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Pergentino
Todos os direitos reservados.
Edição digital | Criado no Brasil.
Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
1ª edição
Capa: Vitória Santos
Revisão: Luana Souza
Diagramação: Carolina S. Pergentino
São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte desta obra, através de
quaisquer meios — tangíveis ou intangíveis —, sem o consentimento escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido pelo artigo 184
do Código Penal.
NOTA DA AUTORA
Livros únicos
Grávida Rejeitada pelo CEO
Grávida dos Trigêmeos que o Magnata Grego Rejeitou
Gravida e Abandonada Pelo Barão
PRÓLOGO
Dias atuais
Chicago
Anos antes
Lubbock, Texas
— Pedi para que o Thomas reunisse vocês aqui porque tenho um alerta para fazer — diz o
senhor Joe Carter, um homem de meia-idade muito bem conservado. — Daqui a duas semanas,
minha filha voltará a morar na fazenda. Quero deixar avisado a todos vocês para se manterem
longe da minha garotinha. Conheço de que raça vocês são.
Um silêncio tenso preenche o lugar enquanto todos os funcionários se entreolham com
olhares assustados.
O senhor Joe dá uma tragada profunda em seu cigarro e solta uma nuvem de fumaça que
paira no ar por um momento, até que se dissipa lentamente. Com um gesto brusco, ele joga o
cigarro no chão e pisa nele com força, esmagando-o sob o pé. É como se esse simples ato fosse
uma representação visual do que ele poderá fazer com quem ousar lhe desobedecer.
— Caso eu fique sabendo que algum de vocês ousou tocar em um único fio de cabelo
dela... — Seu olhar é duro e ele segura a arma em sua cintura. Todos os presentes entenderam o
recado. — Não hesitarei em usar todos os meios necessários para limpar a honra da minha filha
— suas palavras cortantes são como lâminas afiadas.
Os olhares dos funcionários se encontram novamente, agora carregados de medo. Eles
sabem o que está em jogo, o que pode acontecer se cruzarem a linha invisível que o senhor
Carter desenhou diante deles.
— Minha filha é o meu bem mais precioso, minha joia rara. Ela é muito linda e chama a
atenção por onde passa, além de ser uma garota muito ingênua. E homens como vocês não são
confiáveis, por isso estou deixando claro o que vai acontecer se ousarem se aproximar dela com
segundas intenções. Tratem-na como tratam a minha esposa. Um dia, ela será a dona disso tudo
aqui. Caso queiram me desafiar, não hesitarei em arruinar a vida de vocês.
Ele foi claro sobre o que acontecerá se ousarem se aproximar de sua filha. A ameaça é
assustadora, e todos os presentes absorvem suas palavras com muito temor.
Ninguém ousará desafiar sua autoridade ou questionar suas intenções. O senhor Joe não
precisa dizer mais nada, a mensagem foi recebida em alto e claro tom. E, com um simples aceno
de cabeça, ele faz um sinal para que eu o acompanhe. Nós nos afastamos, deixando para trás uma
atmosfera carregada de tensão e medo.
— Quero pedir um favor a você, Thomas — diz o senhor Joe quando entramos em seu
escritório.
— Claro, senhor Carter.
Ele sorri amigavelmente.
— Você é o meu homem de confiança. — Segura em meu ombro. — Só confio em você, e
sei que nunca me decepcionaria.
— Sou muito grato pelo que o senhor fez pelos meus pais e por mim.
Cresci em uma família muito pobre. Meus pais estavam passando necessidades quando
vieram pedir emprego ao senhor Carter, e, compadecido com a situação de ambos, que estavam
com um recém-nascido no colo, ele os contratou. Eu fui abandonado na porta dos meus pais,
apenas com as roupas do corpo e enrolado em um cobertor. Eles notaram que eu tinha poucos
dias de vida e se apegaram a mim no mesmo instante em que me viram. Não faço a mínima ideia
do porquê meus verdadeiros pais me abandonaram, e também não sinto vontade de saber o
motivo, muito menos de conhecê-los. Quem eu amo são o homem e a mulher que me criaram
como filho. São eles que eu vejo como os meus pais.
— É por isso que eu o admiro, Thomas — ele declara, olhando-me com uma expressão
séria. — A melhor coisa que fiz nos últimos anos foi promovê-lo a meu capataz. — Então, ele se
afasta, vai até a sua pequena adega, enche dois copos com uísque e estende um deles na minha
direção. — Seu pai ficaria orgulhoso do homem que você se tornou. — Um sorriso sutil se forma
em seus lábios.
Seus elogios são recebidos com um aceno da minha parte e eu aceito o copo oferecido.
Tornei-me o capataz da fazenda após a morte do meu pai, e sei que devo honrar a confiança do
meu chefe. Infelizmente, ele faleceu há cinco anos, lutando contra um câncer nos pulmões em
estado avançado. Foi um baque em nossas vidas. Ele era um fumante inveterado, que fumava em
torno de 50 cigarros por dia. Papai manteve esse vício por muitos anos, e mamãe o alertou para
parar, assim como eu, mas não teve jeito. Quando, finalmente, descobrimos a doença, já era tarde
demais. Menos de dois meses após a descoberta do câncer, ele faleceu. A notícia abalou
profundamente nossa família. Essa perda prematura teve um impacto devastador em todos nós.
Minha mãe, em particular, mergulhou em uma profunda depressão, incapaz de lidar com a dor da
perda e o vazio deixado pela ausência dele. Mas, apesar da tristeza que nos envolveu,
encontramos força um no outro.
Recordando-me desses tempos difíceis, sinto tristeza, mas também gratidão por ter tido um
pai tão amado e uma família unida.
— Obrigado, senhor Carter. Fico feliz que esteja gostando do meu trabalho.
— Você provou ser muito leal, e sei recompensar quem é fiel a mim. — Toma um gole de
sua bebida. — Irei aumentar o seu salário.
Sorrio. Com esse aumento, poderei terminar de construir a casa para a minha mãe, que
prometi a ela. Comprei o terreno há um tempo, porém estava sem dinheiro para a construir.
— Obrigado, senhor Carter. Não sei como lhe agradecer.
— Você pode me agradecer cuidando da minha menina. — Ergo a sobrancelha. — Não
confio em mais ninguém além de você. Quero que seja como uma espécie de guarda-costas da
minha princesinha. — Suas palavras me pegaram de surpresa, no entanto, mantenho uma
expressão neutra conforme ele continua a explicar. — Aonde quer que ela vá, quero que você a
observe de longe sem que ela perceba. Cuide para que ninguém se aproxime dela com segundas
intenções. Tenho planos para ela.
— Fico honrado em saber que o senhor confia em mim para essa tarefa. Mas o que,
exatamente, quer dizer com “planos para ela”? — pergunto com cautela.
Ele respira fundo e depois responde, revelando seu verdadeiro objetivo.
— Eu a quero casada com o filho de um dos meus sócios — sua voz é carregada de
determinação. — E, para isso, ela precisa se manter pura, como manda a tradição.
O seu plano me deixou impactado, contudo, continuo com a mesma expressão neutra. O
que isso pode significar para o futuro da jovem que, agora, tenho a responsabilidade de proteger?
O senhor Carter odeia ser contrariado e a sua palavra nesta região é lei. Ele é muito amigo do
prefeito e do xerife, então, caso queira burlar as leias, nada acontecerá com ele.
— Entendo, senhor Carter.
— Tenho certeza de que vocês se darão muito bem. Eu o vejo como um filho que não tive.
— Segura em meu ombro. — E peço que cuide de Abby como se ela fosse a irmã mais nova que
você não teve.
— Não se preocupe, ela estará segura comigo.
— Tenho certeza que sim. — Sorri.
Lembro-me vagamente da senhorita Abby. O senhor Carter sempre a tratou como uma
princesa, e seus gestos gentis e atenciosos com ela eram evidentes a todos. Por isso, não foi
surpresa quando, aos 5 anos de idade, ela partiu para estudar em um dos melhores colégios
internos, localizado em Wallingford, no Connecticut. Segundo o seu pai, ela merecia apenas o
melhor, e ele estava determinado a lhe proporcionar todas as oportunidades possíveis para
alcançar o sucesso.
Apesar de eu a ver apenas de longe quando ela passeava pelos arredores da fazenda, na
companhia de sua mãe, eu me lembro de como a partida dela deixou um vazio na casa, uma
ausência que era sentida por todos. Mas o senhor Carter estava convencido de que estava fazendo
o que era melhor para ela: investindo em sua educação e futuro.
Após nossa conversa, ele me dispensa e eu volto a tomar conta das minhas tarefas. Vou dar
uma olhada no andamento do plantio de algodão. Caminho pelos campos vastos, observando
atentamente as fileiras de plantas verdes. A fazenda é realmente impressionante. Não é difícil
entender por que o senhor Carter se orgulha tanto dela. Seus campos se estendem até onde a vista
alcança.
Continuo minha inspeção, ficando impressionado com a eficiência e a organização do
plantio. A fazenda, sem dúvida, merece sua reputação como uma das maiores produtoras de
algodão da região.
Minha mente se volta para as inúmeras responsabilidades que recaem sobre meus ombros
como capataz daqui. Além de supervisionar as atividades agrícolas diárias, como o plantio, a
irrigação e a colheita, sou responsável por coordenar e liderar a equipe de trabalhadores. Garantir
que todos estejam cumprindo suas funções de maneira eficiente e segura é minha prioridade
constante. Além disso, devo cuidar da manutenção e reparo dos equipamentos agrícolas,
garantindo que eles estejam em perfeito funcionamento para otimizar nossa produção. Isso inclui
desde os tratores e implementos até os sistemas de irrigação e maquinários de colheita.
— O patrão está com cara de poucos amigos hoje — comenta Max, um dos meus melhores
amigos e funcionário daqui.
— Quando ele não está emburrado? — brinco. — Ele está de mau humor porque um dos
fornecedores atrasou o pagamento. Agora deve estar mais calmo, porque acabaram de acertar
com ele.
— Você o defende porque é o queridinho dele — Max diz, emburrado, e eu gargalho.
— Está com ciúme? — pergunto, zombando.
— Claro que não. Está maluco?
Max é o meu completo oposto, tanto fisicamente, quanto na personalidade. Enquanto eu
tenho os cabelos pretos e olhos amendoados, ele é loiro e de olhos azuis. As únicas coisas em
comum que temos são a nossa altura e idade. Sou mais sério e raramente faço alguma piada, já
ele é extrovertido e brincalhão.
— Não, apenas me pareceu ser ciúme.
— Os funcionários não gostaram do modo como ele nos tratou. Ele pensa que iremos
abusar a preciosa filhinha dele?
— Vocês deveriam estar acostumados com o jeito truculento do senhor Carter. Ele é meio
seco, mas, no fundo, é um homem bom.
— Seco? Ele é ruim, isso sim — debocha. — Você diz isso porque é o capataz e o favorito
dele. Se fosse um reles empregado como nós, pensaria igual ou pior.
— Deixe de besteira — digo, perdendo a paciência com o meu amigo. Às vezes, ele parece
ter inveja de mim e tem horas que sinto vontade de lhe dar uns tabefes. Ele consegue tirar
qualquer um do sério. — Já terminou de ensacar o algodão?
— Sim. Por isso estou aqui. Após o seu discurso, o senhor Carter o chamou até o
escritório. O que ele queria com você? — Ouço a curiosidade em sua voz.
— Ele quer que eu seja um tipo de guarda-costas da sua filha, só isso. — Dou de ombros.
Terminando de escovar o cavalo, dou um último olhar para ele, assegurando-me de que ele
está confortável e bem cuidado. Caminho até a saída, com o meu amigo vindo logo atrás de mim,
e fecho a porta do estábulo com cuidado.
— Hum... A garota deve ser muito linda, para que precise de um guarda-costas. — Ele dá
um sorriso cheio de malícia.
Paro de andar e olho para ele com a minha pior expressão.
— Você não ouviu o que o senhor Carter disse? Quer perder a sua vida? — pergunto,
irritado.
— Não. Mas quem disse que ele precisa saber? — Reviro os olhos. — Se a garota se
interessar por mim, ele não poderá fazer nada.
— Seu imbecil! Ela só tem 18 anos e, provavelmente, é virgem, sem qualquer experiência.
Você é um homem de 32 anos e um devasso. São 14 anos de diferença. Não tem vergonha?
Além disso, o patrão avisou o que fará caso algum de vocês tente algo com a menina —
repreendo-o. — Fique longe dela.
Minhas palavras o cortaram como uma lâmina, trazendo-o de volta à realidade de forma
abrupta. Engolindo em seco, ele concorda, com uma certa relutância.
— Você tem razão. Eu... Eu vou manter distância. Não vou fazer nada para complicar
ainda mais as coisas.
Eu assinto e caminhamos até o balcão onde os funcionários estão almoçando.
Gosto muito do Max, porém, em certos momentos, ele acaba passando dos limites. Não
quero vê-lo ser morto por causa de uma garota que nem sequer saiu das fraldas.
Dias depois
— Eu não posso acreditar que estamos, finalmente, saindo daqui — diz Kim, com seus
olhos brilhando de emoção. — Confesso que vou sentir falta de todas as aventuras malucas que
tivemos nesse lugar.
— Eu sei, amiga. Não acredito que estamos indo para caminhos diferentes — respondo,
tentando conter a emoção que ameaça transbordar. — Mas tenho certeza de que nossa amizade
só ficará mais forte, não importa aonde a vida nos leve.
Estamos paradas em frente ao portão do colégio interno, prontas para partir de volta para
casa. Nós nos despedimos do lugar que chamamos de lar pelos últimos anos. Na semana passada
teve a nossa formatura, na qual todos os nossos familiares estiveram presentes. Pedi que os meus
pais me deixassem ficar por mais tempo no colégio para eu me despedir daqui. Papai queria que
eu voltasse com eles, mas mamãe conseguiu o convencê-lo do contrário.
Damos um último olhar ao nosso redor, absorvendo o ambiente tão familiar que foi o nosso
lar por tanto tempo. As risadas, as lágrimas, as noites de estudo e as conversas... Tudo isso faz
parte das memórias que levaremos conosco para sempre.
— Vamos, Abby, o táxi acabou de parar — fala Kim, segurando em minha mão com
firmeza.
Sinto um aperto no peito ao olhar, uma última vez, para o colégio interno. Depois
caminhamos em direção ao táxi.
O trajeto até o aeroporto é silencioso.
— Vou sentir sua falta — diz Kim quando saímos do táxi.
— Eu também — falo, com a voz embargada.
Acabamos de chegar ao aeroporto de Connecticut e vamos fazer o nosso check-in. É
chegada a hora de nos despedirmos. Nossos destinos nos levarão para lugares diferentes, mas a
nossa amizade se manterá com a distância.
— Quero saber como será voltar ao Texas! Então, não se esqueça de me contar. — Ela me
abraça com força.
— Farei isso. E espero o mesmo de você. — Retribuo o seu abraço com igual intensidade.
É difícil dizer “adeus”, no entanto, sabemos que isso é apenas um “até logo”. Nossa
amizade resistirá a qualquer distância.
— Claro. Como combinamos, manteremos contato. — Ela enxuga as lágrimas.
— Não chora, senão eu vou chorar também — falo, com um nó na garganta, e seco uma
lágrima furtiva.
De repente, meu voo é anunciado.
— É melhor você ir, senão perderá o voo. Faça uma boa viagem.
— Obrigada. Eu te desejo o mesmo. Cuide-se. Nos falamos em breve. — Dou um sorriso
reconfortante.
Com um último abraço, nós nos separamos e cada uma segue o seu próprio caminho. Indo
para o portão de embarque, fico triste pela despedida, mas feliz por estar voltando para casa.
Nosso vínculo é forte o suficiente para suportar qualquer distância.
Quando cheguei ao colégio interno, naquele dia ensolarado de setembro, mal sabia que
estava prestes a encontrar uma amizade que mudaria a minha vida para sempre. Foi no momento
em que pus os pés no meu novo lar, que conheci Kim, a garota que se tornaria a minha
companheira de quarto e minha melhor amiga. Desde o primeiro instante, percebemos que
tínhamos muito em comum: nossos interesses, nossos sonhos e nossas piadas internas. Parecia
que estávamos destinadas a nos conhecer. E, ao longo dos anos, nossa amizade só se fortaleceu.
Apesar de nossas personalidades semelhantes, fisicamente somos muito diferentes.
Enquanto eu sou loira, com olhos violeta e uma estatura baixa, Kim é alta, morena e seus olhos
marrons brilham com uma intensidade única. Seu corpo curvilíneo contrasta com a minha
silhueta mais delicada.
Como todos os adolescentes, tivemos nossos altos e baixos, mas sempre apoiamos uma à
outra nos momentos de dificuldade e compartilhamos alegrias nos momentos de triunfo. E agora,
seguiremos caminhos separados. Sei que nossa amizade permanecerá tão forte quanto sempre
foi, não importa a distância que nos separe. Kim sempre será a minha melhor amiga, minha
confidente e minha irmã de alma.
O voo foi tranquilo e, assim como o meu pai me disse, o capataz estava esperando por mim
no desembarque, exatamente como o combinado. Agora estou sentada no banco da frente, ao
lado dele, e não consigo evitar de continuar o olhando. Thomas é, simplesmente, deslumbrante.
Alto, musculoso e com uma barba aparada que lhe confere um ar de virilidade. Sua pele
bronzeada pelo sol do campo contrasta com seus olhos marrons como o mel, intensos e
penetrantes. Seus cabelos negros e curtos completam o conjunto, transformando-o em uma
verdadeira tentação em formato de homem.
Não escondo o meu interesse. A atração que sinto por Thomas é inegável, é uma força
magnética que me puxa em sua direção. Cada detalhe dele me encanta, e não consigo evitar de
me perguntar como seria estar nos braços desse homem tão viril.
Então, lembro-me das palavras do meu pai e dos avisos sobre os perigos de eu me envolver
com alguém como o capataz. Respiro fundo, tentando afastar os pensamentos impróprios que
invadiram minha mente, afinal, eu não deveria me deixar levar por esses desejos proibidos.
— Faz muito tempo que você trabalha na fazenda da minha família? — pergunto para
quebrar o gelo.
— Sim, já tem alguns anos — ele responde, concentrado na estrada.
— Se eu soubesse que você trabalhava na fazenda, teria vindo passar as férias do internato
aqui.
Seu rosto ganha uma coloração avermelhada e, aparentemente, um leve sentimento de
constrangimento se apodera dele. Eu sabia que não deveria estar flertando com Thomas, mas a
atração é forte demais. Ele desvia o olhar de mim, tentando disfarçar a timidez que tomou conta
dele.
— Seu pai não iria gostar de ouvir a senhorita dizendo essas coisas — sua voz sai em um
tom muito baixo.
— Meu pai não está aqui, estamos apenas nós dois.
— Tenho muito apreço pelo seu pai, senhorita, por isso peço que não volte a falar comigo
dessa maneira. — Sua feição fica séria e eu sorrio.
— Como sabe, meu nome é Abby. Prefiro que me chame apenas de Abby. “Senhorita” é
muito formal.
— Essa é a intenção, sermos formais. Você é a filha do meu patrão, minha patroa também,
e eu sou o capataz, apenas um empregado. Portanto, todas as vezes que a senhorita se dirigir a
mim, deve ser com formalidade.
Reviro os olhos. Terei trabalho para o domar.
— Você não respondeu à minha pergunta anterior. Tem namorada, Thomas? — Olho para
as suas mãos e não vejo sinal de aliança.
— Por que a senhorita insiste nessa pergunta? — Ele olha em meus olhos pela primeira vez
desde que entramos no carro.
— Sou uma pessoa curiosa, só isso. — Dou de ombros. — Então... Estou esperando a sua
resposta.
Ele volta a olhar para a estrada e diz:
— Continuará esperando. Isso não é da conta da senhorita.
Meu sangue ferve de raiva. Odiei a sua resposta mal-educada.
— Sou a sua patroa, como bem disse anteriormente. Deveria ter mais respeito ao se dirigir
a mim.
Agora é ele quem me olha com raiva.
— Você, como minha patroa, não deveria estar me fazendo uma pergunta de foro tão
íntimo. Como falei anteriormente, seu pai não iria gostar de saber que a filha dele está tão
interessada na vida pessoal do seu capataz — ele diz, cheio de desdém.
Ponho minha mão em cima da sua coxa, aproximo-me do seu ouvido e sussurro:
— Sabe que não me importo com o que meu pai pensa.
Ao me afastar dele, percebo o seu pescoço e braço arrepiados. Adorei saber que o deixo
desconcertado.
— Pois eu me importo, e muito. Não perderei o meu emprego por causa de uma pirralha
que ainda usa fralda e bebe leite.
Olho-o, chocada. Como ele teve coragem de dizer isso para mim? Prendo o choro e faço
algo que uma pirralha não faria: seguro o seu pau por cima da calça.
E, minha nossa, é enorme e duro! Ele está duro, e é por minha causa.
— Uma pirralha o deixaria duro desse jeito? — falo com a voz mais sedutora que consigo.
— Merda! — Ele para no acostamento e tira a minha mão dele com brusquidão. — Falarei
sem rodeios. Nós mal nos conhecemos. Sou um homem de 32 anos, e você é uma garota que
completou 18 anos há uns dois meses? O que estou tentando dizer... Você não está lidando com
um moleque da sua idade, eu sou um homem, e sou muito vivido. Você é só uma garota que
acabou de sair da adolescência, e nunca aguentaria um homem como eu. Além disso, gosto de
mulheres mais velhas e experientes. — Sorri de canto.
Suas palavras me deixaram arrasada e com muita vontade de chorar, porém me seguro.
Não irei desabar na sua frente e mostrar a ele que fiquei afetada. Então, engulo em seco, olho em
seus olhos e falo:
— Veremos. — Tiro o meu cinto de segurança e, pelo canto do olho, percebo que ele me
olha, confuso.
— O que está fazendo? Por que está tirando o cinto? Se pensa que vai sair do carro, está
muito enganada.
— Não irei a nenhum lugar. — Sorrio, sedutora.
Sem que ele esteja esperando, subo em seu colo, pondo minhas pernas uma em cada lado.
— Que palhaçada é essa, Abby? Saia daí agora! — Sua mandíbula trinca e ele segura em
minha cintura.
Sinto o seu pau crescer e minha calcinha molhar. Isso é tão excitante. Sou virgem, não
boba.
— Mostrarei a você que não importa a minha idade. Posso ser tão boa quanto uma mulher
mais velha — murmuro, determinada, e antes que ele possa me afastar, eu o beijo.
Sinto o calor dos seus lábios respondendo ao meu e, sem pensar duas vezes, deslizo a
língua em sua boca. Sei que minha audácia o surpreende no início, mas ele se entrega ao desejo e
retribui o beijo.
O momento é excitante. Percebo o calor do corpo de Thomas contra o meu. Cada contato
aumenta a intensidade do nosso desejo mútuo. Nossos lábios se movem em perfeita sincronia,
explorando e saboreando um ao outro com uma paixão avassaladora. É como se o mundo ao
nosso redor desaparecesse, deixando apenas nós dois imersos neste momento de pura entrega.
Por um instante, esqueço todas as razões pelas quais deveríamos nos conter, focando apenas na
sensação deliciosa de estar nos braços desse homem tão viril.
Quando nos separamos, os nossos olhares se encontram, carregados de um desejo que
queima mais intensamente do que nunca. O desejo entre nós parece uma chama ardente. Então,
voltamos a nos beijar com o mesmo fervor. Eu abro o botão de sua camisa e minhas mãos
deslizam pelo seu peitoral trincado enquanto nossos lábios se unem em um beijo apaixonado.
No entanto, assim que alcanço a fivela do seu cinto, ele interrompe o beijo. Olho-o,
entorpecida, sem entender por que ele parou. Sua mão afasta a minha e seus olhos, repletos de
tesão e preocupação, encontram os meus quando ele murmura:
— Estamos indo longe demais, Abby.
Um arrepio percorre minha espinha, misturando-se à frustração e à necessidade pulsante
que queima dentro de mim. Respiro fundo, tentando recuperar a compostura, mesmo que meu
coração esteja martelando de desejo.
— Por quê? Estava tão gostoso — sussurro, sem me importar se ultrapassamos uma linha
tênue.
— Você sabe a resposta. — Delicadamente, ele me tira do seu colo. — Isso que acabou de
acontecer, não irá se repetir.
À medida que ele abotoa a sua camisa e tenta se recuperar, eu sorrio. Thomas não me
conhece; não tem ideia de que não desisto dos meus objetivos.
— Veremos, cowboy.
Ele bufa e volta a dirigir.
Ficamos em silêncio durante o restante do trajeto. Cerca de dez minutos depois, avistamos
a placa com os dizeres: “Bem-vindos à fazenda Green Meadow Ranch”. Um sorriso involuntário
se forma em meus lábios. É como se um pedaço do meu coração, que estivesse adormecido, se
acendesse novamente com a simples visão dessas palavras familiares.
Quando chegamos à fazenda, sou recebida pelos calorosos abraços do meu pai e da minha
mãe. Seus sorrisos transbordam amor e felicidade, e é impossível eu não me sentir amada e
acolhida.
— Por que demoraram tanto? — pergunta papai, olhando para Thomas.
O rosto dele ganha uma cor avermelhada e ele olha para mim.
— O voo atrasou, papai — respondo, sorrindo, ainda sendo abraçada de lado por ele.
— Eu disse para você que devia ser isso — comenta mamãe, com um largo sorriso.
— Posso voltar ao trabalho ou o senhor ainda vai precisar de mim? — questiona Thomas.
Em nenhum momento, ele me olha. Isso só prova que eu mexo com ele.
— Claro, pode ir. — Assim que Thomas se prepara para se retirar, meu pai o chama. —
Venha jantar conosco. Será especial, para comemorarmos o retorno da minha princesinha. Não
aceito um “não” como resposta.
Seu pedido me deixou surpresa. Eu não imaginava que Thomas fosse tão querido pelo meu
pai. Constrangido, ele aceita o convite.
— Traga a sua mãe também — pede minha mãe. — Quero colocar a conversa em dia com
ela.
— Pode deixar, dona Aida. Tentarei convencer a dona Odessa a vir comigo.
— Como o meu marido disse, diga a ela que não aceitamos um “não” como resposta. —
Sorri.
— Direi, sim. — Ele dá um sorriso de canto e eu me seguro para não sorrir como uma
boba. Esse homem é um espetáculo.
Ele tira o chapéu, faz uma breve reverência e se despede. Com um último olhar, afasta-se,
deixando-me com uma sensação de vazio. Eu adoraria ficar mais tempo em sua presença. O que
me consola é saber que poderei fazer isso durante o jantar.
Após a saída de Thomas, com um sorriso radiante em seu rosto, meu pai indaga:
— Como foi o voo, querida? Thomas a tratou bem?
Oh, se tratou. Sorrio ao me lembrar dos seus lábios nos meus e do seu pau duro quando
toquei nele.
— Foi tranquilo, papai. E Thomas foi muito prestativo durante o trajeto — esforço-me para
manter a normalidade em minha voz.
— Eu não esperava menos vindo dele. — Sorri.
Ele assente, com satisfação, aliviado por saber que cheguei em segurança.
Conforme conversamos sobre os detalhes do voo, uma parte de mim ainda está absorta nos
momentos intensos que tive com Thomas.
— O que achou do vestido que estou usando, mãe? — Giro suavemente para que ela possa
vê-lo em todos os ângulos.
Ela sorri, observando atentamente os detalhes do meu vestido.
— É lindo, querida. — Seus olhos brilham com a aprovação. — O azul-claro e as flores lhe
dão um toque delicado, e ele marca a sua cintura de forma elegante. Você está deslumbrante.
Fico feliz com o elogio dela. Seu apoio e aprovação significam tudo para mim, e sei que
posso confiar em sua opinião quando se trata de moda e estilo. Com um sorriso, agradeço-lhe,
sento-me em frente à penteadeira e coloco os meus brincos de pérolas, um dos meus pares
favoritos.
— Há quanto tempo, o Thomas trabalha na fazenda? Eu não me lembro dele. Ele veio
morar aqui depois que fui embora?
— Não. Há muitos anos, ele veio morar na fazenda com seus pais. Você nem era nascida.
Quando você foi morar no colégio, era muito pequena, por isso não se lembra dele.
— Papai parece gostar muito dele.
— Sim. Trata-o como filho.
— Ele tem namorada? — pergunto como quem não quer nada.
— Há algumas semanas, ele terminou com a namorada. Eles vivem terminando e voltando.
Pode ser que amanhã ou depois, eles voltem. Mas por que está tão curiosa sobre o Thomas? —
Ela está desconfiada.
Então, ele tem um relacionamento instável. Saber que ele vive terminando esse namoro,
mas eles logo voltam, deixou-me enciumada.
Viro-me e a encaro.
— Só estou achando curioso o fato de papai gostar tanto de alguém. Eu era muito pequena
quando fui embora, mas me lembro de que ele não era uma pessoa muito querida. Todos tinham
medo dele. O que mudou? — Cruzo os braços.
— Seu pai continua o mesmo. — Revira os olhos. — Ele gosta do Thomas porque a
história de vida dele não é muito boa. Ele foi abandonado na porta de seus pais, e talvez isso o
deixa comovido.
— Sério? Thomas é adotado? — Estou muito surpresa.
— Sim. E ninguém tem ideia de quem são os pais dele e por que eles fizeram isso.
— A ex-namorada dele é bonita? — Quero conhecer a minha rival. Decidi que Thomas
será meu, mas, para isso, preciso saber que tipo de mulher ela é.
— Linda. Parece uma modelo e lembra muito a atriz Megan Fox.
Fico de queixo caído com a resposta da minha mãe. Se essa garota é parecida com a
Megan, ela é perfeita. Será difícil disputar com ela o meu Thomas, mas tenho fé de que
conseguirei domá-lo e de que ele será só meu.
— Lucille é filha do dono do mercado da cidade. Ela não esconde de ninguém o desejo de
levar Thomas para o altar, mas os seus pais não gostam muito dele por ele ser um simples
capataz. Acredito que deve ser esse o motivo de eles viverem terminando e voltando no
relacionamento. De todo modo, acho que Thomas merece ser feliz. Ele é um homem bom, e
acredito que a sua felicidade não é ao lado de Lucille.
— Concordo com a senhora.
— Claro que concorda, está interessada nele. — Eu a olho, chocada. — Não adianta ficar
com essa cara, conheço a filha que tenho. Quero deixá-la avisada de que o seu pai nunca aceitaria
que vocês se envolvessem. Primeiro, por ele ser muito mais velho que você; e, segundo, ele é um
simples empregado.
— Mãe... — eu tento me defender, mas ela me corta.
— Gosto do Thomas. Ele é o genro que qualquer pai e mãe gostaria de ter. Eu não veria
nenhum problema em vocês dois namorarem, mas seu pai veria. Peço que se mantenha longe
dele. Não sei o que seu pai faria se soubesse que você está interessada nele.
— Se a senhora gosta dele, poderia falar com o meu pai. Quem sabe ele muda de ideia.
— Você não entendeu ainda. Seu pai seria capaz de matar o Thomas caso soubesse que
vocês têm alguma coisa. — Arregalo os olhos, em choque. — Para que uma tragédia não ocorra,
fique longe dele.
— A senhora está falando sério? Papai não o mataria, né? — pergunto, nervosa só de
imaginar essa possibilidade.
— Muito sério. Seu pai é capaz de qualquer coisa para alcançar seus objetivos. Imagina se
ele soubesse que sua única filha está tendo um caso com o capataz.
— Mas ele gosta do Thomas, jamais faria alguma maldade com ele. A senhora está errada
e...
— Não estou. Conheço o meu marido. Mantenha-se longe dele, eu suplico — ela pede,
aflita.
— Papai... — Engulo em seco. — Já matou alguém?
Para mamãe ter tanto medo de que ocorra uma tragédia, ele deve ter cometido algum crime
muito grave. Vejo-a abrir a boca para responder, só que somos interrompidas pelo barulho na
porta. Ela pede para a pessoa entrar. É Dolores, uma senhora já de idade, de aproximadamente 70
anos, muito simpática e querida, filha de imigrantes mexicanos.
— Os convidados acabaram de chegar, dona Aida.
Meu coração dispara. Thomas e sua mãe acabaram de chegar. Estou ansiosa para o rever.
— Obrigada, Dolores. Já iremos descer. O que acha das minhas roupas, filha?
Minha mãe é tão elegante e não parece que acabou de chegar aos 50 anos, passaria
facilmente por uma mulher de uns 35 anos. Ela não tem uma linha de expressão e é muito jovial.
Mamãe veste um uma calça de seda bege, quase branca, e sua camisa é de mangas curtas e preta.
Ela usa um par de scarpins também pretos. Está linda. Tenho muito orgulho de ser parecida com
ela. Temos os cabelos loiros na mesma tonalidade. As nossas únicas diferenças estão no
comprimento deles e na cor dos nossos olhos. Seus cabelos são curtos, aproximadamente um
centímetro abaixo do pescoço, e os seus olhos são verdes, já os meus são violeta, como os da
minha avó paterna.
— Está linda, mãe.
Ela sorri, orgulhosa.
— As duas estão lindas — diz Dolores.
Sorrimos para ela, agradecidas, e saímos do meu quarto. Ainda estou um pouco apreensiva
com o que mamãe ia falar antes de Dolores aparecer. Espero que o meu pai não tenha tirado a
vida de ninguém ou cometido algum outro crime. Não sei o que pensaria caso a resposta fosse
sim. Mais tarde, irei tirar essa dúvida com minha mãe.
Ao descermos a escada, parece que o meu coração vai saltar do peito. Estou nervosa e, ao
mesmo tempo, ansiosa para estar no mesmo ambiente que Thomas. Porém, ao entrar na sala,
deparo-me com um casal de mais idade e um rapaz que aparenta ter uns 25 anos, no máximo.
Procuro discretamente por Thomas, mas não o vejo. Provavelmente, ele está a caminho. A minha
única certeza é de que não conseguirei ficar longe dele. Minha mãe terá que me perdoar, mas
sem ele, não ficarei.
CAPÍTULO 03
Eu aperto a campainha e somos recebidos pela dona Dolores, a governanta da casa dos
Carter. Seu sorriso amável nos dá as boas-vindas e adentramos a residência. Na sala,
encontramos o senhor e a senhora Carter em uma conversa animada com o casal Sanders. O
senhor Jonathan Sanders tem negócios com o senhor Joe, então é muito comum sua vinda à
fazenda, e até já trocamos algumas palavras. Diferentemente do senhor Carter, ele é um homem
muito querido pelos seus funcionários e simpático.
Ao notarem a nossa presença, os casais param de conversar e vêm até nós para nos
cumprimentar.
— Cuide bem do Thomas, senão ele acabará se tornando o meu capataz — brinca o senhor
Sanders.
— O salário que eu pago para ele é muito bom. Poucos capatazes ganham tão bem quanto
o meu. Só se ele for um idiota para me trocar por você. — Seu olhar para mim é sério, mas, logo
em seguida, ele sorri e dá uma tragada em seu cigarro.
— Posso oferecer o triplo — replica o senhor Jonathan, com sua voz carregada de
confiança.
— Eu não faria isso se fosse você. — Aponta para a sua arma na cintura.
Por mais que ele aparente estar brincando, todos que estão presentes ficam sem reação. A
tensão diminui quando Dolores surge para nos avisar que o jantar está pronto.
— Aida, chame os garotos para o jantar — pede o seu marido.
— Claro, querido. Já volto.
Depois de ela se retirar, ele pede para que nós o acompanhemos até a sala de jantar.
Tomamos os nossos lugares ao redor da mesa elegantemente preparada. Dolores retorna, e desta
vez acompanhada de mais uma empregada, ambas carregando bandejas repletas de deliciosos
pratos. O aroma tentador da comida enche o ar.
A senhora Aida entra na sala com Abby e o filho dos Sanders. Isso significa que ambos
estavam sozinhos. Então, a minha ficha cai: o senhor Joe a quer casada com o filho de Jonathan.
Não sei por que, mas os imaginar juntos me deixa incomodado. Eu deveria ficar feliz porque ela
me deixará em paz.
A senhora Carter apresenta minha mãe à Abby, que sorri e lhe dá um abraço afetuoso.
Ulrich se senta ao lado de seus pais, e Abby se acomoda ao meu lado. Sua proximidade me deixa
ligeiramente desconfortável.
— Senti saudade — ela sussurra para mim e eu fico todo arrepiado, porém finjo que não a
ouvi.
Abby é a filha do meu patrão, e eu sou o capataz da fazenda e muito mais velho que ela.
Isso nunca daria certo.
No meio do jantar, enquanto todos os presentes interagem, ela põe a mão na minha coxa.
Se me lembro bem, da última vez que ela fez isso, terminou sentada no meu colo. Mas agora,
como estamos com os nossos familiares aqui, ela não fará isso.
Discretamente, tiro a sua mão de mim e murmuro:
— O que você quer, menina? Pare já com isso.
— Eu quero você — sussurra.
— Ficará querendo. Não sou homem para você.
— Depois do jantar, me encontre no celeiro próximo ao jardim.
Não respondo. Essa garota quer me tirar do sério.
No final do jantar, o senhor Carter nos serve mais vinho tinto e oferece um brinde pela
volta de Abby. O clima na sala se torna festivo e sorrisos se espalham pelos lábios de todos. Em
seguida, levo minha mãe de volta para casa.
— Aonde você vai, filho? — ela pergunta depois de eu dizer que precisaria dar uma saída.
— Acabei de lembrar que esqueci a chave do escritório do senhor Carter no celeiro. Não se
preocupe, mãe, não vou demorar. Volto logo. — Tento tranquilizá-la com um sorriso
reconfortante.
Ela parece hesitante por um momento, e, então, assente. Com um aceno de despedida, viro-
me e parto em direção ao celeiro, caminhando em passos largos. O ar fresco da noite me envolve
e minha mente trabalha freneticamente. Só irei ao encontro dela para a colocar em seu devido
lugar. Essa menina passou de todos os limites.
Já no celeiro, vejo-a de costas. Ao notar a minha presença, ela se vira e sorri.
— Você veio. — Abby vem em minha direção, mas antes que ela tente me beijar, eu
seguro em seus braços e me afasto.
— Ficou maluca? Já imaginou o que iria acontecer se o seu pai nos pegasse aqui? —
pergunto, irritado.
— Então, por que está aqui? Meus pais dormem cedo; a essa hora, devem estar no sétimo
sono — brinca. — Nos vimos hoje de manhã, mas, ainda assim, eu estou morrendo de saudade.
— Por que está fazendo isso? Sou sua diversão? Ficar com o capataz é um fetiche?
Minha raiva por ela aumenta a cada minuto. Se essa menina pensa que serei seu
brinquedinho, está muito enganada.
— Não! — ela responde com firmeza e seus olhos buscam os meus. — Eu jamais faria
isso. Realmente gosto de você.
Como é possível gostar de alguém tão rapidamente, depois de apenas um encontro? A ideia
parece absurda demais para ser real.
— Acabamos de nos conhecer, é impossível que você goste de mim. Isso é loucura, garota!
— minha voz soa áspera, carregada de amargura e descrença.
