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Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos
da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.
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CASAMENTO ARRANJADO
1ª Edição, 2021
Brasil
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Meu humor não era um dos melhores. Isto era um fato muito consumado.
Principalmente depois da rápida ligação do meu pai para me lembrar da
promessa que fiz para minha mãe... de me casar. Mas recordo muito bem de
que eu não havia dito quando faria isto.
O fato de ter quase quarenta anos não significava muito para mim, afinal,
não estava com pressa para o matrimônio. Não quando aprendi muito rápido a
não confiar nas mulheres. Precisei segurar um bufo de irritação e me
concentrar no que estava fazendo.
Odiava quando eles corriam forçando-me a seguir pelas ruas cheias,
colocando as pessoas em risco ou os perdendo de vista. Aquilo não estava
planejado quando abordamos o maldito, quero dizer, suspeito de crimes contra
mulheres e trafico de drogas.
O resultado daquela perseguição me enfureceu, apesar de ter abatido o
sujeito, uma mulher acabou se ferindo. Vi seus olhos procurando os meus,
percebi que ela estava confusa e com medo, mas aquele olhar aterrorizado era
algo que não poderia ser esquecido facilmente.
Quando meu sniper disse que o tinha em mira, não hesitei em liberar o tiro.
Só não esperava que o imbecil fosse cair para frente e sobre a moça. O som da
cabeça dela batendo na calçada foi mais alto do que um tiro no pé do ouvido.
Arranquei o corpo de cima dela odiando que estivesse a manchando de
sangue.
— Voithe — Rick me chamou.
— Onde está a ambulância? — perguntei tocando o pulso em seu pescoço.
— Presa no trânsito — Informou.
Deslizei o polegar por baixo do arco de sua sobrancelha afastando o sangue
que escorria do corte um pouco acima.
— Ah merda — resmunguei.
Justin, um dos homens da minha equipe que tem treinamento médico caiu
de joelho ao meu lado com uma bolsa de primeiros socorros. Acenei que
prosseguisse e me ergui observando com atenção demais enquanto ele cuidava
dela. Pedi aos céus para que aquela mulher, de uma beleza deslumbrante, não
fosse mais uma vítima daquele pedaço de merda inútil.
Alguém parou do meu lado e me ofereceu o documento dela. Erin Andrada.
Um nome difícil de esquecer.
— Empresária famosa — comentou Philip.
— Eu sei — resmunguei franzindo a testa.
Era a moça de quem meu pai sempre falava quando tinha uma
oportunidade. Ele com aquele jeito manso e andar lento estava claramente
tentando jogá-la em cima de mim. Não tinha conhecido ela pessoalmente
antes e realmente fiquei surpreso com a coincidência.
Fiquei parado ali até a ambulância chegar e a levarem para o hospital.
Sentia-me responsável por ela e queria garantir que ficasse bem. Assim que
entrei no meu carro, em vez de seguir para a delegacia, fui para o hospital.
Depois de meia hora de espera, o médico que cuidou dela era um
conhecido meu e me permitiu entrar como acompanhante até que alguém
chegasse. No quarto a encontrei com os olhos levemente abertos e muito
sonolentos.
— Você — suspirou fechando-os em um sono profundo.
— Ela vai dormir por algumas horas — informou à enfermeira que estava
ao lado fazendo algumas anotações.
— Machucou muito?
— A concussão foi séria, mas o atendimento rápido foi eficaz — contou.
— Ela vai acordar com dor de cabeça e alguns sintomas como enjoo e tontura,
mas irá se recuperar bem.
Acenei agradecendo e parei na frente da janela, distraído, tentando entender
minhas atitudes. Nada explicava o que eu estava fazendo ali, mesmo com
algumas desculpas boas, eu sabia que não era o verdadeiro motivo.
Então, o que era?
Fiquei naquele quarto por duas horas e quando menos esperava, encontrei
um par de olhos que me lembrava de um dia bonito de outono me encarado
com atenção.
A dor de cabeça me fez arrepender rápido demais de ter aberto os olhos,
mas a urgência em saber o que estava acontecendo ganhou a melhor de mim.
Algumas lembranças vieram rápido. Me lembro de acordar enquanto um
médico e vários enfermeiros me rodeavam, mas estava confusa demais para
entender o que falavam.
O homem sentado ao meu lado era uma surpresa e parecia inconsciente do
tamanho de sua beleza. Ou talvez só tivesse certeza demais do seu lugar no
mundo.
— Que bom que acordou.
Sua voz atravessou o espaço e infiltrou na minha pele causando um arrepio
lento por todo o meu corpo.
— O que... — Minha cabeça latejou e eu voltei a fechar os olhos.
— Você foi pega de refém durante uma operação da minha equipe e acabou
se machucando no processo.
O som do tiro e da carne sendo furada veio como um choque em minha
mente, deixando-me enjoada com a recordação clara daquele barulho.
— Vou chamar um médico...
Abri devagar os olhos com medo de que a dor aumentasse.
— Ele morreu — murmurei ainda pasma com a lembrança do som.
— Sim — acenou sério. — Ele atiraria em você ou faria algo muito pior
caso a levasse para longe.
— Deus! — Esfreguei a testa sentindo um curativo. — Só pretendia
almoçar.
— Você está segura agora — garantiu ele.
— Quem é você? — questionei.
Eu tinha uma suspeita, me lembrava dele conversando com o bandido e
tinha aquela sensação terrível que já o conhecia de algum lugar.
— Henrique Voithe, comandante da inteligência policial da cidade.
O olhei surpresa. — Voithe?
— Sim, sei que conhece meu pai.
A aspereza na sua voz era algo que eu não estava esperando.
Automaticamente acabei questionando-o usando o mesmo tom.
— E é por isto que está aqui?
Não era por menos que o pai estava tentando comprar uma noiva para ele.
Eu não conseguia ver uma mulher que se casaria por livre e espontânea
vontade com um homem de seu gênio.
— Não. — Se ergueu. — Só queria ter certeza de que ficaria bem. Liguei
para o número de emergência de seu celular e estava aguardando que alguém
chegasse para lhe fazer companhia — contou.
— Mexeu nas minhas coisas? — perguntei irritada.
Claro que ele ou outra pessoa mexeria na minha bolsa para me identificar,
mas havia algo nele que eu realmente não gostava.
Talvez fosse toda aquela arrogância mal contida.
Claramente ignorou minha pergunta e deixou um cartão na mesinha ao
lado.
— Percebi que não tem uma equipe de segurança — começou. — Uma
mulher como você deveria ter alguém para protegê-la. Ligue para esse número
e arrume um segurança.
— Uma mulher como eu? — repeti.
— Rica, conhecida — respondeu com rispidez. — Hoje foi só um
acontecimento inesperado, mas você deveria pensar melhor sobre como se
proteger.
— Eu não preciso de um homem para isto — retruquei. — E pelo o que me
lembro, a polícia está por aí para deixar as ruas mais seguras, não para levar
um bandido direto para uma mulher inocente.
Que Deus tivesse misericórdia da minha alma, pois eu estava me divertido
muito brigando com ele. A fúria brilhando em seus olhos era um prêmio e
tanto!
— Você quem não deveria andar com a cabeça nas nuvens! Seria muito
mais prudente olhar por onde anda!
Ele estava me chamando de distraída?
— Espere aí! — sentei rapidamente na cama irritadíssima. — Eu não sou
distraída, você que é incompetente!
— Como ousa...
— E digo mais — o interrompi. — Se fizesse seu trabalho direito eu não
estaria neste hospital...
Calei quando tudo ao meu redor começou a girar. Senti que meu rosto ficou
pálido e que por muito pouco não despenquei para o lado da cama. A única
coisa que me impediu de cair foram as mãos fortes dele ao me segurar.
— Acho que não deveríamos estar discutindo — murmurou deitando-me
de volta no travesseiro.
— Sou obrigada a concordar — choraminguei com a dor de cabeça
aumentando.
— Você tem que ficar quieta — disse baixo. — A enfermeira me informou
que terá alguns sintomas até o inchaço passar. — informou. — Vou chamar o
médico.
Acenei concordando, pois precisava imediatamente de algum remédio para
aliviar aquela dor alucinante no meu cérebro.
Demorei a perceber que Henrique não havia voltado com o médico. Até
esperei um tempo, imaginando que ele voltaria para me dar algumas ordens.
No entanto, tudo o que aconteceu foi o silêncio daquele quarto reforçar o
quanto eu me sentia sozinha. Desejei que ele entrasse pela porta e me desse
mais alguns minutos com uma boa discussão, pelo menos assim eu não
permitiria que aquele sentimento de solidão afundasse dentro de mim.
Donna, uma das poucas pessoas mais especiais da minha vida, chegou um
tempo depois com um olhar aflito.
— Estou bem — afirmei, mas ela não pareceu acreditar.
— Essa cidade está tão perigosa — disse nervosa. — Quase enfartei de
tanta preocupação.
Colocou a pequena mala de lado e caminhou apressada até mim.
— Como está se sentindo minha querida?
— Dolorida — suspirei. — Mas vai passar.
— Comeu alguma coisa? — questionou com aquele olhar de mãe que eu
tanto amava.
Ela trabalhava na minha casa desde sempre e cuidava de mim como se eu
fosse sua filha. Era bom. Principalmente porque meus pais gostavam de viajar
e gastar dinheiro, raramente se lembravam de que tinham alguém além deles
na família.
— Um lanche leve.
— Bom, eu trouxe um caldo muito bom — sorriu com gentileza. — Vai te
ajudar a melhorar.
Não estava com muita fome, mas aceitei assim mesmo. O aroma não agitou
meu estômago e ao comer tudo deixei Donna feliz.
Ficaria em observação por mais algumas horas antes de ser liberada.
Bastou uma olhadinha naquele cartão que Henrique Voithe deixou na mesinha
lateral, para que eu ficasse tentada a aceitar e contratar um segurança. Pois um
medo irreal deslizou por mim enquanto me questionava sobre o que deveria
fazer.
A raiva era irracional, eu sabia disto, mas não conseguia esfriar meu
temperamento enquanto ia embora daquele hospital. Aquela víbora era letal
com a língua e ainda assim terrivelmente bonita.
Isto que era ser tentado pelo diabo.
Bufando tentei afastar minha mente da pele suave, dos lábios bem
desenhados... dos olhos cor de outono. Cheguei a estremecer quando aqueles
pensamentos me levaram para algo mais íntimo e sedutor.
— Nem pense nisto Henrique — me repreendi em voz alta já que estava
difícil ouvir a própria razão.
E mesmo assim queria saber tudo sobre ela. Quando cheguei ao batalhão
minha equipe estava reunida, cada um em sua mesa resolvendo suas tarefas do
dia. Com um corpo e um refém, todos tinham muita papelada para preencher.
— Ei Nick, minha sala.
— Em um minuto, comandante.
Me joguei na cadeira e esperei pelo guru da tecnologia. Ele era muito bom
em descobrir tudo que envolvia uma rede. Nada se escondia dele por muito
tempo.
— Voithe?
— Preciso de um relatório completo sobre nossa refém de hoje, Erin
Andrada.
O leve erguer de sua sobrancelha indicou curiosidade, mas o sorrisinho
debochado lateral que me deu mostrou que não questionaria a ordem.
— Essa Erin? — Ergueu o celular aberto em um site de fofoca.
Peguei o aparelho curioso com o que teria ali. — Mas como eles já sabem
disto?
— Um bom fofoqueiro nunca perde uma notícia.
Bufei irritado.
— Viu a crítica à nossa operação? — questionei lendo a matéria. — Que
inferno!
— É só fofoca — Nick deu de ombros.
— Diga isto para o capitão quando repercutir.
Nick riu. — Esse é o seu trabalho.
Devolvi o celular dele já tirando o meu do bolso para ver o que mais
estavam falando na rede.
— Mais alguma coisa?
— Não.
Acenei que se retirasse enquanto lia a matéria falando sobre o que
aconteceu essa manhã. Não tinha muita informação sobre a vida dela, falam
muito sobre o sucesso do seu trabalho e de nunca ter sido vista com um
homem. Mas não perderam a chance de alfinetar que logo eu, o solteiro mais
cobiçado da cidade, era o responsável pela perseguição ao elemento que fez
Erin de refém.
Levou exatos trinta minutos para Nick voltar a minha sala, jogou uma pasta
na mesa e com um sorriso zombeteiro foi embora.
Para melhorar meu dia, eu tive que encarar uma reunião com um cliente
que era extremamente machista. Se negava a falar diretamente comigo,
buscando sempre Rico ou Morgan para responder suas perguntas.
Minha paciência estava tão curta que eu não aguentei aquela tortura por
mais do que meia hora, acho que até durou muito.
— Acredito, senhor Morrison — interrompi a conversa. — Que a minha
empresa não poderá mais continuar esse contrato.
Ele se atreveu a me olhar como se eu fosse louca.
— Como eu estava dizendo Morgan...
Levantei e bati as palmas da mão sobre a mesa.
— Basta! — exclamei. — Se o senhor não é capaz de trabalhar com uma
mulher, não vejo o motivo de ter contratado a empresa de uma. — Apontei um
dedo em riste em sua direção. — Acha que construí o meu nome como? Eu
trabalhei! Não tinha Rico, nem Morgan. Somente eu e meus projetos.
— Senhorita, queira me desculpar por não lhe dar a atenção devida...
Foi aí que fiquei ainda mais furiosa, ele acreditava que eu precisava de
algum entretenimento?
— Taylor, acompanhe esse homem até a porta — ordenei.
Deus, como aquele dia estava sendo longo!
O senhor Morrison não ofereceu resistência, mas seu olhar dizia muito
sobre o processo que ele abriria contra mim. Não me importava. Eu não
cheguei aonde estava aceitando ser diminuída por homens que não sabiam
reconhecer e aceitar a inteligência e o sucesso de uma mulher.
— Henrique!
