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Taiza Souza
Copyright © 17 de março 2022 Taiza Souza
Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas
reais, vivas ou mortas, é coincidência e não pretendida pelo autora.
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida de qualquer forma, sem a permissão
expressa por escrito, da autora.
ISBN-13: 9786500416206
CERTIFICADO DE REGISTRO Nº:
AVCTORIS76351b9c8bb2a116ae4956bbbecb337c998010d3e16b45263ba23577d728d2a5
Title Page
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Sinopse
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Epílogo
Agradecimentos
Sinopse
O Egito é conhecido pelos seus mistérios, mas nada pode ser mais
misterioso que os caminhos que Alá conduz ao fazer duas pessoas de
personalidades completamente distintas se encontrarem. É exatamente o
que acontece quando Ísis Al Hadid, uma jovem egípcia, cansada de seguir
certas regras arcaicas de sua família, conhece inesperadamente o príncipe
saudita Sheik Mohamed Abdallah, um homem muito rico, arrogante e
machista, capaz de tirá-la do sério com apenas uma única palavra. O que ela
não esperava, era que o destino colocaria ele novamente na sua frente,
agora como pretendente.
Capítulo 1
Ísis
Mais uma vez sem um diagnóstico preciso eu saí com uma receita para
medicação para cólica, assim como em todas as consultas anteriores. Mas
nada nunca resolvia.
Eu sabia que devia andar depressa, mas a dor não me deixava correr. Os
vários homens vindo na direção contrária me lançavam olhares
amedrontadores, lascivos e impertinentes. Fechei a cara e continuei
seguindo meu trajeto até uma mão agarrar violentamente o meu braço.
Meu coração palpitante foi parar na boca, recuei alguns passos e bati as
costas na mureta da ponte. Olhei para trás vendo as águas límpidas do rio
Nilo.
A minha vontade era de gritar que eu não era um objeto para pertencer a
alguém, porém, o medo ainda calava as minhas palavras.
O Sheik olhou friamente para cada um dos homens nojentos e
inesperadamente agrediu os três enquanto eu olhava perplexa para a cena.
Somente então notei o motorista dele com um celular chamando a polícia.
Em questão de minutos os três homens foram presos e eu permaneci
paralisada observando tudo.
— Entre no meu carro, vou te levar para sua casa! — O Sheik ordenou
se aproximando de mim.
— Não dê as costas para mim! — Ele gritou e eu segui sem olhar para
trás. — Entre no meu carro! Agora!
— Mas nosso Ab jamais nos deixaria viajar sozinhas. Sabe como ele é.
— Comentou triste sobre a rigorosidade do nosso pai.
— O pior é que ele não está tão errado assim. Esse mundo é mesmo
perigoso para as mulheres. É tão injusto isso. Não devíamos ser tratadas
dessa forma. — Comentei relembrando o ataque que sofri na ponte.
Não contei para ninguém porque não adiantava contar. Afinal o máximo
que poderia acontecer era meu pai me proibir de sair de casa.
— Logo você também será pedida, minha irmã. — Falei e ela sorriu.
Não que eu fosse um sádico, mas era divertido vê-la tendo que ser
disciplinada diante dos olhos do pai. Coisa que ela não fez na primeira vez
que nos vimos no meio de uma ponte suspensa no rio Nilo, quando ela não
apenas me enfrentou, como também ousou me deixar falando sozinho. Era
de uma insolência que eu jamais vi igual. Despertou em mim o desejo pelo
desafio de vê-la mais uma vez.
— Desculpa, Ab! — Ela disse com a voz mansa olhando sem jeito para
o pai. — Não foi minha intenção ser ríspida, apenas fiquei surpresa pela
visita de um Sheik ao nosso humilde lar. — Respondeu abaixando o olhar
para o chão.
Sem dizer nada ela se sentou ereta ao lado do pai, não ousou me olhar
em nenhum momento sequer. Estava visivelmente segurando sua língua
afiada.
— Minha Ísis é muito preciosa! Foi ela mesmo quem preparou esse
karkadeh. Ela cozinha como ninguém! Sempre foi muito bem instruída pela
mãe e sabe cuidar bem de um lar. Além disso, estudou nos melhores
colégios, fala três línguas fluentemente e dança divinamente bem. — Ele
começou a elogiar a filha que permanecia evitando contato visual comigo.
— Vou pedir a Fatimah para pegar dos Ghorayebas que a Ísis fez, para
que possa experimentar! — Senhor Wazir sugeriu buscar os tais biscoitos
amanteigados feitos pela filha, mas obviamente era apenas um pretexto de
praxe para nos deixar sozinhos por alguns poucos minutos.
— Por que está aqui? — Perguntou direta, mostrando enfim suas garras
afiadas que tentava esconder até então.
Wazir voltou para a sala trazendo os tais biscoitos feitos por Ísis e eu
comi pacientemente sentindo seu olhar me queimar de ódio.
— Gostei muito da sua filha, senhor. Quero fazer dela a minha esposa,
se o senhor e ela concordarem. Aguardarei a resposta de vocês. — Contei e
o semblante dele se iluminou de alegria no mesmo instante.
— Fico contente que o senhor me aceite. Mas creio que Ísis também
deva opinar sobre isso.
— Ela disse isso? — Questionei confuso. — Tem certeza que era sobre
mim que ela estava falando?
— Absoluta. Ela não fala em outra coisa além do seu nome. — Contou
e um grande sorriso se formou nos meus lábios. Eu imaginei que seria
imensamente mais difícil, mas pelo visto Ísis também estava interessada em
mim.
— Nesse caso então, diga para sua filha que eu pago o dote que ela
quiser. — Avisei e ele pareceu surpreso, sorrindo ainda mais.
Virei as costas para elas e segui para a pia onde comecei a lavar as
xícaras sujas.
— Ísis está noiva! — Ele gritou eufórico e eu virei para ele forçando um
sorriso que escapou mais nervoso do que animado. — Nossa filha foi
escolhida por um príncipe!
Ele sequer me perguntou se eu queria isso. Como ele podia ser assim?
Sim, porque a única coisa que eu tinha certeza era que Mohamed
Abdallah seria a minha perdição.
Capítulo 5
Ísis
— Você precisa se prevenir, Ísis. É claro que esperamos que não haja
separação de forma alguma. — Meu pai salientou sentando no sofá ao meu
lado enquanto tomava seu karkadeh. — Mas é necessário se precaver
colocando o valor de uma indenização no contrato, senão sairá sem nada
desse casamento. E depois não vai adiantar ir à justiça brigar, pois não vai
conseguir nada.
— Peça também um imóvel. Uma boa casa para você ter para onde ir.
— Minha mãe aconselhou e eu engoli em seco. — E coloca que tudo que
está dentro do imóvel também será seu, pois é onde você vai viver.
Eu jamais aceitaria que ele tivesse um harém. Se ele tanto faz questão
de se casar comigo, terá que se contentar que eu seja a primeira e única
esposa dele.
— Nem acredito que vai se casar, Ísis! Com quem vou ficar
conversando até o sono chegar? Quem vai me fazer rir e planejar viagens
comigo pelo mundo?
— Oh! Querida, mesmo casada continuarei sendo sua irmã. Virei visitar
vocês e também quero visitas. — Falei puxando ela para um abraço.
— Por falar em visita, onde será que vocês vão morar? Seu pai contou
que Mohamed relatou a existência de vários imóveis. Todos muito
luxuosos. — Minha mãe comentou e eu dei de ombros.
Isso não me importava. Meu medo do que o Sheik faria era muito maior
do que minha curiosidade por saber aonde iríamos viver após o casamento.
Coloquei meu véu nos cabelos ainda sem entender o que estava
acontecendo e ele abriu a porta.
Meu Ab nos observou sério, mas em seus olhos eu podia enxergar uma
felicidade escondida pelo meu noivo estar ali. Para um homem simples
como meu pai, casar a filha mais velha com um Sheik era como o paraíso
na terra.
— Preciso me garantir.
— Mas quero que saiba que também tenho uma exigência. — Avisou e
eu engoli em seco. — Mas acalme-se! É apenas uma. Eu quero filhos.
Muitos filhos.
Meu Ab voltou para a sala ao lado da minha mãe que trazia uma bandeja
de chá. Mohamed olhou para eles mudando completamente a feição para
algo mais leve e descontraído, me deixando tonta.
Bismillah!
“Que Alá me ajude!”
Capítulo 6
Ísis
A que preço seria isso? Tinha dinheiro para fazer compras, mas a minha
mente preocupada com o casamento não me dava paz.
— Não foi um pedido, Ísis. Foi uma ordem. Vamos logo para o meu
carro!
— Não continue com esse jogo. Você vai perder. É só uma questão de
tempo até você se curvar a mim, querida noiva.
— Será um prazer ver você engolir cada uma dessas palavras nessa
boca tão linda! — Ele comentou baixo e eu fechei a cara.
Respirei fundo e dei as costas para ele. Mesmo sabendo que ao deixá-lo
falando sozinho mais uma vez só pioraria a minha situação, eu não
suportava seu cinismo e prepotência. Precisava sair dali o quanto antes.
— La. Claro que não. Estou noiva, e mesmo se não estivesse não
beijaria você. — Respondi irritada e ele ficou sério. — Com licença! —
Pedi e ele não se moveu do lugar.
O homem ficou pálido, eu diria até em choque com tal ameaça. Eu até
riria em outra situação, porém, algo mais sério estava acontecendo. Saímos
do ônibus e eu parei ao me aproximar do carro luxuoso de Mohamed.
— Não se preocupe, eu não irei te seguir, pois como seu marido, sairei
com você.
Alá, me dê paciência!
Após alguns minutos que pareceram durar horas, o motorista estacionou
na frente da minha casa.
Seus olhos escuros eram como adagas perfurando meu juízo. Sorri
involuntariamente quando ela se aproximou mais de mim. Inalei seu
perfume suave e inebriante de rosas e observei melhor seu corpo escondido
debaixo de tantos tecidos, aflorando minha curiosidade para saber como ela
era. A necessidade de fazê-la minha irradiava no meu sangue.
Eu provaria que essa atrevida estava errada. Ela iria sim se curvar a
mim.
— Mas como se trata de um noivado acho ouro muito simples para ser
dado sozinho. — Comentei chamando a atenção de todos novamente. —
Então também comprei isso. — Entreguei a caixa para ela que me olhou
confusa e depois baixou o olhar para a gargantilha. — É o coração do rei
rubi. Um rubi raríssimo esculpido em forma de coração e que em sua volta
tem cento e cinquenta diamantes incrustados.
