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GABRIELLA MACEDO
Copyright © Gabriella Macedo, 2019
Todos os direitos reservados. É proibido o armazenamento,
cópia e/ou reprodução de qualquer parte desta obra ― física ou
eletrônica ―, sem a prévia autorização do autor.
Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes,
pessoas, factos ou situações da vida real terá sido mera
coincidência.
Revisão:Hellen Caroline
Capa:A. Rubert Design
Diagramação:Amorim Design
ESSENCIAL
© Todos os direitos reservados a Gabriella Macedo.
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Charlotte, Carolina do Norte. Abril de 2008.
— Então, quem Theo vai trazer aí, que vocês estão com
suspense desde o fim de semana passado? — indaguei, curiosa,
intrigada e desconfiada, enquanto eu e Allana saíamos do colégio.
Minha amiga me olhou por um segundo e abriu um enorme
sorriso. Ela e o namorado estavam aprontando, certeza. Eles
sempre estavam aprontando alguma coisa. E adoravam aprontar
coisas para o meu lado. Eu ainda daria o troco. Um dia.
Allana Morrison era minha amiga desde o primeiro ano. Era a
pessoa mais cheia de luz que eu conhecia. Agora, no terceiro ano,
éramos como irmãs. Passávamos mais tempo juntas do que com
qualquer outra pessoa. Nem tanto depois que Allana conheceu
Theodore Jenkins em um parque há alguns meses.
Theo tinha 25 anos e já estava terminando a faculdade de
medicina. Enquanto Allana tinha 17, como eu, e estava no último
ano do colegial. Eles ficavam lindos juntos e eram muito
apaixonados. Era possível ver que eles tinham um futuro incrível e
facilmente dava para vê-los casados e com filhos.
Eu estava dando graças a Deus que era nosso último ano. O
colégio me irritava. Não via a hora de ir para a universidade e cursar
medicina. Meu sonho era ser pediatra e cuidar de crianças. E minha
Allana queria ser professora e ensinar crianças. Ela tinha um dom,
era doce com todos, e tenho certeza de que seria a melhor
professora de jardim de infância que Charlotte já viu.
— Você vai ver. — Allana cantarolou, com um sorriso,
enquanto me puxava pela mão para fora do colégio. Era uma sexta
e eu não teria que voltar até segunda. Era minha felicidade os fins
de semana. Eu tinha que aguentar mais 7 meses e finalmente
estaria livre do inferno que era o colegial.
— Você está aprontando, Allana. — acusei. Minha amiga
apenas riu. A entrada do colégio estava cheia. Theo estava do outro
lado da rua encostado em seu carro e tinha um garoto ao lado dele.
Era muito parecido. Franzi a testa. Quem era o garoto?
Me aproximei com Allana já querendo matá-la. Era um garoto?
Eles queriam me apresentar um garoto? Eu ia matar aqueles dois.
Aquela mania de sempre aprontar para o meu lado...
Fiquei parada, de braços cruzados, quando Allana aproximou-
se para beijar Theo. Fiz gesto de ânsia e o debochado riu, puxando-
me para um abraçado sufocante.
— Ok. Me solta. — Dei um tapa no braço de Theo e afastei-me
dele. — Para de querer me mimar porque fez besteira. Fale logo. —
Pressionei, impaciente. Theo se dobrou de tanto rir e Allana veio
para o meu lado com delicadeza. Anos fazendo balé fizeram com
que ela parecesse uma princesa. E ela era uma, em todos os
sentidos.
— Vic, seja paciente. — Minha amiga pediu, fazendo-me
revirar os olhos. Ela sabia que eu detestava ser chamada de "Vic"
quando estava impaciente.
Cruzei os braços e encarei Theo, que tinha uma expressão
debochada e de quem estava aprontando no rosto. Allana ergueu as
sobrancelhas e ele revirou os olhos. Até então, o garoto ao seu lado
apenas observava a cena em silêncio, o que era realmente
estranho.
— Vic, este é meu irmão, Alexander. — Theo apresentou.
Irmão? Theo tinha um irmão? — Alex, essa é a Victoria, amiga da
Allana.
Olhei para minha amiga, que deu de ombros. Franzi a testa.
Eu estava confusa. Por qual motivo eles queriam me apresentar o
irmão do Theo? Eu não entendia a razão de tudo aquilo.
— Então você é a bebê de colegial que minha cunhada vive
falando? — Alexander se aproximou, desencostando-se do carro,
com um sorriso maldoso. Fechei a cara. Quem ele pensava que era
para falar comigo daquela forma?
— Você tem um irmão cretino e eu não sabia, Theo? — Me
virei para o namorado da minha amiga, ignorando seu irmão. Theo
gargalhou alto e Allana disfarçou a risada. Qual era a graça?
— Encontrou alguém que sabe como rebater suas gracinhas,
não, Alex?! — Minha amiga debochou, com um sorriso malicioso. —
Eu disse que ela ia calar a boca dele. — Ela esticou a mão e Theo
colocou 10 dólares sobre ela, após revirar os olhos.
— Espera. Vocês apostaram isso? — Questionei, incrédula.
— Apostei que você era a única pessoa capaz de calar a boca
idiota do Alex, mas Theo achou que você era boazinha demais —
Allana contou, rindo. — Mas eu conheço bem a minha amiga
— Isso é ridículo — Revirei os olhos, quase nem acreditando
naquilo.
— Bem engraçado, mas ela continua sendo uma bebê de
colegial. — Alexander resmungou, a expressão fechada.
— E você continua sendo um idiota! — Rebati, aborrecida e
irada. Alexander ergueu as sobrancelhas ao me olhar. Encarei-o
com os olhos semicerrados.
Eu odiava aquele cara. Acho que não chegaria o dia em que
eu não o odiaria.
Charlotte, Carolina do Norte. Janeiro de 2013. 5 anos depois...
— Allana, eu te odeio. — Choraminguei, pelo telefone. Minha
amiga riu. Eu estava exausta e minha amiga rindo quando se tratava
de debochar de mim.
— Você me ama, Vic — Allana rebateu, fazendo-me
choramingar e afundar a cabeça no travesseiro.
— Eu estou exausta, Allana. Passei horas fazendo a prova
para a universidade e ainda vou ser obrigada a olhar para a cara do
Alexander no jantar? Tem castigo pior? — Fingi choro. Minha amiga
apenas riu. Ela sabia como eu fazia drama quando se tratava de
Alexander. O idiota do irmão do meu cunhado.
Mesmo 5 anos depois eu era obrigada a aturar aquele idiota.
Agora, com 22 anos, eu sabia lidar melhor com as provocações
dele. Com 17 anos eu ficava irritada facilmente. Agora apenas o
ignorava.
Afinal, não era mais a garota que ele conheceu há 5 anos
atrás. Havia me tornado uma mulher. Meus cabelos estavam na
altura dos seios, meus olhos eram castanhos e eu era de certa
forma magra. Meu 1,70cm me ajudava muito na hora de encarar
aqueles olhos escuros, do cara de 1,77cm, que me irritavam.
Se com 23 anos ele era um idiota, imagine agora com 28. Se
tornou um completo babaca. Ele piorava a cada ano. E eu era
obrigada a conviver com ele. Por Allana. E por Theo também. Ele
era legal comigo. E eu fazia aquilo pelos dois. Não por aquele idiota
do Alexander. Ele era realmente o irmão mais novo, uma criança.
— Amiga, por favor, por mim. Você precisa vir! Sério. Eu e
Theo temos algo muito importante para conversar com você e
Alexander. — A voz de Allana era praticamente uma súplica. Passei
a mão pelo rosto, aborrecida.
Eu estava deitada na minha cama com a barriga para o
colchão e o rosto apoiado em uma das mãos, apenas de camiseta e
calcinha. Havia chegado da prova e simplesmente me jogado no
colchão. Eu estava completamente exausta e só precisava de um
banho relaxante antes de hibernar na minha enorme e maravilhosa
cama.
— Descobriram uma fórmula para aturar Alexander? Isso seria
maravilhoso. — Suspirei. Allana riu e eu tinha certeza que estava
revirando os olhos.
— Vic, é sério. É uma notícia realmente importante. Pode ser
chamado de convite também. Mas você vai se arrepender se não
vir. Juro. Eu preciso de você aqui, Victoria. Você tem que vir. É
importante para mim. Tipo, bem importante mesmo. — Allana
suplicou. Aquilo era apelação. Ela sabia que se dissesse que
precisava de mim eu faria qualquer coisa. E eu queria matá-la por
usar aquilo. Era golpe baixo.
— Victoria, o jantar está pronto. — Minha mãe entrou no
quarto e eu virei a cabeça para olhá-la.
— Espera, Allana. — pedi, ao telefone, e afastei do rosto. —
Eu vou jantar na Allana, mãe
— De novo?
Dei de ombros.
— Ela e Theo me convidaram
— Tudo bem — Minha mãe aquiesceu, após alguns segundos,
e saiu do meu quarto, fechando a porta.
— Amiga — voltei ao telefone. — Que horas você me quer aí?
Já são 18h40 — Disse, após olhar no relógio de cabeceira.
— Theo pode te buscar às 19h30. — Allana sugeriu,
despretensiosamente.
— Se vou ter que aturar Alexander, que seja logo, e rápido —
resmunguei.
— Tudo bem. Vou falar com Theo. Vá se arrumar. Coloque
uma roupa bonita
— Vou colocar moletom só para você aprender! — ameacei.
Allana riu.
— Também te amo, Vic!
Desliguei o telefone e afundei o rosto no travesseiro. Eu
detestava ter que ver Alexander. Mas, pelo menos uma vez por
semana, eu era obrigada a vê-lo. Allana não desgrudava de mim e
ele não desgrudava do irmão.
Balancei as pernas e apoiei o rosto na mão, pensando no que
vestir. Era um jantar, teria um convite e uma notícia. Ok. Jeans não
iria cair bem nessa ocasião. Um vestido... É, era o que eu teria que
vestir. E toda vez que eu colocava um vestido Alexander me
chamava de bebê de colegial, e eu realmente o odiava por isso.
— Eu te odeio, Allana. — Choraminguei, enquanto me
levantava da cama. Fui direto para o banheiro. Eu tinha a sorte de
ter um quarto com banheiro apenas meu. Após o falecimento do
meu pai, minha mãe resolveu que devíamos nos mudar. As
lembranças da outra casa eram demais para ela. Então, nos
mudamos. E eu amo essa nova casa.
Tirei a roupa dentro do banheiro, após fechar a porta, e
coloquei tudo dentro do cesto. Prendi o cabelo em um coque
apertado depois de ligar o chuveiro e fiquei esperando a água ficar
morna. Quando chegou a temperatura que eu gostava, entrei
debaixo do fluxo de água e fechei o box.
Durante o banho eu sempre conseguia pensar melhor nas
coisas e refletir sobre tudo. Era meu momento de relaxamento e
reflexão. Minha mente estava um turbilhão. Eu não sabia o motivo
pelo qual me apresentaram a Alexander anos atrás. O cara era um
idiota, não puxou nada ao irmão. E eu realmente o odiava.
Bufei, enquanto me esfregava. Eu detestava olhar para aquela
cara debochada de Alexander. Ele não mudava, apenas ficava cada
dia pior. Mais debochado, mais intrometido, mais sacana e mais
cretino. Eu nem tinha mais adjetivos para descrevê-lo.
E claro que ele não perdia a oportunidade de mexer comigo.
Não importava como, ele arrumava uma forma de me irritar. Ele
gostava de provocações bobas. Parecia uma criança. Cada dia ele
arrumava uma forma diferente de me provocar . Uma criatividade
que só vendo. Igual criança.
Há alguns meses, ele perdeu a noção. Eu estava no quarto de
hóspedes do apartamento de Allana e Theo, deitada, dormindo. O
cretino não me inventou de entrar no quarto e me pegou de pijama?
Claro que o prédio inteiro ligou para reclamar dos meus gritos
com ele. E o idiota apenas ria, o que me deixou mais irada ainda
com ele. Ainda teve a audácia de dizer que eu estava em seu
quarto. Eu levantei apenas para dar uns tapas nele e voltei para a
cama. Folgado.
Saí do chuveiro alguns minutos depois e me enrolei em uma
toalha macia. Voltei para o meu quarto, que felizmente estava com a
porta fechada. Eu sempre fico com muito frio depois do banho e
deixo tudo fechado para evitar que o vento entre por qualquer lado.
Meu quarto não era nada demais. Paredes claras, cama,
penteadeira, armário, uma poltrona e o banheiro. Eu tinha muitas
almofadas e minha penteadeira era impecavelmente arrumada com
meus perfumes e maquiagens.
Me sentei na minha cama, desanimada. Eu não queria ir. Não
queria mesmo. Não queria ter que sequer sair do meu quarto. Tudo
o que eu queria, naquele momento, era deitar na minha cama e
hibernar até o dia seguinte.
Mas eu não podia fazer uma coisa daquelas com Allana. E não
faria. Jamais faria algo para magoá-la propositalmente. Eu só queria
vê-la feliz. E se esse jantar era tão importante para ela, era para
mim também.
Com a coragem para encarar Alexander renovada pelo meu
amor por Allana, me levantei da cama e fui até meu armário. Depois
de abri-lo, fiquei caçando um vestido decente para ir a esse jantar.
Era informal, eu acho.
Acabei pegando um vestido florido de seda e uma meia calça
fina preta. Primeiro, coloquei a meia calça com cuidado, após
colocar calcinha e sutiã, e depois coloquei o vestido. Era novo,
presente de Allana no meu aniversário, que foi há duas semanas, e
caiu perfeitamente bem em mim. Minha amiga realmente sabia me
presentear.
Calcei um salto preto fechado e soltei os cabelos, que caíram
em ondas em volta dos meus ombros. Passei apenas blush e um
batom rosa suave. Para mim, menos sempre foi mais. Então eu
nunca exagerava, em nada. Era tudo na medida, sempre.
Peguei uma bolsa de lado preta, com alça, e coloquei meu
celular, batom e algum dinheiro dentro. Nunca se sabe. Peguei uma
jaqueta de couro preta antes de sair do quarto. Já eram 19h27. Logo
Theo chegaria para me buscar. E eu preferia esperar, do que
esperassem por mim.
Encontrei minha mãe na cozinha, lavando a louça do jantar. Eu
sabia que a deixava muito sozinha, mas ficou muito difícil, para nós
duas, depois da perda do meu pai. Ele que sempre foi o alicerce da
família e nos unia. Era estranho sem ele. Por mais que já fizessem 3
anos, eu ainda não havia me acostumado com sua ausência. Eu
acho que não me acostumaria nunca.
