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Sem Pudor

Anne Aresso
© 2014 Anne Aresso

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Para Cláudia,
a primeira leitora.
O único jeito de se livrar de uma tentação é ceder a ela.
Oscar Wilde
Junho de 2004

Sobrevoávamos a cidade litorânea de Saline, voávamos a baixa altitude e era possível ver com
detalhes a arquitetura peculiar da pequena comunidade. Uma praça central, uma igreja, uma escola,
algumas lojinhas que se aglomeravam numa ruela e, imponente, destoando de tudo, a construção de
um dos hospitais mais modernos da região. Um privilégio para o pequeno povoado, formado
principalmente por pescadores e artesãos, que tinha como moradores ocasionais: milionários,
políticos influentes e celebridades, que elegeram suas praias para construir luxuosas mansões de
veraneio. E esse era o meu destino, uma majestosa casa à beira mar, a Mansão Rochester.
– Se está pensando em desistir, ainda dá tempo. Falo para o piloto dar meia volta agora mesmo –
provocou Greg.
– Pensei que você estivesse dormindo e não planejando uma fuga – respondi. Havíamos
conversado pouco durante a viagem, tínhamos esgotado o nosso vocabulário numa cansativa
negociação de compra de uma famosa rede de hotéis.
– Eu tenho um interesse especial em seu casamento, Matt. Afinal, dentro de algumas horas, o
solteiro mais cobiçado do planeta vai ficar indisponível. E aí, meu amigo, finalmente terei alguma
chance com a mulherada.
– Você, mais que ninguém, sabe que eu vou me casar com a mulher da minha vida. E que história é
essa de chance com a mulherada, não está saindo com duas? Aliás, qual das duas vem para o
casamento? Lisa ou Jane?
– Nenhuma das duas, vou ver se arrumo uma dama de honra bem gostosa para me fazer companhia
ou, com alguma sorte, uma ex sua para consolar.
Esse era Gregory Michels, o cara que conhecia desde a adolescência. Meu parceiro de estudos,
de festas e agora dos negócios. Confiava nele e por isso, quando assumi a presidência das Empresas
Stone, não tive dúvida em trazê-lo para trabalhar comigo. Ninguém me conhecia melhor, nem mesmo
minha noiva. Sabíamos os segredos e os defeitos um do outro e o seu maior defeito, a sua maior
fraqueza eram as mulheres, quando queria uma, não media esforços para conquistá-la.
– Pode esquecer, Nathalie não convidaria nenhuma ex e depois dela não tive mais ninguém, você
sabe disso.
– Só estava brincando, cara! Eu sei que você é fiel à Nathalie. E a sua escolha não poderia ter
sido melhor, ela é maravilhosa, vai ser a esposa ideal. É educada, vem de uma família tradicional e é
linda.
– Para com isso Greg, parece minha mãe falando. Eu a amo. E é só por isso que estou casando e
dando adeus a minha liberdade – falei sem muita convicção. Ele acompanhou o meu namoro com
Nathalie. Estava ao meu lado quando fomos apresentados durante uma festa na faculdade. Fiquei
totalmente fascinado por aquela morena de corpo escultural. Desde o primeiro encontro rolou uma
química entre nós, era como se fôssemos feitos um para o outro. Gostávamos das mesmas coisas,
éramos ambiciosos, bonitos e inteligentes, formávamos um casal perfeito. Afinal, ela era a mulher
ideal para ser esposa de um CEO: discreta, culta e familiarizada com a alta sociedade. Se fosse um
negócio, seria a fusão perfeita. Se essa compatibilidade não era amor, então o amor era algo
desnecessário em nosso relacionamento. Quando meu pai teve o infarto que o afastou do mundo dos
negócios e me convocou para assumir as empresas, assim que me formasse, resolvi pedi-la em
casamento. Nathalie disse sim e em poucas horas se tornaria a Senhora Stone, esposa do presidente
das Empresas Stone.
A vista do imenso jardim decorado chamou a minha atenção. Mesas com arranjos de rosas
brancas se espalhavam pelo gramado da mansão, um caminho com pétalas, da mesma cor, levava até
a pequena capela, uma construção centenária erguida pelos antepassados de Nathalie e onde, hoje,
seria realizada a cerimônia do nosso casamento. Os poucos convidados seriam recepcionados nos
jardins. Era uma festa íntima, cinquenta pessoas, entre amigos, parentes e alguns empresários com os
quais eu mantinha uma estreita relação de negócios. O casamento estava sendo programado há algum
tempo, mas a morte repentina da avó de Nathy provocou uma mudança de planos, ou cancelávamos
tudo e adiávamos a festa ou faríamos uma recepção íntima para poucos. Apesar de relutante, Nathalie
concordou com a festa íntima.

~§~

O helicóptero pousou numa área afastada da casa principal. Um motorista com uma limusine
estava nos esperando para o traslado, apesar da distância ser curta e poder facilmente ser feita
caminhando. Passamos por jardins bem cuidados e prontos para a recepção. Empregados caminhando
para todos os lados, cuidando dos últimos detalhes.
– Cara, e a irmãzinha dela? Será que eu tenho alguma chance?
– Emma? Você está louco? Aquela garota é problema – respondi preocupado. Novamente
mulheres, será que Greg só pensava nisso?
– Problema ou não, ela é uma gatinha. Você já viu aquela tatuagem no pescoço? Cara, que vontade
de morder aquele pescocinho.
A imagem de Greg, nos seus quase dois metros, cabelos ruivos, sardento, praticamente um
personagem de Stephen King em Colheita Maldita, agarrando a minha cunhada, me deixou
incomodado. Assim como Nathalie, Emma tinha uma aparência frágil, mas ao contrário da minha
noiva, tinha um temperamento explosivo.
– Você não inventa de se envolver com a Emma, a garota já é maluca, você só vai complicar ainda
mais o cérebro dela – tentei convencê-lo. Não duvidava das intenções de Greg, sabia do que ele era
capaz de fazer para ter a mulher que desejava, isso já foi motivo de situações hilárias e muitas
gargalhadas, mas agora me preocupava, porque a garota em questão era um problema ambulante.
– Não se preocupe, não vou mexer com a sua cunhadinha gostosa. Mas que aquele estilo rebelde é
uma tentação, isso você não pode negar?
Não respondi a provocação. Emma não era o estilo de mulher que me atraía. Dois anos mais
jovem que Nathalie, não era feia, mas camiseta preta, calça jeans e tênis estavam muito longe do meu
conceito de tentação.
Albert veio nos receber. Ele devia ter mais de cinquenta anos, cabelos castanhos bem cortados
onde começavam a aparecer os primeiros grisalhos, não era mais alto que eu e, segundo Nathalie, era
o mordomo da família a mais de vinte anos, sempre sério e profissional, só o vi sorrir uma vez,
quando Emma o estava importunando com alguma bobagem e eles acabaram dando gargalhadas
depois da discussão. Foi a primeira vez que vi Emma sorrir também.
– Boa tarde, Senhor Stone e Senhor Michels. Estou aqui para servi–los. A família Rochester e os
convidados estão na ala sul da casa, onde foi disponibilizado um SPA para prepará-los para a
cerimônia, os senhores podem me acompanhar até lá, se assim desejarem.
– Não, Albert. Eu só preciso de um bom banho. Ainda tenho duas horas antes da cerimônia e
preciso relaxar um pouco. Vou subir para o meu quarto. Mande um empregado trazer meu terno,
dentro de uma hora, por favor.
– Sim, Senhor Stone. Providenciarei isso.
– Tem massagista, Albert? – Greg quis saber.
– Sim, Senhor Michels.
– Desculpa amigo, mas depois daquela guerra de nervos que enfrentamos para convencer aqueles
velhotes sovinas a nos vender a rede de Hotéis Masterson, eu prefiro relaxar com uma bela mulher
me massageando.
– Você não tem jeito, cara.

~§~

A água do chuveiro estava morna, relaxante. Queria um pouco de paz e sossego antes da
cerimônia. Estava exausto, fechar um negócio no dia do meu casamento não estava nos meus planos,
mas não pude adiar. Fazia algum tempo que eu estava de olho naqueles hotéis e a possibilidade de
compra surgiu na última hora. Conseguimos baixar o preço e fazer um ótimo negócio. Lucro certo,
sem riscos. Mas nem sempre era assim, às vezes era preciso arriscar, analisar todas as
possibilidades de fracasso, quando essas eram pequenas, valia a pena correr riscos. Não foi
diferente quando resolvi casar com Nathalie, analisei todas as possibilidades e as de insucesso eram
quase nulas. Nosso sexo era bom, sem arroubos de paixão, sem desconfianças, sem cenas de ciúmes,
quente na medida certa. Nunca brigávamos e Nathalie sempre acatava as minhas vontades. Sabia o
que queria, ela me queria, queria esse casamento tanto quanto eu.
Uma batida insistente na porta do quarto me obrigou a abandonar o chuveiro. Devia ser o
empregado com as minhas roupas. Enrolei uma toalha na cintura e fui atender.

~§~

Emma entrou sem ser convidada, usava um vestido preto de renda, que de tão curto poderia ser
confundido com um baby doll, estava descalça, os sapatos de salto pendurados nos dedos de sua mão
esquerda e na outra uma garrafa de whisky.
–Servido? – perguntou levantando a garrafa em minha direção e em seguida virando o gargalo na
sua boca e bebendo um gole.
– O que você faz aqui, Emma? – questionei, intrigado com a visita. O que a irmã mais nova da
minha noiva poderia querer comigo? Não tínhamos nenhuma intimidade, desde que a conheci não a
considerei apropriada para as minhas relações sociais, era excêntrica, revoltada e mal-educada, só
vestia preto e tinha uma turma de amigos esquisitos. Sempre que tentava conversar com ela sentia
uma irritação pelo seu deboche e acabávamos trocando ofensas. Quanto mais afastada essa maluca
ficasse de Nathalie e de mim, melhor e hoje não era um bom dia para mudar isso. – Você poderia se
retirar, preciso me vestir para o casamento! – ordenei, abrindo a porta para ela sair.
– Eu? Acabei de chegar. Não está feliz em me ver? Que novidade! – falou enrolando a língua,
bêbada.
–Você não deveria estar aqui. Vou pedir para um dos empregados chamar a sua mãe. Me dá essa
garrafa! – Estendi a mão. Ela riu alto.
– Senhor Matthew Stone, o Senhor Certinho, chato, arrogante e idiota do meu cunhado. Vim aqui
só para te parabenizar. Sempre consegue tudo o que quer. Parabéns por ter conseguido a minha irmã
só para você. Parabéns por tê-la afastado de mim. Parabéns por tê-la convencido que eu sou uma
péssima companhia para a futura Senhora Stone. Parabéns, parabéns, parabéns! – concluiu com um
sorriso irônico no rosto, sacudia a garrafa em minha direção. Bebeu outro gole. Aquilo estava me
deixando irritado.
–Você está bêbada. Entrega–me a garrafa. Emma, eu não estou brincando! – gritei, perdendo a
paciência. Fui em sua direção, mas ela foi mais rápida e escapou, correu pelo quarto, rindo.
–Shhh... Eu não terminei. Eu te odeio, sabia. Uma irmã te ama e a outra te odeia. Só queria
entender o que eu fiz para você? Eu sempre me comportei na sua frente e o que eu recebi em troca,
hein? Seu babaca? O quê? Seu desprezo e por consequência o desprezo da minha irmã. Por sua causa
ela me evita. Eu te odeio por ter transformado a minha vida num inferno.
Aproveitei um descuido e consegui tirar a garrafa de suas mãos, o que a deixou mais furiosa e a
fez se jogar para cima de mim tentando pegá-la de volta.
– Devolve! – gritou. Levantei a mão que segurava a garrafa acima da minha cabeça, deixando–a
fora do seu alcance. – Eu disse para me devolver a garrafa, agora! – Me empurrou e eu me
desequilibrei, caindo sentado na cama.
Emma subiu em cima de mim, ficando de joelhos no colchão, colocou uma perna de cada lado do
meu corpo e se esticou para pegar a garrafa. Eu a puxei com força para baixo e ela caiu sentada no
meu colo, de frente para mim. Nossos rostos estavam próximos e eu a olhei nos olhos. Olhos
castanhos claros, quase verdes, a boca com lábios grossos exalava o cheiro da bebida. Estava
tentadora, agora eu entendia o interesse de Greg. Ela era realmente linda
Larguei a garrafa em cima da cama, fora do alcance dela, e a segurei pela cintura. Ela não parava
quieta tentava pegar a bebida que estava atrás de mim, seus seios roçavam no meu peito. Sua pele era
quente, seu toque macio. Só então, me dei conta que aquela situação toda havia me deixado excitado
e meu membro estava tendo uma ereção. Precisava mandá-la embora, antes que eu fizesse uma
bobagem. E eu estava com muita vontade de fazer bobagem com aquela garota no meu colo.
– Eu vou chamar Mary Anne para ajudar você. Ok? – falei, tentando afastá-la.
–Não! Mamãe vai fazer um escândalo. E eu não preciso de ajuda. Estou ótima, só preciso do meu
whisky de volta. Por favor? Prometo que vou embora e deixo você e Nathalie serem felizes para
sempre. – Ela fez um beicinho e me olhou com os olhos para cima. Fiquei com vontade de rir e com
mais vontade ainda de morder aqueles lábios, mas a situação não era para isso.
– Não. Você está fora de controle e bêbada. E ainda me pergunta por que eu não quero você perto
da Nathalie? Você é instável, menina. Uma bomba pronta para explodir. E quando isso acontecer o
estrago vai ser tão grande que nem você vai aguentar as consequências – provoquei, irritando-a. Ela
me fuzilou com os olhos, não havia sobrado nada da menina meiga de antes.
– Você é um babaca! – Ela começou a dar socos no meu peito eu a segurei pelos pulsos. – Me
solta! – gritou, começando a se debater, soltei–a de repente e ela quase caiu pra trás, voltei a segurá-
la, puxando–a de encontro ao meu corpo. Ela parou ofegante. Seu cabelo caiu em mechas no rosto, a
boca entreaberta, o olhar selvagem, deliciosamente, selvagem. Não resisti e a beijei.
Esperei uma bofetada, um empurrão, mas em vez disso, Emma retribuiu o beijo com uma
voracidade que me tirou o fôlego. Nossas línguas trocaram de boca, uma sensação que eu
desconhecia tomou conta do meu corpo, algo que eu não conseguia controlar, que eu não queria
controlar. Desci as mãos até as suas coxas, senti sua pele arrepiar, levantei o seu vestido, agarrei–a
pela bunda e a pressionei contra o meu membro duro. Ela gemeu e jogou a cabeça para trás, me
oferecendo o seu pescoço.
– Meu Deus, como você é gostosa! – sussurrei. Levei a mão até seus cabelos e inclinei sua cabeça
para o lado, eu sabia que ali havia uma pequena borboleta. Eu a beijei com carinho e depois cravei
os dentes e provei seu pescoço, mordendo sem machucá-la. Ela gemia e mexia o quadril, me
provocando, pressionando o seu sexo contra o meu. Encontrei o fecho do vestido e o abri, deixando
as suas costas nuas. Deslizei as alças pelos seus ombros, elas caíram pelos braços, expondo dois
seios perfeitos. Eu a deitei na cama, tirei a toalha da minha cintura e me inclinei ao lado dela. Minha
boca encontrou a pele branca e macia do seu seio e eu o suguei. Minha mão desceu pelo seu ventre e
entrou na pequena calcinha de renda preta, meus dedos deslizaram para dentro dela. Ela estava
quente e úmida.
Que loucura eu estava fazendo? Nunca me deixei levar pelo desejo, sempre soube me controlar,
mas agora era mais forte, mais intenso, mais saboroso. Minha língua lambia seus mamilos
enrijecidos, eu os mordia levemente e depois chupava, abocanhando como se fosse devorá-los. Ela
correspondia, se arqueando para cima, me oferecendo seu corpo, as pernas abertas facilitando as
investidas dos meus dedos.
– Matt – ela me chamou, abandonei seu seio e a olhei nos olhos. – Eu quero você dentro de mim –
sussurrou e começou a acariciar meu pênis com a mão. Eu perdi a cabeça, beijei sua boca com
violência, machucando seus lábios. Comecei a meter meus dedos com mais força dentro dela e em
minutos a fazia gritar de prazer ao atingir o orgasmo. Ela gemia totalmente entregue. Totalmente
minha.

~§~

– Emma, você precisa ir. Você está bêbada, se não estivesse isso jamais teria acontecido. – Minha
voz saiu rouca, ela ainda me acariciava.
Eu tinha invadido um território proibido e precisava recuar, tirei meus dedos de dentro dela, ela
gemeu baixinho e colocou sua perna sobre a minha. Percorri com as costas da mão um caminho que
foi da sua coxa até o seio, olhei para o mamilo arrepiado e o mordi, sugando em seguida. Ela
colocou as mãos nos meus ombros e me puxou para mais perto.
– Você nunca deixaria eu fazer isso – sussurrei enquanto saboreava o seu seio. Eu estava perdido,
perdido de desejo, de tesão, de fome, fome pelo seu corpo. E pra piorar, eu não estava nem um pouco
arrependido do que estava fazendo, pelo contrário, estava arrependido de estar me casando. A
desejava como nunca havia desejado outra mulher, ficaria o dia inteiro trancado naquele quarto com
ela. Poderia imaginar várias maneiras de levá-la ao prazer. Ela era tão submissa, se entregou ao meu
toque sem pudor. Correspondia a cada carícia, desejou aquilo tanto quanto eu, mas estava
embriagada. E isso mudava tudo. Diante dessa lembrança, me afastei.
– Como você sabe que eu não faria se estivesse sóbria? – ela provocou. Estava saciada, mas
queria mais, podia ver isso nos seus olhos, me olhava com luxúria, colocou as pernas em volta da
minha cintura e me puxou para cima dela. – Você por acaso tentou?
– Emma, precisamos parar com isso, agora – falei aquilo mais para mim do que pra ela. Queria
prová-la, queria possuí-la até saciar o meu desejo. Queria meter pra dentro dela até fazê-la gritar e
pedir mais. – Vamos nos arrepender disso tudo depois.
Ela parecia não me ouvir, seus olhos se fixaram na minha boca e quando parei de falar, me
mordeu no lábio.
– Dane–se.
Mordi de volta, beijando–a com gana, a envolvi nos braços encaixando–a embaixo de mim,
pronto para penetrá-la.
Alguém bateu à porta.
– Senhor, viemos ajudá-lo a se vestir, trouxemos o seu terno. Podemos entrar?
– Não! – gritei, me afastei dela, levantei e enrolei a toalha na cintura. Precisava pensar, precisava
me acalmar. Estava ofegante exibindo uma ereção que não ia ceder sem uma chuveirada ou... Olhei
para Emma, ela havia se ajoelhado e sentado em cima das pernas, o vestido caído na cintura, os seios
com manchas vermelhas provocadas pela minha boca, os cabelos negros despenteados e a boca
inchada de beijar. Uma tentação. Linda, pronta para o sexo, pronta para ser minha.
Mas eu não podia arriscar tudo que construí por uma aventura inconsequente. Emma era um
negócio de risco. Eu a beijei quando devia expulsá-la, eu a mordi quando devia afastá-la e a teria
possuído se não tivessem nos interrompido. Eu nunca tinha perdido o controle com nenhuma das
minhas parceiras sexuais, nem com Nathalie, pelo contrário, sempre dominei a situação e hoje, com
Emma, parecia um adolescente trocando carícias com a primeira namorada, inseguro e faminto. O
que eu sentia por ela era apenas desejo. Eu amava Nathalie e ia me casar com ela. Essa era a melhor
decisão a tomar. Essa era a decisão certa a tomar.
Sentei ao lado dela e a ajudei a se vestir. Acariciava a sua pele com os dedos enquanto subia as
alças do vestido, não conseguia evitar. Ela estava de costas para mim, fechei o fecho do vestido e
beijei o seu pescoço. Emma inclinou a cabeça para trás e nossos lábios se encontraram. Lábios doces
e ardentes.
– Eu tenho um casamento para ir – falei num tom sério, me afastando da sua boca. – O que
aconteceu aqui foi errado.
– Eu sei – Ela parecia alheia a tudo, tinha um olhar perdido, longe. Levantou da cama pegou os
sapatos, abriu a porta e, antes de sair, me olhou sobre o ombro. – Seja feliz.
CAPÍTULO UM

Setembro de 2008.

O dia estava quente e abafado, já estávamos viajando há quase cinco horas e finalmente
começávamos a sentir os primeiros sinais da brisa vinda do oceano. O rádio tocava The Beach Boys,
a música falava de um lugar aonde as pessoas iam para ficar longe de tudo, um paraíso. Esse lugar
poderia se chamar Saline. Mas, ao contrário da música, eu estava indo ao encontro dos problemas e
não fugindo deles. Trevor dirigia concentrado na estrada, não sei se agi certo ao convidá-lo para
passar o feriado com a minha família, estávamos namorando há dois meses, mas já nos conhecíamos
há mais de um ano. Era um bom amigo e se mostrou uma excelente companhia para programinhas a
dois, era divertido, compreensivo e sexy. Sempre o considerei um homem bonito. Alto, loiro, olhos
castanhos, musculoso, um corpo de tirar o fôlego e que agora eu conhecia muito bem. Não o amava,
não como ele gostaria, sabia disso e ele também, mas como estávamos sozinhos há algum tempo,
decidimos que poderíamos tentar algo mais na nossa relação, além da amizade.
Paramos num semáforo, ele me olhou e sorriu, um sorriso que o deixava irresistível, pensei em
quantas garotas gostariam de estar no meu lugar.
– O que foi? Está tão calada? Está com medo da reação dos seus pais quando me conhecerem?
Você não deve se preocupar, eles vão se apaixonar. O pior que pode acontecer é sua mãe querer
largar seu pai para fugir comigo e se ela for tão linda quanto a filha, não vou resistir.
Dei uma gargalhada.
– Bobo. Você sabe que não é isso, estamos indo para uma festa de família e não serão só meus
pais que estarão lá. Meus tios, primos e sem falar na minha irmã e seu insuportável marido. Não
devia ter metido você nessa fria. Serão quatro dias do mais algoz sofrimento. Você vai me odiar e
não vai querer mais ser meu amigo quando tudo isso acabar.
Ele se inclinou para o meu lado e me deu um beijo carinhoso na boca.
– Nada nesse mundo poderá afastar você de mim, se não formarmos mais esse casal fantástico,
sensual e invejado por todos, seremos para sempre amigos. Você sabe o quanto eu te gosto, Emm. E
nada vai mudar isso. Nem um bando de familiares psicopatas.
Respirei fundo e desejei, intimamente, que ele estivesse certo. Sabia que o único motivo de eu
estar ali, naquele momento, era a presença dele. Sem ele, eu não teria coragem de encarar minha
família, não sozinha. Não depois do último encontro.
Trevor acelerou o carro, fazendo cantar os pneus.
– Ei! Devagar. Ainda não terminei de pagar esse brinquedinho.
O brinquedinho era o meu Peugeot 307, preto e lindo. Meu carro, comprado com o meu dinheiro.
Já tive carros mais luxuosos, mas estes eram comprados com o dinheiro do meu pai, um dos
privilégios que abri mão quando deixei de vez a casa deles e fui morar sozinha.
– Foi mal – se desculpou, fazendo suavemente uma curva para a direita em direção à praia.
Desviei meu olhar para a janela. Os prédios da pequena cidade litorânea de Saline começavam a
ficar para trás, já conseguia enxergar as dunas no horizonte e o ar estava perfumado com o cheiro da
maresia. Passávamos por algumas moradias, casebres simples de pessoas que viviam da pesca ou do
turismo. Alguns deles eram pequenos artesãos e expostas, em frente as suas casas, lindas peças
entalhadas em madeira ou modeladas em argila encontravam-se à venda.
Mais meia hora de viagem e chegaríamos à casa da praia, uma construção antiga, estilo europeu,
com colunas de pedra que moldavam toda fachada, branca, com janelas imensas, imponente à beira
mar. Herança dos meus antepassados.
Quando éramos criança, mamãe contava que o bisavô do meu bisavô era um temível pirata que
navegava os sete mares, certa vez ele atracou o seu navio na praia de Saline, não existia cidade
naquela época, mas o velho do mar se encantou com a beleza do lugar e mandou construir uma linda
casa, seu porto seguro. O lugar onde sempre voltava depois de se aventurar em alto-mar. Mamãe
dizia que os tesouros das pilhagens, realizadas pelo parente pirata, estavam até hoje enterrados nas
areias brancas de Saline. E eu e Nathalie acreditávamos nessas histórias e nos divertíamos a procura
do baú escondido pelo Vovô Pirata. Foi uma infância feliz. Acreditávamos que nada iria nos separar.
Pelo menos eu pensava assim, até ele aparecer em nossas vidas.
– Para que lado? Esquerda ou direita? – Trevor me salvou dos pensamentos dolorosos, que
viriam com aquela lembrança. Um frio no estômago me fez colocar a mão na barriga, olhei para ele
meio atordoada até entender a pergunta.
– Esquerda – respondi.
E o carro virou à esquerda numa pequena estrada sem calçamento, que se estendia por toda a
costa litorânea. Dos dois lados só se via imensas dunas. Areias que se moviam ao sabor do vento.
– Ei! Senhor apressadinho, você não conhece essa estrada e suas curvas são traiçoeiras.
–As únicas curvas que me fazem perder o controle são as suas – falou, me olhando com um
sorriso malicioso nos lábios.
– Olha pra frente, senão vai se distrair com as curvas erradas.
Ele deu uma gargalhada e voltou a se concentrar na estrada.
– Me conta algo que eu ainda não sei sobre a sua família, tenho que estar preparado para o grande
confronto.
– Perfeito. Realmente será um grande confronto – ironizei. – Mas não se preocupe, todas as armas
estarão apontadas para mim, talvez você sofra algum dano colateral. Mas o alvo serei eu.
– Quanto drama, Emm. Seus pais te amam, sua mãe está sempre ligando e cobrando visitas suas.
Você que se afastou de todos.
– Ok. Meus pais não são o único problema. Pelo menos, não minha mãe. O problema é o todo.
Mas, vamos a um resumo da família monstro. Meu pai, como você sabe, era, melhor, é advogado, um
dos melhores. Hoje só pega casos que considera importante, não está aposentado ainda, mas fica bem
mais em casa do que antes. Minha mãe fez faculdade de Belas Artes, sonhava em ser sócia de uma
das mais promissoras Galerias de Artes da Capital, queria promover eventos para incentivar jovens
artistas, saraus para os poetas e shows para os músicos. Meu pai nunca compartilhou dessa paixão e
quando Nathalie nasceu, ele a convenceu a se dedicar apenas à família. Ela abriu mão do seu sonho.
Dois anos depois eu nasci. Minha mãe teve uma gravidez de risco e os médicos acharam melhor ela
fazer uma laqueadura, pois não sobreviveria a outro parto. Foram–se as esperanças do meu pai em
ter um herdeiro homem. Não me olhe assim, eu não estou exagerando. Ouvi essa história da minha
avó Edna várias vezes, aliás, a avó Edna é a mãe do meu pai, você não precisa se preocupar com ela,
pois ela já morreu.
– Nossa! Você amava muito essa avó, hein?
– Você não imagina o quanto, se meu pai tem algum amor em seu coração não herdou dela, deve
ter herdado de seu pai, meu avô Ernest, que morreu quando ele ainda era criança. Minha avó Edna
fazia questão de dizer que eu havia estragado a minha mãe por dentro e por isso ela não lhe daria um
herdeiro homem para continuar a linhagem Rochester.
– Você tem toda a razão, desculpa pela brincadeira.
– Eu não a odiava, Trevor. Na verdade, eu mendigava o seu amor. Meu pai era filho único,
Nathalie foi a primeira neta, então todos os mimos foram para ela. Os Rochester eram uma família
tradicional. A minha avó e meu pai contavam como certo a vinda de um menino na segunda gravidez.
Mas eu nasci. Eles já amavam a Nathalie e continuaram amando. Eu era uma intrusa, indesejada.
–E sua irmã? E sua mãe? Elas não te protegiam?
– Nathalie era criança, mamãe não presenciava a maioria dessas agressões psicológicas e quando
presenciava me defendia e discutia com minha avó, o que causava um grande mal-estar. Mas eu
sobrevivi, ok? Não fica com essa cara de pena, você sabe que eu não sou nenhuma coitadinha.
Trevor parou o carro, estávamos no meio do caminho, olhei para ele desconfiada, franzindo a
testa.
– O que foi?
Ele se aproximou e me beijou com ternura. Retribui o beijo com ardor, puxei sua camiseta branca
que grudava no corpo, deliciosamente, musculoso, obrigando–o a se aproximar mais. Ele colocou a
mão no cós da minha calça jeans e me puxou para o seu colo, ficamos nos beijando por alguns
minutos, mãos bobas passeando pelos nossos corpos, até que ele se afastou e segurou o meu queixo:
– Eu não vou deixar ninguém te fazer mal, se qualquer um daquela casa mencionar um A sobre
você, terá que se entender comigo. Agora vamos logo, senão eu vou ter que fazer algo mais do que
beijá-la e acho que esse carro não está nada confortável pra isso.
– Eu não me importo – falei ofegante.
–Não me tente, senhorita Emma Rochester – provocou, me devolvendo ao banco.
– Você sabe que teremos que dormir em quartos separados, meu pai não permitiria que
dividíssemos a mesma cama. Temos que combinar uma maneira de nos encontrarmos, não vou ficar
quatro dias sem você.
– Tenho certeza que você pensará em algo bem quente para nós dois.
– Não me tente, Senhor Trevor Lancaster. – Ele sorriu e voltou a dirigir.
– Me conta, qual é o lance com a sua irmã e o seu cunhado?
Tinha que estragar o momento tesão com a lembrança de Matthew. Como se isso fosse possível.
Mas eu não queria mais falar sobre aquilo, me doía lembrar que perdi o afeto da minha irmã porque
estraguei o dia mais importante da sua vida. Mas como tinha metido Trevor nessa roubada, tinha que
deixá-lo por dentro de tudo.
– Nathalie e eu éramos inseparáveis, ela sempre foi mais do que eu em tudo, mais elegante, mais
estudiosa, mais comportada, mais carinhosa, mais delicada e mais velha. E esse último item foi
crucial para começarmos a nos distanciar. – Suspirei antes de continuar. – Ela tinha amigas mais
velhas e ficar com a irmãzinha mais nova não era legal, era pagar mico. Então eu fui deixada de lado.
Quando tentei me enturmar, suas amiguinhas me faziam passar por boba, me dando tarefas para fazer,
como levar bilhetinhos para os garotos, fazer suas lições escolares e outras coisas constrangedoras
que prefiro não mencionar. E então, veio a faculdade e adeus Nathalie. Foi quando ela conheceu o
homem da sua vida, o insuportável, arrogante e rico Matthew Stone. Começaram a namorar e ficaram
noivos. Matt concluiu a faculdade e assumiu as empresas do pai. O casamento foi realizado aqui, na
Mansão Rochester. E viveram felizes para sempre.
– Mas a sua raiva não é só porque ele roubou sua irmãzinha? Ou é? – Trevor me olhou com uma
cara séria e eu tive vontade de esganá-lo.
– Como você pode pensar isso de mim? Claro que não. Quando você o conhecer verá do que eu
estou falando, Matthew é daquelas pessoas arrogantes que se acham superiores a tudo e a todos.
Desde o começo do seu namoro com Nathy, ele deixou bem claro que eu não era boa companhia.
Para a futura senhora Stone não ficava bem ser vista comigo. Mesmo eu sendo sua irmã.
– Mas, o que havia de errado com você? – ele falou num tom que demonstrava toda a sua
preocupação.
– Naquela época, eu era rebelde, queria atenção, então radicalizei. Virei gótica, me vestia de
preto e tal, nem entendia direito o que significava tudo aquilo. Queria chocar minha família perfeita.
Imagina quando Matt me conheceu, o único sentimento que ele demonstrou por mim foi nojo. Tentei
ser legal com ele, mas ele não poupava palavras para me humilhar e deixava bem claro que me
queria longe. Até que chegou o dia do casamento. E eu estraguei tudo.
– O que aconteceu? – Olhei para a janela e tomei coragem antes de continuar.
– Eu entrei na igreja vestida de preto e completamente bêbada. Não lembro nem quais foram as
palavras que usei, mas me contaram que eu humilhei minha família, pronunciando palavrões
impublicáveis. Minha mãe tentou me segurar e eu a empurrei, ela caiu batendo a cabeça e desmaiou.
Meu pai e Matt correram para socorrê-la. Minha irmã, de véu e grinalda me esbofeteou e disse para
eu sumir da vida deles e nunca mais aparecer, disse que o Matt tinha razão quando dizia que eu era a
pior escória que existia – concluí, segurando o choro. – Um lixo.
–Nossa, Emm, deve ter sido horrível?
– Não me lembro. – Estava sendo sincera, não me lembrava de nada daquele dia, um dia que
mudou a minha vida para sempre. – Acho que já acordei dentro de uma garrafa. Bebi o dia inteiro. Só
fiquei sabendo das bobagens que fiz porque Nathalie me ligou quando soube que eu estava com
amnésia causada pelo álcool e fez questão de me descrever com detalhes a cena.
– Que barra, Emm. – Trevor estava realmente chateado.
– Quatro anos já se passaram e a única pessoa que voltei a ver foi minha mãe, mas sempre longe
de casa, num parque, num café ou livraria. Conversamos sobre tudo, mas evitamos falar sobre aquele
dia.
–Uau... Depois de todos esses anos, hoje é a primeira vez que você vai ver toda a sua família?
–Sim. Você está arrependido de ter vindo? Ainda dá tempo de fugir. Aliás, isso foi uma péssima
ideia, vamos voltar e esquecer de tudo.
– Não mesmo, estamos aqui e eu vou te ajudar a superar essa. Tá na hora de acabar com todo esse
mal entendido, não acha?
– Você tem razão. Eu acho – concordei, não muito animada.
Mais uma curva e a paisagem mudou drasticamente. Da aridez das dunas para a imensidão do mar.
Suspirei ao ver o azul que se estendia até o horizonte. Era um lindo dia de sol, já passava do meio
dia, as ondas dançavam em um vai e vem ritmado, as dunas deram lugar a lindas palmeiras, que
davam um charme todo especial ao lugar. Estávamos perto da casa da praia, mais alguns quilômetros
e chegaríamos. Sentia medo, mas não queria que eles soubessem disso. Iria me comportar e provar
que eu mudei e estava arrependida de tudo que fiz.
– Como se virou depois que saiu da casa dos seus pais?
– Fui morar com minha tia Susan, ela ficou comigo depois da confusão da igreja. Você vai
conhecê-la, ela é incrível. É a irmã mais nova da minha mãe, ela foi atrás de mim naquele dia, me
ajudou a superar aquela fase horrível. Eu tentei me aproximar da minha família antes, Susan fez de
tudo, mas minha irmã deixou bem claro que se eu aparecesse, ela se afastaria. Não acredito que essa
fosse a opinião dela, acho que era o Matt que a manipulava.
– Como eu não conheci a sua tia nesse tempo que estamos juntos?
– Ela se mudou para a Europa, Itália para ser mais exata. Depois que terminei a faculdade e
comecei a trabalhar, ela resolveu, como ela mesma gosta de dizer, curtir a vida. Tia Su é uma pessoa
especial, dessas que você se apaixona à primeira vista. Não se casou, mas vive grandes paixões.
Estou com tanta saudade dela, não a vejo há mais de seis meses.
– Eis aí um bom motivo para irmos até o fim nessa nossa aventura. Segunda–feira iremos dar boas
gargalhadas de tudo isso. Confie em mim – falou, apertando a minha mão que repousava na minha
perna. Eu sorri, queria muito acreditar que ele estava certo.
–Uma coisa eu tenho certeza, serão quatro dias inesquecíveis. – Tentei parecer animada.
–Estamos perto? Não vejo nenhuma casa por aqui?
– Mais uns dez minutos, eu acho. A nossa casa é a única nessa parte da praia, não temos vizinhos.
Trevor dirigiu em silêncio, me deixando perdida em meus pensamentos, enquanto observava o
mar lembrei das férias que passei ali, em família. Lembrei de Nathalie e eu correndo na praia, rindo,
pulando onda, mamãe sentada embaixo de um guarda-sol, lendo um livro e nos observando. Éramos
felizes.