O grito no meu ouvido despertou-me dos pensamentos indecentes que
continuava invadindo minha mente.
— Estou te ouvindo, Caio — respondi apertando o celular na orelha.
— Um caralho que está — retrucou. — O que está pensando?
Estremeci com a lembrança do meu corpo quente e incomodado. Fiquei
assim por todo o dia, desde que sai do escritório dela.
— Você não vai querer saber.
Sua risada dizia que ele imaginava algo. — É sobre a gata ou fera que
bateu em você?
— Anda lendo revistas de fofocas, irmão? — Não resisti a provocação.
— Queria que ela estivesse com a mão em punho — riu. — Seria ótimo te
ver com um olho roxo.
— Eu não duvidaria de que ela faria isto se eu desse uma chance — contei.
— Pense numa víbora de coração frio.
Mas de corpo quente, completei mentalmente.
— Uma víbora lindíssima — acrescentou Caio.
Não podia negar aquele fato, ela era linda, mas não era só isto. Sua beleza
era interna também, havia algo muito bom sobre Erin. Algo que continuava
atraindo meus pensamentos para ela o tempo todo.
— Vai se casar com ela?
— Papai não está perdendo tempo — resmunguei.
Caio riu alto do outro lado da linha.
— Ele o pegou para cristo, meu irmão — disse parecendo muito aliviado
por não ser ele na reta. — Acho que deveria se casar com ela.
— E eu acho que você deveria ficar fora dos meus assuntos — retruquei.
— Queria ver se estaria se divertindo se fosse você o alvo de um casamenteiro
implacável.
— Você é mais forte do que isto — Caio me provocou.
— Ele me disse duas vezes de que não irá viver para sempre — contei
cortando o humor. — Está sabendo de alguma coisa?
— O que? — pareceu chocado. — Não, mas vou descobrir.
— Não pode quebrar sigilos médicos, Caio — o repreendi. — Mesmo que
seja para descobrir sobre o nosso pai.
— Não se preocupe com isto — retrucou. — Eu preciso ir, logo estarei em
casa.
— Acabou sua missão?
— Algo do tipo — respondeu evasivo antes de desligar a chamada.
Girei lentamente na minha cadeira de um lado para o outro pensando se eu
realmente não deveria me casar com Erin. Devo confessar que a palavra
casamento me fazia estremecer.
Um dia eu fui um jovem apaixonado e enganado, isto era motivo suficiente
para me manter longe dos compromissos românticos.
No entanto, e hoje?
Eu já não estava velho demais para ficar remoendo o passado desta forma.
Será que me casar era a forma de superar aquele coração partido que já me
deram? Ah como eu estava cansado dessas perguntas sem respostas. E
também muito preocupado, caso meu pai estivesse doente e viesse falecer, o
que eu faria com os negócios dele? Não poderia, jamais deixar que todo o
trabalho da vida dele se perdesse.
Embora, se eu me cassasse com Erin ela poderia cuidar de tudo e garantir
que a empresa da família não falisse. Sacudi a cabeça para ver se aquele
pensamento ia embora, pois eu não poderia reduzi-la daquela forma.
Ela merecia muito mais do que isto.
Ah eu não era ninguém.
Meu corpo não parecia ser meu. Era sexta feira e eu precisava ir trabalhar,
mas a dor que estava sentindo não me fazia sair do lugar para concordar com
isto. Uma dor irradiava em meu baixo ventre para as células do meu corpo me
fazendo querer chorar. Aquela cólica não era bem-vinda, mas mesmo assim
todos os meses se mostrava presente.
Donna me acordou quando percebeu que eu estaria atrasada e logo
entendeu que eu não sairia de casa naquele dia. Pedi que ligasse para Rico e
que me arrumasse algum remédio que fizesse me sentir melhor.
Dormi até quase onze da manhã e depois passei meia hora na banheira com
a água bem quente. A dor tinha dado uma amenizada, mas não passou
completamente. E eu estava realmente com fome.
— Ah não, você de novo — resmunguei quando encontrei Henrique na
minha sala conversando com Donna.
Ela rapidamente se retirou falando algo sobre preparar as coisas para mim.
— Você está horrível — disse colocando as mãos nos bolsos em uma
atitude relaxada.
— Eu tenho espelho em casa — retruquei. — Não preciso que me diga o
óbvio.
Terminei de descer a escada e sentei no sofá. — O que devo a honra da sua
presença?
— O que você tem? — perguntou sentando ao meu lado sem ser
convidado.
Poderia ter colocado um pouco de espaço, pelo menos, mas com Henrique
era sempre tudo ou nada.
— Não me sinto bem hoje.
— Quer que eu a leve ao hospital? — perguntou parecendo realmente
preocupado. — Ou prefere que eu busque um médico?
— Vou ficar bem — murmurei. — Não preciso de um hospital ou um
médico.
Ele pareceu muito confuso sem entender o que estava acontecendo comigo.
Queria que ele deixasse pra lá, aquilo era mais intimidade do que imaginava.
— Estou com cólicas — resmunguei e fiquei imensamente grata quando
Donna retornou com uma bandeja.
— Trouxe um lanche... — olhou entre a gente. — Para os dois.
— Obrigada Donna.
Também vi em sua bandeja enorme um remédio e uma bolsa de água
quente. O alívio ficou maior. Henrique se levantou e pegou a bandeja das
mãos de Donna.
— Eu cuido disto — afirmou.
— Tem certeza? — ela não parecia confiante, o que me fez rir.
Deitei no sofá e acenei para Donna deixá-lo fazer o que quisesse. Só eu
sabia como aquele homem poderia ser irritante quando teimava com alguma
coisa.
Henrique me entregou o comprimido e o copo com água, que eu aceitei
sem reclamar.
— E para que serve isto? — ergueu a bolsa quente.
Peguei dele e coloquei debaixo da minha camiseta, no baixo ventre. O calor
foi um bálsamo maravilhoso para aquela dor irritante. Fechei os olhos em
apreciação.
— Isto parece bom — comentou baixo. — Sua expressão parece melhor.
Não respondi. Me aconcheguei na almofada e o encarei com atenção.
— O que veio fazer aqui, Henrique?
Ele também não me respondeu, não de imediato. Serviu-se de uma xícara
de café e pegou duas bolachas, antes de se sentar na poltrona na minha frente.
— Estive pensando sobre a ideia de nos casar — comentou.
— Pensei que já tivéssemos resolvidos isto no início da semana —
interpus.
Fui completamente ignorada enquanto ele tomava o café com
despreocupação e engolia as bolachas com uma facilidade impressionante. Se
fosse eu, teria engasgado.
— Você se casaria comigo? — não era um pedido e sim um
questionamento.
Ergui uma sobrancelha. — De novo isto?
— Responda-me com sinceridade.
— Não estou tão desesperada, Henrique — repito as palavras de uma
conversa anterior.
— Eu me casaria com você — confessou ele deixando-me em choque.
— O que? — sabia que meus olhos estavam do tamanho de pratos.
Ele não se importou com a minha surpresa, deixou a xícara na mesinha de
centro e se ajoelhou ao meu lado.
— Eu não posso te prometer amor — disse sério. — Mas acredito que nós
dois conseguiríamos fazer esse matrimônio dar certo.
— E você acha que um casamento arranjado daria certo?
— Acho.
— E você me quer na sua cama e cuidando da empresa do seu pai.
— Sim — não hesitou em responder. — Temos tudo o que é preciso para
conseguir fazer que dê certo. Meu pai confia em você, então, eu não tenho
motivos para desconfiar.
Fiquei feliz pela confiança, mas sabia que isto não bastava.
— E quando essa paixão esfriar, quantos pares de chifres eu vou precisar
carregar?
— Jamais a trairia — garantiu muito sério.
Fiz uma cara de deboche que ele interpretou muito rápido.
— Eu não tocarei outra mulher enquanto estivermos casados — jurou.
— Enquanto estivermos casados? — questionei.
Ele acenou sério. — Eu não a forçaria a ficar comigo caso não fosse esse o
nosso desejo.
Por um momento acreditei que deveria dizer sim a ele, mas consegui
segurar aquela vontade súbita de me render. Seria muito bom ter alguém para
quebrar aquela solidão que estava cada vez mais intensa dentro da minha casa,
dentro de mim.
— Preciso pensar um pouco sobre isto — murmurei.
— Tudo bem.
Apesar de concordar não parecia disposto em se afastar.
— Não vai embora, não é? — perguntei.
— Não — riu de leve. — Vou te fazer companhia hoje.
— Eu não sou uma boa companhia — retruquei.
Ele me ignorou, fazendo-me erguer um pouquinho para que se sentasse e
depois colocar minha cabeça em seu colo.
— Hoje você está sendo muito melhor do que me lembro — comentou. —
Quieta e sem disposição para brigas.
Ri baixinho.
— Você adora brigar comigo — apontei.
— É verdade — concordou. — Por isto que vou me casar com você.
— Enlouqueceu de vez!
— É o que parece — riu. — Vamos ser loucos juntos.
Passei o dia na casa dela, não houve mais conversas longas como a que
tivemos sobre o casamento arranjado. Erin oscilava entre cochilos e pausas
para trocar a compressa quente. Ela não parecia nada bem, seus olhos estavam
fundos, mesmo com os cochilos, e sua pele pálida, mas ainda insistia que
ficaria bem.
Discutir sobre isto não era uma opção, então saí por um momento e
comprei chocolates e sorvete. A forma que ela reagiu parecia que tinha lhe
comprado joias, diamantes.
Fiquei surpreso em como parecia fácil estar em sua presença, mesmo que
na maior parte do tempo silenciosa. Enxergar por debaixo de suas muralhas
era impressionante e encantador. Consegui ver a mulher atrás da fera e isto me
lembrou de como seria bom estar casado com ela.
A paixão poderia sim esfriar e acabar em divorcio, mas seria bom enquanto
durasse. Tinha completa certeza disto.
— Sem traições — disse ela em um momento da tarde. — Um casamento
simples e um acordo pré-nupcial. Não iremos compartilhar nenhum bem, não
quero nada seu e não darei nada meu.
— Justo.
E era.
Ainda não entendia a necessidade do casamento em si, mas estava disposto
a arriscar. Sentia-me no controle da situação, principalmente pela falta de
emoções. Não existia a possibilidade de corações serem quebrados.
— Quando? — ela me perguntou antes que eu saísse da sua casa.
— Em duas semanas.
Era o máximo de tempo que aguentaria ficar longe dela. Também acredito
que daria um prazo para que ambos pensassem em desistir, ou seguir em
frente.
Loucura ou não, faríamos isto.
No final do dia, eu estava exausto e dirigindo sem rumo beira mar. Era um
costume que me ajudava a relaxar depois de horas de trabalho intenso. E
aquele havia sido um turno longo, algumas pistas de um caso novo ainda não
estavam se encaixando. E alguns suspeitos de crimes anteriores não tinham
sido presos.
Minha cabeça estava cheia demais para aguentar. Também havia o fato de
que eu não tinha conversado com meu pai sobre sua aposentadoria, inesperada
por mim, e seu coração fraco. O que diabos aquilo significava? Ele precisava
de mais tranquilidade para viver por mais tempo ou ele já estava morrendo e
tentando arrumar as coisas?
Simplesmente não sabia.
Avistei um carro conhecido e parei logo atrás. Taylor estava encostado na
lateral olhando em direção ao mar. Os dias estavam frios, mas ali o clima era
mais intenso para ficar por muito tempo.
— Taylor?
Ele me deu um aceno e antes que pudesse questionar o que estava fazendo
ali, apontou para a areia. Erin estava sentada a certa distância com o que
parecia um violão. Ela sabia tocar? Wow! Aquilo era inesperado, mas não
surpreendente. Erin parecia com aquelas pessoas que sempre dava conta de
fazer tudo o que se propôs-se a aprender.
Inegavelmente eficiente.
— Ela gosta de parar aqui em dias ruins — explicou ele.
— E hoje foi desses dias — completei.
— Sim — murmurou. — Eu não sei se é o caminho certo um casamento
arranjado, mas talvez preencha esse vazio que ela sente. É uma mulher muito
sozinha.
Seu comentário me deu um pouco mais de determinação para seguir com o
plano. Seria bom para nós dois aquele casamento, pois ambos estávamos
sofrendo com a solidão.
— Vou falar com ela.
Aproximei devagar, ouvindo o som das cordas do violão espalhando-se ao
redor combinando com o murmuro suave de sua voz. Ela não cantava alto,
podia se dizer que ela cantarolava.
— Continue — pedi quando ela parou de cantar ao sentir minha presença.
Erin demorou um pouco para atender, mas logo seus dedos voltaram a
trabalhar nas cordas. Sentei ao seu lado em cima do tecido suave em que ela
estava e observei seus pés nus afundarem na areia branca.
Ao horizonte, o sol se punha deixando um bonito tom alaranjado no céu.
Respirei fundo e devagar, algo dentro de mim foi se acalmando e todo aquele
estresse do dia simplesmente desapareceu.
— Anda me seguindo, Voithe? — perguntou depois de um tempo.
— Não — respondi sem encará-la. — Estava passando e vi Taylor parado,
fiquei curioso.
— É uma vista impressionante, não é? — questionou admirando o pôr do
sol.
Olhei seu rosto de perfil, com raios solares fazendo seu cabelo brilhar em
diferentes tons loiros.
— Sim — Era impossível não concordar. — De tirar o fôlego — completei.
Ela girou o rosto e riu. — Estou falando da vista.
— Eu também — digo sério.
Não resisti a vontade de fazer um carinho em seu rosto e antes que pudesse
me controlar, estava a beijando. Não tinha aquela mesma pressa de quando
nos beijamos em meu escritório. Havia algo mais profundo que precisava ser
apreciado com delicadeza. Ela merecia isto. Eu também.
