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JORGE HENRIQUE GUSMÕES

EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE FAMÍLIA NA SOCIEDADE


PÓS-MODERNA

UNIFEOB
CENTRO UNIVERSITÁRIO DA FUNDAÇÃO DE ENSINO OCTÁVIO BASTOSSÃO
JOÃO DA BOA VISTA, SP, 2023
JORGE HENRIQUE GUSMÕES
RA 19001122

EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE FAMÍLIA NA SOCIEDADE


PÓS-MODERNA

Monografia apresentada como requisito da disciplina


Trabalho de Conclusão de Curso, do curso de Direito, ao
Centro Universitário de ensino Octávio Bastos, sob a
orientação do Profa.Ms. Camila Moreira.

São João da Boa Vista, SP


2023
JORGE HENRIQUE GUSMÕES

EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE FAMÍLIA NA SOCIEDADE PÓS-


MODERNA

DATA DE APROVAÇÃO:

________________________________________________________________
CAMILA MOREIRA

_________________________________________________________________
ASSINATURA DO ORIENTADOR

________________________________________________________________
NOME DO 1o AVALIADOR
________________________________________________________________

ASSINATURA DO 1o AVALIADOR

________________________________________________________________
NOME DO 2o AVALIADOR (12)

________________________________________________________________
ASSINATURA DO 2o AVALIADOR

CENTRO UNIVERSITÁRIO DA FUNDAÇÃO DE ENSINO OCTÁVIO BASTOS


SÃO JOÃO DA BOA VISTA, SP, 2023
DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho à minha Mãe, Lenir Monteiro de Melo, pelo apoio durante todos
esses cinco anos durante a minha graduação, pela simplicidade, humildade e os conselhos e
perseverança por nunca ter deixado eu desistir do sonho da graduação, por mais difíceis e
conturbados fosse o período pelo qual nós passamos. Aproveito e faço uma homenagem singela,
para todos aqueles que como eu, perdeu alguém para o Covid-19.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos aqueles que fizeram parte da minha vida durante esses cincos anos de
graduação, aos colegas de sala e aos amigos que pretendo levar para a vida e que nutri um
carinho por vocês Thiago, Vanessa, Wendell, Carlão, Mariana, Marine e pelo meu irmão de
outro mãe Reginaldo. Aproveito e faço um agradecimento a minha orientadora Camila Moreira
e coloco o “ônus da culpa nela, caso me torne um civilista”. E a todo corpo docente da Unifeob
e aos demais alunos da universidade por ter confiado a minha pessoa durante o ano de 2021 a
2023, representá-los como Presidente do DCE.
Quem passou pela vida em branca nuvem e em plácido repouso adormeceu, quem não
sentiu o frio da desgraça, quem passou pela vida e não sofreu, foi espectro de homem, e não
homem, Só passou pela vida, não viveu.
Francisco Otaviano
RESUMO

A família é a instituição mais antiga a qual conhecemos e é a base de toda nossa estrutura social
e estatal. È por meio desse ambiente em que nas pessoas nos desenvolvemos, é através da
família que recebemos e aprendemos as principais interações do nosso mundo, sendo o nosso
lugar de origem e raízes. O conjunto familiar, passou por inúmeras transformações, perdendo
características como o patriarcado, a submissão dos demais membros em prol do chefe da
família, o caráter formal da celebração do casamento e com isso ganhou novas diretrizes e
configurações, deixou de ser formal, não havendo mais a necessidade das formalidades do
matrimonio para o seu reconhecimento, passou a ser o lugar do afeto, do acolhimento. Passou
em seu bojo a reconhecer outras formas de família que por muito tempo foram marginalizadas
e discriminadas, contudo, nos dias de hoje ainda sofrem com esse preconceito. Na pós-
modernidade, existe uma pluralidade de arranjos famílias, sendo rica em diversidade, passou a
promover a igualdade, solidariedade e fraternidade, se pauta, nos princípios da dignidade da
pessoa humana, na busca pela felicidade, na afetividade, não sendo mais um espaço imutável.
Na contemporaneidade, surgiram novos arranjos familiares, a família monoparental, aquela
formada por apenas de um dos pais e sua prole, a família restituída ou mosaico, formada por
integrantes de outras famílias que foram fragmentadas, surge a figura da família eudemonista,
promovendo o bem-estar de todos. O Direito Civil, passando por uma transformação e a sua
interpretação precisa ser aos olhos da nossa Constituição Federal de 1988, assim surgindo o
Direito Civil Constitucionalizado, tendo como leitura a aplicabilidade da dignidade da pessoa
humana, a sua despersonalização e despatrimonialização. O direito familiar, passada a visar a
proteção das crianças e dos adolescentes, como também os idosos e pessoas com deficiência e
importando um dever se cuidado a toda sociedade e ao Estado.
Palavra-chave: Direito de Família, Solidariedade, Afeto, proteção da criança e adolescente.
ABSTRACT
The family is the oldest institution we know and is the basis of our entire social and state
structure. It is through this environment in which we develop as people, it is through the family
that we receive and learn the main interactions of our world, being our place of origin and roots.
The family group has undergone numerous transformations, losing characteristics such as
patriarchy, the submission of other members in favor of the head of the family, the formal
character of the wedding celebration and with this gaining new guidelines and configurations,
it is no longer formal, with no plus the need for the formalities of marriage for its recognition,
it became the place of affection, of reception. In its wake, it began to recognize other forms of
family that were marginalized and discriminated for a long time, however, today they still suffer
from this prejudice. In post-modernity, there is a plurality of family arrangements, being rich
in diversity, it began to promote equality, solidarity and fraternity, based on the principles of
human dignity, the search for happiness, affection, no longer being a immutable space. In
contemporary times, new family arrangements have emerged, the single-parent family, that
formed by just one of the parents and their offspring, the restored or mosaic family, formed by
members of other families that have been fragmented, the figure of the eudemonist family
emerges, promoting good -being of everyone. Civil Law, undergoing a transformation and its
interpretation needs to be in the eyes of our Federal Constitution of 1988, thus emerging
Constitutionalized Civil Law, having as its reading the applicability of the dignity of the human
person, its depersonalization and depatrimonialization. Family law, now aimed at protecting
children and adolescents, as well as the elderly and people with disabilities, imposes a duty of
care on the whole of society and the State.
Keywords: Family Law, Solidarity, Affection, protection of children and adolescents.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 8
CAPÍTULO 1 – O CONCEITO DE FAMILIA E A SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA. ... 9
1.2 FAMILIA NO PASSADO ................................................................................................ 13
CAPÍTULO 2 – PRINCÍPIOS APLICADOS AO DIREITO DE FAMÍLIA ................... 15
2.1 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA .......................................................................... 15
2.2 PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO RETROCESSO ....................................................... 20
CAPÍTULO 3 – PRINCÍOS INERENTES AO DIREITO DE FAMÍLIA. ....................... 23
3.0 PRINCÍPIO DA AFETIVIDADE ................................................................................... 23
3.2 PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DA FAMILIA. ................................................... 27
3.4 PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE FAMILIAR........................................................ 29
3.5 PRINCÍPIO DA PLURALIDADE DAS FORMAS. ..................................................... 31
3.6 PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. 32
CAPÍTULO 4 – PLURALIDADE DA FORMAÇÃO FAMILIAR NA SOCIEDADE
PÓS-MODERNA. ................................................................................................................... 37
4 UNIÃO ESTAVEL .............................................................................................................. 37
4.2 FAMÍLIA EUDEMONISTA ........................................................................................... 45
4.3 FAMILIA ANAPARENTAL ........................................................................................... 46
4.4 FAMÍLIA HOMOAFETIVA .......................................................................................... 47
4.5 FAMILIA MONOPARENTAL ...................................................................................... 52
4.6 FAMÍLIA ESTENDIDA, RECOMPOSTA, MOISAICO OU PLURIPARENTAL. . 56
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 58
8

INTRODUÇÃO

Acredito que a evolução da família na sociedade pós-moderna é um dos temas mais


fascinantes e completo que reflete as nossas transformações sociais, econômicas e culturais
ocorridas nas últimas décadas. Pela sua abrangência e complexidade o instituto família
infelizmente ainda é resultado de interpretações distorcidas por cunho moral e religioso.
O objetivo desse trabalho é analisar as transformações ocorridas ao logo dos tempos em
nossa sociedade e em nosso ordenamento jurídico, com ênfase no Direito de Família, afinal a
família é uma instituição fundamental da sociedade, passando por significativas mudanças que
desafiam as concepções tradicionais e que nos levam a reexaminar as estruturas familiares
convencionais.
Na era pós-moderna, caracterizada pelo fenômeno da globalização, avanços
tecnológicos e mudanças em toda estrutura social, a família não é mais um simples modelo
rígido. Não é que o modelo tradicional familiar perdeu espaço em nossa sociedade, más sim
com a evolução e aperfeiçoamento do nosso ordenamento jurídico, principalmente com a
promulgação de nossa Carta Magna, passou-se a reconhecer novos arranjos familiares e
estruturas do seu núcleo, surgindo novas formas de convivência, relações familiares e arranjos
tem emergindo, desafiando as normas estabelecidas ao longo de gerações, quebrando
paradigmas como o papel do homem como “patter familia” e a submissão da mulher, foram
deixados de lado, a diversidade familiar e a individualidade ganharam destaque, influenciando
as expectativas e aspirações das pessoas em relação à vida familiar.
Este contexto de transformações também impacta em nosso ordenamento jurídico e a
maneira como os membros familiares se relacional e transforma a família, dando espaço para a
responsabilização mútua, o reconhecimento das relações estabelecidas pelo afeto. As fronteiras
entre o público e o privado tornam-se mais permeáveis e por muitas vezes desgastes, devido a
interferência Estatal, influenciando na dinâmica familiar. Não tendo um tópico especificado
neste trabalho, más as redes sociais e a conectividade redefinem a comunicação e as interações
famílias, criando formas de expressão e conexão.
A família, foi perdendo o espaço patrimonial, não que nos dias atuais não existe essa
relação, porém a família do espaço para as relações socioafetiva, após a promulgação da
Constituição Federal de 1988, sendo necessário uma nova leitura do nosso Código Civil de
2022, que após o movimento de despersonalização, e despatrimonialização do Direito Civil,
agora partindo de uma visão constitucionalizada desse diploma normativo.
9

Com isso, explorando as mais diversas formas de arranjos familiares e suas


pluralidades, desse pela maneira que esse novo arranjo familiar se configura, seja pelo
reconhecimento de grupos familiares descriminados e que até nos hoje muitos se negam a
reconhecer essa pluralidade.
Nesta introdução, exploramos um contexto breve com as principais tendencias que
moldam a evolução da família na sociedade pós-moderna, considerando as influências sociais
e principalmente as jus- cientificas, que contribuem para essas transformações. Ao analisarmos
essas mudanças, podemos ganhar uma nova compreensão um pouco mais profunda de como os
novos arranjos familiares contemporânea se adapta e evolui em resposta aos desafios e
oportunidades da sociedade pós-moderna.

CAPÍTULO 1 – O CONCEITO DE FAMILIA E A SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA.

O direito de família ou direito das famílias é um ramo do direito civil, no qual visa nortear
a proteção da família e do seu patrimônio, contudo para a sua melhor compreensão deve ser
analisado sob a ótica da Constituição Federal de 1988, em especial com os princípios da
dignidade da pessoa humana, da igualdade, da liberdade, da afetividade, da convivência
familiar, da solidariedade familiar, da proteção integral da criança e do adolescente, a
compreensão destes princípios visa também elucidar os movimentos sociais para a
transformação da família nos dias modernos, como também o entendimento do fenômeno da
constitucionalização do direito.
O instituto familiar é a base mais importante da nossa sociedade, é através da família que
desenvolvemos nossa identidade, é por meio desse ambiente que deve ser guiado pelo afeto,
que ultrapassou os laços sanguíneos que é guiado pelas relações socioafetivas que será o
responsável a nos guiar para nosso desenvolvimento nos mais diversos aspectos, sociais,
culturais, religiosos e intelectual.
O conceito de família pode variar de acordo com a cultura, o contexto social e histórico
em que se está inserido. De forma geral, a família é um grupo social que compartilha laços de
sangue, casamento, adoção ou afinidade, e que possui papéis e funções definidos socialmente.
A família é a responsável pelo nosso primeiro contato social, será por meio dos atos de
nossa família que seremos socializados, enquanto indivíduos sociais, é o seio familiar que irá
nos transmitir valores, crenças, hábitos e comportamentos que serão essenciais para o nosso
desenvolvimento social para uma convivência sadia em nossa sociedade.
10

Na concepção literal da palavra família é a definida como: grupo de pessoas que


compartilham os mesmos antepassados; estirpe; linhagem e geração. Veja o que nós ligamos a
nossa família é o parentesco, porém para os dias atuais é uma definição ultrapassada, afinal
muitas famílias são ligadas pelo vínculo afetivo e não biológico.
Friedrich Engeles, define a família, como um produto do sistema social e ressalta a sua
importância, pois ela refletirá o estado social e cultural desse sistema. Acredito que seria ao
contrário, a sociedade que é fruto do produto familiar, pois é no seio familiar que somos
inseridos em um primeiro plano e lá que nós desenvolvemos. Dessa forma é a família
responsável por toda a nossa estrutura social.
A Constituição Federal de 1988 (CF), nossa carta política que em seu artigo 226, que
eleva a família como base da nossa sociedade e por esse papel tão importante, deve ter a
proteção especial do Estado, fazendo jus a esse tratamento especial, que é imposto por nosso
Texto Maior.
Nos dizeres de Carlos Roberto Gonçalves (2022, pág. 17) a família é uma realidade
sociológica e constitui a base do Estado, é o núcleo fundamental em que repousa toda a
organização Social. A família não é revestida apenas por uma realidade culturar, econômica,
socilogica ou jurídica, também é compreendida pela psicologia, é o que afirma, Jacques Lacan
(1985, pág, 13):
Entre todos os grupos humanos, a família desempenha um papel primordial na
transmissão da cultura. Se as tradições espirituais, a manutenção dos ritos e dos
costumes, a conservação das técnicas e do patrimônio são com ela disputados por outros
grupos sociais, a família prevalece na primeira educação, na repressão dos instintos, na
aquisição da língua acertadamente chamada de materna. Ela estabelece desse modo,
entre as gerações, uma continuidade psíquica cuja causalidade é de ordem mental.

A família é dotada pelos mais diversos sentidos possíveis, não se reveste apenas de uma
realidade sociológica e muito menos jurídica, não sendo possível o legislador trazer no bojo da
lei único conceito.
Contudo, iremos apenas nos atentar-se a concepção jurídica da definição do instituto
familiar, e mesmo tratando apenas o que o ordenamento jurídico define como família, não é
possível o seu esgotar todas os tipos de família e muito menos uma mera definição, por se
revestir dos mais amplos sentimentos humanos, não é possível uma limitação em nosso
pensamento racional.
O significado, jurídico familiar, não pode se tratar de um rol taxativo e muito menos
fechado, por se tratar de um sistema normativo que é inaugurado pela Constituição Federal de
1988, sendo aberto e inclusivo e não discriminatório. Neste sentido, nos dizeres de Paulo Lobo;
11

os tipos familiares explicitados no artigo 226, da CF, são meramente exemplificativos, sem
embargos de serem os mais comuns, por isso mesmo merece referência expressa. As demais
entidades famílias são tipo implícitos, sendo incluídos no âmbito de abrangência do conceito
amplo e indeterminado de família
isso mesmo merecendo referência expressa. As demais entidades familiares são tipos
implícitos incluídos no âmbito de abrangência do conceito amplo e indeterminado de família
indicado no caput. Como todo conceito amplo e indeterminado, depende de concretização dos
tipos, na experiência da vida conduzindo à tipicidade aberta, dotada de ductilidade e
adaptabilidade.
Então a acepção, não é valorada ou definida unicamente por uma norma fechada,
correndo o risco de discriminar, tudo aquilo que não estivesse positivado no direito e não sendo
o homem responsável por essa definição, tornando assim obsoleto com o passar do tempo, mas
sim cabendo ao homem, diante das suas experiências e diante da sua adaptabilidade conceituar
a sua família.
Para Caio Mário da Silva Pereira (2011, p. 170), conceitua que a entidade familiar, não
deve responder unicamente por uma questão jurídica:
Numa definição sociológica, pode-se dizer com Zannoni que a família compreende uma
determinada categoria de ‘relações sociais reconhecidas e portanto institucionais’.
Dentro deste conceito, a família ‘não deve necessariamente coincidir com uma
definição estritamente jurídica. Quem pretende focalizar os aspectos éticos sociais da
família, não pode perder de vista que a multiplicidade e variedade de fatores não
consentem fixar um modelo social uniforme.

Para a brilhante jurista Maria Helena Diniz (2022, p.12):

Na seara jurídica encontram-se três acepções para a palavra família, o sentido


amplíssimo, sentido lato e sentido restrito. Na concepção do sentido amplíssimo, os
indivíduos estão ligados pelo vínculo consanguíneo ou da afinidade. Já no sentido lato
sensu o vínculo vai “além dos cônjuges ou companheiros, e de seus filhos, abrange os
parentes da linha reta ou colateral, bem como os afins (os parentes do outro cônjuge ou
companheiro). Já em sua última definição, justamente restringe à entidade familiar,
pelos pais, seja pelo matrimônio ou pela união estável, ou por qualquer dos ascendentes
e descendentes.

Em uma de suas obras, o ilustríssimo Professor Pablo Stolze conceitua (2021, p.11);

Família é o núcleo existencial integrado por pessoas unidas por vínculo socioafetivo,
teleologicamente vocacionado a permitir a realização plena dos seus integrantes,
segundo o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana.

De acordo com os doutrinadores, não é possível definir em uma única forma a família,
por se tratar de um instituto tão volátil e suscetível ao tempo e a evolução da sociedade, sendo
apenas razoável e necessário a sua compreensão através da interdisciplinaridade e relação não
12

só com os demais ramos do direito, como também outras ciências sociais, humanas, da saúde e
pelo afeto.
A família no passado, por muito tempo foi gerida e administrada pelo “Pater Famílias"
e fundada em princípios e características herdadas do Direito Romano e Canônico, porém com
o passar do tempo, ficaram ultrapassados e até mesmo inapropriados, para os dias atuais. Nos
dias atuais, a família contemporânea é caracterizada pela socioafetividade, Eudemonista e
Anaparental.
A socioafetividade é um conceito baseado no afeto, no cuidado, e na convivência,
independentemente dos laços de parentesco biológico ou legal. Reconhecendo e valorizando os
vínculos formados por pessoas que se consideram e agem como membros de uma família,
mesmo que não exista um vínculo sanguíneo ou pela adoção formal.
O eudemonismo é uma teoria ética que remonta à filosofia grega antiga, visa a busca da
felicidade e do bem-estar, buscam o convívio da solidariedade mútua, promovendo o
desenvolvimento e a promoção da felicidade de seus membros.
Por fim, o conceito anaparental é núcleo de pessoas sem vínculo de ascendência entre
si, como nos núcleos compostos por irmãos, por tio com sobrinho ou por primos.
A nossa Carta Magna, em seu art. 226, §4, é possível vislumbrar a figura da família
anaparental, porém não é possível a visualização das demais características, e nem mesmo no Código
Civil de 2002, na parte que trata sobre o direito de família ou uma definição, sendo responsável por tal
feito, ou que mais se aproxima dessas características é a Lei 11.340 de 2006, a Maria da Penha, nos
incisos do art.5º.
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a
mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I - no âmbito da
unidade doméstica compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas,
com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - No âmbito
da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou
se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade
expressa. (grifo nosso)

Portanto, a família é o instituto mais importante em uma sociedade, e através dela que
o ser humano se devolve e constrói a sua identidade. Hoje no pós-modernidade, a família vai
deixando suas características naturalistas e evoluindo culturalmente, socialmente em conjunto
com a sociedade, sendo o antro do afeto, da proteção, da solidariedade, do respeito, não apenas
sendo regido pelo matrimônio e patrimônio.
Das considerações tecidas, é possível perceber que a família, não é regida apenas por
princípios jurídicos e não é possível, esgotar em uma única definição, percebendo que como a
13

sociedade, este instituto evolui com o tempo, para a compreensão se dá necessário, se faz
essencial, uma análise da família na antiguidade, até atualmente.

