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LINS/SP
2018
ANA CAROLINI BEZERRA GOMES
LINS/SP
2018
Gomes, Ana Carolini Bezerra
G612e Os efeitos jurídicos da multiparentalidade e a filiação socioafetiva/
Ana Carolini Bezerra Gomes. – – Lins, 2018.
121p.
Agradeço aos meus pais que são a base na minha vida e me acompanharam
no desenvolvimento da pessoa que sou hoje, admirando-os aprendi a ser uma pessoa
melhor, a amar o próximo e desejar o bem a todos, agradeço-lhes por todo carinho,
atenção, cuidado e amor que me proporcionaram desde o meu nascimento, agradeço
de coração aqueles que me deram a vida, os quais amo mais que tudo.
Agradeço de coração aos carinhos e cuidados que minha irmã sempre teve por
mim, agradeço a ela, que mesmo sendo mais nova esteve acordada comigo todas as
noites difíceis, sendo minha companhia.
The present work, using the methodological types juridico-exploratory and the juridico-
interpretative, and of the deductive methods, of the qualitative and descriptive
research, through the bibliographical survey, of the Brazilian legislation,
jurisprudences, doctrines, books, scientific articles and published in the internet, had
as its object the study of socio-affective parenting and the effects of the recognition of
multiparentality, which is a phenomenon that occurs within one of the new family
arrangements covered by the Federal Constitution, which would be the families
recomposed or reconstituted. More specifically, presents as a research the possibility
of recognition of socio-affective affiliation concomitantly with bond biological and a
existence of minimal of legal effects. In the development of the work, the effectiveness
of the recognition of multiparentality was also debated due to Law 11,924 / 2009 and
Provision 63/2017 of the National Council of Justice. In order to better understand the
current right of affiliation , it was necessary to make a brief survey about its historical
evolution, demonstrating the disruption with the discriminatory designations in relation
to affiliation as well as the juridical treatment that they received, was sought to present
a modern concept of under the current constitutional order, clarifying that the most
adequate concept to define it would be the one that approached both the affiliation
relations arising from biological, socio- affective and civil ties. In this line of reasoning
the work directed its efforts to present multiparentality as a modality of socio-affective
affiliation and also its possibility of recognition through Law 11,924 / 2009 and Provision
63/2017 of the National Council of Justice. The Law and the Provision have a clear
divergence with respect to the means used for the recognition of socio-affective
affiliation, in this context, the research presented its efforts to demonstrate a possible
solution to this conflict, seeking to rely on the values that underlie Right of Families.
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11
1 INTRODUÇÃO
A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 226 trata a família como base da
sociedade, necessitando de integral proteção do Estado para assegurar os direitos
dos membros que a compõem. Ainda nas inovações trazidas pela Constituição
Federal, às composições familiares ganharam distintas formas, as uniões
matrimonializadas saíram de foco como a única forma de constituir uma família,
surgindo outros arranjos (DIAS, 2016, p. 80).
também o tratamento jurídico que estes recebiam. Ademais, ressalta-se que além de
tratar dessa evolução, também se teve como objetivo demonstrar que a filiação se
pluralizou (conforme mencionado acima), existindo deste modo diversas modalidades
filiatórias.
Destaca-se que com essa Lei a filiação socioafetiva teve um grande avanço no
que diz respeito ao seu reconhecimento, muito embora em novembro de 2017 o
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Seguindo com sua explicação Maria Berenice Dias (2016, p.655) reforça
pode ser social, socioafetiva, estado de filho afetivo entre outas (DIAS, 2016, p.
657).
Assim entende-se que o atual conceito de filiação deve ser aquele onde se
vislumbra a filiação jurídica, situação onde a lei presume a paternidade; a filiação
biológica, que está relacionada ao fato da consanguinidade e a filiação socioafetiva,
sendo nesta situação o vínculo de filiação baseando-se na reciprocidade de afetos.
consagrando ainda neste artigo o princípio da igualdade entre os filhos (art. 227 §6º),
vedando-se o tratamento discriminatório em relação aos filhos, estando todos no
mesmo patamar de igualdade, aptos aos mesmos direitos e obrigações (COUTO,
2015).
Além do direito à filiação (art. 227 caput), temos o princípio da pluralidade das
entidades familiares (art. 226 caput), o princípio da igualdade entre as
espécies filiatórias (art. 227 § 6º), o princípio do planejamento familiar (art.