Por isto, provei suavemente seus lábios. Puxando o inferior com os meus
uma vez e beijando-a novamente, para então puxar com os dentes e encontrar
a abertura que procurava. Moldei sua boca enquanto minha língua buscava
pela sua. Senti seus dedos em meus cabelos, aproximando mais nossos rostos
e aprofundando o beijo.
Beijá-la era sempre memorável.
— Gosto da trégua — murmurei contra sua boca. — Muito.
— Acordo de paz? — sorriu.
— Achei que já tínhamos combinado isto.
— Sim, mas parece estar selando este acordo agora.
— Bom, vou garantir beijá-la muitas vezes.
Seus olhos brilharam. — Conto com isto.
— Esse não será um casamento monótono — brinquei.
— Nenhum pouco — concordou rindo.
Por uma questão meramente burocrática, adiamos o casamento por uma
semana. Não me importei, talvez aquele fosse um toque do destino para me
fazer pensar mais a respeito daquele matrimônio arranjado.
Usei esse tempo para conhecer melhor Henrique, não estávamos brigando
como no início. Alguma coisa havia mudado, mas era de uma forma muito
boa. Aquela trégua ajudou a acalmar meus nervos e com isto acabei
concordando com um final de semana na casa da família dele para um
casamento, que também era inesperado, apesar do casal namorar a anos.
Era um bom momento para sair da cidade, a imprensa tinha descoberto
nosso casamento e agora todos pareciam enlouquecidos por um novo furo.
— Vamos ficar dois dias — disse Henrique exasperado enquanto olhava
minhas três malas.
Franzi a testa confusa com aquele nervosismo dele.
— E?
— Parece que está indo por um mês — Apontou para as malas.
Coloquei as mãos na cintura. — Quer mesmo discutir o que levo em
minhas malas?
— Eu não faria isto — comentou Taylor passando por nós, com muita
tranquilidade empurrando sua única mala de mão.
— Ouça ele — impliquei. — E isto é somente o básico.
Seus olhos arregalaram como pratos. — Básico?
— Sério que quer continuar com essa besteira? — questionei impaciente.
— Se insistir é bom que eu fico em casa, ou fuja para o Caribe onde ninguém
me irrite pela quantidade de malas que levo.
Ele me encarou em silêncio antes de decidir pegar duas das malas sem
outra reclamação. Sorrindo e me sentindo vitoriosa, peguei a que faltava e
caminhei com calma para um dos carros que estava estacionado no pátio da
minha casa.
A viagem foi tranquila, apesar de algumas piadas sobre o que eu estava
carregando para um final de semana, feitas por Caio, Henrique e até mesmo
Taylor. Meu segurança, que soltou apenas alguns comentários, mostrou de que
lado estava.
A presença excessiva de testosterona era irritante e fez desejar que tivesse
mais mulheres ao redor.
Vontade que passou realmente rápido.
Só não mais do que a perua que estava nos aguardando na casa de Joseph.
Com um silicone pulando para fora do decote e um cabelão tão loiro que doía
os olhos de encarar, ela simplesmente pulou nos braços de Henrique e...
— Henri! — exclamou animada. — Como é bom vê-lo!
A mulher parecia um polvo agarrando-o enquanto ele tentava se livrar dela,
Caio não escondeu a alegria de não ser o alvo.
— Monique — disse exasperado ao conseguir se soltar.
Henrique correu para o meu lado e passou o braço pelos meus ombros.
— Essa é minha noiva, Erin.
Era impossível não ver que ele enfatizou as palavras de propósito.
— Noiva?
Achei que os olhos dela explodiriam junto com os silicones mal contidos.
— Sim — afirmou ele sorrindo inocente. — Nos casaremos na próxima
semana.
Ficou de boca aberta por um segundo. — Não acredito.
— É verdade — confirmou Joseph orgulhoso.
Foi aí que eu soube que aquele final de semana seria mais longo do que
imaginava.
— Você não pode se casar com essa... — Encarou-me com desdém. — Sem
sal.
— O que? — questionei ignorando a risada de Caio.
— Monique, não seja absurda! — Henrique a repreendeu.
A mulher parecia muito furiosa com alguém entrando em seu caminho. Era
claro que ela tinha planos de sedução para Henrique. Eu iria rir disto em outro
momento, mas agora só estava ficando irritada com aquela recepção
inesperada.
Eu só queria dois dias calmos, onde eu pudesse relaxar. O que parecia
muito longe da minha realidade agora.
— Não vê que... essa aí só quer seu dinheiro? — questionou afrontosa. —
Está somente se aproveitando de você — bufou. — Eu tentaria convencê-lo a
se casar comigo, teríamos muitos benefícios nisto!
— Wow! — Caio gargalhou. — Está tão requisitado, irmão.
— Cale a boca, se não vai ajudar. — Henrique ordenou ao irmão.
Dei um passo à frente e só não fui mais longe porque Henrique me
segurou.
— Não vim aqui para ser ofendida.
— Então vá embora — retrucou Monique.
— Erin é minha convidada e nora, você está passando dos limites Monique.
— Joseph interrompeu em um tom que só ouvi em reuniões de negociações
intensas.
— Vai permitir que eles se casem? — questionou. — É sua herança que
está em jogo, todo seu trabalho...
— Ah pelo amor de Deus, cale a boca! — exclamei irritada. — Estou com
fome, desejando um banho e sem paciência para loucas como você — afirmei.
— E antes que continue falando do meu interesse pelo dinheiro dele, deveria
pesquisar! Não preciso do dinheiro de ninguém — Apontei o dedo em riste na
direção dela. — Posso cuidar de mim mesma com meu faturamento milionário
e... — Ergui uma sobrancelha com deboche. — Vou me casar com ele sim!
Você não está convidada.
Caminhei para onde imaginei ser a sala e logo encontrei uma moça de
uniforme que me levou até meu quarto. Cheguei a pensar em ir embora,
porém, a ideia desapareceu rapidamente, me negava a dar por vencida.
Irritada, entrei no quarto pensando que Henrique fez muito pouco para me
defender. Ele poderia pelo menos ter me prevenido do que me aguardava
naquela casa. Teria recusado o convite sem pensar duas vezes, minha paz de
espírito valia muito mais do que qualquer besteira deste tipo.
Joguei a bolsa que ainda segurava na cama no exato momento que meu
celular começou a tocar.
— Qual o problema Rico? — questionei ao atender.
— Vish — disse ele do outro lado da linha. — Problemas no paraíso?
— Nada que meus saltos não possam esmagar.
— Adoro — riu. — Conte-me mais.
— Você ama uma fofoca, não é mesmo?
— E quem não? — retrucou. — Isto tem cheiro de rival.
— Rival? — gargalhei. — Não me rebaixei a tanto.
Parei na frente da janela feliz de que tinha uma boa vista do horizonte azul.
Conversei com Rico por mais um tempo sobre algumas questões de contratos
antes de nos despedir com a promessa de que eu contaria todos os detalhes
sobre a perua mais tarde.
— Pensei que nunca fosse desligar.
Tomei um susto com a voz de Henrique tão perto.
— Me assustou — acusei.
— Desculpe — cruzou os braços e o encontrei ao meu lado olhando para
fora da janela.
O ignorei. — O que faz aqui? Deveria estar lá embaixo acalmando a moça.
— Quis dizer perua? — Brincou.
Franzi o nariz infeliz de que ele estivesse ouvindo minha conversa.
— Estou sem paciência, Henri — zombei.
— Está com ciúmes? — riu.
— Daquela mulherzinha? — questionei impaciente. — Querido, se quiser
ficar com ela, não precisa hesitar — afirmei. — Já te disse antes e vou falar
novamente, eu não estou desesperada. Não preciso de homem nenhum. —
bufei. — E caso eu queira um, não preciso me humilhar para isto.
— Desculpe por tudo isto, foi um momento infeliz.
— Você acha? — ironizei. — Estava muito quieto vendo aquela mulher me
atacar.
— Erin...
— Se quiser, eu vou embora.
— O que? — franziu as sobrancelhas. — Claro que não!
Segurou-me em seus braços forçando-me a encará-lo.
— Não vai a nenhum lugar — afirmou. — Sinto muito por tudo isto. Eu
não imaginava que ela faria todo esse show desnecessário. Meu pai pediu que
Monique se retirasse e caso ela continue com essa besteira, não irá ser
recebida, nem mesmo, no casamento da minha prima.
— Não precisava ter expulsado a mulher, eu posso me defender.
— Eu sei que pode — sorriu. — Mas estamos aqui para nos divertir, não
ficar em um ninho de cobra.
Suspirei cedendo, pois sentia que ficar sobre o mesmo teto que aquela
mulher sugaria minha energia.
— E eu gritei com ela sim — contou ele. — Assim que saiu desfilando
maravilhosamente depois de anunciar seu faturamento milionário. Acho que
eu sou o único que vou me aproveitar nesse casamento. Além de linda é rica
— brincou.
— Você também é rico.
— Não — Balançou a cabeça. — Meu pai é.
— É a mesma coisa...
— Nem chega perto — retrucou. — Sou um funcionário do governo com
salário mediano e um plano de saúde bem meia boca.
Vi que ele estava me distraindo do foco e gostei, relaxei o corpo contra o
dele.
— Então o motivo atrás desse casamento arranjado é o seu interesse por
meu dinheiro — O provoquei.
— Exatamente — riu. — E vamos morar na sua casa — afirmou. — Pois
eu moro em um apartamento pequeno, com um bom sistema de segurança,
mas que não vê uma faxineira há... bem... não sei quanto tempo.
— Que horror!
— Qual parte?
— A falta da limpeza — respondi. — Gostaria mesmo de ficar na minha
casa.
— E o que mais você quer?
Encarei seus lábios. — Que você me beije.
— Isto pode ser arranjado.
Todo o estresse que senti minutos antes foi embora no exato instante que
segurei seu rosto e a beijei. Não tinha dúvidas de que ela tinha ficado
chateada, com toda razão para isto, mas agora minha maior preocupação era
mostrar que eu não estava interessado em Monique.
Claro que se Erin perguntasse se já fui para cama com Monique, não
poderia negar. Eu e toda a população masculina mais próxima. Ela não media
esforços para pegar o que queria e com isto, conseguia muito sexo e
benefícios daqueles mais bestas que caiam na sua conversa fiada.
Agora era passado, e não existia a menor possibilidade de que eu fosse
repetir aquele erro. E por mais impressionante que fosse para mim assumir
isto, todo meu interesse era para Erin. Claro que eu já havia me apaixonado
antes, mas nada que pudesse se comparar com as emoções que estava
experimentando agora.
Não era amor, sabia disto.
Aquela paixão estava me queimando. Não conseguia me afastar e estava
cada dia mais ansioso para chamá-la de esposa. Caímos sobre a cama e ela
soltou uma risadinha, gostava de a ouvir rir, mas estava tão excitado que não
conseguia parar agora para fazer o som se prolongar.
Deslizei minha boca por seu queixo, descendo pela sensual garganta
enquanto uma de minhas mãos esmagava seu volumoso seio. A risada deu
espaço para um gemido longo motivando-me a continuar...
A batida suave na porta dizia outra coisa.
— Só pode ser brincadeira — murmurei.
Ela riu. — Me deixe levantar.
— Não estou muito disposto a isto — respondi, mas a pessoa do lado de
fora bateu de novo na porta.
Balançando a cabeça, me ergui sabendo que era voto vencido naquela
situação. Ela tinha um sorriso bonito no rosto enquanto amarrava o cabelo em
um nó no alto da cabeça e ajeitava a roupa.
— Joseph — disse Erin ao abrir a porta. — Precisa de alguma coisa?
— Não, querida — respondeu meu pai. — Vim me desculpar.
— Não há necessidade...
— Aquilo foi imperdoável — Ele a interrompeu. — Você é minha
convidada e deve ser tratada com respeito. Eu não permito esse tipo de
loucura na minha casa. — Tinha um tom sério. — Monique não voltará a
incomodar você.
— Está tudo bem, Joseph — acenou ela pacientemente.
— Bom, também vim para convidá-la para o almoço — informou. — Não
deixe meu filho te atrasar, ele tem péssimos hábitos.
Dei uma risada mostrando que estava ali, mas não fui até a porta. Estava
muito excitado para sair do lugar por um tempo.
— Eu vou ensiná-lo bons modos — afirmou Erin com arrogância.
— Nunca duvidei — retrucou papai bem humorado.
Imaginei que isto a deixaria cansada suficiente para que dormisse até tarde.
O que se provou totalmente errado, pois assim que eu acordei com os raios de
sol passando pela janela, encontrei a cama vazia.
Ouvi meu celular vibrar em algum lugar e precisei de toda coragem para
levantar. Eu nunca ignorava uma ligação, sempre havia novidades importantes
no trabalho ou alguma emergência. Levei dez minutos ouvindo os relatórios
da minha equipe, mais cinco em um banho rápido e alguns outros minutos em
uma corrida até o meu quarto, que era na porta ao lado, para roupas limpas.
Minha resposta pareceu deixá-la sem palavras, o que era muito bom, pois
era o que eu precisava para dar o fora dali. A maluca agiu mais rápido do que
um raio, fingiu tropeçar e caiu em cima de mim. Sua boca veio direto contra a
minha. Fiquei tão pasmo que nem mesmo quando as unhas dela fincaram em
meu couro cabeludo, não reagi.
Olhei para baixo quando sua língua tentou invadir entre meus lábios.
Erin estava parada no corredor com uma bandeja de café aos seus pés. Seu
rosto estava branco, sem nenhuma emoção. E seus olhos não tinha aquele
mesmo brilho de outono que eu tanto adorava admirar.
— Erin...
Dei um passo largo para não pisar nas coisas que derrubei e fiz uma linha
reta para o meu quarto. Fiquei aliviada por poder sair daquela situação
rapidamente. Fechei a porta sem fazer nenhum barulho e virei à chave para
mantê-lo do lado de fora.
As mesmas mãos que passaram a noite toda adorando meu corpo, a mesma
boca que sussurrou inúmeras promessas.