Com um suspiro frustrado, tiro suas mãos dos meus ombros e me afasto ainda mais dela.
— Isso não tem nada a ver, mas compreendo que ache loucura que eu goste de você em tão
pouco tempo. Juro que não estou tentando te iludir. Acredite em mim.
É algo que parece irreal e quase surreal demais para ser verdade.
— Mesmo que seja verdade, isso não muda o fato de que nunca iremos ficar juntos. Sou
mais velho que você e um empregado do seu pai. Ele nunca aceitaria. Entenda isso de uma vez
por todas.
Embora seu olhar seja cheio de tristeza e desapontamento, sei que devo manter minha
postura. Por mais difícil que seja, é melhor enfrentar a realidade do que se deixar levar por
ilusões passageiras.
— Não irei desistir de nós. Você vai ser meu — a determinação ressoa em suas palavras.
Antes que eu possa reagir, sinto seus lábios nos meus, suaves e quentes. Um choque de
eletricidade percorre o meu corpo e uma mistura de surpresa e desejo se agita dentro de mim. Por
um instante, permito-me me sucumbir ao beijo, deixando-me levar pelo calor do momento. Suas
mãos encontram as minhas, envolvendo-as com ternura, e, por um tempo breve, esqueço-me de
todas as razões pelas quais deveríamos nos manter afastados.
Até que a realidade retorna. Com um esforço concentrado, afasto-me delicadamente dela,
olhando nos seus olhos.
— Isso não pode acontecer — digo com firmeza, mas com a voz tremendo ligeiramente
devido à intensidade do momento. — Somos de mundos diferentes. Eu... não posso me
permitir... — Minhas palavras se perdem no ar, sendo interrompidas pelo turbilhão de
sentimentos que me assola.
Embora seja tentador ceder à paixão que arde entre nós, sei que devo resistir, mesmo que
seja difícil.
— Sei que sente o mesmo que eu, por mais que tente negar — ela diz, chateada.
— Você deveria ficar com um homem de sua classe, como o Ulrich — digo, um pouco
irritado, com um nó na garganta.
— Está com ciúme? — Um sorriso brinca em seus lábios como se ela achasse a situação
divertida.
— Eu mal a conheço. Por que estaria com ciúme? — nego com veemência.
Abby inclina a cabeça. Seu olhar está fixo no meu como se ela estivesse avaliando a minha
resposta. Por um momento, fica um silêncio tenso entre nós.
Finalmente, ela solta um suspiro suave e mantém um sorriso divertido nos lábios.
— Hum... Interessante — murmura. — Sabe que suas palavras não me convencem? Você
sente algo muito forte por mim e, muito em breve, compreenderá que não tem como fugir do
nosso destino.
Meu coração dispara com sua resposta e um misto de medo e excitação se agita dentro de
mim. Por mais que eu tente resistir, há algo em Abby que me atrai de maneira incontrolável.
Engulo em seco e respondo, lutando para manter minha voz firme e controlada:
— Somos nós que escolhemos o nosso destino, e eu escolho me manter longe de você.
Abby olha para mim com uma expressão indecifrável e seus olhos brilham com uma
intensidade que me deixa sem fôlego. Por um instante, sinto-me perdido em seu olhar e tentado a
abandonar todas as minhas preocupações e me entregar à paixão que arde entre nós. Ela me
observa com um olhar penetrante, como se tentasse decifrar meus pensamentos mais profundos.
— Tem certeza disso, Thomas? — seu tom é suave e cauteloso.
Devo resistir à tentação e manter uma distância segura entre nós. Mas, por outro lado, há
uma parte de mim que anseia pela nossa proximidade e queima com a urgência de explorar o que
poderia acontecer entre nós.
— Tenho. Vim aqui para dizer que a quero longe. Você sabe que isso nunca daria certo.
Preciso ir embora. Tem algo a mais para dizer?
— Você será meu, e esse dia não vai demorar para chegar. Pode anotar — ela fala,
determinada.
Nada respondo. Com um suspiro resignado, viro-me para sair, disposto a colocar uma
distância segura entre nós antes que seja tarde demais.
CAPÍTULO 05
Depois de mamãe e eu descermos, sou apresentada aos amigos dos meus pais, os Sanders.
Cumprimento-os, com um sorriso polido, tentando transmitir a mesma cortesia que meus pais
sempre esperam de mim nessas ocasiões. No entanto, minha atenção é desviada abruptamente
quando o meu pai me faz um pedido inesperado. Ele sugere que eu mostre ao Ulrich, filho dos
Sanders, a reforma que fizeram no jardim. Fico, momentaneamente, surpresa com o seu pedido,
entretanto, decido não o questionar e o acato.
Conduzindo Ulrich pelo jardim, não posso deixar de sentir uma pontada de estranheza. Por
que meu pai estava tão interessado em exibir o jardim para o filho de seus amigos? Isso não tem
o menor sentido. Porém, apesar das dúvidas que pairam em minha mente, faço como ele pediu.
Caminhamos pelo jardim e eu comento sobre as melhorias que foram feitas. Ulrich
comentou que tem 25 anos, que acabou de terminar o curso de administração e está trabalhando
ao lado de seu pai na fazenda. O que demonstra uma certa dedicação dele à família, algo que
sempre admirei. Ele é um rapaz legal, simpático e muito bonito. Seus cabelos são castanhos e
seus olhos são cinza. No entanto, percebi que, apesar de ser muito bonito, a beleza dele não se
compara à de Thomas, embora isso não diminua o seu charme.
Também acabo comentando como foi minha vida no colégio interno e falo das amizades
que fiz. Ulrich tem um bom papo e confesso que rio de algumas de suas piadas, todavia, por trás
da minha fachada de cortesia, uma sensação de desconforto se apossa de mim, deixando-me com
a incômoda sensação de que algo está fora do lugar.
Mamãe aparece no jardim e anuncia que o jantar está pronto. Isso significa que Thomas
deve ter chegado. A mera ideia de eu o ver novamente faz com que borboletas revirem meu
estômago, e minhas mãos ficam levemente trêmulas. Com um sorriso forçado nos lábios, eu me
recomponho, tentando esconder a ansiedade que ameaça transbordar.
Levanto-me para seguir minha mãe de volta para casa e não consigo evitar que minha
mente retorne às imagens do que ocorreu mais cedo, quando estive no carro com Thomas. Na
sala de jantar, escolho me sentar ao lado dele, mesmo percebendo que, pela sua postura, ele
demonstra estar um tanto desconfortável com minha presença próxima. Não consigo ignorar a
tensão que paira entre nós, mas decido não me deixar abalar por isso.
Enquanto todos se acomodam à mesa, fica evidente que, de fato, ele não está tão à vontade
por eu estar tão perto dele, contudo, decido seguir meu coração e ignorar essa sensação de
desconforto. Em um gesto sutil, sussurro apenas para que ele ouça. Confesso que senti saudade
dele e que gostaria de conversar com ele mais tarde, no celeiro.
Apesar de sua reação inicial, sei que Thomas irá ao celeiro. Vejo, nos seus olhos, a sua
vontade de estar a sós comigo.
Após o jantar, os nossos convidados vão embora e os meus pais vão dormir. Eu vou ao
local combinado, e enquanto Thomas não aparece, ando de um lado para o outro, nervosa e, ao
mesmo tempo, ansiosa.
Quando ele, finalmente, aparece, nossa conversa não é muito amigável, apesar de nos
beijarmos mais uma vez. Thomas insiste que devemos nos manter longe um do outro. É sempre o
mesmo discurso: eu sou a filha do seu patrão, mais jovem que ele, e ele é mais velho. Uma
grande besteira. Vejo que Thomas não mudará de opinião facilmente, por isso resolvo que o
melhor será eu mudar de tática: aproximar-me dele aos poucos. Eu ficar em cima dele só o fará
fugir de mim. Porém, antes que ele se retire, deixo claro que ele será meu.
A luz do sol invade suavemente o meu quarto. Animada, levanto-me e entro no banheiro
para tomar banho. Não demoro muito, e ao sair, visto uma calça que abraça minhas curvas com
perfeição e escolho uma camiseta de alcinhas que se ajusta ao meu corpo de maneira confortável,
realçando minhas formas. Não posso me esquecer das minhas botas e do meu chapéu favorito.
Desço até a cozinha e encontro minha mãe à mesa, tomando o seu café. Cumprimento-a
com um beijo na bochecha. Ela sorri e diz que o café acabou de ficar pronto, então encho a
xícara com a minha bebida favorita.
— Está uma delícia — digo após tomar um gole. — Onde está o papai?
— Ele tomou um café rápido e foi para o escritório. — Revira os olhos. — Seu pai é muito
teimoso. Cansei de dizer a ele que um dia isso vai matá-lo.
— Credo, mãe.
— Só falei a verdade, filha. — Dá de ombros. — E aonde você vai arrumada desse jeito?
— Cavalgar.
— Mas você não sabe andar a cavalo, deveria aprender primeiro.
— É isso que irei fazer — digo, empolgada.
— Quem tem em mente para lhe ensinar? — ela questiona, desconfiada.
— Thomas. Quem mais? — devolvo a pergunta.
— O que eu disse para você ontem? Eu disse para se manter distante dele — ela fala,
irritada.
— Mãe, só irei cavalgar, nada além disso.
— Sei do seu interesse em Thomas. Não tente nada com segundas intenções, se mantenha
longe dele.
— Pode ficar tranquila, mãe. — Pisco.
Dona Aida não volta a tocar no assunto e falamos sobre coisas amenas, como a
universidade que irei cursar e sobre a fazenda estar prosperando cada dia mais. Até fazemos
planos para o próximo fim de semana, como passarmos o dia no SPA do centro.
Após o café da manhã, dirijo-me ao escritório do meu pai. Bato na porta, com um leve
entusiasmo, e entro, encontrando-o imerso em papéis e relatórios.
— Bom dia, papai! — cumprimento-o, com um sorriso radiante que reflete minha
empolgação.
— Bom dia, princesa! Está animada hoje. — Ele me recebe com um olhar gentil.
— Muito, papai. Estou com vontade de cavalgar hoje — minha voz transborda
empolgação. — Será que posso convidar o Thomas para me acompanhar?
Sinto uma pontinha de nervosismo ao esperar pela resposta dele. A ideia de uma cavalgada
ao lado de Thomas faz o meu coração bater mais rápido.
— Claro. É até melhor que você vá com ele, eu ficarei mais tranquilo. — Sorri.
Ouvir meu pai ligar para o Thomas, pedindo que ele venha até o escritório, aumenta ainda
mais a minha expectativa para o passeio que planejo. Aguardamos a sua chegada e eu sinto uma
mistura de ansiedade e antecipação, imaginando como será cavalgar pela fazenda em sua
companhia.
Meu pai me lança um olhar de aprovação e depois anuncia que Thomas está a caminho.
Sinto o meu coração disparar. Nunca fiquei tão nervosa como estou neste momento.
O som das batidas na porta ecoa pelo escritório. Papai ergue o olhar e pede para que eu vá
abri-la.
— Deve ser o Thomas. Abre a porta para mim, querida? — O seu pedido faz o meu
coração disparar.
Eu me levanto prontamente e caminho até lá, com os meus batimentos a mil. Ao abri-la,
deparo-me com Thomas parado diante de mim e com uma cara de poucos amigos.
— Oi! Entre, por favor — convido-o, abrindo espaço para que ele possa entrar.
Ele não está com uma feição muito boa, talvez esteja tendo um dia ruim. Mas, ao olhar
para o meu pai, sua expressão se suaviza. Aí percebo que sua raiva era por minha causa.
— Thomas, que bom que veio — cumprimenta-o meu pai. — Abby está com vontade de
cavalgar hoje. Você se importaria de acompanhá-la?
Thomas parece surpreso. Vejo, no seu olhar, que ele não quer acatar o pedido do meu pai,
mas não tem coragem de recusá-lo.
— Claro, senhor Carter. Será um prazer fazer companhia para a senhorita Abby —
responde ele, olhando para mim.
Sinto um frio de excitação na barriga. Mal posso esperar para ficarmos sozinhos.
CAPÍTULO 06
Observo Abby sair praticamente correndo, talvez com vergonha por termos sido
interrompidos por Max.
— Eu vi o jeito que você olhou para Abby. Se esqueceu da advertência do senhor Carter?
— comento, irritado.
— Não venha com puritanismo. Agora entendo o motivo de me querer longe dela: Abby é
sua galinha dos ovos de ouro, não é? — Ele gargalha.
— Que papo é esse? — Cruzo os braços e fecho a cara. — O que está tentando insinuar?
— Vocês dois estão com as roupas e cabelos molhados, é obvio que tiveram algo. Queria
que eu pensasse o quê?
— Estávamos na cachoeira. O senhor Carter pediu que eu a levasse para dar uma volta em
torno da fazenda. Isso responde à sua pergunta?
— Ele não disse para mantermos distância dela?
— Sim. E, assim como os outros funcionários, estou me mantendo distante. Foi apenas um
passeio. Agora, me responda: o que você quis dizer com “galinha dos ovos de ouro”? Está
insinuando que quero ficar com Abby por interesse? A garota e eu não temos nada, e nunca
teremos, e espero que isso tenha ficado claro. Não quero fofocas na fazenda sobre isso. Não
quero ser prejudicado por causa de mentiras. Estamos entendidos?
— Claro. Não se preocupe, eu jamais prejudicaria um amigo. — Seu sorriso é tão falso.
Acho que me enganei com Max. De uns dias para cá, percebi que ele não é quem diz ser.
Tudo nele soa falso. É melhor eu me manter longe dele antes que ele acabe me prejudicando.
Semanas depois
Passaram-se algumas semanas desde que Abby retornou à fazenda, e, desde então, parece
que não consigo escapar dela. Não houve um dia sequer em que não estivemos juntos. Ela
sempre inventa um pretexto para estar em minha companhia, seja caminhando comigo pela
fazenda ou pedindo para eu lhe mostrar como funciona cada etapa do trabalho aqui. Ela sempre
está ao meu lado.
Às vezes me pego me questionando se isso é certo, se é adequado eu passar tanto tempo
com a filha do meu patrão, especialmente considerando as regras que ele impôs aos seus
funcionários. Mas, por mais que eu tente resistir, é como se fôssemos atraídos um pelo outro de
uma forma que não podemos controlar.
Abby parece saber exatamente como me provocar, sempre vestindo roupas que destacam
suas curvas e soltando comentários de duplo sentido. Cada momento nosso juntos é uma batalha
interna entre o que sei que devo fazer e o que meu coração deseja ardentemente. E, mesmo com
todas as minhas tentativas de resistir, o tesão é tão incontrolável, que terminamos em beijos
apaixonados nos momentos mais inesperados. É como se o mundo ao nosso redor desaparecesse
e ficássemos apenas nós dois, perdidos na intensidade do que compartilhamos. Mas, então, a
realidade volta à tona e eu peço que ela se afaste, que se mantenha longe de mim. Eu digo que
não voltará a acontecer nada entre nós, entretanto, no dia seguinte, estamos nos beijando
escondidos novamente.
Cada vez mais, sinto-me como se estivesse à beira de um precipício, lutando para não cair
na tentação que é Abby. É como se estivéssemos presos em um ciclo vicioso no qual cada
momento nosso apenas intensifica a atração entre nós. A cada dia que passa, é mais difícil
resistir, e não sei por quanto tempo mais conseguirei manter essa distância. Por mais que eu tente
negar, por mais que eu tente me convencer de que isso é errado, é como se estivéssemos fadados
a nos encontrar, independentemente das consequências.
É uma batalha constante entre o que é certo e o que desejo; entre a razão e a paixão. E, do
fundo do meu coração, sei que não posso mais ignorar o que sinto por ela. A química entre nós é
poderosa demais para ser negada, e não sei até quando conseguirei manter essa fachada de
indiferença.
Por enquanto, continuo resistindo, mantendo-me firme na minha decisão de ficar longe
dela. Mas, a que custo?
Levanto-me e vou até a janela do pequeno escritório da fazenda. É muito raro o senhor
Carter trabalhar aqui, ele fica mais tempo na casa. A única pessoa que costuma trabalhar aqui sou
eu. Para mim, é mais fácil, pois acabo ficando perto da colheita de algodão.
De repente, sinto mãos pequenas cobrindo os meus olhos.
— Advinha quem é — ela sussurra com a voz suave.
Um sorriso se formou em meus lábios assim que reconheci a voz de Abby. Retiro dos
olhos delicadamente as mãos dela e, ao me virar, sou surpreendido por um beijo apaixonado que
faz eu me esquecer de tudo ao meu redor. Sinto-me completamente envolvido, perdendo-me no
toque suave dos seus lábios e na doçura do seu cheiro. Por um instante, o mundo exterior
desaparece e só existimos Abby e eu.
Quando, finalmente, nós nos separamos, eu a encaro, com o coração acelerado e uma
sensação de calor percorrendo o meu corpo. Um sorriso involuntário se formou em meu rosto.
Sou incapaz de resistir a essa garota. Nos olhos de Abby, vejo ternura, e isso me faz querer estar
perto dela ainda mais.
Mesmo sabendo que eu deveria manter distância dela, não consigo negar o quanto me sinto
atraído. Por mais que eu tente não ceder, é como se estivesse destinado a voltar para ela,
independentemente das implicações disso. Porque, no final das contas, ela é muito mais do que
eu jamais imaginei, e a simples ideia de estar longe dela me perturba mais do que eu gostaria de
admitir.
— Senti sua falta, Thomas. — Ela olha profundamente nos meus olhos.
— Também senti a sua falta. Mas isso não é certo — respondo, tentando resistir à tentação.
— Já passou da hora de nos entregarmos — ela diz, determinada, e me beija novamente.
O beijo dela é como uma chama ardente que me consome por dentro. Por um tempo, todas
as minhas preocupações desaparecem. Sei que não deveria ceder, porém a atração que sinto por
ela é forte demais para eu ignorar. No entanto, uma parte de mim ainda luta contra, alertando-me
sobre as consequências desse envolvimento proibido.
Quando estou com Abby, todas as minhas preocupações parecem desaparecer, sendo
substituídas por uma sensação de euforia e liberdade.
Aos poucos, vou me deixando levar pelo desejo, entregando-me ao beijo, afinal, não
importa o quão errado seja, eu não consigo resistir a ela. E assim, nós nos perdemos um no outro,
deixando o mundo exterior desaparecer enquanto nos entregamos à paixão que arde entre nós.
— À noite, eu te espero na cabana próxima ao celeiro — Abby sussurra, deixando seus
lábios roçarem de leve nos meus.
Hesito por um momento. Minha consciência me alerta sobre os riscos de eu me envolver
ainda mais com ela.
— Isso é arriscado demais. E se alguém nos vir juntos? — Estou preocupado com essa
possibilidade.
Abby ergue o olhar. Seus olhos refletem o mesmo desejo que o meu.
— Não se preocupe, é impossível que nos vejam. Será tarde, e todos na fazenda dormem
cedo. Além disso, a cabana está longe o suficiente para garantir nossa privacidade — ela
assegura, com uma pitada de malícia na voz.
Respiro fundo, debatendo internamente com o bom senso e com a tentação que é Abby.
— Está bem, vou até a cabana — finalmente cedo, rendendo-me à vontade de vê-la
novamente.
Ela sorri e um brilho de satisfação reluz em seus olhos. Vejo-a se afastar, prometendo me
enviar uma mensagem com o horário exato do encontro, mas antes de partir, puxa-me para mais
um beijo ardente, deixando-me ansiando por mais.
Dirijo até a cabana, com o coração acelerado e os pensamentos tumultuados. A voz da
razão tenta me advertir sobre os perigos, mas a atração que sinto por Abby é mais forte.
Ao chegar lá, fico chocado ao ver o ambiente cuidadosamente preparado. Rosas estão
espalhadas e velas perfumadas iluminam suavemente o espaço. Abby está de costas para mim,
usando um robe preto de seda que realça sua silhueta.
Meu coração dispara ainda mais por eu a ver ali tão sedutora, e o desejo percorre o meu
corpo conforme me aproximo dela. Abby se vira para me encarar e um sorriso travesso brinca
em seus lábios. Sinto-me incapaz de desviar o olhar dela, totalmente hipnotizado com sua
presença.
Agora, tudo o que consigo pensar é que estar perto dela é, ao mesmo tempo, perigoso e
excitante. Ela me fita com olhos cheios de promessas.
— Você gostou da surpresa? — sua voz é calma e tentadora.
Não consigo evitar um aceno de cabeça para confirmar, incapaz de articular palavras diante
dessa cena. Cada passo dela parece uma dança sedutora.
— Eu estava pensando que poderíamos aproveitar um pouco mais do que só cavalgar
juntos. — Seus olhos violeta brilham com malícia.
A onda de desejo continua percorrendo o meu corpo e, mais uma vez, o meu subconsciente
me adverte sobre os perigos de nos entregarmos a esse momento. No entanto, é difícil não ceder
à tentação quando Abby está tão perto de mim e tão tentadora.
Ela enche duas taças com vinho e estende uma delas em minha direção. Aceito-a, com uma
leve hesitação. O aroma do vinho flutua pelo ar, misturando-se ao perfume sutil que preenche o
ambiente.
— Um brinde a nós. — Abby ergue sua taça, hesitante, e eu faço o mesmo.
Respiro fundo, tentando afastar as dúvidas que ainda pairam em minha mente. No fundo,
sei que esta noite pode mudar tudo entre nós, e isso me assusta tanto quanto me atrai.
— A nós — digo, carregado de uma emoção contida.
Nossos olhares se encontram por um breve instante e, em seguida, tomamos um gole do
vinho.
Pegando-me de surpresa, Abby abre o seu robe e o deixa cair no chão. Ela permanece
diante de mim, exalando confiança e uma sensualidade surpreendente. Seu gesto ousado deixou
o meu coração acelerado, e os meus olhos percorrem cada curva do seu corpo. A lingerie preta
ressalta todas elas.
Fico sem palavras por um tempo, apenas admirando sua beleza deslumbrante. É como se o
tempo parasse e estivéssemos envoltos por uma atmosfera repleta de desejo.
— Você... está linda — consigo articular as palavras em um sussurro rouco.
Abby sorri e se aproxima de mim lentamente. Seus olhos estão fixos nos meus como se ela
estivesse me desafiando. Aproximando-se ainda mais, sua presença me envolve em uma névoa
de tesão. Meus sentidos estão em alerta máximo, capturando cada detalhe de sua proximidade.
Cada batida acelerada do meu coração é em resposta à sua presença. Quando, enfim, estamos
frente a frente, posso sentir o calor do seu corpo irradiando contra o meu, e o perfume doce de
sua fragrância preenche minhas narinas.
Sem dizer uma palavra, Abby ergue uma mão e traça com ela um caminho suave ao longo
do meu rosto, provocando-me arrepios de prazer. Minha respiração fica irregular e o meu corpo
fica tenso com a expectativa do que está por vir. Estamos em nosso próprio mundo, isolados do
resto da realidade, onde apenas nossos desejos mais profundos importam.
E, então, sem aviso, seus lábios encontram os meus em um beijo apaixonado e repleto de
urgência. É como se todas as barreiras entre nós desaparecessem, deixando apenas a pura
intensidade da nossa conexão. Em seus braços, sinto-me completo, entregando-me ao momento
sem hesitação.
Quando nos separamos, ainda há um brilho de desejo em seus olhos e uma promessa
silenciosa de que esta noite está apenas começando. E eu estou mais do que pronto para
descobrir aonde isso nos levará.
Abby desabotoa a minha camisa e me ajuda a tirá-la do corpo. Seu olhar é cobiçoso. Ela
não esconde que anseia por esse momento tanto quanto eu. Após tirar minha camisa, tiro a calça
e as botas, ficando apenas de cueca.
— Eu já disse que o seu corpo é perfeito? — Ela olha para o meu abdômen.
— Sim. Você também é linda. — Contemplo-a.
Eu a pego no colo e ela solta um gritinho de surpresa.
— Você me assustou, seu bobo. — Dá um tapa em meu peito.
— Desculpe, não tive essa intenção.
Ela sorri e beija levemente os meus lábios.
Eu a deito na cama, ficando por cima dela.
— Ansiei tanto por esse momento — ela diz, maravilhada.
— Você sempre deixou isso claro. — Rimos.
Desabotoo o seu sutiã. Seus seios são pequenos, cabem nas minhas mãos, e suas aréolas
são rosadas. Eu os ponho na boca, e isso a faz se contorcer.
— Ah... Isso é... tão bom — ela murmura, com a voz trêmula.
Enquanto estimulo os seus seios com lambidas e chupões, enfio os dedos na sua bocetinha
e massageio o seu grelinho duro.
— Minha nossa! — Abby grita quando me aproximo do seu buraquinho intocado.
— Um dia vou meter fundo bem aqui. — Giro o dedo em seu cuzinho.
Seus gemidos se intensificam, deixando-me cada vez mais duro.
Meus beijos se estendem até sua barriga. Chegando perto da vulva, deposito um beijo nela
após abaixar sua calcinha. Minha garota está encharcada. Ela abre a boca para dizer algo, mas se
cala quando abocanho sua bocetinha.
— Oh, Thomas...
Sinto sua respiração acelerar suavemente sob meu toque, e um sorriso brinca em meus
lábios.
— Deliciosa. — Passo a língua em seus lábios, lambendo todo o seu sexo.
Ela projeta os quadris para a frente, abrindo-se toda para mim, e eu movo a língua em toda
a sua abertura, deixando-a cada vez mais encharcada com as minhas lambidas. Chupo o seu
clitóris ao mesmo tempo em que enfio dois dedos nela e faço movimentos de vai e vem.
Então, ela explode em um orgasmo arrebatador.
— Oh! Isso... foi... incrível — Abby diz, sem fôlego.
— Não terminamos.
Posiciono-me em sua entrada e entro lentamente. Ela segura em meus ombros e eu lhe dou
tempo para se ajustar ao meu tamanho. Vejo uma lágrima escorrer pelo seu rosto.
— Quer que eu pare? — sussurro. — Você é... muito apertada.
— N-não... Vai passar.
Beijo os seus lábios delicadamente e começo a me mexer. Retiro o meu pau e volto a entrar
nela com movimentos lentos. Ela grita e arranha as minhas costas. Noto que a dor diminuiu,
sendo substituída pelo prazer.
Meus movimentos se tornam cada vez mais profundos e rápidos.
— Goze comigo, meu amor — gemo, rouco.
Minhas palavras foram o estopim para que ela tivesse o seu primeiro orgasmo. Dou uma
última arremetida, empurrando fundo, e derramo o meu jato quente em sua bocetinha apertada.
Ofegamos enquanto as batidas de nossos corações se acalmam.
— Isso foi incrível — ela fala. Seus belos olhos violeta brilham.
Sorrio, beijo sua testa e ficamos abraçados até os nossos corpos se recuperarem.
Após uma noite maravilhosa ao lado de Thomas, retorno para casa antes que o dia clareie
completamente. Não posso deixar que meus pais saibam que passei a noite fora, pois sei que
seria interrogada.
Enquanto caminho, minha mente está cheia de lembranças da noite anterior. Eu ter me
entregado a Thomas foi, sem dúvida, a melhor decisão que já tomei. Sei que ele me ama tanto
quanto eu o amo, e essa certeza me enche de alegria. Sei que enfrentaremos desafios juntos,
porém estou confiante de que seremos capazes de superar qualquer obstáculo que surgir em
nosso caminho.
Dias depois
Alguns dias se passaram desde que fui pedida em namoro. Thomas e eu continuamos nos
vendo secretamente, alimentando o nosso amor em encontros furtivos e apaixonados. Sempre
invento uma desculpa para convencer o meu pai a permitir que Thomas se afaste por algumas
horas de seus afazeres na fazenda. Nossos encontros costumam ser em lugares escondidos, como
na cabana ou na cachoeira, onde podemos nos entregar livremente ao nosso amor. Apesar dos
riscos de sermos pegos, nossa paixão só parece crescer a cada dia. Cada momento com ele é
precioso e eu aproveito ao máximo a sua companhia.
Mesmo que tenhamos que manter o nosso relacionamento em segredo, isso não diminui a
intensidade dos nossos sentimentos, pelo contrário, parece apenas fortalecer nossa ligação. Sinto-
me sortuda por ter encontrado alguém como Thomas. Não consigo imaginar mais a minha vida
sem ele ao meu lado.
Confesso que não me sinto feliz por ter que me encontrar com o meu namorado escondida,
contudo, a cada vez que penso em revelar a verdade ao meu pai, um frio percorre a minha
espinha. Tenho medo do que isso poderia significar para Thomas e para o seu futuro na fazenda.
Ele é tão importante para mim, que a ideia de eu o perder por causa da nossa relação proibida é
devastadora.
Além disso, tem algo que minha mãe mencionou que continua em minha mente: ela
insinuou que meu pai é um homem perigoso. Eu nunca tive a chance de questioná-la sobre isso.
Sempre que me vejo prestes a iniciar essa conversa, algo acontece para me distrair e eu acabo
deixando para depois. Não posso evitar de pensar que tem segredos ocultos que cercam o meu
pai, e isso só aumenta a minha hesitação em contar a verdade sobre o meu relacionamento com
Thomas. Por mais que eu queira ser honesta com ele, meu medo de que ele possa fazer algo com
Thomas só cresce.
Volto à realidade ao sentir os braços do meu namorado em minha cintura. Ele beija a
minha nuca e eu sinto um arrepio percorrer a minha espinha e um calor se espalhar por todo o
meu corpo. Ele pergunta por que estou tão calada, e eu hesito por um momento antes de
responder, tentando disfarçar minhas preocupações.
— Eu estava apenas pensando em qual universidade seguir — tento soar casual e me afasto
um pouco dele para olhar o cenário ao nosso redor.
O som suave da água me acalma um pouco, porém meus pensamentos continuam
turbulentos. Thomas me olha, preocupado, só que não me pressiona mais sobre o assunto, em
vez disso, puxa-me de volta para os seus braços. Por um tempo, consigo me perder no conforto
de sua presença, mas, mesmo com ele ao meu lado, as preocupações continuam me deixando
inquieta e incerta sobre o futuro.
De repente, escutamos um grito agudo de dor muito perto de onde estamos. Meu coração
dispara com o som e eu olho para Thomas, com os olhos arregalados de medo.
— O-o q-que foi isso? — minha voz treme enquanto me agarro ao seu braço.
Thomas parece tenso e o seu olhar varre o arredor em busca de algo.
— Não sei — há uma preocupação evidente em seu tom. — Mas não parece ter sido muito
longe daqui.
Sem hesitar, nós saímos da cachoeira e nos vestimos às pressas. Questiono-me o que pode
ter causado aquele grito horrível. O medo se junta à curiosidade e uma sensação de apreensão se
instala em meu peito à medida que seguimos na direção do grito. Avançamos cautelosamente
pela trilha estreita. A cada passo, meu coração bate mais rápido, pelo medo do que podemos
encontrar.
Finalmente, descobrimos de onde veio o grito e o porquê. A cena que se desenrola diante
dos nossos olhos é de arrepiar os cabelos da nuca. De joelhos, está um homem se contorcendo de
dor, e suas roupas estão manchadas de sangue. Reconheço as pessoas ao seu redor: é o meu pai e
alguns de nossos seguranças. A visão é assustadora. Prendo a respiração, sentindo um frio
percorrer a minha espinha novamente. Thomas e eu trocamos olhares, ambos chocados com o
que vemos.
Tento caminhar até onde meu pai está, mas Thomas me segura.
— Não faça isso — ele diz ao meu ouvido.
Olho-o, sem entender, então ele me explica.
— Estamos molhados. Ele deduziria que estávamos tomando banho juntos. Quer que ele
saiba do nosso relacionamento?
Chacoalho a cabeça, negando veementemente.
O homem em questão dá outro grito. Ao me virar, vejo-o levando chutes na cara de um dos
seguranças.
Meu Deus! Por que o meu pai está fazendo isso? Ele quer matar esse pobre homem?
— Achou mesmo que eu não descobriria que estava sendo roubado? — pergunta papai.
Apesar de ele estar a uns 50 metros de distância, nós o ouvimos perfeitamente, mas ele não
pode nos ver porque estamos atrás de uma árvore.
— Eu… sinto… — diz o rapaz agredido, com um pouco de dificuldade. Ele tosse e cospe
sangue. — Muito. Peço que me perdoe.
— Você acha que merece perdão? — questiona o meu pai. — Eu nunca perdoo quem me
rouba.
— Senhor Carter…
— Pra quem você vendeu as minhas cargas? — Ele tira a arma da cintura e olha para o
rapaz.
— Ainda não vendi, está tudo em um balcão próximo à minha casa.
— Muito bem. — Papai ergue a arma e aponta para ele. — Agora, você não roubará mais
ninguém. Te vejo no inferno. — Após dizer isso, ele aperta o gatilho.
Eu dou um grito de susto e Thomas tapa a minha boca.
— Fica calma. Vamos sair daqui.
O choque e o horror se mesclam em minha mente enquanto Thomas me puxa para longe
dessa cena horripilante. Meu corpo treme com o que acabei de testemunhar. Nunca tinha passado
pela minha cabeça que o meu pai seria capaz de cometer um ato tão brutal.
Nós andamos rapidamente pela trilha e minha mente permanece em um turbilhão. As
imagens do homem se contorcendo de dor e do sangue manchando o chão não saem da minha
mente.
Entramos no carro que Thomas estacionou perto da cachoeira. Conforme o veículo
percorre o caminho de volta à fazenda, meu corpo continua tremendo. Sinto-me como se
estivesse presa em um pesadelo do qual não consigo acordar. Cada curva da estrada parece
apenas prolongar meu tormento, e as imagens do que testemunhei ainda me assombram.
Thomas se mantém em silêncio ao volante, com a sua expressão séria e concentrada.
A fazenda, por fim, surge à vista.
Ao chegarmos à casa principal, desço do carro com as pernas trêmulas, mal conseguindo
me manter em pé. Thomas me apoia gentilmente. Juntos, caminhamos em direção ao celeiro,
que, a essa hora, está vazio. Todos estão no trabalho. Entrando lá, sou a primeira a falar.
— Você sabia que o meu pai era um assassino?
— Não, Abby. Eu juro que não fazia ideia. Seu pai sempre foi firme, mas nunca imaginei
que seria capaz de algo assim. Estou tão surpreso quanto você.
— Tem certeza? Ele gosta muito de você. Imagino que saiba de todos os negócios dele e o
que ele esconde. É quase impossível que não saiba de seus negócios sujos.
— Eu juro que não conhecia esse lado do seu pai. — Ele anda, tenso, de um lado para o
outro. — Meu Deus! Se eu soubesse que ele era desse jeito, você seria a primeira a saber.
— Você conhecia o rapaz que ele matou? — As imagens daquele homem ensanguentado
não saem da minha mente.
— Sim. Ele era um dos funcionários e, pelo que ouvimos, foi o responsável pelo roubo das
cargas da fazenda.
— Você sabia desse roubo? — pergunto, curiosa.
— Sim. Todos que trabalham aqui, sabiam. Seu pai pediu para que eu ficasse de olho em
todos os empregados. Ele estava suspeitando que poderia ser algum deles, e, pelo jeito, estava
certo.
— O rapaz tinha filhos, esposa ou pais? — Sinto uma angústia no coração. Se ele tinha
família, eles ficarão devastados.
— Não, ele era sozinho no mundo. Ao menos foi essa a resposta que ele nos deu quando
foi questionado.
Assinto. Pelo menos ninguém sofrerá pela sua morte.
— Fazia muito tempo que ele trabalhava aqui?
— Não, uns três meses. Pelo jeito, ele estava aqui com a intenção de roubar o seu pai.
Concordo com um aceno.
— Eu estou tão assustada, Thomas. Não sei o que pensar. Nunca tinha passado pela minha
cabeça que o meu pai era um assassino.
Ele concorda e me abraça.
— Vai ficar tudo bem, Abby. Se acalme. Será melhor fingirmos que não vimos nada. Será
melhor.
— Agora entendo por que minha mãe pediu para que eu me mantivesse longe de você.
Nós nos afastamos e ele indaga, surpreso:
— Sua mãe sabe sobre nós?
— Não. Na verdade, desde o início, ela notou o meu interesse em você, por isso pediu para
que eu ficasse longe. Ela disse que o meu pai era um homem perigoso, mas não explicou o
motivo. Agora entendo. — Solto um longo suspiro. — Mas não mandamos no coração, não é
mesmo?
— Tem razão, meu amor. — Ele beija a minha testa.
— Eu quero fugir com você. Sei que é uma loucura, mas se nos amamos de verdade,
devemos ficar juntos. Meu pai nunca aceitará o nosso relacionamento depois do que aconteceu, e
será mais seguro para nós fugirmos.
Sei que o meu pai seria capaz de matá-lo por ter se aproximado de mim.
— Abby, essa é uma decisão muito séria. Não podemos, simplesmente, fugir assim. Temos
que pensar em todas as consequências.
— Eu sei, mas não podemos ficar aqui. Eu não suportaria viver com o meu pai por muito
tempo depois de ter descoberto do que ele é capaz. Agora, mais do que nunca, tenho certeza de
que ele seria capaz de te matar caso descobrisse que estamos juntos. Se algo acontecesse com
você, eu nunca me perdoaria.
— Eu entendo, Abby, mas fica calma. Odeio vê-la assim, apavorada.
— Também detesto estar assim, mas depois daquela cena, nunca mais olharei para o meu
pai do mesmo jeito.
— Compreendo, meu bem. Irei pensar sobre isso, mas precisamos ter certeza de que é a
melhor opção.
— Obrigada, amor. Eu confio em você e sei que a sua resposta será sim.
Despeço-me de Thomas com um beijo apaixonado e sinto um peso no coração com a
incerteza do que o futuro reserva. Antes de voltar para casa, prometo que logo nos
encontraremos.
O que eu vi me deixou tão abalada, que pretendo ficar uns dias em casa, tentando me
acalmar. Não sei quando voltarei ao normal. Não verei mais o meu pai como antes após tudo que
presenciei.
Ando de volta para casa, com os passos mais lentos que o normal. Minha mente está
tomada pelos acontecimentos de minutos atrás. Pergunto-me se fiz a escolha certa ao sugerir a
fuga. Amo Thomas e não vejo outra maneira de ficarmos juntos definitivamente.
Abro a porta de casa e encontro Dolores limpando a estante. Pergunto a ela onde está
minha mãe.
— Ela está no quarto, minha querida. Acho que está se sentindo um pouco indisposta hoje.
— Irei ver o que ela tem. Obrigada. — Eu beijo a sua bochecha e ela sorri.
Em seguida, dirijo-me ao quarto da minha mãe e a vejo deitada na cama, com uma
expressão de cansaço no rosto.
— Mãe, como você está se sentindo? Dolores comentou que a senhora não estava se
sentindo muito bem.
— Não muito bem, querida. Mas acho que é só uma indisposição passageira. Vai passar,
não se preocupe.
Aproximo-me e me sento ao lado dela. Preocupada com o seu estado de saúde, insisto:
— A senhora tem certeza? Se precisar de alguma coisa, estarei aqui para ajudar.
Ela sorri, apreciando o meu carinho.
— Tenho. Obrigada, minha querida. Mas, me conte: como foi o seu dia?
