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Copyright © 2021 ÉRIKA MARTINS

Capa: Thaís Oliveira


Revisão: Tatiane Souza

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos
da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.
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CASAMENTO ARRANJADO
1ª Edição, 2021
Brasil
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do Código Penal.
“As mais lindas palavras de amor são ditas
no silêncio de um olhar.”
Leonardo Da Vince
Querido leitor,
Em primeiro lugar gostaria de agradecer por ter dado uma oportunidade
para conhecer a história de Henrique e Erin. No entanto, também gostaria
de citar alguns pontos antes de mergulhar neste romance incrível.
Em Casamento Arranjado não é citado um lugar especifico, além da
cidade, onde desenrola a história. Deixe sua imaginação livre para encontrar
o lugar perfeito, qualquer semelhança à realidade é mera coincidência.
Peço que deixe sua mente aberta, aproveite o livro e se apaixone por
mais esse casal incrível.
Boa leitura!
Um beijo, um cheiro...
Com carinho, Erika Martins.
A ironia do destino é que nem sempre ter tudo significa que você realmente
tem tudo. Para mim, uma mulher de 29 anos e com um império construído no
mundo da arquitetura contemporânea deveria ter sido suficiente. Pelo menos
era o que eu continuava falando para mim mesma depois da reunião que tive
naquela manhã.
Um amigo e empresário que muitas vezes trabalhamos juntos, brincou
dizendo que eu deveria me casar com seu filho. Que seria sua nora perfeita, já
o tal filho não era muito bom em ficar com uma mulher por mais de um dia.
Ainda não tinha o conhecido, mas sabia que ele trabalhava com a Inteligência
Policial da cidade.
Um bom trabalho. No entanto, eu não estava tão desesperada assim para ter
um marido, não é mesmo? Chegava estremecer ao pensar que precisaria
arrumar um casamento arranjado para conseguir uma aliança dourada na mão
esquerda.
— Fico honrada, mas acredito que um casamento é algo muito sério para
ser feito desta forma, Joseph.
Ele passou as mãos pelos cabelos brancos soltando um suspiro cansado.
— Eu preciso que esse menino se case — murmurou. — Não vou viver
para sempre e não quero que todo o trabalho que construí seja jogado no lixo.
Fiquei tensa acreditando que ele não estava me contando alguma coisa.
— Você está bem?
— Sim, sim — desdenhou com as mãos. — Pense nisto Erin. Tenho certeza
de que ele a trataria bem e você seria perfeita para cuidar dos meus
empreendimentos.
— Joseph — digo baixo. — Não podemos tratar um casamento como um
negócio.
— Eu sei.
— Nem mesmo conheço Henrique.
— Isto é fácil de resolver — havia um brilho em seus olhos que me dizia
que ele não desistiria facilmente.
— Ele sabe que você está vendendo-o por aí?
Joseph bufou impaciente. — Eu não estou vendendo meu filho.
— Não? — ergui uma sobrancelha.
Ele riu. — Estou tentando comprar uma nora — afirmou despreocupado.
— Não estou à venda — cruzei os braços.
— Desculpe! — Não parecia sincero. — Eu não quero ofender, mas você é
a única mulher que tenho certeza de que cuidaria de tudo para mim. Preciso
me aposentar...
— Ainda não estou à venda, por mais tentador que seja.
Ele se levantou devagar e abotoou o terno. — Pense nisto minha querida,
você terá muitas vantagens se casando com ele.
— Me preocupa a forma que me enxerga.
— Você é uma mulher coerente, porém, ambiciosa — afirmou. — Mas de
um caráter impressionante, esse é o motivo de insistir no matrimonio com meu
filho. Não se preocupe — disse ao ver que eu protestaria. — Vou convencê-lo
a aceitar, e então, será com você!
Cheguei a abrir a boca para protestar, mas Joseph já havia saído pela porta.
Para um homem idoso ele se movia bem rápido quando queria.
E agora, depois de horas daquela conversa eu não conseguia pensar em
outra coisa. Não conseguia negar o quão tentada tinha ficado e ao mesmo
tempo horrorizada por cogitar tal ideia.
A única verdade sobre aquilo era que eu não tinha tempo para namoros e
flertes. Vivia no trabalho e não pensava muito além daquilo. Nem se quer me
lembrava da ultima vez que estive na cama de um homem. Sexo sempre foi
bom, mas nem sempre eu tinha a oportunidade de gastar tanto tempo com uma
pessoa.
Estacionando o carro na frente de um restaurante em que estava
acostumada a frequentar, saí distraída esperando o frentista vir pegar o
veiculo. Segurei minha bolsa e ofereci um sorriso gentil para o homem antes
de ele levar meu carro.
Alguns gritos vindos da rua me distraíram, bastou uma única olhada para
trás para um rapaz se chocar contra meu corpo. Fiquei desnorteada e
resmunguei de dor quando as mãos dele apertaram em meu braço me girando
contra o seu corpo. Bastou uma pequena fração de segundos para sentir o frio
da arma contra minha cabeça.
— O que...
Minha bolsa caiu no chão quando um braço forte passou ao redor do meu
pescoço, tentei afastá-lo.
— Fique calada ou eu vou te matar — ameaçou.
Os policiais chegaram no momento seguinte. Todos com armas em mãos e
um pouco ofegantes pela corrida. Não sei dizer como eu consegui pegar todos
os detalhes.
No entanto, meu coração batia tão forte que parecia que explodiria em meu
peito. O bandido me apertou mais forte, usando-me de escudo e com isto
impedindo-me de respirar com facilidade.
— Solte-a — ordenou o policial que parou na nossa frente.
Ele não era um oficial comum. Não usava farda e nem parecia ser um, mas
o distintivo pendurado no pescoço e a arma na mão me diziam muito de qual
lado seria mais seguro ficar.
— Saia do meu caminho — ordenou o bandido.
— Isto não vai acontecer — retrucou.
— Então eu vou ter que tatuar mais um nome na minha pele — riu.
Demorei mais do que deveria para entender, mas ele estava claramente
dizendo que iria me assassinar.
O gelo que correu na minha espinha quase me colocou de joelhos. Busquei
pelos olhos do policial e ele parecia muito calmo para o meu próprio bem. Eu
não saberia dizer para quem ele estava olhando debaixo daqueles óculos
escuros, mas por um segundo soube que me encarava.
E no meio daquela confusão cheguei à conclusão de que eu realmente não
tinha nada. Apesar da riqueza que construí com o trabalho duro, eu não tinha
uma família amorosa, um marido e nem filhos.
Talvez a vida estivesse me dando dicas, mas prometi que caso saísse
daquela situação eu iria aceitar a proposta de casamento arranjado feito por
Joseph.
Era melhor do que nada.
Foi meu último pensamento antes de ouvir um tiro ecoar pela avenida e
então eu estava caindo no chão. Não sei dizer se fui atingida, a dor que
irradiou da minha cabeça por todo o meu corpo levou-me direto para uma
escuridão.

Meu humor não era um dos melhores. Isto era um fato muito consumado.
Principalmente depois da rápida ligação do meu pai para me lembrar da
promessa que fiz para minha mãe... de me casar. Mas recordo muito bem de
que eu não havia dito quando faria isto.
O fato de ter quase quarenta anos não significava muito para mim, afinal,
não estava com pressa para o matrimônio. Não quando aprendi muito rápido a
não confiar nas mulheres. Precisei segurar um bufo de irritação e me
concentrar no que estava fazendo.
Odiava quando eles corriam forçando-me a seguir pelas ruas cheias,
colocando as pessoas em risco ou os perdendo de vista. Aquilo não estava
planejado quando abordamos o maldito, quero dizer, suspeito de crimes contra
mulheres e trafico de drogas.
O resultado daquela perseguição me enfureceu, apesar de ter abatido o
sujeito, uma mulher acabou se ferindo. Vi seus olhos procurando os meus,
percebi que ela estava confusa e com medo, mas aquele olhar aterrorizado era
algo que não poderia ser esquecido facilmente.
Quando meu sniper disse que o tinha em mira, não hesitei em liberar o tiro.
Só não esperava que o imbecil fosse cair para frente e sobre a moça. O som da
cabeça dela batendo na calçada foi mais alto do que um tiro no pé do ouvido.
Arranquei o corpo de cima dela odiando que estivesse a manchando de
sangue.
— Voithe — Rick me chamou.
— Onde está a ambulância? — perguntei tocando o pulso em seu pescoço.
— Presa no trânsito — Informou.
Deslizei o polegar por baixo do arco de sua sobrancelha afastando o sangue
que escorria do corte um pouco acima.
— Ah merda — resmunguei.
Justin, um dos homens da minha equipe que tem treinamento médico caiu
de joelho ao meu lado com uma bolsa de primeiros socorros. Acenei que
prosseguisse e me ergui observando com atenção demais enquanto ele cuidava
dela. Pedi aos céus para que aquela mulher, de uma beleza deslumbrante, não
fosse mais uma vítima daquele pedaço de merda inútil.
Alguém parou do meu lado e me ofereceu o documento dela. Erin Andrada.
Um nome difícil de esquecer.
— Empresária famosa — comentou Philip.
— Eu sei — resmunguei franzindo a testa.
Era a moça de quem meu pai sempre falava quando tinha uma
oportunidade. Ele com aquele jeito manso e andar lento estava claramente
tentando jogá-la em cima de mim. Não tinha conhecido ela pessoalmente
antes e realmente fiquei surpreso com a coincidência.
Fiquei parado ali até a ambulância chegar e a levarem para o hospital.
Sentia-me responsável por ela e queria garantir que ficasse bem. Assim que
entrei no meu carro, em vez de seguir para a delegacia, fui para o hospital.
Depois de meia hora de espera, o médico que cuidou dela era um
conhecido meu e me permitiu entrar como acompanhante até que alguém
chegasse. No quarto a encontrei com os olhos levemente abertos e muito
sonolentos.
— Você — suspirou fechando-os em um sono profundo.
— Ela vai dormir por algumas horas — informou à enfermeira que estava
ao lado fazendo algumas anotações.
— Machucou muito?
— A concussão foi séria, mas o atendimento rápido foi eficaz — contou.
— Ela vai acordar com dor de cabeça e alguns sintomas como enjoo e tontura,
mas irá se recuperar bem.
Acenei agradecendo e parei na frente da janela, distraído, tentando entender
minhas atitudes. Nada explicava o que eu estava fazendo ali, mesmo com
algumas desculpas boas, eu sabia que não era o verdadeiro motivo.
Então, o que era?
Fiquei naquele quarto por duas horas e quando menos esperava, encontrei
um par de olhos que me lembrava de um dia bonito de outono me encarado
com atenção.
A dor de cabeça me fez arrepender rápido demais de ter aberto os olhos,
mas a urgência em saber o que estava acontecendo ganhou a melhor de mim.
Algumas lembranças vieram rápido. Me lembro de acordar enquanto um
médico e vários enfermeiros me rodeavam, mas estava confusa demais para
entender o que falavam.
O homem sentado ao meu lado era uma surpresa e parecia inconsciente do
tamanho de sua beleza. Ou talvez só tivesse certeza demais do seu lugar no
mundo.
— Que bom que acordou.
Sua voz atravessou o espaço e infiltrou na minha pele causando um arrepio
lento por todo o meu corpo.
— O que... — Minha cabeça latejou e eu voltei a fechar os olhos.
— Você foi pega de refém durante uma operação da minha equipe e acabou
se machucando no processo.
O som do tiro e da carne sendo furada veio como um choque em minha
mente, deixando-me enjoada com a recordação clara daquele barulho.
— Vou chamar um médico...
Abri devagar os olhos com medo de que a dor aumentasse.
— Ele morreu — murmurei ainda pasma com a lembrança do som.
— Sim — acenou sério. — Ele atiraria em você ou faria algo muito pior
caso a levasse para longe.
— Deus! — Esfreguei a testa sentindo um curativo. — Só pretendia
almoçar.
— Você está segura agora — garantiu ele.
— Quem é você? — questionei.
Eu tinha uma suspeita, me lembrava dele conversando com o bandido e
tinha aquela sensação terrível que já o conhecia de algum lugar.
— Henrique Voithe, comandante da inteligência policial da cidade.
O olhei surpresa. — Voithe?
— Sim, sei que conhece meu pai.
A aspereza na sua voz era algo que eu não estava esperando.
Automaticamente acabei questionando-o usando o mesmo tom.
— E é por isto que está aqui?
Não era por menos que o pai estava tentando comprar uma noiva para ele.
Eu não conseguia ver uma mulher que se casaria por livre e espontânea
vontade com um homem de seu gênio.
— Não. — Se ergueu. — Só queria ter certeza de que ficaria bem. Liguei
para o número de emergência de seu celular e estava aguardando que alguém
chegasse para lhe fazer companhia — contou.
— Mexeu nas minhas coisas? — perguntei irritada.
Claro que ele ou outra pessoa mexeria na minha bolsa para me identificar,
mas havia algo nele que eu realmente não gostava.
Talvez fosse toda aquela arrogância mal contida.
Claramente ignorou minha pergunta e deixou um cartão na mesinha ao
lado.
— Percebi que não tem uma equipe de segurança — começou. — Uma
mulher como você deveria ter alguém para protegê-la. Ligue para esse número
e arrume um segurança.
— Uma mulher como eu? — repeti.
— Rica, conhecida — respondeu com rispidez. — Hoje foi só um
acontecimento inesperado, mas você deveria pensar melhor sobre como se
proteger.
— Eu não preciso de um homem para isto — retruquei. — E pelo o que me
lembro, a polícia está por aí para deixar as ruas mais seguras, não para levar
um bandido direto para uma mulher inocente.
Que Deus tivesse misericórdia da minha alma, pois eu estava me divertido
muito brigando com ele. A fúria brilhando em seus olhos era um prêmio e
tanto!
— Você quem não deveria andar com a cabeça nas nuvens! Seria muito
mais prudente olhar por onde anda!
Ele estava me chamando de distraída?
— Espere aí! — sentei rapidamente na cama irritadíssima. — Eu não sou
distraída, você que é incompetente!
— Como ousa...
— E digo mais — o interrompi. — Se fizesse seu trabalho direito eu não
estaria neste hospital...
Calei quando tudo ao meu redor começou a girar. Senti que meu rosto ficou
pálido e que por muito pouco não despenquei para o lado da cama. A única
coisa que me impediu de cair foram as mãos fortes dele ao me segurar.
— Acho que não deveríamos estar discutindo — murmurou deitando-me
de volta no travesseiro.
— Sou obrigada a concordar — choraminguei com a dor de cabeça
aumentando.
— Você tem que ficar quieta — disse baixo. — A enfermeira me informou
que terá alguns sintomas até o inchaço passar. — informou. — Vou chamar o
médico.
Acenei concordando, pois precisava imediatamente de algum remédio para
aliviar aquela dor alucinante no meu cérebro.
Demorei a perceber que Henrique não havia voltado com o médico. Até
esperei um tempo, imaginando que ele voltaria para me dar algumas ordens.
No entanto, tudo o que aconteceu foi o silêncio daquele quarto reforçar o
quanto eu me sentia sozinha. Desejei que ele entrasse pela porta e me desse
mais alguns minutos com uma boa discussão, pelo menos assim eu não
permitiria que aquele sentimento de solidão afundasse dentro de mim.
Donna, uma das poucas pessoas mais especiais da minha vida, chegou um
tempo depois com um olhar aflito.
— Estou bem — afirmei, mas ela não pareceu acreditar.
— Essa cidade está tão perigosa — disse nervosa. — Quase enfartei de
tanta preocupação.
Colocou a pequena mala de lado e caminhou apressada até mim.
— Como está se sentindo minha querida?
— Dolorida — suspirei. — Mas vai passar.
— Comeu alguma coisa? — questionou com aquele olhar de mãe que eu
tanto amava.
Ela trabalhava na minha casa desde sempre e cuidava de mim como se eu
fosse sua filha. Era bom. Principalmente porque meus pais gostavam de viajar
e gastar dinheiro, raramente se lembravam de que tinham alguém além deles
na família.
— Um lanche leve.
— Bom, eu trouxe um caldo muito bom — sorriu com gentileza. — Vai te
ajudar a melhorar.
Não estava com muita fome, mas aceitei assim mesmo. O aroma não agitou
meu estômago e ao comer tudo deixei Donna feliz.
Ficaria em observação por mais algumas horas antes de ser liberada.
Bastou uma olhadinha naquele cartão que Henrique Voithe deixou na mesinha
lateral, para que eu ficasse tentada a aceitar e contratar um segurança. Pois um
medo irreal deslizou por mim enquanto me questionava sobre o que deveria
fazer.

A raiva era irracional, eu sabia disto, mas não conseguia esfriar meu
temperamento enquanto ia embora daquele hospital. Aquela víbora era letal
com a língua e ainda assim terrivelmente bonita.
Isto que era ser tentado pelo diabo.
Bufando tentei afastar minha mente da pele suave, dos lábios bem
desenhados... dos olhos cor de outono. Cheguei a estremecer quando aqueles
pensamentos me levaram para algo mais íntimo e sedutor.
— Nem pense nisto Henrique — me repreendi em voz alta já que estava
difícil ouvir a própria razão.
E mesmo assim queria saber tudo sobre ela. Quando cheguei ao batalhão
minha equipe estava reunida, cada um em sua mesa resolvendo suas tarefas do
dia. Com um corpo e um refém, todos tinham muita papelada para preencher.
— Ei Nick, minha sala.
— Em um minuto, comandante.
Me joguei na cadeira e esperei pelo guru da tecnologia. Ele era muito bom
em descobrir tudo que envolvia uma rede. Nada se escondia dele por muito
tempo.
— Voithe?
— Preciso de um relatório completo sobre nossa refém de hoje, Erin
Andrada.
O leve erguer de sua sobrancelha indicou curiosidade, mas o sorrisinho
debochado lateral que me deu mostrou que não questionaria a ordem.
— Essa Erin? — Ergueu o celular aberto em um site de fofoca.
Peguei o aparelho curioso com o que teria ali. — Mas como eles já sabem
disto?
— Um bom fofoqueiro nunca perde uma notícia.
Bufei irritado.
— Viu a crítica à nossa operação? — questionei lendo a matéria. — Que
inferno!
— É só fofoca — Nick deu de ombros.
— Diga isto para o capitão quando repercutir.
Nick riu. — Esse é o seu trabalho.
Devolvi o celular dele já tirando o meu do bolso para ver o que mais
estavam falando na rede.
— Mais alguma coisa?
— Não.
Acenei que se retirasse enquanto lia a matéria falando sobre o que
aconteceu essa manhã. Não tinha muita informação sobre a vida dela, falam
muito sobre o sucesso do seu trabalho e de nunca ter sido vista com um
homem. Mas não perderam a chance de alfinetar que logo eu, o solteiro mais
cobiçado da cidade, era o responsável pela perseguição ao elemento que fez
Erin de refém.
Levou exatos trinta minutos para Nick voltar a minha sala, jogou uma pasta
na mesa e com um sorriso zombeteiro foi embora.

Levei exatos quatro dias para me sentir eu mesma de novo. Donna


continuava ameaçando de me amarrar ao pé da cama para me obrigar a ficar
quieta, mas o trabalho estava acumulado demais e Rico, meu assistente e
amigo, parecia a ponto de um colapso.
Principalmente com toda repercussão no mundo das fofocas. Eu tentava
não dar muita atenção a elas, porém, ainda me afetavam. Ainda não entendia o
motivo de ficarem tão focados na minha vida. Claro, meus pais eram
considerados famosos por causa dos livros que publicaram, mas eu... Era só
uma mulher que saia para trabalhar todos os dias. Apesar de estar sempre
participando de grandes projetos e de me orgulhar disto, não significava que
eu era uma celebridade.
Bufando fiz a ligação para o número que estava me corroendo por todos
aqueles dias. O senhor Simon, o homem que atendeu, era o dono de uma
empresa de segurança. Não estava surpreso com minha ligação direta para seu
número pessoal, o que me irritou um pouquinho. Henrique poderia ter me
informado somente o nome da empresa que eu entraria em contato sem violar
a privacidade de uma pessoa.
Foi uma conversa breve, expus o tipo de segurança que precisava. Alguém
para morar na minha casa, então que fosse de extrema confiança. Não era uma
grande fã de ter inúmeros empregados, apesar de morar em uma casa muito
grande, Donna era a única que ficava.
Ela cuidava das refeições e comandava a equipe de limpeza que vinha uma
vez por semana para colocar tudo em ordem. Erámos somente nós duas e
agora eu adicionaria mais uma pessoa, por isto faria muitas exigências.
Às dez da manhã do dia seguinte eu estava no meu escritório esperando
Simon e o segurança indicado para trabalhar comigo. Não foi nenhuma
surpresa que ambos fossem terrivelmente bonitos e com peitos tão largos
quanto um tanque de guerra.
— Sentem-se, por favor.
— Obrigado — acenou Simon. — Erin, esse é Taylor.
Apertei sua mão. — É um prazer conhecê-lo.
Taylor deu um aceno firme antes de se sentar. O analisei por alguns
segundos sem conseguir ler nenhuma reação em seu rosto. Eu tinha certeza de
que Rico teria um mine enfarto a cada vez que visse esse homem me
seguindo.
— Como conversamos ontem, acredito que entenda minhas exigências —
comentei dirigindo a Simon.
— Claro que sim, eu trabalho com confiança, além da segurança —
acenou. — Taylor é o homem que escolhi e tenho certeza de que não irá
decepcionar.
— Não consigo me imaginar sendo seguida vinte quatro horas por dia. —
Segurei um suspiro. —, mas entendi o quanto é necessário para uma mulher
na minha posição um segurança.
Eu já tinha recebido ameaças antes que meus advogados resolveram, eram
raras, mas aconteciam. Também tinha os paparazzi que sempre me
incomodavam. Ser pega de refém na rua aleatoriamente somente reforçou de
que já estava passando da hora de ter um segurança.
Só me irritava o fato de ter que dar razão para Henrique Voithe.
Fui sincera com ambos os homens e fiquei agradecida por me permitirem
enxergar a verdade nas respostas deles. Simon não ficou por muito tempo,
afirmando que meu maior interesse era conhecer Taylor.
Conversamos sobre seus trabalhos anteriores, foi um fuzileiro naval e
esteve em agências de inteligências.
— Vamos fazer um teste, tudo bem? — questionei. — Ver como isto segue
e se o manterei no cargo ou pedirei que Simon me envie outra pessoa.
— Por mim, tudo bem — acenou sério. — Eu entendo que não é fácil
confiar sua vida e casa a um desconhecido.
— Bom. — Fiquei aliviada com sua atitude compreensiva. — Vou pedir a
Donna que te mostre o lugar que vai ficar.
— Obrigado — se ergueu.
— Hoje eu não pretendo sair, mas amanhã começarei o dia às oito —
informei. — E pode sempre me chamar de Erin.
— Estarei pronto.
Donna já estava o aguardando. Pedi que ela o acompanhasse até a área para
funcionários. Era um local com bons quartos, sala de estar e uma cozinha onde
eles poderiam sempre estar confortáveis.
— Na hora do almoço, venha almoçar conosco — convidei. — Costumo
fazer minhas refeições na companhia de Donna e você é bem-vindo para se
juntar a nós duas. — Ele acenou. — Falaremos sobre suas folgas e sobre meus
horários de trabalho.
O som do meu celular tocando foi difícil de ignorar, eu sabia quem seria.
Rico não me deixaria em paz enquanto não colocássemos toda a agenda em
ordem.
— Vá menina — ordenou Donna. — Vou acomodar o rapaz.

Na manhã seguinte, quando entrei no meu escritório fui recebida


exatamente assim:
— Minha Nossa Senhora das calcinhas molhadas!
— Rico! — o repreendi tentando não rir.
Ele me empurrou para o lado e parou de frente para Taylor.
— Diga-me que isto é uma miragem vindo direto do paraíso — implorou.
Prendi um sorriso quando vi o olhar levemente mal-humorado de Taylor.
— Comporte-se, Rico — exigi. — Esse é o meu segurança, estará sempre
por perto. Então, por favor, deixe-o em paz.
— Vou precisar trocar de calcinha várias vezes por dia. — Rico se abanou.
— Desde quando você usa calcinha? — perguntei sem conseguir esconder
minha diversão.
— Comecei agora — riu.
Balancei a cabeça. — Chega.
— Não seja estraga prazeres!
— Vamos trabalhar, Rico.
Ele até que me seguiu, mas o fez reclamando sobre a crueldade do destino.
Apesar de me divertir com suas maluquices, tínhamos muito trabalho a fazer e
eu não poderia nos dar o luxo de adiar algumas coisas da agenda novamente.
Os dias que se seguiram foram uma mistura de reuniões, refeições rápidas e
muito pouco sono. Gostava de trabalhar pessoalmente em alguns projetos,
colocar em prática tudo aquilo que aprendi em meus longos anos na faculdade.
Cursei engenharia civil e depois arquitetura, me apaixonei por construções. E
com isto, sempre exigia muito de mim.
Eu vivia para trabalhar.
Pensar sobre isto me mostrava o quão ruim parecia ao assumir que tudo em
mim era voltado para o trabalho. Por isto, aceitei um dos muitos convites para
um jantar beneficente. Eles chegavam sem parar e eu costumava ignorar cada
um deles, mas algo dentro de mim me impulsionou a aceitar pelo menos um.
Estava passando da hora de ter um pouco de diversão.
Rico tinha cuidado de tudo, até escolhido um vestido que eu ainda esperava
não me arrepender de ter confiado nele. Enviou uma maquiadora que também
trabalhava com penteados para me ajudar, ela tinha mãos de fadas e fez um
trabalho incrível.
Quando me olhei no espelho, mal me reconheci.
Satisfeita, desci para encontrar com Taylor que me levaria até o evento e
também me acompanharia por todo o tempo. O homem estava perfeito em um
terno preto com uma gravata do mesmo tom de seda.
Todos aqueles flashes na entrada me deixou confusa, um pouco
desnorteada e talvez até cega. Era o que eu queria acreditar depois de ter
esbarrado em alguém no primeiro passo que dei para dentro do evento.
Ao visualizar quem era, me afastei como se um raio me atingisse.
— Você! — exclamamos juntos.

