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Os personagens e eventos descritos neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas
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Sumário
PRÓLOGO
A PROPOSTA DE NEGÓCIO
CAFÉ COM CREME E AÇÚCAR
TOQUES FAMILIARES
FLERTE EM FRANCÊS
XINGANDO NA CAMA
NEGÓCIO FECHADO
CONVERSAS DISTORCIDAS
CAROLINA DO NORTE
BRINCANDO DE MÉDICO
UMA DINÂMICA FRESCA
PROVA DE LUXÚRIA
PODADO
TRANQUILO, SEXY E SEDUTOR
ISSO ACABA AGORA
INDO DEVAGAR
CAFÉ DA MANHÃ DE BANANA
VOANDO DE PRIMEIRA CLASSE
TRAVESSURAS NO AVIÃO
LÍRIOS ORIENTAIS
CORAGEM PARA CONTAR TUDO
DESFILE DE MODA
DOCE LIBERDADE
CONFLITO DE INTERESSE
LUTANDO POR UM FUTURO
CONVENCENDO
NÚMERO DESCONHECIDO
TODOS OS SENTIMENTOS
MARK KINCAID
DA MINHA FAMÍLIA PARA A SUA
REUNIÃO DA FAMÍLIA MERSHANO
A PROPOSTA DE RELACIONAMENTO
EPÍLOGO
PRÓLOGO
Pouco mais de quatro meses antes...
*
Respirei fundo, inalando a essência atraente que me rodeava. Toque de
hortelã e pimenta e algo decisivamente masculino. Delicioso. Fiquei com
água na boca.
Me enterrei mais ainda no paraíso ao meu redor, me esbaldando no
algodão acetinado e travesseiros macios. Meus membros estavam bem
descansados, meu peito estava quente e satisfeito, mas meus pés pareciam
apertados. Mexi os dedos do pé contra o tecido sufocante e franzi o cenho.
Por que usei meia-calça para dormir?
Abri os olhos e foquei no que via.
— Ah, não.
As cortinas estavam cobrindo as janelas que iam do chão ao teto,
mascarando a luz que batia do lado de fora, mas só precisei de um facho de
luz. Apoiei a cabeça nas mãos e comecei a balançar para a frente e para trás.
— Caralho.
— Parece que gosta mesmo de falar isso na minha cama, querida.
Hesitei e olhei para o loiro bem vestido contra o batente da porta. Ele
havia trocado sua camisa de botão e calça preta por uma camiseta azul-claro e
calça cinza. Até à meia-luz, eu conseguia ver suas covinhas.
— Que horas são? — O sono ainda estava na minha garganta,
amenizando a voz.
— Um pouco depois das dez da manhã — ele murmurou com um tom
divertido.
—Caralho!
Meu celular devia estar em outro cômodo ou sem bateria, porque eu não
tinha ouvido o alarme das seis da manhã. Eu detestava atrasos, e nunca
chegava no trabalho depois das nove.
Pulei da cama, então um corpo quente me fez parar. As mãos de Will
seguraram meus quadris, me equilibrando diante dele, pois eu teria caído para
trás.
—Wow, calma, querida. Não quis te assustar.
Minha cabeça girou, tentando acompanhar os movimentos rápidos demais
do meu corpo, e agarrei os bíceps dele para me apoiar.
— Conversei com Janet esta manhã — ele confirmou — e disse que
iríamos nos encontrar para tomar café da manhã e revisar alguns materiais.
Não precisa ter pressa.
Bati uma mão na testa enquanto a outra apertava ainda mais o braço dele.
Uma variedade de palavras lutava para serem prioridade na minha boca, me
deixando muda. Eu não fazia ideia por onde começar.
Desculpe.
Não acredito que caí no sono.
Não acredito que dormi.
Tenho muito trabalho a fazer.
Will me afastou um pouco, fazendo a parte de trás da minha perna
encostar no colchão. Me sentei por instinto e soltei o braço dele. Coloquei as
mãos na cabeça, que estava latejando. Será que eu tinha bebido muito vinho
na noite anterior? Porque eu poderia jurar que estava de ressaca.
— Já volto.
Mal registrei o murmúrio com o barulho acontecendo na minha mente.
Isso não é profissional. Primeiro, o momento bizarro no quarto dele na noite
anterior, depois eu dormindo no meio da leitura da fusão dele, e agora isso?
Mordi o lábio e balancei a cabeça. Poderia ser o momento mais importante da
minha carreira, e eu estava no caminho certo para estragar tudo.
O palavrão parou entre meus dentes quando Will entrou de novo no
quarto. A expressão dele dizia que sabia o que eu estava prestes a dizer e que
queria rir, mas se conteve.
— Tome. — Ele me entregou um copo de suco de laranja, fazendo meu
nariz enrugar. — Confie em mim. Vai ajudar.
— Que confusão — sussurrei mais para mim mesma do que para ele, e
peguei a bebida. O líquido grosso me dizia que fora recém espremido, e sim,
caiu maravilhosamente bem na minha garganta. Bebi metade dele, depois
disse: — Obrigada.
— Claro — ele respondeu. — Sinta-se à vontade para usar o banheiro e
se lavar. Podemos passar na sua casa no caminho para o escritório para que
possa se trocar.
Me encolhi.
— Nada como fazer a caminhada da vergonha com um cliente.
— Não tem por que ter vergonha. — Seu olhar achocolatado se fixou no
meu. — Suspeito que iremos passar muitas noites juntos no próximo mês ou
nos dois próximos, srta. Dawson. E estou ansioso para cada minuto.
Com essa declaração sugestiva pairando entre nós, ele se virou e fechou
suavemente a porta ao sair.
NEGÓCIO FECHADO
Nenhum dos quartos de hotel que já tinha ficado vinha com as
amenidades que encontrei no banheiro da suíte de Will. Produtos de higiene
pessoal eram típicos, mas a variedade de escovas de cabelo e suprimentos
dentais, não. Aproveitei e tomei um banho completo e me arrumei, depois
vesti de novo minha saia. Me ajudou a me sentir humana novamente e
também forneceu o tempo de que eu precisava para organizar minhas ideias.
Pelo menos até entrar na sala de estar e ver Will conversando com um
moreno de altura e estatura similares. Seu terno acinturado gritava elegância e
riqueza, assim como bom gosto. Era justo em seu tronco, envolvia sua cintura
e enfatizava os músculos de suas coxas. Suas abotoaduras brilhavam na luz,
prateadas, não douradas, e seu sorriso era cheio de arrogância.
— Srta. Dawson — ele cumprimentou.
Seu perfume suave provocou um frio familiar na minha espinha. Uma
noite de infinito debate o tornou inesquecível.
— Sr. Wilkinson.
Seus olhos azuis surpreendentes tinham um toque de ameaça que fazia
meu pulso acelerar, mas, quando ele ergueu a mão, eu o cumprimentei. Seu
aperto de mão firme gritava dominância, mas não era esmagador ou cruel.
Apenas um alfa confirmando sua presença. Quando retornei o gesto
sutilmente, seus lábios se curvaram e ele olhou tão rápido para Will que foi
difícil de eu interpretar. Aprovação, talvez?
— É um prazer finalmente conhecê-la — ele murmurou ao soltar minha
mão. — Will me contou que vamos parar na sua casa no caminho para o
escritório.
A forma íntima como ele disse isso me fez encolher.
— É, ou vocês dois podem seguir para o escritório e eu os encontro lá.
Garrett olhou o relógio.
— Não, temos tempo.
Franzi o cenho.
— Quando é sua reunião?
Seu sorriso como resposta combinava com seu apelido. Era o Diabo
mesmo.
— Oh, mocinha, os truques que eu poderia lhe ensinar…
— Não temos hora marcada — Will explicou, divertindo-se. — Garrett
prefere o elemento surpresa.
— Que você acabou de arruinar.
— Rachel não vai falar nada.
Ergui uma sobrancelha quando um pouco da minha personalidade
respondeu.
— Agora você fala por mim?
Qual era o problema com homens ricos e a constância em me tirar do
jogo?
— Não sonharia com isso — Will respondeu ao pendurar minha bolsa no
ombro. Nem tinha reparado que ela estava ao lado dele na mesa. — Mas, já
que estou com seu laptop e celular — ele continuou —, me sinto mais
confiante ao falar isso.
Meu queixo caiu.
— Alguns chamariam isso de roubo.
— Eu chamo de garantia. Vamos?
Abri os lábios para discutir, mas a luta me abandonou quando respirei de
novo. Não queria meu celular de volta. Não depois da noite anterior. Ryan
sempre escolhia momentos aleatórios para tentar falar comigo, mas algo
sobre sua abordagem estava diferente daquela vez. Parecia mais urgente, o
que me preocupava. O desespero o tornava ainda mais perigoso, e eu não
podia deixar que ele intensificasse seus avanços no momento. Não quando
estava claro que eu ainda tinha medo dele.
— Rachel?
A preocupação franzindo a testa de Will era a última coisa de que eu
precisava.
— Para seu governo, só vou deixar você segurar minhas coisas porque
não estou a fim de carregá-las.
O tom sarcástico soou forçado para meus ouvidos, mas pareceu acalmá-lo
o suficiente para amenizar as linhas de sua testa.
— Como quiser, srta. Dawson.
— Posso gravar isso?
Porque aquelas palavras definitivamente seriam úteis nas semanas
seguintes.
Ele colocou a mão na minha lombar para me fazer andar.
— Sem chance, querida.
Li várias vezes. Ele sabia qual era meu hotel e o número do quarto. Mas,
pior que isso, aquele cartão foi escrito à mão por ele. Reconheceria essa letra
elegante em qualquer lugar. Será que ele tinha enviado junto com os lírios?
Ou pior… será que também estava em Paris?
Minhas pernas cederam quando comecei a andar. E se ele estivesse
ficando naquele hotel? Os Hotéis Mershano normalmente incluíam recibo de
entrega? Ou um recado por estar no quarto? Será que ele estava ali agora,
observando minha reação? Meu olhar revistou à minha volta de forma
fervorosa e, de repente, a suíte pareceu grande demais. Ele poderia estar em
qualquer lugar. No quarto, me esperando, no banheiro, em um armário…
O medo me paralisou, impossibilitando que eu me movesse, que
começasse a procurá-lo. Será que ele realmente tinha me seguido até Paris?
Aparecer sem anunciar em meu apartamento já era ruim o suficiente, mas
aquilo era total obsessão. Como ele tinha mudado de me deixar em paz por
meses a me perseguir até outro país? Será que ele suspeitava de meus
sentimentos por Will?
— Oh, Deus — sussurrei.
O primeiro homem com quem saí depois de Ryan estava com serviço
inativo por apenas dois meses quando recebeu uma ligação pedindo que
retornasse. Eu não sabia muito sobre militares, mas sabia que aquilo não era
uma coincidência, principalmente quando Ryan deixou um recado debaixo da
minha porta dizendo: Que pena. E fiquei sabendo que Afeganistão está
particularmente brutal neste momento.
Meu segundo encontro foi mais aleatório e de apenas uma noite. Uma
semana depois, vi um jornal na minha mesa de centro com um artigo
circulado. A manchete era “Homem assaltado perto do Parque Millennium”,
e a foto mostrava o homem com quem eu tinha ficado no bar. Ele estava vivo,
mas machucado. Por minha causa.
E agora Will…
Lágrimas escorreram por minha face. Não. Eu não poderia deixar nada
acontecer a ele. Não por me conhecer. Não era justo. Apertei meu estômago
quando explodi em soluços tão fortemente que não conseguia respirar. Eu
odiava Ryan mais do que nunca naquele instante. Mais do que a primeira vez
em que ele me bateu, ou todas as vezes que ele me sufocou até eu ceder, ou
até a vez em que ele me fez desmaiar. A tortura emocional era sua pior
punição, tinha me mudado irrevogavelmente, mas o medo de ele machucar
Will quase me matou.
Não apenas gosto dele; eu realmente gosto dele, percebi. Talvez até o
ame.
Percebi isso de maneira tão clara que minhas lágrimas pararam
temporariamente. Sabia que gostava dele e me importava com ele, mas era
muito maior que isso.
Minha afeição por ele morava em um lugar dentro de mim onde ninguém
mais entrara, nem Ryan. Will havia lutado para eu confiar nele, para eu me
render totalmente e, de alguma forma, havia me cativado ainda mais do que
nós dois esperávamos. Ou talvez ele soubesse. Talvez ele até sentisse o
mesmo. Ele tinha mais que provado que aquele não era um simples jogo de
afeição por ele; do contrário, eu teria acabado nua debaixo dele duas noites
antes. E seus comentários na cama dele e no avião sinalizaram seu
comprometimento inflexível.
Minhas mãos tremiam enquanto eu as pressionava nas têmporas e
balançava no chão. Não importava como Will se sentia naquele momento. O
que importava era como eu me sentia e o que eu estava disposta a fazer para
protegê-lo.
A opção óbvia era fugir, voltar correndo para Ryan e pedir perdão. Se o
bajulasse o bastante, talvez ele esquecesse aquele contratempo. Teria que
desistir do meu cargo na firma, e essencialmente da minha vida, mas manteria
Will em segurança. Amor era sacrifício, e eu faria o extremo ao desistir de
toda a ilusão da felicidade. Mas amor também poderia ser força e unidade e
confiança.
Confiança.
“— Vai confiar de novo, Rachel.” As palavras de Will da outra noite
iluminaram meu coração. Ele as disse com muita convicção, muita promessa.
Ele acredita em mim.
Mas será que eu conseguia acreditar em mim mesma?
Minhas lágrimas secaram conforme fiquei ali deitada buscando a força de
que precisava. Pedir ajudar sempre me deixava sentindo inferior, como se eu
não conseguisse lidar com isso sozinha e tivesse que depender de outros. Mas
era uma vantagem reconhecer quando uma situação ia além do controle e
exigia ajuda.
Aquelas flores acima da minha cabeça eram uma indicação do quanto
aquela situação já estava fora de controle. Saber que ele poderia estar na
França, ou naquele exato hotel me observando, era loucura! Ele havia perdido
a cabeça. E voltar para ele com o rabo entre as pernas apenas validaria mais
suas atitudes. Eu não poderia fazer isso, não sobreviveria.
Olhei em volta, meio que esperando que Ryan estivesse em pé vitorioso,
mas me vi sozinha. Minha bolsa estava esquecida no vestíbulo perto da
minha mala. Rastejei até ela, sem me importar de como isso destruía minha
meia-calça. O cartão que eu queria estava onde deixei três anos antes. Não
fazia ideia se o número ainda existia, mas, conhecendo Mark, existia. Minha
mão tremia quando apertei cada botão em meu celular. A ligação me custaria
uma pequena fortuna, já que estava em outro país, mas não tinha outra opção.
Precisava de ajuda, e algo me dizia que ele sabia que esse dia chegaria.
Tocou uma vez, depois alguém atendeu sem falar nada.
— Mark? — Essa era minha voz? Eu soava destruída. Com muito medo.
— Por favor, me diga que é você. Porque eu não tinha certeza se tinha a força
ou a coragem de ligar de novo.
— Onde você está? — Seu tom profundo me fez chorar de novo.
— Paris.
— Está em perigo imediato?
Olhei em volta para o quarto vazio e estremeci.
— A-acho que não. — Se Ryan estivesse ali, já teria saído do
esconderijo.
— Me dê cinco minutos — ele respondeu e desligou.
CORAGEM PARA CONTAR
TUDO
Will provavelmente queria saber por que estava demorando tanto, mas ele
não pressionou quando lhe disse que precisava de mais meia hora. Quando
Mark me ligou de volta precisamente cinco minutos depois, foi de outro
número que não reconheci. Ele soltou um assobio baixo agora que terminei
de lhe contar tudo sobre o último mês e o suposto casamento. Também lhe
contei sobre como Ryan lidou com meus encontros anteriores, e tudo dos
últimos anos.
— Não sei o que fazer — sussurrei. — Não posso deixar que ele
machuque Will.
Mark ficou quieto por tanto tempo que pensei que o tivesse perdido. Mas
um olhar na tela mostrou que nossa conexão ainda estava ativa.
— Vou precisar fazer umas pesquisas — foi sua resposta vaga. — Nesse
meio tempo, precisa contar ao Mershano o que está havendo. Se esse
psicopata estiver em Paris, o que é uma possibilidade bem real, então ele
precisa saber da situação. Não pode mais guardar tudo isso para você, Rachel.
— Ele disse a última frase com reprovação e serviu como a única indicação
de que ele estava decepcionado por eu guardar isso por tanto tempo para
mim.
— Ele vai pensar que sou louca. — Ou pior. Pode me achar fraca por sair
com Ryan.
— Não, vai pensar que você é corajosa — Mark corrigiu. — Está pedindo
a ajuda dele em vez de correr de volta para o Albertson como uma covarde.
Sua declaração me fez encolher. Ele e meu irmão nunca amenizavam as
palavras, o que supus ser o motivo de eles serem melhores amigos.
— Você estava se perguntando por que ele aumentou a perseguição no
último mês — ele continuou. — Fácil. O pai senador de muito tempo dele
está prestes a deixar o cargo, e Ryan quer o emprego, mas ele precisa de uma
esposa primeiro. Os eleitores amam os valores deles de família, e ele se
candidatar solteiro não vai cair bem. Você é uma ação política para ele, e que
ele pensa poder controlar.
— Porque deixei que me controlasse muito tempo — finalizei por ele, me
encolhendo.
— Sim, e não. Homens como Albertson gostam de um bom desafio. No
minuto que você ceder às exigências dele, ele vai ficar entediado, mas
também precisa te dominar e o tempo está correndo, por isso o desespero. E
isso torna um homem com fome de poder como ele perigoso. Precisa contar
ao Mershano. Ele tem os recursos à disposição dele para mantê-la segura; do
contrário, estarei no próximo voo para aí.
— Isso é pedir muito dele. Tipo…
— Não é, não — ele me cortou. — Parece que você não percebeu com
quem está namorando.
— Mas não estamos namorando. Estamos…
—Você está namorando. Pare de arranjar desculpas e fale com ele. Isso é
uma ordem, Dawson.
Bufei para isso.
— Você é tão mal quanto Caleb. — Ele costumava mandar em mim o
tempo todo quando criança, e, pensando assim, Mark também.
— Não, sou muito pior que seu irmão. Agora vá falar com o Mershano.
Entrarei em contato quando souber mais coisa. — Ele desligou sem mais
explicação. Pulei quando alguém bateu à porta nem um segundo depois. Meu
coração acelerou, depois parou, me fazendo ficar surda. E se fosse Ryan? Eu
não tinha trancado a porta. Se ele tivesse a chave, poderia entrar.
Percebi meu medo quando o deslize de um cartão penetrou meus ouvidos.
Comecei a recuar atrapalhadamente, quando escutei o tom profundo de Will
chamar: — Olá?
Um gritinho escapou da minha boca quando o alívio me fez deitar no
chão, seguido rapidamente por vergonha. Oh, Deus. Isso é me ver na pior…
A confiança de Mark de que Will me acharia corajosa se desintegrou aos
meus pés. Eu devia estar parecendo meio louca deitada ali com a meia-calça
rasgada, o cabelo bagunçado, e as roupas amassadas. Sem contar meu rosto…
Tentei esconder nos braços e apertei os joelhos contra o peito.
— Jesus, que porra aconteceu? — As mãos de Will estavam em mim um
segundo depois, fazendo-me encolher por reflexo. Ele recuou imediatamente,
o que só me fez querer rastejar mais e berrar.
— Rachel — ele murmurou. — Fale comigo, meu amor. Está
machucada?
Balancei a cabeça e mordi o lábio tão forte que senti o gosto de sangue.
Me abrir sobre isso para Mark tinha sido difícil, mas aquilo parecia como
abrir meu peito. Por onde eu poderia começar? E se isso mudasse a forma
como ele se sentia ou agia? Ver pena em seus olhos me destruiria. Era a
última expressão que eu queria ver nele. Todo o calor reprimido e os olhares
insinuantes e comentários eram do que eu gostava. Eles desapareceriam
assim que ele soubesse a verdade.
Pare de arranjar desculpas e fale com ele, a exigência de Mark se repetia
em minha mente. Ele tinha razão. Eu precisava contar a Will, não para pedir
que ele me ajudasse, mas então ele poderia se ajudar. Alertá-lo sobre Ryan
era a melhor maneira para eu proteger Will. Ele não poderia se defender
contra uma ameaça desconhecida, mas poderia potencialmente impedir uma
conhecida.
Expirei demoradamente e lutei para ter a coragem de que precisava para
explicar. Minhas mãos tremiam tanto que precisei uni-las para impedir que
meus braços vibrassem.
— Por favor, fale comigo, Rachel — ele sussurrou. A dor em sua voz
martelou minhas costelas, perfurando até meu coração. Deus, ele pensava que
era por causa dele. Claro que pensava. O que mais poderia ter me deixado
assim em tão pouco tempo? Quase dei risada desse absurdo. Mas foi a
respiração funda dele, seguido por um suspiro trêmulo, que me fez parar.
Estilhaçar sua confiança de forma tão irrevogável que ele não apenas temia
me tocar, mas também se continha de falar? Não, não era nada justo com ele.
Ele merecia mais, muito mais.
Engoli em seco, minha garganta reagindo contra as bolas de algodão
invisível. Precisei tentar duas vezes para pigarrear para poder começar e,
mesmo assim, minha voz vacilou.
— Preciso te c-c-contar sobre meu ex.
Will se manteve em silêncio enquanto eu lhe contei como conheci Ryan,
quando começamos a namorar, como as coisas começaram como um conto
de fadas e acabaram um desastre, e então como ele se recusou a aceitar que
não estávamos mais juntos. Detalhei o que aconteceu com os dois únicos
homens com quem me associei depois de nosso término, expliquei por que
parei de namorar e, então, mostrei a ele as mensagens em meu celular das
últimas semanas.
— E agora, acho que você também pode estar correndo perigo — concluí
com um gesto para as flores e o cartão no chão. Ele se levantou e foi até lá
para ler. Eu não tinha percebido o quanto ele esteve perto de mim no chão até
o calor de seu corpo sumir, deixando-me trêmula. Ele sentara ao meu lado
com as costas contra a parede, braços cruzados pendurados nos joelhos
flexionados, escutando com uma expressão ilegível.
A pena que eu esperava nunca veio, o que me ajudou a equilibrar os
sentimentos. Meus olhos queimavam de ter chorado muito, e provavelmente
eu parecia um gato afogado, mas pelo menos o choro copioso tinha parado.
— Sinto muito por arrastar você nisso — sussurrei. — Sinto tanto, tanto.
— Mordi o lábio para impedir que tremesse. Nem pensar eu iria desmoronar
de novo.
Will colocou o cartão na mesa e foi na minha direção com uma expressão
que eu nunca queria ver direcionada a mim. Fúria. Eu merecia isso por
colocá-lo naquela situação, mas doía mesmo assim. Pelo menos não era pena.
Meus olhos se fixaram nas minhas mãos conforme ele se agachou diante de
mim. Foi covarde, mas eu não conseguia suportar ver o que viria em seguida.
Acusações, gritos, culpa…
— Rachel. — Seu tom suave não combinava com sua expressão
ameaçadora que eu vira segundos antes. Nem o toque leve em minha mão. —
Nunca mais se desculpe por ele.
Não era isso que eu esperava que ele dissesse. A confusão se misturou
com minha inquietação, fazendo-me franzir a testa. O quê?
— Você não me arrastou para nada, e nada disso é sua culpa. — Ele
gentilmente ergueu meu queixo para encontrar seu olhar. Era menos violento
do que eu esperava, mas a raiva coloria seus traços e pressionava seus lábios.
— Obrigado por me contar. Por confiar em mim.
— Não está bravo? — perguntei incrédula.
— Oh, estou furioso, mas não com você. — Ele segurou minhas faces e
encarou fundo em meus olhos. — Você é uma mulher forte, Rachel. Contar
para mim como acabou de fazer? Sei que não foi fácil. O que penso é que
estou orgulhoso e indignado com sua coragem. — Seus polegares passaram
sob meus cílios conforme ele me deu um beijo suave contra a testa. — Acha
que ele está em Paris?
Limpei a emoção da garganta.
— Não sei. Mark está pesquisando para mim.
— Mark?
É mesmo. Ainda não tinha chegado naquela parte.