— Mãe, eu já vou. — Disse, ao entrar na cozinha. Minha mãe
se virou para me olhar após terminar a louça, enquanto secava suas
mãos. Sua expressão estava cansada. Ela estava cansada. — A
senhora vai ficar bem?
— É claro que sim, Victoria. Estou acostumada a ficar sozinha.
Vá ficar com sua amiga. Aproveite a noite. — Ela murmurou, após
me dar um beijo na bochecha, e passou por mim.
Fiquei parada alguns segundos no mesmo lugar enquanto ela
subia as escadas. Ainda era difícil. Era muito difícil. E eu sabia que
era mais para ela do que para mim. A morte do meu pai, a minha
constante ausência... Eu tinha Allana para me apoiar. Minha mãe
tinha quem?
Respirei fundo, quando meu celular vibrou na minha mão, e
olhei o que era. Mensagem no WhatsApp. Theo havia chegado.
Deixei meus pensamentos de lado e dei meia volta, saindo da
cozinha. O carro de Theo estava estacionado na frente da minha
casa e ele estava sozinho; pude ver pela janela do carona aberta.
Allana devia estar em casa preparando o jantar. Ela nunca teve
ciúmes de mim com Theo e nem tinha motivos para isso. Era
confiança. E eu fazia de tudo para merecê-la.
— Oi, Theo — Dei um beijo na bochecha do namorado da
minha amiga ao entrar no carro.
— Uau! Está bonita, Vic. Tudo isso para o Alexander? Ele vai
se apaixonar, hein. — Theo deu risada, já saindo com o carro. É
claro que ele ia debochar. Nem sei porque não tinha imaginado isso.
— É claro. Para quem mais eu me arrumaria além dele? O
cara é um gato. — Abri um sorriso irônico, que fez Theo se dobrar
de rir. Revirei os olhos e desisti. Theo adorava me provocar, mas
não era para me irritar, eu sabia daquilo. Era apenas brincadeira.
Infelizmente não era a mesma coisa com o irmão dele.
— Allana está cozinhando?
— Sim, está. — Theo respondeu, sem desviar os olhos da rua.
— Tem certeza de que foi uma boa ideia deixá-la sozinha? Ela
pode colocar fogo no apartamento de vocês. — Avisei, com um
sorriso maldoso. Ele riu.
— É, eu me esqueci disso. Melhor comprarmos pizza no
caminho. — Fez uma expressão pensativa.
— Concordo plenamente.
Não demorou para cairmos na risada. Eu me dava bem com
Theo. Era meu único amigo homem. E, ao contrário do irmão, ele
sabia o que significava a palavra limites e brincadeiras. E felizmente
era uma companhia muito mais agradável. E, fisicamente, era
diferente de Alexander. Tinha os cabelos castanhos e olhos claros.
Era bom. Assim eu não tinha que olhar uma sósia do cara que eu
odiava sempre.
— Eu achei que não fosse concordar em jantar conosco esta
noite. — Theo comentou. Soltei o ar.
— Bem que eu gostaria de ter essa opção, para não ter que
olhar para a cara de cretino do seu irmão. Mas você conhece bem a
Allana, ela faz chantagem emocional. Eu tinha que vir, por ela
— Obrigado pela parte que me toca, Miller.
— Você me entendeu. — Dei risada. — Eu não consigo negar
nada para Allana. Assim como ela não nega nenhum pedido meu.
— É, eu sei. Vocês fazem tudo uma pela outra. Só ignora o
Alexander, uma hora ele para.
— Jura? Já fazem 5 anos. — Debochei. Theo riu e fez uma
careta.
— Tem razão. Acho que ele não vai parar.
— Não, ele não vai. — Suspirei, desanimada. Alexander
jamais iria parar de me provocar. Eu não ia deixar Allana e Theo por
causa dele. Jamais. Então, iria aturá-lo para o resto da vida. E só a
ideia daquilo me desanimava.
Não demorou para chegarmos no apartamento. Theo entrou
na garagem subterrânea e eu saí do carro quando ele o estacionou.
Ele me ofereceu o braço e eu aceitei. Era ruim andar de salto depois
de um dia inteiro em provas.
— Como foi a prova? — Theo perguntou quando estávamos
no elevador.
— Acho que fui bem. Não tenho certeza. Mas aquilo que você
me ajudou a estudar caiu em algumas questões. — Contei. Theo
passou noites em claro me ajudando a estudar para o vestibular. E
Allana passava a madrugada fazendo café e comida para nós. Eu
não sabia o que faria da minha vida sem eles dois.
— Viu?! Eu te disse. Mas tenho certeza de que foi bem. Você
aprendeu tudo muito rápido, Vic. — Theo elogiou, me fazendo abrir
um meio sorriso. Ele era como um irmão mais velho na maioria das
vezes; protetor, preocupado e cuidadoso.
As portas do elevador se abriram e nós saímos para o
corredor. Entrei direto no apartamento. Eles deixavam a porta aberta
na maioria das vezes. Allana estava na cozinha, parecia agitada.
Abri um meio sorriso, enquanto deixava a bolsa no sofá e ia até ela.
Theo já havia entrado e fechado a porta.
— Oi, amiga. — Parei na porta da cozinha, olhando toda a
bagunça. Allana se virou ao ouvir minha voz e veio me abraçar. —
Você me parece enrolada. Quer ajuda?
— Você é minha salva vidas, Victoria. Arruma a mesa para
mim? — Allana pediu. Fiz que sim com a cabeça e prendi o cabelo
em um rabo. Obrigada, mente, por me lembrar de colocar elásticos
no pulso.
Tirei toda a bagunça que tinha na mesa, que era tudo lixo, e
passei um pano. Depois coloquei uma toalha e Theo pegou as
taças, pratos e talheres, e me entregou. Arrumei tudo, colocando
com desprazer o quarto lugar na mesa.
Falando no desprazer, a porta foi aberta e Alexander entrou.
Engoli em seco. Os anos fizeram bem para ele, eu era obrigada a
admitir. Aquele 1,77cm me obrigava a levantar a cabeça para
encará-lo, mesmo com um salto de 15cm. Os cabelos pretos, os
olhos escuros, a barba por fazer... Desviei o olhar, quando me toquei
que estava olhando por mais tempo que o necessário, o permitido e
o desejado.
Voltei minha atenção para a arrumação da mesa, que era o
melhor a se fazer naquele momento. Ouvi o barulho da porta sendo
fechada e fui para a cozinha atrás de Allana.
— Tudo bem? — ela perguntou, ao me ver encostada na pia
de braços cruzados. Dei de ombros. — Eu sei, sinto muito. Mas juro
que vou compensar!
— Estou contando com isso. — Abri um meio sorriso,
desencostando-me da pia e fui atrás dela.
Tentei ignorar Alexander o máximo que consegui, mas ele fazia
questão de não tornar aquilo possível. Eu só queria pegar naquele
pescoço e esmagá-lo.
— Hum. Olha como a bebê de colegial está bonita. —
Alexander aproximou-se, me medindo, e parou ao meu lado. —
Você aprendeu a se arrumar, Victoria.
— E você não aprendeu a se comportar — Rebati, o tom
irônico, a expressão cansada. Eu estava exausta das mesmas
provocações idiotas. Alexander ficou com cara de banana, enquanto
Theo ria, e eu e Allana nos sentávamos à mesa.
Theo se divertia de um modo absurdo com as minhas brigas
com Alexander. Eu nunca deixava de respondê-lo, só quando era
muito idiota ou eu estava de mau humor. Caso contrário, era muito
bom fazê-lo se calar.
— Eu fiz yakissoba. Peguei a receita na internet e demorei
horas. Então comam sem reclamar — Allana avisou, enquanto nos
servia. Eu encarei Theo com as sobrancelhas erguidas e ele deu de
ombros. Allana sempre inventava de tentar fazer as coisas. Outro
dia, Alexander vomitou de propósito. Tudo bem, não estava bom,
mas não era para tanto. Ele era muito exagerado. Allana ficou sem
cozinhar por meses depois daquela atitude idiota. E eu só queria
enforcar ele por ter chateado minha amiga.
Respirei fundo, antes de comer. Theo e Alexander fizeram o
mesmo. Allana ficou esperando nossas reações. Abri um sorriso ao
sentir o gosto da comida. Estava delicioso! Allana ficou boa na
cozinha.
— Está uma delícia, amiga! — Elogiei, surpreendendo Allana.
A expressão dela foi tão fofa, que me fez sorrir
. Ela riu, quando Theo
e Alexander sorriram.
— Ficou muito bom, meu amor. De verdade. Está perfeito —
Theo elogiou, deixando Allana envergonhada. Suas bochechas
ganharam um tom rosado e eu sorri. Ela era tão fofa que dava
vontade de apertar. E eu tinha muita sorte por ela ser minha melhor
amiga.
Ignorei Alexander durante um longo tempo. E ele tornou aquilo
possível, ficando em silêncio e falando poucas coisas com Theo, o
que me permitia conversar em paz com a minha amiga. Allana
parecia muito animada e escondia algo. Eu a conhecia muito bem
para ter certeza daquilo.
Quando fui ajudar Allana com a sobremesa reparei algo que
não havia reparado antes: um anel reluzente em seu dedo anelar.
Meus olhos se arregalaram e minha boca se abriu lentamente.
— Allana! — Gritei com ela, fazendo-a se sobressaltar, e
assustando os dois na sala. Ignorei tudo aquilo. Peguei a mão da
minha amiga. — Eu vou te bater, Allana Morrison!
Allana puxou a mão, rindo, e me levou de volta para a sala.
Theo e Alexander nos encaravam sem entender.
— Victoria estragou a surpresa. Vamos lá, Theo. — Minha
amiga disse, me deixando confusa. — Nós vamos nos casar e
queremos vocês dois como padrinhos. Sem brigas. Sem
provocações. Sem confusões.
Eu fiquei sem expressão e sem reação. Theo e Allana se
abraçaram de lado, nos olhando. O idiota do Alexander deu risada
enquanto eu revirava os olhos. E a palhaça da minha amiga apenas
riu de nós dois.
— Vamos ser obrigados a nos aturar mais? — Inqueri,
incrédula. Allana balançou a cabeça, afirmando, com um enorme
sorriso. — Eu realmente odeio vocês dois. — Choraminguei.
Minha amiga me abraçou, enquanto Alexander abraçava Theo.
Eu mal podia acreditar. Allana iria se casar, eu era sua madrinha. E
Alexander também. Aquela era a única parte que me desanimava.
Mas eu realmente estava muito feliz por ela. Eu sabia que
aconteceria, só não imaginava que seria tão cedo.
— Vamos passar um tempinho juntos, bebê de colegial. —
Alexander provocou. Fiz uma careta.
— Eu te odeio, Allana. — Choraminguei, fazendo-a rir.
— Eu também te amo, Vic. — Allana me abraçou outra vez e
Theo se juntos a nós. Fiquei muito surpresa quando Alexander fez o
mesmo.
— Estou muito feliz por vocês dois. De verdade. Vocês
merecem muito ser felizes juntos. E tenho certeza que o casamento
vai uni-los muito mais. Eu amo vocês, de coração. E desejo toda a
felicidade do mundo.
— Preciso concordar com a Victoria. — Alexander murmurou.
Ver ele me chamar pelo nome era estranho. Não acontecia com
frequência, mas quando acontecia era sempre em tom de deboche.
— Vai nevar, porque vocês dois concordando... — Theo riu.
— Nós não. — Rebati, olhando Alexander de canto de olho. —
Ele concordou comigo porque estou certa. — Dei de ombros,
fazendo-o rir. — Vocês são lindos e são meu casal favorito.
— Ah, amiga! Eu te amo muito. Obrigada por aceitar esse
convite. Vai ser muito importante ter você do meu lado.
— Sou eu quem precisa agradecer, Allana. Esse é o melhor
convite que já recebi na vida. E vai ser uma honra enorme estar ao
seu lado nesse dia tão especial.
— Não podia ser ninguém além de vocês dois — Theo
murmurou. Abri um sorriso, assim como Alexander. Respirei fundo.
— Eu sei que não nos damos bem em momento algum, mas
vamos nos comportar. Por vocês. — Garanti, apertando as mãos da
minha melhor amiga. — Não vamos, Alexander?! — Questionei,
encarando-o, séria. Alexander revirou os olhos e respirou fundo.
— É claro que nós vamos, Victoria. É o casamento do meu
irmão. Não vou estragar esse dia provocando você.
— Muito obrigada. — Meu tom foi completamente irônico. —
Então vai dar tudo certo e eu estarei ao seu lado o tempo todo, vou
te ajudar em tudo, com cada detalhe. — Prometi. Os olhos de Allana
encheram-se de lágrimas.
— Eu sabia que a melhor coisa que fiz na vida foi me sentar ao
seu lado no primeiro ano do colegial. — Ela sorriu. Minha vez de
ficar com os olhos marejados. Nós duas sempre nos
emocionávamos ao falar sobre nossa amizade.
— E eu agradeço por você ter se sentado ao meu lado naquele
dia. Não sei como teria sobrevivido ao colegial sem você.
— Vocês duas são muito melosas. Vem cá. — Alexander nos
juntou em um abraço coletivo. Foi estranho. Bem estranho. Tentei
não pensar nele ali e abracei minha amiga.
Eu aceitei, pela Allana. Ela era minha melhor amiga desde
sempre. E eu jamais recusaria um pedido dela por causa do idiota
do cunhado. Minha amizade e irmandade com Allana estava acima
de tudo. E de todos principalmente. E eu estava muito feliz por fazer
parte da felicidade dela.
Allana me mostrava o mesmo vestido pela décima vez. Claro
que ela intercalava com outros, só para mim dizer que aquele
modelo era o mais bonito. Nós não tínhamos o mesmo gosto, era
verdade. Mas, se era o que ela gostava, então deveria ser aquele.
Ela ficaria tão linda nele quanto em qualquer outro.
— Allana, se você gostou tanto desse modelo que me mostrou,
no mínimo, umas 10 vezes, é ele que você tem que escolher. —
Finalmente disse, quando ela mostrou mais uma vez. Minha amiga
me olhou com cara de culpada e eu abri um meio sorriso para ela.
Já haviam se passado alguns dias desde o jantar em que
Allana e Theo anunciaram o casamento. E como prometido, é claro
que eu ajudaria minha amiga em todos os detalhes; do mais simples
ao mais complexo. Do recheio do bolo ao vestido. Em tudo isso que
eu ajudaria minha amiga.
Nós havíamos começado hoje, e Allana decidiu começar pelo
mais complexo: o vestido. Eu sempre imaginei preparativos de
casamento como algo complexo, mas nada no nível que estava
vivenciando. Era tudo muito mais complicado do que parecia.