~§~

Entramos num caminho formado por lindos jardins, flores e folhagens plantadas há muitos anos e
caprichosamente cuidados pelo Antônio, nosso jardineiro e caseiro. Uma última curva e uma linda e
majestosa mansão tomou conta da paisagem, a Mansão Rochester, presente de casamento dos meus
avós maternos aos meus pais. Estacionamos em frente à casa e descemos do carro. Trevor me
abraçou pelas costas e escorou o queixo no meu ombro olhando para a fachada que se erguia a nossa
frente. Toda branca, tanto as paredes quanto as aberturas, no segundo andar, onde ficavam os
dormitórios, as portas das sacadas estavam abertas, as cortinas, de shantung branco, dançavam ao
vento, dando um ar mágico ao lugar.
– Uau... É lindo! E o mar? Parece o paraíso. Olha para mim, Emma. – Me virei e o encarei. – Nós
vamos nos divertir, ok? Ninguém vai estragar nosso feriado, eu não vou deixar. – Ele me beijou
daquele jeito que me deixava quente.
– Hum,hum...– alguém pigarreou.
Olhei pra trás e meu pai e Nathalie nos observavam. Droga! Comecei mal.
– Olá, irmãzinha – Nathalie disse se aproximando e me abraçando formalmente, sem carinho,
como se estivesse cumprindo o protocolo. Estava linda, com um vestido floral, que acentuava a sua
cintura, o cabelo castanho preso em um coque no alto da cabeça. Parecia pronta para uma sessão de
fotos para alguma revista de moda. Sempre fomos parecidas, altas, magras, cabelos castanhos
levemente ondulados, mas ela sempre foi a mais bonita, elegante e educada.
– Não vai me apresentar seu namorado?
– Trevor, essa é minha irmã Nathalie. E este é meu pai. – Olhei para ele que se aproximava.
Parecia que o tempo não tinha passado, os cabelos escuros, sem um fio branco, a pele levemente
bronzeada e um porte atlético que daria inveja a muito garotão, vestia uma calça bege e uma camisa
polo branca. – Olá, papai.
– Oi, filha – respondeu seco, oferecendo a mão ao Trevor. – Prazer em conhecê-lo.
– O prazer é meu, Sr. Rochester.
–Vamos entrar, estávamos esperando vocês para almoçar.
Meu pai não poderia ter sido mais frio, nem um abraço, nem um beijo, nem um aperto de mão.
Trevor parecia se divertir, piscou para mim e passou o braço pelas minhas costas, me abraçando pela
cintura. Nathalie e papai caminharam na frente, ele abraçado a ela e ela com a cabeça deitada no seu
ombro. Se era para me provocar aquele gesto, eles conseguiram. Senti um nó na garganta e tive que
respirar fundo para não chorar. Trevor apertou a mão na minha cintura e cochichou no meu ouvido.
– Eu estou aqui com você, linda. Não esquece.
Entramos na casa, a decoração era a mesma de quando eu era criança, móveis estilo provençal
decoravam a sala, tudo tinha um toque de azul, as listras nas almofadas, os florais nas poltronas, as
paisagens nos quadros. Respirei fundo tentando capturar as doces lembranças que aquele lugar me
trazia. Mamãe veio me abraçar, vestia uma saia plissada e uma blusa de seda, ambas verdes, que
realçavam seus olhos da mesma cor. O cabelo, de um castanho claro quase loiro, estava penteado
impecavelmente, parecia mais jovem, relaxada.
– Como você está linda, Emma. Que bom que você pode vir. E quem é esse belo rapaz?
– Você que está linda, mamãe. Eu estava com saudades. Este é o Trevor. Meu namorado e melhor
amigo.
– Seja bem-vindo, Trevor. Você parece estar cuidando bem da minha pequena – cumprimentou,
abraçando-o carinhosamente. Ele retribuiu o abraço.
– O prazer é meu, estou vendo que a beleza é hereditária nessa família. – Mamãe corou com o
elogio.
– Já preparamos os quartos de vocês, querem se acomodar primeiro? Serviremos o almoço às
quatorze horas, estamos esperando o Matt chegar, ele tinha alguns negócios para resolver antes de
vir.
Isso explicava papai e Nathalie nos esperando, acharam que era Matt e não eu que havia chegado.
Como você é idiota, Emma!
– Então, vamos nos acomodar primeiro – Trevor falou, entendendo o motivo do meu silêncio. Ele
era perfeito, me conhecia como ninguém, eu só queria ter certeza de que o que sentia por ele era mais
que desejo e amizade.
– Anna vai mostrar os quartos de vocês e eu vou pedir para Albert levar as malas. Estamos muito
felizes por você estar aqui, Emma. Parece um sonho ver nossa família reunida novamente.
– Obrigada, mãe. – Voltei a abraçá-la, sabia que estava sendo sincera e que queria que tudo desse
certo.
Meu pai e minha irmã ficaram nos observando à distância, Nathalie manteve um ar de deboche o
tempo todo. Ela ainda não me perdoou.

~§~

Fomos acomodados em quartos separados, como eu já imaginava. Fiquei no meu antigo quarto,
que fora totalmente redecorado. Uma cama Box de casal no lugar da de solteiro de ferro, roupeiros
modulados no lugar do Provençal. Não sobrou nada da antiga decoração, onde estariam minhas
coisas? Será que foram colocadas no lixo? Tirei a calça jeans e a camiseta da viagem, tomei um
banho rápido e vesti um biquíni, coloquei um vestido trapézio branco por cima. Depois do almoço
queria ir para a praia com Trevor, quanto menos tempo passasse em família, menores as
possibilidades de um confronto. Essa era a minha tática.
Desci as escadas, não encontrei ninguém na sala principal e não fazia questão de encontrar.
Trevor devia estar no quarto, ainda faltava meia hora para servirem o almoço, então resolvi caminhar
até a praia, voltaria a tempo e evitaria conversas constrangedoras.
Saí para o jardim em direção ao mar, que ficava a alguns metros de distância, bastava atravessar
uma pequena duna. Quando me aproximei da entrada principal da casa, um Porsche Cayman preto
entrou em alta velocidade, ouvi uma freada brusca e o carro parou a alguns centímetros de mim.
O motorista desceu assustado e correu em minha direção.
– Você se machucou, meu amor? Eu não te vi – disse me segurando pela cintura e me virando para
me examinar. Meu corpo reagiu ao toque daquelas mãos, como se não houvesse tecido entre elas e a
minha pele, provocando uma onda de calor. Eu me virei e o encarei. Seus olhos azuis encontraram os
meus castanhos. Por um momento ele ficou me olhando, confuso. Usava terno preto, sem gravata,
camisa azul com alguns botões abertos, mostrando parte do seu peito. Eu havia esquecido de como
ele era lindo.
– Emma? – As mãos dele, em vez de me soltar, apertaram mais a minha cintura. – Você está
diferente, pintou o cabelo? Eu pensei que fosse a Nathalie, vocês estão parecidas.
Matthew me conheceu numa época em que eu usava cabelos pretos, unhas pretas, roupas pretas,
quando meu estilo refletia meu mundo, que era uma escuridão.
–Essa é a cor natural do meu cabelo. E se visse que era eu, teria passado por cima? – Eu não
resisti, sentia vontade de provocá-lo, uma discussão nos afastaria e eu não teria mais que lutar contra
esse desejo que me invadia.
–Era uma possibilidade – ele disse sorrindo, seus olhos percorreram todo o meu corpo, me
deixando tensa. Minha respiração estava ofegante, ele se aproximou mais e sua perna roçou na minha,
eu estava pressionada contra o capo do carro. Matthew nunca tinha me provocado esses sentimentos
antes, sempre o achei lindo, mas desejá-lo? Não sei porque, mas isso só começou depois do
casamento, quando as minhas noites começaram a ser acompanhadas de sonhos eróticos com o meu
cunhado, sonhos que me deixavam, extremamente, excitada e confusa.
Aquela proximidade me deixou tonta e tentei me escorar no capô do carro, ele me segurou, me
puxando para mais perto, colando nossos corpos.
– Você se machucou? – perguntou olhando nos meus olhos e depois para a minha boca. Por um
instante pensei que seria beijada, por um instante desejei aquele beijo. Ele segurou o meu rosto com
uma das mãos e passou o polegar nos meus lábios, seu rosto foi se aproximando...
–Matt você está bem? Nós ouvimos o barulho da freada. Aconteceu alguma coisa? – Era Nathalie,
irritantemente linda, vindo ao nosso encontro, seguida por todos da casa, inclusive Trevor. Pronto, o
show estava armado. Matthew me soltou e se virou.
– Eu estou bem, amor. Quase atropelei sua irmã, levei um susto pensando que era você – Matt
respondeu. Eles se abraçaram e trocaram um beijo cinematográfico. Aquilo me repugnou. Ele ia me
beijar e eu ia deixar? Definitivamente enlouqueci.
Trevor veio até onde eu estava.
– Você está bem, linda? Não se machucou?
– Eu estou um pouco tonta, me ajuda a voltar pra casa? – Escorei no ombro dele, para minha
surpresa ele me pegou no colo e beijou minha testa.
–Vamos entrar.
– Obrigada – eu sussurrei.
Antes de entrarmos, ele se virou para Matt e Nathalie, que haviam parado o showzinho e nos
observavam.
– Olá, você deve ser o Matthew? Eu sou Trevor, namorado da Emma.
–Prazer em conhecê-lo – respondeu Matt, sério e formal.

~§~

O almoço foi servido às quinze horas, o assunto girou em torno dos negócios que a Empresa de
Matt estava realizando. Eu e Trevor mantivemos uma conversa paralela com mamãe, falamos sobre
artes plásticas, literatura e teatro. Trevor também havia se formado em Artes e eu em Línguas e
Literatura, então estávamos à vontade para discutir esses assuntos.
Apesar de ter sentado longe dele, sentia a sua presença e ouvir a sua voz me deixava inquieta.
Mais de uma vez nossos olhos se encontraram e eu desviei o olhar, tentando fugir do seu domínio. O
que estava acontecendo? A tensão provocada pela presença dele mexia com todo o meu corpo. E o
fato de quase nos beijarmos me deixou intrigada, Matthew nunca tinha me tocado, por que ele iria
fazer isso agora?
Depois do almoço convidei Trevor para passar o resto da tarde na praia. Mamãe nos
acompanhou. Foi uma tarde maravilhosa, conversamos, nadamos, tomamos sol, os empregados
trouxeram lanches e fizemos um piquenique à beira mar. Mamãe estava radiante e Trevor dava mais
atenção a ela do que a mim. Mas eu não me importava, estava tão feliz em vê-la feliz.
Matthew apareceu no final da tarde, vestia apenas uma sunga preta. Fiquei sem ação diante
daquela visão. Eu estava saindo do mar e ele entrando, Trevor e mamãe estavam caminhando a uma
distância considerável de nós. Ele parou a alguns centímetros de mim, as ondas batiam abaixo dos
meus joelhos. Eu queria passar por ele sem olhar, cruzar o seu caminho como se ele não estivesse ali,
mas eu parei fascinada com o seu corpo. Ele era uns vinte centímetros mais alto que eu. Ele me olhou
de cima a baixo e depois olhou para mamãe e Trevor que se afastavam, de costas para nós. Eu fixei
meu olhar no seu peito, não queria olhá-lo nos olhos. Ele se aproximou mais e segurou meu queixo,
levantando o meu rosto e me obrigando a encará-lo.
– Tudo bem, Emma? Por que você desvia o olhar de mim? Algum problema? – Todos, eu quero
você, eu estou enlouquecendo só de ouvir a sua voz. Eu quero você dentro de mim agora, pode ser?
Pronto! Pensei, mas não falei.
– Não, é impressão sua. Nós nunca tivemos um relacionamento próximo para trocarmos olhares e
confidências, por que mudar isso agora?
– Eu te julguei mal no passado e gostaria de mudar isso. Se você quiser, podemos conversar a sós
para resolvermos nossas diferenças. – A sós? Ele quer ficar sozinho comigo? Não, nem pensar.
– Não quero mudar nada, Matthew. Quero consertar as coisas com mamãe, papai e Nathalie, de
você eu quero distância.
Ele sorriu e se inclinou sussurrando ao meu ouvido:
– Não é o que o seu corpo diz. – E caminhou mar adentro, dando um mergulho e sumindo nas
ondas. Olhei para baixo e vi meus mamilos enrijecidos, a pele arrepiada e o peito ofegante. Corpo
traidor!
Não vi Matthew sair do mar, fui ao encontro de Trevor e mamãe e os acompanhei no passeio,
quando retornamos ele já não estava lá. Voltamos para casa quando já escurecia
Tomei um banho demorado, pus um vestido de malha confortável, uma sapatilha e desci para
jantar. Não tinha fome, mas papai fazia questão de todos à mesa. Para minha surpresa, Nathalie não
desceu do seu quarto.
– Nathalie passou a tarde indisposta – Matt explicou. – Deve ter sido algo que comeu.
– É uma pena, mas espero que se recupere para a festa de sábado – disse papai.
–É só uma indisposição passageira. Acredito que amanhã já estará recuperada.
Ele era tão formal. Isso me irritava. Certinho demais, educado demais, perfeito demais. Inclusive
fisicamente, alto, cabelos lisos, castanho escuro, sempre com corte de menino comportado, curto.
Vestia uma camisa branca e uma calça social grafite, esse cara nunca relaxa? Fazer amor com ele
deve ser um tédio. Pobre Nathalie!
Jantamos em silêncio, interrompido apenas por alguns comentários sobre o tempo e a comida.
Mamãe parecia cansada e mal comeu, assim como eu e Trevor. Depois do jantar, Matt e papai foram
para o escritório conversar, certamente sobre bolsa de valores, grandes fusões, negócios, negócios,
negócios.
Trevor pediu licença e foi descansar, mas antes combinamos de nos encontrarmos à meia-noite na
biblioteca. Não queria arriscar que mamãe ou papai o pegassem no meu quarto. E ninguém iria à
biblioteca de madrugada. Era o local ideal.
Eu e mamãe fomos ver Nathalie em seu quarto, ela parecia recuperada da indisposição.
Fui para o meu quarto e resolvi tomar outro banho. Trevor disse que queria algo quente e iria ter.
Vesti uma camisa branca, que comprei para usar como saída de praia, peguei uma calcinha de renda
branca, mas achei melhor não colocá-la. Iria só com a camisa. Desci as escadas sem fazer barulho,
era quase meia-noite. Para minha surpresa, esbarrei em Nathalie, que saia da biblioteca com um livro
na mão.
– Oi. Você melhorou? – perguntei.
– Estou melhor. Aproveitei que Matt foi para o escritório de papai passar alguns e–mails e desci
para pegar um livro para ler. Passei a tarde deitada e perdi o sono. E você?
– Vim buscar um livro também. Trevor estava exausto da viagem e dormiu cedo. Então resolvi ler
– menti.
– Bom, vou voltar para o quarto. Boa noite, Emm.
–Boa noite, Nathy.
–Emm? – ela chamou antes de subir as escadas
–Sim?
– Não faça nenhuma bobagem para estragar este fim de semana. São as Bodas de Prata dos nossos
pais, todos os nossos parentes estarão aqui e a última vez que isso aconteceu você estragou tudo.
Antes que eu formulasse uma resposta, ela subiu os degraus e sumiu no corredor superior.
Entrei na biblioteca sentindo um nó na garganta, estava engasgada com a resposta que deveria ter
dado a Nathalie. Mas ela não iria estragar minha noite com Trevor.
Sentei na poltrona de couro marrom, que ficava ao lado da janela, ainda faltava alguns minutos
para o Trevor descer e eu precisava me acalmar. Fiquei na escuridão, apenas me acostumando com
ela, observava as imensas estantes, que ocupavam todas as paredes da sala, preenchidas com uma
coleção de livros que daria inveja a muitas bibliotecas públicas. Fui até a janela e abri as cortinas, a
claridade do luar seria o suficiente, acender a luz poderia chamar atenção de alguém. Lembrei de
Matt no escritório de papai, no cômodo ao lado. Devia ter combinado mais tarde. Parece que
ninguém estava disposto a dormir nessa casa.
Parei em frente à janela para admirar o efeito do luar nas ondas do mar, era lindo, parecia que
tinham derramado tinta prateada na água. Encostei minha mão na vidraça da janela desejando tocar
aquela imagem. O silêncio só era cortado pelo barulho das ondas. Desejei voltar no tempo e
consertar todos os meus erros do passado, desejei ser alguém melhor e era isso que iria fazer a partir
de agora, queria orgulhar minha família. Queria que meu pai me amasse, assim como amava Nathalie.
Meus pensamentos foram interrompidos por um barulho na porta, alguém entrou na biblioteca. Não
me virei para ver quem era. Sabia que era o Trevor.
Ele se aproximou e parou atrás de mim. Senti seu corpo colar ao meu. Ele usava um perfume
diferente, que me trouxe a lembrança de outra pessoa. Isso me excitou, me deixando, literalmente,
quente.
Ele colocou suas mãos sobre os meus braços estendidos ao longo do meu corpo e me puxou para
mais perto, minhas costas encontraram o seu corpo, ele ainda estava vestido. Pensei em me virar, mas
ele me impediu. Suas mãos foram para as minhas coxas e depois subiram, lentamente, por baixo da
camisa. Mãos fortes e macias acariciando a minha pele. A mão esquerda subiu pela minha barriga,
me provocando contrações naquela região, chegou até o meu seio direito e se fechou em volta dele,
pressionando–o enquanto o polegar acariciava meu mamilo, deixando–o arrepiado. A outra mão foi
para a parte interna da minha coxa e encontrou o meu sexo, eu estava úmida, pronta para recebê-lo.
Ele penetrou vagarosamente, colocando dois dedos para dentro de mim, depois começou a me
massagear, me provocando ondas de prazer. Meu clitóris inchou e eu estava pronta para o orgasmo.
Coloquei minha mão em cima da mão que me penetrava e com a outra puxei seus cabelos, trazendo
seu rosto para a curva do meu pescoço, ele beijou minha pele e eu gemi.
– Isso é bom – falei enquanto colocava as mãos para trás e desabotoava a calça dele, precisava
senti-lo, precisava dele dentro de mim. Abri o zíper e agarrei um membro grosso, ereto e meu.
Comecei a acariciá-lo, percorrendo toda sua extensão. Ele continuou a beijar o meu pescoço, a mão
no meu seio, acariciando meu mamilo. A outra me invadindo, explorando o meu sexo, despertando
sensações que até então eu desconhecia. De repente ele me mordeu, seus dentes entraram na minha
pele e depois senti seus lábios me sugando, ao mesmo tempo seus dedos invadiram a minha vagina
com força, ela se contraiu em volta deles e eu gozei. Coração acelerado, respiração ofegante,
pequenos tremores e a deliciosa sensação de prazer.
Ele me levou até a poltrona e me colocou ajoelhada no acento de couro, de costas para ele, me
equilibrei segurando no encosto dela. Eu ainda me recuperava do orgasmo quando ele meteu o seu
membro numa única estocada, eu senti cada centímetro penetrando dentro de mim, as paredes da
minha vagina ainda se contraiam enquanto ele preenchia todos os espaços. Eu não imaginei que
poderia me sentir tão saciada, ele matava a minha fome, me alimentava com o seu membro grosso. A
cada estocada ele gemia e eu mordia o lábio inferior para não gritar de prazer. Meu corpo inteiro
estava entregue a ele. Eu era dele, só dele. Aquilo não era só atração, era necessidade. Ele soltou um
gemido abafado pelos meus cabelos, agarrou com força a minha cintura, pressionando o meu sexo ao
dele e gozou dentro de mim. Minhas pernas enfraqueceram e eu me entreguei ao orgasmo mais
intenso de toda a minha vida.

~§~

Ele me abraçou por trás e encostou o queixo no meu ombro, esperamos a respiração desacelerar.
Eu queria beijá-lo, virei o rosto para encontrar a sua boca. Ele ainda estava dentro de mim, eu sentia
seu pênis pulsando. Nossos lábios se tocaram, uma língua faminta invadiu a minha boca e eu abri
meus olhos, um par de olhos azuis encontrou os meus.
–Matt?
–Emm?

CAPÍTULO DOIS
Ele se afastou, me deixando vazia.
– Eu... eu entrei aqui, Nathy disse que vinha pra biblioteca, eu imaginei, vocês são parecidas, eu...
Não sei o que dizer – ele gaguejava, caminhando de um lado para o outro. Teve dificuldade em
fechar o zíper da calça, pois seu membro estava tendo outra ereção, passou a mão no cabelo, não me
olhava.
– Eu estava esperando o Trevor. Pensei que fosse ele, eu... isso foi errado – falei desesperada.
Estava apavorada, e se alguém descobrisse, e se Trevor veio e nos viu? Eu queria sumir, eu acabei
de ter o sexo mais incrível da minha vida com o meu detestável cunhado e descobri que ele não era
um tédio. – Meu Deus! Isso não podia ter acontecido.
– Nós não traímos ninguém, ok? Você pensava em Trevor e eu em Nathy, isso não pode ser
considerado traição.
– Que fácil para você. É com essa lógica estúpida que você justifica suas traições – ironizei.
Além disso, eu não pensava no Trevor.
– Para seu conhecimento eu nunca traí sua irmã. Eu a amo.
Aquela declaração era ridícula. Ele passou o dia me provocando e agora estava ali, dando uma de
bom moço.
Ele parou na minha frente, olhava para a minha roupa. Baixei os olhos para ver o que havia de
errado e só então notei que a minha camisa estava totalmente aberta, eu estava nua na frente dele.
Cruzei os braços automaticamente como se aquilo me protegesse. Ele me encarou.
– Eu vou para o meu quarto, vamos esquecer tudo isso, foi algo insignificante para nós dois. Não
foi?
– Com certeza – respondi, sem ter certeza de nada.
– Ótimo! Boa noite! – disse com o ar arrogante que eu conhecia tão bem, me deu as costas e saiu.
Esperei um pouco, antes de subir para o meu quarto.
Fui direto para o chuveiro. Sentei no chão, embaixo da água e deixei–a escorrer pelo meu corpo.
Eu ainda estava excitada e isso me deixava com mais raiva. Foi insignificante! Eu repetia em minha
mente.
Deitei na cama e chorei o resto da noite. Estava com raiva de mim, pelo que eu fiz, pelo que eu
senti enquanto fazia, pelo que eu ainda sentia.

~§~

Dormi quando o sol já estava alto e para meu desespero sonhei com Matt. No sonho, eu estava
nua deitada na mesa de jantar e ele, de smoking, ao lado da mesa, se inclinava sobre mim, sugava
meus seios, enquanto seus dedos entravam e saiam da minha vagina. Pessoas andavam pela sala, mas
ninguém nos olhava, ele me encarava enquanto sua língua lambia e chupava meus mamilos. Tive um
orgasmo enquanto dormia, acordei ofegante. Isso já era doença, esse sonho me perseguia há anos,
mas desta vez foi diferente, foi mais real, mais intenso, agora eu sabia como era ser possuída por ele.
Alguém bateu na porta e entrou, era mamãe.
– Bom dia querida. Você está bem? – disse se aproximando da cama. – Está com os olhos
inchados, Emma. Você chorou? Aconteceu alguma coisa?
– Dormi mal, mamãe. Acho que estranhei a cama. Que horas são? – perguntei, me sentando.
– São mais de dez horas, o dia amanheceu ensolarado, mas a pouco nublou e começou a chover.
Estamos pensando em aproveitar o dia fazendo compras na cidade, visitar alguns antiquários,
almoçaremos por lá. Você quer vir junto? O Trevor está tão empolgado.
– Eu imagino. Ele adora garimpar velharias. Vão todos? – Matt vai era a pergunta que eu queria
fazer.
–Sim.
– Eu não estou bem, mamãe. Acho que não serei boa companhia. Vão e divirtam–se.
Não poderia ser mais perfeito. Um dia inteiro para colocar as ideias em ordem e longe da
Nathalie, do Trevor e principalmente do Matt. Não tinha disposição para encarar nenhum deles.
– Posso entrar? – Trevor abriu a porta do quarto. – Ainda não se vestiu, Emm? Vamos nos divertir
na cidade. Estamos apenas esperando você.
– Eu não estou me sentindo bem, Trevor. Divirta–se por mim. Vou tirar o dia pra descansar e ler
um pouco.
– Então, eu fico com você – respondeu e sentou–se ao meu lado.
– Não quero estragar o seu passeio e eu sei que você está curioso para conhecer as feirinhas e
casas de antiguidades. Mamãe é uma ótima guia. Vão vocês, eu ficarei bem.
– Bom, nesse caso eu vou – concordou, me dando um beijo na bochecha. – Desculpa por furar o
nosso encontro ontem – sussurrou ao meu ouvido.
– Não – sussurrei de volta, fazendo cara de brava.
– Vamos, Nathalie deve estar impaciente – disse mamãe. – Vou pedir para Anna te trazer um
lanche, querida. Descanse! – despediu–se, me beijando na testa.
Trevor esperou mamãe sair e me deu um beijo na boca.
–Tudo bem se eu for?
– Claro, seu bobo. Traga um presente bem bonito pra mim – respondi me levantando da cama e o
empurrando pra fora do quarto.
Voltei a deitar e adormeci.

~§~

Acordei algumas horas depois, ainda chovia e eu estava faminta. Tomei um banho e coloquei um
vestido curto de mangas compridas estampado com flores em tons de azul, prendi o cabelo em um
coque despenteado, deixando várias mechas caídas. Havia dormido com o cabelo molhado e tentar
domá-lo exigia uma paciência que naquele momento eu não tinha.
Desci as escadas. Parei na porta da sala de jantar e fiquei olhando para a mesa, lembranças do
sonho com Matt pareciam se materializar na minha frente. Um calor tomou conta do meu corpo. Tinha
que parar com aquilo, se um sonho estava me causando isso, imagina quando encontrá-lo. Eu o
detestava e ia continuar assim. Além disso, o que aconteceu na noite passada foi insignificante, pelo
menos para ele.
Encontrei Anna na cozinha, era uma moça jovem, trabalhava com a nossa família há uns cinco
anos, não devia ter mais de trinta. Descendente de alemães, tinha a pele clara com pequenas sardas
nas bochechas, cabelos loiros quase brancos e olhos verdes, não era feia, um banho de loja e se
transformaria em uma bela mulher. Ela preparou um lanche para mim: suco e um sanduiche natural.
– Estava delicioso, Anna.
– Obrigada, Senhorita Emma. Deseja mais alguma coisa? Preciso ir até a cidade, Albert vai me
levar. Faltaram algumas coisas para os preparativos da festa e vou providenciar.
– Não. Está ótimo. Mais tarde como uma fruta, obrigada.
– Se a senhorita quiser, eu posso lhe trazer uma pomada para o seu machucado.
–Machucado? Eu não me feri – falei tateando meus braços, procurando algum ferimento.
– No pescoço. Acho que a senhorita arranhou ou bateu em algum lugar, está roxo bem em cima da
tatuagem de borboleta.
Foi como levar um soco no estômago, minhas pernas ficaram bambas e meu coração acelerou. Sai
apressada da cozinha, deixando Anna sem entender nada, subi até meu quarto e fui direto ao espelho
para ver meu pescoço. Uma mordida. Ele me mordeu exatamente onde estava a minha tatuagem. Ele
sabia que era eu ou pelo menos ficou sabendo quando a viu, mas em vez de parar, ele me possuiu.
Por quê?
Precisava tirar aquela história a limpo. Uma raiva incontrolável tomou conta de mim. Ele mentiu.
Fingiu quando me reconheceu e me levou para o sofá, sem que eu pudesse vê–lo. Meu Deus, o que eu
faria? Não podia desmascará-lo. Ninguém acreditaria na minha inocência. Ainda mais depois do meu
passado. Achariam que eu estava tentando destruir o casamento da minha irmã, novamente. Precisava
pensar. Sabia que o melhor era esquecer tudo aquilo. Mas antes, eu queria que ele soubesse que eu
tinha conhecimento da sua farsa.
Tentei me acalmar. Eles só voltariam no final da tarde, tinha tempo para pensar na melhor maneira
de confrontar Matt.
Desci e fui me desculpar com Anna e aceitei a pomada. Ela, com certeza, notou que era uma
mordida, mas, discreta, não comentou.
–Anna, você sabe o que mamãe fez com meus diários, livros e fotografias que ficavam no meu
quarto? Ela jogou fora?
–Não, senhorita. Ela guardou no escritório. Naquele armário que fica ao lado da estante de livros
do seu pai. Ninguém tem autorização para abri–lo. Lá, estão as coisas do seu quarto. A senhorita quer
a chave? Posso buscá-la. A Senhora guarda no quarto dela.
– Sim, mas vou acompanhá-la. Depois pode ir, não se prenda mais por minha causa.
Acompanhei Anna e depois desci com a chave para o escritório de papai. Revirar coisas da
minha infância talvez me acalmasse. Precisava de algum entretimento até todos voltarem. Estava com
os nervos à flor da pele.
Quando abri a porta, paralisei.
Sentado atrás da mesa do escritório, lendo algo no computador, estava ele. Levantou os olhos da
tela quando eu entrei, afastou a cadeira e cruzou os braços.
–Você não deveria estar se divertindo com o seu namoradinho na cidade?
–E você não deveria estar acompanhando a sua esposa?
– Eu preciso trabalhar. Diferente de você, eu não posso me dar ao luxo de curtir a vida. O mundo
dos negócios não para.
Esse era o Matt que eu conhecia. Arrogante, insuportável e lindo. Entrei na sala e fechei a porta
atrás de mim. Não queria que ninguém ouvisse a nossa conversa. Apesar de saber que,
provavelmente, não havia mais pessoas na casa, além de nós dois. Caminhei até a mesa e me escorei
com as mãos nela, me inclinando para frente. Ele deu um sorriso torto, eu continuei séria.
– Algum problema? Posso ajudá-la em alguma coisa? Caso contrário gostaria que se retirasse, já
disse que não tenho tempo para perder com bobagens. Tenho que terminar o que estava fazendo.
Peguei a primeira coisa que encontrei, um porta-retrato, e atirei nele com força. Ele desviou,
levantou da cadeira e veio em minha direção.
– Ficou louca? – esbravejou, furioso.
–Eu te odeio. Você é um canalha, um idiota, um...um... tarado.
Ele deu uma gargalhada
–Tarado? Essa é nova. Você costumava ser mais criativa nas suas agressões verbais, Emma.
– Não seja cínico, você sabe do que estou falando.
– No dia do casamento, você usou uns adjetivos bem mais interessantes para me descrever. Você
realmente não lembra de nada daquele dia?
– Não – falei insegura, era tudo um branco. Como se o dia não tivesse existido. – Eu apaguei
aquele dia da memória.
– É uma pena – ele falou pensativo. – E quanto ao tarado – completou com ironia – Eu acho que
nós já esclarecemos o que aconteceu e concordamos em esquecer. Está tão difícil assim para você?
– O quê? O que eu mais quero é esquecer, foi a pior experiência que eu já tive – menti. – Acho
que vou ter que voltar a fazer terapia por sua causa.
– Se foi tão ruim, por que você está tão alterada?
– Estou com raiva.
– Pois engula a sua raiva e saia. Acho que já nos agredimos o suficiente por hoje – falou,
voltando em direção à mesa.
Eu bloqueei sua passagem e virei de costas para mostrar o ferimento causado pela mordida.
– Você pode me explicar isso?
Ele parou, o silêncio que se seguiu durou segundos, mas pareceu uma eternidade.
–Uma mordida – ele respondeu num tom de voz baixo.
–Sua mordida – corrigi, sem me virar.
–Desculpa.
– O quê? – gritei, agora me virando e o encarando. – É isso que você tem a dizer. Desculpa? Você
é ridículo.
– O que você quer que eu diga? Desculpa, eu não queria machucá-la. Eu nem sabia que era você,
garota. Por isso eu... fiz isso.
Ele parecia realmente incomodado, eu estava com raiva e não ia deixar aquilo barato.
– Você sabia. Você viu a tatuagem, você me mordeu quando viu a tatuagem. Você sabia que era eu
quando...
– Agora, ridícula está sendo você! – ele falou passando a mão no cabelo e depois a apontando
para mim – Você acha que eu sinto alguma coisa por você? Passa por essa sua cabecinha que eu tenha
tesão por você? Que eu te deseje daquele jeito, Emma? Você é patética.
Meus olhos se encheram de lágrimas, eu me sentia humilhada, juntei todas as minhas forças e o
esbofeteei.
Sai correndo do escritório. Ouvi ele esbravejar e vir atrás de mim. Subi as escadas e entrei no
meu quarto antes de conseguir fechar a porta, ele entrou.
– Sai daqui! – gritei.
– O que você quer Emma? O que você quer que eu fale? – Ele parecia exasperado.
– Nada. Eu quero que você me deixe só.
– Não. Nós vamos resolver isso, agora. O que você quer que eu responda? Que eu vi a tatuagem?
É isso? E depois?
Eu estava em pé no meio do quarto, ele se aproximou e parou na minha frente. Eu não sabia o que
responder.
– Você quer ouvir que eu estava beijando o seu pescoço, e quando eu passei a língua para chupá-
lo eu senti a sua tatuagem?
– Por que você não parou? – sussurrei.
– É isso que você quer saber?
–Sim – respondi insegura.
– Se coloca no meu lugar, Emma. Eu estava com uma mulher nua massageando o meu... pênis.
Com os meus dedos ocupando o lugar que pertencia a ele. E para piorar, quando eu te mordi você
gozou. Eu não sou tão forte assim. Naquele momento eu só pensei em meter dentro de você. E foi o
que eu fiz. Era isso que você queria saber?
–Sai... Sai daqui! – Minha voz saiu fraca, um nó na garganta me fez gaguejar, eu queria chorar,
mas não na frente dele.
– Que droga, Emma. Essa resposta também não está boa para você? – perguntou impaciente.
– Sai! – Gritei.
–Não. Agora, eu quero que você me responda. Você sabia que era eu, não sabia? – ele falou com
um sorriso desafiador.
–O quê? Sai, agora, do meu quarto.
– Não. Você vai me escutar. Eu só soube que era você quando vi a tatuagem, mas você sabia que
era eu desde o começo.
– Eu estava esperando o Trevor.
– Eu sei, mas quando eu te abracei você sentiu que não era seu namoradinho. Ele é mais baixo que
eu e mais musculoso. Você não notou isso? Ele nunca te abraçou por trás, Emma? E o meu perfume?
Você não sentiu o meu cheiro?
Quando senti o cheiro dele naquela noite, fantasiei que era com ele que eu estava. Mas eu
costumava fazer isso há anos, desde que os sonhos começaram, pensei que a proximidade dele só
havia esquentado a minha imaginação. Mas, nada disso Matthew iria saber.
– Não. Eu não notei a diferença.
– Mentirosa. – Ele sorriu e se aproximou mais ainda. Estávamos quase nos tocando. – E o sexo,
Emma? Foi igual? Ele te toca como eu te toquei? Você gostou, eu sei. Quantas vezes eu te levei ao
orgasmo? Duas? Com ele é assim também?
– Para! – Eu o interrompi, fechando a boca dele com a minha mão.
Matthew tirou a minha mão da sua boca, mas continuou segurando o meu pulso, ele encostou a
testa na minha e sussurrou:
– Eu preciso saber.
– Por quê?
– Foi diferente, Emma? Ou você pensou que era ele?
– Não.
– Não o que, Emm?
– Não foi igual.
Ele segurou o meu rosto em suas mãos, passou o polegar nos meus lábios e me beijou. Seu dedo
acariciava meu lábio inferior, fazendo com que eu o sugasse durante o beijo. Aquilo era
extremamente erótico. Ele se afastou ofegante e ficou olhando para minha boca, voltou a encostar a
sua testa na minha, respirou fundo e saiu do quarto.
Sentei na cama e fiquei olhando para porta fechada. O que significava tudo aquilo?

