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UNIFEOB
CENTRO UNIVERSITÁRIO DA FUNDAÇÃO DE ENSINO OCTÁVIO BASTOSSÃO
JOÃO DA BOA VISTA, SP, 2023
JORGE HENRIQUE GUSMÕES
RA 19001122
DATA DE APROVAÇÃO:
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CAMILA MOREIRA
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ASSINATURA DO ORIENTADOR
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NOME DO 1o AVALIADOR
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ASSINATURA DO 1o AVALIADOR
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NOME DO 2o AVALIADOR (12)
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ASSINATURA DO 2o AVALIADOR
Dedico esse trabalho à minha Mãe, Lenir Monteiro de Melo, pelo apoio durante todos
esses cinco anos durante a minha graduação, pela simplicidade, humildade e os conselhos e
perseverança por nunca ter deixado eu desistir do sonho da graduação, por mais difíceis e
conturbados fosse o período pelo qual nós passamos. Aproveito e faço uma homenagem singela,
para todos aqueles que como eu, perdeu alguém para o Covid-19.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos aqueles que fizeram parte da minha vida durante esses cincos anos de
graduação, aos colegas de sala e aos amigos que pretendo levar para a vida e que nutri um
carinho por vocês Thiago, Vanessa, Wendell, Carlão, Mariana, Marine e pelo meu irmão de
outro mãe Reginaldo. Aproveito e faço um agradecimento a minha orientadora Camila Moreira
e coloco o “ônus da culpa nela, caso me torne um civilista”. E a todo corpo docente da Unifeob
e aos demais alunos da universidade por ter confiado a minha pessoa durante o ano de 2021 a
2023, representá-los como Presidente do DCE.
Quem passou pela vida em branca nuvem e em plácido repouso adormeceu, quem não
sentiu o frio da desgraça, quem passou pela vida e não sofreu, foi espectro de homem, e não
homem, Só passou pela vida, não viveu.
Francisco Otaviano
RESUMO
A família é a instituição mais antiga a qual conhecemos e é a base de toda nossa estrutura social
e estatal. È por meio desse ambiente em que nas pessoas nos desenvolvemos, é através da
família que recebemos e aprendemos as principais interações do nosso mundo, sendo o nosso
lugar de origem e raízes. O conjunto familiar, passou por inúmeras transformações, perdendo
características como o patriarcado, a submissão dos demais membros em prol do chefe da
família, o caráter formal da celebração do casamento e com isso ganhou novas diretrizes e
configurações, deixou de ser formal, não havendo mais a necessidade das formalidades do
matrimonio para o seu reconhecimento, passou a ser o lugar do afeto, do acolhimento. Passou
em seu bojo a reconhecer outras formas de família que por muito tempo foram marginalizadas
e discriminadas, contudo, nos dias de hoje ainda sofrem com esse preconceito. Na pós-
modernidade, existe uma pluralidade de arranjos famílias, sendo rica em diversidade, passou a
promover a igualdade, solidariedade e fraternidade, se pauta, nos princípios da dignidade da
pessoa humana, na busca pela felicidade, na afetividade, não sendo mais um espaço imutável.
Na contemporaneidade, surgiram novos arranjos familiares, a família monoparental, aquela
formada por apenas de um dos pais e sua prole, a família restituída ou mosaico, formada por
integrantes de outras famílias que foram fragmentadas, surge a figura da família eudemonista,
promovendo o bem-estar de todos. O Direito Civil, passando por uma transformação e a sua
interpretação precisa ser aos olhos da nossa Constituição Federal de 1988, assim surgindo o
Direito Civil Constitucionalizado, tendo como leitura a aplicabilidade da dignidade da pessoa
humana, a sua despersonalização e despatrimonialização. O direito familiar, passada a visar a
proteção das crianças e dos adolescentes, como também os idosos e pessoas com deficiência e
importando um dever se cuidado a toda sociedade e ao Estado.
Palavra-chave: Direito de Família, Solidariedade, Afeto, proteção da criança e adolescente.
ABSTRACT
The family is the oldest institution we know and is the basis of our entire social and state
structure. It is through this environment in which we develop as people, it is through the family
that we receive and learn the main interactions of our world, being our place of origin and roots.
The family group has undergone numerous transformations, losing characteristics such as
patriarchy, the submission of other members in favor of the head of the family, the formal
character of the wedding celebration and with this gaining new guidelines and configurations,
it is no longer formal, with no plus the need for the formalities of marriage for its recognition,
it became the place of affection, of reception. In its wake, it began to recognize other forms of
family that were marginalized and discriminated for a long time, however, today they still suffer
from this prejudice. In post-modernity, there is a plurality of family arrangements, being rich
in diversity, it began to promote equality, solidarity and fraternity, based on the principles of
human dignity, the search for happiness, affection, no longer being a immutable space. In
contemporary times, new family arrangements have emerged, the single-parent family, that
formed by just one of the parents and their offspring, the restored or mosaic family, formed by
members of other families that have been fragmented, the figure of the eudemonist family
emerges, promoting good -being of everyone. Civil Law, undergoing a transformation and its
interpretation needs to be in the eyes of our Federal Constitution of 1988, thus emerging
Constitutionalized Civil Law, having as its reading the applicability of the dignity of the human
person, its depersonalization and depatrimonialization. Family law, now aimed at protecting
children and adolescents, as well as the elderly and people with disabilities, imposes a duty of
care on the whole of society and the State.
Keywords: Family Law, Solidarity, Affection, protection of children and adolescents.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 8
CAPÍTULO 1 – O CONCEITO DE FAMILIA E A SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA. ... 9
1.2 FAMILIA NO PASSADO ................................................................................................ 13
CAPÍTULO 2 – PRINCÍPIOS APLICADOS AO DIREITO DE FAMÍLIA ................... 15
2.1 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA .......................................................................... 15
2.2 PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO RETROCESSO ....................................................... 20
CAPÍTULO 3 – PRINCÍOS INERENTES AO DIREITO DE FAMÍLIA. ....................... 23
3.0 PRINCÍPIO DA AFETIVIDADE ................................................................................... 23
3.2 PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DA FAMILIA. ................................................... 27
3.4 PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE FAMILIAR........................................................ 29
3.5 PRINCÍPIO DA PLURALIDADE DAS FORMAS. ..................................................... 31
3.6 PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. 32
CAPÍTULO 4 – PLURALIDADE DA FORMAÇÃO FAMILIAR NA SOCIEDADE
PÓS-MODERNA. ................................................................................................................... 37
4 UNIÃO ESTAVEL .............................................................................................................. 37
4.2 FAMÍLIA EUDEMONISTA ........................................................................................... 45
4.3 FAMILIA ANAPARENTAL ........................................................................................... 46
4.4 FAMÍLIA HOMOAFETIVA .......................................................................................... 47
4.5 FAMILIA MONOPARENTAL ...................................................................................... 52
4.6 FAMÍLIA ESTENDIDA, RECOMPOSTA, MOISAICO OU PLURIPARENTAL. . 56
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 58
8
INTRODUÇÃO
O direito de família ou direito das famílias é um ramo do direito civil, no qual visa nortear
a proteção da família e do seu patrimônio, contudo para a sua melhor compreensão deve ser
analisado sob a ótica da Constituição Federal de 1988, em especial com os princípios da
dignidade da pessoa humana, da igualdade, da liberdade, da afetividade, da convivência
familiar, da solidariedade familiar, da proteção integral da criança e do adolescente, a
compreensão destes princípios visa também elucidar os movimentos sociais para a
transformação da família nos dias modernos, como também o entendimento do fenômeno da
constitucionalização do direito.
O instituto familiar é a base mais importante da nossa sociedade, é através da família que
desenvolvemos nossa identidade, é por meio desse ambiente que deve ser guiado pelo afeto,
que ultrapassou os laços sanguíneos que é guiado pelas relações socioafetivas que será o
responsável a nos guiar para nosso desenvolvimento nos mais diversos aspectos, sociais,
culturais, religiosos e intelectual.
O conceito de família pode variar de acordo com a cultura, o contexto social e histórico
em que se está inserido. De forma geral, a família é um grupo social que compartilha laços de
sangue, casamento, adoção ou afinidade, e que possui papéis e funções definidos socialmente.
A família é a responsável pelo nosso primeiro contato social, será por meio dos atos de
nossa família que seremos socializados, enquanto indivíduos sociais, é o seio familiar que irá
nos transmitir valores, crenças, hábitos e comportamentos que serão essenciais para o nosso
desenvolvimento social para uma convivência sadia em nossa sociedade.
10
A família é dotada pelos mais diversos sentidos possíveis, não se reveste apenas de uma
realidade sociológica e muito menos jurídica, não sendo possível o legislador trazer no bojo da
lei único conceito.
Contudo, iremos apenas nos atentar-se a concepção jurídica da definição do instituto
familiar, e mesmo tratando apenas o que o ordenamento jurídico define como família, não é
possível o seu esgotar todas os tipos de família e muito menos uma mera definição, por se
revestir dos mais amplos sentimentos humanos, não é possível uma limitação em nosso
pensamento racional.
O significado, jurídico familiar, não pode se tratar de um rol taxativo e muito menos
fechado, por se tratar de um sistema normativo que é inaugurado pela Constituição Federal de
1988, sendo aberto e inclusivo e não discriminatório. Neste sentido, nos dizeres de Paulo Lobo;
11
os tipos familiares explicitados no artigo 226, da CF, são meramente exemplificativos, sem
embargos de serem os mais comuns, por isso mesmo merece referência expressa. As demais
entidades famílias são tipo implícitos, sendo incluídos no âmbito de abrangência do conceito
amplo e indeterminado de família
isso mesmo merecendo referência expressa. As demais entidades familiares são tipos
implícitos incluídos no âmbito de abrangência do conceito amplo e indeterminado de família
indicado no caput. Como todo conceito amplo e indeterminado, depende de concretização dos
tipos, na experiência da vida conduzindo à tipicidade aberta, dotada de ductilidade e
adaptabilidade.
Então a acepção, não é valorada ou definida unicamente por uma norma fechada,
correndo o risco de discriminar, tudo aquilo que não estivesse positivado no direito e não sendo
o homem responsável por essa definição, tornando assim obsoleto com o passar do tempo, mas
sim cabendo ao homem, diante das suas experiências e diante da sua adaptabilidade conceituar
a sua família.
Para Caio Mário da Silva Pereira (2011, p. 170), conceitua que a entidade familiar, não
deve responder unicamente por uma questão jurídica:
Numa definição sociológica, pode-se dizer com Zannoni que a família compreende uma
determinada categoria de ‘relações sociais reconhecidas e portanto institucionais’.
Dentro deste conceito, a família ‘não deve necessariamente coincidir com uma
definição estritamente jurídica. Quem pretende focalizar os aspectos éticos sociais da
família, não pode perder de vista que a multiplicidade e variedade de fatores não
consentem fixar um modelo social uniforme.
Em uma de suas obras, o ilustríssimo Professor Pablo Stolze conceitua (2021, p.11);
Família é o núcleo existencial integrado por pessoas unidas por vínculo socioafetivo,
teleologicamente vocacionado a permitir a realização plena dos seus integrantes,
segundo o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana.
