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Indice

1. Introducao..................................................................................................................3

1.1. Objctivos:............................................................................................................3

1.1.1. Geral:...........................................................................................................3

1.1.2. Específicos:..................................................................................................3

1.2. Metodologia:.......................................................................................................3

2. O Parentesco...............................................................................................................4

2.1. As Unidades Funcionais do Parentesco e a Sua Importância.............................5

2.2. As Formas do Parentesco....................................................................................6

2.2.1. Os Parentes Consanguíneos.........................................................................6

2.2.2. Os Parentes Aliados.....................................................................................7

2.2.3. Os Parentes Adoptivos ou Fictícios.............................................................7

2.3. Os Esquemas do Parentesco...............................................................................8

2.4. Caracteristicas do parentsco..............................................................................10

2.4.1. A Filiação..................................................................................................10

2.4.2. Aliança Matrimonial..................................................................................12

2.4.3. Residência e Circulação Matrimonial e Seu Impacto na Organização


Social e Política........................................................................................................14

2.5. Critica do parentesco: Sistema de parentesco macua.......................................16

3. Coclusao...................................................................................................................18

4. Referencias bibliograficas........................................................................................19
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1. Introducao
O presente trabalho aborda sobre o parentesco, familia e casamento em Moçambique
onde far-se-a a devida introduçao ao estudo do parentesco, a sua nomenclatura, a
simbologia e as caracteristicas do mesmo e em jeito de complementabilidade far-se-a
uma apreciaçao ao parentesco em relaçao ao povo macua.
O termo Parentesco não é de fácil definição. Uma definição simples considera que o
Parentesco seja “um vínculo que liga os indivíduos entre si em vista da geração e da
descendência” (Bernardi, 1978, p. 259).
1.1. Objctivos:
1.1.1. Geral:
 Estudar o parentesco.
1.1.2. Específicos:
 Conhecer a simbologia do parentesco;
 Analisar a critica do parentesco no caso macua;
 Identificar as caracteristicas do parentesco.
1.2. Metodologia:
Para a realização do trabalho recorremos a diversas fontes com a finalidade de reunir
uma informação satisfatória e de fácil compressão através de consultas bibliográficas e
pesquisas efectuadas nos endereços electrónicos da Web, que versam sobre o tema em
destaque nas quais vem mencionadas no fim do trabalho.
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2. O Parentesco

Os indivíduos, em vida, formam teias ou relações sociais diversificadas. Essas relações


emergem desde a nascença a grupos de brincadeiras, passando pela escola, local de
trabalho, etc. Elas permitem que nos identifiquemos em relação a outros indivíduos,
membros do mesmo grupo ou num determinado meio. É no âmbito dessas relações, que
se formam com a vida, que vamos falar de parentesco.

O termo Parentesco não é de fácil definição. Uma definição simples considera que o
Parentesco seja “um vínculo que liga os indivíduos entre si em vista da geração e da
descendência” (Bernardi, 1978, p. 259). Pode-se definir-lo como um sistema simbólico
de denominação das posições relativas aos laços de descendência e de afinidade.

Você sabia que um dos primeiros elementos de identificação do estatuto social de um


indivíduo em cada sociedade humana surge do parentesco? De facto, quando um
indivíduo nasce, a primeira base de identificação é um grupo social restrito, a família. É
na família onde existem os parentes mais próximos. O Parentesco é definido em
referência a um indivíduo, isto é, a um EGO, em relação a uma ou outras pessoas que
fazem parte de um grupo social. Na essência, o EGO identifica-se com a pessoa pela

qual começamos a estabelecer as relações com todos os outros membros de um grupo


social, venham tais relações da consanguinidade ou da afinidade.

O Parentesco institucionaliza as relações sociais. É nele que são prescritos ou definidos


comportamentos entre os membros de um grupo social, como por exemplo os tipos de
casamento, as formas de tratamento entre os membros, as formas de filiação, isto é, a
maneira como é definida a pertença dos filhos, etc.

