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MANUAL FORMADOR

Código/UFCD: 3242 – Evolução e perspetivas da dinâmica familiar


Data início: 04.12.2017
Data fim: 09.12.2017
Nome Formador: Benedita Osswald
Índice

1. História da Dinãmica Familiar............................................................................................. 01

2. Cultura em Transformação ................................................................................... 10

3. Novas Formas de Família ....................................................................................... 14

3.1 Casal, Casamento e União de Facto ......................................................... 15

3.2 Famílias de Acolhimento .............................................................................. 16

3.3 Monoparentalidade ........................................................................................ 17

3.4 Adopção e Parentalidade ............................................................................. 17

4. Envolvimento Parental na educação de Crianças com Necessidades


Educativas Epeciais (NEE) .......................................................................................... 18

Bibliografia....................................................................................................................... 29
1. História da Dinâmica Familiar

Ao analisar a família na perspetiva sistémica e comunicacional não podemos deixar de ter


em conta que nas últimas décadas o conceito de família tem vindo a adquirir um âmbito
muito mais vasto, porque novas tendências, novas configurações familiares têm permitido
novas conceções de família e da organização da vida dos seus membros, sendo
valorizada por alguns nos seus hábitos tradicionais e por outros no seu progresso
moderno.
Nas correntes modernas, mais liberais, realçam-se mais os sentimentos, o que interessa
são os afetos, não interessa a biologia, secularizam-se as crianças. Segundo estas
tendências deve promover-se a diversidade e a pluralidade; não deve haver padrões
públicos; o Estado deve afastar-se de regulamentos, deve tratar de forma igual as
diferentes formas de socialização, a pluralidade ao enquadramento das crianças. O Estado
não deve colocar os seus poderes ou normas que privilegiam a família tradicional.

Para estes defensores é preciso deixar de lado a cultura do passado, os valores e os


costumes e substituí-los, modernizando a família onde a coabitação é coisa igual ao
casamento, às famílias divorciadas, recasadas, uniões de facto, uniões livres,
homossexuais, crianças criadas por avós ou tios, etc. Tudo isto diz respeito aos dois
parceiros em primeiro e só depois às crianças. As relações íntimas assentam no prazer,
nos afetos, etc. (Simonato, 2010).

Tendo em conta estas realidades, a família não deixa de ser um sistema e ao mesmo
tempo um processo de interação e de integração dos seus membros. A comunicação é o
elo de ligação que constitui condição de convívio e de sustentação de todo o sistema,
baseando-se na igualdade ou na diferença. A análise destas tendências explica-se pelo
facto da família ter vindo a enfrentar um processo de profundas transformações ao longo
dos tempos no sistema (Giddens, 2004: parte 4).
Seja qual for o modelo de família ela é sempre um conjunto de pessoas consideradas
como unidade social, como um todo sistémico onde se estabelecem relações entre os seus
membros e o meio exterior.
Compreende-se, que a família constitui um sistema dinâmico, contém outros subsistemas
em relação, desempenhando funções importantes na sociedade, como sejam, por
exemplo, o afeto, a educação, a socialização e a função reprodutora. Ora, a família como
sistema comunicacional contribui para a construção de soluções integradoras dos seus
membros no sistema como um todo.

Alguns dos principais fundamentos teóricos associados à evolução e à mudança


conduziram a novas conceções de família, novas dinâmicas, novos valores, diferentes tipos
com identidade própria, construindo uma história de vida que não se pode replicar. As
transformações levaram a alterações na família que deixou de ser um modelo tradicional
prevalente, aparecendo novas formas de organização familiar tornando-se um fenómeno
de caráter global e complexo (Dias, 2000: 82).

Alguns dos principais fundamentos teóricos associados à evolução e à mudança


conduziram a novas conceções de família, novas dinâmicas, novos valores, diferentes
tipos com identidade própria, construindo uma história de vida que não se pode replicar.
As transformações levaram a alterações na família que deixou de ser um modelo
tradicional prevalente, aparecendo novas formas de organização familiar tornando-se um
fenómeno de caráter global e complexo (Dias, 2000: 82).
Foram os fatores económicos, políticos, sociais, culturais, demográficos e tecnológicos que
contribuíram de forma decisiva para as alterações na estrutura e dinâmica familiar. Estes
fatores tiveram incidência na organização, nas funções, nas relações, na complexidade e
globalidade ao longo do desenvolvimento familiar, refletindo a evolução da época social,
vivenciando estados diferentes (Dias, 2000: 82; Leandro, 2001: passim).

Ao longo do tempo modificou profundamente a estrutura, a dinâmica da família na sua


organização interna, como por exemplo: diminuição do número médio de filhos,
diminuição da fecundidade, aumento do número de pessoas sós, diminuição das famílias
numerosas, aumento das famílias recompostas, em virtude do aumento do número de
divórcios, aumento das uniões de facto e uniões livres, e, mais recentemente o
aparecimento das famílias homossexuais.

Assistimos na evolução das famílias, e segundo o Fórum Democracia Aberta (2008), a


motivos que como vemos originam novas configurações como se pode observar na Fig. II.

