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Paulus Gerdes

(organização e coordenação)

A Numeração em
Moçambique

Contribuição para uma reflexão sobre


cultura, língua e educação matemática

1
ISBN: 978-1-4357-2634-5

Copyright © 2008 by Centro de Pesquisa para Matemática, Cultura e


Educação

www.lulu.com
http://stores.lulu.com/pgerdes

2
Paulus Gerdes

A Numeração em
Moçambique

Contribuição para uma reflexão sobre


cultura, língua e educação matemática

2ª edição
2008

3


Ficha técnica

Título: A Numeração em Moçambique : Contribuição para uma


reflexão sobre cultura, língua e educação matemática

Organização e coordenação: Paulus Gerdes

Autores: Paulus Gerdes, Abdulcarimo Ismael, Abílio Mapapá, Daniel


Soares, Evaristo Uaila, Jan Draisma, Marcos Cherinda

Revisão linguística do texto em Português: Ana Maria Branquinho

Primeira Edição (1993):


Projecto de Investigação ‘Etnomatemática’,
Universidade Pedagógica
Número de registo: 1040/FBM/93, Maputo, Moçambique

Edição internacional (2008):


Lulu.com, Morrisville, NC 27560, Estados Unidos da América, e
Londres, Reino Unido

Distribuição:
Vide: http://stores.lulu.com/pgerdes
ou procure ‘Paulus Gerdes’ na página www.lulu.com

Copyright © 2008 Centro de Pesquisa para Matemática, Cultura e


Educação
C.P. 915, Maputo, Moçambique
Paulus.Gerdes@gmail.com

4


Conteúdo

página
Prefácio 7
1 Enquadramento 9
1.1 Sistemas africanos de numeração 9
[Paulus Gerdes & Marcos Cherinda,
1993]
1.2 Sobre a história da numeração falada 32
[Paulus Gerdes, 1980]
2 Fontes escritas sobre a numeração e a 39
contagem em Moçambique
2.1 Numerais na língua Makonde (1) 39
[M. Viegas Guerreiro, 1963]
2.2 A contagem entre os Makonde 42
[M. Viegas Guerreiro, 1966]
2.3 Numerais na língua Makonde (2) 46
[E. Mpalume & M. Mandumbwe, 1991]
2.4 Numerais na língua Yao 50
[Miguel Viana, 1961]
2.5 A contagem entre os Yao 53
[Manuel Amaral, 1990]
2.6 Numerais na língua Nyanja 58
[Missionários da Companhia de Jesus,
1964]
2.7 Sentido numérico Cheua 61
[A.Rita-Ferreira, 1966]
2.8 Numerais na língua Nyungwe 63
[Victor Courtois, 1887]
2.9 Numerais em Makhuwa-Lóhmé, Cóti e 68
Árabe
[António Pires Prata, 1960]
2.10 Numerais na língua Sena 79
[J. Torrend, 1900]
2.11 Numerais na língua Shona (Ndau) 82
[D. Dale, 1968]

5



página
2.12 Numerais na língua Tshwa 85
[J.A.Persson, 1932]
2.13 Numerais na língua Chope 90
[Luís Feliciano dos Santos, 1941]
2.14 Numerais na língua Tonga e o ‘sentido 97
matemático’
[Henrique Junod, 1934]
2.15 Numerais na língua Changana 101
[Armando Ribeiro, 1965]
2.16 Numerais em Tsonga (Changana) 104
[Bento Sitoe, 1985]
2.17 Numerais na língua Ronga 109
[José Quintão, 1951]
2.18 Numerais na língua Swazi 113
[D. Ziervogel, 1952]
2.19 Numerais na língua Zulu 116
[Clement Doke, 1927]
3 Fontes orais sobre a numeração e a 119
contagem em Moçambique
3.1 Quadros da numeração falada nas línguas 119
bantu de Moçambique
3.2 Métodos populares de contagem em 134
Moçambique
[Abdulcarimo Ismael & Daniel Soares,
1993]
4 Tabelas e mapas comparativos relativos à 141
numeração falada em Moçambique
[Abílio Mapapá & Evaristo Uaila, 1993]
5 Numeração e educação 155
5.1 Numeração falada como recurso na 155
aprendizagem da Aritmética
[Jan Draisma, 1993] 
5.2 Algumas reflexões para estimular o debate 176
e a investigação

6


Prefácio

Como se conta nas diversas línguas faladas em Moçambique?


Como se desenvolveram os sistemas de numeração? Quais são os
principais sistemas de numeração em África? Como fazem os falantes
das diversas línguas os seus cálculos mentais? Como se pode
melhorar o processo de ensino-aprendizagem da Aritmética nas
escolas moçambicanas?

Estas perguntas constituem algumas das questões colocadas no


livro A Numeração em Moçambique. Com este livro pretende-se
contribuir para uma reflexão sobre cultura, língua e educação
matemática básica.

No primeiro capítulo apresenta-se um enquadramento global,


com informações gerais sobre sistemas africanos de numeração e sobre
a história da numeração falada. No segundo capítulo reproduzem-se
fontes escritas sobre a numeração e a contagem referentes a diversas
línguas faladas em Moçambique, terminando cada secção com
algumas perguntas para estimular a reflexão. No terceiro capítulo
apresentam-se algumas fontes orais referentes à numeração e à
contagem em Moçambique; divulgam-se resultados de inquéritos
realizados no contexto do Projecto de Investigação Etnomatemática,
dizendo respeito à numeração falada e a outros métodos populares de
contagem. O quarto capítulo apresenta uma análise comparativa da
estrutura dos sistemas de numeração falada em Moçambique. No
último capítulo reflecte-se sobre numeração e educação; apresenta-se
uma análise da numeração falada como recurso na aprendizagem da
aritmética e algumas reflexões para estimular o debate e a
investigação.

7



O livro resulta de pesquisas e debates realizados no contexto do


Projecto de Investigação 'Etnomatemática' e do Projecto 'Licenciatura
em Educação Matemática para o Ensino Primário' (LEMEP). Os
nossos resultados são provisórios. Esperamos poder enriquecer a
análise e a reflexão com contribuições dos leitores.

Convidam-se os leitores a fornecerem novos dados relativos à


numeração falada, ao cálculo mental nas línguas bantu e aos métodos
populares de contagem, e a apresentarem reflexões e sugestões para
aprofundar o debate. Assim os leitores poderão contribuir para a
realização dum dos objectivos principais da investigação
etnomatemática: melhorar a qualidade da educação matemática,
incorporando-a melhor no contexto cultural. Por outras palavras,
pretende-se garantir que a educação matemática em Moçambique se
sintonize com as tradições africanas e com o meio ambiente sócio-
cultural.

Queira enviar as suas informações e reflexões para um dos


departamentos de Matemática da Universidade Pedagógica:

Departamento de Matemática, UP, C.P.2923, Maputo;

Departamento de Matemática, UP, C.P.2025, Beira.

15 de Agosto de 1993

8
Cap. 1: Enquadramento

Capítulo 1
Enquadramento

1.1 Sistemas africanos de numeração 1


Tal como os povos noutras regiões do Mundo, os povos de África
aprenderam durante a sua história que contar e calcular se tornam
muito difíceis, quando se utiliza, para cada quantidade, quer dizer para
cada número, uma palavra ou um símbolo completamente novo e
diferente. Se somente para os números de 1 a 100 se utilizassem
palavras completamente diferentes e não relacionadas, imagine quão
difícil seria memorizá-las na ordem correcta. Para além disto, seria
quase impossível executar cálculos com elas. Por isso tornou-se
necessário evitar, na indicação de números, demasiados símbolos ou
palavras não relacionadas. A fim de ter modos práticos e úteis de
contagem e para exprimir quantidades, e a fim de poder fazer os
cálculos eficazmente, tornou-se necessário inventar sistemas de
numeração bem estruturados.
Neste artigo dão-se apenas alguns exemplos das muitas centenas
de sistemas de numeração inventados na África ao Sul do Sahara.
Serão apresentados sistemas de numeração falados, e sistemas
simbólicos que utilizam partes do corpo ou objectos para contar ou
indicar números.

1.1.1 Numeração verbal

A maneira mais vulgar para evitar a invenção de palavras

1
Texto: Paulus Gerdes; Desenhos: Marcos Cherinda. Cf. Gerdes, P.
& Cherinda, M.: Contar en Africa, El Correo de la UNESCO, Paris,
Nov. 1993, 37-39.
9
A Numeração em Moçambique
completamente novas para indicar números quando se avança com a
contagem de quantidades maiores, foi a de compor numerais novos a
partir de numerais verbais existentes, apoiando-se nas relações
aritméticas entre os números envolvidos.

A formação de novos numerais verbais por adição e


multiplicação

Na língua Makhuwa falada no Norte de Moçambique diz-se


‘thanu na moza’, isto é ‘cinco mais um’ para exprimir ‘seis’. ‘Sete’ é
‘thanu na pili’, isto é ‘cinco mais dois’. Para exprimir ‘vinte’, diz-se
‘miloko mili’, isto é ‘dezenas duas’ ou ‘10x2’. ‘Trinta’ é ‘miloko
miraru’, isto é ‘dezenas três’. Uma vez que ‘thanu’ (5) e ‘nloko’ (10)
são dominantes na composição dos numerais verbais na língua
Makhuwa, eles são chamados as bases do sistema Makhuwa de
numeração. Nos dois primeiros exemplos, um e dois são adicionados
a cinco. Nos outros exemplos dez é multiplicado por dois e três,
respectivamente.
As bases mais comuns em África são 10, 5 e 20. Algumas
línguas como Nyungwe (Moçambique) utilizam apenas a base dez.
Outras tais como Balante (Guiné Bissau) usam 5 e 20 como bases. A
numeração na língua Bété da Costa do Marfim usa três bases: 5, 10 e
20 [Vide os quadros 1.1 e 1.2]. Por exemplo, 56 exprime-se por
‘golosso-ya-kogbo-gbeplo’, isto é ‘vinte vezes dois mais dez (e) cinco
(e) um’ (20x2 + 10 +5 +1). Os Bambara do Mali e da Guiné têm um
sistema decimal-vigesimal, isto é, dez e vinte constituem as bases
[Vide o quadro 1.3]. A palavra para vinte ‘mugan’ significa ‘uma
pessoa’; a palavra para quarenta, ‘debé’ significa ‘esteira’, referindo-se
a uma esteira em que homem e mulher dormem juntos e têm quarenta
dedos em conjunto.

10

  

Quadro 1.1
Exemplo dum texto elaborado na escrita Bété
(Fonte: Niangoran-Bouah, p. 203)

11
  

Quadro 1.2
Numeração na língua Bété (Costa do Marfim)
(Fonte: Tro, p. 64-65)
numeral estrutura
1 blo
2 sô
3 ta
4 mono
5 n’gboua
6 gbeplo 5+1
7 gbosso 5+2
8 gbota 5+3
9 kodablo
10 kogbo
11 kogbo-blo 10+1
12 kogbo-sô 10+2
13 kogbo-ta 10+3
14 kogbo-mono 10+4
15 kogbo-n’gbouo 10+5
16 kogbo-gbeplo 10+5+1
17 kogbo-gbosso 10+5+2
18 kogbo-gbota 10+5+3
19 kogbo-kodablo
20 goloblo 20x1
21 goloblo-ya-blo 20x1 + 1
22 goloblo-ya-sô 20x1 + 2
30 goloblo-ya-kogbo 20x1 + 10
34 goloblo-ya-kogbo-mono 20x1 + 10 + 4
40 golosso 20x2
50 golosso-ya-kogbo 20x2 + 10
56 golosso-ya-kogbo-gbeplo 20x2 +10 + 5+1
60 golota 20x3
70 golota-ya-kogbo 20x3 + 10
80 golomono 20x4
90 golomono-ya-kogbo 40x4 + 10
100 golo-n’gbouo 20x5

12

  

Quadro 1.3
Numeração na língua Bambara (Guiné, Mali)
(Fonte: Almeida, p. 404)

 numeral estrutura
1 kelén 

2 fulá, flá 

3 sabá 

4 maani 

5 duru, dulu 

6 woro 

7 wolomilá, wolonglá 

8 seegi 

9 konontó
10 tan
20 mugan, tan-fulá 20, 10x2
30 mugan-ni-tan 20+10
40 debé
50 debé-ni-tan 40+10
80 kemé
90 kemé-ni-tan 80+10

Quadro 1.4
Numerais na língua Bulanda
(Fonte: Schmidl, p. 192)

numeral estrutura
6 gfad 6
7 gfad nign foda 6+1
8 gfad nign sibn 6+2
9 gfad nign habn 6+3
10 gfad nign tasila 6+4
11 gfad nign kif 6+5
12 gfad nign fad 6+6

13

  

Os Bulanda (África ocidental) utilizam seis como base: sete
exprime-se por 6+1, oito por 6+2, etc. [Vide o quadro 1.4]. Os Adele
(Togo) contam ‘koro’ (6), ‘koroke’ (6+1=7), ‘nye’ (8) e ‘nyeki’
(8+1=9) (Schmidl, p. 192).
No seio dos Huku do Uganda as palavras para 13, 14, 15 podem
ser formadas adicionando a doze 1, 2 ou 3. Por exemplo, 13 exprime-
se por ‘bakumba igimo’, significando ‘doze mais um’. As alternativas
decimais 10+3, 10+4 e 10+5 eram também conhecidas (Schmidl, p.
177, 178).
Uma das vantagens de utilizar um número pequeno – como 5 –
como uma das bases dum sistema verbal de numeração, reside no facto
de que pode facilitar a execução oral ou mental de cálculos onde a
resposta ainda não tinha sido memorizada. Por exemplo, 7+8 seria
(5+2) mais (5+3). Como 2+3=5, acha-se a resposta 5+5+5, 10+5, ou 5
multiplicado por 3.

O princípio duplicativo

Um caso particular do uso da adição para compor numerais


verbais é a situação em que ambos os números são iguais ou diferem
em uma unidade. Por exemplo, entre os Mbai conta-se de 6 para 9 da
seguinte maneira: ‘mutu muta’ (3+3), ‘sa do muta’ (4+3), ‘soso’ (4+4),
e ‘sa dio mi’ (4+5). No seio dos Sango (Norte do Congo / Zaire), 7
exprime-se por ‘-na na-thatu’ (4+3), 8 como ‘mnana’ (4+4) e 9 como
‘-sano na-na’ (5+4) (Schmidl, p. 191, 172). Uma das razões possíveis
para optar pelo princípio duplicativo na composição de numerais entre
6 e 9 é que pode facilitar a execução oral ou mental das operações
aritméticas, em particular da duplicação. Por exemplo, para obter o
dobro de 7, deve-se adicionar, se a resposta ainda não está
memorizada, 4+3 e 4+3. Tendo em conta que 4+3+3 = 10, a resposta
fica 10+4. Aqui seria necessário sublinhar que existiam na África ao
Sul do Sahara fortes tradições de cálculo mental [Vide os quadros 1.5
e 1.6], e que multiplicação oral e mental frequentemente se baseavam
(e ainda às vezes se baseiam) em duplicação repetida [Vide o quadro
1.7].

14
Cap. 1: Enquadramento

Quadro 1.5
Thomas Fuller, escravo africano e prodígio em cálculo
(Fonte: Fauvel & Gerdes)

Quantos segundos há num ano e meio?


Quantos segundos viveu uma pessoa com setenta anos,
dezassete dias e doze horas de idade?
Suponha que um agricultor tem seis porcas e cada uma tem
seis porcas no primeiro ano e todos os anos aumentam na
mesma proporção, quantas terá o agricultor ao fim de oito
anos?
O leitor será capaz de determinar mentalmente as respostas e
estas questões? Sem papel e caneta? Sem usar um calculador
electrónico?
Thomas Fuller (1710-1790) foi um africano deportado como
escravo para a América em 1724. Com setenta e tal anos ele
ainda era capaz de resolver estes e outros problemas
mentalmente. Por exemplo, ele sabia multiplicar
mentalmente dois números de nove algorismos, tais como
235643784 x 658251873.
Aprendeu a fazer cálculos mentais em criança, em África.
Thomas Fuller cresceu e foi educado dentro de uma forte
tradição de cálculo mental.

Quadro 1.6
Multiplicação por duplicação repetida

A duplicação é uma estratégia muita utilizada em África para


fazer a multiplicação mental ou oralmente. Um exemplo
ilustra o método.
6 x 13 = ?
Duas vezes treze é igual a vinte e seis. Quatro vezes treze é
duas vezes vinte e seis, isto é, cinquenta e dois. Por isso, seis
vezes treze é vinte e seis mais cinquenta e dois, isto é setenta e
oito: 6 x 13 = 78.
15
  


Quadro 1.7
A aprendizagem do processo de contar no seio de crianças
Chaga (Tanzania)
(Fonte: Raum, 1967, p.397, 268-269)

No seio dos Chaga pede-se às vezes às crianças pequenas


para contarem dez objectos colocados atrás das costas. Até
nove objectos devem responder de cada vez: ‘Este não é’;
mas para o décimo devem responder: ‘Este é’.
Um rapaz aprende a contar com os companheiros de
brincadeira mais velhos. Obrigam-no a dizer os numerais e
a deitar uma estaca no chão para cada número. Para
complicar as coisas, podem dizer-lhe para deitar no chão
para cada número, a quantidade correspondente de estacas.
Quando comete um erro, perguntam-lhe: ‘Queres ser
comido por um leão?’ ou dizem-lhe: ‘Desonraste-nos a
todos!’

Os Chaga conhecem também um jogo chamado tarumbeta.


Há quatro participantes e cada um traz uma taça com
feijões. Quarenta e cinco feijões são colocados em nove
filas, formando um triângulo. A fila da base tem nove
feijões e cada fila subsequente tem um feijão menos que a
anterior. Um rapaz é escolhido para ser o ‘chefe’, isto é,
16
Cap. 1: Enquadramento
árbitro. Senta-se ao lado do topo do triângulo. O lugar do
concorrente é na base, virado de costas para os feijões. Os
outros dois rapazes estão sentados nos outros lados do
triângulo e removem os feijões um por um, limpando fila
por fila indo da base para o topo. Após retirar cada feijão,
perguntam ao concorrente quantos feijões já foram
removidos.
Em concordância com as regras do jogo, o concorrente é
proibido de responder quando se remove o primeiro feijão
de uma fila. Quando é permitido responder, no entanto,
deve incluir no cálculo o passo omitido. A criança não
deve apenas visualizar o processo de remoção que decorre
atrás das suas costas, mas também recordar em que altura
não deve responder. O rapaz que não comete nenhum erro
ganha todos os feijões colocados no triângulo.

Quadro 1.8
Exemplos dos princípios subtractivo e aditivo na numeração Yoruba
(Fonte: Tro, p.182-184)

Numeral estrutura
16 eerin din logun 4 até 20
17 eeta din logun 3 até 20
18 eegi din logun 2 até 20
19 ookan din logun 1 até 20
20 ogun
21 ookan le logun 1+20
34 eerin le logban 4+30
35 aarun din logoji 5 até 20x2

O chamado princípio subtractivo

Em várias línguas africanas utiliza-se também, além dos


princípios aditivo e multiplicativo, a subtracção na formação de
numerais verbais. Por exemplo, na língua Yoruba da Nigéria, 16
exprime-se por ‘eerin din logun’ significando ‘quatro até se chega a
vinte’ [Vide o quadro 1.8]. Um outro exemplo do uso do princípio
subtractivo pode ser encontrado entre os Luba-Hemba (Congo / Zaire).
17
  

Sete exprime-se por ‘habulwa mwanda’, isto é ‘faltando um até oito’,
e nove é ‘habulwa likumi’, isto é ‘faltando um até dez’ (Schmidl,
p.169).

Variações

O exemplo da Guiné Bissau mostra que sistemas de numeração


falados podem variar muito em regiões geográficas relativamente
pequenas [Vide o quadro 1.9].

Quadro 1.9
Numeração em línguas da Guiné Bissau
(Fontes: Almeida, 389-440; Béart, p.736)

Felup Manjaco Balante Bijagó

1 anor, ulólé, oda, hoda quilim


ainka pelólé
2 sigabá quetâbe sime fulá
3 sieidji cuante caâme sabá
4 sibácri quebacre tàilà nane
5 utóc canhan tchifo lulo
6 utóc- 5+1 pádge tchifo com 5+1 horo
ianor oda
sieidji- 3+3
sieidji
7 sibácri- 4+3 pádge 6+ tchifo com 5+2 horoguba
sieidji napelon 1 sime
8 sibácri- 4+4 cuásse tchifo com 5+3 sai
sibácri caâme
9 utóc- 4+5 cuásse 8+ tchifo com 5+4 conontò
sibácri napelon 1 tàilà
sibácri- 5+4
utóc
10 cum-ene inhanabute tchifo mine 5x2 tam
20 ana bau inhanabute 10 sàuál oda 20x muan
quetâbe x2 1
30 tâ sabá 10x3
80 samenhane 20x tã sai 10x8
tàilà 4

18
Cap. 1: Enquadramento
Os Bijagó têm um sistema decimal puro; os Balante usam um
sistema quinário-vigesimal (5-20); os Manjaco têm um sistema
decimal, com excepção de numerais compostos como 6+1 para 7 e
8+1 para 9; e os Felup empregam um sistema decimal-vigesimal em
que o princípio duplicativo é usado em formas tais como 4+3 para 7 e
4+4 para 8.
Às vezes alguns numerais verbais são adjectivos, enquanto outros
são substantivos. Caso isto aconteça, podem aparecer estruturas para
os numerais verbais que não correspondem directamente a uma adição,
multiplicação ou subtracção. Por exemplo, na língua Tshwa
(Moçambique central) sessenta exprime-se por ‘thlanu wa makumi ni
ginwe’, isto é ‘cinco dezenas mais uma (dezena)’.

Expressões para números grandes

Nos contextos em que foi necessário ter palavras para números


relativamente grandes, aparecem frequentemente numerais verbais
completamente novos ou alguns que exprimem uma relação com a
base do sistema de numeração. Por exemplo, entre os Bangongo
(Congo / Zaire) diz-se ‘kama’ (100), ‘lobombo’ (1000), ‘njuku’
(10,000), ‘lukuli’ (100,000) e ‘losenene’ (1,000,000) (Torday & Joice,
p. 229). No seio dos Ziba (Tanzania) diz-se ‘tsikumi’ para 100,
‘lukumi’ para 1000, e ‘kukumi’ para dez mil. Os três termos
relacionam-se claramente com ‘kumi’ (10). Apenas os prefixos
mudam (Schmidl, p.182).

1.1.2 Numeração por gestos

Contagem por gestos é comum no seio de muitos povos


africanos. Os Yao (Malawi, Moçambique) representam 1, 2, 3 e 4
apontando com o polegar da mão direita 1, 2, 3 ou 4 dedos estendidos
da mão esquerda [Vide o quadro 1.10]. “Cinco” é indicado fazendo
um punho da mão esquerda. “Seis”, “sete”, “oito” e “nove” são
indicados juntando um, dois, três ou quatro dedos estendidos da mão
direita ao punho esquerdo. Para representar dez abrem-se ambas as
mãos, batendo uma na outra.

19
A Numeração em Moçambique

Quadro 1.10
A contagem por gestos no seio dos Yao
(Fonte: Amaral, p. 437).

1 2

3 4

5 6

7 8

9 10

20
Cap. 1: Enquadramento
Os Makonde do Norte de Moçambique, no entanto, começam a
contagem pela mão direita com apoio do indicador da mão esquerda
[Vide o quadro 1.11]. Para representar “cinco” faz-se um punho com a
mão direita. De seis até nove, a representação é simétrica relativa a de
“um” até “quatro”, isto é, inverte-se o papel das mãos. Agora o
indicador da mão direita aponta os dedos da outra mão. Juntando dois
punhos representa-se dez.
O método de contagem por gestos adoptado pelos Shambaa
(Tanzania, Quénia) utiliza o princípio duplicativo [Vide o quadro
1.12]. Indicam “seis” estendendo os três dedos externos de cada mão;
“sete” ao mostrar quatro dedos na mão direita e três na mão esquerda,
e “oito” mostrando quatro em cada mão.
Para exprimir números maiores que dez, os Sotho (Lesotho)
empregam homens diferentes para indicar as centenas, dezenas e
unidades. Por exemplo, para representar 368, a primeira pessoa
levanta três dedos da mão esquerda representando três centenas, a
segunda levanta o polegar da mão direita para representar seis dezenas,
e a terceira levanta três dedos da mão direita para indicar oito unidades
[Vide o quadro 1.13]. De facto, aqui trata-se de um sistema posicional
porque depende da posição de cada pessoa, conforme indica unidades,
dezenas, centenas, milhares, etc.

Quadro 1.13
A representação de 368 na contagem por gestos dos Sotho
(Fonte: Raum, 1938, p. 20)

21
A Numeração em Moçambique
Quadro 1.11
A contagem por gestos no seio dos Makonde
(Fonte: Guerreiro, p. 14-15)

1 2

3 4

5 6

7 8

9 10

22
Cap. 1: Enquadramento

Quadro 1.12
A contagem por gestos no seio dos Shambaa
(Fonte: Schmidl, p. 173)

1 2

3 4

5 6

8
7

23
A Numeração em Moçambique
A utilização de dedos e mãos para contar pode constituir uma
explicação possível para a escolha de cinco e dez para base de sistemas
de numeração verbal. O uso de bases pode ter sido estimulado
também por práticas de contagem acelerada. Por exemplo, cesteiros
Makonde contam a quantidade de tiras de planta no fundo dos cestos
‘likalala’ quatro por quatro, em vez de uma por uma [Vide o quadro
1.14].

Quadro 1.14
A contagem quatro por quatro na cestaria Makonde

4 4
4 4 4

1.1.3 Instrumentos auxiliares da contagem

Diversos instrumentos auxiliares da contagem eram usados na


África ao Sul do Sahara. Apresentamos alguns exemplos de
Moçambique.
Rapazes da população Chuabo utilizam a seguinte técnica de
contagem quando jogam futebol: as duas metades duma folha de
coqueiro, obtidas depois de lhe ter sido retirada a nervura central,
servem de instrumento de contagem para cada equipa; as metades
chamam-se ‘mulobuó’. Quando uma equipa marca um golo, faz-se
uma dobra no seu ‘mulobuó’ [Vide o quadro 1.15]. No fim do jogo
comparam-se os comprimentos dos dois ‘milobuó’, ou contam-se as
dobras para ver quem ganhou.

24
Cap. 1: Enquadramento

Quadro 1.15
Mulobuó com dobras

No seio dos Tswa utilizam-se árvores no registo das idades das


crianças. Depois do nascimento de uma criança faz-se um corte no
tronco de uma árvore. Em cada ano que passa, junta-se mais um corte
até a pessoa ter idade suficiente para contar por si próprio. Estacas
com cortes são usadas para controlar o número de animais dum
rebanho. Cada corte corresponde a um animal (Soares, p. 71-79).

Quadro 1.16
Fio com nós

No seio dos Makonde utilizavam-se fios com nós [Vide o quadro


1.16]. Suponha que um homem parte para uma viagem de onze dias.
Ele fazia onze nós num fio e dizia à sua esposa: “Este nó” (tocando o
primeiro) “é hoje, quando estou a partir; amanhã” (tocando o segundo
nó) “estarei a caminhar, e continuarei a caminhar no segundo e terceiro
dia, mas aqui” (pegando no quinto nó) “chegarei ao destino da viagem.
Lá ficarei durante o sexto dia, e no sétimo dia iniciarei o regresso.
Não esqueça, mulher, de desfazer cada dia um nó, e no décimo dia
deve cozinhar para mim, porque no décimo primeiro dia voltarei”
(Weule, p. 329). Mulheres grávidas costumavam fazer um nó num fio
cada lua cheia que passava, para saber a data aproximada em que iam
dar à luz (Dias & Dias, p. 133). Para registar a idade duma pessoa,

25
A Numeração em Moçambique
utilizam-se dois fios; faz-se um nó no primeiro fio a cada lua cheia que
passa; uma vez feitos doze nós, faz-se um nó num segundo fio para
marcar o primeiro ano, etc. (Soares, p. 4).