Contudo, a definição de quem é parente é em si complexa, dado que ela pode variar de
uma sociedade para outra e pode mesmo evoluir com o tempo. Tem se notado, por
exemplo, uma redução progressiva dos núcleos familiares em muitos complexos
culturais. Assim, se no passado o Parentesco envolvia muitos membros, muitas famílias
alargadas, ele tende a tornar-se cada vez mais restrito, fruto do impacto da própria
evolução material das sociedades humanas (urbanismo e revolução industrial) ou das
migrações. Estes factores condicionaram períodos de grandes transformações familiares,
com as consequentes perturbações e reajustamentos dos núcleos familiares.
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Na definição de quem é parente interferem ainda as concepções científicas sobre as


relações genéticas, que não são partilhadas por todas as sociedades. Você observa na
sua comunidade, uma das duas situações: um filho é obra do pai, ou então diz-se
descendente da mãe. Finalmente, se numa primeira fase o Parentesco incluia apenas os
aspectos de consanguinidade, sendo por isso o genuino e autêntico, por baseiar-se no
pressuposto biológico, actualmente ele integra outros parâmetros, como a adopção. De
facto, o Parentesco não se resume apenas à consanguinidade. Se assim fosse, todos os
membros de um grupo social acabariam por ser parentes ou então não haveria a
possibilidade de integração de outros membros que não fossem de “sangue”. Por isso, o
Parentesco não só define os membros que fazem parte de um grupo social, como
também os distingue dos que a ele não pertencem, isto é, define unidades sociais
precisas. Quando você diz, por exemplo, que não é parente de alguém, exclui-se de um
certo grupo social. Neste contexto, o Parentesco pode integrar ou excluir um membro de
um determinado grupo em referência.

O Parentesco é um sistema simbólico de denominação das posições relativas aos laços


de descendência e de afinidade. O Parentesco é definido em referência a um indivíduo
(Ego). Mesmo variando de uma sociedade para outra e com o tempo, o Parentesco
continua a definir as relações sociais e as normas de comportamento. Se nos primórdios
envolvia apenas aspectos de consanguinidade, hoje ele alarga-se também à adopção e a
outros critérios.

2.1. As Unidades Funcionais do Parentesco e a Sua Importância

O Parentesco tem uma base operatória, pela qual se identificam as relações sociais entre
os membros em referência. Trata-se aqui da Parentela e da Família.

A definição de parente nem sempre é pacífica. É assim que para tornar este conceito
funcional, só uma pequena parte da rede genealógica constitui a Parentela reconhecida e
operatória para um indivíduo. A Parentela é um grupo de pessoas que se forma à volta
de um Ego. Contudo, a Parentela não envolve necessariamente uma descendência. Você
tem uma teia de relações, que entretanto não tem relação com os seus antepassados ou
descendentes directos. Você tem um cunhado, tio, avô, sobrinho, cunhada. Entretanto,
na sua família, só você é a única pessoa que se dirige às anteriores pessoas com aqueles
atributos, pois eles não são, no mesmo momento, cunhado, tio, avô, sobrinho e cunhada
dos seus pais. Essas relações de parentesco que dizem respeito a você é que constituem
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a sua Parentela. Com a Parentela, as sociedades definem os seus parentes próximos


(aqueles com os quais as regras de comportamento são mais fortes), os parentes
afastados (os que, apesar de serem parentes têm relações menos fortes) e aqueles que
não são parentes.

Segundo a amplitude de membros, há sociedades que comportam um Parentesco


Alargado, o que envolve uma grande teia de relações, enquanto outras têm um
Parentesco Restrito, constituído por pequenas unidades sociais funcionais.

A outra unidade funcional que está intrinsicamente ligada ao indivíduo é a Família. A


definição de família é, por vezes, muito imprecisa, podendo designar, segundo Mello
(2005, p.326-327), o grupo composto de pais e filhos; uma linhagem (patrilinear ou
matrilinear), um grupo que descende do mesmo antepassado, um grupo de parentes e
descendentes que vivem juntos. A Família pode ser Nuclear, Simples ou Elementar,
sendo, neste caso, a menor unidade social ligada por laços de consanguinidade, de
afinidade e de adopção. A Família Nuclear contrapõe-se à Família Extensa, que
congrega várias Famílias Nucleares, isto é, comporta vários casais.

É na Família que inegavelmente estão presentes as relações universais mais


significativamente humanas como: a relação entre homem e a mulher; a relação criada
entre os pais e os recém-nascidos; as relações entre gerações diferentes.