— Lembra como eu disse que era mais próxima do melhor amigo do meu
irmão do que meu irmão? — Quando ele assentiu, continuei. — O nome dele
é Mark. Foi ele que me ajudou a fugir de Ryan da primeira vez. — Estremeci
com a lembrança. A dor. Will se acomodou diante de mim, com os joelhos
me envolvendo como uma jaula protetora, me defendendo de meu passado.
Me pressionei nele, desejando sua gentileza.
— Eu te contei que ele, R-Ryan, preferia dor emocional em vez de física,
mas no dia em que fui embora… — Tossi de novo para acalmar a incerteza
borbulhando dentro de mim. Estou segura. — Essa, bom, essa foi a primeira
vez e única que ele me espancou. — Apertei meu estômago por instinto, e
Will observou meu movimento. — Ele me bateu primeiro, me obrigando a
deitar, depois me chutou tão forte que quebrou minha costela e tirou o ar de
mim. Depois ele… — Esfreguei o pescoço.
— Ele te sufocou — Will murmurou.
— É. Era uma das formas preferidas dele de… de… dor. Mas daquela vez
ele não soltou e, quando acordei, ele tinha sumido. — Tinha sido a
experiência mais aterrorizante da minha vida, não conseguir respirar e ver
aquele olhar mortal nos olhos dele que diziam que ele nunca pretendia me
soltar. Pensei que ele fosse me matar naquele dia. E, quando não o fez, jurei
nunca estar naquela situação de novo.
— Nem consigo me lembrar do que o deixou bravo, algo sobre eu
trabalhar muitas horas, mas nunca o tinha visto tão bravo. Liguei para Mark
naquela noite, disse que precisava de ajuda, e ele me buscou. Nunca
perguntou nada, mas ele sabia, e ofereceu seu apartamento como um porto
seguro. Ele é do FBI, ou é o que diz, e viaja muito. Funcionou por alguns dias
até Ryan me encontrar. Ainda não sei como, mas suspeito que ele me seguiu
para casa do trabalho.
Balancei a cabeça, sem querer divagar.
— Enfim, te contei o resto, sobre como ele nunca aceitou que não
estamos mais juntos. E, como pode ver, ainda acha que sou dele. — Acenei
para as flores de novo.
— E Mark está verificando se Ryan está em Paris?
— Isso. Ele tem acesso a certos recursos, por isso penso que essa história
dele de FBI é mentira.
Não que fosse relevante para aquela conversa — bom, não muito, de
qualquer forma.
— Liguei para ele quando vi as flores. Ele me deu um cartão com seu
número misterioso para ligar se um dia precisasse dele depois do que
aconteceu três anos atrás, e eu não sabia mais o que fazer, então usei-o.
— Foi a coisa certa a fazer, embora ainda não tenha certeza do que ele vai
fazer.
Apesar da nossa conversa medonha, tive que sorrir.
— Nunca sei o que Mark vai fazer, mas confio nele.
Will me analisou por um momento demorado e assentiu.
— Então também vou confiar nele.
— O quê?
— Se você confia nele, eu confio nele. — Tão simples, tão sincero. —
Agora, o que mais ele disse?
— Ãh, ele mandou que eu contasse para você porque você tem recursos, e
ele se sentia confortável o suficiente com isso para não pegar o próximo voo
para cá. — Franzi o cenho com aquela última parte. Eu ficara tão envolvida
na parte “Contar para Will” que não havia pensado no comentário irreverente
dele em pegar um voo para a França. Típico de Mark dizer isso.
— Já gostei dele — Will murmurou. — E ele tem razão. Preciso fazer
algumas ligações, mas quero passar nosso dia como se nada disso tivesse
acontecido.
Assustei.
— Como assim?
— Se Ryan estiver em Paris, então precisamos que ele ache que são
negócios normais entre nós. Vai mantê-lo mais calmo e, felizmente, racional,
que é um termo que uso com cuidado em relação a ele. — A expressão que
ele fez teria me feito rir se não estivéssemos falando de Ryan. — Vamos
manter nossa rotina — ele continuou. — Vamos às compras, passear um
pouco e, talvez, jantar em algum lugar. Ele não vai fazer uma cena em
público, porque é um político e é mais esperto que isso. Então vamos
aproveitar nosso dia, o melhor que podemos, e não deixar que ele estrague
sua primeira viagem para a França.
— Você está falando sério.
— Muito.
— Quer que eu finja que não tenho um ex perseguidor maluco me
caçando?
— Isso.
— E se ele aparecer?
— Deixe que eu cuido disso.
Comecei a balançar a cabeça.
— Você não entende, Will. A família dele tem conexões com todos os
tipos de pessoas e organizações governamentais, e não acho que todas elas
são legais. — Alguns dos amigos da família que conheci enquanto
namorávamos não pareciam o tipo de amigos que Ryan teria feito no
Escotismo.
Ele me olhou sério.
— Você acha que tenho medo de uma família influente?
Certo. Ok.
— Mas a família Mershano tem um negócio internacional. A vida inteira
de Ryan é construída nas costas de políticos, que não é a mesma coisa. Eles
não jogam limpo.
Will bufou.
— Acredite em mim, eles são mais parecidos do que imagina. Não tenho
medo dele, Rachel. Ele pode ter muitos amigos, mas eu também tenho e,
querida, quando o assunto é você, nunca vou jogar limpo.
O olhar em seus olhos quando ele disse aquelas últimas palavras foi tão
feroz que não consegui me mexer, nem respirar. Puta merda. Não conseguia
decidir se gostava daquele olhar ou se deveria temê-lo. A intensidade
emanava dele conforme ele continuava a me estudar, permitindo que eu visse
um lado mais firme dele que se escondia por trás de seu charme. Esse era o
homem criado por um império influente, aquele que andava em círculos
similares aos de Ryan.
Engoli em seco. Aquele olhar serviu como um lembrete do quanto eles
poderiam ser parecidos e também demonstrava como eram diferentes um do
outro. Ryan se regalava com o dinheiro de sua família e não trabalhara duro
nem um dia de sua vida, enquanto Will lutou por tudo que tinha apesar de ter
acesso a um caminho fácil. Um escolheu a política, enquanto o outro
escolheu desafiar a si mesmo a tentar algo novo.
— Ok — concordei.
— Ok em ter um dia normal? — ele perguntou, esclarecendo.
Assenti.
— Sim, o mais normal possível.
Suas covinhas apareceram pela primeira vez desde que ele entrou em meu
quarto.
— Oh, entendo totalmente isso como um desafio, querida. Juro que não
vai pensar em nenhum homem exceto eu no fim do dia.
Só Will encontraria uma maneira de tornar essa situação algo quase
divertido. Quase sorri, mas eu ainda não achava isso. O fato de eu estar tão
perto, no entanto, me dizia que ele não teria problema em cumprir sua
promessa. Mesmo assim, não poderia deixá-lo vencer fácil assim.
— Tão convencido.
— Confiante — ele corrigiu. — Agora, que tal você vir até minha suíte
para tomar banho e se trocar enquanto falo com alguns dos meus amigos. —
Ele enfatizou a palavra meus para que eu soubesse o que significava. Ryan
não é o único com contatos.
Ele se levantou e estendeu a mão para me ajudar a levantar. Fui sem
hesitar.
Confiança, ele dissera na outra noite. Eu não tinha entendido o que ele
queria dizer, mas agora entendia. Ele sabia o tempo todo que eu estava
escondendo alguma coisa, que eu estava prestes a me abrir — mas me
afastava — e agora todas minhas barreiras tinham sido quebradas. Sem mais
lutas, sem mais me esconder. Era hora de viver de novo. Livremente.
DESFILE DE MODA
Analisei o vestido no espelho e franzi o cenho. Will estava certo quanto a
ser uma distração fazer compras. Saí e estreitei os olhos para sua forma
relaxada no sofá. Porque é, aparentemente, aquela butique de designer para a
qual ele me arrastara tinha uma sala de estar formal para homens ricos.
— Não. — Tive que dizer a princípio. O vestido era adorável; se
acomodava em minhas curvas de uma forma sutil que ainda o tornava
apropriado para o trabalho, e o azul se destacava na minha pele. Até chegava
aos joelhos, o que era um comprimento respeitável. Mas não valia nem um
pouco a etiqueta.
Ele me olhou com um interesse aguçado.
— Ah, sim.
— Me diga de novo por que este é melhor do que meu tailleur.
— Porque é francês.
— Ainda não entendi a lógica.
— Moda e aparência são uma marca na França, e até mais no ramo
profissional. — Quando ergui a sobrancelha, ele continuou. — Os sócios
franceses se vestem com status e sucesso, o que significa que precisamos
aparecer estilosos. Por isso… — Ele acenou a mão para meu vestido.
Franzi os lábios.
— Claro que há lojas menos caras.
— É lógico, mas, na França, você compra o melhor que pode pagar.
Arrá!
— Bom, eu não posso pagar isso. — Que pena. Comecei a me virar,
quando a réplica dele me congelou no lugar.
— Talvez, mas eu posso, e você está diretamente associada comigo como
minha conselheira legal. Vamos comprar o vestido e os dois que você provou
antes.
Caramba. Eu tinha amado os dois também, mas estava deixando-os de
lado por causa do preço.
— Vamos precisar de sapatos também, e lingerie, claro. Presumindo que
você queira mais meia-calça? — Mesmo sem olhar para ele, eu sabia que ele
estava olhando as que estavam nas minhas pernas.
— E o que você vai comprar? — Ele tinha que provar alguma coisa ou
procurar suas próprias roupas. Passamos a manhã em um café perto da Torre
Eiffel, depois fizemos uma longa caminhada em volta para passear antes de
vagarmos para aquele lugar ao que ele se referia como a melhor região para
compras de toda Paris. O que ele queria mesmo dizer era “mais cara”. Apesar
de as roupas serem lindas.
— Está ansiosa para me ver desfilar algumas coisas para você? — ele
zombou.
Olhei por cima do ombro para ele.
— Na verdade, sim. Estou. — Se ele quisesse me distrair do assunto
Ryan, deveria desfilar nu para mim. Eu não conseguiria pensar em mais nada
com toda aquela perfeição musculosa à mostra.
O desafio iluminou seus olhos.
— Vou desfilar para você se você desfilar para mim.
Será que eu disse a parte da nudez em voz alta ou ele acabou de
interpretar isso em meus olhos?
— Mas estou desfilando para você. — Gesticulei inocente para o vestido
na tentativa de ver sua reação.
— De lingerie — foi sua simples resposta. Minhas faces coraram.
— Isso não é uma troca justa.
Seus cotovelos se apoiaram nos joelhos conforme ele se inclinou na
minha direção.
— Como quiser, de roupa ou sem. Você que escolhe.
— Qualquer coisa que eu escolher? — repeti. — Tem certeza de que quer
jogar esse jogo comigo, Mershano?
— Absoluta, porque eu que vou selecionar a lingerie com que você vai
desfilar. — Meus lábios se abriram com sua ousadia. Seu olhar correu por
mim faminto quando complementou: — Não se preocupe, querida. Vou
escolher meias-calças para você também.
Quando ele disse que queria esquecer o que aconteceu naquela manhã,
pelo menos durante o dia, não estava brincando. Eu esperava todo tipo de
bizarrice entre nós, mas ele me tratou exatamente como sempre fazia. Sexy
como sempre. Pensei em sua oferta. Havia algumas peças ridículas na
primeira loja em que fomos. Vê-lo em uma daquelas valeria muito a pena
algumas poses em lingeries escolhidas por ele.
— Fechado — eu disse decisivamente. Ao menos seria um jeito divertido
de passar nossa tarde, e eu estava determinada a fazer justamente isso.
Depois de refletir sobre os acontecimentos da manhã, concluí que Ryan
estava tentando me manipular. Queria arruinar aquela viagem para mim, e
sabia que a melhor maneira de fazer aquilo era me assustar com a submissão
através de um gesto bizarro romântico. Ignorar as flores em meu quarto e
aproveitar o dia era o oposto do que ele queria. Sair do hotel hoje com a
cabeça erguida desfez um nó do controle de Ryan porque, em vez de me
afundar no medo, decidi viver. Suspeitava de que Will já soubesse disso tudo,
e era por isso que sugeriu que nos aventurássemos.
Ele pagou os vestidos e pediu que um carro os levasse ao quarto dele do
hotel. Não tínhamos cancelado a reserva que estava em meu nome, mas não
tínhamos a intenção de usá-la.
Antes de sairmos naquela manhã, o Hotel Mershano confirmou que as
flores foram entregues na recepção e levadas ao quarto. Will deu aos
funcionários uma foto de Ryan e lhes pediu para ser notificado
imediatamente se vissem alguém parecido com meu ex andando por lá. Eu
não estava lá durante a conversa, mas vi a reverência feita para ele quando
partimos. Ele pode não ser da gerência do hotel, mas eles sabiam quem ele
era e o respeitavam.
— E aqui? — Will disse quando passamos por uma boutique para
homens. Um olhar nas vitrines mostrou uma ostentação de opções divertidas
para seu futuro desfile de moda.
Abri a porta enquanto respondia: — Oh, isso será divertido.
Trinta minutos mais tarde, Will seguiu para o provador balançando a
cabeça enquanto eu me acomodei no sofá macio. Um alfaiate perfeitamente
vestido ficou em pé por perto, pronto para auxiliar Will com qualquer terno
que ele pretendesse comprar. Eu escolhi alguns, principalmente porque ele
ficava maravilhoso neles, mas também escolhi alguns cachecóis e roupas
coloridas só para zoá-lo. Então ele saiu em uma das combinações esquisitas,
e fiquei boquiaberta.
Não. Podia. Ser.
— Não é justo — sussurrei. A combinação pink e laranja parecera
ridícula no manequim e, mesmo assim, de alguma forma, ficou boa nele. Ele
enfiou as mãos nos bolsos do jeans justo e deu um giro lento que chamou
minha atenção para sua bunda linda. — Vou precisar que fique exatamente
assim por, no mínimo, dez minutos.
Ele encontrou meu olhar no espelho.
— Virar o jogo é justo, querida.
Analisei suas costas. Admirar aquela vista em troca de desfilar de lingerie
como em uma passarela?
— Vale a pena. — Se estivesse com meu celular, teria tirado uma foto,
mas o deixei no hotel com minha bolsa. A última coisa que eu queria era que
Ryan tivesse uma forma de me encontrar.
Will deve ter sentido a reviravolta em meus pensamentos, porque fez uma
dancinha que teria me feito rir se aqueles jeans não estivessem tão apertados.
Em vez disso, minha garganta ficou seca.
— Você precisa comprá-los.
Ele bufou.
— Não são práticos.
— Eu não ia recomendar que usasse enquanto trabalha na vinícola,
Mershano.
Ele ergueu a sobrancelha.
— É? Venha aqui um segundo.
— Ãh, por quê?
— Quero te mostrar uma coisa.
Não confiava naquele olhar ou tom inocente. Ele estava planejando algo.
Me levantei do sofá macio e fiquei em pé diante dele. Will pediu ao alfaiate
uma taça de champagne em francês, o que interpretei que ele quisesse um
instante de privacidade. O cavalheiro mais velho assentiu e sumiu, deixando-
nos sozinhos no provador.
— Tire. — Seu tom profundo me atingiu em todos os lugares certos.
— Seu jeans? — Uma pergunta idiota. Obviamente era isso que ele
queria dizer, mas não poderia estar falando sério. Analisei suas pupilas
dilatadas e engoli em seco. Ok, é, ele não estava brincando. — Aqui? — Saiu
como um sussurro.
— É. — Nenhum sinal de piada, e se era para levar em conta sua
protuberância debaixo do zíper, ele realmente queria que eu tirasse sua calça.
Não era o lugar que eu esperava que acontecesse, mas a natureza proibida
de seu comando provocou um arrepio de prazer em minha espinha. Will nu?
Sim, por favor. Subi as mãos por suas coxas, adorando a sensação de seus
músculos se tensionando no caminho. O calor emanava dele, encorajando
minhas atenções. Seu pau duro pulsou debaixo de meus dedos enquanto senti
todo seu comprimento impressionante até o botão de ouro. Abriu com
facilidade, e desci o zíper e revelou sua cueca azul-marinho.
Olhar ali me fez lamber os lábios.
— Eu aprovo. — Principalmente já que era a que eu tinha escolhido com
suas roupas.
— Continue. — O desejo envolveu seu tom e escureceu seu olhar. Ele
não precisou me pedir duas vezes. Só que, quando tentei abaixá-la, ela mal se
mexeu. Coloquei mais força e senti uma onda de frustração quando ainda não
cooperaram.
— Algum problema? — ele perguntou em voz baixa.
Franzi os lábios quando o objetivo daquele jogo se tornou óbvio. Quando
ele se referiu à praticidade, quis dizer que era muito apertada para aproveitar
os benefícios. Era uma propaganda enganosa. Ei, olha o que ofereço, mas
boa sorte ao tentar alcançar.
— Pelo menos fica bonita vestida — resmunguei.
— Mas qual é o objetivo se não consegue tirá-la?
Oh, eu conseguia, mas iria arruinar o momento. Assim como aconteceu
naquele instante. Semicerrei os olhos para ele.
— Você venceu esta rodada, Mershano. Próxima roupa.
— Sim, madame. — Ele inclinou o chapéu inexistente para mim de novo
e desapareceu atrás da cortina. Dei uma risadinha quando ele demorou mais
de dez minutos para se trocar, o que foi exatamente na hora em que o alfaiate
voltou com a champagne. Suspeitei que ele demorou mais do que o
necessário para nos dar privacidade.
Will o agradeceu e colocou a taça de lado para ajeitar o colarinho da
camisa no espelho. Me deu uma ótima visão de sua parte de trás, que estava
perfeita como sempre no terno escuro. O azul-marinho era quase preto, e o
paletó caía perfeitamente nele, embora o alfaiate tenha feito alguns
comentários sobre o comprimento do braço em francês. Eles conversaram por
muitos minutos conforme o homem de cabelo branco media as costuras da
calça, do braço e alguns outros lugares interessantes. Quando ele terminou,
Will olhou por cima do ombro para mim.
— Esperando um elogio? — zombei. Não que seu ego precisasse.
— Sempre.
Revirei os olhos.
— Você está maravilhoso e sabe disso.
Ele sorriu largamente para mim.
— Maravilhoso?
— Lindo, gostoso, de dar água na boca, delicioso. — Falei todos, cada
um aprofundava suas covinhas nas faces. — Oh, que seja. Nós dois sabemos
que seu ego não precisa de mais bajulação.
— De você? Sempre gosto de bajulação. — Ele deu uma piscadinha e
desapareceu por trás da cortina para provar muito mais roupas, todas elas
igualmente esplêndidas.
— Bom, pelo menos você tem um emprego backup caso essa coisa de
vinícola não dê certo — eu disse depois de sairmos. Ele deixou seus ternos
com o alfaiate, prometendo voltar pela manhã para a prova final. Aquele tipo
de demora não poderia ser normal, principalmente já que o dia seguinte era
domingo, mas a loja pareceu mais do que feliz em acomodá-lo.
— É, e qual é? — Will perguntou, referindo-se ao meu comentário de
emprego backup.
— Modelo. — Ele poderia facilmente trabalhar na indústria da moda ou
estrelar uma daquelas revistas masculinas de moda.
Ele deu risada e balançou a cabeça.
— Acho que vou continuar com minha vinícola, querida. — Seu braço se
apoiou em meus ombros quando ele me puxou para perto. — Mas voto em
vermos como você se sai como modelo de lingerie.
Zombei disso.
— Ãh, seria mais adequado para Sarah. — Ela tinha curvas em todos os
locais certos, enquanto as minhas eram muito magras para aquela indústria.
Eu tinha a altura certa, e talvez até as pernas, mas meus seios não eram tão
empolgantes.
— Eu julgarei — ele disse quando entramos em nossa última loja. Will
cumprimentou a dona e me apresentou como “amiga” que precisava de pelo
menos duas semanas de roupa íntima. Tudo foi em francês, o que estava igual
ao resto de nossa viagem até então, incluindo sua lista de itens desejados de
lingerie. Aparentemente, ele sabia de roupa íntima feminina melhor que eu,
algo no que não quis pensar muito.
Franzi o cenho quando a vendedora começou a empacotar tudo que ele
pediu.
— Não vou provar primeiro? — Ele já tinha provado saber meus
tamanhos, então não deveria ter me surpreendido, mas esperava que ele
pedisse que desfilasse primeiro com elas.
— Oh, você vai. Mais tarde. — Ele me olhou com um olhar que
enfraqueceu meus joelhos. Fome misturada com promessa naquelas
profundezas escuras e fez meus pensamentos seguirem direto para o sul. —
Ainda me deve um desfile de moda, Rachel. E pretendo cobrar isso em breve.
Meus lábios se separaram, mas não tinha palavras. Ele não poderia estar
falando…
— Eu cumpri minha parte do trato — ele continuou naquele murmúrio
profundo. — Não é minha culpa que você tenha escolhido a loja como
locação.
— Não é justo — consegui sussurrar.
Ele sorriu para isso.
— Te avisei, querida. Com você, nunca jogarei justo. Agora, aonde
vamos jantar?
DOCE LIBERDADE
Will manteve sua promessa. Quando voltamos ao hotel, Ryan era a última
coisa que estava em minha mente. Então meu celular apitou quando entramos
na suíte.
Muitas emoções se amontoaram em mim de uma vez, deixando-me
zonza. Pânico, irritação e fúria lutavam enquanto movia as pernas trêmulas na
direção da bolsa na mesa de jantar.
— Rachel?
— Estou bem — respondi. E, estranhamente, percebi que isso era
verdade. O medo deformado daquela manhã se esvaiu ao longo do dia,
deixando uma raiva fervilhante no lugar. Ryan queria me lembrar de seu
controle à distância e usou a tática que sabia que iria me desequilibrar. Queria
arruinar aquela experiência para mim, e potencialmente minha carreira no
processo. Sem a Baker Brown, eu não teria nada. O que ele esperava? Que
pedisse ajuda a ele? Logo eu me mudaria para Indiana.
Peguei meu celular e rolei pela enorme quantidade de mensagens de texto
com um gemido.
Bom saber que seu voo chegou bem. Te amo.
Recebeu minhas flores?
Onde você está?
Por que está me ignorando?
As mensagens continuavam. Eu as li em transe até uma mensagem
aleatória com foto apareceu de um número privado. Um recado curto a
acompanhou.
Ele ainda está em Chicago. — MK
Analisei a foto de Ryan e mostrei para Will.
— É ele fora do prédio dele. Não está em Paris.
— Mark enviou para você?
— Enviou. — Eu não fazia ideia de como ele tirou a foto, mas se ele
disse que Ryan ainda estava nos Estados Unidos, então acreditaria nele. —
Não explica o recado. — O que me deixou um pouco inquieta, mas pelo
menos meu ex maluco não estava andando por Paris.
— Tem certeza de que é a letra dele?
— Absoluta. — Sua caligrafia assombrava meus pesadelos. — Ele que
escreveu. — Rolei pelo resto das mensagens, procurando algo relacionado ao
trabalho, e desliguei quando não encontrei nada. Não responder a Ryan era o
certo. Ele detestava quando o ignorava, e geralmente aumentava seus
esforços para me contatar depois disso, mas não poderia me tocar ali. Pelo
menos não em breve. Ou talvez nunca mais.
Contar a Mark e Will naquela manhã sobre Ryan foi um dos momentos
mais difíceis da minha vida, mas, mesmo assim, confessar a eles tinha me
mudado de forma fundamental. Machucou primeiro, muito, porém, conforme
a dor diminuiu, uma sensação de leveza me tomou. Minha consciência
finalmente estava limpa, e pela primeira vez no que parecia uma eternidade,
eu não estava sozinha.
Encontrei o olhar gentil de Will e senti o último pedaço de gelo se
quebrar dentro de meu peito. Aquele homem, aquele homem teimoso e
confiante, tinha me libertado. Ele conseguiu tirar meu comportamento frio
com sua consistência calma. Posso ter começado como um desafio para ele,
mas em algum lugar pelo caminho, aquela conexão entre nós criou raízes e
algo lindo.
Seu polegar secou uma lágrima de minha face que eu não tinha sentido
escorrer.
— Rachel…
Pressionei o dedo em seus lábios.
— Não diga nada. Por favor. Preciso disso. Preciso sentir.
Porque eu tinha ficado muito tempo sem sentir. Ryan havia me
aterrorizado em um nível de submissão do qual nunca conseguia escapar, até
aquele dia. Até eu pegar o celular e ligar para Mark. Até confessar a Will.