Lembro-me da cena que presenciei há poucos minutos.
— Foi um dia tranquilo. Passei a tarde na cachoeira, aproveitando o ar fresco.
Ela assente, parecendo satisfeita com a minha resposta.
— Que bom, querida. Espero que tenha sido revigorante.
— Foi. E onde está o papai?
— Ele saiu; disse que tinha uns assuntos para resolver. Creio que já deve estar retornando.
— Precisamos conversar sobre ele — digo, séria.
— O que aconteceu? — ela indaga, assustada.
Respiro fundo antes de começar a lhe contar sobre o que aconteceu perto da cachoeira. Ela
precisa saber que se casou com um assassino.
CAPÍTULO 09
— O que devemos fazer com o corpo, senhor? — pergunta um dos meus novos
seguranças, com um tom de urgência.
— Jogue-o em qualquer lugar — respondo, sem rodeios.
Ele parece hesitar por um momento, claramente, preocupado com as possíveis
consequências das nossas ações.
— Mas, senhor, se fizermos isso, a polícia vai investigar...
Interrompo-o com um olhar firme, deixando claro que não aceito questionamentos.
— Eu sou o dono desta cidade, minha palavra é lei. Não haverá investigações. Faça o que
eu disse.
Assustado, o rapaz assente, compreendendo que as minhas ordens são leis.
Aquele cretino teve o destino que procurou. O miserável foi audacioso ao me roubar e
pensou que iria se safar. Ninguém passa a perna em mim, e caso ousem tentar me enganar, eu
mesmo julgo, dou a sentença e aplico a lei. Afinal, nesta cidade, sou eu quem mando.
Ao retornar para a fazenda, passo perto da plantação de algodão. Meu bisavô foi
visionário. Ele viu o potencial dessas terras décadas atrás, quando tudo ao redor não passava de
vastas extensões selvagens. Ele adquiriu a fazenda e a transformou em uma verdadeira potência
agrícola, com o algodão sendo o nosso carro-chefe. Desde então, a propriedade cresceu e se
expandiu, tornando-se uma das maiores e mais prósperas da região.
Mas não foi apenas a visão dele que nos trouxe até aqui, foi também a determinação e a
vontade de vencer a qualquer custo. Ele enfrentou desafios, desde secas devastadoras até
conflitos com outros fazendeiros, só que nunca recuou, nunca desistiu. Meu bisavô construiu um
império do nada, e é meu dever proteger e expandir esse legado para as gerações futuras.
Quando o meu pai faleceu e a responsabilidade da fazenda recaiu sobre meus ombros, eu
sabia que precisaria ter pulso firme; que não haveria espaço para hesitação ou complacência. Eu
tinha um objetivo claro em mente: fazer desta fazenda a maior e mais poderosa da região. Para
alcançar esse objetivo, tive que tomar decisões difíceis e, muitas vezes, desagradáveis. Tive que
sujar minhas mãos com sangue, e não me arrependo. Enfrentei desafios e oposições de todos os
lados, porém não me deixei abalar.
Expandi os negócios da propriedade adquirindo mais terras e modernizando nossos
processos. Não me importei em enfrentar aqueles que se opuseram a mim, afinal, eu sou o dono
da cidade e minha palavra é lei.
Não me arrependo das escolhas que fiz para esta fazenda crescer. Se tem algo que aprendi
ao longo dos anos é que, no mundo dos negócios, é preciso ter coragem para alcançar o sucesso.
E se for necessário passar por cima de quem quer que seja em algumas situações, para continuar
a crescer, eu passo. É uma questão de sobrevivência nesse meio.
Ao longo dos anos, construí a reputação de ser um patrão exigente com meus funcionários,
que não tolera incompetência. Alguns me veem como um tirano disposto a fazer o que for
necessário para alcançar os próprios objetivos, mesmo que isso signifique sacrificar o bem-estar
dos outros. Para mim, no entanto, tudo isso faz parte do jogo. No mundo dos empreendimentos,
não há espaço para hesitação ou fraqueza, é preciso ser forte e assertivo; disposto a fazer o que
for preciso para alcançar o sucesso.
Entro em casa após uma manhã movimentada, esperando encontrar minha família reunida
na sala. Contudo, o silêncio domina o ambiente. Não há sinal da minha esposa ou minha filha.
Ao adentrar a cozinha, encontro Dolores preparando o nosso almoço.
— Onde está a minha esposa, Dolores? — questiono, um pouco áspero.
Não costumo ser amigável com os meus funcionários, para eles não se tornarem abusados.
Conheço essa corja, eles não são confiáveis.
Dolores se vira para mim e me responde:
— Dona Aida não estava se sentindo muito bem nessa manhã e preferiu descansar no
quarto.
Respiro fundo. Deve ser mais um drama de Aida.
— E Abby? Ela está em casa também?
— Sim, senhor. Abby chegou há pouco tempo e foi verificar como sua mãe estava. Elas
estão juntas no quarto.
Assinto.
Minha filha está muito próxima de Thomas. Aonde ela vai, pede para que ele a acompanhe,
e eu acabo permitindo, porém isso está começando a me incomodar. Gosto dele, ele é um bom
rapaz e um ótimo funcionário, assim como foi o seu pai, mas não o quero muito perto da minha
filha.
— Vou para o escritório.
Ela assente silenciosamente e eu sigo em direção ao escritório.
Depois de mais de duas horas ininterruptas focado nos relatórios, escuto batidas na porta e
dou permissão para que entrem.
Dolores adentra o cômodo, com uma expressão de seriedade estampada no rosto.
— O que houve, Dolores? Algum problema?
— Me desculpe por incomodá-lo, mas um dos empregados precisa falar urgentemente com
o senhor. Ele disse que é uma questão importante relacionada ao trabalho na fazenda.
Não posso ignorar um assunto que afeta diretamente a minha fazenda, especialmente se ele
é considerado urgente o suficiente para interromperem o meu trabalho.
— Traga-o até aqui — peço.
Respiro fundo, preparando-me mentalmente para o que está por vir, e aguardo a chegada
do empregado. Espero que o que ele tenha a dizer seja importante, pois odeio ser interrompido
por coisas banais.
Ouço batidas na porta. Tendo certeza de que é o rapaz, libero a sua entrada. Reconheço, no
mesmo instante, o amigo de Thomas. Não me recordo do seu nome. São muitos funcionários,
então é praticamente impossível que eu decore todos os nomes.
Ele tira o chapéu e abaixa a cabeça como forma de cumprimento.
Acendo o meu charuto. Algo me diz que o que ele tem a dizer será indigesto.
— Sente-se...
— Max. Meu nome é Max — responde o rapaz.
— Certo. Sente-se, Max. — Aponto para a cadeira na minha frente. — Espero que seja
importante, senão você não teria vindo até aqui interromper o meu trabalho — falo secamente.
O tal do Max engole em seco. Ele parece nervoso.
— Sim, é muito sério e grave, e envolve o Thomas. — Acaricia a nuca.
— Vá direto ao assunto, odeio enrolações. O que o Thomas tem a ver com o que você tem
a dizer?
— Bom... Thomas é o meu amigo e eu gosto muito dele, mas ele está enganando o senhor,
e não acho isso justo, por isso vim até aqui.
— Espero que tenha provas do que está me dizendo, porque senão eu...
— Sim, posso provar o que digo. Thomas está descumprindo um de seus pedidos. O senhor
foi categórico quando disse que era para todos os funcionários ficarem longe da senhorita Abby.
Thomas descumpriu a ordem e está tendo um caso com a sua filha.
Não pode ser verdade o que ele está falando. Thomas não teria coragem de tocar em minha
princesa.
— Onde estão as provas? — indago, com a voz baixa e grave.
Ele tira o celular do bolso e me entrega. Vejo várias fotos da minha filha na cachoeira com
Thomas aos beijos. Meu sangue ferve e minha vontade é de matá-lo. Como ele teve coragem de
me trair? Não perdoo quem trai a minha confiança. O castigo que aplicarei nele o fará se
arrepender amargamente por ter se aproximado da minha filha. Eu vou destruí-lo e ele nunca
mais se atreverá a se aproximar de Abby.
— O que você quer? Não traiu o seu amigo a troco de nada, não é? — Conheço homens do
tipo de Max: eles fazem qualquer coisa para chegar ao poder.
— Imagino que o senhor demitirá o Thomas.
Entendi onde ele quer chegar.
— Sim. E você quer ser o novo capataz. Estou certo?
— Bom... É um cargo que todos que trabalham aqui gostariam de ter. E...
— Entendi. Essa vaga será sua.
— Obrigado, senhor Carter. Darei o meu melhor. O senhor não vai se arrepender.
— Eu sei que não. — Solto a fumaça do charuto e lhe devolvo o celular. — Era só isso que
você tinha para me dizer?
— Sim.
— Então, pode voltar ao seu trabalho. A conversa que tivemos ficará aqui. Estamos
entendidos?
— Claro.
Ele assente, um tanto aliviado, e se retira do escritório. Observo sua saída com uma
expressão séria, com a mente já voltando às imagens que vi. Thomas não tem ideia da loucura
que cometeu ao se envolver com minha filha. Isso não ficará assim. Respiro profundamente e
solto a fumaça do charuto de novo, analisando quais serão os meus próximos passos.
Volto minha atenção para os relatórios em minha mesa, pronto para retomar minhas
responsabilidades e garantir que tudo fique em ordem na fazenda.
Levo mais de uma hora trabalhando, até que Dolores vem me avisar que o almoço está
pronto. Ao entrar na sala de jantar, noto que minha esposa e filha já estão sentadas à mesa,
aguardando minha chegada. Cumprimento Aida com um beijo gentil na cabeça e faço o mesmo
com Abby.
— Boa tarde, queridas. Espero que estejam com fome. — Tomo o meu lugar à mesa.
Minha esposa sorri, sem jeito, e nossa filha acena. Percebo que ela parece incomodada.
Algo me diz que ambas escondem algo. Se Aida estiver acobertando o romance de Abby com
Thomas, ela também terá o seu castigo.
Enquanto saboreamos a refeição, nós nos mantemos em silêncio. Quando terminamos,
Abby corre para o seu quarto e Aida vai até a cozinha ajudar Dolores.
Ligo para o xerife e digo que precisamos conversar seriamente. Precisarei de sua ajuda. Ele
diz que à noite estará livre, então lhe peço para vir até a minha casa.
Thomas se arrependerá de ter cruzado o meu caminho. Farei da sua vida um verdadeiro
inferno.
CAPÍTULO 10
Conto tudo que vi na cachoeira com Thomas: o empregado ensanguentado, a conversa que
ouvimos e o tiro que ceifou aquela vida. E, para a minha surpresa, mamãe não demonstra
nenhuma reação. Eu fico parada, encarando-a, com uma mistura de choque e incredulidade.
Como ela pode ficar tão calma diante de uma revelação tão chocante? Como pode,
simplesmente, aceitar que meu pai é capaz de cometer um assassinato?
Então, começo a perceber que, talvez, eu seja a única surpresa nesta conversa. Mamãe,
provavelmente, já presenciou coisas até piores vindas do meu pai, por isso me alertou para me
manter longe de Thomas. Agora tudo faz muito sentido. Ela não parece nem um pouco abalada
com o que acabei de contar, na verdade, sua reação é quase blasé, como se isso fizesse parte de
apenas mais um dia comum na vida dela.
Ainda assim, eu a olho, buscando respostas em seus olhos serenos, mas tudo que vejo é
uma calma imperturbável. Ela me olha de volta, com sua expressão tranquila como sempre.
— A senhora não vai dizer nada? — pergunto, finalmente, incapaz de conter minha
incredulidade.
Ela balança a cabeça, dando um leve sorriso.
— Isso não me surpreende, Abby. — Olha fixamente pela janela. — Tudo que seu pai faz
de ruim, já não me deixa em choque como deveria. Ao menos uma pessoa normal deveria ficar
apavorada, não é?
Suas palavras me deixam ainda mais confusa. Como ela pode, simplesmente, aceitar isso?
Não é certo. Não é normal. E, enquanto encaro minha mãe, percebo que talvez eu não conheça a
mulher que ela realmente é. Talvez haja mais mistérios escondidos sob sua calma de fachada, dos
quais jamais suspeitei.
— Por que a senhora diz isso? — Ainda estou em choque.
— A história é um pouco longa, mas irei contar tudo a você.
Mamãe me conta que, há muitos anos, antes de ela se casar com o meu pai, era noiva de
um outro rapaz e muito apaixonada por ele. Eles até já tinham comprado um terreno para
construir a casa onde morariam após o casamento. Nessa mesma época, meu pai voltou para a
cidade. Ele estudou fora por muitos anos, assim como eu, e só voltou quando estava com 25
anos, com o término da faculdade. A família dele sempre foi conhecida em toda a região, mas só
então os dois se viram pela primeira vez na cidade, em uma sorveteria, quando ela estava com
sua amiga. Ele se apresentou, ficou conversando com elas e perguntou se poderia ir visitá-la em
sua casa. Ela disse que não, porque tinha um noivo, e o dispensou, mas a expressão dele lhe
causou muito medo.
— Dias se passaram e ele foi até a minha casa me pedir em namoro, mas o seu avô disse
que eu estava noiva e o escorraçou. Quando o meu noivo soube disso, foi tirar satisfações com o
seu pai. Eles brigaram e o meu noivo ameaçou matá-lo.
Olho para a minha mãe, perplexa com o que acabei de ouvir. Mal posso acreditar que ela
passou por algo tão horrível.
— Então... você estava noiva de outro homem antes de se casar com o papai? — pergunto,
com a voz trêmula.
Ela assente lentamente e os seus olhos se desviam de mim por um momento, até que
encontram os meus novamente.
— Sim, eu estava. Seu pai retornou à cidade como um furacão e todas as mulheres ficaram
fascinadas por ele, que sempre foi um homem muito bonito. Ele ofereceu ajudar minha família
com nossas dívidas em troca... Em troca de mim. — Ela abaixa o olhar como se ainda sentisse
vergonha daquela época.
Engulo em seco, incapaz de processar completamente o que ouvi.
— E... E o que aconteceu com o seu noivo? — Estou com medo da resposta.
Mamãe suspira como se reviver esse momento fosse doloroso.
— Após a ameaça que fez ao seu pai, ele... desapareceu. Bem... Encontraram o carro dele
caído em uma ribanceira, mas não acharam o corpo. Seu pai deu um jeito de fazer parecer um
acidente, mas eu sabia a verdade. Nem o corpo dele foi encontrado. Com um noivo desaparecido
e as dívidas de nossa hipoteca aumentando, seu avô acabou cedendo à chantagem de Joe e deu a
minha mão em casamento a ele. E isso não é tudo. Ao longo dos anos, presenciei inúmeros
assassinatos cometidos por ele.
Sinto uma onda de choque e repulsa. Não posso acreditar que meu pai foi capaz de tantas
crueldades.
— Meu Deus! Eu estou sem palavras. Quem eram essas pessoas mortas?
— Fazendeiros da região que não queriam vender suas terras e pessoas que tentaram
roubá-lo ou o prejudicar de alguma forma. Ele não foi preso porque é muito amigo do prefeito e
do xerife — ela diz, transtornada.
— E como ele a tratou durante esses anos? Ele já a ameaçou ou bateu na senhora? —
Temo sua resposta.
— Não. Eu sabia que estava lidando com uma pessoa perigosa, por isso nunca discordei
dele. Sempre tive medo do que ele seria capaz de fazer caso eu descumprisse suas ordens. Um
homem que obriga uma mulher a se casar com ele é capaz de tudo.
— Isso é... Isso é horrível, mãe. Eu não posso acreditar que ele fez isso com a senhora.
Ela assente, com uma tristeza profunda refletida em seus olhos.
— Eu sei, querida. Mas, naquela época, eu não tinha escolha. Seu pai sempre foi um
homem poderoso, e quando ele quer algo, faz de tudo para conseguir. Só espero que você nunca
tenha que passar pelo que passei. Só quero protegê-la, Abby. Eu faria qualquer coisa por você.
Depois da nossa conversa tensa, envolvo-a em um abraço apertado. Ao nos afastarmos,
olho em seus olhos e percebo, mais do que nunca, que ela me ama mais que tudo neste mundo, e
sei que fará de tudo para me proteger.
Dias depois
Dias se passaram desde aquela cena chocante na cachoeira e desde que descobri a verdade
obscura por trás do casamento da minha mãe com o meu pai. A raiva que sinto por ele cresce a
cada dia, porém sou forçada a guardar isso dentro de mim, mantendo um disfarce de normalidade
sempre que estou perto dele. Não posso arriscar minha segurança nem a da minha mãe agindo
impulsivamente. Então, diante dele, continuo a agir como se não soubesse de nada, como se não
tivesse presenciado aquele horrível ato de violência; mas, por dentro, sinto raiva, tristeza e
desespero.
Todo olhar que lanço em direção a ele é carregado com o peso do que sei, e todas as
palavras que troco com ele são uma farsa cuidadosamente ensaiada por mim. A cada dia que
passa, sinto-me mais determinada a fugir com Thomas. A revelação sobre o casamento da minha
mãe com o meu pai só reforçou minha convicção de que não há futuro para nós aqui. Estou certa
de que papai nunca permitiria o nosso envolvimento, e fugirmos parece ser a única maneira de
vivermos o nosso amor.
E agora, com a notícia inesperada da minha gravidez, essa determinação se tornou ainda
mais forte. Tenho medo de como o meu pai reagiria caso descobrisse a minha gestação, mas,
também, uma sensação de euforia e uma esperança se acendem dentro de mim com a ideia de eu
criar uma família com o homem que amo, longe de papai, que demonstrou ser alguém frio e
cruel.
Acabei de chegar ao escritório onde Thomas trabalha. Estávamos há dias sem nos ver, pois
me mantive isolada para tentar esquecer aquela cena. O que seria quase impossível. Eu me dei
conta de que nunca irei esquecê-la.
Preciso contar a ele sobre a gravidez. Quem sabe essa notícia o convença a fugir comigo.
Abro a porta do escritório, com o coração acelerado e os nervos à flor da pele. Thomas está lá,
imerso em seus relatórios, alheio à tempestade que se aproxima. Respiro fundo, reunindo toda a
coragem que tenho, e me aproximo dele.
— T-Thomas — chamo sua atenção, com minha voz tremendo ligeiramente.
Ele ergue os olhos e eu vejo a preocupação em seu rosto ao perceber minha expressão
tensa.
— Abby, o que aconteceu? — Levanta-se da cadeira e vem ao meu encontro.
— Preciso lhe contar algo. — Luto para manter a compostura. — E-eu n-não queria, foi
sem querer — digo, chorosa.
— Calma. Senta aqui. — Ele me leva até a poltrona em frente à sua mesa e eu me sento. —
O que aconteceu? Estou ficando preocupado.
Ele pega um copo de água e me entrega. Eu tomo tudo em um único gole.
— E-eu... E-eu... estou grávida — as palavras saem da minha boca antes que eu possa detê-
las.
Por um momento, o silêncio paira entre nós. Posso ver a surpresa nos olhos de Thomas e
um misto de choque e emoção.
— Grávida? — ele repete como se estivesse processando a informação.
Assinto lentamente, sentindo as lágrimas começarem a se formar em meus olhos.
— Sim. Descobri há alguns dias — admito, sentindo o peso da realidade se instalar.
Thomas parece atordoado, mas depois de um instante, um sorriso começa a surgir em seu
rosto.
— Abby, isso é maravilhoso. — Ele me puxa para um abraço apertado.
— Você não está bravo?
— Claro que não, meu amor. Eu não imaginava me tornar pai agora, e nessas
circunstâncias, mas estou muito feliz. Serei pai do filho ou filha da mulher que é o amor da
minha vida.
Sinto um peso sair dos meus ombros enquanto me agarro a Thomas, sabendo que, aconteça
o que acontecer, estaremos juntos nessa.
— Vamos fugir? Eu não aguento mais ficar no mesmo ambiente que o meu pai sem sentir
repulsa. Descobri mais coisas sobre ele e quero ficar distante de sua presença. Parece que irei
surtar a qualquer momento.
— Como assim? O que o seu pai fez?
Solto um longo suspiro e lhe conto como minha mãe se tornou esposa dele e sobre as
mortes pelas quais ele foi responsável.
— Eu estou muito surpreso. Sempre fui muito próximo dele, mas nunca soube que ele
esteve envolvido em alguma morte.
— Minha mãe disse que ele é muito próximo do prefeito e do xerife. Eles o acobertam.
Além disso, ele costuma ter os homens de sua inteira confiança para praticar esses crimes.
Estou extremamente mal. A imagem que eu tinha do meu pai, morreu; agora o vejo como
um monstro.
— Não tenho palavras para dizer o que penso de tudo isso. Seu pai sempre teve o pulso
firme para gerir a fazenda, e todos os funcionários têm medo dele, mas devido ao fato de ele ser
rígido e exigente. Se eles soubessem que ele seria capaz de matá-los...
— É por isso que precisamos fugir. Quando ele souber que estamos juntos, tentará te
matar. Tenho medo do que ele seria capaz. Agora, mais do que nunca, estou certa de que não
podemos ficar neste lugar. Meu pai não aceitará nossa relação, muito menos uma gravidez fora
do casamento. E depois do que vi na cachoeira, não posso mais confiar nele.
Thomas permanece em silêncio por um momento e, então, assente.
— Você está certa, Abby. Não podemos ficar aqui. Vou fazer o que for preciso para
garantir a sua segurança e a do nosso filho.
Sorrio. Era exatamente isso que eu queria ouvir dele. Era exatamente o que eu precisava:
saber que ele está ao meu lado.
Ele segura em minha mão. Este é o recomeço para nós dois. Iremos para longe desta
fazenda, para longe do domínio opressivo de papai.
— Vamos fazer isso juntos, Thomas. — Tenho um sorriso nos lábios. — Vamos começar a
planejar nossa fuga o mais rápido possível.
Thomas me olha com ternura. Seu olhar me transmite toda a promessa de um futuro
melhor para nós dois e para o nosso filho. Ele me pega de surpresa ao me beijar, cheio de paixão;
um gesto que me deixa sem fôlego e, ao mesmo tempo, faz eu me sentir completa. Sua ternura
me dá forças para enfrentar qualquer desafio, mesmo diante da situação tensa em que nos
encontramos.
Entretanto, nosso beijo é interrompido quando a porta é aberta bruscamente. Thomas e eu
nos viramos, e, para a nossa surpresa, é o meu pai acompanhado por dois seguranças. Seu rosto
está vermelho de raiva e sua expressão é demoníaca.
Engulo em seco, sentindo um calafrio percorrer minha espinha. Eu nunca o tinha visto tão
furioso, tão ameaçador. Um nó se forma em minha garganta enquanto o encaro, mas tento manter
a calma, apesar do medo crescente dentro de mim.
Thomas fica ao meu lado. Nós dois sabemos que papai não aceitará tranquilamente o que
acabou de presenciar. Ele avança em nossa direção com passos pesados e com seus olhos
faiscando de raiva.
— Eu não sabia que havia criado uma vagabunda — ele rosna como se fosse um animal.
Engulo em seco, lutando para encontrar as palavras certas. Mas, neste momento, sinto a
minha face arder, perco o equilíbrio e caio no chão. Lágrimas escorrem pelo meu rosto. Ele me
bateu. O meu próprio pai me bateu.
CAPÍTULO 11
Sinto uma onda de raiva crescer dentro de mim e fecho os punhos com tanta força, que
minhas unhas ameaçam perfurar minha pele. Não posso acreditar que o pai de Abby a machucou
de alguma forma. Meus instintos me impulsionam a avançar em direção a ele, porém, antes que
eu possa dar um único passo, sou detido pelos seguranças, que agarram meus braços, mantendo-
me imóvel.
Observo, com uma fúria contida, Joe lançar um olhar ameaçador para mim. Sua expressão
é endurecida pela raiva. Ele é uma figura imponente e intimidadora, mas a mim não vai
conseguir intimidar.
Ele desvia o olhar para Abby e a encara com desaprovação. Sua voz é carregada de
desprezo e sai como um rosnado:
— Como teve coragem de se envolver com um ladrão, Abby?
Ela me fita com os olhos arregalados de surpresa e medo, e depois volta a atenção para o
pai.
— Thomas não é nenhum ladrão — seu tom é firme, apesar do medo evidente.
Eu me viro para encarar Joe, confuso e indignado.
— Do que o senhor está falando? — questiono, tentando entender o que está acontecendo.
Seu sorriso é sarcástico e os seus olhos brilham com uma malícia calculada.
— Você sabe muito bem do que estou falando — ele responde, gotejando desprezo. —
Acha que pode enganar todos com sua fachada de bom moço, mas eu sei quem você realmente é.
Meu coração bate mais rápido à medida que tento processar as palavras dele.
— Eu não entendo. De onde vem essas acusações? — minha voz está trêmula, pela
incredulidade. — Eu não sou um ladrão.
Ele apenas balança a cabeça com desdém.
— Dei abrigo aos seus pais quando eles estavam precisando. Seu pai foi o meu capataz, e
agora você ocupa o mesmo cargo. E como você me paga? Me roubando — ele responde
friamente.
— Deve estar acontecendo algum engano. — Abby se levanta e caminha em minha
direção, porém o senhor Carter a impede, segurando em seu braço. Ela tenta se soltar, mas é
inútil. — Thomas nunca faria isso.
— Não me importa o que você pensa, Abby. Ele jamais se envolveria com você se não
tivesse algum interesse. E eu não vou deixar isso acontecer mais.
Sinto o meu sangue ferver devido à injustiça das palavras dele.
— Você está errado — insisto, com a voz subindo de tom. — Eu amo a Abby. Eu faria
qualquer coisa por ela.
Os seguranças ao meu redor me seguram com mais firmeza. Meu coração está martelando
de angústia.
— Não me importa — ele responde, irritado.
— Pai... deixe o Thomas...
— Cala a boca, sua vagabunda! Nunca a perdoarei pela vergonha que está me fazendo
passar. Se não quiser levar outro tapa, é melhor se manter calada.
— Não volte a falar com ela dessa maneira! — brado e tento me soltar de seus capangas,
só que não consigo.
— Você não está em condições. — Após ele dizer isso, o seu celular toca e ele atende à
ligação. O teor da conversa me deixa apreensivo. — Sim, ele está aqui. Já chegou? — Fica em
silêncio por alguns segundos. — Então, pode subir.
— Quem está aí? — indago, temendo a resposta.
— O xerife. — Sorri cinicamente.
Preparo-me para perguntar o motivo. É quando o xerife entra na sala, acompanhado de
alguns policiais, olha para o senhor Carter e indaga:
— Onde está o armário?
— Naquela sala. — Ele aponta para uma pequena sala atrás de mim e lança um olhar frio
para Abby.
O xerife vai até lá com Joe, que praticamente arrasta Abby junto. Eu luto contra os
seguranças, porém é inútil. Eles me arrastam até a pequena sala indicada pelo senhor Carter,
onde o xerife e ele estão à espera. Enquanto os capangas me seguram, observo os dois abrirem o
meu armário e o revirarem, em busca de algo. Então, o xerife retira uma bolsa de lá. O meu
coração afunda quando ele a abre e tira dela vários pacotes com a logo da fazenda. São vários
maços de dinheiro.
O choque me paralisa conforme tento processar o que isso significa.
— Thomas, de onde é esse dinheiro? — pergunta Abby, em choque.
— E-eu não sei. Você não pode acreditar nisso. É uma armação!
Abby me olha, horrorizada. Ela não pode acreditar que eu seria capaz de roubar o seu pai.
Esse filho da puta armou para mim.
— Thomas Fuller, você está sendo preso por roubo — proclama o xerife, com sua voz
grave e autoritária.
Eu me viro para o olhar. Incredulidade e indignação borbulham dentro de mim. Como
podem me acusar de algo que não cometi? Mas sei que discutir seria inútil agora.
— Isso é uma armação! Eu não fiz nada! — protesto, transmitindo raiva e frustração.
O xerife apenas balança a cabeça, com sua expressão implacável.
— Thomas, entenda — ele diz com um tom sério. — Temos evidências suficientes para o
prender. O dinheiro do senhor Carter estava dentro do seu armário. Você vai ter a chance de
explicar tudo isso na delegacia, durante o interrogatório, mas, por enquanto, precisa nos
acompanhar.
Sou algemado e levado até a viatura, escoltado pelos policiais, e o xerife me acompanha de
perto. Cada passo em direção ao carro parece uma confirmação sombria de que minha vida está
prestes a mudar drasticamente. Olho de relance para Abby. Seus olhos estão fixos em um ponto
distante, pois ela está perdida em seus próprios pensamentos. Seu silêncio é ensurdecedor. Não
consigo evitar de pensar que se Abby não acreditar em mim, tudo estará verdadeiramente
perdido. Uma onda de temor e incerteza percorre o meu corpo. Tenho medo de que ela esteja
acreditando que sou um ladrão. Não sei o que seria de mim se eu a perdesse.
Sinto-me impotente diante da acusação, mas o meu maior medo não é ser rotulado como
um ladrão, é perder Abby.
O trajeto até a delegacia é feito em silêncio, o qual é interrompido apenas pelo som dos
pneus cortando o asfalto. Chegando ao nosso destino, sou escoltado até uma cela vazia, onde
escuto o som das fechaduras se fechando atrás de mim, sendo um lembrete da minha nova
realidade. Sento-me em um dos bancos duros, observando a grade fria que me separa do mundo
lá fora. O silêncio é estrondoso, sendo interrompido apenas pelo eco ocasional dos passos dos
guardas no corredor. Sinto-me perdido em meus próprios pensamentos, tentando compreender
como tudo isso aconteceu. Permaneço olhando para as paredes frias e sem vida, enquanto a
sensação de desamparo cresce dentro de mim.
CAPÍTULO 12
Dias depois
Os dias se passaram lentamente na cela, e, até o momento, não recebi a visita da minha
mãe ou de algum advogado. Questiono-me o motivo de sua ausência. Será que ela realmente
acreditou que sou um ladrão? Será que me abandonou à minha própria sorte? Ou ela veio me
visitar, e o xerife a proibiu de entrar? São tantas perguntas que demorarão para ser sanadas. Cada
momento que passo sem notícias dela aumenta a minha ansiedade e temor.
Tento afastar esses pensamentos sombrios, focando em qualquer esperança que eu possa
encontrar, no entanto, é difícil manter a fé quando estou trancado aqui. A solidão é minha única
companhia, e a sensação de abandono é terrível.
Conforme os dias se arrastaram, minha fraqueza física se tornou mais evidente. O xerife só
permite que eu me alimente de pão e beba um copo de água por dia. Tenho certeza de que são
ordens do senhor Carter; ele quer me torturar.
Preciso encontrar uma maneira de provar minha inocência, porém não sei como farei isso.
Sinto-me em um cárcere privado e não recebo a visita de ninguém, como se tivesse sido
esquecido.
Apesar de todo esse martírio, meus pensamentos estão constantemente voltados para Abby
e para o bebê que ela carrega. Imagino como ela está lidando com tudo isso, sozinha e sob a
sombra opressiva de seu pai. Tenho certeza de que ele a proibiu de me visitar e cortou qualquer
possibilidade de comunicação entre nós. Essa certeza me consome, alimentando minha angústia
e o meu desejo de reencontrá-la. Abby precisa de mim agora mais do que nunca. A ideia de eu
não estar ao seu lado para a ajudar e a proteger é insuportável.
Continuo mantendo viva a esperança de que um dia poderei voltar para Abby e para o
nosso filho. Não desistirei tão facilmente. Enquanto houver vida em mim, continuarei lutando,
determinado a provar minha inocência e recuperar minha liberdade. E quando esse dia chegar,
estarei pronto para enfrentar qualquer obstáculo que se interpuser em nosso caminho.
Assim que ouço a porta do corredor que dá acesso às celas se abrir, o meu coração se
enche de esperança. Penso que, finalmente, é minha mãe vindo me visitar. No entanto, para a
minha surpresa, em vez dela, é Lucille que aparece. Levanto-me do chão frio, encarando-a com
perplexidade.
— O que você está fazendo aqui?
— Vim visitá-lo, Thomas. O que mais eu faria aqui?
Notei que sua expressão é de angústia.
— Como soube que eu estava aqui?
— Se esqueceu de que esta cidade é pequena e todos se conhecem? No mesmo dia em que
você foi preso, a cidade inteira ficou sabendo. Só não vim antes porque meu pai me proibiu. —
Revira os olhos. — Aproveitei que ele viajou para outra cidade e vim saber como você está.
— O xerife a deixou entrar sem resistência? — Um vinco se forma na sua testa. — Quero
saber se eles tentaram impedi-la de me ver.
— Ele não está, apenas um policial. Ele não queria permitir minha entrada; precisei lhe dar
uma boa grana para entrar aqui.
— Droga! Eu sabia. — Ando de um lado para o outro, bagunçando os cabelos.
— Sabia o quê? — ela pergunta, confusa.
— Minha mãe não veio me visitar por isso. Eu tinha certeza de que ela não me abandonaria
neste lugar. — Vejo Lucille engolir em seco, como se estivesse angustiada. — Tem algo para me
contar, Lucille?
— Você roubou o senhor Carter?
— Não. Eu jamais roubaria aquele velho desgraçado ou qualquer outra pessoa — digo,
irritado. — Ele armou para mim.
— Quando eu soube que você havia sido preso por roubo, não acreditei por um segundo
sequer. Achei muito estranha toda essa história. Mas, conte isso direito. Por que o senhor Carter
o acusou de roubo?
— Porque eu estou envolvido com a filha dele.
— Você está tendo um caso com a filha do seu patrão? — ela questiona, chocada. —
Enlouqueceu de vez, Thomas? Todos na cidade sabem da fama dele e o temem. Perdeu o juízo?
Agora quem anda de um lado para o outro é ela.
— Não mandamos no coração, e você deveria saber disso — alfineto-a.
— Eu me arrependo, tá legal? — Bufa. — Se eu pudesse voltar no tempo, não o teria
enganado e estaríamos juntos.
— Não adianta se lamentar, foi você quem procurou por isso. Mas agora já não importa
mais. Por que veio até aqui? — Ela engole em seco e se aproxima de mim. — Por que veio até
aqui? — repito. Minha voz soa mais firme agora, apesar do turbilhão de emoções dentro de mim.
Lucille desvia o olhar do meu por um instante, até que volta a me encarar. Sua expressão é
indecifrável, porém há algo em seus olhos que me intriga.
— Eu... preciso da sua ajuda — ela diz, finalmente, quase em um sussurro.
Estou surpreso. Depois de tudo que ela fez, agora está pedindo minha ajuda? É muita
hipocrisia.
— O que você quer?
Lucille me fita com olhos marejados. As palavras que saem da sua boca me atingem como
um soco no estômago.
— Estou grávida, Thomas.
Minha mente dá um nó. Grávida? Ela está grávida?
— Quem é o pai? — Tenho medo da resposta.
— De quem você acha que é? — ela diz, chorosa. — Esse bebê é seu.
Afasto-me dela, incapaz de processar tudo que ouvi.
— Tem certeza? — pergunto, de costas para ela.
— Sim. Acha que sou uma qualquer?
— Você se esqueceu de que me traiu? — minha voz sai alterada. — É natural que eu
desconfie da paternidade.
— Se quiser, podemos fazer um teste de paternidade — ela sugere, chateada.
— Irei assumir o bebê, mas não voltaremos a ter um relacionamento.
— Pensei que poderíamos fingir que estamos juntos e que eu poderia ir morar em sua casa.
Não acredito que escutei isso. Devo ter entendido errado.
— Você quer que eu finja que estamos juntos? — transmito mais irritação em meu tom que
o normal.
Ela abaixa a cabeça, soluçando.
— Sim. Por favor. Meu pai... Ele não vai aceitar essa criança. Eu não sei o que fazer e não
tenho para onde ir. Você é minha única esperança.
A raiva começa a borbulhar dentro de mim. Como ela ousa me pedir algo assim?
Aproximo-me dela e digo:
— Não posso fazer isso, Lucille — respondo, carregado de indignação. — Eu assumo o
bebê, jamais abandonaria um filho meu, mas fingir que estamos em um relacionamento seria
completamente desconexo. Isso, não poderei fazer.
Ela olha para cima. Seus olhos estão suplicantes.
— Não é possível que não sinta nada por mim. Vou provar que você ainda me ama. — Ela
se aproxima da grade e eu sinto suas mãos agarrarem minha camisa, puxando-me em sua direção
com urgência.
Antes que eu possa reagir, seus lábios encontram os meus em um beijo desesperado. Fico
paralisado momentaneamente, surpreso com sua ação, e me afasto dela de forma brusca. Respiro
fundo para recuperar a compostura.
— Lucille, pare. Nunca mais faça isso — digo, irritado. — Isso não vai mudar nada.
Ela recua, com os olhos cheios de lágrimas e desespero.
— Por favor, Thomas — implora. — Eu não sei o que fazer. Eu preciso de você.
Sinto o meu coração se apertar diante de sua dor, porém não posso aceitar um absurdo
desse.
— Estou com Abby agora. Não tem o menor cabimento isso — minha resposta soa mais
dura do que eu gostaria. — Não posso fazer isso por você. É melhor ir embora.
— Está bem. Eu lhe darei um tempo para que pense melhor. — Suspira. — Mas tem outra
coisa... — ela começa a falar. Sua voz é vacilante.
Seus olhos encontram os meus e eu vejo um misto de dor e preocupação refletido neles.
— O que houve? — questiono, preocupado.
— Eu soube que o senhor Carter expulsou a sua mãe da fazenda. Ela estava hospedada na
pousada. Antes de vir para cá, fui até lá para que ela viesse junto comigo, mas quando cheguei ao
seu quarto, eu a encontrei desmaiada em cima da cama. Chamei uma ambulância imediatamente,
e quando chegamos ao hospital... — Ela pausa e engole em seco antes de continuar. — O médico
disse que ela faleceu.
Essas palavras caem sobre mim como um soco no estômago, meu coração parece parar por
um momento e tudo ao meu redor fica embaçado. Minha mãe... Não pode ser verdade.
— O que você está dizendo? Que brincadeira é essa?
— Eu jamais brincaria com isso. Ela está no IML e suspeitam que foi... — Engole em
seco. — Suicídio.
— Minha mãe... Ela se foi? — minha voz soa estrangulada pela emoção.
Lucille assente, com os olhos marejados de lágrimas. Ela se aproxima de mim e coloca
uma mão em meu ombro, em um gesto de conforto.
— Sinto muito, Thomas — sua voz está embargada. — Eu sei o quanto você a amava.
Suas palavras parecem distantes. Minha mente está turva, incapaz de processar o que
acabei de ouvir. Minha mãe... que sempre me amou incondicionalmente... agora se foi. Uma
onda de dor me atinge e eu me sinto afundar em um abismo de tristeza e desespero. Eu... não
posso acreditar que ela se foi. E agora, mais do que nunca, sinto-me completamente sozinho
neste mundo.
Eu sabia que esse dia poderia chegar, mas nunca imaginei que seria tão devastador. Se eu
não estivesse trancado neste maldito lugar, ela ainda estaria viva; eu teria conseguido impedi-la.