Ísis observou a pedra preciosa sem tanto entusiasmo, diferente dos
convidados que ficaram verdadeiramente impressionados. Isso porque eles
nem desconfiavam que a jóia se tratava da gargantilha mais cara do mundo,
que custou quatorze milhões de euros. Felizmente dinheiro não era
problema para mim, mas para minha decepção Ísis não pareceu dar
importância alguma.
Ela olhou para o pai em busca de aprovação e ele assentiu. Segui até ela
e me posicionei atrás de seu corpo sentindo mais uma vez o seu perfume me
perturbar.
Meu pai e o tio dele, os homens mais velhos das nossas famílias, se
revezaram para fazer a leitura da fatihah, capítulo de abertura do Alcorão, o
nosso livro sagrado. O capítulo trata-se de uma oração de apenas sete versos
em louvor à misericórdia de Alá. Quando eles terminaram de recitar
também terminou a festa. O Sheik e eu estávamos oficialmente noivos. A
partir desse momento seguiriam os preparativos para o casamento dali há
dois dias.
— Bismillah! Está louca? Quer acabar com a honra dos Hadid? — Meu
pai questionou automaticamente furioso.
— La! Não, Ab. — Neguei nervosa notando a tensão que foi instaurada
em todos.
Tantas coisas…
— Nada. Quero dizer, eu só não queria sair de casa agora. Não quero
me afastar de vocês. — Menti visto que não me dariam paz até que eu
respondesse algo.
— Vai dar tudo certo, minha querida! Basta você fazer tudo que eu te
ensinei. Seja doce, alegre, compreensiva, companheira! Vocês construirão
um amor como eu e o seu pai construímos. Você vai ver, será um casamento
bastante próspero. — Minha mãe concluiu confiante e fantasiosa.
Respirei fundo totalmente descrente que isso pudesse ser possível, mas,
mesmo assim, concordei com a cabeça para encerrar o assunto.
✽✽✽
Então ela pediu para minha irmã abaixar um pouco a bandeja e pegou o
açúcar.
— Que seu matrimônio seja doce assim como as palavras e atitudes que
saírem de você!
Abri os olhos, senti o perfume das flores coloridas e fiquei com elas no
colo. Hanana colocou meus pés numa bacia com água morna e pétalas de
rosas, lavou cuidadosamente e depois secou com a toalha. Pegou a henna na
bandeja e com muita delicadeza começou a desenhar com um pincel bem
fino um ramo espiralado com flores e folhas contornando a planta do pé. Os
desenhos representavam o início de uma nova vida, fertilidade e alegria.
Após tatuar os meus pés e as minhas mãos, todas as mulheres presentes,
exceto minha mãe, correram animadas ficando atrás de mim. Joguei o
buquê de flores sem olhar para trás.
Zafirah ligou a música e nós rimos ao não entender sequer uma palavra
em espanhol. Entretanto, as batidas eram boas e o ritmo envolvente. As
minhas convidadas abriram um círculo para que eu ficasse no meio.
Era estranho pensar que depois dessa noite eu seria uma mulher casada
com um Sheik. Seria uma princesa. O que o destino estaria reservando para
mim?
Capítulo 10
Ísis
Minha boca estava seca, minhas mãos trêmulas e meu coração parecia
que escaparia pelos meus lábios a qualquer momento. Eu mal podia ouvir o
que o sacerdote dizia. Na minha frente Mohamed me olhava intensamente
nos olhos. Engoli em seco e abaixei a cabeça, completamente atordoada,
foquei meu olhar unicamente no meu vestido branco.
Eu não conseguia compreender o que ele pretendia com tudo isso. Era
uma incógnita para mim, como uma esfinge. “Decifra-me ou devoro-te”. E
eu não podia decifrá-lo.
— Vamos! Seu marido deve estar ansioso para ver o novo vestido. —
Minha mãe me apressou.
Levantei com cuidado, pois o novo véu era gigantesco. Tive que
caminhar com Sumaya arrumando ele o tempo todo atrás de mim. Depois
segui sozinha pelo corredor e cheguei até o topo de uma enorme escadaria.
Lá embaixo a banda tocava animada enquanto as mulheres ficavam no
"lalalalalalala" típico de celebração. Notei Mohamed conversando e rindo
com o irmão mais velho dele, o rei da Arábia.
Pouco depois chegou a hora de partir o bolo. Eu não sei como, mas
fiquei ainda mais tensa do que já estava, afinal seria um momento bastante
íntimo para nós dois.
— Vou saber esperar. Esperei todos esses dias, posso esperar mais um
tempo. Embora minha vontade seja de te levar imediatamente para a nossa
casa.
Ainda estávamos muito próximos, estremeci com sua voz rouca que
ecoava na minha mente me deixando mais nervosa a cada segundo.
— Chega! Vamos logo para a lua de mel! — Ele disse no meu ouvido
chegando inesperadamente por trás de mim.
Sua barba deslizou pela minha nuca fazendo meu corpo inteiro vibrar
em um arrepio enlouquecedor. Mohamed me virou para ele e fitou meus
olhos.
Senti meu peito subir e descer, o coração batendo há mil por hora. Ele
estava me chamando para pularmos a etapa da festa e irmos direto para a
nossa primeira noite juntos.
Minha esposa.
Sentei na cama e olhei fixamente para seu lindo rosto. Peguei sua mão e
observei o dorso tatuado com flores. Puxei devagar fazendo ela sentar em
meu colo, porém, exatamente como esperado, Ísis ofereceu uma breve
resistência, isso até finalmente ceder e sentar em mim. Eu precisava fazê-la
falar algo. Saber o que estava pensando.
Ela recuou um passo e me olhou assustada. Segui até ela sem desviar
minha atenção.
— Ísis…
— Ok, então tire tudo por favor! — Falei entre dentes e então ela me
olhou sedutora.
— Vou fazer você implorar para que eu te toque. — Avisei e ela riu
ironicamente.
— Vamos testar?
Dei um tempo para ela se acalmar. Então voltei a brincar com a minha
língua sentindo sua pele ficar cada vez mais quente, mais úmida. Segurei
suas coxas e ataquei sua intimidade com volúpia, sedento pelo seu prazer.
Ísis tirou meu turbante e agarrou meus cabelos com força. Eu não parei
mais. Atacando implacavelmente sua região mais sensível, bebendo de seu
prazer puro. Girei devagar os dedos para explorar cada detalhe.
— Mohamed…
— Pegarei leve com você, querida, mas isso será apenas hoje. — Avisei
e ela engoliu em seco.
Dei um tempo para ela se refazer dos novos espasmos, continuei mais
lentamente olhando em seus olhos até explodir dentro dela.
Deitei meu rosto em seu peito e senti meus batimentos frenéticos me
golpearem. Ergui novamente a cabeça e encarei seus olhos brilhantes
novamente. Ela ficou tão linda assim, preenchida por mim.
— Espero que agora não reste nenhuma dúvida que você me pertence.
— Sussurrei acariciando os cabelos dela.
Ri ao notar as inúmeras marcas roxas em toda sua pele que fiz com a
minha boca. Em pensar que isso não era nada comparado ao que eu
planejava para essa atrevida… Mas eu precisava ser paciente. Deixe estar.
Em breve ela vai ceder sim.
Capítulo 12
Ísis
Eu não podia me apaixonar por ele. Seria facilmente esmagada por sua
necessidade de controle. O ideal seria se ambos cedessem um pouco, mas
era impossível.
Eu não imaginei que fosse capaz de sentir tudo que senti nos braços
dele. Deitei de lado apoiando meu braço no travesseiro. Observei ele
dormir, parecia leve, tranquilo. Nem parecia com alguém que havia
destruído a minha sanidade mental. Bismillah!
Quando estendi a mão para pegar um vestido, notei meu braço marcado.
Desci o olhar pelos meus seios nus, minha barriga e coxas, eu estava toda
roxa.
Ah! Como odiei o sorriso prepotente que ele me lançou após fazermos
sexo! Quando eu pensei que poderíamos nos entender ele estragou tudo
com sua possessividade.
Peguei uma blusa, uma saia longa junto com um conjunto limpo de
lingerie. Segui para o banheiro do quarto e me surpreendi com o tamanho
da banheira no centro dela, já desejando experimentá-la futuramente. Deixei
minhas coisas na bancada e me olhei no espelho, as manchas estavam por
toda parte. Eu sempre tive muita facilidade em ficar marcada, qualquer
batida já me deixava assim por dias. Imagina agora por conta de chupões…
Isso não sairia tão cedo.
— La! Não vai! Pode sair, por favor? — Pedi e ele fechou a porta atrás
de si e pegou o frasco de sabonete das minhas mãos.
— Não me olhe assim! Não quero que me veja nua! — Tentei me cobrir
com as mãos.
— Mas eu já te vi nua ontem, querida. É claro que essa é uma visão que
me deixa maravilhado a cada novo momento que admiro novamente, mas
ainda assim não é a primeira vez. — Zombou e eu revirei os olhos. — Eu já
falei o que vou fazer quando você revirar os olhos para mim. — Me
repreendeu. Mordi meu lábio inferior recordando dele me fazendo tocá-lo
na noite anterior.
Sem que eu tivesse controle meu olhar recaiu novamente sobre seu
membro e ouvi a risada de Mohamed fazendo meu sangue ferver de ódio.
Senti meu coração acelerar no peito, dei passos atordoados para trás até
bater as costas na parede de vidro, sendo encurralada por ele. Mohamed
subiu a mão pelo meu rosto e soltou os meus cabelos fazendo cair em
cascata nas minhas costas.
— Mohamed, vai embora! — Pedi com a voz vacilante e ele olhou para
a minha boca.
Sem dizer nada ele pegou a minha mão e colocou em seu membro. Eu
olhei assustada, sentindo formigar o fundo da minha barriga. Ele conduziu
minha mão devagar para cima e para baixo percorrendo toda sua extensão e
depois soltou, mas inexplicavelmente continuei fazendo o movimento
sozinha, sentindo sua rigidez crescer na palma da minha mão. Os olhos dele
permaneciam grudados nos meus, porém, agora ele tinha a boca entreaberta
e respirava pesadamente. Apertou os lábios e jogou a cabeça para trás,
parecendo obter muito prazer com tudo isso.
Sem que eu tivesse como escapar, seus lábios tomaram os meus numa
urgência desmedida. Sua língua invadiu a minha boca e minha mão
permaneceu em movimentos lentos.
