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UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Cristiane Lisandra Danna
Norberto Siegel
Camila Roczanski
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Bárbara Pricila Franz
Marcelo Bucci
G424d
Ghilardi, Dóris
ISBN 978-85-53158-39-3
CDD 346.8106
Dóris Ghilardi
APRESENTAÇÃO ....................................................................07
CAPÍTULO 1
Parentesco..............................................................................09
CAPÍTULO 2
Filiação....................................................................................23
CAPÍTULO 3
Adoção.....................................................................................43
CAPÍTULO 4
Do Poder Familiar..................................................................63
CAPÍTULO 5
Regime de Bens.......................................................................81
CAPÍTULO 6
Do Usufruto e da Administração dos Bens dos
Filhos Menores....................................................................117
CAPÍTULO 7
Dos Alimentos.......................................................................127
CAPÍTULO 8
Bem de Família........................................................................157
CAPÍTULO 9
União Estável........................................................................171
CAPÍTULO 10
Tutela e Curatela.................................................................191
APRESENTAÇÃO
O tema a ser abordado no presente livro envolve o Direito de Família, ramo
em constantes transformações que requer especial atenção. O rompimento com
institutos da tradição lapidados há séculos, agora desafiam novas soluções,
ainda carentes de previsão legal. Neste cenário, o afeto foi reconhecido como
importante valor e possibilitou um novo retrato, garantidor da pluralidade de
entidades familiares, promovedor de abertura conceitual, além de repaginar
outros importantes institutos familistas.
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Capítulo 1 PARENTESCO
ConteXtualiZação
Este primeiro
Este primeiro capítulo tratará sobre os elos estabelecidos entre capítulo tratará
determinadas pessoas em razão de seu pertencimento à mesma sobre os elos
entidade familiar. Historicamente tratado como originado do casamento estabelecidos
e de laços biológicos, o parentesco vem sofrendo significativas entre determinadas
pessoas em
alterações.
razão de seu
pertencimento à
O desenvolvimento biotecnológico e científico, a globalização, as mesma entidade
mudanças culturais, as relações mais efêmeras e multifacetadas, a familiar.
valorização do amor e do afeto exigem uma releitura dos institutos. É
fato que a estrutura familiar mudou e com ela o estudo do parentesco precisa se
adaptar para uma compreensão mais abrangente, pluralista e inclusiva.
Definição de Parentesco
Parentesco é a caracterização de uma relação jurídica que vincula certas
pessoas de uma mesma família em função dos elos havidos entre si. É o
pertencimento decorrente de relações entre pessoas que integram um grupo
familiar. Contudo não se pode confundir família com parentesco, conceitos que
não se equivalem.
Por exemplo, marido e mulher não são considerados parentes entre si,
assim como os companheiros também não. Eles inauguram uma entidade familiar
conjugal ou de companheirismo, isto é, eles são família, mas não parentes.
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DIREITO DE FAMÍLIA II
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Capítulo 1 PARENTESCO
Linhas e Graus
O vínculo de parentesco é estabelecido em linhas e graus. As linhas são as
ramificações, podendo ser reta ou colateral, também chamada de transversal. Os
graus, por sua vez, equivalem à distância geracional.
Essa organização
Essa organização importa para fins de análise dos efeitos importa para fins
de análise dos
produzidos pelo parentesco, que são de caráter obrigatório, não
efeitos produzidos
podendo ser desfeitos pelas partes. Somente o que extingue os pelo parentesco,
vínculos de parentesco é a adoção. Em princípio, nem a extinção do que são de caráter
poder familiar tem o condão de retirar os efeitos oriundos da relação obrigatório, não
entre pais e filhos, mantendo-se, portanto, a obrigação alimentar, o podendo ser
direito de herança, bem como os impedimentos ao casamento (LÔBO, desfeitos pelas
partes.
2012, p. 209).
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DIREITO DE FAMÍLIA II
Contagem de Graus
Na linha reta, a contagem do parentesco inicia-se com o primeiro grau e
continua ilimitadamente, isto é, admite graus ad infinitum, tendo potencialidade de
produção de variados efeitos previstos na lei.
A dica é partir
de você ou de A dica é partir de você ou de alguém que queira descobrir o grau
alguém que queira de parentesco e seguir até encontrar o outro que se deseja.
descobrir o grau de
parentesco e seguir Em que pese a potencialidade de efeitos entre os parentes na
até encontrar o outro linha reta, quanto mais próximo o parentesco, maiores as chances
que se deseja.
de incidência desses efeitos. Para ilustrar, no direito sucessório,
havendo parentes em graus mais próximos, os mais remotos serão excluídos.
Havendo filhos, por exemplo, eles excluirão os netos do direito de herança. Assim
também na obrigação alimentar, havendo pais, a estes incumbirão o dever de
pagar alimentos aos filhos menores, transmitindo-se esta obrigação aos avós,
apenas em caráter subsidiário, nunca diretamente. Por outro lado, a proibição de
casamento prevista no art. 1.521 do CC estende-se a todo e qualquer parentesco
em linha reta.
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Capítulo 1 PARENTESCO
Bisavós Bisavós
3º grau Paternos ASCENDENTES
Maternos
Netos 2º grau
Bisnetos 3º grau
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DIREITO DE FAMÍLIA II
Linha Reta
...
Linha Colateral Linha Colateral
3º
Bisavô
4º 2º
Tio Avô Avô
1º 3º
Filho do Tio Avô Pai Tios
2º 4º
Eu Irmãos Primos
1º 3º
Filho Sobrinhos Filho do Primo
2º 4º
Neto Filho do Sobrinho
3º Neto do Sobrinho
Bisneto
...
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Capítulo 1 PARENTESCO
Afinidade
O vínculo
O vínculo conjugal ou de companheirismo reúne os cônjuges ou
conjugal ou de
companheiros entre si, ao passo que a afinidade liga cada um desses companheirismo
individualmente, aos parentes do outro. O art. 1.595 do CC está assim reúne os cônjuges
construído: “Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do ou companheiros
outro pelo vínculo de afinidade”. entre si, ao passo
que a afinidade liga
cada um desses
Também se dá pela linha reta e colateral. Na linha reta não
individualmente, aos
há limitação de grau, embora na prática apenas se encontrem parentes do outro.
nomenclaturas específicas para os parentes por afinidade na linha reta
em primeiro grau (sogro(a), genro, nora, enteados(as), padrasto e madrasta).
Segundo a
Segundo a construção do Código Civil, que privilegiava os laços
construção do
biológicos, os vínculos por afinidade foram construídos muito mais com Código Civil, que
intuito de estabelecimento de limites de impedimentos de casamento, privilegiava os
do que propriamente criação de direito e deveres. No passado, não laços biológicos,
se cogitava efeitos decorrentes da relação entre padrasto e enteada, os vínculos por
como obrigação alimentar e/ou direito de herança. Ocorre que, com afinidade foram
construídos muito
as novas construções de laços afetivos, pode sim a afinidade gerar
mais com intuito de
direitos e obrigações, basta ser baseada em laços de afeto. estabelecimento
de limites de
O tema ainda é recente e desafia o Judiciário, mas pouco a impedimentos de
pouco começam a surgir decisões estabelecendo deveres a partir casamento, do
do reconhecimento de vínculos socioafetivos entre parentes por que propriamente
criação de direito e
afinidade, caso do padrasto obrigado a prestar alimentos à filha de
deveres.
sua companheira, conforme se extrai de decisão em primeiro grau, da
Comarca de São José-SC, confirmada pelo Tribunal de Justiça, com
trecho assim ementado: “Alimentos à enteada. Possibilidade. Vínculo socioafetivo
demonstrado. Parentesco por afinidade. Forte dependência financeira observada”
(TJ/SC, AI n. 2012.073740-3, 2ª Câmara de Direito Civil, Comarca de São José, j.
04.02.2013).
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DIREITO DE FAMÍLIA II
afinidade. Assim também para saber qual o seu parentesco com o irmão do seu
marido/companheiro, basta saber qual o parentesco do marido/companheiro com
o irmão. Viu-se que o parentesco entre irmãos é de segundo grau, razão pela qual
a afinidade entre cunhados também será de segundo grau.
