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A Escolhida do Sheik

Taiza Souza
Copyright © 17 de março 2022 Taiza Souza

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Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas
reais, vivas ou mortas, é coincidência e não pretendida pelo autora.

Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida de qualquer forma, sem a permissão
expressa por escrito, da autora.

ISBN-13: 9786500416206
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Contents

Title Page
Copyright
Sinopse
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Epílogo
Agradecimentos
Sinopse

O Egito é conhecido pelos seus mistérios, mas nada pode ser mais
misterioso que os caminhos que Alá conduz ao fazer duas pessoas de
personalidades completamente distintas se encontrarem. É exatamente o
que acontece quando Ísis Al Hadid, uma jovem egípcia, cansada de seguir
certas regras arcaicas de sua família, conhece inesperadamente o príncipe
saudita Sheik Mohamed Abdallah, um homem muito rico, arrogante e
machista, capaz de tirá-la do sério com apenas uma única palavra. O que ela
não esperava, era que o destino colocaria ele novamente na sua frente,
agora como pretendente.
Capítulo 1
Ísis

As lágrimas desciam grossas molhando o meu rosto. Eu me contorcia


de dor, pousei minhas mãos espalmadas no ventre e apertei forte na
tentativa da pressão constante amenizar o que eu sentia, mas era em vão.

Normalmente quando o sangue de uma mulher desce pela primeira vez,


causa uma euforia por passar pela transição da puberdade. Entretanto,
quando o meu sangue desceu pela primeira vez eu não tive motivos para
comemorar, pois a dor foi dilacerante. Minhas amigas da escola disseram
que normalmente as cólicas eram dolorosas, mas não tanto. Eu nunca soube
o porquê das minhas serem tão terríveis. Minha mãe nunca conversou
comigo sobre menstruação, e os médicos sempre me disseram se tratar
apenas de cólicas normais, que para cada mulher havia uma intensidade.
Entretanto, definitivamente não era normal. Às vezes parecia que eu seria
repartida ao meio.

Mais uma vez sem um diagnóstico preciso eu saí com uma receita para
medicação para cólica, assim como em todas as consultas anteriores. Mas
nada nunca resolvia.

Sequei as minhas lágrimas e segui rapidamente para fora do hospital.


Cada passo que eu dava a dor parecia aumentar mais, por isso segui
lentamente pelas ruas movimentadas. Cairo é uma cidade sempre repleta de
turistas ansiosos para ver tanto o nosso museu Egípcio, que exibe uma
coleção de antiguidades, múmias reais e artefatos dourados do famoso Rei
Tutancâmon, quanto também desejam conhecer Gizé, local das famosas
pirâmides e da Grande Esfinge.
“Decifra-me ou devoro-te” era o desafio da esfinge de Tebas, entretanto,
no final das contas todas as esfinges e pirâmides são mesmo um grande
mistério. Ninguém sabe como foram construídas há milhares de anos com
estruturas tão pesadas e gigantescas, sem ajuda de animais e sem a invenção
da roda. As pirâmides tão milimetricamente triangulares e as imensas
esfinges que são estátuas de metade leão e metade humano atraía atenção de
centenas de turistas para a capital do Egito, munidos de suas câmeras
fotográficas e seus sorrisos espontâneos pelas ruas.

Caminhei vagarosamente pela ponte que atravessava o rio Nilo.


Normalmente eu fazia esse trajeto acompanhada, afinal trata-se de um lugar
bastante perigoso para uma mulher sozinha, visto que passam muitos
homens a pé. O assédio sexual infelizmente é uma realidade diária do nosso
país. Duas coisas contribuem para que isso ocorra: a primeira delas é o
homem pensar que a mulher é obrigada a satisfazer os seus desejos, com
isso se acha no direito de nos perseguir nas ruas. A segunda é que para
acontecer um casamento o homem precisa pagar um dote em ouro, oferecer
uma boa casa metade mobiliada por ele, além de boas condições para
manter a esposa. O fato é que na maioria das vezes os homens jovens não
têm condições de reunir tanto dinheiro para tal. Quando une esses fatores
resulta em homens alucinados e asquerosos que não podem ver nem uma
mulher de burca, somente com os olhos à mostra, na rua.

Eu sabia que devia andar depressa, mas a dor não me deixava correr. Os
vários homens vindo na direção contrária me lançavam olhares
amedrontadores, lascivos e impertinentes. Fechei a cara e continuei
seguindo meu trajeto até uma mão agarrar violentamente o meu braço.

— Me solta! — Gritei furiosa e o homem sorriu ao lado de mais dois.


Eles não disseram nada, apenas me olharam dos pés à cabeça de forma que
fez meu estômago revirar. — Bismillah! — Implorei ajuda para Alá.

Eu estava de vestido longo e largo preto e um véu estampado cobrindo


meus cabelos e os ombros, mas, mesmo assim, parecia que eu estava
indecente ao olhar deles. Tentei alcançar meu celular na bolsa para chamar
a polícia, porém, fui impedida.
— Que Alá diminua os seus dias, seus pervertidos! — Tentei empurrá-
los, mas eles nem sequer se moveram, me cercando.

Meu coração palpitante foi parar na boca, recuei alguns passos e bati as
costas na mureta da ponte. Olhei para trás vendo as águas límpidas do rio
Nilo.

— Me deixem em paz, seus infames! — Supliquei desesperada e senti


uma mão na minha cintura.

Meu coração parou no peito. A garganta ficou seca e minhas lágrimas


embaçaram a minha visão. Distribuí tapas nos três e então me seguraram
firmemente. Foi quando pensei que estava perdida que ouvimos o frear
brusco de um carro na ponte, na faixa próxima de nós. Olhamos todos na
mesma direção e notamos ser um carro de luxo preto. A porta traseira logo
abriu revelando um homem alto e imponente, vestido de túnica branca e
turbante de mesma cor. Os cabelos longos castanhos e a barba lhe davam
um ar mais assustador que o comum. Entretanto, eram os olhos azuis
gélidos, que coroavam sua presença intimidadora.

Era o príncipe saudita Sheik Mohamed Abdallah. Era bastante


conhecido em todo o mundo por criar o Cairo F.C., time de futebol que
estreou pela Premier League do Egito e se tornou um fenômeno em todo
país.

— Soltem a moça! Agora! — Ele vociferou furioso e todos os três


homens afastaram as mãos de mim no mesmo instante.

Allahu akbar! — Pensei aliviada. — Deus é grande! — Repeti em


pensamento.

— Desculpe, senhor! Não sabíamos que essa moça lhe pertencia. —


Um dos homens comentou abaixando a cabeça parecendo envergonhado.
Aproveitei a brecha para me afastar o máximo possível deles.

A minha vontade era de gritar que eu não era um objeto para pertencer a
alguém, porém, o medo ainda calava as minhas palavras.
O Sheik olhou friamente para cada um dos homens nojentos e
inesperadamente agrediu os três enquanto eu olhava perplexa para a cena.
Somente então notei o motorista dele com um celular chamando a polícia.
Em questão de minutos os três homens foram presos e eu permaneci
paralisada observando tudo.

— Entre no meu carro, vou te levar para sua casa! — O Sheik ordenou
se aproximando de mim.

— Shukran pela ajuda, senhor! — Agradeci sincera. — Mas não posso


pegar carona com estranhos.

— Estranho? Acabei de te salvar. Para começo de conversa você não


deveria nem estar aqui sozinha. — Ele disse de repente me deixando sem
ação. — A rua não é lugar para uma mulher desacompanhada. — Me
recriminou e eu pisquei confusa.

— Como é? — Questionei perdida com sua mudança brusca e ele


arqueou a sobrancelha.

— Como é o quê? — Indagou visivelmente irritado. — Você não


deveria andar sozinha assim. Não é apropriado para uma mulher decente.

— Espera, eu fui assediada e a culpa é minha por ter saído na rua? —


Questionei incrédula e ele assentiu. — Era só o que me faltava! — Ironizei
irritada e ele se aproximou de mim e me olhou fixamente nos olhos.

— Não seja mal-educada! — Me repreendeu e eu confrontei o olhar


dele.

— Desculpe, mas como Sheik o senhor deveria usar o respeito que os


homens têm pela sua imagem e recriminar os assédios. Não a vítima.

— Vítima? Andando assim pela rua? Com essa maquiagem? —


Encarou sério os meus lábios tingidos com batom avermelhado e eu engoli
em seco, apreensiva. — Se fosse minha mulher sairia somente com os olhos
de fora.
— Alhamdulillah! — Ergui as mãos de forma teatral para o céu
agradecendo a Alá. — Ainda bem que não sou sua mulher então.

— Como ousa falar assim comigo? — Perguntou furioso e dei de


ombros, mesmo sabendo se tratar de uma atitude petulante da minha parte.

— Desculpe ferir seu ego, senhor Sheik! Ma’a Salama! — Me despedi


ironicamente desejando que a paz ficasse com ele.

— Não dê as costas para mim! — Ele gritou e eu segui sem olhar para
trás. — Entre no meu carro! Agora!

Ignorei seus apelos e desviei de todos os homens pelo caminho, a dor


ainda era latente no meu ventre, mas a decepção era maior. Por um segundo
eu sinceramente pensei que o príncipe fosse um homem diferente dos outros
ao me defender. Entretanto, em poucos minutos ele provou que era igual ou
até mesmo pior que os outros. Dele eu só queria distância.
Capítulo 2
Ísis

Após dois dias, deitada encolhida na cama, finalmente a cólica infernal


se foi com a menstruação. Foram cinco dias de lágrimas e dor. Mais uma
vez. Eu já estava no meu limite.

— Será que algum dia, iremos à Alexandria? — Sumaya perguntou


deitada ao meu lado na minha cama.

Estávamos olhando para o teto do nosso quarto enquanto falávamos


sobre nossos planos fantasiosos de sair do Cairo um dia.

— Espero que sim. Vamos à famosa biblioteca de Alexandria, iremos


também visitar os castelos, veremos as ruínas de perto… — Comentei
animada deitada de barriga para baixo na cama. — Vamos ao mercado de
rua e depois comeremos um delicioso shawarma.

— Amo esse sanduíche! — Minha irmã mais nova disse empolgada me


olhando eufórica.

— Depois vamos conhecer a coluna de Pompeu, assim teremos mais


contato com toda a história do nosso país. — Prossegui e ela suspirou
desanimada.

— Mas nosso Ab jamais nos deixaria viajar sozinhas. Sabe como ele é.
— Comentou triste sobre a rigorosidade do nosso pai.

— O pior é que ele não está tão errado assim. Esse mundo é mesmo
perigoso para as mulheres. É tão injusto isso. Não devíamos ser tratadas
dessa forma. — Comentei relembrando o ataque que sofri na ponte.

Não contei para ninguém porque não adiantava contar. Afinal o máximo
que poderia acontecer era meu pai me proibir de sair de casa.

De repente ouvimos o sino do portão ressoar. Sentamos na cama, nos


entreolhamos e colocamos os nossos véus. Não saímos do quarto, pois,
como não sabíamos quem era, não podíamos aparecer na sala sem
permissão do nosso Ab. Ele era muito tradicionalista, por isso os antigos
costumes deviam ser seguidos à risca. A curiosidade, porém, estava nos
consumindo.

— Ísis! — Ouvi minha mãe chamar. Levantei rapidamente da cama a


encontrando no meio do caminho. Ela abriu um largo sorriso e entrelaçou as
mãos ao me ver. — Mabruk! — Desejou me deixando confusa.

Essa era uma expressão comum que significava “que comece


abençoado”. Mas o que estava para começar? Olhei interrogativa e ela se
aproximou segurando as minhas duas mãos.

— Um futuro noivo veio pedir você para seu Ab. — Contou me


deixando surpresa. — Está na sala com ele nesse instante.

— E meu pai pretende aceitar?

— Ao que parece, sim. Você foi abençoada! — Comemorou animada e


eu sorri nervosa.

Por mais que fosse algo comum na nossa sociedade, os casamentos


arranjados me deixavam apreensiva, afinal era Ab, meu pai, que decidia se o
noivo era bom para mim ou não. Por mais sábio que meu Ab fosse, eu tinha
receio de ter um mau casamento. Mesmo no Egito tendo divórcio, uma
mulher divorciada não era bem-vista. E desde que nos entendemos por
gente somos ensinadas que o casamento deve durar para sempre, pois, essa
é a vontade de Alá.

— Troque o véu, coloque um mais novo! Use também essência de


rosas, é importante atrair todos os sentidos do pretendente para você. —
Minha mãe aconselhou e eu segui até o armário. Tirei meu véu preto
soltando os meus longos cabelos e coloquei um salmão do mesmo tom do
meu vestido.

— Mashallah! — Sumaya elogiou animada. — Você está linda, Ísis!

— Logo você também será pedida, minha irmã. — Falei e ela sorriu.

— Inshallah! Tomara que isso aconteça logo! — Desejou que fosse da


vontade de Alá e ergueu as mãos para o alto.

— Vamos logo para você preparar uma bandeja para servir o


pretendente! — Minha mãe me chamou e eu segui rapidamente em seu
encalço até a cozinha.

Peguei a chaleira na prateleira e enchi de água. Coloquei para ferver e


segui para o cesto separando os ingredientes. Fiz um karkadeh, o mais
tradicional chá egípcio, preparado com a flor de hibisco e acrescentei
morango, framboesa e cereja.

Ajeitei o bule e as xícaras na bandeja de prata e esperei ao lado da


minha mãe e minha irmã o chamado do meu pai.

— Não esqueça de sorrir, mas não muito. — Minha mãe aconselhou. —


Cumprimente ele e depois fique quieta. Só diga algo se for questionada.
Passe uma boa impressão.

Concordei com a cabeça e cruzei os braços, tensa. Era a primeira vez


que eu estava sendo pedida e não é bom para uma família desapontar o
pretendente. Ao mesmo tempo, eu tinha receio de ouvir algo que eu não
gostasse e fosse obrigada a ficar calada. Normalmente eu não ficava calada.
Era mais forte do que eu. Não estava nos meus planos me casar tão cedo, na
verdade, eu nem sabia se queria me casar um dia. Não era algo que eu
pensasse tão profundamente.

— Ísis! — Meu pai chamou fazendo meu coração saltar no peito.


Por um segundo eu quis fugir e me trancar no meu quarto, entretanto,
minha mãe se apressou e me entregou a bandeja. Sumaya me lançou um
sorriso encorajador.

Eu precisava me portar bem por causa dela. Se o pretendente fizesse


alguma reclamação sobre mim, poderia manchar não só a reputação da
nossa família, como também atrapalhar o futuro casamento da minha irmã.
E se tinha uma coisa que Sumaya sonhava desde a infância era com o
próprio casamento. Ela até mesmo tinha o desenho do vestido de noiva feito
por suas próprias mãos. Era lindo! Assim como os olhos dela brilhando ao
olhar para ele, desejando usá-lo logo. No fundo, me casar beneficiaria
apenas a ela. Afinal nosso Ab só aceitaria o casamento dela após o meu, por
eu ser a filha mais velha. Por isso, querendo ou não eu era obrigada a seguir
as regras do meu pai.

— Bismillah! — Pedi ajuda à Alá e respirei fundo. Então segui andando


cuidadosamente com a bandeja em mãos.

Quando alcancei a sala sorri exatamente como a minha mãe me instruiu


para fazer, entretanto, quase deixei tudo cair quando me deparei com o
Sheik sentado no sofá ao lado do meu Ab.

— O senhor? — Questionei irritada e meu pai desfez o sorriso e me


encarou severo, enquanto Mohamed parecia se divertir com a situação.
Capítulo 3
Mohamed

Era um verdadeiro deleite ver seus lindos lábios em formato de


coração sorrir antes de me ver. Ísis. Eu sabia que iria te achar.

— Isso é maneira de tratar uma visita, minha filha? — Senhor Wazir


reclamou espantado com a reação dela e tive que me segurar para não rir.
Aliás, rir não, gargalhar.

Não que eu fosse um sádico, mas era divertido vê-la tendo que ser
disciplinada diante dos olhos do pai. Coisa que ela não fez na primeira vez
que nos vimos no meio de uma ponte suspensa no rio Nilo, quando ela não
apenas me enfrentou, como também ousou me deixar falando sozinho. Era
de uma insolência que eu jamais vi igual. Despertou em mim o desejo pelo
desafio de vê-la mais uma vez.

— Desculpa, Ab! — Ela disse com a voz mansa olhando sem jeito para
o pai. — Não foi minha intenção ser ríspida, apenas fiquei surpresa pela
visita de um Sheik ao nosso humilde lar. — Respondeu abaixando o olhar
para o chão.

Arqueei a sobrancelha a observando. Estava gostando de presenciar seu


ar submisso e contido, mas algo me dizia que não duraria muito tempo essa
máscara que colocou.

— Nossa casa é humilde, mas é cheia de Alá! — Senhor Wazir se


apressou em dizer me olhando novamente animado. — Venha, sirva o chá
para nossa visita!
Ísis andou a passos firmes até mim enquanto confrontava meu olhar em
silêncio. Ela então se inclinou me servindo numa bandeja prateada e
brilhante um karkadeh.

— Shukran! — Agradeci e ela me olhou ainda irritada, o que me fez


oferecer o meu melhor sorriso para ela.

— Bom apetite! — Desejou entre dentes e eu assenti. Ela então virou


emburrada para o pai e o serviu também.

— Sente-se ao meu lado, querida! — Wazir pediu e ela colocou a


bandeja sobre a pequena mesa de madeira escura próxima de nós.

Sem dizer nada ela se sentou ereta ao lado do pai, não ousou me olhar
em nenhum momento sequer. Estava visivelmente segurando sua língua
afiada.

— Minha Ísis é muito preciosa! Foi ela mesmo quem preparou esse
karkadeh. Ela cozinha como ninguém! Sempre foi muito bem instruída pela
mãe e sabe cuidar bem de um lar. Além disso, estudou nos melhores
colégios, fala três línguas fluentemente e dança divinamente bem. — Ele
começou a elogiar a filha que permanecia evitando contato visual comigo.

Era visível como o homem era bastante apegado às antigas tradições.


Entretanto, sua filha não parecia compartilhar do mesmo universo dele.
Afinal, ela parecia uma fera arredia. Era intrigante como o senhor Wazir
não percebia isso. Fiquei em dúvida se ele estava certo sobre todas as
qualidades que citava. Mas independente de tudo que ouvi, uma coisa era
certa: a beleza de Ísis era algo fascinante. Era angelical. Um anjo que queria
me matar, mas, ainda assim, um anjo.

— Vou pedir a Fatimah para pegar dos Ghorayebas que a Ísis fez, para
que possa experimentar! — Senhor Wazir sugeriu buscar os tais biscoitos
amanteigados feitos pela filha, mas obviamente era apenas um pretexto de
praxe para nos deixar sozinhos por alguns poucos minutos.

Ele saiu da sala e Ísis automaticamente pareceu ficar mais tensa ao


enrijecer a postura. Me deliciei com o chá, observando ela de perfil.
— Você fica linda brincando de ser recatada! — Ironizei e ela me
fulminou com o olhar.

— Por que está aqui? — Perguntou direta, mostrando enfim suas garras
afiadas que tentava esconder até então.

— Não entendo o motivo de sua surpresa. — Respondi e ela revirou os


olhos, impaciente.

Ah! Como me irritava a petulância dessa bela mulher…

— Como não entende? O senhor claramente não gostou de mim quando


nos conhecemos. Por que está iludindo meu pai? Ele não te fez nada para
ser humilhado assim. — Argumentou seriamente.

— Não estou iludindo ninguém. E eu jamais humilharia um homem tão


gentil e acolhedor como seu pai.

— Por que está aqui?

— Vim te contar sobre os homens que te perturbaram na ponte. Eles


permanecerão presos por um bom tempo. — Contei sem expor que eu havia
dado um empurrãozinho para que eles não vissem a liberdade tão cedo.

— Shukran pela ótima notícia! — Agradeceu parecendo aliviada. —


Agora pode, por favor, desfazer o mal-entendido com o meu pai? Ele pensa
que o senhor veio pedir a minha mão.

— Na verdade, realmente estava procurando por uma noiva há um bom


tempo. — Expliquei sério e ela abriu e fechou a boca para dizer algo.
Piscou confusa e me olhou nos olhos. — E eu escolhi você.

— Como assim? Por que me escolheu?

— Porque gosto de desafios. E será um prazer imenso te colocar na


linha, querida Ísis.

— Eu não sou uma locomotiva para ser colocada na linha, senhor


Mohamed. — Rebateu áspera, me deixando impaciente.
— Mas você vai aprender a se comportar direitinho. Cuidarei disso
pessoalmente.

— Boa sorte então! — Disse ironicamente e eu sorri.

Bismillah! Era absurdamente atrevida! Mas isso mudaria.

Wazir voltou para a sala trazendo os tais biscoitos feitos por Ísis e eu
comi pacientemente sentindo seu olhar me queimar de ódio.

No final ele mandou a filha levar a bandeja de volta para a cozinha e me


olhou com expectativa quase palpável.

— Gostei muito da sua filha, senhor. Quero fazer dela a minha esposa,
se o senhor e ela concordarem. Aguardarei a resposta de vocês. — Contei e
o semblante dele se iluminou de alegria no mesmo instante.

— Não precisa esperar dia algum. Claro que concordamos. Sua


proposta nos faz muito abençoados! — Agradeceu animado.

— Fico contente que o senhor me aceite. Mas creio que Ísis também
deva opinar sobre isso.

— Eu já sei a opinião dela. Ela me disse que esperava ansiosamente


pelo seu pedido. — Contou e eu franzi a testa.

— Ela disse isso? — Questionei confuso. — Tem certeza que era sobre
mim que ela estava falando?

— Absoluta. Ela não fala em outra coisa além do seu nome. — Contou
e um grande sorriso se formou nos meus lábios. Eu imaginei que seria
imensamente mais difícil, mas pelo visto Ísis também estava interessada em
mim.

— Nesse caso então, diga para sua filha que eu pago o dote que ela
quiser. — Avisei e ele pareceu surpreso, sorrindo ainda mais.

Ísis seria minha. E como minha esposa aprenderia a se colocar em seu


devido lugar.
Capítulo 4
Ísis

Por Alá! Eu estava enfurecida em um nível que jamais imaginei ficar.


Coloquei a bandeja de qualquer jeito sobre o balcão e respirei fundo,
completamente fora de mim.

— Ele te rejeitou? — Minha mãe perguntou preocupada e Sumaya me


olhou alarmada.

— La! — Neguei irritada. — Ele me escolheu! — Respondi e ambas


comemoram erguendo as mãos para o alto e compartilhando sorrisos em
êxtase.

— Alhamdulillah! Você foi abençoada, minha querida! — Minha mãe


disse emocionada e me abraçou apertado.

Depois foi a vez de Sumaya me encher a paciência querendo saber


como era a aparência do pretendente e qual havia sido minha impressão
sobre ele.

O que eu poderia dizer? Um homem fatalmente lindo que


provavelmente iria me punir por simplesmente existir?

Mordi o lábio inferior, aflita. As duas me olhavam com expectativa e eu


tentei ao máximo não transparecer o quanto eu estava perdida.
Definitivamente perdida.

— É bonito. — Respondi enfim e ela bateu palminhas no ar. — E


Sheik.
— Alá! Ele vai te cobrir de ouro! Que sorte você tem, minha irmã! —
Sumaya comentou boquiaberta completamente alheia ao meu desespero.

— Um Sheik! — Minha mãe comentou orgulhosa. — Mabruk! Que seja


muito abençoado esse casamento!

— Por que não parece feliz, Ísis? — Sumaya questionou e eu neguei


rapidamente com a cabeça.

Virei as costas para elas e segui para a pia onde comecei a lavar as
xícaras sujas.

— Impressão sua. Só estou apreensiva. Não esperava por um pedido de


casamento agora. — Menti ensaboando as porcelanas.

— Pois, alegre-se! Vamos festejar! Você terá o casamento mais bonito


que esse Cairo já viu. Tenho certeza disso. — Minha mãe disse animada
enquanto eu enxaguava as xícaras lentamente. Tentando prolongar o
máximo possível minha atividade para não precisar comemorar com elas.

Entretanto, minha família toda compadecia da febre alucinada do meu


possível compromisso com um Sheik. Queriam festejar de qualquer jeito.
Tanto que assim que o dito cujo saiu da minha casa meu pai logo foi até a
cozinha nos contar o que eu já temia.

— Ísis está noiva! — Ele gritou eufórico e eu virei para ele forçando um
sorriso que escapou mais nervoso do que animado. — Nossa filha foi
escolhida por um príncipe!

Meus pais se abraçaram e, em contrapartida, eu abracei meu próprio


corpo. Suspirei pesadamente sentindo o desespero se espalhar na minha
corrente sanguínea como um veneno injetado na minha veia.

Ele sequer me perguntou se eu queria isso. Como ele podia ser assim?

Além do mais, por que ele me escolheu?


Não fazia o mínimo sentido para mim.
Alá, o que esse homem planejava fazer? Com certeza não se tratava de
um plano bom. E o pior é que ele ainda me colocou em uma situação que eu
nem sequer poderia dizer nada para os meus pais, pois se soubessem que
desrespeitei um Sheik, iriam me repudiar pelo resto da vida. Afinal era algo
totalmente contrário aos ensinamentos deles.

Eu estava perdida. Era simplesmente a palavra que definia bem a minha


situação.

— Hoje é dia de celebração! — Minha mãe anunciou e eu desejei fugir


para o mais longe possível de qualquer comemoração relacionada ao meu
trágico noivado.

Apesar de não planejar casar, eu sempre imaginei que, ao menos,


quando fatalmente acontecesse pudesse ser uma relação harmoniosa como a
relação dos meus pais. Eu queria, pelo menos, ter um homem ao meu lado
que me respeitasse. Viveríamos juntos até o último dia de nossas vidas
como mandava os ensinamentos. Entretanto, por ironia do destino nada
disso aconteceria. E muito provavelmente não seria uma união duradoura.
Eu sinceramente não conseguia prever o que o Sheik pretendia com tudo
isso. Iria me devolver para causar vergonha à minha família? Ou iria me
punir todos os dias da minha vida nesse casamento? Eram muitas
possibilidades e nenhuma me parecia boa.

Ah! Alá! Que sorte triste a minha!

Minha família estava em um frenesi inquebrável, seguiram para a sala e


comemoram com música alta e muita dança a minha perdição.

Sim, porque a única coisa que eu tinha certeza era que Mohamed
Abdallah seria a minha perdição.
Capítulo 5
Ísis

O primeiro passo para casar era redigir a próprio punho um contrato de


casamento. E como nele eu podia acrescentar quantas e quais cláusulas
desejasse, peguei a caneta e me coloquei a refletir cautelosamente sobre
tudo que eu necessitava. Afinal, caso houvesse uma separação, que Alá não
permitisse, somente o que está escrito no contrato é o que conta para a
justiça.

— Você precisa se prevenir, Ísis. É claro que esperamos que não haja
separação de forma alguma. — Meu pai salientou sentando no sofá ao meu
lado enquanto tomava seu karkadeh. — Mas é necessário se precaver
colocando o valor de uma indenização no contrato, senão sairá sem nada
desse casamento. E depois não vai adiantar ir à justiça brigar, pois não vai
conseguir nada.

— Sah! — Concordei começando a escrever a primeira cláusula.

Em caso de divórcio eu receberia um valor baseado no tempo de


duração da nossa união, sendo seiscentos mil libras por cada ano juntos.

— Peça também um imóvel. Uma boa casa para você ter para onde ir.
— Minha mãe aconselhou e eu engoli em seco. — E coloca que tudo que
está dentro do imóvel também será seu, pois é onde você vai viver.

Era aterrorizante pensar que se ocorresse um divórcio eu não poderia


contar com os meus pais e nem com a casa deles. Respirei fundo e escrevi a
segunda cláusula como o direito a um imóvel mobiliado de Mohamed.
A terceira cláusula adicionada foi que em caso de agressão eu poderia
anular imediatamente o nosso casamento.

A quarta e última cláusula diz respeito ao fato de Mohamed poder se


casar com mais três esposas, um direito que ele tem garantido por lei e pela
nossa religião. Mas como não sou obrigada a aceitar nem por lei e nem pela
religião, então decidi acrescentar que caso ele se case com uma segunda
esposa, eu seja notificada no mesmo instante e possa me separar dele
apenas com a minha assinatura, sem precisar sequer do conhecimento dele.

Eu jamais aceitaria que ele tivesse um harém. Se ele tanto faz questão
de se casar comigo, terá que se contentar que eu seja a primeira e única
esposa dele.

Concluí com a minha assinatura e entreguei o documento para o meu


pai que leu tudo calmamente.

— Sah! — Ele aprovou o que leu e me olhou sério. — Espero que


nunca precise recorrer a esse contrato.

— Inshallah, Ab! — Respondi temerosa desejando com todas as forças


que Alá desejasse o mesmo que meu pai.

— Vou levar imediatamente para o Mohamed ler e caso ele concorde já


acertaremos a data do casamento.

Engoli em seco e senti um frio na minha espinha dorsal. Alá, eu nem me


atrevia a imaginar como seria esse matrimônio.

— Ma’a Salama, futura princesa! — Meu pai se despediu carinhoso e


eu assenti nervosa.

Saiu de casa em posse do documento. Meu coração estava incerto se


havia pedido coisas o suficiente para me assegurar contra o Sheik. Eu sentia
que esse contrato pautaria a minha vida.

— Tomara que marquem para logo a data! Assim podemos comprar os


vestidos de noiva. — Minha mãe comentou ansiosa e Sumaya que até então
estava assistindo tudo em silêncio sentou ao meu lado.

— Nem acredito que vai se casar, Ísis! Com quem vou ficar
conversando até o sono chegar? Quem vai me fazer rir e planejar viagens
comigo pelo mundo?

— Oh! Querida, mesmo casada continuarei sendo sua irmã. Virei visitar
vocês e também quero visitas. — Falei puxando ela para um abraço.

— Por falar em visita, onde será que vocês vão morar? Seu pai contou
que Mohamed relatou a existência de vários imóveis. Todos muito
luxuosos. — Minha mãe comentou e eu dei de ombros.

Isso não me importava. Meu medo do que o Sheik faria era muito maior
do que minha curiosidade por saber aonde iríamos viver após o casamento.

A tarde passou tranquila, com as duas falando na minha cabeça o tempo


todo, fantasiando coisas por mim.

Permaneci em silêncio, brincando distraidamente com a pulseira do meu


braço, pensando na forma como Mohamed me tratou há dois dias, quando
veio à minha casa me pedir para o meu pai. A forma como ele disse que eu
teria que entrar na linha me fazia ficar ainda mais irritada com sua presença.

Foi então que meu Ab entrou subitamente na sala e fechou a porta.

— Fatimah e Sumaya, vão para a cozinha! — Ordenou e as duas


obedeceram rapidamente sem questionar. Olhei intrigada e ele me encarou.
— Coloque o véu, Ísis!

Coloquei meu véu nos cabelos ainda sem entender o que estava
acontecendo e ele abriu a porta.

— O seu noivo quis conversar brevemente sobre o contrato de vocês, e


mesmo não sendo conveniente que fiquem se encontrando até o casamento,
resolvi ceder alguns minutos de conversa. — Explicou me deixando
alarmada.
Mohamed entrou na minha casa com seu ar imponente de sempre. Me
lançou um olhar cortante e ostentou um sorriso perigoso.

— Assalamu alaikum! — Me cumprimentou desejando que a paz


estivesse comigo enquanto ironicamente tirava ela de mim ao me visitar.

— Wa Alaikum Assalam! — Respondi desejando o mesmo.

Meu Ab nos observou sério, mas em seus olhos eu podia enxergar uma
felicidade escondida pelo meu noivo estar ali. Para um homem simples
como meu pai, casar a filha mais velha com um Sheik era como o paraíso
na terra.

— Vocês têm alguns minutos. Sentem-se! — Ele pediu apontando onde


cada um de nós devia ficar. — Vou pedir para Fatimah fazer um karkadeh
para nós. — Avisou dando as costas e saindo da sala.

O ar ficou rarefeito. Pesado. Quase irrespirável quando ficamos a sós. O


olhar de Mohamed recaiu em mim como uma granada.

— Notei que fez muitas exigências no nosso contrato de casamento. —


Ele disse e eu assenti nervosa.

— Preciso me garantir.

— É uma mulher muito perspicaz! Gosto disso. — Disse em voz baixa.

— Shukran! — Agradeci desconfiada.

— Mas quero que saiba que também tenho uma exigência. — Avisou e
eu engoli em seco. — Mas acalme-se! É apenas uma. Eu quero filhos.
Muitos filhos.

— Eu não esperava que fosse diferente, senhor. — Ironizei e ele me


olhou intensamente.

— Você quer ser a minha única esposa. — Comentou e eu pisquei


incômoda com seu olhar que parecia queimar a minha pele e atravessar o
meu corpo. — Mas eu também não faço questão de ter outra mulher. Eu só
preciso de você à minha mercê.

Arregalei os olhos e analisei o absurdo que tinha acabado de ouvir. O


sorriso malicioso dele me arrepiava completamente. Se ele pensava que iria
me dominar, estava visceralmente enganado. Mas não iria mesmo.

Meu Ab voltou para a sala ao lado da minha mãe que trazia uma bandeja
de chá. Mohamed olhou para eles mudando completamente a feição para
algo mais leve e descontraído, me deixando tonta.

— Vamos marcar logo a data desse casamento! — Ele propôs e meus


pais sorriram entusiasmados.

Bismillah!
“Que Alá me ajude!”
Capítulo 6
Ísis

Mohamed me deu simplesmente uma fortuna em libras e em ouro no


meu dote. Eu nunca tinha visto tanto dinheiro junto na vida. E como o dote
era meu e eu podia fazer o que eu quisesse com ele, resolvi montar uma
estratégia. Dividi o dinheiro em partes proporcionais a cada situação, dei
uma parte aos meus pais, outra à minha irmã, uma parte separei para
comprar meus vestidos, entretanto, a maior parte eu guardei. Porque se
minha intuição estivesse certa, eu precisaria de dinheiro se fosse devolvida
por Mohamed. Bem mais do que pedi no contrato.

Mesmo Sumaya e minha mãe querendo me acompanhar nas compras eu


preferi seguir sozinha, obviamente sem que meu pai soubesse. Eu precisava
pensar um pouco sobre os acontecimentos que estavam simplesmente me
atropelando ultimamente.

Pela primeira vez na vida eu tinha dinheiro para ir às compras. Então


segui para o City Stars Mall, o shopping mais bonito do Cairo. Caminhei
pelas lojas observando os tecidos preciosos, muitos bordados a fio de ouro.
Os véus eram lindos, estampados e com cores vibrantes. Os vestidos eram
um mais lindo que o outro. Entretanto, no final das contas eu ainda não
tinha comprado absolutamente nada.

A que preço seria isso? Tinha dinheiro para fazer compras, mas a minha
mente preocupada com o casamento não me dava paz.

Segui olhando vários véus presos na arara e de repente senti a presença


de alguém ao meu lado. Olhei assustada para cima e me deparei com
Mohamed me encarando com cara de pouquíssimos amigos.
— Por Alá! Quer me matar de susto? — Questionei nervosa e ele olhou
brevemente em volta e depois me encarou novamente.

— O que faz aqui sozinha?

— Compras. — Respondi como se fosse óbvio e ele semicerrou os


olhos.

— Eu não quero você andando como uma folha solta ao vento.

— Eu quero ficar um pouco sozinha. — Expliquei o mais calmamente


possível e ele respirou fundo, cerrando o maxilar.

— Ísis, exijo que você saia somente acompanhada a partir de agora.


Lembra do que aconteceu da última vez que nos encontramos e você estava
sozinha? Anda, vou adiar uma reunião e te levar para casa imediatamente!

— Entendo sua preocupação, mas não é necessária. Assim que terminar


as compras, vou para casa. — Rebati e ele cruzou os braços.

— Não foi um pedido, Ísis. Foi uma ordem. Vamos logo para o meu
carro!

— Era só o que me faltava! — Ironizei impaciente. — O senhor não


manda em mim.

— Eu sou o seu noivo. — Retrucou áspero.

— Exatamente, noivo. Não é marido ainda e logo não tem direito a


nada.

Mohamed parecia extremamente furioso, mas eu não estava atrás. Era


muita audácia dele querer mandar em mim, sendo que eu não estava
fazendo nada de mais. Minha vida inteira meu pai não permitiu que eu
saísse sozinha e agora ele também queria me controlar? Eu não permitiria
mais um tentando me trancar em casa.

— Não me confronte, Ísis!


— Então não me provoque, senhor. — Ironizei e ele fechou as mãos em
punho. O semblante endurecido, as sobrancelhas grossas franzidas, os olhos
azuis e gélidos transpassavam o meu ser.

— Não continue com esse jogo. Você vai perder. É só uma questão de
tempo até você se curvar a mim, querida noiva.

— Eu jamais irei me curvar ao senhor, querido noivo! — Rebati


ironicamente no mesmo tom.

— Vai sim. — Falou sorrindo enigmático. Quase vitorioso. Revirei os


olhos, era muita presunção dele achar que iria me vencer tão facilmente.

— Vamos ver quem irá se curvar a quem então. — Zombei e ele


assentiu ainda sorrindo.

— Será um prazer ver você engolir cada uma dessas palavras nessa
boca tão linda! — Ele comentou baixo e eu fechei a cara.

Isso parecia diverti-lo mais ainda. Bismillah! Como eu poderia me casar


com um homem tão detestável?

— O senhor que engolirá palavra por palavra. — Provoquei e ele


arqueou a sobrancelha, descrente.

— E como isso acontecerá? — Perguntou cínico.

— Eu mesma farei o senhor engolir. — Ameacei e ele riu alto, jogando


a cabeça para trás fazendo os cabelos longos ricochetearem no ar.

— Estou ansioso para vê-la tentar, querida. — Zombou me deixando


ainda mais furiosa.

Respirei fundo e dei as costas para ele. Mesmo sabendo que ao deixá-lo
falando sozinho mais uma vez só pioraria a minha situação, eu não
suportava seu cinismo e prepotência. Precisava sair dali o quanto antes.

Mohamed estava tão enganado ao meu respeito pensando que eu iria me


submeter a ele. Mas ele não perde por esperar.
Capítulo 7
Ísis

Após andar quase o shopping inteiro até conseguir me acalmar, sentei


um pouco na praça de alimentação. Alá, por que esse homem me irrita
tanto? Por que justo ele é meu noivo? Não é possível, com tanto homem
normal no mundo o senhor foi me mandar logo o mais autoritário de todos.

Já era quase o horário do almoço quando decidi voltar para casa,


carregada de muitas sacolas, peguei um ônibus. Assim que passei pela porta
percebi que não foi uma boa ideia. Um rapaz sentado no fundo me viu e
levantou do lugar vindo até mim, sentando ao meu lado. Fechei a cara no
mesmo instante e segurei firme nas minhas sacolas. Não que eu tivesse
receio em ser assaltada, porque isso era uma vantagem da nossa cidade,
nessa parte tínhamos uma real segurança por conta das punições severas
para os assaltantes. O problema mesmo era o costumeiro assédio, mas se ele
tentasse qualquer coisa eu daria sacolada nele até falar chega. Olhei pela
janela, mas vi claramente o reflexo do homem me encarando.

— Me dá um beijo? — Ele pediu me deixando chocada.

— La. Claro que não. Estou noiva, e mesmo se não estivesse não
beijaria você. — Respondi irritada e ele ficou sério. — Com licença! —
Pedi e ele não se moveu do lugar.

Levantei com as minhas dezenas de sacolas para sair do canto e ele


continuou impedindo a minha passagem, me deixando furiosa.

— Vamos conversar! — Pediu passando a mão na minha perna.


Atirei as sacolas no rosto dele e de repente o ônibus parou bruscamente
quase me fazendo cair. Todos olharam curiosos e eu notei um carro
atravessado na frente do ônibus. Quando a porta abriu eu não acreditei no
que estava vendo.

— Ísis, venha comigo! — Mohamed chamou entrando no ônibus e me


deixando atônita.

Como raios ele sabia que eu estava ali? O homem asqueroso


rapidamente se afastou de mim, me dando passagem, porém, permaneci
paralisada no mesmo lugar.

— Eu vou te levar para casa. — Mohamed disse me olhando sério.

Todos esperavam pela minha decisão. Pisquei incerta. Finalmente saí do


lado do homem e respirei fundo. Obviamente Mohamed não desistiria de
me levar para casa. Segui até a porta e notei o Sheik lançar um olhar pouco
amigável para o homem que me perturbou.

— Não devia sentar ao lado de uma mulher. — Avisou entre dentes e o


homem pareceu nervoso. — É bom eu não te ver novamente.

O homem ficou pálido, eu diria até em choque com tal ameaça. Eu até
riria em outra situação, porém, algo mais sério estava acontecendo. Saímos
do ônibus e eu parei ao me aproximar do carro luxuoso de Mohamed.

— O senhor me seguiu? — Perguntei assustada e ele me olhou


tranquilamente.

— Estou apenas zelando pela sua segurança. — Respondeu como se


fosse a coisa mais normal do mundo.

— Tem noção do quão estranho é isso? — Questionei abismada.

— Não vejo nada de estranho.

— Acharia normal se eu te seguisse? — Repliquei e ele abriu a porta do


carro.
— Não vamos prolongar isso. Entre! As pessoas têm pressa! —
Apontou para o ônibus impedido de prosseguir por conta do seu carro.
Suspirei e mesmo contrariada entrei.

— O senhor está proibido de me seguir novamente. — Exigi sentando


no banco de trás ao lado dele.

— Vai me proibir de cuidar de você? — Perguntou ficando muito


próximo de mim, me deixando levemente desorientada.

— Isso não é cuidado, Mohamed. É obsessão.

— E se eu te disser que estou realmente obcecado por você? —


Questionou sério. Tentei manter distância dele o máximo possível,
amedrontada. Então ele relaxou a postura e riu. O motorista finalmente
ligou o carro. — Estou brincando, mas agora é sério, eu não quero mais que
aconteça aquilo que houve na ponte. Além disso, uma mulher não pode
ficar andando sozinha na rua com tanto homem imbecil que tem nela.

— Nesse ponto concordamos. Homens imbecis estão por toda parte e


não nos dão paz. — Ironizei olhando para ele.

