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meios existentes sem a autorização das autoras. A violação dos direitos
autorais é crime estabelecido na lei nº 9. 610/98, punido pelo artigo 184 do
Código Penal.
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Capa: Amanda Monteiro
Imagem da capa: Pixabay
Edição e Formatação: Amanda Monteiro
Revisão: Amanda Monteiro
Está é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos é mera coincidência
Os senhores devem estar se perguntando quem eu sou?
Para o meu pai, sou princesa. Uma das joias mais preciosas em seu
reino. Porém sou diferente dos meus irmãos, fisicamente sou como minha
avó materna.
Por ter essa aparência, minha tia alimentou um ódio mortal por mim e
em nome desse sentimento maldoso ela moldou seu filho: Mohamed
Meu perseguidor.
O nome de minha grande mágoa por muitos anos.
Esse é o nome do homem que um dia terá meu coração.
Meu nome é Helena, e essa é a minha história.
Prólogo
Capitulo 1
Capitulo 2
Capitulo 3
Capitulo 4
Capitulo 5
Capitulo 6
Capitulo 7
Capitulo 8
Capitulo 9
Capitulo 10
Capitulo 11
Capitulo 12
Capitulo 13
Capitulo 14
Capitulo 15
Capitulo 16
Capitulo 17
Capitulo 18
Glossário de Termos
Agradecimentos
Sobre a Autora
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ZAIRA
Aos cinco anos fui escolhido para ser o sucessor do meu avô.
Meu irmão para ser o sucessor de nosso pai. Mustafa consegue fazer o
trabalho dos campos, eu faço bem, mas não como ele ou nosso pai. Os filhos
do meu tio Samir estão estudando, Karim é o sucessor do meu tio. Omar vai
ser advogado para ser diplomata e Shaman quer ser médico.
A pequena rata branca não sei o que ela quer fazer da vida, não me
interessa. Ela é como minha tia, ruim e interesseira. Minha mãe sempre abre
meus olhos em relação a minha tia que roubou seu noivo para ter luxos e boa
vida. Para todos ela faz pose de boa. É uma mulher da vida e cria a pequena
vagabunda para usar a beleza física em benefício próprio.
Quando ela chega na casa de meu avô, vejo seu ar de boa moça.
Abraça e beija meus avós, e faz o mesmo com meu pai que a ama como uma
filha e não vê sua maldade.
— Vagabunda branca! — Falo baixo. Ela escuta e meu pai também.
Não ligo quando ela fala que quer o cabelo longo como da mãe e falo que
minha tia é outra vagabunda. Meu pai me olha de cara feia e abaixo a
cabeça.
Passamos a tarde bem até a hora que a vejo ir para cozinha e penso
em atormenta-la mais um pouco, mas ela me ignora. Quando entra na sala
vou atrás e a encurralei e vi medo em seus olhos e a ofendo. Quando falo de
sua mãe, pela primeira vez em anos ela reage e joga o suco no meu rosto.
Fico com raiva e a empurro. Os próximos minutos aconteceram
rapidamente e quando dei por mim ela estava gritando e chorando. Tinha
muito sangue em seu braço. Fico paralisado até que meu pai entra e me
sacode pelo braço perguntando o que eu fiz. Fico sem reação. Ele a levanta
com cuidado, está saindo muito sangue de seu braço. Helena chora muito
abraçada ao meu pai e pela primeira vez vejo como ela é frágil e como fui
um covarde. Meu avô a leva para o hospital e meu pai me leva para nossa
aldeia.
Estou querendo sabe como ela está.
Fico me perguntando do porquê fiz isso.
É como se a venda saísse dos meus olhos. Estou concentrado que não
vejo que cheguei em nossa casa, meu pai saiu do carro, entra na cozinha e
grita por minha mãe que vem correndo com meus irmãos.
— Vocês vão para o quarto! — Meu pai fala com meus irmãos. —
Zaira! Você e Mohamed vão para o celeiro. — Sai batendo a porta.
— Filho? O que você fez? — Não falo nada, apenas fico olhando
para ela.
Minha mãe é uma mulher bonita e não parece que teve muitos filhos,
mas seu olhar é vazio. Quando percebo pela primeira vez seu olhar, abaixo a
cabeça com vergonha do que fiz e não tenho mais certeza de nada. Vou para o
celeiro. Quando chegamos lá meu pai está com um pequeno chicote na mão.
