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Publicado no Brasil pela 3DEA EDITORA


Edição: Patrícia K. Azevedo
Assist. Produção: Natália Perruchi
Tradução: Alline Salles
Adaptação de Capa no Brasil: Mia Klein
Imagem: www.istockphoto.com/185321120

Nenhuma parte deste livro pode ser usada ou reproduzida de qualquer forma ou por qualquer meio,
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Os personagens e eventos descritos neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas
reais, vivas ou mortas, é mera coincidência e não proposital pela autora.
Todos os direitos estão reservados à 3DEA Editora.
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Sumário
PRÓLOGO
A PROPOSTA DE NEGÓCIO
CAFÉ COM CREME E AÇÚCAR
TOQUES FAMILIARES
FLERTE EM FRANCÊS
XINGANDO NA CAMA
NEGÓCIO FECHADO
CONVERSAS DISTORCIDAS
CAROLINA DO NORTE
BRINCANDO DE MÉDICO
UMA DINÂMICA FRESCA
PROVA DE LUXÚRIA
PODADO
TRANQUILO, SEXY E SEDUTOR
ISSO ACABA AGORA
INDO DEVAGAR
CAFÉ DA MANHÃ DE BANANA
VOANDO DE PRIMEIRA CLASSE
TRAVESSURAS NO AVIÃO
LÍRIOS ORIENTAIS
CORAGEM PARA CONTAR TUDO
DESFILE DE MODA
DOCE LIBERDADE
CONFLITO DE INTERESSE
LUTANDO POR UM FUTURO
CONVENCENDO
NÚMERO DESCONHECIDO
TODOS OS SENTIMENTOS
MARK KINCAID
DA MINHA FAMÍLIA PARA A SUA
REUNIÃO DA FAMÍLIA MERSHANO
A PROPOSTA DE RELACIONAMENTO
EPÍLOGO
PRÓLOGO
Pouco mais de quatro meses antes...

Minha melhor amiga enlouqueceu.


Um contrato para ficar em um reality show de namoro do qual ela nunca
quis participar.
Por dinheiro.
Eu ainda não conseguia acreditar.
Oh, as cláusulas eram claras: fingir namorar “O Príncipe de Nova
Orleans” e recusar sua proposta no último episódio e, então, ele financiaria a
empresa de marketing dela. Um negócio fácil, com certeza, só que exigia que
ela largasse o emprego e meios de sustento por um homem que mal conhecia
com a promessa de que ele seguiria até o fim.
Ok, então o acordo que o advogado dele escreveu era sólido, mas um
bilionário como Evan Mershano poderia facilmente sair dessa. Então, minha
melhor amiga precisaria reconstruir sua vida despedaçada, enquanto ele sairia
ileso.
E, o que era pior, o envolvimento de Sarah Summers com o dito
bilionário havia me apresentado ao primo dele que era extremamente
confiante e sexy-como-um-pecado, que se recusava a sair de meu
apartamento.
— Você. — Apontei um dedo para Will Mershano e semicerrei os olhos.
— Saia da minha cama.
— Sim, senhora. — Ele colocou os pés no chão e levantou seu corpo de
um-e-oitenta-e-poucos de altura e me olhou com um ar divertido. — Não
posso dizer que isso já aconteceu comigo.
— Fico feliz em ser sua primeira.
Me encolhi. Foi a segunda vez que eu disse isso a ele naquela noite. O
maldito tinha me seguido do escritório até em casa depois de aparecer sem
avisar com um contrato com o selo Mershano. Um que Sarah havia pedido
que eu revisasse pessoalmente. Como sua melhor amiga, e a única advogada
que ela conhecia, eu era a escolha óbvia. Mais para meu desgosto.
— Você não deveria, sei lá, ir embora? Há um Hotel Mershano a algumas
quadras.
E o primo dele, o mesmo que fez a proposta a Sarah, era o dono.
— Há, sim, mas é bem mais fácil ficar aqui.
Ele passou por mim para ir à cozinha, onde começou a verificar minha
coleção de vinhos.
— Você não vai ficar aqui.
Se ele descobrisse, estaria morta, e eu realmente não precisava dar motivo
para ele me incomodar. Agora não. Nem nunca.
Will pegou uma garrafa da minha geladeira e olhou o rótulo.
— Não é uma marca ruim.
Ele encontrou o saca-rolhas em uma gaveta e começou a abri-lo sem
permissão.
— Não ouviu uma palavra que acabei de dizer?
Ele abriu um armário para pegar duas taças de vinho. Não sei como as
encontrou na primeira tentativa, mas parecia combinar perfeitamente com sua
personalidade. Ele serviu o vinho como alguém que tem experiência
enquanto eu o encarava em choque.
Quem é esse homem, e por que ele está no meu espaço particular?
Ah, é. Minha melhor amiga o enviou até mim.
Peguei meu celular e comecei a digitar uma mensagem raivosa, quando
uma quantidade generosa de vinho tinto apareceu em minha visão periférica.
— Nota de maçã. Legal — Will murmurou depois de dar um gole na taça
dele. — Prefiro minha reserva particular, mas vai servir para esta noite.
Ele andou descalço até meu sofá e ficou à vontade.
— Você tem dificuldade para ouvir? — perguntei.
Porque isso seria adorável. Ele precisava de algum defeito para depreciar
seu cabelo grosso loiro, a mandíbula perfeita, os ossos altos da maçã e sua
estrutura musculosa.
Ele colocou os pés apoiados na almofada ao se virar para me encarar.
— Então, quais emendas Sarah queria que você fizesse no contrato?
Cruzei os braços.
— É por isso que ainda está aqui? Porque eu acho que foi suficiente ter
supervisionado meu trabalho o dia todo, não acha?
— Prometi ao Evan que iria verificar toda a troca pessoalmente. — Seu
olhar achocolatado dançou por minha blusa, saia lápis e meia-calça. — E levo
muito a sério meu trabalho.
Minha língua doeu por mordê-la muito forte. Conhecia esse bilionário
com excesso de confiança e sexy-como-pecado há menos de doze horas, e
queria matá-lo. Ele arruinou um dia que poderia ter sido perfeito ao aparecer
sem avisar, depois me seguiu para casa como se não pudesse confiar em mim.
— Já assinei o acordo de confidencialidade.
Ele deu de ombros.
— Isso não significa nada para mim. Você ainda poderia violá-lo.
— E arriscar meu emprego? Não, obrigada. — Aquilo poderia ser um
favor para uma amiga, mas ainda prejudicaria minha carreira se eu violasse
qualquer dos termos que a equipe particular de advogados de Evan tivesse
criado. Garrett Wilkinson não era um advogado que eu queria irritar. — Não
preciso de babá, sr. Mershano.
Ele me olhou por cima de sua taça.
— Oh, sei muito bem do que precisa, srta. Dawson.
Peguei a taça de cristal do balcão e dei um gole saudável do vinho. Foi
como o paraíso contra minha garganta e me ajudou a acalmar os nervos.
— Você não vai embora, não é?
— Não até acabarmos — ele confirmou. — Como eu disse, levo meu
trabalho a sério.
— Aposto que sim — murmurei, revirando os olhos ao me aconchegar na
poltrona grande ao lado do sofá com o laptop e o vinho.
Se ele estava determinado a finalizar aquele contrato naquela noite, então
eu ficaria acordada até quando ele quisesse, o tempo que precisasse para ele ir
embora logo.
— Sabe, a Vinhedos Mershano está no mercado procurando um advogado
corporativo para auxiliar em algumas aquisições internacionais. Seria um
trabalho grande, eu acho, e exigiria a supervisão de uma equipe de
advogados.
— Legal — respondi ao pegar o documento que Garrett enviou uma hora
antes para revisar as alterações que pedi naquela tarde.
— Alguém com sua experiência poderia ser uma boa — ele continuou.
— Precisaria de alguém com muito mais experiência do que meus quatro
anos, sr. Mershano.
Minha experiência me qualificava a entrar para a equipe, talvez, mas não
liderá-la.
— Acho que sou eu que decido isso — ele murmurou. — E acho que
seria uma boa ideia, querida. Deveríamos trabalhar juntos.
Não consegui me conter e gargalhei.
— É, isso não vai acontecer. Nunca.
Ele inclinou a cabeça para o lado e passou o polegar no lábio inferior
como se pensasse em mim de uma forma que provocou um arrepio na minha
espinha. Oh, esse olhar é problema…
O desafio emanava dele, enevoando o ar à nossa volta.
— Humm, veremos, srta. Dawson, não veremos?
A PROPOSTA DE NEGÓCIO
— Não acabamos de fazer isso? — perguntei, analisando todas as caixas
em meu quarto de hóspedes. Todas estavam nomeadas como “Sarah
Summers”, como da última vez.
— Aham. — Sarah deu uma ênfase no “ham” e me abriu um sorriso
brilhante. — Mas não precisamos carregá-las desta vez.
— Graças a Deus por isso. — A mudança da minha melhor amiga para
meu apartamento no mês anterior tinha sido meio que um pesadelo. Nós
arrastamos tudo do terceiro andar do prédio dela para o nono andar do meu.
Um caminhão nos ajudou em parte da viagem, mas todo o resto foi um
generoso equilíbrio entre as escadas e o elevador. — Eu te amo, mas nunca
mais quero fazer aquilo.
Ela enrugou o nariz.
— É, foi um saco.
O arrepio que seguiu não foi tanto em relação ao resultado, mas ao
motivo por trás disso. Minha melhor amiga havia perdido tudo depois que sua
irmã gêmea idiota, Abby, fez o teste para um reality show com o nome de
Sarah como um trote. Em vez de processar sua irmã imbecil por fraude, ela
escolheu entrar no programa e, depois, deu de cara com um contrato ridículo
com o “príncipe” do programa. O acordo deles não saiu como planejado,
mas, de alguma forma, eles fizeram dar certo no final, apesar de alguns
desentendimentos ao longo do processo.
Mesmo assim…
— Vou bater nele se ele vacilar de novo.
— Devidamente anotado, srta. Dawson.
O murmúrio veio de Evan Mershano, também conhecido como “O
Príncipe de Nova Orleans”. Ele estava com o ombro apoiado no batente da
porta, seus olhos escuros em Sarah. A admiração em seu olhar me acalmou
um pouco.
— Rachel — corrigi. Só meus clientes me chamavam de srta. Dawson.
Ele sorriu.
— Rachel.
Nos conhecemos na semana anterior pela primeira vez ao vivo, e seu
amor por minha melhor amiga era demonstrado em cada movimento que ele
fazia. O fato de ele apoiar a carreira dela o fez ganhar pontos comigo, e não
parecia ser um canalha. Ainda assim, ele tinha dinheiro — muito — e, na
minha experiência, não se pode confiar em homens poderosos como ele. Não
apoiar Sarah seria um insulto à inteligência dela, então mantive a boca
fechada e, silenciosamente, jurei estar lá se ela precisasse de mim.
— Certo, acho que isso é tudo.
Sarah limpou as mãos na calça depois de dar um tapinha na última caixa,
e Evan a empilhou nas outras. Sua camiseta justa branca se esticou em volta
de seus bíceps conforme se mexeu, dando uma ideia do que havia debaixo de
suas roupas. É, poderia admitir, ele era uma espécie requintada de homem.
Minha amiga tinha escolhido bem. Seus lábios carnudos curvados diziam que
ela concordava.
— Significa que é hora de La Rosas?
Foi o pagamento que exigi por ajudar hoje.
— Ah, sim. — Sarah adorava o lugarzinho fofo italiano mais do que eu.
— Nós decidimos pedir comida ou ir comer lá?
— Não olhe para mim — Evan respondeu. — Sabe que estou sempre
pronto para um desafio, srta. Summers.
— Você só quer ser flagrado, Sr. Mershano — ela o acusou, sorrindo.
O reality show do qual participaram há dois meses estava prestes a
estrear, o que significava que não poderiam ser vistos em público juntos.
Ele deu de ombros.
— Facilitaria as coisas.
Ela trilhou os dedos para cima da camiseta dele quando ele segurou seus
quadris.
— Para você.
— Para nós dois.
Ele se inclinou para roçar o nariz no dela, me fazendo revirar os olhos.
Sou a favor do romance apaixonado, mas aqueles dois precisavam ir para um
quarto. Fora do meu apartamento.
— Voto para comermos lá. Do contrário, vocês dois podem inventar um
jogo excêntrico de comida na minha sala.
Deixei os dois gargalhando e fui me trocar para jantar. Meu estômago
barulhento me impediu de me preocupar demais com a aparência. Vesti jeans
e uma regata e fiz um coque bagunçado com meu cabelo loiro. Era um
contraste extremo à minha vestimenta de sempre de advogada, mas eu não
tinha nenhum cliente para impressionar naquela noite.
Sarah e Evan me encontraram no hall, ambos vestidos similarmente com
jeans e sorrisos combinando.
— Vocês dois estão começando a se parecer — observei. — Evan só
precisa de um bronzeado melhor e umas curvas.
— Prefiro a falta das curvas dele — Sarah murmurou, beliscando a bunda
dele.
— É, é, vamos.
Expulsei-os pela porta e para o elevador. A caminhada até a La Rosas foi
curta, mas quente, graças à umidade de Chicago. A Mãe Natureza queria que
todos soubessem que o mês de junho chegara. Segurei minha regata,
detestando a forma como ela grudava na minha pele pegajosa, quando
entramos no restaurante.
— O ar-condicionado está… — Parei de falar quando meus olhos
pousaram no homem casualmente vestido esperando ao lado da recepção. —
Oh, só pode estar brincando comigo! — Girei e olhei desconfiada para o
casal sorridente. — Odeio vocês.
A risada calorosa atrás de mim fez meu estômago revirar. Sempre
acontecia isso na presença dele, contra meu melhor julgamento. A sedução
parecia ecoar de Will Mershano, envolvendo todo mundo em sua teia
encantadora. Inclusive a mim. E eu desprezava isso. Tinha doutorado em
recusar homens e, ainda assim, aquele ali desviou de cada uma das minhas
negações com a habilidade de um atleta profissional. E seu esporte favorito
era flertar.
— Olá, Rachel — ele murmurou.
Ignorei o arrepio em minha coluna e estreitei mais ainda o olhar para
Sarah.
— Não era isso que eu estava pensando para o jantar.
— Ele insistiu — foi a desculpa dela.
— Oh, aposto que insistiu — soltei.
O playboy milionário redefiniu o significado da palavra persistente.
Virei para encontrar seus olhos escuros, tão parecidos com os de Evan,
mas com um toque de desonestidade. A ligação familiar deles era óbvia na
altura e nos ombros largos, mas o nariz de Will tinha uma leve curva e seu
maxilar estava com alguns pelos loiros em vez de escuros. Ambos os homens
tinham um ar aristocrático, gritando riqueza e superioridade, mas havia um ar
brincalhão em Will que Evan não tinha. Despreocupação parecia ser a
escolha pessoal de Will.
— Não — eu disse, cumprimentando. Uma palavra que eu parecia falar
muito na presença dele. Claro que ele nunca escutava… só assumia isso
como um desafio para me fazer mudar de ideia. Nós jogamos esse joguinho
por meses, desde a primeira vez em que ele apareceu em meu escritório com
aquele maldito contrato que Sarah pediu que eu revisasse.
— Não? — Ele ergueu uma sobrancelha loira-escura. — Mas ainda nem
ouviu a proposta de hoje.
— Não preciso.
Não tinha como eu trabalhar para ele. Primeiro, exigia sair de Chicago e
morar na Carolina do Norte. O que, bem aí, seria uma quebra de contrato.
Não por causa de meu amor pela cidade, mas por causa de algo, ou melhor,
alguém, que nunca me deixaria partir. E, segundo, significava fazer parte da
equipe de Will. Não necessariamente uma parte negativa, mas eu iria me
reportar diretamente a ele. Meus hormônios não conseguiam lidar com curtos
momentos com o homem, imagine um longo período de emprego.
— A resposta sempre será não.
Ele podia tentar me atrair com comida e charme o quanto quisesse, mas
eu nunca concordaria.
— Vamos falarmos disso no jantar!
Não era uma pergunta, só uma declaração com um toque de exigência.
Típico de Will.
— Você vai pagar?
— Naturalmente.
Gesticulei para ele ir na frente.
— Então depois de você, sr. Mershano.
— Vou mantê-lo na linha — Evan disse ao nos seguir.
— É uma tarefa difícil — Sarah disse, dando a opinião dela.
Bufei.
— Por favor. Eu lido com isso. - Havia um motivo para eu ter me tornado
advogada. Ganhar um argumento corria em meu sangue.
Will puxou uma cadeira para mim, então me sentei na oposta. Ele
mostrou suas covinhas em resposta e se sentou ao meu lado enquanto Evan e
Sarah nos olhavam, divertindo-se. Se aquele simples ato os entretivera, então
eles se divertirão.
Quando o garçom chegou, pedi uma garrafa do vinho importado mais
caro do restaurante e um petisco de cada para a mesa.
— Oh, e não vou compartilhar o vinho, então só uma taça.
Sarah tossiu para esconder a risada enquanto o garçom anotava tudo.
— E para o senhor?
Will não demorou.
— Humm, vou querer uma porção extra de lula e uma taça do Reserva
Mershano Cabernet Franc, por favor.
Parei de sorrir quando o garçom irradiou de alegria.
— Ah, excelente escolha, senhor. Acabamos de receber nosso primeiro
carregamento, e os clientes adoraram. Prometo que não ficará decepcionado.
— Ah, mesmo? É uma marca desconhecida por aqui. O que estão
dizendo?
Revirei os olhos enquanto o garçom jorrava feedback positivo e opiniões.
— O melhor que já provaram, é? — Will se divertiu. — Interessante.
Escutou isso, querida? Talvez devesse provar.
— Não, obrigada — respondi delicadamente.
— Vamos querer uma garrafa — Evan murmurou, entregando o cardápio
ao garçom. — E acho que não vou precisar da refeição principal com todos
esses petiscos. — Ele lançou um olhar divertido para mim antes de olhar para
Sarah.
— Oh, eu quero lasanha. E, se tentar roubar de mim, vou me divorciar de
você.
— Isso exige que se case comigo primeiro, amor.
Ela deu de ombros.
— Semântica.
— Vou querer lasanha também — Will complementou antes de sorrir
para mim. — Quer refeição principal com todos esses petiscos?
— Frango Alfredo, por favor. E pode adicionar lagosta e camarão?
O garçom me avaliou, como se perguntasse “Onde está planejando
colocar toda essa comida?” Posso ser uma mulher alta com 1,78 m, mas
estava mais para o lado de magra graças à minha rotina de exercícios
matinais e à genética. A herança irlandesa de minha mãe empalideceu minha
pele, enquanto a origem alemã de meu pai me deu cabelo loiro e olhos azuis.
Ambos eram esguios naturalmente e passaram essa peculiaridade para mim e
meu irmão, Caleb. Embora ele estivesse maior na última vez em que o vira, e
não de gordura.
— Claro, madame — o garçom disse depois de me analisar. — Voltarei
com seu vinho.
Suas últimas palavras me fizeram virar para o loiro arrogante ao meu
lado.
— Você mandou uma caixa de Mershano para o restaurante?
— Não, mandei várias caixas. Sarah disse que era seu lugar preferido em
Chicago, e imaginei que a linda clientela pudesse apreciar um vinho decente.
Bufei.
— Você é inacreditável.
— Bom, obrigado, querida. O sentimento é mútuo. Agora, prefere ouvir
minha proposta enquanto está sóbria ou depois de ter tomado alguns
drinques?
— Vinho não vai me fazer dizer sim, Will.
— Meu vinho pode fazer.
Bati os cílios para ele.
— Quer apostar?
Eu meio que esperava que ele fosse insistir, mas, em vez disso, o
empresário saiu por detrás de sua máscara brincalhona. Normalmente, ele
fazia gracinhas para mim por mais alguns minutos antes desse seu lado
aparecer. Mas a dúvida pairou na boca do meu estômago. Ele não estava mais
brincando. A sua expressão emanava confiança conforme se preparava para
uma nova rodada de negociações.
Essa era a parte dele que eu temia, a pessoa que me fazia sentir inferior.
Ele não tinha como saber disso, nem era algo que ele fazia de propósito. Em
um âmbito lógico, eu entendia, mas não conseguia impedir de ter a reação de
querer sair correndo. Homens poderosos e ricos sempre venciam,
independente do custo. Eu sabia disso melhor do que qualquer um.
— Por que está tão inflexível quanto a trabalhar para mim, Rachel? É um
cargo estável com excelentes benefícios, e já lhe ofereci o triplo de seu
salário atual. Do que mais você precisa?
— Não quero me mudar.
— Ofereci para deixá-la trabalhar remotamente em Chicago.
Balancei a cabeça.
— Não tem como eu contratar e gerenciar uma equipe de doze advogados
daqui. O que está me pedindo para fazer não é tão simples como alterar um
contrato.
— Sei disso, e é por isso que quero contratá-la.
— O que fiz por Sarah e Evan não é nada parecido com aquisição
internacional, Will. Aquilo era um contrato simples.
— Ah, é, escrito por Garrett Wilkinson, que você destruiu.
O nome famoso fez meu coração parar por um segundo, como sempre.
Ele era um ótimo exemplo de o que uma educação cara e contatos herdados
poderiam fazer por um advogado. Ajudava o fato de ele ser brilhante e
bonito. Nunca realmente o conheci, mas sabia que não tinha nenhuma chance
contra um homem com sua reputação.
— Não destruí nada. Só reescrevi parte do contrato — murmurei.
— E o impressionou pra caramba no processo.
Quase dei risada.
— Duvido. Você deveria contratá-lo.
— Ele é advogado do estado, não corporativo. Além disso, eu quero você.
Aquelas três últimas palavras me aqueceram de uma maneira que não
deveriam. Ele dizia isso para mim toda vez que discutíamos sua proposta. Eu
já deveria estar acostumada, mas não conseguia evitar a sensação vertiginosa
que aflorava profundamente com elas. E era exatamente por isso que eu
continuava negando. Me recusava a permitir que essa atração aumentasse
entre nós. Porque ele pretendia tomar uma atitude quanto a isso ou não estava
sujeito a controvérsia. Eu desistira de homens como ele há muito tempo, e
não estava a fim de quebrar minha regra agora.
— Fico lisonjeada, mas não estou interessada. — Em trabalhar para
você, nem em outra coisa. — Gosto de trabalhar na Baker Brown. Eles são
uma das melhores firmas de Chicago, e não pretendo deixá-los neste
momento.
O garçom escolheu esse instante para voltar com nosso vinho. Excelente
instante. Eu precisava de uma bebida, ou doze, para acalmar meus nervos.
Will sempre causou isso em mim, mesmo no começo. Homens raramente me
deixavam afobada, mas ele encontrava um jeito toda vez. E continuava
melhorando a oferta, tornando quase impossível recusá-la.
A oportunidade em si era um emprego dos sonhos. A Vinhedos Mershano
precisava de um advogado especializado em direito corporativo para liderar
um projeto de aquisição internacional. Minha formação e experiência se
encaixavam bem nas exigências, e gerenciar uma equipe de advogados seria
bom para meu currículo. Mas havia outros candidatos mais qualificados no
mercado, e Will precisava saber disso. E era por isso que eu suspeitava que
ele me quisesse pelos motivos errados.
Will era o tipo de homem que gostava de um bom jogo de gato e rato, e
eu me recusava a me vender para subir na escala corporativa. Quando ele
finalmente percebesse isso, perderia o interesse, e eu ficaria sem emprego.
Um pensamento chocante, claro, mas realista. Talvez houvesse mais em sua
oferta, mas eu me recusava a me permitir interpretá-la. Porque sabia que, se
descobrisse a verdade, então ficaria mais propensa a aceitar, e não poderia
arriscar.
— Me conte sobre sua firma — Will disse depois de o garçom terminar
de servir nossas bebidas.
Bebi metade da minha taça antes de começar a lengalenga de sempre
reservada para clientes em potencial. Não que ele fosse um, mas porque era
mais fácil. Ele escutou pacientemente, fez todas as perguntas certas e
continuou a conversa enquanto nós nos deliciávamos com bastante comida.
Não me fez outra proposta, e fiquei grata por isso, mas sabia que ele não
tinha desistido. Nem um pouco.
Evan e Sarah se ocuparam em conversar sobre uma viagem de trabalho e
as coisas sobre a mudança do dia seguinte. Ele havia contratado uma empresa
para pegar as caixas pela manhã, e eles planejavam encontrar os pertences
dela em Nova Orleans. Me ofereci para supervisionar a mudança no meu
apartamento para que eles pudessem ir para casa mais cedo, o que significava
que eu iria para casa sozinha naquela noite.
— Vou sentir saudade — Sarah sussurrou ao me abraçar forte.
— Eu também.
E iria. Talvez não como colega de quarto, porque eu gostava de meu
espaço, mas ela era minha melhor amiga. Eu a amava como uma irmã.
— Vou te ligar todos os dias.
— É melhor mesmo. E é bom visitar também.
Porque eu não conseguiria visitá-la facilmente. Ela presumiria que o
motivo era o trabalho, mas não tinha nada a ver com meu emprego e tudo a
ver com meu passado. Meu ex-noivo não gostava que eu viajasse, e ele tinha
recursos impressionantes à disposição para me manter em Chicago.
— Definitivamente — ela prometeu. — Te amo.
— Amo você também.
Evan abriu a porta do carro à espera dela, e ela entrou.
— Vocês dois, comportem-se — ele disse, olhando para Will.
— Eu sempre me comporto — ele respondeu, dando um sorrisinho.
— Sei.
Balançando a cabeça, Evan se juntou a Sarah no banco de trás.
Sorri quando eles partiram. Minha melhor amiga finalmente havia
encontrado um homem à sua altura. A riqueza e o status dele me
preocupavam um pouco, mas, se alguém conseguia lidar com um homem
influente, esse alguém era Sarah.
— Vamos, querida — Will, sempre cavalheiro, insistiu em me levar para
casa, já que eu havia bebido metade da minha garrafa de vinho ao fim do
jantar.
Ele não me tocou, mas andou próximo o suficiente para eu sentir seu
cheiro apimentado. Detestava que isso fazia minhas narinas queimarem. Ele
era poderoso e sabia disso. Cada demonstração de suas covinhas, a forma
confiante como se movia e a constante provocação em seu olhar criavam uma
combinação tóxica.
Isso, junto com o álcool, e eu poderia admitir que ele era bem atraente. E
não iria entrar em meu apartamento naquela noite.
— Ainda não? — ele perguntou ao parar na minha porta.
— Estou um pouco tonta, não bêbada, então, é. Ainda não.
— Que bom que não fiz aquela aposta — ele respondeu, dando seu
sorriso presunçoso. — Mas tenho esperança, srta. Dawson. Nós vamos
trabalhar juntos.
— Aham.
Dei um tapinha em seu peito musculoso e imediatamente me arrependi de
tocá-lo. Ele irradiava um calor que até me deixou com frio. Nem conseguia
me lembrar da última vez em que deixei um homem me entreter. Não que eu
não gostasse de sexo. Muito pelo contrário. Eu adorava. Mas, depois da
última vez, jurei nunca levar um homem para minha cama de novo,
independente do quanto o desejasse. Me recusava a deixar mais alguém se
machucar por me conhecer.
Will apoiou o quadril na parede enquanto eu colocava a chave na
fechadura.
— Tenha um pouco de fé, querida. Vamos chegar lá.
Entrei e me virei para encará-lo.
— Você realmente não sabe quando desistir, não é?
Ele ergueu os braços no batente da porta e me encarou. Suas pupilas
dilataram quando pousaram em meus lábios e voltaram para cima.
— O pai de Evan uma vez chamou meu desejo de ter e administrar uma
vinícola um “sonho de consumo” e insistiu que eu desistisse. Agora esse
“sonho de consumo” vale mais de oito dígitos, e sabe por quê? Porque não
desisti.
Ele baixou os braços e deu um passo para dentro do meu espaço pessoal.
Precisei olhar para cima a fim de encará-lo, o que fez nossos lábios ficarem a
alguns centímetros de distância. Essa era uma tática nova, e arrancou o ar de
meus pulmões.
— Nunca desisto quando quero alguma coisa, srta. Dawson. — Ele se
aproximou ainda mais, sua respiração entrando por meus lábios separados,
mas ainda não me tocando. — E, como eu disse, quero você.
Ele ficou assim por um instante mais longo... prolongando... provocando,
e me fazendo pensar no que faria em seguida. Será que ele vai me beijar? Eu
quero que ele faça isso? Talvez…
Mas se afastou e mostrou aquele sorriso com covinhas para mim.
— Tenha uma boa noite, querida. Te vejo em breve — Virou-se com uma
piscadinha brincalhona.
Ah, inferno. Fiquei boquiaberta olhando para ele conforme seguiu pelo
corredor, mãos nos bolsos dos jeans, ombros erguidos com confiança.
Homem arrogante.
— Ainda vou dizer não! — gritei para ele.
— Eu sei que não seria diferente, querida — ele respondeu.
Fecho a porta balançando a cabeça e sorrindo. Esse jogo, ou o que quer
que fosse, tinha começado como algo irritante, mas parecia estar seguindo
para um território mais divertido. Contanto que eu continuasse recusando-o,
claro. Assim que cedesse, a diversão acabaria.
Dei dois passos em direção à cozinha, quando alguém bateu à porta.
— Oh, que sofrimento. Não estou preparada para outro round, Mershano
— eu disse ao abrir a porta. — Minha resposta…
Meu sorriso morreu quando vi um par de olhos azuis frios que não eram
nada parecidos com os escuros de Will.
— Ryan. — Suspirei.
— Oi, minha menininha.
CAFÉ COM CREME E
AÇÚCAR
Analisei meus olhos azuis no espelho compacto da minha escrivaninha.
Eles não pareciam tão cansados quanto eu os sentia, graças ao meu encontro
matinal com meu estojo de maquiagem. Eu detestava base, mas precisava
dela para cobrir meu fim de semana sem dormir.
A visita inesperada de Ryan, adicionada à visita surpresa de despedida de
Sarah domingo cedo, significava que eu não tinha descansado nada. Minhas
orelhas ficaram aguçadamente atentas a cada barulhinho no meu prédio, me
fazendo pular com os sons mais bizarros, como o tinido do elevador no fim
do corredor.
Fechei a porta ao entrar em meu escritório, mas o maldito tinido soava a
todo minuto conforme meus colegas chegavam. Se meu assistente não tivesse
agendado uma reunião de última hora para mim naquela manhã, teria
escolhido trabalhar de casa. O convite vago me fez franzir o cenho.
Reunião de urgência: Todo mundo na empresa.
Não era um título útil, mas pelo menos eu tinha um local e uma hora.
Calcei os sapatos pretos de salto e peguei meu terninho do cabide atrás da
porta. Tailleurs eram bonitos, mas eu preferia conforto no trabalho. Por isso
tinha hábito de arrancar os sapatos e andar de meia. Mas, não era exatamente
um traje apropriado para uma reunião.
As salas de reuniões eram localizadas no último andar junto com as salas
executivas, um lugar que eu raramente visitava. Baker Brown LLP era uma
das maiores firmas do país com mais de 1.500 advogados, e escritórios por
todo o mundo. Eles só recrutavam das universidades de Direito mais bem-
conceituadas, inclusive minha universidade, Northwestern, e tinham uma
reputação de ser uma das melhores firmas dos Estados Unidos. Reuniões
naquele andar com associados do quarto andar eram, no mínimo, raras.
Parei na mesa da recepcionista para ver se podia entrar e encontrei Janine
Lawson. Reconheci a ruiva baixinha imediatamente como assistente de Jeff
Dowers. Apertei sua mão com uma sensação gelada que desceu por minha
coluna. Por que uma assistente de um sócio está me cumprimentando como
se me conhecesse?
— Por aqui, por favor, srta. Dawson — ela murmurou.
Sequei as mãos repentinamente grudentas em minha saia preta e a segui
pelo corredor de janelas pelas quais dava para ver o alpendre. Quando
chegamos em um conjunto de portas de vidro, meu estômago se revirou.
Janet Bishop, outra sócia da firma, estava parada do outro lado, conversando
com Jeff. Seu terninho branco se destacava em sua pele morena, e seus dentes
eram igualmente brancos quando ela os mostrou em um sorriso receptivo
para nós.
— Tem certeza de que esta é a reunião certa? — sussurrei.
— Sim, srta. Dawson. Eles a estão aguardando.
Janine fez um gesto para eu entrar.
Certo. Tudo bem. Eu já tinha trabalhado com mais sono. Conseguiria
lidar com isso. Provavelmente, eles tinham uma pergunta rápida sobre um
cliente, e, então, eu seria enviada de volta para meu escritório e me
esconderia. Todos meus casos estavam no prazo correto ou adiantados, e
ninguém nunca havia reclamado de meu trabalho. Não precisava me
preocupar.
Entrei com o comportamento mais tranquilo que consegui. Não era todo
dia que me reunia com os advogados mais poderosos do país, mas confiança
era a chave.
— Ah, Rachel, obrigado por se juntar a nós nesta manhã.
Puta merda. Jeff Dowers sabe meu nome.
—Bom dia, sr. Dowers. Estou feliz por estar aqui. — Eu acho. — Srta.
Bishop.
— Bom dia — ela respondeu, apertando minha mão. Foi firme e
exatamente o que eu esperava de uma mulher em seu cargo. — Acredito que
já tenha conhecido Will Mershano.
O sorriso desapareceu do meu rosto quando ela gesticulou para o homem
sentado na ponta da mesa. As mãos dele estavam unidas à frente do corpo
enquanto observava a conversa com uma expressão divertida. Eu ficara tão
consumida pelos sócios que não havia notado a terceira pessoa na sala, o que
era um milagre, considerando a vestimenta dele.
Santo Deus, o homem sabia se arrumar. Eu só o tinha visto de jeans e
camiseta, mesmo nos dias em que ele me visitou no escritório. Ficavam
bonitas, mas aquele terno… Uau. Perfeitamente sob medida. Ele alisou sua
gravata preta ao se levantar e dar a volta na mesa a fim de apertar minha mão.
Sua palma esquentou a minha, uma façanha, considerando o calor que
emanava da minha pele.
— Srta. Dawson — ele cumprimentou. — Um prazer, como sempre.
Minha boca se abriu, fechou, e depois se reabriu. Que porra você está
fazendo aqui? eram as palavras que eu queria dizer, mas “Sr. Mershano” foi o
que saiu. Pelo menos meu cérebro tinha os recursos para se lembrar de nosso
público. Franzi o cenho para essa última parte.
Espere um pouco…
Os olhos dele dançaram com alegria conforme ele observava minha
mente sonolenta e confusa entender o que acontecia. Uma reunião no andar
executivo com dois sócios e Will Mershano vestido em um terno… Ah, não.
— Podemos começar? — ele perguntou antes que eu pudesse comentar.
O foco dele havia mudado para os sócios atrás de mim.
— Claro — Jeff respondeu.
Will puxou um pouco minha mão, lembrando-me de que eu ainda
precisava soltá-lo, e olhou para uma cadeira ao lado da que ele acabara de
sair. Havia uma xícara de café e uma rosquinha diante dela. Como ele tinha
sua própria caneca de viagem ao lado de seu portfólio de couro, imaginei que
ele tivesse providenciado os itens de café da manhã para mim.
Que gentil. Ou talvez não. Por que o que ele estava pensando ao agendar
aquela reunião?
Meus pés se mexeram no piloto automático ao lugar que ele reservou para
mim, e minhas mãos envolveram a xícara quente. Oh, cafeína, como eu te
amo. Dei um gole fortalecedor e lutei contra um gemido. Ele havia
adicionado a quantidade exata de creme e açúcar.
A memória do homem, quando o assunto eram minhas preferências, me
surpreendia. Depois da primeira vez em que recusei sua oferta de emprego,
ele apareceu em meu apartamento segurando uma sacola do meu restaurante
chinês favorito. Ele só sabia de meu amor por frango Szechuan porque foi o
que pedi na primeira noite em que nos conhecemos, e se lembrou. Por isso
que ele tinha uma vinícola multimilionária.
— Obrigado de novo por se reunirem comigo de última hora — Will
começou. — Como mencionei pelo telefone, a Vinhedos Mershano está à
procura de uma firma que trabalhe em aquisições internacionais e gerencie o
que vier em seguida. É de meu entendimento que a Baker Brown seja uma
das melhores. — Ele abriu um sorriso para mim conforme repetiu minhas
palavras da outra noite antes de voltar o foco a Jeff e Janet. — Então estou
aqui para saber mais.
Meu coração caiu para meu estômago. Aquele sorriso, junto com a
maneira como Janet me olhava agora, confirmava que Will havia lhes dito de
quem ele soube essa informação ao agendar a reunião. Ou seja, ou eu seria
agradecida lindamente depois disso ou demitida, dependendo se Will
seguisse em frente ou não. Mas talvez sua contratação da firma fosse uma
coisa boa. Eles poderiam colocá-lo com um advogado mais apropriado, e ele
receberia seu aconselhamento legal e me deixaria em paz.
Eu esperava sorrir ao perceber isso, mas minha boca se curvou na direção
oposta. Uma reação estranha para algo que pensei que quisesse.
Jeff começou a apresentação resumindo a história e as estatísticas de
Baker Brown, focando em casos de aquisições e satisfação do cliente. A
lengalenga começara para a Vinhedos Mershano, já que ele falou sobre
acordos além da fronteira e questões específicas de indústria relacionadas ao
negócio de Will, como leis de comércio de álcool. Nosso time de marketing
fizera um trabalho maravilhoso, e a apresentação de Jeff foi fenomenal.
— Excelente — Will disse depois do último slide.
Fez uma série de perguntas técnicas que me surpreenderam. Alguém tinha
feito a lição de casa. Esse lado empresário dele era um que eu havia apenas
vislumbrado durante nossas conversas, mas sabia que ele existia por trás
daquela fachada.
Evan era quem a família preparou para o legado Mershano, enquanto Will
foi em busca de seu próprio império. E, pelo que eu tinha visto, o homem
havia feito um puta de um trabalho. Claro que ele tinha todas as conexões
certas por seu sobrenome, sem contar a herança que deve ter herdado, mas,
mesmo assim, vê-lo em ação provava que sua determinação e inteligência
contribuíram bastante para seu sucesso.
— E, se eu contratar sua firma — ele continuou —, quem será o principal
contato com a Vinhedos Mershano?
— Provavelmente eu ou Janet — Jeff respondeu, entrelaçando os dedos
em cima da mesa.
Sua expressão continuou profissional, mas havia um sinal de empolgação
em seus olhos castanhos. Só o nome de Will já o tornava um cliente enorme,
mas eram suas conexões com Evan que realmente intrigavam os sócios de
Baker Brown.
— Entendi. — Will apoiou no queixo e olhou para mim. — Eu estava
esperando trabalhar com Rachel, já que ela é a razão de eu estar sentado aqui
hoje.
Meus lábios se separaram, em choque. O que ele estava pensando? Tinha
que ser louco para vir aqui e exigir um associado para um projeto que
merecia um sócio. Minha experiência era crua em comparação às duas
pessoas sentadas do nosso lado oposto. Encontrei seus olhos surpresos e lutei
contra a vontade de me encolher. Aparentemente, eu não era a única
abismada com o pedido de Will.
— Certamente é algo que podemos discutir, mas nossos associados
normalmente não são designados como ponto de contato; no entanto, podem
trabalhar em aspectos do projeto como um time.
A resposta suave de Janet estava bem praticada e muito mais eloquente
do que as palavras passeando por minha mente.
— Agradeço por isso, mas vi Rachel em ação. Infelizmente, um termo de
confidencialidade me impede de dar os detalhes, embora possa dizer que ela
impressionou não apenas a mim, mas a meu primo Evan e nosso advogado da
família, Garrett Wilkinson.
Aquela declaração fez Jeff perder a compostura e erguer as sobrancelhas
para mim.
— Qual foi esse projeto?
Ah, merda… Advogados ajudavam amigos o tempo todo, mas como
Baker Brown pagava meu seguro de responsabilidade, eles não gostariam de
saber disso. Principalmente considerando quem estava do outro lado da
mesa. Pigarreei.
— Foi, ãh, não foi um projeto, mas um favor para uma amiga. Não posso
dar detalhes por causa do termo de confidencialidade, mas li algumas coisas
para ela. Nada relacionado à empresa, só um acordo pessoal.
Jeff coçou a barba grisalha que delineava seu maxilar. O termo homem
maduro caía bem para ele.
— Foi assim que vocês dois se conheceram? — ele perguntou.
— Foi. — Não havia por que esconder.
Mais massagem em seu queixo enquanto me analisava.
— Humm, bom, normalmente proibimos nossos associados de fazer
trabalhos fora da firma, mesmo que sejam favores a amigos, mas,
considerando que isso trouxe Will até nós, acho que podemos deixar passar
essa escorregada.
Engoli. As palavras “por enquanto” ficaram suspensas no ar. O que
significava que, se Will fosse para outra firma, nós estaríamos tendo uma
conversa mais séria, mas, se ele escolhesse Baker Brown, eles ignorariam.
Sem pressão.
Will e sua boca iriam custar meu emprego.
— Então, o que precisaria para ela ser meu principal ponto de contato? —
Will perguntou, entrelaçando os dedos sobre sua pasta de couro,
completamente tranquilo. — Ou, no mínimo, ser minha representante legal
nos locais quando necessário?
Minha mandíbula ameaçou despencar. Não era a mesma coisa que me
pedir para me mudar para a Carolina do Norte, mas certamente chegava perto
disso. Só que eu não precisaria morar lá. Nem estaria trabalhando diretamente
para ele. Desgraçado esperto. Ele encontrou uma brecha em meus dois
motivos para recusá-lo, e passou por cima de mim. Se a firma me designasse
para esse projeto, eu teria que aceitar ou cometer um suicídio na carreira.
A prepotência dele me deixou enjoada. Aquele acordo me colocaria em
um beco sem saída e o colocaria em uma posição de poder sobre mim.
Deveria ter imaginado essa tática. Um homem como Will conseguia o que
queria, assim como todos os outros homens ricos deste mundo.
Você não passa de uma marionete…
Arrepiei quando a voz de Ryan entrou na minha mente. Agora, não.
— Como disse, normalmente, um sócio é o principal contato, mas, se
prefere trabalhar diretamente com a srta. Dawson, podemos designá-la como
advogada líder do projeto. Ela precisaria trabalhar com um de nós, pelo
menos na questão de aconselhamento e gerenciamento geral, mas poderia ser
sua conselheira líder. E poderíamos acordar de ela estar no local quando
necessário, independentemente de ser na Carolina do Norte ou em outro país.
— Janet olhou para mim. — Precisaríamos diminuir sua carga de trabalho e
nos encontrar para revisar os detalhes.
Meus dentes estavam apertados demais para verbalizar uma resposta,
então simplesmente assenti. Eu não conseguia acreditar que aquilo estava
acontecendo. Will Mershano iria vencer. Que ótimo jeito de começar um
relacionamento profissional, comigo dizendo não e ele me obrigando a
obedecer, de qualquer forma. Era por isso que eu detestava homens ricos.
Sempre venciam no final e não se importavam com quem magoavam no
processo.
— Parece ótimo para mim — Will murmurou. — Quando seu time
finalizar a proposta formal, eu gostaria que incluísse esses termos.
— Claro — Jeff respondeu enquanto mexia nas apresentações em seu
computador e trocava para uma tela de relatório financeiro.
Tentei ouvir conforme ele resumia as taxas por hora propostas e as
necessidades gerais de recursos para o projeto, mas um som ensurdecedor
havia entrado na minha cabeça. Eu tinha me envolvido tanto no jogo de gato
e rato de Will que nunca pensei que ele chegaria àquele nível.
Você estava começando a confiar nele, minha consciência acusou. Uma
burrice a se fazer, considerando meu histórico. Só nunca pensei que ele fosse
passar por cima de mim e forçar a barra. Mesmo assim, lá estávamos nós,
sentados em uma sala de reuniões enquanto meu destino era decidido por
mim. Ryan já ditava minha vida pessoal, e agora Will comandaria meu
mundo profissional. Onde eu ficava nisso?
Quando nossa reunião terminou, meu sangue estava fervendo. Eu queria
socar alguma coisa, de preferência o arrogante filho da puta parado ao meu
lado, mas meus chefes estranhariam isso. Quando ele esticou a mão para
apertar a minha, eu apertei um pouco mais forte e lhe dei um sorriso tenso.
Pensei ter visto um sinal de preocupação se aprofundar em seus olhos
castanhos, mas se fora em um segundo conforme ele se concentrou no
convite de Jeff para almoçar.
— É claro — ele respondeu.
Quando começaram a discutir possíveis locais para almoçar, eu me retirei
educadamente. A reunião era meu único compromisso até o meio-dia, e já
tinha passado meia hora disso. Murmurei algo para Janet sobre precisar
terminar um contrato até o fim do dia — o que não era mentira — e ela me
deixou ir com um sorriso agradável.
Não me incomodei em me despedir de nosso “futuro cliente”. Por mim,
ele poderia comer terra. Além disso, eu o veria mais do que o suficiente pelos
próximos meses. Se ele pensava que eu ficaria grata ou alegre sobre isso,
então ficaria surpreso.
Will Mershano estava prestes a conhecer um lado novo meu. E não
gostaria dele nem um pouco.
TOQUES FAMILIARES
Me joguei no modo trabalho no instante em que entrei na minha sala.
Havia muito o que fazer, e pensar na reunião daquela manhã me fazia querer
vomitar. Revisar contratos sempre tranquilizava minha mente porque me
obrigava a me concentrar. Eu estava quase na última página quando alguém
bateu à porta. Diferente do último andar, a minha porta era de madeira, e não
de vidro, então eu não conseguia ver quem era meu intruso.
Com um suspiro, me recostei na cadeira e gritei: — Entre.
O porra do Will Mershano entrou com aquele jeito despreocupado dele,
segurando uma sacola de plástico em uma mão e uma bebida na outra.
— Almoço? — ele perguntou ao fechar a porta com o pé.
Tinha deixado seu paletó e sua gravata em algum lugar e arregaçou as
mangas de sua camisa branca, expondo seus antebraços musculosos. Meus
malditos hormônios fizeram uma dancinha quando ele caminhou como um
comercial masculino, enquanto meus olhos se estreitaram.
— Está me zoando, porra? — As palavras escaparam de mim antes que
eu conseguisse engoli-las. Ele franziu o cenho, o que me deixou ainda mais
furiosa. — Você não conseguiu nem me dar algumas horas de paz depois de
forçar a barra? Inacreditável.
Ele colocou os itens na minha mesa e guardou as mãos nos bolsos de sua
calça.
— Não é a recepção que eu esperava…
— Oh, desculpe. — Me levantei para ficar mais da altura dele. Ele ainda
ficava trinta centímetros mais alto que eu, mas era melhor do que olhá-lo da
minha mesa. — Você quer que eu fique te bajulando agora? Diga o quanto
estou agradecida por você não entender a palavra não? Foi mal, Will.
Obrigada por me forçar a trabalhar para você depois de eu ter dito
repetidamente que não queria. Obrigada, de verdade. Assim está melhor?
As sobrancelhas dele alcançaram sua raiz do cabelo.
— Ok, você entendeu tudo errado…
— É mesmo? — Dei um passo invadindo seu espaço pessoal e o encarei
com meu melhor olhar desafiador. — Você não acabou de abrir as
negociações com minha firma para contratá-los? Tudo para poder me obrigar
a trabalhar para você? Porque sabia que eu não teria escolha. Ou aceito ou
perco minha carreira, principalmente depois de você falar lindamente como
nos conhecemos. Sabia que firmas de advocacia não gostam que seus
funcionários peguem casos pro bono para amigos, certo? Claro que sabe;
quem estou querendo enganar? É assim que vence todos seus jogos?
Encurralando mulheres de forma que elas não consigam lutar?
Meu tom era semi-histérico no final, mas não me importava. Depois da
visita surpresa de Ryan, e agora aquilo, era um milagre eu conseguir formular
palavras. Fúria e medo lutavam pelo controle dentro de mim, e naquele
instante o primeiro estava ganhando.
Will não disse nada por um bom tempo, seus olhos escuros se enevoaram
pelo choque e com um sentimento que não reconheci. Arrependimento,
talvez? Não. Não poderia ser. Homens como ele não entendiam o significado
do termo, que dirá senti-lo.
— Terminou de gritar comigo? — ele perguntou com a voz suave.
— Provavelmente não.
Cruzei os braços e ignorei o calor irradiando de onde eles encostaram no
abdome dele. Talvez ficar assim tão perto dele fosse uma má ideia, mas eu
me recusava a deixá-lo me intimidar.
— Seus motivos para não querer trabalhar comigo neste projeto eram que
não queria se mudar para a Carolina do Norte ou sair de Baker Brown. E,
embora você não tenha exatamente admitido, cheguei à conclusão de que
você não quer trabalhar diretamente para mim. Entendi corretamente?
— Ok, então não é um problema de audição; é só que você não entende a
palavra não.
Havíamos discutido isso o suficiente para ele saber que seu resumo estava
preciso. Por que confirmar?
— Ao contratar sua firma, concordei com todos seus termos. Você não
precisa se mudar, vai continuar trabalhando na Baker Brown e não vai se
reportar a mim como seu supervisor direto. O que não estou entendendo?
Uma frustração genuína coloriu seu tom, me fazendo piscar. Eu esperava
um sorrisinho sarcástico ou uma declaração irônica sobre como deveria estar
grata, ou algo manipulador. Não aquela explicação lógica.
— Mas ainda está forçando a barra.
— Em que questão?
— Contratando Baker Brown sob o pretexto de trabalhar comigo não me
deixa escolha a não ser aceitar o projeto, ou eles vão me despedir. Portanto,
você vence. Porque eu preciso do meu emprego.
Ele me analisou intensamente antes de soltar um suspiro demorado. Seus
dedos passaram por seu cabelo loiro e grosso antes de descer e segurar a
nuca. O homem despreocupado parecia ter desaparecido atrás de uma
máscara de incerteza. Isso é novidade.
— Rachel, só abordei sua firma porque considerei uma situação em que
todos venceriam. Cumpriam suas exigências e me garantiam a oportunidade
de trabalhar com você. Se realmente despreza tanto assim a ideia de me
ajudar com esse projeto, então eu vou embora. Nunca foi minha intenção
obrigá-la a aceitar essa função.
Toda minha fúria e mágoa se dissipou em uma nuvem de confusão.
— Você cancelaria a proposta?
— Sim. — Sem hesitação. — Ou, com sua permissão, aceitaria e
trabalharia com um sócio como eles sugeriram.
— Com minha permissão?
— Isso. E, já que minha admissão de como nos conhecemos poderia ser
um problema para você na Baker Brown, algo que eu não sabia que seria um
problema, aliás, então eu recomendaria esse caminho, se é o que você quer.
— Incerteza e um toque de decepção atingiam seu olhar, e ele baixou a voz.
— Rachel, para seu governo, eu nunca prejudicaria de propósito seu
emprego. Realmente tenho respeito pelo que faz, e é por isso que mencionei
nosso histórico e também porque quero trabalhar junto. Nunca a encurralaria
de propósito, mesmo que tenha parecido isso.
Pisquei. Will nunca fazia o que eu esperava, e aquilo não foi exceção. Ele
me confundia toda vez. Revi o encontro daquela manhã e o instante em que
deixei a fúria assumir. A prepotência dele me lembrou de Ryan, só que suas
intenções eram totalmente diferentes. Enquanto meu ex-noivo desejava me
controlar, Will só queria a oportunidade de trabalhar comigo. Apesar de sua
natureza de flerte, ele ainda iniciaria um relacionamento.
Será que entendi tudo errado? Ele fez tudo isso para me contratar, e não
para dormir comigo? Era uma oportunidade única, sem contar uma forma
fantástica de impressionar os sócios. Se eu fosse bem no projeto dele — o
que iria —, eu seria uma boa candidata para uma promoção precoce. E o
bônus que eu ganharia liderando o projeto iria aumentar lindamente meu
salário anual.
— Olha, não terei a proposta até amanhã ou quarta. E posso pedir o fim
de semana para pensar nisso, o que dá a você uma semana para me avisar
como quer que eu responda.
O tom sombrio em sua voz apagou todos os traços de seu sotaque sulista.
Não que eu tenha ouvido muito dele hoje. Seu sotaque só parecia se destacar
durante momentos de brincadeira, me fazendo pensar se era intencional ou
um indicador de conforto com o público dele. Isso significava que eu não
mais o deixava confortável?
Meu telefone tocou com uma música que eu não ouvia há meses. Um
vento frio desceu por minha coluna.
Ryan.
Quando tocou de novo, me encolhi. Bloqueei o número dele uma vez.
Acabou com ele aparecendo inesperadamente em meu escritório. Por que ele
escolheu agora para entrar novamente em minha vida? Dei a volta na minha
mesa sem falar nada para olhar as mensagens dele.
Minha assistente fez reservas para nós no Provinos para as 8h esta noite.
Vou te pegar às 7h30. Bjs.
A mensagem seguinte fez minha mão livre cerrar em punho na lateral do
meu corpo.
Vista algo apropriado. Sabe do que eu gosto, baby. Bjs.
— Está tudo bem? — Will perguntou, me lembrando de sua presença.
Engoli e deixei o celular de cabeça para baixo.
— Sim. Sim, tudo bem. — Precisei balançar a cabeça para clareá-la. —
Desculpe. Perdi completamente o raciocínio. O que estava dizendo?
A preocupação tomou sua expressão enquanto ele me olhava.
— Eu disse que poderia adiar o acordo por uma semana. Tem certeza de
que está bem? — Seus olhos escuros pairaram no telefone, depois voltaram
para meu rosto.
— Sim, não é nada. — Só meu ex-noivo agindo como se estivéssemos
juntos de novo. — O que vai fazer esta noite?
Suas sobrancelhas se ergueram em sua testa.
— Preciso fazer algumas ligações, mas, do contrário, não tenho planos.
Por quê?
— Quanta informação você trouxe de Chicago? Sobre a aquisição, quero
dizer.
— Quase tudo está no meu laptop, então trouxe a maioria comigo.
Mordi o lábio para evitar que as palavras escapassem da minha boca. Se
as dissesse, não haveria como resgatá-las. Mordi a língua, pensando nas
minhas opções, e suspirei em certo momento. Me convenci quando percebi
que tinha arruinado a reunião da manhã e quase impedido que uma das
melhores oportunidades chegasse à minha mesa. Só havia uma coisa a se
fazer.
— Eu gostaria de revisá-la com você para começar logo, mas vou precisar
de permissão primeiro. Não é uma situação típica, mas já estamos atrasados,
e vou precisar de muitas noites para conseguir estudar tudo, então eles devem
concordar. Mas você ainda não é tecnicamente um cliente, então isso poderia
ser um impedimento.
Parei de falar quando todo o ar saiu de meus pulmões. Puta merda, ele
tem um sorriso fantástico. Enrugava nas laterais, criando um par de covinhas
adorável que poderiam cativar um ambiente. Eu não havia percebido que
perdera isso até elas aparecerem de novo. Franzir o cenho não combinava
com Will Mershano, mas sorrir? Ah, isso combinava perfeitamente com ele.
— Você está dizendo sim. — Não era uma pergunta, mas uma afirmação.
— Sim.
De alguma forma, a felicidade dele pareceu aumentar ainda mais.
— Oh, como desejei ouvir essa palavra sair de seus lábios.
Revirei os olhos, mas senti a boca se curvando em um sorriso.
— Não se acostume, Mershano.
— Eu não sonharia com isso, querida. — Aquele brilho malicioso
retornou ao seu olhar. — Vou ligar para Janet apressar o contrato e ver se eu
consigo convencê-los de começar cedo. Que horas eu venho?
Olhei para meu celular, parando de sorrir.
— Ãh. — Parei para limpar o nó na garganta. — É, vamos nos encontrar
no seu hotel. Acredito que esteja ficando no Hotel Mershano da Michigan
Avenue?
— Meu primo me mataria se não estivesse.
— Certo. — Outra mensagem surgiu no celular, solidificando minha
decisão. — Estarei lá às sete.
FLERTE EM FRANCÊS
Mandei mensagem para Ryan com a desculpa de precisar trabalhar
naquela noite, e ele não respondeu. Minha experiência me dizia que isso não
era um bom sinal, então fui direto para o Hotel Mershano em vez de parar em
meu apartamento, o que me deixou com a roupa que estava e a maleta de
laptop.
Eu planejava ligar para Will quando chegasse, mas não foi necessário. Ele
estava no bar do lobby todo decorado, conversando com três mulheres em
vestidos que abraçavam cada curva e mostravam suas pernas longas e
torneadas. Duas morenas e uma loira. Parecia o início de uma piada ruim, o
que ele aparentemente achava divertido, porque consegui escutar sua risada
calorosa da entrada do hotel. Unhas feitas dançavam por sua camisa de botão
quando me aproximei, escurecendo meu humor já azedo.
Flagrando meu olhar — ou mais precisamente, meu olhar fuzilante —, o
playboy milionário sorriu.
— Minhas desculpas, senhoritas, mas meu encontro das sete acabou de
chegar. Obrigado por me entreterem enquanto eu aguardava.
Três pares de olhos femininos se viraram para me olhar, todos se
estreitando irritados, enquanto Will finalizava sua taça de vinho. Ele sinalizou
para o bartender, que correu para atendê-lo.
— Sim, sr. Mershano?
— Por favor, coloque isso na conta do meu quarto, assim como tudo que
essas senhoritas adoráveis desejarem durante a noite.
Ele mostrou suas covinhas para as senhoritas adoráveis, o que
transformou suas expressões sérias em adoração. Revirei os olhos.
— Tem certeza de que não pode ficar?
A loira passou suas unhas vermelhas pelos botões da camisa dele até o
cinto, onde ele segurou o punho dela e trouxe até os lábios.
— Outra hora, querida — ele murmurou, seus olhos escuros nos meus
conforme mordiscou a mão da mulher e a soltou. — Aproveitem a noite,
senhoritas.
As mulheres em volta dele pareceram suspirar em uníssono quando ele se
afastou do bar. Se ele as ouviu, não demonstrou, apenas manteve o olhar
ardente nos meus ao caminhar até mim.
— Podemos remarcar se você tiver outras coisas para cuidar — eu disse,
cumprimentando-o. — Ou devo dizer “pessoas”?
Ele riu olhando para mim.
— Meus únicos planos hoje são com você, querida. Vamos subir?
— Tem certeza de que não quer convidar suas novas amigas?
Elas pareciam estar tristes por perdê-lo e planejando minha morte
precoce.
— Talvez mais tarde.
Ele pegou a bolsa do meu braço e colocou no próprio ombro. Abri a boca
para informá-lo de que poderia carregá-la eu mesma, mas minha garganta se
contraiu em volta das palavras. Ele assentiu na direção do elevador em um
gesto siga-me e liderou o caminho enquanto eu o seguia. Talvez mais tarde.
Aquelas três palavras foram um soco no estômago e pesaram nos meus
pensamentos enquanto seguimos para o quarto dele. Por que me importo?
Will tinha todo direito de passar o rodo e provavelmente o fazia com
frequência. Sendo um solteirão lindo e rico, ele provavelmente atraía infinitas
conquistas, por isso o harém no bar.
Foi a primeira vez que o vi dando em cima de outra mulher sem ser eu, o
que significava que meus pensamentos anteriores sobre seu flerte ser
inofensivo estavam certos. O homem não precisava oferecer um emprego a
uma mulher em troca de uma companhia noturna. Um pouco de vinho e seu
próprio charme causavam o efeito. Eu tinha visto o olhar delas; as três
mulheres o teriam acompanhado para cima se ele pedisse.
Para ter uma vida de lazer…
Aquele pensamento teve um significado totalmente diferente quando Will
abriu a porta para sua suíte presidencial. Não era a cobertura, mas chegava
bem perto disso.