226 § 7º), o princípio da paternidade responsável (art. 226 § 7º), o
princípio da afetividade (art. 226 caput e § 8º), o princípio da busca da
felicidade (art. 226 caput e § 8º e art. 1º III), o princípio da proteção integral
infanto-juvenil (art. 227 §§ 1º e 3º e art. 229), o princípio da absoluta
prioridade infanto-juvenil (art. 227 caput), o princípio do melhor interesse da
criança e do adolescente (art. 227 caput), princípio do melhor interesse do
filho (art. 227 caput e § 6º), além da autodeterminação indentitária (art. 5º
caput), liberdade de autodeterminação afetiva (art. 5º caput), igualdade
material (art. 5º caput), solidariedade social (art. 3º I) e dignidade da pessoa
humana (art. 1º III).
Embora o estatuto da filiação não traga soluções explicitas, ele serviria como
um norte, onde o aplicador do direito iria se guiar para que sua decisão fosse justa,
acertada, equilibrada e de acordo com os valores constitucionais inerentes a filiação
(COUTO,2015).
Partindo destas breves considerações, o direito das famílias é o ramo que mais
se percebe a influência dos princípios constitucionais consagrados como sendo
valores fundamentais (DIAS, 2016, p. 71-72). Neste ponto cabe destacar alguns dos
princípios basilares do direito de família e do direito de filiação.
B - Princípio da liberdade
C - Princípio da igualdade
Este princípio possui sua origem nos vínculos afetivos, representando muito
bem a solidariedade em seu aspecto mais profundo, compreendendo a reciprocidade
e a fraternidade. O princípio da solidariedade como os demais já tratados até então,
recebe especial atenção de nossa Constituição, sendo também tratado em seu
preâmbulo, onde se fala em uma sociedade fraterna (DIAS, 2016, p.
30
79). E com grande sabedoria Flávio Tartuce (2016, p. 1188) escreve a respeito deste
princípio
Para melhor esclarecer este princípio se faz ponderações dos autores Pablo
Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2014, p. 81)
31
Em uma visão mais atenta no caso dos filhos, a ocorrência deste princípio, se
torna mais incisivo. Pode-se dizer que mais do que jurídico, este princípio possui um
cunho espiritual, perante a responsabilidade que se assume diante dos filhos, sendo
que desta responsabilidade nenhum pai ou mãe se exime (GAGLIANO; PAMPLONA
FILHO 2014, p. 82).
Para Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2014, p. 83) referido
princípio deveria também se estender aos irmãos, tios e avós, ou seja, pessoas que a
criança e adolescente mantém vinculo de afetividade.
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I - Princípio da afetividade
Como encerrar essa parte principiológica sem tratar de tão majestoso princípio
fundamentador do atual direito das famílias. O afeto não é somente o laço de amor
que liga os integrantes de uma relação familiar, mas também um ponto de
humanidade. O princípio da afetividade também esta intrinsicamente ligado ao
princípio fundamental da felicidade (DIAS, 2016, p. 84).
que o interprete do direito se guiaria para proferir suas decisões, buscando sempre a
concretização do princípio da afetividade e dignidade da pessoa humana.
Nessa família se destaca os filhos anteriores à relação, que irão formar novos
vínculos de afetividade com os membros pertencentes a essa estrutura familiar. Vale
ressaltar que o princípio da afetividade como já vem sendo tratado, também
fundamenta está modalidade de família. Neste sentindo, o afeto não é uma derivação
da biologia, sendo este uma decorrência da convivência e solidariedade familiar. Os
laços decorrentes do afeto e amor juntos irão dar base para um ser humano solidário,
livre e justo (TRENTIN, 2014, p. 5).
Por fim, pede-se atenção para os efeitos jurídicos decorrentes dessa entidade
familiar, ou melhor, não somente os efeitos, mas também seu reconhecimento e
devida proteção jurídica, devendo o Estado prezar pela dignidade da pessoa humana,
afetividade e felicidade dos membros que a compõe, não podendo o judiciário também
se eximir dessa responsabilidade, uma vez que ações contrarias a
38
[...]
Como tratado acima, tem-se a posse de estado de filho que se exterioriza pela
convivência familiar e afetividade, embasando a filiação socioafetiva, comumente este
laço é conhecido como ―Filho de criação‖, onde embora não se tenha adoção
formalizada o comportamento da família ao qual ele faz parte, o trata
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como filho biológico (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO 2014, p. 488). Neste sentido
Paulo Lôbo (apud GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2014, p. 488)
Como já foi tratado o Estado deve oferecer proteção jurídica as mais diferentes
modalidades de família e filiação, sendo devido reconhecimento de seus efeitos, e
como também já mencionado o judiciário não pode se eximir dessa responsabilidade,
não podendo este se calar perante situações que ensejam proteção jurídica, mas não
possuem amparo legal. Para dar mais fundamento a este posicionamento, traz-se
entendimento de Maria Berenice Dias (2016, p. 683)
Art. 242 Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem;
ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente
ao estado civil:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.
Parágrafo único - Se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza:
Pena - detenção, de um a dois anos, podendo o juiz deixar de aplicar a pena.
