai, minha nossa, você

foi pro Bronx porque se apaixonou pela Mila e queriam privacidade?

Isso é lindo, amiga!


— Mila? — Levo dois segundos para entender o que ela quer

dizer. — Que Mila o quê, Melissa! Eu gosto de rola, cê pirou?

Tenho uma crise de riso, enquanto Melissa divaga do outro

lado da linha, com infinitas suposições infundadas.

Não que me envolver com uma mulher seja algo absurdo ou

ruim. Mas o caso não é esse obviamente. O que tem tirado minha
paz é a necessidade de ter Matthew comigo e essa ideia dele de
manter tudo em sigilo – que no passado seria um deleite – me

incomodar tanto agora.

— Melissa, fica quieta e escuta por favor — preciso


interromper Mel e direcionar o assunto. — Você não podia estar
mais errada. Preciso de conselhos sobre o daddy da porta ao lado.

— O Matthew? Da boate?

A confusão na voz de Melissa é engraçada, mas não

inesperada.

Invisto os minutos seguintes em explicar à minha amiga tudo


o que tem acontecido entre nós, desde as escapadas para transar

nos lugares menos prováveis, até as aulas de Krav Maga e o


sentimento inesperado que tomou conta de mim quando Matthew
me recebeu naquela noite, apenas para me afundar num caos

emocional ainda maior com sua sugestão.

Melissa escuta tudo atentamente, questionando alguns


detalhes vez ou outra, enquanto despejo toda a história em seu
colo.

Depois de relatar todas as lembranças que tenho, espero


pela reação dela, mas tudo o que recebo em retorno é o silêncio do
outro lado da linha.

— Mel? Você ainda está aí?

— Estou. E, amiga, você está fodida — Mel afirma com a voz

calma e serena.

— Estou?

— Sim. Está. Porque você está apaixonada e, se não estou


ficando louca, ele está também. Você agora é uma mocinha

comprometida, Cau. Acabou sua vida de putaria. — Melissa irrompe


em gargalhadas espalhafatosas, me deixando num transe enquanto
absorvo o que ela disse.

— Ô sua ridícula, você acha que eu não cheguei sozinha a

essa conclusão? — Rio também. — De minha parte eu sei que


estou apaixonada. É quase um crime, mas é verdade. — Suspiro. —
Porém, discordo da parte da putaria. Se depender de mim vai rolar,
e muita. A questão aqui é o tal sigilo. Não consegui digerir esse

pedido e fico sentindo como se ele tivesse vergonha de mim, sabe?


Por eu ser mais nova e imatura, sei lá. Não sei como reagir a isso.

Não sei como responder a ele, mesmo que o que eu mais queira
agora é sentar naquele homem de novo e depois dormir de
conchinha.

— Cau, lembra de quando Youssef e eu decidimos ficar

juntos? — ela me questiona, e eu tento me lembrar do começo da


relação dos meus amigos.

— Vagamente — confesso.

— Quando nos declaramos um paro o outro, havia muita


coisa em jogo. O sentimento que dividíamos não bastava para que

pudéssemos viver nosso amor. Precisamos ser pacientes e, por


muito tempo, nos amar em segredo. E, de certa forma, ainda

continuamos assim. Consegue entender onde quero chegar, amiga?

— Acho que sim. Quer dizer que talvez não seja vergonha, só
alguma outra coisa qualquer? — Minha voz carrega toda minha

insegurança.
— Quer dizer que ele pode ter bons motivos para querer se
preservar. Você disse que ele é viúvo e tem uma filha pequena,
certo? Já pensou que talvez ele só queira se sentir seguro com você

antes de te levar definitivamente para a vida dele, para preservar a


menina?

Ok, faz sentido. E conforme Melissa me explica seu ponto de


vista, me sinto mais e mais estúpida e egoísta.

Fiquei todo esse tempo pensando sobre como tudo era a

meu respeito, quando, na verdade, seja mais sobre ele e sua família
e como uma relação entre nós pode impactar em sua vida.

Mal percebo que Mel continua falando, enquanto me perco

em meus pensamentos.

— … e ser madrasta não é algo tão simples, afinal. Você

precisa se preparar para isso e estar aberta a aprender…

— MADRASTA, MELISSA? — Finalmente volto meu foco à

nossa chamada. — Você foi um pouco além do que eu pensei,

amiga! Estou falando de umas sentadas, um cafuné, um namoro

talvez? Você já está lá em 2050 pensando em casamento e filhos.


Tá doida, mulher?

— Ai, Cau, o que eu faço com você?


— Você? Continue me amando, já basta! — Ela ri

concordando. — Amiga, obrigada por me ouvir e pelos conselhos.


Você tem razão. Parece que essa putinha foi fisgada e está pronta

para se amarrar ao daddy delícia.

— Ah, Claudia! Fico tão feliz por ouvir isso. Em breve

teremos encontrinhos de casal. — Mel sonha com isso há meses,


será que foi essa danada quem jogou essa ideia no universo e

atraiu um macho pra minha vida?

— Gata, amei falar com você. E vamos marcar nossa festa

das princesas para semana que vem! Agora deixa eu correr porque
preciso ir lá no vizinho pedir uma xícara de rola. Oops, de açúcar.

Mel volta a gargalhar e eu me despeço. Levanto da cama

onde estive com as pernas para cima, apoiadas na parede,

enquanto a ligação se estendia, e sigo para o closet, ansiosa por me


vestir e ir atrás de Matthew.

Será que ele vai me odiar se eu bater à sua porta a essa


hora? Reflito por alguns minutos se estou sendo impulsiva demais e

se devo sossegar em casa e esperar o dia amanhecer.

No entanto, a ansiedade é grande demais e quando percebo

já estou em frente ao apartamento do homem, trajando uma


camisola de seda branca e robe, pronta para tocar a campainha.
Capítulo 23

UM ERRO BOM DEMAIS PARA NÃO SER COMETIDO

Matthew Fraser

A noite com Daisy vai deixar lindas lembranças em minha


memória e espero que na dela também. Depois de sairmos da

clínica, a trouxe para casa e, como combinado, fizemos pipoca e


chocolate quente para assistir a animação favorita dela.

Costumávamos fazer isso em família quando ela era menor,


mas, com o tempo e as fatalidades da vida, acabamos perdendo
esses momentos tão importantes. Minha filha estava radiante e

tagarelou como nunca enquanto assistimos Lilo & Stitch na TV da


sala. Porém, depois de algum tempo acabou adormecendo no sofá.
Era de se esperar que estivesse exausta após o longo dia que teve.

Levo Daisy para sua cama e cubro com seu cobertor felpudo,

antes de acender o abajur de unicórnio e fechar a porta, deixando-a


descansar.

Amanhã nosso dia será igualmente longo e agitado, mas sei


que estaremos com as energias renovadas depois das excelentes
notícias que tivemos. A sensação de estar vencendo é indescritível.

Quando estou me preparando para dormir, escuto uma batida

baixa e abafada à porta. Fico paralisado no lugar e aguardo, atento

a qualquer ruído, tentando perceber se o som se repete. Pouco


tempo depois ouço novamente três batidas na madeira, discretas, e

um sussurro quase imperceptível:

— Matthew?

A voz de Claudia é inconfundível, mesmo que ela esteja do

outro lado.

Talvez seja o silêncio que a noite traz, talvez seja a conexão

que estabelecemos entre nós, mas tenho a sensação de que seria


capaz de distinguir a voz dela ainda que estivéssemos em um

estádio lotado durante uma disputada final da NFL.

Me apresso em abrir a porta e vejo que ela já estava

retornando para o próprio apartamento.

— Claudia? O que faz aqui fora a essa hora? Está tudo bem

com você? Onde está seu segurança? — Avanço para o corredor,

em sua direção, enquanto a questiono, me sentindo preocupado e

curioso.
— Ah, você está acordado. Que bom. — A princesa reveza o
próprio peso de uma perna para outra e agita as mãos diante do

corpo, emitindo sinais claros de desconforto e ansiedade. Isso basta

para me deixar em alerta.

— Princesa, o que aconteceu? Você está em perigo? —

pergunto e toco seu braço, num movimento involuntário.

Percebo quando a pele dela se arrepia por debaixo do robe

fino de seda branca e meu olhos são atraídos para seus seios,
quando seus mamilos ficam enrijecidos.

— Eu estou bem, Matt, mas precisava falar com você. Eu

aceito sua proposta — ela diz num sussurro e seus olhos estão

ardendo em chamas, embora ela pareça tímida.

— Aceita? — Não sei como reagir. Essa não é uma conversa

que gostaria de ter no corredor. — Onde está seu segurança?

— Erik? Está dormindo, claro. Mas eu te digo que aceito e

você só sabe perguntar sobre o segurança? — Ela soa confusa e

um pouco ofendida.

Gostaria de poder explicar a ela que o corredor não é o lugar

ideal para conversarmos, porque certamente está grampeado de


ponta a ponta e é possível que em algum canto do mundo haja

alguém de plantão ouvindo nossa conversa, mas não posso.

Em vez disso, faço um sinal de silêncio para ela, colocando o

dedo em riste diante da boca, e indico a escada de incêndio com um


meneio.

Ao menos lá temos pontos cegos suficientes para uma


conversa menos exposta. Claudia entende meu convite, porque
passa à minha frente e vai para o local, não sem antes roçar a

lateral do corpo em mim enquanto passa me deixando excitado


imediatamente.

Quando chegamos às escadas, tudo o que eu desejo fazer é


agarrar essa mulher e aspirar seu perfume viciante.

Controlo essa urgência, porque preciso que ela me explique o


que significa aceitar minha proposta.

Preciso entender onde vou me meter – além de dentro dela –


porque a vida está caminhando para a cura de Daisy e não posso

colocar isso em risco.

Claudia me encara com os olhos azuis mais quentes que já vi


e parece ler minha mente.
— Eu entendi seu pedido. Você tem uma filha pequena e

quer preservar ela antes de decidir colocar uma mulher na sua vida.
Faz sentido.

Claudia não parece feliz quando diz isso, mas também não
está desgostosa.

É como se ainda houvesse alguma dúvida com ela, mas a


princesa decidiu apostar em nós. Obviamente a questão não é essa.

Não é só isso, na verdade, mas eu não posso dizer a ela que


além da minha filha eu tenho outras razões para não assumir um

relacionamento com ela.

Como eu poderia dizer que ela é o meu trabalho e que se for


exposto, perco o emprego e o tratamento que dará vida nova à

Daisy?

— É um pouco além disso, Claudia, mas você resumiu bem.

Daisy é minha prioridade absoluta, mas eu desejo indubitavelmente


estar com você.

— Não vou fingir que estou totalmente feliz ou satisfeita com

isso, Matt, mas estou tentando ser mais madura. E a verdade é que
ficar sem você não é mais uma opção para mim.
O modo sedutor com que ela faz essa afirmação,
aproximando-se lentamente de mim e depositando suas mãos em
meu peito, faz meu pau endurecer como uma tora. Claudia tem o

poder de me entorpecer apenas com a sua presença e me sinto


extasiado.

Claudia Þórhildur

Se este momento tivesse acontecido há alguns meses, eu

riria de mim mesma e consideraria tudo um erro.

De um espírito livre como eu não é esperado um sentimento


tão profundo como o amor romântico e eu tenho relutado com a

possibilidade de me apaixonar por alguém há muito tempo.

O problema é que alguns erros são gostosos demais para


serem ignorados e não vividos.

Para mim a vida deve ser comida com uma colher bem cheia.
Então, encarando esse erro gostoso, forte, que me fode
deliciosamente com o pau enorme que carrega entre as pernas, não
tenho remorso algum em talvez estar errando mais uma vez.

É possível que nosso caso não vá durar, estou segura sobre

nosso prazo de validade ser curto e por isso concordei com o sigilo
imposto por Matthew.

Tudo o que preciso é esgotar todo o tesão que parece me


corroer de dentro para fora, sentando nesse pau gostoso até me

sentir completamente saciada, até acabar de vez com essa

paixonite que dominou meus pensamentos.

Fui empurrada contra a parede e, de alguma forma,

acabamos sobre os degraus. Matthew me segura com firmeza entre


suas mãos fortes e me apoia de maneira que eu não me machuque

na escada.

Ainda parece loucura que um homem realmente consiga me

dominar tão bem, o jeito que Matthew me pega não é delicado como

muitos caras fazem só por eu ser uma princesa, ele é bruto, suas
mãos me castigam do jeito certo e eu me sinto alucinada com toda

essa propriedade que ele tem em me satisfazer.


Matthew me pega sabendo o que fazer, como fazer, como se

lesse a minha mente, e é por isso que me sinto tão dominada por
essa sensação, uma foda de qualidade não pode ser negada em

hipótese alguma.

— Fica quieta — ele manda quando um gemido mais alto

escapa da minha boca no momento que sua mão aperta minha

bunda com possessão, me deixando molhada e ansiosa por mais.

Até penso em respondê-lo com uma provocação afiada, mas


sou impedida quando seus lábios cobrem os meus, beijando-me de

maneira faminta ao passo que seus dedos ágeis trabalham para

erguer minha camisola e rasgar minha calcinha como se ela não


fosse nada.

Nem se quisesse poderia reclamar, porque, confesso, esse


poder todo que ele projeta sobre mim me dá mais tesão ainda e não

importa o quanto eu goste da minha coleção de calcinhas, para me

sentir excitada como estou me sentindo, ele pode rasgar todas sem
pensar duas vezes.

Pegando-me de surpresa, Matthew desce por meu corpo com


pressa, apoiando uma das minhas coxas em seu ombro para, sem

me preparar psicologicamente em momento algum, começar a me


chupar, depositando tanta fome e vontade em seu ato que me deixa

fraca de imediato.

Sua língua sabe como estimular meu clitóris, assim como

sabe foder a minha boceta e eu não resisto em empurrar mais seu

rosto contra o meu corpo para poder me esfregar e rebolar na sua


boca do jeito que meu instinto manda, totalmente trêmula pelo

prazer.

A sensação apenas aumenta quando a boca dele desce para

o meu cu, me dando um beijo grego tão gostoso e intenso que meus
olhos chegam a marejar, nem um pouco envergonhada por estar me

esfregando como uma cadela na boca habilidosa de Matthew.

Chega a ser um crime ele me despertar tanto prazer assim,

um crime hediondo ser capaz de me deixar pronta para gozar só

usando sua boca, mas é isso que esse homem faz, ele apareceu na
minha vida para elevar minha expectativa sexual a um nível alto

demais.

Sei o que esperar no exato momento em que Matthew volta a

ficar de pé, pronta para empinar minha bunda e receber seu pau

gostoso me arrombando sem piedade alguma, mas ele me impede


ao me erguer, de surpresa, pelas coxas, deixando minhas costas
coladas à parede novamente enquanto me equilibra sem dificuldade

alguma em seu colo.