Os diferentes tipos de família são entidades dinâmicas com a sua própria identidade,
compostas por membros unidos por laços de sanguinidade, de afetividade ou interesse e
que convivem por um determinado espaço de tempo durante o qual constroem uma
história de vida que é única e irreplicável (Giddens, 1999; 2004; Amaro, 2006: 71; Alarcão
& Relvas, 2002).
A família nuclear, constituída por dois adultos de sexo diferente e os respetivos filhos
biológicos ou adotados, já não é para muitos o modelo de referência, embora continue a
ser o mais presente.
As uniões de facto, trata-se de uma realidade semelhante ao casamento, no entanto
não implica a existência de qualquer contrato escrito;
As uniões livres, não são muito diferentes das uniões de facto, apenas nestas nunca
está presente a ideia de formar família com contratos;
As famílias recompostas são constituídas por laços conjugais após o divórcio ou
separações. É frequente a existência de filhos de casamentos ou ligações diferentes
ocasionando meios-irmãos;
As famílias monoparentais são compostas pela mãe ou pelo pai e os filhos. São
famílias fruto de divórcio, viuvez ou da própria opção dos progenitores, mães solteiras,
adoção por parte das mulheres ou dos homens sós, recurso a técnicas de reprodução. O
aumento dos divórcios fez aumentar o número deste tipo de famílias já que nesta situação
os filhos ficam a viver com um dos progenitores. Na maioria das vezes este progenitor é a
mãe, embora já haja alguns homens;
Por fim, as famílias homossexuais constituídas por duas pessoas do mesmo sexo com
ou sem filhos.
Se a evidência, no que concerne a um número crescente de diferentes tipos de famílias, é
incontestável, estas novas formas de estrutura e dinâmica familiar não se despem, a
nosso ver, da sua essência: a família como grupo social em que os seus membros
coabitam ligados por uma ampla complexidade de relações interpessoais (Beltrão, apud,
Dias,
2000: 81). Daí a importância que no passado e no presente se tem dado à família e às
mudanças que a têm caracterizado na sua estrutura, nas relações dentro e fora dela.
Por outro lado, as diversas gerações que integram uma família avançam no tempo através
do ciclo vital, priorizado por eventos que definem as diferentes etapas de crescimento,
assim como as tarefas de socialização inerentes a cada um dos elementos no percurso
que partilham em conjunto.
Em cada etapa têm lugar acontecimentos que determinam conjunturas que podem afetar
cada um dos seus membros, o que exige dos intervenientes a necessidade de
encontrarem novas formas de estar que lhes permitem adaptar-se às modificações
estruturais, funcionais e às mudanças subjacentes a cada etapa.
Deste modo, o ciclo vital da família pode ser representado como um esquema de
classificação em etapas, Fig. III, que demarcam uma sequência previsível de mudanças na
organização familiar ao longo do tempo.

No esquema observamos que a família inicia com a constituição do casal e vai mudando à
medida que nascem os filhos, se tornam alunos, adolescentes e adultos. O processo
repete-se quando o primeiro filho sai de casa e forma nova família. O sistema altera-se,
forma-se outro, as relações tornam-se mais abrangentes, constituindo-se um novo sistema
familiar.

Quando as famílias têm dificuldades na adaptação, inerentes às diferentes etapas do ciclo,


podem instalar-se “crises de desenvolvimento”, caracterizadas por serem universais e
previsíveis, gerando alterações na função familiar e problemas nos seus membros. A
família desempenha neste ciclo um papel estabilizador, através do processo de
socialização, o qual procura produzir nos indivíduos conformidade, por forma a que se
adaptem à nova estrutura como um todo a que pertencem (Relvas, 1996: passim).
2. Cultura em Transformação

Mudam-se os tempos, muda-se a família. As mutações do acesso ao direito e à justiça de


família e das crianças em Portugal. Perante novos cenários de famílias, moldados sob o
signo da flexibilidade, da fluidez e da pluralidade, o direito da família e das crianças é
chamado a responder a novos problemas, de contornos ainda pouco definidos, que se
manifestam entre uma tendência para a privatização, desinstitucionalização e
contratualização das relações familiares, por um lado, e uma tendência para a
(re)publicização, por outro, designadamente em matérias de novas conjugalidades e de
defesa dos direitos das crianças. A estas duas velocidades transformativas – a família e o
direito da família e das crianças, a que correspondem uma velocidade rápida e outra
moderada, respectivamente – vem juntar‑se a uma terceira velocidade, mais lenta, a do
sistema de acesso ao direito e à justiça de família, sem o qual esses direitos nunca serão
efectivos e não poderão ser exercidos, em plena cidadania, por todas/os aquelas/es que
tenham necessidade de procurar a sua tutela.

