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Índice

Introdução........................................................................................................................................1
1.Contextualização...........................................................................................................................2
1.1.Conceito de Lobolo................................................................................................................2
1.1.1.Breve Evolução do Lobolo em Moçambique..................................................................2
1.1.1.1.Lobolo no período Pré – Colonial............................................................................3
1.1.1.2.Lobolo no período Colonial......................................................................................4
1.1.1.3.Lobolo no Período pós Independência.....................................................................4
Analise da Pratica de Lobolo no Sul de Moçambique.....................................................................6
2.1.Lobolo no sul de Moçambique...............................................................................................6
2.1.1.Funções de Lobolo no Sul de Moçambique....................................................................6
2.1.2.Processo da realização do Lobolo...................................................................................7
2.2.Localização da família Cowane.............................................................................................7
2.2.1. Organização Social da família Cowane..........................................................................8
2.2.2. Os costumes alimentares da família Cowane.................................................................8
2.2.3.Crença acerca da origem do Homem..............................................................................9
2.2.4.Crença acerca da vida depois da morte...........................................................................9
2.2.5.Crença acerca da realização de matrimónio....................................................................9
3.Conclusão...................................................................................................................................13
Bibliografia....................................................................................................................................14
1

Introdução

O presente trabalho intitulado ‘’ A pratica de Lobolo na Zona Sul de Moçambique ‘’ visa abordar
acerca da prática de lobolo em Moçambique na actualidade particularmente na Zona sul. Importa
referir que o lovolo ou lobolo faz parte da identidade individual e colectiva, ligando seres
humanos e mortos numa rede de interpretações do mundo e num conjunto de tradições em
contínuo processo de transformação.

O trabalho tem como objectivo geral:

 Compreender a evolução da prática de lobolo e a sua importância na sociedade


moçambicana

E tem como objectivo específico:

 Definir o conceito Lobolo;


 Descrever a evolução do lobolo;
 Analisar a pratica de lobolo na Zona Sul de Moçambique;
 Exemplificar a pratica de lobolo no clã Cowane.

Metodologia

Para realização deste trabalho prevê - se a pesquisa nas bibliotecas, pesquisa bibliográfica na
internet, e elaboração de entrevista. No de processo de pesquisa nas bibliotecas e internet vai - se
explorar as obras e artigos constantes na bibliografia, nas quais vai se extrair o conteúdo
importante para o projecto. Depois da leitura e extracção do conteúdo original das obras e artigos
vai se analisar, comparar e fazer - se síntese final do conteúdo constante neste projecto.
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1.Contextualização

O presente com tema Lobolo em Moçambique na Região Sul centra - se na abordagem da pratica
de Lobolo na zona Sul de Moçambique.

1.1.Conceito de Lobolo

De acordo com Junod, (1996, pp. 104-105) é termo lobolo deriva do “Cu lobola que significa
comprar em casamento, diz-se de um pai que reclama ao pretendente da filha uma certa quantia
em dinheiro. Lobolo ou ndjobolo ou bucóssi é a quantia paga: os bois, as enxadas ou as libras
esterlinas”.

Para Rita-Ferreira (1971, p. 1) o lobolo “era considerado como uma troca de serviços entre duas
famílias pertencentes a clãs diferentes; uma delas cedia à outra, a capacidade procriadora de
uns dos seus membros, e para ser compensada pela perca, recebia determinados bens (lobolo)
que, normalmente, eram destinados a aquisição de uma noiva para um dos irmãos da recém-
casada.

Em suma lobolo é uma cerimónia tradicional equivalente ao casamento civil, que envolve a
entrega de valores monetários, bens materiais ou simbólicos à família da noiva com vista à
formalização da união matrimonial em Moçambique

1.1.1.Breve Evolução do Lobolo em Moçambique

De acordo coma abordagem de autores como Junod, (1996), Frei João dos Santos (1891), Welch,
(1982) e Borges (2001) a prática do Lobolo em Moçambique é muita antiga e a sua abordagem
pode ser divido em quatros períodos: O lobolo no período Pré - Colonial, Lobolo no período
Colonial, e Lobolo no Período pós Independência.
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1.1.1.1.Lobolo no período Pré – Colonial