— Aquele verme que sentou ao seu lado no ônibus tocou em você? —


Questionou me olhando friamente de relance e eu engoli em seco. Por um
segundo temi o que ele seria capaz de fazer se soubesse o que houve.

— La. — Menti e ele pareceu desconfiado então decidi mudar de


assunto. — Não quero que me siga de novo. Nunca mais.

— Não se preocupe, eu não irei te seguir, pois como seu marido, sairei
com você.

— Quer dizer que não vou mais poder sair sozinha?

— O que você acha? — Ironizou e eu revirei os olhos, irritada.

Alá, me dê paciência!
Após alguns minutos que pareceram durar horas, o motorista estacionou
na frente da minha casa.

— Hoje à noite darei uma festa para oficializar nosso noivado. —


Mohamed contou me surpreendendo. Depois de tudo o que houve eu não
via o sentido de uma festa de noivado. Então ele disse algo que esclareceu a
minha dúvida. — Para todos saberem que você será minha.

— Eu não serei sua propriedade, Mohamed. — Rebati e ele sorriu


debochado.

Respirei fundo e saí do carro, furiosa. Ele parecia fazer de propósito


para me irritar mais. Entrei em casa rapidamente jogando as sacolas no
chão. Minha mãe e irmã estavam na sala e me olharam confusas.

— Algum problema, querida? — Minha mãe questionou preocupada.

— Mohamed decidiu comemorar o nosso noivado. — Avisei e elas


imediatamente esboçaram sorrisos eufóricos.

Todos estavam exultantes, menos eu. E por ironia da vida eu era


justamente a noiva.
Capítulo 8
Mohamed

Em pouco tempo os criados transformaram o ambiente da sala em algo


bonito e acolhedor para a festa de noivado. Eu estava ansioso para ver como
Ísis reagiria à surpresa.

Os convidados chegaram pouco a pouco até preencher todo o ambiente.


A comida estava pronta, os sucos e chás também, com o cuidado de não ter
nenhuma bebida alcoólica como condena o islamismo. Contratei uma banda
para tocar e a música animava a todos.

Muitos me cumprimentaram me parabenizando pelo noivado. Alguns


senhores estavam visivelmente frustrados pela minha escolhida não ser a
filha deles. Eu ri de algumas propostas que recebi para avaliar as moças
para ser segunda esposa. Meu tio Tamir até propôs que eu avaliasse melhor
e com calma as ofertas, entretanto, nada daquilo me interessava. Meu foco
era apenas um nessa noite. Ela.

Ísis me fascinava de uma forma que nenhuma mulher nunca me


fascinou antes. Não apenas sua beleza, mas sua coragem de se impor
também era algo muito atrativo. Tudo nela era como um ímã.

E então ela finalmente chegou. Com um vestido longo vermelho sangue


e véu de mesma cor cobrindo os cabelos. Era como uma chama ardente
vindo em minha direção e me incendiando por inteiro. Ah como eu queria
tê-la quanto antes.

Seus olhos escuros eram como adagas perfurando meu juízo. Sorri
involuntariamente quando ela se aproximou mais de mim. Inalei seu
perfume suave e inebriante de rosas e observei melhor seu corpo escondido
debaixo de tantos tecidos, aflorando minha curiosidade para saber como ela
era. A necessidade de fazê-la minha irradiava no meu sangue.

Eu provaria que essa atrevida estava errada. Ela iria sim se curvar a
mim.

— Agora sim, que comece a festa! — Anunciei e os músicos no mesmo


instante iniciaram uma música mais dançante.

Wazir e Fatimah me cumprimentaram e me apresentaram Sumaya, a


bela filha mais nova deles. Porém, meu olhar logo focou na minha noiva
silenciosa. Ela me encarou de volta, provavelmente ainda irritada comigo.

Era petulante até em silêncio. Tinha tanto a aprender e bom, eu seria


paciente a ensinar. Talvez.

Após todos dançarem, comerem e se divertirem, chegou a hora de


oficializar o noivado. Pedi à banda que parasse com a música e segui até o
centro da sala chamando a atenção de todos à minha volta. A família de Ísis
logo levantou do sofá e ela foi a última a fazer o mesmo, visivelmente
contrariada.

— Como a tradição manda dar ouro como presente para a noiva,


comprei isso para você. — Mostrei a caixa com uma delicada pulseira
ligada a um anel de ouro com diamante. Todos aplaudiram. Ísis aceitou
timidamente o presente das minhas mãos sem me olhar diretamente.

— Shukran! — Ela agradeceu em voz baixa.

— Mas como se trata de um noivado acho ouro muito simples para ser
dado sozinho. — Comentei chamando a atenção de todos novamente. —
Então também comprei isso. — Entreguei a caixa para ela que me olhou
confusa e depois baixou o olhar para a gargantilha. — É o coração do rei
rubi. Um rubi raríssimo esculpido em forma de coração e que em sua volta
tem cento e cinquenta diamantes incrustados.
Ísis observou a pedra preciosa sem tanto entusiasmo, diferente dos
convidados que ficaram verdadeiramente impressionados. Isso porque eles
nem desconfiavam que a jóia se tratava da gargantilha mais cara do mundo,
que custou quatorze milhões de euros. Felizmente dinheiro não era
problema para mim, mas para minha decepção Ísis não pareceu dar
importância alguma.

— Posso colocar em você? — Pedi com educação sob o olhar vigilante


do senhor Wazir.

Ela olhou para o pai em busca de aprovação e ele assentiu. Segui até ela
e me posicionei atrás de seu corpo sentindo mais uma vez o seu perfume me
perturbar.

Peguei a gargantilha e coloquei em seu pescoço sentindo as pontas dos


meus dedos tocarem levemente “sem querer” o seu corpo infelizmente
coberto.

Ísis prendeu a respiração, parecia nervosa, tensa. Por mais que eu


quisesse, não poderia prolongar a situação já que tínhamos plateia. Terminei
de fechar a gargantilha e soltei vendo a pedra preciosa deslizar em seu
pescoço. Engoli em seco ao encarar o presente ali, naquela região,
combinando com sua roupa vermelha. Ísis tocou no colar e então finalmente
me olhou nos olhos.

— Agora sim estamos oficialmente noivos. — Pontuei e ela


permaneceu em silêncio.

A festa prosseguiu eufórica, homens ainda me seguiram para que eu


avaliasse suas filhas, mas durante o resto da noite minha atenção foi
totalmente dela.

A mulher atrevida que em breve seria a minha mulher.


Capítulo 9
Ísis

Mohamed tinha os intimidadores olhos azuis cravados em mim


durante toda a festa. Ele nem sequer tentava disfarçar, chegava a ser
incômodo.

Meu pai e o tio dele, os homens mais velhos das nossas famílias, se
revezaram para fazer a leitura da fatihah, capítulo de abertura do Alcorão, o
nosso livro sagrado. O capítulo trata-se de uma oração de apenas sete versos
em louvor à misericórdia de Alá. Quando eles terminaram de recitar
também terminou a festa. O Sheik e eu estávamos oficialmente noivos. A
partir desse momento seguiriam os preparativos para o casamento dali há
dois dias.

Engoli em seco sentindo o peso do colar de pedras preciosas no meu


pescoço. Eu nunca havia usado nada tão caro na vida. Mohamed parecia
querer me impressionar, e apesar de ser uma joia realmente linda, ainda não
me deixava animada. Na verdade, eu não me importava com joias e coisas
luxuosas. Eu queria apenas a certeza de que minha família não sofreria uma
grande humilhação por parte dele. Principalmente Sumaya, ela não podia
ter a imagem prejudicada por causa dos meus desentendimentos com o
Sheik.

Meus pais me chamaram para ir embora e de longe eu apenas olhei para


o meu noivo. Seus olhos me encararam mais uma vez e um sorriso furtivo
brincou em seus lábios. Só de pensar que logo eu estaria casada com ele
meu coração bateu mais forte.
Olhei ao redor antes de sair. A casa era maravilhosa, porém, eu não tive
tempo de apreciar melhor os detalhes. Havia muita coisa acontecendo ao
mesmo tempo, mas também não havia pressa, pois em breve eu conheceria
cada canto daquele lar.

Chegamos na nossa casa e minha família persistia alugando os meus


ouvidos, elogiando cada detalhe da festa e dos presentes que ganhei. Ainda
ficaram confabulando como seria a festa de casamento e fazendo questão de
repetir sobre o quanto eu tinha sido abençoada por Mohamed ter me
escolhido.

Sentei no sofá da sala e tirei meu véu. Tirei também a gargantilha e


observei melhor de perto.

— É um tesouro precioso! — Minha irmã comentou animada e logo


isso se tornou um assunto entre os três novamente. Fiquei em silêncio
observando a pedra vermelha brilhante. Fiquei me questionando o porquê
ele escolheu algo em formato de coração. Seria supostamente algo
romântico? Mohamed não me parecia do tipo romântico. Isso não se
encaixava com o pouco que eu conhecia dele. Suspirei perdida em
pensamentos. — Não parece feliz, Ísis! — Sumaya condenou silenciando a
todos.

— Estou plenamente feliz. — Falei sem humor e os três franziram as


testas em sincronia. — Bom, na verdade, eu estava pensando se não havia
uma hipótese de desfazer esse noivado…

— Bismillah! Está louca? Quer acabar com a honra dos Hadid? — Meu
pai questionou automaticamente furioso.

— La! Não, Ab. — Neguei nervosa notando a tensão que foi instaurada
em todos.

— Por que quer desfazer o noivado? Mohamed é um homem de muitas


posses, vai cuidar muito bem de você.

— Dinheiro não é tudo, mãe. — Comentei baixo e ela me observou


atenta.
— O que está te preocupando, querida?

Tantas coisas…

— Nada. Quero dizer, eu só não queria sair de casa agora. Não quero
me afastar de vocês. — Menti visto que não me dariam paz até que eu
respondesse algo.

Meu pai relaxou a postura no mesmo instante e sorriu me abraçando.

— Minha filha, casamento é o destino natural de toda mulher. Agora


Mohamed e a família dele serão a sua família. Além disso, logo mais vocês
terão seus filhos.

— Inshallah! — Minha mãe e Sumaya desejaram ao mesmo tempo.

— Vai dar tudo certo, minha querida! Basta você fazer tudo que eu te
ensinei. Seja doce, alegre, compreensiva, companheira! Vocês construirão
um amor como eu e o seu pai construímos. Você vai ver, será um casamento
bastante próspero. — Minha mãe concluiu confiante e fantasiosa.

Respirei fundo totalmente descrente que isso pudesse ser possível, mas,
mesmo assim, concordei com a cabeça para encerrar o assunto.

✽✽✽

Uma noite antes do casamento, Mohamed fez questão de contratar uma


tatuadora sudanesa para enfeitar com tatuagens de henna o meu corpo, da
minha mãe, irmã e das minhas amigas solteiras.

A tatuadora conhecida como Hanana seguiu em uma procissão animada


até minha casa, carregando a henna em uma bandeja decorada com flores,
velas, açúcar e incenso.

Esperei por ela sentada na sala enquanto todas as outras mulheres


esperavam animadas pelo início do ritual à nossa volta. Hanana entregou a
bandeja para Sumaya segurar, ajoelhou aos meus pés acendendo a vela e me
oferecendo.

— Que seus passos sejam iluminados para encontrar o amor no seu


noivo!

— Amin! — Respondi “amém” desejando o mesmo.

Então ela pediu para minha irmã abaixar um pouco a bandeja e pegou o
açúcar.

— Que seu matrimônio seja doce assim como as palavras e atitudes que
saírem de você!

— Amin! — Repeti segurando o riso, afinal esse casamento poderia ser


tudo, menos doce. Ela colocou um pouco de açúcar na minha boca. Em
seguida pegou o incenso e passou ele próximo do meu corpo.

— Que os espíritos maus se afastem de você e que permaneça apenas a


luz!

— Amin! — Repeti e ela pegou enfim o buquê de flores.

— Que floresçam bons sentimentos e gerem bons frutos de vocês dois!

— Amin! — Eu disse em coro com todas as mulheres presentes.

Fechei os olhos brevemente. Eu poderia amá-lo algum dia? Ele poderia


também me amar? Por Alá, eu estava tão confusa. Não sabia se devia ter
expectativas sobre sentimentos em relação a ele.

Abri os olhos, senti o perfume das flores coloridas e fiquei com elas no
colo. Hanana colocou meus pés numa bacia com água morna e pétalas de
rosas, lavou cuidadosamente e depois secou com a toalha. Pegou a henna na
bandeja e com muita delicadeza começou a desenhar com um pincel bem
fino um ramo espiralado com flores e folhas contornando a planta do pé. Os
desenhos representavam o início de uma nova vida, fertilidade e alegria.
Após tatuar os meus pés e as minhas mãos, todas as mulheres presentes,
exceto minha mãe, correram animadas ficando atrás de mim. Joguei o
buquê de flores sem olhar para trás.

— Peguei! Peguei! — Sumaya comemorou saltitante me fazendo rir.

— Isso não é justo, eu deveria ter pegado. — Minha amiga Nadja


reclamou inconformada.

— Se caiu nas minhas mãos é porque o destino quis assim. — Sumaya


se defendeu e eu levantei rindo das duas agindo feito crianças.

— Eu trouxe vestidos de noiva do Sudão, da Índia e da Espanha para


você experimentar e dançar músicas típicas desses países. Divirta-se
brincando como se estivesse casando em vários lugares diferentes! —
Hanana me contou e as mulheres se animaram ainda mais.

Enquanto ela tatuava os pés da minha mãe, Sumaya e minhas amigas


me ajudavam a colocar o vestido de noiva espanhola, todo branco com um
impressionante bordado em flores vermelhas. Era um tecido bem trabalhado
e lindíssimo!

Zafirah ligou a música e nós rimos ao não entender sequer uma palavra
em espanhol. Entretanto, as batidas eram boas e o ritmo envolvente. As
minhas convidadas abriram um círculo para que eu ficasse no meio.

— Que comece a festa da noite de henna! — Raniyah gritou eufórica


me fazendo rir.

— Bem-vinda à sua última noite solteira! — Maysun gritou.

Girei meu vestido começando a dançar no ritmo da música. Minha mãe


batia palmas me observando, Hanana já estava quase terminando de tatuar
seus pés, enquanto eu, Sumaya e minhas amigas, dançávamos celebrando a
minha despedida de solteira.

Era estranho pensar que depois dessa noite eu seria uma mulher casada
com um Sheik. Seria uma princesa. O que o destino estaria reservando para
mim?
Capítulo 10
Ísis

Minha boca estava seca, minhas mãos trêmulas e meu coração parecia
que escaparia pelos meus lábios a qualquer momento. Eu mal podia ouvir o
que o sacerdote dizia. Na minha frente Mohamed me olhava intensamente
nos olhos. Engoli em seco e abaixei a cabeça, completamente atordoada,
foquei meu olhar unicamente no meu vestido branco.

— Ísis Al Hadid, está de acordo e satisfeita em se unir à Mohamed


Abdallah Shariq? — O sacerdote perguntou e eu pisquei incerta.

Era definitivo. Se eu dissesse sim isso daria à Mohamed liberdade para


me atormentar pelo resto dos meus dias. Respirei fundo tentando pensar
melhor. Olhei em volta e notei um clima de tensão em todos pela minha
demora em responder. Olhei para frente e o Sheik franziu a testa,
interrogativo.

— Vou repetir. — O sacerdote falou mais alto me encarando


severamente. — Ísis Al Hadid, está de acordo e satisfeita em se unir à
Mohamed Abdallah Shariq?

Permaneci paralisada e em pânico. Alá, como fui parar numa situação


tão inusitada como essa? Como uma discussão numa ponte pode acabar em
casamento? Por que fui pagar minha língua após agradecer à Alá por não
ser casada com um homem com opiniões tão tolas?

Novamente as pessoas me olharam alarmadas. Meu Ab parecia


desesperado, então olhei para o lado e vi minha irmã, minha menina
sonhadora romântica. Se eu envergonhasse nossa família seria sua ruína. E
eu jamais me perdoaria por estragar seus sonhos. Respirei fundo tentando
achar forças na minha alma. Por Sumaya eu finalmente respondi a pergunta.

— Sim. — Falei tão baixo que provavelmente somente quem estava


muito próximo de nós, ouviu.

— Alhamdulillah! — Meu pai agradeceu aliviado à Alá. Abaixei o olhar


para os meus próprios pés e aceitei inquieta o meu destino. Afinal, se tudo
chegou nesse ponto era porque deveria acontecer. Maktub: estava escrito
assim.

— Mohamed Abdallah Shariq, está de acordo e satisfeito em se unir à


Ísis Al Hadid? — O sacerdote perguntou.

— Sim. Muito satisfeito. — Mohamed respondeu prontamente e eu o


olhei intrigada.

Eu não conseguia compreender o que ele pretendia com tudo isso. Era
uma incógnita para mim, como uma esfinge. “Decifra-me ou devoro-te”. E
eu não podia decifrá-lo.

Após trocar as alianças e assinar os papéis com as testemunhas, fomos


declarados oficialmente casados.

— Khalas. — Mohamed disse com um ar de satisfação chamando a


minha atenção. — Está feito. — Repetiu e eu o olhei tensa.

Saímos da mesquita rumo à festa em um hotel cinco estrelas no final da


rua, e para variar, Mohamed mandou fechar a rua inteira para que
pudéssemos passar. Ele me guiou para o carro todo enfeitado com flores e
fitas coloridas. Entramos com a zaffa, uma procissão de homens com
tambores, tamborins e trompetes, que tocavam uma bela música rítmica
enquanto as mulheres emitiam o zagharit, um grito ao agitarem
rapidamente a língua.

Eu segui olhando fixamente para frente, sem coragem de encarar


Mohamed ao meu lado dentro do carro. E mesmo assim eu podia sentir o
olhar dele queimando a minha pele. Tentei me distrair o máximo possível
com a procissão. Na frente do carro estavam os dançarinos vestidos com
roupas brancas e douradas.

As seis damas de honras estavam vestindo roupas também brancas,


carregavam candelabros adornados com fitas e flores, marchavam três de
cada lado do carro que seguia lentamente.

Dei graças a Alá quando finalmente chegamos. Saímos em silêncio e


uma linda menina, sobrinha de Mohamed, chamada Samira, jogou pétalas
de rosas vermelhas sobre nós, nos recepcionando graciosamente.

Enquanto todos seguiram para o buffet, eu segui por uma entrada


especial para o segundo andar para trocar de vestido. Minha mãe e Sumaya
seguiram comigo para me ajudar.

Tirei o meu hijab, o véu, e no lugar coloquei um véu de noiva ocidental,


branco transparente. As noivas mais modernas do Egito costumavam não
usar véu algum na festa de casamento, porém, eu não poderia desafiar a
minha própria religião de tal maneira. Entretanto, como algo dentro de mim
dizia que depois dessa noite eu não poderia mais ousar em nada na minha
vida, decidi quebrar as regras. Troquei também o vestido e me olhei no
espelho retocando a maquiagem.

— Você não deveria usar esse véu. Não é certo.

— Hoje é meu casamento, mãe. Me deixe festejar como quero, por


favor!

— Seu marido e seu pai não gostarão.

— As pessoas nunca se preocupam com o que vou gostar. — Ironizei e


ela suspirou me olhando séria.

— Você nos deu um grande susto durante a cerimônia. Demorou muito


para responder o sacerdote.

— Fiquei com medo. — Assumi e ela tocou suavemente no meu rosto.


— Você precisa deixar Mohamed entrar no seu coração, minha filha.
Ele agora é seu marido. Sua família.

Suspirei contrariada e sentei trocando os saltos por outros mais


confortáveis. Sumaya segurou meu buquê e me olhou entusiasmada.

— Agora você é uma princesa, Ísis. Sorria! — Incentivou e eu forcei o


meu melhor sorriso.

— Vamos! Seu marido deve estar ansioso para ver o novo vestido. —
Minha mãe me apressou.

Levantei com cuidado, pois o novo véu era gigantesco. Tive que
caminhar com Sumaya arrumando ele o tempo todo atrás de mim. Depois
segui sozinha pelo corredor e cheguei até o topo de uma enorme escadaria.
Lá embaixo a banda tocava animada enquanto as mulheres ficavam no
"lalalalalalala" típico de celebração. Notei Mohamed conversando e rindo
com o irmão mais velho dele, o rei da Arábia.

Respirei fundo tomando coragem e dei um passo descendo o primeiro


degrau. A banda notou a minha chegada e intensificou o som dos tambores.

Todos me olharam e eu desci timidamente enquanto eles me aplaudiam


fervorosos. E no meio de toda aquela algazarra eu vi o meu marido parado
me encarando com uma expressão quase hipnotizada.

Alcancei finalmente o primeiro andar e meu pai pegou a minha mão e


me guiou até Mohamed que nem sequer piscava me olhando.

— Você deveria ter continuado coberta. — Meu marido reclamou sério.

— Não gostou do que estou usando?

— Mashallah! Você está perfeita, minha princesa! — Ele elogiou me


surpreendendo, tocou no tecido do meu véu e me olhou intensamente nos
olhos. — Entretanto, eu prefiro você usando transparência assim para mim.
Só para mim. — Enfatizou e eu me segurei para não revirar os olhos.
Ele então pareceu sair do transe e seguimos para a frente do salão onde
havia dois tronos decorados com flores. Sentamos lado a lado e ele
inesperadamente estendeu a mão para mim. Aceitei seu gesto e de mãos
dadas entoamos os noventa e nove nomes de Alá, numa oração em
conjunto. A nossa primeira oração como casal.

Depois disso as luzes se apagaram e começou uma música de suspense.


Entraram inúmeros garçons uniformizados carregando taças decoradas com
um líquido vermelho. Era hibisco gelado. Após dançarem com a bebida ao
ritmo da música, eles nos serviram duas taças. Mohamed e eu cruzamos os
braços, coloquei minha taça na boca dele e ele colocou a dele na minha
boca. Bebemos juntos para dar sorte. Senti meus lábios úmidos e uma gota
escorrer deles, me preparei para limpar, entretanto, Mohamed foi mais
rápido, ele passou o polegar no canto dos meus lábios olhando fixamente
nos meus olhos, depois levou o dedo até a própria boca e sugou a gota.

Desviei o olhar incrivelmente nervosa, vi os garçons distribuírem a


bebida para os convidados brindarem também.

Pouco depois chegou a hora de partir o bolo. Eu não sei como, mas
fiquei ainda mais tensa do que já estava, afinal seria um momento bastante
íntimo para nós dois.

Os garçons trouxeram o bolo de doze andares e eu fiquei surpresa com


o tamanho e a beleza dos detalhes. Mohamed e eu seguimos para o centro,
cortamos o bolo sob aplausos e pegamos o primeiro pedaço. Senti meu
coração acelerar quando meu marido pegou o pedaço e se aproximou mais
de mim. A tradição diz que devemos comer o pedaço de bolo, juntos, no
mesmo garfo, ao mesmo tempo. É o mais próximo que temos de um beijo
de noivos, pois a intenção é que nossos lábios se toquem. Mohamed então
pegou o garfo e tirou um pedaço da fatia e posicionou entre nossos rostos.
Nossos olhares voltaram a se encontrar e eu tentei não transparecer
nervosismo.

Os convidados contaram até três e então nós dois comemos juntos o


bolo. Nossos lábios se tocaram por milésimos de segundos e
inesperadamente eu senti as grandes mãos de Mohamed me puxarem de
forma possessiva pela cintura, colando os nossos corpos. Olhei assustada no
fundo dos olhos dele.

— Não podemos nos tocar em público. — O alertei e ele suspirou


pesadamente.

— Eu preciso me segurar para não fazer uma besteira. — Murmurou


olhando para os meus lábios. — Não vejo a hora dessa festa acabar logo.

— Nossos… convidados estão olhando, Mohamed. — O repreendi


completamente nervosa pela sua proximidade e ele soltou a minha cintura,
visivelmente contrariado.

— Vou saber esperar. Esperei todos esses dias, posso esperar mais um
tempo. Embora minha vontade seja de te levar imediatamente para a nossa
casa.

Ainda estávamos muito próximos, estremeci com sua voz rouca que
ecoava na minha mente me deixando mais nervosa a cada segundo.

As pessoas se afastaram nos deixando sozinhos no centro e começou a


tocar a nossa primeira dança, era uma música de dança do ventre. Tentei me
acalmar e comecei a dançar lentamente movimentando meus quadris para
um lado e para o outro no ritmo exato das notas introdutórias, porém, era
difícil com o vestido que eu usava. Mesmo assim o olhar feroz de
Mohamed estava cravado em mim como uma flecha, atento a cada
movimento.

Ele engoliu em seco quando rebolei devagar, salientando o tecido do


meu vestido. Ergui as mãos e girei ficando de costas para ele, fazendo meus
cabelos brincarem com o véu transparente enquanto não parava de mexer
meus quadris.

— Chega! Vamos logo para a lua de mel! — Ele disse no meu ouvido
chegando inesperadamente por trás de mim.

Sua barba deslizou pela minha nuca fazendo meu corpo inteiro vibrar
em um arrepio enlouquecedor. Mohamed me virou para ele e fitou meus
olhos.

Senti meu peito subir e descer, o coração batendo há mil por hora. Ele
estava me chamando para pularmos a etapa da festa e irmos direto para a
nossa primeira noite juntos.

Fiquei ainda mais apreensiva e ele pegou na minha mão, me conduzindo


apressado para fora do buffet e consequentemente do hotel luxuoso, rumo à
nossa lua de mel.

Quando entramos no carro meu coração bateu ainda mais acelerado. A


palavra que ele disse após o término da cerimônia ecoou forte no meu
cérebro: khalas. “Está feito”.

Estávamos casados e eu estava completamente perdida.


Capítulo 11
Mohamed

Completamente em chamas! Era assim que eu me sentia. Meu sangue


circulava quente e rápido por todo o meu corpo desde o momento em que
ela disse sim para mim, diante do sacerdote, das nossas famílias e diante de
Alá.

Eu não conseguia desviar minha atenção de seus hipnotizantes olhos


castanhos arábicos, que me instigavam por sua natureza tão inocente e
preocupada. Eu queria apenas ver as suas pupilas dilatadas quando seu
corpo estivesse debaixo do meu.

Respirei fundo tentando controlar o desejo avassalador que aquecia


minha pele por inteiro, e concentrava todo o meu sangue em uma única
região do meu corpo. A minha ereção estava potente na calça, não era
possível sequer esconder. E eu não queria esconder dela.

Minha esposa.

Seus lindos lábios que me despertavam os pensamentos mais maliciosos


que já tive na vida estavam calados. Ela estava visivelmente apreensiva.
Provavelmente planejando um repertório de mau resposta para me dar. Ela
tinha a língua afiada, sempre pronta para rebater qualquer coisa que eu diga.
Queria saber se essa língua teria outras habilidades além de me tirar do
sério com sua personalidade indisciplinada.

Finalmente chegamos na minha casa que muitos consideram um


palácio, mas ainda era simples, a meu ver. Ísis entrou desconfiada, seguiu
direto para a sala, a mesma onde noivamos dois dias antes.
— Vamos para o quarto! — Ordenei e ela me olhou com má vontade.
Visivelmente brava pela minha ordem.

Se ela soubesse como me excitava seu jeito atrevido. Principalmente


pelo fato de que eu tinha em mente boas punições para aplicar por ela agir
assim.

Subimos para o quarto que eu havia mandado preparar com muitas


pétalas de rosas vermelhas, espalhadas pela cama e pelo chão. Também
tinha frutas e incensos perfumados sobre a mesa. Queria que ela se sentisse
confortável na nossa casa, embora o único cheiro que realmente me
importava emanava da pele dela, escondida debaixo do tecido branco do
vestido.

Sentei na cama e olhei fixamente para seu lindo rosto. Peguei sua mão e
observei o dorso tatuado com flores. Puxei devagar fazendo ela sentar em
meu colo, porém, exatamente como esperado, Ísis ofereceu uma breve
resistência, isso até finalmente ceder e sentar em mim. Eu precisava fazê-la
falar algo. Saber o que estava pensando.

— Tire tudo, exceto o véu e os saltos e dance para mim! — Mandei e


ela apertou os lábios, irritada.

— Por que pensa que vou seguir suas ordens? — Me desafiou e eu


sorri. Finalmente havia atingido o ponto certo que a despertava do silêncio
em que estava imersa.

— Porque sou seu marido e estou mandando. — Respondi debochado e


ela revirou os olhos. — Vou te dar bons motivos para revirar os olhos de
novo. — Falei firme e ela arqueou a sobrancelha.

— Que motivos? Posso saber?

— Esse aqui é um bom motivo. — Respondi pegando a mão dela e


colocando sobre a minha ereção.

Ísis arregalou os olhos, assustada. Em algum outro momento eu até riria


de sua surpresa ao me tocar, porém, sentir sua mão pela primeira vez me fez
arfar. Apertei minha mão sobre a dela, fazendo ela fechar os dedos ao redor
do meu membro. Olhei lascivamente em seus olhos e vi seu rosto atingir
um vermelho vivo.

Suas palavras afiadas pareceram sumir repentinamente. Parei no mesmo


instante, precisava ter paciência.

— Dança para mim, Ísis! — Ordenei com a voz rouca, embriagado de


desejo e ela engoliu em seco.

Observei sua garganta movimentar devagar e pensei em inúmeras


possibilidades para depois da dança. Estava louco para fazer seu corpo ser
palco das melhores sensações do mundo.

Ísis levantou do meu colo e no mesmo instante meu corpo reclamou da


distância, mas eu precisava vê-la dançar para mim. Era algo que eu queria
desde o momento em que decidi que seria minha esposa.

Ela tirou lentamente o vestido fazendo o tecido deslizar pela pele


aveludada. Cerrei os punhos para não seguir até ela. Precisava me controlar.

Seus seios foram os primeiros a surgir no meu campo de visão,


pequenos, redondos e arrebitados, cobertos por um sutiã rosa-claro. Apertei
os lábios os desejando avidamente.

O vestido continuou caindo revelando a barriga deliciosa, a cintura


marcada, os quadris largos, as coxas grossas e então o vestido caiu de vez
no chão.

— Tira tudo! — Ordenei olhando fixamente para sua calcinha rosa


rendada. Ela respirou fundo, inconformada. — Cuidado, para cada
malcriação sua será uma punição diferente.

— Se você ousar me bater, anulo o nosso casamento. — Ela ameaçou


áspera e eu ri. — Está no nosso contrato.

— E quem falou em agressão? Tenho meus próprios métodos para te


disciplinar.
— Eu não preciso ser disciplinada. — Rebateu e eu levantei possesso.

Ela recuou um passo e me olhou assustada. Segui até ela sem desviar
minha atenção.

— Não vamos discutir novamente, Ísis. Faça o que estou mandando!

— Então peça por favor! — Exigiu séria.

— Ísis…

— Se não pedir não faço nada. — Insistiu e eu respirei fundo,


impaciente com seus jogos.

— Ok, então tire tudo por favor! — Falei entre dentes e então ela me
olhou sedutora.

Segurou a barra da calcinha com as duas mãos puxando para baixo


lentamente. Depois com a mesma velocidade torturante tirou o sutiã. Sua
respiração ficou pesada e eu me aproximei mais dela. Nossos corpos
colados. Apenas os tecidos das minhas roupas nos separavam.

Puxei sua cintura com cuidado ao encontro do meu corpo e ela


espalmou as mãos no meu peito. Seu olhar ainda permanecia assustado.
Ergui o tecido transparente do véu e puxei seus cabelos, trazendo seu rosto
na direção do meu.

— Vou fazer você implorar para que eu te toque. — Avisei e ela riu
ironicamente.

— Isso nunca acontecerá. — Decretou e eu sorri sarcástico.

— Vamos testar?

Apertei mais minha mão em seus cabelos e puxei em minha direção.


Umedeci meus lábios e deslizei minha boca pela pele quente, fazendo
questão de roçar minha barba.
Ísis gemeu baixinho contraindo o corpo e eu suguei lascivamente a pele
de seu pescoço.

— Mo… Mohamed… — Gaguejou com a respiração entrecortada, mas


eu não parei.

Intensifiquei o ataque passando a minha língua, raspando meus dentes e


chupando com força para deixá-la totalmente marcada. Senti as mãos dela
subirem pelo meu peitoral e pararem nos meus ombros. Ela me apertava,
cravando as unhas neles. Não tentou me afastar em nenhum momento. Sorri
vendo que o resultado havia atingido o esperado quando ouvi seus suspiros..

Deslizei meus lábios até chegar em seus seios brutalmente delicados.


Dei atenção especial a eles, sugando calmamente cada um, revezando,
torturando. Senti as mãos de Ísis segurarem meu cabelo enquanto eu
desfrutava o sabor da sua pele quente. Mas eu estava apenas começando,
desci meus lábios até sua barriga, senti ela estremecer. Sua respiração ficou
pesada, ela entreabriu os lábios e me olhou suplicante.

Me ajoelhei no chão. Desci minha língua despretensiosamente até o


centro de suas pernas e ela gemeu jogando a cabeça para trás. Parei
observando sua reação, esperei sua respiração se recompor. Deslizei
novamente agora sugando com um pouco de força sua intimidade. Ísis
choramingou. Parei novamente. Seus seios subiam e desciam numa
respiração descompassada, era uma visão maravilhosa.

Dei um tempo para ela se acalmar. Então voltei a brincar com a minha
língua sentindo sua pele ficar cada vez mais quente, mais úmida. Segurei
suas coxas e ataquei sua intimidade com volúpia, sedento pelo seu prazer.

— Mohamed… Por favor! — Ela disse com a voz vacilante, os olhos


fechados.

Ri me afastando um pouco, fiz carinho em suas coxas com as pontas


dos meus dedos e deslizei lentamente até chegar na sua intimidade
novamente. Ela suspirou e eu parei. Voltei novamente pela outra coxa e
refiz o caminho bem lentamente.
Ela apertou uma coxa na outra, tentando aplacar o desejo. Mas eu logo
separei e brinquei com meu dedo, bem devagar, entrando aos poucos e
saindo totalmente. Acrescentei minha boca ao ataque e chupei sua
intimidade enquanto com meus dedos, preparava ela para mim.

Ísis tirou meu turbante e agarrou meus cabelos com força. Eu não parei
mais. Atacando implacavelmente sua região mais sensível, bebendo de seu
prazer puro. Girei devagar os dedos para explorar cada detalhe.

— Por Alá! O que está fazendo comigo? — Ela murmurou perdida e eu


olhei fixamente seu rosto enquanto beijava ardentemente o seu centro de
prazer. — Mohamed…

Não parei em nenhum momento até ela desfalecer fraca e atordoada


chegando ao clímax. Peguei em meu colo e levei para a cama deitando
cuidadosamente sobre as almofadas. Ísis passou a mão pelo rosto tirando os
cabelos que ficaram grudados, me fazendo notar que estava suada.

Me deliciei ao ver seus espasmos a tirarem de órbita por um instante.


Deitei meu corpo sobre ela, fazendo assim ela sentir a dureza da minha
ereção entre suas pernas. Ísis apertou as coxas ao redor da minha cintura,
deslizei devagar, subindo e descendo, manchando minha calça com sua
excitação.

— Por favor! — Pediu aflita e eu deslizei novamente segurando firme


no colchão.

— O que você quer, Ísis? — Perguntei em seu ouvido e ela suspirou.

— Mohamed…

— Me diz com todas as letras o que você quer. — Exigi olhando em


seus olhos e ela mordiscou o lábio inferior, claramente travando uma
batalha interna.

— Eu… Quero você. — Disse finalmente e eu abri um sorriso


satisfeito.
Beijei sua boca com a voracidade que irradiava todo o meu ser. Pedi
passagem com a minha língua e ela permitiu que eu a beijasse intensamente
roubando suspiros do fundo de sua garganta.

Me afastei do beijo e tirei logo toda a minha roupa. Ísis me olhou


apreensiva, seu olhar desceu minuciosamente reparando em cada detalhe do
meu corpo. Deitei sobre ela novamente.

— Pegarei leve com você, querida, mas isso será apenas hoje. — Avisei
e ela engoliu em seco.

Beijei novamente seus lábios e apalpei seus seios, enchendo minhas


mãos com eles. Me encaixei entre suas pernas e entrei devagar em sua
intimidade. Parei quando Ísis apertou os olhos. Esperei se acostumar. Voltei
a beijar seus lábios para distraí-la da dor. Aproveitei que ela estava entregue
aos meus beijos e entrei mais um pouco. Senti suas unhas cravarem nas
minhas costas e então entrei até o final. Fiquei quieto, ela mordeu o meu
ombro. Era absurdamente apertada, aumentando o meu desejo e acabando
de vez com a minha sanidade. Comecei a me movimentar bem devagar,
saindo um pouco, entrando depois em um ritmo extremamente lento.

Escorreu uma lágrima de seus lindos olhos e ela apertou os lábios.


Acariciei seu belo rosto maravilhado. Sem o véu era ainda mais linda. Mais
lágrimas escorreram e ela cravou as unhas nas minhas costas.

— Estou machucando você? — Questionei preocupado e ela negou com


a cabeça. — Quer que eu pare?

Mesmo envergonhada, ela negou novamente com a cabeça. Então eu


segui estocando devagar, apertei suas coxas puxando mais para mim com
cuidado.

— Mohamed… — Ela murmurou meu nome de forma excitante e


apertou os olhos com força, se derramando em prazer nos meus braços,
atingindo novamente o ápice.

Dei um tempo para ela se refazer dos novos espasmos, continuei mais
lentamente olhando em seus olhos até explodir dentro dela.
Deitei meu rosto em seu peito e senti meus batimentos frenéticos me
golpearem. Ergui novamente a cabeça e encarei seus olhos brilhantes
novamente. Ela ficou tão linda assim, preenchida por mim.

— Espero que agora não reste nenhuma dúvida que você me pertence.
— Sussurrei acariciando os cabelos dela.

— Eu não pertenço a ninguém. — Revidou ofegante me fulminando


com o olhar e eu sorri dando um beijo em seu queixo.

Me ajoelhei na cama e saí de dentro dela vendo o seu sangue virginal


manchar o lençol branco.

— Ah! Ísis, eu disse que você seria minha. E eu sempre cumpro as


minhas promessas. Esse é apenas o começo. Logo você vai ceder.

— La! Eu nunca irei ceder. — Respondeu confiante sentando na cama.


— Quem precisa mudar é você.

Ri ao notar as inúmeras marcas roxas em toda sua pele que fiz com a
minha boca. Em pensar que isso não era nada comparado ao que eu
planejava para essa atrevida… Mas eu precisava ser paciente. Deixe estar.
Em breve ela vai ceder sim.
Capítulo 12
Ísis

Levantei antes da primeira oração do dia, o sol nem sequer havia


nascido no céu. Notei que nas enormes janelas da varanda as cortinas
brancas tremulavam ao receber o último sopro da madrugada.

Virei para o outro lado na cama e observei Mohamed dormir


pesadamente. Os cílios negros adornavam os olhos mais temíveis, agora
fechados. Seus cabelos longos estavam revoltos espalhados sobre o
travesseiro lhe dando um ar selvagem. O lençol cobria do tronco para baixo,
mas eu sabia exatamente o que havia ali escondido. Gravei cada detalhe
dele na minha mente, cada pedaço do seu corpo forte, intimidante,
arrebatador.

Engoli em seco ao lembrar de suas mãos me agarrando firme, sua boca


me mordendo inteira, do seu toque quente, dilacerante me fazendo gemer.
Meu corpo doía como se eu tivesse corrido uma maratona. Ele fez meu
coração correr e perder.

Eu não podia me apaixonar por ele. Seria facilmente esmagada por sua
necessidade de controle. O ideal seria se ambos cedessem um pouco, mas
era impossível.

Ele não aceitava que eu manifestasse minhas opiniões e eu repudiava


totalmente o seu ar autoritário. Nunca daríamos certo, exceto na cama.

Eu não imaginei que fosse capaz de sentir tudo que senti nos braços
dele. Deitei de lado apoiando meu braço no travesseiro. Observei ele
dormir, parecia leve, tranquilo. Nem parecia com alguém que havia
destruído a minha sanidade mental. Bismillah!

Sentei na cama e respirei fundo, passei as mãos pelos meus cabelos


penteando os fios com os dedos, levantei à procura das minhas malas que
meu pai havia deixado na minha nova casa. Segui pelo chão coberto de
pétalas de rosas até um enorme armário. Abri o mais silenciosamente
possível cada porta e então encontrei minhas coisas já fora das malas e
inesperadamente organizadas.

Quando estendi a mão para pegar um vestido, notei meu braço marcado.
Desci o olhar pelos meus seios nus, minha barriga e coxas, eu estava toda
roxa.

Isso é porque ele disse que pegaria leve comigo!

Senti um arrepio percorrer o meu corpo ao lembrar da noite anterior e


respirei fundo tentando colocar meus pensamentos no lugar. Procurei por
uma blusa de manga longa e de gola alta para cobrir todas as lembranças
que Mohamed havia deixado em mim. Ele provavelmente queria ostentar
isso como se fosse um troféu por eu ter me entregado a ele.

Ah! Como odiei o sorriso prepotente que ele me lançou após fazermos
sexo! Quando eu pensei que poderíamos nos entender ele estragou tudo
com sua possessividade.

Peguei uma blusa, uma saia longa junto com um conjunto limpo de
lingerie. Segui para o banheiro do quarto e me surpreendi com o tamanho
da banheira no centro dela, já desejando experimentá-la futuramente. Deixei
minhas coisas na bancada e me olhei no espelho, as manchas estavam por
toda parte. Eu sempre tive muita facilidade em ficar marcada, qualquer
batida já me deixava assim por dias. Imagina agora por conta de chupões…
Isso não sairia tão cedo.

Prendi meu cabelo em um nó, entrei no box e liguei a ducha. Uma


torrente de água morna caiu envolvendo o meu corpo, me relaxando
instantaneamente.
Suspirei vendo o vapor d'água embaçar o vidro do box. Peguei o frasco
de sabonete líquido no suporte e me assustei ao ouvir o som da porta sendo
aberta atrás de mim. Quando me virei, dei de cara com Mohamed entrando
no box completamente nu.

— Sai daqui! O que pensa que está fazendo? — Reclamei tentando


empurrá-lo, porém, ele nem sequer se moveu com o meu toque.