Com um olhar ainda mais marcado do que me lembrava, ela me perfurou


com todo aquele atrevimento. O que realmente me chocou foi ver em como
ela estava bonita. Seu vestido preto não era extravagante, mas abraçava suas
curvas como um amante sedutor.
— Olhe por onde anda!
Sua petulância foi a única coisa que me salvou de um constrangimento
maior, pois me sentia muito tentado a beijá-la.
— Você foi à única tropeçando em mim — retruquei. — Vejo que seguiu os
meus conselhos — digo ao ver seu segurança. — Taylor, quanto tempo.
Trocamos um aperto de mão.
Erin bufou. — Vocês se conhecem?
Era fácil ver o desgosto em seu olhar de outono.
— Servimos juntos, duas vezes — contei. — Depois vamos marcar um
jogo.
— Claro — acenou Taylor. — Devemos entrar — informou dando uma
discreta olhada ao redor.
Erin não pareceu ouvi-lo, perdida em seus próprios pensamentos.
— Eu os acompanho — ofereci e isto a despertou.
— Dispenso. — Fez um aceno de mãos desdenhoso e se afastou.
Confesso que não deveria ter agido no impulso, mas antes que encontrasse
minha consciência e me alertasse do que estava fazendo, dei dois passos,
agarrei seu pulso e a puxei para mim.
— Faço questão — murmurei.
Ah meu bom Deus.
Como eu queria beijá-la!
Erin parecia sem ar e automaticamente estava me deixando assim também.
Bastava inclinar a cabeça e tomar seus lábios carnudos para mim. Beijá-la
seria como perder a cabeça e talvez fosse exatamente isto que estivesse
acontecendo comigo desde que a deixei no hospital há quase um mês atrás.
— Sua petulância é totalmente... excitante — sussurrei em seu ouvido. —
Se não fosse uma víbora eu a levaria daqui direto para minha cama. E
dominaria esse seu gênio ruim.
Ela se afastou com fogo nos olhos e sua mão estalou no meu rosto.
— Eu não preciso ser dominada — rosnou. — Sua educação é outra coisa.
Fique longe de mim.
Erin se afastou tão rápido que mal consegui raciocinar uma resposta afiada
ou uma desculpa. Taylor a seguiu, mas não sem me lançar um olhar
ameaçador. Pelo menos não foi um soco na cara, era algo a se considerar já
que ele era pago para protegê-la.
— Fazendo amigos, meu filho?
Virei para encarar meu pai. Ele tinha um olhar tranquilo atrás de seus
óculos de grau. Joseph Voithe sempre acreditou na conversa para educar seus
dois filhos selvagens. E isto não significava que suas broncas eram leves e
suaves, às vezes muito mais humilhantes do que um tapa na cara em público.
— Pai.
— Vejo que conheceu Erin.
Ele já sabia disto, desde o dia em que ela foi feita de refém na rua.
— Sim — respondi com a mesma tranquilidade.
— Que bom que veio — acenou com a taça. — Caminhe comigo.
Acenei concordando.
— Sabe que antes de chegar em casa as fofocas estarão falando de vocês —
disse em um tom tranquilo.
— Sei.
— E que vai ficar furioso com todas essas fofocas.
— Também sei disto.
— Bom, eu te criei melhor do que isto — afirmou me olhando por um
segundo. — Sabe muito bem que deve tratar uma mulher com respeito.
— Mesmo que ela cuspa veneno?
Ele riu. — Mesmo assim.
— Vou me desculpar com ela.
Meu pai acenou calmamente e pegou uma taça quando um garçom passou,
me entregou o champanhe. Algo no seu olhar me deixou muito desconfiado.
— Case-se com ela — disse como se fosse algo possível.
Precisei me esforçar para não gritar as próximas palavras. — O que?
— Você me ouviu bem — retrucou. — Apesar de cuspir veneno, ela é uma
mulher incrível. Capaz e muito trabalhadora. Você precisa de uma esposa, ela
precisa de um marido. Conta simples. Ela é a mulher perfeita para você. Erin
cuidaria dos negócios da família e você não precisaria largar sua equipe de
imediato.
— Em que época o senhor acha que estamos vivendo?
Ele não se abalou com a ironia no meu tom.
— Em uma época em que os pais não vivem para sempre.
E pela segunda vez na noite fui deixado para trás sem ter a oportunidade de
responder. Fiquei ali parado com aquela taça na mão tentando entender o que
meu pai queria dizer com aquela frase enigmática.
Os pais não vivem para sempre?
Ele estava morrendo?
Era por isto que ele continuava insistindo que eu me casasse?
Uma preocupação real invadiu meu peito e me deixou com medo de perdê-
lo. Procurei por ele pelo salão e não o encontrei de primeira, precisei olhar
com mais atenção. Ela entrou no meu campo de visão primeiro, sua beleza
brilhava como se fosse um bonito diamante reluzindo.
Erin sorria para o meu pai com gentileza e não existia aquela agressividade
que sempre exibia quando eu estava por perto. Eu não sabia o que pensar
sobre tudo aquilo e decidi que deveria ir embora, apesar de mal ter chegado.
Sabia que minha equipe estava em um bar, então segui direto para lá.
Conversa fiada e algumas bebidas me fariam bem. Pelo menos era o que
acreditava, no entanto, minha mente continuou levando-me de volta para
minhas dúvidas sobre a saúde do meu pai e até mesmo fazendo-me questionar
se realmente não deveria me casar com ela.
O início daquela festa não tinha sido uma das melhores, apesar do prazer
em acertar Henrique no rosto. Ele me deixou furiosa e... excitada com aquelas
palavras sussurradas em meu ouvido. No entanto, eu não podia dar espaço
para tanta ousadia vindo dele. Não tinha como permitir que ele tivesse
tamanha liberdade.
Fiquei pensando em como Joseph estava errado em imaginar que eu me
casaria com seu filho. Nós dois éramos como fogo e gasolina. Não existia uma
única possibilidade de dar certo um casamento arranjado entre a gente.
— Ele é sempre um idiota? — perguntei a Taylor na volta para casa.
Seu olhar encontrou o meu pelo retrovisor e não me respondeu por
imediato.
— Sempre que encontra alguém com uma personalidade tão forte quanto à
dele.
— Espero não vê-lo novamente, ou causaremos uma catástrofe —
murmurei olhando pela janela.
Ouvi Taylor segurar uma risada e não dei importância. Gostava que ele
relaxasse o suficiente para conversar comigo, no mês que se passou tem se
mostrado eficiente demais e extremamente calado.
Era um ponto positivo também, assim eu podia aproveitar o silêncio sem
nenhuma interferência.
— Henrique é uma pessoa boa — comentou. — Arisco quando o assunto é
mulher, mas é de extrema confiança.
— Imagino que isto seja essencial em uma missão, mas não significa que
precisa ser grosseiro o tempo todo com as pessoas ao redor.
Se ele concordava comigo, eu não sabia, mas seu silêncio foi uma boa
resposta. Antes de descer do carro, ele me ofereceu uma opinião sincera.
— Aquele tapa deve estar ardendo até agora — murmurou com uma pitada
de humor. — Tenho certeza de que o dará muitos pensamentos sobre seu
comportamento inadequado.
— Espero que sim, pois na próxima vez será com a mão fechada —
retruquei. — Um olho roxo é difícil de ignorar.
— Mais do que imagina — respondeu Taylor com um sorriso discreto.
Desejei-lhe uma boa noite e finalizei a noite.
Apesar de ter aproveitado a festa, conversado e bebido, sentia que não tinha
alcançado meu objetivo. Quando me sentei na cama, olhando para o nada,
experimentei aquele vazio novamente.
Será que um dia aquela sensação iria embora?
Respirei fundo e devagar tentando afastar aquela emoção ruim. Troquei de
roupa, retirei a maquiagem e me livrei dos inúmeros grampos presos no meu
penteado. Olhando-me no espelho, consegui sentir a energia que seu toque
tinha causado. Assim como do arrepio do seu sussurro em meu ouvido.
O insulto em me chamar de víbora não me afetava. No entanto, a
curiosidade em ser dominada na cama por ele estava levando-me além do
limite. O que era realmente ridículo, pois eu não o conhecia. Não gostava dele.
O vi... duas vezes, três se contar o momento em que fui refém.
Como explicar a forma que meu corpo estava reagindo a ele?
Aquela tinha sido uma noite muito longa, com sonhos eróticos e brigas
quentes com Henrique. Eu realmente precisava de um jeito para me livrar
daquele tesão acumulado, mas isto não aconteceria tão rápido, principalmente
quando cheguei a cozinha para o café da manhã.
Donna e Taylor estavam claramente me escondendo alguma coisa. Só que
eu não tinha certeza se queria saber o que era. Me servi de uma xícara de café
e soprei o líquido quente com certa despreocupação, dando tempo para
alguém se pronunciar.
Tomei meu lugar na cabeceira da mesa e fiquei encarando os dois. Taylor
parecia muito interessado em passar geleia em uma torrada e Donna esfregava
um pano sem parar na bancada.
— Quem vai falar primeiro? — perguntei e fui ignorada. — O que as
revistas de fofocas estão dizendo sobre mim desta vez? — supus.
Taylor tirou uma revista de algum lugar debaixo da mesa e a deslizou para
mim. A capa já respondia todas minhas dúvidas. Tinha uma foto do exato
momento em que estapeei Henrique no jantar beneficente. A surpresa era que
estávamos em um lugar com certa privacidade, mas ainda assim um fotógrafo
esteve nos vigiando sem que nenhum de nós percebessem.
“Será uma relação de amor e ódio?” Era o que dizia na capa. “Henrique
Voithe e Erin Andrada têm mais do que heranças milionárias em comum,
ambos solteiros e livres para voar. Ou será que agora esse status mudou?
Ainda não sabemos, mas vamos ficar de olho. Esse sim é um casal de peso!
Ou no caso, de cão e gato?”
Ah como eu odiava as revistas de fofocas. Minha vontade era de rasgar
aquele pedaço de papel ridículo em mil pedaços, ou talvez destruir cada um
deles que insistiam em falar da minha vida.
Deixando a revista de lado, foquei em tomar o café, mesmo que parte da
minha fome houvesse desaparecido. Sabia que meu primeiro compromisso do
dia teria que ser com o departamento jurídico para ver se conseguíamos tomar
alguma providencia. Eu não estava mais aguentando aquelas notícias sobre
minha vida.
No entanto, antes mesmo de me sentar na minha cadeira no escritório tive
uma visita inesperada.
— Devo perguntar quem o deixou entrar? — Questiono ao vê-lo na minha
porta sem a companhia da secretária.
— Talvez não — respondeu despreocupado. — Você está com cara de
quem demitiria essa pessoa.
— Sem pensar duas vezes — afirmei.
Ele sorriu e entrou, fechando a porta antes de sentar na minha frente.
Esperei que começasse a falar o que estava fazendo ali, mas Henrique parecia
sem pressa nenhuma.
— Vim me desculpar — disse depois de um tempo. — Meu
comportamento ontem foi inaceitável.
Cruzei os braços com impaciência, afinal, o que ele esperava que eu
falasse? Concordasse e aceitasse suas desculpas para que a paz reinasse?
Bem, não seria tão fácil assim.
— Não vai dizer nada? — questionou.
— O que você quer ouvir?
— Primeiro entender o motivo de o meu pai estar tão motivado em realizar
um casamento entre nós dois.
Ergui uma sobrancelha.
— Quando descobrir, me avise.
Ele não se abalou com a ironia na minha voz.
— Você claramente é uma mulher de sucesso, ambiciosa, mas totalmente
independente — observou. — Qual é o seu interesse nisto?
Bufei. — E eu achando que você tinha vindo se desculpar.
— E vim — acenou. — Não quero ofender, mas eu não gosto dessas
perguntas sem respostas.
— Eu não tenho as respostas, Henrique. — Balancei a cabeça. — Deve
perguntar para o seu pai, não para mim — apontei. — A não ser que esteja
escrito na minha testa desesperada.
Vi no olhar dele que iria concordar somente para me irritar, mas foi
inteligente em ficar calado. Ambos não se comportavam bem na companhia
um do outro, e eu acabaria acertando a cabeça dele com um peso de papel se
me chamasse de desesperada por homem.
— Não preciso do seu dinheiro — completei.
— Eu sei — afirmou dando um leve aceno. — Meu pai continua afirmando
que não irá viver para sempre, sabe algo sobre isto?
Quase revirei os olhos. Era muito claro que Henrique estava ali para me
interrogar e nem se constrangia em fazer isto de forma tão descarada.
— Ele me falou algo sobre isto — confirmei. — Perguntei se estava
doente, mas ele disse que não.
— Tem algo acontecendo — murmurou. — Ele parece estar se preparando
para morrer.
— Isto não é verdade — protestei. — Você está exagerando.
— Estou? — questionou com um arquear de sobrancelhas. — Ele quer que
eu me case com você para que tenha alguém cuidando dos negócios.
— Você pode fazer isto sozinho — apontei.
Algo passou por seu olhar, algo que eu não entendia, mas que daria um
dedo para que ele me contasse.
— Não sozinho — disse depois de um tempo.
— Seu irmão o ajudaria — indiquei acreditando que aquela seria uma boa
saída.
Henrique riu com deboche mostrando que não era uma opção a ajuda do
irmão nisto.
— Somos homens da lei, Erin, não empresários.
Então Caio também trabalhava com a polícia.
Ele se levantou e deu a volta na minha mesa, deixando-me tensa com a sua
aproximação. Henrique tinha um olhar intenso, mas nada em seu rosto me
dizia o que ele estava planejando.
— O que...
Se inclinou-se sobre minha cadeira e segurou os lados, aprisionando-me de
um jeito intimidador.
— Você se casaria comigo, Erin?
Segurei para não tremer, sua voz rouca combinando com aquele perfume
tentador e o olhar que via além de mim.
— Isto é um pedido? — questionei com o que restava da minha coragem.
— E se fosse? — retrucou.
Soltei uma risada nervosa. — Não estou tão desesperada.
Ele não riu, seu olhar caiu para minha boca. Senti um formigamento
subindo por minha coluna ansiosa para me afastar ou acabaria beijando-o.
— Eu me sinto desesperado — murmurou ele.
— Para se casar comigo? — perguntei em tom de zombaria.
Um sorriso cafajeste adornou seus lábios. — Para saber como seria beijar
você.
— Sinto decepcioná-lo, mas irá continuar desesperado por muito tempo...
Em meio segundo fui colocada em pé e contra ele. Um braço forte como
aço circulou minha cintura enquanto uma mão grande e gentil segurava minha
nuca.
— Você ficou louco — digo sem fôlego.
— É o que parece — respondeu.
Aquele olhar via através da minha alma. Não sei dizer quem se moveu
primeiro, mas antes que eu pudesse ter um pensamento coerente minha boca
estava colada na sua. Foi devastador. Seus lábios eram quentes, macios e
extremamente convidativos.
E eu era muito fraca, pois estava o abraçando e retribuindo seu beijo sem
hesitar. Meu corpo moldando o seu de um jeito que nunca tinha
experimentado antes. Aquele momento jamais poderia ser esquecido, pois foi
fixado na minha mente como brasa quente.
Afastei-me com um estalo de nossos lábios, mal conseguia respirar.
— Não...
Ele me interrompeu com outro beijo profundo. Sabia que deveria resistir,
mas sua língua era tão sedutora quanto sua boca. Em poucos segundos
Henrique estava beijando-me como se fizesse amor. Intenso e arrebatador.
Senti uma de suas mãos na minha bunda, apertando-me contra ele.
Enquanto a outra amassava meu seio sensível por cima de minhas roupas.
Eu era uma poça de desejo. Não existia um único osso no meu corpo capaz
de me fazer afastar dele nesse momento. Tudo o que eu mais queria era afastar
nossas roupas e terminar com ele dentro de mim.
Henrique terminou o beijo lentamente e parou perto do meu ouvido, sua
respiração causando arrepios na minha pele.
— Casar com você teria inúmeros benefícios — sussurrou.
Quase agradeci, pois sua fala me tirou daquele estado de excitação
extrema.
— Não vamos nos casar — retruquei.
— Não — concordou. — Mas começo a pensar que seria uma boa opção.
— Eu não estou à venda — retruquei o afastando. — Não vou aceitar um
casamento arranjado para que você e seu pai fiquem felizes.
Recuei para longe da mesa e das mãos dele. Se continuasse tão perto
poderia cair em tentação novamente e isto não me levaria a nenhum lugar.
— Não foi isto o que eu quis dizer — afirmou franzindo a testa.
— Não importa — engoli em seco sabendo que importava sim. — Seu pai
quer uma nora capaz de cuidar dos negócios e você uma mulher que esquente
sua cama e o livre de se sentar atrás de uma mesa o tempo todo.
— Erin...
Suspirei cansada demais para continuar discutindo sobre aquele assunto.
— Só vá embora — pedi.
Ele pareceu querer discutir, mas acabou aceitando que o melhor a se fazer
era se afastar. Desejo sexual intenso não era motivo para casamento. Quando a
paixão esfriasse o que eu faria estando presa a um casamento sem amor?
E além do que, eu não precisava de mais trabalho.

Para melhorar meu dia, eu tive que encarar uma reunião com um cliente
que era extremamente machista. Se negava a falar diretamente comigo,
buscando sempre Rico ou Morgan para responder suas perguntas.
Minha paciência estava tão curta que eu não aguentei aquela tortura por
mais do que meia hora, acho que até durou muito.
— Acredito, senhor Morrison — interrompi a conversa. — Que a minha
empresa não poderá mais continuar esse contrato.
Ele se atreveu a me olhar como se eu fosse louca.
— Como eu estava dizendo Morgan...
Levantei e bati as palmas da mão sobre a mesa.
— Basta! — exclamei. — Se o senhor não é capaz de trabalhar com uma
mulher, não vejo o motivo de ter contratado a empresa de uma. — Apontei um
dedo em riste em sua direção. — Acha que construí o meu nome como? Eu
trabalhei! Não tinha Rico, nem Morgan. Somente eu e meus projetos.
— Senhorita, queira me desculpar por não lhe dar a atenção devida...
Foi aí que fiquei ainda mais furiosa, ele acreditava que eu precisava de
algum entretenimento?
— Taylor, acompanhe esse homem até a porta — ordenei.
Deus, como aquele dia estava sendo longo!
O senhor Morrison não ofereceu resistência, mas seu olhar dizia muito
sobre o processo que ele abriria contra mim. Não me importava. Eu não
cheguei aonde estava aceitando ser diminuída por homens que não sabiam
reconhecer e aceitar a inteligência e o sucesso de uma mulher.

— Henrique!
O grito no meu ouvido despertou-me dos pensamentos indecentes que
continuava invadindo minha mente.
— Estou te ouvindo, Caio — respondi apertando o celular na orelha.
— Um caralho que está — retrucou. — O que está pensando?
Estremeci com a lembrança do meu corpo quente e incomodado. Fiquei
assim por todo o dia, desde que sai do escritório dela.
— Você não vai querer saber.
Sua risada dizia que ele imaginava algo. — É sobre a gata ou fera que
bateu em você?
— Anda lendo revistas de fofocas, irmão? — Não resisti a provocação.
— Queria que ela estivesse com a mão em punho — riu. — Seria ótimo te
ver com um olho roxo.
— Eu não duvidaria de que ela faria isto se eu desse uma chance — contei.
— Pense numa víbora de coração frio.
Mas de corpo quente, completei mentalmente.
— Uma víbora lindíssima — acrescentou Caio.
Não podia negar aquele fato, ela era linda, mas não era só isto. Sua beleza
era interna também, havia algo muito bom sobre Erin. Algo que continuava
atraindo meus pensamentos para ela o tempo todo.
— Vai se casar com ela?
— Papai não está perdendo tempo — resmunguei.
Caio riu alto do outro lado da linha.
— Ele o pegou para cristo, meu irmão — disse parecendo muito aliviado
por não ser ele na reta. — Acho que deveria se casar com ela.
— E eu acho que você deveria ficar fora dos meus assuntos — retruquei.
— Queria ver se estaria se divertindo se fosse você o alvo de um casamenteiro
implacável.
— Você é mais forte do que isto — Caio me provocou.
— Ele me disse duas vezes de que não irá viver para sempre — contei
cortando o humor. — Está sabendo de alguma coisa?
— O que? — pareceu chocado. — Não, mas vou descobrir.
— Não pode quebrar sigilos médicos, Caio — o repreendi. — Mesmo que
seja para descobrir sobre o nosso pai.
— Não se preocupe com isto — retrucou. — Eu preciso ir, logo estarei em
casa.
— Acabou sua missão?
— Algo do tipo — respondeu evasivo antes de desligar a chamada.
Girei lentamente na minha cadeira de um lado para o outro pensando se eu
realmente não deveria me casar com Erin. Devo confessar que a palavra
casamento me fazia estremecer.
Um dia eu fui um jovem apaixonado e enganado, isto era motivo suficiente
para me manter longe dos compromissos românticos.
No entanto, e hoje?
Eu já não estava velho demais para ficar remoendo o passado desta forma.
Será que me casar era a forma de superar aquele coração partido que já me
deram? Ah como eu estava cansado dessas perguntas sem respostas. E
também muito preocupado, caso meu pai estivesse doente e viesse falecer, o
que eu faria com os negócios dele? Não poderia, jamais deixar que todo o
trabalho da vida dele se perdesse.
Embora, se eu me cassasse com Erin ela poderia cuidar de tudo e garantir
que a empresa da família não falisse. Sacudi a cabeça para ver se aquele
pensamento ia embora, pois eu não poderia reduzi-la daquela forma.
Ela merecia muito mais do que isto.
Ah eu não era ninguém.
Meu corpo não parecia ser meu. Era sexta feira e eu precisava ir trabalhar,
mas a dor que estava sentindo não me fazia sair do lugar para concordar com
isto. Uma dor irradiava em meu baixo ventre para as células do meu corpo me
fazendo querer chorar. Aquela cólica não era bem-vinda, mas mesmo assim
todos os meses se mostrava presente.
Donna me acordou quando percebeu que eu estaria atrasada e logo
entendeu que eu não sairia de casa naquele dia. Pedi que ligasse para Rico e
que me arrumasse algum remédio que fizesse me sentir melhor.
Dormi até quase onze da manhã e depois passei meia hora na banheira com
a água bem quente. A dor tinha dado uma amenizada, mas não passou
completamente. E eu estava realmente com fome.
— Ah não, você de novo — resmunguei quando encontrei Henrique na
minha sala conversando com Donna.
Ela rapidamente se retirou falando algo sobre preparar as coisas para mim.
— Você está horrível — disse colocando as mãos nos bolsos em uma
atitude relaxada.
— Eu tenho espelho em casa — retruquei. — Não preciso que me diga o
óbvio.
Terminei de descer a escada e sentei no sofá. — O que devo a honra da sua
presença?
— O que você tem? — perguntou sentando ao meu lado sem ser
convidado.
Poderia ter colocado um pouco de espaço, pelo menos, mas com Henrique
era sempre tudo ou nada.
— Não me sinto bem hoje.
— Quer que eu a leve ao hospital? — perguntou parecendo realmente
preocupado. — Ou prefere que eu busque um médico?
— Vou ficar bem — murmurei. — Não preciso de um hospital ou um
médico.
Ele pareceu muito confuso sem entender o que estava acontecendo comigo.
Queria que ele deixasse pra lá, aquilo era mais intimidade do que imaginava.
— Estou com cólicas — resmunguei e fiquei imensamente grata quando
Donna retornou com uma bandeja.
— Trouxe um lanche... — olhou entre a gente. — Para os dois.
— Obrigada Donna.
Também vi em sua bandeja enorme um remédio e uma bolsa de água
quente. O alívio ficou maior. Henrique se levantou e pegou a bandeja das
mãos de Donna.
— Eu cuido disto — afirmou.
— Tem certeza? — ela não parecia confiante, o que me fez rir.
Deitei no sofá e acenei para Donna deixá-lo fazer o que quisesse. Só eu
sabia como aquele homem poderia ser irritante quando teimava com alguma
coisa.
Henrique me entregou o comprimido e o copo com água, que eu aceitei
sem reclamar.
— E para que serve isto? — ergueu a bolsa quente.
Peguei dele e coloquei debaixo da minha camiseta, no baixo ventre. O calor
foi um bálsamo maravilhoso para aquela dor irritante. Fechei os olhos em
apreciação.
— Isto parece bom — comentou baixo. — Sua expressão parece melhor.
Não respondi. Me aconcheguei na almofada e o encarei com atenção.
— O que veio fazer aqui, Henrique?
Ele também não me respondeu, não de imediato. Serviu-se de uma xícara
de café e pegou duas bolachas, antes de se sentar na poltrona na minha frente.
— Estive pensando sobre a ideia de nos casar — comentou.
— Pensei que já tivéssemos resolvidos isto no início da semana —
interpus.
Fui completamente ignorada enquanto ele tomava o café com
despreocupação e engolia as bolachas com uma facilidade impressionante. Se
fosse eu, teria engasgado.
— Você se casaria comigo? — não era um pedido e sim um
questionamento.
Ergui uma sobrancelha. — De novo isto?
— Responda-me com sinceridade.
— Não estou tão desesperada, Henrique — repito as palavras de uma
conversa anterior.
— Eu me casaria com você — confessou ele deixando-me em choque.
— O que? — sabia que meus olhos estavam do tamanho de pratos.
Ele não se importou com a minha surpresa, deixou a xícara na mesinha de
centro e se ajoelhou ao meu lado.
— Eu não posso te prometer amor — disse sério. — Mas acredito que nós
dois conseguiríamos fazer esse matrimônio dar certo.
— E você acha que um casamento arranjado daria certo?
— Acho.
— E você me quer na sua cama e cuidando da empresa do seu pai.
— Sim — não hesitou em responder. — Temos tudo o que é preciso para
conseguir fazer que dê certo. Meu pai confia em você, então, eu não tenho
motivos para desconfiar.
Fiquei feliz pela confiança, mas sabia que isto não bastava.
— E quando essa paixão esfriar, quantos pares de chifres eu vou precisar
carregar?
— Jamais a trairia — garantiu muito sério.
Fiz uma cara de deboche que ele interpretou muito rápido.
— Eu não tocarei outra mulher enquanto estivermos casados — jurou.
— Enquanto estivermos casados? — questionei.
Ele acenou sério. — Eu não a forçaria a ficar comigo caso não fosse esse o
nosso desejo.
Por um momento acreditei que deveria dizer sim a ele, mas consegui
segurar aquela vontade súbita de me render. Seria muito bom ter alguém para
quebrar aquela solidão que estava cada vez mais intensa dentro da minha casa,
dentro de mim.
— Preciso pensar um pouco sobre isto — murmurei.
— Tudo bem.
Apesar de concordar não parecia disposto em se afastar.
— Não vai embora, não é? — perguntei.
— Não — riu de leve. — Vou te fazer companhia hoje.
— Eu não sou uma boa companhia — retruquei.
Ele me ignorou, fazendo-me erguer um pouquinho para que se sentasse e
depois colocar minha cabeça em seu colo.
— Hoje você está sendo muito melhor do que me lembro — comentou. —
Quieta e sem disposição para brigas.
Ri baixinho.
— Você adora brigar comigo — apontei.
— É verdade — concordou. — Por isto que vou me casar com você.
— Enlouqueceu de vez!
— É o que parece — riu. — Vamos ser loucos juntos.

Passei o dia na casa dela, não houve mais conversas longas como a que
tivemos sobre o casamento arranjado. Erin oscilava entre cochilos e pausas
para trocar a compressa quente. Ela não parecia nada bem, seus olhos estavam
fundos, mesmo com os cochilos, e sua pele pálida, mas ainda insistia que
ficaria bem.
Discutir sobre isto não era uma opção, então saí por um momento e
comprei chocolates e sorvete. A forma que ela reagiu parecia que tinha lhe
comprado joias, diamantes.
Fiquei surpreso em como parecia fácil estar em sua presença, mesmo que
na maior parte do tempo silenciosa. Enxergar por debaixo de suas muralhas
era impressionante e encantador. Consegui ver a mulher atrás da fera e isto me
lembrou de como seria bom estar casado com ela.
A paixão poderia sim esfriar e acabar em divorcio, mas seria bom enquanto
durasse. Tinha completa certeza disto.
— Sem traições — disse ela em um momento da tarde. — Um casamento
simples e um acordo pré-nupcial. Não iremos compartilhar nenhum bem, não
quero nada seu e não darei nada meu.
— Justo.
E era.
Ainda não entendia a necessidade do casamento em si, mas estava disposto
a arriscar. Sentia-me no controle da situação, principalmente pela falta de
emoções. Não existia a possibilidade de corações serem quebrados.
— Quando? — ela me perguntou antes que eu saísse da sua casa.
— Em duas semanas.
Era o máximo de tempo que aguentaria ficar longe dela. Também acredito
que daria um prazo para que ambos pensassem em desistir, ou seguir em
frente.
Loucura ou não, faríamos isto.

Na manhã seguinte, antes de subir as escadas que levavam ao meu batalhão


consegui ouvir as risadas masculinas vindas de lá.
— Imagino que todos os casos tenham sido resolvidos nas últimas vinte e
quatro horas — digo alto ao entrar na sala.
O silêncio que tomou o local foi um pouco intimidante, mas eu não me
deixava enganar.
— Só estamos cogitando se vamos ser convidados para o casamento —
respondeu Justin.
O barulho voltou com força total enquanto todos eles discutiam e
zombavam de mim.
— Caio — digo o procurando pela sala.
Ele era o único que sabia daquela noticia, além de Erin. O encontrei
encostado na porta do meu escritório com os braços cruzados esticando seu
terno chique.
— Seu cretino — acuso indo lhe dar um abraço.
Havia muito tempo que eu não o via, apesar de sempre estarmos
conversando por celular.
— Corri para ver se eu não perdia os votos — me provocou.
— Você é um fofoqueiro — acusei me afastando. — E não vou convidar
vocês — digo para minha equipe fazendo-os se calarem. — Folgados!
Protestos encheram o ambiente, mas eu não estava dando ouvidos a eles.
Repartir algumas ordens e coloquei todos de volta ao trabalho que eles
pareciam ter esquecido ter que fazer.
— Tem certeza de que vai se casar com ela? — Caio perguntou assim que
fechou a porta do meu escritório.
— Já falamos sobre isto ontem à noite.
— Parece muito pouco casar por causa de uma paixão.
— Não é só isto — retruquei. — Sem a promessa de amar, de ficar para
sempre e o principal, ela consegue cuidar dos negócios da família.
— Eu não me casaria por isto — retrucou.
— Você não se casaria por motivo nenhum — o corrigi.
Meu irmão sorriu confirmando.
— Acho que esses não são seus reais motivos... — disse Caio. — Para se
casar com ela.
Nos conhecíamos muito bem, era quase que impossível guardar um
segredo ou uma emoção um do outro. Me joguei na cadeira e balancei um
pouco, pensando no que deveria responder.
— Sinto que deveria fazer isto — confessei. — Papai nunca pede nada, a
não ser que nos casemos. Se ele acredita que Erin é a mulher certa para isto,
vou fazer acontecer.
— Se ele dissesse pra se casar com um homem, também faria isto? —
zombou.
— Deixa de ser ridículo — bufei. — Você me entendeu muito bem.
— Ele está com o coração fraco — disse me deixando confuso por um
mero segundo.
Até que entendi.
— Como você descobriu? — perguntei me endireitando.
— Eu tenho meus meios — Deu de ombros, evasivo.
Precisei me segurar para não ir atrás do meu pai naquele momento. Ele
estava doente e não tinha me contado nada a respeito. Duvido muito que faria
antes que já estivesse morrendo ou já enterrado. Homem teimoso. Os filhos
tinham a quem puxar.
— Por que ele não contou? — Caio perguntou mesmo que soubesse a
resposta.
— Esse é o motivo de me arrumar um casamento a essa altura do
campeonato — resmunguei esfregando a testa.
Uma dor de cabeça começou a se formar nas minhas têmporas.
— Não precisa se casar por causa disto — protestou Caio.
— Já tinha me decidido antes de saber que ele não estava bem.
Caio fez uma careta. — Estava desconfiado.
— Sim.
— Então se decidiu por isto.
— Eu não vou voltar atrás, Caio — afirmei. — Ela também já concordou.
— Bom, vamos ver quanto tempo esse matrimônio vai durar.
Eu não queria pensar em uma data de validade. Tudo dentro de mim dizia
que era a coisa certa a se fazer, eu queria me casar com ela desde o momento
que vi seus olhos se abrirem no hospital. Era insanidade, eu sabia disto, mas
me recusava a ouvir a razão.
Dentro de mim existia uma mistura louca de sentimentos que estava difícil
controlar. Paixão e possessividade brigavam para ver quem ganharia o
controle.
— Já que vai ficar aqui, vai trabalhar para mim — digo a Caio.
— Nem a pau — retrucou. — Eu não trabalho para você.
— Uma ligação e eu posso mudar isto — o provoquei.
— Você não tem todo esse poder que acredita que têm — riu. — Mas eu
posso trabalhar com você — enfatizou corrigindo-me.
— Eu ainda sou o comandante desta equipe.
— E meu irmão — completou sem levar a sério. — Nem mesmo tente me
dar ordens.
— Vamos ver — o provoquei.
Não havia dúvidas de que eu tinha enlouquecido. Concordar com um
casamento arranjado parecia o fundo do poço de uma mulher desesperada.
Pior... com um homem que eu conhecia tão pouco. Durante os dias que tinham
se passado, ele se esforçou para passarmos um tempo juntos. Apareceu
durante três almoços e me levou para jantar uma vez. Ah não pense que foi
tudo lindo, eu e Henrique tínhamos a necessidade de discordar um do outro
para manter uma conversa quente.
Foi interessante, sim. Porém, ainda sentia que um casamento daquela forma
não era a melhor opção. E mesmo assim, sentia-me forçada a prosseguir, pois
queria me casar com ele, apesar de não entender meus motivos reais.
E nem precisei de muito tempo para que soubesse o tamanho do erro que
estava cometendo. No final da semana seguinte, depois de iniciar meu dia de
trabalho, fui alertada pelos gritinhos de felicidade de Rico... do lado de fora da
minha porta.
Ele ainda não tinha se acostumado com Taylor, era sempre um show a
parte, que causava muitas gargalhadas, e às vezes me deixava louca por
precisar intervir. Meu segurança ficava do lado de fora na sala de espera, na
maioria das vezes contra a minha porta. O que fazia dele um bom alvo de
Rico.
— O que... — calei quando abri a porta. —... está acontecendo aqui?
Dois homens, gigantes, guardavam minha porta. Eram tão grandes que eu
mal conseguia ver do outro lado.
— Senhorita — me cumprimentaram como se me conhecessem.
Abriram espaço para que eu passasse e do outro lado estava Taylor com
uma expressão de poucos amigos e Rico parecendo preste a desmaiar de
felicidade.
— Quem são vocês?
— O comandante Voithe nos encaminhou para ajudar na sua segurança —
informou o gigante número um.
— Eu estava pronto para ser revistado — anunciou Rico. — Todinho!
— Temos ordens de revistar qualquer pessoa que tente entrar em contato
com a senhorita — disse o gigante número dois.
Encarei Taylor. — Diga-me que isto é uma brincadeira.
Ele cruzou os braços forçando seu terno ao limite e aprofundou sua
carranca.
— Bem que eu queria — resmungou. — Henrique mandou mais que esses
dois — informou. — Eles estão controlando toda a segurança do prédio.
— Não está falando sério — protestei.
— Mais do que gostaria — confirmou emburrado.
Sentia meu sangue tão quente no corpo que poderia entrar em combustão.
Quem aquele idiota pensa que é? Pior, quem o deu tamanha liberdade? Eu
com certeza não fui e sem dúvidas iria matá-lo.
— Me dê um minuto — digo a Taylor.
Voltei no escritório para pegar minha bolsa e o celular que estava em cima
da mesa. Passei pelos brutamontes na porta e quando eles deram um passo na
minha direção, fiquei ainda mais irritada.
— Não se atrevam a me seguir — rosnei.
— Eles podem me seguir quando e como quiserem — Rico disse rindo. —
Não tenho nada contra algemas também. — Bateu as palmas, animado com a
possibilidade.
— Você cuide da minha agenda e se comporte — ordenei a Rico. — Vamos
Taylor.
Marchei para fora pronta para enfrentar uma guerra. Eu não permitiria que
Henrique tentasse me controlar. Entrei no carro batendo a porta e Taylor
tomou seu lugar atrás do volante.
— Para onde estamos indo? — perguntou ele.
Eu tinha a sensação de que ele sabia, mas ainda assim preferia confirmar.
— Para o batalhão — ordenei irritadíssima. — Para o exato lugar que
aquele maluco está.
Eu iria esmagar as bolas daquele homem sem a menor dó ou piedade. Essa
era a primeira e última vez que ele interferia na minha vida. Casar com ele não
significava que eu permitiria tal loucura.
O caminho até o batalhão foi surpreendentemente curto, eu não tinha
imaginado que era tão perto. Nem vinte minutos tinha se passado e estávamos
estacionando na porta. Desci sem esperar por Taylor, mas vi que logo atrás
estavam os dois homens que Henrique havia mandado para o meu escritório.
Vê-los só agitou ainda mais meu sangue borbulhante.
Apontaram a direção que eu deveria seguir, subi dois lances de escadas e
um deles me passou para digitar o código de segurança da porta. Atravessei
aquele lugar com os ouvidos pulsando.
Percebi que a sala de entrada estava cheia de mesas de trabalho e todos da
equipe de Henrique jaziam ali. O silêncio que atingiu o lugar foi muito
satisfatório. Tudo o que podiam ouvir era o barulho que meu salto fazia
quando tocava o chão. O maldito comandante estava de costas colando uma
foto em um painel que eu não dei muita atenção depois de ver uma imagem de
uma pessoa morta.
Henrique se virou lentamente percebendo que o clima na sua sala tinha
mudado. Imagino que o som do meu salto o alertou muito bem que estava com
grandes problemas.
— Erin...
— Quem você pensa que é? — rosnei furiosa.
— Seu futuro marido e comandante desta unidade.
Eu quase podia ouvir ele exigindo respeito na frente dos seus homens. Mas
eu não faria isto, não quando ele tentou tirar a minha autoridade dentro da
minha própria empresa.
— Você comanda essa equipe — apontei cegamente para as pessoas atrás
de mim. — Não manda em mim. Não manda no meu trabalho. E até onde me
lembro, ainda não é meu marido — sabia que estava gritando e que deveria
me controlar, mas eu não me importava.
— Erin — era um claro tom de aviso.
O que me irritou um pouco mais.
— Vamos conversar no meu escritório.
Dei alguns passos para mais perto dele. — Agora você quer conversar?
— Deixa de ser teimosa, mulher.
Apontei um dedo em riste bem no seu rosto. — Você não viu nada ainda!
Fique longe da minha empresa e não se atreva, nunca mais, a interferir em
coisas que não tem o direito.
Fui surpreendida quando ele me puxou e me beijou. Não retribui. Sua
atitude de macho alfa somente ajudou a inflamar um pouco mais minha fúria.
Soltei-me dele e antes que pensasse no que estava fazendo meu punho
chocou contra o seu rosto.
— Nunca mais faça isto — rosnei e me virei para ir embora.
O mundo virou de cabeça para baixo no segundo seguinte. Henrique havia
me jogado em seu ombro como se eu fosse um maldito saco de batatas.
— Vamos conversar! — afirmou ele puto da vida.
— Coloque-me no chão agora mesmo, seu brutamonte!
Ele se virou para sua equipe, que não escondiam a diversão de assistirem
aquela cena e disse:
— Continuem sem mim, vou amansar essa fera.
— Fera? — praguejei. — Você não viu nada comandante. Vou te mostrar a
verdadeira onça que existe dentro de mim.
Bastou alguns passos para entrarmos em seu escritório. O ouvi fechando a
porta com o pé e depois me jogou em um sofá velho no canto da sala.
— Você vem até aqui, grita comigo e ainda me dá um soco na cara... na
frente de toda minha equipe. — Era fácil ver que ele estava tão irritado quanto
eu. — Ficou louca?
Levantei soltando um riso amargo.
— Fiquei! — exclamei. — No momento que aceitei me casar com você.
— O que...
— Acha que vai poder controlar minha vida? — questionei. — Acredita
mesmo que só precisa dar uma ordem que eu seguirei como seu cachorrinho?
— Sei que te ofendi, mas não tive tempo de explicar...
— Fique longe de mim — ordenei. — Nosso acordo acaba aqui.
— Calma, Erin.
Desdenhei dele. — Calma?
— Sim, vamos conversar.
— Você perdeu a chance no momento que mandou aqueles gigantes
controlarem minha empresa.
— Eu não mandei isto — protestou.
— Não? E por acaso eles não estavam revistando quem entrava e nem
tomaram o controle da segurança do prédio?
— Falando assim...
Tentei passar por ele para ir embora, mas entrou no meu caminho.
— Não vai dar certo, Henrique — digo puxando uma respiração profunda.
— Não posso casar com um homem como você.
— Um homem como eu?
— Sim, exigente, possessivo — acenei. — Esse relacionamento acabaria
abusivo.
Vi parte do seu rosto ficando pálido, só aonde tinha socado seu rosto na
bochecha estava avermelhado.
— Eu nunca feriria você — afirmou ofendido.
— Um relacionamento abusivo não está voltado somente para violência,
sabe disto.
Eu me negava a acreditar que ele não entendia.
— Desculpe.
Parecia sincero, mas não era suficiente para mim.
— Tudo bem, vamos cada um seguir seu caminho.
— Erin. — Fechou os olhos. — Não desista ainda.
Voltou a me encarar.
— Por que mandou aqueles homens para o meu escritório? — perguntei
tomando um pouco do controle de volta.
— Apreendi um homem essa semana, envolvido em tráfico de mulheres e
alguns assassinatos — contou. — Depois de interrogá-lo percebi que existe
alguém maior do que ele, e ainda está solto. Um primo. Fiquei preocupado de
que a notícia do nosso eminente casamento já tivesse vazado e você se
tornasse um alvo.
Eu percebi que tinha mais informações ali que ele não estava me contando.
Queria exigir toda a verdade, mas entendia que existia uma confidencialidade
extrema no seu trabalho.
— Henrique — suspirei. — Não dá para resolver uma questão assim sem
me informar.
— Eu sei... só não tive tempo de conversar com você.
— Taylor é o responsável por minha segurança — afirmei. — Se existe
alguma situação que deve ser tratada, ele precisa ser informado. Não passar
por cima da autoridade que dei a ele.
— Sei que foi errado.
— Sabe mesmo? — questionei. — Eu não tenho muita experiência em
relacionamentos, mas acredito que perguntar é muito melhor do que ordenar.
— Você não aceitaria uma ordem tão fácil — sorriu.

— Só agora que percebeu? — o provoquei.