São parentes por afinidade, na linha reta, em primeiro grau: sogro(a), genro,
nora, enteados(as), padrasto e madrasta. São parentes por afinidade, na linha
colateral, em segundo grau, os cunhados(as). A afinidade na linha colateral se
restringe ao segundo grau, não sendo considerado como afim os concunhados ou
os filhos do cunhado.
EU Casamento CÔNJUGE
Fonte: A autora.
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Capítulo 1 PARENTESCO
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Atividade de Estudos:
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Capítulo 1 PARENTESCO
Algumas ConsideraçÕes
Como se pode perceber, a noção de parentesco é relevante não só para
o Direito Privado, mas também para o Direito Público, produzindo efeitos tanto
de ordem pessoal, quanto de ordem patrimonial. A importância de seu estudo
está diretamente atrelada às mudanças de conceito e abrangência das entidades
familiares, suas novas formações e vínculos.
ReferÊncia
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Famílias. Salvador: Jus Po-
diwm, 2017.
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C APÍTULO 2
Filiação
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Capítulo 2 FILIAÇÃO
ConteXtualiZação
Aplica-se ao direito de filiação o princípio da igualdade entre os filhos e o
princípio da vedação de tratamento discriminatório. A Constituição Federal, em
seu artigo 227, parágrafo 6º, terminou com a construção anterior do Código Civil,
que autorizava a distinção entre filhos, privilegiando os oriundos do casamento e
discriminando aqueles concebidos fora da relação conjugal.
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Capítulo 2 FILIAÇÃO
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Capítulo 2 FILIAÇÃO
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Prova da filiação: para encerrar o item sobre filiação, importa anotar que o
registro civil é o meio hábil ordinário para estabelecer a parentalidade, devendo
todos os nascimentos serem registrados (Lei 6.015/73, arts. 50 a 66).
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Capítulo 2 FILIAÇÃO
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DIREITO DE FAMÍLIA II
Além do mais, o Além do mais, o reconhecimento é ato declaratório que pode ser
reconhecimento feito a qualquer tempo, inclusive antes do nascimento. A doutrina se
é ato declaratório posiciona no sentido de ser possível o reconhecimento de nascituro,
que pode ser feito diante da justificativa de receio por parte do pai, de que algo possa lhe
a qualquer tempo,
acontecer antes do filho nascer, bem como do receio da mãe, de não
inclusive antes do
nascimento. sobreviver ao parto, garantindo, em ambos os casos, os direitos do filho.
Farias e Rosenvald (2017, p. 623), por sua vez, trazem interessante ponto
de vista sobre o reconhecimento feito por incapazes. Os autores defendem que
em razão de se tratar de ato jurídico em sentido estrito e não de negócio jurídico,
pode o reconhecimento de filiação ser feito sem assistência do pai ou mãe do
relativamente incapaz. Apenas se o reconhecimento for feito por escritura pública
é que deverá estar assistido, “por conta da solenidade essencial do ato público,
mas não pelo reconhecimento em si”.
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Capítulo 2 FILIAÇÃO
O artigo 1.614 do Código Civil, por sua vez, estabelece o prazo decadencial
de quatro anos para o filho menor, que foi reconhecido sem a sua concordância,
impugnar a paternidade, a contar da aquisição da maioridade. Essa ação
impugnatória não precisa ser motivada, basta a alegação da discordância do
reconhecimento. Outra situação
prevista no art.
Outra situação prevista no art. 27 do ECA, que estabelece a 27 do ECA, que
imprescritibilidade do direito ao reconhecimento forçado de paternidade, estabelece a
tutela a qualquer pessoa o direito de buscar o reconhecimento de seus imprescritibilidade
do direito ao
vínculos de parentalidade a qualquer momento, ou seja, não há prazo
reconhecimento
para o ajuizamento de ação investigatória de paternidade. forçado de
paternidade, tutela
Por este artigo também se entende ser imprescritível a negação a qualquer pessoa
da paternidade, ou seja, motivadamente pode o filho pretender o direito de buscar
desfazer o vínculo de filiação constituído no passado, a qualquer o reconhecimento
de seus vínculos
tempo, principalmente na era da socioafetividade, em que a realidade
de parentalidade a
fática pode confrontar a filiação biológica e a socioafetiva. qualquer momento.
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Capítulo 2 FILIAÇÃO
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Capítulo 2 FILIAÇÃO
A legitimidade passiva, por sua vez, em regra será titularizada pelo pai ou
pela mãe, diante do caráter personalíssimo. Entretanto, com base na ampliação
da legitimação ativa, podem também estar no polo passivo o filho ou os avós, a
depender de quem figura no polo ativo.
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Capítulo 2 FILIAÇÃO
Para que uma ação dessa natureza tenha seu pedido acolhido, precisa ficar
demonstrada a inexistência de qualquer laço entre filho e pai registral.
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Atividade de Estudos:
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Capítulo 2 FILIAÇÃO
Algumas ConsideraçÕes
O direito de filiação sofreu e continua sofrendo mutações significativas. O
reconhecimento da filiação socioafetiva trouxe mais humanismo, ao acolher
vínculos não apenas baseados em origem genética. É fato que os padrões
estabelecidos no passado não comportam mais as estruturas que lhe foram
forjadas e desafiam todo tipo de mudanças.
ReferÊncia
CALDERON, Ricardo. Princípio da Afetividade. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. São Paulo: Saraiva, 2013.
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Famílias. Salvador: Jus Po-
diwm, 2017.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Família. Rio de Janeiro, Forense Editora, 2017.
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C APÍTULO 3
Adoção
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Capítulo 3 ADOÇÃO
ConteXtualiZação
Este capítulo abordará a adoção, seus contornos atuais, requisitos para adotar
e ser adotado, além dos efeitos tanto da adoção nacional quanto internacional. Se
no passado a adoção era tratada como um tipo de filiação de segunda classe, ou
uma forma de se solucionar a esterilidade, após a Constituição Federal de 1988
ocorreu uma releitura e valorização da adoção.
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A adoção pode ainda ser realizada pelo tutor ou curador, desde que preste
contas de suas administrações e salde eventuais débitos (art. 44, do ECA).
Por sua vez, o art. 45 do ECA exige o consentimento dos pais biológicos,
ou na falta desses, do representante legal do menor, no processo de adoção. O
artigo está assim redigido:
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Capítulo 3 ADOÇÃO
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Capítulo 3 ADOÇÃO
ReQuisitos
A adoção, como todo ato jurídico, exige o cumprimento de alguns requisitos
básicos para o seu aperfeiçoamento.
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Capítulo 3 ADOÇÃO
Efeitos da Adoção
Com a adoção nasce uma relação de parentesco entre adotante e adotado,
prevendo o art. 41 do ECA que a adoção atribui condição de filho ao adotado, com
os mesmos direitos e deveres.
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Capítulo 3 ADOÇÃO
2016 e 2017, quase 200 crianças adotadas em Santa Catarina foram devolvidas
(g1.globo.com).
O Estado não pode tutelar que essas crianças que já foram, na maior
parte das vezes, abandonadas pelos seus pais biológicos sejam, novamente,
abandonadas pelos pais adotivos.
Adoção Internacional
É assim chamada a adoção na qual o pretendente possui residência
habitual em país-parte da Convenção de Haia, relativa à Proteção das Crianças
e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, e deseja adotar criança em
outro país-parte da Convenção. Essa é a nova redação do art. 51, recentemente
alterada pela Lei 13.509, de 2017.
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Atividade de Estudos:
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Capítulo 3 ADOÇÃO
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Capítulo 3 ADOÇÃO
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Algumas ConsideraçÕes
Com a alteração de concepção de família, modificou-se também a
estrutura de parentesco e as relações de parentalidade. A filiação passou a ser
instrumentalizada, abandonando-se a concepção de função procracional da
família, para dar espaço a outros tipos de vínculos. Não há mais espaço para
distinções, discriminações e preconceitos.
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Capítulo 3 ADOÇÃO
ReferÊncia
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. São Paulo: Saraiva, 2013.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil: Família. São Paulo: Saraiva, 2005.