Toda essa tragédia foi culpa do senhor Carter. Ele arruinou minha vida, tirou de mim a minha
mãe. Odeio aquele homem. Ele foi responsável por tudo isso, e não vou descansar até que ele
pague pelo que fez.
CAPÍTULO 13
Thomas não pode ter roubado o meu pai. Estou chocada. Luto para processar tudo que está
acontecendo.
Papai me lança um olhar duro e sem uma única pitada de compaixão.
— Não seja ingênua, Abby — seu tom é de desdém. — Aquele maldito se aproximou de
você por interesse. E você é uma tola que caiu no papinho dele.
A afirmação dele me corta como uma lâmina afiada.
Relembro a conversa que tive com minha mãe sobre o passado dele. Tenho quase certeza
de que ele armou para Thomas.
Com o coração pesado e os olhos marejados, aproximo-me do meu pai. Antes que eu possa
dizer qualquer coisa, seu rosto se contorce de fúria e ele me desfere outra bofetada. Suas palavras
são cruéis.
— Não criei uma vagabunda.
Sinto o ardor em minha pele, tanto físico, quanto emocional. Engulo em seco. A dor se
junta à indignação dentro de mim. Meus olhos encontram os dele e, por um instante, consigo ver
o homem que um dia amei e admirei, agora obscurecido pela sombra da sua crueldade.
— Vamos voltar para casa imediatamente — ele ordena de modo cortante. — E você não
sairá do quarto até o dia do seu casamento.
— Casamento? — questiono, incrédula.
Ele me encara com um olhar gélido.
— Você se casará com o Ulrich — ele decreta como se dissesse a coisa mais natural do
mundo.
Essas palavras caem sobre mim como um golpe e o peso delas me atinge como um soco no
estômago. Choque e horror se espalham por todo o meu ser. O único Ulrich que conheço é o
filho dos Sanders. A ideia de eu passar o resto da minha vida ao lado de quem não amo é como
um pesadelo se tornando realidade. Amo o Thomas e espero um filho dele. Não posso me casar
com um homem que mal conheço.
— Não posso me casar com Ulrich... Estou grávida de Thomas — minha voz sai trêmula,
mas firme, enquanto olho para o meu pai.
Ele fica transtornado e com os olhos se estreitando, em fúria.
— Isso é uma brincadeira? — ele rosna e o seu rosto se contorce em raiva.
Balanço a cabeça com veemência, negando.
— Não é uma brincadeira, pai, é a verdade.
Antes que eu possa reagir, sinto novamente o impacto de sua mão no meu rosto. A dor
ardente corta a minha pele.
— Você agiu como uma prostituta! — seu grito ecoa pela sala.
Sinto lágrimas de frustração e dor surgindo em meus olhos, mas não darei a ele o prazer de
me ver ceder. Permaneço firme, mesmo que meu coração esteja em frangalhos.
Ele olha para mim com desgosto. Sua expressão é uma mistura de raiva e decepção.
— Nunca senti tanta vergonha em toda a minha vida. Você arruinou a reputação da nossa
família ao se envolver com um simples empregado, e, ainda por cima, engravidou dele. Como
pôde ser tão imbecil, Abby?
Sinto o meu estômago se revirar diante das falas dele, porém mantenho minha postura. Não
posso permitir que ele faça eu me sentir culpada por amar alguém que não está em sua categoria
social.
— Eu entendo que seja difícil para o senhor aceitar, pai, mas Thomas não é apenas um
empregado, ele é uma pessoa boa e honesta, e eu o amo. E quanto ao bebê, ele é parte de mim,
não posso negá-lo.
Seu olhar se torna ainda mais duro e eu percebo que estou em perigo. Contudo, não posso
desistir do meu amor por Thomas nem abandonar o meu filho. Ele balança a cabeça, em
desaprovação. Seu olhar é cortante como uma faca.
— Você me envergonhou. Agora teremos que lidar com as consequências de suas ações
irresponsáveis. — Ele respira fundo, visivelmente, controlando a raiva que fervilha dentro de si.
— Mas sei como consertar essa situação: você vai se casar com Ulrich, como estava planejado, e
vamos fingir que nada disso aconteceu. Será como se aquele maldito empregado nunca tivesse
existido.
Tento argumentar, desesperada para o fazer entender.
— Pai, por favor, você não pode fazer isso comigo. Eu amo o Thomas e estou grávida dele.
Não posso me casar com Ulrich. Seria uma farsa que eu não poderia sustentar...
Ele me interrompe, com um olhar gelado.
— Você me desapontou, Abby. Nunca pensei que agiria de forma tão vulgar, como uma
prostituta. Seus sentimentos não me interessam. Sua obrigação é com a nossa família e com a
nossa reputação.
Eu sinto um nó na garganta e as lágrimas ameaçam transbordar.
— Mas, pai...
— Chega, Abby! Não há mais o que ser discutido. Você se casará com Ulrich e acabará
com essa loucura de uma vez por todas. E se tiver que escolher entre o seu amante e o seu filho,
espero que faça a escolha certa.
— Como assim? — pergunto, chocada.
— Case-se com Ulrich, e ele criará esse bastardo como se fosse filho dele. Caso você se
recuse, essa criança vai para a adoção ou, se quiser, podemos abortá-la.
Sinto o meu coração gelar diante dessas sugestões cruéis. Mal consigo acreditar no que
ouvi.
— Isso é... Isso é monstruoso, pai! Como... Como você pode sugerir algo assim? — minha
voz sai trêmula.
Ele me olha com frieza, sem demonstrar qualquer remorso.
— Seu comportamento irresponsável não me deixou escolha, Abby. Não posso permitir
que minha família seja arruinada por causa de suas burrices. É melhor você se casar com Ulrich e
salvar o nome da nossa família do que enfrentar as consequências de suas ações.
Sinto a raiva e o desespero se agitarem dentro de mim. Sinto-me encurralada, sem solução
alguma, sem saber onde recorrer.
— Eu não posso fazer isso, pai. Não posso me casar com Ulrich. E não vou desistir do meu
filho, eu já o amo.
Ele me observa com um olhar gélido e sua expressão impenetrável.
— Então, prepare-se para enfrentar as consequências, Abby. Se não está disposta a fazer o
que é certo, não há mais nada que eu possa fazer por você. A escolha é sua.
Soluço, sentindo-me encurralada e impotente diante da sua autoridade. Percebo que
qualquer tentativa de argumentação seria inútil, então abaixo a cabeça, em resignação, sabendo
que o meu destino está selado.
Dias depois
Dias se passaram e eu ainda estou sendo mantida prisioneira no meu próprio quarto, como
meu pai prometeu. Ele está cumprindo com sua palavra de forma implacável, permitindo apenas
que tragam minhas refeições e proibindo qualquer outro contato meu com o mundo exterior.
Sinto-me sufocada. A cada dia, enfrento uma batalha contra a solidão e a incerteza do meu
futuro, e conforme as horas se arrastam, sinto-me consumida por uma mistura de emoções: raiva,
tristeza e desespero. Minha mente está constantemente em um turbilhão, tentando encontrar uma
saída para essa situação impossível.
Às vezes me pego olhando pela janela, desejando estar em qualquer lugar, menos aqui.
Mas, mesmo quando a esperança parece fugaz, uma chama dentro de mim continua a arder,
alimentada pela minha determinação de proteger o meu filho, custe o que custar.
Sinto uma dor profunda no peito ao pensar em Thomas preso por um crime que eu sei, no
fundo do meu coração, que ele não cometeu. A angústia me consome, junto com uma saudade
que parece corroer cada parte minha. À noite, a presença de Thomas é do que mais sinto falta: os
seus braços me envolvendo, seu calor me aquecendo e sua voz suave acalmando minhas
preocupações. Cada momento que passamos juntos parece, agora, um sonho distante. E é na
escuridão que me encontro, lutando contra a incerteza do que o futuro reserva para nós.
Apesar de tudo, uma luz de esperança continua a brilhar dentro de mim e uma voz sussurra
que a verdade prevalecerá, que a justiça será feita e que, eventualmente, estaremos juntos de
novo, livres para construir o futuro que sonhamos. E é essa esperança que me dá forças para
enfrentar os dias sombrios que estão por vir.
De repente, a porta do quarto se abre com violência, fazendo-me pular de susto. Meu pai
entra com uma sacola grande em mãos. Sua expressão é dura e ameaçadora. Ele arremessa a
sacola na cama, fazendo com que eu me assuste novamente.
— O que é isso? — minha voz treme, pela apreensão.
Ele me encara com olhos frios e cortantes.
— Abra e descubra por si mesma — ordena, expressando autoridade.
Com as mãos trêmulas, pego a sacola e desamarro o nó. Assim que a abro e vejo o seu
conteúdo, o meu coração parece congelar, os meus olhos se enchem de lágrimas e eu sinto
tristeza. É um vestido de noiva. Uma onda de desespero me envolve enquanto observo a peça de
roupa que é símbolo de um destino que eu nunca quis para mim.
— Pai, eu não posso fazer isso... — minha voz falha. Sou incapaz de conter a torrente de
emoções que me invade.
— Você fará o que eu mandar! — ele rosna, com sua expressão contorcida em raiva.
Fico em silêncio, aterrorizada com a realidade que se apresenta diante de mim. A ideia de
eu me casar com Ulrich, de ser forçada a viver uma vida que não escolhi, é quase insuportável.
Contudo, devido à ameaça implícita de eu perder meu filho, sinto-me completamente impotente.
Com lágrimas escorrendo pelo rosto, seguro o vestido de noiva em mãos, sabendo que o meu
destino foi selado contra a minha vontade. Respiro fundo, querendo controlar as lágrimas.
— Tudo bem — murmuro, tentando aceitar o destino que me foi imposto.
Meu pai sorri de maneira perversa, como se tivesse alcançado uma vitória. No entanto,
antes que ele possa se afastar, reúno coragem para fazer uma última exigência.
— Antes de eu aceitar esse casamento, quero que você mande libertarem o Thomas da
prisão.
Ele me olha com desprezo.
— Você não tem poder sobre isso, minha querida. A justiça seguirá o seu curso e ele
pagará pelo que fez.
Sinto um nó na garganta. Sei que essa batalha será difícil, mas, ainda assim, não posso
deixar de tentar. Recuso-me a desistir tão facilmente.
— Por favor, pai — imploro, desejando ver um vislumbre de misericórdia em seus olhos
frios. — Thomas não é culpado, e o senhor sabe disso.
Ele solta uma risada cínica.
— Isso não importa, Abby. Não criei a minha filha para agir como uma vadia. A reputação
da nossa família está em jogo, e não posso permitir que vocês dois a destruam.
Meu coração afunda diante dessa cruel realidade. Mesmo que eu tente convencê-lo do
contrário, sei que ele é implacável em suas decisões, entretanto, não posso deixar de lutar pelo
homem que amo, mesmo que seja uma batalha quase perdida. Continuo implorando, desesperada
para tocar o coração frio do meu pai.
— Por favor, pai — repito, com urgência e desespero. — Não posso me casar com Ulrich.
Eu amo o Thomas, e sei que ele é inocente. O senhor armou para ele, não foi?
Seu olhar permanece implacável, sem sinal de fraqueza.
— Pensou que eu permitiria que vocês ficassem juntos? Eu tinha que fazer alguma coisa.
Meu coração se afunda de novo. Sua resposta confirmou o que eu imaginava: ele armou
para Thomas.
— O senhor é um monstro.
— Pense como quiser. Você não tem escolha, Abby — ele responde com firmeza. —
Ulrich é um homem respeitável. Ele cuidará de você e desse bastardo. Essa é a melhor opção
para todos nós. Você vai se casar com Ulrich, e é melhor que aceite isso de uma vez por todas.
Ele não vai mudar de ideia. O meu destino já foi traçado, e não há nada que eu possa fazer
para o mudar.
— Está bem. — Enxugo as lágrimas. — Mas, pelo menos, liberte o Thomas. Veja isso
como o meu presente de casamento. Por favor, pai. Ele não merece estar na prisão — insisto
mais uma vez.
Ele me olha com desdém, como se minha súplica o irritasse.
— Não seja tola, Abby — seu tom é duro e implacável. — Thomas é um criminoso e vai
pagar pelo que fez. Você precisa aceitar isso e seguir em frente.
Minha esperança desaparece quando percebo que ele não cederá. Tudo o que posso fazer é
aceitar o meu destino. Entretanto, meu coração se despedaça quando penso em Thomas preso e
sozinho, sem ninguém para o defender.
— Só vou seguir em frente quando Thomas estiver em liberdade. Se o senhor devolver a
liberdade para ele, prometo que me casarei com Ulrich sem resistência.
Ele me olha, pensativo, como se estivesse ponderando as minhas palavras.
— Está falando sério, querida?
— Sim. Prometo que me caso... — Engulo em seco. — Farei o que o senhor quer, sem
questionar.
— Ok. Mandarei o soltarem. Mas a quero no altar, sem resistência, como se esse fosse o
seu sonho. Entendeu?
Meus olhos se arregalam. Sou incapaz de acreditar no que ouvi.
— Você... Você vai mesmo libertar o Thomas? — mal consigo conter a esperança na voz.
Meu pai assente, embora sua expressão permaneça dura e severa.
— Sim — ele responde, curto. — Mas cumpra o que está me prometendo.
Assinto.
Fiquei surpresa e, ao mesmo tempo, aliviada quando o meu pai, enfim, cedeu ao meu
pedido.
Engulo em seco, sabendo que não há mais espaço para argumentos. Concordo em silêncio.
Pelo menos Thomas estará livre, mesmo que meu destino vá ser cruel.
Dia seguinte...
Hoje é o dia em que, finalmente, verei Thomas. Será pela última vez antes de eu seguir o
destino que meu pai me impôs.
Arrumo-me rapidamente e, ao sair de casa, sou acompanhada pelos seguranças designados
por papai. Estar na presença desses homens é um lembrete da minha falta de liberdade, mas o
que realmente importa é eu encontrar Thomas e passar o máximo de tempo possível ao seu lado,
antes que tudo mude para sempre.
Assim que chego à delegacia, um funcionário permite a minha entrada. O meu coração
acelera enquanto caminho pelo corredor das celas.
Mas a minha felicidade durou pouco, sendo substituída por uma onda de dor quando vi
Thomas dentro da cela. Meu peito se aperta por eu o ver ali, separado de mim por aquela grade
fria. Então, meu coração se despedaça completamente quando percebo que ele não está sozinho,
tem uma mulher ao lado de fora. De repente, eles se beijam. Sinto uma dor lancinante atravessar
o meu peito enquanto observo essa cena dolorosa. Meus olhos se enchem de lágrimas diante do
testemunho da imagem de Thomas com outra mulher. É como se o mundo desabasse ao meu
redor. Sinto-me completamente perdida em meio à angústia e à decepção.
Abalada com a cena que acabei de presenciar, saio correndo pelo corredor da delegacia. As
lágrimas turvam a minha visão e eu luto para controlar o desespero que toma conta de mim. Cada
passo meu é pesado e cada respiração é uma luta contra o aperto em meu peito. Minha mente
gira. O choque da traição se junta à dor da decepção.
Ao lado de fora, desabo contra a parede mais próxima, soluçando, em um misto de
angústia e desespero. Como pude ser tão tola?
Os seguranças se aproximam de mim. Seus rostos expressam preocupação. Um deles
pergunta se estou bem, e minha voz sai trêmula quando respondo que sim. Por mais que o meu
coração esteja despedaçado, não posso permitir que vejam a minha fraqueza.
Respiro fundo, tentando controlar as lágrimas que transbordam. Sinto-me perdida e
desamparada, mas sei que não posso me render à tristeza agora. Há muito em jogo e eu preciso
manter a cabeça erguida, mesmo que essa seja a coisa mais difícil que eu vá fazer em minha
vida.
Com um nó apertando minha garganta, juro a mim mesma que arrancarei Thomas do meu
coração. Embora pareça impossível agora, sei que irei esquecê-lo. Não posso permitir que essa
dor me consuma. Prometo a mim mesma que vou superar isso e que encontrarei uma maneira de
seguir em frente, por mais difícil que venha a ser.
CAPÍTULO 14
Depois que Lucille sai, fico encarando o nada. A notícia da morte da minha mãe me atingiu
como um soco no estômago. Ela se foi, deixando um vazio insuportável em meu coração. Meus
olhos se enchem de lágrimas conforme as lembranças dela inundam minha mente. Sentirei falta
da sua voz tranquilizadora, do seu sorriso gentil e do seu toque reconfortante. É difícil aceitar
que nunca mais poderei vê-la, ouvi-la ou sentir seu abraço caloroso.
Permito-me chorar, deixando as lágrimas rolarem livremente pelo meu rosto.
Prometo que honrarei sua memória, e mesmo que ela não esteja mais fisicamente ao meu
lado, seu espírito continuará a me guiar, inspirando-me a ser a melhor versão de mim mesmo.
Algumas horas se passaram desde que Lucille foi embora. Um dos policiais aparece na
minha cela e diz que o xerife ordenou minha libertação. Fico surpreso, mas não ousarei
questionar. Estou aliviado e perplexo. Por que, de repente, estou sendo solto? Ainda assim, não
posso deixar de sentir um peso no peito ao caminhar para fora da cela. A libertação não me
trouxe a sensação de liberdade que eu esperava. Em vez disso, há uma sombra de preocupação
pairando sobre mim e uma sensação de que algo não está certo. Mas, por ora, só posso lidar com
o que está diante de mim e esperar que isso me leve a respostas.
Eu saio da delegacia e os meus passos parecem mais pesados do que nunca. Decido ir
direto à pousada onde minha mãe estava hospedada.
Já no local, meu coração bate com força e uma tristeza se abate dentro de mim. Assim que
recebo os pertences que eram dela, uma onda de emoções me atinge. Seguro o pacote com
cuidado, como se ele fosse um tesouro frágil. Respiro fundo, lutando contra as lágrimas que
ameaçam escapar. A dor é descomunal, porém preciso me manter firme.
Não tenho para onde ir, então alugo um quarto na pousada. Este lugar será um refúgio
temporário para a minha angústia.
Dia seguinte...
Hoje acontece o enterro da minha mãe. O céu está carregado de nuvens pesadas, como se
estivesse refletindo as emoções que trago dentro de mim. Caminho lentamente pelo cemitério,
observando as lápides silenciosas que marcam o descanso eterno de tantas vidas. Não há uma
alma além de mim neste lugar sombrio. Lucille foi a única que compareceu, como se soubesse,
instintivamente, que eu precisava de alguém ao meu lado neste momento mórbido. Ela ligou para
mim na noite anterior, preocupada comigo e querendo saber os detalhes do funeral. Sua presença
aqui é reconfortante de certa forma, mesmo que não possa preencher o vazio deixado pela partida
da minha mãe.
Juntos, ficamos diante do túmulo recém-aberto. O caixão de madeira simples descansa sob
a terra fria. As palavras do padre são distantes em minha mente, como murmúrios indistintos.
Enquanto as lágrimas escorrem pelo meu rosto, Lucille segura em minha mão com firmeza,
oferecendo-me um apoio silencioso. Ela não precisa dizer nada, sua presença é o suficiente para
me confortar neste momento de despedida.
Após as últimas palavras serem ditas e as flores serem lançadas sobre o túmulo, ficamos no
local por mais algum tempo, compartilhando o silêncio solene do cemitério. Apesar da dor da
perda, sei que minha mãe sempre estará comigo, guardada dentro das minhas lembranças e no
amor que ela deixou para trás.
Depois do enterro, Lucille e eu decidimos ir a um restaurante para almoçar. É estranho sair
depois de um evento tão sombrio como um funeral, mas eu sentia que precisava de algum tipo de
distração, mesmo que momentânea. O restaurante é calmo e acolhedor; um refúgio bem-vindo
para a tempestade de emoções que assola minha mente.
Agora estou aqui, debruçado sobre as caixas e os sacos plásticos repletos de lembranças do
que um dia foi da minha mãe. É uma tarefa difícil revirar os vestígios de uma vida que se foi,
mas é algo que precisa ser feito. Observo os objetos, com uma mistura de tristeza e resignação.
Cada item conta uma história e uma memória que, agora, parece tão distante. Pergunto-me o que
ela sentiria ao ver seus pertences sendo separados para a doação, já que sempre foi tão apegada
às suas coisas. Mas agora ela se foi, e esses objetos não têm mais o mesmo significado.
Enquanto organizo os pertences dela, uma sensação de raiva borbulha dentro de mim. Não
é apenas a tristeza pela perda que sinto, é também a raiva contra alguém que considero
responsável por isso tudo: o senhor Carter. Ele é um homem cruel, sem compaixão, e foi culpado
por mamãe ter desistido de viver. Se esse miserável não tivesse armado para me colocar na
cadeia, nada disso teria acontecido e ela estaria comigo.
Prometo a mim mesmo que um dia me vingarei. Não sei como ou quando, mas sei que não
posso deixar as coisas assim. O senhor Carter não pode sair impune do mal que causou à minha
família. Eu farei o que for preciso para garantir que ele pague pelos seus crimes. Neste instante,
essa determinação só se intensifica dentro de mim. Não descansarei até que Joe seja
responsabilizado pelas suas ações. Assim, então, talvez eu possa encontrar algum tipo de paz
para a minha mãe e para mim.
Meus dedos deslizam pelas páginas do livro favorito dela, uma cópia desgastada de
“Orgulho e Preconceito”, e, de repente, sinto algo estranho entre elas. Retiro cuidadosamente um
papel. Para a minha surpresa, é um envelope. Meu coração dispara quando olho para a caligrafia
familiar nele. É a letra da minha mãe. Por que ela esconderia uma carta aqui?
Com mãos trêmulas, abro o envelope e começo a ler.
Lágrimas encheram os meus olhos enquanto eu lia as últimas palavras da minha mãe.
Seguro a carta contra o peito, prometendo a mim mesmo que honrarei o último pedido dela: eu a
perdoarei pelas suas escolhas. Mas não posso perdoar o senhor Carter. Isso nunca.
Dia seguinte
Estou caminhando em direção à rodoviária, pois irei embora da cidade. Não tenho mais
nada que me prenda a este lugar, mas juro para mim mesmo que um dia voltarei e irei destruir os
Carter. O que eles fizeram comigo não tem perdão.
O silêncio nas ruas vazias é interrompido apenas pelos meus passos firmes contra o chão
de paralelepípedos. De repente, avisto duas sombras na parede. Antes que eu possa reagir, dois
homens surgem em minha frente, bloqueando o meu caminho. Meu coração acelera e uma onda
de pânico me inunda à medida que tento entender o que está acontecendo.
Então, lembro-me da minha arma na cintura. Mas antes que eu possa fazer qualquer coisa,
tudo fica escuro. Tudo se tornou um borrão confuso, como se eu estivesse preso em um pesadelo
do qual não consigo acordar. A escuridão me envolve e eu me sinto perdido em um labirinto de
incertezas.
Abro os olhos lentamente, sentindo uma dor latejante por toda a minha cabeça. Tento me
mover, mas logo percebo que estou amarrado em uma cadeira. Olho ao redor, buscando entender
onde estou. O lugar parece ser um galpão abandonado e as paredes estão cobertas de sujeira e
teias de aranha.
Uma sensação de pânico começa a se espalhar dentro de mim e eu tento,
desesperadamente, lembrar-me de como cheguei aqui. Minha mente está turva e as lembranças se
misturam em um borrão confuso. Tudo o que consigo me lembrar é de estar indo à rodoviária,
até que dois homens surgiram em minha frente.
A pergunta é: quem são esses homens que me capturaram? O que eles querem de mim?
Respiro fundo, querendo acalmar meus nervos, e olho ao redor, em busca de qualquer sinal
de vida. Mas, além do som do vento batendo contra as janelas quebradas, o lugar está silencioso.
Sinto um calafrio percorrer minha espinha e tento me soltar, desesperado para escapar desta
situação angustiante. Mas é inútil, os nós foram bem feitos.
Escuto barulhos que parecem ser de passos e, então, a porta range ao ser aberta. Meu
coração dispara quando reconheço os rostos dos homens que entram. É o senhor Carter, e ele não
está sozinho, seus seguranças o acompanham. Eu deveria ter desconfiado, desde o início, que ele
estava por trás disso.
Meus músculos se contraem conforme eles se aproximam de mim. A expressão fria e
impiedosa do pai de Abby contrasta com os olhares desafiadores de seus capangas. Uma
sensação de impotência se apodera de mim, porém luto para manter a compostura diante deles.
— Thomas — sua voz é fria como o gelo. — Achou que iria se livrar de mim? — Seu
sorriso é de escárnio.
Engulo em seco, lutando para manter a calma. Ele chega mais perto de mim e o seu olhar
cortante me perfura como lâminas afiadas. Tudo o que vejo nele agora é crueldade e desprezo.
— O que você quer de mim? — tento ocultar o tremor em minha voz.
Ele sorri. É um sorriso que não alcança os seus olhos, cheio de malícia e arrogância.
— Acabar com você. Eu tenho um grande defeito: não sou um homem que perdoa os
inimigos, costumo eliminá-los. — Tira uma faca afiada de sua cintura e olha fixamente para a
lâmina.
— Vai me matar? — Sinto um nó na garganta.
— O que você acha? — Ele ri e olha para os seus seguranças, que também estão rindo.
Os homens vêm até mim, com as mãos cerradas em punhos, prontos para me golpear. Sinto
o meu coração acelerar, observando os seus movimentos.
— Não! — grito.
Minhas palavras são abafadas pelos sons dos primeiros golpes atingindo o meu corpo. A
dor é dilacerante. Cada soco e cada chute parecem arrancar um pedaço da minha alma, deixando-
me desamparado e indefeso diante de sua crueldade.
Tudo à minha volta gira. Minha única certeza é de que estou nas mãos de um homem sem
misericórdia, disposto a destruir tudo em seu caminho para alcançar seus objetivos.
Cada golpe causa uma nova onda de dor em meu corpo. Eu sinto o gosto metálico do
sangue na boca, meus ossos protestam sob o impacto das agressões e minha mente grita, em
agonia, enquanto sou subjugado pela violência selvagem dos capangas do senhor Carter.
Tento me erguer contra as cordas que me mantêm preso na cadeira, só que a dor é surreal e
o meu mundo gira em uma névoa de sofrimento indescritível. Cada parte de mim clama por
misericórdia e por uma pausa desse pesadelo de dor e desespero.
Ainda tonto e enfraquecido pelas agressões, sou arrastado pelos capangas para fora do
galpão. Todo passo é uma tortura, com meu corpo protestando a cada movimento.
Minutos se passaram, mas pareceram horas. Começo a sentir um cheiro de terra úmida e de
mato enquanto me arrastam para longe do lugar onde fui espancado impiedosamente. Minha
visão está turva, por isso enxergo apenas os contornos das árvores em minha mente confusa.
Não tenho forças para me libertar. Meu corpo fraco e dolorido não responde aos meus
comandos desesperados.
— Isso é por ter seduzido a minha filha. — Após o senhor Carter dizer isso, sinto uma dor
descomunal nas minhas partes íntimas. Ele pisou em cima do meu pênis como se pisasse em um
inseto. — Acabem com ele.
Sou virado de frente e, mesmo estando com a vista turva, consigo ver que um dos seus
capangas segura uma faca. Antes que eu pudesse me dar conta, ele enfiou o objeto cortante na
minha barriga. Grito, ensandecido de dor.
— Nos vemos no inferno, Thomas. — Essas foram as últimas palavras do senhor Carter.
Então, sinto-me cair em um abismo de escuridão e dor. Minha consciência vacila, à beira
do colapso, conforme sou consumido pela escuridão que se fecha ao meu redor, sem esperança
de escapar do destino sombrio que me aguarda.
CAPÍTULO 16
Estamos retornando à fazenda. O silêncio pesado dentro do carro é sufocante, até que
Ulrich interrompe o nosso mutismo. As suas palavras, tão diretas, fazem-me encarar uma
verdade desconfortável.
— Abby, você ainda ama o Thomas?
Senti um aperto no peito ao ouvir o nome dele. Thomas, o homem por quem me apaixonei,
contra todas as razões. Agora, com minha vida prestes a tomar um rumo diferente, preciso ser
honesta.
— Com o tempo, vou esquecê-lo — tento manter minha voz firme.
Ulrich apenas assente, com a sua expressão séria. O restante do trajeto é preenchido pelo
silêncio pesado e cada um de nós mergulha em seus próprios pensamentos.
Ao chegarmos à fazenda, desço do carro, com um nó na garganta. É como se eu estivesse
deixando para trás uma parte de mim.
— Obrigada, Ulrich. — Forço um sorriso que não alcança os meus olhos.
Ele me olha por um momento como se quisesse dizer algo a mais, mas acaba apenas
acenando antes de partir.
Sozinha, entro na fazenda. Meu coração está pesado devido às escolhas que fui obrigada a
fazer. Eu ando em direção à casa e uma mistura de emoções toma conta de mim. A raiva é uma
delas, e tudo por causa da traição de Thomas. Como ele pôde me trair de uma maneira tão vil?
Como pôde me fazer acreditar que eu era a única para ele, enquanto, secretamente, entregava-se
a outra?
Então, vem a dor; uma dor profunda e dilacerante. Mesmo que eu tenha mentido sobre a
paternidade do meu filho, a verdade é que Thomas sempre será uma parte de mim, e confesso
que o ver tão devastado, tão quebrado, mexeu comigo de maneiras que eu não consigo
compreender. Eu deveria estar feliz por tê-lo feito sentir a mesma dor que eu senti ao descobrir a
sua traição.
Pergunto-me se algum dia serei capaz de superar tudo isso; se a ferida que ele abriu em
meu coração, poderá cicatrizar. Mas, por ora, tudo o que posso sentir é uma intensa mistura de
raiva e tristeza e uma pitada de remorso.
Eu entro na casa e os meus pensamentos continuam voltando para Thomas. Talvez, em
algum lugar dentro de mim, ainda haja uma pequena faísca de esperança de que as coisas
poderiam ser diferentes.
Dias depois
Nós andamos pelas ruas movimentadas do centro da cidade e uma sensação de tristeza e
solidão me envolve. A cada loja em que passamos, eu me vejo olhando para os produtos para
bebês com um nó na garganta. Não está sendo como eu imaginava que seria essa experiência.
Deveria ser um momento feliz e cheio de expectativas e sonhos para o futuro. No entanto, sem
Thomas ao meu lado, tudo parece vazio.
Minha mãe percebe o meu semblante abatido e coloca a mão em meu ombro, oferecendo-
me um sorriso reconfortante. Ela sempre foi o meu porto seguro e alguém em quem eu podia
confiar em momentos difíceis como este.
— Está tudo bem, querida? — ela pergunta com ternura.
Balanço a cabeça, afirmando e forçando um sorriso fraco.
— Sim, mãe. Só estou um pouco... — Solto um longo suspiro. — É só... Achei que faria
isso com o pai do meu bebê.
Ela aperta a minha mão gentilmente.
— Eu entendo, Abby. Sinto muito que o seu pai esteja fazendo isso com você, mas
estamos aqui juntas e vamos fazer tudo que pudermos para preparar o enxoval do bebê da melhor
maneira possível.
Agradeço silenciosamente por ter minha mãe ao meu lado. Mesmo que Thomas não esteja
presente, sei que não estou sozinha. Juntas, começamos a escolher os itens necessários para o
bebê. Tento focar nas coisas boas que estão por vir, embora o meu coração ainda doa pela
ausência de Thomas.
Nós paramos em frente à vitrine de uma loja de artigos para bebês.
— Meu Deus! — diz mamãe, chocada, ao colocar a mão no peito.
— O que foi? — pergunto, preocupada.
— Minha carteira não está na bolsa. Acho que a esqueci na última loja em que tivemos.
— Então, vamos voltar à loja e...
— Não se preocupe, eu posso ir sozinha, filha. A loja é perto daqui. Vi que você gostou de
alguns carrinhos de bebê. Por que não entra para dar uma olhada, hein?
— Está bem. Irei esperar a senhora na loja.
— Não irei demorar, filha. — Beija a minha bochecha e se vai.
Entro no estabelecimento e vou olhar um carrinho que achei muito bonito. Ao lado, duas
senhoras também observam as opções, com interesse.
— Olha só esse, que gracinha! Acho que minha neta vai adorar — comenta a senhora de
cabelos grisalhos.
— Sim, é muito fofo — responde a sua amiga. — Me esqueci de comentar com você o que
o meu marido me contou ontem. Está sabendo do assassinato daquele rapaz, o Thomas? Uma
tragédia horrível.
Viro-me para olhar para as duas senhoras. Meus olhos se arregalaram, pelo choque, quando
ouvi o teor da conversa.
— Sim, foi uma morte cruel. Estou chocada. Eu não esperava que aquele rapaz seria morto
de forma tão brutal. Acho que...
— Assassinato de Thomas? — eu pergunto, estarrecida, e as duas me olham, assustadas.
— Me desculpem. Eu ouvi que as senhoras estavam comentando que um rapaz chamado Thomas
foi morto.
— Sim. Uma tragédia mesmo. Dizem que ele estava envolvido em algo errado e acabou
pagando o preço por isso — comenta a mulher de cabelos loiros.
— É verdade. Ele sempre pareceu ser um rapaz tão simpático, mas nunca sabemos o que
se esconde por trás das aparências, não é? — diz sua amiga.
— Onde esse Thomas trabalhava? — Temo a resposta.
— Na fazenda do senhor Carter.
Fico paralisada, processando as palavras delas. O meu coração se aperta. Não pode ser
verdade o que elas falaram; Thomas não pode estar morto. O meu Thomas não morreu, deve ser
um engano.
— Tem certeza de que esse Thomas trabalhava na fazenda do senhor Carter? — insisto.
— Sim, querida. Infelizmente...
Não espero a mulher concluir sua fala. Caminho, em passos rápidos, até a saída da loja. Eu
estava tão atordoada, que não vi que outra pessoa andava em minha direção e acabei me
esbarrando nela. Ao erguer os olhos para lhe pedir desculpa, vejo que é a minha mãe, e ela me
olha, preocupada.
— Abby, o que aconteceu? Por que está chorando? Está com alguma dor? — Ela observa o
meu corpo, em busca, talvez, de algum machucado.
— É verdade, mãe? Thomas está morto? — pergunto entre soluços.
Ela fica pálida e arregala os olhos.
— Quem contou isso para você?
— Não importa, só quero saber se é verdade!
— Quem contou isso para você, Abby? — insiste na pergunta.
— Não importa quem contou, mãe, só preciso saber se é verdade. Thomas está morto?
— Abby, meu amor, precisamos conversar sobre isso com calma e...
— Não, mãe! — corto-a. — Por favor, me diz! É verdade ou não?
— Sim, querida, é verdade. Thomas... Thomas está morto.
— Não... Não pode ser... Ele não... Ele não pode ter... — falo, debulhando-me em
lágrimas.
— Sinto muito, querida. Sei que é difícil de aceitar, mas você precisa ser forte. — Abraça-
me.
— Eu... Eu não posso acreditar... — digo entre soluços.
— Vamos para casa, querida. Vou cuidar de você.
— Mas... — Soluço. — Mas, como isso aconteceu? Foi o papai, não foi? Papai o matou?
— indago, enfurecida, e acabo chamando a atenção das pessoas à nossa volta, que param o que
estão fazendo para nos olhar.
— Filha, fale mais baixo, por favor — mamãe praticamente suplica. — Vamos conversar
no carro. — Ela me abraça de lado e, mesmo sem forças, eu a acompanho.
Estou andando no automático. Parece que a minha alma saiu do corpo.
No carro, ela acaricia os meus cabelos.
— Às vezes, a vida nos surpreende de maneiras cruéis. Você precisa ser forte, filha, pelo
seu bebê.
— Não foi essa a minha pergunta. Foi o papai que o matou?
Ela respira fundo e diz:
— Eu não sei, meu amor, mas suspeito que sim.
Volto a chorar copiosamente. Como odeio aquele homem que um dia chamei de pai.
— Eu o amo tanto, mãe... E agora ele se foi... — falo, com a voz embargada.
— Eu sei, querida... Eu sei... — Seus olhos estão marejados. — Ele sempre será uma parte
de você, não importa o que aconteça.
— Como vou viver sem ele? Como vou superar isso? — Meu coração está partido.
— Eu estarei aqui sempre que você precisar, filha. — Abraça-me com força.
Após longos minutos abraçada comigo, ela me dá um calmante que havia deixado no
porta-luvas.
Apesar de eu estar mais calma, meu coração pesa com a notícia da morte de Thomas. Cada
respiração é um esforço enquanto tento processar a dor que me consome. As ruas passam diante
de nós, mas eu mal as percebo, perdida em meus próprios pensamentos. Não consigo evitar as
lágrimas que escorrem pelo meu rosto; uma expressão física da dor que sinto por ter perdido o
meu único amor. A simples ideia de um mundo sem Thomas é insuportável. Sinto-me
despedaçada por dentro.
Minha mãe olha para mim com preocupação. Suas palavras de conforto não conseguem
penetrar na escuridão que me envolve, pois estou perdida em meu luto, incapaz de encontrar uma
saída para a dor que me consome. O tempo parece estar congelado e eu me pergunto se, algum
dia, conseguirei encontrar paz novamente.
CAPÍTULO 17
Um mês depois
Lentamente, abro os meus olhos ainda pesados, sentindo a mente turva. Tudo ao meu redor
está confuso e distante. Parece que estou tentando emergir de um sono profundo. Minha cabeça
lateja com uma dor lancinante, como se tivesse sido atingida por um martelo. Tento mexer os
braços e pernas, mas meus músculos estão fracos e doloridos, parecendo que eu estive
trabalhando por um longo período de tempo, sem descanso. Cada respiração é um esforço. Sinto
como se meu corpo tentasse se acostumar novamente com o simples ato de estar consciente.
Minha boca está seca e minha garganta áspera, como se eu estivesse há muito tempo sem beber
água.
Meus olhos, enfim, abrem-se completamente, e sou recebido pela luz brilhante. Ao olhar à
minha volta, percebo que estou em um quarto de hospital. Leva algum tempo para os meus olhos
se ajustarem à luz.
— Ele acordou. — Escuto uma voz distante carregada de alívio e surpresa. — Vou chamar
um médico.
— Meu filho, eu pensei que nunca mais o veria acordado. — Um homem se aproxima de
mim e segura em minha mão. Ele chora, emocionado.
Tento lhe responder, mas nada sai da minha boca.
O médico entra no quarto com passos firmes e faz algumas perguntas. Sua voz soa como se
viesse de um túnel distante, porém suas palavras são nítidas o suficiente para que eu consiga
compreendê-lo.
— Como você está se sentindo? — Sua expressão é de preocupação. — Você consegue me
ouvir? Qual é o seu nome?
Com dificuldade, respondo às suas perguntas. Minha voz sai fraca e rouca.
— Vou levá-lo para fazer alguns exames para avaliar sua condição.
Horas depois
Ao retornar ao quarto, após os exames, encontro Lucille e o mesmo senhor que estava
emocionado quando acordei. Ela parece preocupada, com o olhar repleto de emoções não ditas.
O senhor, cujo rosto ainda é desconhecido para mim, encara-me, aliviado.
— Como está se sentindo? — pergunta-me Lucille. Seus olhos me examinam com
cuidado.