 A família em mudança (ou quando a regulação da família já não é o que


era)

Falar ou escrever sobre a regulação da família é, cada vez mais, uma matéria complexa,
porque se torna difícil definir o que seja a própria família. Aliás, Bernini (2007) refere que
se continua a ter de utilizar o termo “família” porque não existe outro que seja capaz de o
substituir. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, com especial aceleração nos últimos
trinta anos, que temos vindo a assistir na Europa, e no denominado mundo ocidental, a
mutações das relações familiares. A ideologia e as práticas herdadas do século XIX
impuseram por toda a Europa o modelo social e jurídico da família nuclear (pai, mãe e
filhos), assente numa cultura da família e do casamento. Este modelo estava submetido a
um conjunto de normas rígidas acerca das funções da família e dos papéis
desempenhados por cada cônjuge. Havia, assim, um estatuto desigual para os homens e
as mulheres, pois o homem tinha o direito, e também o dever, de procurar realizar o seu
percurso individual fora de casa, enquanto o papel reservado à mulher era o de lhe
proporcionar o conforto doméstico e afectivo de que precisava. Mas, no final do século XX
(sobretudo a partir da década de setenta), os ideais de democratização da família
lograram libertar a mulher do estatuto desigual em que o modelo anterior a confinava,
para lhe dar um estatuto de igualdade perante a sociedade e a lei. Temos, finalmente,
dois parceiros conjugais sujeitos ao mesmo processo de renascimento da subjectividade,
procurando cada membro do casal a maior realização pessoal e satisfação que puder,
dentro da comunhão de vida (Oliveira, 2004: 763 e 764). Ou seja, dentro da igualdade,
cada um busca a sua diferença, uma vez que cada um formula as suas próprias
pretensões.
A família tende, cada vez mais, a transformar‑se de experiência total e permanente em
experiência parcial e transitória da vida individual.
Estamos, assim, hoje perante novos cenários familiares, flexíveis e fluidos, onde se verifica
o aumento das uniões de facto; o aumento do número de crianças nascidas fora do
casamento; o aumento das famílias monoparentais; o aumento das famílias recompostas;
o aumento das famílias transnacionais; e o aumento das famílias unipessoais. Estes
cenários são ocasionados pelos seguintes (principais) factores: a diminuição da taxa de
nupcialidade; o aumento da instabilidade conjugal (que resulta em separação e divórcio);
a redução da natalidade; os processos migratórios e a globalização. Ou seja, estamos
perante o enfraquecimento da união matrimonial e da família enquanto instituição (Pocar
e Ronfani, 2008: 126ss.). Mas, mais do que falar em crise da família, deve falar‑se em
crise de um certo modelo de família, isto é, a família estável e harmoniosa, afectiva e
fecunda, governada por regras rígidas de divisão do trabalho e assente numa hierarquia
entre homem e mulher, pais e filhos .
Assim, num contexto conotado com a flexibilidade e a fluidez, o modelo prevalecente
continua a ser o da família nuclear, que nem sempre se realiza de acordo com os traços
de simetria e de democracia. Todavia, este modelo já não é o ponto de referência para
muitas pessoas, pelo menos em algumas fases da vida. Daí que já não seja possível
propor uma definição unívoca de família.
A situação da família em Portugal, embora tenha começado o seu percurso de
transformação mais tardiamente, ou seja, a partir da mudança política iniciada em 25 de
Abril de 1974, apresenta‑se, com efeito, no dealbar do século XXI, como “uma vida
familiar em mudança, […] atravessada pelos movimentos de modernização da sociedade
portuguesa que ocorreram nas últimas décadas, às vezes a um ritmo quase vertiginoso,
aproximando os padrões demográficos e familiares dos que mais cedo se observaram
noutras sociedades ocidentais” (Aboim, 2006: 63).
Ora, estas mutações reflectem‑se necessariamente na transformação da regulação jurídica
da família através de reformas, designadamente, como as resultantes da consagração do
princípio da igualdade (entre os cônjuges e dos filhos) nos “tradicionais” direito
constitucional e direito (civil) da família, e, ainda, através da fragmentação e expansão da
normativização jurídica das relações familiares para os direitos do trabalho, da segurança
social ou, até, criminal.

- Todo o direito de família é composto de mudança


Com o advento da modernidade, como se referiu, houve como que a “imposição” de um
modelo generalizado de família: um modelo de família nuclear formado basicamente pelos
cônjuges e pelos filhos, no qual existia uma férrea distribuição dos papéis sexuais e uma
relação desigual entre os esposos. Este modelo assentava, assim, no casal heterossexual
unido pelo matrimónio, com filhos e vivendo em coabitação, o qual, segundo Olga
Martínez (2008), funcionava como uma unidade patrimonial moralmente correcta e
economicamente rentável, que assegurava o bom funcionamento da sociedade. Por seu
turno, o conteúdo da relação matrimonial era determinado por normas de conduta
generalizadas e uniformes (Coelho e Oliveira, 2003).
Todavia, e como refere Sasha Roseneil (2006), há cada vez mais pessoas a passar
períodos de tempo cada vez mais longos das suas vidas fora da unidade convencional
família, estando, assim, em causa o casal heterossexual romântico e a formação familiar
moderna de que este tem sido suporte, pelo que a autora defende que “por toda a
Europa, assim como na América do Norte e Austrália, a família convencional é hoje, e
cada vez mais, uma prática minoritária” (Roseneil, 2006: 41). A verdade é que, mesmo
que a família nuclear ainda prevaleça, assistimos à proliferação de situações familiares que
não se ajustam aos modelos estabelecidos pelas instituições jurídicas e que criam
inseguranças no seu funcionamento (Martínez, 2008).
3. Novas Formas de Família

A sociedade contemporânea caracteriza-se por constantes e sucessivas mudanças


sociais. Dentre as várias instituições sociais que compõe uma sociedade, a instituição
família tem sido a mais afetada no que diz respeito a transformações na sua estrutura
base.