1.2 FAMILIA NO PASSADO

A família é a unidade celular da sociedade e sem sombra de dúvidas é o instituto social mais
antigo, desde os primórdios o ser humano viveu em coabitação com outros indivíduos, seja durante
o período da evolução humana com a finalidade de proteção e perpetuação da espécie, seja
atualmente em família, a questão é que sempre essa convivência carregou a questão da
ancestralidade ou seja o vínculo consanguíneos sempre existiu.

Deixando entre parêntese os elementos não essenciais, contingentes, podemos dizer que
família é uma instituição social, composta por mais de uma pessoa física, que se irmanam no
propósito de desenvolver, entre si, a solidariedade nos planos assistencial e da convivência
ou simplesmente descendem uma da outra ou de um tronco comum. (Nader, 2015, pág.3).

A família na antiguidade sempre se deu em voltada da descendência, assim formando nos


dizeres de Paulo Nader, a grande-família, que advinha do fruto do casamento, pelo qual unia duas
famílias e a pequena-família que tinha o seu núcleo formado pelos pais e seus filhos.

Ao lado da grande-família, formada pelo conjunto de relações geradas pelo casamento, ou


por outras entidades familiares, existe a pequena-família, configurada pelo pai, mãe e filhos.3
Algumas disposições do Direito Civil alcançam os membros da grande-família, enquanto
outras se dirigem à pequena. (Nader, 2015, pág.3).

O termo “familiar”, originou-se de uma expressão em latim: “Etimologicamente, família


advém do latim famulia, que deriva de famulus (escravo), vocábulo originário do osco famel, servo,
e do sânscrito vama, lugar ou habitação.” (Nader, 2015, pág.19)

Na antiguidade destacam-se a modalidade de configuração da família greco-romana, tinham


como a figura patriarcal, a qual o homem mais velho era o patriarca da família, sendo ele o
responsável por todo o controle de todos os assuntos relacionados á família, cabendo a ele decidir
todos os aspectos que envolvia a família, até mesmo questões de vida e morte familiar.
A família, ou o pequeno grupo social se reunia em torno do pater, que era o único membro
com personalidade.
14

O “pater família”, possuía autoridade absoluta sobre todos os que vivem em seu grupo
família, competia a ele desempenhar o papel político e religioso dentro da sua família, todo o
patrimônio familiar era colocado em sua disposição.
A família romana, como a da Grécia antiga, foi patriarcal. O pequeno grupo social se reunia
em função do pater, que era o único membro com personalidade, isto é, que era pessoa. Os
demais componentes da família eram alieni juris33 e se submetiam ao pater potestas. O alieni
juris gozava, porém, de direitos políticos, sendo-lhe permitido assumir funções públicas,
como a de cônsul e magistrado, além de votar e ser votado. Internamente, perante todos, o
pater é sacerdote e magistrado. O patrimônio familiar se concentrava em suas mãos. Os
proveitos obtidos pelo trabalho dos escravos e de outros membros da família eram repassados
ao pater. Em uma fase mais avançada, surgiu a figura do peculium, que era um patrimônio
especial entregue pelo pater ao escravo, para que este obtivesse crédito. Tal patrimônio,
todavia, continuava pertencendo ao pater, inclusive os eventuais acréscimos obtidos por
esforço do escravo. (Nader,2015, pág.7).

Contudo, com o passar do tempo a figura do “pater” foi perdendo espaço, por forte influência
do cristianismo, com isso desaparecendo a sua superioridade em relação a esposa e aos seus filhos,
exercendo a sua influência, a igreja se torna a responsável pela realização da cerimonia do casamento
e com isso, o matrimônio ganha novas características, deixa de ser conduzido pelo “pater”, e com
isso gerando um vínculo perpetuo e sendo monogâmico e em caso de poligamia era punido.

Como as relações de família se revelavam injustas na fase do patriarcado, por influência do


cristianismo a autoridade do pater foi perdendo substância progressivamente, até desaparecer
a sua superioridade em relação à esposa. Quanto aos filhos, estes deixaram a condição alieni
juris, adquirindo personalidade jurídica. O casamento era sempre monogâmico e gerava um
estado perpétuo, sendo que a poligamia era punida. No antigo Direito Romano o matrimônio
expressava a vontade do pater e a solenidade de celebração era proporcional à riqueza dos
esposos. Já no período clássico, a celebração não dependia do pater, mas dos próprios
cônjuges. (Nader, 2015. Pág.7).

Já no período clássico da idade contemporânea, a família passa por diversas etapas,


influenciada pelo Revolução Industrial, com isso fazendo a migração das famílias do campo para a
cidade e com isso a mulher passa a integral o mercado de trabalho e com a Revolução Sexual,
iniciada pelo advento da criação da pílula anticoncepcional.
No Brasil, por uma forte influência religiosa, o conceito de família era concentrado
exclusivamente no casamento. O Código Civil de 1916, conceituava uma única opção para a
legitimação da união e reconhecimento da família, carregava consigo ainda uma forte influência da
família patriarcal, uma vez que definia que o homem seria o chefe da família, assim colocando a
mulher em uma posição de subordinação, as relações extraconjungais não eram reconhecidas, os
filhos advindos fora do casamento eram considerados ilegítimos.
“Os canonistas a deduzem de uma conhecida passagem da Epístola de São Pedro aos Efésios:
“as mulheres sejam sujeitas aos seus maridos como ao Senhor, pois o homem é a cabeça da
mulher”. Esta passagem inspira toda a disciplina canônica sobre a chefia da sociedade
conjugal, funda a auto-ridade do marido. (Valdemar,2009, pág.1).
15

Na época em que figurava o Código Civil de 1916, a mulher se sujeitava-se totalmente ao


marido, sendo considerada incapaz, com o passar do tempo, algumas iniciativas legislativas foram
adotadas, como o estatuto da mulher casada, dessa forma a mulher passa a ser relativamente incapaz.
Entre outras inovações, a referida lei determinou nova reda-ção ao art. 233, do Código
Civil, que passou a estabelecer que “O marido é o chefe da sociedade conjugal, função
que exerce com a colaboração da mulher, no interesse comum do casal e dos filhos”.
Afirma-se que, a partir de então, a mulher deixou de ser absolutamente incapaz para se
tornar relativamente incapaz. (Valdemar,2009, pág.1).

Somente com a promulgação da Constituição Federal de 1988, foram possível o


reconhecimento pleno dos direitos das mulheres em relação ao casamento e com isso também
trazendo uma informalidade para a constituição de novos arranjos familiares, não sendo o
casamento a única opção para aqueles que desejam a convivência em conjunto com outra
pessoa, com isso surgindo a pluralidade das formas e outros princípios.

CAPÍTULO 2 – PRINCÍPIOS APLICADOS AO DIREITO DE FAMÍLIA

O Direito é como um todo, porém é divido em ramos, o que vamos compreender a partir
desse momento é os princípios gerais aplicados a toda ordem constitucional e aqueles que são
exclusivamente inerentes as relações familiares.
O estudo do Direito Civil, com a promulgação deve ser realizado de um prisma
constitucional, não é à toa que temos um movimento jurídico tão importante como o Direito
Civil Constitucional.
Como todos nós sabemos, os princípios são fontes secundarias do nosso ordenamento
jurídico, tendo a sua aplicabilidade e eficácia que são retirados das normas, doutrina e
jurisprudência.
Sem a aplicabilidade desses princípios é impossível chegarmos a uma aplicabilidade da
norma eficiente e justa, principalmente as relações inerentes as relações familiares.

2.1 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, classificado pela doutrina como princípio


máximo, ou superprincípio, ou princípio dos princípios, dentre outros, é a base do ordenamento
jurídico brasileiro, sendo o protagonista das mais diversas decisões e teses jurídicas.
Em nossa Carta Magna, enuncia no seu art. 1º, que a República Federativa do Brasil,
constitui-se em Estado Democrático de Direito, e conceitua os seus fundamentos, no inc. III,
elenca a dignidade da pessoa humana, visando a integral proteção e garantia de uma vida digna
a todos.
16

A dignidade da pessoa humana no direito positivado, sem sombras de dúvidas, trouxe


inúmeras inovações para o mundo jurídico e um marco histórico no que diz respeito as
transformações ocorridas com o passar do tempo na sociedade, especialmente no que concerne
no Direito Patrimonial e de Família, rompendo paradigmas com tratamento discriminatório nas
constituições anteriores e mais tornando algumas Leis Infraconstitucionais incompatíveis com
a nossa Lei Maior.
Só após a promulgação da CF/88 se tornou possível falar institutos como o direito civil
constitucional ou em personalização, repersonalização e despatrimonialização Direito Privado,
como também da eficácia imediata e horizontal dos direitos fundamentais.
Sua compreensão de uma maneira lógica, refletiu em todo nosso ordenamento jurídico,
principalmente no Direito Civil em matéria do Direito de Família. A partir da Constituição de
1988, nos trouxe uma perspectiva humanizada e refletindo diretamente no bojo familiar,
alterando a concepção a época do que tínhamos por família. O caráter patrimonial foi deixado
de lado e dando lugar para a afetividade, carinho e demais sentimentos, ficando evidente a
figura do ser humano.
Bem como da proteção e reconhecimento de arranjos plurais para a constituição dos
mais diversos arranjos familiares, a Constituição Federal institui que a dignidade da pessoa
humana é o princípio que estrutura todo o nosso ordenamento jurídico, nas palavras de Pablo
Stolze e Rodolf Filho (2022, p. 29):
Princípio solar em nosso ordenamento, a sua definição é missão das
mais árduas, muito embora arrisquemo-nos a dizer que a noção jurídica de
dignidade traduz um valor fundamental de respeito à existência humana,
segundo as suas possibilidades e expectativas, patrimoniais e afetivas,
indispensáveis à sua realização pessoal e à busca da felicidade. Mais do que
garantir a simples sobrevivência, esse princípio assegura o direito de se viver
plenamente, sem quaisquer intervenções espúrias — estatais ou particulares —
na realização dessa finalidade. (grifo nosso)
Alexandre de Moraes (2022, p. 17), conceitua a dignidade da pessoa humana em:

a dignidade da pessoa humana: concede unidade aos direitos e


garantias fundamentais, sendo inerente às personalidades humanas. Esse
fundamento afasta a ideia de predomínio das concepções transpessoalistas de
Estado e Nação, em detrimento da liberdade individual. A dignidade é um valor
espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na
autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo
a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se um
17

mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que,
somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos
direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que
merecem todas as pessoas enquanto seres humanos e a busca ao Direito à
Felicidade. (grifo nosso)
O princípio da dignidade humana não está relacionado apenas com uma proteção em
abstrato tanto pela relação indivíduo e Estado, como também nas relações particulares, além do
mais este princípio de maneira implícita abarca vários desdobramentos, tais como o mínimo
existencial, garantindo a todos direitos básicos mínimos para viver minimamente com
dignidade e talvez um dos mais importantes é o direito à busca da felicidade, essencial para os
membros de uma comunidade familiar, sendo cada indivíduo responsável pela sua vida e da
maneira como irá trilhar os seus caminhos.

Para Ingo Wolfgang Sarlet (2022, p. 121), em uma concepção de prestações Positivas e
Negativas do Estado, conceitua que:
A dignidade da pessoa humana, nessa quadra, revela particular importância prática a
partir da constatação de que ela (a dignidade da pessoa humana) é simultaneamente
limite e tarefa dos poderes estatais e da comunidade em geral (portanto, de todos e de
cada um), condição que também aponta para uma paralela e conexa dimensão
defensiva (negativa) ou prestacional (positiva) da dignidade. Com efeito, verifica-se
que na sua atuação como limite, a dignidade implica não apenas que a pessoa não
pode ser reduzida à condição de mero objeto da ação própria e de terceiros, mas
também o fato de que a dignidade constitui o fundamento e conteúdo de direitos
fundamentais (negativos) contra atos que a violem ou a exponham a ameaças e riscos,
no sentido de posições subjetivas que têm por objeto a não intervenção por parte do
Estado e de terceiros no âmbito de proteção da dignidade. Como tarefa o
reconhecimento jurídico-constitucional da dignidade da pessoa humana implica
deveres concretos de tutela por parte dos órgãos estatais, no sentido de proteger a
dignidade de todos, assegurando-lhe também por meio de medidas positivas
(prestações) o devido respeito e promoção, sem prejuízo da existência de deveres
fundamentais da pessoa humana para com o Estado e os seus semelhantes.

Consequente, a dignidade da pessoa humana está intimamente ligada a proteção,


independentemente de orientação sexual, raça, religião ou qualquer outro meio pelo qual
possibilite sua discriminação, possibilitando a todos ter uma vida digna e ser livre para realizar
as suas escolhas e no âmbito de familiar a sua integral proteção, independe qual forma escolhida
para a sua constituição.
Por essa ligação intima com cada indivíduo, não é possível quantificar ou conceituar de
uma única forma, pelo ao contrário a dignidade da pessoa humana é um conceito aberto,
indeterminado e extensivo, o que torna impossível restringi-lo nas situações as quais são
abrangidos por este princípio máximo. Além do mais a dignidade da pessoa humana reflete a
18

maneira como nos relacionamos como sociedade e nas nossas interações. Quanto a este ponto,
afirma Tatuce (2023, p. 6):

A partir desse conceito, entendemos que a dignidade humana é algo que se vê nos
olhos da pessoa, na sua fala e na sua atuação social, no modo como ela interage com
o meio que a cerca. Em suma, a dignidade humana concretiza-se socialmente, pelo
contato da pessoa com a sua comunidade.

No que tange ao Direito de Família, nosso Texto Maior, consigna em seu art. 226, § 7º,
que o planejamento familiar está resguardado pelo princípio da dignidade da pessoa humana e
da paternidade responsável. Já no art. 227, descreve os deveres mútuos entre A Família, o
Estado e a Sociedade assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade,
o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão,
pois são os fundamentos e garantias mínimas para uma vida tutelada sob o principio da
dignidade da pessoa humana, é devida está proteção pelo fato da criança e do adolescente
formando a sua personalidade, durante o período de seu crescimento e desenvolvimento físico
e intelectual.
Destacam-se, neste sentido as palavras de Rolf Madaleno (2022, p.57):
Em verdade a grande reviravolta surgida no Direito de Família com o advento da
Constituição Federal foi a defesa intransigente dos componentes que formulam a inata
estrutura humana, passando a prevalecer o respeito à personalização do homem e de
sua família, preocupado o Estado Democrático de Direito com a defesa de cada um
dos cidadãos. E a família passou a servir como espaço e instrumento de proteção à
dignidade da pessoa, de tal sorte que todas as esparsas disposições pertinentes ao
Direito de Família devem ser focadas sob a luz do Direito Constitucional, como
concluiu Beatriz Helena Braganholo ao refletir sobre o impacto da Constituição sobre
o Direito de Família brasileiro e sentenciar que: “O Direito Constitucional é, mais do
que nunca, responsável por regular as relações humanas, antes ditas meramente
privadas e enquadradas como reguladas pelo Direito Civil. Seus interesses individuais
são correspondentes a necessidades fundamentais do homem, tendo o dever de
propiciar meios que levem a viver e relacionar de uma forma mais solidária, com
respeito pelo outro”.

O Direito Constitucional tem sua estrutura de base no princípio máximo da dignidade


da pessoa humana e deste modo as demais leis que buscam a sua eficácia e sua validação em
nosso Texto Maior também, deste modo prove a sua ligação com todas as outras normais e
dessa forma vigorando uma conexão com o direito familista, assegurando a todos a plena
comunhão de vida para todos os membros da família.
Na atualidade o Direito de Família, além de ter a sua proteção pela Constituição Federal,
na contemporaneidade também, busca sua efetividade na perspectiva pelos Direitos Humanos.
19

Neste sentido, nas palavras de Rodrigo Cunha Pereira (2004, p.2):


“é que se torna imperativo pensar o Direito de Família na contemporaneidade com a
ajuda e pelo ângulo dos Direitos Humanos, cujas bases e ingredientes estão, também,
diretamente relacionados à noção de cidadania.”

A família como base para a nossa formação para a cidadania, deve ter proteção integral,
principalmente visando a sua dignidade, seja no momento da sua constituição e até mesmo no
momento que houver o seu rompimento, neste sentido enfatiza Miranda (2013):

(...) à família deve ser protegida, em sua dignidade, tanto no decorrer de suas relações
como no caso do rompimento familiar, impedindo que tal valor supremo seja violado.
Por conseguinte, se depreende que tal proteção fornecida à dignidade humana faz com
que ela seja colocada em nível de direito fundamental, inserindo, assim, a pessoa como
centro da proteção do Direito, gerando o denominado despatrimonialização do direito,
notadamente no direito privado.

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988 e com o Código Civil de 2022, a


dignidade humana se tornou um supraprincío incidindo até mesmo nas relações entre
particulares, o caráter patrimonial e com isso o sujeito deixou apenas de ser um agente
econômico.
Acompanhando está linha de raciocino, nas palavras de Flávio Tartuce (2006), refere-
se ao fenômeno do Direito Civil Constitucionalizado:
Diante desse regramento inafastável de proteção da pessoa humana é que está em voga,
atualmente entre nós, falar em personalização, repersonalização e despatrimonialização
do Direito Privado. Ao mesmo tempo que o patrimônio perde importância, a pessoa é
supervalorizada.Ora, não há ramo do Direito Privado em que a dignidade da pessoa
humana tenha mais ingerência ou atuação do que o Direito de Família. De qualquer
modo, por certo é difícil a denominação do que seja o princípio da dignidade da pessoa
humana. Reconhecendo a submissão de outros preceitos constitucionais à dignidade
humana, Ingo Wolfgang Sarlet conceitua o princípio em questão como "o reduto
intangível de cada indivíduo e, neste sentido, a última fronteira contra quaisquer
ingerências externas. Tal não significa, contudo, a impossibilidade de que se
estabeleçam restrições aos direitos e garantias fundamentais, mas que as restrições
efetivadas não ultrapassem o limite intangível imposto pela dignidade da pessoa
humana".