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Famílias. Salvador: Jus Po-
diwm, 2017.
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C APÍTULO 4
Do Poder Familiar
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Capítulo 4 DO PODER FAMILIAR
ConteXtualiZação
O presente capítulo tratará sobre o poder familiar, antigo pátrio poder, que se
refere a uma autoridade concedida aos pais sobre os filhos menores, analisando
o seu significado, conteúdo e titularidade. Ao final, será tratado sobre as formas
de extinção e suspensão dessa autoridade.
Portanto, o poder dos pais foi afastado, para em seu lugar assumirem um
dever de proteção, de cuidado, de convívio com os seus filhos, de forma igualitária.
É o que se verá na sequência.
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DIREITO DE FAMÍLIA II
Titularidade
Na codificação civil de 1916, o marido era considerado o chefe da família,
exercendo o pai com exclusividade o pátrio poder. A mãe só o exercia como
coadjuvante ou em caso de ausência ou impedimento do pai.
Foi com a edição do estatuto da mulher casada (Lei 4.121/62) que a mãe
começou a exercitar o pátrio poder em conjunto com o marido. Entretanto, em
caso de divergência, prevalecia a vontade do pai.
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Capítulo 4 DO PODER FAMILIAR
Portanto, cabe aos pais a titularidade do poder familiar, pouco Cabe aos pais a
importando o estado civil. A regra é o exercício da coparentalidade, titularidade do poder
isto é, exercício conjunto, tomada de decisões por ambos os pais. Nos familiar, pouco
casos de ruptura da relação, o poder familiar permanece íntegro. Nesse importando o estado
civil.
sentido, é a redação do artigo 1.632: “A separação judicial, o divórcio
e a dissolução da união estável não alteram as relações entre pais e filhos
senão quanto ao direito, que aos primeiros cabe, de terem em sua companhia os
segundos” (BRASIL, 2002).
No caso de o filho não ser reconhecido pelo pai, o poder familiar No caso de o
será exercido exclusivamente pela mãe. Se, todavia, a mãe não for filho não ser
conhecida ou capaz de exercê-lo, dar-se-á tutor ao menor. reconhecido pelo
pai, o poder familiar
será exercido
Com o divórcio ou a dissolução de união estável surge o instituto da exclusivamente pela
guarda. No passado, em que a guarda como regra era unilateral, ficava mãe. Se, todavia,
fácil identificar a atribuição dos pais, que detinham o poder familiar e a mãe não for
as transformações sofridas em seu exercício, com a guarda exercida conhecida ou capaz
geralmente pela mãe. O guardião chamava para si praticamente todas de exercê-lo, dar-
se-á tutor ao menor.
as decisões diárias relacionadas à vida do filho. Somente questões
mais sérias seriam decididas em conjunto.
ConteÚdo e EXercício
O conteúdo e o
O conteúdo e o exercício do poder familiar abrangem tanto exercício do poder
questões pessoais quanto patrimoniais relacionadas aos filhos familiar abrangem
menores. Conforme Lôbo (2012, p. 302), “os pais não exercem poderes tanto questões
e competências privados, mas direitos vinculados a deveres e cumprem pessoais quanto
patrimoniais
deveres cujos titulares são os filhos”. Exemplifica com a situação de
relacionadas aos
filhos menores.
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DIREITO DE FAMÍLIA II
que os pais devem dirigir a educação dos filhos e, ao mesmo tempo, assegurá-la,
ou seja, os pais têm o direito e o dever de educar os filhos.
Ter os filhos sob sua guarda é mais fácil quando os pais convivem e residem
juntos. Quando a realidade não é essa, o exercício da guarda jurídica pode ser
unilateral ou compartilhada, já a guarda física é a possibilidade de ter o filho em
68
Capítulo 4 DO PODER FAMILIAR
Ainda nessa linha, cabe ainda aos pais autorizarem ou não os filhos de
mudarem sua residência permanente para outro município. Esse inciso foi
acrescentado com o objetivo de evitar que no caso de ruptura da união dos pais,
o guardião decida se mudar de cidade, sem o consentimento do outro e assim
afastar o filho do convívio. Essa é uma questão bastante delicada na prática, pois
está o genitor guardião autorizado a mudar de cidade, mas para levar o filho,
precisará da concordância do outro genitor, o que nem sempre é possível.
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DIREITO DE FAMÍLIA II
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Capítulo 4 DO PODER FAMILIAR
EXtinção
Causas de extinção
De acordo com o artigo 1.635 do Código Civil, são causas do poder familiar: a
de extinção do poder familiar: a morte dos pais ou do filho (inc. I); morte dos pais ou
a emancipação, nos termos do art. 5o, parágrafo único (inc. II); a do filho (inc. I); a
maioridade (inc. III), a adoção (inc. IV) e decisão judicial, na forma do emancipação, nos
artigo 1.638 (inc. V) (BRASIL, 2002). termos do art. 5o,
parágrafo único (inc.
II); a maioridade
A morte de ambos os genitores é causa natural de extinção do (inc. III), a adoção
poder familiar, assim como a morte do filho. Todavia, o óbito de apenas (inc. IV) e decisão
um dos genitores faz subsistir o poder familiar exclusivo com relação judicial, na forma do
ao genitor sobrevivente. artigo 1.638
Por fim, o último inciso menciona a extinção do poder familiar por ato judicial,
nos casos previstos no art. 1.638 do CC, que trata das hipóteses de perda de
poder familiar, que serão tratados na sequência (BRASIL, 2002).
A perda do poder
Perda do Poder Familiar familiar é fruto de
uma avaliação
negativa do
A perda do poder familiar é fruto de uma avaliação negativa do exercício da
exercício da autoridade parental correspondente a uma penalização autoridade parental
imposta aos pais, porém com intuito principal de proteger o filho. As correspondente a
hipóteses estão delineadas no art. 1.638 do CC. uma penalização
imposta aos pais,
porém com intuito
principal de proteger
o filho.
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DIREITO DE FAMÍLIA II
SusPensão
A suspensão do poder familiar está prevista no artigo 1.637 do Código Civil
(BRASIL, 2002) e está assim redigido:
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Capítulo 4 DO PODER FAMILIAR
Essa previsão já era fonte de críticas e foi alterada pela Lei A redação prevê
que a “condenação
12.962/2014, que acrescentou o parágrafo 2 ao art. 23 do ECA, que
criminal do pai ou
garante a convivência entre presos e seus filhos. A redação prevê que mãe não implicará
a “condenação criminal do pai ou mãe não implicará a destituição do a destituição do
poder familiar, exceto na hipótese de condenação por crime doloso poder familiar,
sujeito à pena de reclusão, contra o próprio filho ou filha”. exceto na hipótese
de condenação por
O parágrafo 4 do mesmo artigo 23 do ECA garante outrossim a crime doloso sujeito
à pena de reclusão,
convivência da criança com o pai ou mãe privado de liberdade, por
contra o próprio filho
meio de visitas periódicas. ou filha”.
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DIREITO DE FAMÍLIA II
Atividade de Estudos:
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Algumas ConsideraçÕes
O capítulo tratou sobre o poder familiar, que compreende o
É um regime de
cuidado e proteção. exercício de atividades a que os pais se obrigam para com seus
filhos menores. É um regime de cuidado e proteção. Observou-se
que ao longo do tempo esse instituto se alterou drasticamente, acompanhando
as transformações ocorridas na família. Com a queda do patriarcalismo, o poder
familiar passou a ser exercido em igualdade de condições entre o pai e a mãe,
além da proteção e reconhecimento dado aos filhos, enquanto sujeitos de direitos.
O conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais com relação aos filhos
menores - que demandam atenção, cuidado e proteção - pode sofrer drásticas
consequências, como a perda ou a suspensão da autoridade parental, caso
descumpram com suas atribuições. A aplicação de referidas medidas deve sempre
ser feita com bastante cautela, para não ferir exatamente o que se pretende
proteger: o melhor interesse da criança ou do adolescente.
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Capítulo 4 DO PODER FAMILIAR
ReferÊncia
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Dis-
ponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.
htm>. Acesso em: 25 jun. 2018.