Eu não pretendia conversar, não agora quando sentia que cada célula do
meu corpo tinha congelado.
— Vamos conversar — pediu. — Aquilo que viu... eu nunca faria isto com
você... Acredite em mim.
— Erin...
— Erin?
Ele veria?
Eu não tinha uma resposta. Por isto, não reagi de forma nenhuma. Somente
fui embora sem olhar para trás. Sabia que se pensasse nisto agora acabaria em
lágrimas. E como minha mãe sempre gostou de me lembrar: lágrimas não
levam a lugar nenhum, engula o choro e seja forte.
Levei um tempo para responder. — Eu não quero falar sobre isto agora.
— Vou ficar.
Ouvimos um barulho e quando me virei para olhar, era Taylor com minhas
malas. Henrique também estava junto, mas parou no alto da escada encarando-
me com uma expressão difícil de decifrar.
Taylor nos levou direto para o aeroporto, pois era mais rápido do que uma
viagem de volta de carro. Ele não falou nada e como sempre, seu silêncio era
muito bem-vindo. Assim que desembarcamos, um dos novos seguranças da
minha empresa nos aguardavam com um veículo reserva. Taylor assumiu o
volante e me olhou pelo retrovisor.
— O que você fez? — questionou Caio assim que pisou do meu lado.
— Nada.
Noiva.
Suspirei cansado. Ela não se casaria comigo. Sua falta de resposta era uma
afirmação de que isto não chegaria nem perto de acontecer. Estava tão
decepcionado com o desmoronar da felicidade que tinha experimentado.
— Ela não vai me ouvir — digo muito certo disto. — Precisa de espaço.
— Besteira, ela precisa é de ouvir a verdade e entender você. Sei que ela é
uma mulher muito coerente, só precisa ser sincero.
— Eu sou sincero.
— O que...
— Você não a defendeu quando Monique a atacou — acusou. — E nem
agora.
Até que tentei, quinze vezes, na metade delas chegou a tocar, mas as outras
foram todas para a caixa de mensagem.
Não tinha um pingo de disposição para o trabalho, mas quando amanheceu
a segunda-feira eu acordei mais cedo do que o normal. Tomei um café forte e
fui para a empresa. Taylor me deu um único olhar avisando que tinha uma
visita inesperada na minha sala.
Assim como eu não tinha condições para trabalhar, não existia a menor
chance de usar o que me restava de forças para discutir. A noite tinha sido
longa. Chorei mais do que me sentia confortável em admitir e estava
realmente cansada.
Henrique era o tipo de homem que quando uma porta não abria, ele
simplesmente a derrubava. Tomei um pouquinho de coragem e entrei no
escritório. Ele estava sentado na minha cadeira e parecia tão cansado quanto
eu me sentia.
— Bom dia.
— Eu não acho.
Eu queria entender aquela história melhor. A emoção que cruzou seu rosto
era algo que eu não consegui decifrar antes dele escondê-la.
— Fiz amor com você à noite inteira, não seria assim se somente estivesse
interessado em usá-la. — Ele se ergueu, inclinando-se sobre minha cadeira. —
Eu não conseguia parar de beijá-la, Erin.
— Henrique...
Ele me calou com um beijo suave. — Sei que a magoei, apesar de nunca ter
tido essa intenção.
— Magoou.
— Sim.
Desta vez, eu inclinei meu rosto para cima e o beijei lentamente. Senti que
a tensão o deixou quando ele retribuiu colocando mais intensidade no nosso
beijo. Fui puxada para cima e inclinada sobre a mesa, meu corpo respondeu
imediatamente e ele sabia disto.
— Bem que eu podia sentir o calor do lado de fora desta sala — A voz de
Rico chegou aos meus ouvidos.
Ele fez uma cara de inocente que eu não acreditava nenhum pouco.
Tentei passar por Henrique, pois minha primeira reunião do dia era na sala
de conferências. No entanto, ele me segurou, dobrou meu corpo para trás e
atacou minha boca em um beijo possessivo. Rico soltou gritinhos animados e
falou alguma coisa sobre o santo protetor das calcinhas molhadas.
— Sim.
— Posso não ser tão presente, mas não hesitaria um único segundo para
defendê-la — garantiu.
Beijei sua bochecha. — Agradeço muito por isto, mas está tudo bem.
— Bom, então vamos — se levantou. — Por que o noivo estava muito
nervoso — riu. — Eu quis atrasá-la mais um pouquinho de propósito.
Minhas mãos nunca estiveram tão suadas antes. Apesar do clima ameno e
agradável, meu corpo parecia inclinado dentro de um vulcão. Confesso que
queria conseguir parar de andar de um lado para o outro. Erin estava vinte e
sete minutos atrasada e deixando meu coração batendo forte demais para
poder controlar.
Caio estava se divertindo com meu nervosismo, assim como minha equipe.
Nenhum deles escondia o sorriso ou as piadas de pura provocação. Ignorá-los
era a melhor coisa a fazer. Enquanto isto, volta e meia meu pai me oferecia um
copo com água.
E eu lá queria me hidratar!
Isto não me ajudaria nenhum pouco a acalmar e por sorte ele entendeu
antes que eu me irritasse. Voltou com um uísque com bastante gelo. Aceitei
rapidamente e me forcei a tomar devagar. Foi o tempo exato para me
informarem que a noiva estava a caminho.
O vestido tradicional branco era justo e terminava pouco abaixo dos seus
joelhos. Era simples, liso e incrivelmente perfeito para ela. Era difícil entender
como duas tiras tão fina podiam deixá-la tão sensual, como sua sandália de
salto.
Seu olhar brilhava como um dia de outono, dourado e acolhedor. Sim, eu
não tinha dúvidas que se existisse uma mulher que deveria ser minha esposa,
era ela. Erin era a única que ocuparia esse posto na minha vida.
Fiquei aliviado com sua presença, ele era o único familiar dela. Não dava
para entender como seus pais não desistiram da viagem para ir ao casamento.
Eles estavam em um cruzeiro em algum lugar perto da Itália, mas nada
impedia que eles pedissem um helicóptero e depois um jato. Dinheiro para isto
tinham.
Desde a viagem eu não tinha despido Erin outra vez e estava ansioso para
fazer isto acontecer.
A cerimônia não foi longa e devo dizer que não prestei tanta atenção no
que era dito. Eu só tinha olhos para ela. Toda minha atenção era dela. A forma
que respirava, o leve toque de seus cílios quando piscavam, o jeito que seus
dedos apertavam meu antebraço repreendendo-me por não ouvir.
E então, deslizei meu anel por seu dedo enquanto fazia promessas de amá-
la e respeitá-la por vários momentos de nossas vidas até... O último dia do
nosso casamento. Apesar de deslumbrado, eu ainda imaginava que aquela
paixão iria esfriar em algum momento e o divórcio seria a melhor solução. Até
lá, eu daria o meu melhor para fazê-la feliz.
— E aonde vamos?
Erin merecia uma noite especial, e era exatamente isto o que eu daria a ela.
Mas não foi isto que me impressionou. Havia lindos buques de rosas
brancas espalhados por todo o apartamento, uma mesa cheia com os doces que
eu mais gostava e um conjunto de joias de presente de casamento.
Com um suspiro, fui deitada na parte rasa da piscina e envolvida pela água
morna enquanto sua boca assaltava a minha. Não me envergonho de assumir
que gritei quando ele deslizou por meu corpo, sugando meus seios até a
exaustão e depois dominando a parte mais íntima entre minhas pernas.
Esse homem tinha uma língua devastadora, capaz de derreter meu cérebro e
cada osso do meu corpo com o intenso prazer que me proporcionava. Seus
dedos não ficaram longe da diversão, escorregando um e depois outro para
dentro de mim, bombeando em um ritmo firme até que o orgasmo quase me
sufocou com sua intensidade.
Abracei sua cintura com minhas pernas. — Não precisa, estou no controle
de natalidade e totalmente limpa.
Agarrei seu cabelo puxando seu rosto para o meu e o beijando com força.
Estava tão excitada que não tinha tempo para delongas. Queria duro, intenso
e... sujo. Henrique entendeu rapidamente e começou a se balançar em
estocadas longas e firmes levando minha mente para uma explosão de fogos
que brilhavam por detrás de minhas pálpebras.
O intenso prazer dominou todo o meu corpo, como se cada célula estivesse
energizada e correndo por minha pele sensível.
Decidi não pensar muito sobre isto, não naquele momento em que toda
aquela pele gloriosa e nua estava grudada em mim. Acordei Erin com
pequenos toques e muitos beijos até que deslizei para dentro dela novamente.
O meu erro foi escolher o restaurante, nunca na minha vida teria imaginado
que ouviria aquela voz atrás de mim enquanto apreciava um saboroso salmão
ao molho de laranja.
— Henrique?
Levantei meu olhar do prato para encontrar o de Erin que tinha uma
sobrancelha arqueada questionando-me. No mínimo era pelo fato da cor sumir
do meu rosto por um momento.
Não precisei girar o pescoço para saber quem era, mas ela fez questão de se
aproximar e entrar no meu campo de visão. Continuava tão bonita como eu
me lembrava. Longos e sedutores cabelos negros, um rosto perfeito e um
corpo com curvas suaves.
Erin tinha uma expressão calma e parecia aliviada pelo o fato de não
precisar se defender de uma mulher como já aconteceu antes. No final, Caio
estava certo sobre minha reação lenta e o quanto isto machucava Erin.
— Não acredito!
— Ela não entendia o fato de que o dinheiro do meu pai, é dele, não meu. E
que eu fazia o meu sendo patrulheiro — digo mal-humorado. — Enquanto eu
estava apaixonado, ela estava procurando um trouxa rico. Beijando qualquer
homem disposto... ou não.
A metade do dia em que passei trabalhando não serviu para muita coisa.
Minha agenda estava tão cheia de coisas que somente assim consegui manter
minha mente longe das palavras de Henrique.
Bom... não alcançamos o quarto. Minha bolsa ficou caída na sala e no meio
do caminho até a parede que ele me escorou, perdi um dos meus sapatos.
Nada disto importava. Nenhum pouco.
Meu vestido tinha subido para minha cintura e sua mão ágil rasgou minha
calcinha. Seus dedos me invadiram tão rápido que me tirou o fôlego que
restava.
— Deus — murmurei.
Henrique encostou a testa na minha. — Acho que você também estava com
saudades.
— É o que parece. — Dei uma risada.
E com isto, eu estava voltando para casa no final da noite quase todos os
dias. Tendo reuniões em horários que eu não aceitava antes, como em
almoços, jantares e nos finais de semana. Hoje era mais um desses dias, já
eram dez horas da noite enquanto Taylor levava o carro para entrada da casa.
Uma mulher parado do lado de fora chamou minha atenção. Ela parecia
muito paciente encostada em uma mala enquanto o segurança a vigiava com
um olhar desgostoso.
Um farol bateu atrás e logo reconheci ser o de Henrique. Pedi para Taylor
parar e desci sentindo algo gelado deslizar por minhas veias. Acho que era o
cansaço misturado com a falta de paciência. Vi que antes do portão voltar a se
fechar, Candice conseguiu escapar do segurança e entrar na minha propriedade
puxando sua mala rapidamente. O homem se recuperou rápido e segurou seu
braço.
— E como é que eu vou saber? — perguntou ele no mesmo tom que usei.
— Não vim falar com você — respondeu Candice. — Eu estou aqui para
conversar com Henrique.
Se não fosse pela minha falta de humor eu teria gargalhado com aquele
absurdo.
Eu não sei o que deu em mim, mas quando percebi já era tarde demais.
Apesar de ser mais baixa que ela, minha mão estalou em seu rosto com tanta
força que o som ecoou ao redor.
— Isto é pela sua ousadia. — Dei outro tapa e ela cambaleou para trás. —
Esse foi por me achar com cara de idiota. Acha mesmo que vai se hospedar na
minha casa? — Minha mão encontrou o rosto dela novamente.
— Diz isto só porque sabe que eu tenho passado as noites com ele.
Neguei-me a dar atenção aos gritos irritados dela enquanto voltava para
dentro. Ouvi o portão ser fechado e encontrei Henrique ao lado de Taylor.
Ambos tinham expressões marcadas por diversão e surpresa.
Riram juntos.
— Ah pronto — resmunguei. — Eu não vou ser palco para os dois
palhaços.
— Você é incrível.
— Eu sei — sorri.
Vi que ele concordava com meu pedido e que até esperava o mesmo de
mim.
— Eu só quero você — jurou.
— Bom, eu diria o mesmo, mas estou com tanta fome que quero mais do
que você no momento.
— Não almocei.
Eu tinha uma resposta bem ruim para dá-lo. Era claro que eu não conseguia
mais fazer as refeições corretamente como apreciava antes porque ele não
tomou seu lugar como herdeiro de Joseph.
Para não brigar, com ele também, naquele horário. Levei o garfo à boca e
mastiguei com calma.
— Erin?
— Não.
— Erin você não é movida por ar! — exclamou com aquele tom mandão
que sempre me irritava. — Precisa se alimentar.
— Estou tentando fazer isto, mas você parece muito determinado a estragar
o momento para mim!
Houve uma boa batalha de olhares desafiadores entre nós dois. Eu não
queria brigar, mas se ele me instigasse mais um pouquinho acabaria jogando
na cara dele o real motivo da minha agenda estar tão cheia.
Na manhã seguinte acordei primeiro que ele e não pude esperar para um
café da manhã juntos. Tinha uma reunião muito importante para falar do meu
projeto para reformar e ajudar o bairro carente da região. Deixei para comer
direito no escritório e só tomei uma xicara de café bem forte antes de correr
para o trabalho.
Foi uma reunião intensa. Muito. Um dos envolvidos no projeto não
concordava com tantos investimentos. Ele não acreditava que tanto dinheiro
deveria ser jogado fora assim. Eu realmente não me importava com a opinião
dele, desde que fizesse o trabalho necessário.