De acordo com os doutrinadores, não é possível definir em uma única forma a família,
por se tratar de um instituto tão volátil e suscetível ao tempo e a evolução da sociedade, sendo
apenas razoável e necessário a sua compreensão através da interdisciplinaridade e relação não
12
só com os demais ramos do direito, como também outras ciências sociais, humanas, da saúde e
pelo afeto.
A família no passado, por muito tempo foi gerida e administrada pelo “Pater Famílias"
e fundada em princípios e características herdadas do Direito Romano e Canônico, porém com
o passar do tempo, ficaram ultrapassados e até mesmo inapropriados, para os dias atuais. Nos
dias atuais, a família contemporânea é caracterizada pela socioafetividade, Eudemonista e
Anaparental.
A socioafetividade é um conceito baseado no afeto, no cuidado, e na convivência,
independentemente dos laços de parentesco biológico ou legal. Reconhecendo e valorizando os
vínculos formados por pessoas que se consideram e agem como membros de uma família,
mesmo que não exista um vínculo sanguíneo ou pela adoção formal.
O eudemonismo é uma teoria ética que remonta à filosofia grega antiga, visa a busca da
felicidade e do bem-estar, buscam o convívio da solidariedade mútua, promovendo o
desenvolvimento e a promoção da felicidade de seus membros.
Por fim, o conceito anaparental é núcleo de pessoas sem vínculo de ascendência entre
si, como nos núcleos compostos por irmãos, por tio com sobrinho ou por primos.
A nossa Carta Magna, em seu art. 226, §4, é possível vislumbrar a figura da família
anaparental, porém não é possível a visualização das demais características, e nem mesmo no Código
Civil de 2002, na parte que trata sobre o direito de família ou uma definição, sendo responsável por tal
feito, ou que mais se aproxima dessas características é a Lei 11.340 de 2006, a Maria da Penha, nos
incisos do art.5º.
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a
mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I - no âmbito da
unidade doméstica compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas,
com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - No âmbito
da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou
se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade
expressa. (grifo nosso)
Portanto, a família é o instituto mais importante em uma sociedade, e através dela que
o ser humano se devolve e constrói a sua identidade. Hoje no pós-modernidade, a família vai
deixando suas características naturalistas e evoluindo culturalmente, socialmente em conjunto
com a sociedade, sendo o antro do afeto, da proteção, da solidariedade, do respeito, não apenas
sendo regido pelo matrimônio e patrimônio.
Das considerações tecidas, é possível perceber que a família, não é regida apenas por
princípios jurídicos e não é possível, esgotar em uma única definição, percebendo que como a
13
sociedade, este instituto evolui com o tempo, para a compreensão se dá necessário, se faz
essencial, uma análise da família na antiguidade, até atualmente.
A família é a unidade celular da sociedade e sem sombra de dúvidas é o instituto social mais
antigo, desde os primórdios o ser humano viveu em coabitação com outros indivíduos, seja durante
o período da evolução humana com a finalidade de proteção e perpetuação da espécie, seja
atualmente em família, a questão é que sempre essa convivência carregou a questão da
ancestralidade ou seja o vínculo consanguíneos sempre existiu.
Deixando entre parêntese os elementos não essenciais, contingentes, podemos dizer que
família é uma instituição social, composta por mais de uma pessoa física, que se irmanam no
propósito de desenvolver, entre si, a solidariedade nos planos assistencial e da convivência
ou simplesmente descendem uma da outra ou de um tronco comum. (Nader, 2015, pág.3).
O “pater família”, possuía autoridade absoluta sobre todos os que vivem em seu grupo
família, competia a ele desempenhar o papel político e religioso dentro da sua família, todo o
patrimônio familiar era colocado em sua disposição.
A família romana, como a da Grécia antiga, foi patriarcal. O pequeno grupo social se reunia
em função do pater, que era o único membro com personalidade, isto é, que era pessoa. Os
demais componentes da família eram alieni juris33 e se submetiam ao pater potestas. O alieni
juris gozava, porém, de direitos políticos, sendo-lhe permitido assumir funções públicas,
como a de cônsul e magistrado, além de votar e ser votado. Internamente, perante todos, o
pater é sacerdote e magistrado. O patrimônio familiar se concentrava em suas mãos. Os
proveitos obtidos pelo trabalho dos escravos e de outros membros da família eram repassados
ao pater. Em uma fase mais avançada, surgiu a figura do peculium, que era um patrimônio
especial entregue pelo pater ao escravo, para que este obtivesse crédito. Tal patrimônio,
todavia, continuava pertencendo ao pater, inclusive os eventuais acréscimos obtidos por
esforço do escravo. (Nader,2015, pág.7).
Contudo, com o passar do tempo a figura do “pater” foi perdendo espaço, por forte influência
do cristianismo, com isso desaparecendo a sua superioridade em relação a esposa e aos seus filhos,
exercendo a sua influência, a igreja se torna a responsável pela realização da cerimonia do casamento
e com isso, o matrimônio ganha novas características, deixa de ser conduzido pelo “pater”, e com
isso gerando um vínculo perpetuo e sendo monogâmico e em caso de poligamia era punido.
O Direito é como um todo, porém é divido em ramos, o que vamos compreender a partir
desse momento é os princípios gerais aplicados a toda ordem constitucional e aqueles que são
exclusivamente inerentes as relações familiares.
O estudo do Direito Civil, com a promulgação deve ser realizado de um prisma
constitucional, não é à toa que temos um movimento jurídico tão importante como o Direito
Civil Constitucional.
Como todos nós sabemos, os princípios são fontes secundarias do nosso ordenamento
jurídico, tendo a sua aplicabilidade e eficácia que são retirados das normas, doutrina e
jurisprudência.
Sem a aplicabilidade desses princípios é impossível chegarmos a uma aplicabilidade da
norma eficiente e justa, principalmente as relações inerentes as relações familiares.
mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que,
somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos
direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que
merecem todas as pessoas enquanto seres humanos e a busca ao Direito à
Felicidade. (grifo nosso)
O princípio da dignidade humana não está relacionado apenas com uma proteção em
abstrato tanto pela relação indivíduo e Estado, como também nas relações particulares, além do
mais este princípio de maneira implícita abarca vários desdobramentos, tais como o mínimo
existencial, garantindo a todos direitos básicos mínimos para viver minimamente com
dignidade e talvez um dos mais importantes é o direito à busca da felicidade, essencial para os
membros de uma comunidade familiar, sendo cada indivíduo responsável pela sua vida e da
maneira como irá trilhar os seus caminhos.
Para Ingo Wolfgang Sarlet (2022, p. 121), em uma concepção de prestações Positivas e
Negativas do Estado, conceitua que:
A dignidade da pessoa humana, nessa quadra, revela particular importância prática a
partir da constatação de que ela (a dignidade da pessoa humana) é simultaneamente
limite e tarefa dos poderes estatais e da comunidade em geral (portanto, de todos e de
cada um), condição que também aponta para uma paralela e conexa dimensão
defensiva (negativa) ou prestacional (positiva) da dignidade. Com efeito, verifica-se
que na sua atuação como limite, a dignidade implica não apenas que a pessoa não
pode ser reduzida à condição de mero objeto da ação própria e de terceiros, mas
também o fato de que a dignidade constitui o fundamento e conteúdo de direitos
fundamentais (negativos) contra atos que a violem ou a exponham a ameaças e riscos,
no sentido de posições subjetivas que têm por objeto a não intervenção por parte do
Estado e de terceiros no âmbito de proteção da dignidade. Como tarefa o
reconhecimento jurídico-constitucional da dignidade da pessoa humana implica
deveres concretos de tutela por parte dos órgãos estatais, no sentido de proteger a
dignidade de todos, assegurando-lhe também por meio de medidas positivas
(prestações) o devido respeito e promoção, sem prejuízo da existência de deveres
fundamentais da pessoa humana para com o Estado e os seus semelhantes.
maneira como nos relacionamos como sociedade e nas nossas interações. Quanto a este ponto,
afirma Tatuce (2023, p. 6):
A partir desse conceito, entendemos que a dignidade humana é algo que se vê nos
olhos da pessoa, na sua fala e na sua atuação social, no modo como ela interage com
o meio que a cerca. Em suma, a dignidade humana concretiza-se socialmente, pelo
contato da pessoa com a sua comunidade.
No que tange ao Direito de Família, nosso Texto Maior, consigna em seu art. 226, § 7º,
que o planejamento familiar está resguardado pelo princípio da dignidade da pessoa humana e
da paternidade responsável. Já no art. 227, descreve os deveres mútuos entre A Família, o
Estado e a Sociedade assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade,
o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão,
pois são os fundamentos e garantias mínimas para uma vida tutelada sob o principio da
dignidade da pessoa humana, é devida está proteção pelo fato da criança e do adolescente
formando a sua personalidade, durante o período de seu crescimento e desenvolvimento físico
e intelectual.
Destacam-se, neste sentido as palavras de Rolf Madaleno (2022, p.57):
Em verdade a grande reviravolta surgida no Direito de Família com o advento da
Constituição Federal foi a defesa intransigente dos componentes que formulam a inata
estrutura humana, passando a prevalecer o respeito à personalização do homem e de
sua família, preocupado o Estado Democrático de Direito com a defesa de cada um
dos cidadãos. E a família passou a servir como espaço e instrumento de proteção à
dignidade da pessoa, de tal sorte que todas as esparsas disposições pertinentes ao
Direito de Família devem ser focadas sob a luz do Direito Constitucional, como
concluiu Beatriz Helena Braganholo ao refletir sobre o impacto da Constituição sobre
o Direito de Família brasileiro e sentenciar que: “O Direito Constitucional é, mais do
que nunca, responsável por regular as relações humanas, antes ditas meramente
privadas e enquadradas como reguladas pelo Direito Civil. Seus interesses individuais
são correspondentes a necessidades fundamentais do homem, tendo o dever de
propiciar meios que levem a viver e relacionar de uma forma mais solidária, com
respeito pelo outro”.
A família como base para a nossa formação para a cidadania, deve ter proteção integral,
principalmente visando a sua dignidade, seja no momento da sua constituição e até mesmo no
momento que houver o seu rompimento, neste sentido enfatiza Miranda (2013):
(...) à família deve ser protegida, em sua dignidade, tanto no decorrer de suas relações
como no caso do rompimento familiar, impedindo que tal valor supremo seja violado.
Por conseguinte, se depreende que tal proteção fornecida à dignidade humana faz com
que ela seja colocada em nível de direito fundamental, inserindo, assim, a pessoa como
centro da proteção do Direito, gerando o denominado despatrimonialização do direito,
notadamente no direito privado.
A família deve ser protegida em sua dignidade, tanto no decorrer das suas relações de
constituição como também nos casos do rompimento familiar, não sendo permitido tal valor
supremo seja violado.