De acordo com Junod, (Ibid., pp. 254 - 256) dados históricos apontam que a pratica de Lobolo ou
lovolo é surge a muito tempo na sociedade Moçambicana antes mesmo a sua formação como
nação.
No período pré-colonial, o Lobolo segundo o actor era realizado com esteiras e objectos de
vimes. Com o início do comércio costeiro foram introduzidos novos objectos. ( panos, contas, e
enxadas) . (Idem.)
Frei João dos Santos (1891, p.92) missionário em Moçambique no fim do século XVI, reporta
que ‘’cafres d’estas terras compram as mulheres com que casam a seus pães ou mães, e por elas
lhe dão vacas, panos, contas, ou enxadas, cada um segundo sua possibilidade e segundo a
mulher é ‘’ (1891, p. 92).
Importa elucidar que no início do século XIX, os bois eram um importante meio de prestígio, de
acumulação de riqueza, de acesso às mulheres e filhos e de garantia de segurança alimentar.
Porém, nos anos 1850, quando os primeiros moçambicanos da Região Sul começaram a procurar
trabalho na Africa do Sul, o lovolo começou a ser realizado com recurso a libras esterlinas, em
paralelo com o uso de enxadas e bois (Junod, Ibid., pp. 254-256; e Harris, 1994, p. 154).

Importa referir que o trabalho nas minas foi muito importante para o incremento da prática de
lobolo porque dava condições ao moçambicanos para terem dinheiro para tornar possível esse
pratica. Como o autor Newitt, (1997, p.420) elucida o trabalho migratório surgem como
consequência da necessidade de mão-de-obra na África do sul nas plantações e intensificou - se
com a descoberta de minas de diamantes no rio Orenge em 1867 em Griqualandia e Kimberley
(1870) e minas de ouro de Transval onde o trabalho mentiroso ganhou maior importância onde
muitos chefes africanos sobre tudo os Tsongas da baia de Delagoa. E o factor que impulsionou o
trabalho migratório na entre os Tsongas e a atracção salarial: segundo Newitt os salários no
estrangeiro, permitiam aos jovens a compra de bens de consumo que aumentavam a sua posição,
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a da sua linhagem, e aplicação nas receitas do pagamento do lobolo e do imposto de palhota.


Com escassez do gado como consequência dos frequentes ataques de Gaza, os jovens já não
conseguiam obtê-lo para o pagamento do lobolo. Numa primeira fase, as enxadas substituíram o
gado, mas com o aumento da mão-de-obra migrante, o lobolo passou a ser pago em bens de
consumo ou mesmo em dinheiro.

Esta informação é confirmada por Ferreira (1989) na citação seguinte:

“Quanto às motivações que levavam os rongas a optarem por trabalho assalariado, pode – se apontar
um factor importante: a escassez do gado bovino para o pagamento do lobolo, deu como resultado que
passasse ser aceite para o mesmo efeito, um outro bem considerado precioso e de custosa aquisição: as
enxadas de ferro tradicionalmente fabricadas. Os jovens regressados das plantações de açúcar de
Natal e outros centros de trabalho, adquiriam sem dificuldades as enxadas necessárias para o
lobolo”p. 316.

Na conjuntura da administração portuguesa, Portugal não tinha condições para fazer a


exploração do território moçambicano. Cedeu a zona norte e centro as companhias e reservou a
zona sul para a exportação da mão-de-obra que permitia as autoridades portuguesas a
arrecadação de taxas por trabalhador (Pelissier, 1987, p.215).

1.1.1.2.Lobolo no período Colonial

No que toca ao período colonial Welch, (1982, p. 13) retire que o governo português mostrou um
interesse particular pelo lovolo. Assim, nos anos 1930, as autoridades coloniais estabeleceram
um valor a ser pago pelo lovolo ou lobolo para controlarem os movimentos de gado. Era
obrigatório comunicar à administração a transferência de gado de um grupo para outro Na
mesma altura, a Igreja Católica, visando «civilizar» a população, agiu contra o lovolo, proibindo
os recém-convertidos de o praticarem e encorajando os casamentos canónicos.