Ao mesmo tempo em que beija minha boca e pescoço com


uma voracidade deliciosa, Matthew usa uma de suas mãos para

colocar seu pau para fora, tudo com tanta facilidade que me deixa

ainda mais abalada por todo o seu poder e controle.

E, novamente, não tenho tempo para me preparar para o que

vem quando ele começa a forçar sua glande para dentro do meu cu,
trazendo com seu ato uma ardência muito maior do que estou

habituada.

— Shhh! Sem reclamar, não é disso que você gosta? — ele

murmura com a boca colada na minha, me encarando como um

predador encara sua presa. — Não é isso que você sempre quer?
Um pau grande te arrombando?

O gemido necessitado que escapa da minha garganta ao

escutar as perguntas de Matthew vem melhor do que qualquer

resposta que eu pudesse dar, transbordando a minha sinceridade

sobre o quanto gosto do jeito que ele me usa.


É uma troca equilibrada, porque Matthew não tenta mascarar

o quanto ele gosta de me foder e é por isso que, aparentemente, a

gente se dá tão bem, nossos desejos são compatíveis e se

alimentam um ao outro.

Como nas outras vezes, antes que eu me acostume com a


invasão ele começa a me foder, obrigando-me a agarrar seus

braços fortes para tentar ter um ponto seguro no meio de toda

aquela maré de prazer.

É incrível como a dor se torna gostosa quando é ele me

fodendo como se eu não fosse nada, enterrando seu pau em mim


sem se preocupar se vou dar conta ou não, trazendo um prazer

primitivo muito vivo dentro de mim para a luz, dando vida a um tipo

de desejo que nem mesmo sabia que existia em meu interior.

Gosto de transar, gosto de sentar até minhas pernas não

aguentarem mais, gosto de tudo o que engloba o sexo e nunca tive


pudor, mas nada no mundo se compara a isso, a ser simplesmente

arrastada para uma escada de incêndio para ser fodida sem preparo

por um homem que tem pleno controle sobre mim e o meu prazer.

Matthew não tem medo de que eu quebre, na verdade, ele

parece querer me quebrar e, tudo o que eu mais quero, é que ele


me destroce de uma vez por todas.

— Você vai gozar tão fácil — ele debocha de mim em meio às

estocadas, mordendo forte meu lábio inferior enquanto suas mãos

grandes apertam com firmeza minhas coxas. Algo em meu âmago


torce veementemente para que suas mãos fiquem marcadas na

minha pele. — Senti falta disso aqui, sabia?

Queria responder, mas tudo o que consigo fazer é um aceno

com a cabeça, tão desesperada para que ele me faça gozar de uma
vez que não consigo formular nenhuma resposta, gemendo

exasperada enquanto suas estocadas fortes continuam, sentindo

que meu prazer está realmente muito perto.

Por cima da camisola mesmo, Matthew abocanha meu seio

esquerdo e eu preciso afastar a boca dele para descer as alças e


assim liberá-los devidamente para ser devorado.

Sua destreza permite que meus mamilos sejam chupados e


mordidos enquanto, em momento algum, suas estocadas perdem o

ritmo, deixando-me perdida na nuvem deleitosa que toma minha

mente.
Novamente, é um absurdo que um homem consiga me foder
tão bem, me deixar tão louca e, ainda por cima, sem palavras! Mas

quando me contraio involuntariamente forte ao redor do pau grosso

dele, sei que a minha resposta física é mais sincera de todas e me


deixo levar pela onda deliciosa do orgasmo que aquela foda rápida

me proporciona.

Meu deleite é potencialmente aumentado quando Matthew

continua a me foder através do meu orgasmo, buscando o seu e me

deixando mais sensível do que já estou. E, apesar de saber que não


deveria, não posso evitar me sentir tão bem quando sinto o gozo

dele enchendo meu cu. Uma prova explícita de que, por mais que

nem sempre eu consiga me expressar oralmente, sei que tenho


poder sobre ele, assim como ele tem sobre mim.

Talvez também devessem criminalizar a nossa reciprocidade.


Não sei dizer, mas não quero pensar nisso agora, porque esse
orgasmo foi gostoso demais para que eu não aproveite a sensação

deliciosa que ele deixa por todo o meu corpo.


Capítulo 24

ROMANCE E PUTARIA

Matthew Fraser

Depois de comer Claudia na escada e selar nosso

compromisso, deixei a princesa em seu loft e voltei para o

apartamento. O peito queimando em tesão e algo mais, um

sentimento que não sei nomear. Paixão, talvez?

A relação com Claudia é uma explosão de sabores e


sensações. Nossos corpos parecem conduzir entre si uma

corrente elétrica forte o bastante para iluminar os 4

condados de Nova York, ao mesmo tempo em que há

docilidade e carinho em nosso toque. É uma combinação de

romance e putaria, algo que eu nunca vivi antes e que está


me fazendo sentir como um adolescente bobo e apaixonado
novamente.

Tomo um banho rápido e visto o pijama mais


confortável que encontro, sem me preocupar muito, porque
ainda que estivesse vestindo uma armadura de espinhos,
nada me faria dormir mal essa noite. Pela primeira vez em
muitos anos parece que todas as áreas da minha vida estão

caminhando bem, alinhadas e dando certo. Se isso for um


sonho, eu não quero acordar.

Preparo o sofá-cama e me deito para, em poucos


minutos, mergulhar num sono profundo e sem sonhos. A

sensação de finalmente relaxar e descansar é indescritível.

O despertador toca logo cedo pela manhã e me

adianto para preparar o café da manhã de Daisy. Hoje ela


tem apresentação na escola e logo depois, mais uma sessão
de ortopedia e fisioterapia. Se tudo der certo e Claudia se
comportar, poderei ter outra noite de qualidade com minha

filha.

Enquanto preparo suas panquecas, Daisy veste o


uniforme pomposo da escola particular onde a Coroa Real a
matriculou, no Upper East Side. Minha filha fica realmente
encantadora com a saia pregueada de estampa xadrez azul
marinho, que me faz sentir ainda mais saudade da Escócia.

As meias de lã, junto com o gorro e a cashmere branca


completam seu visual estudantil. Nada no mundo seria
capaz de me deixar mais feliz neste momento do que a visão
que tenho de Daisy, feliz e bem-disposta, recebendo tudo o
que uma criança amada merece: saúde, educação de

qualidade e amor incondicional.

— Nossa, papai, o cheiro está incrível! — Daisy se


aproxima lentamente e percebo que suas muletas estão
decoradas com algum tipo de brilho.

— Ótimo, você precisa se alimentar bem para


aguentar o ritmo do dia. Sente-se aqui, por favor, mas não

demore a comer, porque nosso tempo é curto.

Enquanto vejo Daisy se servir das panquecas e suco


de laranja que acabo de fazer, não consigo me segurar e
decido questioná-la sobre a decoração incomum em suas
muletas.
— Docinho, o que é isso? — questiono à pequena,
apontando para seus acessórios de suporte.

— Ah, papai, nada demais. Decidi decorar as muletas


para ficar cool como as meninas da escola.

— Cool? — Faço uma expressão de dúvida e

incredulidade. Essa menina tem 8 anos, pelo amor de Deus,


quem com essa idade pretende ser qualquer coisa além de

feliz? Na idade dela eu ainda comia terra.

— Sim, cool! Eu sou a única pessoa em toda a escola

a usar algo assim, sabia? No começo todo mundo ficava me

olhando como se eu fosse um alienígena. Agora todos


querem ser meus amigos e desenhar ou deixar recados nas

muletas — ela diz calmamente e dá de ombros, como se


não fosse nada demais.

Permaneço por algum tempo encarando minha filha,


que segue se alimentando distraidamente no desjejum.
Quando foi que essa menina amadureceu dessa forma e

onde eu estava que não percebi essa mudança nela?

Antes que eu consiga formular qualquer resposta para

meus próprios questionamentos, vejo que Daisy já está

pronta para sairmos e trato de acelerar o passo para


acompanhá-la. Quando abrimos a porta do apartamento e

acessamos o corredor, sinto um calor no peito. A memória


da noite passada me vêm à mente e quase sou capaz de

sentir o perfume de Claudia, ainda que a princesa não esteja

em qualquer lugar à vista.

— Papai? Esqueceu algo em casa? Vamos nos


atrasar… — Daisy chama minha atenção, ao notar que

estou parado no corredor encarando as paredes do

apartamento de Claudia.

— Não, filha, desculpe. Estou distraído hoje.

— Certo… — Daisy me lança um olhar astuto de


incredulidade, mas não diz nada.
Descemos juntos pelo elevador ruidoso e faço uma

nota mental sobre reclamar com o síndico a respeito do

equipamento quase pré-histórico que temos aqui.


Certamente meu incômodo principal se dá pela limitação

física de Daisy, que tem dificuldades para acessar o


equipamento e não pode recorrer às escadas. Mas a

verdade é que a coisa toda é muito absurda e da forma

como a porta do elevador segue travando frequentemente, a


qualquer momento alguém vai se machucar aqui.

Deixo minha filha na escola e a seguir retorno para o


apartamento, onde imagino que Claudia ainda esteja, mas

me surpreendo ao chegar e perceber que a princesa saiu


mais cedo com o guarda-costas. Sei que suas aulas ocorrem

somente à tarde, então fico em alerta com a possibilidade de

termos alguma intercorrência. Nunca se sabe quando a


louca vai decidir aprontar.
Claudia Þórhildur

Acordei muito bem-disposta depois da surra de pica

que Matthew me deu na noite passada. Fico na cama mais


alguns minutos, rolando entre os lençóis macios, deliciando-

me com as lembranças do meu daddy degustando cada

centímetro de mim nas escadas do prédio. É impossível


evitar os arrepios que percorrem meu corpo à medida que

recordo de suas mãos quentes apertando minha bunda e

seu pau grosso e quente se afundando em meu cu sedento.

Transar em locais públicos, à mercê de um eventual

flagrante, sempre me deixou muito excitada. No entanto,

agora sinto que qualquer lugar em que eu esteja na

companhia de Matthew me deixará igualmente acesa. A

forma como ele consegue me envolver e satisfazer é difícil


de descrever. O sexo não é mais tão mecânico, funcional. O
sentimento que construímos deixa tudo com um sabor

diferente, novo.

Ainda estou deitada, perdida em meus pensamentos,

quando ouço Erik bater à porta do quarto. Está cedo demais

para irmos à faculdade, então considero ignorá-lo, mas sinto

uma leve culpa quando lembro que meu agora ex-melhor-

talvez-futuro-melhor amigo vem cuidando tão bem de mim e


zelando por minha segurança com tamanho empenho e

dedicação.

— Alteza, bom dia. Espero que esteja vestida. Se não

estiver, por favor cubra-se. Vou entrar — Erik informa,

pacificamente, e sem esperar um minuto sequer abre a porta

e acessa a suíte com o olhar desconfiado.

— Que invasão é essa, Erik? Aconteceu alguma

coisa? Estamos em perigo?

A urgência em minha voz é perceptível e parece ter

algum efeito sobre ele, que relaxa os ombros e me encara


por alguns segundos em silêncio, antes de decidir me

responder.

— Não, Alteza, desculpe-me. Estou apenas checando

se está tudo bem, pois notei que a porta do apartamento


ficou destrancada essa noite. Temi que alguém pudesse ter

entrado, ou saído… — Pelo jeito como Erik diz a última

palavra, percebo que ele está me analisando.

— Pois você está enganado. Ninguém entrou ou saiu.

Você mesmo deve ter esquecido de trancar a porta e agora,

por favor, me dê um pouco de privacidade! — Tento parecer

brava e convincente, mas por dentro estou me divertindo.

Cheguei em casa tão inebriada de prazer após ser

fodida ardentemente por Matthew que até esqueci de


chavear a porta. Entrei no apartamento nas pontas dos pés,

esforçando-me para não fazer qualquer ruído que pudesse

despertar Erik e consegui. Não imaginei que ele notaria a

porta, que eu sequer lembrava de ter deixado destrancada,


já que não se abalou de seu sono profundo enquanto eu ia

para o quarto sorrateiramente.

Logo que Erik sai dos meus aposentos corro para o

banheiro, para um banho rápido de ducha. Sinto-me cheia

de energia e animada, como não me sentia há muito tempo.

Enquanto lavo os cabelos e sinto o perfume doce de rosas

do meu xampu, decido ir às compras e fazer uma surpresa


para Matthew. Será que uma lingerie vermelha, provocante,

é capaz de deixar meu daddy ainda mais insaciável?

Visto uma calça legging térmica, para dar conta do

vento frio do outono em Nova York, e completo a

composição do meu look com uma camiseta de algodão

confortável, jaqueta preta peluciada e um par dos exclusivos


LV Trainer que trouxe comigo na bagagem. É o único tênis

que me interesso em usar, porque tem todo o charme e

elegância da Louis Vuitton, com a sensação de conforto

similar ao que imagino ser pisar nas nuvens.


— ERIK! — falo alto, pelas costas do segurança que

me aguarda distraidamente apoiado no balcão da cozinha e


vejo seu olhar furioso após o susto. — Vamos sair! Preciso

fazer compras!

— Não temos nada planejado, princesa. Podemos


organizar seu momento de compras para amanhã cedo, o

que acha?

Ele só pode estar brincando. Desde quando me tornei

prisioneira e tenho que agendar alguma coisa antes de sair

de casa? Eu ouvi o que Raffaello disse quando nos visitou e

estou seguindo suas orientações. Não vou aceitar que me


mantenham prisioneira.

— Erik, olha só, não sei que tipo de surto te acometeu


e te fez pensar que sou a porra da Rapunzel presa numa

torre. Mas eu preciso comprar calcinhas. Muitas. Daquelas

de renda bem transparentes, delicadas e finas, que se

enfiam bem dentro da bunda enquanto a gente caminha. E

eu vou comprar, hoje, agora, imediatamente — digo rápido,


um pouco ríspida, mas tentando não ser grosseira —, e

espero que você me acompanhe como é seu tão bem

desempenhado papel. Mas, se não quiser, tudo bem. Você

se acerta com o turco depois.

Talvez eu tenha cruzado algum limite. Talvez eu esteja

esticando demais essa corda e afastando qualquer chance

de voltar a desenvolver uma amizade com o meu segurança.


Mas a verdade é que, embora eu tenha algum carinho por

ele, nem mesmo uma amizade de anos me faria aceitar

docemente a limitação da minha liberdade. Não vim para

Nova York para ficar dentro de uma gaiola, e não vou.

Entendi o recado que me foi dado e não pretendo me


aventurar daquela forma novamente. Mas se alguém acha

que vou ficar enclausurada aqui, dando satisfação de cada

passo meu a uma porcaria de ponto eletrônico que tem sei lá

quem do outro lado, está muito enganado.