Parecia há muito tempo embora tivesse sido naquela manhã. Mas aquela
mudança estava chegando há muito tempo. O processo começou quando
cancelei o noivado, mas então fiquei estagnada até conhecer Will. Ele me
desafiou em um nível que ninguém o fizera, e então esperou pacientemente
que eu o visse. Para entender o que poderíamos ser, se eu permitisse.
Apesar de seu flerte infinito, ele nunca me pressionou a fazer nada que
não quisesse, e estava até disposto a se afastar de mim e da firma quando
sentisse que sua interferência tinha ido longe demais. Me irritou na época,
mas sua perseguição implacável reacendeu o fogo em minha alma,
lembrando-me de quem eu era, e me deu algo pelo que valesse a pena lutar.
E, com isso, veio a coragem de que precisava para finalmente quebrar o
controle de Ryan. Porque foi isso que aconteceu naquela manhã. Seu ataque
inicial me jogou no chão, mas eu me recompus e decidi me ajudar em vez de
me afundar, e ganhei minha liberdade com isso.
E, agora, eu conseguia sentir de novo. Totalmente. Completamente.
Infinitamente.
Joguei os braços em volta do pescoço de Will e fiquei de ponta de pé para
beijá-lo. Tudo que senti, toda a felicidade, tristeza, medo, raiva e paixão
reprimida, passou da minha boca para a dele, e ele aceitou tudo. Sua mão
passou em meu cabelo, segurando-me para ele conforme ele retornava o favor
com a língua, me dizendo sem palavras que ele entendia.
Ele me levantou do chão e me colocou na mesa. Meus joelhos se abriram
conforme ele se colocou no meio deles, subindo minha saia, e me devastou
com sua boca. Não demorou muito para ele assumir o controle, não que eu
me importasse. Obedecer a seu toque de comando parecia certo. Ele sabia o
que eu queria, do que eu precisava, e eu confiava nele para me trazer isso.
Minhas pernas pinicaram quando ele trilhou os dedos para cima da minha
meia até as ligas. Ele não queria soltá-las, mas as explorou por completo. As
carícias leves contra a parte interna de minhas coxas não foram suficientes.
Eu queria a fricção a muitos centímetros para cima, e meus seios estavam
implorando pela libertação. Muitas roupas me separavam dele. Eu precisava
sentir tudo que ele tinha a oferecer.
Enganchei as pernas em suas coxas para obrigá-lo a se aproximar e desci
as mãos por suas costas até sua bunda dura. Quando o apertei, forte, ele deu
risada.
— Impaciente? — ele zombou.
Mordi seu lábio inferior em resposta e deslizei as mãos para a parte
inferior de seu abdome. Ele não disse nada quando desabotoei sua camisa e a
tirei. Aquilo o deixou com uma camiseta justa branca que mostrava todos
seus músculos deliciosos. Gemi em frustração quando ele segurou meus
punhos e os travou ao lado de meu quadril contra a madeira.
— Minha vez. — As palavras foram ditas contra meu pescoço conforme
ele começou a me beijar até minha blusa. Seus olhos travaram os meus
quando ele desabotoou com habilidade o primeiro botão com os dentes.
Puta merda, isso é excitante. Ele continuou a descer até meu abdome,
nunca hesitando. Quando o último botão se abriu, ele soltou meus punhos e
tirou o tecido por meus braços, depois o jogou no chão.
Sua boca provocadora brincava no decote da minha camisola,
mordiscando e lambendo e me deixando louca. Tentei de novo tirar sua
camiseta, e ele me deixou desta vez, e meu top se juntou ao dele, deixando-
me apenas de sutiã preto de renda.
— Hummm, para você saber, ainda me deve um desfile de moda
adequado. — Seu olhar ardente prendeu o meu. — Mas aprovo totalmente
esta prévia.
Brinquei com os dedos em seu abdome, explorando cada espaço firme e
quadradinho.
— Você não é o único que aprova — dei um beijo molhado contra seu
peito e lambi até seu pescoço. Ele tinha gosto de sexo, tempero e pecado,
tudo embrulhado em um laço masculino. — Me leve para a cama, Will —
sussurrei. — Por favor.
Ele segurou meu quadril e me arrastou para a beirada da mesa então meu
ponto sensível ficou alinhado perfeitamente com sua excitação. Me contorci
contra ele, mas ele me segurou conforme seu olhar tenso capturou o meu.
— Eu quero, mas, se fizermos isso, vamos fazer direito, e vamos lutar por
isso. — Seus lábios sussurraram nos meus como um carinho suave que me
deixou querendo muito mais, mas ele não tinha terminado. — Quando
fizermos isso, Rachel, você será minha. Assim como eu serei seu. Não haverá
mais ninguém. Você entendeu?
Minha. Eu gostava disso. Não era tão possessivo, mas mais uma
promessa que ele queria que nós dois fizéssemos.
— Você quer compromisso.
— Quero.
— E a longo prazo. — Ele não disse isso, mas inferiu pelo tom e
comentários anteriores.
— Totalmente. — Não houve hesitação em sua voz ou expressão, embora
estivesse me estudando intensamente. Não poderia culpá-lo. Nós dois
sabíamos que, há uma semana, eu teria recusado rapidamente. Caramba, dois
dias antes, eu teria dito não. Mas a martelação incessante de Will destruiu a
barreira que cercava meu coração, libertando-o para sentir pela primeira vez
em anos.
E apenas pareceu adequado ele ser quem eu queria. Com quem eu sentia
confortável o suficiente para tentar outro relacionamento. Em quem eu
acreditava que não me machucaria.
Engoli as palavras lutando para sair de minha boca. Eu queria dizer muita
coisa, muito que precisava que ele soubesse, entendesse, mas nada poderia
transmitir os sentimentos se acumulando dentro de mim. Mostrar a ele era a
única opção. Beijei-o e soltei meu caos interno, minha ansiedade, a
fragilidade natural da minha confiança nele, e o sentimento estarrecedor que
tomava minha alma. Saiu de mim como uma tempestade, e minha língua foi o
transmissor. Ele aceitou tudo, sua boca reagiu com gentileza, conforme ele
engolia meus medos mais sombrios e reafirmava seu lugar ao meu lado.
Nosso abraço começou como uma enxurrada de paixão que evoluiu em
algo sombriamente íntimo quando ele desceu levemente o zíper da minha
saia. Deixou minha calcinha preta de renda exposta atrás. Ele traçou os dedos
por ela e gemeu.
— Sua propensão a lingerie acaba comigo, querida. — Ele me levantou
da mesa pela bunda e me colocou de pé. Balancei o quadril e a saia caiu no
chão, e então eu estava no ar de novo com as pernas em sua cintura. Seus
lábios capturaram os meus de novo, continuando de onde parou, enquanto ele
me carregava para o quarto. Meu coração acelerou com a demonstração de
força e confiança, depois se esgotou quando ele me deitou na cama. Me
apoiei nos cotovelos a fim de admirar a vista quando ele tirou primeiro seu
cinto, depois aquela calça sexy. Sua cueca boxer preta mal continha sua
ereção.
Isso estará em mim em breve… Apertei as coxas com um gemido quando
imaginei a cena. Todos aqueles músculos trabalhando enquanto ele se move
sobre mim…
— Caralho.
Ele deu risada e foi até a cama.
— Essa é a terceira vez que você diz isso na minha cama. Estou prestes a
aceitar essa oferta. — Seus lábios se fecharam em meu mamilo através da
renda, fazendo-me arquear para ele. Nunca estive tão excitada na vida, e
ainda nem estávamos nus.
— Will… — Foi metade pedido, metade irritação. A preliminar estava
me matando.
— Paciência — ele murmurou, trocando os seios. Eu precisava tirar o
sutiã. Raspava minha pele sensível de um jeito quase doloroso. Abri o fecho
nas costas e rapidamente vi meus dois punhos capturados pela mão dele
acima da minha cabeça. Ele fez “tsc”. — Isso é o oposto do que eu disse,
querida.
Envolvi as pernas em sua cintura e me esfreguei nele.
— Essa sou eu não dando ouvidos. Me foda, Mershano.
Chocolate derretido começou a descer sobre mim, e minhas coxas se
apertaram com ansiedade. Merda. Will em um bom dia era lindo, mas aquilo?
Era. Tão. Incrivelmente. Gostoso. Eu queria pular de alegria quando ele tirou
meu sutiã e abriu meus braços. Então o senti amarrar meus punhos com a
renda. Um olhar para cima mostrou que ele estava amarrando minhas mãos à
cabeceira. Com a porra do meu sutiã. Puxei por instinto, mas o tecido não
cedeu.
— O que está fazendo?
— Finalizando minha exploração — ele respondeu com uma mordidinha
no meu pescoço. — Sem se contorcer, linda. — Com ele em cima de mim
como um gato predador? É, tá bom. Mas, quando tentei mexer os quadris
para encontrar os dele, ele me segurou com as mãos nas coxas e, então,
chupou meu mamilo profundamente.
— Oh! — Aquela língua habilidosa dele desenhou círculos nas formas
mais deliciosas. Sentir aquilo no meu clitóris… Minhas pernas tremeram com
esse pensamento. — Mais — implorei.
Ele me ignorou e lambeu até meu outro seio a fim de recomeçar a tortura
sensual. Eu estava toda trêmula quando sua língua desceu por minha barriga e
foi para cima da minha calcinha. Aquelas malditas mãos me impediam de me
inclinar para cima como queria e, quando ele pulou o lugar de que eu mais
precisava dele, resmunguei. Seus dentes arranharem a parte interna da minha
coxa em resposta, seguido por beijos molhados que eu queria que estivessem
um pouco mais para cima.
— Hummm, gostaria de que isso ficasse — ele murmurou ao mordiscar
ao norte da minha liga. — O que significa que — ele continuou, suas mãos
deslizando para segurar minha calcinha de renda nas laterais — que isso tem
que sair.
Arfei quando ele a puxou e arrebentou o elástico. Minha calcinha
arruinada desapareceu conforme ele a jogou sem se importar por cima do
ombro.
— Você… — Minha reclamação acabou em um gemido quando ele
lambeu minha pele exposta até o ponto em que eu mais precisava.
— Seu gosto é maravilhoso. — Seu murmúrio íntimo me deixou dolorida
na forma mais carente possível. — Espere, Rachel. Vou te devorar.
Ele conduziu sua língua e, oh, aquela boca dele não decepcionou. Deu ao
meu centro quente o mesmo tratamento que meus seios, só que desta vez ele
lambeu mais e usou os dentes para arrancar meus tremores.
A tensão iniciou em meu corpo, enrijecendo meus membros e levando
lágrimas aos meus olhos. Parecia que ele tinha me provocado por uma
eternidade com seus infinitos jogos de ansiedade, e agora toda aquela emoção
culminou intensamente dentro de mim.
Seu nome era tanto uma bênção como uma maldição na minha língua até,
finalmente, eu sentir — aquela sensação indescritível de alegria aparecendo e
formigando minhas terminações nervosas. Quando vacilei à beira da
explosão, Will se afastou, fazendo-me gritar de frustração e desejo. Minha
visão ficou escura com a insanidade daquilo e, quando finalmente me
concentrei de novo, foi que o vi ajoelhado por cima de mim. Nu.
E, uau, ele era um espécime e tanto. Não tinha visto toda aquela imagem
no avião, e agora que estava deitado ali diante de mim, não conseguia
respirar.
— Hummm, atente-se a esse pensamento, querida. — Ele colocou uma
camisinha que veio só Deus sabe de onde, o tempo todo me observando
naquele jeito sabido dele, e depois se abaixou e apoiou nos cotovelos ao lado
da minha cabeça. Seu membro quente estava contra meu centro dolorido
conforme ele me beijava com uma veneração que me deixou trêmula debaixo
dele.
Soltou minhas mãos e eu imediatamente enfiei os dedos em seu cabelo.
Parte de mim queria puxar as mechas, furiosa por ele me deixar esperando,
enquanto a outra parte precisava ficar mais próxima dele. Me esfreguei nele
desesperadamente até sua mão segurar meu quadril. Meus lábios se abriram,
um protesto na ponta da língua, e então sua glande grossa estimulou minha
entrada.
— Ainda está comigo? — ele respirou contra meu pescoço.
— Estou. — Envolvi meus tornozelos meio vestidos nele, puxando-o para
perto, mas ele se segurou ali por um tempo, um minuto agonizante. Então sua
mão deslizou de meu quadril para o topo de meu sexo e até a protuberância
sensível.
Mordi o lábio para não gritar com o toque inesperado. A tensão que ele
iniciou com sua língua apenas alguns instantes antes voltou em mim com a
força que tirou o ar de meus pulmões. Me sentia ferida, pronta para explodir,
e sua língua traçando meus lábios não estava ajudando. Seu peito musculoso
parecia o paraíso contra meus mamilos duros, e ter sua excitação tão perto da
minha provocou choques elétricos por minhas veias. Tremores violentos
correram meu corpo conforme as sensações me sobrecarregavam para um
nível de dor, e então sua boca estava na minha orelha.
— Liberte, Rachel. — Sua barba por fazer contra meu pescoço, junto com
suas palavras, perfuraram minha barreira e me levaram para o limite em um
abismo infinito de êxtase. Ele tirou a sensação com seu polegar e capturou
meus gemidos com a boca. A dor se misturou com o prazer quando ele
penetrou em mim, e meu corpo tremeu de novo em uma alegria confusa.
Todos os pensamentos se estilhaçaram quando ele começou a penetrar mais
fundo do que achei ser possível. Sua mão deslizou para minha bunda e
inclinou meus quadris para cima a fim de encaixar suas investidas poderosas.
— Não pare — arfei, implorando. Eu já podia sentir um segundo orgasmo
se formando dentro de mim.
— Nunca, querida. — Seus lábios estavam em minha orelha. — Nunca
vou parar.
Aquele ponto, oh, aquele ponto. Ele acertava a cada flexionada de seus
quadris e, quando acelerou para investir repetidamente, pensei que fosse
desmaiar com as vibrações eróticas. Me movimentei com ele, buscando
fricção e pressão e precisando de mais. Ele acelerou, lançando-se em mim
com uma força que me deixou sem fôlego, e me mostrou como usava bem
aqueles músculos. A forma como se movimentava, tão rápido, tão forte, tão
poderoso, me desfez de uma maneira que eu não sabia que era possível.
— Toque-se — ele exigiu. — Agora.
Coloquei a mão entre nós e massageei meu clitóris com dedos trêmulos e
gemi. Era exatamente do que eu precisava, mas meu cérebro não dera o
comando. Ele apertou minha bunda e aumentou o ritmo a um nível que eu
não conseguia acompanhar e me levou ao esquecimento. Meus gritos com
certeza podiam ser ouvidos por todo o hotel, mas eu não estava
envergonhada. Will merecia todo o aplauso do mundo.
A mão em minha bunda me apertou nele conforme ele me levou ao
clímax, sem parar nenhum instante e arrancando cada vez mais de meu
prazer. Cravei as unhas em suas costas, regalando-me nos tremores pós-
orgasmo, quando ele encontrou seu alívio fundo dentro de mim.
— Porra… — Seu gemido vibrou a pele sensibilizada em meu pescoço
onde ele descansara a cabeça. O cotovelo que ele usara para se ergueu ficou
tenso, e suspeitei que ele estivesse usando cada centímetro de sua energia
para evitar me esmagar. Eu tinha uma noção suficiente restando em mim,
então envolvi os braços nele e o forcei para baixo. Seu peso em cima de mim
pareceu certo.
— Nunca mais poderá sair daqui — eu disse, minha voz mais rouca do
que esperava. Ele realmente me fez gritar durante todo o tempo.
Faltava profundidade em sua risada, o que presumi ser porque ele estava
exausto. Saber disso me fez sorrir.
— Vai querer que eu me mexa de novo em algum momento, querida. —
Ele deu uma investida superficial para fortalecer sua afirmativa, e provocou
uma onda de formigamentos na parte de baixo de meu corpo. Ok, é. Eu iria
querer que ele se mexesse de novo. Em algum momento.
Infelizmente, aquele momento chegou muito rápido quando ele rolou para
fora da cama para jogar a camisinha fora. Quando voltou com toda sua glória
nua, me apoiei nos cotovelos para analisá-lo. Cada centímetro dele era
perfeitamente proporcional e confirmava que ele tinha quase zero por cento
de gordura. Todas aquelas longas horas no vinhedo com certeza valiam a
pena.
— Continue me olhando assim, e ficarei tentado em começar tudo de
novo.
Olhei para seu membro semiduro e sorri.
— Isso é uma promessa?
Sua mão se fechou em meu tornozelo e me puxou pela cama, fazendo-me
cair de costas. Dei um gritinho quando ele beijou a parte interna da minha
coxa, e comecei a fugir, mas suas mãos me seguraram no lugar.
Seus olhos se fixaram nos meus conforme ele desenganchou minha meia
esquerda e lentamente a rolou até o joelho, depois até minha panturrilha, e
tirou pelo pé. Repetiu o processo com a perna direita, o tempo todo me
observando sob aqueles cílios grossos. Era erótico pra caramba e fez a
temperatura do meu corpo ferver. Quando tirou minhas ligas com os dentes,
mordi o lábio.
Puta merda, que tesão…
Ele se rastejou sobre mim e se apoiou com os cotovelos ao lado de minha
cabeça.
— Tenho você onde quero, srta. Dawson.
Engoli em seco.
— É mesmo?
— É. — Ele roçou meu nariz e a face e beijou toda minha mandíbula até
a orelha. — Ainda quer ir ao Louvre amanhã?
Não era o que eu esperava que ele dissesse. Conversamos sobre isso
rapidamente no avião depois de listar todas as atrações em Paris. Estava no
topo da minha lista de opções preferidas de passeios, e ele sugeriu que
fôssemos no domingo para termos o dia todo para explorar.
— Você quer ir?
— Claro. — Ele lambeu minha orelha. — E, depois, podemos parar na
loja para minha prova final, e então vamos jantar no Le Meurice.
Fiquei boquiaberta. Aquela poderia ser minha primeira viagem a Paris,
mas até eu tinha ouvido falar desse lugar.
— Está falando do restaurante no Dorchester? — Era um dos melhores
hotéis de Paris e provavelmente roubava alguns potenciais clientes dos Hotéis
Mershano.
Ele deu risada.
— É, e temos reservas para amanhã à noite.
— Isso não é trair Evan de alguma forma?
— Ei, não é minha culpa que a comida deles é melhor. — Seu tom
defensivo não combinou com a alegria curvando seus lábios. — Além disso,
é sua primeira vez em Paris. Só o melhor vai dar certo nessa situação.
Dei risada e balancei a cabeça.
— Bom, você sabe mesmo como deixar uma mulher nas nuvens,
Mershano.
Ele deu um sorrisinho.
— Acha mesmo? Espere até ver o carro que vamos alugar para nossa
viagem para o sul na segunda.
— Outra caminhonete? — zombei.
— Não.
— Algo sexy, então?
Ele me deu um olhar afrontoso.
— Minha caminhonete é sexy.
Dei um tapinha em suas costas.
— Claro que é, querido. Agora, me conte sobre esse carro. É rápido e vou
poder dirigir? — Porque era só isso que importava.
— É, e depende. O que estaria disposta a me dar em troca das chaves? —
Seu olhar baixou para meus lábios, depois voltou lentamente.
— Claro que eu poderia pensar em alguma coisa que você iria gostar. —
Balancei as sobrancelhas para ele sugestivamente.
— Tipo o quê?
— Bom, sabe, tenho certas habilidades orais, sr. Mershano, que podem
intrigá-lo.
Ele sorriu.
— Oh, estou muito familiarizado com suas habilidades argumentativas,
srta. Dawson. Mas nunca vou reclamar de você fazer melhor uso dessa sua
boca esperta.
— Cuidado, ou vou fazer melhor uso dos meus dentes também.
— Posso gostar disso.
Depois de todas as mordidas dele? É, provavelmente gostaria.
— Nem me lembro do que estávamos falando agora. — Toda essa
brincadeira sexy me distraiu.
— Tudo bem, linda. Podemos trabalhar nos detalhes de nossa troca
depois. — Ele me beijou sonoramente, depois se afastou com um sorriso. —
Sabe pelo que os franceses são famosos?
— Moda? — Se ele esperava que eu desfilasse de lingerie naquele
instante, teria uma surpresa porque eu não tinha intenção de sair logo daquela
cama.
Suas covinhas se aprofundaram conforme ele interpretou minha
expressão corretamente.
— Não se preocupe, querida. Pode desfilar para mim depois. Eu estava
falando de sobremesa.
— Eu gosto de sobremesa.
Ele me deu um beijo.
— Então vou pedir uma para comermos na cama antes do segundo round.
— Segundo round? — Eu nem estava perto de me recuperar do primeiro
round.
O desejo dilatou suas pupilas.
— Oh, querida, aquilo foi só um aquecimento. Vai entender depois de
comermos a sobremesa.
CONFLITO DE INTERESSE
Analisei a foto em meu celular. A mulher linda de cabelo castanho-escuro
usava uma roupa estilosa, propositalmente para ser capturada em uma foto
como aquela. Seus dedos enluvados estavam em volta do pescoço de meu ex-
noivo quando ele se inclinou para sussurrar algo em seu ouvido. Eu
reconhecia bem o sorriso dele. Ele o usava quando queria encantar alguém, e
a mulher claramente aprovava.
A mensagem de texto era a última coisa que eu esperava aparecer na
minha tela depois de viajar o dia todo de Paris para Nice, mas eu sabia que
viria algo em seguida porque Mark não me contatara desde minha confissão
no sábado. Até agora.
— O que estou olhando? — perguntei.
— Essa é Bianca Jenkins — Mark respondeu pelo viva-voz. — Esposa do
senador Jenkins.
Ergui as sobrancelhas. Não apenas reconhecia o nome, mas tinha me
encontrado muitas vezes com o homem.
— Ele é um dos maiores apoiadores de Ryan.
— É, e parece que a jovem esposa dele o apoia ainda mais. — Seu tom
curioso indicava sua diversão com a escolha das palavras. — Mas fica ainda
melhor. — Outra foto apareceu no meu celular: Bianca grávida. — Seu
comentário sobre ele te deixar em paz por seis meses não combinava com o
perfil dele, então parti daí, e adivinha quem engravidou durante o tempo em
que ele parou de te perseguir?
Will soltou um assobio ao meu lado. Ele estava com um braço pendurado
no encosto do sofá, mas seu foco estava no celular em minha mão. A
mensagem de Mark tinha chegado assim que entramos em nosso novo quarto.
— Acha que o bebê é dele? — adivinhei.
— Afirmativo. — Sua voz pareceu se engrossar quando continuou. —
Essa é a quarta esposa de Jenkins em vinte anos, e nenhuma das anteriores
ficou grávida. Controle de natalidade é totalmente possível, mas aposto que
ele é infértil. Além disso, a linha do tempo bate. Essa primeira foto é de uma
câmera de segurança de um hotel tirada há oito meses, bem quando ela ficou
grávida, enquanto o marido estava convenientemente em outro estado.
— E ele não suspeita de nada? — O senador Jenkins não era um homem
ignorante. Ele precisava saber.
Mark bufou.
— Ele é um arrogante filho da puta que acha que casou quatro vezes por
causa de seu charme, ou talvez só precisasse de uma esposa que fosse vinte
anos mais jovem. Quem sabe? Mas não é ele que está em questão. É muito
convencido para uma esposa namoradeira, e foi provavelmente por isso que
ele não se importou quando ela pediu para ficar no Madison depois das férias
enquanto estava grávida. Jenkins estivera em DC enquanto Albertson havia
cuidado particularmente de toda, ãh, necessidade de Bianca. — Ele parou
para me deixar absorver aquilo antes de continuar.
— Então foi por isso que ele te deixou em paz. Tinha outras coisas com
que se preocupar, como uma mulher grávida que poderia arruinar sua
carreira. O que me leva ao segundo motivo para acreditar que ele é o pai…
Ele a pressionou para abortar a criança.
Franzi o cenho.
— Como sabe disso?
— Relatórios médicos que não foram apagados como ele pensou. O nome
dele pode não estar no papel, mas há uma conexão financeira que sugere que
ele pagou por muitas consultas. De qualquer forma, estou confiante de que
ele seja o pai, e vamos saber com certeza em algumas semanas.
— Ok. — Mordi o lábio inferior e encontrei o olhar de Will. Só de tê-lo
ali me deixava tranquila de uma forma que não sabia que era possível.