Quando se fala da importância social da Família reconhece-se geralmente o alto grau de


relevância desta no ordenamento social. A Familia desempenha várias funções: de
reprodução; de socialização dos filhos; produtiva ou económica, necessária para a
perpetuação da vida e satisfação das necessidades vitais; jurídica, na medida em que ela
é proprietária de objectos, dotada de direitos e deveres; religiosa, onde os membros
séniores (pai ou mãe) propiciam alguns cultos.

2.2. As Formas do Parentesco

Segundo a forma como os vínculos se formaram ou o Parentesco surgiu, este pode ser
real (a consanguinidade), fictício (o da adopção) e o das relações de aliança. Apesar da
adopção criar laços fortes, a consanguinidade parece criar laços mais profundos. Em
função destes pressupostos, surgem os Parentes Consanguíneos e Aliados ou Afins.

2.2.1. Os Parentes Consanguíneos


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Compreendem os da linha recta, isto é, os ascendentes (os que nasceram antes de um


Ego ou de você, como os seus avôs e pais) e os descendentes (os que nasceram depois
do mesmo Ego ou de você mesmo, como os seus filhos, os seus netos). Nestes Parentes
Consanguíneos são ainda integrados os da linha colateral (germanos, isto é,
descendentes do mesmo pai e mãe, no seu caso, os seus irmãos, os seus primos e os seus
tios).

São os Parentes Consanguíneos que dão a descendência. Contudo, mesmo que se


reconheça que o critério dessa relação de descendência é o biológico ou natural, esta
relação é também cultural, na medida em que é determinada em função das regras de
um grupo social determinado. Enquanto a natureza estabelece a consanguinidade, a
cultura determina os parentes. Assim, o Parentesco Consanguíneo proporciona a prole
ou os filhos, enquanto o Parentesco por Afinidade alarga-se pelo casamento.

Na descendência ou linhagem, os membros do grupo sentem-se unidos pela referência a


um antepassado comum real e recente, situado entre quatro a cinco gerações. O
conjunto dessas pessoas que têm o mesmo antepassado comum dá origem à linhagem.
Define-se por linhagem, “um grupo de pesssoas descendentes de um mesmo
antepassado cujo vínculo de descendência é genealogicamente demonstrável e não
pressuposto miticamente” (Bernardi, 1978, p. 293). Difere do clã, por consistir num
“(...) grupo de pessoas descendentes de um mesmo antepassado mítico ou fictício (...)
[sendo] uma realidade pressuposta e não demonstrável historicamente”(Ibid., p. 292).

2.2.2. Os Parentes Aliados

São os indivíduos ligados a um determinado grupo de Parentesco por via de casamento.


São os membros com que se têm as relações de afinidade. Estas relações surgem
partindo-se do pressuposto segundo o qual na família, marido e mulher não são parentes
consanguíneos. Estes laços de afinidade têm uma grande importância no conjunto da
organização social de qualquer agrupamento humano. Este tipo de relação, mesmo em
sociedades industrializadas, é, de certa forma, responsável pela distribuição de
benefícios ou aproximação de grupos sociais.

2.2.3. Os Parentes Adoptivos ou Fictícios

São os que resultam de um processo de adopção de um indivíduo por membros que não
têm nenhuma relação de consanguinidade.
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Por causa destas diferentes formas de Parentesco, nem sempre é possível ou fácil
diferenciar a origem da Parentela a partir da designação dos parentes. Por exemplo, o
termo “pai”, pode relegar a um pai genitor, adoptivo, ou posicional, isto é, a atribuição
ao irmão do pai à mesma referência. Mas também pode ser pai, aquele que lhe é
reconhecida a paternidade socialmente, isto é, ao pai social. Na verdade, o Parentesco é
um sistema simbólico de denominação das posições relativas aos laços de descendência
e de afinidade. Por isso, existem dois sistemas de Parentesco: Descritivo e
Classificatório.