1.1.1.3.Lobolo no Período pós Independência

No período pós independência, em 1975, o governo da FRELIMO definiu uma estratégia que
visava erradicar o que chamava valores retrógrados da sociedade tradicional, que incluíam o
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lovolo ou lobolo A posição da FRELIMO está claramente expressa na citação seguinte: A


sociedade, compreendendo que a mulher é uma fonte de riqueza, exige que seja pago um preço.
Os pais requerem do futuro genro o pagamento de um preço, o lovolo, para cederem a filha. A
mulher é comprada, herdada, como se fosse um bem material, uma fonte de riquezas.
E nessa perspectiva que segundo Borges, (2001, p. 232) governo socialista da FRELIMO que,
após a independência de Moçambique, em 1975, declarou oficialmente o lobolo como uma
manifestação “obscura” enquadrada nos “ninhos de mentalidades e práticas impuras.

Welch, (1982, p. 23) no tocante a esse aspecto elucida que os aspectos políticos e religiosos
tiveram igualmente impacto significativo sobre as práticas matrimoniais. Documentos publicados
na literatura colonial ou religiosa, tanto antes como após a independência de Moçambique,
focavam os aspectos comerciais do lobolo. Descreveram-no como a venda da mulher, o preço da
mulher ou o preço da criança. As conversões cristãs, visando civilizar a população local, agiram
contra o lobolo. O governo da FRELIMO manteve uma posição similar e lutou pela emancipação
da mulher e contra a sua dominação exercida pelo homem. Para serem membros da FRELIMO,
os indivíduos tinham de demonstrar um comportamento politicamente correcto. Por exemplo,
durante a II Conferência da OMM, em 1976, foi definido que uma mulher que aceitasse o lobolo
não poderia ser escolhida para uma posição de liderança na organização.

Contudo de acordo com Taibo (2012, p. 59) afirma que reconhecimento das tradições
moçambicanas coloca na actualidade debate sobre a legalidade de várias práticas, incluindo o
ritual do lobolo. Tratando-se de uma forma de casamento que une, de fato, homens e mulheres
tem implicações significativas na legislação sobre o matrimónio na medida em que era uma
realidade social não prevista. O autor elucida que é em função deste tipo de dilemas que surge o
enquadramento legal do lobolo (incluído na Lei da família) enquanto uma forma de casamento
tradicional. Porém, é legislado em função de vários preceitos que regem o casamento civil, ou
seja, o lobolo é reconhecido somente se obedecer alguns procedimentos do casamento civil.
Entre várias questões, a lei prevê que: Casamento é civil, religioso e tradicional; Ao casamento
monogâmico, religioso e tradicional é reconhecido o valor e eficácia igual ao do casamento civil,
quando tenham sido observados os requisitos que a lei estabelece para o casamento civil e
6

Casamento religioso e tradicional rege-se, quanto aos efeitos civis, pelas normas comuns desta
Lei, salvo disposição em contrário (Lei n.º 10/2004) (Idem.,)
Analise da Pratica de Lobolo no Sul de Moçambique

2.1.Lobolo no sul de Moçambique

Rita-Ferreira (1968, pp.291-292) afirma que no sul do Save o casamento era uma questão
privada entre dois grupos, concluída sem intervenção das autoridades políticas ou religiosas. O
seu fim era a produção de novos indivíduos que, no futuro, assegurassem a sobrevivência do
grupo como um corpo organizado. As negociações eram levadas a efeito entre as famílias
interessadas e o consentimento dos noivos era pressuposto. Considerava-se, por conseguinte,
como uma troca de serviços entre duas famílias pertencentes a clãs diferentes: uma delas cedia à
outra a capacidade procriadora de um dos seus membros e, para ser compensada pela perda,
recebia determinados bens (lobolo) que normalmente eram destinados à aquisição duma noiva
para um dos irmãos da recém-casada.