Eram muitos detalhes para a cerimônia, para a festa, dois
vestidos, bolo, comida, bebida, roupa de madrinha... Eram muitas
coisas. E Allana ainda queria se casar em 2 meses. Dois meses.
Minha amiga era doida. Como organizaríamos tudo em 2 meses?
Ela era a organizada, eu era apenas eu, com uma falta de
organização incrível.
Os últimos 2 dias foram uma preparação para a organização.
Sim, Allana era de virgem. Minha amiga fazia aniversário em 9 de
Setembro. Era a pessoa mais organizada que eu conhecia. Ela
organizava até cardápio para a semana. Queria ver como seria
depois do casamento. Ela deixava Theo doido com tanta
organização, e eu sabia que ela só iria organizar mais ainda as
coisas.
— Acho que vou escolher este mesmo. — Allana decidiu, com
um suspiro. Ergui as sobrancelhas. Ela era assim: demorava de
decidir, mas, quando decidia, era aquilo e não mudava.
— Eu já sabia. — Declarei, fazendo-a revirar os olhos, com um
sorriso. disfarçado. — Mas acho que você só vai querer o modelo
dele, não?! Acho que pérolas não são muito seu estilo.
— Tem razão. E o que pode ser usado no lugar das pérolas?
— Talvez rendas?! Acho que combinam com você. Além do
mais, acho que o pano não deve ser cetim igual seu vestido de
formatura do colegial. Não acho que seja a melhor opção. — Opinei,
enquanto observava o vestido no catálogo da revista. Eram mais de
10 revistas, com diversos catálogos e de muito estilistas. Eram
muitas opções. — Para você. — Completei.
— Você realmente não esquece daquele vestido, não é?! —
Allana me olhou com uma careta. Dei de ombros, evitando a risada.
Minha amiga apenas revirou os olhos.
Na nossa formatura do ensino médio, Allana não quis ajuda e
disse que se arrumaria sozinha. Eu apenas concordei, mesmo não
entendendo. Mas, ao chegar na casa dela, uma hora mais cedo,
entendi o motivo. O vestido era de cetim, amarelo. Eu não consegui
dizer nada, apenas fiquei emudecida, enquanto observava Allana
dentro daquele vestido. O problema não era ser amarelo, era ser
amarelo berrante.
Claro que, quando chegamos na festa, que era na quadra do
colégio, todos os olhares se voltaram para Allana e seu vestido
amarelo de cetim. Eu estava simples: um vestido branco de renda.
Então, não chamei tanta atenção quanto ela. Não estava feia,
porque Allana era linda, só estava um pouco chamativa demais.
Quando Theo apareceu para nos buscar, acompanhado de
Alexander, sua expressão foi a coisa mais engraçada daquela noite.
Ele não sabia se ria ou observava Allana. Se a observasse, com
certeza iria rir.
Obviamente a primeira coisa que o idiota do Alexander fez foi
rir. Ele bateu os olhos em Allana, mediu ela dos pés à cabeça e caiu
na gargalhada. Ele ficou vermelho, chorou, e mesmo assim não
conseguia parar de rir. Eu simplesmente estiquei-me do banco de
trás e meti a mão na cabeça dele, fazendo-o resmungar. Mas, pelo
menos, parou de rir. O idiota.
— Como esquecer, amiga? A escola inteira ficou olhando para
você. — Fiz um muxoxo com a boca. Allana revirou os olhos e
choramingou, me fazendo rir. Aquele dia, realmente, ficou para a
história. O dia em que Allana Morrison usou amarelo. Ela nunca
mais usou amarelo. Não havia uma roupa em seu armário amarela.
Única coisa amarela em sua vida era seu cabelo. Ela realmente
havia pegado um trauma da cor amarela.
— E você fez questão de ficar ao meu lado observando meu
momento. — Allana lembrou.
— Eu tinha que te lembrar pro resto da vida sobre sua cor
favorita. — Dei de ombros. Foi o limite. Lembrar daquele dia me
fazia rir. Allana revirou os olhos, se dando por vencida, e rindo.
— Eu quase chorei. — Ela reclamou.
— Mas não chorou, porque nunca esteve nem aí para o que
pensavam de você. Só queria se sentir bonita. E você estava se
sentindo bonita com aquele vestido. E essa é uma das inúmeras
qualidades que eu admiro em você, Allana. Não ligar para o que
pensam e fazer o que te faz feliz. Ser você mesma.
— Para com isso, Victoria. — Allana me repreendeu, quando
seus olhos marejaram. — Eu vou chorar. E eu realmente detesto
chorar.
— Você sendo você. — Abri um sorriso, sentindo minha visão
embaçar pelas lágrimas. Como eu poderia viver sem a melhor
amiga que a vida me deu? Eu jamais estaria preparada para ficar
sem a Allana em tempo integral quando ela se casasse com Theo.
Tudo bem que eu vivia na casa deles, mas seria diferente daquela
vez. Tudo seria diferente. Eu sabia que as coisas mudariam. Mas se
minha amiga estava feliz, então eu também estava.
— Ah, vem cá. — Allana me puxou para um abraço. Eu
realmente não estava preparada para ficar sem a minha melhor
amiga.
— Por que você tinha que se casar tão cedo? — Reclamei. Eu
não sabia se ria ou chorava. Allana estava rindo do meu drama.
— Para te dar sobrinhos, boba! — Ela respondeu como se
fosse óbvio. — Além do mais, não é tão cedo. Eu já tenho 23 anos.
— Eu ainda tenho 22. — Choraminguei.
— Por poucos dias. Não se esqueça que seu aniversário está
chegando. — Allana me lembrou, sorrindo ao se afastar de mim. Ela
tinha razão. Eu fazia aniversário em Outubro. Sim, uma Libriana. 3
de Outubro era meu aniversário. Por um mês era separada de
Allana.
— Tudo bem. Você e Theo já compraram meu presente? —
perguntei. Allana riu.
— É claro, sua tonta. E você passará o dia conosco. Já temos
uma programação. E, à noite, voltamos para comer bolo com a sua
mãe. — Explicou, gesticulando as mãos. Aquilo me parecia muito
bom.
— Espero que seu cunhado não apareça.
— Ele vai. Você sabe que ele aparece só para te provocar. —
Ela me lembrou. Revirei os olhos.
— O idiota. — Resmunguei, fazendo Allana rir.
— Bem, rendas então? — Ela perguntou, voltando ao vestido.
— Rendas então. — Repeti, fazendo-a abrir um enorme
sorriso. Suspirei, com um meio sorriso.
O casamento de Allana e Theo seria épico. E eu seria a melhor
madrinha. Era uma promessa de fazer aquele casamento ser o
melhor. Minha amiga e Theo mereciam aquela felicidade. E eu
estava muito feliz em poder compartilhá-la com eles.
Dias depois...
03 de Outubro. Meu aniversário. Havia chegado. Confesso que
tinha ficado ansiosa desde o da Allana. E não sabia exatamente o
porquê. Mas estava muito contente de aproveitar aquele dia com
Allana e Theo.
Era daquela forma, todos os anos, desde que meu pai havia
falecido. Eu passava o dia com Allana e Theo, e Alexander a tira-
colo, e à noite voltávamos para minha casa para cortar o bolo com a
minha mãe.
Naquele dia, a programação era surpresa. E eu apenas
esperava que fosse algo bom. Apesar que Theo e Allana só faziam
coisas que me agradavam. Na maioria das vezes, eles apenas me
levavam para comer e era ótimo.
Eu nunca fui do tipo curiosa. Claro que tinha minhas
curiosidades, mas nada que me deixasse extremamente ansiosa e
acelerada. Eu era calma, na maioria das vezes. E esperava pelas
surpresas. Porque, se tratando daqueles dois, sempre tinha alguma.
Alexander tinha a mania de sempre aparecer. Aliás, ele
sempre estava quando eu chegava. Theo ia me buscar e ele
aparecia. Conveniente ele, não é mesmo?! Não era convidado e se
convidava. Um folgado.
E eu era obrigada a aturá-lo. Não era minha diversão favorita
aturar Alexander Jenkins, mas eu o fazia. Porque Allana e Theo
eram minha família, mas também eram a dele.
Apesar de tudo, nós quatro estávamos sempre juntos. Mesmo
com toda a provocação de Alexander. Saíamos juntos, jantávamos
juntos, passávamos os aniversários juntos.
Como ele sempre aparecia no meu, eu achava justo aparecer
no dele. Em Fevereiro. O aquariano. Nunca havia conhecido um
aquariano tão idiota quanto ele. Era o primeiro. Theo era de Peixes,
o melhor de nós 4, diga-se de passagem. Eu e Allana também
tínhamos nossos momentos revoltos.
— Eu realmente espero que você esteja pronta. — Allana
entrou no quarto sem bater na porta. Falando em momentos
revoltos... Ela paralisou na porta ao me ver levantando da cama.
Estava fechando o sapato, antes que a doida entrasse como um
furacão no quarto de hóspedes de seu apartamento.
Claro que ela tinha me arrastado até ali para que me
arrumasse com ela. Não eram nem 09h00 da manhã quando Allana
entrou no meu quarto, abrindo as cortinas e tirando as cobertas de
cima de mim. Fui obrigada a me levantar e ir tomar um banho, antes
que ela me arrastasse para o apartamento.
Agora, minha amiga me observava de boca aberta, enquanto
eu me levantava. Havia colocado um vestido de mangas longas, que
ia até a metade das coxas, era de veludo e vinho. Estava com um
salto preto simples e o cabelo solto, cheio de ondas. Allana riu,
saindo do transe e veio até mim.
— Você está tão linda, Vic! — Ela elogiou. Balancei a cabeça,
com um meio sorriso. Se eu estava linda, imagina Allana. Um
vestido florido de mangas longas, tecido mole e uma bota over the
knee preta. Ela estava incrível.
— Se eu estou, você está deslumbrante.
— Ah, pare com isso. O aniversário é seu. Única pessoa linda
hoje é você. — Replicou. — Está pronta?
— Sim, já terminei
— Então vamos. Theo e Alexander estão esperando. — Allane
levou-me após eu pegar minha bolsa de mão preta.
Encontramos Theo e Alexander conversando na sala. O idiota
até que estava bem arrumado. Parecia gente. E bonito... Victoria!
Minha mente me deu um tapa na cara. Eu não achava o idiota
bonito. Nunca. Jamais acharia.
— Ah! As duas mulheres da minha vida estão lindas. — Theo
abriu um sorriso enorme ao nos ver e nos abraçou. Eu queria um
Theo também, Universo. Obrigada.
— Olha, Victoria anda sabendo se arrumar muito bem
ultimamente. — Alexander comentou, com uma sobrancelha
erguida. Apenas encarei ele.
— Onde está o seu cérebro, Alexander? — Era uma pergunta
retórica, obviamente, porque o cérebro dele estava em outro lugar,
mas o idiota ia responder até ser interrompido.
— Vamos logo! — Allana puxou-me pela mão, enquanto
encarava Theo. Alexander emudeceu, enquanto nos seguia. Ainda
bem que não tive que dividir o banco de trás do carro com ele.
Alexander era bom demais para ir no carro conosco e foi no seu.
Idiota.
Allana e Theo me levaram a um restaurante de comida
chinesa. Eu era curiosa para comer aquele tipo de comida.
Japonesa sempre comi, mas chinesa nunca. Alexander chegou
pouco depois de nós.
Tentei ignorá-lo o máximo que consegui, mas foi difícil com ele
provocando-me a cada 2 minutos. Nem no meu aniversário aquele
ser me deixava em paz. Eu nunca teria tanta sorte assim.
— Quem muito provoca é porque gosta, Alexander. — Allana
alertou, piscando para ele. Quase me engasguei com a comida.
Quase.
— Não fale besteiras, Allana. — Alexander repreendeu a
cunhada e se calou. Aquilo foi estranho. Dificilmente ele se calava.
— Pegou no ponto, não, irmão?! — Theo provocou. Pensei
que ele estivesse sorrindo, mas estava sério. Ele e Alexander se
encararam por incontáveis minutos. Olhei para Allana em busca de
respostas, mas ela apenas deu de ombros. Tão perdida quanto eu.
— Pare com isso, Theodore. — Alexander pediu, sério. Ele
estava incomodado, alguma coisa que foi dita deixou-o daquele
jeito. Puxei o ar.
— Besteira. Ele me provoca porque faz isso desde que me
conheceu. E porque é um idiota. — Me intrometi.
— Viram?! Até a bebê de colegial entende. — Ele resmungou.
Theo e Allana se encararam antes de darem de ombros e voltarem
a comer. Não estavam convencidos com Alexander, conhecia meus
amigos. Por hora, deixei o assunto morrer. Mas aquilo me deixou
intrigada. Por que o que Allana disse havia deixado Alexander
desconfortável? Mesmo o conhecendo há tantos anos, eu não sabia
responder aquilo.
Após o jantar, nós fomos direto para a minha casa. As luzes
estavam acesas quando Theo estacionou na frente da casa. Minha
mãe estava nos esperando com o bolo que Allana havia feito e
trazido de manhã.
Alexander travou na porta enquanto Theo e Allana já iam
entrando. Franzi a testa e dei meia volta. Ele estava muito esquisito.
— O que você tem? Até parece que nunca veio na minha casa
antes.
— Não nessa. — Ele respondeu, sério. O problema era
aquele? Não podia ser. Alexander não era tímido, nunca foi.
— Está tudo bem. A gente não se dá bem, mas todos os anos
você está aqui. Já acostumei. Vamos lá, Alexander. — Chamei. Ele
me encarou e eu sustentei o olhar. Alexander aquiesceu, antes de
me seguir para dentro de casa.
— Você está bem? — Ouvi Theo questionar Alexander quando
fui pegar o bolo na geladeira. Alexander apenas assentiu, deixando
Theo preocupado. Eu conhecia as expressões deles.
— Vem, meu amor! — Allana chamou, me ajudando com as
coisas. Todos os anos eram daquela forma: eles 4, comigo. Mesmo
Alexander com provocações estava sempre ali, desde que me
conheceu. E aquilo era importante para mim.
Mesmo com brigas, mesmo que eu não admitisse, ele também
era importante, também havia se tornado família como Theo. Só que
uma família que a gente atura.
Aquele, sem dúvidas, foi o melhor aniversário que tive em
muito tempo. E eu devia tudo aquilo a Allana e Theo. Devia tudo a
eles.
Meses depois...
Acordei com beijos nas costas e uma claridade insuportável
entrando pela janela do quarto. Suspirei, quando Alexander
depositou um beijo no meu pescoço e me mexi na cama. Abri os
olhos devagar, me acostumando aos poucos com a claridade.
Alexander estava apoiado nos braços, sem jogar o peso em
cima de mim. O sol iluminava o quarto através da janela aberta e o
vento balançava as cortinas. Ele se sentou ao meu lado enquanto
eu me virava.