20
Talvez, principalmente nos dias atuais, o instituto que mais sofre interferências de cunho
moral e religioso, é a família e seus institutos, a exemplo disso é a tramitação do Projeto de Lei
580/07 (PL), aprovado pela Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância,
Adolescência e Família da Câmara Dos Deputados, que visa a proibição da equiparação das
relações homoafetivas ao casamento civil e União Estável.
Para quem acompanhou as explanações expostas na comissão, pode perceber que o
debate se deu apenas em torno das questões morais e religiosas, isso afirma o que disse acima
que infelizmente o nosso ordenamento jurídico ainda sofre interferências religiosas e de cunho
meramente moral.
Desde 2011, o Supremo Tribunal Federal já havia reconhecido a união homoafetiva
como núcleo familiar.
O presente trabalho, não visa o estudo sobre a temática e muito menos a sua tramitação,
mas no presente tópico abordar um princípio que neste aspecto se torna tão necessário e
importante.
O Princípio da Vedação ao retrocesso, que é um importante vetor normativo que tem
aplicabilidade ao Direito Familiar, e tem como objetivo a limitação do poder à reforma, onde
se busca a proteção a sociedade e os grupos vitimados contra leis supervenientes que
infelizmente pretendem atingir de uma forma negativa, a exemplo o tema em tela, exposta
acima.
Stolze e Rodolfo, em sua obra, expõe a temática:
Reputamos necessário destacar, como um importante vetor normativo aplicável ao
Direito de Família, o princípio da vedação ao retrocesso. Desenvolvido genialmente
por J. J. GOMES CANOTILHO, esse superior princípio traduz a ideia de que uma lei
posterior não pode neutralizar ou minimizar um direito ou uma garantia
constitucionalmente consagrado. Tratando do tema, preleciona CLAUSNER
DONIZETI DUZ: “Ora, tratando os Direitos Fundamentais como uma forma do
legislador dispor valores mínimos para a garantia de um direito essencial, verifica-se
que tal norma constitucional traz consigo uma série de efeitos, dentre eles: a) a
revogação dos atos anteriores que forem incompatíveis com o texto expresso; b) a
obrigação do legislador de produzir normas de acordo com a consagração dos valores
fundamentais; c) a proibição ao retrocesso como forma de demonstração do direito de
defesa amparado; entre outros”. (2023, pág.35).
Independentemente, que esse direito seja regulado por força normativa ou reconhecido
pelo judiciário, trata-se de direito líquido e certo e com isso não é permitido a relativização de
qualquer direito inerente a pessoa.
21
E exemplo disso, em sua obra, Pablo e Rodolfo, trazem o exemplo que não houve uma
revogação total da Lei n. 9.278 de 1986m por nosso Código Civil de 2022:
Aplicando-o ao Direito de Família, apresentaremos situações para fixar bem a sua
compreensão. Por exemplo, não é correto dizer, em nosso sentir, que a Lei n. 9.278 de
1996 — segunda lei reguladora da união estável no Brasil — teria sido totalmente
revogada (ab-rogada) pelo Código Civil de 2002. Se assim o fosse, teria havido um
inegável retrocesso na consagração constitucional da união estável como entidade
familiar equiparada ao casamento, o que repercutiria na indisponível dimensão da
dignidade da pessoa humana. Tome-se, a título exemplificativo, a norma referente ao
direito real de habi-tação do(a) companheiro(a) sobrevivente, que, posto não
expressamente regulado no Código novo, ainda estaria em vigor. A negação desse
direito, “afigura-se grave, à medida que a difícil situação sucessória do companheiro
no Código de 2002 deve ser atenuada, segundo uma interpretação constitucional, e em
atenção ao superior princípio da vedação ao retrocesso”, conforme observado por
PABLO STOLZE GAGLIANO. Outro possível exemplo pode ser encontrado na nova
disciplina normativa do divórcio. Com efeito, quando a norma constitucional foi
alterada, com a supressão da menção à separação judicial e ao decurso de lapso
temporal para o exercício do direito de se divorciar, o que será visto em capítulo
próprio89, teve-se em mente facilitar o exercício desse direito, notadamente a
possibilidade de constituição de novos vínculos conjugais. Qualquer interpretação que
condicione a nova disciplina às regras infraconstitucionais até então existentes (que
exigiam a separação judicial ou o decurso de um lapso temporal para reconhecimento
do divórcio) ou à edição de uma nova norma infraconstitucional caracterizaria violação
ao princípio da vedação ao retrocesso, tornando inútil a modificação constitucional,
interpretação que beira as raias do absurdo. (2022, pág. 35).
Não sendo possível e necessário essa vedação ao regresso, com o intuito de supressão
de direitos, seja qual for o objetivo, incorrendo ferir o princípio da dignidade da pessoa humana,
o princípio dos princípios.
22
Não cabe, portanto, ao Estado, intervir na estrutura familiar da mesma maneira como
(justificada e compreensivelmente) interfere nas relações contratuais: o âmbito de
dirigismo estatal, aqui, encontra contenção no próprio princípio da afetividade, negador
desse tipo de agressão estatal. Nesse diapasão, ao encontro do que dissemos acima, não
se poderia admitir, por exemplo, que somente o Estado Legislador pudesse moldar e
reconhecer — em standards apriorísticos — os núcleos familiares. De maneira alguma.
Ao Estado não cabe intervir no âmbito do Direito de Família ao ponto de aniquilar a
sua base socioafetiva. O seu papel, sim, como bem anotou RODRIGO DA CUNHA
PEREIRA, traduz um modelo de apoio e assistência, e não de interferência agressiva,
tal como se dá na previsão do planejamento familiar, que é de livre decisão do casal
(art. 1.565, § 2.º, do Código Civil), ou na adoção de políticas de incentivo à colocação
de crianças e adolescentes no seio de famílias substitutas, como previsto no Estatuto da
Criança e do Adolescente. Andou bem, pois, o codificador de 2002, quando, consciente
desse princípio da intervenção mínima, prescreveu, em norma sem equivalente no
Código Civil brasileiro de 1916: “Art. 1513. É defeso a qualquer pessoa, de direito
público ou privado, interferir na comunhão de vida instituída pela família”. Não se
conclua, no entanto, partindo-se desse princípio, que os órgãos públicos, especialmente
os vinculados direta ou indiretamente à estrutura do Poder Judiciário, não possam ser
chamados a intervir quando houver ameaça ou lesão a interesse jurídico de qualquer
dos integrantes da estrutura familiar, ou, até mesmo, da família considerada com um
23
O afeto é o principal sentimento que podemos nutrir por nossa família, sendo primordial
elemento de conexão entre as pessoas e condição essencial para a formação de uma família.
Com os avanços ocorridos ao longo dos anos não só no direito de família, como também no
direito civil, deixando de rotacional em torno do patrimônio, más tornando a dignidade da
pessoa humana preceito fundamental deste diploma. A afetividade ganhou um altíssimo espaço
de relevância na constituição familiar e em nosso ordenamento jurídico, onde hoje respaldam a
sua base.
A família contemporânea brasileira tem como base a sua formação pelo afeto, razão
pela qual não faz distinção pela divergência de sexo, idade e nem pela formalização do
matrimonio e muito menos exigindo algum nível de parentesco sanguíneo, admitindo a
parentalidade por afinidade entre os membros da casa.
Com o princípio da afetividade, a família tornou-se o berço do afeto, do amor, do
carinho, do respeito, deixando de lado a patrimonialização da família, passando a ser o centro
da afetividade.
O afeto, nos estudos de psicologia, refere-se à experiência inata de sentimento, emoção
e humor, más será que está única definição encontrada com uma pesquisa é o suficiente para
termos uma definição e vou além será necessária uma definição filosófica, sociologia ou até
mesmo jurídica? Acredito que para buscar uma definição que se mais encaixa no âmbito
familiar é necessário deixarmos de lado o lado racional e buscar uma definição com o cunho
mais sentimental.
“Afeto é o florescer no jardim da vida, um sentimento que aquece o coração, é a luz
suave que ilumina o caminho, um abraço caloroso em meio ao carinho. Nas dobras do tempo,
o afeto floresce, um suave vento, amor que não cesse. Palavras gentis, que acalentam a alma,
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aconchego sincero, que nunca se acalma. É o fio invisível que une corações, transcende
barreiras, sem limitações. Na tristeza, é o ombro que acalenta a dor, na alegria, é o canto que se
espalha em flor. No silêncio, é a presença que tudo compreende, no sorriso, é a felicidade que
se estende.”
Buscar uma única definição para o afeto é querer esgotar o inesgotável e querer nominar
algo para todas as pessoas do planeta.
Fazendo uma analogia entre o afeto e as obrigações que consta em nosso diploma
civilista, o afeto não se refere apenas em um “dar positivo”, ensejando o sentimento positivo,
no caso o amor, já no “não fazer” seria defino pelo ódio.
Tartuce (2012, p.1), define o afeto em:
Afeto quer dizer interação ou ligação entre pessoas, podendo ter carga positiva ou
negativa. O afeto positivo, por excelência, é o amor; o negativo é o ódio. Obviamente,
ambas as cargas estão presentes nas relações familiares. Pois bem, apesar de algumas
críticas contundentes e de polêmicas levantadas por alguns juristas, não resta a menor
dúvida de que a afetividade constitui um princípio jurídico aplicado ao âmbito familiar.
Conforme bem aponta Ricardo Lucas Calderon, em sua dissertação de mestrado
defendida na UFPR, “parece possível sustentar que o Direito deve laborar com a
afetividade e que sua atual consistência indica que se constitui em princípio no sistema
jurídico brasileiro. A solidificação da afetividade nas relações sociais é forte indicativo
de que a análise jurídica não pode restar alheia a este relevante aspecto dos
relacionamentos. A afetividade é um dos princípios do direito de família brasileiro,
implícito na Constituição, explícito e implícito no Código Civil e nas diversas outras
regras do ordenamento”. Dessa forma, apesar da falta de sua previsão expressa na
legislação, percebe-se que a sensibilidade dos juristas é capaz de demonstrar que a
afetividade é um princípio do nosso sistema. Como é cediço, os princípios jurídicos são
concebidos como abstrações realizadas pelos intérpretes, a partir das normas, dos
costumes, da doutrina, da jurisprudência e de aspectos políticos, econômicos e sociais.
Na linha do exposto por José de Oliveira Ascensão, os princípios são como “grandes
orientações que se depreendem, não apenas do complexo legal, mas de toda a ordem
jurídica”. Eles estruturam o ordenamento, gerando consequências concretas, por sua
marcante função para a sociedade. E não restam dúvidas que a afetividade constitui um
código forte no Direito Contemporâneo, gerando alterações profundas na forma de se
pensar a família brasileira.
Sem sombra de dúvidas o afeto no direito familiar ganhou forte influência, não sendo
possível denominar um conjunto familiar sem tão sentimento.