1.1.4 Outros sistemas de numeração visual

Existe uma variedade de sistemas de numeração em África que,


duma maneira ou outra, são ‘escritos’.
Os Bushongo orientais (Congo / Zaire) contam simultaneamente
três por três e dez por dez. Para cada grupo de três objectos marcam
na areia três traços curtos e paralelos, com três dedos duma mão:

Depois de ter completado de cada vez três grupos de três traços,


marca-se um traço maior para o objecto seguinte, indicando, deste
modo, que foram contados mais dez objectos (Torday, p. 229). Por
exemplo, o agrupamento seguinte representa 36 objectos:

O jogo ‘koti zigi’ é praticado pelos Gbundi e Mende na Libéria e


no oeste da Costa do Marfim. Os jogadores formam padrões
estandardizados de pedras no solo para representar números [Vide o
quadro 1.17]. Observa-se que 6 exprime-se por 3+3, 7 por 3+1+3, 8
por 4+4, 9 por 4+1+4, e 10 por 5+5 ou 4+2+4.
Os Fulani ou Fulbe, um povo semi-nómada do Niger e do Norte
da Nigéria, colocam estacas em frente das suas casas para indicar o
número de vacas ou cabritos que possuem. Uma centena de animais é
representada por duas estacas curtas colocadas no chão formando um
V. Duas estacas que se cruzam, X, simbolizam cinquenta animais.
Quatro estacas numa posição ‘vertical’, | | | |, representam quatro; duas
estacas numa posição ‘horizontal’ e três numa ‘vertical’, — — | | |,
indicam vinte e três animais [Vide o quadro 1.18].

26
Cap. 1: Enquadramento

Quadro 1.17
A representação de números no jogo “koti zigi”
(Fonte: Béart, p. 714)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Quadro 1.18
A representação de números no seio dos Fulbe
(Fonte: Ale)

1 10

50 100

27
A Numeração em Moçambique
Por exemplo, a configuração seguinte foi encontrada em frente da
casa dum proprietário
VVVVVVXII,
mostrando que possuía 652 vacas (Ale, p. 35-38).

Os povos Akan (Costa de Marfim, Ghana, Togo) usavam pesos


monetários, isto é, usavam estatuetas de pedra ou de metal, ou
simplesmente sementes vegetais como moedas. Estava combinado
que o peso de uma estatueta representava o valor monetário
correspondente a uma certa quantia de ouro em pó do mesmo peso. As
estatuetas representam animais, nós, cadeiras, sandálias, tambores, etc.
As estatuetas podem também ter diversas formas geométricas tais
como pirâmides, estrelas ou cubos. Em muitos pesos monetários
apresentam-se sinais gráficos que representam números [Vide quadro
1.19]. Embora se utilize apenas a base “dez” nas línguas faladas pelos
povos Akan, tais como Anyi, Baoulé, Aboure, Attie e Ebrie, a base
“cinco” encontra-se igualmente nos pesos monetários:

5= 6=5+1= 7=5+2=

8=5+3= 9=5+4=
e

9=5+4=
A estrutura simétrica de um dos símbolos para 11 e de um para 13
pode ser observada:

11 = 3 + 5 + 3 = e 13 = 4 + 5 + 4 =
Duplicação pode ser observada na transição de
6=
para

12 = 6 + 6 =

28
Cap. 1: Enquadramento
Quadro 1.19
Exemplos de numerais em pesos monetários dos povos Akan
(Fontes: Niangoran-Bouah, p.253; Mveng, p. 33)

10

11

12

13

14

15

20

29
A Numeração em Moçambique

É interessante notar que os Agni, um dos grupos populacionais


Akan, usaram uma série de unidades de pesos monetários com uma
estrutura binária: cada unidade nova é o dobro da unidade anterior
[Vide o quadro 1.20].

Quadro 1.20
Unidades dos pesos monetários dos Agni
(Fonte: Niangoran-Bouah, p. 267)

1 bazien = 2 banzan
1 mêtêba = 2 bazien = 4 banzan
1 adjarikwa = 2 mêtêba = 8 banzan
1 smalé = 2 adjarikwa = 16 banzan
1 balé = 2 smalé = 32 banzan
1 araen = 2 balé = 64 banzan
1 bêna = 2 araen = 128 banzan

Referências

Ale, Sam (1989), Mathematics in rural societies, in: K. Keitel, A.


Bishop, P. Damerow & P. Gerdes (org.), Mathematics, Education,
Society, UNESCO, Paris, 35-38.
Almeida, António de (1947), Sobre a matemática dos indígenas da
Guiné Portuguesa, Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, Lisboa,
6, 389-440.
Amaral, Manuel Gama (1990), O povo Yao, subsídios para o estudo de
um povo do noroeste de Moçambique, Instituto de Investigação
Científica e Tropical, Lisboa.
Béart, Charles (1955), Jeux et jouets de l’ouest africain, IFAN, Dakar.
Dias, Jorge & Dias, Margot (1964), Os Macondes de Moçambique:
cultura material, Lisboa.

30
Cap. 1: Enquadramento
Fauvel, John & Gerdes, Paulus (1990), African slave and calculating
prodigy: Bicentenary of the Death of Thomas Fuller, Historia
Mathematica, New York, 17, 141-151.
___ (1992), Escravo africano e prodígio em cálculo: Bicentenário da
morte de Thomas Fuller, AMUCHMA, Revista sobre a História da
Matemática em África, Maputo, 1, 37-48.
Guerreiro, M. (1966), Os Macondes de Moçambique: sabedoria,
língua, literatura e jogos, Lisboa.
Mveng, R. (1980), L’art et l’artisanat africains, Editions Clé,
Yaoundé.
Niangoran-Bouah, G. (1984), The Akan world of gold weights, Les
Nouvelles Editions Africaines, Abidjan, Vol.1.
Raum, Otto (1938), Arithmetic in Africa, Evans Brothers, Londres.
___ (1967), Chaga childhood - a description of education in an east
African tribe, Oxford University Press, Londres.
Schmidl, Marianne (1915), Zahl und Zählen in Afrika, Mitteillungen
der Anthropologischen Gesellschaft, Viena, 35(3), 165-209.
Soares, Daniel (1992), Sobre métodos populares de contagem em
Moçambique, Relatório LEMEP, Universidade Pedagógica, Beira.
Torday, Emil & T. Joyce, T. (1911), Notes ethnographiques sur les
peuples communément appelés Bakuba, ainsi que les peuplades
apparentées - Les Bushongo, Annales du Musée du Congo Belge,
Ethnographie, Série III, Tome II, Fasc.I, Bruxelas.
Tro, Gueyes (1980), Étude de quelques systèmes de numération en
Côte d’Ivoire, (publicação do autor), Abidjan.
Weule, Karl (1970), Native life in East Africa (1909), Negro
Universities Press, Westport.

31
A Numeração em Moçambique
1.2 Sobre a história da numeração falada 2
O Homem soube sempre contar?

Pode-se pensar em ‘um’, ‘dois’, ‘três’...isto é tão fácil, o Homem


soube sempre contar! Mas no fim do século passado descobriu-se – a
que é que se chama ‘descobrir’? – no deserto de Kalahari uma etnia
que, na sua língua falada, apenas podia exprimir ‘um’, ‘dois’ e
‘vários’. Faltavam-lhe palavras para ‘quatro’, ‘cinco’, etc... Como é
possível? Uma explicação tribalista podia ser: “esta tribo é tão
estúpida mas...”. Porém, uma tal explicação não tem consistência,
uma vez confrontada com as línguas Bantu. Em muitas línguas Bantu,
os três primeiros numerais 3 são adjectivos, conjugados conforme a
classe do substantivo correspondente, enquanto que os numerais
seguintes são substantivos. Por exemplo, temos na língua Changana:

munhu munwe ‘pessoa uma’, sinha hunwe ‘árvore uma’,


uma pessoa uma árvore
vanhu vambiri ‘pessoas duas’, misinha mimbiri ‘árvores duas’,
duas pessoas duas árvores
vanhu ‘pessoas três’, misinha ‘árvores três’,
vanharh três pessoas minharh três árvores

mas:
mune wa ‘um quarteto mune wa ‘um quarteto de
vanhu de pessoas’, misinha árvores’,
quatro pessoas quatro árvores

2
Primeira parte do artigo Sobre a origem histórica do conceito de
número, da autoria de Paulus Gerdes, publicado em Ciência e
Tecnologia (Maputo, Vol.1, 1980, 53-57), reeditado como TLANU
mini-brochura nº 5 (Maputo, 1986) e reproduzido em BOLEMA
(Rio Claro, Brasil, Especial Nº 1, 1989, 35-50).
3
Um numeral (cardinal) falado é uma palavra para indicar um
número, ou seja, para indicar uma determinada quantidade.
32
Cap. 1: Enquadramento
Esta diferença linguística sugere uma origem diferente. Por
outras palavras, num passado remoto os antepassados dos actuais
povos Bantu só tinham igualmente numerais para ‘um’, ‘dois’, e ‘três’.
Ainda se pode tentar refugiar numa explicação racista, suspirando:
“...mas o Homem civilizado sempre soube contar”. Que orgulho tinha
o colonizador da sua pretendida civilização! No entanto, também esta
explicação se evapora como água perante o Sol da linguística. No
português, as palavras ‘um’ e ‘dois’ conhecem também uma forma
feminina, a saber ‘uma’ e ‘duas’, enquanto que os outros numerais não
a conhecem, e, ainda por cima, a palavra ‘três’ está relacionada com a
palavra francesa ‘très’, que significa ‘muito’ e com a palavra latina
‘trans’, que significa ‘para além’; quer isto dizer, que, de igual modo,
os antepassados dos povos europeus somente sabiam contar um pouco:
‘um’, ‘dois’, ‘muito’.

Primeiras fases nas sociedades de caçadores e recolectores

Vejamos agora como se foi desenvolvendo a noção de número.


Neste artigo limitamo-nos às primeiras fases do desenvolvimento do
conceito de número natural (1,2,3,4,...).
Para poder responder à nossa pergunta “como?”, apoiar-nos-emos
em resultados da Arqueologia, Linguística e Etnografia, ciências estas
que ainda são relativamente muito jovens. Por exemplo, em África, ao
sul do Sahara, tiveram lugar muito poucas investigações
arqueológicas. Por isso apenas podemos indicar algumas linhas gerais
de desenvolvimento do conceito de número.
As primeiras sociedades humanas foram as de caçadores e
recolectores, e abrangem um período de 500.000 a um milhão de anos.
Inicialmente os homens ainda não dispunham duma noção explícita de
número mas já aprendiam a tirar determinadas conclusões importantes
para a reprodução da sua vida, conclusões às quais, actualmente, se
chamam quantitativas.
Assim, por exemplo, foram aprendendo a estimar quantidades de
comida: para hoje já capturámos bastantes animais ou não; para hoje já
colhemos frutos suficientes ou não. Este processo de aprender a
estimar foi possível na base, por um lado, da constituição biológica do
Homem, e, por outro, da experiência acumulada ao comparar os
resultados do trabalho dum dia com os dos dias anteriores.

33

A Numeração em Moçambique
Exemplo hipotético

Dois grupos de caçadores vão em direcções diferentes, à


descoberta. Ambos encontram, por exemplo, algumas gazelas, e
voltam à tribo para buscar os outros. Mas como decidir em que
direcção é que se deve ir à caça? Comparando, um caçador exprime:
“Vi tantas gazelas como um pássaro tem asas”, enquanto que um outro
diz: “Vi tantas gazelas como a minha mão ‘conta’ dedos”.

Comparações

Este exemplo hipotético ilustra o seguinte: em resposta a


determinadas necessidades surgidas – tais como comunicar e tomar
decisões, em particular, no que se refere à reprodução da vida –
começou-se a comparar colecções de objectos, de tal modo que a
quantidade de uma colecção se tornava clara através da comparação
com a quantidade de uma outra colecção: “tantas gazelas como uma
ave tem asas”, “tantos cabritos como uma mão tem dedos”...4
Desta fase de desenvolvimento encontramos ainda vestígios em
muitas línguas actuais. Assim, os numerais correspondentes a ‘cinco’
em Zulu, Changana e Swahili, ‘hlanu’, ‘nthlanu’ e ‘tano’
respectivamente (duma origem comum), significavam, segundo alguns
autores 5, originalmente ‘mão’ ou ‘punho’, como também acontece,
por exemplo, no grego ou no russo. Na língua Banda da África
central, o numeral correspondente a ‘vinte’ significa, à letra, ‘homem
completo’, referindo-se ao total de vinte dedos de um homem. Um
exemplo interessante encontra-se na língua Mandingo falada no Mali.
A palavra para ‘nove’, a saber ‘kononto’, significa ‘aquele lá na

4
Ao comparar, deste modo, duas quantidades chama-se, na
matemática actual, pôr numa correspondência biunívoca os dois
conjuntos: a cada elemento do primeiro conjunto faz-se
corresponder, duma maneira biunívoca, um elemento do outro
(por exemplo, a cada asa corresponde uma gazela).
5
Vide Schmidl, M., Zahl und Zählen in Afrika, Mitteilungen der
anthropo-logischen Gesellschaft in Wien, Viena, 1915, Vol.45,
p.168
34

  
barriga’, dizendo respeito aos nove meses da duração duma gravidez.6

Adjectivos

Estes vestígios nas línguas actuais já indicam a transição de


comparações individualmente inventadas, e que possivelmente não são
imediatamente compreendidas por toda a gente, para comparações
mais correntes, geralmente aceites dentro de uma determinada cultura.
Foram desenvolvendo numerais como abreviatura de comparações
que eram claras para cada um. Estes primeiros numerais reflectem
uma propriedade dum conjunto de objectos e são, por isso, adjectivos,
que podem ser conjugados, como nos mostram os seguintes exemplos:
em português ‘dois carros’ mas ‘duas crianças’, conforme o género do
substantivo envolvido. Na língua Changana ‘sinha hunwe’ (uma
árvore), xiharhi xinwe’ (um animal), ‘munhu munwe’ (uma pessoa),
correspondente à classe do substantivo. Aqui vemos uma raíz comum
‘-nwe’ nos numerais para ‘um’. O aparecimento de uma raíz comum
para indicar quantidades iguais de objectos de classes diferentes pode
pertencer a uma fase posterior, como a língua dos índios norte-
americanos Tsimshia nos mostra provavelmente: ‘t’epqat’, ‘goupal’,
‘gaopskan’, ‘g’alpeeltk’, e ‘gulbel’ são numerais diferentes, todos
indicando dois objectos, mas pertencentes a classes diferentes, tais
como de objectos achatados, redondos compridos, pessoas, canoas e
medidas, respectivamente.7

Substantivação

Pode-se observar um desenvolvimento na direcção duma


substantivação crescente dos numerais no sentido de que, cada vez
mais, para mais classes de objectos são utilizados os mesmos
numerais, como por exemplo, no Português, o numeral ‘três’ pode ser
usado para quaisquer objectos e não só para redondos ou achatados.
Em muitas sociedades constata-se um outro desenvolvimento paralelo
a esta substantivação. É o desenvolvimento para comparar com
determinadas colecções padrão, tais como dedos, cortes num pau, nós
num fio, pedrinhas (no Latim a palavra para pedrinhas é ‘calculi’, da

6
Vide Zaslavsky, C., Black african traditional mathematics, The
Mathematics Teacher, Reston (EUA), 1970, Nº 4, p.346
7
Vide Conant, L., The number concept, Nova Iorque, 1896, p.87
35
  

qual deriva a palavra portuguesa ‘cálculo’), riscos em pedras ou ossos,
etc. Perto de Ishango, no actual Zaire, foram encontrados vestígios de
tais riscos paralelos feitos entre 9000 e 6500 a.C. 8 Mais recentemente
foi encontrado numa cave nos Montes Libombo, na fronteira entre a
Suazilândia e a África do Sul, um osso em que foram feitos 29 riscos
paralelos e que data de, aproximadamente 35.000 a.C., constituindo
“um dos vestígios mais antigos da actividade matemática”. 9
É possível que noutras sociedades estas formas de comparar
precedessem e estimulassem essa substantivação dos numerais.

Resumo esquemático

Em resumo, podemos constatar que a noção de número (os


números naturais mais pequenos) e a possibilidade de falar sobre estas
quantidades, ou seja a introdução de numerais falados, foram nascendo
num processo de abstracção, cada vez mais, de determinadas
propriedades das colecções de objectos que o Homem das sociedades
de caçadores e recolectores encontrava, como resposta criadora aos
problemas que enfrentava na sua vida diária. A noção de número e a
utilização de numerais reflectem a experiência acumulada por
‘inumeráveis’ gerações.
Um processo semelhante de abstracção verifica-se na formação
de outros conceitos, por exemplo, na noção de ‘cor’. Em esquema: 10

8
Vide Zaslavsky, C., Africa Counts, Boston, 1973, p.19
9
Vide Bogoshi, J. e outros, The oldest mathematical artefact, The
Mathematical Gazette, Londres, nº 71, 1987, p.294
10
Compare Aleksandrov, A., A general view of mathematics,
Mathematics, its contents, methods and meaning, Nova Iorque,
1969, Vol.1, p.10
36
Cap. 1: Enquadramento

objecto considerado
como um todo
|
Comparar tal como um corvo tantos...como uma
| | ave tem asas
| | |

adjectivo pedra negra duas árvores


(propriedade de uma | |
colecção de objectos) | |
| | |
substantivo negrura dois
(propriedade | |
distinguida dos | |
objectos concretos)
cor número natural

A propriedade que é comum a todos os conjuntos cujos


elementos podem ser postos numa correspondência biunívoca com as
asas de um pássaro, é o número indicado pelo numeral falado ‘dois’
ou pelo numeral escrito ‘2’ (dizendo-se, muitas vezes,
abreviadamente, o número ‘dois’).

37
  

Mapa 1
Distribuição geográfica de algumas línguas e dialectos

Tanzania i
ahi l
Sw
onde

Mwani
Yao
Mak

Nyanja
Malawi
akhuwa
Zambia
M
N
a Ch yanja
Yao
g
n D eu / ak

M
Se
Shona emaa h u wa
e
gw

e
Lohm
un

ti
Lolo

Co
Ny

abo
Se C huw
na
Zimbabwe Shona/
Ndau
Oceano Indico
ana
-Chang

Tshwa
Git o n g a
Tsonga

Africa do Sul
e
Chop
Ronga
Swazi
Suazilandia
Zulu

38
Cap. 2: Fontes escritas

Capítulo 2
Fontes escritas sobre a numeração e a contagem em
Moçambique

2.1 Numerais na língua Makonde (1)

Fonte: M. Viegas Guerreiro, Rudimentos da Língua Maconde,


Instituto de Investigação Científica de Moçambique, Lourenço
Marques, 1963, p. 21-22

CARDINAIS:

um -mo
dois mbili, -vili
três natu, -tatu
quatro ncheche
cinco mwanu
seis mwanu na -mo
sete mwanu na mbili, -vili
oito mwanu na natu, -tatu
nove mwanu na ncheche
dez kumi
onze kumi na -mo
doze kumi na mbili, -vili
treze kumi na natu, -tatu
catorze kumi na ncheche
quinze kumi na mwanu
dezasseis kumi namwana na -mo, etc.
vinte makumi mavili
vinte e um makumi mavili na -mo, etc.
39
A Numeração em Moçambique
vinte seis makumi mavili na mwanu na-mo, etc.
trinta makumi matatu
quarenta makumi ncheche
cinquenta makumi mwanu
sessenta makumi mwanu na limo
setenta makumi mwanu na mavili
oitenta makumi mwanu na matatu
noventa makumi mwanu na ncheche
cem makumi kumi ou
imia (imo)

Os cardinais -mo, -vili, -tatu tomam, na sua concordância, os


prefixos dos substantivos. Atente-se, porém, em que na 1ª e 2ª classes
o prefixo de -mo é u- : munu umo, mpini umo.

40

  
Mapa 2
Distribuição geográfica dos falantes da língua
Makonde

Tanzania

Malawi

Zambia

Zimbabwe

Oceano Indico

Africa do Sul

Suazilandia

41

    
2.2 A contagem entre os Makonde
Fonte: M. Viegas Guerreiro, Os Macondes de Moçambique, Lisboa,
1966, Vol. 4, 14-17

1 Quando se pede a um maconde que conte, logo ele utiliza os


dedos das mãos. Com o indicador da mão esquerda e os outros
dedos recolhidos, baixa o mínimo da mão direita até à palma da
mão e em seguida o anelar, médio, indicador, indo o polegar
acomodar-se sob o indicador e ficando o punho fechado. E vai
dizendo:

1 imo
2 mbili
3 nnatu
4 ncheche
5 mwanu

7 É, depois, o indicador da mão direita que faz baixar do mesmo


modo cada um dos dedos da mão esquerda, e, contado o polegar,
bate com os punhos um no outro, pronunciando o número 10:

6 mwanu na imo
7 mwanu na mbili
8 mwanu na nnatu
9 mwanu na ncheche
10 kumi

10 Se quer prosseguir, torna a contar o mesmo modo até 10, e, ao


bater com os punhos um no outro, diz:

20 makumi mavili

12 E assim por diante até 100:

30 makumi matatu


40 makumi ncheche
50 makumi mwanu
60 makumi mwanu na limo
42

  
70 makumi mwanu na mavili
80 makumi mwanu na matatu
90 makumi mwanu na ncheche
100 makumi kumi

13 Usa-se muito, em vez da expressão makumi kumi, o vocábulo


suaíli imia.
15 Note-se que, com seis palavras apenas, se conta até 100. Usa-se
um sistema quinário combinado com outro decimal:
mwanu na imo - cinco e um
mwanu na mbili - cinco e dois, etc.
19 Kumi (“dez”) tem o plural makumi, e mbili (“dois”), mavili.
“Vinte” diz-se makumi mavili (“dois dez”), e “trinta” makumi
matatu (“três dez”), sendo matatu o plural de nnatu; e assim por
diante.
23 Não se dizem números separados dos nomes dos objectos que se
contam. À pergunta de Vapitile vanembo dachi? (“Quantos
elefantes passaram?”), respondem com o punho fechado, por
exemplo: Vandipita vanembo mwanu (“Passaram cinco
elefantes”), e não “Passaram cinco”. Se tiverem de responder
“dez”, acompanharão as palavras do batimento de ambos os
punhos. E isto tanto de dia como de noite, ainda que os punhos
não se vejam. Somam-se aqui dois símbolos do concreto: nomes e
dedos.
32 A abstracção máxima de que são capazes, neste domínio, é a que
está contida na generalidade do vocábulo vinu (“coisas”):
Vinu dachi? - Quantas coisas?
Vinu mwanu - Cinco coisas.
36 Não pude achar qualquer relação de sentido entre os nomes dos
números e pessoas ou coisas. Em lugar de mwanu (“cinco”),
empregam, às vezes, nkono umo (“uma mão”), mas é, segundo
afirmam, expressão recente e usada exclusivamente para copos de
cerveja: Ngupimila nkono umo [“Dá-me uma mão” (cinco copos
de cerveja)].
42 Não têm numeração escrita. O que fazem é riscos no chão para
representar as dezenas; o do número 10 fica mais comprido. O
43
    
processo é principalmente usando na marcação de pontos, nos
jogos.
46 Para contar números maiores costumam dar nós num cordel, de
dez em dez unidades. É assim que os presos contam os dias de
reclusão, afirma-se. Se trazem coisas para troca e as contaram
deste modo em casa, vão desatando os nós à medida que as
entregam.
51 Também juntam um a um, em grupos de dez, os objectos que
querem trocar (batata doce, bananas, papaias, laranjas, peixes). E,
se não estes, pedrinhas que os representem.
54 Em outro tempo contavam também pelos dedos dos pés. Acabados
os das mãos, descia o indicador da direita ao dedo grande do pé
direito e, passando pelos outros e para o outro pé, completavam a
segunda dezena fechando o número com as palavras:

20 kumi na ku madodo (dez e os dos pés)

59 Um homem vulgar sabe contar até 100 e muitas mulheres só até


10. Para além deste número hesitam e, sorrindo, com um sacudido
encolher do ombro esquerdo exclamam: Hi! Namanya! (“Não
sei”).
63 Algumas encontrei, porém, a contar com desembaraço como os
homens. Uma mulher de idade levou os números até 100,
acrescentando que aprendera isso no tempo em que ia vender
borracha aos Brancos.
67 A influência do quissuaíli é hoje, todavia, muito grande, e uma
parte dos homens usa-o para contar as centenas e os grandes
números.
70 É escusado dizer que foi o comércio com os Brancos e os
trabalhos remunerados que, principalmente, puseram os Macondes
na necessidade de ampliar a sua aritmética.

Comentários e questões para reflexão


1. Vide linhas 19-20. O leitor concorda com a tradução de
“makumi mavili” por “dois dez”? Ou prefere “dez dois”,
“dezenas duas” ou outra?



  
2. Na linha 23 o autor fala em “números”, onde devia empregar a
expressão “numerais”. Porquê?
3. O leitor concorda ou não com a afirmação “Não tem numeração
escrita” (linha 42)?
4. Na linha 46 seria mais vulgar dizer-se “contar quantidades” em
vez de “contar números”. Está errado dizer-se “contar números”?
5. A língua Makonde utiliza as bases de “cinco” e “dez”. Compare
com o agrupamento de riscos, nós e pedrinhas (linhas 42-53).
6. Conforme as linhas 59-66, os homens sabiam em geral contar
mais do que as mulheres. Quais podem ter sido as razões que
contribuíram para tal situação?

45

    
2.3 Numerais na língua Makonde (2)
Fonte: Estêvão Jaime Mpalume & Marcos Agostinho Mandumbwe,
Nashilangola wa shitangodi sha Shimakonde, Guia da língua
Makonde, Núcleo da Associação dos Escritores Moçambicanos
de Cabo Delgado, 1991, p. 100-101, 103, 106

As palavras que indicam a quantidade determinada das pessoas,


coisas, animais e das acções e estados ou a sua ordem numa série
chamam-se numerais.
Numerais cardinais, exprimem o número das coisas, das pessoas
e dos animais.
Ex: Vila (0), imo (1), mbili (2), natu (3), nceshe (4), mwanu (5),
mwanu na imo (6), mwanu na mbili (7), mwanu na natu (8), mwanu na
nceshe (9), kumi (10) etc. Os numerais imo, mbili, natu, nceshe,
mwanu, kumi, imiya, élupu a sua enumeração é absoluta, e os restantes
resultam da combinação ou adição dos numerais mwanu, kumi, imiya
e elupu.
Ex: mwanu na imo (seis), mwanu na mbili (sete), mwanu na natu
(oito), mwanu na nceshe (nove), kumi na imo (onze), kumi na mbili
(doze), dimiya mbili (duzentos) dimiya natu (trezentos), dyélupu mbili
(dois mil), dyélupu natu (três mil), etc.

Todos os numerais concordam com os substantivos, segundo as


classes nominais e prefixo de dependência (genitivizado).

1 imo, umo, shimo, limo 


2 mbili, vavili, vivili
3 natu, vatatu, vitatu
4 nceshe
5 mwanu
6 mwanu na imo
7 mwanu na mbili
8 mwanu na natu
9 mwanu na nceshe
10 kumi
11 kumi na imo
12  kumi na mbili

46

  
13 kumi na natu 
14 kumi na nceshe
15 kumi na mwanu
16 kumi na mwanu na imo
20 makumi mavili
21 makumi mavili na imo
30 makumi matatu
40 makumi nceshe

Sentido de adição, subtracção, multiplicação e divisão

Adição

Na língua makonde, a operação que serve para somar, juntar,


reunir, aumentar, adicionar, para saber a soma ou total, é kwanjedya.
Exemplo: mbili kwanjedya natu, pamo mwanu (dois mais três é igual a
cinco).

Subtracção

Para tirar, diminuir ou subtrair, para saber o resto ou a diferença,


para saber quanto sobra menos ou quanto falta é kupungula. Exemplo:
mwanu kupungula natu dijalila mbili (cinco menos três restam dois).

Multiplicação

A multiplicação indica-nos “vezes mais”. Em Shimákonde “vezes


mais” é mwanda (singular) e myanda (plural), ou imindi (singular) e
dimindi (plural).
Exemplos:
* natu kwa mwanda umo, pamo natu (três vezes um é igual a três)
* natu kwa myanda mivili, pamo mwanu imo (três vezes dois é
igual a seis)
* natu kwa imindi imo, pamo natu (três vezes um é igual a três)
* natu kwa dimindi mbili, pamo mwanu na imo (três vezes dois, é
igual a seis).