[...] Registrar filho alheio como próprio configura delito contra o estado de
filiação (CP 242), mas nem por isso deixa de produzir efeitos, não podendo
gerar irresponsabilidades ou impunidades. Como foi o envolvimento afetivo
que gerou a posse do 679/1276 estado de filho, o rompimento da convivência
não apaga o vínculo de filiação que não pode ser desconstituído. Assim, se,
depois do registro, separam-se os pais, nem por isso desaparece o vínculo
de parentalidade. Não há como desconstituir o registro.
não existe vinculo biológico, como também que não se caracterizou a filiação
socioafetiva, ou seja, aquele pai que não tinha laços biológicos, também não constituiu
laços afetivos com seu ―filho‖. Neste sentido Superior Tribunal de Justiça - Quarta
Turma. Recurso Especial 1.059.214-RS, Min. Luís Felipe Salomão, julgado em
16/02/2012
Na segunda situação, onde o filho busca que seja reconhecido seu pai
biológico, seria possível a anulação do registro civil, conforme se demonstra no
acordão publicado Informativo n. 512 do Superior Tribunal de Justiça
Por fim, pelo que já foi apresentado, percebe-se que a paternidade atualmente
pode ser afetiva ou biológica, no caso da afetiva, quando derivar da
―adoção à brasileira‖, somente se desconstitui com a demonstração da não
existência do laço biológico e socioafetivo, em razão do princípio do melhor interesse
da criança e do adolescente, e da boa-fé objetiva decorrente do reconhecimento
voluntário de filho, mesmo sabendo não ser biologicamente seu pai (vedação ao
venire contra factum proprium). Enquanto que, ao tratar do filho que deseja o
reconhecimento de sua origem biologia, segundo Superior Tribunal de Justiça, pode-
se ter desconstituída a filiação socioafetiva em razão do princípio da dignidade da
pessoa humana e do direito de se saber sua origem genética, sendo esta decisão um
retrocesso a todo avanço que se tem no direito de família em respeito ao
reconhecimento e efeitos da filiação socioafetiva.
Falando em filiação, cabe lembrar que o planejamento familiar é livre (CF 226
§ 7.º), não podendo nem o Estado nem a sociedade estabelecer limites ou
condições. O acesso aos modernos métodos de reprodução assistida é
igualmente garantido em sede constitucional, pois planejamento familiar
também significa realização do sonho da filiação. O tema da inseminação
artificial e da engenharia genética encontra embasamento nesse preceito.
O Código Civil de 2002 em seu art. 1.595 reproduz a norma constitucional que
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trata do principicio de igualde entre os filhos. Conforme explica Maria Berenice Dias
(2016, p. 659)
Referidas citações, além de fazer uma breve explicação sobre como o vinculo
de parentesco deve ser visto nos dias atuais, ainda reforçam a idéia trabalhada
durante todo este capitulo, isto é, buscou-se demonstrar que a filiação não é
somente biologia, que atualmente seu conceito é muito mais amplo, abrangendo a
filiação que decorre da afetividade, devendo esta e a filiação consanguinea serem
analisadas em patamar de igualdade, sem que uma se prevalçca sobre a outra.
Ainda neste contexto, deve-se dar enfase ao princípio da igualdade juridica entre os
filhos, sendo vedada qual quer forma de discriminação entre eles. Nestesentindo,
Maria Berenice Dias (2016, p. 665-666) explica
Como já vem sendo tratado até o presente momento, a filiação está cada vez
mais se afastando da verdade genética, buscando suas bases nas relações formadas
pelo convivio familiar e a troca mutua de afeto.Em relação ao exame de DNA, não há
muito que se esclarecer, no entanto há que se falar que tal avanço desencadeou uma
busca frenética no judiciário a respeito da "verdade real" de sua origem genética
(DIAS, 2016, p. 667).
[...] A filiação adotiva, não apenas por um imperativo constitucional, mas por
um ditame moral e afetivo equipara-se, de direito e de fato, à filiação biológica,
não havendo o mínimo espaço para o estabelecimento de regras
discriminatórias(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2014, p. 512).
Essas considerações reforçam ainda mais a divisão entre pai e genitor, sendo
pai aquele quem educa, dá amor, se dedica, isto é, aquele que cuida e dá carinho de
forma ilimitada, enquanto que o genitor é aquele que somente gera (DIAS, 2016, p.
667).