No Descritivo são usados termos diferentes para designar cada parente. Por exemplo, o
pai tem uma designação e o irmão do pai tem outra designação, por exemplo, a de tio.
Enquanto isso, no classificatório é usado um termo para designar um conjunto de
pessoas segundo o seu posicionamento no esquema de parentesco, isto é, quando
pessoas que não ocupam a mesma posição em relação ao Ego são classificadas sob o
mesmo nome. O Ego, ou você, chamará de irmão, ao seu primo paralelo; de mãe, as
irmãs e primas da mãe; de pai, aos irmãos e primos do pai, etc.

2.3. Os Esquemas do Parentesco

Na vida quotidiana, você nota que o Homem se guia por um conjunto de sinais que
substituem os objectos, coisas ou seres a que se referem, desde palavras, imagens, sons,
objectos.

Por uma questão operatória, a Antropologia usa diferentes símbolos e esquemas de


Parentesco, os quais permitem, a qualquer leitor, identificar as relações entre os
diferentes membros do grupo social em referência ou representado. Assim, os seguintes
símbolos têm o significado que está logo a seguir :

Indivíduo de sexo indiferenciado (isto é, pode ser Homem ou mulher)

Indivíduo falecido

Indivíduo do sexo masculino

Indivíduo do sexo feminino

Indivíduo do sexo masculino mais velho


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Indivíduo do sexo feminino mais novo

Casamento; Divórcio; Segundo casamento;

Casamento poligamo

Germanidade, irmandade ou fraternidade;

Filiaçao

Marido e mulher

Com filhos

Para além dos símbolos, na Antropologia é usado um conjunto de abreviaturas para


designar os parentes primários, (aqueles cuja ligação não precisa de intermediário)
secundários, (aqueles cuja ligação tem um intermediário), terciários (os que precisam de
dois intermediários para a sua ligação) e os afins.

Abreviatura dos parentes primários e secundários


Pai Pa
Mae Ma
Filho Fo
Filha Fa
Irmao Io
Irma Ia
Marido Eo
Esposa Es
Tio To
Tia Ta
Sobrinho So
Sobrinha Sa
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2.4. Caracteristicas do parentesco


2.4.1. A Filiação

A Filiação constitui um dos fundamentos da transmissão do Parentesco. A filiação pode


ser legítima, natural ou adoptiva. No sentido antropológico, a Filiação é geralmente
traçada apenas por um único progenitor: ou se é filho de um determinado pai ou mãe,
pertencendo ao grupo de Parentesco daquele ou desta. A Filiação entende-se como o
conjunto das regras que definem a identidade social da criança em relação aos seus
ascendentes e que determinam a hierarquia dos membros da família, a forma de herança
dos bens, a transmissão dos cargos e funções, até a distribuição da autoridade nas
sociedades (Rivière, 1995, p. 64-65). Quando você observa pessoas na sua área de
residência que indicam que pertencem ou são da família da mãe ou do pai; quando você
nota que certos bens são geralmente herdados de um lado e não do outro, está diante de
um conjunto de procedimentos que se definem na Filiação. De forma geral, a Filiação
pode ser Unilinear (patrilinear ou matrilinear); Bilinear e Indiferenciada.

Na Filiação Unilinear, o indivíduo não escolhe o seu grupo de pertença. Ele recebe-o.
A pertença ao grupo é determinada pelo facto de se ser filho do pai ou de se ser filho de
determinada mãe, já que em certas sociedades aponta-se que uma criança é gerada por
um único dos seus progenitores. Umas consideram que a mãe é a única responsável pelo
nascimento da criança, negando-se a paternidade fisiológica.

Na Filiação Patrilinear, designada também por Agnática, a pertença ao grupo obtém-


se pelo pai e a relação com os outros membros deste grupo passa-se exclusivamente
pelos indivíduos do sexo masculino (os agnatos). Por exemplo, os filhos da irmã do pai
não são membros do grupo de Filiação, contrariamente aos do irmão do pai. A Filiação
transmite-se do pai para o filho. Geralmente, nestas sociedades a circulação dos
membros é feita através de um sistema de compensação. Normalmente, depois do
casamento não se espera que a filha volte para a aldeia. Numa primeira fase, estas
comunidades eram nómadas ou inicialmente a sua sobrevivência dependia de recursos
frágeis.
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Filiaçao patrilinear

Via de descendencia

Na Filiação Matrilinear ou Uterina, o laço do Parentesco é transmitido pela mãe. O


Ego masculino, apesar de ser membro do grupo de Filiação da sua mãe, ao contrário do
que acontece com a irmã, não transmite a sua pertença aos filhos. Estas sociedades são
geralmente sedentárias e geralmente vivem da agricultura.