Entramos em silêncio.
— Filho! Você foi injusto e cruel! Machucou uma menina indefesa
que nada lhe fez! Como seu pai e líder exijo que você fale o porquê? —
Minha mãe fica nervosa.
— Por Allah! Abizar, não puna o nosso filho! — Minha mãe
praticamente implora.
— Cala a boca Zaira! Eu não te autorizo a falar enquanto meu filho
for doutrinado para aprender a ser um homem. — Minha mãe abaixa a
cabeça, ela só poderá falar quando meu pai autorizar.
— Então, Mohamed. Você ofendeu sua prima duas vezes em minha
presença. — Ele estala o chicote. — E a empurrou em cima do vidro
quebrado. — Ele estala o chicote de novo. — O que você tem a dizer em sua
defesa?
— Ela é uma vagabunda igual minha tia. — Assim que falo levo uma
tapa na cara.
— Quem te contou essas mentiras? Quem? Sua tia é uma mulher de
honra. Casou pura. Se preocupou e melhorou as vilas, consertou as casas dos
idosos de nossa tribo, trouxe posto médico para nossa gente. Quem em nome
de Allah falou essas mentiras para você? — Meu pai para de falar e olha
para minha mãe. — Como você pôde? Como você pôde fazer isso com sua
irmã? — Minha mãe abaixa a cabeça.
Meu pai anda pelo celeiro, retira o turbante e passa as mãos nos
cabelos. Ele olha com tristeza para minha mãe e depois para mim. Ele volta
e fica atrás de mim.
— Zaira nem uma palavra! Você já sentiu o peso de meu chicote. Não
ouse em me desobedecer ou vou puni-la na frente do nosso filho. Tira a
camisa Mohamed e ajoelha na frente de sua mãe! — Assim eu faço. Minha
mãe chora em silêncio de cabeça baixa.
— Ofendeu sua prima duas vezes! — Sinto o chicote bater em minhas
costas duas vezes, ele não colocou força para cortar a pele. — Você a
machucou! — Ele bate mais cinco vezes, a última senti o sangue descer. —
Nunca mais você fala com sua prima a sós. — Outra chicotada. — Nunca
ficar sozinho em sua presença em quanto você não tiver atitude de um
homem. — Outra chicotada. — Enquanto isso sua vida vai ser nos campos
até você aprender a ter honra. — Ele bateu até eu perder as contas e minha
mãe chora. Meu pai para e olha para minha mãe.
— Agora você tem permissão para falar, mas você vai contar a
verdade para nosso filho. — Minha mãe faz que não com a cabeça, estou de
quatro no chão, pois se não for assim vou cair.
Escuto o som do chicote de novo, mas não sinto em minhas costas.
Olho para minha mãe que está com as mãos na boca para não gritar e vejo a
dor nos olhos de meu pai. Ele nos pune, mas sofre por fazer isso. Minha mãe
começa a gaguejar.
— Meu pai dopou Helenora para casa-la com o Samir porque ela não
aceitaria um casamento forçado. Ela cresceu no Ocidente com sua mãe e lá
tinha uma vida. — Ela fala baixo.
— Conte tudo Zaira e alto! — Meu pai grita e bate novamente em
suas costas. Ela grita e volta a falar.
— Eu fugi com um homem para a Europa com medo de meu pai me
casar com seu pai. Eu sabia que ele forçaria Lena a casar com ele e ela seria
uma camponesa parideira. Era o que ela merecia por ser estudada, ela era
uma metida com faculdade e falando várias línguas. Eu a odeio! — Escuto o
chicote de novo. Ela coloca a mão na boca para não gritar.
— Mãe? Por que? Todos esses anos acreditei na senhora! — Fico
desolado vendo seu olhar de raiva quando fala de minha tia e sinto vergonha
porque estava me tornando como ela, cego de ódio.
— Responda ao nosso filho! Fala Zaira! — Ele dá outra chicotada.
— Ela não merece aquele luxo! Nasci para ser rica! Lena é a filha de
uma prostituta. Uma mulher que tirou o amor de meu pai por mim! Tudo para
ele é sua filha bastarda! Ele me deixava aqui com minha mãe e ia atrás de
Helena em qualquer país que a vagabunda estivesse. Ela o chamava para ver
a bastarda e quando voltava, ouvia escondido ele falando com os líderes das
tribos menores tudo que aquela maldita conquistava. Ela sempre foi o
orgulho dele, eu nunca fui nada! Quando a vagabunda da Helena morreu ele
ia trazê-la para viver aqui. Minha mãe avisou a meu pai que se ele a
trouxesse iria cumprir o que ela havia ameaçado quando ela ainda era uma
criança. Ela ia dar um fim naquela maldita! — Meu pai bate nela duas vezes
para ela parar de falar blasfêmias contra minha tia.