Engoli em seco ao notar o quão “animado” ele estava e seu olhar


malicioso seguiu o meu para o seu membro em riste.

— Vou tomar banho com você. — Afirmou e eu encarei o rosto dele


novamente.

— La! Não vai! Pode sair, por favor? — Pedi e ele fechou a porta atrás
de si e pegou o frasco de sabonete das minhas mãos.

— Eu não vou sair. — Avisou olhando minuciosamente o meu corpo.

— Não me olhe assim! Não quero que me veja nua! — Tentei me cobrir
com as mãos.

— Mas eu já te vi nua ontem, querida. É claro que essa é uma visão que
me deixa maravilhado a cada novo momento que admiro novamente, mas
ainda assim não é a primeira vez. — Zombou e eu revirei os olhos. — Eu já
falei o que vou fazer quando você revirar os olhos para mim. — Me
repreendeu. Mordi meu lábio inferior recordando dele me fazendo tocá-lo
na noite anterior.

Sem que eu tivesse controle meu olhar recaiu novamente sobre seu
membro e ouvi a risada de Mohamed fazendo meu sangue ferver de ódio.

— Quer me tocar novamente, querida? — Ele perguntou se


aproximando perigosamente de mim.

Senti meu coração acelerar no peito, dei passos atordoados para trás até
bater as costas na parede de vidro, sendo encurralada por ele. Mohamed
subiu a mão pelo meu rosto e soltou os meus cabelos fazendo cair em
cascata nas minhas costas.

A água morna molhava nós dois ao mesmo tempo, me aquecendo ainda


mais.

Ele colocou o frasco de sabonete no suporte e apoiou as mãos atrás de


mim, me prendendo contra a parede. Seu olhar intenso fixou no meu e eu
senti seu membro na minha barriga. Tão próximo, me fazendo ansiar por ter
ele em mim novamente.

Alá, por que eu estava perdendo essa batalha?

— Você quer me tocar, Ísis? — Ele questionou com a voz rouca e eu


pisquei apreensiva.

— Mohamed, vai embora! — Pedi com a voz vacilante e ele olhou para
a minha boca.

Seu olhar era indecente em um nível sobre-humano. Eu não sabia por


quanto tempo mais poderia resistir.

Sem dizer nada ele pegou a minha mão e colocou em seu membro. Eu
olhei assustada, sentindo formigar o fundo da minha barriga. Ele conduziu
minha mão devagar para cima e para baixo percorrendo toda sua extensão e
depois soltou, mas inexplicavelmente continuei fazendo o movimento
sozinha, sentindo sua rigidez crescer na palma da minha mão. Os olhos dele
permaneciam grudados nos meus, porém, agora ele tinha a boca entreaberta
e respirava pesadamente. Apertou os lábios e jogou a cabeça para trás,
parecendo obter muito prazer com tudo isso.

— Ah, Ísis! — Gemeu meu nome apertando os olhos.

Sem que eu tivesse como escapar, seus lábios tomaram os meus numa
urgência desmedida. Sua língua invadiu a minha boca e minha mão
permaneceu em movimentos lentos.
Ele colou nossas testas quando chegou ao ápice, respirando
descompassado, o peito subindo e descendo.

Engoli em seco com sua proximidade. Ele se recompôs e me olhou


intensamente nos olhos. Pegou o frasco de sabonete novamente, espremeu
uma boa quantidade de produto na palma da mão, passou uma na outra
fazendo espuma.

— O que vai fazer? — Perguntei confusa e prendi a respiração quando


senti suas mãos contornando meus seios, ensaboando eles.

Ele prensou o seu corpo atrás do meu e deslizou as mãos espalhando


espuma pelo meu ventre, depois de me enxaguar tocou na minha
intimidade.

— Mohamed… — Murmurei em brasa ao sentir seus dedos em


movimentos circulares em mim. Fechei os olhos tombando a cabeça em seu
peito e senti ele mordiscar a minha orelha.

Sua barba arrepiava minha nuca e seus dedos mágicos faziam meu
corpo inteiro incendiar.

— O seu prazer é meu, querida. — Murmurou mordiscando meu


pescoço. — Quando você vai entender isso?

Ergui meus braços para trás e puxei seus cabelos aumentando o nosso
contato. Eu queria que ele ficasse calado, pois sempre que ele dizia algo
acabávamos brigando. As sensações foram se intensificando no meu corpo
e eu senti que explodiria em um milhão de fagulhas.

Senti meus joelhos pesarem e Mohamed me amparou. Fechei meus


olhos vendo as estrelas mais próximas de mim ao atingir o orgasmo.

Virei novamente para ele e encarei seus olhos azuis. Estavam


novamente arrogantes. Ainda era o mesmo homem que me irritava
profundamente. Mas de alguma forma que eu não sabia explicar todas as
minhas tentativas de fuga me levaram para ele. Me afastei subitamente e saí
do box mesmo sob seus protestos. Enrolei meu corpo em uma toalha e meus
cabelos em outra. Peguei minhas coisas na bancada e voltei para o quarto.
Me vesti rapidamente com receio de Mohamed aparecer, entretanto, ele
demorou no banho. Tentei secar cada gota dos meus cabelos e suspirei
pensando no que havia acontecido no banheiro.

Por Alá, eu só podia estar louca por me deixar levar pelo toque dele!

Mohamed saiu do banheiro com uma toalha amarrada na cintura e eu


desviei o olhar para o mais longe que pude. Porém, antes o vi sorrir ao olhar
para o lençol manchado de sangue. Ele me olhou malicioso e eu decidi que
era melhor descer para tomar logo o café da manhã, antes que de alguma
forma eu fosse parar na cama com ele de novo.

— Não adianta fugir de mim. Não vai poder ficar muito longe. — Ele
ironizou tirando a toalha da cintura e eu virei as costas.

— Mas posso tentar. — Respondi saindo imediatamente do quarto,


ouvindo a risada odiosamente sarcástica dele ecoar.
Capítulo 13
Mohamed

Vivi a maior parte da minha vida na Arábia Saudita, onde nasci e fui
criado literalmente no meio de um extenso deserto escaldante. Por ser um
príncipe, o segundo à sucessão do poder, sempre tive tudo que eu quis. Meu
pai, o falecido rei Haroun Abdallah, criou tanto eu quanto o meu irmão
mais velho para sermos líderes e conquistarmos todos os nossos desejos.

Mas em toda a minha vida eu nunca desejei tanto algo como desejava
Ísis, e quanto mais ela me confrontava mais eu a queria.

Terminei de me vestir e desci para o primeiro andar encontrando minha


esposa sentada à mesa. O café da manhã já estava servido com o full
medames, prato divinamente delicioso da época dos faraós. A receita
combina purê de favas cozidas em fogo lento com ervas, servido com pão
quente.

Sentei de frente para ela que evitava a todo custo me olhar. Era curioso
como ficava tão séria de repente quando há poucos minutos estava gemendo
gostosamente de prazer nos meus dedos.

Fiquei frustrado ao vê-la tão coberta dentro de casa. Ela fez questão de
esconder as lindas marcas que deixei espalhadas em sua pele aveludada.
Como se eu fosse deixar elas apagarem…

— Você me deve uma dança, querida esposa. Essa noite você vai dançar
para mim. — Avisei pegando o talher e ela finalmente me olhou.
Os olhos em brasa, irritados, excitantes. Não respondeu nada, apenas
levou a colher até a boca com o purê e eu observei maliciosamente seus
movimentos para mastigar e engolir.

— Por que está me olhando assim?

— Você fica linda comendo. — Respondi dando de ombros e ela franziu


a testa, visivelmente confusa.

Sua cabecinha ainda era muito inocente para entender tudo que se
passava na minha. Entretanto, de fato era um deleite ver seus lábios em
movimento. Me fazia ter ideias. Boas ideias por sinal.

— Acho que seria bom aproveitarmos o dia juntos. — Puxei assunto


visto seu silêncio teimoso. — Que tal conhecer o Cairo?

— Mas eu já conheço totalmente o Cairo. Nascida e criada aqui não tem


nenhum grão de terra que eu não conheça.

— Mas conhece do alto?

— O quê? — Questionou confusa. — Como assim do alto?

— Do alto mesmo. — Repeti e ela arqueou a sobrancelha. — Pegue seu


lenço, vamos dar um passeio de helicóptero! — Avisei e os olhos dela
pareciam que saltariam das órbitas com a minha proposta. Ri de sua
expressão engraçada. — Tenho um. Sou piloto.

— Isso não é perigoso?

— Sim, mas para quem tem experiência de voo não é tanto. E eu sou
bem experiente. — Expliquei e ela pareceu ponderar sobre a situação. —
Eles não me dariam um diploma e uma licença se eu não fosse bom no que
faço.

— Dariam sim. Você é um Sheik. Eles te dariam qualquer coisa. —


Rebateu afrontosa.

— O que foi que disse?


— Isso mesmo que o senhor ouviu. — Respondeu de queixo erguido e
eu sorri.

A melhor parte era que ela não voltava atrás nos nossos confrontos. Isso
me dava ainda mais vontade de arrancar seu atrevimento na marra.

— Pegue o seu lenço porque vamos voar, querida! — Informei e ela me


olhou incerta.

De qualquer forma eu iria tirá-la do chão. No helicóptero e na cama…

✽✽✽

Chegamos no local onde eu guardava o meu brinquedo aéreo. Eu


também tinha um jatinho particular, fruto da minha plataforma de petróleo
na Arábia, mas meu helicóptero era o meu grande xodó. Negro e
imponente, digno de um membro da realeza.

Ísis parou diante dele e observou minuciosamente cada detalhe. Abri a


porta para ela subir na aeronave. Dei a volta e subi também. Apontei para o
cinto de segurança e ela colocou rapidamente demonstrando apreensão.

— Está nervosa?

— La. — Mentiu descaradamente e eu ri irônico. Ela me olhou brava e


depois desviou o olhar para a paisagem pela janela.

Coloquei o grande fone de ouvido e entreguei um para ela, para que


pudesse ouvi-la. Me certifiquei de que o acelerador estivesse funcionando
bem. Esperei atingir o nível correto de rotação por minuto. Levantei voo e
de canto de olho notei Ísis segurar no banco, aflita.

Ajustei os controles para nivelar o helicóptero após a decolagem,


empurrando ligeiramente o controle cíclico para começar a nos mover para
frente. Nesse exato momento a aeronave tremeu um pouco.
— Bismillah! — Ísis gritou assustada segurando firme na minha perna,
me fazendo arrepiar com o seu toque inesperado.

— Calma, minha princesa! Isso é normal quando fazemos o movimento


para seguir em frente. — Avisei tentando acalmá-la. Ouvi sua respiração
pesada pelo fone e ela tirou a mão da minha perna. — Mas não precisa se
afastar, pode me tocar à vontade.

— Engraçadinho! — Ironizou me fazendo rir.

Assim que o helicóptero parou de tremer começamos a subir mais e a


ganhar velocidade. Pouco depois estabilizei o helicóptero o fazendo pairar
no ar. Seguimos para o centro de Cairo, avistando a bela cidade histórica à
qual fazemos parte.

— Mashallah! É tão incrivelmente lindo de cima! — Ísis comentou


encantada e eu olhei brevemente por cima dos ombros, flagrando seu
sorriso antes de me concentrar novamente nos controles.

— Só não é mais lindo que você gemendo o meu nome.

— Você não se cansa, Mohamed? — Rebateu irritada me furtando um


sorriso malicioso.

— De te provocar? Nunca. É meu melhor passatempo, querida esposa.


— Zombei e ela respirou fundo. — Mas te garanto que logo irá se
acostumar e até gostar.

— Não conte com isso. — Retrucou impaciente.

Ah! Mas você deveria contar, Ísis. Porque mais dia menos dia, isso vai
acontecer.
Capítulo 14
Ísis

Eu fiquei impressionada com o fato de Cairo ser ainda mais


deslumbrante de cima. Apesar do meu medo de estar dentro de um
helicóptero pela primeira vez na vida, ainda assim consegui apreciar a vista
incrível. Algo que nem as provocações de Mohamed atrapalharam.

Ele pousou pouco depois no mesmo lugar de onde saímos. Voltamos de


carro para casa e assim que chegamos nos deparamos com um verdadeiro
banquete para o almoço.

— Eu ainda não conheci seus empregados. — Falei ao me sentar à


mesa.

— Nossos empregados. — Corrigiu sentando à minha frente. — Eu


pedi para eles nos darem privacidade total nesses primeiros dias.

— Privacidade ao ponto de nem sequer encontrarmos ninguém? —


Questionei confusa.

— Sah. — Concordou e me lançou um sorriso. — É melhor evitar que


vejam algo demais pela casa.

— Pela casa? — Insisti intrigada e o olhar dele ganhou um tom mais


escuro de malícia.

— Quero experimentar cada lugar dessa casa com você, querida esposa.
Então achei melhor dar um toque de recolher para os criados, para
evitarmos constrangimentos desnecessários. — Explicou e eu abaixei o
olhar mortificada de vergonha.

Alá, Alá! Esse homem não tem limites!

Iniciamos o almoço em silêncio. Fiquei especialmente feliz pela


cozinheira ter acertado em cheio ao fazer meu prato preferido, Kebabs,
carne de carneiro marinada e grelhada servido com salada verde.

Estava me deliciando quando notei que Mohamed voltou a me olhar de


uma maneira estranha enquanto eu comia. Eu não conseguia entender o que
se passava na mente dele. De repente seu celular tocou e ele atendeu com o
olhar ainda fixo em mim.

"— Hoje? La, nem pensar. Estou na minha lua de mel, deem um jeito e
resolvam isso." — Falou ficando automaticamente irritado.

Eu já tinha reparado como ele ficava incrivelmente bonito quando


estava bravo, mas olhando melhor sua expressão carregada, destemida, eu
diria que ficava também irresistivelmente sexy. Havia muito erotismo em
seu olhar furioso. Era algo que inexplicavelmente mexia com a minha
imaginação.

Alá, o que eu estava pensando?

Balancei a cabeça tentando reorganizar meus pensamentos e então vi


Mohamed se exaltar. Ele parecia realmente furioso com algo que estavam
dizendo para ele.

" — Bismillah! São todos incompetentes!" — Vociferou desligando a


ligação e batendo fortemente a mão na mesa.

— Por Alá, o que aconteceu?

— Tenho uma equipe de inúteis, isso que aconteceu. — Respondeu


áspero e eu franzi a testa. — Meu assistente precisou sair do cargo por
conta de problemas pessoais. A minha única ordem foi para a equipe manter
o fluxograma de licenciamento, monetização e patrocínios do Cairo F.C.
atualizado, até eu encontrar outra pessoa de confiança à altura de Kashif
Hussein, pois é algo urgente. Mas advinha? Nem isso souberam fazer.

— Fluxograma é bem simples de fazer. Se me der os dados, posso te


ajudar. — Ofereci e ele arqueou a sobrancelha, me encarando
aparentemente debochado.

— La. Não precisa.

— Não foi você mesmo que disse que precisa disso com urgência? —
Insisti e ele deu de ombros.

— Vou dar um jeito. Não precisa se preocupar. — Falou voltando a


comer.

— Mohamed, eu sei fazer. Tive ótimas aulas de informática no colégio.


— Expliquei e ele suspirou pegando a taça de suco, tomando calmamente o
líquido vermelho.

— Agradeço a oferta, mas tenho certeza que encontrarei algum outro


homem para fazer isso.

— Então o problema é eu ser mulher? — Questionei confusa e ele


pousou a taça sobre a mesa e me olhou nos olhos.

— Querida, ninguém vai levar a sério um trabalho feito por você. —


Respondeu calmamente me deixando indignada.

— Posso fazer um trabalho tão bom quanto o seu ex assistente.

— Duvido muito. — Rebateu convicto me deixando ainda mais


enraivecida. — Agora chega desse assunto! Você não precisa ficar se
preocupando com meus negócios, eu cuido de tudo. Fique aqui se
preparando para dançar para mim mais tarde. Vou ao escritório tentar
resolver esse problema e volto logo.

Paralisei incrédula. Era o cúmulo do absurdo ele menosprezar minha


ajuda somente por eu ser uma mulher. Respirei fundo e levantei
bruscamente empurrando a cadeira antes de sair furiosa.
— Ísis, não saia assim da mesa! Você não terminou de se alimentar
direito! — Reclamou e eu revirei os olhos. — Não seja indisciplinada!

Subi para o quarto e me joguei na cama. Em pensar que um dia eu já


sonhei em trabalhar fora, mas tanto meu pai quanto meu marido, não
acreditavam no meu potencial, simplesmente por eu ter nascido com o
cromossomo XX. Os dois haviam parado no tempo.

✽✽✽

A noite caiu veloz com seu véu negro encobrindo a luz. Suspirei
pesarosa olhando pela janela da varanda. Virei na cama e olhei para o teto,
o sono começou a me sequestrar lentamente.

Fechei os olhos sentindo a preguiça me dominar aos poucos. De repente


senti o colchão afundar e o corpo de Mohamed pesar em cima de mim.

— Cheguei, minha princesa! — Falou cinicamente depositando um


beijo na minha testa. — Estava contando os segundos para chegar e te ver
dançar.

— Você conseguiu resolver o problema? — Perguntei olhando nos


olhos dele.

— Isso não importa agora. Vista a roupa de odalisca que comprei para
você! Está no closet.

— Conseguiu resolver o problema, Mohamed? — Insisti e ele suspirou


levantando de cima de mim.

— Não, tenho o maior time de futebol do país, mas não tenho o mínimo
domínio daquele maldito programa de computador. — Reclamou sentando
ao meu lado na cama.

Levantei e engatinhei até ele, ficando de joelhos ao seu lado.


— Me deixa te ajudar! — Pedi e ele respirou fundo, tirando o turbante e
bagunçando os cabelos longos.

— Chega desse assunto! — Falou impaciente. — Negócios não são para


você. Se preocupe apenas com os cuidados da nossa casa. — O meu sangue
ferveu nas veias. Lancei um olhar fulminante para ele e deitei novamente na
cama. — Agora vá trocar de roupa para dançar para mim! — Ordenou e eu
não fiz sequer menção de me mexer.

— Não vou dançar.

— Como é? — Me olhou incrédulo.

— Eu não vou dançar para você.

— Ísis, não me provoca! — Vociferou e eu continuei deitada imóvel na


cama. — Estou te dando uma chance. Se continuar assim vou ter que te
punir.

— O que vai fazer? Posso saber? — Rebati irritada e ele me lançou um


olhar severo.

— Eu não vou mais te tocar até você dançar para mim. — Avisou e eu
forcei uma risada.

Não que eu fizesse questão que ele me tocasse, vivi a minha vida inteira
sem ele, porém, as lembranças de seu corpo, ainda estavam vívidas no meu.

Ele tirou toda a roupa e deitou ao meu lado na cama. Engoli em seco
com sua proximidade, seu calor. Então inesperadamente ele começou a se
tocar. Eu precisava ser forte para provar meu ponto, deitei virada para o
outro lado na cama e foquei minha atenção na parede branca. Meu peito
subia e descia, estava extremamente nervosa. Os suspiros dele ficaram
audíveis junto com o som de sua mão deslizando pela sua pele. Apertei os
olhos, lembrei da minha mão fazendo ele enlouquecer no banho mais cedo.

Por Alá, como odeio esse homem!

E assim eu não consegui dormir a noite toda.


Capítulo 15
Ísis

Meus pensamentos só pararam de borbulhar quando o dia já estava


quase amanhecendo, foi quando eu finalmente consegui adormecer. Porém,
o tempo simplesmente voou e logo ouvi ecoar das mesquitas mais próximas
o som da primeira oração do dia.

Abri os olhos lentamente e senti uma coisa estranhamente pesada sobre


mim. Olhei para baixo e notei uma perna enlaçada sobre o meu quadril
enquanto um braço apertava minha cintura. Senti a respiração de Mohamed
na minha nuca e só então entendi a situação.

Não sei quando nem como, mas em algum momento enquanto


dormíamos ele me abraçou se enroscando em mim.

Esfreguei os olhos, ainda bastante sonolenta e tentei me afastar dele sem


acordá-lo, porém, quando tentei fugir de seus braços, ainda dormindo ele
me apertou mais encaixando o rosto no meu pescoço, me arrepiando inteira.

Para quem não iria mais me tocar como castigo…

Segurei uma risada e com muita dificuldade consegui escapar de sua


muralha de músculos. Segui para o banheiro e após fazer minhas
necessidades, fui para a frente do espelho constatando a situação deplorável
que uma noite mal dormida fez com a minha pele. Escovei os dentes
preguiçosamente. Eu não conseguia manter meus olhos abertos.

Ouvi a porta sendo aberta e abaixei na torneira para enxaguar a boca.


Era impressionante como o meu marido não respeitava a minha
privacidade.

Ele foi direto para o box e abriu a ducha entrando de cabeça na torrente
de água. Observei ele lavar os cabelos de olhos fechados, fazendo a espuma
que saía com a água deslizar por todo seu corpo. Mordi o lábio inferior
pensando em tudo que já havia acontecido entre nós. De repente ele virou
para mim e me encarou pelo vidro como se soubesse que esse tempo todo
eu estava o observando.

Desviei rapidamente e olhei para o espelho, penteando meus cabelos.


Agora eu que sentia o olhar dele penetrando cada partícula do meu corpo.

Voltei para o quarto e segui para o primeiro andar, faminta por não ter
jantado na noite anterior, tamanha a raiva que Mohamed havia me feito.

— Assalamu alaikum! — Falei ao entrar na cozinha e notar que não


estava sozinha.

— Wa Alaikum Assalam! — As duas mulheres ao redor do fogão


desejaram ao mesmo, arregalando os olhos.

— Desculpe, princesa! Já estamos terminando o seu chá, já iremos


servi-la. — A mais velha se apressou em explicar, parecendo nervosa com a
minha presença.

— Tudo bem, não estou com pressa.

— Nós já vamos sair. — A mais nova disse de cabeça baixa e eu franzi


a testa.

— Sah. — Concordei ainda confusa e segui até a geladeira.

— Quer que eu sirva algo para a senhora? — A mais nova correu


parando na minha frente.

— La, Shukran! Eu mesma pego! — Agradeci e ela me olhou


preocupada sem sair da minha frente.
— Pode dizer o que a senhora quer, princesa, será uma honra lhe servir!
— A mais velha falou atrás de mim e eu cruzei os braços e encarei as duas.

— Quero que vocês me expliquem o que está acontecendo, por favor!

— Como assim? — A mais nova questionou parecendo mesmo confusa.

— Por que estão tão nervosas comigo?

— Não estamos nervosas, senhora. — Respondeu prontamente.

— Sah. Vamos começar do começo, eu me chamo Ísis. E vocês?

— Sou Rahimah e essa é minha filha Layla. — A mulher que estava na


beira do fogão respondeu e eu assenti.

— Prazer! Então agora que sabemos os nomes umas das outras vamos
nos chamar por eles, certo?

As duas me olharam assustadas como se no meu pescoço tivesse


nascido uma cabeça de camelo.

— Senhor Mohamed não gostará disso, senhora. — Rahimah alertou e


eu suspirei.

— Não se preocupem quanto a isso. — Garanti e elas abaixaram a


cabeça, visivelmente incertas. — Agora, me dê licença, por favor, Layla!

— Não, senhora… Digo, princesa. — Se atrapalhou me fazendo rir. —


Ísis. — Finalmente acertou e eu assenti. — Senhor Mohamed exigiu que
servíssemos muito bem a senhora.

Arqueei a sobrancelha completamente incrédula. Desde quando


Mohamed se preocupava comigo?

— O que mais ele exigiu? — Questionei curiosa e Layla pareceu


ponderar. — Me diga, por favor!
— Ele pediu para que pegássemos com sua mãe todas as suas receitas
favoritas e fizemos para a senho… Você.

Olhei para as duas em choque. Isso explicava como todos os meus


pratos preferidos haviam sido servidos desde o casamento. Porém, eu não
conseguia associar o que ela estava me contando com o mesmo Mohamed
com quem eu havia discutido no dia anterior.

Fiquei pensativa e as duas rapidamente terminaram seus afazeres


servindo uma linda mesa de café da manhã. Permaneci encostada no balcão
vendo elas se despedirem de mim e saírem apressadas.

Saí finalmente do torpor em que estava imersa e segui para a geladeira.


Fiquei impressionada com a quantidade de coisas que tinha dentro dela.
Peguei a jarra de água e quando me virei para pegar um copo no balcão,
bati violentamente contra o peitoral de Mohamed que surgiu do éter atrás de
mim.

— Cuidado! — Ele disse segurando firme a minha cintura e me olhando


nos olhos.

Estava devidamente vestido, os cabelos ainda molhados e da pele


emanava um perfume suave do sabonete.

— Desculpe! — Falei me afastando dele e indo até onde os copos


estavam guardados.

Enchi generosamente um copo e bebi quase tudo de uma vez, sentindo o


nervosismo me atingir ao estar novamente sozinha com Mohamed. Senti
sua aproximação por trás de mim, sua respiração atingiu a minha nuca e
suas mãos seguraram de forma possessiva minha cintura, enquanto seu
quadril me pressionou fortemente por trás.

— Espero que tenha pensado bem nas suas atitudes durante essa noite.
— Sussurrou no meu ouvido, roçando a barba no meu ombro.

Contraí o corpo e tentei me manter firme.


— Espero que você também tenha pensado nas suas. — Rebati no
mesmo tom.

— Alá, como é teimosa! — Reclamou pressionando mais seu corpo


contra o meu, quase me fazendo inclinar sobre o balcão.

Sua mão deslizou pela minha cintura e segurou minha barriga,


aumentando nosso contato.

— Vamos ver quanto tempo você vai aguentar ficar sem marido. —
Provocou e eu empurrei seu corpo e virei de frente, encarando seus olhos
intensos.

— Vamos ver quanto tempo você consegue ficar sem esposa. —


Desafiei também e ele semicerrou os olhos.

Se aproximou novamente de mim, me pressionando mais. Senti seu


membro enrijecido contra a minha barriga enquanto o olhar dele me
queimava por inteiro.

Se é guerra que ele quer, é o que ele terá.


Capítulo 16
Mohamed

Eu devia obrigá-la a usar uma burca como castigo. Seria muito mais
fácil não ver o seu corpo gostoso e não desejá-lo.

Ísis me tirava do sério com suas aspirações fantasiosas. Sua mania de


pensar que poderia me desafiar, mas ela estava muito enganada se estava
achando que iria me dominar com suas ideias estapafúrdias.

Por Alá, nenhuma mulher iria me tornar um fraco! Mohamed Abdallah


Shariq jamais se curvará a ninguém. Nem mesmo para aquela mulher de
olhos arábicos, de boca carnuda e de corpo… Ah! Eu preciso me concentrar
nessa merda!

Encarei novamente o maldito computador à minha frente. Digitei mais


algumas palavras e nada, absolutamente nada se formou. Minha vontade era
de jogar o maldito aparelho na parede. Aliás, jogar o prédio todo no chão.
Inferno de tecnologia! Quem foi que teve a brilhante ideia de tirar os
documentos físicos de circulação?

De repente meu celular tocou. Eu não sei porquê ainda estava no


escritório tentando resolver algo que tenho plena consciência que não
conseguirei fazer. Na verdade, sei o porquê sim. Isso tudo é para não ficar
em casa vendo Ísis. A minha vontade era de beijá-la até fazê-la esquecer da
nossa briga.

Maldição! Tudo estava indo tão bem. Ela finalmente dançaria para mim
e de repente tudo desmoronou. Tudo sempre desmorona quando
conversamos. Na verdade, quando falo algo. Ela nunca aceita nada do que
eu digo. Aquela boca atrevida sempre tem que revidar. Aquela maldita e
deliciosa boca atrevida!

Bismillah! Ela ainda vai me enlouquecer!

Empurrei o computador com raiva e passei a mão pelo rosto,


completamente furioso. Ouvi novamente meu celular tocar e atendi
impaciente.

"— O que foi?" — Atendi mal-humorado.

"— Senhor, Pedro Negrini está no Egito e gostaria de encontrá-lo essa


noite." — Esam avisou e eu suspirei irritado.

"— La. Diz que não posso, eu já deixei claro que não estou disponível
para ninguém nesses próximos dias."

"— Mas essa será a única noite dele na cidade, senhor, e ele faz questão
de acertar os detalhes sobre o investimento no Cairo F.C."

Mas será possível que ninguém respeite minha lua de mel? Na verdade,
nem minha esposa respeita…

"— Esses ocidentais pensam que estamos à disposição deles." —


Recriminei irritado. "— Tudo bem. Marque com ele às seis horas no Burj
Al-Qāhira."

"— Sim, senhor."

Desliguei a ligação e atirei o telefone longe. Estava com péssimo humor


para fazer negócios e isso não era nada auspicioso.

Lembrei novamente daquela mulher ingrata que chamo de esposa e


peguei minhas coisas. Segui para o shopping e depois para casa. Encontrei
Ísis deitada no sofá, a blusa caía mostrando a pele aveludada dos seus
ombros e a saia estava levemente enrolada nas coxas debaixo da capa dura
do livro. Os cabelos caíam em volta do rosto e ela lia concentrada. Me
permiti observá-la por um tempo em silêncio, tão lindamente mal criada. Às
vezes dava vontade de dar umas boas palmadas.
— Eu não vi você chegar. — Ela disse dobrando as pernas, fazendo a
barra da saia levantar mais. Engoli em seco e me aproximei.

— Tenho um jantar importante com um possível investidor. Mesmo


você não merecendo absolutamente nada, trouxe isso para você usar e me
dar sorte. — Contei estendendo para ela uma caixa de joias.

Ela me olhou séria e então abriu a caixa revelando um colar de


arabescos de ouro incrustado com diamantes. No centro uma esmeralda e
nas extremidades pérolas douradas.

Ela não esboçou nenhuma reação e me encarou novamente.

— Se os negócios não são para mim, por que preciso ir? — Ironizou e
eu respirei fundo.

Fechei os olhos tentando me acalmar. Ela adorava me irritar até o


extremo.

— Ísis, apenas se arrume e use isso, por favor! Só hoje seja uma boa
esposa. — Ordenei e ela deu de ombros.

Segui para o banheiro e me arrumei para o jantar. Quando saí ela entrou
para o banho. Fiquei tentado em entrar no banheiro, mas não tínhamos
tempo para que eu pudesse fazer com ela tudo que eu queria. Cerrei os
punhos e respirei fundo. Essa ideia de não tocá-la ainda iria me matar.

Pouco depois ela saiu com um vestido longo azul-claro e véu da mesma
cor. Os olhos bem delineados e os lábios tingidos de vermelho. Engoli em
seco olhando ela se aproximar.

— Pode me ajudar, por favor? — Perguntou virando de costas e me


entregando o colar novo. — Respirei fundo e coloquei a joia em seu
pescoço. Inalei seu perfume suave e puxei sua cintura para mim. — Não
disse que não iria mais me tocar, marido? — Provocou e eu apertei ainda
mais o corpo dela contra o meu.
— Sua sorte é que estamos em cima da hora, Ísis. Senão você iria me
pagar caro por essa provocação. — Sussurrei ouvindo ela rir audaciosa.

Me afastei relutante de seu corpo delicioso e puxei a mão dela para


irmos logo. Seguimos para o meu carro e o motorista nos levou.

Ísis ficou calada durante toda a viagem. Chegamos logo no restaurante


na torre do Cairo. Ele é o melhor mirante, pois gira suavemente nos dando
uma visão panorâmica de toda a cidade. O pôr do sol dourado invadia as
treliças em formato de flor de lótus que recobria todo o restaurante. Ísis
olhou admirada para a vista e sorriu docemente.

Senti meu coração aquecer com seu sorriso, mas tentei disfarçar o
máximo que pude. O garçom nos guiou até a mesa reservada e nos
sentamos à espera do meu cliente.

— É tão lindo! — Ísis comentou olhando maravilhada em volta.

— É lindo mesmo! — Concordei olhando fixamente para o rosto dela.

— Assalamu alaikum! — Ouvi uma voz dizer próximo de nós e me


deparei com Pedro Negrini. Um rico empresário brasileiro, vestido de terno
escuro e ostentando um sorriso estampado no rosto.

— Wa Alaikum Assalam! — Respondi o abraçando.

— Às vezes me esqueço que aqui os homens se abraçam. — Ele


comentou em inglês se afastando de mim e acenando para Ísis que apenas
assentiu.

— Ainda perdido no mundo árabe? — Perguntei descontraidamente e


ele sentou.

— Bastante! São tantas coisas diferentes da minha cultura. —


Respondeu abrindo um botão do paletó para ficar mais confortável. — Eu
soube que acabou de se casar, desculpe por atrapalhar a lua de mel, mas
meu prazo aqui é realmente curto.
— Sem problemas! Minha querida esposa compreende perfeitamente a
importância dos meus negócios, não é mesmo? — Questionei e Ísis me
olhou furiosa.

— Claro. — Respondeu secamente me fazendo rir de seu olhar felino.

— Sua esposa é muito linda! Meus parabéns! — Elogiou sorridente


demais e eu encarei ele, sério. — Digo, com todo respeito.

— Shukran! Gentileza sua! — Ela respondeu cobrindo o sorriso com o


véu. Fulminei ela com o olhar também e remexi incomodado na cadeira.

— Vamos pedir? — Sugeri irritado e ele assentiu pegando o menu.

Fizemos os pedidos e o sol foi sumindo aos poucos pela vidraça, dando
lugar ao fim da tarde.

Pedro falava sem parar da sua multinacional automobilística e de seus


planos de expansão. Expliquei para ele sobre como funcionava o
investimento em um time de futebol e nos estendemos longamente nesse
assunto.

— Acho que estamos entediando a sua adorável esposa. — Pedro


comentou e Ísis sorriu negando com a cabeça.

— Não tem problemas. Podem prosseguir à vontade. — Ela respondeu


e ele olhou fixamente para ela, sorrindo admirado.

Meu sangue ferveu nas veias. Cerrei os punhos e afastei o prato.

— Tirou mesmo a sorte grande! Além de incrivelmente linda, é tão


compreensível. — Comentou e eu olhei furioso para ele. Creio que
percebeu a minha ira, pois rapidamente corrigiu a postura. — Com todo
respeito. — Repetiu nervoso.

Com todo respeito eu o farei engolir os dentes se sorrir para minha


princesa novamente.

Permaneci em silêncio, o que fez ele rapidamente entender a situação.


— Negócio fechado. — Pegou na minha mão e eu apertei com toda
força que tinha. Ele arregalou os olhos, assustado.

— Bom fazer negócio com você, senhor Negrini. — Falei entre dentes.

Quando nos afastamos ele balançou a mão, tive que segurar uma risada.
Rapidamente ele olhou para Ísis e com apenas um aceno se despediu e foi
embora quase em fuga.

— Mohamed, você quase quebrou a mão do homem! — Ela me


repreendeu quando ficamos a sós e eu dei de ombros.

— Não posso fazer nada se costumo pegar firme nas coisas. — Ironizei
e ela balançou a cabeça inconformada.

Pedro Negrini deu sorte. Se não fosse um investidor importante eu


viraria ele do avesso.
Capítulo 17
Ísis

Faz cinco dias desde a nossa discussão. Cinco dias com Mohamed me
provocando, me pressionando e me deixando maluca com sua mania de
dormir pelado e sem lençol ao meu lado na cama.

Aproveitei que ele saiu à tarde para resolver algo sobre seus negócios e
decidi estrear a enorme banheira. Enchi ela o máximo que pude e salpiquei
sais de banho perfumados. Prendi meu cabelo em um coque e liguei o som
do banheiro com uma música bem tranquila para relaxar. Tirei toda a minha
roupa em frente ao espelho e notei as marcas da minha noite de núpcias já
totalmente apagadas da minha pele. Suspirei lembrando daquela noite, meu
coração expandiu no peito. Era como se meu corpo sentisse saudade
daquilo tudo. Era estranho.

Segui para a banheira e entrei cautelosamente. Deitei apoiando a minha


cabeça na borda e fechei os olhos ouvindo a música tranquila ecoar pelo
ambiente. Tentei esvaziar completamente minha cabeça, porém, era
impossível. A minha mente me traía trazendo lembranças da noite anterior
ao lado dele naquele jantar. A forma como o ocidental me olhou foi bem
divertida. Ele parecia interessado em mim. A fúria nos olhos de Mohamed
foi impagável. Tive a nítida impressão de que ele ficou enciumado. E por
mais que eu ache a falta de confiança algo injustificado, gostei de vê-lo
assim.

Suspirei abrindo os olhos e planando a minha mão sobre a superfície da


água fazendo ela espiralar. Olhei para o meu corpo e as marcas sumindo, foi
inevitável não voltar para aquela noite incendiária onde Mohamed me
consumiu em suas chamas.
Eu não sei explicar como meu corpo poderia sentir tanta falta de alguém
tão bruto como meu marido. Apesar de, pelo menos, naquela ocasião ele ter
sido cuidadoso, do jeito dele, claro.

De repente recordei do nosso banho, dos dedos dele me tocando, dos


seus lábios no meu pescoço…

Alá, acho que estou enlouquecendo!

Subitamente me passou uma ideia louca pela cabeça: e se eu me tocasse


como ele fez? Será que conseguiria ter o mesmo prazer?

Senti meu rosto corar. Eu estava com vergonha de mim mesma.

Não sabia por onde começar e nem se saberia fazer tão bem quanto ele
fez, mas eu precisava tentar, queria me sentir como naquele dia… E como o
castigo do meu marido não tinha data para terminar eu não tinha outra
escolha.

Timidamente desci minhas mãos pelos meus seios bem devagar e segui
pelo meu ventre. Deslizei lentamente para o centro das minhas pernas e
parei. Respirei fundo tomando coragem.

Se ele pode eu também posso.

Então segui em frente. Primeiro explorei cuidadosamente, sentindo um


leve formigamento espalhar pelo meu corpo. Massageei devagar e quando
me senti pronta fiz os mesmos movimentos circulares que Mohamed havia
feito. Joguei minha cabeça para trás, fechei os olhos lembrando dele, da
boca dele me sugando como se eu fosse a única fonte de água no deserto.
Das mãos grandes apertando meu corpo, me desfazendo em milhares de
pedaços.

A minha respiração ficou entrecortada, meu coração bateu


descompassado e um gemido escapou pela minha garganta.

— O que pensa que está fazendo? — Ouvi Mohamed perguntar ao meu


lado e abri os olhos, assustada, sem ter a mínima noção de quanto tempo ele
estava ali. Meu coração parecia que sairia pela boca, tentei controlar a
respiração, mas não tirei a mão da minha intimidade. Estava quase
chegando lá. O olhar intenso de Mohamed espalhou ainda mais calor sobre
a minha pele e eu aumentei o ritmo dos movimentos. — Ísis! — Mohamed
insistiu.

Fechei os olhos novamente, pois senti que não conseguiria mantê-los


abertos. De repente senti ele puxar minha mão com força e para minha
surpresa a dele assumiu o lugar. Apertei as bordas da banheira ao sentir o
dedo dele entrar em mim sem o mínimo pudor enquanto sua boca tomou a
minha em um beijo intenso. Sua língua voraz invadiu a minha boca
enquanto ele acrescentava mais um dedo, indo e vindo sem parar.

— Mohamed… — Gemi fraca e ele intensificou as estocadas me


deixando sem ar ao me beijar novamente com uma vontade insana.

Ele mordeu meu lábio inferior e entrou na banheira ainda


completamente vestido. Sem que eu pudesse resistir me puxou para seu
colo e voltou a me beijar com volúpia derrubando água para todo lado.

Instintivamente comecei a rebolar em sua ereção necessitando


urgentemente sentir ele em mim. Sem que eu precisasse dizer nada ele me
afastou um pouco, só o suficiente para abrir a calça, e me puxou para sentar
sobre ele novamente.

Ainda era bastante incômodo, mas menos que a primeira vez. Fechei os
olhos ao sentir ele me invadir vagarosamente enquanto sua boca abocanhou
meu seio direito, o qual ele não largou por um bom tempo e quando o fez
trocou pelo outro seio, sugando devagar.

Ele puxou meu cabelo soltando o meu coque e me beijou novamente me


fazendo rebolar lentamente sobre ele.

— Hoje você vai me recompensar por ter ficado esses cinco dias sem
você.

Suas mãos apertaram meus quadris, fechei meus olhos novamente não
conseguindo me controlar mais, de tão intenso que era o prazer se
espalhando por todo o meu ser. As mãos dele desceram para minhas
nádegas e ele contornou as minhas curvas, apertando com mais força.

Nossas bocas se encontraram novamente e mais nenhuma palavra foi


dita. Estávamos famintos um pelo outro. Uma ânsia louca traduzida em
gemidos cada vez mais altos.

No fundo, eu tinha plena consciência de que não deveria deixar ele


seguir por esse caminho, porém, eu não conseguia me afastar dele. Sua boca
mordia cada milímetro da minha pele, sua língua explorava cada detalhe
meu, enquanto do seu colo eu não conseguia mais me afastar.

Em toda guerra tem uma trégua momentânea, certo?


Capítulo 18
Mohamed

Segui com a Ísis no colo para o nosso quarto. Estava louco para pegar
ela de jeito na nossa cama.

— Vamos molhar o chão todo, Mohamed! — Ela alertou enlaçando meu


pescoço com seus braços, me dando uma visão privilegiada dos seus
deliciosos seios próximos do meu rosto. Coloquei ela na cama e arranquei a
minha camisa molhada pela cabeça. — Os lençóis também.

— Depois mando secarem tudo, ou se preferir, compro um novo quarto


para você. — Falei me livrando da minha calça e seguindo para cima dela.

Ela voltou a me abraçar quando nossos corpos se uniram em brasa,


nossas bocas se encaixaram em um beijo intenso. Mordi seus lábios e a
puxei mais para a beirada da cama.

Quando eu vi Ísis se tocando na banheira, apertando os lábios tão


gostosos e gemendo baixinho, simplesmente enlouqueci, perdi totalmente o
controle das minhas ações. Era demais para mim aquela visão. Puxei ela
novamente para sentar em meu colo, gostei dessa posição dela por cima.
Além de parecer mais confortável para ela controlar os movimentos, ainda
me dava a visão privilegiada do seu corpo. Era maravilhoso ver seu olhar
tímido desaparecendo e no lugar entrando uma mulher ansiosa por mais.