— Certo, Vossa Alteza, seu pedido é uma ordem —

Erik responde a contragosto e percebo desdém em sua voz.


— Peço apenas que, por favor, aguarde alguns minutos

enquanto informarei à equipe que nos deslocaremos.

— Estou à sua espera. Não demore.

Se ele vai me tratar assim, então eu o responderei à

altura. Gosto de criar laços, conversar e me envolver com as

pessoas que convivem comigo. Mas Erik tem muitos altos e


baixos em seu humor e acho difícil ler sua expressão. Ele

parece tão doce e ingênuo num momento apenas para que

no segundo seguinte se mostre um grande babaca.

O querido se afasta, aparentando desconforto, e faz

uma ligação de seu celular enquanto observa a rua pela


janela da sala. Por que se afastar e ligar do telefone se o

bendito tem um ponto eletrônico preso ao ouvido, por onde


delata todos os meus passos? Honestamente, essa coisa

toda de segurança e protocolos é uma porcaria sem sentido.

— Pronto, princesa. Podemos sair. Mas precisamos


retornar a tempo da sua aula, como bem sabe.
— Retornaremos, Erik. Agora, me esclareça uma
coisa, por favor, pra quem você ligou? — O jovem segurança

arregala os olhos diante do meu questionamento e continuo:


— Porque, até onde sei, você usa um ponto eletrônico
fofoqueiro em seu ouvido. Sua central de futricas não é 24h?

Ele leva alguns segundos para recobrar a cor após se

surpreender com meu questionamento, o que me deixa


ainda mais curiosa, e quando responde não sinto confiança

em suas palavras.

— Ahn… É que não me responderam. Então liguei.

Vamos?

Penso em argumentar, mas desisto. Quanto mais


tempo perder aqui com ele nesse papo sem sentido, menos

tempo terei para me divertir na sexshop onde pretendo


comprar toda sorte de brinquedinhos e fantasias para usar
com Matthew.
— Vamos, Erik. A loja que quero visitar fica no West
Village, na Sétima Avenida. Te passo o endereço no carro.

Meu guarda-costas assente, resignado, e permanece


em silêncio durante todo o percurso até a loja, abrindo a
boca apenas para responder quando dou detalhes do

endereço ou questiono sobre o tempo que falta para


chegarmos ao local. Decido ligar para Mila no caminho e

convido minha amiga para me encontrar no estabelecimento.


Vai ser divertido estar com ela fora da faculdade, falando
sobre nossa vida sexual.

Erik estaciona o carro a alguns metros da loja, que


fica numa das avenidas mais largas e movimentadas deste

lado da cidade. O prédio é grande, com a fachada em


tijolinhos vermelhos característicos da arquitetura padrão
nova yorkina, e possui um toldo vermelho em sua porta de

entrada. A vitrine da loja é toda em vidro fosco, o que


permite ver silhuetas dentro do ambiente, mas não é

possível distingui-las.
— Você pode esperar aqui no carro, se preferir —

aviso a Erik, esperando que ele me deixe um pouco sozinha


— ou pode vir. Você que sabe.

— Estarei ao seu lado o tempo todo, Alteza.

Eu já imaginava que ele não me largaria, mas não


custava tentar. Não me importo que ele me veja comprando

artigos sexuais, porque não é nenhum segredo para Erik que


tenho experiência na área, embora me mantenha pura e
casta para o casamento como manda o protocolo real.

Porém, adoraria ter alguns minutos solo, para esquecer,


ainda que brevemente, como é chato ter alguém o tempo

todo à minha cola.

Logo que entramos na loja, uma simpática vendedora


de cabelos vermelhos e diversos piercings no rosto se
oferece para me ajudar. Peço que me mostre suas lingeries

mais provocantes, a sessão de lubrificantes e depois os


sugadores de clitóris.
Sempre evitei que meus amantes tivessem acesso
livre à minha boceta, mas já tinha experimentado algumas
vezes o sexo oral e masturbação. Todavia, desde que

conheci Matthew e ele tem me chupado com tanto desejo,


venho pensando em comprar algo que me ajude a aplacar o

tesão quando meu vizinho gostosão não estiver disponível.

Enquanto escolho os itens que comprarei, noto que


Erik se afastou e novamente está ao telefone, sussurrando
algo em uma ligação muito suspeita. Tento me lembrar de

quando chegamos à cidade ou de qualquer momento antes


em que ele tenha ficado tanto assim em linha com alguém,

mas não consigo.

Depois de alguns minutos Mila aparece na loja e me

encontra absorta numa variedade imensa de vibradores,


plugs e sugadores de clitóris, apresentados pela vendedora
super-solícita.

— Vai fazer uma festa ou abrir um cabaré, Claudia?


— A risada de minha amiga toma conta do lugar e me deixa
menos tensa.

— Um cabaré? Ótima ideia, mas prefiro um harém!

— Concordo com você, um harém cairia muito bem

— ela complementa — e se possível com a maior variedade


possível de machos, porque essa princesa aqui gosta de

todas as cores e tamanhos. — Aponta para si mesma,


sustentando um sorriso largo.

Minha amizade com Mila é leve e divertida, embora

tenhamos nos ressentido mutuamente recentemente. Nossa


personalidade é parecida, mas o que mais admiro nela é a
forma como me trata sem luxos ou zelo excessivo. Ela

respeita minha individualidade e me recebeu em Nova York


de braços abertos quando cheguei.

Depois de termos escolhido diversos itens, faço o

pagamento total da compra, presenteando minha amiga com


diversos brinquedinhos. A princípio ela não queria aceitar,

mas quando afirmo que é o meu pedido de desculpas oficial


por nosso desentendimento do outro dia, ela finalmente
cede.

Erik nos acompanha à distância, checando a todo o


tempo o celular como se estivesse esperando por alguém e
isso me irrita. Sei que preciso de um guarda-costas e

entendo que minha segurança é importante, mas é muito


desgastante essa sensação de estar sendo vigiada o tempo

todo.

Aproveito a distração dele para contar brevemente à

Mila sobre a noite com Matthew e como agora sou uma


princesa comprometida. Primeiro ela reage com espanto,
mas logo a seguir gargalha, dá gritinhos e me abraça

saltitante.

— Amiga, que delícia! Parabéns! Que esse macho


cuide de você, te dê um bom chá de rola e te faça feliz. Você

merece.
— Fala baixo, louca! Quer que a cidade inteira, e

principalmente Erik, saibam disso? É no sigilo, esqueceu? —


tento conter as reações dela.

— Ah, verdade, desculpe! Me empolguei!

Erik nos leva de carro até um restaurante no mesmo


bairro, onde pretendemos almoçar antes de irmos juntas

para a faculdade. Deixo as sacolas na mala do carro e


percebo que estacionamos no lado oposto da rua. Sigo
conversando amenamente com Mila enquanto caminhamos

em direção à faixa de pedestres para atravessar, quando um


som de freada forte e estridente me deixa sobressaltada.

— Claudia, cuidado!

Essa é a última coisa que escuto antes de apagar. De

repente tudo está preto e sinto a cabeça latejando, os olhos


marejados de lágrimas, como se tivesse ido a nocaute. Sinto

a aspereza do asfalto quando meu corpo vai de encontro ao


chão, mas não consigo reagir e apenas me desligo do
momento.
Capítulo 25

DILACERADA

Claudia Þórhildur

O som da sirene da ambulância me desperta e

quando abro os olhos, vejo o uniforme branco do

paramédico à minha frente, manchado de sangue. Sinto a


mão de Mila segurando a minha e percebo que me

acidentei, mas não consigo lembrar o que aconteceu nem

distinguir todos os sons do ambiente, até que apago


novamente.

— Ei, fala baixo! Se acalma, cara, eu não tenho culpa

de nada. — Escuto a voz de Erik, ao longe, sem conseguir

identificar de onde vem ou onde estou.

As paredes são brancas, há muita luz e me dou conta


de que estou em algum tipo de cama. Minha cabeça dói e
sinto um volume estranho na testa quando passo a mão pela
cabeça. Meu cabelo é uma confusão imensa, embolado em
toda a extensão.

— Se não é sua, é de quem? Pirralho insolente e


burro! — A voz de Matthew ajuda a me deixar mais

consciente. O que Matthew faz aqui? E onde estou, afinal?

— É dela! De quem mais seria? Eu tenho culpa que a

princesinha atravessa a rua sem olhar? — Erik se defende,


me acusando. Então eu fui atropelada?

— Erik, eu só não vou te partir ao meio agora mesmo


porque vou deixar que antes Raffaello se divirta com você.

Seu merda.

Como Matthew conhece Raffaello? E o que faz aqui?


Onde está Mila, onde eu estou e o que aconteceu?

— Matthew? — Minha voz não é mais que um

sussurro. — MATTHEW?

Reúno todas as minhas forças para chamar por ele,

ansiosa para entender esse caos. Todos os


questionamentos que faço a mim mesma, deixam meu corpo

retesado e a cabeça ainda mais dolorida.

Quando sinto as mãos quentes de Matthew nas


minhas, consigo relaxar brevemente o corpo e focar o olhar
em seu rosto. Ele aparenta estar bravo e confuso.

— Claudia, fique calma, estou aqui. Está tudo bem.

— Como está tudo bem? — resmungo. — Minha


cabeça parece pesar uma tonelada, meu corpo todo dói e

isso parece ser um hospital. Eu odeio hospitais. O que


aconteceu?

Dessa vez é Erik quem responde, visivelmente


desconfortável com a presença de Matthew.

— Vossa Alteza sofreu um impacto com uma moto


enquanto atravessava a rua. Acreditamos que o motorista

pretendia assaltá-la ou algo do tipo.

— ALGO DO TIPO? O cara estava armado com uma


pistola de brinquedo, seu anormal! Era o mesmo paparazzi
que a cercou no restaurante, semanas atrás, e agora
pretendia assaltá-la com uma arma de airsoft? Não é
possível que você realmente acredite que isso é uma
coincidência ou esteja genuinamente surpreso. Você vai

responder por isso!

Enquanto Matthew esbraveja com Erik, sinto todo seu

corpo tremer e ele aperta minha mão com mais intensidade


do que eu gostaria. É notável como o ódio corre por suas

veias e é neste momento que me dou conta de que, de

alguma forma, Erik e ele têm alguma relação.

— Matthew, o que você faz aqui? E como conhece


Raffaello?

Quando ouve meu questionamento, sua mão


imediatamente começa a transpirar. Ele me encara em

silêncio, os olhos arregalados com algo similar ao pânico

estampado no rosto. Sinto meu corpo formigar com a


ansiedade, porque, de algum modo inexplicável, agora sinto

que sei a verdade e ela não é nada boa.


Erik se mantém em silêncio, mas percebo que

estampa um sorriso discreto em seu rosto. Os dois parecem

ter alguma rivalidade entre si e a falta de resposta de


Matthew começa a me desesperar.

— Matt, daddy, por favor. O que você faz aqui? —


volto a perguntar, agora com a voz trêmula pelas lágrimas

que tento conter. — Me diz como você conhece Raffaello,


por favor.

Dentro do meu peito cresce o sentimento de medo e


angústia. Não quero acreditar nas loucuras que permeiam

minha mente e, até o último segundo, me agarro à


esperança de que tudo não se passa de um mal-entendido.

Que Matthew é apenas o professor gostosão de Krav Maga,

que mora na porta ao lado e que está genuinamente


apaixonado por mim.

— Estou aqui porque você se feriu e precisava estar


segura, Claudia — Matthew aspira profundamente antes de
prosseguir —, e o conheço porque foi ele quem me

contratou para o trabalho em Nova York.

A resposta dele me atinge em cheio, sinto suas


palavras me quebrando em pedaços pequenos e

impossíveis de colar. Sua voz parece carregar culpa e


arrependimento, mas tudo o que desperta em mim é raiva e

dor.

Ficamos nos encarando por algum tempo no mais

absoluto silêncio. Minha mente repleta de questionamentos


e uma tristeza profunda tomando conta de mim, fazendo

meu peito doer como se o ar não conseguisse mais inflar


meus pulmões. Recolho minhas mãos para junto do corpo e

desvio o olhar dele, porque a qualquer momento as lágrimas

vão começar a rolar e não o quero aqui.

— Saia — digo uma vez, mas, notando que ele não se

mexe, grito o mais alto que posso: — SAIA, SAIA DAQUI


AGORA.
Matthew me olha uma última vez e sem questionar

minha ordem, dá meia-volta e vai embora do quarto,

deixando-me sozinha com Erik, meus pensamentos


conflitantes e o coração dilacerado pela dor e a decepção.

— Vou cuidar da senhorita, Alteza. Ele não estava à


altura do trabalho.

Tenho vontade de arrancar a língua de Erik com as

próprias mãos e jogá-lo pela janela. Há um segundo ele

tinha um sorrisinho sonso e vitorioso no rosto, agora acha

que vou tratá-lo como meu melhor amigo e confidente?

— Erik, suma da minha frente. Saia daqui também.

— Não posso, Vossa Alteza. Estou aqui para protegê-

la.

— Você também estava na rua e não me protegeu.

Suma daqui ou eu vou enfiar uma dessas agulhas tão fundo

em seu olho que vai espetar seu cérebro. SAI!


Não sei dizer se por medo ou desgosto, mas Erik sai

do quarto e finalmente me deixa sozinha. É quando não

contenho mais as lágrimas e me permito chorar toda a dor

para fora do peito. Queria poder voltar algumas horas no


passado e nunca descobrir que Matthew na verdade não

gosta de mim, não se interessa por mim. Ele apenas estava

comigo porque foi pago para isso.

Cada novo pensamento sobre essa situação farsante

parece me afundar mais na lama da tristeza e mágoa. Quão

sádicos são os meus pais, a ponto de pagar um homem para

se relacionar comigo e me fazer sossegar? Quem faria isso

com a própria filha?

Quão canalha um homem precisa ser para se sujeitar


a namorar uma mulher por dinheiro? Por prestígio? Estive

tão absorta nessa paixonite, preocupada com a filha dele,

sua vida, enquanto o tempo inteiro ele se aproveitava da

minha ignorância para usar meu corpo enquanto era pago

para me vigiar.
Sinto nojo, raiva, dor. Tudo junto, ao mesmo tempo, e

choro por várias horas seguidas. Em algum momento,


eventualmente durmo, um sono sem sonhos e triste.
Capítulo 26

OUTRAS VERDADES LIBERTAM

Matthew Fraser

Definitivamente, nada está tão ruim que não possa

piorar. Eu já devia esperar que a vida fosse me derrubar

quando eu abaixasse a guarda, porque é assim que tem sido

nos últimos anos. Quando eu finalmente decidi me abrir, dar


uma brecha, totalmente rendido pelo efeito que Claudia

causa em mim, a vida vem e me bate com força, como um

boxeador treinado e obstinado a me nocautear.

