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Copyright © Fevereiro 2022

Isabella Silveira
Todos os direitos reservados

Capa: Thainá Brandão


Revisão: Mariana Acquaro
Diagramação: Isabella Silveira

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos


descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas
e acontecimentos reais é mera coincidência.

É proibida a reprodução total e parcial desta obra de qualquer forma ou quaisquer


meios eletrônicos, mecânico e processo xerográfico, sem autorização por escrito dos
editores.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo
184 do Código Penal.
SUMÁRIO

PLAYLIST

SINOPSE

NOTAS DA AUTORA

EPÍGRAFE

PRÓLOGO – ATLAS SANCHEZ

CAPÍTULO 1 - ATLAS SANCHEZ

CAPÍTULO 2 – LUDOVIKA PAVLOVA

CAPÍTULO 3 - ATLAS SANCHEZ

CAPÍTULO 4 - LUDOVIKA PAVLOVA

CAPÍTULO 5 - ATLAS SANCHEZ


CAPÍTULO 6 - LUDOVIKA PAVLOVA

CAPÍTULO 7 - ATLAS SANCHEZ

CAPÍTULO 8 - LUDOVIKA PAVLOVA

CAPÍTULO 9 - ATLAS SANCHEZ

CAPÍTULO 10 - LUDOVIKA PAVLOVA

CAPÍTULO 11 - ATLAS SANCHEZ

CAPÍTULO 12 - LUDOVIKA PAVLOVA

CAPÍTULO 13 - ATLAS SANCHEZ

CAPÍTULO 14 - LUDOVIKA PAVLOVA

CAPÍTULO 15 - ATLAS SANCHEZ

CAPÍTULO 16 - LUDOVIKA PAVLOVA

CAPÍTULO 17 - ATLAS SANCHEZ

CAPÍTULO 18 - LUDOVIKA PAVLOVA

CAPÍTULO 19 - ATLAS SANCHEZ

CAPÍTULO 20 - ATLAS SANCHEZ

CAPÍTULO 21 - LUDOVIKA PAVLOVA

CAPÍTULO 22 - ATLAS SANCHEZ

CAPÍTULO 23 - LUDOVIKA PAVLOVA

CAPÍTULO 24 - LUDOVIKA PAVLOVA

CAPÍTULO 25 - ATLAS SANCHEZ

CAPÍTULO 26 - LUDOVIKA PAVLOVA

CAPÍTULO 27 - ATLAS SANCHEZ

CAPÍTULO 28 - LUDOVIKA PAVLOVA

CAPÍTULO 29 - ATLAS SANCHEZ

CAPÍTULO 30 - ATLAS SANCHEZ


CAPÍTULO 31 - LUDOVIKA PAVLOVA

CAPÍTULO 32 - ATLAS SANCHEZ

CAPÍTULO 33 - LUDOVIKA PAVLOVA

CAPÍTULO 34 - ATLAS SANCHEZ

EPÍLOGO - ATLAS SANCHEZ

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SOBRE A AUTORA

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Aproveite!
Atlas Sanchez sempre foi um homem sério e comprometido
com os negócios da família. Seu único deslize foi se casar com uma
mulher completamente inadequada e... ex do seu irmão mais novo.
Divorciado, ele está tentando recuperar o tempo perdido, e cuidar
sozinho do seu filho Eros, um garotinho confuso e que sofre com as
loucuras da mãe interesseira.
Ludovika Pavlova depois de ter seu coração quebrado, jurou
não se envolver com nenhum homem até se apaixonar novamente.
De volta a sua cidade natal, ela abriu uma escola infantil que está
dando o que falar. Apesar de todo o sucesso do empreendimento,
um menino lindo, porém revoltado, tem lhe causado muitos
problemas. E o sobrenome dele é uma surpresa inesperada.
Quando Atlas e Ludovika se reencontram, sentimentos do

passado ressurgem e nenhum deles sabe lidar com a situação.

Seria o amor suficiente para superar as decisões do passado e

todas as diferenças?
Olá, goxtosa (o),
Obrigada por ter optado pelo livro: Reconquistando o CEO.
Esse livro foi feito para deixar o seu coração quentinho, e espero
que consiga esse feito. Eu amei dar voz a esses dois personagens,
espero do fundo do coração que você goste.
Espero que você possa aproveitar esse tempo com esses
personagens incríveis, e que goste desse livro tanto quanto eu. Ah!
E se você achar que eu mereço, avalie o livro, por favor, evitando
spoilers. Isso ajuda muito os autores iniciantes.
PS: Caso você tenha pego essa obra de forma ilegal por
qualquer outro meio que não seja a Amazon/Kindle Unlimited, saiba
que esse tipo de compartilhamento não foi autorizado por mim e
dessa forma, atrapalha o meu trabalho, além de ferir os meus
direitos.
Aproveite,
Com amor, Isabella Silveira
“Tudo que é feito no presente afeta o futuro por consequência, e o
passado por redenção.”
Paulo Coelho
Para você que tem um amor do passado.
Quem sabe não pode dar certo?
Uma mulher me indica a sala da tal diretora e só paro para
respirar quando dou duas batidinhas, antes de entrar, sem esperar
por sua aprovação. Não tenho tempo a perder.
— Boa tarde. Eu sou Atlas Sanchez e… — digo alto, me
anunciando, mas paro a sentença assim que vejo a pessoa por trás
da mesa de madeira escura. — Ludo?
— Diretora Pavlova. — ela responde, com um semblante
sério e um pouco frio, apesar de ainda manter todos os traços da
menina doce que cresceu ao meu lado — Como você está, Atlas?
— Eu não sabia que você tinha voltado. — respondo, um
pouco perdido.
Por que ninguém me avisou? Ah… vovó Camélia, a senhora
me paga!
— Também fiquei surpresa, quando vi que a criança que mais
nos dá trabalho se chama Sanchez. — ela diz, mas não há sinal de
crítica em sua voz.
Franzo a testa, tentando entender o que está acontecendo.
Tudo me parece muito confuso: Eros nunca foi o garoto problema de
lugar nenhum. Ludovika está de volta. Eu estou fazendo papel de
bobo.
Não gosto de ser surpreendido por nada.
— Sente-se, precisamos conversar. — ela diz, apontando
para uma poltrona confortável à sua frente, eu faço o que ela
sugere, como manda a educação.
Ainda estou um pouco surpreso e, definitivamente,
abobalhado por estar na frente de uma das pessoas que marcou a
minha infância inteira. Faz tantos anos que não nos encontramos…,
mas seus cabelos muito ruivos permanecem os mesmos, sua pele
um pouco sardenta e os olhos verdes e gentis. Ela é uma mulher
adulta agora, é claro, mas ainda conserva seus traços bonitos e
gentis.
Enquanto ela fala sobre os malfeitos de Eros, e como ele se tornou
um garoto problema, acho difícil me concentrar, relembrando de
todo o nosso passado.
O nosso primeiro beijo, a primeira vez dos dois... Sempre
juntos, em uma amizade colorida muito difícil de determinar, e ao
mesmo tempo, muito fácil de encerrar. Dafne aconteceu, cada um
foi para o seu lado. Vivemos caminhos separados e eu nunca mais
a vi.
Pelo menos, não, até agora. Se possível, ela está ainda mais
linda do que antes.
— … ele mordeu um colega semana passada, por causa de
um carrinho. Tenho certeza de que você há de concordar comigo
que esse tipo de coisa é inaceitável. — ela continua falando, mas
franze o cenho e chama a minha atenção, como se eu fosse uma
criança — Atlas?
— Sim.
— Você não está prestando atenção em nada do que eu
estou falando.
— Estou sim, Ludo.
— Eu te conheço bem o bastante para saber que não. — ela
fala, como se não fosse nada demais, e volta a fechar a cara —
Espero que leve o seu filho a sério. Pelo menos, mais a sério do que
essa reunião.
— É claro que eu levo o meu filho a sério! Mas, com o
divórcio, eu não posso exigir um comportamento perfeito dele,
infelizmente, crianças sofrem no processo, — digo, sentindo o peso
dessa afirmação, e continuo — ele está com problemas para aceitar.
Ludovika parece ter sido pega de surpresa e vejo seu olhar,
um pouco chocado, antes de olhar para a mesa, tentando esconder
o rosto de mim. Neste caso, não é só ela que me conhece, e sei que
sempre faz isso quando precisa pensar rápido e não quer ser pega
em flagrante. Para o bem ou para o mal, ela sempre foi a pessoa
mais transparente que eu já conheci, e a sua frieza comigo até
agora, tem me incomodado bastante.
— Bom, eu entendo que para a criança esse tipo de situação
é complicada. Acho que seria bom você se sentar com a sua esposa
e definirem limites e uma rotina, para que ele sofra menos com isso.
Suponho que ele sinta falta da mãe…?
— Ele não quer conviver com a minha ex-mulher, sempre diz
que ela não tem tempo para ele e que prefere ficar comigo. Mas, eu
não sei exatamente como está sendo a relação dos dois, por isso,
vou investigar melhor para tentar entender o que está acontecendo.
— Isso seria ótimo. Acho que o diálogo seria muito bom, e
talvez, uma terapeuta. Com certeza, no momento, ele precisa de um
suporte maior para conseguir lidar com todos os seus sentimentos.
Eros está lidando mal com isso, se tornando uma criança agressiva
e triste, então, era o meu papel avisá-lo para que você tome as
medidas cabíveis. — estranhamente, não sinto raiva quando ela me
direciona essas palavras duras. Se fosse qualquer outro, com
certeza, eu já teria mandado se foder, porque da minha família,
cuido eu. Mas, Ludo sempre teve jeito com as crianças, e
certamente, ela sabe bem como agir nesse tipo de situação, afinal, é
dona da escola.
— Farei isso. Obrigado pelo tempo e por ter me ligado, se
preocupando com o meu filho. — respondo, me levantando, e ela
faz o mesmo.
— Eros é um ótimo menino, e eu não fiz mais do que a minha
obrigação. — ela responde, se aproximando para me estender a
mão.
— Bom te ver de volta, senti sua falta. — as palavras
escapam, mas volto à postura séria de sempre, antes de lhe
estender a mão. Percebo que ela hesita por um momento, mas
aceita o cumprimento, abrindo o primeiro sorriso do dia.
— Obrigada. Espero que dê tudo certo.
— Eu também. Parabéns pela escola, muito sucesso para
você! — com um aceno de cabeça, ela caminha em direção à porta,
abrindo-a, e finalizando assim, o reencontro mais estranho de toda a
minha vida.
Só não é mais estranho, talvez, do que me reencontrar com
Apolo no cruzeiro de Hades, meses atrás.
Ludovika Pavlova, quem diria que nós nos reencontraríamos
nessa situação?
"Tudo que começa errado, está fadado ao fracasso".
Foi isso que minha avó disse no dia do meu casamento.
Claro que, mentalmente, a chamei de "velha agourenta”, mas já
deveria saber que aquela bruxa sabia do que estava falando. Não
que eu realmente ache a vovó Camélia uma bruxa, ou até mesmo,
alguém desagradável. Pelo menos, não muito. Mas, ela
simplesmente odiava Dafne, e resolveu se afastar desde quando
começamos a namorar. A única pessoa que falava verdades na
minha cara, sem se importar em me magoar ou não e, talvez, a
única pessoa que realmente se importava em me guiar para o
caminho do bem.
Na época, achei que era um bom negócio abrir mão da
família, afinal, não precisava de ninguém para ser feliz. Hoje, eu
percebo o quão estúpido fui.
Ser feliz? Parece piada!
Um ato imbecil de quem queria se provar, e que acabou
escolhendo a pior forma possível de fazer isso. Como filho mais
velho, todas as responsabilidades, expectativas e deveres recaíram
sobre mim, e roubar a namorada do irmão mais novo foi divertido.
Uma forma de mostrar para todo mundo que, por mais certinho e
bom em cumprir com a vontade de todos, eu ainda tinha vontades, e
poderia seguir com meus próprios pés.
Infelizmente, os meus próprios pés só fizeram merda e eu
não estava preparado para aceitar essas consequências.
Estar com Dafne foi divertido, em um primeiro momento. Ela
era engraçada, tinha um humor meio ácido e sacana, que raramente
vemos em mulheres da alta sociedade, e era uma vagabunda na
cama, o que deixou o Atlas mais novo cego de desejo. Ela foi o meu
único rompante de rebeldia contra a minha família, de resto, segui
sendo o bom filho sério e organizado, que passou a cuidar dos
negócios da família cedo demais. O que nunca negou as
responsabilidades, e simplesmente carregou o mundo inteiro de
expectativas nas costas, desde criança.
Dafne foi um castigo, é claro.
Eu, depois da emoção de roubar a namorada do mala do
meu irmão mais novo, Apolo, que vivia livremente, sem nenhum tipo
de expectativa em suas costas, percebi o quanto ela era intragável.
Mas, a esse ponto, já estava comprometido demais para cair fora e
assumir que tinha feito uma cagada colossal. Honrei as minhas
calças, aceitei a pressão dos meus pais, e principalmente dos pais
dela, e a pedi em casamento quando, por um descuido,
descobrimos uma gravidez depois de anos e mais anos de namoro.
“Já era hora” foi o que todos falaram. Hora para me enforcar,
e assinar minha sentença de morte, só se for.
Uma vida conjugal terrível, porém, esperada, afinal, não
poderia ser diferente. Inúmeras brigas, uma completa sanguessuga
de dinheiro e de energias, um casal que vivia de aparências e se
odiava em casa, uma depressão pós-parto que nunca passou e que
se tornou a desculpa perfeita para todo tipo de mau comportamento.
Traições de todos os lados. Não posso fingir que fui santo, e sei que
ela também não estava nem aí para a discrição. Vários escândalos
abafados com rios de dinheiro e uma vida inocente no meio de tudo
isso.
Eros.
Meu filho, talvez, seja a única coisa boa dessa relação
doentia e tóxica, e mesmo assim, Dafne nunca conseguiu
desenvolver nenhum tipo de afeto pela criança. Um garoto esperto,
lindo, tímido, mas bastante curioso. Tudo em que ela pensou desde
o seu nascimento, foi em fazer cirurgias e mais cirurgias para voltar
a ter o seu corpo de antes, largando a criança com babás e comigo,
e depois, em todas as viagens mais estravagantes, luxuosas e
espalhafatosas que ela poderia sonhar em fazer, agora que
estávamos casados e ela tinha livre acesso a minha conta bancária.
Para ela, o casamento nunca foi para criarmos o bebê em um
ambiente bom, entre pais casados e tradicionais. Simplesmente, a
criança foi uma passagem só de ida para a fortuna Sanchez, depois
que assinamos o contrato, a criança passou a ser mero enfeite. Algo
que aprendi cedo demais, e preciso conviver até hoje.
O bebê inocente foi crescendo, e agora, com cinco anos,
Eros consegue entender nitidamente como o seu lar e nós, os pais,
somos fodidos. Isso não ajuda em nada na sua educação, e
principalmente, na nossa aproximação.
Infelizmente, não sou o exemplo perfeito de homem, não
consigo ser o melhor pai do mundo, e não sou tão presente como
gostaria de ser.
Meu menino sofre bastante, e a culpa é toda minha. E, claro,
da idiota da sua mãe, que não lhe deu nenhum tipo de carinho e
amor desde o momento do seu nascimento. Apesar de tudo isso, eu
tento intensamente ser alguém bom para ele.
Dafne me custou demais.
Custou minha juventude, minha relação com meu irmão mais
novo, a oportunidade de encontrar alguém que realmente seria boa
para mim, a infância do meu filho, e claro, milhões de libras
vongherianas em um divórcio longo, extremamente exposto e
vexatório.
Meu copo de whisky, o jazz tocando ao fundo, e a papelada
do divórcio em cima da mesa são bons indícios do que eu demorei
muito para aceitar: essa merda, realmente, estava fadada ao
fracasso. Eu é que fui teimoso demais para aceitar essa verdade
absoluta.
Sozinho em casa no sábado à noite. Meu filho já está
dormindo há horas, e a solidão, que antes sempre foi bem-vinda, me
parece pesada demais.
Agora, além de ter perdido inúmeras oportunidades de ser
feliz, renunciado à família, amigos e até a mim mesmo, eu preciso
admitir que estava errado. Não que eu vá falar isso em voz alta, ou
até mesmo confirme, se alguém falar alguma coisa sobre o assunto.
Mas dói assumir que perdi nove anos da minha vida com uma
pessoa odiosa, apenas porque queria provar um ponto e não tive
coragem o suficiente de voltar atrás.
Mantive uma relação de aparências por muito tempo, apenas
por pirraça, inveja e talvez, um pouco de teimosia.
Agora, infelizmente, chegou a hora de pagar o preço pelos
meus erros, e talvez, isso seja o mais difícil entre todas as coisas. O
problema é que eu não farei isso sozinho, meu pequeno estará no
meio, sofrendo, já que ele tem idade suficiente para entender o quão
rejeitado é pela mãe e inclusive por mim, que não consigo tempo o
suficiente para lhe dar total atenção.
E, é isso que tem acabado comigo.