Neste sentido, Ricardo Calderón (2017, p.32), define que o afeto é o vetor principal da
constituição familiar:
O afeto, reafirme-se, está na base de constituição da relação familiar, seja ela uma
relação de conjugalidade, seja de parentalidade. O afeto está também, certamente, na
origem e na causa dos descaminhos desses relacionamentos. Bem por isso, o afeto deve
permanecer presente, no trato dos conflitos, dos desenlaces, dos desamores, justamente
porque ele perpassa e transpassa a serenidade e o conflito, os laços e os desenlaces;
perpassa e transpassa, também, o amor e os desamores. Porque o afeto tem um quê de
respeito ancestral, tem um quê de pacificador temporal, tem um quê de dignidade
essencial. Este é o afeto de que se fala. O afeto-ternura; o afeto-dignidade. Positivo ou
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Podemos extrair do vínculo registrar que faz uma menção implícita a afiliação por
afinidade, conforme também consta no nosso ordenamento jurídico, no art. 1.593 do Código
Civil, Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou outra
origem. Ou seja, o nosso vínculo é o natural/biológico ou civil/registrar, por meio da afetividade
que será exteriorizada por meio do registro civil, sendo o caso da adoção onde não existe a
relação natural de parentesco, más haverá a civil.
Neste sentido Madaleno (2021, p.62):
Maior prova da importância do afeto nas relações humanas está na igualdade da filiação
(CC, art. 1.596), na maternidade e paternidade socioafetivas e nos vínculos de adoção,
como consagra esse valor supremo ao admitir outra origem de filiação distinta da
consanguínea (CC, art. 1.593), ou ainda por meio da inseminação artificial heteróloga
(CC, art. 1.597, inc. V); na comunhão plena de vida, só viável enquanto presente o
afeto, ao lado da solidariedade, valores fundantes cuja soma consolida a unidade
familiar, base da sociedade a merecer prioritária proteção constitucional. O Conselho
Nacional de Justiça editou o Provimento 63, de 14 de novembro de 2017, cujo artigo
10 autorizou a realização diretamente no cartório de Registro Civil das Pessoas
Naturais, do reconhecimento de paternidade e maternidade socioafetiva, observando o
artigo 14 do Provimento 63/2017 que este reconhecimento voluntário não pode implicar
no registro de mais de dois pais ou de duas mães no campo filiação no assento de
nascimento. Posteriormente, o Provimento 83/2019 do CNJ alterou os artigos 10 e 14
do Provimento 63/2017, no sentido de que o reconhecimento de paternidade ou
maternidade socioafetiva se dê somente para pessoas acima de 12 anos, perante os
oficiais de registro civil das pessoas naturais, e, segundo o artigo 10-A (Provimento
63/2017), a relação socioafetiva deverá ser estável e socialmente exteriorizada, sendo
permitida somente a inclusão de um ascendente socioafetivo (art. 14 do Prov. 63/2017
CNJ), para mais de um ascendente deverá ser buscada a via judicial.
Percebemos que como a sociedade, a entidade familiar sofreu transformações, seja pelos
novos arranjos familiares ou pela forte influência do afeto e do amor e deixando de lado os
aspectos biológicos, matrimoniais e patrimoniais, dando lugar para o carinho, amor,
companheirismo e demais sentimentos positivos para a constituição familiar.
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Não está dúvidas que o princípio da afetividade criou um vínculo forte com o Direito
das Famílias e mais e por meio da afetividade que questões e responsabilidade civil são
apreciadas para apuração do dano moral, nos casos de abandono afetivo. Tornando-se cada vez
mais necessário e crucial à sua análise na compressão e formação familiar atualmente e no
futuro.
Com o passar do tempo, a família passou por inúmeras transformações até chegar no
conceito atual, em uma visão e conceitual antiga, a família era o fenômeno natural,
exclusivamente com o único intuito de preservação da espécie e proteção, e com o passar de
algum tempo, a família ganhou um outro atributo ou podemos até mesmo dizer finalidade, o
intuito de aquisição patrimonial. Entretanto, com o passar do tempo e aprimoramento de nosso
ordenamento jurídico e como sociedade, a família, foi perdendo características arcaicas e dando
espaço para o afeto e o amor, incumbindo a promoção social dos seus integrantes e com isso,
ganho uma função social.
No entanto, a família perdeu outras diferentes funções, que exerceu ao longo da história,
como anotam os professores da Faculdade de Direito de Coimbra, FRANCISCO
PEREIRA COELHO e GUILHERME DE OLIVEIRA: “(...) Perdeu a função política
que tinha no Direito Romano, quando se estruturava sobre o parentesco agnatício,
assente na ideia de subordinação ou sujeição ao pater-familias de todos os seus
membros. Perdeu a função econômica de unidade de produção, embora continue a ser
normalmente uma unidade de consumo. As funções educativa, de assistência e de
segurança, que tradicionalmente pertenciam à família, tendem hoje a ser assumidas pela
própria sociedade. Por último, a família deixou de ser fundamentalmente o suporte de
um patrimônio de que se pretenda assegurar a conservação e transmissão, à morte do
respectivo titular (...)”. Reconhecem, no entanto, os autores, o importante papel
sociocultural exercido pela família, pois, em seu seio, opera-se “o segundo nascimento
do homem, ou seja, o seu nascimento como personalidade sociocultural, depois do seu
‘primeiro nascimento’ como indivíduo físico”. Numa perspectiva constitucional, a
funcionalização social da família signi-fica o respeito ao seu caráter eudemonista,
enquanto ambiência para a realização do projeto de vida e de felicidade de seus
membros, respeitando-se, com isso, a dimensão existencial de cada um. E isso não é
simples argumento de retórica. Como consectário desse princípio, uma plêiade de
efeitos pode ser observada, a exemplo da necessidade de respeito à igualdade entre os
cônjuges e companheiros, a importância da inserção de crianças e adolescentes no seio
de suas famílias naturais ou substitutas, o respeito à diferença, em arranjos familiares
não standardizados, como a união homoafetiva, pois, em todos esses casos, busca-se a
concretização da finalidade social da família. (2023, pág. 40)
família para de deixar de orbitar em volta das questões patrimoniais e vou dando espaço para o
esforço mútuo, o companheirismo e o afeto.
MIGUEL REALE, por sua vez, antevendo a consagração doutrinária desse princípio,
na seara familiar, aponta outras situações de sua aplicação: “Em virtude dessa função
social da família — que a Constituição considera ‘base da sociedade’ — cabe ao juiz
o poder-dever de verificar se os filhos devem permanecer sob a guarda do pai ou da
mãe, atribuindo a guarda à pessoa que revele compatibilidade com a natureza da
medida, de preferência levando em conta o grau de parentesco e relação de afinidade,
de acordo com o disposto na lei específica, ou seja, o Estatuto da Criança e do
Adolescente (Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990).Tão forte é a compreensão social
da família, que o juiz, atendendo a pedido de algum parente ou do Ministério Público,
poderá suspender o poder familiar se o pai ou a mãe abusar de sua autoridade, faltando
aos deveres a ele inerentes, ou arruinando os bens dos filhos, e adotar a medida que
lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres”. (2023, pág. 40).
A função social não é apenas um fim em si mesmo, visa garantir que o núcleo familiar
cumpra com o sua objetivo, seja a proteção integral dos seus membros, a promoção mutua ou
qualquer outra características pautada pela afetividade.
A solidariedade, também está presente em nosso Texto Maior, seja de uma maneira
expressa e decorrentes de outros princípios, encontra amparo em nossa Constituição, sendo um
fundamento da República Federativa do Brasil, decorrente do Princípio da Dignidade da Pessoa
Humana, como também é um direito fundamental.
O Direito Familiar é regido por inúmeros princípios, seja constitucional ou encontrados
no diploma responsável por regulamentar as relações familiares. Em sua obra, Maria Celina
Bodin de Moraes, afirma:
Do ponto de vista jurídico, a solidariedade está contida no princípio geral instituído
pela Constituição de 1988 para que, através dele, se alcance o objetivo da “igual
dignidade social”. O princípio constitucional da solidariedade identifica-se, desse
modo, com o conjunto de instrumentos voltados para garantir uma existência digna,
comum a todos, em uma sociedade que se desenvolva como livre e justa, sem excluídos
ou marginalizados. Como se vê, a solidariedade social, na juridicizada sociedade
contemporânea, já não pode ser considerada como resultante de ações eventuais, éticas
ou caridosas, tendo-se tornado um princípio geral do ordenamento jurídico, dotado de
completa força normativa capaz de tutelar o respeito devido a cada um. (Maria, 2006.
Pág.49).
Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de
direitos e deveres dos cônjuges.
Veja, essa solidariedade se estende para além da formação da família, como entro o
antro do afeto, promoção familiar e cuidados na constância da família, enquanto o arranjo
permanecer unido pelo convívio familiar é dever de todos os envolvidos o direito de cuidado e
deveres, porém quando a família por algum motivo decidi pela sua dissolução, a solidariedade
também deve prevalecer, senão vejamos:
A importância da solidariedade social é tamanha que o princípio constituiu a temática
principal do VI Congresso Brasileiro do IBDFAM, realizado em Belo Horizonte em
novembro de 2007. Também diante dessa necessidade de tutela da solidariedade, no
XII Congresso, em 2019, o tema central foi a proteção das vulnerabilidades. Deve-se
entender por solidariedade o ato humanitário de responder pelo outro, de preocupar-se
e de cuidar de outra pessoa. A importância da solidariedade social é tamanha que o
princípio constituiu a temática principal do VI Congresso Brasileiro do IBDFAM,
realizado em Belo Horizonte em novembro de 2007. Também diante dessa necessidade
de tutela da solidariedade, no XII Congresso, em 2019, o tema central foi a proteção
das vulnerabilidades. Deve-se entender por solidariedade o ato humanitário de
responder pelo outro, de preocupar-se e de cuidar de outra pessoa. (Tartuce, 2022, pág.
34).
A Solidariedade Familiar, vai muito além da relação entre o convívio muto entre os
integrantes do arranjo familiar, essa prestação de cuidado e afeto nos casos em que dessa união
exista filhos, deve continuar mesmo que tenha havido a fragmentação familiar, sendo um dever
de cuidado entre ambos ao conjunges.
31
Até o advento da Constituição Federal de 1988 só através das justas núpcias era possível
constituir uma entidade familiar, ficando à margem da lei qualquer outro modelo de
formação familiar, notadamente o então denominado concubinato, que tinha conceito
diverso daquele conferido pelo artigo 1.727 do Código Civil. (Madaleno, 2023,
pág.109).
Prescreve o caput do artigo 226 da Carta Política ser a família a base da sociedade e
por isso merecer especial proteção do Estado, para no seu § 3º reconhecer como
modelos de família a união estável entre o homem e a mulher; e no § 4º, a família
monoparental perfilhando-se ao lado do casamento. (Madaleno,2023, pág.109).
O Nosso Texto Maior em momento algum limitou a diversidade familiar ou impôs que
o seu rol seria taxativo, mesmo que faça uma menção expressa entre homem e mulher, a
exemplo disso é artigo 5º que elenca os direitos e deveres fundamentais e parágrafo segundo
prescreve:
A própria Constituição garante proteção aos princípios expressos em seu corpo, como
também outros decorrentes de seus fundamentos. Não sendo possível uma leitura
discriminatória do artigo 226 ou até mesmo o não reconhecimento das mais diversas formas
de pluralidade ou diversidade familiar.