— Bom dia. — disse, com um sorriso.
— Bom dia. — murmurei, abrindo um meio sorriso.
Aquela não era a primeira vez que aquilo acontecia. Eu e
Alexander estávamos dormindo juntos desde a primeira noite. Não
nos separávamos mais. E aquela nova situação ainda era diferente,
para nós dois.
Depois de um dia inteiro na piscina com ele e Adrian, nós
demos banho no bebê e o colocamos para dormir. Eu fui para o meu
quarto, por mais que quisesse ir para o dele não queria impor minha
presença. Não sabia qual era nossa situação.
Mas, antes que eu entrasse, Alexander me pegou no colo, me
fazendo soltar um grito de surpresa, e me levou para o seu quarto.
Eu não tive coragem de perguntar e nem precisou; ele parecia me
ler. “Quero que fique comigo. Não só hoje. Todos os dias. Dorme
comigo”, pediu. Eu não tive como negar aquilo, era algo que eu
também queria.
Então eu fiquei. Eu nunca mais sai dali. Mas, naquela manhã,
acordamos no meu quarto. 4 meses depois da nossa primeira noite
eu finalmente deixei que ele fosse para o meu quarto e dormisse
comigo lá. Aquilo já fazia um mês. Então, estávamos sempre no
quarto um do outro.
E, no meio de tudo isso, 5 meses já haviam se passado. 5
meses desde que nossas vidas mudaram drasticamente e de forma
inesperada, 5 meses desde que estávamos morando juntos, 5
meses desde que estávamos cuidando de Adrian, 5 meses desde a
nossa primeira noite, 5 meses que descobrimos que estávamos
apaixonados, 5 meses desde que perdemos nossa família.
Claro que ainda era difícil, claro que ainda tinham momentos
em que a dor superava qualquer outra coisa, claro que algumas
vezes eu pensava em desistir. Mas, era diferente, eu tinha
Alexander comigo, e não só como apoio, ele cuidava de mim de
uma forma que eu achava que ninguém seria capaz.
Alexander estava se mostrando uma pessoa completamente
diferente nos últimos 5 meses. Ele não era o mesmo Alexander que
eu conheci 11 anos atrás. Ele havia mudado, assim como eu mudei.
Tudo em nós se transformou, e eu sabia que Adrian era o
responsável por toda aquela mudança.
O amor que tínhamos por aquele bebê nos dava forças nos
dias mais difíceis, preenchia nosso coração quando nenhum outro
sentimento era capaz. O amor de Adrian nos salvava sempre que a
dor era mais forte.
Adrian estava crescendo com uma rapidez impressionante, e
estava cada dia mais esperto. Falava diversas palavras e andava
pela casa toda. Havia aprendido a correr, então, eu e Alexander
estávamos fazendo muitos exercícios.
A cada dia que passava o meu amor por eles aumentava
exponencialmente, e ganhava força. Nada se comparava ao que eu
sentia por eles. Nada nunca se compararia. Nós construímos uma
família, uma família que foi inesperada, mas que havia se tornado
nossa base.
E juntos eu tinha certeza de que podíamos superar qualquer
coisa, porque o que não faltava ali era força e amor
. Muito amor.
— Já são 09:00hrs. — Alexander disse, colocando uma mecha
do meu cabelo atrás da orelha. Balancei a cabeça, fechando os
olhos novamente. — Levanta, Vic. Eu vou fazer o café e você pega
o Adrian. Não se esqueça que tem visita da assistente social hoje.
— Ele lembrou, me dando um beijo na bochecha e um tapa leve na
coxa, antes de se levantar e sair do quarto. Eu estava coberta por
um lençol, e com um conjunto de lingerie de renda por baixo.
Conselho Tutelar. Assistente social.
De novo.
Lembrar daquilo me fez abrir os olhos rapidamente. Era a
segunda visita. Depois de tantos meses que até havia me esquecido
que tinha aquela burocracia, mas pelo que Alexander disse, era a
última visita. Graças a Deus.
Adrian era nosso e ninguém nos tiraria ele. Ninguém.
Há uma semana ligaram do conselho tutelar avisando que a
assistente faria uma visita. Por que sempre avisavam em cima da
hora? Eu ficava irritada com aquilo. Mas Alexander disse que era
normal, então tudo bem.
Respirei fundo, tirando o lençol de cima de mim e me levantei
da cama. Fui até o banheiro fazer minhas higienes, já que tinham
alguns produtos meus no banheiro de Alexander, assim como
alguns dele no meu.
Alexia estava me enchendo o saco desde que o ano começou.
“Estão vivendo como casados, assumam isso, tenham um quarto só
de vocês, usem aliança, se casem.” Ok, ela era exagerada
igualzinha Allana. Ainda não era hora para aquilo. Era?
Eu já não sabia o que pensar. Meses se passaram. Eu e
Alexander estávamos juntos, sim. No ano novo ele me pediu em
namoro e me deu um lindo colar com um pingente de flor. Claro que
Adrian ainda não entendia, mas parecia muito mais feliz agora do
que quando tudo começou. Acho que todos estávamos, apesar da
falta que Allana e Theo nos faziam. Nada do que estava
acontecendo estaria se eles estivessem conosco. Ou talvez sim. O
destino não erra, e aqueles dois tinham planos de nos juntar, eu
sempre desconfiei daquilo.
Peguei uma camiseta de Alexander ao voltar para o quarto e
saí vestindo-a. Fui até o quarto de Adrian, abrindo a porta com
cuidado. Meu bebê dormia tranquilamente em sua cama.
Me abaixei ao seu lado e beijei todo seu rosto, até que
acordasse. Adrian abriu os olhinhos devagar e sorriu ao me ver.
— Bom dia, meu amor.
— Oi, dinha. — ele balbuciou, esticando os bracinhos para
mim. Peguei-o no colo e o levei até o banheiro, para lavar seu rosto
e escovar seus dentinhos, que já somavam 4.
Desci com Adrian e encontrei Alexander na cozinha
preparando o café da manhã. Coloquei o bebê na cadeirinha e dei
um beijo em Alexander ao passar por ele.
— Bom dia.
— Bom dia. — ele respondeu, com um sorriso. — E aí, meu
garotão. — Deu um beijo em Adrian. — Tá com fome?
— Xim, dinho. Quelo muito papa. — Adrian bateu as
mãozinhas uma na outra, rindo. Abri um sorriso enquanto pegava o
leite na geladeira e colocava para esquentar.
— Tá fazendo o quê? — perguntei.
— Waffles e suco. Não temos muito tempo.
— Está ótimo. — falei, fazendo Alexander dar um sorriso de
lado. Tirei o leite de Adrian do microondas e coloquei na mamadeira
junto com uma colher de chá de mel para adoçar. Ainda não dava
açúcar para Adrian, muito cedo.
— Podemos aproveitar a piscina depois da visita, vamos ficar
em casa mesmo. — ele sugeriu, dando de ombros.
— Para mim parece bom. — disse, com um meio sorriso.
Alexander me deu um beijo, pousando a mão na minha cintura por
um momento e foi se sentar do outro lado da ilha, colocando a jarra
de suco natural de laranja em cima do balcão.
Entreguei a mamadeira para Adrian e me sentei no balcão,
pegando um waffle e colocando no meu prato. Passei bastante
geleia de morango e comigo. Aquilo era a coisa mais deliciosa do
mundo.
Adrian ficou olhando demais, até parou de tomar a mamadeira.
Cortei um pedacinho pequeno de waffle junto com a geleia e dei na
boquinha dele, lambendo meu dedo em seguida. Adrian mastigou,
ficou quieto por alguns momentos e riu depois, fazendo com que eu
e Alexander déssemos risada também.
Depois do café, eu subi para dar um banho rápido em Adrian.
Claro que esperei alguns minutos antes de pegá-lo do cercadinho e
subir. Alexander me ajudou a dar banho nele e foi se trocar,
enquanto eu vestia Adrian.
Coloquei uma roupinha de calor nele; short e camiseta de
malha, bem leves. Era uma visita de assistente social, mas ele era
um bebê e estava calor. Não ia sufocar o bebê por nada.
Fui com Adrian para o meu quarto e deixei-o sentado na cama
enquanto me trocava. Alexander entrou no quarto enquanto eu
procurava um vestido decente. Ele já estava pronto; calça jeans e
camiseta de malha. Simples. E muito gato.
— Ainda procurando? — ele perguntou, se esticando na cama
ao lado de Adrian e abraçando nosso afilhado.
— Eu acho que meus vestidos são indecentes. — declarei, me
virando de frente para ele, e fazendo-o rir
.
— Para com isso, Victoria. Todas as suas roupas são
decentes, só muito coladas. — Ele reclamou, me fazendo rir .—
Você tem um vestido lindo, inclusive, de uma cor clarinha que é
bastante apropriado para hoje. Coloca ele.
— Qual? — perguntei, confusa. Alexander se levantou e veio
até mim, pegando um vestido nude no armário; era um pouco
rodado, com mangas curtas e um decote reto. Olhei para Alexander
enquanto ele me entregava o vestido, e ele aquiesceu, com um
meio sorriso.
Talvez desse certo. Coloquei o vestido, enquanto Alexander
voltava para Adrian. Peguei uma rasteirinha com pedras
transparentes no armário e coloquei-a. Prendi o cabelo em um
coque; não tinha tempo para fazer mais nada e ele não estava
arrumado direito. Belisquei as bochechas e passei um lip balm nos
lábios só para deixá-los um pouco mais rosados.
— E aí, o que você acha? — indaguei, me virando para
Alexander. Ele me mediu e Adrian imitou-o, me fazendo abrir um
meio sorriso.
— Você está linda, Victoria. — Ele elogiou. Suspirei,
disfarçando a vontade de sorrir abertamente. Eu tinha que aprender
a me controlar com os elogios sinceros de Alexander, já faziam 5
meses. — Sua madrinha não está linda?! — Falou com Adrian.
— Dinha — Adrian riu, esticando os braços para mim. Sorri e
peguei-o no colo, enchendo-o de beijos. Descemos as escadas
juntos e eu deixei Adrian no cercadinho com alguns brinquedos.
Já eram 10h40 e provavelmente a assistente chegaria em 5
minutos, como da última vez. Para nos testar, como Alexander
disse. Fiquei sentada no sofá, balançando os pés, impaciente.
Como eu imaginava, às 10h45 a campainha tocou. Dessa vez,
eu quem fui atender. Dei de cara com a mesma assistente da
primeira visita. Pelo menos, não havia mudado.
— Bom dia. Pode entrar — murmurei, com um meio sorriso.
— Bom dia, Victoria — ela respondeu, sorrindo, e eu dei
espaço para que entrasse. — Bom dia, Alexander.
— Bom dia — Alexander falou. Ele estava bem sério, o que era
comum naquelas visitas ou qualquer assunto meio jurídico, ele se
transformava no promotor implacável.
Lana observou a casa, Adrian no colo de Alexander e nós dois
lado a lado. Nos sentamos no sofá e ela na poltrona.
— Bom, essa é a última visita. Preciso saber como estão as
coisas depois de 5 meses e como se adaptaram — ela explicou,
com uma prancheta na mão. — É perceptível como vocês evoluíram
com o bebê. Me parecem mais centrados e adaptados a tudo —
observou.
— Ainda é difícil em alguns momentos, mas nós estamos
tentando. Por Adrian. Nosso amor por ele tem nos feito superar
nossa perda para cuidar dele da forma que é preciso. — expliquei, o
tom de voz baixo. Lana balançou a cabeça, observando a casa e
nós com Adrian.
Silêncio se instalou na sala e eu mal conseguia respirar. Ela
estava nos observando para a avaliação final. Aquela análise
decidiria nosso futuro, e principalmente o de Adrian. Eu estava
nervosa e aquilo começava a me dar indício de crise de ansiedade.
Felizmente, fui salva por Alexander que percebeu meu estado
e colocou Adrian no meu colo. Quando Adrian me abraçou, eu
respirei fundo e fechei os olhos por um momento, aconchegando-o
entre meus braços. Beijei seu rosto e ele apertou os bracinhos em
volta do meu pescoço, deitando a cabeça no meu ombro.
— Na minha opinião, de alguém que está nessa profissão há
anos, nenhum juiz destruiria a família que vocês estão construindo.
Eu vejo como amam esse garoto e o que ele significa para vocês,
principalmente depois da perda que tiveram. Entendo que seja
difícil, mas vocês estão se saindo bem. Minha avaliação final será
positiva, fiquem tranquilos. — Lana nos tranquilizou.
Eu soltei o ar, abrindo um sorriso e Alexander me abraçou de
lado junto com Adrian. Encostei a cabeça no ombro dele,
completamente aliviada. Nossa família não seria destruída. Ela se
manteria daquela forme e só se fortaleceria. Eu estava mais
tranquila depois daquilo. E Alexander também, era visível.
Nós estávamos bem com aquela notícia. Adrian era nosso e
ninguém os tiraria de nós, porque aquele era o desejo de Allana e
Theo, que criássemos seus filhos. E nós criaríamos, porque
amávamos Adrian mais que qualquer coisa no mundo.
Quando a assistente foi embora, Alexander esquentou uma
mamadeira, depois de se trocar, enquanto eu ficava no sofá com
Adrian deitado no meu colo. Ele estava caindo de sono já, acordei-o
mais cedo do que de costume e na noite passada dormimos mais
tarde e ele ficou conosco.
Alexander voltou para a sala e me entregou a mamadeira.
Coloquei na boquinha de Adrian e ele mamou de olhos fechados.
Alexander se sentou ao meu lado e eu coloquei as pernas no seu
colo.
Adrian terminou a mamadeira quase dormindo. Levantei,
tomando cuidado com ele, e coloquei-o no cercadinho, com um
ursinho em suas mãos. Voltei para Alexander, encostando-me no
sofá, com as pernas em cima dele.
— Acha que foi bem? — perguntei, entrelaçando meus dedos
aos dele.
— Acho que foi mais que bem. — Alexander respondeu,
massageando minhas pernas. — Vai dar tudo certo. Depois da
avaliação dela, acaba isso de análise e visitas. Ele é oficilamente
nosso.
— Ele sempre vai ser nosso.
— Sempre. — Ele falou, puxando-me para mais perto e
depositando um beijo no topo da minha cabeça.
— Essa é a nossa família. — disse, abraçando-o e colocando
o rosto encostado em seu peito. Alexander acariciou meus cabelos.
— Sim, Vic, é a nossa família.
Levantei a cabeça e Alexander encostou os lábios nos meus;
foi apenas aquilo, um toque.
Suspirei e Alexander apertou os braços em volta de mim de
forma protetora. Eu me sentia muito segura com ele, desde que tudo
aquilo começou.