Ele colou nossas testas quando chegou ao ápice, respirando
descompassado, o peito subindo e descendo.
Sua barba arrepiava minha nuca e seus dedos mágicos faziam meu
corpo inteiro incendiar.
Ergui meus braços para trás e puxei seus cabelos aumentando o nosso
contato. Eu queria que ele ficasse calado, pois sempre que ele dizia algo
acabávamos brigando. As sensações foram se intensificando no meu corpo
e eu senti que explodiria em um milhão de fagulhas.
Por Alá, eu só podia estar louca por me deixar levar pelo toque dele!
— Não adianta fugir de mim. Não vai poder ficar muito longe. — Ele
ironizou tirando a toalha da cintura e eu virei as costas.
Vivi a maior parte da minha vida na Arábia Saudita, onde nasci e fui
criado literalmente no meio de um extenso deserto escaldante. Por ser um
príncipe, o segundo à sucessão do poder, sempre tive tudo que eu quis. Meu
pai, o falecido rei Haroun Abdallah, criou tanto eu quanto o meu irmão
mais velho para sermos líderes e conquistarmos todos os nossos desejos.
Mas em toda a minha vida eu nunca desejei tanto algo como desejava
Ísis, e quanto mais ela me confrontava mais eu a queria.
Sentei de frente para ela que evitava a todo custo me olhar. Era curioso
como ficava tão séria de repente quando há poucos minutos estava gemendo
gostosamente de prazer nos meus dedos.
Fiquei frustrado ao vê-la tão coberta dentro de casa. Ela fez questão de
esconder as lindas marcas que deixei espalhadas em sua pele aveludada.
Como se eu fosse deixar elas apagarem…
— Você me deve uma dança, querida esposa. Essa noite você vai dançar
para mim. — Avisei pegando o talher e ela finalmente me olhou.
Os olhos em brasa, irritados, excitantes. Não respondeu nada, apenas
levou a colher até a boca com o purê e eu observei maliciosamente seus
movimentos para mastigar e engolir.
Sua cabecinha ainda era muito inocente para entender tudo que se
passava na minha. Entretanto, de fato era um deleite ver seus lábios em
movimento. Me fazia ter ideias. Boas ideias por sinal.
— Sim, mas para quem tem experiência de voo não é tanto. E eu sou
bem experiente. — Expliquei e ela pareceu ponderar sobre a situação. —
Eles não me dariam um diploma e uma licença se eu não fosse bom no que
faço.
A melhor parte era que ela não voltava atrás nos nossos confrontos. Isso
me dava ainda mais vontade de arrancar seu atrevimento na marra.
✽✽✽
— Está nervosa?
Ah! Mas você deveria contar, Ísis. Porque mais dia menos dia, isso vai
acontecer.
Capítulo 14
Ísis
— Quero experimentar cada lugar dessa casa com você, querida esposa.
Então achei melhor dar um toque de recolher para os criados, para
evitarmos constrangimentos desnecessários. — Explicou e eu abaixei o
olhar mortificada de vergonha.
"— Hoje? La, nem pensar. Estou na minha lua de mel, deem um jeito e
resolvam isso." — Falou ficando automaticamente irritado.
— Não foi você mesmo que disse que precisa disso com urgência? —
Insisti e ele deu de ombros.
✽✽✽
A noite caiu veloz com seu véu negro encobrindo a luz. Suspirei
pesarosa olhando pela janela da varanda. Virei na cama e olhei para o teto,
o sono começou a me sequestrar lentamente.
— Isso não importa agora. Vista a roupa de odalisca que comprei para
você! Está no closet.
— Não, tenho o maior time de futebol do país, mas não tenho o mínimo
domínio daquele maldito programa de computador. — Reclamou sentando
ao meu lado na cama.
— Eu não vou mais te tocar até você dançar para mim. — Avisou e eu
forcei uma risada.
Não que eu fizesse questão que ele me tocasse, vivi a minha vida inteira
sem ele, porém, as lembranças de seu corpo, ainda estavam vívidas no meu.
Ele tirou toda a roupa e deitou ao meu lado na cama. Engoli em seco
com sua proximidade, seu calor. Então inesperadamente ele começou a se
tocar. Eu precisava ser forte para provar meu ponto, deitei virada para o
outro lado na cama e foquei minha atenção na parede branca. Meu peito
subia e descia, estava extremamente nervosa. Os suspiros dele ficaram
audíveis junto com o som de sua mão deslizando pela sua pele. Apertei os
olhos, lembrei da minha mão fazendo ele enlouquecer no banho mais cedo.
Ele foi direto para o box e abriu a ducha entrando de cabeça na torrente
de água. Observei ele lavar os cabelos de olhos fechados, fazendo a espuma
que saía com a água deslizar por todo seu corpo. Mordi o lábio inferior
pensando em tudo que já havia acontecido entre nós. De repente ele virou
para mim e me encarou pelo vidro como se soubesse que esse tempo todo
eu estava o observando.
Voltei para o quarto e segui para o primeiro andar, faminta por não ter
jantado na noite anterior, tamanha a raiva que Mohamed havia me feito.
— Prazer! Então agora que sabemos os nomes umas das outras vamos
nos chamar por eles, certo?
— Espero que tenha pensado bem nas suas atitudes durante essa noite.
— Sussurrou no meu ouvido, roçando a barba no meu ombro.
— Vamos ver quanto tempo você vai aguentar ficar sem marido. —
Provocou e eu empurrei seu corpo e virei de frente, encarando seus olhos
intensos.
Eu devia obrigá-la a usar uma burca como castigo. Seria muito mais
fácil não ver o seu corpo gostoso e não desejá-lo.
Maldição! Tudo estava indo tão bem. Ela finalmente dançaria para mim
e de repente tudo desmoronou. Tudo sempre desmorona quando
conversamos. Na verdade, quando falo algo. Ela nunca aceita nada do que
eu digo. Aquela boca atrevida sempre tem que revidar. Aquela maldita e
deliciosa boca atrevida!
"— La. Diz que não posso, eu já deixei claro que não estou disponível
para ninguém nesses próximos dias."
"— Mas essa será a única noite dele na cidade, senhor, e ele faz questão
de acertar os detalhes sobre o investimento no Cairo F.C."
Mas será possível que ninguém respeite minha lua de mel? Na verdade,
nem minha esposa respeita…
— Se os negócios não são para mim, por que preciso ir? — Ironizou e
eu respirei fundo.
— Ísis, apenas se arrume e use isso, por favor! Só hoje seja uma boa
esposa. — Ordenei e ela deu de ombros.
Segui para o banheiro e me arrumei para o jantar. Quando saí ela entrou
para o banho. Fiquei tentado em entrar no banheiro, mas não tínhamos
tempo para que eu pudesse fazer com ela tudo que eu queria. Cerrei os
punhos e respirei fundo. Essa ideia de não tocá-la ainda iria me matar.
Pouco depois ela saiu com um vestido longo azul-claro e véu da mesma
cor. Os olhos bem delineados e os lábios tingidos de vermelho. Engoli em
seco olhando ela se aproximar.
Senti meu coração aquecer com seu sorriso, mas tentei disfarçar o
máximo que pude. O garçom nos guiou até a mesa reservada e nos
sentamos à espera do meu cliente.
Fizemos os pedidos e o sol foi sumindo aos poucos pela vidraça, dando
lugar ao fim da tarde.
— Bom fazer negócio com você, senhor Negrini. — Falei entre dentes.
Quando nos afastamos ele balançou a mão, tive que segurar uma risada.
Rapidamente ele olhou para Ísis e com apenas um aceno se despediu e foi
embora quase em fuga.
— Não posso fazer nada se costumo pegar firme nas coisas. — Ironizei
e ela balançou a cabeça inconformada.
Faz cinco dias desde a nossa discussão. Cinco dias com Mohamed me
provocando, me pressionando e me deixando maluca com sua mania de
dormir pelado e sem lençol ao meu lado na cama.
Aproveitei que ele saiu à tarde para resolver algo sobre seus negócios e
decidi estrear a enorme banheira. Enchi ela o máximo que pude e salpiquei
sais de banho perfumados. Prendi meu cabelo em um coque e liguei o som
do banheiro com uma música bem tranquila para relaxar. Tirei toda a minha
roupa em frente ao espelho e notei as marcas da minha noite de núpcias já
totalmente apagadas da minha pele. Suspirei lembrando daquela noite, meu
coração expandiu no peito. Era como se meu corpo sentisse saudade
daquilo tudo. Era estranho.
Não sabia por onde começar e nem se saberia fazer tão bem quanto ele
fez, mas eu precisava tentar, queria me sentir como naquele dia… E como o
castigo do meu marido não tinha data para terminar eu não tinha outra
escolha.
Timidamente desci minhas mãos pelos meus seios bem devagar e segui
pelo meu ventre. Deslizei lentamente para o centro das minhas pernas e
parei. Respirei fundo tomando coragem.
Ainda era bastante incômodo, mas menos que a primeira vez. Fechei os
olhos ao sentir ele me invadir vagarosamente enquanto sua boca abocanhou
meu seio direito, o qual ele não largou por um bom tempo e quando o fez
trocou pelo outro seio, sugando devagar.
— Hoje você vai me recompensar por ter ficado esses cinco dias sem
você.
Suas mãos apertaram meus quadris, fechei meus olhos novamente não
conseguindo me controlar mais, de tão intenso que era o prazer se
espalhando por todo o meu ser. As mãos dele desceram para minhas
nádegas e ele contornou as minhas curvas, apertando com mais força.
Segui com a Ísis no colo para o nosso quarto. Estava louco para pegar
ela de jeito na nossa cama.
— Mohamed…
✽✽✽
Saí mais uma vez frustrado do escritório e segui para o meu carro
parado próximo ao prédio. Porém, no meio do caminho encontrei com Zeki
e Aslan, amigos de longa data.
— Mohamed! — Aslan me reconheceu primeiro e me abraçou saudoso.
Cumprimentei animado abraçando calorosamente Zeki também.
— Quem te viu, quem te vê! Nem parece mais o velho Sheik, o príncipe
das dançarinas ocidentais. — Zeki zombou e eu dei de ombros.
— Sah! Está certo. Foi uma festa belíssima de casamento por sinal! —
Aslan elogiou e eu assenti.
— Que negócios?
— Você não pode me negar, sou seu marido. — Rebati irritado e ela me
fulminou com o olhar.