Então é reconhecimento para além do casamento civil estabelecido por nossa
legislação, a União Estável contemplando o reconhecimento entre pessoas do mesmo sexo, o
casamento religioso com efeitos civil e as mais diversas formas de formação familiar,
reconhecendo a primazia da realidade família contida em cada família em nossa sociedade.
Sem sombra de dúvidas, nossa sociedade como um todo passou por inúmeras mudanças
com grande significado em nossas organizações grupais, e acredito que a que mais sofreu
transformações foi no bojo familiar, onde novos valores foram incorporados, novos arranjos
familiares surgiram, direitos foram criados e a família tornou-se espaço do afeto, carinho,
proteção de todos os seus integrantes, independentemente da idade.
33
Ou seja, não se nutria nenhum afeto por aquela pequena criança, por esse ser humano
de tamanho minúsculo e frágil e que demanda uma muita atenção e cuidado e que caso não
34
conseguisse sobreviver a primeira fase da vida, não seria digno de guardar lembranças e muito
menos se dar ao trabalho de sentir a dor do luto, ocasionado por sua morte tão precoce.
Por muito tempo, o cuidado com a criança e o adolescente foram deixados de lado ou
nunca ocorreu, episódio muito comum antigamente e por muitas vezes nos dias de hoje são
lembrados, por meio de um dos contos de fadas mais famosos, sem sombra de dúvida, todos
nós, já ouvimos falar da obra de “Hansel Und Gretel” de João e Maria, compilada pelos Irmãos
Grimm. Trata-se da história de dois irmãos, filhos de um pobre casal, que moravam na floresta
e que perderam na floresta e não acharam o caminho de volta para casa. Contudo, a verdade
história reflete a falta de afeto dos pais pelos seus filhos, que devido a pobreza do casal e devido
a baixa produção dos filhos e sua incapacidade de prover o próprio sustendo, são abandonados
pelo pai na floresta, largados a própria sorte, para serem devorados pelos animais.
O cuidado com nossas crianças como nós conhecemos hoje em dia é uma conquista
recente, alguma vez já ouvimos a expressão “salvem as mulheres e crianças primeiros” em
alguma cena de um filme decorrente de um acidente, porém isso é um código cavalheiresco
recente, pois em caso de haver realmente um acidente, primeiro salvam-se os homens, depois
as mulheres e caso sobrasse algum espaço as crianças.
Em uma breve análise do papel da criança e do adolescente em nosso ordenamento
jurídico, percebemos talvez pela primeira vez no século a expressão criança e adolescente, ao
tratar o tema da minoridade penal.
No Brasil império, por onde vigorou como legislação penal a época vigente, As
Ordenações Filipinas, em seu Livro 5º, Título 135, estabelecia a menoridade penal com idade
de 21 anos, assim não sofrendo as sanções penais previstas e impostas vigente a época.
Em nosso, primeiro Código Penal do Império do ano de 1814, maiores de 14 anos,
sofriam as mesmas consequências impostas a um adulto, diante do cometido de algum ilícito
penal, vigorando a época a menoridade penal de 14 anos de idade.
No ano de 1830, com um novo Código Penal, novamente a menoridade penal foi
alterada, retornando à idade de 21 anos, como era na época que o Brasil seguia As Ordenações
Filipinas.
No período, conhecido como República, surge o primeiro Código Penal Republicano,
porém não tão republicano e muito sensato, devido que a menoridade penal foi estabelecida
pela idade até os nove anos de idade, como se fosse possível uma criança nessa idade conseguir
realmente realização uma distinção entre o certo e errado. Na vigência do Código, ficava a
35
critério do magistrado responsável pelo caso, julgar o discernimento por aquele menor durante
o julgamento, a realização um tipo de adivinhação psicológica.
Durante ainda o período da República Velha, um novo Código surge o de 1921,
alterando novamente a menoridade penal, porém dessa vez elevando aos quatorze anos de
idade.
No ano de 1927, pela primeira vez é elaborada uma legislação própria para a
regulamentação do tema.
Com a vigência do Código Penal de 1940, atualmente a legislação vigente em nosso
país, porém um inúmeras modificações, a menoridade penal é elevada aos dezoitos anos de
idade e perdura até os dias a menoridade penal com essa faixa etária. Durante o governo Vargas
é criado um tipo de assistência ao menor e na época da ditadura militar foram instituídas a
Fundação Estatual para o Bem-estar do Menor, a famosa Febem.
Foram anos de negligência Estatal e pela sociedade, com relação aos cuidados com
nossas crianças e adolescentes, não se preocupavam com nenhum tipo de cuidado ou proteção,
com isso e visando extirpar essa falta de cuidado, com a promulgação da Constituição Federal
de 1988, em seu artigo 227, determina:
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo
de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.
Não apenas a Constituição Federal, impõe esse cuidado com a criança e o adolescente,
como também o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o legislador expressou inúmeras
providencias a ser adotados por nossa sociedade. No artigo 5º do ECA, in verbis:
Sem sombra de dúvidas, a nossa Constituição Federal de 1988, foi uma grande inovação
em nosso ordenamento jurídico, responsável por parte das grandes transformações ocorridas
em nosso direito, não só inovou ao trazer inúmeros direitos que não eram previstos ou muito
menos existiam em nossa sociedade, como também garantiu direitos fundamentais, não é à toa
que é apelidada de Constituição Cidadã. O Eca em buscando a sua eficácia e validade em nosso
Texto Maior, em seu artigo 5º, aqui já reproduzido, impõe que nenhuma criança e adolescente
será algo de qualquer forma de negligência, discriminação ou explorar, não permitido a violação
de qualquer um dos seus direitos fundamentais.
Na ótica civil, essa proteção integral pode ser percebida pelo princípio de melhor ou
maior interesse da criança, ou best interest of the child, conforme reconhecido pela
Convenção Internacional de Haia, que trata da proteção dos interesses das crianças. O
CC/2002, nos seus arts. 1.583 e 1.584, acaba por reconhecer tal princípio, ao regular a
guarda durante o poder familiar. Esses dois dispositivos foram substancialmente
alterados, inicialmente, pela Lei 11.698, de 13 de junho de 2008, que passou a
determinar como regra a guarda compartilhada, a prevalecer sobre a guarda unilateral,
aquela em que um genitor detém a guarda e o outro tem a regulamentação de vistas em
seu favor. Ampliou-se o sistema de proteção anterior, visando atender ao melhor
interesse da criança e do adolescente na fixação da guarda, o que era reconhecido pelos
Enunciados ns. 101 e 102 do CJF/STJ, aprovados na I Jornada de Direito Civil. Em
37
2014, tais dispositivos foram novamente alterados pela Lei 13.058, que ainda receberá
a devida análise crítica nesta obra. (2022, pág. 44)
Não apenas nosso Texto Maior e o ECA, más o Código Civil dispõe em seus artigos
1.583 e 1.584, a disposição e aplicabilidade do Princípio Do Melhor Interesse da Criança e Do
Adolescente, visando a aplicabilidade e eficiência de todos os direitos inerentes para que possua
condições amplas de desenvolvimento de sua saúde física e mental, a preservação da estrutura
social e sua convivência familiar e social.
4 UNIÃO ESTAVEL
A União Estável sempre foi reconhecida como um fato jurídico, ou seja, pelo Direito
Comparado e atualmente, tem seu reconhecimento na doutrina, jurisprudência e legislação em
vigor em nosso ordenamento jurídico.
Contudo, o vínculo entre os conviventes não é matrimonial, porém a sua finalidade é a
mesma, a constituição de uma vida conjunta, a formação de uma família, com base no amor, no
afeto, independente para o seu reconhecimento a divergência de sexos entre o casal.
Porém, esse vínculo familiar a um certo tempo, não reconhecido formalmente e era
utilizado por casais que estavam separados de fato e não poderia contrair matrimonio
novamente, devido a legislação vigente a época não permitir a dissolução definitiva do
casamento, tendo a época caráter vitalício.
Mesmo não existindo um vínculo matrimonial, todos os aspectos inerentes ao
casamento, são equiparados a União Estável e principalmente a proteção patrimonial.
Aplicando-se a União Estável os impedimentos e nulidades, referentes ao casamento,
havendo uma dessas hipóteses, a constituição da União Estável não será reconhecida.
Em sua obra, Flavio Tartuce (2022, pag. 409), conceitua a União Estável:
Segundo o art. 1.723 do CC/2002 em vigor, “é reconhecida como entidade familiar a
união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua
e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família”. O dispositivo
regulamenta o art. 226, § 3.º, da CF/1988. Como se nota, o conceito é o mesmo que
constava da Lei 9.278/1996. A respeito dos seus requisitos, comenta o Professor Álvaro
Villaça Azevedo que:“Realmente, como um fato social, a união estável é tão exposta ao
público como o casamento, em que os companheiros são conhecidos, no local em que
vivem, nos meios sociais, principalmente de sua comunidade, junto aos fornecedores de
produtos e serviços, apresentando-se, enfim, como se casados fossem. Diz o povo, em
sua linguagem autêntica, que só falta aos companheiros ‘o papel passado’. Essa
convivência, como no casamento, existe com continuidade; os companheiros não só se
visitam, mas vivem juntos, participam um da vida do outro, sem termo marcado para se
separarem” (AZEVEDO, Álvaro Villaça. Comentários..., 2003, p. 255).Como
reconhece o próprio Professor Villaça, a lei não exige prazo mínimo para a sua
constituição, sendo certo que o aplicador do direito deve analisar as circunstâncias do
caso concreto para apontar a sua existência ou não.Os requisitos, nesse contexto, são
que a união seja pública (no sentido de notoriedade, não podendo ser oculta,
clandestina), contínua (sem que haja interrupções, sem o famoso “dar um tempo” que é
tão comum no namoro) e duradoura, além do objetivo de os companheiros ou
conviventes de estabelecerem uma verdadeira família (animus familiae). Para a
configuração dessa intenção de família, entram em cena o tratamento dos companheiros
(tractatus), bem como o reconhecimento social de seu estado (reputatio). Nota-se, assim,
a utilização dos clássicos critérios para a configuração da posse de estado de casados
também para a união estável. Em tom didático, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo
Pamplona Filho apresentam elementos caracterizadores essenciais e elementos
caracterizadores acidentais para a união estável. Entre os primeiros estão a publicidade,
a continuidade, a estabilidade e o objetivo de constituição de família. Como elementos
acidentais, destacam o tempo, a prole e a coabitação (Novo Curso..., p. 429-436).
39
A União Estável, além de ser um fato social, reconhecida como uma modalidade de
família, por nossa sociedade, também encontra respaldo em nosso ordenamento jurídico e
trazendo consigo elementos essenciais para a sua caracterização.
A União Livre, assim também denominada, sofreu mutações e aprimoramento, não
apenas em nosso ordenamento jurídico, más como também na maneira de sua concepção,
deixou de ser uma única opção imposta para aqueles que não podiam de casar-se novamente e
passou a ser uma opção clara, aliás tornou-se uma opção além para aqueles que desejam uma
relação continua, duradoura e pública.