Estávamos exaustos, já havíamos chegado juntos ao ápice na banheira,


mas eu queria mais. Eu queria tudo.
— Tão perfeitamente apertada! — Murmurei louco de tesão e ela jogou
a cabeça para trás.

Segurei firme em seu cabelo, puxando mais para mim. Estava


especialmente tarado pelos seus beijos quentes. Queria marcar sua boca.
Depois deslizei pelo pescoço fazendo questão de chupar com força
refazendo todas as marcas que estavam desaparecendo em sua pele. Ela
cravou as unhas nas minhas costas também me marcando sensualmente.

Aumentei um pouco o ritmo, ela não reclamou, gemeu falhadamente.


Estava fraca pela proximidade do orgasmo. Deitei ela na cama e tomei a
posição por cima, estocando devagar.

— Mohamed…

— Isso, minha princesa, geme o meu nome! — Mandei apertando seus


seios, enchendo as minhas mãos.

Era tão maravilhosamente perfeita que me fazia desejá-la cada vez


mais, entretanto, permaneci indo com cuidado até explodirmos juntos
novamente.

— Mohamed! — Suspirou de olhos fechados e eu sorri beijando a boca


dela enquanto a preenchia completamente com meu gozo mais uma vez.

✽✽✽

De tarde fui obrigado a comparecer novamente ao escritório, os


fluxogramas estavam se acumulando e eu não conseguia arrumar uma
solução para o problema. Khashif deixou o cargo em péssima hora.

Saí mais uma vez frustrado do escritório e segui para o meu carro
parado próximo ao prédio. Porém, no meio do caminho encontrei com Zeki
e Aslan, amigos de longa data.
— Mohamed! — Aslan me reconheceu primeiro e me abraçou saudoso.
Cumprimentei animado abraçando calorosamente Zeki também.

— O que fazem por aqui?

— Estamos indo ao Nile Maxim. — Zeki respondeu se referindo ao


restaurante luxuoso flutuante com atrações ao vivo. — Tem uma nova
dançarina do ventre lá e vamos conferir.

— Fazem muito bem!

— Por que não vem conosco? — Aslan convidou e eu neguei com a


cabeça.

— Prometi à minha esposa que iríamos jantar, juntos. — Respondi e os


dois riram alto.

— Quem te viu, quem te vê! Nem parece mais o velho Sheik, o príncipe
das dançarinas ocidentais. — Zeki zombou e eu dei de ombros.

— Novas prioridades, meu caro.

— Sah! Está certo. Foi uma festa belíssima de casamento por sinal! —
Aslan elogiou e eu assenti.

— E uma belíssima esposa também. Escolheu muito bem! — Zeki


comentou balançando as sobrancelhas de forma sugestiva. Assenti sério e
os dois riram cúmplices.

— Não precisa ter ciúmes, irmão.

— Não estou enciumado. — Rebati prontamente. — Nos vemos


depois?

— Ah! Que isso, Mohamed! Vamos ao restaurante! A dançarina é


ocidental como você gosta. — Zeki insistiu e eu engoli em seco lembrando
de Ísis e sua relutância em dançar para mim.
— Vamos logo! Sua esposa entende que você precisa sair com os
amigos. — Aslan chamou puxando o meu braço.

— Ela tem que entender. — Zeki pontuou.

— Fica para a próxima.

— Vamos lá, homem, além disso, temos um assunto importante para


tratar sobre negócios.

— Que negócios?

— Vamos até lá e te diremos. — Aslan respondeu e eu respirei fundo.

— Ok. — Acabei cedendo.

Seguimos para o meu carro e meu motorista nos guiou para o


restaurante desejado. O lugar estava repleto de pessoas, todas ansiosas para
ver o show de dança do ventre. Pedimos chás gelados e nos sentamos em
um lugar privilegiado para assistir a apresentação.

— Sobre que negócios vocês querem falar? — Questionei interessado.

— Dizem que as ocidentais são quentes na cama! — Aslan comentou


baixo e Zeki riu. Olhei confuso de um para o outro. — Relaxa, amigo!
Apenas queríamos que você curtisse um pouco a noite. Você não quis fazer
uma despedida de solteiro antes do casamento. Então faz de conta que essa
noite é uma despedida.

— Eu não estou solteiro. — Cortei secamente.

— Mas a dançarina não sabe disso. — Zeki insistiu e eu revirei os


olhos.

Logo as luzes mudaram e uma música começou a tocar. Uma bela


morena vestida de odalisca girou pelo salão com seu véu púrpura da mesma
cor da roupa. Ela começou a dançar animada e todos bateram palmas no
ritmo da música.
De repente ela seguiu na direção da nossa mesa e me convidou para
levantar. Meus amigos vibraram com o convite, tentei negar educadamente,
mas ultimamente ninguém tem respeitado o que eu digo. Ela permaneceu
dançando na minha frente, porém, a encarei fixamente me sentindo
estranho. Toda vez que ela me olhava eu via o rosto de Ísis. Era como se
fosse uma miragem. Eu via claramente minha esposa dançando na minha
frente. Provavelmente estava ficando louco de vez.

Balancei a cabeça tentando ver o rosto da mulher, mas não consegui.


Somente Ísis aparecia na minha mente. Isso me deixou incomodado.

A apresentação perdurou com belíssimas coreografias, entretanto, a


minha mente estava na minha casa. Pedimos mais chá gelado e também
pedimos comida. Zeki puxou assunto contando sobre a corrida de camelos
da próxima semana. A noite já estava no fim quando nos despedimos e eu
segui exausto para casa.

Entrei silencioso e segui direto para o quarto, me deparando com Ísis


deitada na cama de braços cruzados.

— Ainda acordada, minha princesa? — Questionei e ela me olhou


irritada.

— Onde você estava? — Perguntou severa.

— Encontrei com meus amigos e saímos juntos. — Expliquei vendo ela


sentar na cama.

— Esperei você para jantar. — Avisou e eu deitei ao lado dela, me


aproximei inalando seu perfume e ela me afastou bruscamente.

— Perdão, princesa! Acabei ficando mais tempo que deveria. O que


está fazendo?

— Eu vou dormir. — Respondeu emburrada me deixando confuso.

— Vou tomar banho. Vem comigo?

— La. Eu não quero.


— Então me espera tomar banho? — Pedi malicioso e ela me olhou
irritada.

— Não quero nada com você hoje.

— Você não pode me negar, sou seu marido. — Rebati irritado e ela me
fulminou com o olhar.

— Se fosse meu marido estaria ao meu lado e não na rua até essa hora.

— Eu estava com meus amigos. Juro que não foi nada de mais. —
Repeti me aproximando e ela me empurrou de novo. — Não me provoque
que arrumo uma segunda esposa para satisfazer meus desejos! — Ameacei
e ela me olhou petulante.

— Arrume e eu ganho o direito de me divorciar mesmo se você não


quiser me dar o divórcio.

— E por que você faria isso? Vai jogar sua sorte no vento por causa de
uma noite?

— Não é uma noite. São várias. Sei que os homens casados são livres
perante a sociedade para ficar na rua até quando bem entenderem, fazendo
somente Alá sabe o quê. Mas eu não aceito isso vindo do meu homem. —
Falou indignada e um sorriso sarcástico tomou conta dos meus lábios.

— Seu homem?

— Me expressei mal. Meu marido. — Tentou consertar, mas era tarde


demais.

Ri observando seu lindo rosto ficar vermelhinho, ainda mais brava.


Levantei, segui para um banho rápido, me vesti e deitei na cama ao seu
lado. Cobri os meus olhos com o braço e continuei rindo a ouvindo respirar
fundo, furiosa.

Era uma delícia ouvir ela me chamar de "meu homem''. Porque no final
das contas, era mesmo o que eu era.
Capítulo 19
Ísis

Acordei inexplicavelmente com a cabeça sobre o peito dele. Era como


se no meio da cama tivesse um campo gravitacional que nos puxava um
para o outro, nos fazendo dormir abraçados. Me afastei rapidamente
tomando cuidado para tirar seu braço enlaçado na minha cintura sem
acordá-lo.

Olhei furiosa para ele. Ainda não podia acreditar que ele decidiu em
plena lua de mel me deixar plantada em casa para sair com os amigos. Alá,
Alá! Odeio a liberdade que os homens têm de fazer o que bem entenderem,
enquanto nós, mulheres, somos obrigadas a ficar esperando eles em casa.
Isso não é justo.

Após o café da manhã, feito em completo silêncio enquanto Mohamed


insistia em me olhar com seu ar irritante de deboche, ele seguiu para o
escritório e se trancou lá. Sentei no sofá da sala de estar e fiquei pensativa.
Ele pareceu incrivelmente satisfeito com o que eu disse sem querer durante
a nossa discussão na noite anterior.

Eu sinceramente não sei como pude falar aquilo, as palavras


simplesmente escaparam da minha boca sem que eu pudesse controlar.
Jamais diria voluntariamente sabendo que isso inflaria o ego supremo do
meu Sheik prepotente.

De repente ouvi um baque muito forte no escritório e levantei


rapidamente indo até ele, preocupada.
— O que houve? — Perguntei ao abrir a porta e ver papéis espalhados
por toda parte, enquanto Mohamed estava com a mão tapando o rosto,
visivelmente furioso.

— Eu não consigo resolver esse inferno! — Apontou para o notebook e


eu me aproximei cautelosamente dele.

— Me deixa te ajudar, seu cabeça dura! Eu já disse que sei fazer isso.

— Bismillah! Será que você não entende, Ísis? Uma mulher não pode
fazer isso. — Insistiu e eu revirei os olhos.

— Será que você não entende que se não me deixar te ajudar vai levar
prejuízo? — Confrontei o olhar dele cruzando os braços.

— La! Nem pensar! — Falou balançando a cabeça.

— Mohamed…

— Eu já disse que não! — Rebateu convicto. Respirei fundo, porém,


não saí do pé da sua mesa. — Volte para a sala!

— Nem pensar. Quero ver meu ilustre marido trabalhando. — Ironizei e


ele me olhou furioso.

— Ísis, eu não estou com a mínima paciência para suas teimosias hoje.

— Nem eu para as suas. Mohamed, o fato de ter nascido mulher não


altera em nada o meu QI. Existem poucas diferenças anatômicas em nossos
corpos, mas os nossos cérebros não são uma delas, eles são exatamente
iguais. Têm a mesma capacidade de aprender as coisas que vocês homens
têm.

Ele permaneceu me encarando. Ponderou sobre o que eu disse por um


longo instante.

— Sah! — Concordou incerto e apontou para o computador. — Vamos


testar para ver o que você consegue fazer!
— Finalmente! — Falei animada e ele me puxou para sentar no colo
dele e segurou firme a minha cintura.

Estremeci com a barba dele roçando no meu ombro e tentei me


concentrar no notebook à minha frente. Ele foi me explicando dado por
dado e eu fui montando o diagrama de acordo com a necessidade de seus
negócios. Demorou bastante, pois eram muitos dados acumulados e quando
finalmente terminei de montar tudo ele me olhou boquiaberto.

— Eu não acredito que você sabe mesmo fazer isso.

— Eu te avisei mil vezes que poderia resolver a situação, porém, é mais


fácil convencer um camelo do que você. — Zombei me virando para ele e o
olhando nos olhos.

— Como se você fosse fácil de convencer também. — Rebateu irônico


abraçando a minha cintura.

— Sah! Está certo, nós dois somos teimosos. — Respondi e ele beijou
meu queixo.

— Será que você consegue cuidar das tabelas dos meus relatórios
quinzenais também?

— Consigo. É só me dar todos os dados, posso fazer os relatórios


também se preferir.

— Você é incrível, Ísis! — Comentou surpreso.

— E só agora você descobriu isso? — Ironizei e ele sorriu acariciando o


meu rosto.

— Bom, já que tivemos uma trégua, dança para mim?

— Quem disse que isso é uma trégua? — Ironizei e ele me olhou muito
sério.

— Dança para mim, Ísis! — Pediu com a voz carregada de desejo me


abraçando. — Por favor!
— Eu danço. — Aceitei sentindo os braços dele me apertarem ainda
mais. Ele beijou a minha boca lentamente como se quisesse me torturar
psicologicamente. Depois se afastou e me empurrou sutilmente me fazendo
levantar de seu colo.

— Tem uma roupa para você no closet. — Avisou ofegante.

Concordei com a cabeça. Segui para o quarto com ele no meu encalço.
Procurei a roupa no meio das minhas coisas e me deparei com uma linda
roupa branca de odalisca. Segui para o banheiro e me vesti gostando do
resultado na frente do espelho.

Quando voltei para o quarto, notei que Mohamed já havia colocado uma
música e estava sentado em nossa cama me olhando fixamente, ansioso à
minha espera.

Peguei o véu também branco e girei fazendo ele planar no ar. Balancei
meus quadris para um lado e para o outro encaixando com o ritmo da
música. Me aproximei dele, sorrindo satisfeita ao notar seu olhar
hipnotizado por mim, ele nem sequer piscava. Isso me inspirou a virar de
costas para ele, exatamente como em nosso casamento e rebolar devagar.
Levantei meus cabelos para que ele pudesse ver melhor os movimentos
sinuosos dos meus quadris, e então virei novamente em sincronia com as
mãos, dancei atraindo totalmente seu olhar. Eu podia sentir a força que ele
estava fazendo para não levantar e me agarrar. Exatamente por isso
provoquei ainda mais, dançando mais próximo dele.

Ondulei meus quadris para um lado e para o outro e ele não resistiu
agarrando a minha cintura e beijando a minha barriga. Ri me afastando dele
e fazendo movimentos com as mãos o chamando para participar do show.
Ele levantou e seguiu rapidamente até mim, abriu os braços e eu fiquei de
costas para ele. Encaixei nossos corpos e desci lentamente me esfregando
em seu corpo quente. Suas mãos voltaram a apertar minha cintura e eu sorri
quando ele puxou meu cabelo, tendo total acesso ao meu pescoço.

— Quer me deixar louco, Ísis? — Perguntou com a voz rouca no meu


ouvido e eu sorri maliciosa ainda rebolando bem lentamente, sentindo seu
volume crescer atrás de mim.
Ele iria me pagar caro por ter saído na noite anterior. Deslizei devagar e
me afastei rodopiando fazendo minha saia esvoaçante planar.

Subi na nossa cama e dancei provocante, Mohamed ameaçou subir atrás


de mim e eu corri para a cabeceira.

— Vem aqui, Ísis! — Pediu e eu apoiei na parede dançando e tocando


no meu corpo. — Anda! Eu preciso de você.

— Não acha que precisa mais dos seus amiguinhos? — Ironizei e ele
semicerrou os olhos.

— Pensei que já não estivesse mais irritada com isso.

— Você me deixou para ficar com eles, Mohamed. — Respondi furiosa


e ele subiu na cama, me agarrou me deitando bruscamente no colchão e
deitando em cima de mim.

— Eu nunca mais caio na besteira de trocar sua companhia por


absolutamente ninguém, Ísis. — Falou olhando nos meus olhos. Senti meu
coração bater mais forte e ele subiu as mãos pelo meu rosto, pousando uma
em cada bochecha. — Nenhum lugar tem graça sem você, minha princesa
indisciplinada.

Ele parecia sincero me olhando nos olhos. Suas mãos então desceram
pelo meu corpo esquentando a minha pele e sem que eu pudesse evitar me
beijou ardentemente me tirando do chão.
Capítulo 20
Ísis

Mohamed precisou passar a manhã no escritório, para resolver a


questão da viagem do time para uma disputa importante. Fiquei em casa
tentando esconder as novas marcas roxas que tinha por todo o meu corpo,
senão os empregados pensariam que ele estava me agredindo, mas, na
verdade, ele só estava me devastando com seu toque bruto.

Por Alá! Como eu podia gostar tanto disso? Eu não sabia explicar.

Terminei de me arrumar e desci para o primeiro andar, encontrando


Layla aflita no meio do caminho.

— Senhora! Ligaram da casa dos seus pais! — Avisou e eu arregalei os


olhos.

— O que aconteceu?

— Apenas disseram que era para a senhora ir imediatamente para lá. —


Respondeu fazendo meu coração acelerar no peito.

— Bismillah! Alá não permita que tenha acontecido alguma tragédia!

— Devo mandar o motorista preparar o carro? Ele está tomando café.

— Não precisa, vou de táxi mesmo. — Falei e ela arregalou os olhos.

— O senhor Mohamed não vai gostar disso, princesa.


— Primeiro: me chama de Ísis, lembra? E em segundo lugar: ele não
tem que gostar de nada. — Respondi e ela me olhou surpresa. — Não conta
para ele. Quando eu chegar, explico tudo.

Ele não me dava explicações exatas do que fazia com os amigos. Agora
teria o troco. Peguei meu lenço e corri rapidamente indo para a rua. Por
sorte um táxi passava bem na hora e parou para mim.

Entrei aflita e dei o endereço da minha ex casa. O homem comentou


vagamente sobre a beleza da minha festa de casamento que saiu em todas as
mídias do país e eu apenas assenti. A minha mente preocupada estava
orando para que nada de mal tivesse atingido a minha família.

Paguei o motorista assim que paramos na frente da casa, e corri


loucamente pela calçada até entrar como um furacão pela porta.

— O que aconteceu? Todos estão bem? — Questionei ofegante e meus


pais me olharam confusos.

— O que faz aqui, querida? Chegou em ótima hora! — Meu Ab falou


me abraçando e eu estranhei.

— Como o que faço aqui? Ligaram para minha casa dizendo que algo
urgente estava acontecendo. — Expliquei e meu pai franziu a testa, então
minha mãe acenou para minha irmã.

— Só pode ter sido coisa da Sumaya.

Olhei para trás e vi minha irmã correr em minha direção com um sorriso
estampado de orelha a orelha.

— Fui abençoada! — Gritou saltitante e pulou me abraçando apertado.


— Vou me casar também!

— Alhamdulillah! — Agradeci a Alá. — Que susto você me deu. Ainda


bem que é isso! Nunca mais me assuste assim!

— Desculpa! Estou tão feliz! Precisava comemorar com minha querida


irmã. Olha para mim! Também serei uma noiva em breve. Não uma
princesa como você, mas, ainda assim, uma noiva.

— Você é a minha princesinha. — Falei dando um abraço apertado nela.


— Espero que seja imensamente feliz, querida! Afinal de contas é a
realização do seu sonho.

Ela assentiu e olhou para os nossos pais, então se aproximou


sussurrando no meu ouvido: — Você está feliz com o Sheik?

Engoli em seco. Se eu estava feliz? Alá, eu não sabia responder a isso.


Assenti e minha mãe sorriu me puxando pela mão.

— Também quero abraço! — Reclamou e eu a abracei forte, morrendo


de saudades dela.

— Vamos comemorar! Nossas preciosas filhas estão bem encaminhadas


na vida. — Meu pai comentou e minha mãe concordou.

— Vou preparar um karkadeh!

— Eu ajudo. — Minha irmã e eu falamos ao mesmo tempo, fazendo


todos rirem.

Enquanto Sumaya e eu separamos as pétalas de flor de hibisco, meu pai


fez inúmeros planos para o casamento da minha irmã que estava nas
nuvens, e minha mãe comentou sobre vestidos de noiva. Todos estávamos
eufóricos, minha irmã até decidiu chamar nossas amigas em comum para
espalhar a notícia.

— Vai ficar mais um pouco? — Sumaya perguntou com expectativa.

— Claro. Vou ficar até o final. Hoje é dia de festa. É o seu dia!

— Seu marido não vai se importar de você ficar festejando com as


meninas? — Minha mãe perguntou preocupada.

— La. Claro que não. Tenho certeza que ele irá me compreender. —
Respondi maliciosamente.
Ter perdoado não significava que eu tinha esquecido. Agora ele sentiria
na própria pele o que passei enquanto ele estava com os amiguinhos dele.

Dancei a tarde inteira até o início da noite com as meninas. Rimos e


jogamos muita conversa fora.

— Cá entre nós. — Zafira disse olhando em volta, se certificando de


que meus pais não estavam presentes. — Como foi a noite de núpcias?

Olhei sem jeito para elas que esperavam minha resposta, visivelmente
curiosas, principalmente Sumaya.

— Foi incrível! — Respondi baixo e todas cobriram as bocas para


abafar os risos. — Mohamed me levou ao céu.

— Tomara que Said seja assim também. Inshallah! — Sumaya almejou


animada me fazendo rir.

Eu duvidava fortemente que existisse outro homem com o desejo voraz


de Mohamed.

Elas continuaram me perguntando várias coisas, me deixando


constrangida, respondi na medida do possível deixando as mentes delas
provavelmente em chamas. Mais tarde me despedi de todas, principalmente
de minha irmã, a parabenizando mais uma vez. Era realmente satisfatório
ver o sorriso dela. Torci mentalmente para que Said fosse um bom marido e
pudesse ser como ela sempre sonhou. Minha irmã merece toda felicidade do
mundo.

Depois de despedir dos meus pais pedi um táxi.

✽✽✽

No momento em que entrei em casa avistei Mohamed parado no meio


da sala, estava com as mãos no bolso da calça, visivelmente furioso.
— Onde você estava? — Perguntou entredentes e eu dei o meu sorriso
mais cínico possível.

— Com as minhas amigas.

— Isso são horas de chegar em casa? Sabe o quão perigoso e


irresponsável é andar sozinha à noite? Como você saiu sem minha
permissão? Nem sequer levou o motorista com você. Por acaso esqueceu
que é uma mulher casada? — Me bombardeou de perguntas e
recriminações. Continuei sorrindo calmamente. Tirei meu lenço soltando
meus cabelos.

— Eu não me esqueci que sou casada. Por acaso quando saiu com seus
amigos você esqueceu que era casado? — Perguntei desconfiada e ele deu
dois passos parando exatamente na minha frente.

— Eu pensei que já tínhamos encerrado esse assunto.

— Agora sim encerramos, pois finalmente estamos quites. — Expliquei


e ele olhou furioso nos meus olhos.

— Não tente medir forças comigo, Ísis!

— E por que não? — Questionei o encarando também.

— Vai jantar! — Ordenou ignorando a minha pergunta e eu dei ombros.

— Eu já jantei. Já bebi e dancei muito também. — Contei rodopiando e


ele segurou firme em meus braços. — Viu como é bom?

— Você está proibida de fazer isso de novo.

— Eu só farei se você fizer. — Desafiei e ele respirou fundo.

— Alá, me dê paciência para lidar com essa mulher! — Implorou e eu


sorri ficando nas pontas dos pés e dando um selinho nele.

— Aqui se faz, aqui se paga, senhor meu marido. — Avisei e corri


escada acima para ir para o nosso quarto.
Ouvi passos rápidos atrás de mim e em questão de segundos ele me
alcançou e segurou o meu braço me puxando para ele.

— Com quem você estava?

— Por que não me diz com quem você estava quando saiu também? —
Devolvi a pergunta e ele começou a andar comigo até eu sentir minhas
pernas baterem no colchão e eu sentei.

— Ísis…

— Se quer saber, me diverti muitíssimo. — Provoquei e ele segurou


meu queixo.

— Você está incrivelmente atrevida hoje.

— Você me quis assim, não foi? Agora aguenta. — Retruquei rindo e


ele me olhou sério.

— Tenho uma ideia melhor. — Comentou misterioso e eu arqueei a


sobrancelha, intrigada. — Vamos voltar para as punições.

— E você vai fazer o quê? Posso saber? Não vai mais me tocar? Como
se fosse aguentar isso. Você não suporta um dia sem mim. — Zombei e ele
me olhou fixamente, soltando o meu rosto.

— Não suporto mesmo. — Revidou e eu pisquei sem jeito. Jamais


imaginei que ele fosse concordar com a minha provocação. — Embora você
não facilite as coisas para mim.

— Eu não facilito as coisas? Você sai e me deixa sozinha…

— Fui com o Aslan e Zeki no restaurante Nile Maxim. Assistimos o


show de uma odalisca. — Contou de uma vez e eu o olhei incrédula.

— E você me diz isso nessa calma?

— Sim. Sabe por quê? Porque ela não me interessa. Nenhuma outra
mulher me interessa nesse mundo. Eu te pedi em casamento, Ísis, isso
significa que quero apenas você. Mas você parece não me querer. Parece
querer brigar a todo instante por qualquer motivo.

— Qualquer motivo, Mohamed? Acharia justo eu sair e te deixar


sozinho na lua de mel?

— La. Não acharia. Por isso te pedi desculpas, por isso estou te
contando que independente de ter visto aquela mulher dançando a minha
mente estava aqui contigo. Era você que eu queria que dançasse para mim.
É você que quero.

— Não é tão fácil assim ouvir que meu marido ficou vendo outra
dançar. — Murmurei incomodada e ele tocou meu rosto.

— Ísis, por Alá, você é única para mim. Não precisa ter ciúmes disso.

— Não estou com ciúmes. — Murmurei e ele respirou fundo. — Jamais


teria ciúmes de você.

— Por que não? Você não… Gosta de mim? — Questionou ficando


severamente sério.

— Eu não quero falar sobre sentimentos.

— Pensei que você tinha aceitado se casar comigo porque se sentia


minimamente interessada… — Pareceu confuso.

— Eu me casei para que minha irmã pudesse se casar e realizar o sonho


dela. Meu pai é muito rigoroso nas tradições. A filha mais nova só pode se
casar depois da mais velha. — Contei e ele piscou nervoso. Sentou na cama
e passou a mão pelo rosto, visivelmente decepcionado. — Olha, você não
pode me cobrar nada, nem sequer me perguntou se eu queria casar.

— Mas seu pai disse que você esperava pelo meu pedido!

— Meu pai o quê? — Questionei incrédula e ele suspirou. — Eu não


esperava coisa nenhuma. Nunca fui consultada sobre isso.
— Bem que eu achei confuso você esperar meu pedido e me tratar
daquela forma ao mesmo tempo.

— Não creio que meu Ab fez isso. Ele não devia ter interferido.

— Tarde demais!

— Por Alá, eu te odiei tanto! Achei que estava me impondo o


casamento.

— Eu jamais faria isso. Posso não ser o homem dos seus sonhos, mas
também não sou um monstro para obrigar uma mulher a se casar comigo.

— Pois eu achei que fosse. — Confessei envergonhada.

— Se você não me queria como noivo, por que não protestou?

— Porque tive medo de você contar sobre nossa discussão na ponte.


Meu pai não sabia que eu saía sozinha. E também jamais me perdoaria por
ter afrontado alguém como você. Ele é um homem muito sistemático,
jamais aceitaria que eu não fosse perfeita. Além do mais, se você
reclamasse de mim para outras pessoas, poderia atrapalhar o futuro da
minha irmã.

— No final das contas, você se casou basicamente por causa dela?

— Sim. — Respondi sem jeito e ele abaixou a cabeça.

— Então quando a sua irmã se casar, nos separamos. — Avisou e eu


arregalei os olhos.

— Espera, o quê?

— Eu não vou te manter presa em um lugar onde você não quer estar.
Não se preocupe, cumprirei tudo que está no contrato. Você não ficará
desamparada financeiramente. — Respondeu sem me olhar. Sua voz
parecia embargada, como se estivesse prestes a chorar.
— Mohamed? Como assim? Agora depois de tudo você quer o
divórcio?

— O que você quer, Ísis? Me diga! O que você quer, afinal? É me


enlouquecer? Porque, se for isso, parabéns, você conseguiu. Sabe por quê?
Quando fui naquele maldito restaurante, meus amigos me encheram para
ficar com a dançarina e eu não fui capaz nem sequer de ver ela dançar. Pois
eu olhava para ela e via você. Sei que devia ter vindo embora o quanto
antes, mas eu apenas queria que essa sensação passasse. Só queria parar de
ver você para onde olho, porque eu sei que você não me vê.

— Eu não sei nem o que dizer. Não imaginava que você estava se
sentindo assim.

— Claro que não imaginava, estava ocupada sendo mal-educada como


sempre. — Revidou amargo e eu segurei uma risada.

— Desculpa, Mohamed! Confesso que tenho agido muito a ferro e fogo


com você, mas não suporto sua mania de controle. Não suporto que tentem
me dizer o que fazer. A vida inteira meu pai fez isso comigo. Quero apenas
liberdade. Mereço ela.

— Eu aprecio o que você quer, mas sabe como esse mundo é nojento e
cruel? No dia que te vi na ponte. Lembrei… — Parou de falar fechando os
olhos com força.

— Lembrou do quê? — Questionei preocupada.

— Não importa. Nada mais importa. Vamos manter nosso casamento de


aparências até que sua irmã se case. Você não precisa se sacrificar por ela.
— Rebateu magoado.

— Sumaya vai se casar em breve. Hoje… fizemos uma festa pelo


pedido da mão dela. — Contei e ele secou uma lágrima rapidamente, mas
que eu consegui ver rolar.

— Tudo bem. Então isso tudo terminará antes do que eu imaginava. —


Falou levantando da cama e eu segurei a mão dele.
— Espera! Isso não precisa terminar, Mohamed.

— Eu sei que sou um idiota na maior parte do tempo, Ísis, mas fiz tudo
que estava ao meu alcance por você. E percebi que isso não é suficiente. Se
ao menos você tivesse se casado comigo por vontade própria… Mesmo que
fosse para me desafiar, para ter o prazer de me contrariar como você sempre
fez, mas não. Você nem sequer queria estar comigo.

— No início eu realmente não queria estar aqui, porém, agora que


estou… — Deixei no ar e ele me olhou confuso.

— Como assim?

— Você finalmente está me mostrando quem é de verdade sem tentar


me impressionar. Finalmente está mostrando o que pensa, Mohamed.

— E isso significa o que exatamente?

— Que podemos tentar fazer dar certo. Sem jogos, sem provocações e
sem punições. Sem nada disso.

— Isso é impossível. Tem noção do quão linda você fica quando eu te


provoco? — Questionou e eu sorri balançando a cabeça.

— Você não tem jeito. — Falei e ele abaixou a cabeça. — Mas eu gosto
disso também. — Confessei e ele pareceu completamente surpreso. — Ok.
Eu aceito a sua última punição antes do tratado de paz.

— Você está dizendo que… Mesmo depois que Sumaya casar…

— Permanecerei casada com você, Mohamed. Porque o início pode ter


sido pela irmã, mas agora é por mim. Vejo que você não é o homem sem
coração que eu achei que fosse. Por isso quero ficar aqui. E quero tentar
uma vida com você.

— Minha princesa! — Murmurou abaixando e beijando suavemente


meus lábios. — Não sabe o quanto me alegra ouvir isso!
— Mas para isso dar certo essa punição será a sua última. — Avisei e
ele sorriu ironicamente.

— Você vai gostar tanto que provavelmente repetirá sempre.

— Duvido muito. O que você tem em mente?

— Bom, como você foi uma mulher muito atrevida nesses últimos dias,
pensei em um jeito de manter sua boca bem ocupada para assim você parar
de dizer tanta má-criação. — Respondeu abrindo o zíper da calça e eu
arregalei os olhos.

— O que está fazendo? — Questionei confusa ao ver ele tirar o membro


e se tocar brevemente.

— Lembra o que fiz com você na nossa noite de núpcias? —


Questionou e eu assenti sem conseguir desviar o olhar da mão dele que
segurava tão próximo do meu rosto. — Agora você vai fazer semelhante.
Só que engolindo.

— Engolir? Está louco? — Rebati apreensiva e ele me lançou um olhar


mais terno.

— Se cabe tanta má resposta então me cabe também. — Respondeu e


eu engoli em seco. — Cadê a mulher corajosa que estava me enfrentando há
poucos minutos? Eu te avisei no nosso noivado que você não podia medir
forças comigo, Ísis.

— Quem disse que não? — Ironizei tomando coragem e tocando nele.

Ele sorriu malicioso e eu não sei o porquê, mas isso me deixou


incrivelmente excitada também.
Capítulo 21
Mohamed

Por muito tempo imaginei sua boca em mim, e depois dela me tirar
tanto do sério foi a ocasião perfeita.

Ela não sabia o que fazer, era tão dolorosamente inocente que fazia meu
membro latejar em suas delicadas mãos que me acariciavam timidamente.

Ela parecia assustada, eu diria até que apreensiva com a minha rigidez
apontada para seu rostinho lindo. Pincelei a ponta dele levemente em seus
lábios macios e como por instinto ela lambeu me olhando nos olhos. Foi
como se uma flecha de fogo tivesse atravessado meu peito, roubando a
minha respiração.

Suspirei pesadamente tentando controlar as sensações que percorreram


meu corpo. Só a imagem dela ali, passando sua doce língua em toda a
minha extensão já me deixava maluco. Senti o calor e a umidade aumentar
quando ela abriu a boca devagar e me deixou invadir lentamente seu
interior.

Segurei firme seu cabelo em um rabo de cavalo improvisado e a olhei


fixamente nos olhos.

— Abre mais a boca! — Ordenei e ela franziu a testa, provavelmente


contrária às minhas ordens. — Tarde demais para querer discutir. Isso só vai
aumentar o seu castigo. — Avisei e ela fechou a boca ao redor do meu
membro e eu engoli em seco.
Que visão era essa? Seus lábios e língua eram obras de arte vivas,
itinerantes e insubstituíveis. Eu definitivamente iria querer fazer isso mais
vezes.

— Pode usar a língua, mas cuidado com os dentes. — Expliquei e ela


passou a subir e descer a língua em todo o comprimento me deixando ainda
mais excitado, se é que isso era possível.

Suas mãos delicadas me acariciam lentamente em um carinho


vertiginoso. Ela distribuiu beijos por todo meu membro e então sugou
novamente me fazendo gemer.

— Eu… Preciso que você respire apenas pelo nariz. — Avisei e ela me
olhou confusa.

Mesmo assim obedeceu e foi quando eu lentamente comecei a entrar


mais profundamente em sua boca. Saí um pouco para que ela respirasse
melhor e repetimos o ato. Passei a entrar e sair atingindo sua doce garganta.

Puxei seu cabelo com força, a fazendo engolir mais e ela engasgou me
fazendo gemer. Era muito excitante ouvir isso.

— Desculpa, querida!

Voltei a entrar nela e depois de mais três tentativas ela conseguiu me


aceitar melhor. Bombei devagar, indo e vindo em sua garganta, puxando seu
cabelo e calando finalmente seu atrevimento. A ouvi gemer, notei que
apertava uma coxa na outra, visivelmente excitada também, me deixando
ainda mais louco de tesão. Bombei mais forte e ela engasgou de novo quase
me fazendo gozar.

Saí de sua garganta e a deixei brincar um pouco com meu membro.


Mesmo sem ter a mínima consciência que era onde me dava mais prazer ela
chupou forte ali me fazendo fechar os olhos. Sua doce língua brincou me
lambendo como se eu fosse um sorvete. Com dificuldade abri os olhos e
notei que os dela já não estavam tão inocentes mais, pois ela me olhava
divertida, notando o quanto aquilo estava acabando comigo.
Ísis aumentou a intensidade sugando o meu eixo e eu arfei sentindo meu
sangue correr quente e grosso nas veias. Minha respiração ficou
descompassada e eu já não conseguia mais me controlar.

— Ísis… Eu vou gozar. — Avisei com a voz vacilante e apertei minha


mão em seu cabelo a mantendo ali.

Bombei mais duas vezes e explodi em sua boca, sentindo meu corpo
pesar e tremer intensamente. Meu peito subiu e desceu deixando a
respiração entrecortada. Ísis passou a língua pelos lábios molhados com
uma expressão ainda confusa.

A inocência dela ainda iria me matar. Certeza.

Me ajoelhei e levantei sua saia, notei a calcinha completamente


molhada e sorri malicioso a olhando nos olhos.

— Parece que alguém também gostou do castigo. — Ironizei e ela


fechou a cara me fazendo rir. — Eu disse que você gostaria. Jamais faria
nada que não te agradasse na cama.

Me inclinei e por cima do tecido da calcinha lambi seu néctar


libidinoso. Ísis suspirou segurando meus cabelos e puxando mais meu rosto
para o centro de suas pernas.

Segurei firme em suas coxas e me deleitei com sua excitação.


Lambendo lentamente em movimentos circulares e depois subindo e
descendo pelo vale de suas coxas.

— Mohamed… Por favor! — Ela implorou me fazendo sorrir.

— Eu disse para não medir forças comigo, minha princesa. — Ironizei


sentindo os dedos dela nos meus cabelos.

Beijei apaixonadamente a sua intimidade bem devagar, puxando


levemente a calcinha com os dentes e a soltando logo depois. Ísis fechou as
coxas ao redor do meu pescoço e deitou as costas na cama. Ouvi sua
respiração ficar ofegante e permaneci focado no seu centro mais sensível.
Afastei um pouco a lingerie e passei levemente a língua na pele quente para
depois cobrir novamente.

— Mohamed! — Me chamou e eu sorri levantando o olhar. — Por


favor, não me torture assim!

— Quer alguma coisa, Ísis? — Perguntei cínico passando suavemente a


mão em suas coxas.

— Eu quero você, por favor! — Suplicou sôfrega e eu ri vitorioso.

Levantei rapidamente do chão e apenas afastei a lingerie entrando de


uma vez e sendo fortemente apertado pelo seu interior quente. Ísis cravou as
unhas nas minhas costas me abraçando, segurei o rosto dela com as duas
mãos, a olhando fixamente.

Não tinha tempo mais para enrolação, dessa vez não consegui ser tão
calmo como nas vezes anteriores, bombei duro e forte e a puxei para um
beijo, sentindo suas pernas enlaçarem meu quadril.

— Vai continuar sendo uma atrevida, Ísis? — Murmurei estocando cada


vez mais forte a fazendo gemer.

— Sim, senhor. — Respondeu furtando um sorriso dos meus lábios.

Puxei seus cabelos a beijando mais intensamente que antes. Segui


estocando incessantemente até ela abrir os lábios e gemer fraca, chegando
ao orgasmo. Beijei seu queixo e a abracei forte.

— Tenho notado que todos os dias de manhã você tenta fingir que não
dormiu abraçada comigo. — Sussurrei em seu ouvido e ela engoliu em
seco. — Não adianta tentar escapar.

— Eu achei que você… Não tinha percebido.

— Eu percebo tudo. — Respondi e ela mordeu o lábio inferior. — Tudo


relacionado a você, minha princesa.
Capítulo 22
Ísis

Acordei com Mohamed abraçado ao meu corpo, mas dessa vez não
fugi dos seus braços como ele mesmo disse que seria inútil. Observei ele
dormir tranquilo. Era um homem que me despertava tantas emoções
diferentes. Me fazia odiá-lo e querê-lo na mesma intensidade.

Observei seu corpo coberto pelo lençol, estremeci ao lembrar da noite


anterior, de ter ele na minha boca e da sua forma tão rude de me tocar.
Suspirei e saí devagar da cama. Fui preguiçosamente ao banheiro e quando
voltei para o quarto ele já estava acordado. Seu olhar aceso já começava a
me acender também. Ele sorriu de forma maliciosa e seguiu confiante com
sua nudez para o banheiro. Deitei novamente de barriga para cima na cama,
me sentindo fraca. Eu não conseguia resistir ao seu olhar indecente,
obsceno, luxurioso. Também não resistia à forma doce como me chamava
de princesa. Ou como me abraçava. Eu não quis revelar meus sentimentos a
ele, pois fiquei sem jeito de confessar que estava me apaixonando. Ele
provavelmente iria se achar o Sheik das galáxias, por isso decidi que era
cedo para dizer qualquer coisa.

Observei o teto e era como se nele passasse um filme de tudo que tinha
acontecido desde o nosso casamento, me mostrando o quão devassa ele
estava me tornando.

— Pensando na vida, querida esposa? — Mohamed ironizou ao voltar


para o quarto e deitou em cima de mim, me olhando nos olhos.

— Pensando nos caminhos estranhos que a vida segue. — Tentei


responder sem transparecer o quanto sua presença mexia comigo.
Ele rolou deitando ao meu lado e graças à Alá se cobrindo novamente
com o lençol.

— De que caminhos estranhos estamos falando?

— De todos. Todos os caminhos que optamos sem saber onde vamos


chegar com eles. — Expliquei e ele franziu a testa, visivelmente confuso.
— O casamento arranjado, por exemplo, as pessoas se casam sem saber
absolutamente nada sobre a personalidade uma da outra. Não é estranho
formar uma família assim?

— La. Claro que não. É a tradição. — Respondeu prontamente e eu


suspirei.

— Pense da seguinte forma: e se fosse o contrário? Se você não pudesse


escolher sua noiva e fosse escolhido. E se a noiva que te escolheu não fosse
nem de longe digna de seu interesse? As antigas tradições ainda teriam o
mesmo valor para você?

Mohamed pareceu ponderar sobre a minha pergunta, então virou para


mim, apoiando a cabeça no braço sobre o colchão.

— Eu não consigo nem sequer imaginar uma noiva que não seja você.
— Respondeu sério e eu engoli em seco. Ficamos brevemente em silêncio
nos olhando e ele tirou uma mecha do meu cabelo no meu rosto, colocando
atrás da minha orelha. — Se fosse para você escolher um noivo, ainda me
escolheria? — Questionou e eu pisquei incomodada com seu olhar intenso.

— Apesar de todas as nossas diferenças, sim.

Ele desceu a mão contornando a minha bochecha e segurando meu


queixo. Aproximou seu rosto do meu, senti sua respiração pesada, seu olhar
cravado em mim.

— Repete isso, por favor! — Pediu com a voz rouca, estremeci ao sentir
a outra mão puxar minha cintura ao encontro do seu corpo.
— Se eu pudesse escolher, ainda assim escolheria você, Mohamed.
Porque começo a acreditar firmemente que um dia poderemos nos entender.
— Ele sorriu e me beijou calidamente. Sua língua explorou a minha com
fervor e sua mão pressionou minha cintura colando nossos corpos quentes.
Nos afastamos ofegantes e quando eu abri os olhos, ele já me olhava
fixamente. — Posso te fazer uma pergunta?

— Quantas quiser.

— Ontem quando você disse que me viu na ponte, comentou que


lembrou de algo. O que era?

Mohamed rapidamente mudou a expressão serena para uma mais séria.