A decepção na voz dela e a dor estampada em seu

rosto fazem com que eu me odeie um pouco mais. Eu teria

feito tudo, qualquer coisa, se pudesse evitar o seu


sofrimento.

Quando Erik me ligou aflito, dizendo que ela tinha se


ferido num acidente, eu já previa que tudo iria desmoronar.
Mas o que mais eu poderia fazer, senão correr até ela e
garantir que estivesse bem, ainda que ferida?

As circunstâncias deste acidente são muito duvidosas


e agora que a fúria está tomando conta do meu âmago, juro

a mim mesmo que irei até às últimas consequências para


encontrar os culpados. Seja o que for que tenha acontecido,
se minhas suspeitas forem confirmadas e Erik estiver por

trás disso, eu vou quebrá-lo. Vou torturá-lo, picá-lo, garantir


que cada pedaço dele sofra, antes de finalmente o

transformar em ração para peixe e jogar no Rio Hudson. Isso


é uma promessa.

Quando Claudia me questiona, não posso mentir.


Ainda que eu queira criar uma desculpa que justifique os

fatos, não consigo. Sou incapaz de mentir para essa mulher,


que deixou sua marca tão profundamente em meu coração e
minha alma. Olhando no fundo dos seus olhos, tão
brilhantes como safiras, respondo a verdade, guardando
ainda uma fagulha de esperança de que minha honestidade
neste momento possa de alguma forma amenizar a

decepção que a mentira e o segredo guardados causem.

Saio do quarto furioso comigo mesmo quando ela me


expulsa e meu primeiro impulso é acertar um soco na
parede do hospital, para descarregar o ódio latente que
corre em mim enquanto não posso despejá-lo sobre quem
tenha me colocado nessa situação de merda.

A pancada na parede alarma os seguranças do andar,


que vêm em minha direção com o olhar apreensivo. Embora
saibam que uma princesa está neste quarto e que sou da
sua equipe, não podem deixar que eu surte aqui e saia
quebrando tudo. Sinalizo para eles com as mãos,

demonstrando que vou me conter, mas quando ouço a porta


abrir atrás de mim e vejo que Erik saiu do quarto, ajo
instintivamente.

Acerto um direto em seu queixo e antes que ele


desabe, seguro o fedelho pelo colarinho do terno. Jogo-o
com intensidade contra a parede à minha frente, com toda a
força que meus braços são capazes de reunir. Ele é tão
burro, disperso e despreparado, que não tem tempo de
reagir à minha investida. Seu corpo atinge a parede e ele cai
como um saco de batatas no chão.

— Você tem culpa nisso tudo, moleque, e eu vou fazer


você pagar!

Os seguranças do andar me agarram pelos braços,

tentando conter minha fúria. São necessários 5 deles para


me segurar, enquanto continuo a investir contra Erik que

agora está de pé e alisa o terno com as mãos, com um ar de

desprezo no olhar.

— Vai mesmo, Matthew? Me conte mais sobre como

você vai fazer isso, porque o que eu vejo não é nada além
de um velho nervosinho sendo contido — ele limpa o sangue

do canto da boca ferida antes de voltar a falar. — Enquanto

eu vou receber honrarias por salvar a vadiazinha de mais um


ataque.
Cada nova palavra que sai da boca dele é como

gasolina sendo jogada sobre uma fogueira acesa. Quero

destruir cada célula do corpo desse idiota, mas os homens


me imobilizam, impedindo que eu avance.

— E sabe o quê mais? Eu já desconfiava que você


comia ela, mas não esperava que fosse tão burro a ponto de

se apaixonar pela princesa mais rodada que existe — ele


continua provocando, e dá um passo em minha direção

enquanto destila seu veneno. — Me conta, cara, ela é tão

larga quanto dizem?

Os seguranças são fortes e empenham toda sua força


para me conter. Talvez eles continuassem conseguindo se

Erik se mantivesse quieto. Mas agora que sua máscara caiu

e ele decidiu abrir a boca imunda para falar da minha


mulher, não existe pessoa no mundo que seja capaz de

impedir que eu amasse ele completamente.

Invisto contra ele, num rompante, escapando dos

braços que me seguravam no lugar, e acerto sua face em


cheio. Erik cambaleia para trás e antes que possa ter

qualquer reação, meu punho encontra seu rosto novamente.

E mais uma vez. E outra.

Sou novamente contido e arrastado para fora do

andar, levado para uma salinha de segurança onde me


trancam. Mas não tenho a intenção de relutar. Agora Erik

teve uma amostra do que o aguarda e, quando eu sair daqui,


é bom que ele saiba e esteja pronto. Porque nada vai me

impedir de caçá-lo.

Claudia Þórhildur

O quarto repentinamente fica mais claro quando as

cortinas são abertas e pisco repetidas vezes até que meus


olhos se adaptem à claridade. Sinto a cabeça latejar

brevemente, mas estou muito melhor do que na noite


passada. Queria poder fechar os olhos e esquecer do que
aconteceu, acreditar que foi um pesadelo e que a qualquer

momento vou acordar.

— Amiga? Consegue me ouvir?

Reconheço a voz de Mila antes de conseguir focar a


visão em seu rosto. Ela carrega um olhar tenso e
preocupado, enquanto analisa as partes do meu corpo que

estão cobertas por curativos.

— Você também se machucou, Mila? O que

aconteceu?

— Não, Claudia. Eu estou intacta. — Quando me


responde, percebo que os olhos de Mila se enchem de

lágrimas — Você se colocou à frente e absorveu todo o

impacto. Não sei como te agradecer por me proteger.

Enquanto ouço a resposta dela, minha mente é

inundada por flashes do dia anterior, como cenas cortadas

de um filme. Começo a lembrar do som da aceleração da


moto, da freada repentina, dos gritos de pavor das pessoas.
É como se eu estivesse assistindo a tudo de um novo

ângulo, como espectadora de um show de horrores.

— Ele foi para cima de você, não é? — questiono

quando as imagens na minha mente completam uma cena

que não faz sentido.

— Sim, amiga, sim! E eu não sei porque, mas por

algum motivo ele queria me acertar e se você não entrasse

na frente, não sei o que teria acontecido comigo.

As lágrimas rolam pesadamente do rosto de Mila,

enquanto ela segura minha mão e acaricia o dorso com os


dedos. Existe culpa e tristeza em seu olhar, mas também

gratidão. Seja lá o que motivou aquele homem a nos atacar,

ele pretendia vitimar Mila e as consequências poderiam ter

sido ainda piores.

— Você me salvou, sua louca, mas precisa prometer

que nunca mais fará algo assim. — Ela soluça, chorando

copiosamente. — Nunca mais se coloque em risco dessa


forma novamente. Você é a única amiga que eu tenho, e

agora é como uma irmã pra mim.

Eu abraçaria Mila, se pudesse, mas a cada novo

movimento que faço todo o meu corpo dói. Limito-me a sorrir


para ela e a acenar com a cabeça, sentindo as lágrimas

correndo pelo rosto e a garganta queimando com as

palavras que engoli enquanto questionava sozinha o que

tinha acontecido.

Depois de algumas horas Mila vai embora, se

comprometendo a me manter atualizada sobre as aulas da

faculdade. A presença dela é a única coisa capaz de aplacar


a confusão que existe dentro de mim nesse momento.

Cochilo algumas vezes durante o dia, sempre um


sono agitado e repleto de sons e lembranças que me fazem

despertar alarmada e aflita. Num desses episódios, percebo

a porta do quarto abrindo e quando estou prestes a gritar

para que Erik saia daqui, como fiz diversas vezes nas

últimas horas, percebo que é outra pessoa.


— Claudia? Você está acordada, filha? — Ouço a voz

da minha mãe quando ela entra no quarto.

Meus pais se aproximam da cama e enquanto meu

pai se mantém de pé ao meu lado, segurando em uma de

minhas mãos, mantendo a compostura, minha mãe se joga

sobre mim na cama e me enche de beijos. Ela investiga por

todo o meu corpo e analisa cada um dos curativos.

— Não se preocupe, querida, este pesadelo está


prestes a acabar. Logo estaremos bem, em casa, e você não

vai mais se lembrar de nada disso.

— Obrigada, mamãe. No momento não há nada que

eu queira mais do que ir para o apartamento e me afundar

naquela banheira com água quente. O chuveiro daqui é

realmente horrível.

— Oh, não, filha. Você não vai voltar para o

apartamento — ela afirma, antes de prosseguir. — Vamos

voltar para casa. Chega de Nova York para você.


Ela só pode estar brincando, não é possível. Meu

corpo todo se enrijece com a ideia de deixar tudo para trás e


voltar para o mausoléu dos meus pais. Não estou pronta

para isso. Não quero isso.

— Nem pensar, mamãe. — Alterno meu olhar entre


ela e meu pai, à procura de algum apoio. — Papai, por favor,

explique a ela. Eu não fiz nada de errado. A culpa não é

minha.

— Não proteste, Claudia. Você vai pra casa e esse

assunto não está aberto para discussão. — Meu pai é

definitivo em sua resposta.

Quero argumentar, contestar, convencê-los de que

estão errados. Contudo, estou tão cansada e deprimida que


desisto porque, no fundo, sei que vai ser do jeito deles. Sei

que não importa o que eu diga ou faça, eles já estão

decididos. Da mesma forma que fizeram quando me

mandaram para cá, agora me levam embora sem permitir

que eu opine sobre a minha própria vida.


— Ok, estou cansada demais para discutir. Só peço

que me deixem ir em casa uma última vez, para me despedir

do apartamento. Vou sentir falta daqui.

— Claudia, se você pretende se encontrar com o Sr.

Fraser não perca seu tempo, ele não estará mais no prédio

quando você for. Ele foi desligado da equipe nesta manhã.

Embora esteja magoada e com raiva de Matthew por

sua mentira, não fico feliz com a notícia e não posso evitar

de pensar em Daisy. Apesar do pouco contato e de tudo o


que aconteceu, a menina está em tratamento médico na

cidade e desconfio que meus pais são os responsáveis por

isso.

Por alguns momentos eu esqueci o quanto esses

dois, meus pais, me magoaram. Quão sujo eles jogaram

colocando um cara para se envolver comigo apenas para me

dominar e vigiar. Quando meu pai fala sobre a dispensa de


Matthew reacende toda a minha fúria.
— Papai, preciso que me diga o motivo. — Busco as

melhores palavras, tentando conter a raiva. — Me diga

porque colocou ele para se envolver comigo. Como você


pôde ser tão baixo? Pagar alguém para namorar a sua filha?

Sua necessidade de controle é tão grande assim?

A reação do meu pai me pega de surpresa. O Rei se

senta na poltrona ao lado da cama, como se tivesse levado

um banho de água gelada e encara minha mãe, preocupado

antes de responder:

— Namorar? Como assim namorar, Claudia? — A

voz do meu pai está carregada de horror. — Nós soubemos


de sua aventura com o Sr. Fraser, mas nada sobre um

relacionamento. Que loucura é essa?

— PAI! Chega de toda essa mentira, de toda essa

loucura. Você o pagou para me seguir, namorar e controlar,


apenas para garantir que eu não mancharia a reputação da
coroa. — Hesito antes de continuar, porque não consigo

mais conter o choro carregado de tristeza e decepção. — Só


não consigo aceitar que o senhor possa ser tão cruel. Como
deixou que eu me apaixonasse por um homem que você

pagou para me comer?

— CLAUDIA! — Dessa vez é minha mãe quem


interpela, aflita. — Você foi deflorada? O Sr. Fraser a
corrompeu?

É inacreditável que, diante de tudo, minha mãe esteja


preocupada com a minha virgindade. Será que tudo que eles

conseguem pensar é na coroa? Na realeza? Nessa porcaria


de vida limitada e tosca, cheia de protocolos absurdos?

— NÃO, MÃE! A PORRA DA MINHA BOCETA

CONTINUA INTACTA, RELAXE! — não consigo evitar de


gritar em resposta. — Pode deixar que você vai conseguir

me servir como um cordeiro abatido para o primeiro nobre


que decidir pagar o preço.

O tapa que minha mãe dá em meu rosto estala tão


alto que, por alguns instantes, acho que fiquei surda do
ouvido esquerdo. Toda a minha pele arde, como se
estivesse esfolada, onde sua mão acertou. Meus olhos

queimam com as lágrimas quentes e quando encaro minha


mãe nos olhos, ela está furiosa. Mas não somente isso, ela

está desgostosa.

— Cale a sua boca, sua insolente. Eu venho te


protegendo, amando e cuidando, por toda a sua vida. Eu

cedi aos seus caprichos, protegi seus interesses e acobertei


a maior parte das suas desventuras. Apenas para garantir
que fosse feliz — ela faz uma pausa para tomar ar, e então

prossegue: — Nunca mais ouse me responder dessa forma,


porque não foi essa a educação que eu te dei.

Se o tapa tivesse vindo do meu pai, doeria menos.


Porque dele eu esperaria essa reação, mas da minha mãe
não. A verdade é que ela sempre foi incrível para mim e se

eu sou como sou é realmente porque ela permitiu. Ela me


enxergou quando necessário e fechou os olhos quando
achou que devia. Sinto-me um lixo por tê-la magoado com

minhas palavras, embora me sinta ferida também.

— Desculpe, mamãe. — Ela não me encara, fitando a


janela do quarto que dá vista para uma praça. — Sei que fui

injusta. Você sempre foi maravilhosa. Mas estou magoada


também. — Minha voz soa baixa. — Por que, mãe, vocês
acharam que pagar alguém para me namorar seria uma boa

ideia? Como puderam fazer isso comigo? — questiono


novamente aos prantos.

— Claudia, ninguém fez isso — agora é meu pai


quem se pronuncia. — Nós contratamos o Sr. Fraser, por

recomendação de Raffaello, como o chefe de segurança


para cuidar de você em sua permanência em Nova York.
Ninguém o pagou para se envolver com você. Física ou

romanticamente.

Ok, essa informação é nova e eu levo algum tempo


para digeri-la. Não faz o menor sentido que eles não o

tenham pagado, porque Matthew se envolveu comigo e me


convenceu a namorá-lo em sigilo. Por que ele trabalha em
minha equipe secretamente?

— Você está se questionando sobre a identidade dele


ter sido mantida em sigilo, eu imagino — a voz do meu pai

não carrega qualquer emoção —, foi uma exigência dele. A


sua fama lhe precede, Claudia, infelizmente. Precisávamos

de alguém por perto para zelar por sua segurança, mas que
não fosse parte vital da sua rotina diária. Alguém que você
não se sentiria tentada a seduzir e corromper, como fez com

o russo que contratamos após o episódio lamentável com a


Princesa Melissa.