— Se fosse meu marido estaria ao meu lado e não na rua até essa hora.
— Eu estava com meus amigos. Juro que não foi nada de mais. —
Repeti me aproximando e ela me empurrou de novo. — Não me provoque
que arrumo uma segunda esposa para satisfazer meus desejos! — Ameacei
e ela me olhou petulante.
— E por que você faria isso? Vai jogar sua sorte no vento por causa de
uma noite?
— Não é uma noite. São várias. Sei que os homens casados são livres
perante a sociedade para ficar na rua até quando bem entenderem, fazendo
somente Alá sabe o quê. Mas eu não aceito isso vindo do meu homem. —
Falou indignada e um sorriso sarcástico tomou conta dos meus lábios.
— Seu homem?
Era uma delícia ouvir ela me chamar de "meu homem''. Porque no final
das contas, era mesmo o que eu era.
Capítulo 19
Ísis
Olhei furiosa para ele. Ainda não podia acreditar que ele decidiu em
plena lua de mel me deixar plantada em casa para sair com os amigos. Alá,
Alá! Odeio a liberdade que os homens têm de fazer o que bem entenderem,
enquanto nós, mulheres, somos obrigadas a ficar esperando eles em casa.
Isso não é justo.
— Me deixa te ajudar, seu cabeça dura! Eu já disse que sei fazer isso.
— Bismillah! Será que você não entende, Ísis? Uma mulher não pode
fazer isso. — Insistiu e eu revirei os olhos.
— Será que você não entende que se não me deixar te ajudar vai levar
prejuízo? — Confrontei o olhar dele cruzando os braços.
— Mohamed…
— Ísis, eu não estou com a mínima paciência para suas teimosias hoje.
— Sah! Está certo, nós dois somos teimosos. — Respondi e ele beijou
meu queixo.
— Será que você consegue cuidar das tabelas dos meus relatórios
quinzenais também?
— Quem disse que isso é uma trégua? — Ironizei e ele me olhou muito
sério.
Concordei com a cabeça. Segui para o quarto com ele no meu encalço.
Procurei a roupa no meio das minhas coisas e me deparei com uma linda
roupa branca de odalisca. Segui para o banheiro e me vesti gostando do
resultado na frente do espelho.
Quando voltei para o quarto, notei que Mohamed já havia colocado uma
música e estava sentado em nossa cama me olhando fixamente, ansioso à
minha espera.
Peguei o véu também branco e girei fazendo ele planar no ar. Balancei
meus quadris para um lado e para o outro encaixando com o ritmo da
música. Me aproximei dele, sorrindo satisfeita ao notar seu olhar
hipnotizado por mim, ele nem sequer piscava. Isso me inspirou a virar de
costas para ele, exatamente como em nosso casamento e rebolar devagar.
Levantei meus cabelos para que ele pudesse ver melhor os movimentos
sinuosos dos meus quadris, e então virei novamente em sincronia com as
mãos, dancei atraindo totalmente seu olhar. Eu podia sentir a força que ele
estava fazendo para não levantar e me agarrar. Exatamente por isso
provoquei ainda mais, dançando mais próximo dele.
Ondulei meus quadris para um lado e para o outro e ele não resistiu
agarrando a minha cintura e beijando a minha barriga. Ri me afastando dele
e fazendo movimentos com as mãos o chamando para participar do show.
Ele levantou e seguiu rapidamente até mim, abriu os braços e eu fiquei de
costas para ele. Encaixei nossos corpos e desci lentamente me esfregando
em seu corpo quente. Suas mãos voltaram a apertar minha cintura e eu sorri
quando ele puxou meu cabelo, tendo total acesso ao meu pescoço.
— Não acha que precisa mais dos seus amiguinhos? — Ironizei e ele
semicerrou os olhos.
Ele parecia sincero me olhando nos olhos. Suas mãos então desceram
pelo meu corpo esquentando a minha pele e sem que eu pudesse evitar me
beijou ardentemente me tirando do chão.
Capítulo 20
Ísis
Por Alá! Como eu podia gostar tanto disso? Eu não sabia explicar.
— O que aconteceu?
Ele não me dava explicações exatas do que fazia com os amigos. Agora
teria o troco. Peguei meu lenço e corri rapidamente indo para a rua. Por
sorte um táxi passava bem na hora e parou para mim.
— Como o que faço aqui? Ligaram para minha casa dizendo que algo
urgente estava acontecendo. — Expliquei e meu pai franziu a testa, então
minha mãe acenou para minha irmã.
Olhei para trás e vi minha irmã correr em minha direção com um sorriso
estampado de orelha a orelha.
— Claro. Vou ficar até o final. Hoje é dia de festa. É o seu dia!
— La. Claro que não. Tenho certeza que ele irá me compreender. —
Respondi maliciosamente.
Ter perdoado não significava que eu tinha esquecido. Agora ele sentiria
na própria pele o que passei enquanto ele estava com os amiguinhos dele.
Olhei sem jeito para elas que esperavam minha resposta, visivelmente
curiosas, principalmente Sumaya.
✽✽✽
— Eu não me esqueci que sou casada. Por acaso quando saiu com seus
amigos você esqueceu que era casado? — Perguntei desconfiada e ele deu
dois passos parando exatamente na minha frente.
— Por que não me diz com quem você estava quando saiu também? —
Devolvi a pergunta e ele começou a andar comigo até eu sentir minhas
pernas baterem no colchão e eu sentei.
— Ísis…
— E você vai fazer o quê? Posso saber? Não vai mais me tocar? Como
se fosse aguentar isso. Você não suporta um dia sem mim. — Zombei e ele
me olhou fixamente, soltando o meu rosto.
— Sim. Sabe por quê? Porque ela não me interessa. Nenhuma outra
mulher me interessa nesse mundo. Eu te pedi em casamento, Ísis, isso
significa que quero apenas você. Mas você parece não me querer. Parece
querer brigar a todo instante por qualquer motivo.
— La. Não acharia. Por isso te pedi desculpas, por isso estou te
contando que independente de ter visto aquela mulher dançando a minha
mente estava aqui contigo. Era você que eu queria que dançasse para mim.
É você que quero.
— Não é tão fácil assim ouvir que meu marido ficou vendo outra
dançar. — Murmurei incomodada e ele tocou meu rosto.
— Ísis, por Alá, você é única para mim. Não precisa ter ciúmes disso.
— Mas seu pai disse que você esperava pelo meu pedido!
— Não creio que meu Ab fez isso. Ele não devia ter interferido.
— Tarde demais!
— Eu jamais faria isso. Posso não ser o homem dos seus sonhos, mas
também não sou um monstro para obrigar uma mulher a se casar comigo.
— Espera, o quê?
— Eu não vou te manter presa em um lugar onde você não quer estar.
Não se preocupe, cumprirei tudo que está no contrato. Você não ficará
desamparada financeiramente. — Respondeu sem me olhar. Sua voz
parecia embargada, como se estivesse prestes a chorar.
— Mohamed? Como assim? Agora depois de tudo você quer o
divórcio?
— Eu não sei nem o que dizer. Não imaginava que você estava se
sentindo assim.
— Eu aprecio o que você quer, mas sabe como esse mundo é nojento e
cruel? No dia que te vi na ponte. Lembrei… — Parou de falar fechando os
olhos com força.
— Eu sei que sou um idiota na maior parte do tempo, Ísis, mas fiz tudo
que estava ao meu alcance por você. E percebi que isso não é suficiente. Se
ao menos você tivesse se casado comigo por vontade própria… Mesmo que
fosse para me desafiar, para ter o prazer de me contrariar como você sempre
fez, mas não. Você nem sequer queria estar comigo.
— Como assim?
— Que podemos tentar fazer dar certo. Sem jogos, sem provocações e
sem punições. Sem nada disso.
— Você não tem jeito. — Falei e ele abaixou a cabeça. — Mas eu gosto
disso também. — Confessei e ele pareceu completamente surpreso. — Ok.
Eu aceito a sua última punição antes do tratado de paz.
— Bom, como você foi uma mulher muito atrevida nesses últimos dias,
pensei em um jeito de manter sua boca bem ocupada para assim você parar
de dizer tanta má-criação. — Respondeu abrindo o zíper da calça e eu
arregalei os olhos.
Por muito tempo imaginei sua boca em mim, e depois dela me tirar
tanto do sério foi a ocasião perfeita.
Ela não sabia o que fazer, era tão dolorosamente inocente que fazia meu
membro latejar em suas delicadas mãos que me acariciavam timidamente.
Ela parecia assustada, eu diria até que apreensiva com a minha rigidez
apontada para seu rostinho lindo. Pincelei a ponta dele levemente em seus
lábios macios e como por instinto ela lambeu me olhando nos olhos. Foi
como se uma flecha de fogo tivesse atravessado meu peito, roubando a
minha respiração.
— Eu… Preciso que você respire apenas pelo nariz. — Avisei e ela me
olhou confusa.
Puxei seu cabelo com força, a fazendo engolir mais e ela engasgou me
fazendo gemer. Era muito excitante ouvir isso.
— Desculpa, querida!
Bombei mais duas vezes e explodi em sua boca, sentindo meu corpo
pesar e tremer intensamente. Meu peito subiu e desceu deixando a
respiração entrecortada. Ísis passou a língua pelos lábios molhados com
uma expressão ainda confusa.
Não tinha tempo mais para enrolação, dessa vez não consegui ser tão
calmo como nas vezes anteriores, bombei duro e forte e a puxei para um
beijo, sentindo suas pernas enlaçarem meu quadril.
— Tenho notado que todos os dias de manhã você tenta fingir que não
dormiu abraçada comigo. — Sussurrei em seu ouvido e ela engoliu em
seco. — Não adianta tentar escapar.
Acordei com Mohamed abraçado ao meu corpo, mas dessa vez não
fugi dos seus braços como ele mesmo disse que seria inútil. Observei ele
dormir tranquilo. Era um homem que me despertava tantas emoções
diferentes. Me fazia odiá-lo e querê-lo na mesma intensidade.
Observei o teto e era como se nele passasse um filme de tudo que tinha
acontecido desde o nosso casamento, me mostrando o quão devassa ele
estava me tornando.
— Eu não consigo nem sequer imaginar uma noiva que não seja você.
— Respondeu sério e eu engoli em seco. Ficamos brevemente em silêncio
nos olhando e ele tirou uma mecha do meu cabelo no meu rosto, colocando
atrás da minha orelha. — Se fosse para você escolher um noivo, ainda me
escolheria? — Questionou e eu pisquei incomodada com seu olhar intenso.