— Caramba — respirei, observando as janelas do teto ao chão com vista
para o lago Michigan.
Tirei os sapatos, deixando-os perto da porta, e me aproximei para admirar
a vista. O lago brilhava com o sol se pondo, uma beleza de apelo infinito que
roubou o ar de meus pulmões. Eu amava aquela cidade, mas às vezes ela me
sufocava. Aquela vista me lembrou do mundo além dela, dando-me uma
sensação de esperança.
O reflexo de Will apareceu na janela conforme ele se aproximou de mim
por trás com duas taças de vinho. Considerei recusar a princípio, mas adorava
um bom vinho tinto. Além disso, tinham sido longos dias e eu poderia beber
um pouco.
— Cabernet Sauvignon?
— Sim, com notas de cereja preta e um toque de ameixa.
Balancei a cabeça ao me virar e aceitar a taça.
— Um simples “sim” seria suficiente.
— Qual seria a graça nisso? — Ele brindou sua taça com a minha. — A
novas sociedades.
Claro.
— A novas sociedades. — Dei um gole e contive um gemido. Meu Deus,
o homem conhecia seu vinho. — É delicioso.
— Eu sei.
Sorri por cima da taça para ele.
— Convencido.
— Prefiro “confiante”. — Ele deu outro gole, com os olhos ardentes
enquanto dançavam por mim. — Janet falou com você sobre começar?
— Ela me ligou umas seis horas para dizer que eu poderia fazer uma
revisão preliminar dos materiais, mas só isso.
Até ele assinar na linha pontilhada, eu não poderia oferecer nenhum
conselho legal ou começar a pesquisa no lugar dele, mas poderia olhar os
documentos que ele queria compartilhar.
Ele gesticulou para a sala de estar que ignorei para olhar a vista. Era o
dobro da minha área comum do apartamento e tinha uma cozinha completa
ao lado que dava para uma sala de jantar com uma mesa de oito lugares.
Havia um corredor à direita, levando a alguns quartos e banheiros.
Cruzei as pernas de indiozinho no sofá enorme enquanto ele pegava a
cadeira e trocava o vinho pelo laptop. Ele ainda não havia trocado sua
vestimenta de negócios, usando, então, calça preta e a mesma camisa branca
com as mangas arregaçadas nos cotovelos.
Seus antebraços expostos flexionavam conforme ele digitava, aludindo
aos amplos músculos debaixo de suas roupas. Aquelas pernas compridas
eram puro músculo, e a forma como seu cinto se apertava em sua cintura fina
sugeria sua intimidade com a academia. Ou talvez ele adquirisse aquela
forma depois de longas horas no vinhedo. Tinha as mãos de um homem que
trabalhava duro, não de um aristocrata. Notei isso quando nos conhecemos. A
mão dele era áspera e masculina contra a minha, não macia e lisa. Não
combinava com a personalidade charmosa, ou com o título anexo ao seu
sobrenome.
— Tudo bem, isso deve ser suficiente para você começar. — Ele colocou
o laptop na mesa entre nós. — Vou pedir algo para jantar. Alguma
preferência?
— Não. — Eu não tinha comido muito o dia todo…Um efeito colateral
de estresse e pouco sono. Isso fazia com que fosse perigoso quase terminar a
taça de vinho, mas eu não me importava. Coloquei a taça de lado e peguei o
computador dele para revisar os conteúdos na tela. — O que estou olhando?
— A propriedade na França que estou adquirindo. Há algumas outras,
mas essa é a mais iminente, já que eles querem uma reunião ao vivo em
apenas um mês.
— Onde são as outras? — perguntei mais por curiosidade do que
qualquer outra coisa.
— Vários lugares, mas nenhum ainda está confirmado, então vamos focar
na vinícola francesa primeiro.
— Você é o chefe.
Me arrependi no instante em que disse isso. Fazendo uma careta, vi seu
olhar divertido.
— Cliente — ele corrigiu. — Mas sinta-se à vontade para se direcionar a
mim como “senhor” a qualquer momento, querida.
Bufei.
— Não vai acontecer.
As pupilas dele se dilataram quando ele me analisou.
— Veremos — ele murmurou em um tom que não tinha sua qualidade
costumeira de brincadeira.
Foi baixo, sedutor e me tocou em todos os locais certos. Oh, eu gostava
muito mais daquela voz, assim como o olhar que veio com ela. A confiança
se instalava em suas íris achocolatadas e curvou seus lábios em um sorriso
sedutor que me fez apertar as coxas. Merda.
Talvez nos reunir em sua suíte tenha sido má ideia. Sempre consegui
ignorar minha atração a ele no conforto do meu espaço, como o apartamento
ou o escritório. Mas ali, no espaço dele, com seu cheiro apimentado
seduzindo meus sentidos, me sentia hipnotizada por sua presença, pela
maneira como seu polegar passava por seu lábio inferior conforme me
analisava, pelo calor que queimava em seus olhos. Desvie o olhar.
Me concentrei no site que ele abriu, e comecei a ler em francês. Era tudo
rabisco, não devido à minha falta de entendimento, mas devido ao meu
cérebro ter se esquecido de como ler. Cada palavra soava errada em minha
mente. Eu nem conseguia traduzir o nome da empresa.
É, isso é um bom começo.
Recomponha-se, Dawson.
Olhei discretamente para Will e o vi encostado na parede, com um
tornozelo cruzado por cima do outro, conforme mexia no celular. Totalmente
não afetado. Enquanto isso, minhas faces queimavam. O homem era
poderoso. Se alguns olhares e palavras me deixavam quente, o que suas mãos
poderiam fazer? Então não podia pensar nisso. Só que eu estava pensando.
Uma imagem bem clara do que as mãos dele fariam comigo passou por
minha cabeça. Mordi o lábio para não gemer. Esse celibato forçado tinha me
depravado. E a falta de sono não estava ajudando.
Foco, Rach.
Comecei a reler a história da vinícola, e as palavras se conectaram em
minha mente. Tinha lido a metade de um parágrafo quando a voz carinhosa
de Will me distraiu de novo.
— Boa noite, Vanessa. — Uma pausa, depois sua risada de marca
registrada acariciou meus sentidos. — Você me conhece muito bem. Aham.
Será para duas pessoas esta noite. Isso. — Outra gargalhada. — Não, ela é
uma colega. Exatamente. Obrigado, querida. — Ele guardou o celular no
bolso, balançando a cabeça, saiu da parede e se sentou à minha frente de
novo. — Pedi pizza para nós.
— Não ouvi nada sobre comida na conversa.
Era a segunda vez na noite que eu soava como uma namorada ciumenta.
Primeiro com as mulheres lá embaixo, e agora com a ligação dele. Muito
antiético.
Ele cruzou o tornozelo no joelho.
— Vanessa sabe do que gosto. — Aposto que sabe. — Então o que acha
da vinícola?
— Ãh, ainda não acabei de ler.
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Pensei que falasse francês fluentemente.
— Bien sur que oui, mais je suis fatiguée. —Claro que sim, mas estou
cansada. Não era toda a verdade, mas era verdade, mesmo assim.
—Très bien, ma chérie. —Tudo bem, querida.
Seu sotaque acabou com o meu. Por que era tão sexy?
— Quais outras línguas você fala?
— Italiano, espanhol e falo o suficiente de alemão para não ser perigoso.
Impressionante.
— Só falo francês e inglês.
Ele ergueu aqueles ombros largos.
— Você não foi criada para trabalhar em uma rede internacional de hotel.
Diria que sua formação em Direito na Northwestern é bem mais
impressionante.
— Você não tem um MBA em Stanford?
— Estamos competindo nossos currículos agora, srta. Dawson?
— Só indicando suas qualificações impressionantes, sr. Mershano.
Ele mexeu as sobrancelhas.
— Você me acha impressionante, então?
Revirei os olhos com a insinuação em seu tom.
— Pare de me distrair. Preciso ler.
— Agora sou uma distração?
Pegando a almofada ao meu lado, joguei-a na cabeça dele. Ele a pegou
com uma mão e riu.
— Cuidado, querida. Não quer começar uma briga de travesseiro a menos
que pretenda ir até o fim.
Seu barítono profundo provocou um arrepio de dentro de mim. O homem
me afetava como poucos homens já tinham feito, e seu olhar dizia que sabia
disso. Minha decisão de encontrá-lo ali subiu de talvez ser uma má ideia para
definitivamente ser uma má ideia. Eu claramente não conseguia manter
minhas faculdades mentais ao redor dele em um ambiente tão íntimo. Da
próxima vez, nos encontraríamos em meu escritório ou em uma sala de
reuniões. Ou em um café lotado.
O toque de Ryan preencheu o ar, jogando água fria em meus hormônios.
Deve ser mais de sete e meia.
Will pulou para pegar minha bolsa, me obrigando a sair do sofá. Quase
derrubei o laptop dele nesse meio tempo, mas consegui colocá-lo na mesa e
alcançá-lo bem na hora para arrancar o celular de sua mão.
— Uau, querida. Eu não ia atender.
O toque parou, depois começou de novo um segundo depois. Fechei os
olhos e respirei fundo pelo nariz. Ryan não iria parar até eu atender. Se
desligasse o celular, ele apareceria no meu escritório no dia seguinte. Ou pior.
— Há algum lugar em que eu possa atender? — perguntei sem olhar para
Will.
— Claro, no fim do corredor é a suíte master. Vou ficar aqui para esperar
a comida.
Engoli.
— Obrigada.
Meu pé com meia escorregou um pouco quando caminhei pelo corredor
de mármore para a porta aberta no fim. Passei por duas portas pelo caminho,
mas quis ficar o mais longe possível de Will ao falar ao telefone. A última
coisa de que precisava era que Ryan escutasse uma voz masculina no fundo.
Fechando a porta, fui até a cama enorme no meio do quarto e me encostei
nela. O sol baixo lançava sombras estranhas no quarto, combinando com meu
humor. Quando o telefone tocou de novo, atendi.
— Oi…
— Cadê você? — ele perguntou.
Pigarreei.
— Eu te disse que estou trabalhando.
— Não minta para mim, Rachel.
— Não estou mentindo. — O silêncio pairou sobre meus ombros e lançou
arrepios por meus braços. Ele nem estava respirando. — Ryan…
— Sabe, quando você disse que tinha que trabalhar, na verdade, eu me
senti mal. Pedi um bom jantar para nós comermos em seu escritório, então
imagine minha surpresa quando abri a porta e vi uma sala vazia.
Meu coração caiu. Não por causa da escuridão em seu tom de voz, mas
por causa de suas palavras. Baker Brown ficava em um prédio seguro. Era
preciso usar cartões para entrar depois do horário comercial, e eram
programados por andar. Eu também tranquei minha porta antes de sair. Era
possível que um guarda o tivesse deixado subir, ele bateu e não houve
resposta, e tirou conclusões, mas eu duvidava disso.
Ele tem a chave do meu escritório…
— Cadê você? — ele repetiu quando eu não disse nada.
Minhas pernas começaram a tremer, me obrigando a sentar na cama.
— Estou com um cliente — consegui dizer.
Parecia que, quando começava a recuperar minha confiança, Ryan a
mandava embora em uma simples aparição ou palavra. Quantas vezes eu
permitiria que ele fizesse isso comigo? Por que eu continuava com isso?
Toda vez que ele aparecia ou ligava, agia como se ainda estivéssemos juntos.
Não importava o que eu dissesse ou quantas vezes recusasse, ele ainda me
dominava.
E eu o odiava por isso.
Me odiava por permitir isso.
— Está com um cliente? — ele repetiu incrédulo.
— Um potencial, isso. — Tossi para desalojar as bolas de algodão que
cobriam minha garganta. — Estou revisando o portfólio deles e avaliando o
escopo do projeto. — Evitei de propósito o pronome masculino. — Baker
Brown está elaborando uma proposta e, se for aceita, serei o ponto principal
de contato. — Parei de explicar. Informação demais.
Ele não disse nada por muito tempo.
— Qual é o projeto?
Listei algumas estatísticas financeiras, e ele soltou um assobio baixo.
—E eles querem que você lidere? — Ele não soou muito surpreso, mas
impressionado.
— Sim. — Não expliquei mais.
— Uau, isso é ótimo, baby! Por que não disse nada?
Estremeci com a mudança de seu comportamento. Olá, Dr. Jekyll.
— Eu não queria me precipitar.
Era a melhor desculpa que poderia criar naquele momento. Porque não é
da porra da sua conta era o que eu queria dizer, mas as palavras pesaram no
meu peito.
— Está fora com os clientes agora?
Não corrigi seu uso de plural.
— Estou.
— Então foi por isso que não atendeu. Ok. Desculpe, baby, pensei que…
— Ele parou de falar, e senti que ele balançava a cabeça. — Ei, precisamos
comemorar.
Ou não e fingimos que comemoramos. Mordi o lábio, refletindo.
— Bom. —Pense rápido, Rach.— Caso a proposta seja aceita, vou
precisar deixar todas as tarefas atuais para conseguir estudar. Há muito
trabalho a se fazer, e eles querem que eu viaje, então não faço ideia de como
será minha agenda ou quando estarei livre.
Tudo saiu muito rápido, um hábito quando meus nervos ficavam à flor da
pele. Ele vai pensar que estou mentindo.
— É, não, entendo perfeitamente. Claro. Mas vamos dar um jeito, baby.
Sempre damos.
Você quer dizer que você sempre dá um jeito.
— Certo. — Uma voz feminina flutuou pelo corredor, me dizendo que a
pizza tinha chegado. Ou talvez fossem as amigas de Will do bar. Franzi o
cenho. — Tenho que ir. — Minha voz soou mais forte. Até irritada.
— Claro. Vá bajular o cliente, minha menininha. Você consegue.
Aquelas últimas duas palavras costumavam me empoderar. Isso era antes
de eu entender o objetivo delas.
— Obrigada — me obriguei a falar, minha força temporária esquecida.
Ele mandou alguns beijos pelo celular antes de desligar, e eu me joguei
nos travesseiros atrás de mim. Coloquei um no rosto e lutei contra a vontade
de gritar. Era isso ou jogar meu celular do outro lado do quarto. Já tinha feito
isso. Minha conta bancária me detestava por isso.
— Caralho!
As penas abafaram meu grito, então o fiz de novo. E de novo. Muitas
vezes, enquanto meu corpo tremia com ódio.
— Sabe, querida. — O rosnado profundo masculino espantou minha
irritação, substituindo-a com um sentimento mais quente. Um que deslizou
por meu corpo como um carinho proibido, fazendo meus membros travarem.
— Um homem pode ter a ideia errada depois de encontrar uma mulher
deitada em sua cama gritando “caralho” repetidamente.
XINGANDO NA CAMA
Tirei o travesseiro da cabeça e encarei um par de olhos castanhos
divertidos. Will estava com as mãos nos bolsos, com uma postura casual. O
desejo de agarrar sua camisa e puxá-lo para baixo me atingiu forte na parte
inferior do abdome. Fazia tempo demais que um homem havia me tocado.
O tempo pareceu parar quando seu olhar pairou em minha boca. A
intensidade substituiu a diversão, fazendo as pupilas dele se dilatarem. De
repente, ele não pareceu tão relaxado, e eu não muito tensa. O que ele faria se
eu o agarrasse? Ele estava a menos de meio metro de distância. Não seria
difícil.
O calor flutuou por minha pele quando fiquei sem respirar. A confiança
sexual nata de Will pareceu preencher o cômodo, fazendo meus hormônios
guerrearem com razão. Minha atração a ele nunca esteve em questão, mas eu
sabia que era melhor não seguir com isso. Isso não impediu que meus
mamilos se enrijecessem contra meu sutiã de renda. Ele deve ter notado,
porque olhou para baixo, depois continuou sua análise em câmera lenta,
parecendo um carinho contra minha pele.
É isso. Após semanas de preliminares verbais, ele iria finalmente agir e
provar o motivo verdadeiro por me querer nesse caso. O alívio se misturou
com decepção. Eu o queria em um nível básico e com certeza gostaria de uma
noite em sua cama, mas uma pequena parte de mim esperava que ele me
considerasse mais valiosa do que apenas outra conquista. Oh, bom, pelo
menos ele vai acabar com minha crise de celibato forçado e ajudar…
Will pigarreou e deu um passo para trás.
— A pizza chegou. — Seu tom não tinha a brincadeira costumeira com a
que eu passara a associar a ele. — Estarei na sala.
Encarei suas costas conforme ele saiu do quarto. Espere, o quê? Será que
interpretei errado sua linguagem corporal? Não. Não pode ser. Eu sabia como
era o desejo, e praticamente irradiava dele. Mas ele se afastara. Sem nem
hesitar. Deve ter sentido minha aprovação, certo?
Franzi o cenho. Sarah zombava do meu comportamento frio de sempre,
um hábito que desenvolvi para impedir avanços masculinos. Será que isso
estava tão incrustado em mim que eu tinha permitido que me seguisse até o
quarto? Um olhar para minhas pernas expostas provocou um calor pelo meu
pescoço. Não. Definitivamente, não era um problema de frieza. Se fosse
alguma coisa, seria a aparência desesperada que minha saia erguida
provocava, e meu cabelo provavelmente estava uma bagunça graças aos
travesseiros.
Apertei o nariz e fiz uma careta. Eu devia estar muito não profissional
espalhada na cama de um cliente, gritando Caralho! sem parar. Além de
tudo, em meu estado mentalmente cansado, interpretei mal a expressão de
Will. Balancei a cabeça para clarear a mente.
Minha versão calma, recomposta e confiante pairou sobre meus ombros
conforme me levantei da cama. O espelho do banheiro confirmava o ninho de
passarinho na minha cabeça. Passei os dedos pelos cachos loiros rebeldes e
usei um lacinho de cabelo que tinha no punho para amarrá-lo em um coque
bagunçado. Não era o mais profissional, mas estava melhor que antes.
Ajustando a blusa no lugar, passei as mãos na saia amassada, peguei o celular
que havia deixado na cama e fui para a sala.
Will estava sentado à mesa de jantar, lendo algo em seu laptop, quando
entrei. A caixa de pizza estava intocada, com dois pratos ao lado e nossas
taças de vinho. A minha parecia estar cheia de novo. Peguei-a pela haste, dei
dois goles fortalecedores, e me ocupei servindo a pizza enquanto ele
analisava sua tela.
Após um minuto, ele fechou a tampa.
— Sua firma enviou a proposta — ele murmurou ao aceitar o prato que
eu lhe oferecia.
Sem sinal de estranheza ou conhecimento sobre o que acabou de
acontecer no quarto. Será que era tudo da minha cabeça?
— Você concorda com os termos? — perguntei com voz profissional.
— A maior parte deles. Vou precisar conferir com Garrett alguns itens.
Seus antebraços se flexionaram quando ele cortou a enormidade de
molho, queijo e crosta à sua frente. Quem diria que comer pizza no estilo
Chicago seria sexy? Ele fez parecer uma obra de arte quando colocou um
pedaço na boca e ergueu as sobrancelhas.
— Nada mal para um sulista — zombei antes de fazer o mesmo. Hummm.
Havia peperonis escondidos debaixo do queijo. Sempre uma surpresa
deliciosa.
— Não é minha primeira vez — ele respondeu. — Então, quem era no
telefone?
Quase engasguei com a comida. Demorei um minuto para me lembrar de
mastigar e engolir. Em seguida, dei um gole saudável no vinho.
— Ãh, ninguém importante. — É, muito convincente.
— Ninguém importante te faz falar profanidades, huh? — A
incredulidade coloriu seu tom, mas sua expressão se manteve brincalhona
conforme ele devorava outro pedaço magistral de queijo delicioso. — A
proposta lista você como contato primário, mas Janet como líder do projeto.
O que acha disso?
A mudança de assunto foi chocante. Eu esperava que ele insistisse mais,
mas desistiu. Será porque identificou meu desconforto ou porque não se
importava realmente?
— A firma o considera um cliente lucrativo — respondi. — Faz sentido
colocar um sócio como líder.
— Mas você vai fazer todo o trabalho.
Dei de ombros.
— Os negócios são assim.
— Não é assim que administro a minha empresa.
— É, mas você tem o que... cem funcionários? Baker Brown tem um
número mais significativo.
— A Hotel Mershano tem milhares, e Evan sempre dá o crédito para
quem é devido. — Ele parou para inalar outra mordida antes de fixar um
olhar em mim. — E a Vinhedo Mershano tem quase quinhentos funcionários.
— Sério?
Meu primeiro acesso à empresa dele há algumas semanas não foi tão
preciso quanto pensei…Resultado de não levar sua oferta a sério, algo de que
me arrependo agora. Eu poderia ter começado aquele projeto mais cedo. Em
vez disso, fiquei brincando de gato e rato por semanas.
— E espero incluir mais com essas aquisições estrangeiras.
Ele finalizou sua pizza e empurrou o prato para o lado. Esperava que ele
quisesse mais, mas, em vez disso, reiniciou o laptop.
— Assim que o contrato estiver assinado por mim e sua firma, vou enviar
tudo que tenho da fusão pendente e das outras propriedades que estou
interessado em adquirir. Além disso, você terá acesso aos registros, às
finanças, e outros componentes chave da Vinhedos Mershano. Nesse ínterim,
pode ler os termos que a vinícola da França exigiu. Isso deve te manter
ocupada esta semana e permitir que apresente adequadamente nosso primeiro
projeto para sua equipe na semana que vem.
Parecia ótimo. Acabei minha pizza e a taça de vinho enquanto ele enviava
um e-mail cheio de materiais sobre o projeto. Meu bolso tocou um minuto
depois me avisando que seu e-mail havia chegado. Voltei para a sala de estar,
peguei meu laptop na bolsa e o liguei no sofá.
Me dei conta, depois de ler por alguns minutos, que ele poderia querer
que eu fosse embora, mas um olhar para ele dizia que não estava com pressa
de me enxotar. Estava envolvido em seu próprio trabalho, ou talvez a
proposta, e não parecia nada irritado por eu ter me apossado de seu sofá.
Bocejando, voltei a traduzir o site na minha tela e ler tudo sobre a
vinícola que ele iria adquirir no sul da França. As fotos eram maravilhosas, e
a reputação da vinícola era sólida. Imaginei, por curiosidade, por que eles a
estariam vendendo, então parei em uma foto dos proprietários idosos.
Pareciam não ter filhos e querendo se aposentar. Interessante.
Comecei a ler os termos que ele me encaminhara, e alonguei os braços
acima da cabeça. Cada músculo em meus ombros e pescoço parecia doer.
Pensei em arrumar tudo para ir embora, mas os comentários de Will sobre se
preparar para a semana seguinte martelavam na minha mente. Se eu quisesse
provar aos sócios que eu tinha o que precisava para liderar um projeto dessa
magnitude, então precisava estar preparada. Chegar com todos os detalhes na
ponta da língua seria um início saudável.
Meus olhos caíram um pouco enquanto continuei lendo em francês. Não
muito entediante, mas exaustivo. O fim de semana estava definitivamente me
atingindo. Quando as palavras começaram a embaçar, belisquei a ponta do
nariz e deixei as pálpebras se fecharem. Acontecia isso toda vez na faculdade.
Eu só precisava que elas se restabelecessem, e estaria alerta de novo.
Contendo um bocejo com a outra mão, deitei a cabeça na almofada macia e
relaxei.
Só por um minuto.

*
Respirei fundo, inalando a essência atraente que me rodeava. Toque de
hortelã e pimenta e algo decisivamente masculino. Delicioso. Fiquei com
água na boca.
Me enterrei mais ainda no paraíso ao meu redor, me esbaldando no
algodão acetinado e travesseiros macios. Meus membros estavam bem
descansados, meu peito estava quente e satisfeito, mas meus pés pareciam
apertados. Mexi os dedos do pé contra o tecido sufocante e franzi o cenho.
Por que usei meia-calça para dormir?
Abri os olhos e foquei no que via.
— Ah, não.
As cortinas estavam cobrindo as janelas que iam do chão ao teto,
mascarando a luz que batia do lado de fora, mas só precisei de um facho de
luz. Apoiei a cabeça nas mãos e comecei a balançar para a frente e para trás.
— Caralho.
— Parece que gosta mesmo de falar isso na minha cama, querida.
Hesitei e olhei para o loiro bem vestido contra o batente da porta. Ele
havia trocado sua camisa de botão e calça preta por uma camiseta azul-claro e
calça cinza. Até à meia-luz, eu conseguia ver suas covinhas.
— Que horas são? — O sono ainda estava na minha garganta,
amenizando a voz.
— Um pouco depois das dez da manhã — ele murmurou com um tom
divertido.
—Caralho!
Meu celular devia estar em outro cômodo ou sem bateria, porque eu não
tinha ouvido o alarme das seis da manhã. Eu detestava atrasos, e nunca
chegava no trabalho depois das nove.
Pulei da cama, então um corpo quente me fez parar. As mãos de Will
seguraram meus quadris, me equilibrando diante dele, pois eu teria caído para
trás.
—Wow, calma, querida. Não quis te assustar.
Minha cabeça girou, tentando acompanhar os movimentos rápidos demais
do meu corpo, e agarrei os bíceps dele para me apoiar.
— Conversei com Janet esta manhã — ele confirmou — e disse que
iríamos nos encontrar para tomar café da manhã e revisar alguns materiais.
Não precisa ter pressa.
Bati uma mão na testa enquanto a outra apertava ainda mais o braço dele.
Uma variedade de palavras lutava para serem prioridade na minha boca, me
deixando muda. Eu não fazia ideia por onde começar.
Desculpe.
Não acredito que caí no sono.
Não acredito que dormi.
Tenho muito trabalho a fazer.
Will me afastou um pouco, fazendo a parte de trás da minha perna
encostar no colchão. Me sentei por instinto e soltei o braço dele. Coloquei as
mãos na cabeça, que estava latejando. Será que eu tinha bebido muito vinho
na noite anterior? Porque eu poderia jurar que estava de ressaca.
— Já volto.
Mal registrei o murmúrio com o barulho acontecendo na minha mente.
Isso não é profissional. Primeiro, o momento bizarro no quarto dele na noite
anterior, depois eu dormindo no meio da leitura da fusão dele, e agora isso?
Mordi o lábio e balancei a cabeça. Poderia ser o momento mais importante da
minha carreira, e eu estava no caminho certo para estragar tudo.
O palavrão parou entre meus dentes quando Will entrou de novo no
quarto. A expressão dele dizia que sabia o que eu estava prestes a dizer e que
queria rir, mas se conteve.
— Tome. — Ele me entregou um copo de suco de laranja, fazendo meu
nariz enrugar. — Confie em mim. Vai ajudar.
— Que confusão — sussurrei mais para mim mesma do que para ele, e
peguei a bebida. O líquido grosso me dizia que fora recém espremido, e sim,
caiu maravilhosamente bem na minha garganta. Bebi metade dele, depois
disse: — Obrigada.
— Claro — ele respondeu. — Sinta-se à vontade para usar o banheiro e
se lavar. Podemos passar na sua casa no caminho para o escritório para que
possa se trocar.
Me encolhi.
— Nada como fazer a caminhada da vergonha com um cliente.
— Não tem por que ter vergonha. — Seu olhar achocolatado se fixou no
meu. — Suspeito que iremos passar muitas noites juntos no próximo mês ou
nos dois próximos, srta. Dawson. E estou ansioso para cada minuto.
Com essa declaração sugestiva pairando entre nós, ele se virou e fechou
suavemente a porta ao sair.
NEGÓCIO FECHADO
Nenhum dos quartos de hotel que já tinha ficado vinha com as
amenidades que encontrei no banheiro da suíte de Will. Produtos de higiene
pessoal eram típicos, mas a variedade de escovas de cabelo e suprimentos
dentais, não. Aproveitei e tomei um banho completo e me arrumei, depois
vesti de novo minha saia. Me ajudou a me sentir humana novamente e
também forneceu o tempo de que eu precisava para organizar minhas ideias.
Pelo menos até entrar na sala de estar e ver Will conversando com um
moreno de altura e estatura similares. Seu terno acinturado gritava elegância e
riqueza, assim como bom gosto. Era justo em seu tronco, envolvia sua cintura
e enfatizava os músculos de suas coxas. Suas abotoaduras brilhavam na luz,
prateadas, não douradas, e seu sorriso era cheio de arrogância.
— Srta. Dawson — ele cumprimentou.
Seu perfume suave provocou um frio familiar na minha espinha. Uma
noite de infinito debate o tornou inesquecível.
— Sr. Wilkinson.
Seus olhos azuis surpreendentes tinham um toque de ameaça que fazia
meu pulso acelerar, mas, quando ele ergueu a mão, eu o cumprimentei. Seu
aperto de mão firme gritava dominância, mas não era esmagador ou cruel.
Apenas um alfa confirmando sua presença. Quando retornei o gesto
sutilmente, seus lábios se curvaram e ele olhou tão rápido para Will que foi
difícil de eu interpretar. Aprovação, talvez?
— É um prazer finalmente conhecê-la — ele murmurou ao soltar minha
mão. — Will me contou que vamos parar na sua casa no caminho para o
escritório.
A forma íntima como ele disse isso me fez encolher.
— É, ou vocês dois podem seguir para o escritório e eu os encontro lá.
Garrett olhou o relógio.
— Não, temos tempo.
Franzi o cenho.
— Quando é sua reunião?
Seu sorriso como resposta combinava com seu apelido. Era o Diabo
mesmo.
— Oh, mocinha, os truques que eu poderia lhe ensinar…
— Não temos hora marcada — Will explicou, divertindo-se. — Garrett
prefere o elemento surpresa.
— Que você acabou de arruinar.
— Rachel não vai falar nada.
Ergui uma sobrancelha quando um pouco da minha personalidade
respondeu.
— Agora você fala por mim?
Qual era o problema com homens ricos e a constância em me tirar do
jogo?
— Não sonharia com isso — Will respondeu ao pendurar minha bolsa no
ombro. Nem tinha reparado que ela estava ao lado dele na mesa. — Mas, já
que estou com seu laptop e celular — ele continuou —, me sinto mais
confiante ao falar isso.
Meu queixo caiu.
— Alguns chamariam isso de roubo.
— Eu chamo de garantia. Vamos?
Abri os lábios para discutir, mas a luta me abandonou quando respirei de
novo. Não queria meu celular de volta. Não depois da noite anterior. Ryan
sempre escolhia momentos aleatórios para tentar falar comigo, mas algo
sobre sua abordagem estava diferente daquela vez. Parecia mais urgente, o
que me preocupava. O desespero o tornava ainda mais perigoso, e eu não
podia deixar que ele intensificasse seus avanços no momento. Não quando
estava claro que eu ainda tinha medo dele.
— Rachel?
A preocupação franzindo a testa de Will era a última coisa de que eu
precisava.
— Para seu governo, só vou deixar você segurar minhas coisas porque
não estou a fim de carregá-las.
O tom sarcástico soou forçado para meus ouvidos, mas pareceu acalmá-lo
o suficiente para amenizar as linhas de sua testa.
— Como quiser, srta. Dawson.
— Posso gravar isso?
Porque aquelas palavras definitivamente seriam úteis nas semanas
seguintes.
Ele colocou a mão na minha lombar para me fazer andar.
— Sem chance, querida.

— Ele te convenceu. — A risada na voz de Sarah veio alta e clara pelo


telefone. — Não posso dizer que estou surpresa. Aquele homem é insistente
em todos os níveis.
Relaxei na cadeira do escritório e suspirei.
— Eu não tive escolha. Ele está contratando a minha firma.
Havia deixado Will e Garrett no elevador, desejando o melhor a eles antes
de subirem e surpreenderem os sócios. Após ouvir as brincadeirinhas
masculinas deles pelos últimos noventa minutos, eu sabia que Jeff e Janet
estariam ocupados. Parte de mim tinha pena deles, enquanto o resto de mim
estava aliviada de ter um pouco de espaço. Era muita arrogância masculina
por um dia, muito obrigada.
— Aham. Admita. Você está lisonjeada.
Bufei.
— Não estou mesmo.
— Eu te conheço há quantos anos? Vinte? Você está completamente
lisonjeada.
— Vou desligar na sua cara. Tchau, Sarah. — Fingi colocar o telefone no
gancho, depois o trouxe de novo ao ouvido e esperei um pouco. — Tá bom,
então estou um pouquinho lisonjeada e super hiper irritada.
— A-há! Aí está, senhoras e senhores, minha melhor amiga admitindo a
derrota. Você sabe que estou gravando esta conversa, não é?
Seus tons zombeteiros me obrigaram a sorrir. Sarah não fazia ideia do que
aquele pequeno presente de normalidade significava para mim. Os últimos
dias tinham sido um furacão de insanidade. Senti que estava me perdendo no
processo, mas algumas palavras dela me fizeram voltar à realidade.
— Sabe, da próxima vez que precisar de uma revisão de contrato, tente
ligar para seu outro amigo advogado para te ajudar. Ah, espere, você não tem
outro…
O sarcasmo envolveu cada palavra.
— Tá, tá. — Imaginei-a abanando a mão ao falar. — Então, me conte
tudo.
—Não há muito para contar a não ser que ele agendou uma reunião com a
Baker Brown na primeira hora ontem de manhã, me convidou, depois insistiu
em me fazer o contato líder para o caso. Ele está lá em cima neste instante
com Garrett discutindo a proposta que minha firma enviou ontem à noite.
— Garrett está aí?
— Está, aparentemente, ele pegou o primeiro voo desta manhã, o que me
fez pensar que Will está jogando duro com alguma coisa naquela proposta.
Por que mais ele convidaria o Diabo para brincar?
— Garrett é todo imponente como soa?
Dei risada.
— Ele sabe parecer bem arrogante.
— É bonito, não é?
— Nem conseguiria fazer jus a ele — admiti. — Ele compete bem com
Will.
Talvez literalmente se fosse levar aquele terno em conta.
— Então eles três no mesmo cômodo…?
— Me faria olhar duas vezes — respondi, sabendo que ela estava falando
de Evan, Will e Garrett.
— Legal. Deveríamos fazer isso acontecer, embora ache que você já
olhou mais do que precisava para Will?
Houve um tom de pergunta em sua voz, como ultimamente parecia
sempre acontecer quando conversávamos sobre Will.
— Você sabe que ele não é meu tipo.
Talvez fisicamente fosse.
— Na verdade, eu diria que ele é exatamente seu tipo.
— Não saio com homens como ele.
— De novo, eu diria que não é verdade — foi sua resposta tranquila. —
Não pode deixar Ryan te controlar para sempre, Rach.
A menção do nome dele tirou o sorriso do meu rosto. O sentimento
queimou minha garganta, frustrando minha capacidade de soltar uma resposta
àquela declaração exata demais.
— Ele não é o Ryan, Rach. Precisa enxergar isso — ela continuou,
sabendo que me atingiria assim. — Fiquei preocupada que você conectasse a
persistência dele com aquele seu ex, mas precisa enxergar que ele nunca
realmente te obrigaria a nada, certo? Digo, com exceção de contratar sua
firma, o que, suponho que poderia ser visto dessa forma… — Senti que ela
raciocinava melhor. — Me lembre de bater nele por isso.
— Ele me deu uma escolha — murmurei. — Ontem, quero dizer. Depois
da reunião, ele me trouxe almoço e me disse que desistiria se eu realmente
não quisesse trabalhar com ele.
Eu deveria deixá-la bater nele, porque seria divertido de ver, mas parte de
mim sentia a necessidade de defendê-lo. Porque ele realmente me deu uma
escolha e, então, continuou a provar que meus instintos estavam errados a
todo instante.
— Ryan nunca teria te dado uma escolha — foi tudo que ela disse em
resposta, finalizando seu argumento.
— Ele apareceu no sábado à noite.
Me encolhi com a fraqueza na voz, mas senti uma força por finalmente
admitir isso para alguém. Foi quando o mantive em segredo que as coisas
pioraram para mim. Eu sabia disso, mas toda vez parecia como se arrancasse
um Band-Aid e expusesse minha alma.
— O quê?! — Sarah exclamou. — Que otário! Foi porque ele soube que
me mudei?
— Não, mas agora ele sabe, depois de ver todas as caixas.
— Jesus, Rach, por que não contou nada no domingo de manhã? Esquece,
eu sei por quê. Você sabia que eu não iria embora. — Imaginei-a torcendo o
nariz ao soltar um longo suspiro. — Você precisa de uma ordem de restrição.
— Da última vez que tentei isso, ele apareceu com a papelada e a
queimou a dois centímetros do meu rosto. — Estremeci com a lembrança,
com medo e ódio ao mesmo tempo. — Sabe que não é tão fácil com ele.
— Talvez Will ou Garrett…
— Não. — Eu não sabia o que ela planejava sugerir, mas minha resposta
foi firme. — Não vou envolvê-los, ou ao Evan. Você pode confiar neles, mas
eu mal os conheço.
— Mas…
— Não. Não vamos conversar sobre isso.
Ela ficou em silêncio por um instante.
— Precisa que eu volte para casa? Porque sabe que voltarei.
— Não, não, claro que não. — A última coisa de que eu precisava era
afastá-la de sua felicidade. Ryan era problema meu. — Consigo lidar com
ele.
Lutei contra a vontade de rir histericamente com esse pronunciamento.
Como se um dia eu tivesse conseguido lidar com ele.
— Já pensou em falar com o amigo de Caleb? Sabe, aquele federal sexy?
Ergui a sobrancelha ao ouvir o nome do meu irmão, então meu coração
acelerou.
— Está falando de Mark?
Nunca contei a Sarah o quanto ele já sabia sobre Ryan, e ela falar o nome
dele do nada me fez pensar o que ela suspeitava.
— É, ele é do FBI, não é? — ela perguntou.
Engoli em seco.
— Ãh, é.
Só que eu achava que isso não era verdade. Suspeitava que Mark
estivesse realmente envolvido em operações ilegais de algum tipo, talvez a
CIA ou algo ainda mais ardiloso. Metade das vezes que eu ligava em seu
celular, caía direto na caixa-postal e ele respondia uma semana ou mais
depois com uma frase vaga “Desculpe, viagem de negócios”. Mas sempre me
ligava de volta. E sempre estava lá quando eu realmente precisava dele.
Como três anos atrás.
Expulsando a lembrança da cabeça, mudei o foco para um tema mais
confortável. Algo um pouco mais divertido. Vingança.
— Na verdade, isso me lembrou, você ainda quer que eu fale com ele
para passar um trote naquela sua gêmea?
Depois que Abby obrigou Sarah a participar do O Jogo do Príncipe, nós
falamos sobre algumas ideias para revidar. Se alguém poderia elaborar uma
boa pegadinha, era Mark Kincaid.
— Quero, sim, mas quero planejar isso para o ano que vem. No momento,
estou punindo-a deixando-a pensar que ainda estou sofrendo com o coração
partido. Assim que admitir estar namorando Evan de novo, vou precisar
acalmá-la em uma satisfação falsa antes de realmente ter a vingança.
Dei risada.
— Eu aprovo. — Abby merecia, e pior. — Só me avise quando for para
falar com ele.
— Você poderia conversar com ele sobre Ryan.
Minhas entranhas se reviraram com a lembrança do porquê ela
mencionara Mark.
Sarah não fazia ideia de como suas palavras me afetavam, como elas
arrastavam de volta lembranças de um momento que eu preferiria esquecer. O
momento em que desisti e chamei ajuda. Mark não havia feito nenhuma
pergunta, mas ele devia saber. Estava escrito em todo meu rosto e pescoço
com hematomas. Mesmo assim, ele apareceu, me ajudou e nunca perguntou o
motivo. Só me entregou um cartão de visita com um número de telefone
misterioso e me disse para ligar se algum dia me encontrasse em uma
situação parecida.
Até esse dia, o cartão estava guardado na minha carteira. Não consegui
descartá-lo, apesar de saber que nunca o usaria. Fiz um juramento pessoal
naquela tarde de sempre cuidar de mim primeiro e nunca acabar em uma
situação similar de novo.
— Rachel?
Limpei a garganta ao tentar me lembrar do que tinha me enviado ao
buraco negro. Conversar com Mark. Sobre Ryan. Isso.
— Ãh, é, talvez.
— Vamos, Rach. Você sabe que quer deixar aquele federal sexy dar uma
surra de kung-fu no Ryan.
Meus lábios se curvaram.
— Essa é uma imagem divertida.
Mark acabaria com aquele babaca pomposo com um único soco.
— Ele poderia se desfazer do corpo também, certo? Gosto desse plano.
Vamos chamar o federal.
Revirei os olhos.
— Se fosse fácil assim.
Sarah só sabia pequenos detalhes sobre Ryan, e eu pretendia manter
assim. Um toque no meu computador chamou minha atenção para um e-mail
novo de Janet. O nome de Will estava no assunto.
— Ãh, preciso ir.
— Trabalho?
— É. Parece que Will acabou de se tornar nosso cliente oficialmente.
— Foi rápido.
— É, algo me diz que Will não sabe como fazer as coisas devagar.
Ela deu risada.
— Isso é verdade. Tudo bem, boa sorte. Me avise quando for para a cama
com ele.
— Isso não vai… — Minha voz parou quando percebi que ela tinha
desligado depois de falar essa frase. — Não é justo, Sarah. Nada justo.
Enviei uma mensagem a ela com uma réplica calorosa, depois mudei de
assunto. Hora de trabalhar.
CONVERSAS DISTORCIDAS
Janine estava ao lado da mesa da recepcionista, assim como no começo
da semana, me esperando. Eu meio que esperava ser escoltada para a sala de
reunião, mas, em vez disso, ela me levou à sala de seu chefe, onde Jeff e
Janet estavam me aguardando. Eles expressavam sorrisos parecidos, algo que
presumi ser bom sinal, e a assistente ruiva fechou a porta quando entramos.
— Bom, acho que sabe por que a chamamos aqui.
O olhar sábio de Janet me deixou um pouco inquieta, mas continuei a
conversa.
— Will?
Por que mais eu estaria ali?
— É. Ele é bem charmoso — Janet disse ao se sentar em uma cadeira
macia.
Gesticulou para eu me sentar na outra, então coloquei meu portfólio na
mesa e me juntei a ela.
— Não consigo acreditar que você os escondeu da gente esse tempo todo.
Jeff deu uma risadinha com as palavras enquanto apoiava o quadril na
mesa de mogno atrás dele e cruzava os braços.
— Sabe que preciso falar alguma coisa sobre como vocês dois se
conheceram, certo? Agora, Will nos garantiu que não era relacionado a Hotel
Mershano, mas está entre uma linha muito tênue, Rachel.
Pigarreei.
— É, desculpem. Bom, não posso falar sobre isso, mas não era nada
relacionado a negócios.
Sem contar que a coisa toda agora era nula e sem validade, de qualquer
forma, já que eles tinham se apaixonado.
— Estou disposto a deixar isso passar porque você nos trouxe Will, mas
sabe que há conflitos de interesse aqui, não é? Com seu histórico e seu
relacionamento, quero dizer.
— Hum.
Mordi o lábio. O fato de Sarah ser minha melhor amiga e estar
namorando o primo de Will poderia ser considerado um problema,
principalmente se o relacionamento deles amargasse.
— Não estou preocupada. Meu profissionalismo é prioridade e mais
importante.
Além disso, não teria como Evan deixar Sarah escapar dele agora. Eu
tinha visto a forma como ele olhava para ela. Era um homem apaixonado, e
nunca que a abandonaria sem lutar.
— Tem certeza absoluta? — Janet pressionou. — Will já falou o que
acha, claro, mas pareceu confiante de que as circunstâncias não prejudicariam
o projeto.
Claro que não se preocuparia com isso. Ele proclamara que Sarah e Evan
eram almas gêmeas desde o comecinho.
— Não estou preocupada — eu disse com propriedade. — Não será um
problema.
— Excelente. — Jeff se endireitou para mexer em alguns documentos em
sua mesa. — Você queria revisar o acordo?
— Ãh… — Será que ele estava perguntando por que Will pediu que eu
fosse a líder do projeto? — Há alguma singularidade nele?
Ele balançou a cabeça grisalha.
— Não, somente o que conversamos.
— Então, tudo bem. Acredito que esteja tudo em ordem, mas obrigada.
Ler os números financeiros com que eles concordaram seria interessante,
mas eu preferiria não saber. Qualquer que fosse o acordo que Will teria
fechado com a firma eram negócios dele. Eu estaria ali apenas para dar um
apoio ao projeto.
O sorriso de Jeff alcançou suas orelhas.
— Fantástico. Então não tenho mais nada agora. Will disse que deixou
com você materiais para revisar esta semana, e vamos começar a agendar
reuniões do projeto para a próxima semana.
— Você e eu vamos nos encontrar uma vez por dia até que se sinta mais
confortável com a tarefa — Janet complementou. — Will planeja participar
por vídeo também.
Certo. Porque ele já tinha ido para Chicago.
Ele ligara na noite passada para dizer: — Confio em você, querida. Ligue
se precisar de mim. Além do e-mail naquela manhã, eu não tinha ouvido mais
notícias dele. Fico pensando se ele realmente só queria trabalhar comigo, mas
não era hora de pensar nisso.
— Parece ótimo — eu disse, forçando um sorriso. — Preciso delegar
algumas tarefas, e então ficarei cem por cento focada nesse caso.
— Aposto que sim — Janet disse com um brilho nos olhos.
Certo.
— Bom, obrigada por confiarem essa oportunidade a mim. Prometo não
decepcioná-los.
Eu soava como um robô corporativo, porém seus sorrisos em resposta
diziam que tinha funcionado. Todos nós apertamos as mãos, e voltei sozinha
para meu escritório e me servi de uma xícara gigante de café.
Havia acabado de me sentar quando alguém bateu à porta. Meu coração
deu um pulinho com a ideia de ser Will. Ele não poderia estar ali para me
surpreender com um almoço tardio de novo, não é? Parecia algo que ele
faria…
Só que ele estava na Carolina do Norte.
Uma garota pode sonhar.
Aquelas esperanças morreram assim que um homem alto de terno com
um cabelo muito escuro e olhos frios entrou em minha sala sem permissão e
fechou a porta.
Meu coração se afundou no estômago.
— Ryan…
— Vejo que tem tempo para um café, mas não para me ligar de volta. E
eu estava preocupado.
Ele tirou o paletó e o pendurou na porta, depois deu a volta e se sentou na
minha mesa com as pernas bem perto de mim.
— Sabe que não gosto de ser forçado a vir aqui, Rachel.
— Eu… Eu não…
— Você não pensou. — Ele segurou meu queixo quando baixei os olhos,
e me obrigou a olhar para ele. — Você me deve um jantar, baby. Precisamos
ser vistos em público juntos.
— Por quê? — sussurrei.
Por que, depois de todos esses meses em silêncio, ele estava insistindo em
me assediar de novo agora? Terminei nosso noivado três anos atrás. Tinha
precisado de cada centímetro de minha força de vontade para pedir ajuda a
Mark, e então esquecer aquele dia, e houve milhares de vezes nos meses
seguintes em que pensei em voltar, se facilitasse minha vida. Foram dias
sombrios, aqueles em que eu forçava um sorriso no trabalho e me encolhia
em uma bolinha toda noite, aterrorizada por fazer tudo aquilo de novo no dia
seguinte.
As ameaças quase me mataram e, então, ele parara. Eu, ingênua, pensei
que ele tivesse seguido em frente, só que não. As fotos de ele saindo com
outras mulheres começaram a chegar — era o jeito dele de “passar o rodo
para assegurar mais conexões políticas”, como ele havia dito de maneira tão
eloquente. Nunca me considerou uma pessoa, mas sua propriedade. E não
gostava de quando sua menininha saía da linha.
— Preciso ter motivo para levar minha noiva para sair?
Ele pareceu enganosamente gentil ao traçar o polegar em meus lábios.
— Não estamos noivos, Ryan. — Saiu mais rouco do que forte, e o fez
sorrir.
— Adoro quando você brinca comigo, menininha — ele murmurou. —
Pode ter tirado seu anel, mas isso é apenas simbólico. Sei o que somos, e logo
o público também vai saber.
Minha garganta se fechou a qualquer oportunidade de resposta. Não que
eu tivesse uma. Ele não agira assim há tanto tempo que eu não sabia como
interpretar essa mudança. Parecia desespero, e isso me assustava mais do que
qualquer coisa.
— Oh, antes que me esqueça, falei com a cerimonialista. — Ele tirou o
celular do bolso e começou a digitar uma mensagem. — Ela quer se
encontrar com você no sábado para ver os locais. Eu disse a ela que nós
preferimos um casamento no verão, e ela está procurando para julho do ano
que vem. Aparentemente, treze meses não é muito tempo para planejarmos
um casamento, então precisamos decidir o local e a data imediatamente. Sei
que agora não é a hora perfeita com seu grande projeto de trabalho, mas
nosso matrimônio é mais importante. Principalmente porque você não vai
trabalhar depois de nos casarmos, de qualquer forma.
Meus lábios se abriram, mas não saiu nada. Ele estava delirando.
Totalmente louco. E, se eu protestasse agora, ele criaria uma cena enorme,
garantindo que eu não tivesse um lugar para trabalhar àquela hora na semana
seguinte, o que explicava por que ele decidiu falar tudo isso para mim no
escritório. Ele queria que eu reagisse. Que gritasse, que desse um sermão,
que fizesse uma cena generalizada, exatamente para que ele pudesse bancar o
herói e ganhar a compaixão de meus colegas de trabalho. Ele era bem melhor
do que eu naquele jogo, mas eu havia decorado suas atitudes manipuladoras.
Era o único jeito de sobreviver ao nosso relacionamento volátil.
Meu celular tocou quando ele terminou de digitar a mensagem, e vi o
nome da cerimonialista me encarando. Becky. McGraw. Adorável.
— Ela quer marcar um café da manhã no sábado — ele continuou. —
Sugeri Francine’s, por causa da lembrança.
Certo. O lugar em que ele me pediu em casamento.
Eu iria vomitar.
— Ryan, isso tudo é bem repentino…
A mão em meu queixo se apertou em um nível de dor.
— Repentino? Porra, eu te dei três anos, Rachel. Muitos diriam que fui
mais do que paciente com sua excentricidade.
Lágrimas surgiram em meus olhos, não por suas palavras, mas pelo
aperto no queixo. Ele sabia exatamente onde pressionar para causar maior
dor.
— Desculpe — sussurrei. — Tem razão.
Precisei falar as palavras que detestava para tranquilizá-lo, ou acabaria
com hematomas que não poderia explicar. E gritar no meio do escritório não
me levaria a nada. Claro que ele me soltaria, mas sua reação seria pior assim
que tivéssemos público e, de alguma forma, eu seria culpada. Tinha
acontecido isso fora do trabalho. Eu não tinha motivo para acreditar que meus
colegas de trabalho reagiriam de maneira diferente.
— Claro que tenho, menininha.
Ele finalmente me soltou e se inclinou para beijar meu queixo, depois
meus lábios. Precisei de toda minha força para reagir apenas o suficiente para
me fazer acreditar e, então, ele secou a lágrima abaixo de meu olho.
— Estou disposto a adiar o jantar, mas você irá comigo ao café da manhã
no sábado.
Esse era o Ryan que eu conhecia, aquele que fingia negociar quando, na
realidade, nada que ele disse se qualificava como concessão. Vou deixar você
pular o encontro, porque te amo, mas estará na reunião com a
cerimonialista.
Não consegui reagir a isso. Meu sustento de vida dependia da minha
capacidade de discutir e, mesmo assim, não apareceu nenhuma palavra em
meus pensamentos.
Fiquei sentada muda na cadeira, olhando para ele com resignação. A
palavra certo ficou no ar entre nós porque eu me recusava a dizê-la. Era meu
único desafio e o único que ele permitia conforme beijava minha testa.
— Francine’s às dez e meia em ponto, Rachel.
Outra lágrima caiu quando ele saiu de meu escritório sem dizer mais
nada. Meus dedos foram trêmulos até minha mandíbula sensível para
massagear a marca que ele deixara ali. Doía mais de ter cerrado os dentes do
que a pressão que ele aplicou, mas, juntos, ambos me deixaram enjoada.
Casamento. Ele tinha enlouquecido pra caralho. Eu não poderia me casar
com ele. Por que ele não encontrava outra pessoa pela qual ser obcecado? E
onde ele esteve nos últimos seis meses?
Minha cabeça girava, confusa. Duas visitas em uma semana, além da
segunda à noite falha, e todos os telefonemas… Me lembrou das semanas
após nosso término. Só que, em vez de ser violento e cruel, ele tinha
escolhido uma abordagem diferente. Uma que apresentava seu lado calmo
com apenas uma indicação de sua letalidade.
Um frio desceu por minha coluna. Eu não conseguiria passar por isso de
novo.
Que escolha você tem?
Analisei o número na tela. Ligar para cancelar irritaria Ryan, e eu não
conseguiria lidar com a raiva dele no meu escritório. Já pensou em falar com
o amigo de Caleb? As palavras de Sarah entraram em minha mente. Mark…
Meus olhos foram para a gaveta onde estava minha bolsa. O cartão que
ele me entregou há três anos estava lá dentro. Será que aquele número ainda
era válido?
Não. Eu poderia lidar com isso sozinha. Precisava. Ryan havia aumentado
seus esforços, mas não estava fora de meu controle. Não como na noite em
que me estrangulou…
Minha mandíbula ficou tensa, fazendo-me hesitar ao me lembrar da
pressão que ele acabara de aplicar em meu queixo.
— Desgraçado.
Eu o odiava. Nunca na vida me casaria com ele. Mas havia outras formas
de jogar aquele jogo. Talvez. Ele queria um casamento? Então eu planejaria
um. E, depois, não apareceria. Vamos nessa, babaca.
Apertei o botão de ligar antes de me convencer a não fazê-lo. A
cerimonialista atendeu no segundo toque.
— Olá, srta. Dawson.
Oh, que bom, meu noivo tinha dado meu número a ela.
— Oi, Becky. Por favor, me chame de Rachel.
— É claro — ela respondeu com a voz em tom de negócios. Eu poderia
cuidar disso. — O sr. Albertson lhe contou sobre nosso encontro no sábado?
— Sim, na verdade, é por isso que estou ligando.
Me recostei na cadeira e fechei os olhos. Isso tinha que funcionar. Mas eu
precisava permanecer calma. Conseguiria fazer isso. Respirando fundo, falei
de uma vez, sem respirar de novo.
— Então você sabe de nosso tempo, certo? E Ryan quer um casamento
grande. Dado nosso tempo, realmente não acho que seja boa ideia esperar até
sábado, então, se estiver disposta a conversar sobre as opções pelo telefone
mais cedo, eu queria avisá-la que estou disponível.
Então você pode ir e planejar o que quer que queira no sábado enquanto
eu trabalho. Esperava que ela usasse os cartões de crédito de Ryan no
processo.
Cruzei os dedos e esperei. As unhas dela batiam no teclado do outro lado
da linha enquanto os segundos passavam.
— Ok, srta. Dawson. O que acha de falarmos agora?
Olhei para o relógio.
— Claro — respondi.
Seria uma longa noite, de qualquer forma; talvez eu passasse a noite no
escritório.
— Vamos falar disso agora.
CAROLINA DO NORTE
Minha conversa com Becky acalmou Ryan o bastante para ele me dar um
adiamento temporário de tudo para me concentrar no trabalho, mas eu
suspeitava que estava prestes a acabar. Primeiro, porque eu tinha recusado
seus pedidos de jantar quatro vezes agora, dando as reuniões como uma
desculpa repetitiva. E, segundo, porque eu tinha acabado de sair do estado
sem contar a ele.
Apertei a palma da mão na saia enquanto arrastava minha mala atrás de
mim e continha um bocejo. As últimas semanas foram de intenso trabalho.
Não só por administrar as ligações persistentes de Ryan e suas visitas
aleatórias, mas também longos dias de trabalho, seguidos por noites mais
longas, e passando fins de semana na firma. Baker Brown havia atribuído
uma dúzia de advogados para o caso de Will, marcando-o com alta urgência
devido ao tempo, e investido amplo financiamento para isso.
Eu não via Will desde o dia em que ele fechou o acordo com minha firma
há três semanas e meia. Havíamos conversado algumas vezes pelo telefone
desde então, mas sempre profissionalmente e apenas sobre o projeto. Me
senti meio vazia, confusa e um pouquinho decepcionada, o que não era justo.
Eu queria que ele me contratasse por meu trabalho, não por meu corpo e,
ainda assim, sentia falta de sua franqueza e paquera — um enigma que me
fez andar em ritmo acelerado até a saída.
Não queria estar empolgada com a ideia de vê-lo ali fora, mas o frio na
minha barriga me dizia a verdade. Sentia falta dele. Ridículo. Idiota. Irritante.
Quando vi um homem de terno segurando uma placa com meu nome, o
gelo na minha barriga parou, deixando uma sensação de náusea.
Era isso que eu queria. Ser tratada como profissional. Recomponham-se,
hormônios.
— Srta. Dawson? — o homem perguntou, seu sotaque me lembrou um
pouco de Will.
— Sou eu.
— É um prazer, madame. — Ele baixou o chapéu com a mão, revelando
um pouco do cabelo grisalho nas laterais, e abriu a porta de trás de seu carro
preto. — Vou pegar sua mala.
— Obrigada, sr…?
Outra abaixada de chapéu.
— Pode me chamar de Rudy, madame.
Sorri.
— Obrigada, Rudy.
— Cuidado que ele é um pouco sedutor — veio uma voz de dentro do
carro.
Meu coração acelerou quando me abaixei e vi Will sentado no banco de
trás, vestido de cáqui e camisa polo azul.
— Bom dia, querida.
— Oi — consegui dizer.
Ele parecia mais bronzeado, provavelmente pelo sol da Carolina do
Norte, e seu cabelo, um pouco mais brilhante. Mas seu sorriso era o mesmo
— uma confiança masculina —, quando entrei no carro ao lado dele.
— Não precisava ter vindo me buscar.
Ele deu de ombros.
— Pensei em começarmos logo nossa reunião.
— Oh, faz sentido.
Apenas negócios, como sempre. Só a decepção irradiando de mim que
não era nada profissional. Claro que ele queria falar sobre a aquisição. Era
por isso que estávamos trabalhando juntos. Eu havia deixado meu ego crescer
em níveis não saudáveis, porque poderia jurar que ele queria dormir comigo
no começo, o que soava ridículo agora.
Ele não fora nada além do cliente perfeito por semanas e, mesmo antes
disso, realmente só havia flertado educadamente. A coisa toda era o desejo da
minha parte por causa da atração natural a ele. Presumi que esse sentimento
fosse mútuo, mas, dada a distância de um metro entre nós agora, não tinha
como ele pensar que eu fosse tão atraente quanto eu pensava dele. E isso era
um chute no estômago.
Ignorando a dor em meu peito, me concentrei nele e tentei descobrir do
que ele estava falando.
— E é por isso que acho que deveríamos partir na sexta à noite, só para
adaptação e para nos prepararmos. O que acha?
Semicerrei os olhos para ele.
— Ãh, claro.
Partir sexta à noite para quê?
— Excelente. Vou pedir que Miranda reserve, e ela vai enviar o itinerário
a você.
— Ótimo.
Mal posso esperar para descobrir aonde vamos.
Uau, eu precisava me recompor, e rápido. Janet e Jeff haviam
mencionado o quanto estavam impressionados com meu trabalho naquele
projeto, e parecia que cinco minutos na presença de Will eram suficientes
para descarrilhar muitas semanas de trabalho duro.
Maravilhoso. Nada como permitir que uma queda tola por alguém
arruinasse uma carreira.
E eu nem deveria estar atraída por ele, em primeiro lugar. E daí que ele
tinha a mandíbula quadrada perfeita coberta por uma atraente barba for fazer,
íris escuras sedutoras cobertas por cílios compridos e loiros, e cabelo
volumoso. Aparências não significavam nada. Nem todos aqueles músculos
que ele acumulava debaixo da camisa justa, nem as coxas fortes e o pacote
impressionante naquelas calças cáqui. Meu olhar subiu quando percebi para
onde tinha ido, e vi Will sorrindo.