47

    
Divisão

Dividir é repartir, é distribuir. Em Shimákonde, dividir é kujava.


Exemplos:
* nceshe kujavania kwa mbili ni mbili (quatro a dividir por dois dá
dois)
* nceshe kujavania kwa imo ni nceshe (quatro a dividir por um dá
quatro).

48
Cap. 2: Fontes escritas
Mapa 3
Distribuição geográfica dos falantes da língua
Yao

Tanzania

Malawi

Zambia

Zimbabwe

Oceano Indico

Africa do Sul

Suazilandia

49
A Numeração em Moçambique
2.4 Numerais na língua Yao
Fonte: Miguel J. Viana, Dicionário de Português - Chi-Yao e Chi-Yao
- Português, Memória do Instituto de Investigação Científica de
Moçambique, Lourenço Marques, 1961, Vol. 3, 1-172, p. 16-17

A numeração chi-yao compõe-se basicamente de 1, 2, 3, 4, 5, 10


e 100. Os demais números formam-se combinando aqueles entre si.
Os números 1, 2 e 3 simples ou compostos, concordam com os
substantivos, conforme a classe a que pertencem, e formam-se,
portanto, fazendo-os preceder dos respectivos prefixos especificativos
ou relativos. Os números 4 e 5 são invariáveis. Os números 10 e 100
funcionam como substantivos da 5ª classe (likumi/ma, lichila/ma).

Numerais cardinais:

1 -mo
2 -widi, -wili
3 tatu
4 mcheche
5 msano
6 msano na (ou bambu) -mo
7 msano na (ou bambu) -widi, etc.
8 msano na (ou bambu) tatu
9 msano na (ou bambu) mcheche
10 likumi
11 likumi kwisa (ou bambu) -mo
12 likumi kwisa (ou bambu) -widi ,etc.
13 likumi kwisa (ou bambu) tatu
14 likumi kwisa (ou bambu) mcheche
15 likumi kwisa (ou bambu) msano
16 likumi kwisa (ou bambu) msano na -mo
17 likumi kwisa (ou bambu) msano na -widi, etc.
18 likumi kwisa (ou bambu) msano na tatu
19 likumi kwisa (ou bambu) msano na mcheche
20 makumi gawidi
21 makumi gawidi kwisa (ou bambu) -mo
22 makumi gawidi kwisa (ou bambu) -widi, etc.
50

  
23 makumi gawidi kwisa (ou bambu) tatu
24 makumi gawidi kwisa (ou bambu) mcheche
25 makumi gawidi kwisa (ou bambu) msano
26 makumi gawidi kwisa (ou bambu) msano na -mo
27 makumi gawidi kwisa (ou bambu) msano na -widi, etc.
28 makumi gawidi kwisa (ou bambu) msano na tatu
29 makumi gawidi kwisa (ou bambu) msano na mcheche
30 makumi gatatu
31 makumi gatatu kwisa gatatu kwisa (ou bambu) -mo
32 makumi gatatu kwisa (ou bambu) -widi, etc.
33 makumi gatatu kwisa (ou bambu) tatu
34 makumi gatatu kwisa (ou bambu) mcheche
35 makumi gatatu kwisa (ou bambu) msano
36 makumi gatatu kwisa ( (ou bambu) msano na -mo
40 makumi mcheche
42 makumi mcheche kwisa (ou bambu) -widi, etc.
46 makumi mcheche kwisa (ou bambu) msano na -mo
47 makumi mcheche kwisa (ou bambu) msano na -widi, etc.
50 makumi msano
60 makumi msano na limo
70 makumi msano na gawidi
73 makumi msano na gawidi kwisa (ou bambu) tatu
78 makumi msano na gawidi kwisa (ou bambu) msano na
tatu
80 makumi msano na gatatu
90 makumi msano na mcheche
99 makumi msano na mcheche kwisa (ou bambu) msano na
mcheche
100 lichila
102 lichila kwisa (ou bambu) -widi, etc.
110 lichila kwisa (ou bambu) likumi
116 lichila kwisa (ou bambu) likumi kwisa (ou bambu)
msano na mo
127 lichila kwisa (ou bambu) makumi gawidi kwisa (ou
bambu) msano na -widi, etc.
199 lichila kwisa (ou bambu) makumi msano na mcheche
200 machila gawidi

51

    
283 machila gawidi kwisa (ou bambu) makumi msano na
gatatu kwisa (ou bambu) tatu
1000 machila likume.
1965 machila likumi kwisa (ou bambu) msano na mcheche
kwisa (ou bambu) makumi msano na limo kwisa (ou
bambu) msano.
2000 machila makumi gawidi

Exemplos:

litete limo um caniço.


lukosyo lumo um clã.
chipula chimo uma faca.
maganga gatatu três pedras
isopo itatu três anzóis.
kajuni katatu três passarinhos.
ndembo siwidi dois elefantes.
wandu wawidi dois homens.
ipewa iwidi dois chapéus.
musogo makumi usano na setenta cães-do-mato
gawidi
nyuchi likumi siwidi doze abelhas.
chiswi chimo na imbanga um leopardo e trinta e sete
makume gatatu kwisa msano milhafres.
na iwidi

Comentários e questões para reflexão

1. Concorda ou não com a utilização do termo “número” nas linhas


2 e 3? Porquê?



  
2.5 A contagem entre os Yao
Fonte: Manuel Gama Amaral, O povo Yao, subsídios para o estudo de
um povo do noroeste de Moçambique, Instituto de Investigação
Científica e Tropical, Lisboa, 1990, p.437-439

Na contagem usam os wayao apenas seis vocábulos diferentes: os


números de um a cinco e o número dez. Todos os demais resultam da
combinação dos primeiros cinco entre si ou com o número dez.
Contrariamente ao que é habitual a quem costuma contar pelos
dedos, que o faz, geralmente, com a mão esquerda aberta e com o
indicador da mão direita apontando os dedos a partir do mínimo que é
o “um”, até o polegar, que é o “cinco” e voltando ao mínimo como
(seis), seguindo até o polegar, que será o “dez”, os wayao fazem a
contagem dos primeiros cinco números fechando os dedos da mão
esquerda sobre o respectivo polegar.
Com o dedo polegar da mão direita levantam e estendem o dedo
mínimo da mão esquerda dizendo “cimo”, um (subentendendo “cala”,
dedo); repetem o gesto, em relação ao anelar, médio e indicador,
dizendo, respectivamente: “iwili”, “itatu”, “ncece” (subentendendo
“iyaka”, dedos). E chegando ao número cinco fecham, de novo, os
quatro dedos sobre o polegar, dizendo “nsano”, cinco.
A contagem de cinco a nove é feita da seguinte forma: a mão
esquerda mantém-se fechada sobre o polegar enquanto se vão
introduzindo os dedos da mão direita, um de cada vez e a partir do
mínimo até o indicador, debaixo dos dedos da mão esquerda, fechada,
e contando: “nsano nacimo”, seis, para o mínimo; “nsano naiwili”,
sete, para o anelar; “nsano naitatu”, oito, para o médio; “nsano
nancece”, nove, para o indicador. Contando o nove abrem ambas as
mãos e, batendo-as, dizem: “likumi”, dez.
De dez a quinze a contagem é feita de modo idêntico à de cinco a
dez, isto é, com a mão esquerda fechada sobre o polegar e sendo a
contagem feita com os dedos da mão direita que se vão introduzindo
debaixo dos dedos da mão esquerda fechada, pela seguinte forma:
introduz-se o mínimo e diz-se “likumi kwisa cimo” onze; para o anelar
diz-se “likumi kwisa iwili”, doze; para o médio diz-se “likumi kwisa
itatu”, treze. Chegado aqui não se introduz o polegar para contar
quinze, mas sim, retira-se a mão direita e, abrindo-a, voltada para

53

A Numeração em Moçambique
cima, faz-se um gesto para a frente, como quem vai depositar alguma
coisa e diz-se “likumi kwisa nsano”, quinze.
De quinze a dezanove segue-se o mesmo processo utilizado de
dez a catorze. Ao chegar a vinte, com a mão direita aberta, faz-se o
gesto de quem se vai apoderar de alguma coisa (neste caso a contagem
até quinze) seguindo-se um duplo batimento de mãos e pronunciando
“makumi gawili”, vinte. As dezenas seguintes são assinaladas por
três, quatro, etc., batimentos de mãos, seguidos da indicação da
terceira, quarta, etc., dezenas.
Likumi, dez, parece ter origem nas palavras “ligasa”, mão aberta,
e no verbo “kuwika”, juntar.
A seguir relaciono os numerais cardinais, em língua Ciyao, a
partir de um até mil:

1  cimo
2 iwili
3 itatu
4 ncece
5 nsano
6 nsano nacimo
7 nsano nawili
8 nsano naitatu
9 nsano nancece
10 likumi
11 likumi kwisa cimo
12 likumi kwisa iwili
13 likumi kwisa itatu
14 likumi kwisa ncece
15 likumi kwisa nsano
16 likumi kwisa nsano nacimo
17 likumi kwisa nsano naiwili
18 likumi kwisa nsano naitatu
19 likumi kwisa nsano nancece
20 makumi gawili
21 makumi gawili kwisa cimo
22 makumi gawili kwisa iwili
23 makumi gawili kwisa itatu
54

  
24  makumi gawili kwisa ncece
25 makumi gawili kwisa nsano
26 makumi gawili kwisa nsano nacimo
27 makumi gawili kwisa nsano naiwili
28 makumi gawili kwisa nsano naiwili
29 makumi gawili kwisa nsano nancece
30 makumi gatatu
31 makumi gatatu kwisa cimo, etc.
40 makumi ncece
41 makumi ncece kwisa cimo, etc.
50 makumi nsano
51 makumi nsano kwisa cimo, etc.
60 makumi nsano nalimo
61 makumi nsano nalimo kwisa cimo, etc.
70 makumi nsano nagawili
71 makumi nsano nagawili kwisa cimo, etc.
80 makumi nsano nagatatu
81 makumi nsano nagatatu kwisa cimo, etc.
90 makumi nsano nancece
91 makumi nsano nancece kwisa cimo, etc.
100 licila
101 licila kwisa cimo, etc.
200 macila gawili
201 macila gawili kwisa cimo, etc.
300 macila gatatu
301 macila gatatu kwisa cimo, etc.
400 macila ncece
500 macila nsano
600 macila nsano kwisa cimo
700 macila nsano kwisa gawili ou
macila nsano nagawili
800 macila nsano kwisa gatatu ou
macila nsano nagatatu
900 macila nsano nancece
1000 macila likumi.

55

    
Comentários e questões para reflexão

1. Observando a tabela de numeração em Yao fornecida pelo autor,


concorda ou não com a afirmação na primeira linha, segundo a
qual os Yao usam “apenas seis vocábulos diferentes”?
2. Analisando o texto, indique onde o autor emprega a palavra
“número” de forma errada.



  
Mapa 4
Distribuição geográfica dos falantes da língua
Nyanja

Tanzania

Malawi

Zambia

Zimbabwe

Oceano Indico

Africa do Sul

Suazilandia

57

A Numeração em Moçambique
2.6 Numerais na língua Nyanja
Fonte: Missionários da Companhia de Jesus, Elementos da Gramática
Cinyanja, Junta de Investigações do Ultramar, Lisboa, 1964, p.
56-58

Os numerais concordam com as coisas numeradas, como


qualquer adjectivo em número e classe; e por isso apresentamos só o
radical precedido de +.

Numerais cardinais:

1  +modzi
2 +wiri
3 +tatu
4 +nai
5 +sanu
6 +sanu ndi + modzi
7 +sanu ndi +wiri
8 +sanu ndi +tatu
9 +sanu ndi +nai
10 khumi
11 khumi ndi +modzi
12 khumi ndi +wiri
16 khumi ndi +sanu ndi +modzi
20 makumi awiri
21 makumi awiri ndi +modzi
60 makumi asanu ndi limodzi
61 makumi asanu ndi limodzi ndi
+modzi
75 makumi asanu ndi awiri ndi +sanu
100 dzana ou makumi khumi
200 madzana awiri ou
makumi khumi kawiri
(duas vezes dez dezenas)
1000 cikwi ou
madzana khumi (dez centenas)

58

  
Observação:

O cinyanja, muito pobre na numeração, chega só até cinco


(+sanu). Daí para diante vai somando; 6 (5+1), +sanu ndi +modzi, até
10 (dez ou dezena), khumi (da 6ª classe); 11 (10+1), khumi ndi +
modzi; 16 (10+5+1), khumi ndi +sanu ndi +modzi; 22 (2 dezenas +
2), makumi awiri ndi +wiri; 38 (3 dezenas +5+3), makumi atatu ndi
+sanu ndi +tatu; 69 (5 dezenas +1 dezena +5+4), makumi asanu ndi
limodzi ndi +sanu ndi +nai, ou makumi asanu ndi limodzi kudza
+sanu ndi +nai, ou ainda makumi asanu ndi limodzi, kudza mphambu
zisanu ndi zinai (5 dezenas + 1 dezena, vindo 5+4 unidades).
Como se pode verificar, quanto mais cresce o número mais
complicada é a contagem. Por isso, a partir de cinco passa-se a contar
em inglês ou português.
Os vocábulos kudza (do verbo kudza vir, sobreviver), e mphambu
(unidade) são imprescindíveis em frases que originariam confusão.

Exemplo:
87 pessoas (5 dezenas + 3 dezenas + 5 unidades + 2 unidades de
pessoas) seria: anthu makumi asanu ndi atatu, kudza mphambu zisanu
ndi ziwiri, ou anhtu makumi asanu ndi atatu, kudza anthu asanu ndi
awiri , e não simplesmente: anthu makumi asanu ndi atatu ndi asanu
ndi awiri, porque pela igualdade de características de concordância de
anthu (pessoas) e makumi (dezenas) tanto se poderia entender: 5
dezenas + 3 dezenas + 5 dezenas + 2 dezenas de pessoas (=150
pessoas), como 5 dezenas + 3 dezenas de pessoas +5+2 pessoas (=87
pessoas).

Comentários e questões para reflexão

1. Comente a afirmação segundo a qual a língua Nyanja é “muito


pobre na numeração” (linha 6).
2. Considere o parágrafo das linhas 15-17. O argumento
apresentado pelos autores é ou não suficiente e relevante para a
conclusão a que chegam?

59

A Numeração em Moçambique
Mapa 5
O Distrito de Macanga

Tanzania

Malawi

Zambia

Zimbabwe

Oceano Indico

Africa do Sul

Suazilandia

60
Cap. 2: Fontes escritas
2.7 Sentido numérico Cheua
Fonte: A.Rita-Ferreira, Os Cheuas da Macanga, in: Memórias de
Investigação Científica de Moçambique, Lourenço Marques,
1966, Vol. 8, p. 259

1 Os Cheuas manifestam acentuada limitação do sentido matemático


e geométrico, limitação que se não deve atribuir a defeito
intelectual mas unicamente à carência de incentivos. À medida
que, sob o impulso da civilização, vão desenvolvendo as suas
necessidades económicas, desenvolvem também a arte de contar.
Sintomática desta evolução é a adopção do sistema decenal
oriundo de Tete e, mais modernamente, dos numerais portugueses.
8 O jogo das pedras conhecido por tsolo demonstra que o sentido
numérico não é tão deficiente como parece.
Podem contar-se sete numerais:

1 -modzi
2 -wiri
3 -tatu
4 -nai
5 -sanu
10 -khumi
100 -dzana.

11 O sistema é pois quinário. Qualquer outro número deve ser feito


com combinações destas sete palavras. Por exemplo, para
designar 8 dir-se-á sanu ndi tatu, para designar-se 21 dir-se-á
makumi awiri ndi modzi. Esta crescente complicação da frase à
medida que aumenta a quantidade, levou, como dissemos, à
adopção dos numerais portugueses e ingleses.
17 Na contagem de dinheiro usam os Cheuas da Macanga as
expressões: kobiri (corrupção de cobre), para designar a moeda de
$50, e drama, para indicar a moeda de 5$00. A importância de
2$50 será referida por kobiri asanu, e a de 50$00 por drama
khumi. Os trabalhadores migratórios regressados dos territórios
estrangeiros vizinhos introduziram o hábito de designar o dinheiro
segundo termos britânicos, dado que entre o nosso sistema e o
61
    
esterlino existia certa correlação. Assim, a moeda de $50 passou a
ser conhecida por peny, a de 1$00 por two pence, a de 2$50 por
six pence, a de 5$00 por shirini (corrupção de “shilling”), e,
enfim, a nota de 100$00 por bondo (corrupção de “pound”). Hoje
mesmo, apesar dos esforços das autoridades, esta terminologia
continua em voga, provocando compreensíveis confusões
derivadas da desvalorização da libra.

Comentários e questões para reflexão

1. Concorda ou não com a afirmação sobre a “acentuada limitação


do sentido matemático” e a explicação da mesma dada pelo autor
(linhas 1-7)?
2. Considera ou não contar uma arte (linha 5)? Porquê?
3. Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa (Porto Editora, 6ª
edição), ‘decenal’ significa “que dura dez anos; que se realiza de
dez em dez anos”. Acha o termo o mais adequado para ser
utilizado na linha 6?
4. O sistema de numeração cheua é classificado de quinário pelo
autor. Concorda ou não com esta classificação? Porquê?
5. Concorda ou não com a explicação dada pelo autor para a
adopção de numerais portugueses e ingleses (linha 15 e seg.)?



  
2.8 Numerais na língua Nyungwe
Fonte: Victor J. Courtois, Elementos de Grammática Tetense (1887),
1890, p.39

Numerais Cardinais.

São aqueles que indicam o número. Tomam o prefixo dos nomes que
determinam.

0 paribe, ou papezi
1 posi; e bodzi, modzi, quando
adjectivo indefinido
2 piri
3 tatu
4 nai
5 xanu
6 tant’atu
7 chinomue
8 sere
9 f’emba
10 k’umi
11 k’umi na ibodzi
12 k’umi na ziwiri
13 k’umi na zitatu
14 k’umi na zinai
20 mak’umi mawiri
21 mak’umi mawiri na ibodzi
22 mak’umi mawiri na ziwiri
23 mak’umi mawiri na zitatu
30 mak’umi matatu
31 mak’umi matatu na ibodzi
40 mak’umi manai
50 mak’umi maxanu
60 mak’umi matant’atu
70 mak’umi manomue
80 mak’umi masere
90 mak’umi maf’emba

63

    
100 dzana
101 dzana na ibodzi
110 dzana na k’umi
120 dzana na mak’umawiri
200 madzana mawiri
300 madzana matatu
500 madzana maxanu
900 madzana maf’emba
1000 churu
2000 bzuru bziwiri
3000 bzuru bzitatu
10000 bzuru k’umi, etc.

Observação:
A contabilidade do preto é simples e limitadíssima. Procede
sempre por dezenas, e por cada uma dá um nó numa corda, ou um
golpe num pau, ou, ainda, junta umas pedrinhas. É pelas dezenas que
faz suas contas.

Os adjectivos numerais cardinais concordam com o substantivo


que determinam, tomando o prefixo que lhe pertence.
Exemplos:

wana wanomue, sete crianças; akazi atatu, três mulheres; p’aza


ribodzi, uma enxada; mp’ete zixanu, cinco anéis; bzisu bzisere, oito
facas; want’ u k’umi, dez pessoas; miti miwiri, duas árvores; ntsomba
zinai, quatro peixes; mauta mak’umi mawiri, vinte arcos; mbarame
zitant’atu, seis aves; miadiya mif’emba, nove canhôas; achikunda
k’umi na anai, quatorze soldados.

Comentários e questões para reflexão

1. Comente a observação segundo a qual a “contabilidade do preto é


simples e limitadíssima” (linha 1). Contabilidade? Simples?
Limitadíssima?



  
Mapa 6
Distribuição geográfica dos falantes da língua
Nyungwe

Tanzania

Malawi

Zambia

Zimbabwe

Oceano Indico

Africa do Sul

Suazilandia

65

A Numeração em Moçambique
Mapa 7
Distribuição geográfica dos falantes da língua
Makhuwa-Lóhmé

Tanzania

Malawi

Zambia

Zimbabwe

Oceano Indico

Africa do Sul

Suazilandia

66
Cap. 2: Fontes escritas
Mapa 8
Distribuição geográfica dos falantes da língua
Cóti

Tanzania

Malawi

Zambia

Zimbabwe

Oceano Indico

Africa do Sul

Suazilandia

67
A Numeração em Moçambique
2.9 Numerais em Makhuwa-Lóhmé, Cóti e Árabe
Fonte: António Pires Prata, Gramática da Língua Macua e seus
Dialêctos, Cucujães, 1960, p. 118-145

1 Os povos macuas têm os seus números próprios, mais ou menos


comuns aos bantus.
Os do litoral, mais influenciados pelos árabes, adoptaram ou pelo
menos conhecem outras numerações.
5 Os povos de Angoche conhecem a numeração macua, mas
ordinariamente adoptam a numeração recebida dos árabes ou outra
mais propriamente sua, também usada em suaíli.
A fim de as poder conhecer e comparar, damos abaixo essas três
numerações.
10 Os numerais cardinais são, pois, os seguintes (vide p. 70 - 75).

Como se vê, os numerais simples em macua são apenas oito: -


mosa, pili, tharu (-raru), -sheshe, -thanu, -muloko, mía e álufu.
Mmosa admite o plural amosa que representa então um verdadeiro
indefinido: uns ,umas, e quando repetido amosa...amosa...”uns ...
outros...”; “umas ... outras...”.
16 Mmosa pode receber os sufixos -ru e -tu (ou -thu), tomando as
formas de mmosaru e mmosatu, tendo então o sentido de um só,
único.
Amosa pode ser um plural respeitoso.
Ex.: Kohona athyana amosa, vi uma mulher.

20 Todos os outros são compostos destes.

Mulokó ou mlokó é um substantivo com significado de grupo,


fileira, linha, etc., (aqui tem o de dezena ou grupo de dez) e por
isso faz o plural Milokó na formação dos números além de 19.
Emía tem o plural imía, mas geralmente emprega-se a forma
invariável mía.

26 Nalgumas regiões do Distrito de Quelimane e do de Cabo


Delgado em vez de muloko, para significar dez, usam khumi
68

  
(invariável, como na língua cóti) ou kumi, podendo esta palavra,
como substantivo que é, fazer o plural makumi ou makhumi.
30 Em Lómuè também em vez de mia emprega-se nsana, recebido
das línguas do sul, por meio do chuabo ou chissena.
Masama, plural de nsana, e makhumi (ou makumi) têm as
concordâncias da classe ma.
Àlufu ou alfu ou elfu é invariável. Tanto mia como àlufu têm as
concordâncias da classe E-l.
36 Notemos que a contagem acima das primeiras dezenas e das
centenas só teoricamente tem um valor, pois habitualmente, por
ser ela muito complicada, é substituída pela contagem portuguesa
ou pelo árabe onde são conhecidas.
Junto à fronteira da Niassalândia [Malawi] também por alguns é
conhecida e empregada a contagem inglesa.

42 Os números expressos no quadro servem para a contagem


absoluta ou seja para a contagem sem substantivos ou só com
substantivos da classe E e S.
Juntos dos substantivos tomam, para a concordância, os prefixos
nominais como se pode ver pelo quadro seguinte:

Quadro dos numerais cardinais em concordância com as classes

CLASSE UM DOIS TRÊS QUATRO


A Mmosa Áili Araru Asheshe
Ma Nimosa Maíli Mararu Masheshe
Mi Mmosa Mili Miraru Misheshe
O Mmosa Mili Miraru Misheshe
I Emosa Pili Tharu Misheshe
S Emosa Pili Tharu Misheshe
O Omosa Opili Otharu Osheshe
Mu Mmosa Mopili Motharu Mosheshe
Va Vamosa Vaíli Vararu Vasheshe

69

    

CLASSE CINCO SEIS SETE


A Athanu Athanu na mmosa Athanu n'aíli
Ma Mathanu Mathanu na mimosa Mathanu na maíli
Mi Mithanu Mithanu na Mmosa Mithanu na mili
O Mithanu Mithanu na Mmosa Mithanu na mili
I Thanu Thanu na mosa Thanu na pili
S Thanu Thanu na mosa Thanu na pili
O Othanu Othanu n'omosa Othanu n' opili
Mu Mothanu Mothanu na mmosa Mothanu na mopili
Va Vathanu Vathanu na vamosa Vathanu na váili

47 Observações a este quadro:

1. Em vez de -mosa usam-se também as seguintes formas: -moza (no


litoral, nas regiões de A. Enes [Angoche], Mogincual,
Moçambique [Ilha], Mossoril, etc.) -modha (dialecto nampamela,
A. Enes e Moma); -moha, -mohi e -mosi (dialectos lóhmé e
chirima); moka, motca e motci, (meto e macua do Distrito de
Cabo Delgado); moja (dialecto chaca).
2. Áili e máili (tonalidade alta na última sílaba) ouvem-se muitas
vezes pronunciar eli e meli (por contracção de ai) e mais
raramente também áili e máyili.
3. Em vez de aili, maili, mili e pili usam-se no litoral do distrito de
Moçambique as formas nasaladas: enli, menli, minli e pinli.
4. Em vez de sheshe também usam-se as formas isheshe (chirima),
tceshe, (meto e macua do Distrito de Cabo Delgado, etc.) keshe e
kese (Sangage, etc.) e sese (Nampamela).
5. Em Nampula, Meconta, etc., usam-se as formas aili ou ayili e
maili ou mayili que nos parecem mais correctas.
6. Em vez de tharu ou itharu também há quem pronuncie taru,
tcaru, tcharu e tjaru, assim como também quem diga ithanu,
tchanu, tcanu e tjanu, em vez de thanu.



  
67 Para a composição de números usam-se das copulativas ni e na,
cujo significado é “e” ou “com”.
Ni é de língua macua e na provém de língua estranha.
Na sobreposição dos números digitos 1, 2, 3, 4, 5, 10, 20, 30 e 40
emprega-se na ou ni, podendo-se dizer thanu na mosa ou thanu ni
mosa (6), prevalecendo na no litoral e ni no interior, depois de 10.

73 Na sobreposição dos números a números superiores a 50 usa-se de


na para a junção de dezenas e centenas; e ni para os números
digitos, mosa, pili, tharu, sheshe e thanu ou thanu na ...
Ex.: Miloko mithanu na mili ni thanu na sheshe - 79.

Com os nomes das classes A e O os numerais têm as


concordâncias e formas especiais:
Nakhuwo miraru, três plantas de milho.
Ovilo miraru ola ori va, estes três cogumelos que estão aqui.

Comentários e questões para reflexão

1. Comente a utilização do termo “número” nas linhas 1, 67, 70, 73


e 75.
2. Porque será que uma palavra com o significado de grupo, fileira,
linha, etc. (vide linhas 21-22) pode ter ficado um numeral?
3. Concorda com a explicação dada pelo autor nas linhas 36-39 para
o facto de a numeração makhuwa ser frequentemente substituída
pela numeração em Português ou em Árabe?
4. Observe bem o quadro de numeração entre dez mil e um milhão.
Compare as três línguas.