Eu tinha um pequeno tempo livre e usaria isto para fazer exatamente o que
queria, ficar um pouco com ele para compensar a manhã que não passamos
juntos.
Bati de leve na porta e entrei quando o ouvi convidar. Ele estava sentado
atrás de uma pilha de pastas e tinha uma caneta na mão.
— E o que pretende?
Henrique parou do lado de fora do meu prédio com uma puxada brusca do
freio de mão. Olhei para ele sem entender o motivo, mas seu olhar estava
cravado na calçada do lado de fora. Havia três pessoas paradas lado a lado,
dois homens altos, sendo um negro e o outro branco e careca. A mulher tinha
um corpo esguio coberto por tatuagens e pouca roupa, claramente a
temperatura não incomodava ela.
— O que...
— Fique no carro.
Antes que eu conseguisse fechar a boca ele já havia saído. O encarei
indignada enquanto passava na frente do carro e parava com uma postura
autoritária diante daquelas pessoas.
Taylor já estava do lado de fora e tentou me impedir de passar, mas lhe dei
um olhar tão irritado que ele viu que não adiantaria tentar outra vez.
— Não estamos aqui para conversar com você, Voithe — disse o homem
branco sem se importar quem meu marido era.
— Não vai falar com minha esposa...
— Sim.
Estava dando meu sangue para fazer aquele projeto funcionar. Peguei o
panfleto e senti que meus olhos arregalaram, era uma clara ordem de despejo
para todos os moradores em um prazo muito curto de três dias antes que as
máquinas chegassem para derrubar as casas.
Henrique pegou o papel das minhas mãos para dar uma olhada e ele
pareceu tão chocado quanto eu, principalmente por minha assinatura estar no
final. Eu não tinha autoridade para fazer esse tipo de coisa. Sou somente uma
empresária querendo fazer algo bom por pessoas que tinha tão pouco.
O encarei realmente confusa sobre quem poderia ter feito uma besteira
daquelas.
Apontei para a lateral da sala assim que todos entraram, tinha uma maquete
3D representando todo o bairro e as melhorias que seriam feitas. Casas
pintadas e reformadas, praças, escolas e creches, áreas de lazer e muitas outras
coisas.
Voltei a pegar e olhar com atenção cada linha escrita. Não era possível que
nada ali me daria uma dica de quem poderia ter feito tal coisa. E foi aí que
peguei o pequeno erro na minha assinatura falsificada, havia três pontinhos
depois da ultima letra. Algo que eu nunca fiz, mas sabia quem tinha aquele
hábito.
Levei todos eles de volta para o elevador e descemos alguns andares. Não
parei para a recepcionista e nem mesmo para a secretária na porta.
— Renan.
Ambos o ignoramos. — E você acha que eu teria alguma dúvida vindo até
aqui?
— O que... eu não...
— Pare de gaguejar — ordenou. — Ela sabe que foi você, não existe razão
para me enrolar.
Observei ele andar pelo lugar como se fosse dono e tirar uma garrafa de
água do frigobar. Serviu em um copo e me entregou, mais uma olhadinha
dentro da pequena geladeira e ele encontrou um sanduiche natural.
— Coma — ordenou.
Revirei os olhos aceitando, pois não estava disposta a brigar por pouco e
sentia realmente uma pontada de fome.
— Vou colocar Rico para investigar e tirar todos os responsáveis por essa
besteira da minha empresa. — Mordi o sanduíche. — Também preciso emitir
uma nota para tranquilizar os moradores.
— Oh meu Deus!
Ele acenou e se retirou do mesmo jeito silencioso que entrou. Pulei para
fora da cama e corri para o closet.
— Vou levá-la.
— Taylor faz isto — retruquei.
Trinquei os dentes, não tinha tempo para brigar com ele por causa daquilo.
Terminei de me vestir sem me importar que iria comigo. Eram quase três da
manhã e eu não tinha tempo para besteiras.
Seu rosto estava machucado e ele parecia muito pálido naquela cama de
hospital.
— Graças a Deus você está bem aqui. — O abracei de novo aliviada de que
não estivesse pior.
Não me importava onde ficasse para se recuperar, desde que fosse bem
cuidado eu ficaria feliz.
— Meu assistente vai te ajudar — disse preocupado com o trabalho. — Eu
vou fazer o melhor que puder de casa...
— Você vai descansar e melhorar.
— Erin é sério, você precisa de ajuda. — Rico lançou um olhar duro para
Henrique. — Deixei separado alguns currículos de assistentes para você,
contrate duas.
Hoje era um dia ruim, simples assim. Acordei com uma dor de cabeça
horrível e um pouco de febre. Isto me deixou extremamente mal-humorada.
Não tinha tempo para resfriados ou gripe.
Essa multa era um valor muito significativo que eu não estava muito
disposta a pagar.
Cancelei tudo o que tinha para fazer naquele dia. Ou melhor, pelo o que
restava do dia e comecei a trabalhar pessoalmente naquele projeto. Tive uma
movimentação de pessoas entrando e saindo para ajudar, mas no final sobrou
somente eu e Taylor.
Meu segurança não entendia muito sobre o assunto, para não falar que ele
não entendia nada. Porém, além de uma boa companhia, ele era bom em
buscar livros e fazer pesquisas. Também buscava lanches e energéticos a cada
par de horas, eu via que ele estava se esforçando para me fazer comer, mas
meu apetite tinha diminuído muito.
Henrique já estava dormindo, o que não era uma surpresa, mas eu sempre
ficava aliviada de vê-lo bem e em casa. Me envergonho de dizer que por
muito pouco não tomei um banho antes de dormir, mas adormeci enrolada em
um roupão de banho.
— Erin?
— Erin?
— Me deixa — resmunguei.
— Dormi assim.
— Erin? — ouvi a hesitação na voz dele e meu peito doeu com uma
emoção inesperada. — Você está bem mesmo?
— Sim.
Levei meia hora para ficar pronta, mas isto me tirou a chance de tomar café
da manhã. Donna me olhou feio e empurrou para Taylor uma bolsa térmica
com alguns lanches para o dia. Agradeci, pois apesar de não precisar dos
lanches o cuidado dela era tocante. Henrique tinha sentado no mesmo lugar de
sempre com uma xícara de café e um olhar distante, me fazendo perguntar
quando começamos a nos tratar como estranhos.
Eu o amava, mas sabia que não era recíproco o sentimento. E nos últimos
tempos tinha me esforçado para não pensar nisto, mas eu sabia que estava na
hora de pedir o divórcio. Só não sabia como fazer isto, pois sempre tinha a
barreira do compromisso que fiz com Joseph.
Fui para o trabalho e depois da apresentação que, por um milagre, foi
aprovada por nossos clientes. Aquela pequena pontada de orgulho ficou
enorme. Comemoramos com um delicioso café da manhã para o grupo e eu
pude relaxar um pouco.
O engraçado é que tinha tudo para ser um dia tão ruim quanto o anterior,
mas foi tranquilo. Minhas novas assistentes, Judy e Luci, ganharam um ritmo
bom e adiantaram muitas coisas. Deixando que eu pudesse curtir aquele
resfriado ruim em paz. Não comi muito durante o dia, estava sem apetite, mas
foi um alívio poder ir para a casa antes das sete.
Taylor ainda era uma pessoa de poucas palavras, seu silêncio era sempre
muito bem-vindo, mas hoje eu vi que ele era muito além de um segurança, se
tornou meu amigo.
— Obrigada.
— Ora — sorriu com ironia. — Minha esposa está em casa antes de meia-
noite.
Percebi que fui o alvo fácil da sua irritação, mas não o motivo. Porém, isto
não me fez recuar.
— Ora se não é meu marido que prometeu tomar o lugar do pai e em vez
disto jogou tudo nas costas da esposa.
— Erin!
Cheguei a estremecer com o barulho que fez quando ela caiu no chão.
— Deus! — agachei ao lado dela e me choquei com a forma que minhas
mãos tremiam quando segurei seu rosto. — Erin?
Sem nenhuma resposta fiz o que pareceu mais coerente, a ergui do chão e
gritei por Taylor. Eu sabia que ele não ficava muito longe.
Ele me encarou furioso e pegou a bolsa dela, Taylor não parou para me
encarar de frente enquanto caminhava para a saída sabendo que eu o seguiria.
O caminho foi feito em silêncio, mas a cada vez que um pouco de luz
atravessava a janela e eu via o rosto dela, um sentimento ruim apertava em
meu peito. Claro que eu sabia que ela estava se matando de trabalhar. Era
óbvio que eu via que ela tinha emagrecido, suas bochechas estavam fundas e
seus olhos cada vez mais sem brilho. Foi mais de uma vez que vi Donna
levando uma costureira para ajeitar algumas roupas dela.
Sabia que deveria estar me esforçando mais para assumir a empresa do meu
pai, principalmente agora que ele estava sendo obrigado a ficar de repouso.
Juro que tentei, mas nos últimos meses a criminalidade havia aumentado
muito fazendo meu trabalho ficar mais difícil. Principalmente por muitos
estarem envolvidos em casos que a Inteligência estava investigando.
Coloquei todos da minha equipe em uma corrida louca para conseguir
cumprir os mandados de prisão e concluir as investigações. Porém, nada disto
resolveu o meu problema. Pelo contrário, aquela tensão toda colocou alguns
metros de distância entre Erin e eu.
Fui levado para o quarto dela e permiti que Taylor me seguisse, ele já fazia
parte da família e estava se mostrado um bom amigo. Erin estava dormindo e
parecia minúscula naquela cama de hospital.
Ficamos vigiando o sono dela, parecia que enfim ela conseguiria algumas
horas de descanso. A ironia daquela situação afundou como chumbo dentro de
mim. A culpa era tão grande que eu não conseguia acreditar que um dia ela
poderia me perdoar por ser tão idiota.
No início da madrugada, vi seus olhos se abrirem lentamente.
A porta se abriu e o médico apareceu, ele havia me dito que voltaria para
um ronda, mas teve a sorte de encontrá-la acordada. Ele a examinou e conferiu
seus sinais vitais, antes de fazer algumas perguntas. Ele informou que tinha
alguns resultados de exames dela e estava preocupado, principalmente com o
peso baixo e a desidratação.
— Como tem sido sua alimentação?
Ela não me encarou, nem ao médico, mas sua resposta fez meu estômago
se contorcer.
Ela sorriu. — Indiquei outro arquiteto, aprendi muito sobre pegar coisas
demais e me matar com tantos compromissos.
— Você é esperta.
— Sei bem disto — afirmou presunçosa.
— Qual é a história? — Não hesitei em perguntar.
Erin olhou as unhas com despreocupação, o que realmente me irritou um
pouco.
— Não é sobre isto que estava lendo, comandante? — indicou a pasta
marrom.
— Engraçadinha.
— Então é o histórico de vida dele?
Eu sabia que ela estava me provocando.
— Algo do tipo — respondi.
— Henrique! — exclamou chocada. — Você não fez isto!
Sorri. — Não, mas fiquei tentado.
— Esse seu ciúmes não é necessário.
A puxei pela mesa até que caiu no meu colo.
— Nunca vou deixar de sentir ciúmes.
Tocou de leve meu rosto. — Bobo, sabe que eu amo você.
— Sei, mas isto não mantém os homens longe de você.
Ignorei o jeito que ela revirou com olhos e depois me encarou com um ar
de deboche.
— Conte-me a história — pedi. — Ou eu vou ter que investigar.
Erin aconchegou mais em meus braços e com tranquilidade me contou
sobre o tal Douglas Cavan. Eles se conheceram quando ainda eram jovens e se
apaixonaram, mas antes que o namoro engatasse, uma ex-namorada dele
apareceu dizendo estar grávida. Erin conhecia o rapaz a dois meses e a moça
já esperava um bebê há três.
Apesar de jurar que não queria nada com a ex, além do filho, acabou preso
em todas as exigências que recebeu. Erin e ele continuaram amigos por um
tempo, trocaram alguns beijos e foram pra cama uma vez. Porém, a falta de
decisão dele em se impor acabou afastando Erin. Ela decidiu em acabar com a
amizade que tinham, pois sentia estar vivendo em um triangulo amoroso.
— Mas você o amava?
— Sim — acenou. — Ele é uma pessoa muito boa.
— Mas não luta pelo o que quer.
Ela sorriu. — Pode até ser, mas entendo o lado dele. Era um filho e uma
mulher que ameaçava qualquer relacionamento saudável dele com a criança.
— Eu não permitiria que ninguém afastasse você de mim, daria um jeito.
— Nada fica no caminho de Henrique Voithe por muito tempo — brincou.
— Não.
— Isto é passado. — Deu de ombros. — Não vejo motivos para falar nisto,
tanto eu quanto ele seguimos em frente. Apesar das coisas que aconteceram,
gosto dele como pessoa e não vejo motivos para ser rude ou socá-lo.
— Eu discordo — murmurei. — Ele ainda quer você.
— Não seja absurdo. — Se levantou devagar. — Você não teve tanto tempo
para avaliá-lo assim, viu somente um abraço.
— Sei o que estou falando.
Erin bufou. — Não vou discutir com você...
Vi que ela não parecia estável e fui até ela preocupada.
— Estou bem — afirmou. — Preciso de um banho e longas horas de...
Ela não concluiu o que estava dizendo, simplesmente desmaiou em meus
braços.
Quando abri meus olhos a primeira coisa que vi foi o intenso olhar de
Henrique. Ele estava inclinado sobre mim e parecia extremamente
preocupado.
— Graças a Deus!
— O que aconteceu? — perguntei confusa.
— Você desmaiou.
Balancei a cabeça levemente tentando colocar os pensamentos em dia e
nisto percebi que estava em um quarto de hospital.
— O que...
— Corri para o hospital mais próximo — explicou. — Você não acordava!
— Sinto muito ter te assustado.