~§~

Eu precisava de outro banho para me acalmar. Tomaria dez num dia para tirar a sensação que as
mãos de Matt deixavam no meu corpo. A sensação de pecado.
Tirei a roupa e entrei no chuveiro. Fechei os olhos e deixei a água escorrer no meu corpo. Quando
abri os olhos ele estava na minha frente, entrou embaixo do chuveiro sem tirar a roupa e segurando o
meu rosto, como havia feito antes, ele me beijou.
Sua língua invadiu a minha boca e eu me entreguei completamente a ele. Em nenhum momento
tentei afastá-lo, não conseguia, era como se nada mais importasse, a não ser senti-lo, pertencer a ele.
Não pensei nas consequências, não havia espaço para isso, cada toque era puro prazer e naquele
momento isso bastava.
Ele me levou até o outro lado do banheiro, longe do chuveiro, e me encostou contra a parede de
azulejo, estávamos molhados, eu nua, ele não. Meus seios roçavam na sua camisa molhada, que
grudava no seu corpo, deixando–o mais irresistível.
Ele parou o beijo mordendo o meu lábio inferior, sugando-o. Soltou o meu rosto e as suas mãos
desceram até a minha cintura, me arrepiando por onde passavam. Depois foi a vez da sua boca
começar a descer. Primeiro, o meu queixo, lambendo as gotas de água, beijando, mordendo. Desceu
para o pescoço, seus lábios entreabertos me enlouqueciam passeando pela minha pele úmida. Sua
língua circulou, lentamente um mamilo e depois o outro, eu gemi e ele sorriu, seus olhos procuraram
os meus e quando se encontraram, ele abocanhou os meus seios, um de cada vez, devorando-os. Eu
coloquei minhas mãos nos seus cabelos, cada respiração era acompanhada por um gemido.
Matt percorreu o caminho até o meu umbigo, me deixando atordoada. Suas mãos saíram da minha
cintura e agarraram minha bunda, no mesmo momento, sua língua tocou meu sexo. Minhas pernas
fraquejaram. Ele encontrou meu clitóris e começou a lambê-lo e a sugá-lo. Ondas de calor, gemidos,
contrações involuntárias e eu atingi um orgasmo que parecia não ter fim. Ele continuava me beijando
e a sua língua me explorando, entrando na minha vagina que se contraia desejando outra parte dele
dentro dela.
Ele voltou até a minha boca e me beijou, colocou uma mão na minha nuca e com a outra me
abraçou pela cintura, colando meu corpo ao dele. E, pela primeira vez, eu o abracei.
Depois de toda a intimidade que havíamos compartilhado, foi naquele momento que eu o tive para
mim. Aquele gesto me fez querê-lo além do sexo. Eu queria que ele fosse meu. Eu queria amá-lo e
queria ser amada por ele. Mas isso era impossível. Uma tristeza tomou conta de mim. Matt parou de
me beijar
– Tudo bem, Emm? – Meu nome falado com carinho por aquela boca, só pioraram as coisas. Mas
o que eu esperava de toda aquela loucura? Um final feliz? – Vamos sair deste banheiro – falou, me
pegando no colo, me levando até o quarto e me deitando na cama.
Eu fiquei em silêncio, olhando para aquele homem lindo na minha frente, que começava a se
despir. Nos seus um metro e noventa, Matt era perfeito, não era musculoso demais, seus músculos
eram bem distribuídos, o cabelo molhado ficou descabelado e ele estava mais gostoso assim. Olhei
para a sua barriga tanquinho, seu membro duro e, sem perceber, mordi o lábio inferior.
– Está gostando do que está vendo? – me perguntou com um sorriso nos lábios.
– Talvez – provoquei. Não queria estragar aquele momento com palavras desnecessárias. Queria
ser dele, mais uma vez.
Ele ficou nu e deitou ao meu lado. Eu me virei para ele escorando a minha cabeça com o braço.
Ele afastou uma mecha de cabelos que caiu no meu rosto e me beijou próximo a minha orelha,
sussurrando:
– Eu quero você, Emm. Eu quero estar dentro de você.
–Eu quero você dentro de mim – respondi.
E nos beijamos, era um beijo faminto, línguas, suspiros, saliva. Ele veio para cima de mim e
separou minhas pernas se posicionando no meio delas. Colocou apenas a ponta do seu pênis na
entrada da minha vagina úmida, continuou me beijando, sem se mexer. Aquilo era tortura. Seus dedos
encontraram o meu clitóris que ainda estava sensível às investidas de sua boca. Ele me provocava
sugando a minha língua os meus lábios, mordendo o meu queixo, minha orelha e voltando para boca.
Eu sentia seu membro pulsando, levantei o quadril tentando fazê-lo penetrar, mas ele se afastou.
– Matt – implorei.
– Humm... – ele respondeu sem tirar a boca do meu pescoço.
– Por favor! – supliquei.
– Você ainda não está pronta – ele respondeu mexendo de leve com o quadril, penetrando um
pouco mais e voltando a me provocar com seus lábios.
Não estava pronta? Eu estava mais do que pronta, mais um pouco e eu ia explodir, eu ia atingir o
orgasmo sem ele e eu não queria isso. Tarde demais, minha vagina começou a se contrair e o orgasmo
estava próximo. Era impossível tentar evita-lo. Ele sentiu e me olhou nos olhos:
– Agora você está pronta. – E me penetrou. Devagar, cada centímetro do seu membro abrindo
caminho dentro de mim. Eu gritei de prazer quando ele chegou ao fim e preencheu todos os espaços,
ele me beijou e começou a se movimentar vagarosamente, seus olhos fixos no meu rosto,
acompanhando cada suspiro, cada gemido, cada respiração. Sua boca me devorando com lambidas e
mordidas nos lábios e pescoço. E aquele vai e vem delicioso me deixando em êxtase. Atingi o
orgasmo antes dele. Ele continuou me provocando, sem trégua, gemia me deixando mais excitada.
– Emm – ele sussurrou. – como você é gostosa. – E voltou a me beijar, meus lábios já estavam
inchados de suas carícias. Seus dedos me provocando, seu pênis me penetrando. Ele começou a se
movimentar mais rápido. Eu atingi outro orgasmo e enlacei seu quadril com as pernas, fazendo com
que ele fosse mais fundo. Ele gemeu e explodiu dentro de mim. Um grunhido selvagem saiu de sua
boca, ele pressionou seu corpo contra o meu, como se houvesse possibilidade de nos unir mais.

~§~

Nossas respirações ainda estavam ofegantes quando ele me pegou pelas costas e me fez sentar no
seu colo. Ele ajoelhado na minha cama e eu com as pernas cruzadas agarrando–o pela cintura. Eu o
abracei e encostei minha cabeça no seu peito, ouvindo o seu coração desacelerar. Ele beijou o meu
cabelo e ficamos em silêncio por alguns minutos.
– Emm? Você usa algum método contraceptivo?
Droga! Como não pensei nisso. Não tomamos cuidado. Ele vai me achar uma idiota.
– Não. Eu nunca transei sem camisinha, até agora.
Ele me afastou do seu peito e me encarou.
– Só aconteceu duas vezes, acho que não corremos risco, mas da próxima vez vamos tomar
cuidado.
Da próxima vez? Ele pretendia ter próximas vezes, mas como? Eu não poderia continuar com
aquilo. Eu não conseguiria encarar minha família. Eu não seria sua amante. Eu não queria dividi–lo
com mais ninguém.
Ele me deitou de costas na cama e deitou em cima de mim.
– O que foi? Não quer ter uma próxima vez? – perguntou. Ele lia meus pensamentos? Se eu queria
uma próxima vez? Eu o queria agora. Meu Deus, como ele conseguia isso? Eu estava totalmente
entregue. – Eu quero ter várias próximas vezes com você. E vou abrir mão do que for preciso para te
ter só pra mim. Eu te deixei escapar uma vez, isso não vai se repetir. Você é minha.
– E você é meu? – eu quis saber.
– Nesse momento, você me tem dentro de você. E esse é o lugar onde eu mais desejo estar. Mais
seu que isso, impossível. – Ele sorriu e me beijou. Sua mão desceu até a minha coxa e me pressionou
contra ele, senti seu pênis pulsando, ele estava tendo outra ereção. – Você me deixa louco. Eu teria te
possuído no capô do meu porsche se não tivessem nos interrompido. E na praia, eu quase arranquei o
seu biquíni. Eu quero você só pra mim, sem namoradinhos, só eu posso estar dentro de você. Só eu
posso fazer isso. – E voltou a me penetrar fundo.

Alguém bateu na porta do meu quarto.


–Senhorita Emma? – A voz angustiada de Anna fez Matt se afastar.
–Sim? Algum problema, Anna? – falei, tentando controlar a minha respiração.
– Graças a Deus, a senhorita está. Estou tentando encontrar o Sr. Stone. O Senhor Rochester está
ao telefone e precisa falar com ele. Parece que aconteceu alguma coisa com a Senhora Nathalie.
Matt saltou da cama e começou a se vestir. Eu peguei um roupão e fui até a porta para descer com
Anna, antes que ela o visse.
Quando estava pegando o telefone, Matt entrou pela porta, descalço e sem camisa, vestia apenas a
calça molhada.
– O que houve? Ele perguntou visivelmente preocupado.
– Se... Senhor parece que aconteceu um acidente. – Anna respondeu mais abalada com a visão
dele seminu do que com o telefonema. Ele tirou o telefone da minha mão e começou a falar com meu
pai.
CAPÍTULO TRÊS

– Matt...
– Agora não, Emma. Depois conversamos – ele respondeu ríspido, com os olhos fixos na estrada.
Estava dirigindo há 20 minutos, sem uma palavra, e isso estava me dando nos nervos. Quando ficava
nervosa eu gostava de falar, gritar, brigar, discutir possibilidades, tudo isso fazia com que eu
pensasse menos no problema e me distraísse. Mas Matt preferia o silêncio e não saber o que se
passava na cabeça dele, doía.
Mais quinze minutos chegaríamos ao Hospital e saberíamos o que realmente havia acontecido.
Começava a ficar com frio, saímos correndo da casa da praia depois da ligação do papai. Vesti uma
calça jeans, tênis e uma blusinha branca de manga curta. Matt parecia pronto para uma reunião de
negócios, só faltava a gravata, vestia uma calça preta, camisa preta e o casaco do terno combinando
com a calça, o cabelo bem penteado, não parecia em nada com o homem que me possuiu há poucas
horas atrás. O relógio do mostrador marcava vinte horas. Não sabíamos qual tinha sido a gravidade
do acidente. Papai disse que ninguém corria risco, mas Nathalie estava em observação.
Matt dirigia seu Porsche em alta velocidade, ao fazer uma curva a direita, antes de entrarmos na
cidade, me desequilibrei e coloquei a mão na sua perna para não cair por cima dele. Ele enrijeceu a
coxa ao meu toque, como se tivesse levado um choque. Eu tirei minha mão automaticamente e pedi
desculpa. Ele freou o carro e estacionou no acostamento. Estávamos ainda na região das dunas, numa
estrada isolada e sem movimento.
Matt abaixou a cabeça, escorando a testa na direção, as duas mãos segurando firme no volante,
suspirou fundo e voltou à posição normal, pensei que iria ligar o carro e continuar a viagem, mas ele
se virou para o meu lado e se inclinando segurou o meu rosto em suas mãos e me beijou.
Era um beijo desesperado. Diferente de todos os outros que havíamos trocado, mas não menos
intenso. Seus dedos se enfiaram no meu cabelo me puxando para mais perto dele. Minha mão
contornou o seu pescoço e se posicionou na sua nuca. Ficamos trocando caricias com a língua
durante alguns minutos, ele se afastou e me olhou nos olhos, ofegante.
– Nós vamos resolver tudo isso, eu prometo.
– Eu sei. – Mas eu não sabia. Resolver o que não tinha solução? Aquele beijo pareceu mais uma
despedida, não uma promessa. E a minha angústia só piorou. Terminamos a viagem sem trocar mais
nem uma única palavra.

~§~

Chegamos ao hospital e fomos até a Recepção da Emergência, onde meu pai nos aguardava. Ele
estava nervoso e caminhava de um lado a outro, quando nos viu veio em nossa direção.
– Onde está Nathalie? – perguntou Matt
– Mamãe e Trevor estão bem? – Eu queria saber.
– Sua mãe machucou o pulso, mas está fazendo alguns exames para descartar outras lesões,
Trevor fraturou a perna e está recebendo atendimento na Traumatologia e Nathalie está em
observação, ela está com uma pequena hemorragia e os médicos estão tentando descobrir o que
houve.
– Onde ela está? Quero vê-la? Quero falar com o médico? – Matthew teria um ataque cardíaco, se
não fosse atendido logo.
– Calma, Matt! Temos que aguardar – papai falou tentando demonstrar uma tranquilidade que não
possuía.
–E você papai? Está se sentindo bem? – perguntei, notando algumas escoriações em seus braços e
mãos.
– Estou bem, Emma. Já fiz alguns exames e depois farei outros, mas estou bem.
– Quem estava dirigindo? Como aconteceu o acidente? Algum motorista imprudente cortou vocês?
Eu processo esse canalha! – Matthew questionou furioso.
– Não houve imprudência. Trevor estava dirigindo. Ele pediu para dirigir e eu cedi. Numa curva
muito fechada, talvez por causa da chuva, não sei, ele se perdeu e acabamos batendo em uma árvore.
Todos estavam com o cinto, mas Trevor e Nathalie estavam nos bancos da frente e se machucaram
mais.
Nesse momento, mamãe entrou com o pulso enfaixado. Estava bastante abatida, eu caminhei até
ela e a ajudei a se sentar. Ajoelhei–me aos seus pés e perguntei como ela estava se sentindo.
– Estou bem, querida. Não quebrei nada, foi só uma torção. E sua irmã? Como ela está?
– Fazendo exames, querida – papai respondeu.
Ficamos mais de trinta minutos sem notícias, Matt procurou os administradores do hospital, fez
ligações, brigou com as enfermeiras. Eu o observava imaginando o quanto ele amava minha irmã,
para ficar tão desesperado assim e me senti mal, por estar com ciúmes dela, por desejá-lo e por amá-
lo.
Trevor apareceu em uma cadeira de rodas com a perna enfaixada. Parecia meio grogue, talvez por
causa dos medicamentos para dor que havia tomado. Fui para junto dele para ver como estava.
– Desculpa, linda. Não queria estragar seu final de semana.
– Você não teve culpa de nada. Foi um acidente. Você não conhecia o carro, nem a estrada,
ninguém morreu e todos vão ficar bem – falei colocando a mão em seu rosto. Ele colocou a mão em
cima da minha e a levou até sua boca e a beijou.
Um homem entrou na recepção e perguntou pelos familiares da Senhora Nathalie Stone, era o
médico de plantão. Matt caminhou até ele.
– Ela é minha esposa. Como ela está?
– Ela está bem Senhor Stone, está medicada e descansando, ficará em observação até amanhã.
Depois poderá ir para casa, terá que ficar em repouso por algum tempo. Mas, lamento informar que
não conseguimos salvar o bebê.
– O bebê? – Matt ficou branco. – Ela estava grávida?
– O senhor não sabia? Estava com quase oito semanas de gestação. – O médico pareceu
desconcertado. – Eu sinto muito. Se o Senhor quiser vê-la, ela estará sendo encaminhada para um
quarto particular em poucos minutos. Agora, se me dão licença, tenho outros pacientes para atender.
Meu pai, que estava ao lado de Matt, foi para um canto da sala conversar com o médico. Matt
ficou parado no mesmo lugar. Mamãe chorava baixinho, Trevor apertava a minha mão. Eu olhava
para aquele homem parado no meio da sala, desmoronando na minha frente. Tinha vontade de correr
até ele e abraçá-lo.
Matt se virou e encarou o Trevor. Seus olhos estavam vermelhos e as mãos fechadas em punho.
Ele avançou para onde estávamos, eu me levantei e fiquei entre os dois.
– Sai da frente, Emma. Eu quero acertar as contar com esse assassino – ele esbravejou.
–Não. Você não vai tocar no Trevor, Matt. Acalme-se! Foi um acidente. Ele não tem culpa do que
aconteceu.
– Está defendendo o seu namoradinho? – Havia tanta raiva em seu olhar que eu cheguei a dar um
passo para trás.
–Eu sinto muito – Trevor falou atrás de mim, sentado na cadeira de rodas.
– Cala boca, assassino! Você matou o meu filho. E eu não vou te perdoar. Você vai pagar por isso!
– Ele avançou para cima de mim, queria me tirar da frente. Eu o empurrei, mas ele era mais forte, me
segurou pelos braços e me tirou do caminho.
Papai chegou e o segurou por trás. Impedindo que ele agredisse o Trevor. Eu corri e abracei o
Trevor tentando protegê-lo. Ele me encarou com ódio no olhar.
– Suma com esse seu namoradinho daqui! Você só aparece para estragar as nossas vidas –
esbravejou.
Se ele tivesse me apunhalado a dor não seria tanta. Meus olhos se encheram de lágrimas. Olhei
para o meu pai em súplica.
– Vá, Emma, é melhor vocês irem embora – foi a resposta do meu pai.
–Mãe? – sussurrei.
–Filha, deixa as coisas acalmarem. Por favor!
Trevor segurava a minha mão.
–Emm, é melhor nós irmos embora.
Matt deu as costas e saiu da sala. Eu me virei para Trevor com os olhos em lágrimas.
–Desculpa?
Eu não respondi. Não conseguia. Minha mente só tinha espaço para as palavras de Matthew.
– Vou avisar Albert, ele estará esperando por vocês no estacionamento. O médico disse que o
Trevor já pode ir, eu e sua mãe ficaremos por aqui. – Meu pai sempre prático e eficiente em resolver
conflitos. Se livrando do problema, no caso eu, novamente.
Não me despedi. Empurrei a cadeira de rodas do Trevor até o elevador. Albert nos esperava no
saguão do hospital e me ajudou a levá-lo até o carro. Não vi mais Matt.
CAPÍTULO QUATRO

Arrumei as minhas malas e as do Trevor, joguei tudo no porta-malas do meu carro e partimos. Já
passava das dez horas da noite. Iria dirigir por mais de cinco horas, mas isso não importava.
Precisava sair daquele lugar o quanto antes. Precisava esquecer o que aconteceu naqueles dias,
precisava esquecê-lo.
Dirigi, sem fazer paradas. Parecia anestesiada. Minha mente se concentrou na estrada e bloqueei
qualquer sentimento. Trevor dormiu a viagem inteira. Estava sedado. Estávamos a uns trinta minutos
da cidade quando liguei para os pais dele, avisei do acidente, eles concordaram que era melhor ele
ficar com eles enquanto se recuperava. Então, dirigi até a casa dos Lancaster e deixei meu ex-
namorado sonolento lá.
Fui direto para o meu apartamento. Entrei e me joguei no sofá. Dormi. Acordei com o telefone
tocando. Estava escuro, não havia uma única luz acesa. Me arrastei até o telefone, que ficava numa
mesinha ao lado do sofá, e atendi. Era o Trevor.
–Emm? Como é que você está? Acordei a pouco e você não imagina o susto que levei ao ver que
estava na casa dos meus pais. O que aconteceu? Eu não me lembro de nada, a minha última
lembrança foi da ambulância nos resgatando no local do acidente. Deram–me uma injeção e eu
apaguei. Como você está? E os outros?
– Todos estão bem, Trevor. Eu resolvi vir embora. Cancelaram tudo e os ânimos não estavam
muito bons, então resolvi fugir antes que o pior acontecesse – menti, se ele não lembrava, não seria
eu que iria contar sobre o aborto da Nathalie, o ataque de fúria do Matt e nem da minha expulsão
número dois da família.
– Eu ainda estou meio tonto, mas acho que você está me escondendo alguma coisa. Você vem me
ver amanhã?
–Vou sim. Mas não esquenta, está tudo bem, ok?
– Boa noite, linda.
– Boa noite, Trevor.
Tirei o telefone do gancho e fui para o quarto. O relógio da cabeceira marcava vinte horas e
quinze minutos. Deitei de bruços na cama e chorei. A dor que eu sentia ultrapassava qualquer dor
física que já havia sentido. Sentia–me humilhada, usada, burra, idiota, estúpida e, o pior de tudo,
perdidamente apaixonada. Eu queria sentir ódio, mas eu não conseguia. Se ele entrasse, naquele
momento, pela porta, eu não o expulsaria. Pelo contrário, eu me entregaria a ele como fiz as outras
vezes. Realmente, eu sou uma idiota! Abracei o travesseiro.
Meus pensamentos viajaram para aquela casa no litoral, imaginando o que estava acontecendo por
lá. Todos os meus parentes chegariam naquela manhã para a festa. Teriam cancelado? Isso seria o
mais correto, mas conhecendo o meu pai, o menos provável. Ele gostava de manter as aparências e
não deixaria os outros saberem que a filhinha indesejada causou mais uma crise familiar. Não sei
quanto tempo fiquei acordada, perdida em pensamentos que iam da minha família ao meu
relacionamento relâmpago com Matt. Voltei a dormir e me acordei de madrugada com a minha cabeça
latejando de dor.
Fui até o banheiro procurar algum comprimido e me olhei no espelho. Estava um caco, meus olhos
inchados, parecia uma oriental, meu cabelo uma palha desgrenhada. Precisava juntar os pedaços.
Não ia passar por outra terapia, não dessa vez. Mas agora, o que eu precisava era de umas aspirinas
e alguma coisa pra comer, estava a mais de vinte quatro horas sem colocar nada no estômago.
Às seis horas da manhã, já havia tomado um banho, secado o cabelo com secador para deixá-lo
mais ajeitado. Desfeito as malas, separado o que ia pra lavanderia, arrumado o apartamento e
tomado um café que deixaria qualquer nutricionista de cabelo em pé.
Coloquei os fones de ouvido e sai para correr no parque que ficava em frente ao prédio onde
morava. Precisava me manter ocupada. Mais tarde iria visitar o Trevor. Queria romper o namoro
com ele, mas não hoje. Iria dar um tempo até ele se recuperar. Não o amava e não iria usá-lo para
esquecer quem eu amava. Trevor não merecia isso.
A cidade não tinha acordado ainda e poucas pessoas se encontravam no parque àquela hora da
manhã. Corri sem precisar desviar de senhoras com bengalas e carrinhos de bebês. Adorava a cidade
onde nasci, por isso, mesmo com todos os problemas que havia vivido ali, não quis me mudar,
morava a alguns quilômetros dos meus pais e outros tantos da casa da minha irmã, mas nesses quatro
anos nunca os encontrei, só mamãe que me procurava regularmente, não ia ser agora que iria ter que
abandonar meu lar.
Não, definitivamente continuaria morando na Capital. A cidade era grande o suficiente para que
nossas vidas não se chocassem.

~§~

A visita à casa dos pais de Trevor demorou mais do que planejei e acabei jantando com eles. O
senhor George Lancaster era professor de Língua Inglesa na Universidade local e Emily Lancaster
era dona de uma Cafeteria que ficava no antigo centro da cidade. Um lugar agradável que oferecia
café e leitura. Vários exemplares de literatura ficavam distribuídos em estantes entre as mesas, o que
proporcionava um pouco de privacidade para conversar e estudar. Foi lá que conheci o Trevor.
Naquele tempo, ele ainda morava com os pais e ajudava no atendimento. Nos tornamos melhores
amigos em questão de dias. Ele, na época, namorava uma garota que tocava baixo numa banda de
rock e eu saia com um colega da livraria onde era atendente. Bons tempos, eu falei. Enquanto
lembrávamos dessas histórias.
Os pais de Trevor davam gargalhadas das nossas aventuras nos bares suspeitos, onde Megan, a
namorada roqueira, tocava. E das piadas que Trevor contava, imitando Max, meu namorado nerd.
Conversamos sobre amenidades a noite inteira, mais de uma vez Trevor tentou tirar alguma
informação sobre o acidente, mas eu havia me preparado o dia inteiro para isso e estava impecável,
tanto na aparência quanto no humor, de modo que não deixei transparecer que, por dentro, estava
arrasada.
Foi uma noite perfeita. Cheguei em casa quase meia noite. Estava cansada, tomei um banho e fui
para cama.
– Parabéns, Emma. Sobreviveu ao primeiro dia. Nós vamos conseguir e dessa vez sem a ajuda de
ninguém – disse em voz alta a mim mesma. Estava exausta e dormi. Um sono sem sonhos.
Acordei às sete horas com o despertador tocando. Era segunda–feira, não precisava trabalhar,
tinha pedido o dia de folga, imaginando que estaria voltando de viagem. Desliguei o relógio e me
revirei na cama tentando dormir mais um pouco. Mas meu cérebro estava a mil e isso era o que eu
não precisava. Abracei o travesseiro e sussurrei:
– Matt.
A imagem do beijo, quando eu perguntei se ele era meu, veio clara. Podia senti-lo em meus
lábios.
– Droga, Emma. Para com isso! Vai pra baixo do chuveiro que passa.
Depois do banho, tomei um café. Olhei para o apartamento procurando algo para fazer. Ele era
pequeno, sala, cozinha quarto e banheiro. Ficava bem localizado, em frente ao parque, no Velho
Centro. Aquela não era a zona mais valorizada da Capital, os prédios centenários eram tombados
pelo patrimônio histórico, o que impedia novos investimentos, por isso amava meu bairro, era como
estar em outra época, longe do burburinho característico das metrópoles.
O fervo das grandes corporações se concentrava no Novo Centro, zona urbanizada onde os ricos
construíram as sedes das suas empresas e o comércio havia se instalado com shoppings e centros
comerciais gigantescos. Era lá que os ricos circulavam, era lá que o dinheiro circulava.
Eu preferia o meu cantinho Cult, com seus pubs, cafeterias, livrarias e sebos. O lugar que escolhi
para lar, quando tia Susan resolveu me presentear com a minha independência, palavras dela ao me
entregar as chaves do meu apartamento. Eu queria seguir minha vida sozinha e ela sabia que eu era
capaz, não podia decepcioná-la agora. Ela devia ter chegado da Itália no sábado. Estranho não ter me
ligado?
Só então percebi que não havia colocado o telefone no gancho, o celular estava sem bateria desde
sábado e eu havia esquecido o carregador na casa da praia. Nesse momento, o interfone tocou. Era a
tia Susan furiosa por eu não retornar suas ligações. Não ia explicar pelo interfone, então esperei ela
subir.
– Emma Rochester, comece a se explicar. Porque não me atende? Você me prometeu que iria à
festa dos seus pais, por que não apareceu? Perguntei para sua mãe e Mary Anne me deu uma resposta
vaga, dizendo que você tinha compromissos. Querida o que aconteceu? – ela falava, me abraçava e
me examinava para ver se eu estava inteira e eu sorria sem conter as lágrimas. Como eu a amava. Ela
foi meu porto seguro há algum tempo atrás e eu sabia que, se precisasse, ela largaria tudo e viria me
socorrer.
– Eu estou bem, titia mais linda do mundo – respondi, retribuindo o abraço. Ela me ensinou a
chamá-la assim quando eu era pequena e até hoje eu mantinha o hábito. Tia Susan realmente era
linda, seus cabelos eram loiros, não naturais, levemente cacheados, os olhos eram verdes como os da
mamãe, tinha um corpo curvilíneo que chamava a atenção onde passava. Nos seus trinta e nove anos
era realmente a tia mais linda do mundo. Fomos até o sofá e sentamos. – Então a festa aconteceu?
– Claro. Por que não deveria? Apesar da sua mãe estar com cara de velório, seu pai mantendo a
pose, a princesinha da sua irmã desfilando ao lado daquele marido arrogante dela, que, aliás, estava
mais atencioso que o normal, só faltava carregá-la no colo. Deve ser por causa do acidente. Você
soube que sofreram um acidente de carro? Nada grave, graças a Deus.
Eu desabei. Abracei tia Susan e comecei a chorar convulsivamente.
– O que houve meu amor? Você tem que me contar o que aconteceu para te deixar assim? Eu sei
que vocês estão me escondendo algo.
Eu não poderia mentir para ela como fiz com Trevor, eu precisava contar a verdade ou pelo
menos parte dela. E foi o que eu fiz, falei com detalhes o que havia acontecido, excluindo o meu
envolvimento com Matt. Ela ficou do meu lado, queria procurar meus pais, pedir satisfação por eles
não terem me apoiado.
–Nathalie não parecia abalada pela perda do bebê, estava um pouco abatida, apresentava um
cansaço no olhar, mas no restante parecia a dona da festa. Sorria, conversava, exibia seu marido rico
e bonitão. Era a esnobe e fútil Nathalie de sempre.
–Tia? – eu a repreendi.
–Emma, quando você vai enxergar a irmã que tem? Desde criança você colocou Nathalie num
altar e não consegue ver os seus defeitos. Querida não se iluda. Sua irmã é fútil e má.
–Não gosto que fale assim dela. Eu a amo. Ela me ama, só está passando por um momento difícil,
e eu queria estar lá para apoiá-la.
– Mas não pode por causa do descontrolado do marido dela. Estranho essa reação dele. Deve
realmente amar muito a sua irmã para partir pra agressão física.
Enquanto ela falava, eu me lembrava do Matt que conheci naquele feriado. O Matt que abriria
mão de tudo para ter próximas vezes comigo. Um mentiroso!
– Aconteceu mais alguma coisa que você não está me contando? Você está diferente, querida. Não
sei o que é. Mas tem algo no seu olhar... Você está apaixonada? É esse menino com quem está
saindo? Preciso conhecê-lo. Se ele consegue te deixar com esse olhar perdido num momento como
esse, deve ser mesmo especial.
–Não, tia. Não estou apaixonada. Gosto do Trevor. Sim, ele é especial. Mas, não é amor. Agora
eu tenho certeza.
–Agora? Como assim?
–Agora, hoje, nesse momento, estou pensando nele como um bom amigo, só isso.
– Está bem, e seus pais? Você vai procurá-los?
– Não, não vou mais procurá-los. Acho que dessa vez é definitivo. Não quero mais viver
mendigando perdão. Não tivemos culpa pelo acidente e mesmo assim fomos expulsos de lá. Chega!
– Querida, não tome decisões precipitadas. De tempo ao tempo. Tudo vai se resolver. Mas o que
me trouxe aqui foi outra coisa. Quero lhe propor um negócio. Estou pensando em abrir uma pequena
editora em Florença, e estou precisando de alguém de confiança para me assessorar. Você tem
experiência, já está trabalhando com isso. Vem pra Itália comigo?
– Eu? Na Itália? – A proposta era tentadora, mas eu teria que me mudar para a Europa e deixar
para trás tudo que construí aqui. Tudo bem que não era grande coisa. Mas era meu, meu mundo,
minha vida, minha profissão, meus amigos. Não podia largar tudo e, novamente, ir para baixo da
barra da saia da tia Susan. Não, eu não iria.
Expliquei para ela meus motivos e agradeci o convite.

~§~
Um mês depois, um acontecimento me fez mudar de ideia e fui morar na Europa e trabalhar com
ela.

CAPÍTULO CINCO

Outubro de 2013.

O avião estava taxiando, lá fora uma garoa fina dava um ar melancólico à cidade. Olhei para o
homem ao meu lado. Meu Deus, como eu o amava! Não imaginei que pudesse haver tal sentimento,
até ele aparecer em minha vida. Ele era lindo, o cabelo castanho escuro, liso, com a franja caindo
nos olhos, precisando de um corte. Eu gostava de cabelo bagunçado. E o cabelo do Luca era uma
bagunça charmosa. Mas eram seus olhos que deixavam as pessoas apaixonadas, um par de olhos
azuis.
–Você não precisava ter nascido tão parecido com o seu pai – falei baixinho, beijando–lhe a
bochecha. Ele me olhou sonolento e sorriu.
– Chegamos, mamma?
– Si, amore mio. Chegamos. Logo, logo você conhecerá a vovó e o vovô.
– Legal! – ele falou entusiasmado. – Nós vamos hoje pra casa da vovó?
– Não querido, já é tarde. Hoje vamos dormir num hotel e amanhã cedinho vamos visitá-los.
– Mas eu não estou com sono – resmungou, fazendo beicinho.
– Mas a vovó e o vovô estão. E você vai ter que dormir também, se não amanhã vai estar tão
cansado que não poderá contar todas as suas aventuras para o vovô – argumentei.
Ele revirou os olhos e cruzou os braços fazendo cara de zangado. Eu não resisti e enchi aquelas
bochechas lindas e o seu pescocinho gordinho de beijos, ele caiu na gargalhada, chamando a atenção
dos outros passageiros do avião.
~§~
Já passava da meia–noite quando Luca, finalmente, dormiu. Parecia um anjinho deitado na imensa
cama de casal do quarto de hotel. Viemos para passar uma semana, no máximo duas, durante esse
tempo dividiríamos o mesmo quarto, não queria ficar longe do meu bebê. Tinha dispensado Amélia, a
babá, que ficou na Itália. Era melhor que ele ficasse o tempo todo comigo. Precisava pensar em como
agir nos próximos dias.
Haviam-se passado cinco anos desde a última vez que vi meus pais. Eles não sabiam que eu viria
agora, desde que recebi o telefonema de papai, há duas semanas, falando que mamãe estava doente e
que ela queria muito me ver, eu fiquei em dúvida em fazer essa viagem ou não. Foi tia Susan quem
me convenceu. Meus pais não sabiam da existência de Luca, não sabiam que eram avós de um menino
de quatro anos. Estava na hora deles serem apresentados, sei que isso significava muito para eles e
torcia que o meu anjinho amolecesse o coração do meu pai e que ele o recebesse com carinho. Não
iria perdoar se o destratasse. Mamãe iria amá-lo e ele a ela, seria amor à primeira vista.
Matt e Nathalie não iriam conhecê-lo.
Antes de vir, me informei sobre a agenda de ambos, sabia que Matt estaria fora do país nos
próximos dias e que Nathalie estava em um Resort, a quilômetros de distância.
Não foi difícil descobrir o paradeiro dos dois, o casal perfeito, como eram conhecidos na mídia.
Eram notícia frequente nas revistas de celebridades e nos sites de fofocas. Matthew se tornara um
dos homens mais ricos do mundo e Nathalie era a sua esposa ideal. Eram perseguidos por paparazzis
e, seguidamente, estampavam alguma capa de revista. Era impossível evitá-las, mais de uma vez me
peguei em frente a uma banca olhando para um homem sério, de olhar enigmático ao lado de uma
mulher bela e sorridente, fotografados em alguma festa ou evento social. A ausência deles foi
decisiva para a minha volta.