Como nunca vi como minha mãe é? Que Allah me perdoe!
— Conta porque você não pode ir à casa de Samir?! Fala porque
você não pode ficar perto dos seus sobrinhos?! Por que você não pode ficar
perto de Helena?! Fala! — Meu pai grita e a cada frase, ele bate nas costas
de minha mãe.
— Tentei bater em sua tia quando ela estava grávida de Karim. —
Meu pai para de bater e fica na frente. Me levanto, fico de joelhos e de
cabeça baixa em vergonha pelo que me tornei.
— Casei com sua mãe para salvá-la do exílio. Seu avô não é rico
para mantê-la em um país do Ocidente. Sua mãe teria que se prostituir para
viver longe daqui. Ela não teve pena de morte porque Helenora pediu
clemência a Samir. Sua tia que ela tentou matar grávida de seu primo, pediu
de joelhos e não tinha um dia que tinha dado à luz a Karim antes do previsto
graças a sua própria irmã. — Ele suspira e passa a mão na barba esgotado
pelo que teve que fazer. — Sua mãe não é nada do que você pensa. Pensei
que nunca iria precisar te falar isso. Queria te poupar dessa dor, mas sua
mãe não me deu escolhas. Como sempre!
Meu pai sai e minha mãe tenta me ajudar. Eu não deixo e ela sai
chorando. Meu pai volta e me ajuda a levantar, sento em um caixote ele
passa remédio em minhas costas em silêncio. Fico pensando em todos esses
anos que a persegui, em seu olhar de medo quando me via.
Fecho os olhos e penso: Allah! O que foi que eu fiz?
MOHAMED
Há dias que meu pai e eu estamos fazendo reuniões com meu tio e pedi
a mão de minha prima em casamento.
Eu a amo e a quero fazer feliz. Hoje será o grande almoço e a decisão
de meu tio. Terei minha linda ratinha como noiva e futura esposa.
Lembro-me do dia que ela saiu do plantão com seu xador negro,
como seus olhos se destacaram. Assim como minha tia, seus olhos se
destacam nas cores escuras. Lembro-me o quanto ficava encantado com
minha tia quando era um menino, mesmo com ódio ficava nervoso quando
via a ratinha, isso me deixava com raiva. Arrumo minha roupa de luxo e me
olho no espelho. Agora acabou! Vou mostrar-lhe que sou diferente, amoroso,
carinhoso e posso ser um bom marido para ela. Jamais a proibirei de fazer
seus trabalhos na medicina.
— Pai, vamos! — Meu pai sai do seu quarto com sua túnica e arruma
seu turbante.
Ele aparou a barba porque hoje seu filho pode ser tornar chefe de sua
própria família. Motivo de orgulho para qualquer pai.
— Você está ótimo filho, sua noiva vai gostar. — Sorrio para meu
pai.
— Tio Samir vai me dar sua resposta. Não quer dizer que seja um
sim. — Meu pai vem até a mim e arruma meu turbante. Desde pequeno ele
faz isso comigo e meus irmãos. Sempre adorei o carinho que ele nos dá.
— Você é um ótimo partido filho, além de ser da família. Você se
tornou um bom homem e será um bom marido. — Olho para meu pai, tão
jovem e sem uma esposa.
— Pai, o senhor já escolheu uma esposa? — Ele me olha e penso que
minha tia quer apresentar a amiga de sua filha. A estrangeira que vi no
hospital. Ela é bonita e pequena, parece medir um metro e sessenta. Meu pai
é alto, tem um e noventa, mas se eles se gostarem, altura não vai ser
problema.
— Ainda não filho, pretendo esperar mais um pouco. Por que? —
Olho meu pai, ele não pode desconfiar que tia Lena e eu estamos querendo
casa-lo de novo.
— Só curiosidade, afinal já são quase quatro anos que a mamãe
morreu e o senhor cria meus irmãos menores. Fiquei pensando, quem sabe o
senhor não casa e sua nova esposa não tenha uma menina? — Meu pai me
olha e sorri.