— Está tudo bem, srta. Dawson?
Precisei limpar a garganta duas vezes para falar. Não adiantou para
esconder o rubor tomando meu rosto.
— Eu, ãh, foi um voo longo.
Pior. Desculpa. Da vida. E ele sabia disso também.
— Foi? — A diversão em sua voz só me deixou mais quente. — Se achou
ruim noventa minutos, espere até sexta.
Fiquei boquiaberta.
— O quê?
Ele deu risada.
— Querida, você não escutou uma palavra que eu disse desde que entrou
neste carro, não é? — Ele balançou a cabeça. — Bom, para te ensinar uma
lição, vou fazer uma surpresa. Mas não se preocupe; vou me certificar de que
Janet saiba para que não se meta em encrenca. Está com seu passaporte,
certo?
— Espere, não, quero dizer, sim. Quero dizer…
Oh, meu bom Deus, nunca fiquei tão enrolada na vida. Peguei o
passaporte da bolsa para acená-lo para ele porque era mais fácil do que falar.
— Mas quero saber aonde vamos.
— Então deveria ter prestado atenção.
Sua provocação, acompanhada daquelas covinhas, ajudaram a me
recompor um pouco.
— Posso me recusar a entrar no avião.
— Poderia mesmo, mas como explicaria isso para Baker Brown?
— Eu… — Bom, droga. Ele me pegara ali. Optei por um novo caminho.
— Um cavalheiro me contaria aonde vamos.
— E uma dama não seria flagrada secando seu cliente no banco de trás de
um carro e, ainda assim, aqui estamos, srta. Dawson.
— Eu não estava… — Ok, é, não tinha como sair dessa. Qualquer
mentira que eu pudesse pensar seria falha. Então dei de ombros. — Está bem.
Pelo menos me diga o que levar.
— Não precisa. Vamos comprar quando chegarmos lá.
— O que disse?
— Você entenderia se estivesse escutando.
Balancei a cabeça.
— Minha roupa vai ter que dar certo, então, e não há como eu ter perdido
tanto assim da conversa.
A risada dele era um carinho aveludado em minha pele.
— Talvez não, mas te irritar está se tornando um dos meus passatempos
favoritos. Além de você me secar, claro.
Revirei os olhos.
— Bom, espero que tenha gostado, sr. Mershano, porque não acontecerá
de novo.
— Oh, veremos, srta. Dawson. Eu dou uma hora.
— Convencido.
Mudei o foco para as paisagens passando pela janela. Aparentemente,
havíamos saído da cidade.
— Confiante — ele corrigiu.
— Aham.
Montanhas mais altas apareceram ao longe conforme continuamos nossa
viagem, roubando toda minha atenção. Nascida e criada no Centro-Oeste,
com um orçamento baixíssimo, deixava a desejar minha experiência em
viagem. Ryan me levou a algumas viagens enquanto namorávamos, mas elas
sempre envolviam praia e eu com biquíni.
Sabia, por minha pesquisa, que a sede de Will estava localizada ao norte
de Charlotte, mais próximo à fronteira da Virgínia, mas ele tinha vinícolas
por todos os estados do sul.
— Por que Carolina do Norte? — pensei alto.
— Como assim?
A voz dele me aquecia de uma maneira que poucas vozes o faziam.
— O que o fez escolher Carolina do Norte para Vinhedos Mershano? —
Finalmente olhei para ele e vi sua testa enrugada. — Você é dono de muitas
propriedades na Carolina do Sul, Geórgia, Alabama e Louisina, certo?
— Acho que esse detalhe não está nos arquivos que enviei. — Ele passou
a mão pelo cabelo. — Bom, em resumo, minha família é daqui.
Franzi o cenho.
— Pensei que o “império” Mershano tivesse sede em Nova Orleans. —
Usei aspas para “império”, já que era um termo inventado pela mídia.
— Claro, mas essa é a dinastia familiar de Evan, não a minha. Muitas
pessoas gostam de dizer que somos irmãos, já que praticamente cresci com
ele, mas somos primos. Nasci aqui, onde morei com meus pais até o acidente
de carro. — Seu olhar ficou distante ao mencionar o que era uma lembrança
dolorosa, e segurei a mão dele por instinto.
— Sinto muito — eu disse, me sentindo uma idiota.
Claro que eu sabia dos pais dele. Não necessariamente que eram dali, mas
que haviam morrido. Sarah tinha mencionado quando explicou sua relação
familiar com Evan. A maioria presumiria que eles fossem irmãos devido à
similaridade dos olhos e estatura.
Ele virou a mão, com a palma para cima, e entrelaçou os dedos nos meus
para dar um aperto suave.
— Foi há muito tempo — ele murmurou com um pequeno sorriso
conforme seu polegar desenhava círculos em meu punho. — Mas sempre
quis voltar, e voltei.
Abri a boca para responder, quando meu celular fez um toque familiar.
Ryan. Soltando a mão de Will, procurei na bolsa para silenciar o toque e,
então, enviei-lhe uma mensagem rápida. Com o meu cliente.
Na Carolina do Norte? Ele respondeu nem quinze segundos depois.
Estremeci. Sua mensagem confirmava todas minhas suspeitas sobre ele
me vigiar. Pensar nisso sempre me incomodava, mas a realidade era muito
pior. Porque agora eu sabia que ele tinha conexões para monitorar minha
viagem.
Era por isso que eu não poderia me mudar. Ryan saberia. Assim como
sabia sobre minha viagem a negócios, a qual foi planejada dois dias antes. O
que também significava que ele sabia que eu não tinha uma passagem de
volta agendada ainda porque nós não sabíamos quanto tempo levaria aquela
fase de revisões.
— Está tudo bem? — Will perguntou.
Ele não conseguia ver a tela, mas com certeza via minha expressão.
Forcei um sorriso.
— É, está. Só…
O telefone tocou de novo.
Como está o tempo em Charlotte? Foi sua mensagem seguinte.
Quente. Estou com meu cliente. O que ele já sabia. Não que se
importasse.
Não esqueça nossas fotos de noivado neste fim de semana.
Pisquei para a mensagem. Ele nunca mencionou nada sobre fotos, mas
disse algo sobre um anúncio.
Não estarei em casa este fim de semana. Apertei enviar antes de poder
apagar as palavras e prendi a respiração. Não conseguia acreditar que tinha
acabado de fazer isso. Uma versão de não em mensagem. Não posso falar,
rapidamente complementei antes de ele poder responder ou ligar, e silenciei
meu celular, depois o joguei de volta na bolsa com mais força do que o
necessário.
Oh, Deus… Ele ficaria bravo. Será que me encontraria em Charlotte?
Meu hotel não fazia parte do itinerário, mas duvidava que ele permitisse que
uma coisa dessa o impedisse.
Caralho. Meus ombros pareciam travados conforme o cenário passava
embaçado. O que ele faria da próxima vez em que o visse? Me bateria? Me
sufocaria de novo?
E quando percebesse que eu não tinha intenção de continuar com o
casamento, o que faria? Será que me obrigaria a casar?
Torci a ponta do nariz e soprei o ar dos pulmões, depois pulei quando
uma mão quente passou em meu braço e foi até meu ombro tenso.
— Rachel — Will murmurou. — Sabe que pode conversar comigo, certo?
— Oh, não é nada. — Minha voz tremeu com a mentira, então pigarreei.
— Está tudo bem. — É só meu ex perseguidor louco sabendo de cada
movimento meu. — Quanto falta ainda?
Será que Ryan estava rastreando meu celular? Eu não tinha dúvida de que
ele já sabia o nome do meu cliente, o que facilitava encontrar o local também,
mas não tornava menos arrepiante.
— Mais uns vinte minutos. Tem certeza de que não quer falar sobre isso?
— Tenho. — Não era nem um pouco mentira. Mudei para o primeiro
tópico que veio à mente, o que, é claro, era relacionado ao trabalho. — Então
estive pensando por que você quer expandir internacionalmente. Por que
Nice?
Seu olhar buscou minha reação por tempo demais, depois ele suspirou e
baixou a mão que ainda estava em meu ombro, me deixando com frio.
— Essa vinícola tem uma variedade única de uvas somente encontradas
naquela região.
— Então será diferente da sua marca já existente, certo?
— Muito.
Eu tentava pensar como uma mulher de negócios para entender sua visão.
— Ok, então vai adquirir uma nova variedade para complementar sua
coleção, não é?
— Sim, vou expandir indiretamente. — Ele se virou para mim ao
continuar. — Como viu, a vinícola francesa exigiu que o nome da família
permanecesse no produto deles. Como já estabeleceram uma clientela, não
tenho problema em aderir a isso. Vinhedos Mershano vai operar
essencialmente como proprietário silencioso, o que me dá mais poder de
barganha com franquias de varejo e restaurantes. Em vez de oferecer apenas
marcas Mershano, vou poder oferecer marcas internacionais com passado
respeitável.
Ele se arrumou no assento e me lançou uma expressão ilegível.
— Também gosto do desafio de aprender algo novo, e a região
Mediterrânea oferece uma variedade diferente de uvas.
Assenti.
— Faz sentido. Vou admitir que fiquei surpresa por ter concordado em
não ligar seu nome ao produto.
— Estará no rótulo impresso em letra pequena, mas o nome original da
família será o que os consumidores vão notar.
— É inteligente. Mas quanto à propriedade na Grécia, você quer ser o
dono — falei isso, não como pergunta, mas uma afirmação.
Ele não tinha começado as negociações com aquela ainda, mas planejava
fazê-lo depois.
— Isso, porque está em condição precária e não estão cuidando dela
adequadamente. Meus conselheiros estão chamando-a de aposta porque é
uma reforma enorme que pode prosperar ou falhar. Mas, como eu disse, gosto
de um bom desafio. — Seu olhar se escureceu naquela última parte e baixou
brevemente para meus lábios antes de voltar aos meus olhos. — Quanto mais
difícil a luta, mais doce é a recompensa.
Engoli em seco. Não tinha tanta certeza se ainda estávamos falando sobre
vinho. O carro saiu da rodovia, o que me distraiu por um instante e me salvou
de precisar responder. Mas, então, continuamos por uma estradinha que não
parecia nos levar a algum lugar.
— Seu escritório é por aqui?
Porque parecia terra batida.
— Meu escritório, sim, mas acho que está falando da sede, que não é.
Olhei para ele.
— Pensei que fôssemos nos reunir com a equipe.
— Vamos, mas na minha casa. É um local mais fácil para meus
empregados, que trabalham remotamente. Nosso escritório principal é um
prédio ao norte de Charlotte, mas só vou lá uma vez por semana, no máximo.
É um local para nossas equipes de vendas e marketing se encontrarem com
clientes potenciais, mas é mais isso mesmo. Vai ver que a maioria de nós
prefere trabalhar perto do produto.
— Então onde vou ficar esta semana?
Notei que meu itinerário não incluía o hotel, mas presumi que era apenas
porque estava faltando em meus documentos.
— Tenho muitos quartos vagos em minha propriedade, se estiver
confortável em ficar comigo. Do contrário, há uma pousada a uns cinco
minutos do primeiro vinhedo.
— É comum você hospedar um funcionário em sua casa?
Ele deu risada.
— Na verdade, sim. Muitos moram em minha propriedade.
A forma como ele disse me fez franzir o cenho.
— Sua casa é muito grande?
— Oh, querida, vamos conversar depois que você conhecer a equipe.
BRINCANDO DE MÉDICO
A diversão de Will fez muito mais sentido agora que eu estava no centro
de sua propriedade. Girei em círculo, maravilhada por meus arredores.
Videiras espalhadas à minha esquerda, continuando pelo que pareciam
quilômetros de onde eu estava. Montanhas decoravam a paisagem além delas,
dando à área uma sensação selvagem que era desmentida pela pequena
comunidade atrás de mim.
— Este é a vinícola original. — Will apontou para o prédio grande à
nossa direita. — Ainda a usamos para esses vinhedos, mas a maior parte do
que produzimos aqui é envelhecida por longos períodos e mantida na família.
— Então esse foi seu investimento inicial.
Não consegui evitar o choque na voz. Estava impressionada.
— É, mas não era assim quando a comprei. Está vendo aquela árvore a
uns cinquenta metros daqui?
Ele esperou que eu assentisse.
— Tudo além dela estava morto, e a vinícola tinha visto dias melhores.
Eles costumavam pegar todas as uvas com essa velha máquina, que já se
aposentou há muito tempo. Eu prefiro colher à mão, por isso tenho os
funcionários necessários para os muitos vinhedos. É mais caro, mas o vinho é
melhor por isso.
— Interessante.
Eu estava fascinada demais para pensar em uma palavra melhor. Não era
nada como eu imaginava. Todos os milionários que eu conhecia se vestiam
com ternos chiques e moravam em salas de reunião, mas ali estava Will, em
pé no meio de um campo, explicando seu mundo.
— Enfim, aquela casa ali — ele apontou para uma casa com varanda
frontal comprida diretamente do outro lado do vinhedo — é a mais nova e
abriga a família Greggory. Sam Greggory administra este vinhedo para mim
agora, então é mais fácil tê-lo morando por perto. A casa do outro lado do
vinhedo ali é para funcionários durante a temporada de colheita de uva. Esse
período pode ter turnos exaustivos, então gosto de manter todo mundo em
segurança. A maior parte dos meus empregados mora no alojamento ali.
Ele indicou o que me lembrou dos apartamentos no fim da estradinha
longe do vinhedo.
— E a casa naquele lado, no topo daquela colina, é minha. É lá que
vamos encontrar todos para jantar.
— Entendi. — Milionário. Certo. Entendi. — Você é dono de bastante
terra.
Seu sorriso tinha um toque de moleque.
— Expandi conforme precisei.
— Aham.
Ele olhou para meus pés.
— Recomendaria que andássemos até o topo da colina para minha casa,
mas você não está apropriadamente vestida para isso.
— Ando por Chicago em saltos todos os dias.
— Não é a mesma coisa, querida.
Semicerrei os olhos.
— Consigo subir uma colina.
Não parecia tão longe. Talvez três quarteirões, no máximo. Fácil.
Ele cruzou os braços à frente do peito.
— Quer tornar isso interessante?
— Como uma aposta?
— Mais como um desafio com recompensas.
A competidora em mim se prontificou e ergueu uma sobrancelha para ele.
— Fale.
— Uma corrida. Se eu ganhar, você fica na minha casa a semana inteira.
— Nada justo, considerando que mora aqui e está usando — analisei seus
sapatos, franzindo o cenho — não necessariamente tênis… Mas sapatos de
homens ainda têm vantagem sobre os saltos de mulheres a qualquer dia.
— Prometo andar o caminho inteiro, mas você pode correr.
Bufei. Presumiu que eu teria que correr para ganhar dele?
— É, porque isso não é nada arrogante.
— Foi você que falou que sapatos de homens superam saltos todos os
dias.
Ok, ele me pegou.
— Então posso correr, se eu quiser, mas você vai ter que andar. E, se
ganhar de mim, vou precisar ficar na sua casa a semana toda. O que ganho se
eu vencer?
Ele abriu as mãos.
— O que quiser.
Absorvi meus arredores e o que parecia ser uma casa linda naquela
colina. Ficar lá não seria nenhum sacrifício. Mas…
— E se eu quiser ficar na sua casa enquanto você dorme na pousada?
A risada dele foi inesperada e charmosa.
— Expulsar o cliente da própria casa? Com certeza Janet não aprovaria.
Seu tom leve dizia que ele não estava ofendido, então continuei.
— Bom, ela não está aqui, e essa apostinha é entre mim e você. —
Balancei o dedo entre nós. — A menos que esteja com medo de perder.
— Oh, querida, sei que não vou.
— Então vamos lá.
— Vou até te dar vantagem. É só seguir a estrada.
Ele apontou a estrada longa à minha frente onde Rudy havia parado o
carro. O homem mais velho estava apoiado ali com um sorrisinho no rosto.
Parecia que Will não era o único que esperava que eu perdesse.
— Vai se arrepender de me subestimar, sr. Mershano.
— Digo o mesmo, srta. Dawson.
Seu sorriso presunçoso me atingiu em cheio na parte inferior do abdome.
Confiança era definitivamente um de seus atrativos mais sexy, não que eu
fosse admitir isso em voz alta.
— Espero que goste de quartos de pousada! — Gritei quando comecei a
subir a colina em um passo alegre.
Nunca que eu iria subir correndo a colina naqueles saltos de dez
centímetros . Eles se quebrariam no cascalho. Mas e uma caminhada rápida?
Sem problema. Passava a maior parte das manhãs na academia, embora
tivesse parado um pouco de ir devido àquele projeto gigante. Mesmo assim,
não poderia ser tão difícil. Andava um quilômetro e meio de salto todos os
dias para o trabalho, e voltava também.
Meus pés começaram a reclamar depois de um quarto do caminho, mais
porque a ponta de meu scarpin ficava prendendo entre as pedras. A risada
sábia de Will subiu por minha espinha conforme ele seguia, com passos
silenciosos no cascalho. Quase olhei por cima do ombro, mas me contive.
Saber que ele estava lá, diminuindo a distância a cada passo, me fez andar
mais rápido.
A sensação de estar sendo seguida provocou um frio na minha espinha, e
meu pulso acelerou. Não tinha nada a ver com esforço ou desejo de vencer,
mas com a emoção da perseguição. Seu jogo se desenvolvia em minha mente,
fazendo com que eu aumentasse as passadas quando o sentia se aproximar.
Pensei em tirar os sapatos e correr, mas o cascalho destruiria minha meia-
calça, e eu gostava muito dela. E, mesmo sendo atlética, nunca que
conseguiria correr com os saltos. Quebraria o tornozelo.
— Vou admitir — a respiração aqueceu minha nuca, provocando um
gritinho de surpresa —, você está indo bem melhor do que imaginei, mas só
estamos na metade do caminho e, mesmo com a vantagem de cinco minutos
que te dei, vou te passar.
Virei para bater no peito dele por me assustar pra caramba, mas prendi o
salto em uma pedra. As mãos dele me pegaram antes de eu cair e me levaram
de volta ao peito dele para me estabilizar. Meus membros tremiam tanto pela
adrenalina correndo em meu sistema que não conseguia me mexer. Presa,
meu corpo parecia dizer. Sujeite-se. Estremeci quando aquela palavra
atravessou meus pensamentos.
— Você quer outra vantagem? — ele sussurrou. — Ou se rende?
Tremi com a palavra rende. Por que isso soava tão sedutor nos lábios
dele? Eu tinha desistido do controle uma vez e não acabara bem, mesmo
assim, algo naquele homem me fazia querer tentar de novo.
— Me dar outra vantagem seria roubar.
As mãos dele pareceram se apertar nos meus quadris conforme ele inalou
fundo, pressionando o peito nas minhas costas.
— Não me importo em te prender de novo. — As palavras foram quentes
no meu ouvido. — A menos que desista e, nesse caso, posso chamar o carro.
Olhei para a casa lá em cima. Metade do caminho, ele tinha dito. A
satisfação nadou em meu sangue, empolgando cada nervo. A ideia de uma
perseguição me inundou de uma forma que eu nunca tinha imaginado. Um
pouco de diversão fora da realidade, talvez? De qualquer forma, a ideia de
pressionar Will soava como uma excelente diversão. Mas significaria arruinar
minha meia-calça. Ah, droga. Eu tinha uma mala cheia delas. O que era um
par em troca de um pouco de diversão?
— Desistir não é de meu feitio — disse a ele quando tirei os saltos e saí
correndo em alta velocidade pela colina acima.
Em vez de permanecer no caminho de cascalho, fui pelo gramado e o
escutei gritar alguma coisa atrás de mim. Talvez um palavrão ou algo sobre
sua futura estadia na pousada. Sorrindo como uma doida, subi correndo a
colina, avistando a casa lá em cima, e senti a vitória borbulhando quando meu
pé bateu em uma pedra afiada. Me fez voar para um monte de grama que
amaciou a queda, mas torci o tornozelo esquerdo. O rosto de Will estava em
cima de mim um segundo depois conforme ele se abaixou para ver meus
tornozelos, com as mãos na minha perna.
— É. Isso saiu pela culatra — eu disse entre os dentes cerrados.
Ele não disse nada enquanto examinava meu tornozelo, rodando-o e me
fazendo encolher no processo.
— Não acho que esteja quebrado, mas provavelmente torceu. — Seu
toque quente subia e descia por minha perna, na parte de baixo, depois ele
encontrou meu olhar. — Tentei te avisar sobre as pedras.
Tentei sorrir, mas fracassei. Em vez disso, acabei mordendo o lábio e
deitando na grama conforme meus receptores de dor chegavam ao tornozelo.
A adrenalina correndo por meu sistema havia enfraquecido o impacto, mas,
agora que ela tinha acabado, uma sensação transbordante passou rapidamente
por meus membros e levou lágrimas aos meus olhos.
Will olhou minha expressão e suspirou.
— É, foi má ideia minha. Vou precisar te carregar.
Segurei o punho dele antes de ele me pegar por debaixo dos ombros.
— Só me ajude a levantar.
Parei para respirar fundo e me equilibrar, porque, porra, meu tornozelo
doía. Depois fiquei tonta, esquecendo o que ia falar. Will saiu facilmente do
meu aperto e deslizou os braços por debaixo de mim. Não tive chance de
discutir quando ele me ergueu com facilidade e começou a subir a colina. A
advogada em mim que amava uma boa luta desapareceu quando abracei o
pescoço dele e me rendi à sua força.
— Gelo e analgésicos devem dar certo — ele murmurou.
Assenti com os olhos fechados. Focando em seu cheiro apimentado e seu
aperto forte que me impedia de pensar no tornozelo. Claro que isso acordou
uma enorme quantidade de outras sensações mais prazerosas internamente.
Ele era mais duro em todas as partes do que eu imaginava, seus músculos se
flexionavam conforme ele subia a colina com a tranquilidade de um homem
que se exercitava diariamente. Sua apresentação, quando chegamos,
confirmou minhas suspeitas sobre seus hábitos de trabalho. Will era um
homem que gostava de usar as mãos. Diferente de muitos homens em seu
cargo, ele preferia assumir as tarefas por si mesmo, até as laboriosas. O
respeito apertou meu peito. Claro que sua família influente o ajudou a
conquistar aquela propriedade livre de dívidas, mas ele havia construído a sua
própria com suor e lágrimas. Impressionante nem chegava aos pés do que
era.
— Vou cuidar disso — Rudy disse ao passar apressado por nós.
Abri os olhos e vi que havíamos chegado na casa principal. Parecia
modesta para um homem de sua riqueza, mas ainda era maior do que uma
casa mediana. Definitivamente, maior do que qualquer coisa que eu poderia
pagar em Chicago ou os subúrbios das proximidades. Will me carregou para
dentro do sobrado, passou o que parecia ser uma sala de estar enorme, foi
para uma escadaria que subia para uma área de onde dava para ver áreas
comuns da casa. Ele subiu com facilidade e andou por um corredor com
cinco portas, dando-me uma ideia do que ele queria dizer sobre ter quartos
extras sobrando, até o fim onde Rudy estava esperando.
— Obrigado — Will murmurou assim que passamos pela soleira.
Cores fortes e masculinas atingiram meus sentidos quando entramos no
que parecia ser uma suíte master. Portas abertas levavam a uma varanda com
vista para o fundo da casa que me recebeu de um lado, enquanto uma cama
enorme e móveis da cor mogno me receberam do outro. Mais janelas,
incluindo uma claraboia, me diziam que Will era fã do sol. Ele me deitou
gentilmente em uma colcha feita para abraçar e me deixou boquiaberta para
suas costas conforme ele desapareceu por um par de portas francesas no
canto mais longe do quarto. Voltou um minuto depois com um copo de água
e um potinho de analgésicos.
— Tome três desse; são anti-inflamatórios. E beba toda essa água.
Voltarei com o gelo.
Não discuti, simplesmente fiz o que ele pediu e fiquei ainda mais
confortável na cama. Não era fácil com o tornozelo latejando, mas consegui
subir até os travesseiros. Quando Will voltou, colocou o gelo de lado e olhou
para minhas pernas.
— Sua meia-calça está arruinada — ele murmurou. — E acho que essa
saia também.
Nem tinha me incomodado em olhar, mas só um vislumbre me fez fazer
uma careta. É, eu estava horrível.
— O bom é que vamos fazer compras para novas roupas — brinquei,
ganhando um breve sorriso dele.
Seus dedos dançaram por meu tornozelo.
— Precisamos tirá-la para que eu possa olhar o corte no seu pé e os
arranhões nos joelhos.
— Corte? — repeti.
Estivera tão consumida pelo tornozelo que não havia notado a ardência
até ele mencionar. Um vislumbre me fez começar a sair da cama, mas uma
mão no meu quadril me manteve no lugar.
— Estou sangrando na sua colcha.
— Como se eu me importasse — ele rebateu. — Não se mova a menos
que seja para me ajudar a tirar essa meia-calça.
— Sim, senhor — resmunguei sarcástica. — Vou precisar desenganchá-la
das ligas.
É, eu tinha um fetiche por lingerie. Não que alguém tivesse o prazer de
apreciá-las, exceto eu.
Seus olhos se escureceram quando ergui a saia para tirar a meia-calça.
Não fui nada gentil como deveria ser, mas elas iriam diretamente para o lixo
mesmo. Quando levantei para tirar a parte de trás, a dor atingiu minha perna,
me fazendo encolher.
— Deixe.
Ele tirou minha mão e, habilidosamente, abriu o tecido da parte de trás
das minhas coxas. Eu deveria ter imaginado que ele tinha habilidade nisso.
Primeiro, ergueu minha perna saudável e colocou meu pé apoiado em seu
abdome sólido, depois encaixou os dedos no top rendado. Prendi a respiração
quando encontrei seu olhar. O momento tinha entorpecido a intimidade do
ato, mas observá-lo tirar a meia-calça lentamente da minha coxa, depois pelo
joelho e, então, minha panturrilha, provocou uma onda de desejo bem no meu
centro. Lutei contra a vontade de apertar as coxas, sabendo que ele sentiria se
o fizesse.
Quando começou na minha outra perna, o desejo de me contorcer me
tomou até o tecido ter escorregado por meu joelho. Aparentemente, eu tinha
caído com a perna primeiro porque minha outra estava sem marcas. Soltei a
respiração quando ele continuou a expor minha perna e havia outro arranhão
que eu não tinha visto. Dor e prazer pareciam guerrear dentro de mim,
enviando sinais misturados ao meu cérebro. Não sabia se gemia ou gritava.
Ele tomou um cuidado específico ao rolar a seda por meu tornozelo e o pé
machucado. Quando ele não o soltou imediatamente, arrisquei olhar e o vi
analisando o corte.
— Acho que você não precisa de pontos, mas definitivamente precisamos
limpá-lo e colocar uma bandagem.
— Ótimo. — Lutei contra um choramingo quando ele soltou meu pé.
Alguém bateu à porta e fez Will erguer a cabeça.
— Maeve chegou — Rudy disse.
Comecei a me mexer, consciente de que toda a pele estava à mostra, mas
Will segurou meu quadril de novo e me lançou um olhar sombrio que me fez
congelar.
— Não se mexa — ele me lembrou, fazendo-me arrepiar.
Eu sabia que ele era dominante, mas isso era novo.
— Diga a Maeve que vamos precisar de alguns minutos.
— Sim, senhor.
Rudy não havia entrado no quarto, para minha gratidão, mas ainda
estreitei o olhar para Will.
— Desculpe por não querer que o mundo me veja assim.
Ele bufou.
— Rudy não é o mundo.
— Mesmo assim, é meu corpo, e vou me mexer se eu quiser.
— Não na minha cama, não vai.
Meus lábios se abriram, arfando. Ele devia estar brincando. Mas seu olhar
dizia que não estava. Me segurou por mais um segundo — para manter seu
argumento —, depois voltou ao banheiro.
Soltei a respiração que não percebera estar prendendo e arrepiei. Ia contra
a maré ficar excitada agora, mas meus mamilos estavam duros como rochas
contra meu sutiã rendado, e minha calcinha estava mais do que molhada.
O que está acontecendo comigo?
Homens poderosos sempre me fascinaram, por isso meu envolvimento
com Ryan. Ele era a epítome de formidável, com todas suas conexões
políticas e atitude dominadora, mas ele levava isso a níveis nocivos. E sua
versão de controle no quarto envolvia o fato de ele gozar quando quisesse e
me deixar excitada e seca.
Algo na forma como Will olhava para mim agora dizia que essa não era a
ideia dele de dominador. E, diferente de Ryan, as tendências controladoras de
Will eram mais sutis — charmosas até.
Com exceção de seu comentário sobre eu me mexer, o que fiz agora
apenas para contrariá-lo. Ele me flagrou no ato de me mover para cima da
cama e ergueu uma sobrancelha ao sair do banheiro.
Não me incomodei em parar e retornei seu olhar com um parecido. O que
vai fazer quanto a isso?
O sorriso que ele me mostrou dizia, Oh, querida, não gostaria de saber?
Mas ele não comentou nada e se sentou ao meu lado na cama, começando a
cuidar do meu pé.
— Vai arder um pouco — ele alertou ao começar a limpar o corte.
Mordi o lábio para não gritar, depois soltei com um estalo quando ele se
abaixou para soprar meu pé. Quando fez a mesma coisa no corte do joelho,
arrepiei. Ok, talvez essa coisa de médico não fosse tão ruim. E a sensação de
suas mãos ásperas na minha pele nua? É, eu também gostava disso.
— Tudo bem, você precisa deixar para cima por pelo menos vinte
minutos com gelo. Enquanto faz isso, vou pegar sua mala no carro para que
possa se trocar. — Seus lábios se curvaram para cima. — Só porque decidiu
roubar e correr pelo gramado cheio de pedra, não significa que vá perder a
reunião desta tarde e não conhecer minha equipe. Mas boa tentativa, srta.
Dawson.
Estreitei os olhos.
— Está me acusando de ser folgada?
Ele se esticou por cima de mim para pegar dois travesseiros e parou com
o rosto a poucos centímetros do meu.
— Não, estou te acusando de roubar. O que, aliás, significa que venci, e
vamos compartilhar esta casa durante a semana. — Ele mexeu as
sobrancelhas. — Acho que vamos ter um início fabuloso, não acha?
Will arrumou os travesseiros sob meu pé, depois estendeu uma toalha,
que eu não percebera que estava ali, em meu tornozelo para, depois, colocar o
saco de gelo na área mais sensível.
Encolhi com isso, o que acabou com qualquer resposta que eu tinha na
ponta da língua. Não conseguia nem me lembrar por que estávamos brigando.
Como fui burra por correr pelo maldito gramado! Tudo isso para quê? Para
vencer um jogo bobo? Ou era mais sombrio que isso? Eu tinha gostado de ele
me perseguir. Lá no fundo, esperava que ele me pegasse. Parte dessa fantasia
se tornou realidade, já que eu acabara na cama dele, mas nem perto da
maneira como desejava.
Ele se inclinou para tirar as pontas da colcha do lado oposto da cama e a
colocou mais perto de mim.
— Caso sinta frio — explicou ao sair do canto ao meu lado. Sua mão foi
para meu quadril. — Agora, estou falando sério, Rachel. Não se mexa. —
Aquele olhar escuro estava de volta, fazendo minha pele arrepiar.
Por que isso é tão sexy?
Porque você ficou louca.
— Sabe que ordens não funcionam comigo.
Não consegui evitar. Ele já precisava saber disso sobre mim e, se não
soubesse, então teríamos outra discussão.
Ele sorriu e aproximou os lábios do meu ouvido.
— Oh, eu sei, querida. Mas também sei que gosta delas.
Seus dentes arranharam meu pescoço em um carinho tão rápido que
pensei se tinha imaginado. E então ele saiu.
UMA DINÂMICA FRESCA
Os cuidados de Will ajudaram com o inchaço, mas meu tornozelo doeu
pra caramba durante a reunião em sua sala de tamanho exagerado. Me forcei
a ignorar a dor enquanto cumprimentava todos seus funcionários sêniores e
ligava os nomes às pessoas.
Estava descalça, algo que ninguém pareceu notar, já que todos tiraram os
sapatos na porta, mas eu me sentia perambulando sem minha meia de sempre.
Vi Will olhando minhas pernas expostas mais de uma vez. Toda vez, ele
sorria para mim, o que provocava um calor urgente em todas as regiões
inapropriadas. Me fez questionar sua atração de novo, principalmente quando
ele mantinha um comportamento puramente profissional. A maneira como
lidou com a reunião e dirigiu a mim as atualizações legais foram de máximo
respeito. Nem uma vez fez um comentário ou olhar sugestivo.
E ali estava a mordidinha. Toda vez que ele sorria, independente se fosse
sedutor ou divertido, me lembrava de seus dentes em meu pescoço e
provocava um arrepio. Como agora, quando riu de algo que David disse. O
analista de sistema parecia ser o piadista do grupo. Ele tinha um ar leve que
mantinha todos rindo.
Will balançou a cabeça.
— Você tem problema, cara.
— É o que minha esposa me fala — o ruivo respondeu. — Falando nisso,
ela vai me matar se eu voltar tarde para casa hoje, depois de trabalhar todas
aquelas horas na semana passada.
— Não pode deixar isso acontecer — Will respondeu ainda sorrindo. —
Acho que acabamos por hoje. É para a semana que vem ser um sucesso, e
isso graças a todo o trabalho duro aqui e também à equipe de Rachel da
Baker Brown.
Todos brindaram e aplaudiram animados, depois cada membro da equipe
de Will se aproximou para cumprimentá-lo antes de ir embora. Maeve, uma
mulher esbelta ruiva, foi a última a sair. Seus lábios se curvaram em um
sorriso adorável ao beijar Will na bochecha. O terninho justo da mulher caía
como uma luva nela, deixando pouco para a imaginação de todas suas curvas
e pernas longas.
— Precisamos revisar a apresentação de Francis — ela murmurou.
— Envie para mim que dou uma olhada.
Ela olhou para mim com uma expressão curiosa, depois voltou-se para
ele.
— Ou podemos revisá-la agora.
Will sorriu.
— Maeve, vá para casa. Você já trabalhou muito.
— Sabe que não me importo.
— Mas é quase certeza de que Robbie se importa.
Ela suspirou.
— É. Não importa quantas vezes Mia explique nossa amizade, Robbie
ainda se preocupa. — Seus olhos gentis castanhos encontraram os meus e se
enrugaram nas laterais. — Já conheceu Mia?
Não me lembrava desse nome.
— Acho que não.
— Minha prima — Will explicou. — A irmãzinha de Evan.
— Oh, a médica? — Sarah a mencionou rapidamente para mim. — Ela
vai se mudar para casa logo, certo?
— Em dezembro — Maeve respondeu com uma empolgação palpável.
— Ela é melhor amiga de Mia e praticamente cresceu na casa da família
Mershano.
— Por isso Will me contratou.
Will lhe lançou um olhar carinhoso que era mais fraterno do que
romântico. A competidora dentro de mim relaxou com aquela expressão,
enquanto a parte sã de mim se encolheu. Tornando-se protetora de um
homem que nem é remotamente seu.
Calma, Rach.
— Nós dois sabemos que não foi por isso que te contratei, querida. Seu
currículo é mais do que qualificado. Agora, sério, saia daqui antes que
Robbie me ligue para reclamar de novo.
— Tá, tá. Posso lidar com ele. — Ela piscou para mim como se eu
entendesse a dinâmica entre todos eles, depois pegou a bolsa. — Vou te
enviar a apresentação quando chegar em casa.
— Obrigado, Maeve.
— Foi um prazer conhecê-la, Rachel. Mal posso esperar para trabalhar
mais com você no futuro.
— Ãh, eu também — respondi lentamente, semicerrando os olhos para
Will. — O que andou dizendo para as pessoas? — perguntei depois que
Maeve desapareceu.
— Que você é uma advogada maravilhosa que eu queria contratar — ele
respondeu, dando de ombros. — Mas você já sabe disso.
Minha testa se enrugou com confusão.
— Estamos trabalhando juntos há semanas.
— Claro, através de sua firma. Isso não dispensa o fato de que eu ainda
queria contratar você.
A intensidade em seu olhar era a mesmo que eu tinha visto no piso
superior no quarto dele. Minhas coxas ficaram tensas com a lembrança,
obrigando-me a recuar para aliviar o desejo que se formava ali. Dor substituiu
o desejo quando pisei muito forte com o pé machucado. Tinha passado a
maior parte da tarde me equilibrando em uma perna, sem perceber, e minha
outra foi rápida ao me lembrar do porquê. A mão de Will segurou meu
quadril, mantendo-me ereta, pois teria caído para trás.
— Acho que é hora de mais elevação e gelo — ele murmurou ao me levar
para o sofá. — Recomendei que ficasse sentada durante a reunião, e não em
pé.
Bufei. Na verdade, ele mandou que eu sentasse na cadeira, e foi por isso
que o ignorei.
— Gosto de estar no mesmo nível que os clientes — murmurei ao cair
nas almofadas macias.
Elas pareciam nuvens, e era só por isso que não discuti quando ele me
deitou. Aqueles dedos espertos desceram por minha perna conforme ele
arrumou uma almofada com a outra mão.
— É, percebi isso. — Gentilmente, ergueu meu tornozelo e o colocou em
uma pilha de maciez. — Sua assertividade é sexy, e um pouco perigosa.
— Perigosa? — repeti incrédula. — Por quê? Por que te intimida?
— Não, querida. Porque me excita. — O sorriso que acompanhou aquelas
palavras me fez engolir a língua.
Devorador não fazia jus àquele olhar. Era o tipo de expressão que uma
mulher queria ver no quarto. O tipo cheio de promessa e confiança, e grita, eu
sei do que você precisa. Provocou arrepios em meus braços e deliciosas
sensações que se enrolaram na parte inferior do meu abdome. Geralmente
demorava alguns minutos de preliminares para causar esse tipo de reação,
mas Will conseguiu isso curvando os lábios de forma perversa.
Ele deixou o momento fervilhar, aumentando minha excitação a cada
toque de seu polegar na bainha de minha saia. Meus dedos se contorceram
com a necessidade de retribuir, de tocá-lo, de fazer alguma coisa além de se
retorcerem ao lado do corpo. Mas não conseguia me mexer, cativada por
aquele olhar, totalmente à sua misericórdia. Nunca havia me sentido tão
completamente sem ação em toda minha vida, mas me aproveitei disso. O
controle de Ryan me fazia tremer de medo, enquanto a dominância sutil de
Will me excitava. Estava muito fodida e, mesmo assim, não tinha vontade de
lutar.
— Não fique mais em pé — ele murmurou ao se afastar.
Olhei brava para sua bunda perfeita, irritada por ele ter quebrado a
intimidade entre nós.
— Ou o quê?
Sua resposta foi uma risadinha baixa que alimentou ainda mais as chamas
internas. Como ele faz isso? Era tão arrebatador quanto enfurecedor. Pensei
em levantar de novo só para irritá-lo, mas meu tornozelo protestou a ideia.
Ele voltou depois de alguns minutos com outra toalha, um saco de gelo e um
copo de água.
— Cedo demais para outro anti-inflamatório, mas hidratação ajuda.
Termine isso e descanse enquanto vou fazer o jantar.
— Vai cozinhar?
Não quis soar tão duvidosa, mas, por minha limitada experiência, a
maioria dos homens não sabia nem o caminho para a cozinha. Ryan a
considerava um lugar para seus funcionários, ou algumas mulheres, como eu.
— Algum vegetal particular de que não gosta? — ele perguntou,
ignorando minha pergunta.
— Couve-de-bruxelas. — Eu as detestava.
— Anotado — foi tudo que ele disse ao desaparecer pelo corredor.
Eu ainda não tinha ido para os fundos da casa, mas imaginei que tivesse
uma grande cozinha e sala de jantar e talvez outro cômodo para
entretenimento. Onde eu estava faltava uma televisão, mas continha algumas
prateleiras e uma miríade de assentos. Abrigara a equipe de doze
confortavelmente enquanto nós todos nos apresentamos e revisamos vários
documentos. Considerando o conforto de todos, era óbvio que eles se
encontravam ali com frequência.
Aromas apetitosos chegaram ao meu nariz depois do que pareceu uma
eternidade encarando o teto. Pensei em perguntar onde estava meu celular,
mas não queria ver quantas chamadas não atendidas havia de Ryan.
Provavelmente, ele queria uma atualização da minha viagem a negócios, o
que não era da conta dele. Aquelas palavras ficavam na ponta da minha
língua toda vez que conversávamos, mas nunca poderia externá-las. Mesmo
assim, tive a vontade repentina de enviar uma mensagem a ele declarando
exatamente isso. Talvez fosse a segurança de estar na casa de Will que me
deixasse assim, tão ousada. Ryan não poderia me tocar ali, mas poderia fazê-
lo no minuto em que saísse. Esse último pensamento foi o que me impediu de
seguir com o plano. Ele estaria me esperando e, então, todo o inferno
começaria.
Da última vez que tentei enfrentá-lo, não tinha acabado bem. Meu
tornozelo torcido não tinha nada a ver daquela vez. Esfreguei as costelas ao
me lembrar dele me atacando. Não. Nunca mais!
Parando de pensar nisso, me empurrei do colchão e peguei a bolsa de
gelo. Os aromas flutuando pelo corredor eram bem mais atraentes do que os
retrocessos na minha mente. Manquei na direção do que pensava ser a
cozinha e me vi olhando para uma parede de janelas com vista para o deque
do lado de fora. Montanhas bagunçadas por árvores se espalhavam além da
visão, fazendo-me parar. Eu era uma menina da cidade de coração, mas não
podia negar a tranquilidade daquela vista.
— Uau — sussurrei.
Uma risada me fez olhar para a esquerda e ver Will apoiado em um
balcão de mármore, com os braços cruzados.
Ele olhou para o relógio e fez um “tsc”.
— Catorze minutos de descanso não vão ajudar seu tornozelo.
— Foram só catorze minutos? — Merda. Pareceu quase uma hora. Eu não
lidava bem com o ócio.
— Treze e pouco, para ser exato. — Ele se afastou dos armários de cor
mogno e flexionou um dedo para mim. — Pode se sentar à mesa enquanto
termino o jantar.
— Prefiro me sentar lá fora — admiti, surpreendendo a mim mesma.
Insetos e natureza não eram meu tipo, mas a espreguiçadeira no deque
dele me atraía, assim como a pequena piscina ali. Não esperei que ele
concordasse, simplesmente andei lentamente até as portas de vidro e saí com
o gelo ainda na mão.
— Ah, isso — murmurei ao me ajeitar na espreguiçadeira almofadada lá
fora.
Coloquei o gelo no tornozelo e suspirei de satisfação, só para depois me
sentar assustada quando dedos quentes seguraram minha perna.
— O que está…?
Ele a ergueu com facilidade e colocou uma almofada que encontrou Deus
sabe onde debaixo do meu pé. A reprovação em seu olhar não passou
despercebida, mas ele não disse nada ao entrar de novo na casa. Nossa
dinâmica parecia estar mudando para uma nova fase que combinava flerte,
profissionalismo e alguma outra coisa. Ele não estava admitindo sua atração,
porém também não estava necessariamente escondendo-a. Deixava no ar
como uma porta aberta convidando-me a entrar, sabendo do risco. Sentia que
eu estava vacilando quase lá dentro, persistindo e esperando o desejo
inevitável de correr na direção oposta, mas ele nunca veio. Pelo contrário, o
único empurrão que senti foi o que me levava para mais perto, seduzindo-me
a arriscar e ver o que Will tinha a oferecer, o que era ridículo, porque eu sabia
o que esperar — sexo fantástico seguido de estranheza enquanto
continuávamos a trabalhar juntos na fusão. Ou talvez o caso sexual pudesse
durar o projeto todo…
Meus hormônios se atormentaram ao pensar nisso. Prazer sem remorso e,
já que aconteceria longe de Chicago, Ryan nunca saberia.
— Quer comer aí fora? — Will gritou de dentro da casa.
Ele tinha deixado a porta aberta, algo que notei também foi a vista da
varanda. O ar nas montanhas era mais frio do que eu esperava para a Carolina
do Norte, mas ainda quente o bastante a fim de garantir a abundância de
ventiladores decorando cada cômodo da casa dele. Também havia alguns de
teto cobrindo seu deque, inclusive um diretamente acima da minha cabeça.
— Definitivamente quero ficar aqui fora — respondi.
Ver a água refletindo a alguns metros me fez me arrepender de não ter
levado biquíni. Pedras decoravam as bordas, dando um estilo de lagoa que
parecia convidar a tomar sol. Eu flutuaria no centro com um livro, uma
margarita e o desejo de nunca ir embora.
— Bon appétit — Will murmurou ao sair da casa com uma bandeja.
Olhei a oferta com ansiedade, mas não precisava me preocupar.
— Refogado chinês. Legal. — Aceitei a comida com um sorriso. —
Obrigada.
Ele até me deu hashis e me serviu uma taça de vinho. Era bem melhor do
que uma pousada no fim da rua. Juntou-se a mim um instante depois com sua
própria bandeja e se sentou na espreguiçadeira oposta abaixo de seu próprio
ventilador. Comemos na companhia do silêncio, com meu pé descansando na
almofada e meu estômago se revirando de satisfação.
— Sabe, acho que este é o primeiro Mershano branco que provei. —
Saboreei as notas frutadas na língua e lambi os lábios. — Qual é este?
— É um Pinot Grigio com notas de maçã de uma das vinícolas da
Carolina do Sul.
Com habilidade, ele pegou um pedaço de frango do prato e o colocou na
boca — uma coisa tão sutil, e ele conseguia sexualizá-la. Ou talvez fossem
apenas meus hormônios falando.
Me concentrei em meu prato e aproveitei a abobrinha salteada.
— Então você sabe cozinhar — finalmente elogiei depois de muitas
mordidas deliciosas. — Tipo, sabe mesmo cozinhar. — Porque aquela
refeição tinha qualidade de restaurante, talvez até melhor.
— Pensei em abrir um restaurante e bar de vinhos há mais ou menos uma
década, mas decidi que preparar comida para clientes não era realmente
minha paixão. Preferia dividir meu tempo entre os vinhedos e tarefas
empresariais. Mas ainda gosto de cozinhar para mim mesmo.
Primeiro, pensei que ele estivesse brincando. Mas nada em sua expressão
ou tom sugeria humor, somente fatos.
— Bom, meu estômago agradece você pela experiência.
Ele ergueu sua taça em uma saudação falsa.
— Saúde.
Ergui a minha em resposta e dei outro gole saboroso.
— Estou quase feliz por ter perdido mais cedo, Mershano. Não muito
pelo tornozelo, mas poderia me acostumar a viver assim por uma semana.
Uma sensação fez seus lábios se curvarem, mas desapareceu rápido
demais para eu notar. Ele se levantou alguns minutos mais tarde e olhou para
minha bandeja.
— Acabou?
— Acabei, mas posso…
— Seu único trabalho agora é descansar esse tornozelo — ele declarou,
efetivamente interrompendo minha oferta de ajudar a lavar a louça.
— Mandão — acusei, revirando os olhos.
— Você não faz ideia. —A maldade tocou seu olhar conforme ele levava
a bandeja para longe de mim. — Diria para você ficar parada, mas nós dois
sabemos que não vai obedecer.
Sorri.
— Está aprendendo.
— Oh, estamos só começando, querida — ele falou pausadamente. —
Voltarei em um minuto para te levar para a cama.
PROVA DE LUXÚRIA
As palavras de Will depois do jantar na noite anterior me deixaram
quente e incomodada por horas, exatamente como ele pretendia. Sua versão
de me levar para a cama significava me mostrar o quarto onde ficaria, que era
ao lado da suíte dele.
— Notei você admirando a varanda em meu quarto mais cedo, então
pensei que pudesse gostar deste quarto. Compartilha o mesmo espaço do
lado de fora, por aquelas portas ali.
Ele as apontara na noite anterior, e eu tinha burramente dormido com elas
abertas pensando que ele quis dizer que passaria por elas depois. Só que não.
Não aconteceu.
Fiz careta para as cortinas soprando com o ar da manhã. Esfriou minhas
faces aquecidas, mas não adiantou para acalmar meu pulso acelerado. Visões
de Will entrando escondido em meu quarto para um encontro de madrugada
me manteve virando e desvirando na cama até altas horas e, quando o sono
finalmente me visitou, foi na forma de sonhos que me deixaram arfando. O
banho frio que tomei trinta minutos antes não fez diferença. Minha saia-lápis
parecia estranhamente sufocante, assim como minha blusa azul. Eu usava
aquelas roupas todos os dias e, ainda assim, queria rasgar o tecido ofensivo
do corpo.
Com uma respiração irritada, saí na varanda, esperando que o ar frio
ajudasse a acalmar minha pele excitada. Fechando os olhos, encostei no
corrimão e inalei o ar fresco da manhã. Doce e puro, com um toque de sabor.
Este último eu associava ao meu torturador sensual. Olhei na direção das
portas abertas dele e arfei.
Oh, por tudo o que é mais sagrado…
Will descansava em uma chaise, lendo o jornal, vestido apenas com uma
cueca boxer preta. Gomos de músculos bronzeados atingiram meus sentidos,
me deixando momentaneamente paralisada. Embora ele estivesse sentando,
eu conseguia ver que ele tinha aquelas entradinhas acima do osso do quadril
e, oh, aquelas coxas eram deliciosas e de dar água na boca. Todo forte e duro
e feliz à mostra para minha vista prazerosa.
— Gostando da vista? — ele perguntou, chamando minha atenção para
seus lábios carnudos. Eles se curvaram em um daqueles sorrisos sedutores
que estavam se tornando impossíveis de ignorar. Minha língua ficou presa na
boca, me impedindo de falar. Tudo que consegui fazer foi assentir. Deixe-o
pensar o que quiser disso. Obviamente sabia que eu o achava atraente. Não
poderia negar isso.
Quando ele levantou e alongou os braços compridos para cima da cabeça,
fiquei tonta. Ah, sim, definitivamente tinha o pacote completo. Aquela cueca
boxer não deixava nada para imaginação. Precisei me esforçar mais do que
pensei ser possível para arrastar os olhos para cima e encontrar os dele
enquanto ele ia até mim na varanda.
— Dormiu bem? — ele perguntou com voz baixa e sugestiva.
Meus lábios se abriram, mas minhas cordas vocais não estavam prontas,
então fechei a boca. Eu não fazia ideia de onde estava minha dignidade,
entretanto, com certeza ela retornaria assim que ele vestisse roupas. Talvez.
Ele passou os dedos por seu cabelo bagunçado e mostrou uma covinha para
mim no processo. Aqueles músculos se flexionavam a cada movimento,
enfatizando sua força e sua confiança bem merecida.
— Então, essa é você sem saber o que dizer? — ele se divertiu. —
Hummm, acho que prefiro a Rachel mal-humorada, mas pelo menos sei disso
para referência futura. — Ele invadiu meu espaço, permitindo que o calor de
seu corpo chegasse à minha pele já bem quente. — Para constar, não dormi
nada bem. Quer saber por quê?
Me vi assentindo sem pensar.
Ele ergueu a mão para colocar uma de minhas mechas loiras atrás da
orelha e, levemente, passou os nós dos dedos por meu pescoço até minha
clavícula, depois subiu de volta.
— Precisei me esforçar consideravelmente para ficar em meu quarto
ontem à noite, mais do que o normal. — Sua palma deslizou para minha
nuca. — E ver você me olhar assim agora, querida, não vai facilitar esta
noite.
Arrepiei quando ele passou os lábios nos meus da forma mais leve e
carinhosa. Nem foi firme, ou demorado o suficiente, e não atendeu minhas
expectativas de como seria ele me beijar pela primeira vez.
— Me avise quando quiser mais — sussurrou, seu nariz tocou o meu de
leve quando ele começou a se afastar. Segurei seu punho, e ele ergueu uma
sobrancelha. — Sim?
Falar ainda era um problema, então respondi diminuindo a distância entre
nós e jogando os braços em volta de seu pescoço. Ele não hesitou. Sua boca
tomou a minha em um beijo tão carnal que o senti até meus dedos dos pés.
Era assim que eu tinha imaginado. A dominação, a força e a paixão
unidas por um encontro poderoso de línguas enquanto ele competia para
controlar minha boca. Gemi em resposta, incapaz de impedir o desejo
borbulhando dentro de mim, e me esfreguei nele das formas mais
inapropriadas.
Seu braço deslizou por minhas costas para me segurar conforme sua
excitação grossa se endurecia contra a parte debaixo da minha barriga. Uma
lágrima caiu do canto do meu olho ao sentir isso. Nunca tinha desejado tanto
algo, alguém, na vida toda. Se o objetivo dele tinha sido desmanchar todo
meu autodomínio adquirido de forma suada, tinha conseguido, porque me
desmanchei em seus braços. Qualquer coisa que ele quisesse, eu faria, desde
que significasse uma noite em sua cama.
Ele mordeu meu lábio inferior, fazendo-me dar um gritinho, depois
colocou sua língua tão fundo que esqueci como respirava. Meus joelhos
ameaçaram ceder, o que ele deve ter sentido porque seu braço se endureceu
em volta de mim enquanto sua outra mão segurou meu cabelo e inclinou
minha cabeça para o ângulo que ele preferia. Segurei em seus ombros, meus
dedos apertando o músculo forte ali, conforme ele tomava o que queria.
Meus quadris encontraram o corrimão da varanda quando sua virilha
lutava por um propósito contra a parte de baixo de minha barriga, ou talvez
fosse eu tentando encontrar a fricção. A junção entre minhas pernas latejava
com um desejo bem mais doloroso que meu tornozelo na noite anterior, mas
minha saia me mantinha imóvel. Não importava o que eu fizesse, não
conseguia o ângulo certo, e ele rindo me disse que sabia disso, mesmo assim,
ele não fez nada para me ajudar. Quando tentei consertar o problema, vi meus
dois punhos presos em uma mão. Ele mordeu meu lábio inferior, depois o
delineou com a língua.
— Você ainda não está pronta, querida — ele murmurou.
Abri a boca para protestar aquela teoria e fui silenciada por outro beijo
profundo. Quando ele se afastou, eu não conseguia me lembrar de meu
próprio nome.
— Hummm, eu adoro esse seu olhar, Rachel. — Ele cheirou meu pescoço
e lambeu um caminho até minha orelha. — Mas você não vai para minha
cama até concordar em ficar ali. Para sempre. — Seus dentes rasparam meu
queixo conforme ele mordiscou o caminho até minha boca para um último
beijo destruidor de mentes. — Vou tomar um banho demorado e bem quente
— ele murmurou. — Te encontro lá embaixo em uma hora para revisarmos a
proposta de Francis.
Segurei no corrimão para me equilibrar enquanto ele se afastava sem se
importar com o mundo. Se eu pensei que aquela bunda era linda de calça,
estava ainda mais sexy agora naquela cueca boxer justa. Porra. Que porra foi
aquilo? Ele me beijou como se sua vida dependesse disso, só para sair com o
que eu sabia ser uma boa ereção, da qual ele claramente planejava cuidar no
banho. Sozinho. Ou aquilo era algum jeito zoado de convite.
Você não vai para minha cama até concordar em ficar ali. Repassar suas
palavras em minha cabeça provocou um arrepio pela espinha. Para sempre.
Tipo eternamente? Ele não podia estar falando sério. Um homem com sua
riqueza e status foi destinado para uma vida de solteirice, certo? Mas, com
exceção do flerte ocasional, eu ainda não tinha visto uma indicação de que ele
gostasse de passar o rodo.
Vergonhosamente, eu o tinha pesquisado junto com sua empresa e não vi
nenhuma matéria de sua vida amorosa, nem nada casual, dos últimos meses.
O artigo mais recente que encontrei foi de uma organização lucrativa do ano
anterior onde ele levou uma modelo. Todos os eventos deste ano o
registraram como convidado solteiro. Tinha tentado não pensar muito
naquelas pistas de namoro, mas, junto com as palavras dele, era difícil não
especular.
Toquei meus lábios inchados. Será que ele queria mais de mim do que
apenas algumas noites de prazer? Parecia impossível, mas ele tinha ido bem
longe para assegurar que eu pegasse esse projeto. Uma estratégia elaborada
para sair comigo ou por que respeitava minhas habilidades profissionais? Ou
ambos?
Minhas mãos grudentas seguraram mais firme o corrimão. Eu poderia lhe
dar algo de curto prazo, mas uma coisa de longo prazo nunca aconteceria.
Poderia conseguir esconder de Ryan por algumas semanas, meses até, mas
mais que isso? Não. Ele viria atrás de mim, e Will sofreria. Meu ex louco
sempre encontrava formas de derrubar os homens na minha vida. Me ensinou
aquela lição cedo, e era por isso que eu evitava namorar.
Não podia deixar Ryan chegar perto de Will. Não havia como saber o que
ele faria, principalmente, já que Will apresentava uma ameaça mais
significativa do que qualquer um dos homens anteriores na minha vida.
Porque eu realmente gostava dele. Muito. Demais.
Esfreguei minhas palmas suadas contra minha saia e endireitei os ombros.
Hora de me recompor, e começaria isso me enfiando no trabalho. Era o que
eu fazia de melhor, e seria para o benefício deste projeto. Pelo menos poderia
agradar Will de uma maneira. Ser uma boa advogada teria que ser suficiente.
PODADO
Sem estranheza. Sem reação. Sem comentários. Nada.
Isso resumia os dois últimos dias. Estava profissional como sempre entre
nós, com o olhar caloroso de vez em quando e exigência para que eu elevasse
meu pé. Oh, e jantares preparados na hora em ambas as noites. Puxei a
cortina da porta da minha varanda e franzi o cenho quando a vi vazia. Com
exceção da primeira manhã ali, ele não havia me recebido do lado de fora.
Sempre lá embaixo, completamente vestido, com uma xícara de café. Parecia
que hoje seria a mesma coisa.
Me irritava, apesar de ser o melhor. Mas eu queria saber que o afetava
pelo menos um pouco. Ele me fez questionar suas intenções novamente. Será
que eu tinha entendido errado seu pedido de ir para a cama? Aquele em que
ele disse que eu poderia me juntar a ele apenas quando ele soubesse que eu
não iria partir?
Fiquei tonta com as possibilidades que ameaçavam descarrilhar minha
compostura conforme descia as escadas. A dor em meu tornozelo havia
diminuído substancialmente, então não estava tão torcido quanto roxo.
— Bom dia — Will me recebeu com uma xícara de café feita exatamente
como eu gostava e um prato cheio de ovos.
— Isso é novidade — comentei ao me sentar em um dos banquinhos no
balcão de café da manhã.
— Vai precisar de mais do que uma banana hoje — ele respondeu,
referindo-se ao meu café da manhã preferido. — E vai precisar se trocar.
Olhei seus jeans e camiseta cinza justa.
— Por quê?
— Vamos nos aventurar.
— Ãh, explique, por favor.
Ele deu aquele sorriso charmoso.
— Nem vem, querida. Vai precisar de jeans, botas e uma blusinha ou
camiseta.
— Não trouxe nada disso.
Ele murmurou algo baixinho ao sair da cozinha. Encarei-o sem vergonha.
Sua bunda foi criada para aqueles jeans, assim como suas coxas. E aquela
camisa justa mostrava lindamente todos aqueles músculos das costas.
— Eu aprovo o dia casual — murmurei para mim mesma antes de colocar
um pouco de ovo na boca. — Oh — gemi. — Ok. — Will conseguiu mudar
minha ideia sobre café da manhã com essa comida. — Você adicionou queijo
ou algo assim? — gritei para ele depois de engolir.
— Cheddar Vermont branco — ele respondeu enquanto voltava para a
cozinha com uma sacola de compras. — E gordura de bacon.
— Saudável — brinquei dando outra mordida.