Filiaçao matrilinear

A filiação bilinear, ou dupla Filiação, combina as duas filiações unilineares. A Filiação


é reconhecida de ambos lados (paterno e materno), mas com finalidades diferentes.
Num dos lados pode receber o apelido e no outro receber, por exemplo, poderes
espirituais.

espirito sangue

ego

A Filiação Indiferenciada, também designada Cognática ou Bilateral ignora o sexo


para a definição dos laços do Parentesco. No sistema de Filiação Cognática, o Ego é
membro de dois grupos de Parentesco: o do seu pai e o da sua mãe. Geralmente este
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sistema cria uma teia complexa de relações que a Filiação Unilinear e Bilinear. É
característica dos países ocidentais.

O Ego recebe a Filiação dos quatro avôs, oito bisavôs, dezasseis trisavos, etc.

Ego

Para todos os efeitos, todos os anteriores tipos de Filiação são de carácter natural,
porque apesar de ela ser determinada culturalmente, envolve a consanguinidade. Fora
desta, existe a Filiação Adoptiva, aquela em que os filhos têm uma origem exterior à
Família Nuclear ou não têm uma relação genética. Entretanto, esse tipo de Filiação não
é menos importante que a outra, na medida em que os adoptados gozam dos direitos dos
legítimos.

2.4.2. Aliança Matrimonial

Na sua vida quotidiana você tem ouvido falar de Aliança Matrimonial ou simplesmente
do casamento. Este constitui uma união estabelecida entre dois grupos exógamos, pelo
cruzamento de um dos seus membros com alguém pertencente a outro grupo. O
casamento é uma Instituição Social que visa o estabelecimento de vínculos de união
estáveis entre o homem e a mulher, baseados no reconhecimento do direito de
prestações recíprocas de comunhão de vida e de interesses, segundo as normas das
respectivas sociedades. De facto, os casamentos são prescritos geralmente pelas normas
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do local onde se realizam, desde que um dos membros seja nativo. Excluem-se os
casamentos exóticos.

A Aliança Matrimonial condiciona processos de filiação, de residência, de apelido, de


herança, de atitudes e é a base da procriação legítima no grupo conjugal. A liança
Matrimonial condiciona a mudança do estatuto dos novos esposos e a criação de laços
jurídicos, sociais e económicos.

A escolha do cônjuge não é aleatória. Participam alguns princípios como a origem, as


qualidades, a identidade social, para além de que esperam se negociações e
assentimentos nas famílias dos dois parceiros. Tais princípios são tomados em
consideração porque um laço matrimonial envolve questões como a idade; o sexo; grau
de parentesco dos esposos; prazo de viuvez ou o respeito de certos interditos. Por
exemplo, apesar de actualmente ocorrerem casamentos homossexuais em alguns países,
geralmente são privilegiados os de natureza heterosexual, isto é, que resultam da relação
entre o homem e a mulher. Assim, os tipos e sistemas matrimoniais guiam-se na base da
endogamia, (matrimónio dentro), que prescreve a escolha do cônjuge no interior de um
determinado grupo e da exogamia (matrimónio fora), que proíbe o casamento dentro de
determinados grupos, ou seja o casamento entre parentes do primeiro grau. Este difere
contudo do incesto, que diz respeito às relações sexuais entre parentes do primeiro grau,
uma prática que normalmente é proibida praticamente em todas as sociedades.

A escolha de um cônjuge opera-se por ordem decrescente segundo os critérios


seguintes: no interior da etnia (etnocentrismo); exogamia (fora do grupo do parentesco,
que na verdade tem sido um dos grandes critérios), a afinidade e a harmonia das idades.
Por isso, existem várias formas de casamentos, sendo impossível considerar uma única
forma, de valor universal. Contudo, entre as variadíssimas formas e normas existentes,
permanece sempre o facto de a comunhão ser socialmente reconhecida e regulada.