— Filho, sou grato a Allah por meus treze meninos, mas se tivesse
mais alguns filhos, seria um homem muito feliz. — Ele fica sorrindo. Meu
pai sempre foi bom e paciente conosco. Desde pequeno ele nos leva para os
campos e era muito divertido ficar com ele, diferente da mãe que estava
sempre séria e distante.
Chegamos à casa de tio Samir e a reunião será a portas fechadas.
Estou aflito porque nessas reuniões o assunto é muito sério. Meu avô e meus
primos estão presentes, além de meu pai e meu tio.
— Bom dia a todos. — Tio Samir sempre tem um porte elegante e
imponente. Vejo alguns cabelos grisalhos saindo de seu turbante, ele é um
homem correto é justo. Nossas reuniões são sempre sem as mulheres para
discutirmos assuntos importantes. — Dou a palavra a Abizar.
— Eu Abizar Ubaydah, filho de Jamil, neto de Kaled. Venho pedir
oficialmente por meu filho a mão de Helena Morgan Hamid Abdullah, filha
de Samir Abdullah, em casamento. — Todos estão em silêncio até meu tio
falar.
— Como de costume de nosso povo o pai determina o noivo da filha
e a noiva dos filhos, mas na minha família faço diferente. Em conversa com
minha esposa, decidimos que não vamos obrigar nossos filhos a um
casamento que eles não queiram. — Assim que meu tio fala, me levanto.
— Tio, por favor!
— Ainda não terminei. Sente-se! — Meu tio me olha sério e sento
ficando quieto. Meu pai é o único de pé e a sala fica em silêncio. —
Voltando. Minha filha já dispensou cinco casamentos desde sua festa de
quinze anos. Homens que seriam bons maridos, mas a queriam como objeto
de adorno por ser bela, ela seria apenas exposta em festa e eventos. Helena
gosta de ter sua própria vida e como a mãe, ela gosta de ajudar nosso povo.
— Meu tio para de falar e escutamos uma doce melodia de piano. Ele sorri.
— Minha filha que está tocando. — Olho para meu tio sem entender, ele
volta a falar. — Pela melodia sei quando é minha doce esposa que está ao
piano ou minha linda filha. — Vejo adoração nos olhos de meu tio quando
fala de minha tia. Isso que quero para mim e minha Helena. Amor, adoração
e companheirismo. — Então Mohamed, filho de Abizar e neto de Jamil. Não
negarei o seu pedido, porque para mim você é o melhor marido que minha
filha poderia ter. — Solto o ar que estava segurando e sorrio. — Mas, a
resposta positiva ou negativa será dela. — Meu sorriso morre e começam
todos a falar na sala.
— Como a resposta será dela? — Assim que pergunto a sala fica
toda em silêncio
— Você frequentará a minha casa por seis meses e neste período, irá
mostrar para ela como você é, como você a quer bem e no final desse
período, ela vai dizer se quer ser sua esposa. — Olho para meu pai em
súplica. Casado seria mais fácil mostrar a ela que posso ser bom marido,
mas fazendo visitas vigiadas?
— Samir, seja razoável, você sabe que o casamento é uma forma de
acostumarmos com nossas esposas. — Meu pai pede e tio Samir olha sério
para ele e levanta uma sobrancelha.
— Fiquei nove semanas na Europa, após minha primeira noite de
casado. Não querendo ver a minha esposa. Pedi uma noiva e descobri outra
em minha cama na noite de núpcias. — Meu avô rir de sua atrapalhada. —
Quando voltei, ela me ignorou por duas semanas, não ficava no mesmo
cômodo que eu ou fazia as refeições comigo. Também fui um cretino.
— Lena é doce, mas quando quer ser birrenta. — Meu avô rir alto.
— Depois de duas semanas, conversamos e ela me deu uma
oportunidade de conhece-la. Durante um mês vivermos no mesmo teto, mas
não como marido e mulher, e foi importante para o início de nosso
relacionamento, pois me apaixonei por ela e a amarei até o fim dos meus
dias. Então Mohamed, você e minha filha tem um passado doloroso e estou
lhe dando a oportunidade de corrigir isso, mostrar para ela que você é
homem bom, honrado e que pode ser um ótimo pretendente. Você aceita meus
termos? — Olho para meu tio e mais uma vez ele está certo.
— Sim, agradeço a oportunidade que o senhor está me dando. —Ele
sorri.