71

A Numeração em Moçambique

 MACUA CÒTI ÁRABE

1 Mosa Moti Wahiti


2 Pili (ili) Piri Tineni, tinini
3 Tharu (raru) Thathu Thalata
4 Sheshe Nne Àruba, arba
5 Thanu Thanu Hámusa
6 Thanu na mosa ou Sithá Sithá
mmosa
7 Thanu na pili Sabá Sabá
8 Thanu na tharu Nane Thamania
9 Thanu na sheshe Tísya (Kentha) Tísya
10 Mulokó ou mlokó Khumi Ashara, anshara,
ou nlokó eshara
11 Mulokó na (ou ni) Khumi na mote Wahitanshara
mosa
12 Mulokó na (ou ni) Khumi na piri Tinentashara
pili
13 Mulokó na (ou ni) Khumi na thathu Thalatashara
tharu
14 Mulokó na (ou ni) Khumi na nne Arubatashara
sheshe
15 Mulokó na (ou ni) Khumi na thanu Hams(i)tashara
thanu
16 Mulokó na (ou ni) Khumi na sithá Sitashara
thanu na mosa
17 Mulokó na (ou ni) Khumi na sába Sabatashara
thanu na pili
18 Mulokó na (ou ni) Khumi na nane Thamaniatashara
thanu na tharu
19 Mulokó na (ou ni) Khumi na tísya Tisyatashara
thanu na sheshe
20 Milokó mili khumi piri Ashirini ou eshirini
21 Miloko mili na (ou khumi piri na Wahiti w'eshirini
ni) mosa mote
22 Miloko mili na (ou khumi piri na piri Tineni w'eshirini
ni) pili

72

  
 MACUA CÒTI ÁRABE

23 Miloko mili na (ou khumi piri na Thalata w'eshirini


ni) tharu thathu
24 Miloko mili na (ou khumi piri na nne Àruba w'eshirini
ni) sheshe
25 Miloko mili na (ou khumi piri na Hamsa w'eshirini
ni) thanu thanu
26 Miloko mili na (ou khumi piri na Sithá w'eshirini
ni) thanu na mosa sítha
27 Miloko mili na (ou khumi piri na Sabá w'eshirini
ni) thanu na pili saba
28 Miloko mili na (ou khumi piri na Thamanía
ni) thanu na tharu nane w'eshirini
29 Miloko mili na (ou khumi piri na Tísya w'eshirini
ni)thanu na sheshe tísya
30 Miloko miraru khumi thathu Thalathini
40 Miloko misheshe khumi nne Arubaíni
50 Miloko mithanu khumi thanu Ham(u)sini
51 Miloko mithanu ni khumi thanu na Wahiti wa hamsini
mosa mote
52 Miloko mithanu ni khumi thanu na Tineni wa hamsini
pili piri
53 Miloko mithanu ni khumi thanu na Thalata wa hamsini
tharu thathu
54 Miloko mithanu ni khumi thanu na Àruba wa hamsini
sheshe nne
55 Miloko mithanu ni khumi thanu na Hamsa wa hamsini
thanu thanu
59 Miloko mithanu ni khumi thanu na Tísya wa hamsini
thanu na sheshe tísya
60 Miloko mithanu na khumi sítha Sithini
mosa ou miloko
nithanu ni mloko
mosa
61 Miloko mithanu na khumi sítha na Wahiti wa sithini
mosa ni mosa mote
62 Miloko mithanu na khumi sítha na Tineni wa sithini
mosa ni pili piri
73

    
 MACUA CÒTI ÁRABE

69 Miloko mithanu na khumi sítha na Tísya wa sithini


mosa ni thanu na tísya
sheshe
70 Miloko mithanu na Sabíni Sabíni ou sabaíni
mili
71 Miloko mithanu na Sabíni na mote Wahiti wa sabini
mili na (ou ni)
mosa
72 Miloko mithanu na Sabíni na piri Tineni wa sabini
mili na (ou ni) pili
73 Miloko mithanu na Sabíni na thathu Thalata wa sabini
mili na (ou ni)
tharu
74 Miloko mithanu na Sabíni na nne Àruba wa sabini
mili na (ou ni)
sheshe
75 Miloko mithanu na Sabíni na thanu Hamsa wa sabini
mili na (ou ni)
thanu
78 Miloko mithanu na Sabíni na nane Thamanía wa sabini
mili na (ou ni)
thanu na tharu
80 Miloko mithanu na Thamanini Thamanini
miraru
90 Miloko mithanu na Tuswini ou tiswini Tisini
misheshe
97 Miloko mithanu na Tuswini na sába Sabá wa tisini
misheshe na thanu
na pili
100 Miloko muloko ou Mía Mia
Milokosene mloko
ou Emia ou mía
101 Miloko muloko na Mía na mote Mia na wahiti
(ou ni) mosa ou
Emia ou mía na
mosa



  
 MACUA CÒTI ÁRABE

102 Miloko muloko na Mía na piri Mia na tineni


(ou ni) pili ou
Emia ou mía na
pili
103 Miloko muloko na Mía na thathu Mia na thalata
(ou ni) tharu ou
Emia ou mía na
tharu
104 Miloko muloko na Mía na nne Mia n'áruba
(ou ni) sheshe ou
Emia ou mía na
tsheshe
105 Miloko muloko na Mía na thanu Mia na hamsa
(ou ni)thanu ou
Emia ou mía na
thanu
107 Miloko muloko na Mía na sába Mia na sabá
(ou ni) thanu na
pili
110 Miloko muloko na Mía na khumi Mia n'ashara
(ou ni) muloko ou
Emia ou mía na
muloko
120 Miloko muloko na Mía na khumi piri Mia n'eshirini
(ou ni) muloko
mili ou Emia ou
mía na muloko
mili
130 Miloko muloko na Mía na khumi Mia na thalathini
(ou ni) muloko thathu
miraru ou Emia
ou mía na muloko
miraru

75
    
 MACUA CÒTI ÁRABE

140 Miloko muloko na Mía na khumi nne Mia n'arubaini


(ou ni) muloko
misheshe ou Emia
ou mía na muloko
misheshe
150 Miloko muloko na Mía na khumi Mia na hamsini
(ou ni) muloko thanu
mithanu ou Emia
ou mía na muloko
mithanu
160 Miloko muloko na Mía na khumi Mia na sithini
(ou ni) muloko sithá
mithanu na mmosa
170 Miloko muloko na Mía na sabíni Mia na sabini
(ou ni) muloko
mithanu na mili
180 Miloko muloko na Mía na thamanini Mia na thamanini
(ou ni) muloko
mithanu na miraru
190 Miloko muloko na Mía na tuswini Mia na tisini
(ou ni) muloko
mithanu na
misheshe
200 Miloko muloko Mía piri Mitini
mili ou milokosene
muloko mili
300 Miloko muloko Mía thathu Thalata mia
miraru ou
milokosene
muloko miraru
400 Miloko muloko Mía nne Áruba mia
misheshe ou
milokosene
muloko misheshe



  
 MACUA CÒTI ÁRABE

500 Miloko muloko Mía thanu Hamsa mia


mithanu ou
milokosene
muloko mithanu
600 Miloko muloko Mía sithá Sithá mia
mithanu na mosa
700 Miloko muloko Mía sabá Sabá mia
mithanu na mili
800 Miloko muloko Mía nane Thamania mia
mithanu na miraru
900 Miloko muloko Mía tísya Tísya mia
mithanu na
misheshe
1000 Miloko muloko Àlufu Alfu ou elfu
miloko ou álufu ou
álfu ou elfu ou
Imia muloko ou
mia muloko
2000 Álifu pili Àlufu piri Alfeini ou elfeini
3000 Álufu tharu Àlufu thathu Thalata alfu
4000 Álufu sheshe Àlufu nne Árabu alfu
5000 Álufu thanu Àlufu thanu Hamsa alfu
10. Laki ou lakhi Àlufu khumi Asharatalafu
000
100. Lakhi Miatalafu
000
1.000 Lakhi khumi Ashara laki
.000

77

    
Mapa 9
Distribuição geográfica dos falantes da língua
Sena

Tanzania

Malawi

Zambia

Zimbabwe

Oceano Indico

Africa do Sul

Suazilandia


Cap. 2: Fontes escritas
2.10 Numerais na língua Sena
Fonte: J. Torrend, Gramática do Chisena - A grammar of the
language of the lower Zambezi, Missão de Chipanga,
Chipanga, 1900, p. 81-83

Os numerais cardinais
um -bodzi
dois -wiri
três -tatu
quatro -nai
cinco -xanu
seis -tant’atu
sete -nomeu
oito -sere
nove -femba
com os três seguintes
quantos? -ngasil
o mesmo identicamente -bidzibodzi
muitos -zinji

são adjectivos.
Nota-se que k’umi, dez, pl. makumi; dz-ana, cem, pl. ma-dz-ana; e
chikui, mil só se empregam como substantivos.
Os números cardinais de um a nove têm também formas de
substantivos. Tratados como tais os seguintes pertencem à classe MU-
A:
um posi
dois piri
três tatu
cinco xanu
seis tant’atu
oito sere
nove femba

79
A Numeração em Moçambique
À classe CHI pertencem

quatro chi-na
sete chi-nomue

80

  
Mapa 10
Distribuição geográfica dos falantes da língua
Shona (Ndau)

Tanzania

Malawi

Zambia

Zimbabwe

Oceano Indico

Africa do Sul

Suazilandia

81

    
2.11 Numerais na língua Shona (Ndau)
Fonte: D. Dale, S.J., Shona Companion, Mambo Press, Zimbabwe,
[1968], 1986, p. 230-231

Numerais Cardinais:

Um dólar: dhora rimwe chete


Dois dólares: madhora maviri
Três dólares: madhora matatu
Quatro dólares: madhora mana
Cinco dólares: madhora mashanu
Seis dólares: madhora matanhatu
Sete dólares: madhora manomwe
Oito dólares: madhora masere
Nove dólares: madhora mapfumbamwe
Dez dólares: madhora gumi
Onze anos: makore gumi nerimwe chete
Doze anos: makore gumi namaviri
Treze anos: makore gumi namatatu
Catorze anos: makore gumi namana
Quinze anos: makore gumi namashanu
Dezasseis anos: makore gumi namatanhatu
Dezassete anos: makore gumi namanomwe
Dezoito anos: makore gumi namasere
Dezanove anos: makore gumi namapfumbamwe
Vinte anos: makore makumi maviri/
makumi maviri amakore
22 dias: mazuva makumi maviri ana maviri
30 dias: mazuva makumi matatu
33 dias: mazuva makumi matatu ana matatu
40 dias: mazuva makumi mana
44 dias: mazuva makumi mana ana mana
50 dias: mazuva makumi mashanu
55 dias: mazuva makumi mashanu ana mashanu
60 dias: mazuva makumi matanhatu
66 dias: mazuva makumi matanhatu ana matanhatu
70 dias: mazuva makumi manomwe
77 dias: mazuva makumi manomwe ana manomwe

82
Cap. 2: Fontes escritas
100 soldados: masoja zana/ zana ramasoja
1000 soldados: masoja chiuru/ chiuru chamasoja

Uma cabeça de gado: mombe imwe chete


Duas cabeças de gado: mombe mbiri
Três cabeças de gado: mombe nhatu
Quatro cabeças de gado: mombe ina
Cinco cabeças de gado: mombe shanu
Seis cabeças de gado: mombe nhanhatu
Sete cabeças de gado: mombe nomwe
Oito cabeças de gado: mombe sere/ tsere
Nove cabeças de gado: mombe pfumbamwe
Dez cabeças de gado: mombe gumi/ gumi repondo

Onze milhas: maira gumi neimwe chete


Doze milhas: maira gumi nembiri
Treze milhas: maira gumi nenhatu
Catorze milhas: maira gumi neina
Quinze milhas: maira gumi neshanu
Dezasseis milhas: maira gumi nenhanhatu
Dezassete milhas: maira gumi nenomwe
Dezoito milhas: maira gumi nesere/ tsere
Dezanove milhas: maira gumi nepfumbamwe
Vinte milhas: maira makumi maviri/
makumi maviri amamaira
22 casas: dzimba makumi maviri ane mbiri
30 casas: dzimba makumi matatu
33 casas dzimba makumi matatu ane nhatu
40 casas: dzimba makumi mana
44 casas: dzimba makumi mana ane ina
50 casas: dzimba makumi mashanu
55 casas: dzimba makumi mashanu ane shanu
60 casas: dzimba makumi matanhatu

100 bois: mombe zana/ zana remombe


200 bois: mombe mazana maviri/ mazana maviri emombe
1000 bois: mombe churu/ churu chemombe
2000 bois: mombe zviuru zviviri.

83
    
Mapa 11
Distribuição geográfica dos falantes da língua
Tshwa

Tanzania

Malawi

Zambia

Zimbabwe

Oceano Indico

Africa do Sul

Suazilandia

84
Cap. 2: Fontes escritas
2.12 Numerais na língua Tshwa
Fonte: J. A. Persson, Outlines of Tshwa Grammar (with practical
exercises), Inhambane Mission Press, 1932, p.52-54

Os vaTshwa contam aos cinco, quer dizer, têm palavras separadas


para os números até cinco, depois começam de novo: cinco mais um,
cinco mais dois, etc., até dez; em seguida dez mais um, dez mais dois,
etc., até quinze, que é dez mais cinco; a seguir, dez mais cinco mais
um, etc. até vinte, que é duas dezenas. Ao contar deste modo utilizam
apenas sete palavras, das quais três são adjectivos e quatro
substantivos.

Numerais cardinais

Os três primeiros números são adjectivos que utilizam o prefixo


do substantivo que qualificam. São -nwe, um; -mbiri, dois; -nharu,
três.

classe um dois três

1 munwe vambiri vanharu


2 munwe mimbiri minharu
3 ginwe mambiri manharu
4 xinwe zimbiri zinharu
5 yinwe timbiri tinharu
6 linwe timbiri tinharu

No plural da segunda classe utiliza-se frequentemente o prefixo


pronominal em vez do prefixo substantivo, isto é yimbiri, yinharu.
Os substantivos contidos nas classes 7 e 8 são substantivos
colectivos, abstractos ou verbais, e, em regra, não são usados
juntamente com numerais.
Como a tabela ilustra os adjectivos numéricos, tal como os outros
adjectivos, concordam com os substantivos que qualificam; por
exemplo:

85
    

khumba ginwe um porco


vafana vambiri dois rapazes
timbuti tinharu três cabras

Mune, quatro, e ntlhanu, cinco, são substantivos da 2ª classe.


Khume, dez, e zana, cem, são substantivos da 3ª classe, cujos plurais
são formados pelo prefixo ma. São diferentes dos adjectivos no
sentido de que são colocados antes do substantivo a que se referem.
Com um adjectivo diz-se vanhu va ntamo, pessoas fortes; com os
substantivos numéricos inverte-se a ordem, e diz-se, mune wa vanhu,
quatro de pessoas; khume ga mahaxi, dez de cavalos; ntlhanu wa
tipondo, cinco libras.
Vinte e trinta exprimem-se por duas dezenas e três dezenas,
respectivamente. Makume mambiri, vinte; makume manharu, trinta.
Uma vez que quatro e cinco são substantivos que precedem os
substantivos por eles qualificados, quarenta e cinquenta são formados
da seguinte maneira: Mune wa makume, ntlhanu wa makume. Sessenta
aparece do seguinte modo: Ntlhanu wa makume ni khume ginwe, cinco
dezenas e um dez.
Em todos os números abaixo de cem, as dezenas são colocadas
antes das unidades:

khume ni ginwe dez e um


khume ni mambiri dez e dois
khume ni ntlhanu dez e cinco
khume ni ntlhanu ni ginwe dez e cinco e um
makume mambiri ni ginwe duas dezenas e um

O facto de que existem apenas sete palavras para exprimir todos


os números é, inicialmente, desconcernante por causa das repetições
constantes, em particular com números grandes. Os exemplos
seguintes indicam diferentes maneiras de formar números. Deve
notar-se que enquanto mune, ntlhanu, khume e zana usam as partículas
possessivas das suas respectivas classes, as três primeiras unidades
tomam o prefixo do substantivo qualificado.

86
Cap. 2: Fontes escritas

ntlhanu wa vanhu ni vanharu oito pessoas


ntlhanu wa tiyivu ni tiyivu oito ovelhas
tinharu
ntlhanu ni manharu a matiko oito países
ntlhanu wa zibya ni mune nove pratos
khume ga tisimu ni tisimu timbiri doze canções
khume ni ntlhanu wa zihari ni dezassete animais
zihari zimbiri
khume ga vanhu ni ntlhanu ni dezanove pessoas
mune
makume mambiri ya mabhuku ni vinte e dois livros
mambiri
makume manharu ya timyana ni trinta e seis cães
ntlhanu ni yinwe
zana ga miti ni khume ni yinharu cento e treze aldeias

Estes exemplos mostram que os números adjectivos sempre


seguem os substantivos que qualificam; esta regra, contudo, não se
aplica em expressões como as seguintes:

a mambiri ya mabhuku lawo dois daqueles livros


zinharu za zibya za mina três dos meus pratos

De mesmo modo encontramos com números maiores que o


substantivo é colocado no primeiro lugar para evitar uma repetição
demasiado frequente:

A tihomu ta ntlhanu wa makume ni makume mambiri ni tinharu,


73 vacas;
Vanhu va ntlhanu wa makume ni mune wa makume ni ntlhanu ni
mune, 99 pessoas.

Nota:
Sendo este sistema de numeração tão incómodo, está a ser
substituído por números portugueses, exceptuando quando se utilizam
numerais abaixo de dez ou quantidades capazes de se exprimirem em
dezenas ou centenas exactas.
87
A Numeração em Moçambique

Nza lava quarenta e cinco wa timetro ta malikani, quero 45


metros de pano branco.
Va lo tshovela vinte e três wa tisakwa ta zipfhaki, eles colheram
23 sacos de milho.
A hi yimneleleni a lisimu la oitenta e oito, cantemos hino nº 88.

Comentários e questões para reflexão

1. Comente a nota final.

88
Cap. 2: Fontes escritas
Mapa 12
Distribuição geográfica dos falantes da língua
Chope

Tanzania

Malawi

Zambia

Zimbabwe

Oceano Indico

Africa do Sul

Suazilandia

89
A Numeração em Moçambique
2.13 Numerais na língua Chope
Fonte: Luís Feliciano dos Santos, Gramática da Língua Chope,
Imprensa Nacional de Moçambique, Lourenço Marques, 1941,
p. 95 - 100

Os numerais cardinais:

1. São estes os nomes dos números que designam a quantidade dos


objectos.
Em Chope os números cardinais são simples e compostos.
Os numerais cardinais simples são: 1, 2, 3, 4, 5, 10, 100, 1000.
Todos os restantes são compostos dos simples.
2. Os nomes dos numerais cardinais simples são os seguintes:
-muè, um; -mbiri, dois; -raru, três; mune, quatro; ntchanu, cinco;
digume, (pl. makume), dez; dzana (pl. madzana), cem; dikhulu
(pl. makulu), mil.
3. O numeral -muè-, um, apresenta uma forma especial, diferente
da dos restantes numerais, e aparentada à pronome indefinido
correspondente a “mesmo”, como veremos adiante.
Constrói-se esta forma atendendo a -mué- a característica
nominal do substantivo em referência (na 1ª classe o i ou m-
prefixo nominal evoluído) e pospondo-lhe a reduplicação
relativa da respectiva partícula possessiva. Na 1ª, 2ª, e 3ª classe
em vez do uo, diz-se io por eufonia. As formas atributivas e
predicativas do -mué- são, de resto, idênticas às dos adjectivos
simples primitivos, como -nene, -dotho, etc.
4. Quadro sinóptico da forma atributiva do numeral 1 (um):
1ª classe - Inthu (uà) muèio ou mmuèio, um homem.
2ª classe - Nhóka (uà) umuèio, uma cobra.
3ª classe - Uluate (uà) umuèio, uma doença.
4ª classe - Dirole (dà) dimuèdo, um vitelo.
5ª classe - Litiho (là) limuèlo, um dedo.
6ª classe - Tchilonda (tchà) tchimuètcho, uma ferida.
7ª classe - Nhari (ià) imuèio, um búfalo.
90
Cap. 2: Fontes escritas
8ª classe - Kuranda (kà) kumuèio, uma vontade.
5. Os numerais -mbidi, 2 (dois) e -raru, 3 (três), em razão de a sua
concordância com os substantivos ser, como a de -muè-, idêntico
à dos adjectivos qualificativos primitivos, devem ser
considerados também como adjectivos primitivos.
6. Quadro sinóptico da concordância atributiva de -mbidi e -raru:
-mbidi, 2 (dois), -raru, 3 (três)

1ª classe Vathu (rà) vambidi, Vathu (và) vararu,


2 homens 3 homens
2ª classe Mindonga (iá) imbidi, Mindonga (ià) iraru,
duas árvores três árvores
3ª classe Malaho (à) mambidi, Malho (à) mararu,
2 arcos 3 arcos
4ª classe Marole (à) mabidi, Marole (à) mararu,
2 vitelos 3 vitelos
5ª classe Titiho (tà) timbidi, 2 Titiho (tà) tiraru, 3 dedos
dedos
6ª classe Silonda (sà) simbidi, Silonda (sà) siraru,
duas feridas três feridas
7ª classe Timbua (tà) timbidi, 2 Timbua (tà) tiraru, 3 cãis
cãis
8ª classe Kuranda (kà) kumbidi, Kuranda (kà) kuraru,
duas vontades três vontades

NB. - Cumpre notar, todavia, que na linguagem corrente a


partícula possessiva, indicada entre parêntesis, já desapareceu
quase por completo da forma atributiva, o que não sucede com
os adjectivos qualificativos primitivos.
Os numerais -muè-,-mbidi- e -raru são sempre propostos aos
substantivos que determinam.
7. Os numerais mune, 4 (quatro) e ntchanu, 5 (cinco) funcionam
como substantivos do singular da 2ª classe nominal (mu-mi). Ao
contrário dos precedentes, estes dois numerais tanto podem
anteceder como ser propostos aos substantivos que determinam.
Exemplos:
Mune uà timbuva, ou : timbuva tà mune, quatro cães.
91
A Numeração em Moçambique
Intchanu uà silonda, ou : silonda sà ntchanu, cinco
feridas.
É, todavia, preferível a primeira forma.

Observações:

1. Mune, que, em outras línguas bântu, em chi-chambala, é


simplesmente ne, e em chi-nhungue de Tete é nai, e segue
nessas línguas as regras de concordância dos adjectivos, em
chope, pelo contrário, deve-se considerar como um
substantivo, em virtude da concordância restritiva com os
substantivos.
2. De ntchanu vale o que dissemos acêrca do prefixo nominal
do singular da 1ª e 2ª classe. O i inicial, que por vezes se
ouve, é a forma evoluída de mu com subsequente nasalação
e reforçamento do fonema primitivo ch, que assim se
transformou no fonema ntch.
O i inicial é quase impossível, quando o sujeito da oração
começa por ntchanu. Quando ntchanu é posposto ao
substantivo, desaparece por completo o i inicial, elidindo-se
com a vogal da partícula possessiva que o liga ao
substantivo.
(Vejam-se os exemplos supra).
Quando, finamente, ntchanu é nome predicativo, o i inicial
tem som pleno e de tonalidade alta. Exemplo:
Sirumo sà Dibandza dò-basa intchanu, os mandamentos da
Santa Igreja são cinco.
3. Não é de aceitar a observação de H. Ph. Junod em Eléments
de Grammaire tchopi, p.26, de que o gitonga e o chilengue
conservaram “a velha forma da língua, inteiramente
diferente das outras línguas bântu”, para exprimir o numeral
5 (cinco), que em gitonga, segundo este autor, é libandi, e
em chilengue lihandi.
A forma lihandi, a meu ver, longe de ser “a velha forma da
língua”, outra coisa não é senão a corruptela do termo
saxónico die Hand (em alemão) ou the hand (em inglês),
que significa a mão, e é, portanto, um neologismo (bárbaro)
92
Cap. 2: Fontes escritas
de importação estrangeira, para designar os cinco dedos da
mão.
A forma chope, ntchanu, é, sem dúvida possível, a
primitiva forma bântu, tendo apenas sofrido as alterações
fonéticas peculiares desta língua. E a razão óbvia é que esta
forma chope se encontra, com pequenas variantes, na quase
totalidade das línguas bântu, desde o chi-chambala, falado
nas faladas do Kilimandjaro ao quimbundo e umbundo de
Angola, e desde o chinhungue de Tete ao chironga de
Lourenço Marques, ou desde o nhakiusa do norte do
Niassa ao zulu e sotho do Transvaal.
4. A pronuncia de ntchanu difere um pouco entre o sul e o
centro e norte da região chope. No sul tem som dento-
lateral (achanganado): ntchanu: no centro e norte, as
mulheres, sobretudo, conservaram o som fricativo: ntchanu.

8. Os numerais digume (pl. makume), 10 (dez); didzana (pl.


madzana), 100 (cem): dikhulu (pl. makhulu), 1000 (mil), seguem
as regras de concordância de substantivos pertencentes à 4ª
classe nominal.
Como os numerais mune e ntchanu, tanto podem preceder como
seguir o substantivo que determinam, sendo todavia, preferível a
primeira forma. Exemplos:
Digume dà vanhapue, ou vanhapue và digume, dez
pessoas.
Didzana dà mindonga ià didzana, cem árvores.
Dikhulu dà malembe ou malembe à dikhulu, mil anos.
9. Números compostos. - Os restantes números formam-se dos
precedentes, da seguinte forma:
De 6 a 9, acrescentando a ntchanu (5) a preposição ni
(com) e -muè-, mbidi, -raru, mune, para designar
respectivamente: 6, 7, 8, 9, mas com as particularidades
seguintes:
a) - A -muè- devem acrescentar-se os “prefixos e sufixos”
acima indicamos, correspondentes às oito classes
nominais. Exemplos:

93
A Numeração em Moçambique
Intchanu uà silonda ni tchimuètcho, ou silonda sà
ntchanu ni tchimuètcho, seis feridas.
Intchanu uà timbua ni imuèi, ou timbua tà ntchanu ni
imuèio, seis cãis.
b) - A -mbidi e a -raru deve antepor-se a característica
nominal da classe a que pertence o substantivo que
determinam. Exemplos:
Intchanu uà miti ni imbidi (f. dial. ni mimbidi), ou
miti ià ntchanu ni imbidi (ou mimbidi), sete aldeias.
Intchanu uà titiho ni tiraru, ou titiho tà ntchanu ni
tiraru, oito dedos.
c) - A mune apenas se antepõe a preposição ou conjunção
ni (com ou e). Exemplo:
Intchanu uà malembe ni mune, ou malembe à
ntchanu ni mune, 9 anos.
NB. - Como se depreende da exposição feita e dos
exemplos citados, na classe das unidades de 1 a 3 os
substantivos precedem esses numerais.
Nas unidades 4 e 5 os substantivos tanto podem preceder
como seguir os numerais, sendo preferível a primeira
forma.
Na classe das unidades de 6 a 9 os substantivos tanto
podem preceder como ser intercalados entre ntchanu e -
muè-, -mbidi, -raru, ou mune. Preferível é esta segunda
forma.
Se o número representa qualquer dezena, centena ou
milhar, seu excesso de unidades, o substantivo coloca-se
ou no princípio ou no fim. Exemplos:
Makume mambidi à mindonga, ou mindonga ià
makume mambidi, 20 árvores.
Madzana manbidi à seketa, ou siketa sà madzana
manbidi, 200 ananases.
Madzana mararu à timbua, ou timbua tá madzana
mararu, 300 cãis, etc.

94
Cap. 2: Fontes escritas
Se o número representa qualquer centena com excesso de
dezenas, ou qualquer milhar com excesso de centenas ou
dezenas, o substantivo colocar-se-á no fim, concordando
com o último numeral-substantivo. Exemplo:
Didzana ni makume mambidi à mipama, 120
bofetadas.
Finalmente, se o número contém além disso unidades,
estas indicam-se depois do substantivos, que se coloca a
seguir à classe das dezenas.

Comentários e questões para reflexão

1. Comente a utilização dos termos “número” e “numeral” nos


pontos 1, 2 e 9.
2. O que é que o leitor acha da argumentação apresentada na
observação 3, referente ao numeral “lihandi” na língua Tonga?