— Desculpe mesmo, Erin. Estou atolado em trabalho — apontou para a
pilha de pastas em sua mesa. — E não dormi muito nos últimos dois dias. Sei
que não justifica minha atitude, apesar de que eu só queria te proteger.
— Não é assim que as coisas funcionam.
— Mas eu também devo apontar que entrar aqui e gritar comigo não é a
maneira certa de agir.
Cruzei os braços. — Era o que você merecia.
— Justo — riu. — Trégua?
— Sim, mas não acontecerá nenhum casamento.
Era importante apontar isto, pois estava muito claro que não daria certo.
Apesar de faltar somente alguns dias e que algumas pessoas já haviam sido
convidadas, eu preferia cancelar a seguir com aquele plano.
Henrique se moveu lentamente, ficando mais perto e foi suave ao erguer a
mão. Ele sabia que qualquer exigência não seria bem-vinda. Depois de me
roubar um beijo do lado de fora e receber um soco em troca, ele estava sendo
cauteloso.
O toque no meu rosto foi carinhoso, deslizando suavemente por minha
bochecha e encaixando em meus cabelos.
— Me dê mais uma chance — pediu baixo. — Sou um idiota, mas um que
aprende rápido.
— Henrique — suspirei. — Isto é um erro.
Sua testa tocou a minha e depois roçou seu nariz no meu.
— Muito provavelmente.
Fiquei feliz que ele não estivesse negando.
— E ainda assim quero me casar com você.
Estremeci com a intensidade de suas palavras. — Um casamento arranjado.
— Sim, por nós dois.
Não era exatamente a verdade. Seu pai tinha planejado aquilo e não hesitou
em trabalhar na causa. Foram várias conversas comigo e eu imagino que
Joseph havia feito a mesma coisa com o filho.
— Você nem gosta de mim — murmurei.
Seus lábios estavam tão pertos dos meus que estava ficando difícil me
concentrar.
— Está enganada — sussurrou. — Eu gosto de você. Muito.
Então ele me beijou e não existia a menor possibilidade de resistir. Sua
boca era quente e extremamente convidativa. Abracei seus ombros largos e
meus dedos puxaram seus cabelos curtos, trazendo-os para mais perto.
Fundindo nossos lábios e aprofundando o beijo.
Suas mãos, sempre tão ousadas e decididas, apertaram em minha bunda
antes de erguer minhas pernas para seu quadril. Aquilo era loucura, eu sabia
muito bem disto, mas era a loucura mais deliciosa que já tinha cometido.
Minha saia lápis tentou barrar nossa proximidade por ser tão justa, mas isto
não estava impedindo Henrique. Ele deu dois passos e então eu estava sendo
colocada em cima de sua mesa cheia de arquivos. Ele empurrou o máximo do
tecido que conseguiu para cima antes de sua mão encontrar minha pele nua.
— Sem calcinha? — Ele pareceu chocado.
— Marca a saia — respondi ofegante com a sua exploração.
— Você marchou por todo o batalhão, brigou comigo e socou minha cara
na frente da equipe, nua por baixo desta saia tentadora? — Parecia chocado,
divertido e muito excitado.
Seu polegar circulou meu clitóris. — Sim.
— Brigar comigo a excita, não é mesmo? — murmurou contra minha boca
antes de deslizar os lábios por meu queixo e pescoço até meu ouvido. — Fica
molhada enquanto grita comigo — afirmou. — Isto me deixa ansioso para
irritá-la.
Um de seus dedos escorregou com facilidade para dentro de mim fazendo-
me estremecer com um desejo quase insano que eu nunca experimentei antes.
— Henrique — gemi seu nome.
— Sim, querida, estou bem aqui — murmurou.
— Você está tentando me enlouquecer — consegui dizer com certo esforço.
— Não — riu baixinho. — Isto é o que você faz comigo.
Sua boca voltou a assaltar a minha enquanto seus dedos trabalhavam
intimamente em mim. A mistura dos seus beijos e toques derreteu todas as
minhas barreiras, levando-me a borda para voar em um prazer que me deixaria
bamba por dias.
— Diga-me — sussurrou ele.
— O que?
— Que ainda vai se casar comigo.
Aquilo deveria colocar o fim na forma que meu corpo estava relaxado, pois
era coerente afirmar que isto não iria acontecer. No entanto, quando abri a
boca para responder não foi exatamente isto que eu disse.
— Sim — ofeguei com o afastar de seus dedos. — Vou me casar com você.
Revirei os olhos ao perceber em como ele parecia satisfeito consigo
mesmo. Fechei meus dedos em seus cabelos com mais força, fazendo com que
a picada tirasse aquele sorriso dele.
— Vou me casar com você porque algo dentro de mim me diz para fazer —
afirmei. — Não pelo o que acabou de acontecer.
— Não aconteceu quase nada, meu bem — afirmou com presunção.
— Henrique — o repreendi. — Se tentar me controlar, uma única vez, eu
vou colocar quilômetros de distância entre a gente. Sou dona de mim mesma,
isto não vai mudar só porque levarei seu sobrenome.
— Vou tentar me comportar.
— Isto não parece suficiente.
Ele segurou meu rosto com carinho. — Vou me esforçar para dar o melhor
de mim.
— Melhorou um pouco — sussurrei.
— Você sempre vai ser dona de si mesma — garantiu me fazendo sorrir.
— Bom.
O beijei suavemente antes de descer da mesa. Ajeitei minhas roupas sem a
menor pressa e arrumei meu cabelo. Não daria o braço a torcer de que ele
tinha conseguido me acalmar para toda sua equipe ver.
— Vai aceitar meus homens no seu prédio?
O encarei com uma sobrancelha erguida. — Não.
— Erin — bufou com impaciente. — É importante melhorar sua segurança.
— Entendi isto — aceno e resgato minha bolsa de onde tinha caído. —
Mas não será assim que vai acontecer.
— E como será? — ignorei a afronta na sua voz.
— Como deveria ter sido — retruquei. — Taylor cuidará disto.
— Erin...
— Acha que ele é incapaz de fazer o trabalho? — questionei.
— Não.
— Bom, eu conheço as referências dele e imagino que você tenha ciência
de suas capacidades — digo calma. — Você diz a ele qual o nível de
segurança que precisa ser implantado na minha empresa e na minha casa, e ele
fará isto sem nenhuma objeção da minha parte. — Caminhei até a porta e abri
lentamente. — Não é porque você quer uma coisa, que vai conseguir dando
ordens. Eu trabalho com negociações, Voithe, não em um comando cego.
Foi prazeroso ver sua expressão, ele estava pasmo, acredito que até sem
palavras para argumentar comigo e isto me deu a deixa que precisava para ir
embora. Do lado de fora, sua equipe trabalhava sem parar. Alguns ao telefone,
outros discutindo baixinho e outros envolvidos com documentos.
Uma única pessoa parecia esperar por mim. Sentado em uma mesa e com
um olhar despreocupado, o reconheci rapidamente como o irmão de Henrique.
— Olá, dona onça — sorriu.
— Parece que os Voithe estão muito a fim de levar um soco hoje —
retruquei.
Ele pareceu ainda mais animado. — É um prazer conhecê-la, Erin.
Apertei sua mão quando ele ofereceu a dele.
— Estou de saída — anunciei. — Mantenha seu irmão longe de problemas.

— Isto seria longe do seu caminho?


Sorri. — Homem inteligente.
De uma coisa era certa, eu ainda teria pesadelos com o barulho daqueles
saltos. Apesar de serem incrivelmente sensuais, tinham uma capacidade de
esmagar bolas sem a menor piedade.
Assumo que foi uma atitude errada ter enviado uma equipe para fortalecer
a segurança dela sem antes ter conversado ou avisado sobre isto. Era comum
para mim dar ordens sem hesitar e agora, via que não seria assim com Erin.
Precisava mudar meu comportamento. Era um fato que não havia motivos
para negar. Me preocupava ela pensar que se eu não mudasse acabaríamos em
um relacionamento abusivo. Pensando bem, já estava sendo assim com as
ordens e provocações.
Um pouco de paz cairia bem, para ambos.
Por isto, eu insistia em levá-la para almoçar algumas vezes durante a
semana e prometia a mim mesmo fazer isto depois do casamento. No entanto,
nunca um encontro com ela era algo simples. Não havia tempo para um
restaurante e Erin me surpreendeu ao sugerir um lanche rápido já que ambos
tínhamos que correr de volta ao trabalho.
Vê-la escolher o grande hambúrguer foi uma nova surpresa muito bem-
vinda. Odiava sair com mulheres que tinham medo de comer. Erin não era
assim. Ela não hesitava em pedir um prato cheio em um restaurante ou como
agora, fazer uma refeição rápida em uma lanchonete.
E em um momento enquanto esperávamos percebi que estava falando
sozinho. Ela não estava me dando atenção. Segui seu olhar e vi um garoto de
rua conversando com uma das atendentes. Não parecia uma boa conversa, a
mulher estava claramente enxotando o menino.
Erin se levantou tão rápido que nem consegui perguntar o que ela iria fazer.
Dois pratos foram colocados na mesa, mas não chamaram minha atenção.
Estava curioso demais para saber o que ela faria.
Sorri ao vê-la entrar protetoramente na frente do menino e enfrentar a
funcionária da lanchonete com o queixo erguido. Não consegui ouvir o que ela
dizia, mas suas palavras pareciam ter a eficácia de uma lâmina afiada.
No minuto seguinte, Erin estava levando o garoto para nossa mesa. Os
olhos dele brilharam de fome ao ver os lanches, foi aí que o reconheci.
— Como vai David?
O susto que tomou foi evidente. Estava tão focado em encontrar comida
que não tinha me visto antes.
— Comandante. — Tinha os olhos arregalados.
Erin o cutucou para que se sentasse.
— Vocês se conhecem? — questionou ela. — Coma — ordenou ao
menino.
David tinha se sentado, mas me olhava com medo de se mover. Eu o
conhecia das ruas, algumas vezes foi até um bom informante. Seus pais
trabalhavam duro e ganhavam pouco, por isto ele vivia na rua tentando
encontrar qualquer coisa que pudesse ajudar em casa.
Inclinei para frente — Fez algo errado David?
— Henrique! — Erin exclamou chocada.
— Não senhor — respondeu nervoso.
— Bom — sorri. — Então, coma.
Ele pareceu aliviado, como se tivesse passado no teste e atacou o lanche.
Erin me olhou procurando por respostas, mas eu só dei de ombros. Depois
poderíamos conversar a respeito, agora não era hora.
Ela perguntou a ele quantas pessoas tinha em casa e depois fez outro
pedido, um bem grande que alimentaria um batalhão. Enquanto conversava,
dei o meu lanche para ela e aguardei o próximo.
Quarenta minutos depois, Erin o colocou em um táxi já pago e o mandou
direito para a casa.
— O que disse a ele? — perguntei enquanto levava ela até o carro.
— Que não deve se envergonhar de ser negro e pobre — contou séria. —
Pedir ajuda não é motivo de vergonha, agir como aquela garçonete sim. Que
além de maldosa, foi preconceituosa. — Um vinco se formou entre suas
bonitas sobrancelhas. — Odeio quando julgam as pessoas pela cor de pele.
— E ele estava pedindo, não roubando — digo.
— Sim, de onde o conhece? — Me olhou com curiosidade.
— Das ruas — respondi. — É um bom garoto.
— Depois vou mandá-lo para escola — prometeu. — E um emprego
melhor para os pais...
Enquanto ela falava de seus planos para o menino e sobre as instituições de
caridade que ajudava, eu soube que meu pai estava certo em sugerir que Erin
fosse a mulher certa para mim.
Poderia não ser para sempre, mas faria valer a pena.
— Colocando fogo na cozinha futura esposa?
Assustei com a voz de Henrique ecoando na minha cozinha.
— O cheiro está bom — disse Caio invadindo o local.
— O que fazem aqui? — perguntei os abraçando.
— Meus filhos esquecerem a educação que eu trabalhei tanto para ensiná-
los — respondeu Joseph.
Sua visita também era tão inesperada quanto à de seus filhos.
— Que surpresa boa vê-los aqui — Beijei as bochechas dele com carinho.
— Sejam bem-vindos.
— Eu disse que ela não ia se importar de aparecermos sem ligar — disse
Henrique.
— Ainda bem que viemos, o que está cozinhando? — Caio perguntou
ansioso. — Estou sempre com fome.
— Me desculpe por isto — Joseph disse enquanto olhava feio para
Henrique e Caio.
Sorri — Não se preocupe.
Eu tinha acabado de preparar molho para hot-dog. Gostava de comer em
casa, pois achava os de carrinhos nas ruas muito sem graça. Adorava muito
molho, as salsichas picadinhas, queijo ralado e ketchup.
Donna e Taylor se juntou a gente para o lanche da noite, Taylor ficou
surpreso quando me viu cozinhando, mas não durou muito. Principalmente
quanto conseguiu seu próprio hot-dog.
Aproveitamos o momento, inesperado, para falar das medidas de segurança
que foram implantadas no meu prédio de trabalho e também na casa. Aquele
era um assunto chato, mas que claramente quase todos os homens na minha
cozinha, tirando Joseph, entendiam muito bem.
Depois veio às provocações, Joseph estava muito satisfeito com tudo o que
ouviu sobre minhas discussões com Henrique. Claro que o foco era a da
delegacia, algo que eles pareciam muito dispostos a não nos deixar esquecer.
Henrique não parecia nenhum pouco preocupado com as brincadeiras, até
colaborou aumentando um pouco a história. Donna pareceu chocada com o
que eu tinha feito, mas concordou comigo depois de ver como ele tinha sido
controlador e abusado.
O tempo passou rápido e quase todos foram embora. Henrique fez questão
de ficar um pouco mais e me ajudar com a cozinha, já que eu havia mandado
Donna descansar. Ela teve um dia longo cuidando da equipe semanal que
limpa toda a casa. Aquela não era uma tarefa fácil, mas que ela tirava de letra.
— Por que está pálida? — perguntou Henrique forçando-me a sair do
pequeno choque que tinha sofrido.
Não estava acostumada a ver armas. Não me lembrava muito do momento
que o conheci na rua e depois no hospital, eu não vi nenhuma arma. Até
mesmo no batalhão, quando invadi para colocá-lo em seu lugar, não tinha
avistado a arma de fogo.
E agora eu tinha uma visão completa dela presa na sua cintura, depois que
tirou a jaqueta.
— Erin?
— Ah — suspirei. — Desculpe, armas me assustam.
Já assustavam antes de ser pega aleatoriamente na rua de refém, agora, me
davam até calafrios. E até pesadelos. Algumas noites ainda eram difíceis com
flashes daquele momento na rua.
— Deus! — exclamou ele. — Eu que peço desculpas. — Se aproximou. —
Deveria ter deixado no carro ou não ter me livrado da jaqueta.
— Tudo bem — resmunguei me encostando ao balcão.
— Sabe que é algo que verá frequentemente se casando comigo, não é?
— Sim. — Eu sabia. — Só me trás lembranças ruins.
Henrique segurou meu rosto com carinho e beijou minha testa.
— Armas são perigosas — afirmou ao se afastar. — Mas também oferece
proteção.
— Principalmente no seu trabalho. — Complete.
— Exatamente — acenou. — Vai sempre encontrar uma presa ao meu
corpo... ou mais de uma. Prometo sempre ter o cuidado para que isto não
machuque a você acidentalmente.
— Eu sei... só me assustou.
Sabia que teria que me adaptar àquele detalhe que não era nenhum pouco
pequeno, mas fazia parte de quem ele era.
— Vamos falar de outra coisa — pedi.
— De que quer falar? — prendeu-me contra o balcão.
— Sobre como será o meu trabalho depois do casamento.
— O que quer dizer com isto? — franziu a testa confuso.
— Não está sabendo? — questionei e ao receber um olhar estranho vi que
ele não tinha noção. — Seu pai irá se aposentar assim que nos casarmos.
— O que? — Pareceu chocado e se afastou dois passos. — Ele não falou
nada.
— Conversou comigo esta semana sobre isto — contei. — Eu não posso
trabalhar nas duas empresas ao mesmo tempo, você terá que me ajudar.
— Não tenho tempo — retrucou. — Como vou procurar bandidos e cuidar
dos negócios da família ao mesmo tempo?
— Eu não sei. — Dei de ombros. — Mas terá que fazer funcionar.
— Erin, não existe essa possibilidade...
— Realmente — Comecei a perder um pouco da paciência. — Posso
gerenciar e controlar, mas não terei tempo para tudo. Precisamos encontrar um
ponto de equilíbrio para isto.
Ele pareceu pronto para discutir, mas algo o fez se calar. Tentei não
acreditar que foi fácil demais convencê-lo daquilo, mas foi impossível. O que
acabou me instigando a continuar aquela conversa. A tentar achar um meio
termo que fosse tranquilo para os dois concordarem.
Henrique não me contou o que o fez não discutir comigo, mas prometeu
dividir seu tempo alguns dias na semana para cuidar da empresa do pai. Ele
não parecia nenhum pouco feliz em assumir esse compromisso, porém, não
hesitou. O que foi um alívio, ou eu não poderia me casar com ele. Não quando
via que haveria muito mais por trás daquele casamento arranjado.
Era muito claro para mim que Joseph queria uma nora, mas ele também
estava em busca de alguém confiável para cuidar de seus empreendimentos.
Sabia que seus filhos eram capazes de fazer isto, embora nenhum dos dois
estivesse disposto a enfrentar o trabalho.
O assunto o deixou tenso, e com isto ele foi embora pouco depois de secar
o último copo. Não o impedi, Henrique tinha muito o que pensar e decidir.
Agora era a hora de saber se ele queria ou não dar prosseguimento com aquela
loucura que concordamos em fazer.

— Brigou com a gata selvagem de novo?


Encarei meu irmão parado na porta do meu escritório.
— Não.
— Então porque todo esse mau humor?
Acenei que entrasse.
Ele se jogou na cadeira sem a menor cerimônia enquanto me observava.
— Descobriu que ele irá se aposentar — afirmou me irritando.
— Já sabia?
— Eu sei de tudo — riu.
— Essa sua arrogância ainda vai mordê-lo na bunda, Caio.
Ele gargalhou. — Se ela vier com um belo par de pernas femininas e
sensuais, eu não vou me importar.
— Cretino, por que não me contou?
— Queria ver quando você iria descobrir — Deu de ombros.
Levou muito de mim ficar quieto e sentado, pois tudo o que mais desejava
era socar aquela cara presunçosa dele. Caio trabalhava como espião há muitos
anos, ele tinha uma força silenciosa e dificilmente escondiam algo dele.
— Por isto que voltou?
— Você vai precisar de ajuda.
Balancei a cabeça.
— Inacreditável — murmurei. — Às vezes eu queria que você conversasse
mais comigo, parece que tudo o que fala nunca é tudo.
— Nunca vai ser — acenou com despreocupação.
— Isto me irrita.
Ele riu.
— Você é o comandante da inteligência desta cidade — disse em um tom
leve de acusação.
— E você um maldito espião — retruquei. — Se sabe algo da minha futura
esposa, fale agora.
— Se eu soubesse, não estaria tão feliz no meu papel de padrinho.
Bufei. — Será um padrinho com um olho roxo.
— Bom, assim combina com sua mancha na bochecha — riu.
Revirei os olhos, sabia que aquela pequena mancha roxa do punho de Erin
iria me dar alguns dias de provocações.
— Vamos trabalhar.

No final do dia, eu estava exausto e dirigindo sem rumo beira mar. Era um
costume que me ajudava a relaxar depois de horas de trabalho intenso. E
aquele havia sido um turno longo, algumas pistas de um caso novo ainda não
estavam se encaixando. E alguns suspeitos de crimes anteriores não tinham
sido presos.
Minha cabeça estava cheia demais para aguentar. Também havia o fato de
que eu não tinha conversado com meu pai sobre sua aposentadoria, inesperada
por mim, e seu coração fraco. O que diabos aquilo significava? Ele precisava
de mais tranquilidade para viver por mais tempo ou ele já estava morrendo e
tentando arrumar as coisas?
Simplesmente não sabia.
Avistei um carro conhecido e parei logo atrás. Taylor estava encostado na
lateral olhando em direção ao mar. Os dias estavam frios, mas ali o clima era
mais intenso para ficar por muito tempo.
— Taylor?
Ele me deu um aceno e antes que pudesse questionar o que estava fazendo
ali, apontou para a areia. Erin estava sentada a certa distância com o que
parecia um violão. Ela sabia tocar? Wow! Aquilo era inesperado, mas não
surpreendente. Erin parecia com aquelas pessoas que sempre dava conta de
fazer tudo o que se propôs-se a aprender.
Inegavelmente eficiente.
— Ela gosta de parar aqui em dias ruins — explicou ele.
— E hoje foi desses dias — completei.
— Sim — murmurou. — Eu não sei se é o caminho certo um casamento
arranjado, mas talvez preencha esse vazio que ela sente. É uma mulher muito
sozinha.
Seu comentário me deu um pouco mais de determinação para seguir com o
plano. Seria bom para nós dois aquele casamento, pois ambos estávamos
sofrendo com a solidão.
— Vou falar com ela.
Aproximei devagar, ouvindo o som das cordas do violão espalhando-se ao
redor combinando com o murmuro suave de sua voz. Ela não cantava alto,
podia se dizer que ela cantarolava.
— Continue — pedi quando ela parou de cantar ao sentir minha presença.
Erin demorou um pouco para atender, mas logo seus dedos voltaram a
trabalhar nas cordas. Sentei ao seu lado em cima do tecido suave em que ela
estava e observei seus pés nus afundarem na areia branca.
Ao horizonte, o sol se punha deixando um bonito tom alaranjado no céu.
Respirei fundo e devagar, algo dentro de mim foi se acalmando e todo aquele
estresse do dia simplesmente desapareceu.
— Anda me seguindo, Voithe? — perguntou depois de um tempo.
— Não — respondi sem encará-la. — Estava passando e vi Taylor parado,
fiquei curioso.
— É uma vista impressionante, não é? — questionou admirando o pôr do
sol.
Olhei seu rosto de perfil, com raios solares fazendo seu cabelo brilhar em
diferentes tons loiros.
— Sim — Era impossível não concordar. — De tirar o fôlego — completei.
Ela girou o rosto e riu. — Estou falando da vista.
— Eu também — digo sério.
Não resisti a vontade de fazer um carinho em seu rosto e antes que pudesse
me controlar, estava a beijando. Não tinha aquela mesma pressa de quando
nos beijamos em meu escritório. Havia algo mais profundo que precisava ser
apreciado com delicadeza. Ela merecia isto. Eu também.
Por isto, provei suavemente seus lábios. Puxando o inferior com os meus
uma vez e beijando-a novamente, para então puxar com os dentes e encontrar
a abertura que procurava. Moldei sua boca enquanto minha língua buscava
pela sua. Senti seus dedos em meus cabelos, aproximando mais nossos rostos
e aprofundando o beijo.
Beijá-la era sempre memorável.
— Gosto da trégua — murmurei contra sua boca. — Muito.
— Acordo de paz? — sorriu.
— Achei que já tínhamos combinado isto.
— Sim, mas parece estar selando este acordo agora.
— Bom, vou garantir beijá-la muitas vezes.
Seus olhos brilharam. — Conto com isto.
— Esse não será um casamento monótono — brinquei.
— Nenhum pouco — concordou rindo.
Por uma questão meramente burocrática, adiamos o casamento por uma
semana. Não me importei, talvez aquele fosse um toque do destino para me
fazer pensar mais a respeito daquele matrimônio arranjado.
Usei esse tempo para conhecer melhor Henrique, não estávamos brigando
como no início. Alguma coisa havia mudado, mas era de uma forma muito
boa. Aquela trégua ajudou a acalmar meus nervos e com isto acabei
concordando com um final de semana na casa da família dele para um
casamento, que também era inesperado, apesar do casal namorar a anos.
Era um bom momento para sair da cidade, a imprensa tinha descoberto
nosso casamento e agora todos pareciam enlouquecidos por um novo furo.
— Vamos ficar dois dias — disse Henrique exasperado enquanto olhava
minhas três malas.
Franzi a testa confusa com aquele nervosismo dele.
— E?
— Parece que está indo por um mês — Apontou para as malas.
Coloquei as mãos na cintura. — Quer mesmo discutir o que levo em
minhas malas?
— Eu não faria isto — comentou Taylor passando por nós, com muita
tranquilidade empurrando sua única mala de mão.
— Ouça ele — impliquei. — E isto é somente o básico.
Seus olhos arregalaram como pratos. — Básico?
— Sério que quer continuar com essa besteira? — questionei impaciente.
— Se insistir é bom que eu fico em casa, ou fuja para o Caribe onde ninguém
me irrite pela quantidade de malas que levo.
Ele me encarou em silêncio antes de decidir pegar duas das malas sem
outra reclamação. Sorrindo e me sentindo vitoriosa, peguei a que faltava e
caminhei com calma para um dos carros que estava estacionado no pátio da
minha casa.
A viagem foi tranquila, apesar de algumas piadas sobre o que eu estava
carregando para um final de semana, feitas por Caio, Henrique e até mesmo
Taylor. Meu segurança, que soltou apenas alguns comentários, mostrou de que
lado estava.
A presença excessiva de testosterona era irritante e fez desejar que tivesse
mais mulheres ao redor.
Vontade que passou realmente rápido.
Só não mais do que a perua que estava nos aguardando na casa de Joseph.
Com um silicone pulando para fora do decote e um cabelão tão loiro que doía
os olhos de encarar, ela simplesmente pulou nos braços de Henrique e...
— Henri! — exclamou animada. — Como é bom vê-lo!
A mulher parecia um polvo agarrando-o enquanto ele tentava se livrar dela,
Caio não escondeu a alegria de não ser o alvo.
— Monique — disse exasperado ao conseguir se soltar.
Henrique correu para o meu lado e passou o braço pelos meus ombros.
— Essa é minha noiva, Erin.
Era impossível não ver que ele enfatizou as palavras de propósito.
— Noiva?
Achei que os olhos dela explodiriam junto com os silicones mal contidos.
— Sim — afirmou ele sorrindo inocente. — Nos casaremos na próxima
semana.
Ficou de boca aberta por um segundo. — Não acredito.
— É verdade — confirmou Joseph orgulhoso.
Foi aí que eu soube que aquele final de semana seria mais longo do que
imaginava.
— Você não pode se casar com essa... — Encarou-me com desdém. — Sem
sal.
— O que? — questionei ignorando a risada de Caio.
— Monique, não seja absurda! — Henrique a repreendeu.
A mulher parecia muito furiosa com alguém entrando em seu caminho. Era
claro que ela tinha planos de sedução para Henrique. Eu iria rir disto em outro
momento, mas agora só estava ficando irritada com aquela recepção
inesperada.
Eu só queria dois dias calmos, onde eu pudesse relaxar. O que parecia
muito longe da minha realidade agora.
— Não vê que... essa aí só quer seu dinheiro? — questionou afrontosa. —
Está somente se aproveitando de você — bufou. — Eu tentaria convencê-lo a
se casar comigo, teríamos muitos benefícios nisto!
— Wow! — Caio gargalhou. — Está tão requisitado, irmão.
— Cale a boca, se não vai ajudar. — Henrique ordenou ao irmão.
Dei um passo à frente e só não fui mais longe porque Henrique me
segurou.
— Não vim aqui para ser ofendida.
— Então vá embora — retrucou Monique.
— Erin é minha convidada e nora, você está passando dos limites Monique.
— Joseph interrompeu em um tom que só ouvi em reuniões de negociações
intensas.
— Vai permitir que eles se casem? — questionou. — É sua herança que
está em jogo, todo seu trabalho...
— Ah pelo amor de Deus, cale a boca! — exclamei irritada. — Estou com
fome, desejando um banho e sem paciência para loucas como você — afirmei.
— E antes que continue falando do meu interesse pelo dinheiro dele, deveria
pesquisar! Não preciso do dinheiro de ninguém — Apontei o dedo em riste na
direção dela. — Posso cuidar de mim mesma com meu faturamento milionário
e... — Ergui uma sobrancelha com deboche. — Vou me casar com ele sim!
Você não está convidada.
Caminhei para onde imaginei ser a sala e logo encontrei uma moça de
uniforme que me levou até meu quarto. Cheguei a pensar em ir embora,
porém, a ideia desapareceu rapidamente, me negava a dar por vencida.
Irritada, entrei no quarto pensando que Henrique fez muito pouco para me
defender. Ele poderia pelo menos ter me prevenido do que me aguardava
naquela casa. Teria recusado o convite sem pensar duas vezes, minha paz de
espírito valia muito mais do que qualquer besteira deste tipo.
Joguei a bolsa que ainda segurava na cama no exato momento que meu
celular começou a tocar.
— Qual o problema Rico? — questionei ao atender.
— Vish — disse ele do outro lado da linha. — Problemas no paraíso?
— Nada que meus saltos não possam esmagar.
— Adoro — riu. — Conte-me mais.
— Você ama uma fofoca, não é mesmo?
— E quem não? — retrucou. — Isto tem cheiro de rival.
— Rival? — gargalhei. — Não me rebaixei a tanto.
Parei na frente da janela feliz de que tinha uma boa vista do horizonte azul.
Conversei com Rico por mais um tempo sobre algumas questões de contratos
antes de nos despedir com a promessa de que eu contaria todos os detalhes
sobre a perua mais tarde.
— Pensei que nunca fosse desligar.
Tomei um susto com a voz de Henrique tão perto.
— Me assustou — acusei.
— Desculpe — cruzou os braços e o encontrei ao meu lado olhando para
fora da janela.
O ignorei. — O que faz aqui? Deveria estar lá embaixo acalmando a moça.
— Quis dizer perua? — Brincou.
Franzi o nariz infeliz de que ele estivesse ouvindo minha conversa.
— Estou sem paciência, Henri — zombei.
— Está com ciúmes? — riu.
— Daquela mulherzinha? — questionei impaciente. — Querido, se quiser
ficar com ela, não precisa hesitar — afirmei. — Já te disse antes e vou falar
novamente, eu não estou desesperada. Não preciso de homem nenhum. —
bufei. — E caso eu queira um, não preciso me humilhar para isto.
— Desculpe por tudo isto, foi um momento infeliz.
— Você acha? — ironizei. — Estava muito quieto vendo aquela mulher me
atacar.
— Erin...
— Se quiser, eu vou embora.
— O que? — franziu as sobrancelhas. — Claro que não!
Segurou-me em seus braços forçando-me a encará-lo.
— Não vai a nenhum lugar — afirmou. — Sinto muito por tudo isto. Eu
não imaginava que ela faria todo esse show desnecessário. Meu pai pediu que
Monique se retirasse e caso ela continue com essa besteira, não irá ser
recebida, nem mesmo, no casamento da minha prima.
— Não precisava ter expulsado a mulher, eu posso me defender.
— Eu sei que pode — sorriu. — Mas estamos aqui para nos divertir, não
ficar em um ninho de cobra.
Suspirei cedendo, pois sentia que ficar sobre o mesmo teto que aquela
mulher sugaria minha energia.
— E eu gritei com ela sim — contou ele. — Assim que saiu desfilando
maravilhosamente depois de anunciar seu faturamento milionário. Acho que
eu sou o único que vou me aproveitar nesse casamento. Além de linda é rica
— brincou.
— Você também é rico.
— Não — Balançou a cabeça. — Meu pai é.
— É a mesma coisa...
— Nem chega perto — retrucou. — Sou um funcionário do governo com
salário mediano e um plano de saúde bem meia boca.
Vi que ele estava me distraindo do foco e gostei, relaxei o corpo contra o
dele.
— Então o motivo atrás desse casamento arranjado é o seu interesse por
meu dinheiro — O provoquei.
— Exatamente — riu. — E vamos morar na sua casa — afirmou. — Pois
eu moro em um apartamento pequeno, com um bom sistema de segurança,
mas que não vê uma faxineira há... bem... não sei quanto tempo.
— Que horror!
— Qual parte?
— A falta da limpeza — respondi. — Gostaria mesmo de ficar na minha
casa.
— E o que mais você quer?
Encarei seus lábios. — Que você me beije.
— Isto pode ser arranjado.

Todo o estresse que senti minutos antes foi embora no exato instante que
segurei seu rosto e a beijei. Não tinha dúvidas de que ela tinha ficado
chateada, com toda razão para isto, mas agora minha maior preocupação era
mostrar que eu não estava interessado em Monique.
Claro que se Erin perguntasse se já fui para cama com Monique, não
poderia negar. Eu e toda a população masculina mais próxima. Ela não media
esforços para pegar o que queria e com isto, conseguia muito sexo e
benefícios daqueles mais bestas que caiam na sua conversa fiada.
Agora era passado, e não existia a menor possibilidade de que eu fosse
repetir aquele erro. E por mais impressionante que fosse para mim assumir
isto, todo meu interesse era para Erin. Claro que eu já havia me apaixonado
antes, mas nada que pudesse se comparar com as emoções que estava
experimentando agora.
Não era amor, sabia disto.
Aquela paixão estava me queimando. Não conseguia me afastar e estava
cada dia mais ansioso para chamá-la de esposa. Caímos sobre a cama e ela
soltou uma risadinha, gostava de a ouvir rir, mas estava tão excitado que não
conseguia parar agora para fazer o som se prolongar.
Deslizei minha boca por seu queixo, descendo pela sensual garganta
enquanto uma de minhas mãos esmagava seu volumoso seio. A risada deu
espaço para um gemido longo motivando-me a continuar...
A batida suave na porta dizia outra coisa.
— Só pode ser brincadeira — murmurei.
Ela riu. — Me deixe levantar.
— Não estou muito disposto a isto — respondi, mas a pessoa do lado de
fora bateu de novo na porta.
Balançando a cabeça, me ergui sabendo que era voto vencido naquela
situação. Ela tinha um sorriso bonito no rosto enquanto amarrava o cabelo em
um nó no alto da cabeça e ajeitava a roupa.
— Joseph — disse Erin ao abrir a porta. — Precisa de alguma coisa?
— Não, querida — respondeu meu pai. — Vim me desculpar.
— Não há necessidade...
— Aquilo foi imperdoável — Ele a interrompeu. — Você é minha
convidada e deve ser tratada com respeito. Eu não permito esse tipo de
loucura na minha casa. — Tinha um tom sério. — Monique não voltará a
incomodar você.
— Está tudo bem, Joseph — acenou ela pacientemente.
— Bom, também vim para convidá-la para o almoço — informou. — Não
deixe meu filho te atrasar, ele tem péssimos hábitos.
Dei uma risada mostrando que estava ali, mas não fui até a porta. Estava
muito excitado para sair do lugar por um tempo.
— Eu vou ensiná-lo bons modos — afirmou Erin com arrogância.
— Nunca duvidei — retrucou papai bem humorado.