Até pensei que ele não fosse responder, mas ele respirou fundo e começou a
me explicar:

— Há alguns anos conheci uma turista e o marido dela. Nos tornamos


amigos. Ambos eram jornalistas e tinham planos de fazer matérias sobre o
Egito e como somos uma terra próspera. Porém... Um dia eles pegaram
ônibus juntos. O motorista fingiu que havia dado problema em algo e pediu
ao homem para descer e ajudar. Bem nesse instante ele acelerou e levou a
mulher com ele. E… a violentou. — Contou furioso e eu apertei meus
lábios, enojada. — Ela ficou severamente abalada. Tentei dar todo apoio ao
caso. Desde então me inteirei sobre os casos de estupro no Egito, e
infelizmente têm aumentado muito. Por isso quando eu vi aqueles homens
em cima de você… Pensei que o pior poderia acontecer. Odeio essa
impunidade. Odeio que esses vermes não estejam todos na prisão, longe da
população. Longe de você.

— Que horror tudo isso! — Murmurei extremamente incomodada só de


pensar em tal situação.

— Sim. Eu… Desculpa por ter agido como um idiota com você naquele
dia. Sei que não é sua culpa. Sei que o que você veste não interfere em
nada. Da mesma forma que não interferiu no caso dela. Sei que o problema
está nos estupradores e assediadores. Me perdoa por ter dito aquelas
barbaridades para você. Sinto muito. De verdade.
— Ok, se você entende que independente do que usamos somos alvos,
eu te desculpo.

— Eu sempre soube. Apenas estava nervoso demais naquele dia. Não


me odeie, mas eu quis matar aqueles homens. Eu sei, é errado, mas sinto
um repúdio tão grande. A forma como a jornalista ficou me abala até hoje.
Por isso não aceito esses vermes vivendo em sociedade, minha vontade é de
arrastar com as minhas próprias mãos para a prisão e jogar a chave fora.

— Eu também tenho vontade de fazer isso. É tão ruim essa sensação


permanente de perigo. É tão injusto o mundo ser assim.

— É por isso que eu te peço, por favor, ande com nosso motorista! Não
precisa me dar satisfação para onde está indo, nem me pedir para ir em
lugar algum. Só não vá sozinha. Só ande acompanhada. Por favor, me
promete? — Pediu angustiado. — Sei que não é como se houvesse perigos
em toda esquina, mas vou ficar extremamente preocupado se você sair
sozinha. Por favor!

Infelizmente ele estava certo. Realmente não havia um perigo a cada


esquina, mas era melhor prevenir do que remediar. Me aproximei dele e
beijei levemente seus lábios.

— Tudo bem. Eu prometo. — Respondi e ele pareceu mais aliviado.


Então me abraçou carinhosamente.

— Shukran. — Agradeceu com a voz abafada contra a minha pele. —


Eu não queria ter que te pedir isso. Juro que preferia viver em um mundo
mais seguro ao ponto disso nem sequer ser uma preocupação. Mas
infelizmente a realidade é bem diferente. O mundo está mudando aos
poucos, porém, ainda falta muito para termos uma realidade melhor.

— Sei disso. Apesar de toda evolução na terra, alguns seres


permanecem atrasados em seus conceitos. Infelizmente. Espero que um dia
tudo isso mude.

— Eu também. Sabe, mudando um pouco de assunto, espero que o


reinado do meu irmão mais velho na Arábia Saudita perdure por muitos
anos, mas caso eu tenha que assumir o trono, não vejo ninguém melhor para
ser a minha rainha do que você. — Falou sem se afastar de mim. — Desde
que me entendo por gente, meu pai me ensinou que o que faz um homem
ser indestrutível é ter uma mulher forte do lado.

— Ora, ora, o meu sogro era um homem bastante sábio então. —


Brinquei e ele sorriu.

— Não se engane, ele não era como está imaginando. Era muito mais
rígido do que eu. Foi criado como um guerreiro, e isso era apenas uma
tática de combate. Uma realeza forte e imponente jamais será destruída.

— Você nunca me falou sobre o rei e a rainha. — Comentei e ele se


afastou desviando o olhar. — Como eram?

— Meu pai era um líder nato. Minha mãe também não ficava atrás. Era
a rainha mais enérgica que a Arábia já teve. Tinha pulso firme. Na época do
casamento os súditos até os compararam ao sol e a lua, pois se
completavam.

— Mashallah! Que lindo isso! E eram felizes?

— Extremamente. Mesmo meu pai sendo um homem muito severo,


nunca deixou faltar amor para ela. E ela transbordava amor para nós. Meu
irmão e eu costumamos dizer que ela era nosso anjo em meio ao deserto. —
Contou olhando para o teto.

Dessa vez eu que me aproximei dele. Toquei suavemente em sua barba


e ele fechou os olhos sentindo meu carinho. Mohamed parecia ter várias
camadas, e eu estava gostando de ver elas se abrindo para me mostrar seu
verdadeiro interior. Ele abriu os olhos e puxou a minha mão a beijando.

— Nós seremos o sol e a lua do deserto agora, Ísis. Você é a minha lua,
misteriosa, brilhante e doce. E eu serei o sol para arder intensamente em
você.

Antes que eu entendesse como ele pulou em cima de mim me fazendo


rir com seu ataque surpresa. Suas mãos prenderam meus braços acima da
minha cabeça contra o colchão e seus beijos quentes me fizeram suspirar.

Eu não tinha dúvida alguma que ele seria um rei sol mesmo.
Capítulo 23
Ísis

Na semana seguinte Mohamed disse que iria me levar em um lugar,


mas não contou nem onde e nem o porquê. Segui apreensiva no carro com
ele que estranhamente parecia de ótimo humor.

O motorista parou em frente a um altíssimo prédio acinzentado de


grossas colunas no centro do Cairo. Mohamed saiu primeiro e me estendeu
a mão me ajudando a sair.

Nossos olhares se encontraram e ele esboçou um sorriso com nossa


proximidade proibida em público.

— Às vezes tenho uma vontade louca de te beijar no meio da rua. —


Sussurrou e eu o olhei assustada.

— Bismillah! Está louco? Quer que sejamos presos?

— Diz se não seria interessante… — Propôs aproximando do meu


ouvido e eu empurrei sutilmente o braço dele.

— La. Não ouse nos colocar em uma confusão por ser um homem
absurdamente insaciável. Se formos pegos, seremos condenados por
atentado ao pudor. — Falei nervosa e ele sorriu sarcástico.

Segui lado a lado com ele para dentro do prédio. Um homem de grandes
bigodes nos cumprimentou e respondemos. Seguimos para o elevador e
quando entramos ele se posicionou maliciosamente atrás de mim com as
mãos na minha barriga, me pressionando contra sua ereção e me deixando
em chamas.

— Mohamed, se nos pegarem…

— Shiu! — Sussurrou no meu ouvido e eu engoli em seco. — O perigo


não te excita?

Ele apertou um botão parando o elevador e eu senti minha pele arrepiar.

— As pessoas vão reclamar por monopolizar o elevador. — Tentei


persuadir sua consciência.

— Ninguém vai reclamar comigo. Esse prédio é meu. — Explicou


aproximando os lábios da minha nuca. — Igual você é minha.

Me virou para ele e nos beijamos calorosamente. Meu coração bateu


cada vez mais forte, como se fosse explodir em milhares de fagulhas.

Senti sua mão tocar minha calcinha e ele sorriu no meu ouvido, fazendo
meu corpo vibrar.

— Molhadinha! — Comentou mordendo o lóbulo da minha orelha.

Bismillah, era uma grande loucura o que ele estava fazendo! Ergui a
cabeça atordoada e fiquei em pânico quando vi um objeto no teto.

— Por Alá, aqui tem câmeras, Mohamed!

— Eu sei, mas não se preocupe. Só eu tenho acesso às câmeras. Agora


relaxa! — Sussurrou puxando o meu véu e soltando meus cabelos.

Voltou a me abraçar e eu o beijei mais intensamente. Eu não sabia como


ele me fazia ceder a uma loucura dessas, mas já estava totalmente entregue.

Ele me virou de costas e suas mãos desceram pelos meus ombros e


abaixaram a minha blusa até a barriga deixando meus seios totalmente de
fora. Ele apalpou os dois com desejo e olhar tudo aquilo pelo espelho estava
me enlouquecendo.
— Olha como você é perfeita! — Murmurou safado. Suas mãos
desceram para minha bunda e ele apertou forte, me fazendo inclinar para
frente. — Eu não consigo resistir a você, Ísis.

Virei novamente para ele pulando em seu colo. Ele riu alto e me
segurou, me beijando novamente. Seus lábios desciam pela minha pele
quente. A minha excitação ultrapassava a estratosfera.

— Vamos antes que algo mais aconteça aqui dentro. — Ele brincou e eu
sorri.

— Você é um Sheik devasso, sabia? — Ironizei e ele sorriu olhando


para a minha boca.

— E você está me saindo uma ótima aprendiz. — Brincou me


colocando no chão.

Beijou meus lábios calmamente. Suas mãos acariciaram suavemente


meus seios nus e ele se afastou com um sorriso no rosto.

— Vamos logo!

Ajeitei a minha roupa e coloquei meu véu em tempo recorde. Nossas


respirações ainda estavam descompassadas quando a porta do elevador
abriu, revelando vários homens trabalhando em inúmeras mesas diferentes.
Eles me olharam confusos como se eu fosse um camelo de asas.

— Onde estamos? — Questionei tentando me recompor.

— Aqui é onde trabalhamos recrutando novos sócios e investidores para


os meus negócios. — Mohamed explicou colocando a mão no fundo das
minhas costas e me conduzindo.

Todos nos cumprimentaram pelo corredor até chegarmos numa sala


enorme.

— Entre! — Ele mandou e eu assenti.


Era uma sala de decoração sóbria. No fundo uma mesa de madeira
escura e uma cadeira acolchoada atrás. Era a sala dele.

— Assalamu alaikum! — Um homem disse atrás de nós e nos viramos


para ele.

— Wa Alaikum Assalam! — Respondemos juntos.

— Precisa de alguma coisa, senhor? — Ele perguntou e Mohamed


assentiu.

— Sim. Esam, traga um notebook para a princesa poder trabalhar nos


fluxogramas e nos relatórios. — Respondeu deixando o homem
boquiaberto.

Porém, ele não conseguia estar mais surpreso que eu.

— Como é? — Perguntei baixo e ele me olhou tranquilamente.

— Nada mais justo você ajudar aqui. Afinal também é dona disso tudo.
Além do mais, eu ainda não consegui substituir o Kashif.

— Mas senhor, podemos dar um jeito. Podemos tentar… — O homem


tentou argumentar. Encarei ele, intrigada pelo seu protesto.

— Já está decidido, Esam. — Mohamed rosnou e o homem engoliu em


seco.

— Mas, senhor, creio que a princesa não consiga fazer isso.

— Está colocando em xeque a capacidade da sua alteza? — Meu


marido vociferou e o homem se encolheu como um carneiro no inverno.

— La. Não, senhor, mas ela como mulher…

— Foi ela quem fez os últimos que eu trouxe. Coisa que vocês, bando
de incompetentes, não conseguiram. Agora cale a maldita boca e traga o
notebook antes que eu me livre de você!
O homem arregalou os olhos e assentiu nervoso.

— Sim… sim, senhor. Perdão, senhor! — Ele gaguejou e saiu


praticamente em fuga pela porta.

Olhei incrédula para Mohamed e ele apontou para uma cadeira maior
atrás da mesa.

— Sente-se, querida! — Então senti sua proximidade do meu corpo e


ele roçou os lábios no meu ouvido. — Vai ser uma delícia trabalhar com
você.

Senti meu coração bater disparado no peito. Esse homem não cansava
de me surpreender.
Capítulo 24
Ísis

Depois de uma semana trabalhando ao lado de Mohamed, entre redigir


relatórios e trocar beijos às escondidas, aconteceu um fato bem inusitado.
Eu estava ao lado dele com o meu notebook aberto enquanto ele parecia
concentrado observando alguns contratos.

Deslizei da minha cadeira e ajoelhei debaixo da mesa. Ele me olhou


surpreso e eu sorri abrindo sua calça. Sim, eu mudei muito desde o nosso
casamento. Ele havia despertado em mim um desejo incontrolável por ele,
por sentir sua dureza, seu gosto, seu toque. Tudo nele me atraía como a luz
da chama atrai a libélula.

Ele sorriu malicioso e arqueou a sobrancelha, provocativo. Abriu as


pernas para me dar melhor acesso. Rapidamente livrei seu membro do
tecido e salivei ao tê-lo nas minhas mãos.

Mohamed que me fitava interessado. Passei minhas mãos por todo


comprimento, acariciando devagar. Depois aproximei meu rosto e passei a
língua por sua extensão. Um sorriso escapou dos meus lábios quando notei
a sua respiração alterada. Então coloquei ele na boca sentindo ele vibrar
entre meus lábios. A melhor parte era vê-lo prestes a perder completamente
o juízo. Era inevitável não sorrir. Sua mão logo veio para o meu rosto e ele
acariciou a minha bochecha enquanto eu chupava ele bem devagar. Como
se fosse um carinho.

— Desculpe, senhor! Trouxe esses documentos para assinar. — Ouvi


Esam entrar desavisadamente na sala.
Sorte que a mesa não dava para ver do outro lado. Mohamed enrijeceu a
postura e franziu a testa, irritado.

— Por que não bate antes de entrar? — Perguntou e eu sorri voltando a


passar a minha língua nele. O vi prender a respiração e então eu o engoli
completamente.

Mohamed cerrou o maxilar e apertou os olhos com força. Quase soltei


uma risada de tão fofo que foi vê-lo segurar com todas as forças a
excitação.

— Desculpe, senhor! Mas é mesmo urgente. Era para ter sido assinado
junto com aqueles outros, mas esqueci de incluir. — Esam disse temeroso
pela bronca, mas Mohamed ficou em silêncio. Apertou os lábios e abriu os
olhos.

— Sah. Deixe… Aqui que depois… Eu assino. Pode ir agora. — Sua


voz saiu vacilante. Prendi a respiração deixando ele invadir minha garganta.
Mohamed engoliu em seco e levou a própria mão até a boca, mordendo a
palma.

— Mas eu preciso para agora e… O senhor está bem? — Esam se


preocupou aumentando a minha vontade de rir.

— Si-sim. — Gaguejou e olhou sério para o homem insistente. — Yala!


Vá embora! Depois levo isso! Por Alá, só sai daqui! — Implorou
atordoado.

— Sim, senhor. — Esam finalmente cooperou e eu ouvi a porta bater.

Mohamed me olhou intensamente e soltou um gemido preso na


garganta. Excitado ele arrancou meu véu e segurou meu cabelo puxando
meu rosto em sua direção, me fazendo engolir ele todo novamente.

— É isso que você quer, querida? — Sua voz estava carregada de


desejo, me excitando ainda mais.
Ele começou a bombar freneticamente na minha boca. E por sorte eu já
estava melhor acostumada com a situação, podendo acomodar ele sem
dificuldade. Chupei até ele explodir em prazer e jogar a cabeça para trás no
encosto da cadeira. Limpei os cantos dos meus lábios e arrumei a calça dele
como se nada tivesse acontecido. Saí debaixo da mesa e sentei no colo dele
observando seus olhos fechados enquanto recuperava o fôlego.

Ele abriu os olhos e abraçou a minha cintura. Colamos nossas testas e


nos olhamos de perto. Eu inexplicavelmente senti um aperto no peito muito
grande. Como se de alguma forma aquela pudesse ser a nossa última vez
juntos.

Beijei os lábios dele e suas mãos apertaram minha cintura de encontro


ao seu corpo forte. Abracei seu corpo desejando que a sensação fosse
embora, mas ela não passava.

— O que foi, minha princesa? Parece tensa. Machuquei você?

— La. Não é nada. — Respondi deitando minha cabeça em seu peito e


senti ele fazer carinho nos meus cabelos.

— Me diga o que está acontecendo, Ísis! — Pediu no meu ouvido e eu


me afastei um pouco dele.

Como explicar algo que nem eu entendia?

Apenas dei de ombros e ele permaneceu me observando intrigado.


Então ele esticou o braço até a gaveta e abriu tirando uma caixa de dentro.

— Comprei isso para você usar hoje à noite no casamento da sua irmã.
— Contou e eu abri rapidamente a caixa me deparando com um enorme
colar com um rubi em destaque.

— É muito lindo, Mohamed! Shukran!

— Só vai ser realmente lindo quando adornar o seu pescoço. —


Murmurou segurando o meu queixo e me beijando suavemente. — Rubis
são iguais a você. São raros, preciosos e impressionantes.
Meu sorriso aumentou e nos beijamos mais uma vez, porém, meu
coração quase gritou no peito. Eu tinha uma sensação tão ruim de que era
uma despedida, mas me obriguei a não pensar nisso.

✽✽✽

— Está deixando Ísis cuidar dos relatórios? — Meu pai questionou


inconformado. — Ela não pode fazer isso.

— Sua filha é a melhor funcionária daquela empresa, senhor Wazir. —


Mohamed respondeu me furtando um sorriso.

— Mas não é certo uma mulher trabalhar. — Meu Ab insistiu. — Ela


tem que cuidar do lar e dos futuros herdeiros.

— Isso poderia até ser debatido no passado, meu sogro, mas hoje em
dia não há razão alguma para proibir que uma mulher seja independente.
Confesso que até pouco tempo atrás eu pensava da mesma forma, mas Ísis
me fez perceber o quão ultrapassado eu estava sendo.

— La! Os costumes não são ultrapassados, e muito menos podem ser


invalidados. Há uma razão para tudo ser como era antes.

— Não se preocupe com nada. Sei o que estou fazendo e além do mais,
Ísis é uma princesa, tem que saber cuidar de seu próprio patrimônio. —
Meu Sheik revidou confiante.

Meu pai se calou, visivelmente contrariado. Foi tão satisfatório


presenciar essa evolução na mente de Mohamed, isso me fez ter esperanças
de um dia meu pai evoluir também.

Ouvimos a primeira música dos noivos ecoar no enorme salão de festas.


Sumaya estava lindíssima em seu vestido branco com detalhes rendados. O
mesmo vestido que ela havia desenhado anos antes para tal ocasião. Na
cabeça usava um hijab da mesma cor. Os olhos delineados brilhavam mais
que todas as estrelas do céu juntas, demonstrando todo seu entusiasmo. Era
tão gratificante vê-la finalmente realizando seu sonho.

Ela deu um sorriso apreensivo que eu conhecia bem, afinal, há menos


de um mês era eu ali, com medo de tudo dar errado, de ser um grande
equívoco. E olha onde tudo isso me levou?

Said, o noivo, era muito bonito e tinha moderadas posses. Eu torcia


internamente para que ele fizesse minha irmã feliz. Os dois dançaram
timidamente a primeira música do casal, quando terminaram uma nova
música de dança do ventre iniciou e Mohamed estendeu a mão para mim,
seguimos juntos no meio dos convidados. Paramos de frente um para o
outro e ele abriu os braços enquanto eu dançava balançando os quadris e
serpenteando com as mãos no ritmo da música, atraindo os olhos do meu
marido. Ele dobrou uma perna apoiando um joelho no chão enquanto batia
palmas para mim, me incentivando a dançar mais. Rebolei devagar sempre
o olhando nos olhos e sorrindo com a intensidade de sua atenção em mim.

Após mais algumas músicas, fomos cumprimentar os noivos: — Você


está tão linda, minha irmã! — Elogiei sendo esmagada pelo abraço dela.

— Shukran. Estou tão feliz por hoje. Por você estar aqui comigo e
principalmente por você estar feliz também.

— Dá para perceber sua felicidade do outro lado mundo. — Brinquei e


ela sorriu timidamente, se afastando. — Oro para que Alá lhe dê um
casamento harmonioso, repleto de amor e respeito.

— Inshallah! — Desejou erguendo as mãos.

Olhei para o lado notando Mohamed e Said conversando, aproveitei a


distração de ambos e me aproximei mais dela.

— Depois quero saber todos os detalhes da lua de mel. — Pedi e o rosto


dela rapidamente ficou corado.

— Por Alá, Ísis! Isso é coisa de pedir? — Perguntou olhando em volta.


— Pode deixar que contarei todos os detalhes.
Rimos cúmplices e nos abraçamos novamente.

— Eu te amo muito, querida!

— Também te amo, irmã! — Falou beijando meu rosto. — E não pense


que esqueci sua promessa, vamos para Alexandria no final do mês com os
nossos maridos.

— Vamos sim! Mas depois conversamos sobre isso. Agora aproveite a


sua festa! — Falei piscando para ela que sorriu docemente em resposta. Me
aproximei de Said chamando sua atenção. — Cuide bem da minha irmã! —
Avisei em tom ameaçador e ele sorriu.

— Pode deixar, cunhada. Vou fazer o possível e o impossível por


Sumaya.

— Acho bom mesmo. — Brinquei e Mohamed sorriu.

— Se ela for igual à irmã você está perdido. — Meu marido zombou
nos fazendo rir.

Uma música animada se iniciou e seguimos todos juntos para o centro


do salão. Recordei da sensação ruim que tive mais cedo e segurei na mão do
meu marido. Torci internamente para que nada pudesse atrapalhar a nossa
paz.
Capítulo 25
Ísis

Acordei abraçada ao corpo de Mohamed após uma noite intensa,


juntos. Chegamos tarde do casamento de Sumaya onde dançamos quase à
noite toda, e ele ainda arrumou energia para me fazer enlouquecer na cama.

Eu podia me acostumar com essa vida. Na verdade, eu já havia me


habituado a ter Mohamed comigo. Me acostumei como nunca pensei que
fosse me acostumar. Me rendi ao casamento como nunca pensei que faria.

Ele espreguiçou ainda deitado, beijou o topo da minha cabeça e


levantou rapidamente para tomar banho. Era sexta-feira, dia de ir à
mesquita antes do trabalho.

— Vem para o banho comigo? — Convidou me olhando malicioso e eu


sorri levantando.

Foi quando tudo começou a desmoronar.

Senti minha saia pesada e então vi a mancha de sangue. No mesmo


instante em que sentei a dor até então adormecida, silenciosa, camuflada, se
apresentou voraz me dilacerando ao meio exatamente igual a todos os
meses da minha vida.

O olhar de Mohamed desceu até minha saia e ele franziu a testa.

— Se seu sangue desceu significa que não será agora que terei meu
herdeiro. — Concluiu extremamente frustrado e eu me contorci de dor.
Era sufocante, a impressão que dava era que algo tinha explodido no
meu abdômen. Senti as lágrimas molharem meu rosto e o olhei confusa.
Mohamed paralisou. Não parecia acreditar que eu ainda não estava
esperando um filho dele. Engoliu em seco e de repente deu as costas e
seguiu para o banheiro.

Deitei novamente na cama e juntei meus joelhos na altura da barriga,


me diminuindo para tentar diminuir também a dor.

Mohamed saiu do banho pouco depois. Não olhou para mim. Parecia
irritado, como se fosse minha culpa estar menstruada.

Vestiu a roupa em silêncio, colocou o turbante e então sentou ao meu


lado na cama me olhando sério.

— Por que está tão encolhida?

— Porque dói muito. — Respondi com a voz embargada e ele pareceu


preocupado.

Ao menos eu queria que estivesse. Eu queria que ele não virasse as


costas para mim por conta disso.

— Você quer algum remédio?

— Nada costuma funcionar. — Contei sentindo as lágrimas mais fortes


deslizarem pelo meu rosto.

— Bismillah! Já foi ao médico?

— Aquele dia que nos conhecemos eu fui. Mas também não resolveu
nada. — Expliquei e ele levantou indignado.

— Como não resolveram? Tem que resolver. — Esbravejou indignado.


— Vamos agora ao hospital!

— Não precisa…
— Ísis, vamos agora! Você não pode ficar sentindo dor assim. Olha o
seu estado! — Falou puxando as minhas mãos com cuidado me obrigando a
sentar.

— Não vai adiantar, Mohamed. Nunca adiantou.

— É uma ordem. Se arruma porque nem que eu tenha que te arrastar,


mas vamos resolver isso. — Avisou severo e eu levantei com dificuldade.

Tomei um banho e vesti uma roupa limpa. A dor parecia aumentar a


cada respiração dada. Mohamed me conduziu para o carro e me abraçou
tentando consolar meu choro.

Seguimos para o Ain Shams University Specialized Hospital. Assim que


chegamos, Mohamed exigiu que me atendessem logo e rapidamente o
fizeram. A médica após tocar a minha barriga e quase me matar de dor
sentou me olhando.

— E então, doutora? — Mohamed perguntou impaciente para a mulher


de cara fechada.

Foi uma discussão acalorada de quase dez minutos dos dois até ele
convencê-la a deixá-lo ficar na sala.

— Eu preciso de uma ressonância magnética para avaliar melhor o


quadro. Porém, esse exame é muito caro.

— Pode fazer. Eu pago o que for preciso. — Mohamed falou me


deixando aliviada.

— Shukran! — Murmurei e ele me olhou preocupado.

A médica assentiu e chamou um enfermeiro para me ajudar a me


preparar.

Fui encaminhada para a sala de exames e após entrar numa máquina de


ressonância, a médica avaliou cuidadosamente as imagens dos resultados.

— Ísis, você tem endometriose. — Ela contou e eu franzi a testa.


— Alá, Alá! Isso é grave? — Mohamed perguntou antes que eu pudesse
abrir a boca.

— O tecido que reveste o interior do útero é chamado endométrio.


Todos os meses o endométrio fica mais espesso para que um óvulo
fecundado possa se implantar nele. Caso não ocorra uma gravidez, temos a
menstruação que é a descamação do endométrio. Mas às vezes um pouco
desse sangue pode migrar no sentido oposto e cair nos ovários ou na
cavidade abdominal, causando a lesão endometriótica e consequentemente
muita dor. — Ela explicou pacientemente.

— E isso tudo significa o quê exatamente? — Perguntei ainda confusa e


ela me olhou séria.

— Significa que há uma chance de você ser infértil. Precisamos fazer


exames mais específicos para… — Ela começou a explicar, mas Mohamed
se exaltou ao meu lado.

— Como assim ela não pode ter bebês? — Questionou revoltado.

— Não é um resultado absoluto. Pode ser que ela seja infértil, mas
também pode ocorrer apenas uma dificuldade para engravidar…

— Se não pode me dar herdeiros então esse casamento não me serve. —


Mohamed decretou esmigalhando meu coração em um milhão de pedaços
diferentes.

Olhei para ele em completo choque, sentindo as lágrimas aglomerarem


nos meus olhos. Era até difícil enxergá-lo através delas.

— Vo-você vai me devolver, marido? — Perguntei com a voz


embargada e ele engoliu em seco, desviando o olhar do meu.

De repente passou um filme na minha mente com todos os nossos


encontros e desencontros. Com todas as palavras que dissemos, nossas
noites intensas e dias bonitos. Até mesmo as nossas brigas e implicâncias. E
de tudo o que minha mente apresentou restou apenas o medo. Cortante e
frio. Eu tinha medo que tudo que havíamos vivido até então ficasse perdido
em um tempo e espaço onde não pudesse mais ser alcançado.

Pisquei deixando as lágrimas deslizarem quentes pelo meu rosto.


Mohamed levantou da cadeira ao meu lado e saiu da sala sem dizer mais
nada.
Capítulo 26
Mohamed

Precisei desviar o olhar para conseguir respirar. Tudo doía em mim


como se as palavras da médica tivessem me chicoteado milhares de vezes.

— Vo-você vai me devolver, marido? — A voz vacilante Ísis ecoou no


meu cérebro me causando fortes pontadas.

De repente recordei do nosso contrato de casamento. No final das


contas eu havia colocado apenas uma única cláusula:

Filhos.

Eu queria tê-los. Necessitava tê-los.

O domínio da Arábia é passado de geração para geração. Se eu não


tivesse filhos a nossa família não continuaria. A nossa nobreza morreria
comigo. O sangue Abdallah Shariq deixaria de existir no deserto para todo
o sempre.

Pisquei confuso sentindo o gosto amargo do medo me atingir em cheio.


Lembrei das palavras do meu pai quando eu era pequeno: “Se a primeira
esposa não for capaz de procriar, casa-se com uma segunda. Um homem
deve ter filhos. Deve dar continuidade ao nome da família.”

Entretanto, eu não podia ter uma segunda esposa, no contrato de Ísis


exigia isso. Além do mais, eu não queria nenhuma outra mulher. Por Alá, eu
queria apenas ela, mas também queria filhos. Os nossos filhos.
O choro ruidoso de Ísis me deixou sufocado ao extremo. Precisei sair da
sala. Precisei pensar na situação. Respirar um pouco. Andei de um lado para
o outro no corredor como um louco desvairado. O meu peito parecia estar
rasgado ao meio, sangrando com a mísera possibilidade dela ser infértil.

Minha doce Ísis não seria mãe dos bebês que tanto sonhei?

Senti as lágrimas molharem meus olhos. A única vez que chorei foi
quando meus pais morreram. Nunca me permiti enfraquecer à tal ato, mas
era impossível. Era inevitável não sucumbir à dor quando vê ruir tudo o que
mais deseja na vida.

Eu sempre vislumbrei o meu futuro, mesmo se eu não chegasse a


assumir o poder da Arábia, instruiria o meu herdeiro para assumir um dia. E
ele assim como nossos antepassados, assim como meu avô, meu pai e meu
irmão mais velho, conduziria nosso país com determinação e força. Eu
podia vê-lo nascendo, crescendo e correndo pelo palácio. Eu podia até ver
ele no colo de Ísis. Imaginava ela perfeitamente, cantando canções de ninar
para ele.

Nós dois embalando o nosso pedacinho num berço suspenso. Contando


histórias do deserto para ele. Vendo ele crescer e aprender com seus erros.

Os erros que cometemos durante a vida e não são poucos.

Nada disso aconteceria?

Passei as mãos pelo rosto sentindo um enorme cansaço. Quanto mais eu


pensava em tudo que eu poderia não ter, mais tudo em mim doía. Era como
se tivesse um bloco de metal na minha garganta dificultando a passagem de
ar.

Então eu senti todo o peso do mundo nas minhas costas. As nossas


tradições enraizadas no meu mais profundo íntimo decretando os filhos
como maior tesouro de um casal. Como o maior objetivo de nossas vidas.
Era isso que a sociedade esperava de mim. Era isso que minha família
esperava de mim. Era isso que eu sempre quis de mim mesmo. E então
respirei fundo.
Que se dane essa porra toda!
Nada disso vale a pena sem ter a minha princesa atrevida!

Abri novamente a porta e entrei correndo até Ísis que chorava


inconsolavelmente. Me ajoelhei no chão e a abracei apertado. Ela me olhou
assustada, visivelmente confusa. Meu coração remendado apertou com seu
sofrimento. Se para mim era difícil, para ela era o triplo.

— Eu nunca vou te devolver. — Respondi finalmente à sua pergunta e


ela apertou os lábios. — Perdão pelo que eu disse! Perdão por ter sido fraco
e te magoado! Eu te amo, minha habibti! — Admiti sincero e ela sorriu em
meio às lágrimas, eu não resisti e a abracei novamente.

— Eu também te amo, Habibi! — Murmurou com a voz vacilante


fazendo meu coração voltar à vida ao me chamar de amor.

Precisei me segurar com todas as forças para não beijar sua linda boca.
Olhei para a médica que estava completamente assustada com a nossa troca
de afeto em seu consultório.

— O que podemos fazer, doutora? Você precisa ao menos tirar essa dor
dela. Não pode viver assim. — Pedi e a médica piscou ainda atordoada.

— Recomendo fazer uma videolaparoscopia, que diagnosticará o


número exato de lesões, aderências, e se há obstrução tubária. Depois
faremos uma pequena cirurgia onde será possível eliminar os focos da
endometriose.

— E como vai ser feito isso? — Perguntei apreensivo.

— Não se preocupe, ela estará sedada e não sentirá nada. — Garantiu e


eu apertei o braço ao redor de Ísis.

— Ela vai ficar bem depois disso?

— Senhor Mohamed, infelizmente endometriose não tem cura. Vamos


apenas amenizar as dores e diminuir as lesões endometrióticas. Mesmo
depois ela precisará fazer acompanhamento e tomar medicação.
Suspirei derrotado e assenti. A única coisa que importava no momento
era o bem-estar dela.

— Ela vai fazer a cirurgia. Eu pago quanto for preciso, mas tirem logo
essa dor dela! — Pedi e ela assentiu anotando alguma coisa no papel.

A médica saiu para emitir o exame para outro médico que seria o
responsável pela cirurgia.

— Vai ficar tudo bem, minha princesa. — Murmurei e ela apertou o


abraço, chorando dolorosamente. — Eu estarei aqui quando acordar. Não
sairei daqui sem você, ouviu? Por Alá, não vou a lugar algum sem você.

— Tive medo… De que você não me quisesse mais. — Confessou


baixinho, como se contasse um segredo.

Me afastei do abraço e segurei o rosto dela com as duas mãos, olhando


nos olhos dela.

— Eu quero você como quero a vida. — Expliquei dando um beijo


casto em seus lábios. — Posso viver sem filhos, mas não posso viver sem
você, Ísis.

Nos abraçamos novamente e eu tentei afastar da minha mente todos os


apontamentos que iríamos passar por não termos filhos. Na verdade, meus
pensamentos foram totalmente preenchidos por ela me chamando de amor
pela primeira vez. Habibi. Ela me chamou de Habibi! Eu não podia estar
mais feliz.

Logo depois de ser preparada foi levada para a cirurgia. Andei ansioso
no corredor de um lado para o outro, sentindo o meu coração simplesmente
esmagado no peito, inundado pela certeza constante de que se algo
acontecesse com ela, eu mataria todo mundo ali.

Respirei fundo tentando me acalmar. Orei à Alá, mas nada conseguia


aplacar o meu pânico. Era sufocante a possibilidade de algo ruim acontecer
com a minha princesa. O tempo engatinhou como uma criança que ainda
não sabe andar. Então após horas de angústia e aflição finalmente
anunciaram o término da cirurgia.

— Tudo saiu como o esperado. A paciente está bem e logo acordará da


anestesia. — O médico anunciou tirando uma tonelada do meu peito.

— Allahu akbar! — Falei aliviado. — Deus é grande! — Repeti


erguendo as mãos para o céu. — Posso vê-la?

Ele assentiu e me guiou até o quarto onde ela estava, ainda desacordada.
Senti o alívio preencher meu interior ao ouvir sua respiração, fraca, mas
presente.

— Eu estou aqui, habibti! E sempre estarei. — Murmurei segurando em


sua mão.

Ela provavelmente não me ouviu, mas não precisava.


Capítulo 27
Ísis

A melhor sensação do mundo foi acordar e ver Mohamed sentado ao


meu lado. Ele estava cochilando, e ainda assim segurava a minha mão.

Ele me escolheu novamente, mas diferente da primeira vez, eu fiquei


feliz por ele ter me escolhido.

A lei e a nossa religião dá total apoio para que ele me devolva para os
meus pais, porém, mesmo assim ele decidiu não fazer isso. Ele poderia me
jogar no vento, entretanto, me acolheu. Meu príncipe arrogante não era tão
arrogante como eu julgava.

Mexi desconfortável na maca e ele imediatamente acordou. Seus olhos


azuis preocupados me analisaram minuciosamente.

— Ísis! — Murmurou chegando mais perto. — Está bem? Sente alguma


dor? Quer que eu chame o médico?

— La. Estou bem.

— Alhamdulillah! — Ergueu as mãos agradecendo a Alá. — Tive tanto


medo que desse algo errado.

— Mas a médica disse que a cirurgia não era de alto risco. —


Argumentei e ele assentiu.

— Eu sei, mas… Fiquei preocupado. — Confessou aquecendo meu


coração.
— Ficou preocupado comigo? — Perguntei sem conseguir esconder a
minha alegria e ele me olhou nos olhos.

— Eu quase surtei de tão aflito que fiquei. — Contou me dando um


selinho.

Logo sua língua pediu passagem na minha boca e o deixei entrar em um


beijo urgente e apaixonado. Porém, de repente ele se afastou, me deixando
confusa.

— Esqueci que você tem que ficar de repouso. Não pode fazer esforço
físico nas próximas duas semanas.

— Mas um beijo não é esforço algum. — Protestei e ele deslizou os


dedos pela minha bochecha e olhou fixamente para a minha boca.

— Porém, o que tenho vontade de fazer toda vez que te beijo é.

Balancei a cabeça em negativa, sorrindo. Meu marido não tinha jeito


mesmo.

✽✽✽

Chegamos em casa e eu segui direto para o quarto. Mohamed me


ajudou a deitar e arrumou as almofadas atrás das minhas costas.

— Confortável? — Perguntou e eu concordei. — Vou mandar as criadas


servirem o nosso jantar aqui, mas antes vou te dar um banho para relaxar.

— Posso tomar banho sozinha. — Sugeri e ele me olhou indignado.


Tive que rir.

— La! Eu vou te dar banho. Faço questão. — Insistiu convicto e eu


olhei desconfiada para ele.
— Por que será que sinto más intenções nesses seus planos? — Ironizei
e ele sorriu culpado.

— Ísis, estamos proibidos de transar por duas semanas. — Enfatizou


visivelmente abalado. — Eu preciso tocar em você hoje de alguma forma
ou enlouquecerei.

— Mas não faz nem um dia que você não toca em mim.

— Exatamente. E já estou enlouquecendo. Quando acabar esse período


estarei morto. — Respondeu exagerado e eu ri ainda mais.

Ouvimos uma batida na porta e então Layla entrou timidamente no


nosso quarto.

— Senhor, os pais da princesa vieram visitá-la. — Anunciou e eu me


animei no mesmo instante.

— Peça para eles subirem! Ísis não pode ficar se deslocando. — Avisou
e ela assentiu saindo imediatamente.

Mohamed me ajudou a sentar na cama e me lançou um olhar malicioso


ao arrumar minha saia. Sorrimos cúmplices e ele se afastou relutante.

— Assalamu alaikum! — Meus pais disseram entrando no quarto.

— Wa Alaikum Assalam! — Respondemos juntos e eu sorri esticando os


braços para abraçá-los, porém, somente a minha mãe me abraçou.
Estranhamente meu pai ficou distante e mal me olhou.

— Viemos assim que nos avisou. — Meu Ab disse nervoso. —


Desculpa, Mohamed! Vamos entender se desejar devolver a nossa filha. —
Disse me deixando perplexa.

— Ab! — Protestei e ele então me olhou, visivelmente envergonhado.

— Não é justo um homem ter pagado tão caro por uma mulher que
talvez não possa nunca lhe dar herdeiros.
— Eu não tenho a mínima intenção de devolver a Ísis, senhor Wazir. —
Mohamed interveio no assunto e meus pais me olharam temerosos. —
Além do mais eu não paguei pela sua filha. Ela não é uma mercadoria.

— Posso falar em particular com ela por um instante, Mohamed? —


Minha mãe perguntou e ele me olhou buscando uma resposta. Assenti e ele
chamou meu pai para saírem do quarto.

Fiquei feliz que ela quis falar comigo a sós, eu estava realmente
precisando de colo de mãe. Ela sentou ao meu lado na cama e me olhou
pesarosa.

— Que sorte mais triste a sua, minha filha! — Lamentou e eu segurei as


lágrimas.

— Sah! Estou tão arrasada, mãe. Tanto que não sei o que fazer. Me sinto
perdida, sem direção. — Confessei devastada e ela segurou carinhosamente
a minha mão.

— Você precisa aceitar uma segunda esposa para Mohamed. —


Aconselhou séria e eu a olhei incrédula.

— O quê?

— Isso mesmo que ouviu, minha querida. Um homem não pode


simplesmente não ter filhos. É um direito dele.

— Mãe…

— Ísis, me ouve! Todo homem se casa à procura de ter filhos. Alá


instituiu que um homem tenha família. Se você não pode dar isso para ele,
aceite que outra dê. Não seja egoísta.

Engoli em seco. Eu não conseguia sequer imaginar Mohamed beijando


outra mulher, amando e desejando como fazia comigo. Meu estômago
revirou só em imaginar algo assim.

Senti meus olhos úmidos e ela fez carinho nos meus cabelos.
— Pense direito! Já tem sorte dele não te devolver. O melhor que você
pode fazer agora é se esforçar pela felicidade dele.

Senti uma lágrima deslizar pela minha bochecha. Atrás dela desceram
várias outras.

— Me deixe sozinha, por favor! — Pedi e ela me observou com pena.


— Quero ficar sozinha.

Ela aceitou meu pedido e beijou meu rosto antes de sair. Deitei
novamente na cama e abracei o travesseiro. Os meus pensamentos estavam
atordoados demais, como uma longa fila onde todos saíram de seus lugares.

— Ísis? — Ouvi a voz de Mohamed e o vi entrar no quarto. — Tudo


bem?

— La. Meus pais não se conformam com a minha situação. —


Murmurei e ele sentou ao meu lado.

— Infelizmente será assim a partir de hoje. Todos irão nos cobrar filhos,
entretanto, não devemos ouvir nada disso.

— Você… Quer uma segunda esposa? — Perguntei com a voz


embargada, com extremo medo de ouvir a resposta, mas para meu alívio ele
negou com a cabeça.

— Eu quero apenas que você saia logo desse maldito repouso para nós
fazermos amor a noite toda. Nada mais. — Respondeu me fazendo
subitamente rir.

— Vou considerar isso como uma frase romântica.

— E não foi romântico? — Questionou confuso. — Quando você sair


desse regime de sexo, vou te levar para um passeio de iate, numa noite
incrível no rio Nilo sob a luz do luar.

— Aposto que tem segundas intenções nesses planos. Segundas


intenções bem maliciosas.
— Você me conhece tão bem, minha princesa. — Murmurou me dando
um selinho. — Eu… queria te perguntar uma coisa. — Disse ficando sério e
eu o olhei apreensiva. — Lá no consultório você me chamou de Habibi…
Eu queria saber se realmente sente isso ou se apenas se sentiu pressionada
por eu ter dito…

— Eu realmente sinto que amo você, Habibi! — Admiti envergonhada


e o olhar dele se iluminou me observando.

Suas mãos abraçaram a minha cintura com cuidado e seus lábios


tomaram os meus em um desejo sem igual. De repente ouvimos uma batida
na porta.

— Com licença! A banheira já está pronta, senhor. Deseja mais alguma


coisa? — Layla anunciou entrando no nosso quarto e Mohamed se afastou
um pouco de mim.

— La. Pode ir. — Respondeu e ela assentiu saindo imediatamente. —


Vamos ao banho!