A família deve ser protegida em sua dignidade, tanto no decorrer das suas relações de
constituição como também nos casos do rompimento familiar, não sendo permitido tal valor
supremo seja violado.
20

2.2 PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO RETROCESSO

Talvez, principalmente nos dias atuais, o instituto que mais sofre interferências de cunho
moral e religioso, é a família e seus institutos, a exemplo disso é a tramitação do Projeto de Lei
580/07 (PL), aprovado pela Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância,
Adolescência e Família da Câmara Dos Deputados, que visa a proibição da equiparação das
relações homoafetivas ao casamento civil e União Estável.
Para quem acompanhou as explanações expostas na comissão, pode perceber que o
debate se deu apenas em torno das questões morais e religiosas, isso afirma o que disse acima
que infelizmente o nosso ordenamento jurídico ainda sofre interferências religiosas e de cunho
meramente moral.
Desde 2011, o Supremo Tribunal Federal já havia reconhecido a união homoafetiva
como núcleo familiar.
O presente trabalho, não visa o estudo sobre a temática e muito menos a sua tramitação,
mas no presente tópico abordar um princípio que neste aspecto se torna tão necessário e
importante.
O Princípio da Vedação ao retrocesso, que é um importante vetor normativo que tem
aplicabilidade ao Direito Familiar, e tem como objetivo a limitação do poder à reforma, onde
se busca a proteção a sociedade e os grupos vitimados contra leis supervenientes que
infelizmente pretendem atingir de uma forma negativa, a exemplo o tema em tela, exposta
acima.
Stolze e Rodolfo, em sua obra, expõe a temática:
Reputamos necessário destacar, como um importante vetor normativo aplicável ao
Direito de Família, o princípio da vedação ao retrocesso. Desenvolvido genialmente
por J. J. GOMES CANOTILHO, esse superior princípio traduz a ideia de que uma lei
posterior não pode neutralizar ou minimizar um direito ou uma garantia
constitucionalmente consagrado. Tratando do tema, preleciona CLAUSNER
DONIZETI DUZ: “Ora, tratando os Direitos Fundamentais como uma forma do
legislador dispor valores mínimos para a garantia de um direito essencial, verifica-se
que tal norma constitucional traz consigo uma série de efeitos, dentre eles: a) a
revogação dos atos anteriores que forem incompatíveis com o texto expresso; b) a
obrigação do legislador de produzir normas de acordo com a consagração dos valores
fundamentais; c) a proibição ao retrocesso como forma de demonstração do direito de
defesa amparado; entre outros”. (2023, pág.35).

Independentemente, que esse direito seja regulado por força normativa ou reconhecido
pelo judiciário, trata-se de direito líquido e certo e com isso não é permitido a relativização de
qualquer direito inerente a pessoa.
21

E exemplo disso, em sua obra, Pablo e Rodolfo, trazem o exemplo que não houve uma
revogação total da Lei n. 9.278 de 1986m por nosso Código Civil de 2022:
Aplicando-o ao Direito de Família, apresentaremos situações para fixar bem a sua
compreensão. Por exemplo, não é correto dizer, em nosso sentir, que a Lei n. 9.278 de
1996 — segunda lei reguladora da união estável no Brasil — teria sido totalmente
revogada (ab-rogada) pelo Código Civil de 2002. Se assim o fosse, teria havido um
inegável retrocesso na consagração constitucional da união estável como entidade
familiar equiparada ao casamento, o que repercutiria na indisponível dimensão da
dignidade da pessoa humana. Tome-se, a título exemplificativo, a norma referente ao
direito real de habi-tação do(a) companheiro(a) sobrevivente, que, posto não
expressamente regulado no Código novo, ainda estaria em vigor. A negação desse
direito, “afigura-se grave, à medida que a difícil situação sucessória do companheiro
no Código de 2002 deve ser atenuada, segundo uma interpretação constitucional, e em
atenção ao superior princípio da vedação ao retrocesso”, conforme observado por
PABLO STOLZE GAGLIANO. Outro possível exemplo pode ser encontrado na nova
disciplina normativa do divórcio. Com efeito, quando a norma constitucional foi
alterada, com a supressão da menção à separação judicial e ao decurso de lapso
temporal para o exercício do direito de se divorciar, o que será visto em capítulo
próprio89, teve-se em mente facilitar o exercício desse direito, notadamente a
possibilidade de constituição de novos vínculos conjugais. Qualquer interpretação que
condicione a nova disciplina às regras infraconstitucionais até então existentes (que
exigiam a separação judicial ou o decurso de um lapso temporal para reconhecimento
do divórcio) ou à edição de uma nova norma infraconstitucional caracterizaria violação
ao princípio da vedação ao retrocesso, tornando inútil a modificação constitucional,
interpretação que beira as raias do absurdo. (2022, pág. 35).

Ainda neste sentido:

Note-se que, ao se vedar o retrocesso, respeita-se, por consequência, o prin-cípio maior


da dignidade humana, como anotado, com precisão, por RICARDO MAURÍCIO
FREIRE SOARES: “Dentre os princípios jurídicos, sobrelevam, inegavelmente, os
princípios constitucionais. Isto porque os princípios da Constituição de 1988, situados
no ápice do sistema jurídico, ao expressar valores ou indicar fins a serem alcançados
pelo Estado e pela sociedade civil, irradiam-se pela totalidade do direito positivo
nacional. É o que sucede com o princípio fundamental da dignidade da pessoa humana,
previsto no art. 1.º, III, da Carta Magna. Conforme assinala Ingo Sarlet (2001, p. 41), a
dignidade se afigura como a qualidade integrante e irrenunciável da condição humana,
devendo ser reconhecida, respeitada, promovida e protegida. A aceitação da
normatividade do princípio da dignidade da pessoa humana impõe, assim, a aceitação
da sua capacidade de produzir efeitos jurídicos, através das modalidades de eficácia
positiva, negativa, vedativa do retrocesso e hermenêutica”. E mais adiante: “A seu
turno, a eficácia vedativa do retrocesso se afigura como uma derivação da eficácia
negativa, segundo a qual as conquistas relativas aos direitos fundamentais não podem
ser elididas pela supressão de normas jurídicas progressistas”. É, sem dúvida, a melhor
diretriz para compreender o sistema normativo como um todo e, em especial, a
disciplina das relações familiares. Vistos esses três princípios gerais fundamentais,
passemos a enfrentar a principiologia especial do Direito de Família, (2023, pág.36).

Não sendo possível e necessário essa vedação ao regresso, com o intuito de supressão
de direitos, seja qual for o objetivo, incorrendo ferir o princípio da dignidade da pessoa humana,
o princípio dos princípios.
22

O Princípio da Vedação ao Regresso, é o garantidor e um inibidor do poder á reforma


que o Legislativo possui, não permitido transgressões ao editarem ou a elaboração de leis que
tenha como cordão o objetivo meramente religioso, uma vez, mas que o nosso Estado é Laico.
O seu papel é de suma importância para nossa segurança jurídica e por primar pela efetividade
de todos os direitos inerentes a cada um de nós, ainda mais no âmbito familiar.
Talvez, podemos considerar que o Princípio da vedação ao regresso, não “anda só”, pois
acredito que neste sentido, possui uma derivação, que também é imposta ao Estado, que é a
mínima intervenção do Estado no Direito de Família.
Da mesma forma que o princípio da vedação ao regresso que impõe um limitador ao
Estado, o da mínima intervenção Estatal também impõe e em ambos os casos a imposição é de
mínima e limitada de um Status Negativo, assim como conceitua Jellinek, que o Estado e
indivíduo possui quatro status, e segundo ele o Status Negativo: Da mesma forma que os
sujeitos de direitos se sujeitam ao Estado, este tem limitações em suas relações com os cidadãos.
Devendo o ente Estatal, respeitar a liberdade individual, a sua autonomia da vontade, sendo um
dever do Estado a não intervir na vida de seus cidadãos.
Não cabe ao Estado e não é o seu papel intervir a seu bel prazer intervir nas relações
familiares, como por exemplo realiza intervenções nos cenários econômicos e financeiros,
imputa-se ao Estado uma obrigação de não fazer negativa, afim que dessa forma respeite-se a
autonomia de cada indivíduo em sua concepção e estrutura familiar.

Neste sentido, Stolze e Filho, preleciona:

Não cabe, portanto, ao Estado, intervir na estrutura familiar da mesma maneira como
(justificada e compreensivelmente) interfere nas relações contratuais: o âmbito de
dirigismo estatal, aqui, encontra contenção no próprio princípio da afetividade, negador
desse tipo de agressão estatal. Nesse diapasão, ao encontro do que dissemos acima, não
se poderia admitir, por exemplo, que somente o Estado Legislador pudesse moldar e
reconhecer — em standards apriorísticos — os núcleos familiares. De maneira alguma.
Ao Estado não cabe intervir no âmbito do Direito de Família ao ponto de aniquilar a
sua base socioafetiva. O seu papel, sim, como bem anotou RODRIGO DA CUNHA
PEREIRA, traduz um modelo de apoio e assistência, e não de interferência agressiva,
tal como se dá na previsão do planejamento familiar, que é de livre decisão do casal
(art. 1.565, § 2.º, do Código Civil), ou na adoção de políticas de incentivo à colocação
de crianças e adolescentes no seio de famílias substitutas, como previsto no Estatuto da
Criança e do Adolescente. Andou bem, pois, o codificador de 2002, quando, consciente
desse princípio da intervenção mínima, prescreveu, em norma sem equivalente no
Código Civil brasileiro de 1916: “Art. 1513. É defeso a qualquer pessoa, de direito
público ou privado, interferir na comunhão de vida instituída pela família”. Não se
conclua, no entanto, partindo-se desse princípio, que os órgãos públicos, especialmente
os vinculados direta ou indiretamente à estrutura do Poder Judiciário, não possam ser
chamados a intervir quando houver ameaça ou lesão a interesse jurídico de qualquer
dos integrantes da estrutura familiar, ou, até mesmo, da família considerada com um
23

todo. E um exemplo do que se diz é a atuação do Juiz da Infância e da Juventude ou do


próprio Juiz da Vara de Família, quando regula aspectos de guarda e direito de visitas,
ou, ainda, quando adota uma urgente providência acautelatória de saída de um dos
cônjuges do lar conjugal.

O Princípio visa a garantir dos direitos já adquiridos ou o reconhecimento do seu núcleo


familiar, não competindo ao Estado qualquer interferência com o intuito de restringir as
configurações familiares.

CAPÍTULO 3 – PRINCÍOS INERENTES AO DIREITO DE FAMÍLIA.

3.0 PRINCÍPIO DA AFETIVIDADE

O afeto é o principal sentimento que podemos nutrir por nossa família, sendo primordial
elemento de conexão entre as pessoas e condição essencial para a formação de uma família.
Com os avanços ocorridos ao longo dos anos não só no direito de família, como também no
direito civil, deixando de rotacional em torno do patrimônio, más tornando a dignidade da
pessoa humana preceito fundamental deste diploma. A afetividade ganhou um altíssimo espaço
de relevância na constituição familiar e em nosso ordenamento jurídico, onde hoje respaldam a
sua base.
A família contemporânea brasileira tem como base a sua formação pelo afeto, razão
pela qual não faz distinção pela divergência de sexo, idade e nem pela formalização do
matrimonio e muito menos exigindo algum nível de parentesco sanguíneo, admitindo a
parentalidade por afinidade entre os membros da casa.
Com o princípio da afetividade, a família tornou-se o berço do afeto, do amor, do
carinho, do respeito, deixando de lado a patrimonialização da família, passando a ser o centro
da afetividade.
O afeto, nos estudos de psicologia, refere-se à experiência inata de sentimento, emoção
e humor, más será que está única definição encontrada com uma pesquisa é o suficiente para
termos uma definição e vou além será necessária uma definição filosófica, sociologia ou até
mesmo jurídica? Acredito que para buscar uma definição que se mais encaixa no âmbito
familiar é necessário deixarmos de lado o lado racional e buscar uma definição com o cunho
mais sentimental.
“Afeto é o florescer no jardim da vida, um sentimento que aquece o coração, é a luz
suave que ilumina o caminho, um abraço caloroso em meio ao carinho. Nas dobras do tempo,
o afeto floresce, um suave vento, amor que não cesse. Palavras gentis, que acalentam a alma,
24

aconchego sincero, que nunca se acalma. É o fio invisível que une corações, transcende
barreiras, sem limitações. Na tristeza, é o ombro que acalenta a dor, na alegria, é o canto que se
espalha em flor. No silêncio, é a presença que tudo compreende, no sorriso, é a felicidade que
se estende.”
Buscar uma única definição para o afeto é querer esgotar o inesgotável e querer nominar
algo para todas as pessoas do planeta.
Fazendo uma analogia entre o afeto e as obrigações que consta em nosso diploma
civilista, o afeto não se refere apenas em um “dar positivo”, ensejando o sentimento positivo,
no caso o amor, já no “não fazer” seria defino pelo ódio.
Tartuce (2012, p.1), define o afeto em:
Afeto quer dizer interação ou ligação entre pessoas, podendo ter carga positiva ou
negativa. O afeto positivo, por excelência, é o amor; o negativo é o ódio. Obviamente,
ambas as cargas estão presentes nas relações familiares. Pois bem, apesar de algumas
críticas contundentes e de polêmicas levantadas por alguns juristas, não resta a menor
dúvida de que a afetividade constitui um princípio jurídico aplicado ao âmbito familiar.
Conforme bem aponta Ricardo Lucas Calderon, em sua dissertação de mestrado
defendida na UFPR, “parece possível sustentar que o Direito deve laborar com a
afetividade e que sua atual consistência indica que se constitui em princípio no sistema
jurídico brasileiro. A solidificação da afetividade nas relações sociais é forte indicativo
de que a análise jurídica não pode restar alheia a este relevante aspecto dos
relacionamentos. A afetividade é um dos princípios do direito de família brasileiro,
implícito na Constituição, explícito e implícito no Código Civil e nas diversas outras
regras do ordenamento”. Dessa forma, apesar da falta de sua previsão expressa na
legislação, percebe-se que a sensibilidade dos juristas é capaz de demonstrar que a
afetividade é um princípio do nosso sistema. Como é cediço, os princípios jurídicos são
concebidos como abstrações realizadas pelos intérpretes, a partir das normas, dos
costumes, da doutrina, da jurisprudência e de aspectos políticos, econômicos e sociais.
Na linha do exposto por José de Oliveira Ascensão, os princípios são como “grandes
orientações que se depreendem, não apenas do complexo legal, mas de toda a ordem
jurídica”. Eles estruturam o ordenamento, gerando consequências concretas, por sua
marcante função para a sociedade. E não restam dúvidas que a afetividade constitui um
código forte no Direito Contemporâneo, gerando alterações profundas na forma de se
pensar a família brasileira.

Sem sombra de dúvidas o afeto no direito familiar ganhou forte influência, não sendo
possível denominar um conjunto familiar sem tão sentimento.

Neste sentido, Ricardo Calderón (2017, p.32), define que o afeto é o vetor principal da
constituição familiar:
O afeto, reafirme-se, está na base de constituição da relação familiar, seja ela uma
relação de conjugalidade, seja de parentalidade. O afeto está também, certamente, na
origem e na causa dos descaminhos desses relacionamentos. Bem por isso, o afeto deve
permanecer presente, no trato dos conflitos, dos desenlaces, dos desamores, justamente
porque ele perpassa e transpassa a serenidade e o conflito, os laços e os desenlaces;
perpassa e transpassa, também, o amor e os desamores. Porque o afeto tem um quê de
respeito ancestral, tem um quê de pacificador temporal, tem um quê de dignidade
essencial. Este é o afeto de que se fala. O afeto-ternura; o afeto-dignidade. Positivo ou
25

negativo. O imorredouro do afeto. Foi possível perceber que a afetividade assumiu, em


muitas das relações familiares, o papel de verdadeiro vetor de tais relacionamentos,
com uma centralidade que não se percebia em momentos anteriores130. Nesse
contexto, foi o questionamento que passou a ser realizado na própria sociedade quanto
a prevalência da “família legítima”, nas relações de conjugalidade do critério biológico
como determinante na relação parental, do formalismo exigido para se reconhecer uma
entidade familiar, dos obstáculos para o reconhecimento das uniões homoafetivas, entre
outros.

Não resta dúvidas que o princípio da afetividade é o pilar principal da família


contemporânea, por mais que o nosso Texto Maior, não faça menção expressa ou traga em seu
bojo a afetividade como um princípio fundamental, a doutrina afirma que é um desdobramento
do princípio da dignidade da pessoa humana, como também a busca pela felicidade também,
que juntamente com o princípio da afetividade serviu como base para inúmeras teses jurídicas.
Neste sentido, Maria Berenice Dias (2016, p.83), leciona:
O direito ao afeto está muito ligado ao direito fundamental à felicidade.
Também há a necessidade de o Estado atuar de modo a ajudar as pessoas a
realizarem seus projetos de realização de preferências ou desejos legítimos.
Não basta a ausência de interferências estatais. O Estado precisa criar
instrumentos – políticas públicas - que contribuam para as aspirações de
felicidade das pessoas, municiado por elementos informacionais a respeito do
que é importante para a comunidade e para o indivíduo.

O notável Ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello afirmou que a


afetividade é um princípio que se mostra implícito no ordenamento civil-constitucional vigente,
porém, isto não retira a sua importância, classificando-o como de valor jurídico inquestionável.
Sem sombra de dúvida, a maior repercussão no âmbito da jurisprudência em decorrência
do desdobramento do princípio da dignidade da pessoa humana em afetividade e o direito da
busca pela felicidade é o julgamento da ADI 4.277 e da ADF 132. O qual consagrou o direito a
união homoafetiva. Visando quebrar paradigmas e orientar o sistema jurídico cada vez mais por
este princípio e mostrar que o texto Constitucional e as demais leis em nosso ordenamento
jurídico não são imutáveis e que é necessária uma ótica por meio destes princípios e direitos
fundamentais.
Sendo adotado pela sociedade como um todo o princípio da afetividade e deixando de
lados aspectos biológicos, matrimoniais e demais.
Em sua obra Ricardo Calderón (2017, p.32), diz:
A sociedade passou a adotar gradativamente o aspecto afetivo como suficiente e
relevante nessas escolhas pessoais. Com o paralelo decréscimo da importância que era
conferida a outros vínculos (biológico, matrimonial, registral), restou possível
perceber a centralidade que a afetividade assumiu em grande parte dos
relacionamentos. Foi de tal ordem a alteração que resta possível afirmar que houve uma
verdadeira transição paradigmática na família brasileira contemporânea, pela qual a
afetividade assumiu o papel de vetor destas relações. (grifei)
26

Podemos extrair do vínculo registrar que faz uma menção implícita a afiliação por
afinidade, conforme também consta no nosso ordenamento jurídico, no art. 1.593 do Código
Civil, Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou outra
origem. Ou seja, o nosso vínculo é o natural/biológico ou civil/registrar, por meio da afetividade
que será exteriorizada por meio do registro civil, sendo o caso da adoção onde não existe a
relação natural de parentesco, más haverá a civil.
Neste sentido Madaleno (2021, p.62):
Maior prova da importância do afeto nas relações humanas está na igualdade da filiação
(CC, art. 1.596), na maternidade e paternidade socioafetivas e nos vínculos de adoção,
como consagra esse valor supremo ao admitir outra origem de filiação distinta da
consanguínea (CC, art. 1.593), ou ainda por meio da inseminação artificial heteróloga
(CC, art. 1.597, inc. V); na comunhão plena de vida, só viável enquanto presente o
afeto, ao lado da solidariedade, valores fundantes cuja soma consolida a unidade
familiar, base da sociedade a merecer prioritária proteção constitucional. O Conselho
Nacional de Justiça editou o Provimento 63, de 14 de novembro de 2017, cujo artigo
10 autorizou a realização diretamente no cartório de Registro Civil das Pessoas
Naturais, do reconhecimento de paternidade e maternidade socioafetiva, observando o
artigo 14 do Provimento 63/2017 que este reconhecimento voluntário não pode implicar
no registro de mais de dois pais ou de duas mães no campo filiação no assento de
nascimento. Posteriormente, o Provimento 83/2019 do CNJ alterou os artigos 10 e 14
do Provimento 63/2017, no sentido de que o reconhecimento de paternidade ou
maternidade socioafetiva se dê somente para pessoas acima de 12 anos, perante os
oficiais de registro civil das pessoas naturais, e, segundo o artigo 10-A (Provimento
63/2017), a relação socioafetiva deverá ser estável e socialmente exteriorizada, sendo
permitida somente a inclusão de um ascendente socioafetivo (art. 14 do Prov. 63/2017
CNJ), para mais de um ascendente deverá ser buscada a via judicial.