Engulo em seco as palavras do meu pai, porque vejo


a verdade nelas. Eu realmente o teria provocado se Matthew

fosse oficialmente da minha equipe. E talvez, se não


tivéssemos nos envolvido por acaso na Labyrinth, eu sequer
notaria sua presença. No entanto, o universo conspirou para

que nossos caminhos cruzassem e quando penso nisso,


sinto novamente um calor no coração como já não sentia
desde que descobri tudo.
Capítulo 27

A DOR É OPCIONAL

Claudia Þórhildur

Estou no quarto dia de internação e não vejo a hora

de receber alta, mesmo sabendo que em breve serei

obrigada a retornar para a Dinamarca. Invisto algumas horas

do dia em ideias mirabolantes para permanecer em Nova


York, mas a verdade é que sem Matthew tudo aqui ficou sem

graça. Todo esse caos me deixou com uma ferida emocional

aberta no peito, que parece se cicatrizar lentamente.

Meus pais foram embora depois da visita, mas

deixaram um novo segurança encarregado de me fazer

companhia. Além dele, agora há uma mulher que


permanece como uma estátua grega no canto interno do
quarto.

— Você parece uma estátua, sabia? — Tento puxar


assunto com a mulher, mas ela se mantém imóvel e calada.
— O gato comeu sua língua? Ou agora além de prisioneira
estou sendo torturada com o silêncio? — Não importa o
quanto eu insista ou o que eu diga, ela segue me ignorando.

Suspiro pesadamente e me lembro do idiota que

costumava ser o responsável pela minha segurança. Não


faço ideia do paradeiro de Erik e não tenho a intenção de
perguntar. Sinto que há algo de errado com ele sempre que

penso nos dias que antecederam o incidente. Desde a visita

de Raffaello, Erik mudou sua postura e muitas coisas


estranhas começaram a acontecer. Queria poder investigar

isso ou falar com Matthew, mas não me sinto pronta.


Embora tenha reacendido a chama da paixão em meu

coração, estou magoada e não sei como agir. Tudo é muito


novo e nebuloso ainda.

Há algo mais me incomodando, desde que os novos


seguranças chegaram. A percepção de que as pessoas ao

meu redor ficam o tempo todo racionalizando formas de


manter minha periquita a salvo, dentro das calças, me
incomoda profundamente. Entender que muitos me vêem

como uma princesa mimada e promíscua gera um


sentimento dúbio de raiva e desgosto.

Ser livre não significa ser promíscua.

Ser promíscua não significa falta de caráter.

Por que as pessoas acham que a liberdade sexual


alheia é um defeito, um aspecto negativo de sua
personalidade? Por que é tão difícil respeitar o gosto e os

desejos dos outros, desde que não prejudique alguém?


Nunca feri uma pessoa sequer com minhas escolhas,
apenas aproveitei os prazeres do meu corpo enquanto
posso. O tempo passa muito rápido e a vida não está
ficando mais longa conforme os dias passam.

Em algum momento tudo isso vai passar, acabar, e

tudo o que vai restar são as memórias dos momentos que


vivi. Quero poder me lembrar orgulhosa da minha juventude
quando for mais velha, sabendo que não me privei de
experimentar os prazeres da vida com uma colher bem
cheia.

Matthew Fraser

Depois de ser levado para a salinha da segurança do

hospital, onde fui mantido por algumas horas, recebi uma


mensagem anônima no celular informando que Erik havia

saído do local e estava no West Side em atitude suspeita.


Aguardei que me liberassem para segui-lo, porque, sabendo

que minha vida está prestes a desmoronar, farei questão de

cair atirando.

Fui dispensado do serviço horas depois do episódio

com Erik no hospital, como era de se esperar. Diante do meu


comportamento não havia dúvidas de que eu seria chutado

para fora, mesmo se não tivesse espancado o rapaz. Não


demoraria a vazar a história de que eu estava me
envolvendo com a princesa e quando isso chegasse aos

ouvidos do rei, como chegou, a rua seria o meu destino. Não

duvido que o portador da notícia tenha sido o projeto mal


finalizado de segurança.

Sinto-me derrotado e perdido. Contudo, evito pensar


em como isso vai destruir minha vida e a recuperação de

Daisy. Neste momento, tudo o que preciso é encontrar o


maldito Erik e fazê-lo pagar.

Imagino que o remetente da mensagem anônima seja


o turco, porque é característico dele fazer esse tipo de coisa.

Sabendo da minha atual situação, certamente foi o meio que


encontrou de me ajudar sem se comprometer. No entanto,

não posso ignorar que talvez seja uma armadilha e Erik

esteja armando para me emboscar depois da surra que


levou. Se for o caso eu espero, pelo bem dele, que ele

venha para cima de mim com tudo. Caso contrário eu o farei


usar o mesmo terno pelo resto da eternidade, e dessa vez
seu trabalho será a sete palmos abaixo da terra —

decompondo-se.

Consulto o mapa pelo celular para me certificar que


estou no endereço certo quando chego a uma rua pouco

movimentada e bem arborizada. Parece uma região


residencial do West Side, mas algumas das casas parecem

ter porões com acesso pela rua, com minúsculas e discretas


escadas, como se fossem pubs e bares escondidos.

Levo algum tempo até encontrar o local indicado


como sendo a posição atual de Erik, e logo que o identifico,

caminho em sua direção. Preparo o celular com a câmera


aberta, pronto para registrar qualquer coisa, mas quando

chego à porta certa o espaço está vazio.

A frustração toma conta de mim e todas as fibras do


meu corpo retesam, tamanho o ódio que sinto. Me fodi, o

pirralho vai se safar e agora vou precisar encarar Daisy e


dizer a ela como seu pai é um bosta, burro e inútil, incapaz

de cuidar dela como merece. A fúria me domina e de súbito,


chuto uma das lixeiras da rua, que voa para longe com um

estrondo. É quando Erik sai de trás de um carro e começa a

correr.

A adrenalina toma conta do meu corpo e eu saio em

disparada atrás dele. A dica estava certa, afinal? Ou o


imbecil pretendia de fato me emboscar e desistiu no último

minuto, assustado com minha reação exasperada?

Corremos por algumas quadras, num ritmo alucinante,

até que ele cometa o pior engano de sua vida e se meta em

um beco sem saída. Quando me dou conta de onde


estamos, paro de correr e caminho pesadamente em sua

direção. Como o legítimo rato que é, primeiro Erik se

encolhe. Depois, vendo que está encurralado, se desespera

e tenta encontrar um meio de me atacar.

Suas reações apenas alimentam mais a minha fúria.

Cada soco que ele dá no ar, cada investida sem sucesso e

cada grito furioso que libera, apenas me fazem sentir ainda


mais forte a energia tenebrosa percorrendo meu corpo.
— Você pretende me acertar ou estamos em algum

tipo de dança escrota, Erik? — provoco o fedelho, porque o

desespero dele me energiza.

— Cala a boca seu velho necrosado. O que você acha

que vai fazer? Me matar? E depois quem vai cuidar da sua

filha?

Erik é um verme baixo e sujo. Usou Claudia para me

provocar antes e agora usa Daisy, porque sabe que meu


sentimento por elas é a única coisa capaz de me tirar do

eixo. Ainda que eu sinta o corpo todo prestes a explodir,

tamanha a fúria, faço o máximo esforço para me conter.

Porque antes de acabar com ele, eu preciso expô-lo e

qualquer um que tenha participado das suas ações contra


Claudia.

— Me conte, Erik, onde você achou que iria chegar


com esse seu joguinho de salvador da pátria? — provoco-o

para que fale. — Você achou mesmo que iria sair como herói
da princesa com essas encenações absurdas e nada sairia

errado?

— Você não sabe de nada, seu merda.

— Ah sim, eu sei. — Desfiro um soco leve em seu

rosto, apenas para deixá-lo mais irritado e falante. — Você

pagou alguém para atacar Claudia e achou que conseguiria


salvá-la para posar de herói, novamente — pauso a fala

para garantir que tenho sua total atenção —, mas é tão burro

que nem isso conseguiu fazer e ela acabou se machucando

de verdade.

— Você se acha tão esperto, Matthew, mas não passa

de um velhote enferrujado que não conseguiu o emprego. O

meu emprego. Ela não era o alvo, seu idiota.

Ótimo, ele está começando a dar com a língua nos

dentes e é preciso garantir que cante para mim como um


passarinho. Quero todos os detalhes, todos os envolvidos e

todas as evidências.
— Claro que ela era o alvo! — eu o provoco, me

fazendo de tolo. — Você pretendia assustar ela e aparecer

no último minuto, para que ela pensasse que mais uma vez

a resgatou. Que a salvou das armadilhas que você mesmo

criou, seu lixo!

Não há nada mais eficaz que subestimar alguém

metido a inteligente. De repente se tornam ávidos para se


mostrar como desenvolveram um plano mirabolante e têm a

certeza que estarão a salvo de quaisquer consequências.

Um erro comum. Verdadeiros gênios não perdem seu tempo

explicando o que fazem, simplesmente executam seu

serviço sabendo exatamente onde pisam.

— Velho burro do caralho. A culpa toda foi dessa


vagabunda, o alvo era a outra. A Mila. Não tenho culpa se a

vadia se colocou na frente da amiga como se fosse a merda

de um escudo humano e se ferrou toda como consequência.

No final das contas, foi merecido.


Basta. Tenho o que eu quero e agora vou arrancar

cada um dos dentes desse verme, para que nunca mais ele
se atreva a falar o nome de Claudia em vão. Acerto uma

sequência de socos nele e desconto parte da minha ira. Mas

me controlo para que ele permaneça vivo. Terei imenso

prazer em entregá-lo pessoalmente a Raffaello para que

faça dele o que quiser.

Jogo um Erik desacordado e coberto de sangue no

banco traseiro do carro e acelero pelas ruas da cidade. Sigo

em direção ao endereço de Raffaello, enquanto verifico se a


gravação da confissão de Erik está audível e respiro aliviado

quando confirmo a qualidade do material. Não consegui

filmar seu rosto, mas o som da gravação bastará como

evidência de culpa e ele vai receber o que merece.

— Raffaello, toma que essa pica é sua! — Jogo o

corpo de Erik no chão, aos pés do turco, antes de continuar:


— Eu te avisei que esse moleque era um merda. Te alertei

sobre a incapacidade dele e os riscos.


Tento controlar minhas reações porque considero

partir para cima do meu amigo e descontar nele parte da

minha frustração e desespero. Finalmente a ficha está

caindo e agora que resolvi a questão com Erik, a realidade

veio ao meu encontro com força total. Fui demitido, ficarei


sem casa, sem dinheiro e minha filha sem a cura que tanto

merece.

— Antes que você decida me nocautear e a gente

acabe rolando no chão como duas vadias numa piscina de

gelatina — o sádico atrai minha atenção —, tenho algumas

coisas para te contar. E depois disso, se você ainda quiser

me matar, já deixo registrado que vou me defender e não


pretendo ser totalmente justo. — Ele ri e aponta para uma

serra elétrica depositada no chão num canto da sala.

Envio para Raffaello o vídeo que contém a confissão

de Erik, enquanto ele me encaminha para uma mesa onde

vamos conversar. Ele tira uma pasta de dentro do paletó,

onde estão reunidas diversas provas do envolvimento do


moleque nos ataques a Claudia — incluindo o episódio do

restaurante.

— Você tem algum problema mental ou o que, cara?

— Dou um soco na mesa e o encaro, tentando entender a

mente do turco. — Você tinha todas essas evidências de que


ele estava fazendo merda e ainda assim deixou ele

responsável por ela?

— Não, não, daddy, nada disso. — Ele ri e se ajeita

na cadeira. — Eu te deixei responsável por ela.

— É o que, seu louco? Você está querendo me

responsabilizar por isso? — Estou prestes a agredi-lo


quando Raffaello responde:

— Não, de forma alguma. Mas ela estava segura em


todo o tempo em que você esteve com ela e mesmo quando
a maluca deu uma de Amelie Poulain e saiu por aí

desbravando o Bronx, ela estava coberta.


— Não estou entendendo, Raffaello. Pare com esses
rodeios e enigmas de uma vez. Estou farto disso!

— Como você deve saber, há uma conspiração por aí.

Uns enviados do satanás que tentam a todo custo derrubar


as monarquias e enchem o saco de quem cuida dessas
pessoas. Depois do ataque à Princesa Melissa, foi preciso

mudar um pouco o modus operandi — ele começa a


explicar, e eu ainda não entendo.

— Quando Erik deu sinais de corrupção,


precisávamos entender se ele estava envolvido numa trama

maior, perigosa, ou se era apenas a porra de uma


borboletinha vaidosa e burra pronta para queimar as asinhas
brilhantes na lâmpada.

Fico em silêncio, absorvendo o que ele diz, esperando


que conclua o raciocínio e revele algo, mas a porra do
maluco fica me encarando com o olhar desvairado e um

sorriso idiota no rosto.


— Porra, Raffaello, fala logo!

— Ele é só uma borboletinha burra, irmão. Uma que

vai ficar sem dedinhos e sem pau, mas apenas uma


borboletinha.

Não consigo evitar a gargalhada que explode quando

ouço a última fala de Raffaello. Esse psicótico esteve o


tempo todo informado sobre o comportamento desprezível

de Erik, estava ciente de todos os riscos e ainda assim


deixou que acontecesse o incidente com Claudia.

— E você achou que não tinha problema em deixar

que ela se ferisse enquanto investigava o cara, turco


maldito?

— Ah, não, claro que tem problemas. Mas quem

imaginaria que ali batia um coração? — Ele ri quando fala,


talvez sem perceber que a qualquer momento eu vou acertar
um soco na sua cara. — Ninguém esperava que a

presidente da SPDC fosse se colocar à frente da princesa do


Bronx e se estourar inteira. Uma pena. Espero que esteja

com a bundinha intacta.

É isso. Fecho a mão em punho e acerto um soco


direto na cara de Raffaello. Não porque o odeie, mas porque

ele colocou minha garota em risco e ninguém, além de mim,


pode falar do corpo dela.

— Eu devia te matar, seu doido de merda, mas eu vou


considerar que estamos quites e vou embora. Faça com o
moleque o que você quiser, eu não me importo.

— Estamos quites. — Raffaello acena com a cabeça,

sorrindo, enquanto limpa o sangue proeminente na boca


inchada pelo soco que recebeu.

Estou quase na porta quando o ouço me chamar. Dou

um passo atrás e o fito por cima do ombro, evitando me


aproximar e tentando localizar a maldita serra elétrica, com

receio de que o arrombado decida me pegar de surpresa e


fazer picadinho de escocês.
— Ah, e antes que eu me esqueça, você foi
readmitido. — fico em completo choque com a notícia —,
mas apenas se a princesa ainda o quiser em sua segurança

pessoal. Essa é a condição da mãe dela.