— Eu realmente posso tomar banho sozinha. — Insisti preocupada e ele


segurou minhas duas mãos me ajudando a levantar com cuidado da cama.

— Não confia em mim?

— Quer mesmo uma resposta? — Ironizei e ele sorriu sem jeito.

— Sei que sou um pervertido na maior parte do tempo, mas juro que
jamais farei nada que possa te machucar. Você é a minha princesa. Só eu sei
o medo que senti durante a sua cirurgia. A angústia foi tanta que por vezes
senti faltar ar nos meus pulmões e não, não estou exagerando. Me habituei a
ter sua presença na minha vida Ísis. A escutar a sua voz, sua risada, a sentir
o seu cheiro. Você toda. Nada me faria mais mal do que ver você sofrer. —
Confessou com os olhos brilhantes e eu engoli em seco.

— Jamais imaginei te ouvir dizendo isso.


— Eu sei. Eu não costumava dizer nada disso. Muito menos a pensar,
mas tudo mudou quando uma mulher extremamente atrevida e linda surgiu
na minha vida. Agora me deixa cuidar de você? Por favor!

— Sah. Como resistir a um pedido desses? — Concordei e ele sorriu


entusiasmado.

— Shukran. — Agradeceu me pegando no colo.

Apoiei minha cabeça no peito dele e me deixei ser levada ao banheiro.


Mohamed me colocou sentada na borda da banheira e tirou minhas roupas
com todo cuidado do mundo, parecia que eu era feita de cristal. Eram
atitudes que eu jamais esperava dele.

Entrei na água morna e instantaneamente senti meus músculos


relaxarem. Mohamed pegou o sabonete líquido e fez espuma na esponja
passando pelos meus braços e pescoço. Aproveitei que ele estava tão
próximo e observei seus olhos azuis que pareciam preocupados.

— Um prêmio pelos seus pensamentos. — Ofereci e ele me encarou


sério.

— Sei que te magoei com o que eu disse no consultório…

— Isso já passou.

— La, sei que não. Vejo nos seus olhos que está se sentindo insegura
ainda. Vou aprender a ser menos impulsivo. Não quero te magoar mais.
Acontece que na hora fiquei muito nervoso… Não pensei direito…

— Está tudo bem, Habibi. — Garanti interrompendo suas desculpas e


notei o olhar dele ficar mais iluminado.

— É tão bom ouvir você me chamando de amor.

— É o que você é. — Sussurrei e ele abaixou o rosto me dando um


selinho nos lábios.
Nesse momento senti que seria incapaz de dividi-lo com outra mulher.
Por Alá, por que os costumes estavam contra mim?
Capítulo 28
Ísis

Não sei como, mas a notícia se espalhou como uma praga em uma
plantação, impregnando em cada canto do Cairo. Obviamente não era o que
se esperava de uma princesa. Se para uma mulher comum os filhos são uma
exigência, para a realeza é mais que uma obrigação. Eu deveria ter o
herdeiro que sucederia Mohamed em seus negócios, em seu poder.

Eu passava todos os dias com isso martelando em minha mente. As


palavras da minha mãe, por mais que eu soubesse estarem certas, me
feriram e me magoaram profundamente. Meu pai mal falava comigo.
Sumaya era a única que me ligava diariamente, dizendo para me manter
firme, porque Alá cuidaria de tudo.

Mohamed cuidou de mim todos os dias integralmente. Mesmo os


cuidados que não precisavam como dar frutas na minha boca. Era tão doce
sua atenção e carinho comigo. Eu nunca imaginei que ele pudesse ser
assim.

Era o término do meu repouso, Mohamed estava visivelmente ansioso


por isso. Por Alá, o pobre me olhava como um carneirinho desolado! Era
até engraçado. Toda vez que ele me tocava seu olhar acendia em brasa. Me
queimava. Ardia. Me fazia ansiar por ele também.

Não foi à toa que ele cumpriu sua promessa me levando para um
passeio de iate no rio Nilo. Mandou as criadas prepararem tudo com frutas e
nosso chá favorito. A noite estava linda, uma lua cheia coroava o céu com
sua luz e esplendor. Tirei meu véu quando estávamos longe da margem e
ele me olhou sedutor. Peguei um cacho de uvas roxas da bandeja e coloquei
uma em seus lábios. Ele aceitou fitando meus olhos com malícia. Tudo para
ele se tornava obsceno, era impressionante. Ele me abraçou por trás e
olhamos a imensidão do rio.

As águas pareciam um espelho do céu noturno. Brilhavam escuras e


solene, assim como meu coração, tudo em meu interior estava turvo e
confuso.

— Por que está tão pensativa? — Ele perguntou no meu ouvido.

— Estou pensando no que as pessoas andam dizendo ao meu respeito.


— Respondi triste e ele suspirou irritado.

— Eu vou descobrir quem foi o infeliz ou a infeliz que espalhou isso. E


vou acabar com essa pessoa. Eu te prometo.

— Não faz diferença quem espalhou. — Falei deitando minha cabeça


em seu peito atrás de mim. — Eu sei que todos os homens influentes da
cidade estão alvoroçados para que você conheça as filhas deles. Para que
escolha uma segunda esposa.

— Quem te contou isso? — Perguntou irritado e eu segurei as minhas


lágrimas.

— Não importa. O que importa é que… Eles estão certos. — Falei


engolindo todo o meu orgulho ferido. Senti meu coração destroçado no
peito. Abaixei a cabeça sem condições de olhar em seus olhos. — Eles
estão certos, Mohamed. Você… Deve procurar uma segunda esposa.

— Ísis! — Chamou segurando o meu queixo e me obrigando a olhar em


seus olhos. — Nós dois acreditamos que Alá é o único Deus, e cremos nas
palavras e ensinamentos do profeta Muhammad, que a misericórdia e
bênçãos de Deus estejam sobre ele, certo? — Perguntou sério e eu
concordei com a cabeça. — Mas estamos aqui no rio Nilo. O rio que evoca
fielmente o passado das civilizações antigas, onde foi palco de atividades
daqueles que veneravam os faraós como deuses e saudavam o Nilo como o
criador de todos os bens. Eles tinham a verdade deles naquela época e nós
os achamos loucos hoje em dia. Isso tudo é como nós dois. Temos a nossa
verdade e eles nos julgam loucos. Porém, somos como o rio Nilo. Todos
eles passarão, mas nós ficaremos. Juntos. — Ele secou as lágrimas que não
fui capaz de segurar e eu sorri com seu toque carinhoso. Afastou a bandeja
de frutas e me virou para ele, me beijando suavemente nos lábios. — Eu
não quero e não vou procurar uma segunda esposa. Não adianta o que
dizem. Eu amo você, minha princesa! Apenas você. — Mohamed disse me
beijando carinhosamente.

— Eu também te amo, Habibi! — Respondi com o coração em festa.

Ele beijou minha testa, depois meu queixo e eu sorri com sua forma
doce de tentar me tranquilizar. Então seu olhar ganhou um tom mais escuro
de malícia. Começou a me despir lentamente e também tirou a própria
roupa. O luar iluminava seu corpo forte, pretendendo totalmente a minha
atenção. Estava louca para estar nos braços dele. Voltou a se aproximar e
me abraçou apertado, colando nossos corpos nus. Me beijou calmamente.
Senti ele sorrir contra os meus lábios. Seus dedos deslizaram para o centro
das minhas pernas e começaram a circular a minha região mais sensível me
deixando extremamente excitada e molhada. Ainda olhando nos olhos ele
me penetrou sem cerimônia.

Seu ritmo e força aumentaram dentro de mim. Suas mãos apertaram


mais meu corpo de encontro ao seu quase nos fundindo em um só. Ele
desceu os lábios para os meus seios e me enlouqueceu ao sugá-los sem
pressa. Segurei em seus cabelos e senti meu coração bater cada vez mais
rápido.

— Eu estava contando os segundos para estar dentro de você. —


Murmurou subindo os lábios pelo meu pescoço e beijou meu queixo.

Eu também.

Pensei em dizer, mas não tive tempo, pois explodimos juntos em um


orgasmo tão intenso que minhas forças se esvaíram. Senti seu prazer me
preencher completamente.

Ele me olhou nos olhos e sorriu ofegante.


— Mesmo se houvesse outras mil mulheres, eu ainda escolheria você,
Ísis. Porque você é perfeita para mim. — Murmurou fofo e nos abraçamos.

A sensação de angústia ainda permanecia presente no meu peito, eu


sabia que o futuro não seria fácil. Entretanto, valia muito a pena lutar. E eu
lutaria por ele.
Capítulo 29
Ísis

Mesmo Alexandria sendo próxima do Cairo, meu Ab nunca deu


permissão para minha irmã e eu visitarmos a cidade. Durante muitos anos,
insistimos para que ele nos deixasse ir, mas nunca conseguimos entrar em
um acordo. Entretanto, agora ao lado dos nossos maridos, finalmente
podíamos realizar o nosso sonho.

— Por Alá, tem certeza que sabe o que está fazendo? — Sumaya
questionou sentada no banco de trás, ao lado do marido. Ri olhando para o
meu lado e vendo Mohamed colocar os fones de ouvido.

— Será possível que todas as mulheres dessa família duvidam da minha


habilidade de piloto? — Zombou se fingindo de ofendido.

— Não apenas as mulheres. — Said pontuou, me fazendo rir. Somente


então notei que ele estava pálido como uma nuvem.

— Alá, Alá! Até você? — Mohamed acusou surpreso.

— Eu entendo vocês, também passei por isso na primeira vez que voei
pelo Cairo. — Contei tentando amenizar a ansiedade deles.

— Mas depois pagou a língua, não foi? — Mohamed debochou e eu


belisquei a perna dele, ouvindo sua gargalhada.

— Fica quieto! Agora, quanto a vocês: acalmem-se! No início vai


movimentar um pouco mais que o normal, mas depois que estabilizar o
helicóptero vocês adorarão. Podem confiar, meu Sheik é um ótimo piloto.
— Falei tentando tranquilizá-los.

— Por Alá, eu vivi para ouvir isso! — Mohamed sussurrou todo bobo e
eu segurei uma risada. — Estão prontos?

— Estamos. Eu acho. — Sumaya respondeu dando a mão para o Said


que apenas concordou com a cabeça, ele parecia estar apavorado. Mohamed
então iniciou o voo e assim que a pior parte passou, minha irmã pareceu
mais animada com a situação. — Por Alá, como é lindo olhar a cidade
daqui de cima!

— Muito lindo! Sempre parece a primeira vez para mim. — Concordei


apontando para a janela. — Olha, é o nosso antigo colégio!

— É mesmo. Falando nisso, lembra da nossa professora de álgebra? Vi


ela semana passada. Te mandou um abraço.

— Lembro. Nossa, gostava tanto dela. Embora a aula que ela dava fosse
extremamente cansativa.

— Verdade. Olha, Habibi, a nossa casa! — Minha irmã apontou, mas o


marido se negou terminantemente a olhar pela janela.

— Prefiro orar de olhos fechados enquanto voamos. — Said contou


causando gargalhadas.

— Vai perder a oportunidade de admirar a vista. — Comentei virando


para trás.

— Além do mais, qual a graça de voar com os olhos fechados? —


Sumaya tentou persuadi-lo.

— Deixem o homem orar! — Mohamed comentou rindo. — Daqui a


pouco pousaremos, Said, não se preocupe! Alá não irá te abandonar.

— Inshallah! — Ele desejou desesperado.


Rimos ainda mais e prosseguimos observando a incrível beleza
panorâmica da vista que tínhamos. Toquei na perna de Mohamed e ele me
olhou docemente. Eu me sentia incrivelmente bem desde que aprendemos a
voar juntos.

✽✽✽

Após uma hora e meia de voo, pousamos para o alívio de Said. Perdi as
contas de quantas vezes ele agradeceu a Alá por ter poupado sua vida.

Seguimos direto para o local que Sumaya e eu tínhamos maior desejo de


conhecer: a famosa biblioteca de Alexandria.

— Não acredito que estamos aqui. — Murmurei com lágrimas nos


olhos e Sumaya me abraçou igualmente emocionada.

— Estou completamente arrepiada. Estamos em uma das bibliotecas


mais importantes do mundo. — Comentou se afastando do abraço. Então
nós quatro olhamos maravilhados à nossa volta.

— Antes do incêndio aqui continha obras dos grandes pensadores


mundiais e filósofos gregos. — Mohamed falou e Said concordou com a
cabeça.

— Não dá nem para mensurar o tamanho da perda que a humanidade


teve com o incêndio, e consequentemente com todas as obras que foram
destruídas. — Meu cunhado concluiu.

Suspirei pesadamente. A energia que emanava do local fazia meu


coração bater mais forte. Senti como se deste momento em diante
fizéssemos parte da história também. Apesar de a biblioteca ter sido tomada
pela modernidade ao oferecer coleções digitais de obras históricas, ainda
era como voltar ao passado. Ao menos, na nossa mente.

Após explorar o museu e todas as estantes possíveis, seguimos para


visitar a Cidadela de Qaitbay, um forte construído sobre as ruínas do
lendário farol de Alexandria. Aproveitamos para apreciar a bela vista do
mar e então decidimos seguir para uma sorveteria próxima, onde demos
uma pausa no passeio para podermos nos refrescar.

— O que mais vocês querem ver? — Mohamed questionou enquanto


tomava seu sorvete.

— Agora vamos ao mercado de rua fazer algumas compras. Podemos


encontrar com vocês em algum restaurante depois. — Respondi e Sumaya
me olhou animada.

— Sim, e então vamos fechar esse dia com chave de ouro comendo um
delicioso shawarma. — Ela comentou me fazendo salivar pelo sanduíche.

— Espera, nos encontrar depois? Vocês… Vocês vão fazer compras


sozinhas? — Mohamed pareceu tenso.

— Exatamente isso. — Respondi e ele me encarou.

— Mas não precisamos nos separar. Podemos ir todos juntos. — Propôs


e eu neguei com a cabeça.

— Por que vocês não descansam enquanto isso? — Sugeri e ele


permaneceu impassível.

— Não acho seguro vocês andarem sozinhas. Não conhecemos a


cidade. Nem sequer somos daqui.

— Habibi!

— Ísis, lembre-se do que você me prometeu! — Pediu e eu respirei


fundo.

— Lembro perfeitamente, mas vai ser rapidinho. Faremos apenas


algumas comprinhas e depois iremos nos encontrar com vocês. —
Expliquei e ele piscou nervoso. — Habibi, existe perigo em qualquer lugar
do mundo, e sei me cuidar. Não se preocupe. Além do mais estarei com a
Sumaya.
— Você não vai falar nada, Said? Me ajuda aqui! — Mohamed pediu e
meu cunhado limpou com o guardanapo o sorvete derretido nas mãos.

— Na verdade, não vejo problema no plano delas.

— Relaxa, Mohamed! Vamos apenas aproveitar o nosso sonho juntas.


Nada de mais. — Sumaya também interveio e Mohamed voltou a me
encarar.

— Nada de ruim irá me acontecer. — Tentei tranquilizá-lo.

— Você não pode prometer isso. Não conhece o coração dos outros ao
seu redor. — Murmurou nervoso e eu segurei a mão dele sobre a mesa.

— Realmente não posso prometer isso, mas também não posso me


isolar do mundo. Nem sempre você estará ao meu lado, e está tudo bem.
Isso se chama vida. — Insisti e ele passou a mão pelo rosto.

— Sah. Tudo bem, mas você estará atenta ao celular. Qualquer coisa,
absolutamente qualquer coisa que acontecer é só você me chamar que vou
imediatamente pra lá. Está me ouvindo?

— Estou. Vai ficar tudo bem. — Respondi animada, mas ele


permaneceu sério.

— Desejo com todas as forças que sim. Por Alá, Ísis, me promete que
vai tomar cuidado?

— Prometo. Não se preocupe, Habibi!

Sumaya comemorou animada e assim que terminamos nossos sorvetes,


seguimos de braços dados em direção ao ponto de táxi. E então finalmente
fomos para o mercado de Alexandria. Descemos logo que avistamos as ruas
abarrotadas de lojas vendendo todo tipo de produto.

— Vamos comprar uns lenços também! — Sumaya sugeriu e eu


concordei com a cabeça. — Por Alá, pensei que Mohamed não ia nos deixar
vir. Não me diga que ele é igual ao nosso Ab.
— La, é mais complicado que isso. Ele tem uma espécie de trauma.
Algo ruim aconteceu com alguém próximo dele e tem medo que aconteça o
mesmo comigo.

— Que coisa ruim?

— Uma amiga dele foi abusada.

— Alá, Alá! Que coisa horrível!

— Sim. Horrível mesmo. Infelizmente nenhum lugar é totalmente


seguro para uma mulher. Mas isso não pode nos impedir de continuar
existindo. — Falei e ela ponderou.

— Você está certa. Ao mesmo tempo, é tão triste pensar que existem
pessoas tão más assim no mundo.

Concordei e entramos em uma loja ainda conversando sobre o assunto.


Após fazer várias compras, sentamos um pouco numa pequena praça
observando o movimento incansável de turistas que visitavam o mercado de
rua.

— Said tem sido tão carinhoso comigo. Ele é exatamente o marido que
eu sempre sonhei.

— Fico feliz em saber disso. Você merece toda felicidade do mundo.

— Shukran. Você também merece, e eu já sei que alcançou ela bem


antes de mim. — Brincou sugestiva.

— Mohamed e eu demoramos muito para verdadeiramente nos


encontrarmos. Entretanto, depois que isso finalmente aconteceu parece que
estamos vivendo em um paraíso.

— Isso é tão romântico! Vocês formam um lindo casal. Pena que… Alá,
Alá! Perdão! Eu não devia tocar nesse assunto. — Abaixou a cabeça
timidamente e eu suspirei.
— Está tudo bem. Penso nisso o tempo todo. Me dói muito olhar para
ele e imaginar que talvez eu não consiga gerar seus filhos. — Minha voz
falhou e ela apertou a minha mão.

— Não diga isso! Você deve pensar positivo. Jogar coisas boas no
universo para que elas voltem para você.

— Eu queria pensar positivo, juro, mas tem sido bem difícil. Nem os
nossos pais acreditam que a minha situação tenha uma solução. —
Murmurei magoada e ela segurou o meu queixo me fazendo encarar seus
olhos brilhantes.

— Nossos pais nunca tiveram capacidade de reconhecer a sua força,


querida. Você pode conseguir qualquer coisa. É Ísis, a inabalável, lembra?
— Incentivou e uma lágrima violou meu rosto. Ao notar ela me abraçou
apertado. Ter o apoio dela era essencial para mim. Ela secou as minhas
lágrimas e eu suspirei, me recompondo. — Vamos focar na positividade!
Alá tem o melhor para você. Agora é melhor irmos encontrar nossos
maridos antes que Mohamed coloque a polícia atrás de nós.

Rimos cúmplices e pegamos nossas inúmeras sacolas. Seguimos de táxi


para o restaurante combinado. Assim que passei pela porta meu marido
quase me agarrou em público, visivelmente aliviado ao me ver.

— Finalmente chegaram! Você está bem, Ísis?

— Está tudo bem, Habibi. Apenas estou faminta depois de fazer tantas
compras. — Respondi sorrindo e ele beijou a minha mão.

— Graças a Alá! Fiquei tão preocupado.

— Está tudo bem. — Repeti e ele assentiu ainda nervoso.

— Vamos pedir shawarma! — Sumaya pediu animada e nos sentamos


prontamente à mesa.

Nos deliciamos com o sanduíche de pão sírio recheado com finas fatias
de bife e salada. Após o lanche, seguimos para o helicóptero, para
desespero de Said que seguiu de olhos fechados novamente. Sobrevoamos
próximo da coluna de Pompeu encerrando nossa viagem dos sonhos.

Quando chegamos no Cairo, Mohamed e eu nos despedimos deles e


seguimos para nossa casa.

Estava na frente do espelho experimentando os véus que comprei,


quando pelo reflexo notei Mohamed atrás de mim.

— Gosta desse lenço que estou usando?

— Você fica linda de qualquer jeito! — Elogiou docemente. Olhei no


fundo dos seus olhos e acariciei sua barba.

— Queria te agradecer por ter permitido que Sumaya e eu tivéssemos


um tempo, juntas.

— Você não tem ideia do quanto isso custou a minha paz interior. Por
Alá, o tempo todo fiquei imaginando os piores cenários possíveis.

— O importante é que foi um dia incrível. Nada de ruim aconteceu,


você não precisa ficar tão preocupado comigo.

— Impossível não me preocupar com a minha princesa. — Falou me


dando um selinho. — Mas você está certa. Nem sempre estarei ao seu lado.
Embora farei todo o possível para estar.

Ri balançando a cabeça em negativa e segui até as sacolas. Peguei uma


caixinha em especial e me aproximei dele novamente.

— Isso aqui é para você.

— Um presente? — Se surpreendeu.

— Sim. Hoje você realizou o sonho meu e da minha irmã e fez de tudo,
mesmo que tenha sido extremamente difícil, para que fosse perfeito.
Shukran, Habibi!

— É um prazer fazer você sorrir, Ísis!


Foi inevitável não sorrir novamente. Ele então abriu a caixinha
revelando uma pirâmide em miniatura. Me olhou confuso e eu toquei
carinhosamente no rosto dele.

— As pirâmides são símbolos de poder e riqueza dos antigos faraós.


Então nada mais justo que o meu rei sol também tenha uma para chamar de
sua. — Expliquei e ele sorriu incrivelmente lindo.

— É o presente mais bonito que já ganhei.

— Não diga isso! Ainda tenho outro presente.

— Para mim? Qual? — Perguntou curioso e eu sorri colocando a mão


dele no meu peito.

— O meu coração. Ele é todo seu.

Rapidamente ele me envolveu em um delicioso abraço apertado e beijou


meu ombro. Roçou a barba na minha nuca e falou no meu ouvido:

— Nenhum presente no mundo se compara a esse tesouro. Prometo


cuidar dele com toda a minha alma, habibti.
Capítulo 30
Mohamed

O barulho insistente do meu celular tocou em algum lugar do quarto.


Eu ignorei e apertei o abraço em Ísis que estava dormindo colada ao meu
corpo.

Estávamos completamente exaustos pela viagem à Alexandria. Tanto


que depois do banho deitamos e dormimos quase que imediatamente.
Mesmo cansado, a felicidade no meu peito era genuína depois de tudo que
Ísis me disse. Saber que ela me deixou entrar em seu coração era como
andar nas nuvens.

O aparelho tocou novamente. Abri apenas um olho notando o quarto na


mais completa penumbra. Provavelmente ainda faltava muito para
amanhecer, quem poderia ser a essa hora?

Não me movi e fechei os olhos novamente. Finalmente desistiram.


Porém, quando comecei a adormecer novamente ouvi o telefone da casa
tocar.

Alá, será que aconteceu alguma coisa?

Me afastei cuidadosamente de Ísis e quando sentei na cama ouvi uma


batida apressada na porta. Vesti rapidamente minha camisa e passei a mão
no rosto, tentando manter os olhos abertos.

— Entre! — Ordenei e Rahimah entrou afoita no quarto.


— Perdão, senhor! Mas as notícias não são boas. — Avisou me
deixando preocupado. Ísis mexeu na cama acordando confusa ao notar a
presença da criada.

— O que houve? — Murmurou bocejando.

— Infelizmente houve um ataque a bomba na Arábia. — Rahimah


contou e eu me levantei imediatamente da cama. Segui até ela
completamente desesperado.

— Bismillah! Houve feridos?

— Infelizmente, senhor. — Ela respondeu abaixando a cabeça e eu senti


meu coração doer no peito. Um nó subiu pela minha garganta e eu olhei
incrédulo para ela. — Senhor Ali Abdallah e as duas esposas estavam no
carro alvo.

— La! — Gritei descontrolado. — Não, não pode ser. Não o Ali. Não o
meu irmão!

— Alá, Alá! — Ísis comentou em algum lugar e eu senti o ar sumir dos


meus pulmões, apoiei as mãos nos joelhos, tentando me restabelecer.

Não podiam ter destruído a minha família. Malditos! Malditos!

— Mohamed! — Ísis me abraçou e me empurrou para sentar na cama.

Apenas tombei o meu corpo, completamente incapaz de sair do lugar.

— Eu sinto muito, senhor! — Rahimah disse e eu senti meus olhos


úmidos.

As mãos delicadas de Ísis tocaram meu rosto e eu fechei os olhos por


um instante desejando acordar de um pesadelo.

— Sabem quem fez uma barbaridade dessas, Rahimah? — Ísis


questionou nervosa.
— Rebeldes do Iêmen assumiram a autoria do ataque. — Explicou e eu
abri os olhos sentindo as lágrimas caírem.

Ísis me abraçou e eu deixei minha cabeça cair pesada em seu ombro.


Era como se o mundo estivesse se desfazendo debaixo dos meus pés e ela
fosse o único elo que me mantinha ligado à terra.

— Rahimah, ligue para Yusef e diga para ele preparar o avião! Vou para
a Arábia imediatamente. Meu irmão precisa ser enterrado logo, senão sua
alma ficará pairando sobre seu corpo. E isso não pode acontecer, ele era um
homem justo, deve seguir seu destino. — Falei atordoado e ela assentiu
saindo imediatamente do quarto.

— Calma, Habibi! Nós vamos agora. — Ísis disse passando a mão no


meu rosto, me deixando alarmado.

— La. Você não vai. Pode ser muito perigoso. Com a morte de Ali o
poder agora passou para mim. Eles podem tentar nos atingir e eu… Jamais
irei me perdoar se algo acontecer com você.

— Eu não vou deixar você sozinho em um momento como esse. E nem


adianta tentar me impedir. — Avisou efusiva.

Abaixei a cabeça. Me sentia fraco para discutir. Fraco para dizer


qualquer coisa. Ela me abraçou novamente e deitou a cabeça no meu peito.
Aspirei o perfume de seus cabelos tentando me acalmar.

Ísis então se afastou e se arrumou. Fiz o mesmo em silêncio. O profeta


Muhammad, que Deus o exalte, disse que o morto sofre quando alguém se
lamenta em voz alta. Por isso apenas orei em silêncio para Alá ter
misericórdia da alma do meu irmão.

Seguimos imediatamente para o meu jato particular. Sentamos juntos e


eu observei pela janela o céu começar a clarear. Duas horas depois junto
com o nascer do sol aterrissamos na Arábia.

Seguimos imediatamente para a mesquita e eu deixei Ísis com a minha


tia Maryam. Meu tio Tamir, irmão da minha mãe, me ajudou nos cuidados
com o corpo de Ali. Na verdade, no que restou do corpo dele. Eu nem
sequer pude acreditar quando o vi. Mas não pude chorar. Não se deve
chorar sobre um corpo. Por mais que doa a alma. Porque a nossa vida e
morte estão nas mãos de quem nos criou, e se Alá quis assim eu não deveria
questionar. Suspirei pesaroso e ajudei nos rituais.

Demos três banhos nele em uma sala mortuária. O primeiro para tirar as
impurezas, o segundo canforado, com ervas, e o último apenas com água
pura. Envolvemos em três mortalhas brancas sem costura, perfumadas com
incenso. Depois seguimos imediatamente para o velório numa procissão,
pois não era bom deixar a alma de Ali perecendo na terra. Ela deveria
seguir o seu caminho.

As duas esposas dele, Basmah e Yasmim, tiveram os que restaram dos


seus corpos preparados pelas suas famílias. Os três foram posicionados na
direção da Meca, cidade da Arábia Saudita que é sagrada para nós
muçulmanos.

O velório foi feito rapidamente, fizemos as orações e enterramos os três.


Um pedaço de mim foi junto.

Recebi as condolências de todos. Ali era um rei muito querido, sua


partida atraiu uma multidão. Após agradecer a todos, segui com Ísis para o
palácio.

Tio Tamir falou sem parar na minha cabeça sobre atitudes urgentes que
deveriam ser tomadas quanto ao governo, quanto à caça e extermínio dos
malditos rebeldes terroristas, quanto a redobrar a segurança das refinarias
petrolíferas, quanto à absolutamente tudo. Eu me sentia zonzo com tanta
coisa acontecendo ao mesmo tempo, e então notei uma pequena e linda
princesinha correndo na minha direção.

— Tio Mohamed! — Ela gritou abraçando minhas pernas. — Onde está


meu Ab? — Questionou com os olhinhos curiosos e eu caí ajoelhado no
chão. Beijei sua testa e a abracei em silêncio, incapaz de contar sobre a
morte de seu pai e de sua mãe.
— Samira, vá para o quarto! Depois o tio Mohamed conversa com você.
— Tio Tamir tomou a frente e eu olhei atordoado para ele. — Filho, é
preciso tomar muitas decisões. Sei que o momento é terrível, porém, você
precisa se erguer e se posicionar. É o rei agora. Precisamos de você.

— Eu não consigo, tio. — Murmurei levantando fraco e então senti a


mão de Ísis segurar a minha. Olhei confuso para o seu gesto.

— Eu estou do seu lado, meu rei. E sei que vai conseguir governar esse
país tão bem quanto o seu irmão. — Ela disse docemente colando cada
pedaço que havia se partido dentro de mim. — Foi criado a vida inteira para
isso. É perfeitamente capaz. É o que Ali e seu pai gostariam que fizesse.

Suspirei lembrando de todos os ensinamentos, da força da minha


família e do quanto o povo precisava que eu fosse forte igual a eles. Olhei
para a mulher da minha vida e vi nos olhos dela que realmente acreditava
que eu pudesse cuidar de tudo.

— Shukran, minha rainha! — Agradeci levando sua mão até a minha


boca e depositando um beijo. Respirei fundo tomando coragem e olhei para
o meu tio. — Vamos cuidar do que é preciso! — Falei decidido e ele
pareceu aliviado.
Capítulo 31
Ísis

De repente a nossa vida virou de cabeça para baixo. Quando Mohamed


me disse sobre a possibilidade de um dia nos tornamos rei e rainha da
Arábia Saudita, eu nunca imaginei que isso pudesse acontecer tão depressa.
Muito menos de maneira tão trágica.

O palácio estava cercado por homens armados vigiando qualquer


atividade suspeita. Nas ruas havia muita apreensão visível nos moradores,
mas, mesmo assim, todos fizeram questão de se despedir de Ali. Ele era
bastante respeitado.

Mohamed passou o dia todo em reunião com o tio e com homens de


confiança do irmão. Também recebeu ligações de chefes de estados. Eles
trataram sobre assuntos confidenciais que eu não pude presenciar.

Todos os criados do palácio ficaram atrás de mim, perguntando a cada


minuto se eu precisava de algo. Maryam, tia de Mohamed, me fez
companhia e me explicou tudo sobre tudo, enquanto dois homens
fortemente armados me seguiam a cada passo que eu dava dentro do
palácio. Exigência de segurança que Mohamed fez.

Seguimos pelo longo corredor e Maryam apontou para os aposentos da


pequena princesa Samira. A sobrinha de Mohamed que nos recepcionou na
nossa festa de casamento com pétalas de rosas.

— Quem era a mãe dela? — Questionei curiosa.


— Basmah, a primeira esposa do rei Ali. — Contou e eu assenti. — Ela
demorou muito para conseguir engravidar, quando Samira finalmente veio
para nós, foi uma festa de três dias. Porém, ela nunca mais conseguiu ter
filhos. Por isso, o rei Ali se casou com a segunda esposa, Yasmim, na
esperança de conseguir ter um filho homem.

Engoli em seco. Se Basmah tendo uma linda menina foi motivo para o
rei procurar uma segunda esposa, imagina eu que não poderia ter filho
nenhum?

— E Yasmim não conseguiu?

— La. Havia poucos meses de casamento. Ainda tentavam.

— Que sorte mais triste de Samira, perder os pais assim. — Comentei


me sentindo mal por ela.

— Infelizmente nossos destinos já estão escritos desde o momento em


que nascemos. Alá quis assim.

— Sah. — Concordei e chegamos até a última sala. Era bonita e


decorada com muitas cortinas coloridas.

Maryam apontou para um grande sofá e eu sentei. Estava mesmo


cansada. Aliás, exausta, o dia estava nem na metade e mesmo assim parecia
o mais longo de toda a minha vida.

— Agora a senhora e Mohamed serão responsáveis por ela. — Maryam


contou me deixando surpresa.

— Samira ficará conosco?

— Sim, Basmah não tem parentes próximos aqui na Arábia. Logo,


Mohamed se torna oficialmente responsável pela sobrinha. — Assenti
preocupada em como iríamos cuidar dela e de todo o resto ao mesmo
tempo. — Bom que vocês já treinam para quando os herdeiros vierem. —
Disse me deixando aflita.

— Sah. Com certeza. — Respondi prontamente.


Eu não podia deixar os boatos de Cairo se espalharem pela Arábia. Se
soubessem a minha situação, exigiriam que Mohamed se casasse
novamente.

— Senhora, devo servir o almoço? — Uma das criadas perguntou e eu


assenti atordoada.

Maryam me guiou para a sala de jantar gigantesca e adornada em ouro.


Eu me sentia tonta com o tamanho do palácio. Se a casa de Mohamed no
Egito era enorme, a de Ali era três vezes maior. Eu provavelmente iria me
perder por ali em algum momento.

— Chamem a princesa! — Pedi timidamente e a criada assentiu saindo


apressada para cumprir o meu pedido.

Sentei com Maryam à mesa e logo Samira surgiu. A pobre estava com
uma carinha triste, sem entender nada que estava acontecendo.

— Onde está minha mãe e Yasmim, Zaynah? — A pequena perguntou


para a criada que abaixou a cabeça. — Elas não vão almoçar também?

Todos ficamos desconfortáveis. Mohamed havia prometido que contaria


para ela o acontecido, então eu não podia tomar partido.

— Vamos almoçar, querida! Depois conversamos. — Pedi e ela me


lançou um olhar frustrado, mas aceitou a minha sugestão. — Mohamed e os
outros não virão?

— Não, senhora! Estão em reunião. — Zaynah respondeu e eu assenti.

Nos servimos em silêncio com o kabsa, arroz cozido com galinha e


como acompanhamento verduras salteadas.

Enquanto eu comia pensava no que Mohamed e eu faríamos a partir


desse momento. A morte de Ali nos pegou totalmente desprevenidos. O
povo saudita tinha esperança em nós para além de pegarmos os malditos
que mataram Ali, ainda nos mudássemos para o palácio para que Mohamed
pudesse reinar.
Após o almoço Mohamed me mandou um recado para que eu ligasse
para Rahimah e ordenasse que ela separasse tudo que eu precisaria. Roupas,
joias, remédios. A nossa mudança era definitiva.

Inicialmente Mohamed queria que eu voltasse para o Cairo, ao menos


até pegarem os rebeldes, porém, o tio dele achou perigoso que eu ficasse
distante dele. Pois poderiam aproveitar desse fato para criarem uma
emboscada.

Essa hipótese apresentada me assustou bastante. Nunca tive que tentar


prever um ataque e de repente estávamos no meio de uma pré-guerra.

Passei todos os pedidos para Rahimah e Layla. E Yusef foi buscar


nossas coisas.

✽✽✽

No final do dia Mohamed estava visivelmente exausto. Teve inúmeras


reuniões e graças à Alá recebeu muito apoio de países vizinhos que
contribuíram com mais soldados para o nosso exército.

Seguimos para um quarto de hóspedes que não perdia em absolutamente


nada para a suíte principal. Ele sentou na cama e abaixou a cabeça,
esgotado.

— Quer que eu faça algo por você, Habibi?

— Eu só quero que esse dia deixe de existir na minha vida. —


Murmurou e eu o abracei apertado. Senti sua respiração pesada na minha
pele e ele deitou a cabeça no meu ombro. — Sei que não devo chorar para
não afligir a alma de meu irmão. Mas está sendo muito difícil.

— Eu sei. Sinto muito! — Sussurrei fazendo carinho em seus cabelos


longos e ele suspirou.
— A sorte da minha vida é ter você aqui comigo, minha rainha. —
Falou se afastando e acariciando meu rosto.

— Eu sempre estarei com você, Mohamed. Sempre. — Prometi e ele


sorriu fraco.

Ajudei ele a se deitar na cama e me deitei ao seu lado. Ficamos


abraçados em silêncio enquanto nossas mentes borbulhavam com tantos
problemas juntos. De repente ouvimos uma batida fraca na porta.

— Entre! — Ordenei e Samira surgiu ao lado dos dois homens que


faziam minha segurança.

Ela entrou e eles fecharam a porta atrás dela.

— Tio, meus pais ainda não chegaram. — Samira reclamou triste e meu
coração apertou no peito. Mohamed engoliu em seco e chamou ela com a
mão.

— Querida! — Disse pegando ela para sentar em seu colo. — Seu pai,
sua mãe e Yasmim são pessoas muito preciosas. Eles tiveram uma vida tão
boa e feliz que Alá decidiu que queria eles ao seu lado. Então buscou os três
para lhe fazerem companhia no paraíso.

— Eu não sou preciosa, tio? Por que ele também não me buscou?

— Claro que você é preciosa, minha princesinha. Ele vai te buscar sim,
mas daqui há muitos anos, quando tiver vivido uma vida plena e muito
feliz. Até lá eu e a tia Ísis vamos cuidar de você.

Ela me olhou desconfiada e pareceu ponderar sobre o assunto.

— Eu nunca mais verei meus pais, tio?

Um nó se formou na minha garganta, percebi que em Mohamed


também. Eu me aproximei dos dois e abracei a pequena.

— Verá sim, mas tudo no tempo de Alá. — Expliquei e ouvi ela soluçar
em um choro contido. — Quer dormir aqui hoje conosco? — Perguntei e
ela assentiu.

Deitamos novamente e colocamos ela entre nós dois. Estava muito


magoada com a partida dos pais, embora não entendesse a seriedade do
assunto.

— Conhece a história da princesa do deserto? — Mohamed perguntou


tentando acalmá-la. Ela lançou um olhar confuso e balançou a cabeça em
negativa. — No maior e mais quente deserto do mundo, vive uma linda e
forte princesa chamada Samira.

— Sou eu, tio! — Ela disse surpresa e eu sorri com sua inocência.

— Sim. Essa linda princesinha é um presente de Alá na vida dos tios.


Com sua doçura ela evita que os corações deles sofram.

Ela sorriu interessada e Mohamed pegou na minha mão a levando até a


boca e dando um beijo suave.

— O rei não conseguiria ser forte se não fosse pela rainha e pela
princesinha dele. — Concluiu deixando nós duas admiradas.

Samira deu um sorriso terno para ele e eu sequei suas lágrimas. Era um
começo difícil para nós três.
Capítulo 32
Ísis

Passado o luto oficial de três dias, Mohamed se apresentou ao povo


como novo rei e foi aclamado com honra. O nome da família Abdallah
Shariq tinha uma força impressionante em todo o país.

Senti minhas pernas bambas quando fui apresentada como rainha.


Jamais imaginei que chegaria em um posto como esse na vida. Sempre vivi
na simplicidade e de repente os olhos de todo o mundo estavam voltados
para mim. E foi exatamente esse o problema.

Em meio há tanto caos, após vinte dias em que havíamos nos mudado
para a Arábia, enquanto nosso exército caçava dia e noite os culpados pelo
atentado que levou a vida de Ali e suas duas esposas, o Egito fez o favor de
publicar uma matéria em seu jornal de maior peso sobre os conflitos da
Arábia e sua nova rainha. No caso, eu. E essa manchete chegou ao
conhecimento da mídia Saudita.

Eu fiquei chocada quando no café da manhã encontrei Mohamed


furioso à mesa. E não demorei a entender o motivo de sua ira quando vi a
manchete que dizia:

“Rainha sem herdeiros.”

Como podiam ser tão cruéis comigo? Senti meus olhos lacrimejarem e
levantei imediatamente.

— Ísis, não fique assim! — Mohamed pediu segurando o meu braço. —


Eu vou mandar fechar esse maldito jornal!
— Agora é tarde demais, Mohamed. Todos saberão da minha condição.
E irão me atacar por causa disso.

— Ninguém vai ousar atacar você, habibti! — Prometeu me olhando


nos olhos. — Se alguém fizer isso mando arrancar a cabeça do infeliz.

Uma lágrima desceu quente pelo meu rosto e ele me abraçou jogando
pelos ares a proibição contra um casal ter contato em público.

— Não chora, por favor! — Pediu e eu tentei me controlar. — Eu


preciso ir para uma reunião importante agora. Estamos muito próximos de
acabar com os malditos rebeldes. Preciso que me prometa que ficará calma.
— Assenti para não deixá-lo preocupado e ele secou as minhas lágrimas. —
Mais tarde conversaremos melhor. — Prometeu e me deu um beijo casto
nos lábios, saindo logo em seguida.

Todos os criados estavam perplexos com a atitude dele, mas nada


comentaram. Tia Maryam levantou imediatamente e me seguiu.

— Ísis, precisamos conversar.

— La, não precisamos. — Rebati tentando não chorar e ela correu


parando na minha frente.

— Por que não me contou que não pode engravidar?

— Por Alá, eu não quero mais pensar nesse assunto. Por favor! —
Implorei e ela me olhou muito séria.

— Infelizmente não dá. — Avisou e eu suspirei cansada. — A


esperança de todo o povo Saudita está baseada na família Abdallah Shariq.
Por séculos eles governaram esse país com mãos de ferro. O povo ficará
completamente desamparado se tudo acabar em Mohamed.

— Por favor, pare! Pare de falar! — Supliquei em meio às lágrimas e


ela balançou a cabeça.

— Só quero que se prepare, pois ainda mais em meio a esse caos,


haverá uma grande pressão popular sobre vocês dois.
— Majestade, seu pai está no telefone! — Zaynah avisou e eu coloquei
as mãos tapando meus ouvidos.

— Eu não quero falar com ele. Sei o que dirá, sei o que todos vão dizer.
Chega! Por favor, chega! — Chorei descontroladamente e tanto Maryam
quanto Zaynah correram na minha direção.

— Calma, senhora! — Zaynah pediu e Maryam praticamente me


arrastou me fazendo sentar na cadeira novamente.

— Pegue água para ela! — Pediu e a criada prontamente a atendeu.

Bebi todo o copo de água e não senti efeito algum. Nada podia acalmar
o tormento que eu estava vivendo. A pressão vinha de todos os lados, eu me
sentia acuada.

— Vou para o meu quarto. — Avisei para elas que me lançaram olhares
preocupados. — Por favor, não quero ser incomodada por ninguém.