Ele me abraçou contra o peito. — Nunca mais faça isto.
Acabei rindo baixinho, pois ele falou como se eu tivesse desabado de
propósito.
— Não tem graça.
— Desculpe — beijei seu rosto. — Estou me sentindo melhor.
— Bom, agora posso contar que ferrei o terno Armani que usei hoje.
Estreitei meus olhos para ele. — Está dizendo só porque estou presa nesta
cama.
— Algo do tipo — riu. — Vou chamar o médico, ele estava aqui e precisou
atender outra pessoa.
O segurei quando tentou se afastar. — Espere.
— O que?
— Se machucou? — perguntei. — Não me importo com o terno, podemos
comprar quantos forem precisos.
Seu olhar suavizou.
— Não me machuquei — garantiu. — Só rolei um pouco no chão enquanto
socava um idiota. — Deu de ombros. — Nada fora do comum, além do fato
de que eu estava de terno.
— Devia ter se trocado.
— Não tive tempo.
O médico entrou no quarto no mesmo momento e quando me viu acordada,
ofereceu um sorriso gentil. Ele me reexaminou enquanto aguardávamos uma
enfermeira trazer os resultados da amostra de sangue que retirou de mim.
Fiquei muito agradecida de estar deitada, pois assim que ele me informou o
que me causou o mal-estar pensei que poderia desmaiar novamente. Acho que
meu rosto ficou tão pálido quanto o de Henrique ao saber que estava grávida.
Aquela era uma noticia que nós nunca esperávamos. Eu fazia o uso contínuo
de anticoncepcionais há um bom tempo e era irreal saber que estava grávida.
No entanto, o médico não pareceu muito chocado depois de ler minha
ficha. Na visita anterior ao hospital eu havia recebido alguns medicamentos
que cortavam o efeito das pílulas.
— Deus. — murmurei.
O médico nos deixou sozinhos para poder processar aquela novidade.
— Por isto ando tão cansada — digo quase que perplexa.
— Agora temos um motivo a mais para ficar juntos para sempre —
afirmou Henrique, me fazendo encará-lo.
Apesar do rosto ainda parecer sem cor, havia um brilho em seus olhos.
Uma emoção que me tocou e me invadiu.
— Vamos ter um bebê — disse descrente e sorriu. — Espero que seja uma
menina tão linda quanto você.
Suspirei e o abracei assustada com a responsabilidade de criar uma vida.
— Se for, espero que fique feliz assim quando ela começar a namorar. —
Não resisti a provocação, foi o que me fez reagir um pouco.
Ele se afastou. — O que? Nem por cima do meu cadáver.
Gargalhei e discutimos um pouco sobre o assunto. Levar com bom-humor a
novidade de esperamos um filho ajudou a espantar o choque que eu estava
sentindo. Aliviou alguns medos e preocupações, principalmente por ver que
meu marido estava muito feliz em ser pai.
Fui liberada pouco depois e de mãos dadas com ele caminhei para fora do
hospital. Henrique já havia informado Taylor de nossa saída e iria nos
aguardar na porta.
Aconteceu muito rápido. Enquanto observávamos o nosso carro vindo,
Henrique se distraiu com uma chamada no seu telefone e mal teve tempo de
reagir quando uma van branca freou na nossa frente. Dois homens saíram e
me jogaram dentro.
— Henrique! — gritei apavorada.
Ouvi o som de tiros, mas antes que eu pudesse tentar me erguer e pular
para fora, algo muito duro se chocou contra minha nuca.
E tudo escureceu.
A queimadura no meu braço não era grave, eu não precisava olhar para
saber que foi um tiro de raspão. Corri para o carro onde Taylor estava depois
que resgatei meu celular do chão. O coitado até tentou ajudar, mas era tarde
demais.
Alguém estava sequestrando minha esposa.
— Acelera porra! — gritei com Taylor.
Os pneus da SUV cantaram no asfalto. — Que caralho está acontecendo?
Tentei ligar meu celular, mas ele tinha quebrado quando caiu no chão.
— Me dê o seu! — exigi mostrando a ele o que eu queria.
Taylor puxou para fora do bolso do terno o aparelho, desbloqueou sem
desviar o olhar da van que levava Erin. Disquei o número do meu irmão e o
amaldiçoei por não atender rápido.
— Diga meu amigo.
— Alguém a levou, porra!
— Henrique?
— Quem mais seria? As Kardashians? — rosnei irritado. — Levanta sua
bunda da minha cadeira!
Ouvi Caio latindo ordens para nossa equipe. — Estamos indo para os
carros.
— Bom, coloque Nick na linha — ordenei.
Expliquei onde estávamos e a placa do carro que a levou. O moleque era
muito bom em rastrear coisas e não tinha escrúpulos quando era necessário
invadir qualquer câmera de segurança. A SUV era mais potente e assim
ficamos na cola. Junto com meu irmão planejamos onde poderíamos
interceptá-los e no meio da loucura do trânsito, acabamos perdendo a van por
longos minutos.
Meu coração chegou a parar com o medo de perder a direção em que eles
seguiram. Infinitas possibilidades passaram pela minha cabeça, aterrorizando-
me com o destino que poderia tomar caso conseguissem escondê-la de mim.
— Onde eles estão? — rosnei.
— Sumiram. — Taylor respondeu com frustração.
Olhei de um lado para o outro enquanto gritava com Nick para conseguir
encontrá-los novamente.
— Vire na terceira direita... a equipe já está chegando — informou Nick.
Foi um enorme alívio que ele tinha recuperado a localização. Viramos onde
foi indicado e eu tive um vislumbre da van. Taylor pisou mais firme no
acelerador e buzinou para algumas pessoas que entraram no nosso caminho.
Estava cansado daquela perseguição, queria minha esposa grávida em
segurança na nossa casa. Inclinei o corpo para fora quando chegamos mais
perto e atirei em um nos pneus. Eu não queria causar muitos danos para não
colocar Erin em mais risco ainda caso acabassem em um acidente.
A van balançou com a falta de equilíbrio com o pneu furado e foi fácil ver
que o motorista tinha perdido o controle.
— Porra.
Mais a frente tinha uma barricada policial, as luzes piscando na noite eram
impossíveis de ignorar. Então a van correu para o lado e bateu com força total
em um poste.
— Inferno! — Taylor amaldiçoou.
Pulamos para fora do carro. Corri igual um louco para a maldita van e
quando abri a porta lateral, com minha arma pronta para fazer furos, encontrei
o lugar vazio.
— O que...
Eu sabia que Erin esteve ali por causa da bolsa que ainda estava dentro,
mas era somente isto. Furioso, fui até o banco do motorista e arranquei o
homem que estava sangrando lá dentro.
— Onde está minha esposa? — exigi saber.
Seus olhos estavam desfocados e parecia muito perto da inconsciência. O
sacudi com força, eu não me importava com a vida daquele homem, só queria
que dissesse logo onde Erin estava e com quem.
— ONDE ELA ESTÁ? — gritei.
O desgraçado riu.
— Eu não vou te contar... — tossiu sangue.
Uma mão pousou no meu ombro. — Henrique.
— Esse maldito sequestrou minha esposa, Caio — rosnei apertando tanto o
homem que ele gemeu de dor.
— O coloque no chão — pediu meu irmão. — Vamos dar a ele primeiros
socorros e depois o interrogamos.
Eu o joguei no chão, fazendo-o se contorcer.
— Quer dar primeiros socorros a esse verme?
— Henrique — Caio tinha um tom calmo. — Ele não vai falar nada se
morrer.
— Eu não ligo que morra.
— Nem eu — afirmou. — Mas precisamos dele para recuperar Erin.
Meu irmão tinha razão, deixei que ele tomasse frente enquanto colocava
todos os outros para procurarem onde tiraram Erin da van. Foi uma noite
longa e ficou muito pior quando eu soube que o motorista havia morrido.
Estava machucado demais da batida para sobreviver.
E agora, não tínhamos nenhuma pista de onde ou quem havia levado minha
esposa.
Tinha amanhecido e a fúria dentro de mim deu lugar para uma preocupação
extrema. Eu não conseguia parar de pensar em tudo o que ela poderia estar
enfrentando. Me deixava angustiado imaginar que nosso bebê também estava
em risco. E mal havíamos tido consciência de sua existência.
— Você devia descansar um pouco — murmurou Caio ao meu lado.
— Você descansaria se fosse sua esposa? — questionei sem tirar os olhos
das imagens de segurança.
— Não — respondeu sério. — E também não vou fazer isto agora, até que
minha cunhada esteja bem.
— Ela está grávida — contei.
Senti que Caio ficou tenso. — Vamos encontrá-los.
— Como eu não vi isto chegando? — questionei. — Minha esposa e nosso
bebê estão em perigo por minha causa.
— Não é verdade — retrucou meu irmão. — Sabe que esse é um trabalho
de merda, alguém tem que fazê-lo, mas nada do que volta é sua culpa. As
pessoas do outro lado da linha é quem são os culpados.
— Isto não alivia o que estou sentindo.
— Não, mas a culpa não é sua.
— Precisamos encontrá-la o mais rápido possível — murmurei. — Só peço
a Deus que não seja nada envolvendo nosso caso de tráfico de mulheres.
Ficamos em silêncio pensando a mesma coisa. Se fosse, seria impossível
encontrar Erin. Eles eram organizados e fazia com que as pessoas sumissem
com facilidade. Sabia que seria impossível resgatá-la, pois eles já teriam a
colocado em um contêiner e enviado em um navio para o outro lado do
mundo.
— Vou agitar essa cidade. — Me levantei mais determinando do que
nunca. — Vamos prender qualquer um até que eu a encontre.
— Vamos fazer isto.
Eu já tinha colocado meus investigadores e todas as patrulhas em uma
busca incansável por toda a noite. E levaria mais policiais agora. Não ficaria
uma pedra no lugar até que eu a tivesse de volta.
Na saída para fazer uma batida, encontrei Digo, um dos homens que esteve
no escritório de Erin um tempo atrás. Ele estava encostado na minha
caminhonete e tinha os grandes braços cruzados.
— O que você sabe? — perguntei sem rodeios.
Ele não estaria ali por outro motivo.
— Pherlan — disse em um tom irritado. — Esse é o homem que você
procura.
Franzi a testa sem saber de onde conhecia aquele nome. — Onde?
Ele informou uma localização.
— Estou aqui por ela — esclareceu. — Sua esposa se mostrou ser uma
pessoa justa e sem preconceitos. — Desencostou do meu carro. — Pherlan
quer vingança e não tem escrúpulos. Tenha cuidado, vai precisar da cavalaria.
Encontre sua esposa, Voithe.
— Eu vou.
Caio já estava fazendo uma ligação enquanto voltávamos para o escritório.
Uma busca rápida e já sabíamos quem era. Pherlan era o irmão mais velho do
homem que fez Erin de refém na rua, quando nos conhecemos.
Eu ordenei o tiro que o matou e não me arrependia nem um segundo disto.
Agora eu teria que sujar a terra com mais um sangue ruim, pois seria
exatamente isto que iria fazer para recuperar e vingar minha esposa.
Nem preciso dizer do quanto fiquei aliviado em saber que não era quem eu
estava pensando antes. Fato que só me fez pensar em todas as formas de
melhorar a segurança dela a partir de agora.
Prendi o colete Kevlar no corpo antes de entrar no meu carro, eu não
voltaria para casa sem minha esposa.
Mesmo que precisasse entrar no maldito inferno, eu a tiraria de lá.
Havia acontecido algo muito importante, mas eu não conseguia me
concentrar o suficiente para me lembrar. A dor latejante na minha nuca era
algo que dificultava muito a situação. Tentei esfregar o lugar dolorido, mas
não consegui levantar a mão. Nenhuma das duas. Isto sim me motivou a abrir
os olhos e descobrir o que diabos estava acontecendo.
Eu estava deitada em um colchão sujo em um quarto pouco iluminado.
— O que...
A presença de um homem encostado em uma das paredes me calou e
também me recordou de que fui sequestrada na porta do hospital. Tinha
acabado de descobrir que estava grávida e apesar da ansiedade com a notícia,
Henrique conseguiu acalmar meus medos.
Embora agora eu tenha temido muito pela vida do pequeno ser que crescia
dentro de mim. Talvez não fosse o melhor momento para engravidar, e agora
que isto já era um fato, sentia que precisava protegê-lo.
— Quem é você? — exigi saber e me esforcei para sentar.
Minhas mãos estavam presas nas costas e meus pés soltos e descalços.
— Não importa — respondeu do mesmo lugar. — Estou aqui pensando em
como será bom ver Voithe se quebrando quando não ter mais você.
Um arrepio muito ruim passou por minha pele. — O que quer?
— Nada. — Deu de ombros. — Nada que dinheiro pague.
Quando ele se aproximou, eu me afastei o máximo que consegui.
— Não chegue mais perto — ordenei.
O rosto frio daquele homem não teve nenhuma mudança. A cada passo em
minha direção, meu coração batia mais forte. Deus. Quando não tinha mais
para onde ir, bati contra a parede e fui erguida com uma facilidade
assustadora.
— Henrique está vindo — consegui dizer.
— Será tarde demais. — Sua mão enrolou no meu pescoço. — A dor que
ele vai sentir será a mesma que me fez sentir quando matou meu irmão.
— Quem... era...
— Atirou nele na rua. — Apertou mais forte seus dedos tirando quase todo
o meu ar. — O perseguiu como um maldito rato e o mais interessante é que
você, senhora Voithe, estava lá naquele dia.
Os pontos pretos que começaram a dançar em meus olhos dificultaram o
meu entendimento. Quando entendi o que ele dizia, era tarde demais para falar
alguma coisa. Sua mão livre se chocou tão forte no meu rosto que tirou
qualquer chance de conseguir respirar normalmente.
— Eu vou quebrar você — prometeu com frieza. — E garanto que não irá
sobrar muito quando o comandante chegar.
— Eu... não te-tenho culpa.