Era o meu fim.


Simples assim.
Depois de uma tarde tranquila ao lado dela, eu não via a hora de estar
sozinho novamente com Erin. Seu vestido para o casamento seria o
responsável por sonhos e pesadelos por um longo tempo. O vermelho líquido
cobria suas curvas com perfeição. Abraçava os seios redondos como um
amante ciumento e revelava o vale entre eles com a fenda de um sensual
decote que quase chegava ao seu umbigo.
E quando ela se virava, sua pele clara estava em exposição para quem
quisesse olhar. Não havia tecido cobrindo suas costas, somente quando
chegava na curva de sua lombar e o tecido voltava a segurar suas curvas
sensuais com uma intensa provocação.
A noite tinha sido muito boa, apesar de que eu não conseguia afastar meus
olhos dela. Nem mesmo se tentasse. Minhas mãos continuavam indo em
direção a Erin cada vez que ela se afastava.
Bebemos juntos, dançamos e nos pegamos em alguns cantos escuros.
— Erin — chamei ao ouvir um som estranho vindo do banheiro do quarto
dela.
Sua risada chegou um segundo mais tarde e me deixou curioso para saber o
que é que ela estava aprontando. Bati suavemente na porta.
— Posso entrar?
— Me ajuda.
Sua voz saiu abafada.
Franzindo a testa, entrei e encontrei Erin presa no vestido. Ela havia
puxado tudo para cima deixando grande parte do corpo nu a vista e seus
braços estavam erguidos, mas não sairia daquela forma.
— Como conseguiu isto? — questionei rindo. — Nem pano direito tem
nesse vestido.
— Cale a boca — riu.
— Você bebeu demais — acusei divertido.
— Não o suficiente — afirmou perdendo um pouco do humor. — Me
ajude!
Puxei o tecido para baixo, cobrindo-a novamente. — Vou ensiná-la como
retirar um vestido.
— Sei — bufou.
Ela já havia retirado a maquiagem e desfeito o penteado, porém,
continuava linda.
— Primeiro você afasta as alças — digo ignorando-a. — Caso não tenha
nenhum zíper.
O olhar atrevido dela não se afastou do meu. Havia um desafio lá que me
mantinha preso.
— Por que não pensei nisto antes? — questionou em tom de zombaria.
— Porque você bebeu demais — Voltei a dizer.
O que me lembrava de que aquilo era motivo suficiente para deixá-la na
cama e ir para meu quarto.
— Está pensando em ir embora — afirmou me impressionando.
— Sim.
Deslizei as alças por seus braços e descobri seus seios.
— Mas não vai.
O vestido pendurou em sua cintura. — Vou.
— Então por que continua aqui?
— Parece que você é incapaz de se despir — murmurei encaixando os
polegares nas laterais, despindo-a por completo. — Também parece não ter
peças íntimas.
Eu já tinha visto que ela não usava calcinha no momento que entrei no
banheiro.
Ela riu. — Eu tenho lingeries.
— Só não usa.
Não era uma reclamação da minha parte.
— Somente quando necessário — afirmou despreocupada com a nudez. —
Tecidos finos ou justos demais sempre ficam marcados.
Limpei a garganta e dei um passo atrás. — O que quer vestir?
— Nada — afirmou erguendo uma sobrancelha. — Você me entendeu
errado, Henrique.
— Em qual parte? — Levou muito de mim para não baixar os olhos para
seus seios novamente.
Eu não era tão forte assim.
— Quando eu disse que você não ia embora — respondeu. — Era uma
afirmação, não uma pergunta.
— Erin.
— Você não vai embora — reafirmou. — Porque eu não vou deixar. —
Abraçou meu pescoço. — Também preciso te mostrar que sou capaz de
despir... você.
Meu coração deu um salto no peito. Precisávamos nos afastar ou
acabaríamos nus e suados na cama. Era um bom plano, mas não quando os
dois haviam ingerido mais álcool do que o recomendável para decisões.
— Consigo ouvir seu cérebro funcionando — brincou. — Estou levemente
embriagada, mas muito consciente do que quero, Henrique.
— E o que você quer, Erin? — Minha voz saiu mais rouca que o normal.
— Você — respondeu sem hesitar. — Nu. — Empurrou o terno para fora
dos meus ombros e o jogou no chão. — E também quero um banho, me sinto
suada. — Desfez o nó da minha gravata com eficiência antes de dispensá-la.
— E quero sua boca em mim.
— Onde? — murmurei.
— Em todos os lugares — exigiu.
Toda boa fé em sair sumiu, pois eu também queria minha boca sobre ela.
Ajudei desabotoando minha camisa e chutei os sapatos para o lado. Demorei
mais do que o desejado para ficar nu, mas assim que consegui a puxei pra
mim. Suas pernas enrolaram em meus quadris e enquanto atacava sua boca em
um beijo desesperado a levei para o chuveiro.
Aquele sim foi um banho quente, mesmo com a água morna. Não hesitei
em beijá-la em todos os lugares. As pontas duras de seus mamilos, eram como
deliciosas cerejas, ganharam muito de minha atenção e fui muito bem
recompensado com seus gemidos suaves.
Escorregar mais para baixo foi uma prova de malabarismo, no entanto, suas
pernas logo estavam abraçando meu pescoço deixando que meu rosto
afundasse na parte mais íntima do seu corpo. Seu sabor era algo inesquecível,
algo que eu nunca me cansaria. Ainda mais com o jeito impaciente de Erin ao
querer mais. Ela não era dócil, nem submissa, exigia o que queria sem
vergonha. Era uma mulher que conhecia muito bem suas necessidades e não
se constrangia por isto.
Perfeita para mim.
Chupá-la até o orgasmo foi um teste para ambos, pois eu me sentia pronto
para vir ali mesmo sem chegar nem perto de penetrá-la. Precisei segurá-la para
que não escorregasse pela parede do boxe.
— Henrique — suspirou trêmula.
— Oi.
— Você vai me matar se melhorar nisto — resmungou me fazendo rir.
Acho que foi mais uma risada de nervoso, foi bom, pois me forçou a reagir.
A ajudei descer do meu ombro, antes de me erguer.
— Cama? — sugeri.
— Não agora. — Se virou apoiando as mãos no vidro.
Quem morreria seria eu se ela continuasse a me provocar daquela forma.
Sentia-me até trêmulo vendo sua bunda nua inclinada daquela forma na minha
direção.
— E aí? — chamou minha atenção olhando por cima do ombro.
— Ah caralho.
Pulei do lado de fora do boxe e vasculhei minhas roupas no chão atrás de
um preservativo. Foi um milagre conseguir encontrar e colocar com as mãos
trêmulas daquele jeito, mas o universo estava me ajudando.
Voltei para ela, inclinando em suas costas. Afastando seus cabelos
molhados e beijando atrás de sua orelha enquanto deslizava para dentro dela.
Seu corpo quente e apertado levou-me a beira da loucura, o que também me
deixou tenso, pois sentia que se me move-se uma única vez iria gozar como
nunca antes.
Estava além do limite.
— Mova-se — ordenou com um tom estrangulado.
Não tinha como ser gentil, por mais que eu quisesse, e acredito que nem
mesmo ela desejava delicadeza naquele momento. O que era de grande alívio
para o momento.
— Agora!
Minha mão se fechou em seu cabelo, puxando sua cabeça para trás
enquanto invadia seu delicioso corpo com estocadas fortes. Cada vez que
entrava nela sentia que me apertava um pouco mais. Tão molhada e
convidativa. Seu corpo respondia ao meu com tanta facilidade que me
chocava. Era como se soubesse que me pertencia.
Agora ela me pertencia, não é mesmo?
Acordar de madrugada, sentindo um corpo quente e feminino ao meu lado
era algo muito bom. Principalmente por saber que poderia acariciá-la e tomá-
la para mim sem hesitação. Toques suaves para despertá-la. Beijos em pontos
estratégicos até ela começar a pedir por mais. Devidamente protegidos e então
eu estive dentro de Erin por boa parte da noite.

Imaginei que isto a deixaria cansada suficiente para que dormisse até tarde.
O que se provou totalmente errado, pois assim que eu acordei com os raios de
sol passando pela janela, encontrei a cama vazia.

— Mulher teimosa — resmunguei enfiando a cabeça debaixo do


travesseiro.

Ouvi meu celular vibrar em algum lugar e precisei de toda coragem para
levantar. Eu nunca ignorava uma ligação, sempre havia novidades importantes
no trabalho ou alguma emergência. Levei dez minutos ouvindo os relatórios
da minha equipe, mais cinco em um banho rápido e alguns outros minutos em
uma corrida até o meu quarto, que era na porta ao lado, para roupas limpas.

— Ei, estava te procurando.


Travei ao ouvir aquela voz assim que saí do quarto.

— O que caralho faz aqui, Monique?

— Vamos conversar — pediu.


— Oh não mesmo. — Dei um passo atrás. — Você é um poço de
encrencas!

— Não te vi reclamando anos atrás — retrucou impaciente.

— Também não me lembro de te fazer nenhuma promessa.

Minha resposta pareceu deixá-la sem palavras, o que era muito bom, pois
era o que eu precisava para dar o fora dali. A maluca agiu mais rápido do que
um raio, fingiu tropeçar e caiu em cima de mim. Sua boca veio direto contra a
minha. Fiquei tão pasmo que nem mesmo quando as unhas dela fincaram em
meu couro cabeludo, não reagi.

Olhei para baixo quando sua língua tentou invadir entre meus lábios.

O som de prataria caindo no chão foi o que me despertou, fazendo-me


reagir e empurrar aquela louca para longe rapidamente.

Erin estava parada no corredor com uma bandeja de café aos seus pés. Seu
rosto estava branco, sem nenhuma emoção. E seus olhos não tinha aquele
mesmo brilho de outono que eu tanto adorava admirar.
— Erin...

Ela ergueu uma mão — Não.

Dei um passo largo para não pisar nas coisas que derrubei e fiz uma linha
reta para o meu quarto. Fiquei aliviada por poder sair daquela situação
rapidamente. Fechei a porta sem fazer nenhum barulho e virei à chave para
mantê-lo do lado de fora.

Ele socou a madeira depois de tentar abri-la. — Erin!


Não respondi, encostei-me à parede ao lado enquanto lágrimas desciam por
meu rosto. Sentia-me burra demais para cair numa situação daquelas. Poderia
dizer que ele foi pego de surpresa, mas vi seus olhos fechados e suas mãos
agarradas na cintura dela.

As mesmas mãos que passaram a noite toda adorando meu corpo, a mesma
boca que sussurrou inúmeras promessas.

— Erin! — Bateu mais forte na porta.

Eu não pretendia conversar, não agora quando sentia que cada célula do
meu corpo tinha congelado.

Precisava de espaço. Ir embora era a melhor opção para o momento.


Peguei o celular do bolso de trás do meu short e digitei uma mensagem para
Taylor. Era hora de ir para casa.

Em vinte minutos eu tinha minhas malas prontas e nenhuma coragem de


passar pela porta. Henrique tinha batido por mais um tempo, pedindo para
entrar e uma chance de se explicar. Não era o momento. Estava tão fora de
mim que se ouvisse alguma explicação não seria capaz de agir de forma
racional.

O castelo que eu tinha construído, mostrou-se sem base. Estava desabando


de uma forma tão dolorosa que tornava respirar um sacrifício. Descobri que
toda aquela decepção que estava sentido, era porque havia me apaixonando
por ele.

Engoli em seco e obriguei meus olhos a não lacrimejarem. Eu não poderia


permitir que vissem o quanto eu estava frágil no momento. Então, coloquei
um vestido azul justo e impecável combinando com um par de sandálias de
salto, cuidei da maquiagem e escovei meus cabelos.
Do lado de fora, Henrique estava sentado no chão com um olhar pensativo
e Taylor alguns passos atrás com um rosto vazio de expressões.

Henrique pulou de pé quando me viu. — Erin, não vá, por favor.

— Preciso ir. — Limitei a responder.

— Vamos conversar — pediu. — Aquilo que viu... eu nunca faria isto com
você... Acredite em mim.

Engoli em seco. — Eu acredito, mas ainda preciso ir.

— Erin...

Senti as lágrimas teimosas encherem minhas pálpebras.


— Hoje não Henrique. — Coloquei os óculos escuros sobre o rosto e
acenei para Taylor. — Minhas malas estão prontas, espero você no carro.

Henrique chegou a entrar no meu caminho. Eu vi a luta em seus olhos, ele


queria insistir, mas também queria me dar à liberdade de ir. Quando ele deu
um passo para o lado, senti um alívio me invadir e passei por ele rapidamente.

— Erin?

Parei, mas não girei para encará-lo.

— Eu ainda a vejo no nosso casamento?

Ele veria?

Eu não tinha uma resposta. Por isto, não reagi de forma nenhuma. Somente
fui embora sem olhar para trás. Sabia que se pensasse nisto agora acabaria em
lágrimas. E como minha mãe sempre gostou de me lembrar: lágrimas não
levam a lugar nenhum, engula o choro e seja forte.

Era o que eu estava tentando fazer e me chocava por encontrar tanta


dificuldade em controlar aquela emoção.
Caio estava na sala com os pés em cima da mesa de centro totalmente
alheio ao mundo. Ele me jogou um sorriso cafajeste e voltou a folear o jornal
que estava lendo. Atravessei o lugar em linha reta, determinada a ir embora o
mais rápido possível. Porém, antes de alcançar a porta da frente, Joseph
passou por ela.

— Erin? — Vi a confusão em seu olhar.

— Joseph, preciso me desculpar, mas estou voltando para casa.


— O que aconteceu?

Levei um tempo para responder. — Eu não quero falar sobre isto agora.

— Você está bem? — Pareceu genuinamente preocupado.

— Vou ficar.
Ouvimos um barulho e quando me virei para olhar, era Taylor com minhas
malas. Henrique também estava junto, mas parou no alto da escada encarando-
me com uma expressão difícil de decifrar.

— Eu realmente preciso ir — enfatizei.

Joseph pareceu chateado, mas acenou concordando. Deu-me um abraço


gentil e um olhar pesaroso antes de se afastar. E mais uma vez naquele dia, saí
de um lugar sem olhar para trás para que ninguém visse o quão perto de
desabar eu estava.

Taylor nos levou direto para o aeroporto, pois era mais rápido do que uma
viagem de volta de carro. Ele não falou nada e como sempre, seu silêncio era
muito bem-vindo. Assim que desembarcamos, um dos novos seguranças da
minha empresa nos aguardavam com um veículo reserva. Taylor assumiu o
volante e me olhou pelo retrovisor.

— Posso ajudar em alguma coisa, Erin?


Limpei rapidamente a lágrima que havia escorrido por meu rosto.

— Só me leve para casa.

Estava encostado na varanda mais alta da casa olhando o horizonte. O sol


estava no alto e o calor um pouco além do que era considerado bom, mas nada
disto importava para mim. Eu queria correr até ela e implorar para que me
escutasse, mesmo sabendo que não tinha culpa nenhuma naquela merda que
tinha acontecido no corredor do nosso quarto.

Somente minha consciência limpa me impedia de fazer isto, ela afirmou


acreditar em mim, mas foi embora sem olhar para trás. Seus olhos estavam tão
opacos que me deixou preocupado, principalmente ao ver o brilho de
lágrimas. Aquele não era o brilho que eu adorava.

— O que você fez? — questionou Caio assim que pisou do meu lado.

— Nada.

— Eu não sei se sua noiva concorda com isto — retrucou.

Noiva.
Suspirei cansado. Ela não se casaria comigo. Sua falta de resposta era uma
afirmação de que isto não chegaria nem perto de acontecer. Estava tão
decepcionado com o desmoronar da felicidade que tinha experimentado.

Eu quero Erin. Ela é minha.

Iria ser minha esposa, mas agora...

Aquela mágoa em seu olhar partiu meu coração. Ou melhor... Eu parti o


coração dela.
— Monique estava na casa e me procurou — contei. — Ainda não sei
como ela teve coragem de voltar.

— Ela não estava proibida de entrar. — Caio deu de ombros. — E a casa


está cheia de convidados para que deem atenção para aquela maluca.

— Eu quase a arrastei para fora pelos cabelos.


— Iria arrancar os apliques — riu. — Já posso prever o tipo de drama que
rolou.

O mais engraçado é que Monique não fez nenhum escândalo, bastou um


olhar furioso meu para seu rosto perder a cor e ela correr para fora da
propriedade com medo de que eu a levasse para passar uma noite atrás das
grades. Era exatamente isto que imaginei fazer, seria uma punição muito bem
merecida por ela ser tão filha da puta.

— Não teve muito disto — digo mal-humorado. — Ela me beijou.

— Erin viu e interpretou que você estava sendo participativo nisto.


— Sim — suspirei. — Aquela mulher conseguiu acabar com tudo o que eu
construí com Erin.

— Ela vai te perdoar...

— Eu não sei — o interrompi. — Ela estava levando café da manhã para


mim, deixou a bandeja cair e ficou com o rosto tão limpo de emoções... A
decepcionei, Caio.

— Mas você não beijou Monique de propósito.

— Ainda era um beijo — retruquei. — O corpo dela estava grudado no


meu, porque caiu em cima de mim, sei que minhas mãos estavam nela... Erin
não gritou ou me bateu, ela simplesmente foi embora.
Meu irmão parecia impaciente. — Vá atrás dela.
— Eu não posso, não agora.

— E por que não?

— Ela não vai me ouvir — digo muito certo disto. — Precisa de espaço.
— Besteira, ela precisa é de ouvir a verdade e entender você. Sei que ela é
uma mulher muito coerente, só precisa ser sincero.

— Eu sou sincero.

— Mas não rápido suficiente. — Bateu na minha nuca. — Quando se trata


da mulher que será sua esposa, você precisa reagir rápido para protegê-la.

— O que...
— Você não a defendeu quando Monique a atacou — acusou. — E nem
agora.

— A louca pulou em mim!

— E você congelou — retrucou. — Deveria ter virado o rosto, empurrado


ela no mesmo instante.

Bom, Caio conseguiu pesar minha consciência.

A voz do nosso pai veio de trás. — Ele está certo.

— Vou ligar para ela.

Até que tentei, quinze vezes, na metade delas chegou a tocar, mas as outras
foram todas para a caixa de mensagem.
Não tinha um pingo de disposição para o trabalho, mas quando amanheceu
a segunda-feira eu acordei mais cedo do que o normal. Tomei um café forte e
fui para a empresa. Taylor me deu um único olhar avisando que tinha uma
visita inesperada na minha sala.

Assim como eu não tinha condições para trabalhar, não existia a menor
chance de usar o que me restava de forças para discutir. A noite tinha sido
longa. Chorei mais do que me sentia confortável em admitir e estava
realmente cansada.

— Por que o deixou entrar? — questionei.


Taylor tinha tomado controle de todo o prédio e se mostrado muito
eficiente, agora nada passava por ele facilmente.

— Adiantaria deixá-lo do lado de fora? — questionou sério.

Suspirei. — Provavelmente não.

Henrique era o tipo de homem que quando uma porta não abria, ele
simplesmente a derrubava. Tomei um pouquinho de coragem e entrei no
escritório. Ele estava sentado na minha cadeira e parecia tão cansado quanto
eu me sentia.
— Bom dia.

— E é um bom dia? — retruquei.

Ele se levantou. — Espero que sim, podemos conversar?

— E eu tenho outra opção? — questionei dando a volta nele para tomar


meu lugar.

Sentei e deixei a bolsa de lado, fui surpreendida quando Henrique girou


minha cadeira e se ajoelhou na minha frente.
— Sinto muito — disse baixo. — Eu sou um idiota.
— Concordo.

Um leve sorriso curvou na lateral de seus lábios.

— Eu não a beijei — afirmou. — Estava saindo do quarto quando Monique


apareceu e se jogou em cima de mim. É ridículo e clichê demais para
acreditar, mas foi o que aconteceu. — Segurou minhas mãos juntas. — Eu
nunca trairia você ou qualquer outra pessoa. Lealdade é algo que eu valorizo
muito.
— Henrique, sabe que vamos acabar destruindo um ao outro.

— Eu não acho.

Levou minha mão direita a sua bochecha, pedindo um carinho. Cedi


deslizando meus dedos por sua barba que hoje parecia mal cuidada.

— Há muitos anos eu não beijo uma mulher — confessou. — Levei muitas


para a cama, mas nada de beijos na boca. Acha mesmo que depois de beijar
você eu me rebaixaria a tanto?
— Por quê?

Eu queria entender aquela história melhor. A emoção que cruzou seu rosto
era algo que eu não consegui decifrar antes dele escondê-la.

— Isto é história para outro dia.

Pensei em insistir, mas acenei concordando. Já tínhamos coisas demais


para conversar, não seria eu a acrescentar mais peso a isto.

— Fiz amor com você à noite inteira, não seria assim se somente estivesse
interessado em usá-la. — Ele se ergueu, inclinando-se sobre minha cadeira. —
Eu não conseguia parar de beijá-la, Erin.
— Henrique...
Ele me calou com um beijo suave. — Sei que a magoei, apesar de nunca ter
tido essa intenção.

— Magoou.

— Me perdoe. — Segurou minha nuca. — Prometo que serei mais rápido


quando uma mulher tentar atacar a nós dois.
— Devia ter virado o rosto — acusei em um sussurro.

— Sim, sou um idiota.

— Achei que já tínhamos concordado com isto — o provoquei.

Ele roçou seu nariz no meu. — Estou perdoado?

— Sim.

— Por que sinto que tem um “mas” aí.

— Porque tem — respondi. — Se me magoar, eu não vou perdoá-lo. Não


existirão mais chances para nós dois.

— Posso lidar com isto — prometeu.

Desta vez, eu inclinei meu rosto para cima e o beijei lentamente. Senti que
a tensão o deixou quando ele retribuiu colocando mais intensidade no nosso
beijo. Fui puxada para cima e inclinada sobre a mesa, meu corpo respondeu
imediatamente e ele sabia disto.

— Bem que eu podia sentir o calor do lado de fora desta sala — A voz de
Rico chegou aos meus ouvidos.

Henrique se afastou um pouco com um estalo de nossos lábios. Ele parecia


tão surpreso quanto eu com a presença do meu amigo.

— Não julgo — continuou Rico. — Adoraria estar sendo queimado desta


forma também — suspirou.
— Rico — gemi frustrada.

Henrique me ajudou a sair da mesa se divertindo com a forma que minhas


bochechas esquentaram.

— Desculpe atrapalhar lindezas, mas se não chegar à reunião em alguns


minutos os clientes irão embora.
— Bater na porta costuma funcionar — O repreendi.

Ele fez uma cara de inocente que eu não acreditava nenhum pouco.

— Estava tão silencioso que imaginei que você tinha o estrangulado —


explicou apontando para Henrique.

— Veio em minha defesa então? — questionou Henrique rindo.


Rico pousou uma mão no peito de um jeito bem teatral. — Sempre, meu
Deus Grego foragido do Olímpio.

Balancei a cabeça incapaz de continuar com aquela conversa. — Vamos


todos trabalhar.

Tentei passar por Henrique, pois minha primeira reunião do dia era na sala
de conferências. No entanto, ele me segurou, dobrou meu corpo para trás e
atacou minha boca em um beijo possessivo. Rico soltou gritinhos animados e
falou alguma coisa sobre o santo protetor das calcinhas molhadas.

Quando consegui me livrar de ambos, fui para a reunião com a energia


renovada. Iríamos começar um projeto que ajudaria muitas pessoas a terem
acesso a uma casa. Eu estava ajudando a promover, organizar e reconstruir um
bairro. Muitos teriam paredes pintadas, telhados novos, acesso a áreas verdes
e parques para crianças. Creches e até mesmo uma escola aberta para todas as
fachas etárias.
Não era algo fácil de fazer, ainda mais quando se tinha tão poucos
patrocinadores com interesses reais. Pois a maioria só estava em busca de
prestígio e mídia, algo que eu não estava nenhum pouco disposta a oferecer.

Ajudar, é para quem não quer nada em troca.

Os quarenta e três convidados espalhados no meu jardim deixaram o frio na


minha barriga um pouco mais intenso. Tinha alguns amigos e a maioria era a
família de Henrique. Meus pais não estariam presentes, pois ainda estavam
“presos” em um cruzeiro. Não sei como me sentia a respeito, talvez um pouco
de alívio por não ter que lidar com eles e uma parcela de decepção. Mas eu
não estava muito a fim de pensar sobre isto, principalmente por acabar ficando
mais nervosa.

— Você está pronta?

Girei surpresa com a presença daquela voz. — Vovô?

— Achou que eu não viria em seu casamento?

Fiquei muito emocionada com aquela surpresa e o abracei forte.

— Que bom que veio — sussurrei.

— Eu não perderia isto por nada — garantiu. — Apesar de sermos poucos,


você ainda tem uma família.

— Confesso que duvido disto muitas vezes.

— Eu também — afirmou rindo. — Fico impressionado em como você é


bonita e talentosa.

A brincadeira ajudou a espantar as lágrimas que encheram meus olhos.


— Tive a quem puxar — retruquei.
— Está certa — concordou orgulhoso. — Agora me diga uma coisa. —
Segurou minha mão e me levou até a poltrona. — Está feliz.

Sentamos lado a lado.

— Sim.

— Devo colocar o noivo para correr?

Gargalhei. — Ele é teimoso demais para desistir fácil assim.

— Posso não ser tão presente, mas não hesitaria um único segundo para
defendê-la — garantiu.

Beijei sua bochecha. — Agradeço muito por isto, mas está tudo bem.
— Bom, então vamos — se levantou. — Por que o noivo estava muito
nervoso — riu. — Eu quis atrasá-la mais um pouquinho de propósito.
Minhas mãos nunca estiveram tão suadas antes. Apesar do clima ameno e
agradável, meu corpo parecia inclinado dentro de um vulcão. Confesso que
queria conseguir parar de andar de um lado para o outro. Erin estava vinte e
sete minutos atrasada e deixando meu coração batendo forte demais para
poder controlar.

Caio estava se divertindo com meu nervosismo, assim como minha equipe.
Nenhum deles escondia o sorriso ou as piadas de pura provocação. Ignorá-los
era a melhor coisa a fazer. Enquanto isto, volta e meia meu pai me oferecia um
copo com água.

E eu lá queria me hidratar!

Isto não me ajudaria nenhum pouco a acalmar e por sorte ele entendeu
antes que eu me irritasse. Voltou com um uísque com bastante gelo. Aceitei
rapidamente e me forcei a tomar devagar. Foi o tempo exato para me
informarem que a noiva estava a caminho.

Noiva. A minha noiva. Nem mesmo eu conseguia acreditar que estava me


casando. Pior! Que eu queria, que lutei por isto. Era quase como se o mundo
estivesse acabando, pois não tinha uma explicação muito fácil para o
momento.

Todos ocuparam seus lugares e os musicistas começaram a tocar uma


canção suave, seguido pela marcha nupcial. E... a verdade era que se o mundo
estivesse mesmo acabando, eu não seria capaz de perceber. Pois a mulher que
caminhava em minha direção se tornou meu mundo naquele momento.

Ela estava espetacular.

O vestido tradicional branco era justo e terminava pouco abaixo dos seus
joelhos. Era simples, liso e incrivelmente perfeito para ela. Era difícil entender
como duas tiras tão fina podiam deixá-la tão sensual, como sua sandália de
salto.
Seu olhar brilhava como um dia de outono, dourado e acolhedor. Sim, eu
não tinha dúvidas que se existisse uma mulher que deveria ser minha esposa,
era ela. Erin era a única que ocuparia esse posto na minha vida.

— Cuide dela — exigiu Saulo, o gentil e muito esperto avô de Erin.

Fiquei aliviado com sua presença, ele era o único familiar dela. Não dava
para entender como seus pais não desistiram da viagem para ir ao casamento.
Eles estavam em um cruzeiro em algum lugar perto da Itália, mas nada
impedia que eles pedissem um helicóptero e depois um jato. Dinheiro para isto
tinham.

— Vou cuidar — garanti.


Ela passou para os meus braços. Me segurei para não agarrá-la e acabar
com tudo antes mesmo de começar, pois eu queria muito beijá-la
enlouquecidamente. E no mínimo escandalizaria alguns daqueles convidados
com o que poderia se seguir.

Desde a viagem eu não tinha despido Erin outra vez e estava ansioso para
fazer isto acontecer.

— Eu conheço esse olhar — murmurou ela com um sorriso cúmplice.

— Então imagina o quanto estou impaciente — resmunguei em um tom


bem baixo antes de beijar sua testa.
Rimos juntos antes de nos virar para o padre.

A cerimônia não foi longa e devo dizer que não prestei tanta atenção no
que era dito. Eu só tinha olhos para ela. Toda minha atenção era dela. A forma
que respirava, o leve toque de seus cílios quando piscavam, o jeito que seus
dedos apertavam meu antebraço repreendendo-me por não ouvir.

E então, deslizei meu anel por seu dedo enquanto fazia promessas de amá-
la e respeitá-la por vários momentos de nossas vidas até... O último dia do
nosso casamento. Apesar de deslumbrado, eu ainda imaginava que aquela
paixão iria esfriar em algum momento e o divórcio seria a melhor solução. Até
lá, eu daria o meu melhor para fazê-la feliz.

Fomos declarados marido e mulher, e eu pude beijar a noiva.

No final do dia, depois de curtir a recepção e os convidados, ficamos


finalmente sozinhos, mas eu ainda tinha planos.

— Estou exausta — murmurou sentando-se em uma das cadeiras de bar na


pequena boate que foi feita no jardim.

— Imagino, mas ainda tenho planos para essa noite.

Sua perfeita sobrancelha arqueou. — Planos?

— Sim. — A puxei de pé. — Pedi para que preparassem um banho para


você. Tem uma hora, antes de sairmos.

— E aonde vamos?

— Ter um momento somente para nós dois — prometi.

— Bom, sendo assim, acho que sou obrigada a concordar — sorriu.


Meu olhar estava preso em seus lábios. Já havia roubado alguns beijos, mas
não tive muitas oportunidades. Apesar de serem poucos convidados, todos
eram amigos especiais e queriam atenção.

Agora, seria somente nós dois.

Ela me roubou um beijo rápido antes de se afastar rebolando o quadril


provocadoramente, sabendo que eu estava olhando.

— Você está caidinho — comentou Caio.

— Não sei do que está falando.

— Deixa de ser idiota — riu. — Você se apaixonou, irmão. É um caminho


sem volta.

Balancei a cabeça negando. — Não é amor.

— Continue falando isto por um tempo, quem sabe acredita na própria


mentira.

O olhei com impaciência e me neguei a responder. Não era amor. Somente


uma paixão quente e enlouquecedora. Deixei meu irmão com seu sorriso
idiota e fui tomar um banho também. Voltaríamos no dia seguinte e todo o
lugar estaria em ordem, Donna me garantiu que ela sabia o que fazer para
cuidar da casa de Erin. Não duvidava, mas não custava nada perguntar.

Erin merecia uma noite especial, e era exatamente isto o que eu daria a ela.

Nunca imaginei que por baixo do brutamonte com o distintivo existia um


homem romântico. Henrique me levou para um hotel cinco estrelas beira mar.
Fomos encaminhados para a melhor suíte e um delicioso champanhe estava no
gelo aguardando ser aberto.

Mas não foi isto que me impressionou. Havia lindos buques de rosas
brancas espalhados por todo o apartamento, uma mesa cheia com os doces que
eu mais gostava e um conjunto de joias de presente de casamento.

Henrique fez questão de colocá-las em mim, me surpreendendo de como


sua escolha combinava comigo. Era elegante, discreto e muito bonito. Algo
que eu escolheria.

Abrimos a garrafa, trocamos beijos apaixonados degustando o sabor


frutado da bebida na boca um do outro. Tivemos um jantar leve entregue e eu
abusei na sobremesa. Mais alguns beijos, toques íntimos e as roupas
começaram a cair pelo lugar até que alcançamos a piscina de borda infinita
com água aquecida, nus.

Não foi romântico, foi desesperador.

Henrique parecia fora de si, principalmente quando eu o empurrei para


sentar na escada e levei sua deliciosa ereção para dentro da minha boca. Foi
incrível ver em como eu tinha poder de reduzir aquele homem forte e dono de
si, em uma poça de desejos desenfreados.

Quando tentou me afastar, resisti segurando-o com mais força. Precisava


fazê-lo entregar o controle para mim. Foi isto que fiz. O chupei
profundamente, fazendo-o estremecer cada vez que o levava. Os músculos de
seu abdômen estavam tensos e sua mão bem firme nos meus cabelos enquanto
empurrava na minha boca. Vê-lo gozar, foi uma experiência única.
— Minha vez!

Com um suspiro, fui deitada na parte rasa da piscina e envolvida pela água
morna enquanto sua boca assaltava a minha. Não me envergonho de assumir
que gritei quando ele deslizou por meu corpo, sugando meus seios até a
exaustão e depois dominando a parte mais íntima entre minhas pernas.

Esse homem tinha uma língua devastadora, capaz de derreter meu cérebro e
cada osso do meu corpo com o intenso prazer que me proporcionava. Seus
dedos não ficaram longe da diversão, escorregando um e depois outro para
dentro de mim, bombeando em um ritmo firme até que o orgasmo quase me
sufocou com sua intensidade.

— Você é tão linda — sussurrou ele inclinando sobre mim. — Eu quero


você, somente você.
— Bom — suspirei — Se atrever a trair as promessas que me fez hoje, eu
vou esmagar suas bolas com meus saltos.

— Tão carinhosa — riu. — Me dê um minuto para pegar um preservativo.

Abracei sua cintura com minhas pernas. — Não precisa, estou no controle
de natalidade e totalmente limpa.

— Bom, eu também tenho um atestado de saúde limpo.


— Pare de falar.

— Boa ideia. — Investiu para dentro de mim em uma única estocada


arrancando-me um grito.

Ele congelou tentando entender o que significava. — Mais! Continue!

Agarrei seu cabelo puxando seu rosto para o meu e o beijando com força.
Estava tão excitada que não tinha tempo para delongas. Queria duro, intenso
e... sujo. Henrique entendeu rapidamente e começou a se balançar em
estocadas longas e firmes levando minha mente para uma explosão de fogos
que brilhavam por detrás de minhas pálpebras.
O intenso prazer dominou todo o meu corpo, como se cada célula estivesse
energizada e correndo por minha pele sensível.