~§~

Chegamos à casa dos meus pais às nove horas. Estacionei o carro alugado em frente à fachada da
bela mansão, a casa onde eu cresci. Era linda, pintada de branca, com janelas de vidraça e rodeada
de jardins caprichosamente cuidados. Sua arquitetura, do estilo vitoriano, nos remetia a outra época.
Quando criança imaginava que a nossa casa era um portal para um mundo mágico, mamãe contribuiu
pra isso, contava histórias de príncipes e princesas, bruxas e fadas que habitavam nossos jardins e
que eram proibidos de aparecer porque um feitiço havia sido lançado, trancando–os em outra
dimensão. Essa atmosfera mágica me fez sentir saudades daquele tempo, uma fração de tempo tão
curta e tão feliz. Mamãe e suas histórias.
Luca estava encantado, acordou cedo pediu lápis e papel e fez cartões para presentear os avós.
Havíamos trazido presentes, escolhidos por ele nas feirinhas de antiguidades que gostávamos de
visitar. Uma mania que peguei de Trevor e pelo jeito Luca iria herdar de mim. Toquei a campainha e
Albert vestido a caráter, de terno preto impecável, veio nos receber.
– Senhorita Emma? Entre, vou avisar da sua chegada. – Estava, visivelmente, surpreso e
emocionado. – Vou descarregar as bagagens e pedir para Anna preparar seu quarto. A senhora veio
pra ficar?
– Bom dia, Albert! – disse, dando-lhe um abraço. Ele sempre foi o meu guardião, me livrando das
confusões. Era ele que papai mandava para consertar minhas trapalhadas na adolescência, e da
última vez que nos vimos, nem um abraço eu tinha lhe dado, ele retribuiu, emocionado. – Não trouxe
malas. Estou hospedada num hotel. Mas, pode avisar papai e mamãe que eu estou aqui.
Luca se escondia atrás de mim, ficando fora da visão de Albert. Queria fazer uma surpresa.
– Emma? – A voz do meu pai surgiu no hall de entrada. – É você?
Um homem envelhecido apareceu na minha frente. Eu não o reconheceria se passasse por ele na
rua. Estava magro, com olheiras e bolsas embaixo dos olhos, denunciando noites sem dormir. Parecia
sofrido e frágil, tão diferente do homem autoritário, que não se curvava nunca, sempre preocupado
com as aparências. Papai era um atleta quando jovem, da equipe de natação de sua faculdade, nunca
parou de praticar esportes, mesmo depois de aposentado. O que poderia ter acontecido com ele?
– Pai. Tudo bem? – perguntei, abalada com aquela visão.
– Filha, você veio. Sua mãe vai ficar tão feliz – ele falou se aproximando, parecia que estava
segurando o choro, me abraçou sem jeito.
Nesse momento, Luca apareceu com um sorriso nos lábios.
– Oi, vovô!
Meu pai deu um passo pra trás e olhou para aquele pequenino que lhe estendia uma mão em
cumprimento. Ficou confuso e me olhou com lágrimas nos olhos.
– Vovô? – Me interrogou com um soluço e eu fiz que sim com a cabeça. – Oi. Como você se
chama, meu neto? – Ele perguntou a Luca se ajoelhando na sua frente.
– Eu sou o Luca Rochester. – Os dois se abraçaram. Papai começou a chorar e Luca bateu a
mãozinha nas costas dele, como se estivesse lhe consolando. – Calma, vovô! Achei que você ia ficar
feliz em me conhecer – disse me olhando, sem entender o que estava acontecendo.
– Ele está, meu amor. Ele está chorando de felicidade.
Papai soltou o Luca e secou as lágrimas com a manga da camisa. Levantou–se e voltou a me
abraçar.
– Obrigado, Emma. Você acaba de trazer a felicidade para essa casa. Agora eu acredito que tudo
pode melhorar. E me beijou na testa.
– E mamãe? Não está em casa?
– Ela está no quarto – falou colocando a mão no meu ombro. – Vamos até a outra sala precisamos
conversar, querida. E você meu neto temos muito que conversar também, mas antes quero que você
conheça as delícias que só a Anna sabe preparar. Albert, leve esse rapazinho até a cozinha e peça
para Anna fazer um lanche especial para ele.
– Posso, mamma? – Ele me olhou com os olhinhos para cima, quem poderia negar um pedido
desses.
– Claro, mas não exagera. Lembra que tem que contar suas aventuras para vovó e para o vovô? E
uma dor de barriga vai estragar tudo. – Fiz cosquinhas na sua barriga e ele deu uma das suas
gargalhadas gostosas, beijei sua bochecha. – Vai com Albert e comporte–se.
Papai observava, encantado com a alegria de Luca.
– Sua mãe vai se apaixonar por ele. Meu Deus, Emma! Como estou feliz por você ter atendido o
meu chamado.
– Pai, o que está acontecendo com a mamãe? Você falou que ela estava doente e que não era
grave. Mas já estou achando que você está escondendo alguma coisa.
Ele me levou para uma das inúmeras salas da casa, nesta a decoração era em tons de verde,
quando criança brincava de esconde–esconde com Nathalie naquelas salas. Sentamos num sofá
decorado com florais verde escuro. Pela janela entrava uma brisa suave, que trazia com ela o cheiro
de terra molhada. Aquela era a minha sala preferida, por causa da grande lareira, onde, quando
pequena, acreditava que descia o Papai Noel.
Meu pai segurou as minhas mãos.
– Filha, sua mãe está muito doente, ela está com... câncer. – A voz dele falhou ao pronunciar
aquela maldita palavra.
Eu perdi o chão. Meu coração disparou, meu corpo inteiro tremia. Papai apertou minhas mãos
com força.
– Mas está no início? Ela vai operar? Tem tratamento, vai ficar tudo bem? Diz pra mim pai, vai
ficar tudo bem? – Eu precisava saber, apesar da resposta estar em seu olhar.
– Há dois anos, um exame de rotina apresentou uma alteração. A médica de sua mãe pediu outros
exames, que confirmaram o tumor no seio. Como não apresentava metástase optou–se pela cirurgia.
Mary Anne foi forte durante todo o tratamento, não avisamos ninguém da família. Você estava na
Europa e Nathalie dificilmente aparecia. Foi fácil inventar uma viagem e durante meses cuidamos
dela. Desde então, ela fazia o controle da doença com exames periódicos. Acreditávamos que estava
curada.
– Mas ele voltou... – falei entre lágrimas.
– Sim, minha filha. Mais agressivo e em outros órgãos. Os médicos descartaram outra cirurgia e
ela está fazendo sessões de quimioterapia. Por isso está fraca e dificilmente sai da cama. Você vai ter
que ser forte. – Nos abraçamos, imersos numa tristeza sem fim. Não podia acreditar que estava
perdendo a minha mãe.

~§~

Entrei no quarto e lá estava ela, parecia dormir serenamente. Uma enfermeira estava sentada numa
poltrona ao lado da cama. Num móvel, próximo, vários porta–retratos com fotos minhas e de
Nathalie, nas diversas fases das nossas vidas. Me aproximei da cama e sentei ao lado dela. Peguei
sua mão. Ela abriu os olhos.
– Emma. Minha Emma, minha menininha, você voltou? – Sua voz era fraca, ela estava magra,
sulcos se formavam em seu rosto. Tinha um lenço azul amarrado na cabeça.
– Voltei mamãe. Voltei para ficar com você, porque eu te amo e nunca deveria ter me afastado. –
Não consegui conter as lágrimas, que escorriam dos meus olhos enquanto eu falava. Me inclinei e
beijei seu rosto.
– Como você está linda. Como eu senti saudades, já faz cinco anos que você partiu e eu só
recebia seus cartões de aniversário ou Natal. Susan só dizia que você estava bem. Mas eu precisava
ver se era verdade. – Entre uma palavra e outra ela precisava recuperar o fôlego.
– Eu estou bem, mamãe. Você sabe, muito trabalho. Estávamos montando uma editora de livros.
Hoje já somos uma equipe grande e eu posso dar minhas fugidinhas. – Como se isso justificasse
cinco anos de ausência. Ela me ouvia com um sorriso nos lábios. Parecia ter recuperado um pouco da
cor, seu rosto parecia mais rosado e menos pálido.
Papai entrou no quarto de mãos dadas com Luca. Mamãe olhou para eles com curiosidade.
– Mary Anne, quero que você conheça o nosso neto – papai falou com a voz embargada de
emoção.
– Oi, vovó! – Luca falou abrindo um sorriso que mandaria embora toda a tristeza do mundo.
– Emm! – Ela me olhou e dessa vez chorou, mas eram lágrimas de alegria. – Como se chama esse
menino lindo? – ela perguntou, se dirigindo ao Luca.
– Eu sou o Luca Rochester. – Ele se aproximou da cama e estendeu a mãozinha em cumprimento.
Mamãe o cumprimentou e papai o colocou sentado na cama ao lado dela.
– Você é muito lindo, Luca. Mas não se parece com a sua mamãe.
– Eu sou parecido com o papai. Mamma diz que eu não precisava ter nascido tão parecido com
ele. – Tinha que parar de falar isso em voz alta, olhar para Luca era como olhar para o seu pai, e isso
ainda doía.
– Ele deve ser um homem muito bonito – mamãe falou olhando para mim. Será que ela havia
percebido algo?
– Eu não o conheço – Luca respondeu. – Vovó, você tá dodói? – Ele trocou de assunto, para meu
alívio.
– Sim, meu amor. Mas logo estarei bem.
Ele se inclinou sobre a mamãe e lhe deu um beijo na testa, um no queixo, um em cada bochecha e
por último na ponta do nariz.
– Agora, você vai ficar boa. Mamma sempre me cura assim.
– Eu acredito, meu anjinho – ela falou emocionada.
Passei o resto do dia com mamãe, no quarto. Conversamos sobre vários assuntos, menos sobre a
doença. Contei sobre o meu trabalho na Itália, sobre o projeto de abrir uma filial em Londres. Menti
sobre o pai de Luca, inventei um namoro relâmpago com um turista inglês, que eu nunca mais
encontrei. Mamãe falava pouco, mais escutava.
Papai sumia com Luca e de vez em quando voltavam contando alguma travessura que haviam
aprontado juntos. Mamãe se divertia vendo a felicidade de papai. No final da tarde, Luca trouxe os
desenhos e os presentes que havia escolhido para os avós. Para mamãe uma boneca de porcelana e
para o papai um carrinho de lata, antiguidades de uma feira em Parma. Ele se acomodou ao lado de
mamãe, os dois conversaram até caírem no sono, um contando histórias para o outro. Deixei o quarto
para falar com papai.
– Filha, busque suas coisas no hotel e venha ficar aqui. Vocês estão fazendo um bem pra ela e pra
mim também. Luca trouxe vida para essa casa. Por favor! – ele suplicou.
Não podia negar o seu pedido. Minha mãe estava doente e eu não iria abandoná-la. Todos os meus
problemas pareciam sem importância agora.
– Eu fico – respondi, ele não se conteve e me abraçou. – Vou até o hotel buscar nossas bagagens e
volto para cá. Anna pode preparar um quarto pra mim e o de Luca ao lado do meu?
– Vou pedir a ela. Você não quer que Albert te acompanhe?
– Não é necessário. Vou demorar um pouco. Preciso fazer algumas ligações, pois vou ficar aqui
mais tempo que planejava, preciso avisar a Editora e encaminhar alguns assuntos pendentes.
– Obrigado, Emm.
CAPÍTULO SEIS

Dirigi até o hotel com a cabeça fervilhando. O burburinho dos carros e pessoas indo e vindo
parecia uma cena surreal, nunca gostei daquele bairro, sempre o evitei quando morava na Capital,
mas toda a viagem foi feita através de uma agência e não escolhi o hotel, que ficava exatamente no
bairro mais chique e movimentado da cidade, o Novo Centro.
Precisava de silêncio para colocar as ideias em ordem. Minha vida iria mudar radicalmente e
dessa vez eu estava levando o meu filho comigo. Mas não havia o que fazer, precisava ficar com a
mamãe nesse momento difícil. O resto se dava um jeito. E Luca parecia não entender a gravidade da
situação. Teve todos os mimos e se divertiu o dia inteiro.

~§~

Cheguei ao hotel atordoada, precisava de um banho e precisava chorar sozinha. Caminhei pelo
Hall de entrada desviando de hóspedes e funcionários que pareciam contaminados pela agitação da
rua e ziguezagueavam de um lugar para outro. Precisava sair dali. Entrei no elevador e percebi que
alguém entrou atrás de mim. Eu me virei e apertei o décimo primeiro andar, sem olhar para o outro
ocupante, estava aliviada por fugir daquela confusão. Mas um perfume caro, levemente amadeirado,
fez o meu corpo responder, automaticamente, a um sinal de alerta. Parei no lado oposto ao dele e o
encarei.
Ele me olhava com um sorriso torto nos lábios. O cabelo estava sem corte, a barba rala como se
estivesse por fazer, terno preto, camisa gravite e, como acabamento da obra, lindos olhos azuis. Ele
não tinha mais cara de bom menino.
O que ele está fazendo aqui? Era para estar do outro lado do planeta. Como me encontrou? O
elevador parou no segundo andar e uma loira estonteante, vestida com uma camisa branca e uma saia
lápis preta justíssima, que realçava as suas curvas, entrou. Ela me ignorou e se virou para ele.
– Senhor Stone, não esperávamos o senhor hoje. Vai passar a noite? Podemos preparar a sua suíte.
Estou aqui para acompanhá-lo e atender todas as suas necessidades.
Ela estava se oferecendo descaradamente para ele. Quantas vezes isso teria acontecido? Será que
ele costumava fazer essas visitinhas no hotel e já era até conhecido por aquela... oferecida? Eu o
fuzilei com os olhos e ele aumentou o sorriso.
– Obrigado pela sua atenção, senhorita Muller. Mas estou aqui para resolver um assunto pessoal,
vim visitar um hóspede. E não quero ser importunado e também não quero que a minha estadia nesse
hotel seja divulgada. Entendeu?
– Sim, senhor – a loira respondeu, desconcertada. – Mas se o senhor precisar de algo, estamos
todos a seu dispor.
– Eu sei, Senhorita Muller. Eu sou o dono desse hotel, esqueceu? Agora se me der licença, tenho
assuntos a resolver. – Ele apertou um botão no painel e o elevador parou no décimo andar. Ela
sorriu, visivelmente, contrariada e saiu.
O próximo andar era o meu, me virei para a porta esperando ela abrir, o elevador parou, ele
apertou um botão e a porta permaneceu fechada.
–Você não vai a lugar nenhum, Emm – sussurrou nas minhas costas.
– Você não tem um encontro? Deixe–me sair. – Me virei e o encarei.
– Você é o meu encontro – falou se aproximando mais, podia sentir o seu hálito no meu rosto.
Dessa vez não. Eu não iria ceder. Você me usou e eu não iria deixar isso se repetir.
– Nós não temos nada pra conversar. –Levantei o rosto para mostrar que eu estava falando sério e
meu nariz quase tocou no dele. Meus batimentos cardíacos estavam acelerados, minha respiração me
denunciava. Durante anos imaginei esse momento, ensaiei cada detalhe de como o desprezaria, mas
meu corpo me traía. – Eu tenho um compromisso e estou atrasada. – Minha voz saiu rouca. Droga!
– Cancela – ele falou roçando seus lábios nos meus. O elevador parou no último andar, mas a
porta não se abriu. Eu me afastei, ficando o mais longe possível. – Eu viajei meio mundo pra te
encontrar, Emma. E você não vai fugir de mim dessa vez.
– Se não me falha a memória eu não fugi, fui expulsa por você. Mas isso é passado, não tem mais
nenhuma importância, afinal tivemos algo insignificante, agora abra essa porta. Eu quero sair! – Eu
estava encostada na parede de fundo do elevador, que era revestida por um espelho, ele se
aproximou.
– Quando o seu pai me ligou e disse que você havia voltado eu perdi a cabeça, Emma. Eu
precisava te ver. Coloquei meu pessoal pra descobrir em qual hotel você estava e vim voando,
literalmente, pra cá. Fiquei esperando no carro até você chegar. E você acha que eu vou deixá-la ir?
– Nossos corpos estavam quase se tocando, ele se inclinou como se fosse me beijar.
– Matthew, não. – Encostei–me na parede, tentando me afastar dele.
–Não o quê, Emm? – ele sussurrou.
–Não me toque...
–Por que não? – As mãos dele seguraram meus pulsos e levantaram meus braços acima da minha
cabeça. Seus lábios tocaram os meus.
–Porque eu não consigo resistir – sussurrei.
Ele me prensou com o seu corpo contra a parede e me beijou com violência, eu correspondi.
Saudades do seu beijo, da sua boca, do seu gosto. Ele soltou minhas mãos. Eu agarrei os seus
cabelos, e o puxei para mim. Matthew abriu o fecho da calça, liberando a sua ereção, as mãos
desceram até as minhas coxas, afastando as minhas pernas e me puxando para cima. O meu vestido
subiu até a cintura, ele afastou minha calcinha para o lado e me penetrou com força. Meu Deus! Como
era gostoso ter ele dentro de mim. Ele gemeu e eu gritei de prazer,
– Te machuquei? Você está tão deliciosa! – falou metendo mais forte. – Você me enlouquece,
Emma. – Ele continuou, com força, entrando e saindo de dentro de mim. Me abrindo, me
preenchendo.
Ser possuída por ele, em pé, no elevador era selvagem. Eu não pensava, só sentia. Sentia seu
toque, sua pele, seu cheiro, sentia seu membro duro dentro de mim. Não nos beijávamos, nossos
lábios se tocavam, sua respiração era a minha respiração.
– Por que só você faz isso comigo? Por que só dentro de você eu me sinto completo? – ele falou
ofegante enquanto saia e voltava, devagar. – Eu te completo, Emma? Olha, como nós nos encaixamos
perfeitamente.
Eu olhei para o pênis dele me penetrando. Minha vagina sendo invadida por ele. A palavra para
descrever aquele momento era “delicioso”. E foi o que eu sussurrei.
– Eu vou gozar. Não vou conseguir segurar mais. Goza comigo... – Ele meteu mais fundo e eu
obedeci, uma explosão de prazer tomou conta do meu corpo e atingimos o orgasmo ao mesmo tempo.
Ficamos abraçados, esperando o efeito sexo selvagem no elevador passar. Ele beijou o meu
cabelo e me soltou. Arrumamos nossas roupas sem trocar uma palavra. Peguei minha bolsa, que
havia caído no chão, e apertei o botão do meu andar. O elevador continuou parado.
– Matthew eu preciso descer. – Não queria encará-lo, eu fui tão fácil. Anos de treinos na frente do
espelho, para quê? Não o esbofeteei, não gritei com ele, não coloquei ele no seu lugar, eu,
simplesmente, me entreguei. Agora precisava me distanciar ou ele iria conseguir tudo de mim.
Porque eu era uma tonta que o amava e o desejava incontrolavelmente. – Você já conseguiu o que
queria, agora me deixa ir.
– Não o suficiente. Quando você vai entender, Emm, que com você uma vez nunca será o
suficiente? Eu vou sempre querer mais – me abraçou pela cintura e voltou a mexer no painel do
elevador, a porta se abriu.
– Eu realmente preciso ir... – Fui interrompida por um beijo de tirar o fôlego. Talvez eu possa
ficar mais um pouco, pensei.
Descemos num andar diferente dos outros. Havia um hall de entrada e apenas uma porta. Uma
parede decorada com um imenso mosaico de espelhos formando uma gravura abstrata, em frente ao
mosaico, um aparador de vidro com uma escultura de metal, que lembrava dois corpos se fundindo
um ao outro. Ele abriu a porta com um cartão eletrônico e entramos. Era um luxuoso apartamento.
Todo decorado com móveis brancos, com alguns detalhes em preto e vidro. Era lindo, mas sem vida.
Não havia retratos, flores, um toque pessoal, nada.
– Que lugar é este? – Fiquei incomodada ao imaginar quantas mulheres ele já havia trazido ali.
– Um dos meus esconderijos – ele respondeu, tirando o terno.
– Onde você encontra as suas amantes? – falei despeitada. Ele sorriu se divertindo com a minha
pergunta.
– Está com ciúmes, senhorita Emma Rochester? – Seus dedos desabotoavam sua camisa.
– Por que eu teria ciúmes de algo que não me pertence?
– Eu nunca trouxe nenhuma mulher aqui. Você é a primeira. – Ele tirou a camisa e se aproximou –
Vamos tomar um banho. Vem que eu te ajudo com a sua roupa. – Ele me puxou, me virando de costas
e abrindo os botões do meu vestido, fazendo-o escorregar pelos ombros. Abriu o fecho do sutiã e me
virou de frente – Você é linda. Uma ciumenta linda – Se ajoelhou e tirou minha calcinha. Deixou um
rastro de beijos enquanto se levantava e chegava até a minha boca. –Vamos para banheira, depois nós
vamos conversar. Eu tenho tanta coisa para te dizer, Emm.
Eu o segui, eu também tinha tanta coisa para te dizer Matt. Queria dizer que não era ciumenta, que
não acreditava mais nele, que queria ir embora e nunca mais vê–lo. Mas me calei, desejava me
enroscar naquele corpo mais uma, duas, três vezes, depois eu diria. Agora, queria que ele me
possuísse do jeito que só ele sabia, me enlouquecendo de prazer.
Fomos para banheira, ele entrou primeiro, eu entrei e sentei no colo dele, de frente para ele.
–Isso é covardia – ele falou me puxando e abocanhando o meu seio. Fiquei de joelhos, me
inclinando para frente, facilitando o acesso da sua boca. Ele sabia onde me tocar, sua língua se
deliciava com o meu mamilo, me deixando, extremamente, excitada. Sua mão descia entre as minhas
pernas e seus dedos me penetravam, acariciando meus lábios e provocando meu clitóris.
– Eu acho que você prefere outra coisa aqui dentro – falou enquanto colocava seus dedos mais
fundo, para depois tirá-los e me puxando para baixo, fazendo o seu membro duro deslizar para dentro
do meu corpo – Emm... você é minha. Seu corpo é meu, só meu.
– Eu não sou sua – sussurrei ofegante, começando a me mexer, sentia toda a sua extensão me
preenchendo. Ele me puxou para cima, deixando seu pênis na entrada da minha vagina.
–Você lembra disso? – Ele me segurava pela cintura, sua voz era provocante. Eu tentei descer,
mas ele não deixou.
– Sim. – Eu o encarei. – Você acha que eu não estou pronta?
– Você está sempre pronta pra mim, Emm. Mas se você não é minha... então você não quer isso? –
Me puxou pra baixo, fazendo seu pênis penetrar fundo, eu gemi. Ele me levantou, parando na mesma
posição, colocou o polegar sobre o meu clitóris, acariciando–o, eu perdi o equilíbrio e pus as mãos
nos seus ombros. – Você é minha? – Eu fiz que não com a cabeça.
Ele intensificou a massagem no meu ponto de prazer e voltou a chupar o meu seio. Seus dedos
voltaram a me penetrar, sentia o seu pênis me tocando, lambi meus lábios, um desejo insaciável
tomou conta do meu corpo, eu estava insatisfeita, queria que ele metesse aquele membro dentro de
mim, que ele me saciasse, eu queria gozar com ele me invadindo, me penetrando, me possuindo. Ele
não me segurava mais pela cintura, mas eu não queria ceder. Aquilo era tortura.
– Então, tem algo pra me dizer?
– Eu quero você, eu quero você dentro de mim, por favor! – Ele me olhava controlando o seu
desejo, sua boca tocava de leve o meu mamilo, úmido pela sua saliva.
– Eu quero te ver me engolir inteiro, Emm. Mas você precisa me dizer o que eu quero ouvir.
– Eu sou sua – sussurrei. – Toda sua. – Ele me penetrou, a boca voltou a chupar meus seios, suas
mãos apertaram a minha bunda e eu gozei, sem pudor, sem vergonha, me saciando com o seu membro.

~§~

– Vire de costas! – ele ordenou depois que me recuperei do orgasmo. Virei e me sentei no seu
colo, ele me aguardava ainda duro. – Assim, me satisfaça, Emma – falou ofegante, me movimentei
vagarosamente, minha mão desceu até os seus testículos e eu comecei a massageá-los, ao mesmo
tempo tocava o seu pênis quando ele saia de dentro do meu corpo. Minha vagina começou a se
contrair em volta do seu membro. – Emm... – Ele gemeu alto e eu senti um jato grosso e quente se
espalhando dentro de mim.
– Vem cá! – Ele me puxou para os seus braços, me deitando sobre o seu corpo. Ficamos trocando
carícias, beijos e mordidas. Matthew me tocando em todas as partes do meu corpo e eu deixando,
submissa.

~§~

Fomos para a cama e eu me aconcheguei nos seus braços, estava exausta e adormeci.
Acordei com o meu celular tocando. Matthew estava acordado, deitado ao meu lado, me
observando dormir. Um lençol acetinado branco cobria meu corpo da cintura pra baixo. Não existia
vergonha, não existia pudor, só desejo.
– Minha... – disse, me beijando.
O celular voltou a tocar. Minha bolsa estava em cima de uma poltrona. Eu havia deixado minha
bolsa na sala, Matthew devia ter buscado enquanto eu dormia. Levantei da cama e fui atender.
– Pai, tudo bem?
– Tudo bem filha, estou te ligando há horas, estava preocupado com você, já passa da meia-noite.
Você está bem?
– Estou papai, eu me deitei um pouco e acabei dormindo. Está tudo bem por aí? – Queria
perguntar por Luca, mas Matthew estava do meu lado. Ouvindo a conversa.
– Se está querendo saber do seu garotinho, ele está dormindo feito um anjinho. Não tivemos
coragem de tirá-lo do lado de sua mãe.
– Mas mamãe vai ficar bem?
– Claro, querida, ela está radiante. Você devolveu a vontade de viver a ela, Emma. Luca é um
anjo em nossas vidas. Você vem? Está tão tarde para pegar a estrada, quer que mande Albert te
buscar?
– Não papai, eu vou dormir no hotel e amanhã cedo estarei ai. Tudo bem?
– Tudo bem, querida. Boa noite!
– Boa noite, pai.
Eu estava nua em pé, larguei o celular sobre uma cômoda que ficava próxima a cama. Matthew me
abraçou por trás e me beijou no pescoço. Ele também estava nu.
–Tudo bem?
– Não, Matthew, não está tudo bem. Ele me virou e eu comecei a chorar.
– O que houve Emm? Isso é por nossa causa? Eu não quero te ver assim.
–Não. Eu não tive tempo de processar isso ainda. – Fiz um gesto com a mão apontando pra ele e
depois pra mim. – Essas lágrimas eu vou deixar para mais tarde.
Ele me levou até a cama, sentou com as costas escoradas na cabeceira, que era estofada com
couro branco, e me puxou para perto dele. Nossas pernas entrelaçadas, meu rosto no peito dele, as
mãos dele nas minhas costas, as minhas abraçando o seu braço.
–Você vai me contar o que está acontecendo?
– Minha mãe está muito doente – falei num soluço e mais lágrimas escorreram dos meus olhos.
Ele me apertou contra seu peito.
– Mary Anne? Mas como? Nathalie esteve com ela há algumas semanas e não comentou nada. O
que há com ela, Emma? É tão grave assim?
– Câncer – falei, afundando meu rosto no seu peito, desabei num choro convulsivo. Era a primeira
vez que me dava o direito de me entregar à tristeza e não poderia ter lugar melhor do que nos braços
dele.
Ele ficou em silêncio. Suas mãos acariciavam minhas costas, meus braços, meu cabelo. Ficamos
assim até eu me acalmar. Olhei para ele com os olhos inchados, ele também havia chorado. Eu mordi
meus lábios segurando o choro e ele me beijou com carinho. Um beijo casto. Mas quando um carinho
entre Matt e eu será casto? A sua língua começou a lamber meus lábios, a minha os lábios dele. Ele
me deitou de costas na cama e começou a beijar todo o meu rosto, testa, olhos, nariz, bochechas,
queixo e boca. Fizemos amor, Matthew foi cuidadoso, sem chupões, sem mordidas, apenas beijos e
carícias, ele me penetrou devagar, se movimentou lentamente, prorrogando a sensação de prazer.
Sexo sem pressa, apenas nossos corações estavam acelerados. Eu atingi o orgasmo e apertei as
pernas em volta da cintura dele, ele soltou um gemido e gozou.

~§~

Ele deitou do meu lado e me abraçou, inclinando a cabeça sobre a minha.


– Você quer conversar sobre a sua mãe?
– Ela está muito doente e os médicos a desenganaram. Por isso, papai me ligou pedindo para eu
voltar. É uma despedida.
– Emma, a medicina está avançando, a cada dia surgem novos tratamentos contra o câncer, tenho
certeza de que encontraremos um para a sua mãe.
– Ela já está há dois anos lutando contra essa doença e agora voltou avassaladora. – Eu queria me
animar, mas a conversa com papai esvaneceu minhas esperanças.
– Nós vamos dar um jeito, meu amor. – E me apertou num abraço aconchegante. Dormi, pensando
nas palavras dele. Como seria bom, se fosse verdade.

~§~

Acordei, novamente, com o celular tocando, já era dia. Matt dormia ao meu lado com a mão sobre
o meu ventre, a afastei cuidadosamente e levantei para atender ao telefone, sem acordá-lo. Fui para a
sala.
– Mamma? – Ouvi a vozinha sonolenta de Luca do outro lado da linha.
– Oi, meu amor. Você dormiu bem?
– Sim, mamma, mas estou com saudade. Você vai demorar?
– Eu também estou com saudade. Daqui a pouco nós vamos estar juntos. E eu prometo que não
vou mais ficar longe de você?
– Eu te amo, mamma.
– Eu te amo mais. Quando chegar aí, vou te encher de beijos.
– Eu e o vovô vamos montar uma pipa e depois vamos fazer ela voar bem alto.
– Que legal! Mas guarda um tempinho pra gente ficar juntinho.
– Claro, mamma! Te amo muito, muito, muito.
– Eu te amo mais que muito.
– Eu mais que um bastantão de muito. – Silêncio. – A vovó disse que ela ama nós dois mais que
tudo junto. – Eu sorri e lágrimas saíram dos meus olhos. – Tchau mamma. To te esperando.
– Tchau, amore mio.
Larguei o celular, me virei secando as lágrimas dos olhos com a palma da mão e me deparei com
Matthew me encarando. Imediatamente, comecei a refazer mentalmente a minha conversa com Luca, o
que ele ouviu? O que eu falei? Não queria que ele soubesse de Luca, ainda não. Talvez, nunca.
– Quem é ele, Emm? Você está tão apaixonada assim? O que foi essa noite pra você? Que tipo de
mulher você é? Trepa comigo a noite inteira e de manhã faz juras de amor para um outro cara –
acusou, furioso.
Meu Deus, ele entendeu tudo errado!
– Que droga, Emm. Você é minha, esqueceu? – Ele esbravejou.
– Pro inferno, que eu sou sua! Eu não sou de ninguém! Eu não tenho dono, Matt. Sua é a Nathalie,
esqueceu? – ironizei. – Foi ela que você escolheu para passar o resto da sua vida. Então, para de
cobrar de mim o que você não pode me oferecer.
Eu dei as costas pra ele e peguei minhas roupas que estavam espalhadas pela sala, fui para o
quarto me vestir. Ouvi ele praguejar e alguma coisa de vidro quebrando. Precisava sair dali. Fui até
o banheiro e me olhei no espelho. Trepar? Ele disse trepar? Babaca, imbecil, idiota. Chega de
Matthew! Chega de ser usada e humilhada!
Me vesti e saí do banheiro, quando cheguei à sala Matt já estava vestido e com a mão
ensanguentada enrolada numa toalha de rosto, um espelho na parede estava quebrado. Ele falava ao
telefone:
– Senhorita Muller, poderia vir até o meu apartamento. Estou precisando de você, agora – ele
terminou a frase me encarando. Um embrulho se formou no meu estômago e a raiva, ou ciúmes, ou os
dois tomaram conta de mim. Ele estava chamando a loira estonteante, não iria me prender ali. Cruzei
por ele sem impedimento, abri a porta e tentei chamar o elevador. Lembrei que ele controlava o
elevador até aquele andar. Achei a porta das escadas e desci até o próximo andar e de lá peguei
outro elevador.
Uma hora depois estava estacionando o carro em frente à casa dos meus pais.
CAPÍTULO SETE

Albert abriu a porta e foi levar minha bagagem para o quarto. Troquei de roupa e desci. Procurei
papai e Luca pela casa e não encontrei ninguém, subi até o quarto de mamãe e também estava vazio.
Desci para perguntar a Anna onde estavam todos, quando ouvi uma gargalhada gostosa, que eu
conhecia muito bem. Fui em direção aos jardins, que ficavam na parte dos fundos da casa. Pela porta
de vidro, que dava para uma imensa varanda, observei mamãe sentada num chase, rodeada de
almofadas. Papai e Luca estavam ajoelhados em cima de um tecido, estendido no gramado, tentando
montar uma pipa. Todos riam alto e se divertiam com o projeto. A cena era comovente. Ali, na minha
frente, as três pessoas que eu mais amava.
– Olá! – Apareci estampando um sorriso no rosto. Luca correu para os meus braços e eu o ergui
no colo enchendo–o de beijos.
– Mamma, eu tava com saudades. Vem ver minha pipa. Eu e o vovô que fizemos, está quase
pronta. É linda!
O coloquei no chão e fui puxada por uma mãozinha fofa até onde os fabricantes de pipa estavam
trabalhando. Mamãe amarrava tecidos para fazer um “rabo” colorido para a pipa, papai montava os
gravetos. Em uma mesa, colocada próxima a eles, se encontravam papéis de ceda das mais variadas
cores, que formariam o corpo da pipa.
Beijei papai e me sentei próxima à mamãe dando–lhe um abraço e um beijo no rosto, estava com
um aspecto bem mais saudável.
– Bom dia, minha linda. Como passou a noite longe desse tesouro? – ela perguntou olhando para o
Luca.
– Eu sabia que ele estava com as únicas pessoas que cuidariam dele melhor do que eu. E você?
Como foi dormir com outro homem na cama? – Mamãe deu uma gargalhada.
– Foi maravilhoso. Pensei que não teria mais alegrias nessa vida e você me trouxe esse presente.
– Ficamos abraçadas por um tempo observando nossos homens entretidos montando uma superpipa. –
Você vai ficar até quando, querida? – Senti um tom de tristeza em sua voz.
– Eu não vou voltar para a Europa, mamãe. Eu vim para ficar. E gostaria de morar aqui, se vocês
quiserem?
Ela me olhou, visivelmente, emocionada e depois olhou para o papai e Luca. Um sorriso lindo se
formou em seu rosto.
– Robert, Emma quer saber se nós deixamos ela e o nosso netinho ficarem morando aqui? O que
você acha?
Papai parou o que estava fazendo, caminhou até onde estávamos e se ajoelhou na nossa frente
– Você quer ficar aqui, querida? E a sua vida? Seu trabalho?
– Minha vida e a de Luca são com vocês. Isso é o que mais importa pra mim, a minha família.
Ele me abraçou e começou a chorar, mamãe também nos abraçou e os três choraram. Luca veio
ver o que estava acontecendo e nos abraçou.
– Não chorem, eu to tão feliz, e vocês tem que estar feliz também.
– Estamos chorando de felicidade meu amor, mamãe já te explicou, lembra? Quando estamos
muito felizes, choramos também.
– Que bom. – ele falou impaciente. – Vovô, vamos terminar a nossa pipa? Quero ver ela voar.
– Claro, vamos lá! Temos que terminar nossa pipa e depois vamos voar... – disse, pegando o meu
pequenino no colo e o deitando de bruços, Luca esticou os bracinhos como se fossem asas, enquanto
papai fazia com a boca o barulho de motor, saíram fazendo piruetas e correndo pelo gramado. Eu e
mamãe parecíamos duas bobas rindo dos dois.
Foi um dia inesquecível. Mamãe parecia tão bem. Caminhou pelos jardins, conversamos sobre
minha vida na Europa, o nascimento de Luca, tia Susan e seus amores. A cada travessura de Luca ela
recordava uma minha. Papai parecia mais sereno, apesar de Luca ter dado um cansaço nele. À tarde,
depois de várias tentativas, a pipa alcançou o céu. Meu bebê pulava de alegria, papai se sentia um
vitorioso e eu e mamãe as fãs número um dos nossos dois heróis dos ares.
Luca dormiu cedo, depois da agitação do dia. Mamãe também se recolheu. Papai e eu ficamos
conversando em seu escritório até mais tarde.
Estávamos sentados em um sofá de dois lugares de couro marrom, uma relíquia do século
passado, em excelente estado de conservação. Os entalhes em madeira dos braços eram perfeitos. Eu
estava fazendo um caminho com os dedos entre o labirinto de detalhes, como fazia quando pequena,
quando papai mudou de assunto, que até então girava em torno das brincadeiras de Luca.
– Emma, eu preciso te dizer uma coisa. Espero que você não fique brava comigo. – Ele parecia
tenso. Um arrepio passou pela minha coluna, o que poderia deixá-lo assim? Já tínhamos problemas
suficientes.
– O que aconteceu? Alguma coisa com a mamãe que você está me escondendo? – perguntei,
ansiosa.
– Não querida, não há mais segredos sobre isso, pelo menos não com você. É a sua irmã. Ela
ainda não sabe do estado de saúde de Mary Anne, apesar de tê-la visto acamada. Nathalie nunca se
preocupou em saber o que estava acontecendo e qualquer desculpa que dávamos ela aceitava. Mas
ontem, eu tentei falar com ela, pedir para ela vir aqui para contarmos tudo, mas não consegui. Parece
que ela está em algum Resort numa ilha do Pacífico. Então liguei para Matthew e expliquei que
queria voltar a reunir a família, disse que você estava aqui e que gostaríamos que Nathalie também
estivesse. Matt prometeu trazê-la, assim que possível. Eu sei que a última vez que você e Matthew se
encontraram foi horrível, filha. E eu não fiquei do seu lado. Me perdoa?
– Pai, eu já esqueci tudo isso. Quando Luca nasceu eu não tive mais espaço no meu coração para
tristeza, ele preencheu todos os cantinhos com amor. Eu queria tanto que você o visse quando bebê,
imaginei a sua alegria ao ver o seu herdeiro, tão pequenininho e tão forte, um Rochester. Eu que te
devo perdão, pai. Eu privei você e mamãe de ver Luca crescer.
– Querida... – Nos abraçamos por alguns minutos. – Agora eu estou te pedindo para encontrar sua
irmã e seu cunhado. Talvez seja difícil pra você, mas você faria isso por sua mãe?
– Claro, pai. Não se preocupe com isso. Eu vou me comportar – disse sorrindo, pelo menos por
fora. Papai não imaginava que o que ele estava me pedindo era mais doloroso do que ele pensava.

