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Capítulo 1 Teoria das Obrigações Contratuais
Contextualização
Neste capítulo, passaremos ao estudo de um elemento central do Direito
Civil: o contrato. Compreendido como um acordo de vontades que irá criar
normas vinculantes entre seus celebrantes, a figura do contrato é tão antiga que
suas origens históricas são imprecisas. É possível encontrar sua presença em
textos cuneiformes mesopotâmicos e em documentos históricos do Egito antigo;
no medievo (século XV) circulou-se a lenda do Dr. Johann Georg Faust, que teria
celebrado um contrato com o próprio diabo, incutindo no imaginário social a ideia
de que os contratos são armadilhas sem escapatória.
Conceitos e Requisitos de
Validade do Contrato
Juristas de diversas épocas têm se dedicado a conceituar o termo contrato.
Conforme Farias e Rosenvald (2012), é possível encontrar múltiplos significados
do vocábulo na história de Roma; o que mais se aproxima da ideia moderna de
contrato refere-se a um acordo de vontades a respeito de um assunto. Todavia,
para gerar obrigações, esse contrato deveria possuir existência física, material, ou
seja, um mero acordo verbal mostrava-se insuficiente. Talvez por isso ainda hoje
diversas pessoas ignorem a existência do contrato verbal, não se dando conta
de que a simples compra de uma fruta na quitanda mais próxima constitui um
contrato de compra e venda.
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• Plano da Existência.
• Plano da Validade.
• Plano da Eficácia.
a) O plano da existência
O plano da
O plano da existência refere-se aos elementos imprescindíveis para existência refere-
se aos elementos
a própria existência do contrato; ausente qualquer um deles, o contrato imprescindíveis para
sequer existe juridicamente. Tais elementos são: sujeitos, as partes a própria existência
do contrato; ausente
que celebrarão o contrato; vontade, ou seja, o desejo destes sujeitos qualquer um deles,
contratantes; forma, o meio pelo qual o contrato será materializado (de o contrato sequer
forma verbal, escrita, eletrônica, etc.); e objeto, o bem ou a obrigação existe juridicamente.
abordada no contrato.
b) O plano da validade
Por fim, o objeto deve ser lícito e possível e, se não determinado ao tempo
do contrato, deve ser determinável, pelo menos, até a data escolhida para o
cumprimento do acordo. É o caso de contratos de colheita; pode-se acordar que
no mês de julho serão vendidas 15 sacas de café, mas a espécie de café só será
determinada nesse mês, pois depende da safra.
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c) O plano da eficácia
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Este sujeito deve ser capaz; a vontade deve ser livre e sem defeitos, a forma
livre ou não proibida por lei e o objeto precisa ser lícito, possível, determinado ou
determinável.
Atividades de Estudos:
Princípios Fundamentais
do Direito Contratual
Conforme o jusfilósofo Guerra Filho (2002, p. 92), os princípios
Desta forma, é correto afirmar que cada ramo do direito deve ser aplicado e
interpretado de acordo com parâmetros basilares, os princípios, que lhes darão
certo direcionamento para a prática jurídica.
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Para Gagliano e Pamplona Filho (2014), a ordem pública nada mais é que
um conjunto de princípios jurídicos, políticos e econômicos a serem observados
pelo direito contratual. Neste sentido, segundo Sílvio Rodrigues (2002, p. 16), a
“ideia de ordem pública é constituída por aquele conjunto de interesses
A ordem pública
jurídicos e morais que incumbe à sociedade preservar. Por conseguinte, constitui um limite
os princípios de ordem pública não podem ser alterados por convenção principiológico aos
entre os particulares”. possíveis abusos
que possam ser
originados a partir
Em síntese, a ordem pública constitui um limite principiológico aos da constituição de
um contrato.
possíveis abusos que possam ser originados a partir da constituição de
um contrato.
c) Princípio do Consensualismo
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Caso você saia da banca com a revista sem efetuar o pagamento, ou caso
o jornaleiro se recuse a entregar o objeto comprado, estaremos diante da fase de
execução contratual, uma vez que o negócio já foi fechado, mas não devidamente
cumprido.
Suponha que você realize uma compra grandiosa na Polishop mais próxima,
mas se torne inadimplente. A loja, cansada de lhe procurar para cobrar o que
é devido, decide procurar o seu melhor amigo para que ele pague todos os
cinco conjuntos de panelas antiaderentes que você adquiriu. Essa situação é
juridicamente possível?
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a) Negociações preliminares
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b) Proposta de contratar
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Assim, dispõe o Código Civil que a proposta perde seu prazo de validade
quando:
Art. 428. [...] I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não
foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a
pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação
semelhante;
II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido
tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do
proponente;
III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a
resposta dentro do prazo dado;
IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao
conhecimento da outra parte a retratação do proponente.