***

Um tempo depois…

— Pai… eu não quero ir! — Eros reclama pela enésima vez,


e meu coração se parte todas as vezes que ele fala sobre esse
assunto.
— Filho, você precisa passar um tempo com ela… é sua
mãe, no final das contas. — digo, e vejo pelo retrovisor o pequeno
cruzar os braços com uma expressão raivosa no rosto.
Eu não me orgulho, e muito menos me alegra a ideia de colocá-lo
em um jatinho para encontrar Dafne na Turquia. Mas eles não se
encontram há dois meses, e pela justiça, ela tem os seus direitos,
apesar de não fazer esforço nenhum para exercê-los. Além do mais,
não quero que, no futuro, ele me culpe por não ter deixado que
tivesse contato com a mãe, o que pode muito bem acontecer, com
aquela víbora falando em seu ouvido. Principalmente, quando sei
que, no fundo, as coisas são bem diferentes.
— Ela vai me colocar com umas pessoas que eu não conheço, e me
carregar pra todo lado. Não quer brincar nunca, não tem paciência
pra mim… — sua voz é irritada, mas vejo seu olhar chateado e
agradeço aos céus por não precisar responder, porque entramos
pelos portões da mansão Sanchez.
Assim que paramos, Eros parece ter se esquecido
completamente da conversa desconfortável, abre a porta do carro e
pula para fora correndo em direção ao casarão onde eu cresci. De
tempos em tempos, venho com ele para a mansão em busca de
novos ares. Aqui, pelo menos, ele tem espaço para correr e brincar,
sem os fantasmas das brigas terríveis que macularam as paredes
do nosso apartamento, no centro de Havdiam.
Estaciono de qualquer jeito, sem pressa nenhuma para entrar, e
tento vestir a minha melhor máscara. Se ninguém souber o quão
preocupado e chateado estou com toda essa situação, menos
vulnerável eu vou ficar. Esse sempre foi, e sempre será o meu lema,
principalmente, quando se trata da família problemática na qual eu
nasci.
— Olha só quem chegou, já era hora! — vovó Camélia aparece na
porta de casa, e eu solto um suspiro leve, antes de abrir um sorriso
contido e abraçá-la.
— Vovó, como a senhora está? Não sabia que estaria aqui.
— tento soar simpático, mas parece uma repreensão, e isso não
passa despercebido por ela.
— Olha só, mocinho, não é porque agora você assumiu os
negócios que pode me tratar assim… — ela começa o sermão, e
tento me redimir o mais rápido possível, apenas para evitar um
conflito desnecessário.
— Se soubesse, viria antes. Com certeza. — concluo.
Vovó Camélia me estuda por alguns minutos com a
sobrancelha levantada, e eu tenho certeza de que está se decidindo
se me repreende ou não, mas sou salvo quando Eros abraça as
suas pernas pedindo atenção.
— Ah, meu menino está aqui! — ela diz, fazendo um carinho
em seus cabelos escuros — Eu queria mesmo falar com você… —
ela diz para ele, me lançando um olhar misterioso, e eu cogito ir
embora e fugir de suas bruxarias, mas sei que é tarde demais.
Animada para mais um dia caótico em preparação para a
colônia de férias? Não muito.
Ansiosa para as crianças chegarem e encontrar um ambiente
perfeito para elas? Com certeza.
Administrar uma rede de ensino não é, nem perto, do que a minha
mãe sonhou para mim, mas preciso admitir que é o que o meu
coração mais gosta de fazer. Desde sempre eu gostei de crianças e,
principalmente, gostei de estudar e ajudar a todos os meus colegas
de escola com os seus deveres e dificuldades. Mais tarde, mesmo
sem nenhuma necessidade de pontos ou dinheiro, fui monitora em
várias matérias, apenas por prazer. Mas, hoje, o que me alegra
mesmo são as crianças. Eu amo educar, amo ter contato com cada
rostinho lindo dos pequenos, e mais ainda, amo estar em um lugar
seguro e cheio de amor.
E daí que toda a família Pavlova vira a cara pra mim quando
começo a falar sobre o meu trabalho? Não entrar para os negócios
que herdei, um ramo extremamente machista e misterioso que
envolve petróleo, não é um crime hediondo. Talvez, também seja
por isso que resolvi me mandar o mais cedo possível das garrinhas
da família e trilhar o meu próprio caminho.
A Escola Encanto de Luz, foi a primeira da rede, e é o meu
xodó. Construí tudo sozinha, e me orgulho demais de todo o
processo. O que começou muito pequeno foi ganhando forma e,
depois de um tempo, caiu no gosto do pessoal da cidade. Depois,
expandimos pouco a pouco para outros bairros, com pé no chão e
sabedoria, e quando tudo se acertou, fomos para a capital.
Me mudei de Havdiam assim que acabei o ensino médio,
com a desculpa de cursar a faculdade no interior. Foi bom para me
distanciar da minha família e de um passado conturbado também.
Fiz minha vida em Maneville, sou feliz e realizada lá, mas sabia que
precisava alçar voos maiores, era o caminho natural para o negócio.
O próximo passo seria expandir para um lugar que mais tem
crianças e pessoas com dinheiro o suficiente para pagar a educação
que fornecemos. Mas pisar na cidade, sabendo que agora serei
residente e não apenas uma visitante esporádica da família, me dá
um frio na barriga.
Essa colônia de férias é o meu debut aqui. Por mais famosa
que a escola tenha ficado no interior, e claro, o sobrenome da minha
família ser amplamente citado em todas as vezes em que falamos
de publicidade para a inauguração, eu ainda tenho medo de
ninguém aparecer. Apenas meia dúzia de crianças se inscreverem e
eu acabar arruinando as férias desses pequenos.
Como brincar e promover a felicidade e o entretenimento, se
o lugar não tiver salpicado de rostinhos lindos, prontos para
socializar?
— Você está pensando demais, Ludo, é claro que vai dar
tudo certo. Sabe disso. — Anne, minha melhor amiga e sócia, diz
alto, me fazendo pular da cadeira de susto. Ela e sua mania de
entrar de fininho nos lugares me deixam louca. Sempre se
esgueirando por aí, pronta para me dar um ataque cardíaco a
qualquer momento.
— Bom, você sabe que eu só vou relaxar quando tudo estiver
perfeito e cheio de crianças rindo e brincando felizes. — digo, dando
de ombros e ela abre um sorriso amplo, se sentando na cadeira em
frente à minha mesa.
— É a sua personalidade, a gente sabe…, mas não se cobre
tanto! Já está meio tarde, hoje, você não irá resolver mais nenhum
problema, com certeza, e ainda temos aquele coquetel que a sua
família insistiu em dar, comemorando o seu retorno. — é a vez de
ela revirar os olhos.
— Então, vamos logo, porque sei o quão animada para se
arrumar e conversar com velhos entediantes você está. — brinco,
abrindo um sorriso maroto — Se pensar um pouquinho mais, vai
arrumar uma desculpa esfarrapada para me deixar sozinha e eu
nunca mais vou te perdoar.
— Puxa, você me conhece tão bem! — ela brinca, desviando
de um tapinha que iria dar em seu braço.
Mamãe, Olga Pavlova, não é muito popular entre nenhum
dos meus amigos, dos mais antigos aos mais recentes. Quando
mais nova, ela literalmente tentava controlar cada um dos meus
passos, o que me privou de muitas atividades entre os amigos.
Quando me mudei para longe, infelizmente, ela teve um período em
que ficou completamente enlouquecida com a síndrome do ninho
vazio. Não me deixou em paz por muito tempo, querendo ainda
controlar tudo o que eu fazia. Mesmo tentando conversar, de nada
adiantou e, naquele momento, uma briga foi o que resolveu. Mas
então, veio o falecimento do meu pai, nós voltamos a nos falar,
unidas pela dor da perda, e apenas por isso, relevei várias coisas
que ela fez em sua maluquice de tentar se reaproximar e me
proteger.
É claro que, eventualmente, brigamos e ficamos sem nos
falar, mas mãe é mãe, e por maiores que sejam os nossos
problemas de convivência, eu não posso simplesmente excluí-la da
minha vida. Por isso, aceito uma convivência em um meio-termo,
impondo limites que sei que são necessários para mim, mas
cedendo em tantas outras coisas, como, por exemplo, esses
coquetéis exagerados para a alta sociedade de vez em quando. Não
é um lugar bom para nenhuma das duas, mas é um meio termo,
aceitável o suficiente para não discutirmos mais.
Para mim, a ideia de um final de semana ideal é um dia
tranquilo em um parque, andando de bicicleta e fazendo um
piquenique. À noite, um filme debaixo do cobertor, ou curtindo a
companhia de um bom livro. No máximo, uma saída com uns
amigos de vez em quando, para conversar e trocar ideias, mas em
geral, eu prefiro sempre manter a minha vida mais tranquila. Coisa
que nunca acontece quando estou na capital, porque sempre me
envolvem em milhares de compromissos.
Quando era mais nova, esses raros eventos aos quais eu
comparecia eram propícios para me apresentar à todos os
candidatos possíveis para um casamento de sucesso. Depois dos
trinta, as coisas ficaram um pouco mais constrangedoras, afinal:
"Ela ainda não se casou? O que está esperando? Qual é o seu
problema?" Por isso, me abstive de milhares de compromissos que
envolviam desde bailes da monarquia, até coquetéis de boas-vindas
de fulano de tal. Simplesmente, ninguém manda em mim e eu só
vou onde eu quero ir. Dona Olga começou a aceitar melhor essa
máxima quando comecei a responder à todas as velhas
mexeriqueiras que: "O problema é que eu não vou me casar apenas
por me casar, sem amor e sem cumplicidade. Não importa se hoje
eu tenha trinta e quatro anos, não importa se eu ficarei solteira para
sempre. Estou muito bem sozinha, obrigada."