— Delicioso — ele corrigiu. — Agora, tive a sensação de que não traria
as roupas certas, então encomendei algumas para você. Botas, tamanho 40.
— Ele colocou uma caixa no balcão de mármore ao lado de meu prato. —
Jeans, tamanho 40, e uma blusinha M. Acertei tudo?
Estava boquiaberta.
— É um pouco assustador você fazer isso. — E sexy pra caramba.
— Vamos dizer que tenho uma imaginação brilhante, srta. Dawson. —
Ele cruzou os braços no balcão para se aproximar. — E suas roupas me
fascinam mais do que provavelmente deveriam.
Minha boca secou com a insinuação em seu tom e o olhar ardente que ele
deu aos meus lábios. Mas bem quando eu esperava que fosse me beijar de
novo, afastou-se e se cobriu com aquela maldita capa profissional.
— Sairemos em vinte minutos, então sugiro que termine aí e se troque. Te
encontro lá fora. — Ele pegou um chapéu de caubói que eu não tinha notado
no balcão e o colocou na cabeça. — Madame — ele disse, abaixando a aba
para mim.
Oh, não é justo. Eu conseguia lidar com empresário rico, até com
milionário despido, mas caubói sexy? Uma garota do Centro-Oeste tinha seus
limites. E junto com aquela voz sulista?
— É, estou muito encrencada — sussurrei.

As roupas serviram perfeitamente. Não que estivesse surpresa. Will me


analisou rapidamente e encarou meu pé machucado.
— Como está seu tornozelo?
— Seguro, na verdade. As botas são bem melhores que os saltos.
Ele assentiu.
— Que bom, era o que eu esperava. — Ele abriu a porta de uma
caminhonete enorme. — Entre, querida.
— Ok, agora estou oficialmente no Sul. — Aceitei sua mão para me
ajudar a subir no banco do passageiro. — Deixe-me adivinhar — continuei
quando ele subiu ao meu lado. — Música country agora?
Ele mexeu as sobrancelhas.
— Preocupada que eu possa encobrir a garota urbana em você?
— Nem um pouco — respondi ao afivelar o cinto.
— Muito confiante — ele murmurou.
Ligou o carro e, com isso, veio o som baixo de um violão dedilhado
acompanhado de uma voz masculina grossa. Definitivamente cantor country,
mas não o tom folclórico que eu esperava. Era bem agradável. Não que eu
fosse admitir isso em voz alta.
Will afivelou o cinto também e saiu com o carro.
— Há um isopor com água lá atrás caso precise beber alguma coisa. Vai
me agradecer depois.
— Presumo que não iremos ao escritório revisar a proposta final.
— Não, faremos isso no avião amanhã, ou sábado.
— Na França — complementei. Porque imaginei que lá seria nosso
primeiro destino.
Ele sorriu.
— Bom saber que você aprendeu a se concentrar, querida.
Oh, não sabia se tinha mesmo. A forma como seus antebraços se
flexionavam conforme ele dirigia era uma puta de uma distração, assim como
aqueles jeans ilegais. Mas era sua voz que fritava meu cérebro. Ele começou
a cantarolar a música, o que eu gostava mais do que queria admitir, e depois
começou a cantar. Não alto, mas baixinho, e no ritmo perfeito. Meus lábios se
abriram e se recusaram a fechar, e nem admirar a paisagem à nossa volta
poderia nos distrair de sua voz grave.
Eu tinha desenvolvido essas expectativas na cabeça sobre ele, e Will
continuava a destruí-las. Seu sobrenome e sua riqueza influenciaram minha
avaliação inicial, algo que as pessoas poderiam nomear como estereotipar,
mas, na minha experiência, os homens em círculos influentes costumavam
agir igual. Exceto por Will. Vestido em sua camiseta, jeans, botas de caubói e
chapéu, ele parecia um homem comum. E aquela caminhonete não era nada
cara ou chamativa, simplesmente um veículo conveniente criado para andar
na estrada sacolejante em que estávamos agora. Estávamos cercados por
campos, mas havia uma casa estilo rancho no fim da estrada de pedra.
Um homem vestido de macacão e um chapéu mole saiu na varanda e
acenou quando Will estacionou ao lado de outra caminhonete.
— Esse é Joe. Ele cuida da vinícola — ele explicou antes de sair e me
encontrar na minha porta. Sua mão estava quente quando ele me ajudou a
descer na superfície irregular. Meu tornozelo não protestou quando apoiei
nele, o que foi um bom sinal.
— E aí, Mershano — o homem mais velho cumprimentou ao dar a volta
na caminhonete.
— Oi, Joe — Will respondeu. — Essa é Rachel.
— Ah, a advogada, sim. — Ele ergueu a mão e eu a apertei.
— Prefiro Rachel em vez de a advogada, por favor — disse a ele com um
sorriso.
— Prove ser tão útil quanto Mershano diz que você é, e vou te chamar do
que quiser — foi a resposta dele.
— Cuidado, Joe. Ela vai te cobrar por isso.
Não o corrigi porque ele tinha razão.
— Então, o que vamos fazer?
— Podar e cercar — Joe respondeu e depois fixou seus olhos castanho em
Will. — Vai me ajudar com as redes enquanto ela faz isso?
— Vou, mas preciso mostrar a ela como podar primeiro.
Joe assentiu.
— Boa sorte com isso. Essas mãos bonitinhas me dizem que ela não vai
ser muito boa nisso.
Eu coloquei minhas “mãos bonitinhas” nos quadris.
— Ei, não julgue um livro pela capa.
Will apoiou o braço em meus ombros e me deu um meio abraço.
— Não estou preocupado, querida. — Ele me soltou para pegar umas
luvas e duas tesouronas de jardim da caminhonete. — Podador — ele
explicou, flagrando minha análise. Ele as conectou ao cinto por algum
método feito à mão que não entendi, depois enfiou as luvas nas costas. —
Você vai ver.
— Você que manda — disse a ele, sabendo que isso o faria sorrir. E o fez.
— Ainda estou esperando que me chame de “senhor”.
— Vai ficar esperando muito tempo.
Seus olhos dançaram por mim de uma maneira preguiçosa.
— Humm, não, acho que não vou precisar esperar muito mais tempo. —
Ele abriu a porta do passageiro de novo. — Quase esqueci seu chapéu,
querida. — O item na mão dele quando ele se virou não fazia parte da sacola
de roupas que vi mais cedo e não o notei no banco de trás.
— Não pode estar falando sério.
— Sobre você? Muito. — Para meu desgosto, ele o colocou na minha
cabeça. — Acredite em mim, linda. Seu rosto vai me agradecer depois.
Ãh, o quê? Ele usava tantas vezes querida que linda me surpreendeu.
Nunca tinha ouvido aquela palavra ou termo carinhoso dele.
Ele envolveu os braços em meus ombros de novo.
— Te encontro daqui meia hora, Joe.
— Sabe onde vou estar — ele respondeu.
— Ok, então o que vou fazer e por quê? — perguntei enquanto Will dava
a volta na casa comigo em direção à vinícola atrás dela. Apareceram várias
cabeças conforme nos aproximamos.
Will colocou sua mão livre na boca em forma de concha e gritou um “E
aí, pessoal!”. Muitas variações de cumprimentos flutuaram de volta até nós,
fazendo meu companheiro dar risada.
— Para responder à sua pergunta, estamos aqui para ajudar Joe a cuidar
do vinhedo. Ele está tendo alguns problemas com pássaros, então precisamos
colocar algumas redes para mantê-los afastados das uvas. Além disso,
participar do ambiente vai ajudar você a entender melhor por que faço o que
faço, o que será importante quando começarmos essas negociações.
Franzi o cenho.
— Não acha que respeito o que você construiu. — Não era uma pergunta,
mas uma afirmação. Por que mais ele sentiria a necessidade de me mostrar
tudo isso?
Ele deu de ombros.
— Acho que você tem a impressão de que isso tudo foi entregue a mim
por causa do meu sobrenome, e acredito que mostrar é melhor do que dizer.
— Certo, mas já me mostrou a vinícola original e explicou como você a
transformou. — O que mais havia para entender? Eu já sentia respeito por ele
e suas conquistas.
— Correto, e agora vai apreciar o que realmente aquilo significa. — Ele
me guiou para uma fileira vazia e parou em um lugar aleatório no meio. —
Lembre-se de que este é um vinhedo saudável que está prestes a podar, não
um arruinado, e você tem mais de doze pessoas te ajudando. Eu tinha duas.
— Ok, mas, para constar, eu respeito o que construiu.
Ele sorriu.
— Talvez, mas terá ainda mais respeito no fim do dia. E, como eu disse,
vai entender melhor para nossas reuniões da semana que vem. Acredite, as
famílias que têm aqueles vinhedos vão gostar de seu conhecimento e
experiência, mesmo que pouco.
Ah, ok, agora entendi o objetivo desta atividade.
— Eles têm medo de que seja uma compra corporativa — traduzi. E ele
queria convencê-los de que não era sua intenção. — Entendi.
— É, mas é mais que isso. — Toda a brincadeira deixou seus traços
quando ele baixou o braço. — Amo o que faço, Rachel. Me importo com essa
indústria, e eles sabem disso. É por isso que estão concordando em trabalhar
comigo. Precisam saber que me rodeio de funcionários que se importam tanto
quanto eu, senão mais.
Passei os nós dos dedos em sua face sem pensar. Antes de perceber o que
tinha feito ou por que tinha sido minha reação instintiva para suas palavras,
ele pegou meu punho e levou minha mão para seus lábios. Deu uma
mordiscada, provocando um arrepio interno profundo.
Esse homem vai quebrar todas as barreiras protetoras que criei…
— Você fica estranhamente fofa vestida de cowgirl — ele murmurou. —
Está me possibilitando todos os cenários para pensar mais tarde.
O calor subiu por meu pescoço. Não fazia ideia de como responder a isso,
então foquei em seu comentário anterior sobre as negociações. Era um tema
mais seguro, mais profissional, porque, sim, era assim que eu me sentia no
momento.
— Posso não ter seu conhecimento, mas entendo de paixão. Me mostre
como se usa essas tesouronas para que eu possa impressionar as pessoas de
seu mundo.
Ele sorriu contra minha mão.
— Podadores.
— Claro.
Ele estalou a língua.
— Oh, querida, você tem muito a aprender.
— Então é melhor começar a me ensinar.
— Já estou — ele murmurou com outra mordidinha suave. — Você só
não percebeu ainda. — Tirou uma luva de seu cinto e vestiu minha mão,
depois repetiu a ação com a outra, menos a mordidinha. Quando ficou
satisfeito com as luvas, colocou o próprio par e me entregou um podador. Era
muito mais pesado do que tesouras. Quando eu disse isso alto, ele deu risada.
— Também são mais afiados — ele disse. — Tudo bem, então eu escolhi
este lugar porque parece que alguém podou até este ponto. Assim, pode
começar aqui e trabalhar até a entrada. Se terminar antes do almoço, então
pode começar do outro lado da fileira e trabalhar até aqui. Certo?
— Aham. Pergunta. Como sabe que alguém podou até aqui?
— A sombra. Vê como esse vinhedo está mais fino quando comparado ao
outro ao lado?
Analisei com o cenho franzido.
— Na verdade, não. Digo, eles parecem quase iguais.
— É porque Joe fez um bom trabalho mantendo o vinhedo, mas consegue
ver onde este foi podado agora para maximizar a sombra nas uvas aqui. E
parece que dois cachos brotaram aqui, então alguém cortou o excesso. — Ele
gesticulou para algo de cor mais clara no solo.
— E você viu isso só por andar no vinhedo?
Ele deu risada.
— Experiência, querida.
— Não vou conseguir ser tão boa.
— Vamos chegar lá. Que tal eu demonstrar neste primeiro, depois você
pode tentar no próximo enquanto eu observo? — Ele pegou o que disse ser o
cacho. — Viu como tem dois brotos? Nós só queremos um, e é melhor cortar
o excesso no verão para ajudar as uvas a crescer. Então vou cortar o menor, o
que vai permitir que o maior cresça.
— E quando eles estão totalmente maduros? Você os colhe com a mão?
— Ele mencionou, outro dia, que não usava máquinas para colher uvas
durante a colheita.
— Isso.
— Uau.
— Agora está entendendo — ele respondeu enquanto cortava o cacho
menor. — Tudo bem, a sombra… — Ele continuou seu papo sobre o sol e
onde ele batia nos vinhedos daquela fileira. No fim, eu tinha entendido o
suficiente para repetir suas ações no próximo cacho e só cometi um erro.
— É o cacho menor, mas tudo bem — ele murmurou. — Você vai
acostumar. Da próxima vez, vamos treinar arredondamento, mas isso vai
servir para agora.
— O que é arredondamento?
— É onde você corta a parte inferior do cacho de uva para deixá-los
redondos. Melhora o tamanho da fruta.
Parecia complicado.
— Ãh, se você diz.
Ele sorriu.
— É. Tudo bem, acho que você entendeu. Preciso ajudar Joe com a rede,
mas voltarei para ver como você está em uma hora mais ou menos. Certo?
Foquei em uma folha muito grande e cortei a haste.
— Aham.
— Mais uma coisa. — Sua mão sem luva deslizou por minha nuca antes
de eu perceber o que estava acontecendo, e seus lábios capturaram os meus.
Fiquei paralisada com as mãos enluvadas na lateral do corpo, preocupada que
pudesse cortá-lo com o podador. Ele inclinou minha cabeça para o ângulo
que preferia e gentilmente enfiou a língua na minha boca. Não foi igual ao
encontro faminto de bocas na varanda dele, mas não significa que tenha sido
menos poderoso. Porque aquele homem sabia beijar. Me deixou tremendo
conforme ele se afastou para me olhar nos olhos.
— Mencionei o quanto gosto dessa sua roupa? — ele sussurrou.
Engoli.
— Talvez uma ou duas vezes.
— Obrigado pela ajuda hoje.
— Se este é meu pagamento, então me considere disposta a ajudar
sempre. — As palavras saíram antes de poder impedir. Oh, bom. Não era
menos verdade por isso.
Ele sorriu contra meus lábios.
— Devidamente anotado. — Sua boca beijou a minha de novo em um
beijo rápido, depois ele se afastou. A mão em meu pescoço desceu para
minha bunda, onde ele deu um tapa ardido. — Agora volte ao trabalho,
querida.
Arfei com a forma como ele saiu.
— Você não acabou de bater na minha bunda! — gritei para ele. Só que
ele tinha, sim. Eu podia sentir a ardência no tecido da calça.
Ele se virou e andou de costas pelo vinhedo, com os lábios curvados.
— Bati, e vou fazer de novo.
— Tente, e não será este vinhedo que vou podar, Mershano. — Acenei a
arma ameaçadoramente, mas tudo que ele fez foi dar risada.
—Mal-humorada — ele respondeu.
— Convencido — retruquei. — Babaca — complementei ao massagear
minha bunda. Doía e ardia. Eu precisaria retornar o favor mais tarde e ver o
que ele achava.
TRANQUILO, SEXY E
SEDUTOR
Will tinha razão. Nove horas de trabalho no vinhedo me deram uma nova
visão de seu negócio. Também me deixaram suada e exausta.
O sol se pondo piscou para mim quando terminei minha fileira. Bradley,
um de meus colegas podadores, me deu um sorriso e uma garrafa de água.
Suspeitei que Will tivesse lhe dado ordens de me manter hidratada, porque
ele ficava aparecendo com várias bebidas e comida em intervalos frequentes.
— Como está indo? — Ele tinha covinhas como Will, mas menos
proeminentes, e as mostrava para mim agora. Eu diria que ele estava
flertando, mas seu jeito se parecia com o dos outros homens que conhecera
naquele dia. Amigável era uma boa forma de descrever todo mundo,
misturado com um charme sulista.
— Bem. — Sequei a testa com o antebraço, depois aceitei a água. Tinha
tirado o chapéu há muito tempo. Meu cabelo comprido não precisava de mais
peso. Eu havia o amarrado em um coque bagunçado para tirá-lo da nuca, mas
não protegia do sol. — Estou muito rosa? — perguntei depois de dar um gole
demorado na garrafa.
Ele curvou os lábios.
— Rosa, não, vermelha.
É, pensei que diria isso. Minha testa e nariz estavam queimando, o que
nunca acabava bem para minha pele branca demais. Sarah era a bronzeada
naturalmente. Não eu. Genes irlandeses e alemães na família, por isso minhas
características brancas. Pressionei a água fria na cabeça e olhei para o caubói
diante de mim.
— Terminei minha fileira.
Ele coçou a barba escura por fazer no queixo ao olhar meu trabalho,
depois assentiu.
— É. Foi bem para uma garota da cidade.
— Advogada e garota da cidade. — Balancei a cabeça, desaprovando
falsamente. — Vocês, pessoal, precisam de apelidos melhores.
Ele gargalhou com meu uso ruim do apelido e apertou uma mão no
abdome reto.
— Me faça um favor e diga isso na frente do Mershano, tá? — Ele ainda
estava rindo ao adicionar: — Me siga.
Lutei contra a vontade de resmungar. Dias longos não eram novidade
para mim, mas geralmente eu os passava no conforto de meu escritório, não
em um campo pegando fogo. Minhas mãos e pés estavam doendo, e eu sabia
que os ombros e costas reclamariam depois. Realmente pensei que tivesse
acabado, mas, pelo jeito, não.
Secando a testa de novo, eu o segui passando por muitas fileiras e virei
quando ele o fez, então parou de repente. Will estava a uns cinco metros dali,
sem camisa, com o que parecia ser uma rede enrolada nas mãos.
— Já está pronto? — ele perguntou para o homem da fileira seguinte. Os
músculos de suas costas se flexionaram conforme ele andou.
— Tô, tô, pode jogar — seu associado respondeu.
Will ergueu os braços com um barulho e jogou a malha por cima do
vinhedo. Algo lembrando a ponta de um pau de vassoura de madeira
apareceu quando seu amigo ajudou a estender a rede do outro lado. Olhando
para o horizonte, consegui ver a maior parte dos vinhedos coberta de forma
similar, mas estavam fixas no chão por pregadores. Havia vários pregados ao
cinto de Will também. Sua bunda flexionou nos jeans conforme ele se
abaixou para começar a rolar a rede da parte de baixo, e fiquei congelada de
fascinação. Por isso que ele tinha zero por cento de gordura.
Bradley riu ao meu lado, e o ignorei. Sim, eu estava secando. Não, não
me importava. Porque uau. Ele fazia aquilo parecer tão fácil e, claro, a malha
parecia leve, mas a velocidade com que ele aderia tudo aos vinhedos sugeria
anos de prática e experiência. Havia alguma parte da vida daquele homem na
qual ele não dominasse? Administrar um negócio, negociações legais,
recrutamento de funcionários e gerenciamento, trabalho duro; ele deixava
meu diploma de Direito no chinelo.
Ele ergueu as mãos acima da cabeça e circulou o pescoço, depois se virou
e sorriu para mim.
— Gostando do show, querida? — Observei quando uma gota de suor
desceu por seu peito e por cima de cada gomo definido de seu abdome.
— Aham — respondi sem vergonha. Por que qual mulher negaria isso
naquele ponto? Pelo menos eu poderia culpar o sol pelo calor corando minhas
faces. Ele tirou as luvas e as guardou no bolso de trás ao vir até mim. Inclinei
a cabeça para trás para encontrar seu olhar, esperando que ele pretendesse me
beijar. Por que toda aquela pele bronzeada? É, seria como o paraíso.
Em vez disso, ele fez “tsc” entredentes.
— Precisamos tirar você do sol.
— Ela perdeu o chapéu — Bradley explicou, dando risada. Não era
exatamente mentira. Eu o tinha colocado em algum lugar e esquecido de
pegar. Não sabia onde estava neste momento.
— Oh, aposto que sim — Will respondeu, estreitando os olhos. — Vai se
arrepender disso depois.
— Parece uma ameaça. — Algo que deveria ter me brochado, não
excitado. Mas meu corpo não parecia interessado na razão no momento.
— Não, linda. — Ele segurou minha face e passou o polegar em meus
lábios. Suas pupilas pareciam dilatar conforme ele seguia o toque íntimo. —
É uma promessa.
A eletricidade desceu por minha espinha. Oh, eu gostava do som disso.
Não que fosse admitir em voz alta. Dei de ombros para relaxá-los.
— Não estou preocupada.
Ele me encarou com um desafio descarado.
— Que bom. — Aquela única palavra e o olhar que a acompanhou fez
meus joelhos fraquejarem. Ele passou os nós dos dedos no meu queixo e por
meu pescoço. Arrepiei sob seu carinho leve como uma pena. Como será
quando ele realmente me tocar?
— A advogada foi melhor do que eu esperava — Joe anunciou à minha
esquerda. — Tem meu respeito, Mershano.
A mão de Will continuou seu caminho por meus ombros e traçou meu
braço até a mão, onde ele entrelaçou nossos dedos.
— Então é para ficar com ela? — ele perguntou, sorrindo para o homem
mais velho.
— Sim, senhor. É bem-vinda para voltar quando quiser. — Ele sorriu
para mim. — E, quando retornar, vou te chamar como você quiser.
Dei risada.
— Rachel está bom.
Will ergueu as duas sobrancelhas.
— Só Rachel? — Ele olhou para Joe de maneira conspiradora. — Saiu
fácil dessa, meu amigo. Ela definitivamente me daria um nome ridículo para
chamá-la.
— “Sua Majestade” não é ridículo — brinquei. — Nem “Sabe-Tudo” ou
“Deusa Rachel”.
— Deusa? — Will repetiu com os olhos dançando sobre mim. — Acho
que posso te chamar assim. — Seu tom baixo estava tornando-se um dos
meus sons preferidos. Calmo, sexy e sedutor. Hummm. — Mas, por enquanto,
vou te chamar de Cerejinha, porque, querida, você está ficando cada vez mais
vermelha. Vamos te levar para casa.
Ele pegou minha mão, puxando-me para andar ao seu lado, antes de eu
conseguir pensar em uma resposta adequada para seu comentário de
Cerejinha. Que bom também, porque eu não tinha nada espirituoso para
retrucar. Ele havia me deixado sem palavras com aquela voz deliciosa e suas
palavras com intenções sexuais.
Essa é uma batalha que estou destinada a perder. Do minuto em que
Will entrou na minha vida, eu sabia que ele seria problema. Sua presença
imponente e confiança exagerada incentivavam a competidora em mim, mas
cada gesto e palavra despedaçavam minha armadura, deixando-me cada vez
mais exposta. A atração fervilhava entre nós, quente e pesada, e, do jeito que
ele me olhava agora, eu enxergava minha ruína iminente.
Eu o queria mais do que pensava ser possível. Talvez fosse o resultado de
tanto tempo sem sexo ou o fato de que ele ficou diante de mim com apenas
um chapéu de caubói e jeans. Ou talvez aquele beijo na outra manhã tenha
soltado alguns parafusos. O que quer que fosse, silenciou meu desejo de lutar.
Eu gostava dele. Talvez até mais que gostasse. Todos os outros que vieram
antes dele não se comparavam, inclusive Ryan. Eu era louca por aquele
homem, mas mesmo assim ele nunca fez meu sangue ferver da maneira como
Will faz. Um olhar é tudo o que precisa para me derreter, e eu estou
morrendo para saber como isso se traduzirá na cama.
— Hummm, você fica bem com esse olhar. — Sua respiração era quente
na minha orelha. Olhei de canto de olho, surpresa ao ver que ele conseguira
me guiar até a caminhonete sem que eu percebesse.
— Que olhar? — perguntei com a garganta seca.
— O que diz que está quase pronta para se juntar a mim na cama.
Quase? Minha calcinha de renda discordava dele. Eu estava mais do que
pronta.
Ele me deu um beijo de boca aberta no pescoço e abriu a porta.
— É, quase — ele confirmou. Eu devo ter feito a pergunta em voz alta.
Ele me ajudou a subir na caminhonete, depois subiu para afivelar meu cinto.
Seus lábios estavam a milímetros dos meus conforme ele me encarava. —
Mas, Rachel — murmurou com o peito nu irradiando calor. — Vai acontecer,
e logo.
Minhas coxas ficaram tensas. De novo com as palavras naquela maldita
voz sexy! Tentei pensar em uma resposta irritada, mas meu cérebro se
recusava a processar meu pedido. Só ficava repetindo, Will seminu, milhões
de vezes. Seu sorrisinho dizia que ele sabia disso.
Eu ainda não tinha nada racional para dizer quando ele subiu ao meu
lado.
Seu cheiro másculo me inundou quando ele se esticou para trás a fim de
pegar sua camisa. Inalei profundamente, me satisfazendo com ele. Um toque
de sabonete sob o aroma amadeirado, me excitando mais. Droga. Quem diria
que um dia no campo poderia ter um cheiro tão sedutor? Ele colocou o tecido
por cima da cabeça, escondendo aquele abdome delicioso da minha vista.
Não ajudou meu cérebro. Seu tronco musculoso estaria para sempre
queimando em minha memória. Eu queria tocar cada gomo e músculo com a
língua.
Will ligou o carro, e assim a música veio. Ah, não. Se ele começasse a
cantar de novo, eu nunca me recuperaria. Havia simplesmente muitas
qualidades sedutoras que uma mulher conseguiria aguentar, e ele tinha
mostrado o suficiente para mim para uma eternidade.
— Obrigado pela ajuda hoje — ele disse quando começamos a descer
pelo cascalho no meio do campo. Não fazia parte da vinícola, mas parecia
fazer parte da propriedade de Joe. Focar naquele reconhecimento trouxe uma
pergunta não sexual à mente na qual me segurei com a única migalha de
razão que havia restado em mim.
— Então como funciona? Você é dono da vinícola, mas Joe a mantém e
cuida… — Semicerrei os olhos para as fileiras de arbustos densos. — Não sei
o que são aqueles.
— Amoras — Will respondeu. — Estão quase prontas para colheita
também, se quiser voltar.
Enruguei o nariz e me arrependi imediatamente.
— Vou precisar de protetor solar.
Ele deu risada.
— E do chapéu.
— Porque funcionou muito bem da primeira vez — resmunguei. Antes
que ele pudesse me zoar de novo, voltei ao assunto seguro. — Ok, então você
também é dono das amoras?
— É complicado. — Ele virou na estrada principal antes de continuar. —
Vinhedos Mershano começaram com a propriedade em que vivo hoje. Usei
meu sobrenome para conseguir os empréstimos de que precisava enquanto
também pegava um pouco do fundo da minha família para o pagamento,
depois passei três anos cultivando a terra e contratei uma equipe pequena. Eu
queria saber do trabalho no campo por muitos motivos, mas, principalmente,
para poder ganhar o respeito de alguns proprietários de vinhedos locais.
— Como Joe — deduzi.
— Isso, exatamente. Me ajudou a desenvolver uma abordagem confiante,
em vez de parecer um vendedor bajulador. Mas, antes de tudo isso,
desenvolvi uma estratégia de negócios. Eu sabia que meu vinhedo era
promissor, eu o tinha visto em completa glória quando criança, e queria que
voltasse àquele potencial. Também serviu como um tributo para minha mãe,
já que era seu vinhedo favorito. — Seu sorriso ficou triste enquanto falava,
tocando meu coração.
“De qualquer forma, trabalhei duro para recuperar os campos e o vinhedo,
fazendo empréstimos para substituir equipamentos enferrujados, barris e
outros maquinários ruins, e fiz dois tipos de vinho tinto. Enquanto isso, a
parte burocrática de mim trabalhava com as permissões e legalidades e
comecei a solicitar contratos para venda. Provavelmente não vai te
surpreender, mas a Hotel Mershano foi meu primeiro cliente. Evan ofereceu
pagar adiantado para ajudar com a produção de vinho, mas meus campos só
sustentavam uma certa porcentagem das necessidades dele.
Pude ver aonde ele queria chegar.
— Então começou a solicitar sócios.
— Exatamente.
Ele relaxou um antebraço no console enquanto falava, seus dedos
batucavam no câmbio. Mesmo depois de todo aquele trabalho no campo, ele
ainda tinha energia guardada. Será que nunca descansava?
— Então — ele continuou —, abordei alguns vinhedos locais primeiro,
principalmente os que eu sabia que estavam passando por dificuldade, e
ofereci várias formas de parcerias. Alguns concordaram em vender a terra
para mim no mesmo instante, enquanto outros, como Joe, ofereceram para
vender seus produtos para minha marca por uma taxa.
— Como uma franquia — traduzi.
— É. Cerca de sessenta por cento da Vinhedos Mershano são compostos
por propriedades de concessão que vendem com meu nome, mas não são da
minha empresa. Acordos contratuais me permitem que vá e verifique
conforme necessário a fim de garantir a maior qualidade do produto, e é isso
que minha equipe de analistas de qualidade faz. Mas ainda gosto de ajudar
alguns locais quando precisam.
— Isso explica todos os tipos de vinho — murmurei, pensando na longa
lista do site da empresa dele.
— Exatamente. Os fatores essenciais são variedade e qualidade. Eu
garanto ambos, mas há um limite em cada estilo, que também permite que eu
controle o preço. É um simples jogo de economia.
— Simples — repeti. — É, sim.
Sua covinha apareceu.
— Bom, de novo, era tudo parte de meu plano de negócios. E graças à
amortização do banco, consegui quitar meus empréstimos nos sete primeiros
anos, e agora invisto a maior parte de meu lucro no fundo familiar. E
consegui pagar de volta o adiantamento ridículo de Evan. — A forma como
ele disse indicava que havia uma história ali, mas não explicou.
Eu teria questionado, mas outra coisa que ele mencionou me intrigou
mais.
— Não usou o dinheiro da família para comprar seu primeiro vinhedo? —
Eu tinha presumido mais de uma vez que ele o fizera. Não era como se o
império da família Mershano estivesse com a grana curta. O primo dele
estava estimado em muitos bilhões, por isso seu apelido merecido “O
Príncipe de Nova Orleans”.
— Usei um pouco para pagamento imediato, mas, a maior parte só
capitalizei em meu nome. Os bancos sabiam que eu era bom para dinheiro,
principalmente com o fundo familiar por trás, mas queria construir meu
próprio império. Já tinha usado o suficiente do dinheiro de meus pais para a
faculdade de administração, e queria que a Vinhedos Mershano fossem um
produto de meu próprio trabalho. E é, até certo ponto, mas meus laços
familiares também ajudaram. A maioria dos bancos nunca dariam um
empréstimo naquela quantia para uma pessoa comum, mas conquistei o que
pude, dada a situação.
Observei-o fascinada. O Sul havia me apresentado todo tipo de homens e
mulheres ricos. A maioria deles envolvida porque seus pais exigiam. Ryan
pertencia a esse montante. A carreira do pai dele de senador de Illinois por
muito tempo garantiu a ele todo tipo de conexões políticas e sua admissão no
programa legal que escolheu. Nunca, nenhuma vez, teve que lutar por algo na
vida, nem tinha essa vontade. A maior parte de seus amigos “paitrocinados”
eram exatamente iguais, aceitavam com ganância tudo de suas bandejas de
prata e zombavam daqueles que precisavam trabalhar por isso. Como eu.
Nesse meio tempo, Will admitia que sua herança ajudou, mas também se
esforçava para desassociar dela. Ele destruiu todos os estereótipos que eu
tinha rascunhado na cabeça que pertenciam a homens ricos e poderosos.
Trabalhei com muitos deles, todos mantinham o mesmo ar arrogante de Ryan
e me olhavam de um jeito que dizia, eu poderia fazer você se ajoelhar aos
meus pés com o estalo dos dedos. Will tinha uma confiança similar, só que a
dele me deixava quente, em vez de fria. Quando me olhava assim, com
aquele olhar que poderia me tomar com um simples estalo, eu queria me
ajoelhar e implorar por isso.
Tirei a imagem da cabeça. Ryan me afetava assim uma época, talvez não
de forma tão extrema, e me deixara rastejando por sua atenção. Ele me
dominava totalmente, tão completamente, que eu me perdi de mim mesma.
Deve ser por isso que…
Pulei de volta ao presente quando a mão de Will deslizou por minha coxa.
— Eu te contei a história da minha vida. Agora é sua vez — ele disse com
a voz suave e tranquila. Com um tom tão profundo, não havia dúvida de que
ele cantava bem.
— Ãh… — Parei para pigarrear. — Minha história não é nada
empolgante. — Uma declaração.
A mão na minha coxa deu um leve aperto.
— Me conte, mesmo assim.
Precisei de toda minha força para não me encolher quando seu polegar
desenhou círculos hipnóticos acima de meu joelho. Todos meus sentidos
pareciam concentrados naquele único ponto, esperando que ele fizesse mais
coisa. Limpei a garganta e tentei pensar.
— Hum, bom, cresci em Indiana com Sarah, mas sempre desejei a vida
na cidade. Então queria ir para a Northwestern porque era perto o suficiente
de casa e manteria meus pais felizes e também oferecia os programas que eu
queria. Sarah se matriculou, também, não realmente por causa de mim, mas
porque queria sair de Indiana também e, quando nós duas fomos aceitas,
nossas famílias concordaram em nos deixar ir juntas. — Parei para ver se ele
ainda estava ouvindo.
— E depois? — ele perguntou, sorrindo.
— Bom, depois fiz uns empréstimos malucos e fui para a Northwestern
com Sarah. Moramos juntas no Ensino Médio no alojamento e, um dia, nos
mudamos para um apartamento barato. Me formei em Administração e
Francês, enquanto…
— Por que Francês? — Ele olhou rapidamente para mim, depois focou
novamente na estrada. — Desculpe por interromper, mas fiquei me
perguntando isso desde que vi seu currículo.
Mordi a parte interna da bochecha. Will se importou com um detalhe que
poucos sequer mencionaram.
— Hum, pensei que Francês seria útil se a faculdade de Direito não desse
certo, para dar aula ou algo parecido. Mas, obviamente, a faculdade de
Direito deu certo. Fui para a Northwestern, que você já sabe, e me formei em
Direito Empresarial e Direito Internacional. Baker Brown me ofereceu
emprego logo que saí da faculdade, antes de passar na Ordem, o que fiz, e
ainda estou trabalhando lá.
Ele não pareceu nada satisfeito com minha história, o que eu esperava.
Avisei-o que era entediante por um motivo.
— Você morou com Sarah durante o Ensino Médio, mas e durante a
faculdade de Direito?
Enrijeci.
— Ãh… — Porra. Não podia… não iria… entrar naquele buraco negro.
— Não moramos juntas depois de nosso último ano. — Porque Ryan queria
morar comigo. Eu ficara tão empolgada e ingênua. Pensei que fosse um gesto
de amor. Mas nunca foi sobre nós dois. Propriedade era um termo melhor.
Pigarreei. — Então é isso, essa sou eu. Alunos se endividam até o cu, mas eu
alugo um bom apartamento, aproveito meu emprego, e é isso.
— Entendi. — Seu polegar tinha parado de se mexer enquanto eu falava,
algo que notei com um pouco de arrependimento. Preferia aquele círculo
calmante que ele estava desenhando na minha coxa. — Sei que Sarah tem
uma irmã gêmea, mas e você? Algum irmão?
Esse era um assunto que poderia abordar confortavelmente.
— Tenho um irmão mais velho, Caleb. Ele foi para o exército aos dezoito
anos e desapareceu por um tempo, e agora faz alguma coisa para o governo
em um escritório em algum lugar. Não fala sobre isso, e só o vejo nas férias.
— Então vocês não são próximos?
Bufei.
— Nem um pouco. Na verdade, sou mais próxima do melhor amigo dele.
— Mordi o lábio para me impedir de falar mais. Conversar sobre Mark
poderia nos levar a uma conversa que preferia evitar. Como por que o
considerava um de meus amigos mais próximos apesar de raramente vê-lo ou
falar com ele, ou sobre seu envolvimento em minha fuga de Ryan.
A propriedade de Will apareceu diante de nós conforme ele dirigia pela
estradinha familiar. Eu só tinha feito esse caminho uma vez, mas era
memorável o bastante para eu reconhecê-lo. Minha coxa arrepiou quando a
mão dele saiu da minha perna e foi para o volante. Eu tinha ficado
confortável com sua mão ali, talvez confortável demais.
— Não quero mudar de assunto, mas espero que goste de cheeseburgers
— ele disse quando começamos a subir a colina em direção à sua casa. —
Porque estou desejando.
Dei risada.
— Depois de todo o trabalho hoje? É, acho que posso lidar com uma
noite de hambúrguer.
— Que bom. Porque é isso que vamos comer. — Ele estacionou a
caminhonete na porta da frente e saiu. Desafivelei o cinto assim que ele me
encontrou no lado do passageiro. — Milady. — Suas sobrancelhas dançaram
enquanto estendia a mão.
Balancei a cabeça ao aceitar sua ajuda para descer.
— Você sabe que consigo entrar e sair dessa caminhonete enorme
sozinha, certo?
Ele me puxou mais para perto, invadindo meu espaço pessoal e me
fazendo parar de respirar.
— Oh, sei muito bem. Mas o cavalheiro em mim insiste.
— Cavalheiro — repeti com a voz mais suave do que imaginei. — É isso
que está sendo?
Uma perversidade pura e direta me encarou.
— Por enquanto, sim. — Ele me deu um beijo casto que não combinava
com sua expressão sombria. — Não se deixe enganar, querida. Minhas
tendências no quarto são tudo, menos cavalheiras. — As palavras sinistras
sopraram em meu rosto, seguidas por uma leve mordidinha que me deixou
tremendo com um desejo que parecia tão proibido quanto ardente. Ele se
afastou com uma piscadinha. — Vamos comer.
ISSO ACABA AGORA
Me encolhi com meu reflexo vermelho. As chamas dançando em minha
pele só pareceram esquentar mais durante o jantar, resultado tanto do charme
de Will quanto do sol. Tinha tentado esfriar com um banho depois de
terminarmos de comer, mas a água alfinetava em todos os lugares errados.
Depois de trinta excruciantes minutos, eu estava limpa e vestida em
minhas calças de yoga de sempre, mas minha camisola estava no balcão. Não
suportava pensar em cobrir meus ombros. Dormir nua seria minha
preferência naquelas condições, mas parecia encrenca com Will tão perto.
Tirei uma camisola rosa-clara da minha mala. Era fina e foi feita para usar
debaixo de blusas, mas funcionaria. Vesti o tecido leve por cima da cabeça e
não coloquei sutiã, depois penteei o cabelo com sutileza. Normalmente, eu o
secaria, mas as mechas frias pareciam o paraíso contra minha pele queimada.
Houve um barulho na minha bolsa. Mensagem de voz. Não tinha olhado
o celular o dia todo graças ao passeio inesperado de Will pelo campo. O
trabalho provavelmente queria uma atualização, já que estava marcado para
partimos para a França na noite seguinte. Felizmente, tudo estava pronto —
ou, no mínimo, estávamos preparados o máximo possível para ir a reuniões.
Seria necessário mais pesquisa e discussão depois. Janet havia pensado em ir
conosco, porém, depois de me observar na semana anterior durante nossas
reuniões, ela disse que não precisava de sua assistência. Tinha sido o maior
elogio para minha carreira até agora.
Esperava que ela não tivesse ligado para dizer que mudara de ideia.
Não.
Era pior.
Muito, muito pior.
Meu sangue esfriou conforme rolei a tela pela quantidade enorme de
mensagens e ligações perdidas. Duas palavras pularam em mim
repetidamente.
França. Vadia.
— Ah, meu Deus — respire.
Ryan tinha meu itinerário e estava furioso.
Havia coisas sobre um anúncio de casamento e fotos de noivado. Todas
as coisas com as quais eu nunca concordei e nunca o faria.
As mensagens ficaram embaçadas enquanto eu continuava a ler. Oitenta e
sete ligações perdidas. Tudo dele. Nada do trabalho. Eles não teriam
conseguido ligar com a rediscagem incessante dele. Quando o celular
começou a tocar na minha mão, estreitei os olhos. Agora ele conseguia saber
quando eu estava segurando o maldito celular? Meus membros tremeram em
uma mistura de medo e fúria quando o toque dele soou pelo quarto.
Não conseguia acreditar que isso estava acontecendo de novo. Ele ficara
assim logo depois do término. Ligando, aparecendo e vendo como eu estava
constantemente e todas as horas da noite. Foram alguns dos meses mais
aterrorizantes da minha vida, mas, certo dia, ele parou. Não totalmente, e
nunca por períodos longos, mas me deu espaço. Começou a sair com outras
mulheres, algo que gostava de ostentar na minha cara. Eu só me importava
porque tinha medo por elas, mas ele nunca ficou tempo suficiente com as
mulheres para dominá-las. Não da forma como me dominava.
O toque parou. Aguardei. E começou novamente.
Ele tinha mandado mensagem algumas vezes ao longo da semana e ligado
uma vez, mas não respondi nenhuma vez. Principalmente porque ele mandara
mensagem quando eu estava com Will, mas também porque eu não sentia
aquela necessidade imediata de responder.
Algo sobre estar ali havia me encorajado o bastante para ignorar Ryan.
Tinha que haver uma primeira vez. Nem tinha pensado nele a semana toda.
Will consumiu cada instante, e eu realmente me senti relaxada. Feliz até.
Ver o nome de Ryan brilhar na minha tela foi um choque para meu
sistema, mas faltou o soco no estômago de sempre. Em vez disso, outra coisa
queimava dentro de mim. Uma irritação enterrada há tempos que eu não
conseguia mais conter.
O toque dele começou a soar pela terceira vez.
Um grito entalou na minha garganta, mas meus lábios se recusaram a
deixá-lo passar.
Não. Não mais.
Talvez fosse minha semana com Will que reforçou minha confiança, ou o
terror rasgando minhas veias com a prova real que Ryan me espionava. Ou
talvez eu tinha finalmente chegado a um ponto de ruptura e minha mente se
partira. Ou talvez todos os anteriores.
Meu dedo passou pelo botão de atender.
O que ele faria? Invadiria a casa de Will e me bateria? Apareceria na
França sem anunciar e me arrastaria para casa para um casamento
improvisado? Ele não podia me esperar no meu apartamento. Eu não tinha
passagem de volta agendada ainda. Só uma reserva de ida para a França.
Ficaríamos em um Hotel Mershano, claro. Ryan podia me seguir até lá, e
depois? Ele estava no meio de uma campanha para candidato ao Senado.
Uma confusão pública em outro país não cairia bem para sua carreira política.
Mesmo sendo louco, ele deveria saber disso.
Cerrei a mandíbula quando uma mensagem recém-digitada apareceu na
tela.
Atenda. A. Porra. Do. Celular.
Endireitei os ombros e esperei. Quando seu número brilhou de novo,
atendi.
— Sua vadia…
— Não — soltei, interrompendo-o. — Você não pode ligar e gritar
comigo por nenhuma porra de motivo. Isso acaba agora, Ryan. Cansei. Nós
terminamos.
Silêncio. Essa tática sempre me deixava nervosa, mas não naquela noite.
Eu me sentia extasiada. Animada até. Não conseguia acreditar que todas
aquelas palavras tinham saído da minha boca, e com tamanho fervor. Não
necessariamente ergui a voz, mas meu tom não permitia discussão.
Eu tinha acabado de cancelar nosso casamento. De novo.
E foi maravilhoso.
— Pare de me ligar — continuei, as palavras saindo antes que eu pudesse
pensar. — Pare de me mandar mensagem. Só pare.
Seus olhos azuis estavam, sem dúvida, raivosos com isso agora. A mão
direita cerrada em punho. A testa enrugada. Eu podia imaginá-lo claramente.
Ryan Albertson era um homem atraente, com seus traços aristocráticos,
cabelo estiloso e ombros largos. Eu fora atraída por ele imediatamente. Mas,
debaixo daquela pele impecável, havia um monstro, e eu sabia, por
experiência própria, que estava arranhando a superfície naquele instante.
Você está segura aqui, minha consciência sussurrou. O bolo no meu
estômago se acalmou com a certeza daquele pensamento. Ryan não poderia
tocar em mim. Haveria muito a pagar depois, mas eu me preocuparia com
isso quando a hora chegasse. E chegaria, mas esperava que não fosse logo.
— Ok, Rachel. — Seu tom neutro provocou um arrepio na minha
espinha. Ah, sim, eu o tinha irritado muito bem. — Conversaremos em breve.
Abri a boca para repetir meus comentários sobre não me ligar mais, mas a
linha ficou muda antes de eu poder falar uma palavra. O celular escorregou
da minha mão e caiu na cama. Minha garganta convulsionou.
Eu tinha conseguido.
Tinha enfrentado Ryan.
O quarto girou quando uma sensação estranha se acomodou na boca do
meu estômago.
— Está feito — sussurrei para ninguém em particular.
Uma risada escapou de minha garganta, parte louca, parte exaltada. Eu
não conseguia acreditar. Pela primeira vez em anos, havia retrucado para
Ryan. Fazia muito tempo que eu ousava tentar, mas estava muito aterrorizada
pelas repercussões. Mas, mesmo sabendo que ele me puniria depois, não
conseguia reagir assim. O medo estava pendurado no precipício de meus
pensamentos, procurando um ponto fraco sem encontrar nenhum.
Pela primeira vez em muito tempo, eu me sentia intocável. Forte. Ousada.
Confiante.
As cortinas na porta aberta da varanda flutuavam com a brisa noturna,
acenando para eu me aproximar. E, naquele momento, eu sabia o que queria.
Quem eu queria. Lutara contra isso no instante em que o conhecera. Estava
com medo de admitir a inegável atração que irradiava entre nós, aterrorizada
de me permitir apaixonar por um homem poderoso, e preocupada que
pudesse machucá-lo no processo. Mas não mais.
Era como se a coragem tivesse finalmente me encontrado de novo. Eu me
sentia leve, exuberante e mais forte do que me sentira há muito tempo. Como
se pudesse conquistar o mundo, ou talvez só o milionário sexy-como-um-
pecado.
Comecei a andar antes de me convencer a parar, saindo para a varanda e
indo até a porta aberta dele. A luz suave passava pelas cortinas. É isso. Bati
contra o vidro para anunciar minha presença antes de entrar. Will estava em
pé ao lado da cama, bem onde eu o queria, e se virou com um sorriso sábio.
Ele esperava que eu viesse até ele. Isso deveria ter me irritado, mas não o fez.
Sua confiança me atraiu como uma mariposa a uma chama. Homens
influentes eram minha criptonita. Por isso os evitava.
— Humm, achei que fosse aparecer. — Ele deu um tapinha no colchão
enorme. — Na cama, querida. Já volto.
Não olhou para ver se eu obedeceria, simplesmente foi até o banheiro
com nada além de uma calça de agasalho de cós baixo cinza. Minha garganta
ficou seca ao ver todo aquele músculo bronzeado à mostra. O homem era um
deus e sabia disso.
— Cama — ele repetiu antes de desaparecer pelas portas francesas. O
comando de uma única palavra foi proferido sem ele nem olhar para mim.
Sabia que eu o estava secando em vez de obedecer. O que ele faria se eu me
recusasse a obedecer? Estremeci. Talvez testasse aquela dúvida outro dia,
mas não naquela noite.
Sentei na colcha com as pernas penduradas para o lado e esperei que ele
retornasse. O tubo em sua mão me surpreendeu quase tanto quanto a toalha
em sua outra mão. Olhei os itens com curiosidade, pensando o que ele tinha
em mente para nossa primeira vez. Ele colocou a toalha ao lado de meu
quadril quando parou diante de mim.
Um joelho deslizou entre os meus, seguido do outro, obrigando-me a
abrir as coxas para acomodá-lo entre as pernas. A dominação naquele simples
ato provocou uma onda de calor úmido em meu centro. Meu peito se ergueu e
fiquei ansiosa pelo que ele pretendia fazer em seguida. O tubo abriu. Não
havia rótulo, então eu não fazia ideia do que esperar, mas o aroma doce
acalmou meus nervos. Will apertou um pouco de creme branco na mão,
depois deixou o creme de lado.
— Feche os olhos e não se mexa. — Sua voz baixa deslizou por mim
como um carinho hipnótico. Ah, sim, por favor. Minhas pálpebras se
fecharam. — Agora, alertei você sobre seu chapéu, querida. Só se lembre
disso.
Franzi o cenho.
— Por q…
Alguma coisa abençoadamente fria tocou minha testa, interrompendo-me.
Uma sensação pinicante incendiou conforme seus dedos habilidosos
massagearam círculos na minha testa e até a raiz de meu cabelo. Era
maravilhoso, até não ser mais.
— Wow. — Recuei, abrindo os olhos, e o vi balançando a cabeça.
— Prevejo uma conexão em nosso futuro.
Ignorei aquele comentário em particular e foquei em seu tubo de tortura.
— Que porra é essa?
— É manteiga de cacau misturada com aloe vera. O que pinica é o
hidratante, de que você precisa no momento. — Ele esguichou mais na mão e
ergueu uma sobrancelha. — Agora, vai ficar parada ou preciso te amarrar na
cama?
Oh, merda.
Isso não iria acabar bem.
INDO DEVAGAR
— Não pode estar falando sério. — Nem pensar que ele realmente me
amarraria.
— Sempre falo sério, querida. Agora feche esses lindos olhos azuis e me
deixe terminar. Juro que vai me agradecer depois.
— Você parece estar confundindo o termo agradecer com matar —
resmunguei ao fechar os olhos. Só concordei porque a sensação calmante
tinha voltando e eu queria mais.
— Não se mexa. — O comando em sua voz me tocava em todos os
lugares certos. Eu não tinha dúvida de que ele realmente queria me amarrar
na cama, e uma parte depravada de mim queria vê-lo tentar. A parte racional
de mim, no entanto, revirou os olhos.
— Sim, senhor — respondi sarcasticamente e me arrependi logo. Sua
risada preencheu o ar entre nós conforme seus dedos voltaram ao meu rosto.
— Oh, eu adoro a forma como isso soa.
— Não se acostume.
Dentes afiados morderam meu lábio inferior, me assustando.
— Você disse essas palavras sexy duas vezes na minha cama esta
semana, linda. Vou ouvi-las de novo, e com menos sarcasmo.
— Duas vezes? — repeti incrédula. — Diga a primeira.
— Você disse na primeira vez que esteve na minha cama, depois de eu
falar para não se mexer, enquanto estávamos conversando sobre suas meias
adoráveis.
— Não me lembro… — Ok, na verdade, eu me lembrava daquelas
palavras saindo da minha boca. — Mas, se aconteceu, não foi o que quis
dizer.
— Isso é o que diz. — Seus dedos foram para minhas faces onde o
formigamento era menos proeminente. A queimadura na testa deve ter sido a
pior. — Já se arrependeu de ter perdido o chapéu?
Meu nariz enrugou quando ele aplicou o creme ali.
— Eu estava com muito calor na cabeça.
Sua risada foi baixa e calorosa.
— Essa é a garota da cidade em você falando, mas vamos fazer você
chegar lá.
Bufei.
— Acredite em mim, o look de caubói fica muito melhor em você.
— Fica? — Seu polegar traçou meu queixo, massageando o creme
conforme seguia. Eu não sabia do que gostava mais — de seu toque ou da
forma como aquilo acalmava minha queimadura do sol. Quando ele se
afastou, quase gemi de decepção, mas então ouvi a capinha abrir de novo.
Olhei-o por entre meus cílios e o vi analisando meus ombros.
— Da próxima vez, vou me lembrar do protetor solar. — Seus traços se
encheram de diversão. — Já que você tem aversão a chapéus. — Ele colocou
uma boa quantidade nas mãos e as esfregou antes de colocá-las em meu
pescoço. Me encolhi quando seu polegar tocou minha garganta, um lugar que
eu associava a fraqueza graças a Ryan. Will ergueu as mãos, seus olhos
buscando os meus imediatamente. Ele tinha, obviamente, sentido minha
reação. Droga.
— Exagerei?
Engoli e balancei a cabeça.
— Não, você só me pegou desprevenida. — Uma verdade misturada com
mentira. — Desculpe. — Deus, eu detestava Ryan. Ele tinha treinado meu
corpo para que reagisse aos movimentos mais banais. Eu sabia que Will não
me machucaria.
Você costumava pensar assim de Ryan também.
Mas não, não era exatamente verdade. Meu ex me deixava nas nuvens,
me fazia sentir como a mulher mais sortuda do mundo, mas os sinais sempre
estiveram ali. Na forma possessiva com que ele lidava comigo, o controle que
transpirava em toda situação, a maneira como me alienava de meus amigos e
família… Ele nunca me deixava discutir e sempre encontrava um jeito de
colocar a culpa em mim. A dominação de Will era diferente. Protetora.
Ele me analisou por tanto tempo que fiquei preocupada que estivesse
expressando meus sentimentos. Depois, mais gentil ainda, seu toque retornou.
Mas em vez de ir para minha garganta, ele começou na nuca e massageou o
creme na base do meu couro cabeludo. Seus dedos espertos pressionaram,
fazendo minha mandíbula relaxar. Ah. Meu. Deus. Era maravilhoso. Minha
cabeça caiu para a frente contra seu abdome, provocando uma daquelas
risadas sedutoras dele. Eu não me importava. Toda a tensão pareceu se
dissolver conforme ele continuava as massagens por meus ombros e braços.
Ele pausava de vez em quando para adicionar mais creme, mas quando
terminou, eu estava parecendo uma geleia.
Ele colocou meu cabelo para a frente e massageou a parte de cima das
costas.
— Deite de bruços.
Gemi porque aquilo exigia movimento. Minha testa havia criado o
perfeito travesseiro contra seus seis gomos, e eu planejava ficar ali para
sempre. Não era o travesseiro mais macio, mas eu preferia aquele calor que
irradiava dele. Seus dedos tocaram meu maxilar, depois seguraram
gentilmente meu queixo. Ele inclinou minha cabeça, forçando-me a olhar
para ele. Minha boca adormeceu com a emoção feroz emanando de seu olhar.
A tensão pairava no ar entre nós, queimando um caminho direto para meu
centro. Eu não conseguia desviar o olhar. Sua expressão me hipnotizou,
deixando-me indefesa à sua vontade. Minhas mãos foram para seus ombros
quando ele segurou meus quadris e me ergueu. Seus movimentos pareciam
fáceis conforme ele me reposicionou no meio do colchão, com um de seus
joelhos entre minhas pernas na cama.
— Vire, querida.
Certo. Ele me queria de bruços.
Ele se mexeu conforme me movi, e abriu minhas pernas. Seu dedo traçou
uma linha em minha coluna, por cima de minha blusinha, e parou na bainha.
Quando seu polegar deslizou por debaixo do tecido, eu estremeci. Esperava
que ele tentasse tirá-lo, mas, em vez disso, ambas as mãos deslizaram por
debaixo de minha camisa e começaram a massagear minha lombar.
— Oh… — Não consegui esconder o gemido enquanto ele fazia mágica
nos músculos que eu não tinha percebido que estavam doloridos. Todas
aquelas horas lá fora haviam me afetado mais do que esperava. Podar era um
exercício para o qual minhas corridas diárias não me prepararam, sem contar
que eu não fazia uma daquelas corridas diárias há algumas semanas graças às
longas horas no escritório. Pressionei o rosto no travesseiro e o usei para
abafar meu gemido.
— Hummm, acho que esse pode ser meu novo som preferido. — Ele
beijou meu ombro ao subir as mãos. Não me importava que meu top estivesse
subindo junto com as mãos dele. Contanto que ele continuasse me tocando
daquele jeito, poderia me deixar nua. Não queria que acabasse nunca.
— Suas mãos são mágicas. — As palavras escorregaram por conta
própria. Que seja. Não dava para o ego dele ser maior, de qualquer forma. Ele
se aninhou na minha nuca.
— Acho que vai achar minha boca tão agradável quanto. — Sua
respiração quente contra minha pele sensível provocou arrepios em meus
braços. Empolgação e exaustão lutavam dentro de mim. Por um lado, eu
nunca estivera mais confortável na vida. Mas, por outro, nunca estivera tão
excitada. Minha condição piorou quando ele puxou as alças de meu top para
baixo, expondo a parte de cima das minhas costas. O tecido parecia mais
pesado do que me lembrava, e tive a repentina vontade de tirá-lo por cima da
cabeça.
Porém, Will tinha outras ideias. Ele puxou a parte de baixo de volta ao
seu lugar, depois apertou a mão na minha escápula. Me contorci debaixo
dele, sem conseguir mais lidar com as sensações conflituosas se misturando
dentro de mim. O calor se amontou entre minhas pernas conforme a tensão se
dissipou por minha coluna. Era um misto delicioso que me deixou trêmula.
Se essa era a versão dele de preliminar, eu aprovava.
— Como se sente? — ele perguntou.
Excitada. No limite. Necessitada. Nenhuma dessas respostas era
suficiente, e nenhuma saiu dos meus lábios.
— Bem. — Oh, eu podia fazer melhor que isso. — Maravilhosa. —
Ainda não era suficiente. — Nunca vou embora.
Ele colocou minhas alças de volta nos ombros, rindo.
— É bem-vinda para ficar o quanto quiser, querida.
Quando senti suas coxas ficarem tensas, como se estivesse prestes a sair,
virei debaixo dele. Ele me encarou surpreso, como se não tivesse esperado
que eu conseguisse me mexer tão rápido. Bom, éramos dois. Mas meu corpo
exigia que eu agisse. Senti que explodiria. Ele me deixou excitada de um jeito
que nunca pensei ser possível, e eu precisava dele para apagar o fogo. Havia
só uma forma de fazer isso. Me apoiei nos cotovelos, travando os olhos com
os dele.
— Me beije. — Quando ele não reagiu imediatamente, ergui uma
sobrancelha. — Não era isso que queria? Eu disposta e implorando na sua
cama?
Ele passou o polegar nos meus lábios e seguiu o movimento com os
olhos.
— Essa é você implorando?
— É isso que você quer? — Porque eu não estava acima disso naquele
momento. O homem me deixava excitada e irritada ao mesmo tempo.
Precisei me esforçar muito para não mexer os quadris para cima e buscar a
fricção de que tanto precisava. — Por favor, Will. — Tentei segurar em seu
ombro, mas ele segurou meu punho. Abaixou-o para o travesseiro ao lado da
minha cabeça conforme se alongava preguiçosamente por cima de mim.
Quando sua excitação se acomodou entre minhas coxas, eu quase pulei de
alegria.
— Ainda não está pronta para mim, Rachel. — As palavras contra meu
ouvido não combinavam com as ações lá embaixo.
— Oh, estou mais do que pronta. — Ergui os quadris para cima para
mostrar a ele o que eu queria dizer e suspirei quando sua dureza tocou o lugar
onde eu mais precisava dele. Já sabia por nosso interlúdio na varanda que o
homem era bem dotado, mas senti-lo latejando de maneira tão íntima contra
mim realmente reafirmou a ideia. Isso vai entrar em mim…
— Não, querida. — Ele deu um beijo molhado no minha pulsação. —
Vamos fazer isso certo.
— Seguro — concordei. — Camisinhas. — Ryan nunca as permitia, mas
eu sempre queria usá-las. Afastei a lembrança com uma careta interna e me
foquei novamente no momento. — Você tem uma, não é? — Porque não
trouxe nenhuma.
Ele riu no meu pescoço.
— Tenho, mas você não está escutando. — Sua mão livre foi para meu
quadril, me fazendo parar de erguê-lo. — Não vamos transar esta noite.
O quê?
— Está falando sério? — Não era esse o objetivo final dele? Me levar
para sua cama?
— Muito.
Sua falta de explicação me fez congelar debaixo dele.
— Não entendo. — Esse jogo de quente e frio precisava terminar. Ou ele
me queria ou não.
— Você não está pronta — ele disse, repetindo as palavras de alguns
minutos antes. Eu tinha entendido que elas significavam outra coisa. Desta
vez, entendi o que ele quis dizer, e isso provocou uma onda de ódio em meu
sistema. Havia lutado contra avanços masculinos por quase dois anos, e agora
que finalmente me rendera para um que eu realmente queria, ele estava me
rejeitando. Porque ele pensava que eu não estava pronta. Foda-se.