— Sei disto querida — sorriu de um jeito que me causou calafrios. — Por
isto, fica mais interessante.
Era ridículo aquilo, um bandido tentar vingar a morte do irmão igualmente
criminoso. Se não quisesse enfrentar a polícia, estava do lado oposto na linha
entre o certo e o errado.
— Ele está vindo — murmurei ofegante. — Sabe disto.
Algo sombrio passou em seus olhos. — Estarei esperando.
— Mesmo que me ma-mate, Henrique sempre irá atrás de você — garanti.
— Não conseguirá dar um passo sem sentir a respiração dele em seu pescoço.
— Tomei ar com força. — E quando ele co-colocar as mãos em você — ri em
provocação. — O inferno subirá para esse mundo.
Eu estava com medo, muito medo, mas isto não me faria encurvar diante
daquele homem que se achava no direito de me machucar. Sentia muito o fato
de que era provável que eu não veria meu filho crescer. Que o bebezinho que
nem havia se formado direito dentro de mim, mas que tinha um coração forte
batendo, não teria muitas chances.
Sabia que Henrique estava vindo. Não duvidava disto nem por um
segundo, mas eu me perguntava se ele chegaria a tempo. O que era muito
improvável, pois naquele exato momento começou a primeira surra que levei
de um homem na minha vida.
Não sabia que horas eram, nem quanto tempo passou, mas a cada soco e
chute acreditava que não demoraria muito para estar desmoronando. Mesmo
encolhida na sujeira daquele chão, tentando desesperadamente proteger minha
barriga, minha mente gritava para meu marido se apressar.
E quando não consegui mais manter os olhos abertos, deixei a escuridão
me levar para um lugar mais calmo e tranquilo.
Despertei assustada com o choque de agua fria que me cobriu. Ofeguei tão
alto que o som ecoou ao redor das quatro paredes em que estava presa.
Inclinado sobre mim estava meu sequestrador, o homem ainda tinha aquele
olhar morto que me assustava. Ele jogou o balde longe e sua próxima ação foi
rasgar minha camisa molhada.
— Não — protestei com o resto de energia que me sobrava.
— Você não dá as ordens aqui.
Suas mãos empurraram minha saia para cima, mas não foi muito longe por
causa do tecido justo. Quase respirei aliviada, mas estava ocupada demais
lutando contra ele para fazer qualquer outra coisa.
— Me solte — gritei.
Foi bom perceber que minhas mãos estavam soltas, e mesmo sabendo que
estava bem machucada, eu o estapeie. Não foi a coisa mais inteligente, mas eu
não ficaria quieta enquanto aquele monstro tentava me estuprar. Ele ficou
furioso e voltou a me espancar, com mais força do que antes. Transformando-
me em uma massa quase que desossada.
Gritei e lutei, mas não restava muito de mim para afastá-lo. Ouvi minha
saia rasgar. Senti meu olho inchar. Experimentei o sabor do meu sangue, vinha
do meu nariz e dos meus lábios cortados.
Só Deus sabe como eu queria chorar e me entregar aquele destino cruel que
a vida tinha separado com exclusividade para mim. No entanto, eu não podia
desistir. Não poderia aceitar aquela brutalidade.
Eu queria viver, ser mãe, ser feliz.
Deus, por favor, ajude-me!
Minha voz estava sumindo, não conseguia mais gritar. Faltava tão pouco
para me vencer que o desespero renovou um pouco das minhas forças, mas foi
tão pouco que nem sei dizer se fez efeito.
Até que aquele peso saiu de cima de mim com a mesma rapidez com que
tinha caído. Foi um alívio conseguir respirar novamente, e eu nem posso
explicar a minha emoção quando vi Taylor na minha frente.
— Erin — disse com suavidade.
A barreira de lágrimas que eu tinha segurado até o momento, estourou de
uma vez só e eu me agarrei ao meu segurança como se minha vida dependesse
disto. E dependia.
— Está tudo bem, querida — murmurou me apertando contra seu peito.
Solucei alto, desesperada e aliviada, até que senti que não conseguia
respirar. Estava me sufocando com as lágrimas, o ar e o sangue que escorria
no meu rosto.
Tinha uma fúria gelada dentro de mim. Algo cruel e imbatível enquanto eu
socava o rosto daquele homem que estava espancando e quase violando minha
esposa. O fato de pegá-lo de surpresa tirou sua chance de reagir a surra que eu
estava lhe dando.
Iria matá-lo.
Simples assim.
O único som que passou pela pressão dos meus ouvidos, foram os soluços
dela. Larguei aquele pedaço de merda e procurei por Erin em choque. Deus,
ela estava encolhida nos braços de Taylor chorando em desespero.
Levantei em um pulo, necessitado para cuidar dela, pois a vingança já não
tinha tanta importância. Antes de alcançá-la percebi sua dificuldade em
respirar.
— Erin?
— Chame os paramédicos! — Taylor ordenou para qualquer um que o
ouvisse enquanto a deitava de volta no colchão sujo.
— Querida — murmurei e seus olhos encontraram os meus.
Seu rosto estava tão machucado que assustou a merda fora de mim. Um
olho inchado, um ferimento na testa e seu nariz escorria sangue direto para sua
boca.
— Ela está sufocando — ajoelhei ao lado. — Erin? Estou aqui, amor. —
Virei seu rosto acreditando que fosse o melhor para o momento. — Tenta se
acalmar, por favor.
Seu olhar encontrou o meu, eu podia ver o alívio, mas também um medo
extremo.
— Nosso... bebê...
— Vocês ficarão bem — prometi. — Só precisa se acalmar — Inclinei e
beijei seu rosto algumas vezes. — Estou aqui, Erin. Está segura.
Foi um momento difícil, principalmente porque queria abraçá-la e protegê-
la do mundo. Mas entendia que primeiro, Erin, precisava dos médicos. E
quando a dupla de paramédicos entrou consegui um pouco do meu controle de
volta. Segurei sua mão enquanto eles prestavam assistência a ela e os segui até
a ambulância sem olhar para trás, confiante de que Caio lidaria com toda a
situação.
No caminho para o hospital ela desmaiou, o que deixou cada célula do meu
corpo aterrorizado, mas a paramédica que estava nos acompanhando me
tranquilizou. O corpo de Erin estava além do limite, com muitos machucados
e emoções para lidar. Para mim parecia que eu não tinha chegado a tempo,
mas o olhar gentil da moça do outro lado do corpo da minha esposa me dizia
que foi no momento exato.
Não concordava. Preferia estar levando-a para casa inteira, não em pedaços
daquela forma. Em outro momento iria pensar em Pherlan e no que faria com
ele, mas agora Erin era minha única prioridade.
Em pouco tempo, fiquei preso na sala de espera enquanto a levavam para
longe de mim. Gritei e esbravejei exigindo meu direito de acompanhá-la e foi
preciso três dos meus homens para me segurar no lugar.
A ideia de ela estar longe do meu campo de visão me apavorou. Queria
vigiá-la para sempre somente para ter certeza de que ficaria bem e segura, mas
antes que eu pudesse jogar algumas portas para baixo alguém me drogou.
Encarei o médico horrorizado quando senti as pernas ficarem bambas.
— Seu... desgraçado...
— Quando acordar se sentirá melhor — prometeu ele sem se abalar com a
ameaça de minha voz fraca.
Caio apareceu na minha frente. — Henrique, você precisa se acalmar.
— Foi você — acusei.
Ele sorriu despreocupado. — Eu o conheço meu irmão.
Fui colocado em uma maca e Caio se inclinou sobre mim.
— É só um relaxante — prometeu. — Eu vou garantir que Erin esteja
segura enquanto você relaxa um pouco.
— Eu... eu vou te matar.
— Não ligo — sorriu. — Agora se acalme, foram longas horas, não é
mesmo? Bater em médicos e enfermeiros não ajudará Erin em nada.
Suspirei sabendo que resistir ao medicamento faria meu coração bater em
um compasso descontrolado e até me levaria a um ataque cardíaco. Também
entendia que derrubar portas para chegar até ela não a ajudaria.
— Ele é muito resistente — ouvi alguém dizer.
Essa pessoa não diria isto se soubesse o quanto estava lutando para ficar
consciente.
— Só... quero protegê-la.
— Ela está segura — garantiu meu irmão.
Acreditei nele e deixei que meus olhos se fechassem.
Ir embora daquele hospital foi um grande alívio, não só para mim, mas para
toda equipe médica e de enfermagem que Henrique estava tentando
enlouquecer. Ele não se importava em quebrar regras, pelo contrário, fazia
exatamente isto para satisfazer sua necessidade louca de me proteger.
Não era só isto, ele não deixava as enfeiras me banharem e nem permitia
que eu comesse as refeições do hospital. Fazia Taylor me trazer comida a cada
par de horas, cozinhadas por Donna, e me obrigava a comer sem reclamar.
Eu não reclamava, mas claramente o fazia me acompanhar.
— Vamos parar no batalhão por alguns minutos — informou ele. —
Preciso pegar algumas pastas e deixar essas. — Apontou para a pilha de papel
no banco do meio do carro.
— Tudo bem — acenei. — Bom que agradeço a todos pelo carinho.
— Não há necessidade...
— Faço questão. — O interrompi.
Tinha a sensação de que se não ficasse esperta ele me prenderia em uma
bolha de vidro.
— Nunca ganhei tantas flores e balões na minha vida — comentei tentando
distrai-lo da tensão que tomou seu rosto. — Preciso agradecer.
— Tudo bem.
Apesar de concordar, ele não parecia feliz. Não rendi o assunto, ele teria
que aceitar em algum momento de que o que aconteceu não era culpa dele. E
também que não poderia me prender pelo resto da vida.
Poucos minutos depois daquela conversa chegamos ao batalhão e eu
ignorei seu olhar que me dizia para esperar no carro. Desci devagar e
caminhei com tranquilidade para dentro. Ouvi seu bufo indignado e logo
estava ao meu lado e Taylor do outro, me cercando.
Fiquei impressionada com o carinho que recebi a cada passo que dei dentro
daquela delegacia. Henrique queria ficar ao meu lado, mas também queria ir
embora rápido. Com isto, deixou que Taylor fosse a minha sombra antes de
sumir pela escada que levava até seu setor no andar de cima.
Enquanto conversava com a gentil policial atrás de um balcão que tinha
mais flores para mim, percebi a aparência abatida de uma senhora no banco ao
lado. Ela me olhava com lágrimas nos olhos, me deixando confusa sobre o
porquê ela parecer me conhecer.
— Erin? — Taylor chamou mostrando também ter percebido. — Vamos
subir.
Acenei concordando. — Senhora Voithe?
Voltei a me virar para a mulher e ela deu um passo na minha direção. O que
deixou meu segurança tenso e o fez se projetar na minha frente.
— Taylor. — O repreendi.
— Estamos saindo — anunciou.
— Espere — pediu a senhora. — Por favor.
Consegui contornar o grande corpo do meu segurança e ignorei a mão dele
em meu ombro. Encarei a mulher e as lágrimas manchando seu rosto eram de
partir o coração.
— Do que precisa senhora? — perguntei com gentileza.
— Somente que me perdoe — respondeu em um soluço angustiado. —
Meus dois filhos fizeram mal a você e eu não sei dizer onde foi que errei tanto
para merecer isto.
Sabia que tinha ficado pálida e que meus olhos saltaram para fora do meu
rosto. Cheguei a estremecer sabendo a quem ela se referia. Ao homem que me
pegou como refém na rua e ao outro que me sequestrou e me espancou com
brutalidade.
Taylor me puxou para trás novamente e por muito pouco conseguiu me
arrastar para fora. O que realmente me fez reagir.
— Taylor, pare! — exigi nervosa. — Está tudo bem.
— Não é uma boa ideia — protestou.
— Acha que ela me faria algum mal? — questionei com irritação.
Ele travou os lábios em uma linha fina e seus olhos mostravam irritação
quando encarou aquela senhora. Ela não deve ter nem um metro e meio
direito, era franzina e parecia realmente assustada. Taylor não me deu uma
resposta, cruzou os braços em teimosia e ficou parado igual a um poste do
meu lado.
— Está tudo bem senhora — digo sabendo que tinha o controle das minhas
emoções. — Eu não a culpo por nada do que aconteceu.
— Eu tentei... dei o melhor de mim para que eles fossem pessoas boas,
mas... — balançou a cabeça como se não soubesse como explicar.
Toquei de leve seu ombro. — Depois que nos tornamos adultos, somos
responsáveis por nossas atitudes.
— Sinto muito — choramingou — Por tudo.
— Está tudo bem — garanti e a abracei. — Não se preocupe comigo, estou
bem agora.
Antes de me afastar, ouvi a voz irritada do meu marido. — O que está
acontecendo aqui?
A senhorinha estremeceu como se já tivesse o conhecido antes e se afastou
com os olhos assustados.
— Henrique — suspirei sabendo que ele daria um show.
Em segundos estava do meu outro lado, se inclinando de forma protetora.
— Pedi para que fosse embora, Deise.
— Voithe — Os ombros dela caíram ainda mais. — Só gostaria de me
desculpar.
— Não precisa — respondi por Henrique. — Vá para casa e descanse.
Quando dei um passo a frente, Henrique me puxou para trás. — Você não
pode se estressar — murmurou me irritando.
O ignorei e fui até Deise, segurei suas mãos geladas com gentileza e lhe
ofereci um sorriso.
— Eu não tenho que perdoar a senhora por nada — afirmei. — Não são
seus pecados, seus crimes. Tranquilize seu coração quanto a isto, mas se
precisa do meu perdão para se sentir melhor, eu a perdoo sim. Vá para casa
sem carregar essa culpa, tudo bem?
— Obrigada — choramingou.
Eu a abracei certa de que estava agindo corretamente quanto aquele
assunto. Ainda tremeria a cada pesadelo que invadisse meus sonhos, mas
aquela senhora não tinha culpa das crueldades de seus filhos.