2.1.1.Funções de Lobolo no Sul de Moçambique

Deste modo, as funções do lobolo eram múltiplas. Em primeiro lugar representava uma
compensação (no sentido lato) e não um “dote” nem um “preço de compra”, como de forma
errada alguns o têm considerado. Em segundo lugar legalizava a transferência da capacidade
reprodutora da mulher para o grupo familiar do marido, de que passava a fazer parte. Em terceiro
lugar dava carácter legal e estabilidade à união matrimonial. Em quarto lugar tornava o marido e
respectiva família responsáveis pela manutenção e bem-estar da mulher lobolada (esposa). Em
quinto lugar legitimava os filhos gerados, que se consideravam sempre como pertencentes à
família que havia pago o lobolo. Em sexto lugar constituía um meio de aquisição de outra
unidade reprodutora para o grupo enfraquecido (Rita-Ferreira, Ibid., p. 292).

Casqueiro citado por Cipire, (1996 p. 60) elucida que o lobolo ou lovolo é muito importante nas
sociedades moçambicanas porque serve de mecanismo protector da mulher e dos seus filhos em
caso de uma fatalidade que a deixe sem recursos. E segundo autor a mulher lobolada e com
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filhos, em caso da morte do marido, passa a ser um encargo da povoação onde vive, isto é, sente-
se protegida e para ela a situação do lobolo é um amparo nas contingências da vida.

2.1.2.Processo da realização do Lobolo

De acordo com Bagnol (2008, p.255) para se perceber o processo de casamento, do qual o
Lobolo faz parte, importa realçar que, actualmente, este inclui três fases principais, cada uma
subdividida em vários acontecimentos. A primeira consiste na apresentação da intenção do noivo
de criar um laço com uma mulher, realizada por parentes e amigos, num encontro chamado
hikombela mati. Nesta ocasião, ou após esta cerimónia, os familiares da noiva dão aos
representantes do noivo um documento no qual são especificados os pedidos para o lovolo o
lobolo. (Idem.,)
Após alguns meses ou anos, dependendo da capacidade do noivo para adquirir os presentes, o
lovolo é realizado. A noiva passa, assim, a fazer parte do grupo do marido e o noivo é um
mukon’wana, um genro. Tanto a cerimónia de hikombela mati como a do lovolo são realizadas
por representantes do noivo e da noiva. Geralmente, são parentes próximos, como os tios e tias
paternos e maternos e os irmãos e irmãs. São igualmente incluídos vizinhos, conhecidos da igreja
ou amigos, seleccionados pela sua capacidade de argumentação. (Idem.,)
Realizado o lobolo o casal vai viver com os familiares do noivo ou numa residência
independente. A noiva é levada pelos seus familiares para a nova casa numa cerimónia chamada
xigiyane. Durante o xigiyane, os pertences da noiva e os presentes da sua família acompanham-
na (estes são, geralmente, vestuário e utensílios domésticos). (Idem.,)
Para elucidar o lobolo neste presente trabalho vamos recorrer ao exemplo desta pratica na
família Cowane.

2.2.Localização da família Cowane

A família Cowane1 faz parte da tribo dos Rhongas de sul de Moçambique, tem como origem na
região sul de Moçambique na província de Maputo Distrito de Manhiça na localidade de Calanga
Phanti onde ao sul encontramos o rio Icomanti e ao norte o Oceano Indi

1
A informação que respeito a localização da origem da família Cowane Tshohala me foi concedida pelo Vovó
Alberto numa entrevista no dia 9de Outubro de 2017..
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2.2.1. Organização Social da família Cowane

Na família Cowane2 a organização social esta bem acentuado encontramos o líder da família
designado munumuzana, a sua primeira esposa designado nkosikaze e encontramos os filhos
designados ñwana, suas mulheres designados vathekiha e netos designados vatukulo (Junod,
1996, p. 189 a 193). Os problemas são resolvidos pelos anciões da família que são designados
tindhota ta nghangu caso ou contrario eram entregue aos anciões da tribo Rhonga (Ribeiro, p.
26).
As casa eram construída de caniço coberto de capim designado por dhomba a principal casa
ficava no meio do quintal e dos filhos ao redor. As mulheres praticavam a agricultura nos
campos familiares nas margens do rio Icomati que era chamado de machamba ay tchobdeni e os
homens praticavam agricultura, caça, pesca e eram guerreiros. Como elucida - nos seguintes
citação:
" Este foi pois proclamado chefe e os partidários de Muzila, fugiram para os Spelonken. Ora o novo rei
portou - se como déspota cruel e Muzila, ajudado pelos portugueses e por guerreiros Rhongas, ganhou
contra eles uma vitória decisiva nas margens do rio Sábié (17 a 20 de Agosto de 1862). Os Rhongas
ficaram sempre independentes dos chefes ngonis, porque estava sob a dependência directa das

autoridades portuguesas.” (Junod, 1996, p.47).