— Estou bem. Como vim parar aqui?
Minha última lembrança é de que eu estava sendo arrastado. Depois disso, fui esfaqueado.
Coloco a mão na barriga e sinto um curativo.
Lucille me explica, com a voz carregada de emoção, que me encontrou desmaiado na beira
da estrada. Ela estava passando de carro pelo local, quando viu um corpo, e mesmo com medo,
aproximou-se. Ela ficou desesperada quando reconheceu a pessoa caída naquele chão, imóvel e,
aparentemente, sem vida.
— Eu pensei que você estivesse morto — confessa ela, com a voz trêmula, relembrando.
— Chamei imediatamente uma ambulância. Eu estava com tanto medo... Eu não poderia suportar
a ideia de perdê-lo.
Senti um nó se formar em minha garganta ao ouvi-la.
Lucille continua me explicando que o médico que me atendeu queria chamar o xerife, mas
ela o proibiu. Ela temia pela minha segurança, ciente de que se todos soubessem que eu estava
vivo, talvez tentariam me matar outra vez.
— Espalhei para todos que você estava morto — seu tom é de tristeza. — Eu só queria que
você ficasse em paz, longe de todo o perigo que o cercava.
Lucille salvou a minha vida e me deu uma segunda chance. Como posso lhe agradecer?
Então, eu me dou conta de que não estamos sozinhos, aquele senhor continua no quarto.
Pergunto a ela quem é esse homem e o que ele faz aqui.
Lucille olha para o senhor ao meu lado, com um olhar triste, e diz:
— Thomas, esse é o seu pai. — Ela está emocionada.
Eu fico atordoado com sua resposta e uma onda de choque percorre o meu corpo.
— Essa brincadeira é de muito mau gosto, Lucille. — Não acredito que ela está zombando
da minha cara desse modo. — Meu pai morreu... Você sabe disso.
O homem ao meu lado se aproxima de mim. Seus olhos são cheios de tristeza e
arrependimento.
— Thomas, meu filho... — ele começa a falar. Sua voz está embargada pela emoção. — A
história é um pouco longa, e prometo que sanarei todas as suas dúvidas, mas de uma coisa, você
pode ter certeza: eu nunca deixei de amá-lo, mesmo que não tenha estado presente em sua vida.
Minha ficha começa a cair. Esse homem é o meu verdadeiro pai, o homem que me
abandonou na porta dos meus pais adotivos. Sinto raiva, dor e um desejo desesperado de
entender o motivo de seu retorno. Como isso é possível? Por que ele retornou após tantos anos?
Lucille coloca uma mão em meu ombro, oferecendo-me um conforto silencioso.
— O seu pai irá sanar todas as suas dúvidas — ela diz, mais tranquila. — Há muito a ser
explicado, mas agora, você precisa descansar e se recuperar.
Com um aceno de cabeça, indico que compreendo. Mal consigo articular uma palavra.
Meus olhos pesam. Depois dos exames, o médico me deu um remédio para aliviar a minha dor
de cabeça, e parece que ele está fazendo efeito. Agora não tenho cabeça para ouvir o que esse
senhor tem a dizer, já que estou exausto fisicamente e psicologicamente.
Lucille coloca uma mão em meu braço e fala:
— Vou deixá-lo descansar agora, mas estarei aqui quando acordar. — Ouço sua voz ao
longe enquanto afundo na escuridão e me entrego ao sono profundo que tanto anseio.
Talvez, quando eu acordar, consiga começar a entender essa confusão de uma vez por
todas.
Dias depois
Depois de uma semana internado, tive alta. Eu não aguentava mais ficar naquele hospital.
Ainda não estou 100%, entretanto, irei ficar. Hoje irei para a fisioterapia. Não sei por quanto
tempo terei que viver esse martírio, mas, apesar de tudo, estou indo bem, segundo o
fisioterapeuta.
Tudo o que eu conhecia sobre mim mesmo, parece ter sido virado de cabeça para baixo em
um instante quando acordei do coma.
Meu pai me contou como fui parar na casa dos meus pais adotivos. Foi a sua secretária que
me sequestrou quando soube que suas tentativas de seduzi-lo não dariam certo. Ele jamais teria
uma amante, amava incondicionalmente a esposa. Após sua secretária fazer essa atrocidade, tirou
a própria vida. O que o impossibilitou de conseguir me encontrar. Com o meu sumiço, minha
mãe definhou e, aos poucos, parou de se alimentar. Meu pai disse que contratou vários
investigadores para me achar, só que nenhum deles obteve uma única pista sequer. Conforme os
meses foram se passando, a minha mãe só piorava, até que faleceu, mas ele nunca desistiu de me
encontrar e continuou me procurando.
A ideia de eu ter sido tão procurado e amado durante todo esse tempo me deixa aliviado.
Passei a minha vida toda pensando que havia sido rejeitado pelos meus pais, e saber que não era
verdade esse pensamento tirou um grande peso das minhas costas.
Eu lhe questionei sobre como ele me achou após inúmeros fracassos. Ele disse que, depois
de anos, finalmente, um investigador conseguiu uma pista na minha cidade. Ele não pensou duas
vezes e veio me procurar, mas, no desembarque, sentiu-se mal e precisou ir ao hospital. Foi
quando ele viu os médicos me levando à sala de emergência e Lucille chorando, apavorada. Ele
perguntou o que havia acontecido comigo, e ela explicou. Papai ficou chocado com tanta
maldade e a confortou. Foi ideia dele que ela espalhasse pela cidade que eu estava morto. Se meu
algoz descobrisse que seu desejo de me ver morto não deu certo, tentaria me matar novamente.
Então, ela acatou essa ideia.
Ele precisou desembolsar uma grana alta para calar os médicos que queriam chamar o
xerife. Lucille não sabia como lhe agradecer, afinal, ele era um estranho que estava ajudando a
salvar a minha vida. Após a minha cirurgia, eles foram liberados para me visitar, e foi nesse
momento que meu pai desabou. Ele tinha certeza de que eu era o seu filho por causa da minha
semelhança com a minha mãe. Sabia que, ali, as suas buscas haviam chegado ao fim. Muito
emocionado, ele contou toda a história para Lucille, e ambos choraram de felicidade.
E essa não foi a minha única surpresa. Lucille me disse que, enquanto eu estava na
cirurgia, fez a promessa de que, se eu sobrevivesse, contaria toda a verdade para mim. Eu lhe
perguntei que verdade era essa, e, com lágrimas nos olhos, ela confessou que tinha mentido, que
não sou o pai do seu bebê. Ela fez isso para que voltássemos, porque ainda me amava e se
arrependia de ter me traído. Fiquei em choque. Eu não acreditava que ela havia me enganado
dessa maneira tão vil.
A revelação dela me atingiu como um soco no estômago. Todo o chão parecia ter
desaparecido sob meus pés. Como ela pôde me enganar dessa forma tão cruel? Durante todo esse
tempo, acreditei que seria pai. No começo, eu não queria, mas depois passei a amar o bebê.
Porém, tudo foi uma mentira.
Após me confessar a verdade, ela me pediu perdão e disse que não queria me ver odiando-
a. Eu a perdoei. De certa forma, tenho uma dívida com ela. Lucille me salvou. Se ela não tivesse
passado por aquele lugar, certamente, eu não teria resistido.
— Animado para mais uma sessão, filho? — pergunta-me papai, sorrindo de lado.
— O que o senhor acha? — devolvo a pergunta, emburrado.
— Pela sua cara, acho que não. — Gargalha.
Assim que recebi alta, ele comprou nossas passagens para Chicago. Lucille se debulhou
em lágrimas, mas entendeu que eu não poderia ficar na cidade e teria que ficar com o meu pai
para que recuperássemos o tempo perdido. Nós nos despedimos e eu entrei no avião com um
único pensamento: vingar-me dos Carter. Quase perdi a minha vida por causa daquele maldito, e
Abby também foi culpada. Como me arrependo de ter sucumbido ao desejo por aquela menina.
— Essa fisioterapia é uma tortura, mas irei me recuperar.
— Em breve, você estará como antes e poderá retomar os estudos. Não estou com tanto
ânimo como antigamente, e alguém precisa estar à frente da nossa empresa.
— O senhor é jovem, conseguiria comandar a empresa por mais 30 anos se quisesse.
— Deus me livre. Em cinco anos, quero estar jogando o meu golfe. Eu mereço esse
descanso.
Reviro os olhos.
— E eu espero ter conseguido a minha vingança.
— Deixe isso para lá, filho. Esqueça aquela gente — ele pede, angustiado.
— Impossível. Ele acabou com a minha vida. Isso não ficará assim — falo, determinado.
Meu pai solta um longo suspiro e muda drasticamente de assunto.
— Continuará com o nome e sobrenome dados pelos seus pais adotivos?
— Não, irei usar o nome que o senhor e a minha mãe me deram.
Continuo amando as pessoas que me criaram como filho, mas para poder me vingar de
quem me fez tanto mal, o primeiro passo será eu mudar de nome. Por isso, a partir de hoje me
chamarei Oliver Hunter.
— Está bem. Irei falar com o advogado. — Ele sorri.
Jamais imaginei que me envolver com Abby Carter viraria o meu mundo de cabeça para
baixo. Eu deveria ter ouvido o meu subconsciente, que me alertava para manter distância dela.
Fui um inconsequente e paguei por ter me envolvido com a filha proibida do meu patrão. Sofri
humilhações que nenhum ser humano merece. Mas isso não ficará assim. Um dia, irei me vingar
da família Carter. Eles pagarão por cada humilhação que me fizeram passar.
CAPÍTULO 18
Texas
Após horas de voo, finalmente, o jato toca o solo e os motores diminuem seu ronco. Estou
a um passo da minha vingança.
As memórias do passado retornam com força total. Estou contando as horas para, enfim,
ficar frente a frente com Joe Carter e Abby.
Eu não esperava que as coisas aconteceriam tão rapidamente, pois faz apenas seis meses
que o meu plano começou. Estou disposto a ir até o fim. Farei justiça com as minhas próprias
mãos.
Com um suspiro, solto o cinto de segurança e me levanto, esticando os músculos depois da
longa viagem. Zeus dá um latido quando descemos do jatinho. Parece que até ele está ansioso
por tudo que irá acontecer. Na área de desembarque, um motorista me espera. Sigo-o até o carro
luxuoso que nos aguarda e lhe agradeço silenciosamente, com um aceno de cabeça, quando Zeus
e eu entramos.
O trajeto até minha mansão é tranquilo. Olho pela janela, observando as paisagens
familiares da cidade. Tudo está do mesmo jeito desde a última vez em que estive aqui, nada
mudou.
O local onde fica a minha propriedade é afastado da cidade. Enquanto nos aproximamos
dela, meus pensamentos se agitam. Estou ansioso para colocar tudo em prática. O carro se
aproxima da entrada principal e eu respiro fundo quando o motorista estaciona. Zeus e eu
descemos rapidamente e o homem me ajuda com as malas.
Ao adentrar a mansão, sou recepcionado por Lucille, que está vestida elegantemente com
uma calça de couro preta, uma camisa social branca de mangas longas e o seu costumeiro par de
saltos altos. Nesses últimos anos, ela não mudou nada fisicamente, continua muito bonita e
atraente, mas não a ponto de sermos amantes.
Ela se tornou uma grande amiga para mim e, anualmente, viaja até Chicago para me
visitar. Apesar de discordarmos sobre minha busca por vingança, ela permanece ao meu lado.
Acabei me tornando o padrinho do seu filho; uma responsabilidade que levo muito a sério. E,
mesmo que nossas opiniões possam divergir, sua amizade é muito importante para mim.
— Senti sua falta. — Ela me dá um beijo no rosto e me abraça.
Zeus solta um latido, e Lucille e eu o olhamos.
— Eu também senti a sua falta, Zeus. — Ela se abaixa e o abraça. — Ele melhorou? —
pergunta, preocupada.
— Sim, ele está bem melhor. — Acaricio a cabeça do meu companheiro.
— Quando você ligou para mim e disse que ele estava doente, fiquei muito preocupada. O
Douglas adora o Zeus, então ficaria arrasado se acontecesse algo com ele.
— Onde está o Douglas? — Olho à minha volta, e nem sinal do seu filho.
— Está na casa do pai dele. — Revira os olhos. — Você sabe como é: o infeliz quase não
fica com o garoto, e quando decide passar um tempo com ele, faz isso sem me consultar. Não
posso decepcionar o meu filho, proibindo-o de ir à casa do pai, mas tinha que ser no mesmo dia
em que você retornou à cidade?
— Tudo bem, Luci. Teremos tempo para nos ver — tranquilizo-a. — Eu trouxe alguns
presentes para o meu afilhado.
— Você o mima muito. Sabe que detesto isso. — Bufa.
— Deixe de ser dramática. — Reviro os olhos. — São apenas alguns presentes que todo
garoto da sua idade gostaria de ganhar.
— Eu sei, mas...
— Sem “mas”, Luci. Não é nada de outro mundo. Agora, vou levar as minhas malas para o
meu quarto, e depois quero falar com você.
— Está bem. Vou preparar um lugar para esse garotão ficar. — Acaricia Zeus.
Ela caminha até onde acredito que seja a lavanderia, na companhia do meu doberman.
Lucille será a minha assistente enquanto eu estiver aqui. A única pessoa que confio para
esse papel é ela. Para isso, ela precisou deixar a sua boutique nas mãos da gerente, uma moça de
sua inteira confiança.
Subo a escada. Ao chegar ao andar dos quartos, entro no último cômodo, deixo as malas no
closet e decido tomar um banho para me refrescar da viagem. A água fria relaxa os meus
músculos e ajuda a clarear minha mente.
Depois de um longo banho relaxante, visto roupas confortáveis e desço para a sala, onde
encontro Lucille imersa em seu celular. Ela está sentada no sofá, com o aparelho encostado na
orelha, conversando animadamente com seu filho. Seu rosto se ilumina com um sorriso enquanto
ela troca palavras carinhosas com ele. Observo-a por um momento, antes de me aproximar.
Lucille percebe minha presença, acena com a cabeça, em cumprimento, e continua sua
conversa.
— Advinha quem está com a mamãe — ela pergunta e faz uma pausa.
— É o Super-Homem? — Escuto ao longe.
— Não é o Super-Homem. — Gargalha. — É o seu padrinho.
— Oba! Quero falar com ele, mamãe — diz o garoto, animado.
— Claro, meu anjo. Vou passar para ele. — Ela me entrega o celular.
— Como está, Doug? Eu trouxe presentes. — Lucille revira os olhos.
— Estou bem, tio. Meu pai vai me levar para andar a cavalo. Estou muito feliz. —
Douglas não esconde a felicidade por estar na companhia do seu pai.
— Fico feliz por você. E, quanto aos cavalos, eles são bons companheiros para explorar
essas terras. Quando você voltar, vou lhe ensinar alguns truques que aprendi quando tinha a sua
idade — falo, tentando animá-lo mais.
— Eu adoraria aprender com você, tio — ele responde, animado.
— Tenho certeza de que vai gostar. — Sorrio.
— Acabamos de chegar, tenho que desligar. Fica com Deus.
Não tenho tempo para responder, porque ele desliga.
— Desligou. — Entrego o aparelho para Luci.
— Ao menos o idiota que me engravidou é um bom pai.
Minha amiga acabou engravidando do filho do xerife, porém o relacionamento com ele não
deu certo. Ele é um homem que não se apega a uma única mulher, e Lucille quer exclusividade,
como todas as mulheres.
— E como estão os preparativos para essa noite? — eu pergunto e ela me olha, séria.
— O salão está todo decorado, como você pediu. À noite, o pessoal da cozinha virá.
— Excelente. — Sorrio.
— Tem certeza de que fará isso? Abby é uma boa pessoa. Douglas estuda na mesma turma
que a filha dela; eles são amigos. E...
— Como? Os dois estudam na mesma turma? Por que nunca me disse? — Estou indignado
por ela ter me escondido um fato tão importante.
— Porque não é algo relevante. Isso vai interferir na sua vingança? — Ela cruza os braços
e ergue a sobrancelha.
— Não, apenas fiquei surpreso.
— Eu entendo que você queira se vingar do senhor Carter, ele é um homem cruel, mas
Abby não é como o pai.
Levanto-me do sofá e ando de um lado para o outro.
— Vejamos... — digo, pensativo. — Ela me traiu e engravidou de outro homem, enquanto
eu pensava que era o amor da sua vida. Também disse na minha cara que se casaria com
outro. Como se a traição não bastasse, ela tentou me enganar quando disse que o bebê era meu.
— Lucille abaixa a cabeça, constrangida. — Não me leve a mal, eu não queria te ofender. É
que...
— Tudo bem, Oliver, sei que está falando de Abby. Mas fiz algo parecido.
— Você se arrependeu, e eu a perdoei. Deixe isso no passado.
— Olha quem fala. É justo você quem me diz que é para deixar no passado? — alfineta-
me. — Isso serve para você também?
— Não, e você sabe bem disso.
— Ok, faça como quiser. Agora... — Levanta-se de onde se acomodava. — Tenho hora
marcada no salão. Preciso estar linda para a festa de mais tarde — diz, animada.
Sorrio com sua empolgação.
A festa que darei hoje à noite será muito mais do que uma simples celebração. Adquiri
recentemente todas as terras no entorno da fazenda de Joe Carter, e essa festa será a minha
apresentação para os fazendeiros da região; uma maneira de eu mostrar a minha presença e
poder.
O salão onde será a festa fica próximo à entrada da minha mansão. Ele é enorme e
comporta até 500 convidados.
Arrumo a gravata do meu smoking, suspiro longamente e entro no salão. Sou recebido por
olhares curiosos e cumprimentos calorosos. A música e as risadas preenchem o ambiente, mas
assim que me aproximo, os convidados interrompem suas conversas para me saudar. Faço
questão de agradecer pela presença de todos.
Lucille vem até mim e trocamos cumprimentos. Pergunto a ela se os meus convidados
principais estão aqui.
— Os Carter chegaram?
Antes que ela possa responder, meus olhos captam a figura de Abby, ao lado de seu pai,
adentrando o salão. Meu coração dá um salto quando a vejo e, por um momento, tudo ao meu
redor parece desaparecer, exceto ela. Mas, num piscar de olhos, todas as lembranças dolorosas
do passado vêm à tona. Lembro-me das ações dela, das escolhas que ela fez e do sofrimento que
me causou. Assim, o ódio volta a tomar conta de mim.
De repente, nossos olhares se cruzam e eu sou envolvido pela profundidade dos seus lindos
olhos violeta. Mesmo com a fúria queimando dentro de mim, não posso negar a hipnotizante
intensidade do seu olhar. É como se todo o resto do mundo desaparecesse, deixando apenas nós
dois presos neste momento.
— Oliver. — Volto à realidade quando Lucille me chama.
— O que foi?
— Irei te apresentar ao senhor Carter. — Pisca.
Aceno, em concordância.
Lucille caminha na minha frente. Quando nos aproximamos deles, meu coração dispara.
Abby não para de me encarar.
— Boa noite, senhor Carter e Abby. Como estão? — cumprimenta-os Lucille.
— Estamos bem, obrigada — diz Abby, olhando para mim fixamente.
Minha amiga nos apresenta.
— É um prazer conhecê-los, senhor Carter e senhorita Abby. Lucille falou muito sobre
vocês — comento.
Quando retribuo o seu olhar, Abby abaixa a cabeça.
— O prazer é todo nosso, senhor Hunter — diz Joe Carter.
Joe não é mais o mesmo. Embora mantenha a aparência de sempre, agora está usando uma
bengala e óculos de sol. O que me faz entender que ele não enxerga bem ou perdeu
completamente a visão. Provavelmente, foi devido ao avanço da diabetes. Isso é apenas o
começo, porque ele tem muito pelo que pagar.
— Eu soube que o senhor está passando por problemas financeiros e que sua fazenda está
hipotecada. Como sabe, tenho adquirido muitas propriedades nesta região. Estou interessado em
expandir meus investimentos, e suas terras têm um potencial incrível. Estou certo de que
podemos chegar a um acordo benéfico para ambas as partes.
Olho para Abby, que continua de cabeça baixa, parecendo melancólica.
Agora está na hora de eu começar a minha atuação.
— Minhas terras são preciosas para mim e para a minha família. Elas são parte de nossa
história por gerações. — Notei um tom de pesar. — Eu gostaria de garantir que qualquer acordo
que façamos seja justo e respeite o legado da minha família.
— Compreendo completamente. Estou disposto a oferecer um preço justo por suas terras,
além de garantias para proteger seus interesses. Tenho planos ambiciosos para desenvolver a
região, e tenho certeza de que sua fazenda será uma adição valiosa aos meus empreendimentos.
Podemos conversar melhor após o término da festa?
— Como quiser, senhor Hunter.
— Tenho alguns convidados para receber, mas fiquem à vontade — digo isso olhando para
Abby, que retribui o meu olhar.
Depois me retiro, e Lucille me acompanha.
— O que foi isso? — ela indaga ao nos distanciarmos deles.
— Isso o quê? — pergunto, sem entender.
— Aquela tensão sexual entre você e Abby. Eu vi que você não parava de olhá-la, e ela
fazia o mesmo quando você não a estava olhando.
— Foi impressão sua. Vá se divertir, você merece. — Pisco.
Ela sorri e faz o que mandei.
Passo a festa toda observando os Carter, principalmente Abby. Ela parece estar tão triste;
talvez porque Joe venderá a fazenda. Mas isso não me importa. Não retornei a este lugar para
ficar com pena dessa ordinária. Vejo o exato momento em que ela sussurra alguma coisa ao
ouvido do seu pai e caminha na direção onde fica o jardim. Essa é a minha deixa para ficarmos a
sós.
Sigo-a com passos largos. Quando ela, enfim, chega ao jardim, fica em frente ao chafariz e
observa as águas descerem por longos minutos. Aproximo-me dela e fico a olhando. Assim que
ela se vira, acaba se esbarrando em mim.
— Me desculpa, eu...
— Você não olha por onde anda? — minha voz sai grave.
Estamos muito próximos, a ponto de eu sentir o seu hálito com cheiro de champanhe.
— Me desculpe, eu não o vi. Eu...
— Tem certeza? Ou será que fez de propósito?
— O que quer dizer com isso? — ela pergunta, irritada.
— Você sabe muito bem do que estou falando. Vi os olhares que dirigiu a mim enquanto
eu conversava com o seu pai.
— Oi? Não estou entendendo. O que está tentando insinuar? — Ergue uma das
sobrancelhas.
— Serei direto, Abby. Percebi o seu interesse em mim, você deixou isso claro. Podemos
resolver esse tesão na minha cama. Enquanto eu estiver na cidade, podemos nos divertir. Assim,
não precisarei contratar uma prostituta barata e irei mostrar a você do que um homem de verdade
é capaz.
Meu rosto vira para o lado e um ardor toma conta da minha pele. Ela me bateu. A cretina
me bateu.
— Quem pensa que eu sou? Vá falar desse modo com a sua mãe, seu cretino, filho da puta!
Sorrio, debochado. É nítido que mexi com ela.
— Ah, Abby, sejamos francos. Odeio joguinhos. Há muito tesão entre nós. Por que não o
aplacamos na minha cama? Conheço mulheres como você: diante da sociedade, agem como
verdadeiras damas, mas entre quatro paredes, se forem bem estimuladas, são piores que
prostitutas de beira de estrada.
Mais uma vez, sinto o ardor em meu rosto.
— Nunca mais... — Seus olhos estão umedecidos pelas lágrimas. — Nunca mais fale
assim comigo.
Ela se prepara para se retirar, mas eu a impeço. Segurando em seu braço, viro-a de frente
para mim.
— Você pode fugir de tudo, Abby, mas não de mim. — Olho em seus olhos e, em um
impulso, beijo-a. Ela se surpreende com a intensidade do gesto, mas logo se entrega.
O mundo ao nosso redor parece desaparecer, deixando apenas nós dois aqui, perdidos neste
momento de paixão e desejo. Porém, para a minha surpresa, o beijo não dura muito. Sinto o meu
pau latejar de dor. Sim, é isso mesmo, a cretina chutou o meu pau.
— Ah, porra! — brado, afastando-me dela.
— Nunca... mais... volte... a me beijar — ela diz, sem fôlego, enquanto limpa os lábios
avermelhados pelo beijo.
Após dizer isso, ela sai correndo, e eu fico igual a um idiota, sorrindo.
— Abby, Abby... Em breve, você estará louquinha por mim — murmuro para mim mesmo.
Assim que a dor diminui, ajeito o meu smoking e retorno ao salão. Meus olhos ficam
observando Abby como os de um gavião em torno de sua presa. E sempre que os nossos olhos se
cruzam, ela desvia o olhar.
Meia hora antes da festa acabar, voltei para a minha casa e vim direto para o escritório.
Pedi para que, no final da festa, Lucille trouxesse o senhor Carter até mim e permitisse que
apenas ele entrasse. Não quero Abby escutando a nossa conversa.
Em frente à janela, com os braços para trás, observo o jardim e relembro o beijo que ela e
eu trocamos. Confesso que, há muito tempo, eu não me sentia tão vivo. Aquele beijo foi o
primeiro de muitos. Minha vingança não vai me impedir de desfrutar dos seus lábios e corpo.
— Oliver, o senhor Carter está aqui.
Viro-me e vejo Lucille na porta.
— Deixe-o entrar.
Ela assente.
Segundos depois, o senhor Carter entra e Lucille o ajuda a se sentar. Como imaginei, ele
não está enxergando mais, ou a sua visão está fraca.
Após ajudá-lo, Lucille pede licença e se retira.
— Serei direto, senhor Carter; odeio enrolações. Sua fazenda está falida, e isso não é
nenhum segredo. O seu genro o roubou e fugiu com a amante. — Sorrio. — Terá que vender a
fazenda, senão o senhor e sua família morrerão de fome. Estou disposto a pagar uma boa quantia,
mas, em troca, eu quero a sua filha.
— Como é? Ficou maluco, rapaz? Quer comprar a minha filha? — ele pergunta,
indignado.
— Não se faça de inocente. Não seria a primeira vez que a venderia para alguém. Se
esqueceu de que a vendeu para o filho de um dos seus sócios?
— De onde tirou esse absurdo? — ele questiona, chocado.
— Não é nenhum absurdo, e o senhor sabe bem disso. Bom... Mas isso não importa agora.
Preciso resolver outros assuntos, então não tenho muito tempo, por isso, me responda logo.
— Você não...
— Eu quero a sua filha, e estou disposto a pagar muito por ela. Qual vai ser a sua resposta?
CAPÍTULO 19
— Você não...
— Eu quero a sua filha, e estou disposto a pagar muito por ela. Qual vai ser a sua resposta?
— sou direto, sem delongas.
— Por que a quer como esposa? De onde a conhece? — Joe pergunta, desconfiado.
— Não a conheço. Eu a quero como esposa porque sou um homem de negócios e sei
reconhecer uma oportunidade quando a vejo. Estou disposto a pagar. Dinheiro, tenho de sobra. É
simples assim. Além disso, ela é perfeita para o papel de esposa-troféu: é jovem, bonita, recatada
e, futuramente, poderá gerar o meu herdeiro.
Sinto um aperto no peito quando me lembro de que não poderei ser pai de forma natural, e
isso devido ao chute que levei no pênis no dia em que o miserável que está em minha frente
mandou seus capangas me agredirem. A cena se repete em minha mente às vezes como uma
ferida que nunca cicatriza. Não tenho palavras para expressar a dor que senti ao aceitar que
nunca poderia conceber um filho por meios naturais. Se um dia eu quiser ser pai, terá que ser por
inseminação artificial.
— Minha filha não vai aceitar isso.
Sorrio, debochado.
— Ela faz tudo que o senhor ordena. Além disso, não seria a primeira vez que ela se
casaria a mando do pai.
— O que está insinuando, rapaz?
— Não estou insinuando nada, estou afirmando. Sua filha é como um animalzinho acuado
que morre de medo do seu dono, e por isso faz tudo que ele ordena. O senhor vai mandá-la se
casar comigo, e ela não vai contrariá-lo. Ela nunca o contrariou, não é mesmo? Não quer se livrar
da hipoteca?
— Mas o senhor não ia comprar a fazenda?
— Mudei de ideia. Ela continuará sendo sua e eu pagarei todas as suas dívidas, mas, em
troca, quero a sua filha. Estou disposto a pagar caro para a ter em minha cama. Então, o senhor
aceita a minha oferta?
— Claro. Faremos como o senhor deseja.
Era óbvio que ele não iria recusar. Joe seria capaz de vender a própria alma para o Diabo
para se manter rico.
— O contrato já está redigido. Amanhã, traga o seu advogado para que ele veja se está
tudo certo. Após assinarmos os papéis, nós nos casaremos em uma semana.
— Tão rápido? — ele questiona, surpreso.
— Sim. Eu tenho pressa. — Ele assente. — Agora, que acertamos a compra da minha
esposa, a nossa reunião está encerrada.
Ligo para Lucille e digo a ela que resolvemos tudo. Ela entra na sala e ajuda o miserável a
ir embora do meu escritório.
Depois da conversa tensa com ele, sinto um peso enorme em meus ombros. Vou até a
adega. Aqui, entre as paredes de pedra e o aroma de barris de vinhos envelhecidos, encontro um
pouco de paz. Encho um copo com uísque, precisando de algo para acalmar meus nervos
exaltados. Cada gole queima minha garganta, mas eu continuo bebendo, deixando que o álcool
afaste um pouco da tensão que sinto.
Enquanto bebo, minha mente vagueia para o beijo que troquei com Abby. A lembrança
daquele momento ainda está viva em minha mente, trazendo consigo vários sentimentos: ódio,
tristeza e angústia. Havia uma intensidade naquele beijo que me deixou atordoado; uma atração
que eu não poderia ignorar, mesmo se tentasse.
No entanto, sei que não posso me deixar levar por essa lembrança. O que aconteceu entre
nós deve ser encarado com frieza da minha parte. Tenho que manter a mente clara e focada no
que precisa ser feito para eu garantir que minha vingança seja cumprida com maestria. Mas,
apesar dos meus esforços, a recordação daquele beijo continua a me assombrar.
Eu tomo mais um gole da bebida e minha mente volta para uma semana atrás, quando pedi
que Lucille entrasse em contato com os Carter para dizer a eles que eu iria fazer uma oferta pela
fazenda, mas que faria isso pessoalmente no dia em que viesse à cidade. Eles não tinham ideia de
que minha oferta mudaria e incluiria Abby.
Após beber metade da garrafa, subo para o meu quarto para tomar um banho, o que parece
ser a única coisa capaz de aliviar a tensão que se acumulou em meus ombros ao longo do dia.
Permito-me fechar os olhos e deixar que os problemas se dissipem um pouco, e, por um instante,
consigo esquecer as preocupações que me assombram. Mas, mesmo na tranquilidade do banho,
não consigo evitar que minha mente retorne ao beijo que troquei com Abby.
A sensação dos seus lábios contra os meus ainda está fresca em minha memória. A
recordação do seu corpo no meu faz o meu membro ficar duro. Toco nele lentamente e o
acaricio. Lembro-me da primeira vez em que Abby me chupou. Mesmo sem experiência alguma,
ela me chupou com maestria. Sua boquinha macia soube me deixar louco. Eu gozei em sua boca,
e ela engoliu tudo, sem deixar uma gota para trás. Com esses pensamentos, eu gozo, tocando-me.
— Porra! — Esfrego o rosto. — Eu não deveria me masturbar pensando naquela mulher.
Enfurecido, saio da banheira e, rapidamente, enxugo-me. Vou até o meu closet, retiro da
mala a calça do meu pijama e a visto. Amanhã virá uma pessoa para organizar a minha casa.
Depois de ter me secado e me vestido, decido relaxar na cama por um momento. Pego um
livro que estava sobre o criado-mudo: “O Príncipe”, de Maquiavel. Abro-o em uma das minhas
citações favoritas.
“Os homens devem ser adulados ou destruídos, pois podem vingar-se das ofensas leves,
não das graves; de modo que a ofensa que se faz ao homem deve ser de tal ordem que não se
tema a vingança.”
Maquiavel enfatiza que a vingança deve ser executada de forma rápida, decisiva e
calculada.
Após alguns minutos imerso na leitura, fecho o livro e o coloco de volta no criado-mudo.
Deito-me na cama, deixando minha mente vaguear pelos próximos passos que irei dar.
— Aaahhh!!! — Senti uma dor aguda que me despertou do meu sono profundo.
Abro os olhos, confuso e atordoado, e encontro Abby ao meu lado. Sua mão aperta
firmemente o meu membro. Sinto choque e surpresa, tentando entender o que está acontecendo.
Ela olha para mim com raiva e desespero.
Com muita dificuldade, consigo afastá-la, respirando pesadamente.
— O que... diabos... você estava fazendo? — A raiva percorre minhas veias.
Abby parece transtornada, com os olhos brilhando de ódio.
— Você não vale nada! Acha que pode me comprar como se eu fosse uma mercadoria?
Sorrio de forma debochada, embora a dor ainda pulse em meu membro.
— Mas eu não quero uma mercadoria, quero uma esposa. Assim não poderemos
conversar, se acalme.
Abby me encara, com uma fúria clara em seu olhar.
— Você é um monstro!
Apenas continuo sorrindo, sabendo que atingi um ponto sensível.
— Quando eu estiver entre as suas pernas... — sussurro e a vejo se arrepiar. — Você dirá
outra coisa.
Ela tenta me bater, mas eu a seguro.
— Seu pervertido, me solte agora! — grita.
— Farei isso quando você prometer que não voltará a me agredir — murmuro ao seu
ouvido. Minha voz sai mais grave de propósito, pois quero deixá-la excitada.
— E-está... bem — ela gagueja. Posso sentir o cheiro da sua excitação.
Aos poucos, Abby vai se acalmando e, como o prometido, eu a solto. Ela se afasta de mim
como se eu estivesse com uma doença contagiosa.
Eu me sento na cama e ela fica em pé, abraçando-se.
— Como você entrou em meu quarto? — Estou um pouco irritado.
— Isso não importa. Vim aqui para deixar umas coisas claras.
— Ah, é? E quais coisas? — Cruzo os braços e a olho seriamente.
— Meu pai me contou que você quer me comprar.
Sorrio de canto.
— Não quero comprá-la, eu a comprarei. Seu pai e eu assinaremos o contrato hoje diante
dos nossos advogados.
Ela inspira fundo antes de continuar, como se reunisse coragem para falar.
— Eu não sou um objeto que pode ser comprado e vendido. Não importa o quanto você
pague, eu nunca serei a sua esposa. Entendeu? — Vejo lágrimas em seus olhos.
— E quem disse que estou pedindo sua opinião? Você tem sorte de receber uma oferta
como essa — respondo com um tom de deboche, tentando disfarçar a raiva que cresce dentro de
mim.
— O que tentou insinuar com a última frase?
— Ah, Abby... — Levanto-me e me aproximo dela. Ela dá um passo para trás, mas eu
seguro em seu queixo e continuo. — Em breve, você fará 29 anos; está perto dos 30. E seu
marido a trocou por outra, sendo que não é qualquer um que troca a esposa pela amante. Essa é
uma prova de que você não sabe satisfazer um homem. Então, qual homem vai querer se
relacionar com uma mulher como você?
Sinto uma ardência na face.
— N-nunca mais... Nunca mais fale comigo... desse modo. Ouviu bem? — ela diz entre
soluços.
Confesso que a ver assim me deixa incomodado. Eu deveria ficar feliz com a sua tristeza,
mas não estou. Aproximo-me dela, seguro em seus braços e olho no fundo dos seus olhos.
— Volte a me agredir novamente, e eu não responderei por mim.
Ela devolve o meu olhar e sussurra:
— Thomas?
Solto-a com uma certa brusquidão e fico de costas para ela.
— Quem é Thomas?
— Não é ninguém, eu só...
— Como não é ninguém? — Viro-me e a encaro. — Você disse esse nome em tom de
lamento. Acredito que esse homem deve ter sido uma pessoa muito importante em sua vida.
— Sim, mas isso não é da sua conta. — Cruza os braços e direciona o olhar para o meu
abdômen. — O que aconteceu? Como conseguiu essa cicatriz?
— Não é da sua conta — devolvo na mesma moeda.
— Alguém tentou matá-lo?
Olho-a de cara fechada.
— Você é muito curiosa. Mas o que acha que aconteceu? — Aproximo-me lentamente
dela. — Quero saber qual é a sua teoria. — Seguro em seus cabelos macios e os cheiro. É o
mesmo cheiro do shampoo que ela usava quando nos conhecemos.
— Acho... Acho que tentaram matá-lo. Pelo jeito, não tiveram sucesso. Infelizmente —
sussurra a última palavra.
— O que você quis dizer com “infelizmente”? — Imagino qual será a sua resposta.
— Se a pessoa que tentou matá-lo tivesse feito um bom serviço, nunca teríamos nos
conhecido e eu não seria obrigada a me casar com você.
Afasto-me dela e falo:
— Não a estou obrigando a se casar, fiz uma proposta, e o seu pai aceitou. Simples assim.
— Você é um cretino. Não sabe como o desprezo. Eu te odeio tanto. — Vejo lágrimas não
derramadas em seus olhos.
— Não me importo, Abby. A única certeza que tenho neste momento é do nosso
casamento. — Acaricio o seu rosto. — Quando eu estiver entre as suas pernas, você mudará de
opinião sobre mim. Irá suplicar para que eu a faça gozar. — Sorrio maliciosamente.
— É no que você acredita, mas eu nunca transarei com você. Para que isso aconteça, terá
que me pegar à força.
— Será mesmo que precisarei pegá-la à força? — Seguro em sua nuca com firmeza e a
beijo.
Ao sentir os seus lábios macios, percebo o meu coração disparar. Abby não retribui o beijo
de imediato, ela se debate, tentando se libertar dos meus toques. Sua resistência só aumenta o
meu tesão. Eu a quero mais do que qualquer coisa, e estou disposto a fazer o que for necessário
para a ter.
Abby hesita por um instante, mas logo cede, correspondendo aos meus toques com uma
intensidade surpreendente. Minha mente fica em branco enquanto me deixo levar pelo calor do
beijo. Sinto-me eletrizado pelo contato e cada vez mais envolvido em uma onda de desejo.
Nossos corpos se aproximam automaticamente, como se estivessem sendo puxados um
para o outro por uma força visceral. As mãos dela deslizam pelos meus ombros e as minhas se
perdem em seus cabelos macios. O beijo se intensifica mais a cada segundo, tornando-se mais
profundo e apaixonado, como se estivéssemos tentando nos fundir em um só ser.
Por um momento, esqueço-me de tudo ao meu redor, imerso apenas na sensação prazerosa
de estar com ela. É como se todo o resto do mundo desaparecesse, deixando apenas nós dois no
centro do universo.
Mas essa doce ilusão é interrompida após alguns segundos. Ela empurra o meu peito com
força e se afasta.
— Pare com isso, Oliver! — sua voz soa trêmula e irritada.
— Por que sempre luta contra isso, Abby? — Estou frustrado com sua rejeição. — Não
pode negar que há algo entre nós.
Ela me encara com olhos cheios de conflito.