Principalmente quando se falava no Ryan. Minha reação emocional parecia
amenizar a cada nova mensagem ameaçadora. A última chegou duas horas
antes, e simplesmente a ignorei. Toda vez que apagava uma das mensagens
de Ryan, me sentia poderosa e ganhava uma lasquinha de controle de volta.
As poucas vezes em que suas palavras acertaram meu estômago, dei uma
olhada para Will e senti minha força de novo. A confiança irradiava dele,
envolvendo-me com um conforto que não sentia há anos.
Pigarreei.
— Ok — repeti. — Então isso explica a ausência dele, mas por que está
me incomodando de novo?
— Porque ele precisa de uma esposa. — A resposta rápida de Mark
enviou um arrepio em minha espinha. — Seus chefes de campanha estão
pressionando-o sobre isso também, por isso a sensação de desespero em suas
atitudes. Ele também não está animado que a sua posse favorita está agindo
por fora e transando com um concorrente.
— Mark! — Não podia acreditar que ele tinha acabado de dizer isso. Só
que, é, na verdade, podia. Ele não media as palavras, mas mesmo assim… —
Não… Eu não… Só… — Meu rosto estava pegando fogo e balancei a
cabeça, incapaz de responder a isso. Porque uau. Simplesmente uau.
— Então o que sugere? — Will perguntou, falando pela primeira vez.
Faltava o divertimento de sempre em seu tom e havia uma urgência nele que
eu não sabia se gostava. Os pelos de meus braços dançaram em resposta.
Perigo. Ele colocou o braço em volta de meus ombros e me puxou para mais
perto para me dar um beijo no pescoço que dissipou um pouco da tensão em
meus membros.
— Ainda não sugiro nada, Mershano. O caso dele com Bianca é
suficiente para destruir sua carreira política, mas Albertson ainda é
amplamente conectado. São suas outras conexões que quero explorar mais
um pouco antes de dar as opções a Rachel.
Will passou a mão para cima e para baixo em meu braço.
— Ligado à máfia? — ele perguntou.
— Algo assim — ele respondeu vagamente. — Entrarei em contato
quando souber mais, Rach.
Eu ainda estava tentando engolir o comentário da máfia, então consegui
dizer “Tá” em resposta.
— Oh, e Mershano? Hernandez é uma boa contratação, mas não o irrite.
Ele tem um maldito gancho de esquerda. — Mark desligou sem uma
despedida formal. A risada de Will em resposta me confundiu quase tanto
quanto o homem no telefone.
— Quem é Hernandez?
— Um dos membros de nossa segurança na França. Ele foi das Operações
Especiais, em que suspeito que seu amigo esteja envolvido porque não tem
como ele ser do FBI.
Como eu já suspeitava que ele não fosse do FBI, me concentrei na
primeira informação.
— Nós temos uma segurança? — Ele nunca mencionou nada sobre
contratar alguém para nos vigiar, nem eu os notara.
— Temos, e foi Rick Hernandez que contratei para organizá-la. Ele tem
dois homens no hotel que ainda não conheci, mas planejo conhecer esta noite.
— E eles vão o quê? Nos seguir até nossa reunião?
— Vão, e para onde mais formos enquanto estivermos na Europa.
— Isso é um pouco demais, não é? — Entendia a preocupação dele, mas
guarda-costas nos acompanhando para um monte de reuniões chatas era
extravagante. Ryan era obcecado, não burro. Ele nunca atacaria durante uma
negociação da empresa.
— Sua segurança é tudo para mim, Rachel. — Ele segurou meu queixo e
me forçou a olhar para ele. — Nunca mais vou deixar aquele babaca encostar
em você. Entendeu?
Um arrepio percorreu a minha nuca. Tão intenso.
— E o que acontece depois?
— Depois? — ele repetiu. — Depois do quê?
— Depois de irmos embora da Europa. — Era algo que eu não queria
pensar nos últimos três dias, mas em certo momento teria que voltar a
Chicago. Para trabalhar, para meu apartamento, para Ryan…
— Concordamos na outra noite que isso não é a curto prazo. Quando
voltarmos, voltaremos juntos. Nós lutaremos, lembra? — O tom severo de
Will me lembrou daquele dia na sala de reuniões com os sócios. Charmoso,
mas no comando de toda forma que importava sem brecha para negociação.
Eu não pretendia discutir com ele, mas havia coisas que ainda não havíamos
conversado.
— Precisarei mudar para um novo projeto, e duvido que minha equipe de
gerenciamento vai receber com gentileza meu envolvimento com um cliente.
— Me encolhi com a última parte. Era muita coisa para minha reputação
profissional.
Ele pigarreou.
— Sobre isso… Lembra quando Garrett foi para Chicago e nos reunimos
com os sócios?
Olhei de canto de olho para ele. Como se pudesse esquecer aquela manhã
em que acordei na cama de Will e conheci um dos melhores advogados do
Sul nem trinta minutos depois.
— Lembro.
— Parte de nossas negociações envolviam adicionar uma cláusula de
conflito de interesse em relação ao meu relacionamento pré-existente com
você. Um acordo com o qual concordei e assinei antes de começar a trabalhar
com você no projeto.
Meu sangue correu fervente quando uma enorme quantidade de
sentimentos batalhou.
— Eu… Seu… Porra! — Não conseguia decidir se estava furiosa ou
aliviada. Raiva parecia estar vencendo, porque meus punhos se apertaram e
meus olhos se estreitaram.
— Antes de você explodir comigo, lembre-se de que minhas intenções
com você nunca foram um segredo. Eu não ia contratar sua firma sem te
proteger. Sua carreira significa tudo para você, e com razão. Nunca
prejudicaria isso, Rachel. Nunca. Então pode ficar brava comigo o quanto
quiser, mas fiz a coisa certa, mesmo que tenha mentido um pouco e dito que
já estávamos namorando.
— Você foi presunçoso — corrigi. — Esperando que eu namorasse você?
E dizendo que já estávamos saindo desde o começo? — A fúria venceu o
alívio. As palavras dele e a determinação foram cem por cento claras, mas
sua perturbação arranhou minha última terminação nervosa.
— Oh, caralho… — Aquela conversa que tive com os sócios um dia
depois de ele assinar o acordo teve um significado totalmente diferente e fez
muito mais sentido agora. Tinha pensado que eles estavam falando do
relacionamento de Evan e Sarah, mas não. Estavam se referindo ao conflito
de interesse entre Will e eu. Porque ele contou a eles que já estávamos
saindo. — Você é inacreditável pra caralho, Mershano.
Sua risada só me enfureceu mais. Reagi sem pensar e avancei nele, mas
me vi de costas debaixo dele no sofá.
— Ok, primeiro! Eu sabia que isso era inevitável. E segundo, o acordo foi
formulado de um jeito que implicava minha conexão pré-existente com você,
não seu compromisso comigo. Você admitiu há meses que admirava o dom
de Garrett com as palavras. Acredite em mim quando digo que ele aplicou
isso em meu acordo com a Baker Brown.
— Não importa. Os sócios deduziram do jeito que você pretendia. —
Deus, eu era muito idiota. Eles até ofereceram para eu ler, mas,
ingenuamente, eu disse não.
E o que você teria feito? Boa pergunta, porra.
— Claro que deduziram, mas eles te trataram diferente nas últimas
semanas por isso? Porque eu me lembro de Janet te elogiando naquela
reunião por telefone na sexta. Eles respeitam você pra caramba, Dawson. E se
acha que um relacionamento comigo vai afetar sua carreira, então precisamos
trabalhar a sua confiança.
Olhei zangada para ele.
— Não é sobre a minha confiança, mas, sim, sobre você supor coisas.
— Nunca foi uma suposição. Nossa atração sempre foi mútua, e sabe
disso.
Bufei para isso.
— Acredite no que quiser. — Só disse isso porque ele tinha me irritado, e
ver sua expressão mudar de divertido para decepcionado me deixou
arrependida na hora.
— Negar isso não nos ajuda a seguir em frente. — Seu tom suave me
acertou nas entranhas, mas foram suas palavras seguintes que perfuraram
meu coração. — O que faz é desmerecer nossa conexão e nos levar para trás,
e isso é o oposto de lutar, Dawson. E não o que concordamos em fazer. —
Ele se afastou de mim e saiu da sala de estar.
Minha boca se abriu e fechou. Não sabia o que dizer. O que começou
com uma tentativa de conversa sobre nosso futuro explodiu em um desacordo
sobre a presunção dele.
Falar da natureza de nosso relacionamento com minha firma por trás de
mim me irritou, mas, mesmo assim, os motivos dele foram genuínos. Ele
queria me salvar de uma situação ainda mais vergonhosa de ter que conversar
com os sócios sobre um relacionamento sexual com Will durante o projeto.
Ao mencionar isso antecipadamente, ele manteve sinceras nossas
interações e também salvou minha reputação. Os sócios provavelmente
pensavam que Will selecionou a firma por causa do nosso relacionamento, o
que era essencialmente verdade. Não éramos íntimos até recentemente, mas
já tínhamos uma conexão, que eu tinha acabado de negar.
Coloquei a mão na testa e soltei a respiração. Controlar qualquer aspecto
da minha carreira me lembrava muito de Ryan, só que, diferente do meu ex,
Will o fez com as melhores intenções. Os sócios me trataram diferente, mas
de maneira positiva. Sabiam meu nome e foram diretamente envolvidos em
meu trabalho, e minha carreira nunca esteve em um lugar melhor. Sempre
tive as habilidades, mas nunca a oportunidade para brilhar, e Will me dera
isso.
Seu excesso de zelo me irritava com frequência, mas também baixava
minha guarda. O homem fez de tudo para quebrar minhas barreiras e me
convencer a arriscar com ele. Adicionar a cláusula de conflito de interesse
também mostrava que ele se importava em me proteger das consequências de
dormir com meu cliente. E isso implicava que ele pensou nas implicações a
longo prazo, não a curto prazo.
Lutava por nós a todo momento, e eu tinha jogado um balde de água fria
em nossa primeira conversa. Admitindo, foi bastante, mas não foi
imperdoável. Will era um homem que sabia o que queria e ia atrás, e ele
nunca se desculparia por fazer o que precisava para alcançar. Mesmo que
incluísse admitir nosso relacionamento para outros antes de confirmar
comigo. Porque, no fim do dia, ele tinha razão. A atração sempre esteve ali
do segundo em que ele pisou no meu escritório todos aqueles meses antes.
Serviu como um motivo principal para recusar suas propostas de trabalho e o
motivo pelo qual eu deveria ter exigido da firma para não me colocar no
projeto dele.
Passei a mão pelo rosto e me levantei. Suas últimas palavras reverberaram
em meu peito conforme segui o caminho que ele fez até a cozinha do quarto.
Ele estava apoiado no balcão, concentrado no armário. Um copo de um
líquido âmbar estava deixado de lado, me surpreendendo. Will sempre bebia
vinho. Sempre. A linha tensa de seus ombros estava ainda mais proeminente
em sua camisa branca. Ele tinha arregaçado as mangas até o cotovelo,
expondo seus antebraços musculosos conforme segurava na superfície de
mármore.
— Nunca quis te pressionar — ele disse naquela mesma voz suave de
alguns minutos antes. — Mas sabia que você veria assim. Só queria evitar
complicar sua carreira. — Ele pegou o copo e terminou de beber, depois o
deixou na pia.
Segurei seu braço quando ele tentou passar.
— Will…
— Foi um longo dia, e preciso de um minuto antes de me encontrar com a
equipe de segurança. Pode me repreender mais quando eu voltar. — Ele soou
derrotado e, quando saiu da cozinha sem nem olhar para mim, meu coração
doeu. O homem confiante que eu tinha passado a adorar agora não estava em
nenhum lugar. Será que ele pensava que isso iria me levar a terminar as
coisas entre nós?
O ruído da porta ecoou pelo quarto agora vazio, quando ela se fechou.
Parecia uma resposta para minha pergunta não dita.
Pela primeira vez desde que nos conhecemos, Will foi embora.
Não discutiu daquele jeito inteligente dele.
Não tentou me ganhar com um flerte ou um sorriso charmoso.
Não insistiu.
Foi embora.
LUTANDO POR UM FUTURO
Pissaladière.
Foi assim que o funcionário do Hotel Mershano chamou a pizza que
trouxe para nosso quarto trinta minutos antes. Parecia apetitosa, mas meu
estômago estava muito embrulhado para comer. Will ainda não tinha
retornado, e a refeição só servia um.
— O sr. Mershano disse para a senhorita provar este vinho — o homem
mais velho disse com um sotaque francês. A taça de vinho tinto ficou
intocada junto com a garrafa atrás dela. Meus dedos se mantiveram a
centímetros dela, mas eu queria estar com as faculdades mentais em ordem
para seu retorno.
Andei de um lado para outro na suíte de novo, andando por ambos os
quartos e saindo para as varandas que possibilitavam ver Nice. O ar ameno
não aqueceu meus braços expostos. Meu vestido azul era uma das compras
do fim de semana. Will o chamou de lindo naquela manhã antes de me
abraçar e me beijar tão forte que esqueci como me mexia. Pensar nisso me
deu frio na barriga, o que não caiu bem com os nervos alterados dentro de
mim.
— Droga. — Meu sussurro desapareceu na noite, flutuando para algum
lugar nas ruas de Nice lá embaixo. Queria admirar a vista linda, mas não
conseguia. Não por causa da falta de luz do sol, mas porque meus olhos se
recusavam a focar.
Magoei Will.
Eu, e minhas palavras nervosas.
Apesar da interferência dele, a intenção foi boa, e eu sabia disso. Mas no
momento, tinha reagido de forma irracional por uma dor profundamente
estabelecida por anos vivendo sob o controle de um homem. Will não era
Ryan. Eu sabia disso na prática, mas minhas feridas nunca se curaram por
completo.
Veio um barulho da sala de estar por trás da cortina simples, e me virei
quando Will entrou com dois homens de terno. Ele me olhou rapidamente
quando cheguei na sala, mas não me encarou ou sorriu como geralmente
fazia.
— Rachel, estes são Beau e Sam. Vão nos acompanhar para as reuniões
desta semana. — Seu tom profissional provocou um frio na minha espinha.
Eu o tinha escutado muitas vezes, mas ele não o havia direcionado para mim
em muito tempo, que era na verdade quase uma semana.
Tínhamos beijado só há seis dias? Nosso relacionamento parecia muito
mais antigo que isso. Porque me apaixonei por ele no dia em que nos
conhecemos. Agora, se ao menos eu conseguisse admitir isso em voz alta.
— Rachel? — Will falando meu nome me fez sair de meus pensamentos.
Sua testa franzida sugeria que eu tinha perdido algo que ele disse.
— Desculpe, certo. Oi. — Estendi a mão para Sam primeiro, depois
Beau. Eles estavam vestidos iguaizinhos. Sam tinha um olhar astuto e atento,
enquanto sua dupla transpirava autoridade. Ambos sorriram para mim, e o
sorriso de Sam incluía covinhas. Não sexy como as de Will, mas eram fofas e
adicionavam um charme ao esguio homem.
— Rachel, pensei que pudesse querer saber mais sobre a experiência
deles e suas funções em nossos planos dessa semana — Will murmurou. —
Então vou deixar vocês conversarem. Cavalheiros, foi ótimo conhecê-los.
Estarei no quarto se precisarem de mim. — Ele assentiu aos dois guarda-
costas e nos deixou em pé na sala de estar.
Ãh… Tentei sorrir para os homens, mas fracassei.
— Desculpe, não estou me sentindo bem esta noite.
— Não se preocupe, madame — Beau respondeu com a voz grossa. —
Hernandez nos deu uma ideia da situação antes de chegarmos, então estamos
atentos. Nós dois fomos das Forças Especiais e treinados para nos misturar
com o ambiente. Então, se estivermos fazendo nosso trabalho certo, não vai
nem nos notar.
— A menos que a senhorita precise — Sam complementou com outro
sorriso fácil. Senti que ele era o racional da dupla. — Estamos aqui apenas
como precaução, srta. Dawson. E vamos fazer nosso melhor para não te
atrapalhar.
— Ok. — Eu não sabia mais o que dizer.
— Tem alguma pergunta para nós? — Beau perguntou, seus olhos azuis
intensos.
— Humm… — Meu cérebro se recusava a funcionar. Tudo no que
conseguia pensar era o comportamento profissional de Will e a facilidade
com que se despediu. Ele saíra novamente sem me olhar, e isso deixou um
gosto amargo na minha boca. Quanto às perguntas para aqueles homens, eu
não tinha nenhuma. Will provavelmente os questionou o bastante nos últimos
noventa minutos. — Não tenho nenhuma agora.
— Muito bem, madame. O sr. Mershano sabe onde nos encontrar, então
sinta-se à vontade para chamar se precisar de alguma coisa. — Beau estendeu
a mão de novo, e o cumprimentei, seguido de Sam.
Ambos saíram depois de me aconselhar a trancar a porta. Fiz como
pediram para depois caçar o chefe deles. Encontrei-o apoiado na sacada da
suíte master com outro copo de líquido âmbar na mão. Ele não disse nada
quando me juntei a ele, e manteve os antebraços na grade com seu olhar na
cidade. Não sabia se seu silêncio era resultado de estar longe nos
pensamentos ou de não saber o que falar. Então quebrei o gelo com uma
pergunta óbvia.
— Desde quando você bebe uísque? — perguntei. E onde ele o tinha
encontrado? Ele nunca ia na cozinha. Será que tinha um minibar no quarto?
— É conhaque, que é produzido destilando duplamente vinho branco em
certas regiões da França. — Ele finalizou o copo e o colocou de lado sem me
olhar. — Tudo bem contratar Beau e Sam?
Analisei seu perfil.
— Eles são seus funcionários. Não vou dar nenhuma opinião.
— Estão aqui para te proteger, Rachel. — Ele finalmente encontrou meu
olhar, e o que vi ali roubou o ar dos meus pulmões. Incerteza misturada à
mágoa por trás de uma máscara forçada de profissionalismo. — Não quero
fazer suposições no seu lugar, então vou precisar que me fale. Está
confortável com a contratação deles ou devo pedir que Hernandez envie
novos candidatos?
Seu uso da palavra suposições foi deliberado, mas não de uma forma
acusadora ou provocativa. Minha reação à sua decisão de assinar o
documento de conflito de interesse o deixou tão incerto que ele precisava que
eu falasse agora de algo que nós dois já sabíamos que eu aprovava.
— Nós dois estamos bem com isso, Will.
Ele me analisou por um minuto, depois assentiu e voltou o foco para a
vista.
— Eles foram altamente recomendados e entrevistados. Vou avisar
Hernandez. — Essa fachada profissional precisava acabar. Coloquei a mão
em seu braço e ele ficou tenso. Sua reação chutou minhas entranhas.
— Will. — Precisei pausar para engolir o nó na garganta. — Olhe, não
estou feliz com o que fez, mas entendo por que fez. E isso evita que eu tenha
uma conversa bizarra depois de nossa viagem de negócios.
A tensão no braço dele não amenizou, nem ele redirecionou sua atenção.
Me deixou sentindo solitária e um pouco excluída. Talvez ele estivesse bravo.
— Lembra do dia em que nos conhecemos? No seu escritório na Baker
Brown? — Ele passou os dedos pelo cabelo e soltou uma risada. — Porque
eu lembro. Claramente. Entrei com certas expectativas, uma delas de a
conversa ser rápida em que você revisaria o contrato e daria a Sarah a
aprovação para continuar o programa, mas só de olhar para você já virou meu
mundo de cabeça para baixo. Acho que foram seus olhos azuis impetuosos
que me atraíram e sua boca que me incentivou para lutar.
Ele balançou a cabeça e a deixou cair para encarar as mãos.
— Meu pai amava minha mãe mais do que tudo neste mundo — ele
continuou com a voz suave. — E, depois que eles morreram, fui morar com
minha tia e tio, que têm um relacionamento totalmente contrário. A mudança
foi um pouco chocante, mas me ensinou uma valiosa lição. Me ensinou o que
eu queria da vida: uma parceira, alguém para amar do jeito que meu pai
amava minha mãe, alguém para construir um futuro junto… Demorei muito
tempo para encontrar a mulher certa, mas meu pai sempre disse que eu
saberia, que ela me daria uma rasteira com um olhar. E nesse dia no seu
escritório, as palavras dele provaram ser verdade.
Seu olhar queimava quando encontrou o meu.
— Nunca fomos simples amigos, não na minha cabeça, de qualquer
forma, e estar adiantado com a Baker Brown foi o único jeito que soube de
proteger sua carreira. Tipo, quando nos conhecemos, passei a noite no seu
apartamento. Nada aconteceu, mas eles não sabem disso. E estive te
paquerando desde então. Fingir apenas um interesse profissional seria
mentira, e me considero um homem honesto. Quis você por meses, e sei que
você me quis também, mas precisa admitir para si mesma. Há muito que eu
possa fazer aqui, Rachel. Nosso relacionamento nunca vai dar certo se eu for
o único disposto a lutar por ele.
Cada palavra batia em mim com uma força que me deixou zonza. Meus
dedos se curvaram no antebraço dele para me apoiar, ou talvez eu só
precisasse segurá-lo, porque sua postura e tom diziam que aquele era um
momento fundamental em nossa relação. Ele fizera tudo até aquele instante
para me ganhar, enquanto eu tinha feito tudo em meu poder para afastá-lo. E
naquele dia, quando neguei a declaração dele em relação a uma atração
mútua, tinha finalmente o derrubado. Podia ver em seus olhos, a derrota e a
exaustão e a dúvida pendente que isso nunca fosse dar certo. Foi um
resultado da minha recusa constante em admitir em voz alta o que eu sabia
em meu coração.
O que eu dissesse em seguida nos definiria. Se eu negasse de novo,
arriscaria que ele fosse embora. Uma semana antes, eu teria feito exatamente
isso para protegê-lo e a mim mesma, mas as coisas tinham mudado entre nós.
Naquela noite, eu precisaria contar a ele tudo ou arriscar perdê-lo para
sempre.
CONVENCENDO
Confie.
Engoli em seco e encontrei a força para fazer isso, confessar meus medos
mais profundos para um homem que poderia me destruir com facilidade.
Ajudava ele saber sobre Ryan, mas havia outras coisas que eu ainda não tinha
admitido. Não em voz alta, de qualquer forma.
— Você me perguntou se eu me lembrava do dia em que nos
conhecemos. — Ele fez uma pergunta retórica, mas imaginei que esse seria
um bom ponto de partida. — Lembro, mas foi diferente para mim. Você tinha
uma confiança que eu quis desafiar imediatamente, em parte porque está na
minha natureza fazê-lo, mas sobretudo porque me irritou. Sempre fui atraída
por homens influentes, mas, depois de Ryan, jurei nunca mais me envolver
com um. Então você apareceu, e encontrou um jeito de passar o dia e a noite
inteira comigo. Parte de mim detestou como você, sem se esforçar, se inseriu
na minha vida como se já pertencesse a ela.
Isso me deixava furiosa, mas também fascinada. Minhas faces se
aqueceram ao me lembrar disso, o quanto ele me deixou excitada e
incomodada sem nem tentar. Tossi para limpar a garganta.
— Tem razão. A atração sempre foi mútua, mas diferente de você, eu não
quis me render a ela. Ainda estou tentando sobreviver ao primeiro homem
poderoso por quem me apaixonei; não consigo equilibrar vocês dois. Não
quando você destruiu cada barreira que construí para me proteger. Você
poderia me destruir, Will. Confiar que não vai fazê-lo exige toda minha força
de vontade, mas comecei a fazer isso no segundo em que te contei sobre
Ryan.
Coloquei uma mão em meu peito dolorido e permiti que meus
sentimentos se expressassem em meus olhos. Toda a dor, o medo, o amor…
— Pode não parecer que estou lutando por nós dois por fora, mas é só
porque minha luta é aqui. — Dei um tapinha no peito para enfatizar. — Eu
sou meu maior obstáculo, mas estou tentando, Will. Juro que estou.
Ele me deu um abraço que me aqueceu por dentro e por fora. Não percebi
o quanto estava com frio até ele me abraçar, e me derreti instantaneamente
nele.
— Sinto muito — sussurrei.
— Não tem por que se desculpar, amor — ele respondeu com a voz
suave. — Eu sabia que você não reagiria bem à minha confissão, mas temia
que se afastasse. Principalmente depois de revelar tudo sobre Ryan. Sei que
forcei a barra, mas fiz isso para te proteger.