O princípio da afetividade, aborda de uma forma geral, a transformação do nosso


ordenamento jurídico, mostrando-se necessário no âmbito familiar de maneira expressa ou não,
sendo o principal percursor da entidade familiar e com isso visando o protecionismo estatal de
todos os arranjos familiares, não sendo possível o Estado praticar algum tipo de violação a
qualquer tipo de comunidade familiar, sendo vedado a discriminação por questões de sexo,
religião, cor ou qualquer outro meio de constrangimento a entidade familiar.

Maria Berenice Dias (2017, p.1) diz:


O novo olhar sobre a sexualidade valorizou os vínculos familiares, que passaram a se
sustentar no amor e no afeto.

Percebemos que como a sociedade, a entidade familiar sofreu transformações, seja pelos
novos arranjos familiares ou pela forte influência do afeto e do amor e deixando de lado os
aspectos biológicos, matrimoniais e patrimoniais, dando lugar para o carinho, amor,
companheirismo e demais sentimentos positivos para a constituição familiar.
27

Não está dúvidas que o princípio da afetividade criou um vínculo forte com o Direito
das Famílias e mais e por meio da afetividade que questões e responsabilidade civil são
apreciadas para apuração do dano moral, nos casos de abandono afetivo. Tornando-se cada vez
mais necessário e crucial à sua análise na compressão e formação familiar atualmente e no
futuro.

3.2 PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DA FAMILIA.

Com o passar do tempo, a família passou por inúmeras transformações até chegar no
conceito atual, em uma visão e conceitual antiga, a família era o fenômeno natural,
exclusivamente com o único intuito de preservação da espécie e proteção, e com o passar de
algum tempo, a família ganhou um outro atributo ou podemos até mesmo dizer finalidade, o
intuito de aquisição patrimonial. Entretanto, com o passar do tempo e aprimoramento de nosso
ordenamento jurídico e como sociedade, a família, foi perdendo características arcaicas e dando
espaço para o afeto e o amor, incumbindo a promoção social dos seus integrantes e com isso,
ganho uma função social.
No entanto, a família perdeu outras diferentes funções, que exerceu ao longo da história,
como anotam os professores da Faculdade de Direito de Coimbra, FRANCISCO
PEREIRA COELHO e GUILHERME DE OLIVEIRA: “(...) Perdeu a função política
que tinha no Direito Romano, quando se estruturava sobre o parentesco agnatício,
assente na ideia de subordinação ou sujeição ao pater-familias de todos os seus
membros. Perdeu a função econômica de unidade de produção, embora continue a ser
normalmente uma unidade de consumo. As funções educativa, de assistência e de
segurança, que tradicionalmente pertenciam à família, tendem hoje a ser assumidas pela
própria sociedade. Por último, a família deixou de ser fundamentalmente o suporte de
um patrimônio de que se pretenda assegurar a conservação e transmissão, à morte do
respectivo titular (...)”. Reconhecem, no entanto, os autores, o importante papel
sociocultural exercido pela família, pois, em seu seio, opera-se “o segundo nascimento
do homem, ou seja, o seu nascimento como personalidade sociocultural, depois do seu
‘primeiro nascimento’ como indivíduo físico”. Numa perspectiva constitucional, a
funcionalização social da família signi-fica o respeito ao seu caráter eudemonista,
enquanto ambiência para a realização do projeto de vida e de felicidade de seus
membros, respeitando-se, com isso, a dimensão existencial de cada um. E isso não é
simples argumento de retórica. Como consectário desse princípio, uma plêiade de
efeitos pode ser observada, a exemplo da necessidade de respeito à igualdade entre os
cônjuges e companheiros, a importância da inserção de crianças e adolescentes no seio
de suas famílias naturais ou substitutas, o respeito à diferença, em arranjos familiares
não standardizados, como a união homoafetiva, pois, em todos esses casos, busca-se a
concretização da finalidade social da família. (2023, pág. 40)

A família tradicional ou na antiguidade patriarcal, foi perdendo algumas funções as


quais durante aquela época que tinha, a função política, a grande influência religiosa também
foi perdendo espaço dentro da família, deixando o caráter biológico ligado a procriação, a
28

família para de deixar de orbitar em volta das questões patrimoniais e vou dando espaço para o
esforço mútuo, o companheirismo e o afeto.
MIGUEL REALE, por sua vez, antevendo a consagração doutrinária desse princípio,
na seara familiar, aponta outras situações de sua aplicação: “Em virtude dessa função
social da família — que a Constituição considera ‘base da sociedade’ — cabe ao juiz
o poder-dever de verificar se os filhos devem permanecer sob a guarda do pai ou da
mãe, atribuindo a guarda à pessoa que revele compatibilidade com a natureza da
medida, de preferência levando em conta o grau de parentesco e relação de afinidade,
de acordo com o disposto na lei específica, ou seja, o Estatuto da Criança e do
Adolescente (Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990).Tão forte é a compreensão social
da família, que o juiz, atendendo a pedido de algum parente ou do Ministério Público,
poderá suspender o poder familiar se o pai ou a mãe abusar de sua autoridade, faltando
aos deveres a ele inerentes, ou arruinando os bens dos filhos, e adotar a medida que
lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres”. (2023, pág. 40).

Apenas com a promulgação da Constituição Federal é possível falar em função social


da família, consagrada por ela como a base da sociedade e com isso merecendo proteção Estatal.
Não competindo uma única definição de família e muito menos uma análise restrita apenas a
literalidade da lei.
Há algum tempo se afirmava, nas antigas aulas de educação moral e cívica, que a
família é a “celula mater” da sociedade. Apesar de as aulas serem herança do período
militar ditatorial, a frase destacada ainda serve como luva no atual contexto, até porque
o art. 226, caput, da CF/1988 dispõe que a família é a base da sociedade, tendo especial
proteção do Estado. Desse modo, as relações familiares devem ser analisadas dentro do
contexto social e diante das diferenças regionais de cada localidade. Sem dúvida que a
socialidade também deve ser aplicada aos institutos de Direito de Família, assim como
ocorre com outros ramos do Direito Civil. Nesse sentido, aliás, posicionou-se o saudoso
Miguel Reale ao discorrer sobre a função social da família no Código Civil (História...,
2005, p. 254-257). Entre os clássicos, Clóvis Beviláqua já demonstrava que a família
estaria sujeita às influências biológicas e, sucessivamente, aos fatos sociais: “a família
primitiva é vacilante, inconsistente, não toma um caráter fixo e dissolve-se em pouco
tempo, ligada que se acha somente pelas energias biológicas. Mas a disciplina social,
pouco a pouco, intervém, pela religião, pelos costumes, pelo direito, e a sociedade
doméstica vai-se, proporcionalmente, aperfeiçoando por moldes mais seguros, mais
definíveis e mais resistentes” (BEVILÁQUA, Clóvis. Direito..., 1916, p. 4) E arremata,
com base em Spencer, argumentando que “a evolução dos tipos familiares está em
correlação com a evolução da inteligência e do sentimento; que as relações domésticas
mais elevadas, sob o ponto de vista ético, são também as mais elevadas sob o ponto de
vista biológico e sociológico”. (Tartuce, 2023, pág.51)

A plena aplicação da função social da família é a efetivação do convívio pacífico entre


os seus membros, a promoção dos seus integrantes, é a viver em harmonia é ceder espaço para
o afeto entre todos os membros da família é a confiança mútua e recíproca.

De fato, a principal função da família é a sua característica de meio para a realização


de nossos anseios e pretensões. Não é mais a família um fim em si mesmo, conforme
já afirmamos, mas, sim, o meio social para a busca de nossa felicidade na relação com
o outro. (Stolze e Rodolfo. 2022, pág.500).
29

A função social não é apenas um fim em si mesmo, visa garantir que o núcleo familiar
cumpra com o sua objetivo, seja a proteção integral dos seus membros, a promoção mutua ou
qualquer outra características pautada pela afetividade.

3.4 PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE FAMILIAR.

A solidariedade, também está presente em nosso Texto Maior, seja de uma maneira
expressa e decorrentes de outros princípios, encontra amparo em nossa Constituição, sendo um
fundamento da República Federativa do Brasil, decorrente do Princípio da Dignidade da Pessoa
Humana, como também é um direito fundamental.
O Direito Familiar é regido por inúmeros princípios, seja constitucional ou encontrados
no diploma responsável por regulamentar as relações familiares. Em sua obra, Maria Celina
Bodin de Moraes, afirma:
Do ponto de vista jurídico, a solidariedade está contida no princípio geral instituído
pela Constituição de 1988 para que, através dele, se alcance o objetivo da “igual
dignidade social”. O princípio constitucional da solidariedade identifica-se, desse
modo, com o conjunto de instrumentos voltados para garantir uma existência digna,
comum a todos, em uma sociedade que se desenvolva como livre e justa, sem excluídos
ou marginalizados. Como se vê, a solidariedade social, na juridicizada sociedade
contemporânea, já não pode ser considerada como resultante de ações eventuais, éticas
ou caridosas, tendo-se tornado um princípio geral do ordenamento jurídico, dotado de
completa força normativa capaz de tutelar o respeito devido a cada um. (Maria, 2006.
Pág.49).

A Solidariedade é reconhecida como um dos objetivos fundamentais da República


Federativa do Brasil, em seu artigo 3º, I, da Constituição Federal. Contudo, podemos classificar
a solidariedade constitucional que busca essa ligação entre indivíduos e estados e a que nos
interesses a solidariedade familiar, que é que vai buscar a vivência plena entre os familiares e
uma aplicação da solidariedade é o dever de alimentos entre os cônjuges.
Tartuce, afirma:
A solidariedade social é reconhecida como objetivo fundamental da República
Federativa do Brasil pelo art. 3.º, inc. I, da CF/1988, no sentido de construir uma
sociedade livre, justa e solidária. Por razões óbvias, esse princípio acaba repercutindo
nas relações familiares, eis que a solidariedade deve existir nesses relacionamentos
pessoais. (2022, pág.34)

A solidariedade não é apenas o estabelecimento da comunhão plena de vida, igualdade


e direitos, como estabelece o artigo 1.511, do Código Civil:
30

Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de
direitos e deveres dos cônjuges.

Veja, essa solidariedade se estende para além da formação da família, como entro o
antro do afeto, promoção familiar e cuidados na constância da família, enquanto o arranjo
permanecer unido pelo convívio familiar é dever de todos os envolvidos o direito de cuidado e
deveres, porém quando a família por algum motivo decidi pela sua dissolução, a solidariedade
também deve prevalecer, senão vejamos:
A importância da solidariedade social é tamanha que o princípio constituiu a temática
principal do VI Congresso Brasileiro do IBDFAM, realizado em Belo Horizonte em
novembro de 2007. Também diante dessa necessidade de tutela da solidariedade, no
XII Congresso, em 2019, o tema central foi a proteção das vulnerabilidades. Deve-se
entender por solidariedade o ato humanitário de responder pelo outro, de preocupar-se
e de cuidar de outra pessoa. A importância da solidariedade social é tamanha que o
princípio constituiu a temática principal do VI Congresso Brasileiro do IBDFAM,
realizado em Belo Horizonte em novembro de 2007. Também diante dessa necessidade
de tutela da solidariedade, no XII Congresso, em 2019, o tema central foi a proteção
das vulnerabilidades. Deve-se entender por solidariedade o ato humanitário de
responder pelo outro, de preocupar-se e de cuidar de outra pessoa. (Tartuce, 2022, pág.
34).

Mesmo com a dissolução do casamento ou da União Estável o dever do cuidado ainda


deve prevalecer, dessa forma um ainda deve responder para o outro e durante um período
continuar o cuidado, neste caso sendo através da prestação de alimentos de um cônjuge para o
outro.
Neste sentido, Madaleno, afirma:
A solidariedade no âmbito dos alimentos também se faz presente no dever da mútua
assistência material, embora com diferentes matizes quando se refere às necessidades
materiais da pessoa idosa, tendo este merecido tratamento privilegiado, por força do
artigo 12 do Estatuto da Pessoa Idosa, ao autorizá-la a escolher seu devedor entre os
prestadores de seus alimentos, não sendo aplicada a regra do Código Civil de os
parentes mais próximos serem chamados em primeiro lugar e recaindo a obrigação
sempre no mais próximo em grau de parentesco. É como instrui Marco Antonio Vilas
Boas:149 “Sendo vários os obrigados na cadeia alimentar, a pessoa idosa poderá optar
entre um dos prestadores”, em qualquer grau de parentesco na linha reta e até o segundo
grau na linha colateral, ao passo que os demais credores precisam acionar primeiro os
familiares mais próximos no grau de parentesco, para só depois e na falta desses ou de
condições financeiras de prestarem alimentos, e sendo insuficientes os alimentos por
eles prestados, serem chamados os parentes de grau mais afastado. De qualquer sorte
impera entre os devedores de alimentos um dever de solidariedade quanto à dívida
alimentar, ficando os demais obrigados regressivamente. (2023, pág.103).

A Solidariedade Familiar, vai muito além da relação entre o convívio muto entre os
integrantes do arranjo familiar, essa prestação de cuidado e afeto nos casos em que dessa união
exista filhos, deve continuar mesmo que tenha havido a fragmentação familiar, sendo um dever
de cuidado entre ambos ao conjunges.
31

3.5 PRINCÍPIO DA PLURALIDADE DAS FORMAS.

O Princípio da Pluralidade das Formas ou Princípio da diversidade familiar é o justo


reconhecimento das mais diversas formas para a constituição dos mais diversos arranjos
familiares, reconhece da família matrimonial e demais entidades familiares.

Até o advento da Constituição Federal de 1988 só através das justas núpcias era possível
constituir uma entidade familiar, ficando à margem da lei qualquer outro modelo de
formação familiar, notadamente o então denominado concubinato, que tinha conceito
diverso daquele conferido pelo artigo 1.727 do Código Civil. (Madaleno, 2023,
pág.109).

Antes da promulgação de nossa Constituição Federal de 1988, o matrimonio e a


formação da família só era possível através da formalidade do casamento, ficando à margem
da lei em qualquer forma ou modelo, seja pelo casamento forma ou pelo concubinato.
Com o advento da nossa Carta Estatal, que em seu artigo 226, prescreve que a família
é o ente que forma a base da sociedade e por isso merece proteção do Estado, e em seu § 3º,
reconhece outros modelos além do casamento, a união estável entre homem e mulher, e no
parágrafo seguinte, menciona a família monoparental.

Prescreve o caput do artigo 226 da Carta Política ser a família a base da sociedade e
por isso merecer especial proteção do Estado, para no seu § 3º reconhecer como
modelos de família a união estável entre o homem e a mulher; e no § 4º, a família
monoparental perfilhando-se ao lado do casamento. (Madaleno,2023, pág.109).

E durante muito tempo foram inúmeros os debates acerca do reconhecimento das


relações homoafetivas.

Travavam os tribunais brasileiros constantes debates acerca do reconhecimento das


relações homoafetivas como entidades familiares, muito embora haja quem sustente ser
muito mais amplo e variadíssimo o quadro de modalidades familiares existente na
sociedade em geral.167 Assim também pensa Rodrigo da Cunha Pereira ao afirmar
existirem várias outras entidades familiares além daquelas previstas na Carta Federal,
porque “a família não se constitui apenas de pai, mãe e filho, mas é antes uma
estruturação psíquica em que cada um dos seus membros ocupa um lugar, uma função,
sem estarem necessariamente ligados biologicamente”. (Madaleno,2023, pág.109).

Muito embora havia esse debate do reconhecimento dessa pluralidade de formação


familiar, seja por se tratar de uma relação entre pessoas do mesmo sexo, seja talvez por uma
falta de regulamentação, acredito que o embate era muito mais de cunho moral e religioso do
que jus-científico. Uma vez que a nossa própria Constituição Federal, em seus róis que tratam
sobre a família, trouxe o princípio da pluralidade das formas, mesmo que de uma maneira
implícita, afinal não podemos ler a Constituição Federal em pedaços, más sim como um todo.

O dilema judicial ficava entre os limites constitucionais e a realidade axiológica,


reconhecendo a Carta Federal três entidades familiares (casamento, união estável e a
família monoparental) e admitindo muitos tribunais o pluralismo dessas entidades
familiares que se compõem a partir do elo de afeto, não mais sendo admissível, depois
do pronunciamento histórico do STF com o julgamento da ADPF 132 e da ADI 4.277,
deslocar uniões homoafetivas para o direito obrigacional e sob qualquer prisma negar
a possibilidade da união estável homoafetiva, não obstante o avanço percebido com o
32

reconhecimento da licitude do casamento civil homoafetivo. (Madaleno,2023,


pág.109).

Nos dizer de LUIS ROBERTO BAROSSO:


“Todas as pessoas, a despeito de sua origem e de suas características pessoais, têm o
direito de desfrutar da proteção jurídica que estes princípios lhes outorgam. Vale dizer:
de serem livres e iguais, de desenvolver a plenitude de sua personalidade e de
estabelecerem relações pessoais com um regime jurídico definido e justo. E o Estado,
por sua vez, tem o dever jurídico de promover esses valores, não apenas como uma
satisfação dos interesses legítimos dos beneficiários diretos, como também para
assegurar a toda a sociedade, reflexamente, um patamar de elevação política, ética e
social. Por essas razões, a Constituição não comporta uma leitura homofóbica,
deslegitimadora das relações de afeto e de compromisso que se estabelecem entre
indivíduos do mesmo sexo. A exclusão dos homossexuais do regime de união estável
significaria declarar que eles não são merecedores de igual respeito, que seu universo
afetivo e jurídico é de ‘menos-valia’: menos importante, menos correto, menos digno.
(...) É certo, por outro lado, que a referência a homem e mulher não traduz uma vedação
da extensão do mesmo regime às relações homoafetivas. Nem o teor do preceito nem o
sistema constitucional como um todo contêm indicação nessa direção. Extrair desse
preceito tal consequência seria desvirtuar a sua natureza: a de uma norma de inclusão.
De fato, ela foi introduzida na Constituição para superar a discriminação que,
historicamente, incidira sobre as relações entre homem e mulher que não decorressem
do casamento. Não se deve interpretar uma regra constitucional contrariando os
princípios constitucionais e os fins que a justificaram”.

O Nosso Texto Maior em momento algum limitou a diversidade familiar ou impôs que
o seu rol seria taxativo, mesmo que faça uma menção expressa entre homem e mulher, a
exemplo disso é artigo 5º que elenca os direitos e deveres fundamentais e parágrafo segundo
prescreve:

§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros


decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. (grifei).