— Isso é ridículo, eu mal te conheço — ela afirma, cheia de desconfiança. — Eu não
deveria ter cedido. Isso nunca mais voltará a acontecer.
— Abby, escute... — eu começo a falar, porém ela me interrompe.
— Não. Eu não deveria ter vindo aqui. É melhor eu ir embora — ela responde, firme e
decidida. — Você pode me ter como esposa, mas nunca me terá como sua mulher.
Respiro fundo, sabendo que seria inútil eu argumentar mais. Essas foram as suas últimas
palavras antes de ela bater a porta.
CAPÍTULO 21
Dias depois
Hoje é o dia do meu casamento e estamos prestes a seguir para o cartório. O sol brilha lá
fora, porém meu coração sangra. Estou inundada de tristeza; uma tristeza profunda que parece
pesar em cada parte do meu ser. Não era assim que deveria ser o dia do meu casamento, deveria
ser um momento de alegria e de celebração do amor e do compromisso. Eu não queria passar por
tudo isso novamente.
Foi difícil contar para Tess que eu iria me casar com outro homem e que seu pai não
voltaria mais para casa. Ela chorou muito, e ver suas lágrimas partiu o meu coração em pedaços.
Eu me senti a pior mãe do mundo. Contudo, não tive escolha.
O casamento no cartório foi rápido, como o esperado, entretanto, uma coisa chamou a
minha atenção: quando apresentei Tess a Oliver, ele ficou pálido, como se tivesse visto um
fantasma. Essa reação não passou despercebida por mim e me deixou ainda mais desconfortável
com toda a situação. Quando lhe perguntei se ele estava bem, ele disse que sim e que era
impressão minha, então não toquei mais no assunto.
O almoço transcorreu em um clima estranho. Além de nós, estavam presentes os meus
pais, minha filha, Tess, o pai de Oliver, que é um senhor simpático e cordial, em contraste com o
seu filho, e Lucille, acompanhada de seu filho.
Oliver esteve distante durante toda a refeição, mal dirigindo a palavra às pessoas. Seu pai
tentava manter a conversa fluindo, mas seus esforços eram em vão diante da aura sombria que
pairava sobre o seu filho.
Após o almoço, Lucille e Douglas partiram, assim como os meus pais. Owen, por sua vez,
retirou-se para o seu quarto para descansar depois da longa viagem até a cidade. Ele chegou
apenas minutos antes do casamento.
Agora Tess está no jardim, brincando com Zeus, que acabou se tornando o seu fiel
companheiro. Apesar de ele ser um cão de caça, é super meigo e foi receptivo comigo e com
minha filha. Observá-la ali, cercada pela natureza, traz um pouco de paz ao meu coração
inquieto. Mesmo em meio a toda essa turbulência, ela continua sendo minha âncora e minha
razão para seguir em frente.
— Vamos para o quarto — diz Oliver secamente.
Ele põe o copo com uísque em cima da mesa de centro, levanta-se do sofá e me olha como
se me esperasse.
— Por que você quer que eu vá para o quarto? — pergunto, já sabendo a resposta.
— Acabamos de nos casar. O que acha que faremos, meu bem?
Engulo em seco.
— Mas é dia e a minha filha está acordada. E...
— Desde quando existe horário para trepar? — Seu sorriso é zombeteiro. — Eu quero
consumar o casamento agora, e você não poderá dizer o contrário, porque eu a comprei para isso.
Lágrimas começam a brotar em meus olhos. Neste exato momento, estou me sentindo
como uma prostituta. De repente, ele agarra o meu braço com firmeza. Eu me debato, tentando
me soltar, mas ele me ergue como se eu fosse um saco de cimento.
— Me solte, seu cretino! — Bato em suas costas, mas não obtenho sucesso no meu intento,
porque ele não se move um milímetro.
— Quando eu estiver metendo em você, mudará de ideia rapidinho.
Continuo a me debater, insistindo para que ele me solte, e bato em suas costas, em um
esforço desesperado. No entanto, meus esforços são em vão. Ele parece ainda mais determinado
a me manter presa em seus braços e não cede, mantendo o seu aperto firme. Minha respiração
começa a ficar mais rápida quando percebo que nos aproximamos do seu quarto. Meu coração
bate forte no peito e a sensação de impotência me domina.
Eu sinto o meu corpo se chocar contra o colchão e, no impacto, um gemido escapa dos
meus lábios. Minhas mãos tentam empurrar Oliver para longe, só que é em vão, pois sua força é
muito maior que a minha. Minha respiração fica pesada e o meu coração bate mais
descontroladamente no peito conforme tento entender o motivo de ele estar fazendo isso comigo.
— Você disse que não iria me pegar à força — lembro-lhe da nossa conversa de alguns
dias atrás.
— E quem disse que farei isso à força? — Lentamente, ele tira a sua camisa e olha nos
meus olhos. Minha respiração fica descompensada quando ele tira a calça, ficando apenas de
cueca. — Está gostando do que vê, não está?
Meu rosto fica vermelho. Ele tem um corpo grande, cheio de músculos e com algumas
tatuagens.
— Eu... — Eu ia me defender, mas me calei quando ele tirou a cueca e o seu membro
pulou para fora, ereto.
— Agora é a sua vez. — Sinto um nó na garganta quando ele vem até mim e começa a me
despir. Por mais que eu queira lutar, sou tomada por uma sensação de impotência. Cada peça de
roupa que é retirada parece arrancar um pedaço da minha dignidade. — Você continua linda, não
mudou nada.
Acho estranha a sua fala e pergunto o que ele quis dizer com isso.
— C-como assim não mudei nada?
— Deixe isso para lá, não é importante. Venha aqui. — Ele me beija com uma voracidade
que me deixa sem fôlego.
Por um instante, consigo me perder no calor do momento, e isso me apavora. Eu deveria
ficar com nojo e raiva; eu deveria odiar esse homem por tudo que ele está fazendo. Todavia,
acabo sucumbindo ao desejo e à paixão. Uma voz interior, insistente, sussurra que algo não está
certo, no entanto, escolho ignorá-la, afundando-me mais profundamente neste abismo de prazer
fugaz.
Abro os olhos após o beijo e encaro Oliver, tentando entender o que está acontecendo. Ele
parece determinado a me seduzir, e uma parte de mim quer ceder, quer se deixar levar pela
intensidade do momento. Entretanto, a sensação de eu estar traindo os meus sentimentos mais
profundos persiste.
Oliver volta a me beijar, mas desta vez o beijo é em meu pescoço. Solto um gemido
abafado quando ele enfia seu dedo em minha boceta.
— Ooohhh! — gemo mais alto quando ele massageia o meu clitóris.
Seus beijos se estendem até os meus seios, os quais ele chupa, mordisca e lambe como se
fossem o seu doce favorito.
Minha boceta fica cada vez mais encharcada.
— Quero provar a sua bocetinha. — Após dizer isso, ele lambe a minha vulva com
vontade, abrindo os meus grandes lábios.
Quando ele chupa o meu clitóris, sinto o meu orgasmo se aproximar e sou colocada de
quatro. Ele dá um tapa na minha bunda que, com certeza, ficará marcado e me penetra
lentamente para que eu me acostume com o seu tamanho.
Um suspiro de estremecimento escapa dos meus lábios quando ele começa a estocar
freneticamente.
— Ahhh! — Meus gemidos ficam cada vez mais altos.
Rebolo, alucinada, e gemo, implorando para que ele não pare de estocar. Ele puxa os meus
mamilos, causando-me arrepios, e os seus quadris batem forte em minha bunda. Oliver penetra
cada vez mais fundo. O prazer explode entre nós e ele goza dentro de mim. Seu líquido quente
escorre pelas minhas coxas e eu caio, exausta e satisfeita. Ele faz o mesmo, caindo ao meu lado.
— Eu disse que quando estivesse entre suas pernas, você iria mudar de ideia.
Com pesar, vejo Oliver se levantar da cama e se dirigir ao banheiro. É neste momento que
permito que as lágrimas escapem, silenciosas e pesadas. Percebo que sucumbi ao desejo,
cedendo a algo que, no fundo, sei que deveria odiar. Como pude me permitir isso? Estou
traçando um caminho que vai contra tudo que acredito e que vai me causar dor. Como pude ser
tão fraca?
Esses pensamentos me consomem enquanto as lágrimas continuam a rolar.
Enxugo as lágrimas e enrolo o lençol em meu corpo. É neste instante que Oliver sai do
banheiro com a toalha em volta da cintura, sem sequer me olhar. Ele desaparece no closet por
alguns minutos e reaparece já vestido, pronto para sair.
Minha voz sai trêmula quando pergunto para onde ele vai, mas sua resposta é cortante.
— Para onde você vai?
— Não é da sua conta.
Observo-o, em silêncio, deixar o quarto. Assim que a porta se fecha, deixo, mais uma vez,
as lágrimas rolarem pelo meu rosto. Sinto-me devastada, envergonhada e arrependida por ter
cedido ao desejo. Mesmo se eu quisesse, não conseguiria evitar a enxurrada de sentimentos que
me domina. Tudo o que posso fazer é permitir que o choro expresse o que as palavras não
conseguem.
CAPÍTULO 22
Olho pela janela da sala e vejo Tess brincando com Zeus no jardim. A semelhança dela
com a minha mãe é surreal. Infelizmente, nunca cheguei a conhecê-la pessoalmente, mas tem
inúmeras fotos dela no escritório do meu pai.
Abby me disse que o bebê que ela esperava era de Ulrich. Como a boa mentirosa que é,
enganou-me mais uma vez. É evidente que Tess é minha filha. Como Abby pôde mentir para
mim de modo tão vil? Como pôde me fazer acreditar que Tess não era a minha filha? A sensação
de eu ter sido enganado me consome, e a raiva só aumenta a cada pensamento meu sobre o
assunto. Como pude ser tão ingênuo? Como pude acreditar em suas mentiras?
Meu pai se aproxima de mim e fica ao meu lado, observando Tess brincar.
— A menina é minha neta — diz ele, com um sorriso orgulhoso.
— O senhor também notou a semelhança dela com mamãe?
— Sim. Tirando os cabelos loiros, de resto, ela é a sua cópia.
Meu coração se aperta com essa afirmação. Eu não estava imaginando coisas, Tess é minha
filha realmente. Meu ódio por Abby, por ela ter mentido sobre a paternidade, só aumenta. Estou
indignado com tudo isso.
Viro-me para encarar o meu pai, com a raiva ainda fervendo dentro de mim.
— Estou muito puto com Abby por ela ter me escondido isso — confesso.
Meu pai me olha com tristeza e preocupação.
— Oliver, não deixe que o ódio te consuma. Abby teve seus motivos para manter isso em
segredo. Talvez ela tenha achado que seria o melhor para Tess.
Reviro os olhos, incapaz de aceitar qualquer desculpa.
— Sério? — Bufo. — Não me importam os seus motivos, ela mentiu para mim. É uma
cínica.
Ele coloca uma mão em meu ombro, tentando me transmitir um pouco de conforto.
— Isso não muda o fato de que você é o pai da Tess, Oliver. Tem a chance de ser o pai
que ela merece.
Balanço a cabeça, afirmando. Minha mente está tumultuada.
— Eu não posso. Não enquanto não fizer Abby e seu pai pagarem por tudo que fizeram
contra mim. É imperdoável as atrocidades que eles cometeram, principalmente Joe. O senhor se
lembra de quando nos conhecemos, do meu estado físico. Quase morri.
— Sim. E não sabe como senti vontade de matar aquele homem. Eu quase o perdi antes
mesmo de nos conhecermos, e disso, nunca vou me esquecer. Mas ainda acho que a vingança
não é o melhor remédio. — Ele suspira e continua com seu discurso de bom samaritano.
Não me importa quantas vezes ele diga para que eu esqueça essa vingança. Nunca
esquecerei.
— Às vezes, o perdão é mais difícil de se conceder, filho, então não o julgo por isso, mas é
ele que nos liberta do peso do ressentimento.
Mantenho-me em silêncio. Não quero continuar falando sobre esse assunto.
Eu olho novamente para Tess brincando lá fora e um sorriso fraco se forma em meus
lábios.
— Vou fazer tudo que estiver ao meu alcance para ser o melhor pai para ela, pai. Ela
merece isso.
Percebo um leve sorriso nos lábios dele.
— Disse certo. Eu quero conhecer a minha neta e saber das coisas que ela gosta. E você
deveria fazer o mesmo para recuperar o tempo perdido.
Concordo.
— Eu farei, não se preocupe.
— E onde está a minha nora?
— No quarto.
— Como ela está? Espero que esteja tratando a garota bem.
— O intuito de tudo isso é que ela sofra. Por que eu a trataria bem?
Ele chacoalha a cabeça em negativa.
— Espero que você não a agrida fisicamente — adverte-me.
— Eu jamais faria isso. Minha vingança não tem nada a ver com agressão. O senhor me
ofende ao pensar desse modo.
— Está obcecado em fazer com que Abby sinta a mesma dor que você. Não me admiraria
se a fizesse sentir dor física.
— Eu jamais bateria nela — falo, alterado. — Não sou um monstro.
— Quando concluir essa vingança, talvez se sinta um. Ainda dá tempo de mudar de ideia.
Faça isso antes que seja tarde.
— Não cheguei até aqui para desistir na metade. Eu vou até o final — digo, determinado.
— Caso a conclua, tenho certeza de que você se sentirá um monstro, e talvez vá ser tarde
para arrependimentos — ele diz em tom de lamento.
— Não, pai. Esperei anos por isso, e não será agora que irei desistir. Se para realizar os
meus objetivos, eu preciso virar um monstro, então virarei.
— Eu disse uma vez e voltarei a dizer, por mais cansativo que seja e mesmo sabendo que
você não vai me ouvir. Apesar de tudo, sou o seu pai, e é o meu dever lhe mostrar o melhor
caminho a seguir. Você terminará arruinado e com o coração destroçado; talvez até mais do que
está se sentindo hoje. As feridas emocionais podem ser ainda mais devastadoras do que as
físicas, e você pode descobrir que o preço que vai pagar será mais alto do que jamais imaginou.
— Após dizer isso, ele se retira.
Continuo observando Tess pela janela. Ela se senta na grama e Zeus se mantém ao seu
lado.
Meu pai pode estar certo em tudo que disse, só que o meu desejo de fazer justiça é maior.
Não posso permitir que eles saiam impunes.
Caminho até onde Tess está sentada e me lembro de quando a vi pela primeira vez. Assim
que Abby chegou ao cartório, acompanhada de seus pais e de Tess, uma onda de emoções me
atingiu. Meu coração parecia querer saltar do peito quando notei a semelhança impressionante
entre minha filha e minha mãe. Cada traço, cada expressão... Tudo nela me lembrou a mulher
que me gerou, e essa constatação me deixou atordoado.
Tess permanecia quieta ao lado de sua mãe, de cabeça baixa e silenciosa. Seu rosto sério
indicava, claramente, que ela não estava satisfeita com o casamento de Abby. Então, foi ali que
decidi que não poderia deixar que as mágoas entre nós afetassem o relacionamento que eu iria
criar com minha filha.
Quando chego perto de Tess, percebo que ela chora. O meu coração se parte por eu ver as
lágrimas dela. Minha vontade é de abraçá-la, beijar a sua testa e dizer que tudo ficará bem,
porém não gostaria de assustá-la com esses gestos bruscos. Em silêncio, sento-me ao seu lado e
acaricio a cabeça de Zeus, que fecha os olhos, apreciando o meu carinho. Minha filha se encolhe
como se estivesse com medo de mim.
— Qual o motivo do seu choro? Aconteceu alguma coisa?
Entre soluços, ela me responde.
— E-estou com saudade... d-do meu pai.
Sua confissão parte o meu coração e eu sinto um aperto na garganta. Minha vontade é de
dizer que aquele imbecil, que ela acreditou, a vida toda, ser seu pai, não é nada dela. Eu queria
lhe contar a verdade, mas agora não é o momento.
Olho para Tess, que está com o rostinho molhado pelas lágrimas, e uma sensação de
impotência me invade.
— Se ele a abandonou, é porque não merece ser o seu pai.
Ela me encara com olhinhos marejados.
— C-como assim?
— Ser pai envolve responsabilidade, cuidado e amor com o seu filho. Quando um homem
abandona o seu filho ou filha, ele não está cumprindo o papel de pai de maneira adequada,
portanto, não merece o título ou o reconhecimento como tal. E me parece que esse é o caso do
seu pai. — Dizer que aquele homem é o pai da minha filha me deixou descontente, porém não
posso usar o termo correto, ela ficaria arrasada. Esse momento ainda chegará. — Ulrich não está
sendo um bom pai para você, Tess, mas eu posso cumprir esse papel, caso queira.
— Você quer ser o meu pai? — Ela enxuga as lágrimas.
— Eu gostaria de ser o seu pai. Se você me der uma chance, prometo estar ao seu lado,
cuidar de você e fazer o possível para te fazer feliz.
Ela me encara com olhos cheios de lágrimas, com uma mistura de tristeza e esperança,
mas, de repente, fica cabisbaixa.
— Mas eu tenho um pai. Se ele voltar e souber que tenho outro papai, ficará chateado.
— Me veja como um pai substituto. — Engulo em seco. Odeio ter que mentir para a minha
filha, mas é necessário. Ao menos por ora. — Serei o seu pai até Ulrich voltar.
Tess me olha, pensativa, então seus olhinhos brilham e ela responde:
— Eu quero, Oliver. Eu quero que você seja o meu pai. — Ela se joga em meus braços.
Seu abraço apertado é a resposta que eu precisava. Sinto um peso enorme sendo levantado
dos meus ombros. Agora, mais do que nunca, preciso fazer tudo certo.
Dias depois
Papai se prepara para partir após três dias em minha casa. Ele pega Tess no colo, com um
sorriso caloroso, e diz que logo estará de volta para a visitar. Ela parece animada com a ideia, e
isso me faz sorrir também.
— Pode ligar para mim quando quiser, Tess. Pararei o que estiver fazendo para te atender,
princesa. — Ele aperta o narizinho dela e ela sorri.
— Vou ligar todos os dias — responde a minha princesa.
— Sei que sim. — Ele beija a sua testa. — Não quero chegar atrasado, então é melhor eu
ir.
Ele põe Tess no chão e Abby diz:
— Sentirei sua falta, Owen. — Abraça-o.
— Eu também, minha querida. Quando precisar conversar, faça como a Tess: ligue para
mim. Estarei disposto a ouvi-la. — Ele pisca e ela sorri.
Meu pai e Abby se tornaram amigos. Isso me incomoda; era para ele estar do meu lado.
— Claro, eu ligarei. — Ela pisca de volta.
Irei levar o meu pai até o aeroporto. O nosso jatinho está à sua espera.
Beijo Tess na testa e lhe digo para se comportar na escola. Ela sorri e diz que é uma aluna
muito inteligente e comportada. Retribuo o seu sorriso.
Enquanto eu levarei o meu pai até o aeroporto, Abby, acompanhada do meu motorista,
levará Tess à escola. Ao entrarmos no carro, meu pai questiona como anda o meu
relacionamento com Abby.
— O senhor sabe que esse casamento não é de verdade. — Olho fixamente para a estrada.
— Pensei que pudesse mudar de ideia. — Dá de ombros.
— Seguirei o planejado. Não sei por que insiste nesse assunto — digo, irritado.
— Por mais que você não goste, continuarei lhe dando conselhos. Que pai eu seria se
cruzasse os braços ao ver meu filho errando? Enquanto eu puder tentar fazê-lo mudar de ideia,
tentarei.
Ele passa os próximos 20 minutos me aconselhando a mudar de ideia, dizendo que isso é
loucura, que Abby irá me odiar e que talvez ela me proíba de ver a minha filha. Papai só se
esqueceu de que sou bilionário. Quando se tem dinheiro, tem tudo. Seria impossível Abby me
proibir de ver Tess.
Não me importo e deixo que ele continue a falar. Não estou a fim de entrar em uma
discussão.
Quando chegamos ao aeroporto, ele vai direto para a área de embarque. Como imaginei, o
jatinho já está lá, à sua espera.
— Tenho fé de que, com a convivência com Abby, você mudará de ideia. Talvez até volte
a amar sua esposa.
Sorrio, debochado. Isso nunca mais irá acontecer. Por isso alimento todos os dias o ódio
por ela; é o que me dá força para continuar.
— Isso nunca vai acontecer, pai. O meu ressentimento e ódio por ela são muito maiores do
que qualquer outro sentimento.
— Eu acredito no poder do amor, filho, e sei que você não vai conseguir concluir a sua
vingança.
— Esse é o seu desejo, e está longe de se realizar.
O comandante do seu voo aparece e diz que eles estão prontos para decolar.
Meu pai se despede de mim com um abraço e diz que logo voltará para nos visitar.
Não posso deixar de pensar na conversa que tivemos durante o trajeto até o aeroporto. Ele
tentou me convencer a reconsiderar minhas ações, porém cortei suas palavras. Estou determinado
a seguir em frente. O peso da vingança parece mais suportável do que o fardo de reconhecer a
verdade.
CAPÍTULO 23
Quando cheguei em casa, meus olhos foram, imediatamente, atraídos para o Cadillac
Escalade estacionado. Eu sabia que tínhamos uma visita inesperada, mas não esperava que quem
estivesse aqui fosse a minha ex-amante. Assim que entrei, Mabel avançou em minha direção,
com um sorriso nos lábios. Instintivamente, eu me deixei levar pelo beijo. Fiz isso apenas para
provocar Abby.
Depois de nos afastarmos, eu tive um pequeno desentendimento com minha esposa e
deixei claro que ela deveria me obedecer, porque a comprei para isso. Irritada, ela foi até a
cozinha fazer o nosso café, e eu chamei Mabel para conversar comigo no escritório.
Ela vem até mim, tentando me beijar, porém recuo, afastando-a.
— O que foi? Pensei que estivesse com saudade — ela diz, chateada.
— Não estou. Você sabe que o que tínhamos sempre foi casual.
— Por que se casou? Essa era a sua vingança?
— O que acha? — pergunto sarcasticamente.
Mabel sabe de tudo que aconteceu no meu passado. Uma vez bebi mais do que deveria e
falei sobre o assunto.
— Que você deveria seguir em frente, e comigo. — Novamente, ela tenta me abraçar, mas
eu a afasto.
— Por que não tenta se acertar com o seu marido? Nunca ficaremos juntos, Mabel, e você
sabe disso.
— Estou disposta a largar tudo para ficar com você — ela fala, chorosa.
— Perderia o seu tempo. Como sabia que eu estava aqui? — Sento-me à mesa e aponto
para a cadeira em minha frente para que ela se sente.
— Tive que perguntar ao seu pai. — Dá de ombros.
— Meu pai não diria o meu endereço a você. O que usou para o fazer contar?
Ela solta um longo suspiro e depois solta a bomba.
— Meu marido descobriu o nosso caso e, agora, quer me matar e matar você.
Solto uma gargalhada.
— É alguma pegadinha?
— Não. Eu jamais brincaria com isso. Escutei uma conversa dele ao telefone com algum
amigo e ouvi claramente quando ele disse: “Vou matar aquela prostituta e o seu cafetão”. Após
dizer isso, ele ficou um minuto em silêncio e voltou a falar: “Ela teve a audácia de ter um caso
com o filho de um dos meus sócios. Só estou esperando o momento propício para os apagar”.
Fiquei apavorada. Eu o esperei ir ao clube para arrumar as minhas malas, fui até a casa do seu
pai, contei tudo a ele e pedi o seu endereço. Então, ele me entregou. Fiquei em um hotel por
alguns dias, até que tomei coragem de vir para cá, mas precisei implorar para que ele não
contasse a você. Eu queria contar pessoalmente, já que você deixou de atender às minhas
ligações — há um certo tom de pesar em sua voz.
Só pode ser mentira. Ela me disse que o seu marido não se importava de ela ter caso com
outros homens.
— Você disse que o seu relacionamento era aberto. Mentiu para mim?
— Não menti, eu omiti — ela diz, cabisbaixa.
— Como assim omitiu? Diga de uma vez, Mabel. Vocês realmente tinham um casamento
aberto ou não? — Estou começando a ficar irritado.
— Sim, mas havia regras. Eu não podia me envolver com homens do nosso círculo social.
Ele disse que se eu descumprisse as regras, iria me matar e matar o meu caso. Mas achei que
fosse ironia, nunca levei a sério... Até escutar a conversa dele com o amigo. — Ela está
apavorada.
— Não acredito que você me colocou nessa roubada — falo, transtornado. — Está dizendo
a verdade ou é uma chantagem para ficarmos juntos?
Eu a conheço suficientemente para saber que ela pode estar inventando essa história para
que eu fique com ela. Uma vez Mabel me fez essa sugestão absurda, mas, rapidamente, eu a
cortei, dizendo que isso estava fora de cogitação.
— Não. Eu jamais faria isso. — Ela mantém a seriedade no olhar, o que faz a minha
espinha congelar. — Não estou brincando, Oliver. Ele está fora de si; está disposto a tudo para
nos eliminar.
Uma sensação estranha toma conta de mim.
— E o que você espera que eu faça? — Tento manter a calma.
— Eu não sei, Oliver. Eu não sei. Estou apavorada. Quero ficar hospedada na sua casa ao
menos por um tempo. Aqui é mais seguro, então acho que seria difícil ele nos encontrar.
Porra! Eu deveria ter mantido o meu pinto dentro das calças.
— Está bem, você poderá ficar hospedada aqui. E contratarei mais seguranças.
Ela solta um suspiro de alívio.
— Muito obrigada — agradece-me, com os olhos cheios de lágrimas.
— Se acalme, vamos dar um jeito nisso.
De repente, escutamos batidas na porta. Mabel enxuga as lágrimas e retoma a compostura.
Libero a entrada de quem quer que seja. É Abby, com a bandeja de café. Pedi que ela
preparasse o café como uma forma de humilhá-la, mas, no fundo, eu me senti estranho por fazer
isso. Ela nos entrega as xícaras e, para a nossa surpresa, o líquido está salgado. Ela teve a audácia
de colocar sal no lugar do açúcar. Fico furioso e digo que, como castigo, ela terá que preparar o
nosso almoço; e se aprontar, como fez com o café, terá que o refazer.
Abby tem a audácia de me desafiar, porém deixo claro que, caso ela não me obedeça, eu
deixarei de comprar os remédios de sua mãe contra o câncer. É cruel da minha parte? Sim, mas
necessário.
— Oliver, não acha que foi longe demais com a garota? — diz Mabel após a saída de
Abby.
— E você não acha que o seu pai e ela foram cruéis comigo?
— Sim, foram, mas, pelo que entendi, a mãe dela tem câncer. Achei um pouco cruel de sua
parte colocar uma mulher enferma no meio da sua vingança.
— Não dê uma de moralista, Mabel. Você não tem moral nenhuma para me criticar.
Seu rosto fica vermelho. É nítido que a deixei com raiva.
— Ok, tem razão. Mas como pretende se vingar deles? — ela indaga, cheia de curiosidade.
— Está querendo saber demais. Sabe que detesto pessoas intrometidas.
— Você é um grosso. Não sei por que vim pedir sua ajuda. — Ela está chateada.
— Porque não tinha para quem pedir além de mim. Simples assim. Mas já que está tão
curiosa, direi os meus planos. Quero torturá-la psicologicamente até que ela implore e me peça
perdão por tudo que me fez no passado. Na hora certa, direi quem eu sou.
— E o pai dela?
— Contratei um investigador para reunir todas as provas dos seus crimes. Foram anos de
impunidade com ele fazendo o que bem queria. Com as provas em mãos, eu as levarei para a
justiça e ele apodrecerá na cadeia.
— Eu não queria ser a sua inimiga — brinca.
Levanto-me da mesa, caminho em direção à porta e a abro.
— Irei lhe mostrar o seu quarto e te apresentar à minha esposa.
Ela revira os olhos e se levanta.
Pego as malas de Mabel do carro e agradeço ao segurança pela ajuda. Com passos firmes,
seguimos no corredor até chegarmos ao quarto que será ocupado por ela durante sua estadia. Ele
é espaçoso e bem decorado, com um banheiro também espaçoso, uma cama grande e
confortável, uma escrivaninha e uma poltrona próxima à janela, assim como os demais quartos.
Deixo as malas ao lado da cama e me viro para Mabel.
— Espero que esteja confortável aqui. Se precisar de algo, pode me chamar ou chamar um
dos empregados da casa.
Ela assente, parecendo apreciar o cômodo.
Agradeço ao segurança mais uma vez e o dispenso.
— Agora, vamos ao meu quarto. Irei comunicar à Abby sobre a sua estadia.
Ela concorda e caminhamos até o último quarto. Abro a porta e encontro Abby sentada em
uma poltrona. Ao nos ver, sua expressão é de surpresa, e seus olhos estão incrédulos. Respiro
fundo, adentrando o espaço com Mabel ao meu lado.
— Vim lhe comunicar que a minha amiga ficará morando conosco por um tempo —
anuncio, sem saber exatamente como explicar a presença dela em minha casa.
Abby se levanta devagar, mantendo o olhar fixo em Mabel.
— O termo correto é amante. Ela é a sua amante, não precisa inventar outros adjetivos.
— Isso a incomoda, esposa? — pergunto, cheio de deboche.
— Não. Faça o que quiser da sua vida, afinal, esse casamento é por contrato. E espero que
não se incomode se eu fizer o mesmo.
— O que está insinuando?
— Se você pode ter outras mulheres, eu também posso ter outros homens. Como você
mesmo disse, esse casamento é de conveniência.
Sorrio, debochado.
— Não ouse me trair. Você não sabe do que sou capaz, Abby — minhas falas são
cortantes.
Ela permanece calma diante das minhas palavras e sua expressão é de puro desdém.
— Não me subestime, Oliver. Se esse é o jogo que você quer jogar, eu posso, muito bem,
jogá-lo também. Mas não se preocupe, não vou me rebaixar ao seu nível. Eu sei bem do que você
é capaz.
Não quero discutir com ela, não estou com paciência, então sou direto.
— Espero que vocês se deem bem. Agora, tenho alguns assuntos para resolver. Irei buscar
Tess na escola. Prometi a ela que iríamos ao parque.
Abby assente, meio desconfiada, mas nada diz.
Retorno ao escritório, enquanto Mabel vai para o seu quarto. Ela disse que precisava de
ajuda para desfazer as suas malas, então peço que Dolores a ajude.
Após eu trabalhar por algumas horas, Dolores me avisa que o almoço está pronto. Pergunto
se foi Abby que o preparou, como ordenei, e ela diz que sim. Por fim, peço que ela chame Mabel
para almoçar conosco.
Depois de todos nós estarmos acomodados, corto um pedaço do bife e o ponho na boca.
Está uma delícia, mas para irritar Abby, digo que está horrível.
— Faça novamente, está sem sal — falo, apesar de ele estar no ponto.
Ela corta um pedaço e experimenta.
— Como? Está muito bom, e não está nada sem sal.
— Para mim, está sem sal. Volte para a cozinha e faça outro.
— Não. O que você está pedindo é um absurdo. Está muito bom. Se...
— Eu a mandei ir até a cozinha preparar outro, então, vá preparar. Quer ir por bem ou à
força? — Olho-a com minha pior expressão.
— Para mim, está ótimo. Não precisa me preparar outro — Mabel comenta e toma o seu
vinho. Abby respira fundo e sai praticamente correndo até a cozinha. — Você é cruel, Oliver. —
Ela come a sua carne.
— Sou apenas com quem merece, e ela fez por merecer. Você sabe bem disso.
Ela concorda.
— A comida está uma delícia. — Sorri, voltando a apreciar sua refeição.
Dez minutos depois, Abby retorna com o bife. Quando o experimento, percebo que ele está
um pouco salgado, mas nada que tire o seu sabor delicioso.
— Você salgou a carne, não irei comer isso. Faça outra.
Ela me encara com olhos cheios de lágrimas. Confesso que vê-la chorar me deixa
incomodado.
— Está bem — é a única coisa que ela diz.
Após sua saída, Mabel olha para mim, sorri e comenta:
— Você não acha que a está subestimando? — Ergo a sobrancelha. — E se ela arranjar um
amante que a tire de você? Ela parecia determinada a ter um amante.
Seus comentários me irritaram, mas tento não demonstrar isso. Mabel sempre foi hábil em
me alfinetar.
— Não se preocupe com Abby, eu sei lidar com ela. Ela não seria louca de me trair. E,
quanto a você, espero que aproveite a estadia aqui. Não costumo receber muitas visitas em minha
casa.
Ela sorri de forma sutil, como se estivesse se divertindo com a situação.
— É sempre um prazer estar em sua companhia, Oliver. A propósito, achei a casa linda;
você fez um ótimo trabalho a decorando. Só espero conseguir me divertir neste fim de mundo.
Quem sabe conheço alguns rapazes interessantes, não é mesmo?
Minha paciência está se esgotando, no entanto, mantenho a compostura. O marido dela está
querendo matá-la, e ela ainda pensa em se divertir.
— Darei um jeito para que se livre do seu marido. Espero que não esteja usando o seu
celular e cartão de crédito, senão ele poderá rastreá-la facilmente.
— Não se preocupe. Comprei outro celular e transferi uma boa quantia de dinheiro para
uma conta de emergência que tenho.
Abby volta com o bife. O sabor é como o do primeiro que ela preparou. Dou uma garfada
nele e digo, debochado:
— Muito bem, querida, está muito bom. — Pisco. — Sente-se e coma conosco.
— Perdi a fome. Com licença. — Ela se retira sem olhar para trás.
CAPÍTULO 25
Meus passos ecoam pelo corredor silencioso da mansão à medida que me dirijo ao meu
quarto. Após entrar, bato a porta atrás de mim e me permito desabar sobre a cama. Lágrimas de
frustração começam a escorrer pelo meu rosto e minhas mãos apertam os lençóis, em um gesto
de impotência.
— Eu te odeio, Oliver — sussurro para o vazio do quarto, com a amargura pesando em
cada palavra.
Nunca quis esse casamento; nunca quis estar presa a alguém como Oliver. As lágrimas
continuam a fluir e eu desejo fervorosamente que ele morra. Sei que é errado, mas não sei por
quanto tempo vou suportar isso.
Dias depois
Abro os olhos lentamente, ainda me sentindo grogue e desorientada. Olho à minha volta e
percebo que estou em um hospital. A luz do sol invade o quarto, fazendo com que eu aperte os
olhos por um momento, até me acostumar com ela. Minha mente está turva. Tento me lembrar
do que aconteceu, mas tudo parece distante e nebuloso.
Sinto uma leve pressão na mão e viro a cabeça para o lado. Encontro Tess ao lado da
minha cama, segurando em minha mão com firmeza. Seus olhos se iluminam quando ela percebe
que estou acordada e um sorriso tímido aparece em seus lábios. Ela sorri fracamente, segurando
as lágrimas, e diz:
— A senhora, finalmente, acordou, mamãe. Eu pensei que a senhora iria morrer — a voz
dela é como um raio de luz atravessando a névoa em minha mente.
As lembranças do que aconteceu inundam minha cabeça. A minha tentativa desesperada de
escapar da dor, a escuridão envolvendo minha mente e, então... o vazio.
Luto para falar. Minha voz sai fraca e rouca.
— Tess...— murmuro, esforçando-me para formar as palavras. — Eu... Eu sinto muito,
querida. Eu não queria te assustar.
Ela aperta a minha mão com mais força e os seus olhos brilham de compaixão.
— Eu te amo muito, mamãe.
Respiro fundo, sentindo dor e fraqueza em todo o meu corpo.
— Eu também te amo, meu amor.
Desajeitadamente, devido ao soro intravenoso que me prende à cama, minha pequena se
aproxima de mim e me abraça. Quando sinto o seu abraço apertado e reconfortante, o alívio e a
alegria percorrem o meu corpo. Mesmo fraca, retribuo o seu abraço com toda a ternura que
consigo reunir. Seus braços pequeninos envolvem o meu corpo como se ela quisesse me proteger
de todo o mal do mundo.
Ao nos afastarmos, eu me dou conta de que não estamos sozinhas. Em um canto mais
afastado, está Oliver sentado em uma poltrona. Ele permanece em silêncio. Vejo, em seus olhos,
a preocupação e a culpa. Ele vem até mim e segura em minha mão com delicadeza, mas recuso
esse gesto rapidamente. Tenho muita raiva dele e não consigo nem sequer olhar para ele.
A primeira frase que Oliver diz é que vai chamar um médico. Minutos depois, ele retorna
com um homem que aparenta ter uns 40 anos e tem cabelos loiro-acobreados e um olhar gentil.
Ele se apresenta como doutor Salazar e diz que é o responsável pelo meu caso. Após ouvir
atentamente o meu coração, ele me faz algumas perguntas sobre como tenho me sentido e
verifica os monitores ao meu redor. Finalmente, vira-se para mim com um olhar sereno.
Meu coração acelera assim que me lembro do motivo que me levou a tentar acabar com a
minha vida.
— E quanto ao bebê? Está tudo bem com ele? — Sinto medo de sua resposta.
O médico sorri, transmitindo-me calma e tranquilidade.
— O bebê está bem. Seus batimentos cardíacos estão fortes e saudáveis. Não tem motivos
para preocupações.
Um suspiro de alívio escapa dos meus lábios e o meu coração se enche de tranquilidade
por eu saber que meu filho está bem. A sensação de alívio é indescritível.
— Ficarei com alguma sequela? — Estou preocupada. Como engoli várias pílulas, pode ter
ficado alguma sequela.
— Não. Conseguimos fazer uma lavagem estomacal a tempo. Os remédios não foram
completamente absorvidos pelo estômago, o que é uma boa notícia. Isso ajudou a evitar danos
mais sérios tanto para você, quanto para o bebê — explica o doutor, com uma voz suave e
reconfortante.
— Obrigada por ter cuidado de mim e do meu bebê, doutor — digo, agradecida.
Ele sorri gentilmente, em resposta.
— Agora, o mais importante é que você descanse e se recupere completamente. Se precisar
de alguma coisa, estarei por perto. — Ele olha para mim e depois para Oliver.
Concordo com um aceno.
O médico nos pede licença e se retira.
Os olhos de Oliver encontram os meus e, por um breve momento, vejo uma expressão de
preocupação passar pelo seu rosto.
— Quando você estiver melhor, iremos conversar.
Minha raiva aumenta diante de suas palavras. Como ele pode sugerir uma conversa agora,
depois de tudo que aconteceu? Foi por causa dele que acabei nesta situação. Foi por causa dele
que quase perdi o meu bebê.
Não lhe respondo. Não tenho palavras para expressar a magnitude do meu ódio por ele
neste momento. Em silêncio, viro o rosto para o outro lado, ignorando sua presença, e me
concentro em acalmar minha mente turbulenta.
CAPÍTULO 26
Tranco a porta do quarto, pois não posso arriscar que Abby tente fugir. Ela não sairá daí
até que eu decida o contrário.
A fúria é o que me domina. Abby me traiu e engravidou de outro. A dor é gigantesca.
Sinto-me como um idiota. Como pude deixar isso acontecer sem perceber? Seguro-me para não
perder a cabeça e cometer uma loucura. Respirando fundo, busco controlar minhas emoções e
caminho até a sala, onde fica o monitoramento das câmeras de segurança da casa. Chamo o
segurança responsável e peço para ele me mostrar as gravações desde o dia em que Abby veio
morar aqui. Ele assente e começa a fazer as verificações necessárias no sistema de vigilância.