95
A Numeração em Moçambique
Mapa 13
Distribuição geográfica dos falantes da língua
Tsonga (Changana)

Tanzania

Malawi

Zambia

Zimbabwe

Oceano Indico

Africa do Sul

Suazilandia

96
Cap. 2: Fontes escritas
2.14 Numerais na língua Tonga e o ‘sentido matemático’
Fonte: Henrique A. Junod, Usos e costumes dos Bantos (1934),
Lourenço Marques, 1974, Vol.2, p.151, 152, 153-154, 576-577

1 Comparados aos milhares de advérbios descritivos, os nomes


numerais fazem triste figura na gramática tonga. Os Tongas
possuem apenas sete: n’uè, um; bíri, dois; raro, três (são tratados
como adjectivos); múnè, quatro; nthlano, cinco; qhúmè, dez;
dzana, cem (estes últimos são substantivos). Todos os números
têm de ser expressos por meio destas sete palavras. É
extremamente complicado. “Novecentos e oitenta e sete” tem de
ser dito assim: cinco centos, e quatro centos, e cinco dez, e três
dez, e cinco, e dois. Este sistema de numeração é nitidamente
decimal e está em relação directa com os dez dedos da mão: a
prova é que os indígenas, ao contarem, empregam geralmente os
dedos. Começam com o mínimo da mão esquerda, um; depois, o
mínimo e o anelar, dois; este dois e o máximo, três; estes três e o
indicador, quatro; este quatro e o polegar, cinco; depois juntam os
dedos da mão direita, começando pelo polegar: cinco mais um,
cinco mais dois, cinco mais três, cinco mais quatro. Dez obtém-se
batendo as duas mãos uma contra a outra. Note-se que cinco, a
mão esquerda, com o polegar separado dos outros quatro dedos,
imita o algarismo romano V, e dez, as duas mãos juntas com os
dedos cruzados, faz um X, o sinal romano para dez! Isto prova
que o nosso sistema de números, de que a justo título somos tão
orgulhosos, nasceu provavelmente da mesma maneira que na
maior parte das tribos bantas!
24 Por outro lado, deve-se dizer que, se o sistema de numeração não
atingiu maior desenvolvimento, a razão está em que os Tongas não
têm necessidade disso e, por consequência, não se esforçam para
exprimir grandes números. Apressam-se a dizer que um número é
tjandjabalhaii (Djonga) ou lhulabacônti (Ronga), isto é, “aquele
que ultrapassa a capacidade do calculador”.
30 Quanto a contar homens, era formalmente proibido, outrora. Se
alguém, vendo uma grande reunião de gente na praça pública,
desejava conhecer o número de presentes, diziam-lhe: “Quê? Tu
estás a contar-nos? Quem desejas tu ver desaparecer?” (Chana uá
hi nconta, u tá hi pumba ná?).
97
A Numeração em Moçambique
35 Onde é necessário dar provas de certo sentido aritmético ou, pelo
menos, de mostrar que se sabe somar, é quando se trata de fazer a
conta do lobolo, quando este é pago em enxadas. As dezenas são
empilhadas separadamente, com muito cuidado. Toda a família
assiste interessadamente à operação – mas não se poderia chamar
a isto uma proeza na ordem matemática.
41 Assim, as ocasiões que se apresentam aos primitivos para usarem
da faculdade de contar são, no conjunto, muito raras e não
devemos admirar-nos de que essa faculdade não se tenha
desenvolvido. Pretender que ela falta inteiramente, seria erróneo.
Posso apresentar várias provas de que ela existe e se manifesta,
por vezes, de maneira interessante. Primeira, no jogo nhenguéli-
nhenguéli-múnè. Os jogadores colocam no chão um certo número
de caroços, dois a dois; um volta as costas ao outro e este,
designando o primeiro par, diz: Nhenguéli-nhenguéli-múnè? -
isto é: “Quantos caroços estão ali?” O que está de costas voltadas
responde: “Tira um e põe-no ali” – e indica o lugar que entende.
Faz-se o mesmo com o segundo par e assim sucessivamente, de
modo que alguns montes ficam com mais caroços que outros.
Quando um monte ficar completamente disperso, o que está a
adivinhar deve dizer: Macua ntsiquitane – o que significa “Aí não
há mais”. O inquiridor passa, então, rapidamente, de monte em
monte e o adivinhador deve dizer quantos caroços estão em cada
monte. Este jogo exige grande esforço de memória.
59 Segunda prova: Chinangana. Chinangana é um homem que vivia
nos Spelonken, perto da Missão de Elim, um puro indígena que
não sabia ler nem escrever e nunca tinha ido à escola. Ora, este
tonga criou uma cronologia que vem do ano de 1838 a 1905. Sabe
o que aconteceu em cada ano, desde 1959, e chegou, por si
mesmo, à concepção duma era. A sua era começa com a
emigração das tribos tongas para o Transvaal, em fuga perante
Manicusse, quando de regresso deste chefe angóni da Mussapa ou
do país de Gaza. Os Ncunas, Mavundjas, Psungos e outros clãs
dos Lhábis foram obrigados a refugiar-se nos Spelonken. Aqui
começa a era de Chinangana. Vários dos anos que se seguiram
têm um nome especial. Tive a sorte de interrogar Chinangana em
1905 e pude tomar nota, a ditado dele, dos pormenores da sua
cronologia. Depois de ter enumerado todos esses anos, ele conclui
clamando triunfalmente: “Todos estes anos depois do regresso de
98
Cap. 2: Fontes escritas
Manicusse fazem cinco centos, e três centos, e quatro meses!”.
Eis um caso muito curioso de historiografia indígena. Creio-o
único em toda a tribo tonga.... Como possuía aptidão notável para
esta espécie de cálculo, Chinangana desenvolveu o seu dom
natural. Tornou-se célebre e era consultado por todos que
desejavam conhecer a idade que tinham ou a data de qualquer
acontecimento.

Aritmética e educação (p.576, 577)

Desenvolver as capacidades naturais, os dons duma raça, deve ser o


fim de todo o sistema de educação. Mas é necessário, também, que ele
se esforce por remediar as suas deficiências e precisamente por o
sentido matemático ser tão rudimentar na maior parte dos indígenas é
que nas escolas se impõe um ensino desenvolvido da aritmética. O
método geralmente seguido é o da numeração europeia. É, a meu ver,
um plano racional, vista a complicação do sistema indígena; nenhum
trabalho de aritmética que exija precisão rigorosa seria possível com o
emprego dos nomes numerais indígenas. O perigo que se encontra no
ensino deste ramo de estudo, como noutros, é a tendência que os
alunos têm a contentarem-se com um trabalho puramente mecânico,
em que o raciocínio não desempenha papel.

Comentários e questões para reflexão

1. Concorda ou não com o argumento apresentado pelo autor para


justificar a sua caracterização da numeração Tonga: “triste
figura” (linha 2). Se se aplicasse o mesmo argumento, qual seria a
avaliação do sistema de numeração binária? Concordaria com
esta avaliação?
2. Nas linhas 6-7 o autor fala em “extremamente complicado”.
Complicado para quem? Para quê?
3. Como se pode classificar a numeração Tonga? Decimal? (cf.
linha 10)
4. Comente a utilização da expressão “sistema de números” na linha
21.
5. O leitor acha que se pode considerar um sistema de numeração
falada mais “desenvolvido” ou menos “desenvolvido” do que um
outro? Porquê? (cf. linhas 24-25, 44)
99
A Numeração em Moçambique
6. Uma tradução mais à letra (linhas 33-34) seria “Ora tu contas a
nós; vais nos diminuir?”. Será que se trata de um tabu pré-
colonial ou terá surgido no tempo colonial?
7. Acha que se pode falar em termos de um “sentido aritmético”?
8. Comente o parágrafo sobre “Aritmética e educação”.

100

  
2.15 Numerais na língua Changana
Fonte: Armando Ribeiro, Gramática Changana (Tsonga), Editorial
“Evangelizar”, Caniçado, 1965, p. 165-167, 175

Os numerais cardinais são os que exprimem o número das coisas,


das pessoas e dos animais.
Em changana há apenas oito palavras diferentes para exprimir todos
os numerais. São eles:

...ñwe um, uma


...mbirhi dois, duas
...nharu ou ...rharu três
mune quatro
nthlanu cinco
tchume dez
dzana cem
khulo mil

Estas palavras diferem quanto à natureza gramatical e, portanto,


também quanto à concordância, isto é, quanto ao modo de ligação
entre si e com palavras a que se referem.

a) Os três primeiros são adjectivos e por isso antepõe-se-lhes


sempre o prefixo nominal da classe do substantivo a que se
referem:
* ...ñwe leva o prefixo do singular;
* ...mbirhi e ...nharu ou rharu o prefixo do plural, e vão
sempre depois do substantivo. Os prefixos sofrem as
costumadas transformações:
munhu muñwe uma pessoa
vanhu vambirhi duas pessoas
nsinya wuñwe uma árvore
minsinya yinharu três árvores
homu yiñwe um boi
tihomu timbirhi dois bois
litiho liñwe um dedo

101
    
tintiho tinharu três dedos
lembe liñwe um ano
malembe manharu três anos
wurimba bziñwe uma armadilha
marimba mambirhi duas armadilhas
chicomu chiñwe uma enxada
bsikomu bsimbirhi duas enxadas
kuhanya kuñwe uma vida

b) Os restantes numerais são substantivos e têm portanto a sua


classe própria:

* mune e nthlanu pertencem à classe mu-mi e não têm plural.


Mune conserva o prefixo na sua forma regular mu, pois o
radical simples é ne. Nthlanu muda o prefixo mu em n.

* tchume, dzana e khulo pertencem à classe ri-ma e fazem no


plural: matchume, madzana e makhulo. No singular
desapareceu o prefixo nominal. Sendo substantivos, nunca
fazem a concordância por meio de prefixos nominais, mas
ligam-se por meio das partículas restritivas das respectivas
classes:
* mune e nthlanu pela partícula wa da classe mu-mi;
* tchume, dzana e khulo, pelas partículas ra e ya,
respectivamente singular e plural da classe ri-ma a
que pertencem.

Exemplos:

mune wa bsikomu quatro enxadas


nthlanu wa vavanuna cinco homens
tchume ra vavasati dez mulheres
dzana la tihomu cem bois
matchume mambirhi ya vafana vinte rapazes
madzana mambirhi ya timbuti duzentas cabras
khulo ra tinyempfu mil ovelhas
makhulo manharu ya vanhu três mil pessoas



  
Observações (p.175):

Como acabamos de ver, o modo de contar em changana é muito


deficiente e extremamente complicado:

* deficiente, pois apenas tem oito termos diferentes para expressar


todos os números;
* complicado, pois, para dizer por exemplo, 288 flores, que nós
exprimimos com seis palavras, emprega o changana 15:
madzana mambirhi ya bsiluva ni nthlanu wa matchume ni
matchume manharu ni nthlanu ni bsinharhu.

Pode-se no entanto com reflexão chegar a exprimir todos os números,


mesmo os mais elevados.
Hoje o indígena reconheceu a simplicidade e facilidade do nosso
sistema e emprega correctamente os nossos números na sua contagem,
geralmente ligados pela restritiva wa:
oitenta wa timbuti
noventa e sete wa tihomu
vinte cinco wa malembe.

Comentários e questões para reflexão

1. Comente as observações do autor sobre o modo de contar em


Changana.
2. No último parágrafo, onde o autor fala em “nosso sistema”, fica
bem patente que ele escreve para um público português. Termos
como “simples” e “complexo” podem ter um significado
objectivo? Ou dependem sempre do contexto?

103
A Numeração em Moçambique
2.16 Numerais em Tsonga (Changana)
Fonte: Bento Sitoe, Morfologia dos nominais dependentes II: O
sistema qualificativo em Tsonga, Cadernos Tsonga, nº 8,
Faculdade de Letras, Universidade Eduardo Mondlane,
Maputo, 1985, p.7-10 (revista pelo autor em 1993)

Em Tsonga há apenas oito termos para exprimir todos os


numerais (por combinações e adições destes oito), que são:
-n’we “um”; -mbirhi “dois”; -nharhu “três”; mune “quatro”;
ntlhanu”cinco”;khume “dez”; dzana “cem”; gidi ou khulu “mil”.
-n’we, -mbirhi e -nharhu comportam-se morfologicamente como
adjectivos e por isso recebem o prefixo nominal de concordância do
nome a que se referem:
munhu mun’we  uma pessoa
vanhu vanbirhi/vanhrarhu duas/três pessoas
øhuku yim’we  uma galinha
tihuku timbihri/tinharhu  duas/três galinhas
xifambu xin’we  um sapato
svifambu svimbihri/svinharhu  dois/três sapatos

Mune, ntlhanu, khume, dzana, gidi e khulu são nomes. Ligam-se aos
nomes que quantificam com o emprego do extra prefixo de
dependência da classe a que estes numerais pertencem e adicionam-se
por meio da conjunção ni ou na.
Mune e ntlhanu pertencem ao género mu-mi (classes 3 e 4):
Mune wa malembe quatro anos
Ntlhanu wa timbuti cinco cabritos
Eka makume mambirhi kuna em vinte quantos ‘cincos’
mintlhanu yingani? há?

Khume, dzana, gidi e khulu são do género ri-ma (classes 5 e 6):


Khume ra masaka dez sacos
Madzana mambirhi ya tibuku duzentos livros
Gidi ra vanhu mil pessoas
104

  
Makhulu ya svisiwana  milhares de pobres

Exemplos do sistema de contagem, com um nome do género yi-ti


(classes 9 e 10), buku (livro):

1 livro buku yin’we


2 livros tibuku timbirhi
3 livros tibuku tinharu
4 livros mune wa tibuku
5 livros ntlhanu wa tibuku
6 livros ntlhanu wa tibuku ni yin’we
(cinco livros e um)
7 livros ntlhanu wa tibuku ni timbirhi
8 livros ntlhanu wa tibuku ni tinharhu
9 livros ntlhanu wa tibuku na mune
10 livros khume ra tibukhu
11 livros khume ra tibuku ni yin’we (dez livros e um)
12 livros khume ra tibuku na timbirhi
15 livros khume ra tibuku ni ntlhanu
16 livros khume ra tibuku ni ntlhanu ni yin’we
(dez livros e cinco e um)
20 livros makume mambirhi ya tibuku
21 livros makume mambirhi ya tibuku ni yin’we
30 livros makume manharhu ya tibuku
60 livros ntlhanu wa makume ni (kume) rin’we ya tibuku
61 livros ntlhanu wa makume ni rin’we rin’we ya tibuku ni
yin’we
70 livros ntlhanu wa makume ni (makume) mambirhi ya
tibuku
99 livros ntlhanu wa makume ni mune ya tibuku ni ntlhanu
ni yin’we
100 livros dzana ra tibuku
101 livros dzana ra tibuku ni yin’we
106 livros dzana ra tibuku ni ntlhanu ni yin’we
199 livros dzana ra tibuku ni ntlhanu ni mune wa makume ni
ntlhanu ni mune
200 livros madzana mambirhi ya tibuku
213 livros madzana mambirhi ya tibuku ni khume ni tinharhu

105
    
345 livros madzana manharhu ya tibuku ni mune wa makume
ni ntlhanu
900 livros ntlhanu wa madzana ni mune (wa madzana) ya
tibuku
999 livros ntlhanu wa madzana ni mune ya tibuku ntlhanu wa
makume ni mune ni ntlhanu ni mune
1000 livros gidi ra tibuku (ou khulu ra tibuku)
1100 livros gidi ra tibuku ni dzana
1111 livros gidi ra tibuku ni dzana ni khume ni yin’we
1985 livros gidi ra tibuku ni ntlhanu wa madzana ni mune ni
ntlhanu wa makume ni manharhu na ntlhanu
100000 livros dzana ra magidi ra tibuku
1000000 gidi ra magidi ya tibuku 
livros

Além desta forma de composição dos numerais em que eles


antecedem o nome, pode-se usar a forma em que o nome antecede o
numeral e, neste caso, o extra prefixo de dependência é o do nome
quantificado:

Tibuku ta mune/ Mune wa tibuku  quatro livros


Svifambu sva ntlhanu wa makume ni sessenta sapatos
rin’we/
Ntlhanu wa makume ni (kume) rin’we ya
svifambu 

Esta combinação dos oito termos para expressar todos os


numerais é analítica. O “Tsonga Terminology and Ortography nº 3”
regista um outro sistema de contagem em changana que é sintético e
tem a vantagem de que os numerais entre 5 e 10 também são expressos
pelo seu próprio termo, nomeadamente, tsevu “seis”, nkombo “sete”,
nhungu “oito” e kaye “nove”. São nomes do género mu-va (classes 1 e
2). Neste sistema de contagem, há ligeiras diferenças no modo como
os termos são combinados na composição dos numerais, como se pode
observar nos exemplos que se seguem:

6 livros: tibuku ta tsevu 


7 livros: tibuku ta nkombo



  
8.livros: tibuku ta nhungu
9 livros: tibuku ta kaye
10 livros: tibuku ta khume
11 livros: tibuku ta Khumen’we
12 livros: tibuku ta khumembirhi
15 livros: tibuku ta khumentlhanu
16 livros: tibuku ta khumetsevu
20 livros: tibuku ta khummbirhi/makumembirhi
21 livros: tibuku ta khumbirhin’we/makumenbirhin’we
30 livros:  tibuku ta khunharhu/makumenharhu
90 livros: tibuku ta Khukaye/makhumekaye
100 livros: tibuku ta dzana
101 livros: tibuku ta dzanariwe
113 livros: tibuku ta dzana khumenharhu
500 livros: tibuku ta dzantlhanu/madzanantlhanu
1000 livros: tibuku ta gidi
1111 livros: tibuku ta gidi dzana khumen’we
100 000 livros: tibuku ta dzagidi/ magididzana

 107
    
Mapa 14
Distribuição geográfica dos falantes da língua
Ronga

Tanzania

Malawi

Zambia

Zimbabwe

Oceano Indico

Africa do Sul

Suazilandia



  
2.17 Numerais na língua Ronga
Fonte: José L. Quintão, Gramática de Xironga (Landim), Agência
Geral das Colónias, Lisboa, 1951, p. 73-75

Em xironga, só temos os numerais de 1 a 5: ñwe, birji, rjarju,


mune, nthanu; temos, além destes, uma dezena: khume, e uma centena:
dzana.
Com estes numerais formam-se todos os outros números. Ñwe,
birji e rjarju, são adjectivos pertecentes à 2ª série. Mune, nthanu, são
substantivos pertencentes à classe mu-mi. Kume (pl. makume, sem
aspiração), dzana, são substantivos pertecentes à classe dji-ma.
Exemplo com um nome da 3ª cl. (yi-ti): huku, galinha.

1 (huku) yiñwe
2 (tihuku) tibirji
3 (tihuku) tirjarju
4 mune wa (tihuku)
5 nthanu wa...
6 nthanu wa ... na yiñwe
7 nthanu wa ... na tibirji
8 nthanu wa ... na tirjarju
9 nthanu na mune wa (tihuku)
10 khume dja (tihuku)
11 khume dja ... na yiñwe
12 khume dja ... na tibirji
13 khume dja ... na tirjarju
14 khume na mune wa (tihuku)
15 khume na nthanu wa (tihuku)
16 khume na ntlhanu wa ... na yiñwe
17 khume na ntlhanu wa ... na tibirji
18 khume na ntlhanu wa... na tirjarju
19 klhume na ntlhanu na mune wa (tihuku)
20 makume mabirji ya (tihuku)
21 makume mabirji ya ... na yiñwe.
22 makume mabirji ya ... na tibirji
23 makume mabirji ya ... na tirjarju

109
    
24 makume mabirji na mune wa (tihuku)
25 makume mabirji na nthanu wa (tihuku)
26 makume mabirji na nthanu wa ... na yiñwe
27 makume mabirji na nthanu wa ... na tibirji
28 makume mabirji na nthanu wa ... na tirjarju
29 makume mabirji na nthanu na mune wa (tihuku)
30 makume marjarju ya (tihuku)
40 mune wa makume ya (tihuku)
50 mthanu wa makume ya (tihuku)
60 nthanu wa makume na khume djiñwe dja ...
70 nthunu wa makume na makume mabirji ya ...
80 nthanu wa makume na makume marjarju ya ...
90 nthanu wa makume na mune wa makume ya ...
99 nthanu wa makume na mune wa makume na nthanu na
mune wa
100 dzana dja tihuku
101 dzana dja (tihuku) na yiñwe
120 dzana na makume mabirji ya ...
150 dzana na nthanu wa makume ya ...
200 madzana mabirji ya ...
300 madzana marjarju ya ...
400 mune wa madzana ya ...
500 nthanu a madzana ya ...
600 nthanu wa madzana na dzana djiñwe dja ...
700 nthanu wa madzana na madzana mabirji ya ...
800 nthanu wa madzana na maryarju wa madzana ya ...
900 nthanu wa madzana na mune wa madzana ya ...
1000 khume dja madzana ya..., etc.

Quando os números são substantivos pode fazer-se a construção de


duas maneiras:
nthanu wa tihomu ou tihomu ta nthanu - 5 bois
khume dja bsilembe ou bsilembe bsa khume - 10 chapéus
nthanu wa tihomu na tihomu tibirji - 7 bois, ou
tihomu ta nthanu na tibirji - 7 bois
Contudo o primeiro processo é mais seguido.



  
Nota:
A gente nova diz bidji em vez de birji, parecendo que birji seja um
som de transição.
rjarju, também muita gente a substitui por nharju.

111

A Numeração em Moçambique
Mapa 15
Distribuição geográfica dos falantes da língua
Swazi

Tanzania

Malawi

Zambia

Zimbabwe

Oceano Indico

Africa do Sul

Suazilandia

112
Cap. 2: Fontes escritas
2.18 Numerais na língua Swazi
Fonte: D. Ziervogel, Grammar of Swazi, Witwatersrand University
Press, Johannesburgo, 1952, p.53-54

O adjectivo “enumerativo”

a. Os adjectivos pertencentes ao primeiro grupo do adjectivo


“enumerativo” são os numerais de 2 a 5 juntamente com -ngaki.
Têm as mesmas concordâncias que os adjectivos “predicativos”
e não diferem deles na forma, mas somente no significado e no
tom. O significado transmitido por estes adjectivos é também
“atributivo” sem, no entanto, transmitir uma proposição relativa.
Compare:

tinkomo timbili duas vacas


tinkomo timbili as vacas são duas
tinkomo letimbili vacas que são duas; duas vacas
utsenge tintsatfu tinkabi ele comprou três vacas
ngibite bangaki bafana? quantos rapazes devo chamar?

b. As raízes enumerativas adjectivais -nye (um), -ni? (de que


género?) e -phi? (que?, quais?) diferem das raízes acima
mencionadas nos aspectos seguintes:
i. têm concordâncias diferentes para as classes 9 e 10;
ii. têm uma forma copulativa especial.
Estas três raízes assumem as formas seguintes com as suas
concordâncias:

classe
1 munye muni muphi
2 banye bani baphi
3 munye muni muphi
4 minye mini miphi
5 linye lini liphi
6 manye mani maphi
7 sinye sini siphi
113
    
8 tinye tini tiphi
9 (y)inye (y)nii (y)iphi
10 tinye tini tiphi
11 lunye luni luphi
14 bunye buni buphi
15 kunye kuni kuphi
17 kunye kuni kuphi

Compare: munye umfana (um rapaz), munye umfana (o rapaz é um),


mas:
umfana lomunye (mais um rapaz)
luhlobo luni? (que tipo?, que género?)
muphi umfana? (qual rapaz?)



  
Mapa 16
Distribuição geográfica dos falantes da língua
Zulu

Tanzania

Malawi

Zambia

Zimbabwe

Oceano Indico

Africa do Sul

Suazilandia

115
    
2.19 Numerais na língua Zulu
Fonte: Clement Doke, Textbook of Zulu grammar, Longmans
Southern Africa (1927), Johannesburgo, 1968, p. 325-327

1 -nye. O numeral para “um” é usado duma maneira bastante


única. Associado com ele em formação concordial há apenas
três outras raízes Zulu, -phi? (quais?), -ni? (que?) e -mbe (um
diferente).

classe classe
1 umuntu munye 5 inkabi inye
2 umuthi munye 6 uthi lunye
3 i:hashi linye 7 ubuso bunye
4 isilo sinye 8 ukudla kunye

Os numerais adjectivais (usados com concordâncias adjectivais):

2 -bili
3 -thathu
4 -ne
5 -hlanu

ababili emibili amabili ezimbili obubili okubili


abathathu emithathu amathathu ezinthathu obuthathu okuthathu
abane emine amane ezine obune okune
abahlanu emihlanu amahlanu ezinhlanu obuhlanu okuhlanu

Para exprimir o numeral “cinco”, utiliza-se também frequentemente a


construção relativa com o substantivo isihlanu. Assim: abantu
abayisihlanu., etc.
Os numerais relativos (a raiz do substantivo é conjugada para ficar um
copulativo, e o resultante é usado com as concordâncias relativas):

6 isithupha (lit. o polegar)


abantu abayisithupha (seis pessoas)
imithi eyisithupha (seis árvores)
amahashi ayisithupha (seis cavalos)


  
izinto eziyisithumpha (seis objectos)
ubuso obuyisithumpha (seis caras)
ukudla okuyisithumpha (seis refeições)

7 isikhombisa (lit. o indicador)


abantu abayisikhombisa (sete pessoas)
imithi eyisikhombisa (sete árvores)
izinto eziyisikhombisa (sete objectos)

8 isishiyagalombili (lit. o deixar de dois dedos)


abantu abayisishiyagalombili (oito pessoas)
amahashi ayisishiyagalombili (oito cavalos)

9 isishiyagalolunye (lit. o deixar de um dedo)


ukukhanya okuyisishiyagalolunye (nove luzes)

10 i:shumi (um grupo de dez)


abantu abali:shumi ou abantu abayi:shumi ou abantu
abayilishumi (dez pessoas)
amahashi ayi:shumi (dez cavalos)
izinto ezili:shumi (dez objectos)

Em algumas zonas utiliza-se isibhozo para 8, e i:thoba para 9.