As duas assentiram e eu me levantei novamente. Segui vagarosamente


pelo extenso corredor com meus seguranças atrás de mim.

Eles pararam na porta e eu a fechei. Corri para a cama e me joguei nela,


usei o travesseiro para abafar meu choro incontrolável.

Passei o resto do dia trancada, não queria ver ninguém. Ouvi o telefone
berrar o tempo todo, provavelmente os meus pais queriam me aconselhar
novamente. Mas eu não queria ouvir.

✽✽✽

À noite Mohamed ainda não havia voltado de seus compromissos.


Preparei um banho na banheira e tirei toda a minha roupa. Entrei
cuidadosamente e pousei minha cabeça na borda.
Recordei da vez em que ambos tivemos uma recaída após a punição
dele de não me tocar. Eu podia quase sentir todo o seu desejo ardente por
mim só por meio das lembranças. Recordei também da última vez que
fizemos amor, no iate no rio Nilo com a bênção do luar. Foi tão lindo, tão
intenso, tão único. As lágrimas desceram pelo meu rosto e completaram a
água na banheira.

Eu não podia suportar a ideia dele fazendo tudo o que fez comigo com
outra mulher. Era demais para mim. Eu sentia uma dor quase física. Eu o
amava muito, muito mais do que poderia imaginar um dia amar alguém na
vida, e obviamente queria vê-lo feliz e realizado em todos seus planos e
sonhos, mas vê-lo casar com outra… Por Alá, juro que não queria parecer
egoísta, mas eu não podia aceitar tal destino. Por mais que eu soubesse que
era o certo, por mais que todos aconselhassem… Eu não podia. Comecei a
chorar mais descontroladamente. Por que isso estava acontecendo comigo?
Por quê?

Após um longo banho me enrolei na toalha e segui cabisbaixa para o


quarto. Me surpreendi ao encontrar Mohamed sentado na nossa cama. Ele
levantou assim que me viu e correu até mim.

— Ah! Ísis, estava chorando? — Lamentou tocando meu rosto


provavelmente inchado. Abaixei a cabeça sem jeito e ele me abraçou
apertado. — Não fique assim!

— É impossível não ficar. Estou sendo bombardeada de todos os lados.


Todos cobram para que eu aceite uma segunda esposa para você. Desculpe,
mas eu não consigo aceitar isso.

Ele me puxou e me fez sentar na cama. Ajoelhou no chão aos meus pés
e segurou as minhas mãos, me olhando nos olhos.

— Lembra quando discutimos no shopping antes do nosso noivado? —


Perguntou e eu assenti confusa com o assunto repentino. — Você me
desafiou dizendo que veríamos quem iria se curvar à quem. E eu estou aqui
agora, de joelhos aos seus pés para dizer que eu me curvo a você. Você é e
sempre será a minha única rainha. Nunca haverá uma segunda esposa.
Nunca.
Meus olhos inundaram em lágrimas e eu puxei ele para um beijo
urgente. Precisava sentir sua boca, seu gosto, seu calor.

— Habibi… — Murmurei com a voz embargada e ele puxou a minha


cintura, sorriu contra os meus lábios se afastando e me olhando nos olhos.

— Mas isso não significa que abrirei mão de ter você de joelhos para
mim também. — Disse malicioso, furtando um sorriso meu. — Podemos
revezar. Em um momento eu me ajoelho para você. — Disse deslizando a
mão para debaixo da minha toalha. — E no momento seguinte você faz o
mesmo por mim.

— Amo a sua luxúria, Habibi! — Admiti e ele sorriu arrancando a


minha toalha e me fazendo estremecer ao sentir seu olhar guloso após
tantos dias.

— Seu corpo é meu templo favorito. — Confessou passeando as mãos


pelos meus seios.

Senti eles incrivelmente sensíveis e Mohamed puxou meu corpo para


ele e encaixou em sua boca, chupando devagar os bicos. Enquanto isso sua
mão desceu para a minha intimidade e seus dedos ficaram ali brincando de
me enlouquecer.

Quando menos esperei ele abriu as minhas pernas, e sua boca me


explorou minuciosamente me fazendo alcançar o paraíso escondido nas
estrelas.

Sua língua percorreu lascivamente cada detalhe de mim, fazendo minha


respiração pesar.

— Goza para mim, minha rainha! — Ordenou com a voz rouca.

Segurei forte em seus cabelos sentindo meu corpo ter espasmos


alucinantes enquanto sua língua me penetrava voraz. Não demorou muito
para que eu explodisse o deixando visivelmente satisfeito. Ele levantou,
tirou a roupa e deitou sobre mim, encaixando seu corpo gostosamente no
meu.
Olhou nos meus olhos intensamente e gemeu ao me estocar sem a
mínima cautela. Forte, bruto e impiedoso como aprendi a gostar. Como o rei
sol que ele me prometeu ser. O meu rei ardente.
Capítulo 33
Ísis

Todos os países árabes possuem duras regras quanto às mulheres,


porém, a Arábia sem dúvidas estava entre os países mais fechados do
mundo. Entretanto, após mais uma semana vivendo no palácio, eu decidi
não aceitar mais tudo isso.

Peguei uma folha de papel e uma caneta e estendi para Samira que me
olhava curiosa.

— Para que tudo isso, tia Ísis?

— Vou te ensinar a ler e a escrever. — Respondi e ela arregalou os


olhos.

— Mas meu Ab dizia que é errado uma mulher saber demais das coisas.
Que isso provocava o haaram.

— A inteligência não provoca pecado. Ela nos afasta da ignorância. —


Expliquei e ela me olhou intrigada.

— O que é ignorância?

— Ignorância é o que a maioria dos homens vive aqui, pensando que as


mulheres não podem ter direitos.

Ela piscou ainda confusa, mas assentiu. Apontei para o papel e escrevi
cada letra do seu nome bem grande no topo da folha.
— Esse é o S. — Expliquei e ela observou atenta. — É a primeira letra
do seu nome. — Tente fazer igual, aqui embaixo.

Ela concordou animada e se esforçou bastante conseguindo reproduzir.


Ditei letra por letra e ao terminar ela olhou maravilhada para o próprio
nome.

— Sa. Mi. Ra. — Apontei e ela repetiu. — Agora vamos fazer o nome
de tio Mohamed. Ele começa com M.

No final das contas escrevemos o nome de todo mundo do palácio na


folha e eu tive que buscar mais folhas no escritório. Samira era muito
inteligente e pegava as coisas bastante rápido.

— E como é meu nome? Sem olhar na outra folha. — Perguntei e ela


apertou a boquinha, pensativa.

— Sei que tem os dois "S" do início do meu nome.

— Exatamente. E tem dois "i's" também. — Expliquei e ela


rapidamente escreveu no papel. — Muito bem! É exatamente assim!

— Mashallah! Isso é tão lindo! Estou aprendendo, tia Ísis! —


Comemorou animada e eu sorri.

— Eu vou te ensinar tudo que sei, Samira. Será uma mulher bem
instruída.

— Shukran, tia! — Falou me abraçando inesperadamente. — Agradeço


muito.

— Não precisa me agradecer, agora vamos voltar às lições.

Ela sentou visivelmente eufórica. Ouvia atenta as minhas explicações e


se aplicava ao máximo no estudo. Era uma menina de ouro.

✽✽✽
Com todo o caos instalado no país era natural Mohamed receber muitas
visitas importantes, vários homens influentes compareciam para nos
oferecer apoio.

Entretanto, eu estava conversando com tia Maryam na sala quando notei


um homem bem mais velho entrar no palácio, estava acompanhado de uma
bela jovem com vestido longo lilás e véu da mesma cor.

— Assalamu alaikum! — Ele cumprimentou com um sorriso sutil no


rosto.

— Wa Alaikum Assalam! — Respondi educadamente e avaliei a moça


sorrindo polida para mim.

— Posso falar com o rei?

— Sobre o que exatamente? — Questionei curiosa e ele franziu a testa,


indignado.

— Creio que seja um assunto de interesse apenas dele. — Respondeu


áspero e eu arqueei a sobrancelha.

— Eu sou a rainha, senhor. Tudo que é de interesse do meu marido, é


meu também. — Avisei no mesmo tom e ele pareceu furioso com o meu
confronto.

— Essa é minha preciosa filha, Umayma! — Apresentou orgulhoso. —


Eu decidi trazê-la até aqui para o rei avaliá-la, pois sei que ele anda muito
atarefado para poder visitar a minha casa.

Olhei incrédula para o atrevimento dele.

— Presumo que o senhor saiba o que está acontecendo no país. —


Ironizei e ele assentiu. — E mesmo assim a sua preocupação é trazer sua
filha para o rei ver?
— É exatamente pensando na situação do nosso país que fiz isso. O rei
precisa urgentemente garantir seu sucessor. Tenho certeza que minha filha
será a mãe perfeita para isso.

Senti o ódio espalhar pelas minhas veias e me aproximei furiosa dele


encarando no fundo de seus odiosos olhos negros.

— Pois acho melhor o senhor pegar sua preciosa filha e sair do meu
palácio imediatamente! — Ordenei e ele arregalou os olhos, perplexo.

— Bismillah! Mas isso é um absurdo! Não sabe ocupar o seu lugar de


esposa?

— O meu lugar de rainha não é obedecer. É mandar também. E eu estou


mandando o senhor sair do meu palácio imediatamente. — Falei furiosa e o
vi sorrir estranhamente.

Virei para trás e me deparei com Mohamed nos olhando de braços


cruzados. O homem parecia contente com o flagra.

— Não ouviu o que a rainha disse? Se retire imediatamente! — Meu


marido disse e o sorriso prepotente do homem desapareceu tão logo surgiu.

— Mas, majestade…

— La! Não repetirei! — Ele vociferou e o homem engoliu em seco.

— Desculpe o incômodo! Já estamos saindo! — Disse puxando a filha


que agora estava completamente envergonhada.

Os dois saíram imediatamente pela porta, observei todos os criados e tia


Maryam ao redor, me olhando incrédulos.

— A partir de hoje está severamente proibida a entrada de qualquer


homem com intenções de apresentar uma segunda esposa para o meu
marido. — Decretei e todos olharam para Mohamed que assentiu me
apoiando. — O nosso país precisa resolver questões muito mais sérias do
que essa preocupação exacerbada pelos herdeiros. O próximo que tocar
nesse assunto será imediatamente expulso. E sim, a rainha também manda!
Todos permaneceram mudos e boquiabertos. Respirei fundo me
recompondo. Mohamed pegou na minha mão e me conduziu até o seu
escritório. Assim que ouvi ele fechar a porta atrás de mim, senti suas mãos
puxarem meus quadris e seu peitoral bater nas minhas costas.

— Acho que alguém está com ciúmes. — Zombou no meu ouvido e eu


empurrei ele, virando de frente.

— Você que ouse pousar esses olhos azuis nas filhas desses homens! Eu
acabo com você! — Ameacei e ele riu gostosamente abraçando a minha
cintura.

— Tenho algo muito melhor para olhar. — Falou acariciando


suavemente o meu rosto.

— Acho bom mesmo. Agora vamos focar no que precisa ser feito!
Precisamos acabar com aqueles malditos! E precisamos mudar algumas
leis.

— Quais leis especificamente?

— Todas as que massacram mulheres. Samira tem oito anos e ainda não
sabe ler. Maryam estava me contando que a maioria das meninas não sabe.
São criadas apenas para casar e nada mais. — Respondi inconformada. — E
por falar em casamento, vamos criar uma idade mínima para isso. É um
absurdo que ainda seja aceito casamentos infantis em algumas regiões.

— Eu sei, mas sabe que mexer nisso será como mexer em um vespeiro,
certo?

— Estou plenamente consciente, entretanto, vou até o fim. Essas


meninas não têm ninguém por elas, precisam de nós para protegê-las.
Imagine nossa Samira casando agora! É um absurdo!

— Por Alá, não gosto nem de imaginar! Você está certa. Vou tomar as
providências necessárias. Será a nova regulamentação com as leis da rainha.
Analise tudo que você acha que precisa ser mudado e então faremos as
mudanças.
— Está falando sério?

— Claro, eu não tenho motivos para mentir para você.

Abracei ela animada e senti sua mão acariciar as minhas costas.

— Vamos juntar os homens e criar uma emboscada para os rebeldes


como você sugeriu ontem. Tive uma ótima ideia — Sugeri e ele me olhou
surpreso.

— Qual?

Contei todo o plano e ele me ouviu atentamente. Seus olhos se


iluminaram e ele sorriu concordado com a cabeça.

— O que seria de mim sem você, minha rainha? — Perguntou divertido.

— Sem mim você estaria perdido, Habibi. — Zombei e ele me puxou


para um delicioso beijo.
Capítulo 34
Ísis

Fazia pouco mais de um mês que vivíamos no palácio e que a nossa


vida havia mudado drasticamente. Porém, algo não tinha alterado em nada:
o nosso desejo um pelo outro.

Estava deitada observando Mohamed se vestir. Ele me olhou sedutor e


eu quase reclamei quando vestiu a camisa escondendo seus músculos.

— Não me olha assim que eu volto para a cama! — Pediu pegando


meus pés e me puxando para ele.

Ri quando cheguei na beirada do colchão e ele se inclinou beijando


meus lábios. Suas mãos puxaram meus cabelos e eu estremeci. Estava tão
excitada que não conseguia sequer disfarçar.

— Eu queria que você ficasse comigo o resto do dia aqui. — Murmurei


em seus lábios e ele deslizou pelo meu pescoço e chupou forte a minha
pele, me arrepiando.

— Eu também queria, mas preciso colocar em prática nossos planos. Se


estivermos certos acabaremos com eles. Estou pensando seriamente em
mandar você e Samira para o Egito.

— Pode mandar a Samira, mas eu não vou a lugar algum sem você.

— Ísis…

— Não adianta, Mohamed. Eu não vou. — Repeti e ele me puxou me


fazendo sentar.
— Não é hora para teimosia. É para sua segurança.

— Eu. Não. Vou. Sair. Daqui. Sem. O. Meu. Homem. — Falei


pausadamente dando um selinho nele a cada palavra.

Ele inesperadamente deitou sobre mim me jogando contra o colchão,


me fazendo gargalhar. Suas mãos apertaram minha cintura de forma
possessiva.

— Repete isso! — Pediu com a voz carregada de desejo e eu sorri


enlaçando seu quadril com as minhas coxas. — Por favor, repete!

— Meu homem. — Falei novamente e senti seu calor me incendiar


inteira.

Ele subiu as mãos para o meu rosto e me beijou sensualmente. Sua


língua deslizava de forma obscena na minha, me deixando cada vez mais
molhada. Senti sua ereção rígida crescer contra a minha intimidade e ele me
apertou em seus braços.

Quando afastou a boca da minha, procurei urgentemente por ar. Ele


colou as nossas testas, a respiração entrecortada, quente, pegando fogo.

— Eu disse que você cederia.

— Nós dois cedemos um pouco. — Corrigi e ele sorriu.

— Tudo bem, eu aceito essa definição. — Falou mordiscando meu lábio


inferior e pressionando cada vez mais o membro contra a minha pelve que o
recebia feliz.

— Tia Ísis! Já acordou? — Ouvimos Samira gritar na porta do quarto e


Mohamed se afastou imediatamente de mim.

Ele sentou e puxou um travesseiro colocando sobre o colo para


esconder a ereção.

Sentei na cama tentando me recompor e respirei fundo. Abanei meu


rosto com as mãos, tentando aplacar o calor.
— Sim, querida! Pode entrar! — Chamei e ela entrou como um
pequeno tornado pulando na nossa cama e me abraçando.

— Tia Ísis, sabe o que eu consegui fazer? — Perguntou extremamente


animada.

— O quê? — Perguntei intrigada com tanta euforia.

— Eu li sozinha o rótulo da massa de biscoitos. — Contou satisfeita.

— Meus parabéns, minha princesinha! — Falei beijando a testa dela.

— Alhamdulillah! — Mohamed agradeceu a Alá. — Tenho duas lindas


flores do deserto tão inteligentes ao meu lado.

— Shukran, tio! Mas isso tudo foi graças à tia Ísis. — Falou fofa e de
repente ficou séria.

— O que foi? Por que murchou tão de repente?

— Lembrei que minha mãe costumava fazer biscoitos enrolados com


aquela massa. Ela sempre fazia em formato de galinha. Brincava que eles
iriam me ciscar, e me fazia cócegas, me fazendo rir. — Contou nostálgica.

— Oh! Meu amor, eu faço biscoitos enrolados para você. Quer? —


Ofereci e ela sorriu.

— Faz em formato de galinha também? — Perguntou voltando a ficar


animada.

— Bom, posso tentar.

Samira sorriu eufórica e pulou da cama puxando a minha mão.

— Vamos logo! Vamos também, tio! — Chamou Mohamed e ele riu de


sua pressa.

— Vão indo na frente! Eu preciso cuidar desse travesseiro aqui. — Ele


respondeu apontando para o colo e eu ri piscando maliciosamente para ele.
Saí do quarto com Samira praticamente me arrastando. Seguimos
imediatamente para a cozinha e eu cumprimentei as criadas.

— O que vai fazer, majestade? — Zaynah perguntou ao me ver mexer


na dispensa.

— Biscoito enrolado.

— Pode deixar que faço para a senhora.

— Não se preocupe. Eu mesma faço. — Falei juntando todas as coisas


que precisava enquanto as empregadas andavam atrás de mim, me fazendo
rir.

— Zaynah também não deixava a mamãe fazer nada. — Samira


confidenciou, pegando uma panela no armário. Rimos cúmplices.

— Pelo menos não é apenas comigo. — Brinquei e ela assentiu.


Demoramos um pouco escolhendo entre tantas travessas a que seria a
melhor opção para nosso galinheiro. Segui até a pia, lavei as mãos e então
observei que a farinha de trigo estava pouca. — Só tem essa farinha aqui?

— La. Tem mais nas latas na prateleira. — Apontou para o alto. — Vou
pegar para a senhora.

— Eu pego, Zaynah. Não se preocupe. — Falei pegando a cadeira e


posicionando próximo da prateleira.

— Já temos galinhas fritas de trigo? — Mohamed perguntou animado


entrando na cozinha.

— Ainda não, mas a tia Ísis já vai fazer. — Samira respondeu sorridente
e eu fiquei nas pontas dos pés para alcançar a lata.

— Por Alá, Ísis! Cuidado! — Mohamed disse nervoso se aproximando


de mim. — Desça daí que eu pego para você.

— Não precisa de tanta preocupação, gente! — Rebati rindo e estiquei


os braços para o alto.
Porém, quando estava quase tocando na lata, minhas vistas subitamente
escureceram e as latas embaralharam na minha frente. Me desequilibrei e
ouvi gritos desesperados ao meu redor.

— Ísis! — Mohamed gritou me pegando no colo antes que eu desabasse


no chão.

Seus lindos olhos azuis foi tudo que eu vi antes da inconsciência me


atingir.

✽✽✽

Acordei confusa, Mohamed e Maryam me olhavam preocupados. Havia


outro par de olhos em mim, e esses eu não conhecia.

— Quem é você? — Questionei e o homem me olhou serenamente.

— Calma, Ísis, o doutor Aziz é médico. Ele veio te examinar. —


Mohamed explicou sentado ao meu lado.

— Me examinar por quê?

— Você desmaiou, querida. — Ele respondeu baixo e apertou a minha


mão, visivelmente aflito. — Por tudo que seja mais sagrado, espero que não
seja nada grave.

Sentei na cama completamente nervosa e notei o homem guardar as


coisas em uma maleta. Ele me olhou sério e meu coração bateu
descompassado no peito. Mohamed apertou a minha mão, também
apreensivo.

E então o que parecia impossível aconteceu.

— A rainha está grávida! — O médico anunciou deixando todos nós


surpresos.
Mohamed inesperadamente me abraçou apertado e nós dois começamos
a chorar no mesmo instante, completamente emocionados.

O nosso filho! O nosso herdeiro estava a caminho!

Alhamdulillah!
Capítulo 35
Mohamed

Parecia um sonho, mas, na verdade, era a realidade mais linda e


esperada do mundo. Ísis permaneceu em silêncio, ainda em choque, sem
crer no que acabara de ouvir.

— Nós fomos abençoados, minha rainha! — Gritei extremamente feliz


a abraçando. — Fomos abençoados!

— Habibi, eu não acredito! Vamos ter um bebê! — Ela disse chorando


copiosamente. — Vamos… Ter… O nosso bebê. — Falou emotiva e eu a
beijei nos lábios por impulso.

Doutor Aziz limpou a garganta, incomodado, mas eu não me afastei


dela. Não podia me afastar. Minha rainha iria ter um filho meu. Nada mais
me importava. Nenhuma regra idiota do universo iria me impedir de beijá-
la ardentemente.

— Vamos, doutor, eu te levo até a porta! — Ouvi a tia Maryam dizer


sem jeito e pouco depois o som da porta batendo ressoou, finalmente fomos
deixados a sós.

As mãos delicadas de Ísis passearam pelas minhas costas e eu forcei seu


corpo para deitar sobre o colchão, ficando por cima dela.

— Eu não acredito que isso está acontecendo! — Murmurou olhando


nos meus olhos. — Meu coração parece que vai sair pela boca. Eu estou
grávida! Grávida! — Comemorou radiante.
— Você me faz um homem muito abençoado! — Falei secando suas
lágrimas e segurando seu lindo rosto. — Alá nos concedeu esse pequeno
milagre! Precisamos celebrar! Chamem todos! Daremos uma festa! Hoje é
feriado!

— Habibi! — Ela disse sorrindo linda e me abraçou. — Esqueceu dos


nossos planos?

— Não, eu nunca esqueço de nada. Também não esqueço que você


ficou me devendo uma atenção hoje mais cedo. — Reclamei e ela riu em
meio às lágrimas.

— Você não toma jeito!

— Nunca. — Garanti descendo meus lábios pelo seu pescoço, ouvindo


seus suspiros pelo meu contato com sua pele quente.

Ela estava incrivelmente excitada e parecia mais sensível que o normal.


Eu não sabia se a gravidez tinha alguma relação com isso, mas estava uma
delícia vê-la tão atiçada desse jeito.

Distribuí beijos entre seus seios e segui descendo até parar na barriga.
Levantei sua blusa e a observei tão linda ainda sem sinal aparente da
gestação. Beijei carinhosamente acima do umbigo, depois nele e então
beijei cada centímetro de sua pele onde acomodava nosso pedacinho. Olhei
para cima e notei o brilho dos seus olhos me observando emocionada.

— Que transborde saúde! Que a sua gravidez seja tranquila e que nosso
bebê nasça saudável e forte! — Desejei eufórico sentindo as lágrimas
caírem dos meus olhos.

— Inshallah! — Desejou erguendo as mãos para cima.

— Essa criança vai ter tudo! — Prometi passando meus dedos em seu
ventre. — Todo amor do mundo. Toda atenção e carinho. Vai ser um
pedacinho nosso. Pedaço da nossa história.
— Parece que estou sonhando! — Ela comentou com a voz embargada
e eu dei um último beijo em sua barriga e subi meus lábios novamente.

— Pois é a mais pura realidade. Se prepare para a festa! Quero o país


inteiro celebrando essa notícia.

— E sobre aquele assunto?

— Não se preocupe com nada. Está tudo sob controle. — Garanti e ela
sorriu aliviada.

— Alá! Preciso contar isso para os meus pais! Eles não acreditarão! —
Lembrou animada e eu sentei na cama.

— Vou desmarcar todas as minhas reuniões. Nada me tira do seu lado


hoje. — Falei a ajudando a levantar. — Cuidado, Ísis! Levanta devagar!

— Estou bem, Habibi. Não precisa disso.

— Você está carregando nosso pedacinho aí dentro. Tem que tomar


cuidado agora. — Avisei a abraçando. — Amo muito vocês!

Ela sorriu ficando nas pontas dos pés e me beijando carinhosamente.


Depois seguiu para dar a notícia aos pais que ficaram simplesmente
incrédulos. Ela riu ironicamente quando eles pediram perdão a ela por
pressionarem tanto para aceitar uma segunda esposa.

— A pior parte foi vocês nunca terem ficado ao meu lado. Não acham
que eu merecia que ao menos meus pais me estendessem a mão quando o
resto do mundo me deu as costas? — Rebateu e eu observei atentamente a
discussão. — Não se preocupem, diferentemente dos senhores eu me
importo com a minha família. Não apenas com o dote. Muito menos com
posição social, afinal se eu fosse olhar isso jamais procuraria os senhores
novamente, pois sou uma rainha agora.

— Touché! — Murmurei e ela me olhou pensativa.

— Acha que estou pegando muito pesado com eles? — Questionou


tapando o telefone.
— La. Nem um pouco. Eles merecem depois de tudo que te disseram.
— Garanti e ela pareceu aliviada.

— Posso perdoar sim, mas somente quando se arrependerem


sinceramente. E isso não aconteceu. Estão dizendo isso agora apenas por eu
estar grávida. Se eu não estivesse, continuariam me tratando mal. Repensem
seus conceitos! Até mais! — Concluiu encerrando a ligação.

— Aliviada? — Questionei e ela suspirou.

— Muito. Nem eu sabia que precisava colocar isso para fora. —


Respondeu e eu beijei a testa dela. — Agora vou ligar para Sumaya, ela vai
ficar tão contente. Ela sim sempre me apoiou.

Assenti e segui para fora do quarto. Informei a todos do palácio e fora


dele também sobre a festa. Todos ficaram exultantes com as boas novas. A
festa passou a ser preparada minuciosamente. Passei algumas ordens para o
meu exército via comunicador por satélite e encontrei Samira no meio do
caminho. A peguei no colo e a rodopiei no alto ouvindo sua doce risada
infantil.

— Tia Ísis está bem? — Perguntou preocupada e eu assenti. — Que


bom! Ela caiu e vocês sumiram.

— Sua tia está grávida! Logo teremos um bebê nesse palácio!

— Bebês são tão fofos! Adoro crianças! — Disse animada me deixando


confuso.

— Mas você também é uma criança, minha princesinha.

— Sou uma criança grande! — Rebateu apontando o dedinho no meu


rosto, para enfatizar seu argumento. Ri a colocando no chão e concordando
com a cabeça. — Zaynah preparou meus biscoitos galinhas! O senhor quer?
Ela está terminando de fritar.

— La, mas vá oferecer para a sua tia. Talvez ela queira.

— Sah. — Concordou já correndo pelo corredor.


— Cuidado! — Gritei, mas ela já tinha sumido caminho afora.

Voltei a fazer minhas ligações e então tio Tamir veio me cumprimentar.


Conversamos brevemente sobre alguns detalhes e então seguimos para a
cozinha.

Os preparativos estavam a todo vapor para o banquete. Enquanto isso,


em um canto Samira comia feliz suas galinhas de trigo e Ísis a
acompanhava na mesma animação. Comia como se fosse o melhor prato do
deserto. Olhei intrigado para a sua voracidade em "matar" as galinhas de
trigo. Nunca a vi comendo com tanto apetite.

— Habibti, talvez não seja bom você comer muita fritura. Mandei
Zaynah preparar alguns vegetais e frutas frescas para você. Tem que se
alimentar bem a partir de agora. — Aconselhei e ela sorriu.

— Eu dou conta desse homem preocupado com a minha alimentação


agora? — Ela brincou e todos riram na cozinha.

— Está tudo pronto, senhor! — Um dos criados me avisou. — Já


espalhamos a notícia pela mídia.

— Shukran! — Agradeci e ele assentiu saindo em seguida. — Querida,


vá se arrumar que os convidados já chegarão.

— Só você mesmo para dar uma festa tão cedo. — Ela comentou
sorrindo e eu me segurei para não abraçá-la na frente de todo mundo.

— Minha rainha merece todas as honras do mundo. — Respondi baixo


e ela me lançou um olhar doce.

✽✽✽

A festa se estendeu para além do palácio. Nas ruas as pessoas se


aglomeravam em bandos. A euforia de todos era quase palpável.
No centro do salão principal esperei Ísis terminar de se arrumar. E então
ela chegou mais linda do que nunca. O longo vestido branco e véu da
mesma cor me recordavam do nosso casamento. Seguiu como um anjo na
minha direção. Por um segundo era como se não tivesse mais ninguém ao
nosso redor. Apenas eu e ela. E o nosso pedacinho, claro.

Abri um sorriso do tamanho do mundo e peguei em sua mão. Eu podia


ouvir meu coração batendo forte no peito.

No exato momento em que ela parou ao meu lado, tão linda quanto a
lua, ouvimos o som potente da explosão de uma bomba ecoar, fazendo o
chão sob os nossos pés tremer.
Capítulo 36
Ísis

Parecia o início de um terremoto, porém, o som dos explosivos


deixaram claro que não era um mero evento da natureza.

— Um. — Mohamed disse quando a primeira explosão aconteceu.


Todos se assustaram e ele segurou firme em minha mão. — Dois. —
Prosseguiu contando e houve mais outro som ensurdecedor. Me aproximei
mais dele e senti ele me abraçar apertado. — Três. — Murmurou antes do
último grande estouro acontecer.

As luzes do palácio piscavam incessantemente e todos ficaram


desesperados. Tentei permanecer calma, pois se tivéssemos conseguido o
nosso objetivo, seria a glória.

Mohamed e eu nos olhamos preocupados. As luzes finalmente se


estabilizaram e o falatório aumentou ao redor. Várias vozes juntas entoavam
orações em árabe como um mar em busca de salvação.

Então finalmente o comunicador de Mohamed tocou. Senti o meu


coração ficar mais tranquilo e ele sorriu para mim.

— Conseguimos, senhor! Matamos todos! Não sobrou ninguém! — A


voz abafada e eufórica do homem do outro lado me fez respirar aliviada.

— Alhamdulillah! — Agradeci erguendo as mãos para o céu.


Eu não queria me alegrar com as mortes desses vermes, mas me
reconfortava saber que estávamos a salvo.

— Acalmem-se, todos! — Mohamed gritou e imediatamente um


silêncio ensurdecedor tomou conta de todo o palácio. — Essas explosões
que ouviram foram o nosso exército atacando os rebeldes. Eles estavam
prestes a nos atacar. — Todos nos olharam confusos e amedrontados, então
Mohamed prosseguiu. — Descobrimos que o ataque ao meu irmão, Ali, foi
um acidente. Na verdade, os rebeldes queriam matar não somente o rei
como também o maior número de pessoas possível. Eles queriam criar uma
grande instabilidade no nosso país para assim saquearem as nossas
refinarias petrolíferas. Por isso montamos um grande esquema em segredo
com outros três países. Criamos essa emboscada para esses malditos.
Sabíamos de seus interesses. Sabíamos que tentariam nos matar e agimos
primeiro. Agora eles estão mortos. Os assassinos de Ali Abdallah Shariq,
Basmah Hijazi Abdallah e Yasmim Fayed Abdallah estão mortos! E isso é
apenas um recado. Esse deserto tem dono e ninguém vai roubar o que é
nosso! Ninguém vai entrar aqui para ceifar as nossas vidas e nem tomar o
nosso poder. Se tentarem novamente iremos esmagá-los como baratas! —
Gritou retomando a euforia do povo. Era visível o alívio de todos presentes.
Afinal o medo de um novo ataque era uma realidade constante desde a
morte de Ali.

— Nosso maior medo era que os rebeldes conseguissem se infiltrar


entre nós e nos destruíssem. — Falei chamando a atenção de todos. —
Pessoas com ideias extremistas não são controladas, elas vão até o fim em
busca de um objetivo. E a Arábia é o berço do ouro negro líquido. A
ambição pelo nosso petróleo e por toda fortuna que ele movimenta seria a
nossa ruína se eles não fossem mortos primeiro. É um efeito cascata.
Primeiro conseguiram matar o rei regente, depois desestabilizariam o país
nos matando também. A Arábia sem governo ficaria à mercê do Iêmen e
então seria o fim do país. É simplesmente revoltante imaginar que por
dinheiro e poder eles estavam mesmos dispostos a dizimar com todos nós.
Desde o dia em que Mohamed me contou suas descobertas eu insisti para
montarmos uma emboscada. No início ele ficou relutante, queria criar algo
longe do palácio para nos poupar, entretanto, quando o Irã resolveu oferecer
apoio ao nosso exército ele se sentiu mais confiante. Com reforço de
mísseis guiados por satélites e mais cinquenta mil soldados fortemente
armados não haveria erro. E a oportunidade perfeita surgiu hoje. Sabíamos
que ao vincular a notícia da nossa festa de grande porte com a nossa
presença, as majestades vigentes, atrairiam os malditos terroristas, afinal
eles queriam nossas cabeças. Era a oportunidade que tanto desejavam.
Caíram no nosso jogo. E assim morreram exatamente como fizeram com
Ali, Yasmim, Basmah, e como pretendiam fazer conosco. Dente por dente
não é a minha justificativa preferida, mas pela dor e angústia que causaram
no coração de Samira, Mohamed e de todos vocês, eles precisavam pagar.
Que Alá se encarregue de julgá-los!

— Vida longa ao rei Mohamed! — Um homem gritou no meio da


multidão e todos o acompanharam.

— Vida longa à rainha Ísis! — Outro homem gritou me deixando sem


jeito.

Todos entoaram a aclamação e Mohamed sorriu para mim.

— E vida longa ao pedacinho de nós dois que cresce no ventre da minha


rainha! — Mohamed gritou fazendo todos repetirem animados.

Meu coração aqueceu de alegria. Toquei na minha barriga ainda sem


conseguir acreditar que dentro de mim crescia e se formava um bebê. Passei
a mão devagar como se ele pudesse sentir meu carinho. Meu alívio.
Finalmente estávamos livres da ameaça dos terroristas. Ele estava a salvo
assim como todos nós. Como se Mohamed pudesse ler meus pensamentos
ele me olhou nos olhos.

— Eu jamais deixarei que atinjam a minha família novamente. Se


sequer ameaçarem chegar perto eu extermino impiedosamente com todos.
Eu não vou hesitar um segundo em defender vocês. — Garantiu sério.

— Eu te amo! — Murmurei e ele se aproximou mais de mim.

— Eu nunca imaginei que seria tão apegado a alguém assim na minha


vida, quanto sou a você. — Disse em voz baixa e eu senti minhas
bochechas esquentarem. — Músicos, podem começar a festa! — Ordenou
olhando para a banda e eles rapidamente se prepararam. A canção ecoou
harmoniosa, os acordes doces e melódicos da cítara, instrumento de cordas,
nos envolveu. A voz aveludada do cantor começou a entoar a música e
Mohamed me estendeu a mão. — Dança para mim, minha rainha? — Pediu
e eu prontamente peguei na mão dele.

— Sempre. — Respondi e ele sorriu lindo.

As pessoas abriram um círculo nos deixando no meio e bateram palmas


no ritmo da música, nos olhando animadas. Porém, nada me interessava
mais que o olhar de Mohamed fixo em mim.

Dancei lentamente ondulando os quadris para um lado e para o outro e


ele abriu os braços me acompanhando. Sorri brincando com as minhas
mãos no ar e girei ao redor dele sendo acompanhada religiosamente por sua
atenção.

No fundo, sabíamos que por sermos majestades de uma terra tão rica
ainda teríamos que lidar com muitos conflitos externos. Entretanto, eu
sentia no meu coração que enquanto estivéssemos juntos ninguém poderia
nos derrubar.
Capítulo 37
Mohamed

Não eram nem cinco horas da manhã e ela já estava debruçada sobre a
privada. De novo. Todas as manhãs eram assim desde que descobrimos
sobre a gestação.

— Não precisa ficar aqui comigo, Habibi. Pode voltar a dormir. — Ísis
insistiu pela milésima vez e eu bocejei, sonolento.

— Estamos juntos nisso, minha rainha. — Murmurei fazendo carinho


nas costas dela. — Sente-se melhor?

— La. A ânsia não passa.

— Devíamos adiantar a consulta com o médico. Ainda faltam dez dias,


se continuar passando mal desse jeito até lá pode ser bastante perigoso. —
Aconselhei preocupado e ela suspirou.

— Tia Maryam disse que o enjoo é normal.

— Não pode ser normal tão intenso assim todos os dias. Deve haver
alguma solução para isso. — Insisti e ela suspirou ajoelhando no chão do
banheiro.

— Vai descansar! O dia nem amanheceu ainda.

— La. Não vou deixar você e meu pedacinho sozinhos. Além do mais,
nem estou com sono. — Menti e no mesmo instante meu corpo me traiu me
fazendo bocejar.
— É nítido como não está com so… — Ela parou subitamente de falar e
vomitou mais uma vez.

Isso definitivamente não era normal.

Segurei os cabelos dela e assim que terminou finalmente conseguiu


levantar. Lavou a boca e o rosto tentando se sentir um pouco melhor, mas
era visível que não estava bem. Voltamos para a cama e foi apenas o tempo
de abraçá-la para cair no sono. Fiz carinho em sua barriga, pensativo.
Decidi voltar no assunto para adiantar a consulta assim que ela despertasse.
Dormi pouco depois.

✽✽✽

— Habibti! — Chamei e ela apenas virou para o outro lado. — Querida,


acorde! Você precisa se alimentar.

— Me deixa dormir, por favor! — Murmurou com a voz abafada contra


o travesseiro.

— Já está na hora do almoço, Ísis. Você dormiu o dia todo. Estou


extremamente preocupado com você. — Confessei e ela abriu os olhos
lentamente.

— Me sinto tão cansada. Parece que corri uma maratona.

— Vamos, por favor, adiantar a consulta?

— Sah. Tudo bem. — Concordou e eu ergui as mãos para o ar.

— Alá, Alá! Finalmente! Achei que teria que te arrastar para o médico.
— Comemorei e ela sorriu se espreguiçando na cama. — Tenho uma notícia
para você, mas não sei se gostará.

— Se for algum problema prefiro saber outro dia. — Pediu e eu


acariciei o rosto dela.
— Não dá para ser outro dia. Saiu nos jornais do mundo sobre o que
fizemos com os rebeldes do Iêmen na semana passada. E bom, sua família
viu. Estão vindo para cá agora.

— O quê? — Ela sentou rapidamente na cama, me assustando.

— Por Alá! Não faça isso! Sem movimentos bruscos, por favor! Pode
acabar se machucando e ferindo nosso pedacinho.

— Mohamed, nosso bebê não será prejudicado pela forma como eu me


sento. — Rebateu parecendo irritada.

— Apenas estou pedindo para ser mais cuidadosa. — Expliquei e ela


revirou os olhos, impaciente. — Ah! Os hormônios! Já havia me esquecido
deles. Boa tarde, hormônios! Será que posso conversar com a minha
querida esposa sem que vocês alterem o humor dela?

— Engraçadinho! — Zombou ainda irritada. — Quando minha irmã


chegará?

— Hoje à tarde. — Respondi e ela assentiu. — Entretanto, ela não está


vindo sozinha.

— Claro, Said está vindo com ela.

— Sim, mas não apenas ele. — Contei e ela me encarou. — Seus pais
também estão vindo.

— Como é? — Questionou incrédula.

— Isso mesmo que você ouviu. Eu também achei absurdo eles


decidirem vir aqui depois de tudo, mas aparentemente eles ficaram
preocupados com a nossa retaliação aos invasores.

— Meus pais ficaram preocupados? — Indagou e eu assenti já


esperando uma enxurrada de xingamentos, afinal, seu humor estava
terrivelmente alterado.
Entretanto, acertei a alteração, mas errei em qual humor assumiria a
situação. Ísis me encarou com os olhos cheios de lágrimas, me deixando
aflito.

— Eles viraram as costas para mim quando mais precisei… E agora


estão subitamente preocupados? — Perguntou com a voz embargada. —
Alá sabe o quanto desejei uma visita deles na nossa casa no Cairo. —
Fungou secando uma lágrima que escorreu na bochecha. — Uma visita que
nunca aconteceu.

— Não chore, por favor! — Pedi preocupado a abraçando.

— Eles não me procuraram depois da conversa que tivemos após a


cirurgia, somente agora que estou grávida estão vindo atrás. Não se
importam comigo de verdade. — Soluçou chorando copiosamente.

— Calma, Ísis! Por Alá! Vou buscar água para você.

— Eles não me amam.

— Claro que te amam.

— La. — Rebateu desolada e eu tentei secar suas lágrimas, mas eram


muitas. — Se me amassem não teriam me abandonado.

— Querida... Eu preciso te contar uma coisa, mas preciso que você me


prometa que não vai ficar brava. — Pedi preocupado.

— Fala!

— Me promete primeiro, por favor!

— O-ok. — Gaguejou entre lágrimas. — Pode falar.

— Bom… Eu proibi seus pais de irem à nossa casa no Cairo. Não gostei
da forma que eles te trataram quando ficaram sabendo… Da sua situação.
Tive receio de continuarem colocando o dedo na ferida sobre a
possibilidade de não poder engravidar… Mas saiba que fiz isso apenas para
te proteger. Sinto muito! Pensei que estava fazendo o certo. Não imaginei
que você queria a visita deles mesmo depois de tudo. — Contei nervoso e
ela permaneceu em silêncio me olhando. — Juro que se soubesse não teria
feito isso. Sei que deveríamos ter conversado. Eu apenas tentei te preservar
em um momento tão delicado. Por Alá, habibti, diz alguma coisa! Você está
me odiando, certo?

Ísis secou as lágrimas em silêncio. Senti meus músculos tensionarem,


esperando uma explosão de ódio, mas para minha total surpresa ela apenas
me abraçou.

— Você fez a coisa certa, eles não me dariam paz mesmo. — Murmurou
e eu fiz carinho nas costas dela. — Além do mais, se quisessem falar
comigo, teriam dado um jeito.

— Não pense nisso! Não vai te fazer bem. Vamos almoçar, que tal? —
Propus e ela assentiu.

— Vamos. Estou mesmo faminta.

Mesmo não achando necessário ela aceitou minha ajuda para levantar
da cama, e depois dela ter ido ao banheiro seguimos para o almoço. Ísis
repetiu três vezes o prato. Nunca a vi com tanto apetite antes.

Mais tarde eu estava no escritório em casa, resolvendo questões


burocráticas do país, quando recebi a notícia da chegada da família da
minha rainha. Respirei fundo tentando me preparar para o que estava por
vir.

Segui para a sala do palácio onde me deparei com as irmãs coladas em


um abraço apertado.