— Repete isso, por favor! — Pediu com a voz rouca, estremeci ao sentir
a outra mão puxar minha cintura ao encontro do seu corpo.
— Se eu pudesse escolher, ainda assim escolheria você, Mohamed.
Porque começo a acreditar firmemente que um dia poderemos nos entender.
— Ele sorriu e me beijou calidamente. Sua língua explorou a minha com
fervor e sua mão pressionou minha cintura colando nossos corpos quentes.
Nos afastamos ofegantes e quando eu abri os olhos, ele já me olhava
fixamente. — Posso te fazer uma pergunta?
— Quantas quiser.
— Sim. Eu… Desculpa por ter agido como um idiota com você naquele
dia. Sei que não é sua culpa. Sei que o que você veste não interfere em
nada. Da mesma forma que não interferiu no caso dela. Sei que o problema
está nos estupradores e assediadores. Me perdoa por ter dito aquelas
barbaridades para você. Sinto muito. De verdade.
— Ok, se você entende que independente do que usamos somos alvos,
eu te desculpo.
— É por isso que eu te peço, por favor, ande com nosso motorista! Não
precisa me dar satisfação para onde está indo, nem me pedir para ir em
lugar algum. Só não vá sozinha. Só ande acompanhada. Por favor, me
promete? — Pediu angustiado. — Sei que não é como se houvesse perigos
em toda esquina, mas vou ficar extremamente preocupado se você sair
sozinha. Por favor!
— Não se engane, ele não era como está imaginando. Era muito mais
rígido do que eu. Foi criado como um guerreiro, e isso era apenas uma
tática de combate. Uma realeza forte e imponente jamais será destruída.
— Meu pai era um líder nato. Minha mãe também não ficava atrás. Era
a rainha mais enérgica que a Arábia já teve. Tinha pulso firme. Na época do
casamento os súditos até os compararam ao sol e a lua, pois se
completavam.
— Nós seremos o sol e a lua do deserto agora, Ísis. Você é a minha lua,
misteriosa, brilhante e doce. E eu serei o sol para arder intensamente em
você.
Eu não tinha dúvida alguma que ele seria um rei sol mesmo.
Capítulo 23
Ísis
— La. Não ouse nos colocar em uma confusão por ser um homem
absurdamente insaciável. Se formos pegos, seremos condenados por
atentado ao pudor. — Falei nervosa e ele sorriu sarcástico.
Segui lado a lado com ele para dentro do prédio. Um homem de grandes
bigodes nos cumprimentou e respondemos. Seguimos para o elevador e
quando entramos ele se posicionou maliciosamente atrás de mim com as
mãos na minha barriga, me pressionando contra sua ereção e me deixando
em chamas.
Senti sua mão tocar minha calcinha e ele sorriu no meu ouvido, fazendo
meu corpo vibrar.
Bismillah, era uma grande loucura o que ele estava fazendo! Ergui a
cabeça atordoada e fiquei em pânico quando vi um objeto no teto.
Virei novamente para ele pulando em seu colo. Ele riu alto e me
segurou, me beijando novamente. Seus lábios desciam pela minha pele
quente. A minha excitação ultrapassava a estratosfera.
— Vamos antes que algo mais aconteça aqui dentro. — Ele brincou e eu
sorri.
— Vamos logo!
— Nada mais justo você ajudar aqui. Afinal também é dona disso tudo.
Além do mais, eu ainda não consegui substituir o Kashif.
— Foi ela quem fez os últimos que eu trouxe. Coisa que vocês, bando
de incompetentes, não conseguiram. Agora cale a maldita boca e traga o
notebook antes que eu me livre de você!
O homem arregalou os olhos e assentiu nervoso.
Olhei incrédula para Mohamed e ele apontou para uma cadeira maior
atrás da mesa.
Senti meu coração bater disparado no peito. Esse homem não cansava
de me surpreender.
Capítulo 24
Ísis
— Desculpe, senhor! Mas é mesmo urgente. Era para ter sido assinado
junto com aqueles outros, mas esqueci de incluir. — Esam disse temeroso
pela bronca, mas Mohamed ficou em silêncio. Apertou os lábios e abriu os
olhos.
— Comprei isso para você usar hoje à noite no casamento da sua irmã.
— Contou e eu abri rapidamente a caixa me deparando com um enorme
colar com um rubi em destaque.
✽✽✽
— Isso poderia até ser debatido no passado, meu sogro, mas hoje em
dia não há razão alguma para proibir que uma mulher seja independente.
Confesso que até pouco tempo atrás eu pensava da mesma forma, mas Ísis
me fez perceber o quão ultrapassado eu estava sendo.
— Não se preocupe com nada. Sei o que estou fazendo e além do mais,
Ísis é uma princesa, tem que saber cuidar de seu próprio patrimônio. —
Meu Sheik revidou confiante.
— Shukran. Estou tão feliz por hoje. Por você estar aqui comigo e
principalmente por você estar feliz também.
— Se ela for igual à irmã você está perdido. — Meu marido zombou
nos fazendo rir.
— Se seu sangue desceu significa que não será agora que terei meu
herdeiro. — Concluiu extremamente frustrado e eu me contorci de dor.
Era sufocante, a impressão que dava era que algo tinha explodido no
meu abdômen. Senti as lágrimas molharem meu rosto e o olhei confusa.
Mohamed paralisou. Não parecia acreditar que eu ainda não estava
esperando um filho dele. Engoliu em seco e de repente deu as costas e
seguiu para o banheiro.
Mohamed saiu do banho pouco depois. Não olhou para mim. Parecia
irritado, como se fosse minha culpa estar menstruada.
— Aquele dia que nos conhecemos eu fui. Mas também não resolveu
nada. — Expliquei e ele levantou indignado.
— Não precisa…
— Ísis, vamos agora! Você não pode ficar sentindo dor assim. Olha o
seu estado! — Falou puxando as minhas mãos com cuidado me obrigando a
sentar.
Foi uma discussão acalorada de quase dez minutos dos dois até ele
convencê-la a deixá-lo ficar na sala.
— Não é um resultado absoluto. Pode ser que ela seja infértil, mas
também pode ocorrer apenas uma dificuldade para engravidar…
Filhos.
Minha doce Ísis não seria mãe dos bebês que tanto sonhei?
Senti as lágrimas molharem meus olhos. A única vez que chorei foi
quando meus pais morreram. Nunca me permiti enfraquecer à tal ato, mas
era impossível. Era inevitável não sucumbir à dor quando vê ruir tudo o que
mais deseja na vida.
Precisei me segurar com todas as forças para não beijar sua linda boca.
Olhei para a médica que estava completamente assustada com a nossa troca
de afeto em seu consultório.
— O que podemos fazer, doutora? Você precisa ao menos tirar essa dor
dela. Não pode viver assim. — Pedi e a médica piscou ainda atordoada.
— Ela vai fazer a cirurgia. Eu pago quanto for preciso, mas tirem logo
essa dor dela! — Pedi e ela assentiu anotando alguma coisa no papel.
A médica saiu para emitir o exame para outro médico que seria o
responsável pela cirurgia.
Logo depois de ser preparada foi levada para a cirurgia. Andei ansioso
no corredor de um lado para o outro, sentindo o meu coração simplesmente
esmagado no peito, inundado pela certeza constante de que se algo
acontecesse com ela, eu mataria todo mundo ali.
Ele assentiu e me guiou até o quarto onde ela estava, ainda desacordada.
Senti o alívio preencher meu interior ao ouvir sua respiração, fraca, mas
presente.
A lei e a nossa religião dá total apoio para que ele me devolva para os
meus pais, porém, mesmo assim ele decidiu não fazer isso. Ele poderia me
jogar no vento, entretanto, me acolheu. Meu príncipe arrogante não era tão
arrogante como eu julgava.
— Esqueci que você tem que ficar de repouso. Não pode fazer esforço
físico nas próximas duas semanas.
✽✽✽
— Mas não faz nem um dia que você não toca em mim.
— Peça para eles subirem! Ísis não pode ficar se deslocando. — Avisou
e ela assentiu saindo imediatamente.
— Não é justo um homem ter pagado tão caro por uma mulher que
talvez não possa nunca lhe dar herdeiros.
— Eu não tenho a mínima intenção de devolver a Ísis, senhor Wazir. —
Mohamed interveio no assunto e meus pais me olharam temerosos. —
Além do mais eu não paguei pela sua filha. Ela não é uma mercadoria.
Fiquei feliz que ela quis falar comigo a sós, eu estava realmente
precisando de colo de mãe. Ela sentou ao meu lado na cama e me olhou
pesarosa.
— Sah! Estou tão arrasada, mãe. Tanto que não sei o que fazer. Me sinto
perdida, sem direção. — Confessei devastada e ela segurou carinhosamente
a minha mão.
— O quê?
— Mãe…
Senti meus olhos úmidos e ela fez carinho nos meus cabelos.
— Pense direito! Já tem sorte dele não te devolver. O melhor que você
pode fazer agora é se esforçar pela felicidade dele.
Senti uma lágrima deslizar pela minha bochecha. Atrás dela desceram
várias outras.
Ela aceitou meu pedido e beijou meu rosto antes de sair. Deitei
novamente na cama e abracei o travesseiro. Os meus pensamentos estavam
atordoados demais, como uma longa fila onde todos saíram de seus lugares.
— Infelizmente será assim a partir de hoje. Todos irão nos cobrar filhos,
entretanto, não devemos ouvir nada disso.
— Eu quero apenas que você saia logo desse maldito repouso para nós
fazermos amor a noite toda. Nada mais. — Respondeu me fazendo
subitamente rir.
— Sei que sou um pervertido na maior parte do tempo, mas juro que
jamais farei nada que possa te machucar. Você é a minha princesa. Só eu sei
o medo que senti durante a sua cirurgia. A angústia foi tanta que por vezes
senti faltar ar nos meus pulmões e não, não estou exagerando. Me habituei a
ter sua presença na minha vida Ísis. A escutar a sua voz, sua risada, a sentir
o seu cheiro. Você toda. Nada me faria mais mal do que ver você sofrer. —
Confessou com os olhos brilhantes e eu engoli em seco.
— Isso já passou.
— La, sei que não. Vejo nos seus olhos que está se sentindo insegura
ainda. Vou aprender a ser menos impulsivo. Não quero te magoar mais.