A própria Constituição garante proteção aos princípios expressos em seu corpo, como
também outros decorrentes de seus fundamentos. Não sendo possível uma leitura
discriminatória do artigo 226 ou até mesmo o não reconhecimento das mais diversas formas
de pluralidade ou diversidade familiar.
Então é reconhecimento para além do casamento civil estabelecido por nossa
legislação, a União Estável contemplando o reconhecimento entre pessoas do mesmo sexo, o
casamento religioso com efeitos civil e as mais diversas formas de formação familiar,
reconhecendo a primazia da realidade família contida em cada família em nossa sociedade.

3.6 PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.

Sem sombra de dúvidas, nossa sociedade como um todo passou por inúmeras mudanças
com grande significado em nossas organizações grupais, e acredito que a que mais sofreu
transformações foi no bojo familiar, onde novos valores foram incorporados, novos arranjos
familiares surgiram, direitos foram criados e a família tornou-se espaço do afeto, carinho,
proteção de todos os seus integrantes, independentemente da idade.
33

Estatutos em nosso ordenamento jurídicos foram incorporados, visando a proteção


integral das nossas crianças e adolescentes, dos idosos e da pessoa portadora de deficiência.
A criança e ao adolescente, como nós conhecemos essa definição nos dias atuais é
recente, como também o afeto e o amor fraternal pelos filhos são uma conquista recente,
veremos um pouco da evolução e conceito da criança e dos adolescentes.
O conceito de criança e do adolescente é algo recente em nossa história, como também,
o amor, o afeto no âmbito familiar, durante a idade média não existia a figurada da criança e do
adolescente, portando que durante o século XVI, não se nutria pelos pais o sentimento do amor
por seus filhos, a mortalidade infantil era altíssima devido à falta de cuidados com as crianças.
Durante a antiguidade, a fase da infância, adolescência e vida adulta não era vista como
uma fase separada da vida, devido a isso eram considerados como “Adultos em Miniatura” e
portando eram tratados como tal. Direitos como a educação, não existiam e quando exercida
era de maneira informal e tinha como objetivo a transmissão de habilidades braçais e práticas
para o exercício do trabalho.
Por não existir essa distinção entre a infância e a idade adulta, se esperava que as
crianças e adolescentes trabalhassem para contribuir com o sustento familiar, desde cedo. A
Igreja Católica, começa a desempenhar um papel central na educação e começa a surgir um
movimento que leva em conta o afeto dos pais por seus filhos.
Durante um por período, as crianças e adolescentes, eram considerados “adultos
estúpidos” expressão medieval utilizada pelo Historiador Philippe Aries. Por volta dos séculos
XVI até a parte do século XIX, eram hostilizados, na maioria das vezes, não possuíam nenhum
tipo de relevância. Philippe Ariés, acredita que essa indiferença por muitas vezes era fruto do
alto índice de mortalidade infantil naquela época e com isso, os adultos com o intuito de se
resguardar do sofrimento pela perca da criança.
Ariés (1978, pg. 56), em sua obra diz:
Ninguém pensava em conservar o retrato de uma criança que tivesse sobrevivido e se
tornado adulta ou que tivesse morrido pequena. No primeiro caso, a infância era apenas
uma fase sem importância, que não fazia sentido fixar na lembrança; no segundo, o da
criança morta, não se considerava que essa coisinha desaparecida tão cedo fosse digna
de lembranças: havia tantas crianças, cuja sobrevivência era tão problemática. Ainda
no século XVIII, vemos uma vizinha, mulher de um relator, tranquilizar assim uma
mulher inquieta, mãe de cinco “pestes”, e que acabara de dar à luz: “Antes que eles te
possam causar muitos problemas, tu terás perdido a metade, e quem sabe todos”.
Estranho consolo! As pessoas não se podiam apegar muito a algo que era considerado
uma perda eventual.

Ou seja, não se nutria nenhum afeto por aquela pequena criança, por esse ser humano
de tamanho minúsculo e frágil e que demanda uma muita atenção e cuidado e que caso não
34

conseguisse sobreviver a primeira fase da vida, não seria digno de guardar lembranças e muito
menos se dar ao trabalho de sentir a dor do luto, ocasionado por sua morte tão precoce.
Por muito tempo, o cuidado com a criança e o adolescente foram deixados de lado ou
nunca ocorreu, episódio muito comum antigamente e por muitas vezes nos dias de hoje são
lembrados, por meio de um dos contos de fadas mais famosos, sem sombra de dúvida, todos
nós, já ouvimos falar da obra de “Hansel Und Gretel” de João e Maria, compilada pelos Irmãos
Grimm. Trata-se da história de dois irmãos, filhos de um pobre casal, que moravam na floresta
e que perderam na floresta e não acharam o caminho de volta para casa. Contudo, a verdade
história reflete a falta de afeto dos pais pelos seus filhos, que devido a pobreza do casal e devido
a baixa produção dos filhos e sua incapacidade de prover o próprio sustendo, são abandonados
pelo pai na floresta, largados a própria sorte, para serem devorados pelos animais.
O cuidado com nossas crianças como nós conhecemos hoje em dia é uma conquista
recente, alguma vez já ouvimos a expressão “salvem as mulheres e crianças primeiros” em
alguma cena de um filme decorrente de um acidente, porém isso é um código cavalheiresco
recente, pois em caso de haver realmente um acidente, primeiro salvam-se os homens, depois
as mulheres e caso sobrasse algum espaço as crianças.
Em uma breve análise do papel da criança e do adolescente em nosso ordenamento
jurídico, percebemos talvez pela primeira vez no século a expressão criança e adolescente, ao
tratar o tema da minoridade penal.
No Brasil império, por onde vigorou como legislação penal a época vigente, As
Ordenações Filipinas, em seu Livro 5º, Título 135, estabelecia a menoridade penal com idade
de 21 anos, assim não sofrendo as sanções penais previstas e impostas vigente a época.
Em nosso, primeiro Código Penal do Império do ano de 1814, maiores de 14 anos,
sofriam as mesmas consequências impostas a um adulto, diante do cometido de algum ilícito
penal, vigorando a época a menoridade penal de 14 anos de idade.
No ano de 1830, com um novo Código Penal, novamente a menoridade penal foi
alterada, retornando à idade de 21 anos, como era na época que o Brasil seguia As Ordenações
Filipinas.
No período, conhecido como República, surge o primeiro Código Penal Republicano,
porém não tão republicano e muito sensato, devido que a menoridade penal foi estabelecida
pela idade até os nove anos de idade, como se fosse possível uma criança nessa idade conseguir
realmente realização uma distinção entre o certo e errado. Na vigência do Código, ficava a
35

critério do magistrado responsável pelo caso, julgar o discernimento por aquele menor durante
o julgamento, a realização um tipo de adivinhação psicológica.
Durante ainda o período da República Velha, um novo Código surge o de 1921,
alterando novamente a menoridade penal, porém dessa vez elevando aos quatorze anos de
idade.
No ano de 1927, pela primeira vez é elaborada uma legislação própria para a
regulamentação do tema.
Com a vigência do Código Penal de 1940, atualmente a legislação vigente em nosso
país, porém um inúmeras modificações, a menoridade penal é elevada aos dezoitos anos de
idade e perdura até os dias a menoridade penal com essa faixa etária. Durante o governo Vargas
é criado um tipo de assistência ao menor e na época da ditadura militar foram instituídas a
Fundação Estatual para o Bem-estar do Menor, a famosa Febem.
Foram anos de negligência Estatal e pela sociedade, com relação aos cuidados com
nossas crianças e adolescentes, não se preocupavam com nenhum tipo de cuidado ou proteção,
com isso e visando extirpar essa falta de cuidado, com a promulgação da Constituição Federal
de 1988, em seu artigo 227, determina:
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo
de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.

Não apenas a Constituição Federal, impõe esse cuidado com a criança e o adolescente,
como também o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o legislador expressou inúmeras
providencias a ser adotados por nossa sociedade. No artigo 5º do ECA, in verbis:

Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência,


discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei
qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.

A própria função social, a qual a família deve seguir é um desdobramento da proteção


integral da criança e do adolescente, que gozam de plena e absoluta proteção em seu tratamento,
sendo papel de todos os integrantes do grupo familiar desempenhar esse papel social.

A criança, o adolescente e o jovem gozam, no seio da família, por determinação


constitucional (art. 227 da CF), de plena proteção e prioridade absoluta em seu
tratamento. Isso significa que, em respeito à própria função social desempenhada pela
família, todos os integrantes do núcleo familiar, especialmente os pais e mães, devem
propiciar o acesso aos adequados meios de promoção moral, material e espiritual das
crianças e dos adolescentes viventes em seu meio. Educação, saúde, lazer, alimentação,
36

vestuário, enfim, todas as diretrizes constantes na Política Nacional da Infância e


Juventude devem ser observadas rigorosamente. A inobservância de tais mandamentos,
sem prejuízo de eventual responsabilização criminal e civil, pode, inclusive, resultar,
no caso dos pais, na destituição do poder familiar. (2023, pág. 501).

A expressão da proteção e cuidados, elencados no artigo 227, da Constituição Federal,


também é reproduzido no ECA, no qual traz uma definição que criança é aquela pessoa com
zero anos de idade até os doze anos incompletos e adolescentes aqueles que possuem doze anos
de idade completos e 18 anos de idade, conforme dispõe os artigos 3º e 4º do Estatuto da Criança
e Adolescente:
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à
pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-
se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes
facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de
liberdade e de dignidade. Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em
geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: a)
primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de
atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na
formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de
recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.

Sem sombra de dúvidas, a nossa Constituição Federal de 1988, foi uma grande inovação
em nosso ordenamento jurídico, responsável por parte das grandes transformações ocorridas
em nosso direito, não só inovou ao trazer inúmeros direitos que não eram previstos ou muito
menos existiam em nossa sociedade, como também garantiu direitos fundamentais, não é à toa
que é apelidada de Constituição Cidadã. O Eca em buscando a sua eficácia e validade em nosso
Texto Maior, em seu artigo 5º, aqui já reproduzido, impõe que nenhuma criança e adolescente
será algo de qualquer forma de negligência, discriminação ou explorar, não permitido a violação
de qualquer um dos seus direitos fundamentais.

Na ótica civil, essa proteção integral pode ser percebida pelo princípio de melhor ou
maior interesse da criança, ou best interest of the child, conforme reconhecido pela
Convenção Internacional de Haia, que trata da proteção dos interesses das crianças. O
CC/2002, nos seus arts. 1.583 e 1.584, acaba por reconhecer tal princípio, ao regular a
guarda durante o poder familiar. Esses dois dispositivos foram substancialmente
alterados, inicialmente, pela Lei 11.698, de 13 de junho de 2008, que passou a
determinar como regra a guarda compartilhada, a prevalecer sobre a guarda unilateral,
aquela em que um genitor detém a guarda e o outro tem a regulamentação de vistas em
seu favor. Ampliou-se o sistema de proteção anterior, visando atender ao melhor
interesse da criança e do adolescente na fixação da guarda, o que era reconhecido pelos
Enunciados ns. 101 e 102 do CJF/STJ, aprovados na I Jornada de Direito Civil. Em
37

2014, tais dispositivos foram novamente alterados pela Lei 13.058, que ainda receberá
a devida análise crítica nesta obra. (2022, pág. 44)

Não apenas nosso Texto Maior e o ECA, más o Código Civil dispõe em seus artigos
1.583 e 1.584, a disposição e aplicabilidade do Princípio Do Melhor Interesse da Criança e Do
Adolescente, visando a aplicabilidade e eficiência de todos os direitos inerentes para que possua
condições amplas de desenvolvimento de sua saúde física e mental, a preservação da estrutura
social e sua convivência familiar e social.

Insta esclarecer, de imediato, que na guarda compartilhada ou conjunta o filho convive


com ambos os genitores. De toda sorte, haverá um lar único, não se admitindo, a priori,
a guarda alternada ou fracionada, em que o filho fica um tempo com um genitor e um
tempo com o outro de forma sucessiva (guarda da mochila, pois a criança fica o tempo
todo de um lado para outro). A nova lei parece confundir ambos os conceitos, como se
verá. Para a efetivação da guarda compartilhada, recomenda-se a medição
interdisciplinar, uma vez que ela pressupõe certa harmonia mínima entre os genitores,
muitas vezes distante na prática, o que parece não ter sido considerado pela Lei
13.058/2014.

O Princípio visa garantir que as crianças e os adolescentes, tenham seus direitos


fundamentais respeitados e que seja garantido a eles todos os meios pelos quais são necessários
a promoção para a sua moral, material, espiritual.

Insta esclarecer, de imediato, que na guarda compartilhada ou conjunta o filho convive


com ambos os genitores. De toda sorte, haverá um lar único, não se admitindo, a priori,
a guarda alternada ou fracionada, em que o filho fica um tempo com um genitor e um
tempo com o outro de forma sucessiva (guarda da mochila, pois a criança fica o tempo
todo de um lado para outro). A nova lei parece confundir ambos os conceitos, como se
verá. Para a efetivação da guarda compartilhada, recomenda-se a medição
interdisciplinar, uma vez que ela pressupõe certa harmonia mínima entre os genitores,
muitas vezes distante na prática, o que parece não ter sido considerado pela Lei
13.058/2014.

CAPÍTULO 4 – PLURALIDADE DA FORMAÇÃO FAMILIAR NA SOCIEDADE


PÓS-MODERNA.

4 UNIÃO ESTAVEL

A constituição da União Estável é a formação entre duas pessoas que possuem um


relacionado ou uma convivência duradoura, pública e continua, com o objetivo em comum de
constituir uma família.
38

A União Estável sempre foi reconhecida como um fato jurídico, ou seja, pelo Direito
Comparado e atualmente, tem seu reconhecimento na doutrina, jurisprudência e legislação em
vigor em nosso ordenamento jurídico.
Contudo, o vínculo entre os conviventes não é matrimonial, porém a sua finalidade é a
mesma, a constituição de uma vida conjunta, a formação de uma família, com base no amor, no
afeto, independente para o seu reconhecimento a divergência de sexos entre o casal.
Porém, esse vínculo familiar a um certo tempo, não reconhecido formalmente e era
utilizado por casais que estavam separados de fato e não poderia contrair matrimonio
novamente, devido a legislação vigente a época não permitir a dissolução definitiva do
casamento, tendo a época caráter vitalício.
Mesmo não existindo um vínculo matrimonial, todos os aspectos inerentes ao
casamento, são equiparados a União Estável e principalmente a proteção patrimonial.
Aplicando-se a União Estável os impedimentos e nulidades, referentes ao casamento,
havendo uma dessas hipóteses, a constituição da União Estável não será reconhecida.
Em sua obra, Flavio Tartuce (2022, pag. 409), conceitua a União Estável:
Segundo o art. 1.723 do CC/2002 em vigor, “é reconhecida como entidade familiar a
união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua
e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família”. O dispositivo
regulamenta o art. 226, § 3.º, da CF/1988. Como se nota, o conceito é o mesmo que
constava da Lei 9.278/1996. A respeito dos seus requisitos, comenta o Professor Álvaro
Villaça Azevedo que:“Realmente, como um fato social, a união estável é tão exposta ao
público como o casamento, em que os companheiros são conhecidos, no local em que
vivem, nos meios sociais, principalmente de sua comunidade, junto aos fornecedores de
produtos e serviços, apresentando-se, enfim, como se casados fossem. Diz o povo, em
sua linguagem autêntica, que só falta aos companheiros ‘o papel passado’. Essa
convivência, como no casamento, existe com continuidade; os companheiros não só se
visitam, mas vivem juntos, participam um da vida do outro, sem termo marcado para se
separarem” (AZEVEDO, Álvaro Villaça. Comentários..., 2003, p. 255).Como
reconhece o próprio Professor Villaça, a lei não exige prazo mínimo para a sua
constituição, sendo certo que o aplicador do direito deve analisar as circunstâncias do
caso concreto para apontar a sua existência ou não.Os requisitos, nesse contexto, são
que a união seja pública (no sentido de notoriedade, não podendo ser oculta,
clandestina), contínua (sem que haja interrupções, sem o famoso “dar um tempo” que é
tão comum no namoro) e duradoura, além do objetivo de os companheiros ou
conviventes de estabelecerem uma verdadeira família (animus familiae). Para a
configuração dessa intenção de família, entram em cena o tratamento dos companheiros
(tractatus), bem como o reconhecimento social de seu estado (reputatio). Nota-se, assim,
a utilização dos clássicos critérios para a configuração da posse de estado de casados
também para a união estável. Em tom didático, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo
Pamplona Filho apresentam elementos caracterizadores essenciais e elementos
caracterizadores acidentais para a união estável. Entre os primeiros estão a publicidade,
a continuidade, a estabilidade e o objetivo de constituição de família. Como elementos
acidentais, destacam o tempo, a prole e a coabitação (Novo Curso..., p. 429-436).
39

A União Estável, além de ser um fato social, reconhecida como uma modalidade de
família, por nossa sociedade, também encontra respaldo em nosso ordenamento jurídico e
trazendo consigo elementos essenciais para a sua caracterização.
A União Livre, assim também denominada, sofreu mutações e aprimoramento, não
apenas em nosso ordenamento jurídico, más como também na maneira de sua concepção,
deixou de ser uma única opção imposta para aqueles que não podiam de casar-se novamente e
passou a ser uma opção clara, aliás tornou-se uma opção além para aqueles que desejam uma
relação continua, duradoura e pública.
Tartuce (2022, pág. 402), explica:
A união estável ou união livre sempre foi reconhecida como um fato jurídico, seja no
Direito Comparado, seja entre nós. Por certo é que hoje, a união estável assume um
papel relevante como entidade familiar na sociedade brasileira, eis que muitas
pessoas, principalmente das últimas gerações, têm preferido essa forma de união em
detrimento do casamento. Na verdade, em um passado não tão remoto o que se via era
a união estável como alternativa para casais que estavam separados de fato e que não
poderiam se casar, eis que não se admitia no Brasil o divórcio como forma de
dissolução definitiva do vínculo matrimonial. Hoje, tal situação vem sendo substituída
paulatinamente pela escolha dessa entidade familiar por muitos casais na
contemporaneidade. Em suma, no passado, a união estável era constituída, em regra,
por falta de opção. Atualmente, muitas vezes, por clara opção. No caso do Brasil, a
primeira norma a tratar do assunto foi o Decreto-lei 7.036/1944, que reconheceu a
companheira como beneficiária da indenização no caso de acidente de trabalho de que
foi vítima o companheiro, lei que ainda é aplicada na prática. Posteriormente, a
jurisprudência passou a reconhecer direitos aos conviventes, tratados, antes da
Constituição Fedeal de 1988, como concubinos. Como explica Euclides de Oliveira,
“mesmo antes das mudanças ocorridas na esfera legislativa, a questão da vida
concubinária já evoluía em outras direções, desde seu reconhecimento como fato
gerador de direitos entre as partes, como pioneiramente sustentado por Edgard de
Moura Bittencourt, em sua monumental obra ‘Concubinato’, abrindo caminho ao
reconhecimento judicial da sociedade de fato estabelecida entre pessoas unidas por
laços distintos dos vínculos conjugais” (OLIVEIRA, Euclides de. União..., 2003, p.
76). O doutrinador cita, nesse ínterim, a antiga jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal, com grandes contribuições para o tema. Destaca, inicialmente, a sua Súmula
35, que reconhecia o direito à indenização acidentária em favor da companheira, antes
mesmo da norma citada. Releva, em complemento, a notável Súmula 380, do ano de
1964, com a seguinte redação: “comprovada a existência de sociedade de fato entre
os concubinos, é cabível sua dissolução judicial com a partilha do patrimônio
adquirido pelo esforço comum”. No passado, também era comum indenizar a
concubina pelos serviços domésticos prestados. No entanto, com o evoluir dos
tempos, tal prática passou a ser considerada como discriminatória não só em relação
à concubina, como também quanto à companheira, sendo atualmente vedada. Nesse
sentido, cite-se a afirmação número 14 constante da Edição n. 50 da nova ferramenta
Jurisprudência em Teses, do STJ, a saber: “é inviável a concessão de indenização à
concubina, que mantivera relacionamento com homem casado, uma vez que tal
providência daria ao concubinato maior proteção do que aquela conferida ao
casamento e à união estável”. Como se nota, a premissa traz o argumento
complementar de não se poder dar um tratamento superior ao concubinato diante do
casamento e da própria convivência.