— Quem você pensa que é para decidir o que eu quero? — Tentei
empurrar os ombros dele, mas ele segurou minhas mãos com uma facilidade
que me enfureceu mais ainda. Quando as empurrou nos travesseiros de
ambos os lados da minha cabeça, enlouqueci. — Só pode estar brincando
comigo! Teve sua chance, Will. Agora eu não estou pronta. — Eu sabia, em
âmbito maduro, que minha reação não era racional, que ele iria me rejeitar,
mas não conseguia evitar. — Saia da porr…
Seus lábios capturaram os meus em um beijo que roubou toda a luta de
meus pulmões. Puta merda, não era justo. Ele não poderia simplesmente me
silenciar com a boca e esperar que eu cooperasse. Quando tentei lhe dizer
isso, ele se aproveitou e enfiou a língua entre meus lábios. Por meio segundo,
pensei em mordê-lo, mas meu corpo se recusou. Apesar da minha declaração,
eu ainda o queria.
Meus hormônios superavam a lógica, aquietando a raiva dentro de mim e
reacendendo o fogo profundo na minha barriga. Tremi com o desejo que não
conseguia controlar e me odiei por isso. Odiei-o. Como ele podia ser tão
quente e frio? Me querer em um minuto, me negar no outro, e depois me
devastar com sua boca? Porque, Senhor, o homem sabia como beijar. Ele
tinha razão sobre sua boca competir com suas mãos. Ele era uma obra de arte,
e me deixava tão excitada e irritada que não conseguia pensar direito.
Pressionei os quadris nele, e ele pressionou ainda mais forte. Minhas
costas ameaçaram se arquear da cama, mas seu corpo grande não permitiu.
Quando tentei libertar minhas mãos, ele as segurou mais forte — um controle
sutil que me deixou em conflito. Parte de mim adorava a ideia de me render a
ele e deixar que alguém cuidasse de mim, para variar. Era exaustivo sempre
estar no comando, mas aquela sensação de controle era o que me mantinha
sã, o que me mantinha segura. E minha hesitação me deixou inquieta, me
arrancou do momento e me deixou piscando, confusa.
Will se afastou, o desejo brilhando em seu olhar conforme me encarava.
— Você ainda não confia em mim — ele sussurrou. — Não é questão de
eu querer você ou não, porque é bem óbvio que quero. — Ele pressionou sua
excitação na parte debaixo de minha barriga a fim de afirmar seu ponto. — É
questão de como eu quero você. Confie, Rachel.
Tremi. Será que ele estava certo? Eu não confiava nele? Eu sabia que ele
não me machucaria. Tudo que aprendi sobre ele indicava que era um bom
homem. Eu o havia julgado severamente no início, mas, lentamente, ele
derrubara todos os estereótipos nos quais eu o tinha colocado injustamente e
me mostrado o que havia sob a conta bancária robusta.
— Eu quero confiar em você — eu disse, percebendo que era verdade.
Seu sorriso foi triste.
— Eu sei, mas não chegou lá ainda.
— Posso nunca chegar — admiti.
Ele finalmente soltou meus punhos e pressionou a palma das mãos em
minhas faces.
— Sou um homem paciente, Rachel. E vale a pena te esperar. — Seus
lábios tocaram os meus e se demoraram. Adorei seu gosto em minha língua.
Como vinho e hortelã. Pinicava meus sentidos, me deixando sem fôlego e
ansiosa. — Mas — ele continuou, sua boca ainda me tocando —, também
sou observador. E sei que alguém te machucou.
Enrijeci com as palavras dele. Ele deve ter sentido, porque me beijou de
novo, suavemente. Sua boca persuadiu a minha na submissão com tentativas
de carícias que mexiam profundamente com as emoções em minha alma.
Quando sua língua entrou e dançou com a minha, não consegui negá-lo.
Desta vez ele me deixou envolver os braços em seus ombros e passar as
unhas pela pele macia das costas dele. Ele estava quente e duro em cima de
mim. Muito seguro.
— Vai confiar de novo, Rachel. — Suas palavras eram um sussurro
contra meus lábios. — É muito forte para não fazê-lo. Mas temos que fazer
isso do jeito certo. Porque quero mais do que uma noite com você.
Engoli em seco.
— Quantas noites você quer?
— Oh, querida, eu quero todas. — Ele me beijou de novo antes que eu
pudesse reagir àquela proclamação. E foi bom porque eu não tinha nada para
falar. Só havia simplesmente aceitado a possibilidade de um caso passageiro,
mas algo a longo prazo… Será que eu estava pronta para isso? Como iria
funcionar? Contar a Ryan naquela noite era apenas uma solução temporária,
um pequeno indulto. Ele ainda era uma grande parte da minha vida, e eu
sabia, por experiência própria, que esse pequeno contratempo não duraria
muito. Ele encontraria uma forma de voltar para meu mundo e arruinar tudo.
Ele poderia machucar Will…
— Shh — Will murmurou contra meus lábios. — Desligue essa sua
mente linda e apenas sinta. — Sua língua entrou em minha boca conforme ele
segurou meu seio. O movimento foi tão inesperado que me arrancou de meus
pensamentos e me jogou para o presente. Ele torceu meu mamilo com
aqueles dedos habilidosos, e minha alegria dispersou todos meus
pensamentos.
— Mais — gemi quando minhas costas saíram da cama.
— Sim, madame. — Ele se abaixou para mordiscar forte meu bico pelo
tecido enquanto sua mão descia por minha barriga para o cume entre minhas
coxas.
— Porra — arfei, fechando os olhos. — Nós vamos…? — Minha voz se
perdeu em outro gemido quando ele massageou em círculo meu ponto mais
sensível.
— Eu disse sem sexo — ele respondeu, seguindo a pergunta que eu não
tinha terminado. — Nunca disse nada sobre carícias, querida.
— Injusto — foi a única palavra que consegui dizer enquanto ele
aumentou seu avanço. Depois tirou a mão e choraminguei de frustração.
— Quer que eu pare? — ele perguntou, seu tom fingidamente inocente.
Precisei de um instante para recuperar o fôlego. Toda a preliminar e as
emoções tinham me levado para bem perto do clímax como eu nem
conseguia imaginar. Minha calcinha estava molhada, e meus mamilos doíam
com o desejo. Segurei seu pau por cima da calça e apertei, ouvindo um
gemido dele. É, nós dois podemos jogar esse jogo, Mershano.
— Não comece uma coisa que não pode terminar, querida. — O alerta em
sua voz provocou uma onda de calor em mim. Eu gostava desse tom. E
mostrei a ele o quanto acariciando-o, forte, por cima do tecido. — Porra.
Sorri com a escorregada em seu controle. Consegui fazer mais uma
carícia antes de ele segurar meu punho e colocá-lo ao lado da minha cabeça
de novo. Esperava que o segurasse ali, mas ele me surpreendeu soltando-o e
colocando a mão em meu centro de novo. Não me deu tempo de reagir, pois
seus lábios capturaram meu mamilo através do top. Meu grito resultante era
parte surpresa, parte desejo. Porque, nossa, ele só estivera brincando antes.
Agora ele estava me tocando com objetivo. Seu polegar encontrou a
protuberância sensível por cima da calça de yoga. Só tive um segundo para
reconhecer como foi impressionante, depois ele pressionou e fez o prazer
correr por minhas veias.
Ele trocou de seio, chupando forte meu mamilo. Deus, como seria isso
com a pele nua? Eu queria muito arrancar aquele maldito top por cima da
cabeça, mas meus membros estavam travados pela construção da minha
excitação. Formava-se no meu abdome, enrolando-se tão firme que quase
doía, e não consegui evitar choramingar de desejo. Isso era muito melhor do
que minhas sessões noturnas com meu vibrador. Inferno, era melhor do que
qualquer uma das minhas experiências anteriores. Nunca me sentira tão
excitada na vida. Tudo que eu queria era explodir, e podia sentir, sentir o
gosto, no limite de meu ser. Provocando. Esperando. Muito perto.
— Goze para mim, linda. — As palavras foram quentes contra meus
lábios e seguidas por um beliscão em meu clitóris. Foi tão inesperado, e
chocante, que cortou minha barreira na metade e enviou o prazer espiralando
pela parte debaixo de minha barriga até os membros. Will engoliu meu grito
com sua boca e continuou pressionando onde eu precisava a fim de prolongar
meu orgasmo. Me balançou tão forte, tão profundo, que quase doeu. E então
eu o estava beijando. Forte.
Minhas emoções assumiram o controle, exigindo que eu o adorasse, lhe
agradecesse, pelo que ele tinha acabado de fazer comigo. Entretanto, quando
tentei ser recíproca com as mãos, ele gentilmente as pegou e segurou entre
nós. Sua boca estava implacável na minha, devolvendo meu beijo com um
fervor que eu sentia em todo meu ser. Não fazia ideia de quanto tempo tinha
passado — minutos, horas? —, mas, em certo momento, os desejos
retrocederam, deixando-me mais exausta do que me lembrei ficar na vida.
Quando bocejei, Will deu risada e se aninhou em meu pescoço.
— Foi um longo dia — ele murmurou, com uma afeição colorindo seu
tom.
Me enrolei nele, sem querer que a noite terminasse.
— Só mais um pouco.
— O quanto quiser, Rachel.
— Uhumm. — Acomodei a bochecha em seu ombro, satisfeita só de estar
perto dele. O calor me encapsulou quando ele puxou as cobertas para cima de
nós. Como ele conseguiu fazer isso enquanto estávamos deitados nelas, eu
não fazia ideia. Estava muito perdida no momento para me importar. Muito
perdida nele.
Ele beijou minha testa, depois minha têmpora.
— Você é linda, Rachel.
Sorri e tentei dizer a ele que tínhamos passado dessa fase, mas saiu mais
como um resmungo.
Ele deve ter entendido um pouco porque respondeu: — É melhor você
acostumar, querida. Porque nunca vou parar de te elogiar.
Aquelas palavras me seguiram para meus sonhos, onde entrei em um
mundo de e se e o que poderia acontecer. E, pela primeira vez em muito
tempo, sonhei com uma vida sem Ryan.
CAFÉ DA MANHÃ DE BANANA
Uma barba masculina pinicou meu pescoço quando Will deu um beijo
molhado atrás da minha orelha.
— Acorde, linda.
Seu murmúrio sexy me fez me alongar contra ele como um gato
satisfeito. A excitação pressionando minha bunda sugeriu que ele gostava
disso, ou talvez gostasse de estar com a perna entre as minhas.
A luz passava pelas cortinas, confirmando que eu passara a noite em sua
cama. Esperava que isso fosse me incomodar, mas não. Se senti algo, foi
alívio, o que era bizarro. A intimidade não me assustava, mas Ryan, sim. Só
que, quando eu pensava nele, tudo que eu sentia era um pouco de irritação em
vez de medo. Isso era novidade.
Dentes arranharam minha pele sensível quando Will gentilmente mordeu
minha pulsação. Quando ele chupou esse ponto, praticamente ronronei.
— Hummm, eu gosto disso. Conhecendo seus pontos e encontrando o que
te faz tremer. — O braço debaixo de meus seios ficou tenso quando sua perna
deslizou para cima entre minhas coxas. Lutei contra um gemido quando ele
encontrou meu centro, e estremeci. — Assim mesmo — ele sussurrou.
Me vi debaixo dele nem um segundo depois, encarando seus olhos cheios
de intenção obscura. Meu coração acelerou no peito com aquele olhar porque
o reconheci. Determinação misturada com desejo. Eu estava presa e ele sabia
disso.
— Sabe o que faço quando encontro um novo assunto ou atividade que
me empolga?
Engoli em seco e balancei a cabeça, incapaz de falar. Não com ele me
encarando daquele jeito.
— Eu domino — ele murmurou. Seus lábios encostaram nos meus em um
beijo suave que desmentia o calor irradiando entre nós. — Você foi avisada.
— Ele rolou para fora da cama e esticou os braços acima da cabeça,
mostrando todos aqueles músculos deliciosos e sua excitação impressionante.
Eu queria rasgar aquela calça cinza, traçar todas aquelas linhas dos músculos
firmes com a língua e provar cada centímetro dele. Se fosse considerar aquele
esboço saliente, com certeza eu ficaria de boca cheia. Hum.
— Temos uma chamada de conferência em cinquenta minutos com Jeff e
Janet; caso contrário, eu aceitaria a oferta em seus olhos. — Ele segurou meu
queixo e me forçou a encontrar seu olhar. — Vou tomar banho. Sugiro que
faça o mesmo e me encontre lá embaixo em meia hora.
— Tão mandão — respondi, encontrando minha voz. Saiu um pouco mais
ofegante do que eu queria, mas as palavras foram claras.
Ele traçou meu lábio com o polegar e sorriu.
— Só estamos começando.
Gostei de como isso soou. Ele me deixou na cama, encarando suas costas.
Não conseguia evitar. O homem tinha uma bunda linda.
— Vinte e oito minutos — ele disse quando chegou ao banheiro. Ele me
encarou com um olhar por cima do ombro que fez um calor correr para todos
os lugares certos. — Não se atrase, srta. Dawson.
— Nem sonharia, sr. Mershano. — Não por causa da provocação no olhar
dele, mas porque eu nunca me atrasava mesmo.
Sua risada provocou meus sentidos conforme ele desapareceu da minha
vista. Aquele homem estava fazendo coisas comigo que nunca pensei serem
possíveis. Autoconfiança sempre me excitou, mas nunca daquele jeito. Will
levava isso para um nível superior ao adicionar suas tendências alfa à mistura
e criar uma personagem tóxica contra quem eu não tinha chance. Havia
lutado contra isso por todos aqueles meses, determinada a dissuadi-lo e, ainda
assim, ele havia conseguido apenas intensificar minha atração. Ao ponto de
eu não saber mais se queria dizer não.
O que ele faria se eu me juntasse a ele no banho?
Era muito tentador. Eu podia ouvir a água bater nos azulejos e sabia que
ele estava ali nu e cuidando de sua excitação. Arrepiei com a imagem dele
pegando aquele pau duro e se acariciando até o clímax. Todos aqueles
músculos se juntando, seus lábios carnudos abertos em um gemido que era
para mim… Minhas coxas ficaram tensas quando as sensações se formaram
na minha barriga, aninhando-se mais forte com a fantasia indecente
aparecendo em minha mente. O desejo de me tocar, assim como eu sabia que
ele o fazia, foi esmagador. Ele havia me levado para um clímax na noite
anterior como nenhum outro, mas era como se ele fizesse meu sangue pegar
fogo. Eu precisava de mais, muito mais, e ele negara isso naquela manhã.
Por causa de uma reunião.
Meus olhos pararam no relógio no criado-mudo dele e vi que já tinham
passado dez minutos.
— Droga — murmurei, esfriando minha libido. A última coisa de que eu
precisava era me atrasar para minha própria reunião com os sócios. Precisei
me esforçar muito para sair de sua cama, mas meu desejo de manter o
emprego provou ser um motivador saudável.
Cada parte de meu corpo se sentia viva e mais sensível do que o normal.
Quando tirei as roupas, meus mamilos se endureceram em um nível doloroso
e minhas pernas tremeram. A água parecia adagas contra minhas
queimaduras, mas massageava outras partes do corpo de formas interessantes.
Principalmente quando ela escorria pela barriga e ia para o centro entre
minhas pernas. Will havia despertado alguma coisa dentro de mim que não
queria descansar, o que provavelmente foi a intenção dele o tempo todo.
Homem determinado e insuportável.
Me ensaboei com toques leves e hesitantes e lavei o cabelo. Não adiantou
nada para apagar o fogo que se formava internamente, nem adiantou me
vestir com um terninho com saia cinza-escuro. Minha blusa azul-claro
parecia grudar em minha pele úmida, e meu sutiã de renda se abrandava em
minha pele sensível. Quando desci, eu estava uma bagunça com calor,
enquanto Will parecia a epítome do sexy casual com calça preta e camisa
branca de botão. As mangas estavam enroladas até o cotovelo, e seu
colarinho estava aberto, já que não estava usando gravata. Meus olhos
trilharam cada centímetro dele. Lindo nem começava a descrevê-lo.
— Você parece faminta — ele murmurou. — Banana? — Ele ofereceu
meu costumeiro café da manhã, mas seu tom inocente e gesto não passaram
despercebidos.
— Engraçado — resmunguei, pegando a fruta da mão dele.
— Alguém precisa de café. — Ele me entregou uma caneca fresca. —
Você se atrasou por dois minutos, aliás.
— Meu cabelo não estava cooperando. — Uma verdade parcial. O
secador estava quente demais naquela manhã graças à minha pele
hipersensível. Eu havia demorado cinco minutos a mais para encontrar uma
solução, o que resultou do coque parcial na nuca. — Além do mais, nossa
reunião começa em quinze minutos. — Muito tempo ainda. Descasquei a
banana e dei uma mordida enquanto ele me observava por cima de sua caneca
de café.
— Mal posso esperar para você fazer isso no meu pau.
Engasguei com a fruta na boca e tive que me obrigar a engolir. Puta
merda. Ele disse isso tão casualmente, como se estivesse comentando sobre o
tempo ou algo assim.
— Como está se sentindo sobre a reunião? — ele perguntou naquele
mesmo tom, completamente não perturbado por minha reação ou o fato de
que eu estava boquiaberta. — Preparada?
Dei um gole fortificador de meu café enquanto ele observava daquele
jeito relaxado dele. Não sabia como ele conseguia manter aquela indiferença
depois de falar aquilo. Porque meu rosto estava pegando fogo. Ele não disse
nada quando continuei segurando minha caneca como um cordão salva-vidas
e absorvendo a cafeína. Por que eu pensava que beber um líquido quente
ajudaria estava além de mim. Só parecia fervilhar minhas entranhas.
— Então essa é você afobada? — Ele pareceu se divertir. — É fofa.
— Babaca — consegui falar.
Suas covinhas se mostraram.
— Aí está minha advogada preferida. Sabe que gosto muito da nossa
competição verbal.
— Competição verbal? — repeti com minha perspicácia de volta. — Está
falando de todas aquelas conversas em que você não entendia a palavra não?
Ele passou os nós dos dedos na minha face.
— Você não estava falando não ontem à noite, querida. Acredito que
ouvi a palavra sim sair desses lábios deliciosos mais de uma vez.
E o calor estava de volta. Maravilha. Exatamente do que eu precisava
cinco minutos antes de nossa reunião. Pigarreei, forcei a banana por minha
garganta — mais para a diversão de Will — e coloquei a caneca de café na
mesa com força. Aquela reunião poderia construir ou destruir minha carreira,
e eu não deixaria uma paquerinha abalar anos de confiança estável. Mesmo
que eu ainda me sentisse em uma fornalha.
— É melhor se comportar, sr. Mershano. Ou o que testemunhou com
aquela banana nunca vai acontecer com seu pau.
A empolgação brilhou em sua expressão, o que foi o oposto do que
pretendi.
— Devidamente anotado, srta. Dawson. Vamos fazer a reunião no
escritório?
Peguei uma garrafa de água da geladeira — senti que precisaria — e
assenti. Passamos muito tempo em seu escritório enorme em casa naquela
semana, ambos trabalhando na mesa dele e revisando todos os materiais que a
Baker Brown reuniu para as reuniões da semana seguinte.
O objetivo da reunião daquela manhã era revisar qualquer questão ou
preocupação residual que Will tivesse. Também servia como uma forma de
confirmar se eu estava pronta ou não para as reuniões da semana seguinte. Se
eles sentissem o mínimo de hesitação, eu sabia que um ou ambos iriam
conosco para a França. Vinhedos Mershano era um cliente grande demais
para decepcionar, e estávamos em cima da hora com nosso voo partindo em
menos de doze horas.
Passei a mão no meu terninho enquanto Will lidava com seu equipamento
de teleconferência. Quando Jeff e Janet apareceram em seu projetor, eu sorri.
Era hora de arrasar.
VOANDO DE PRIMEIRA
CLASSE
— Então é assim que a outra metade vive, hein? — Tinha pensado que
fosse voar de econômica para Paris, mas Will tinha outros planos.
Estávamos na primeira classe; uma linha de companhia aérea comercial
que eu não sabia que existia até hoje. Classe executiva, claro, mas aquilo era
algo totalmente diferente. Havia apenas mais duas pessoas ali, uma de cada
lado com suas janelas, enquanto nós estávamos no meio em nosso recanto
que vinha com cortinas para privacidade. Meu assento era uma poltrona
enorme reclinável, o que, de acordo com o vídeo a que assistimos antes de
decolar, se transformaria magicamente em uma cama depois do jantar.
Bebi minha segunda taça de champanhe e agitei meus pés com meias.
Meus sapatos scarpin foram os primeiros itens que eu tinha guardado em
nosso armarinho, mais para a diversão de Will. Ele tentara me convencer em
usar jeans para o voo, mas tinha me recusado. Era uma viagem de negócios
acima de tudo, e eu estava determinada em me vestir adequadamente. Então
ele estava usando calça e uma camisa de botão, dizendo que não queria que
eu fosse a única pessoa vestida formalmente no avião. Eu havia dado um
sorrisinho quando um homem de terno entrou no recanto privado à minha
direita, e Will apenas balançara a cabeça.
— Você precisa decidir o que quer jantar — ele disse agora ao me passar
o cardápio de cinco pratos.
Entreguei de volta o livro de couro chique para ele.
— Esse é seu mundo, milionário. Peça para mim.
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Agora quem está sendo mandona?
Dei de ombros e continuei a balançar os pés. Essa sensação agitada tinha
me controlado o dia todo. Pensei que, talvez, fosse a euforia de nossa reunião
bem-sucedida com a firma naquela manhã, mas era mais que isso. Meu corpo
estava com a adrenalina aumentada, e eu sentia o que o homem à minha
esquerda era o culpado. Não ajudou quando ele começou a conversar em
francês fluente com a aeromoça loira.
Ela apoiou seu quadril estreito na parede diante de nós e sorriu para Will
enquanto ele pedia o jantar em francês. Tartar de salmão, filé mignon
grelhado, sopa, salada e uma sobremesa. Era suficiente para alimentar um
pequeno exército.
— Ce sont de très bons choix pour vous et votre femme. — Escolhas
excelentes para o senhor e sua esposa.
Abri a boca para corrigi-la, mas Will foi mais rápido.
— Ah, nous ne sommes pas mariés, mais merci beaucoup. — Oh, não
somos casados, mas obrigado.
— Vraiment? — Sério?
— Non, nous sommes collègues. — Não, somos colegas. É uma viagem
de negócios. Sua resposta casual me surpreendeu. Depois de todo o flerte e
zoação, esperava que ele me provocasse sugerindo que fôssemos mais, mas
ele se manteve profissional. Sorri. Que bom. Significava que ele me
considerava sua advogada primeiro e mais importante, o que seria importante
durante nossas reuniões da semana seguinte.
— Bien compris. — Ah, entendi. O tom de flerte dela agradeceu com a
satisfação que eu senti um segundo antes. Quando seus olhos redondos cor de
mel olharam sua mão esquerda, meu coração caiu no estômago.
Ok, agora, espera um pouco. Não era isso que eu queria que ela pensasse
dessa conversa, mas, claro, a srta. Saia Justa tinha outras ideias. Seu sorriso
se alargou quando ela observou o corpo dele lentamente, sugerindo
exatamente o que ela pensava do milionário da vinícola. Ela se lançou na
seguinte questão óbvia sobre no que ele trabalhava, e Will, o encantador,
respondeu com um de seus sorrisos de marca registrada. Um interesse
extasiado emanou da postura esguia e expressão da mulher. Eu meio que
esperei que ela começasse a tirar a roupa e me pedisse para sair um pouco.
Quando ela saiu, meus punhos estavam cerrados e meu estômago, cheio
de nós. Parte de mim queria agarrar Will e dizer que era meu, enquanto o
resto imaginou qual seria a penalidade por socar uma aeromoça. Ambas as
reações me frustraram. Eu as reconheci: ciúme. Um sentimento que nunca
tive até conhecer o maldito homem ao meu lado. Aparentemente, ele
conseguia arrancá-lo com um único olhar, ou, nesse caso, algumas palavras
casuais. Nada sobre seu comportamento gritava flerte, mas a aeromoça
deixou claro que ela estava disponível para sobremesa, caso ele quisesse.
— Então, collègue, quais são seus planos quando chegarmos em Paris? —
Não consegui evitar o tom sarcástico, mas, se ele notou, ignorou.
— Nos ajustaremos à mudança da hora, faremos um pouco de compras e
iremos para o Sul na segunda. — Ele estava lendo algo em seu celular
enquanto falava. — Há algum lugar que queira visitar, ou já foi a todos?
— Ãh, nunca os vi ao vivo.
Aquilo chamou sua atenção. Seus olhos escuros se fixaram nos meus.
— Nunca foi a Paris?
Dei risada.
— Perdeu a parte sobre meus empréstimos de estudante no outro dia?
Nem todos nós nascemos milionários, sr. Mershano. — Ok, minha resposta
sarcástica foi desnecessária, mas o homem deixava minhas emoções à flor da
pele. E as respostas casuais dele estavam me deixando nervosa.
— Você fez mestrado em francês e nunca estudou fora?
Eu queria, mas Ryan me convenceu do contrário. Prometeu que me
levaria para a França depois de estudar Direito, mas acabamos no Caribe por
uma semana, em vez disso. “Aff, já fui muitas vezes para a França, minha
menininha. Vamos para uma praia, está bem?”. Limpei a garganta e, com
isso, essa lembrança.
— Não, não bateu com minha agenda.
A loira escolheu esse momento para aparecer com mais bebidas e fez
questão de se inclinar sobre Will para me entregar uma bebida que não pedi,
em vez de dar a volta para o meu lado da cabine. Ela tinha até desabotoado
um botão da camisa, o que deu a ele uma visão atraente de seus seios. Pensei
em dar uma cotovelada na bebida para cair no colo dele, mas, com minha
sorte, a vadia acabaria enxugando com as próprias mãos.
— Merci — eu disse entre dentes. Ela nem me escutou. Seu foco estava
em Will de novo quando lhe perguntou sobre aonde iríamos na França e
quanto tempo pretendíamos ficar.
Abri meu cinto com a intenção de procurar um banheiro para vomitar,
mas a mão de Will em meu braço me impediu. Ele a deixou ali enquanto
falava com a aeromoça muito amigável.
— Je suis désolé, ma cherie, mais nous étions au milieu d’une discussion
importante. Pouvez-vous nous laisser un instant? — Desculpe, querida, mas
estamos no meio de uma conversa importante. Pode nos dar um minuto?
As palavras dele, embora amigáveis, estavam sublinhadas com uma
autoridade que fez meu coração acelerar. Pareceu causar o mesmo efeito nela
se levasse em conta seu leve rubor nas faces de porcelana. Ela lhe deu outro
daqueles sorrisos afetados e se afastou com aquela bunda acenando.
— Uau, ela está praticamente te chamando para seguir. — Fechei os
lábios, mas não muito rápido. A frase pairou entre nós conforme Will
observou minha expressão com uma divertida. Aparentemente, ele achava
engraçada toda essa situação. Melhor do que ele ficar interessado em aceitar
a oferta dela.
— Você não tem por que se preocupar, querida — ele falou grave.
— Colega — corrigi. Ok, duas taças de champanhe? Má ideia. Soltou
demais minha língua. — Desculpe, me ignore.
Ele passou os nós dos dedos na minha face e desceu por meu pescoço até
os seios. Prendi a respiração com a ousadia de seu toque.
— Preferiria que eu te apresentasse como outra coisa? É só falar a
palavra, Rachel, e vou usá-la. — Ele continuou a descer até sua mão estar em
meu colo, onde se acomodou na minha coxa. — Não quero fazer suposições
por você, mas, por mim, não me considerei disponível desde o dia em que
nos conhecemos.
Fiquei boquiaberta.
— O quê?
— Você me ouviu. — Ele apertou minha perna antes de afastar a mão. —
Agora, me fale o que quer fazer em Paris. Só temos dois dias lá, mas deve
haver alguma coisa que queira ver.
Ele nunca dizia o que eu esperava, e isso não era exceção. Não só ele
declarou que se considerava fora do mercado depois de me conhecer, como
também queria saber o que eu desejava fazer em Paris. Ryan nunca se
incomodaria em perguntar; sempre era o que ele queria. Mas Will? Parecia
que ele sempre tinha meus interesses em mente, até nos mínimos detalhes.
Me inclinei e o beijei suavemente, minha versão de um agradecimento
silencioso por ele se importar. Por ser ele. Por não ser Ryan.
Sua risada acariciou meus lábios.
— Acho que aprovo esta resposta.
— Quieto. — Sem querer arriscar derrubar nossas bebidas, me aproveitei
de minha liberdade do cinto e me sentei no colo dele para beijá-lo com a
língua. Era minha primeira vez iniciando o beijo, e não ele, e saboreei o
poder disso. Ele traçou levemente minha coluna conforme eu aprofundei
nosso abraço, provocando arrepios na minha pele. Adorava a maneira como
seu simples toque me afetava. Me deixava quente e necessitada e provocava
um maremoto por minhas veias.
Alguém pigarreando me fez afastar e encontrar para o olhar surpreso da
aeromoça. Ela estava segurando duas bandejas do que eu presumia ser nosso
jantar. Pensei em me desculpar, mas sabia que ela não acreditaria. Em vez
disso, dei um último beijo na boca dele antes de descer de seu colo. Ele
respondeu com um tapinha na minha bunda que me fez gritar.
— Will! — Saiu com uma risada assustada.
— Dois podem jogar esse jogo, linda. — Por “jogo”, presumi que ele
queria dizer a demonstração de possessão para a aeromoça. Seu gesto de
resposta me fez sorrir.
Sinta-se à vontade para declarar que sou sua a qualquer hora,
Mershano, eu lhe disse com os olhos.
Seu sorriso em resposta pareceu dizer, Oh, eu vou.
E esperava que estivesse falando sério.
TRAVESSURAS NO AVIÃO
Uma cama.
Tamanho queen, talvez menor.
O vídeo antes do voo não dizia nada sobre juntar os assentos da primeira
classe em um colchão enorme. Esperava encontrar duas poltronas retas
reclináveis com cobertores na viagem de volta do banheiro, mas a tripulação
tinha outra ideia em mente. A colônia apimentada de Will me cercou quando
ele descansou o queixo em meu ombro e me abraçou por trás.
— Humm, vejo que a aeromoça resolvera que somos mais do que colegas
de trabalho.
— Então isso não é normal? — Apontei para o lençol branco macio. —
Aonde aquela coisa dividindo nossos assentos foi parar? — Parecia uma
coisa difícil de retirar, mas eu não a via em nenhum lugar agora.
Sua barba por fazer arranhou meu pescoço quando ele beijou meu queixo.
— Mágica — foi tudo que ele disse.
— Devemos pedir que ela troque? — Mesmo dizendo as palavras, eu as
retirei. — É, esqueça.
A última coisa que eu queria era que a vadia loira convidasse Will para os
fundos a fim de explorar sua “cabine particular”. Ela flertara com ele durante
todo o jantar, constantemente perguntando se ele precisava de mais alguma
coisa. Eu teria considerado o serviço fantástico, mas ela nunca se dirigia a
mim. Suas ofertas eram para Will, e havia mais do que apenas comida e
bebida em seu cardápio. Para crédito dele, ele manteve uma educada, mas
reservada, formalidade com ela a noite toda. Me deixou pensando com que
frequência ele lidava com mulheres como ela.
— Quer vestir o pijama? — Will perguntou, ignorando meu comentário
sobre trocar a cama. Ele me soltou para pegar os saquinhos na cama. Nossos
nomes estavam estampados do lado de fora, com tamanhos europeus ao lado.
Considerando que nunca dei as dimensões à companhia aérea, só poderia ter
sido o milionário ao meu lado.
— É a segunda vez que você compra roupas para mim sem perguntar. —
E, pelo que eu podia ver, ele acertara as medidas. De novo.
— E tenho certeza de que não será a última — ele murmurou. — Quer
usá-lo?
— Você não parece muito animado com eles.
Ele deu de ombros.
— É uma cama de avião. Roupas confortáveis não farão muita diferença
para mim.
Observei-o dos pés à cabeça. Ele precisaria de pelo menos dois terços do
colchão, e seus pés ainda ficariam para fora — consequência de ser um
homem alto e musculoso. Mas isso era melhor que a classe econômica.
Quanto às roupas…
— Eu prefiro não me trocar. — Minha saia e terninho serviam como uma
armadura profissional. Claro, nós compartilhamos uma cama na noite
anterior, porém tinha sido na privacidade de sua casa. Um avião era uma
circunstância totalmente diferente.
Certo. Porque você fora um exemplo de profissional até agora no avião.
Mordi a parte interna da bochecha e ignorei minha consciência vadia
sarcástica. A única pessoa que nos viu beijar foi a aeromoça. Quem poderia
contar?
Felizmente, ninguém…
Desenvolver um relacionamento sexual com um cliente era malvisto,
principalmente para a advogada líder do projeto. Essas aquisições
internacionais eram para a empresa dele, o que o tornava, assim como sua
organização, o cliente, e um julgamento consideraria isso conflito de
interesse.
Mas a maioria do trabalho já está feito…
Aquela viagem era para finalizar os contratos e aconselhar a Vinhedos
Mershano como pedido. Will falaria a maior parte, e eu só falaria se seus
sócios desejassem uma mudança. Mesmo assim, eu tinha instruções de enviar
todas as mudanças exigidas para Janet para avaliação.
— No que está pensando? — Will perguntou, sua voz me puxando de
volta para o presente. O pijama tinha sumido, mas eu não vi onde ele os tinha
escondido.
— Ãh… — Mordi o lábio. Admitir que eu estava tentando justificar
mentalmente meu relacionamento “semissexual” com ele não parecia
atraente. Então preferi: — Trabalho. — E como esses sentimentos que pareço
estar desenvolvendo por você são realmente ruins para minha carreira. Se as
coisas esquentassem mais entre nós, eu teria que contar à firma sobre isso. E
não seria uma conversa divertida.
Will me olhou de um jeito que dizia que não acreditava em mim, mas não
pressionou para detalhes. Dei a volta para meu lado da cabine, tirei os saltos,
os quais havia recolocado para ir ao banheiro, e me sentei na cama. Era muito
mais macia do que eu esperava. Eles haviam colocado algum tipo de colchão
macio sobre os assentos. Nada mal.
Deslizei para baixo dos cobertores e virei de costas para Will quando ele
fechou as cortinas à nossa volta. As luzes já estavam suaves no avião, mas ele
escureceu mais ao apagar as luzes de leitura acima da cabeça para depois
deitar ao meu lado. Havia fones de ouvido e uma máscara facial no
travesseiro, mas os coloquei de lado.
O constante ruído do avião junto com a escuridão nos fechou para o
mundo de uma forma íntima que eu não havia previsto. Estávamos sozinhos,
mas não muito e, a qualquer minuto, alguém poderia abrir a cortina e nos ver.
Isso é… meio bizarro.
Seu calor natural irradiava atrás de mim, mas não estávamos nos tocando
realmente. Pensei que talvez ele estivesse de barriga para cima, pernas
cruzadas nos tornozelos, mas me recusei a arriscar olhar para ele. Sem
dúvida, levaria a algo estúpido. Como beijá-lo. A eletricidade subiu por
minha espinha ao pensar nisso, provocando choques em todas minhas
terminações nervosas. Me contorci um pouco quando elas chegaram ao meu
centro, vibrando a área entre as pernas.
Droga. O homem não me tocara em mais de dez minutos e, ainda assim,
meu corpo estava pronto e preparado para ele. Meus mamilos roçavam em
meu sutiã de renda, implorando para serem libertados. Me mexi um pouco
para aliviá-los, mas só intensificou minha dor lá embaixo. Uma dor que Will
criou com todo esse flerte sensual e sua apresentação completa do que ele
tinha a oferecer sexualmente na noite anterior na cama. Só que não chegara
nem perto.
Minhas mãos se fecharam em punho. Eu tinha desejado acariciar cada
centímetro dele, mas ele manteve tudo leve. Como seria observá-lo gozar?
Dar-lhe o mesmo prazer que ele me deu? Minhas coxas ficaram tensas
quando uma imagem de mim ajoelhada diante dele passou por minha mente.
Porra. Por que isso era tão tentador? Nunca gostei de sexo oral antes, mas
algo me dizia que seria diferente com Will. Tudo nele provocava expectativas
e experiência.
— Querida, se continuar choramingando assim, vou ter que encontrar um
jeito de te silenciar. — Suas palavras sopraram em minha orelha. Eu estivera
tão perdida nas sensações provocando meu centro que nem o escutara se
mexer, quanto mais sentir. Quanto ao choramingo, o que ele esperava? Ele
me deixava toda excitada e irritada sem nem tentar.
Mordi o lábio e lutei contra o desejo de gemer de frustração. Recusá-lo
era uma ideia do passado, uma que eu não conseguia acreditar que passou por
minha mente algum dia. Não conseguia ignorar a maneira como meu corpo
reagia a ele, algo que ele deve ter notado desde o começo. Ele enfraquecia
minhas defesas com aqueles avanços sutis e charmosos e passava por minha
barreira mental. Se ele continuasse fazendo isso, meu coração seria o
próximo.
As costas de sua mão deslizaram por meu braço quando ele deu um beijo
de boca aberta em meu pescoço. Não um abraço completo, mas o suficiente
para incendiar minha pele.
— Você não está jogando limpo, Mershano. — Saiu mais como um
gemido do que uma acusação.
— Nunca com você, linda. — Ele mordiscou a área sensível abaixo da
minha orelha e colocou a palma da mão em meu estômago. — Agora, venha
aqui. — O mundo se moveu quando ele, sem esforço algum, me puxou para
debaixo de seu corpo. Minha saia subiu e se amontoou nas pernas conforme
ele se acomodou entre elas. Não conseguia ver direito seu rosto no escuro,
apesar de estar a centímetros do meu, mas o sentia sorrindo. — Precisa de
ajuda para relaxar?
— Não acho que isso seja possível perto de você. — A energia corria por
meu corpo, e tê-lo em cima de mim apenas piorava meu estado agitado.
— Você pareceu se desmanchar muito bem em meus braços ontem à
noite. — Ele se aninhou em meu pescoço e colocou os lábios contra minha
orelha. — Mas você terá que ser muito mais silenciosa aqui. Essas cortinas
são muito finas.
Exibicionismo não era meu estilo, mas o lembrete dele de que não
estávamos sozinhos enviou um choque por minha coluna. Ele tinha um jeito
de apagar o mundo ao nosso redor e me ajudar a esquecer tudo e todos. Sua
habilidade de me maravilhar tão completamente tanto me enervavam quanto
me empolgavam. Eu adorava o casulo agradável que ele criava, isolando-me
de todos os problemas da vida. Ele me fazia feliz, e só isso já era sexy pra
caramba.
Subi e desci as unhas por suas costas. Músculos firmes encontraram
minhas carícias através do tecido de sua camisa, fazendo-me querer rasgar
suas roupas. Na noite anterior, ele me provocou e me observou gozar. Eu
queria retornar o favor — explorar suas reações, conhecer seu corpo como ele
conheceu o meu, e senti-lo no processo. Com uma palma da mão no peito
dele, empurrei-o para o lado da cama e rolei com ele.
— Minha vez, Mershano.
— Ãh? — Mesmo no escuro, eu sabia que ele tinha erguido uma
sobrancelha. — Bom, então, fique à vontade, srta. Dawson. Me mostre o que
sabe fazer.
Ele colocou os braços atrás da cabeça no travesseiro, mostrando que
desistia do controle, mas ambos sabíamos que ele o retomaria em um
segundo se quisesse. O que só significava que eu precisava enlouquecê-lo
tanto que ele não poderia pensar.
Desafio aceito.
Passei a língua na barba por fazer em sua mandíbula até a orelha.
— Vale qualquer coisa?
— Claro, querida. — Tão arrogante. Ele se arrependeria em breve.
Subindo mais minha saia, me apoiei na coxa musculosa e coloquei as
mãos em seu peito duro. A camisa precisava sair primeiro, mas seus
cotovelos atrás da cabeça tornavam isso um problema, assim como os
arredores em geral. Soltei o tecido de sua calça até revelar um pouco de pele.
Meus olhos foram lentamente se ajustando à escuridão, o suficiente para ver
seus lábios curvados com diversão. Estava ansiosa para lhe dar um tipo
diferente de sorriso.
Coloquei sua camisa e camiseta debaixo para cima a fim de expor todo
aquele abdome delicioso e a parte debaixo de seus gomos. Todas aquelas
linhas musculosas ameaçaram me distrair de minha missão, mas me controlei
e me inclinei para beijar seu esterno. Minha língua seguiu, traçando um
padrão criado por seus músculos. Hummm. Ele tinha gosto de pecado e
homem e uma doçura que era especificamente designada para eu aproveitar.
Quando cheguei à sua barriga, olhei para cima e encontrei seu olhar ardente.
Não está rindo agora, não é?
Um leve amontoado de pelo encontrou minha boca quando descobri seu
caminho da felicidade e o segui até abaixo do cinto. Ele não me parou quando
abri o couro ou quando abri o botão de sua calça. Assumi, por ambos, que era
um sinal de que eu estava livre para continuar minhas explorações orais por
onde quisesse. E, ah, eu queria saborear cada centímetro dele.
Com um sorriso contra a parte de baixo do abdome de Will, abaixei a
calça para suas coxas e brinquei com os dedos com o elástico de sua cueca
boxer. O calor irradiava de sua virilha, seduzindo-me para abaixar mais as
mãos até segurar seu pau através do tecido de algodão.
Que tesão. Eu sabia, de nosso prelúdio na noite anterior, que o homem
tinha boa proporção, mas segurá-lo na mão levou aquele conhecimento a
outro nível. Minha boca salivou de ansiedade e meu sexo pinicou. Nunca
antes a ideia de chupar um homem me excitou, mas nada sobre Will era
normal. Eu desejava coisas com ele que não deveria, e saber disso só me
fazia desejar mais ainda essas coisas.
Rocei o nariz em sua entrada musculosa ao lado do quadril e adorei como
isso o deixou duro contra minha mão. Envolvendo os dedos ao redor dele, fiz
uma carícia e observei seu abdome ficar tenso. Não havia sinal de sorriso em
seu rosto agora. Mas aqueles braços ainda estavam atrás da cabeça e em uma
posição relaxada que significava autodomínio. Enganchei os polegares em
sua cueca e, com cuidado, baixei-a para se juntar à calça. Seu membro quente
se libertou para cima, e o peguei com a boca.
— Rachel… — Meu nome ficava perfeito em seus lábios, tão adorável,
mas, quando seus dedos seguraram meu cabelo, eu sabia que ele também
dizia isso como um pedido. Não era suficiente. Eu precisava que ele se
desmanchasse, e queria levá-lo até esse ponto.
Minha língua lambeu sua glande enquanto segurava seu membro quente
com uma mão. Seu gosto doce e apimentado cobriu minha boca, me fazendo
querer tomá-lo mais profundamente.
Tão macio e sedoso.
E, ah, essa parte impressionante dele merecia ser muito valorizada. Era
comprido e grosso e grande demais para eu tomá-lo em uma vez, mas eu
tentei e encontrei meus dedos na metade do caminho, depois suguei forte na
volta.
— Porra — ele respirou, sua mão segurou mais forte meu cabelo. Quando
ele me levou de volta para baixo, eu sorri internamente. Esse era o jeito dele
de assumir o controle, mas nós dois sabíamos que minha boca tinha todo o
poder ali.
Acariciei seu saco pesado com a mão livre e comecei a conhecer suas
reações. Seu corpo sutilmente me dizia do que ele gostava e o que adorava, e
usei esse conhecimento para levá-lo à loucura com as mãos, os lábios e
minha língua.
Sua respiração ficou mais pesada, e sua mão puxou de forma quase
dolorosa quando ele se empurrava cada vez mais fundo em minha garganta.
Chupei cada investida, bem empolgada com a óbvia queda em êxtase dele
para me importar que ele estivesse controlando tudo agora.
Quando seus movimentos se tornaram irregulares, eu sabia que ele estava
perto, mas, então, ele me soltou quase que relutantemente. Oh, ele está me
dando uma chance de me afastar… Chupei forte em resposta,
silenciosamente repreendendo-o por simplesmente pensar que eu poderia
querer isso, e gemi em aprovação quando ele segurou meu cabelo de novo.
Seu chiado agudo incendiou minhas veias e, quando ele seguiu com um
gemido suave, minhas coxas se juntaram. Esse era ele se desfazendo, e eu
adorei cada minuto disso.
Sua essência salgada chegou à minha garganta em esguichos fortes que
rivalizava com o homem que ele era, e engoli tudo, surpreendendo-me
provavelmente quase tanto quanto ele. Essa geralmente era a parte que eu não
gostava, mas, como todo o resto que envolvia Will, teve o impacto oposto. Eu
adorei compartilhar essa experiência com ele e saber que o levara até aquele
ponto.
Meus seios estavam tão dolorosamente sensíveis que me encolhi quando
seu joelho passou pelo bico rígido. Suas mãos seguraram meus ombros e me
puxaram para cima tão rápido que minha cabeça girou e demorei um minuto
para perceber que ele me colocara debaixo dele de novo. Minha boca de
repente estava ocupada demais pela dele para falar alguma coisa com a
mudança abrupta. Sua língua se entrelaçou bruscamente na minha,
competindo pela dominação. Sucumbi rapidamente, muito excitada para
negá-lo, e estremeci quando ele beliscou meu mamilo.
Ele silenciou meu grito com seus lábios e sorriu.
— E agora é minha vez.
Sua mão foi para minha coxa e subiu por debaixo da saia para o lugar em
que eu mais o queria. Ele passou o dedo ao longo da minha calcinha, da
entrada até o ponto mais sensível, e aplicou pressão devagar, mas firme.
Apertei seus braços para me apoiar quando ondas de choque explodiram por
meu corpo. Não era um orgasmo, mas chegou bem perto, e foi oh-muito-
bom.
— Você está molhada para mim — ele sussurrou contra meu pescoço. —
Gosto disso pra caralho. — Ele colocou minha calcinha para o lado a fim de
tocar minha pele e deslizou o dedo pelos lábios escorregadios. — Tão gostosa
também. Mal posso esperar para estar dentro de você, Rachel. Para enfiar tão
fundo que você vai me sentir por dias. — Sua voz máscula me deixou
tremendo com um desejo profundamente saciado por ver aquelas palavras
saírem dele. Ele colocou um dedo dentro de mim enquanto seu polegar
massageava meu clitóris em círculos deliciosos.
— Vou te pegar devagar primeiro, para decorar seus gemidos de prazer e
te apresentar adequadamente à minha cama. — Ele demonstrou com um dedo
lá embaixo, suavemente provocando, e adicionou um segundo dedo. —
Depois, quando estiver confortável e pronta, vou te foder disparadamente. —
Ele enfiou os dois dedos em mim forte para afirmar seu ponto e aceitou meu
gemido em sua boca. Vibrações sensuais chacoalharam meus nervos até o
dedão do pé conforme ele continuou a me agredir prazerosamente.
Ele pairou acima de mim apoiado no cotovelo e deslizou os dedos no meu
cabelo a fim de inclinar minha cabeça para um beijo mais intenso. Sua língua
imitou a mão lá embaixo, suavemente me acariciando por dentro e instalando
o prazer a cada carícia sedutora.
Meu corpo se moveu, buscando mais fricção de seu polegar, e ele
respondeu com uma pressão gentil e firme, circulando de uma maneira que
me fez ver estrelas. Cravei as unhas nos ombros dele conforme a tensão se
formou na parte de baixo de minha barriga, apertando-se e estremecendo.
Oh… Muito… Perto… Não aguento mais…
O orgasmo me atingiu de forma tão clara e perfeita, jogando minha
cabeça para trás e arqueando as costas. Sua mão cobriu minha boca,
silenciando os barulhos que eu não parecia parar de fazer conforme meu
corpo se balançava descontroladamente debaixo dele. Foi ainda mais intenso
do que nossa primeira vez juntos, e com ele veio uma tempestade de emoção
inesperada. A gravidade disso me paralisou, deixando-me sem fôlego debaixo
dele.
Eu gostava dele. Gostava muito e de verdade.
E isso era óbvio pra caralho considerando que eu acabara de deixar que
ele enfiasse a mão dentro da minha saia, mas era mais profundo do que
atração física. Minha atração a ele ia além da superfície, ao coração do
homem em cima de mim. Ele ergueu os dedos até a boca e os chupou com
um gemido de aprovação, depois me beijou tão intensamente que esqueci de
como pensar.
— Hummm, mal posso esperar para te provar adequadamente mais tarde
— ele sussurrou contra meus lábios. — Você é deliciosa.
Aquelas palavras deveriam ter me feito rir, só que eu sentia o mesmo em
relação a ele. Poderia facilmente me viciar em seu pau lindo, se já não
estivesse.
Will silenciou meus pensamentos com outro beijo, me drogando com seus
carinhos e me atraindo para fora da minha mente e de volta ao momento. Era
muito fácil segui-lo, permitir que ele me pusesse sob seu feitiço e esquecesse
todo o resto.
Ele me levava a um lugar onde gostar dele era seguro.
Onde eu não tinha que me preocupar com o passado ou com minha
carreira.
Onde eu podia ser feliz e aproveitar a vida.
O mundo de Will era um lugar onde eu podia simplesmente ser eu.
Fechei os olhos algum tempo depois com um sorriso não apenas nos
lábios, mas no coração. Não tinha dúvida. Eu gostava dele. E, pela primeira
vez em muito tempo, não estava com medo de me jogar nisso.
LÍRIOS ORIENTAIS
— Ok. Isso é maravilhoso. — Tirei os saltos para girar pela sala de estar
gigante e pular para as janelas do teto ao chão com vista para toda Paris.
Primeira classe tinha sido um deleite, mas a suíte presidencial de Will levou
minha indignação a outro nível.
— Me certificarei de passar seus elogios para Evan — ele respondeu do
vestíbulo.
Girei e encontrei seu olhar divertido.
— Precisamos explorar. Agora, por favor.
— Sim, madame. — Ele fez reverência com seu chapéu não existente e
deu uma piscadinha. — Assim que eu tomar banho e me trocar.
Resmunguei e acenei para a janela.
— Mas Paris.
— São só oito da manhã. Temos muito tempo para passear e fazer
compras. — Ele continuava mencionando aquela última palavra… compras.
Eu ainda não sabia por que ele insistia nisso, mas, considerando que eu só
tinha mais algumas roupas limpas, parecia apropriada. Eu deixara toda minha
roupa suja na casa dele em um cesto, me esperando para levar para casa
depois, o que deixou minha mala bem vazia. Pensar nas minhas malas me fez
franzir o cenho.
— Cadê minhas malas? — As dele estavam ao lado da porta.
— Em seu quarto — ele respondeu ao tirar uma chave do bolso. — O seu
é no fim do corredor.
— Ah. — Certo. Claro. Eu o tinha seguido até ali sem nem pensar.
Estendi a mão para pegar o cartão, mas, de alguma forma, me vi em seus
braços. Ele inclinou minha cabeça para trás para um beijo que me derreteu de
dentro para fora. Aquele homem certamente sabia como usar a boca.
— Você é bem-vinda para ficar aqui, mas reservei um quarto para você
caso preferisse, e também para objetivos profissionais. — Ele roçou o nariz
contra o meu e sorriu. — Não há nada no contrato que nos proíba de ficar
juntos, mas meu palpite é de que Baker Brown não gosta que funcionários
seduzam clientes.
Bufei.
— Não sou a única seduzindo aqui, Mershano.
— Aquela sua meia adorável e eu discordamos, srta. Dawson. — Ele
sugou meu lábio inferior e o soltou fazendo um estalo. — Agora preciso
desesperadamente de um banho e de outra roupa. Suas malas estão em seu
quarto, mas se arrumar lá não necessariamente significa que vá dormir lá esta
noite.
Estremeci com a promessa em suas palavras.
— Debochado.
Ele deu uma risada sombria.
— Oh, mal posso esperar para redefinir essa sua palavra depois. — Ele
apertou minha bunda, depois pegou sua mala e seguiu para as escadas para o
que presumi ser a suíte master. Os Hotéis Mershano eram conhecidos por sua
ostentação, mas isso dava outro nível à elegância. Eu precisaria perguntar
depois a Sarah como ela estava lidando com aquele estilo de vida. Algo me
dizia que ela estava sobrevivendo muito bem.
Uma risada diferente escapou de mim. Essa não poderia ser a minha
realidade. Parecia fantástico demais, feliz demais, para ser minha vida.
Balançando a cabeça, coloquei meus saltos e peguei minha bolsa. Meu quarto
era diretamente do lado oposto ao de Will, assim como ele disse, e percebi
com uma surpresa que só havíamos nós dois em todo o andar.
— Chocantemente rico — murmurei ao abrir a porta para um quarto igual
ao dele. — Ridiculamente rico. — Eu sabia que os Mershano tinham uma
quantia insana de dinheiro, mas presenciar isso era muito diferente de apenas
reconhecer a riqueza da família. Foi assim que Will foi criado e, mesmo
assim, ele tinha escolhido investir em uma vinícola e um lar relativamente
modesto quando poderia ter herdado um cargo superior no Hotel Mershano e
morado em algum lugar assim. Saber daquilo só me fez respeitar a ele e suas
conquistas ainda mais.
Mexi nas minhas malas, deixando-as perto da porta já que,
provavelmente, eu iria colocá-las no quarto dele mais tarde, e comecei a ir
para a escada. Foi aí que notei o vaso gigante de lírios orientais na mesa do
vestíbulo. Que estranho. Não tinha isso no quarto de Will. Coloquei minhas
roupas no primeiro degrau e fui investigar. Será que a firma tinha enviado?
Ou Will? Mas por quê? E como eles sabiam que era minha flor preferida?
Será que foram produzidos na França?
Havia um cartão ao lado dele. Peguei-o e congelei com a letra familiar.

Pensando em você, minha menininha.


Aproveite Paris, e boa sorte esta semana.
Seu,
Ryan

Li várias vezes. Ele sabia qual era meu hotel e o número do quarto. Mas,
pior que isso, aquele cartão foi escrito à mão por ele. Reconheceria essa letra
elegante em qualquer lugar. Será que ele tinha enviado junto com os lírios?
Ou pior… será que também estava em Paris?
Minhas pernas cederam quando comecei a andar. E se ele estivesse
ficando naquele hotel? Os Hotéis Mershano normalmente incluíam recibo de
entrega? Ou um recado por estar no quarto? Será que ele estava ali agora,
observando minha reação? Meu olhar revistou à minha volta de forma
fervorosa e, de repente, a suíte pareceu grande demais. Ele poderia estar em
qualquer lugar. No quarto, me esperando, no banheiro, em um armário…
O medo me paralisou, impossibilitando que eu me movesse, que
começasse a procurá-lo. Será que ele realmente tinha me seguido até Paris?
Aparecer sem anunciar em meu apartamento já era ruim o suficiente, mas
aquilo era total obsessão. Como ele tinha mudado de me deixar em paz por
meses a me perseguir até outro país? Será que ele suspeitava de meus
sentimentos por Will?
— Oh, Deus — sussurrei.
O primeiro homem com quem saí depois de Ryan estava com serviço
inativo por apenas dois meses quando recebeu uma ligação pedindo que
retornasse. Eu não sabia muito sobre militares, mas sabia que aquilo não era
uma coincidência, principalmente quando Ryan deixou um recado debaixo da
minha porta dizendo: Que pena. E fiquei sabendo que Afeganistão está
particularmente brutal neste momento.
Meu segundo encontro foi mais aleatório e de apenas uma noite. Uma
semana depois, vi um jornal na minha mesa de centro com um artigo
circulado. A manchete era “Homem assaltado perto do Parque Millennium”,
e a foto mostrava o homem com quem eu tinha ficado no bar. Ele estava vivo,
mas machucado. Por minha causa.
E agora Will…
Lágrimas escorreram por minha face. Não. Eu não poderia deixar nada
acontecer a ele. Não por me conhecer. Não era justo. Apertei meu estômago
quando explodi em soluços tão fortemente que não conseguia respirar. Eu
odiava Ryan mais do que nunca naquele instante. Mais do que a primeira vez
em que ele me bateu, ou todas as vezes que ele me sufocou até eu ceder, ou
até a vez em que ele me fez desmaiar. A tortura emocional era sua pior
punição, tinha me mudado irrevogavelmente, mas o medo de ele machucar
Will quase me matou.
Não apenas gosto dele; eu realmente gosto dele, percebi. Talvez até o
ame.
Percebi isso de maneira tão clara que minhas lágrimas pararam
temporariamente. Sabia que gostava dele e me importava com ele, mas era
muito maior que isso.
Minha afeição por ele morava em um lugar dentro de mim onde ninguém
mais entrara, nem Ryan. Will havia lutado para eu confiar nele, para eu me
render totalmente e, de alguma forma, havia me cativado ainda mais do que
nós dois esperávamos. Ou talvez ele soubesse. Talvez ele até sentisse o
mesmo. Ele tinha mais que provado que aquele não era um simples jogo de
afeição por ele; do contrário, eu teria acabado nua debaixo dele duas noites
antes. E seus comentários na cama dele e no avião sinalizaram seu
comprometimento inflexível.
Minhas mãos tremiam enquanto eu as pressionava nas têmporas e
balançava no chão. Não importava como Will se sentia naquele momento. O
que importava era como eu me sentia e o que eu estava disposta a fazer para
protegê-lo.
A opção óbvia era fugir, voltar correndo para Ryan e pedir perdão. Se o
bajulasse o bastante, talvez ele esquecesse aquele contratempo. Teria que
desistir do meu cargo na firma, e essencialmente da minha vida, mas manteria
Will em segurança. Amor era sacrifício, e eu faria o extremo ao desistir de
toda a ilusão da felicidade. Mas amor também poderia ser força e unidade e
confiança.
Confiança.
“— Vai confiar de novo, Rachel.” As palavras de Will da outra noite
iluminaram meu coração. Ele as disse com muita convicção, muita promessa.
Ele acredita em mim.
Mas será que eu conseguia acreditar em mim mesma?
Minhas lágrimas secaram conforme fiquei ali deitada buscando a força de
que precisava. Pedir ajudar sempre me deixava sentindo inferior, como se eu
não conseguisse lidar com isso sozinha e tivesse que depender de outros. Mas
era uma vantagem reconhecer quando uma situação ia além do controle e
exigia ajuda.
Aquelas flores acima da minha cabeça eram uma indicação do quanto
aquela situação já estava fora de controle. Saber que ele poderia estar na
França, ou naquele exato hotel me observando, era loucura! Ele havia perdido
a cabeça. E voltar para ele com o rabo entre as pernas apenas validaria mais
suas atitudes. Eu não poderia fazer isso, não sobreviveria.
Olhei em volta, meio que esperando que Ryan estivesse em pé vitorioso,
mas me vi sozinha. Minha bolsa estava esquecida no vestíbulo perto da
minha mala. Rastejei até ela, sem me importar de como isso destruía minha
meia-calça. O cartão que eu queria estava onde deixei três anos antes. Não
fazia ideia se o número ainda existia, mas, conhecendo Mark, existia. Minha
mão tremia quando apertei cada botão em meu celular. A ligação me custaria
uma pequena fortuna, já que estava em outro país, mas não tinha outra opção.
Precisava de ajuda, e algo me dizia que ele sabia que esse dia chegaria.
Tocou uma vez, depois alguém atendeu sem falar nada.
— Mark? — Essa era minha voz? Eu soava destruída. Com muito medo.
— Por favor, me diga que é você. Porque eu não tinha certeza se tinha a força
ou a coragem de ligar de novo.
— Onde você está? — Seu tom profundo me fez chorar de novo.
— Paris.
— Está em perigo imediato?