~§~

Demorei para dormir naquela noite. Matt e Nathalie juntos, eu tinha que me preparar para encarar
essa situação. Depois havia o Luca, se ele não tivesse nascido tão parecido com Matthew.
CAPÍTULO OITO

Acordei tarde, todos já deviam estar acordados, inclusive Luca. Coloquei um vestido azul, justo
até a cintura e que depois descia em uma saia godê, vesti um casaquinho de cashmere do mesmo tom
por cima para esconder o decote quadrado que acentuava meus seios, deixei o cabelo solto e desci
para tomar café. O que Luca estaria aprontando?
Já estava no último degrau da escada quando escutei a campainha tocar. Voltei três degraus,
ficando escondida atrás de uma coluna, que fazia a curva no final da escada. Parei para ouvir quem
chegava.
–Bom dia, Senhor Stone.
–Bom dia Albert, a Senhora Stone já chegou?
–Não, senhor. Posso anunciá-lo?
–Não há necessidade. Vou dar um telefonema primeiro. Onde estão todos?
– No jardim, a Senhora Mary Anne quis tomar café ao ar livre.
– Obrigado, Albert.
– De nada, Senhor.
Ouvi os passos de Albert se afastando. Do local onde eu estava eles não podiam me ver, mas eu
enxergava Matt, nitidamente.
– Alô, Nathalie? Estou na casa de seus pais, onde você está? O quê? Capa de revista? Eu não vou
a nenhuma sessão de fotos, eu disse para você cancelar. Nathalie venha pra cá, agora! – Desligou o
celular, visivelmente irritado.
Ouvi passinhos vindos em nossa direção, o tênis batendo na cerâmica do piso não deixava
dúvidas, era Luca. Ele estava correndo pela casa, fazendo um barulho de motor com a boca. Ele
parou em frente a Matthew, meu coração disparou.
– Olá, quem é você? – Matt perguntou.
– Bom dia, meu nome é Luca Rochester – ele respondeu esticando a mãozinha. Matt apertou sua
mão.
– Matthew Stone, muito prazer, senhor... Rochester? – Ele parecia intrigado. – Que bonito esse
avião. É seu?
– Sim, o vovô tem um monte. E disse que todos são meus. Daí eu pedi esse pra brincar. Quando
crescer, vou ser piloto. – A coleção de aviões do papai, suas raridades. Ninguém podia tocá-los e
papai havia dado para Luca brincar. Isso deve ter confundido Matt.
– Se Robert é o seu avó, quem são seus pais?
Sai do meu esconderijo e apareci para eles.
– Luca! – Ele se virou, deu um sorriso lindo e correu para mim, pulando no meu colo.
– Mamma!
– Amore mio. Dormiu bem essa noite? – perguntei dando beijinhos em seu pescoço. Ele
respondeu que sim entre gargalhadas.
Matthew nos observava sério, o que ele estaria pensando? Papai apareceu na sala.
– Está aí o nosso piloto fujão. Matthew? Vocês vieram? Onde está Nathalie? – perguntou indo
cumprimentá-lo, tirando Matt do seu transe.
– Olá, Robert. Nathalie está vindo, tinha uns compromissos, mas deve chegar em breve.
– Já conheceu meu neto? Presente de Emma para nós. – Papai pegou Luca do meu colo e o levou
até Matt.
– Já fomos apresentados. – Matt passou a mão no cabelo de Luca. – E o seu pai? – ele perguntou
me olhando, eu o fuzilei com os olhos. Não faz isso Matt, você não tem esse direito.
– Eu sou bonito que nem o meu papai. A mamãe sempre diz isso. Mas eu ainda não o conheço. Ele
mora longe.
– Na Inglaterra, querido – falei tentando consertar aquela bagunça.
– Inglaterra? – Matt ironizou.
– Vamos entrar, Matt – papai interrompeu. – Vocês ficam para o almoço? Mary Anne vai ficar
feliz com a presença de todos.
– Claro que ficamos. – Papai, com Luca no colo, começou a caminhar em direção aos jardins.
Matt parou na minha frente – Emma, eu poderia falar com você? Em particular.
– Sim – respondi, indecisa. Era melhor esclarecer as coisas agora do que deixar dúvidas.
– Emma, você tem certeza? – Papai parecia preocupado, não imaginava o que Matt queria
comigo, a não ser me ofender.
– Tudo bem, pai. – Acompanhei Matthew até o escritório.

~§~

Ele parou na minha frente com um sorriso lindo nos lábios. Vestia terno preto, sem gravata, a
camisa branca estava com os botões de cima abertos. Os olhos azuis pareciam mais claros me
examinavam ansiosos por uma resposta.
– Não minta para mim, Emm. Ele é meu?
– Não! – eu repetia pela terceira vez, mas ele não acreditava.
– Eu te conheço Emm, melhor do que ninguém. Eu sei onde você gosta de ser tocada. – Ele
colocou as mãos na minha cintura, um arrepio percorreu as minhas costas. Por você em qualquer
lugar, pensei. – Eu sei que você gosta que eu sussurre na sua orelha. Eu sei que você não resiste a
isso. – Ele se inclinou e nossas bocas se tocaram, mas sem beijo, apenas me provocando. – E eu sei
quando você mente. E agora você está mentindo – sussurrou.
Ele havia me encurralado num canto do escritório. As janelas estavam abertas, se alguém
passasse por aquele lado do jardim nos veria, mas Matthew não parecia se importar com isso.
Queria a verdade e estava me torturando para isso. Uma tortura deliciosa, a sedução.
– Não, eu tive um namorado, um turista inglês. Ele era parecido com você, fisicamente. Ele é o
pai do Luca. Não você. – Todos tinham engolido aquela história, até agora.
–Você é uma péssima mentirosa. Ele é igual a mim quando criança. Uma cópia, Emm. Qualquer
um vai notar a semelhança. Ele é meu. Pare de negar. Você sabe que eu tenho como descobrir isso.
Em uma semana eu descubro quando você teve enjoo, quais foram seus desejos, a hora da sua
primeira contração, de quantas semanas ele nasceu e o dia que ele foi concebido. Então me poupe
desse trabalho, e diz a verdade. Ele é nosso, Emm. Ele é fruto do nosso amor.
–Amor? – Eu o encarei. – Pensei que nós trepávamos?
Ele deu uma gargalhada. E me puxou para mais perto.
– Eu falei aquilo porque estava furioso, você estava no telefone dizendo que amava outra pessoa.
Eu não podia imaginar que era o nosso filho. Você não entendeu ainda, Emm? Eu ...
Alguém bateu na porta, antes que Matthew terminasse a frase.
– Senhorita Emma, seu pai pediu para perguntar se está tudo bem? – Era Albert.
Matt me soltou e abriu a porta.
–Está tudo ótimo, Albert. – E saiu.
–Precisa de alguma coisa, senhorita?
– Paz – respondi, ele me olhou com ternura.

~§~

Estavam todos no jardim. Mamãe tomava chá em uma mesa com um imenso guarda sol. Matthew
estava ao seu lado. Papai e Luca estavam em outra mesa e se divertiam com os aviões da coleção.
Respirei fundo e me aproximei da mesa de mamãe.
– Bom dia, mamãe. Como você está se sentindo hoje?
– Estou bem, querida. Estava dizendo para o Matt que Luca é o remédio para qualquer mal. Desde
que ele chegou nessa casa tudo ficou mais alegre, mais colorido. É o nosso anjinho travesso. E aí
vem ele, qual será a novidade?
Luca vinha correndo entusiasmado em nossa direção. Papai vinha atrás. Eu me sentei na cadeira
ao lado de mamãe.
– Tio Matt, tio Matt? – Parou na frente de Matthew. – Vovô disse que você é o meu tio. – Matt me
olhou por alguns segundos. Eu gelei.
– Sim, sou seu tio. – Ele pegou Luca e sentou–o no seu colo. Eram idênticos, mesmo cabelo,
mesmos olhos, mesma boca, mesmo nariz. Olhei para papai pra ver se ele via o mesmo que eu, mas
ele estava mais interessado na conversa deles. Então, olhei para mamãe e ela estava com o olhar
perdido nos rostos dos dois homens ao seu lado. Ela percebeu.
– Vovô disse que você tem um avião de verdade. E que você sabe pilotar. E que se eu pedisse
você me levava pra voar.
– Claro. Levo você e a sua mãe. Quando você quiser.
– Hoje! – gritou Luca. Todos riram da euforia do meu menino.
– Calma, meu amor, hoje o titio veio nos visitar – mamãe acalmou-o. – Vamos marcar outro dia.
– Ah! – resmungou Luca, contrariado. – Eu queria ir hoje.
– Eu preciso preparar o avião antes de voar. Isso demora alguns dias. Mas podemos marcar para
essa semana. Tudo bem?
– Ok. Você quer conhecer meus aviões? Vovô me deu um monte – falou descendo do colo e
puxando Matt pela mão até a outra mesa. Papai foi atrás.
Eu e mamãe trocamos olhares de cumplicidade. Ela não comentou nada sobre a semelhança dos
dois. Conversamos sobre a decoração do quarto de Luca, enquanto observávamos dois adultos se
divertindo mais que uma criança com os aviões de brinquedo.
Apesar da tensão que eu sentia com a presença de Matt, tivemos uma manhã agradável, vê-lo
interagindo com Luca foi maravilhoso, algo que eu nunca imaginei que aconteceria.
O almoço foi servido mais tarde, esperamos Nathalie aparecer, o que não aconteceu. Matt ligou
várias vezes para ela, mas uma sessão de fotos para uma revista a estava atrasando. Por fim,
desistimos de esperar e almoçamos. Depois do almoço mamãe resolveu deitar um pouco para
descansar. Luca, que aparentava estar exausto insistiu em acompanhar papai e Matt ao escritório.
– Vamos conversar assuntos de homens, mamãe. – Foi a resposta que recebi ao pedir para ele
ficar comigo e a vovó.
Algum tempo depois, deixei mamãe que dormia um sono tranquilo e fui ver como Luca estava se
comportando. Papai e Matt conversavam em voz baixa e meu filhinho dormia, deitado num sofá com
a cabeça no colo de Matt.
– Vou levá-lo para o quarto – falei, tentando pegá-lo no colo.
– Eu levo. – Matt o pegou e seguimos para o quarto de Luca.
O quarto ainda não estava com decoração de menino, era um dos quartos de hóspedes da casa, foi
escolhido por ficar ao lado do meu. Eu e mamãe já havíamos pensado numa decoração com tema de
carros, mas acho que teríamos que mudar para aviões. Matt o deitou na cama e beijou sua testa, ele
resmungou, mas se ajeitou e continuou dormindo.
– Nós não terminamos a nossa conversa – ele sussurrou me puxando pela mão para perto dele.
Estávamos em pé ao lado da cama do nosso filho. – Precisamos conversar, mas não aqui. Não quero
mais interrupções.
– Só converso com você num lugar público.
–Tem medo de mim, Emm? Ou tem medo de você?
– Não confio em você. – Nem em mim pensei.
– Então nos encontraremos no meu escritório. Você sabe onde fica o prédio central das Empresas
Stone? Segunda–feira à tarde, quatorze horas, está bom pra você?
– Por que lá? Eu pensei num lugar com pessoas circulando. Um shopping, uma cafeteria?
– Para alguém ouvir o que falamos? Não. Lá você estará segura. Qualquer coisa é só gritar que
minha secretária corre para socorrê-la – ele ironizou. – Agora preciso ir tenho que encontrar
Nathalie e saber porque ela não apareceu. – Me beijou nos lábios e saiu.
– Seu pai vai me deixar louca – falei, beijando a bochecha do meu dorminhoco.
CAPÍTULO NOVE

O domingo amanheceu ensolarado. Fomos todos para a marina. Papai, que fazia todas as vontades
do seu neto, prometeu levá-lo para passear de barco. Mamãe não apresentava nenhum efeito colateral
da quimioterapia, aliás, estava muito bem, melhorando a cada dia.
Luca se divertiu com o passeio, a lancha de papai fora comprada alguns meses antes da mamãe
descobrir que estava doente e ele não teve tempo de usá-la como imaginava. Passeios e pescas
ficaram em segundo plano em suas vidas.
Voltamos para casa ao entardecer, mais um dia perfeito. Mas eu me sentia tensa, pensei em
Matthew o dia inteiro. Queria que ele tivesse participado daquele passeio, tivesse visto a felicidade
de Luca ao pilotar a lancha com papai. Queria ele perto de mim. Sentia saudades da sua voz, do seu
cheiro, do seu toque. O que ele fez o dia inteiro? Com quem estava? Um sentimento de ciúmes
começou a tomar conta de mim. Certamente estava com Nathalie, se divertindo naquele dia de sol ou,
talvez, fazendo uma inspeção na Senhorita Muller. Aquilo era tortura, precisava ocupar a cabeça com
outra coisa.

~§~

Telefonei para tia Susan, queria saber como estavam os preparativos para a vinda dela da Itália.
Desde que liguei, contando as novidades, ela decidiu vir para ficar com mamãe. Demoraria só o
tempo de organizar tudo por lá e pegaria o primeiro voo.
– Mais uma semana querida. Estou fazendo reuniões com as equipes da editora e fechando alguns
contratos que você estava negociando. Não consegui terminar essa semana, então mais uma e tudo
ficará encaminhado. Meu Deus, como é que você consegue tocar esse negócio sozinha? Pensei que
estava te dando um entretimento, mas isso aqui é castigo. Reuniões e mais reuniões e esses autores
cheios de manias, por favor! Tenho vontade de dizer que não vamos editar o livro, mas se você
aprovou não sou eu que vou ir contra.
– Você se acostuma tia, eu me divirto com a editora, não é castigo nenhuma. Mas Paolo não está
ajudando? Eu pedi pra você só supervisionar o serviço dele.
–Você me conhece. Tive que meter meu nariz. O rapaz ficou de cabelo em pé. – Deu uma
gargalhada. – Fazia tempo que não me divertia tanto. Estava pensando em fechar a Editora da Itália
quando fôssemos para ai. Mas agora acho que vou ficar gerenciando essa daqui e você toma conta da
filial.
– Você vai abrir uma filial aqui? Como assim?
– Querida, você acha que vai viver da herança de seu pai? – Outra gargalhada. – Estou brincando.
Eu te conheço muito bem, você não vai conseguir ficar parada. E não vai mais ter coragem de afastar
Luca de seus pais, que eu sei. O jeito que você falou do amor do seu pai pelo menino, me deixou
chorando por horas. Eu sei que assim que sua mãe melhorar, você vai querer trabalhar. E você fez um
excelente trabalho aqui. Estávamos pensando em abrir uma filial na Inglaterra. Por que não aí?
– Tia, você não existe. Eu te amo – falei emocionada.
– Eu sei que eu sou uma pessoa apaixonante, inesquecível e não esqueça que a mais linda do
mundo.
– Não esqueço, você está sempre me lembrando disso.
– Tudo bem por aí? Mary Anne está realmente melhor ou você está me escondendo alguma coisa?
– Ela está bem. Não apresentou mais enjoos, está mais corada e sorridente.
– E você, querida? Como você está? Quando me ligou achei você com a voz meio desanimada.
Está tudo bem?
– Só estou cansada, passamos o dia na marina. Você conhece Luca, não para um segundo. Tenho
que estar sempre de olho. Mas estou bem.
– Não sei. Te conheço muito bem, menina. E essa vozinha aí é outra coisa. Não é só cansaço.
Semana que vem estarei aí e vou ver o que está te incomodando. Se for a sua irmã e aquele
insuportável do marido dela, eles vão se ver comigo.
Tia Susan tinha uma opinião diferente da minha sobre Nathalie, sempre a achou artificial e
egoísta. Eu não a via assim. Na verdade, sempre culpei Matt por minha irmã ter se afastado de mim.
E mesmo depois de conhecê-lo melhor, ainda não sabia o que pensar sobre ele. Apenas que o amava.
Mas tia Susan não, e ela lembrava muito bem o que Matthew fez comigo e Trevor no dia do acidente.
E era por isso que o detestava.
– Venha e verá que está tudo bem.
Conversamos mais um pouco e nos despedimos. Estava realmente cansada e resolvi deitar um
pouco, antes de descer para jantar.
Um barulho de carro chamou minha atenção. – Matt! – pensei ou gritei, não sei. Desci correndo as
escadas a tempo de ver Nathalie entrando porta adentro como se estivesse numa passarela de Milão.
Uma moça ao seu lado fazia anotações e um fotógrafo, sério, um fotógrafo tirava fotos. Albert parecia
estarrecido com a cena e eu mais ainda.
– Boa noite, Albert. Vim visitar meus pais. Pode anunciar a minha presença. Margareth e Jean
irão acompanhar minha visita. São da revista R&F e estão fazendo uma reportagem sobre como é um
dia em minha vida. Quero que você os acompanhe pela casa para tirar algumas fotos.
– Desculpe, senhora, mas seu pai autorizou?
– Como assim, autorizou? Essa casa é minha. Não preciso de autorização, posso usá-la como
quiser.
– Eu não morri ainda, Nathalie. Então essa casa ainda é minha e de sua mãe. E nesse caso, eu não
autorizo nenhuma revista a entrar na minha casa. – Papai apareceu no hall visivelmente alterado com
a situação.
– Papai, que saudades, eu não quis dizer isso, você sabe. – Ela parecia uma atriz. Meu Deus, que
dissimulada! – Queridos vocês podem esperar lá fora. Eu não vou demorar – disse se dirigindo à
repórter de cabelo vermelho e óculos quadrados e ao fotógrafo com o cabelo preto estilo emo, que
assistiam a cena. Os dois se despediram constrangidos e saíram.
– Não precisava isso, papai. Eu só queria mostrar a casa onde cresci. Eram só algumas fotos.
Eles me acompanham por todo o lado, não posso dispensá-los. A matéria sobre como é o dia de uma
celebridade é a mais importante da revista. Você realmente não vai deixar?
–Não, Nathalie. Eu não quero ninguém invadindo a nossa privacidade.
– Tudo bem. O que vocês querem comigo? Tenho um compromisso, um jantar importantíssimo e
não posso me atrasar. Então, poderia ir direto ao assunto, papai? Matthew insistiu que eu viesse hoje.
Aconteceu alguma coisa? – Ela se virou e finalmente me viu. – Emma?
– Olá, Nathalie. – Caminhei até ela e a abracei. Ela parecia uma estátua, fria.
– Você voltou? Por isso que queriam tanto que eu viesse, para fazer uma reunião de família?
Comovente, mas hoje não tenho tempo. Posso ver minha agenda para amanhã.
– Você vai arrumar um tempo – papai gritou, perdendo a paciência.
–Pai – supliquei com o olhar. – Deixa para outro dia.
– Não! Vamos ter essa conversa agora! Nathalie me acompanhe até o escritório. Emma venha, por
favor.
Papai contou tudo sobre a doença da mamãe para Nathalie, ela ficou abalada, mas manteve a
pose. Ao final da conversa pediu para ver mamãe. Fomos todos para o quarto.
Mamãe estava deitada e Luca dormia ao seu lado.
–Nathalie! – Mamãe falou, comovida com a presença dela.
– Por que você não me contou da sua doença? Nós teríamos procurado os melhores hospitais e
você já estaria curada. – Elas se abraçaram e Nathalie chorou.
– Eu estou bem, querida. Nós procuramos os melhores tratamentos, não se preocupe eu estou
melhorando. –Nathalie secou as lágrimas, cuidando para não borrar a maquiagem e só então reparou
em Luca ao lado de mamãe.
– Quem é essa criança?
– Ah! Querida esse é o Luca, seu sobrinho.
– Meu sobrinho? Então ele é ...
– Meu filho – completei. Algo no tom de voz dela me deixou apreensiva.
– Quem é o pai?
– Um namorado inglês. – Se Luca estivesse acordado aquela pergunta teria me deixado em
pânico, mas como ele dormia, era apenas provocação. Mas, por quê?
– Eu preciso ir. Mamãe eu volto com mais tempo. Estão me esperando. – Beijou a mamãe e o
papai no rosto.
– Emma, você pode me acompanhar até a porta?
Caminhamos em silêncio. Antes de sair, Nathalie me encarou. Havia ódio em seu olhar.
– O que você está planejando, hein garota? Engravida de um qualquer e volta esperando que a
gente esqueça tudo que você aprontou? Acha que esse pirralho, filho de pai desconhecido, vai ser o
herdeiro dos Rochester? Espera até nascer o meu filho e você verá quem o papai vai preferir.
– Você está grávida? – perguntei tremendo de raiva, nervosa, indignada.
– Ainda não, mas eu e Matt treinamos todas as noites e logo, logo eu estarei. Daí a gente
conversa. – Me deu as costas e saiu batendo a porta na minha cara.
Corri para o banheiro mais próximo. As palavras dela me causaram náuseas. – Todas as noites!
Todas as noites ela e Matt faziam amor. E eu me achando especial. Burra, estúpida, isso é o que eu
sou. Deixei–me enganar pela segunda vez. Quando você vai crescer, Emma? Quando Matt vai deixar
de te manipular? Quando eu vou parar de achar que ele quer mais que sexo quando está comigo?
CAPÍTULO DEZ

Parei em frente a um prédio de mais de trinta andares com uma arquitetura moderna e arrojada
que competia com os prédios vizinhos, uma característica daquele bairro. Todo em vidro e com uma
rocha esculpida com o nome Stone no jardim da entrada principal, que davam a dimensão do poder
das empresas chefiadas por Matthew, o homem que eu iria enfrentar em poucos instantes. O homem
que eu iria tirar da minha vida para sempre.
Passei a noite imaginando uma forma de desfazer o mal-entendido sobre a paternidade de Luca.
Precisava de um plano perfeito, no qual ele não teria dúvidas de que meu filho não era dele. Liguei
para Meg, minha amiga na Itália, e dei a ela a missão de encontrar um modelo inglês com as
características de Matthew. Ela achou estranho, mas não fez muitas perguntas, eu expliquei que era
para a capa de um novo livro e ela adorou o desafio. Mas não entendia porque tinha que ser inglês.
Se Matt resolvesse conhecer o pai de Luca, isso estaria resolvido.
Ensaiei cada detalhe da história mil vezes para não me contradizer. Luca nasceu de sete meses e
meio, conheci o pai no aeroporto quando desembarquei na Itália, estava carente, ele se parecia muito
com você, ficamos juntos um mês, durante as férias dele. Quando acabaram as férias, acabou o
relacionamento. Nunca mais nos falamos, ele não sabia da existência de Luca, tive uma gravidez
difícil e meu filho foi prematuro. Ok. Ele vai acreditar. Eu só preciso manter as mãos dele longe de
mim. Respirei fundo e entrei no elevador.
Desci numa recepção ampla, decorada com móveis brancos, designer moderno, com linhas retas,
nas paredes quadros com arte abstrata que representavam formas geométricas, todas da cor preta,
contrastando com os móveis e paredes. Definitivamente Matt gostava de branco. Mais um ponto
contra, eu era uma pessoa colorida, adorava ambientes cheios de cores, com vida e alegria, também
adorava velharias, antiguidades e gostava de misturar o moderno com o antigo.
Uma loira estonteante sorriu para mim atrás de uma imensa mesa branca. Definitivamente, Matt
gostava de loiras estonteantes e eu era uma morena sem graça.
– Boa tarde! Senhorita Emma Rochester?
– Sim. Tenho um horário marcado com o Senhor Stone.
– O Senhor Stone não poderá atendê-la. Surgiu um compromisso de última hora. O senhor
Michels irá recebê-la em seu lugar.
– Senhor Michels?
– Sim, o senhor Stone deixou com ele a incumbência de recebê-la. Acompanhe–me, por favor.
Aquilo estava errado. Quem era Michels? Meu assunto com Matt era particular, como assim outra
pessoa iria conversar comigo? Acompanhei a loira estonteante por um corredor que dava para outra
recepção, não tão ampla quanto a primeira. Outra loira me aguardava.
– Senhorita Rochester está aqui. – A segunda loira anunciou no interfone.
Acompanhou–me até a porta, abrindo–a para mim. Entrei em uma sala que, igual a decoração de
todo o andar, era branca. O que a diferenciava eram os quadros nas paredes, arte abstrata, mas que
faziam referência ao nu feminino. Me senti desconfortável. Intimidada. Nesse momento, agradeci ter
escolhido uma roupa sóbria para o encontro. Saia lápis preta, camisa branca e um casaco de
cashmere preto, nada que pudesse provocar o Matthew ou o senhor Michels.
– Emma. – Uma voz grossa masculina chamou minha atenção para um canto da sala. Um homem
alto, ruivo com pequenas sardas no rosto sorria para mim com um copo de bebida na mão. Olhei
intrigada, tentando reconhecê-lo.
– Greg? – O melhor amigo de Matt, claro. Então, trabalhavam juntos. Mas o que Matt contou a
ele? O que ele queria comigo?
– Já estava ficando magoado, pensei que você não iria se lembrar de mim. Aceita? – perguntou
esticando o braço com o copo na mão.
– Não, obrigada. Não bebo.
– Que pena. Ouvi falar que você gostava de whisky?
– Não estou entendendo o que nós temos para conversar, Greg? Meu assunto era exclusivamente
com Matthew.
– Calma Emm, Matthew me pediu para recebê-la. Só estou tentando tornar a conversa mais
interessante. Sente-se. – Ele apontou para um sofá, que poderia muito bem servir de cama. Será que
eu estou imaginando coisas?
– Obrigada. – Sentei em uma cadeira em frente à mesa do escritório. – Foi Matthew quem marcou
essa agenda, não sei o que ele queria comigo – menti.
Ele se aproximou e sentou–se na mesa e não na cadeira, ficando bem próximo a mim.
– Poderia imaginar muita coisa que Matthew poderia querer com você, Emma. E eu também. –
Ele baixou o tom de voz. Esse cara estava tentando me seduzir, mas que droga é essa?
– Tenho que ir embora. – Levantei e fui na direção da porta. – Não temos nada para conversar.
– Espera! – Ele me segurou pelo braço. – Por que não substitui o Matt por mim? Ele é seu
cunhado, Emma. Eu estou disponível. Podemos nos divertir muito com isso e ninguém ficará sabendo.
– Ele se aproximou tentando me beijar. Eu o empurrei e puxei o braço com força. Estava fervendo de
raiva com aquela situação e apavorada por estar sozinha com ele naquela sala. Tentei chegar até a
porta, mas ele foi mais rápido e cruzou os braços bloqueando a saída. Comecei a entrar em pânico.
Aquilo não ia acabar bem.
– Me deixa sair, Greg. Eu não sei o que você pensa que há entre Matt e eu, mas você está
enganado. Só íamos conversar sobre problemas familiares. – Ele soltou uma gargalhada.
– Matt me contou sobre a despedida de solteiro que você proporcionou a ele no dia do casamento.
Não se faça de santinha. Meu amigo anda no mundo da lua desde que você voltou da Europa, é óbvio
que você veio aqui para um dejavu. Pra que perder a viagem? – Ele se aproximou e me agarrou pelos
braços, me puxando para junto dele. –Sempre tive o maior tesão por você – sussurrou lambendo a
minha orelha.
Isso não vai acontecer, não mesmo. Juntei todas as minhas forças e dei uma joelhada no meio das
pernas dele. Atingindo, em cheio, sua masculinidade. Ele me soltou e se ajoelhou de dor, gritando
palavrões. Eu corri até a porta e sai o mais rápido possível em direção ao elevador.
~§~

Dirigi até perder a noção do tempo, queria fugir para longe daquele lugar. Lágrimas insistiam em
sair dos meus olhos, não conseguia parar de chorar. Estava tremendo. Não podia voltar pra casa
naquele estado. Estacionei o carro em uma rua residencial e tentei me localizar na cidade. Já estava
escurecendo e eu estava perdida. Peguei o telefone na bolsa. Várias ligações não atendidas. Algumas
de casa e outras de Matt. Ele era muito cara de pau.
Liguei para o papai e o acalmei, menti que encontrei uns amigos e me distraí conversando, ele me
garantiu que Luca estava bem, mas já estava reclamando a minha ausência. Dei mais algumas
desculpas e disse que iria demorar mais um pouco para chegar, que não me esperassem para jantar.
Não voltaria com os olhos inchados. Acionei o GPS do celular e consegui me localizar. Dirigi até um
shopping, comprei alguma maquiagem em uma farmácia e fui ao banheiro tentar consertar o estrago
que havia virado o meu rosto. Não ficou perfeito, mas a base e o corretivo fizeram milagre. Passei
um batom nos lábios e um lápis nos olhos.
Já estava saindo do shopping quando ouvi uma voz conhecida me chamar:
– Emm? Emma Rochester, é você?
– Trevor? – Corri até ele e nos abraçamos. Ele me levantou do chão e começou a girar. – Que
saudades!
– Emm, eu não acredito que voltou e não me procurou? Como você está linda. Meu Deus! Faz
mais de quatro anos que não tenho notícias suas. E agora, eu te encontro aqui. – Ele volta a me
abraçar e me beija na testa.
– Calma, eu voltei há pouco tempo. Você também está um gato. Eu ia te procurar, mas a minha
vida está meio confusa. Mas depois eu te conto. E você, o que anda aprontando?
Trevor estava realmente gato. Seu cabelo estava mais claro, sua pele bronzeada e o corpo, devia
continuar na academia, com cada músculo no seu lugar. Por que eu não te amei, Trevor?
– Sou dono de um antiquário, estou montando uma exposição de peças raras e vou me casar. Tá
bom pra você?
– Uau... Isso é o que eu chamo de aprontar. Estou tão feliz por você.
– Venha, quero que conheça minha noiva. Estávamos lanchando quando vi você passar. Não
acreditei, achei que estava tendo uma alucinação.
– Bobo. – Nos abraçamos e fomos até a praça de alimentação. Uma moça morena de cabelos
cacheados e olhos azuis sorriu para nós. – Ela é linda.
– Realmente, Linda essa é Emma, minha melhor e mais insensível amiga, que sumiu no mundo sem
avisar.
– Muito prazer, Emma. Já ouvi falar muito de você. – Ela esticou a mão e eu apertei,
cumprimentando–a.
– Linda, o prazer é meu. Estou tão feliz por Trevor ter finalmente encontrado alguém que não use a
aliança na língua.
– Megan! – Nós três pronunciamos ao mesmo tempo. E demos uma gargalhada.
– Você a conheceu, Linda?
– Tive a honra de ir a um show com o Trevor, ele continua venerando as ex. – Talvez não fosse a
intenção, mas o comentário de Linda causou um mal-estar entre nós. Trevor me olhou sem jeito.
– Quando é o casamento? – perguntei tentando quebrar o gelo.
– Mês que vem. Estamos na correria. Viemos aqui para acertar os detalhes com o fotógrafo –
Linda respondeu, olhando para o relógio.
– Não quero atrapalhar. Estou atrasada para um compromisso – menti.
– Emma, venha nos visitar. Papai e mamãe irão adorar. Estou morando com eles enquanto meu
apartamento está sendo reformado. – Trevor estava sendo sincero, mas o ciúme de Linda era visível.
–Tudo bem. Também tenho alguém para te apresentar. Podemos combinar um almoço? Minha
companhia dorme cedo.
– Almoço, amanhã, na casa dos meus pais, combinado? Traga seu namorado. Se ele te aguenta
deve ser um cara legal.
– Namorado? Amanhã você conhecerá o grande amor da minha vida.
Sentia–me mais leve quando entrei no carro. Sorria ao me lembrar de Trevor. Dono de um
antiquário. Ele estava realizando o grande sonho da sua vida. E Linda? Garota ciumenta, sem motivo.