Varias tem sido as mudanças sociais nas sociedades, que tem contribuída para o
surgimento de novas formas de família: entrada da mulher no mercado de trabalho, o
aumento de divórcio, técnicas de fertilidade.
Todos estes fatores em simultâneo tem exercido fortes influências que abalam este grupo
social, que a família está numa fase de transição que pelas mudanças observadas deixa
de corresponder as ideias estabelecidas no passado de um grupo social imutável com
uma estrutura fortemente enraizada, pois a realidade social vivida nos dias de hoje em
nada se semelha a realidade social das décadas anteriores, hoje vive-se num tempo mais
dinâmico, tudo se processa de um modo mais rápido e complexo.

A partir da década de 80 começa a verificar-se um aumento gradual , foram acontecendo


fortes mudanças, surgem desse modo novas formas de família, ou seja ,novas famílias
compostas de formas que a sociedade não estava habituada a observar, desse modo
surgem as famílias monoparentais, famílias recompostas ,famílias homoxessuais.
Quando falamos da família formamos uma imagem imediata de um conjunto de pessoas
ligadas por laços de consanguinidade que vivem juntos em regime de coabitação, ou seja
da família nuclear que durante décadas predominava na sociedade.

3.1 Casal, Casamento e União de Facto

Casamento/União de facto ou união estável é o instituto jurídico que estabelece


legalmente a convivência entre duas pessoas, que para tanto seja aprovada que a "união
estável".
Diversas são as conceituações de casamento, ora baseadas na ideia de instituição, ora na
de contrato, ora caracterizando o ato sob concepções filosóficas ou religiosas, ora sob o
aspecto formalista da solenidade e, geralmente, definindo o ato pelos seus fins ou efeitos.
Casamento e matrimónio são vocábulos com origem distinta.
Segundo a visão tomista, matrimonium provém de matrem, mater + muniens, ou monens,
ou nato, ou monos, ou munus, significando, respectivamente, “a proteção da mulher-mãe
pelo marido-pai”, “aviso à mãe para não abandonar seu marido”, o ato que “faz a mulher
mãe de um nascido”, união de dois formando uma só matéria, “ofício ou encargo de mãe”.
O vocábulo casamentum, do latim medieval, referia-se a cabana, moradia, bem como ao
dote de matrimônio, constituído por terreno e construção, oferecido tanto pelos reis e
senhores feudais aos seus criados, quanto pelos mosteiros às filhas de seus fundadores e,
ainda, pelo sedutor à vítima para reparar seu erro.
Afirmando que a conceituação de casamento não pode ser imutável,
Caio Mário da Silva Pereira4 o define como “a união de duas pessoas de sexo diferente,
realizando uma integração fisiopsíquica permanente.” O conceito do eminente professor,
por conter uma tendência mais filosófica que jurídica, também poderia se aplicar à família
não matrimonializada. Álvaro Villaça Azevedo, no esboço à obra Estatuto da Família de
Fato, também resume o conteúdo metajurídico do casamento, quando diz que este “nada
mais é do que um elo espiritual, que une os esposos, sob a égide da moralidade e do
direito.”

3.2 Famílias de Acolhimento

Acolher é sinónimo de cuidar e de garantir, ainda que temporariamente, a satisfação das


necessidades do outro, mas é, sobretudo, o compromisso e o empenho para com o seu
bem-estar e crescimento pessoal.
Ao reflectir sobre o acolhimento familiar como mais uma alternativa de protecção e de
desinstuticionalização, necessariamente discutimos as mudanças de concepção do papel
da família, outras perspectivas sobre a construção de novas formas de relacionamento
afectivo e a necessidade de qualificar cada vez mais esta resposta social.
Acolher é assim também, sinónimo de capacitação para o cuidar, para a prestação de um
serviço de qualidade que envolve não só dedicação pessoal, mas particularmente, o
conhecimento e a sensibilidade no que respeita ao contexto social, às problemáticas
familiares e às características individuais de quem, numa determinada fase da sua vida,
necessita desta resposta social.
É, pois, sob a premissa da qualidade e da efectiva resposta às necessidades e expectativas
das pessoas acolhidas, que o presente Manual se constitui como um instrumento
orientador das melhores práticas de trabalho para os serviços que organizam e gerem esta
modalidade de acolhimento.
A resposta Acolhimento Familiar constitui-se como uma medida de protecção para
crianças, jovens, pessoas com deficiência, em situação de dependência e idosos, que se
encontrem numa condição de vulnerabilidade e cujos direitos, num determinado
momento, podem estar seriamente comprometidos.
A resposta social Acolhimento Familiar (AF), de forma geral, consiste numa prática social,
em contexto não institucionalizado, mediada por uma Instituição de Enquadramento,
visando a implementação de um plano de intervenção que promova a melhoria da
qualidade de vida dos seus clientes. Alicerça-se numa relação activa e comprometida entre
o cliente acolhido, a família de acolhimento, a família de origem e os técnicos da
Instituição de Enquadramento (Delgado, 2003, adaptado).
A resposta abarca destinatários diversos que poderiam integrar-se em dois segmentos
fundamentais:
• Acolhimento familiar - Crianças e Jovens (CJ): medida de promoção e
protecção, para garantir transitória e temporariamente um enquadramento à criança ou
jovem em perigo, que permita minimizar os efeitos da separação do seu agregado de
origem. Esta medida pressupõe a previsibilidade de retorno da criança ou jovem ao meio
natural de vida (Lei nº 147/99, de 1 de Setembro e Decreto-lei nº 11/2008, de 17 de
Janeiro).