— Que esse assunto fique só entre nós homens até eu falar com minha
filha. Mohamed você terá livre acesso à minha casa por esse período. Ajuste
com as folgas dos plantões de Helena no hospital e venha para vocês se
conhecerem. — Faço que sim com a cabeça. — Se quiserem sair... Shaman e
Mohamed precisamos conversar sobre algumas aldeias. — Tio Samir fala
para os outros e meu pai vem até a mim, me abraça e sai da sala.
Ficamos conversando sobre problemas e soluções da aldeia de meu
avô até que escuto meu pai falando alto. Com quem? Escutamos uma voz de
mulher que está furiosa. Meu tio e eu saímos correndo da sala, meu avô fica
da janela olhando a confusão.
Quando chegamos no jardim vejo que meu pai conheceu a amiga de
Helena e a situação não é boa. Meu pai está igual a um tigre enjaulado,
andando de um lado para outro, falando e gesticulando.
Meu tio conversa com meu pai enquanto a pequena mulher fica o
encarando. Estou querendo rir da situação, afinal minha mãe não deixa meu
pai zangado. Triste sim, mas não assim tão cheio de vida. Achamos a mulher
certa, agora é só convencer meu pai a dar o dote e logo ele terá uma nova
esposa. Fico sorrindo.
O almoço e está um desastre. Meu pai e sua futura esposa estão se
encarando, parece que vão se matar e todos a mesa comem no automático.
Até meu avô falar demais e quando meu tio fala do pedido de casamento,
vejo o desespero estampado no rosto de Helena.
Ela levanta no pulo, fazendo a cadeira cair no chão fazendo um
estrondo, levanto e vou acalma-la.
— Calma Helena, eu pedi sua mão ao seu pai. — Ela olha para o pai e
olha para mim. Seu rosto está em completo desespero. Vou me aproximando
lentamente para não a assustar mais.
— Ela vai cair. — Karim grita e corro para segura-la.
Era para ser um almoço de festividades e acabou em uma tremenda
confusão. Tudo devido a meu avô que não sabe ficar com a boca fechada.
HELENA
Um mês que estou vindo a casa do meu tio nas folgas de Helena.
Ela não me olha, estou cansado disso. Perdi um mês e em cinco meses
ela vai dar a resposta e se continuar assim, será um não.
E ainda tem aquele ocidental. Karim me falou que o nome dele é
Charles. É irmão de uma amiga do colégio que Helena estudou. Amigo? Eu
vi os dois conversando no jardim em um dia que trouxe um documento para
meu tio.
Helena estava linda, tinha sorrisos e conversas. Ela tocou em seu
braço! Comigo ela não chega perto e muitas vezes responde em
monossílabas. O inglesinho foi embora na semana passada, mas prometeu
voltar. Estou frustrado e cansado disso. Vou resolver essa situação e decido
ir à casa do meu tio.
Assim que chego Maísa me recebe e avisa que Helena está na sala.
Escuto a melodia que ela toca. Peço paras não me avisar e vou a passos
largos muito zangado para o cômodo e a vejo com o os cabelos soltos longos
até a cintura. Ela está concentrada tocando e o véu está ao seu lado.
— Até quando Helena você vai me ignorar? — Ela para de tocar,
mas não se vira. — Estou no limite! Há um mês venho e fico aqui, e você
mal me olha! Seu pai nunca deveria ter lhe dado o direto de escolher!
Mulheres não tem que ter escolhas, nós homens que temos que dizer o que é
melhor. Essa hora estaríamos casados e você teria me dado uma
oportunidade. — Ela solta a tampa do piano fazendo um barulho alto, se
vira com o rosto vermelho.
— Uma oportunidade? Qual foi o dia que você me deu uma? Você me
perseguiu por dez anos! Dez malditos anos! Depois veio todo arrependido,
mas você alguma vez perguntou como eu fiquei? Perguntou? — Ela grita.
— Helena eu... — Ela não me deixa falar.
— Cala a sua maldita boca! Você está cansado? Como eu fiquei?
Dias após dias, anos após anos sendo chamada de vagabunda branca! Meu
apelido carinhoso que meu avô me deu, você o menosprezava tanto que
fiquei com trauma dele. Fugi por anos para me fortalecer e você chega todo
arrependido pedindo perdão querendo ter razão. Você pensa que o fato de eu
te perdoar me faz te aceitar? Você nunca se perguntou como eu fiquei? O que
sobrou de mim depois de tantas agressões verbais e físicas? É sempre o que
você quer? O que você sente? O que pensa? E eu? O que quero não conta?