A União Estável deixou de ser uma única opção e inevitável para aqueles que devido o
caráter vitalício e indissolúvel do casamento e não podiam separar-se de fato e tornou uma outra
40

opção para aqueles que desejam viver com alguém sem as necessidades das formalidades de
um casamento ou matrimonio e mais, garantindo a sua integral proteção ao patrimônio
adquirido na constância dessa convivência bilateral, não sendo possível está proteção ou melhor
dizendo esse reconhecimento a um tempo atrás.
No Brasil, a primeira legislação ao tratar o tema e reconhecer alguns direitos entre os
conviventes, foi o Decreto-Lei de número 7.036/199, que reconheceu e garantiu o direito da
companheira como beneficiária da indenização, decorrente de acidente de trabalho de que foi
vítima o seu companheiro.
Mesmo diante das inúmeras mudanças Legislativas, a jurisprudência passou a
reconhecer os direitos dos conviventes. Um exemplo citado na obra do Tartuce é a Súmula 35
do Supremo Tribunal Federal.
Antes mesmo da promulgação do nosso Texto Maior, a Lei de Registros Púbicos do ano
de 1973, admitia a possibilidade de a companheira utilizar o sobrenome do seu companheiro,
conforme dispõe o referido art. 57, § 2.º:
“Os conviventes em união estável devidamente registrada no registro civil de pessoas
naturais poderão requerer a inclusão de sobrenome de seu companheiro, a qualquer
tempo, bem como alterar seus sobrenomes nas mesmas hipóteses previstas para as
pessoas casadas.”

O vínculo de união entre essas pessoas não é matrimonial, uma vez que o matrimonio é
um sacramento religioso, porém a sua finalidade é por assim dizer a mesma, a construção de
uma família, também não é meramente patrimonial, ultrapassando os limites econômicos, mas
sim tento como base, o afeto, o amor, a finalidade é a proteção integral dos seus membros.
Denominado concubinato, em 1988 foi alçado à condição de entidade familiar com o
advento da vigente Carta Federal, trocando sua identidade civil pela expressão
consolidada de união estável. Enquanto viveu à margem da lei, o concubinato procurou
lentamente seu caminho ao reconhecimento e consagração de uma típica espécie
legítima de constituição familiar, primeiro, logrou ver judicialmente reconhecidos
direitos que comparavam a mulher concubina à serviçal doméstica, concedendo-lhe,
com a ruptura do concubinato, uma indenização por serviços prestados, e se ela de
alguma forma tivesse contribuído com recursos próprios para a aquisição de bens
registrados em nome do concubino, por analogia ao Direito Comercial podia reivindicar
a divisão dos bens comuns em valor proporcional ao montante de seus efetivos aportes
financeiros, pois seu vínculo afetivo era equiparado a uma sociedade de fato. (Madaleo,
2022, pág.41).

A Constituição Federal de 1988, dispõe no artigo 260, caput e § 3º:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.


(...)
§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem
e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.
41

Nosso Texto Maior, além de reconhecer a União Estável como ente que merece a tutela
protecionista do Estado, impõe que a lei deve facilitar a sua conversão em casamento, caso
assim os conviventes desejarem. Ou seja, caso os conviventes optem por a conversão, deverão
solicitar a averbação no assento no cartório de Registro Civil.
O Diploma Civilista, em seu artigo 1.726 dispõe:

Art. 1.726. A união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos companheiros ao
juiz e assento no Registro Civil.

Contudo, o artigo 226, § 3º, aduz que reconhece a União Estável entre homem e mulher,
entretanto, nós operadores do direito, não podemos realizar uma interpretação restritiva ou
teleológica, correndo o risco caso o faça de excluir uma parcela da sociedade e mais negando a
existência das Uniões entre pessoas do mesmo sexo e deferindo o princípio matriz do nosso
ordenamento jurídico, O princípio da Dignidade da Pessoa Humana, ora abortado em capítulo
próprio.
De acordo, com o nosso Código Civil vigente, em seu artigo 1.723, elenca que os
pressupostos de validade da União Estável, in verbis: “Art. 1.723. É reconhecida como entidade
familiar a união estável entre homem e mulher, configurada na convivência pública, contínua e
duradoura e estabelecida com a constituição de família”.
Ou seja, para que seja configurada e reconhecida a União Estável, é necessário que
alguns requisitos sejam atendidos, dentre eles podendo ser explícitos ou implícitos, è necessário
a convivência continua, os parceiros devem viver juntos de forma ininterrupta, demostrando a
todos a intenção de constituir uma família. Publicidade, a relação deve ser reconhecida pelos
demais e não sendo mantida. Continua ou Duradoura, a União Estável deve ser uma relação
duradoura, não sendo apenas um relacionamento passageiro, diferentemente do casamento que
após dois dias após contrair o casamento civil é possível a sua dissolução e a Intenção de
Constituir Família: Os parceiros devem ter a intenção mútua e recíproca de formar uma família,
compartilhando responsabilidade e objetivos comuns.
Neste sentido, o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, preferiu
o seguinte acordão:

Ementa Oficial:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE UNIÃO ESTÁVEL POST
MORTEM. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS CARACTERIZADORES. UNIÕES
ESTÁVEIS PARALELAS. NÃO RECONHECIMENTO. No caso, o conjunto
probatório não consagra que o relacionamento amoroso entre a autora e o de cujus
assumiu os contornos de uma entidade familiar própria, que teria sido mantido
concomitantemente a uma união estável com pessoa diversa, já reconhecida, que
perdurou até o seu passamento, estando inviabilizada a pretendida afirmação (art.1.723,
42

§1º, do CC). Manutenção do ato judicial acoimado. APELAÇÃO DESPROVIDA, POR


MAIOIRA. (...)Eminentes colegas, recebo o reclamo, que é próprio, tempestivo
(interposto dentro do prazo legal, fls. 194, verso, e 195) e dispensado de preparo
(assistência judiciária gratuita, fl. 24). A questão devolvida no reclamo diz respeito à
pretensão de E.L.M.C. de ver declarada a união estável que sustenta ter mantido com
J.D.S.M. pelo período de 5 anos, findada apenas em decorrência do óbito do
companheiro, ocorrido em 04.01.2013 (fl. 9). Com a devida vênia pelos argumentos
recursais, tenho que não merece qualquer reparo a sentença acoimada no sentido da
improcedência do pedido declaratório. Como se sabe, o reconhecimento da união
estável, nos moldes do art. 1.723 do CC (LGL\2002\400), depende da demonstração de
seus elementos caracterizadores essenciais, quais sejam, a publicidade, a
continuidade, a estabilidade e o objetivo de constituição de família. No caso, o
conjunto probatório carreado aos autos não deixou dúvidas quanto à existência de um
relacionamento amoroso entre a recorrente e o falecido. Contudo, os registros
fotográficos (fls. 14/16 e 114/119), os boletos e as notas fiscais em nome do de cujus,
em que o endereço indicado é o da autora, ora recorrente (fls. 17/20), e a fatura do
cartão de crédito de E., em que J. figura como segundo titular (fl. 21), embora
confirmem essa relação, não se prestam, respeitosamente, a comprovar de forma
categórica a intenção mútua de constituição de família e o real comprometimento
ao estabelecimento de um grupo familiar, tampouco a sugerida coabitação.Não
descuro que as testemunhas arroladas pela recorrente de certa forma confortaram a sua
tradução, como está no CD da fl. 150. Nesse sentido, T.G.N.C afirmou que foi vizinha
de E. por aproximadamente dois anos e achava que J. era o seu marido, pois tinham
uma rotina conjunta, como casal; G.N.A.B., por sua vez, referiu que era colega de
trabalho do falecido e que eles viveram como se casados fossem por cerca de 5 anos,
tendo J. inclusive realizado empréstimo em nome de E. Não obstante isso, conforme
manifestado pelo magistrado singular, o fato é que o de cujus mantinha,
concomitantemente, um relacionamento com M.D.D.E., com quem teve 2 filhos,
B.L.R.M. e F.E.M., com quem viveu nos moldes de uma entidade familiar por 28 anos,
de 1985 até a morte de J., união estável esta que foi reconhecida nos autos do Processo
n. 025/1.13.0000161-2, cuja higidez e qualidade as provas carreadas pela recorrente
não lograram afastar. (grifei).

O simples fato da caracterização de um relacionamento amoro não é o suficiente para o


reconhecimento da União Estável e dessa forma se aplicar a proteção que é dada a essa entidade
familiar, para que seja reconhecido esse vínculo de convivência e necessário a configuração de
todos os requisitos impostos pela art. 1.726 do Código Civil e mais, além desses pressupostos
de validades explícitos no referido artigo, é necessário também a análise de requisitos
implícitos, como por exemplo o da Fidelidade e Exclusividade ou seja o nosso Direito Civil,
adota o princípio da monogâmico e não admite o reconhecimento da União entre três pessoas.
O Princípio da afetividade se contrapõe a essa questão de monogamia, como também o
Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, O Princípio do Planejamento Familiar Livre e da
Mínima Intervenção do Estado. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) acolheu a procedência
do pedido nº 1459-08.2016.2.00.000, proibindo as uniões poliafetivas em cartórios até a sua
completa regulamentação.
Ainda analisando os requisitos implícitos, temos o da Ausência de Impedimentos
Legais: Não podem existir impedimentos legais para a formação da união estável, como
parentesco proibido ou a existência de outro casamento ou união estável vigente. Ou seja, os
43

impedimentos e nulidades previstos no artigo 1.521 a 1.524, são aplicados a União Estável,
conforme dispõe o artigo 1.723, § § 1º e 2º:
Art. 1.723: (...)§ 1 o A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos
do art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada
se achar separada de fato ou judicialmente. § 2 o As causas suspensivas do art. 1.523
não impedirão a caracterização da união estável.
As Uniões Estáveis, deverão pautar-se entre os companheiros os deveres de lealdade,
respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos, conforme dispõe o artigo
1.724 do Código Civil de 2002.
Continuando, outros aspectos a serem considerados ao analisar a natureza da união,
entre elas a independência financeira e o compartilhamento da responsabilidade.
Carlos Roberto Gonçalves, em sua obra, conceitua o não formalismo da União Estável,
como ocorre no casamento e preleciona os requisitos para a sua configuração:
Uma das características da união estável é a ausência de formalismo para a sua
constituição. Enquanto o casamento é precedido de um processo de habilitação, com
publicação dos proclamas e de inúmeras outras formalidades, a união estável, ao
contrário, independe de qualquer solenidade, bastando o fato da vida em comum. Como
assinala Antonio Carlos Mathias Coltro, a união de fato se instaura “a partir do instante
em que resolvem seus integrantes iniciar a convivência, como se fossem casados,
renovando dia a dia tal conduta, e recheando-a de afinidade e afeição, com vistas à
manutenção da intensidade”. Embora, por essa razão, tal modo de relacionamento
afetivo apresente uma aparente vantagem, por não oferecer dificuldade para a sua
eventual dissolução, bastando o mero consenso dos interessados, por outro lado cede
passo, como acentua Euclides de Oliveira, à dificuldade de prova que lhe é inerente,
por falta de documento constitutivo da entidade familiar. Recomenda por isso o
mencionado autor, embora não exigível instrumentação escrita, seja formalizada a
constituição da união estável “por meio de um contrato de convivência entre as partes,
que servirá como marco de sua existência, além de propiciar regulamentação do regime
de bens que venham a ser adquiridos no seu curso.

Antigamente, para que se reconhecesse a União Estável era necessário um lapso


temporal de cinco anos, de convivência entre os companheiros. Atualmente Direito como um
todo, não existe um prazo mínimo fixado para a sua configuração, bastando apenas
relacionamento seja constituído nos moldes dos pressupostos de validade.
O artigo 1.723 do Código Civil também não estabeleceu qualquer requisito temporal
para configurar a mútua convivência, e desse modo consagrou a tendência verificada
desde a edição da Lei n. 9.278, de 10 de maio de 1996, cujo texto legal deixou de exigir
o clássico tempo mínimo de cinco anos, como elemento imprescindível de certeza para
o reconhecimento jurídico de uma relação de união estável. Durante muitos anos a
jurisprudência brasileira, e assim reiterava a doutrina pátria, reclamava a existência de
mínimos cinco anos de convivência como tempo necessário para a caracterização de
um concubinato, e este requisito foi abolido em boa hora pelo legislador, ao deixar a
tarefa de identificar uma união estável para a apreciação judicial casuística, e delegar
ao magistrado a função de encontrar em cada caso levado à sua jurisdição os requisitos
de configuração da união estável exigidos no caput do artigo 1.723 do Código Civil.
Andou bem o legislador ao afastar um prazo mínimo para reconhecer a existência de
44

uma união estável, porque importa ao relacionamento a sua qualidade e não o tempo da
relação.

A União Estável, diferentemente do casamento dispensa-se as formalidades atinentes


ao casamento civil, contudo, nossa legislação equipara a União Livre e ter a sua conversão
facilitada, conforme artigo 226 da Constituição Federal de 1988.

A opção pela conversão da união estável em casamento remonta ao § 3° do artigo 226


da Constituição Federal, ao estabelecer deva a lei facilitar sua conversão em
matrimônio, advindo sua regulamentação infraconstitucional do artigo 8° da Lei n.
9.278/1996.212 A conversão da união estável em casamento tem intrigado a doutrina
brasileira, ao permitir aos mais conservadores defenderem a existência de uma espécie
de subclasse de entidade familiar. Logo após a promulgação da Constituição Federal
de 1988, Carlos Alberto Bittar afirmava haver “absoluta diferença de perspectiva e de
posicionamento entre o casamento e a união concubinária (estável), na medida em que,
no primeiro, ao unir-se, o casal objetiva a formação de família; renunciam os nubentes
a direitos de sua personalidade; aceitam pôr em comum seu patrimônio, mesmo futuro;
comungam, pois, os mesmos ideais, que os levam ao entrelaçamento espiritual e
físico...”.Em sintonia com o artigo 1.726 do Código Civil, os companheiros devem
requerer ao juiz a conversão da sua união estável em casamento213 e não mais ao
oficial do Registro Civil, como previa o artigo 8° da Lei n. 9.278/1996, através de
processo próprio de habilitação para o casamento, havendo quem afirme ser
inconstitucional o artigo 1.726 do Código Civil, porque o procedimento judicial não
facilita converter a união estável em casamento, como ordena o artigo 226, § 3° da
Constituição Federal. No Estado do Rio Grande do Sul o procedimento para a
transformação da união estável em casamento está regulado pelos Provimentos n.
027/2003 e 39/2003 da Corregedoria Geral da Justiça, passando a integrar os artigos
148 a 157 da Consolidação Normativa Notarial e Registral do Rio Grande do Sul
(Provimento n. 32/06-CGJ), sendo que a conversão é requerida ao juiz de direito, com
a intervenção do promotor público, e, uma vez homologada a conversão, o juiz ordenará
o registro para que o oficial proceda ao assento no Livro B-Auxiliar, ao passo que a
conversão em casamento civil da cerimônia religiosa é processada diretamente no
Registro Civil. (MADALENO, 2022, PÁG.1319).

A composição familiar, deixa de ser apenas um ambiente nuclear, dando espaço para o
afeto, educação e proteção dos seus membros, deixando de ser algo social e se tornando cultural
e com isso inovando cada vez que é necessário para acompanhar os movimentos de
transformações da nossa sociedade rumo a pós-modernidade.

A nova família foi desencarnada do seu precedente elemento biológico para ceder lugar
aos vínculos psicológicos do afeto, consciente a sociedade que, na formação da pessoa
humana, os valores como a educação, o afeto e a comunicação contígua guardam muito
mais importância do que o elo da hereditariedade. (MADALENO, 2022. PÁG.39).

A família parte de uma repersonalização, não apenas no âmbito patrimonial, más como
também como um fator social que deve acompanhar a evolução da sociedade, deixando de ser
o antro econômico e se tornando eudemonista, nessa linha de pensamento, Madaleno (2022,
pág. 39) reforça:
45

A família que foi repersonalizada a partir do valor do afeto, não de qualquer relação
afetiva, como pudesse alguém argumentar, mas de um afeto especial e complementar
de uma relação de estabilidade, coabitação, intenção de constituir um núcleo familiar,
de proteção, solidariedade e interdependência econômica, tudo inserido em um projeto
de vida em comum,20 conforme exterioriza o artigo 1.511 do Código Civil, ao
explicitar que a comunhão plena de vida é princípio geral e ponto de partida para o
completo desenvolvimento pessoal dos partícipes de cada um dos diversificados
modelos de famílias.

Ademais, a União Estável no âmbito do Poder Judiciário vem reconhecendo o vínculo


entre os conviventes e a sua dissolução quando é a Lide, tem seus deslinde judicial, uma vez
mais que esses tipos de ações envolve o patrimônio dos conviventes.

4.2 FAMÍLIA EUDEMONISTA

A família eudemonista é um conceito que estabelece que a busca pela felicidade por meio do
afeto subjetivo deve ser o suficiente para criar uma entidade familiar, independentemente do
vínculo genético. Trata-se portando por assim dizer de uma derivação do princípio da
afetividade.
O seu núcleo composto pela família eudemonista é baseado pela busca da felicidade
individual no convívio com os outro, independe do vínculo biológico, más sim pela
socioafetivo.
Madaleno, em sua obra, afirma:

O termo família eudemonista é usado para identificar aquele núcleo familiar que busca
a felicidade individual e vive um processo de emancipação de seus membros.83
Rodrigo da Cunha Pereira apresenta maiores informes a despeito da família
eudemonista, explicando que os valores eudemonistas ganharam força, e reforço, com
o declínio do patriarcalismo e com a sociedade do hiperconsumo e acrescenta
importante prognóstico no sentido de que “casamos para sermos felizes e também nos
separamos à procura da felicidade”,84 fato absolutamente verdadeiro, mas que depende
de quem tem coragem de romper sua relação infeliz, fato e direito altamente facilitado,
especialmente depois da Emenda Constitucional 66/2010, que instituiu o divórcio
direto e, obviamente, da mentalidade social que aos poucos vai se livrando dos dogmas
e fantasmas do passado, que impregnavam a ideia de que o casamento devia durar por
toda a existência terrena das pessoas, pois o que Deus havia unido, o homem não podia
separar. O Direito de Família não mais se restringe aos valores destacados de ser e ter,
porque, ao menos entre nós, desde o advento da Carta Política de 1988 prevalece a
busca e o direito pela conquista da felicidade a partir da afetividade. (2023, pág.32).