Olhei em volta para o quarto vazio e estremeci.
— A-acho que não. — Se Ryan estivesse ali, já teria saído do
esconderijo.
— Me dê cinco minutos — ele respondeu e desligou.
CORAGEM PARA CONTAR
TUDO
Will provavelmente queria saber por que estava demorando tanto, mas ele
não pressionou quando lhe disse que precisava de mais meia hora. Quando
Mark me ligou de volta precisamente cinco minutos depois, foi de outro
número que não reconheci. Ele soltou um assobio baixo agora que terminei
de lhe contar tudo sobre o último mês e o suposto casamento. Também lhe
contei sobre como Ryan lidou com meus encontros anteriores, e tudo dos
últimos anos.
— Não sei o que fazer — sussurrei. — Não posso deixar que ele
machuque Will.
Mark ficou quieto por tanto tempo que pensei que o tivesse perdido. Mas
um olhar na tela mostrou que nossa conexão ainda estava ativa.
— Vou precisar fazer umas pesquisas — foi sua resposta vaga. — Nesse
meio tempo, precisa contar ao Mershano o que está havendo. Se esse
psicopata estiver em Paris, o que é uma possibilidade bem real, então ele
precisa saber da situação. Não pode mais guardar tudo isso para você, Rachel.
— Ele disse a última frase com reprovação e serviu como a única indicação
de que ele estava decepcionado por eu guardar isso por tanto tempo para
mim.
— Ele vai pensar que sou louca. — Ou pior. Pode me achar fraca por sair
com Ryan.
— Não, vai pensar que você é corajosa — Mark corrigiu. — Está pedindo
a ajuda dele em vez de correr de volta para o Albertson como uma covarde.
Sua declaração me fez encolher. Ele e meu irmão nunca amenizavam as
palavras, o que supus ser o motivo de eles serem melhores amigos.
— Você estava se perguntando por que ele aumentou a perseguição no
último mês — ele continuou. — Fácil. O pai senador de muito tempo dele
está prestes a deixar o cargo, e Ryan quer o emprego, mas ele precisa de uma
esposa primeiro. Os eleitores amam os valores deles de família, e ele se
candidatar solteiro não vai cair bem. Você é uma ação política para ele, e que
ele pensa poder controlar.
— Porque deixei que me controlasse muito tempo — finalizei por ele, me
encolhendo.
— Sim, e não. Homens como Albertson gostam de um bom desafio. No
minuto que você ceder às exigências dele, ele vai ficar entediado, mas
também precisa te dominar e o tempo está correndo, por isso o desespero. E
isso torna um homem com fome de poder como ele perigoso. Precisa contar
ao Mershano. Ele tem os recursos à disposição dele para mantê-la segura; do
contrário, estarei no próximo voo para aí.
— Isso é pedir muito dele. Tipo…
— Não é, não — ele me cortou. — Parece que você não percebeu com
quem está namorando.
— Mas não estamos namorando. Estamos…
—Você está namorando. Pare de arranjar desculpas e fale com ele. Isso é
uma ordem, Dawson.
Bufei para isso.
— Você é tão mal quanto Caleb. — Ele costumava mandar em mim o
tempo todo quando criança, e, pensando assim, Mark também.
— Não, sou muito pior que seu irmão. Agora vá falar com o Mershano.
Entrarei em contato quando souber mais coisa. — Ele desligou sem mais
explicação. Pulei quando alguém bateu à porta nem um segundo depois. Meu
coração acelerou, depois parou, me fazendo ficar surda. E se fosse Ryan? Eu
não tinha trancado a porta. Se ele tivesse a chave, poderia entrar.
Percebi meu medo quando o deslize de um cartão penetrou meus ouvidos.
Comecei a recuar atrapalhadamente, quando escutei o tom profundo de Will
chamar: — Olá?
Um gritinho escapou da minha boca quando o alívio me fez deitar no
chão, seguido rapidamente por vergonha. Oh, Deus. Isso é me ver na pior…
A confiança de Mark de que Will me acharia corajosa se desintegrou aos
meus pés. Eu devia estar parecendo meio louca deitada ali com a meia-calça
rasgada, o cabelo bagunçado, e as roupas amassadas. Sem contar meu rosto…
Tentei esconder nos braços e apertei os joelhos contra o peito.
— Jesus, que porra aconteceu? — As mãos de Will estavam em mim um
segundo depois, fazendo-me encolher por reflexo. Ele recuou imediatamente,
o que só me fez querer rastejar mais e berrar.
— Rachel — ele murmurou. — Fale comigo, meu amor. Está
machucada?
Balancei a cabeça e mordi o lábio tão forte que senti o gosto de sangue.
Me abrir sobre isso para Mark tinha sido difícil, mas aquilo parecia como
abrir meu peito. Por onde eu poderia começar? E se isso mudasse a forma
como ele se sentia ou agia? Ver pena em seus olhos me destruiria. Era a
última expressão que eu queria ver nele. Todo o calor reprimido e os olhares
insinuantes e comentários eram do que eu gostava. Eles desapareceriam
assim que ele soubesse a verdade.
Pare de arranjar desculpas e fale com ele, a exigência de Mark se repetia
em minha mente. Ele tinha razão. Eu precisava contar a Will, não para pedir
que ele me ajudasse, mas então ele poderia se ajudar. Alertá-lo sobre Ryan
era a melhor maneira para eu proteger Will. Ele não poderia se defender
contra uma ameaça desconhecida, mas poderia potencialmente impedir uma
conhecida.
Expirei demoradamente e lutei para ter a coragem de que precisava para
explicar. Minhas mãos tremiam tanto que precisei uni-las para impedir que
meus braços vibrassem.
— Por favor, fale comigo, Rachel — ele sussurrou. A dor em sua voz
martelou minhas costelas, perfurando até meu coração. Deus, ele pensava que
era por causa dele. Claro que pensava. O que mais poderia ter me deixado
assim em tão pouco tempo? Quase dei risada desse absurdo. Mas foi a
respiração funda dele, seguido por um suspiro trêmulo, que me fez parar.
Estilhaçar sua confiança de forma tão irrevogável que ele não apenas temia
me tocar, mas também se continha de falar? Não, não era nada justo com ele.
Ele merecia mais, muito mais.
Engoli em seco, minha garganta reagindo contra as bolas de algodão
invisível. Precisei tentar duas vezes para pigarrear para poder começar e,
mesmo assim, minha voz vacilou.
— Preciso te c-c-contar sobre meu ex.
Will se manteve em silêncio enquanto eu lhe contei como conheci Ryan,
quando começamos a namorar, como as coisas começaram como um conto
de fadas e acabaram um desastre, e então como ele se recusou a aceitar que
não estávamos mais juntos. Detalhei o que aconteceu com os dois únicos
homens com quem me associei depois de nosso término, expliquei por que
parei de namorar e, então, mostrei a ele as mensagens em meu celular das
últimas semanas.
— E agora, acho que você também pode estar correndo perigo — concluí
com um gesto para as flores e o cartão no chão. Ele se levantou e foi até lá
para ler. Eu não tinha percebido o quanto ele esteve perto de mim no chão até
o calor de seu corpo sumir, deixando-me trêmula. Ele sentara ao meu lado
com as costas contra a parede, braços cruzados pendurados nos joelhos
flexionados, escutando com uma expressão ilegível.
A pena que eu esperava nunca veio, o que me ajudou a equilibrar os
sentimentos. Meus olhos queimavam de ter chorado muito, e provavelmente
eu parecia um gato afogado, mas pelo menos o choro copioso tinha parado.
— Sinto muito por arrastar você nisso — sussurrei. — Sinto tanto, tanto.
— Mordi o lábio para impedir que tremesse. Nem pensar eu iria desmoronar
de novo.
Will colocou o cartão na mesa e foi na minha direção com uma expressão
que eu nunca queria ver direcionada a mim. Fúria. Eu merecia isso por
colocá-lo naquela situação, mas doía mesmo assim. Pelo menos não era pena.
Meus olhos se fixaram nas minhas mãos conforme ele se agachou diante de
mim. Foi covarde, mas eu não conseguia suportar ver o que viria em seguida.
Acusações, gritos, culpa…
— Rachel. — Seu tom suave não combinava com sua expressão
ameaçadora que eu vira segundos antes. Nem o toque leve em minha mão. —
Nunca mais se desculpe por ele.
Não era isso que eu esperava que ele dissesse. A confusão se misturou
com minha inquietação, fazendo-me franzir a testa. O quê?
— Você não me arrastou para nada, e nada disso é sua culpa. — Ele
gentilmente ergueu meu queixo para encontrar seu olhar. Era menos violento
do que eu esperava, mas a raiva coloria seus traços e pressionava seus lábios.
— Obrigado por me contar. Por confiar em mim.
— Não está bravo? — perguntei incrédula.
— Oh, estou furioso, mas não com você. — Ele segurou minhas faces e
encarou fundo em meus olhos. — Você é uma mulher forte, Rachel. Contar
para mim como acabou de fazer? Sei que não foi fácil. O que penso é que
estou orgulhoso e indignado com sua coragem. — Seus polegares passaram
sob meus cílios conforme ele me deu um beijo suave contra a testa. — Acha
que ele está em Paris?
Limpei a emoção da garganta.
— Não sei. Mark está pesquisando para mim.
— Mark?
É mesmo. Ainda não tinha chegado naquela parte.
— Lembra como eu disse que era mais próxima do melhor amigo do meu
irmão do que meu irmão? — Quando ele assentiu, continuei. — O nome dele
é Mark. Foi ele que me ajudou a fugir de Ryan da primeira vez. — Estremeci
com a lembrança. A dor. Will se acomodou diante de mim, com os joelhos
me envolvendo como uma jaula protetora, me defendendo de meu passado.
Me pressionei nele, desejando sua gentileza.
— Eu te contei que ele, R-Ryan, preferia dor emocional em vez de física,
mas no dia em que fui embora… — Tossi de novo para acalmar a incerteza
borbulhando dentro de mim. Estou segura. — Essa, bom, essa foi a primeira
vez e única que ele me espancou. — Apertei meu estômago por instinto, e
Will observou meu movimento. — Ele me bateu primeiro, me obrigando a
deitar, depois me chutou tão forte que quebrou minha costela e tirou o ar de
mim. Depois ele… — Esfreguei o pescoço.
— Ele te sufocou — Will murmurou.
— É. Era uma das formas preferidas dele de… de… dor. Mas daquela vez
ele não soltou e, quando acordei, ele tinha sumido. — Tinha sido a
experiência mais aterrorizante da minha vida, não conseguir respirar e ver
aquele olhar mortal nos olhos dele que diziam que ele nunca pretendia me
soltar. Pensei que ele fosse me matar naquele dia. E, quando não o fez, jurei
nunca estar naquela situação de novo.
— Nem consigo me lembrar do que o deixou bravo, algo sobre eu
trabalhar muitas horas, mas nunca o tinha visto tão bravo. Liguei para Mark
naquela noite, disse que precisava de ajuda, e ele me buscou. Nunca
perguntou nada, mas ele sabia, e ofereceu seu apartamento como um porto
seguro. Ele é do FBI, ou é o que diz, e viaja muito. Funcionou por alguns dias
até Ryan me encontrar. Ainda não sei como, mas suspeito que ele me seguiu
para casa do trabalho.
Balancei a cabeça, sem querer divagar.
— Enfim, te contei o resto, sobre como ele nunca aceitou que não
estamos mais juntos. E, como pode ver, ainda acha que sou dele. — Acenei
para as flores de novo.
— E Mark está verificando se Ryan está em Paris?
— Isso. Ele tem acesso a certos recursos, por isso penso que essa história
dele de FBI é mentira.
Não que fosse relevante para aquela conversa — bom, não muito, de
qualquer forma.
— Liguei para ele quando vi as flores. Ele me deu um cartão com seu
número misterioso para ligar se um dia precisasse dele depois do que
aconteceu três anos atrás, e eu não sabia mais o que fazer, então usei-o.
— Foi a coisa certa a fazer, embora ainda não tenha certeza do que ele vai
fazer.
Apesar da nossa conversa medonha, tive que sorrir.
— Nunca sei o que Mark vai fazer, mas confio nele.
Will me analisou por um momento demorado e assentiu.
— Então também vou confiar nele.
— O quê?
— Se você confia nele, eu confio nele. — Tão simples, tão sincero. —
Agora, o que mais ele disse?
— Ãh, ele mandou que eu contasse para você porque você tem recursos, e
ele se sentia confortável o suficiente com isso para não pegar o próximo voo
para cá. — Franzi o cenho com aquela última parte. Eu ficara tão envolvida
na parte “Contar para Will” que não havia pensado no comentário irreverente
dele em pegar um voo para a França. Típico de Mark dizer isso.
— Já gostei dele — Will murmurou. — E ele tem razão. Preciso fazer
algumas ligações, mas quero passar nosso dia como se nada disso tivesse
acontecido.
Assustei.
— Como assim?
— Se Ryan estiver em Paris, então precisamos que ele ache que são
negócios normais entre nós. Vai mantê-lo mais calmo e, felizmente, racional,
que é um termo que uso com cuidado em relação a ele. — A expressão que
ele fez teria me feito rir se não estivéssemos falando de Ryan. — Vamos
manter nossa rotina — ele continuou. — Vamos às compras, passear um
pouco e, talvez, jantar em algum lugar. Ele não vai fazer uma cena em
público, porque é um político e é mais esperto que isso. Então vamos
aproveitar nosso dia, o melhor que podemos, e não deixar que ele estrague
sua primeira viagem para a França.
— Você está falando sério.
— Muito.
— Quer que eu finja que não tenho um ex perseguidor maluco me
caçando?
— Isso.
— E se ele aparecer?
— Deixe que eu cuido disso.
Comecei a balançar a cabeça.
— Você não entende, Will. A família dele tem conexões com todos os
tipos de pessoas e organizações governamentais, e não acho que todas elas
são legais. — Alguns dos amigos da família que conheci enquanto
namorávamos não pareciam o tipo de amigos que Ryan teria feito no
Escotismo.
Ele me olhou sério.
— Você acha que tenho medo de uma família influente?
Certo. Ok.
— Mas a família Mershano tem um negócio internacional. A vida inteira
de Ryan é construída nas costas de políticos, que não é a mesma coisa. Eles
não jogam limpo.
Will bufou.
— Acredite em mim, eles são mais parecidos do que imagina. Não tenho
medo dele, Rachel. Ele pode ter muitos amigos, mas eu também tenho e,
querida, quando o assunto é você, nunca vou jogar limpo.
O olhar em seus olhos quando ele disse aquelas últimas palavras foi tão
feroz que não consegui me mexer, nem respirar. Puta merda. Não conseguia
decidir se gostava daquele olhar ou se deveria temê-lo. A intensidade
emanava dele conforme ele continuava a me estudar, permitindo que eu visse
um lado mais firme dele que se escondia por trás de seu charme. Esse era o
homem criado por um império influente, aquele que andava em círculos
similares aos de Ryan.
Engoli em seco. Aquele olhar serviu como um lembrete do quanto eles
poderiam ser parecidos e também demonstrava como eram diferentes um do
outro. Ryan se regalava com o dinheiro de sua família e não trabalhara duro
nem um dia de sua vida, enquanto Will lutou por tudo que tinha apesar de ter
acesso a um caminho fácil. Um escolheu a política, enquanto o outro
escolheu desafiar a si mesmo a tentar algo novo.
— Ok — concordei.
— Ok em ter um dia normal? — ele perguntou, esclarecendo.
Assenti.
— Sim, o mais normal possível.
Suas covinhas apareceram pela primeira vez desde que ele entrou em meu
quarto.
— Oh, entendo totalmente isso como um desafio, querida. Juro que não
vai pensar em nenhum homem exceto eu no fim do dia.
Só Will encontraria uma maneira de tornar essa situação algo quase
divertido. Quase sorri, mas eu ainda não achava isso. O fato de eu estar tão
perto, no entanto, me dizia que ele não teria problema em cumprir sua
promessa. Mesmo assim, não poderia deixá-lo vencer fácil assim.
— Tão convencido.
— Confiante — ele corrigiu. — Agora, que tal você vir até minha suíte
para tomar banho e se trocar enquanto falo com alguns dos meus amigos. —
Ele enfatizou a palavra meus para que eu soubesse o que significava. Ryan
não é o único com contatos.
Ele se levantou e estendeu a mão para me ajudar a levantar. Fui sem
hesitar.
Confiança, ele dissera na outra noite. Eu não tinha entendido o que ele
queria dizer, mas agora entendia. Ele sabia o tempo todo que eu estava
escondendo alguma coisa, que eu estava prestes a me abrir — mas me
afastava — e agora todas minhas barreiras tinham sido quebradas. Sem mais
lutas, sem mais me esconder. Era hora de viver de novo. Livremente.
DESFILE DE MODA
Analisei o vestido no espelho e franzi o cenho. Will estava certo quanto a
ser uma distração fazer compras. Saí e estreitei os olhos para sua forma
relaxada no sofá. Porque é, aparentemente, aquela butique de designer para a
qual ele me arrastara tinha uma sala de estar formal para homens ricos.
— Não. — Tive que dizer a princípio. O vestido era adorável; se
acomodava em minhas curvas de uma forma sutil que ainda o tornava
apropriado para o trabalho, e o azul se destacava na minha pele. Até chegava
aos joelhos, o que era um comprimento respeitável. Mas não valia nem um
pouco a etiqueta.
Ele me olhou com um interesse aguçado.
— Ah, sim.
— Me diga de novo por que este é melhor do que meu tailleur.
— Porque é francês.
— Ainda não entendi a lógica.
— Moda e aparência são uma marca na França, e até mais no ramo
profissional. — Quando ergui a sobrancelha, ele continuou. — Os sócios
franceses se vestem com status e sucesso, o que significa que precisamos
aparecer estilosos. Por isso… — Ele acenou a mão para meu vestido.
Franzi os lábios.
— Claro que há lojas menos caras.
— É lógico, mas, na França, você compra o melhor que pode pagar.
Arrá!
— Bom, eu não posso pagar isso. — Que pena. Comecei a me virar,
quando a réplica dele me congelou no lugar.
— Talvez, mas eu posso, e você está diretamente associada comigo como
minha conselheira legal. Vamos comprar o vestido e os dois que você provou
antes.
Caramba. Eu tinha amado os dois também, mas estava deixando-os de
lado por causa do preço.
— Vamos precisar de sapatos também, e lingerie, claro. Presumindo que
você queira mais meia-calça? — Mesmo sem olhar para ele, eu sabia que ele
estava olhando as que estavam nas minhas pernas.
— E o que você vai comprar? — Ele tinha que provar alguma coisa ou
procurar suas próprias roupas. Passamos a manhã em um café perto da Torre
Eiffel, depois fizemos uma longa caminhada em volta para passear antes de
vagarmos para aquele lugar ao que ele se referia como a melhor região para
compras de toda Paris. O que ele queria mesmo dizer era “mais cara”. Apesar
de as roupas serem lindas.
— Está ansiosa para me ver desfilar algumas coisas para você? — ele
zombou.
Olhei por cima do ombro para ele.
— Na verdade, sim. Estou. — Se ele quisesse me distrair do assunto
Ryan, deveria desfilar nu para mim. Eu não conseguiria pensar em mais nada
com toda aquela perfeição musculosa à mostra.
O desafio iluminou seus olhos.
— Vou desfilar para você se você desfilar para mim.
Será que eu disse a parte da nudez em voz alta ou ele acabou de
interpretar isso em meus olhos?
— Mas estou desfilando para você. — Gesticulei inocente para o vestido
na tentativa de ver sua reação.
— De lingerie — foi sua simples resposta. Minhas faces coraram.
— Isso não é uma troca justa.
Seus cotovelos se apoiaram nos joelhos conforme ele se inclinou na
minha direção.
— Como quiser, de roupa ou sem. Você que escolhe.
— Qualquer coisa que eu escolher? — repeti. — Tem certeza de que quer
jogar esse jogo comigo, Mershano?
— Absoluta, porque eu que vou selecionar a lingerie com que você vai
desfilar. — Meus lábios se abriram com sua ousadia. Seu olhar correu por
mim faminto quando complementou: — Não se preocupe, querida. Vou
escolher meias-calças para você também.
Quando ele disse que queria esquecer o que aconteceu naquela manhã,
pelo menos durante o dia, não estava brincando. Eu esperava todo tipo de
bizarrice entre nós, mas ele me tratou exatamente como sempre fazia. Sexy
como sempre. Pensei em sua oferta. Havia algumas peças ridículas na
primeira loja em que fomos. Vê-lo em uma daquelas valeria muito a pena
algumas poses em lingeries escolhidas por ele.
— Fechado — eu disse decisivamente. Ao menos seria um jeito divertido
de passar nossa tarde, e eu estava determinada a fazer justamente isso.
Depois de refletir sobre os acontecimentos da manhã, concluí que Ryan
estava tentando me manipular. Queria arruinar aquela viagem para mim, e
sabia que a melhor maneira de fazer aquilo era me assustar com a submissão
através de um gesto bizarro romântico. Ignorar as flores em meu quarto e
aproveitar o dia era o oposto do que ele queria. Sair do hotel hoje com a
cabeça erguida desfez um nó do controle de Ryan porque, em vez de me
afundar no medo, decidi viver. Suspeitava de que Will já soubesse disso tudo,
e era por isso que sugeriu que nos aventurássemos.
Ele pagou os vestidos e pediu que um carro os levasse ao quarto dele do
hotel. Não tínhamos cancelado a reserva que estava em meu nome, mas não
tínhamos a intenção de usá-la.
Antes de sairmos naquela manhã, o Hotel Mershano confirmou que as
flores foram entregues na recepção e levadas ao quarto. Will deu aos
funcionários uma foto de Ryan e lhes pediu para ser notificado
imediatamente se vissem alguém parecido com meu ex andando por lá. Eu
não estava lá durante a conversa, mas vi a reverência feita para ele quando
partimos. Ele pode não ser da gerência do hotel, mas eles sabiam quem ele
era e o respeitavam.
— E aqui? — Will disse quando passamos por uma boutique para
homens. Um olhar nas vitrines mostrou uma ostentação de opções divertidas
para seu futuro desfile de moda.
Abri a porta enquanto respondia: — Oh, isso será divertido.
Trinta minutos mais tarde, Will seguiu para o provador balançando a
cabeça enquanto eu me acomodei no sofá macio. Um alfaiate perfeitamente
vestido ficou em pé por perto, pronto para auxiliar Will com qualquer terno
que ele pretendesse comprar. Eu escolhi alguns, principalmente porque ele
ficava maravilhoso neles, mas também escolhi alguns cachecóis e roupas
coloridas só para zoá-lo. Então ele saiu em uma das combinações esquisitas,
e fiquei boquiaberta.
Não. Podia. Ser.
— Não é justo — sussurrei. A combinação pink e laranja parecera
ridícula no manequim e, mesmo assim, de alguma forma, ficou boa nele. Ele
enfiou as mãos nos bolsos do jeans justo e deu um giro lento que chamou
minha atenção para sua bunda linda. — Vou precisar que fique exatamente
assim por, no mínimo, dez minutos.
Ele encontrou meu olhar no espelho.
— Virar o jogo é justo, querida.
Analisei suas costas. Admirar aquela vista em troca de desfilar de lingerie
como em uma passarela?
— Vale a pena. — Se estivesse com meu celular, teria tirado uma foto,
mas o deixei no hotel com minha bolsa. A última coisa que eu queria era que
Ryan tivesse uma forma de me encontrar.
Will deve ter sentido a reviravolta em meus pensamentos, porque fez uma
dancinha que teria me feito rir se aqueles jeans não estivessem tão apertados.
Em vez disso, minha garganta ficou seca.
— Você precisa comprá-los.
Ele bufou.
— Não são práticos.
— Eu não ia recomendar que usasse enquanto trabalha na vinícola,
Mershano.
Ele ergueu a sobrancelha.
— É? Venha aqui um segundo.
— Ãh, por quê?
— Quero te mostrar uma coisa.
Não confiava naquele olhar ou tom inocente. Ele estava planejando algo.
Me levantei do sofá macio e fiquei em pé diante dele. Will pediu ao alfaiate
uma taça de champagne em francês, o que interpretei que ele quisesse um
instante de privacidade. O cavalheiro mais velho assentiu e sumiu, deixando-
nos sozinhos no provador.
— Tire. — Seu tom profundo me atingiu em todos os lugares certos.
— Seu jeans? — Uma pergunta idiota. Obviamente era isso que ele
queria dizer, mas não poderia estar falando sério. Analisei suas pupilas
dilatadas e engoli em seco. Ok, é, ele não estava brincando. — Aqui? — Saiu
como um sussurro.
— É. — Nenhum sinal de piada, e se era para levar em conta sua
protuberância debaixo do zíper, ele realmente queria que eu tirasse sua calça.
Não era o lugar que eu esperava que acontecesse, mas a natureza proibida
de seu comando provocou um arrepio de prazer em minha espinha. Will nu?
Sim, por favor. Subi as mãos por suas coxas, adorando a sensação de seus
músculos se tensionando no caminho. O calor emanava dele, encorajando
minhas atenções. Seu pau duro pulsou debaixo de meus dedos enquanto senti
todo seu comprimento impressionante até o botão de ouro. Abriu com
facilidade, e desci o zíper e revelou sua cueca azul-marinho.
Olhar ali me fez lamber os lábios.
— Eu aprovo. — Principalmente já que era a que eu tinha escolhido com
suas roupas.
— Continue. — O desejo envolveu seu tom e escureceu seu olhar. Ele
não precisou me pedir duas vezes. Só que, quando tentei abaixá-la, ela mal se
mexeu. Coloquei mais força e senti uma onda de frustração quando ainda não
cooperaram.
— Algum problema? — ele perguntou em voz baixa.
Franzi os lábios quando o objetivo daquele jogo se tornou óbvio. Quando
ele se referiu à praticidade, quis dizer que era muito apertada para aproveitar
os benefícios. Era uma propaganda enganosa. Ei, olha o que ofereço, mas
boa sorte ao tentar alcançar.
— Pelo menos fica bonita vestida — resmunguei.
— Mas qual é o objetivo se não consegue tirá-la?
Oh, eu conseguia, mas iria arruinar o momento. Assim como aconteceu
naquele instante. Semicerrei os olhos para ele.
— Você venceu esta rodada, Mershano. Próxima roupa.
— Sim, madame. — Ele inclinou o chapéu inexistente para mim de novo
e desapareceu atrás da cortina. Dei uma risadinha quando ele demorou mais
de dez minutos para se trocar, o que foi exatamente na hora em que o alfaiate
voltou com a champagne. Suspeitei que ele demorou mais do que o
necessário para nos dar privacidade.
Will o agradeceu e colocou a taça de lado para ajeitar o colarinho da
camisa no espelho. Me deu uma ótima visão de sua parte de trás, que estava
perfeita como sempre no terno escuro. O azul-marinho era quase preto, e o
paletó caía perfeitamente nele, embora o alfaiate tenha feito alguns
comentários sobre o comprimento do braço em francês. Eles conversaram por
muitos minutos conforme o homem de cabelo branco media as costuras da
calça, do braço e alguns outros lugares interessantes. Quando ele terminou,
Will olhou por cima do ombro para mim.
— Esperando um elogio? — zombei. Não que seu ego precisasse.
— Sempre.
Revirei os olhos.
— Você está maravilhoso e sabe disso.
Ele sorriu largamente para mim.
— Maravilhoso?
— Lindo, gostoso, de dar água na boca, delicioso. — Falei todos, cada
um aprofundava suas covinhas nas faces. — Oh, que seja. Nós dois sabemos
que seu ego não precisa de mais bajulação.
— De você? Sempre gosto de bajulação. — Ele deu uma piscadinha e
desapareceu por trás da cortina para provar muito mais roupas, todas elas
igualmente esplêndidas.
— Bom, pelo menos você tem um emprego backup caso essa coisa de
vinícola não dê certo — eu disse depois de sairmos. Ele deixou seus ternos
com o alfaiate, prometendo voltar pela manhã para a prova final. Aquele tipo
de demora não poderia ser normal, principalmente já que o dia seguinte era
domingo, mas a loja pareceu mais do que feliz em acomodá-lo.
— É, e qual é? — Will perguntou, referindo-se ao meu comentário de
emprego backup.
— Modelo. — Ele poderia facilmente trabalhar na indústria da moda ou
estrelar uma daquelas revistas masculinas de moda.
Ele deu risada e balançou a cabeça.
— Acho que vou continuar com minha vinícola, querida. — Seu braço se
apoiou em meus ombros quando ele me puxou para perto. — Mas voto em
vermos como você se sai como modelo de lingerie.
Zombei disso.
— Ãh, seria mais adequado para Sarah. — Ela tinha curvas em todos os
locais certos, enquanto as minhas eram muito magras para aquela indústria.
Eu tinha a altura certa, e talvez até as pernas, mas meus seios não eram tão
empolgantes.
— Eu julgarei — ele disse quando entramos em nossa última loja. Will
cumprimentou a dona e me apresentou como “amiga” que precisava de pelo
menos duas semanas de roupa íntima. Tudo foi em francês, o que estava igual
ao resto de nossa viagem até então, incluindo sua lista de itens desejados de
lingerie. Aparentemente, ele sabia de roupa íntima feminina melhor que eu,
algo no que não quis pensar muito.
Franzi o cenho quando a vendedora começou a empacotar tudo que ele
pediu.
— Não vou provar primeiro? — Ele já tinha provado saber meus
tamanhos, então não deveria ter me surpreendido, mas esperava que ele
pedisse que desfilasse primeiro com elas.
— Oh, você vai. Mais tarde. — Ele me olhou com um olhar que
enfraqueceu meus joelhos. Fome misturada com promessa naquelas
profundezas escuras e fez meus pensamentos seguirem direto para o sul. —
Ainda me deve um desfile de moda, Rachel. E pretendo cobrar isso em breve.
Meus lábios se separaram, mas não tinha palavras. Ele não poderia estar
falando…
— Eu cumpri minha parte do trato — ele continuou naquele murmúrio
profundo. — Não é minha culpa que você tenha escolhido a loja como
locação.
— Não é justo — consegui sussurrar.
Ele sorriu para isso.
— Te avisei, querida. Com você, nunca jogarei justo. Agora, aonde
vamos jantar?
DOCE LIBERDADE
Will manteve sua promessa. Quando voltamos ao hotel, Ryan era a última
coisa que estava em minha mente. Então meu celular apitou quando entramos
na suíte.
Muitas emoções se amontoaram em mim de uma vez, deixando-me
zonza. Pânico, irritação e fúria lutavam enquanto movia as pernas trêmulas na
direção da bolsa na mesa de jantar.
— Rachel?
— Estou bem — respondi. E, estranhamente, percebi que isso era
verdade. O medo deformado daquela manhã se esvaiu ao longo do dia,
deixando uma raiva fervilhante no lugar. Ryan queria me lembrar de seu
controle à distância e usou a tática que sabia que iria me desequilibrar. Queria
arruinar aquela experiência para mim, e potencialmente minha carreira no
processo. Sem a Baker Brown, eu não teria nada. O que ele esperava? Que
pedisse ajuda a ele? Logo eu me mudaria para Indiana.
Peguei meu celular e rolei pela enorme quantidade de mensagens de texto
com um gemido.
Bom saber que seu voo chegou bem. Te amo.
Recebeu minhas flores?
Onde você está?
Por que está me ignorando?
As mensagens continuavam. Eu as li em transe até uma mensagem
aleatória com foto apareceu de um número privado. Um recado curto a
acompanhou.
Ele ainda está em Chicago. — MK
Analisei a foto de Ryan e mostrei para Will.
— É ele fora do prédio dele. Não está em Paris.
— Mark enviou para você?
— Enviou. — Eu não fazia ideia de como ele tirou a foto, mas se ele
disse que Ryan ainda estava nos Estados Unidos, então acreditaria nele. —
Não explica o recado. — O que me deixou um pouco inquieta, mas pelo
menos meu ex maluco não estava andando por Paris.
— Tem certeza de que é a letra dele?
— Absoluta. — Sua caligrafia assombrava meus pesadelos. — Ele que
escreveu. — Rolei pelo resto das mensagens, procurando algo relacionado ao
trabalho, e desliguei quando não encontrei nada. Não responder a Ryan era o
certo. Ele detestava quando o ignorava, e geralmente aumentava seus
esforços para me contatar depois disso, mas não poderia me tocar ali. Pelo
menos não em breve. Ou talvez nunca mais.
Contar a Mark e Will naquela manhã sobre Ryan foi um dos momentos
mais difíceis da minha vida, mas, mesmo assim, confessar a eles tinha me
mudado de forma fundamental. Machucou primeiro, muito, porém, conforme
a dor diminuiu, uma sensação de leveza me tomou. Minha consciência
finalmente estava limpa, e pela primeira vez no que parecia uma eternidade,
eu não estava sozinha.
Encontrei o olhar gentil de Will e senti o último pedaço de gelo se
quebrar dentro de meu peito. Aquele homem, aquele homem teimoso e
confiante, tinha me libertado. Ele conseguiu tirar meu comportamento frio
com sua consistência calma. Posso ter começado como um desafio para ele,
mas em algum lugar pelo caminho, aquela conexão entre nós criou raízes e
algo lindo.
Seu polegar secou uma lágrima de minha face que eu não tinha sentido
escorrer.
— Rachel…
Pressionei o dedo em seus lábios.
— Não diga nada. Por favor. Preciso disso. Preciso sentir.
Porque eu tinha ficado muito tempo sem sentir. Ryan havia me
aterrorizado em um nível de submissão do qual nunca conseguia escapar, até
aquele dia. Até eu pegar o celular e ligar para Mark. Até confessar a Will.
Parecia há muito tempo embora tivesse sido naquela manhã. Mas aquela
mudança estava chegando há muito tempo. O processo começou quando
cancelei o noivado, mas então fiquei estagnada até conhecer Will. Ele me
desafiou em um nível que ninguém o fizera, e então esperou pacientemente
que eu o visse. Para entender o que poderíamos ser, se eu permitisse.
Apesar de seu flerte infinito, ele nunca me pressionou a fazer nada que
não quisesse, e estava até disposto a se afastar de mim e da firma quando
sentisse que sua interferência tinha ido longe demais. Me irritou na época,
mas sua perseguição implacável reacendeu o fogo em minha alma,
lembrando-me de quem eu era, e me deu algo pelo que valesse a pena lutar.
E, com isso, veio a coragem de que precisava para finalmente quebrar o
controle de Ryan. Porque foi isso que aconteceu naquela manhã. Seu ataque
inicial me jogou no chão, mas eu me recompus e decidi me ajudar em vez de
me afundar, e ganhei minha liberdade com isso.
E, agora, eu conseguia sentir de novo. Totalmente. Completamente.
Infinitamente.
Joguei os braços em volta do pescoço de Will e fiquei de ponta de pé para
beijá-lo. Tudo que senti, toda a felicidade, tristeza, medo, raiva e paixão
reprimida, passou da minha boca para a dele, e ele aceitou tudo. Sua mão
passou em meu cabelo, segurando-me para ele conforme ele retornava o favor
com a língua, me dizendo sem palavras que ele entendia.
Ele me levantou do chão e me colocou na mesa. Meus joelhos se abriram
conforme ele se colocou no meio deles, subindo minha saia, e me devastou
com sua boca. Não demorou muito para ele assumir o controle, não que eu
me importasse. Obedecer a seu toque de comando parecia certo. Ele sabia o
que eu queria, do que eu precisava, e eu confiava nele para me trazer isso.
Minhas pernas pinicaram quando ele trilhou os dedos para cima da minha
meia até as ligas. Ele não queria soltá-las, mas as explorou por completo. As
carícias leves contra a parte interna de minhas coxas não foram suficientes.
Eu queria a fricção a muitos centímetros para cima, e meus seios estavam
implorando pela libertação. Muitas roupas me separavam dele. Eu precisava
sentir tudo que ele tinha a oferecer.
Enganchei as pernas em suas coxas para obrigá-lo a se aproximar e desci
as mãos por suas costas até sua bunda dura. Quando o apertei, forte, ele deu
risada.
— Impaciente? — ele zombou.
Mordi seu lábio inferior em resposta e deslizei as mãos para a parte
inferior de seu abdome. Ele não disse nada quando desabotoei sua camisa e a
tirei. Aquilo o deixou com uma camiseta justa branca que mostrava todos
seus músculos deliciosos. Gemi em frustração quando ele segurou meus
punhos e os travou ao lado de meu quadril contra a madeira.
— Minha vez. — As palavras foram ditas contra meu pescoço conforme
ele começou a me beijar até minha blusa. Seus olhos travaram os meus
quando ele desabotoou com habilidade o primeiro botão com os dentes.
Puta merda, isso é excitante. Ele continuou a descer até meu abdome,
nunca hesitando. Quando o último botão se abriu, ele soltou meus punhos e
tirou o tecido por meus braços, depois o jogou no chão.
Sua boca provocadora brincava no decote da minha camisola,
mordiscando e lambendo e me deixando louca. Tentei de novo tirar sua
camiseta, e ele me deixou desta vez, e meu top se juntou ao dele, deixando-
me apenas de sutiã preto de renda.
— Hummm, para você saber, ainda me deve um desfile de moda
adequado. — Seu olhar ardente prendeu o meu. — Mas aprovo totalmente
esta prévia.
Brinquei com os dedos em seu abdome, explorando cada espaço firme e
quadradinho.
— Você não é o único que aprova — dei um beijo molhado contra seu
peito e lambi até seu pescoço. Ele tinha gosto de sexo, tempero e pecado,
tudo embrulhado em um laço masculino. — Me leve para a cama, Will —
sussurrei. — Por favor.
Ele segurou meu quadril e me arrastou para a beirada da mesa então meu
ponto sensível ficou alinhado perfeitamente com sua excitação. Me contorci
contra ele, mas ele me segurou conforme seu olhar tenso capturou o meu.
— Eu quero, mas, se fizermos isso, vamos fazer direito, e vamos lutar por
isso. — Seus lábios sussurraram nos meus como um carinho suave que me
deixou querendo muito mais, mas ele não tinha terminado. — Quando
fizermos isso, Rachel, você será minha. Assim como eu serei seu. Não haverá
mais ninguém. Você entendeu?
Minha. Eu gostava disso. Não era tão possessivo, mas mais uma
promessa que ele queria que nós dois fizéssemos.
— Você quer compromisso.
— Quero.
— E a longo prazo. — Ele não disse isso, mas inferiu pelo tom e
comentários anteriores.
— Totalmente. — Não houve hesitação em sua voz ou expressão, embora
estivesse me estudando intensamente. Não poderia culpá-lo. Nós dois
sabíamos que, há uma semana, eu teria recusado rapidamente. Caramba, dois
dias antes, eu teria dito não. Mas a martelação incessante de Will destruiu a
barreira que cercava meu coração, libertando-o para sentir pela primeira vez
em anos.
E apenas pareceu adequado ele ser quem eu queria. Com quem eu sentia
confortável o suficiente para tentar outro relacionamento. Em quem eu
acreditava que não me machucaria.
Engoli as palavras lutando para sair de minha boca. Eu queria dizer muita
coisa, muito que precisava que ele soubesse, entendesse, mas nada poderia
transmitir os sentimentos se acumulando dentro de mim. Mostrar a ele era a
única opção. Beijei-o e soltei meu caos interno, minha ansiedade, a
fragilidade natural da minha confiança nele, e o sentimento estarrecedor que
tomava minha alma. Saiu de mim como uma tempestade, e minha língua foi o
transmissor. Ele aceitou tudo, sua boca reagiu com gentileza, conforme ele
engolia meus medos mais sombrios e reafirmava seu lugar ao meu lado.
Nosso abraço começou como uma enxurrada de paixão que evoluiu em
algo sombriamente íntimo quando ele desceu levemente o zíper da minha
saia. Deixou minha calcinha preta de renda exposta atrás. Ele traçou os dedos
por ela e gemeu.
— Sua propensão a lingerie acaba comigo, querida. — Ele me levantou
da mesa pela bunda e me colocou de pé. Balancei o quadril e a saia caiu no
chão, e então eu estava no ar de novo com as pernas em sua cintura. Seus
lábios capturaram os meus de novo, continuando de onde parou, enquanto ele
me carregava para o quarto. Meu coração acelerou com a demonstração de
força e confiança, depois se esgotou quando ele me deitou na cama. Me
apoiei nos cotovelos a fim de admirar a vista quando ele tirou primeiro seu
cinto, depois aquela calça sexy. Sua cueca boxer preta mal continha sua
ereção.
Isso estará em mim em breve… Apertei as coxas com um gemido quando
imaginei a cena. Todos aqueles músculos trabalhando enquanto ele se move
sobre mim…
— Caralho.
Ele deu risada e foi até a cama.
— Essa é a terceira vez que você diz isso na minha cama. Estou prestes a
aceitar essa oferta. — Seus lábios se fecharam em meu mamilo através da
renda, fazendo-me arquear para ele. Nunca estive tão excitada na vida, e
ainda nem estávamos nus.
— Will… — Foi metade pedido, metade irritação. A preliminar estava
me matando.
— Paciência — ele murmurou, trocando os seios. Eu precisava tirar o
sutiã. Raspava minha pele sensível de um jeito quase doloroso. Abri o fecho
nas costas e rapidamente vi meus dois punhos capturados pela mão dele
acima da minha cabeça. Ele fez “tsc”. — Isso é o oposto do que eu disse,
querida.
Envolvi as pernas em sua cintura e me esfreguei nele.
— Essa sou eu não dando ouvidos. Me foda, Mershano.
Chocolate derretido começou a descer sobre mim, e minhas coxas se
apertaram com ansiedade. Merda. Will em um bom dia era lindo, mas aquilo?
Era. Tão. Incrivelmente. Gostoso. Eu queria pular de alegria quando ele tirou
meu sutiã e abriu meus braços. Então o senti amarrar meus punhos com a
renda. Um olhar para cima mostrou que ele estava amarrando minhas mãos à
cabeceira. Com a porra do meu sutiã. Puxei por instinto, mas o tecido não
cedeu.
— O que está fazendo?
— Finalizando minha exploração — ele respondeu com uma mordidinha
no meu pescoço. — Sem se contorcer, linda. — Com ele em cima de mim
como um gato predador? É, tá bom. Mas, quando tentei mexer os quadris
para encontrar os dele, ele me segurou com as mãos nas coxas e, então,
chupou meu mamilo profundamente.
— Oh! — Aquela língua habilidosa dele desenhou círculos nas formas
mais deliciosas. Sentir aquilo no meu clitóris… Minhas pernas tremeram com
esse pensamento. — Mais — implorei.
Ele me ignorou e lambeu até meu outro seio a fim de recomeçar a tortura
sensual. Eu estava toda trêmula quando sua língua desceu por minha barriga e
foi para cima da minha calcinha. Aquelas malditas mãos me impediam de me
inclinar para cima como queria e, quando ele pulou o lugar de que eu mais
precisava dele, resmunguei. Seus dentes arranharem a parte interna da minha
coxa em resposta, seguido por beijos molhados que eu queria que estivessem
um pouco mais para cima.
— Hummm, gostaria de que isso ficasse — ele murmurou ao mordiscar
ao norte da minha liga. — O que significa que — ele continuou, suas mãos
deslizando para segurar minha calcinha de renda nas laterais — que isso tem
que sair.
Arfei quando ele a puxou e arrebentou o elástico. Minha calcinha
arruinada desapareceu conforme ele a jogou sem se importar por cima do
ombro.
— Você… — Minha reclamação acabou em um gemido quando ele
lambeu minha pele exposta até o ponto em que eu mais precisava.
— Seu gosto é maravilhoso. — Seu murmúrio íntimo me deixou dolorida
na forma mais carente possível. — Espere, Rachel. Vou te devorar.
Ele conduziu sua língua e, oh, aquela boca dele não decepcionou. Deu ao
meu centro quente o mesmo tratamento que meus seios, só que desta vez ele
lambeu mais e usou os dentes para arrancar meus tremores.
A tensão iniciou em meu corpo, enrijecendo meus membros e levando
lágrimas aos meus olhos. Parecia que ele tinha me provocado por uma
eternidade com seus infinitos jogos de ansiedade, e agora toda aquela emoção
culminou intensamente dentro de mim.
Seu nome era tanto uma bênção como uma maldição na minha língua até,
finalmente, eu sentir — aquela sensação indescritível de alegria aparecendo e
formigando minhas terminações nervosas. Quando vacilei à beira da
explosão, Will se afastou, fazendo-me gritar de frustração e desejo. Minha
visão ficou escura com a insanidade daquilo e, quando finalmente me
concentrei de novo, foi que o vi ajoelhado por cima de mim. Nu.
E, uau, ele era um espécime e tanto. Não tinha visto toda aquela imagem
no avião, e agora que estava deitado ali diante de mim, não conseguia
respirar.
— Hummm, atente-se a esse pensamento, querida. — Ele colocou uma
camisinha que veio só Deus sabe de onde, o tempo todo me observando
naquele jeito sabido dele, e depois se abaixou e apoiou nos cotovelos ao lado
da minha cabeça. Seu membro quente estava contra meu centro dolorido
conforme ele me beijava com uma veneração que me deixou trêmula debaixo
dele.
Soltou minhas mãos e eu imediatamente enfiei os dedos em seu cabelo.
Parte de mim queria puxar as mechas, furiosa por ele me deixar esperando,
enquanto a outra parte precisava ficar mais próxima dele. Me esfreguei nele
desesperadamente até sua mão segurar meu quadril. Meus lábios se abriram,
um protesto na ponta da língua, e então sua glande grossa estimulou minha
entrada.
— Ainda está comigo? — ele respirou contra meu pescoço.
— Estou. — Envolvi meus tornozelos meio vestidos nele, puxando-o para
perto, mas ele se segurou ali por um tempo, um minuto agonizante. Então sua
mão deslizou de meu quadril para o topo de meu sexo e até a protuberância
sensível.
Mordi o lábio para não gritar com o toque inesperado. A tensão que ele
iniciou com sua língua apenas alguns instantes antes voltou em mim com a
força que tirou o ar de meus pulmões. Me sentia ferida, pronta para explodir,
e sua língua traçando meus lábios não estava ajudando. Seu peito musculoso
parecia o paraíso contra meus mamilos duros, e ter sua excitação tão perto da
minha provocou choques elétricos por minhas veias. Tremores violentos
correram meu corpo conforme as sensações me sobrecarregavam para um
nível de dor, e então sua boca estava na minha orelha.
— Liberte, Rachel. — Sua barba por fazer contra meu pescoço, junto com
suas palavras, perfuraram minha barreira e me levaram para o limite em um
abismo infinito de êxtase. Ele tirou a sensação com seu polegar e capturou
meus gemidos com a boca. A dor se misturou com o prazer quando ele
penetrou em mim, e meu corpo tremeu de novo em uma alegria confusa.
Todos os pensamentos se estilhaçaram quando ele começou a penetrar mais
fundo do que achei ser possível. Sua mão deslizou para minha bunda e
inclinou meus quadris para cima a fim de encaixar suas investidas poderosas.
— Não pare — arfei, implorando. Eu já podia sentir um segundo orgasmo
se formando dentro de mim.
— Nunca, querida. — Seus lábios estavam em minha orelha. — Nunca
vou parar.
Aquele ponto, oh, aquele ponto. Ele acertava a cada flexionada de seus
quadris e, quando acelerou para investir repetidamente, pensei que fosse
desmaiar com as vibrações eróticas. Me movimentei com ele, buscando
fricção e pressão e precisando de mais. Ele acelerou, lançando-se em mim
com uma força que me deixou sem fôlego, e me mostrou como usava bem
aqueles músculos. A forma como se movimentava, tão rápido, tão forte, tão
poderoso, me desfez de uma maneira que eu não sabia que era possível.
— Toque-se — ele exigiu. — Agora.
Coloquei a mão entre nós e massageei meu clitóris com dedos trêmulos e
gemi. Era exatamente do que eu precisava, mas meu cérebro não dera o
comando. Ele apertou minha bunda e aumentou o ritmo a um nível que eu
não conseguia acompanhar e me levou ao esquecimento. Meus gritos com
certeza podiam ser ouvidos por todo o hotel, mas eu não estava
envergonhada. Will merecia todo o aplauso do mundo.
A mão em minha bunda me apertou nele conforme ele me levou ao
clímax, sem parar nenhum instante e arrancando cada vez mais de meu
prazer. Cravei as unhas em suas costas, regalando-me nos tremores pós-
orgasmo, quando ele encontrou seu alívio fundo dentro de mim.
— Porra… — Seu gemido vibrou a pele sensibilizada em meu pescoço
onde ele descansara a cabeça. O cotovelo que ele usara para se ergueu ficou
tenso, e suspeitei que ele estivesse usando cada centímetro de sua energia
para evitar me esmagar. Eu tinha uma noção suficiente restando em mim,
então envolvi os braços nele e o forcei para baixo. Seu peso em cima de mim
pareceu certo.
— Nunca mais poderá sair daqui — eu disse, minha voz mais rouca do
que esperava. Ele realmente me fez gritar durante todo o tempo.
Faltava profundidade em sua risada, o que presumi ser porque ele estava
exausto. Saber disso me fez sorrir.
— Vai querer que eu me mexa de novo em algum momento, querida. —
Ele deu uma investida superficial para fortalecer sua afirmativa, e provocou
uma onda de formigamentos na parte de baixo de meu corpo. Ok, é. Eu iria
querer que ele se mexesse de novo. Em algum momento.
Infelizmente, aquele momento chegou muito rápido quando ele rolou para
fora da cama para jogar a camisinha fora. Quando voltou com toda sua glória
nua, me apoiei nos cotovelos para analisá-lo. Cada centímetro dele era
perfeitamente proporcional e confirmava que ele tinha quase zero por cento
de gordura. Todas aquelas longas horas no vinhedo com certeza valiam a
pena.
— Continue me olhando assim, e ficarei tentado em começar tudo de
novo.
Olhei para seu membro semiduro e sorri.
— Isso é uma promessa?
Sua mão se fechou em meu tornozelo e me puxou pela cama, fazendo-me
cair de costas. Dei um gritinho quando ele beijou a parte interna da minha
coxa, e comecei a fugir, mas suas mãos me seguraram no lugar.
Seus olhos se fixaram nos meus conforme ele desenganchou minha meia
esquerda e lentamente a rolou até o joelho, depois até minha panturrilha, e
tirou pelo pé. Repetiu o processo com a perna direita, o tempo todo me
observando sob aqueles cílios grossos. Era erótico pra caramba e fez a
temperatura do meu corpo ferver. Quando tirou minhas ligas com os dentes,
mordi o lábio.
Puta merda, que tesão…
Ele se rastejou sobre mim e se apoiou com os cotovelos ao lado de minha
cabeça.
— Tenho você onde quero, srta. Dawson.
Engoli em seco.
— É mesmo?
— É. — Ele roçou meu nariz e a face e beijou toda minha mandíbula até
a orelha. — Ainda quer ir ao Louvre amanhã?
Não era o que eu esperava que ele dissesse. Conversamos sobre isso
rapidamente no avião depois de listar todas as atrações em Paris. Estava no
topo da minha lista de opções preferidas de passeios, e ele sugeriu que
fôssemos no domingo para termos o dia todo para explorar.
— Você quer ir?
— Claro. — Ele lambeu minha orelha. — E, depois, podemos parar na
loja para minha prova final, e então vamos jantar no Le Meurice.
Fiquei boquiaberta. Aquela poderia ser minha primeira viagem a Paris,
mas até eu tinha ouvido falar desse lugar.
— Está falando do restaurante no Dorchester? — Era um dos melhores
hotéis de Paris e provavelmente roubava alguns potenciais clientes dos Hotéis
Mershano.
Ele deu risada.
— É, e temos reservas para amanhã à noite.
— Isso não é trair Evan de alguma forma?
— Ei, não é minha culpa que a comida deles é melhor. — Seu tom
defensivo não combinou com a alegria curvando seus lábios. — Além disso,
é sua primeira vez em Paris. Só o melhor vai dar certo nessa situação.
Dei risada e balancei a cabeça.
— Bom, você sabe mesmo como deixar uma mulher nas nuvens,
Mershano.
Ele deu um sorrisinho.
— Acha mesmo? Espere até ver o carro que vamos alugar para nossa
viagem para o sul na segunda.
— Outra caminhonete? — zombei.
— Não.
— Algo sexy, então?
Ele me deu um olhar afrontoso.
— Minha caminhonete é sexy.
Dei um tapinha em suas costas.
— Claro que é, querido. Agora, me conte sobre esse carro. É rápido e vou
poder dirigir? — Porque era só isso que importava.
— É, e depende. O que estaria disposta a me dar em troca das chaves? —
Seu olhar baixou para meus lábios, depois voltou lentamente.
— Claro que eu poderia pensar em alguma coisa que você iria gostar. —
Balancei as sobrancelhas para ele sugestivamente.
— Tipo o quê?
— Bom, sabe, tenho certas habilidades orais, sr. Mershano, que podem
intrigá-lo.
Ele sorriu.
— Oh, estou muito familiarizado com suas habilidades argumentativas,
srta. Dawson. Mas nunca vou reclamar de você fazer melhor uso dessa sua
boca esperta.
— Cuidado, ou vou fazer melhor uso dos meus dentes também.
— Posso gostar disso.
Depois de todas as mordidas dele? É, provavelmente gostaria.
— Nem me lembro do que estávamos falando agora. — Toda essa
brincadeira sexy me distraiu.
— Tudo bem, linda. Podemos trabalhar nos detalhes de nossa troca
depois. — Ele me beijou sonoramente, depois se afastou com um sorriso. —
Sabe pelo que os franceses são famosos?
— Moda? — Se ele esperava que eu desfilasse de lingerie naquele
instante, teria uma surpresa porque eu não tinha intenção de sair logo daquela
cama.
Suas covinhas se aprofundaram conforme ele interpretou minha
expressão corretamente.
— Não se preocupe, querida. Pode desfilar para mim depois. Eu estava
falando de sobremesa.
— Eu gosto de sobremesa.
Ele me deu um beijo.
— Então vou pedir uma para comermos na cama antes do segundo round.
— Segundo round? — Eu nem estava perto de me recuperar do primeiro
round.
O desejo dilatou suas pupilas.
— Oh, querida, aquilo foi só um aquecimento. Vai entender depois de
comermos a sobremesa.
CONFLITO DE INTERESSE
Analisei a foto em meu celular. A mulher linda de cabelo castanho-escuro
usava uma roupa estilosa, propositalmente para ser capturada em uma foto
como aquela. Seus dedos enluvados estavam em volta do pescoço de meu ex-
noivo quando ele se inclinou para sussurrar algo em seu ouvido. Eu
reconhecia bem o sorriso dele. Ele o usava quando queria encantar alguém, e
a mulher claramente aprovava.
A mensagem de texto era a última coisa que eu esperava aparecer na
minha tela depois de viajar o dia todo de Paris para Nice, mas eu sabia que
viria algo em seguida porque Mark não me contatara desde minha confissão
no sábado. Até agora.
— O que estou olhando? — perguntei.
— Essa é Bianca Jenkins — Mark respondeu pelo viva-voz. — Esposa do
senador Jenkins.
Ergui as sobrancelhas. Não apenas reconhecia o nome, mas tinha me
encontrado muitas vezes com o homem.
— Ele é um dos maiores apoiadores de Ryan.
— É, e parece que a jovem esposa dele o apoia ainda mais. — Seu tom
curioso indicava sua diversão com a escolha das palavras. — Mas fica ainda
melhor. — Outra foto apareceu no meu celular: Bianca grávida. — Seu
comentário sobre ele te deixar em paz por seis meses não combinava com o
perfil dele, então parti daí, e adivinha quem engravidou durante o tempo em
que ele parou de te perseguir?
Will soltou um assobio ao meu lado. Ele estava com um braço pendurado
no encosto do sofá, mas seu foco estava no celular em minha mão. A
mensagem de Mark tinha chegado assim que entramos em nosso novo quarto.
— Acha que o bebê é dele? — adivinhei.
— Afirmativo. — Sua voz pareceu se engrossar quando continuou. —
Essa é a quarta esposa de Jenkins em vinte anos, e nenhuma das anteriores
ficou grávida. Controle de natalidade é totalmente possível, mas aposto que
ele é infértil. Além disso, a linha do tempo bate. Essa primeira foto é de uma
câmera de segurança de um hotel tirada há oito meses, bem quando ela ficou
grávida, enquanto o marido estava convenientemente em outro estado.
— E ele não suspeita de nada? — O senador Jenkins não era um homem
ignorante. Ele precisava saber.
Mark bufou.
— Ele é um arrogante filho da puta que acha que casou quatro vezes por
causa de seu charme, ou talvez só precisasse de uma esposa que fosse vinte
anos mais jovem. Quem sabe? Mas não é ele que está em questão. É muito
convencido para uma esposa namoradeira, e foi provavelmente por isso que
ele não se importou quando ela pediu para ficar no Madison depois das férias
enquanto estava grávida. Jenkins estivera em DC enquanto Albertson havia
cuidado particularmente de toda, ãh, necessidade de Bianca. — Ele parou
para me deixar absorver aquilo antes de continuar.
— Então foi por isso que ele te deixou em paz. Tinha outras coisas com
que se preocupar, como uma mulher grávida que poderia arruinar sua
carreira. O que me leva ao segundo motivo para acreditar que ele é o pai…
Ele a pressionou para abortar a criança.
Franzi o cenho.
— Como sabe disso?
— Relatórios médicos que não foram apagados como ele pensou. O nome
dele pode não estar no papel, mas há uma conexão financeira que sugere que
ele pagou por muitas consultas. De qualquer forma, estou confiante de que
ele seja o pai, e vamos saber com certeza em algumas semanas.
— Ok. — Mordi o lábio inferior e encontrei o olhar de Will. Só de tê-lo
ali me deixava tranquila de uma forma que não sabia que era possível.
Principalmente quando se falava no Ryan. Minha reação emocional parecia
amenizar a cada nova mensagem ameaçadora. A última chegou duas horas
antes, e simplesmente a ignorei. Toda vez que apagava uma das mensagens
de Ryan, me sentia poderosa e ganhava uma lasquinha de controle de volta.
As poucas vezes em que suas palavras acertaram meu estômago, dei uma
olhada para Will e senti minha força de novo. A confiança irradiava dele,
envolvendo-me com um conforto que não sentia há anos.
Pigarreei.
— Ok — repeti. — Então isso explica a ausência dele, mas por que está
me incomodando de novo?
— Porque ele precisa de uma esposa. — A resposta rápida de Mark
enviou um arrepio em minha espinha. — Seus chefes de campanha estão
pressionando-o sobre isso também, por isso a sensação de desespero em suas
atitudes. Ele também não está animado que a sua posse favorita está agindo
por fora e transando com um concorrente.
— Mark! — Não podia acreditar que ele tinha acabado de dizer isso. Só
que, é, na verdade, podia. Ele não media as palavras, mas mesmo assim… —
Não… Eu não… Só… — Meu rosto estava pegando fogo e balancei a
cabeça, incapaz de responder a isso. Porque uau. Simplesmente uau.
— Então o que sugere? — Will perguntou, falando pela primeira vez.
Faltava o divertimento de sempre em seu tom e havia uma urgência nele que
eu não sabia se gostava. Os pelos de meus braços dançaram em resposta.
Perigo. Ele colocou o braço em volta de meus ombros e me puxou para mais
perto para me dar um beijo no pescoço que dissipou um pouco da tensão em
meus membros.
— Ainda não sugiro nada, Mershano. O caso dele com Bianca é
suficiente para destruir sua carreira política, mas Albertson ainda é
amplamente conectado. São suas outras conexões que quero explorar mais
um pouco antes de dar as opções a Rachel.
Will passou a mão para cima e para baixo em meu braço.
— Ligado à máfia? — ele perguntou.
— Algo assim — ele respondeu vagamente. — Entrarei em contato
quando souber mais, Rach.