***

Entediante ao extremo, nada animador, e claro, sempre difícil


de lidar. Essa é a melhor definição dos eventos dos Pavlova.
Mamãe ainda mantém a casa gigantesca no condomínio
fechado para eventos, mas prefere morar mais perto do centro, em
uma casa menor, já que agora ela está sozinha. Sempre que a
visitei, depois da morte do meu pai, me hospedei ali, evitando ao
máximo pisar na mansão Pavlova, mas nem sempre consigo me
esquivar. O condomínio e os muros daquela casa me dão arrepios
todas as vezes que estou ali.
Por isso, enquanto acompanho pelo aplicativo o caminho que
o carro alugado faz para a casa onde cresci e guardo tantas
memórias, sinto um leve e ridículo tremor nas mãos. Não deveria
me sentir nervosa. Sei que ali, com certeza, nenhuma surpresa
extravagante me espera, mas, mesmo assim, não consigo relaxar.
— Você está bem? Parece um pouco verde… — Anne diz,
com uma sobrancelha levantada e eu dou de ombros.
— Claro que não. Mas, vamos lá... — digo, assim que o
motorista estaciona o carro, e o mordomo, que nos recepciona, abre
um sorriso amplo ao me reconhecer.
— Senhorita Ludovika, que bom te ver! — Charlie diz e eu lhe
dou um abraço rápido, antes de lhe corrigir.
— Só Ludo, deixa de besteira! Já tivemos essa discussão
milhares de vezes.
Charlie, assim como quase todos os funcionários que
cuidaram de mim quando era criança, ainda permanecem
empregados, apesar do pouco serviço. Não tivemos coragem de
demiti-los quando mamãe se mudou, afinal, todos eles são
praticamente da família.
— Josy vai ficar feliz em revê-la. Está lindíssima, como
sempre. — ele fala, e eu coro, apesar de saber que é um elogio que
escuto dele sempre que nos encontramos.
— Muito galanteador, como sempre. — respondo com um
sorriso, antes de entrarmos.
— Eu adoro o Charlie, mas a Josy tem o meu coração. —
Anne responde subindo os degraus ao meu lado — Ela faz os
melhores cookies do mundo, você sabe.
— Concordo! Mas ele brincava comigo quando eu era… —
começo a contar, mas sou interrompida por uma voz, infelizmente,
muito conhecida.
— Ludovika Pavlova! — Camélia Sanchez diz alto, chamando
atenção de todos que estão próximos à entrada da casa. Mesmo me
simpatizando muito com ela, todas as vezes em que nos
encontramos sinto que sou extremamente observada e nunca fico à
vontade. Parece que ela consegue olhar através da nossa alma, e
isso nunca é bom quando temos segredos a esconder —
Finalmente você chegou! Temos muito sobre o que conversar. — ela
diz, parecendo satisfeitíssima, e eu abro um sorrisinho amarelo para
Anne, sabendo que não conseguirei fugir dessa conversa que
provavelmente durará muito mais tempo do que eu gostaria.
— Oi, senhora Camélia, como vai? — digo baixo, aceitando
seu abraço apertado que me traz muitas memórias do passado.
Lembranças que varri para debaixo do tapete tempos atrás e que
não deveriam ser encontradas. Ainda mais, pela matriarca dos
Sanchez.
— … e nela, terão várias oficinas, aulas de natação e um dia inteiro
de brincadeiras. Eu já me certifiquei. — vovó Camélia conta para
Eros sobre a maravilhosa colônia de férias que ela descobriu
magicamente, dois dias antes de eu enviá-lo para Dafne.
Mantenho a expressão cada vez mais fechada e tento ao máximo
não falar tudo o que penso, esperando que ela acabe com o seu
monólogo, que parece anunciar para o meu filho uma nova Disney
em Vongher. A expressão sonhadora e de felicidade no rosto do
pequeno é de partir o coração, afinal, sei que terei que ser o
desmancha prazeres que vai falar não para o garoto.
— Que legal, biza! — ele diz animado, segurando o folheto entre
seus dedinhos pequenos, parecendo feliz e empolgado.
— Não é o que tínhamos combinado, Eros. Sua mãe… —
começo a dizer em um tom sério e ele tem uma expressão triste no
rosto.
— Eu não quero vê-la. — o menino declara, gritando e
batendo o pé, em uma postura muito arredia, depois sai correndo
para o jardim, sem esperar que eu lhe explique, ou o convença de
algo diferente.
Enquanto observamos o pequeno se afastar correndo, como
se aquilo tudo fosse uma grande injustiça, vovó se aproxima, me
estendendo um segundo panfleto igual ao primeiro.
— Por que fez isso? Sabe que eu não posso mandá-lo para
esse lugar mágico e incrível, cheio de arco-íris e unicórnios. —
questiono de forma cínica, como sempre faço quando estou bravo e
ela dá de ombros.
— Você poderia… se quisesse. — Vovó e seus esquemas…
para ela, tudo é muito simples de ser resolvido, aparentemente.
— Não, eu não posso. O processo de divórcio está
complicado, a guarda compartilhada com Dafne é horrível, mas não
posso ficar com ele só pra mim, ela tem os seus direitos.
— Ela é uma desmiolada! Se quisesse participar da vida do
filho estaria aqui, não fazendo compras desproporcionais no
exterior. — vovó se altera, levantando-se da poltrona — Você tem
pulso firme com todo mundo. Tenha com ela também, oras! Se
quiser participar da vida da criança, que esteja no ambiente que ele
conhece, falando a língua que ele está habituado. Não é bom pra
um garotinho de cinco anos ser levado de um lado para o outro, se
quer saber.
Seu sermão sempre é chocante e tem um fundo de razão.
Mas, como eu poderia simplesmente impedir a criança de visitar a
mãe? Com certeza, no futuro, quando ela voltasse, fazendo suas
chantagens, ele iria se voltar contra mim. Preciso manter a cabeça
no lugar e agir como a lei determinou. Não é nada fácil estar em
minha posição, e principalmente, ser acusado de negligenciar meu
filho por uma senhora que não entende minimamente as
complicações de toda essa situação.
— Vovó, eu te respeito muito. Você sabe disso. Mas, eu não
posso e nem vou passar por cima da lei para deixar Eros participar
de uma colônia de férias. Dafne tem o seu direito, e se eu fizer isso,
ela pode pedir guarda total e eu não quero que isso aconteça. Ver o
meu filho apenas durante os finais de semana e ser um pai ausente,
não é minimamente aceitável para mim. Se ela o criar, acha que o
menino vai virar o quê? Um homem decente? Eu duvido muito. —
mantenho o tom de voz baixo, mas sério.
Eu não estou brincando, esse é um medo muito real e ela
deveria saber disso.
— Não seja tão dramático! — vovó revira os olhos — Você
não vai tirá-lo de Dafne e passar por cima das decisões do juiz. Ele
só estará em um ambiente educacional propício para a sua idade.
Qualquer um lhe daria ganho de causa.
— Nem todo mundo vê o mundo como você. — murmuro, me
levantando também — Acho que vou almoçar com Eros em outro
lugar. — digo, mas depois de uma longa pausa concluo — É sempre
bom ver a senhora.
— Não seja intransigente, Atlas! Seus pais ainda não
chegaram, e Atena mal se levantou da cama. Vocês precisam
conviver mais com a família, seu filho precisa de amor. — ela ralha,
parecendo completamente indignada.
— Eu amo meu filho! — finalizo essa discussão, e quando
estou quase cruzando o batente da porta, ela fala baixo, muito mais
controlada.
— Não estou dizendo o contrário, sei que ama seu filho… —
o tom de voz parece arrependido, mas não dou o braço a torcer.
Não preciso ficar escutando esse tipo de coisa.
— Passar bem, vovó.
Vou até os jardins em busca de Eros, que brinca sozinho em um
balanço que está ali desde quando eu mesmo era criança. Essa
casa me traz muitas memórias. Antes de tudo se complicar, me
lembro das brincadeiras com Apolo e todas as peças que pregamos
na nossa irmã caçula.
Queria que meu filho também tivesse irmãos e felicidade
nesta fase. Amor.
Quem vovó pensa que é, para insinuar que eu não amo meu
filho o suficiente? Que precisamos dos meus pais para que ele seja
completo? Eu nunca tive isso e me saí muito bem.
— Filho, está na hora de ir. — digo sério, e ele franze a testa.
— Ué, mas a gente ainda nem comeu… vovó Dulce
prometeu pudim! — ele reclama, descendo do balanço e eu nego
com a cabeça.
— Errei o dia… o almoço é amanhã. Vovó e vovô não estão
em casa. Mas é bom, porque podemos almoçar o que você quiser, e
eu te prometo um sorvetão… — ele me olha desconfiado por algum
tempo, mas a iminência de ganhar o tal sorvetão e comer todo tipo
de porcaria, é muito tentadora para se recusar. Por isso, ele vem
correndo em minha direção e segura em minha mão, pronto para ir.

***

Como uma maldição, lançada pela bruxa da vovó Camélia, a


tal colônia de férias não saiu mais da boca de Eros. Ele pareceu
animadíssimo com a possibilidade de brincar o dia inteiro sem
nenhuma obrigação de sala de aula, o que, em minha humilde
opinião, não faz tanto sentido, já que, com cinco anos, ele não tem
lá muitas matérias com as quais se preocupar. Em contrapartida, as
suas palavras também não saíram da minha cabeça: "Se quiser
participar da vida da criança, que esteja no ambiente que ele
conhece, falando a língua que ele está habituado. Não é bom pra
um garotinho de cinco anos ser levado de um lado para o outro, se
quer saber.". Talvez eu tenha me irritado tanto com ela, porque no
fundo sei que é verdade. Se eu batesse o pé e entrasse nessa
briga, sei que ganharia. Mas quem tem energia para discutir sobre
mais uma coisa com a ex-mulher?
Mandar Eros para a Turquia em um jatinho, realmente não
será o meu ponto alto como pai, mas em teoria, Dafne tem tanto
direito à sua companhia quanto eu. E com as férias do garoto, não
tenho desculpas o suficiente para convencê-la de que o lugar dele é
em Havdiam.
O que eu preciso mesmo é de um "milagre" que resolva todos
os meus problemas de uma só vez. Como sei que não existe tal
coisa, me reviro na cama com a consciência pesada, tentando
dormir. Além do divórcio, do processo de guarda e de toda a minha
patética vida pessoal, eu ainda tenho que lidar com todos os outros
problemas que envolvem os negócios da família. Eu não tive a
menor chance, tudo veio para mim e sei que a responsabilidade de
manter o legado é minha. Tudo tem que sair perfeito, eu só não sei
até quando conseguirei lidar com isso, sempre cuidando para que
nada fuja do meu controle, na grande maioria das vezes.
É pedir demais que uma resposta caia do céu?