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c) Aceitação
Caso a proposta seja feita entre ausentes, caso haja algum imprevisto que
faça com que a aceitação chegue tarde ao conhecimento do proponente, este
deve comunicar ao aceitante imediatamente sob pena de responder por perdas e
danos. Gagliano e Pamplona Filho (2014, s.p.) apontam o seguinte exemplo:
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Em regra, nosso ordenamento jurídico não exige uma forma específica a ser
adotada (art. 107 do CC-02), motivo pelo qual o contrato verbal é perfeitamente
válido e eficaz, desde que celebrado mediante os requisitos já estudados. Tais
contratos são classificados como não solenes, já que dispensam formalidades
legais. Porém, em alguns casos, a lei estipula determinadas formalidades a
serem seguidas. Estes são os contratos solenes, como exemplo, os contratos
constitutivos translativos de direitos reais sobre imóveis acima do valor consignado
em lei, uma vez que o código exige a forma pública para a validade do ato.
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Algumas espécies contratuais são designadas por lei, outras não, o que não
influencia na sua validade e eficácia. Desta forma, tem-se por nominados os
contratos especificamente tratados no Código Civil, como a compra e venda, e
inominados aqueles que não o são.
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vendendo o imóvel e está atuando como representante legal da Yasmim, que está
comprando este mesmo imóvel – seu nome aparecerá duas vezes no contrato,
nos dois polos, mas com uma grande diferença: em um deles você age em nome
próprio, no outro, em nome alheio. A este fenômeno, chamamos autocontrato.
Efeitos do Contrato
Em geral, é possível elencar quatro efeitos gerais oriundos dos Em geral, é possível
elencar quatro efeitos
contratos. O primeiro deles é a obrigatoriedade; uma vez firmado o gerais oriundos
pacto, ele se torna lei absoluta entre as partes, devendo ser cumprido dos contratos. O
conforme o combinado, se nele não há qualquer invalidade. O segundo primeiro deles é a
obrigatoriedade; O
refere-se à irretratabilidade; isto significa que o contrato previamente segundo refere-se à
estabelecido só poderá ser desfeito por outro contrato, chamado irretratabilidade; O
terceiro efeito é o da
de distrato (art. 472 CC). O terceiro efeito é o da intangibilidade; o intangibilidade; Por
contrato não poderá ser alterado por vontade única de uma das partes, fim, não custa lembrar
dependendo de um consenso mútuo para que haja a efetivação de que o contrato
possui um efeito
qualquer mudança. Por fim, não custa lembrar que o contrato possui pessoal, pois vincula
um efeito pessoal, pois vincula apenas as partes contratantes, não apenas as partes
contratantes.
podendo, em regra, atingir terceiro desinteressado.
Existem, porém, dois elementos oriundos dos efeitos contratuais que
merecem ser estudados com maior atenção. Tratam-se do vício redibitório e da
evicção. Vejamos cada um deles.
a) Vícios redibitórios
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Por essa razão, é preciso que o adquirente tenha algum tipo de garantia
contra o vendedor, caso o bem venha eivado por algum tipo de defeito. Assim,
a garantia contratual está diretamente relacionada ao princípio da boa-fé, uma
vez que cabe ao vendedor informar ao comprador todos os detalhes relativos
ao negócio a ser firmado. É importante destacar que, mesmo que o vendedor
desconheça o vício no bem a ser vendido, ainda será responsável por reparar o
dano ao comprador.
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Vejamos o que diz o Código Civil, em seu artigo 442: “Em vez de rejeitar a
coisa, redibindo o contrato (art. 441), pode o adquirente reclamar abatimento no
preço”. Assim, é possível inferir que, caso o dilema não seja resolvido de forma
amigável, por meio de rescisão ou abatimento no preço, o adquirente terá duas
opções na esfera judicial: redibir o negócio ou obter judicialmente o abatimento
no preço por meio de ação estimatória. São o que chamamos de ações edilícias.
Ações Edilícias
No entanto, o adquirente deve estar atento aos prazos para propositura das
ações edilícias. Se estivermos falando de bens móveis, o prazo será de 30 dias,
para bens imóveis, o prazo será de um ano, sempre contados a partir da efetiva
entrega do bem. É importante, sobretudo, compreender o que diz a segunda parte
do art. 445 do Código Civil: “O adquirente decai do direito de obter a redibição ou
abatimento no preço no prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se
for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da
alienação, reduzido à metade.”
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O prazo será de seis meses e não de um ano, pois Ana Paula já residia
no imóvel quando fez a compra, ou seja, já estava na posse do bem objeto do
contrato.