Acontece que na hora fiquei muito nervoso… Não pensei direito…
Não sei como, mas a notícia se espalhou como uma praga em uma
plantação, impregnando em cada canto do Cairo. Obviamente não era o que
se esperava de uma princesa. Se para uma mulher comum os filhos são uma
exigência, para a realeza é mais que uma obrigação. Eu deveria ter o
herdeiro que sucederia Mohamed em seus negócios, em seu poder.
Não foi à toa que ele cumpriu sua promessa me levando para um
passeio de iate no rio Nilo. Mandou as criadas prepararem tudo com frutas e
nosso chá favorito. A noite estava linda, uma lua cheia coroava o céu com
sua luz e esplendor. Tirei meu véu quando estávamos longe da margem e
ele me olhou sedutor. Peguei um cacho de uvas roxas da bandeja e coloquei
uma em seus lábios. Ele aceitou fitando meus olhos com malícia. Tudo para
ele se tornava obsceno, era impressionante. Ele me abraçou por trás e
olhamos a imensidão do rio.
Ele beijou minha testa, depois meu queixo e eu sorri com sua forma
doce de tentar me tranquilizar. Então seu olhar ganhou um tom mais escuro
de malícia. Começou a me despir lentamente e também tirou a própria
roupa. O luar iluminava seu corpo forte, pretendendo totalmente a minha
atenção. Estava louca para estar nos braços dele. Voltou a se aproximar e
me abraçou apertado, colando nossos corpos nus. Me beijou calmamente.
Senti ele sorrir contra os meus lábios. Seus dedos deslizaram para o centro
das minhas pernas e começaram a circular a minha região mais sensível me
deixando extremamente excitada e molhada. Ainda olhando nos olhos ele
me penetrou sem cerimônia.
Eu também.
— Por Alá, tem certeza que sabe o que está fazendo? — Sumaya
questionou sentada no banco de trás, ao lado do marido. Ri olhando para o
meu lado e vendo Mohamed colocar os fones de ouvido.
— Eu entendo vocês, também passei por isso na primeira vez que voei
pelo Cairo. — Contei tentando amenizar a ansiedade deles.
— Por Alá, eu vivi para ouvir isso! — Mohamed sussurrou todo bobo e
eu segurei uma risada. — Estão prontos?
— Lembro. Nossa, gostava tanto dela. Embora a aula que ela dava fosse
extremamente cansativa.
✽✽✽
Após uma hora e meia de voo, pousamos para o alívio de Said. Perdi as
contas de quantas vezes ele agradeceu a Alá por ter poupado sua vida.
— Sim, e então vamos fechar esse dia com chave de ouro comendo um
delicioso shawarma. — Ela comentou me fazendo salivar pelo sanduíche.
— Habibi!
— Você não pode prometer isso. Não conhece o coração dos outros ao
seu redor. — Murmurou nervoso e eu segurei a mão dele sobre a mesa.
— Sah. Tudo bem, mas você estará atenta ao celular. Qualquer coisa,
absolutamente qualquer coisa que acontecer é só você me chamar que vou
imediatamente pra lá. Está me ouvindo?
— Desejo com todas as forças que sim. Por Alá, Ísis, me promete que
vai tomar cuidado?
— Você está certa. Ao mesmo tempo, é tão triste pensar que existem
pessoas tão más assim no mundo.
— Said tem sido tão carinhoso comigo. Ele é exatamente o marido que
eu sempre sonhei.
— Isso é tão romântico! Vocês formam um lindo casal. Pena que… Alá,
Alá! Perdão! Eu não devia tocar nesse assunto. — Abaixou a cabeça
timidamente e eu suspirei.
— Está tudo bem. Penso nisso o tempo todo. Me dói muito olhar para
ele e imaginar que talvez eu não consiga gerar seus filhos. — Minha voz
falhou e ela apertou a minha mão.
— Não diga isso! Você deve pensar positivo. Jogar coisas boas no
universo para que elas voltem para você.
— Eu queria pensar positivo, juro, mas tem sido bem difícil. Nem os
nossos pais acreditam que a minha situação tenha uma solução. —
Murmurei magoada e ela segurou o meu queixo me fazendo encarar seus
olhos brilhantes.
— Está tudo bem, Habibi. Apenas estou faminta depois de fazer tantas
compras. — Respondi sorrindo e ele beijou a minha mão.
Nos deliciamos com o sanduíche de pão sírio recheado com finas fatias
de bife e salada. Após o lanche, seguimos para o helicóptero, para
desespero de Said que seguiu de olhos fechados novamente. Sobrevoamos
próximo da coluna de Pompeu encerrando nossa viagem dos sonhos.
— Você não tem ideia do quanto isso custou a minha paz interior. Por
Alá, o tempo todo fiquei imaginando os piores cenários possíveis.
— Um presente? — Se surpreendeu.
— Sim. Hoje você realizou o sonho meu e da minha irmã e fez de tudo,
mesmo que tenha sido extremamente difícil, para que fosse perfeito.
Shukran, Habibi!
— La! — Gritei descontrolado. — Não, não pode ser. Não o Ali. Não o
meu irmão!
— Rahimah, ligue para Yusef e diga para ele preparar o avião! Vou para
a Arábia imediatamente. Meu irmão precisa ser enterrado logo, senão sua
alma ficará pairando sobre seu corpo. E isso não pode acontecer, ele era um
homem justo, deve seguir seu destino. — Falei atordoado e ela assentiu
saindo imediatamente do quarto.
— La. Você não vai. Pode ser muito perigoso. Com a morte de Ali o
poder agora passou para mim. Eles podem tentar nos atingir e eu… Jamais
irei me perdoar se algo acontecer com você.
Demos três banhos nele em uma sala mortuária. O primeiro para tirar as
impurezas, o segundo canforado, com ervas, e o último apenas com água
pura. Envolvemos em três mortalhas brancas sem costura, perfumadas com
incenso. Depois seguimos imediatamente para o velório numa procissão,
pois não era bom deixar a alma de Ali perecendo na terra. Ela deveria
seguir o seu caminho.
Tio Tamir falou sem parar na minha cabeça sobre atitudes urgentes que
deveriam ser tomadas quanto ao governo, quanto à caça e extermínio dos
malditos rebeldes terroristas, quanto a redobrar a segurança das refinarias
petrolíferas, quanto à absolutamente tudo. Eu me sentia zonzo com tanta
coisa acontecendo ao mesmo tempo, e então notei uma pequena e linda
princesinha correndo na minha direção.
— Eu estou do seu lado, meu rei. E sei que vai conseguir governar esse
país tão bem quanto o seu irmão. — Ela disse docemente colando cada
pedaço que havia se partido dentro de mim. — Foi criado a vida inteira para
isso. É perfeitamente capaz. É o que Ali e seu pai gostariam que fizesse.
Engoli em seco. Se Basmah tendo uma linda menina foi motivo para o
rei procurar uma segunda esposa, imagina eu que não poderia ter filho
nenhum?
Sentei com Maryam à mesa e logo Samira surgiu. A pobre estava com
uma carinha triste, sem entender nada que estava acontecendo.
✽✽✽
— Tio, meus pais ainda não chegaram. — Samira reclamou triste e meu
coração apertou no peito. Mohamed engoliu em seco e chamou ela com a
mão.
— Querida! — Disse pegando ela para sentar em seu colo. — Seu pai,
sua mãe e Yasmim são pessoas muito preciosas. Eles tiveram uma vida tão
boa e feliz que Alá decidiu que queria eles ao seu lado. Então buscou os três
para lhe fazerem companhia no paraíso.
— Eu não sou preciosa, tio? Por que ele também não me buscou?
— Claro que você é preciosa, minha princesinha. Ele vai te buscar sim,
mas daqui há muitos anos, quando tiver vivido uma vida plena e muito
feliz. Até lá eu e a tia Ísis vamos cuidar de você.
— Verá sim, mas tudo no tempo de Alá. — Expliquei e ouvi ela soluçar
em um choro contido. — Quer dormir aqui hoje conosco? — Perguntei e
ela assentiu.
— Sou eu, tio! — Ela disse surpresa e eu sorri com sua inocência.
— O rei não conseguiria ser forte se não fosse pela rainha e pela
princesinha dele. — Concluiu deixando nós duas admiradas.
Samira deu um sorriso terno para ele e eu sequei suas lágrimas. Era um
começo difícil para nós três.
Capítulo 32
Ísis
Em meio há tanto caos, após vinte dias em que havíamos nos mudado
para a Arábia, enquanto nosso exército caçava dia e noite os culpados pelo
atentado que levou a vida de Ali e suas duas esposas, o Egito fez o favor de
publicar uma matéria em seu jornal de maior peso sobre os conflitos da
Arábia e sua nova rainha. No caso, eu. E essa manchete chegou ao
conhecimento da mídia Saudita.
Como podiam ser tão cruéis comigo? Senti meus olhos lacrimejarem e
levantei imediatamente.
Uma lágrima desceu quente pelo meu rosto e ele me abraçou jogando
pelos ares a proibição contra um casal ter contato em público.
— Por Alá, eu não quero mais pensar nesse assunto. Por favor! —
Implorei e ela me olhou muito séria.
— Eu não quero falar com ele. Sei o que dirá, sei o que todos vão dizer.
Chega! Por favor, chega! — Chorei descontroladamente e tanto Maryam
quanto Zaynah correram na minha direção.
Bebi todo o copo de água e não senti efeito algum. Nada podia acalmar
o tormento que eu estava vivendo. A pressão vinha de todos os lados, eu me
sentia acuada.
— Vou para o meu quarto. — Avisei para elas que me lançaram olhares
preocupados. — Por favor, não quero ser incomodada por ninguém.
Passei o resto do dia trancada, não queria ver ninguém. Ouvi o telefone
berrar o tempo todo, provavelmente os meus pais queriam me aconselhar
novamente. Mas eu não queria ouvir.
✽✽✽
Eu não podia suportar a ideia dele fazendo tudo o que fez comigo com
outra mulher. Era demais para mim. Eu sentia uma dor quase física. Eu o
amava muito, muito mais do que poderia imaginar um dia amar alguém na
vida, e obviamente queria vê-lo feliz e realizado em todos seus planos e
sonhos, mas vê-lo casar com outra… Por Alá, juro que não queria parecer
egoísta, mas eu não podia aceitar tal destino. Por mais que eu soubesse que
era o certo, por mais que todos aconselhassem… Eu não podia. Comecei a
chorar mais descontroladamente. Por que isso estava acontecendo comigo?
Por quê?