A informação faz uma bagunça na minha cabeça e


não sei como reagir, porque sinto um furor de alegria em

perceber que Daisy não será prejudicada por minhas ações,


mas imediatamente recordo da forma como Claudia me
dispensou de seu quarto e o pânico retoma seu lugar de

destaque em meu peito. Preciso encontrar um meio de ser


perdoado, ainda que ela nunca mais queira que eu a toque.

Vou embora do local, ansioso por encontrar Daisy na


escola e abraçá-la com o máximo de força.
Capítulo 28

TURBILHÃO DE EMOÇÕES

Matthew Fraser

Depois de todas as emoções dos últimos dias, estou

com o humor mais controlado. Passei algumas noites em

claro pensando em como convencer Claudia a manter meu

emprego e conforme o dia da alta hospitalar dela se


aproxima, mais ansioso me sinto. Ocupei meus dias

integralmente com Daisy, já que no momento não posso

fazer a segurança pessoal da princesa, e isso foi ótimo

porque consegui participar do evento em sua escola e das


sessões mais recentes do tratamento. Falta pouco para que

ela esteja curada, finalmente.

Como parte da nossa rotina diária, levanto-me cedo,


preparo o café da manhã de Daisy e quando estamos ambos

bem alimentados, a acompanho até a escola. Hoje seria


apenas mais um dia comum, como outros tantos, até que

tudo repentinamente se tornou caótico e irregular.


Estamos no elevador, eu e Daisy, quando ouço meu
celular tocar ao longe e me dou conta de que esqueci o
aparelho no apartamento. Seguro a porta com as mãos e

peço que minha filha desça sozinha, enquanto retorno ao


apartamento para buscar o telefone, e espere por mim no
hall de entrada.

Abro a porta com urgência e pego o aparelho,

sentindo a ansiedade aumentar quando vejo o contato do


novo segurança de Claudia na tela. Atendo de imediato,

pronto para ser alimentado por qualquer informação sobre


ela.

— A princesa terá alta hoje, Fraser, por volta do meio-


dia. Esteja pronto para recebê-la em casa. A passagem pelo

apartamento será breve. — Sou informado pelo homem e


me pega de surpresa.

— Rápida? Como assim? Mal saiu do hospital e irá


para a faculd… — Sou interrompido por um barulho
alarmante vindo do corredor, que rouba minha atenção.
Um estrondo, seguido por um som metálico e um urro

de dor me fazer ser preenchido pelo pânico do pior pesadelo


da minha vida. Mesmo estando ainda dentro do
apartamento, no meu íntimo, sei que algo aconteceu com
Daisy e saio em disparada para o corredor, largado o celular
no chão sem me importar com nada além da minha filha.

A cena que encontro é desesperadora e entro em total

estado de alerta, reagindo à situação devido à adrenalina


elevada porque se fosse baseado nas emoções eu teria
caído morto ao chão ao ver Daisy daquela forma.

A porta pantográfica do elevador está aberta e


retorcida. O equipamento não está no andar porque, ao que

parece, desprendeu-se e despencou em queda livre até o


fosso. Daisy está caída no chão, entre a porta do elevador e
o acesso às escadas de incêndio. Coberta de sangue,
desacordada e com a respiração entrecortada. Grito
desesperadamente por socorro enquanto toco em Daisy com

receio, tentando despertá-la.


— Filha, acorda, por favor. — As lágrimas se
misturam ao sangue de Daisy que está em minhas mãos. —
Acorda, docinho, fala com o papai.

Não importa o quanto eu insista, ela não desperta. O

corredor está tomado por vizinhos e ouço quando vários


deles acionam o serviço de urgência. Permaneço durante

todo o tempo ao lado de Daisy no mais completo desespero,


chorando copiosamente, conversando com ela como se

pudesse me ouvir — e espero que possa. Preciso que ela

desperte. Preciso que ela viva.

A ambulância chega em poucos minutos, mas os


paramédicos demoram a subir porque precisam acessar o

andar pelas escadas já que o elevador foi destruído.


Enquanto eles prestam os primeiros socorros, fico ao lado

de Daisy segurando em sua mãozinha frágil e fria. Quando a

equipe finalmente consegue estabilizá-la e colocar na maca,


sou informado de que iremos para o hospital mais próximo,
com urgência, pois minha menina está perdendo muito

sangue e há sinais de hemorragia interna.

Não sou um homem de muita fé e, depois de tudo o

que a vida me fez provar, perdi o pouco de esperança que

tinha em uma força superior. Mas neste momento, vendo


minha filha tão frágil e indefesa, no risco iminente de perdê-

la, tudo o que consigo fazer é rezar. Vou por todo o percurso
na ambulância segurando firme em sua mãe e rezando,

pedindo para que Deus, ou seja lá quem for que comande as

coisas do lado de lá, tenha misericórdia de nós. Que poupe


minha filha, porque sem ela eu sou ninguém.

Fecho meus olhos com força e respiro pesadamente,

tentando controlar o choro copioso que me escapa no auge

do desespero, e clamo por Julie. Que minha esposa, se


puder ouvir minhas orações, interceda por nossa filha. Que

nos dê força neste momento. De alguma forma esse


pensamento traz alguma paz ao meu coração e quando me

dou conta, já estamos no pronto socorro.


Daisy é encaminhada para o centro cirúrgico, e eu

não posso entrar. A equipe me orienta a aguardar por

notícias na recepção e isso faz com que eu me sinta


totalmente devastado. Cada segundo nesse lugar é como

um pesadelo que parece sem fim.

Ajoelho-me no chão e deixo todo o choro contido sair,

enquanto rezo todas as orações que conheço, como se


pudesse receber o máximo de bênçãos assim. Enquanto

estou absorto nesse espiral de emoções, escuto a voz de

Claudia.

— Matthew?

Não consigo responder, apenas levanto meus olhos e

a encaro, ainda atônito. Claudia me vasculha com o olhar,

certamente percebendo meu desespero e todo o sangue de


Daisy espalhado pelo meu corpo e roupas. Ela corre em

minha direção, ainda com dificuldades pelas sequelas do


seu acidente, e se ajoelha junto a mim.
— Matthew, por favor, o que aconteceu? — Ela

irrompe em lágrimas. — Onde está Daisy? O que

aconteceu? — Ela segura meu rosto entre as mãos — Fale


comigo, por favor. O que aconteceu?

— Ela está em cirurgia, Claudia. Minha filha — o


choro interrompe minha fala — ela está ferida. Ela, ela…ela

sangrou muito. O elevador, eu não sei o que aconteceu, não

sei como — as palavras saem desconexas —, ele

despencou e ela…

Não consigo continuar. Meu peito arde e dói enquanto


choro intensamente, o rosto apoiado no ombro de Claudia

que me abraça e acolhe. É difícil dizer quanto tempo se

passa enquanto estamos assim, porque perco as referências

de espaço-tempo. Tudo que consigo pensar é em Daisy.

Depois de muito chorar, sentindo os olhos inchados e


ardendo, me sento em uma cadeira da recepção e Claudia

se mantém ao meu lado. Ficamos em silêncio, juntos, numa

espera angustiante por notícias de Daisy.


Claudia Þórhildur
O dia da minha alta finalmente chegou, mas não sei

dizer se estou realmente feliz. Saber que saindo daqui irei

pela última vez até meu apartamento no Soho, apenas para


uma breve despedida, me deixa magoada. Não consigo

evitar de pensar em Matthew e Daisy, nas coisas que

compartilhamos e em como tudo isso vai me fazer falta.

Desde a conversa com meus pais após o acidente,

muita coisa mudou. Eles decidiram me levar de volta para a

Dinamarca e decidi não relutar. Embora ame a vida que levei


em Nova Iorque, esse lugar não faz mais sentido para mim

frente às decepções que tive.

Faz poucos dias recebemos um dossiê de Raffaello

sobre Erik e tudo foi explicado. Mesmo assim, meus pais

seguem irredutíveis quanto a minha permanência na cidade,


afirmando que somente ficarão tranquilos quando eu estiver

na Dinamarca ao alcance de seus olhos.

Evito pensar que este será o primeiro passo para uma

vida decepcionante. Um casamento insosso, uma vida


regrada e nenhuma diversão. Apesar dos percalços que tive

em minha estadia em Nova Iorque, amei cada nova

experiência. E vou sentir muita saudade de Mila, minha

incrível amiga do Bronx, mais princesa que muitas donzelas

por aí.

— Alteza? Sua alta foi assinada, estamos liberados

para partir — B1 informa, sem emoção alguma.

Apelidei meus novos seguranças de B1 e B2, já que

agora não posso saber seus nomes. De acordo com o


serviço de inteligência, quanto mais eles se aproximam de

mim, mais facilidade eu tenho para enganá-los e corrompê-

los. Da forma como falam até parece que sou algum tipo de

sociopata.
— Já estou pronta, B1. Vambora!

Finjo estar animada, porque ouvi dizer que às vezes é


melhor a gente fingir algo bastante, tanto que até se torne

verdade. Não sei se a técnica funciona, mas quando penso

nisso logo vem à mente a imagem de Matthew e o desejo de

que as coisas entre nós não tivessem ido por um caminho

tão tortuoso.

Lembro-me de nossos primeiros momentos juntos, de


como nossos corpos se conectaram quase imediatamente e

da energia que emanamos um para o outro. Sou capaz de

sentir o toque dele em minha pele apenas por pensar em

nossos momentos mais íntimos e sinto saudades do seu

sotaque, o perfume marcante que impregnava em minhas


roupas e a aspereza de suas mãos grandes e fortes que

sabiam exatamente como dominar meu corpo.

Estou perdida nesses pensamentos enquanto sigo a

caminho da saída do hospital, quando escuto um choro

doloroso e ao procurar a origem do som me deparo com


Matthew. Ele está ajoelhado no chão, quase irreconhecível,

coberto de sangue e tão desesperado que a cena me deixa


completamente devastada.

Sinto todo o meu corpo tremer e o pavor me domina

quando me dou conta de que a única coisa capaz de o


deixar assim é Daisy. Chamo por ele, ainda com esperanças

de ter me confundido, mas quando seus olhos encontram os

meus e a convicção de sua identidade me atinge em cheio,

corro ao seu encontro como se estivéssemos ligados por um

fio que nos une, não importa o quanto tenhamos nos


afastado em algum momento.

Ele não é capaz de me explicar o que aconteceu

porque está abalado demais, mas isso agora é indiferente.

Tudo o que preciso saber é que Daisy se feriu, de alguma

forma, naquele maldito elevador e agora está em cirurgia.

Seguro as mãos de Matt e tento acalmá-lo enquanto ouço


cada uma de suas orações desesperadas.
Quando o médico se aproxima de nós, à procura do

Sr. Fraser, sinto meu corpo ter a energia drenada e temo

desmaiar a qualquer momento. Matthew aperta minha mão

com força, como se estar agarrado a mim fosse de alguma

forma fazer com que as notícias fossem boas.

— Senhor Fraser? Matthew Fraser?

— Sim, sim. sou eu — ele responde com urgência. —

Como está minha filha?

As lágrimas voltam a rolar em seu rosto aflito e a

expressão séria do médico não me permite nenhum palpite.

Não quero pensar no pior, então fecho os olhos por um


segundo, respiro fundo e aguardo enquanto ele nos dá

alguma notícia.

— Me acompanhe, por favor, vamos conversar em um

lugar mais reservado.

A frase do médico basta para esgotar a última gota de

sanidade em Matthew, que o agarra pelo jaleco e sacode


desesperado enquanto grita

— ME FALE DA MINHA FILHA, COMO ESTÁ MINHA

FILHA? ELA ESTÁ VIVA?

O médico tenta se desvencilhar, mas vendo que não

conseguirá, responde, ansioso, para se livrar das mãos do

escocês desesperado:

— Está, senhor! Está! Sua filha está viva!

Matthew solta o médico e cai de joelho no chão, aos

prantos. Chora copiosamente, drenando de si todo o pico de

adrenalina recém-adquirido.

— Ainda assim, senhor, precisamos conversar em


particular — o médico volta a falar, enquanto ajeita o jaleco

novamente no corpo. — Me acompanhe, por favor.

Ele se levanta do chão, quase que automaticamente,


e segue o homem, me puxando consigo pela mão. Quando

chegamos à porta de uma sala na lateral da recepção, no


entanto, o médico tenta impedir meu acesso.
— Somente a família é permitida, senhora, sinto
muito.

Olho para Matthew, que não larga minha mão em

nenhum momento, e respondo num impulso:

— Eu sou a madrasta.
Capítulo 29

É FAMÍLIA, QUE CHAMA?

Claudia Þórhildur

Sei que o médico não acreditou em mim quando me

declarei madrasta de Daisy, mas, considerando o recente

rompante de fúria de Matthew e a firmeza com que segurava

minha mão junto ao próprio corpo, duvido que ele se


atreveria a contestar.

A sala onde estamos é pequena, tem apenas uma

mesa redonda e 4 cadeiras. Sobre a mesa estão algumas

pastas e papéis, que logo percebo serem exames de saúde

de Daisy. Matthew segue em estado de alerta, com uma

expressão no rosto difícil de definir. O médico começa a nos


relatar como a cirurgia ocorreu, explica que foi um sucesso e
que contiveram a hemorragia interna.

Ele explica sobre os traumas sofridos por Daisy, que


além dos danos internos teve a perna direita quebrada,
diversas escoriações pelo corpo, mas que, quase por um
milagre, a coluna está intacta.

— Pode parecer absurdo que eu diga agora que


recebemos um milagre, mas de fato é surpreendente que

diante dos fatos e da gravidade do acidente a menina não


tenha sofrido uma lesão grave na coluna. Principalmente,
diante do seu histórico médico e fragilidade óssea.

— Ela é forte — Matthew responde, rindo e chorando


ao mesmo tempo. — É uma menina muito forte. Muito forte.

— Sim, senhor, ela é — o médico continua, em tom

sereno —, e embora seja forte e a cirurgia tenha sido um


sucesso, ela não está fora de risco, infelizmente.

A notícia cai como uma bomba em nós e sinto meus


olhos voltando a marejar de lágrimas. O carrossel de
emoções está me levando ao limite da sanidade e tenho

vontade de correr, fugir e gritar. No entanto, permaneço onde


estou, em silêncio, segurando na mão do meu marido de
mentirinha, porque nesse momento isso é tudo o que posso

fazer por ele.

— Ela vai precisar de transfusão de sangue, para


repor o que perdeu com a hemorragia e durante a cirurgia —
o médico volta a nos orientar sobre o caso de Daisy. — E o
tipo sanguíneo dela é “O-”, um dos mais complicados de
conseguir doação. Os bancos de sangue estão sempre no

limite com esse tipo.

— Eu sou O negativo! Eu sou, eu posso doar —


Matthew se apressa em dizer. — Eu doo pra ela quanto
sangue você quiser!