Vale ressaltar ainda, que o estado civil independe para adoção, no entanto
existe uma vedação legal ao direito de poder adotar, não podendo o requerente ser
irmão ou ascendente do adotando, conforme regra do art. 42 do Estatuto da criança e
Adolescente. A respeito dessa vedação legal Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo
Pamplona Filho explicam: "Uma criança ou adolescente pode ser posto sob a tutela
ou a guarda de um ascendente seu ou até mesmo de um parente colateral, mas essas
pessoas, dado o grau de proximidade parental já existente — inclusive em
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face do pai ou da mãe biológica do menor — não poderão adotar, como dito" e
continuam com sua argumentação "[...] vale frisar, o amor e o cuidado dispensados
ao pequenino possam justificar a designação da tutela ou da guarda." (GAGLIANO ;
PAMPLONA FILHO, 2014, p. 516).
Adentrando na adoção conjunta, ela vem disposta no artigo 42, §2º do Estatuto
da Criança e do Adolescente, a lei estabelece como requisito para esta modalidade
de adoção, que os adotantes possuam união estável ou que sejam civilmente
casados, com a devida comprovação da estabilidade da família. No mesmo dispositivo
legal acima tratado, em seu § 3º, se estabelece um limite mínimo de idade entre o
adotante e o adotado, sendo este de 16 anos.
Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem biológica, bem como
de obter acesso irrestrito ao processo no qual a medida foi aplicada e seus
eventuais incidentes, após completar 18 (dezoito) anos.
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[...]
I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a
convivência conjugal;
II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade
conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento;
III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o
marido;
IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões
excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga;
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia
autorização do marido.
Ainda referente ao tema, cabe falar que o Conselho Federal de Medicina admite
a utilização dessas tecnicas no caso dos casais homoafetivos, ressalta-se que nestes
casos não é necessario comprovação da esterelidade, visto que a impossibilidade de
gerar um filho decorre da orientação sexual. Continuando ainda dentro do tema, é
interessante informar que os embriões que não foram implantados, recebem o nome
de embriões excedentários (DIAS, 2016, p. 670). Quanto aos embriões excedentários
não se pretende entrar no mérito se são ou não nascituros, ou eventual
reconhecimento deles como sujeitos de direitos.
Neste contexto, ainda dentro do que foi trabalhado, também se pode dizer que
a filiação é plural, isto em decorrência da pluralidade de familias consagradas pela
Constitituição Federal de 1988. Não existe mais um padrão rigido a ser seguido e
aceito juridicamente, devendo ser protegida toda constituição de familia que se baseia
na afetividade, busca pela felicidade e animus de se ter uma comunhão plena de vidas,
e conforme já visto acima, esses novos arranjos possuem efeitos na filiação, como a
multiparentalidade, cabendo ao aplicador do direito o reconhecimento e proteção
dessas diferentes formas de filiação mesmo que não previstas em no ordenamento
jurídico brasileiro.
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Como vem sendo tratado durante todo o trabalho, do Direito das Famílias, muito
mais que os outros ramos do Direito, está constantemente sendo renovado pelas
mudanças ocorridas na sociedade. Diversos paradigmas já foram quebrados
conforme ocorreram mudanças no meio social, como por exemplo, a possibilidade de
legalmente se estar casado com uma pessoa do mesmo sexo.
Uma das primeiras barreiras a serem quebradas no Direito das Famílias diz
respeito à família codificada, onde ganhou espaço os arranjos familiares que se
despiam das grandes formalidades exigidas para o casamento, mesmo que sem o
cumprimento de formalidades previstas em leis, tinha-se o compromisso da comunhão
de vidas, lealdade e da mutua assistência entre seus membros (TEIXEIRA;
RODRIGUES, 2010, p.190).
Outra barreira eliminada com a evolução das relações sociais foi o término do
patriarcalismo, alicerce da hierarquia entre homens e mulheres, que concedia ao
marido poder ilimitado ao patrimônio e a sua esposa. Outro paradigma vencido se deu
com o fim da discriminação existente quanto à origem dos filhos, sendo ela legitima e
ilegítima (TEIXEIRA; RODRIGUES, 2010, p.191).
(a) o genitor, seu filho e o novo companheiro ou cônjuge, sem prole comum;
(b) o genitor, seu filho e o novo companheiro ou cônjuge, com prole comum;
(c) os genitores de famílias originárias distintas e seus respectivos filhos,
inexistindo prole comum; (d) os genitores de famílias originárias distintas e
seus respectivos filhos, com prole comum.
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foram saindo de foco como a única forma de constituir família, outras ganharam
contorno e proteção jurídica (DIAS, 2016, p. 80).
após a ruptura dos casais, muitos refazem seus lares e, já tendo filhos,
acabam juntando os seus ao companheiro ou cônjuge do segundo
casamento. Muitas vezes, ambos têm filhos e acabam tendo mais, donde o
surgimento dos irmãos germanos e unilaterais.
Art. 1595 Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo
vínculo da afinidade.
§ 1º O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes
e aos irmãos do cônjuge ou companheiro.