Tartuce (2022, pág. 402), explica:
A união estável ou união livre sempre foi reconhecida como um fato jurídico, seja no
Direito Comparado, seja entre nós. Por certo é que hoje, a união estável assume um
papel relevante como entidade familiar na sociedade brasileira, eis que muitas
pessoas, principalmente das últimas gerações, têm preferido essa forma de união em
detrimento do casamento. Na verdade, em um passado não tão remoto o que se via era
a união estável como alternativa para casais que estavam separados de fato e que não
poderiam se casar, eis que não se admitia no Brasil o divórcio como forma de
dissolução definitiva do vínculo matrimonial. Hoje, tal situação vem sendo substituída
paulatinamente pela escolha dessa entidade familiar por muitos casais na
contemporaneidade. Em suma, no passado, a união estável era constituída, em regra,
por falta de opção. Atualmente, muitas vezes, por clara opção. No caso do Brasil, a
primeira norma a tratar do assunto foi o Decreto-lei 7.036/1944, que reconheceu a
companheira como beneficiária da indenização no caso de acidente de trabalho de que
foi vítima o companheiro, lei que ainda é aplicada na prática. Posteriormente, a
jurisprudência passou a reconhecer direitos aos conviventes, tratados, antes da
Constituição Fedeal de 1988, como concubinos. Como explica Euclides de Oliveira,
“mesmo antes das mudanças ocorridas na esfera legislativa, a questão da vida
concubinária já evoluía em outras direções, desde seu reconhecimento como fato
gerador de direitos entre as partes, como pioneiramente sustentado por Edgard de
Moura Bittencourt, em sua monumental obra ‘Concubinato’, abrindo caminho ao
reconhecimento judicial da sociedade de fato estabelecida entre pessoas unidas por
laços distintos dos vínculos conjugais” (OLIVEIRA, Euclides de. União..., 2003, p.
76). O doutrinador cita, nesse ínterim, a antiga jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal, com grandes contribuições para o tema. Destaca, inicialmente, a sua Súmula
35, que reconhecia o direito à indenização acidentária em favor da companheira, antes
mesmo da norma citada. Releva, em complemento, a notável Súmula 380, do ano de
1964, com a seguinte redação: “comprovada a existência de sociedade de fato entre
os concubinos, é cabível sua dissolução judicial com a partilha do patrimônio
adquirido pelo esforço comum”. No passado, também era comum indenizar a
concubina pelos serviços domésticos prestados. No entanto, com o evoluir dos
tempos, tal prática passou a ser considerada como discriminatória não só em relação
à concubina, como também quanto à companheira, sendo atualmente vedada. Nesse
sentido, cite-se a afirmação número 14 constante da Edição n. 50 da nova ferramenta
Jurisprudência em Teses, do STJ, a saber: “é inviável a concessão de indenização à
concubina, que mantivera relacionamento com homem casado, uma vez que tal
providência daria ao concubinato maior proteção do que aquela conferida ao
casamento e à união estável”. Como se nota, a premissa traz o argumento
complementar de não se poder dar um tratamento superior ao concubinato diante do
casamento e da própria convivência.
A União Estável deixou de ser uma única opção e inevitável para aqueles que devido o
caráter vitalício e indissolúvel do casamento e não podiam separar-se de fato e tornou uma outra
40
opção para aqueles que desejam viver com alguém sem as necessidades das formalidades de
um casamento ou matrimonio e mais, garantindo a sua integral proteção ao patrimônio
adquirido na constância dessa convivência bilateral, não sendo possível está proteção ou melhor
dizendo esse reconhecimento a um tempo atrás.
No Brasil, a primeira legislação ao tratar o tema e reconhecer alguns direitos entre os
conviventes, foi o Decreto-Lei de número 7.036/199, que reconheceu e garantiu o direito da
companheira como beneficiária da indenização, decorrente de acidente de trabalho de que foi
vítima o seu companheiro.
Mesmo diante das inúmeras mudanças Legislativas, a jurisprudência passou a
reconhecer os direitos dos conviventes. Um exemplo citado na obra do Tartuce é a Súmula 35
do Supremo Tribunal Federal.
Antes mesmo da promulgação do nosso Texto Maior, a Lei de Registros Púbicos do ano
de 1973, admitia a possibilidade de a companheira utilizar o sobrenome do seu companheiro,
conforme dispõe o referido art. 57, § 2.º:
“Os conviventes em união estável devidamente registrada no registro civil de pessoas
naturais poderão requerer a inclusão de sobrenome de seu companheiro, a qualquer
tempo, bem como alterar seus sobrenomes nas mesmas hipóteses previstas para as
pessoas casadas.”
O vínculo de união entre essas pessoas não é matrimonial, uma vez que o matrimonio é
um sacramento religioso, porém a sua finalidade é por assim dizer a mesma, a construção de
uma família, também não é meramente patrimonial, ultrapassando os limites econômicos, mas
sim tento como base, o afeto, o amor, a finalidade é a proteção integral dos seus membros.
Denominado concubinato, em 1988 foi alçado à condição de entidade familiar com o
advento da vigente Carta Federal, trocando sua identidade civil pela expressão
consolidada de união estável. Enquanto viveu à margem da lei, o concubinato procurou
lentamente seu caminho ao reconhecimento e consagração de uma típica espécie
legítima de constituição familiar, primeiro, logrou ver judicialmente reconhecidos
direitos que comparavam a mulher concubina à serviçal doméstica, concedendo-lhe,
com a ruptura do concubinato, uma indenização por serviços prestados, e se ela de
alguma forma tivesse contribuído com recursos próprios para a aquisição de bens
registrados em nome do concubino, por analogia ao Direito Comercial podia reivindicar
a divisão dos bens comuns em valor proporcional ao montante de seus efetivos aportes
financeiros, pois seu vínculo afetivo era equiparado a uma sociedade de fato. (Madaleo,
2022, pág.41).
Nosso Texto Maior, além de reconhecer a União Estável como ente que merece a tutela
protecionista do Estado, impõe que a lei deve facilitar a sua conversão em casamento, caso
assim os conviventes desejarem. Ou seja, caso os conviventes optem por a conversão, deverão
solicitar a averbação no assento no cartório de Registro Civil.
O Diploma Civilista, em seu artigo 1.726 dispõe:
Art. 1.726. A união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos companheiros ao
juiz e assento no Registro Civil.
Contudo, o artigo 226, § 3º, aduz que reconhece a União Estável entre homem e mulher,
entretanto, nós operadores do direito, não podemos realizar uma interpretação restritiva ou
teleológica, correndo o risco caso o faça de excluir uma parcela da sociedade e mais negando a
existência das Uniões entre pessoas do mesmo sexo e deferindo o princípio matriz do nosso
ordenamento jurídico, O princípio da Dignidade da Pessoa Humana, ora abortado em capítulo
próprio.
De acordo, com o nosso Código Civil vigente, em seu artigo 1.723, elenca que os
pressupostos de validade da União Estável, in verbis: “Art. 1.723. É reconhecida como entidade
familiar a união estável entre homem e mulher, configurada na convivência pública, contínua e
duradoura e estabelecida com a constituição de família”.
Ou seja, para que seja configurada e reconhecida a União Estável, é necessário que
alguns requisitos sejam atendidos, dentre eles podendo ser explícitos ou implícitos, è necessário
a convivência continua, os parceiros devem viver juntos de forma ininterrupta, demostrando a
todos a intenção de constituir uma família. Publicidade, a relação deve ser reconhecida pelos
demais e não sendo mantida. Continua ou Duradoura, a União Estável deve ser uma relação
duradoura, não sendo apenas um relacionamento passageiro, diferentemente do casamento que
após dois dias após contrair o casamento civil é possível a sua dissolução e a Intenção de
Constituir Família: Os parceiros devem ter a intenção mútua e recíproca de formar uma família,
compartilhando responsabilidade e objetivos comuns.
Neste sentido, o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, preferiu
o seguinte acordão:
Ementa Oficial:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE UNIÃO ESTÁVEL POST
MORTEM. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS CARACTERIZADORES. UNIÕES
ESTÁVEIS PARALELAS. NÃO RECONHECIMENTO. No caso, o conjunto
probatório não consagra que o relacionamento amoroso entre a autora e o de cujus
assumiu os contornos de uma entidade familiar própria, que teria sido mantido
concomitantemente a uma união estável com pessoa diversa, já reconhecida, que
perdurou até o seu passamento, estando inviabilizada a pretendida afirmação (art.1.723,
42
impedimentos e nulidades previstos no artigo 1.521 a 1.524, são aplicados a União Estável,
conforme dispõe o artigo 1.723, § § 1º e 2º:
Art. 1.723: (...)§ 1 o A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos
do art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada
se achar separada de fato ou judicialmente. § 2 o As causas suspensivas do art. 1.523
não impedirão a caracterização da união estável.
As Uniões Estáveis, deverão pautar-se entre os companheiros os deveres de lealdade,
respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos, conforme dispõe o artigo
1.724 do Código Civil de 2002.
Continuando, outros aspectos a serem considerados ao analisar a natureza da união,
entre elas a independência financeira e o compartilhamento da responsabilidade.
Carlos Roberto Gonçalves, em sua obra, conceitua o não formalismo da União Estável,
como ocorre no casamento e preleciona os requisitos para a sua configuração:
Uma das características da união estável é a ausência de formalismo para a sua
constituição. Enquanto o casamento é precedido de um processo de habilitação, com
publicação dos proclamas e de inúmeras outras formalidades, a união estável, ao
contrário, independe de qualquer solenidade, bastando o fato da vida em comum. Como
assinala Antonio Carlos Mathias Coltro, a união de fato se instaura “a partir do instante
em que resolvem seus integrantes iniciar a convivência, como se fossem casados,
renovando dia a dia tal conduta, e recheando-a de afinidade e afeição, com vistas à
manutenção da intensidade”. Embora, por essa razão, tal modo de relacionamento
afetivo apresente uma aparente vantagem, por não oferecer dificuldade para a sua
eventual dissolução, bastando o mero consenso dos interessados, por outro lado cede
passo, como acentua Euclides de Oliveira, à dificuldade de prova que lhe é inerente,
por falta de documento constitutivo da entidade familiar. Recomenda por isso o
mencionado autor, embora não exigível instrumentação escrita, seja formalizada a
constituição da união estável “por meio de um contrato de convivência entre as partes,
que servirá como marco de sua existência, além de propiciar regulamentação do regime
de bens que venham a ser adquiridos no seu curso.
uma união estável, porque importa ao relacionamento a sua qualidade e não o tempo da
relação.
A composição familiar, deixa de ser apenas um ambiente nuclear, dando espaço para o
afeto, educação e proteção dos seus membros, deixando de ser algo social e se tornando cultural
e com isso inovando cada vez que é necessário para acompanhar os movimentos de
transformações da nossa sociedade rumo a pós-modernidade.