Atendendo à escolha dos nubentes, o casamento pode ser a) livre, quando os nubentes
têm plena liberdade na escolha do seu parceiro; b) preferencial, quando apenas se
considera aconselhável que o indivíduo despose uma determinada pessoa ou entre as
pessoas de uma determinada categoria social e c) prescrito ou compulsório, quando a
pessoa ao nascer fica comprometida a um futuro marido ou esposa. Assim, pode ser a
hipergamia, que é a preferência matrimonial concedida por uma mulher a um cônjuge
de estatuto e de condição económica superior; a hipogamia, casamento em que mulheres
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de sangue real são coagidas a casar com um cônjuge de estatuto inferior e a homogamia
ou isogamia, a escolha do cônjuge em meio social, geográfico e cultural idêntico ao seu
próprio meio.

Nas práticas de casamento existem formas de trocas de mulheres entre grupos sociais ou
no interior de um grupo social. Ocorre, por exemplo, que pode haver um casamento
preferencial, especialmente entre os primos cruzados. Nas vezes em que de grupo para
grupo uma mulher é dada por troca com outra mulher fala-se de troca directa. É um
casamento prescrito, como o é, entre os primos cruzados. Mas quando uma mulher é
compensada por um símbolo reconhecido ou dote (p. ex. vaca, soma de dinheiro), a
troca é indirecta. O dote simboliza a aliança dos clãs; a troca dos valores; mas também
uma indemnização pela privação dos serviços agrícolas e caseiros que a filha
desempenharia caso ficasse com eles ou um direito pela apropriação de uma filha; o
preço de cedência de um poder legal sobre esta.

Há casos particulares de casamento, por herança, como o levirato, uma prática segundo
a qual a viúva se casa com um irmão do marido falecido e o sororato, em que o viúvo se
obriga a casar com uma irmã solteira da esposa falecida.

Os casamentos, segundo o número de parceiros, podem ser monogâmicos e


poligâmicos. Nos casamentos monogâmicos ocorre a união matrimonial de um só
homem com uma só mulher. Destes casamentos resultam famílias monogâmicas. Nos
casamentos poligâmicos, os cônjuges podem ter mais parceiros. Neste caso há a
poliginia, quando são envolvidas mais mulheres, isto é, quando um homem se casa com
muitas mulheres e a poliandria, quando uma mulher se casa com mais de um homem.
Contudo, a poliginia é um dos casos mais frequentes.

De um modo geral, o casamento tem uma função social, quer como base de manutenção
do grupo social, a partir da procriação, quer pela manutenção de alianças entre grupos
familiares, tendo por isso uma função comunitária. Geralmente o casamento dissovlve-
se por duas vias: por morte de um dos membros ou pelo divórcio que, por sua vez, pode
resultar de vários factores: infertilidade de um dos membros, infidelidade, contradições
entre os membros, maus tratos, concubinato, etc.

2.4.3. Residência e Circulação Matrimonial e Seu Impacto na Organização


Social e Política
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Os agrupamentos locais e residenciais são unidades funcionais que definem a circulação


de membros, quer masculinos quer femininos, no interior de uma comunidade. O
estabelecimento de um casal é objecto de regra. Existem vários tipos de residência. Por
exemplo, a residência unilocal pode ser definida pelas residências: patrilocal, virilocal,
matrilocal e uxorilocal.

É residência patrilocal, quando o casal vive nas terras ou na proximidade do grupo do


marido. Em Moçambique é característica nas comunidades de filiação patrilinear. É
virilocal, quando o casal se estabelece nas terras não do grupo do marido, mas nas terras
próprias do marido e pode ser num sistema matrilinear ou patrilinear. De um modo
geral, os filhos estando sob o controle do pai, a transmissão da herança e a sucessão, na
presença de um pressuposto de transmissão de um poder político, é feita de pai para o
filho. O pai é o responsável pela transmissão dos rudimentos sociais do grupo ou da
educação aos filhos, controlando, por isso, a circulação destes. Este tipo de residência
pode ser encontrado nas famílias migradas por largos tempos ou definitivamente.