§ 2º Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do
casamento ou da união estável.
Conforme explica Belmiro Pedro Marx Welter, o Direito de Família não pode ser
entendido unicamente pela origem genética, mas também deve ser entendido através
da visão dos mundos (des) afetivo e ontológico, que são extremamente necessários à
saúde do ser individuo em todas as suas dimensões, sendo elas a física, mental,
inteligência, educação, estabilidade econômica, social, material e entre outras, onde
não basta ter-se apenas a reprodução do individuo (a origem genética), mas também
as origens afetivas, as quais envolvem a felicidade, solidariedade, o respeito e o amor
de cada ser (WELTER, 2012, p. 138).
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Ainda, segundo o autor em comento, ainda há muito que ser falado e estudado
acerca da natureza do ser humano e do Direito de Família, destacando-se a
necessidade de escutar e ser escutado, como também da fusão de horizontes, e das
formas de se agir no mundo genético como no mundo afetivo e ontológico para que,
assim, possa se ter uma visão ampla das mais distintas situações (WELTER, 2012, p.
143-144)
Com tudo que já foi tratado no presente trabalho, percebe-se que a família vem
revestida de uma função social, pois apresenta como principal característica ser um
meio para busca da felicidade, realização dos desejos e ambições dos membros que
a compõem. Atualmente, possui um papel de formação e realização da personalidade
e felicidade do individuo, uma vez que ela colabora para o desenvolvimento da
personalidade dos membros que a compõem, como também provem o
desenvolvimento da sociedade (SCHEID, 2017).
portanto, não gera estado. Sendo assim não é ela a definir a substância desse
novo tipo de parentesco, mas apenas sua comprovação.
Por estas considerações, não é possível falar em direito ou dever de afeto, mas
deve-se valorizar sua exteriorização na formação e existência das relações familiares.
A família, neste contexto, é o ―lugar‖ ideal para desenvolvimento dessas relações de
afeto, devido a curta distância entre seus membros e intimidade que emana entre as
pessoas. Neste sentido Ana Carolina Brochado Teixeira e Renata de Lima Rodrigues
(2010, p. 196-197)
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parental entre pais e filhos biológicos, vale ressaltar que com o reconhecimento da
filiação socioafetiva não se estaria excluindo a existência do vínculo com os pais
biológicos (TEIXEIRA; RODRIGUES, 2010, p. 200).
Para dar mais força ao entendimento de que uma paternidade não pode excluir
a outra, Mauricio Cavallazzi Póvoas (apud SOUZA, 2016, p. 69-70) entende que ―é
direito tanto do filho, como do genitor biológico e/ou afetivo, de invocar o princípio da
dignidade da pessoa humana e da afetividade, para ter assegurando a manutenção
ou estabelecimento dos vínculos parentais‖. Neste sentido, tem-se no Brasil julgados
que reconhecem o vinculo paterno-filial existente entre pai/mãe biológico; pai/mãe
socioafetivos e o filho.
Por fim, o acórdão coaduna com a decisão acima e afirma que não causa
nenhuma reprovação social, como também não oferece risco à segurança jurídica,
sendo, portanto, o reconhecimento legal de uma situação comumente vivenciada,
onde estabelece seu alicerce no amor, respeito, solidariedade e na dignidade de cada
membro que compõe a família.
O recurso em questão foi interposto por F. E. S., representado por sua mãe
V. A. DA R. E. em face da procedência da Ação Negatória de Paternidade movida
pelo pai registral F. F. S. . A sentença de primeiro grau declarou a não existência da
paternidade biológica, analisando também a não concretização da parentalidade
socioafetiva. Na sentença, a parte requerida foi condenada ao pagamento de custas
e honorários no valor de R$ 700,00 (setecentos reais), o qual foi suspenso à
exigibilidade do pagamento, em virtude do requerente ser beneficiário da gratuidade
da justiça, a decisão judicial em comento também determinou a exclusão do nome do
pai registral como de seus ascendentes do registro civil de F. E. S.
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Para que o leitor melhor entenda este parecer, A era o ex-marido da mãe do
apelante, e no voto o relator considerou o fato de F. E. S. não ser filho de F. F. S., em
virtude dos exames de DNA realizados, mas também analisou se ocorreu a incidência
da socioafetividade entre F. E. S. e F. F. S., o que não se comprovou no caso em
debate.