Quando me afastei, um policial apareceu e se ofereceu para levá-la até sua
casa. No minuto seguinte, eu estava sendo arrastada para o nosso carro.
Henrique não parecia nenhum pouco bem-humorado. Eu sabia que ele não
ficaria calado por muito tempo. Precisei somente de um minuto para me sentar
e ouvir o bufo irritado dele.
— Fale de uma vez — resmunguei.
— Como pode ser assim? — questionou.
— Assim como? — devolvi a pergunta.
— Tratar aquela senhora tão bem depois do que o filho dela fez com você
— rosnou. — Quando eu a vi só conseguia me lembrar de como encontrei
você naquela merda de lugar.
Balancei a cabeça incrédula. — Estamos casados há meses, quando foi a
última vez que viu meus pais?
Ele franziu a testa confuso. — Eu não conheço seus pais e eles não têm
nada a ver com o assunto.
— Não os conhece porque são duas cabeças de vento que não pensam em
nada além do próprio umbigo — contei. — Acha que sou assim? Só porque
sou filha deles?
— Não — ainda pareceu confuso. — Você é uma pessoa boa, que se
importa com os outros...
— Bom, então não diga que aquela senhora é igual os filhos. Não viu o
olhar assombrado dela? — questionei irritada. — Não percebeu como os
ombros dela estavam inclinados? Ela parecia derrotada. — Olhei pela janela.
— Ninguém é responsável por seus atos além de você mesmo.
— Erin... eu só queria protegê-la.
— Sei disto, mas não deixe que isto o cegue.
Ele acenou e soltou um bufo antes de me puxar para perto. — Você é boa
demais para mim.
— Também concordo com isto — brinquei. — E por algum motivo, que eu
não faço ideia, me apaixonei por você.
— Deve ser o meu charme.
Apesar de saber que Erin estava certa, eu não conseguia ceder. Aquela
mulher não tinha culpa pelos erros dos filhos. No entanto, depois daqueles
longos dias vendo minha esposa se recuperar em uma cama de hospital, tirava
um pouco, ou muito, da minha capacidade de ser racional.
Eu não queria que Erin ficasse perto de qualquer pessoa que levasse o
mesmo sangue que aquele verme que tanto a machucou. Não discuti o
assunto, sabia que não adiantaria. Erin tinha um senso de bondade incrível que
sempre me impressionava, mas que no momento não era bem-vindo para mim.
Queria desesperadamente chegar em casa, levá-la para um banho longo e
quente antes de me enroscar em seu corpo em nossa cama. Ainda tinha uma
terrível necessidade de protegê-la do mundo, de cuidar e zelar.
Então, foi um alívio quando enfim entramos em nosso quarto. Segurei sua
mão e a guiei direto para o banheiro. Ela estava mais quieta do que o normal e
parecia muito perdida nos próprios pensamentos, o que aumentava minha
ansiedade.
Preparei a banheira como eu sabia que ela gostava, quente e com muitas
bolhas. Ajudei com as roupas, me livrei das minhas e juntos, entramos na
água.
Sempre me deixava com raiva e culpa toda vez que via seus machucados.
Os hematomas tinha um tom feio de verde amarelado, fase final para sumir e
curar, mas ainda assim inflamava a fúria dentro de mim.
— Erin — murmurei quando seu olhar encontrou o meu.
Havia um alívio e um medo estampados na mesma proporção em seus
bonitos olhos de outono.
— Venha aqui.
A puxei para meu colo e afundei um pouco mais para que a água a cobrisse
direito.
— Desculpe — disse ela limpando apressadamente as lágrimas que
desceram por seu rosto.
— Não se desculpe, nunca, por chorar. — Beijei seu rosto. — Sempre se
apoie em mim.
Desde que a resgatei, ela não tinha chorado muito. Não tinha se permitido
quebrar. Eu via que ela queria somente se recuperar e se cuidar para que
nossos bebês ficassem bem. Erin era tão forte que impressionava.
— Estou aqui, querida — murmurei baixinho. — Você está segura.
Ela soluçou e acenou. — Me sinto segura... em seus... braços...
Meu coração inchou de orgulho e depois diminuiu do tamanho de uma
ervilha. A segurei mais forte, apertando-a contra meu peito enquanto tomava
cada lágrima dela com aflição e culpa.
Devia ter feito melhor o meu trabalho, procurado por qualquer perigo ou
ameaça. Isto era o que eu dizia a mim mesmo, sabendo que eu não poderia
controlar aquela situação. E odiava a impotência que isto me deixava.
Sair do comando era algo que vinha pensando com muita constância, pois
era muito mais seguro ficar atrás de uma mesa do que correr atrás de bandidos
nas ruas. Assim eu não levaria nenhum perigo para casa, para minha esposa e
nossos filhos.
Tinha tentado ter essa conversa com ela, mas recebi aquele olhar
desafiador.
— Não se atreva — Ela tinha dito. — Alguém precisa fazer esse trabalho e
nós sabemos que é você.
Eu não concordava, existiam muitas pessoas capazes de fazer meu trabalho.
Porém, para não discutir com ela enquanto estava tão machucada concordei
para finalizar o assunto. Ainda pensava em largar tudo, mas deixaria para me
decidir sobre isto depois.
Meu único foco agora era a mulher chorando em meus braços.
— Eu vou cuidar de você, sempre — prometi. — Erin — ergui seu rosto.
— Eu te amo.
Ela fungou. — Também o amo.
— Um beijo? — ofereci.
— Vou precisar mais do que isto.
Limpei seu rosto manchado por lágrimas antes de segurá-lo com carinho.
Beijei com cuidado seus lábios, ainda havia manchas de hematomas em seu
rosto. Não queria lhe causar mais dor. Ela percebeu minha hesitação e se
afastou com as sobrancelhas franzidas.
— Não me trate como um vaso frágil.
— Erin, você ainda está muito machucada.
— Sim. — Não negou. — E precisando me sentir eu mesma.
Surpreendeu-me ao agarrar com força meus cabelos da nuca e atacar minha
boca em um beijo faminto. Eu não queria machucá-la, mas ver aquele fogo em
seus olhos aliviou o aperto do meu peito. Aquela era a minha Erin, uma
mulher desafiadora, cheia de força de vontade e que pegava o que queria.
Não conseguia deixar de correspondê-la.
A chama que vi brilhar nela me queimou em poucos segundos. Erin se
moveu sem deixar de me beijar e montou meu colo. Tentei protestar quando a
senti se posicionar. Entendi que ela precisava de algo mais selvagem, mas eu
queria cuidar dela. Ter certeza de que estava pronta para me receber... Bom,
tive essa certeza no momento em que ela me levou fundo em seu corpo.
— Deus — murmurei.
Eu estava com fome dela, mas Erin se mostrava faminta.
Sua cabeça se inclinou para trás, seu corpo se arqueou. Era uma visão
incrível. Tê-la toda para mim. Queria firmar minhas mãos em sua cintura para
fazer com que subisse e descesse sobre mim rápido e duro, mas me controlei.
Tinha hematomas lá também. Antes que a raiva subisse, ela se moveu
conseguindo toda a minha atenção novamente.
A segurei devagar enquanto me focava em saborear seu bonitos seios em
minha boca. Seus gemidos de apreciação combinavam com seus movimentos.
Segurei com cuidado seu quadril deixando que ela pegasse de mim tudo o que
precisava.
Nos últimos dias estive tão imerso em culpa que não percebi o quanto
sentia falta de tê-la assim. Seu olhar selvagem, as bochechas vermelhas, a
respiração ofegante. Tudo aquilo seria algo que eu nunca poderia esquecer e
sempre iria desejar mais.
— Henrique...
— Bem aqui, Erin.
Desci minha mão para o inferior de suas coxas até encontrar o ponto certo.
Pressionei seu clitóris em meus dedos antes de fazer pequenos círculos, então
ela se quebrou. Um pequeno grito saiu de seus lábios. Seu corpo apertava o
meu com tanta possessividade que me levou ao limite, me fazendo derramar
dentro dela com intensidade.
Erin se jogou sobre mim, abraçou meu pescoço frouxamente enquanto
apreciava o deleite que ainda nos envolvia.
— EU VOU TE MATAR!
Estremeci.
Eu não sabia se Erin estava furiosa ou com dor, mas provavelmente os dois
enquanto eu dirigia como um louco para o hospital. Fiquei aliviado por ter a
missão de dirigir. Se tivesse dado tempo para Taylor se jogar atrás do volante,
eu estaria sendo esfaqueado por minha mulher.
— Nunca mais — rosnou ela. — Nunca mais vai me tocar.
Eu não duvidava da sua ameaça, nem queria pensar a respeito. Só esperava
chegar rápido no hospital para que descem a ela um medicamento que
acalmasse sua dor e seu gênio.
— Falta pouco — digo.
Ela gritou novamente, era outra contração. As crianças estavam com
pressa. Mesmo agendando uma cesariana, a bolsa se rompeu antes do prazo
esperado. Não havia completado todas as semanas necessárias ainda e isto me
preocupava.
— Por que está indo tão devagar? — questionou ela.
— Estou correndo.
— NÃO ESTÁ NÃO!
— Deus — ouvi Taylor murmurar. — Ela vai quebrar meus dedos.
Por muito pouco não ri. Só Deus sabe como segurar o riso salvou minha
vida naquele momento. Acredito que Erin teria acertado minha cabeça com
alguma coisa antes de cair no choro. Eu já estava treinado com suas mudanças
de humor e apreciava muito o fato de ter sobrevivido aos noves meses que se
passaram.
Realmente concordava com ela sobre não ter mais filhos. Apesar do imenso
amor que estava sentindo, o alívio em não ter que lidar com aqueles
hormônios me parecia muito maior.
Chegamos ao hospital em dez minutos, isto porque meu irmão enviou
algumas viaturas para abrir caminho, ou teria demorado muito mais. Erin foi
medicada pelos médicos que a levaram e quando voltei a vê-la no quarto,
estava totalmente relaxada apesar de um pouco cansada.
— Oi.
Ela suspirou. — Henrique.
— Como está se sentindo?
— Muito melhor. — Segurei sua mão. — Desculpe pelos gritos.
— Você tem o direito de gritar o quanto quiser.
— Também concordo com isto — sorriu.
Esperamos por quase uma hora até que ela estivesse pronta para dar à luz
aos nossos filhos. Lucas nasceu primeiro, berrando aos quatro cantos daquela
sala. E depois veio sua irmã, Clara, tão linda e vermelha, mas com os pulmões
tão bons quanto os do irmão.
E todo aquele amor que estava sentindo antes, cresceu de um jeito que
pensei que não caberia no meu peito.
Eu não podia acreditar na sorte que a vida tinha reservado para mim depois
de um maluco e inesperado casamento arranjado.
Erika Martins, nasceu em São Domingos do Prata, mas ainda na infância
mudou-se para João Monlevade com a família. Formada em contabilidade,
resolveu trocar os números pelas letras. Apaixonada por romances,
começou a escrever em um aplicativo para autores independentes, onde já
alcançou a expressiva marca de mais de 3 milhões de páginas lidas. Viciada
em sorvetes, filmes e séries, passa boa parte do seu tempo escrevendo,
acompanhada de uma boa música e seu inseparável Chá Mate.
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Conheça também outros livros da autora.
Série Insanos
Abner – Marcas do passado
Elliot – Amor por acidente
Ethan – Inesperado Amor
Alice – Um Amor por toda a vida
Spin-Of - Um Natal para Xavier
Livros Únicos
Doce Sentimento
Mais que Vizinhos
A força de um Amor
Um Amor de Natal
Casamento Arranjado
Disposto a seguir seu coração, ele vive um dia de cada vez ao lado de Nikky, uma bela
descendente japonesa que é dona do mais lindo par de olhos que já viu. Juntos eles descobrem seus
sentimentos e vivem um grande amor.
Doce sentimento é um romance adulto leve, sem inimigos vingativos ou cenas de ação. Não há
muitas brigas ou confusões, é um livro onde os personagens encontram o amor, amor à primeira
vista, e tudo se passa na visão de Connor. Os personagens se mostram adultos suficientes para
enfrentarem seus sentimentos e deixar as coisas acontecerem.
Sinopse
Nada mais seria da mesma forma depois que Adônis Albertini colocou
seus olhos sobre a pequena ruiva, que agora era sua prisioneira. Ele não
saberia explicar o que sentiu quando seus olhos encontraram os dela. A
única certeza que tinha, era que nunca poderia machuca-la. Quando pela
primeira vez em sua vida experimentou um sentimento chamado,
compaixão.
O medo e a fragilidade que exibia de forma tão crua o atraiu. Era como
se seu demônio interior estivesse hipnotizado pela beleza natural e pura que
ela ostentava. Giulia. Sua nova e única protegida.
Quem a machucasse enfrentaria o pior dele.
Adônis sempre teria inimigos, mas sua única preocupação era se render
aos sentimentos que pela primeira vez experimentava. E o maior deles era o
amor.
Sinopse
Seu sorriso e o ar de despreocupado eram sua marca de perigo.
Apolo acredita que não nasceu para amar, para ter família. A fera que o
habitava estava sempre a superfície, fazendo-o cruel e vil. Acreditava que
nunca iria se apaixonar, que morreria sozinho e sem ninguém para ama-lo.
Pretendia seguir com esses planos por toda a vida, pois não desejava
submeter terceiros no mundo em que dominava.
No entanto, a vida estava pronta para prova-lo o contrário. Que todos
tinham a oportunidade de serem amados. O único problema era conseguir
manter esses sentimento acima de qualquer diferença.
Depois de um erro.
Um pequeno erro.
Apolo se viu perdido e descontrolado.
Seu maior medo tinha se tornado realidade e não existia a menor
possibilidade de fugir. Ele tentou, mas não era homem de correr de
problemas.
O único jeito era ficar e enfrentar aquilo que mais temia.