3.3 Monoparentalidade

Família monoparental ocorre quando apenas um dos pais de uma criança arca com as
responsabilidades de criar o filho ou os filhos. Tal fenómeno ocorre, por exemplo, quando
o pai não reconhece o filho e abandona a mãe, quando um dos pais morrem ou quando os
pais dissolvem a família pela separação ou divórcio. Normalmente, depois da separação do
casal, os filhos ficam sob os cuidados da mãe, e mais raramente, do pai.

3.4 Adopção e Parentalidade

A adoção vem a ser o ato jurídico solene pelo qual, observados os requisitos legais,
alguém estabelece, independentemente de qualquer relação de parentesco consanguíneo
ou afim, um vínculo fictício de filiação, trazendo para sua família, na condição de filho,
pessoa que, geralmente, lhe é estranha. Dá origem, portanto, a uma relação jurídica de
parentesco civil entre adotante e adotado. É uma ficção legal que possibilita que se
constitua entre o adotante e o adotado um laço de parentesco de 1º grau na linha reta.
A adoção é, portanto, um vínculo de parentesco civil, em linha reta, estabelecendo entre
adotante, ou adotantes, e o adotado um liame legal de paternidade e filiação civil. Tal
posição de filho será definitiva ou irrevogável, para todos os efeitos legais, uma vez que
desliga o adotado de qualquer vínculo com os pais de sangue, salvo os impedimentos para
o casamento (CF, art. 227, §§ 5º e 6º), criando verdadeiros laços de parentesco entre o
adotado e a família do adotante.

Como se vê, é uma medida de proteção e uma instituição de caráter humanitário, que tem
por um lado, por escopo, dar filhos àqueles a quem a natureza negou e por outro lado
uma finalidade assistencial, constituindo um meio de melhorar a condição moral e material
do adotado.

Duas eram as hipóteses de adoção admitidas em nosso direito anterior: a simples, regida
eplo Código Civil de 1916 e a Lei 3.133/57, e a plena, regulada pela Lei n. 8;069/90, arts.
39 a 52.

A adoção simples, ou restrita, era a concernente ao vínculo de filiação que se estabelece


entre adotante e o adotado, que pode ser pessoa maior ou menor entre 18 e 21 anos (Lei
n. 8.069?90, art. 2º, parágrafo único), mas tal posição de filho não era definitiva ou
irrevogável.
4. Envolvimento Parental na educação de Crianças com
Necessidades Educativas Especiais (NEE)

 Conceito de Necessidades Educativas Especiais

A história do atendimento a indivíduos que apresentam diferenças físicas, motoras,


sensoriais, mentais e emocionais significativas em relação à restante população,
restitui a imagem da evolução da própria sociedade, ao longo das épocas (Pizarro &
Leite, 2003).
O conceito de NEE foi introduzido em 1978, por Warnock Report, no Reino Unido. Este
termo começou a ser difundido a partir da sua adopção no emblemático Relatório
Warnock. O respectivo relatório surgiu do 1º comité do Reino Unido, constituído para
reavaliar o atendimento aos deficientes. Os resultados evidenciaram que uma em cada
cinco crianças apresentavam NEE em algum período do seu percurso escolar, no
entanto, não existia essa proporção de deficientes. Daí que, do relatório tenha surgido
a proposta de adoptar o conceito de NEE.
Nessa linha, afirmar que um aluno tem NEE significa que necessita de recursos ou
adaptações especiais no processo de ensino/aprendizagem, por apresentar dificuldades
ou incapacidades que se reflectem numa ou mais áreas de aprendizagem no decorrer
da sua escolarização. Deste modo, essas crianças exigem uma atenção específica e
diferentes recursos educativos, mais do que os utilizados com os companheiros da
mesma idade.
Segundo Wedel citado por Bairrão (1998), o termo necessidades educativas especiais
refere-se ao desfasamento entre o nível de comportamento ou de realização da criança
e o que dela se espera em função da sua idade cronológica (citado por Bairrão).
Segundo Pizarro & Leite (2003), o conceito de NEE rapidamente passou a ser utilizado
para referenciar qualquer tipo de problema e/ou dificuldades dos alunos.
Esse conceito foi adoptado em Portugal na década de 80, tendo sido publicado na
década de 90 o decreto-lei n.º 319/91, de 23 de Agosto. Este decreto constituiu um
marco decisivo na garantia do direito de frequência/ integração dos alunos portadores
de deficiência nas escolas regulares.
Na perspectiva de Pizarro & Leite, (2003: p.42) “a utilização deste conceito
representou, não apenas uma alteração terminológica e semântica, mas sobretudo
uma intenção efectiva de mudança na forma de perspectivar a Educação Especial e
consequentemente a Educação dita regular”.
Com efeito, o uso progressivo do termo NEE no campo da Educação, além de ter
possibilitado uma visão socialmente menos estigmatizante dos problemas dos alunos,
teve também implicações no âmbito da intervenção em Educação Especial. Esta passa
assim a entender não apenas as crianças com deficiências, mas também todas
aquelas, que ao longo do seu percurso escolar, apresentam problemas na
aprendizagem.
“Torna-se assim evidente que a defesa de uma escola para todos e de uma educação
não segregada teve consequências na escola, sendo-lhe atribuída, desde então, a
responsabilidade de equacionar e disponibilizar respostas educativas às diversas
necessidades dos alunos” (Pizarro & Leite, 2003; p. 45).