A apelação cível foi proposta por C.L.R. em face da sentença de primeiro grau
da 1ª Vara da Família da Comarca de Montes Claros, que na Ação Anulatória de
Registro Civil determinou a improcedência do pedido, por entender que estava
configurado o vínculo da socioafetividade. Na apelação o Requerente, ora Apelante,
sustenta a tese de que a paternidade é de conveniência dos litigantes, uma vez que
se tem ciência de que não existe vinculo biológico ligando pai (apelante) e filha
(apelada), e ambos não desejam mais esta relação. Para reforçar essa tese,
argumenta que a apelada, uma vez intimada da interposição da Apelação, não teve
interesse de apresentar suas contrarrazões, e o apelante ainda argumentou no sentido
de que a mais de trinta anos não mantém contato com a filha. Por estas
argumentações pleiteia o provimento do recurso, objetivando a reforma da sentença
de primeiro grau.
[...] Nas demandas sobre filiação, não se pode estabelecer regra absoluta que
recomende, invariavelmente, a prevalência da paternidade socioafetiva
sobre a biológica. É preciso levar em consideração quem postula o
reconhecimento ou a negativa da paternidade, bem como as circunstâncias
fáticas de cada caso. (Resp 1256025 - Rel. Min. João Otávio de Noronha -
Terceira Turma - Dje - 19/03/2014) (TRIBUNAL DE JUSTIÇA MINAS
GERAIS, Apelação Cível Nº
10433110217117001/MINAS GERAIS, Relator: Dárcio Lopardi Mendes, 4º
Câmara Cível, Data de julgamento 30/07/2015).
A Lei n° 6.015/73, Lei dos Registros Públicos, exige como requisito para este
reconhecimento que o pedido do padrasto/madrasta deve ser feito pela via judicial, ou
seja, é necessário autorização do juiz para essa equiparação socioafetiva ocorra.
Conforme se destaca no texto da Lei dos Registros Públicos
Primeiro irá se analisar a Lei nº 6.015/73, que foi alterada pela Lei nº 11.924/09,
possibilitando ao enteado (a) adotar o nome de família do padrasto/madrasta.
Conforme abordado acima, essa lei trouxe consequências mais complexas ao
confrontá-la com o Provimento do Conselho Nacional de Justiça.
Outro ponto peculiar a se tratar está no fato de que a Lei dos Registros Públicos
trata da necessidade do pedido judicial para reconhecimento da filiação socioafetiva
(adoção do patronímico do padrasto/madrasta) e o Provimento 63/2017 do Conselho
Nacional de Justiça reconhece a parentalidade socioafetiva pela via extrajudicial,
portanto, as duas normas tratam de dois marcos teórico no que diz respeito à filiação
socioafetiva. O primeiro deles estabeleceu o parentesco por afinidade como filiação
socioafetiva (quando estiver presente a posse de estado de filho), e o segundo
possibilitou o reconhecimento extrajudicial da filiação socioafetiva, não se limitando
apenas à situação de padrasto/madrasta, mas
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D- Anuência dos pais biológicos, caso o filho seja menor de 18 anos de idade,
nos casos do filho maior de doze anos, a coleta dessa anuência deverá ser feita
pessoalmente perante o oficial do cartório ou escrevente autorizado (artigo 11,
parágrafos 3º e 5º, do Provimento 63/2017 do Conselho Nacional de Justiça);
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E- A filiação socioafetiva não pode ser requerida entre os irmãos nem entre os
ascendentes (artigo 10, parágrafo 3º, do Provimento 63/2017 do Conselho Nacional
de Justiça);
Vale ressaltar que, este Provimento não prevê o registro da filiação socioafetiva,
mas sim a devida averbação junto à certidão de nascimento do filho, isto é, é
necessária a existência do registro civil da criança pelos pais biológicos, para que se
proceda ao reconhecimento da filiação socioafetiva, averbando-se no assento do
Registro Civil dela.
acima). Percebe-se, com isso, que a Lei e o Provimento entram em conflito quanto à
forma de reconhecimento da filiação socioafetiva.
Com o vínculo da filiação, emerge o poder familiar dos pais quanto aos filhos
menores. O poder familiar abrange o direito a convivência cotidiana com os genitores,
o direito de prestar alimentos, a responsabilidade pela educação dos filhos menores,
orientação, entre outros direitos e deveres inerentes ao poder familiar, conforme se
pode constatar pela leitura do art. 1.634 do Código Civil
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação
conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos
filhos:
I - dirigir-lhes a criação e a educação;
II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584;
III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;
IV - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior;
V - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua
residência permanente para outro Município;
VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos
pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar;
VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos,
nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem
partes, suprindo-lhes o consentimento;
VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;
IX - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de
sua idade e condição.
Assim, quando o art. 1.521 do Código Civil estabelece que não podem casar
os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil, leia-
se consanguíneo ou socioafetivo, esta estabelecendo que o filho socioafetivo
não poderá casar com seus ascendentes socioafetivos, e nem o pai ou mãe
poderá se casar com os descendentes socioafetivos.
para que o caro leitor conheça dos efeitos que a multiparentalidade produz e que
possa, de forma simples e direta, entender um pouco mais sobre o assunto.