~§~

Acordei cedo no dia seguinte. Apesar de ter dormido quase ao amanhecer. Minha noite foi uma
confusão de sentimentos. Estava feliz por Trevor e Linda e furiosa por Matthew e Greg. E, para
piorar, ainda tinha a história da despedida de solteiro que não saía da minha cabeça. Não iria pedir
explicações para o Matt, na verdade não queria mais vê-lo na minha frente. E esse era meu mais novo
desafio. Como afastá-lo de mim e de Luca?
Perto das onze chegamos à casa dos Lancaster, uma linda casa azul, de dois pisos, com uma
varanda em toda sua fachada, localizada no Velho Centro, meu bairro favorito.
Foi uma surpresa quando apresentei Luca. Ele deixou todos encantados, principalmente a mãe e a
noiva de Trevor. Finalmente, Linda não me via mais como uma ameaça. Ninguém perguntou sobre o
pai do meu filho. Todos respeitaram o meu silêncio. Foi um dia muito agradável, fiquei por dentro de
tudo que aconteceu durante a minha ausência. Amigos que se casaram, que se separaram, que
enriqueceram, que faliram e aqueles que pararam no tempo. O pai de Trevor, que agora era mestre
em Literatura, queria saber tudo sobre o mundo editorial. Trevor e Linda ficaram em volta de Luca,
brincavam e se divertiam com o vasto vocabulário italiano do meu pequenino.
– Acho que agora eles se empolgam, não vejo a hora de ser avó – comentou Emily, observando o
casal.
– Eu ouvi isso, mamãe – Trevor respondeu.
–Era pra ouvir mesmo.
– Tudo ao seu tempo, mamãe. Primeiro me deixa casar.
– Depois eu dou um jeito, sogrinha. – Linda se meteu na conversa. – Pode deixar comigo. – Ela
sorriu pra ele e ele retribuiu com um beijo na boca.
Senti um nó na garganta diante daquela cena. Eu jamais teria aquilo, aquela cumplicidade, aquela
troca de carícias em público, não com a pessoa que amava, não com Matt.
CAPÍTULO ONZE

O restante da semana foi tranquila, acompanhei mamãe ao hospital para fazer alguns exames. Luca
descobriu o beisebol e o futebol e agora queria ser jogador. Começamos a decorar o seu quarto.
Optamos por uma decoração neutra e Luca que iria decidir o que colocar como enfeite. Com certeza
seria uma miscelânea de coisas. Mas teria vida e alegria.
Havia combinado sair, na sexta à noite, com Trevor e Linda, iríamos a uma boate com um grupo
de amigos do casal. Comprei um vestido preto de alcinhas, que deixavam os meus braços nus e
visível o hematoma provocado pelos dedos do Greg quando ele me segurou. Passei uma base que
escondeu o roxo. Coloquei um sapato prata de salto, prendi o cabelo num coque e caprichei na
maquiagem. Lápis, rímel, sombra preta nos olhos e um batom vermelho na boca. Precisava me sentir
bonita e sexy. Precisava exorcizar alguns demônios que perturbavam a minha mente e não conhecia
ritual melhor que a dança para fazer isso.

~§~

Chegamos à boate quase meia–noite. Era um espaço pequeno, com uma pista de dança com mesas
em volta. Luzes e uma decoração psicodélica lembrava as disco dos anos 70. Um pequeno bar e
garotas com perucas Black Power coloridas, minissaias e botas brancas serviam os clientes. A
música era alta e não conseguíamos conversar. Alguns foram para a pista de dança e outros
procuraram uma mesa para sentar. Eu fazia parte do primeiro grupo. Fechei os olhos e deixei a
música me levar. Aquilo era libertador. Dancei umas cinco músicas, meus pés doíam, então resolvi
tirar o sapato. Nada iria me impedir de dançar a noite inteira. Mas o DJ colocou uma música lenta,
Someone like you, frustrando minhas expectativas. Estava caminhando para a mesa, quando Trevor
veio ao meu encontro.
– Vamos dançar essa. – Ele me puxou e me abraçou pela cintura, eu coloquei minhas mãos no seu
pescoço e começamos a nos movimentar lentamente ao ritmo da música.
– E a Linda?
–Foi ela que pediu para eu te salvar.
–Como assim?
– Está vendo aquele homem ali com cara de tarado? – Eu acompanhei o seu olhar, um homem alto,
bem vestido, mas visivelmente embriagado, nos observava. – Quando começou a tocar essa música
ele veio com tudo para te tirar para dançar. A Linda disse corre e salva a sua amiga, eu corri. – Olhei
para Linda e movi os lábios dizendo obrigada, ela sorriu.
Estávamos comportados, dois amigos no meio da pista dançando.
–Se você tivesse me amado, Emm. Essa música poderia ser nossa. Você a cantaria para mim? –
Ele me puxou para mais perto, colando nossos corpos.
– Convencido – respondi tentando quebrar o clima, Linda não iria gostar de ver aquilo, tentei me
afastar, mas Trevor não deixou. Suas mãos percorreram as minhas costas.
– Tira suas mãos de cima dela! – Alguém gritou atrás de mim.
Não precisava me virar para saber que a voz era dele.
Trevor parou de dançar, me virei e o encarei. De smoking era covardia. Cabelos rebeldes, barba
por fazer e smoking.
– Eu disse para você tirar as mãos do corpo dela – ele repetiu, pronunciando cada palavra
devagar, seus braços estavam estendidos ao longo do corpo e as mãos fechadas em punho. Eu já tinha
visto Matthew assim e o resultado foi desastroso. Ele iria perder a cabeça. Precisava fazer algo.
Tirei as mãos de Trevor da minha cintura e caminhei até ele.
–O que você faz aqui?
– Vim buscar você. – Ele me encarava com tristeza, raiva e desejo ou era eu que o encarava
assim?
– Eu não vou com você – disse dando as costas para ele.
–Você não tem escolha. – Me puxou de volta e grudou o seu corpo ao meu. – Você vem comigo,
Emm. Agora!
– Você não sabe ouvir um não, cara? – Trevor veio para o meu lado. – Emm, vem comigo! – falou,
segurando o meu cotovelo.
Matt me puxou para o lado e deu um soco no rosto de Trevor, que cambaleou e caiu no chão, pego
de surpresa pelo golpe.
– Eu devia ter feito isso há cinco anos. – Matt foi para cima de Trevor, mas eu e um segurança o
seguramos. Trevor tentou se levantar para revidar, mas Linda e seus amigos o impediram. Todos na
boate olhavam para nós. Flashes eram disparados dos celulares. Caminhei até Trevor e me abaixei
ao seu lado.
– Trevor, eu vou embora. Eu vou tirá-lo daqui, depois a gente conversa – falei nervosa, a boca de
Trevor sangrava e Linda parecia que ia se avançar em mim, por ter criado aquela confusão.
– Leva esse seu namorado psicopata daqui! – ela gritou descontrolada.
– Ele não é o namorado dela – Trevor ironizou. – Que merda é essa Emm? Esse cara é o teu
cunhado. – A raiva em sua voz me apunhalou no peito. Ele tinha razão. O que eu estava fazendo com
a minha vida?
– Eu explico outra hora. Desculpa. – Estava envergonhada. Precisava sair dali. Passei por Matt,
sem deixá-lo me tocar e sai da boate. Queria sumir. Não iria à lugar nenhum com ele que, mais uma
vez, bagunçou a minha vida.

~§~

A noite estava fria, sai apressada da boate, me esquecendo de pegar o casaco, o vestido de
alcinha não cobria quase nada do meu corpo, calcei o sapato que havia tirado para dançar e caminhei
trôpega pela calçada. O vento castigava o meu corpo, mas o que me fazia tremer não era o frio, era a
raiva. Ele não tinha o direito! O que ele pensa que é? Meu dono, para dizer com quem eu posso ou
não estar?
– Emm! – Matt me alcançou, correndo até onde eu estava, continuei caminhando. – Você está
louca em sair desse jeito? Saí atrás de você, mas você sumiu. Para de caminhar e me ouve! – gritou
segurando o meu cotovelo.
– Não me toca! – A voz saiu mais alta do que eu esperava. Ele recuou. Pensei que estava livre e
continuei caminhando. Matt ligou para alguém e voltou a me acompanhar; andamos mais uma quadra,
em silêncio.
– Entra no carro – ele ordenou.
Só então reparei numa limusine preta que estacionava ao nosso lado.
– Não – falei parando e o encarando, meus braços estavam cruzados na altura do peito, me
protegendo do frio.
– Ah... não? Veremos! – Me agarrou na altura dos braços, me impedindo que os descruzasse para
me defender, me levantou do chão com uma facilidade incrível e me jogou para dentro do carro,
entrando logo atrás de mim e fechando a porta.
– Pode ir, Carlos. Apenas dirija – ordenou, em seguida um vidro fumê levantou separando a
cabine do motorista da nossa.
Sentei num canto do banco, ficando o mais longe possível dele. Matt tirou o casaco e tentou
colocar nas minhas costas, apesar do frio já ter passado com o ar condicionado do carro.
– Não me toca – falei pausadamente, espalmando as mãos entre nós.
– Que droga, Emma! O que aconteceu? Eu estou há uma semana tentando conversar com você e
não consigo. Você não me atende. E quando volto de viagem te encontro nos braços do seu antigo
namorado?
– Por quê? Eu devia estar nos braços do seu amigo Greg? – gritei, encarando–o, indignada.
– Como assim? O que o Greg tem a ver com isso? Onde vocês se encontraram? Emma, me
responde. Ele te tocou? – A voz dele era angustiada, quase me convenceu.
– Como assim, digo eu. Você resolveu me emprestar para o seu amigo? Foi isso? Considera–me o
que Matt? Uma vagabunda? É isso o que eu sou pra você? Você me mandou direto para os braços do
seu amigo é quer saber se ele me tocou?
– Eu só pedi para ele te ligar cancelando a reunião. Eu não conseguia te achar. Não sabia pra
quem recorrer, eu confiava no Greg, somos amigos há anos. – Ele parecia confuso, me segurou pelos
braços e nos encaramos.
– Emma, eu preciso saber, o que aconteceu?
– Eu posso te garantir que foi uma tarde inesquecível para ele.
– Você não deixou aquele canalha te tocar?
– Quem disse que ele me tocou? Eu o toquei – provoquei.
–Você não fez isso? Emma para de me torturar, você não iria fazer isso, não você.
– Matthew, você me confunde, não era para eu agradar o seu amigo? Não foi pra isso que você
mandou ele me receber? Não foi pra, qual foi a palavra que ele usou mesmo? Ah, para saciar o tesão
que ele sempre sentiu por mim.
– Eu vou matar aquele canalha! – Matthew colocou as mãos no rosto e baixou a cabeça,
escorando os cotovelos nas pernas. – Droga, Emm! – Ele se virou pra mim, os olhos estavam
vermelhos. – Vocês tiveram alguma coisa? Eu preciso saber.
– Por quê? Eu não te devo fidelidade, Matt. Você é um homem casado e quer que eu seja fiel? –
Dei uma gargalhada. – Você quer que eu diga o quê? Que você foi o único homem na minha vida?
Sinto muito, mas não foi. Tive outros. E você não foi nem o primeiro.
– Para de me provocar, Emm. – Matt me olhava furioso.
– Por quê? Eu falei alguma mentira? E quer saber mais uma coisa sobre mim? Eu adoro fazer
sexo. E sabe quem me deixou assim? Você. A culpa é sua de eu estar agora louca pra fazer isso. – Me
ajoelhei no banco de couro e me inclinei sobre ele colocando minha mão no meio de suas pernas e
agarrando o seu membro sobre a calça. A alça do meu vestido escorregou pelo ombro, expondo o
meu seio. Ele gemeu. – Você me mostrou o quanto podia ser delicioso ser possuída. – Me aproximei
roçando meus lábios nos dele enquanto desabotoava sua calça, liberando sua ereção. – Você me fez
querer ser sua, só para sentir o seu membro duro dentro de mim. Você me viciou nisso aqui. – Minha
mão acariciava toda a extensão do seu pênis, ele me olhava, ofegante. – E você? Alguma vez desejou
ser meu? – Sua boca estava entreaberta por causa da respiração, ele ameaçou responder, mas eu me
adiantei – Não, você nunca foi meu, eu sempre soube disso, mas mesmo assim eu desejava você. Meu
corpo queria o seu dentro dele, mesmo sabendo que depois você iria para os braços de outra, mesmo
sabendo que depois eu iria me sentir usada e o pior é que eu gostava de ser usada por você.
Me ajoelhei na frente dele, passei a língua em todo o seu membro, lambendo–o e comecei a
chupá-lo.
– Eu já falei que você é muito gostoso, Matthew?
– Emma – ele falou meu nome entre gemidos de prazer. Suas mãos seguraram os meus cabelos.
– Eu quero provar você, Matthew. – Olhei nos olhos dele enquanto chupava a cabeça do seu
pênis. – Eu quero sentir o seu gosto. – E comecei a sugá-lo com força, seu membro entrava na minha
boca, indo até a garganta, minha língua tocava sua pele rosada, sentindo cada saliência, meus lábios
o devoravam.
– Eu vou gozar, Emm. – Ele soltou um gemido, enquanto jorrava um líquido grosso na minha boca.
Eu o provei, suguei cada gota que saia de dentro dele. Ele era delicioso. Subi até a sua boca e o
beijei, uma troca de carícias entre nossas línguas. Ele tentou me abraçar, mas eu me afastei.
Tirei a calcinha, ele me olhava com um sorriso nos lábios, sua respiração voltando ao normal. Ele
tirou as calças e a cueca e se acomodou no banco, segurou o seu membro que voltava a pulsar. Sentei
no seu colo com as pernas abertas em volta de sua cintura. Tirei a gravata que ele usava e comecei a
abrir os botões da sua camisa.
– O que você está fazendo? – A voz era suave, quase um sussurro.
– O que eu estou fazendo? Estou saciando a minha fome de você. Estou com fome de você,
Matthew. Olha o que você faz comigo. – Peguei a mão dele e levei até o meio das minhas pernas, ele
colocou os dedos dentro de mim, – Você me deixa faminta. – Ele abocanhou o meu seio e começou a
chupá–lo. Meu corpo estremeceu de prazer, seus dedos me penetravam mais fundo, mas não eram
eles que eu queria, senti seu membro pulsando nas minhas coxas. Minhas mãos foram para os seus
cabelos, os dedos envolvidos por um emaranhado de fios sedosos. Ele me segurou pelo quadril e me
fez sentar, encaixando o seu membro duro dentro de mim. Puxou o meu vestido para cima, tirando–o,
me deixando nua. Suas mãos agarraram meus seios. Comecei a me movimentar. Descendo e subindo,
ele entrando e saindo, devagar. Tirei sua mão do meu seio e levei até a minha boca, suguei o seu
dedo médio, depois o levei para o ponto onde nossos corpos se encaixavam e ele começou a me
tocar, exatamente no lugar mais sensível. Atingi o orgasmo, me contraindo ao redor dele. Ele
permaneceu ereto, pronto pra continuar a brincadeira. Nos beijamos, demoradamente, Matt me
abraçava passando as mãos nas minhas costas, chegando até o cabelo e puxando o meu rosto para
mais próximo do seu, pressionando mais os nossos lábios. Ele estava assumindo o controle e essa
não era a ideia. Sai do colo dele, deixando–o sozinho.
– O que foi?
– Eu já estou satisfeita. Obrigada! – Ele deu uma gargalhada e me puxou de volta para o seu colo,
dessa vez fiquei de costas para ele. – Me solta! – falei me inclinando para sair. Ele me abraçou
colando o meu corpo ao dele, senti o seu membro entre as minhas nádegas. – Matthew, me solta.
– Não. Você me provocou, agora aguenta as consequências.
– O que você vai fazer comigo? – Deitei a cabeça no ombro dele, olhando–o nos olhos. – Meu
corpo é seu, me surpreenda.
– Não me tente. Eu posso ser bem cruel com você. – Suas mãos passeavam pelo meu corpo nu,
seus dedos se demoravam no meu clitóris.
–Você já foi, qualquer coisa que fizer agora, não superará o que me fez no passado. – Ele ficou
sério e parou de me tocar. Me deitou de costas no banco e se posicionou em cima de mim.
– Eu não posso mudar o que fiz no passado. Mas no presente eu jamais faria algo que te
machucasse. – Me beijou, seus lábios tocaram os meus com carinho. – Você é muito importante pra
mim. – Outro beijo, só que dessa vez eu mordi seu lábio inferior e ele invadiu minha boca com sua
língua, deslizei meus dedos em seus cabelos e o puxei para mais perto, abri minhas pernas em volta
da sua cintura e ele enfiou seu pênis dentro de mim outra vez e outra e outra...
– Quero gozar com você. Nem antes nem depois, ao mesmo tempo – sussurrei entre gemidos. Ele
continuou metendo forte.
– Quase...– ele suspirou. O suor escorria pelo seu corpo. Sua mão foi para o meio das minhas
pernas e ele soube exatamente onde tocar. Em segundos já estava pronta para outro orgasmo. –
Agora! – ele gemeu e meteu fundo, me puxando pelo quadril, ao seu encontro. Me entreguei mais uma
vez aquele homem de cabelos rebeldes e olhos azuis, eu sempre me entregaria. Eu o amava.

~§~

Estávamos abraçados, sentados no banco da limusine, já estávamos vestidos, ele estava com a
calça aberta, expondo um membro que teimava em ficar ereto.
– Você toma algum medicamento? – Meu olhar foi da sua ereção aos seus olhos. Ele sorriu e me
apertou contra seu corpo.
– Você é o meu afrodisíaco. Você é o meu vício – falou tocando os meus lábios e nos beijamos,
sem pressa. – Vamos para minha casa. Lá ficaremos mais à vontade.
– Para sua casa? Mas... – Não terminei a frase, Matt me interrompeu com outro beijo.
– Eu tenho tanta coisa pra te falar. Espera só mais um pouco. Dessa vez nada vai nos interromper,
eu prometo.
Viajamos o resto do caminho trocando carícias. Havíamos deixado as discussões pra depois. O
carro parou antes de entrar na garagem de um prédio e só então percebi qual era o nosso destino, as
Empresas Stone, o mesmo lugar onde Greg me atacou. Uma sensação de medo passou pelo meu
corpo.
– Tudo bem, Emm? – Matthew perguntou, notando a minha troca de humor.
–Você mora aqui? – falei com um leve tremor na voz.
– Moro. Vamos pegar um elevador privado, que vai direto para o meu apartamento no último
andar. Emm, você está pálida? O que houve?
– Matt, eu não menti quando disse que Greg tentou me agarrar. Por pouco ele não me... eu fugi, ele
não me tocou, eu dei uma joelhada nele e corri. – Estava nervosa, não conseguia falar, Matt me
abraçou forte, a respiração dele estava alterada.
– Meu Deus, Emm. Eu pensei que você estivesse me provocando.
– Eu pensei que não ia conseguir fugir. – Afundei meu rosto no seu peito.
O carro entrou por uma garagem lateral, onde vários carros de luxo estavam estacionados.
Caminhamos até o elevador. Matt não me soltava de seus braços, como se temesse que eu escapasse
de suas mãos a qualquer momento. Entramos no elevador.
– Eu vou fazer Greg pagar pelo que fez com você. Eu prometo.
Matt não me soltou até o elevador chegar ao último andar. Ele passou sua mão pela minha cintura
e entramos num hall iluminado e lindamente decorado, de branco.
– Você tem algum problema com cor?
– Por quê? – perguntou, abrindo a porta da cobertura. Um luxuoso apartamento, decorado de
branco, mas com algo especial, pequenos detalhes, objetos decorativos que davam vida ao lugar,
destoando, com elegância, do branco. Eles lembravam de que alguém morava ali.
Um aparador num canto, com pés de mármore branco e superfície de vidro, me chamou a atenção.
Nele havia vários porta–retratos, me aproximei e vi fotos de Matt em várias etapas de sua vida,
algumas na companhia de seus pais, outras na companhia de amigos, entre eles Greg. Mas, nenhuma
com Nathalie. Uma delas, em especial, me chamou a atenção. Matt devia ter uns quatro anos de
idade, estava sentado num gramado ao lado de uma bela mulher de olhos azuis e cabelos castanhos,
ele sorria para o fotógrafo segurando nas mãozinhas um aviãozinho de brinquedo. Peguei a foto na
mão para ver melhor. Era o mesmo avião que Luca brincava quando conheceu Matt.
– Luca – eu falei sem emitir som, apenas movimentando os lábios. Matt se aproximou e me
abraçou pela cintura, escorando o queixo no meu ombro. Eu larguei a foto e me virei para encará-lo.
– Ele é igual a você. Igual ao pai.
– Lindo como o pai, você quer dizer. – Eu o teria chamado de convencido, mas minha boca foi
invadida por sua língua que tirou todo o meu fôlego e vontade de protestar. – Quando vi Luca, eu me
enxerguei correndo com o aviãozinho que meu avô me deu, o mesmo da foto. Eu dei aquele avião
para seu pai colocar na sua coleção, foi do meu bisavô, depois do meu avô e finalmente meu e agora
do Luca. No momento que eu descobri que ele era seu eu soube que era meu, Emm. Você poderia
ficar negando o resto da vida, não ia adiantar.
– Eu não vou... Ele é seu. Eu queria te esquecer, eu precisava te esquecer, mas toda vez que eu
olhava para aqueles olhos azuis, eu te via. Ele não precisava ter nascido tão parecido com você.
Seria mais fácil te tirar da minha vida.
– É isso que você deseja?
– É o certo. Não é?
– Não. Como pode ser certo eu não poder te tocar, eu não poder ouvir a sua voz, sentir o seu
cheiro, provar o seu gosto. Como pode ser certo eu não poder te amar?
– Matt... – eu sussurrei.
–Eu te amo, Emm. Te amo, te amo, te amo. – A cada te amo um beijo na boca. Até elas se unirem
num beijo intenso. – Desde que você voltou eu estou tentando dizer “te amo”, mas parece que o
universo conspira contra nós. Eu estava fechando um negócio importante no Japão, quando seu pai
me ligou dizendo que você havia voltado, eu perdi a cabeça, Emm. Larguei todos os compromissos e
voei pra cá, mas ficaram coisas pendentes e se eu não voltasse, pessoas poderiam ser demitidas.
Estávamos fechando a compra de uma empresa de um concorrente que estava prestes a falir, queria
aproveitar a estrutura e a mão de obra dele e ampliar a minha empresa e se eu não fosse logo,
poderia ser tarde. Haviam outras empresas interessadas, mas estas iriam fechá-la, eliminando o
concorrente, eu tinha prioridade no negócio, mas não podia perder tempo. Por isso viajei no
domingo. Tentei te encontrar, o celular só dava mensagem de voz, avisando que estava fora da área
de cobertura e quando fui à marina, vocês estavam em alto-mar. Então recorri ao Greg. Mas era para
ele te ligar, só isso.
– Como você me encontrou hoje?
– As negociações se estenderam mais do que eu imaginava. Cheguei de viagem hoje à tarde, vim
direto para o escritório, tive algumas reuniões, te liguei várias vezes e você não me atendeu, tinha
uma festa para ir, a entrega de algum prêmio que eu iria receber, mas precisava combinar de te
encontrar depois, então não resisti e liguei para o seu pai. Fiz toda uma história até conseguir tirar
dele o lugar onde você estava. E aqui estamos.
–E a festa? E o prêmio?
–A festa deve estar acontecendo e quanto ao prêmio? Greg e Nathalie estão lá, estou bem
representado.
–E Nathalie, Matt? Ela é a sua esposa.
–Nathalie não faz mais parte da minha vida, Emm. Nós nos separamos há quase três anos.
– Como assim? Mas vocês estão sempre juntos nos eventos, nas revistas? Papai e mamãe não
comentaram nada.
– Ninguém sabe. Somente nossos advogados e Greg. Foi um pedido da sua irmã, ela imaginou que
separada não iria mais receber tantos convites para festas e entrevistas e eu tinha interesse em mantê-
la por perto.
– É bom para os negócios. – Minha voz denunciou minha decepção.
– Não. – Um sorriso se desenhou na sua boca e sua voz assumiu um tom mais suave – Ela era o
meu único vínculo com você. Que desculpa eu teria para aparecer na sua casa se fosse o ex–marido
de Nathalie, pra começar seu pai não teria me ligado. Eu não saberia da sua volta. Não poderia ter
passado uma tarde maravilhosa com o nosso filho.
– Por que você não me procurou na Itália?
– Eu pensei em ir, mas me torturava pelo que fiz com você no hospital, imaginei que devia me
odiar. E depois sua tia deixava bem claro, quando nos encontrávamos nas festas da família, que você
tinha encontrado o verdadeiro amor e agora era a mulher mais feliz do mundo.
– Luca.
– Isso eu só descobri agora.
– E se eu tivesse voltado casada? – provoquei o homem que me amava.
– Eu te roubaria do seu marido, eu iria te seduzir e te possuir de qualquer maneira, eu não resisto
a você. Eu preciso te tocar – seus dedos passearam pelo meu rosto. – Eu preciso te provar. – Sua
boca mordeu, levemente, meu ombro, deslizando a alça do vestido, ele desceu até o seio e mordeu
com força o meu mamilo.
–Matt! – gritei, tirando o seio da sua boca, ele me encarou, desejo foi o que vi naqueles lindos
olhos azuis.
– Desculpa... – e abocanhou o seio chupando–o com força, sua língua brincando com o mamilo
dolorido, aumentando a sensação de prazer, meu corpo respondeu aos seus estímulos desejando–o
dentro dele, outra vez. Ele tinha me possuído há poucos minutos e eu o desejava como se não nos
tocássemos há dias. – Eu nunca vou cansar de você, Emm.
Levou–me até o sofá e me deitou de bruços, levantou o vestido até a cintura, tirou minha calcinha.
Senti seu membro tocando a minha bunda, ele começou a provocar a minha outra entrada,
pressionando, levemente, o seu pênis naquele lugar apertado.
–Matthew, você não vai fazer isso – protestei, sem muita convicção.
– Hoje não, meu amor. Só estou fazendo o reconhecimento da área, mas, em breve, eu volto.
– Isso, se eu deixar. – provoquei.
– Você vai... você deseja tanto quanto eu – e pressionou mais um pouco. A expectativa do
desconhecido era extremamente excitante. Eu comecei a provocá-lo. – Não faz isso, Emm. Eu não
vou me controlar e posso te machucar. – Não obedeci.
Ele se afastou ofegante, eu me virei para observá-lo. Ele estava na outra ponta do sofá de joelhos,
me olhando. A mão segurava um membro ereto.
– Você vai se divertir sozinho? – perguntei mordendo o lábio.
– Maluca, eu poderia ter te machucado e eu não quero que você sinta dor, só prazer. – Ele voltou
para cima de mim, agora estávamos frente a frente, o cabelo dele caia nos olhos, sua boca
apresentava um leve sorriso, seus olhos me olhavam intrigados. – Você não faz ideia o quanto eu te
desejo, Emma. Quando eu te vi dançando com o seu ex–namorado, ele te tocando, eu enlouqueci... –
tapei a boca dele com a minha mão.
–Matt, eu sou sua. Há cinco anos eu me entreguei a você. E desde então, só a você. Eu só
desejava você. – Beijei sua boca. – Meu corpo só queria o seu. – Outro beijo. Minhas pernas
enlaçaram a sua cintura e ele me penetrou. – Eu te amo.

~§~

Acordei ouvindo uma música que tocava em algum lugar do apartamento, era madrugada. Olhei
para o lado procurando Matt, ele não estava. Eu estava nua, coberta apenas por um lençol. Levantei e
olhei para a cidade que adormecia aos meus pés, o quarto de Matthew ficava no segundo andar da
cobertura e suas paredes externas eram de vidro, como estávamos a mais de trinta andares do chão e,
naquela região, nenhum prédio era tão alto, podia ficar nua sem ser vista. Abri o closet do quarto à
procura de algo para vestir. Havia várias camisas caprichosamente guardadas e separadas por cores,
escolhi uma branca. Desci as escadas e um cheiro delicioso de comida fez meu estômago protestar.
Uma estante embutida, escondida por grandes portas, que se confundiam com as paredes, estava
com uma das suas portas de correr aberta, expondo uma coleção de discos de Vinil e um Aparelho de
Som, uma Vitrola, tocando When I Fall In Love de Nat King Cole. Se eu já não estivesse loucamente
apaixonada por esse homem, me apaixonaria agora.
Encontrei Matt na cozinha, ele estava ou pelo menos tentava fazer omeletes. Fiquei admirando a
cena, ele vestia uma calça de pijama preto que caia abaixo da cintura, aliás, bem abaixo, eu poderia
jurar que ele não usava cueca. A pia estava cheia de temperos, o balcão de mármore preto que
separava a cozinha da sala de jantar tinha cascas de ovos espalhadas, uma garrafa de vinho e uma
taça pela metade completavam o cenário. Ele estava de costas servindo a omelete num prato. Quando
se virou, me viu encostada no balcão, deu um sorriso que me fez desejá-lo.
– Com fome? – Se aproximou e largou o prato na minha frente.
– De você. – Fui até ele, desenhei sua boca com o meu dedo, fiquei na ponta dos pés e o mordi no
lábio inferior, chupando–o logo em seguida. Ele me puxou para junto dele levantando a minha
camisa, eu estava nua por baixo. Nos beijamos sem pressa.
– Vamos comer a omelete primeiro, depois eu mato a sua outra fome. – Sentei ao lado dele. Com
o garfo ele levou um pedaço de omelete até a minha boca. Estava delicioso. Comemos em silêncio,
ele me alimentando.
–Vinho? – perguntou, pegando a garrafa e começando a encher sua taça.
– Não bebo. Não mais.
Ele me olhou, enquanto bebia um gole de vinho, largou a taça no mármore, desceu da banqueta e
parou na minha frente, colocando suas mãos na minha cintura.
– Por causa daquele dia?
– Sim. Aquele dia é um ponto de interrogação na minha vida. Eu não lembro nada. E a bebida é a
grande culpada disso. O que aconteceu naquele dia, Matt? Greg falou que eu te proporcionei uma
despedida de solteiro. O que eu fiz? O que nós fizemos? – Aquele assunto me angustiava, eu
precisava saber.
– Vamos conversar no quarto? Eu conto tudo o que você quer saber.

~§~

Sentei de joelhos em cima da cama, ele sentou ao meu lado. Parecia apreensivo.
– O que aconteceu, Matt? Por que o Greg falou aquelas coisas?
– Porque ele é um idiota. Porque eu fui um idiota. – Aquela não era a resposta que eu estava
esperando. Um mal-estar percorreu o meu corpo se instalando no estômago. Respirei fundo.
– Por que você foi um idiota?
– Porque eu contei pra ele o que havia acontecido entre nós naquele dia.
– Para de me enrolar, Matt. O que aconteceu? – Aquilo estava me deixando mais nervosa.
– Você me procurou. Foi até o meu quarto, estava bêbada. Estava linda. Nós discutimos, você
queria saber porque eu te afastei da sua irmã, você me empurrou, eu caí sentado na cama e você veio
para cima de mim. Eu não resisti e te beijei.
– À força?
– Não. Você foi bem receptiva.
–Nós?
– Não, quer dizer, mais ou menos. Nós nos tocamos.
– Eu não entendo... – Como eu fui esquecer?
– Foi assim... – Ele me deitou na cama, me beijou, sua mão desabotoou a minha camisa e sua boca
encontrou meus seios, seus dedos foram para dentro de mim. Era como no meu sonho, agora eu
entendia.
–Matt. – Ele me olhou – Eu quero você. – Minha mão desceu pelo seu abdômen e entrou pelo cós
do pijama, segurando o seu membro. Ele estava sem cueca.
– Eu queria você aquele dia e uma batida na porta nos impediu, eu imaginei durante anos como
seria ter te possuído, quando eu te reencontrei eu queria ficar sozinho com você, queria provocá-la,
queria que você me desejasse como eu te desejava. Eu ouvi a sua conversa com Nathalie aquela
noite, eu sabia que era você na biblioteca. Eu achei que era a oportunidade para te confrontar, para te
fazer lembrar. Mas você estava lá, esperando para se entregar a outro homem e eu não resisti. Você
seria minha de qualquer jeito, nem que fosse sem perceber. – Ele estava entre as minhas pernas, seu
membro me tocando, pronto para me penetrar. – Eu só pensava nisso. – E me preencheu, invadindo o
meu corpo, ocupando o espaço que lhe pertencia.

~§~

Acordei e olhei no celular para ver a hora, sete e meia. Matthew não estava na cama. Escutava
sua voz discutindo com alguém. Coloquei o vestido e desci, precisava ir para casa. Prometi pra Luca
que estaria com ele pela manhã. Estava no último degrau da escada quando ouvi a voz da outra
pessoa que falava com Matt, era o Greg. Congelei.
– Eu não quero saber de sites e fotos. Eu quero saber o que você fez com a Emma? Eu não quero
você perto dela, entendeu?
– Cara, você está louco. Essa garota vai destruir a sua vida, não sei o que ela inventou, mas é
mentira. Eu não fiz nada. Ela é totalmente pirada. Você prefere acreditar nessa maluca a acreditar no
seu amigo? Você é um executivo respeitado, tem uma mulher maravilhosa, e agora essa foto sua e da
Emma, praticamente se beijando em uma boate de quinta e outra de você batendo num cara. Você
pirou? Sai dessa roubada.
– Cala a boca, Greg. Eu dou um jeito nessas fotos, isso não me incomoda. Eu te liguei pra te
avisar que as coisas vão mudar, dessa vez você ultrapassou os limites. Você se meteu com a mulher
que eu amo e isso não tem perdão.
– Cara, pensa bem... Isso vai ser péssimo pra sua imagem, podemos perder negócios e as ações
das empresas podem despencar. Para todos, você e Nathalie ainda estão casados e você a está
traindo com a irmã.
– Já disse que isso eu resolvo. Só quero que você entenda que a Emma é minha e você vai ficar o
mais longe possível dela. Lembra que eu posso acabar com você, Greg.
– Eu entendi. E com a Nathalie? Como você vai se explicar?
–Isso não te diz respeito. – Silêncio.
Entrei na sala e Matthew estava sozinho, ele estava conversando com Greg pelo skype.
– Que fotos? – perguntei.
CAPÍTULO DOZE

Respirei fundo antes de entrar na casa dos meus pais, não sabia qual seria a reação deles quando
vissem as fotos da boate. Os sites de fofoca destacaram a que eu e Matt nos olhávamos, parecia que
íamos nos beijar. E as manchetes falavam em traição, amante, separação, alguns exibiam as fotos de
Nathalie na festa que Matthew havia escapado. Nenhum tinha mencionado o meu nome, a minha
identidade ainda era desconhecida. Tive que vir para casa em um dos carros da empresa Stone,
paparazzis faziam plantão em frente à Empresa. Carlos me deixou em casa e mais tarde traria meu
carro, que ficou no estacionamento da boate.
Matt queria contar a verdade sobre o nosso relacionamento, mas devido a saúde da mamãe, o
convenci a esperar um pouco mais. Não queria magoar meus pais, agora que, finalmente, estávamos
nos entendendo tão bem. Eles não entenderiam, eu mesma não entendia essa loucura que era o meu
amor por ele. Combinamos uma mentira para explicar as fotos. Matt entrou na boate e encontrou, por
acaso, eu e Trevor, o soco foi por conta do acidente de cinco anos atrás e a foto em que nos
olhávamos, era eu tentando convencê-lo a ir embora. Esse era o plano, até eu entrar em casa.

~§~

– Passou a noite trepando com o meu marido?