Numerais compostos:

11 i:shumi nanye


12 i:shumi nambili
13 i:shumi nantathu
14 i:shumi nane
15 i:shumi nanhlanu ou i:shumi nesihlanu
16 i:shumi nesithupha
17 i:shumi nesikhombisa
18 i:shumi nesishiyagalombili
19 i:shumi nesishiyagalolunye
20 amashumi amabili
21 amashumi amabili nanye
22 amashumi amabili nambili
117
    
26 amashumi amabili nesithupha
29 amashumi amabili nesishiyagalolunye
30 amashumi amathathu
40 amashumi amane
50 amashumi amahlanu ou amashumi ayisihlanu
60 amashumi ayisithupha
70 amashumi ayisikhombisa
80 amashumi ayisishiyagalombili
90 amashumi ayisishiyagalolunye
99 amashumi ayisishiyagalolunye nesishiyagalolunye
100 i:khulu
458 amakhule amane namashumi ayisihlanu
nesishiyagalombili
1000 inkulungwane

Exemplos:
abantu abali i:shumi nanye (onze pessoas)
izinkomo ezingamashumi amabili (20 vacas)
amakhosi aamashumi (ou angamashumi) amabili (20 chefes)
amabutho ayi:khulu (100 soldados)
imithi eyinkulungwane (mil árvores)
amabutho ayizinkulungwane eziyisikhombisa namakhulu
ayisithupha namashumi ayisishiyagalolunye nane (7694
soldados)


Cap. 3: Fontes orais

Capítulo 3
Fontes orais sobre a numeração e a contagem em
Moçambique

3.1 Quadros da numeração falada nas línguas bantu de


Moçambique

119
A Numeração em Moçambique

Swahili Makonde Yao


1 moja mo mo
2 mbili bili, vili widi, wili
3 tatu natu, tatu tatu
4 nne ncheche mcheche
5 tanu nwanu msano
6 sita mwanu na mo msano na mo
7 saba mwanu na bili msano na widi
8 nane mwanu na natu msano na tatu
9 tisa mwanu na msano na
ncheche mcheche
10 kumi kumi kumi
11 kumi na kumi na mo kumi kwisa mo
moja
12 kumi na kumi na bili kumi kwisa widi
mbili
13 kumi na tatu kumi na natu kumi kwisa tatu
14 kumi na nne kumi na ncheche kumi kwisa
mcheche
15 kumi na tanu kumi na mwanu kumi kwisa
msano
16 kumi na sita kumi na mwanu kumi kwisa
na mo msano na mo
17 kumi na kumi na mwanu kumi kwisa
saba na bili msano na widi
18 kumi na kumi na mwanu kumi kwisa
nane na natu msano na tatu
19 kumi na tisa kumi na mwanu kumi kwisa
na ncheche msano na
mcheche

120

 
Swahili Makonde Yao
20 ishirini makumi mabili makumi mawidi
30 salasini makumi manatu makumi matatu
40 arbaini makumi ncheche makumi
mcheche
50 amsini makumi mwanu makumi msanu
60 sitini makumi mwanu makumi msano
na mo na mo
70 sabini makumi mwanu makumi msano
na mabili na widi
80 samanini makumi mwanu makumi msano
na manatu na tatu
90 tisaini makumi mwanu makumi msano
na mcheche na mcheche
100 mia imiya lichila
200 mia mbili dimia mbili machila mawidi
1000 elfu yelupo machila makumi

121
    

 Mwani Makhuwa / Cóti


Lóhmé
1 m’moja mosa móti
2 mbire pili piri
3 natu tharu, raru tathú
4 n’né sheshe nne
5 n’tano thanu thánu
6 sita thanu na mosa sithá
7 saba thanu na pili sabá
8 nane thanu na tharu nane
9 khénta thanu na sheshe tísya
10 kume mulockó khumi
11 kume na mulockó na mosa khumi na móti
m’moja
12 kume na mulockó na pili khumi na piri
mbire
13 kume na mulockó na tharu khumi na tathú
natu
14 kume na mulockó na khumi na nne
n’né sheshe
15 kume na mulockó na khumi na thánu
n’tano thanu
16 kume na sita mulockó na khumi na sithá
thanu na mosa
17 kume na mulockó na khumi na sabá
saba thanu na pili
18 kume na mulockó na khumi na nane
nane thanu na tharu
19 kume na mulockó na khumi na tísya
khénta thanu na sheshe



 
Mwani Makhuwa / Cóti
Lóhmé

20 shirini milockó mili eshirini


30 talatini milockó miraru talathini
40 arubaine milockó misheshe arubaini
50 amusine milockó mithanu hamusini
60 sitine milockó mithanu sithini
na mosa
70 sabine milockó mithanu sabini
na mili
80 tamanine milockó mithanu thamanini
na miraru
90 tusuine milockó mithanu tuswini
na misheshe
100 mia emia mia
200 mia mbire emia pili mia piri
1000 álufu álufu, emia álufu
mulockó

123
    

 Nyanja Lolo Chuwabo


1 modzi moy modha
2 wiri m’bily bili
3 tatu taru tharu
4 nai nay nai
5 sanu tanu tanu
6 sanu ndi modzi tanu na moy tanu na modha
7 sanu ndi wiri tanu na m’bily tanu na bili
8 sanu ndi tatu tanu na taru tanu na tharu
9 sanu ndi nai tanu na nay tanu na nai
10 khumi kumi kumi
11 khumi ndi modzi kumi na moy kumi na modha
12 khumi ndi wiri kumi na m’bily kumi na bili
13 khumi ndi tatu kumi na taru kumi na tharu
14 khumi ndi nai kumi na nay kumi na nai
15 khumi ndi sanu kumi na tanu kumi na tanu
16 khumi ndi sanu kumi na tanu na kumi na tanu na
ndi modzi moy modha
17 khumi ndi sanu kumi na tanu na kumi na tanu na
ndi wiri m’bily bili
18 khumi ndi sanu kumi na tanu na kumi na tanu na
ndi tatu taru tharu
19 khumi ndi sanu kumi na tanu na kumi na tanu na
ndi nai nay nai

124

 

Nyanja Lolo Chuwabo


20 makhumi awiri makumely makumi meli
30 makhumi atatu makumi mataru makumi matharu
40 makhumi anai makumi manay makumi manai
50 makhumi asanu makumi matanu makumi matanu
60 makhumi asanu makumi matanu makumi matanu
ndi modzi na moy na modha
70 makhumi asanu makumi matanu makumi matanu
ndi wiri na mely na meli
80 makhumi asanu makumi matanu makumi matanu
ndi tatu na mataru na matharu
90 makhumi asanu makumi matanu makumi matanu
ndi nai na manay na manai
100 dzana zana zana
200 madzana awiri makumely makumi meli
1000 cikwi, madzana makumi mataru makumi matharu
khumi

125
    

 Dema Nyungwe Sena


1 posi posi posi
2 piri piri piri
3 tatu tatu tatu
4 nai nai nai
5 xanu xanu xanu
6 tanthatu tandhatu thandatu
7 nomwe cinomwe xinomwe
8 sere sere sere
9 pfemba pfemba femba
10 khumi khumi khumi
11 khumi na posi khumi na posi khumi na posi
12 khumi na piri khumi na piri khumi na piri
13 khumi na tatu khumi na tatu khumi na tatu
14 khumi na nai khumi na nai khumi na nai
15 khumi na xanu khumi na xanu khumi na xanu
16 khumi na khumi na khumi na
tanthatu tandhatu thandatu
17 khumi na nomwe khumi na khumi na
cinomwe xinomwe
18 khumi na sere khumi na sere khumi na sere
19 khumi na pfemba khumi na pfemba khumi na femba

126

 

Dema Nyungwe Sena


20 makhumi mawiri makhumi mawiri makhumimawiri
30 makhumi matatu makhumi matatu makhumi matatu
40 makhumi manai makhumi manai makhumi manai
50 makhumi maxanu makhumi maxanu makhumi
maxanu
60 makhumi makhumi makhumi
matanthatu matandhatu matant’atu
70 makhumi makhumi makhumi
manomwe manomwe manomwe
80 makhumi masere makhumi masere makhumi masere
90 makhumi makhumi makhumi
mapfemba mapfemba mafembamwe
100 dzana dzana dzana
200 dzana mairi madzana mawiri madzana mawiri
1000 culu culu cikwi

127
    

 Senga Shona / Ndau Tshwa


1 mo posi, possa nwe
2 wiri piri mbiri
3 tatu tatu nharu
4 nai cina mune
5 sanu shanu ntchanu
6 sanu na mo tandhatu ntchanu ni nwe
7 sanu na wiri nomwe ntchanu ni mbiri
8 sanu na tatu sere ntchanu ni nharu
9 sanu na nai pfemba, ntchanu ni mune
pfumbamwe
10 kumi gumi khume
11 kumi na mo gumi na posi khume ni nwe
12 kumi na wiri gumi na piri khume ni mbiri
13 kumi na tatu gumi na tatu khume ni nharu
14 kumi na nai gumi na cina khume ni mune
15 kumi na sanu gumi na cina khume ni
ntchanu
16 kumi na sanu na gumi na tandhatu khume ni
mo ntchanu ni nwe
17 kumi na sanu na gumi na nomwe khume ni
wiri ntchanu ni mbiri
18 kumi na sanu na gumi na sere khume ni
tatu ntchanu ni nharu
19 kumi na sanu na gumi na pfemba khume ni
nai ntchanu ni mune

128

 

Senga Shona / Ndau Tshwa


20 makumi awiri magumi mairi makhume
mambiri
30 makumi atatu magumi matatu makhume
manharu
40 makumi anai magumi mana mune wa
makhume
50 makumi asanu magumi mashanu tlhanu wa
makhume
60 makumi asanu na magumi tlhanu wa
imo matanthatu makhume ni nwe
70 makumi asanu na magumi tlhanu wa
awiri manomwe makhume ni
mambiri
80 makumi asanu na magumi masere tlhanu wa
atatu makhume ni
manharu
90 makumi asanu na magumi tlhanu wa
anai mapfemba makhume ni
mune
100 makumi-kumi zana dzana
200 makumi kumi mazana mairi madzana
awiri mambiri
1000 makumi- cihuru khume ga
kumikumi madzana

129
    

 Tsonga / Changana Gitonga


1 n’we mwe
2 mbirhi mbili
3 nharu tharu
4 mune na
5 ntlhanu libhandre
6 ntlhanu ni n’we libhandre na mwe
7 ntlhanu ni mbirhi libhandre na mbili
8 ntlhanu ni nharu libhandre na tharu
9 ntlhanu ni mune libhandre na na na
10 khume khumy
11 khume ni n’we khumy na mwe
12 khume ni mbirhi khumy na mbili
13 khume ni nharu khumy na tharu
14 khume ni mune khumy na na
15 khume ni ntlhanu khumy na libhandre
16 khume ni ntlhanu ni khumy na libhandre
n’we na mwe
17 khume ni ntlhanu ni khumy na libhandre
mbirhi na mbili
18 khume ni ntlhanu ni khumy na libhandre
nharu na tharu
19 khume ni ntlhanu ni khumy na libhandre
mune na ne



 

Tsonga / Changana Gitonga


20 makume mambirhi makhumy mavili
30 makume manharhu makhumy mararu
40 mune wa makume makhumy mana
50 ntlhanu wa makume libhandre makhumy
60 ntlhanu wa makume libhandre na mwe
ni n’we makhumy
70 tlhanu wa makume ni libhandre na mavili
mambirhi makhumy
80 tlhanu wa makume ni libhandre na mararu
manharhu makhumy
90 tlhanu wa makume ni libhandre na mana
mune makhumy
100 dzana dzana
200 madzana mambirhi madzana mavili
1000 khulu likhumi madzana

131
    

 Chope Ronga
1 mué -ñwe
2 mbiri birji
3 raru rjarju
4 mune mune
5 ntchanu nthanu
6 ntchanu ni mué nthanu ni -ñwe
7 ntchanu ni mbiri nthanu ni birji
8 ntchanu ni raru nthanu ni rjarju
9 ntchanu ni mune nthanu ni mune
10 gume khume
11 gume ni mué khume ni -ñwe
12 gume ni mbiri khume ni birji
13 gume ni raru khume ni rjarju
14 gume ni mune khume ni mune
15 gume ni ntchanu khume ni nthanu
16 gume ni ntchanu ni khume ni nthanu ni -
mué ñwe
17 gume ni ntchanu ni khume ni nthanu ni
mbiri birji
18 gume ni ntchanu ni khume ni nthanu ni
raru rjarju
19 gume ni ntchanu ni khume ni nthanu ni
mune mune



 

Chope Ronga
20 makume mambidi makume mabirji
30 makume mararu makume marjarju
40 mune uà makume mune wa makume
50 ntchanu uà makume thanu wa makume
60 ntchanu uà makume thanu wa makume na
khume
70 ntchanu uà makume thanu wa makume na
makume mabirji
80 ntchanu uà makume thanu wa makume na
makume marjarju
90 ntchanu uà makume thanu wa makume na
mune wa makume
100 dzana dzana
200 madzana mabidi madzana mabirji
1000 khulu khume dja madzana

133
    
3.2 Métodos populares de contagem em Moçambique 1

Introdução

No contexto do Projecto de Investigação ‘Etnomatemática’ e


enquadrado no capítulo sobre os “Sistemas de numeração e práticas de
contagem” na disciplina de “Matemática na História” leccionada pelo
Professor Paulus Gerdes e com a assistência dos docentes Maurício
Nhancolo (falecido), Daniel Soares, Abdulcarimo Ismael e Marcos
Cherinda, nos cursos de Licenciatura em Ensino da Matemática e
Física, e no curso de Licenciatura em Educação Matemática do Ensino
Primário na Universidade Pedagógica, em Maputo, e na sua Delegação
na Beira respectivamente, realizou-se um inquérito sobre “métodos
populares de contagem em Moçambique” no seio dos estudantes dos
cursos atrás referidos (anos 1989-1992). Idêntico inquérito foi
realizado em 1992 no Instituto Médio Pedagógico em Nampula.
Em seguida apresentam-se algumas das informações recolhidas
nos referidos inquéritos.

A contagem por nós

A contagem por nós pode ser encontrada em várias províncias de


Moçambique e é utilizada em diversos contextos, dos quais se
destacam a contagem dos meses do ano, duração de grandes caçadas,
idade de pessoas e tempo de gravidez, nas Províncias de Cabo Delgado
e Nampula; a contagem de animais domésticos, tais como bois,
cabritos e galinhas, e de animais de caça nas Províncias de Maputo e
Nampula.
Na Província de Cabo Delgado, malundu (língua makonde) é um
método de contagem através de nós. A própria palavra malundu, cujo
singular é vilundo, significa nó(s). Este método é usado para indicar
os meses do ano, a idade de crianças e o tempo de duração de longas
caçadas.

1
Elaborado por Abdulcarimo Ismael e Daniel Soares na base de um
inquérito realizado no seio de estudantes da Universidade
Pedagógica.


 
Milundu é usado também para contar os meses de gravidez duma
mulher; assim se consegue determinar o período do parto, que é depois
de 9 meses. Vilundu é também usado para controlar a duração de
construção duma casa, a duração do desenvolvimento duma criança até
se sentar, andar, etc.
Para grandes caçadas que normalmente duravam mais do que
uma semana, as pessoas daquela região do país levavam uma peça de
capulana ou corda de aproximadamente um metro. Para cada dia que
passava era feito um nó naquela peça, de tal forma que no fim de
caçada se contavam o número de nós e se sabia quanto tempo tinha
levada a caçada. Nalgumas regiões de Cabo Delgado onde se nota
uma certa influência da religião Islâmica, o método malundu é usado
na contagem de meses do calendário Islâmico. Para se saber quando é
o mês de jejum, ou seja o mês de Ramadan, toma-se como referência o
período anterior de jejum. Quando a lua nova aparece, imediatamente
depois do mês de jejum, é feito um nó; nos meses seguintes são feitos
nós de cada vez, até se terem 11 nós; o 12º nó corresponde então ao
novo mês de jejum. Malundu é também usado para controlar a idade
duma criança. Assim, se uma criança nasce no 5º mês do calendário
Islâmico, só se faz um vilundo passados 12 meses lunares, ou seja
quando aparece o 5º mês seguinte.
Nluthó ou Nlutché (língua makhuwa-lomwé), que também
significa “nó”, é um método de contagem em nós utilizado na
Província de Nampula, fundamentalmente para contar animais
domésticos e também nalguns casos para a contagem do tempo. Neste
caso concreto conta-se o tempo que vai da data da morte duma pessoa
até 40 dias, altura em que se deve fazer a cerimónia do defunto
denominada “Arybaini” (em língua árabe), segundo a religião
Islâmica. Após o falecimento vão-se fazendo nós numa corda para
cada dia que passa, o que permite saber-se exactamente o dia da
cerimónia do defunto.
No caso de contagem de animais domésticos os nós são feitos
numa corda; na corda são atados tantos nós quantas cabeças de gado
existem no curral. Quando, de manhã cedo o gado vai ao pasto, é
contado à medida que sai do curral através dos nós, e ao anoitecer,
depois do pasto, o gado é novamente contado à medida que vai
entrando no curral. Deste modo pode-se fazer um controle exacto do
gado. De realçar que este método é também usado para a contagem e

135
A Numeração em Moçambique
controle de quantidades de outro tipo de animais domésticos tais como
cabritos, galinhas, patos, etc.
Há factos que nos levam a crer que este método de contagem era
utilizado em vários outros contextos. Em Nampula era utilizado por
trabalhadores assalariados para a contagem dos dias de trabalho, o que
lhes permitia depois comparar com o salário que recebiam e saber se o
salário era real ou não.
Fundzu ou mafundzu (língua ronga), é uma forma de contar por
nós, vulgarmente utilizada na província de Maputo para contar animais
que uma família possui. Para cada cabeça de gado que certa família
possuísse, esta fazia um nó numa corda de sisal; o número de nós
correspondia ao número de cabeças de gado. Se nascessem mais
animais, eram feitos mais nós na corda; se morressem, por doença, ou
se fossem abatidas para o consumo, ou se fossem vendidas tantas
cabeças, era desatado um número correspondente de nós. No caso
duma família que possuísse mais do que uma espécie de animais
domésticos, existia uma corda para cada espécie.

A contagem por pedrinhas

A contagem por pedrinhas pode ser encontrada em várias partes


de Moçambique, em particular nas Províncias de Gaza e Tete.
Xiguama xa xibala (língua changana), refere-se a um cesto que
contém pedrinhas. Trata-se de um método de contagem utilizado na
província de Gaza para controlar a quantidade de animais no curral. O
pastor dirige-se diariamente ao curral com o seu xiguama xa xibala
para controlar o número de cabeças de gado; ele tira um por um os
animais do curral, ao mesmo tempo que vai tirando pedrinhas, também
uma por uma, do cesto, colocando-as em fila no chão. Se resta alguma
pedrinha no saco significa que está a faltar algum animal que pode ter-
se perdido ou ter ido para outro curral. O pastor pode sempre saber
quantos animais há no curral. No caso em que se nota que existem
mais animais do que as pedrinhas pode-se concluir que houve
reprodução ou há lá animais de outros currais.
Mwala ou Myala (língua senga), que significa pedra, é uma
forma de contagem geralmente utilizada para a contagem de animais
domésticos, tais como galinhas, cabritos, patos, etc. Este método é
136
Cap. 3: Fontes orais
utilizado na Província de Tete. Todas as manhãs é feito o controle por
alguém, um rapaz ou uma menina, que seja um membro da família.
Ele(a) dirige-se ao estábulo ou curral onde se encontram os animais, na
altura em que estes saem para o pasto; com um número de pedrinhas
ele(a) vai pondo um pedrinha no chão ou passando-a duma mão para
outra, à medida que os animais vão saindo. No fim ele(a) leva as
pedrinhas correspondentes ao número de animais que foram ao pasto.
Ao anoitecer, quando os animais se dirigem ao estábulo ou curral, é
repetido o processo com as pedrinhas levadas naquela manhã. Assim
que se nota que restam algumas pedrinhas, isto significa que estão a
faltar alguns animais e assim ele(a) vai logo procurá-los. Se ele(a) se
apercebe que há mais animais do que pedrinhas, vai imediatamente
verificar se há de facto mais animais, se houve reprodução, ou se
algum vizinho teria perdido alguns dos seus animais.

A contagem por tracinhos

A contagem por tracinhos é encontrada em diferentes contextos


nas Províncias de Zambézia, Gaza, Inhambane e Nampula.
Mulobuó , plural milobuó (língua chuabo), que significa “parte
duma folha de palmeira”, é um método de contagem utilizado por
camadas jovens na Província da Zambézia para a contagem dos golos
de cada equipa, num jogo de futebol. Deste modo consegue-se saber
qual é a equipa vencedora.
Toma-se uma folha de palmeira e divide-se em duas partes iguais,
correspondente a cada equipa em campo; cada uma destas partes
chama-se mulobuó. Cada mulobuó fica na posse do capitão de cada
uma das equipas. À medida que o jogo vai decorrendo, por cada golo
que é marcado é feito um tracinho no mulobuó na presença do capitão
da outra equipa para se evitarem irregularidades. No fim do jogo as
equipas encontram-se para comparar os milobuó (plural) e a equipa
que tiver mais tracinhos no Mulobuó ganha o jogo. Acontece que às
vezes não há tempo para se contarem os tracinhos. Nestes casos
apenas se compara o comprimento da parte dos Milobuó que contém
os tracinhos e a equipa que tiver maior comprimento ganha o jogo.
Swivati (língua changana) é uma forma de contagem geralmente
usada para a contagem da quantidade de dinheiro ou de animais paga
como lobolo. Este método é frequente na Província de Gaza e consiste
137
A Numeração em Moçambique
no seguinte: para cada animal, que pode ser boi, cabrito, galinha ou
pato, ou para cada nota de 100 meticais (ou escudos antigamente), é
feita uma marca, um tracinho no tronco da árvore mais próxima da
casa, de preferência a mais alta e de longa vida. Cada grupo de
marcas, cada grupo de swivati, o que corresponde a cada lobolo, pode
depois ser sempre consultado.
Na Província de Inhambane utilizavam-se tracinhos para indicar
as idades das pessoas, na contagem do número de animais num curral,
do número de animais mortos na caça, etc.
Depois do nascimento duma criança as pessoas geralmente
dirigem-se a uma árvore grande e antiga e lá fazem um risco no tronco
desta com um golpe de catana ou faca; o golpe representa então essa
ocorrência. Em cada ano seguinte é feito um risco diferente, e assim
sucessivamente até a criança atingir a maturidade, ou seja, no contexto
cultural considerado, quando a criança atinge o momento em que pode
velar pela sua própria vida; no caso de rapaz, quando trabalha, e no
caso da rapariga, quando se casa.
A contagem de animais por este método é feita da mesma
maneira do que para a idade de pessoas, isto é, para cada animal
existente é feito um risco no tronco duma árvore ou num ramo de
tronco. O número de riscos ou tracinhos no tronco ou ramo de árvore
corresponde assim ao número de animais existentes no curral.
O ramo contendo os tracinhos ou riscos que indicam a quantidade
dos animais é depois entregue ao chefe da família para controlar os
animais. No caso de se verificar uma reprodução é levado o ramo e são
feitos nele tantos riscos quantos animais nasceram. No entanto no caso
de morte ou abate de algum animal do curral, o nosso inquérito não
conseguiu apurar qual era o procedimento para efeitos de controle. De
realçar que para cada espécie de animais existe um ramo ou tronco
diferente para evitar confusões.
Na caça é levado sempre um pau e nele é marcado um risco para
cada animal que é apanhado.
Walaca ou Walakela (língua makhuwa) é uma forma geralmente
usada para contar o número de pontos de cada equipa num jogo de
cartas denominado Nthezó. Este método é usado em algumas regiões
da Província de Nampula.

138
Cap. 3: Fontes orais
O jogo de cartas Nthezó é um dos mais populares divertimentos
em regiões da Província de Nampula tais como Memba e Ilha de
Moçambique. Antes do início de cada jogo é feito, numa folha de
papel, um desenho para cada equipa. Este desenho consiste em três
tracinhos com mais ou menos a mesma medida que se intersectam no
meio, formando assim, mais ou menos, diagonais dum hexágono. No
fim de cada série do jogo a equipa vencedora, que é a que tiver mais
pontos, coloca uma bolinha numa das extremidades das linhas; no fim
de tantas voltas a equipa que tiver ganho mais voltas é declarada
equipa vencedora do jogo. No entanto, em certas ocasiões não contam
tanto, as voltas que são realizadas, mais sim o número de partidas
ganhas. Assim, no caso de terem sido realizados muitos jogos,
compara-se o número de círculos, isto é, grupos de seis pontos ganhos
e quem tiver mais círculos é automaticamente vencedor. Se se
verificar que as equipas têm o mesmo número de círculos de seis
pontos, são contados os pontos restantes e ganha a equipe que tiver
mais pontos restantes.
Mbara, que significa “parte do cacho de cocos” numa palmeira
que se parece com a casca de feijão verde, é também usado para contar
o número de palmeiras escaladas num certo período de tempo durante
a colheita de cocos na Província de Inhambane.
Antes do início da colheita os trabalhadores preparam um Mbara.
À medida que vão escalando as palmeiras de onde colhem os cocos
eles vão pegando no Mbara e fazendo marcas com ajuda duma faca ou
catana; a marca é feita não como um simples risco, mas sim na
margem do Mbara, de tal forma que no fim se pareça com dentes dum
animal. No fim de cada jornada de trabalho, o número de golpes no
Mbara corresponde ao número de palmeiras escaladas.
Okwenhenha (língua makhuwa) é um meio de contar por riscos
feitos no chão, na areia, utilizado na Província de Nampula, para
contar o número de tiras de palhas evitando-se assim enganos na
feitura de cestos, permitindo que o cesto apresente uma forma bonita.
Os riscos são agrupados desta feita em 4, perfazendo 2 subgrupos de
dois a dois, todos formando por sua vez dois grupos de riscos paralelos
cruzados.

139
A Numeração em Moçambique
Contagem por pauzinhos

Miri (língua makhuwa-lóhmwé) é um método de contagem


utilizado em algumas regiões da Província de Nampula para contar
galinhas quando entram para a capoeira, como forma de verificar se
estão ou não completas. Arranja-se um número determinado de
pauzinhos correspondentes ao número de galinhas existentes na
capoeira; depois, ao entardecer, pegam-se estes pauzinhos e vai-se
controlando a entrada das galinhas para a capoeira; por cada galinha
que entra vai-se retirando para outro lado um pauzinho. Deste modo
consegue-se saber se todas as galinhas voltaram ou não para a
capoeira.

Considerações finais

Os métodos de contagem que aqui apresentamos foram-nos


facultados por estudantes dos cursos atrás referidos, através de
inquéritos escritos. É natural que ao analisar determinados aspectos
surjam algumas questões por esclarecer, que os próprios estudantes
não podem fazer. A maior parte dos estudantes afirmaram terem
aprendido estes métodos com os seus avós ou bisavós ou terem visto
estes a utilizá-los; logicamente pode-lhes ter escapado algum aspecto
importante do método.
Existem dúvidas, por exemplo, sobre em que medida são ainda
são utilizados hoje em dia.
Convidam-se os leitores a contribuírem ou a recolherem mais
informações sobre métodos populares de contagem em Moçambique.
Queira enviar as suas informações para um dos Departamentos de
Matemática da Universidade Pedagógica:

Departamento de Matemática, UP, C.P. 2923, Maputo;

Departamento de Matemática, UP, C.P. 2025, Beira.

140
Cap. 4: Tabelas e mapas

Capítulo 4
Tabelas e mapas comparativos relativos à numeração
falada em Moçambique 1

Situada na região oriental da África Austral, com 786380 km2 de


área terrestre, banhada inteiramente a Leste pelo Oceano Índico, com
um comprimento de costa de 2515 km, a população de República de
Moçambique é maioritariamente de língua materna bantu. Dados do
Recenseamento Geral da População de 1980 indicam que mais de 90%
da população moçambicana tem línguas maternas bantu.
Com base em textos publicados e inquéritos realizados no seio de
estudantes da Universidade Pedagógica elaboraram-se algumas tabelas
e mapas que ilustram as semelhanças e as diferenças entre os sistemas
verbais de numeração nas línguas bantu faladas em Moçambique.
A Tabela 4.1 apresenta uma listagem dos numerais simples (a
partir dos quais se formam os restantes) de “um” até “cem”. É de
notar a existência de dois grupos de sistemas de numeração: um de
uma única base “dez”, e outro de base “dez” com base auxiliar
“cinco”. A distribuição geográfica destes grupos apresenta-se no
Mapa 4.6.
Na Tabela 4.2 compara-se a estrutura dos numerais. A notação 5
+ P refere-se a “cinco mais uma parcela”, em que a parcela pode ser
um, dois, três, ou quatro. As notações 10 x f, 10 x F e F x 10 indicam
uma multiplicação à direita ou à esquerda de “dez” por um factor de
multiplicação.

1
Elaborado por Abílio Mapapá e Evaristo Uaila na base de um
inquérito realizado no seio de estudantes da Universidade
Pedagógica.
141
A Numeração em Moçambique
O Mapa 4.1 indica as regiões do país em que os numerais para
“um” têm a mesma raíz. É de notar que tanto os numerais para “dois”
como os para “três” têm em todo o país a mesma raíz.
O Mapa 4.2 indica as regiões do país em que os numerais para
“quatro” têm a mesma raíz.
O Mapa 4.3 indica as regiões do país em que os numerais para
“cinco” têm a mesma raíz.
O Mapa 4.4 indica as regiões do país em que os numerais para
“dez” têm a mesma raíz.
O Mapa 4.5 indica as regiões do país em que os numerais para
“cem” têm a mesma raíz.

142
Cap. 4: Tabelas e mapas
Tabela 4.1
Numerais simples nas línguas bantu de Moçambique

1 2 3

Makonde -mo -bili, -vili -natu, -tatu


Yao -mo -widi, -wili -tatu
Makhuwa -mosa -pili, -ili -tharu, -raru
Lolo -moy -m’bily -taru
Chuwabo -modha -bili -tharu
Nyanja /Cheua -modzi -wiri -tatu
Senga -mo -wiri -tatu
Tshwa -nwe -mbiri -nharu
Tsonga / -n’we --mbirhi -nharu
Changana
Gitonga -mwe -mbili -tharu
Chope -mué -mbiri -raru
Ronga -ñwe -birji -rjarju
Swahili -moja -mbili -tatu
Còti -moti -piri -thathu
Nyungwe -posi, -bodzi, - -piri -tatu
modzi
Sena -bodzi -wiri -tatu
Shona / Ndau -posi, -possa -piri -tatu
Zulu -nye -bili -thathu

143

  
Tabela 4.1
Numerais simples nas línguas bantu de Moçambique
(continuação)

4 5 6

Makonde -ncheche -nwanu


Yao -mcheche -msano
Makhuwa -sheshe -thanu
Lolo -nay -tanu
Chuwabo -nai -tanu
Nyanja /Cheua -nai -sanu
Senga -nai -sanu
Tshwa mune ntchanu
Tsonga / mune ntlhanu
Changana 2
Gitonga -na libhandre
Chope mune ntchanu
Ronga mune nthanu
Swahili -nne -tanu sita
Còti -nne -thanu -sithá
Nyungwe -nai -xanu -tant’atu
Sena -nai -xanu -tant’atu
Shona / Ndau -na -shanu -tanthatu,
-tandhatu
Zulu -ne -hlanu -isithupha

2
Existe outra variante da língua Changana, que se usa na África do
Sul, onde se tem os seguintes numerais simples: (6) tsevu, (7)
nkombo, (8) nhungu, e (9) kaye.