— Certo, claro. Vamos fazer o teste Sr. Fraser. Ainda


assim, vamos precisar de mais doadores. Peço por favor

que mobilizem os familiares em campanha pela doação.


Assim garantimos que Daisy receba o tratamento adequado.

— Eu posso doar. — Fiquei tanto tempo em silêncio


que quando falo, minha voz não é nada além de um
sussurro. — Eu também posso doar, Dr. Meu sangue é O-.

A forma como Matthew me encara, é difícil de


descrever. Há gratidão em seus olhos, mas há muito mais.
Há felicidade, amor e fé. Tenho vontade de abraçá-lo e

acolhê-lo como se fosse um menino assustado precisando


de abrigo. Enquanto olho para ele percebo que estou

totalmente rendida. E que, no fundo, a verdade me escapou


dos lábios, mas já existia há muito tempo em meu coração.

Quero que Daisy seja minha família, porque já não sou

capaz de me imaginar sem ela e seu pai.

— Obrigado, Claudia. Muito obrigado — Matt


agradece, beijando minhas mãos. — Daisy vai ficar boa!

— Meu pai também é O-, doutor. Até o momento o


senhor já tem 3 doadores. Espero que seja o bastante para

Daisy, mas, se não for, nós vamos encontrar mais. — Meu

peito se enche de esperança e felicidade. Poder colaborar


com a cura da pequena faz com que eu me sinta

emocionada.
Matthew Fraser

Não tenho palavras para descrever o turbilhão de

emoções das duas últimas semanas. É como se a vida


tivesse decidido passar mais rápido e me obrigar a viver 5

anos em alguns dias.

Passei por momentos felizes, prazerosos,

desesperadores e infernais. Tudo isso com intervalos curtos


de dias e depois de algum tempo parecia que a qualquer

momento uma nova crise começaria. Levou algum tempo até

que eu conseguisse me acalmar.

Foi o avanço na recuperação de Daisy que me

permitiu sorrir de novo. Depois do acidente e todo o trauma


que vivemos, pensei que fosse colapsar. Que a qualquer

momento meu coração pararia de bater e então seria o fim.


Se há algo positivo nisso tudo, foi a reaproximação com

Claudia.

Quando estávamos no hospital, e ela se apresentou


como madrasta de Daisy, senti meu coração errar uma

batida. Entendi imediatamente que ela disse isso apenas


para poder me acompanhar na conversa com o médico e

tentei controlar os pensamentos para não criar expectativas


que poderiam cair por terra a qualquer momento.

Mas quando o médico indicou a necessidade de


transfusão de sangue e ela se ofereceu, todo meu corpo

formigou. Tudo em mim se acendeu porque eu entendi ali


que ainda havia uma chance para nós. Ela estava se

colocando à disposição para salvar minha filha e não

somente ofereceu seu sangue, como fez seu pai, o rei da


Dinamarca, vir doar para Daisy. No fim, por pior que tudo

estivesse, eu sabia que em algum momento nós


encontraríamos um caminho de volta um para o outro.
Quando o dia da alta de Daisy finalmente chegou, no

entanto, eu estava sozinho. Apesar de ter dividido alguns

bons momentos com Claudia, ela acabou indo embora de


volta para a Dinamarca quando o quadro de Daisy

estabilizou.

Eu queria me debater, reclamar e esbravejar. Mas

diante da bênção recebida com a cura de Daisy, me resignei.

Não me sinto em posição de exigir qualquer coisa da vida,

ainda que eu siga constantemente apanhando. Ter minha


filha de volta, curada e recuperada, é o maior prêmio que eu

poderia querer.

Estou na porta do hospital quando o celular toca em

minhas mãos. No visor vejo o nome de Claudia e não evito o

sorriso largo que toma conta do meu rosto.

— Bom dia, princesa.

— Bom dia, daddy — ela responde jocosa. — Já está

com Daisy?
— Ainda não. Estou em frente ao hospital, ela deve

receber alta a qualquer momento. Fui em casa buscar

roupas e as muletas novas, que ela ainda vai precisar usar

por algum tempo enquanto estiver com o pé engessado.

— Excelente! Mande mil beijinhos meus pra ela e

avise que estou a aguardando para a nossa festa das

princesas. — A energia na voz de Claudia me deixa


empolgado, mas é um sentimento estranho porque me sinto

fantasiando algo que nunca acontecerá.

— Queria que você estivesse aqui, Claudia —

confesso, pesaroso. — Queria ter conseguido me explicar,

me desculpar, te mostrar que nem tudo foi em vão.

O silêncio dela no outro lado da linha faz com que eu

me sinta perdido. Como se eu tivesse cruzado um limite

invisível e perdido de vez a sua atenção. Claudia foi embora


sem que tivéssemos conversado e apesar de termos nos

aproximado novamente nos últimos dias devido às

circunstâncias, não é como se fôssemos um casal.


— Espero que vocês saiam logo desse hospital,

daddy — quando ela finalmente responde, é como música


para meus ouvidos —, porque meu voo chega ao JFK em

duas horas e vou precisar que meu segurança pessoal me

dê uma carona.

Claudia solta uma gargalhada divertida e desliga a

chamada, me deixando absorto num mar de ansiedade e

alegria indescritíveis.
Capítulo 30

UMA NOVA PRINCESA

Daisy Fraser

Sempre que eu tento apoiar o pé no chão, sinto uma

dor bem forte por toda a minha perna e me lembro do dia do

acidente no prédio. Foi tudo muito rápido e eu queria ter sido

mais esperta, mas quando percebi o que estava


acontecendo tive sorte em sair de dentro do elevador.

Papai tinha voltado ao apartamento para buscar o

telefone e eu deveria descer para esperá-lo no hall de

entrada, mas estava fazendo frio e pensei que seria uma

boa ideia voltar em casa para pegar mais um agasalho.

Antes que eu pudesse sair do elevador, aquela porta


horrorosa começou a fechar e mesmo usando a muleta não
consegui travá-la.

De alguma forma, a ponta da minha muleta se


prendeu no espaço entre o andar e a porta pantográfica,
fazendo o elevador sacudir e travar um pouco abaixo do
nível do chão. Esperei algum tempo achando que voltaria a
se movimentar, mas o equipamento permaneceu parado no

lugar então decidi tentar sair.

É muito difícil subir escadas com as muletas, pior


ainda sem elas. Puxei de volta a muleta que agarrou na
porta e a usei para me equilibrar e sair de dentro do

elevador, subindo o degrau de volta ao meu andar. Eu só


não esperava que quando estivesse quase do lado de fora

do elevador ele voltaria a se movimentar. Com o susto e o


medo de ficar esmagada, me joguei para a frente, mas
minhas muletas ficaram enganchadas na pantográfica,
fazendo com que meu corpo colidisse com a porta e, depois,

com o chão.

Lembro-me de pouca coisa depois disso porque a dor


me colocou para dormir. Às vezes me lembro da voz do
papai conversando comigo, outras da equipe médica e das
pessoas ao meu redor. Mas o que eu não esqueço é da dor

e da sensação pegajosa do sangue em mim.

Quando a enfermeira entra no quarto com meu papai,

fico radiante porque sei que finalmente é hora de ir pra casa.


Não posso reclamar do tempo que fiquei no hospital porque
não foi realmente ruim. Tinha sempre gelatina de sobremesa
e o canal de desenhos 24h na TV.

Mas sinto saudades do papai quando ele não pode


ficar comigo. Sinto falta dos amigos da escola e até mesmo
das aulas de natação. Alguns dias de repouso não são ruins,
mas muitos são. É chato pra caramba.

— Docinho, papai te trouxe um presente! Está


preparada?

Papai entra no quarto com as mãos para trás,


escondendo alguma coisa, e eu espero que seja um pote
grandão de doces ou um unicórnio de pelúcia bem grande e
macio.

— Me mostra, me mostra!

Ele sorri enquanto vem para perto da cama onde

estou sentada e quando coloca as mãos à mostra, vejo que

papai me trouxe um pacote de marshmallows coloridos. Os


meus favoritos!

— Obrigada, papai! Eu amo esses coloridinhos com


sabor de arco-íris!

Tenho vontade de devorar todos de uma vez, mas o


olhar bravo da enfermeira me faz esconder o pacote no

bolso da jaqueta. Eu, hein!? Vou deixar pra comer em casa,

em paz.

— Está pronta para voltar pra casa, docinho?

— Sim, papai! Estou com saudades do meu quarto e

das nossas coisas — digo em resposta, agitando os braços


de ansiedade —, mas não quero subir de elevador, nunca

mais!

— Não se preocupe, não vai precisar. A partir de hoje

você mora numa casa confortável, com rampa acessível.

Meu papai é incrível e fico feliz com a notícia. Nosso

apartamento não era ruim, mas aquele elevador era terrível


e, depois de tudo o que passei, vou ficar um bom tempo sem

entrar novamente em alguma caixa metálica dessas.

A única coisa que me deixa triste é saber que não

serei mais vizinha de uma princesa. A parte mais divertida

de morar naquele prédio era conviver com a Claudia que,


apesar de ser adulta, era muito mais legal e divertida que as

meninas da minha escola que têm a minha idade.

Acho que esse pensamento me deixou com uma cara

triste, porque papai logo nota que há algo de errado e me

pergunta:
— Está tudo bem, Daisy? Alguma dor? O que houve?

— Ele me aperta e investiga à procura de algum sinal de que

estou sentindo dor.

— Não, papai, está tudo bem. É que agora que vamos

morar em outro lugar quer dizer que não seremos mais


vizinhos de uma princesa, né? Eu gostava de ser amiga da

Claudia. — Dou de ombros.

O rosto do papai se ilumina quando ele escuta como

falo da minha amiga e vejo que ele suspira também. Acho


que o papai está gostando de alguém.

— Vocês vão continuar amiga, docinho. Muito amigas,


te garanto! — ele fala animado e logo me dá uma notícia

excelente. — Inclusive, sua amiga está chegando e nós

vamos buscá-la no aeroporto!

Iuhull! Agora sim estou realmente feliz.

Tenho meu papai comigo, um montão de doces nos

bolsos, estou pronta para ir pra casa e ainda vou receber


minha amiga princesa! Não podia estar melhor!

Matthew Fraser

Depois de buscar Daisy no hospital e lidar com toda a


burocracia do processo de alta hospitalar, que leva bastante

tempo, sigo agitado a caminho do aeroporto. A ligação de

Claudia anunciando a sua chegada e nos convidando para


recebê-la me deu um novo ânimo de vida.

Claro que estou feliz por ver a saúde de Daisy sendo

recuperada e ela cada dia mais saudável. Mas dentro do


peito eu trazia uma partícula de dor impossível de ignorar,

carregando a culpa por ter perdido Claudia em toda aquela

confusão em que nos metemos.

Tudo o que eu quero agora é abraçar minhas duas

meninas e esquecer os dias ruins que tivemos. Quero olhar


para o futuro e acreditar que vai ficar tudo bem, porque

estamos juntos e isso basta.


Epílogo

Matthew Fraser

É novo para mim essa constatação de que realmente me

sinto apaixonado, me sinto entregue e, se fosse deixar meu lado

racional pensar sobre isso, provavelmente, não saberia como agir


devidamente. Por isso, sendo um verdadeiro avanço nas minhas

atitudes tão fechadas e distantes, decido deixar meu emocional me


guiar, pela primeira vez em anos, e dar o devido valor a Claudia e a
tudo o que ela significa para mim.

Não estava nos meus planos me apaixonar por ela, na


verdade, eu nem sabia que era capaz de me apaixonar depois de
tanto tempo, mas Claudia, sendo a força da natureza que é,

quebrou todas as minhas resistências e me fez estar aqui, de peito


aberto e uma vontade insana de adorá-la da cabeça aos pés o

tempo todo.

A maneira como a beijo é intensa, mas mesmo assim, parece

longe de suprir minha fome dela, minha vontade de provar cada


parte de seu corpo numa tentativa sem fim de matar um apetite que

não pode ser derrotado.


E ela me retribui a altura, claro, porque seu desejo

potencializa o meu, assim como o meu potencializa o dela e esse é


o nosso círculo vicioso, delicioso demais para sequer cogitarmos

mudá-lo.

Minhas mãos são ágeis para livrar Claudia das roupas que

cobrem seu corpo, deixando-a nua numa velocidade que chega a

até me surpreender, minha necessidade de tê-la totalmente para


mim me guia completamente, não existe nenhum outro lugar no

mundo que eu queira estar além de aqui, com ela.

Em meio aos nossos beijos afoitos eu também tiro minhas


roupas, deixando-as caídas no chão despreocupadamente, porque

tenho muito mais interesse em provar Claudia por inteiro, dar


atenção à minha garota do jeito que ela merece, do jeito que meu

peito implora para que seja feito.

Quando a jogo na cama, tiro alguns segundos para apreciar

seu corpo perfeito, sentindo minha boca salivar para provar sua

pele. O desejo é forte dentro de mim, tão forte quanto a paixão que
sinto por essa mulher.

Sinto-me um verdadeiro idiota por ter demorado tanto para

aceitar o que meu coração já sabia há tanto tempo porque Claudia


merece ser devidamente amada da cabeça aos pés.

Seguindo meu pensamento, pairo sobre ela para poder

espalhar beijos por seu corpo, subindo do tornozelo até a coxa em

uma velocidade lenta demais para a minha vontade de devorá-la de

uma vez por todas, mas necessária porque eu preciso desse

momento de apreciação.

A sensação de senti-la se arrepiar sob a minha língua me

deixa mais faminto que antes e, após também espalhar beijos por

sua outra perna, alcanço seu ventre, chupando a pele em meio aos

beijos até finalmente chegar aos seus seios.

Neste ponto, os ofegos contidos que Claudia vem soltando se


tornam gemidos explícitos e isso fomenta meu desejo de continuar

provando-a, sugando seu mamilo para dentro da minha boca

enquanto uso minha mão para massagear o seio livre dela, amando

a maneira como ela treme em reação ao meu ato.

Suas coxas contornam meu quadril e me apertam firmemente


em busca de algum tipo de fricção, buscando tentar aliviar um pouco

de todo o prazer que estou dando a ela.


Até poderia deixá-la se divertir um pouco, mas, sem aviso,

faço com que Claudia tenha que soltar suas pernas do meu quadril,
abandonando seu seio para provar outra parte do seu corpo.

Sou direto em me encaixar entre suas coxas, usando minhas


mãos para mantê-las espaçadas e não dando tempo algum para
que ela raciocine sobre o que está por vir, esticando minha língua e

lambendo com devoção da entrada de sua boceta até o clitóris,


sorrindo satisfeito quando isso a faz tremer e gemer ao mesmo

tempo.

Sei o quanto ela gosta de ter seu cu estimulado e por isso


desço minha boca até ele para prová-lo também, mas Claudia me
surpreende ao segurar meu rosto, olhando diretamente nos meus

olhos ao proferir suas palavras, tomada por uma determinação


totalmente convincente.