É residência matrilocal quando o casal se instala junto dos pais da esposa. Geralmente é
a avó materna que controla o grupo doméstico. É uxorilocal, quando o casal se
estabelece em casa da esposa. Quando a residência é do mesmo tipo de filiação, por
exemplo, filiação matrilinear e residência matrilocal, o regime é dito harmónico. Os
homens, apesar de sairem dos seus grupos domésticos, deslocam-se frequentemente
para a povoação da sua mãe. Geralmente, apesar de não ser posto de lado o papel da
mulher, já que ela detem o poder espiritual, a execução deste cabe aos irmãos da mãe de
um determinado Ego. É por causa disso que há um papel muito forte dos tios maternos,
os quais controlam a circulação dos sobrinhos uterinos. O poder passa, dessa forma, do
tio materno ao sobrinho. Entretanto, quer no sistema de parentesco e de residência
matrilocal ou patrilocal, essa herança tem recaído, preferencialmente, nos primogénitos,
não obstante existirem certas especificidades locais, familiares ou ocasionais.

Se uma residência unilocal admite o estabelecimento do domicílio ou do lado do marido


ou da mulher, isto é, deixa a escolha dos cônjuges, chama-se bilocal ou ambilocal. Mas
ela pode ser alternada, se primeiro é patrilocal e depois matrilocal, ou o inverso. Mas
também pode ser duolocal ou natolocal, quando os cônjuges podem, em certas ocasiões,
residir separadamente, com a sua família. Ela tem geralmente um carácter temporário,
quando, por exemplo, o novo casal se encontra a criar condições para o seu
estabelecimento, ou quando, por exemplo, a mulher recebe assistência na casa da mãe,
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durante um parto, período durante o qual, o homem visita amiudadas vezes a sua
esposa.

Há vezes em que o par conjugal vai viver em casa do irmão da mãe do marido. Neste
caso chama-se residência avunculocal. Mas pode ser que a escolha do local onde o local
se irá estabelecer seja feita fora da decisão dos pais do cônjuge, como nas zonas
industrializadas. Neste caso, temos o caso da residência neolocal.

Sistemas de Atitudes

Entre os membros de um dado grupo social são determinados certos comportamentos


que regem a relação entre os seus componetes. Existem, por exemplo, normas de
comportamento entre o tio materno e o sobrinho. O sobrinho deve obediência e
profundo respeito ao tio e às vezes, este importuna o sobrinho. Mas é necessário situar
estas relações não só ao nível destes dois membros, pois envolve o irmão da mãe, a
própria mãe, o cunhado e o sobrinho.

Um outro sistema de comportamento situa-se ao nível dos sogros e genros, ou entre


parentes aliados, como por exemplo o gracejo. Muitas destas normas circunscrevem-se
num respeito ou para inibir tensões potenciais entre os membros envolvidos. Existem
outras normas de comportamento ou sistema de atitudes, como é o caso do gracejo em
que os comportamentos se transpõem ao nível da entreajuda ou assistêcia recíproca
entre os membros em todas as ocasiões.

2.5. Critica do parentesco: Sistema de parentesco macua

O sistema de linhagem macua é unilinear, martilinear, uxorilocal e exogámico.


Apresentamos os pontos específicos que abrangem a área da linhagem na sociedade
macua, tendo em consideração que as normas que configuram os ramos da linhagem
variam de cultura para cultura.

 Terminologia;
 Normas: O matrimónio é exogámico . Na terminologia Macua encontramos a
norma geral do incesto no duplo sentido de proibição do matrimónio entre os
membros do mesmo grupo familiar (proibição entre todos os que têm o mesmo
apelido (NIHIMO), e de proibição de relações sexuais. Ao mesmo tempo,
porém, existe uma norma positiva: a preferência pelos casamentos entre
determinados tipos de parentesco, esta norma não tem carácter obrigatório.
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Funções

De entre as funções que caracterizam o matrimónio macua, realçaremos as seguintes:

Legais: estabelecer a legalidade de descendência e da herança;

Sociais: estabelecer uma relação de afinidade com a família da esposa, por parte do
marido;

Sexuais: dar ao marido o monopólio sobre a vida sexual da esposa e vice-versa, a não
ser nos casos previstos pelas leis tradicionais (relações rituais, relações de hospitalidade
e relações em caso de esterilidade);

Económicas: criar direitos mútuos sobre o trabalho de cada um dos cônjuges,


estabelecendo-se desta forma, uma ajuda económica mútua.