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013.
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DIREITO DE FAMÍLIA II
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C APÍTULO 5
Regime de Bens
(TIM MAIA)
DIREITO DE FAMÍLIA II
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Capítulo 5 REGIME DE BENS
ConteXtualiZação
A comunhão de vida implica também na comunhão de interesses A comunhão de vida
econômicos. O casamento ou a união estável exigem a adoção de um implica também
regime de bens, cujas regras estipulam o tratamento patrimonial que na comunhão
produzirá variados efeitos. de interesses
econômicos.
Não só durante a relação o regime produzirá efeitos, mas
principalmente quando a relação terminar, seja por divórcio, dissolução de união
estável ou morte.
O regime de bens pode ser definido como o estatuto de bens das pessoas
casadas ou que vivam em união estável, regulamentando as consequências
patrimoniais entre o casal e terceiros. Para Tartuce (2017, p. 130), “é o conjunto
de regras relacionadas com interesses patrimoniais ou econômicos resultantes da
entidade familiar, sendo as suas normas, em regra, de ordem privada”.
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DIREITO DE FAMÍLIA II
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Capítulo 5 REGIME DE BENS
Administração e DisPoniBilidade de
Bens
O casamento ou a união estável requer dos cônjuges ou companheiros uma
série de atos de administração de despesas e receitas comuns, além de tarefas e
atos destinados à sustentação e à manutenção do lar. Os atos relacionados com
a economia doméstica podem ser livremente executados por qualquer um dos
cônjuges, em igualdade de condições, independente do regime de bens ou de
vênia conjugal.
O Código Civil tratou de regular nos artigos 1.642 e 1.643 os variados atos
que não dependem de anuência do outro para poderem ser praticados
(BRASIL, 2002). Dispõe o art. 1.642 do CC:
85
DIREITO DE FAMÍLIA II
Por fim, o inciso VI permite a prática de todo e qualquer ato que não estiver
proibido por lei. As hipóteses elencadas no artigo em comento são complemen-
tadas pelo art. 1.643 do CC que autoriza os consortes, sem anuência do outro, a
comprar as coisas necessárias à economia doméstica (inciso I) e a obter emprés-
timos para possibilitar a aquisição de referidos itens (BRASIL, 2002).
86
Capítulo 5 REGIME DE BENS
No regime de
Merece ainda consideração o fato de que no regime de
participação final
participação final nos aquestos, a outorga pode ser dispensada no nos aquestos, a
pacto antenupcial, a teor do artigo 1.656 do CC (BRASIL, 2002). outorga pode ser
dispensada no pacto
O inciso II trata de capacidade processual que exige a outorga antenupcial, a teor
do outro cônjuge para pleitear como autor acerca dos bens ou do artigo 1.656 do
CC.
direitos imobiliários. Já no polo passivo será exigida a formação de
litisconsórcio passivo obrigatório pelo casal.
Exigem ainda outorga a prestação de fiança ou aval (inc. III), assim como a
doação de bens comuns ou dos bens que possam integrar futura meação (regime
de participação final nos aquestos), não sendo a doação remuneratória.
87
DIREITO DE FAMÍLIA II
Por fim, a Lei Maria da Penha, no art. 24, inc. II autoriza o juiz a proibir
temporariamente a celebração de contratos de locação ou de compra e venda de
bens comuns ao casal, a fim de evitar dilapidação de patrimônio.
88
Capítulo 5 REGIME DE BENS
Pacto AntenuPcial
O pacto antenupcial é exigido em todos os regimes, exceto o de comunhão
parcial de bens, considerado regime supletivo. Não havendo convenção ou sendo
ela nula ou ineficaz, também vigorará entre os cônjuges o regime de comunhão
parcial, consoante art. 1.640 do CC (BRASIL, 2002).
Há divergências
quanto à natureza
Atribui-se o nome de pacto antenupcial ao acordo que regulamenta jurídica do pacto,
as regras do regime de bens eleito pelo casal. Há divergências quanto porém, parece
à natureza jurídica do pacto, porém, parece prevalecer atualmente o prevalecer
entendimento de que se trata de negócio jurídico. atualmente o
entendimento de
que se trata de
O pacto exige escritura pública (art. 1.653 do CC), sob pena negócio jurídico.
de nulidade, o qual deve ser devidamente registrado no Cartório de
Imóveis do domicílio dos nubentes, para que tenha eficácia perante terceiros. Já
a eficácia do pacto em si subordina-se a casamento válido, a teor do art. 1.640 do
CC. “Trata-se de negócio celebrado sob condição suspensiva, uma vez que só
começa a produzir efeitos com o casamento” (TARTUCE, 2017, p. 166).
89
DIREITO DE FAMÍLIA II
90
Capítulo 5 REGIME DE BENS
Fonte: A autora.
91
DIREITO DE FAMÍLIA II
Excluem-se da comunhão:
I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe
sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou
sucessão, e os sub-rogados em seu lugar;
II - os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes
a um dos cônjuges em sub-rogação dos bens particulares;
III - as obrigações anteriores ao casamento;
IV - as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão
em proveito do casal;
V - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de
profissão;
VI - os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;
VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas
semelhantes (BRASIL, 2002).
Bens de uso pessoais, como roupas, sapatos, joias, relógios, celulares, livros
e instrumentos de profissão (máquina de costura, livros, bisturis, computadores
pessoais) também são incomunicáveis. Aqui somente são incomunicáveis os
imprescindíveis ao trabalho, bens em grande quantidade ou mesmo valor já
passam a ser considerados comunicáveis.
92
Capítulo 5 REGIME DE BENS
93
DIREITO DE FAMÍLIA II
Segue a ementa:
94
Capítulo 5 REGIME DE BENS
95
DIREITO DE FAMÍLIA II
96
Capítulo 5 REGIME DE BENS
Fonte: A autora.
97
DIREITO DE FAMÍLIA II
Em que pese a regra geral da comunicação quase total dos bens, o artigo
1.668 do CC traz algumas exceções, como se pode observar de sua redação:
Cabe aqui uma ressalva, novamente, para destacar que a interpretação desse
inciso deve se dar de forma restritiva, sendo considerados como incomunicáveis
apenas os instrumentos de profissão mínimos necessários. Nas palavras de
Madaleno (2016, p. 810):
Com relação aos proventos, também mais uma vez os doutrinadores tecem
as suas críticas ao inciso, já que o patrimônio da sociedade conjugal é construído
a partir dos recursos de cada cônjuge. Madaleno (2016) chega a chamar de
injusta a previsão legal, justamente no regime de comunhão universal, em que se
comunicam os bens particulares. Alega que teria sido melhor “que o codificador
declarasse comunicáveis os proventos do trabalho ou da indústria dos cônjuges
tanto no regime de comunhão universal como na comunhão limitada de bens, por
se tratar de créditos, sobras ou economias advindas do labor de cada consorte”
(MADALENO, 2016, 811).
100
Capítulo 5 REGIME DE BENS
Chinelato (2004, p. 367-368) anota que haverá ao final, não direito à meação
dos bens, mas participação nos ganhos ou lucros auferidos por um cônjuge
quanto aos seus bens particulares. Para Madaleno (2016, p. 821):
Essa última afirmação ganha força com o artigo 1.674 do CC, que elenca o
que deverá ficar de fora do montante dos aquestos:
Grande parte da doutrina defende que o direito à partilha final não será sobre
os bens, mas sobre o saldo patrimonial. Preconiza o art. 1.682 do CC que este
direito não admite renúncia.
101
DIREITO DE FAMÍLIA II
Novos bens
são divididos
Apenas na
Dissolução
Fonte: A autora.
É o único regime que dispensa outorga conjugal (art. 1.647 do CC), uma vez
que todo o patrimônio é considerado bem particular, podendo seu titular livremente
administrá-lo, aliená-lo ou gravá-lo de ônus real (art. 1687 do CC).
102
Capítulo 5 REGIME DE BENS
Fonte: A autora.