Desta citação conclui - se que de facto na família Cowane havia uma parte de homens que eram
guerreiro segundo o que o avo Alberto contou na entrevista.

2.2.2. Os costumes alimentares da família Cowane

A família Cowane é conhecido internos alimentais por gostar de comer maghinha vathovhela hy
fanti não, xinguinha cha me thombola, kaka, rhiguihana, lhafhi tima, peixes que saiam do rio
Incomati entre outros.3

2
As informações que dizem respeito a organização social da família Cowane Tshohala foram encontrados graças a
uma memória escrita pelo tio luís em 1989 que fala da origem da família Cowane Tshohala e de leitura no livro do
Padre Armando Ribeiro como a título " Antropologia: Aspectos culturais do povo chagana e problemática
Missionário " p. 26
3
Informações dizem respeitos ao costumes alimentares da famila Cowane Tshohala me foram concedidas numa
entrevista do vovó Mauricio no dia 9de Outubro de 2017.
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2.2.3.Crença acerca da origem do Homem

Para os Rhongas seriam Likalahumba e Nsilambowa isto é aquele que traz uma brasa numa
concha do caracol humba e aquele que pisa a hortaliça que estes são os primeiros Homens os
quais acreditavam que estes saíram do caniço (Ribeiro, p.31).

2.2.4.Crença acerca da vida depois da morte

Os membros da familia Cowane acriditam na vida depois da morte quando alguem morre ou o
monumuzana morre a viúva fazem missa e limpeza da casa ou kubaxicha a muti (Ibid., p.191).

2.2.5.Crença acerca da realização de matrimónio

Na família Cowane ainda a o predominou da pratica de lobolo como forma de casamento. Nesse
trabalho vamos
elucidar como essa pratica é feita.

Exemplo do lobolo: Lobolo da senhora Custodia Cowane do Bairro de Hulene ‘’ A’’4

Na família Cowane já foi realizado muitos lobolo para exemplificação dessa pratica vamos no
presente trabalho usar um dos lobolo nessa caso particular vamos usar o lobolo da Custodia
Cowane

A Custodia Cowane é residente no Bairro de Hulene ‘’A’’ a sua cerimonia de Lobolo ocorreu
em Agosto de 2005 quando estava grávida de sete meses. A cerimónia de hikombela mati tinha
sido realizada no ano 2003. Além da cerimónia do lovolo ou lobolo os familiares de Custodia
tinham pedido a realização do casamento civil e religioso. Nesta data, a Custodia tenha 20 anos.
O pai é pinto e pedreiro e trabalha a conta própria, e a mãe é vendedora de verduras Victor, o
noivo, é professor do ensino secundário numa escola da cidade de Maputo. O pai de Victor
trabalha como funcionário público. A mãe é doméstica. Ambas as famílias vivem na área urbana

4
Informações dizem respeitos ao costumes alimentares da famila Cowane Tshohala me foram concedidas numa
entrevista do vovó Mauricio no dia 9de Outubro de 2017.
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na zona de Hulene ‘’ A’’, em casas de alvenaria; são protestantes e provenientes de Manhiça na


província de Maputo no Sul de Moçambique.
Descrevo a seguir o lovolo deste casal, incidindo sobre as relações representadas nesta ocasião.