Meu pai foi justo em te dar uma resposta negativa, eu estou aqui tentando e
conta apenas o que você pensa? Conta?
— Não. — Suspiro, ela está certa. Helena é decente e conhecia esse
inglês antes de voltar. Se ela quisesse eles estariam juntos. Fico arrependido
— Desculpe, tive um dia difícil, eu não tinha o direito de te pressionar
assim. — Vejo ela limpar as lágrimas e penso que só a faço sofrer.
— Com licença, eu preciso de espaço. — Ela anda até a porta e vejo
meus tios. Tia Lena está com a mão esquerda no peito de meu tio o
impedindo de entrar na sala. Me pergunto o quanto eles ouviram da
discussão.
— Vai falar com ela, deixa que converso com Mohamed. — Meu tio
sai de semblante fechado e minha tia entra encostando a porta.
— Sinto muito tia, eu a pressionei. Fui estúpido. Vou falar com meu
tio, vou desfazer o pedido. Eu a vi com o rapaz inglês no jardim outro dia e
fiquei irracional. — Tia Lena senta e faz sinal para me sentar ao seu lado.
Assim que senti ela segurar as minhas mãos, a olho sorrindo.
— Meu filho, eu sempre amei vocês e seus irmãos como se fossem
meus filhos, mas depois da apresentação de Helena, eu via a forma que você
me olhava. Acreditei que era coisa de criança. Você ficou diferente, seu
olhar para Helena ainda bebê era de ódio, supus que quando ela crescesse
você mudaria a forma de nos ver, mas ficou pior. Até o dia do acidente, e
naquele dia você viu o que sua mãe era. Viu tudo que seu pai e eu tentamos
deixar escondido durante anos. Eu não queria que você se decepcionasse
com Zaira, mas a situação chegou a um ponto que não tinha volta. — Minha
tia levanta e anda pela sala. Levanta a tampa do piano e toca algumas teclas.
— Não sabe como me doeu saber que seu pai havia te punido, e saber o
quanto você se culpava por nunca te visto as mentiras de sua mãe. — Ela
senta novamente ao meu lado, segura a minha mão e volta a falar. — Mas
você foi valente, você se tornou digno. Foi para os campos mesmo depois
que seu pai tirou o castigo, assumiu sua responsabilidade com meu pai e
cuida do nosso povo. Agora te pergunto? Quando foi que Mohamed, filho de
Abizar desistiu de lutar?
— Nunca! — Olho para minha tia. Ela tem razão.
— Helena precisava desabafar, eu sei que você a ama, não é só um
capricho por ela ser bela. Então lute e dê uma chance a vocês.
— Como tia? Eu não sei, só faço besteiras. — Abaixo a cabeça e
minha tia coloca a mão no meu queixo, levantando minha cabeça.
— Gradualmente. — Ela levanta e vai até o armário. Pega uma caixa
envolta em um papel de presente. — Helena adora caixas de músicas
antigas, quando vi essa em uma loja no Cairo sabia que ela vai amar. — Ela
coloca a caixa em minhas mãos. — Não precisa dar hoje, mas vou dar-lhe
um conselho. Venha nos dias que você estiver nos campos, mas não troque de
roupa, mostre a Helena quem você realmente é. Você é líder e camponês.
Seja você mesmo, as coisas vão melhorar para vocês. — Minha tia me
abraça.
— Obrigado, tia. A senhora poderia ter sido minha mãe. Teríamos
sido felizes. — Ela larga do abraço e sorri.
— Mas, me conta! Como está indo Abizar e Renata? Soube que eles
estão tentando para ver se dão certo. — Ela sorri.
— Tia não te conto. Brigaram feio ontem por causa de um bode.
Acredita? — Minha tia rir. — O bode comeu a roupa de meu pai.
— Seu pai brigou porque um bode comeu a roupa dele do campo?
Seu pai vive com as roupas mordidas de cabras. Por que da briga?
— Renata tem um bode de estimação. — Assim que falo minha tia
arregala os olhos. — Sério, tia! Tecnicamente ainda não é um bode porque é
um filhote, ela deu o nome de Floquinho. Quando a esposa de meu tio não
pode ficar com meus irmãos, Renata fica e leva Floquinho amarrado em uma
corda. Meus irmãos adoram o cabrito, ele fica pulando e correndo com os
cachorros de meu pai.