Neste regime, nada impede que o casal crie comunhão patrimonial, para
tanto, em se tratando de bens imóveis, basta registrá-los em nome de ambos,
criando um condomínio. Se, contudo, esse cuidado não foi tomado, é preciso
provar o esforço comum. É o que se percebe do julgado do STJ:
103
DIREITO DE FAMÍLIA II
104
Capítulo 5 REGIME DE BENS
105
DIREITO DE FAMÍLIA II
Fonte: A autora.
106
Capítulo 5 REGIME DE BENS
Ora, estabelecer uma regra restritiva em razão da idade máxima Estabelecer uma
regra restritiva
despreza não só a singularidade dos sujeitos, como fere o princípio da
em razão da
igualdade, importando em preconceito e desrespeito ao idoso, além de idade máxima
construir histórias de exclusão da cidadania (PEREIRA, 2010). despreza não só
a singularidade
Ademais, a regra cria a desarrazoada situação de não permitir ao dos sujeitos, como
septuagenário a livre escolha do regime de bens de seu casamento, em fere o princípio
da igualdade,
prol ou em detrimento de seu par eleito. Em contrapartida, o autoriza
importando em
a dar continuidade à frente de seus negócios, a integrar a Câmara preconceito e
de Deputados, do Senado Federal, ou a concorrer à Presidência da desrespeito ao
República e gerenciar toda uma nação. idoso, além de
construir histórias
Não se desconsidera o fato de que, efetivamente, possa o idoso de exclusão da
cidadania.
estar com a sua capacidade de discernimento comprometida, devendo,
neste caso, a família tomar as providências cabíveis para a restrição legal de seus
atos. Do contrário, não há razões para impedi-lo de livremente optar pelo modelo
de regime que considera mais adequado.
107
DIREITO DE FAMÍLIA II
Não há previsão
expressa da Não há previsão expressa da incidência do regime de separação
incidência do regime obrigatória de bens à união estável, instituto marcado pela informalidade.
de separação Gagliano e Pamplona Filho (2016, p. 324) manifestam-se no sentido
obrigatória de bens de incompleta impossibilidade de extensão da restrição ao instituto da
à união estável. união estável, em razão de traduzir limitação à autonomia privada, não
comportando qualquer interpretação ampliativa, extensiva ou analógica.
Já o Superior
Tribunal de Justiça Já o Superior Tribunal de Justiça (2017) vem entendendo pela
(2017) vem aplicação da regra, de modo a não criar distinções em relação ao
entendendo pela casamento (STJ, AREsp 252676, Min. Rel. Antônio Carlos Ferreira,
aplicação da regra,
publicado em 24/03/2017; Resp 1341784, Min. Rel. Luis Filipe Salomão,
de modo a não
criar distinções publicado em 09/08/2016).
em relação ao
casamento. Outra discussão digna de registro envolve a aplicabilidade do
regime obrigatório aos casamentos precedidos de união estável. Veloso
Outra discussão (1997) e Farias e Rosenvald (2017) engrossam o coro dos doutrinadores
digna de registro que defendem que deve ser excepcionada a imposição prevista no art.
envolve a 1.641, II do CC, nas situações em que o casamento seja precedido de
aplicabilidade do
união estável, iniciada com idade inferior a 70 anos.
regime obrigatório
aos casamentos
precedidos de união Nesse sentido, o enunciado 261, da IV Jornada de Direito Civil, foi
estável. assim ementado: “Art. 1.641: a obrigatoriedade do regime da separação
de bens não se aplica a pessoa maior de sessenta anos, quando o
“Art. 1.641: a casamento for precedido de união estável iniciada antes dessa idade”
obrigatoriedade (BRASIL, 2002).
do regime da
separação de O Tribunal de Justiça de Santa Catarina autorizou a alteração do
bens não se
regime de bens, em caso de casamento precedido de união estável,
aplica a pessoa
maior de sessenta conforme se observa da ementa a seguir:
anos, quando o
casamento for APELAÇÃO CÍVEL - PROCEDIMENTO DE JURISDIÇÃO
VOLUNTÁRIA – MODIFICAÇÃO DO REGIME MATRIMONIAL
precedido de união
DE BENS - SENTENÇA QUE DECLAROU EXTINTO O
estável iniciada PROCESSO POR AUSÊNCIA DAS CONDIÇÕES DA
antes dessa idade”. AÇÃO - LEGITIMIDADE E INTERESSE PARA PLEITEAR
A RESPECTIVA ALTERAÇÃO, QUE ENCONTRARIA
RESPALDO NO ART. 1.639, § 2°, DO CC - MATRIMÔNIO
CONTRAÍDO QUANDO OS INSURGENTES POSSUÍAM
MAIS DE 60 (SESSENTA) ANOS DE IDADE - SEPARAÇÃO
OBRIGATÓRIA DE BENS - PRETENDIDA MODIFICAÇÃO
PARA O REGIME DE COMUNHÃO UNIVERSAL -
INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICA DO CÓDIGO CIVIL E
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL - CONCLUSÃO DE QUE
A IMPOSIÇÃO DE REGIME DE BENS AOS IDOSOS SE
REVELA INCONSTITUCIONAL - AFRONTA AO PRINCÍPIO
DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA - LEGISLAÇÃO
QUE, CONQUANTO REVESTIDA DE ALEGADO CARÁTER
108
Capítulo 5 REGIME DE BENS
109
DIREITO DE FAMÍLIA II
110
Capítulo 5 REGIME DE BENS
Fonte: A autora.
111
DIREITO DE FAMÍLIA II
Atividade de Estudos:
112
Capítulo 5 REGIME DE BENS
Algumas ConsideraçÕes
Este capítulo tratou da parte patrimonial das relações familiares. Sempre que
um casal decidir se casar ou viver em união estável, deverá eleger um regime de
bens que regerá o patrimônio do casal, estabelecendo regras para a partilha de
bens em caso de divórcio, dissolução de união estável ou morte.
Com efeito, a escolha do regime deveria ser realizada pelo casal de forma
a eleger o regime mais adequado para a realidade de cada casal, levando em
consideração as convicções, o patrimônio, a profissão, entre outros aspectos.
A confecção consciente do pacto antenupcial poderia evitar muitos problemas
futuros entre o casal.
113
DIREITO DE FAMÍLIA II
ReferÊncias
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Di-
sponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.
htm>. Acesso em: 25 jun. 2018.
CARVALHO, Dimas de Messias. Direito das Famílias. 4. ed. São Paulo: Saraiva,
2015.
114
Capítulo 5 REGIME DE BENS
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013.
MORAES, Bianca Mota de. Comentário ao art. 1.672 do Código Civil. In: LEITE,
Heloísa Maria Daltro (Coord.). O novo Código Civil do Direito de Família. Rio de
Janeiro: Freitas Bastos, 2002.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. STJ, AREsp 252676, Min. Rel. Antônio Car-
los Ferreira, publicado em 24/03/2017.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. STJ Resp 1341784, Min. Rel. Luis Filipe
Salomão, publicado em 09/08/2016.
115
DIREITO DE FAMÍLIA II
116
C APÍTULO 6
Do Usufruto e da Administração dos
Bens dos Filhos Menores
118
Capítulo 6 DO USUFRUTO E DA ADMINISTRAÇÃO DOS BENS DOS
FILHOS MENORES
ConteXtualiZação
Este capítulo tratará sobre o exercício do usufruto e da administração dos
bens pertencentes aos filhos menores, dos limites impostos pela legislação, bem
como das consequências em caso de divergência de interesses entre pais e filhos.
No Código Civil de 1916, este tema estava tratado juntamente ao pátrio poder
(atual poder familiar). No Código Civil de 2002, a matéria foi deslocada. O Livro de
Direito de Família foi estruturado em duas partes: primeiro trata sobre os direitos
pessoais e depois sobre os direitos patrimoniais.
EXercício do Usufruto e da
Administração
Usufruto é instituto de direito real, consistente no poder de usufruir da coisa,
podendo beneficiar-se dos frutos que a coisa produz, sendo constituído por meio
de registro público.
119
DIREITO DE FAMÍLIA II
Nas palavras de Peluzo (2013, p. 1.914), as rendas geradas pelos bens dos
infantes “compensam-se com as despesas que o pai deve efetuar com a criação
e a educação dos filhos e harmonizam-se com a ideia de que se trata de uma
comunidade doméstica, em que há compartilhamento de receita e despesas”.