Nathalie me esperava, vestida com um longo vermelho, cabelo com um penteado levemente
ondulado, solto caído nos ombros. Impecável, se não fosse a maquiagem dos olhos visivelmente
borrada. Eu era mais alta que ela, meu vestido era curto, meu cabelo estava úmido do último banho
que tomei com Matt e eu não usava maquiagem. Ela não teria me intimidado, se não fosse à presença
dos meus pais, que vieram logo atrás dela para ver com quem ela gritava.
– Ficou muda? Passou a noite com Matthew? Só de olhar pra essa sua cara já dá pra ver que ele
te fodeu a noite inteira. – Eu a teria esbofeteado se papai não tivesse gritado antes.
– Nathalie, controle–se!
–Você é ridícula, de onde tirou essa ideia? – perguntei, cínica.
– Meu marido me abandona em uma festa e no meio da madrugada recebo uma ligação de um
jornal sensacionalista pedindo a minha opinião sobre as fotos do Matt com outra mulher. E qual é a
minha surpresa, ao ver que a outra mulher é você, minha irmãzinha querida. Quando foi que a relação
de vocês mudou do eu te odeio para eu quero comer você?
– Você não tem o direito de falar assim comigo, Nathalie. Eu não vou te responder nada, fica
imaginando o que você quiser ou melhor, por que não pergunta para o seu marido?
–Eu não preciso perguntar para o Matt, eu vi quando o Carlos te deixou aqui com o carro da
Empresa. A menos que você esteja tendo um caso com o motorista?
– Cale-se – Ela havia ido longe demais, não iria mais suportar suas acusações, queria jogar toda a
verdade na sua cara, mas mamãe não merecia ver isso. – O que eu faço da minha vida não é da sua
conta.
– É da minha conta quando isso inclui ir para cama com o meu marido. Não se faça de sonsa,
Emma. Você sempre teve inveja de mim. Você nunca suportou ser a segunda em tudo. Você não
suporta ver o meu sucesso, a minha felicidade. Agora, se atirar para cima do Matthew, foi baixaria.
– Você tem uma imaginação muito fértil. Eu não quero ser você, eu tenho pena de você, Nathalie.
Essa sua vidinha patética, sem sentido. Você é só aparência. O casal perfeito, a esposa ideal, pra
quê? Inveja do quê? Desse seu casamento de fachada?
– De o Matthew ter escolhido a mim. Ele pode ter falado um monte de mentiras pra te levar pra
cama, que estamos separados, que vivemos de aparências. Agora que ele já conseguiu o que queria,
vamos ver com quem ele vai ficar!
– Eu não tenho que ficar ouvindo isso. Com licença? – Tentei passar, mas ela não saiu da frente.
Ver o rosto angustiado dos meus pais estava me deixando tensa.
– Você não vai a lugar nenhum até terminar de me ouvir e depois pegar as suas coisas e voltar
para sua vida medíocre na Itália.
– Você está louca? Eu não vou embora porque você quer.
– Não sou eu, querida. São nossos pais que querem. Não é papai? – Ela se virou e olhou nos
olhos de papai, com cara de coitadinha. Fiquei apreensiva, eu já havia passado por aquilo antes.
Sentia–me mais forte, mas não estava preparada para ser destratada por meus pais outra vez.
– Nathalie, você está muito nervosa, acho que deveria ir para casa e conversar com o seu marido.
Acredito que ele tenha uma boa explicação para essas fotos. E quanto a Emma, ela mora aqui, essa é
a casa dela e ela não vai a lugar nenhum, a menos que essa seja a sua vontade. – Não pude deixar de
sorrir. O que eu sempre quis de meu pai, ele finalmente fez. Ele finalmente ficou do meu lado.
– Não acredito que você vai defender essa vagabunda? – ela gritou descontrolada.
–Para de gritar! – interveio mamãe que estava sentada em uma poltrona, visivelmente, abalada. –
Você vai acordar o Luca.
– Luca? Ah! O bastardinho. Agora eu entendi, vocês defendem ela por causa do bastardinho. Por
falar nisso, quem é o pai, Emma? Mais um caso seu com um homem casado?
– Mamma? – Luca apareceu de pijama, só de meia e todo descabelado esfregando os olhos na
entrada da sala. Eu fui ao seu encontro.
– Estou aqui, meu amor! – Peguei–o no colo para tirá-lo daquele ambiente, antes que a fúria de
Nathalie mudasse de foco.
– Quem é ela, mamãe?
– Sou sua tia, querido – disse se aproximando. – Como você é lindo. Que olhos... – Ela ficou
muda olhando para Luca, em um estado catatônico.
Papai chamou Anna, que apareceu e levou Luca para a cozinha.
Nathalie sentou em uma cadeira, estava em choque. Seus olhos se encheram de lágrimas e
começou a chorar. Papai estava confuso com a reação dela, mas eu e mamãe não. Nesse momento,
Matthew entrou na sala, Carlos deve ter visto o carro de Nathalie quando chegamos e o avisado.
– Nathalie? O que aconteceu? – Se ajoelhou ao seu lado.
– Você me traiu – ela falou.
– Não. Eu não te traí – ele respondeu de volta. Mesmo eu tendo pedido aquilo, doía ouvi–lo. –
Vamos pra casa.
– O menino. Ele...
– Shhh... Conversamos em casa. Você já deixou seus pais bem abalados. Tudo bem? – Ele falava
como se estivesse conversando com uma criança. Aquilo estava me causando náuseas.
– Filha vai com seu marido, por favor! – Papai pediu.
–Eu estou tonta, você me carrega? – Aquilo era demais, Matt pegou Nathalie no colo, que se
deitou no seu ombro, e saiu.
Em nenhum momento me olhou, nem me dirigiu a palavra, fui totalmente ignorada. Isso era amor?
Se eu entrasse no mesmo ambiente que ele, eu jamais conseguiria ignorá-lo. Será que Nathalie tinha
razão? Não, era isso que ela queria que eu pensasse. Eu não ia cair na sua armadilha. Mas se
Matthew me enganou? Será que eu realmente fui tão ingênua?
– Emma, me ajude. – Papai segurava mamãe em seus braços, ela havia desmaiado ao tentar se
levantar do sofá.
A levamos para o quarto e chamamos o médico, a enfermeira cuidou dos primeiros socorros e ela
já havia se recuperado quando o doutor chegou. Ele fazia questão de hospitalizá-la, mas mamãe foi
irredutível e não foi para o hospital. Nada do que falamos a fez mudar de ideia. Ficamos o resto do
dia em volta dela, mimando–a e cuidando para que nada a abalasse. Luca a encheu de carinho. Fez
desenhos, trouxe seus brinquedos para o quarto e não quis sair de perto, contou histórias para ela
dormir e cochilou ao seu lado.
Já passavam das vinte e duas horas quando levei Luca para a sua cama, ele dormia
profundamente. Fui para o meu quarto e desabei na cama. Foi um dia tenso. O médico deixou bem
claro que a situação da mamãe era grave e que deveríamos baixá-la para fazer novos exames o
quanto antes. O problema era a teimosia dela.
Olhei para o celular, que havia esquecido no quarto o dia inteiro, nenhuma ligação perdida,
nenhum sinal de Matthew.
Tive uma noite cheia de pesadelos. Em um deles, eu estava na casa da praia, era o dia do meu
casamento. Matthew me esperava na frente da capela. Eu sentia medo, ele me levou até o altar.
Beijou–me na testa e me entregou ao noivo.
– Agora ela é sua – disse.
O noivo era o Greg. Eu saí correndo e Greg corria atrás de mim. Eu ouvia a risada histérica de
Nathalie. No momento em que Greg me alcançou, eu acordei tentando me desvencilhar dele, mas
alguém realmente me segurava.
– Filha, sou eu. – Era papai quem tentava me acordar.
– Pai? Desculpe! Tive um pesadelo. Tudo bem?
– Sua mãe não está muito bem. Estou indo para o hospital, filha. Não podemos mais deixar que
ela decida. Está respirando com dificuldade, a enfermeira a está monitorando, mas eu estou com
medo. Não vou esperar mais.
– Tudo bem, eu vou com você. Vou pedir pra Anna ficar com o Luca, quando amanhecer eu venho
buscá-lo.

~§~

Mamãe não quis ir de ambulância. Ao chegarmos ao hospital, seu médico já nos esperava,
imediatamente começaram com os tratamentos e exames. Eu e papai assistíamos a tudo, impotentes.
Mamãe sorria e dizia que estava tudo bem. Depois de medicada, dormiu. Ficamos no quarto com ela
o resto da noite, apesar de ter uma cama sobressalente para acompanhante, preferimos ficar no sofá,
nenhum dos dois conseguiria dormir depois de tanta angústia. Papai segurava a minha mão, trêmulo.
– Pai, você está bem? – Ele me olhou e lágrimas escorreram dos seus olhos.
– Eu não sei o que será de mim sem ela. Eu amei a sua mãe no exato momento em que coloquei
meus olhos nela. Tão livre, tão cheia de vida. Ela deve ter me achado um cafona, mas foi gentil. Eu
lembro como se fosse hoje. Ela conversava com algumas amigas no parque e eu cheguei para pedir
uma informação. Mentira, eu queria era conversar com ela e inventei que estava perdido e que
precisava chegar a Biblioteca Pública. Eu já te contei essa história?
– Não. – Eu conhecia a história, mas a versão da mamãe, que viu um moço bonito perdido e o
ajudou a ir à Biblioteca, em troca ele lhe deu seu coração. Mas era a primeira vez que ele falava
sobre isso comigo.
– Ela estava linda aquele dia, usava um vestido azul e o cabelo solto. Eu a observava todos os
dias indo para a Faculdade de Belas Artes, ela não me via. Mas naquela quarta–feira ensolarada eu
tomei coragem e a abordei com uma desculpa esfarrapada, mas muito bem ensaiada. Ela, gentilmente,
me levou até a biblioteca, que ficava ao lado da faculdade onde ela estudava. Tive que voltar
correndo depois ou ia me atrasar para o trabalho. Eu já trabalhava no Escritório de Advocacia
naquela época. Fiz isso durante meses. Nas férias daquele ano a pedi em casamento. E agora...eu a
estou perdendo. – Nos abraçamos chorando. Um choro silencioso.

~§~

Mamãe estava mais disposta pela manhã. Os exames apontaram metástase no pulmão, por isso a
dificuldade em respirar. Um, dois meses no máximo, foi o diagnóstico. Papai desabou na cadeira do
consultório médico, eu queria consolá-lo, mas não conseguia, beirava ao desespero. Decidimos não
contar nada para mamãe. Ela ficaria no hospital até terminar todos os exames e se adaptar aos novos
medicamentos. Depois a levaríamos para casa, onde receberia toda atenção e carinho.

~§~

Estava saindo do hospital para buscar Luca quando uma cena na televisão da sala de espera me
chamou a atenção. Era um desses programas de fofocas sobre celebridades e eles exibiam fotos de
Matthew e Nathalie jantando em um restaurante. Embaixo da cena a frase: Em clima de
reconciliação. Aquilo me causou náuseas e eu tive que correr até o banheiro mais próximo para
vomitar.
– Eu não tenho espaço para sofrer por você, Matthew. Eu não vou sofrer, eu não vou pensar em
você. Eu não vou mentir pra mim mesma. Que inferno! Isso dói. – Chorei sozinha num banheiro de
hospital, tristeza e raiva se transformando em uma dor que dilacerava o meu peito. – Calma Emma,
respira. Seus pais precisam de você. Reaja – falei pra mim mesma.
Busquei Luca e quando estávamos saindo de casa, tia Susan chegou. Linda, loira, cheia de vida.
Usava uma calça nude e um blazer da mesma cor, no pescoço um lenço com uma estampa abstrata em
diversos tons de rosa, que a deixavam com um ar jovial.
– Bongiorno, amore mio. – Ela abraçou Luca que havia saído correndo e se jogado em seus
braços.
– Bongiorno, bella – ele respondeu de volta, dando um beijo estalado nas bochechas da tia Su.
– Aonde vocês vão tão cedo assim? – ela perguntou, me abraçando. – Tudo bem, querida?
– Vamos ver a vovó no hospital – Luca respondeu sem rodeios. – Ela está dodói, tia Su.
– Vamos entrar, eu explico lá dentro. Depois podemos ir todos juntos para o hospital e faremos
uma surpresa para a vovó – falei.
Contei tudo para minha tia, ela ficou extremamente abalada, mas por causa de Luca, se controlou.
Só quando chegamos ao hospital e ela reencontrou sua irmã mais velha, a emoção falou mais alto.
Abraços e lágrimas.
– É de felicidade?
– Sim, meu amor.

~§~

Era um domingo de sol. Mamãe estava respondendo bem ao tratamento. Dormiu a maior parte do
dia. À tarde papai levou Luca para brincar na pracinha, que ficava em frente ao hospital. Mamãe e
Tia Susan conversavam e eu fingia ler uma revista. Minha cabeça era um turbilhão de pensamentos.
Alguém entrou no quarto. Levantei meus olhos da revista e encontrei os dele. Automaticamente
meu corpo respondeu a sua presença. Será que algum dia eu conseguiria controlar esse desejo?
– Matthew? – disse tia Susan.
– Olá Susan, como está? Não sabia que havia chegado.
–Estou bem. E Nathalie? Veio com você?
–Pensei que a encontraria aqui. – Ele apertou a mão da minha tia e segurou a mão de mamãe. –
Como você está Mary Anne? Fui visitá-los e Albert me contou que estavam aqui.
– Melhor, querido. Foi exagero da Emma e do Robert me trazerem para o hospital. Logo estarei
em casa.
– Fico feliz. – Ele se virou pra mim. – Tudo bem, Emm?
– Tudo bem, Matthew. – O tom da minha voz deixou bem claro que não estava nada bem. – Vou
descer e ver como papai está se saindo com Luca. – Sai sem olhar pra ele, mas senti seu olhar me
acompanhando. Precisava me afastar.
~§~

Fiquei algum tempo observando papai e Luca na pracinha. Do lugar onde eu estava conseguia ver
a porta principal do hospital e Matt não havia saído por ali, ainda. Decidi caminhar, não queria fazer
cena de ciúmes, achava isso ridículo, mas eu estava com muito ciúme.
Andei algumas quadras, já era noite e a zona onde me encontrava era um aglomerado de bares,
pubs e cafeterias que começavam a receber seu público noturno. Achei melhor voltar ao hospital,
Matt já devia ter ido embora, não tinha tanto assunto assim com mamãe e tia Susan. Estava
caminhando de volta quando fui agarrada pelo braço e carregada para um beco escuro. Ia começar a
gritar quando senti o seu perfume.
–Por que você sempre foge de mim? – ele sussurrou mordendo a minha orelha. Seus dedos
começaram a abrir os botões da minha camisa, as mordidas desceram para o pescoço.
–Nós não podemos – sussurrei, já ofegante.
–Por que não?
–Estamos na rua.
–Isso não te excita? – Sua língua entrou no decote do meu sutiã meia – taça e encontrou o meu
mamilo.
–Excita.
Ele baixou o sutiã e sua boca devorou meu seio. Suas mãos foram para o cós da minha calça
jeans e abriram o botão e o fecho. Ele me virou de costas, seus dedos encontraram o meu sexo, ele
sabia como me submeter aos seus desejos. Ia me possuir quando desejasse, eu não conseguia resistir.
Eu escutava as pessoas passando na entrada do beco, risos, conversas, carros indo e vindo. Tudo
contribuía para deixar a situação mais quente. Aquelas carícias estavam me enlouquecendo.
Ele desceu a minha calça e a calcinha até os joelhos, deixando as minhas pernas presas, me
segurou pelo quadril, me puxando para trás e me inclinando até minha vagina ficar totalmente
exposta, pronta para servi–lo. Ele enfiou um dedo e sussurrou:
– Saborosa – E meteu seu pênis duro para dentro, uma, duas, três, quatro vezes, até eu perder as
contas daquele vai e vem delicioso. Eu estava com as mãos espalmadas na parede de tijolos, a blusa
aberta, os cabelos caindo no rosto, o corpo sendo puxado pra trás e empurrado pra frente. Se eu
achei que no elevador foi selvagem, o que era aquilo, então? Não estávamos fazendo amor,
estávamos trepando. E era tão gostoso quanto fazer amor. Tudo era sensação, ele não era carinhoso,
Matthew me possuía com força, me deixando excitada a ponto de não me importar se alguém nos
observasse, aliás essa expectativa só aumentava mais a excitação. Me sentia ousada, segurei meu
seio e comecei a acariciar o meu mamilo, me tocava sem pudor, aumentando a sensação de prazer. As
contrações que antecediam o clímax começaram, seu pênis foi envolvido pelo meu orgasmo e ele
gozou soltando um grunhido e cravando suas unhas no meu quadril.

~§~

–Vem dormir comigo essa noite? – me perguntou, enquanto abotoava a minha camisa. – Sua mãe
está bem acompanhada e podemos levar nosso filho junto. Precisamos conversar.
– E Nathalie?
– Eu não sei da Nathalie, já te falei que estamos separados – respondeu irritado.
– Mas eu vi vocês num restaurante.
– Eu jantei com ela para acertar o comunicado oficial do nosso divórcio. Só isso. É você que eu
quero, é você que eu amo. Quando você vai acreditar em mim?
– Eu tento. Mas às vezes você me ignora como se eu não existisse e depois faz declarações de
amor?
– Emma, eu faço um esforço sobrenatural pra não te tocar em público. Eu não conseguiria me
segurar se roçasse a pele em você, você é meu ponto fraco. Eu controlo empresas, faço fusões,
negociações milionárias, negócio com os maiores CEOs do mundo. Mas fraquejo diante de você. E
eu fico esperando você vir atrás de mim, eu fico esperando você demonstrar que sente o mesmo. Que
sua vida não faz sentido se eu não fizer parte dela, mas você não vem. Você me deixa inseguro e isso
é frustrante. Eu não vivo sem você, Emm. Minha vida só faz sentido se eu sentir sua pele na minha,
seu gosto na minha boca, seu cheiro no meu corpo. Fica comigo essa noite?
– Sim. – Ele me beijou segurando o meu rosto entre suas mãos. As minhas foram para dentro do
casaco do paletó e contornaram seu tórax. Seus músculos se contraíram ao meu toque e uma nova
onda de desejo tomou conta de mim. Ele se afastou, ofegante.
–Vamos, antes que eu faça outra loucura.

~§~

Subi o elevador até o terceiro andar, onde mamãe estava internada. Matthew teve que atender uma
ligação e não veio comigo. Quando cheguei à recepção, uma sensação de pânico me atingiu, havia
alguma coisa errada. Papai estava sentado com a cabeça abaixada, chorando. Tia Susan o consolava.
Onde estava Luca?
– O que houve? – perguntei num fio de voz, me ajoelhando na frente deles.
– Sua mãe, querida. Ela passou mal, nos tiraram do quarto. Foi uma parada respiratória. Agora
eles estão fazendo os procedimentos. Mas foi horrível! Pensamos que a tínhamos perdido. –
Lágrimas escorriam na face da minha tia enquanto ela falava.
– Depois de tudo o que passamos, a cirurgia, as sessões de quimioterapia, pela primeira vez eu
senti que ela estava partindo, pela primeira vez senti medo de perdê-la para sempre. Papai não
levantava o rosto, falava entre soluços. Eu o abracei e não contive as lágrimas. Ficamos assim algum
tempo, até que um barulho de porta se abrindo fez meu pai levantar de supetão. Era uma enfermeira
que saia apressada do quarto da mamãe. Papai tentou perguntar algo, mas ela se antecipou:
– Estamos fazendo o possível, senhor. Agora, com licença.
Tia Susan levou papai até a janela e começou a conversar com ele sobre estarmos no melhor
hospital, cheio de recursos, tudo ia ficar bem e outras ladainhas que se diz nessas horas.
– Onde está meu filho? – Desde que chegamos não havia visto Luca, sabia que estava bem, mas
precisava saber onde.
– Anna e Albert estavam aqui quando tudo aconteceu, pedimos para eles levarem Luca para casa,
ele estava sonolento. Não fazia sentido mantê-lo aqui. – me esclareceu tia Susan.
– O que aconteceu? – A voz de Matthew nas minhas costas me fez virar e correr para abraçá-lo,
não pensei nas consequências do meu ato, só queria ser consolada por ele, queria que ele acalmasse
a dor que eu sentia no peito. Ele me abraçou forte – O que houve, meu amor? – sussurrou no meu
ouvido.
– Mamãe. – Foi só o que eu consegui dizer e desabei chorando em seus braços. Ele me levou até
um sofá, sentou e eu sentei ao seu lado, me envolveu em seus braços e me beijou na testa. Eu deitei
em seu peito e chorei escutando as batidas do seu coração.
– Tudo bem, Emma? – Era tia Susan, Matthew não me soltou, não fez nenhum movimento para
isso. Eu levantei meus olhos inchados e respondi que sim. Continuei onde estava, explicações
ficariam para depois, naquele momento era ali que eu desejava estar e era ali que eu ficaria.
O médico saiu da sala com alguns enfermeiros, papai foi ao encontro deles assim como eu, tia
Susan e Matthew.
– O quadro já está estabilizado, ela ainda está respirando com a ajuda de aparelhos, mas acredito
que amanhã já poderemos retirá-los. Estamos fazendo alguns exames para ver o que causou a parada
respiratória, se foi a doença ou alguma reação a medicação. É melhor vocês descansarem, vou
autorizar apenas um acompanhante, ela precisa de silêncio e paz para se recuperar. Vocês podem
entrar, mas sem fazer barulho.

~§~

Passei a noite no hospital, tia Susan foi para casa ficar com Luca, papai ficou no quarto como
acompanhante e eu e Matthew ficamos na sala de espera daquele andar, que ficava localizada em
frente ao quarto de mamãe. Não conversamos muito, eu deitei no seu colo e dormi, acordei diversas
vezes durante a noite, assustada, como se algo ruim fosse acontecer a qualquer momento. Matthew me
acalmava com palavras doces e beijos carinhosos.
Pela manhã, papai saiu do quarto para tomar café, Matt foi com ele e eu fiquei com mamãe. Ela
estava serena, apesar de assustar ver aqueles aparelhos todos ligados a ela. Peguei na sua mão e ela
abriu os olhos. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto.
– Eu te amo! – sussurrei.
O médico entrou no quarto e solicitou que eu me retirasse. Iria examiná-la. Fiquei em pé do lado
de fora da sala, me sentindo impotente.
– Mamma! – Luca correu até os meus braços e pulou no meu colo.
– Não consegui convencê-lo a ficar em casa, só falava que a vovó precisava dele para ficar
melhor. Você sabe que eu não resisto a esse nosso italianinho.
– Tudo bem, tia. – Nesse momento Matthew e papai voltaram, Luca desceu do meu colo e correu
até eles, Matthew o pegou no colo.
– Quando vamos pilotar seu avião, tio Matt?
– Logo. Vamos esperar a vovó melhorar e depois eu, você e sua mãe vamos viajar para um lugar
bem bonito e você será o nosso piloto. – Luca o abraçou no pescoço e Matthew o beijou na cabeça.
Tia Susan olhava a cena com curiosidade, papai se aproximou de mim.
– Por que você está aqui fora? Quem está com a sua mãe?
– Os médicos a estão examinando e pediram para que eu me retirasse. Vai dar tudo certo papai,
ela acordou enquanto eu estava lá. Tenho certeza que os médicos nos darão boas notícias.
Ficamos ali, esperando. Matthew e tia Susan insistiam para que eu comesse alguma coisa, mas eu
não queria sair enquanto não tivesse notícias de mamãe e só de pensar em colocar algo no estômago
me dava um mal-estar.
O médico e sua equipe demoraram mais do que imaginávamos com mamãe. Quando saíram o
doutor liberou nossa entrada, para nossa surpresa, mamãe estava bem. Papai se aproximou dela e
monopolizou sua atenção. Eu e tia Susan olhávamos os dois com um sorriso nos lábios, pareciam
jovens namorados. Declarações de amor e beijos na testa, tudo tão puro e ao mesmo tempo tão
intenso. Mamãe queria ver Luca, que havia ficado com Matthew na outra sala. Tia Susan foi chamá-
los.
– Nossa, dois homens bonitos me visitando. – Luca entrou correndo e Matthew o segurou para que
não pulasse na cama de mamãe.
– Deixa, Matthew. Vem cá, meu querido! – Mamãe falou batendo com a mão no lado da cama,
oposto ao do soro conectado a sua mão esquerda e por onde era injetada a medicação. Ele deitou ao
lado dela e cochichou algo no seu ouvido. Ela soltou uma gargalhada fraca. – Claro que você é mais
bonito que ele, a vovó estava só brincando.
– Emm! – Matt se aproximou parando de frente pra mim. – Você precisa comer alguma coisa. Sua
mãe está bem, vem comigo, vamos até a minha casa, você toma um banho, come algo. – Ia responder
que não, mas alguém respondeu por mim.
– Vá, filha. Nós ficamos com Luca, só ele consegue deixar sua mãe assim. – Todos olhamos para
a cama e os dois conversavam e davam risada. – Vá com Matt, descansa.
– Tudo bem, eu vou.

~§~

Depois de um banho de banheira a dois, me sentei no sofá da sala com uma xícara de café na mão,
vestia um roupão branco. Era uma segunda–feira cinza, as nuvens eram escuras e anunciavam um
temporal iminente. Matthew apareceu na sala vestindo uma calça social preta, sapatos pretos e uma
camisa branca, o problema era que a camisa estava na sua mão, ele ainda não a havia vestido.
Lembrei do que fizemos no beco a noite passada e desejei ardentemente repetir aquilo.
– Como você está? – perguntou se abaixando na minha frente.
– Sedenta por você. – Larguei a xícara na guarda do sofá e me inclinei beijando–o na boca. – Eu
preciso de você, agora. – Minhas mãos desceram para o cós da sua calça, ele retraiu o abdômen e ela
encontrou o caminho aberto até o seu membro. – Dentro de mim.
Ele se levantou e ficou nu, os músculos das coxas bem desenhados, me deixaram com vontade de
mordê–las e foi o que eu fiz, me ajoelhei no sofá e comecei a morder suas coxas, fui até seus
testículos e passei minha língua para senti–los, depois mordisquei sua pele, ele enfiou seus dedos nos
meus cabelos úmidos, minha língua explorou todo o seu comprimento, tocava seus vasos dilatados,
sentia sua pulsação, saboreava seu gosto. Meus lábios beijaram a cabeça do seu membro, passei a
língua em volta dele e depois o engoli, desci vagarosamente até senti–lo na entrada da minha
garganta, era grande demais para ir até o fim, subi e desci sucessivamente.
– Vem cá – ele me chamou. Obedeci e me levantei, ficamos cara a cara, seu olhar era de desejo,
eu mordi meu lábio inferior enquanto ele tirava o roupão que eu vestia e o jogava no chão. – Vira. –
Me virei. Ele passou as mãos nas minhas costas descendo até a minha bunda.
– Eu vou penetrar você aqui. – Ele passou o seu pênis na minha pequena abertura. Eu estremeci,
segurei o encosto do sofá com as duas mãos. – Você deixa? – Eu desejava aquilo tanto quanto ele,
mas o medo do desconhecido me deixou tensa. – Eu não vou te machucar, prometo.
– Sim. – Olhei para trás procurando a sua boca, ele me beijou ardentemente, suas mãos agarraram
meus seios e seus dedos começaram a provocar meus mamilos, ele parava de me beijar e se
distanciava alguns centímetros, apenas olhando para meus lábios, depois me devorava, metia sua
língua com força, num beijo mais violento. Sua mão desceu para minha vagina e ele meteu seus dedos
para dentro dela, deixando o meu clitóris desejando o seu toque. Com a outra mão, ele começou a
fazer carícias naquele lugar que logo o receberia, seu dedo fazia movimentos circulares e ele o
penetrava devagar, cada vez mais fundo, centímetro por centímetro, abrindo espaço dentro do meu
corpo. Aquelas carícias se prolongaram, eu gemia de prazer com as sensações que estava
experimentando pela primeira vez. Dois dedos.
– Matthew – eu gemi o seu nome.
– O que foi, meu amor? – Eu me joguei para trás, sentia uma leve dor que era suprimida pelo
prazer de ter o meu corpo invadido por ele.
– Eu quero ser sua, me possua, me deixa sentir o seu membro entrando em mim. – Ele se afastou,
eu estava quase atingindo o orgasmo, quando Matthew tirou seus dedos de dentro de mim. Eu ia
protestar quando ouvi o barulho da embalagem se rasgar, ele estava colocando uma camisinha. Olhei
pra trás Matthew passava um gel lubrificante, ele me olhou. Não imaginei que desejá-lo mais fosse
possível, mas era.
Ele penetrou devagar, apenas a ponta do seu membro, seus dedos voltaram para o meu clitóris, eu
coloquei minha mão em cima da dele enquanto ele me tocava. Ele mordeu o meu ombro e avançou
mais alguns centímetros. Carícias, toques, beijos, lambidas e ele foi penetrando vagarosamente, me
preenchendo por completo. Então, começou a se movimentar devagar.
– Deliciosa. – ele sussurrou no momento que eu atingi o orgasmo e as contrações das paredes da
minha vagina se misturaram com o movimento dele dentro de mim, provocando uma estranha
sensação de prazer. Matthew voltou a meter seus dedos dentro da minha vagina, agora por trás. Eu
sentia sua dupla penetração, aquilo me levou a um nível de excitação que me fez gritar. Ele continuou
sincronizando os movimentos. Até uma nova onda de prazer me atingir. Mais algumas estocadas e ele
gemeu alto e gozou.
Ficamos deitados, eu de costas pra ele, ele me abraçando por trás, nus, no sofá até recuperarmos
o fôlego.
– Tudo bem? Eu não te machuquei? Eu tentei me controlar, mas você me deixa louco de desejo. –
me virei de frente pra ele.
– Você já estava preparado pra isso. Você não vai para o escritório carregando camisinha e
lubrificante no bolso da sua calça? Ou vai? – Ele deu um sorriso malicioso.
– Depois do nosso último encontro nesse sofá, confesso que me preparei, na expectativa que
houvesse uma próxima oportunidade. E dessa vez, eu não ia deixar você escapar – pronunciou a
última palavra me beijando carinhosamente. – Vem, vamos voltar pra banheira.
Senti uma leve dor durante o restante do dia, mas quando lembrava o que a causou, ficava
excitada, então era melhor não pensar nisso.

~§~

Matthew me deixou no hospital e foi para uma reunião de negócios que não pôde adiar. Alguns
executivos indianos haviam viajado apenas para se encontrar com ele e fechar algum negócio
mirabolante. Fiquei com mamãe até anoitecer, por ordens médicas apenas uma pessoa poderia
acompanhá-la à noite. Tia Susan quis ficar, convencendo papai que era melhor ele descansar, pois no
estado de cansaço que se encontrava, mamãe poderia gritar, que ele não acordaria.
Em casa, coloquei Luca na cama e fui para o meu quarto. Papai deitou e dormiu assim que
chegamos. Já passava das vinte e três horas, eu estava deitada pensando na reviravolta que fez a
minha vida nesses últimos dias, quando o meu celular tocou, era Matthew.
– Oi, você está no hospital? Estou indo ficar com você. Tudo bem?
– Não estou no hospital, estou em casa. Mamãe está bem. Mas os médicos acharam melhor
restringir o número de pessoas no quarto para ela não se cansar. E você? Por onde andou o restante
do dia? – Pensei que ele iria aparecer mais cedo.
– A reunião se estendeu até tarde. Depois fui jantar com os executivos da Multinacional. Só agora
me livrei deles. Queria passar a noite com você, nem que fosse sentado no banco de um hospital.
– Eu também, mas agora é tarde, estou com papai e Luca e amanhã cedo iremos para o hospital. –
Respirei fundo e fiz a pergunta que não queria fazer. – Matt, você sabe da Nathalie?
– Já te falei que não a vejo desde aquele maldito jantar.
– Não é isso. – Não é só isso. – É que ela não foi ver mamãe ainda. E mesmo sem comentar nada,
sabemos que mamãe está muito triste com isso.
– Amanhã eu vejo o que posso fazer para encontrá-la. Ok?
– Ok. – Ficou um silêncio do outro lado da linha.
– Emm... vem passar a noite comigo? Eu preciso de você aqui. – Eu também precisava dele, Meu
Deus, como eu precisava dele, mas essa noite eu havia me comprometido com papai, ficaria alerta
para qualquer notícia que pudesse vir do hospital, ele estava exausto e tinha medo de não escutar o
celular tocar, e também, eu não queria passar mais uma noite longe de Luca, ele sempre viria em
primeiro lugar.
– Não posso... – Ia me explicar, mas ele me interrompeu.
– Tudo bem! – E desligou o telefone, fiquei um tempo olhando para o aparelho tentando entender
o que significava aquela atitude. Por que ele desligou o telefone e não deixou eu me explicar? Será
que ele imaginava que eu estaria sempre disponível e era só chamar que eu iria correndo? Pois
estava muito enganado. Eu tinha prioridades na minha vida e ele não era uma delas. Ele era. Quem eu
estava enganando? Pensei em ligar de volta, me explicar, mas o meu orgulho falou mais alto. Eu não
estava fazendo nada de errado, estava cuidando da minha família e ele tinha que entender isso.
Não conseguia dormir, já passava da meia noite, a ligação de Matthew despertou um lado meu
que eu desconhecia. Um ciúme doentio tomou conta da minha mente. Imaginava ele procurando outra
companhia para passar a noite, uma loira estonteante ou talvez Nathalie. Afundei o rosto no
travesseiro tentando sufocar esses pensamentos. Meu celular voltou a tocar. Será que aconteceu
alguma coisa com mamãe? Foi meu primeiro pensamento, até ler o nome dele no visor.
– Oi...
– Desce e vem abrir a porta pra mim.
– Você é maluco? – Comecei a falar pulando da cama e correndo até as escadas.
– Maluco por você. Vem logo que está frio aqui fora. – Meu coração dava pulos, parecia uma
adolescente que ia receber o namorado no quarto, escondido dos pais. Abri a porta, ele entrou. Vestia
uma camiseta branca, uma jaqueta de couro preta e calça jeans. Poderia passar por um cantor de
Rock, estava longe de parecer o executivo que era. Ele me olhou da cabeça aos pés e sorriu torto, só
então me dei conta que vestia uma camisa branca com botões na frente, igual à que havia usado na
nossa primeira vez.
– Oi. – Ele sussurrou, suas mãos pegaram meu rosto e ele me beijou. Como eu gostava daquilo,
como eu amava aquele jeito dele me beijar.
– Vem comigo! – Peguei sua mão e subimos as escadas em silêncio, fechei a porta do quarto, ele
sentou na cama tirando a jaqueta. – Olhou em volta examinando o meu quarto, os móveis eram os
mesmos de quando eu era adolescente, diferente da casa da praia, mamãe não havia modificado nada,
quando voltei não quis mexer, só troquei a cama, por uma de casal. Excelente decisão!
Parei na sua frente e suas mãos foram para o meu quadril, só que por baixo da camisa. Ele tirou
minha calcinha e eu sentei no seu colo, ele me abraçou, suas mãos passeavam pelas minhas costas me
causando arrepios.
– Você achou que eu ia passar a noite longe de você? – Sua mão agarrou o meu seio e o apertou,
ele mordeu por cima do tecido. Comecei a desabotoar a camisa. – Não, fica com ela. – Me deitou na
cama e continuou mordendo meus seios por cima da roupa, puxando o tecido com os dentes depois de
tocar minha pele. Desceu até o meu umbigo e seus lábios desenharam um caminho até o meu sexo.
Abriu minhas pernas e me penetrou com sua língua, lambendo meus lábios, meu clitóris, me deixou à
beira da loucura e depois se afastou. Abriu o fecho da calça, segurou seu membro com a mão. – Vem.
– Obedeci, eu sempre obedecia.
Ele estava sentado em cima da cama e eu sentei no colo dele, de frente pra ele. Deixando o seu
membro invadir o meu corpo. Comecei a me movimentar lentamente. Observava a reação dele a cada
movimento, a respiração ofegante, os olhos que se fechavam toda vez que eu descia e ele me
preenchia, a língua que umedecia os lábios secos por causa da respiração, a boca que se abria num
gemido silencioso. Ele era lindo.
Suas mãos estavam no meu quadril, ele levou o seu polegar até o ponto onde nos encontrávamos
e me tocou.
– Matthew, não. –Mas já era tarde demais. Ondas de calor, tremores, contrações e eu atingi o
orgasmo. Ele continuou me tocando eu continuei me movendo e aquela sensação de prazer não tinha
fim. Quando parecia que ia acalmar uma nova onda começava, um atrás do outro. – Matt?
– O quê?
– Isso é loucura. Eu vou gozar de novo. – E outra onda de prazer me fez gemer, meu corpo tremia
involuntariamente. Passei meus braços em volta do seu pescoço e comecei a me movimentar mais
rápido, subia deixando apenas a ponta do seu membro dentro de mim e descia rapidamente. – Olha
como nos encaixamos perfeitamente. – Ele sorriu.
– Deliciosa – disse e me puxou com força de encontro ao seu corpo, uma, duas, três vezes até eu
sentir um líquido quente dentro de mim.