Apesar de tudo, é dada grande importância à integração dos alunos com NEE nas
classes regulares, ou seja, os alunos considerados deficientes, diferentes das crianças
ditas “normais”, devem ser integradas no meio destas e como tal conviver e crescer
com elas. Para que tal se realize, os professores têm que adaptar os currículos às
diferentes necessidades dos seus alunos.
 A Família e a Escola: Contexto histórico

Segundo Liliana Sousa (1998), até há bem pouco tempo as ligações escola-família
existiram num nível de afastamento considerado desejável. Apesar dos livros de
educação do século XVIII já persistirem “nos deveres dos pais em relação às coisas do
colégio e ao preceptor, supervisionar os estudos, a repetição das lições” (Aries, 1973,
p.260 citado por Liliana Sousa, 1998).
De acordo com a referida autora, no início do século XIX, a maioria das famílias não
tinha meios para se expressar na escola pública. Esta era frequentada, quase
exclusivamente por crianças de meios populares. As famílias privilegiadas contratavam
preceptores e em suas casas respondiam às necessidades educativas dos filhos.
As alterações nas actividades de relacionamento entre escola-família deveram-se a
mudanças em várias frentes: família, escola, aspectos socioculturais, assim como, a
dados de investigação em educação (Montandon, 1987ª, p. 25, referenciado por
Liliana Sousa 1998).
Esta mudança verificou-se também no sistema escolar. Referenciamos a extensão da
escolaridade obrigatória, a democratização dos estudos, a mudança nos conteúdos e
métodos de ensino. A escola assume tarefas mais amplas de educação, que até aí
estavam a cargo da competência da comunidade civil e religiosa e mesmo da família.
Segundo Liliana Sousa (1998), nota-se a nível sociocultural o acentuar da ideologia de
participação, efeito do aumento da instrução da população, assim como a grande
difusão do discurso especializado sobre educação.
De acordo com alguma investigação científica, o papel e influência da família no
desempenho escolar dos alunos tem vindo a salientar-se e, a partir daí, realça a
necessidade de uma ligação mais próxima e institucionalizada.
Liliana Sousa (1998) refere que a aproximação entre pais e professores considera-se
um factor essencial para o sucesso das aprendizagens e do desenvolvimento da
criança. Estando este, intimamente ligado ao facto da aprendizagem ser de relação
entre toda a comunidade educativa.
Como menciona Arroteia (1991) a crescente aceitação na escola de outros sistemas
comunitários, é produto de uma mudança global, quer sejam: "dos modelos e das
concepções de gestão dos sistemas" e/ou sobretudo da "ampla renovação de
mentalidades".
Nesse sentido, a problemática do envolvimento dos pais na escola (tanto ao nível da
cooperação como da decisão) é um processo vagaroso e desencadeador de conflitos,
antes de se constituir como uma rotina, "(...) tradição, uma expectativa não declarada
tanto por parte dos professores como dos pais de actuarem de certa forma...os novos
professores e os pais de novas crianças tendem a aceitar, absorver e desenvolver a
tradição. O factor chave é o dos participantes verem no tempo dispendido algo que
valha a pena e seja agradável" (Winkley, citado por Wolfendale, 1987, p. 132, citado
por Liliana Sousa, 1998).