121
DIREITO DE FAMÍLIA II
Pode ainda ser excluído apenas um dos pais ou excluídos de apenas uma
das funções, como somente da administração ou somente do usufruto. Trata-se
de um ato de autonomia privado do doador em benefício do patrimônio doado.
Atividade de Estudos:
122
Capítulo 6 DO USUFRUTO E DA ADMINISTRAÇÃO DOS BENS DOS
FILHOS MENORES
123
DIREITO DE FAMÍLIA II
124
Capítulo 6 DO USUFRUTO E DA ADMINISTRAÇÃO DOS BENS DOS
FILHOS MENORES
Algumas ConsideraçÕes
Este capítulo tratou da questão patrimonial dos bens dos filhos, observando-
se caber aos pais detentores do poder familiar, também a administração e o
usufruto do patrimônio pertencente aos menores. Como se trata de um ônus aos
pais para proteger os bens dos filhos, fica vedada a alienação e oneração real,
salvo quando houver comprovada necessidade ou evidente interesse da prole,
com autorização judicial, sob pena de nulidade. O único benefício aos pais é
poder usufruir dos rendimentos dos bens dos filhos.
ReferÊncia
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Di-
sponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.
htm>. Acesso em: 25 jun. 2018.
125
DIREITO DE FAMÍLIA II
126
C APÍTULO 7
Dos Alimentos
128
Capítulo 7 DOS ALIMENTOS
ConteXtualiZação
Os alimentos são decorrentes das relações familiares e são pautados na
solidariedade e na dignidade da pessoa humana. Todos devem ter direito a uma
vida digna, apresentando-se o instituto dos alimentos como uma das principais
traduções do princípio da solidariedade.
129
DIREITO DE FAMÍLIA II
Diniz (2016) aponta a natureza dos alimentos como sendo mista - uma mescla
de caráter pessoal e patrimonial. Já para Madaleno (2016, p. 883), a natureza dos
alimentos depende da sua destinação: naturais, quando servirem tão somente
à sobrevivência do alimentando, e civis, quando destinados à “manutenção da
condição social do credor de alimentos, incluindo a alimentação propriamente dita,
o vestuário, a habitação, o lazer e necessidades de ordem intelectual e moral”.
130
Capítulo 7 DOS ALIMENTOS
Características
A obrigação alimentar apresenta diversas características específicas,
merecendo tecer alguns comentários acerca de cada uma delas.
131
DIREITO DE FAMÍLIA II
132
Capítulo 7 DOS ALIMENTOS
133
DIREITO DE FAMÍLIA II
Os alimentos
Os alimentos também não são passíveis de penhora. A também não são
impenhorabilidade restringe-se ao crédito atual, já as prestações passíveis de
passadas, vencidas e não pagas, podem perder seu caráter de dívida penhora.
necessária para a sobrevivência, perdendo o caráter de impenhorável.
135
DIREITO DE FAMÍLIA II
Alimentos Decorrentes do
Parentesco
Segundo o art. 1.696 do CC, a obrigação alimentar é recíproca entre
parentes. No entanto, é preciso distinguir as diversas regras existentes com
relação ao parentesco, a iniciar pelos alimentos entre pais e filhos.
136
Capítulo 7 DOS ALIMENTOS
137
DIREITO DE FAMÍLIA II
138
Capítulo 7 DOS ALIMENTOS
139
DIREITO DE FAMÍLIA II
Com efeito, não é possível pleitear alimentos diretamente aos avós, mas
somente depois de comprovada a inexistência ou impossibilidade do pai. É
necessário, antes de chegar aos avós, exaurir as tentativas de cobrança em
relação aos pais. O Enunciado nº 342 das Jornadas de Direito Civil foi assim
formulado:
140
Capítulo 7 DOS ALIMENTOS
Como bem expõe Madaleno (2016, p. 997), são cabíveis alimentos somente
em situações excepcionais:
141
DIREITO DE FAMÍLIA II
142
Capítulo 7 DOS ALIMENTOS
Alimentos Gravídicos
A Lei n. 11.804/2008 criou uma nova modalidade de alimentos, chamada de
alimentos gravídicos, dando força à teoria concepcionista, garantindo a prestação
alimentar desde a concepção e não apenas do nascimento.
143
DIREITO DE FAMÍLIA II
Entretanto, quanto maior for a possibilidade de quem presta, maior será a pensão
fixada e vice e versa.
A decisão que fixa alimentos pode ser alterada sempre que houver situação
que autorize a sua majoração ou redução, ou seja, havendo alteração das
condições econômicas de qualquer das partes, a pensão pode ser revista.
144
Capítulo 7 DOS ALIMENTOS
145
DIREITO DE FAMÍLIA II
146
Capítulo 7 DOS ALIMENTOS
Interessante questão foi recentemente julgada pelo STJ, que entendeu pela
possibilidade de revisar o valor da verba alimentar, fazendo incidir na base de
cálculo do quantum alimentar a participação dos lucros por parte do devedor.
147
DIREITO DE FAMÍLIA II
EXecução de Alimentos
O novo Código de Processo Civil trouxe uma série de novidades para a parte
de execução de alimentos. Uma das discussões existentes no passado girava
em torno da possibilidade ou não de executar títulos extrajudiciais. Essa questão
restou superada, estando atualmente prevista essa possibilidade nos artigos 911
a 913 do CPC (BRASIL, 2015).
148
Capítulo 7 DOS ALIMENTOS
Por sua vez, o parágrafo 8 do artigo 528 do CPC salienta que o cumprimento
de sentença ou decisão pode ser feito, desde logo, nos termos do disposto no
149
DIREITO DE FAMÍLIA II
Título II, Capítulo III (cumprimento de sentença por quantia certa), que remete
ao cumprimento de sentença sob pena de expropriação, não sendo nesse caso
admissível a prisão.
150
Capítulo 7 DOS ALIMENTOS
O artigo está assim disposto: “Art. 529. Quando o executado for funcionário
público, militar, diretor ou gerente de empresa ou empregado sujeito à legislação
do trabalho, o exequente poderá requerer o desconto em folha de pagamento da
importância da prestação alimentícia” (BRASIL, 2015).
Fonte: A autora.
152
Capítulo 7 DOS ALIMENTOS
Com efeito, tais restrições não poderão ser aplicadas de forma desmedida
e nem em larga escala. Em casos específicos, em que está evidente que o
devedor pode, diante de referidas medidas, ser coagido ao pagamento da dívida
- principal escopo da medida -, desde que devidamente fundamentada, restrições
específicas podem surtir o efeito pretendido. Antes do decreto prisional, por que
não uma suspensão de CNH ou bloqueio de cartão de crédito?
Pesquise:
UZTARROZ, Daniel. Retirar a CNH do Devedor de Alimentos.
2018. In genjuridico.com.br, acesso em junho de 2018.
153
DIREITO DE FAMÍLIA II
Atividade de Estudos:
Algumas ConsideraçÕes
Os alimentos, por estarem vinculados a uma verba subsistencial que assegura
uma vida digna, permitem medidas drásticas para assegurar o seu cumprimento.
No direito civil, a única previsão de prisão é exatamente a que se refere ao
devedor de alimentos, e é assim, pois no balanço entre os direitos fundamentais
de liberdade e de subsistência, este último prepondera. Os alimentos alimentam
o corpo, mas também alimentam a alma e são fundamentais para o dia a dia
daqueles que não conseguem por si só se manter.
154
Capítulo 7 DOS ALIMENTOS
Com base nisso tudo, percebe-se que a legislação acabou de ser alterada,
trazendo novas possibilidades para garantir o seu pagamento. O tema sobre
alimentos é extenso e muito importante, não só teórica como também prática,
merecendo atenção especial.
ReferÊncia
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Di-
sponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.
htm>. Acesso em: 25 jun. 2018.
155
DIREITO DE FAMÍLIA II
CARVALHO, Dimas de Messias. Direito das Famílias. 4. ed. São Paulo: Saraiva,
2015.