Enquanto espero, não consigo deixar de me sentir irritado, afinal, tudo indica que fui traído
debaixo do meu nariz. Juro que após descobrir quem foi o filho da puta que a engravidou, vou
matá-lo com as minhas próprias mãos.
Acendo o meu charuto. Eu dei uma diminuída nesse hábito por causa de Tess, porque uma
criança presenciar um adulto fumando é um péssimo exemplo. Por isso, quando sinto a
necessidade de fumar, faço escondido. Mas agora, mais do que nunca, preciso disso. Como estou
tenso, o fumo vai me acalmar.
Assisto a horas de filmagens atentamente, em busca de qualquer sinal de traição ou
comportamento suspeito por parte de Abby. No entanto, não encontro nada. Não há nenhum
segurança se aproximando dela de maneira inapropriada ou nenhum indício de que ela tenha me
traído. Uma onda de alívio e peso na consciência me atinge. Eu a acusei injustamente, deixando-
me levar por suspeitas infundadas e paranoias. Abby não merecia tal desconfiança, e agora me
sinto envergonhado por tê-la tratado daquela maneira.
Com um nó na garganta, percebo que minhas suspeitas estavam erradas. Abby não me
traiu. Ela está grávida, e esse filho só pode ser meu. Mas, como é possível, se o médico me
garantiu que eu estava estéril? Será que o diagnóstico estava errado? Ou um milagre aconteceu?
— Porra! — Esfrego o rosto, transtornado.
Eu sugeri que ela fizesse um aborto, achando que o bebê não era meu. Um peso enorme se
instala em minha consciência. Acusei Abby de traição sem nenhuma prova concreta. Agi
impulsivamente, deixando o meu ciúme e insegurança tomarem o controle. Agora percebo o
quão injusto fui com ela.
Preciso encontrar uma maneira de consertar isso. Ando até o quarto, com o coração
pesado. Não sei como começar o meu pedido de desculpa, mas sei que não será fácil. Talvez ela
não me desculpe. Droga!
Ao chegar em frente ao quarto, abro a porta com cuidado. A cena em minha frente é
aterradora: Abby está deitada na cama, inconsciente, e várias caixas de remédio estão espalhadas
ao seu redor. Aproximo-me dela.
— Abby, fala comigo, meu amor. — Tento acordá-la, mas não obtenho resposta.
O desespero toma conta de mim e as lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto.
Sussurro palavras de amor e desespero, implorando para que ela desperte, para que eu possa
abraçá-la e sentir o calor da sua presença ao meu lado novamente.
— Meu amor, eu sinto muito. Não me deixa. Eu não saberia viver sem você. Me perdoa —
digo, aos prantos.
Meu coração dói por eu a ver assim, tão vulnerável e distante, e uma sensação de culpa se
instala em mim. Entretanto, agora não é hora para remorso, eu preciso agir rápido. Pego-a no
colo, vou até o andar de baixo e caminho até a garagem. Depois de colocá-la no banco de trás do
carro, dirijo o mais rápido que consigo até o hospital. Durante o trajeto, ligo para Dolores,
explico-lhe a situação e peço que ela tome conta de Tess. Ela diz que vai orar para que fique tudo
bem. Eu lhe agradeço, encerro a ligação e faço o mesmo que ela: oro silenciosamente para que
Abby e o bebê fiquem bem. Nunca irei me perdoar se perder os dois.
Prometo a mim mesmo que farei o que estiver ao meu alcance para superar tudo isso,
porque eu a amo mais que tudo neste mundo e não posso imaginar minha vida sem ela.
Nossa viagem de volta para casa é marcada por um silêncio pesado que só é quebrado
pelas infindáveis conversas animadas de Tess, que parece não notar a tensão entre nós. Sei que a
conversa que terei com Abby em breve não será tão leve quanto as brincadeiras da nossa filha.
Com a tentativa de suicídio da minha esposa, eu me dei conta de que a amo e de que não
saberia viver sem ela. Não posso continuar mantendo segredos que só servem para nos separar.
Enquanto dirijo, meu coração está pesado. Sei que ela ficará chocada quando eu revelar
que sou Thomas. É difícil prever como ela reagirá, mas uma coisa é certa: não posso mais adiar a
verdade. Chegou a hora de eu revelar quem realmente sou e por que a obriguei a se casar
comigo. Espero que ela me perdoe. Não será fácil, mas farei o impossível e o possível para isso.
Ao chegarmos à mansão, preparo-me mentalmente para a conversa que teremos. Peço que
Tess vá brincar com Zeus no quintal, embora meu coração doa um pouco por eu a separar da sua
mãe após elas terem ficado dias sem se ver. Mas é necessário. Há questões que precisamos
resolver e verdades que precisam ser ditas.
Abby me segue, em silêncio, até o quarto. Desde que acordou no hospital, ela mal dirigiu
uma palavra a mim. Compreendo a sua raiva. No fim das contas, fui o responsável por ela ter
tentado se matar, e nunca irei me perdoar por isso. Perdi a minha mãe desse modo, e não quero
perdê-la assim também.
Adentrando o quarto, sinto um nó se formar em minha garganta. Essa conversa será difícil,
mas não posso continuar enganando-a.
— Abby, eu...
— Você não tem ideia de como eu te odeio. — Suas palavras são como um soco no meu
estômago. — Por sua culpa, eu quase tirei a vida do meu filho. — Transtornada, ela anda de um
lado para o outro.
— Eu sei disso, e não sabe como me arrependo de não ter acreditado em você. Sei que
nunca me traiu e que o bebê é meu — finalmente, confesso.
Ela para de andar e me olha, raivosa.
— Jura? — indaga, cheia de deboche. — E como você descobriu que eu nunca o traí?
Deixou de ser estéril?
— Eu vi nas câmeras de segurança, como me sugeriu. Me arrependo de ter desacreditado
de você e por ter sugerido que você... — Engulo em seco. — Abortasse.
— Acha que é só dizer que se arrepende, que tudo ficará bem entre nós?
— Não. Sei que você está magoada, e talvez demore muito tempo para curar as suas
feridas, mas eu vou esperar o tempo que for.
— Espere sentado. Eu nunca vou te perdoar. Você chamou o meu filho de bastardo e disse
que iria me fazer abortá-lo. Isso não tem perdão. — Enxuga as lágrimas.
Aproximo-me dela para tentar consolá-la, mas ela faz um sinal com a mão para que eu me
mantenha onde estou.
— Não, Oliver. Não tente se aproximar de mim. Você é um monstro sem coração, e eu
tenho nojo de você.
Parece que fui atingido com uma faca em meu coração. Suas palavras cortantes me
perfuram como uma lâmina afiada. Permaneço parado no lugar, incapaz de articular uma
resposta. O peso do que ela disse é esmagador, e a dor do seu desprezo é quase insuportável.
— Abby, por favor, eu...
Ela me interrompe, com um olhar frio.
— Não há nada que você possa dizer ou fazer para mudar o que aconteceu, Oliver. Você
provou ser cruel e sem coração — seu tom é firme.
Sinto-me como se estivesse caindo de um precipício.
Volto a tentar chegar perto dela, só que ela se afasta.
— Eu disse para ficar longe. Em mim, você não toca, nunca mais.
— Tudo bem, não a tocarei. — Solto um longo suspiro e desabafo. — Eu te amo. Eu
estava cego de raiva, de dor, e não enxergava que, o tempo todo, eu te amei. Você é tudo para
mim.
Sua risada é cortante. Ela deixa claro que não acredita em minhas afirmações e o seu olhar
de desdém penetra fundo em minha alma. Sinto-me impotente diante de sua rejeição. A
consciência de que fui o responsável por lhe causar tanta dor me consome.
— Você tem uma maneira muito peculiar de demonstrar amor.
— Abby, eu... Eu sei que não posso mudar o que fiz, mas precisa acreditar em mim quando
digo que te amo — minhas palavras saem como um sussurro, quase inaudíveis.
Ela apenas balança a cabeça, mantendo seus olhos cheios de descrença.
— Amor? Você não sabe o significado dessa palavra. Tudo o que fez foi me machucar,
Oliver. Você me destruiu.
Sinto o meu coração se contrair com sua afirmação e percebo que não há nada que eu
possa dizer ou fazer para mudar sua opinião. Sinto-me afundando cada vez mais na escuridão da
minha própria angústia.
— Eu espero que, um dia, você possa me perdoar e possamos seguir em frente.
— Isso nunca vai acontecer. Nunca ficaremos juntos. Eu amo outro homem. — Mais uma
vez, parece que levei um soco no estômago.
— Não pode ser verdade. Você diz isso para me machucar.
— Não sou como você, que gosta de humilhar as pessoas. Eu não preciso fazer nada disso.
O que eu disse é verdade, e foi por isso que o meu ex-marido me trocou por outra. Nunca fomos
felizes porque eu sempre amei outro, e vou amá-lo até o fim dos meus dias — ela diz, chorosa.
— Quem é esse homem? — Estou com o coração disparado, imaginando qual será a sua
resposta.
Ela caminha até a janela e se abraça, observando a paisagem lá fora.
— Fui criada em um colégio interno, e quando completei 18 anos, voltei para casa. Eu não
esperava que, ao conhecer o capataz da fazenda da minha família, me apaixonaria por ele. Eu
sempre soube que ele era proibido. Além de ser um simples empregado, Thomas era mais velho
que eu. Nunca gostei dos garotos da minha idade; eles não sabiam satisfazer uma garota como
eu. E quem disse que mandamos no coração? Fiz de tudo para que ele ficasse comigo, e
consegui, mas não esperava que meu pai seria tão vingativo e destruiria a vida do meu primeiro e
único amor — ela diz, melancólica.
— V-você... ainda o ama? — minha voz sai trêmula.
— Sim, com todo o meu ser. Se meu pai não tivesse... — Engole em seco. — Não tivesse
feito o que fez, teríamos fugido juntos e estaríamos felizes. Era um amor proibido, um amor que
desafiava todas as convenções sociais, mas era verdadeiro e profundo.
Abby me revelou uma parte da sua vida que eu sempre conheci, afinal de contas, ela falou
sobre mim. Sinto uma dor lancinante no peito. É impossível não me lembrar de tudo que passei
nas mãos do seu pai. Também me dou conta de que fui cego por não ter percebido antes o
sofrimento que ela carrega. Como pude ser tão insensível com o seu passado doloroso?
— Abby, eu... Eu sinto muito por tudo que aconteceu com você — minha voz falha devido
à emoção.
Ela me olha nos olhos. Seus lábios formam um pequeno sorriso triste.
— Você não tem sentimentos, não precisa fingir. — Afasta-se da janela. — Se me ama,
como diz, me deixe livre. — Seus olhos são suplicantes.
Este seria o momento perfeito para eu dizer que sou o amor da sua vida, só que não farei
isso. Eu decidi que, se a quero de volta, ela terá que amar o meu novo eu. Thomas Fuller não
existe mais, ele morreu no dia em que Joe Carter tentou matá-lo.
Tentarei conquistá-la como Oliver Hunter.
— Está bem, Abby. Está livre. Amanhã mesmo, os papéis do nosso divórcio estarão
prontos — digo, com dor no coração.
— E-está falando... sério? — ela pergunta, em choque.
— Sim. Você disse que se eu a amo, irei deixá-la livre, e é isso que farei para provar que te
amo. Estou te deixando livre, mesmo que isso me deixe destroçado por dentro.
— E-eu...
— Mas quero deixar claro que tentarei conquistá-la. Sei que os erros que cometi são
imperdoáveis, mas acredito que todos nós merecemos uma segunda chance.
— E o tratamento da minha mãe, você continuará pagando? — Notei seu constrangimento
ao fazer a pergunta.
— Sim. Nada mudará, não se preocupe.
Ela concorda e diz:
— Farei as minhas malas. — Sem olhar para trás, entra no closet.
Eu me seguro para não desabar.
Observo Abby e Tess descendo a escada. Quando a pequena me vê, corre em minha
direção. Seus olhos estão marejados.
— Vou sentir tanto a sua falta! — ela exclama, envolvendo seus braços nas minhas pernas.
Sinto um aperto no coração e me abaixo para a abraçar.
— Eu também irei sentir a sua falta, querida. Mas não se preocupe, poderemos nos ver
sempre que sentir saudade de mim. Ou você poderá ligar para mim, como fazia com os seus avós
quando sentia falta deles.
Ela concorda.
— Vou sentir saudade do Zeus.
Ele late. Eu deixo Tess no chão e ela corre para o abraçar.
— Quer levar o Zeus?
Minha filha arregala os olhos.
— Você está me dando ele?
— Zeus gosta de você, e sei que ele vai morrer de saudade com a sua partida. Eu posso ir
visitá-los sempre.
Tess encara a sua mãe com olhos suplicantes.
— Podemos levar ele, mamãe?
Abby olha para mim como se estivesse compreendendo o meu jogo. Não me importo. Eu
disse que tentaria conquistá-la, e assim farei. Usarei todos os meios para isso.
— Sim, querida, pode levá-lo.
Tess solta um gritinho de alegria. Ver a minha filha feliz não tem preço.
— Temos que ir, meu amor. — Abby segura em sua mão.
O senhor Liu e eu colocamos as malas no carro.
Dou um último abraço apertado em minha filha e digo ao bebê na barriga de Abby que
sentirei saudade dele. Ela não demonstra nenhuma reação, e eu a compreendo. Ainda está muito
magoada.
Abby e Tess partem, e eu sinto como se um pedaço de mim também estivesse indo embora.
Um vazio toma conta do meu peito e o meu coração parece pesar toneladas. Observo-as se
afastarem e luto para conter a sensação de solidão que começa a tomar conta de mim. Fico
parado, perdido em meus próprios pensamentos, enquanto o silêncio predomina e uma sensação
horrível de perda me domina.
CAPÍTULO 27
Nos últimos três meses, minha vida deu uma guinada surpreendente. Retornei à fazenda,
onde as coisas estão, lentamente, voltando ao seu curso normal. Minha mãe está progredindo
bem em seu tratamento e está cada vez mais perto da cura. A fazenda também está começando a
ver lucros novamente. O que é um alívio depois dos tempos difíceis que enfrentamos.
Hoje é um dia especial, pois irei fazer o ultrassom do bebê. Saberei se é menino ou menina
e se está tudo bem com ele ou ela. A expectativa e a alegria se misturam em meu coração
enquanto me preparo para ver, pela primeira vez, aquele ser que mudará completamente a minha
vida. É uma sensação maravilhosa saber que estarei dando vida a um novo ser.
Contudo, apesar de todas essas bênçãos, nem tudo são flores. Meu pai continua com a
visão comprometida. Embora o médico tenha nos informado de que o seu caso era irreversível,
eu tinha fé de que, com a dieta que ele está fazendo e os exercícios físicos, talvez um milagre
poderia acontecer e ele tivesse uma melhora; porém, continua do mesmo modo. Mas ainda tento
manter a esperança de que ele se recuperará.
Meu celular toca, tirando-me dos meus devaneios. É uma chamada de vídeo, e o nome da
minha amiga aparece na tela.
— Booooooooom diaaaaaaaaaaa, amiga! — ela diz, animada.
— Bom dia, amiga. — Sorrio. — Posso saber o motivo de tanta animação?
— Hoje saberei se vou ganhar uma sobrinha ou um sobrinho.
— Acredito que será um menino — comento, ainda sorrindo.
— Justo. Já temos a Tess, agora falta um garotinho.
Ao longo de todos esses anos, mantive a minha amizade com Kim. Apesar de morarmos
em estados diferentes, nossa conexão nunca enfraqueceu. Ela sempre foi uma âncora em minha
vida, especialmente durante os momentos mais difíceis. Ela sempre esteve me apoiando, mesmo
à distância, e sua amizade é um verdadeiro presente.
— Oliver vai estar junto? — ela pergunta, receosa.
— Não. Ele não sabe que hoje é o ultrassom.
Apesar dos esforços persistentes de Oliver para se reaproximar de mim, eu mantenho uma
barreira firme entre nós. Seus gestos se tornaram gentis e atenciosos. Todos os dias, ele envia
presentes para mim, como flores, caixas dos meus chocolates favoritos e até joias. Isso mesmo,
ele me dá joias. Talvez pense que pode me comprar com objetos. E não é apenas para mim que
ele envia presentes, é para a minha filha também. Ele lhe manda roupas e brinquedos, e até deu a
ela um celular, o qual confisquei. Tess só poderá ter aparelhos eletrônicos quando tiver idade
para isso.
A dedicação de Oliver em tornar Tess feliz é evidente, mas não consegue penetrar na
muralha de dor e desconfiança que construí ao meu redor. Por mais que eu aprecie suas
tentativas de consertar as coisas, não posso, simplesmente, ignorar o passado. As cicatrizes ainda
estão frescas e a ferida em meu coração dói profundamente.
Eu sei que ele está tentando e que mudou de alguma forma, mas isso não muda o fato de
que a confiança foi quebrada. É difícil deixar alguém entrar de novo, depois de ter nos
machucado tão profundamente. Por enquanto, prefiro manter minha guarda alta e meu coração
protegido.
Falando em Oliver, eu soube que Mabel não está mais morando em sua mansão, embora
ainda esteja morando na cidade. Não sei o motivo de ela continuar aqui, e também não me
importo.
— Você não quer que ele participe?
— Depois de tudo que ele fez, eu o quero longe de mim. As joias, os chocolates e as flores
que ele me dá não significam nada — desabafo, um pouco chateada. — Entendi o jogo dele. Ele
quer me comprar com coisas caras, mas comigo, isso não funciona.
— Tem o meu apoio, amiga, mas se me lembro bem... você disse uma vez que a
semelhança dele com Thomas mexia com você — ela me alfineta.
Ainda mexe, mas ela não precisa saber. Conheço muito bem a Kim para ter certeza de que
ela ficaria zombando de mim por isso.
— Não. Por fora, ele pode ser uma cópia do Thomas, mas, por dentro, é o completo
oposto.
— Tem certeza? — ela pergunta, desconfiada.
— Sim, amiga. Odeio o Oliver, e nunca mais o quero na minha vida.
Por mais que Oliver tente se redimir ou mostrar um lado mais gentil, eu, simplesmente, não
consigo perdoá-lo pelo que ele fez. A dor está muito presente em meu coração ainda, e não
consigo me permitir ser enganada novamente.
Kim me olha com uma expressão de compreensão. Sei que ela está do meu lado, como
sempre esteve.
Após me despedir dela, aproximo-me do carro. Vejo o senhor Liu sorrindo cordialmente,
esperando para abrir a porta para mim. Suspiro profundamente e me preparo para entrar no
veículo, tentando afastar os pensamentos negativos.
— Bom dia, senhor Liu. Espero que esteja bem hoje — cumprimento-o.
Ontem, ele não se sentia bem, por isso lhe dei o dia de folga.
O senhor Liu sorri gentilmente, diz que está melhor e agradece pela minha preocupação.
Ele segura a porta do carro para que eu entre e eu me acomodo no banco de trás. Agora ele é o
meu motorista. Compreendo que é mais uma tentativa de Oliver de se aproximar de mim.
Infelizmente, irei ao ultrassom sozinha. Minha mãe acordou se sentindo mal, o que é
normal em seu estado, papai está com o humor péssimo, então preferi não o incomodar, e Tess
está na escola. Eu me surpreendi quando ela ficou feliz por saber que ganharia um irmãozinho ou
irmãzinha. Por não ter quem me acompanhe, irei sozinha. Isso me machuca, mas não tem outro
jeito.
Durante o trajeto até o hospital, tento manter minha mente ocupada com pensamentos
positivos, afinal, mesmo que eu esteja indo sozinha, esse será um momento especial. Estou
ansiosa para ver o meu bebê pela primeira vez no ultrassom, e nada vai tirar essa alegria de mim.
Entro no hospital e não demoro muito para ser atendida. Para a minha surpresa, o médico
que me recebe é o doutor Salazar, o mesmo que me atendeu no dia do meu incidente. Eu soube
que ele foi designado a cuidar do meu caso por eu estar grávida, já que a especialidade dele é
ginecologia e obstetrícia.
— Abby, que bom vê-la novamente. Como você está se sentindo hoje? — ele pergunta
com gentileza.
Eu respondo que estou bem, buscando esconder a ansiedade que sinto. Por mais que o
doutor Salazar tenha demonstrado ser um ótimo médico e de confiança, não posso deixar de me
lembrar do que aconteceu da última vez em que estive aqui.
O doutor me olha atentamente, pergunta como tenho me sentido e se tenho notado alguma
mudança em meu corpo.
— Bem... Tenho sentido alguns desconfortos, enjoos pela manhã e uma certa sensibilidade
nos seios. Acho que algumas mudanças começaram a acontecer.
Ele me dá algumas explicações sobre os sintomas normais da gravidez e eu o ouço
atentamente, mesmo já sabendo quais são os sintomas, afinal, não serei mãe de primeira viagem.
Não posso deixar de notar a sua aparência. Seus cabelos loiros, seus olhos azuis como uma
piscina e seu sorriso sedutor chamam a minha atenção, mas, de alguma forma, ele não mexe
comigo da mesma maneira que Oliver mexe.
O médico diz que a sala onde farei o ultrassom já está preparada e pede para que eu o
acompanhe. Gentilmente, ele abre a porta para mim. Ao passar por ele, sinto o seu toque sutil em
minha cintura guiando-me até entrarmos no corredor. Logo percebo que, no final do corredor,
tem um homem conversando com uma enfermeira. Ele gesticula muito, como se estivesse
irritado.
Conforme nos aproximamos dele, percebo que é Oliver, e como se ele tivesse sentido a
minha presença, vira o rosto e olha para nós. Seu olhar vai para a mão do médico em minha
cintura. Sua expressão não é das melhores e, pela maneira como ele encara Salazar, é notório que
está com raiva e, talvez, com ciúme pelo doutor estar tão próximo de mim.
— Algum problema por aqui? — pergunta Salazar quando chegamos em frente à sala onde
estão Oliver e a enfermeira.
— Sim. Sua enfermeira não quer me deixar entrar na sala para ver como o meu filho está
— diz Oliver.
— Oh... O senhor é o pai do...
— Sim, sou o pai do bebê que ela está esperando. Portanto, tenho o direito de ver o meu
filho e saber como ele está.
O médico olha para mim como se estivesse esperando pelo meu aval, então assinto.
— O senhor...
— Oliver Hunter — ele responde secamente.
— Muito bem, senhor Hunter — o doutor diz, constrangido com o jeito grosseiro de
Oliver. — O senhor poderá nos acompanhar. — Ele abre a porta e nós quatro entramos na sala.
A enfermeira, com a ajuda de Salazar, termina de preparar alguns equipamentos.
— Por que não me disse que hoje seria o ultrassom? — Oliver sussurra ao meu ouvido,
chateado.
— Porque eu não queria que você estivesse presente, e sabe o motivo disso.
Ele abaixa a cabeça.
O doutor pede para que eu me deite na maca e, gentilmente, solicita que eu levante a
camiseta. Deito-me e, seguindo a instrução dele, levanto a camiseta até a altura dos peitos. Ele
aplica um gel frio em minha barriga e começa a mover o aparelho de ultrassom sobre ela.
Observo o monitor com ansiedade, esperando ver o pequeno milagre que cresce dentro de mim.
Cada batida do meu coração parece acompanhar as do bebê.
Emociono-me ao ver as primeiras imagens aparecerem na tela. Salazar explica cada
detalhe, com um sorriso gentil, e eu sinto alívio e felicidade por ver que meu bebê está saudável
e se desenvolvendo bem. É um momento mágico que nunca esquecerei.
O médico sorri e pergunta se estamos preparados para saber o sexo do bebê. Oliver segura
em minha mão com firmeza e eu sinto um calor reconfortante, por isso não o afasto. Nós
assentimos juntos e o doutor começa a analisar as imagens com mais atenção. Por um instante,
sinto um arrepio percorrer minha espinha, mas logo me concentro no monitor, ansiosa para
descobrir mais sobre o nosso pequeno milagre.
Salazar sorri quando observa o monitor e anuncia que é um menino. Meu coração se enche
de alegria por eu ter recebido essa notícia. Quando me viro para olhar para Oliver, deparo-me
com lágrimas brilhando em seus olhos. É um momento tocante ver a emoção refletida no rosto
dele. Por um instante, sinto uma pontada de compaixão em meu coração.
Confirmando que está tudo bem com o bebê, o doutor tranquiliza nós dois. Quando o
ultrassom termina, a enfermeira me entrega um papel-toalha para limpar o gel. Salazar diz que
estou liberada e me dá uma piscadela. Percebo que Oliver fecha a cara instantaneamente,
notando o gesto sugestivo dele. Essa sua reação me deixa incomodada, mas escolho não
comentar nada agora.
Oliver e eu andamos lado a lado até o estacionamento. Não digo uma palavra sequer, assim
como ele, mas ao chegarmos ao lado de fora do hospital, paro de andar e o encaro.
— Como soube que eu estava aqui? — questiono, irritada.
— Isso não importa. Você escondeu de mim que veria o meu filho — ele me acusa,
chateado. — Sua atitude foi cruel.
— Jura? De crueldade, você entende, né? — debocho.
— Compreendo a sua raiva, porque minhas atitudes foram abomináveis. Lamento muito.
Se eu pudesse voltar atrás, faria diferente.
— Mas não pode. Tudo o que peço é que me deixe em paz.
— Você está grávida de um filho meu. Acho que é meio impossível que eu a deixe em paz.
— Bufa.
— Pensei que você tivesse dito que me deixaria livre. Pelo jeito, me enganou.
— Não, você está livre para fazer o que bem entende.
— Então... se eu começar um novo relacionamento, você não tentará me impedir, não é
mesmo?
Oliver parece atordoado com a pergunta e sua expressão fica tensa enquanto ele processa
minhas palavras. Ele, enfim, responde, com a voz um pouco trêmula:
— C-como? V-você está... namorando?
— Não, Oliver, eu não estou namorando. Só estou dizendo que posso começar um novo
relacionamento, afinal, nós nos divorciamos há meses — mantenho o meu tom firme.
Sua surpresa é evidente e eu não posso deixar de notar o rubor em suas bochechas. Eu não
esperava uma reação tão intensa dele.
— Não, você não pode fazer isso. — Nervoso, ele bagunça os cabelos.
— E por que não? Você não tem domínio sobre mim — sou convicta.
— Eu te amo, e sei que você também me ama — ele diz, firme.
— Está redondamente enganado, eu não te amo.
— Ama, e vou provar.
Tudo acontece muito rápido. Oliver se aproxima de mim, segura em minha nuca com
firmeza e me beija, cheio de paixão. Uma onda de sentimentos contraditórios me envolve. Por
um tempo, minha mente se perde na sensação familiar do seu beijo, mas logo a realidade volta à
tona e eu o empurro, afastando-me.
— Isso não muda nada, Oliver. Eu não o amo mais — digo com firmeza, embora meu
coração ainda esteja confuso.
— Pode dizer o que quiser, Abby, mas sei que ainda me ama — ele responde com
convicção.
Por um momento, sinto-me tentada a confessar os meus sentimentos, mas me forço a
permanecer firme em minha decisão.
— Você não pode decidir os meus sentimentos por mim — retruco, desviando o olhar dele.
Oliver respira fundo e parece se conter antes de falar novamente.
— Talvez você não perceba agora, Abby, mas sei que ainda há algo entre nós, e vou lutar
por isso porque acredito em nós dois — seu tom é firme.
Eu o encaro.
— Oliver... por favor... respeite a minha decisão — minha voz treme ligeiramente.
Ele suspira, parecendo resignado.
— Não irei prometer o que não vou cumprir. — Depois de me responder, ele se afasta.
Solto um longo suspiro e caminho até onde o carro está estacionado. Preciso ser forte. Não
posso deixar o meu coração se abalar pelas palavras de Oliver.
CAPÍTULO 28
Eu dirijo para a reunião no restaurante, e Susan está ao meu lado, no banco do passageiro,
olhando o notebook. A pauta da reunião será fertilização, um assunto crucial para os nossos
negócios. Estamos trabalhando em melhorias e investimentos para aumentar nossa produtividade
e garantir o sucesso de nossas operações agrícolas.
Irei focar por algumas horas no trabalho. Quem sabe assim a minha angústia diminui.
No restaurante, os investidores já estão sentados, esperando-nos. Quando me avistam, eles
sorriem e se levantam para nos cumprimentar. São três senhores muito bem vestidos e
simpáticos.
A reunião é tranquila e Susan anota os pontos principais. Também, a refeição está
excelente. Sou um apreciador de comida e vinhos italianos, que são os meus favoritos.
Em um dado momento, sinto a necessidade de olhar para a entrada. É quando a vejo
usando um lindo vestido longo preto que modela o seu corpo, mostrando sua pequena barriga de
grávida. As mangas de renda são longas e os seus cabelos estão presos em um coque. Ela está
perfeita, entretanto, não está sozinha. Ao seu lado está o maldito doutor Salazar. Esse pilantra
quer a minha mulher. Como ele ousou convidá-la para jantar? É bem óbvio que esse jantar foi
um convite dele.
— Senhor Hunter, o senhor está bem?
— Hã? Me desculpe, não entendi. O que o senhor disse? — Eu estava tão focado em
observar Abby, que não faço ideia de qual foi o assunto dos últimos cinco minutos.
— Perguntei se o senhor está bem. Estávamos falando sobre o valor, se estava ótimo, mas,
de repente, o senhor se calou e ficou olhando fixamente para a entrada do restaurante.
— Oh, sim. Me desculpe. Para mim, o valor está excelente. Podemos assinar o contrato
agora mesmo.
Os três senhores sorriem.
Assinamos o contrato e continuamos comendo a nossa refeição, mas confesso que não
presto atenção na conversa dos senhores porque o meu foco está em Abby. Eles se sentaram em
um canto afastado, próximos ao corredor onde ficam os banheiros. Ambos conversam e sorriem.
Em certos momentos, ele toca na mão de Abby, e ela não afasta o seu toque. Isso me corrói por
dentro. Tenho vontade de me levantar, ir até a mesa deles e socar a cara daquele cretino. Ele quer
a minha mulher, porém não irei permitir.
— Foi um prazer fazer negócio com o senhor — diz um dos senhores.
— O prazer foi todo meu.
Após pagarmos a conta, em vez de ir embora, chamo Susan para me acompanhar até onde
o casalzinho está. Em hipótese alguma, irei deixá-los a sós.
Quando chegamos à mesa, os dois ficam surpresos com a minha presença. Abby, ao notar
que também não estou só, fecha a cara e olha fixamente para Susan. Acho que alguém ficou com
ciúme. Sorrio internamente.
Salazar pergunta se queremos acompanhá-los, e eu respondo que será um prazer.
Gentilmente, afasto a cadeira de Susan para que ela possa se sentar. Assim que nos acomodamos,
Salazar e eu conversamos sobre as nossas profissões. Abby e Susan se mantêm caladas, mas não
deixo de notar que Abby observa a minha secretária o tempo inteiro; deve estar pensando que
estamos aqui como um casal. Como eu sempre soube, ela me ama, mas a mágoa a impede de me
perdoar. Com o tempo, irei conseguir provar que realmente me arrependi.
No final do jantar, o celular de Abby toca e ela pede licença para o atender. Observo-a de
longe. No meio da ligação, ela parece apavorada, andando de um lado para o outro. Preocupado,
levanto-me da mesa, vou até onde ela está e pergunto o que houve. Temo pela sua resposta.
— Está tudo bem, Abby? O que aconteceu?
Chorosa, ela responde:
— Sequestraram a Tess.
Senti um choque ao ouvir as palavras dela. Meu coração acelera instantaneamente e uma
onda de pânico me domina. Engulo em seco e tento manter a calma, mesmo que, por dentro, eu
esteja totalmente desesperado.
— O quê? C-como assim sequestraram a Tess? — minha voz sai trêmula. Mal consigo
acreditar no que acabei de ouvir.
— Minha mãe disse que invadiram a fazenda. Meu pai tentou defendê-las, mas os
criminosos conseguiram desarmá-lo e ainda o agrediram e levaram Tess. — Abby está
apavorada, com os olhos cheios de lágrimas e tremendo de medo.
Eu a envolvo em um abraço, e ela não me afasta. Sinto o meu coração se apertar com a
preocupação pela segurança de Tess. Seguro Abby com firmeza, buscando lhe transmitir toda a
minha força e apoio neste momento de angústia.
— Vamos resolver isso, Abby. Vamos encontrar Tess e a trazer de volta para casa. Eu
prometo.
— E se fizerem alguma maldade com a minha filha? Só de imaginar uma coisa dessa, fico
sem chão — ela diz, chorosa.
— Calma. Eles querem dinheiro, então não tentarão fazer nada contra ela. Pode ter certeza.
Ela concorda.
Salazar e Susan vêm até nós e, ao verem o nosso estado, perguntam o que aconteceu. Eu
explico sobre a ligação que Abby recebeu e ambos ficam chocados. Depois digo a eles que
precisamos ir até a fazenda para ver como estão os pais de Abby, e Salazar se oferece para levar
Susan de volta para casa. Agradeço-lhe pelo gesto, já que a minha preocupação agora é encontrar
minha filha.
Dirijo em alta velocidade até a fazenda. Que se danem as multas; a minha garotinha vem
em primeiro lugar. Quando eu descobrir quem fez isso com ela, matarei essa pessoa com as
minhas próprias mãos.
CAPÍTULO 29
Eu me encontro em um estado de pânico que parece sufocante. Não posso acreditar que
Tess foi sequestrada. Meu mundo parece desmoronar diante dos meus olhos. Ando de um lado
para o outro, incapaz de conter as lágrimas que inundam meus olhos. Cada pensamento é uma
avalanche de terror, pois imagino o que pode estar acontecendo com a minha filha neste
momento. Rezo, com todas as minhas forças, para que Tess esteja segura e para que possamos
encontrá-la o mais rápido possível.
Chegamos há uns vinte minutos à fazenda dos meus pais. Minha mãe estava na sala, sendo
consolada por Dolores, que também estava aos prantos. O meu pai se encontrava sentado no
sofá, com uma bolsa de gelo no olho. Zeus foi baleado, e o senhor Liu o levou para um amigo
que é veterinário. Ele já ligou para nos comunicar que Zeus está fora de perigo e até nos enviou
algumas fotos dele. Ficamos mais aliviados.
Agora estamos aguardando a chegada dos policiais. Chamamos a polícia. Era o melhor a se
fazer.
— Eu estou com muito medo — confesso, chorosa.
— Também estou assim, meu amor, mas precisamos ter fé de que tudo dará certo e, em
breve, a nossa pequena estará conosco — Oliver responde.
— Você ama muito a minha filha, e isso me deixa bastante surpresa. Eu não esperava que
ela ganharia um segundo pai — confesso, constrangida.
— Um dia, você entenderá porque a trato como filha.
— Como assim? — Estou confusa.
Quando ele abre a boca para me responder, seu celular toca. Fico apreensiva porque podem
ser os sequestradores para pedir o resgate.
Oliver atende à ligação e a deixa no viva-voz.
— É um prazer falar com você, Oliver — diz o homem do outro lado da linha.
— Larry? — Oliver demonstra surpresa. — Por que está ligando para mim? Se é para
saber da Mabel, eu não faço ideia de onde ela se enfiou.
— Então, minha mulher foi correndo lhe contar? Eu deveria saber que você estava por
trás da fuga dela.
— Não. Ela fugiu porque você a ameaçou; não tenho nada a ver com o sumiço dela.
— Mas é o responsável pelo fim do meu casamento — a voz dele é rancorosa.
— O casamento de vocês era aberto. Se você aceitou que outros homens a comessem,
problema seu.
— Nunca me importei com quem ela se envolvia, todavia, tínhamos regras: ela não
poderia se envolver com homens do nosso círculo social nem pedir o divórcio, mas fez as duas
coisas.
— Divórcio? Do que você está falando?
— Mabel pediu o divórcio para ficar com você. Mas isso não é nada, aquela vagabunda
me roubou, levou todo o meu dinheiro. Isso não ficará assim. Vou matar aquela desgraçada
quando a encontrar.
Meu Deus! Oliver se envolveu com uma mulher casada. Estou com nojo desse homem.
— Quando nos encontramos, Mabel disse que escutou uma conversa na qual você dizia
que nos mataria, por isso ela fugiu.
— É mentira daquela ordinária. Eu descobri o caso de vocês há pouco tempo, depois que
ela fugiu, depois que eu disse que nunca nos divorciaríamos. Então, minha ficha caiu: ela se
apaixonou por outro. Contratei um detetive para descobrir quem era o maldito e encontrei
conversas entre vocês dois. Irei matar aquela vadia, e matarei você também. Aposto que entre a
sua vida e a vida da garotinha, escolherá a vida dela, não é?
Oh, meu Deus! Ele sequestrou a minha filha para atingir Oliver. Isso foi culpa dele.
Encaro-o com o meu pior olhar, e ele abaixa a cabeça, envergonhado.
— É claro que sou capaz de dar a minha vida pela vida da Tess. Você a sequestrou?
Devolva a minha filha.
— Já está chamando a garota de filha. — Gargalha.
— Diga onde ela está.
— Claro — ele fala, mais calmo. — Mas venha sozinho, senão a única coisa que irá
encontrar será o corpo da menina.
— Juro por Deus que se relar em um único fio de cabelo da minha filha, eu vou matar
você.
— Não está em condições de fazer exigências, se ponha em seu lugar. Irei lhe enviar o
endereço, e venha sozinho. — Após ele dizer isso, escutamos o “bip” do fim da ligação.
Meu coração martela no peito enquanto encaro Oliver com olhos enevoados pela dor e pela
raiva. Não consigo controlar as lágrimas que escorrem pelo meu rosto nem a sensação de
impotência que me consome. Sem pensar, avanço em sua direção com os punhos cerrados. Cada
soco desferido é um grito silencioso de desespero e uma tentativa desesperada de aliviar a dor
insuportável que se instalou em meu peito. A raiva e o desespero se juntam dentro de mim e os
meus golpes se tornam mais frenéticos, mais desesperados. E as palavras saem com a mesma
ferocidade que os meus punhos dando os socos.
— A culpa é sua! — grito, entre soluços, enquanto a dor e a raiva se misturam.
No meio do meu ataque de fúria, ouço sua voz, fraca e trêmula, pedindo perdão.
— Eu sinto muito. Me perdoe.
Olho para ele. Seus olhos estão turvos pelas lágrimas e eu busco alguma verdade nas suas
palavras. Mesmo que uma parte de mim queira rejeitar seu pedido de desculpa, outra parte sabe
que ele também está sofrendo, que também está perdido em meio ao caos que se instalou em
nossas vidas.
Com um suspiro pesado, permito que meus punhos caiam ao meu lado. A raiva cede lugar
à exaustão. Desabo em um mar de lágrimas e angústia. Uma voz dentro de mim sussurra que
essa não é a resposta, mas, no momento, não consigo ouvi-la. Tudo o que posso fazer agora é
manter a esperança de que algum milagre nos trará de volta a minha menininha.