Eu ainda estava tentando engolir o comentário da máfia, então consegui
dizer “Tá” em resposta.
— Oh, e Mershano? Hernandez é uma boa contratação, mas não o irrite.
Ele tem um maldito gancho de esquerda. — Mark desligou sem uma
despedida formal. A risada de Will em resposta me confundiu quase tanto
quanto o homem no telefone.
— Quem é Hernandez?
— Um dos membros de nossa segurança na França. Ele foi das Operações
Especiais, em que suspeito que seu amigo esteja envolvido porque não tem
como ele ser do FBI.
Como eu já suspeitava que ele não fosse do FBI, me concentrei na
primeira informação.
— Nós temos uma segurança? — Ele nunca mencionou nada sobre
contratar alguém para nos vigiar, nem eu os notara.
— Temos, e foi Rick Hernandez que contratei para organizá-la. Ele tem
dois homens no hotel que ainda não conheci, mas planejo conhecer esta noite.
— E eles vão o quê? Nos seguir até nossa reunião?
— Vão, e para onde mais formos enquanto estivermos na Europa.
— Isso é um pouco demais, não é? — Entendia a preocupação dele, mas
guarda-costas nos acompanhando para um monte de reuniões chatas era
extravagante. Ryan era obcecado, não burro. Ele nunca atacaria durante uma
negociação da empresa.
— Sua segurança é tudo para mim, Rachel. — Ele segurou meu queixo e
me forçou a olhar para ele. — Nunca mais vou deixar aquele babaca encostar
em você. Entendeu?
Um arrepio percorreu a minha nuca. Tão intenso.
— E o que acontece depois?
— Depois? — ele repetiu. — Depois do quê?
— Depois de irmos embora da Europa. — Era algo que eu não queria
pensar nos últimos três dias, mas em certo momento teria que voltar a
Chicago. Para trabalhar, para meu apartamento, para Ryan…
— Concordamos na outra noite que isso não é a curto prazo. Quando
voltarmos, voltaremos juntos. Nós lutaremos, lembra? — O tom severo de
Will me lembrou daquele dia na sala de reuniões com os sócios. Charmoso,
mas no comando de toda forma que importava sem brecha para negociação.
Eu não pretendia discutir com ele, mas havia coisas que ainda não havíamos
conversado.
— Precisarei mudar para um novo projeto, e duvido que minha equipe de
gerenciamento vai receber com gentileza meu envolvimento com um cliente.
— Me encolhi com a última parte. Era muita coisa para minha reputação
profissional.
Ele pigarreou.
— Sobre isso… Lembra quando Garrett foi para Chicago e nos reunimos
com os sócios?
Olhei de canto de olho para ele. Como se pudesse esquecer aquela manhã
em que acordei na cama de Will e conheci um dos melhores advogados do
Sul nem trinta minutos depois.
— Lembro.
— Parte de nossas negociações envolviam adicionar uma cláusula de
conflito de interesse em relação ao meu relacionamento pré-existente com
você. Um acordo com o qual concordei e assinei antes de começar a trabalhar
com você no projeto.
Meu sangue correu fervente quando uma enorme quantidade de
sentimentos batalhou.
— Eu… Seu… Porra! — Não conseguia decidir se estava furiosa ou
aliviada. Raiva parecia estar vencendo, porque meus punhos se apertaram e
meus olhos se estreitaram.
— Antes de você explodir comigo, lembre-se de que minhas intenções
com você nunca foram um segredo. Eu não ia contratar sua firma sem te
proteger. Sua carreira significa tudo para você, e com razão. Nunca
prejudicaria isso, Rachel. Nunca. Então pode ficar brava comigo o quanto
quiser, mas fiz a coisa certa, mesmo que tenha mentido um pouco e dito que
já estávamos namorando.
— Você foi presunçoso — corrigi. — Esperando que eu namorasse você?
E dizendo que já estávamos saindo desde o começo? — A fúria venceu o
alívio. As palavras dele e a determinação foram cem por cento claras, mas
sua perturbação arranhou minha última terminação nervosa.
— Oh, caralho… — Aquela conversa que tive com os sócios um dia
depois de ele assinar o acordo teve um significado totalmente diferente e fez
muito mais sentido agora. Tinha pensado que eles estavam falando do
relacionamento de Evan e Sarah, mas não. Estavam se referindo ao conflito
de interesse entre Will e eu. Porque ele contou a eles que já estávamos
saindo. — Você é inacreditável pra caralho, Mershano.
Sua risada só me enfureceu mais. Reagi sem pensar e avancei nele, mas
me vi de costas debaixo dele no sofá.
— Ok, primeiro! Eu sabia que isso era inevitável. E segundo, o acordo foi
formulado de um jeito que implicava minha conexão pré-existente com você,
não seu compromisso comigo. Você admitiu há meses que admirava o dom
de Garrett com as palavras. Acredite em mim quando digo que ele aplicou
isso em meu acordo com a Baker Brown.
— Não importa. Os sócios deduziram do jeito que você pretendia. —
Deus, eu era muito idiota. Eles até ofereceram para eu ler, mas,
ingenuamente, eu disse não.
E o que você teria feito? Boa pergunta, porra.
— Claro que deduziram, mas eles te trataram diferente nas últimas
semanas por isso? Porque eu me lembro de Janet te elogiando naquela
reunião por telefone na sexta. Eles respeitam você pra caramba, Dawson. E se
acha que um relacionamento comigo vai afetar sua carreira, então precisamos
trabalhar a sua confiança.
Olhei zangada para ele.
— Não é sobre a minha confiança, mas, sim, sobre você supor coisas.
— Nunca foi uma suposição. Nossa atração sempre foi mútua, e sabe
disso.
Bufei para isso.
— Acredite no que quiser. — Só disse isso porque ele tinha me irritado, e
ver sua expressão mudar de divertido para decepcionado me deixou
arrependida na hora.
— Negar isso não nos ajuda a seguir em frente. — Seu tom suave me
acertou nas entranhas, mas foram suas palavras seguintes que perfuraram
meu coração. — O que faz é desmerecer nossa conexão e nos levar para trás,
e isso é o oposto de lutar, Dawson. E não o que concordamos em fazer. —
Ele se afastou de mim e saiu da sala de estar.
Minha boca se abriu e fechou. Não sabia o que dizer. O que começou
com uma tentativa de conversa sobre nosso futuro explodiu em um desacordo
sobre a presunção dele.
Falar da natureza de nosso relacionamento com minha firma por trás de
mim me irritou, mas, mesmo assim, os motivos dele foram genuínos. Ele
queria me salvar de uma situação ainda mais vergonhosa de ter que conversar
com os sócios sobre um relacionamento sexual com Will durante o projeto.
Ao mencionar isso antecipadamente, ele manteve sinceras nossas
interações e também salvou minha reputação. Os sócios provavelmente
pensavam que Will selecionou a firma por causa do nosso relacionamento, o
que era essencialmente verdade. Não éramos íntimos até recentemente, mas
já tínhamos uma conexão, que eu tinha acabado de negar.
Coloquei a mão na testa e soltei a respiração. Controlar qualquer aspecto
da minha carreira me lembrava muito de Ryan, só que, diferente do meu ex,
Will o fez com as melhores intenções. Os sócios me trataram diferente, mas
de maneira positiva. Sabiam meu nome e foram diretamente envolvidos em
meu trabalho, e minha carreira nunca esteve em um lugar melhor. Sempre
tive as habilidades, mas nunca a oportunidade para brilhar, e Will me dera
isso.
Seu excesso de zelo me irritava com frequência, mas também baixava
minha guarda. O homem fez de tudo para quebrar minhas barreiras e me
convencer a arriscar com ele. Adicionar a cláusula de conflito de interesse
também mostrava que ele se importava em me proteger das consequências de
dormir com meu cliente. E isso implicava que ele pensou nas implicações a
longo prazo, não a curto prazo.
Lutava por nós a todo momento, e eu tinha jogado um balde de água fria
em nossa primeira conversa. Admitindo, foi bastante, mas não foi
imperdoável. Will era um homem que sabia o que queria e ia atrás, e ele
nunca se desculparia por fazer o que precisava para alcançar. Mesmo que
incluísse admitir nosso relacionamento para outros antes de confirmar
comigo. Porque, no fim do dia, ele tinha razão. A atração sempre esteve ali
do segundo em que ele pisou no meu escritório todos aqueles meses antes.
Serviu como um motivo principal para recusar suas propostas de trabalho e o
motivo pelo qual eu deveria ter exigido da firma para não me colocar no
projeto dele.
Passei a mão pelo rosto e me levantei. Suas últimas palavras reverberaram
em meu peito conforme segui o caminho que ele fez até a cozinha do quarto.
Ele estava apoiado no balcão, concentrado no armário. Um copo de um
líquido âmbar estava deixado de lado, me surpreendendo. Will sempre bebia
vinho. Sempre. A linha tensa de seus ombros estava ainda mais proeminente
em sua camisa branca. Ele tinha arregaçado as mangas até o cotovelo,
expondo seus antebraços musculosos conforme segurava na superfície de
mármore.
— Nunca quis te pressionar — ele disse naquela mesma voz suave de
alguns minutos antes. — Mas sabia que você veria assim. Só queria evitar
complicar sua carreira. — Ele pegou o copo e terminou de beber, depois o
deixou na pia.
Segurei seu braço quando ele tentou passar.
— Will…
— Foi um longo dia, e preciso de um minuto antes de me encontrar com a
equipe de segurança. Pode me repreender mais quando eu voltar. — Ele soou
derrotado e, quando saiu da cozinha sem nem olhar para mim, meu coração
doeu. O homem confiante que eu tinha passado a adorar agora não estava em
nenhum lugar. Será que ele pensava que isso iria me levar a terminar as
coisas entre nós?
O ruído da porta ecoou pelo quarto agora vazio, quando ela se fechou.
Parecia uma resposta para minha pergunta não dita.
Pela primeira vez desde que nos conhecemos, Will foi embora.
Não discutiu daquele jeito inteligente dele.
Não tentou me ganhar com um flerte ou um sorriso charmoso.
Não insistiu.
Foi embora.
LUTANDO POR UM FUTURO
Pissaladière.
Foi assim que o funcionário do Hotel Mershano chamou a pizza que
trouxe para nosso quarto trinta minutos antes. Parecia apetitosa, mas meu
estômago estava muito embrulhado para comer. Will ainda não tinha
retornado, e a refeição só servia um.
— O sr. Mershano disse para a senhorita provar este vinho — o homem
mais velho disse com um sotaque francês. A taça de vinho tinto ficou
intocada junto com a garrafa atrás dela. Meus dedos se mantiveram a
centímetros dela, mas eu queria estar com as faculdades mentais em ordem
para seu retorno.
Andei de um lado para outro na suíte de novo, andando por ambos os
quartos e saindo para as varandas que possibilitavam ver Nice. O ar ameno
não aqueceu meus braços expostos. Meu vestido azul era uma das compras
do fim de semana. Will o chamou de lindo naquela manhã antes de me
abraçar e me beijar tão forte que esqueci como me mexia. Pensar nisso me
deu frio na barriga, o que não caiu bem com os nervos alterados dentro de
mim.
— Droga. — Meu sussurro desapareceu na noite, flutuando para algum
lugar nas ruas de Nice lá embaixo. Queria admirar a vista linda, mas não
conseguia. Não por causa da falta de luz do sol, mas porque meus olhos se
recusavam a focar.
Magoei Will.
Eu, e minhas palavras nervosas.
Apesar da interferência dele, a intenção foi boa, e eu sabia disso. Mas no
momento, tinha reagido de forma irracional por uma dor profundamente
estabelecida por anos vivendo sob o controle de um homem. Will não era
Ryan. Eu sabia disso na prática, mas minhas feridas nunca se curaram por
completo.
Veio um barulho da sala de estar por trás da cortina simples, e me virei
quando Will entrou com dois homens de terno. Ele me olhou rapidamente
quando cheguei na sala, mas não me encarou ou sorriu como geralmente
fazia.
— Rachel, estes são Beau e Sam. Vão nos acompanhar para as reuniões
desta semana. — Seu tom profissional provocou um frio na minha espinha.
Eu o tinha escutado muitas vezes, mas ele não o havia direcionado para mim
em muito tempo, que era na verdade quase uma semana.
Tínhamos beijado só há seis dias? Nosso relacionamento parecia muito
mais antigo que isso. Porque me apaixonei por ele no dia em que nos
conhecemos. Agora, se ao menos eu conseguisse admitir isso em voz alta.
— Rachel? — Will falando meu nome me fez sair de meus pensamentos.
Sua testa franzida sugeria que eu tinha perdido algo que ele disse.
— Desculpe, certo. Oi. — Estendi a mão para Sam primeiro, depois
Beau. Eles estavam vestidos iguaizinhos. Sam tinha um olhar astuto e atento,
enquanto sua dupla transpirava autoridade. Ambos sorriram para mim, e o
sorriso de Sam incluía covinhas. Não sexy como as de Will, mas eram fofas e
adicionavam um charme ao esguio homem.
— Rachel, pensei que pudesse querer saber mais sobre a experiência
deles e suas funções em nossos planos dessa semana — Will murmurou. —
Então vou deixar vocês conversarem. Cavalheiros, foi ótimo conhecê-los.
Estarei no quarto se precisarem de mim. — Ele assentiu aos dois guarda-
costas e nos deixou em pé na sala de estar.
Ãh… Tentei sorrir para os homens, mas fracassei.
— Desculpe, não estou me sentindo bem esta noite.
— Não se preocupe, madame — Beau respondeu com a voz grossa. —
Hernandez nos deu uma ideia da situação antes de chegarmos, então estamos
atentos. Nós dois fomos das Forças Especiais e treinados para nos misturar
com o ambiente. Então, se estivermos fazendo nosso trabalho certo, não vai
nem nos notar.
— A menos que a senhorita precise — Sam complementou com outro
sorriso fácil. Senti que ele era o racional da dupla. — Estamos aqui apenas
como precaução, srta. Dawson. E vamos fazer nosso melhor para não te
atrapalhar.
— Ok. — Eu não sabia mais o que dizer.
— Tem alguma pergunta para nós? — Beau perguntou, seus olhos azuis
intensos.
— Humm… — Meu cérebro se recusava a funcionar. Tudo no que
conseguia pensar era o comportamento profissional de Will e a facilidade
com que se despediu. Ele saíra novamente sem me olhar, e isso deixou um
gosto amargo na minha boca. Quanto às perguntas para aqueles homens, eu
não tinha nenhuma. Will provavelmente os questionou o bastante nos últimos
noventa minutos. — Não tenho nenhuma agora.
— Muito bem, madame. O sr. Mershano sabe onde nos encontrar, então
sinta-se à vontade para chamar se precisar de alguma coisa. — Beau estendeu
a mão de novo, e o cumprimentei, seguido de Sam.
Ambos saíram depois de me aconselhar a trancar a porta. Fiz como
pediram para depois caçar o chefe deles. Encontrei-o apoiado na sacada da
suíte master com outro copo de líquido âmbar na mão. Ele não disse nada
quando me juntei a ele, e manteve os antebraços na grade com seu olhar na
cidade. Não sabia se seu silêncio era resultado de estar longe nos
pensamentos ou de não saber o que falar. Então quebrei o gelo com uma
pergunta óbvia.
— Desde quando você bebe uísque? — perguntei. E onde ele o tinha
encontrado? Ele nunca ia na cozinha. Será que tinha um minibar no quarto?
— É conhaque, que é produzido destilando duplamente vinho branco em
certas regiões da França. — Ele finalizou o copo e o colocou de lado sem me
olhar. — Tudo bem contratar Beau e Sam?
Analisei seu perfil.
— Eles são seus funcionários. Não vou dar nenhuma opinião.
— Estão aqui para te proteger, Rachel. — Ele finalmente encontrou meu
olhar, e o que vi ali roubou o ar dos meus pulmões. Incerteza misturada à
mágoa por trás de uma máscara forçada de profissionalismo. — Não quero
fazer suposições no seu lugar, então vou precisar que me fale. Está
confortável com a contratação deles ou devo pedir que Hernandez envie
novos candidatos?
Seu uso da palavra suposições foi deliberado, mas não de uma forma
acusadora ou provocativa. Minha reação à sua decisão de assinar o
documento de conflito de interesse o deixou tão incerto que ele precisava que
eu falasse agora de algo que nós dois já sabíamos que eu aprovava.
— Nós dois estamos bem com isso, Will.
Ele me analisou por um minuto, depois assentiu e voltou o foco para a
vista.
— Eles foram altamente recomendados e entrevistados. Vou avisar
Hernandez. — Essa fachada profissional precisava acabar. Coloquei a mão
em seu braço e ele ficou tenso. Sua reação chutou minhas entranhas.
— Will. — Precisei pausar para engolir o nó na garganta. — Olhe, não
estou feliz com o que fez, mas entendo por que fez. E isso evita que eu tenha
uma conversa bizarra depois de nossa viagem de negócios.
A tensão no braço dele não amenizou, nem ele redirecionou sua atenção.
Me deixou sentindo solitária e um pouco excluída. Talvez ele estivesse bravo.
— Lembra do dia em que nos conhecemos? No seu escritório na Baker
Brown? — Ele passou os dedos pelo cabelo e soltou uma risada. — Porque
eu lembro. Claramente. Entrei com certas expectativas, uma delas de a
conversa ser rápida em que você revisaria o contrato e daria a Sarah a
aprovação para continuar o programa, mas só de olhar para você já virou meu
mundo de cabeça para baixo. Acho que foram seus olhos azuis impetuosos
que me atraíram e sua boca que me incentivou para lutar.
Ele balançou a cabeça e a deixou cair para encarar as mãos.
— Meu pai amava minha mãe mais do que tudo neste mundo — ele
continuou com a voz suave. — E, depois que eles morreram, fui morar com
minha tia e tio, que têm um relacionamento totalmente contrário. A mudança
foi um pouco chocante, mas me ensinou uma valiosa lição. Me ensinou o que
eu queria da vida: uma parceira, alguém para amar do jeito que meu pai
amava minha mãe, alguém para construir um futuro junto… Demorei muito
tempo para encontrar a mulher certa, mas meu pai sempre disse que eu
saberia, que ela me daria uma rasteira com um olhar. E nesse dia no seu
escritório, as palavras dele provaram ser verdade.
Seu olhar queimava quando encontrou o meu.
— Nunca fomos simples amigos, não na minha cabeça, de qualquer
forma, e estar adiantado com a Baker Brown foi o único jeito que soube de
proteger sua carreira. Tipo, quando nos conhecemos, passei a noite no seu
apartamento. Nada aconteceu, mas eles não sabem disso. E estive te
paquerando desde então. Fingir apenas um interesse profissional seria
mentira, e me considero um homem honesto. Quis você por meses, e sei que
você me quis também, mas precisa admitir para si mesma. Há muito que eu
possa fazer aqui, Rachel. Nosso relacionamento nunca vai dar certo se eu for
o único disposto a lutar por ele.
Cada palavra batia em mim com uma força que me deixou zonza. Meus
dedos se curvaram no antebraço dele para me apoiar, ou talvez eu só
precisasse segurá-lo, porque sua postura e tom diziam que aquele era um
momento fundamental em nossa relação. Ele fizera tudo até aquele instante
para me ganhar, enquanto eu tinha feito tudo em meu poder para afastá-lo. E
naquele dia, quando neguei a declaração dele em relação a uma atração
mútua, tinha finalmente o derrubado. Podia ver em seus olhos, a derrota e a
exaustão e a dúvida pendente que isso nunca fosse dar certo. Foi um
resultado da minha recusa constante em admitir em voz alta o que eu sabia
em meu coração.
O que eu dissesse em seguida nos definiria. Se eu negasse de novo,
arriscaria que ele fosse embora. Uma semana antes, eu teria feito exatamente
isso para protegê-lo e a mim mesma, mas as coisas tinham mudado entre nós.
Naquela noite, eu precisaria contar a ele tudo ou arriscar perdê-lo para
sempre.
CONVENCENDO
Confie.
Engoli em seco e encontrei a força para fazer isso, confessar meus medos
mais profundos para um homem que poderia me destruir com facilidade.
Ajudava ele saber sobre Ryan, mas havia outras coisas que eu ainda não tinha
admitido. Não em voz alta, de qualquer forma.
— Você me perguntou se eu me lembrava do dia em que nos
conhecemos. — Ele fez uma pergunta retórica, mas imaginei que esse seria
um bom ponto de partida. — Lembro, mas foi diferente para mim. Você tinha
uma confiança que eu quis desafiar imediatamente, em parte porque está na
minha natureza fazê-lo, mas sobretudo porque me irritou. Sempre fui atraída
por homens influentes, mas, depois de Ryan, jurei nunca mais me envolver
com um. Então você apareceu, e encontrou um jeito de passar o dia e a noite
inteira comigo. Parte de mim detestou como você, sem se esforçar, se inseriu
na minha vida como se já pertencesse a ela.
Isso me deixava furiosa, mas também fascinada. Minhas faces se
aqueceram ao me lembrar disso, o quanto ele me deixou excitada e
incomodada sem nem tentar. Tossi para limpar a garganta.
— Tem razão. A atração sempre foi mútua, mas diferente de você, eu não
quis me render a ela. Ainda estou tentando sobreviver ao primeiro homem
poderoso por quem me apaixonei; não consigo equilibrar vocês dois. Não
quando você destruiu cada barreira que construí para me proteger. Você
poderia me destruir, Will. Confiar que não vai fazê-lo exige toda minha força
de vontade, mas comecei a fazer isso no segundo em que te contei sobre
Ryan.
Coloquei uma mão em meu peito dolorido e permiti que meus
sentimentos se expressassem em meus olhos. Toda a dor, o medo, o amor…
— Pode não parecer que estou lutando por nós dois por fora, mas é só
porque minha luta é aqui. — Dei um tapinha no peito para enfatizar. — Eu
sou meu maior obstáculo, mas estou tentando, Will. Juro que estou.
Ele me deu um abraço que me aqueceu por dentro e por fora. Não percebi
o quanto estava com frio até ele me abraçar, e me derreti instantaneamente
nele.
— Sinto muito — sussurrei.
— Não tem por que se desculpar, amor — ele respondeu com a voz
suave. — Eu sabia que você não reagiria bem à minha confissão, mas temia
que se afastasse. Principalmente depois de revelar tudo sobre Ryan. Sei que
forcei a barra, mas fiz isso para te proteger.
— Eu sei. — Beijei seu queixo, depois sua face. — Foi a coisa certa a se
fazer. Nada em nosso relacionamento nunca foi estritamente profissional,
mas preciso saber de uma coisa. — Me afastei para interpretar sua reação
facial. — Por que se esforçou tanto para me contratar? Por que não tentar
simplesmente sair comigo?
Ele franziu a testa.
— Porque você é brilhante. Por que contrataria outro advogado quando
poderia ter você? — Ele soou genuinamente confuso, o que me acalmou um
pouco. Significava que havia me contratado pelos motivos certos.
— Mas e Garrett? Certamente ele não se importaria de representar a
Vinhedos Mershano.
— Ele cuida da minha área pessoal. Precisava de um advogado
corporativo, e seu trabalho com o contrato de Sarah me impressionou. Achou
que só te contratei para te levar para a cama? — Essa última foi dita com um
brilho nos olhos. — Porque, embora possa ser um benefício de se trabalhar
juntos, não influenciou minha decisão. Nunca contrataria uma mulher só para
dormir com ela, e acredito que te provei que nunca precisaria disso também.
Revirei os olhos.
— Tão convencido.
— Já te mostrei que sou confiante, querida. — Ele sorriu contra meus
lábios. — Ou precisa de um lembrete?
Abri a boca para responder, e ele me silenciou com a língua. Meus dedos
do pé se curvaram pelo ataque sensual. O homem tinha uma boca dos deuses,
e sabia disso. Cada mudança habilidosa fazia meu sangue pegar fogo. Me
pendurei nele e me segurei enquanto ele me devorava. Minhas pernas se
envolveram em sua cintura quando ele me levantou do chão e me empurrou
contra a parede. Estremeci quando o ar frio acariciou minhas coxas expostas.
As mãos de Will faziam o mesmo que sua língua, acariciando e me tocando
de todas as maneiras corretas.
— Gostaria de seu lembrete aqui ou no quarto? — ele perguntou com um
sussurro.
Arrepiei quando ele pressionou sua excitação em meu centro quente. A
ranhura da renda entre minhas coxas me permitiu sentir cada pulsação de seu
pênis duro por cima de sua calça. Mal havíamos começado, e eu já estava
ansiosa para ele me tomar. Segurei seu cabelo para forçar sua boca de volta
na minha.
— Aqui — exigi antes de permitir que me beijasse. Toda a frustração de
nossa primeira briga se esvaiu em meu abraço, culminando em um encontro
de bocas que confirmou o que ele queria dizer. Eu o queria agora e para
sempre, e lutaria com ele até meu último suspiro para fazer isso dar certo. Ele
respondeu aos sentimentos com gentileza e tirou meu vestido por cima da
cabeça. Me deixou de meia-calça e calcinha. Não estava usando sutiã, algo
que ele pareceu gostar quando sua boca foi para meus seios.
— Você é perfeita pra caralho. — Suas palavras foram cheias de
veneração e me deixaram sem fôlego. — Ainda está me devendo um desfile
de moda, mas eu gostei dessa. — Ele traçou a renda azul-marinho sobre meu
quadril e desceu até minha coxa. — Vamos precisar substitui-la.
Dei um gritinho quando ele a rasgou de mim, deixando-me com nada
além de minhas ligas e meias de seda. Percebi que estava totalmente exposta
e a única coisa protegendo minha dignidade era Will. Ele ainda estava de
calça e camisa e, não sei por qual motivo, isso só pareceu me excitar mais.
Pressionei firme contra ele com um gemido.
— Preciso de você, Will. Agora.
Sua risada vibrou em meu pescoço quando ele me encheu de beijos até a
garganta.
— O que está disposta a fazer por isso? — Ele segurou minha bunda com
uma mão enquanto a outra deslizou por minha barriga.
Quando ele encostou em meu clitóris, apressei-me contra sua mão e gemi:
— Qualquer coisa.
— Qualquer coisa, humm? — Seu tom estava cheio de mistério divertido.
— Até me chamar de “senhor”? — Ele beliscou meu monte sensível de
nervos, fazendo-me ver estrelas. Fiquei arfando contra ele e desejando com
uma necessidade que só ele poderia amenizar.
— Vou te chamar de que porra você quiser se me foder agora. — Saiu
mais alto do que pretendia, mas ele estava me deixando louca.
— Foi o que pensei — ele murmurou. — Tire minha calça, Rachel.
Passei a mão por sua camisa amassada até o cinto e tremia ao tirar o
couro de seus quadris. Ele continuou massageando meu ponto sensível,
porém se negava a fazer a pressão que eu desejava. Cada carícia sensual
lançava chamas dentro de mim, mantendo-as fervendo, mas sem permitir que
borbulhassem.
— Você vai me matar — consegui dizer em um sussurro doloroso.
— Continue — ele exigiu depois que eu abri o botão de sua calça. Meus
dedos tremiam quando baixei o zíper. — Você sabe o que eu quero que faça,
Rachel. — E eu sabia, porque era exatamente o que eu queria. Libertei seu
membro pesado da cueca e o pressionei contra meu calor úmido. Ele era tão
macio e quente contra mim, tão certo. Me movimentei para posicioná-lo onde
eu queria e o senti ficar tenso. Quando ele pegou uma camisinha do bolso,
olhei desafiadoramente para ela. Proteção era importante, mas sempre
arruinava o momento.
— Estou tomando pílula — respirei. — E sou saudável.
— Vamos discutir isso adequadamente depois. — Ele rasgou o pacotinho
com os dentes e colocou a camisinha com uma mão. Sua outra mão estava
ocupada segurando minha bunda. Quando seu pau retornou à minha entrada,
estremeci. — Aguente, linda.
Envolvi os braços em seu pescoço quando ele entrou inteiro em mim.
Nenhuma cutucada ou exploração gentil, simplesmente uma foda forte e
rápida, e foi maravilhoso. Cada estocada me levava mais alto, para um lugar
onde somente Will poderia me levar. Saber que a cidade estava logo atrás do
ombro dele provocou um arrepio pecaminoso em mim e aumentou o prazer.
Parecia perigoso, e errado, e totalmente certo. Apoiei a cabeça em seu ombro
com um arrepio conforme o prazer aqueceu meu interior. Essa era a parte que
eu amava, a parte em que eu vacilava na beirada daquele mundo especial
criado por Will. Aquela cheia de alegria, paixão e maravilha. Ele me penetrou
mais forte, arranhando minhas costas contra a parede a cada investida, e
entrelaçou os dedos em meu cabelo para me obrigar a olhar para ele.
— Adoro esse seu olhar — ele sussurrou. — Entorpecida com desejo e
pronta para explodir. — Ele passou a língua em meus lábios, persuadindo-me
a abri-los, e mergulhou para dentro. Gemi em sua boca conforme ele me
tomou ainda mais forte. Ele segurou meu seio, beliscando meu mamilo,
depois baixou a mão até meu ponto sensível.
— Vai gozar para mim, Rachel? — ele perguntou. — Quero sentir você
terminar em volta do meu pau. Agora, Rachel.
Ele aplicou exatamente a quantidade certa de pressão para me elevar.
Gritei seu nome, sem me importar com quem me escutasse, e abandonei tudo.
Todas as minhas preocupações e inquietações não importavam mais. A
sensação erótica era tudo que existia, e ela rolava por meu corpo em ondas
estimulantes que Will tinha que sentir. Enterrei a cabeça em seu pescoço
conforme ele me carregou de volta para o quarto, e me assustei só um pouco
quando senti o colchão contra minhas costas. Depois estava sob meus joelhos
quando ele me colocou para cima e entrou em mim por trás.
— Oh, Deus… — Não conseguia acreditar no quanto ele estava fundo
agora, alcançando um ponto que misturava prazer e dor repetidamente, até
outra onda de êxtase me atingir. Minhas mãos seguraram a colcha quando
meu corpo estremeceu com o orgasmo inesperado, e mal o registrei tirando as
mãos de entre minhas pernas para segurar meus quadris.
— Você está maravilhosa — ele respirou. — Maravilhosa pra caralho. —
Sua mão segurou mais forte quando ele aumentou o ritmo, e eu tentei
empurrar para trás contra ele para lhe conceder mais acesso, mas meus
membros protestaram. Dois orgasmos poderosos me deixaram fraca e
esgotada debaixo dele. Meu nome saiu de sua boca em um rosnado gutural, e
ele caiu contra minhas costas com um tremor que senti pulsar entre as pernas.
Ele tirou meu cabelo da frente e beijou minha nuca enquanto seu corpo
continuou a tremer contra o meu.
— Hummm… — Ele se aninhou em meu ouvido e nos rolou de lado para
que pudéssemos ficar de conchinha. — Te convenci.
Dei risada. Ele tinha mais do que provado seu argumento com aquele
pequeno lembrete.
— Sua confiança é bem merecida, Mershano.
Seus dentes mordiscaram minha orelha.
— Pensei que tivéssemos concordado com “senhor”?
— Vou te chamar do que quiser depois disso, senhor.
— Mais uma vez. Só para eu me lembrar.
— O que quiser, senhor.
Ele deu risada.
— Provei meu argumento duas vezes, então. Excelente.
Revirei os olhos.
— Convencido, senhor.
Seu comprimento duro se contraiu dentro de mim.
— Convencido mesmo, linda. — Ele deu outro beijo em meu pescoço e
se levantou da cama para jogar a camisinha fora. Sua calça estava colocada e
de cinto de novo quando se juntou a mim na cama com uma toalhinha quente.
Por que era tão sexy estar nua perto de um homem totalmente vestido? Pulei
quando ele pressionou a toalha úmida em meu centro, e estremeci quando
outro choque me atingiu.
— Tão sensível — ele refletiu, me virando de costas para a cama. Seus
lábios encostaram nos meus enquanto ele continuava a me abrandar lá
embaixo. — Para você saber, não me importo com o que me chama. Só
queria provar que conseguiria convencer você a me chamar do que eu
quisesse.
— Aham. — Me alonguei como um gato preguiçoso e suspirei. — Espero
que não precise que eu trabalhe amanhã, porque acho que acabou comigo.
Tudo que quero fazer é ficar deitada na cama e foder o dia todo.
Sua gargalhada me aqueceu.
— Talvez possamos planejar uma viagem para depois das reuniões de
aquisição e fazer exatamente isso.
Me iluminei com a ideia.
— Sério?
— Claro. Podemos ir aonde você quiser quando esta semana acabar. —
Ele me beijou no nariz e sorriu. — Sou seu para fazer como quiser.
— Oh! — Ergui uma sobrancelha. — É uma promessa?
— Totalmente.
Gostei de como isso soou, mas me fez pensar.
— Por que a camisinha, então? A menos que… Há um motivo para
precisarmos de uma? — O pensamento não tão aleatório amargou o
momento. Ainda precisávamos conversar sobre seus relacionamentos
anteriores, e ele definitivamente tinha experiência. As mulheres praticamente
se jogavam aos seus pés. Como aquelas mulheres do hotel no mês anterior.
— Uma das coisas que adoro em você é a capacidade de interpretar
sentimentos com seus lindos olhos, mas não sei se gosto de como está me
olhando agora. — Ele se apoiou no cotovelo para me encarar. — Sou
saudável, Rachel. Meu último checkup foi há alguns meses, e você é a única
mulher com quem estive desde então. Mas não ia te foder sem proteção no
calor do momento, não sem um consentimento apropriado.
— Eu dei consentimento.
— É, induzida pelo prazer, querida. Não é a mesma coisa.
Mordi o lábio, refletindo.
— Será que eu quero saber com quantas mulheres você ficou?
Seu suspiro respondeu minha pergunta antes de suas palavras.
— Não, mas posso te dizer um número se precisar disso. O que importa
mais é que nenhum dos meus relacionamentos anteriores, independente se
foram breves ou não, se compara ao que existe entre nós. Nunca me senti
assim com ninguém exceto com você, e com certeza nunca tentei tanto
conquistar uma mulher.
Bufei.
— Isso é porque as outras provavelmente caíam de joelhos com um único
comando.
Ele sorriu para isso.
— Talvez seja verdade, mas não com você. Gostei por ter me feito
trabalhar por isso. — Ele segurou minha face e me beijou levemente. — Mas,
sim, estive com outras mulheres e namorei, mas nada a longo prazo.
Nenhuma delas era certa para mim, e me vi adorando sua companhia mais do
que a delas. Você é diferente. Pela primeira vez na vida, estou com alguém
que dou mais valor do que a Vinhedos Mershano. Você não é uma mulher
aleatória para mim, Rachel. Nunca foi e nunca será.
Meu coração se aqueceu com suas palavras.
— Acho que gosta de mim, Mershano.
Ele passou o polegar em meu lábio inferior.
— Acho que também gosta de mim, Dawson.
— Eu gosto — confirmei. — Talvez um pouco demais.
— Isso é impossível — ele retrucou, brincando. — Sou muito fácil de
adorar.
— Oh, lá vamos nós com a arrogância de novo.
— Precisa de outra lição?
Minhas coxas se apertaram com a promessa por trás de seu tom e, já que
sua mão ainda estava lá embaixo com a toalha, eu sabia que ele tinha sentido.
— Preciso comer primeiro — sussurrei, meu estômago roncando,
concordou. Sua foda completa tinha me deixado faminta depois de pular o
jantar. — Mas, depois, talvez possa me convencer sem a camisinha!
Seus olhos brilharam para isso.
— É uma promessa, linda.
NÚMERO DESCONHECIDO
Ver Will em seu ambiente a semana inteira me fez respeitá-lo ainda mais
do que já respeitava. Ele lidou com toda reunião de aquisição com atitude
profissional que admirei enquanto encantava a todos com sua sinceridade.
Por isso que o proprietário da vinícola queria trabalhar com ele. Quatro dias
de reunião, e o acordo estava praticamente fechado. Eu enviara por e-mail
cópias da papelada para Janet revisar, mas, até então, ela não havia
encontrado nenhum problema. Se tudo corresse de acordo com o plano, a
fusão avançaria no mês seguinte.
Pulei quando Will apertou minha bunda.
— Mershano! — Bati nele, dando risada.
— Com um vestido desse, o que mais você esperava?
— Você que escolheu.
Ele balançou as sobrancelhas.
— Eu sei, e mal posso esperar para tirá-lo mais tarde.
— Sr. Mershano — uma voz grave chamou atrás de nós. Nos viramos
quando Javier, o proprietário da vinícola, se aproximou no lobby do hotel.
Meu rosto ficou vermelho pelo que ele havia acabado de presenciar, mas ele
não disse nada e nem indicou que tinha visto. — Estava esperando falar sobre
uma ideia com o senhor antes de ir — ele disse com o olhar esperançoso. —
É sobre uma técnica de envelhecimento que quero tentar, mas, já que é o
senhor que vai vender o produto, gostaria da sua opinião primeiro.
— Claro. — Will olhou para mim. — Sei que precisa falar com a Baker
Brown, então te encontro lá em cima.
Certo. Janet queria que eu ligasse para atualizá-la depois das reuniões
daquele dia. Tinha passado das onze da manhã em Chicago, o que era um
horário perfeito para nos comunicarmos. Apertei a mão de Javier de novo e
segui para os elevadores com um aceno. Podia sentir o olhar de Will na
minha bunda o caminho inteiro, o que me deixou empolgada pelo que
aconteceria quando ele se juntasse a mim no quarto. Tinha a sensação de que
o jantar ficaria para depois do sexo de novo. O apetite dele era insaciável, e
não apenas por comida.
Meu celular tocou quando entrei no elevador, e olhei para ele, esperando
ser do trabalho. Em vez disso, era um número que não reconheci. Bufei e
apertei para ignorar. Como não tinha atendido as ligações de Ryan a semana
inteira, provavelmente era ele tentando de um novo número. Quando vibrou
de novo, silenciei o celular, depois fiz isso mais três vezes no caminho para o
quarto, depois percebi uma coisa. Aquilo tinha que acabar de uma vez por
todas. Finalmente eu estava feliz pela primeira vez em muito tempo, e
precisava que fosse permanente. Isso exigia que eu rejeitasse Ryan com uma
finalidade que ele não poderia ignorar.
Quando o número brilhou uma quinta vez, atendi.
— Olha, isso…
— Ele está aí. Ele está no hotel.
Ok, não era a voz que eu esperava escutar.
— Caleb?
— Rachel, me escute, ele está na porra do hotel. Você precisa correr
agora. Vai!
Seu tom urgente me congelou no corredor. Eu não falava com meu irmão
há meses.
— Do que está falando? Quem…
— Rach…
Algo duro bateu na parte de trás da minha cabeça, fazendo o celular
escorregar de meus dedos.
— O que…
Um sapato de couro caro apareceu em minha visão periférica embaçada e
pisou no celular, quebrando-o contra o piso de mármore. O pavor se
intensificou em meu pescoço quando um pós-barba familiar afetou meus
sentidos.
— Olá, putinha — Ryan rosnou ao enroscar os dedos em meu cabelo e
me arrastar pelo corredor. Minha bolsa caiu do meu braço conforme me
esforcei para me soltar dele.
— Ryan…
Ele me deu um tapa no rosto com as costas da mão tão forte que meu
mundo girou, e então envolveu os dedos na minha garganta para me impedir
de cair. Meus ombros bateram na parede com uma força que tirou meu
fôlego.
— Cale. A. Porra. Da. Boca — ele disse entre dentes cerrados, apertando
mais forte a cada palavra. — Você quer ser uma vagabunda… Vou te tratar
como uma.
Ele me puxou para a frente e começou a andar pelo corredor na direção da
escadaria.
Puta merda! Isso não poderia estar acontecendo. Cadê Beau e Sam? No
quarto deles. Claro, porque Will os dispensou depois da reunião e disse que
iria me acompanhar.
Porra.
Tentei ganhar equilíbrio com os calcanhares, para me afastar dele e
correr, mas seu aperto na minha traqueia me deixou fraca demais para lutar.
Meus pés mal me sustentavam para andar enquanto ele me puxava por dois
degraus de uma vez. Pontos pretos dançavam atrás de meus olhos conforme
eu lutava para respirar, e então eu estava sugando o doce ar quando ele me
jogou no chão de um quarto de hóspede que era significativamente menor do
que eu deveria ter entrado lá em cima.
Me curvei em uma bola quando ele me rodeou, e esperei que viesse o
primeiro chute. Ele se movia lentamente enquanto seu olhar cruel analisava
minha forma deitada. Ele bufou de desgosto, contaminando o ar silencioso
demais.
— Patética do caralho.
Arrastou uma cadeira para perto e acendeu um charuto enquanto me
analisou daquele jeito misterioso dele. Aqueles olhos azuis vívidos se
estreitaram conforme ele soprou uma faixa de fumaça que só pareceu piorar a
atmosfera sinistra.
— Sabe, as leis de comércio de álcool são inconstantes. — Ele parou para
uma tragada longa em seu charuto, aqueles olhos hostis brilhavam
descontentes na luz baixa do quarto. — Seria uma verdadeira vergonha se
alguém como Mershano cometesse um erro em um de seus muitos arquivos.
Poderia até prejudicar o imperiozinho dele, ou no mínimo atrasá-lo alguns
meses, talvez anos. Seria ainda pior, eu diria, se alguma papelada
desaparecesse. Principalmente no meio de uma aquisição internacional. Já te
contei sobre meus amigos do Departamento de Impostos e Comércio de
Álcool e Tabaco dos EUA?
Meu sangue gelou.
— Ryan…
Seu pé encostou na minha mandíbula, silenciando-me. Não foi um chute,
mas um toque severo e serviu como alerta de que ele poderia fazer pior se
quisesse. Massageei o ponto sensível com a mão e lutei contra as lágrimas se
acumulando nos olhos.
— O que eu disse sobre falar? Porra, Rach. Você é mais esperta que isso,
a menos que toda essa putaria tenha chegado ao seu cérebro. — Ele soprou
fumaça de novo, com a expressão entediada.
— Bom, pensei que seria bom para minha carreira ter uma mulher
talentosa ao meu lado, mas, aparentemente, saiu pela culatra o ato de permitir
que você trabalhasse nesse projeto. Você vai para casa comigo pela manhã, e
começaremos de novo. A primeira coisa que vai fazer é sair de seu emprego.
Todo seu tempo será focado em planejar nosso casamento e a campanha, de
qualquer forma, então isso não deve ser um grande problema. Enquanto
estiver fazendo isso, vou pedir que suas coisas voltem para minha casa.
Depois vamos começar a trabalhar em seus problemas de comportamento e
minhas expectativas.
Meu estômago se contorceu com suas palavras, e meus membros ficaram
tensos.
Não. Eu não iria a nenhum lugar com ele.
A mulher que ele costumava pressionar recuou para o fundo de minha
mente conforme a confiante que se abriu para Will avançou. Ryan não
controlava essa nova versão de mim, nem nunca controlaria. Poderia me
chutar e me bater o quanto quisesse, mas eu não me curvaria a ele. De novo,
não.
— Não — sussurrei.
Desta vez previ o pé dele e me afastei para encostar na parede e flexionei
os joelhos no peito.
Semicerrei os olhos para ele quando ele se levantou.
— Vá em frente, Ryan. Mostre o seu pior.
Provavelmente, ele já tinha me provocado uma concussão se era para
levar em conta a pontada atrás da minha cabeça, e minha garganta teria a
marca de uma mão pela manhã, exatamente como da última vez em que ele
me sufocou, porém meu coração estaria livre. Minha mente também. E era
isso que importava.
Seu olhar correu por mim conforme colocou o charuto de lado e ficou em
pé. Esperava ver a raiva escurecer em seus traços, entretanto, em vez disso,
eles se iluminaram com desejo. Minha garganta convulsionou com aquela
visão. Eu conseguia lidar com o Ryan furioso, mas não com aquilo. Fiquei
paralisada, tanto que nem conseguia respirar. Ele deve ter sentido meu medo
exasperado, porque sorriu.
— Oh, Rachel. Sempre gostei de putas com atitude. — Ele segurou meu
cabelo de novo e me obrigou a ficar de joelhos. — É muito divertido foder a
boca delas com submissão. — Sua mão livre estava no zíper quando a porta
se abriu.
Em um minuto, meu crânio estava pegando fogo pelo punho dele, e no
outro, Ryan estava no chão ao meu lado, massageando a mandíbula. Um Will
Mershano pálido apareceu em cima de nós, olhando para meu pescoço. Sua
mandíbula ficou tensa com o que viu, mas ele não disse nada ao estender uma
mão e me ajudar a levantar do chão. Consegui me levantar, encolhendo-me, e
ele imediatamente me puxou para perto com um braço em volta de meus
ombros.
— Se tocar nela de novo, vou acabar com você. — Sem hesitação, sem
raiva, apenas uma ameaça infalível entregue no tom mais calmo que já ouvi
Will falar.
Ryan cuspiu um monte de sangue e se levantou para enfrentar seu
oponente. Eles tinham a mesma altura, ambos de ombros largos e atléticos,
mas o homem ao meu lado tinha mais músculo que ele. A estrutura esguia de
meu ex era construída com um personal trainer caro, enquanto Will
mantinha a sua com trabalho manual.
Eu meio que esperava que Ryan tentasse alguma coisa idiota, como socar
Will, mas ele era muito cortês para isso. Em vez disso, sorriu aquele maldito
sorriso charmoso e deu de ombros.
— O que aconteceu com sua segurança, Mershano? Parece que eles
falharam. — Ele ajeitou a gravata e alisou-a com a mão. — Talvez queira
verificar isso.
Will sorriu.
— Suas conexões não me assustam, Albertson. Mas obrigado pelo alerta
nada sutil. — Eu não fazia ideia do que ele estava falando, mas senti que algo
ruim tinha acontecido com Beau e Sam. Ryan não mataria ninguém, não é?
— Bom, não pode dizer que não tentei. — Meu ex colocou as mãos nos
bolsos, a imagem da indiferença. — Última chance, Mershano.
— Como disse anteriormente, você não me assusta. Agora saia da porra
do hotel da minha família.
Ryan assentiu uma vez em aquiescência, depois ficou me olhando por um
bom tempo.
— Até logo, menininha.
TODOS OS SENTIMENTOS
Will enrolou um saco de gelo em uma toalha e me entregou.
— Tem certeza de que não quer ir ao hospital? — ele perguntou, olhando
minha garganta.
Balancei a cabeça.
— Não, o gelo e os analgésicos vão funcionar. — O hospital seria mais
desconfortável que aquele sofá, sem contar que seria mais invasivo. Agora eu
precisava respirar e relaxar.
Estou segura. Por enquanto.
Pressionei o pacote gelado atrás da minha cabeça com uma careta. Doía
mais agora já que a adrenalina não estava correndo em minhas veias.
— Mas você está bem? — O tom suave de Will não combinava com a
palidez de suas faces ou a fúria escurecendo seu olhar. — Desculpe, essa é
uma pergunta idiota. Claro que não está. — Ele passou os dedos pelo cabelo
e ficava andando de um lado a outro da sala de estar. — Porra, se eu tivesse
atendido meu celular antes… Mas fiquei ignorando… — Ele balançou a
cabeça e ficou de joelhos diante de mim. Quando sua cabeça caiu em meu
colo, meu coração se partiu um pouco. Evidentemente, ele se culpava. —
Sinto muito, Rachel.
— Não — sussurrei. — Não se desculpe por ele. — Foi um lembrete do
que ele tinha me dito depois de eu lhe contar sobre Ryan… Nunca mais se
desculpe por ele. Will assentiu, significando que entendia, mas seus olhos
ainda estavam tristes.
Se ele não tivesse aparecido, quem sabe o que teria acontecido? Meu
corpo congelou quando Ryan começou a abrir a calça, e toda a luta dentro de
mim desapareceu. Ele tinha me reduzido ao estado mais vulnerável com um
simples ato. Eu havia conseguido enfrentá-lo ao vivo pela primeira vez em
anos, mas em um segundo de mudança, eu estava de joelhos novamente.
Literalmente.
— Eu odeio o Ryan — Chiei. — Odeio pra caralho.
Os braços de Will envolveram minha cintura enquanto me abraçava
desajeitadamente no chão. Ficamos assim, nos abraçando, sem falar, por
inúmeros minutos até uma vibração interromper o momento. Ele tirou o
celular do bolso, olhou para o número e o entregou para mim.
— Será para você.
— Só coloque no viva-voz. — Eu não tinha a energia para me mexer, e
tudo doía.
— Ela está bem — Will respondeu ao telefone.
— Parece que sim. — A voz de meu irmão colocou meu cérebro em
movimento. Eu tinha esquecido completamente que ele ligou antes de Ryan
chegar.
— Caleb?
— Oi, irmãzinha. — A afeição em seu tom me inundou. Ele nunca me
bajulava, não assim. — Kincaid estará aí em umas três horas, então só
aguente firme, ok? Eu mesmo poderia ir, mas ele estava mais perto.
Fiquei boquiaberta conforme minha boca se enchia de perguntas.
— Do que está falando? E como conseguiu o número de Will? Não,
esquece isso, como ficou sabendo de Ryan? E que número está usando?
Onde…
— Wow, wow, não venha com essa de advogada para mim, Rach. Olha,
tudo que você precisa saber é que Kincaid está indo até você. Ele vai explicar
o máximo que puder. Até lá, fique firme que eu vou administrar as coisas
daqui. Oh, e também não se preocupe com o Albertson. Eu deveria ter lidado
com ele há anos, mas não quis interferir. Agora ele não me deixou escolha.
— Vou precisar de mais respostas que isso, Caleb — eu disse sincera
para ele, começando a ficar nervosa de novo. — Como você ficou sabendo de
Ryan? Você não estava no ano em que o levei em casa para as férias, e o
Senhor sabe que mal nos falamos.
O suspiro que veio pela linha era marca registrada de Caleb. Sempre
cismado, sempre cansado. Eu nem conseguia me lembrar da última vez que
vi meu irmão sorrir.
— Podemos não nos ver ou falar com frequência, mas sempre estou aí,
Rach. E sempre estarei.
A linha ficou muda.
Will guardou o celular e arqueou uma sobrancelha loira.
— No que disse mesmo que seu irmão trabalha?
— Ele trabalha em algum escritório para o governo. — Quando alguém
falava sobre isso, ele dava de ombros, falava algo sobre ser entediante, e
mudava de assunto.
— Certo — Will respondeu, bufando. — Ele é o motivo de eu ter te
encontrado. Não apenas ele descobriu meu número particular e me ligou para
dizer que Albertson estava no hotel, mas ele sabia para qual quarto aquele
desgraçado tinha te arrastado. Isso exige um nível de acesso de segurança que
vai bem além do típico “trabalho de escritório”.
— Caleb também te ligou? — Obviamente. Will acabou de dizer isso, e
ele reconheceu o número quando meu irmão ligou de novo. Que pergunta
idiota. — Fico pensando como ele soube.
— Acho que hackeou as câmeras de segurança do hotel que, de novo,
implica habilidades além de um escritório. Sem contar que também não acho
que seja necessariamente legal.
— Acha que ele trabalha com Mark, então? — Nunca tinha pensado
nisso, mas faria muito sentido. Até onde eu sabia, eles ainda eram melhores
amigos apesar de trabalharem em cidades diferentes e raramente se verem.
Será que era tudo fachada?
— Com certeza, e nem pensar que eles são do FBI. Pelo meu
entendimento, agentes federais operam dentro dos Estados Unidos, não fora
dele.
Sua avaliação batia com a minha, mas eu não tinha energia sobrando para
pensar nisso. Exalei pesadamente e me encolhi. Meu ombro estava duro de
ter segurado a mão no ar, o que era triste considerando que eu só estava
fazendo isso há uns dez minutos.
— Aqui, deixe comigo. — Will sentou-se no sofá ao meu lado e assumiu
o controle do gelo. Meu braço estava mole ao lado do corpo, grato pelo
intervalo. Tudo doía. Meus pés, minha garganta, meu estômago, meu ego…
Relaxei no homem forte ao meu lado e lutei contra a vontade de chorar.
Esse passeio emocional de montanha-russa em que estávamos precisava
acabar, e havia apenas um jeito de fazer isso. Mas exigiria toda a força que eu
ainda tinha, e depois mais.
— Ele nunca vai parar — sussurrei. — Vai considerar isso um
contratempo e virá atrás de mim de novo quando menos esperarmos.
— Aí vou dar uma surra nele. — Com certeza, mas não resolveria nada.
Conhecendo Ryan, ele iria armar para Will sair mal ou arruinar sua reputação
de alguma maneira. Meu ex tinha uma graduação avançada em manipulação e
nunca hesitava em usá-la quando queria alguma coisa.
Balancei a cabeça, mas parei quando o cômodo começou a girar.
— Agora, temos que vencê-lo em seu próprio jogo. É o único jeito. —
Uma ordem de restrição só o faria rir e aumentar a segurança e os guarda-
costas. O que me lembrou… — O que aconteceu com Sam e Beau?
— De acordo com seu irmão, Ryan fodeu com a água no andar de cima e
os nocauteou. Não sei se foi ele mesmo ou se contratou alguém, mas, de
qualquer forma, mostra que ele teve acesso aos quartos e às garrafas na
geladeira.
Porque isso era aterrorizante.
— Eu te avisei. Ele conhece pessoas, Will. Sempre foi assim com ele. —
Estremeci e me encaixei em seu calor. — Ele estava falando sobre os amigos
que tem na TTB. — Eu sabia que Will reconheceria a sigla, já que a empresa
dele teria enviado vários documentos para eles ao longo dos anos.
Will deu risada.
— Ele quer vir atrás da Vinhedos Mershano, não é? Eu adoraria vê-lo
tentar. Ele parece ter a impressão de que eu não tenho acesso a recursos
similares, o que é um defeito da parte dele. E você me chama de arrogante.
— Isso não é uma piada, Will. Ele poderia te machucar.
Ele colocou o gelo de lado e me puxou para seu colo.
— Querida, deixe que eu me preocupo comigo, ok? Cresci com homens
como Albertson. Ele não tem nada de novo, e com certeza não me assusta. O
que me assusta é como ele chegou perto de te machucar. Foi puramente uma
jogada de poder da parte dele te pegar e machucar quando estava ao meu
alcance. Ele sabia que eu a encontraria, mas provavelmente esperava que
fosse um pouco depois. Queria entregar o recado, e obteve sucesso. Só que eu
não vou recuar. Se é uma luta que ele quer, então que venha.
Promessa e certeza sublinhavam cada palavra, e eu podia ver a
determinação em seus olhos. O alerta de Ryan tinha saído pela culatra. Ele
esperava que Will colocasse o rabo entre as pernas e fugisse, mas o homem
forte me segurando não pretendia morder a isca.
— Você é maravilhoso — eu disse admirada. A maioria dos homens se
afastaria da minha bagagem murmurando uma “boa sorte”, mas Will não. Ele
ficou sentado ao meu lado, emanando força e fúria por mim, e sabia todas as
palavras para me tranquilizar. Eu deveria estar tremendo com lágrimas agora,
mas, em vez disso, me sentia segura. Meu corpo todo doía, e definitivamente
estaria cheia de hematomas no dia seguinte, mas, por dentro, eu sabia que
nada poderia me prejudicar. Confiar em outra pessoa era difícil e, ainda
assim, relacionamentos eram isso.
Confiança. Segurança. Compreensão. Amor.
Sorri com esse último pensamento e soltei uma risadinha. Porque era
verdade. Eu amava Will. Aquele homem, aquele homem impossível, teimoso
e insistente, tinha demolido todas minhas barreiras e entrado em meu coração
com a velocidade de um trem de carga. Nunca pensei ser possível dar a
alguém um acesso tão íntimo, mas nada naquele homem tinha padrões
normais. Quando ele queria alguma coisa, tomava tudo, e eu não era exceção.
Sua testa se franziu enquanto me analisou. Minha risada deve tê-lo
confundido. Era a hora errada para perceber como me sentia. Mas que se
dane! Ele tinha que saber, e se a ameaça de Ryan não iria fazê-lo fugir,
minhas palavras inofensivas também não o fariam.
— Will Mershano, acabei de perceber que eu te amo. — Pronto. Feito.
Não tinha como voltar, nem correr, nem me esconder. Ele queria que eu
lutasse, e ali estava. Eu também conseguia ir atrás do que desejava, e eu o
queria. Sempre e para sempre.
A testa dele se suavizou quando seus lábios se curvaram em um sorriso
exuberante.
— Oh, querida, se só percebeu isso agora, então tenho mais trabalho a
fazer.
Dei um tapa de brincadeira em seu peito.
— Sempre arrogante.
Aquelas covinhas se aprofundaram.
— Mereci.
— Mereceu — concordei e me aconcheguei de novo em seu peito.
Satisfeita. Meus olhos se fecharam com um bocejo. Toda a comoção daquela
tarde tinha me deixado exausta, e eu sabia que, com a vinda de Mark, seria
uma longa noite.
— Rachel?
— Humm? — murmurei sonolenta.
— Também te amo.
MARK KINCAID
Will ligou para Janet de seu celular, já que o meu foi destruído no
corredor, e lhe passou uma atualização. Ela pareceu feliz com os resultados,
depois perguntou sobre nossos planos para o fim de semana. A forma como
ela disse confirmou os comentários de Will sobre o documento de conflito de
interesse. Eu nunca tinha reparado, mas a curiosidade sempre esteve ali.
Agora eu sabia por quê.
— Então o que vamos fazer depois desta viagem? — perguntei quando
ele guardou o celular no bolso.
Ele colocou uma mecha solta de cabelo atrás da minha orelha e segurou
minha face.
— Minha resposta é a mesma do outro dia. Vamos para casa juntos como
um casal.
— Certo, mas você mora na Carolina do Norte. E eu não. — A ideia de
voltar a Chicago não me atraía como uma vez atraiu, mais por causa de Ryan,
mas também porque eu gostava da cidade em que Will nasceu. Era tranquila e
segura.
Uma batida à porta interrompeu a resposta dele.
— Deve ser Mark — ele disse ao ir até a porta e verificar o olho mágico.
— Alto, cabelo escuro e barbudo?
Bufei.
— A barba seria novidade, mas parece que é ele.
Will virou a maçaneta, e Mark entrou usando jeans e uma camiseta
branca. E com certeza Mark Kincaid deixara sua barba crescer. Mas estava
bem aparada e ficava meio sexy nele. Combinava com a aparência toda
marrenta que ele já tinha. Ele entrou e me tirou do sofá em um abraço sem
me cumprimentar ou nem cumprimentar o homem que abriu a porta. Quando
ele beijou minha têmpora, Will pigarreou.
— Relaxe, Mershano. Ela é como uma irmã para mim — Mark
respondeu. E era verdade. Eu o conhecia há metade da minha vida. Namorá-
lo seria estranho.
— Essa coisa no seu rosto está me pinicando — murmurei, me
contorcendo.
Ele me soltou, rindo.
— Que bom ver que seu senso de humor ainda está em jogo.
— Não tem nada de engraçado nisso — eu disse, gesticulando para seu
queixo quadrado.
Seus olhos quase pretos se estreitaram.
— Você falou igual o Caleb.
Dei de ombros.
— Nós dois sabemos como usar uma lâmina.
— Vê o que preciso aguentar? — ele perguntou, olhando para Will. —
Paro o que estou fazendo em Dubai e pego o próximo voo, só para ser
incomodado. — Ele balançou a cabeça e ficou sério. Sua postura mudou
quando ele cruzou os braços à frente do peito largo, mudando sua
personalidade de irmão mais velho para homem mau. — Já me encontrei com
os homens de Hernandez. Eles estão acordados e fazendo as malas, e estão
conscientes da demissão.
Will ergueu as duas sobrancelhas.
— Como assim?