— Eu sei. — Beijei seu queixo, depois sua face. — Foi a coisa certa a se
fazer. Nada em nosso relacionamento nunca foi estritamente profissional,
mas preciso saber de uma coisa. — Me afastei para interpretar sua reação
facial. — Por que se esforçou tanto para me contratar? Por que não tentar
simplesmente sair comigo?
Ele franziu a testa.
— Porque você é brilhante. Por que contrataria outro advogado quando
poderia ter você? — Ele soou genuinamente confuso, o que me acalmou um
pouco. Significava que havia me contratado pelos motivos certos.
— Mas e Garrett? Certamente ele não se importaria de representar a
Vinhedos Mershano.
— Ele cuida da minha área pessoal. Precisava de um advogado
corporativo, e seu trabalho com o contrato de Sarah me impressionou. Achou
que só te contratei para te levar para a cama? — Essa última foi dita com um
brilho nos olhos. — Porque, embora possa ser um benefício de se trabalhar
juntos, não influenciou minha decisão. Nunca contrataria uma mulher só para
dormir com ela, e acredito que te provei que nunca precisaria disso também.
Revirei os olhos.
— Tão convencido.
— Já te mostrei que sou confiante, querida. — Ele sorriu contra meus
lábios. — Ou precisa de um lembrete?
Abri a boca para responder, e ele me silenciou com a língua. Meus dedos
do pé se curvaram pelo ataque sensual. O homem tinha uma boca dos deuses,
e sabia disso. Cada mudança habilidosa fazia meu sangue pegar fogo. Me
pendurei nele e me segurei enquanto ele me devorava. Minhas pernas se
envolveram em sua cintura quando ele me levantou do chão e me empurrou
contra a parede. Estremeci quando o ar frio acariciou minhas coxas expostas.
As mãos de Will faziam o mesmo que sua língua, acariciando e me tocando
de todas as maneiras corretas.
— Gostaria de seu lembrete aqui ou no quarto? — ele perguntou com um
sussurro.
Arrepiei quando ele pressionou sua excitação em meu centro quente. A
ranhura da renda entre minhas coxas me permitiu sentir cada pulsação de seu
pênis duro por cima de sua calça. Mal havíamos começado, e eu já estava
ansiosa para ele me tomar. Segurei seu cabelo para forçar sua boca de volta
na minha.
— Aqui — exigi antes de permitir que me beijasse. Toda a frustração de
nossa primeira briga se esvaiu em meu abraço, culminando em um encontro
de bocas que confirmou o que ele queria dizer. Eu o queria agora e para
sempre, e lutaria com ele até meu último suspiro para fazer isso dar certo. Ele
respondeu aos sentimentos com gentileza e tirou meu vestido por cima da
cabeça. Me deixou de meia-calça e calcinha. Não estava usando sutiã, algo
que ele pareceu gostar quando sua boca foi para meus seios.
— Você é perfeita pra caralho. — Suas palavras foram cheias de
veneração e me deixaram sem fôlego. — Ainda está me devendo um desfile
de moda, mas eu gostei dessa. — Ele traçou a renda azul-marinho sobre meu
quadril e desceu até minha coxa. — Vamos precisar substitui-la.
Dei um gritinho quando ele a rasgou de mim, deixando-me com nada
além de minhas ligas e meias de seda. Percebi que estava totalmente exposta
e a única coisa protegendo minha dignidade era Will. Ele ainda estava de
calça e camisa e, não sei por qual motivo, isso só pareceu me excitar mais.
Pressionei firme contra ele com um gemido.
— Preciso de você, Will. Agora.
Sua risada vibrou em meu pescoço quando ele me encheu de beijos até a
garganta.
— O que está disposta a fazer por isso? — Ele segurou minha bunda com
uma mão enquanto a outra deslizou por minha barriga.
Quando ele encostou em meu clitóris, apressei-me contra sua mão e gemi:
— Qualquer coisa.
— Qualquer coisa, humm? — Seu tom estava cheio de mistério divertido.
— Até me chamar de “senhor”? — Ele beliscou meu monte sensível de
nervos, fazendo-me ver estrelas. Fiquei arfando contra ele e desejando com
uma necessidade que só ele poderia amenizar.
— Vou te chamar de que porra você quiser se me foder agora. — Saiu
mais alto do que pretendia, mas ele estava me deixando louca.
— Foi o que pensei — ele murmurou. — Tire minha calça, Rachel.
Passei a mão por sua camisa amassada até o cinto e tremia ao tirar o
couro de seus quadris. Ele continuou massageando meu ponto sensível,
porém se negava a fazer a pressão que eu desejava. Cada carícia sensual
lançava chamas dentro de mim, mantendo-as fervendo, mas sem permitir que
borbulhassem.
— Você vai me matar — consegui dizer em um sussurro doloroso.
— Continue — ele exigiu depois que eu abri o botão de sua calça. Meus
dedos tremiam quando baixei o zíper. — Você sabe o que eu quero que faça,
Rachel. — E eu sabia, porque era exatamente o que eu queria. Libertei seu
membro pesado da cueca e o pressionei contra meu calor úmido. Ele era tão
macio e quente contra mim, tão certo. Me movimentei para posicioná-lo onde
eu queria e o senti ficar tenso. Quando ele pegou uma camisinha do bolso,
olhei desafiadoramente para ela. Proteção era importante, mas sempre
arruinava o momento.
— Estou tomando pílula — respirei. — E sou saudável.
— Vamos discutir isso adequadamente depois. — Ele rasgou o pacotinho
com os dentes e colocou a camisinha com uma mão. Sua outra mão estava
ocupada segurando minha bunda. Quando seu pau retornou à minha entrada,
estremeci. — Aguente, linda.
Envolvi os braços em seu pescoço quando ele entrou inteiro em mim.
Nenhuma cutucada ou exploração gentil, simplesmente uma foda forte e
rápida, e foi maravilhoso. Cada estocada me levava mais alto, para um lugar
onde somente Will poderia me levar. Saber que a cidade estava logo atrás do
ombro dele provocou um arrepio pecaminoso em mim e aumentou o prazer.
Parecia perigoso, e errado, e totalmente certo. Apoiei a cabeça em seu ombro
com um arrepio conforme o prazer aqueceu meu interior. Essa era a parte que
eu amava, a parte em que eu vacilava na beirada daquele mundo especial
criado por Will. Aquela cheia de alegria, paixão e maravilha. Ele me penetrou
mais forte, arranhando minhas costas contra a parede a cada investida, e
entrelaçou os dedos em meu cabelo para me obrigar a olhar para ele.
— Adoro esse seu olhar — ele sussurrou. — Entorpecida com desejo e
pronta para explodir. — Ele passou a língua em meus lábios, persuadindo-me
a abri-los, e mergulhou para dentro. Gemi em sua boca conforme ele me
tomou ainda mais forte. Ele segurou meu seio, beliscando meu mamilo,
depois baixou a mão até meu ponto sensível.
— Vai gozar para mim, Rachel? — ele perguntou. — Quero sentir você
terminar em volta do meu pau. Agora, Rachel.
Ele aplicou exatamente a quantidade certa de pressão para me elevar.
Gritei seu nome, sem me importar com quem me escutasse, e abandonei tudo.
Todas as minhas preocupações e inquietações não importavam mais. A
sensação erótica era tudo que existia, e ela rolava por meu corpo em ondas
estimulantes que Will tinha que sentir. Enterrei a cabeça em seu pescoço
conforme ele me carregou de volta para o quarto, e me assustei só um pouco
quando senti o colchão contra minhas costas. Depois estava sob meus joelhos
quando ele me colocou para cima e entrou em mim por trás.
— Oh, Deus… — Não conseguia acreditar no quanto ele estava fundo
agora, alcançando um ponto que misturava prazer e dor repetidamente, até
outra onda de êxtase me atingir. Minhas mãos seguraram a colcha quando
meu corpo estremeceu com o orgasmo inesperado, e mal o registrei tirando as
mãos de entre minhas pernas para segurar meus quadris.
— Você está maravilhosa — ele respirou. — Maravilhosa pra caralho. —
Sua mão segurou mais forte quando ele aumentou o ritmo, e eu tentei
empurrar para trás contra ele para lhe conceder mais acesso, mas meus
membros protestaram. Dois orgasmos poderosos me deixaram fraca e
esgotada debaixo dele. Meu nome saiu de sua boca em um rosnado gutural, e
ele caiu contra minhas costas com um tremor que senti pulsar entre as pernas.
Ele tirou meu cabelo da frente e beijou minha nuca enquanto seu corpo
continuou a tremer contra o meu.
— Hummm… — Ele se aninhou em meu ouvido e nos rolou de lado para
que pudéssemos ficar de conchinha. — Te convenci.
Dei risada. Ele tinha mais do que provado seu argumento com aquele
pequeno lembrete.
— Sua confiança é bem merecida, Mershano.
Seus dentes mordiscaram minha orelha.
— Pensei que tivéssemos concordado com “senhor”?
— Vou te chamar do que quiser depois disso, senhor.
— Mais uma vez. Só para eu me lembrar.
— O que quiser, senhor.
Ele deu risada.
— Provei meu argumento duas vezes, então. Excelente.
Revirei os olhos.
— Convencido, senhor.
Seu comprimento duro se contraiu dentro de mim.
— Convencido mesmo, linda. — Ele deu outro beijo em meu pescoço e
se levantou da cama para jogar a camisinha fora. Sua calça estava colocada e
de cinto de novo quando se juntou a mim na cama com uma toalhinha quente.
Por que era tão sexy estar nua perto de um homem totalmente vestido? Pulei
quando ele pressionou a toalha úmida em meu centro, e estremeci quando
outro choque me atingiu.
— Tão sensível — ele refletiu, me virando de costas para a cama. Seus
lábios encostaram nos meus enquanto ele continuava a me abrandar lá
embaixo. — Para você saber, não me importo com o que me chama. Só
queria provar que conseguiria convencer você a me chamar do que eu
quisesse.
— Aham. — Me alonguei como um gato preguiçoso e suspirei. — Espero
que não precise que eu trabalhe amanhã, porque acho que acabou comigo.
Tudo que quero fazer é ficar deitada na cama e foder o dia todo.
Sua gargalhada me aqueceu.
— Talvez possamos planejar uma viagem para depois das reuniões de
aquisição e fazer exatamente isso.
Me iluminei com a ideia.
— Sério?
— Claro. Podemos ir aonde você quiser quando esta semana acabar. —
Ele me beijou no nariz e sorriu. — Sou seu para fazer como quiser.
— Oh! — Ergui uma sobrancelha. — É uma promessa?
— Totalmente.
Gostei de como isso soou, mas me fez pensar.
— Por que a camisinha, então? A menos que… Há um motivo para
precisarmos de uma? — O pensamento não tão aleatório amargou o
momento. Ainda precisávamos conversar sobre seus relacionamentos
anteriores, e ele definitivamente tinha experiência. As mulheres praticamente
se jogavam aos seus pés. Como aquelas mulheres do hotel no mês anterior.
— Uma das coisas que adoro em você é a capacidade de interpretar
sentimentos com seus lindos olhos, mas não sei se gosto de como está me
olhando agora. — Ele se apoiou no cotovelo para me encarar. — Sou
saudável, Rachel. Meu último checkup foi há alguns meses, e você é a única
mulher com quem estive desde então. Mas não ia te foder sem proteção no
calor do momento, não sem um consentimento apropriado.
— Eu dei consentimento.
— É, induzida pelo prazer, querida. Não é a mesma coisa.
Mordi o lábio, refletindo.
— Será que eu quero saber com quantas mulheres você ficou?
Seu suspiro respondeu minha pergunta antes de suas palavras.
— Não, mas posso te dizer um número se precisar disso. O que importa
mais é que nenhum dos meus relacionamentos anteriores, independente se
foram breves ou não, se compara ao que existe entre nós. Nunca me senti
assim com ninguém exceto com você, e com certeza nunca tentei tanto
conquistar uma mulher.
Bufei.
— Isso é porque as outras provavelmente caíam de joelhos com um único
comando.
Ele sorriu para isso.
— Talvez seja verdade, mas não com você. Gostei por ter me feito
trabalhar por isso. — Ele segurou minha face e me beijou levemente. — Mas,
sim, estive com outras mulheres e namorei, mas nada a longo prazo.
Nenhuma delas era certa para mim, e me vi adorando sua companhia mais do
que a delas. Você é diferente. Pela primeira vez na vida, estou com alguém
que dou mais valor do que a Vinhedos Mershano. Você não é uma mulher
aleatória para mim, Rachel. Nunca foi e nunca será.
Meu coração se aqueceu com suas palavras.
— Acho que gosta de mim, Mershano.
Ele passou o polegar em meu lábio inferior.
— Acho que também gosta de mim, Dawson.
— Eu gosto — confirmei. — Talvez um pouco demais.
— Isso é impossível — ele retrucou, brincando. — Sou muito fácil de
adorar.
— Oh, lá vamos nós com a arrogância de novo.
— Precisa de outra lição?
Minhas coxas se apertaram com a promessa por trás de seu tom e, já que
sua mão ainda estava lá embaixo com a toalha, eu sabia que ele tinha sentido.
— Preciso comer primeiro — sussurrei, meu estômago roncando,
concordou. Sua foda completa tinha me deixado faminta depois de pular o
jantar. — Mas, depois, talvez possa me convencer sem a camisinha!
Seus olhos brilharam para isso.
— É uma promessa, linda.
NÚMERO DESCONHECIDO
Ver Will em seu ambiente a semana inteira me fez respeitá-lo ainda mais
do que já respeitava. Ele lidou com toda reunião de aquisição com atitude
profissional que admirei enquanto encantava a todos com sua sinceridade.
Por isso que o proprietário da vinícola queria trabalhar com ele. Quatro dias
de reunião, e o acordo estava praticamente fechado. Eu enviara por e-mail
cópias da papelada para Janet revisar, mas, até então, ela não havia
encontrado nenhum problema. Se tudo corresse de acordo com o plano, a
fusão avançaria no mês seguinte.
Pulei quando Will apertou minha bunda.
— Mershano! — Bati nele, dando risada.
— Com um vestido desse, o que mais você esperava?
— Você que escolheu.
Ele balançou as sobrancelhas.
— Eu sei, e mal posso esperar para tirá-lo mais tarde.
— Sr. Mershano — uma voz grave chamou atrás de nós. Nos viramos
quando Javier, o proprietário da vinícola, se aproximou no lobby do hotel.
Meu rosto ficou vermelho pelo que ele havia acabado de presenciar, mas ele
não disse nada e nem indicou que tinha visto. — Estava esperando falar sobre
uma ideia com o senhor antes de ir — ele disse com o olhar esperançoso. —
É sobre uma técnica de envelhecimento que quero tentar, mas, já que é o
senhor que vai vender o produto, gostaria da sua opinião primeiro.
— Claro. — Will olhou para mim. — Sei que precisa falar com a Baker
Brown, então te encontro lá em cima.
Certo. Janet queria que eu ligasse para atualizá-la depois das reuniões
daquele dia. Tinha passado das onze da manhã em Chicago, o que era um
horário perfeito para nos comunicarmos. Apertei a mão de Javier de novo e
segui para os elevadores com um aceno. Podia sentir o olhar de Will na
minha bunda o caminho inteiro, o que me deixou empolgada pelo que
aconteceria quando ele se juntasse a mim no quarto. Tinha a sensação de que
o jantar ficaria para depois do sexo de novo. O apetite dele era insaciável, e
não apenas por comida.
Meu celular tocou quando entrei no elevador, e olhei para ele, esperando
ser do trabalho. Em vez disso, era um número que não reconheci. Bufei e
apertei para ignorar. Como não tinha atendido as ligações de Ryan a semana
inteira, provavelmente era ele tentando de um novo número. Quando vibrou
de novo, silenciei o celular, depois fiz isso mais três vezes no caminho para o
quarto, depois percebi uma coisa. Aquilo tinha que acabar de uma vez por
todas. Finalmente eu estava feliz pela primeira vez em muito tempo, e
precisava que fosse permanente. Isso exigia que eu rejeitasse Ryan com uma
finalidade que ele não poderia ignorar.
Quando o número brilhou uma quinta vez, atendi.
— Olha, isso…
— Ele está aí. Ele está no hotel.
Ok, não era a voz que eu esperava escutar.
— Caleb?
— Rachel, me escute, ele está na porra do hotel. Você precisa correr
agora. Vai!
Seu tom urgente me congelou no corredor. Eu não falava com meu irmão
há meses.
— Do que está falando? Quem…
— Rach…
Algo duro bateu na parte de trás da minha cabeça, fazendo o celular
escorregar de meus dedos.
— O que…
Um sapato de couro caro apareceu em minha visão periférica embaçada e
pisou no celular, quebrando-o contra o piso de mármore. O pavor se
intensificou em meu pescoço quando um pós-barba familiar afetou meus
sentidos.
— Olá, putinha — Ryan rosnou ao enroscar os dedos em meu cabelo e
me arrastar pelo corredor. Minha bolsa caiu do meu braço conforme me
esforcei para me soltar dele.
— Ryan…
Ele me deu um tapa no rosto com as costas da mão tão forte que meu
mundo girou, e então envolveu os dedos na minha garganta para me impedir
de cair. Meus ombros bateram na parede com uma força que tirou meu
fôlego.
— Cale. A. Porra. Da. Boca — ele disse entre dentes cerrados, apertando
mais forte a cada palavra. — Você quer ser uma vagabunda… Vou te tratar
como uma.
Ele me puxou para a frente e começou a andar pelo corredor na direção da
escadaria.
Puta merda! Isso não poderia estar acontecendo. Cadê Beau e Sam? No
quarto deles. Claro, porque Will os dispensou depois da reunião e disse que
iria me acompanhar.
Porra.
Tentei ganhar equilíbrio com os calcanhares, para me afastar dele e
correr, mas seu aperto na minha traqueia me deixou fraca demais para lutar.
Meus pés mal me sustentavam para andar enquanto ele me puxava por dois
degraus de uma vez. Pontos pretos dançavam atrás de meus olhos conforme
eu lutava para respirar, e então eu estava sugando o doce ar quando ele me
jogou no chão de um quarto de hóspede que era significativamente menor do
que eu deveria ter entrado lá em cima.
Me curvei em uma bola quando ele me rodeou, e esperei que viesse o
primeiro chute. Ele se movia lentamente enquanto seu olhar cruel analisava
minha forma deitada. Ele bufou de desgosto, contaminando o ar silencioso
demais.
— Patética do caralho.
Arrastou uma cadeira para perto e acendeu um charuto enquanto me
analisou daquele jeito misterioso dele. Aqueles olhos azuis vívidos se
estreitaram conforme ele soprou uma faixa de fumaça que só pareceu piorar a
atmosfera sinistra.
— Sabe, as leis de comércio de álcool são inconstantes. — Ele parou para
uma tragada longa em seu charuto, aqueles olhos hostis brilhavam
descontentes na luz baixa do quarto. — Seria uma verdadeira vergonha se
alguém como Mershano cometesse um erro em um de seus muitos arquivos.
Poderia até prejudicar o imperiozinho dele, ou no mínimo atrasá-lo alguns
meses, talvez anos. Seria ainda pior, eu diria, se alguma papelada
desaparecesse. Principalmente no meio de uma aquisição internacional. Já te
contei sobre meus amigos do Departamento de Impostos e Comércio de
Álcool e Tabaco dos EUA?
Meu sangue gelou.
— Ryan…
Seu pé encostou na minha mandíbula, silenciando-me. Não foi um chute,
mas um toque severo e serviu como alerta de que ele poderia fazer pior se
quisesse. Massageei o ponto sensível com a mão e lutei contra as lágrimas se
acumulando nos olhos.
— O que eu disse sobre falar? Porra, Rach. Você é mais esperta que isso,
a menos que toda essa putaria tenha chegado ao seu cérebro. — Ele soprou
fumaça de novo, com a expressão entediada.
— Bom, pensei que seria bom para minha carreira ter uma mulher
talentosa ao meu lado, mas, aparentemente, saiu pela culatra o ato de permitir
que você trabalhasse nesse projeto. Você vai para casa comigo pela manhã, e
começaremos de novo. A primeira coisa que vai fazer é sair de seu emprego.
Todo seu tempo será focado em planejar nosso casamento e a campanha, de
qualquer forma, então isso não deve ser um grande problema. Enquanto
estiver fazendo isso, vou pedir que suas coisas voltem para minha casa.
Depois vamos começar a trabalhar em seus problemas de comportamento e
minhas expectativas.
Meu estômago se contorceu com suas palavras, e meus membros ficaram
tensos.
Não. Eu não iria a nenhum lugar com ele.
A mulher que ele costumava pressionar recuou para o fundo de minha
mente conforme a confiante que se abriu para Will avançou. Ryan não
controlava essa nova versão de mim, nem nunca controlaria. Poderia me
chutar e me bater o quanto quisesse, mas eu não me curvaria a ele. De novo,
não.
— Não — sussurrei.
Desta vez previ o pé dele e me afastei para encostar na parede e flexionei
os joelhos no peito.
Semicerrei os olhos para ele quando ele se levantou.
— Vá em frente, Ryan. Mostre o seu pior.
Provavelmente, ele já tinha me provocado uma concussão se era para
levar em conta a pontada atrás da minha cabeça, e minha garganta teria a
marca de uma mão pela manhã, exatamente como da última vez em que ele
me sufocou, porém meu coração estaria livre. Minha mente também. E era
isso que importava.
Seu olhar correu por mim conforme colocou o charuto de lado e ficou em
pé. Esperava ver a raiva escurecer em seus traços, entretanto, em vez disso,
eles se iluminaram com desejo. Minha garganta convulsionou com aquela
visão. Eu conseguia lidar com o Ryan furioso, mas não com aquilo. Fiquei
paralisada, tanto que nem conseguia respirar. Ele deve ter sentido meu medo
exasperado, porque sorriu.
— Oh, Rachel. Sempre gostei de putas com atitude. — Ele segurou meu
cabelo de novo e me obrigou a ficar de joelhos. — É muito divertido foder a
boca delas com submissão. — Sua mão livre estava no zíper quando a porta
se abriu.
Em um minuto, meu crânio estava pegando fogo pelo punho dele, e no
outro, Ryan estava no chão ao meu lado, massageando a mandíbula. Um Will
Mershano pálido apareceu em cima de nós, olhando para meu pescoço. Sua
mandíbula ficou tensa com o que viu, mas ele não disse nada ao estender uma
mão e me ajudar a levantar do chão. Consegui me levantar, encolhendo-me, e
ele imediatamente me puxou para perto com um braço em volta de meus
ombros.
— Se tocar nela de novo, vou acabar com você. — Sem hesitação, sem
raiva, apenas uma ameaça infalível entregue no tom mais calmo que já ouvi
Will falar.
Ryan cuspiu um monte de sangue e se levantou para enfrentar seu
oponente. Eles tinham a mesma altura, ambos de ombros largos e atléticos,
mas o homem ao meu lado tinha mais músculo que ele. A estrutura esguia de
meu ex era construída com um personal trainer caro, enquanto Will
mantinha a sua com trabalho manual.
Eu meio que esperava que Ryan tentasse alguma coisa idiota, como socar
Will, mas ele era muito cortês para isso. Em vez disso, sorriu aquele maldito
sorriso charmoso e deu de ombros.
— O que aconteceu com sua segurança, Mershano? Parece que eles
falharam. — Ele ajeitou a gravata e alisou-a com a mão. — Talvez queira
verificar isso.
Will sorriu.
— Suas conexões não me assustam, Albertson. Mas obrigado pelo alerta
nada sutil. — Eu não fazia ideia do que ele estava falando, mas senti que algo
ruim tinha acontecido com Beau e Sam. Ryan não mataria ninguém, não é?
— Bom, não pode dizer que não tentei. — Meu ex colocou as mãos nos
bolsos, a imagem da indiferença. — Última chance, Mershano.
— Como disse anteriormente, você não me assusta. Agora saia da porra
do hotel da minha família.
Ryan assentiu uma vez em aquiescência, depois ficou me olhando por um
bom tempo.
— Até logo, menininha.
TODOS OS SENTIMENTOS
Will enrolou um saco de gelo em uma toalha e me entregou.
— Tem certeza de que não quer ir ao hospital? — ele perguntou, olhando
minha garganta.
Balancei a cabeça.
— Não, o gelo e os analgésicos vão funcionar. — O hospital seria mais
desconfortável que aquele sofá, sem contar que seria mais invasivo. Agora eu
precisava respirar e relaxar.
Estou segura. Por enquanto.
Pressionei o pacote gelado atrás da minha cabeça com uma careta. Doía
mais agora já que a adrenalina não estava correndo em minhas veias.