Cedo, pela manhã, no dia do lobolo, a avó paterna de Cecília fez o muphahlu com vinho branco e
rapé na sala de jantar, onde a cerimónia ia ser realizada algumas horas mais tarde. Dirige-se aos
espíritos Cowane, expressando os seus temores e desejos: ‘’Estamos a vos informar que a
Cecília vai sair para a casa do seu noivo onde vai assumir todas as responsabilidades da sua
nova vida... Lá deverão tomar conta dela e ela deverá respeitar a família do marido.’’
Simultaneamente, realizava-se um muphalhlu similar na residência da família do noivo. Lá eram
preparadas as prendas do lobolo e Victor entregava- as aos seus representantes, explicando a
quem pertencia cada uma e dando informação sobre a maneira de utilizar o dinheiro. A
delegação do noivo que levava o lovolo chegou à casa de Cecília com meia hora de atraso. Por
este motivo foi deixada na rua, de pé e ao sol.
O grupo impacientou-se. As pessoas dispersaram, procurando uma sombra, um local de
descanso. Para pedirem desculpas e para poderem entrar em casa pagaram uma multa de 400
meticais. No interior da casa, antes de tudo, foi feita uma oração. Durante o ritual, a Custodia
manteve-se fechada num quarto, na companhia de algumas amigas. Ambas as delegações tinham
perdido a lista das prendas do lobolo. A delegação da noiva diz aos representantes do noivo:
‘’Como perderam o papel, isso significa que o que está acontecendo hoje não é nada para
vocês. Um dia vocês vão também perder a nossa filha, como vocês perderam o papel’’
Após um pedido de desculpas por parte da parentela de Victor por não ter levado a lista, a
cerimónia continuou. A delegação do noivo colocou uma capulana no chão, onde dispôs os bens
do lobolo. Uma tia de Custodia queria ficar com a capulana e disse: ‘’Vocês são bons; vocês
sabem nos servirn bem. Nós vamos ficar com tudo, incluindo a capulana.’’
Surpreendida, uma representante do noivo respondeu: Não, esta capulana não é para levar. Nós,
quando queremos servir alguma coisa ao visitante, temos que pôr um pano na mesa.» ficar com a
capulana e disse: ‘’Vocês são bons; vocês sabem nos servir bem. Nós vamos ficar com tudo,
incluindo a capulana.’’
A pós isso a delegação do noivo explicou a quem se destinava cada prenda. A noiva foi chamada
à sala e o pai perguntou-lhe se a família podia aceitar o lobolo ou lovolo.
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Ela anuiu. Retirou uma nota de 8.000 Mt de entre o dinheiro oferecido e entregou-a ao pai para
que realizasse o muphalhu aos antepassados dos Cowane. O mais velho dos consanguíneos da
mãe foi convidado a tirar uma nota para venerar os antepassados. O lobolo de Custodia incluía
4.000. Mt e 10, 5 litros de vinho tinto, uma caixa de cerveja e outra de refrigerantes.
Compreendia igualmente um chapéu, um par de calças e uma bengala para o pai da noiva. Para a
mãe havia um mukume, uma nkeka, uma vemba, uma capulana e uma garrafa de vinho branco,
que ela amarrou nas costas, simbolizando a substituição da filha. A avó paterna de Custodia
recebeu uma capulana, uma blusa, um lenço de cabeça e uma caixinha de rapé. Uma tia recebeu
uma capulana e um lenço de cabeça. Apesar de as prendas de Custodia não constarem da lista,
foi-lhe oferecido um vestido, roupa interior, sapatos, uma bolsa e jóias. No decorrer do ritual,
além do valor em espécie, o dinheiro toma um lugar importante. Para pedir desculpas pelo atraso
foram pagos 500 Mt; para acompanhar as prendas foi necessário dinheiro 5º Mt; pagou-se para
chamar e vestir as pessoas, incluindo a noiva. Foram entregues 8. 000 Mt para chamar a mãe, 20
Mt para chamar o pai e 20.Mt para a tia e para a avó. A delegação do noivo pagou também
500.Mt para vestir a mãe, 50. Mt para o pai e 25. Mt para Custodia . Cada passo da cerimónia era
uma ocasião para negociar. Para vestir Cecília, a delegação do noivo começou por colocar 500. Mt no
chão.
A seguir, a noiva foi completamente vestida pela irmã do noivo. Quando esta lhe tirou os brincos
para os substituir por aqueles de ouro que trazia, colocou os velhos no bolso. Os familiares de
Custodia tiverem de pedir para que ela os devolvesse. Enquanto estava a colocar os brincos na
cunhada, a irmã de Victor disse-lhe: ‘’O brinco que estou-te colocando é para fechar os teus
ouvidos, a fim de que não oiças ninguém mais. Este fio é para te amarrar a fim de que não
possas ir com ninguém. Este anel é o meu coração.
Quando um homem te chama, eu estou contigo. Este relógio é para te lembrar que tinhas um
compromisso comigo. Tudo isso não é para ir passear e olhar para os outros homens.’’