E, depois de 5 meses difíceis e diferentes, aquela era a nossa
família. Minha e de Alexander. E aquela família era essencial para
mim.
No domingo o dia estava absolutamente agradável; um sol
fraco e uma brisa leve. Eu acordei um pouco mais tarde do que de
costume. Abri os olhos devagar e pouco a pouco acostumei com a
claridade que entrava pela janela e aproveitei o vento agradável que
balançava as cortinas.
Eu estava sozinha na cama de Alexander quando me virei,
mas estava coberta e com a blusa dele que eu havia dormido na
noite anterior. Dormimos tarde, por conta do calor, e eu estava
extremamente cansada e ainda morta de sono.
Levantei depois de alguns minutos aproveitando o vento que
entrava pela janela aberta. Fiz minha higiene no banheiro e sai do
quarto, prendendo o cabelo em um rabo de cavalo.
Fui até o quarto de Adrian, mas ele não estava mais na cama.
Desci as escadas e o encontrei com Alexander na sala, os dois no
tapete, a televisão ligada, as janelas abertas e Adrian com seus
brinquedos de borracha. Aquela era uma linda visão. Uma linda
visão de uma linda família. Meus dois amores juntinhos.
— Bom dia — murmurei, me inclinando para dar um beijo em
Adrian e outro em Alexander. Ele me puxou para mais um beijo
quando me afastei e eu me sentei ao seu lado.
— Dormiu bem? — perguntou.
— Dormi. — Dei de ombros, mexendo no cabelo de Adrian,
que estava concentrado no desenho que passava na televisão.
— Estava esperando você acordar.
— Que horas são? — indaguei.
— Quase 12h00.
— Nossa, dormi demais — reclamei, passando as mãos pelo
rosto. Eu realmente não gostava de dormir tanto, não quando tinha
um bebê para cuidar. Tudo bem que Alexander era ótimo com
Adrian, mas eu também gostava de cuidar.
— Dormiu nada, Vic. Você precisava mesmo descansar.
— Vocês já tomaram café?
— Tomamos e tem algumas coisas na cozinha, mas pensei em
fazermos um piquenique. O dia está lindo, é domingo, temos tempo.
Vamos aproveitar.
Encarei Alexander enquanto mexia nos cabelos de Adrian.
Talvez aquilo pudesse ser bom, um passeio, só nos 3, aproveitar o
dia fora de casa e fora da rotina. Sem preocupações. Era realmente
tentador.
— Você sabe que saindo nós 3 é como se fosse um passeio
em família, não sabe?! — perguntei, o tom de voz despretensioso.
Alexander riu.
— E o que nós somos, Victoria? Somos uma família. Não vai
parecer, é um passeio em família. — Ele falou, se inclinando para
encostar os lábios nos meus. — Por que não vai arrumando o
Adrian e se arrumando? Eu faço uma cesta e coloco algo para você
almoçar.
— Tá bem — concordei, com um meio sorriso, dando mais um
beijo nele, antes de me levantar e pegar Adrian no colo. Subi com
ele até meu quarto e o coloquei sentado na cama.
Fui até o quarto dele e peguei uma roupinha de calor; short e
regata, além de um bonezinho, sandália aberta e protetor solar
infantil. Peguei a bolsa, que sempre tinha coisas dentro e voltei para
o meu quarto. Deixei as coisas dele na cama e liguei a televisão, já
em um canal de desenho, para distraí-lo enquanto eu me trocava.
Coloquei um short jeans azul claro, uma regata preta e um
tênis branco. Prendi o cabelo em um rabo de cavalo algo e passei
protetor nas pernas, nos braços e no rosto. Deixei os óculos de sol
em cima da cama e fui cuidar de Adrian.
Tirei o pijaminha dele e coloquei a roupinha branca com azul.
Passei o protetor em seus braços, pernas, pés e rosto. Calcei sua
sandália e coloquei o bonezinho em sua cabeça. Ele ficou a coisa
mais linda desse mundo.
— Você está tão lindo, meu amor — falei, ajeitando os cabelos
de Adrian, e dei um beijo em sua bochecha. Adrian riu para mim.
— Dinha, tô indu — balbuciou, esticando as mãozinhas para
mim. Beijei as duas, sentindo o cheirinho do seu perfume de bebê.
— A madrinha te ama tanto que você não tem noção do
quanto — murmurei, dando mais um beijo nele, que logo se distraiu
novamente com o desenho. Aproveitei para arrumar uma bolsa
grande com algumas coisas que pudéssemos precisar e desliguei a
televisão.
Peguei Adrian no colo e desci com as duas bolsas na mão
livre. Alexander estava na cozinha, preparando a cesta do nosso
piquenique. Deixei as bolsas no sofá e fui para a cozinha com
Adrian no colo.
— Terminou aí?
— Quase. Estou colocando um lanche mais reforçado para
você — Alexander respondeu, colocando uma garrafa de suco na
cesta. Abri um sorriso. Atencioso e preocupado comigo. Foi por
aquele Alexander que eu me apaixonei.
Fiquei esperando, enquanto ele terminava de arrumar tudo.
Alexander entregou uma mamadeira de água para Adrian e nós
saímos de casa. Coloquei os óculos de sol assim que saímos e
Alexander fez o mesmo.
Sentei Adrian na cadeirinha e prendi o cinto nele. Deixei as
bolsas ao lado dele e Alexander fez a mesma coisa. Entrei no banco
carona e liguei o ar. Alexander ligou o rádio.
A temperatura estava em 26ºC. Não era tão forte, por causa do
vento, mas estávamos acostumados com uma temperatura mais
amena, perto dos 21/22ºC. Aquilo já era um pouco sufocante.
Não demoramos a chegar no parque. Alexander estacionou
perto da entrada e eu peguei Adrian e minha bolsa, deixando a
cesta para Alexander.
— Pode deixar a bolsa dele aí, se precisar de algo eu venho
pegar.
— Tudo bem — Alexander concordou, travando o carro.
Entramos no parque procurando um lugar com sombra e por
sorte achamos uma árvore grande, onde tinha muita sombra em
volta. O parque estava um pouco cheio; era domingo e o dia estava
lindo.
Alexander estendeu a toalha xadrez no chão e eu me sentei,
colocando Adrian sentado ao meu lado. Ele estava com a
mamadeira de água nas mãos, ainda não tinha tomado toda, apesar
da sede que estava.
— Pode tomar tudo, meu amor. Madrinha te dá mais —
prometi. Adrian me olhou por um momento, antes de tomar toda a
água que tinha na mamadeira. Dei risada, pegando a mamadeira
dele e colocando mais água. Devolvi e Adrian pegou com pressa,
tomando rapidamente. — Devagar — alertei, fazendo-o diminuir o
ritmo e respirar ofegante.
Alexander se sentou ao nosso lado e ajeitou o boné na cabeça
de Adrian. Eu estiquei as pernas e me apoiei nos braços,
observando em volta.
— Come — Alexander falou, pegando um lanche na bolsa para
mim.
— Obrigada — agradeci. Eu estava mesmo morta de fome.
Adrian se levantou, andando em volta de nós. Ele sabia que não
podia se afastar, eu não sabia como entendia, mas talvez tivesse
acostumado que funcionava daquela forma em casa.
— Ele está crescendo tão rápido... — Suspirei.
— Ele está mesmo enorme — Alexander concordou.
— Vamos perder o controle do crescimento dele em algumas
semanas. Logo ele faz 3 anos. Passou tão rápido...
— É tão triste que eles não estejam aqui para ver isso —
Alexander lamentou.
— É tão triste eles não estarem mais aqui — murmurei, os
olhos ficando marejados. Que bom que eu estava de óculos, assim
Alexander não veria. Ele tendia a ficar extremamente preocupado
quando me via chorar. Mas eu estava bem, muito melhor do que
estava há 5 meses atrás. Eu estava seguindo, como sempre ouvia
Allana e Theo na minha mente me mandando fazer.
— Eles estão, de certa forma. Adrian é uma parte deles —
Alexander me lembrou. — E uma parte de nós. Sempre teremos um
pedaço deles conosco.
— Eu não suportaria ficar sem Adrian, principalmente depois
de tudo o que aconteceu — admiti, observando meu afilhado olhar
tudo em volta com curiosidade. Aquela era a idade da descoberta,
ele estava descobrindo tudo.
— Ele é nosso, Victoria. Nada nem ninguém vai tirá-lo de nós,
e muito menos nos tirar dele. Somos uma família. Estaremos
sempre juntos — Alexander garantiu.
— Você promete?
— Prometo, Vic. Essa é a nossa família e nada vai destruir o
que construímos — ele prometeu, entrelaçando os dedos aos meus.
Abri um meio sorriso.
Eu conseguia acreditar naquelas palavras. Aquela era a nossa
família e estaríamos sempre juntos. Eu acreditava e precisava
daquilo, era o que me mantinha firme, o que me fazia levantar da
cama todos os dias. A família que eu e Alexander construímos.
— Vem cá, meu amor — chamei Adrian, que estava com uma
joaninha na mão. Alexander havia colocado na mão dele e ele
estava admirando-a há algum tempo. A única coisa que fez com que
parasse de correr, para respirar um pouco.
Adrian veio devagar até mim, tomando cuidado com a joaninha
em sua mão. Abri um sorriso. Era tão fofo a forma como ele a
olhava e tinha cuidado com ela. Quilo me fazia ver o quanto aquele
menino era especial.
— Você não quer colocar ela na grama e vir comer? — sugeri,
ajeitando o bonezinho na cabeça dele e levantei seu rosto, fazendo-
o me olhar.
— Papa? — perguntou.
— Sim, meu amor — confirmei.
— Anchi?
— Lanche — respondi, rindo.
— Eu quelo — Adrian disse, correndo para colocar a joaninha
com cuidado na grama e voltou correndo para mim. Limpei suas
mãozinhas e o coloquei sentado na minha frente.
Quando Adrian estava sentadinho e quieto, Alexander voltou,
sentando-se ao nosso lado com a outra mamadeira de Adrian para o
suco. Peguei o pote de frutas cortadas e comecei a dar na boca
dele, uma por uma. Adrian comia olhando para mim, mastigava
devagar e abria a boquinha novamente, pedindo por mais.
— Cadê sua amiguinha joaninha? — Alexander perguntou,
apertando a barriguinha de Adrian e fazendo-o rir.
— Amiguinha joaninha? — repeti, encarando Alexander e ele
deu de ombros.
— Gama — Adrian respondeu, abrindo a boquinha na minha
direção. Coloquei um pedacinho de manga na boca dele e ele
mastigou devagar. Tinha aprendido a não mastigar rápido, depois
que ensinei algumas vezes.
— Você deu tchau para ela?
Dei risada com a pergunta. Às vezes Alexander era mais bebê
que o próprio Adrian.
— Indanão — Adrian balbuciou, abrindo a boquinha e
apontando para a banana. Peguei um pedacinho e coloquei na boca
dele. Ele se levantou e saiu correndo para onde colocou a joaninha.
— Ela umiu, dinho. — Voltou correndo para nós e se jogou em cima
de Alexander.
— E você nem deu tchau para ela. — Alexander fez uma voz
triste. Semicerrei os olhos para ele e o idiota riu.
— Agola eu quelo come — Adrian disse, voltando para mim e
abrindo a boquinha, pedindo por frutas. Coloquei um pedacinho de
morango na boca dele. Ele fez uma careta. —Etieu não goto, dinha
— reclamou, fazendo com que eu e Alexander déssemos risada.
— Morango é tão bom. — falei. Adrian fez que não com a
cabeça, com a mesma careta, mas comeu o morango. Coloquei um
pedaço manga na boca dele. Manga ele gostava. — Esse é bom?
— perguntei.
— Etié bom, dinha. Etié gostoso. — Adrian abriu a boquinha,
pedindo por mais. Coloquei outro pedaço de manga na boquinha
aberta. Alexander apertou a barriguinha dele, fazendo-o rir, e eu abri
um sorriso.
Aquele, definitivamente, era um lindo momento em família. O
melhor que tivemos desde que tudo começou.
Semanas depois...
Era o primeiro sábado de maio e eu estava em casa. Graças a
Deus.
A semana no hospital foi muito mais do que exaustiva, eu
estava completamente esgotada. Havia pegado alguns pacientes de
casos complicados, além de cuidar de Adrian em casa porque
Alexander viajou por 3 dias e tinha audiências quase todos os dias.
Eu estava acabada, mas não queria ficar na cama em pleno
sábado. Fazia tempo que eu não conseguia um dia em casa, para
relaxar e descansar. Fora que eu estava com algumas ideias e
queria muito sair.
As semanas que se passaram foram boas, em diversos
sentidos. Meu trabalho estava bom, minha vida em casa estava
incrível, minha amizade com Alexia estava perfeita e meu
relacionamento com Alexander evoluía a cada dia, além de eu estar
mais apegada a Adrian a cada dia que se passava.
Tudo em casa também havia mudado, estávamos unidos como
uma verdadeira família. Fazíamos passeios, passávamos o dia
juntos. Nos realmente tínhamos nos tornado uma família.
Meu relacionamento com Alexander estava evoluindo, de certa
forma. Estávamos mais juntos, mais unidos e mais apaixonados.
Adrian parecia feliz com aquela nova situação. Outro dia ele viu a
gente se beijando e falou“De novo! Eu goto!”. Eu beijei foi ele,
fazendo-o se dobrar de rir.
Adrian estava crescendo com uma rapidez impressionante,
estava falando quase tudo, seus dentinhos estavam nascendo, ele
já comia de quase tudo e corria pela casa inteira.
Alexander achava que estava quase na hora de mandá-lo para
a escolinha. Eu não conseguia pensar com clareza sobre aquilo,
acho que não estava pronta para me dar conta de Adrian realmente
estava crescendo e em pouco tempo não teríamos mais um bebê
em casa e sim uma criança.
Respirei fundo, desviando aqueles pensamentos. Não queria
ficar pensando naquilo, não naquele momento, não enquanto ainda
tinha tempo.
Levantei da cama e fui até o banheiro. Aquela noite havia
dormido no meu quarto com Alexander. Eu preferia o meu ao dele,
para ser mais sincera. Era mais aberto e mais iluminado. O dele era
tão... vazio. Mas eu não reclamava quando ele queria dormir lá,
porque ele não reclamava quando eu dizia que queria dormir no
meu.
Desci as escadas, com um macacão leve, após um banho
rápido. Alexander estava com Adrian na área da piscina, os dois
dentro da água e ele fazendo o menino mergulhar. Já passava do
12h00 e o sol estava um pouco quente, mas o vento refrescava.
— O que meus meninos estão fazendo na piscina sem mim?