Ele me puxou e me fez sentar na cama. Ajoelhou no chão aos meus pés
e segurou as minhas mãos, me olhando nos olhos.
— Mas isso não significa que abrirei mão de ter você de joelhos para
mim também. — Disse malicioso, furtando um sorriso meu. — Podemos
revezar. Em um momento eu me ajoelho para você. — Disse deslizando a
mão para debaixo da minha toalha. — E no momento seguinte você faz o
mesmo por mim.
Peguei uma folha de papel e uma caneta e estendi para Samira que me
olhava curiosa.
— Mas meu Ab dizia que é errado uma mulher saber demais das coisas.
Que isso provocava o haaram.
— O que é ignorância?
Ela piscou ainda confusa, mas assentiu. Apontei para o papel e escrevi
cada letra do seu nome bem grande no topo da folha.
— Esse é o S. — Expliquei e ela observou atenta. — É a primeira letra
do seu nome. — Tente fazer igual, aqui embaixo.
— Sa. Mi. Ra. — Apontei e ela repetiu. — Agora vamos fazer o nome
de tio Mohamed. Ele começa com M.
— Eu vou te ensinar tudo que sei, Samira. Será uma mulher bem
instruída.
✽✽✽
Com todo o caos instalado no país era natural Mohamed receber muitas
visitas importantes, vários homens influentes compareciam para nos
oferecer apoio.
— Pois acho melhor o senhor pegar sua preciosa filha e sair do meu
palácio imediatamente! — Ordenei e ele arregalou os olhos, perplexo.
— Mas, majestade…
— Você que ouse pousar esses olhos azuis nas filhas desses homens! Eu
acabo com você! — Ameacei e ele riu gostosamente abraçando a minha
cintura.
— Acho bom mesmo. Agora vamos focar no que precisa ser feito!
Precisamos acabar com aqueles malditos! E precisamos mudar algumas
leis.
— Todas as que massacram mulheres. Samira tem oito anos e ainda não
sabe ler. Maryam estava me contando que a maioria das meninas não sabe.
São criadas apenas para casar e nada mais. — Respondi inconformada. — E
por falar em casamento, vamos criar uma idade mínima para isso. É um
absurdo que ainda seja aceito casamentos infantis em algumas regiões.
— Eu sei, mas sabe que mexer nisso será como mexer em um vespeiro,
certo?
— Por Alá, não gosto nem de imaginar! Você está certa. Vou tomar as
providências necessárias. Será a nova regulamentação com as leis da rainha.
Analise tudo que você acha que precisa ser mudado e então faremos as
mudanças.
— Está falando sério?
— Qual?
— Pode mandar a Samira, mas eu não vou a lugar algum sem você.
— Ísis…
— Shukran, tio! Mas isso tudo foi graças à tia Ísis. — Falou fofa e de
repente ficou séria.
— Biscoito enrolado.
— La. Tem mais nas latas na prateleira. — Apontou para o alto. — Vou
pegar para a senhora.
— Ainda não, mas a tia Ísis já vai fazer. — Samira respondeu sorridente
e eu fiquei nas pontas dos pés para alcançar a lata.
✽✽✽
Alhamdulillah!
Capítulo 35
Mohamed
Distribuí beijos entre seus seios e segui descendo até parar na barriga.
Levantei sua blusa e a observei tão linda ainda sem sinal aparente da
gestação. Beijei carinhosamente acima do umbigo, depois nele e então
beijei cada centímetro de sua pele onde acomodava nosso pedacinho. Olhei
para cima e notei o brilho dos seus olhos me observando emocionada.
— Que transborde saúde! Que a sua gravidez seja tranquila e que nosso
bebê nasça saudável e forte! — Desejei eufórico sentindo as lágrimas
caírem dos meus olhos.
— Essa criança vai ter tudo! — Prometi passando meus dedos em seu
ventre. — Todo amor do mundo. Toda atenção e carinho. Vai ser um
pedacinho nosso. Pedaço da nossa história.
— Parece que estou sonhando! — Ela comentou com a voz embargada
e eu dei um último beijo em sua barriga e subi meus lábios novamente.
— Não se preocupe com nada. Está tudo sob controle. — Garanti e ela
sorriu aliviada.
— Alá! Preciso contar isso para os meus pais! Eles não acreditarão! —
Lembrou animada e eu sentei na cama.
— A pior parte foi vocês nunca terem ficado ao meu lado. Não acham
que eu merecia que ao menos meus pais me estendessem a mão quando o
resto do mundo me deu as costas? — Rebateu e eu observei atentamente a
discussão. — Não se preocupem, diferentemente dos senhores eu me
importo com a minha família. Não apenas com o dote. Muito menos com
posição social, afinal se eu fosse olhar isso jamais procuraria os senhores
novamente, pois sou uma rainha agora.
— Habibti, talvez não seja bom você comer muita fritura. Mandei
Zaynah preparar alguns vegetais e frutas frescas para você. Tem que se
alimentar bem a partir de agora. — Aconselhei e ela sorriu.
— Só você mesmo para dar uma festa tão cedo. — Ela comentou
sorrindo e eu me segurei para não abraçá-la na frente de todo mundo.
✽✽✽
No exato momento em que ela parou ao meu lado, tão linda quanto a
lua, ouvimos o som potente da explosão de uma bomba ecoar, fazendo o
chão sob os nossos pés tremer.
Capítulo 36
Ísis
No fundo, sabíamos que por sermos majestades de uma terra tão rica
ainda teríamos que lidar com muitos conflitos externos. Entretanto, eu
sentia no meu coração que enquanto estivéssemos juntos ninguém poderia
nos derrubar.
Capítulo 37
Mohamed
Não eram nem cinco horas da manhã e ela já estava debruçada sobre a
privada. De novo. Todas as manhãs eram assim desde que descobrimos
sobre a gestação.
— Não precisa ficar aqui comigo, Habibi. Pode voltar a dormir. — Ísis
insistiu pela milésima vez e eu bocejei, sonolento.
— Não pode ser normal tão intenso assim todos os dias. Deve haver
alguma solução para isso. — Insisti e ela suspirou ajoelhando no chão do
banheiro.
— La. Não vou deixar você e meu pedacinho sozinhos. Além do mais,
nem estou com sono. — Menti e no mesmo instante meu corpo me traiu me
fazendo bocejar.
— É nítido como não está com so… — Ela parou subitamente de falar e
vomitou mais uma vez.
✽✽✽
— Alá, Alá! Finalmente! Achei que teria que te arrastar para o médico.
— Comemorei e ela sorriu se espreguiçando na cama. — Tenho uma notícia
para você, mas não sei se gostará.
— Por Alá! Não faça isso! Sem movimentos bruscos, por favor! Pode
acabar se machucando e ferindo nosso pedacinho.
— Sim, mas não apenas ele. — Contei e ela me encarou. — Seus pais
também estão vindo.
— Fala!
— Bom… Eu proibi seus pais de irem à nossa casa no Cairo. Não gostei
da forma que eles te trataram quando ficaram sabendo… Da sua situação.
Tive receio de continuarem colocando o dedo na ferida sobre a
possibilidade de não poder engravidar… Mas saiba que fiz isso apenas para
te proteger. Sinto muito! Pensei que estava fazendo o certo. Não imaginei
que você queria a visita deles mesmo depois de tudo. — Contei nervoso e
ela permaneceu em silêncio me olhando. — Juro que se soubesse não teria
feito isso. Sei que deveríamos ter conversado. Eu apenas tentei te preservar
em um momento tão delicado. Por Alá, habibti, diz alguma coisa! Você está
me odiando, certo?
— Você fez a coisa certa, eles não me dariam paz mesmo. — Murmurou
e eu fiz carinho nas costas dela. — Além do mais, se quisessem falar
comigo, teriam dado um jeito.
— Não pense nisso! Não vai te fazer bem. Vamos almoçar, que tal? —
Propus e ela assentiu.
Mesmo não achando necessário ela aceitou minha ajuda para levantar
da cama, e depois dela ter ido ao banheiro seguimos para o almoço. Ísis
repetiu três vezes o prato. Nunca a vi com tanto apetite antes.
— Você está bem, minha filha? — Minha sogra questionou e ela apenas
assentiu. — Ficamos tão preocupados quando soubemos da guerra.
— Alá, Alá! Deve ter sido terrível para você presenciar tal situação,
Ísis! — Senhora Fatimah comentou se aproximando da filha.
— Mais terrível é não poder contar com meus pais para nada. — Ela
murmurou magoada.
— La, não diga uma coisa dessas, filha! — A mulher pediu nervosa e os
olhos marejados da minha rainha indicavam que os hormônios estavam a
dominando novamente.
— Estou mentindo por acaso? Vocês nem sequer lembram que existo.
Apenas porque estou grávida vieram até aqui. Porque agora eu finalmente
não mancharei o nome dos Hadid. Não me procuraram depois de
recomendar que eu fosse devolvida, ou pior, que eu aceitasse um segundo
casamento para o meu marido. Não foram capazes de me dar colo mesmo
vendo o quanto eu estava abalada! — Gritou irritada e então subitamente
colocou a mão no peito.
— Não queríamos te fazer mal. Nossa intenção era apenas ver como
estava. Admito que fomos duros com você, mas, por Alá, fique calma! Se
quiser, vamos embora agora mesmo. — Senhora Fatimah propôs.
— Sah. Vamos embora, minha filha. Sinto muito por termos errado
tanto com você. Eu principalmente. Mas juro que foi sempre pensando no
melhor para o seu futuro. — Senhor Wazir disse parando ao lado da esposa.
— Sei que não, mas tudo que fiz por vocês foi na intenção de protegê-
las. Por Alá, não se prepara um homem para ser pai de menina! O tempo
todo somos consumidos pelo medo de que os outros ao redor possam fazer
mal, que possam machucar o coração de vocês. Sei que sempre fui muito
rígido, nunca deixei que saíssem sem meu conhecimento e disso não me
arrependo. O mundo não é tão generoso para as mulheres quanto é para os
homens. E sei que interferi e agi mal na vida de ambas, mas também não
me arrependo. Foi a forma que encontrei de colocá-las no melhor caminho
que pude. Me perdoem por ser esse velho ultrapassado que diz tantas
bobagens, mas nunca duvidem do meu amor! Vocês são o maior presente
que Alá me deu. Se errei foi tentando acertar. E, Ísis, você é minha
primogênita. Desde que vi seus olhos pela primeira vez, eu soube que
nasceu para ser grande. E eu nunca tive grandeza alguma para lhe oferecer.