A delegação de Victor pagou 5000 Mt de multa porque Cecília estava grávida e deu ainda 100
Mt para pedir que esta fosse para casa do noivo o mais rapidamente possível para dar à luz já em
casa do noivo.
A família de Custódia concordou. Uma vez vestidos com a roupa oferecida, Custódia e os seus
familiares saíram para o quintal para exibirem as suas novas vestes e receberem felicitações dos
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convidados. As pessoas dançavam numa mistura de cantos religiosos e populares. A entrega do


lovolo tinha sido resolvida e as pessoas sentiam-se aliviadas.
Foi trazida a comida para o almoço e antes da refeição a família do noivo pediu a presença do pai
e da mãe da noiva. Pediram-lhes que comessem antes deles, como forma de garantirem que a
comida não estava envenenada.
Depois do almoço e das orações, a delegação do noivo voltou para casa e forneceu-lhe o
relatório, assim como aos seus familiares e amigos. À noite houve festa em casa de Cecília.
Victor e alguns amigos foram convidados. Estavam presentes cerca de cem pessoas, na maioria
jovens e a família alargada de Custodia. Foi servido um jantar e o casal cortou um bolo de
casamento, que ofereceu aos presentes. A seguir, o casal abriu o baile e todos dançaram ao som
da música de um reprodutor de cassetes.
Importa referir que essa pratica continua ate nos dias actuais.
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3.Conclusão

Em jeito de conclusão, conclui - se que lobolo ou lovolo é uma cerimónia tradicional equivalente
ao casamento civil, que envolve a entrega de valores monetários, bens materiais ou simbólicos à
família da noiva com vista à formalização da união matrimonial em Moçambique. E que é uma
pratica que esta divido em quatros períodos: O lobolo no período Pré - Colonial, Lobolo no período
Colonial, e Lobolo no Período pós Independência. E que em Moçambique, constitui uma prática
importante na sociedade urbana. Isso deve-se ao facto de o lovolo ou lobolo permitir estabelecer
uma comunicação entre os vivos e os seus antepassados e a criação ou o restabelecimento da
harmonia social. Ele inscreve o indivíduo numa rede de relações de parentesco e de aliança tanto
com os vivos como com os mortos. O lovolo faz parte da identidade individual e colectiva,
ligando seres humanos e mortos numa rede de interpretações do mundo e num conjunto de
tradições em contínuo processo de transformação.
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4.Bibliografia

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v. XLIII, pp. 251-272. (Departamento de Antropologia, Universidade de Witwatersrand,
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1982) ”. In: Peter Fry (org.), Moçambique: ensaios. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ.
2001
 CIPIRE, Felizardo (1992). A Educação Tradicional em Moçambique. Maputo: Empresa
de Estudos e Investigação Editorial (EMEDIL).1992
 JUNOD Henri A. Uso e Costumes dos Bantu.(Tomo I ) Maputo:Arquivo Historico de
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 NEWIT, Malyn. História de Moçambique. Publicações Europa – América. 1995
 PELISSIER, Rene. História de Moçambique: formação e oposição. Volume 1. Lisboa:
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 RIBEIRO Armando. Antropologia: Aspectos e problematica Missionario.Maputo:
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(http://www.antoniorita-ferreira.com/pt/).
 RITA-FERREIRA, A. Reunião Internacional de História de África no 3º quartel do
século XIX. Lisboa: IIC Tropical, 1989.
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social, espíritos e experiências de união conjugal na cidade de Maputo. Curitiba:
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 WELCH, H. B. G., O Lobolo: por Uma Estratégia Adequada. Maputo: Universidade
Eduardo Mondlane. 1982.

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