— perguntei, com as mãos na cintura, um tom de voz falsamente
indignado. Adrian riu, esticando os bracinhos e balançando as
pernas na água para vir até mim.
Me sentei na borda da piscina e beijei-o, quando ele chegou
perto, ficando entre minhas pernas e apoiando as mãozinhas nas
minhas coxas. Alexander ainda o segurava e nós dois nos
inclinamos para dar um beijo rápido.
— Dinho baba — Adrian balbuciou, rindo.
— Tradução, por favor? — Olhei para Alexander e ele riu.
— Padrinho está me ensinando a nadar na água.
— Jura que é na água? Pensei que podia ser na grama
também. — Ironizei, fazendo Alexander se dobrar de rir.
— Sua madrinha é bem engraçadinha, não é, garotão?! — ele
falou com Adrian, me fazendo rir
.
— Eu estava pensando em sair com a Alexia — comentei,
passando a mão pela água gelada.
— Pode ser uma boa — Alexander opinou. — Faz tempo que
vocês duas não saem. Você precisa se distrair um pouco, passou a
semana trabalhando em dois plantões, vai passear.
— Tudo bem você ficar com Adrian por algumas horas? Eu
volto antes do fim da tarde — prometi.
— É claro, Vic. Não se preocupa com horário, só se distrai e
aproveita o tempo com a sua amiga.
— Tudo bem. Eu volto logo. — Me inclinei para dar um beijo
em Alexander e apertei a barriguinha de Adrian, antes de me
levantar.
— Tau, dinha! — Adrian gritou. Mandei beijo pra ele e entrei
em casa. Subi correndo para o meu quarto e peguei meu celular.
— Oi, princesa — Alexia atendeu no segundo toque.
— Você quer sair? — perguntei.
— Uau! É um convite para um encontro? — ela brincou, rindo,
e me fazendo rir também.
— Se você quiser considerar como um.
— Aonde nós vamos?
— Pensei em irmos ao shopping, podemos comer, dar uma
volta... — sugeri, despretensiosamente.
— Você quer algo no shopping? — Alexia perguntou.
— Talvez — admiti. Alexia riu.
— Tudo bem.
— Posso passar para te buscar.
— Pode. Te vejo em 20 minutos.
— Tchau, Alex — desliguei, rindo.
Peguei uma bolsa, calcei um tênis e coloquei os óculos escuro
enquanto descia as escadas e saía de casa. Destravei meu carro e
entrei, deixando a bolsa no banco carona.
Cheguei na casa de Alexia em 15 minutos. Era bem perto da
minha casa, por isso tínhamos escolhido ali, para ficar perto da casa
de Allana e Theo. Felizmente Alexia já estava pronta e me
esperando, quando parei com o carro e buzinei.
— Eu precisava mesmo sair — ela falou ao entrar no carro.
Balancei a cabeça, rindo, e saí dali.
Não demoramos a chegar no shopping, mas demorei de achar
uma vaga no estacionamento. Por sorte, depois de rodar, achei uma
perto de uma das entradas do shopping.
— Que saco — Alexia reclamou, quando saímos do carro e
entramos por uma loja de roupa esportiva
— É sábado, amiga. O shopping está lotado — falei,
pendurando a bolsa no ombro enquanto saíamos da loja.
— O que quer fazer aqui, Vic?
— Eu queria sua ajuda para começarmos a planejar o
aniversário de Adrian.
— É claro, amiga. Posso te ajudar no que for.
— Então vamos fazer umas compras e depois podemos olhar
algumas coisas para a festinha dele — sugeri.
— E comer, por favor. Eu preciso comer.
Dei risada.
— Vamos comer, Alexia Faminta Patterson — debochei,
abraçando-a de lado e puxando-a comigo. Alexia riu.
Enquanto procurávamos coisas para a festa de Adrian eu me
lembrei do ano passado; eu estava no lugar de Alexia, ajudando
Allana a comprar as coisas para a festa do filho. Agora era Alexia
quem estava no meu lugar, me ajudando a comprar as coisas para a
festa do meu afilho.
Respirei fundo, antes que meus olhos se enchessem de
lágrimas. Eu sabia que Allana estaria feliz por eu estar cuidando de
Adrian e planejando a festa dele. Talvez por isso ela tenho o deixado
para mim, porque sabia que eu faria de tudo por ele. E eu faria
mesmo. Sempre.
Depois de algumas horas, nós finalmente estávamos voltando
para casa. Eu comprei algumas coisas para mim, Adrian, Alexander
e algumas coisas que achei para usar na festa. Claro que aproveitei
para comprar lanches no McDonald’s para jantarmos. Era sábado.
— Eu te vejo na segunda. — Alexia disse, ao sair do carro com
as suas sacolas.
— Até lá. — Abri um meio sorriso e ela entrou em casa, após
piscar para mim. Eu realmente era muito grata por tê-la comigo.
Sabia que Alexia estaria ao meu lado, independentemente da
situação.
Eram 17h00 quando cheguei em casa. Demorei um pouco
mais do que imaginei no shopping, mas ainda era final da tarde. No
horário que prometi voltar.
Encontrei Alexander e Adrian na sala, vestidos, comendo
frutas, e assistindo desenho. Adrian estava sentado entre as pernas
de Alexander, pegando os pedaços de manga cortados no pratinho.
Vontade de apertar esse menino e não soltar mais.
— Oi — falei, deixando as sacolas no sofá e tirando os tênis.
Me sentei com os dois no chão e Alexander me deu um beijo. — Eu
trouxe o jantar e algumas coisas para vocês.
Adrian virou a cabeça na hora para me olhar. Alexander riu.
— Interesseiro — ele debochou, me fazendo rir. Adrian apenas
ficou me olhando, enquanto mastigava o pedaço de manga que
havia acabado de colocar na boca.
— Estou começando a planejar o aniversário de Adrian —
contei, bagunçando os cabelos do pequeno.
— Mas ainda faltam 5 meses, Vic — Alexander argumentou.
— E daí? Eu quero começar a planejar agora. — Me
empertiguei, fazendo-o dar risada.
— Tudo bem, senhorita apressada. Vamos começar.
— Vamos? — repeti, arqueando as sobrancelhas.
— É, vamos — Alexander murmurou, me abraçando pela
cintura, e me beijou.
Aquele era o Alexander pelo qual eu tinha me apaixonado 6
meses atrás, o prestativo, atencioso, preocupado e gentil. Acho que
não chegaria o dia em que eu não fosse apaixonada por ele.
5 meses depois. Outubro de 2019.
Dia 4 de Outubro. Aniversário de Adrian.
Após meses planejando, comprando as coisas aos poucos e
organizando, finalmente o aniversário dele havia chegado.
Alexander parecia mais ansioso que eu e Adrian juntos.
Como prometido, Alexander me ajudou em casa detalhe.
Muitas vezes disse que Alexia não era necessária, que eu e ele
dávamos conta. Por sorte, minha amiga levava tudo na esportiva e
ele não falava tão a sério.
Não seria uma festa grande, muito pelo contrário. Adrian devia
ter amizade com uns quatro bebês da rua e foi quem nós
chamamos. Pelo menos, eram mais pessoas do que nos outros
anos.
Sentimos falta de Allana e Theo em cada preparativo, lembrei
como ela fazia e imaginei como ela faria. Aquilo cortou meu coração
a cada maldito segundo. Era o primeiro aniversário de Adrian sem
os pais e com os padrinhos.
Adrian não entendia, mas Alexander e eu sim, e aquilo era
insuportavelmente difícil. Ficou mais fácil com o tempo, mas quando
chegava o aniversário dos dois ou alguma data comemorativa, a dor
voltava com a mesma força daquela noite.
Eu não podia falar que superei totalmente ou esqueci, porque
não. Eu não tinha superado e muito menos esquecido, eu só estava
suportando a dor de uma forma melhor. Seguindo em frente, como
eles gostariam que fosse.
Algumas vezes ainda conseguia ouvir os dois na minha mente.
“Segue em frente, Victoria”. E eu seguia, mesmo que a dor
massacrasse meu coração a cada vez que eu lembrava que tinha os
perdido. Mas aquilo ficava cada dia menos frequente. alvez
T eu
estivesse seguindo da forma correta, ou talvez estivesse apenas
cada dia mais enterrada na dor. Eu não sabia.
De uma coisa eu tinha certeza: ter Alexander, Adrian e Alexia
comigo, amenizava qualquer tipo de dor que eu sentia. Eles faziam
com que eu me sentisse viva, a cada dia era como um
renascimento, de mim mesma.
A cada vez que a escuridão ameaçava me engolir, eu
lembrava que os tinha comigo, e imergia novamente, me
recuperando e não me deixando afundar em mim mesma. Eu estava
indo bem.
Cuidar do aniversário de Adrian também distraiu minha
cabeça, me permitindo focar apenas naquilo, no meu trabalho e em
casa. Minha mente estava cheia e eram como diziam: “Ocupe-se.
Mente vazia atrai lembranças.” Eu acreditava fielmente naquilo, de
que mentes vazias podiam te afundar por si só, sem mais nada, sem
nenhum tipo de gatilho. Mas mentes ocupadas, da forma certa e
com coisas boas, e não sobrecarregadas, podem te salvar da
escuridão.
Desde que começamos a planejar fizemos tudo aos poucos.
Era um aniversário simples, mas tinha um tema. E não podíamos
deixar passar em branco, era seu primeiro aniversário conosco,
tinha que ser algo bom, mesmo que fosse simples.
Seria em casa mesmo, não tinha muito sentido fazer festa em
um salão devido ao número de convidados. Um salão para 10, 15
pessoas? Realmente não fazia sentido, e não era necessário. A
área da piscina de casa era ótima para a mini festinha, só colocar
uma grade em volta da piscina, por causa das crianças, e estava
tudo certo.
Além da mini festinha, eu e Alexander preparamos uma
surpresa para Adrian. Há alguns dias, decidimos que ele precisava
de um companheiro, um amiguinho, e que pudesse ficar com ele por
muitos anos. Então, estávamos procurando algum cachorro para
adotar, de preferência filhote.
Adrian amava quando via os cachorros na televisão, em
desenhos ou em alguma casa pela vizinhança. Ele era doido, mas
também, como não amar cachorros, não é?! Tínhamos certeza de
que aquele era o presente perfeito e a casa tinha estrutura e
principalmente espaço para cachorro de qualquer porte.
Não achamos nenhum filhote nos dias que procuramos. Então,
no dia do aniversário, acordamos cedo e chamamos a babá para
ficar com Adrian enquanto íamos a um abrigo que Alexia disse
conhecer; ela havia pegado seu labrador lá. Inclusive, Adrian era
doido pelo cachorro dela. Quando o via, o abraçava e não queria
soltar mais.
A ideia do filhote foi de Alexander e eu achei a melhor ideia do
mundo. Seria bom para Adrian ter um companheiro que o protegeria
e estaria sempre com ele, por muito tempo.
— Vic, tá pronta? — Alexander perguntou, descendo as
escadas com as chaves do carro nas mãos. Lucy estava sentada na
poltrona lendo um livro e eu estava abaixada no chão falando com
Adrian.
— Tô, tô pronta — respondi. Dei mais um beijo em Adrian,
antes de me levantar. — A madrinha volta logo.
— Onde dinha e dinho vai, dinha? — ele perguntou, curioso.
Tradução: “Onde madrinha e padrinho vão, madrinha?”.
— Madrinha vai buscar uma coisa para você.
— Plesente?
Alexander e eu rimos. O garoto era esperto, dificilmente
conseguíamos esconder algo dele.
— Talvez. — Toquei a ponta do seu nariz e peguei minha bolsa
no sofá, seguindo Alexander para fora de casa. Entrei no banco
carona, deixando a bolsa no meu colo e coloquei o cinto.
Liguei o rádio, mas conectei meu celular. “Artificial Nocturne”
começou a tocar e Alexander aumentou um pouco o som.
— Qual o endereço? — ele perguntou.
— Alexia me mandou por mensagem — respondi, pegando o
celular no bolso da calça jeans. Como era fim de ano, estava
esfriando. Eu estava com uma calça jeans, bota e jaqueta de couro.
Alexander estava basicamente a mesma coisa que eu. Nós
combinávamos, em muitas coisas.
— Coloca no GPS, Vic, por favor — Alexander pediu, me
entregando seu celular. Abri na conversa com Alexia e procurei pelo
endereço nas mensagens marcadas. Quando o encontrei, coloquei
meu celular no meu colo, aproveitando que o carro estava parado
no farol e digitei no GPS do celular de Alexander.
Devolvi o celular para ele e Alexander colocou no suporte,
prestando atenção no caminho. Não demorou para chegarmos no
abrigo, que por acaso ficava perto do hospital onde eu trabalhava.
E eu estava de férias, finalmente. T
inha começado há uma
semana atrás. Eu estava mesmo precisando de férias, já que não
tirei ano passado por conta de tudo o que aconteceu, eu precisava
focar no trabalho naquele momento para não enlouquecer com a dor
que estava sentindo.
Meu aniversário havia sido no dia anterior. Eu tinha 28 anos,
oficialmente. Não teve nada demais, fizemos apenas um jantar em
casa e um bolo. Não fomos a um restaurante porque Adrian estava
enjoadinho, porque a sinusite estava atacada. Aquele menino tinha
todos os “ites” possíveis; sinusite, rinite, bronquite e gastrite.
A vida de Adrian era comer frutas e tomar suco natural. Era
ótimo para o seu estômago e ele adorava, o que facilitava muito as
coisas. Seria bem difícil se ele não gostasse das coisas que podia
comer, mas ele adorava. Era uma criança adorável, além de muito
bonzinho. A coisa mais fácil era lidar com Adrian.
Ele havia melhorado naquele dia, o nariz estava menos
inchado e os remédios estavam fazendo o efeito esperado. Ele
voltou a ser o mesmo Adrian, sem enjoamentos. Adrian tendia a
ficar chato quando seus “ites” atacavam, principalmente quando era
a rinite e ele espirrava o tempo todo. Procurávamos deixar o mínimo
de pelo possível perto dele.
Quando Alexander estacionou em frente ao abrigo, eu saí do
carro com a minha bolsa. Aquela era a nossa última chance de
achar um filhote no dia do aniversário de Adrian. Se não
achássemos naquele dia, não seria a mesma coisa. Claro que ainda
adotaríamos, mas não teríamos o mesmo efeito, a surpresa do
aniversário.
Alexander me deu a mão, entrelaçando os dedos aos meus, e
nós entramos no abrigo. Por sorte, abria às 07h00 da manhã e eram
08h40. A minha definição de “acordar de manhã” acabava com
Alexander.
Ele estava acostumado a acordar mais tarde, já que não tinha
horário fixo para trabalhar. Já eu, estava acostumada a acordar
cedo para trabalhar ou estudar. Ele que era o preguiçoso da casa e
estava levando Adrian no mesmo caminho.