— Mas você está bem? — O tom suave de Will não combinava com a
palidez de suas faces ou a fúria escurecendo seu olhar. — Desculpe, essa é
uma pergunta idiota. Claro que não está. — Ele passou os dedos pelo cabelo
e ficava andando de um lado a outro da sala de estar. — Porra, se eu tivesse
atendido meu celular antes… Mas fiquei ignorando… — Ele balançou a
cabeça e ficou de joelhos diante de mim. Quando sua cabeça caiu em meu
colo, meu coração se partiu um pouco. Evidentemente, ele se culpava. —
Sinto muito, Rachel.
— Não — sussurrei. — Não se desculpe por ele. — Foi um lembrete do
que ele tinha me dito depois de eu lhe contar sobre Ryan… Nunca mais se
desculpe por ele. Will assentiu, significando que entendia, mas seus olhos
ainda estavam tristes.
Se ele não tivesse aparecido, quem sabe o que teria acontecido? Meu
corpo congelou quando Ryan começou a abrir a calça, e toda a luta dentro de
mim desapareceu. Ele tinha me reduzido ao estado mais vulnerável com um
simples ato. Eu havia conseguido enfrentá-lo ao vivo pela primeira vez em
anos, mas em um segundo de mudança, eu estava de joelhos novamente.
Literalmente.
— Eu odeio o Ryan — Chiei. — Odeio pra caralho.
Os braços de Will envolveram minha cintura enquanto me abraçava
desajeitadamente no chão. Ficamos assim, nos abraçando, sem falar, por
inúmeros minutos até uma vibração interromper o momento. Ele tirou o
celular do bolso, olhou para o número e o entregou para mim.
— Será para você.
— Só coloque no viva-voz. — Eu não tinha a energia para me mexer, e
tudo doía.
— Ela está bem — Will respondeu ao telefone.
— Parece que sim. — A voz de meu irmão colocou meu cérebro em
movimento. Eu tinha esquecido completamente que ele ligou antes de Ryan
chegar.
— Caleb?
— Oi, irmãzinha. — A afeição em seu tom me inundou. Ele nunca me
bajulava, não assim. — Kincaid estará aí em umas três horas, então só
aguente firme, ok? Eu mesmo poderia ir, mas ele estava mais perto.
Fiquei boquiaberta conforme minha boca se enchia de perguntas.
— Do que está falando? E como conseguiu o número de Will? Não,
esquece isso, como ficou sabendo de Ryan? E que número está usando?
Onde…
— Wow, wow, não venha com essa de advogada para mim, Rach. Olha,
tudo que você precisa saber é que Kincaid está indo até você. Ele vai explicar
o máximo que puder. Até lá, fique firme que eu vou administrar as coisas
daqui. Oh, e também não se preocupe com o Albertson. Eu deveria ter lidado
com ele há anos, mas não quis interferir. Agora ele não me deixou escolha.
— Vou precisar de mais respostas que isso, Caleb — eu disse sincera
para ele, começando a ficar nervosa de novo. — Como você ficou sabendo de
Ryan? Você não estava no ano em que o levei em casa para as férias, e o
Senhor sabe que mal nos falamos.
O suspiro que veio pela linha era marca registrada de Caleb. Sempre
cismado, sempre cansado. Eu nem conseguia me lembrar da última vez que
vi meu irmão sorrir.
— Podemos não nos ver ou falar com frequência, mas sempre estou aí,
Rach. E sempre estarei.
A linha ficou muda.
Will guardou o celular e arqueou uma sobrancelha loira.
— No que disse mesmo que seu irmão trabalha?
— Ele trabalha em algum escritório para o governo. — Quando alguém
falava sobre isso, ele dava de ombros, falava algo sobre ser entediante, e
mudava de assunto.
— Certo — Will respondeu, bufando. — Ele é o motivo de eu ter te
encontrado. Não apenas ele descobriu meu número particular e me ligou para
dizer que Albertson estava no hotel, mas ele sabia para qual quarto aquele
desgraçado tinha te arrastado. Isso exige um nível de acesso de segurança que
vai bem além do típico “trabalho de escritório”.
— Caleb também te ligou? — Obviamente. Will acabou de dizer isso, e
ele reconheceu o número quando meu irmão ligou de novo. Que pergunta
idiota. — Fico pensando como ele soube.
— Acho que hackeou as câmeras de segurança do hotel que, de novo,
implica habilidades além de um escritório. Sem contar que também não acho
que seja necessariamente legal.
— Acha que ele trabalha com Mark, então? — Nunca tinha pensado
nisso, mas faria muito sentido. Até onde eu sabia, eles ainda eram melhores
amigos apesar de trabalharem em cidades diferentes e raramente se verem.
Será que era tudo fachada?
— Com certeza, e nem pensar que eles são do FBI. Pelo meu
entendimento, agentes federais operam dentro dos Estados Unidos, não fora
dele.
Sua avaliação batia com a minha, mas eu não tinha energia sobrando para
pensar nisso. Exalei pesadamente e me encolhi. Meu ombro estava duro de
ter segurado a mão no ar, o que era triste considerando que eu só estava
fazendo isso há uns dez minutos.
— Aqui, deixe comigo. — Will sentou-se no sofá ao meu lado e assumiu
o controle do gelo. Meu braço estava mole ao lado do corpo, grato pelo
intervalo. Tudo doía. Meus pés, minha garganta, meu estômago, meu ego…
Relaxei no homem forte ao meu lado e lutei contra a vontade de chorar.
Esse passeio emocional de montanha-russa em que estávamos precisava
acabar, e havia apenas um jeito de fazer isso. Mas exigiria toda a força que eu
ainda tinha, e depois mais.
— Ele nunca vai parar — sussurrei. — Vai considerar isso um
contratempo e virá atrás de mim de novo quando menos esperarmos.
— Aí vou dar uma surra nele. — Com certeza, mas não resolveria nada.
Conhecendo Ryan, ele iria armar para Will sair mal ou arruinar sua reputação
de alguma maneira. Meu ex tinha uma graduação avançada em manipulação e
nunca hesitava em usá-la quando queria alguma coisa.
Balancei a cabeça, mas parei quando o cômodo começou a girar.
— Agora, temos que vencê-lo em seu próprio jogo. É o único jeito. —
Uma ordem de restrição só o faria rir e aumentar a segurança e os guarda-
costas. O que me lembrou… — O que aconteceu com Sam e Beau?
— De acordo com seu irmão, Ryan fodeu com a água no andar de cima e
os nocauteou. Não sei se foi ele mesmo ou se contratou alguém, mas, de
qualquer forma, mostra que ele teve acesso aos quartos e às garrafas na
geladeira.
Porque isso era aterrorizante.
— Eu te avisei. Ele conhece pessoas, Will. Sempre foi assim com ele. —
Estremeci e me encaixei em seu calor. — Ele estava falando sobre os amigos
que tem na TTB. — Eu sabia que Will reconheceria a sigla, já que a empresa
dele teria enviado vários documentos para eles ao longo dos anos.
Will deu risada.
— Ele quer vir atrás da Vinhedos Mershano, não é? Eu adoraria vê-lo
tentar. Ele parece ter a impressão de que eu não tenho acesso a recursos
similares, o que é um defeito da parte dele. E você me chama de arrogante.
— Isso não é uma piada, Will. Ele poderia te machucar.
Ele colocou o gelo de lado e me puxou para seu colo.
— Querida, deixe que eu me preocupo comigo, ok? Cresci com homens
como Albertson. Ele não tem nada de novo, e com certeza não me assusta. O
que me assusta é como ele chegou perto de te machucar. Foi puramente uma
jogada de poder da parte dele te pegar e machucar quando estava ao meu
alcance. Ele sabia que eu a encontraria, mas provavelmente esperava que
fosse um pouco depois. Queria entregar o recado, e obteve sucesso. Só que eu
não vou recuar. Se é uma luta que ele quer, então que venha.
Promessa e certeza sublinhavam cada palavra, e eu podia ver a
determinação em seus olhos. O alerta de Ryan tinha saído pela culatra. Ele
esperava que Will colocasse o rabo entre as pernas e fugisse, mas o homem
forte me segurando não pretendia morder a isca.
— Você é maravilhoso — eu disse admirada. A maioria dos homens se
afastaria da minha bagagem murmurando uma “boa sorte”, mas Will não. Ele
ficou sentado ao meu lado, emanando força e fúria por mim, e sabia todas as
palavras para me tranquilizar. Eu deveria estar tremendo com lágrimas agora,
mas, em vez disso, me sentia segura. Meu corpo todo doía, e definitivamente
estaria cheia de hematomas no dia seguinte, mas, por dentro, eu sabia que
nada poderia me prejudicar. Confiar em outra pessoa era difícil e, ainda
assim, relacionamentos eram isso.
Confiança. Segurança. Compreensão. Amor.
Sorri com esse último pensamento e soltei uma risadinha. Porque era
verdade. Eu amava Will. Aquele homem, aquele homem impossível, teimoso
e insistente, tinha demolido todas minhas barreiras e entrado em meu coração
com a velocidade de um trem de carga. Nunca pensei ser possível dar a
alguém um acesso tão íntimo, mas nada naquele homem tinha padrões
normais. Quando ele queria alguma coisa, tomava tudo, e eu não era exceção.
Sua testa se franziu enquanto me analisou. Minha risada deve tê-lo
confundido. Era a hora errada para perceber como me sentia. Mas que se
dane! Ele tinha que saber, e se a ameaça de Ryan não iria fazê-lo fugir,
minhas palavras inofensivas também não o fariam.
— Will Mershano, acabei de perceber que eu te amo. — Pronto. Feito.
Não tinha como voltar, nem correr, nem me esconder. Ele queria que eu
lutasse, e ali estava. Eu também conseguia ir atrás do que desejava, e eu o
queria. Sempre e para sempre.
A testa dele se suavizou quando seus lábios se curvaram em um sorriso
exuberante.
— Oh, querida, se só percebeu isso agora, então tenho mais trabalho a
fazer.
Dei um tapa de brincadeira em seu peito.
— Sempre arrogante.
Aquelas covinhas se aprofundaram.
— Mereci.
— Mereceu — concordei e me aconcheguei de novo em seu peito.
Satisfeita. Meus olhos se fecharam com um bocejo. Toda a comoção daquela
tarde tinha me deixado exausta, e eu sabia que, com a vinda de Mark, seria
uma longa noite.
— Rachel?
— Humm? — murmurei sonolenta.
— Também te amo.
MARK KINCAID
Will ligou para Janet de seu celular, já que o meu foi destruído no
corredor, e lhe passou uma atualização. Ela pareceu feliz com os resultados,
depois perguntou sobre nossos planos para o fim de semana. A forma como
ela disse confirmou os comentários de Will sobre o documento de conflito de
interesse. Eu nunca tinha reparado, mas a curiosidade sempre esteve ali.
Agora eu sabia por quê.
— Então o que vamos fazer depois desta viagem? — perguntei quando
ele guardou o celular no bolso.
Ele colocou uma mecha solta de cabelo atrás da minha orelha e segurou
minha face.
— Minha resposta é a mesma do outro dia. Vamos para casa juntos como
um casal.
— Certo, mas você mora na Carolina do Norte. E eu não. — A ideia de
voltar a Chicago não me atraía como uma vez atraiu, mais por causa de Ryan,
mas também porque eu gostava da cidade em que Will nasceu. Era tranquila e
segura.
Uma batida à porta interrompeu a resposta dele.
— Deve ser Mark — ele disse ao ir até a porta e verificar o olho mágico.
— Alto, cabelo escuro e barbudo?
Bufei.
— A barba seria novidade, mas parece que é ele.
Will virou a maçaneta, e Mark entrou usando jeans e uma camiseta
branca. E com certeza Mark Kincaid deixara sua barba crescer. Mas estava
bem aparada e ficava meio sexy nele. Combinava com a aparência toda
marrenta que ele já tinha. Ele entrou e me tirou do sofá em um abraço sem
me cumprimentar ou nem cumprimentar o homem que abriu a porta. Quando
ele beijou minha têmpora, Will pigarreou.
— Relaxe, Mershano. Ela é como uma irmã para mim — Mark
respondeu. E era verdade. Eu o conhecia há metade da minha vida. Namorá-
lo seria estranho.
— Essa coisa no seu rosto está me pinicando — murmurei, me
contorcendo.
Ele me soltou, rindo.
— Que bom ver que seu senso de humor ainda está em jogo.
— Não tem nada de engraçado nisso — eu disse, gesticulando para seu
queixo quadrado.
Seus olhos quase pretos se estreitaram.
— Você falou igual o Caleb.
Dei de ombros.
— Nós dois sabemos como usar uma lâmina.
— Vê o que preciso aguentar? — ele perguntou, olhando para Will. —
Paro o que estou fazendo em Dubai e pego o próximo voo, só para ser
incomodado. — Ele balançou a cabeça e ficou sério. Sua postura mudou
quando ele cruzou os braços à frente do peito largo, mudando sua
personalidade de irmão mais velho para homem mau. — Já me encontrei com
os homens de Hernandez. Eles estão acordados e fazendo as malas, e estão
conscientes da demissão.
Will ergueu as duas sobrancelhas.
— Como assim?
— Eles foram comprometidos. Por que os manteria na equipe? Além
disso, eu estou aqui e realmente sei que porra está acontecendo. — Mark se
acomodou na poltrona ao lado do sofá e colocou um tornozelo no joelho
oposto.
Tomei isso como uma deixa para sentar também e me ajeitei no sofá, e
Will se sentou no espaço vago ao meu lado. Sua perna pressionou a minha
quando ele envolveu o braço em meus ombros e encarou Mark. O melhor
amigo de meu irmão nem se mexeu; seu olhar era tão assertivo quanto o do
homem ao meu lado.
Todos os pelos de meu braço dançavam com a testosterona tornando o ar
denso. Nenhum deles curvaria para o outro, o que tornava essa batalha de
determinação uma perda de tempo.
— Então. — Pigarreei. — Mark, este é Will. Will, este é Mark.
Eu tinha me esquecido de apresentá-los adequadamente mais cedo, não
que parecessem se importar. Estavam ocupados demais tentando ser o Macho
Alfa da Sala.
Silêncio.
Balancei meu pé com irritação e me encolhi. Já estava machucado do meu
passeio até lá embaixo. A mão quente de Will encostou na minha perna e foi
até meu tornozelo.
— Quer mais gelo? — ele perguntou.
— Pode também encher a banheira neste caso — comentei, irritada não
com ele, mas com a situação. — Vou ficar bem. Só preciso de mais
analgésicos logo. — Ele já tinha me dado mais do que o recomendado para
minha dor de cabeça.
— Olhe para mim. — O comando de Mark me pegou desprevenida. Ele
se agachou diante de mim sem me tocar. Encontrei seu olhar sério e o
encarei. — Comida — foi tudo que ele disse ao se levantar e ir até a porta
balcão.
Will inclinou o queixo para ele e me encarou com um olhar intenso.
Engoli em seco, nervosa por ter dois homens muito dominantes em um
cômodo. Depois Mark começou a falar em um francês fluente, pedindo o que
parecia ser jantar de um restaurante local e quebrou o silêncio.
— Desde quando você fala francês? — Embora tivesse sussurrado, ele
me escutou muito bem e deu uma piscadinha para mim antes de continuar a
conversa.
— FBI, meu cu. — Balancei a cabeça e descansei no homem forte ao
meu lado. Seu calor natural me cobriu com o conforto de que precisava. Não
tinha percebido que meus olhos estavam fechados até Mark suspirar. Ele
estava de volta na cadeira ao lado do sofá com um tornozelo no joelho. Seu
queixo estava apoiado no punho, me observando.
— Vai se sentir melhor depois de comer alguma coisa — ele disse.
— Vou me sentir melhor quando me contar como lidar com Ryan, porque
presumo que seja por isso que está aqui. — Minha voz foi mais forte do que
eu esperava. Cada outra parte minha doía com exaustão, mas não meu
coração ou minha mente. — Ele não vai embora a menos que eu faça algo
drástico.
— É, e ele vir aqui mostrar um agravamento — Mark respondeu.
— Foi uma mensagem — Will interrompeu. — Ele nunca quis levá-la; só
queria marcar seu território para que eu recuasse.
— Precisamente. — Admiração sublinhava cada palavra. — E ele vai se
tornar realmente perigoso quando você não recuar, e é por isso que
precisamos agir, e logo.
— O que sugere? — Will perguntou com a voz baixa.
— Suicídio político — ele respondeu simplesmente. — Os tabloides
adoram um bom escândalo sexual. Parece ser a única forma de destruir uma
carreira ultimamente e, quando acontecer, Albertson terá muito mais
problemas pertinentes para lidar do que sua ex-noiva errante. Sem contar as
conexões mais que questionáveis dele, que estão confiando que ele se tornará
o próximo senador de Illinois.
— Ele está fazendo promessas que não pode cumprir — Will deduziu
antes de eu poder falar a mesma coisa. — Mas todas as articulações devem
ser feita se a criança for dele.
Mark deu de ombros, com a expressão entediada.
— Ser ou não, é irrelevante. O senador Jenkins não vai ficar feliz em
saber que sua jovem esposa o traiu com seu protégé. Ele vai destruir
Albertson em retaliação por ele prejudicar sua preciosa masculinidade,
enquanto nós podemos nos sentar e aproveitar os fogos de artifício. Tenho
certeza de que o senador Albertson também não ficará feliz, não que ele
mesmo seja um modelo exemplar.
Bufei. Isso era um eufemismo. O pai de Ryan tratava todas as mulheres
como objetos, inclusive a mim quando Ryan e eu estávamos namorando. Ele
ficava dizendo como era fofo eu querer estudar Direito, como se fosse um
hobby e não uma carreira.
— Então está sugerindo que soltemos o caso para a mídia — eu disse
depois de ambos os homens olharem para mim.
— Não, sugiro que postemos algumas cenas on-line anonimamente e
vamos deixar que os tabloides cuidem disso. Tenho algumas fontes
confiáveis que podemos vazar diretamente para ter certeza de que será
encontrado, e o resto vai acontecer sozinho. Além disso, precisamos fazer
isso no próximo fim de semana.
— Por quê? — perguntei.
— Porque é quando ele vai anunciar a candidatura — ele respondeu. —
Se fizermos no tempo certo, o que vamos fazer, a história vai começar a
aparecer quando ele estiver fazendo o discurso. Nunca que ele poderá se
recuperar disso, principalmente quando o senador Jenkins estará sentado ao
lado dele com sua adorável esposa à esquerda.
Parecia perfeito, exceto por uma coisa.
— Nós vamos arruinar a vida dela também.
Mark sorriu, mas não chegou aos seus olhos. Nunca chegava.
— Eu sabia que você diria isso, e é por isso que pesquisei um pouco mais
no passado dela enquanto pesquisava mais relações questionáveis de
Albertson. — Ele tirou seu celular e começou a mexer na tela. — A sra.
Bianca Jenkins é uma debutante que se casou por dinheiro e status. Não
necessariamente algo para destruí-la, mas ela tem um histórico de arruinar
reputações de outros puramente por diversão ou egoísmo. Vamos apenas
dizer que ela mais do que merece um pouco de humilhação pública.
— A mídia vai crucificá-la porque ela é a mulher — argumentei.
— Algo que ela provavelmente sabia quando enviou uma gravação de
sexo da sua melhor amiga para a indústria de entretenimento em retribuição
por tentar seduzir seu antigo amante. Esse seria o homem com quem ela
estava transando antes de Ryan, enquanto ela ainda estava casada com o
senador Jenkins. — Seu tom neutro sugeria que ele não estava nada
impressionado. — Não vou perder meu sono com isso.
Mordi o lábio, incerta. Isso era para ser sobre acabar com meu ex
controlador, mais ninguém. Mas até eu poderia admitir que precisaria de
medidas extremas ali. Precisaria de muito para obrigá-lo a me deixar em paz,
e prejudicar suas aspirações políticas atingiria isso. Ryan se importava muito
mais com sua carreira do que comigo.
— Há algum risco de que isso o deixará mais desesperado por ela? —
Will perguntou. — Quero dizer, tirar tudo dele poderia causar o impacto
oposto, certo?
Mark mexeu na barba, com o olhar pensativo.
— É totalmente possível, mas suspeito que ele também ficará ocupado se
preocupando com sua queda política para pensar em outra coisa. Ele se
envolveu com pessoas perigosas que confiaram certos segredos a ele
esperando que ele fosse útil no futuro. Retirar isso o torna mais suscetível do
que um aliado, o que o obrigará a encontrar outras maneiras de acalmar seus
vários benfeitores.
— Então ele recebeu fundos deles para a campanha — Will murmurou.
— Por um caminho inverso que não pode ser monitorado, mas sim, na
verdade, a família dele recebe incentivos financeiros há décadas. São
relacionamentos antigos, alguns com os quais tenho certeza de que você está
familiarizado, sr. Mershano. — A implicação era óbvia. Ryan e Will vinham
de famílias antigas e ricas. Pelo que vi nos últimos anos, essas origens vieram
com um certo prestígio e, dentro desse círculo social havia inúmeros
indivíduos ricos que adquiriam seus ativos das formas mais variadas.
Will assentiu com o queixo para reconhecer a verdade.
— Albertson não parece entender isso tão bem quanto você.
— Isso é porque ele está equivocado e pensa que você não é tão
profundamente ligado ao império Mershano como seu primo, o que nós dois
sabemos que não é verdade. Pode ter sua própria empresa, mas seu
sobrenome te proporciona os mesmos contatos e recursos, sem contar que sua
conta bancária compete com a de Evan. Albertson não sabe nada disso, e essa
é a ruína dele. — Mark saiu da poltrona e esticou seus braços esguios acima
da cabeça. — Foram dois longos dias, e eu preciso de um uísque.
— Tem conhaque na cozinha — Will respondeu quando ele passou a mão
para cima e para baixo de meu braço.
— Não é meu preferido, mas vale — ele resmungou de volta.
— Ele é encantador — Will murmurou sarcasticamente depois que Mark
desapareceu.
Sorri.
— Ele sempre foi assim. Bruto e direto ao ponto. — Era uma coisa que eu
gostava nele e em meu irmão. Nunca precisava me preocupar que eles fossem
me julgar em particular; eram muito diretos para isso. — Então, francês, huh?
— perguntei quando o homem em questão voltou com um copo de líquido
âmbar.
— É uma língua simples, Rach. Você tinha que ver persa ou árabe. — Ele
fez careta. — Muitas regras gramaticais, e você quebra todas elas. É fodida
mesmo.
Olhei para ele especuladora.
— Certo. Tudo faz parte de seu trabalho no FBI? Por que todos os
agentes precisam aprender línguas do Oriente Médio e viajar para Dubai com
frequência?
Desta vez seu sorriso chegou aos olhos.
— Com certeza.
— Aham. Algum dia você vai me contar no que trabalha?
Aquilo o deixou mais sério.
— Tenho habilidade em ajudar pessoas a sair de situações difíceis, como
a que você está. — Ele colocou o copo na mesa e apoiou os cotovelos nos
joelhos. — Eu sabia que aquele babaca era problema, mas não percebi o
quanto era ruim até você me ligar. Agora vou fazer o que deveria ter feito três
anos atrás quando você o deixou. Ele nunca mais vai encostar em você.
— Não pode prometer isso. — Eu não falei como uma provocação ou
alerta, apenas um fato. Ninguém poderia prometer algo assim, não quando o
assunto era Ryan.
— Oh, posso, sim, Rachel. Quando eu tiver acabado com ele, você será a
última coisa na cabeça dele. Ele está prestes a enfrentar um novo inimigo, um
que não vai saber de onde saiu. — Ele deu um sorrisinho. — Expor o caso
dele vai parecer como uma lua de mel quando eu acabar com ele.
— O que mais pode fazer? — perguntei curiosa.
— É melhor ele não contar para nós — Will murmurou. — Quanto
menos soubermos, menos podemos ser envolvidos, o que diminui a chance de
vingança.
— Exatamente. — Mark ergueu o copo de novo, brindando. — Eu gostei
dele, Rach. Pode casar com esse.
Meus olhos se irritaram com isso.
— O que disse? Como se você tivesse opinião em algo assim.
Mark deu risada.
— Já que Caleb me enviou aqui para ajudar na situação, preciso
discordar. — Ele olhou divertido para Will. — Não é o pai de Rachel que
você precisa temer; é o irmão dela.
— É, já entendi isso. Mal posso esperar para conhecê-lo.