Ele se aproxima de mim e os seus braços envolvem o meu corpo trêmulo. Por um instante,
eu me permito me render ao calor do seu abraço, deixando minhas lágrimas caírem livremente.
Não há palavras entre nós, apenas o som dos meus soluços abafados e o batimento acelerado do
meu coração.
— Eu irei com você — falo, firme.
— Não, você...
Saio do seu abraço e o olho.
— Eu disse que vou, e você não poderá fazer nada quanto a isso.
— Mas, Abby...
— Não, eu irei com você, e não há quem me convença do contrário. Você me deve isso.
Por um momento, noto uma luta silenciosa refletida em seus olhos. Sem ter escolha, ele
cede, resignado. Limpo as lágrimas e suspiro longamente.
Após avisarmos aos meus pais e à Dolores sobre o sequestrador ter entrado em contato,
partimos para o local do sequestro. Cada segundo parece uma eternidade e a angústia me sufoca.
No carro, o silêncio paira pesadamente, sendo interrompido apenas pelo som dos pneus contra o
asfalto. Oliver dirige em alta velocidade. Assim como eu, ele tem pressa para chegar ao local. É
nítido que a sua mente está tão turbulenta quanto a minha.
Ficamos aliviados quando, enfim, chegamos. Nós nos deparamos com um cenário
desértico em uma área isolada da cidade. Vemos apenas um balcão que parece abandonado.
Olhamos um para o outro, perplexos e preocupados. O lugar parece ser sombrio e silencioso,
aumentando ainda a mais a nossa apreensão. Seguro em sua mão com força, e meus olhos
transbordam preocupação e medo.
— Irei enviar uma mensagem aos investigadores, avisando que estamos no local do
cativeiro e dando nossa localização — ele fala, e eu concordo.
Com passos cautelosos, nós nos aproximamos do balcão abandonado. Meu coração bate
acelerado e a incerteza paira sobre nós.
— Eu disse para você vir sozinho, Oliver. — Nós nos viramos na direção da voz grave.
O dono da voz é um homem alto, de cabelos grisalhos. Ele deve ter cerca de 60 anos. Seu
olhar é demoníaco e minha princesinha está ao seu lado, com um dos seus capangas, que está
com uma arma apontada para a cabeça dela.
— Mamãe — ela choraminga.
— Calma, meu amor. Logo nós estaremos juntas — tento acalmá-la.
— Vamos ao que interessa: eu devolverei a garota, mas, em troca, quero você, Oliver.
Temos muitas coisas para acertar.
— Eu já disse que dou a minha vida pela da minha filha.
— Muito bem — concorda o homem, sorridente. — Revistem ele e peguem o seu celular.
Seus capangas fazem o que ele pediu. Após revistarem Oliver, mantêm as armas apontadas
para ele.
— Você conseguiu o que queria. Agora, liberte a minha filha — diz Oliver.
Larry faz um sinal para um dos seus capangas, e ele empurra Tess em minha direção. Ela
corre até mim e abraça a minha cintura. Retribuo o seu gesto com um abraço apertado.
— A mamãe sentiu a sua falta, meu anjo. — Beijo a sua testa.
— E-eu também senti a sua, mamãe.
Enxugo as suas lágrimas e as minhas.
— Deixe-as ir — pede Oliver.
— Quem dá as ordens aqui sou eu.
— Você venceu, Larry. Liberte as duas — Oliver praticamente suplica. — Por que a
sequestrou, se o tempo todo a queria?
— Vê-lo apavorado não tem preço. Quando eu soube que você tinha se casado e estava
sendo pai de uma garotinha, vi que fazer algo contra quem você ama o deixaria arrasado. Por
isso sequestrei a garota. Na verdade, era para eu sequestrar a mãe e a filha, mas a mãe não estava,
então pegamos apenas a garota. E deu certo. Seu olhar de súplica é impagável.
Continuo abraçada com a minha garotinha, que chora silenciosamente.
— Liberte-as, por favor. Se quiser que eu me ajoelhe e implore, farei isso, mas as tire
daqui — sugere Oliver, apavorado.
O tal do Larry sorri. Ele está se divertindo com a situação, é notório. Seu prazer é ver
Oliver desesperado. Depois de soltar uma gargalhada, ele diz:
— Levem-nas embora, mas antes confisquem o celular da mãe.
Um dos capangas faz o que ele pediu: tira o celular do bolso da minha calça. É neste
momento que ouvimos o barulho da sirene.
— Você chamou a polícia? Eu disse para não fazer isso. Se tivesse me ouvido, teria
poupado a vida de sua filha e da sua esposa.
Tudo acontece muito rápido. Larry aponta a arma para mim e Tess, e Oliver corre. Depois
Larry dispara quatro vezes. As balas não atingiram Tess e eu, mas sim Oliver, que entrou em
nossa frente. Ele impediu que fôssemos atingidas.
— Meu Deus! — grito, apavorada. — O-Oliver, você ficará bem.
Olhando à minha volta, constato que estamos sozinhos. Todos os homens fugiram.
— C-cuide... da Tess... por mim. Eu amo... vocês duas...
— Pare de falar. Os policiais estão vindo, e eles vão chamar a ambulância. — Enxugo as
lágrimas. — Você ficará bem. — Tiro o meu casaco e estanco o sangue que não para de sair da
sua barriga e peito.
— N-não... Não tenho... muito tempo. — Ele tosse e sai um pouco de sangue. Isso me
deixa muito apavorada, mas não digo nada. Não quero deixar Tess mais assustada. — Nunca...
amei... como te amei. Me perdoa... por todo o mal que lhe causei... Quero ir em paz.
Com lágrimas banhando os meus olhos, respondo:
— Sim, Oliver, eu te perdoo.
— Obrigado. — Ele sorri e os seus olhos vão se fechando aos poucos.
— Oliver, não fecha os olhos. Oliver, por favor, acorda — suplico.
Tess solta um soluço e se agarra a mim com força.
— E-le morreu, mamãe?
Com um nó na garganta, tento conter as lágrimas que teimam em escapar. Meu coração se
despedaça quando encaro o corpo sem vida de Oliver. O peso da perda é sufocante. Cada
respiração é uma luta e cada batida do meu coração é um grito silencioso de desespero.
Tess, com os olhos cheios de lágrimas, olha para mim, em busca de conforto. Mas como eu
poderia lhe oferecer conforto, quando estou tão dilacerada pela dor? Minhas mãos tremem
enquanto tento encontrar palavras para explicar a inexplicável partida de Oliver.
A dor me corta por dentro enquanto encaro o corpo inerte dele. Não consigo acreditar que
ele se foi. As lágrimas continuam a escorrer pelo meu rosto e eu tento reunir forças para
responder à Tess.
— Sim... meu amor, e-ele se foi — minha voz falha e o choro sai entrecortando minhas
palavras.
Tess soluça alto e o seu corpo pequeno treme, com o peso da perda. Eu a envolvo mais
ainda em meus braços, desejando poder protegê-la.
Não sei como enfrentarei o futuro sem Oliver ao nosso lado, mas sei que, por mais que
doa, preciso me manter forte. Esta não é a primeira vez que eu perco alguém que amava. Irei
conseguir seguir em frente, apesar da dor dilacerante que rasga o meu coração.
CAPÍTULO 30
Com o coração pesaroso e os olhos marejados, chego ao cemitério carregando rosas. Com
passos lentos, aproximo-me do túmulo e coloco as flores nele com cuidado. Diante da lápide, as
palavras parecem lutar para encontrar seu caminho através do nó em minha garganta. Respiro
fundo, tentando encontrar as palavras certas para expressar o que o meu coração transborda. Com
a voz embargada pela emoção, começo a falar.
— Foram tantos momentos que compartilhamos. Desde o momento em que nossos olhos
se encontraram, minha vida se encheu de luz e significado. Você foi o meu porto seguro e o meu
primeiro e único amor. Eu te amei com uma intensidade que ultrapassava as fronteiras do tempo
e do espaço. Entretanto, todos os ciclos se encerram, e o nosso está na hora de se encerrar.
Encontrei um novo amor. Sim, alguém que me enche de alegria e me fez acreditar no futuro
novamente.
Com o coração mais leve e a alma serena, ando em direção à saída do cemitério. Oliver
está encostado no carro, com o seu habitual charuto e óculos escuros. Quando me aproximo dele,
ele estende a mão e, gentilmente, acaricia a minha barriga de sete meses.
— Como foi lá?
— Foi... tranquilo. Estou me sentindo mais leve. Foi bom me despedir do meu passado.
Ele assente e, em um gesto de apoio silencioso, abraça-me.
Três meses se passaram desde aquele dia angustiante em que ele quase nos deixou para
sempre. Recordo-me vividamente do momento em que os paramédicos o levaram às pressas para
a ambulância. Meu coração se afundou em desespero. Quando Oliver desmaiou e os seus sinais
vitais não estavam mais em evidência, devido ao meu nervosismo, pensei que ele estivesse
morto, mas quando os policiais chegaram, disseram que ele estava vivo. Estava respirando fraco,
mas estava vivo.
Quando chegamos ao hospital, a notícia de que seus ferimentos eram graves fez o meu
mundo desabar. A sua cirurgia foi uma agonia para mim e cada segundo se arrastava como uma
eternidade enquanto esperávamos por notícias. Após longas horas de espera, o médico
responsável pela cirurgia nos comunicou que as balas haviam perfurado locais perto de órgãos
vitais. Ele também nos advertiu de que as próximas 72 horas seriam cruciais.
Foram três dias de angústia intermináveis; uma montanha-russa emocional que parecia não
ter fim. Após o tempo de espera crucial, a notícia do coma induzido nos atingiu como um golpe e
o peso da incerteza nos consumiu. Ele poderia acordar naquele mesmo dia ou anos depois. Por
dias, minha mente oscilou entre o desespero e a esperança.
E, graças a Deus, depois de um mês de coma, ele, finalmente, despertou.
Quando Oliver acordou, foi como se tivesse saído um peso dos meus ombros. A ansiedade
e a angústia, que haviam me consumido durante aqueles dias, enfim, dissiparam-se. Celebramos
o seu retorno com alegria, abraços e lágrimas de alívio, mas logo ele pediu para nós dois
ficarmos a sós. Senti uma pontada de preocupação com o que ele queria me contar.
Quando Oliver me confessou que era o meu Thomas, minha mente se recusou a acreditar.
Para mim, era uma piada de mau gosto, mas os seus olhos sérios e o tom de sua voz deixaram
claro que não era brincadeira. Eu estava atordoada, incapaz de compreender como tudo isso era
possível. Conforme ele começava a relatar tudo que aconteceu desde os seus dias na prisão até o
seu reencontro com o pai, cada palavra dele parecia uma peça se encaixando em um quebra-
cabeça que eu não sabia que existia.
Meus sentimentos oscilavam entre a incredulidade e a compaixão. A dor e o ressentimento
que ele teve em todos esses anos me fizeram compreender o motivo da sua vingança. Ouvir
Oliver relatar que o nosso relacionamento chegou ao fim por causa do meu pai fez o
desapontamento e a tristeza inundarem o meu coração. Eu não podia acreditar que alguém que
deveria zelar pelo bem-estar da própria filha, tivesse sido capaz de tamanha maldade. Cada
revelação sobre as artimanhas e armadilhas que meu pai montou para nos separar foi como um
golpe direto no meu coração. Saber que ele foi o responsável por semear tanto caos e sofrimento
em nossas vidas me deixou sem chão.
Mas, apesar da dor e da decepção, eu pude me sentir justiçada por saber que Oliver estava
determinado a expor a verdade e levar o meu pai à justiça. É horrível saber que ele cometeu
diversos crimes ao longo dos anos.
Após nossa conversa sobre o meu pai, ele me perguntou se Larry havia sido preso, então
lhe contei os eventos que se seguiram depois daquela tentativa de assassinato. Vi a expressão de
choque e tristeza se espalhar pelo rosto de Oliver quando lhe comuniquei sobre a morte cruel de
Mabel. Ela foi estuprada e assassinada na casa que tinha alugado no centro. A cidade toda ficou
em choque. Nunca fui com a cara dela, mas é difícil imaginar a angústia e o sofrimento que ela
enfrentou nas mãos de seu agressor. E o fato de Larry parecer ser o principal suspeito torna tudo
ainda mais assustador.
Hoje seria o aniversário da morte de Thomas, um dia que nunca poderei esquecer, não
importa o quanto eu tente. Todos os anos, eu vinha ao cemitério para deixar flores em sua lápide
e na lápide de sua mãe. Apesar de Oliver ser o Thomas, eu sentia que precisava me despedir dele
de alguma forma para encerrar esse ciclo doloroso.
Percebi que Oliver e Thomas são pessoas diferentes. Oliver não é, simplesmente, a sombra
de quem Thomas foi, é uma pessoa única, com suas próprias características, virtudes e falhas. E,
apesar das dificuldades que enfrentamos e das cicatrizes do passado, eu o amo intensamente.
— Eu te amo — ele diz, acariciando a minha barriga.
— Eu também te amo. — Abraço-o.
— É melhor irmos embora, você não pode ficar muito tempo em pé.
— Isso é bobagem. — Dou um tapinha em seu peito.
— Quero o seu bem, meu amor.
Reviro os olhos, sabendo que não adiantaria eu discutir. Não digo nada, suspiro e entro no
carro. Oliver me trata como uma boneca delicada, sempre cuidadoso e atento. Embora eu ache
fofo, às vezes é sufocante ser cercada por tanto cuidado.
Ele dirige de volta para casa e eu observo a paisagem passando pela janela do veículo. De
repente, sinto uma dor no coração.
— Oliver — chamo-o, angustiada.
— Oi? — Ele desvia o olhar, por alguns segundos, para mim. — Está sentindo algo?
— Quero ir para a fazenda — digo, nervosa.
— Agora? — Ele estranha o meu desespero. — O que está acontecendo?
— Estou com um pressentimento ruim. Vamos para a fazenda, por favor — peço, quase
implorando.
Ele concorda e muda o trajeto.
Sinto um nó se formar em minha garganta. Apesar de minha mãe estar curada, ainda me
preocupo com ela. Eu quero ter certeza de que ela está bem, mesmo que já não precise tanto de
cuidados quanto antes. Quanto ao meu pai, não estou conversando com ele. Depois de tudo que
Oliver me contou, sinto muita raiva dele.
Todos sabem que Oliver é Thomas. Quando o meu pai soube, revoltou-se por ele ainda
estar vivo. Ali, eu notei que ele não tinha mudado nada. Nós discutimos e eu disse que ele
pagaria pelos seus crimes. Eu o vi, simplesmente, dar de ombros. Meu pai não tem jeito, nunca
se arrependerá pelo que fez no passado.
Volto à realidade ao ver uma fumaça negra vindo da fazenda. Não pode ser um incêndio,
não é possível.
— Oliver, a fazenda está pegando fogo. — Fico desesperada.
— Calma, estamos chegando.
Assim que ele para o carro, eu abro a porta. O meu coração dispara assim que olho para as
chamas engolindo a casa da fazenda. Um grito de desespero escapa dos meus lábios conforme
corro até lá, mas Oliver me agarra com firmeza, impedindo-me de avançar. As lágrimas escorrem
pelo meu rosto e eu luto para me soltar.
— Minha mãe e meu pai... Eles... — minha voz sai falha.
Tudo ao meu redor vira um borrão, então fecho os olhos, entregando-me à escuridão.
Abro os olhos lentamente. Estou um pouco zonza. Olho à minha volta e tento me situar
sobre onde estou. Parece um déjà-vu de alguns meses atrás. Eu me dou conta de que estou no
quarto de um hospital, e Oliver está sentado na poltrona, dormindo. Minha mão, instintivamente,
vai para a minha barriga, e eu noto que ela está menor. Minha mente parece levar um momento
para processar o que está acontecendo, mas quando a compreensão se instala, meu corpo é
tomado pelo desespero.
— Onde está o bebê? — minha voz sai trêmula.
Oliver acorda assustado. Ao perceber que despertei, levanta-se da poltrona e vem correndo
até mim. Seus olhos demonstram preocupação e alívio.
— Você está bem, meu amor? — Ele segura em minha mão com carinho.
— Cadê o meu bebê? — pergunto, desesperada.
— Ele está no berçário, bem cuidado. Tiveram que antecipar o parto porque sua pressão
estava subindo. Enfim, ele está bem. Está sentindo algo?
— Sim, estou um pouco atordoada. Mas vai passar.
Logo imagens do porquê perdi a consciência surgem na minha mente: a fumaça negra que
avistamos perto da fazenda, a casa pegando fogo, eu tentando correr para ver se meus pais
estavam na casa, Oliver me segurando... E, depois disso, não vi mais nada.
— E... E a minha mãe e o meu pai? — minha voz falha diante do meu medo de ouvir a
resposta.
— Sua mãe está bem. Quando a casa pegou fogo, ela e Dolores estavam no jardim. Elas
demoraram para se dar conta do incêndio. E o seu pai... — Ele engole em seco. — Ele estava no
quarto e também não percebeu quando o fogo se alastrou. Eu... Eu sinto muito, meu amor, mas
ele não resistiu às queimaduras.
Minha mente está girando, lutando para absorver todas as informações. Eu me sinto tonta,
fraca e devastada pela perda do meu pai. As lágrimas ameaçam transbordar, mas eu me seguro
com força. Apesar de ele ser um criminoso, eu queria que ele pagasse na cadeia, como tinha que
ser.
Oliver me abraça e beija a minha cabeça.
Infelizmente, foi o destino que ele procurou.
— Quando poderei ver o nosso filho?
— Irei chamar o médico e comunicar a ele que você acordou. — Oliver beija levemente os
meus lábios e se retira.
Em menos de cinco minutos, ele e o médico retornam com uma cadeira de rodas. O doutor
pergunta como estou me sentindo, e eu digo que estou bem e ansiosa para ver o meu bebê.
Enquanto Oliver me conduz em minha cadeira de rodas até o berçário, sinto uma grande emoção.
Ao parar na frente da caminha, vejo o meu pequeno anjinho envolto por cobertores, dormindo
tranquilamente. Com cuidado para não o acordar, a enfermeira o pega no colo e me entrega. O
seu rostinho angelical me faz sorrir e, ao mesmo tempo, chorar de felicidade, mesmo diante de
toda a dor que estou enfrentando.
Oliver vem para o meu lado, mantendo os olhos fixos no bebê. Por um momento, consigo
esquecer toda a tristeza. Agora, mais do que nunca, preciso encontrar forças para seguir em
frente. Preciso cuidar do meu neném, da minha mãe e da minha filha. Mas, no meio de tudo isso,
sei que não estou sozinha, tenho Oliver comigo.
EPÍLOGO
Oliver
Enquanto caminho pelo jardim da nossa casa com o meu filho nos braços, meu coração
transborda de felicidade. Ele é tão pequeno e inocente, mas, ao mesmo tempo, tão cheio de vida
e energia. Com 8 meses de idade, já está dando os seus primeiros passos e começando a
balbuciar suas primeiras palavras.
Olho para Eric, vejo-me refletido nele e me lembro de tudo que passamos para chegar até
aqui. Recordo-me do dia em que Abby e eu revelamos que eu era Thomas. Lembro-me da
intensa discussão com o pai dela e da dor que senti ao descobrir que foi Max que contou para ele
que Abby e eu estávamos tendo um relacionamento. Eu o considerava como o meu irmão.
Porém, como tudo que plantamos, colhemos, há cinco anos, Max estava tendo um caso com uma
mulher casada, e o marido dela o agrediu e o fez sair da cidade quando soube disso. Desde então,
ninguém teve mais notícias deles.
E por falar em Joe, as câmeras ao redor da fazenda revelaram que foi Larry que pôs fogo
na casa. A prisão dele nos trouxe um grande alívio. Depois, ele respondeu por tentativa de
homicídio, assassinato e estupro de Mabel, e assassinato de Joe. O resultado foi pena de morte.
Agora estou morando no Texas. Eu transferi a minha empresa para cá, e Susan veio
comigo. Abby e eu acabamos nos tornando padrinhos do casamento dela com o doutor Salazar.
Foi uma ótima surpresa para nós quando soubemos que ambos estavam juntos.
— Cheguei, papai. — Tess corre, animada, com Zeus ao seu lado.
Lembro-me do momento emocionante de quando contei a ela que era o seu verdadeiro pai.
Ela chorou muito e ficou brava, mas logo me aceitou em sua vida.
— Como foi na escola? — Coloco Eric no chão, que engatinha até Zeus.
— Legal. Na sexta, terá uma homenagem ao Dia dos Pais. O senhor vai, né, papai?
— Claro. Eu não perderia por nada, porque tenho a melhor filha do mundo. — Eu aperto o
seu narizinho e ela sorri.
Abraço-a e beijo a sua testa.
É neste momento que Abby chega ao jardim com sua mãe e Dolores, carregando cestas de
piquenique. Sinto-me completo. Somos uma família unida pelo amor e pela superação de todos
os desafios que enfrentamos no passado. É incrível como, mesmo diante dos momentos mais
difíceis, o nosso amor só cresceu e se fortaleceu.
Abby é minha parceira, minha melhor amiga e o amor da minha vida. Cada obstáculo que
enfrentamos só serviu para nos unir ainda mais, e é isso que me dá forças para seguir em frente,
lidando com qualquer desafio que o futuro possa trazer.
Tess corre pelo jardim, na companhia de seu irmão, rindo e brincando com Zeus. O meu
coração se enche de alegria por eu os ver tão felizes. Ela e Eric são os nossos raios de sol,
trazendo luz e alegria para as nossas vidas todos os dias.
Observando a minha família, percebo o quão abençoado sou por tê-los.
Com Abby ao meu lado, sei que posso superar qualquer desafio e enfrentar qualquer
tempestade. Nosso amor é o alicerce que sustenta a nossa família, e será com ele que
continuaremos a escrever nossa história, capítulo por capítulo, lado a lado, para sempre.
Abby
Embarcamos no jatinho particular, rumo à Tailândia, para a nossa tão esperada lua de mel.
Oliver e eu aguardamos pacientemente Eric completar seu primeiro ano de vida para selarmos a
nossa união diante de um juiz. Fizemos uma festa apenas para os mais próximos. Tess e Eric
estão sob os cuidados amorosos dos avós, que lhes proporcionam momentos de diversão
enquanto estamos ausentes.
E por falar em avós, foi uma grande surpresa para nós quando minha mãe e o meu sogro
assumiram um relacionamento. Sempre que o meu sogro vinha nos visitar, mamãe sorria e
suspirava pelos cantos. Nunca imaginei que o motivo por trás disso fosse o senhor Owen. Torço
para que ambos sejam felizes. Todos merecem uma segunda chance, afinal, o amor pode nos
surpreender de maneiras inimagináveis.
Ainda falando de surpresas, há alguns meses, Ulrich voltou à fazenda e me pediu perdão.
Foi uma cena engraçada, porque no exato momento em que ele chorava, dizendo estar
arrependido, Oliver entrou na sala com Eric no colo, dizendo que ele não parava de chamar por
mim. Meu ex-marido ficou branco igual a um papel. Ele realmente achou que voltaríamos a ser
um casal. Só se esqueceu de que, após o seu sumiço, eu entrei com o pedido de divórcio, e o juiz
me concedeu porque aleguei que Ulrich havia me abandonado para ficar com sua amante.
Na semana passada, foi a vez de Lucille subir ao altar. Ela se casou com o pai de uma das
coleguinhas de classe do seu filho. Thomas e eu fomos os padrinhos do casamento. Ela se tornou
uma grande amiga para mim, assim como Susan, e merece ser feliz.
Eu olho pela janela do jato. Oliver segura em minha mão com ternura e a beija. Enquanto o
sol começa a surgir no horizonte, olho para o meu marido, meu parceiro, meu verdadeiro amor.
Aconteça o que acontecer, estaremos sempre um ao lado do outro.
Fim.
AGRADECIMENTOS
Quero começar expressando minha profunda gratidão a Deus. É ele quem me dá forças,
saúde e criatividade todos os dias para escrever histórias que aquecem o coração dos meus
leitores.
À minha querida amiga e leitora, Cris, eu gostaria de estender um agradecimento especial.
Seu discernimento e perspicácia foram inestimáveis, especialmente na colaboração para o
desfecho merecido de um dos personagens. Agradeço, de coração, por sua amizade, apoio e
dedicação, que tornaram este livro ainda mais especial.
Agradeço também à minha revisora. Sem ela, a clareza e a qualidade deste livro não seriam
possíveis. Sua atenção aos detalhes, seu olhar meticuloso e sua dedicação e habilidade em
aprimorar cada palavra são verdadeiramente admiráveis.
E a todos que dedicaram o seu tempo para ler e avaliar este livro, meu mais sincero
obrigada. É para vocês que escrevo, e sua apreciação e apoio significam muito para mim.
Com gratidão, Carolina S. Pergentino.
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OUTRAS OBRAS DA AUTORA
Um Herdeiro Para o Bilionário
Henrique Valença é um playboy que não quer saber de compromisso, porém a pressão
de sua família para que ele se case e tenha filhos, aumentou. Seu pai lhe dá um ultimato para que
mude de vida: ele terá um ano para se tornar um homem de família. Caso contrário, estará
dispensado da empresa que tanto ama.
Por ser o único herdeiro homem da família Valença, Henrique precisa ter um filho para
continuar o legado do seu avô. Tornar-se pai até que não é uma má ideia para ele, desde que não
tenha o trabalho de cultivar um relacionamento.
Então, ele decide que será pai por meio de uma barriga de aluguel, como fez o seu amigo,
mas diferentemente de Heitor, optará por não ter nenhum vínculo com a mulher que terá o seu
bebê.
Os planos mudam quando ele descobre que, por engano, inseminaram o seu sêmen na
mulher errada. E para a sua surpresa, a mulher inseminada erroneamente é uma ex-colega sua da
época de faculdade, que o odeia com todas as forças; e motivos não faltam para isso.
Lívia Fagundes, desde que chegou à adolescência e descobriu o que é o amor, ter uma
família para chamar de sua virou prioridade dela. Mas ela sempre teve o dedo podre para
homens. E cansada de ser pressionada pela mãe porque chegou aos 30 anos e não tem um marido
e filhos, decide começar a sua família sem um companheiro. Afinal, quem disse que é preciso
estar em um relacionamento para se tornar mãe? Ela desistiu de encontrar o príncipe encantado e
será mãe solo por meio de uma inseminação artificial.
Seu mundo vira de ponta-cabeça quando ela chega à sua empresa e dá de cara com um
inimigo da época de faculdade. Para a sua surpresa, ele diz ser o pai do seu bebê, e para piorar
ainda mais a situação dela, ele quer a guarda da criança após o nascimento.
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Hugo Fontana teve o seu coração destroçado quando flagrou a sua namorada e o seu
irmão juntos no dia em que ia pedi-la em casamento. Ele jurou para si mesmo que nunca mais
confiaria no sexo oposto. O único vínculo que ele deseja com as mulheres é sexo, nada além
disso.
Os anos se passam e o seu ódio pelo irmão e ex-namorada, agora noiva dele, persiste, até
que ele recebe o convite para o casamento de ambos.
Querendo mostrar que superou e que seguiu em frente, sem alternativa, Hugo pede à sua
secretária para ser sua namorada. Não será nada fácil essa convivência. Ele odeia a sua
secretária, e ela também o odeia; só não a demite porque ela foi a única funcionária competente
que ele arranjou nos últimos anos.
Angel Fernandes engravidou do seu ex-namorado, e ao lhe revelar sobre a gravidez,
descobriu que ele era um homem casado. Arrasada, ela promete a si mesma que quer distância de
relacionamentos e que se dedicará apenas a cuidar do seu bebê.
Quando o seu chefe, quem Angel odeia, pede a sua ajuda para fingir ser a sua namorada,
ela pensa que ele enlouqueceu, mas ao descobrir o motivo de tudo isso, comovendo-se com a
história dele, acaba vendo semelhanças nela com a sua própria história. Sem pensar duas vezes,
deixa as suas diferenças de lado e aceita ajudá-lo.
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Stefano De Santis é o CEO de uma das maiores empresas de moda do mundo, a Group
De Santis. Ele é muito amado pela mãe, mas desprezado pelo pai. Stefano nunca entendeu a
hostilidade por parte de Vittorio, e o relacionamento com ele, que nunca foi dos melhores, piora
quando a sua mãe lhe revela que está sendo traída e que a amante dele é uma garota jovem, que
tem idade para ser a sua filha.
Ver sua mãe sofrer por causa do seu pai o deixa arrasado, então ele jura que se vingará:
seduzirá a sua amante e a tirará dele. Stefano só não esperava que o seu plano tomaria outros
rumos e que nada do que ele planejou, daria certo. O que era para ser uma vingança, transforma-
se em amor. Quando ele resolve seguir o coração e se render aos seus sentimentos, um segredo
vem à tona, fazendo com que ele se sinta o pior dos seres humanos.
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Ela é alegre.
Ele é rabugento.
Ela é amorosa.
Ele é detestável.
Ela é jovem.
Ele é mais velho.
Ela é humilde.
Ele é arrogante.
Ela odeia ser submissa.
Ele gosta de dominar.
Ela sonha em se casar por amor.
Ele quer uma esposa troféu.
Ela é uma jovem estudante nova-iorquina.
Ele é um magnata grego do petróleo.
Ela é amada por todos à sua volta.
Ele é odiado por todos à sua volta.
Ela fará de tudo para o tirar do sério.
Ele fará de tudo para a domesticar.
Após ter sido abandonado no altar pela sua noiva, o bilionário grego Apolo Santorini
vive recluso na sua ilha particular localizada na Grécia. Ele é presidente da empresa STN
Energy, a maior responsável pela produção de óleo e gás de todo o Estados Unidos e Grécia.
Depois de anos sem visitar a sede da sua empresa em Nova Iorque, devido a algumas lembranças
amargas, ele precisa retornar à cidade para encontrar o novo CEO dessa sua filial.
Apolo se aproxima dos 40 anos, e por isso é pressionado pelo seu pai a lhe dar herdeiros
para que continue presidindo o legado de sua família, já que seus irmãos abdicaram do cargo
para seguir outras profissões. Ele nunca se importou com a pressão para se casar, jamais deu
importância a isso, até conhecer Sofia Cooper, filha do seu novo CEO. Para a sua surpresa,
encanta-se com a beleza e o jeito atrevido da garota. A sua obsessão para a ter em sua cama o
fará usar meios escusos para isso.
Sofia Cooper é uma garota de 20 anos que está na melhor fase de sua vida. Ela acabou
de ser aceita na melhor universidade dos Estados Unidos e de ser pedida em casamento pelo seu
namorado. Mas a sua alegria dura pouco, pois logo ela recebe a pior notícia de sua vida: não
poderá entrar na universidade e se casar com o seu amor de adolescência porque está de
casamento marcado com Apolo Santorini. Esse matrimônio será como uma moeda de troca pela
dívida que o seu pai tem com Apolo. O problema é que além de não o amar, ela passa a odiá-lo
ao saber que se unirá a ele em casamento. Ela não suporta a sua arrogância, e a prepotência dele
a tira do sério.
Enquanto Sofia não esconde o seu ódio por ele, Apolo a deseja ardentemente. Quando ela
se vê obrigada a se casar com o homem que tanto odeia, jura para si mesma que fará da vida dele
um inferno.
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Omar Al-Madini, desde que foi para Washington, só quer saber de curtir a vida em
festas regadas a bebidas e mulheres. Após viver anos fora de sua terra natal, Maberic, sua vida
muda drasticamente e ele precisa retornar às pressas para lá. Seu irmão mais velho, e sheik do
país, acabou de ser brutalmente assassinado. Com o falecimento dele e a ausência de herdeiros,
Omar se torna o próximo sheik, assumindo a liderança de seu país. Movido pela sede de
vingança, ele está determinado a descobrir o assassino de Samir e fazer justiça a qualquer custo.
No entanto, em meio a essa busca implacável por respostas, sentimentos inesperados
começam a surgir no coração de Omar. Ele se vê, novamente, apaixonado por Samira Al-
Madini, a viúva de seu falecido irmão. Ele nutria uma paixão ardente por ela desde que a
conheceu, mas isso permaneceu adormecido depois que ela se casou com Samir.
Por respeito à memória de seu irmão, ele faz de tudo para sufocar essa atração intensa.
Por sua vez, Samira foi criada para se tornar a esposa do sheik de Maberic. Vinda de uma
família rica e prestigiada, ela sempre soube que seu destino estaria entrelaçado ao da família real.
Engana-se quem pensa que Samira tinha uma vida fácil ao lado de seu marido. Para
muitos, Samir era visto como um grande líder e exemplo de como os maridos devem tratar suas
esposas, mas somente ela conheceu sua verdadeira face: um homem cruel e capaz de tudo para
conquistar seus objetivos. Por isso, a notícia da morte dele foi um alívio para ela, embora ela
também sinta apreensão com a chegada do novo sucessor.
Para a surpresa dela, Omar se revela um homem completamente diferente, apesar do
mesmo sangue do seu marido falecido correr nas veias dele. Sua presença desperta sensações e
emoções, antes inimagináveis, em Samira. Ela nunca imaginou que a paixão adormecida, que
nutria por Omar, retornaria quando ela o revisse. As coisas seriam mais fáceis se ele não fosse
irmão do ex-marido dela.
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Camila passou sua vida toda morando no orfanato, prestes a completar dezoito anos terá
que sair do lugar, sem conhecer ninguém e sem ter para onde ir, por ser muito querida pela
diretora do orfanato, irmã Lúcia, consegue um emprego como babá em outro estado, na casa de
sua prima que acabou de ter um bebê, nesse emprego, ela conhecerá dois irmãos gêmeos
idênticos, que apesar de serem fisicamente iguais, suas personalidades são o completo oposto.
Daniel é o gêmeo centrado, educado, amoroso, nobre e com um coração de ouro.
Já Samuel, é arrogante, mesquinho, invejoso, e perverso, é capaz de qualquer coisa para
alcançar seus objetivos, até prejudicar quem ama se for preciso.
Camila se apaixona perdidamente por Daniel, mesmo ele sendo vinte anos mais velho,
viúvo e pai de uma garotinha de três anos, é correspondida com a mesma intensidade, o que
ambos não esperavam, era que o Samuel também havia se apaixonado pela jovem garota, ele não
esperava ser rejeitado pela garota humilde que teve o seu coração arrebatado pelo do seu irmão,
por inveja armará um plano para separá-los.
Mesmo a amando, Daniel cai na armadilha feita pelo seu irmão, se não bastasse humilhá-
la e expulsá-la da sua vida, ele rejeita a filha que ela espera.
Sem ter para onde ir, ela acaba morando nas ruas, até que por coincidência do destino, é
salva de um abuso pelo seu pai que ela nunca imaginou conhecer.
Grávida, rejeitada, e com o coração quebrado, Camila voltará em busca de vingança, mas
será que ela conseguirá ir até o fim?
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Grávida Rejeitada Pelo CEO
Kyra Stavros é filha dos empregados da poderosa família grega Liakos, mas isso não a
impediu de se apaixonar pelo filho mais velho deles, Dimitri, apesar da diferença de idade de 21
anos entre eles. Em uma noite de festa e excessos, os dois dormem juntos, mas, na manhã
seguinte, ele a rejeita.
Quando Dimitri descobre que Kyra está grávida, obriga-a a deixar a Grécia. Desesperada
e determinada a criar seus filhos sozinha, ela parte para Nova Iorque, onde constrói uma nova
vida e se dedica a ser a melhor mãe possível.
Dimitri Liakos é o CEO da Oceanic Ventures Enterprises. Mesmo próximo dos 40 anos,
ama estar em festas regadas a bebidas e mulheres. Ele se tornou um homem frio após ter sido
responsável indiretamente pela morte de sua ex-noiva, por quem era perdidamente apaixonado.
Tudo muda quando ele passa a ver com outros olhos a filha dos empregados de seus pais.
Ela já não é mais aquela adolescente que se escondia ao vê-lo. Kyra cresceu e se tornou uma
mulher linda, que chama a atenção de todos os homens. Sua beleza não passa despercebida. Em
uma noite de festa na casa de seus pais, Dimitri acaba sucumbindo à forte atração que sente pela
jovem e a leva para a cama. Arrependido por ter tirado a sua virgindade, ele a rejeita no dia
seguinte.
Quando Kyra lhe conta que está grávida, ele pensa que ela engravidou de propósito para
lhe dar um golpe, por isso a obriga a sair do país. Porém, isso deixa um vazio nele e uma a
sensação de perda que o assombra.
Três anos se passam e Dimitri descobre que está acometido por uma doença que ele
acredita que o levará à morte, então ele se dá conta do mal que causou à Kyra e percebe que seu
maior arrependimento foi deixá-la partir. A busca pela redenção o leva a cruzar o oceano para a
encontrar e conhecer os filhos deles antes de seu último suspiro.
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No entanto, o destino é implacável. Quando Benjamin recebe uma notícia devastadora, é forçado
a deixar Ella e retornar a Chicago. A noiva dele sofreu um acidente de carro, e a notícia da
gravidez dela complica ainda mais sua situação. Ele nunca a amou, só aceitou esse casamento
para expandir o seu império.
Ella Monteiro é uma jovem humilde e trabalhadora, nascida e criada na fazenda cafeeira da
família no interior de Minas Gerais. Desde criança, ela sonhava em sair do Brasil e explorar o
mundo, mas suas responsabilidades como filha do dono da fazenda sempre a mantiveram
próxima da terra. Seus olhos brilham com a curiosidade e a vontade de aprender mais sobre o
mundo além dos campos de café.
Apesar da fazenda estar cheia de dívidas e as terras terem se tornado inférteis, Ella trabalha
incansavelmente para ajudar sua família nas plantações. Ela possui uma paixão genuína pelo café
e sonha em dominar a arte de cultivar, colher e torrar grãos de café da mais alta qualidade. A
fazenda é sua casa e o café é sua paixão.
Quando Benjamin Montgomery chega à fazenda, Ella está longe de recebê-lo de braços abertos.
A família dela, que há gerações cultiva o café naquelas terras, está à beira da falência. As dívidas
estão se acumulando e a única saída parece ser a oferta de Benjamin de comprar a propriedade.
Inicialmente, Ella o odeia por ele estar disposto a tirar de sua família o único lar que ela já
conheceu.
Entretanto, o ódio se transforma em uma paixão avassaladora que ambos tentam negar, mas que
se torna cada vez mais forte.
O que Ella não esperava era que, em meio a esse amor proibido, descobriria uma gravidez.
Quando, finalmente, ela reúne coragem para contar a Benjamin sobre sua gravidez inesperada,
ele a rejeita. Ao menos é nisso que ela acredita.
Após meses de separação, com a fazenda agora sob o controle de Benjamin, ele retorna à cidade
e, para a sua surpresa, depara-se com Ella grávida e cheia de ressentimentos em relação a ele.
Engana-se quem pensa que Benjamin irá desistir de seus filhos e de Ella, nem que para isso
precise obrigá-la a se casar com ele.
O destino os separou, mas também os conduziu de volta um ao outro, com três bebês a caminho.
Com corações feridos e cicatrizes emocionais, eles encontrarão o “felizes para sempre”?
Disponível na Amazon e Kindle Unlimited