— Então porque brigaram? Afinal é um cabrito de estimação. —
Minha tia está rindo muito.
— O bodinho comeu a roupa de meu pai que particularmente não
ligou, entretanto, Renata resolveu repreender o comilão e falou: “Bebê não
come a roupa do papai, ele não gosta.” Foi assim que abriga começou, meu
pai ficou indignado pensando que Renata o chamou de “pai de bode”. —
Minha tia está rindo de chorar.
— Allah! Eles ainda estão brigados? — Ela fala entre os risos.
— Não! Ela foi atrás dele no campo e quando voltaram meu pai
estava sorrindo. Eu não me lembro de minha mãe fazer meu pai sorrir. Ele
ficava feliz quando nascia os meus irmãos, mas com Renata é diferente, ela o
abraça e dar carinho, minha mãe nunca fez isso. Meu pai parece outro
homem.
Conversei mais uma pouco com minha tia que me falou que Helena
estaria em casa no dia seguinte. Eu estaria nos campos e assim como o
conselho de minha tia, não iria me arrumar.
Vou provar para Helena que mudei, não sou o moleque cego e ruim que
ela conheceu.
BÔNUS
SAMIR
Tia Lena saiu e fico olhando meu tio falar com Helena no jardim.
Quando Helena sai, tia Lena chega e abraça meu tio. Os dois se beijam
como adolescentes. Nunca vi meus pais fazerem isso, às vezes me pergunto
como eles fizeram tantos filhos se minha mãe mal olhava para meu pai.
Fico olhando os dois andando de mãos dadas indo para a estufa.
Como eu queria ter uma vida assim com minha Helena, vivendo
apaixonados. Suspiro e lembro quando meu pai e Renata brigaram por causa
do bendito bode.
Meu pai passa por mim nos campos resmungando: “me chamou de
pai de bode”, e passa correndo com o bodinho pulando atrás, não entendo
esse bode. Ele age como um cachorro e fica andando atrás de meu pai
quando Renata o traz para nossa casa.
Vou seguindo meu pai para a ver o que aconteceu, afinal meu pai
tem a mania de conversar com as cabras, pois minha mãe quase não
conversava com ele. Estou andando e Renata passa por mim, correndo.
Fico parado e deixo os dois conversarem, se eles se desentenderem muito
vou intervir.
Meu pai está sentado resmungando quando Renata se baixa na
frente dele e escuto o que ele fala.
— Sei que sou feio, mas falar que sou pai dessa coisa. — Ele aponta
para Floquinho que dá uma cabeçada no ar próximo da mão de meu pai.
Que resmunga! — Para de fazer isso, você é bonitinho, mas não vai me
fazer rir.
Renata sorria e meu pai a olha com a cara amarrada. Estou
esperando outro resmungo quando Renata simplesmente puxa meu pai e o
beija. Fico parado. Perdi a reação, essa é nova. Minha mãe brigava com
ele até ele tirar sua permissão de falar, e Renata o beija? Fico rindo, por
isso que o levado volta rindo dos campos toda vez que briga com ela.
Ela pegou meu pai de surpresa e arrancou seu turbante. Ele sai do
abraço dela, mas continua sentado e começa a ajustar o turbante na
cabeça.
— Mulher! Mulher! Isso não é certo.
— Quem manda você ser lindinho. Você é fofo quando fica
zangadinho. — Meu pai rir.
— O que faço com você, mulher?
— Tenho algumas ideias, mas você falou que não é certo. Muitas
coisas legais para fazermos juntos. — Não era para estar ouvindo isso!
Pensei e virei de costas.
— Depois que casarmos, mas agora não. Você vai querer filhos? —
Fico tranquilo porque o assunto mudou.
— Claro. Fico imaginando uma menina correndo aqui na fazenda.
— Renata fala suspirando. — Um pequeno Abizar resmungando com as
cabras.
— Eu não resmungo. — Encruzando os braços.
— Você fica lindinho fazendo biquinho. — Renata o beija de novo
que dessa vez não se afasta, mas depois sai de novo dos seus braços.
— Renata! — Ele fala sério. — Para com isso ou vou ter que te dar
um corretivo, mulher. — Fico rindo.