Por não ser o único foco do trabalho, não irá se aprofundar tanto no estudo da
inserção do nome de família do pai/mãe socioafetivo, referido assunto, como os
demais que abaixo serão expostos e conforme explicado no final do tópico anterior,
demandam trabalhos específicos.
Cabe falar que a expressão referente e este dever que é mais aceita pela
doutrina, diz respeito à autoridade parental. Essa nova expressão retrata de forma
mais agradável e profunda a mudança que se tem com a consolidação constitucional
do princípio da proteção integral da criança e adolescente, no entanto, estudiosos
indicam que a expressão mais acertada a ser utilizada seria ―responsabilidade
parental‖. Conforme ensina Maria Berenice Dias (2016, p. 783) a autoridade parental
trata-se de deveres materiais e existências, onde os pais devem satisfazer não só as
necessidades ligadas a bens materiais, mas também a sua condução psíquica, moral,
afetiva, social, física e espiritual.
De acordo com Waldyr Grisard (apud DIAS, 2016, p. 783) a definição de poder
familiar, trata-se de uma tentativa de estabelecimento de um conjunto de deveres
encaminhados aos pais, como uma forma de proteção aos filhos menores,
101
Para Maria Berenice Dias essa regra é claramente inconstitucional, uma vez
que a Constituição Federal consagra o princípio do melhor interesse da criança e
adolescente, neste sentido a lei infraconstitucional deve respeitar as normas da
Constituição, devendo esta ser considerada como não escrita (DIAS, 2016, p. 784).
Ainda como observa a autora citada no que diz respeito às afrontas à Constituição
Federal, é pertinente mencionar que a lei de forma injustificada é omissa quanto aos
diferentes arranjos familiares que recebem proteção jurídica (DIAS, 2016, p. 784).
Neste contexto a lei cível nada menciona a respeito das famílias monoparentais,
homoparentais, multiparentais, ou qual quer outra modalidade familiar que possui
filhos que estão vinculados ao poder familiar dos pais (DIAS, 2016, p. 784).
Para elucidar um pouco mais sobre o tema no que diz respeito à filiação
socioafetiva, Maria Berenice Dias (2016, p. 787) explica
102
O artigo 1.634 do Código Civil traz uma série de deveres dos pais/mães em
relação aos filhos menores. Embora este rol seja extenso, ele não trata do amor, afeto
e carinho, cabendo neste ponto destacar que os deveres dos pais em relação aos
filhos não se limitam a deveres de natureza patrimonial (DIAS, 2016, p. 787- 788).
Neste sentido, apresentam-se os deveres dos pais quanto aos filhos menores
conforme regra do artigo 1.634 do Código Civil
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação
conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos
filhos: (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
I - dirigir-lhes a criação e a educação; (Redação dada pela Lei nº 13.058, de
2014)
II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584;
(Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem; (Redação
dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
IV - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior;
(Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
V - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua
residência permanente para outro Município; (Redação dada pela Lei nº
13.058, de 2014)
VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos
pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar;
(Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)
VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos,
nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem
partes, suprindo-lhes o consentimento; (Redação dada pela Lei nº 13.058, de
2014)
VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; (Incluído pela Lei nº
13.058, de 2014)
IX - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de
sua idade e condição. (Incluído pela Lei nº 13.058, de 2014)
103
A guarda trata-se de um dos deveres dos genitores quanto aos filhos menores,
por ser tratar de um dos deveres da responsabilidade parental (poder familiar) e
também será um dos efeitos do reconhecimento da multiparentalidade.
De acordo com regra do artigo 1.632 do Código Civil o poder familiar dos pais
continua mesmo após o termino da relação conjugal ou união estável. Com o advento
da Lei nº 13.058/2014 surgiu a modalidade de guarda compartilha como regra nessas
situações (DIAS, 2016, p. 786). Na guarda compartilhada o tempo que a criança irá
conviver com seus genitores deve ser estabelecido de forma igualitária, cabendo a
ambos promover a criação e sustento dos filhos, sendo um dever do pai ou mãe que
melhor tiver condições financeiras a responsabilidade alimentar do filho (DIAS, 2016,
p. 786).
A guarda unilateral somente será atribuída nos casos onde um dos pais ou
mães biológicos(a)/socioafetivos(a) não desejarem ou não puderem estar no exercício
do poder familiar, conforme leitura do artigo 1.584, § 2º, mesmo nas situações onde o
pai/mãe não exerce a guarda do filho este fato não retira ou limita o poder familiar
(responsabilidade parental) daquele que não é guardião (DIAS, 2016, p. 786-787). No
que diz respeito ao estabelecimento da guarda unilateral o magistrado ao fazê-lo
também deverá observar a existência do vínculo socioafetivo ou não.