Quando acordo no outro dia, com um telefonema


empolgadíssimo de Phillip, meu advogado, acho que o Universo
ouviu as minhas preces pela primeira vez. Porque o e-mail mostra
fotos extremamente comprometedoras da minha ex-mulher curtindo
uma balada onde quer que ela esteja.
— Isso vai ser ótimo para anexar ao processo. Ela não
aparenta ser alguém responsável, uma boa mãe… e se olharmos
bem no cantinho da foto, podemos ver um cara usando drogas
ilícitas. Uma pessoa de boa índole não frequentaria lugares assim.
— sua fala parece tão animada, que eu solto uma gargalhada alta,
mal acreditando que isso seja verdade.
É claro que, quando mais novos, frequentamos esse tipo de
festa, mas fazer isso na presença de paparazzis realmente foi uma
grande burrice. Grande o suficiente para que eu tenha isso como
carta na manga.
— Naturalmente, não vou mandar Eros para esse tipo de
lugar. — digo animado — E agora, ela nem pode falar nada, porque
temos provas de que aonde quer que ela esteja, não é ambiente
para uma criança.
— Exatamente! E podemos acrescentar tanto ao divórcio,
quanto ao processo de guarda. Nenhum juiz vai fechar os olhos
para isso.
Mesmo que seja algo que ela possa fazer por ser uma mulher
solteira, além de mãe, a informação certa, na mão de um advogado
competente, pode fazer milagres. É claro que eu estou pouco me
lixando para o que Dafne faz em seu tempo livre, se ela quiser se
divertir em boates, que seja. Só não peça pra que eu leve o meu
filho para um país estranho, onde ela está frequentando esse tipo de
lugar.
Se eu soubesse que ela agiria como uma boa mãe, eu não
me importaria. Mas, pelo que meu filho me conta, e por tudo o que
eu já presenciei vindo dela, sei que isso não é verdade. A mulher só
está pensando no dinheiro que a pensão pode lhe dar, e eu, mesmo
não ligando a mínima para isso, afinal, eu tenho dinheiro de sobra,
sei que ela usa meu filho para me atingir e sempre conseguir um
pouco mais da minha fortuna.
— Excelente! — digo alto, balançando a cabeça para afastar
os pensamentos divagantes — Agora, eu vou ter o imenso prazer de
ligar para ela e contar as novidades. Se Dafne quiser participar da
vida de Eros, que seja em solo Vongheriano.
Assim que desligamos o telefone, lembro-me de vovó
Camélia e seu maldito panfleto.
Não é que a bruxa tinha razão e realmente conseguiu o que
queria?
Tudo certo para a inauguração!
A cada vez que tomo essa consciência, sinto as minhas
pernas bambearem e tremerem. É claro que essa unidade tem um
quê especial perto das outras, é a primeira na capital, em terra de
gente grande e importante. Mas o frio na barriga também se dá por
saber que tivemos mais de setenta crianças matriculadas para a
colônia de férias, e algumas, mesmo sem conhecer direito a
estrutura e qualidade de ensino, já matricularam os seus filhos para
o ano letivo. Não dá para evitar o quê de orgulho que sinto quando
penso sobre isso, mas também não posso fingir que não me sinto
completamente ansiosa com a situação.
É inevitável sentir o frio na barriga e tudo o que só uma
inauguração e a ansiedade nos fazem ter.
— Está realmente tudo pronto? Os kits com o uniforme,
agenda e a mochila de brinde…? — pergunto para Anne mais uma
vez, que revira os olhos antes de me responder:
— Tudo perfeitamente organizado na mesa, para darmos à
cada criança que chegar amanhã. Vai ser um sucesso grande, Ludo!
Fique tranquila, ok? — ela tenta me acalmar, mas, ainda segurando
a prancheta com o checklist, continuo.
— Os lanches? Temos algumas crianças celíacas
matriculadas, então, precisamos mesmo avaliar a questão do glúten,
para não contaminar…
— Já resolvi isso com as meninas. Tudo o que for feito sem
glúten chegará de um restaurante especializado nisso, e vamos
manter longe dos outros alimentos, para não corrermos nenhum
risco. Além disso, — ela continua, com um sorrisinho malandro nos
lábios — os brinquedos foram verificados duas vezes pela
segurança. Já fizeram a revista sanitária na propriedade. Nosso
alvará está correto e todos os extintores estão dentro da validade.
Sei que esses são os seus próximos itens da lista. — Anne dá de
ombros, como se me conhecesse muito bem, o que é uma grande
verdade, eram mesmo os meus próximos itens do checklist —
Agora, por favor pare de surtar! Vamos tomar um drink e comemorar
o nosso grande sucesso.
— Certo. — digo consternada, ainda com a impressão de que
estou me esquecendo de alguma coisa muito importante — Todos
os monitores estão contratados e regularizados, né?
— Fizemos isso mês passado. Quer parar de surtar? — ela
questiona e eu largo a prancheta.
— Tá bom, tá bom. Quer parar de ser mandona? — imito seu
tom de voz a fazendo rir — Eu só estou sendo prevenida. Não há
mal nenhum nisso.
— Bom, na verdade, há sim. Você vai ficar maluca, se não
parar a tempo. Eu quero o meu drink, então, trate de pegar a sua
bolsa e se movimentar. Sinto que merecemos isso. — e, sem
esperar por uma resposta, ela se dirige até a porta com um olhar
mandão do qual acho graça, mas não reclamo, antes de bater duas
palminhas para me apressar.
— Nossa, você está mandona hoje, hein? — comento, assim
que apago as luzes, deixando a escola para trás.
— Bom, se não for assim, você fica até amanhã de manhã
analisando, mais uma vez, todos os itens dessa sua lista maluca. —
ela diz, antes de entrar no carro.
Sei que é verdade, por isso, nem me dou ao trabalho de
respondê-la. Anne é uma boa amiga e só quer o meu bem,
racionalmente, compreendo, mas às vezes, eu só quero manter
minha loucura e TOC em paz. Como, por exemplo, se eu não
estivesse sendo forçada a sair da escola agora, checaria, pela
terceira vez, a validade dos extintores.
Droga! Ela tem razão, eu sou meio maluca mesmo.
A conversa no carro, sobre as expectativas para amanhã, me
deixam ainda mais ansiosa, mas só quando entramos no bar e nos
sentamos em uma mesa um pouco afastada da entrada, é que ela
abre um sorriso amplo, antes de falar: — Agora, chega de
conversinha fiada! Desembucha, logo. Já viu o crush?
— Não sei do que está falando… — respondo baixo,
desviando o olhar. Tão distraída com a inauguração, havia me
esquecido desse detalhe, ela não sabe nada sobre Atlas, e com
certeza, essa é a sua prioridade de assunto no momento.
Ah, não! Essa ideia de sair para drinks era uma emboscada
para extrair informações de uma forma sórdida. Anne, você me
paga!
— Ludo… hello? Todo mundo sabe do seu crush impossível,
que morava na casa ao lado da sua, amigos de escola, etc e
blablabla. Agora, fala, já ouviu notícias dele? — ela questiona, e eu
me arrependo, no mesmo momento, de ter contado informações
íntimas para essa tratante.
— Não vi, não ouvi falar, e nem quero! — respondo seca —
Até onde eu sei, ele está muito bem-casado há uns bons anos. E
antes disso, teve o namoro mais longo da história com a própria
Barbie oxigenada. Foi toda a informação que minha mãe conseguiu
me passar da última vez em que eu a visitei, obviamente, antes de
eu cortar o assunto e proibi-la de falar sobre isso. Afinal, que
interesse eu teria na vida daquele cara? Passado, certo?
Anne murcha, visivelmente, na minha frente. Talvez, em sua
cabeça mirabolante e romântica, ela tenha pensado que minha volta
para Havdiam iria fazer com que, instantaneamente, minha vida
pessoal se tornasse agitada e interessante. O que, obviamente, não
é verdade.
— Nossa, eu estava tão esperançosa de que ele aparecesse
no coquetel que a dona Pavlova deu, semana passada, e
magicamente percebesse a ruivona linda que perdeu! — ela aponta
pra mim, como se isso fosse algo óbvio, e eu reviro os olhos,
levemente corada — Que brochante! Ruim pra ele!
— Sinto decepcioná-la, mas ninguém, além da sua avó,
estava presente naquele coquetel, e eu, sempre que posso, tento
evitá-la. Ela é completamente enxerida, mas não deselegante ao
ponto de falar sobre ele em uma conversa. Sabe que iria me
chatear. — dou de ombros, pedindo um novo refil do meu vinho para
o garçom, evitando, estrategicamente, o seu olhar inquisidor.
— E o que ela falou? — Anne tem uma sobrancelha
levantada, como se quisesse saber exatamente quais foram as
palavras ditas, e eu dou de ombros, antes de dizer: — Queria saber
sobre a inauguração da escola, se eu já tinha encontrado um novo
lugar para morar… essas coisas superficiais. Foi educada o
suficiente para pegar um panfleto e fingir estar interessada. Apenas
isso. — dou enfoque nas últimas palavras e ela parece entender que
não quero mais falar sobre o assunto, porque apenas levanta as
mãos em rendição.
— E não trabalhamos com nomes ainda? — ela questiona, e
eu nego com a cabeça.
— Definitivamente, depois dessa emboscada, não
trabalhamos com nomes. Você o procuraria no Google e certamente
lhe mandaria um e-mail mal-educado, afirmando que ter me
deixado, no passado, foi mau negócio. — digo, e ela tem, ao menos,
a decência de não negar, abrindo um sorrisinho amarelo em minha
direção.
— Fazer o que, se ele não conseguiu enxergar a mulher
incrível que tinha, não é? Um babaca desalmado. Espero que esteja
em um casamento terrível! — brinca, e eu confirmo com a cabeça,
antes de rir baixo.
— Não vamos praguejar… só não era pra ser antes, assim
como não é pra ser agora. Eu não guardo nenhum rancor. — afirmo
uma máxima que está em meu coração.
Não é porque não deu certo com Atlas, no passado, que as
coisas precisam ser ruins para ele. Não existe vilão nessa história,
ele não fez nada de ruim ou terrível comigo, apenas preferiu outra
pessoa. Essa é apenas uma verdade que eu precisei aceitar e
reconhecer. Não posso obrigar ninguém a ser recíproco e nem todo
mundo que amamos precisa nos corresponder da mesma forma. A
única coisa que eles precisam é ter responsabilidade emocional e
não brincar com os nossos sentimentos. O que, eu preciso
reconhecer, Atlas não fez.
— Bom, não está mais aqui quem falou, estressadinha! Mas,
se você não tem novidades empolgantes, eu tenho. — seus olhos
brilham de excitação, e sei que vem fofoca boa por ai — Estou
morando em um condomínio onde só tem gatos. Já te falei sobre
isso, mas ontem, quando eu fui colocar o lixo para fora e… — e fácil
assim, a conversa caminhou para águas mais tranquilas.
Ainda bem! Ninguém merece ficar remexendo o passado, que
é onde Atlas Sanchez está, e deve permanecer para sempre.
Depois de uma conversa ridiculamente tensa com Dafne, onde fui
mais do que insultado por uma mulher que, provavelmente, ainda
estava bêbada, deixei clara a minha posição. O processo ainda está
em andamento, e enquanto eu ainda não tenho a guarda completa
de Eros, ela ainda mantém os seus direitos, mas eu não enviarei
meu filho como um Sedex. Se ela o quisesse, teria que vir para cá
vê-lo e agir como mãe. Chega de gastar meu dinheiro com festas,
roupas de grife e coisas sem sentido. Se vai fazer isso, que seja
pelo menos em Havdiam, onde eu posso e vou estar de olho,
acompanhando todos os seus passos.
Furiosa, ela desligou na minha cara, prometendo infernizar a minha
vida quando voltasse para cá, o que, em minha humilde opinião, não
muda nada, já que ela inferniza a minha vida de qualquer maneira,
de onde quer que esteja. Pelo menos, agora sei, com total certeza,
o que eu gostaria muito que fosse mentira: ela não está nem aí para
o nosso filho, só quer saber da pensão que tenho que pagar à ela
enquanto ele está sob a sua custódia.
O divórcio milionário não foi e nem será o bastante quando
encerrarmos este capítulo. Nem a pensão para ela mesma, que
Philip disse que, provavelmente, eu terei que pagar, já que ela não
trabalha. Nada disso é o suficiente para a sanguessuga.
"Você quer tirar o menino de mim para não ter que me pagar,
não é? Fique sabendo, que eu nunca vou deixar isso acontecer.
Eros é tão meu quanto seu, e até onde sei, juízes tendem a deixar a
criança com a mãe, porque somos mais capazes de cuidar do que
os homens. É a lei natural das coisas, sabe…". Sua ameaça é cheia
de camadas. Esse ódio despropositado por mim e pela minha
família não faz nenhum sentido, e pelo que eu entendo, ela sente
prazer em me torturar. Mas, mais do que isso, ela não se importa de
eu tirar nosso filho dos seus braços, e sim com a pensão. Não é da
saudade que ela tem medo, e sim do dinheiro, que pode acabar
eventualmente.
Uma cobra desalmada.
Como pude ficar tanto tempo ao lado dessa mulher?
— Bom dia, papai. — Eros diz com uma vozinha ainda
sonolenta, assim que abre os olhos e me vê sentado na poltrona em
frente a sua cama, velando o seu sono.
— Bom dia, filho. — falo sério, e ele se senta, esperando
para saber o motivo de eu estar ali.
Geralmente, não tenho esse hábito, mas hoje senti que era
necessário verificar se ele estava bem e saudável sob o meu teto.
Seguro também. Não esperava que ele acordasse tão cedo e me
pegasse no pulo.
— Precisamos conversar, — digo, e ele franze a testa — vem
cá.
Dou duas batidinhas na minha perna e ele se arrasta, ainda
sonolento, para o meu colo. Mesmo já grandão, no auge dos seus
cinco anos, ele se aninha em meu corpo, soltando um suspiro alto.
— Vou pra mamãe, né? — ele fala baixo, parecendo
chateado, e seus olhinhos se enchem de lágrimas, pronto para
chorar e começar com toda a lamentação que tenho visto nos
últimos dias.
— Na verdade, era sobre isso mesmo que eu queria
conversar. — seus olhos me estudam, mas ele não fala nada,
esperando pelo que eu tenho a dizer — Conversei com a sua mãe
hoje e decidimos que você não vai mais para a Turquia, viajar para
ficar com ela. Se você ainda quiser, podemos te matricular na
colônia de férias que a vovó Camélia comentou… parece legal, né?
Seu semblante muda completamente, abrindo um sorriso
enorme e feliz, confirmando com a cabeça animado.
Odeio ser um estraga prazeres, mas é melhor não esconder
a verdade dele nunca, e por isso, espero sua empolgação passar
por alguns minutos, antes de continuar: — Mas… — completo e
assisto ele murchar enquanto pronuncio as próximas palavras — ela
está vindo para Vongher, e vamos manter o esquema de um tempo
com ela e um tempo comigo. Igual fazíamos quando você tinha aula.
— tento explicar para ele. A sua alegria se transforma rapidamente
em raiva e ele cruza os braços, bravo.
— Não quero.
— Filho… é o melhor jeito. Você tem que ficar com a sua mãe
também. Tenho certeza de que ela está com saudade de você, já
tem algumas semanas que não se encontram… — começo a
argumentar, tentando convencê-lo, mas sou interrompido por um
grito tão agudo que dói o ouvido.
— Não quero! — ele exclama alto, pulando do meu colo, e
antes que eu possa sequer controlá-lo, ele pega o carrinho mais
próximo e o arremessa no chão com toda a força que seu corpinho
pequeno consegue produzir.
— Eros! — falo mais alto, repreendendo-o, mas ele me dá a
língua e sai correndo do quarto, me deixando para trás.
Começo a caminhar atrás dele, mas não o encontro em lugar
nenhum. Era só o que me faltava, brincar de esconde-esconde uma
hora dessas. Preciso ir pro escritório, milhares de coisas para
resolver e meu filho resolve aprontar mais uma vez.
Procuro em todos os quartos de hóspedes e quando percebo
que ele não está mais lá, vou até o meu quarto, abrindo as portas do
armário.
Onde foi que esse menino se meteu?
— Eros! — falo alto mais uma vez, começando a ficar com
raiva dessa sua atitude. Mesmo sendo uma criança, esse tipo de
malcriação não pode acontecer. Mostrar a língua, quebrar um
carrinho e sair correndo, não são exemplos de etiqueta que eu
gostaria que ele tivesse.
Entretanto, assim que eu escuto um barulho de choro, sinto
meu coração parar por alguns segundos, e em seguida, se quebrar
em milhares de pedaços. Olho debaixo da cama, e vejo meu
pequeno de cabelos escuros e olhos bem fechados, agarrado ao
seu próprio corpo, chorando baixinho.
A cena me perturba mais do que qualquer tipo de filme de
terror. O menino parece tão quebrado, que nem consigo explicar em
palavras o quanto me dói vê-lo dessa forma.
— Filho… — baixo a voz, tentando entrar debaixo da cama
também, mesmo sendo muito maior do que o espaço disponível.
Ele não se mexe, nem abre os olhos, mas faço um afago de
forma carinhosa em seus cabelos, antes de continuar.
— Você não quer ver como vai ser essa tal colônia de férias?
Cheia de brincadeiras e diversão? — questiono, e aos poucos, ele
vai abrindo os olhinhos, parando de chorar.
Espero pela sua resposta, e ele confirma com a cabeça,
parecendo um pouco desconfiado.
— Bom, então, precisa sair logo daí para se arrumar, ou
então, vai perder o primeiro dia… — digo baixo, como quem não
quer nada, e ele engatinha para fora da cama em uma facilidade
muito maior do que a minha, diga-se de passagem.
— Será que vai ter natação e futebol mesmo? — ele
pergunta, limpando as lágrimas do seu rostinho e eu confirmo.
— Parece que sim, pelo panfleto que a vovó nos deu. Que tal
irmos conferir? — pergunto e ele confirma com a cabeça.
Gabrielle, sua babá, está nos observando da porta, e assim
que ela estende a mão, ele vai correndo em sua direção. Em uma
troca de olhar silenciosa, consigo ver que ela sente pena de mim,
mas não quero falar nada, muito menos, que as pessoas se sintam
assim ao meu redor, por isso, lhe dou uma ordem simples antes de
entrar para a suíte e tomar um banho para começar o trabalho: —
Arrume o garoto e lhe dê café da manhã. Vou levá-lo pessoalmente
hoje, para fazer a matrícula, mas como estou atrasado, preciso que
você vá buscá-lo. Feche a porta quando sair.
— Sim, senhor. — sua voz trêmula deixa o quarto, e eu entro
no banho, me preparando para mais um dia cheio de problemas que
eu tenho que resolver e responsabilidades que preciso carregar em
minhas costas.
Pelo menos, meu filho não vai ficar longe de mim, o que já é
mais do que eu poderia esperar.
Nada melhor do que tomar um banho quentinho depois de
um dia de trabalho intenso. Deixar os músculos relaxarem debaixo
de uma água quente é, literalmente, tudo o que eu preciso, depois
de ter subido e descido as escadas da escola tantas vezes atrás dos
monitores, para garantir que tudo saísse perfeito. É engraçado
pensar que eu realmente consegui e o dia foi cheio de felicidade,
crianças brincando, gargalhadas e quase nenhum incidente.
Quando digo quase, é porque sempre tenho algumas surpresinhas,
por exemplo, um anjinho abençoado que resolveu descer o
escorrega em pé, em um descuido do monitor, e se estatelou no
chão. Graças a Deus ele não se machucou, mas com sustos assim,
eu já estou acostumada a lidar.
O início e abertura da Escola Recanto do Sonhar, em
Havdiam, não poderia ser melhor. Claro que todas as unidades
seguem a mesma metodologia de ensino Pavlova Education, mas
gosto de dar nomes diferentes para cada filial, um toque pessoal.
Além de, claro, ficar muito mais fácil saber sobre qual escola
estamos falando.
Enfim, a Recanto do Sonhar, realmente fez sucesso entre os
pais da alta sociedade, seja pelo meu sobrenome influente, seja
porque todos gostam de uma novidade e ficar de fora seria não ter
assunto nas rodas de conversas chatas do fim de semana.
Independente do motivo que fez com que todos matriculassem suas
crianças aqui, eu fiquei extremamente feliz em perceber que tivemos
aprovação dos pequenos, e dos adultos também. Aos poucos, vou
provando para mamãe e todos os outros parentes que eu não
preciso seguir os negócios da família para ser bem-sucedida,
consigo fazer isso muito bem sozinha, e isso me alegra demais,
preciso dizer.
Um sucesso. Foi isso o que eu ouvi de todos os
colaboradores, não pude deixar de sorrir e sentir meu coração
quentinho e satisfeito. Mesmo não estando o tempo inteiro em
contato com as crianças, por ter que cuidar da parte administrativa,
tentei dar uma olhadinha em cada sala, me esforçando para gravar
o rosto dos alunos, já que seus nomes, eu provavelmente, não iria
conseguir tão facilmente.
Preparo um jantar, com a certeza de que amanhã as coisas
vão ser ainda melhores e mais fáceis, passada a ansiedade do
primeiro momento, e coloco um audiobook para tocar.
Os pequenos prazeres da vida.
Quem disse que precisamos de muito para sermos felizes?