— Cuidado, Sumaya! Não aperte muito a minha doce esposa! Meu


pedacinho está dentro dela. — Alertei e minha cunhada riu se afastando de
Ísis.

— Não seja exagerado, Habibi! — Ísis me repreendeu e eu dei o meu


melhor sorriso.
— Cuidadoso é a palavra certa. E então, fizeram uma boa viagem?

— Eu sim. Agora não posso dizer o mesmo quanto ao Said. — Sumaya


respondeu divertida e todos encaramos o rapaz à nossa frente.

— Voo difícil? — Perguntei segurando a risada.

— Por Alá! Eu estava quase descendo do avião e vindo a pé. — Ele


respondeu exasperado nos fazendo rir. Entretanto, quando os meus sogros
entraram na sala o silêncio foi consensual. Todos olhamos para a Ísis que
ficou subitamente séria.

— Você está bem, minha filha? — Minha sogra questionou e ela apenas
assentiu. — Ficamos tão preocupados quando soubemos da guerra.

— Muito preocupados. Não é perigoso atacarem novamente? — Senhor


Wazir questionou.

— Não seriam imbecis de insistirem nisso. Exterminamos com todos


que estavam aqui e meu exército está atento ao mínimo sinal de um novo
ataque. — Respondi e eles pareceram mais aliviados.

— Alá, Alá! Deve ter sido terrível para você presenciar tal situação,
Ísis! — Senhora Fatimah comentou se aproximando da filha.

— Mais terrível é não poder contar com meus pais para nada. — Ela
murmurou magoada.

— La, não diga uma coisa dessas, filha! — A mulher pediu nervosa e os
olhos marejados da minha rainha indicavam que os hormônios estavam a
dominando novamente.

— Estou mentindo por acaso? Vocês nem sequer lembram que existo.
Apenas porque estou grávida vieram até aqui. Porque agora eu finalmente
não mancharei o nome dos Hadid. Não me procuraram depois de
recomendar que eu fosse devolvida, ou pior, que eu aceitasse um segundo
casamento para o meu marido. Não foram capazes de me dar colo mesmo
vendo o quanto eu estava abalada! — Gritou irritada e então subitamente
colocou a mão no peito.

— Ísis! — Dissemos todos juntos e eu corri na direção dela.

— Está bem, habibti? — Questionei preocupado.

— Estou com falta de ar. — Respondeu me deixando aflito.

— Vamos ao médico agora mesmo. — Avisei e a mãe dela começou a


abanar com as mãos.

— Calma, querida! Você não pode se estressar. — Sumaya implorou.

— Não queríamos te fazer mal. Nossa intenção era apenas ver como
estava. Admito que fomos duros com você, mas, por Alá, fique calma! Se
quiser, vamos embora agora mesmo. — Senhora Fatimah propôs.

— Sah. Vamos embora, minha filha. Sinto muito por termos errado
tanto com você. Eu principalmente. Mas juro que foi sempre pensando no
melhor para o seu futuro. — Senhor Wazir disse parando ao lado da esposa.

— Por isso o senhor mentiu para o Mohamed sobre eu querer me casar


com ele? Por isso nunca me contou que ele queria saber a minha opinião?
— Ela gritou e ele abaixou a cabeça, envergonhado.

— Apenas pensei que ele poderia te proporcionar uma vida melhor. E


eu estava certo. — Abriu os braços indicando o palácio.

— Os fins não justificam os meios, Ab. — Sumaya interferiu


aparentemente irritada também.

— Sei que não, mas tudo que fiz por vocês foi na intenção de protegê-
las. Por Alá, não se prepara um homem para ser pai de menina! O tempo
todo somos consumidos pelo medo de que os outros ao redor possam fazer
mal, que possam machucar o coração de vocês. Sei que sempre fui muito
rígido, nunca deixei que saíssem sem meu conhecimento e disso não me
arrependo. O mundo não é tão generoso para as mulheres quanto é para os
homens. E sei que interferi e agi mal na vida de ambas, mas também não
me arrependo. Foi a forma que encontrei de colocá-las no melhor caminho
que pude. Me perdoem por ser esse velho ultrapassado que diz tantas
bobagens, mas nunca duvidem do meu amor! Vocês são o maior presente
que Alá me deu. Se errei foi tentando acertar. E, Ísis, você é minha
primogênita. Desde que vi seus olhos pela primeira vez, eu soube que
nasceu para ser grande. E eu nunca tive grandeza alguma para lhe oferecer.
Quando um Sheik tão respeitado e poderoso bateu a nossa porta… Eu
apenas pensei que era certo colocá-lo na sua vida. Você finalmente poderia
ter tudo que eu jamais pude lhe dar.

— Eu nunca quis riquezas, Ab. Tudo que sempre quis era compreensão.
— Ísis murmurou um pouco mais calma.

— Me perdoa, filha! — Ele pediu novamente e então pegou na mão


dela. — Por favor! Não era a minha intenção te magoar. Alá é minha
testemunha que só fiz o que pensei que seria melhor para você. Me perdoa,
majestade!

— Nos perdoe por tudo, filha! — Fatimah pediu pegando a outra mão
dela, e ambos a olharam esperançosos. — Erramos em não nos adaptarmos
aos novos tempos. Na nossa época era comum seguir as tradições sem
questionar absolutamente nada. Sem dar ouvidos aos sentimentos. Errei
muito em não priorizar o seu coração, querida. Sinto muito por não ter te
dado apoio em vez de despejar pressão sobre os seus ombros. Hoje eu
percebo o quanto te fiz sofrer com as minhas palavras. Mohamed estava
certo quando nos proibiu de voltar na casa de vocês. Apenas pioramos a
situação com nossas crenças arcaicas. Por favor, nos perdoe por isso!

Lágrimas brotaram do olhar de Ísis e ela apenas assentiu sem dizer mais
nada. Sei que ela ia precisar de um tempo maior para digerir a situação, mas
naquele momento, talvez pelos hormônios, talvez por ela mesma, decidiu
colocar momentaneamente uma pedra no assunto.

— Alhamdulillah! Finalmente a paz reina na nossa família! — Sumaya


comemorou aliviada. — Então finalmente posso contar a novidade.

— Que novidade? — Ísis questionou confusa e todos encaramos a


minha cunhada que segurou a mão de Said que sorria de orelha a orelha.
— Também estou grávida! — Revelou radiante.

Festejamos a boa notícia e as irmãs deram um abraço apertado


novamente. O Senhor Wazir e a esposa Fatimah realmente erraram em
muitas coisas, mas se tem algo que fizeram impecavelmente foram as filhas.
A coisa mais linda do mundo era ver ambas felizes.
Capítulo 38
Ísis

A sensação mais emocionante de toda a minha vida foi sem sombra de


dúvidas ver a minha barriga crescer. Era surreal como aos poucos meu
corpo estava se adaptando para acomodar não apenas uma, mas duas novas
vidas dentro de mim. Sim, uma gravidez de gêmeos! Por isso os sintomas
foram tão intensos no início. Mohamed e eu ficamos incrivelmente
surpresos com a notícia, mas optamos por não saber os sexos até o parto.

Mohamed estava deitado do meu lado e passava a mão carinhosamente


pelo meu ventre. Ainda não estava enorme, mas já se notava a gravidez.

— Será que podem me ouvir? — Questionou curioso.

— Eu não faço ideia, mas acho que ainda não. — Respondi incerta e ele
olhou para a minha barriga.

— Ei, pedacinhos! É o papai falando! — Começou me fazendo rir. —


Eu amo tanto vocês sem nem vê-los pessoalmente. Vocês trouxeram uma
alegria tão grande para nós! Além do mais estão deixando sua mãe ainda
mais gostosa com esses peitões!

— Mohamed! — O repreendi envergonhada e ele gargalhou. — Por


Alá, não diga esse tipo de coisa para os nossos bebês!

— Mas você disse que eles não nos ouvem ainda. — Rebateu divertido.

— Eu não tenho certeza.


— Tudo bem. Em todo caso… — Falou me abraçando e me olhando
nos olhos. — Bebês, é melhor taparem os ouvidinhos porque o papai vai
fazer a mamãe gemer muito agora.

— Por Alá! Tanto homem no deserto e eu me casei com o mais


pervertido de todos. — Zombei e ele riu gostosamente me beijando na boca.

— Vai dizer que não gosta?

— Eu não gosto. Eu amo. — Respondi e ele sorriu contra os meus


lábios.

Deslizou sua língua para dentro da minha boca e os dedos para o centro
das minhas pernas. Eu me sentia sempre acesa perto dele, mas depois da
gravidez as sensações tinham se multiplicado um milhão de vezes. Tudo era
incrivelmente mais intenso. Ele começou a me penetrar girando devagar o
dedo e me fazendo vibrar. Eu sentia meu corpo convulsionar com o ritmo
aumentando cada vez mais rápido e então subitamente ele parou e penetrou
devagar, me torturando.

Sua boca desceu para os meus seios e ele demorou neles por um longo
tempo. Notei que estava ainda mais tarado por eles desde que tinham
aumentado de tamanho. Era tão sexy ver o movimento de sua boca sugando
devagar os biquinhos enquanto sua mão não cessava, indo e vindo dentro da
minha intimidade.

— Mohamed… — Murmurei ofegante sentindo a proximidade do


orgasmo.

Ele ergueu o olhar para o meu rosto e aumentou o ritmo dos dedos
enquanto sua boca buscava o outro seio me sugando com vontade.

Senti o meu corpo contrair e esparramar debaixo da pele e tremi


fechando as pernas ao redor de sua mão.

Demorei a conseguir me recompor. O meu peito subia e descia e eu o


olhei fraca. Mohamed sorriu e tirou os dedos de dentro de mim e levou até a
própria boca chupando obsceno a umidade.
— Você é tão doce, querida! — Brincou me fazendo sorrir.

— Por falar em doce… Me deu uma vontade de comer chocolate. —


Contei sentindo minha boca salivar e ele franziu a testa.

— Chocolate? Agora?

— Sim. Chocolate ao leite. — Respondi passando a língua pelos meus


lábios só em imaginar o sabor do doce.

— O leite eu posso providenciar. — Falou me lançando um olhar


malicioso e eu o olhei perplexa.

— Eu não acredito que você disse isso. — Empurrei ele o ouvindo


gargalhar. — Vou fingir que não ouvi.

— Desculpa, não resisti. Mas chocolate não é muito saudável para


grávidas…

— Ah! Não, Habibi, por favor! Estou com muito desejo.

— Tudo bem, então vou providenciar os benditos chocolates para você.

— Shukran!

— Tudo para a minha rainha. — Replicou me dando um selinho.

Depois levantou e pegou o celular saindo do quarto. Permaneci deitada


na cama e observei o sol claro lá fora pela janela. O dia já havia nascido há
tempos, mas eu me recusava terminantemente a sair da cama.

Mohamed voltou pouco depois e colocou o celular sobre a cômoda,


deitando ao meu lado novamente.

— Consegue esperar quatro horas para comer o chocolate? —


Questionou e eu franzi a testa, estranhando sua pergunta.

— Consigo, mas por que especificamente quatro horas?


— É que mandei o Yusef ir buscar no Líbano. — Respondeu
naturalmente e eu sentei na cama, arregalando os olhos.

— Espera, você mandou Yusef pegar o avião e ir buscar chocolate em


outro país? — Perguntei incrédula e ele assentiu. — Mas por quê?

— Porque os chocolates libaneses são uma delícia! Derretem na boca e


nos transportam para o céu. Você vai amar, tenho certeza.

Olhei em choque para a naturalidade que ele encarava a situação. Ele


sorriu me abraçando e beijou a minha testa.

— Agora vamos voltar para onde havíamos parado. — Disse deitando


em cima de mim. — Hoje tenho uma reunião importante. A lei que permite
à mulher dirigir vai entrar em vigor.

— Mashallah! Que maravilha! — Comentei empolgada. — Elas


amarão. Serão mais independentes.

— Graças a você. — Disse tocando carinhosamente no meu rosto e eu


puxei a mão dele e a beijei.

— Você faz parte disso, Habib. Tenho muito orgulho do homem que
você é. — Confessei e ele me olhou intensamente.

— Você me fez melhor, Ísis. Tornou tudo melhor desde que chegou na
minha vida.

Fiz carinho na barba dele. Senti meu coração em festa. Ele sorriu me
beijando novamente.

— Desse jeito não sairemos da cama hoje. — Falei rindo e ele sorriu
cúmplice.

— Por mim eu não sairia. — Murmurou voltando a fazer carinho na


minha barriga. — Mas preciso ir para a reunião. Logo seus bombons
chegarão. Te garanto que vai valer a pena esperar.
— Também te garanto que vai valer a pena esperar pela noite. — Falei
maliciosamente e ele sorriu interessado.

Muito relutante, ele saiu de cima de mim e foi trabalhar. Decidi também
levantar e segui para dar lições para Samira que esperava ansiosa para
aprender mais.

Quando Yusef chegou, carregava quase uma butique inteira de doce.


Chamei Mohamed e dividi os chocolates com todo mundo do palácio e
ainda sobrou um tanto.

Eram mesmos deliciosos, comi sentindo o prazer do chocolate derreter


na minha boca sob o olhar luxurioso de Mohamed. Era engraçado, pois ele
estava quase pulando em mim, mas precisava se controlar por conta de
todos ao nosso redor. Mordi outro bombom e apertei os lábios, fechei os
olhos, gemendo satisfeita. Quando abri novamente os olhos, notei
Mohamed quase colado em mim.

— Não me provoca assim que eu te arrasto para o nosso quarto! —


Ameaçou em voz baixa e eu sorri travessa chupando as pontas dos meus
dedos com chocolate. O olhar dele seguiu fielmente meus movimentos e ele
engoliu em seco. — Ah, Ísis, essa noite você não me escapa.

— Inshallah! — Desejei com todas as forças lançando um sorriso


sugestivo.

No seu fogo abrasador eu queria me queimar inteira. Sempre.


Capítulo 39
Ísis

O desenrolar dos meses expandiram imensamente o meu ventre. Meus


bebês mexiam demais, quase não me deixavam dormir. A minha fome se
tornou voraz, tanto por comida quanto por sexo. Mohamed amou esse
período, prometeu até me engravidar mais vezes. Era um pervertido
assumido.

Na etapa final da minha gestação eu só conseguia desejar que meus


pedacinhos nascessem logo. Apesar da constante ameaça de um parto
prematuro, tudo ocorreu tranquilamente até o nono mês de gestação.
Embora fosse terrível para abaixar, para levantar eu precisava de ajuda e eu
só queria dormir. Um sono que não passava nunca. Por sorte os enjôos
passaram, mas os desejos não, pelo contrário, esses eram constantes. E
Mohamed fazia questão de realizar todos eles. Sempre atencioso conosco.

Sumaya e eu passamos mais da metade da gestação no telefone


trocando experiências uma com a outra. Mas no caso dela era apenas um
bebê mesmo. Ela e Said estavam imensamente felizes por isso.

— Está bem, habibti? — Mohamed questionou ao meu lado e eu


suspirei pesadamente.

— Estou sentindo uma dor incômoda nas costas. — Respondi me


sentando na cama e ele me olhou preocupado.

Desceu a mão pela minha lombar e pressionou suas grandes mãos


quentes na minha pele descendo até as nádegas. Depois contornou meu
corpo e acariciou minha enorme barriga. Estava dura como pedra. Ele me
puxou para um beijo terno e eu senti uma forte fisgada me atingir. Me
afastei do beijo, nervosa.

— Acho que vai nascer. — Contei e ele arregalou os olhos.

— Bismillah! Vou chamar tia Maryam e Zaynah imediatamente! —


Avisou levantando apressado, me assustando.

— Mohamed, se veste primeiro! — Gritei e ele me olhou atordoado. Só


então recordou que ainda estava completamente nu.

Rapidamente ele se vestiu e me ajudou a colocar uma camisola. Então


saiu correndo pela porta me deixando sozinha. Senti uma contração
endurecer ainda mais a minha barriga.

— Por Alá! — Passei a mão em toda a extensão do meu ventre e senti


um líquido quente deslizar pelas minhas coxas. — Alá me ajude!

Rapidamente todas as mulheres do palácio surgiram com bacias de água


e toalhas limpas.

— Calma, querida! Respira! Ligamos para a médica, ela já deve estar


vindo! — Tia Maryam disse segurando minha mão e apertando com força.

Zaynah abriu minhas pernas com cuidado. Minha respiração ficou mais
apressada. Senti o meu coração diminuir e aumentar no peito a cada
contração. A dor era terrível, dilacerante.

— Alá, me ajude! — Implorei sentindo o suor banhar meu rosto.

— Faz força empurrando! Alá vai te amparar! — Maryam disse e eu


tentei fazer o que ela mandou, mas doía ainda mais.

Gritei apavorada. Zaynah me ofereceu um pedaço de pano para morder


e abafar meus gritos. Cerrei meus dentes nele e gritei com força.

As lágrimas banharam meu rosto, senti uma dor ainda mais latejante
atravessar meu ventre.
— Força! Isso! — Zaynah incentivou segurando a minha outra mão.

— Por favor! Nasçam logo meus pedacinhos! — Murmurei com a voz


abafada pelo pano.

As lágrimas aumentaram, a dor também. O tempo passou torturante. A


médica finalmente chegou e eu pensei que com ela seria mais rápido,
porém, não foi. Depois de três horas me contorcendo eu senti que não
aguentaria mais.

— Está nascendo! Faz força! — A médica gritou.

Chorei me sentindo fraca. Tentava empurrar e não conseguia. A dor me


fazia gritar até a rouquidão. Apertei a mão da tia Maryam e senti Zaynah
empurrar a minha barriga para baixo.

Foi então que ouvi um choro agudo ecoar no quarto. Era a música mais
linda que meus ouvidos já escutaram. A música da vida.

Minhas lágrimas aumentaram, meu coração ficou aliviado ao ver


Zaynah pegar meu primeiro pedacinho no colo. Mas a dor não havia
acabado ainda.

— Por Alá! Falta o outro! — Gritei desesperada.

— Força, querida! Seus herdeiros precisam de você! — Tia Maryam me


encorajou e eu sorri em meio às lágrimas.

A dor pareceu tão insignificante comparada à alegria que abastecia o


meu coração. Enchi meu peito de ar e gritei com todas as minhas forças
sentindo meu corpo expulsar o segundo bebê.

O choro foi ainda mais potente. Me senti tonta, parecia que desmaiaria,
de fraqueza e de emoção.

— Lalalalalalalalalalalala! — Todas as mulheres gritaram juntas


celebrando a chegada dos meus bebês.
Maryam cobriu minhas pernas com o lençol. Tirou o pano da minha
boca e com uma toalha limpa secou o suor do meu rosto. Pisquei letárgica,
esgotada e em completo êxtase.

Vi a médica examiná-los e cortar os cordões umbilicais. Notei a porta


abrir com violência e Mohamed entrou apressado parando diante da cama.
Seu olhar pousou em mim antes de olhar em volta e observar duas criadas
dando banho nos nossos bebês.

— Foram abençoados com dois meninos, majestades. — Zaynah contou


nos deixando boquiabertos.

— Por Alá! — Mohamed disse com a voz embargada chorando feito


uma criança. Sentou na cama me abraçando e eu me rendi às lágrimas
também. — Você me faz o homem mais feliz do mundo!

Assim que terminaram de vestir os bebês, as criadas nos entregaram


nossos pedacinhos.

— Esse é o filho mais velho! — Zaynah falou entregando para


Mohamed o pequeno bebê de cabelos castanhos e olhinhos azuis iguais aos
dele.

— E esse é o caçula! — A médica Soraia falou me entregou o outro


pedacinho extremamente igual ao primeiro, mas com menos peso.

Nove meses dentro de mim para nascerem a cara do pai!

Olhamos admirados nossos meninos. Mohamed respirou fundo tentando


controlar as emoções que o atordoavam, pois era chegado o momento da
mensagem sobre a unicidade de Allah e da profecia de Muhammad, que a
Paz e a benção de Deus estejam com ele. Era hora de recitar o Adhan, o
chamamento da oração, no ouvido direito de cada bebê para que as
primeiras palavras que eles ouvissem após o nascimento fossem sobre Alá.

— Allahu Akbar! — Disse " Deus é grande" no ouvido do pedacinho


que estava em seu colo. Repetiu mais três vezes e as frases seguintes repetiu
apenas duas vezes. — Testemunho de que não há outra divindade além de
Deus. Testemunho de que Muhammad é o Mensageiro de Deus. Vinde para
a Oração! Vinde para a salvação! Allahu Akbar! Não há outra divindade
além de Deus! — Concluiu e nos olhamos emocionados. Cuidadosamente
trocamos de bebês e ele repetiu o mesmo processo com o nosso outro
pedacinho agora em seu colo. — Que sejam sempre iluminados por Alá!

— Inshallah! — Desejamos todos juntos e ele pegou mel e passou nos


meus lábios.

— Shukran por fazer a minha vida tão doce, minha rainha! — Falou me
olhando nos olhos e eu sorri do tamanho do mundo.

— Hora de nomear os herdeiros! — Tia Maryam anunciou e Mohamed


e eu nos olhamos.

— O filho mais velho irá se chamar Omar, que significa primeiro filho e
vida longa! — Mohammad anunciou olhando para o bebê no meu colo.

— E o filho mais novo irá se chamar Rayhan, que significa o favorecido


Por Alá. — Falei olhando para o outro bebê. — E ambos terão como
segundo nome Ali, em homenagem ao tio.

— Mashallah! Nomes lindos! Alá irá chamá-los por eles! — Tia


Maryam falou encantada.

As criadas recolheram todas as coisas, a médica voltou a me examinar e


me passou alguns exames para fazer com os bebês no hospital. Em seguida,
amamentei meus dois pedacinhos ao mesmo tempo, e ri do apetite voraz
deles.

— Agora entendo porque você estava tão gulosa ultimamente. —


Mohamed comentou divertido. — Com essas duas ferinhas dentro de você
não tinha como ser de outra maneira.

— Sah. Isso explica tudo. — Concordei rindo e ele beijou a minha testa.

— Você me faz um homem feliz simplesmente por existir! — Falou


fazendo carinho no meu rosto. — Tenho algo especial para você. — Disse
levantando e indo até o closet.

Terminei de alimentar meus meninos e tia Maryam pegou Omar do meu


colo, me deixando apenas com meu caçula. Notei Mohamed voltar com
uma caixa de joias. Ele ajoelhou ao lado da cama e a abriu.

— Esse é o coração do mar. Uma das joias mais raras do mundo. Seu
diamante azul cuidadosamente lapidado serviu como inspiração para os
ocidentais em um famoso filme. — Contou e eu olhei com atenção a bela
joia à minha frente. — Como no nosso noivado eu te dei o coração rubi,
agora te dou o coração diamante. A minha intenção é colecionar todos os
corações de pedras preciosas do mundo para você que é dona do meu
coração, minha rainha.

Senti meus olhos inundados de emoção.

— Shukran, Habibi! — Murmurei agradecida antes dele me beijar na


boca impulsivamente quase fazendo tia Maryam correr com o nosso outro
pedacinho no colo.
Capítulo 40
Mohamed

Eu nunca pensei nas coisas mais difíceis da minha vida, aquelas que
foi preciso lutar arduamente, me esforçar até a última gota de suor para
conseguir concretizar, ou até mesmo para sobreviver. Entretanto, de um
tempo para cá decidi enumerar tudo em uma lista. O primeiro tópico sem
sombra de dúvidas foi conquistar Ísis. Tive que enfrentar inúmeras batalhas
para finalmente tê-la por inteira para mim. Em segundo lugar foi assumir o
poder após a perda do meu irmão mais velho. Tudo me atingiu ao mesmo
tempo, e eu me senti como uma bússola quebrada no meio do deserto. A
terceira foi aceitar abater os terroristas usando o seu próprio jogo cruel e
sanguinário. E por último, mas não menos difícil, conseguir dar banho em
dois bebês idênticos e descobrir qual deles já tomou banho e qual ainda
precisava tomar.

— Mohamed, precisa de ajuda? — Ísis questionou entrando no nosso


quarto para provavelmente verificar o motivo da minha demora na tarefa
que me prontifiquei em fazer.

— La. Eu sou o rei dessa terra, mulher. Eu consigo dar banho nos meus
herdeiros sozinho. — Respondi convicto e ela cruzou os braços e arqueou
uma sobrancelha, visivelmente desconfiada.

— Por que está nervoso assim?

— Eu não estou nervoso. — Menti e ela se aproximou olhando os


nossos pequenos sapecas balançar os pezinhos no ar.
— E por que está olhando para nossos pedacinhos como se esperasse
que eles te contassem algo? — Questionou perspicaz e eu coloquei as mãos
no quadril, me rendendo à confissão.

— Porque um deles tomou banho e não querem me contar qual. —


Respondi e ela riu balançando a cabeça.

Ao se aproximar os dois ficaram eufóricos a olhando e obviamente


querendo colo. Ela pegou um dos bebês e aproximou do rosto.

— Cheirinho de bebê limpinho! — Concluiu beijando o rosto dele. —


Foi Rayhan quem tomou banho.

— Então agora é a sua vez! — Falei para Omar o pegando no colo.

Ísis sentou na cama vestindo o nosso caçula, enquanto eu batalhava para


dar banho no mais velho sem sair completamente molhado. Ele batia os pés
dentro da banheira jogando água para todos os lados.

— Os bebês já estão prontos? Posso brincar com eles? — Samira


perguntou invadindo o quarto e pulando na cama, ajoelhando sobre o
colchão ao lado de Ísis.

— Princesinha, já dissemos que vai demorar até você poder brincar com
os meninos. — Expliquei terminando de ensaboar Omar. — São muito
pequenos ainda.

— Disseram isso quando eles nasceram. Já faz três meses que isso
aconteceu e estou esperando até hoje. — Argumentou emburrada.

— E ainda vai demorar muitos meses para eles conseguirem brincar. —


Ísis explicou colocando Rayhan deitado na cama e Samira fez beicinho,
inconformada.

Após terminar o banho, enrolei Omar na toalha e levei para Ísis poder
vestir a roupa nele. Sentei ao lado de Samira e a abracei.

— Não fica assim, querida! Logo eles correrão com você pelo palácio.
— Inshallah! — Ela desejou ansiosa. — Ab, o senhor está todo
molhado! — Riu apontando para a minha camisa encharcada após dar
banho nos meninos. Eu e Ísis nos encaramos surpresos.

— Me chamou de Ab? — Perguntei intrigado e Samira abaixou os


olhinhos, timidamente.

— Desculpe, tio Mohamed! É que… Meu Ab foi morar com Alá no


paraíso… Eu queria que o senhor fosse meu Ab agora. E que a tia Ísis fosse
minha Am.

Ísis olhou emotiva para ela e a abraçou apertado no mesmo instante.

— Claro que serei sua mãe, princesinha. Eu sempre quis ter uma
menininha linda assim como você. — Falou fazendo ela sorrir docemente.

— E eu serei o seu pai com o maior prazer do mundo. Jamais


substituiremos Ali e Basmah em seu coração, mas sempre estaremos aqui
por você. — Garanti.

— Então vocês prometem que não vão embora com Alá como meu Ab e
minha Am fizeram? — Pediu com os olhinhos cheios de lágrimas e Ísis
engoliu em seco. Também fui pego de surpresa.

— Nós prometemos fazer o possível para isso demorar bastante para


acontecer. — Ísis e eu falamos ao mesmo tempo, e ela nos abraçou.

No mesmo instante os gêmeos começaram a chorar alto nos olhando, e


Ísis sorriu se afastando de Samira.

— Esses dois são possessivos iguaizinhos ao pai. — Zombou me


fazendo rir e eu roubei um beijo de seus deliciosos lábios.

Assim que ela pegou os gêmeos no colo, ambos pararam de chorar. A


genética nunca falha mesmo.
Capítulo 41
Ísis

Quando os gêmeos completaram seis meses de vida, Mohamed e eu


decidimos levá-los para o Cairo, para que meus pais pudessem revê-los.
Aproveitei o momento para encontrar Sumaya, que mimou muito meus
bebês, além de deixá-los brincar com o priminho, o pequeno Hartmut. Ele
era muito fofo. Tinha os olhos da minha irmã e o sorriso do pai. Sumaya
estava radiante e harmoniosa com Said, o que me deixava extremamente
feliz. Afinal, tudo que fiz para realizar seu sonho valeu a pena. E agora ela
tinha uma família incrível também.

Voltar ao Cairo foi uma sensação estranha e abrasiva. As pessoas me


tratavam como se eu fosse uma celebridade por ser uma rainha, mas mais
que isso, tentavam apagar tudo que já haviam espalhado ao meu respeito no
passado, quando me recriminaram por não poder ter filhos.

Assim que saímos da casa dos meus pais, fiz questão de visitar um lugar
em especial. Mohamed seguiu ao meu lado com Rayhan no colo e eu com
Omar. Samira ficou descansando na casa dos meus pais.

Entramos no imponente prédio de paredes alvas, repleto de enormes


janelas com vitrais modernos. Porém, toda a beleza e requinte da estrutura
não conseguiam encobrir a falta de caráter que abrigava dentro. Chegamos
à edição do jornal The Cairo Gazette e o diretor chefe nos recebeu
visivelmente constrangido.

— Assalamu alaikum! — Ele cumprimentou com um sorriso nervoso


nos lábios.
— Wa Alaikum Assalam! — Respondemos e ele apontou para
sentarmos nas duas cadeiras à frente da sua mesa.

Sentamos com os nossos filhos e eu encarei o homem à minha frente.

— Em que posso servir, majestade? — Ele perguntou olhando para o


Mohamed.

— Na verdade, quem quer conversar com você, sou eu. — Avisei e ele
me olhou apreensivo. — Quero falar com você e o responsável pela matéria
“rainha sem herdeiros”. — Exigi e ele engoliu em seco.

— Sobre… Is-isso eu queria mesmo me desculpar… — Gaguejou e eu


permaneci séria.

— Eu quero falar com quem escreveu e com quem publicou agora.


Pode ser? — Interrompi áspera e ele assentiu.

— Sah. Claro. Pode sim. — Respondeu pegando o telefone e digitando


o número com pressa. "— Mazin, venha até minha sala imediatamente! —"
Falou no telefone e rapidamente desligou voltando a me olhar assustado. —
Senhora, eu realmente gostaria de me desculpar…

— La. Ainda não começamos a conversar. Saiba esperar sua hora de


falar. — Rebati irritada e ele rapidamente se calou.

Pelo canto do olho vi Mohamed olhando furioso para ele. Estava se


segurando para não agredir o homem. Desde aquela época ele quis puni-los
por transformar minha vida em um verdadeiro inferno, mas eu soube
esperar. Eu confiei em Alá e minha justiça chegou.

O tal escritor finalmente entrou na sala e paralisou assim que passou


pela porta e nos viu. Fez uma breve reverência e abriu a boca para nos
cumprimentar, mas fui mais rápida.

— Não seja hipócrita ao desejar que a paz de Alá esteja comigo, quando
há quase um ano e meio me tirou ela ao publicar aquela maldita matéria! —
Vociferei irritada e ele arregalou os olhos.
— Majestade, eu…

— Eu não dou a mínima para suas justificativas baratas. Vocês não


pensaram duas vezes antes de lançarem palavras envenenadas no vento para
me atingirem. Por causa de vocês eu fui massacrada pela sociedade, quase
enlouqueci!

— Senhora, por favor, não sabíamos que poderia ter filhos afinal. — O
editor interferiu e eu lancei um olhar mortal para ele.

— Mesmo se eu não pudesse engravidar, isso era algo que só


interessava a mim e ao meu marido. E não a todo Oriente Médio!

— Mas como rainha…

— Como mulher. — Rebati no mesmo instante. — Como mulher eu


deveria ter sido respeitada. Deveria ter sido preservada. Não pelo nome da
minha família e nem pelo nome do meu marido, mas pelo meu nome. Ísis.
Eu sou uma mulher e vocês não souberam respeitar o meu corpo. A minha
vida. Estão tão presos em conceitos arcaicos que não mediram as
consequências do que essa atitude poderia acarretar.

— Por favor, tente nos entender… — Mazir começou a argumentar e eu


lancei um olhar desencorajador para ele.

— Não continue! Será pior para você! — Falei firme e ele abaixou a
cabeça. — O que eu tenho para dizer é muito simples. São apenas duas
coisas. A primeira é que faço questão que vocês vejam os príncipes
herdeiros da Arábia Saudita, cumprimentem a sua alteza! — Ordenei e os
dois se juntaram rapidamente na nossa frente e reverenciaram meus
pequenos bebês. Então seus olhares assustados reencontraram os meus. —
Agora peguem suas coisas e saíam daqui! A partir de hoje esse jornal é
meu, e ele será usado para vincular notícias importantes para acabar de uma
vez por todas com esse massacre às mulheres.

— Ma-mas…
— Se minha rainha tiver que repetir uma palavra sequer vocês dois irão
se ver comigo. — Mohamed ameaçou furioso ao meu lado e os dois se
calaram imediatamente.

— Eu tenho pena de vocês dois. Até hoje não aprenderam a ouvir o que
uma mulher tem a dizer. — Ironizei levantando e eles rapidamente se
curvaram diante de mim. — Não servem nem para ser criados.

— Senhora, por favor, reconsidere! Sou ótimo editor, posso te ajudar


a…

— Da sua pequenez quero apenas distância! Sua edição não serve nem
para limpar a poeira desse escritório. Jamais aceitarei alguém que não sabe
respeitar mulheres no meu jornal. — Falei entre dentes e Mohamed
levantou também, com os olhos em brasa, fixos nos dois. — Espero nunca
mais ter o desprazer de encontrá-los na minha vida. Ah! E escrevam a
última manchete de vocês: A rainha e seus herdeiros têm mais o que fazer
do que se preocupar com o futuro fracassado de vocês dois.
Epílogo
Três anos depois…

Ísis

Terminei de passar óleo de essência de rosas no meu corpo e deitei na


cama, recebi um abraço apertado de Mohamed, que logo se prontificou a
cheirar a minha pele, se deliciando com o perfume suave e me deixando
arrepiada.

— Eu não acredito que as crianças dormiram cedo hoje. — Comentei


ainda incrédula e ele sorriu beijando a minha testa.

— Precisamos aproveitar esses minutos adiantados que ganhamos. —


Sussurrou malicioso e eu ri abraçando ele.

— Como podemos aproveitar esse tempo? — Perguntei sarcástica e ele


passou a mão pela barba fingindo pensar.

— Essa pergunta é muito difícil. Vejamos! Podemos tomar um bom chá.


Ou quem sabe discutir em uma ponte por aí.

— Em pensar que foi assim que tudo começou. Por Alá, eu te detestei
tanto à primeira vista! — Contei e ele gargalhou jogando a cabeça para trás
no travesseiro. — É sério, lembro de pensar que não queria te ver nunca
mais. — Contei rindo, me apoiando eu seu peitoral.

— E eu não consegui tirar você do meu pensamento. Por Alá, eu


fechava os olhos e via claramente você me afrontando. Tão deliciosamente
atrevida! — Contou fazendo carinho nos meus cabelos. — Lembro de
pensar: essa mulher é das que querem estar à frente de um homem.

— Eu nunca quis andar nem na frente e nem atrás de um homem. Meu


lugar é ao lado. — Expliquei e ele deslizou os dedos pela lateral da minha
bochecha e acariciou os meus lábios.

— Eu não me importo que você ande à minha frente. É até melhor para
encaixar em você. — Falou olhando fixamente para a minha boca e eu ri.

— Impressionante como você só pensa nisso, Mohamed!

— Correção: só penso nisso com você. — Replicou com a voz rouca.

— Eu acho bom que seja apenas comigo mesmo. — Enfatizei séria me


afastando e ele riu me abraçando e me jogando contra o colchão.

— Quanto a isso não precisa se preocupar, minha rainha! Meu desejo é


inteiramente seu.

Seus lábios tomaram os meus sem pressa em um beijo lentamente


gostoso. Suas mãos se ocuparam de nos livrar de toda a roupa e então senti
ele chupar meu pescoço me marcando, me fazendo suspirar. Sua ereção
roçou rígida no meio das minhas pernas me fazendo ansiar por ter ele
dentro de mim.

— Ab! Am! — Ouvimos três vozes gritar na porta do nosso quarto e


paralisamos.

— Não entrem! Por que não estão nas suas camas? — Mohamed gritou
e eu rapidamente nos cobri com um lençol.

— Rayhan acordou primeiro, então acordou o Omar e os dois me


acordaram. — Samira gritou explicando. — Agora queremos brincar!
Brinca com a gente, Ab?

— Onde está a Zaynah? — Perguntei preocupada.


— Está aqui no corredor, Am. Ela se ofereceu para brincar com a gente,
mas não sabe brincar como os senhores. — Samira reclamou e nós rimos.

— Tudo bem. Vá com os seus irmãos e Zaynah de volta para o seu


quarto, que a mamãe e eu já vamos. — Mohamed mandou.

— Sah! — Concordou animada.

— É melhor irmos logo, pois eles não desistirão da nossa companhia.


— Falei e ele segurou os meus braços.

— Nós vamos sim, mas antes temos algo a resolver aqui. — Disse
voltando a beijar meu pescoço. — Eu não gosto de deixar nada inacabado.
— Sussurrou no meu ouvido me arrepiando inteira. — Fica de quatro para
mim, minha rainha! — Ordenou me deixando excitada.

Tirei o lençol sobre nós e rapidamente me ajoelhei sobre a cama,


sentindo seu corpo encaixar atrás do meu. Mohamed pincelou lentamente o
seu membro na minha intimidade fazendo a minha pele queimar.

— Adoro quando você me obedece assim, habibti. — Ele murmurou


entrando devagar em mim, me roubando gemidos ofegantes.

Sua mão deslizou pelas minhas nádegas apalpando fortemente enquanto


ele passou a distribuir beijos pelas minhas costas. Uma mão contornou a
minha cintura e deslizou para o centro das minhas pernas. Aumentou o
ritmo da penetração enquanto seus dedos brincaram massageando
sensualmente o meu ponto mais sensível.

Ao longo do nosso casamento aprendi que amor é quando as duas partes


cedem em prol do relacionamento e do prazer. Eu cedia para ele na cama,
enquanto ele cedia para mim na vida. O percurso não foi nada fácil, mas foi
necessário.

Seus movimentos de vai e vem intensificaram enquanto seus dedos não


pararam um segundo sequer também. Apertei o lençol com força e fechei os
olhos sentindo o êxtase me dominar por completo.
Ele estocou cada vez mais forte e mais bruto, puxando meu cabelo para
trás e me roubando um beijo.

Nós dois explodimos juntos em um orgasmo intenso. Desabei na cama


com ele por cima de mim. Nossas respirações descompassadas se
encontraram e ele me puxou para um beijo terno.

— Amo você! — Falamos inesperadamente ao mesmo tempo.

Sorrimos nos beijando mais. Após nos recompor e nos vestir, seguimos
para o quarto de Samira e vimos Zaynah bocejando cansada entre as
crianças.

— Pode descansar, Zaynah! Shukran por ficar com eles! — Agradeci e


ela assentiu sorridente, saindo apressada.

— O que vocês estão fazendo? — Mohamed questionou sentando no


tapete junto com eles.

— Ab! Estamos brincando de tapete mágico, mas Zaynah não sabia


brincar direito! — Samira reclamou.

— Isso é um ultraje! Ela não sabe que tapetes mágicos voam? —


Questionou brincalhão e Samira negou com a cabeça. — Então vem cá! —
Mohamed disse a pegando e levantando no alto causando suas gargalhadas.

— Am! Também quero! — Rayhan correu para mim e eu levantei ele no


alto.

Mohamed se abaixou para colocar Samira no chão e Omar correu


disparado.

— Eu vou pular no Ab! — Gritou escalando as costas de Mohamed e


nos fazendo rir.

— Cuidado, Ab! — Samira gritou e Mohamed pegou Omar no colo o


fazendo gargalhar com cócegas.
— Me ajuda, Am! — Meu pedacinho pediu, coloquei o caçula no chão e
corri até o mais velho, tomando ele do pai, e saí correndo pelo quarto.

Mohamed, Samira e Rayhan tentaram nos pegar e as risadas eram como


um mantra no nosso lar. Mohamed nos pegou e nós sentamos no chão
recebendo as cócegas.

Rayhan pulou na minha barriga e me abraçou apertado.

— Eu protejo a Am! — Disse docemente e Samira pulou em cima de


mim também, cúmplice.

— Eu também vou proteger a Am. — Ela disse e Mohamed parou.

— Seus traidores! — Brincou causando mais risadas. — Agora todos


serão punidos por protegerem a rainha! — Falou teatralmente fazendo
cócegas em todo mundo.

Eu e meus pequenos protetores revidamos e ele caiu no chão sendo


soterrado por crianças eufóricas.

— Socorro! Eu que preciso de ajuda agora! — Pediu rindo e Omar


pulou no peito dele.

— Eu te ajudo, Ab! — Gritou sapeca.

— Muito bonito! Seu pai você ajuda, seu traidorzinho! — Zombei


pegando ele no colo, ouvindo sua gargalhada.

— Mas eu "tava" te ajudando também, Am. — Se defendeu me


abraçando e eu ri exausta, deitando ao lado de Mohamed no tapete.

Samira deitou entre nós e Rayhan deitou sobre Mohamed. Entre risadas
eles acabaram se cansando também.

Os gêmeos dormiram em cima de nós dois e o nosso cansaço não


permitiu que saíssemos do lugar.
— Acho que esse tapete é realmente mágico. — Mohamed murmurou.
— Estou considerando não levantar daqui. — Ri concordando e ele pegou a
minha mão e beijando-a. — Vamos dormir por aqui mesmo, rainha lua?

— Vamos, meu rei sol. — Respondi já me ajeitando para dormir.

— O que acontece quando a rainha lua casa com o rei sol? — Samira
perguntou sonolenta entre nós dois.

— Eles têm uma constelação juntos. — Mohamed respondeu também


com sono.

— Vocês são a nossa constelação. — Expliquei beijando a testa dela,


recebendo um doce sorriso em resposta.

Dormimos no tapete mágico do quarto de Samira. Mohamed e eu,


rodeados por nossas três pequenas estrelas.
Agradecimentos

Agradeço imensamente aos meus leitores do Wattpad por sempre me


apoiaram e me incentivaram a nunca desistir dos meus sonhos. Sem eles,
nada disso teria se tornaria realidade.

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