— Achou algum filhote? — Alexander perguntou, vindo para o
meu lado, enquanto andávamos pelo abrigo, procurando por um
filhote. Eram tantos cachorros abandonados. Eu me perguntava
como o ser humano tinha a capacidade de abandonar um ser que
só sabia amar incondicionalmente?
— Nada até agora. — Suspirei, desanimada. Não queríamos
levar um cachorro adulto, ele ficaria pouco tempo com Adrian.
Queríamos um filhote, para ficar muito tempo com ele, para ser seu
companheiro.
— Talvez a gente não consiga agora. Se não conseguirmos,
podemos procurar depois.
— Depois não vai ter mais graça — reclamei, me afastando
para olhar mais. Alexander respirou fundo e veio atrás de mim.
Eu estava de braços cruzados e com um quase bico,
desanimada por não encontrar um filhote sequer. Realmente não
teria mais graça dar depois, se achássemos. Tinha que ser naquele
dia, seria especial.
Quando quase não haviam mais cachorros e eu já estava
desistindo, encontrei-o. Ele estava deitadinho, os olhinhos
arregalados e tristes. Meu Deus...
— É ele — balbuciei, abaixando-me e o cachorrinho se
levantou na hora, vindo até a grade e eu consegui passar a mão
nele.
— É filhote? — Alexander perguntou, aproximando-se.
— Ele é pequeno — respondi, maravilhada.
— Eu vou falar com a diretora. Espera aqui — ele pediu, dando
meia volta. A diretora nos deixou livres para escolher o que
quiséssemos. E, depois de tanto procurar, finalmente achamos.
— Será que você quer um lar? — falei com o cachorrinho, que
me olhava com os olhinhos grandes, pareciam em suplica. Era um
pastor alemão e macho. Queríamos macho mesmo, Adrian gostaria
muito mais.
Alexander não demorou a voltar com a diretora do instituto. Eu
me levantei, depois de acariciar o cachorro mais uma vez.
— Ah! É ele — a diretora falou. — Chegou há quase 2
semanas, a família o deixou aqui.
— Ele ainda é filhote, certo?! — perguntei. Ela fez que sim com
a cabeça. — Quanto tempo ele tem?
— Acredito que por volta de 3 anos.
— É ele! — declarei, abrindo um sorriso. Não tinha como não
ser.
— Ele mesmo? — ela investigou.
— Com certeza é ele. — Alexander confirmou, sorrindo e
esticando a mão para mim. Coloquei a mão sob a dele e fui para o
seu lado. Eu estava animada com a nossa escolha.
Era perfeito; um pastor alemão de 3 anos de idade. Seria o
companheiro perfeito para Adrian. Aquilo era o destino, não tinha
outra explicação. Por que, quando que nós iríamos achar
exatamente o que precisávamos? Era uma em mil chances. E
aconteceu. Era destino.
Depois de resolver toda a papelada, voltamos onde os
cachorros estavam para pegar o filhote. Ele veio correndo para o
meu colo quando a grade foi aberta. Peguei-o, já indo para a saída.
Eu não via a hora de chegar em casa e dar ele para Adrian. Meu
afilhado com certeza ia surtar com o presente.
— Adrian vai te amar. — falei, rindo. Eu estava eufórica e
muito feliz. Deu certo, no fim das contas. Na última hora, mas deu
certo.
Tudo era questão de acreditar no destino; nunca tive tanta
certeza daquilo.
Alexander logo estava atrás de mim, com os documentos nas
mãos e digitando no celular. Ele destravou o carro e eu entrei no
banco carona, colocando o filhote no meu colo.
— A gente devia ir comprar caminha, ração e alguns
brinquedinhos.
— A gente tem que ir para casa, Vic — Alexander rebateu, o
tom de voz calmo. — Já são 09h45. A festinha começa às 13h00 —
ele me lembrou.
— Eu sei, Alex, mas ainda temos que passar no supermercado
para comprar o bolo — argumentei. — Podemos parar em algum pet
shop para comprar isso. É coisa rápida — sugeri, fazendo carinho
no filhote, que estava deitado no meu colo.
Alexander balançou a cabeça, parado em um farol, a
expressão pensativa; ele tamborilava os dedos no volante na batida
da música que coloquei ao entrar no carro. “Full Moon” estava
tocando.
Sim, Crepúsculo tinha uma trilha sonora incrivelmente
sensacional. Eu amava. E por sorte Alexander nunca reclamava das
minhas playlists, até gostava da maioria das músicas.
— Tudo bem — Alexander concordou. — Temos um tempo.
— É claro que temos — murmurei, inclinando-me para dar um
beijo em sua bochecha e fazendo-o sorrir, enquanto prestava
atenção no trânsito.
Não demorou para chegarmos em um pet shop. Alexander
estacionou em uma vaga e eu sai do carro, deixando o cachorro no
banco carona. Ele não travou o carro e deixou a janela aberta. Dava
para ver o carro de dentro da loja, iríamos ficar de olho.
— Vem, não vamos demorar — Alexander chamou,
estendendo a mão para mim. Segurei na mão dele e nós entramos
no pet shop.
Como o cachorro estava de banho tomando e com as vacinas
em dia, compramos apenas duas caminhas, ração, potes de água e
comida e alguns brinquedinhos de borracha. Era como um bebê.
Voltei para o carro enquanto Alexander pagava as compras,
não queria deixar o filhote sozinho por mais tempo que o
necessário. Eu seria paranoica com ele sozinho como era em
relação a Adrian ficar com a babá, podia até ver. Me conhecia bem
para saber que seria daquela forma.
Quando Alexander entrou no carro, eu estava sentada, com o
filhote no colo e conversando com ele. Estava contando sobre
Adrian e que ele seria seu companheiro. Alexander apenas riu e
saiu dali, indo para o supermercado.
Eu continuei conversando com o cachorrinho, enquanto um
vento refrescante entrava pelas janelas abertas. Preferia mil vezes o
vento natural ao ar condicionado. Eu era cheia de tudo natural,
sempre fui. Aprendi aquilo com Allana. Menos consumo de energia,
mais saúde para a natureza.
No supermercado, Alexander ficou no carro e eu entrei. Eu
escolheria melhor o bolo, ele foi obrigado a concordar. Mas
decidimos, juntos, que teria que ser de brigadeiro ou mousse de
chocolate. De resto, eu escolheria. Fiquei feliz ao ouvir Alexander
falar que confiava no meu bom gosto.
— Não demora — ele pediu, pegando o filhote no colo,
enquanto eu dava a volta no carro. Balancei a cabeça, com um meio
sorriso, e ele piscou para mim, sorrindo.
Depois de procurar um pouco consegui encontrar o bolo
perfeito; quadrado, de tamanho médio e todo de chocolate, com
recheio de brigadeiro e cobertura de chocolate granulado colorido.
— Perfeito! — Sorri, pegando o bolo.
Alexander riu de mim, não riu?! Mas, quando saí do
supermercado, peguei ele de conversa com o filhote, falando sobre
Adrian e nossa cara. Entrei no carro, rindo. Retribuição sempre tinha
conosco dois. E eu tinha certeza de que sempre teria. Nada
mudaria. As implicâncias, provocações ou brigas. Mas seriam
diferentes, aquilo eu sabia com toda minha alma.
Para sorte de Alexander, nós chegamos logo em casa. Sorte
dele porque eu estava ansiosa e eufórica para chegarmos logo.
Queria ver a reação de Adrian ganhando seu mais novo
companheiro.
Encontramos nosso menino sentado no tapete da sala,
assistindo desenho e brincando com alguns brinquedos de
borracha. Ele estava um pouco entretido, mas seus olhos brilharam
e ele sorriu ao nos ver entrando.
— Dinha! Dinho! — Adrian riu, se levantando.
Eu estava atrás de Alexander, com o filhote na coleira, e ele
carregava todas as outras coisas. Depois de colocá-las no sofá,
Alexander pagou para Lucy e ela foi embora. Melhor. Aquele
momento era único. E totalmente nosso.
— Madrinha e padrinho tem uma surpresa para você. —
Alexander contou, se abaixando na frente de Adrian que vinha
andando até nós. Eu fiquei mais longe, tentando fazer com que ele
não visse o cachorro atrás da poltrona.
— Supesa? Pla eu? — Adrian repetiu, a boquinha se abrindo
em espanto, e me fazendo rir.
— Sim, surpresa para você — Alexander confirmou e me olhou
por cima do ombro em seguida. Peguei o filhote no colo e fui até os
dois, me abaixando no chão também.
Os olhinhos de Adrian se arregalaram tanto que pensei que
fossem sair das órbitas e sua boca se abriu.
— Sorro! — ele gritou, levando as mãozinhas até a boca
aberta.
— Esse cachorrinho é seu novo amigo. — falei, colocando o
filhote no chão. — É seu companheiro agora, meu amor.
— É meu? — Adrian perguntou, espantado e surpreso.
Alexander e eu nos entreolhamos e sorrimos.
— Sim, garotão, é seu — Alexander respondeu.
Adrian abaixou-se e pegou o filhote no colo. Era perfeito para
ele.
— Oi, abigu. Seu nome é Thor e eta é nossa casa — disse,
rindo e levando o filhote junto com ele para perto dos brinquedos.
Alexander me ajudou a levantar e nós ficamos olhando Adrian
por um momento, antes de começar a arrumar as coisas da
festinha.
Às 13h00 a casa estava arrumada e nós estávamos todos
prontos.
Adrian parecia um príncipe, Alexander estava lindo e eu estava
como uma princesa, com um vestidinho rosa rodado. Era uma
minifesta, bem simples, então nem salto coloquei, apenas uma
rasteirinha com pedras transparentes.
Alexia chegou depois do 12h00 e trouxe algumas coisas para
ajudar, e chegou mais cedo para ajudar. Ela, definitivamente, era a
minha salva vidas. Sempre. Alexia parecia advinhas quando eu
precisava de ajuda e aparecia para me socorrer. Eu jamais podia ser
grata o suficiente por tudo o que ela fazia por mim desde que me
conheceu.
As vizinhas, com seus filhos, amigos de Adrian, começaram a
chegar aos poucos. Eram 6, no total. Vieram elas, os maridos e os
amiguinhos de Adrian. Aquela era uma oportunidade para
conhecermos melhor as mães e os pais dos amiguinhos do nosso
bebê.
Alexander ficou comigo, conversando com a vizinha da casa
de frente, que era da mãe do amiguinho que Adrian mais gostava de
brincar e ficar chamando pela janela da sala. Enquanto
conversávamos, as crianças brincavam com Thor. Aquele cachorro
foi nosso melhor presente para nosso menino crescido.
Pouco antes das 16h00, eu me sentei em uma cadeira de sol e
Alexander sentou-se ao meu lado, me entregando um copo de suco.
Aceitei, com um meio sorriso, e tomei um bom gole. Ele me deu um
beijo, acariciando meu rosto por um momento.
Observei Adrian brincando com seus amiguinhos e o cachorro
correndo atrás deles. E, observando-o, eu me dei conta de que
aquela era a vida que eu almejava. Nunca daquela forma, mas eu
almejava um filho como Adrian e um marido como Alexander.
— Ele está feliz — Alexander murmurou, passando o braço
pela minha cintura e puxando-me mais para si.
— Sim, ele está — concordei, com um suspiro, entrelaçando
meus dedos aos dele, e fechei os olhos por um momento.
De uma forma, eu tinha minha família. Não foi da melhor
maneira que aquela família se juntou, mas ela havia sido construída
em cima de muita força e cumplicidade. E eu amava aquela família
mais do que tudo no mundo.
Meses depois... Janeiro de 2020.
Eu tinha uma família.
Depois de tanto tempo, tantas coisas acontecendo e tantos
problemas, eu, Alexander e Adrian havíamos nos tornado uma
família de verdade. Com seus altos e baixos, problemas, dores,
mas, de fato, uma família; aquilo era incontestável.
Eu era tão grata por aquela nova chance que a vida havia me
dado depois de perder praticamente tudo. Nunca quis perder a única
família que tinha me restado, eles eram tudo para mim, e eu teria
me afundado na minha própria dor, se não tivesse Adrian e Alexia
comigo. E, depois de algum tempo, Alexander também.
Era engraçado pensar em um ano atrás, a vida deu uma
guinada gigante e tudo mudou. Se chegassem para mim em outubro
de 2018 e perguntassem como eu me via em um ano, nem em
sonho responderia que morando com Alexander e cuidando de
Adrian. Eu sequer imaginaria aquilo. Provavelmente eu diria: “Com
Matthew, minha família e talvez em uma segunda faculdade”.
Aquela era a resposta da Victoria de 2018, eu não era mais
aquela mulher que estava com um cara que gostava e tinha seus
melhores amigos consigo. Eu era outra Victoria, a que recebeu uma
ligação dizendo que havia perdido seus melhores amigos e teria que
cuidar do filho deles junto com o padrinho, que por acaso era o cara
que odiava por 10 anos.
Eu era o oposto do que um dia já havia sido, mas estava
contente com o que me tornei, porque aquela a Victoria que eu
queria ser desde os meus 16 anos de idade; centrada, pediatra, com
uma família, um filho e alguém que eu era apaixonada, e que
também fosse apaixonado por mim. Eu tinha tudo aquilo, apesar de
ter perdido Allana e Theo. Aquilo era algo que eu jamais imaginei
com 16 anos.
Mas, aquela era a minha vida, e eu estava vivendo-a, como
Allana e Theo gostariam que eu fizesse. E, acima de tudo, eu
esperava que onde quer que eles estivessem, que estivessem
contente com o que eu estava fazendo há quase 2 anos, que
estivessem felizes que eu estava seguindo e principalmente que
estivessem satisfeitos com a forma que eu estava cuidando de
Adrian.
Já eram 2 anos naquela vida. E dois anos eram muito tempo
sem aqueles dois.
Respirei fundo, desviando os pensamentos e voltando a
atenção para o desenho que passava na televisão. Era sábado e fim
de inverno, então o tempo estava começando a ficar menos gelado.
Eu e Alexander estávamos em casa com Adrian e Thor.
Adrian brincava no tapete, sentado no meio das minhas
pernas, e Thor estava no colo de Alexander mordendo uma bolinha
de borracha. Eram duas crianças, com seus brinquedos. Eu amava
aquilo.
Aquele era um dos meus momentos preferidos em família; nós
juntos, fazendo qualquer coisa. Mas principalmente nós juntos em
casa, fazendo algo juntos. Era a melhor coisa da minha vida.
Baguncei o cabelo de Adrian, enquanto assistia o desenho na
televisão. Era só desenho naquela casa, exceto quando Adrian
dormia, era quando tínhamos liberdade para assistir filmes e séries.