~§~

Deitei no seu peito, ele estava nu, e eu ainda vestia a camisa, apenas a camisa. Ele havia me
proporcionado orgasmos múltiplos que me deixaram exausta. Mas não queria dormir. Queria
aproveitar cada minuto com ele.
– Emm, precisamos conversar sobre algo que aconteceu hoje.
– O que foi? – Escorei meu queixo no seu peito e olhei dentro dos seus olhos.
– Quando fui tomar café com seu pai, ele me perguntou o que estava acontecendo entre nós dois. –
Meu coração acelerou, era lógico que papai notou nossa intimidade, mas não esperava que ele fosse
tão direto. Ele devia estar me odiando.
– E o que você respondeu?
– A verdade. Que eu te amo. Que você é a mulher da minha vida. Que eu vou me casar com você.
–Mentiroso. Você não falaria isso. Você ainda está casado com Nathalie, pelo menos para meus
pais.
– Ele sabe do divórcio.
– O quê? – Por essa eu não esperava. – Como?
– Nathalie procurou um dos advogados do escritório que o seu pai é sócio. Queria uma segunda
opinião sobre a divisão de bens. O serviço é sigiloso, mas não para os sócios e seu pai ainda
assessora em muitos casos e numa dessas assessorias encontrou alguns registros sobre o nosso
divórcio, ligou alguns fatos e tirou suas conclusões. Ele disse que esperou durante meses que
anunciássemos a separação publicamente, tentou arrancar alguma coisa de Nathalie, mas não
conseguiu. Notou que não morávamos mais juntos e só aparecíamos em datas comemorativas, sempre
em carros separados e mal conversávamos. Como não falamos nada, ele achou melhor fingir que
estava tudo igual e ver até onde a nossa farsa iria.
–E mamãe? Ela sabe?
– Sim, seu pai contou a ela, isso tudo foi antes da doença aparecer, Mary Anne tentou conversar
com Nathalie, mas ela negou tudo. Continuou fantasiando que tudo estava bem, e eu cumprindo o meu
papel, que era concordar com as mentiras que ela inventava. Viagens a dois que nunca aconteceram,
jantares românticos, declarações de amor. Nathalie fantasiou nesses últimos anos um casamento
perfeito e vendeu essa fantasia para a mídia. O meu erro foi ser conivente com isso.
– Você contou pra ele sobre nós?
– Só a parte que eu te amo. E que vou fazer de tudo para que isso dê certo. E que vamos nos casar.
–O quê?
–Você quer casar comigo, Emma Rochester?
– Se eu quero casar com você? Viver o resto da vida ao seu lado? Acordar nos seus braços?
Dormir com você entre as minhas pernas? Ser sua, oficialmente? Sim, sim, sim, sim. – Beijei aquela
boca que seria minha de papel passado e me entreguei, outra vez, ao meu futuro marido.
CAPÍTULO TREZE

Era sexta–feira, tive Matthew na minha cama todas as noites daquela semana, ele chegava depois
da meia–noite e saia antes do amanhecer. Papai e tia Susan se revezavam à noite no hospital, eu
ficava durante o dia. Matthew vinha ficar comigo sempre que possível, às vezes trazia sua tablet e
trabalhava sentado na sala de espera, nessas ocasiões as enfermeiras eram exageradamente
prestativas e se esmeravam para chamar a atenção dele, com suspiros, sorrisinhos, as mais ousadas
perguntavam se ele desejava alguma coisa. Ele parecia alheio a todo aquele assédio, compenetrado
em seu trabalho ou em mim. Outros dias ele ficava com Luca. Jogavam futebol no parque, iam à
pracinha, estavam cada dia mais unidos. Tia Susan não me perguntou nada sobre Matthew, mas disse
que estaria sempre ao meu lado.
Nathalie não havia aparecido.
O estado de saúde de mamãe apresentava melhora, mais alguns dias e poderia voltar para casa.
Sabíamos que a situação era irreversível, mas queríamos que ela tivesse momentos tranquilos e
felizes nos próximos meses.
Tia Susan foi para casa descansar e traria Luca mais tarde. O ambiente hospitalar não era o mais
saudável para ele, temia que no percurso até o quarto da mamãe ele visse algo que poderia deixá-lo
impressionado, então resolvi reduzir seu tempo de permanência ali, sempre que possível ficava aos
cuidados de Albert e Anna.
Já passava das quinze horas quando liguei para casa, tia Susan deveria ter chegado logo após o
meio-dia. Almoçaria com Luca e depois viriam para o hospital. Conhecendo minha tia imaginei, num
primeiro momento, que tinham se entretido com algo e perdido a hora, mas agora uma sensação de
angústia apertava o meu peito, havia algo errado. Liguei pela terceira vez e ela, finalmente, atendeu.
Estava no corredor do hospital, não queria preocupar mamãe com as minhas neuras.
– Emma? – A voz era angustiada, eu a conhecia muito bem para perceber o medo só ao pronunciar
o meu nome.
– Tia, o que aconteceu? Luca está bem?
– Querida, Nathalie esteve aqui. Eu estava dormindo, Anna a recebeu. Ela disse que você pediu
para buscar o Luca e levá-lo para ver Mary Anne. Anna agiu de boa fé e deixou-a levar o nosso
menino. Sei que ela não foi pra aí. Liguei para falar com seu pai e depois liguei para o Matthew que
a está procurando por todos os lugares. Foi ele que pediu para eu não te avisar, disse que resolveria
tudo antes que você desconfiasse que algo estava errado, mas ele se enganou. Ele não a encontra em
lugar nenhum. – Perdi o chão, minhas pernas fraquejaram e a dor no peito me sufocou.
– Que horas? – Foi só o que eu consegui dizer, sentei em um banco e comecei a chorar, não
conseguia falar mais nada. Meu Luca, ela levou meu Luca. O que ela queria com meu filho? O que ela
ia fazer com o meu bebê?
– Que horas ela o levou? Às nove horas da manhã. Desculpa, querida. Eu deveria ter cuidado
dele. A culpa é minha. – Não consegui dizer o contrário, naquele momento, culparia o mundo se algo
acontecesse com o meu Luca. Me culpava, culpava Anna, Albert, Susan e Matthew que havia me
escondido o desaparecimento do nosso filho.
– Eu vou ligar para o Matthew, tia. – Desliguei o telefone ouvindo os seus soluços do outro lado
da linha. Liguei para o celular dele.
– Oi. – Ele atendeu, eu fiquei em silêncio, tentava engolir a raiva, que tomava conta de mim, para
conseguir falar. – Emma, tudo bem?
– Tudo bem? – gritei. – Está tudo bem, Matthew? Você por acaso encontrou a louca da sua
mulher? Você encontrou o meu filho? – Estava histérica, gritava no telefone, comecei a caminhar
pelos corredores do hospital.
– Emma, se acalme. Vamos encontrá-los. Nathalie não faria mal ao Luca. Ela só está tentando
assustá-la. Não faça o jogo dela.
– Ficar calma? Você quer que eu fique calma, sabendo que uma desequilibrada está com o meu
filho? Eu quero o meu filho, eu quero o meu Luca. Por favor, eu quero o meu filho... – Cai ajoelhada
no chão do hospital, enfermeiras correram para me atender, sentia náuseas, não conseguia respirar,
uma dor dilacerante rasgou o meu ventre e tudo escureceu.

~§~

Ouvi vozes, não conseguia abrir meus olhos, me sentia fraca, sonolenta, tentei falar, mas meus
lábios não se moveram. Ouvi a voz de Matthew, de papai e de uma mulher desconhecida.
– Ela tem que ficar de repouso (...), conseguimos conter a hemorragia com os (...), mas não(...) se
o bebê está bem. (...) poucas semanas e tudo vai depender das próximas horas. Então é crucial (...) o
mais tranquila possível. – Meu bebê, meu Luca. Lembrei–me da primeira vez que nossos olhos se
encontraram, logo após o parto, a enfermeira o colocou ao meu lado e ele me olhou. Naquele
momento eu o amei, naquele momento eu percebi que não conseguiria mais viver sem ele. Luca, onde
está o meu Luca? Por que eles estão falando que não sabem se ele está bem? Uma tontura. Tudo
voltou a escurecer.

~§~

Tia Susan segurava a minha mão, estava sentada ao lado da cama, uma agulha fincada na minha
mão injetava soro.
– Luca. – Consegui murmurar. Ela me olhou, seus olhos vermelhos de chorar.
–Tudo vai ficar bem, minha querida. Não se preocupe, apenas descanse. – Novamente a
escuridão.
~§~

Acordei com o barulho da campainha do meu celular. Demorei para entender onde eu estava. Um
quarto de hospital. Onde estão minhas roupas? Minha bolsa? O celular? O celular, eu estava falando
ao celular quando desmaiei. De repente tudo fez sentido, como um soco no peito minhas lembranças
voltaram. Luca? Era Luca que eu precisava encontrar. Nathalie havia sequestrado meu filho. Eu
precisava encontrá-lo. O celular voltou a tocar. Estava numa mesinha num canto do quarto, caminhei
arrastando os pés até ele, estava grogue, devem ter me medicado.
– Alô – Minha voz saiu fraca. Uma gargalhada soou do outro lado da linha.
– Minha irmãzinha piranha resolveu atender o telefone. Pensei que havia desistido do seu
bastardinho.
– Nathalie, onde você está? Como está o Luca? Devolve meu filho, por favor.
– Não, Emma. Você me tirou tudo, você roubou a minha vida, agora você vai sentir a mesma
coisa, você vai sentir o que é tirarem de você o que mais ama. Você me tirou o Matthew e eu vou te
tirar o seu filho ou devo dizer o filho do meu marido.
– Nathalie, por favor. Eu faço o que você quiser, eu vou embora, eu volto pra Europa, só não faça
mal ao meu bebê, eu te imploro. – Ela deu outra gargalhada.
– Não seja patética, Emma. Acha que me engana? Você já foi embora outras vezes e sempre volta
pra destruir a minha vida. Agora chega! Quero que fique e sofra junto comigo.
– Nathalie, me deixa falar com Luca. Por favor!
– Não, ele vai te esquecer, vai deixar de te amar, assim como Matthew deixou de me amar. Aliás,
fiquei imaginando se foi aqui que tudo começou? Foi aqui que você foi pra cama com o meu marido?
Quando foi que você resolveu seduzi-lo? Antes ou depois do casamento? Responde? Você foi pra
cama com o meu marido antes do casamento?
– Não, isso é um grande engano. Eu não tenho nada com Matthew. Pergunte a ele. Ele ama você
Nathalie, não a mim. – Precisava mentir para levá-la a crer que havia cometido um erro sequestrando
o meu Luca.
– Mentirosa. Ele pediu para tornar público o nosso divórcio. Ele quer se livrar de mim. E você e
esse bastardo são o motivo. – Ouvi o barulho de uma porta se abrindo. – Da tchau para sua mãezinha.
– Mamma? – A voz de Luca demonstrava que estava chorando, aquilo cortou o meu coração.
– Oi meu amor, você está bem?
– Você vem me buscar mamãe? Eu to com medo? A titia grita comigo, ela tá brava. – Meu peito
parecia que ia explodir, tamanha a dor. – Você vem?
– Eu to indo, logo, logo a mamãe vai estar ai. Te amo!
– Te amo mais.
–Ai, que fofo! Boa noite maninha, preciso tomar algumas providências para transformar a sua
vida num inferno.
–Nathalie... – Ela já havia desligado o telefone.

~§~

Ouvir a voz de Luca foi como injetar adrenalina no meu sangue, precisava agir. Vesti rapidamente
minha roupa, que estava num armário, calça jeans e uma camisete preta. Se alguém me visse, iria
tentar me impedir de ir atrás do meu filho. E eu sabia onde eles estavam. Quando estivesse a caminho
avisaria Matthew. Mas só quando estivesse longe o suficiente para ele não me impedir de encontrar o
Luca. Precisava de um helicóptero e sabia quem poderia me ajudar. Liguei para Trevor.
– Emma? Aconteceu alguma coisa? – Minha voz denunciava a minha angústia e ao me ouvir
Trevor percebeu que algo estava errado. Mas eu não tinha tempo pra explicações.
– Eu preciso da sua ajuda. Você tem o telefone do Nick? Ele ainda tem aquela empresa que faz
traslados de helicóptero?
–Tem, mas seu pai tem amigos que tem helicóptero, você facilmente conseguiria um. Está tudo
bem?
– Não é pra mim. Outra hora eu explico. Me diz o telefone dele, é urgente.
Ele insistiu para que eu contasse o que estava acontecendo, por fim acabou desistindo e me
passando o número do telefone. Liguei para o Nick, amigo dos tempos de Trevor. Acertei encontrar
com ele num heliponto próximo ao hospital, chamei um táxi e saí do quarto tomando cuidado para
não ser vista.

~§~

Estava chegando ao ponto de encontro quando meu telefone começou a tocar. Era Matthew.
– Emma, onde você está? Sua tia voltou para o quarto e não te encontrou, acabou de me ligar
desesperada. Você está bem?
– Não, eu só vou estar bem quando estiver com o meu filho.
– Emma, não faça nenhuma bobagem. Volte para o hospital. Nós estamos procurando o Luca e
vamos encontrá-lo. Meu amor, você precisa ficar de repouso.
– Eu estou indo buscar o nosso filho, Matthew. Eu sei onde ele está. Ele está com medo. Eu
preciso ir até ele. – Controlei o desespero que aquele pensamento provocava.
– Emma, onde você está indo? Como sabe onde ele está?
–Nathalie me ligou. – Desliguei o telefone, não queria dar mais explicações, sabia que se ele
descobrisse meus planos, iria tentar me impedir.
Havíamos chegado ao heliponto e como combinado um helicóptero me aguardava. Assim que
levantamos voo, mandei uma mensagem de texto pra Matthew: “Casa da Praia”.
CAPÍTULO QUATORZE

A viagem demorou mais de uma hora, Nick pilotou o helicóptero até Saline. Quando liguei para
contratar seus serviços, ele não tinha nenhum piloto disponível, mas fez questão de me levar quando
lhe contei que meu filho estava passando o dia com minha irmã e havia ficado doente e eu precisava
buscá-lo urgente.
Ventava muito e caia um forte chuvisqueiro quando aterrissamos na Mansão Rochester. O barulho
das ondas era ensurdecedor. Pedi para Nick me aguardar no helicóptero. Ele insistiu em me
acompanhar, mas o convenci que era melhor eu ir sozinha. Corri o caminho até a casa principal com
dificuldade, as rajadas de vento tocavam a chuva, me cegando.
Havia luzes acesas em vários cômodos da casa. Não iria tocar a companhia para entrar, procurei
alguma porta ou janela aberta, encontrei justamente a janela da biblioteca. Entrei sem fazer barulho,
estava toda molhada, minha camisa grudada no corpo, meu cabelo escorrendo água. Caminhei
silenciosamente, não ouvi sons na casa, precisava encontrar Luca, se conseguisse achá-lo sem ter que
enfrentar Nathalie, seria melhor.
Cheguei até as escadas sem ser vista, subi e comecei a vasculhar todos os cômodos a procura do
meu filho, tremia de frio e um mau pressentimento me perseguia. Onde estaria Luca? Todos os
quartos estavam vazios. Faltava olhar apenas o meu quarto, o quarto onde, provavelmente, Luca foi
concebido.
Tudo estava revirado, roupas jogadas no chão, fotos amassadas, meus diários e livros rasgados,
o espelho quebrado. Mamãe deve ter colocado minhas coisas de volta no quarto depois que parti e
agora estava tudo destruído. Nathalie estava fora de controle. Precisava encontrar meu filho o quanto
antes.
Descia as escadas quando ouvi um choro de criança, era o Luca chorando. O som vinha da Sala
de Jantar. Meu coração acelerou e o desespero foi maior que a cautela, comecei a correr, precisava
encontrar o meu pequenino, precisava fazê-lo parar de chorar, pegá-lo no colo, enchê-lo de beijos,
precisava protegê-lo.
Entrei na sala de jantar, olhei para todos os lados e nada, nenhum sinal dele. Senti náuseas e uma
tontura que me fizeram escorar na guarda de uma cadeira. Respirei fundo. Tinha que me acalmar, se
voltasse a desmaiar, tudo estaria perdido, Nathalie poderia sumir e levar Luca com ela. Comecei a
chorar. Um barulho no canto da sala chamou minha atenção, caminhei em sua direção. Não havia
ninguém, apenas um grande armário, onde eram guardadas as louças e a prataria. Abri as portas que
ficavam na parte de baixo e lá estava ele, encolhidinho num canto, entre bandejas e tabuleiros de
prata, o meu filhinho.
–Mamma? – Ele sussurrou fazendo beicinho.
–Estou aqui, meu amor. – Me abaixei e ele se atirou nos meus braços, chorando baixinho. – Vamos
para casa, vai ficar tudo bem. Não precisa chorar mais, está tudo bem!
– A titia é malvada, eu me escondi dela.
– Você fez bem, meu anjo. Vamos embora antes que ela volte.
Nesse instante a porta da frente se abriu num estrondo.
– Cadê você, seu pestinha? Te procurei por toda a praia, a menos que tenha se afogado ainda está
aqui dentro e quando eu te encontrar você vai se arrepender de ter fugido de mim. – Nathalie gritava,
histérica. Luca estremeceu nos meus braços e se agarrou com força no meu pescoço.
– Shhh... Não se preocupe, a mamãe tá aqui pra te proteger. – Me abaixei em frente à porta do
armário. – Fica aqui só mais um pouquinho que a mamãe vai conversar com a titia. – Ele fez que não
com a cabeça, ainda grudado no meu pescoço. – Você é o homenzinho valente da mamãe. E soube se
cuidar sozinho. Estou tão orgulhosa de você, meu amor. Agora é só mais um pouquinho. A titia está
nervosa e a mamãe vai conversar com ela, pra ela se acalmar. Você não quer ir junto, não é? – Ele fez
que não. – Então fica no seu esconderijo supersecreto, até a mamãe vir te buscar. – Beijei sua
bochecha e ele entrou no armário. Fechei a porta com cuidado e fui ao encontro de Nathalie.
Ela vasculhava a biblioteca, abrindo portas de armários, jogando livros para o ar, estava
totalmente descontrolada.
– Olá, Nathalie. – Fechei a porta atrás de mim, agora nós teríamos uma conversa franca.
– Olha só, temos visita. A piranha da minha irmã resolveu aparecer. – Ela estava irreconhecível,
sua maquiagem estava borrada e escorria pelo rosto por causa da chuva, o cabelo num coque
desgrenhado. As roupas molhadas e amassadas. – A que devo a honra?
– Não se faça de sonsa, Nathalie. Vim buscar meu filho. Vou levá-lo e você nunca mais vai se
aproximar dele.
– Quem gosta de se fazer de sonsa aqui é você, irmãzinha. – Ela começou a fazer uma cena teatral,
mudando o tom da voz. – Oh! A incompreendida da Emma, a coitadinha, tão sofrida, sempre sendo
escorraçada pela família. Tão sozinha e blá, blá, blá. Só esqueceram a parte em que ela seduz
homens casados, trepa com eles e engravida deles.
– Luca é meu filho, só meu. Ele é fruto de um romance com um homem que me abandonou pra
ficar com outra. Um homem que não me escolheu, porque se tivesse me escolhido eu teria feito de
tudo para não perdê-lo. E o que você fez, Nathalie? Responda! O que você fez para que Matthew não
a deixasse?
– O que eu fiz? Foi você que tirou ele de mim.
–Não. Ele escolheu você aquele dia, no hospital. E eu respeitei a escolha e me afastei. Mas
mesmo assim ele te deixou, mesmo assim você conseguiu afastá-lo. Você nunca se perguntou por quê?
– Ela parecia confusa. – Pois eu me perguntei. Quando vi que você afastou todos aqueles que te
amavam, eu me perguntei, por quê? Durante toda a minha vida eu te idolatrei, Nathalie. Você era a
minha irmã mais velha, mais bonita, mais elegante, mais inteligente. Mas você sempre me
espezinhava e mesmo assim, eu te defendia. No começo colocava a culpa na Vovó Edna, mas era
você que fazia fofocas a meu respeito e ela ficava contra mim. Depois foi a vez do papai e,
finalmente, Matthew. Sempre foi você, você os envenenava contra mim e eles me destratavam. Por
que, Nathalie? Eu te amava, fazia todas as suas vontades, me metia em confusões por você, depois
ficava de castigo por levar a culpa. Eu só queria o seu amor, mais nada.
– Ai, quanto drama! Vai chorar? Vai fazer beicinho? Era isso que você fazia quando era pequena e
a mamãe vinha correndo socorrê-la, a única que eu não conseguia enganar com o meu jeitinho doce.
Você era tão boba, Emma, era tão fácil te manipular. Fazia tudo que eu mandava, uma tonta. Quando
você começou a ficar espertinha te apresentei a bebida. Te convidava pra sair só pra te embebedar e
te ver dar vexame. Papai enlouquecia e eu chorava dizendo que você havia me envergonhado na
frente dos meus amigos. Claro que você não sabia disso, estava vomitando em algum canto da casa.
Logo você arrumou seus amigos esquisitos e começou a dar seus vexames sozinha. E eu achei um
novo entretimento, Matthew. Ele era a minha oportunidade de sair da vida sem graça que mamãe nos
impôs, com aquela mania de ter privacidade, de não se expor na mídia, não íamos as festas que
éramos convidadas, não aparecíamos nas colunas sociais. Quando soube que o famoso Matthew
Stone estava na mesma faculdade que eu, não perdi tempo. Ele já figurava como um dos solteiros
mais cobiçados, rico, inteligente e lindo. Tudo o que eu precisava para me libertar da família
Rochester.
–Você simulou um encontro? – Estava pasma com as declarações de Nathalie.
– Eu simulei tudo. Fiz uma pesquisa sobre ele e consegui fechar o perfil da mulher ideal. Foi fácil
conquistá-lo, ele era tão ambicioso quanto eu e viu em mim um bom negócio.
– Você é pior do que eu imaginava,
– Pior, por quê? Por ter sido esperta? Por querer uma vida melhor?
– Você nunca o amou?
– Amor é para os fracos, querida. Eu tinha um acordo com o meu marido e quando senti que esse
acordo estava se desfazendo fiz de tudo pra engravidar, foi quando perdi o meu filho naquele
acidente idiota. – Ela deu uma gargalhada. – Aliás, seu namorado nunca te contou porque ele perdeu
o controle do carro?
– Não.
– Eu estava com a minha mão, digamos assim, num lugar inapropriado. Ele ficou nervoso, tentou
se desvencilhar de mim e perdeu o controle do carro. Bem gostosinho aquele seu namoradinho.
– Você é louca, doente e má.
– Eu sei o que quero e ninguém se mete no meu caminho, muito menos você. A minha separação
foi outro bom negócio. Eu só concordaria sem litígio se o casamento continuasse de fachada. Não
queria perder os privilégios de ser a Senhora Stone.
– Eu me enganei. Você não perdeu o Matthew, ele nunca foi seu.
– Ele foi e vai continuar sendo meu. Você acha que eu não sabia que Matthew tinha outra, mesmo
sendo carinhoso ele estava cada vez mais distante. Era só questão de tempo pra descobrir quem era e
me desfazer do problema. O meu grande erro foi não perceber que essa mulher era você. Mas, nada
que eu não possa resolver agora.
– Nathalie, entenda uma coisa, eu não vou sair da vida das pessoas que amo e Matthew é uma
delas. Eu não vou me afastar da mamãe, do papai, do Luca e muito menos do Matthew. Coloca isso
nessa sua cabecinha doente, eu o amo.
–Isso é o que você pensa. – Nathalie me surpreendeu vindo para cima de mim e colocando as
mãos em volta do meu pescoço. Eu consegui me desvencilhar e a empurrei por cima da mesa, objetos
foram ao chão, ela pegou alguma coisa na mão e voltou a me atacar. Senti algo pontudo rasgando a
minha pele, era uma caneta tinteiro. Ela puxou a caneta e ia me desferir outro golpe. Dessa vez
mirava meu peito, eu tentei me soltar, mas não consegui.
– Nathalie! – Ao ouvir a voz dele, ela segurou a arma no ar, olhou para ele e sorriu. – Me dá isso,
você não precisa machucar a Emma, ela não significa nada para mim. – Mesmo que seja pra salvar a
minha vida, isso já estava virando palhaçada.
– Mesmo, meu amor?
– Sim. Eu vim te buscar, é você que eu quero, vem comigo, vamos embora. – Ela largou a caneta e
correu para os braços de Matthew. Ele a abraçou, passando a mão em seus cabelos e se encaminhou
para a porta da sala. Eu olhei a cena e decidi que dessa vez as coisas seriam do meu jeito.
– Espera! – gritei, indo ao encontro deles. –Isso e pelo que você fez com o meu filho. – Bati com
o punho fechado no rosto de Nathalie, ela cambaleou e caiu para trás. Carlos entrou naquele momento
e a segurou, evitando que fosse ao chão. Que pena! – E isso é pra você parar de dizer que eu não
significo nada pra você. – Puxei o colarinho da camisa dele e invadi a sua boca com a minha língua,
fui correspondida na mesma intensidade. Ele me envolveu em seus braços colando os nossos corpos.
Senti seu corpo reagir à proximidade do meu. Eu o desejava e ele me queria. Nathalie começou a
gritar, chamando Matthew.
– Carlos leve–a daqui! – ordenou, sem tirar os olhos dos meus, havia um sorriso em seus lábios
que refletia no seu olhar. – Você é maluca, sabia?
– Eu sei. Fiz até tratamento, mas resolvi viver essa loucura.
– Você está bem? – De repente seu olhar ficou preocupado, ele afrouxou o abraço e me examinou.
– Sim. – Uma mancha de sangue cobria a manga da minha camisa, onde Nathalie havia me
acertado. – Foi só um corte. Precisamos pegar o Luca.
– Ele está com seu pai. Quando chegamos aqui ele estava a caminho da biblioteca para salvá-la.
Disse que um homem não fica escondido e sim defende a mamãe. Acho que teremos um valentão na
família.
– Ele é a minha vida. – Lágrimas umedeceram meus olhos – E eu estive tão perto de perdê-lo.
– Emma, você precisa voltar para o hospital. Você tem que repousar.
– Eu estou bem, foi só um mal-estar, já estou me sentindo melhor.
– Mas tem alguém que precisa de cuidados. – Ele levantou a minha camisa e colocou a mão no
meu ventre, meu coração acelerou, eu olhei nos olhos dele. – O nosso bebê precisa de atenção.
– Um bebê? Um maninho para o Luca? Nosso filho? – E comecei a chorar, ele me beijou no rosto
secando as lágrimas.
– Ou uma menina linda e teimosa, como a mãe.
Antes de sairmos da biblioteca ele olhou para trás.
–Sempre pensei em voltar aqui com você, mas confesso que na minha imaginação era bem mais
divertido.
EPÍLOGO

Nathalie foi internada em uma Clínica Psiquiátrica, seu estado de saúde só se agravou depois do
que aconteceu na casa da praia. Ela criou um mundo imaginário, onde continuava casada,
frequentando a alta sociedade, festas e figurando nas capas das principais revistas. O que não era
totalmente mentira, pois durante meses foi a principal notícia de revistas, jornais e sites
sensacionalistas, que tentavam descobrir o que levou a ex Senhora Stone à internação. O divórcio foi
apontado como culpado e Matthew era o alvo de toda essa especulação. Ele não se abalou, em
nenhum momento demonstrou estar incomodado com as fofocas. Falou sobre o assunto apenas uma
vez, numa entrevista para uma revista, reconhecida por abordar certos temas com seriedade. Foi
vago na maioria das respostas, mas firme e deixou claro que o divórcio foi consensual e que Nathalie
estava em tratamento por stress, dando um ponto final ao caso. A entrevista foi uma tentativa de
impedir que eu virasse alvo da imprensa, quando nosso casamento fosse anunciado.

~§~

Casamos em janeiro, numa cerimônia simples nos jardins da casa dos meus pais. A escolha do
local foi devido ao estado de saúde da mamãe, que piorava a cada dia. Mas, naquele sábado, ela
estava linda e radiante num esvoaçante vestido azul, feito para a ocasião. Um chapéu da mesma cor
deu um toque romântico ao traje. Ela nunca soube o que aconteceu naquela noite em Saline.
Conversava com Nathalie por telefone, a ligação era feita quando papai ou tia Susan iam visitá-la.
Nathalie era sempre tão superficial em suas conversas que, se mamãe não soubesse da internação,
passaria despercebida.

~§~

Mamãe nos deixou em março, num domingo ensolarado, rodeada de todos que a amavam. Ela
estava fraca, mas mesmo assim sorriu antes de partir. Foi cremada e suas cinzas jogadas no jardim da
casa onde viveu sua vida com papai. Para Luca, a vovó tinha ido para a dimensão das fadas e agora
era uma delas.
Apesar de termos consciência de que sua partida era iminente, perdê-la e ver papai e Luca
sofrendo tornou a dor insuportável. Foi Matthew que nos fez reagir, cobriu–nos de carinho, atenção e
amor.
Papai resolveu voltar a trabalhar no escritório de advocacia, no qual ainda era sócio. Matthew
contratou os seus serviços e o transformou no principal consultor das empresas Stone, agora que
Greg havia sido transferido para a sede japonesa. Papai era um sobrevivente da própria dor. Passava
os fins de semana conosco, visitava Nathalie frequentemente e trabalhava o restante do tempo.
Tia Susan voltou para a Itália, onde seu amore italiano ainda a aguardava e, para surpresa de
todos, resolveu finalmente aceitar o pedido de casamento.
Luca estava tendo um caso de amor incondicional com o seu papai, me trocou por Matthew assim
que contamos que ele era seu verdadeiro pai e Matt estava adorando aquela nova condição.
Transformaram–se em companheiros inseparáveis.

~§~

Mary Anne nasceu em junho, minha linda menina. Cabelo castanho como os meus e olhos azuis
como os do pai. Matthew e Luca babavam com a princesinha da família. Papai se emocionou quando
comunicamos a escolha do nome, mas não poderia ser diferente. Mamãe teria amado aquela pequena,
assim como amou Luca no pouco tempo que estiveram juntos.
Moramos em uma bela casa num condomínio próximo à marina.
Dois anos depois...

Estacionei o carro em frente ao prédio onde ela trabalhava. Precisávamos conversar, as coisas
foram esquisitas hoje no café da manhã e eu não conseguiria trabalhar sem esclarecer o que estava
acontecendo. Emma era intensa em tudo o que fazia e isso, às vezes, me deixava inseguro. Sempre
gostei de controlar, mas com ela tudo era imprevisível. E na última semana algo estava diferente, ela
se irritava com qualquer coisa e tudo se transformava em motivo pra briga, não conseguia imaginar o
que poderia estar acontecendo, mas precisava tirar essa história a limpo.
Subi de elevador até o andar da diretoria. Havia um burburinho de conversas e risadas abafadas
entre as funcionárias enquanto eu passava pelos corredores. Uma ou outra me cumprimentava
baixando os olhos logo em seguida.
– Bom dia Senhor Stone, vou anunciá-lo.
– Não tem necessidade, Julie. Eu sei o caminho. – Entrei na sala onde minha esposa se
encontrava. Linda, num vestido branco justo, cabelo preso num coque no alto da cabeça e os pés
calçando um scarpin preto. Estava sentada examinando alguns papéis, levantou os olhos para ver
quem invadia sua sala e um sorriso se desenhou em seus lábios, me deixando com vontade de prová-
los.
– Aconteceu alguma coisa com as crianças? – falou se levantando e parando em frente à mesa.
– Não, está tudo bem com os nossos filhos. Mas, aconteceu alguma coisa entre nós? O que foi
aquela discussão hoje pela manhã, Emma? Eu não lembro mais nem porque brigamos, mas lembro
que foi você que começou.
– Eu que comecei? Agora a culpa é sempre minha? O Senhor certinho nunca erra? – Ela sabia que
eu detestava quando ela me chamava assim, fazia de propósito para me provocar. Caminhei até onde
ela estava e a segurei pelos braços.
– Não me chame assim, você sabe que eu não gosto.
– Chamar de quê? De Senhor Certinho? – Ela estava me deixando furioso com o seu deboche.
– Eu não vou responder por mim se você continuar com isso.
– Vai fazer o quê? Me impedir de falar?
–Não é uma má ideia. – A beijei com violência, há quanto tempo não a beijava assim? Ela
correspondeu. Minhas mãos procuraram suas coxas e levantei o seu vestido, puxei com força sua
calcinha, arrebentado–a. Abri meu fecho da calça, já estava duro. Ela me provocava isso,
instantaneamente, a penetrei, sem ver se ela já estava pronta pra me receber, mas ela sempre estava,
úmida e quente. Ela me agarrou pelos cabelos se projetando pra frente, me fazendo entrar mais fundo.
Comecei a me movimentar, ela gemia e sussurrava meu nome. Eu amava vê–la assim, entregue ao
prazer. Sem pudor. Levei meu polegar até o seu clitóris e a toquei, ela me encarou, e mordeu o lábio
inferior. Comecei a fazer movimentos circulares e continuei metendo forte pra dentro dela. Ela
semicerrou os olhos, respirava pela boca, ofegante. Ia gozar, conhecia seu corpo e sabia que ele
estava prestes a explodir num orgasmo. E eu queria estar dentro dela, no momento que ela se
entregasse ao prazer, senti-la na sua forma mais selvagem, no seu momento mais delicioso.
– Eu te amo! Eu amo ter você dentro de mim, eu amo o jeito que você me toca. – Não esperava
aquela declaração. Beijei seus lábios e a puxei, atingindo–a mais fundo, ela gemeu e eu não resisti,
derramei o meu gozo dentro dela.

~§~

– Você planejou tudo isso? Me provocou durante essa última semana de propósito. – Ela estava
em pé pegando a calcinha rasgada no chão, eu havia sentado no sofá colorido, que decorava a sua
sala colorida, com a calça aberta e o meu membro duro pronto para continuar a diversão. Ela se
virou, se divertindo com a situação.
– Por que eu faria isso?
– Me responda você.
– Vamos conversar em casa, tenho uma reunião em dez minutos.
– Cancela, você sabe que uma vez com você não é o suficiente, Emma. – Ela me olhou fingindo
estar tomando uma decisão, depois foi até o telefone.
– Julie, cancela minha agenda para hoje à tarde. Eu e o Senhor Stone estamos discutindo uma
fusão entre as nossas empresas e não queremos ser interrompidos.
–Sim, senhora.
Ela abriu o fecho do vestido e o tirou, vestia um corpete branco de renda, sem alça. Pegou algo na
gaveta da mesa e escondeu colocando as mãos para trás, o que ela planejava?
– Por que eu brigaria com você? – perguntou sentando no meu colo, meu pênis deslizou pra dentro
dela. – Para você me procurar no meu trabalho e nós treparmos a tarde inteira no meu escritório? O
senhor tem uma imaginação muito boa, Senhor Stone.
– Aprendi com a melhor. O que você está escondendo aí atrás? –Ela colocou as mãos para frente,
numa uma camisinha, na outra, lubrificante. Eu a puxei para cima, minha boca encontrou a curva do
seu seio e minha língua desceu pelo decote do corpete até o seu mamilo. Sua pele arrepiou ao meu
toque. Minhas mãos apertavam sua bunda macia. Ela virou a cabeça para o lado e eu enxerguei uma
pequena borboleta azul, mordi seu lindo pescoço. Ela gemeu.

FIM

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