— Eles foram comprometidos. Por que os manteria na equipe? Além
disso, eu estou aqui e realmente sei que porra está acontecendo. — Mark se
acomodou na poltrona ao lado do sofá e colocou um tornozelo no joelho
oposto.
Tomei isso como uma deixa para sentar também e me ajeitei no sofá, e
Will se sentou no espaço vago ao meu lado. Sua perna pressionou a minha
quando ele envolveu o braço em meus ombros e encarou Mark. O melhor
amigo de meu irmão nem se mexeu; seu olhar era tão assertivo quanto o do
homem ao meu lado.
Todos os pelos de meu braço dançavam com a testosterona tornando o ar
denso. Nenhum deles curvaria para o outro, o que tornava essa batalha de
determinação uma perda de tempo.
— Então. — Pigarreei. — Mark, este é Will. Will, este é Mark.
Eu tinha me esquecido de apresentá-los adequadamente mais cedo, não
que parecessem se importar. Estavam ocupados demais tentando ser o Macho
Alfa da Sala.
Silêncio.
Balancei meu pé com irritação e me encolhi. Já estava machucado do meu
passeio até lá embaixo. A mão quente de Will encostou na minha perna e foi
até meu tornozelo.
— Quer mais gelo? — ele perguntou.
— Pode também encher a banheira neste caso — comentei, irritada não
com ele, mas com a situação. — Vou ficar bem. Só preciso de mais
analgésicos logo. — Ele já tinha me dado mais do que o recomendado para
minha dor de cabeça.
— Olhe para mim. — O comando de Mark me pegou desprevenida. Ele
se agachou diante de mim sem me tocar. Encontrei seu olhar sério e o
encarei. — Comida — foi tudo que ele disse ao se levantar e ir até a porta
balcão.
Will inclinou o queixo para ele e me encarou com um olhar intenso.
Engoli em seco, nervosa por ter dois homens muito dominantes em um
cômodo. Depois Mark começou a falar em um francês fluente, pedindo o que
parecia ser jantar de um restaurante local e quebrou o silêncio.
— Desde quando você fala francês? — Embora tivesse sussurrado, ele
me escutou muito bem e deu uma piscadinha para mim antes de continuar a
conversa.
— FBI, meu cu. — Balancei a cabeça e descansei no homem forte ao
meu lado. Seu calor natural me cobriu com o conforto de que precisava. Não
tinha percebido que meus olhos estavam fechados até Mark suspirar. Ele
estava de volta na cadeira ao lado do sofá com um tornozelo no joelho. Seu
queixo estava apoiado no punho, me observando.
— Vai se sentir melhor depois de comer alguma coisa — ele disse.
— Vou me sentir melhor quando me contar como lidar com Ryan, porque
presumo que seja por isso que está aqui. — Minha voz foi mais forte do que
eu esperava. Cada outra parte minha doía com exaustão, mas não meu
coração ou minha mente. — Ele não vai embora a menos que eu faça algo
drástico.
— É, e ele vir aqui mostrar um agravamento — Mark respondeu.
— Foi uma mensagem — Will interrompeu. — Ele nunca quis levá-la; só
queria marcar seu território para que eu recuasse.
— Precisamente. — Admiração sublinhava cada palavra. — E ele vai se
tornar realmente perigoso quando você não recuar, e é por isso que
precisamos agir, e logo.
— O que sugere? — Will perguntou com a voz baixa.
— Suicídio político — ele respondeu simplesmente. — Os tabloides
adoram um bom escândalo sexual. Parece ser a única forma de destruir uma
carreira ultimamente e, quando acontecer, Albertson terá muito mais
problemas pertinentes para lidar do que sua ex-noiva errante. Sem contar as
conexões mais que questionáveis dele, que estão confiando que ele se tornará
o próximo senador de Illinois.
— Ele está fazendo promessas que não pode cumprir — Will deduziu
antes de eu poder falar a mesma coisa. — Mas todas as articulações devem
ser feita se a criança for dele.
Mark deu de ombros, com a expressão entediada.
— Ser ou não, é irrelevante. O senador Jenkins não vai ficar feliz em
saber que sua jovem esposa o traiu com seu protégé. Ele vai destruir
Albertson em retaliação por ele prejudicar sua preciosa masculinidade,
enquanto nós podemos nos sentar e aproveitar os fogos de artifício. Tenho
certeza de que o senador Albertson também não ficará feliz, não que ele
mesmo seja um modelo exemplar.
Bufei. Isso era um eufemismo. O pai de Ryan tratava todas as mulheres
como objetos, inclusive a mim quando Ryan e eu estávamos namorando. Ele
ficava dizendo como era fofo eu querer estudar Direito, como se fosse um
hobby e não uma carreira.
— Então está sugerindo que soltemos o caso para a mídia — eu disse
depois de ambos os homens olharem para mim.
— Não, sugiro que postemos algumas cenas on-line anonimamente e
vamos deixar que os tabloides cuidem disso. Tenho algumas fontes
confiáveis que podemos vazar diretamente para ter certeza de que será
encontrado, e o resto vai acontecer sozinho. Além disso, precisamos fazer
isso no próximo fim de semana.
— Por quê? — perguntei.
— Porque é quando ele vai anunciar a candidatura — ele respondeu. —
Se fizermos no tempo certo, o que vamos fazer, a história vai começar a
aparecer quando ele estiver fazendo o discurso. Nunca que ele poderá se
recuperar disso, principalmente quando o senador Jenkins estará sentado ao
lado dele com sua adorável esposa à esquerda.
Parecia perfeito, exceto por uma coisa.
— Nós vamos arruinar a vida dela também.
Mark sorriu, mas não chegou aos seus olhos. Nunca chegava.
— Eu sabia que você diria isso, e é por isso que pesquisei um pouco mais
no passado dela enquanto pesquisava mais relações questionáveis de
Albertson. — Ele tirou seu celular e começou a mexer na tela. — A sra.
Bianca Jenkins é uma debutante que se casou por dinheiro e status. Não
necessariamente algo para destruí-la, mas ela tem um histórico de arruinar
reputações de outros puramente por diversão ou egoísmo. Vamos apenas
dizer que ela mais do que merece um pouco de humilhação pública.
— A mídia vai crucificá-la porque ela é a mulher — argumentei.
— Algo que ela provavelmente sabia quando enviou uma gravação de
sexo da sua melhor amiga para a indústria de entretenimento em retribuição
por tentar seduzir seu antigo amante. Esse seria o homem com quem ela
estava transando antes de Ryan, enquanto ela ainda estava casada com o
senador Jenkins. — Seu tom neutro sugeria que ele não estava nada
impressionado. — Não vou perder meu sono com isso.
Mordi o lábio, incerta. Isso era para ser sobre acabar com meu ex
controlador, mais ninguém. Mas até eu poderia admitir que precisaria de
medidas extremas ali. Precisaria de muito para obrigá-lo a me deixar em paz,
e prejudicar suas aspirações políticas atingiria isso. Ryan se importava muito
mais com sua carreira do que comigo.
— Há algum risco de que isso o deixará mais desesperado por ela? —
Will perguntou. — Quero dizer, tirar tudo dele poderia causar o impacto
oposto, certo?
Mark mexeu na barba, com o olhar pensativo.
— É totalmente possível, mas suspeito que ele também ficará ocupado se
preocupando com sua queda política para pensar em outra coisa. Ele se
envolveu com pessoas perigosas que confiaram certos segredos a ele
esperando que ele fosse útil no futuro. Retirar isso o torna mais suscetível do
que um aliado, o que o obrigará a encontrar outras maneiras de acalmar seus
vários benfeitores.
— Então ele recebeu fundos deles para a campanha — Will murmurou.
— Por um caminho inverso que não pode ser monitorado, mas sim, na
verdade, a família dele recebe incentivos financeiros há décadas. São
relacionamentos antigos, alguns com os quais tenho certeza de que você está
familiarizado, sr. Mershano. — A implicação era óbvia. Ryan e Will vinham
de famílias antigas e ricas. Pelo que vi nos últimos anos, essas origens vieram
com um certo prestígio e, dentro desse círculo social havia inúmeros
indivíduos ricos que adquiriam seus ativos das formas mais variadas.
Will assentiu com o queixo para reconhecer a verdade.
— Albertson não parece entender isso tão bem quanto você.
— Isso é porque ele está equivocado e pensa que você não é tão
profundamente ligado ao império Mershano como seu primo, o que nós dois
sabemos que não é verdade. Pode ter sua própria empresa, mas seu
sobrenome te proporciona os mesmos contatos e recursos, sem contar que sua
conta bancária compete com a de Evan. Albertson não sabe nada disso, e essa
é a ruína dele. — Mark saiu da poltrona e esticou seus braços esguios acima
da cabeça. — Foram dois longos dias, e eu preciso de um uísque.
— Tem conhaque na cozinha — Will respondeu quando ele passou a mão
para cima e para baixo de meu braço.
— Não é meu preferido, mas vale — ele resmungou de volta.
— Ele é encantador — Will murmurou sarcasticamente depois que Mark
desapareceu.
Sorri.
— Ele sempre foi assim. Bruto e direto ao ponto. — Era uma coisa que eu
gostava nele e em meu irmão. Nunca precisava me preocupar que eles fossem
me julgar em particular; eram muito diretos para isso. — Então, francês, huh?
— perguntei quando o homem em questão voltou com um copo de líquido
âmbar.
— É uma língua simples, Rach. Você tinha que ver persa ou árabe. — Ele
fez careta. — Muitas regras gramaticais, e você quebra todas elas. É fodida
mesmo.
Olhei para ele especuladora.
— Certo. Tudo faz parte de seu trabalho no FBI? Por que todos os
agentes precisam aprender línguas do Oriente Médio e viajar para Dubai com
frequência?
Desta vez seu sorriso chegou aos olhos.
— Com certeza.
— Aham. Algum dia você vai me contar no que trabalha?
Aquilo o deixou mais sério.
— Tenho habilidade em ajudar pessoas a sair de situações difíceis, como
a que você está. — Ele colocou o copo na mesa e apoiou os cotovelos nos
joelhos. — Eu sabia que aquele babaca era problema, mas não percebi o
quanto era ruim até você me ligar. Agora vou fazer o que deveria ter feito três
anos atrás quando você o deixou. Ele nunca mais vai encostar em você.
— Não pode prometer isso. — Eu não falei como uma provocação ou
alerta, apenas um fato. Ninguém poderia prometer algo assim, não quando o
assunto era Ryan.
— Oh, posso, sim, Rachel. Quando eu tiver acabado com ele, você será a
última coisa na cabeça dele. Ele está prestes a enfrentar um novo inimigo, um
que não vai saber de onde saiu. — Ele deu um sorrisinho. — Expor o caso
dele vai parecer como uma lua de mel quando eu acabar com ele.
— O que mais pode fazer? — perguntei curiosa.
— É melhor ele não contar para nós — Will murmurou. — Quanto
menos soubermos, menos podemos ser envolvidos, o que diminui a chance de
vingança.
— Exatamente. — Mark ergueu o copo de novo, brindando. — Eu gostei
dele, Rach. Pode casar com esse.
Meus olhos se irritaram com isso.
— O que disse? Como se você tivesse opinião em algo assim.
Mark deu risada.
— Já que Caleb me enviou aqui para ajudar na situação, preciso
discordar. — Ele olhou divertido para Will. — Não é o pai de Rachel que
você precisa temer; é o irmão dela.
— É, já entendi isso. Mal posso esperar para conhecê-lo.
— Oh, e você vai. Logo, eu imagino.
— Que bom — Will respondeu.
Franzi o cenho com a conversa. Essa união não estava funcionando para
mim. Eu preferia quando os dois estavam tendo seu impasse alfa.
— Eu decido com quem vou casar, obrigada.
— Claro — Mark concordou. — Mas Caleb poderia dificultar
extremamente as coisas se ele não aprovasse.
— Fazendo o quê? Não aparecendo ou não me ligando por meses? —
Porque esse era o papel do meu irmão na minha vida. Até aquele dia, quando
ele tentou me avisar de modo aleatório sobre Ryan. E aquele comentário
sobre sempre estar lá. — Ele não é um lacaio no escritório do governo, não é?
— Não era uma pergunta, mas uma declaração. Resmunguei e balancei a
cabeça. — Vocês dois são inacreditáveis. Fugir para serem militares aos
dezoito, depois fazer Deus sabe o que nos últimos anos, você supostamente
mora em Chicago…
— Oh, essa parte é verdade — ele me cortou. — O lugar em que você
ficou depois de morar com Ryan era verdade, e é meu. Só não o vejo com
frequência.
Balancei a cabeça de novo.
— Certo. E Caleb?
— Ele fica na Virginia, na maior parte do tempo.
— Aham. — Olhei para Will, que tinha ficado quieto em toda a conversa.
— Bem-vindo à insanidade da minha vida.
— Eu não estaria em nenhum outro lugar — ele respondeu com um beijo
na minha bochecha. — Ok, Kincaid, me diga o que quer que façamos em
seguida. Porque estou deduzindo que não nos quer perto de Chicago quando
ele fizer o anúncio no fim de semana que vem.
— Isso, quanto mais longe melhor. Acabaram suas reuniões, não é?
Não me incomodei em perguntar como ele sabia disso.
— Acabaram.
— Então recomendo que vão para algum lugar remoto e fiquem em uma
vila particular de algum tipo, não um Hotel Mershano. O que me lembra que
você precisa ter uma conversa séria com seu primo sobre seu sistema de
computador, já que foi comprometido. — Ele deixou aquilo pendente e
ergueu uma sobrancelha escura.
— Ele sabe da violação e adoraria saber como Caleb acessou suas
câmeras de segurança do hotel — Will rosnou. — Não que eu ache que vá
nos contar.
— Qual seria a graça nisso? — Mark perguntou, provocando. — Mas
posso recomendar alguém para dar uma ajuda completa.
— Vou passar para Evan — Will respondeu antes de voltar ao assunto em
questão. — Então você quer que eu a leve para longe enquanto você lida com
o problema Albertson? — Ele soou divertido. — Por que sinto que meu
trabalho vai ser fácil?
— Seu trabalho nunca será fácil, Mershano. Espero que a mantenha
segura e, se não, se um dia machucá-la, não será só comigo que vai ter que se
preocupar.
— Porque eu vou te bater — interrompi irritada. — Vocês sabem que
ainda estou aqui, não é?
— Estou mais do que consciente — Will murmurou, seus lábios contra
minha orelha. — Estou sempre consciente, querida. E me conte mais sobre
você me bater. Fiquei intrigado.
— Convencido — respondi, bufando. — Mas, de verdade, você não pode
simplesmente lidar com Ryan por mim. Eu quero fazer parte disso.
— E você faz — Mark respondeu. — Só estou aqui porque você me
ligou, e Will está aqui porque você confiou nele. Você decidiu que é hora de
revidar, e nós somos seu exército. Mershano tem os meios para te manter
segura, enquanto eu tenho outras habilidades úteis para sua situação. A
decisão, no fim do dia, no entanto, é sua, e isso a torna a rainha do tabuleiro
de xadrez. Somos apenas os cavaleiros se movendo para obedecer a sua
ordem.
Olhei para ele de forma duvidosa.
— Você nunca fez nada que pedi, nem você — complementei, olhando
para Will.
— Mas, nesse caso, vamos fazer o que você quiser. — Ele segurou minha
face e me deixou ver a sinceridade no fundo de seus olhos. — Se não quiser
que Kincaid use tudo que ele reuniu, ele não vai. E nós vamos lidar com isso
de um jeito diferente. A decisão é sua, Rachel. — Muito sério. Bem diferente
do meu Will. Mas, nisso, ele estava me dando o poder máximo. Assim como
Mark, algo que não poderia ser fácil para nenhum dos dois.
Pigarreei.
— Não tem outra opção, certo?
— Sempre tem outra opção — meu amigo não do FBI respondeu. — Mas
essa é a melhor de longe, principalmente considerando o agravamento
recente. Suspeito que ele voltará amanhã ou domingo, se você ainda estiver
em Nice.
— E vai fazer o quê? Me pegar de novo?
— Não, ele vai fazer muito pior, e vai fazer isso para Mershano sair do
caminho. Albertson pode ser uma criança com dinheiro, mas é inteligente.
Ele sabe como manipular o tabuleiro de xadrez melhor que muitos políticos.
Will beijou minha têmpora e me abraçou.
— Não se preocupe, querida. Posso lidar com o que ele planejar para
mim. A decisão ainda é sua.
Minha negação foi imediata.
— Não é, não. Não tem escolha se você está em perigo. Fala que não tem
medo dele, mas eu tenho, e ele sabe disso. Vai usar você para extorquir esse
medo. E não posso deixar isso acontecer. — Fechei os olhos e me preparei
para o inevitável. Por três anos, nenhuma das minhas tentativas de contrariar
Ryan tinha funcionado. Não a longo prazo, de qualquer forma. Se Mark
pensava que essa ideia tinha uma chance, então eu devia isso a mim mesma, a
Will, e ao nosso futuro junto. Eu disse, mais cedo, que faríamos tudo que
fosse preciso para acabar com ele e, se era preciso fazer isso, então era o que
faríamos. — Ok. Vamos tentar sabotar a carreira dele, então, e rezar para que
dê certo.
— Não precisa rezar — Mark respondeu. — Vai dar certo. O foco dele
sairá de você em duas semanas, no máximo. Mas vocês dois precisam fazer
uma viagenzinha nesse ínterim porque Ryan vai tentar obrigar Rachel a ir
para casa para seu jantar de anúncio de candidatura.
— Vou cuidar dessa parte — Will murmurou. — Vamos pegar
emprestado um dos jatos de Evan para não sermos monitorados com
facilidade.
Jatos. No plural?
— Quantos seu primo tem?
— Oh, querida, você tem muito a aprender. — Ele me beijou com
gentileza. — Posso não viver na extravagância, mas Evan vive, com certeza.
Sarah também agora.
— Aquela vadia está escondendo de mim — acusei-a sem entusiasmo.
Ele deu risada.
— Nós dois sabemos que você não se importa. Agora vou fazer os
planos…
— Não. Comida primeiro — Mark interrompeu. Ele levantou segundos
antes de alguém bater à porta. — Valeu. Estou morrendo de fome.
— Como ele fez isso? — perguntei assustada.
Ele ergueu o celular acima da cabeça ao ir para a sala.
— Disse para o cara me mandar mensagem do elevador. — Quando ele
voltou, estava com três sacolas separadas que imediatamente dividiu entre
nós. — Esse é meu lugar preferido em Nice. Acreditem em mim, vocês dois
vão adorar.
— Lugar preferido em Nice — repeti. — Certo. Porque você vem aqui o
tempo todo.
— Claro. Não sabia que o FBI ama a França? — Ele nem sorriu ao abrir
os sacos. E, se eu não soubesse que ele estava mentindo, diria que estava
falando sério.
— Um desses dias você vai me contar a verdade sobre seu trabalho.
— Sinceramente, deveria falar com Caleb. Ele se diverte mais do que eu.
— Ele mexeu as sobrancelhas. — Agora coma, Dawson. Algo me diz que vai
precisar de energia para as próximas semanas.
DA MINHA FAMÍLIA PARA A SUA
Quatro semanas depois
— Então o bebê é dele — eu disse depois de ler o artigo que Kincaid me
entregou. O senador Jenkins exigiu um teste de paternidade, e alguém vazou
para a imprensa. Eu não tinha dúvida que foi o homem sentado diante de mim
na sala de estar de Will.
— Oh, e melhora — ele se divertiu. — Albertson estava mais preparado
do que eu esperava e tinha um plano de contingência pronto. A mídia recebeu
um monte de fotos incriminadoras que pintavam o senador Jenkins como um
marido abusivo, o que é realmente verdade. Então agora a os chefes de
campanha de Albertson estão ocupados atribuindo o candidato líder com o
papel de cavaleiro branco.
— Como isso é melhor? — Will perguntou antes que eu conseguisse. Ele
estava encostado na parede ao lado do sofá, girando uma taça de vinho.
Aquele jeans pecaminoso estava no lugar, fazendo-me querer lambê-lo. Pena
que tínhamos companhia.
— Porque — Mark falou pausadamente — Bianca vai se divorciar com
guarda exclusiva da criança e imediatamente se casar com o pai do bebê.
Meu estômago revirou.
— Isso não é melhor; é pior. — Ryan a destruiria, e tudo por causa… Eu
nem consegui terminar o pensamento. Doía demais. Tinha enviado outra
mulher para cumprir minha sentença. Como isso é justo?
Will, sentindo meu desconforto, fez a pergunta que não consegui
articular.
— Você não está preocupado com Bianca?
Mark bufou.
— Por favor, aquela mulher foi criada para isso. Ela está nas nuvens por
ganhar a mão de um futuro senador. Ele vem de uma boa criação, tem
dinheiro e tem um longo futuro à frente. E provavelmente ajuda ele ser mais
bonito que o futuro ex marido dela. — Ele tirou seu celular para nos mostrar
uma foto que foi tirada de longe, provavelmente por ele. — Essa parece uma
mulher infeliz?
— Eu costumava parecer assim — sussurrei, absorvendo o sorriso
apaixonado e os olhos inocentes dela. — Dê um ano a ela.
Ele balançou forte a cabeça.
— Não, você não percebe o que motiva um homem como Albertson.
Você o desafia de um jeito que essa mulher nunca vai desafiar. Sinceramente,
ele vai se entediar dela antes de colocar uma mão nela. Estou mais
preocupado que ele virá atrás de você em algum momento para preencher o
vazio, mas estará ocupado mantendo a fachada de marido perfeito pelos
próximos dois anos, no mínimo.
— E se você estiver errado? — Will perguntou.
— Não estou, mas, na mínima chance de eu estar, nós dois sabemos que
você já cuidou disso. — Respeito coloriu seus traços quando ele
complementou: — O vinho estava brilhante.
— Tenho certeza de que não faço ideia do que está falando — ele
respondeu.
— Vinho? — repeti, analisando a diversão óbvia de Mark e a expressão
neutra de Will. — O que vocês dois estão aprontando?
— Seu prometido enviou a Albertson um recado esperto e o avisou em
termos não incertos que os Mershano são iguais, senão superiores,
concorrentes neste jogo. — Ele soou impressionado, o que dizia muito sobre
o que quer que fosse que Will fizera.
— Qual foi o recado? — perguntei, ignorando o comentário sobre
prometido. — O que você fez, Will?
Ele passou o polegar no lábio inferior como se debatesse o quanto diria.
Semicerrei os olhos, silenciosamente exigindo que ele me contasse tudo, ou
haveria muito a pagar mais tarde. Ryan era meu ex, e meu problema.
— Hummm — ele murmurou, sentindo meu desafio não dito. Sua
expressão dizia que ele gostou disso, talvez até demais. — Vamos apenas
dizer que retornei o favor brincando com a água do escritório dele e, quando
ele acordou, uma garrafa do vinho mais chique da Vinhedos Mershano o
estava aguardando.
— Com um recado que dizia “Da minha família para a sua” — Mark
complementou. — Desculpe, mas essa foi minha parte preferida. Bom, e a
parte de atacar-dentro-da-própria-casa-dele. Legal.
Will deu de ombros.
— Pareceu apropriado. Ele derrubou Sam e Beau porque não conseguiu
chegar direto a mim. Eu queria que ele soubesse que meus contatos não
falham nessa habilidade em particular.
Fiquei boquiaberta.
— Por que não me contou?
— Porque não era tanto para você, mas para eu informar Albertson que
não sou um inimigo com quem ele quer foder de leve.
— E agora seu ex vai pensar duas vezes para encostar em você — Mark
disse. — Porque não só colocaria a carreira em risco, mas teria que enganar
Mershano. O que ele agora sabe que seria mais fácil falar do que fazer.
Meu olhar ia e voltava entre os dois. Eu estava dividida entre frustração e
alívio.
— Você deveria ter me contado, Will. — Só para eu saber, pelo menos.
— Mas fico feliz que tenha feito isso. — As conexões dele deveriam ter me
assustado, mas eu o conhecia bem demais para temê-lo. Ele nunca usaria
aqueles contatos contra mim. Mas os usaria para me proteger, caso eu
precisasse.
O calor emanou de meu peito ao perceber, pela primeira vez em anos, que
Ryan Albertson não conseguiria encostar em mim.
Sem mais ameaças.
Sem mais mensagens.
Sem mais ligações.
Sem mais dor.
Liberdade.
Pisquei para impedir as lágrimas conforme analisava os homens diante de
mim. Me preocupei que aquele momento me deixaria sentindo fraca, mas foi
o oposto. Força e orgulho se acenderam dentro de mim.
Sim, Mark tinha feito a maior parte do trabalho pesado, e Will usou sua
influência para intimidar Ryan, mas fui eu que pedi ajuda. Confiei neles com
a parte mais obscura de mim e os deixei me guiarem para a luz. Precisei de
coragem para isso.
Não era tanto físico quanto mental, e agora eu estava preparada para
começar o próximo passo do meu processo de cura. A parte em que eu nunca
permiti que Ryan controlasse de novo. Não aconteceria da noite para o dia.
Só de pensar na última vez em que o vi senti um frio na espinha, mas, algum
dia, iria me repugnar mais do que assustar. Saber que ele nunca mais poderia
me tocar me permitiu começar a construir uma nova barreira, uma que
minimizasse o impacto dele em mim, e fortificasse minha determinação.
— Obrigada — sussurrei, depois pigarreei para dizer de novo com mais
força. — Acho que nunca conseguirei expressar o que fizeram por mim.
Will colocou sua taça de vinho na mesa antes de se juntar a mim no sofá e
me abraçar. Me derreti nele com um suspiro satisfeito enquanto ele beijou o
topo da minha cabeça.
— Eu te amo — ele disse com os lábios encostando em minha orelha. —
Sempre estarei aqui quando precisar de mim.
— Eu sei, e eu te amo também.
— E aparentemente escolhi a hora errada para entrar. Ou talvez a hora
certa — Garrett brincou ao se juntar a nós na sala de estar. Sua presença
inesperada imediatamente chamou toda a atenção de Mark, ou talvez fosse
uma desculpa para não olhar meu abraço com Will.
— Está tudo bem? — Will não soou nada perturbado pela chegada
repentina do amigo. Ele tinha me avisado que Garrett iria passar lá, mas não
percebi que o homem iria simplesmente ir entrando como se fosse o dono.
— Além de seu primo enlouquecer, claro — ele respondeu ao passar uma
mão pela gravata preta. Depois fixou aquele olhar azul surpreendente em
Mark. — Acho que não nos conhecemos.
Meu amigo se levantou para apertar a mão do Diabo, e um instante se
passou entre eles que deixou o ambiente desconfortável. Garrett podia
parecer chique naquele terno feito sob medida, mas senti que havia um
lutador sob as roupas. Um que não era avesso a pouca dor, e pareceu que
Mark sentiu também.
— Seu funcionário me intriga — Garrett disse finalmente, inclinando a
cabeça para o lado. — Temos que conversar.
— De fato — Mark concordou.
— Se vocês dois tiverem acabado de flertar, tenho uma última pergunta
sobre o caso Albertson. — A voz de Will tinha um toque de diversão, mas
sua expressão estava entediada. — Ele sabe que estamos por trás do
vazamento da mídia?
Oh, eu não tinha pensado em perguntar isso. Boa pergunta.
— Não, ele acha que é um oponente político, mas suas fontes estão
pesquisando. Se encontrarem alguma coisa, e isso será difícil, não vai apontar
para nossa interferência. — Ele não se sentou de novo, e pensei se era por
causa de Garrett. Ambos os homens mantiveram suas posturas casuais, mas
nenhum deles parecia totalmente confortável com o outro. — Como eu já
disse, não estou preocupado, principalmente com Rachel se mudando para
morar com você no mês que vem. O que me fez lembrar — seu olhar tortuoso
se fixou em mim —, precisa de ajuda para encaixotar? Vou realmente ficar
um pouco na cidade.
— Ãh… — Eu não consegui dizer nada mais, já que os outros homens
falaram um em cima do outro.
— Oh, puta merda, você também não — Garrett disse quando Will disse:
— Você vai se mudar para minha casa?
O calor subiu por meu pescoço quando encontrei a expressão surpresa de
meu namorado.
— Ãh, não? Não sei. Inseri um pedido de transferência para o escritório
da Charlotte na semana passada, e foi aprovado esta manhã.
— E ele sabia disso antes de mim? — Ele apontou para Mark, que estava
sorrindo. Aquele intrometido parecia bem orgulhoso de si mesmo.
— Não foi porque eu contei a ele — eu disse com um olhar desafiador
para o agente que se dizia do FBI. Quando olhei de volta para Will, minha
garganta se fechou. Ele não parecia tão bravo, mas misteriosamente curioso.
Eu não sabia se isso era melhor. — Então, ãh, Janet me ligou há duas horas e
disse que a relocação faz sentido, já que eu sou o principal contato da
Vinhedos Mershano. Ela também disso que esperava o pedido, mas que não
era obrigatório. Posso ficar em Chicago, mas só queria a opção de, ãh… —
Limpei a garganta. — É, podemos conversar mais disso depois. — Quando
não tivermos um público.
— Oh, vamos conversar isso, sim — Will respondeu com os olhos
brilhando. — Completamente.
Aquele olhar me cativou. Tinha uma promessa obscura, uma que meu
corpo desejava mais que oxigênio.
— Sim, senhor — sussurrei, sabendo que ele entenderia o que queria
dizer. Eu tinha me tornado o tipo de provocadora que usava isso quando o
queria. Ele parecia pronto para me beijar, mas as vozes no vestíbulo
arruinaram o momento.
— Sinto falta de ter a casa vazia — ele murmurou ao se levantar de novo
e cumprimentar seus convidados.
REUNIÃO DA FAMÍLIA
MERSHANO
— Ele está aqui — Evan disse ao entrar na sala de estar. Sarah, brilhando,
estava ao lado dele enquanto focavam no celular na mão dele. Imaginei que
houvesse o rosto de alguém na tela e, quando ele passou o aparelho para Will,
sua expressão se iluminou com um sorriso.
— Olha, olá, querida. Você está bronzeada. — Afeição envolveu seu
tom… não do jeito sexual, mas de felicidade.
— Queimada — uma voz feminina o corrigiu pelo viva-voz. — Mas não
liguei para falar de mim. Quero saber de você.
Ele deu risada.
— Quer dizer que quer saber da Rachel.
Ele está falando de mim. Aquele pensamento me aqueceu inteira.
— Obviamente. Finalmente conheci a noiva de Evan, ou melhor, eu a vi,
então agora me conte sobre a sua — a mulher disse. Presumi que fosse Mia,
embora não conseguisse vê-la nem tinha como focar nela.
Então suas palavras me atingiram.
A o quê do Evan? Noiva? Não…
Meu olhar pairou no rosto vermelho como beterraba da minha melhor
amiga. Só isso já dizia tudo. Sarah Summers nunca corava.
— Você está noiva?
— Surpresa? — Ela ergueu a mão esquerda e balançou os dedos, o que, é
claro, me obrigou a sair do sofá. Segurei seu punho para melhor analisar o
anel maravilhoso.
— Você não estava com ele mais cedo, estava? — Ela veio de avião com
Evan naquela manhã, mas não tínhamos passado muito tempo juntas ainda.
Mais porque eu passei o dia trabalhando no escritório de Will.
Ela mordeu seu lábio inferior carnudo e deu de ombros.
— Você estava ocupada.
— Acho que esse é o tipo de coisa que te permite me interromper, Sarah.
— Eu amava meu trabalho, mas não tanto quanto amava minha melhor
amiga. — E isso não acabou de acontecer, então por que não me ligou?
— Ele pediu alguns dias atrás na Islândia, mas eu queria te fazer surpresa
ao vivo.
Coloquei as mãos na cintura.
— Deixando uma mulher me contar pelo telefone?
Ela fez careta.
— Ãh, não, não era bem assim…
— Aham — eu disse, estreitando os olhos. Mas não estava brava. Não
com minha amiga irradiando tanta felicidade.
— Ela não é linda? — Will sussurrou, chamando minha atenção ao
celular virado para mim. Uma versão feminina de Evan Mershano sorriu de
volta para mim.
— Olá — ela disse. — Sou Mia.
Franzi os lábios e lutei contra o calor que subia por meu rosto.
— Rachel — respondi e tossi para acomodar o nó que apareceu em minha
garganta. — Desculpe. Só estou surpresa em saber que minha melhor amiga
está noiva.
— Oh, não se desculpe. Estou adorando isso. É tudo muito maravilhoso.
Saio do país, e meus irmãos mais velhos decidem finalmente crescer pra
caralho.
— Ei — Evan a repreendeu, aparecendo na tela. — Não me confunda
com Will. Nós dois sabemos que eu sou o adulto daqui.
Mia bufou.
— Tá bom, Ev.
— E ela me chama de criança. — Ele balançou a cabeça escura e voltou
para Sarah a fim de abraçá-la. A forma como ela olhava para ele dizia tudo.
— Quando é o casamento? — perguntei curiosa.
— Estávamos conversando agora com Mia sobre isso — Sarah
respondeu. — Planejamos contar ao público sobre nosso noivado na
primavera, depois que ela voltar. Depois vamos planejar um casamento para
o próximo verão ou outono. Algo pequeno.
A risada de Mia fez todos nós olharmos para o celular.
— “Pequeno” e “Família Mershano” não combinam, mas, claro. Tente.
Ei, quem está lá no fundo, amuado na parede?
Olhei por cima do ombro, esperando ver Garrett, mas ele estava do lado
oposto do cômodo, encarando para fora da janela com as mãos enfiadas nos
bolsos. A tensão parecia emanar dele em ondas. Interessante.
— Aquele é Kincaid — Will disse, apresentando-o. — Amigo de Rachel.
— Ele é fofo — Mia respondeu.
Garrett virou com as palavras e arqueou uma sobrancelha altiva, mas não
disse nada. Quando seu olhar encontrou o meu, parei de respirar. Felizmente,
ele desviou o olhar um segundo mais tarde, concentrando-se de novo em o
que quer que estivesse chamando sua atenção lá fora. Porque wow. Alguém
tinha problemas com a mulher no celular. Será que ninguém percebera isso?
Um olhar em volta dizia que não, pois todos estavam sorrindo para Mark
enquanto ele acenava para Mia com um interesse educado.
— Ele não sorri muito, não é? — Mia perguntou com os olhos
semicerrados de uma forma astuta. Will não estava brincando quando a
chamava de brilhante. Inteligência irradiava dela, mesmo através do celular.
— Ok, quem mais está aí?
— Garrett, mas ele está ocupado amuado na janela — Evan murmurou.
— Ele não está nem um pouco animado com nosso noivado como você, Mia.
A expressão dela se fechou com desaprovação.
— Chocante — ela murmurou. — Duvido que alguma coisa anime o
Diabo fora de seu covil.
Will e Evan trocaram olhares.
— Provavelmente não — eles concordaram em uníssono.
A conversa ficou um pouco mais leve depois desse comentário, mas os
ombros de Garrett permaneceram tensos. Poderia ter sido minha imaginação,
mas parecia haver algum histórico entre Mia e o melhor amigo de seu irmão
mais velho. Os outros dois homens estavam felizes em falar com ela, mas o
terceiro se manteve parado com a expressão impassível. Eu teria que
perguntar a Will sobre isso depois.
Quando a ligação terminou, Sarah veio correndo e me abraçou.
— Desculpe mesmo por não ter te contado. Não queria atrapalhar mais
cedo e, depois, Evan estava insistindo em contar para Mia. Ele não queria que
ela soubesse de outra pessoa, principalmente com o programa indo para o ar
agora. — Ela me abraçou forte e eu retornei o abraço.
— Está tudo bem. Estou feliz por você, Sarah — sussurrei. — Muito
feliz.
— Também estou feliz por você — ela comentou igualmente baixo. —
Vai se mudar? — Diferente de Will, Sarah ouviu minha conversa com Janet
mais cedo sobre transferir os escritórios.
— Não sei. — Olhei para o homem com quem eu realmente queria
conversar sobre isso, mas ele estava ocupado compartilhando uma bebida
com Evan e Garrett. Este último ainda não estava sorrindo, o que parecia
comum para ele. Mark havia assumido uma posição contra a parede, seu foco
no aparelho em sua mão. Parecia um celular, mas não era bem isso.
— Sabe que ele quer ficar com você, tipo, para sempre, não é? — Sarah
disse, chamando minha atenção de volta para ela. Ela parecia tão confiante e
sábia. Tipo, claro que Will queria que eu me mudasse.
— Sei. — Lógico que sei. Conseguia ver isso toda vez que ele olhava
para mim. Não era necessariamente possessivo ou abrangente. — Mas não sei
se ele quer morar junto ainda. — Principalmente depois de sua reação mais
cedo.
— O que vocês duas estão sussurrando? — Evan perguntou ao entrar em
nossa bolha com uma taça de vinho para Sarah. Uma segunda taça apareceu
sobre o meu ombro quando Will deu um passo atrás e seus lábios contra meu
pescoço provocaram um frio na minha barriga.
— Kincaid — Sarah respondeu sem hesitar. A mulher deveria ter sido
advogada. — E aquela coisa que eu quero que ele faça.
— Que coisa seria? — Mark perguntou ao guardar o aparelho no bolso da
calça. Seu pé se apoiou na parede conforme ele se equilibrou em uma perna e
cruzou os braços. Uma posição esquisita, mas parecia certa para ele.
— Ok, nós todos sabemos que você não é do FBI, e sim um contratado
para trabalho, certo? — Melhor deixar Sarah ser a contundente do momento.
— Claro — ele respondeu daquele seu jeito vago.
— Bom, é que aconteceu de eu receber muito dinheiro recentemente —
ela lançou um olhar desafiador para Evan antes de continuar — e eu quero te
contratar para um projeto.
— E é assim que começa, cavalheiros — Garrett falou pausadamente.
— Oh, cale-se, senhor Acabe-com-ela-e-a-Abandone — Sarah soltou.
Não acompanhei a referência, mas presumi que ele tinha dito algo sobre ela
em algum momento. E, pela expressão dela, ela não gostou.
— Você tinha razão, Evan — ele murmurou, não perturbado. Seu olhar
azul dançou por minha melhor amiga de um jeito que faria a maioria das
mulheres se encolher, mas Sarah não era a maioria das mulheres. Ela cruzou
os braços e avançou até o homem, o que só pareceu diverti-lo. — Gosto dela.
— Não acho que o sentimento seja mútuo — Evan respondeu com um
sorriso para sua noiva irritada. — O que também previ.
— Vai servir para um casamento agitado, tenho certeza. — Garrett
ergueu uma taça aos lábios e fez um gesto para ela continuar.
— Não consigo acreditar que ele é seu melhor amigo — ela resmungou.
— Ele gosta de você — Will comentou.
Sarah e eu nos entreolhamos. É. Tá bom.
— Enfim — ela disse, dirigindo-se a Mark de novo. Ele tinha observado
toda a conversa com uma expressão entediada. — Preciso que ensine uma
lição para minha irmã gêmea.
A testa dele franziu.
— Isso não parece algo em que estaria interessado a fazer. Nem um
pouco.
— Mas vou te pagar generosamente por isso — Sarah disse com um olhar
apontado para Garrett. — Já que eu tenho dinheiro. — Quando ele não
reagiu, ela continuou sua história. — O que acha, Kincaid? Intrigado?
— Nem um pouco — ele respondeu sinceramente enquanto examinava
seu relógio.
— E se eu tornar as coisas interessantes?
Ele lhe deu um olhar duvidoso em resposta.
— Me escute no jantar — ela continuou.
— Por quê?
— Porque será uma refeição grátis.
Ele ergueu ambas as sobrancelhas.
— E você está com a impressão de que eu preciso de comida grátis? —
Ele pareceu achar mais engraçado do que estar irritado.
Ela suspirou.
— Vai me fazer implorar, não vai? O que preciso fazer para você me
escutar?
Mark analisou-a por um instante demorado, neutralizando sua expressão.
Eu não sabia dizer se ele estava com pena da minha melhor amiga ou se ele
simplesmente queria acabar a conversa, mas ele finalmente suspirou.
— Certo. Aceito a oferta do jantar, mas já te aviso que não estou
interessado em seu projeto de estimação.
Sarah se iluminou.
— Oh, vamos ver como se sente quando eu lançar minha ideia.
— Estou confiante de que vou me sentir igual.
— Você não tem fé — ela zombou.
Will me abraçou por trás e apoiou o queixo em meu ombro.
— Infelizmente — ele murmurou —, nós não vamos jantar com vocês,
mas boa sorte na negociação. Enquanto isso, preciso ter uma conversa com a
srta. Dawson.
Arrepiei contra ele apesar de estar quente.
— Uma conversa?
A barba dele arranhou meu pescoço quando ele assentiu. Ele pressionou
os lábios em minha orelha e sussurrou baixo para que ninguém mais
conseguisse ouvir.
— Quero você nua e me esperando na minha cama em cinco minutos.
A adrenalina correu em minhas veias, fazendo meu sangue pegar fogo.
Puta merda, isso era excitante. Tive que me obrigar a engolir, e lembrar de
respirar. Quando ele falava assim comigo, todo meu mundo parava. Nada
mais existia além de Will e o desejo visceral que ele criava dentro de mim.
Tínhamos passado o último mês e meio juntos o tempo todo, e eu ainda não
havia me cansado dele. Duvidava que fosse um dia.
Só quando ele me soltou que me lembrei da nossa companhia no cômodo.
O olhar de Garrett dizia que sabia, enquanto Sarah e Evan pareciam muito
absortos em uma conversa sobre aonde ir jantar, e Mark estava com seu
celular de novo.
— Ãh, vou me trocar — anunciei meio sem jeito. — Já que vamos sair
para jantar.
As sobrancelhas de Sarah dançaram para cima, e eu sabia o que ela estava
pensando. Rachel vive com roupa de trabalho. Verdade. Eu adorava meus
tailleurs, mas Will me queria nua. Isso pedia uma troca de roupas, certo?
— Boa sorte com o jantar — eu disse antes que ela pudesse comentar. —
E vamos conversar amanhã ou hoje mais tarde.
— Não estarei aqui, Rach — Mark interrompeu, guardando o celular. —
Só passei para te atualizar, e presumi que seria melhor fazer isso ao vivo.
Depois que eu rejeitar a srta. Summers, vou para casa.
— Boa sorte com isso — Evan respondeu ao puxar minha melhor amiga
em um abraço. Parecia que ele era tão ruim quanto Will quanto ao toque
desnecessário. — Ela negocia de forma brilhante — ele complementou
carinhoso.
— Negocio mesmo — Sarah concordou.
— Não estou preocupado — Mark respondeu. — De qualquer forma,
você está segura, Rachel. Finalmente. E seu irmão e eu vamos monitorar a
situação pessoalmente, para verificar qualquer mudança.
— Obrigada — sussurrei, abraçando-o. Ele beijou o topo de minha
cabeça, igual Caleb faria, e me soltou.
Will observou o momento com um olhar ardente e fez mímica com a boca
Dois minutos, quando eu não saí rapidamente.
Certo. Nua. Cama.
— Bom jantar — gritei por cima do ombro.
A PROPOSTA DE
RELACIONAMENTO
Meu terninho parecia mais pesado do que o normal, e apertado. Abri um
botão da minha blusa na pressa de tirá-lo, depois tirei o resto por cima da
cabeça assim que ficou largo o suficiente. Minha saia chegou ao chão em
seguida, depois foram minha camisola, meu sutiã e minha calcinha.
A maior parte de minhas roupas estavam na lavanderia de Will, resultado
de passar as últimas semanas fora e só ter retornado há cinco dias. Isso
significava que não teria meias hoje, mais para a diversão de meu amante. Ele
tinha passado a manhã admirando minhas pernas expostas enquanto eu
andava com os pés descalços por seu escritório.
Will apareceu em minha visão periférica quando me virei, seu ombro
apoiado no batente da porta. Ele estava com uma taça de vinho na mão e me
observava com os olhos baixos.
— Você não está na cama. — Sua voz grossa me aqueceu em todos os
lugares certos.
— Mas estou nua. — Só por isso já merecia alguns pontos a meu favor,
se não mais.
— Está mesmo. — Ele não se mexeu, apenas me acariciou lentamente
com o olhar, de cima a baixo, sem perder um centímetro da minha pele
exposta. Seu polegar passou pelo lábio inferior conforme ele me observava
casualmente. — Então, me conte sobre a oportunidade em Charlotte.
— Sério? — perguntei, surpresa por ele querer conversar disso agora. —
Estou nua.
— É, e estou adorando essa vista, mas também quero saber sobre sua
potencial mudança.
— Quer que me vista de novo? — Não podia evitar desafiá-lo. Estava em
meu sangue, e eu gostava muito de fazer isso.
— Tente — foi tudo o que disse.
Eu queria, só para provar que conseguia, mas minhas mãos se recusavam
a se mexer. A ideia de colocar as roupas parecia contraproducente, e eu
gostava mais do jeito que ele estava me olhando. Todo o calor e
possessividade mascarados por trás de uma expressão de interesse favorável.
Eu ficava fascinada com a forma como ele conseguia controlar sua expressão
e permitir que apenas o mínimo de emoção colorisse seu olhar.
— O escritório de Charlotte — ele exigiu, aquele polegar ainda traçando
seu lábio. Eu queria mordê-lo, mas me concentrei na afirmação dele.
— Não é nada importante. Eu só queria saber se poderia transferir, e Janet
confirmou. Não significa que precise.
— Não é nada importante — ele repetiu com o tom incrédulo. — Diz a
mulher que foi inflexível quando me disse o quanto não queria se mudar
quando tentei recrutá-la para a Vinhedos Mershano.
— É, mas agora as coisas estão diferentes.
— Por quê? — Duas palavras faladas com tanta confiança que
enfraqueceram meus joelhos.
— Bom, primeiro, estou nua. — Definitivamente estava vestida durando
todas nossas conversas anteriores.
Ele sorriu para isso.
— Está, sim, e lindamente corada também, mas continue. — O tom dele
tinha baixado para aquele que ele reservava para o quarto, e meu corpo reagiu
a isso como sempre. Meus seios ficaram inchados e meus mamilos se
enrijeceram, e o espaço entre minhas pernas doeu com o desejo que só ele
poderia saciar. — Rachel, por que está diferente? — ele perguntou de novo
quando não respondi imediatamente.
— Porque nós estamos diferentes. — Deus, minha voz soou estrangulada,
e ele devia ter percebido. Sabia o efeito que causava em mim e, embora
nunca tivesse lhe dito, também sabia que eu adorava esse jogo de poder no
quarto. Desejava isso. Ele estar vestido enquanto eu estava nua diante dele só
aumentava meu tesão, e não ajudava o fato de eu conseguir ver os contornos
de suas superfícies fortes sob a camiseta de algodão justa. — Se não me foder
logo, vou gritar.
O riso dele floresceu em um sorriso.
— Oh, pretendo te fazer gritar a noite toda, mas não acabamos de falar
sobre Charlotte. Você quer morar na Carolina do Norte?
Gemi com frustração. Sempre no controle. Ele queria uma explicação, e
não iria parar até eu lhe dar uma. Certo. Não que eu tivesse algo para
esconder, mas expor todas minhas emoções não era fácil para mim. Porém,
Will Mershano não acreditava no que era fácil; ele acreditava em lutar. Então
eu iria lutar.
— Amo morar em Chicago — admiti. — Mas meu principal motivo para
ficar lá esses últimos anos foi porque eu precisava e, agora, pela primeira vez
no que parece uma eternidade, posso escolher. E escolhi perguntar sobre
oportunidades de transferência para o escritório de Charlotte porque quero
ficar perto de você. A ideia de morar em outro estado não me atrai, mas, se
preferir um relacionamento a distância, então… — Seu olhar se escureceu,
me silenciando.
Sua taça fez barulho contra o criado-mudo quando ele a colocou ali e,
então, começou a se aproximar de mim.
Dei um passo para trás alarmada pelo olhar intenso na expressão dele,
mas ele me pegou pela cintura e possuiu minha boca. Sua língua dominou a
minha de uma vez, me dizendo sem falar nada como ele se sentia com a
última frase.
— More comigo — ele sussurrou contra meus lábios.
— Não acha que é muito cedo? — Não que eu tivesse um parâmetro
normal de referência. Nossa relação ignorou todos os limites comuns no
começo. Por que seria diferente agora?
Ele colocou a mão em minha lombar e me puxou de novo contra ele.
— Querida, nós dois sabemos que você estará na minha cama toda noite
independente de onde morar. Pode, então, morar mais perto.
Soquei seu braço sem entusiasmo.
— Arrogante.
— Confiante — ele corrigiu, como sempre fazia. — Assim como estou
confiante de que estará nua em minha cama toda noite também e gritando
meu nome.
— Promessas, promessas — zombei.
Ele se aninhou em meu pescoço e mordeu meu pulso com gentileza.
— Hummm, muitas. — Segurou meus quadris e me girou, colocando-me
de costas para ele. — Mãos na cama, linda.
Estremeci com o comando e fiz o que ele pediu. Cutucou minhas pernas
para abri-las e passou um dedo por minhas costas até o topo da minha bunda.
Seus lábios trilharam o mesmo caminho conforme ele se ajoelhou atrás de
mim. Pulei quando ele mordiscou minha bunda.
— Tão perfeita — ele sussurrou ao aplicar pressão à minha lombar,
forçando-me a me abaixar mais.
— Oh, caralho — gemi quando sua língua deslizou por meus lábios
úmidos. Esperara seu dedo, não sua boca quente e habilidosa. Ele murmurou
sua aprovação ao me encontrar molhada para ele e não perdeu tempo em
localizar o clitóris.
— Will — sussurrei em conflito. Parecia muito errado ele fazer isso
daquele jeito, mas tão certo ao mesmo tempo. Estremeci, minhas mãos eram
a única coisa que me impediam de cair para a frente na cama, enquanto ele
continuava seu ataque sensual. Era demais e não era o suficiente ao mesmo
tempo.
Eu precisava de mais. Muito. Mais.
Seu braço envolveu minha cintura para me segurar enquanto ele me
devastava com a boca. Minhas pernas ameaçaram ceder sob a intensidade, e
eu não sabia quanto mais conseguiria aguentar. Queria gozar, mas não podia.
Ainda não. Não assim. Não sem ele.
— Você venceu — arfei. — Porra, você venceu. — Eu não fazia ideia do
que ele tinha vencido, e não conseguia me lembrar se ele estava tentando me
convencer de alguma coisa, mas que se danasse. — Eu me rendo.
Ele deu risada contra minha pele molhada.
— Se rende?
— O que você quiser — gemi um pouco. Só a respiração dele contra
minha parte mais íntima foi o suficiente para me destruir.
A língua dele me açoitou uma última vez antes de ele se levantar de novo,
fazendo-me tremer. Ele me segurou para impedir que eu caísse de cara no
colchão, já que meus braços se esqueceram de funcionar. Parecia que ele
tinha acendido um fusível dentro de mim e, depois, atrasado a hora da
explosão.
Segurei o colchão e gemi.
— Shh, vou cuidar de você, querida — ele murmurou com um beijo na
minha nuca. — Sempre.
Algo ali estava diferente. Primitivo. Energizante. Promissor.
Mal registrei-o tirando o cinto e abrindo a calça, mas meu corpo reviveu
quando o senti penetrar por trás. Suas mãos foram para meus quadris,
equilibrando-me conforme ele estocava.
Tão fundo. Tão certo. Tão perfeito.
Meus dedos seguraram mais forte a cama conforme arqueei para ele,
precisando de mais. Mas ele já sabia. Uma mão foi para o topo do meu sexo
para massagear meu ponto inchado, enquanto a outra deslizou para segurar
meus seios pesados. Seu ritmo era implacável e cheio de propósito, e seus
dedos me acariciavam com reverência.
— Toda. Noite. — Ele reafirmava as palavras com seu pau, provocando
ondas de prazer naquele lugar profundo dentro de mim.
— Sim — sussurrei em resposta para as ações e as palavras, e para a
pergunta que ele fez mais cedo. — Caralho, sim.
Ele me virou e me deitou na cama tão rápido que fiquei tonta, e lá estava
ele, fundo dentro de mim de novo e beijando a minha vida. Selando o acordo,
percebi. E eu selei de volta. Envolvi as pernas em sua cintura, e o incentivei a
ir mais rápido, mais forte, e ele obedeceu.
— É isso, linda — ele enalteceu quando meu orgasmo se aproximava. Ele
conhecia meu corpo melhor que eu e, quando pressionou a mão àquela parte
sensível mais uma vez, eu explodi em volta dele. Me atingiu tão forte e
rápido que mal consegui respirar. E, então, seu nome saiu de meus lábios
como uma oração, repetidamente. Seu ritmo aumentou, cavalgando em mim
por meu êxtase e provocando o dele para se juntar a mim.
— Rachel… — Meu nome soou mais como um rosnado, e foi sexy como
um pecado combinando perfeitamente com o momento. Nossa transa foi
rápida e safada, e foi tudo que nós dois precisávamos, e era apenas o começo.
Porque agora Will era meu dono, e eu era dona dele. Nada, e ninguém,
atrapalharia isso.
Eu o abracei forte, incapaz de deixá-lo sair de cima de mim. Precisava
que ele soubesse, que entendesse, o que aquilo significava para mim.
— Eu te amo, Will.
Ele se apoiou nos cotovelos para me encarar.
— Também te amo, Rachel. — Ele tirou o cabelo de meu rosto e sorriu.
— Então vai vir trabalhar para mim?
— Através da Baker Brown — complementei. — Vou.
— Em Charlotte.
Não era uma pergunta, mas respondi, de qualquer forma.
— Vou.
— E vai morar aqui, comigo. — Também era uma declaração, dita com
aquele jeito autoritário dele.
— Só se prometer me levar para a cama toda noite, mesmo que
estivermos brigando.
— Especialmente quando estivermos brigando — ele corrigiu. — Por que
mais eu te calaria?
Bati no braço dele.
— Não é um bom começo, Mershano.
— Então isso é considerado uma briga? — ele zombou. — Porque tenho
uma coisa dura para sua boca, se precisar. — Ele flexionou seu pênis duro
dentro de mim com as palavras.
Dei risada.
— Você é inacreditável.
— Ah, sim, você me chamou disso antes do La Rosas. Fico feliz que as
coisas não tenham mudado.
— Oh, Will, acho que nós dois sabemos que tudo mudou.
— É mesmo? — Ele se aninhou em meu pescoço. — Humm, vou guardar
isso, então, para o futuro, Dawson.
— O que quer dizer? — perguntei curiosa.
— Você vai ver — ele respondeu. — Por enquanto, quero fazer amor
com minha namorada que vai morar comigo. Lentamente, por completo, e a
noite toda.
— Hummm, acho que gosto disso. — Relaxei debaixo dele, pronta para
ele assumir o controle de novo. Seria lento, mas eu aproveitaria cada minuto.
— Que bom, porque é melhor se acostumar com isso, querida.
Sorri contra seus lábios.
— Sim, senhor.
EPÍLOGO
— Duas semanas no Havaí, hein? — Assobiei. — Vocês, Mershanos,
sabem mesmo fazer um casamento.
O sorriso de Sarah iluminou a tela do meu celular.
— Bom, eu disse que preferia férias no Havaí do que em Nova Orleans,
certo? Parece adequado.
Dei risada, lembrando de nossa conversa no ano anterior na mesma
época. Logo antes de ela entrar no programa e conhecer Evan.
— Uau, não acredito que isso foi há doze, não, treze meses.
— Né? Olhe para nós agora, você em seu escritório chique na casa de
Will, eu conversando com você de um jato particular. — Ela balançou a
cabeça. — E pensar que foi tudo culpa da Abby.
Fiz uma careta para isso.
— É, não quero dar crédito àquela mulher.
— Oh, não se preocupe. Ela vai ter o que merece.
— Você finalmente convenceu Mark a te ajudar? — Ele tinha se recusado
rapidamente quando Sarah propôs o plano no último outono, e de novo no
inverno. Dar lição em menininhas mimadas está fora do escopo do meu
trabalho, ele dissera. Encontre outra pessoa.
— Não, Evan o convenceu.
Ergui as sobrancelhas.
— Sério?
— É. Não sei o que ele disse, mas Kincaid está totalmente envolvido em
me ajudar a fazer uma pegadinha com minha gêmea. E é muito bom. Espere
até eu te falar todos os detalhes…
Uma batida à porta me fez olhar para cima para um par de olhos escuros
pecaminosos.
Sorri.
— Vai ter que me contar depois. — Porque eu conhecia aquele olhar. Era
o que Will fazia antes de fazer coisas deliciosas comigo com sua boca.
— Oi, Will — Sarah disse em resposta. Ela não conseguia vê-lo ou ouvi-
lo da câmera no meu celular, mas provavelmente notou minha reação a ele.
— Olá, mocinha — ele murmurou. — Está mantendo Evan na linha?
— Na linha, humm. — Ela fingiu uma expressão pensativa. — Bom, se
está perguntando se o estou encorajando a agir mal, então, sim, sim, estou.
Ele deu risada e apoiou o quadril na minha mesa. Ele estava vestido com
calça preta e uma camisa azul, arregaçada até os cotovelos. Todo homem de
negócios, exceto pelo brilho nos olhos.
— Que bom — ele respondeu. — Ele precisa de uma depravação na vida
dele.
Ela bufou.
— Aham. Tchau, pombinhos. — Ela acenou e desligou sem esperar a
resposta.
— Ela ligou para contar do casamento? — ele imaginou.
— É, parece que vamos para o Havaí por algumas semanas.
Ele balançou a cabeça.
— Tanta coisa para um pequeno caso, não que eu esperasse isso. Não
com esta família. — Ele colocou uma pilha de papéis na mesa diante de mim.
— Falando nisso, se importa de revisar este contrato para mim?
Olhei o documento de forma especulativa.
— Para quê? — Porque não era algo que eu tinha rascunhado.
— Leia — ele disse, respondendo.
Com um suspiro, apoiei minha perna com meia-calça na mesa e comecei
na página um, que era uma lista de propriedade e ativos, incluindo algumas
contas bancárias consideráveis.
— Parece algo que Garrett deveria estar revisando — comentei ao virar
para a próxima página.
Era uma lista de promessas. Todas as palavras trocadas entre nós em
algum momento, com alguns aditivos de natureza sexual jogados na mistura.
Meus olhos nadaram na página, embaçando com algumas das lembranças
mais emocionantes do último ano.
— Will, o que é isso? — sussurrei.
— Continue lendo.
Continuei.
A página seguinte continuou o ataque de emoção, detalhando cada
aspecto de nosso relacionamento, dito e não dito, e no fim havia uma simples
frase. Não era uma pergunta, porque não era do estilo de Will, mas era uma
frase para minha assinatura. Para conhecimento e aceitação dos termos.
Rachel Dawson concorda em se casar com Will Mershano.
Ele colocou uma caixinha de anel ao lado do meu pé na mesa.
— Para você saber — ele murmurou. — Eu sei o quanto gosta de dizer
não, mas, para variar, estou realmente torcendo para dizer sim.
Minha mão foi até minha boca quando o oxigênio saiu de meus pulmões.
Não sabia o que dizer. Como reagir. Se chorava ou se ria ou se pulava nos
braços dele. Não havíamos conversado sobre casamento ainda, embora fosse
para onde nossa relação seguia.
— Will — respirei.
— Não precisa responder agora. Tenho certeza de que gostaria de fazer
algumas emendas e, como já sabe, sempre vou concordar com seus termos.
— Ele beijou minha testa e começou a sair, mas segurei sua mão e o puxei de
volta para mim.
Encontrei seu olhar e sorri.
— Sim.
— Sim? — ele repetiu com a expressão hesitante. Considerando todas as
vezes que eu disse não no passado, não fiquei surpresa. Mas daquela vez meu
coração e minha alma estavam de acordo.
Me levantei e o abracei.
Havia apenas uma palavra a ser dita.
E coloquei todo meu coração nela.
— Sim.

FIM.

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