E aquele, era somente o início da nossa noite.


Aquela história de que tudo que é bom dura pouco estava começando a
fazer sentido. Acordei tarde sentindo o delicioso calor do corpo dela contra o
meu. Estava enroscada em mim como se eu fosse seu próprio travesseiro e eu
não tinha uma única reclamação sobre isto.

A noite tinha sido muito boa, ou melhor, extremamente boa. Nunca me


imaginei com tamanha sintonia com uma mulher como a que tinha
experimentado com Erin. Era como se ela tivesse nascido para ser minha, o
que era um pensamento estranho e possessivo demais para uma paixão, mas
que fazia muito sentido.

Decidi não pensar muito sobre isto, não naquele momento em que toda
aquela pele gloriosa e nua estava grudada em mim. Acordei Erin com
pequenos toques e muitos beijos até que deslizei para dentro dela novamente.

Perfeição era o que definia as sensações que me invadiam quando me unia


a ela.

Então tivemos um café da manhã delicioso entre os lençóis e depois


fizemos nosso checkout na saída do hotel. Apesar de ter sido uma manhã
incrível, a vida real estava batendo na porta, corrigindo, chamando
incansavelmente em nossos celulares.

Tínhamos duas horas para almoçar e encontrar o próprio caminho para o


trabalho. Parecia exagerado, principalmente por estarmos em lua de mel, mas
ainda tínhamos muita coisa para colocar em ordem antes de realmente
tirarmos uma folga.

O meu erro foi escolher o restaurante, nunca na minha vida teria imaginado
que ouviria aquela voz atrás de mim enquanto apreciava um saboroso salmão
ao molho de laranja.

— Henrique?
Levantei meu olhar do prato para encontrar o de Erin que tinha uma
sobrancelha arqueada questionando-me. No mínimo era pelo fato da cor sumir
do meu rosto por um momento.

Não precisei girar o pescoço para saber quem era, mas ela fez questão de se
aproximar e entrar no meu campo de visão. Continuava tão bonita como eu
me lembrava. Longos e sedutores cabelos negros, um rosto perfeito e um
corpo com curvas suaves.

Mas aquele olhar aparentemente inocente não me enganava. Candice não


tinha o menor escrúpulo quando se tratava de algo que ela queria. A prova
disto foi me deixar no altar esperando por ela enquanto fugia com um
milionário russo.

— Que prazer revê-lo! — exclamou abrindo um sorriso megawatt.

— Não posso dizer o mesmo — retruquei.

Ela desdenhou com um movimento de mão e encarou Erin, sem se


envergonhar de analisá-la de forma tão descarada. Já minha esposa, manteve o
olhar arrogante que me deixava louco, sem se importar com a análise.

Vi Taylor parado discretamente do outro lado do salão observando tudo


com olhos de águia. Um único aceno e ele se colocou em minha direção com
passos decididos.

— Quem é ela? — perguntou Candice.


Estreitei meus olhos na direção dela analisando sua expressão facial com
cuidado. Meu casamento com Erin estava em todos os jornais e revistas de
fofocas. Não existia a possibilidade dela não saber quem era Erin e isto
instigava o policial desconfiado dentro de mim.

Ela não estava ali por coincidência.

— Minha esposa — respondi soltando lentamente os talheres que ainda


segurava.

— O que? — Seus olhos se arregalaram do tamanho de pratos. —


Finalmente conseguiu uma mulherzinha para chamar de sua? — zombou. —
Querida...

— Não me chame de querida — retrucou Erin com um tom gelado que


deixaria até um vulcão congelado. — E por gentileza, se retire, pois está
atrapalhando nosso almoço.

— Eu não estou de saída — disse Candice, dando um olhar superior para


minha esposa.

— Discordo — comento fazendo que ela me olhe. — O segurança atrás de


você irá acompanhá-la até a saída.

Vi a teimosia brilhar nos seus olhos. — Você não pode me expulsar.

— Tem certeza? — questionei. — Ou prefere que eu mesmo a arraste até o


lado de fora? Sabe que não hesitarei em fazer isto para garantir que eu e minha
esposa possamos almoçar em paz.

— Isto não vai ficar assim...

— Não tente me ameaçar — A interrompi. — Realmente não ligo para


escândalos — adverti.
Se ela insistisse eu a arrastaria para fora pelos cabelos, ou melhor, daria voz
de prisão e a deixaria uma noite atrás de grades sujas só pelo prazer da
vingança.

— Eu sei o caminho — reclamou quando Taylor tentou guiá-la. — Vamos


nos falar Henrique.

— Não conte com isto.

Voltei a pegar os talheres me negando a perder o apetite por causa de uma


pessoa como Candice. Cortei um pedaço do peixe e o degustei com calma.

— Não vai me contar? — Era uma simples pergunta que me deixou


aliviado por não ser uma exigência.

Erin tinha uma expressão calma e parecia aliviada pelo o fato de não
precisar se defender de uma mulher como já aconteceu antes. No final, Caio
estava certo sobre minha reação lenta e o quanto isto machucava Erin.

Cheguei a pensar em não falar sobre o assunto, mas já que o passado


apareceu no dia seguinte ao nosso casamento, vi que não adiantaria fugir.
Larguei novamente os talheres, mas desta vez com um pouco de impaciência.

— Candice foi minha noiva — contei sentindo um sabor amargo na boca.

— O que? — Surpresa tomou seu rosto. — Você ia se casar?

— Foi há muitos anos — murmurei. — Eu me apaixonei por ela quando


ainda era um jovem inexperiente, e ela era uma mulher simples e que
aparentava ter uma boa índole. — Dei de ombros como se não me importasse,
mas a verdade é que ainda me irritava o fato de ter sido enganado. —
Namoramos por um tempo até que um dia resolvi pedi-la em casamento.
Fiquei no altar de uma igreja esperando por minha noiva enquanto ela fugia
com um idiota mais rico do que eu.

— Não acredito!
— Ela não entendia o fato de que o dinheiro do meu pai, é dele, não meu. E
que eu fazia o meu sendo patrulheiro — digo mal-humorado. — Enquanto eu
estava apaixonado, ela estava procurando um trouxa rico. Beijando qualquer
homem disposto... ou não.

— Sinto muito, Henrique.

— Não sinta — acenei. — Isto é passado e me ensinou a não confiar muito.


Vi que algo havia dançado em seus bonitos olhos de outono, mas meu
humor havia mudado e eu não consegui definir o que aquilo significava.
Terminamos nosso almoço sem tocar mais no assunto e também em silêncio,
cada um estava perdido nos próprios pensamentos antes de seguirmos nosso
caminho para o trabalho... Separados.

A metade do dia em que passei trabalhando não serviu para muita coisa.
Minha agenda estava tão cheia de coisas que somente assim consegui manter
minha mente longe das palavras de Henrique.

Me ensinou a não confiar muito.

O que aquilo significava? Para mim? Para o nosso casamento? Ele


confiava, mas só até certo ponto? Meu estômago até se contorcia quando
pensava naquilo e o melhor foi realmente mergulhar no trabalho. Queria estar
em uma praia paradisíaca curtindo o sol e recebendo coquetéis com guarda-
chuvas enquanto via meu marido se bronzear em uma sunga branca ao meu
lado.

E tudo o que consegui foi o excesso de trabalho e uma ex-noiva maluca de


brinde. Tinha a sensação de que voltaria a vê-la mais cedo do que esperava. E
no início da noite, quando eu estava chegando em casa, fui recebida por
braços fortes e ansiosos que me fizeram esquecer todas aquelas dúvidas.

Henrique tinha chegado há pouco tempo, pois ainda usava o distintivo


pendurado no pescoço. Foi tudo o que consegui notar, antes de ser carregada
até o corredor do nosso quarto. Ainda era estranho pensar no meu quarto
como nosso, mas era muito bom saber que ele estaria sempre me esperando lá
no final do dia.

Bom... não alcançamos o quarto. Minha bolsa ficou caída na sala e no meio
do caminho até a parede que ele me escorou, perdi um dos meus sapatos.
Nada disto importava. Nenhum pouco.

— Nunca... — Beijou-me com força. — Fiquei tão... — Outro beijo. —


Ansioso... — Sua boca desceu por meu pescoço. — Para deixar o batalhão.

— Henrique — gemi seu nome.

Meu vestido tinha subido para minha cintura e sua mão ágil rasgou minha
calcinha. Seus dedos me invadiram tão rápido que me tirou o fôlego que
restava.

— Não! — Consegui dizer.


Isto o fez parar e me encarar em completo choque.

— Não? — Arregalou os olhos.

— Não é isto — ofeguei. — Eu quero você, agora!

Compreensão brilhou em seu rosto e até mesmo um tanto de alívio. Se não


fosse por toda tensão sexual irradiando por meu corpo eu teria dado risadas da
cara dele. Porém, agora, tudo o que eu mais queria era que ele me levasse.
Bastou alguns ajustes antes do seu corpo invadir o meu em uma estocada
longa. Meus gritos foram engolidos por seus beijos, assim como seus gemidos
pelos meus.
Era intenso, uma loucura, mas simplesmente perfeito. Todas aquelas
emoções e experiências novas nos levou para a beira do abismo de um prazer
delirante, até que encontramos a coragem de saltar para o ápice juntos.

— Deus — murmurei.

Henrique encostou a testa na minha. — Acho que você também estava com
saudades.
— É o que parece. — Dei uma risada.

— Bom, vamos continuar isto no quarto.

Acenei concordando, pensando pela primeira vez na possibilidade de


Donna nos encontrar naquele corredor. Seria extremamente constrangedor
para todo mundo, mesmo que depois nos lembrássemos disto com humor.

Os dias passaram tão rápido que eu acreditei estar vivendo em um loop


infinito. Minha vida se tornou uma rotina tão bem desenhada que ainda não
entendi como não surtei com o mês que correu. Acordava cedo, junto com
Henrique, tínhamos um banho realmente quente e rápido antes de descermos
para o café. Um beijo de despedida e cada um entrava no seu carro para
direções opostas.

Enquanto eu trabalhava em dobro para dar conta dos meus negócios,


precisava adicionar as empresas de Joseph, que já havia passado a maioria das
coisas para minhas mãos. Henrique jurava que estava finalizando alguns casos
antes de se sentar atrás da mesa do pai e eu me esforçava para acreditar nele.

E com isto, eu estava voltando para casa no final da noite quase todos os
dias. Tendo reuniões em horários que eu não aceitava antes, como em
almoços, jantares e nos finais de semana. Hoje era mais um desses dias, já
eram dez horas da noite enquanto Taylor levava o carro para entrada da casa.
Uma mulher parado do lado de fora chamou minha atenção. Ela parecia
muito paciente encostada em uma mala enquanto o segurança a vigiava com
um olhar desgostoso.

— O que... — Calei ao reconhecê-la. — O que essa mulher está fazendo


aqui?

— Eu não tenho ideia — respondeu Taylor enquanto deslizava o carro para


dentro.

Um farol bateu atrás e logo reconheci ser o de Henrique. Pedi para Taylor
parar e desci sentindo algo gelado deslizar por minhas veias. Acho que era o
cansaço misturado com a falta de paciência. Vi que antes do portão voltar a se
fechar, Candice conseguiu escapar do segurança e entrar na minha propriedade
puxando sua mala rapidamente. O homem se recuperou rápido e segurou seu
braço.

— Henrique! — gritou ela.

Meu marido também desceu da caminhonete dele e me encarou com a testa


franzida.
— O que essa mulher faz aqui?

— E como é que eu vou saber? — perguntou ele no mesmo tom que usei.

— Henrique! — voltou a gritar.

— Vou resolver isto. — Ele garantiu.

— Não! — Dei alguns passos a frente. — Hoje é o meu dia de colocar


vadias pra fora.
Ouvi a risada dele e apesar de me seguir, não tentou evitar que eu tomasse
conta da situação. Parei na frente dela e coloquei as mãos na cintura.
— O que faz aqui? — exigi saber.

— Não vim falar com você — respondeu Candice. — Eu estou aqui para
conversar com Henrique.

— Vai ter que conversar com ela — disse ele sério.


— Estou precisando de um lugar para ficar...

Ergui uma sobrancelha — E pensou que seria bem-vinda na minha casa?

Se não fosse pela minha falta de humor eu teria gargalhado com aquele
absurdo.

— Na casa dele. — Ela apontou para Henrique. — Temos muita história


para ser ignorada. Não pode me deixar na rua.
Era fácil de ver que a fonte de dinheiro dela havia esgotado e estava
procurando um idiota que o fizesse. Isto realmente me enfureceu. Aquela
mulher não se importava que tinha machucado Henrique no passado ao
abandoná-lo por causa de um homem rico.

— Okay — murmurei. — Chega desta palhaçada.

Eu não sei o que deu em mim, mas quando percebi já era tarde demais.
Apesar de ser mais baixa que ela, minha mão estalou em seu rosto com tanta
força que o som ecoou ao redor.

— Isto é pela sua ousadia. — Dei outro tapa e ela cambaleou para trás. —
Esse foi por me achar com cara de idiota. Acha mesmo que vai se hospedar na
minha casa? — Minha mão encontrou o rosto dela novamente.

Vi o momento que ela saiu do choque e ia revidar, fui mais esperta e a


agarrei pelos cabelos. Não sei de onde tirei forças, só sei que eu a arrastei para
fora da minha casa.
— Se você o queria, não deveria tê-lo abandonado no altar — rosnei. —
Agora, Henrique é meu marido e eu não estou disposta a aceitar nenhuma
besteira vindo de pessoas como você.

A empurrei para a calçada que se desiquilibrou nos saltos e caiu de bunda


no chão. Bati as mãos como se estivesse tirando poeira.

— Sua louca! — gritou.


— Sim, exatamente isto — concordei. — Acho bom pensar duas vezes
antes de cruzar meu caminho de novo.

— Diz isto só porque sabe que eu tenho passado as noites com ele.

Gargalhei. — Meu bem, se você tivesse realmente passando as noites com


ele eu mesma arrumava as malas dele. Pare de falar besteira e de ocupar meu
tempo.

Vi o segurança com a mala dela. Peguei a porcaria, que estava realmente


pesada, e também joguei na calçada com se fosse um saco de lixo.
— Não volte!

Neguei-me a dar atenção aos gritos irritados dela enquanto voltava para
dentro. Ouvi o portão ser fechado e encontrei Henrique ao lado de Taylor.
Ambos tinham expressões marcadas por diversão e surpresa.

— O que foi? — questionei irritada.

Eles gargalharam e bateram palmas.

— Tem certeza de que é você quem a protege? — Henrique questionou.


— Estou em dúvida — respondeu meu segurança. — Acho que ela é quem
me mantém seguro.

Riram juntos.
— Ah pronto — resmunguei. — Eu não vou ser palco para os dois
palhaços.

Caminhei para dentro da casa sabendo que Henrique estava me seguindo.


Logo senti seu braço passar por cima do meu ombro e um beijo na minha
têmpora.

— Você é incrível.
— Eu sei — sorri.

— Sabe que eu nunca te trairia, não é?

— Sei — acenei e o olhei nos olhos. — Se chegar a esse ponto, termine


comigo antes. Não existe nenhuma necessidade de me fazer de boba.

Vi que ele concordava com meu pedido e que até esperava o mesmo de
mim.
— Eu só quero você — jurou.

— Bom, eu diria o mesmo, mas estou com tanta fome que quero mais do
que você no momento.

Ele riu. — Isto eu posso aceitar.

Lavamos nossas mãos antes de ir para a cozinha. Donna estava lá mexendo


no fogão e tinha um cheiro maravilhoso de massa caseira pelo local. Henrique
escolheu um vinho enquanto eu arrumava a mesa.

Mal percebi que ficamos sozinhos na hora da refeição. A massa carbonara


estava divina, ou talvez, fosse somente minha fome para supervalorizá-la. Ao
erguer o rosto encontrei Henrique me encarando com mais atenção que o
normal.

— Algum problema? — perguntei.


— Quando foi à última vez que você comeu alguma coisa hoje? —
perguntou sério.

Recostei na cadeira enquanto pensava o que tinha por trás daquela


pergunta. Apesar do pouco tempo juntos, eu já o conhecia muito bem.
Henrique nunca deixava de ser o policial investigativo. Não se escondia coisas
dele por muito tempo. E agora, tudo o que eu via no seu olhar era uma análise
constante.

— Bom... — Tentei pensar em uma resposta sincera. — Comi meia maçã


na hora do almoço.

— E o que você almoçou?

Adiantava negar a verdade?

— Não almocei.

— Então sua última refeição completa foi o café da manhã?


Enrosquei a massa no garfo. — Sim, aonde quer chegar com essas
perguntas sobre meus hábitos alimentares?

— Por que não se alimentou?

Eu tinha uma resposta bem ruim para dá-lo. Era claro que eu não conseguia
mais fazer as refeições corretamente como apreciava antes porque ele não
tomou seu lugar como herdeiro de Joseph.

Ele era o único falhando naquele casamento arranjado.

Para não brigar, com ele também, naquele horário. Levei o garfo à boca e
mastiguei com calma.
— Erin?

— Não tive tempo.


Revolta era algo fácil de ler no seu rosto. — Não teve tempo?

— Não.

— Erin você não é movida por ar! — exclamou com aquele tom mandão
que sempre me irritava. — Precisa se alimentar.

Não pude evitar uma resposta afiada.

— Estou tentando fazer isto, mas você parece muito determinado a estragar
o momento para mim!

Houve uma boa batalha de olhares desafiadores entre nós dois. Eu não
queria brigar, mas se ele me instigasse mais um pouquinho acabaria jogando
na cara dele o real motivo da minha agenda estar tão cheia.

— Aceita mais? — perguntou ele oferecendo uma trégua.


Engoli em seco. — Sim.

Ele me serviu mais carbonara e também completou minha taça. Agradeci e


juntos terminamos o jantar em paz sem tocar mais no assunto. Henrique sabia
que ele era o motivo e foi inteligente em não render aquela conversa.

Cheguei a ficar emocionada quando ele me preparou um banho de


banheira, mas depois de entrar naquela água quentinha eu não me lembro de
muita coisa. Estava tão exausta que permiti que me banhasse enquanto o
cansaço foi pesando minhas pálpebras e eu me deixei levar para um sono
profundo.

Na manhã seguinte acordei primeiro que ele e não pude esperar para um
café da manhã juntos. Tinha uma reunião muito importante para falar do meu
projeto para reformar e ajudar o bairro carente da região. Deixei para comer
direito no escritório e só tomei uma xicara de café bem forte antes de correr
para o trabalho.
Foi uma reunião intensa. Muito. Um dos envolvidos no projeto não
concordava com tantos investimentos. Ele não acreditava que tanto dinheiro
deveria ser jogado fora assim. Eu realmente não me importava com a opinião
dele, desde que fizesse o trabalho necessário.

E no meio da manhã, resolvi descobrir o que meu marido estava fazendo.

“Você está no batalhão?” enviei a mensagem.

Demorou um pouco para chegar sua resposta. “Sim, cuidando da


papelada.”

Sorri imaginando sua frustração em ter que cuidar de relatórios.

“Não saia, estou chegando.”

Sua resposta foi instantânea. “Estou aqui te esperando, minha linda.”

Eu tinha um pequeno tempo livre e usaria isto para fazer exatamente o que
queria, ficar um pouco com ele para compensar a manhã que não passamos
juntos.

Cheguei ao batalhão em vinte minutos, um dos rapazes de sua equipe


liberou minha entrada e o som dos meus saltos trouxe um silêncio absoluto
para a sala. Todos me encararam com curiosidade e até diversão, como se
esperassem por uma briga minha com o chefe.

— Cunhada! — Caio surgiu na minha frente e me abraçou. — Diga-me se


precisamos de pipoca!

Teve alguns risinhos ao redor.

— Hoje não — sorri. — Prometo avisar se for necessário — brinquei.


— Agradecemos, nada melhor do que vê aquele arrogante sendo chutado
— riu.

— Você não presta — acusei. — Onde ele está?


Ele acenou com a cabeça em direção ao escritório fechado. Era irônico que
para quem não gostava de ficar em uma mesa, Henrique fosse obrigado a se
sentar lá algumas vezes.

Bati de leve na porta e entrei quando o ouvi convidar. Ele estava sentado
atrás de uma pilha de pastas e tinha uma caneta na mão.

— Caio estava falando mal de mim, não é?


— Talvez — sorri.

Entrei e tranquei a porta sem fazer nenhum barulho ao virar a chave.


Henrique soltou a caneta e recostou na cadeira parecendo muito interessado
em mim. O que me trouxe um frio gostoso na barriga.

— O que devo a honra desta visita, esposa?

— Bom — dei a volta na sua mesa e me sentei em seu colo. — Eu estava


com saudades do meu marido — confessei. — Tenho exatamente quarenta
minutos antes da minha próxima reunião, e como levei vinte para chegar
aqui...

— Restou metade do tempo para passar comigo — completou ele.

— E o que pretende?

— Sinto que já veio mal-intencionada. — Sua mão deslizou pelo interior


da minha coxa.

— Eu? — sorri com inocência. — Jamais.

Henrique parou do lado de fora do meu prédio com uma puxada brusca do
freio de mão. Olhei para ele sem entender o motivo, mas seu olhar estava
cravado na calçada do lado de fora. Havia três pessoas paradas lado a lado,
dois homens altos, sendo um negro e o outro branco e careca. A mulher tinha
um corpo esguio coberto por tatuagens e pouca roupa, claramente a
temperatura não incomodava ela.

— O que...

— Fique no carro.
Antes que eu conseguisse fechar a boca ele já havia saído. O encarei
indignada enquanto passava na frente do carro e parava com uma postura
autoritária diante daquelas pessoas.

— Não mesmo — murmurei saindo.

Taylor já estava do lado de fora e tentou me impedir de passar, mas lhe dei
um olhar tão irritado que ele viu que não adiantaria tentar outra vez.

— Não estamos aqui para conversar com você, Voithe — disse o homem
branco sem se importar quem meu marido era.
— Não vai falar com minha esposa...

— Você não decide isto por mim — o interrompi.

— Erin — bufou. — Eu te mandei ficar no carro.

— Sim, sim — ironizei. — Não me lembro de ter aceitado ordens.

— Parece que você tem uma esposa com opinião, comandante —


comentou a mulher com um tom muito divertido.
Ele não respondeu a ela, mas cruzou os braços com impaciência.

— O que querem conversar comigo? — perguntei ignorando como


Henrique ficou ainda mais tenso.

— Você é a responsável pelo projeto de revitalização de nosso bairro —


afirmou o rapaz branco.
Mais tarde eu descobriria o nome deles, já que agora apresentações não
pareciam ser tão importante.

— Sim.

Ele tirou um papel do bolso e o abriu de um jeito bem desafiante. — Pode


me explicar quem lhe deu o direito de nos expulsar do bairro?
— O que? — Uma onda de choque atravessou meu corpo.

Estava dando meu sangue para fazer aquele projeto funcionar. Peguei o
panfleto e senti que meus olhos arregalaram, era uma clara ordem de despejo
para todos os moradores em um prazo muito curto de três dias antes que as
máquinas chegassem para derrubar as casas.

— Quem lhe deu isto?

Henrique pegou o papel das minhas mãos para dar uma olhada e ele
pareceu tão chocado quanto eu, principalmente por minha assinatura estar no
final. Eu não tinha autoridade para fazer esse tipo de coisa. Sou somente uma
empresária querendo fazer algo bom por pessoas que tinha tão pouco.

— Foi distribuído hoje nas primeiras horas da manhã.

— Eu não mandei fazer nada disto. — Balancei a cabeça ainda em choque.


— Esse não é o meu projeto — afirmei.

— E quem mandou? — questionou o homem negro que até então estava


calado.

O encarei realmente confusa sobre quem poderia ter feito uma besteira
daquelas.

— É o que precisamos descobrir.


Apesar do olhar de cão de guarda do meu marido, convidei aquelas pessoas
a subirem até meu escritório para conhecerem o projeto. Os três concordaram
rapidamente, mas eu via em seus olhos que não acreditavam em mim. Não
podia julgá-los por isto. A melhor forma de me inocentar era provar que meu
projeto não envolvia prédio de luxo para ricos esbanjarem.

Nunca estive em um elevador tão tenso como aquele. Henrique e Taylor


simplesmente me empurraram para um canto e formaram uma parede humana
na minha frente. Ignoraram meu bufo indignado e meu olhar desafiador.

— Deus me salve de homens protetores — murmurou a moça.


Acenei concordando com ela, pois no momento estava precisando ser salva
também.

Minha secretária pulou da cadeira e mal escondeu o olhar pasmo ao ver


meus convidados. Ordenei que voltasse ao trabalho e segui direto para o
escritório, sentindo que a paciência não era minha melhor virtude no
momento.

Apontei para a lateral da sala assim que todos entraram, tinha uma maquete
3D representando todo o bairro e as melhorias que seriam feitas. Casas
pintadas e reformadas, praças, escolas e creches, áreas de lazer e muitas outras
coisas.

— Esse é o projeto que venho trabalhando com a prefeitura e os


representantes do bairro — informei. — Nunca existiu uma única
possibilidade de destruir tudo para construir edifícios. Vou acionar as
autoridades e procurar pelo responsável que espalhou essa mentira.
— Por que está fazendo isto? — questionou, Digo, o rapaz negro.

— Por que eu não faria? — devolvi a pergunta. — Sei que os políticos


roubam mais do que trabalham enquanto isto a população sofre. Eu não faço
milagres, mas posso ajudar a dar escolas para as crianças. Oportunidade para
os jovens e segurança para as famílias em suas casas.
— Vamos descobrir quem foi o responsável por isto — anunciou Henrique
erguendo o papel.

Voltei a pegar e olhar com atenção cada linha escrita. Não era possível que
nada ali me daria uma dica de quem poderia ter feito tal coisa. E foi aí que
peguei o pequeno erro na minha assinatura falsificada, havia três pontinhos
depois da ultima letra. Algo que eu nunca fiz, mas sabia quem tinha aquele
hábito.

— O que descobriu? — perguntou Lola, a moça que vestia muito pouco e


tinha um olhar debochado.

— Bom, vamos ver.

Levei todos eles de volta para o elevador e descemos alguns andares. Não
parei para a recepcionista e nem mesmo para a secretária na porta.

O rapaz atrás da mesa digitando rapidamente em seu notebook pareceu


bem surpreso com minha invasão.

— Renan.

— Erin, o que aconteceu...

— Henrique, o faça falar — exigi sem paciência.

Meu marido ergueu uma sobrancelha bem inquisitiva.

— Ah merda — Lola resmungou atrás de mim.

— Erin? — Taylor parecia preocupado.

— Estou enfrentando um mundo de coisas para fazer esse projeto funcionar


e não vou permitir que ninguém atrapalhe — digo olhando para Henrique. —
Se você não o fizer falar, eu vou deixar que os três atrás de mim tire dele a
verdade.

— Como pode ter tanta certeza de que é ele? — questionou Henrique.


— Do que estão falando? — gaguejou.

Ambos o ignoramos. — E você acha que eu teria alguma dúvida vindo até
aqui?

— Eu posso fazer isto — afirmou Logan, o rapaz branco, dando passos à


frente.

Henrique considerou por um segundo antes de puxar Renan para fora da


cadeira e bater o rosto dele contra a mesa, esfregando sua bochecha
bruscamente contra o papel que foi distribuído. Devo confessar que vê-lo agir
daquela forma me deixou confusa sobre como me sentir. Preocupada de que
ele perdesse o controle... Mas excitada pela forma que pareceu tão mal.

— Você alterou o projeto da minha esposa? — questionou Henrique em um


tom que fez os pelos dos meus braços arrepiarem.

— O que... eu não...

— Pare de gaguejar — ordenou. — Ela sabe que foi você, não existe razão
para me enrolar.

— E o que eu faria? Permitiria que ela gastasse os lucros desta empresa


com pobres sem nenhum retorno?

Estremeci levemente quando Henrique bateu a cabeça dele contra a mesa.

— E quem é você para permitir alguma coisa? — rosnou. — A empresa é


dela e ela gasta o dinheiro do jeito que quiser. Você só faz o que ela manda.

— Taylor — chamei meu segurança. — Jogue o lixo para fora.

Vinte minutos depois eu estava de volta a minha sala com Henrique me


olhando daquele jeito quando ele queria descobrir algo.
— Faça logo sua pergunta — murmurei.

— Como sabia que era ele?

Bufei e me sentei exausta na poltrona que ficava perto da janela no


escritório.
— Essa é minha empresa, Henrique — comentei. — Conheço cada detalhe
e cada funcionário. Sabia que ele não estava feliz com o projeto, não imaginei
que chegaria longe e sei que não fez isto sozinho, mas descobri por causa de
um pequeno detalhe na assinatura falsa.

Observei ele andar pelo lugar como se fosse dono e tirar uma garrafa de
água do frigobar. Serviu em um copo e me entregou, mais uma olhadinha
dentro da pequena geladeira e ele encontrou um sanduiche natural.

— Coma — ordenou.

Revirei os olhos aceitando, pois não estava disposta a brigar por pouco e
sentia realmente uma pontada de fome.

— Vou colocar Rico para investigar e tirar todos os responsáveis por essa
besteira da minha empresa. — Mordi o sanduíche. — Também preciso emitir
uma nota para tranquilizar os moradores.

Um toque suave na porta e a secretária apareceu depois que permiti sua


entrada.

— Senhora, está atrasada para a reunião com os engenheiros do Spicer...

Ela me lembrou de tantos compromissos que fiquei até um pouco tonta.


Confirmou almoço com um novo cliente, advogados na linha de espera,
conferência com dois empresários da linha de Joseph e outras coisas que não
conseguia me lembrar tão rápido.
Encarei Henrique e depois olhei com pesar para o sanduíche, teria que
deixar para finalizar depois. Ele chegou a abrir a boca para me repreender por
não terminar o lanche, mas Nádia ainda tinha informações sobre a reunião em
que eu já estava atrasada para participar.
As semanas que seguiram não foi nenhum pouco diferente do que o
primeiro mês de casamento com Henrique. Ou melhor, havia mudanças sim.
Agora eu quase não o via já que estava praticamente morando no escritório. O
fato de ter completado três meses de casada e ele não ter comprido com o
prometido, começou a me enlouquecer. Depois de muitas alfinetadas eu
finalmente cedi a vontade de brigar com ele e com isto há três dias não nos
falamos.

O homem não mostrou nenhum interesse em aprender a cuidar do que era


dele, pelo amor de Deus! Eu não poderia continuar com aquela rotina louca
por mais tempo. Joseph tentou interferir, mas Henrique continuou dizendo que
ainda não tinha concluído seus casos e precisava de mais tempo. Seu pai
estava bem decepcionado. Joseph tentou voltar a pegar o controle da empresa
dele, mas meu orgulho não permitia tal coisa. Prometi que iria cuidar disto
para ele, faria isto. Principalmente por agora saber que ele estava com o
coração fraco e seu médico recomendava repouso.

— Erin? — ouvi um sussurro.

Eu tinha acabado de pegar no sono e não me sentia nenhum pouco a fim de


abrir mão do delicioso prazer em dormir.

— Erin? — a voz voltou a me chamar e desta vez me balançou.


Abri meus olhos e encontrei Taylor ao lado da minha cama. O encarei em
choque sem entender o que estava fazendo ali.

— Desculpe, bati na porta algumas vezes e vocês não me ouviram —


murmurou baixo. — Ligaram do hospital.

Sentei em um movimento rápido e procurei por Henrique. Ele continuava


dormindo ao meu lado e isto deu uma acalmada no meu coração. Havia noites
que ele saía para prender bandidos ou resolver problemas. Eu nunca sabia
direito, mas entendia o tipo de perigo que era o trabalho dele.
— Rico sofreu um acidente de carro.

— Oh meu Deus!

— Ele está bem, apesar de bem machucado.

— Fico pronta em cinco minutos — prometi.

Ele acenou e se retirou do mesmo jeito silencioso que entrou. Pulei para
fora da cama e corri para o closet.

— Erin? — ouvi Henrique me chamando.

— Rico sofreu um acidente — gritei. — Não tenho tempo agora.

Henrique apareceu no minuto seguinte, seu rosto estava amarrotado de


sono, mas estava em alerta.

— Ele está bem?


— Taylor disse que sim, mas está bem machucado.

Ele puxou uma calça cargo do armário e se vestiu.

— Não precisa ir comigo — digo prendendo o cabelo em um rabo de


cavalo bem desarrumado.

— Vou levá-la.
— Taylor faz isto — retruquei.

— Vou dispensá-lo — anunciou.

Trinquei os dentes, não tinha tempo para brigar com ele por causa daquilo.
Terminei de me vestir sem me importar que iria comigo. Eram quase três da
manhã e eu não tinha tempo para besteiras.

— Deus! — corri para abraçar meu amigo.

Seu rosto estava machucado e ele parecia muito pálido naquela cama de
hospital.

— Estou bem — murmurou.

— Não parece — suspirei.

— O que aconteceu? — Henrique perguntou.


— Um idiota bêbado bateu no meu carro — contou. — Pensei que fosse
morrer.

— Graças a Deus você está bem aqui. — O abracei de novo aliviada de que
não estivesse pior.

Ele contou que seu carro se transformou em um monte de metal retorcido.


Explicou assustado em como o resgate demorou a chegar e como sentiu medo
de morrer. Ofereci em levá-lo para minha casa, apesar de agradecido, ele disse
que ficaria com a irmã.

Não me importava onde ficasse para se recuperar, desde que fosse bem
cuidado eu ficaria feliz.
— Meu assistente vai te ajudar — disse preocupado com o trabalho. — Eu
vou fazer o melhor que puder de casa...
— Você vai descansar e melhorar.

— Precisa de ajuda, Erin.

— Eu sei — acenei. — Tenho Tony e seu assistente, vamos dar conta.

— Tony só sabe cuidar da parte burocrática!

— Já é muita coisa — brinquei.

— Erin é sério, você precisa de ajuda. — Rico lançou um olhar duro para
Henrique. — Deixei separado alguns currículos de assistentes para você,
contrate duas.

— Vou olhar isto assim que...


— Vai olhar assim que chegar ao escritório — interrompeu me
repreendendo. — Você não pode fazer tudo sozinha, docinho.

— Vou contratá-las — prometi.

— Bom. — Pareceu aliviado. — Agora vá para casa descansar que o


trabalho ainda te espera de manhã.

— Sei bem disto, mas vou ficar aqui com você.