 
Tabela 4.1
Numerais simples nas línguas bantu de Moçambique
(continuação)

7 8 9

Makonde
Yao
Makhuwa
Lolo
Chuwabo
Nyanja /Cheua
Senga
Tshwa
Tsonga /
Changana
Gitonga
Chope
Ronga
Swahili saba nane tisa
Còti -sabá -nane -tísya
Nyungwe -chinomwe -sere -f’emba
Sena -nomeu -sere -f’emba
Shona / Ndau -nomwe -sere -pfemba, -
pfumba
Zulu -isikhombisa -isisshiyagalombili -isishiyagalolunye

145

  
Tabela 4.1
Numerais simples nas línguas bantu de Moçambique
(conclusão)

10 100

Makonde kumi imiya


Yao kumi lichila, licila
Makhuwa mulockó emia, mia
Lolo kumi zana
Chuwabo kumi zana
Nyanja /Cheua khumi dzana
Senga 3 kumi
Tshwa khume dzana
Tsonga / khume dzana
Changana
Gitonga khumy dzana
Chope gume dzana
Ronga khume dzana
Swahili kumi mia
Còti khumi mia
Nyungwe k’umi dzana
Sena k’umi dz-ana
Shona / Ndau gumi zana
Zulu i:shumi i:khulu

3
Na língua Senga, o numeral para “cem” tem a forma de 10 x 10,
dizendo-se makumi-kumi.
146
Cap. 4: Tabelas e mapas
Tabela 4.2
Estrutura dos numerais nas línguas bantu de Moçambique

Numerais

6, 7, 8, 20, 30 40, 50 60, 90


9 70, 80

Swahili
Còti
Base Nyungwe Forma
10 Sena simples 10xF
Shona /
Ndau
Zulu
Makonde
Yao
Makhuwa
Base Lolo 5+P 10xF 10x5 + 10xf
10 Chuwabo
com Nyanja /
base Cheua
auxiliar Senga
5 Tshwa 5x10+4x10
Tsonga / 5x10 ou
Changana + (5+4) x10
Gitonga 10xF Fx10 10xf
Chope 5x10+4x10
Ronga

147

  
Mapa 4.1
Distribuição geográfica dos numerais para “um”

-moja
Tanzania
-mo
-mo
Malawi
-modzi
Zambia
-mosa
-mo
-modzi

i
ot
-bodzi
-m
-moy
-posi
-bodzi
Zimbabwe
-posi
-possa Oceano Indico

-nwe
Africa do Sul -n’we

-mue

Suazilandia -nwe
-nye

148
Cap. 4: Tabelas e mapas
Mapa 4.2
Distribuição geográfica dos numerais para “quatro”

-nne
Tanzania
-nsheshe
-msheshe
Malawi

Zambia -nai
-sheshe

-nai

ne
-n
-nai
Zimbabwe
-na Oceano Indico

e
mun
Africa do Sul -na
ne
mu

Suazilandia
-ne

149

  
Mapa 4.3
Distribuição geográfica dos numerais para “cinco”

Tanzania nu
-tha

-nw
-msano

an
Malawi

u
Zambia -sanu

-sanu -thanu

-shanu

Zimbabwe
-shanu
Oceano Indico
ntlhanu

anu

Africa do Sul
ntch

libhandre

Suazilandia nthanu
-hlanu

150
Cap. 4: Tabelas e mapas
Mapa 4.4
Distribuição geográfica dos numerais para “dez”

Tanzania
kumi
kumi
Malawi

Zambia
mulocko’
kumi
khumi

k’umi i khumi
m
ku

k’umi
Zimbabwe
gumi
Oceano Indico

khume
Africa do Sul k’humy
gume

Suazilandia khume
i:shumi

151
A Numeração em Moçambique
Mapa 4.5
Distribuição geográfica dos numerais para “cem”

Tanzania

ia
m
lichila imiya

dzana
Malawi licila

Zambia
emia
dzana mia

dzana

zana
dz-ana
Zimbabwe
zana Oceano Indico
na

Africa do Sul
dza

Suazilandia
i:khulu

152
Cap. 4: Tabelas e mapas
Mapa 4.6
Distribuição geográfica dos sistemas de numeração

Tanzania

Malawi

Zambia

Zimbabwe

Oceano Indico

Africa do Sul

Suazilandia
Base "10"
Base "10" com base auxiliar "5"

153
A Numeração em Moçambique

154
Cap. 5: Numeração e educação

Capítulo 5
Numeração e educação

5.1 Numeração falada como recurso na aprendizagem da


aritmética 1

Em 1992 os estudantes do curso de Licenciatura em Educação


Matemática do Ensino Primário (LEMEP)2 realizaram uma série de
entrevistas com professores primários sobre o processo de ensino e
aprendizagem da adição e subtracção nas primeiras classes da escola
primária.
Numa das entrevistas surgiu o seguinte diálogo entre um
professor da 4ª classe e um grupo de estudantes da LEMEP:

Perg.: Bem, o Senhor Professor já falou das dificuldades; agora


em que exercícios acha que os alunos têm mais facilidade
de aprendizagem?

1
Autor: Jan Draisma.
2
A LEMEP funciona na Delegação da Beira da Universidade
Pedagógica e visa formar um grupo de especialistas do ensino da
Matemática para o nível primário. Pensa-se que os futuros
graduados deste curso poderão ser docentes de Matemática e
Didáctica de Matemática nos vários cursos de formação de
professores primários. Todos os estudantes da LEMEP são
professores primários experientes (dos 1º e/ou 2º grau) e uma parte
dos estudantes tem também experiência como instrutores de
(Didáctica de) Matemática nos Centros de Formação de
Professores Primários.
155
A Numeração em Moçambique
Resp.: “Por exemplo, exercícios do tipo (escrevendo) 300+500.
Aqui os alunos têm facilidade porque já adicionam três
mais cinco; 1000+5000 (escreveu), têm também
facilidade. Mas para 1000+500 (escreveu), por exemplo,
é um pouco difícil. O aluno é capaz de escrever:
1000
+ 500
Só quando o número de zeros for igual é que há
facilidade.”

Perg.: O que é que o Sr. Professor faz quando os alunos


cometem este tipo de erros, ou seja colocar algarismos
de outros números na posição não correcta?

Resp.: “Faço a tabela de posição; ei-la:

1000 100 10 1
1 0 0 0
5 0 0
1 5 0 0

E até podem resolver na mesma tabela.”


Apresentou a solução do problema, mil mais quinhentos
na mesma tabela.

Perg.: Mas mil mais quinhentos, os alunos não podem dizer


logo mil e quinhentos?

A resposta não se fez esperar:


“Não, só se fosse a multiplicação é que seria mais fácil
para eles.”

Como é que se explica que o professor entrevistado ache que


1000 + 500 é um exercício difícil, enquanto que o entrevistador, que
também é um professor primário, pensa que os alunos podem dizer de
imediato o resultado? E porque é que o professor entrevistado pensa
que multiplicar mil por quinhentos é mais fácil do que adicionar estes
números?

156

     
A diferença de pensamento entre os dois professores é que o
primeiro, quando se fala de mil mais quinhentos, imagina
automaticamente os numerais escritos, e vê que os alunos se podem
enganar, se não alinharem correctamente os algarismos; enquanto que
o segundo professor se limita a ouvir os numerais falados, concluindo
que a tarefa é muito fácil: mil mais quinhentos é igual a mil e
quinhentos. Usando os numerais falados, a “operação” limita-se à
substituição da palavra “mais” pela palavra mais simples “e”,
enquanto que as parcelas continuam inalteradas.
O professor entrevistado pensa que a multiplicação mil vezes
quinhentos é mais fácil porque, neste caso, a colocação dos numerais
escritos não é importante: basta acrescentar três zeros ao numeral
escrito 500; para isto não é necessário alinhar os factores algarismo
por algarismo.
Como é que seria a operação 1000 x 500, se fosse feita por
palavras? Teríamos mil vezes quinhentos é igual a quinhentos mil. A
“operação” consiste na troca da ordem dos factores e na eliminação da
palavra vezes. Qual é a operação mais simples, aquela que é feita com
os numerais escritos ou a que é feita com os numerais falados?
Este simples exemplo mostra que a maneira de resolver um
problema aritmético depende do tipo de símbolos usados: quando se
usam os símbolos escritos, compostos por algarismos, fazendo o
cálculo algarismo por algarismo, é necessário respeitar certas regras de
colocar os símbolos e de operar com eles. Mas quando se usam
símbolos falados — palavras — o cálculo torna-se muito diferente.
No presente texto vamos comparar com mais pormenor a aritmética
escrita com a aritmética falada, e veremos que o uso de numerais
falados pode constituir um recurso importante para as crianças
passarem a dominar com mais facilidade os exercícios básicos da
adição e da subtracção.

A importância dos exercícios básicos da adição e subtracção

Uma das tarefas principais das aulas de Matemática nas 1ª e 2ª


classes é que os alunos passem a dominar os exercícios básicos da
adição e subtracção. Chamamos exercícios básicos da adição e da
subtracção, as somas de dois números dígitos (como 2+3 = 5 e

157

 
 

7+9 = 16) e as diferenças correspondentes (à soma 7+9 = 16
correspondem os exercícios básicos da subtracção 16 - 7 = 9 e 16 -
9 = 7). Há autores que preferem falar de factos básicos em vez de
exercícios básicos. As expressões exercícios básicos ou problemas
básicos parecem mais correctas para a criança que ainda não
memorizou os resultados. Para esta criança, 7 + 9 = ? é um problema a
ser resolvido. Mas a partir do momento que os resultados estiverem
memorizados, deixam de ser exercícios ou problemas e passam a ser
factos numéricos básicos.

Porque é que se fala de exercícios (ou factos) básicos? O


conhecimento destes factos constitui a base para o cálculo com
números maiores: para calcular a soma de 3596 e 17283, muitas
pessoas irão colocar os números na seguinte posição:

3 596
+ 17 283

para em seguir calcular algarismo por algarismo. Este cálculo só é


eficiente se a pessoa souber de cor que 6 + 3 = 9, 9 + 8 = 17, etc., isto
é, se a pessoa tiver memorizado os factos básicos da adição. Exemplos
semelhantes poderão ser dados sobre a subtracção, multiplicação e
divisão. Um problema real que se verifica nas escolas primárias, é que
a partir da 3ª classe os alunos aprendem os procedimentos escritos das
quatro operações elementares, isto é, os procedimentos em que se
calcula algarismo por algarismo, com os numerais escritos, sem que
tenham memorizado todos os factos básicos. Por exemplo, entre os 29
alunos das 3ª e 4ª classes entrevistados por estudantes da LEMEP em
Novembro de 1992, 6 alunos tiveram que recorrer aos dedos para
determinar 7+9, durante o cálculo de 47 + 29. Kilborn 1991 (p. 30)
apresenta dados referentes a 99 alunos da 3ª classe, de escolas das
cidades de Maputo e Nampula, que mostram que mais de metade dos
alunos entrevistados recorre a métodos de contagem, em geral
apoiados pelos dedos, para determinar os resultados de 2+11, 3+9 e
8+27.
Como o domínio dos exercícios básicos é essencial para o
desenvolvimento das capacidades matemáticas e, por outro lado, como
a realidade nas escolas mostra que alunos e professores têm

158
Cap. 5: Numeração e educação
dificuldades em conseguir este domínio, temos dado muita atenção ao
tema nas aulas e trabalhos práticos da LEMEP.

Como é que adultos e crianças calculam na realidade?

Para possuirmos alguns dados reais, os estudantes da LEMEP


prepararam e aplicaram, em fins de 1991, uma entrevista contendo
problemas simples de adição e de subtracção, cobrindo as exigências
do programa da 1ª classe e parcialmente as exigências da 2ª classe.
Todos os problemas eram apresentados oralmente. As pessoas
entrevistadas ficavam completamente livres quanto ao método de
resolução.
Foram entrevistados três grupos de pessoas:

A. Quinze mulheres analfabetas (estudantes do curso de educação


bilingue nos bairros de Estoril e Munhava Matope da cidade da
Beira, isto é, um curso de alfabetização em língua Sena em que
os participantes, numa segunda fase, aprendem também a língua
portuguesa)
B. Catorze crianças em idade escolar (de 7 a 12 anos) que não
frequentam a escola
C. Treze alunos das 1ª e 2ª classes de algumas escolas da Beira.

Um dos resultados mais importantes das entrevistas foi ter-se


verificado que todas as mulheres entrevistadas resolviam com
facilidade e segurança todos os problemas colocados, calculando com
os numerais falados da língua Sena. Não precisavam dos numerais
escritos. Leiam-se os seguintes exemplos:

159

 
 


Em Sena Tradução-1 Tradução-2


Makumi mathandatu Sessenta e dois 62 - 5 = ?
kuburusa pixanu, menos cinco, quanto
pinakala pingasi? é?
Makumi mathandatu Em sessenta tiramos
tinaburusa pixanu; cinco; fica cinquenta 60 - 5 = 55
pinakala makumi e cinco.
maxanu na pixanu.
Tinaika piwiri pinakala Juntamos dois e fica
55 + 2 = 57
makumi maxanu na cinquenta e sete.
pinomwe

Em Sena Tradução -1 Tradução-2

Makumi mathandatu na Sessenta e quatro 64 + 80 = ?


pinai thimizira makumi mais oitenta, quanto
masere, pinakala é?
pingasi?
Pamakumi mathandatu De sessenta e quatro 64 - 20 = 44
na pinai tinaburusa tiramos vinte para
makumi piwiri mbatiika pôr no oitenta e
80 + 20 =100
pamakumi masere obter cem.
mbapikala zana.
Zana tinaika makumi Ao cem juntamos 100 + 44 =144
manai na pinai piosene quarenta e quatro
mbapikala zana na para obter cento e
makumi manai na pinai. quarenta e quatro.

Foi através destas entrevistas que os estudantes da LEMEP


tomaram consciência de que é possível fazer cálculos sem conhecer e
sem utilizar os numerais escritos.
Um outro resultado foi que não havia diferenças significativas
entre os métodos usados pelos alunos da 1ª e 2ª classe e as crianças da
mesma idade que não frequentam a escola: todas estas crianças
160

     
usavam, em geral, métodos de contagem apoiados pelos dedos das
mãos (e, às vezes, pelos dedos dos pés). Apenas duas das crianças do
grupo B e uma criança do grupo C usavam métodos de cálculo mental
sem precisar de fazer contagens.
Na LEMEP analisámos estes resultados. Perguntámos aos
estudantes: “Como é que se explica que as mulheres analfabetas
calculem tão bem, sem nunca terem frequentado a escola e até sem
saberem como se escrevem os números?” Os estudantes disseram:
“Os adultos têm que enfrentar muitos problemas na sua vida, que não
podem ficar sem solução; eles são forçados a encontrar soluções”.
Esta parece uma explicação clara, embora seja interessante investigar
na prática como isto funciona: aprender Matemática na medida em que
se procuram soluções para problemas da vida real.
Depois perguntámos aos estudantes: “Como se explica que não
haja diferenças entre as habilidades aritméticas dos alunos e das
crianças que não frequentam a escola?” Esta foi uma pergunta
embaraçosa para os estudantes que são professores primários
experientes, porque a resposta parecia ser: “Não há diferença, por isso
é melhor fechar as escolas. As crianças hão-de aprender a aritmética à
medida que a vida os obrigar a resolver problemas reais.”
Finalmente perguntámos aos estudantes: “Como se deve
interpretar o facto de os alunos do fim da 1ª classe e do fim da 2ª
classe aplicarem poucas vezes os métodos de cálculo oral/mental
sugeridos nos livros escolares actuais?”
Fizemos esta pergunta porque os cadernos de exercícios das 1ª e
2ª classes e os respectivos manuais do professor, introduzidos com o
Sistema Nacional de Educação a partir de 1983, sugerem que todas as
somas e diferenças no limite 100 possam ser determinadas através de
cálculo oral, feito com os numerais falados e acompanhado pela
escrita. A ideia dos autores destes materiais era que o cálculo oral
poderia ser interiorizado e tornar-se cálculo mental.
Alguns estudantes da LEMEP indicaram como causas do fraco
cálculo oral/mental observado nas escolas, alguns problemas dos
próprios alunos, dos livros escolares actuais e do facto de a língua
usada na escola ser uma língua segunda para muitos alunos e até para
os professores. Contudo, a maioria dos estudantes apontou como
causa principal a qualidade do trabalho feito por muitos professores
primários, dizendo:
161
A Numeração em Moçambique
“Os próprios professores têm dificuldades: não aprenderam a
fazer cálculo mental. Eles só conhecem bem o cálculo escrito;
estão habituados ao cálculo escrito; por isso não dão importância
ao cálculo mental.”
“Os professores não explicam correctamente o método (de
cálculo mental), porque não entendem que aquilo que está escrito
nos manuais é para ser feito oralmente; assim, explicam o cálculo
mental como se fosse uma forma de cálculo escrito.”
Esta respostas dos estudantes da LEMEP foram consideradas
como hipóteses de explicação, que careciam de confirmação através de
estudos adicionais.

Como se faz cálculo oral?

Assim, começámos a estudar com mais atenção as entrevistas


feitas em língua Sena e os métodos de cálculo usados pelas mulheres
analfabetas. Pedimos também aos estudantes para resolverem os
mesmos problemas usando os sistemas de numeração falada das suas
próprias línguas. Na turma da LEMEP estão representadas cerca de 18
línguas; algumas destas línguas deverão ser consideradas como
variantes ou dialectos de uma mesma língua principal.
Quanto ao cálculo oral/mental feito com base nos numerais
falados/pensados, foi feito primeiro um levantamento dos sistemas de
numeração contidos nas várias línguas moçambicanas.
Concluímos que:

a) O cálculo oral e mental feito nas línguas moçambicanas com


numeração em base “dez” é muito semelhante ao cálculo feito
nas línguas portuguesa e inglesa, embora existam também
algumas diferenças.

b) O cálculo oral/mental feito nas línguas que usam uma base


auxiliar “cinco” para além da base “dez” é bastante diferente. O
cálculo feito nestas línguas oferece possibilidades específicas
que os professores primários deviam conhecer para as poderem
aproveitar.

162

     
Exemplo 1:
Como se calcula oralmente vinte mais quarenta?

Um exemplo que pode dar uma ideia quanto às particularidades


do cálculo com base em numerais falados (e não com base em
numerais escritos) e as semelhanças e diferenças que existem entre as
línguas, é o cálculo 20 + 40 = ?

Para calcular oralmente 20 + 40, diz-se:


vinte mais quarenta é igual a sessenta (em língua Portuguesa)
makhumi mawiri na makhumi manai ndi makhumi matanthatu
(em língua Dema)
makhume mabidri kupatra mune wa makhume, thlanu wa
makhume na dzinwe (em língua Ronga; kupatra =
adicionar, mais)
Comparando a maneira como os numerais para 20, 40 e 60 são
formados, observamos o seguinte:

Em língua Portuguesa:
Os numerais vinte, quarenta e sessenta são simples; dentro do
sistema de numeração são palavras novas. Estes numerais são o
resultado de uma simplificação de expressões mais antigas que
significavam dois dezes, quatro dezes e seis dezes. Nas palavras
quarenta e sessenta ainda é possível reconhecer as palavras quatro e
seis respectivamente.
Os numerais vinte, quarenta e sessenta têm uma forma
invariável: não conhecem uma forma para o plural, nem para
masculino /feminino.

Em língua Dema:
Os numerais para 20, 40 e 60 são expressões compostas por duas
palavras:
20 — makhumi mawiri (= dezes dois = 10 x 2)
40 — makhumi manai (= dezes quatro = 10 x 4)
60 — makhumi matanthatu (= dezes seis = 10 x 6)

163

 
 

Nestas expressões, a palavra makhumi é o plural do substantivo
khumi; vê-se que se trata do plural pelo prefixo ma-. As palavras
mawiri, manai e matanthatu são adjectivos que devem apresentar o
prefixo ma-, correspondente à palavra makhumi a que se referem. Este
tipo de combinação de palavras tem um significado multiplicativo:
makhumi manai significa dezes quatro ou seja, 10 x 4 (respeitando a
ordem usada em Dema).
Assim, os numerais em Dema são compostos e, como tal, mais
longos do que em língua portuguesa. Contudo, eles são compostos por
numerais conhecidos, enquanto em língua portuguesa se trata de
expressões novas. Em língua Dema, todos os múltiplos de 10, a partir
de 20 até 90, são formados da mesma forma.
Tanto em Dema como em Português, o sistema de numeração
tem a base “dez”; isto é, os números 1, 2, 3, ..., 10 são representados
por expressões simples, diferentes.

Em língua Ronga:

O sistema de numeração em Ronga tem a base “dez” e a base


auxiliar “cinco”. Isto significa que os numerais para 6, 7, 8 e 9 são
compostos (têm a forma 5 + n), o que tem consequências para a
formação do numeral para 60.
20 — makhume mabidri (= dezes dois = 10 x 2)
40 — mune wa makhume (= um quarteto de dezes = 4 x 10)
60 — tlhanu wa makhume na dzinwe (= um quinteto de dezes
e um = 5 x 10 + 1)
Vemos que a expressão para vinte é formada da mesma maneira
como em Dema. Até as palavras para dez e dezes são praticamente
iguais:
Ronga: khume, makhume
Dema: khumi, makhumi

O numeral para quarenta já é diferente: mune wa makhume


significa um quarteto de dezes. Traduz-se mune por quarteto, para
chamar a atenção para o facto de mune ser um substantivo e para
mostrar que a partícula wa significa de em Português.
No numeral para sessenta, aplica-se o facto que em Ronga o
numeral para 6 é composto: tlhanu wa makhume na dzinwe, o que
significa: um quinteto de dezes e um. A palavra tlhanu é um
substantivo, tal como mune; assim, tlhanu wa makhume significa
164
Cap. 5: Numeração e educação
“cinquenta”. Na dzinwe significa “e um”, onde fica subentendido que
se trata de “um dez.” Ouve-se que se trata de um dez, porque dzinwe é
um adjectivo com o prefixo correspondente à classe nominal do
substantivo khume. Pode dizer-se de forma mais explícita: tlhanu wa
makhume na khume dzinwe (= 5 x 10 + 10 x 1).
Assim, o número 60 representa-se em português por uma palavra
única (de 3 sílabas), em Dema por uma expressão de duas palavras
(com um total de 6 sílabas) e em Ronga por uma expressão composta
por cinco palavras, das quais três numerais simples (num total de 9
sílabas).
Comparando apenas as línguas Dema e Ronga, vemos que em
Dema os numerais para 20, 40 e 60 são formados da mesma maneira,
enquanto que em Ronga os três numerais são formados de três
maneiras diferentes.

Comparando os cálculos, observamos o seguinte:

As diferenças na formação dos numerais nas três línguas têm


consequências para os cálculos necessários para se obter o resultado.

O cálculo mais simples é feito na língua Dema:


makhumi mawiri na makhumi manai ndi makhumi matanthatu
Trata-se de um cálculo feito com dezenas (makhumi). Traduzido para
Português temos:
2 dezenas mais 4 dezenas são 6 dezenas.
O cálculo necessário é o exercício básico 2 + 4 = 6.
Ou, como um estudante da LEMEP observou: “É como se fosse 2
laranjas mais 4 laranjas são 6 laranjas.”

Em Ronga o cálculo é semelhante, porque também aqui todo o


cálculo é referente a dezenas:
makhume mabidri kupatra mune wa makhume, thlanu wa
makhume na dzinwe
Traduzido para Português temos:
2 dezenas mais 4 dezenas são 5 dezenas e 1.
O cálculo envolvido é o exercício básico 2 + 4 = 5+1, um exercício
básico típico das línguas com numeração em base “dez” e base auxiliar
“cinco”.

Em língua portuguesa o cálculo oral é mais complicado:


165
A Numeração em Moçambique
Como é que vinte mais quarenta pode resultar em sessenta? Trata-se
de três numerais muito diferentes.
O cálculo mais provável que as pessoas fazem é transformar os
numerais de modo a permitir o cálculo:
vinte significa dois vezes dez; quarenta significa quatro vezes
dez.

Por isso, vinte mais quarenta é igual a dois vezes dez mais quatro
vezes dez, o que dá seis vezes dez.
Em linguagem simbólica:
20 = 2x10; 40 = 4x10;
por isso, 20 + 40 = 2x10 + 4x10 = 6x10
Assim, a segunda parte do cálculo coincide com o cálculo feito em
Dema. Mas para se poder fazer o cálculo desta maneira, é necessário
interpretar vinte como dois vezes dez, e quarenta como quatro vezes
dez. Por isso, o cálculo de 20 + 40 em língua portuguesa é mais
complexo do que em Dema. Na prática, muitas pessoas acabam por
memorizar, em língua portuguesa, as somas dos múltiplos de dez, no
limite 100. Assim, pode parecer que as pessoas calculam mas
depressa em Português do que em Dema, porque são capazes de dizer
imediatamente o resultado. Mas esta maior rapidez é resultado de um
esforço maior: primeiro o esforço maior de calcular a soma, no período
em que ainda não se conhece de cor o resultado; depois o esforço de
memorizar os resultados deste tipo de somas.
Em Dema o cálculo limita-se à aplicação do exercício básico 2 +
4 = 6 em combinação com a propriedade distributiva, não havendo
qualquer necessidade de memorizar algo mais do que os exercícios
básicos.
Em Ronga o cálculo limita-se também ao uso de um facto básico
2 + 4 = 5 + 1 e a aplicação da propriedade distributiva; apenas o
exercício básico em Ronga é diferente do exercício básico em Dema
ou Português.

Alguns estudantes da LEMEP explicaram o cálculo oral vinte


mais quarenta é igual a sessenta da seguinte maneira:
“Basta adicionar 2 + 4 = 6 e depois acrescentar um zero.”

Esta forma de pensar é um exemplo típico de cálculo por uma


pessoa que está habituada a usar os numerais escritos: para efectuar o
cálculo recorre, na mente, à representação escrita dos números, pelo
166
Cap. 5: Numeração e educação
que deixa de ser um cálculo estritamente oral, e só é possível para
quem conhece a representação escrita dos números. Mesmo neste caso,
trata-se de um caminho de cálculo mais longo do que o cálculo oral
feito em Dema:

1. traduzir, mentalmente, a palavra vinte para o símbolo 20;


2. traduzir a palavra quarenta para o símbolo 40;
3. isolar no símbolo 20 o símbolo 2 e no símbolo 40 isolar o
símbolo 4;
4. adicionar 2 + 4 = 6 (aplicação de um exercício básico);
5. acrescentar ao símbolo 6 o símbolo 0, ou seja, interpretar o
símbolo 6 como representando 6 dezenas;
6. traduzir o símbolo 60 para a língua portuguesa: sessenta.

Portanto, também com este método é necessário, primeiro,


transformar os numerais dados oralmente para uma forma diferente (a
forma escrita); depois efectuar o cálculo com os símbolos escritos;
finalmente, traduzir o símbolo 60 para a língua portuguesa.
Nos exemplos dados nas línguas Dema e Ronga, opera-se
directamente com os numerais orais dados.
As diferenças entre o cálculo feito em Português e o cálculo feito
em Dema são consequência do facto de os numerais vinte, quarenta e
sessenta serem palavras novas, que têm a vantagem de serem curtas,
mas que exigem uma interpretação em termo dos numerais já
conhecidos: vinte significa dois vezes dez, etc., o que prolonga os
cálculos, até estes serem memorizados (e automatizados).

Exemplo 2:

Como se calcula 8 + 5?

Em Português diz-se: oito mais cinco é igual a treze.


O resultado treze é uma nova palavra, sem nenhuma relação com
as palavras oito e cinco. Por isso, quando uma criança ainda não
conhece de cor o resultado, deve fazer algo para o obter. Uma
possibilidade é usar uma contagem pelos dedos, dizendo nove, dez,
onze, doze, treze. A contagem começa pelo sucessor de oito, e, à
medida que se conta, levanta-se um dedo por cada numeral falado, até

167
A Numeração em Moçambique
ter completado cinco dedos. O último numeral pronunciado
corresponderá à soma de oito e cinco.

Nos livros escolares actuais para a 1ª classe sugere-se o seguinte


cálculo oral:
oito mais dois, dez; dez mais três, treze.