2.2. Conceito de família


Este conceito remete-nos inicialmente para a existência de laços de sangue,
distinguindo assim, a família extensa, em que entra um considerável leque de
parentescos: tios, primos, etc., da família conjugal formada pelos esposos, filhos e em
diversos casos pelos avós.
Contudo, há outro aspecto básico no conceito de família, “o lar, ou seja, a relação de
coexistência debaixo de um mesmo tecto de grupos de seres humanos unidos entre si
por uma relação de progenitor a descendente” (José Flores, 1994; p.51). Mas para que
a família cumpra todos os seus objectivos é necessário que a consanguinidade e a
coexistência se baseiem no amor e no respeito mútuo. Segundo o mesmo autor, as
famílias onde não existe harmonia nem equilíbrio estão impossibilitadas de cumprir as
suas funções. Deste modo, é de realçar que o amor, a entrega e o respeito mútuo são
uns dos parâmetros em que se deve mover a dinâmica familiar.
Constituem a família um pai, uma mãe e os filhos com um ente muito particular que é
o lar. O lar funda-se com o equilíbrio necessário entre o amor e autoridade,
solidariedade e rivalidade. Geralmente, cada uma daquelas funções é atribuída a um
elemento da família. Desta forma, concorda-se que o pai ainda representa a
autoridade, a mãe o amor, os irmãos a rivalidade e o lar a solidariedade.
Referenciando José Flores (1994), a família, espaço educativo por excelência, é
vulgarmente considerada o núcleo central de individualização e socialização, no qual se
vive uma circularidade permanente de emoções e afectos positivos e negativos entre
todos os seus elementos.
A família é também um lugar de grande afecto, genuinidade, confidencialidade e
solidariedade, portanto, um espaço privilegiado de construção social da realidade em
que, através das interacções entre os seus membros, os factos do quotidiano individual
recebem o seu significado e os "ligam" pelo sentimento de pertença àquela e não a
outra família.
Neste contexto, a definição de Gameiro (1992) adquire todo o seu significado:
“a família é uma rede complexa de relações e emoções que não são passíveis de ser
pensadas com os instrumentos criados para o estudo dos indivíduos” (...) “a simples
descrição de uma família não serve para transmitir a riqueza e a complexidade
relacional desta estrutura". (Gameiro 1992:56)

A família é o primeiro núcleo de pessoas onde o indivíduo inicia as suas experiências


de interacção.
José Flores (1994) evidencia que o principal papel da família perante a criança nos
primeiros anos de vida é proporcionar-lhe para além do alimento e dos cuidados
físicos, aquilo de que mais necessita, ou seja, o aspecto psíquico: afecto e segurança.
Outro factor muito importante e imprescindível para o desenvolvimento da criança é o
amor, tanto para a sua maturidade afectiva como para a sua evolução intelectual. De
todos os que rodeiam o bebé é da mãe que ele mais precisa (do seu carinho e da sua
presença).
Uma condição básica para que a criança se sinta segura e amada é sentir-se aceite
pelos pais.
Outro aspecto não menos importante que os anteriores é a estabilidade. A criança
necessita de uma situação estável entre os diferentes componentes que formam a
família. Essa estabilidade abarca desde o amor dos pais entre si e aos seus filhos, até à
orientação e à educação que lhes devem enquanto não alcançam a sua total
autonomia, passando pela estabilidade das condições económicas e materiais do lar.
A autoridade familiar

Segundo José Flores (1994), quando nos referimos à família directamente ligada à
criança pensamos logo nos pais, pois estes continuam a ser a essência da família.
Ainda se pensa que o pai e a mãe têm um papel distinto na família, ou seja, à mãe
cabe o papel de educar os filhos e ao pai cabem os trabalhos mais árduos, os de
sustentar a família.
A acção tanto do pai e da mãe são necessárias para o desenvolvimento normal do filho
e a evolução social marca, cada vez mais, a tendência para diminuir essas diferenças.
É de salientar que muitas tarefas no cuidado da criança que até há poucos anos
estavam a cargo da mãe, vão sendo realizadas cada vez mais pelos pais. A única coisa
que o pai não pode fazer é gerá-lo e amamentá-lo. Querendo isto dizer que existe uma
barreira biológica, natural, que distingue o papel da mãe e o do pai; mas esta barreira
não pode ser um ponto de partida para se dissociar o papel do pai e da mãe, nascidos
de preconceitos, de atitudes generalizadas ou de crenças das diferentes culturas que
na humanidade se foram manifestando.
A relação entre pais e filhos começa por uma simples e concreta exigência, sendo ela,
a presença física. É importante realçar que o filho aspira, não só relacionar-se com o
pai ou com a mãe separadamente, mas o seu maior desejo é fazê-lo com ambos,
conjuntamente.
No entanto, falar na relação mãe, pai e filhos requer utilizar uma palavra que não tem
uma boa reputação nos nossos dias: a autoridade. Contudo, o certo é que face a
tantos abusos da autoridade e face a tantas rebeldias contra ela, não há comunidade
possível sem autoridade que a governe. Um facto é que através dos tempos, excepto
algumas excepções, a autoridade familiar estava a cargo do pai.
É importante referir que a autoridade não é o mesmo que poder, embora a autoridade
tenha algum poder esta é mais um serviço. E é na família que se pode verificar a
condição de serviço que toda a autoridade tem.
Deve-se deixar a contraposição homem – mulher, para se pensar na acção conjunta do
pai e da mãe em relação aos filhos, ou seja, apoiando-os e ajudando-os desde os seus
primeiros dias de vida. A responsabilidade específica da autoridade familiar é criar e
manter um ambiente de estímulos, nos quais os filhos vão desenvolvendo a capacidade
de usar a sua consciência e a sua liberdade de forma responsável, ajudando os filhos a
serem capazes de viver por sua própria conta, ou seja, de não precisar já da
autoridade paterna. Podemos assim concluir que se deve exercer de maneira distinta,
segundo o grau de desenvolvimento dos filhos. É lógico que vai diminuindo de
intensidade à medida que o sujeito adquire capacidade de governar a sua própria vida.
Por essa razão a autoridade começará a exercer-se como simples ordenar, quando a
criança está nos primeiros anos de vida e não tem capacidade racional para tomar
consciência das razões pelas quais tem de agir desta ou daquela maneira, para passar
na época escolar, ao ordenar justificado. Há medida que se tornam adolescentes já
vão reclamando a responsabilidade da sua própria vida. A autoridade familiar também
requer que cada membro da família tenha uma margem de autonomia, na brincadeira,
no trabalho, na relação com os outros, onde se possa desenvolver a sua iniciativa e a
agir de acordo com o seu próprio critério.