Embora eu fosse a chefe dele, Rico me expulsou do seu quarto afirmando


que logo a irmã estaria chegando. Seu médico apareceu e disse que apesar dos
inúmeros machucados, Rico ficaria bem em uns dez dias.
Quando cheguei em casa já era quatro e meia da manhã e eu tinha muito
pouco tempo para dormir. Informei ao segurança na porta que dissesse a
Taylor que eu estaria pronta para sair em três horas. Subi com Henrique para o
quarto, ambos sem dizer nenhuma palavra, ainda presos na discussão de dias
atrás. Tanto eu, quanto ele, não estávamos dispostos a ceder.

Então deitamos na cama, cada um virado para o lado preferido antes de


dormir ainda brigados.
Quatro dias depois do acidente de Rico eu estava parecendo um zumbi.
Apesar de prometer contratar as assistentes, e eu realmente fiz isto, elas ainda
não estavam prontas para o trabalho. Precisavam se situar, atualizar e conhecer
antes de agirem por conta própria. O que acabou me adicionando outra
função, a de prepará-las para me representarem quando fosse preciso.

Hoje era um dia ruim, simples assim. Acordei com uma dor de cabeça
horrível e um pouco de febre. Isto me deixou extremamente mal-humorada.
Não tinha tempo para resfriados ou gripe.

— Temos alguém para corrigir o erro desse projeto?


Tony, que era meu principal advogado, fez uma careta. O projeto de
construção do Spicer não havia agradado nenhum pouco seus donos e eles
exigiram a entrega de um novo até as próximas vinte e quatro horas ou
cobrariam uma multa de contrato pela entrega demorada.

Essa multa era um valor muito significativo que eu não estava muito
disposta a pagar.

— Não para concluir a tempo — respondeu Tony. — O que você pretende


fazer? Vai ceder a pressão?

Sorri cansada. — Até parece que não me conhece.

Cancelei tudo o que tinha para fazer naquele dia. Ou melhor, pelo o que
restava do dia e comecei a trabalhar pessoalmente naquele projeto. Tive uma
movimentação de pessoas entrando e saindo para ajudar, mas no final sobrou
somente eu e Taylor.
Meu segurança não entendia muito sobre o assunto, para não falar que ele
não entendia nada. Porém, além de uma boa companhia, ele era bom em
buscar livros e fazer pesquisas. Também buscava lanches e energéticos a cada
par de horas, eu via que ele estava se esforçando para me fazer comer, mas
meu apetite tinha diminuído muito.

Eu estava só o pó. Meu nariz começou a escorrer e minha cabeça dilatava.


O remédio que tinha tomado não fez nenhum efeito ou se fez eu não consegui
perceber. A noite chegou lá fora, todos foram embora e depois de uma ronda,
Taylor voltou com mais um lanche que ficaria pela metade como todos os
outros.

E assim seguimos até eu terminar o abençoado projeto. Fiquei satisfeita


com o resultado e me senti aquela arquiteta ansiosa de anos atrás. Havia um
gostinho de orgulho e dever cumprido que encheu meu peito de satisfação.

Apesar de o dia estar quase amanhecendo quando chegamos em casa,


informei a Taylor que sairíamos as sete e meia da manhã. O primeiro
compromisso do dia era a apresentação daquele trabalho e eu me senti ansiosa
por isto.

Henrique já estava dormindo, o que não era uma surpresa, mas eu sempre
ficava aliviada de vê-lo bem e em casa. Me envergonho de dizer que por
muito pouco não tomei um banho antes de dormir, mas adormeci enrolada em
um roupão de banho.

— Erin?

Afastei a mão do meu rosto.

— Erin?

— Me deixa — resmunguei.

— Seu despertador está tocando há um tempo.

Bastou ouvir o som do despertador do celular para me lembrar da reunião


de apresentação.
— Ah merda!

Em um pulo me levantei e fiquei realmente zonza com o movimento.


Ainda sentia os efeitos do resfriado, talvez estivesse um pouco mais acentuado
do que o dia anterior.

— Você está bem? — perguntou me segurando pela cintura.


Eu o encarei por um momento e senti uma repentina vontade de chorar.
Engoli em seco e acenei concordando, me afastei dele e caminhei devagar
para o banheiro com medo de me sentir zonza novamente.

— Por que está de roupão?

Não olhei para trás para responder.

— Dormi assim.
— Erin? — ouvi a hesitação na voz dele e meu peito doeu com uma
emoção inesperada. — Você está bem mesmo?

— Sim.

Levei meia hora para ficar pronta, mas isto me tirou a chance de tomar café
da manhã. Donna me olhou feio e empurrou para Taylor uma bolsa térmica
com alguns lanches para o dia. Agradeci, pois apesar de não precisar dos
lanches o cuidado dela era tocante. Henrique tinha sentado no mesmo lugar de
sempre com uma xícara de café e um olhar distante, me fazendo perguntar
quando começamos a nos tratar como estranhos.

Eu o amava, mas sabia que não era recíproco o sentimento. E nos últimos
tempos tinha me esforçado para não pensar nisto, mas eu sabia que estava na
hora de pedir o divórcio. Só não sabia como fazer isto, pois sempre tinha a
barreira do compromisso que fiz com Joseph.
Fui para o trabalho e depois da apresentação que, por um milagre, foi
aprovada por nossos clientes. Aquela pequena pontada de orgulho ficou
enorme. Comemoramos com um delicioso café da manhã para o grupo e eu
pude relaxar um pouco.

O engraçado é que tinha tudo para ser um dia tão ruim quanto o anterior,
mas foi tranquilo. Minhas novas assistentes, Judy e Luci, ganharam um ritmo
bom e adiantaram muitas coisas. Deixando que eu pudesse curtir aquele
resfriado ruim em paz. Não comi muito durante o dia, estava sem apetite, mas
foi um alívio poder ir para a casa antes das sete.

— Você precisa de alguma coisa? — perguntou Taylor assim que abriu a


porta para mim.
— Não por hoje, obrigada.

— Tente dormir um pouco — disse baixo. — Vou pedir a Donna para


preparar algo que ajude você a se sentir melhor.

Taylor ainda era uma pessoa de poucas palavras, seu silêncio era sempre
muito bem-vindo, mas hoje eu vi que ele era muito além de um segurança, se
tornou meu amigo.

— Obrigada.

Caminhei lentamente para dentro de casa desejando um longo banho e um


bom caldo. Seria a combinação perfeita para conseguir longas horas de sono.

Fui surpreendida por encontrar Henrique sentado na sala, distraído


digitando mensagens em seu celular. Havia um olhar irritado em seu rosto e
quando me ouviu entrar, ergueu o rosto.

— Ora — sorriu com ironia. — Minha esposa está em casa antes de meia-
noite.
Percebi que fui o alvo fácil da sua irritação, mas não o motivo. Porém, isto
não me fez recuar.

— Ora se não é meu marido que prometeu tomar o lugar do pai e em vez
disto jogou tudo nas costas da esposa.

Sua sobrancelha se juntou quando franziu o cenho.


— Já conversamos sobre isto — apontou.

— Eu me lembro — deixei a bolsa na lateral do sofá como se precisasse


ficar com as mãos livres para a briga que vinha. — Você só se esqueceu de
mencionar que os casos que está investigando nunca tem fim. Eu jamais teria
aceitado esse acordo se soubesse que esse casamento arranjado iria me matar
de exaustão! — Calei quando percebi que estava gritando.

Senti as pernas um pouco bambas e acabei cambaleando um pouco.

Henrique se levantou. — Erin?

— Eu... não quero... brigar ma...

As palavras pareciam estranhas e enquanto tentava entender o que estava


acontecendo, meus joelhos fraquejaram e eu caí com força no chão. Minha
cabeça latejou e a escuridão me levou.

— Erin!

Cheguei a estremecer com o barulho que fez quando ela caiu no chão.
— Deus! — agachei ao lado dela e me choquei com a forma que minhas
mãos tremiam quando segurei seu rosto. — Erin?
Sem nenhuma resposta fiz o que pareceu mais coerente, a ergui do chão e
gritei por Taylor. Eu sabia que ele não ficava muito longe.

— O que aconteceu? — perguntou assim que viu Erin desmaiada.

— Ela desabou — informei já a caminho da saída, precisava levá-la para


um hospital.

— Porra! — passou as mãos pelos cabelos. — Eu sabia que isto ia


acontecer.

Congelei no lugar. — O que?

Ele me encarou furioso e pegou a bolsa dela, Taylor não parou para me
encarar de frente enquanto caminhava para a saída sabendo que eu o seguiria.

— Não viu que ela está se matando de tanto trabalhar? — questionou. —


Também está resfriada ou gripada, não sei.
— Vamos para o hospital.

O caminho foi feito em silêncio, mas a cada vez que um pouco de luz
atravessava a janela e eu via o rosto dela, um sentimento ruim apertava em
meu peito. Claro que eu sabia que ela estava se matando de trabalhar. Era
óbvio que eu via que ela tinha emagrecido, suas bochechas estavam fundas e
seus olhos cada vez mais sem brilho. Foi mais de uma vez que vi Donna
levando uma costureira para ajeitar algumas roupas dela.

A culpa era tão amarga que eu mal conseguia processar.

Sabia que deveria estar me esforçando mais para assumir a empresa do meu
pai, principalmente agora que ele estava sendo obrigado a ficar de repouso.
Juro que tentei, mas nos últimos meses a criminalidade havia aumentado
muito fazendo meu trabalho ficar mais difícil. Principalmente por muitos
estarem envolvidos em casos que a Inteligência estava investigando.
Coloquei todos da minha equipe em uma corrida louca para conseguir
cumprir os mandados de prisão e concluir as investigações. Porém, nada disto
resolveu o meu problema. Pelo contrário, aquela tensão toda colocou alguns
metros de distância entre Erin e eu.

A palidez no rosto dela me deixou ainda mais nervoso e só me tranquilizei


quando chegamos ao Pronto Atendimento. O médico mal me olhou enquanto
a levava para dentro.

Taylor estava um passo atrás de mim, visivelmente preocupado e me


ignorando. Não me importava com a opinião dele, principalmente por saber
que qualquer coisa que falasse estaria certa.
No lugar dele, eu teria quebrado minha cara por ter deixado Erin chegar a
esse estado.

— Ela acordou, mas voltou a dormir — contou o médico. — Sua esposa


está desidratada e visivelmente fraca. De acordo com minha avaliação e
alguns exames, a senhora Voithe também está gripada, sua temperatura
elevada, mas ela foi medicada e depois de um bom descanso estará melhor.

Fui levado para o quarto dela e permiti que Taylor me seguisse, ele já fazia
parte da família e estava se mostrado um bom amigo. Erin estava dormindo e
parecia minúscula naquela cama de hospital.

Ficamos vigiando o sono dela, parecia que enfim ela conseguiria algumas
horas de descanso. A ironia daquela situação afundou como chumbo dentro de
mim. A culpa era tão grande que eu não conseguia acreditar que um dia ela
poderia me perdoar por ser tão idiota.
No início da madrugada, vi seus olhos se abrirem lentamente.

— Erin? — inclinei sobre ela.

— O que... aconteceu? — perguntou soltando um longo suspiro.


— Você desmaiou enquanto gritava comigo. — Afastei algumas mechas de
seu cabelo. — Sinto muito — murmurei. — Tenho sido o pior marido que
alguém poderia ter. — Ela desviou o olhar. — Nunca mais deixarei você ficar
assim, juro que vou me comprometer mais.

— Não quero falar sobre isto...

A porta se abriu e o médico apareceu, ele havia me dito que voltaria para
um ronda, mas teve a sorte de encontrá-la acordada. Ele a examinou e conferiu
seus sinais vitais, antes de fazer algumas perguntas. Ele informou que tinha
alguns resultados de exames dela e estava preocupado, principalmente com o
peso baixo e a desidratação.
— Como tem sido sua alimentação?

— Não muito boa.

Ele ergueu uma sobrancelha. — Quanto?

— Realmente ruim — murmurou ela.


— Qual foi sua última refeição boa?

Ela não me encarou, nem ao médico, mas sua resposta fez meu estômago
se contorcer.

— Há uns três dias — disse. — Eu acho.

— Deus! — exclamei esfregando o rosto.

Eu estava inundado de trabalho, mas não negligenciava minhas refeições.


Afinal, não havia como correr atrás de bandidos sem energia. Isto me mostrou
que nada do que eu estava passando chegava aos pés do que Erin vinha
enfrentando.
Não negligenciava a hora do almoço, mas com toda certeza estava fazendo
isto com minha esposa.
— E quantas horas você dorme por dia?
— Quatro?
Soube que era menos do que isto. Levantei inquieto e fui até a janela onde
Taylor esteve escorado pelas últimas horas antes de eu mandá-lo embora para
descansar. O homem parecia tão cansado quanto minha esposa, claro, ele a
seguia para todos os lados.
O médico começou a conversar com ela sobre seus sintomas gripais e
explicou todos os medicamentos que receitou. Ele foi bem claro sobre a
necessidade dela de descansar e se alimentar corretamente, também sugeriu
que ela ficasse em casa por pelo menos dois dias antes de voltar à rotina.
— Eu não posso ficar em casa dois dias — arregalou os olhos.
— Ela vai fazer isto — garanti e recebi um olhar ameaçador vindo da
minha esposa.
Mais algumas recomendações e então ela estava liberada para ir embora
com uma sacolinha de remédios.
— Erin...
— Agora não — disse séria me calando. — Eu não quero conversar,
Henrique.
— E o que você quer?
Ela me olhou com lágrimas nos olhos. — Ir para casa.
Recebi um merecido voto de silêncio durante todo o caminho de volta. Não
interrompi seus pensamentos e nem ofereci os meus, acreditei que aquele não
era o momento para isto. Erin precisava de descanso e cuidados, eu faria isto
por ela. Só esperava que não fosse tarde demais.
Carreguei ela para dentro de casa, pois tinha adormecido e não ofereceu
nenhuma luta com os meus cuidados. Foi aí que tomei a plena consciência do
quão leve ela estava. Deus, como eu podia ter sido tão idiota assim?
Ela acordou quando a deixei na cama e murmurou algo sobre tomar banho.
Então preparei uma banheira e a ajudei se lavar. Acredito que só consegui tal
coisa, pois ela estava cansada demais para discutir e também rendida aos
efeitos dos medicamentos. Mesmo sonolenta, se sentou na banheira enquanto
eu lavava cada centímetro de pele que conseguia alcançar.
A vesti com uma de suas bonitas camisolas e a levei para a cama, acredito
que antes de sua cabeça tocar o travesseiro ela já estava dormindo.
Eu até que tentei dormir, mas ter a consciência pesada é um bom motivo
para perder o sono.
Depois de horas perambulando pela casa, liguei para o meu irmão. —
Henrique?
— Podemos conversar?
— O que aconteceu?
— Eu sou um idiota.
Ouvi sua risada. — Isto eu já sabia.
— Preciso que volte.
— Estarei aí de manhã — prometeu. — Enquanto isto me conte que
besteira fez desta vez.
Eu não conseguia me lembrar da última vez que meu corpo esteve tão
relaxado daquela forma. Não planejava me levantar tão cedo ou rápido, e era
estranho como eu não me importava o fato de não ter escutado o celular
despertar. Eu só queria continuar ali, envolvida por meu colchão perfeito e
pelo travesseiro que sempre me lembrava as nuvens.
A única coisa que me fez abrir os olhos foi o cheiro maravilhoso de bacon,
ovos e café. Era estranho como meu apetite apareceu com o simples cheiro de
comida. No entanto, isto também me recordou o que tinha acontecido na noite
anterior e logo tive a consciência de todos os fatos que me levou a estar
deitada agora.
Encontrei Henrique parado na frente da porta que levava para a varanda do
quarto, olhando distraidamente por uma pequena fresta na cortina. Não me
importei com seus ombros tensos, mas me deixou curiosa saber o que ele
estava fazendo ali.
— Henrique?
Quando ele se virou, senti meu coração dar um pequeno salto. Era sempre
assim quando eu o via. Ele era um homem tão bonito, que esbanjava
masculinidade e excesso de testosterona.
Segurei um suspiro. Era idiotice continuar dando atenção para aqueles
sentimentos. Por isto, forcei para baixo aquela emoção e me concentrei no que
era importante.
— Que horas são?
— Pouco depois das dez — informou pegando a bandeja da mesa lateral.
— Trouxe para você.
Aceitei, o cheiro estava muito bom para recusar.
— Obrigada, o que está fazendo em casa?
Ele me encarou de perto com aqueles grandes olhos bonitos cercados por
cílios longos, antes de se sentar ao meu lado.
— Estou tirando alguns dias de folga.
Realmente fiquei surpresa e até mesmo um pouco irritada, eu precisei ter
um colapso para ele entender. Permaneci calada, não tinha uma resposta
agradável para aquilo, então me foquei em comer. Fui selecionando o que
mais me agradava na bandeja e comendo devagar, enquanto via o cérebro de
Henrique quase soltar fumaça com o rumo de seus pensamentos.
Era muito claro para mim que ele estava esperando que eu terminasse o
café para conversarmos. Esse foi um bom motivo para não ter pressa nenhuma
em terminar. Degustei o café forte do jeito que gostava, apreciei os ovos com
queijo e bacon que ainda estava quentinho e quando terminei, percebi que ele
não me olhava.
Seus olhos estavam grudados nas próprias mãos, entrelaçando os dedos
com força.
— Eu sou um idiota.
Deixei a bandeja de lado. — Já sabíamos disto.
Ele me encarou por um segundo com o cenho franzido antes de desviar o
olhar.
— Preciso me desculpar — disse baixo. — Eu deixei que meu trabalho e
minhas atitudes colocasse distância entre nós dois. Fiz promessas que não
cumpri. Decepcionei você.
Esfreguei o rosto lentamente antes de dizer aquilo que mais me doía.
— Está na hora de nos divorciarmos.
Seu rosto chicoteou em minha direção demonstrando estar extremamente
chocado. Havia uma palidez inesperada em sua pele.
— Não.
Ergui uma sobrancelha. — Não?
— Ainda não. — Se corrigiu.
— Por quê? — questionei. — Estamos nos magoando, Henrique.
— Isto não é verdade — negou. — Eu magoei você, Erin, e eu realmente
sinto muito. — Segurou minha mão. — Você não fez isto comigo. Não me
magoou de forma nenhuma.
— Eu não posso continuar com isto, Henrique.
— Erin — suspirou.
— Sei que prometi ao seu pai cuidar da joalheria e das outras empresas
dele, que iria preparar você para fazer isto, mas eu não sou capaz. — Tento ser
o mais sincera possível. — Se passaram quase quatro meses e apesar de tomar
conta de tudo, não posso fazer isto por mais tempo.
— Pedi a Caio para assumir o comando por meio período — anunciou
surpreendendo-me.
— O que?
— Vamos intercalar para adaptar a agenda — explicou. — Ele está
disposto a assumir alguns negócios também, então você terá dois militares
brutos e impacientes para treinar.
— Por que...
— Por que agora? Bom me parece que já passou da hora, não é mesmo? —
questionou. — Nossa mãe faleceu muito cedo, o que deixou a tarefa de educar
e criar dois garotos selvagens para o nosso pai. Sempre tivemos muita energia,
muita aptidão física e fomos aprovados ao mesmo tempo para o exército. —
Soltou minha mão e desviou o olhar.
Eu não conseguia encontrar palavras para dizer que o entendia, pois estava
perdida além de surpresa. Henrique não falava muito sobre as coisas que já
passou. Nunca comentava sobre o passado. Eu aceitava isto, não precisava
saber dessas coisas, desde que ele nunca me deixasse de fora de sua vida como
vinha fazendo.
— Tivemos missões perigosas — disse baixo. — Vimos e fizemos coisas
que até Deus duvida. Crescemos e ganhamos nossos próprios times. Caio é
bom em se infiltrar, em ser silencioso e espionar. Eu sou bom em resgate, em
entrar no inferno derrubando portas e salvar quem quer que seja na missão. —
Deu de ombros. — Um dia tudo isto foi demais e eu escolhi voltar pra casa. A
Inteligência ainda traz muitas coisas ruins... realmente ruins, mas ainda é
melhor do que vi no oriente. — Sorriu sem humor. — Consegue imaginar,
tanto eu ou Caio, sentados atrás de uma mesa de negócios falando e fazendo
contratos?
— Não — respondi baixo.
— Apesar da promessa que fiz, sei que relutei muito em aceitar —
murmurou. — Mas eu espero que você acredite em mim quando eu digo que
tentei assumir esse compromisso. — Havia uma seriedade em sua voz. — Sou
um homem de palavra.
Acenei concordando. — Eu sei.
— Coloquei tudo em andamento para isto acontecer — contou. — Só tem
sido meses difíceis. — Fechou os olhos e os abriu. — Eu tenho investigado
tráfico de mulheres e as coisas estão se encaixando.
Apesar de o meu estômago ter embrulhado, eu sabia que ele não deveria
me contar em que estava trabalhando.
— Investigações na maioria das vezes são longas. — Deu de ombros. — E
eu não queria passar o comando, mas confio que meu irmão dê conta do
recado.
Entendia o que ele queria dizer, eu mesma sempre queria abraçar o mundo
sem aceitar a ajuda dos meus próprios funcionários. Tive que chegar a
exaustão para entender que era necessário confiar e ensinar para atingir o
sucesso.
Antes eu tinha Rico, mas seu acidente foi à prova de que precisava de mais
pessoas capazes ao meu redor. Principalmente agora que o nível de
responsabilidade havia aumentado.
Ele se inclinou e segurou meu rosto. — Erin — sussurrou. — Por favor,
não desiste da gente ainda.
— Não sei — suspirei.
— Vou ser um homem melhor por você — prometeu. — Primeiro, dois
dias de descanso. — Deu um sorriso leve. — E depois eu visto um terno.
— Um terno?
— É isto que os executivos usam, não é?
Sabia que eu já tinha cedido. — Sim.
— Bom, eu até deixo você me levar às compras — brincou. — Eu não
tenho muito além de jeans e t-shirt preta. — Beijou meu rosto. — Erin, por
favor.
Fiquei me questionando qual seria a melhor solução para o momento.
Deixar que ele me seduzisse e lhe dar uma segunda chance, ou afastá-lo sem
acreditar que ele se esforçaria como prometeu.
— Erin?
— Preciso mais do que isto — murmurei.
— Estou disposto a prometer muitas coisas hoje. — Roçou seu nariz no
meu. — Vou ser um marido melhor, compartilhar mais refeições com você. —
Deslizou o nariz por minha bochecha. — Juro nunca mais dormir brigado,
vamos resolver nossos problemas antes de deitar.
— Esse é um bom começo. — Estremeci com a sua respiração batendo no
meu pescoço.
— Já confesso que os ternos irão me irritar. — Senti seu sorriso contra
minha pele. — E não vou usar gravatas.
— Já está fazendo exigências! — exclamei ofegante.
Por mais que eu devesse ser mais resistente, meu corpo sempre respondia a
ele rápido demais. Um simples toque e eu me derretia toda para ele. Suspirei
me rendendo ao seu toque.
— Erin...
— Oi.
— Nunca mais me deixe ser um idiota — pediu. — Apesar da minha
teimosia... não teve um dia que não dormi duro.
Um arrepio atravessou minha pele. — Você nem me via chegar.
— Acha que isto apaga a saudade que senti do seu corpo?
Não consegui responder, a mão dele estava subindo por minha perna e seus
dentes pegando os pequenos pontos sensíveis atrás da minha orelha.
— Você já me perdoou? — sussurrou.
— Sim — respondi ofegante. — Mas eu pretendia fazê-lo rastejar um
pouco mais.
Se afastou e me encarou nos olhos.
— Querida, eu vou rastejar por você por quanto tempo quiser — garantiu.
— A culpa ainda é uma queimadura feia dentro de mim, Erin. Não vou
esquecer isto tão fácil.
Não duvidei da sinceridade dele, mas eu não queria mais conversar.
Ajoelhei na cama, coloquei a bandeja no chão e depois me joguei sobre ele, o
surpreendendo. Henrique riu e trapaceou nos girando na cama.
— Hora de sexo de reconciliação — exigi.
Conversaríamos mais sobre todos aqueles assuntos demais.
— Graças a Deus — murmurou antes de atacar minha boca em um beijo
cheio de saudades.
Era impressionante como rever suas atitudes e se desculpar poderia mudar
totalmente um relacionamento. Apesar de Erin ter me perdoado, eu não
acreditava ainda ser merecedor disto. No entanto, estava mais que aliviado por
ter a oportunidade de consertar as coisas.
Depois do almoço, eu a convenci há passar algumas horas na piscina.
Realmente foi uma boa ideia, observá-la mergulhar e atravessar a água com
braçadas firmes e elegantes era de se admirar. Principalmente quando ela
relaxou e deixou o corpo boiar com facilidade.
Agora, estava deitado ao lado dela na espreguiçadeira curtindo um pouco o
sol. Devo confessar que por mais quieto que eu estivesse, meus pensamentos
não eram nada tranquilos ou puros. O pequeno biquíni preto fio dental e de
cortininha tentaria um santo.
— Consigo sentir seu olhar — murmurou Erin.
— Algum problema nisto?
Ela retirou os óculos escuros e me ofereceu um sorriso safado.
— Nenhum — respondeu. — Embora dependa muito do que você vai
fazer.
— E eu devo fazer alguma coisa? — perguntei me fingindo de bobo.
Era claro que eu estava excitado desde o momento em que a vi com roupas
de banho, mas ignorei meu corpo. Não era prioridade. Já havia passado duas
horas com ela na cama e nada era mais justo do que deixá-la descansar da
melhor forma possível.
Erin sentou em sua espreguiçadeira e me deu um olhar muito significativo,
algo que eu conhecia muito bem. Antes que pudesse protestar, ela já estava
montando em meu colo e assaltando minha boca.
— Deus — murmurei retribuindo seu beijo.
Essa mulher nasceu para ser minha, seu corpo encaixava com perfeição no
meu. Era ridículo ter passado tanto tempo brigado com ela. Agora me sentia
determinado a não ser tão cabeça dura, a não dormir sem resolver nossos
problemas.
Suas unhas picaram meus ombros, arranhando minha pele enquanto se
agarrava cada vez mais a minha. Puxei seu corpo mais rente ao meu,
esfregado minha ereção dolorida contra seu meio sensível. Engoli seu gemido
antes de arrastar minha boca por seu rosto e descer pela garganta.
— Henrique — suspirou meu nome. — Eu o quero agora.
— Vamos subir...
— Aqui — exigiu me interrompendo. — Donna e Taylor estão no mercado.
Não queria mais argumentos, nem precisava. Se minha esposa me queria
naquele momento e naquele lugar, eu daria tudo a ela. Empurrei para longe a
parte de cima de seu biquíni e cobri seus bonitos seios com minhas mãos antes
de levar um deles a minha boca faminta.
Ela jogou a cabeça para trás, sua pele se arrepiando e o corpo estremecendo
levemente. Levou um tempo, até ela tentar tomar o controle de volta e
brigamos por isto. Enquanto eu tentava explorá-la mais, Erin empurrava
minha sunga para conseguir liberar minha ereção.
— Calma...
— Não — retrucou antes que eu pudesse terminar de falar.
— Porra.
Afastei sua calcinha minúscula e invadi seu corpo com uma estocada longa.
Deus, essa mulher me levaria à loucura.
— Sim!
— Monte-me — exigi quase rosnando com a sensação maravilhosa de ser
envolvido tão apertado por seu interior quente e escorregadio.
Levou pouco tempo para ela se acostumar com a invasão e começar a se
balançar em mim. Senti suas unhas afundarem um pouco mais na minha pele
antes dela aliviar uma mão e agarrar os meus cabelos da nuca com força.
Não tinha nada de suave ou delicado, era o mais simples e puro ato. Como
animais acasalando e eu não tinha uma única reclamação a respeito. A ajudei a
se balançar cada vez mais rápido e mais forte até que seu corpo enrijeceu por
um pequeno momento antes de tremer quando o orgasmo a atravessou,
levando-me com ela.
— Deus! — Desabou em mim. — Isto foi...
— Fora do normal — completei ofegante igual a ela.
— Sim.
Abracei seu corpo mais junto ao meu enquanto acariciava lentamente suas
costas. O silêncio foi agradável, dando-nos a tranquilidade que precisávamos
para recuperar o fôlego. O que eu realmente não esperava era ver Taylor e
Donna entrando pelas portas dos fundos carregando inúmeras sacolas.
— Oh merda — murmurei, mas só tive tempo de cobrir o bumbum dela
com minhas mãos.
— O que... caralho. — Se assustou. — Nos desculpem...
— Não estamos nem aqui — informou Taylor.
Donna tinha o rosto vermelho e passou tão rápido que fiquei na dúvida se
ela realmente tinha passado. O segurança a seguiu em passos apressados. Erin
cobriu o rosto, envergonhada, me fazendo rir.
— Bom... é a nossa casa — brinquei. — E sexo é o que os casais fazem.
— Donna não vai me olhar por um mês! — exclamou ainda chocada.
— Não conte com isto —Afastei algumas mexas de cabelo do seu rosto. —
Ela ainda vai garantir que você coma pelo menos três refeições por dia. Viu o
olhar dela no almoço, parecia determinada.
Erin relaxou e seu olhar suavizou. — Ela vai superar.
— Sem dúvidas. — Tentei arrumar seu biquíni, mas ainda parecia torto. —
Está com fome?
— Não...
A afastei do meu corpo e coloquei a sunga no lugar. — Vamos lanchar
assim mesmo.
— Então para que perguntou? — revirou os olhos.
— Depois vamos para um banho e escolher um filme para assistir.
— Poderíamos ir ao cinema — Se levantou.
— Amanhã — prometi. — Hoje você não coloca os pés para fora da
propriedade.
— Você é tão mandão — bufou, mas não parecia brava.
— E você teimosa. — Bati de leve na sua bunda. — E você me ama assim
mesmo.
— Eu amo.
Congelei no lugar.
Ela estava falando sério ou brincando?
— Achou mesmo que eu não iria me apaixonar? — questionou colocando
as mãos na cintura me desafiando a contestá-la.
Aquela era minha esposa, não tinha medo de enfrentar nada e não mudaria
isto agora. Apesar do choque inicial, saber que ela me amava aliviava alguma
coisa dentro de mim que nem mesmo tinha percebido antes.
— Você me ama? — segurei de leve seu rosto.
— Sim, mesmo sendo um idiota.
— E ainda queria se divorciar? — Quase estremeci com a palavra.
O que era muita hipocrisia da minha parte, já que quando me casei com ela
sabia que isto aconteceria um dia quando a paixão acabasse. Porém, me
assustava pensar em dormir em uma cama sem ela.
— Sim. — Não hesitou em me responder. — É muito mais fácil esquecer
um amor, do que viver uma vida como estávamos levando.
— Já amou outra pessoa? — perguntei em um sussurro.
— Não.
Então ela não sabia o quanto era difícil esquecer um amor, mas ainda assim
estava disposta a sofrer isto do que aceitar o pouco que eu oferecia.
— Erin — murmurei.
— Sim?
— Eu também a amo, apesar de não demonstrar.
Vi quando ela travou a respiração, chocada com minha confissão. Me
fazendo perceber que ela precisava ouvir mais do que isto. Era um fato que eu
tinha percebido em nossa lua de mel, mas que fui egoísta demais para
compartilhar. Estava com medo de me entregar e acabar todo ferrado como
antes.
— Eu te amo, Erin — digo mais uma vez. — Amo muito você, querida.
— Ah Henrique — suspirou. — Vamos fazer esses sentimentos valerem a
pena.
— Sim, eu vou amá-la intensamente todos os dias — prometi. — Nunca
me deixe.
— Não me afaste nunca mais e receberá o mesmo amor — pediu. — Sem
reservas, sem preconceitos, sem hesitações. Eu vou te amar de todas as
formas, só preciso que seja recíproco.
Com o coração batendo forte no peito, fazendo o sangue bombear alto em
meus ouvidos, senti que não merecia aquelas promessas, mas só Deus sabia
como eu era egoísta demais para negar o amor dela.
Eu queria tudo para mim... pelo resto da vida.
Senti-me sem palavras e com isto só conseguia murmurar que a amava
entre um beijo e outro. O lanche ficou para mais tarde, pois eu a levei direto
para o quarto sentindo que precisávamos selar todas aquelas promessas em
nossa cama.

Um pouco mais de um mês desde minha visita ao hospital e com a vida de


volta ao meu controle, amanheci me sentindo fadigada. Não era comum, pois
sempre tinha muita energia. Sabia que ia ser um longo dia por causa disto, mas
não me preocupei. Meu marido estava cumprindo com sua promessa e passava
todas as manhãs, e às vezes, algumas tardes comigo.
Eu não me surpreendi com sua eficiência, sabia que seria exatamente
assim. Henrique Voithe não fazia nada pela metade, era bom em tudo e isto
incluía seu irmão. Caio tomava o lugar de Henrique e tinha uma inteligência
impressionante. Ambos dariam conta de cuidar da empresa do pai e do
comando da Inteligência sem muito esforço.
Era um pouco irritante, afinal, eu precisei chegar ao extremo da exaustão
para os dois tomarem coragem de enfrentar o destino que sempre souberam
que os pertenciam. Porém, eu sempre tentava não ficar rancorosa quanto a isto
e ensinar cada vez mais a eles para que pudessem logo se virar sozinhos.
— Você está bem? — questionou meu marido assim que descemos no
escritório principal da joelharia de seu pai.
— Só um pouco cansada — murmurei.
— Pegue um momento no escritório que eu cuido das primeiras reuniões.
— Não precisa, eu...
— Querida — disse em um tom mandão, mas ao mesmo tempo tranquilo.
— Está cansada, então, deve pegar um tempo para você e depois cuidar dos
negócios. Se precisar cancelamos algumas coisas para que você descanse
direito.
— Não precisa.
— Bom, então vá para sua sala que eu vou lhe conseguir um café com
chocolate — sorriu. — Do jeito que gosta.
— Você é maravilhoso.
— Eu sei — piscou convencido.
Ele me deu um beijo rápido antes de se afastar, indo para a direção da
cafeteria que ficava no primeiro andar. Cheguei à conclusão de que um tempo
sozinha e um bom café me faria sentir melhor.
O único ponto ruim foi encontrar com o senhor Roberto Kleypes no meio
do caminho para o meu momento de paz. Aquele homem era irritante além do
limite. Ele trabalhava com Joseph há muitos anos e testava toda minha
paciência. Ele costumava me subestimar, acreditando que o fato de ser mulher
me diminuísse no mundo dos negócios. Não era o primeiro homem a me
rebaixar, também não seria o último, mas não significava que eu tinha que
gostar dele.
— Já faz um mês que eu tenho visto os herdeiros por aqui — disse
exigindo atenção. — O que eles pretendem?
Foi impossível não erguer uma sobrancelha.
— O que o senhor acredita que Henrique e Caio estão fazendo?