A partir do momento que a família tem como objetivos mútuos o bem-estar, a felicidade,
a promoção do desenvolvimento moral, emocional e intelectual dos seus membros e o vínculo
socioafetivo, estamos diante de fundamentos básicos da família eudemonista a exemplo disso
a família homoafetiva decorre do conceito da família eudemonista.
Contudo, devemos nos atentar-se, ao conceito de família eudemonista, não é porque
existe um liame afetivo que é o suficiente para a caraterização de um arranjo familiar, a exemplo
disso um relacionamento entre namorados, está presente, porém não a forma família.
46

Numa perspectiva constitucional, a funcionalização social da família signi-fica o


respeito ao seu caráter eudemonista, enquanto ambiência para a realização do projeto
de vida e de felicidade de seus membros, respeitando-se, com isso, a dimensão
existencial de cada um. (Stolze e Filho.2023, pág.41).
.
4.3 FAMILIA ANAPARENTAL

A família anaparental é composta pelo núcleo familiar sem o vínculo de ascendência


entre si, muito comum este tipo de arranjo familiar ser formado por irmãos, por tios com
sobrinhos ou primos.
O simples ato de dividir uma casa com uma pessoa ou residir em coabitação em uma
república, não caracteriza a família anaparental pela ausência do afeto e do desejo de
constituir uma família.

Observam Renata Almeida e Walsir Rodrigues Júnior não existir família anaparental
onde ausente a pretensão de permanência, por maior que sejam os vínculos de
afetividade do grupo, como, por exemplo, em uma república de estudantes
universitários, cujos vínculos não foram construídos com a intenção de formar uma
família e certamente serão desfeitos com o término do curso. (Madaleno, 2023, pag.10).

A expressão família anaparental foi criada pelo Professor Sergio Resende de Barros:

Família anaparental: decorrente “da convivência entre parentes ou entre pessoas,


ainda que não parentes, dentro de uma estruturação com identidade e propósito”,
tendo sido essa expressão criada pelo professor Sérgio Resende de Barros (DIAS,
Maria Berenice. Manual..., 2007, p. 46). Segundo as próprias palavras do Professor da
USP: “que se baseia no afeto familiar, mesmo sem contar com pai, nem mãe. De
origem grega, o prefixo ‘ana’ traduz ideia de privação. Por exemplo, ‘anarquia’
significa ‘sem governo’. Esse prefixo me permitiu criar o termo ‘anaparental’ para
designar a família sem pais.” (Tartuce, 2023, pág.36).

A família anaparental não possui um “vínculo” sexual, as pessoas decidiram-se viver


juntas pela afetividade, por afinidade ou o companheirismo, por exemplo o caso dos tios com
os sobrinhos, dos irmãos que por algum motivo não possuem a presença dos pais em sua vida.
Servindo como um instrumento para o desenvolvimento da personalidade humana e com a
finalidade da realização plena de seus membros.

Neste sentido, Madaleno:

Ao lado da família nuclear construída dos laços sanguíneos dos pais e sua prole está a
família ampliada, como uma realidade social que une parentes, consanguíneos ou não,
estando presente o elemento afetivo e ausentes relações sexuais,33 porque o propósito
desse núcleo familiar denominado anaparental não tem nenhuma conotação sexual
como sucede na união estável e na família homoafetiva, mas estão juntas com o ânimo
de constituir estável vinculação familiar. Nesse arquétipo, a família anaparental está
configurada pela ausência de alguém que ocupe a posição de ascendente, como na
hipótese da convivência apenas entre irmãos. (2023, pág.10).

O liame que une a relação de uma família anaperental é o vínculo biológico ou não, más
tem a afetividade entre os membros desse conjunto familiar, o desejo de formação de um núcleo
47

familiar e não havendo uma conotação sexual, como existe na União Estável e demais arranjos
familiares.

4.4 FAMÍLIA HOMOAFETIVA

A Relação Homoafetiva, é uma denominação dada pela jurista Maria Berenice Dias,
propulsora do Direito Homoafetivo no Brasil, que iniciou a busca pelo direito dessa classe que,
atualmente após anos de luta, pelo reconhecimento da sua existência e direitos, ainda continua
sendo marginalizada pela sociedade e pelo Poder Estatal, pela sua inercia. A união entre pessoas
do mesmo sexo é uma realidade que há muito tempo se verifica, porém durante anos, por
questões fortemente ligadas a religião, fez com que essas pessoas caíssem no esquecimento,
sem a devida atenção da sociedade e do direito, sendo reiteradamente alvo de perseguições e
preconceitos.
O reconhecimento da união estável, não está expressamente regulamentado pela
Constituição Federal de 1988 e muito menos pelo nosso Código Civil de 2002, contudo o
reconhecimento das relações homoafetivas, com o interesse de constituir familiar, vem obtendo
o seu reconhecimento por meio das doutrinas e jurisprudência.
Lamentavelmente, o legislador brasileiro não cuidou ainda de regulamentar o
casamento civil e a união estável entre pessoas do mesmo sexo, a despeito de todo
avanço normativo experimentado pelo Direito estrangeiro, conforme vimos no tópico
anterior. É bem verdade que a jurisprudência, cumprindo o seu papel, passou a admitir,
em favor dos companheiros do mesmo sexo, a aplicação das regras da união estável, o
que ganhou reforço com a decisão do Supremo Tribunal Federal na ADI 4.277. Da
mesma forma, em que pese a ausência de previsão legal específica (o que, no nosso
entendimento, seria o recomendável), o casamento homoafetivo tem sido aceito por
força da atuação dos Tribunais, superando a tradicional exigência da diversidade de
sexos como pressuposto de existência, o que ganhou especial reforço com a edição da
Resolução n. 175/2013 do CNJ, que veda às autoridades competentes a recusa de
habilitação, celebração de casamento civil ou de conversão de união estável em
casamento entre pessoas de mesmo sexo. (2023, pág.175).

Após, anos de inércia do Poder Legislativo, coube ao Poder Judiciário, o papel de


reconhecer os direitos dos casais homoafetivos, com o intuito de constituir familiar, porém é
uma paradigma para a sociedade atual, uma vez que o direito brasileiro e o parlamento é
influenciado fortemente por questões ideológicas e religiosas sendo necessário que ao tratar de
direito, precisamos deixar o viés religioso, neste sentido, em sua obra Stolze e Pamplona (2023,
pág.172) defende: “ Qualquer investigação cientifica que se faça na seara do Direito de Família,
para bem cumprir o seu desiderato, deverá ser desprovida de prévias concepções morais e
religiosas.”
Para uma melhor aplicabilidade do Direito e melhor interpretação, é necessário
deixarmos de lado, tudo o que pode afetar o nosso julgamento, precisamos primar nestas
48

questões a imparcialidade e não nos levar por questões de cunho moral e religiosa que nos dias
atuais vem cada vez mais prejudicando à nossa maneira de cosmovisão. Não é o intuito deste
trabalho externar esse tipo de questão, más atualmente se faz necessário deixar registrado,
principalmente no tocante a questões que no mundo jurídico é visto como uma aberração, como
o exemplo da PL que visava proibir o casamento civil, entre pessoas do mesmo sexo, totalmente
motivado por questões religiosas.
A evolução da sociedade, gerou conceitos e situações a qual a legislação, por muitas
vezes não consegue prever. Exatamente por isso, que O Poder Judiciário, constantemente vem
enfrentando fatos novos oriundos do direito de família e das relações homoafetivas.
No entanto, a jurisprudência se incumbiu de tratar das relações entre homossexuais.
Para tanto, a fim de demonstrar o papel jurisprudencial em tal matéria, se traz ao
presente artigo a decisão inédita proferida pelo Supremo Tribunal Federal – STF, o qual
decidiu, por unanimidade, em 5 de maio de 2011, reconhecer a união homoafetiva no
Brasil, situação essa que até o presente momento não possui disposição legal específica
(MIRANDA, 2013, p. 33).

A união entre pessoas do mesmo sexo, não é algo que surgiu com a modernidade, ou
por meio de uma transformação social ou até mesmo cultural, é um fato que existe há tempos,
porém apenas na sociedade pós-moderna que ganhou mais evidência. A relação entre dois
homens ou duas mulheres, sempre existiu, porém com o decorrer do tempo e com o aumento
dessas relações, que foram ganhando forças para buscar os seus direitos, e equiparação as outras
modalidades de arranjos familiares, que são tutelas e amparadas legalmente, buscando o seu
reconhecimento e sua constituição enquanto família.
Todavia, em nosso ordenamento jurídico não existe uma Lei em sentido estrito, a qual
regule expressamente as relações de pessoas do mesmo sexo com o intuito de constituir família,
sendo ignorado por nosso ordenamento pátrio, cabendo ao judiciário acolher essa parcela da
sociedade que desde sempre vem sofrendo com a falta de uma regulamentação jurídica.
Atualmente, embora não exista uma lei formal para definir essa matéria, o Supremo Tribunal
Federal, por meio da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 4.777 e da Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) n° 132, estabeleceu que o reconhecimento
da união homoafetiva, com base na relação duradoura e pública, os mesmos direitos e deveres
das famílias formadas entre homem e mulher.
EMENTA: 1. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO
FUNDAMENTAL (ADPF). PERDA PARCIAL DE OBJETO. RECEBIMENTO, NA
PARTE REMANESCENTE, COMO AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. UNIÃO HOMOAFETIVA E SEU
RECONHECIMENTO COMO INSTITUTO JURÍDICO. CONVERGÊNCIA DE
OBJETOS ENTRE AÇÕES DE NATUREZA ABSTRATA. JULGAMENTO
CONJUNTO. Encampação dos fundamentos da ADPF nº 132-RJ pela ADI nº 4.277-
DF, com a finalidade de conferir “interpretação conforme à Constituição” ao art. 1.723
49

do Código Civil. Atendimento das condições da ação. 2. PROIBIÇÃO DE


DISCRIMINAÇÃO DAS PESSOAS EM RAZÃO DO SEXO, SEJA NO PLANO DA
DICOTOMIA HOMEM/MULHER (GÊNERO), SEJA NO PLANO DA
ORIENTAÇÃO SEXUAL DE CADA QUAL DELES. A PROIBIÇÃO DO
PRECONCEITO COMO CAPÍTULO Supremo Tribunal Federal DO
CONSTITUCIONALISMO FRATERNAL. HOMENAGEM AO PLURALISMO
COMO VALOR SÓCIO-POLÍTICO-CULTURAL. LIBERDADE PARA DISPOR
DA PRÓPRIA SEXUALIDADE, INSERIDA NA CATEGORIA DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS DO INDIVÍDUO, EXPRESSÃO QUE É DA AUTONOMIA DE
VONTADE. DIREITO À INTIMIDADE E À VIDA PRIVADA. CLÁUSULA
PÉTREA.

Com este julgamento, o Supremo Tribunal Federal, além de reconhecer a união entre
pessoas do mesmo sexo, inseriu por assim dizer, nos direitos fundamentais, que a cada pessoa
existe a liberdade de dispor da própria sexualidade, expressando a sua autonomia da vontade e
respeitando a autonomia da vontade do invidio e o direito à intimidade e à vida privada.
Com está decisão, tornou se possível a efetiva aplicabilidade do princípio da igualdade,
garantindo o respeito à liberdade pessoal e à autonomia individual, não existindo uma hierarquia
e uma diferenciação em nosso ordenamento jurídico entre o casamento entre homem e mulher
e o casamento homoafetivo, conferindo além de tudo a primazia à dignidade da pessoa humana,
que é a base do nosso ordenamento jurídico, promovendo a remoção dos obstáculos que até o
momento, inviabilizavam a busca pela felicidade por parte de homossexuais.
Um dos fundamentos utilizados por nossa suprema corte, foi a contemplação do direito
à busca pela felicidade, originário dos Estados Unidos da América, presente na sua Declaração
de Independência.
No Brasil, foi elevado ao status de princípio por força do julgamento do STF, ao decidir
o caso emblemático à união homoafetiva, ao reconhecer a constitucionalidade da união estável
entre pessoas do mesmo sexo. Com o entendimento da Suprema Corte Brasileira, o princípio
da busca à felicidade, decorre implicitamente do sistema constitucional vigente em nosso país,
em especial ao princípio da dignidade da pessoa humana.
Segundo o ex-ministro Ayres de Britto, a sua enunciação, principiológica da busca pela
felicidade, estava presente latente mente em tudo que se analisava nesse julgamento.
HOMOAFETIVA E SEU RECONHECIMENTO COMO INSTITUTO JURÍDICO.
CONVERGÊNCIA DE OBJETOS ENTRE AÇÕES DE NATUREZA ABSTRATA.
JULGAMENTO CONJUNTO. Encampação dos fundamentos da ADPF nº 132-RJ pela
ADI nº 4.277-DF, com a finalidade de conferir “interpretação conforme à Constituição”
ao art. 1.723 do Código Civil. Atendimento das condições da ação. (...)Nesse contexto,
o postulado constitucional da busca da felicidade, que decorre, por implicitude, do
núcleo de que se irradia o princípio da dignidade da pessoa humana, assume papel de
extremo relevo no processo de afirmação, gozo e expansão dos direitos fundamentais,
qualificando-se, em função de sua própria teleologia, como fator de neutralização de
práticas ou de omissões lesivas cuja ocorrência possa comprometer, afetar ou, até
mesmo, esterilizar direitos e franquias individuai.
50

Neste mesmo sentido, Alexandre de Moraes em sua obra:


a dignidade da pessoa humana: concede unidade aos direitos e garantias
fundamentais, sendo inerente às personalidades humanas.45 Esse fundamento afasta a
ideia de predomínio das concepções transpessoalistas de Estado e Nação, em
detrimento da liberdade individual. A dignidade é um valor espiritual e moral inerente
à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e
responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das
demais pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico
deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas
limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a
necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos46 e a busca
ao Direito à Felicidade

Pedro Lenza, em sua obra, transcreve uma parte da Sentença, proferida em


21.02.2006, reconhecendo a União Estável de pessoas do mesmo sexo.

Nessa linha, não podemos deixar de mencionar decisão proferida em 21.02.2006 pelo
Juiz Guilherme de Macedo Soares, que, dentre outros argumentos, tendo por
fundamento a “felicidade”, reconheceu a união estável entre pessoas do mesmo sexo.
Nessa linha, não podemos deixar de mencionar decisão proferida em 21.02.2006 pelo
Juiz Guilherme de Macedo Soares, que, dentre outros argumentos, tendo por
fundamento a “felicidade”, reconheceu a união estável entre pessoas do mesmo sexo

O Direito à busca pela felicidade é um direito natural. Não depende da sua inserção em
nosso ordenamento jurídico e muito menos de regulamentação. Impedir uma pessoa de ser feliz
é ferir a sua Moral, Intimidade e Direito.
Em sua obra, Stolze e Pamplona, transcreve o pensamento do eminente Ministro do
Supremo Tribunal Federal, a respeito da equivalência igualitária entre as uniões estáveis
formada por homem e mulher e pessoas do mesmo sexo:
a dignidade da pessoa humana: concede unidade aos direitos e garantias fundamentais,
sendo inerente às personalidades humanas. Esse fundamento afasta a ideia de
predomínio das concepções transpessoalistas de Estado e Nação, em detrimento da
liberdade individual. A dignidade é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que
se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria
vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas,
constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de
modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos
direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem
todas as pessoas enquanto seres humanos e a busca ao Direito à Felicidade. (2023, pág.
561)

Neste mesmo pensamento, O Professor Universitário de Lisboa Jorge Pinheiro, admite


que:

A união de facto, realidade que a lei não define, é por vezes identificada com a
convivência de duas pessoas em condições análogas às dos cônjuges, noção que, para
ser adoptada, exige que se abstraia do requisito da diversidade de sexo, que é condição
da existência de um casamento. Por este motivo, é preferível reconduzir a união de
facto a uma coabitação, na tripla vertente de comunhão de leito, mesa e habitação”.
Portanto, na tentativa de definir juridicamente a união estável, é imperiosa, em nosso
51

sentir, a necessidade de se admitir a sua intrínseca duplicidade tipológica, dada a


prescindibilidade do gênero sexual dos integrantes deste núcleo informal de afeto.
(2023, ág.562).

A união, seja ela qual for, vai muito além do Direito Constitucional e do Direito de
Família, o seu vínculo é findado pelo afeto e em decorrência da aplicabilidade do princípio da
afetividade, concluímos que a união familiar, vai além do casamento, abarcando todas as
modalidades de constituição familiar.
Neste sentindo, a doutrina passou se utilizar o termo “União Homoafetiva”, termo
preferido pelos autores modernos, do que a expressão “União Homossexual”, devido a sua
ligação estar intimamente ligada a afetividade e não pela sexualidade.
Neste sentido, Maria Berenice Dias:
De forma cômoda, o Judiciário busca subterfúgios no campo do Direito das Obrigações,
identificando como uma sociedade de fato o que nada mais é do que uma sociedade de
afeto. A exclusão de tais relacionamentos da órbita do Direito de Família acaba
impedindo a concessão dos direitos que defluem das relações familiares, tais como:
meação, herança, usufruto, habitação, alimentos, benefícios previdenciários, entre
tantos outros. Indispensável que se reconheça que os vínculos homoafetivos — muito
mais do que relações homossexuais — configuram uma categoria social que não pode
mais ser discriminada ou marginalizada pelo preconceito. Está na hora de o Estado, que
consagra como princípio maior o respeito à dignidade da pessoa humana, reconhecer
que todos os cidadãos dispõem do direito individual à liberdade, do direito social de
escolha e do direito humano à felicidade”

Após o reconhecimento da união homoafetiva pelo STF, o Superior Tribunal Federal,


também venho aplicando este entendimento, afinal de contas se trata do tribunal da cidadania.
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. UNIÃO ESTÁVEL
HOMOAFETIVA. RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO. COMPETÊNCIA
PARA JULGAMENTO. 1. Recurso especial tirado de acórdão que, na origem, fixou a
competência do Juízo Civil para apreciação de ação de reconhecimento e dissolução de
união estável homoafetiva, em detrimento da competência da Vara de Família existente.
2. A plena equiparação das uniões estáveis homoafetivas, às uniões estáveis
heteroafetivas trouxe, como corolário, a extensão automática àquelas, das prerrogativas
já outorgadas aos companheiros dentro de uma união estável tradicional. 3. Apesar da
organização judiciária de cada Estado ser afeta ao Judiciário local, a outorga de
competências privativas a determinadas Varas, impõe a submissão dessas varas às
respectivas vinculações legais construídas em nível federal, sob pena de ofensa à lógica
do razoável e, in casu, também agressão ao princípio da igualdade. 4. Se a prerrogativa
de vara privativa é outorgada ao extrato heterossexual da população brasileira, para a
solução de determinadas lides, também o será à fração homossexual, assexual
outransexual, e todos os demais grupos representativos de minorias de qualquer
natureza que tenham similar demanda. 5. Havendo vara privativa para julgamento de
processos de família, esta é competente para apreciar e julgar pedido de reconhecimento
e dissolução de união estável homoafetiva, independentemente das limitações inseridas
no Código de Organização e Divisão Judiciária local 6. Recurso especial provido. (STJ
- REsp: 1291924 RJ 2010/0204125-4, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de
Julgamento: 28/05/2013, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe
07/06/2013) (BRASIL, 2013).

Após, o STF reconhecer a união homoafetiva e afim de criar cumprir a decisão da


Suprema Corte e garantir a aplicabilidade desse direito equiparado, O Conselho Nacional de
52

Justiça, por aprovação da maioria de votos a resolução n. 175, garantindo aos casais
homoafetivos o direito ao casamento civil, bem como o registro da união estável ou a sua
conversão, perante a qualquer serventia extrajudicial.
Então, conforme o atual entendimento do STF, duas pessoas do mesmo sexo, ligadas
pela afetividade, com o intuito de manter uma relação duradoura, pública e continua, com o
objetivo de constituir familiar, tem a garantia de reconhecimento da sua unidade familiar.