Mas eu tinha que confessar que já havia me acostumado com
os desenhos, decorado as músicas e acabava colocando no carro
para Adrian quando saíamos. Era fascinante vê-lo tentando cantar e
Thor uivando as músicas.
Eu pensava como seria quando o levasse para escolinha, que
provavelmente já seria naquele ano mesmo, no segundo semestre.
Não sabia se estava pronta para deixá-lo e vê-lo crescer. Talvez eu
só quisesse segurá-lo comigo e desejasse que ele não crescesse,
mesmo sabendo que aquilo não era possível.
— Eu vou na cozinha e já volto. — Alexander avisou, me
dando um beijo no rosto, antes de se levantar e ir para a cozinha,
me deixando com os meninos na sala. Olhei por onde ele foi, assim
como Adrian e Thor, mas logo nossa atenção voltou para o
desenho.
Fechei os olhos por um momento, pensando em tudo.
Depois de mais um ano nossa família era real. Tão real quanto
o que eu sentia por Alexander.
Eu era apaixonada por Alexander Jenkins, pela nossa vida e
pela família que construímos. Eu não poderia pedir mais do que o
que tinha, apenas que não acabasse nunca.
— Dinha — Adrian chamou minha atenção, fazendo-me olhá-
lo.
— Oi, meu amor.
— Quelo baba. Tô com sede, dinha — ele disse, mostrando a
mamadeira vazia.
— Madrinha pega água para você. — Peguei a mamadeira
dele e me levantei, indo para a cozinha. Alexander não estava lá.
Estranho.
Enchi a mamadeira de Adrian com água e me virei para voltar
para a sala, mas parei ao vê-lo na área da piscina. Ele estava
sentado, os olhos fixos na água e a expressão estranha. O que ele
estava fazendo ali?
— Dinha — Adrian chamou, trazendo-me de volta à realidade.
Balancei a cabeça e voltei para a sala. Entreguei a mamadeira para
Adrian, enquanto me sentava atrás dele novamente. — Gado, dinha
— ele agradeceu, antes de começar a tomar a água. Dei um
beijinho nele. Tão fofinho agradecendo que dava vontade de apertar
e não soltar mais.
Enquanto estava apenas com os meninos na sala, mexendo os
dedos entre os cabelos de Adrian e acariciando Thor, eu me peguei
pensando em algo que percebi, mas era como se não tivesse
notado e só me lembrei quando vi Alexander sozinho na área da
piscina.
Alexander estava estranho.
Eu não lembrava exatamente quando aquilo começou, mas eu
podia perceber ele estranho. Era um estranho sutil, mas para quem
convivia, era possível perceber. Eu só não havia me dado conta
totalmente ainda.
Não sabia se tinha algum motivo ou se podia ser algo da
minha cabeça, mas, na minha visão, ele estava estranho.
No começo foi difícil, é claro. Mas será que para ele ainda
estava tão difícil como estava há pouco tempo atrás para mim?
Claro que eu ainda sentia absurdamente a falta de Allana e
Theo, mas eu estava seguindo em frente, como eles iam querer que
fizéssemos. E Alexander também seguiu. Nós dois seguimos,
juntos.
Mas, eu não podia fechar os olhos e simplesmente fingir que
ele não estava estranho, porque estava. E não era comigo ou com
Adrian, era em casa. Mudanças sutis, pequenas coisas, que quando
me dei conta, haviam se tornado grandes.
Porém, decidi não questioná-lo. Não naquele momento. Mas
decidi apoiá-lo. Talvez estivesse difícil para ele ainda, eu não sabia.
Daria o tempo que ele precisasse. Enfrentaríamos qualquer coisa
juntos, com aquela família que construímos.
Quando Alexander voltou para a sala, eu tamborilava os dedos
nas coxas, pensando em uma forma de falar com ele, sem
questioná-lo ou pressioná-lo. Queria fazer aquilo com calma, da
forma certa.
Mordi o lábio inferior, olhando-o de canto de olho; ele estava
com o olhar fixo na televisão.
— Eu estarei pronta quando você estiver — murmurei, virando
a cabeça para olhá-lo. Alexander me olhou com a testa franzida.
— Para o quê?
— Para tudo. Para qualquer coisa. Para conversar. — Dei de
ombros, tentando soar despretensiosa. Alexander semicerrou os
olhos, ele me conhecia bem.
— Quer dizer algo com isso?
— Não.
— Victoria — Alexander chamou minha atenção. Desviei o
olhar e ele pegou meu rosto, me fazendo olhá-lo. — Fala.
Mordi o lábio inferior.
— Eu só estava te achando estranho.
— Estranho como?
— Estranho. — Dei de ombros.
— Defina estranho — Alexander pediu.
— Não tem como definir. Estranho é estranho.
— Victoria...
— Eu só quero dizer que podemos fazer e falar qualquer coisa.
Desde que estejamos juntos.
— Nós estaremos, Vic. Estaremos — Alexander prometeu, me
dando um beijo na testa. — Eu vou tentar dormir um pouco, estou
com uma enxaqueca insuportável. Mais tarde eu levanto para
comermos alguma coisa.
Balancei a cabeça e ele se levantou, pegando seu celular, deu
um beijo em Adrian e fez carinho em Thor, antes de me dar uma
beijo rápido e subir as escadas, nos deixando ali.
Senti meu coração dar uma batida diferente, como se algo
estranho estivesse acontecendo ou fosse acontecer . Ver Alexander
subir aquela escada apertou meu coração de uma forma dolorosa e
me lembrou quando vimos Allana e Theo sumindo no aeroporto.
Aquela sensação me perseguia mesmo depois de tanto tempo e me
assustava.
Depois que Alexander sumiu e se enfiou em seu quarto, com a
desculpa de enxaqueca, eu subi com Adrian para dar banho nele; já
era fim de tarde e era melhor dar banho naquele horário, antes que
esfriasse mais. Thor correu atrás de nós e Adrian subiu as escadas
junto com ele. Meus meninos independentes.
Antes de ir para o meu quarto, entrei no de Adrian para pegar
um pijaminha para ele e fomos para o meu quarto. Thor deitou em
sua caminha, que ficava no canto do quarto e eu fui com Adrian
para o banheiro.
— Vamos tomar um banho, hein, gostosinho?! — conversei
com ele, enquanto tirava sua roupa. Adrian não respondeu, estava
entretido com o brinquedo de borracha em sua mão.
Enchi a banheira, enquanto Adrian andava pelo banheiro,
balançando o brinquedo nas mãos. Coloquei a mão na água,
testando a temperatura; estava morna, quase quente, mas nada que
fosse causar algum dano a pele dele. Devido à temperatura baixa, o
banho precisava ser um pouco mais quente.
— Vem com a madrinha, amor da minha vida — chamei
Adrian, esticando os braços para ele. O pequeno correu para mim,
se jogando em meus braços e eu o peguei no colo, colocando-o
dentro da banheira e joguei mais alguns brinquedos de borracha na
água.
Me abaixei ao lado da banheira e comecei a dar banho em
Adrian. Ele sempre ficava quietinho durante o banho, brincando com
suas borrachas. Era fácil distrai-lo, algumas vezes. Mas tinha dias
que até Adrian estava impossível. Puxou aquele lado mais rebelde
para a mãe e o tio, com certeza.
— Seu padrinho está estranho, não está?! Ou é só coisa da
cabeça da sua madrinha? — conversei com Adrian, enquanto
deixava seu corpo coberto de espumas. Ele se divertia com aquilo.
— Dinho? — Adrian levantou a cabeça para me olhar, os
olhinhos azuis curiosos.
— É, o próprio. — Suspirei pesado. — Seu tio e padrinho, o
doido. E idiota, é claro. — Tagarelei.
— Dinho leva nenê na cina.
Dei risada. Parecia que Alexander só sabia levar Adrian na
piscina, porque ele só falava que o padrinho fazia aquilo. oquei
T a
ponta do seu nariz, ensaboando-o e Adrian riu.
— Não, dinha. Espuma nenê não pode. Joga baba dileito. —
Ele bateu as mãozinhas nas minhas, afastando-as. Dei risada,
passando a esponja em seus bracinhos. Acho que o joga baba
dileito quis dizer: “Joga água direito”. Às vezes nem eu entendia o
que Adrian falava.
— A madrinha tá jogando água direito — me defendi,
ensaboando o resto de seu corpo, já que no nariz não podia.
— Não, dinha. Dinha Passo espuma no naliz do nenê. Não
pode. — Adrian me encarou, a expressão e a voz sérias. Quem vê
pensa que era todo sério daquela forma.
— Ah, não pode, né?! Seu descarado. — Fiz cosquinha nele,
fazendo-o se dobrar de rir.
— Não pode, dinha. Tem que dá banho dileito no nenê — ele
falou quando o deixei respirar novamente.
— Seu impossível. Contar para o seu padrinho suas
sacanagens — alertei, fazendo-o abrir um sorrisinho descarado.
Não demorei muito no banho de Adrian, não era bom deixá-lo
tanto tempo sem roupa. Tirei-o da banheira e o enrolei em uma
toalha. Sequei-o ainda dentro do banheiro, para que não pegasse
nenhuma corrente de ar com o corpo molhado, e só então o levei
para o quarto.
Thor continuava deitado em sua cama, mas levantou ao nos
ver no quarto e sentou-se ao lado da cama, quando coloquei Adrian
em cima do colchão. Como ele já não usava mais fralda, não tinha
muito o que fazer. Então o vesti rapidinho e dei um beijo na ponta do
seu nariz, fazendo-o rir.
Tirei a toalha do colchão e Adrian se inclinou para fora do
colchão.
— Vem, Thor — ele chamou e Thor pulou em cima da cama,
se deitado e Adrian se deitou em cima dele. Thor só subia nas
camas ou no sofá quando alguém o chamava, caso contrário,
continuava no chão. Mas é claro que esperando pelo convite.
Coloquei a toalha pendurada atrás da porta do meu banheiro e
voltei para o quarto com dois brinquedos de borracha. Entreguei-os
a Adrian e ele os pegou, mexendo entre os dedos.
— Vamos ler uma historinha? — sugeri.
— Sim, dinha! — Meu afilhado fez que sim com a cabeça. Ela
adorava quando eu contava histórias para ele dormir.
Peguei a historinha do Patinho Feio. Era uma das favoritas de
Adrian. E eu também gostava bastante daquela.
Me sentei na cama, encostando nas almofadas e Adrian se
arrastou para perto de mim, encostando-se e puxou o edredom.
Thor se levantou apenas para se deitar mais perto de nós.
Comecei a contar a história, enquanto mexia os dedos entre os
cabelos de Adrian. Ele ficava quietinho, ouvindo, prestando atenção
em cada detalhe. Até Thor ficava daquela forma.
— Mamãe — Adrian chamou.
— Não, é madrinha. — Balancei a cabeça, estranhando. —
Madrinha Victoria.
— Mamãe — ele repetiu, levantando a cabeça para me olhar.
Ao ouvir Adrian chamando-me novamente de "mamãe", eu me
dei conta: eu era sua mãe. Eu havia me tornado sua mãe. Meus
olhos se encheram de lágrimas e eu lutei para segurá-las. Aquele
não devia ser o meu lugar, mas era. Há quase 2 anos era. E eu só
havia me dando conta naquele momento, ao ouvir aquelas palavras.
— É, meu bebê. Eu acho que sou a sua mãe agora. —
Suspirei, depositando um beijo no topo da cabeça de Adrian. Lutei
contra as lágrimas. Acho que, em 2 anos, aquele foi o momento
mais difícil de segurar o choro.
Eu era a mãe de Adrian agora.
Virando a cabeça, vi Alexander nos olhando pela porta
entreaberta. Por que ele não entrava? Franzi a testa e, quando fui
falar algo, ele voltou para o seu quarto.
Estranho. Alexander estava estranho.
Balancei a cabeça, ignorando aquilo. Falaria com ele depois,
agora precisava cuidar de Adrian.
Terminei de contar a história e coloquei o livro na mesinha de
cabeceira. Ajeitei-o na cama e abracei-o. Em poucos minutos Adrian
pegou no sono, ele ficava morto de sono depois de um bom banho.
E, como já tinha tomado mamadeira, deixei que dormisse.
Eram 19h40 quando olhei no celular. Deixei Adrian dormindo e
fui atrás de Alexander no quarto dele. Talvez pudesse fazer uma
massagem, para aliviar sua dor de cabeça. E depois perguntaria o
que ele tinha de verdade.
Thor veio atrás de mim quando saí do meu quarto. Entrei no
quarto de Alexander, mas não o encontrei lá. Que estranho. Tinha
visto-o entrando há poucos minutos.
A porta do armário estava aberta e eu fui fechá-la. Mas, o que
eu vi, ou melhor, o que não vi, me paralisou antes que minha mão
alcançasse a maçaneta.
Estava praticamente vazio. A maioria das roupas não estavam
ali. Não havia nada, além de poucas camisetas. Nada. Nada.
Olhei em volta; parecia tudo igual, menos o armário vazio. Ao
olhar para cima do armário vi que não havia nenhuma das malas
dele ali. Não tinha nada.
Arfei, ao me dar conta do óbvio: Alexander havia ido embora.
Cai no chão, escorregando pela cama, e sentindo as lágrimas
descerem pelo meu rosto. Thor subiu no meu colo, parecia entender
que eu não estava bem, a julgar pela sua necessidade em ter minha
atenção.
Abracei-o no meu colo e apertei os olhos com força. Eu tinha
vontade de gritar e quebrar todo o quarto dele.
Alexander nos abandonou no momento em que formamos uma
família. E eu o odiava por ter ido embora. O odiava pelo simples fato
de ter deixado a mim e Adrian. Ele foi egoísta, só pensou em si
mesmo. Mas eu não seria egoísta.
Depois de alguns minutos, eu estava mais calma. Na verdade,
só havia parado de chorar porque Thor ficou reivindicando minha
atenção e distraiu minha mente.
Levantei-me e ele me seguiu de volta para o meu quarto.
Deitei ao lado de Adrian na cama, levando Thor junto comigo.
Abracei meu bebê e dei um beijo em sua testa, fechando os olhos.
Eu havia me tornado mãe de Adrian e jamais o abandonaria.
Eu faria o que Alexander não foi capaz de fazer
, o que o medo não o
deixou fazer. Eu cuidaria de Adrian, com ou sem ele.
Faria aquilo por Allana e Theo, e porque era o certo a se fazer.
E porque, acima de tudo, eu amava Adrian como um filho.
Acontecesse o que acontecesse, eu cuidaria de Adrian.
Mesmo que Alexander tivesse levado uma parte do meu coração
junto com ele.
FIM