— Oh, e você vai. Logo, eu imagino.
— Que bom — Will respondeu.
Franzi o cenho com a conversa. Essa união não estava funcionando para
mim. Eu preferia quando os dois estavam tendo seu impasse alfa.
— Eu decido com quem vou casar, obrigada.
— Claro — Mark concordou. — Mas Caleb poderia dificultar
extremamente as coisas se ele não aprovasse.
— Fazendo o quê? Não aparecendo ou não me ligando por meses? —
Porque esse era o papel do meu irmão na minha vida. Até aquele dia, quando
ele tentou me avisar de modo aleatório sobre Ryan. E aquele comentário
sobre sempre estar lá. — Ele não é um lacaio no escritório do governo, não é?
— Não era uma pergunta, mas uma declaração. Resmunguei e balancei a
cabeça. — Vocês dois são inacreditáveis. Fugir para serem militares aos
dezoito, depois fazer Deus sabe o que nos últimos anos, você supostamente
mora em Chicago…
— Oh, essa parte é verdade — ele me cortou. — O lugar em que você
ficou depois de morar com Ryan era verdade, e é meu. Só não o vejo com
frequência.
Balancei a cabeça de novo.
— Certo. E Caleb?
— Ele fica na Virginia, na maior parte do tempo.
— Aham. — Olhei para Will, que tinha ficado quieto em toda a conversa.
— Bem-vindo à insanidade da minha vida.
— Eu não estaria em nenhum outro lugar — ele respondeu com um beijo
na minha bochecha. — Ok, Kincaid, me diga o que quer que façamos em
seguida. Porque estou deduzindo que não nos quer perto de Chicago quando
ele fizer o anúncio no fim de semana que vem.
— Isso, quanto mais longe melhor. Acabaram suas reuniões, não é?
Não me incomodei em perguntar como ele sabia disso.
— Acabaram.
— Então recomendo que vão para algum lugar remoto e fiquem em uma
vila particular de algum tipo, não um Hotel Mershano. O que me lembra que
você precisa ter uma conversa séria com seu primo sobre seu sistema de
computador, já que foi comprometido. — Ele deixou aquilo pendente e
ergueu uma sobrancelha escura.
— Ele sabe da violação e adoraria saber como Caleb acessou suas
câmeras de segurança do hotel — Will rosnou. — Não que eu ache que vá
nos contar.
— Qual seria a graça nisso? — Mark perguntou, provocando. — Mas
posso recomendar alguém para dar uma ajuda completa.
— Vou passar para Evan — Will respondeu antes de voltar ao assunto em
questão. — Então você quer que eu a leve para longe enquanto você lida com
o problema Albertson? — Ele soou divertido. — Por que sinto que meu
trabalho vai ser fácil?
— Seu trabalho nunca será fácil, Mershano. Espero que a mantenha
segura e, se não, se um dia machucá-la, não será só comigo que vai ter que se
preocupar.
— Porque eu vou te bater — interrompi irritada. — Vocês sabem que
ainda estou aqui, não é?
— Estou mais do que consciente — Will murmurou, seus lábios contra
minha orelha. — Estou sempre consciente, querida. E me conte mais sobre
você me bater. Fiquei intrigado.
— Convencido — respondi, bufando. — Mas, de verdade, você não pode
simplesmente lidar com Ryan por mim. Eu quero fazer parte disso.
— E você faz — Mark respondeu. — Só estou aqui porque você me
ligou, e Will está aqui porque você confiou nele. Você decidiu que é hora de
revidar, e nós somos seu exército. Mershano tem os meios para te manter
segura, enquanto eu tenho outras habilidades úteis para sua situação. A
decisão, no fim do dia, no entanto, é sua, e isso a torna a rainha do tabuleiro
de xadrez. Somos apenas os cavaleiros se movendo para obedecer a sua
ordem.
Olhei para ele de forma duvidosa.
— Você nunca fez nada que pedi, nem você — complementei, olhando
para Will.
— Mas, nesse caso, vamos fazer o que você quiser. — Ele segurou minha
face e me deixou ver a sinceridade no fundo de seus olhos. — Se não quiser
que Kincaid use tudo que ele reuniu, ele não vai. E nós vamos lidar com isso
de um jeito diferente. A decisão é sua, Rachel. — Muito sério. Bem diferente
do meu Will. Mas, nisso, ele estava me dando o poder máximo. Assim como
Mark, algo que não poderia ser fácil para nenhum dos dois.
Pigarreei.
— Não tem outra opção, certo?
— Sempre tem outra opção — meu amigo não do FBI respondeu. — Mas
essa é a melhor de longe, principalmente considerando o agravamento
recente. Suspeito que ele voltará amanhã ou domingo, se você ainda estiver
em Nice.
— E vai fazer o quê? Me pegar de novo?
— Não, ele vai fazer muito pior, e vai fazer isso para Mershano sair do
caminho. Albertson pode ser uma criança com dinheiro, mas é inteligente.
Ele sabe como manipular o tabuleiro de xadrez melhor que muitos políticos.
Will beijou minha têmpora e me abraçou.
— Não se preocupe, querida. Posso lidar com o que ele planejar para
mim. A decisão ainda é sua.
Minha negação foi imediata.
— Não é, não. Não tem escolha se você está em perigo. Fala que não tem
medo dele, mas eu tenho, e ele sabe disso. Vai usar você para extorquir esse
medo. E não posso deixar isso acontecer. — Fechei os olhos e me preparei
para o inevitável. Por três anos, nenhuma das minhas tentativas de contrariar
Ryan tinha funcionado. Não a longo prazo, de qualquer forma. Se Mark
pensava que essa ideia tinha uma chance, então eu devia isso a mim mesma, a
Will, e ao nosso futuro junto. Eu disse, mais cedo, que faríamos tudo que
fosse preciso para acabar com ele e, se era preciso fazer isso, então era o que
faríamos. — Ok. Vamos tentar sabotar a carreira dele, então, e rezar para que
dê certo.
— Não precisa rezar — Mark respondeu. — Vai dar certo. O foco dele
sairá de você em duas semanas, no máximo. Mas vocês dois precisam fazer
uma viagenzinha nesse ínterim porque Ryan vai tentar obrigar Rachel a ir
para casa para seu jantar de anúncio de candidatura.
— Vou cuidar dessa parte — Will murmurou. — Vamos pegar
emprestado um dos jatos de Evan para não sermos monitorados com
facilidade.
Jatos. No plural?
— Quantos seu primo tem?
— Oh, querida, você tem muito a aprender. — Ele me beijou com
gentileza. — Posso não viver na extravagância, mas Evan vive, com certeza.
Sarah também agora.
— Aquela vadia está escondendo de mim — acusei-a sem entusiasmo.
Ele deu risada.
— Nós dois sabemos que você não se importa. Agora vou fazer os
planos…
— Não. Comida primeiro — Mark interrompeu. Ele levantou segundos
antes de alguém bater à porta. — Valeu. Estou morrendo de fome.
— Como ele fez isso? — perguntei assustada.
Ele ergueu o celular acima da cabeça ao ir para a sala.
— Disse para o cara me mandar mensagem do elevador. — Quando ele
voltou, estava com três sacolas separadas que imediatamente dividiu entre
nós. — Esse é meu lugar preferido em Nice. Acreditem em mim, vocês dois
vão adorar.
— Lugar preferido em Nice — repeti. — Certo. Porque você vem aqui o
tempo todo.
— Claro. Não sabia que o FBI ama a França? — Ele nem sorriu ao abrir
os sacos. E, se eu não soubesse que ele estava mentindo, diria que estava
falando sério.
— Um desses dias você vai me contar a verdade sobre seu trabalho.
— Sinceramente, deveria falar com Caleb. Ele se diverte mais do que eu.
— Ele mexeu as sobrancelhas. — Agora coma, Dawson. Algo me diz que vai
precisar de energia para as próximas semanas.
DA MINHA FAMÍLIA PARA A SUA
Quatro semanas depois
— Então o bebê é dele — eu disse depois de ler o artigo que Kincaid me
entregou. O senador Jenkins exigiu um teste de paternidade, e alguém vazou
para a imprensa. Eu não tinha dúvida que foi o homem sentado diante de mim
na sala de estar de Will.
— Oh, e melhora — ele se divertiu. — Albertson estava mais preparado
do que eu esperava e tinha um plano de contingência pronto. A mídia recebeu
um monte de fotos incriminadoras que pintavam o senador Jenkins como um
marido abusivo, o que é realmente verdade. Então agora a os chefes de
campanha de Albertson estão ocupados atribuindo o candidato líder com o
papel de cavaleiro branco.
— Como isso é melhor? — Will perguntou antes que eu conseguisse. Ele
estava encostado na parede ao lado do sofá, girando uma taça de vinho.
Aquele jeans pecaminoso estava no lugar, fazendo-me querer lambê-lo. Pena
que tínhamos companhia.
— Porque — Mark falou pausadamente — Bianca vai se divorciar com
guarda exclusiva da criança e imediatamente se casar com o pai do bebê.
Meu estômago revirou.
— Isso não é melhor; é pior. — Ryan a destruiria, e tudo por causa… Eu
nem consegui terminar o pensamento. Doía demais. Tinha enviado outra
mulher para cumprir minha sentença. Como isso é justo?
Will, sentindo meu desconforto, fez a pergunta que não consegui
articular.
— Você não está preocupado com Bianca?
Mark bufou.
— Por favor, aquela mulher foi criada para isso. Ela está nas nuvens por
ganhar a mão de um futuro senador. Ele vem de uma boa criação, tem
dinheiro e tem um longo futuro à frente. E provavelmente ajuda ele ser mais
bonito que o futuro ex marido dela. — Ele tirou seu celular para nos mostrar
uma foto que foi tirada de longe, provavelmente por ele. — Essa parece uma
mulher infeliz?
— Eu costumava parecer assim — sussurrei, absorvendo o sorriso
apaixonado e os olhos inocentes dela. — Dê um ano a ela.
Ele balançou forte a cabeça.
— Não, você não percebe o que motiva um homem como Albertson.
Você o desafia de um jeito que essa mulher nunca vai desafiar. Sinceramente,
ele vai se entediar dela antes de colocar uma mão nela. Estou mais
preocupado que ele virá atrás de você em algum momento para preencher o
vazio, mas estará ocupado mantendo a fachada de marido perfeito pelos
próximos dois anos, no mínimo.
— E se você estiver errado? — Will perguntou.
— Não estou, mas, na mínima chance de eu estar, nós dois sabemos que
você já cuidou disso. — Respeito coloriu seus traços quando ele
complementou: — O vinho estava brilhante.
— Tenho certeza de que não faço ideia do que está falando — ele
respondeu.
— Vinho? — repeti, analisando a diversão óbvia de Mark e a expressão
neutra de Will. — O que vocês dois estão aprontando?
— Seu prometido enviou a Albertson um recado esperto e o avisou em
termos não incertos que os Mershano são iguais, senão superiores,
concorrentes neste jogo. — Ele soou impressionado, o que dizia muito sobre
o que quer que fosse que Will fizera.
— Qual foi o recado? — perguntei, ignorando o comentário sobre
prometido. — O que você fez, Will?
Ele passou o polegar no lábio inferior como se debatesse o quanto diria.
Semicerrei os olhos, silenciosamente exigindo que ele me contasse tudo, ou
haveria muito a pagar mais tarde. Ryan era meu ex, e meu problema.
— Hummm — ele murmurou, sentindo meu desafio não dito. Sua
expressão dizia que ele gostou disso, talvez até demais. — Vamos apenas
dizer que retornei o favor brincando com a água do escritório dele e, quando
ele acordou, uma garrafa do vinho mais chique da Vinhedos Mershano o
estava aguardando.
— Com um recado que dizia “Da minha família para a sua” — Mark
complementou. — Desculpe, mas essa foi minha parte preferida. Bom, e a
parte de atacar-dentro-da-própria-casa-dele. Legal.
Will deu de ombros.
— Pareceu apropriado. Ele derrubou Sam e Beau porque não conseguiu
chegar direto a mim. Eu queria que ele soubesse que meus contatos não
falham nessa habilidade em particular.
Fiquei boquiaberta.
— Por que não me contou?
— Porque não era tanto para você, mas para eu informar Albertson que
não sou um inimigo com quem ele quer foder de leve.
— E agora seu ex vai pensar duas vezes para encostar em você — Mark
disse. — Porque não só colocaria a carreira em risco, mas teria que enganar
Mershano. O que ele agora sabe que seria mais fácil falar do que fazer.
Meu olhar ia e voltava entre os dois. Eu estava dividida entre frustração e
alívio.
— Você deveria ter me contado, Will. — Só para eu saber, pelo menos.
— Mas fico feliz que tenha feito isso. — As conexões dele deveriam ter me
assustado, mas eu o conhecia bem demais para temê-lo. Ele nunca usaria
aqueles contatos contra mim. Mas os usaria para me proteger, caso eu
precisasse.
O calor emanou de meu peito ao perceber, pela primeira vez em anos, que
Ryan Albertson não conseguiria encostar em mim.
Sem mais ameaças.
Sem mais mensagens.
Sem mais ligações.
Sem mais dor.
Liberdade.
Pisquei para impedir as lágrimas conforme analisava os homens diante de
mim. Me preocupei que aquele momento me deixaria sentindo fraca, mas foi
o oposto. Força e orgulho se acenderam dentro de mim.
Sim, Mark tinha feito a maior parte do trabalho pesado, e Will usou sua
influência para intimidar Ryan, mas fui eu que pedi ajuda. Confiei neles com
a parte mais obscura de mim e os deixei me guiarem para a luz. Precisei de
coragem para isso.
Não era tanto físico quanto mental, e agora eu estava preparada para
começar o próximo passo do meu processo de cura. A parte em que eu nunca
permiti que Ryan controlasse de novo. Não aconteceria da noite para o dia.
Só de pensar na última vez em que o vi senti um frio na espinha, mas, algum
dia, iria me repugnar mais do que assustar. Saber que ele nunca mais poderia
me tocar me permitiu começar a construir uma nova barreira, uma que
minimizasse o impacto dele em mim, e fortificasse minha determinação.
— Obrigada — sussurrei, depois pigarreei para dizer de novo com mais
força. — Acho que nunca conseguirei expressar o que fizeram por mim.
Will colocou sua taça de vinho na mesa antes de se juntar a mim no sofá e
me abraçar. Me derreti nele com um suspiro satisfeito enquanto ele beijou o
topo da minha cabeça.
— Eu te amo — ele disse com os lábios encostando em minha orelha. —
Sempre estarei aqui quando precisar de mim.
— Eu sei, e eu te amo também.
— E aparentemente escolhi a hora errada para entrar. Ou talvez a hora
certa — Garrett brincou ao se juntar a nós na sala de estar. Sua presença
inesperada imediatamente chamou toda a atenção de Mark, ou talvez fosse
uma desculpa para não olhar meu abraço com Will.
— Está tudo bem? — Will não soou nada perturbado pela chegada
repentina do amigo. Ele tinha me avisado que Garrett iria passar lá, mas não
percebi que o homem iria simplesmente ir entrando como se fosse o dono.
— Além de seu primo enlouquecer, claro — ele respondeu ao passar uma
mão pela gravata preta. Depois fixou aquele olhar azul surpreendente em
Mark. — Acho que não nos conhecemos.
Meu amigo se levantou para apertar a mão do Diabo, e um instante se
passou entre eles que deixou o ambiente desconfortável. Garrett podia
parecer chique naquele terno feito sob medida, mas senti que havia um
lutador sob as roupas. Um que não era avesso a pouca dor, e pareceu que
Mark sentiu também.
— Seu funcionário me intriga — Garrett disse finalmente, inclinando a
cabeça para o lado. — Temos que conversar.
— De fato — Mark concordou.
— Se vocês dois tiverem acabado de flertar, tenho uma última pergunta
sobre o caso Albertson. — A voz de Will tinha um toque de diversão, mas
sua expressão estava entediada. — Ele sabe que estamos por trás do
vazamento da mídia?
Oh, eu não tinha pensado em perguntar isso. Boa pergunta.
— Não, ele acha que é um oponente político, mas suas fontes estão
pesquisando. Se encontrarem alguma coisa, e isso será difícil, não vai apontar
para nossa interferência. — Ele não se sentou de novo, e pensei se era por
causa de Garrett. Ambos os homens mantiveram suas posturas casuais, mas
nenhum deles parecia totalmente confortável com o outro. — Como eu já
disse, não estou preocupado, principalmente com Rachel se mudando para
morar com você no mês que vem. O que me fez lembrar — seu olhar tortuoso
se fixou em mim —, precisa de ajuda para encaixotar? Vou realmente ficar
um pouco na cidade.
— Ãh… — Eu não consegui dizer nada mais, já que os outros homens
falaram um em cima do outro.
— Oh, puta merda, você também não — Garrett disse quando Will disse:
— Você vai se mudar para minha casa?
O calor subiu por meu pescoço quando encontrei a expressão surpresa de
meu namorado.
— Ãh, não? Não sei. Inseri um pedido de transferência para o escritório
da Charlotte na semana passada, e foi aprovado esta manhã.
— E ele sabia disso antes de mim? — Ele apontou para Mark, que estava
sorrindo. Aquele intrometido parecia bem orgulhoso de si mesmo.
— Não foi porque eu contei a ele — eu disse com um olhar desafiador
para o agente que se dizia do FBI. Quando olhei de volta para Will, minha
garganta se fechou. Ele não parecia tão bravo, mas misteriosamente curioso.
Eu não sabia se isso era melhor. — Então, ãh, Janet me ligou há duas horas e
disse que a relocação faz sentido, já que eu sou o principal contato da
Vinhedos Mershano. Ela também disso que esperava o pedido, mas que não
era obrigatório. Posso ficar em Chicago, mas só queria a opção de, ãh… —
Limpei a garganta. — É, podemos conversar mais disso depois. — Quando
não tivermos um público.
— Oh, vamos conversar isso, sim — Will respondeu com os olhos
brilhando. — Completamente.
Aquele olhar me cativou. Tinha uma promessa obscura, uma que meu
corpo desejava mais que oxigênio.
— Sim, senhor — sussurrei, sabendo que ele entenderia o que queria
dizer. Eu tinha me tornado o tipo de provocadora que usava isso quando o
queria. Ele parecia pronto para me beijar, mas as vozes no vestíbulo
arruinaram o momento.
— Sinto falta de ter a casa vazia — ele murmurou ao se levantar de novo
e cumprimentar seus convidados.
REUNIÃO DA FAMÍLIA
MERSHANO
— Ele está aqui — Evan disse ao entrar na sala de estar. Sarah, brilhando,
estava ao lado dele enquanto focavam no celular na mão dele. Imaginei que
houvesse o rosto de alguém na tela e, quando ele passou o aparelho para Will,
sua expressão se iluminou com um sorriso.
— Olha, olá, querida. Você está bronzeada. — Afeição envolveu seu
tom… não do jeito sexual, mas de felicidade.
— Queimada — uma voz feminina o corrigiu pelo viva-voz. — Mas não
liguei para falar de mim. Quero saber de você.
Ele deu risada.
— Quer dizer que quer saber da Rachel.
Ele está falando de mim. Aquele pensamento me aqueceu inteira.
— Obviamente. Finalmente conheci a noiva de Evan, ou melhor, eu a vi,
então agora me conte sobre a sua — a mulher disse. Presumi que fosse Mia,
embora não conseguisse vê-la nem tinha como focar nela.
Então suas palavras me atingiram.
A o quê do Evan? Noiva? Não…
Meu olhar pairou no rosto vermelho como beterraba da minha melhor
amiga. Só isso já dizia tudo. Sarah Summers nunca corava.
— Você está noiva?
— Surpresa? — Ela ergueu a mão esquerda e balançou os dedos, o que, é
claro, me obrigou a sair do sofá. Segurei seu punho para melhor analisar o
anel maravilhoso.
— Você não estava com ele mais cedo, estava? — Ela veio de avião com
Evan naquela manhã, mas não tínhamos passado muito tempo juntas ainda.
Mais porque eu passei o dia trabalhando no escritório de Will.
Ela mordeu seu lábio inferior carnudo e deu de ombros.
— Você estava ocupada.
— Acho que esse é o tipo de coisa que te permite me interromper, Sarah.
— Eu amava meu trabalho, mas não tanto quanto amava minha melhor
amiga. — E isso não acabou de acontecer, então por que não me ligou?
— Ele pediu alguns dias atrás na Islândia, mas eu queria te fazer surpresa
ao vivo.
Coloquei as mãos na cintura.
— Deixando uma mulher me contar pelo telefone?
Ela fez careta.
— Ãh, não, não era bem assim…
— Aham — eu disse, estreitando os olhos. Mas não estava brava. Não
com minha amiga irradiando tanta felicidade.
— Ela não é linda? — Will sussurrou, chamando minha atenção ao
celular virado para mim. Uma versão feminina de Evan Mershano sorriu de
volta para mim.
— Olá — ela disse. — Sou Mia.
Franzi os lábios e lutei contra o calor que subia por meu rosto.
— Rachel — respondi e tossi para acomodar o nó que apareceu em minha
garganta. — Desculpe. Só estou surpresa em saber que minha melhor amiga
está noiva.
— Oh, não se desculpe. Estou adorando isso. É tudo muito maravilhoso.
Saio do país, e meus irmãos mais velhos decidem finalmente crescer pra
caralho.
— Ei — Evan a repreendeu, aparecendo na tela. — Não me confunda
com Will. Nós dois sabemos que eu sou o adulto daqui.
Mia bufou.
— Tá bom, Ev.
— E ela me chama de criança. — Ele balançou a cabeça escura e voltou
para Sarah a fim de abraçá-la. A forma como ela olhava para ele dizia tudo.
— Quando é o casamento? — perguntei curiosa.
— Estávamos conversando agora com Mia sobre isso — Sarah
respondeu. — Planejamos contar ao público sobre nosso noivado na
primavera, depois que ela voltar. Depois vamos planejar um casamento para
o próximo verão ou outono. Algo pequeno.
A risada de Mia fez todos nós olharmos para o celular.
— “Pequeno” e “Família Mershano” não combinam, mas, claro. Tente.
Ei, quem está lá no fundo, amuado na parede?
Olhei por cima do ombro, esperando ver Garrett, mas ele estava do lado
oposto do cômodo, encarando para fora da janela com as mãos enfiadas nos
bolsos. A tensão parecia emanar dele em ondas. Interessante.
— Aquele é Kincaid — Will disse, apresentando-o. — Amigo de Rachel.
— Ele é fofo — Mia respondeu.
Garrett virou com as palavras e arqueou uma sobrancelha altiva, mas não
disse nada. Quando seu olhar encontrou o meu, parei de respirar. Felizmente,
ele desviou o olhar um segundo mais tarde, concentrando-se de novo em o
que quer que estivesse chamando sua atenção lá fora. Porque wow. Alguém
tinha problemas com a mulher no celular. Será que ninguém percebera isso?
Um olhar em volta dizia que não, pois todos estavam sorrindo para Mark
enquanto ele acenava para Mia com um interesse educado.
— Ele não sorri muito, não é? — Mia perguntou com os olhos
semicerrados de uma forma astuta. Will não estava brincando quando a
chamava de brilhante. Inteligência irradiava dela, mesmo através do celular.
— Ok, quem mais está aí?
— Garrett, mas ele está ocupado amuado na janela — Evan murmurou.
— Ele não está nem um pouco animado com nosso noivado como você, Mia.
A expressão dela se fechou com desaprovação.
— Chocante — ela murmurou. — Duvido que alguma coisa anime o
Diabo fora de seu covil.
Will e Evan trocaram olhares.
— Provavelmente não — eles concordaram em uníssono.
A conversa ficou um pouco mais leve depois desse comentário, mas os
ombros de Garrett permaneceram tensos. Poderia ter sido minha imaginação,
mas parecia haver algum histórico entre Mia e o melhor amigo de seu irmão
mais velho. Os outros dois homens estavam felizes em falar com ela, mas o
terceiro se manteve parado com a expressão impassível. Eu teria que
perguntar a Will sobre isso depois.
Quando a ligação terminou, Sarah veio correndo e me abraçou.
— Desculpe mesmo por não ter te contado. Não queria atrapalhar mais
cedo e, depois, Evan estava insistindo em contar para Mia. Ele não queria que
ela soubesse de outra pessoa, principalmente com o programa indo para o ar
agora. — Ela me abraçou forte e eu retornei o abraço.
— Está tudo bem. Estou feliz por você, Sarah — sussurrei. — Muito
feliz.