— Besteiras — respondeu com certa irritação. — Ambos cabeças de vento


só pensam em correr atrás de bandidos e espancar pessoas.
— Está me dizendo que duvida da capacidade deles de cuidarem do próprio
império sozinho?
— E você acredita neles?
— Claro, estou preparando-os para isto.
— E eu pensei que você fosse uma mulher inteligente — bufou irritado.
A voz do meu marido veio de poucos metros atrás de mim. — Eu a acho
incrivelmente inteligente.
Sorri para ele quando se aproximou e aceitei o copo de café que me
ofereceu.
— Eu... bom... estava
Balancei a cabeça para o homem. — Não tente se explicar, senhor Kleypes.
— Aproveite e siga direto para o DP, diga a eles que um dos cabeças de
vento o demitiu — disse Henrique. — Vamos querida.
— Você não pode fazer isto! — exclamou Kleypes parecendo ter
encontrado a voz. — Estou nesta empresa há mais de vinte anos.
— Bom, agradecemos seus serviços e acredito que já esteja na hora de se
aposentar — Henrique me guiou para longe. — Tenha um bom dia.
Nos afastamos deixando o senhor ainda congelado no lugar.
— Acha que fiz certo? — murmurou ele baixinho para mim.
Acenei. — Sem dúvidas.
— Bom, não quero estragar tudo.
— Seguiu seu instinto, isto é bom — afirmei e entramos no meu escritório.
— É a primeira vez que ele realmente é insubordinado comigo, mas nunca
confiei demais. Não hesite em dispensar aqueles em quem não confia, afinal,
você não quer ser passado para trás. Já experimentei esse tipo de traição e é a
pior delas, quando está bem debaixo do seu nariz.
Sentei no sofá que ficava no canto da sala e enruguei o nariz, não era tão
confortável como o do meu próprio escritório.
— Ele vai fazer falta? — perguntou com um olhar hesitante.
Ri baixinho e apreciei o café, ainda era relativamente cedo e apesar de ter
tomado um bom desjejum em casa eu não podia negar a cafeína. Talvez me
ajudasse com a falta de energia.
— Vai! — Não existia motivos para mentir. — E te dará novas obrigações
até que consiga alguém de confiança para o cargo dele.
— Merda — resmungou esfregando a nuca.
— Nada assustador. — Dei de ombros.
— Meu amor, eu serei a pessoa assustadora se tiver mais documentos
enviados para minha mesa.
— Bom, quero ver como vai ser isto. — O provoquei.
Ele cruzou os braços e eu vi que pensava em voltar atrás sobre Kleypes,
mas entendia que o homem não era confiável. A secretária bateu de leve na
porta e anunciou que já éramos aguardados na sala de reuniões.
Era claro a frustração dele, principalmente com a gravata que o fazia tão
lindo, mas não pensou duas vezes antes de ir sozinho para que eu descansasse
um pouco. Não sei como e nem porque me sentia daquela forma, mas não tive
muito tempo para pensar a respeito. Minhas pálpebras pareciam pesadas
demais para resistir e assim, acabei dormindo naquele sofá.
Dormi por longas e deliciosas três horas, Henrique me acordou com um
olhar surpreso e até mesmo um pouco preocupado. Insisti que estava bem e
depois de almoçarmos juntos ele seguiu para o batalhão e eu fui para minha
empresa.
No final do dia Rico estava me esperando na porta com uma pilha de coisas
que precisávamos resolver.
— Não faça essa cara. — Sentou na minha frente cruzando as pernas. —
São apenas detalhes, as suas novas assistentes são maravilhosas e adiantaram
o trabalho pesado.
— Tudo bem.
— Eu mesmo não tenho muito o que fazer — riu. — Adoro ter
empregados.
— Assistentes — corrigi e ele fingiu não me ouvir.
— Trazem meu café, adiantam a agenda e ainda cuidam da papelada. —
Fez uma expressão sonhadora. — Sinto-me valorizado.
Cruzei os braços.
— Mais alguma coisa? — questionei. — Vai me acusar de escravidão ou
exploração?
— Ambos — Riu. — Sua sorte que a amo e posso perdoá-la.
Um toque na porta chamou nossa atenção.
— Entre.
— Senhora, há um rapaz que não tem hora agendada que gostaria de falar
com você.
Ergui uma sobrancelha. — Eu conheço?
— Douglas Covan.
— Sério? — questionei surpresa.
— Sim.
— Bom, deixe-o entrar e arrume serviço para Rico, ele está precisando se
lembrar de como é trabalhar.
— Sim, senhora — respondeu com um sorriso.
— Ah estou bem assim — protestou Rico.
— Vá trabalhar — ordenei. — Volte amanhã com essas pendências.
Ele se levantou e me encarou com desdém. — Vou para onde sou
valorizado.
— E quando vier amanhã, traga meu café.
Rico bufou e me deu um olhar cheio de afronta antes de sair da sala. Um
minuto depois, Douglas Covan entrou. Parecia tão bonito como eu me
lembrava.
— Erin! — Abriu um enorme sorriso.
— Douglas, como vai?
— O recebi com um abraço.
— Muito bem...
Antes de me afastar uma voz furiosa e muito conhecia vibrou ao redor. —
Que porra é essa?
— Henrique...
Ele me puxou para longe dos braços de Douglas e estava pronto para socá-
lo.
— Não se atreva — o impedi bem a tempo.
— Quem é esse homem? — questionou Henrique.
— Um velho amigo — expliquei com irritação. — Douglas, esse troglodita
é meu marido.
— Ah — pareceu sem saber o que dizer. — Bom, não sei por que, mas
parece que tenho que me desculpar por alguma coisa.
— Estava agarrando minha esposa — acusou Henrique.
— Deus — murmurei realmente impaciente. — Eu o abracei, algum
problema com isto?
— Claro que sim! — exclamou como se fosse muito óbvio aquele ciúme
ridículo.
— Douglas, pode aguardar um pouco na sala de espera.
— Sim — afirmou parecendo aliviado antes de correr para fora.
Virei para o meu marido e coloquei as mãos na cintura, ele parecia o
Henrique Voithe comandante e mandão de sempre.
— Eu ainda te dou um olho roxo — ameacei.
— Erin, não brinque comigo!
— E você não me irrite! — retruquei usando o mesmo tom.
— Você estava o abraçando!
— E?
Podia ver os pequenos músculos de seu maxilar pulsar.
Henrique me agarrou em uma fração de segundo. — Porra Erin!
O beijo foi inesperado e me queimou por completo. O homem era um
incendiário, que podia me colocar em chamas em poucos segundos. Enquanto
sua língua invadia minha boca com exigência, seu corpo moldava o meu com
perfeição provocando cada ponto como sempre.
Minha mente estava virando gelatina e acho que somente sobrevivi porque
ele tentou me inclinar sobre a mesa, despertando-me no meio daquela loucura
em que colocou meus hormônios.
— Nem pensar — ofeguei.
Espalmei minhas mãos em seu peitoral e tentei afastá-lo.
— Você é minha, Erin.
— Eu sou. — Nunca negaria. — Mas também sou dona de mim mesma.
Consegui colocar alguns centímetros entre a gente e firmar as pernas, que
tremiam levemente.
— Vai me mandar embora, não é mesmo?
— Não precisa ir se não quiser — sorri. — Vou pedir um café e conversar
com ele, quero saber por que está aqui.
— Já namorou com ele?
Ah, meu comandante.
Nunca ficava nada escondido dele por muito tempo.
— Sim.
— E você o chama de amigo? — Franziu o cenho.
— Por que não chamaria? — devolvi a pergunta. — Foi há muitos anos e...
— Vou te esperar em casa — afirmou me interrompendo.
— Henrique, ainda está com ciúmes.
Ele não me respondeu, me deu aquele olhar penetrante e ameaçador antes
de se virar e sair. Suspirei cansada.
— Maldito homem temperamental — resmunguei e fui receber,
novamente, o rapaz que me aguardava.
— Mais calmo?
Ergui meu olhar da documentação confidencial que estava lendo no
escritório de casa e encontrei minha esposa parada na porta. Ainda me
impressionava em como ela era linda. Seu cabelo sedoso estava preso em uma
torção complicada, os olhos de outono que apesar de cansados tinha o mesmo
brilho de sempre e seu delicioso corpo estava coberto por uma saia preta justa
e uma camisa de seda vinho.
— Você não demorou — observei.
— Esperava que eu demorasse? — questionou com um sorriso zombeteiro.
— Sim — respondi. — Imaginei que teria muito assunto para colocar em
dia com seu amigo.
Ela revirou os olhos e caminhou com calma até a mesa onde se sentou,
distraindo-me com suas coxas tentadoras.
— Ele veio falar de trabalho. — Deu de ombros.
— E você vai aceitar trabalhar para ele?
— Não.
— Não?

Ela sorriu. — Indiquei outro arquiteto, aprendi muito sobre pegar coisas
demais e me matar com tantos compromissos.
— Você é esperta.
— Sei bem disto — afirmou presunçosa.
— Qual é a história? — Não hesitei em perguntar.
Erin olhou as unhas com despreocupação, o que realmente me irritou um
pouco.
— Não é sobre isto que estava lendo, comandante? — indicou a pasta
marrom.
— Engraçadinha.
— Então é o histórico de vida dele?
Eu sabia que ela estava me provocando.
— Algo do tipo — respondi.
— Henrique! — exclamou chocada. — Você não fez isto!
Sorri. — Não, mas fiquei tentado.
— Esse seu ciúmes não é necessário.
A puxei pela mesa até que caiu no meu colo.
— Nunca vou deixar de sentir ciúmes.
Tocou de leve meu rosto. — Bobo, sabe que eu amo você.
— Sei, mas isto não mantém os homens longe de você.
Ignorei o jeito que ela revirou com olhos e depois me encarou com um ar
de deboche.
— Conte-me a história — pedi. — Ou eu vou ter que investigar.
Erin aconchegou mais em meus braços e com tranquilidade me contou
sobre o tal Douglas Cavan. Eles se conheceram quando ainda eram jovens e se
apaixonaram, mas antes que o namoro engatasse, uma ex-namorada dele
apareceu dizendo estar grávida. Erin conhecia o rapaz a dois meses e a moça
já esperava um bebê há três.
Apesar de jurar que não queria nada com a ex, além do filho, acabou preso
em todas as exigências que recebeu. Erin e ele continuaram amigos por um
tempo, trocaram alguns beijos e foram pra cama uma vez. Porém, a falta de
decisão dele em se impor acabou afastando Erin. Ela decidiu em acabar com a
amizade que tinham, pois sentia estar vivendo em um triangulo amoroso.
— Mas você o amava?
— Sim — acenou. — Ele é uma pessoa muito boa.
— Mas não luta pelo o que quer.
Ela sorriu. — Pode até ser, mas entendo o lado dele. Era um filho e uma
mulher que ameaçava qualquer relacionamento saudável dele com a criança.
— Eu não permitiria que ninguém afastasse você de mim, daria um jeito.
— Nada fica no caminho de Henrique Voithe por muito tempo — brincou.
— Não.
— Isto é passado. — Deu de ombros. — Não vejo motivos para falar nisto,
tanto eu quanto ele seguimos em frente. Apesar das coisas que aconteceram,
gosto dele como pessoa e não vejo motivos para ser rude ou socá-lo.
— Eu discordo — murmurei. — Ele ainda quer você.
— Não seja absurdo. — Se levantou devagar. — Você não teve tanto tempo
para avaliá-lo assim, viu somente um abraço.
— Sei o que estou falando.
Erin bufou. — Não vou discutir com você...
Vi que ela não parecia estável e fui até ela preocupada.
— Estou bem — afirmou. — Preciso de um banho e longas horas de...
Ela não concluiu o que estava dizendo, simplesmente desmaiou em meus
braços.
Quando abri meus olhos a primeira coisa que vi foi o intenso olhar de
Henrique. Ele estava inclinado sobre mim e parecia extremamente
preocupado.
— Graças a Deus!
— O que aconteceu? — perguntei confusa.
— Você desmaiou.
Balancei a cabeça levemente tentando colocar os pensamentos em dia e
nisto percebi que estava em um quarto de hospital.
— O que...
— Corri para o hospital mais próximo — explicou. — Você não acordava!
— Sinto muito ter te assustado.
Ele me abraçou contra o peito. — Nunca mais faça isto.
Acabei rindo baixinho, pois ele falou como se eu tivesse desabado de
propósito.
— Não tem graça.
— Desculpe — beijei seu rosto. — Estou me sentindo melhor.
— Bom, agora posso contar que ferrei o terno Armani que usei hoje.
Estreitei meus olhos para ele. — Está dizendo só porque estou presa nesta
cama.
— Algo do tipo — riu. — Vou chamar o médico, ele estava aqui e precisou
atender outra pessoa.
O segurei quando tentou se afastar. — Espere.
— O que?
— Se machucou? — perguntei. — Não me importo com o terno, podemos
comprar quantos forem precisos.
Seu olhar suavizou.
— Não me machuquei — garantiu. — Só rolei um pouco no chão enquanto
socava um idiota. — Deu de ombros. — Nada fora do comum, além do fato
de que eu estava de terno.
— Devia ter se trocado.
— Não tive tempo.
O médico entrou no quarto no mesmo momento e quando me viu acordada,
ofereceu um sorriso gentil. Ele me reexaminou enquanto aguardávamos uma
enfermeira trazer os resultados da amostra de sangue que retirou de mim.
Fiquei muito agradecida de estar deitada, pois assim que ele me informou o
que me causou o mal-estar pensei que poderia desmaiar novamente. Acho que
meu rosto ficou tão pálido quanto o de Henrique ao saber que estava grávida.
Aquela era uma noticia que nós nunca esperávamos. Eu fazia o uso contínuo
de anticoncepcionais há um bom tempo e era irreal saber que estava grávida.
No entanto, o médico não pareceu muito chocado depois de ler minha
ficha. Na visita anterior ao hospital eu havia recebido alguns medicamentos
que cortavam o efeito das pílulas.
— Deus. — murmurei.
O médico nos deixou sozinhos para poder processar aquela novidade.
— Por isto ando tão cansada — digo quase que perplexa.
— Agora temos um motivo a mais para ficar juntos para sempre —
afirmou Henrique, me fazendo encará-lo.
Apesar do rosto ainda parecer sem cor, havia um brilho em seus olhos.
Uma emoção que me tocou e me invadiu.
— Vamos ter um bebê — disse descrente e sorriu. — Espero que seja uma
menina tão linda quanto você.
Suspirei e o abracei assustada com a responsabilidade de criar uma vida.
— Se for, espero que fique feliz assim quando ela começar a namorar. —
Não resisti a provocação, foi o que me fez reagir um pouco.
Ele se afastou. — O que? Nem por cima do meu cadáver.
Gargalhei e discutimos um pouco sobre o assunto. Levar com bom-humor a
novidade de esperamos um filho ajudou a espantar o choque que eu estava
sentindo. Aliviou alguns medos e preocupações, principalmente por ver que
meu marido estava muito feliz em ser pai.
Fui liberada pouco depois e de mãos dadas com ele caminhei para fora do
hospital. Henrique já havia informado Taylor de nossa saída e iria nos
aguardar na porta.
Aconteceu muito rápido. Enquanto observávamos o nosso carro vindo,
Henrique se distraiu com uma chamada no seu telefone e mal teve tempo de
reagir quando uma van branca freou na nossa frente. Dois homens saíram e
me jogaram dentro.
— Henrique! — gritei apavorada.
Ouvi o som de tiros, mas antes que eu pudesse tentar me erguer e pular
para fora, algo muito duro se chocou contra minha nuca.
E tudo escureceu.
A queimadura no meu braço não era grave, eu não precisava olhar para
saber que foi um tiro de raspão. Corri para o carro onde Taylor estava depois
que resgatei meu celular do chão. O coitado até tentou ajudar, mas era tarde
demais.
Alguém estava sequestrando minha esposa.
— Acelera porra! — gritei com Taylor.
Os pneus da SUV cantaram no asfalto. — Que caralho está acontecendo?
Tentei ligar meu celular, mas ele tinha quebrado quando caiu no chão.
— Me dê o seu! — exigi mostrando a ele o que eu queria.
Taylor puxou para fora do bolso do terno o aparelho, desbloqueou sem
desviar o olhar da van que levava Erin. Disquei o número do meu irmão e o
amaldiçoei por não atender rápido.
— Diga meu amigo.
— Alguém a levou, porra!
— Henrique?
— Quem mais seria? As Kardashians? — rosnei irritado. — Levanta sua
bunda da minha cadeira!
Ouvi Caio latindo ordens para nossa equipe. — Estamos indo para os
carros.
— Bom, coloque Nick na linha — ordenei.
Expliquei onde estávamos e a placa do carro que a levou. O moleque era
muito bom em rastrear coisas e não tinha escrúpulos quando era necessário
invadir qualquer câmera de segurança. A SUV era mais potente e assim
ficamos na cola. Junto com meu irmão planejamos onde poderíamos
interceptá-los e no meio da loucura do trânsito, acabamos perdendo a van por
longos minutos.
Meu coração chegou a parar com o medo de perder a direção em que eles
seguiram. Infinitas possibilidades passaram pela minha cabeça, aterrorizando-
me com o destino que poderia tomar caso conseguissem escondê-la de mim.
— Onde eles estão? — rosnei.
— Sumiram. — Taylor respondeu com frustração.
Olhei de um lado para o outro enquanto gritava com Nick para conseguir
encontrá-los novamente.
— Vire na terceira direita... a equipe já está chegando — informou Nick.
Foi um enorme alívio que ele tinha recuperado a localização. Viramos onde
foi indicado e eu tive um vislumbre da van. Taylor pisou mais firme no
acelerador e buzinou para algumas pessoas que entraram no nosso caminho.
Estava cansado daquela perseguição, queria minha esposa grávida em
segurança na nossa casa. Inclinei o corpo para fora quando chegamos mais
perto e atirei em um nos pneus. Eu não queria causar muitos danos para não
colocar Erin em mais risco ainda caso acabassem em um acidente.
A van balançou com a falta de equilíbrio com o pneu furado e foi fácil ver
que o motorista tinha perdido o controle.
— Porra.
Mais a frente tinha uma barricada policial, as luzes piscando na noite eram
impossíveis de ignorar. Então a van correu para o lado e bateu com força total
em um poste.
— Inferno! — Taylor amaldiçoou.
Pulamos para fora do carro. Corri igual um louco para a maldita van e
quando abri a porta lateral, com minha arma pronta para fazer furos, encontrei
o lugar vazio.
— O que...
Eu sabia que Erin esteve ali por causa da bolsa que ainda estava dentro,
mas era somente isto. Furioso, fui até o banco do motorista e arranquei o
homem que estava sangrando lá dentro.
— Onde está minha esposa? — exigi saber.
Seus olhos estavam desfocados e parecia muito perto da inconsciência. O
sacudi com força, eu não me importava com a vida daquele homem, só queria
que dissesse logo onde Erin estava e com quem.
— ONDE ELA ESTÁ? — gritei.
O desgraçado riu.
— Eu não vou te contar... — tossiu sangue.
Uma mão pousou no meu ombro. — Henrique.
— Esse maldito sequestrou minha esposa, Caio — rosnei apertando tanto o
homem que ele gemeu de dor.
— O coloque no chão — pediu meu irmão. — Vamos dar a ele primeiros
socorros e depois o interrogamos.
Eu o joguei no chão, fazendo-o se contorcer.
— Quer dar primeiros socorros a esse verme?
— Henrique — Caio tinha um tom calmo. — Ele não vai falar nada se
morrer.
— Eu não ligo que morra.
— Nem eu — afirmou. — Mas precisamos dele para recuperar Erin.
Meu irmão tinha razão, deixei que ele tomasse frente enquanto colocava
todos os outros para procurarem onde tiraram Erin da van. Foi uma noite
longa e ficou muito pior quando eu soube que o motorista havia morrido.
Estava machucado demais da batida para sobreviver.
E agora, não tínhamos nenhuma pista de onde ou quem havia levado minha
esposa.
Tinha amanhecido e a fúria dentro de mim deu lugar para uma preocupação
extrema. Eu não conseguia parar de pensar em tudo o que ela poderia estar
enfrentando. Me deixava angustiado imaginar que nosso bebê também estava
em risco. E mal havíamos tido consciência de sua existência.
— Você devia descansar um pouco — murmurou Caio ao meu lado.
— Você descansaria se fosse sua esposa? — questionei sem tirar os olhos
das imagens de segurança.
— Não — respondeu sério. — E também não vou fazer isto agora, até que
minha cunhada esteja bem.
— Ela está grávida — contei.
Senti que Caio ficou tenso. — Vamos encontrá-los.
— Como eu não vi isto chegando? — questionei. — Minha esposa e nosso
bebê estão em perigo por minha causa.
— Não é verdade — retrucou meu irmão. — Sabe que esse é um trabalho
de merda, alguém tem que fazê-lo, mas nada do que volta é sua culpa. As
pessoas do outro lado da linha é quem são os culpados.
— Isto não alivia o que estou sentindo.
— Não, mas a culpa não é sua.
— Precisamos encontrá-la o mais rápido possível — murmurei. — Só peço
a Deus que não seja nada envolvendo nosso caso de tráfico de mulheres.
Ficamos em silêncio pensando a mesma coisa. Se fosse, seria impossível
encontrar Erin. Eles eram organizados e fazia com que as pessoas sumissem
com facilidade. Sabia que seria impossível resgatá-la, pois eles já teriam a
colocado em um contêiner e enviado em um navio para o outro lado do
mundo.
— Vou agitar essa cidade. — Me levantei mais determinando do que
nunca. — Vamos prender qualquer um até que eu a encontre.
— Vamos fazer isto.
Eu já tinha colocado meus investigadores e todas as patrulhas em uma
busca incansável por toda a noite. E levaria mais policiais agora. Não ficaria
uma pedra no lugar até que eu a tivesse de volta.
Na saída para fazer uma batida, encontrei Digo, um dos homens que esteve
no escritório de Erin um tempo atrás. Ele estava encostado na minha
caminhonete e tinha os grandes braços cruzados.
— O que você sabe? — perguntei sem rodeios.
Ele não estaria ali por outro motivo.
— Pherlan — disse em um tom irritado. — Esse é o homem que você
procura.
Franzi a testa sem saber de onde conhecia aquele nome. — Onde?
Ele informou uma localização.
— Estou aqui por ela — esclareceu. — Sua esposa se mostrou ser uma
pessoa justa e sem preconceitos. — Desencostou do meu carro. — Pherlan
quer vingança e não tem escrúpulos. Tenha cuidado, vai precisar da cavalaria.
Encontre sua esposa, Voithe.
— Eu vou.
Caio já estava fazendo uma ligação enquanto voltávamos para o escritório.
Uma busca rápida e já sabíamos quem era. Pherlan era o irmão mais velho do
homem que fez Erin de refém na rua, quando nos conhecemos.
Eu ordenei o tiro que o matou e não me arrependia nem um segundo disto.
Agora eu teria que sujar a terra com mais um sangue ruim, pois seria
exatamente isto que iria fazer para recuperar e vingar minha esposa.
Nem preciso dizer do quanto fiquei aliviado em saber que não era quem eu
estava pensando antes. Fato que só me fez pensar em todas as formas de
melhorar a segurança dela a partir de agora.
Prendi o colete Kevlar no corpo antes de entrar no meu carro, eu não
voltaria para casa sem minha esposa.
Mesmo que precisasse entrar no maldito inferno, eu a tiraria de lá.
Havia acontecido algo muito importante, mas eu não conseguia me
concentrar o suficiente para me lembrar. A dor latejante na minha nuca era
algo que dificultava muito a situação. Tentei esfregar o lugar dolorido, mas
não consegui levantar a mão. Nenhuma das duas. Isto sim me motivou a abrir
os olhos e descobrir o que diabos estava acontecendo.
Eu estava deitada em um colchão sujo em um quarto pouco iluminado.
— O que...
A presença de um homem encostado em uma das paredes me calou e
também me recordou de que fui sequestrada na porta do hospital. Tinha
acabado de descobrir que estava grávida e apesar da ansiedade com a notícia,
Henrique conseguiu acalmar meus medos.
Embora agora eu tenha temido muito pela vida do pequeno ser que crescia
dentro de mim. Talvez não fosse o melhor momento para engravidar, e agora
que isto já era um fato, sentia que precisava protegê-lo.
— Quem é você? — exigi saber e me esforcei para sentar.
Minhas mãos estavam presas nas costas e meus pés soltos e descalços.
— Não importa — respondeu do mesmo lugar. — Estou aqui pensando em
como será bom ver Voithe se quebrando quando não ter mais você.
Um arrepio muito ruim passou por minha pele. — O que quer?
— Nada. — Deu de ombros. — Nada que dinheiro pague.
Quando ele se aproximou, eu me afastei o máximo que consegui.
— Não chegue mais perto — ordenei.
O rosto frio daquele homem não teve nenhuma mudança. A cada passo em
minha direção, meu coração batia mais forte. Deus. Quando não tinha mais
para onde ir, bati contra a parede e fui erguida com uma facilidade
assustadora.
— Henrique está vindo — consegui dizer.
— Será tarde demais. — Sua mão enrolou no meu pescoço. — A dor que
ele vai sentir será a mesma que me fez sentir quando matou meu irmão.
— Quem... era...
— Atirou nele na rua. — Apertou mais forte seus dedos tirando quase todo
o meu ar. — O perseguiu como um maldito rato e o mais interessante é que
você, senhora Voithe, estava lá naquele dia.
Os pontos pretos que começaram a dançar em meus olhos dificultaram o
meu entendimento. Quando entendi o que ele dizia, era tarde demais para falar
alguma coisa. Sua mão livre se chocou tão forte no meu rosto que tirou
qualquer chance de conseguir respirar normalmente.
— Eu vou quebrar você — prometeu com frieza. — E garanto que não irá
sobrar muito quando o comandante chegar.
— Eu... não te-tenho culpa.
— Sei disto querida — sorriu de um jeito que me causou calafrios. — Por
isto, fica mais interessante.
Era ridículo aquilo, um bandido tentar vingar a morte do irmão igualmente
criminoso. Se não quisesse enfrentar a polícia, estava do lado oposto na linha
entre o certo e o errado.
— Ele está vindo — murmurei ofegante. — Sabe disto.
Algo sombrio passou em seus olhos. — Estarei esperando.
— Mesmo que me ma-mate, Henrique sempre irá atrás de você — garanti.
— Não conseguirá dar um passo sem sentir a respiração dele em seu pescoço.
— Tomei ar com força. — E quando ele co-colocar as mãos em você — ri em
provocação. — O inferno subirá para esse mundo.
Eu estava com medo, muito medo, mas isto não me faria encurvar diante
daquele homem que se achava no direito de me machucar. Sentia muito o fato
de que era provável que eu não veria meu filho crescer. Que o bebezinho que
nem havia se formado direito dentro de mim, mas que tinha um coração forte
batendo, não teria muitas chances.
Sabia que Henrique estava vindo. Não duvidava disto nem por um
segundo, mas eu me perguntava se ele chegaria a tempo. O que era muito
improvável, pois naquele exato momento começou a primeira surra que levei
de um homem na minha vida.
Não sabia que horas eram, nem quanto tempo passou, mas a cada soco e
chute acreditava que não demoraria muito para estar desmoronando. Mesmo
encolhida na sujeira daquele chão, tentando desesperadamente proteger minha
barriga, minha mente gritava para meu marido se apressar.
E quando não consegui mais manter os olhos abertos, deixei a escuridão
me levar para um lugar mais calmo e tranquilo.
Despertei assustada com o choque de agua fria que me cobriu. Ofeguei tão
alto que o som ecoou ao redor das quatro paredes em que estava presa.
Inclinado sobre mim estava meu sequestrador, o homem ainda tinha aquele
olhar morto que me assustava. Ele jogou o balde longe e sua próxima ação foi
rasgar minha camisa molhada.
— Não — protestei com o resto de energia que me sobrava.
— Você não dá as ordens aqui.
Suas mãos empurraram minha saia para cima, mas não foi muito longe por
causa do tecido justo. Quase respirei aliviada, mas estava ocupada demais
lutando contra ele para fazer qualquer outra coisa.
— Me solte — gritei.
Foi bom perceber que minhas mãos estavam soltas, e mesmo sabendo que
estava bem machucada, eu o estapeie. Não foi a coisa mais inteligente, mas eu
não ficaria quieta enquanto aquele monstro tentava me estuprar. Ele ficou
furioso e voltou a me espancar, com mais força do que antes. Transformando-
me em uma massa quase que desossada.
Gritei e lutei, mas não restava muito de mim para afastá-lo. Ouvi minha
saia rasgar. Senti meu olho inchar. Experimentei o sabor do meu sangue, vinha
do meu nariz e dos meus lábios cortados.
Só Deus sabe como eu queria chorar e me entregar aquele destino cruel que
a vida tinha separado com exclusividade para mim. No entanto, eu não podia
desistir. Não poderia aceitar aquela brutalidade.
Eu queria viver, ser mãe, ser feliz.
Deus, por favor, ajude-me!
Minha voz estava sumindo, não conseguia mais gritar. Faltava tão pouco
para me vencer que o desespero renovou um pouco das minhas forças, mas foi
tão pouco que nem sei dizer se fez efeito.
Até que aquele peso saiu de cima de mim com a mesma rapidez com que
tinha caído. Foi um alívio conseguir respirar novamente, e eu nem posso
explicar a minha emoção quando vi Taylor na minha frente.
— Erin — disse com suavidade.
A barreira de lágrimas que eu tinha segurado até o momento, estourou de
uma vez só e eu me agarrei ao meu segurança como se minha vida dependesse
disto. E dependia.
— Está tudo bem, querida — murmurou me apertando contra seu peito.
Solucei alto, desesperada e aliviada, até que senti que não conseguia
respirar. Estava me sufocando com as lágrimas, o ar e o sangue que escorria
no meu rosto.

Tinha uma fúria gelada dentro de mim. Algo cruel e imbatível enquanto eu
socava o rosto daquele homem que estava espancando e quase violando minha
esposa. O fato de pegá-lo de surpresa tirou sua chance de reagir a surra que eu
estava lhe dando.
Iria matá-lo.
Simples assim.
O único som que passou pela pressão dos meus ouvidos, foram os soluços
dela. Larguei aquele pedaço de merda e procurei por Erin em choque. Deus,
ela estava encolhida nos braços de Taylor chorando em desespero.
Levantei em um pulo, necessitado para cuidar dela, pois a vingança já não
tinha tanta importância. Antes de alcançá-la percebi sua dificuldade em
respirar.
— Erin?
— Chame os paramédicos! — Taylor ordenou para qualquer um que o
ouvisse enquanto a deitava de volta no colchão sujo.
— Querida — murmurei e seus olhos encontraram os meus.
Seu rosto estava tão machucado que assustou a merda fora de mim. Um
olho inchado, um ferimento na testa e seu nariz escorria sangue direto para sua
boca.
— Ela está sufocando — ajoelhei ao lado. — Erin? Estou aqui, amor. —
Virei seu rosto acreditando que fosse o melhor para o momento. — Tenta se
acalmar, por favor.
Seu olhar encontrou o meu, eu podia ver o alívio, mas também um medo
extremo.
— Nosso... bebê...
— Vocês ficarão bem — prometi. — Só precisa se acalmar — Inclinei e
beijei seu rosto algumas vezes. — Estou aqui, Erin. Está segura.
Foi um momento difícil, principalmente porque queria abraçá-la e protegê-
la do mundo. Mas entendia que primeiro, Erin, precisava dos médicos. E
quando a dupla de paramédicos entrou consegui um pouco do meu controle de
volta. Segurei sua mão enquanto eles prestavam assistência a ela e os segui até
a ambulância sem olhar para trás, confiante de que Caio lidaria com toda a
situação.
No caminho para o hospital ela desmaiou, o que deixou cada célula do meu
corpo aterrorizado, mas a paramédica que estava nos acompanhando me
tranquilizou. O corpo de Erin estava além do limite, com muitos machucados
e emoções para lidar. Para mim parecia que eu não tinha chegado a tempo,
mas o olhar gentil da moça do outro lado do corpo da minha esposa me dizia
que foi no momento exato.
Não concordava. Preferia estar levando-a para casa inteira, não em pedaços
daquela forma. Em outro momento iria pensar em Pherlan e no que faria com
ele, mas agora Erin era minha única prioridade.
Em pouco tempo, fiquei preso na sala de espera enquanto a levavam para
longe de mim. Gritei e esbravejei exigindo meu direito de acompanhá-la e foi
preciso três dos meus homens para me segurar no lugar.
A ideia de ela estar longe do meu campo de visão me apavorou. Queria
vigiá-la para sempre somente para ter certeza de que ficaria bem e segura, mas
antes que eu pudesse jogar algumas portas para baixo alguém me drogou.
Encarei o médico horrorizado quando senti as pernas ficarem bambas.
— Seu... desgraçado...
— Quando acordar se sentirá melhor — prometeu ele sem se abalar com a
ameaça de minha voz fraca.
Caio apareceu na minha frente. — Henrique, você precisa se acalmar.
— Foi você — acusei.
Ele sorriu despreocupado. — Eu o conheço meu irmão.
Fui colocado em uma maca e Caio se inclinou sobre mim.
— É só um relaxante — prometeu. — Eu vou garantir que Erin esteja
segura enquanto você relaxa um pouco.
— Eu... eu vou te matar.
— Não ligo — sorriu. — Agora se acalme, foram longas horas, não é
mesmo? Bater em médicos e enfermeiros não ajudará Erin em nada.
Suspirei sabendo que resistir ao medicamento faria meu coração bater em
um compasso descontrolado e até me levaria a um ataque cardíaco. Também
entendia que derrubar portas para chegar até ela não a ajudaria.
— Ele é muito resistente — ouvi alguém dizer.
Essa pessoa não diria isto se soubesse o quanto estava lutando para ficar
consciente.
— Só... quero protegê-la.
— Ela está segura — garantiu meu irmão.
Acreditei nele e deixei que meus olhos se fechassem.