***

O nosso diferencial é que a colônia de férias que criamos tem um


mês e meio de duração, isso garante aos pais que as crianças
tenham entretenimento e segurança, para que eles trabalhem
tranquilos, afinal, crianças têm férias prolongadas, já eles, não. É
exatamente por isso que atraímos pessoas endinheiradas, com
trabalhos importantes e pouco tempo sobrando. Somos um respiro
caro, para que tudo continue indo bem.
O melhor dos dois mundos. As crianças nos adoram e os pais
precisam da gente.
Uma semana depois da inauguração, no entanto, já
conseguimos perceber quem são os mais inibidos, as crianças mais
tímidas, assim como também conseguimos diferenciar os agentes
causadores do caos.
Em meu posto de "diretora" tenho escutado reclamações
constantes dos monitores, e tento ao máximo instruí-los, sem
interferir em sua autoridade, mas em alguns casos, preciso intervir.
Como na turma de cinco anos, onde temos um bagunceiro de marca
maior, que nos últimos dois dias resolveu causar todo tipo de
confusão.
— Eros mordeu um coleguinha mais uma vez, por conta de
um carrinho. A situação está passando do limite. — reclama Tiana,
uma professora, na hora do seu intervalo. Sua conversa é com
Anne, que geralmente cuida desse tipo de coisa e só leva os casos
extremos até mim, mas entre a minha xícara de café fumegante,
não consigo deixar de inquirir.
— Mordendo? — questiono surpresa. Essa atitude,
realmente, é muito mais agressiva do que um tapa ou uma briguinha
tentando tomar o brinquedo da outra criança.
— Mordendo, diretora Pavlova, — ela diz, parecendo sem
graça, mas continua mesmo assim — ele não era tão agressivo nos
primeiros dois dias, um pouco arrogante, talvez, mas não parecia
que iria dar tanto trabalho. Ai, desde ontem, ele tem aprontado todo
tipo de confusão e essa, de morder os outros, começou a passar um
pouco do limite.
Fico surpresa com a sua reclamação, porque crianças que
apresentam problemas de comportamento, geralmente, fazem isso
desde o primeiro momento. Talvez, seja a hora de intervir como
diretora e conversar melhor com o garotinho para tentar entender
mais a fundo o que está havendo.
— Bom, me conta melhor sobre essa briga. — falo, indo me
sentar em sua mesa, abrindo um sorriso encorajador.
— Era um carrinho como outro qualquer, nada demais.
Porém, Fabian pegou primeiro e ele se irritou. Tentou tomar da sua
mão, mas o outro era um pouco mais forte, então, apelou para a
mordida. Foi um chororô danado, que desestruturou a turma inteira.
— Entendo. — digo, com os pensamentos voando em milhares de
outras direções. É claramente um ato de alguém que quer chamar
atenção — Vou conversar com ele depois da aula de futebol. Se
achar necessário, contato os pais, pode ficar tranquila, Tiana, vamos
resolver a situação.
Com a cabeça há mil por hora, nem vejo o tempo passar, e quando
Tiana bate à porta e abre uma frestinha, perguntando se pode
entrar, levo um susto. Ela segura a mão de um garotinho que parece
um pouco assustado, mas que está tentando ser valente. Os
cabelos negros, bagunçados para todos os lados, lhe dão um ar
bonito, e me vejo abrindo um sorriso amplo, antes de me levantar e
ir até o sofázinho.
— Olá. Você quer vir se sentar aqui comigo por um
minutinho? — digo, falando com o garoto, ele olha para Tiana, que
confirma com a cabeça e solta a sua mão, nos deixando sozinhos
na sala.
Ele se arrasta até o sofá, mas se senta o mais longe possível
de mim, olhando desconfiado.
— Eu tô encrencado, né? — sua voz soa baixa, e eu nego
com a cabeça.
— Como você se chama? — ignoro sua pergunta e ele me
observa por alguns segundos, antes de falar: — Eros e você?
— Ludovika Pavlova. — digo, e ele arregala os olhos, como
se o nome fosse estranho demais para ele. O que, no caso,
realmente deve ser aos seus ouvidos — E qual é o seu sobrenome?
— Sanchez.
Escuto sua vozinha baixa falar o único sobrenome que eu não
gostaria de ouvir e não consigo disfarçar bem o choque em meu
rosto. Ele parece ainda mais desconfiado com a minha reação, mas
olho para baixo, tentando ganhar alguns segundos e colocar a
minha cabeça no lugar.
Eros Sanchez. Então, ele é o suposto filho que Dafne anunciou para
todos os quatro cantos do mundo quando se casou. Nem eu, isolada
no interior, fiquei livre da notícia empolgante que todos estavam
comentando. Filho de Dafne com Atlas. É, analisando bem, dá para
notar a semelhança com o pai. Meu primeiro impulso seria rejeitá-lo,
já que estar de frente com essa criança me desperta milhares de
sentimentos que eu não gostaria nem um pouco de sentir, mas ao
olhá-lo novamente, parecendo arisco e perdido, não consigo sequer
cogitar a possibilidade de fazer isso.
Eu sou profissional, e é claro que uma criança não tem culpa
de nada que tenha acontecido no meu passado. Não posso
descontar nele as minhas frustrações, pelo contrário, meu papel é
acolher e entender exatamente o que está acontecendo com ele
para ter esse tipo de comportamento.
— Então, Eros… me conta como estão as coisas com você.
— digo vagamente, para entender o que ele vai falar primeiro, mas o
menino cruza os braços e não diz nada por um tempo.
— Que coisas? — ele ergue o queixo de forma teimosa.
— Bom, qualquer coisa. O que vem primeiro à sua mente?
Quero saber mais sobre você e o motivo de estar tão bravo, a ponto
de morder seus coleguinhas sem nenhum motivo suficientemente
bom para fazer isso.
Ficamos em um silêncio constrangedor por um tempo, mas
ele respira fundo e fala, como se estivesse arrependido.
— Eu não queria mordê-lo. Não foi de propósito… me
desculpa. — sua voz parece embargada por um choro contido, mas
eu não falo nada, deixando-o tentar expressar os seus sentimentos
— Mas é que… ela vem me buscar hoje e eu não quero ir! — sua
voz contém raiva, frustração e, ouso dizer, um pouco de medo — Eu
não quero!
Tudo isso me pega muito desprevenida e me deixa cheia de
surpresa.
— Ela quem, meu amor? — digo, colocando uma mão
hesitante em seu joelho, e ele começa a chorar, depois de tentar
muito segurar as lágrimas e antes de me responder gritando,
frustrado: — Minha mãe!
Quem diria que logo eu, que sempre amei os vinhedos e as fábricas
onde acontece a maltagem na produção de whisky, poderia me
sentir tão cansado todas as vezes que preciso visitar esses locais?
O lugar parece sugar todo tipo de energia que existe em mim. Tudo
bem que, eu, no geral, estou sempre resolvendo problemas e as
coisas não são nem um pouco divertidas como eram, quando eu era
mais novo e conseguia sempre contrabandear álcool clandestino
para a turma. Muito menos, os vinhedos parecem tão românticos e
etéreos, como quando eu levava algumas garotas para passear,
torcendo para me dar bem no fim da noite. Agora, tudo em que eu
consigo pensar é na qualidade da uva, ou se o whisky está saindo
bom o suficiente para levar o nosso rótulo.
Ossos do ofício, e o lado ruim de ser o dono e CEO da empresa,
não há como negar. É, nem tudo são flores.
Além de todas as preocupações existentes com a Kapaoi Company,
Eros voltou da colônia de férias com alguns bilhetes em sua agenda,
por mal comportamento, e a cada dia que se aproxima da chegada
de Dafne, ele parece estar mais e mais revoltado e agressivo.
Nunca imaginei que meu filho iria agir dessa forma com a iminência
de se encontrar com a mãe, mas infelizmente, parece que as coisas
serão assim, então, só cabe a mim aceitar e tentar apaziguar as
coisas.
Talvez, seja por isso que eu esteja trazendo-o cada vez mais
para a casa dos meus pais. Aqui, pelo menos, ele parece ter mais
espaço para brincar e, com certeza, mais pessoas para lhe dar
atenção. "Ele precisa de amor", a vozinha sábia e agourenta de
vovó, volta e meia, aparece em meu cérebro para me lembrar de
que família é família, e que eu não posso suprir todas as
necessidades do menino.
Apenas por isso, cruzo novamente os portões da mansão
Sanchez, com um incômodo no peito, mas meu filho feliz em sua
cadeirinha no banco de trás.
— A bisa vai estar aqui, hoje? — ele pergunta animado, com
a miniatura de dinossauro se mexendo ativamente entre os seus
dedos.
— Não sei…, mas a tia Atena vai estar. — barganho com ele,
sabendo que o moleque adora minha irmã festeira, e ele abre um
sorriso enorme.
— Legal! Será que ela vai me deixar brincar com seus globos
de neve? — Eros pergunta, e eu dou de ombros, sabendo que,
muito provavelmente, ela nunca vai fazer isso. Atena é apegada
demais às miniaturas, desde quando se conhece por gente, para
deixar uma criança de cinco anos colocar seus dedinhos
desastrados nelas.
— Teremos que perguntar para ela.
Vejo pelo retrovisor seu sorriso amplo enquanto paro o carro,
e esperto como só ele é, Eros se desvencilha sozinho do cinto e
abre a porta, saindo correndo para dentro da casa.
Bom… almoço de domingo em família. Nada melhor para me
deixar em pânico e ter crises de ansiedade. Um ambiente
extremamente saudável.
— Filho! Que bom que chegaram! — Dimitri Sanchez, meu
pai, diz, assim que entro na sala, com uma taça de vinho tinto em
mãos.
— Bom, é o horário de almoço, não é? — respondo, abrindo
um sorriso para Nirma, a governanta que cuida da casa desde
quando eu era criança, e ela retribui me servindo um copo de
whisky. Já é um hábito tão comum que nem precisamos falar um
com o outro. Só com álcool em meu sistema para sobreviver ao dia
sem surtar.
— Sua mãe está chegando com a mãe dela. — sinto, pelo
seu tom de voz, o quanto ele adora a companhia de vovó Camélia, e
isso me dá vontade de rir. É claro que ela seria intratável com o
genro, se não poupa nem os netos do seu humor ácido — Então,
me conte como está a safra deste ano. Estou tomando uma taça do
98, é claro. Uma das melhores que eu produzi…, muito diferente do
vinho do ano passado, que ficou inteiramente sob a sua
responsabilidade.
Dimitri então, começa o seu grande monólogo, criticando cada uma
das minhas ações como CEO da empresa da família. Até mesmo, o
gosto do vinho que produzimos, afinal, eu que controlo todas as
condições climáticas, além da qualidade das uvas e tudo o
necessário para a produção. Nas horas vagas, brinco de ser
Dionísio, o Deus dos vinhos e do caralho a quatro.
Escuto parcialmente o que ele fala, concordando eventualmente
com "aham" e "claro" bem colocados, até Atena entrar no recinto
com seu sorriso amplo e sua animação que nunca acaba.
— Atlas! — ela grita, se jogando em meu colo na poltrona,
antes de beijar meu rosto e se levantar com um sorriso no rosto —
Faz tempo que não te vejo. Claro, não tanto quanto Apolo…, mas,
você sabe. — ela diz displicente, e todos os músculos do meu corpo
se contraem, assim como a expressão de desagrado no rosto do
nosso pai. Seja por ela ter mencionado a ovelha desgarrada da
família, seja porque ela interrompeu seus raciocínios inteligentes
demais para serem desperdiçados.
— Como você está? — pergunto, abrindo o primeiro sorriso
verdadeiro do dia, mesmo que contido.
— Bem, é claro. Estou quase me formando… e dessa vez é
sério. Não vou abandonar a faculdade no último semestre de novo,
papai já me fez prometer. — ela comenta, como se não fosse nada
demais perder tempo estudando tanto, para depois desistir, e sua
sombra aparece, abraçando as suas pernas.
— Te peguei! — Eros grita feliz, e ela começa a lhe fazer
cosquinhas.
— Bom, espero que tudo dê certo, então. — respondo, e ela
abre um sorrisinho amarelo. Nem mesmo Atena tem certeza de que
alguma coisa realmente dará certo por ali, mas não fica para
conversarmos a respeito do seu futuro, já que sai correndo atrás do
meu filho, pois, agora é a vez dele de se esconder. Talvez, eu
devesse me candidatar a participar da próxima rodada, já que me
esconder não parece uma ideia tão ruim assim.
— Ela ainda é jovem, mas esperamos que não precise
depender da família, ou de um marido no futuro. Sempre bom ter
uma profissão, não é? — papai diz orgulhoso, como se o fato de ela
estar na faculdade já fosse um feito muito grande, e não consigo
deixar de sentir uma pitadinha de inveja.
Os mais novos sempre se dão bem. A responsabilidade de
levar o negócio e garantir o futuro de todo mundo está, desde
quando nasci, nas minhas costas.
O almoço passa tranquilamente, sem mais nenhum tipo de
cobrança ou comparação sobre a gestão da empresa, o que eu
recebo de bom grado. Eros parece se divertir, e vovó Camélia está
surpreendentemente séria, o que eu acredito ser reflexo do nosso
último encontro. Mas, não me deixo abalar, e nem vou pedir
desculpa por tê-la deixado falando sozinha. Não dessa vez. E, como
a noite sempre chega, nós nos despedimos da família e vamos
juntos para casa, relembrando no caminho todas as brincadeiras
que Eros teve hoje e, principalmente, sobre a sua semana na
colônia de férias. Ainda não me esqueci dos bilhetes, e por mais que
eu tente extrair alguma informação, meu filho parece anormalmente
sério sobre esse assunto.
— … e no futebol de ontem eu fiz dois gols, o que foi muito
demais! — Eros conta, mas perde momentaneamente o raciocínio
assim que a porta do elevador se abre e damos de cara com Dafne,
mais loira e cheia de preenchimento labial do que nunca, sentada no
sofá da sala.
O silêncio é um pouco constrangedor, mas ela se levanta e
vem em nossa direção com um sorriso falso no rosto.
— Vocês demoraram. Onde estavam? — não sei se é porque
ela continua agindo como se estivéssemos juntos, ou pela sua fala
displicente, mas cheia de segundas intenções em saber o que eu
estava fazendo, mas cruzo os braços, me posicionando um passo à
frente de Eros.
— Dafne. — minha voz soa solene, e ela confirma com a
cabeça, em um cumprimento ensaiado — O que está fazendo aqui?
Essa não é a sua casa.
— Naturalmente. Mas vim buscar meu filho. Ele passará essa
semana comigo e vamos matar a saudade um do outro, não é,
Erozinho? — ela fala com uma voz manhosa, e se agacha,
esperando que ele vá até ela para um abraço.
Eros não parece gostar nem um pouco da novidade, e fecha a cara
para a mãe, antes de se arrastar, de má vontade, em sua direção e
ficar parado, esperando que ela o abrace e beije seu rosto, sujando-
o de gloss.
— Oi, mãe. — ele diz baixo e ela abre um sorriso satisfeito,
como se esse abraço mixuruca fosse algo incrível.
— Bom, você quer pegar alguma coisa no seu quarto, antes
de irmos? Algum brinquedo? — pergunta para o menino, que
assente com a cabeça antes de sair correndo para o quarto.
Nós nos olhamos em uma disputa velada, mas ela quebra o
silêncio ao falar com uma voz mais anasalada do que de costume:
— Vejo que está muito bem. — avalia, correndo os olhos pelo meu
corpo.
— Estou. — é o que respondo, e ela abre um sorrisinho
maldoso.
— Eu também. Agora, ainda melhor, porque vou ficar com o
meu filho. — a sua ênfase na palavra me deixa puto, mas não
expresso nenhum tipo de emoção. Sempre fui muito bom em
guardá-las para mim.
— Espero que cuide bem dele. Te mando por mensagem o
endereço e horário da colônia de férias em que ele está inscrito, e
para qualquer coisa relacionada a ele você pode me ligar.
— Certo. — ela diz, no momento em que Eros aparece na
sala com a sua mochila nas costas e um olhar derrotado no rosto.
— Logo você estará de volta, filhão. — digo, lhe dando um
abraço e ele responde baixinho para que só eu possa ouvir: —
Espero que sim.
Eu não deveria ficar tão focada em só uma criança, mas Eros
Sanchez me preocupa de uma forma que eu não pensei que um dia
iria me importar. Principalmente, quando sei que ele é fruto do amor
de Atlas com aquela Dafne insuportável, e que, se seus pais não
estivessem juntos naquela época, provavelmente, nossa história
teria deslanchado.
Mas eu me preocupo. E o fato de ele não ter aparecido na
colônia segunda e terça, me deixa um pouco preocupada e ansiosa.
O garoto não parecia muito feliz na última vez em que nos falamos,
e sei bem que problemas comportamentais são sempre difíceis de
ser tratados. Por isso, assim que chego, vou até Anne para saber se
ele apareceu hoje, determinada a ligar perguntando o motivo da
ausência se a resposta for negativa.
— O Eros veio? — pergunto, assim que entro em sua sala.
Minha amiga levanta a sobrancelha, desconfiada e cruza os braços,
antes de me responder: — Por que você está tão obcecada por
esse aluno?
— Não estou…
— Claro que está. Sem papo furado, que eu te conheço! —
ela me corta e eu solto um suspiro alto, antes de falar: — Bem, ele
parecia um pouco deprimido e irritado demais para uma criança tão
pequena. Me apeguei ao garoto e só quero saber se ele está bem.
Não tem nada demais.
— Então, por que você desviou o olhar? Te conheço, e não é
de hoje, Ludo. Desembucha, o que está rolando?
— Dá para responder à minha pergunta, por favor? —
começo a ficar irritada, e faço menção de sair da sala. Por isso, ela
confirma com a cabeça e continua: — Ele veio, parece mais fechado
e arisco do que nos outros dias. Mas, posso estar enganada,
apenas o vi de relance e sua expressão não era das melhores. —
ela responde, dando de ombros, e eu confirmo com a cabeça — E
então, vai dizer o porquê de estar tão interessada em saber mais
sobre esse garoto? Sei que se preocupa com todos os alunos da
escola, mas também sei reconhecer quando você está agindo de
forma estranha.
Infelizmente, carrego o fardo de ser transparente demais.
Isso é uma benção e uma maldição, porque, simplesmente, não sei
o que dizer a ela. Como contar para Anne que ele é filho do único
cara que eu, um dia, amei na vida, e apesar de esfregar na minha
cara tudo o que eu poderia ter tido, me importo com ele, por que
Eros me lembra Atlas? Bom, aparentemente, dessa forma, porque
ela me olha de um jeito inquisidor de quem não vai aceitar que eu
saia dessa sala sem dar uma resposta.
— Bom, você que sempre foi muito interessada em saber do
meu crush de infância vai ficar muito feliz em saber que Eros é seu
filho.
O jeito que ela recebe essa informação é engraçado, porque
seu queixo cai e Anne se levanta da poltrona de forma desajeitada,
como se eu tivesse acabado de anunciar que temos um unicórnio
em nosso pátio.
— Você está brincando, né?
— Bom, não estou… Eros é filho de Atlas Sanchez.
Em cinco minutos, vejo a sua cabeça juntar dois mais dois, e
seus dedos começam a digitar furiosamente no site de pesquisas.
Ela abre uma foto onde vemos Atlas de terno, exalando uma aura
imponente, e vira a tela pra mim.
— Esse é o tal cara? Esse aqui? — ela pergunta, e eu
confirmo, sentindo minhas bochechas queimarem de vergonha —
Uau. Gatíssimo! Entendo o apelo.
— Bem, se é só isso, eu vou indo… tenho muito com o que
trabalhar. — digo, lhe dando as costas e fechando rapidamente a
porta, antes que ela invente de saber mais sobre a vida do bonito,
sério e safado Atlas.
O anonimato do meu crush não durou nem três semanas em
Havdiam… que ótimo.