— Eu quero você aqui agora — ela sussurra de um jeito


provocante que me arrepia por inteiro, esfregando sutilmente sua
boceta por minha boca e queixo. — Quero te sentir nela e, não, não

precisa confirmar se eu tenho certeza porque, acredite, eu tenho.

Nada no mundo pode mudar a decisão de Claudia, assim

como nada no mundo é capaz de mensurar o tamanho do desejo


que sinto ao conseguir realmente compreender as palavras dela,

sentindo meu pau doer pela forma como ele fisga, completamente
duro.

Minha resposta é voltar a devorar aquela boceta deliciosa,


intercalando entre foder sua entrada com a minha língua com
estímulos por seu clitóris, me deliciando em como Claudia fica cada

vez mais molhada com os meus atos.

A intensidade com que a devoro serve para sobrecarregar


sua excitação em um nível em que percebo facilmente quando seu

orgasmo está próximo de romper, algo que me faz parar no mesmo


instante para, assim, voltar a pairar sobre o corpo dela.

— Você está mesmo pronta para isso? — pergunto quando

uso minha mão para empunhar meu pau, masturbando-o um pouco


para tentar aliviar todo o desejo que estou sentindo.

— Por favor… — Claudia leva seus dedos à sua boceta,


estimulando o clitóris antes de afundar dois dedos em sua entrada,
sem desviar os olhos de mim. — Preciso disso.

Após escutá-la, não consigo mais conter os meus impulsos,

me ajustando melhor entre as suas pernas para levar minha glande


até sua entrada, esperando apenas Claudia retirar seus dedos para
substituí-los com todo o meu comprimento, perdendo meu ar com a
sensação de estar realmente dentro da boceta dela.

Observo de boca aberta Claudia fechar os olhos por alguns


segundos enquanto tenta se adaptar com a invasão desconhecida,

apertando-me tanto com o seu canal molhado que não sei como
estou conseguindo me manter sob controle. A excitação é explosiva
e eu me sinto perto de gozar como um adolescente, perdido com o

fato de estar tão tomado pelo tesão.

Todas as minhas transas com Claudia foram incríveis, não


posso negar isso, mas essa, estando aqui como o primeiro homem

dela, parece me transformar em uma confusão de apreciação, sorte


e desejo porque ter o amor de uma mulher como ela é sim algo
digno de sorte.

Seus olhos se abrem para se fixarem nos meus ao mesmo


tempo em que Claudia desliza suas mãos por meus braços antes de

pousá-las na minha nuca, puxando-me assim para que minha boca


se aproxime da dela.

No mesmo instante que a minha garota começa a me beijar

de maneira desleixada, sinto seu quadril ondular contra o meu,


rebolando bem devagar para tentar se acostumar mais rápido com a
invasão inédita.

As primeiras vezes não costumam ser muito boas, mas,

apesar de nunca ter feito algo assim, Claudia se conhece muito


bem, sabe o que dá prazer a ela e essa confiança ajuda com que

ela se adapte mais rápido, acelerando pouco a pouco os


movimentos de seu corpo.

Essa então é minha brecha para iniciar minhas estocadas e,

assim que deixo a primeira ela se treme por inteira e me aperta com
mais força sem saber se me beija ou geme, visivelmente atordoada

com a onda de prazer que meu ato lhe trouxe sem nenhum aviso

prévio.

Mas isso serve apenas para aumentar o incêndio que essa

mulher é porque, como resposta, sua boceta se contrai com força ao


redor do meu pau, tirando de mim um gemido surpreso pela ação.

Agora é impossível manter a calma e o ritmo dos meus movimentos

cresce de imediato, a fodendo forte e rápido enquanto ainda lutamos

para continuar com o nosso beijo, algo que difícil ao considerar


todos os gemidos que estamos compartilhando.
A sensação de foder a boceta de Claudia é incomparável,

não apenas por ela ser absolutamente gostosa, mas porque essa é
a maior prova de que ela me pertence, de que ela quer mesmo

pertencer a mim e, com certeza, vou fazer valer essa oportunidade

que a vida está me dando.

Quero dar a essa mulher tudo o que ela merece, satisfazê-la

das melhores formas possíveis e é nisso que me empenho quando


acelero mais ainda a velocidade das minhas estocadas, metendo

fundo no canal intocado dela para enfatizar que, sim, ela é toda

minha.

Essa emoção de pertencimento mexe com a minha cabeça e


eu não penso quando afasto um pouco minha boca da dela para

segurar seu pescoço com a minha destra, enforcando-a suavemente

sem, em nenhum momento diminuir o ritmo do meu quadril, sorrindo


em meio ao meu prazer quando vejo o quanto minha atitude é bem-

vista por Claudia, que volta a se contrair em resposta ao mesmo

tempo em que se choca contra mim em puro instinto de

necessidade.

— Merda, eu vou gozar, eu vou gozar… — ela lamenta,


deixando claro para mim que não está nada preparada para este
prazer novo que está sendo exposta.

Isso apenas aumenta minha vontade de fodê-la cada vez


mais, desejando deixá-la alucinada, perdida e rendida a tudo o que

estou dando a ela.

Quero que ela nunca esqueça da nossa primeira vez, que

nunca esqueça como sou bom fodendo a boceta dela e, por conta
disso, sem avisá-la, seguro com firmeza suas coxas enquanto, que,

com um tranco rápido, me coloco de joelhos no colchão, mantendo

seu quadril colado ao meu ao mesmo tempo em que minhas


estocadas aceleram, curtas, fortes e rápidas, algo que a deixa

completamente sem reação além de se render ao prazer, gozando

perfeitamente no meu pau.

Ela treme com o orgasmo, e eu continuo a fodendo através

dele, sentindo o calor do prazer me dominar quando enfim gozo


bem fundo na sua boceta, sem pensar em mais nada além do quão

bom é estar ali, dentro dela.

Claudia também parece apreciar porque é rápida para subir

no meu colo e me beijar, segurando meu rosto ao mesmo tempo em

que desconta a intensidade do seu prazer na minha boca e eu


deixo, deixo porque é simplesmente irresistível beijar essa mulher.
Não sei quanto tempo estamos na cama e nem mesmo

contar quantos beijos e carícias trocamos, mas a sensação de


pertencimento é a grande vencedora e paira sobre nós dois como

um presente direto dos céus.

— Quer tomar um banho comigo? — pergunto rente a boca

dela, porque parece impossível deixar de beijá-la, sorrindo quando

Claudia aceita minha proposta.

— De banheira — ela dita, sugando meu lábio inferior antes


de continuar a falar: — ainda quero sentar em você.

Arqueio minha sobrancelha para a declaração dela, ciente do

meu pau estar muito interessado nessa proposta.

— E você vai aguentar? — Apesar da minha pergunta soar

como um desafio, estou realmente preocupado sobre não ser muito

para uma primeira vez.

— Claro que eu vou. — Claudia empina o nariz, sorrindo de


maneira convencida e provocante para mim. — Tem algo que eu

não te dei ainda.

Ao entender o que ela quer dizer, acabo sorrindo também,

puxando-a para um beijo lento, mas malicioso, para demonstrar que


gostei muito da sua ideia.

Com relutância, me separo de Claudia para preparar a


banheira para nós, me sentindo, em definitivo, o homem mais

sortudo do mundo.

Quando tudo está pronto, volto para o quarto e seguro a mão

da minha garota para conduzi-la ao banheiro, onde a banheira cheia


e pronta para o banho já nos aguarda, sorrio quando vejo os olhos

de Claudia brilharem em pura satisfação. Este momento está sendo

importante para nós dois, consigo perceber como isso está sendo

novo para ela e, se depender de mim, será inesquecível.

Com meu auxílio ela entra na banheira e eu entro logo em


seguida, a acomodando com alegria em meu colo e não pode ser

algo casual ela ficar tão bem sobre mim. Talvez eu seja o trono dela

e, Claudia, a minha rainha.

— A água está perfeita — ela elogia enquanto passa seus

dedos por meu rosto, me olhando com uma adoração que eu sei
que é recíproca.

— Que bom, porque eu quero mimar você — respondo

simples, alisando a lateral do corpo dela antes de parar para pegar


uma esponja macia, lavando assim sua pele com muito cuidado. —

Quero cuidar de você, fazer com que se sinta bem.

— Mas você já me faz tudo isso… — ela afirma e, ainda que

tente passar uma postura natural, sei que Claudia está abalada com
a minha revelação. — Você não precisa…

— Sim, eu preciso — a corto, não escondendo o quão

confiante estou nas minhas palavras. — Não só preciso como

quero. — Subo uma das minhas mãos para a nuca de Claudia,


massageando-a antes de segurar com determinação um punhado

de seu cabelo, não machucando, claro, mas dando a pressão certa

para que a minha garota amoleça nos meus braços. — Me deixe te


adorar, Claudia… — Minha boca se arrasta lentamente pelo colo e

pescoço dela, beijando e lambendo a pele de forma suave até

alcançar seus lábios e voltar a falar: — Me deixa te adorar do jeito

que você merece.

— Porra… — Claudia, do seu jeito de sempre, me segura


pelo rosto com total determinação, beijando de maneira desleixada

minha boca antes de continuar: — Nunca pensei que romantismo

também dava tanto tesão, você pode fazer o que quiser comigo.
Minha risada sai abafada porque, logo após sua declaração,
Claudia volta a me beijar e eu não tenho problema algum em

retribuir toda a intensidade dela, enroscando nossas línguas com

uma fome impossível de ser saciada.

Minhas mãos descem para a bunda dela e eu a aperto em


cheio, tirando um gemido afetado de Claudia com o meu ato, ato

esse que a faz começar a rebolar sobre mim em busca de algum

atrito bom o suficiente para aplacar seu desejo.

Meu pau está duro entre nossos corpos e ela faz questão de

estimulá-lo com sua boceta conforme se esfrega por meu


comprimento, tremendo visivelmente sempre que minha glande bate

diretamente na sua entrada recém-violada. Não tenho dúvidas de

que o impacto da primeira vez está pulsando por todo o seu canal, o

que pode fazer com que outra transa agora seja bem doloroso, mas
como Claudia mesmo havia dito, ela tinha outra coisa para me dar e
eu vou atrás dela quando aperto com mais força sua bunda antes de

separar as nádegas com minhas duas mãos.

Sem dizer nada, Claudia usa sua destra para empunhar meu
pau e esfregar a glande pela entrada do seu cu e é realmente muito
visível o quanto ela gosta disso porque seu corpo se arrepia apenas
por esse estímulo, ansiando por mais.

Indo contra os meus instintos, pelo menos por enquanto,


deixo que ela guie do jeito que acha melhor a estimulação, optando

por atacar seus seios e revezar entre eles em sugá-los enquanto a


sinto se esfregar e forçar pouco a pouco minha glande para dentro
de seu canal, pulsando na mão dela sem pudor algum.

Contudo, como paciência não é uma das maiores


características de Claudia, não me surpreendo quando ela

realmente começa a forçar minha glande para dentro de seu canal,


completamente confiante em sua atitude. Por um breve momento
tinha pensado que ela iria dizer para abri-la com meus dedos ou

língua, mas essa mulher simplesmente sabe o que quer e se sentiu


pronta para mim sem que eu precisasse tocá-la.

Não falo nada sobre isso, apenas aprecio — vidrado nos


olhos de Claudia — o quanto ela gosta de descer pelo meu pau e

um gemido baixo escapa da minha boca quando me sinto por inteiro


dentro dela, completamente ciente de que essa mulher será a minha
ruína.
É em sincronia que começamos a nos mover, Claudia
rebolando sobre mim enquanto eu lanço meu quadril contra o dela,
a fodendo com profundidade. A água sai da banheira por conta da

intensidade com que nossos corpos se chocam, mas isso não nos
importa porque o prazer domina cada parte do nosso corpo e mente,

deixando-nos presos um no outro como ímã e metal.

Claudia sobe e desce pelo meu pau com perfeição, sabendo


o jeito certo para impulsionar mais ainda o meu prazer e isso me
deixa insano porque fodê-la acaba se tornando uma necessidade

básica do meu sistema.

Gosto de tê-la rebolando sobre mim, mas não resisto em

mudar de posição, retirando-a do meu colo para colocá-la de costas


para mim, encostada em uma das bordas da banheira. Sou rápido e
instintivo quando me encaixo atrás do corpo de Claudia e a penetro

em um movimento só, segurando com firmeza seu quadril para que


ela não escape das minhas estocadas.

Não que ela quisesse isso, claro.

Seus gemidos se tornam mais altos e mais necessitados e o


meu foco fica preso em fodê-la do melhor jeito possível, fazendo

questão de bater fundo em seu canal e não me retirar dele em


momento algum, tornando minhas estocadas frenéticas e fora de
controle, do jeito que nós dois gostamos.

Claudia implora por mim, implora para que eu continue, que

eu vá mais rápido, que eu acabe com ela e é isso que faço,


castigando seu canal com o meu pau e não resistindo em deixar um

tapa bem estalado em sua bunda gostosa, amando como a carne


macia treme com o impacto.

Minha ação serve para tirar um gemido mais necessitado

ainda de Claudia e isso faz com que eu repita a ação, batendo em


sua bunda enquanto meu pau bate em seu cu, indo tão fundo e forte
quanto possível, ciente de que não terei empecilho algum para

gozar novamente dentro dela.

Essa ideia me agrada muito, muito mais do que pensei que


poderia agradar. Claudia é minha e eu gosto de pensar que posso

deixá-la coberta pelo meu gozo do jeito que achar melhor e que ela
vai me agradecer por isso, porque Claudia gosta de ser minha,
gosta de me pertencer, gosta de se entregar para mim, de ser

saciada por mim e toda essa sensação é poderosa demais,


aumenta o meu prazer a um nível fora do comum.
E, da mesma forma que meus tapas servem para deixá-la à

beira do orgasmo, esse pensamento faz com que meu gozo venha
sem nem mesmo me preparar, me deixando flutuando na sensação
aterradora que é gozar dentro de Claudia.

Sei que seu orgasmo acompanhou o meu pela maneira como

seu cu aperta o meu pau, descontando nele cada um dos espasmos


que o prazer trouxe para o seu corpo, prologando para nós dois a

sensação gostosa de uma boa transa.

Respiro fundo, apesar de ofegante, e me retiro dela para me


sentar e trazê-la para o meu colo, ciente de que nós dois vamos

precisar de um tempo para nos recuperarmos pelo menos um


pouco. Mas, por mim, está tudo bem porque estando com Claudia
em meus braços tenho a certeza de que, quaisquer que tenham sido

as minhas escolhas de vida, mesmo as mais duvidosas, foram


certas porque me trouxeram onde estou hoje.

Tudo parece certo tendo Claudia junto a mim.

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