Segundo artigo 1.631 do Código Civil, a guarda somente será exercida com
exclusividade nas situações onde não se tem um dos ―pais‖ (biológicos ou
socioafetivos) ou quando um destes estiver impedido de exercer o poder familiar.
Conforme estabelece regra do artigo 1.636 do Código Civil, quando o possuidor da
guarda, seja ela unilateral ou compartilha, se casa ou estabelece união estável com
alguém, não se tem a perda do poder familiar e este não se transfere ao atual cônjuge
ou companheiro, e segundo Maria Berenice Dias (2016, p. 787) este fenômeno
chama-se princípio da incomunicabilidade, e explica a autora
Outro ponto pertinente a tratar do direito de convivência está no fato deste ser
um direito pertencente à classe dos direitos da personalidade, e através do seu
exercício o indivíduo recebe aqueles com quem vai conviver (DIAS, 2016, p. 893).
Cabe ainda mencionar que aqueles que não detêm a guarda dos filhos é resguardado
o direito de fiscalização quanto à manutenção e educação dos menores, conforme
preceitua o artigo 1.589 do Código Civil.
Como último efeito a ser apresentado neste trabalho há que se falar nos direito
sucessórios e, de forma sintética, entende-se que o filho(a) socioafetivo terá os
mesmos direitos sucessórios que o filho biológico em razão do princípio da igualdade,
podendo, deste modo, o filho ser herdeiro tanto do pais/mãe biológico como do
socioafetivo. No entanto, há que se destacar que se deve comprovar a existência da
posse de estado de filho ou tiver ocorrido o reconhecimento judicial ou extrajudicial da
filiação.
que tange aos direitos sucessórios existem pontos a serem debatidos, embora não
seja o foco do trabalho, podendo-se citar a sucessão por concorrência do cônjuge com
os descentes, onde há prole bilateral com unilateral.
Neste sentido, como foi defendido em todo o trabalho, não pode existir
impedimento legal que estabeleça limites ao reconhecimento dos laços e efeitos
decorrentes da multiparentalidade, devendo ser assegurado para todos os envolvidos
dessa relação os mesmos direitos e deveres inerentes à relação parental, destacando-
se, ainda, o posicionamento de que nenhuma modalidade de filiação deve se sobrepor
a outra e, neste sentido, na ocorrência de filiação socioafetiva concomitante com a
biológica as duas devem ser preservadas e existirem em grau de igualdade.
110
5 CONCLUSÃO
algumas melhorias foram surgindo, como por exemplo, a Lei do Divórcio a qual
garantiu aos filhos, independente de sua origem, o direito a herança nas mesmas
condições de igualdade, embora as grandes mudanças para o Direito de Família
Brasileiro se deram através da Constituição Federal de 1988, que institui diversos
princípios importantes e norteadores para o Direito como um todo.
No que diz respeito à afetividade, a partir do momento que o afeto ganha valor
jurídico no ordenamento brasileiro e passa a ser reconhecido como um direito
fundamental do indivíduo produz-se efeitos jurídicos, sendo este fundamento utilizado
para a existência simultânea da filiação socioafetiva com a biológica.
112
Nesse seguimento, o direito das famílias não poderia ser entendido unicamente
a partir da origem material (genética), devendo ser compreendido em conjunto com o
mundo afetivo e ontológico. Os mundos afetivo e ontológico tratam- se de mundos
imprescindíveis para o desenvolvimento saudável do ser humano tanto no
desenvolvimento físico, social quanto emocional. Neste sentido, o Direito deveria
tutelar amplamente as origens afetivas e estas, por sua vez, estão ligadas
intrinsicamente à felicidade, ao amor e à solidariedade entre os indivíduos.
Por outro lado, o trabalho defende uma vertente mais principiológica, onde
através dos princípios iria afastar essa exigência legal para o reconhecimento,
aplicando-se o Provimento para reconhecimento extrajudicial da multiparentalidade.
Através dos princípios constitucionais da Dignidade da Pessoa Humana, Afetividade,
da Proteção Integral da Criança e do Adolescente e da Convivência Familiar, iria
afastar essa exigência do pedido judicial.
Portanto, entende-se que a lei não teria aplicabilidade no que diz respeito à
necessidade do requerimento judicial para reconhecimento da filiação podendo
proceder-se o reconhecimento pela via extrajudicial no cartório de registro civil.
Entende-se, ainda, que o reconhecimento judicial dar-se-ia somente nas situações
onde o oficial do cartório de registro civil nega-se o reconhecimento por achar não
estar caracterizada a posse de estado de filho ou tiver a incidência de algum vício do
consentimento.
REFERÊNCIAS
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ANEXO