— Também estou feliz por você — ela comentou igualmente baixo. —
Vai se mudar? — Diferente de Will, Sarah ouviu minha conversa com Janet
mais cedo sobre transferir os escritórios.
— Não sei. — Olhei para o homem com quem eu realmente queria
conversar sobre isso, mas ele estava ocupado compartilhando uma bebida
com Evan e Garrett. Este último ainda não estava sorrindo, o que parecia
comum para ele. Mark havia assumido uma posição contra a parede, seu foco
no aparelho em sua mão. Parecia um celular, mas não era bem isso.
— Sabe que ele quer ficar com você, tipo, para sempre, não é? — Sarah
disse, chamando minha atenção de volta para ela. Ela parecia tão confiante e
sábia. Tipo, claro que Will queria que eu me mudasse.
— Sei. — Lógico que sei. Conseguia ver isso toda vez que ele olhava
para mim. Não era necessariamente possessivo ou abrangente. — Mas não sei
se ele quer morar junto ainda. — Principalmente depois de sua reação mais
cedo.
— O que vocês duas estão sussurrando? — Evan perguntou ao entrar em
nossa bolha com uma taça de vinho para Sarah. Uma segunda taça apareceu
sobre o meu ombro quando Will deu um passo atrás e seus lábios contra meu
pescoço provocaram um frio na minha barriga.
— Kincaid — Sarah respondeu sem hesitar. A mulher deveria ter sido
advogada. — E aquela coisa que eu quero que ele faça.
— Que coisa seria? — Mark perguntou ao guardar o aparelho no bolso da
calça. Seu pé se apoiou na parede conforme ele se equilibrou em uma perna e
cruzou os braços. Uma posição esquisita, mas parecia certa para ele.
— Ok, nós todos sabemos que você não é do FBI, e sim um contratado
para trabalho, certo? — Melhor deixar Sarah ser a contundente do momento.
— Claro — ele respondeu daquele seu jeito vago.
— Bom, é que aconteceu de eu receber muito dinheiro recentemente —
ela lançou um olhar desafiador para Evan antes de continuar — e eu quero te
contratar para um projeto.
— E é assim que começa, cavalheiros — Garrett falou pausadamente.
— Oh, cale-se, senhor Acabe-com-ela-e-a-Abandone — Sarah soltou.
Não acompanhei a referência, mas presumi que ele tinha dito algo sobre ela
em algum momento. E, pela expressão dela, ela não gostou.
— Você tinha razão, Evan — ele murmurou, não perturbado. Seu olhar
azul dançou por minha melhor amiga de um jeito que faria a maioria das
mulheres se encolher, mas Sarah não era a maioria das mulheres. Ela cruzou
os braços e avançou até o homem, o que só pareceu diverti-lo. — Gosto dela.
— Não acho que o sentimento seja mútuo — Evan respondeu com um
sorriso para sua noiva irritada. — O que também previ.
— Vai servir para um casamento agitado, tenho certeza. — Garrett
ergueu uma taça aos lábios e fez um gesto para ela continuar.
— Não consigo acreditar que ele é seu melhor amigo — ela resmungou.
— Ele gosta de você — Will comentou.
Sarah e eu nos entreolhamos. É. Tá bom.
— Enfim — ela disse, dirigindo-se a Mark de novo. Ele tinha observado
toda a conversa com uma expressão entediada. — Preciso que ensine uma
lição para minha irmã gêmea.
A testa dele franziu.
— Isso não parece algo em que estaria interessado a fazer. Nem um
pouco.
— Mas vou te pagar generosamente por isso — Sarah disse com um olhar
apontado para Garrett. — Já que eu tenho dinheiro. — Quando ele não
reagiu, ela continuou sua história. — O que acha, Kincaid? Intrigado?
— Nem um pouco — ele respondeu sinceramente enquanto examinava
seu relógio.
— E se eu tornar as coisas interessantes?
Ele lhe deu um olhar duvidoso em resposta.
— Me escute no jantar — ela continuou.
— Por quê?
— Porque será uma refeição grátis.
Ele ergueu ambas as sobrancelhas.
— E você está com a impressão de que eu preciso de comida grátis? —
Ele pareceu achar mais engraçado do que estar irritado.
Ela suspirou.
— Vai me fazer implorar, não vai? O que preciso fazer para você me
escutar?
Mark analisou-a por um instante demorado, neutralizando sua expressão.
Eu não sabia dizer se ele estava com pena da minha melhor amiga ou se ele
simplesmente queria acabar a conversa, mas ele finalmente suspirou.
— Certo. Aceito a oferta do jantar, mas já te aviso que não estou
interessado em seu projeto de estimação.
Sarah se iluminou.
— Oh, vamos ver como se sente quando eu lançar minha ideia.
— Estou confiante de que vou me sentir igual.
— Você não tem fé — ela zombou.
Will me abraçou por trás e apoiou o queixo em meu ombro.
— Infelizmente — ele murmurou —, nós não vamos jantar com vocês,
mas boa sorte na negociação. Enquanto isso, preciso ter uma conversa com a
srta. Dawson.
Arrepiei contra ele apesar de estar quente.
— Uma conversa?
A barba dele arranhou meu pescoço quando ele assentiu. Ele pressionou
os lábios em minha orelha e sussurrou baixo para que ninguém mais
conseguisse ouvir.
— Quero você nua e me esperando na minha cama em cinco minutos.
A adrenalina correu em minhas veias, fazendo meu sangue pegar fogo.
Puta merda, isso era excitante. Tive que me obrigar a engolir, e lembrar de
respirar. Quando ele falava assim comigo, todo meu mundo parava. Nada
mais existia além de Will e o desejo visceral que ele criava dentro de mim.
Tínhamos passado o último mês e meio juntos o tempo todo, e eu ainda não
havia me cansado dele. Duvidava que fosse um dia.
Só quando ele me soltou que me lembrei da nossa companhia no cômodo.
O olhar de Garrett dizia que sabia, enquanto Sarah e Evan pareciam muito
absortos em uma conversa sobre aonde ir jantar, e Mark estava com seu
celular de novo.
— Ãh, vou me trocar — anunciei meio sem jeito. — Já que vamos sair
para jantar.
As sobrancelhas de Sarah dançaram para cima, e eu sabia o que ela estava
pensando. Rachel vive com roupa de trabalho. Verdade. Eu adorava meus
tailleurs, mas Will me queria nua. Isso pedia uma troca de roupas, certo?
— Boa sorte com o jantar — eu disse antes que ela pudesse comentar. —
E vamos conversar amanhã ou hoje mais tarde.
— Não estarei aqui, Rach — Mark interrompeu, guardando o celular. —
Só passei para te atualizar, e presumi que seria melhor fazer isso ao vivo.
Depois que eu rejeitar a srta. Summers, vou para casa.
— Boa sorte com isso — Evan respondeu ao puxar minha melhor amiga
em um abraço. Parecia que ele era tão ruim quanto Will quanto ao toque
desnecessário. — Ela negocia de forma brilhante — ele complementou
carinhoso.
— Negocio mesmo — Sarah concordou.
— Não estou preocupado — Mark respondeu. — De qualquer forma,
você está segura, Rachel. Finalmente. E seu irmão e eu vamos monitorar a
situação pessoalmente, para verificar qualquer mudança.
— Obrigada — sussurrei, abraçando-o. Ele beijou o topo de minha
cabeça, igual Caleb faria, e me soltou.
Will observou o momento com um olhar ardente e fez mímica com a boca
Dois minutos, quando eu não saí rapidamente.
Certo. Nua. Cama.
— Bom jantar — gritei por cima do ombro.
A PROPOSTA DE
RELACIONAMENTO
Meu terninho parecia mais pesado do que o normal, e apertado. Abri um
botão da minha blusa na pressa de tirá-lo, depois tirei o resto por cima da
cabeça assim que ficou largo o suficiente. Minha saia chegou ao chão em
seguida, depois foram minha camisola, meu sutiã e minha calcinha.
A maior parte de minhas roupas estavam na lavanderia de Will, resultado
de passar as últimas semanas fora e só ter retornado há cinco dias. Isso
significava que não teria meias hoje, mais para a diversão de meu amante. Ele
tinha passado a manhã admirando minhas pernas expostas enquanto eu
andava com os pés descalços por seu escritório.
Will apareceu em minha visão periférica quando me virei, seu ombro
apoiado no batente da porta. Ele estava com uma taça de vinho na mão e me
observava com os olhos baixos.
— Você não está na cama. — Sua voz grossa me aqueceu em todos os
lugares certos.
— Mas estou nua. — Só por isso já merecia alguns pontos a meu favor,
se não mais.
— Está mesmo. — Ele não se mexeu, apenas me acariciou lentamente
com o olhar, de cima a baixo, sem perder um centímetro da minha pele
exposta. Seu polegar passou pelo lábio inferior conforme ele me observava
casualmente. — Então, me conte sobre a oportunidade em Charlotte.
— Sério? — perguntei, surpresa por ele querer conversar disso agora. —
Estou nua.
— É, e estou adorando essa vista, mas também quero saber sobre sua
potencial mudança.
— Quer que me vista de novo? — Não podia evitar desafiá-lo. Estava em
meu sangue, e eu gostava muito de fazer isso.
— Tente — foi tudo o que disse.
Eu queria, só para provar que conseguia, mas minhas mãos se recusavam
a se mexer. A ideia de colocar as roupas parecia contraproducente, e eu
gostava mais do jeito que ele estava me olhando. Todo o calor e
possessividade mascarados por trás de uma expressão de interesse favorável.
Eu ficava fascinada com a forma como ele conseguia controlar sua expressão
e permitir que apenas o mínimo de emoção colorisse seu olhar.
— O escritório de Charlotte — ele exigiu, aquele polegar ainda traçando
seu lábio. Eu queria mordê-lo, mas me concentrei na afirmação dele.
— Não é nada importante. Eu só queria saber se poderia transferir, e Janet
confirmou. Não significa que precise.
— Não é nada importante — ele repetiu com o tom incrédulo. — Diz a
mulher que foi inflexível quando me disse o quanto não queria se mudar
quando tentei recrutá-la para a Vinhedos Mershano.
— É, mas agora as coisas estão diferentes.
— Por quê? — Duas palavras faladas com tanta confiança que
enfraqueceram meus joelhos.
— Bom, primeiro, estou nua. — Definitivamente estava vestida durando
todas nossas conversas anteriores.
Ele sorriu para isso.
— Está, sim, e lindamente corada também, mas continue. — O tom dele
tinha baixado para aquele que ele reservava para o quarto, e meu corpo reagiu
a isso como sempre. Meus seios ficaram inchados e meus mamilos se
enrijeceram, e o espaço entre minhas pernas doeu com o desejo que só ele
poderia saciar. — Rachel, por que está diferente? — ele perguntou de novo
quando não respondi imediatamente.
— Porque nós estamos diferentes. — Deus, minha voz soou estrangulada,
e ele devia ter percebido. Sabia o efeito que causava em mim e, embora
nunca tivesse lhe dito, também sabia que eu adorava esse jogo de poder no
quarto. Desejava isso. Ele estar vestido enquanto eu estava nua diante dele só
aumentava meu tesão, e não ajudava o fato de eu conseguir ver os contornos
de suas superfícies fortes sob a camiseta de algodão justa. — Se não me foder
logo, vou gritar.
O riso dele floresceu em um sorriso.
— Oh, pretendo te fazer gritar a noite toda, mas não acabamos de falar
sobre Charlotte. Você quer morar na Carolina do Norte?
Gemi com frustração. Sempre no controle. Ele queria uma explicação, e
não iria parar até eu lhe dar uma. Certo. Não que eu tivesse algo para
esconder, mas expor todas minhas emoções não era fácil para mim. Porém,
Will Mershano não acreditava no que era fácil; ele acreditava em lutar. Então
eu iria lutar.
— Amo morar em Chicago — admiti. — Mas meu principal motivo para
ficar lá esses últimos anos foi porque eu precisava e, agora, pela primeira vez
no que parece uma eternidade, posso escolher. E escolhi perguntar sobre
oportunidades de transferência para o escritório de Charlotte porque quero
ficar perto de você. A ideia de morar em outro estado não me atrai, mas, se
preferir um relacionamento a distância, então… — Seu olhar se escureceu,
me silenciando.
Sua taça fez barulho contra o criado-mudo quando ele a colocou ali e,
então, começou a se aproximar de mim.
Dei um passo para trás alarmada pelo olhar intenso na expressão dele,
mas ele me pegou pela cintura e possuiu minha boca. Sua língua dominou a
minha de uma vez, me dizendo sem falar nada como ele se sentia com a
última frase.
— More comigo — ele sussurrou contra meus lábios.
— Não acha que é muito cedo? — Não que eu tivesse um parâmetro
normal de referência. Nossa relação ignorou todos os limites comuns no
começo. Por que seria diferente agora?
Ele colocou a mão em minha lombar e me puxou de novo contra ele.
— Querida, nós dois sabemos que você estará na minha cama toda noite
independente de onde morar. Pode, então, morar mais perto.
Soquei seu braço sem entusiasmo.
— Arrogante.
— Confiante — ele corrigiu, como sempre fazia. — Assim como estou
confiante de que estará nua em minha cama toda noite também e gritando
meu nome.
— Promessas, promessas — zombei.
Ele se aninhou em meu pescoço e mordeu meu pulso com gentileza.
— Hummm, muitas. — Segurou meus quadris e me girou, colocando-me
de costas para ele. — Mãos na cama, linda.
Estremeci com o comando e fiz o que ele pediu. Cutucou minhas pernas
para abri-las e passou um dedo por minhas costas até o topo da minha bunda.
Seus lábios trilharam o mesmo caminho conforme ele se ajoelhou atrás de
mim. Pulei quando ele mordiscou minha bunda.
— Tão perfeita — ele sussurrou ao aplicar pressão à minha lombar,
forçando-me a me abaixar mais.
— Oh, caralho — gemi quando sua língua deslizou por meus lábios
úmidos. Esperara seu dedo, não sua boca quente e habilidosa. Ele murmurou
sua aprovação ao me encontrar molhada para ele e não perdeu tempo em
localizar o clitóris.
— Will — sussurrei em conflito. Parecia muito errado ele fazer isso
daquele jeito, mas tão certo ao mesmo tempo. Estremeci, minhas mãos eram
a única coisa que me impediam de cair para a frente na cama, enquanto ele
continuava seu ataque sensual. Era demais e não era o suficiente ao mesmo
tempo.
Eu precisava de mais. Muito. Mais.
Seu braço envolveu minha cintura para me segurar enquanto ele me
devastava com a boca. Minhas pernas ameaçaram ceder sob a intensidade, e
eu não sabia quanto mais conseguiria aguentar. Queria gozar, mas não podia.
Ainda não. Não assim. Não sem ele.
— Você venceu — arfei. — Porra, você venceu. — Eu não fazia ideia do
que ele tinha vencido, e não conseguia me lembrar se ele estava tentando me
convencer de alguma coisa, mas que se danasse. — Eu me rendo.
Ele deu risada contra minha pele molhada.
— Se rende?
— O que você quiser — gemi um pouco. Só a respiração dele contra
minha parte mais íntima foi o suficiente para me destruir.
A língua dele me açoitou uma última vez antes de ele se levantar de novo,
fazendo-me tremer. Ele me segurou para impedir que eu caísse de cara no
colchão, já que meus braços se esqueceram de funcionar. Parecia que ele
tinha acendido um fusível dentro de mim e, depois, atrasado a hora da
explosão.
Segurei o colchão e gemi.
— Shh, vou cuidar de você, querida — ele murmurou com um beijo na
minha nuca. — Sempre.
Algo ali estava diferente. Primitivo. Energizante. Promissor.
Mal registrei-o tirando o cinto e abrindo a calça, mas meu corpo reviveu
quando o senti penetrar por trás. Suas mãos foram para meus quadris,
equilibrando-me conforme ele estocava.
Tão fundo. Tão certo. Tão perfeito.
Meus dedos seguraram mais forte a cama conforme arqueei para ele,
precisando de mais. Mas ele já sabia. Uma mão foi para o topo do meu sexo
para massagear meu ponto inchado, enquanto a outra deslizou para segurar
meus seios pesados. Seu ritmo era implacável e cheio de propósito, e seus
dedos me acariciavam com reverência.
— Toda. Noite. — Ele reafirmava as palavras com seu pau, provocando
ondas de prazer naquele lugar profundo dentro de mim.
— Sim — sussurrei em resposta para as ações e as palavras, e para a
pergunta que ele fez mais cedo. — Caralho, sim.
Ele me virou e me deitou na cama tão rápido que fiquei tonta, e lá estava
ele, fundo dentro de mim de novo e beijando a minha vida. Selando o acordo,
percebi. E eu selei de volta. Envolvi as pernas em sua cintura, e o incentivei a
ir mais rápido, mais forte, e ele obedeceu.
— É isso, linda — ele enalteceu quando meu orgasmo se aproximava. Ele
conhecia meu corpo melhor que eu e, quando pressionou a mão àquela parte
sensível mais uma vez, eu explodi em volta dele. Me atingiu tão forte e
rápido que mal consegui respirar. E, então, seu nome saiu de meus lábios
como uma oração, repetidamente. Seu ritmo aumentou, cavalgando em mim
por meu êxtase e provocando o dele para se juntar a mim.
— Rachel… — Meu nome soou mais como um rosnado, e foi sexy como
um pecado combinando perfeitamente com o momento. Nossa transa foi
rápida e safada, e foi tudo que nós dois precisávamos, e era apenas o começo.
Porque agora Will era meu dono, e eu era dona dele. Nada, e ninguém,
atrapalharia isso.
Eu o abracei forte, incapaz de deixá-lo sair de cima de mim. Precisava
que ele soubesse, que entendesse, o que aquilo significava para mim.
— Eu te amo, Will.
Ele se apoiou nos cotovelos para me encarar.
— Também te amo, Rachel. — Ele tirou o cabelo de meu rosto e sorriu.
— Então vai vir trabalhar para mim?
— Através da Baker Brown — complementei. — Vou.
— Em Charlotte.
Não era uma pergunta, mas respondi, de qualquer forma.
— Vou.
— E vai morar aqui, comigo. — Também era uma declaração, dita com
aquele jeito autoritário dele.
— Só se prometer me levar para a cama toda noite, mesmo que
estivermos brigando.
— Especialmente quando estivermos brigando — ele corrigiu. — Por que
mais eu te calaria?
Bati no braço dele.
— Não é um bom começo, Mershano.
— Então isso é considerado uma briga? — ele zombou. — Porque tenho
uma coisa dura para sua boca, se precisar. — Ele flexionou seu pênis duro
dentro de mim com as palavras.
Dei risada.
— Você é inacreditável.
— Ah, sim, você me chamou disso antes do La Rosas. Fico feliz que as
coisas não tenham mudado.
— Oh, Will, acho que nós dois sabemos que tudo mudou.
— É mesmo? — Ele se aninhou em meu pescoço. — Humm, vou guardar
isso, então, para o futuro, Dawson.
— O que quer dizer? — perguntei curiosa.
— Você vai ver — ele respondeu. — Por enquanto, quero fazer amor
com minha namorada que vai morar comigo. Lentamente, por completo, e a
noite toda.
— Hummm, acho que gosto disso. — Relaxei debaixo dele, pronta para
ele assumir o controle de novo. Seria lento, mas eu aproveitaria cada minuto.
— Que bom, porque é melhor se acostumar com isso, querida.
Sorri contra seus lábios.
— Sim, senhor.
EPÍLOGO
— Duas semanas no Havaí, hein? — Assobiei. — Vocês, Mershanos,
sabem mesmo fazer um casamento.
O sorriso de Sarah iluminou a tela do meu celular.
— Bom, eu disse que preferia férias no Havaí do que em Nova Orleans,
certo? Parece adequado.
Dei risada, lembrando de nossa conversa no ano anterior na mesma
época. Logo antes de ela entrar no programa e conhecer Evan.
— Uau, não acredito que isso foi há doze, não, treze meses.
— Né? Olhe para nós agora, você em seu escritório chique na casa de
Will, eu conversando com você de um jato particular. — Ela balançou a
cabeça. — E pensar que foi tudo culpa da Abby.
Fiz uma careta para isso.
— É, não quero dar crédito àquela mulher.
— Oh, não se preocupe. Ela vai ter o que merece.
— Você finalmente convenceu Mark a te ajudar? — Ele tinha se recusado
rapidamente quando Sarah propôs o plano no último outono, e de novo no
inverno. Dar lição em menininhas mimadas está fora do escopo do meu
trabalho, ele dissera. Encontre outra pessoa.
— Não, Evan o convenceu.
Ergui as sobrancelhas.
— Sério?
— É. Não sei o que ele disse, mas Kincaid está totalmente envolvido em
me ajudar a fazer uma pegadinha com minha gêmea. E é muito bom. Espere
até eu te falar todos os detalhes…
Uma batida à porta me fez olhar para cima para um par de olhos escuros
pecaminosos.
Sorri.
— Vai ter que me contar depois. — Porque eu conhecia aquele olhar. Era
o que Will fazia antes de fazer coisas deliciosas comigo com sua boca.
— Oi, Will — Sarah disse em resposta. Ela não conseguia vê-lo ou ouvi-
lo da câmera no meu celular, mas provavelmente notou minha reação a ele.
— Olá, mocinha — ele murmurou. — Está mantendo Evan na linha?
— Na linha, humm. — Ela fingiu uma expressão pensativa. — Bom, se
está perguntando se o estou encorajando a agir mal, então, sim, sim, estou.
Ele deu risada e apoiou o quadril na minha mesa. Ele estava vestido com
calça preta e uma camisa azul, arregaçada até os cotovelos. Todo homem de
negócios, exceto pelo brilho nos olhos.
— Que bom — ele respondeu. — Ele precisa de uma depravação na vida
dele.
Ela bufou.
— Aham. Tchau, pombinhos. — Ela acenou e desligou sem esperar a
resposta.
— Ela ligou para contar do casamento? — ele imaginou.
— É, parece que vamos para o Havaí por algumas semanas.
Ele balançou a cabeça.
— Tanta coisa para um pequeno caso, não que eu esperasse isso. Não
com esta família. — Ele colocou uma pilha de papéis na mesa diante de mim.
— Falando nisso, se importa de revisar este contrato para mim?
Olhei o documento de forma especulativa.
— Para quê? — Porque não era algo que eu tinha rascunhado.
— Leia — ele disse, respondendo.
Com um suspiro, apoiei minha perna com meia-calça na mesa e comecei
na página um, que era uma lista de propriedade e ativos, incluindo algumas
contas bancárias consideráveis.
— Parece algo que Garrett deveria estar revisando — comentei ao virar
para a próxima página.
Era uma lista de promessas. Todas as palavras trocadas entre nós em
algum momento, com alguns aditivos de natureza sexual jogados na mistura.
Meus olhos nadaram na página, embaçando com algumas das lembranças
mais emocionantes do último ano.
— Will, o que é isso? — sussurrei.
— Continue lendo.
Continuei.
A página seguinte continuou o ataque de emoção, detalhando cada
aspecto de nosso relacionamento, dito e não dito, e no fim havia uma simples
frase. Não era uma pergunta, porque não era do estilo de Will, mas era uma
frase para minha assinatura. Para conhecimento e aceitação dos termos.
Rachel Dawson concorda em se casar com Will Mershano.
Ele colocou uma caixinha de anel ao lado do meu pé na mesa.
— Para você saber — ele murmurou. — Eu sei o quanto gosta de dizer
não, mas, para variar, estou realmente torcendo para dizer sim.
Minha mão foi até minha boca quando o oxigênio saiu de meus pulmões.
Não sabia o que dizer. Como reagir. Se chorava ou se ria ou se pulava nos
braços dele. Não havíamos conversado sobre casamento ainda, embora fosse
para onde nossa relação seguia.
— Will — respirei.
— Não precisa responder agora. Tenho certeza de que gostaria de fazer
algumas emendas e, como já sabe, sempre vou concordar com seus termos.
— Ele beijou minha testa e começou a sair, mas segurei sua mão e o puxei de
volta para mim.
Encontrei seu olhar e sorri.
— Sim.
— Sim? — ele repetiu com a expressão hesitante. Considerando todas as
vezes que eu disse não no passado, não fiquei surpresa. Mas daquela vez meu
coração e minha alma estavam de acordo.
Me levantei e o abracei.
Havia apenas uma palavra a ser dita.
E coloquei todo meu coração nela.
— Sim.
FIM.