A nova família foi desencarnada do seu precedente elemento biológico para ceder lugar
aos vínculos psicológicos do afeto, consciente a sociedade que, na formação da pessoa
humana, os valores como a educação, o afeto e a comunicação contígua guardam muito
mais importância do que o elo da hereditariedade. (MADALENO, 2022. PÁG.39).
A família parte de uma repersonalização, não apenas no âmbito patrimonial, más como
também como um fator social que deve acompanhar a evolução da sociedade, deixando de ser
o antro econômico e se tornando eudemonista, nessa linha de pensamento, Madaleno (2022,
pág. 39) reforça:
45
A família que foi repersonalizada a partir do valor do afeto, não de qualquer relação
afetiva, como pudesse alguém argumentar, mas de um afeto especial e complementar
de uma relação de estabilidade, coabitação, intenção de constituir um núcleo familiar,
de proteção, solidariedade e interdependência econômica, tudo inserido em um projeto
de vida em comum,20 conforme exterioriza o artigo 1.511 do Código Civil, ao
explicitar que a comunhão plena de vida é princípio geral e ponto de partida para o
completo desenvolvimento pessoal dos partícipes de cada um dos diversificados
modelos de famílias.
A família eudemonista é um conceito que estabelece que a busca pela felicidade por meio do
afeto subjetivo deve ser o suficiente para criar uma entidade familiar, independentemente do
vínculo genético. Trata-se portando por assim dizer de uma derivação do princípio da
afetividade.
O seu núcleo composto pela família eudemonista é baseado pela busca da felicidade
individual no convívio com os outro, independe do vínculo biológico, más sim pela
socioafetivo.
Madaleno, em sua obra, afirma:
O termo família eudemonista é usado para identificar aquele núcleo familiar que busca
a felicidade individual e vive um processo de emancipação de seus membros.83
Rodrigo da Cunha Pereira apresenta maiores informes a despeito da família
eudemonista, explicando que os valores eudemonistas ganharam força, e reforço, com
o declínio do patriarcalismo e com a sociedade do hiperconsumo e acrescenta
importante prognóstico no sentido de que “casamos para sermos felizes e também nos
separamos à procura da felicidade”,84 fato absolutamente verdadeiro, mas que depende
de quem tem coragem de romper sua relação infeliz, fato e direito altamente facilitado,
especialmente depois da Emenda Constitucional 66/2010, que instituiu o divórcio
direto e, obviamente, da mentalidade social que aos poucos vai se livrando dos dogmas
e fantasmas do passado, que impregnavam a ideia de que o casamento devia durar por
toda a existência terrena das pessoas, pois o que Deus havia unido, o homem não podia
separar. O Direito de Família não mais se restringe aos valores destacados de ser e ter,
porque, ao menos entre nós, desde o advento da Carta Política de 1988 prevalece a
busca e o direito pela conquista da felicidade a partir da afetividade. (2023, pág.32).
A partir do momento que a família tem como objetivos mútuos o bem-estar, a felicidade,
a promoção do desenvolvimento moral, emocional e intelectual dos seus membros e o vínculo
socioafetivo, estamos diante de fundamentos básicos da família eudemonista a exemplo disso
a família homoafetiva decorre do conceito da família eudemonista.
Contudo, devemos nos atentar-se, ao conceito de família eudemonista, não é porque
existe um liame afetivo que é o suficiente para a caraterização de um arranjo familiar, a exemplo
disso um relacionamento entre namorados, está presente, porém não a forma família.
46
Observam Renata Almeida e Walsir Rodrigues Júnior não existir família anaparental
onde ausente a pretensão de permanência, por maior que sejam os vínculos de
afetividade do grupo, como, por exemplo, em uma república de estudantes
universitários, cujos vínculos não foram construídos com a intenção de formar uma
família e certamente serão desfeitos com o término do curso. (Madaleno, 2023, pag.10).
A expressão família anaparental foi criada pelo Professor Sergio Resende de Barros:
Ao lado da família nuclear construída dos laços sanguíneos dos pais e sua prole está a
família ampliada, como uma realidade social que une parentes, consanguíneos ou não,
estando presente o elemento afetivo e ausentes relações sexuais,33 porque o propósito
desse núcleo familiar denominado anaparental não tem nenhuma conotação sexual
como sucede na união estável e na família homoafetiva, mas estão juntas com o ânimo
de constituir estável vinculação familiar. Nesse arquétipo, a família anaparental está
configurada pela ausência de alguém que ocupe a posição de ascendente, como na
hipótese da convivência apenas entre irmãos. (2023, pág.10).
O liame que une a relação de uma família anaperental é o vínculo biológico ou não, más
tem a afetividade entre os membros desse conjunto familiar, o desejo de formação de um núcleo
47
familiar e não havendo uma conotação sexual, como existe na União Estável e demais arranjos
familiares.
A Relação Homoafetiva, é uma denominação dada pela jurista Maria Berenice Dias,
propulsora do Direito Homoafetivo no Brasil, que iniciou a busca pelo direito dessa classe que,
atualmente após anos de luta, pelo reconhecimento da sua existência e direitos, ainda continua
sendo marginalizada pela sociedade e pelo Poder Estatal, pela sua inercia. A união entre pessoas
do mesmo sexo é uma realidade que há muito tempo se verifica, porém durante anos, por
questões fortemente ligadas a religião, fez com que essas pessoas caíssem no esquecimento,
sem a devida atenção da sociedade e do direito, sendo reiteradamente alvo de perseguições e
preconceitos.
O reconhecimento da união estável, não está expressamente regulamentado pela
Constituição Federal de 1988 e muito menos pelo nosso Código Civil de 2002, contudo o
reconhecimento das relações homoafetivas, com o interesse de constituir familiar, vem obtendo
o seu reconhecimento por meio das doutrinas e jurisprudência.
Lamentavelmente, o legislador brasileiro não cuidou ainda de regulamentar o
casamento civil e a união estável entre pessoas do mesmo sexo, a despeito de todo
avanço normativo experimentado pelo Direito estrangeiro, conforme vimos no tópico
anterior. É bem verdade que a jurisprudência, cumprindo o seu papel, passou a admitir,
em favor dos companheiros do mesmo sexo, a aplicação das regras da união estável, o
que ganhou reforço com a decisão do Supremo Tribunal Federal na ADI 4.277. Da
mesma forma, em que pese a ausência de previsão legal específica (o que, no nosso
entendimento, seria o recomendável), o casamento homoafetivo tem sido aceito por
força da atuação dos Tribunais, superando a tradicional exigência da diversidade de
sexos como pressuposto de existência, o que ganhou especial reforço com a edição da
Resolução n. 175/2013 do CNJ, que veda às autoridades competentes a recusa de
habilitação, celebração de casamento civil ou de conversão de união estável em
casamento entre pessoas de mesmo sexo. (2023, pág.175).
questões a imparcialidade e não nos levar por questões de cunho moral e religiosa que nos dias
atuais vem cada vez mais prejudicando à nossa maneira de cosmovisão. Não é o intuito deste
trabalho externar esse tipo de questão, más atualmente se faz necessário deixar registrado,
principalmente no tocante a questões que no mundo jurídico é visto como uma aberração, como
o exemplo da PL que visava proibir o casamento civil, entre pessoas do mesmo sexo, totalmente
motivado por questões religiosas.
A evolução da sociedade, gerou conceitos e situações a qual a legislação, por muitas
vezes não consegue prever. Exatamente por isso, que O Poder Judiciário, constantemente vem
enfrentando fatos novos oriundos do direito de família e das relações homoafetivas.
No entanto, a jurisprudência se incumbiu de tratar das relações entre homossexuais.
Para tanto, a fim de demonstrar o papel jurisprudencial em tal matéria, se traz ao
presente artigo a decisão inédita proferida pelo Supremo Tribunal Federal – STF, o qual
decidiu, por unanimidade, em 5 de maio de 2011, reconhecer a união homoafetiva no
Brasil, situação essa que até o presente momento não possui disposição legal específica
(MIRANDA, 2013, p. 33).
A união entre pessoas do mesmo sexo, não é algo que surgiu com a modernidade, ou
por meio de uma transformação social ou até mesmo cultural, é um fato que existe há tempos,
porém apenas na sociedade pós-moderna que ganhou mais evidência. A relação entre dois
homens ou duas mulheres, sempre existiu, porém com o decorrer do tempo e com o aumento
dessas relações, que foram ganhando forças para buscar os seus direitos, e equiparação as outras
modalidades de arranjos familiares, que são tutelas e amparadas legalmente, buscando o seu
reconhecimento e sua constituição enquanto família.
Todavia, em nosso ordenamento jurídico não existe uma Lei em sentido estrito, a qual
regule expressamente as relações de pessoas do mesmo sexo com o intuito de constituir família,
sendo ignorado por nosso ordenamento pátrio, cabendo ao judiciário acolher essa parcela da
sociedade que desde sempre vem sofrendo com a falta de uma regulamentação jurídica.
Atualmente, embora não exista uma lei formal para definir essa matéria, o Supremo Tribunal
Federal, por meio da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 4.777 e da Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) n° 132, estabeleceu que o reconhecimento
da união homoafetiva, com base na relação duradoura e pública, os mesmos direitos e deveres
das famílias formadas entre homem e mulher.
EMENTA: 1. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO
FUNDAMENTAL (ADPF). PERDA PARCIAL DE OBJETO. RECEBIMENTO, NA
PARTE REMANESCENTE, COMO AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. UNIÃO HOMOAFETIVA E SEU
RECONHECIMENTO COMO INSTITUTO JURÍDICO. CONVERGÊNCIA DE
OBJETOS ENTRE AÇÕES DE NATUREZA ABSTRATA. JULGAMENTO
CONJUNTO. Encampação dos fundamentos da ADPF nº 132-RJ pela ADI nº 4.277-
DF, com a finalidade de conferir “interpretação conforme à Constituição” ao art. 1.723
49
Com este julgamento, o Supremo Tribunal Federal, além de reconhecer a união entre
pessoas do mesmo sexo, inseriu por assim dizer, nos direitos fundamentais, que a cada pessoa
existe a liberdade de dispor da própria sexualidade, expressando a sua autonomia da vontade e
respeitando a autonomia da vontade do invidio e o direito à intimidade e à vida privada.
Com está decisão, tornou se possível a efetiva aplicabilidade do princípio da igualdade,
garantindo o respeito à liberdade pessoal e à autonomia individual, não existindo uma hierarquia
e uma diferenciação em nosso ordenamento jurídico entre o casamento entre homem e mulher
e o casamento homoafetivo, conferindo além de tudo a primazia à dignidade da pessoa humana,
que é a base do nosso ordenamento jurídico, promovendo a remoção dos obstáculos que até o
momento, inviabilizavam a busca pela felicidade por parte de homossexuais.
Um dos fundamentos utilizados por nossa suprema corte, foi a contemplação do direito
à busca pela felicidade, originário dos Estados Unidos da América, presente na sua Declaração
de Independência.