Esta forma de calcular, usada também com frequência pelas


mulheres entrevistadas em língua Sena, pressupõe que a pessoa:
a) saiba de cor quanto falta para completar dez a partir de
oito;
b) saiba que adicionar cinco é o mesmo que adicionar
sucessivamente dois e três.
Contudo, numa língua que usa a base auxiliar “cinco”, para além
da base “dez”, há uma outra possibilidade para calcular a soma de oito
e cinco, usando os próprios numerais.
Por exemplo, o problema Oito mais cinco, quanto é?, formulado em
Chuwabo é:

Tanu na tharu, na tanu, dhinkala ñgasi?

Estas expressões permitem o seguinte cálculo:

Tanu na tanu, dhinkala kumi; na tharu, dhinkala kumi na tharu.


(Cinco mais cinco, igual a dez; mais três, igual a dez-e-três.)

Desta maneira, o problema 8 + 5 = ?, que durante uma certa fase


pode ser difícil para as crianças, é resolvido de uma forma natural,
usando o facto básico simples 5 + 5 = 10; e o que parece ser o segundo
passo (dez mais três, igual a treze), não é nenhum passo em Chuwabo:

kumi na tharu dhinkala kumi na tharu,

porque o nome para treze, em Chuwabo, tal como na maioria das


línguas moçambicanas, é simplesmente dez-e-três.
Um cálculo semelhante pode ser feito em todas as línguas que
usam a combinação das bases “cinco” e “dez”.
Todos os exercícios básicos da adição, cuja soma ultrapassa dez,
podem ser resolvidos desta maneira:

168
Cap. 5: Numeração e educação

6 + 7 = ?
tanu na modha na tanu na mbili dhinkala kumi na tharu
5+1 + 5+2 = (5+5) + (1+2)
Um caso um pouco mais difícil é o cálculo de sete mais nove:

7 + 9 = ?
tanu na mbili na tanu na nai dhinkala kumi na tanu na
modha
5+2 + 5+4 = (5+5) + (5+1)
Neste último caso, para além de juntar os dois cincos, foi usado
um exercício básico típico das línguas com numeração em base cinco:
mbili na nai dhinkala tanu na modha (2+4 = 5+1).
As implicações educacionais dos últimos exemplos merecem
especialmente atenção. Muitos alunos da escola primária têm
dificuldade em encontrar as somas de dois números dígitos, quando
esta ultrapassa dez. Como já foi referido, é frequente ver crianças a
fazerem contagens de dedos para determinar somas do tipo 7 + 9,
mesmo na 3ª, 4ª ou até na 5ª classe. Mas muitos destas crianças
conhecem os numerais falados da sua língua materna. De uma forma
geral, as línguas faladas ao Norte do Rio Zambeze e as línguas faladas
ao Sul do Rio Save usam a base auxiliar “cinco”, para além da base
“dez”. Estamos convencidos de que muitas crianças poderiam aplicar
com naturalidade os cálculos usando os numerais da sua língua
materna; isto pode ser feito, mesmo se as aulas se realizam em língua
portuguesa. Não há nenhuma razão para limitar as crianças aos meios
didácticos tradicionais: dedos, pauzinhos, pedrinhas ou tracinhos.
Todos os conhecimentos das crianças devem ser aproveitados de uma
maneira racional, para conseguir que estas passem a dominar os
exercícios básicos da adição.
Pode parecer que as línguas que usam a base auxiliar “cinco”
oferecem mais possibilidades de cálculo do que as línguas que usam
apenas a base “dez”. Contudo há uma forma de se fazer os cálculos
aproveitando a base “cinco”, mesmo quando se usam numerais falados
da base “dez”: através de gestos com as duas mãos.

169

 
 

Por exemplo, a soma seis mais sete pode ser calculado da
seguinte maneira:
1. representa o número seis levantando uma vez um punho fechado
(cinco) seguido pelo levantamento de um dedo;
2. representa o número sete, levantando o outro punho fechado,
seguido pelo levantamento de dois dedos;
3. a soma dos dois números obtém-se lembrando-se dos dois
punhos levantados (5 + 5 = 10), aos quais se juntam os três
dedos levantados.
Este cálculo gestual pode ser mais rápido do que a contagem
pelos dedos que muitas crianças praticam: começando pelo sucessor de
sete, dizendo oito, nove, dez, onze, doze, treze. Por cada numeral
pronunciado levanta-se um dedo; quando a criança tiver 6 dedos
levantados, terá chegado ao resultado e o último numeral pronunciado
será o resultado.

Qual a língua a ser usada nas aulas de Matemática da escola


primária?

Recentemente tivemos a oportunidade de participar em


seminários organizados pela NOTMO (Organização de Matemática do
Transvaal do Norte) na República da África do Sul. Os seminários, de
um dia cada um, tiveram lugar nas zonas de Kwandebele, Lebowa,
Venda e Gazankulu e neles participaram professores de Matemática
sul-africanos dos níveis primário e secundário e ainda formadores de
professores primários. Tivemos a oportunidade de discutir
especificamente as seguintes questões:
a) Qual (quais) devia(m) ser a(s) língua(s) de instrução nas
nossas escolas primárias: uma língua oficial, como a língua
portuguesa em Moçambique e a língua inglesa na África
do Sul, ou uma língua local?
b) Qual devia ser a língua de instrução nas aulas de
Matemática?
No dia 1 de Abril de 1993 tivemos uma discussão muito
interessante com um grupo de mais de 150 professores em Gazankulu,
uma zona da África do Sul onde se fala a língua Tsonga, que é a
mesma língua que a língua Changana, falada no Sul de Moçambique.
70
Cap. 5: Numeração e educação
Até recentemente, todo o ensino primário em Gazankulu era feito em
Tsonga, incluindo a Matemática, de acordo com o sistema de ensino
estabelecido para a população negra dentro da política do Apartheid.
Nós já conhecíamos alguns dos livros de Matemática escritos em
Tsonga, que na altura eram usados em Gazankulu. Quais foram as
opiniões que os professores de Gazankulu nos apresentaram?

* Alguns disseram que era melhor usar desde o início a língua


Inglesa, como língua de instrução nas aulas de Matemática,
porque, em geral, as crianças já conhecem os numerais falados
em Inglês quando começam a frequentar a escola primária. Por
isso, não é necessário usar os numerais falados em Tsonga. Esta
foi também a opinião de alguns professores que tiveram
experiência concreta de usar a língua Tsonga nas aulas de
Matemática.

* Outros disseram que, nas primeiras classes da escola primária,


devia ser usada a língua materna para todas as disciplinas,
porque esta é o único meio de comunicação possível. Seria um
erro pensar que se pudesse comunicar bem na sala de aula
quando se usa uma língua que é nova para os alunos.

* Um dos participantes disse que todo o ensino devia ser feito em


língua materna, incluindo a Matemática, para permitir que as
crianças pudessem comunicar com os seus avós. Em particular,
as crianças deviam ser capazes de falar com os avós, na sua
língua materna, sobre todas as actividades escolares, incluindo a
Matemática.

* Finalmente houve o comentário interessante de um dos


participantes, que nos disse que tinha estado a ensinar a
Aritmética em Tsonga usando o sistema de numeração oficial em
Tsonga, que é um sistema simplificado de base “dez” apenas,
introduzido em Gazankulu para “servir objectivos educacionais”
(Ouwehand 1965, p. 62); mas que em casa continuava a usar os
numerais falados originais/tradicionais de base “cinco”:

171

 
 


 Changana (Moçambique) Tsonga (“simplificado”,


Gazankulu)
1 xin’we xin’we
2 swimbirhi swimbirhi
3 swinharhu swinharhu
4 mune mune
5 ntlhanu ntlhanu
6 ntlhanu ni xin’we tsevu
7 ntlhanu ni swimbirhi nkombo
8 ntlhanu ni swinharhu nhungu
9 ntlhanu ni mune kaye
10 khume khume
11 khume ni xin’we khume ni xin’we
12 khume ni swimbirhi khumembirhi
13 khume ni swinharhu khumenharhu
14 khume ni mune khumemune
15 khume ni ntlhanu khumentlhanu
16 khume ni ntlhanu ni xin’we khumetsevu
17 khume ni ntlhanu ni swimbirhi khumenkombo
18 khume ni ntlhanu ni swinharhu khumenhungu
19 khume ni ntlhanu ni mune khumekaye
20 makume mambirhi khumbirhi or
makumembirhi
23 makume mambirhi ni khumbirhinharhu
swinharhu

Estas foram as opiniões que nos foram apresentadas


directamente. Contudo, tivemos ainda uma experiência complementar
interessante: durante uma actividade matemática, dirigida pelo
professor americano Arthur Powell, os participantes, organizados em
pequenos grupos, tiveram que fazer alguns cálculos sobre uma
sucessão numérica do tipo “Conway”. Tratava-se de cálculos
elementares, principalmente com números naturais, inteiros e fracções.
Observámos que em alguns grupos as discussões eram feitas em
Tsonga, mas nos cálculos eram usados os numerais em Inglês. Em



     
outros grupos toda a discussão era feita em Tsonga, com excepção do
cálculo com fracções, para as quais eram usados os nomes em Inglês.
Para nós era uma prova muito concreta, de que a Matemática
elementar pode ser feita em Tsonga (Changana). Mas sabíamos
também que os nossos estudantes da UP em Beira não seriam capazes
de fazer este tipo de discussão matemática nas suas línguas maternas:
quase todos os seus conhecimentos e experiência matemática
dependem do uso da língua portuguesa.

Propostas para uma reflexão

1. É importante estimular que as crianças utilizem as mãos, não só


para contagens, mas também para fazer cálculos: os gestos
usados por muitas pessoas para representar os números
correspondem directamente aos numerais de base combinada
“cinco”/”dez”, como existem em Chuwabo, Changana e várias
outras línguas moçambicanas. Mesmo quando se usam numerais
falados de base “dez”, como em Dema, Ndau, Inglês, etc., o uso
de gestos com as duas mãos dá acesso a algumas das vantagens
dos sistemas de numeração de base “cinco”/”dez”, e pode ajudar
as crianças para encontrar facilmente as somas do tipo oito mais
cinco igual a treze.

2. É importante encorajar as crianças a utilizarem os conhecimentos


que têm nas várias línguas que conhecem, mesmo quando se
trata de outras línguas sem ser a língua de ensino.

3. Em particular, mesmo quando a língua de ensino for a língua


portuguesa, muitas crianças costumam ter contacto com várias
outras línguas, especialmente nas zonas urbanas. Os
conhecimentos contidos nestas línguas podem ser aproveitados
para as crianças efectuarem cálculos matemáticos importantes
para o seu desenvolvimento intelectual.

4. A ideia de simplificar os sistemas de numeração falada das


línguas moçambicanas é compreensível para os números grandes
(maiores que cinquenta ou cem), por causa do comprimento das
expressões, em particular nas línguas que usam a base auxiliar
“cinco”. Contudo, parece-nos que o uso de numerais falados de
base “cinco” pode constituir um recurso importante durante as
173
A Numeração em Moçambique
primeiras fases da aprendizagem dos exercícios básicos da
adição e subtracção e na descoberta dos primeiros métodos de
cálculo oral e mental. Como os alunos terão à sua disposição os
numerais escritos de base “dez”, para o cálculo com números
maiores, uma possível simplificação de um sistema de
numeração falada devia tomar em conta as possibilidades das
primeiras fases da aprendizagem da Aritmética. Pôr de parte os
numerais falados de base cinco, para os números seis, sete, oito e
nove, pode ser um erro pedagógico na primeira fase da
aprendizagem de Matemática.

Referências e sugestões de leitura


[entre parênteses rectos: tradução de alguns dos títulos]

Draisma, J.; Soares, M. C. e outros, 1983: Eu vou à escola -


Matemática, 1ª classe , Vol. 1 e 2, Instituto Nacional do
Desenvolvimento da Educação (INDE), Maputo
Draisma, J.; Soares, M. C. e outros, 1983: Eu gosto de Matemática -
Matemática 2ª classe - Cadernos de Exercícios, Vol. 1 e 2,
INDE, Maputo
Fletcher, C.: Tinhlayo le’tintshwa ta ka Juta - Ntangha 3, 4, Juta &
Company, Cape Town - África do Sul (traduzido para Tsonga
por R. Mabale — Livro escolar de Aritmética, em língua
Tsonga, para as classes 3 e 4)
Gleimius, E.; Stals, T. N.; Marivate, C. T. D.: Tinhlayo ta tsakisa -
Ntangha 2, Varia Books, Alberton - África do Sul
INDE, 1982: Livro do Professor, 1ª classe — Vamos Aprender,
Volumes 1 - 6, INDE, Maputo
INDE, 1983: Livro do Professor, 2ª classe — Vamos Ler e Escrever,
Volumes 1 - 5, INDE, Maputo
Veloso, M. T.; Draisma, J., 1992: Bukhu ya kupfundzisa makonta.
Malongero a cisena [Livro de Matemática em língua Sena],
edição experimental para o Projecto de educação biligue de
mulheres, Volumes 1 e 2, INDE, Maputo
Hatano, G., 1982: ‘Learning to add and subtract: a Japanese
perspective’ [Aprendendo a adicionar e a subtrair: uma
perspectiva japonesa], in Carpenter, T. P.; Moser, J. M.;
Romberg, T. A. (org.), Addition and subtraction: a cognitive
perspective, Lawrence Erlbaum, Hillsdale, New Jersey (O autor
explica a importância da base auxiliar cinco no cálculo mental,
174
Cap. 5: Numeração e educação
apesar de a língua japonesa possuir um sistema de numeração
decimal. Uma tradução em Português deste texto pode ser obtido
do Departamento de Matemática da UP - Beira.)
Kilborn, W., 1991: Avaliação de livros escolares em Moçambique —
Matemática, Classes 1-3, Instituto Nacional do Desenvolvimento
da Educação, Maputo
Ouwehand, M., 1962: Everyday Tsonga, Sasavona Publishers,
Braamfontein
Treffers, A.; De Moor, E., 1990: Proeve van een nationaal programma
voor her reken-wiskunde onderwijs op de basisschool. Deel 2:
Basisvaardigheden en cijferen [Proposta de um programa
nacional para o ensino da aritmética-matemática na escola
básica. 2ª parte: habilidades básicas e cálculo escrito], Zwijsen,
Tilburg - Países Baixos (em Holandês. Os autores defendem a
importância do uso da base auxiliar cinco, para além do cálculo
mental, apesar de a língua Holandesa possuir apenas numerais
em base dez.)
Zepp, R., 1990: Language and Mathematics Education [Língua e
Educação Matemática], API Press, Hong Kong

175
A Numeração em Moçambique
5.2 Algumas reflexões para estimular o debate e a
investigação
A História da Matemática mostra que, por diversas vezes, a
escolha da linguagem, de expressões e símbolos, tem sido
extremamente importante para poder conceber e compreender novas
ideias e relações. Uma escolha feliz pode facilitar o pensamento e o
raciocínio. Uma escolha feliz pode facilitar o ensino e a
aprendizagem. Uma escolha bem reflectida pode democratizar o
acesso ao conhecimento científico da Humanidade: mais pessoas em
condições de o alcançar.
A importância da numeração falada para a aprendizagem foi
frisada na secção anterior. Nesta secção apresentaremos algumas
reflexões relativas à numeração falada em Moçambique, fruto do
debate no seio da nossa equipa de educadores matemáticos integrados
no Projecto de Investigação ‘Etnomatemática’.
Uma tendência no desenvolvimento da numeração nas línguas
bantu de Moçambique
As línguas não são estáticas. As línguas estão em movimento.
Tanto ao nível das sociedades e de grupos humanos menores, como ao
nível de indivíduos, inventam-se novas palavras e novas construções.
Relativamente à numeração nas línguas bantu de Moçambique,
nota-se uma tendência para contrair numerais; alguns exemplos
clarificarão este fenómeno da contracção. Na língua Makonde foi
introduzida uma forma curta, resultado de contracção, para se referir
ao numeral ‘seis’: mwanaimo em vez da forma em extenso mwanu na
imo. Na língua Nyungwe encontra-se a forma contraída
makhumaxanu (cinquenta) ao lado da versão original makhumi
maxanu. Na tabela 5.1 apresentam-se alguns exemplos fornecidos
pelos estudantes da LEMEP. 3 O processo de encurtar numerais
compostos não está parado, e pode ser continuado. Por exemplo, o
referido numeral makhumaxanu pode ser encurtado para khumaxanu,
se lhe retirarmos o prefixo do plural. No entanto a ‘simplificação’ ou
‘abreviação’ deve evitar obviamente que se crie confusão com outros

3
Licenciatura em Educação Matemática para o Ensino Primário
(Delegação da Universidade Pedagógica na Cidade da Beira).
176
Cap. 5: Numeração e educação
numerais. A forma reduzida khumaxanu deve ser diferente da forma
reduzida para khumi na cixanu (quinze).

Tabela 5.1
(1ª parte)

 MAKONDE MAKONDE
por extenso com contracções
1 imo imo
2 mbili mbili
3 natu natu
4 nceshe nceshe
5 mwanu mwanu
6 mwanu na imo mwanaimo
7 mwanu na mbili mwanambili
8 mwanu na natu mwananatu
9 mwanu na nceshe mwananceshe
10 kumi (likumi limo) kumi (likumi limo)
11 kumi na imo kumnaimo
12 kumi na mbili kumnambili
13 kumi na natu kumnanatu
14 kumi na nceshe kumnanceshe
15 kumi na mwanu kumnamwanu
16 kumi na mwanu na imo kumnamwanaimo
17 kumi na mwanu na mbili kumnamwanambili
18 kumi na mwanu na natu kumnamwananatu
19 kumi na mwanu na nceshe kumnamwananceshe
20 makumi mavili makumavili
30 makumi matatu makumatatu
40 makumi nceshe makunceshe
50 makumi mwanu makumwanu
60 makumi mwanu na limo makumwanalimo
70 makumi mwanu na mavili makumwanamavili
80 makumi mwanu na makumwanamatatu
matatu
90 makumi mwanu na nceshe makumwananceshe
100 imia imo; imia imo;
makumi kumi makumi kumi

177

 
 

Tabela 5.1
(2ª parte)

 CHUWABO CHUWABO
por extenso com contracções

1 modha modha
2 bili bili
3 tharu tharu
4 nai nai
5 tanu tanu
6 tanu na modha tanamodha
7 tanu na bili tanabili
8 tanu na tharu tanatharu
9 tanu na nai tananai
10 kumi kumi
11 kumi na modha kumi na modha
12 kumi na bili kumi na bili
13 kumi na tharu kumi na tharu
14 kumi na nai kumi na nai
15 kumi na tanu kumi na tanu
16 kumi na tanu na modha kumi na tanamodha
17 kumi na tanu na bili kumi na tanabili
18 kumi na tanu na tharu kumi na tanatharu
19 kumi na tanu na nai kumi na tananai
20 makumi meli makumeli
30 makumi mararu makumararu
40 makumi manai makumanai
50 makumi matanu makumatanu
60 makumi matanu na makumatananimodha
nimodha
70 makumi matanu na meli makumatanameli
80 makumi matanu na makumatanamararu
mararu
90 makumi matanu na manai makumatanamanai
100 zana zana



     
Tabela 5.1
(3ª parte)

 MAKHUWA (METTO) MAKHUWA (Ilha de


por extenso Moçambique, Mossuril)
com contracções

1 emoza emoza
2 pili pili
3 tharu tharu
4 cece xexe
5 thanu thanu
6 thanu na moza than’namoza
7 thanu na pili than’napili
8 thanu na tharu than’natharu
9 thanuna cece than’naxexe
10 nloko nloko
11 nloko namosa nloko nimosa
12 nloko napili nloko nipili
13 nloko natharu nloko nitharu
14 nloko naxexe nloko nixexe
15 nloko nathanu nloko nithanu
16 nloko nathanu namosa nloko nithan’namosa
17 nloko nathanu napili nloko nithan’napili
18 nloko nathanu natharu nloko nithan’natharu
19 nloko nathanu naxexe nloko nithan’naxexe
20 miloko mili miloko mili
30 miloko miraru miloko miraru
40 miloko micece miloko mixexe
50 miloko mitanu miloko mitanu
60 miloko mitanunamosa miloko mithan’namosa
70 miloko mitanunapili miloko mithan’napili
80 miloko mitanunatharu miloko mithan’natharu
90 miloko mitanunatsheshe miloko mithan’natsheshe
100 emiya emiya

179

 
 

Tabela 5.1
(4ª parte)

 NYUNGWE NYUNGWE
por extenso com contracções
1 posi posi
2 piri piri
3 tatu tatu
4 nai nai
5 xanu xanu
6 tandhatu tandhatu
7 cinomwe cinomwe
8 sere sere
9 pfemba pfemba
10 khumi khumi
11 khumi na cim’bodzi khumi na cim’bodzi
12 khumi na ciwiri khumi na ciwiri
13 khumi na citatu khumi na citatu
14 khumi na cinai khumi na cinai
15 khumi na cixanu khumi na cixanu
16 khumi na citandhatu khumi na citandhatu
17 khumi na cinomwe khumi na cinomwe
18 khumi na cisere khumi na cisere
19 khumi na cipfemba khumi na cipfemba
20 makhumi mawiri makhumawiri
30 makhumi matatu makhumatatu
40 makhumi manai makhumanai
50 makhumi maxanu makhumaxanu
60 makhumi matandhatu makhumatandhatu
70 makhumi manomwe makhumanomwe
80 makhumi masere makhumasere
90 makhumi mapfemba makhumapfemba
100 dzana dzana



     
A língua materna e o ensino

Não há dúvida de que quando uma mesma língua é bem


dominada, tanto pelos alunos como pelo professor, é preferível realizar
nessa língua o processo do ensino-aprendizagem, em particular o da
numeração e da execução mental e escrita de operações aritméticas.
Este processo pode ser facilitado quando se aproveita a tendência
da contracção e abreviação na formulação dos numerais. Pode ser
facilitado quando se toma em conta o fenómeno histórico da gradual
substantivação dos numerais (vide capítulo 2), quer dizer, pode ser
facilitado se todos os numerais se tornarem substantivos.
Propomos que se faça um levantamento de todas as formas de
contracção, abreviação e substantivação utilizadas nas línguas.
Apresentamos como sugestão que, para cada língua do país, se elabore
um sistema de numeração falada que explore ao máximo as tendências
de contracção, abreviação e substantivação, sem se esquecer de
respeitar as características da referida língua (por exemplo, relativas às
combinações de sons admitidas) e sem se afastar demasiadamente os
numerais das formas hoje em dia dominantes.

A base auxiliar ‘cinco’ e a língua portuguesa

A existência da base auxiliar “cinco” facilita a aprendizagem das


adições e subtracções até 20, como vimos no capítulo anterior, e como
também é sugerido pela experiência secular dos povos da Ásia (por
exemplo, China e Japão) e da Europa, recentemente reforçada por
resultados de investigação realizada na Europa com línguas que não
utiliza(ra)m a base “cinco” como base auxiliar.
Tomando em conta estes resultados, pode-se pensar, para fins
educativos - no caso das línguas faladas em Moçambique que não
utilizam a base “cinco” - na introdução de ‘numerais explicativos’ que
utilizam a base “cinco”.
O exemplo da língua portuguesa pode clarificar a ideia. Em vez
de dizer ‘seis’ pode-se usar a forma explicativa ‘cinco e um’. Na
tabela 5.2 apresentam-se duas fases de explicitação relativas à língua
portuguesa. Uma vez dominados os ‘factos aritméticos básicos’
sugere-se, para o caso da língua portuguesa, uma segunda fase
explicativa, em que se usa um sistema de numeração decimal puro,

181
A Numeração em Moçambique
cuja estrutura se aproxima mais da estrutura da numeração nas línguas
bantu de Moçambique que utilizam apenas a base ‘dez’. A segunda
fase explicativa sugerida está em concordância com a estrutura do
sistema de numeração escrita posicional-decimal, quer dizer, a ordem
dos termos corresponde à notação escrita decimal-posicional. Nesta
proposta utiliza-se “dezes” como plural de “dez” em analogia com a
formação do plural de palavras como rapaz, cartaz, nariz, vez, etc.

Tabela 5.2

 numeração na 1ª fase explicativa 2ª fase


língua explicativa
portuguesa

6 seis cinco e um seis


7 sete cinco e dois sete
8 oito cinco e três oito
9 nove cinco e quatro nove
11 onze dez e um dez e um
12 doze dez e dois dez e dois
13 treze dez e três dez e três
14 catorze dez e quatro dez e quatro
15 quinze dez e cinco dez e cinco
16 dezasseis dez e cinco e um dez e seis
17 dezassete dez e cinco e dois dez e sete
18 dezoito dez e cinco e três dez e oito
19 dezanove dez e cinco e quatro dez e nove
20 vinte dois dezes dois dezes
21 vinte e um dois dezes e um
30 trinta três dezes
40 quarenta quatro dezes
50 cinquenta cinco dezes
60 sessenta seis dezes
70 setenta sete dezes
80 oitenta oito dezes
90 noventa nove dezes

182

     
Importância da numeração falada
Hoje em dia muitos professores primários em Moçambique
pensam que a Aritmética é feita apenas com numerais escritos.
Parece-nos extremamente importante que tanto professores primários
como o cidadão em geral se convençam de que a numeração falada em
qualquer língua constitui uma fonte riquíssima de ideias matemáticas
(de cálculo). É necessário pois explorar ao máximo as possibilidades
que as línguas maternas oferecem.

Uma variante nacional?


Sem nos esquecermos da importância das línguas faladas, pode-
se pensar - no futuro? - em introduzir um sistema novo de numeração,
inspirado nas línguas bantu faladas em Moçambique, por exemplo,
como o apresentado na Tabela 5.3.
Trata-se de uma proposta dum sistema nacional, no sentido de
utilizar raízes de todas as línguas bantu faladas em Moçambique, do
Rovuma até ao Maputo. Na selecção dos numerais tomou-se em conta
as vantagens de palavras e de sílabas curtas. Evitaram-se os prefixos
do plural. Por exemplo, propõe-se “ilikumi” para “vinte” e não “ili-
makumi”. Entre os múltiplos de potências de dez coloca-se um
tracinho horizontal, correspondente a uma pequena pausa na fala,
omitindo a ligação “e”, quer dizer, omitindo a copulativa “ni” ou “na”.
Por exemplo, “kumi-mó” em vez de “kumi ni mó”.
Para além das características indicadas observam-se as seguintes:
* todos os numerais propostos são substantivos;
* omissão do prefixo do plural;
* de 6 a 9 e de 16 a 19 há duas formas: um numeral composto
para a fase explicativa de aprendizagem e um numeral
simples para a segunda fase;
* de 20 para cima utiliza-se apenas a base “dez”;
* a ordem dos termos corresponde à notação escrita decimal-
posicional;
* ao utilizar o princípio multiplicativo termina-se pela potência
de dez, quer dizer, por exemplo ilizana (dois centos) em vez
de zanaíli (centos dois).

183
A Numeração em Moçambique
Tabela 5.3

 1ª variante 2ª variante
(forma explicativa)

1 mó mó
2 ili ili
3 tatu tatu
4 né né
5 sanu sanu
6 sanumó tanta
7 sanuíli nomwe
8 sanutatu sere
9 sanuné femba
10 kumi kumi
11 kumi-mó kumi-mó
12 kumi-ili kumi-ili
13 kumi-tatu kumi-tatu
14 kumi-né kumi-né
15 kumi-sanu kumi-sanu
16 kumi-sanumó kumi-tanta
17 kumi-sanuíli kumi-nomwe
18 kumi-sanutatu kumi-sere
19 kumi-sanune kumi-femba
20 ilikumi ilikumi
21 ilikumi-mó
30 tatukumi
40 nékumi
50 sanukumi
60 tantakumi
67 tantakumi-nomwe
70 nomwekumi
80 serekumi
90 fembakumi
100 zana
200 ilizana
300 tatuzana
400 nezana
184

     
500  sanuzana
583 sanuzana-serekumi-
tatu
600 tantazana
700 nomwezana
800 serezana
900 fembazana
1000 kulu

Contribuições e reacções

Convidam-se os leitores a reagirem e contribuírem para enriquecer as


reflexões apresentadas. Experimente. Participe no debate!
Contribua para melhorar a qualidade do ensino em Moçambique!

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