— Correntes e algemas? — Ela coloca o indicador no queixo e
bate. — Se você fizer a barba, topo. — Ela rir.
— Está louca mulher! — Meu pai quase grita. — Para que eu iria
acorrentar você? Não sou nenhum lunático. É isso que você pensar de
mim? — Meu pai se levanta e Renata levanta com ele.
— Calma, amor. Estou brincando. — Meu pai olha desconfiado e
depois fica com cara de bobão.
— Amor? Você me chamou de amor? — Ele fica sorrindo enquanto
ela faz carinho em sua barba e coloca as mãos em seu pescoço o beijando
de novo. Ele novamente larga do beijo e eles ficam abraçados.
— Você não me deixa aproveitar. Queria tirar uma casquinha! —
Meu pai rir. Ela o solta, dar a mão a ele e volta a falar: — Vamos para
casa amor, senão as crianças vão ficar preocupadas, afinal você saiu
gritando. — Renata fala e vai andando com meu pai. O bendito bodinho
pulando atrás, me escondo atrás da árvore para não ser visto. Eles passam
de mãos dadas e sorrindo.
Sou tirado dos meus pensamentos quando a porta é aberta, sei que é
Maísa me chamando para o café da tarde, mas vou embora. Até que, sua voz
me faz virar abismado.
— Mohamed? Vamos tomar café da tarde? Maísa mandou colocar a
mesa. — Ela está linda com um véu nos cabelos. Quando casarmos não
quero que ela cubra seus cabelos em nossa casa.
Vamos em silêncio, ela senta à mesa próximo de mim, não me
contenho em alegria por ela está finalmente me dando uma oportunidade e
falo humildemente.
— Obrigado, por me dar uma oportunidade de me conhecer. —
Helena sorri. Ela é tão linda.
— Me desculpe por gritar com você. — Aproveitei que sua mão
estava sobre a mesa e a segurei. Ela não puxou, sua pele é tão macia.
— Eu merecia o que você fez, fui um cretino, aliás estou sendo há
muito tempo. — Ela me olha e sorri.
— Um novo começo? — Faço que sim com a cabeça e ela sorri. —
Amanhã você está nos campos de tio Abizar? Por que vou marcar para ir à
casa de Renata e estou pensando em pedir permissão a meu pai para ir com
ela na casa de meu tio, como eles são namorados queria conhecer as terras.
— Ela fala me olhando curiosa.
— Sim, vou estar lá e Renata pode ser sua companhia. Te mostro
nossas criações. Meu pai vai ficar feliz em te ver. Afinal você nunca foi em
nossas terras. — Ela abaixa a cabeça e pega o café para beber.
— Sua mãe me odiava por eu parecer com minha falecida avó e meu
pai temia por minha segurança. — Ela fala baixinho.
— Sinto muito por isso Helena. Você nunca deveria ter passado por
essas privações. Graças a mim e a minha mãe você teve muito sofrimento. —
Ela me olha séria.
— Se vamos tentar novamente então é melhor não falarmos mais
sobre isso. Me conta como é a fazenda de meu tio, fala sobre esse tal
Floquinho que Renata tanto chama de bebê e é motivo das brigas de meu tio
é ela.
— O bodinho? — Pergunto e Helena rir. Sua risada é como sino, a
canção mais linda que já ouvi.
Passamos uma tarde agradável e no final do dia Helena tocou piano
para mim e seus pais. Jantei na casa de meu tio, a noite fui embora para casa,
com o coração cheio de alegria, pois em breve a minha linda “ratinha
branca” iria visitar pela primeira vez a fazenda de meu pai e eu seria seu
guia.
A satisfação é muita, pois agora estávamos nos entendendo e poderia
ter a chance de mostrar para ela que mudei, que sou um homem de honra e
digno para ser seu marido.
HELENA
Samir o sheik da Tribo do Sul tinha uma solução para a guerra que
parecia não ter fim com o Norte.
Um casamento. Só assim ele teria a paz e sua amada Zaira, mas a
vida resolveu lhe pregar uma peça e na noite de núpcias ele descobre que a
noiva era a meia irmã de sua adorada e tradição, ela não poderia ser
devolvida.
Como ele poderia resolver essa situação sem uma iminente guerra?
Eleonora vai a um chá da tarde com seu pai, o líder da Tribo do
Norte e acorda bêbada na cama de um homem que não conhece.
E agora? O que fazer?
Dois corações que não se conhecem.