Quando um Sheik tão respeitado e poderoso bateu a nossa porta… Eu
apenas pensei que era certo colocá-lo na sua vida. Você finalmente poderia
ter tudo que eu jamais pude lhe dar.
— Eu nunca quis riquezas, Ab. Tudo que sempre quis era compreensão.
— Ísis murmurou um pouco mais calma.
— Nos perdoe por tudo, filha! — Fatimah pediu pegando a outra mão
dela, e ambos a olharam esperançosos. — Erramos em não nos adaptarmos
aos novos tempos. Na nossa época era comum seguir as tradições sem
questionar absolutamente nada. Sem dar ouvidos aos sentimentos. Errei
muito em não priorizar o seu coração, querida. Sinto muito por não ter te
dado apoio em vez de despejar pressão sobre os seus ombros. Hoje eu
percebo o quanto te fiz sofrer com as minhas palavras. Mohamed estava
certo quando nos proibiu de voltar na casa de vocês. Apenas pioramos a
situação com nossas crenças arcaicas. Por favor, nos perdoe por isso!
Lágrimas brotaram do olhar de Ísis e ela apenas assentiu sem dizer mais
nada. Sei que ela ia precisar de um tempo maior para digerir a situação, mas
naquele momento, talvez pelos hormônios, talvez por ela mesma, decidiu
colocar momentaneamente uma pedra no assunto.
— Eu não faço ideia, mas acho que ainda não. — Respondi incerta e ele
olhou para a minha barriga.
— Mas você disse que eles não nos ouvem ainda. — Rebateu divertido.
Deslizou sua língua para dentro da minha boca e os dedos para o centro
das minhas pernas. Eu me sentia sempre acesa perto dele, mas depois da
gravidez as sensações tinham se multiplicado um milhão de vezes. Tudo era
incrivelmente mais intenso. Ele começou a me penetrar girando devagar o
dedo e me fazendo vibrar. Eu sentia meu corpo convulsionar com o ritmo
aumentando cada vez mais rápido e então subitamente ele parou e penetrou
devagar, me torturando.
Sua boca desceu para os meus seios e ele demorou neles por um longo
tempo. Notei que estava ainda mais tarado por eles desde que tinham
aumentado de tamanho. Era tão sexy ver o movimento de sua boca sugando
devagar os biquinhos enquanto sua mão não cessava, indo e vindo dentro da
minha intimidade.
Ele ergueu o olhar para o meu rosto e aumentou o ritmo dos dedos
enquanto sua boca buscava o outro seio me sugando com vontade.
— Chocolate? Agora?
— Shukran!
— Você faz parte disso, Habib. Tenho muito orgulho do homem que
você é. — Confessei e ele me olhou intensamente.
— Você me fez melhor, Ísis. Tornou tudo melhor desde que chegou na
minha vida.
Fiz carinho na barba dele. Senti meu coração em festa. Ele sorriu me
beijando novamente.
— Desse jeito não sairemos da cama hoje. — Falei rindo e ele sorriu
cúmplice.
Muito relutante, ele saiu de cima de mim e foi trabalhar. Decidi também
levantar e segui para dar lições para Samira que esperava ansiosa para
aprender mais.
Zaynah abriu minhas pernas com cuidado. Minha respiração ficou mais
apressada. Senti o meu coração diminuir e aumentar no peito a cada
contração. A dor era terrível, dilacerante.
As lágrimas banharam meu rosto, senti uma dor ainda mais latejante
atravessar meu ventre.
— Força! Isso! — Zaynah incentivou segurando a minha outra mão.
Foi então que ouvi um choro agudo ecoar no quarto. Era a música mais
linda que meus ouvidos já escutaram. A música da vida.
O choro foi ainda mais potente. Me senti tonta, parecia que desmaiaria,
de fraqueza e de emoção.
— Shukran por fazer a minha vida tão doce, minha rainha! — Falou me
olhando nos olhos e eu sorri do tamanho do mundo.
— O filho mais velho irá se chamar Omar, que significa primeiro filho e
vida longa! — Mohammad anunciou olhando para o bebê no meu colo.
— Sah. Isso explica tudo. — Concordei rindo e ele beijou a minha testa.
— Esse é o coração do mar. Uma das joias mais raras do mundo. Seu
diamante azul cuidadosamente lapidado serviu como inspiração para os
ocidentais em um famoso filme. — Contou e eu olhei com atenção a bela
joia à minha frente. — Como no nosso noivado eu te dei o coração rubi,
agora te dou o coração diamante. A minha intenção é colecionar todos os
corações de pedras preciosas do mundo para você que é dona do meu
coração, minha rainha.
Eu nunca pensei nas coisas mais difíceis da minha vida, aquelas que
foi preciso lutar arduamente, me esforçar até a última gota de suor para
conseguir concretizar, ou até mesmo para sobreviver. Entretanto, de um
tempo para cá decidi enumerar tudo em uma lista. O primeiro tópico sem
sombra de dúvidas foi conquistar Ísis. Tive que enfrentar inúmeras batalhas
para finalmente tê-la por inteira para mim. Em segundo lugar foi assumir o
poder após a perda do meu irmão mais velho. Tudo me atingiu ao mesmo
tempo, e eu me senti como uma bússola quebrada no meio do deserto. A
terceira foi aceitar abater os terroristas usando o seu próprio jogo cruel e
sanguinário. E por último, mas não menos difícil, conseguir dar banho em
dois bebês idênticos e descobrir qual deles já tomou banho e qual ainda
precisava tomar.
— La. Eu sou o rei dessa terra, mulher. Eu consigo dar banho nos meus
herdeiros sozinho. — Respondi convicto e ela cruzou os braços e arqueou
uma sobrancelha, visivelmente desconfiada.
— Princesinha, já dissemos que vai demorar até você poder brincar com
os meninos. — Expliquei terminando de ensaboar Omar. — São muito
pequenos ainda.
— Disseram isso quando eles nasceram. Já faz três meses que isso
aconteceu e estou esperando até hoje. — Argumentou emburrada.
Após terminar o banho, enrolei Omar na toalha e levei para Ísis poder
vestir a roupa nele. Sentei ao lado de Samira e a abracei.
— Não fica assim, querida! Logo eles correrão com você pelo palácio.
— Inshallah! — Ela desejou ansiosa. — Ab, o senhor está todo
molhado! — Riu apontando para a minha camisa encharcada após dar
banho nos meninos. Eu e Ísis nos encaramos surpresos.
— Claro que serei sua mãe, princesinha. Eu sempre quis ter uma
menininha linda assim como você. — Falou fazendo ela sorrir docemente.
— Então vocês prometem que não vão embora com Alá como meu Ab e
minha Am fizeram? — Pediu com os olhinhos cheios de lágrimas e Ísis
engoliu em seco. Também fui pego de surpresa.
Assim que saímos da casa dos meus pais, fiz questão de visitar um lugar
em especial. Mohamed seguiu ao meu lado com Rayhan no colo e eu com
Omar. Samira ficou descansando na casa dos meus pais.
— Na verdade, quem quer conversar com você, sou eu. — Avisei e ele
me olhou apreensivo. — Quero falar com você e o responsável pela matéria
“rainha sem herdeiros”. — Exigi e ele engoliu em seco.
— Não seja hipócrita ao desejar que a paz de Alá esteja comigo, quando
há quase um ano e meio me tirou ela ao publicar aquela maldita matéria! —
Vociferei irritada e ele arregalou os olhos.
— Majestade, eu…
— Senhora, por favor, não sabíamos que poderia ter filhos afinal. — O
editor interferiu e eu lancei um olhar mortal para ele.
— Não continue! Será pior para você! — Falei firme e ele abaixou a
cabeça. — O que eu tenho para dizer é muito simples. São apenas duas
coisas. A primeira é que faço questão que vocês vejam os príncipes
herdeiros da Arábia Saudita, cumprimentem a sua alteza! — Ordenei e os
dois se juntaram rapidamente na nossa frente e reverenciaram meus
pequenos bebês. Então seus olhares assustados reencontraram os meus. —
Agora peguem suas coisas e saíam daqui! A partir de hoje esse jornal é
meu, e ele será usado para vincular notícias importantes para acabar de uma
vez por todas com esse massacre às mulheres.
— Ma-mas…
— Se minha rainha tiver que repetir uma palavra sequer vocês dois irão
se ver comigo. — Mohamed ameaçou furioso ao meu lado e os dois se
calaram imediatamente.
— Eu tenho pena de vocês dois. Até hoje não aprenderam a ouvir o que
uma mulher tem a dizer. — Ironizei levantando e eles rapidamente se
curvaram diante de mim. — Não servem nem para ser criados.
— Da sua pequenez quero apenas distância! Sua edição não serve nem
para limpar a poeira desse escritório. Jamais aceitarei alguém que não sabe
respeitar mulheres no meu jornal. — Falei entre dentes e Mohamed
levantou também, com os olhos em brasa, fixos nos dois. — Espero nunca
mais ter o desprazer de encontrá-los na minha vida. Ah! E escrevam a
última manchete de vocês: A rainha e seus herdeiros têm mais o que fazer
do que se preocupar com o futuro fracassado de vocês dois.
Epílogo
Três anos depois…
Ísis
— Em pensar que foi assim que tudo começou. Por Alá, eu te detestei
tanto à primeira vista! — Contei e ele gargalhou jogando a cabeça para trás
no travesseiro. — É sério, lembro de pensar que não queria te ver nunca
mais. — Contei rindo, me apoiando eu seu peitoral.
— Eu não me importo que você ande à minha frente. É até melhor para
encaixar em você. — Falou olhando fixamente para a minha boca e eu ri.
— Não entrem! Por que não estão nas suas camas? — Mohamed gritou
e eu rapidamente nos cobri com um lençol.
— Nós vamos sim, mas antes temos algo a resolver aqui. — Disse
voltando a beijar meu pescoço. — Eu não gosto de deixar nada inacabado.
— Sussurrou no meu ouvido me arrepiando inteira. — Fica de quatro para
mim, minha rainha! — Ordenou me deixando excitada.
Sorrimos nos beijando mais. Após nos recompor e nos vestir, seguimos
para o quarto de Samira e vimos Zaynah bocejando cansada entre as
crianças.
Samira deitou entre nós e Rayhan deitou sobre Mohamed. Entre risadas
eles acabaram se cansando também.
— O que acontece quando a rainha lua casa com o rei sol? — Samira
perguntou sonolenta entre nós dois.