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil: Família. São Paulo: Saraiva, 2016.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, STJ, REsp n. 1454263 / CE, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, j. 2015 .
156
C APÍTULO 8
Bem de Família
158
Capítulo 8 BEM DE FAMÍLIA
ConteXtualiZação
Neste capítulo será tratado sobre a proteção do bem de família, tanto do
convencional quanto do legal. Essa proteção visa assegurar o patrimônio
mínimo, em clara tendência de valorização da pessoa humana, garantida
constitucionalmente.
No Código Civil de 1916, esse tema era tratado na Parte Geral do Código
Civil, deslocado no atual para o Livro de Direito de Família. Em verdade, a
proteção é dirigida à pessoa humana e não especificamente ao ente familiar, tanto
que o STJ reconhece que o imóvel em que reside pessoa solteira é protegido pela
impenhorabilidade legal (Súmula 364 do STJ).
Sua instituição poderá ser feita pelos cônjuges, por qualquer membro da
entidade familiar ou por terceiro, mediante escritura pública ou testamento, não
podendo ultrapassar um terço do patrimônio líquido de quem o estabelece, a teor
do art. 1.711 do CC.
159
DIREITO DE FAMÍLIA II
Quanto aos limites, Quanto aos limites, de modo distinto do bem de família legal, o
de modo distinto do convencional apresenta restrição para a instituição do bem de família,
bem de família legal,
não permitindo ultrapassar um terço do patrimônio líquido de seus
o convencional
apresenta restrição instituidores, verificável no momento da instituição, ou por ocasião da
para a instituição abertura da sucessão se a instituição se deu por testamento.
do bem de família,
não permitindo Tal limitação se dá por meio de critério eminentemente subjetivo do
ultrapassar um legislador, inviabilizando muitas vezes a sua instituição nas famílias de
terço do patrimônio
baixa renda que normalmente não possuem outro patrimônio, exceto a
líquido de seus
instituidores. casa de moradia.
Tartuce (2017, p. 639) afirma que fora desse rol pode ser arguida ilicitude
por fraude à lei imperativa, o que depende de análise de caso concreto, citando
como exemplo a instituição de bem de família por devedor de alimentos. Em suas
palavras:
161
DIREITO DE FAMÍLIA II
Importa anotar que Importa anotar que a dissolução da sociedade conjugal, seja por
a dissolução da divórcio, morte, anulação ou nulidade do casamento ou união estável,
sociedade conjugal, não colocará fim ao bem de família, já que este é possível independente
seja por divórcio, do estado civil do sujeito.
morte, anulação
ou nulidade do
casamento ou No que diz respeito à administração, cabe como regra aos
união estável, não cônjuges, passando ao filho mais velho, em caso de morte dos pais.
colocará fim ao bem Para isso, precisará ter mais de 18 anos. Se tiver menos idade, a
de família. administração passará ao tutor (art. 1.720, CC).
Referido instituto não tem grande aplicabilidade prática, tendo em vista a sua
restrição patrimonial, mas, principalmente, em decorrência do instituto do bem de
família legal, que incide de maneira automática, não exigindo gastos com escritura
pública ou testamento.
162
Capítulo 8 BEM DE FAMÍLIA
Com efeito, será protegido o único imóvel do casal de qualquer tipo de dívida
(salvo as previstas no art. 3º da Lei), em tese, se nele fixarem residência. Se mais
de um for utilizado para essa finalidade, a proteção recairá sobre o de menor valor.
163
DIREITO DE FAMÍLIA II
No tocante ao valor
do imóvel, o STJ No tocante ao valor do imóvel, o STJ reiteradas vezes tem se
reiteradas vezes tem manifestado no sentido de ser isso irrelevante para o reconhecimento
se manifestado no da impenhorabilidade do bem de família. Sustenta referido Tribunal que
sentido de ser isso a Lei somente exige que o imóvel sirva de moradia permanente, não
irrelevante para o particularizando a classe, o valor, ou se é um imóvel simples ou de alto
reconhecimento da
padrão. Também nas exceções previstas no art. 3º da Lei 8.009/90,
impenhorabilidade
do bem de família. nenhuma alusão se encontra a referidos critérios.
164
Capítulo 8 BEM DE FAMÍLIA
165
DIREITO DE FAMÍLIA II
166
Capítulo 8 BEM DE FAMÍLIA
Atividade de Estudos:
167
DIREITO DE FAMÍLIA II
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Algumas ConsideraçÕes
A finalidade do bem de família, instituto protetivo da moradia, conforme
exposto, é fortalecer o direito ao teto familiar (MADALENO, 2016, p. 1096). O
legislador privilegiou, em detrimento do pagamento de inúmeras dívidas, a
impenhorabilidade do bem de família, visando assegurar a habitação não só da
família, como também da pessoa solteira.
168
Capítulo 8 BEM DE FAMÍLIA
ReferÊncia
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Di-
sponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.
htm>. Acesso em: 25 jun. 2018.
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Famílias. Salvador: Jus Po-
diwm, 2016.
169
DIREITO DE FAMÍLIA II
170
C APÍTULO 9
União Estável
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Capítulo 9 UNIÃO ESTÁVEL
ConteXtualiZação
As uniões estáveis sempre existiram, mas durante muito tempo eram
invisíveis ao Direito, forçando aos seus integrantes buscarem as soluções diante
da ruptura dos relacionamentos, com base no direito obrigacional.
Foi somente com a Constituição Federal de 1988 (art. 226, parágrafo 3º) que
passaram a ser tuteladas e protegidas pelo mundo jurídico, estando em pé de
igualdade com o casamento como forma de constituir família.
AsPectos Gerais
Antes de iniciar a análise sobre a união estável atualmente, importa tecer
algumas considerações gerais sobre o instituto no passado e, para isso, a
abordagem do concubinato se revela obrigatória.
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DIREITO DE FAMÍLIA II
Logo após, em 1964, outras duas matérias foram sumuladas, uma delas
com reconhecimento da dissolução judicial da sociedade fática e partilha de
bens, adquiridos pelo esforço comum (Súmula 380), e a outra reconhecendo
que a “a vida em comum sob o mesmo teto, more uxorio, não é indispensável à
caracterização do concubinato” (Súmula 382).
Em 1996, outra lei foi editada, a Lei nº 9.278, que alterou os requisitos e
passou a exigir convivência duradoura, pública e contínua, de um homem e uma
mulher, com o objetivo de constituir família, ou seja, derrubou o requisito temporal
de no mínimo cinco anos, bastante criticado, mas não revogou em sua inteireza a
Lei anterior.
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Capítulo 9 UNIÃO ESTÁVEL
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DIREITO DE FAMÍLIA II
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Capítulo 9 UNIÃO ESTÁVEL
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DIREITO DE FAMÍLIA II
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Capítulo 9 UNIÃO ESTÁVEL
a) Efeitos Pessoais
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Capítulo 9 UNIÃO ESTÁVEL
b) Efeitos patrimoniais
Como bem autoriza o artigo, as partes podem livremente eleger outro regime,
desde que o façam por meio de contrato de convivência.
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DIREITO DE FAMÍLIA II
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Capítulo 9 UNIÃO ESTÁVEL
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DIREITO DE FAMÍLIA II
Todavia, para que o regime eleito possa produzir efeitos perante terceiros
é fundamental que tal contrato seja averbado junto à Matrícula dos Imóveis
existentes ou futuramente adquiridos.
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Capítulo 9 UNIÃO ESTÁVEL
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DIREITO DE FAMÍLIA II
Quanto à competência territorial, disciplina o novo CPC, em seu art. 53, que
é competente o foro: “I - para a ação de divórcio, [...] ou dissolução de união
estável: a) de domicílio do guardião de filho incapaz; b) do último domicílio do
casal, caso não haja filho incapaz; c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes
residir no antigo domicílio do casal” (BRASIL, 2002).
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Capítulo 9 UNIÃO ESTÁVEL
Atividade de Estudos:
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DIREITO DE FAMÍLIA II
Algumas ConsideraçÕes
A união estável, conforme visto, passou de sociedade fática, regida pelo
Direito das Obrigações, para entidade familiar, no mesmo nível de igualdade que
o casamento.