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b) Eviccção
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que Beatriz compre a biblioteca completa de seu primo Igor, pelo seu amor à
leitura e à erudição. Satisfeita com a compra, Beatriz é surpreendida por Douglas
que afirma que, dos 890 livros constantes no acervo, 300 são seus, e não de Igor.
Neste caso, conforme artigo 455 do Código Civil, Beatriz poderá optar entre a
extinção do contrato com Igor ou a restituição do preço pelo prejuízo sofrido.
Por fim, é preciso ressaltar que o Código Civil em seu artigo 448 permite
expressamente que as partes diminuam, aumentem ou excluam completamente
a hipótese de evicção. Essas convenções, entretanto, devem estar expressas no
contrato, não podendo nunca serem implícitas. Desta forma, segundo Gagliano e
Pamplona Filho (2014, s.p.):
Cumprimento do pacto
Natural
Verificação de fator eficacial
Extinção
Causa anterior ao contrato: invalidade, cláusula
resolutória, direito de
arrependimento, redibição.
Posterior
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Primeira hipótese Os contratos existem para serem cumpridos, certo? Neste sentido,
de extinção natural
seja o cumprimento nada mais lógico que a primeira hipótese de extinção natural seja o
integral do contrato. cumprimento integral do contrato. As partes cumpriram as obrigações
As partes cumpriram acordadas, usufruíram dos bônus ofertados e o contrato chegou ao fim
as obrigações
acordadas, de seu ciclo sem maiores problemas.
usufruíram dos
bônus ofertados e o
contrato chegou ao A segunda causa de extinção natural refere-se ao plano da
fim de seu ciclo sem eficácia, já estudado neste capítulo. Como faláramos, em regra, os
maiores problemas. contratos são celebrados de forma que o acordado seja efetivado
imediatamente. A critério das partes, porém, é possível suspender a
É possível que eficácia do acordo para um momento futuro.
as partes tenham
estabelecido um
termo, um evento Assim, é possível que as partes tenham estabelecido um termo,
futuro e certo para
só então o contrato um evento futuro e certo para só então o contrato se efetivar. Por
se efetivar. exemplo, Fabíola encomenda um belo vestido no ateliê de Núbia, que
só ficará pronto em 30 dias. Desta forma, ambas se comprometem a
realizar as devidas prestações 30 dias após a encomenda, ou seja, no dia 09
de abril. Até lá, o contrato existe e é válido, mas é ineficaz em razão do termo
estabelecido, apenas no dia 09 de abril o vestido será entregue, o valor será
recebido e, assim, o contrato terá fim.
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Desta forma, imagine que Sofia realiza a compra de uma geladeira usada
com Raíssa. Fica pactuado que a geladeira deverá ser entregue no dia 02 de
março, ao passo que Raíssa deverá depositar o dinheiro no dia 03 de março. No
dia 04, Sofia reclama em juízo que não recebeu a prestação combinada, exigindo,
portanto, a resolução do contrato. Em sua defesa, porém, Raíssa afirma que
não realizou o pagamento porque não recebeu a geladeira, utilizando, assim, a
exceção de contrato não cumprido como forma de defesa processual.
Neste caso, o inadimplente não é responsável por perdas e danos, a não ser
que no contrato haja previsão expressa de que ele arcará com os danos em situação
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de caso fortuito ou força maior ou, ainda, se estiver em mora para com o adquirente
(arts. 393 e 399, CC). A extinção do contrato será imediata, com efeito retroativo, ou
seja, a parte inadimplente deve devolver eventual prestação que já tenha recebido
sem, entretanto, estar obrigado a pagar indenização por perdas e danos.
A matéria é tratada no Código Civil de 2002, nos artigos 478, 479 e 480.
Conforme o referido diploma legal, a extinção contratual com base na onerosidade
excessiva só pode se efetivar na ocorrência dos seguintes elementos:
acontecimento extraordinário, imprevisível e excessivamente oneroso para uma
das partes que acarretará em extrema vantagem para a outra.
Atividades de Estudo:
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a) à manifestação de vontade.
b) ao dolo do vendedor.
c) à coisa.
d) à capacidade das partes.
e) ao preço contratado.
Algumas Considerações
Neste capítulo procuramos tecer algumas considerações gerais a respeito
do direito contratual, como: o conceito técnico de contrato, seus requisitos de
validade, seus princípios, as etapas de formação contratual, a classificação geral
dos contratos, seus efeitos e suas formas de extinção.
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Referências
BRASIL. Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário
Oficial da União. Brasília, 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
CCivil_03/Leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 10 fev. 2018.
RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2002.
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