No Brasil, foi elevado ao status de princípio por força do julgamento do STF, ao decidir
o caso emblemático à união homoafetiva, ao reconhecer a constitucionalidade da união estável
entre pessoas do mesmo sexo. Com o entendimento da Suprema Corte Brasileira, o princípio
da busca à felicidade, decorre implicitamente do sistema constitucional vigente em nosso país,
em especial ao princípio da dignidade da pessoa humana.
Segundo o ex-ministro Ayres de Britto, a sua enunciação, principiológica da busca pela
felicidade, estava presente latente mente em tudo que se analisava nesse julgamento.
HOMOAFETIVA E SEU RECONHECIMENTO COMO INSTITUTO JURÍDICO.
CONVERGÊNCIA DE OBJETOS ENTRE AÇÕES DE NATUREZA ABSTRATA.
JULGAMENTO CONJUNTO. Encampação dos fundamentos da ADPF nº 132-RJ pela
ADI nº 4.277-DF, com a finalidade de conferir “interpretação conforme à Constituição”
ao art. 1.723 do Código Civil. Atendimento das condições da ação. (...)Nesse contexto,
o postulado constitucional da busca da felicidade, que decorre, por implicitude, do
núcleo de que se irradia o princípio da dignidade da pessoa humana, assume papel de
extremo relevo no processo de afirmação, gozo e expansão dos direitos fundamentais,
qualificando-se, em função de sua própria teleologia, como fator de neutralização de
práticas ou de omissões lesivas cuja ocorrência possa comprometer, afetar ou, até
mesmo, esterilizar direitos e franquias individuai.
50
Nessa linha, não podemos deixar de mencionar decisão proferida em 21.02.2006 pelo
Juiz Guilherme de Macedo Soares, que, dentre outros argumentos, tendo por
fundamento a “felicidade”, reconheceu a união estável entre pessoas do mesmo sexo.
Nessa linha, não podemos deixar de mencionar decisão proferida em 21.02.2006 pelo
Juiz Guilherme de Macedo Soares, que, dentre outros argumentos, tendo por
fundamento a “felicidade”, reconheceu a união estável entre pessoas do mesmo sexo
O Direito à busca pela felicidade é um direito natural. Não depende da sua inserção em
nosso ordenamento jurídico e muito menos de regulamentação. Impedir uma pessoa de ser feliz
é ferir a sua Moral, Intimidade e Direito.
Em sua obra, Stolze e Pamplona, transcreve o pensamento do eminente Ministro do
Supremo Tribunal Federal, a respeito da equivalência igualitária entre as uniões estáveis
formada por homem e mulher e pessoas do mesmo sexo:
a dignidade da pessoa humana: concede unidade aos direitos e garantias fundamentais,
sendo inerente às personalidades humanas. Esse fundamento afasta a ideia de
predomínio das concepções transpessoalistas de Estado e Nação, em detrimento da
liberdade individual. A dignidade é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que
se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria
vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas,
constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de
modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos
direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem
todas as pessoas enquanto seres humanos e a busca ao Direito à Felicidade. (2023, pág.
561)
A união de facto, realidade que a lei não define, é por vezes identificada com a
convivência de duas pessoas em condições análogas às dos cônjuges, noção que, para
ser adoptada, exige que se abstraia do requisito da diversidade de sexo, que é condição
da existência de um casamento. Por este motivo, é preferível reconduzir a união de
facto a uma coabitação, na tripla vertente de comunhão de leito, mesa e habitação”.
Portanto, na tentativa de definir juridicamente a união estável, é imperiosa, em nosso
51
A união, seja ela qual for, vai muito além do Direito Constitucional e do Direito de
Família, o seu vínculo é findado pelo afeto e em decorrência da aplicabilidade do princípio da
afetividade, concluímos que a união familiar, vai além do casamento, abarcando todas as
modalidades de constituição familiar.
Neste sentindo, a doutrina passou se utilizar o termo “União Homoafetiva”, termo
preferido pelos autores modernos, do que a expressão “União Homossexual”, devido a sua
ligação estar intimamente ligada a afetividade e não pela sexualidade.
Neste sentido, Maria Berenice Dias:
De forma cômoda, o Judiciário busca subterfúgios no campo do Direito das Obrigações,
identificando como uma sociedade de fato o que nada mais é do que uma sociedade de
afeto. A exclusão de tais relacionamentos da órbita do Direito de Família acaba
impedindo a concessão dos direitos que defluem das relações familiares, tais como:
meação, herança, usufruto, habitação, alimentos, benefícios previdenciários, entre
tantos outros. Indispensável que se reconheça que os vínculos homoafetivos — muito
mais do que relações homossexuais — configuram uma categoria social que não pode
mais ser discriminada ou marginalizada pelo preconceito. Está na hora de o Estado, que
consagra como princípio maior o respeito à dignidade da pessoa humana, reconhecer
que todos os cidadãos dispõem do direito individual à liberdade, do direito social de
escolha e do direito humano à felicidade”
Justiça, por aprovação da maioria de votos a resolução n. 175, garantindo aos casais
homoafetivos o direito ao casamento civil, bem como o registro da união estável ou a sua
conversão, perante a qualquer serventia extrajudicial.
Então, conforme o atual entendimento do STF, duas pessoas do mesmo sexo, ligadas
pela afetividade, com o intuito de manter uma relação duradoura, pública e continua, com o
objetivo de constituir familiar, tem a garantia de reconhecimento da sua unidade familiar.
Contudo, por mais que essa evolução de cunho social e jurídico, até o momento a
Constituição Federal não dispõe e muito menos reconhece as uniões homoafetivas, cabendo ao
papel judiciário, realizar esse reconhecimento e garantindo a existência e proteção dessas
uniões, por meio da aplicabilidade dos princípios que regem o nosso ordenamento jurídico.
monoparental, como já mencionado é a formação por um dos genitores e seus filhos, a origem
da família monoparental não é apenas originada pela fragmentação da família parental, más ela
pode se constituir monoparental.
Portando, sendo livre a forma pela qual os pais, optem pela convivência com os seus
filhos, o arranjo monoparental não é exclusivamente um conceito social, más sim um arranjo
familiar que comporta a proteção Estatal, consagrada pelo Nosso Texto Maior, no artigo 226,
§4º, sendo um pressuposta para a validação desse arranjo familiar a titularidade de um vínculo
apenas com um dos pais.
Nesse sentido, Madaleno (2022, pág.42):
Famílias monoparentais são usualmente aquelas em que um progenitor convive e é
exclusivamente responsável por seus filhos biológicos ou adotivos. Tecnicamente são
mencionados os núcleos monoparentais formados pelo pai ou pela mãe e seus filhos,
mesmo que o outro genitor esteja vivo, ou tenha falecido, ou que seja desconhecido
porque a prole provenha de uma mãe solteira, sendo bastante frequente que os filhos
mantenham relação com o progenitor com o qual não vivam cotidianamente, daí não
haver como confundir família monoparental com lugar monoparental.
A forma da família monoparental típica é aquela formada por um dos pais e seus filhos,
já a forma atípica é aquela que se da uma interpretação expansiva e considera como atipicidade,
por conta do grau de parentesco superior ao dos pais, ou seja, aquela formada por um dos avós
e seus netos, neste sentido Stolze e Rodolfo (2023, pág.186):
e é certo que a família monoparental típica é aquela constituída exclusivamente
por um dos pais e seus filhos, não nos parece razoável, por outro lado, deixar
de considerar uma família monoparental, ainda que por uma interpretação
55
Madaleno, frisa muito bem que “Não podemos confundir a família monoparental, com
lugar monoparental.” A partir do momento que se possibilita a convivência contínua do outro
genitor com a criança, não há em que se falar em família monoparental.
O laço monoparental é aquele que impossibilita a convivência sobre o mesmo teto da
criança com os seus pais, agora a família monoparental não, é a impossibilidade absoluta de
não conviver com um dos pais e mais, o responsável é o único responsável pelos cuidados com
o filho.
Nos casos que resta a possibilidade, da criança conviver continuamente com ambos os
pais, mesmo que não viva debaixo do mesmo teto ou com a guarda compartilhada, estamos
diante apenas de um lar monoparental e não da família.
Não podemos então confundir um lar monoparental com a família monoparental, e
muito menos possui consequências jurídicas, o simples da possibilidade de reciprocidade do
dever de alimentos entre pais e filhos, não são características da família monoparental, isto está
intimamente ligado com o dever de cuidado, do que com o núcleo monoparental. O caráter dos
alimentos é por assim digamos assistencial e não algo apenas com relação a família
monoparental, más envolve o direito familiar como um todo.
Nas palavras de Patrícia Matos Amatto Rodrigues (2013, pág.13) o qual define:
As entidades familiares monoparentais possuem os mesmos sinais característicos de
uma família, posto que os seus componentes cumprem os seus papeis no grupo família,
tal como ocorre em grupamento formado por casamento ou união estável. Justamente
nesse sentido é que se pode afirmar que a família não é apenas o conjunto de pessoas
onde existe uma dualidade de cônjuges ou de pais configurada; lado outro, também lhe
aproveita qualquer expressão grupal articulada por uma relação de descendência.
Com a disseminação dos divórcios e até mesmo das dissoluções das inúmeras uniões
estáveis vão surgindo as figuras dos padrastos e das madrastas, dos enteados e das
enteadas, e que ocupam os papéis domésticos dos pais e mães, dos filhos e das filhas e
dos meios-irmãos que são afastados de uma convivência familiar e que passam a
integrar uma nova relação familiar proveniente dos vínculos que se formam entre um
dos membros do casal e os filhos do outro, pois, como explica Waldyr Grisard Filho,
são essas pessoas que constituem o eixo central das famílias reconstituídas. (Madaleno,
2023, pág.11).
Com o fim do antigo relacionamento, muitos pais, optam por novo relacionamento
amoroso e por muitas vezes com o instituto de constituir uma nova família, decidem morar
juntos e com isso uma nova configuração no arranjo familiar é formada, sendo composta dos
filhos e enteados.
Com o intuito de proteger esses novos arranjos familiares, o Código Civil, reconhece o
vínculo gerado pelos enteados e padrastos e madrastas, gerando um vínculo por afinidade,
sendo possível caso o enteado assim o deseje optar para constar no seu assento civil de
nascimento o nome do padrasto.
O Direito de Família e o vigente Código Civil não se prepararam para regulamentar os
diversos efeitos decorrentes das famílias reconstituídas. O legislador brasileiro ainda
não se apercebeu que existe uma diferença fundamental entre a titularidade e o
exercício da responsabilidade parental, cujos conceitos por serem distintos, mas de
igual relevância, enuviam a compreensão de que pode existir mais de uma pessoa no
exercício da responsabilidade parental, como sucede com relação ao padrasto ou à
madrasta que têm um dever de zelar pelo hígido desenvolvimento da formação moral e
psíquica do enteado que está sob sua vigilância direta, e essa é uma realidade que não
pode ser ignorada pelo legislador nacional e, embora tenha dado tímidos passos com a
edição da Lei n. 11.924/2009, mais nada foi recepcionado pela legislação brasileira no
campo das relações jurídicas. (Madaleno, 2023, pág.11).
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