Apesar de ser instituto livre, sem formalidades, se parece cada vez mais
com o casamento, principalmente agora em que o direito sucessório passou a
ser tratado da mesma forma. De fato, são institutos que inauguram uma entidade
familiar, mas tratá-los de modo igual em praticamente todos os aspectos é
esvaziar o seu conteúdo.
ReferÊncia
ALMEIDA, Renata Barbosa; RODRIGUES JÚNIOR, Walsir Edson. Direito Civil:
familias. Rio de Janeiro: Lum Juris, 2010
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Capítulo 9 UNIÃO ESTÁVEL
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2017.
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Famílias. Salvador: Jus Po-
diwm, 2016.
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DIREITO DE FAMÍLIA II
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C APÍTULO 10
Tutela e Curatela
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Capítulo 10 TUTELA E CURATELA
ConteXtualiZação
O Direito de Família trata do denominado direito assistencial, que visa à
proteção pessoal e patrimonial de pessoas determinadas, por meio do instituto da
tutela e da curatela. O tema sofreu recente alteração pelo Estatuto da Pessoa com
Deficiência, Lei nº 13.146/2015, que revogou uma série de artigos do Código Civil.
Da Tutela
Os filhos menores são postos em tutela, conforme previsto no Os filhos menores
artigo 1.728 do CC, em duas situações: I - com o falecimento dos pais, são postos em
ou sendo estes julgados ausentes; II - em caso de os pais decaírem do tutela.
poder familiar.
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DIREITO DE FAMÍLIA II
grau mais próximo ao mais remoto; II – aos colaterais até o terceiro grau. Críticas
são tecidas à redação do artigo que menciona apenas os parentes consanguíneos,
como sugerem Farias e Rosenvald (2017, p. 877) em uma leitura ampliativa para
contemplar também os parentes socioafetivos.
Interessante anotar que o ECA prevê em seu art. 28, par. 1 e 2, que o menor
será ouvido sempre que possível.
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Capítulo 10 TUTELA E CURATELA
Por fim, há atos que são totalmente proibidos ao tutor, não podendo ser
praticados nem com autorização judicial, caso da aquisição de bens móveis
ou imóveis pertencentes ao menor pelo próprio tutor ou por interposta pessoa;
disposição dos bens do menor a título gratuito ou constituir-se cessionário de
crédito ou direito, contra o menor.
Por tudo isso é
Por tudo isso é que o tutor deverá prestar contas a cada dois que o tutor deverá
anos, quando cessar o exercício da tutela ou quando o juiz entender prestar contas a
cada dois anos,
conveniente.
quando cessar
o exercício da
Por derradeiro, a extinção da tutela pode ocorrer pela superveniência tutela ou quando
do prazo de dois anos, pela emancipação ou maioridade ou inserção do o juiz entender
menor em outra família, caso da adoção, por exemplo. conveniente.
Da Curatela
A curatela destina-se a proteger as pessoas consideradas incapazes de
se autodeterminar patrimonialmente falando. A concepção de incapacidade
foi revisitada pela Lei 13.146/2015, conhecida como Estatuto da Pessoa com
Deficiência (EPD).
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DIREITO DE FAMÍLIA II
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Capítulo 10 TUTELA E CURATELA
Dentro dessa nova sistematização de incapacidades, uma pessoa Dentro dessa nova
com deficiência pode estar impossibilitada de manifestar a sua vontade, sistematização de
seja de forma transitória ou absoluta. Exclusivamente nessas situações incapacidades,
poderá ser considerada absolutamente incapaz, exigindo a curatela. uma pessoa com
deficiência pode
Vale a citação do artigo 84 do EPD:
estar impossibilitada
de manifestar a
Art. 84 a pessoa com deficiência tem assegurado
o direito ao exercício de sua capacidade em
sua vontade, seja
igualdade de condições com as demais pessoas. de forma transitória
Quando necessário será a pessoa com deficiência ou absoluta.
submetida a curatela. Exclusivamente
[...] nessas situações
Par. 3: a definição de curatela de pessoa com poderá ser
deficiência constitui medida protetiva extraordinária, considerada
proporcional às necessidades e às circunstâncias absolutamente
de cada caso e durará o menor tempo possível.
incapaz, exigindo a
curatela.
Assim, deverá
o magistrado Assim, deverá o magistrado estar atento para conservar a
estar atento autonomia do curatelando para a prática dos atos de natureza
para conservar existencial, relacionados aos direitos de personalidade, sexualidade,
a autonomia do planejamento familiar, voto, trabalho, entre outros, sempre que viável.
curatelando para a Portanto, poderá a curatela ser total ou parcial.
prática dos atos de
natureza existencial,
relacionados Nesse sentido, inclusive, é o teor da redação do art. 85 do Estatuto
aos direitos de da Pessoa com Deficiência: “a curatela afetará tão somente os atos
personalidade, relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial”. Nas
sexualidade, palavras de Farias e Rosenvald (2017, p. 939):
planejamento
familiar, voto,
trabalho, entre Atente-se, de todo o modo, que o regime de curatela, a partir
outros, sempre que da nova sistemática imposta pelo Estatuto da Pessoa com
Deficiência, é limitado, restrito a determinados atos, com
viável.
vistas a que não se retire da pessoa curatelada (com, ou sem
deficiência, mas que não pode exprimir vontade) a liberdade
de autodeterminação existencial. É dizer: a curatela há de ser
A curatela há de ser compreendida como medida protetiva específica, abrangendo
compreendida como atos para os quais o curatelado não consiga exercer de per si
medida protetiva a individualidade.
específica.
O procedimento de curatela está previsto nos artigos 747 a 758 do
CPC atual, como um procedimento especial de jurisdição voluntária. Além disso,
o próprio Estatuto da Pessoa com Deficiência também tratou da questão proce-
dimental, causando fortes divergências doutrinárias. O estatuto é lei posterior ao
CPC, mas entrou em vigor em janeiro de 2016, enquanto o CPC entrou em vigor
em março de 2016. A dúvida reside em saber se uma revogou a outra ou se am-
bas serão aplicadas de modo conciliado. Por enquanto é o que está prevalecendo,
exigindo muita atenção dos aplicadores, na verificação de qual delas traz normas
de maior proteção ao incapaz, em cada um dos aspectos, em verdadeiro trabalho
de interpretação.
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Capítulo 10 TUTELA E CURATELA
O estabelecimento
de TDA não
O estabelecimento de TDA não restringe a capacidade, sendo restringe a
exercida apenas em atos específicos, em que o sujeito que a pleiteou capacidade, sendo
será coadjuvado pelos apoiadores eleitos, caso dos cegos, pessoas exercida apenas em
atos específicos,
atingidas por AVC etc.
em que o sujeito
que a pleiteou será
coadjuvado pelos
apoiadores eleitos.
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DIREITO DE FAMÍLIA II
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Capítulo 10 TUTELA E CURATELA
Outra crítica é feita com relação à invalidação dos atos. Agora como
relativamente incapazes, os atos por eles praticados não mais serão considerados
nulos, mas anuláveis, produzindo efeitos até a anulação ou se convalidando, caso
não se ingresse com o pedido anulatório.
201
DIREITO DE FAMÍLIA II
A matéria está regulada pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência, que alterou
parte dos dispositivos do Código Civil e também pelo novo CPC, ainda causando
divergências com relação a qual das regulamentações será observada.
Atividade de Estudos:
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Capítulo 10 TUTELA E CURATELA
Algumas ConsideraçÕes
A capacidade civil pressupõe aptidão para o exercício dos atos da vida civil.
Já a incapacidade é graduada e divide-se em absoluta e relativa, a depender
do grau de incapacitação. Pode decorrer de critério etário ou psicológico. Essa
matéria sofreu revisitação com o Estatuto da Pessoa com Deficiência, modificando
significativamente seu conteúdo.
ReferÊncia
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Di-
sponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.
htm>. Acesso em: 25 jun. 2018.
203
DIREITO DE FAMÍLIA II
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Famílias. Salvador: Jus Po-
diwm, 2017.
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