Crianças com Necessidades Educativas Especiais – Significado na relação


escola/família

De acordo com Liliana Sousa (1998), as crianças com NEE reúnem uma série de
problemas que dificultam a adaptação da criança ao meio, as quais se relacionam com
falhas a quatro níveis: pedagógico (más condições de aprendizagem), afectivo
(problemas na relação pais-filho), psicofisiológico (alterações estruturais e funcionais)
e/ou instrumentais (problemas na linguagem oral e escrita, dificuldades perceptivas).
Deste modo, estes alunos carregam em si uma mensagem pesada física, emocional ou
académica (Tucker & Dyson, 1976, citados por Liliana Sousa, 1999).
Ausloos (1991), citado por Liliana Sousa (1998), sugere a mudança da visão tradicional
das dificuldades escolares como falhas, para um modelo que valorize as competências.
O judaico-cristão seria o modelo convencional e a nova perspectiva seria a sistémica.
Na primeira, os problemas decorrem de falhas de alguém, era, assim, necessário
encontrar o culpado e ele poderia ser perdoado se se arrependesse. Por sua vez, no
segundo, procuram-se as competências e acredita-se na responsabilização pelo
desempenho das competências, o seu desenvolvimento provém de informação e
inovação.
De acordo com o modelo judaico-cristão as dificuldades escolares da criança
reflectiram-se na relação escola - família. Um aluno inadaptado apresenta
disfuncionalidade na comunicação intra ou intersistémica e assume um comportamento
adaptado à disfunção particular. Os problemas educativos da criança, quer a nível do
desempenho académico, quer no comportamento, colocam em causa os adultos,
tornando-se, também, uma dificuldade destes. Deste modo, o professor sente-se mal,
impotente, atribuindo a causa do problema à família, os pais culpam o professor e os
seus métodos. Assim, os adultos (pais e professores) caracterizam-se uns aos outros a
partir de um agir da criança: nulo em matemática como a mãe, o mau professor. Estas
relações constituem-se na procura do culpado; professor, pais, criança, outros; com
todas as alianças que já referimos (La Gorce, 1988; Levy-Basse & Michard, 1988;
citados por Liliana Sousa, 1998).
Como nos refere Liliana Sousa (1998), as necessidades educativas especiais são parte
integrante da relação e do equilíbrio que se estabelece e, simultaneamente, expressão
de um problema relacional. Normalmente, os pais vão à escola quando o professor os
solícita, ou porque o filho está com problemas, ou já não sabem como lidar com ele.
Deste modo, revela-se uma situação nítida de culpabilização, no sentido em que “se
passa a pasta” para outro campo e se desvia a própria responsabilização da situação.
Neste encadeamento, os pais vão, desqualificar o professor e, por sua vez, a criança
fica, refém desse conflito.
Em situação de dificuldades de comprovada origem biofisiológica, a evolução da
deficiência é o que se encontra em jogo.
“A evolução da criança deficiente, o seu sucesso no desenvolvimento e maturação, a
aprendizagem e a autonomia são fortemente influenciados (dentro da sua zona de
desenvolvimento potencial) pelo tipo de apoio que é dado”. Liliana Sousa, 1998:89)

É de salientar que, toda a evolução está em interacção com a realidade social e


estrutural. De acordo com Onnis (1984), citado por Liliana Sousa (1998), a evolução
está relacionada com a situação na qual se manifesta e evolui. Também nesta situação
os pais e professores têm tendência a procurar culpados, a adiar decisões e a “jogar” a
criança enquanto intermediária da relação.
Segundo a autora, outro tipo de situações que vale a pena realçar, são as relativas às
diferenças de origem sociocultural. Nesse contexto, a criança recebe de pais e
professores mensagens diferentes e mesmo incompatíveis, ficando (con)fundida entre
a escola e a família, sem saber em quem acreditar e que direcção tomar e sem
conseguir sair da situação, já que isso significa ficar sem ponto de referência.
De acordo com Rey (1988), referenciado por Liliana Sousa (1998), as dificuldades
escolares fazem parte de uma sequência de comunicação que pode ser criativa, na
medida em que corresponde a uma tentativa de solução da rede internacional em que
se produz. No entanto, não é fácil passar de uma concepção em que os problemas são
interpretados como um défice, para outra em que são vistos como uma tentativa de
adaptação funcional à relação com o meio.
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