***

Minha intuição raramente falha e apenas três horas depois, Tiana


bate à porta do meu escritório, de mãos dadas com um garotinho
com cabelos muito escuros e o rosto banhado em lágrimas. Ela me
lança um olhar apreensivo, antes de falar alto, como se quisesse
chamar a atenção dele também: — Diretora Pavlova, trouxe o Eros
para te ver novamente. — percebo que ela parece um pouco
apreensiva antes de falar, mas precisa explicar mesmo assim o que
aconteceu.
— Certo. — digo me levantando e olho para o menino, que
continua chorando silenciosamente, de mãos dadas com ela —
Eros, meu amor, por que você não se senta no sofá e me espera,
enquanto eu converso com a professora Tiana?
Ele não me responde, mas se dirige ao sofá e puxa uma
almofada para o seu colo, antes de virar a cara pra gente.
— O que aconteceu?
— Eros se irritou com o Lino, aparentemente, porque o garoto
falou mal de alguma coisa dele, e os dois começaram a brigar. Na
verdade, Eros brigou e o outro menino ficou parado, sem fazer
nada. — ela revira os olhos, e continua — Quando ameacei chamar
seus pais para buscá-lo se ele continuasse a fazer bagunça, ele
começou a chorar, pedindo por favor, para que isso não
acontecesse. Achei muito estranho e resolvi trazê-lo para cá.
Realmente acho que vale a pena investigar um pouco mais o motivo
de ele estar tão agressivo assim… não é normal.
Meu coração se aperta com a ideia de ter que falar com Atlas sobre
seu filho, ou pior, com Dafne. Mas esse é o meu trabalho e se Eros
precisa de ajuda, não posso recusá-la, por isso, confirmo com a
cabeça e ela nos deixa à sós no escritório, que parece
surpreendentemente mais frio e claustrofóbico.
— Eros, o que está acontecendo? Você quer me contar? —
pergunto, me sentando ao seu lado, e ele nega com a cabeça.
— Nada.
— Entendo… — digo pacientemente, e ele me olha curioso,
parando de chorar — Mas você sabe que não pode bater em seus
colegas, não sabe? — Eros confirma com a cabeça e eu espero
mais alguns segundos, antes de continuar — Então, você sabe que
é o terceiro bilhete que eu vou colocar em sua agenda, não é?
— Mas eu não fiz nada de errado! — ele reclama, e eu
levanto uma sobrancelha, fazendo-o calar e abaixar a cabeça. No
fundo, ele sabe que fez.
— Vou ligar pro seu pai, para conversarmos sobre isso.
Tenho certeza de que ele não ficará com raiva de você. — seus
olhos assustados me mostram o quanto isso o apavora, e minhas
palavras apaziguadoras não vão convencê-lo do contrário, mas
continuo, mesmo assim — Nós só queremos o seu bem.
O garoto vira a cara, cruza os braços e não me responde
mais, em uma típica atitude de pirraça.
É, realmente, não vai ter jeito.
Cogito pedir para que Anne resolva esse problema para mim, mas
ela nunca aceitaria depois de eu ter revelado a verdade poucas
horas atrás.
Eu e a minha boca grande.
Volto para a minha mesa, deixando-o no sofá e procuro o telefone
do responsável entre as fichas online dos alunos.
Atlas Érico Sanchez.
Ansiosa e um pouco trêmula, digito os números, tentando ao
máximo não relevar em minha voz o nervosismo, e espero que ele
atenda à ligação.
— Boa tarde, senhor Sanchez? — uma voz macia e um
pouco familiar diz do outro lado da linha, e eu fico surpreso com a
ligação. Poucas pessoas têm o meu número privado, e geralmente,
tudo passa pela minha secretária antes de mim, por isso, imagino
que seja algo importante.
— Boa tarde… com quem eu falo?
— Sou a diretora da Recanto do Sonhar, a colônia de férias
do Eros. — escuto suas palavras e, imediatamente, sinto o meu
estômago gelar. Se é de lá, definitivamente, alguma coisa aconteceu
com o meu filho.
— Ele está bem? Aconteceu alguma coisa? — pergunto,
interrompendo a sua fala, e ela solta um suspiro, antes de
responder.
— Ele está fisicamente bem. Mas, sinto dizer que precisamos
conversar a respeito do seu comportamento. — ela fala, e no lugar
do pânico inicial, começo a ficar irritado.
Essa tal diretora me liga, às duas e meia da tarde, para falar
do mau comportamento do menino? É sério?
— Eu estou trabalhando no momento. Se ele está bem, não
vejo o porquê de me incomodar agora.
— Bom, se você pensa que um joelho ralado é pior do que a
saúde mental do seu filho, eu sugiro que reveja suas prioridades.
Eros tem um comportamento extremamente agressivo e eu preciso
conversar com você sobre isso, porque essa é a minha
responsabilidade. — a mulher diz, rispidamente, do outro lado da
linha, e eu preciso controlar meu temperamento para não a
responder à altura.
— Quando eu for buscá-lo hoje, conversamos.
— Ótimo. Passar bem. — ela responde, e eu escuto o tu-tu-tu
irritante, anunciando que a ligação foi encerrada.
Que merda!
Ainda está na semana de Dafne e, se eu for ter essa
conversa, talvez, ela devesse também estar presente.
Quase rio alto do meu pensamento. É claro que ela não iria
aparecer em algo do tipo. Nunca apareceu em nenhum evento
escolar desde que nos separamos, porque resolveria comparecer
agora, por uma simples reclamação de comportamento? Como
sempre, cabe a mim resolver todos os problemas.
Com o passar das horas, não consigo me concentrar em
mais nenhum relatório ou qualquer coisa além de Eros. É claro que
eu me preocupo com a sua saúde, tanto física, quanto mental.
Quem essa diretorazinha pensa que é, para falar assim
comigo?
Por que nem o seu nome, ela se deu o trabalho de me
contar?
Puto com a situação, e sabendo que não iria render mais
absolutamente nada, depois deste desassossego no meio do meu
dia, resolvo ir embora mais cedo e resolver rápido essa situação.
Dirijo pelas ruas da capital ainda bravo, e em poucos minutos, paro
o carro no estacionamento sem me importar com o porteiro, que
tenta explicar que ali só podem parar funcionários. Eu não pretendo
demorar.
Uma mulher me indica a sala da tal diretora e só paro para respirar
quando dou duas batidinhas, antes de entrar, sem esperar por sua
aprovação. Não tenho tempo a perder.
— Boa tarde. Eu sou Atlas Sanchez e… — digo alto, me
anunciando, mas paro a sentença assim que vejo a pessoa por trás
da mesa de madeira escura. — Ludo?
— Diretora Pavlova. — ela responde, com um semblante
sério e um pouco frio, apesar de ainda manter todos os traços da
menina doce que cresceu ao meu lado — Como você está, Atlas?
— Eu não sabia que você tinha voltado. — respondo, um
pouco perdido.
Por que ninguém me avisou? Ah… vovó Camélia, a senhora
me paga!
— Também fiquei surpresa, quando vi que a criança que mais
nos dá trabalho se chama Sanchez. — ela diz, mas não há sinal de
crítica em sua voz.
Franzo a testa, tentando entender o que está acontecendo.
Tudo me parece muito confuso: Eros nunca foi o garoto problema de
lugar nenhum. Ludovika está de volta. Eu estou fazendo papel de
bobo.
Não gosto de ser surpreendido por nada.
— Sente-se, precisamos conversar. — ela diz, apontando
para uma poltrona confortável à sua frente, eu faço o que ela
sugere, como manda a educação.
Ainda estou um pouco surpreso e, definitivamente,
abobalhado por estar na frente de uma das pessoas que marcou a
minha infância inteira. Faz tantos anos que não nos encontramos…,
mas seus cabelos muito ruivos permanecem os mesmos, sua pele
um pouco sardenta e os olhos verdes e gentis. Ela é uma mulher
adulta agora, é claro, mas ainda conserva seus traços bonitos e
gentis.
Enquanto ela fala sobre os malfeitos de Eros, e como ele se tornou
um garoto problema, acho difícil me concentrar, relembrando de
todo o nosso passado.
O nosso primeiro beijo, a primeira vez dos dois... Sempre
juntos, em uma amizade colorida muito difícil de determinar, e ao
mesmo tempo, muito fácil de encerrar. Dafne aconteceu, cada um
foi para o seu lado. Vivemos caminhos separados e eu nunca mais
a vi.
Pelo menos, não, até agora. Se possível, ela está ainda mais
linda do que antes.
— … ele mordeu um colega semana passada, por causa de
um carrinho. Tenho certeza de que você há de concordar comigo
que esse tipo de coisa é inaceitável. — ela continua falando, mas
franze o cenho e chama a minha atenção, como se eu fosse uma
criança — Atlas?
— Sim.
— Você não está prestando atenção em nada do que eu
estou falando.
— Estou sim, Ludo.
— Eu te conheço bem o bastante para saber que não. — ela
fala, como se não fosse nada demais, e volta a fechar a cara —
Espero que leve o seu filho a sério. Pelo menos, mais a sério do que
essa reunião.
— É claro que eu levo o meu filho a sério! Mas, com o
divórcio, eu não posso exigir um comportamento perfeito dele,
infelizmente, crianças sofrem no processo, — digo, sentindo o peso
dessa afirmação, e continuo — ele está com problemas para aceitar.
Ludovika parece ter sido pega de surpresa e vejo seu olhar,
um pouco chocado, antes de olhar para a mesa, tentando esconder
o rosto de mim. Neste caso, não é só ela que me conhece, e sei que
sempre faz isso quando precisa pensar rápido e não quer ser pega
em flagrante. Para o bem ou para o mal, ela sempre foi a pessoa
mais transparente que eu já conheci, e a sua frieza comigo até
agora, tem me incomodado bastante.
— Bom, eu entendo que para a criança esse tipo de situação
é complicada. Acho que seria bom você se sentar com a sua esposa
e definirem limites e uma rotina, para que ele sofra menos com isso.
Suponho que ele sinta falta da mãe…?
— Ele não quer conviver com a minha ex-mulher, sempre diz
que ela não tem tempo para ele e que prefere ficar comigo. Mas, eu
não sei exatamente como está sendo a relação dos dois, por isso,
vou investigar melhor para tentar entender o que está acontecendo.
— Isso seria ótimo. Acho que o diálogo seria muito bom, e
talvez, uma terapeuta. Com certeza, no momento, ele precisa de um
suporte maior para conseguir lidar com todos os seus sentimentos.
Eros está lidando mal com isso, se tornando uma criança agressiva
e triste, então, era o meu papel avisá-lo para que você tome as
medidas cabíveis. — estranhamente, não sinto raiva quando ela me
direciona essas palavras duras. Se fosse qualquer outro, com
certeza, eu já teria mandado se foder, porque da minha família,
cuido eu. Mas, Ludo sempre teve jeito com as crianças, e
certamente, ela sabe bem como agir nesse tipo de situação, afinal, é
dona da escola.
— Farei isso. Obrigado pelo tempo e por ter me ligado, se
preocupando com o meu filho. — respondo, me levantando, e ela
faz o mesmo.
— Eros é um ótimo menino, e eu não fiz mais do que a minha
obrigação. — ela responde, se aproximando para me estender a
mão.
— Bom te ver de volta, senti sua falta. — as palavras
escapam, mas volto à postura séria de sempre, antes de lhe
estender a mão. Percebo que ela hesita por um momento, mas
aceita o cumprimento, abrindo o primeiro sorriso do dia.
— Obrigada. Espero que dê tudo certo.
— Eu também. Parabéns pela escola, muito sucesso para
você! — com um aceno de cabeça, ela caminha em direção à porta,
abrindo-a, e finalizando assim, o reencontro mais estranho de toda a
minha vida.
Só não é mais estranho, talvez, do que me reencontrar com
Apolo no cruzeiro de Hades, meses atrás.
Ludovika Pavlova, quem diria que nós nos reencontraríamos
nessa situação?
Como pode, alguém ficar ainda mais bonito do que era
antes? Não faz o menor sentido!
O tempo envelhece e deteriora todas as pessoas, eu vejo
isso constantemente no espelho, todos os dias. Não sei o que
esperava encontrar quando liguei para ele, mas como todas as
pessoas de nossa idade, o tempo passou e nos deixou mais
maduros, sem a jovialidade que nos encantava quando mais novos.
Nunca procurei notícias dele, porque sabia que, ao fazer isso, eu
sofreria, com certeza, mas agora eu me arrependo de não ter feito
isso. Talvez não tivesse me surpreendido tanto com a sua presença.
Aquela olhadinha rápida na foto que a Anne me mostrou realmente
não faz jus ao que eu vi pessoalmente.
Por que Atlas Sanchez parece ainda mais imponente, alto,
forte e sensual do que antes?
Não sei se agi certo, me afastando e deixando tudo o mais
profissional possível. No geral, eu sou uma pessoa muito amorosa e
próxima com todos os pais de alunos com os quais preciso
conversar, essa é a forma que eu sempre abordei os problemas e
que sempre funcionou para mim, pois crio a proximidade e a
confiança que sei que a maioria dos pais precisam. Mas dessa vez,
com Atlas parado ali, diante de mim, não tinha como ser diferente.
Ele, simplesmente, é a única pessoa que ainda faz o meu coração
disparar tal qual uma adolescente, mesmo com tantos anos sem nos
vermos. É como se eu tivesse voltado no tempo e continuasse
sendo a adolescente completamente boba e apaixonada que eu
jurei enterrar a sete palmos e nunca mais reencontrar. Por mais
gostosa que seja a sensação do que vivi naquela época, eu não
acho saudável, muito menos, aceitável de se sentir a essa altura. É
inegavelmente perigoso.
Como eu ainda posso nutrir esses sentimentos, sabendo que
ele nunca me quis de verdade? Principalmente, sabendo que ele
ainda é casado com a Barbie oxigenada?
Na realidade, mesmo se ele não fosse mais, ou se já tivesse
assinado os papéis do divórcio, isso não mudaria nada. Nunca foi
uma competição entre mim e ela, e isso não quer dizer que assim
que ele estiver livre e desimpedido eu volte a entrar na jogada. Pelo
amor de Deus! Tenho que ter o mínimo de amor-próprio. Eu preciso
proteger o meu coração, para não acabar quebrada e sofrendo,
como anos atrás. Isso é óbvio! Não que ele tenha sinalizado nada a
respeito do nosso passado, é claro. Isso é só a ansiedade que o
choque de o reencontrar desencadeou.
Por mais preocupada ou, até mesmo, um pouco apegada ao
garotinho sensível e perdido, Eros, eu não posso me envolver mais
do que o limite profissional permite. Ele terá todo o meu apoio,
amizade e compreensão. Ajudá-lo-ei a lidar com essas dificuldades
da melhor forma possível, mas não posso fazer disso uma desculpa
para me encontrar com Atlas. Isso simplesmente acabaria comigo
de jeitos impossíveis de eu me recuperar. Se antes foi difícil, agora,
com certeza será ainda pior.
Eu tenho convicção de que, dessa vez, eu não estou errada.
Sei disso, porque tudo com o que eu sonhei por muitos anos em
minha vida, foi ter a vida que Dafne teve, ser mãe dos filhos de
Atlas, ser a esposa que ele encontraria em casa assim que
chegasse do trabalho. Se tudo fosse como eu sonhei um dia, Eros
seria meu, não dela. Talvez seja por isso que eu goste tanto das
minhas escolas, e principalmente, das minhas crianças. Eu sempre
quis ser mãe e nunca encontrei outra pessoa para compartilhar
desse sentimento. Sempre foi Atlas.
Tremo levemente com esses pensamentos impróprios e
extremamente proibidos para mim. Anos e anos se passaram, tentei
blindar e recuperar o meu coração, para em um mísero encontro
profissional, colocar todos esses pensamentos na minha mente e
reacender os desejos dessa maneira? Não posso me deixar levar
por esse caminho.
Simplesmente, não posso.
Sinto pena do garoto e empatia pela sua situação, mas eu
preciso proteger meu coração. Infelizmente, essa é uma máxima
que eu não posso ignorar.
Resolvo encerrar o expediente mais cedo, porque do jeito
que estou, as coisas só ficariam ainda piores. Sem nenhuma
concentração, eu ainda poderia fazer algum tipo de besteira e
negligenciar coisas importantes. É melhor deixar tudo para amanhã,
Anne consegue segurar as pontas por hoje.
Desço sem fazer alarde nenhum pelas escadas e, só quando
entro em meu carro, mando uma mensagem pra minha melhor
amiga, avisando-a que estou saindo. Sei que ela, provavelmente,
está se corroendo de curiosidade, mas agora, eu não posso fazer
nada, além de respirar fundo e tentar colocar os meus sentimentos e
a minha cabeça no lugar. É hora de ser racional e calar as emoções
barulhentas que julguei terem enfraquecido ao longo dos anos.
Entretanto, foi só ver Atlas com sua figura altiva e impressionante,
para fazê-los saírem das profundezas, criando um caos que preciso
remediar imediatamente.