A respeito, Madaleno (2021, pág. 27):


Primeiro a jurisprudência e depois o Direito atribuiu efeitos jurídicos aos
comportamentos dos pares afetivos, renunciando o privilégio até pouco vigente, de
exaltação jurídica reservada exclusivamente ao casamento civil, passando a aceitar, em
um primeiro momento, que apenas pessoas de sexos distintos pudessem se associar em
um projeto de vida em comum, mas que não passava pelo matrimônio civil. Vínculos
forjados em foro íntimo precisam ser oficialmente reconhecidos, pois seus integrantes
desejam organizar socialmente suas vidas e fortalecer, sob os auspícios legais e
jurídicos, os seus laços homoafetivos, que sempre estiveram presentes na sociedade,
contudo só não eram reconhecidos pela lei, não obstante a natureza não se cansasse de
contrariar o legislador, que ainda reluta em reconhecer entidade familiar que não seja
formada por um homem e uma mulher.

Contudo, por mais que essa evolução de cunho social e jurídico, até o momento a
Constituição Federal não dispõe e muito menos reconhece as uniões homoafetivas, cabendo ao
papel judiciário, realizar esse reconhecimento e garantindo a existência e proteção dessas
uniões, por meio da aplicabilidade dos princípios que regem o nosso ordenamento jurídico.

4.5 FAMILIA MONOPARENTAL


A família monoparental é aquela constituída por um dos seus pais e filhos, que por
diversos fatores optaram por formar uma família sem a presença do companheiro (a) ou esposo
(a).
O número de famílias monoparentais vem aumentando significativamente, um dos
fatores importantes para o aumento desses números são o crescimento dos divórcios.
Destaco, dois pontos importantes para justificar esses números, o marco histórico que
foi um dos estopins foi a vigência da Lei n. 6.515/77, que implementou o divórcio no Brasil,
colocando assim um fim em um dos maiores e mais consagrados paradigmas da família
brasileira, uma vez que a religião por muito tempo influenciou o ordenamento jurídico, com a
referida Lei se tornou possível a dissolução do casamento, perdendo o seu caráter indissolúvel,
perdendo a característica da vitaliciedade, grande marca da influência religiosa. O último ponto
é a independência da mulher na sociedade, deixando de lado os cuidados da casa e se tornando
protagonista da sua vida financeira, gerando a sua qualificação e criando cada vez mais
autonomia em sua vida.
Com o advento da possibilidade da dissolução do casamento, novos arranjos famílias
surgiram com a fragmentação da família tradicional ou parental, sendo uma delas a família
53

monoparental, como já mencionado é a formação por um dos genitores e seus filhos, a origem
da família monoparental não é apenas originada pela fragmentação da família parental, más ela
pode se constituir monoparental.
Portando, sendo livre a forma pela qual os pais, optem pela convivência com os seus
filhos, o arranjo monoparental não é exclusivamente um conceito social, más sim um arranjo
familiar que comporta a proteção Estatal, consagrada pelo Nosso Texto Maior, no artigo 226,
§4º, sendo um pressuposta para a validação desse arranjo familiar a titularidade de um vínculo
apenas com um dos pais.
Nesse sentido, Madaleno (2022, pág.42):
Famílias monoparentais são usualmente aquelas em que um progenitor convive e é
exclusivamente responsável por seus filhos biológicos ou adotivos. Tecnicamente são
mencionados os núcleos monoparentais formados pelo pai ou pela mãe e seus filhos,
mesmo que o outro genitor esteja vivo, ou tenha falecido, ou que seja desconhecido
porque a prole provenha de uma mãe solteira, sendo bastante frequente que os filhos
mantenham relação com o progenitor com o qual não vivam cotidianamente, daí não
haver como confundir família monoparental com lugar monoparental.

Em outras palavras, a família monoparental é aquela formada exclusivamente por


apenas um dos genitores e que recai sobre ele toda a responsabilidade dos seus filhos, a
financeira, a afetiva, a educação e todos as demais.
O núcleo monoparental é exclusivamente formado por um dos genitores e seus filhos,
ou seja, a mãe e seus filhos, é o que ocorre usualmente atualmente, ou pelo pai e seus filhos,
não sendo muito comum esse tipo de formação, ocorrendo com menos frequência.
O simples fim do vínculo conjugal, por meio do divórcio não é suficiente para a
caracterização da família monoparental, é necessário que o Poder Familiar, seja exercido com
exclusividade por um dos genitores.
A responsabilidade de cuidar, dar afeito, garantir a segurança, a proteção e o melhor
interesse da criança e adolescente deve ser exercida unicamente por um dos genitores, nos casos
em que a guarda é compartilhada o dever de cuidado é exercido por ambos os genitores, o afeto
e a convivência com os filhos é continuo, nestes casos não podemos falar em família
monoparental, Madeleno defende que nessas hipóteses, estamos diante de lugar monoparental,
acredito que para ficar mais didático, o termo que melhor se encaixa seria de um lar
monoparental, ou seja, é aquele que apenas um dos genitores vivem com a sua prole, contudo,
os filhos ainda mantém um vínculo continuo com o outro genitor que por algum motivo decidiu
não convivem com a família debaixo do mesmo teto, e sendo assim nestes casos que é dever de
cuidado e responsabilidade mutua dos pais, não se configuraria uma família monoparental.
54

O núcleo familiar monoparental, no momento da sua formação, podemos classificar em


originaria e superveniente.
Na primeira classificação, a família monoparental originaria, a sua constituição, desde
o começo é formada por um dos pais e seus filhos, então desde o memento gravídico ou até
mesmo pela opção de adotar uma criança, o responsável sendo solteiro, estaremos diante de
uma família monoparental originaria, a exemplo disso, o caso da mãe solteira, que a gravidez é
resultado de uma relação casual, sem nenhum tipo de envolvimento sentimental, ou até mesmo,
após saber da gravidez o pai decide não assumir ou simplesmente foge por não querer a criança,
outro exemplo seria que durante o período da gestação, por algum motivo ocorra o óbito do pai.
Já, no caso da classificação superveniente, ocorre a fragmentação do núcleo familiar,
originalmente composto pelos genitores e seus filhos, em decorrência de algum evento, por
muitas vezes, este evento pode ser voluntário ou involuntário, no primeiro caso, seria os casos
em que os pais optam pelo divorcio e por algum motivo não existe a guarda compartilhada e o
dever compartilhado de cuidar, já na última hipótese, um exemplo que podemos citar, foi a
pandemia do Covid-19, que infelizmente vitimou muitas pessoas e dessa forma ocasionado a
morte de pais e filhos.
Pablo Stolze juntamente com Rodolfo Pamplona Filho em sua obra Novo Curso de
Direito Civil, conceitua a família monoparental em originaria e superveniente:
Por isso, no que diz respeito ao momento da sua constituição, pode ser ela
classificada em originária ou superveniente. Na primeira espécie, em que a
família já se constitui monoparental, tem-se, como exemplo mais comum, a
situação da mãe solteira. Saliente-se que tal situação pode decorrer de
múltiplos fatores, desde a gravidez decorrente de uma relação casual, passando
pelo relacionamento amoroso estável que não subsiste ao advento do estado
gravídico (pelo abandono ou irresponsabilidade do parceiro ou mesmo pelo
consenso) até, inclusive, a conhecida “produção independente”. Nessa família
monoparental originária, deve-se incluir, logicamente, a entidade familiar
constituída pela adoção, em que um indivíduo solteiro (inde-pendentemente de
sexo) adota uma criança, constituindo um núcleo familiar. Já a família
monoparental superveniente é aquela que se origina da fragmentação de um
núcleo parental originalmente composto por duas pessoas, mas que sofre os
efeitos da morte (viuvez), separação de fato ou divórcio. Independentemente
da espécie ou origem, os efeitos jurídicos da família monoparental serão
sempre os mesmos, notadamente no que diz respeito ao poder familiar e ao
estado de filiação.

A forma da família monoparental típica é aquela formada por um dos pais e seus filhos,
já a forma atípica é aquela que se da uma interpretação expansiva e considera como atipicidade,
por conta do grau de parentesco superior ao dos pais, ou seja, aquela formada por um dos avós
e seus netos, neste sentido Stolze e Rodolfo (2023, pág.186):
e é certo que a família monoparental típica é aquela constituída exclusivamente
por um dos pais e seus filhos, não nos parece razoável, por outro lado, deixar
de considerar uma família monoparental, ainda que por uma interpretação
55

extensiva, um grupo composto por um ascendente, em grau superior ao de pai


ou mãe (por exemplo, um avô ou avó) com seus respectivos descendentes. Ora,
conservando tal núcleo todas as características básicas de afetividade,
publicidade e estabilidade, inerentes a toda entidade familiar, qual seria o
sentido de se negar a ele, o título de família monoparental, ainda que atípica,
uma vez que os avós, em situações como tais, acabam assumindo o papel da
figura parental originária, lamentavelmente desaparecida na situação concreta.

O intuito de tal constituição familiar é de demarcar a titularidade do vínculo de apenas


de um dos pais.
Além do núcleo monoparental ser formado pela convivência de apenas um dos genitores
com a sua prole, seja pelo vínculo biológico ou adotivo que são muito comuns em nosso dia a
dia, também é possível a sua formação pelo vínculo socioafetivo.
Destaca-se alguns possíveis fatores responsáveis por esse modelo familiar, o óbito de
um dos cônjuges, a separação, a maternidade ou paternidade sem se casar-se ou constituir a
União Estável, a adoção de uma criança por uma pessoa solteira, enfim são inúmeras as
possibilidades.
Alguns doutrinadores defendem que para caracterizar a família monoparental é apenas
necessário a simples ausência do lar entre um dos parceiros, não existindo uma coabitação entre
os pais e as crianças e destacam a ocorrência de vários fatores jurídicos tais como: O Direito a
pensão alimentícia, a guarda compartilhada dentro outros, neste sentido Farias e Rosenvald
(2008, pág.50):
É preciso destacar que das famílias monoparentais podem decorrer importantes
consequências jurídicas, como o estabelecimento de guarda (inclusive podendo
dar vasão à guarda compartilhada, quando, consensualmente, os pais resolvem
implementar um regime comum de guarda, compartilhando o processo de
criação da prole) e o regramento do regime de visitas, além de efeitos atinentes
ao parentesco e a proteção do bem de família. Também vale frisar que a
monoparentalidade pode ensejar a fixação de alimentos entre ascendente e
descendente, reciprocamente. Estabelece, por sinal, a Lex Legum, em seu art.
229, que “os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os
filhos maiores tem o dever de ajudar a amparar os pais na velhice, carência ou
enfermidade, dando relevantes contornos constitucionais aos alimentos
decorrentes da monoparentalidade. Bem por isso, não é possível haver
qualquer discriminação entre ascendentes e descendentes, independentemente
de sua origem.

Desdobramentos como a guarda compartilhada não é algo inerente a família


monoparental, como também o dever de prestar alimentos não é, são puramente
desdobramentos dos princípios que regem o Direito de Família, tais como: O Princípio da
Proteção Integral da Criança e do Adolescente, este cuidado e dever de prestar alimento não
pode se confundir com um dos pressupostos para a família monoparental, como a guarda
compartilhada, são casos que visam o melhor interesse da criança e do adolescentes, nada ter
haver com a configuração de uma família monoparental.
Veja para uma família seja reconhecida como monoparental é necessário que a
responsabilidade de cuidado seja exclusiva de um único responsável, não podendo recair a
responsabilidade mutuamente entre os pais ou no caso da família monoparental atípica em cima
dos avós.
56

Madaleno, frisa muito bem que “Não podemos confundir a família monoparental, com
lugar monoparental.” A partir do momento que se possibilita a convivência contínua do outro
genitor com a criança, não há em que se falar em família monoparental.
O laço monoparental é aquele que impossibilita a convivência sobre o mesmo teto da
criança com os seus pais, agora a família monoparental não, é a impossibilidade absoluta de
não conviver com um dos pais e mais, o responsável é o único responsável pelos cuidados com
o filho.
Nos casos que resta a possibilidade, da criança conviver continuamente com ambos os
pais, mesmo que não viva debaixo do mesmo teto ou com a guarda compartilhada, estamos
diante apenas de um lar monoparental e não da família.
Não podemos então confundir um lar monoparental com a família monoparental, e
muito menos possui consequências jurídicas, o simples da possibilidade de reciprocidade do
dever de alimentos entre pais e filhos, não são características da família monoparental, isto está
intimamente ligado com o dever de cuidado, do que com o núcleo monoparental. O caráter dos
alimentos é por assim digamos assistencial e não algo apenas com relação a família
monoparental, más envolve o direito familiar como um todo.
Nas palavras de Patrícia Matos Amatto Rodrigues (2013, pág.13) o qual define:
As entidades familiares monoparentais possuem os mesmos sinais característicos de
uma família, posto que os seus componentes cumprem os seus papeis no grupo família,
tal como ocorre em grupamento formado por casamento ou união estável. Justamente
nesse sentido é que se pode afirmar que a família não é apenas o conjunto de pessoas
onde existe uma dualidade de cônjuges ou de pais configurada; lado outro, também lhe
aproveita qualquer expressão grupal articulada por uma relação de descendência.

A família monoparental, não é representada pela dualidade de cônjuges ou pais, más


pode ser representada pela relação de descendência como é no caso da família monoparental
atípica. Contudo, a família monoparental possui as mesmas características de uma família
tradicional, deve ser regida por toda a principiologia do direito familiar e principalmente com
base na proteção e no afeto.

4.6 FAMÍLIA ESTENDIDA, RECOMPOSTA, MOISAICO OU PLURIPARENTAL.

A família reconstituída, também conhecida como família estendida, recomposta,


Pluriparental ou Mosaico, que vai além da composição familiar tradicional, é aquela formada
por pessoas que já possuem filhos de outros relacionamentos e com esse novo relacionamento
trazem para o bojo familiar, e onde passam a convivem, ou seja, uma mãe que possuo um
filho e decidi conviver com outra pessoa.
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Com a disseminação dos divórcios e até mesmo das dissoluções das inúmeras uniões
estáveis vão surgindo as figuras dos padrastos e das madrastas, dos enteados e das
enteadas, e que ocupam os papéis domésticos dos pais e mães, dos filhos e das filhas e
dos meios-irmãos que são afastados de uma convivência familiar e que passam a
integrar uma nova relação familiar proveniente dos vínculos que se formam entre um
dos membros do casal e os filhos do outro, pois, como explica Waldyr Grisard Filho,
são essas pessoas que constituem o eixo central das famílias reconstituídas. (Madaleno,
2023, pág.11).

Com o fim do antigo relacionamento, muitos pais, optam por novo relacionamento
amoroso e por muitas vezes com o instituto de constituir uma nova família, decidem morar
juntos e com isso uma nova configuração no arranjo familiar é formada, sendo composta dos
filhos e enteados.
Com o intuito de proteger esses novos arranjos familiares, o Código Civil, reconhece o
vínculo gerado pelos enteados e padrastos e madrastas, gerando um vínculo por afinidade,
sendo possível caso o enteado assim o deseje optar para constar no seu assento civil de
nascimento o nome do padrasto.
O Direito de Família e o vigente Código Civil não se prepararam para regulamentar os
diversos efeitos decorrentes das famílias reconstituídas. O legislador brasileiro ainda
não se apercebeu que existe uma diferença fundamental entre a titularidade e o
exercício da responsabilidade parental, cujos conceitos por serem distintos, mas de
igual relevância, enuviam a compreensão de que pode existir mais de uma pessoa no
exercício da responsabilidade parental, como sucede com relação ao padrasto ou à
madrasta que têm um dever de zelar pelo hígido desenvolvimento da formação moral e
psíquica do enteado que está sob sua vigilância direta, e essa é uma realidade que não
pode ser ignorada pelo legislador nacional e, embora tenha dado tímidos passos com a
edição da Lei n. 11.924/2009, mais nada foi recepcionado pela legislação brasileira no
campo das relações jurídicas. (Madaleno, 2023, pág.11).

Sendo diversos os pontos de partidas para a configuração da família recomposta,


podendo ter sua formação de uma família monoparental, a exemplo o da mãe solteira com filho,
que resolve constituir uma nova família, seja pelo casamento ou união estável.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho abordou de maneira breve a evolução ocorrida no conceito e nas


configurações da família brasileira ao longo do tempo, onde constou forte influência de
movimentos sociais, econômicos e principalmente jurídicos, dessa forma a família foi se
alterando em cada época e com isso adquirindo novas paradigmas, deixando de lado o modelo
tradicional, pelo o qual perdurou por muito tempo, trazendo consigo um caráter conservador,
porém foi-se deixando essas características, como o vínculo indissolúvel do casamento, as
relações extraconjugais que não era reconhecidas e vistas com preconceito, ganharam espaço
em nossa sociedade, o casamento formal deixou de ser a única opção para aqueles que
desejavam uma vida a dois.
A união conjugal, deixou de ter como finalidade a procriação, o patrimônio e cedeu
espaço para o afeto, para o reconhecimento das uniões pelo sentimento socioafetivo, aquele
preconceito que perdurou por algum tempo em relação aos padrastos e madrastas não é tão
fortemente como era antigamente, hoje o Conselho Nacional de Justiça, permite que nos
assentos de nascimento, conste a pluripaternidade, reconhecendo o vínculo biológico como
também o socioafetivo.
A configuração familiar tradicional que se predominou por décadas, já não é a nossa
única realidade de arranjo familiar.
Hoje, acredito que podemos assim denominar, temos o papel da família
constitucionalizada, é aquela que carrega consigo os princípios da dignidade da pessoa humana
e seus desdobramentos, como o princípio da busca pela felicidade, talvez acho que mais didático
e com melhor pronuncia, podemos elencar como a família humanizada, família afetiva, a partir
dessas concepções e novos paradigmas, podemos dizer que são inúmeras as nomenclaturas que
podemos dizer ao se tratar das famílias atuais.
A família contemporânea carrega consigo três características essenciais, ela é
socioafetiva, suas relações agora se dão não apenas pelo aspecto biológico, más sim pelo afeto,
por aquele sentimento de carinho e cuidados que temos um para o outro, lembrando que o
simples fato de possuirmos afeto por alguém, não é caracterizado uma configuração familiar, é
necessário o liame subjetivo de constituir uma família. Hoje a família é eudemonista, visa a
promoção individual de cada um dos membros da família, é pautada pela solidariedade mútua.
E por fim, os arranjos familiares são anaparentais, não sendo mais necessário o liame objetivo
da consanguinidade para a sua configuração, para a configuração familiar, não é mais necessário
a questão da ascendência e descendência, sendo necessário apenas o liame subjetivo da
socioafetividade e do desejo de constituir família.
Portando, a família na contemporaneidade tem como seu pilar de sustentamento o afeto,
permitindo o desenvolvimento pleno de todos os seus membros.
Porém, acredito que não paramos por aqui nas evoluções familiares, e logo novos
arranjos familiares então a surgir, a exemplo disso, alguns doutrinadores trabalham com a ideia
de família multe-espécies, aquelas formadas muitas vezes por um casal e um animal de
estimação, os famosos pais de pet, como também a questão da poliafetivdade, famílias que na
sua configuração são formada por três ou mais pessoas com conotação sexual e desejo de
constituir família.
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