Acordei em um quarto do hospital e ao meu lado estava Erin dormindo


passivamente. Seu rosto estava tão inchado que era quase irreconhecível, mas
seu peito subia e descia com suavidade. Me sentei e notei a presença do meu
irmão no canto.
— Ela está bem — anunciou. — E os bebês também.
— Graças a Deus — murmurei descendo lentamente da cama.
Tinha um banquinho de rodinhas usado por médicos por perto. Me arrastei
até ele e depois de me sentar, rolei até ficar bem perto dela. Só depois percebi
o que ele tinha dito. Bebês. Não o bebê. Não era somente um. Gêmeos. Ele
disse no plural e eu realmente fiquei grato por estar sentado quando processei
a informação.
Segurei sua mão com cuidado, percebendo suas unhas quebradas, e a beijei
com carinho.
— Querida — sussurrei. — Eu estou aqui.
Se eu não tivesse chegado a ela, perderia três pessoas importantes para
minha vida.
— Ela dormirá por um tempo, o corpo dela precisa disto — comentou
Caio. — Está muito machucada, mas não precisou de nenhuma intervenção
cirúrgica.
— Como alguém tem coragem de fazer isto? — perguntei baixo. —
Machucar uma mulher desta forma?
— Nem mesmo se eu tentasse conseguiria uma resposta para você. — Se
levantou. — Vou mandar entregarem uma refeição, coma tudo e não me force
a fazê-lo engolir.
— Você é um idiota — acusei sem tirar os olhos da minha esposa. — Não
devia ter me drogado.
— Tem certeza? — questionou rindo e saiu sem esperar por uma resposta.
Eu socaria meu irmão em outro momento, mas nunca daria o braço a torcer.
Sabia que não me acalmaria de outra forma. Sentia que todo o desespero em
mim me faria cometer loucuras para que Erin não saísse do meu campo de
visão.
No lugar de Caio, teria tomado a mesma decisão.
— Está tudo bem querida — sussurrei. — Estou aqui com vocês.
Segurei a mão dela com cuidado e velei seu sono por não sei quanto tempo.
Ansioso para ver seus bonitos olhos de outono abertos e aflito ao saber que
seu rosto estava inchado demais para que ela conseguisse abrir normalmente
as pálpebras.
Foram longas horas de espera, talvez as mais longas da minha vida para
enfim ver seus olhos se abrirem em pequenas frestas.
— Erin — suspirei seu nome.
— Hen-henique.
— Shhi — Toquei seus lábios. — Não fale.
— Sede.
Dei a ela água direto de um canudo, antes de acomoda-la de volta em seu
travesseiro.
— Você está bem — contei. — Todos os três. — Isto pareceu aliviar
alguma coisa em seu rosto machucado. — Só precisa descansar.
Não sabia se ela tinha me entendido sobre a quantidade, mas não me
contestou. Parecia cansada demais para discutir ou refletir sobre o assunto.
Apesar de ainda surpreso, eu amaria todos eles da mesma forma. E não
duvidava nem por um segundo que Erin faria o mesmo, ficaria chocada, mas
seu amor seria infinito.
— Fique.
Seu tom de voz fraco torceu meu estômago.
— Até o momento que seja liberada — prometi. — Eu não vou a nenhum
outro lugar.
— Eu... eu te amo.
— Também te amo, meu bem.
Ela voltou a fechar seus olhos e o sono a levou novamente.
Levei quase cinco dias para conseguir me sentir um pouco melhor. Meu
rosto perdeu o inchaço e apesar da cor horrível, era um alívio poder abrir os
olhos normalmente. O que mostrou o que eu já sabia. Henrique estava
morando naquele quarto e não se cuidava como deveria.
O encontrei sentado na poltrona ao lado com um notebook no colo,
parecendo muito distraído com o que estava lendo. Seu cabelo estava grande e
bagunçado, uma barba grosseira cobria seu rosto onde antes era perfeitamente
aparada.
— Oi.
Seu olhar encontrou o meu em meio segundo mostrando-me as bolsas
escuras por baixo de seus olhos.
— Erin — suspirou aliviado do mesmo jeito que parecia sentir toda vez
que ouvia minha voz.
Era assim toda vez que ele me via acordada.
— Venha aqui. — Deslizei um pouco para o lado indicando o que queria.
Henrique não hesitou em deixar o notebook de lado e ir rápido até a cama.
Ele usava camiseta e jeans preto, ambos amassados.
— Como você está?
— Me sinto melhor — garanti.
— Bom.
— Deite-se aqui comigo. — Quando vi a duvida no seu rosto, acrescentei:
— Por favor.
Ele cedeu, chutou os tênis de lado e se deitou me puxando para seus braços
com cuidado. Segurei um suspiro. Era maravilhoso sentir a segurança que seu
abraço me passava.
— Quando foi à última vez que dormiu? — perguntei acariciando seu
peito.
— Isto é um interrogatório, senhora Voithe?
— Deveria ser? — devolvi a pergunta. — Parece que não está se cuidando.
Conheço os sinais.
— Estou me alimentando bem — contou em um murmuro mal-humorado.
— Taylor continua me empurrando comida a cada par de horas.
— Isto é bom — sorri. — E dormir?
— Consegui alguns cochilos — disse em um tom despreocupado. — Eu
estou bem — enfatizou. — Minha única preocupação é você e os nossos
bebês. — Deslizou uma mão com suavidade por minha barriga.
— Estamos bem — afirmei.
— Quero prendê-los em casa para o resto da vida — confessou. — E ficar
vigiando vocês para sempre.
— Henrique — o interrompi com suavidade. — Estamos bem — repeti. —
E não adianta nos trancar em casa, infelizmente passamos por um momento
muito ruim e perigoso...
— Por minha causa...
—..., mas não é culpa de ninguém. — Completei. — Não se culpe por isto,
por favor.
— Eu não posso, se eu...
— Não temos espaços para “se” — Foi minha vez de interrompê-lo. —
Não foi sua culpa. — Ressaltei. — Não pode controlar os criminosos. E nem
deixar o trabalho que faz na Inteligência — digo sabendo que ele estava
pensando sobre isto.
Não poderia permitir que abrisse mão daquilo que nasceu para fazer
somente porque estava com medo. Se no futuro ele acreditar que já está na
hora de aposentar a arma e as algemas, então tudo bem, mas não assim.
— Vamos ver — murmurou como se soubesse que não adiantaria discutir
comigo agora sobre o assunto.
— Por que não fecha os olhos e descansa um pouco? — sugeri.
Claro que ele protestou. — Não estou com sono.
Eu sabia que não era verdade, o cansaço em seus olhos era bem evidente.
Toquei um ponto em seu pescoço e fiz um carinho circular ali por um tempo,
distraindo-o até que quando ergui o rosto vi que seus olhos estavam fechados.
— Vou vigiar seu sono — sussurrei.
Ele me olhou mostrando que ainda estava alerta, mas o carinho que recebia
estava o vencendo. Sorri para ele com despreocupação e vi suas pálpebras
pesarem.

Ir embora daquele hospital foi um grande alívio, não só para mim, mas para
toda equipe médica e de enfermagem que Henrique estava tentando
enlouquecer. Ele não se importava em quebrar regras, pelo contrário, fazia
exatamente isto para satisfazer sua necessidade louca de me proteger.
Não era só isto, ele não deixava as enfeiras me banharem e nem permitia
que eu comesse as refeições do hospital. Fazia Taylor me trazer comida a cada
par de horas, cozinhadas por Donna, e me obrigava a comer sem reclamar.
Eu não reclamava, mas claramente o fazia me acompanhar.
— Vamos parar no batalhão por alguns minutos — informou ele. —
Preciso pegar algumas pastas e deixar essas. — Apontou para a pilha de papel
no banco do meio do carro.
— Tudo bem — acenei. — Bom que agradeço a todos pelo carinho.
— Não há necessidade...
— Faço questão. — O interrompi.
Tinha a sensação de que se não ficasse esperta ele me prenderia em uma
bolha de vidro.
— Nunca ganhei tantas flores e balões na minha vida — comentei tentando
distrai-lo da tensão que tomou seu rosto. — Preciso agradecer.
— Tudo bem.
Apesar de concordar, ele não parecia feliz. Não rendi o assunto, ele teria
que aceitar em algum momento de que o que aconteceu não era culpa dele. E
também que não poderia me prender pelo resto da vida.
Poucos minutos depois daquela conversa chegamos ao batalhão e eu
ignorei seu olhar que me dizia para esperar no carro. Desci devagar e
caminhei com tranquilidade para dentro. Ouvi seu bufo indignado e logo
estava ao meu lado e Taylor do outro, me cercando.
Fiquei impressionada com o carinho que recebi a cada passo que dei dentro
daquela delegacia. Henrique queria ficar ao meu lado, mas também queria ir
embora rápido. Com isto, deixou que Taylor fosse a minha sombra antes de
sumir pela escada que levava até seu setor no andar de cima.
Enquanto conversava com a gentil policial atrás de um balcão que tinha
mais flores para mim, percebi a aparência abatida de uma senhora no banco ao
lado. Ela me olhava com lágrimas nos olhos, me deixando confusa sobre o
porquê ela parecer me conhecer.
— Erin? — Taylor chamou mostrando também ter percebido. — Vamos
subir.
Acenei concordando. — Senhora Voithe?
Voltei a me virar para a mulher e ela deu um passo na minha direção. O que
deixou meu segurança tenso e o fez se projetar na minha frente.
— Taylor. — O repreendi.
— Estamos saindo — anunciou.
— Espere — pediu a senhora. — Por favor.
Consegui contornar o grande corpo do meu segurança e ignorei a mão dele
em meu ombro. Encarei a mulher e as lágrimas manchando seu rosto eram de
partir o coração.
— Do que precisa senhora? — perguntei com gentileza.
— Somente que me perdoe — respondeu em um soluço angustiado. —
Meus dois filhos fizeram mal a você e eu não sei dizer onde foi que errei tanto
para merecer isto.
Sabia que tinha ficado pálida e que meus olhos saltaram para fora do meu
rosto. Cheguei a estremecer sabendo a quem ela se referia. Ao homem que me
pegou como refém na rua e ao outro que me sequestrou e me espancou com
brutalidade.
Taylor me puxou para trás novamente e por muito pouco conseguiu me
arrastar para fora. O que realmente me fez reagir.
— Taylor, pare! — exigi nervosa. — Está tudo bem.
— Não é uma boa ideia — protestou.
— Acha que ela me faria algum mal? — questionei com irritação.
Ele travou os lábios em uma linha fina e seus olhos mostravam irritação
quando encarou aquela senhora. Ela não deve ter nem um metro e meio
direito, era franzina e parecia realmente assustada. Taylor não me deu uma
resposta, cruzou os braços em teimosia e ficou parado igual a um poste do
meu lado.
— Está tudo bem senhora — digo sabendo que tinha o controle das minhas
emoções. — Eu não a culpo por nada do que aconteceu.
— Eu tentei... dei o melhor de mim para que eles fossem pessoas boas,
mas... — balançou a cabeça como se não soubesse como explicar.
Toquei de leve seu ombro. — Depois que nos tornamos adultos, somos
responsáveis por nossas atitudes.
— Sinto muito — choramingou — Por tudo.
— Está tudo bem — garanti e a abracei. — Não se preocupe comigo, estou
bem agora.
Antes de me afastar, ouvi a voz irritada do meu marido. — O que está
acontecendo aqui?
A senhorinha estremeceu como se já tivesse o conhecido antes e se afastou
com os olhos assustados.
— Henrique — suspirei sabendo que ele daria um show.
Em segundos estava do meu outro lado, se inclinando de forma protetora.
— Pedi para que fosse embora, Deise.
— Voithe — Os ombros dela caíram ainda mais. — Só gostaria de me
desculpar.
— Não precisa — respondi por Henrique. — Vá para casa e descanse.
Quando dei um passo a frente, Henrique me puxou para trás. — Você não
pode se estressar — murmurou me irritando.
O ignorei e fui até Deise, segurei suas mãos geladas com gentileza e lhe
ofereci um sorriso.
— Eu não tenho que perdoar a senhora por nada — afirmei. — Não são
seus pecados, seus crimes. Tranquilize seu coração quanto a isto, mas se
precisa do meu perdão para se sentir melhor, eu a perdoo sim. Vá para casa
sem carregar essa culpa, tudo bem?
— Obrigada — choramingou.
Eu a abracei certa de que estava agindo corretamente quanto aquele
assunto. Ainda tremeria a cada pesadelo que invadisse meus sonhos, mas
aquela senhora não tinha culpa das crueldades de seus filhos.
Quando me afastei, um policial apareceu e se ofereceu para levá-la até sua
casa. No minuto seguinte, eu estava sendo arrastada para o nosso carro.
Henrique não parecia nenhum pouco bem-humorado. Eu sabia que ele não
ficaria calado por muito tempo. Precisei somente de um minuto para me sentar
e ouvir o bufo irritado dele.
— Fale de uma vez — resmunguei.
— Como pode ser assim? — questionou.
— Assim como? — devolvi a pergunta.
— Tratar aquela senhora tão bem depois do que o filho dela fez com você
— rosnou. — Quando eu a vi só conseguia me lembrar de como encontrei
você naquela merda de lugar.
Balancei a cabeça incrédula. — Estamos casados há meses, quando foi a
última vez que viu meus pais?
Ele franziu a testa confuso. — Eu não conheço seus pais e eles não têm
nada a ver com o assunto.
— Não os conhece porque são duas cabeças de vento que não pensam em
nada além do próprio umbigo — contei. — Acha que sou assim? Só porque
sou filha deles?
— Não — ainda pareceu confuso. — Você é uma pessoa boa, que se
importa com os outros...
— Bom, então não diga que aquela senhora é igual os filhos. Não viu o
olhar assombrado dela? — questionei irritada. — Não percebeu como os
ombros dela estavam inclinados? Ela parecia derrotada. — Olhei pela janela.
— Ninguém é responsável por seus atos além de você mesmo.
— Erin... eu só queria protegê-la.
— Sei disto, mas não deixe que isto o cegue.
Ele acenou e soltou um bufo antes de me puxar para perto. — Você é boa
demais para mim.
— Também concordo com isto — brinquei. — E por algum motivo, que eu
não faço ideia, me apaixonei por você.
— Deve ser o meu charme.
Apesar de saber que Erin estava certa, eu não conseguia ceder. Aquela
mulher não tinha culpa pelos erros dos filhos. No entanto, depois daqueles
longos dias vendo minha esposa se recuperar em uma cama de hospital, tirava
um pouco, ou muito, da minha capacidade de ser racional.
Eu não queria que Erin ficasse perto de qualquer pessoa que levasse o
mesmo sangue que aquele verme que tanto a machucou. Não discuti o
assunto, sabia que não adiantaria. Erin tinha um senso de bondade incrível que
sempre me impressionava, mas que no momento não era bem-vindo para mim.
Queria desesperadamente chegar em casa, levá-la para um banho longo e
quente antes de me enroscar em seu corpo em nossa cama. Ainda tinha uma
terrível necessidade de protegê-la do mundo, de cuidar e zelar.
Então, foi um alívio quando enfim entramos em nosso quarto. Segurei sua
mão e a guiei direto para o banheiro. Ela estava mais quieta do que o normal e
parecia muito perdida nos próprios pensamentos, o que aumentava minha
ansiedade.
Preparei a banheira como eu sabia que ela gostava, quente e com muitas
bolhas. Ajudei com as roupas, me livrei das minhas e juntos, entramos na
água.
Sempre me deixava com raiva e culpa toda vez que via seus machucados.
Os hematomas tinha um tom feio de verde amarelado, fase final para sumir e
curar, mas ainda assim inflamava a fúria dentro de mim.
— Erin — murmurei quando seu olhar encontrou o meu.
Havia um alívio e um medo estampados na mesma proporção em seus
bonitos olhos de outono.
— Venha aqui.
A puxei para meu colo e afundei um pouco mais para que a água a cobrisse
direito.
— Desculpe — disse ela limpando apressadamente as lágrimas que
desceram por seu rosto.
— Não se desculpe, nunca, por chorar. — Beijei seu rosto. — Sempre se
apoie em mim.
Desde que a resgatei, ela não tinha chorado muito. Não tinha se permitido
quebrar. Eu via que ela queria somente se recuperar e se cuidar para que
nossos bebês ficassem bem. Erin era tão forte que impressionava.
— Estou aqui, querida — murmurei baixinho. — Você está segura.
Ela soluçou e acenou. — Me sinto segura... em seus... braços...
Meu coração inchou de orgulho e depois diminuiu do tamanho de uma
ervilha. A segurei mais forte, apertando-a contra meu peito enquanto tomava
cada lágrima dela com aflição e culpa.
Devia ter feito melhor o meu trabalho, procurado por qualquer perigo ou
ameaça. Isto era o que eu dizia a mim mesmo, sabendo que eu não poderia
controlar aquela situação. E odiava a impotência que isto me deixava.
Sair do comando era algo que vinha pensando com muita constância, pois
era muito mais seguro ficar atrás de uma mesa do que correr atrás de bandidos
nas ruas. Assim eu não levaria nenhum perigo para casa, para minha esposa e
nossos filhos.
Tinha tentado ter essa conversa com ela, mas recebi aquele olhar
desafiador.
— Não se atreva — Ela tinha dito. — Alguém precisa fazer esse trabalho e
nós sabemos que é você.
Eu não concordava, existiam muitas pessoas capazes de fazer meu trabalho.
Porém, para não discutir com ela enquanto estava tão machucada concordei
para finalizar o assunto. Ainda pensava em largar tudo, mas deixaria para me
decidir sobre isto depois.
Meu único foco agora era a mulher chorando em meus braços.
— Eu vou cuidar de você, sempre — prometi. — Erin — ergui seu rosto.
— Eu te amo.
Ela fungou. — Também o amo.
— Um beijo? — ofereci.
— Vou precisar mais do que isto.
Limpei seu rosto manchado por lágrimas antes de segurá-lo com carinho.
Beijei com cuidado seus lábios, ainda havia manchas de hematomas em seu
rosto. Não queria lhe causar mais dor. Ela percebeu minha hesitação e se
afastou com as sobrancelhas franzidas.
— Não me trate como um vaso frágil.
— Erin, você ainda está muito machucada.
— Sim. — Não negou. — E precisando me sentir eu mesma.
Surpreendeu-me ao agarrar com força meus cabelos da nuca e atacar minha
boca em um beijo faminto. Eu não queria machucá-la, mas ver aquele fogo em
seus olhos aliviou o aperto do meu peito. Aquela era a minha Erin, uma
mulher desafiadora, cheia de força de vontade e que pegava o que queria.
Não conseguia deixar de correspondê-la.
A chama que vi brilhar nela me queimou em poucos segundos. Erin se
moveu sem deixar de me beijar e montou meu colo. Tentei protestar quando a
senti se posicionar. Entendi que ela precisava de algo mais selvagem, mas eu
queria cuidar dela. Ter certeza de que estava pronta para me receber... Bom,
tive essa certeza no momento em que ela me levou fundo em seu corpo.
— Deus — murmurei.
Eu estava com fome dela, mas Erin se mostrava faminta.
Sua cabeça se inclinou para trás, seu corpo se arqueou. Era uma visão
incrível. Tê-la toda para mim. Queria firmar minhas mãos em sua cintura para
fazer com que subisse e descesse sobre mim rápido e duro, mas me controlei.
Tinha hematomas lá também. Antes que a raiva subisse, ela se moveu
conseguindo toda a minha atenção novamente.
A segurei devagar enquanto me focava em saborear seu bonitos seios em
minha boca. Seus gemidos de apreciação combinavam com seus movimentos.
Segurei com cuidado seu quadril deixando que ela pegasse de mim tudo o que
precisava.
Nos últimos dias estive tão imerso em culpa que não percebi o quanto
sentia falta de tê-la assim. Seu olhar selvagem, as bochechas vermelhas, a
respiração ofegante. Tudo aquilo seria algo que eu nunca poderia esquecer e
sempre iria desejar mais.
— Henrique...
— Bem aqui, Erin.
Desci minha mão para o inferior de suas coxas até encontrar o ponto certo.
Pressionei seu clitóris em meus dedos antes de fazer pequenos círculos, então
ela se quebrou. Um pequeno grito saiu de seus lábios. Seu corpo apertava o
meu com tanta possessividade que me levou ao limite, me fazendo derramar
dentro dela com intensidade.
Erin se jogou sobre mim, abraçou meu pescoço frouxamente enquanto
apreciava o deleite que ainda nos envolvia.

O tempo foi passando com tranquilidade, dando-me a oportunidade de me


curar com calma. Os machucados na pele se foram, mas os psicológicos não.
Então, junto com meu marido, começamos a fazer terapia. Era importante
cuidar daquelas feridas internas também. Principalmente quando Henrique
começou a surtar querendo me prender em casa para sempre com a intenção
de me proteger.
Ele precisava entender que não existia um lugar particularmente seguro no
mundo, mas que onde eu estivesse iria me cuidar. Foi preciso muitas sessões
individuais para ele ceder, não foi nenhum pouco fácil, mas entendeu que eu
estava bem, assim como nossos bebês.
As consultas pré-natais aconteciam duas vezes por mês, com muitas
vitaminas e exames de sangue. Nisto eu precisava de Henrique por perto, pois
bastava olhar uma agulha para minhas veias sumirem do corpo. Ele era o
único que conseguia me distrair suficiente para concluir aquelas pequenas, e
muito importantes, etapas.
Os enjoos tiveram seus picos de altos e baixos, minha libido também. Não
era todo dia que o sexo parecia convidativo. Eu só queria me deitar e dormir
por longas e incansáveis horas. E havia dias que precisava desesperadamente
saltar sobre o corpo delicioso do meu marido e satisfazer todo aquele tesão
inesperado.
Uma loucura, assim como alguns dos desejos que sentia.
E hoje era um desses momentos, saí da minha cama vazia no meio da
madrugada. Já que Henrique estava preso no batalhão fazendo alguma busca
atrás de um bandido. Bati com suavidade na porta do quarto de Taylor e
quando não tive nenhuma resposta a abri.
A luz do corredor me deu uma ótima visão do corpo másculo jogado sobre
o colchão. Ainda não entendia como esse homem não tinha sido amarrado por
nenhuma mulher. Seminu, exibia com despreocupação muitos músculos bem
trabalhados que me tentaria em outro momento caso não fosse apaixonada.
— Taylor — chamo mais firme.
Ele acordou parecendo alarmado e se sentou na cama. — O que aconteceu?
Saltou em busca de uma ameaça e quando me viu sozinha resgatou uma
calça de moletom da poltrona.
— Estou com desejo de sorvete de goiaba.
Ele vestiu a calça franzindo a testa. — Você não gosta de sorvete de goiaba.
— Quer discutir sobre isto? — questionei.
— Não.
— Bom, não consegui falar com Henrique e não tem deste sabor no freezer.
— Por que você não gosta — retrucou. — Ninguém gosta...
Revirei os olhos. — Só dê um jeito, ou eu mesma vou buscar.
Sabia que era golpe baixo, ele não me deixaria sair sozinha nunca. Muito
menos no meio da madrugada.
— Vou ver o que fazer — murmurou.
No início do meu último trimestre de gestação, o projeto no qual trabalhei
incansavelmente para dar uma vida melhor as muitas pessoas de um bairro
carente ficaram pronto. Nunca tinha me sentido tão orgulhosa como naquele
momento. E estava pronta para oferecer os mesmos benefícios e cuidados para
outros lugares. Existiam tantas pessoas precisando de ajuda e poucos que
realmente queriam fazer alguma coisa.
Por isto, com o peito inflado de tanta emoção fui até lá no dia da
inauguração. Claro, cercada de seguranças e com Henrique respirando na
minha nuca a cada passo que eu dava. Tentei não me irritar com ele e Taylor,
que se juntou ao bonde dos homens extremamente protetores, mas eles
estavam realmente testando minha paciência.
— Não se atrevam — resmunguei assim que vi que eles tentariam me
impedir de aproximar de Logan, Digo e Lola.
Os três que foram até meu escritório informar que havia algo errado com
meu projeto.
— O comandante fez um numero em você, princesa — disse Lola
apontando para minha barriga.
— Eu que o diga — resmunguei os fazendo rir. — São gêmeos.
— Parabéns — disse Logan. — E obrigado por cumprir com sua palavra.
— Ficou incrível o trabalho de restauração — disse Lola. — Eu e Digo, até
ajudamos com algumas pinturas. Somos bons em rabiscar alguns desenhos.
Olhei para Digo, o homem negro que sempre se mantinha calado, e meu
coração se encheu de gratidão. Henrique havia me contado da ajuda dele. Se
não fosse por sua dica, não teriam me resgatado a tempo.
— Obrigada — digo emocionada.
Ele sabia a que me referia e somente acenou.
— Peço desculpas pelas lágrimas — digo. — Muitos hormônios para
controlar.
— Não te invejo — comentou Lola.
Dei uma risada e acenei para que continuássemos andando, queria ver cada
detalhe ao redor.
Horas mais tarde, parei para jantar com meu marido no lugar em que nos
conhecemos. Ou melhor, perto dali. Olhei pela janela do restaurante,
observando o trânsito fluir com facilidade do lado de fora. Foi bem ali na
frente onde um homem me arrebatou como sua refém, colocou uma arma na
minha cabeça e enfrentou o comandante de polícia que agora estava sentado
ao meu lado.
Sabia que não tinha visto muito dele naquele momento, não tinha como,
mas quando acordei no hospital seu rosto foi a primeira coisa que avistei.
— O que está pensando?
Sua voz me fez encará-lo. — Em quando nos conhecemos.
Vi a sombra no seu olhar ao entender do que estava falando. Também olhou
pela janela e suas feições endureceram.
— Não devia estar pensando nisto.
— Não importa o caminho que levou, Henrique, mas a conclusão que
chegou — comentei. — Se eu não estivesse ali fora naquele dia, não teria te
conhecido.
— Discordo — sorriu. — Meu pai estava determinado a nos casar.
— Ele é um bom casamenteiro, mas eu não tenho certeza se ele conseguiria
me convencer.
— Meu anjo. — Deslizou os dedos com suavidade por meu rosto. — Meu
pai não precisava te convencer. Eu faria isto — garantiu. — E não existe nada
nesse mundo que me impediria de ser seu marido.
— Mesmo eu sendo uma víbora de sangue frio? — questionei o
paralisando por um segundo.
— Não sei do que está falando — murmurou com um sorriso.
— Não? — Aproximei meu rosto do dele. — Esse era um apelido ruim.
— Prefere onça? — questionou com um sorriso aberto.
— Prefiro que se lembre de que eu sei de tudo...
— Está na profissão errada — riu.
Completei. —... Mas eu gosto de ser sua esposa.
— Gosta? — ergueu uma sobrancelha. — Vou ter que me esforçar mais.
O beijei suavemente.
— Estou contando com isto.

— EU VOU TE MATAR!
Estremeci.
Eu não sabia se Erin estava furiosa ou com dor, mas provavelmente os dois
enquanto eu dirigia como um louco para o hospital. Fiquei aliviado por ter a
missão de dirigir. Se tivesse dado tempo para Taylor se jogar atrás do volante,
eu estaria sendo esfaqueado por minha mulher.
— Nunca mais — rosnou ela. — Nunca mais vai me tocar.
Eu não duvidava da sua ameaça, nem queria pensar a respeito. Só esperava
chegar rápido no hospital para que descem a ela um medicamento que
acalmasse sua dor e seu gênio.
— Falta pouco — digo.
Ela gritou novamente, era outra contração. As crianças estavam com
pressa. Mesmo agendando uma cesariana, a bolsa se rompeu antes do prazo
esperado. Não havia completado todas as semanas necessárias ainda e isto me
preocupava.
— Por que está indo tão devagar? — questionou ela.
— Estou correndo.
— NÃO ESTÁ NÃO!
— Deus — ouvi Taylor murmurar. — Ela vai quebrar meus dedos.
Por muito pouco não ri. Só Deus sabe como segurar o riso salvou minha
vida naquele momento. Acredito que Erin teria acertado minha cabeça com
alguma coisa antes de cair no choro. Eu já estava treinado com suas mudanças
de humor e apreciava muito o fato de ter sobrevivido aos noves meses que se
passaram.
Realmente concordava com ela sobre não ter mais filhos. Apesar do imenso
amor que estava sentindo, o alívio em não ter que lidar com aqueles
hormônios me parecia muito maior.
Chegamos ao hospital em dez minutos, isto porque meu irmão enviou
algumas viaturas para abrir caminho, ou teria demorado muito mais. Erin foi
medicada pelos médicos que a levaram e quando voltei a vê-la no quarto,
estava totalmente relaxada apesar de um pouco cansada.
— Oi.
Ela suspirou. — Henrique.
— Como está se sentindo?
— Muito melhor. — Segurei sua mão. — Desculpe pelos gritos.
— Você tem o direito de gritar o quanto quiser.
— Também concordo com isto — sorriu.
Esperamos por quase uma hora até que ela estivesse pronta para dar à luz
aos nossos filhos. Lucas nasceu primeiro, berrando aos quatro cantos daquela
sala. E depois veio sua irmã, Clara, tão linda e vermelha, mas com os pulmões
tão bons quanto os do irmão.
E todo aquele amor que estava sentindo antes, cresceu de um jeito que
pensei que não caberia no meu peito.
Eu não podia acreditar na sorte que a vida tinha reservado para mim depois
de um maluco e inesperado casamento arranjado.
Erika Martins, nasceu em São Domingos do Prata, mas ainda na infância
mudou-se para João Monlevade com a família. Formada em contabilidade,
resolveu trocar os números pelas letras. Apaixonada por romances,
começou a escrever em um aplicativo para autores independentes, onde já
alcançou a expressiva marca de mais de 3 milhões de páginas lidas. Viciada
em sorvetes, filmes e séries, passa boa parte do seu tempo escrevendo,
acompanhada de uma boa música e seu inseparável Chá Mate.

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SNIPER – Protegendo o Inimigo, livro 1
Sinopse
O quão real é o amor para você?
Já amou alguém em que pode afirmar com todas as letras que aquele
sentimento era real?
Vitor e Sofia se encontram por acaso, talvez por obra do destino. Destino
este, que os mostrou que estavam destinados a amar. O casal mostra todo o
romantismo possível para um relacionamento verdadeiro, autêntico.
Sem muito drama e com uma grande parcela de humor, traz uma
delicada história de amor e cumplicidade.
Sinopse
Já chegou ao ponto de desistir de encontrar sua outra metade? A
acreditar que não existisse uma pessoa que se encaixasse perfeitamente a
você e simplesmente desistiu?
Guilherme e Letícia desistiram, mas não esperavam que fossem
marcados pelo destino para amar.
Mesmo sobre circunstâncias difíceis, os mais puros e belos sentimentos
floresceram. E tudo o que eles precisavam fazer era aceitar aquele amor
inesperado, aquela oportunidade de ter um amor para recomeçar.
Sinopse
Quem nunca teve um primeiro encontro frustrado? Aquele que você
acredita que nada vai dar certo e que estava ali somente por causa de um
amigo ou parente casamenteiro.
Com Dani não foi diferente, seu primeiro encontro com Vinicius foi um
completo desastre. E se dependesse dela, não o veria nunca mais.
O que Dani não sabia era que o destino era caprichoso e não desistia com
facilidade. Vinicius se tornou mais próximo, mais amigo. E depois de uma
pequena mentirinha ele se torna seu namorado.
Foi a semana mais louca de sua vida, no entanto, não se arrependia de
nada.
Afinal, aquela era suas férias para o amor...
Sinopse
O que eles tem em comum? Salvam vidas.
Ela médica. Ele bombeiro.
Vizinhos.
Tudo começa com uma boa parcela de brigas, até o primeiro beijo.
Aquele beijo que derruba barreiras que nem mesmo sabiam que existia. Um
beijo que roubou todo o fôlego, deixou as pernas bambas e o coração
acelerado.
Fred e Emma começam uma amizade seguida por um romance cheio de
altos e baixos que os deixaram mais forte, mais unidos.
Afinal, quem resiste ao amor?
Quem sabe o mais tolo dos teimosos, no entanto, teimosia não mantém o
cúpido longe. Isto foi o que eles descobriram ao decorrer de cada capitulo.
Venha conferir!
Sinopse
Dono de um restaurante/bar e independente, Connor levava uma vida pacata e tranquila até uma
bela mulher aparecer em seu mundo. Ele nunca havia se apaixonado, mas descobrirá que quando
menos se espera, o amor bate em sua porta e o arrebata como um caminhão desgovernado prestes a
atropelar.

Disposto a seguir seu coração, ele vive um dia de cada vez ao lado de Nikky, uma bela
descendente japonesa que é dona do mais lindo par de olhos que já viu. Juntos eles descobrem seus
sentimentos e vivem um grande amor.

Doce sentimento é um romance adulto leve, sem inimigos vingativos ou cenas de ação. Não há
muitas brigas ou confusões, é um livro onde os personagens encontram o amor, amor à primeira
vista, e tudo se passa na visão de Connor. Os personagens se mostram adultos suficientes para
enfrentarem seus sentimentos e deixar as coisas acontecerem.
Sinopse
Nada mais seria da mesma forma depois que Adônis Albertini colocou
seus olhos sobre a pequena ruiva, que agora era sua prisioneira. Ele não
saberia explicar o que sentiu quando seus olhos encontraram os dela. A
única certeza que tinha, era que nunca poderia machuca-la. Quando pela
primeira vez em sua vida experimentou um sentimento chamado,
compaixão.
O medo e a fragilidade que exibia de forma tão crua o atraiu. Era como
se seu demônio interior estivesse hipnotizado pela beleza natural e pura que
ela ostentava. Giulia. Sua nova e única protegida.
Quem a machucasse enfrentaria o pior dele.
Adônis sempre teria inimigos, mas sua única preocupação era se render
aos sentimentos que pela primeira vez experimentava. E o maior deles era o
amor.
Sinopse
Seu sorriso e o ar de despreocupado eram sua marca de perigo.
Apolo acredita que não nasceu para amar, para ter família. A fera que o
habitava estava sempre a superfície, fazendo-o cruel e vil. Acreditava que
nunca iria se apaixonar, que morreria sozinho e sem ninguém para ama-lo.
Pretendia seguir com esses planos por toda a vida, pois não desejava
submeter terceiros no mundo em que dominava.
No entanto, a vida estava pronta para prova-lo o contrário. Que todos
tinham a oportunidade de serem amados. O único problema era conseguir
manter esses sentimento acima de qualquer diferença.
Depois de um erro.
Um pequeno erro.
Apolo se viu perdido e descontrolado.
Seu maior medo tinha se tornado realidade e não existia a menor
possibilidade de fugir. Ele tentou, mas não era homem de correr de
problemas.
O único jeito era ficar e enfrentar aquilo que mais temia.

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