Ludovika: Anne, estou com uma enxaqueca terrível e resolvi


ir para casa um pouco mais cedo. Feche tudo e confira todas as
portas, até amanhã. Beijos.

O caminho para casa não é suficiente para espairecer, mas


assim que entro em meu lugar seguro, tiro os saltos e respiro fundo,
me sentindo muito melhor. Essa sou eu, simples, minimalista e
básica até demais. Aceitar quem eu sou e sentir orgulho de quem eu
me tornei, são as principais coisas que preciso fazer para entender
e mostrar pro meu coração que Atlas não tem espaço em minha
vida. Somos completamente opostos.
Ludovika Pavlova. Descendente de russos, a ovelha
desgarrada da família, uma pessoa simples que não se importa com
moda ou coisas extravagantes. Alguém absolutamente comum,
apesar dos vistosos cabelos ruivos, que sempre atraíram mais
atenção do que deveriam.
Me olho no espelho, esperando ter algum tipo de revelação,
ou algum choque de autoestima, mas não sinto absolutamente
nada. Os meus olhos claros estão arregalados, ainda em choque
por toda a avalanche de sentimentos que estou vivenciando desde o
momento em que bati os olhos em Atlas novamente. Meus cabelos
ruivos e lisos não são interessantes, e ouso dizer que estão
levemente ressecados. Estatura média, um corpo magro, mas sem
nenhum tipo de definição, vestido com roupas simples demais para
alguém sequer fazer qualquer tipo de comparação.
Eu não me acho feia, pelo contrário, no geral, sei que sou
bonita. Mas, quando comparada à Dafne, cheia de procedimentos
estéticos para melhorar a cada dia mais a sua aparência, já
ridiculamente perfeita, eu pareço alguém medíocre. E corada
demais, por conta de apenas um encontro profissional com uma
figura do passado.
Sei que meu coração é bom, que meu caráter é, no mínimo,
maior e melhor do que o dela, já que pulou de irmão para irmão,
acabando com a harmonia da família. Mas nada disso importou para
ele antes, e duvido que isso seja relevante agora.
E isso diz muita coisa sobre nós dois…
Eros soube que tinha algo errado assim que entrei em sua sala de
aula, meio desnorteado com a conversa que tive com a Ludo
poucos minutos atrás. Mas, ele não disse nada durante todo o
trajeto, com os olhos arregalados, provavelmente, pensando no
motivo de ter saído mais cedo da colônia de férias.
Eu sei que não fiz bem em parecer tão frio e distante,
principalmente, porque agora sei que seus problemas de
comportamento não se manifestam apenas quando falamos de
Dafne, têm refletido em suas ações com outras crianças. Para o
bem ou para o mal, meu filho puxou muito do meu temperamento e
sei que quando nos frustramos ou as coisas não saem como
esperamos, temos a tendência de nos fecharmos e mantermos a
distância. Eros, mesmo sendo tão novo, aprendeu bem até demais a
lidar com os fatos e com seus sentimentos dessa forma, e como pai,
sinto um aperto grande no peito ao perceber isso. Afinal, nossa
relação se dificulta a cada dia que ele passa vivendo dessa forma.
Eu preciso saber o que tem acontecido, o que se passa com
ele, para ajudá-lo. Perceber que não somos próximos o suficiente
para ele vir até mim falar sobre esse tipo de coisa, me deixa
completamente desnorteado, frustrado e puto.
Talvez, isso não tenha só a ver com meu filho e também,
porque, reencontrar Ludo, depois de tanto tempo, principalmente
nesse período conturbado da minha vida, me fez repensar muitas
coisas. Se Dafne nunca tivesse existido, provavelmente, as coisas
teriam sido muito diferentes para nós dois.
Mas, agora não é o momento para pensar nesse tipo de
coisa. Eros é o mais importante. Sempre será.
— Filho… — digo, assim que entramos em casa, e ele me
olha apreensivo.
— Eu estou encrencado? — sua vozinha baixa me quebra, e
percebo o quanto ele se encolhe ao pronunciar essas palavras,
coisa que nunca fez antes, pelo menos, não comigo.
— Não está, — digo firme e percebo que ele relaxa
minimamente. Me sento no sofá, dando duas batidinhas ao meu
lado para que ele venha se sentar — mas precisamos conversar. —
concluo, assim que ele chega mais perto.
Eros não fala nada, provavelmente, esperando por uma briga,
mas eu seguro a sua mãozinha antes de continuar: — Filho, o que
está acontecendo? A diretora me ligou, falando que você teve mau-
comportamento na colônia de férias…
— Ele me provocou. — Eros me interrompe, falando alto,
tentando se defender.
— Eros… não importa quem começou. Quero entender o
porquê de você estar agindo dessa forma. Nunca foi assim antes,
nunca tivemos trabalho com seu comportamento. — questiono, e ele
parece triste e envergonhado. Abaixa a cabeça e começa a chorar
baixinho.
A cena parte o meu coração.
— Me desculpe, papai. — ele fala baixo, e preciso respirar
fundo duas vezes, antes de continuar a conversa.
— Eu te desculpo, filho. Quero entender o que está
acontecendo…, aconteceu alguma coisa? — percebo que ele pensa
por alguns segundos, provavelmente, analisando se me fala ou não,
mas no fim, opta por se manter calado — Converse comigo, Eros.
Tem algo a ver com a sua mãe?
Ele olha para mim assustado, mas nega com veemência, antes de
abaixar a cabeça de novo.
— Eros! — falo um pouco mais alto, e ele se assusta. Não
era a intenção, mas parece ter funcionado, porque ele começa a
falar.
— Eu não gosto de ficar só com ela… mamãe não tem
paciência… e, às vezes, quando eu faço coisas erradas, ou que ela
não goste… — sua fala é pausada e o garoto parece ter grande
dificuldade em falar sobre esse assunto, o que me desperta vários
tipos de alarmes mentais.
Dafne tem feito algo contra ele. Do contrário, Eros não seria
tão avesso a estar com a própria mãe, afinal, éramos casados e
morávamos juntos até pouco tempo atrás. Não é uma pessoa
estranha para ele.
— Dafne tem te tratado mal? — Eros não responde, e eu
sinto um ódio tão grande se apossar de mim que mal percebo o que
estou fazendo — Filho, ela te bateu?
— Eu mereci. — ele fala, aumentando o choro de uma
maneira tão absurda, que sinto cada molécula do meu corpo se
contorcer de raiva.
— Você não merece! — falo com firmeza, e puxo meu
menino para o meu colo, beijando sua testa.
Ficamos assim, juntos por algum tempo, até suas lágrimas
cessarem e meu ódio diminuir um pouco. Um amparando ao outro,
criando um vínculo ainda maior do que já tínhamos.
Preciso tomar uma atitude e, pelo que percebi, as coisas são
piores do que eu sequer pude imaginar um dia.