Forma

O matrimónio macua admite as seguintes formas: -monogamia; -poligamia: admitida


generalmente como factor e sinal de poder, grandeza e riqueza e igualmente em caso de
esterilidade ou doença grave permanente da esposa.

 Filiação

A forma de descendência no povo macua é matrilinear; a pertença ao grupo de


descendência é transmitida pelas mulheres por via uterina.

Na sociedade macua, apesar de a descendência ser transmitida pelas mulheres, as


funções políticas, sociais e económicas são exercidas pelos homens de filiação e não
pelas mulheres; por isso mesmo, não se pode falar de matriarcado. Há, todavia, que
reconhecer o papel específico da mulher em muitos casos da vida política e social. O
que existe, bem articulado e desenvolvido é o avunculado. O clã reúne todas as pessoas
que descendem unilinearmente (neste caso, matrilinearmente) de um antepassado
comum, não se podendo, todavia, provar as relações genealógicas efectivas. A
linhagem, pelo contrário, agrupa todos os familiares consanguíneos que podem
demonstrar a sua descendência de um mesmo antepassado comum. Um clã pode conter,
de facto, várias linhagens, e integra a sociedade a um nível mais amplo.
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3. Coclusao

Conclui-se que a Parentela e a Família Nuclear tornam o Parentesco operatório e


funcional. É dentro da Parentela e da Família Nuclear que se definem os parentes
próximos e os mais distantes. O Parentesco pode ser alargado ou restrito, em função das
teias de relações que comporta. É na família que se fundam relações tipicamente
humanas e ela desempenha diversos papéis, como o de reprodução, socialização,
económica, religiosa. O Parentesco pode ser formado por via da consanguinidade, da
adopção e por aliança. Por isso, nem sempre é fácil distinguir a origem da Parentela a
partir da designação do parente. Na essência existem dois sistemas de parentesco:
Descritivo e Classificatório. A Antropologia usa um conjunto de símbolos para
representar ou esquematizar o Parentesco. Uma outra forma é o uso de abreviaturas para
designar os parentes. Estes são geralmente identificados pela primeira letra de uma
língua dada. A Filiação é uma das bases de transmissão do Parentesco. A Filiação pode
ser Unilinear (patrilinear ou agnática e matrilinear), Bilinear e Indiferenciada. À
excepção do exotismo e desde que um dos membros seja nativo, os casamentos são
prescritos geralmente pelas normas do local onde este se realiza. A escolha do cônjuge
depende da identidade social, questões do sexo; grau de parentesco dos esposos; prazo
de viuvez ou o respeito de certos interditos. Eles guiam-se ainda pela endogamia e
exogamia. De acordo com a forma, ele pode ser livre, preferencial, (hipergamia),
hipogamia, homogamia ou isogamia), prescrito ou compulsório. Há também os
casamentos por herança, (levirato e o sororato). Finalmente, segundo o número de
pessoas envolvidas, pode ser monogâmico e poligâmico (poliginia e a poliandria). Os
agrupamentos residenciais são unidades funcionais que definem a circulação de
membros. O estabelecimento de um casal é objecto de regra, podendo ser patrilocal,
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virilocal, matrilocal e uxorilocal. A residência pode ser ainda bilocal ou ambilocal,


duolocal ou natolocal, avunculocal. Geralmente nesses grupos residenciais estabelecem-
se comportamentos que regem a relação entre os seus membros, são os sistemas de
atitudes, como as que existem entre o tio materno e o sobrinho, sogros e genros, ou
entre parentes aliados. O parentesco representa para as sociedades de pequena escala o
denominador comum de todas as relações sociais (políticas, económicas, religiosas e
outras). Também deve-se reconhecer a importância do parentesco nas sociedades de
grande escala.

4. Referencias bibliograficas

GHASARIAN, Christian. Introdução ao estudo do parentesco. Lisboa, Terramar,


1999, 231 p.

RADCLIFFE-BROWN, A. R. E FORDE, Daryll. Sistemas Políticos Africanos de


Parentesco e Casamento. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1950, 223 p.

Múrcia, 1998, trad. Portuguesa, O Povo Macua e a sua Cultura. Instituto de


Investigação Científica Tropical, Lisboa, 1989.

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