***

Assim que coloco Eros para dormir, depois de uma sessão de


videogame e um jantar repleto das coisas que ele mais gosta de
comer, na tentativa de alegrá-lo, começo a pensar no que fazer.
A minha vontade era simplesmente tacar o foda-se e não
permitir que Dafne voltasse a ver meu filho. Se essa desgraçada
não tem amor por ele e o trata tão mal, Eros está melhor comigo do
que com ela, nessa guarda compartilhada ridícula. Mas sei que
preciso ser frio e calculista nesse momento. Se eu fizer isso, não
pegará bem aos olhos do juiz. Meu objetivo é conquistar a guarda
total, finalizar esse divórcio absurdo e ter paz em nossas vidas.
Depois de quase duas horas com meu advogado ao telefone,
ouvindo todo tipo de conselho possível para fazer com que ela
confesse e eu consiga gravar essa ligação, e ao mesmo tempo, me
acalmando o suficiente para não meter os pés pelas mãos, ligo para
ela: — Precisamos conversar, Dafne. — digo sério e sinto ela bufar
do outro lado da linha, antes de me responder: — Pode falar. —
escuto ela tentar abafar o volume do telefone e falar baixo: "Espera
aí que o chato está ligando, já já continuamos, gostoso". Reviro os
olhos, mas não digo nada, esperando a sua boa vontade — Certo, o
que foi dessa vez?
— Não se esqueceu de nada? — pergunto baixo, com uma
voz tão fria que sinto orgulho de mim mesmo e ela começa a
gaguejar.
— Ele não estava lá, a babá se certificou. Não esqueci Eros
na colônia de férias! — sua tentativa de defesa é medíocre, e eu
tenho vontade de socar alguma coisa.
— Claro que ele não estava. A diretora me ligou para falar
sobre o seu mau comportamento e eu fui buscá-lo. O que muito me
admira é saber que você não se preocupou em saber o motivo de
você deixar a criança em um lugar, e quando vai buscá-la, ela não
está.
— Bom, é lógico que eu supus que você já o havia buscado.
— E não me ligou para se certificar? Vejo que está realmente
muito ocupada.
— Olha aqui… — ela começa a aumentar a voz de um jeito
anasalado que eu tanto odeio, e eu a corto.
— Dafne, eu não estou nem aí para o que você está fazendo,
com quem ou onde. Eu só quero que o meu filho seja bem tratado e
nos dias em que você está com a sua guarda, que ele seja a sua
prioridade. É o mínimo. — digo, e minha mão começa a tremer
levemente quando ela começa a falar: — Olha aqui, você não pode
sair me acusando dessa forma. Meus advogados vão saber dessa
coerção e, principalmente, que você pegou o menino no meu dia.
Isso é contra a lei, e com certeza, contará pontos para que eu fique
com a guarda dele e que você seja obrigado a me pagar uma
pensão milionária, além do divórcio em que eu, obviamente, vou te
depenar… — o ódio vai crescendo dentro de mim a cada fala, e eu
a interrompo, perdendo a compostura: — Eros me contou que você
bateu nele. — minha voz soa tão ameaçadora, que Dafne se cala
por alguns segundos, provavelmente, buscando uma resposta
rápida para sair pela tangente.
— Isso é um absurdo! — é a única coisa que ela responde,
mas seu tom de voz parece um pouco amedrontado.
— Estou extremamente feliz por ter acabado com essa farsa,
esse casamento de merda, mas não encosta no meu filho. — o
recado está dado, e realmente espero que ela entenda o que estou
dizendo, e principalmente, que saiba com quem está lidando.
— Ele é meu também! — diz em um rosnado.
— Vamos ver, então. — ameaço, e antes que eu possa dizer
mais alguma coisa, ela me corta e diz, parecendo furiosa.
— Se quer guerra, terá guerra, Atlas! Não se esqueça disso!
— ameaça.
— Pode vir, que eu não tenho medo nenhum.
Não mais.
— Como está o nosso crush ultimate? Lindo? Sensual?
Gostoso? Vai me dizer que seu coração não bateu mais forte vendo-
o? Quero saber de tudo! — Anne pergunta, entrando no meu
escritório sem se anunciar, como um furacão.
Consegui fugir da sua inquisição ontem, mas hoje, eu sabia
que não iria ter como escapar.
— Não teve nada demais… conversamos profissionalmente.
— digo de cabeça baixa, tentando esconder a enxurrada de
emoções que eu estou sentindo.
Minha expressão certamente entregaria tudo o que eu estou
tentando, com afinco, esconder.
— Deixa de ser estraga prazeres! Ele não te deu nenhuma
secada? Nadinha? Não é possível, não acredito que nem rolou um
convite pra um café… sei lá. Vocês não eram amigos há anos? —
Anne parece completamente indignada, e eu acho graça da sua
loucura.
— Deixa de ser doida. Claro que não houve nada do tipo…
até porque, eu fui embora fugida e nunca nem me despedi. E,
também, não teve espaço para nada disso. Fui falar com ele sobre o
seu filho estar tendo problemas, o que pensou? Pais não aceitam
com facilidade esse tipo de coisa, ficou na defensiva. — falo rápido,
e finalizo a conclusão com um suspiro.
— Você tem razão. — sua voz parece pensativa, e olho em
seu rosto pela primeira vez hoje, que mantém uma expressão
preocupada — Vou mudar a abordagem. Como você está se
sentindo depois desse encontro inusitado?
Uma pergunta muito mais pertinente, também mais perigosa,
afinal, essa resposta eu não consigo esconder e nem sair pela
tangente. O negócio é que eu realmente fiquei um pouco abalada
com esse reencontro. Vê-lo, depois de tanto tempo, me afetou mais
do que eu gostaria de admitir, e ter que admitir isso em voz alta é
muito mais constrangedor do que deveria ser.
— Bom… eu não sei dizer como eu me sinto realmente, só
que não é exatamente confortável. Eu não queria ter que reviver
todos esses sentimentos de novo, e parece… quer dizer, pelo
menos, pareceu na hora, que eu era a mesma adolescente boba
que foi trocada sem mais, nem menos. Isso não é algo que eu
possa chamar de bom. — meu desabafo faz com que ela murche
visivelmente.
— Eu tinha esperanças de que você fosse dizer que tudo
estava superado e que ficou surpresa com essa revelação. Assim,
poderia seguir a sua vida e se abrir para novas e reais
possibilidades. Mas vamos resolver isso, definitivamente.
— Vamos. — concordo, porque não tenho muito mais o que
fazer, e ela solta um suspiro alto, parecendo pensativa e cansada —
Bom, eu vim aqui para lhe dar um recado também.
— Qual é o problema? — todos os meus alertas ficam ligados
nesse momento, e ela dá de ombros, antes de responder: — Como
você pediu para ficar de olho no garoto, fui à turma dele ver como as
coisas estavam. Tiana me contou que ele parece estar bem pra
baixo, e não quis brincar com nada… Apesar disso, o
comportamento dele não está agressivo, então, você não tem com o
que se preocupar.
Como não me preocupar? Anne só pode estar ficando louca.
— Para baixo, como? — minha voz parece um pouco mais
fina do que de costume, e provavelmente, tenho uma expressão
preocupada no rosto.
— Bom, sentado no canto, sem interagir muito com as
crianças… nada demais. O garoto deve ter tomado uma bronca e
está chateado, sabemos como funciona. — ela tenta me acalmar
com sua expressão tranquila, mas não sei bem se é apenas para
me enganar, ou se realmente está tudo bem.
— Está bom… mais tarde vou conferir se teve alguma
melhora. Obrigada, amiga. — finjo não ligar, para que ela não volte
a me importunar, me acusando de estar preocupada com o menino
apenas por ele ser filho do Atlas, e volto os olhos para os papéis em
cima da minha mesa.
— Claro, estou aqui para isso.
Assim que ela deixa a sala, eu solto um suspiro e tiro os
óculos de leitura, massageando a ponte do nariz. Para mim, é
impossível deixar isso pra lá.
Atlas saiu da minha sala de um jeito abrupto, buscou o menino
antes do horário e se eu bem o conheço não conseguiu guardar
para si todas as informações que eu lhe disse. É claro que eu
gostaria que ele conversasse com o filho e tentasse resolver de uma
vez por todas o que está acontecendo com ele. O problema é que
eu não tenho certeza se ele teve, ou não, tato para isso. Se eu
pudesse apostar, diria que não.
Para lidar com negociações importantes, o CEO é imponente
e cheio de astúcia, mas pelo pouco que vi ontem, ele ainda não
sabe lidar bem com seus sentimentos. Do contrário, teria agido de
forma profissional também.
É isso, eu não vou conseguir me concentrar ou me acalmar
até checar com os meus próprios olhos se Eros está bem e eu não
preciso mesmo me preocupar com ele. Simplesmente, é o mínimo
que posso fazer, já que imagino que ele esteja assim por minha
causa, que chamei o seu pai para conversar sobre o seu
comportamento.
Desço as escadas, passando de sala em sala para dar um oi
para as crianças, apenas para que os funcionários não comecem
com uma fofoca, me envolvendo com filho de certo CEO famoso,
mas, assim que passo pela sala em que as crianças estão
brincando de cabo de guerra, meu coração se aperta. No chão,
sentado em um cantinho, Eros está abraçado aos joelhos, com uma
miniatura de dinossauro em mãos.
Meu coração se aperta e minha cabeça começa a martelar,
tentando entender o que eu devo fazer. Sem que eu perceba, tomo
uma decisão e entro, cumprimentando a todos, vou em sua direção
para me sentar ao seu lado. Seu olhar me acompanha por todo o
caminho, e vejo surpresa quando falo com ele: — E aí, Eros! Tudo
bem? — pergunto, e espero por uma resposta que vem depois de
alguns segundos.
— Tudo bem... e com você? — eu confirmo com a cabeça e
fico olhando para ele, esperando que me conte exatamente o que
aconteceu, já que é nítido que ele não está nada bem.
— E então? — depois de algum tempo, insisto, e ele esconde
o rosto entre as mãos, antes de falar: — Ninguém gosta de mim, eu
sei! — sua afirmação me deixa levemente em choque, afinal, com
absoluta certeza, ele não ouviu isso em lugar algum. Atlas pode ser
bronco e um pouco frio, mas apenas pelos poucos minutos em que
o vi ontem, sei que ele ama o seu filho com todo o coração.
— Claro que gostam, meu amor! Eu gosto. — digo, fazendo
um afago em seu ombro e ele, aos poucos, começa a se soltar, e a
falar entre soluços.
— Eu ouvi papai brigando com a mamãe ontem. Ninguém
gosta de mim, e é melhor eu sumir. — mais um soluço ecoa pela
sala, e percebo que começamos a chamar um pouco mais de
atenção do que eu gostaria, mas é claro que não falo nada disso
com ele — Queria sumir, assim, todo mundo ia ficar feliz.
Que horror! O que será que fez essa criança pensar dessa
forma tão cruel? Não posso acreditar que qualquer coisa que esses
dois tenham dito seja parecido com um pensamento desses. É cruel
e terrível demais para pensar o contrário.
A tristeza do pequeno corta o meu coração como educadora,
mas, principalmente, como uma pessoa humana não consigo ficar
quieta e deixar isso para lá. Simplesmente não consigo, não é da
minha índole.
— Eros, tenho absoluta certeza de que você está errado.
Seus pais te amam, e ficariam muito tristes se você realmente
sumisse. Você confia em mim? — digo tão firme que ele finalmente
tira as mãos do rosto e olha em meus olhos — Eu te garanto que
todos te amam, e mesmo se você, um dia, pensar o contrário e
quiser mesmo sumir, você sabe onde é a minha sala. Pode se
esconder lá, eu deixo e não conto para ninguém.
— Jura?
— Eu juro.
Fico mais algum tempo ao seu lado, e aos poucos, o garoto começa
a se acalmar, se levantando para brincar com os amiguinhos. Me
levanto também, acompanhando-o e Tiana me olha cautelosa,
apesar de não fazer nenhuma pergunta.
Eu simplesmente não sei o que fazer. Ligar, dois dias seguidos, para
Atlas, não é uma boa ideia. Preciso lhe dar tempo para que coloque
a cabeça no lugar e mostre algum tipo de mudança. Só assim, Eros
terá esse comportamento refletido em suas próprias ações.
Uma semana!
Esse é o prazo que eu vou dar para os dois. Se o menino
continuar com esse pensamento e comportamento, vou ligar e
marcar uma reunião com os dois responsáveis, para uma conversa
mais séria.
"A socialite Dafne Marquezine Sanchez voltou para Havdiam, depois
de um período de pequenas férias em um país exótico, ainda mais
loira, bonita e bem-vestida. Vocês podem conferir na página sete,
que seus looks extravagantes e o gosto refinado continuam o
mesmo, apesar do suposto término do seu relacionamento com o
magnata e CEO da Kapaoi Company, Atlas E. Sanchez.
Ela alega para a revista que está cada vez mais focada em seu
crescimento pessoal, seu filho, e principalmente, em reatar o
casamento com o amor da sua vida.
"Qual casal não tem brigas, não é mesmo? Eu e Atlas fomos feitos
um para o outro e tenho certeza de que iremos superar juntos esse
momento conturbado. Pelo menos, estou fazendo tudo o possível
para isso." ela disse, com lágrimas nos olhos.
Essa coluna deseja o melhor para o casal, e que o amor prevaleça,
apesar das diferenças."

Era só o que me faltava.


Receber uma revista de fofoca em minha casa, no sábado de
manhã, e ter que ler o meu nome atrelado ao de Dafne dessa forma
nojenta e completamente fora do contexto.
Vamos voltar? Nem em seus melhores sonhos, ou em meus
maiores pesadelos.
Ela está fazendo de tudo para que nosso relacionamento
volte a ser como era antes? Isso pode até ser uma meia verdade,
afinal, ela nunca fez nada para que ele fosse minimamente bom ou
tolerável, então, não muda muita coisa.
Para azar daquela manipuladora, eu sei o motivo dessas
declarações absurdas, e o ódio que sinto faz com que eu amasse a
revista toda com uma mão só. Algo assim, na mão de um juiz, a
coloca como vítima, e eu como o vilão, o que seria um bom ângulo
para que ela consiga a guarda de Eros, e consequentemente, uma
pensão ainda mais alta.
Sei que falar isso é absurdo, sabendo que muitos pais
negligenciam seus filhos, coisa que eu nunca fiz, nem farei com o
meu, mas Dafne já disse, mais de uma vez, que não quer perder o
dinheiro fácil que deposito todos os meses para os cuidados do
garoto. Além da extorsão, que ela tem mantido no processo de
divórcio, e que pode acabar, se não tiver controle, ela quer angariar
um bom dinheiro todos os meses sem fazer esforço algum, como a
dondoca que sempre foi.
A ideia de tê-la encostando mais um dedo sequer em Eros,
faz com que eu me contorça de raiva. Poucos dias depois de saber
o que ela faz com meu filho quando está com ele, ter que ler tantos
absurdos me dá vontade de socar alguma coisa, vomitar ou as duas
coisas ao mesmo tempo. Parece que, cada vez mais, o peso do
mundo está nas minhas costas, uma analogia sarcástica e até um
pouco sádica quando me lembro do meu nome.
Atlas Sanchez, o maior otário de Vongher, muito prazer.
Solto uma risada sarcástica enquanto tomo o meu café
amargo e escuto o telefone tocar. Porra! Em pleno sábado de
manhã? Nem um minuto de paz nessa merda de vida!
— Sanchez falando. — atendo sem nem olhar no visor, e a
voz imponente do meu pai ressoa do outro lado da linha.
— Não seja intransigente, eu sou Sanchez, você é apenas
Atlas enquanto eu viver. — talvez, esse realmente seja o jeito dele
de demonstrar bom humor.
— Certo, pai. Aconteceu alguma coisa? — pergunto,
deixando sua provocação de lado, porque, a esse ponto, tudo o que
eu menos quero é uma discussão. Mas, isso, provavelmente, não é
a mesma ideia dele, que começa uma ladainha ensaiada sobre
como as planilhas do financeiro da empresa não estão sendo
enviadas para o seu e-mail particular, apenas para o empresarial.
— … isso é um absurdo. Uma falta de respeito tremenda! Os
funcionários do financeiro têm que saber o quanto eu sou importante
para aquela empresa! Afinal, apesar de você ser o CEO, eu ainda
sou o dono de tudo aquilo e não estou sendo tratado como tal! —
reclama, como se realmente tivesse alguma razão, e eu me seguro
muito para não ser mal-educado. Uma tarefa bastante árdua, se
quer saber.
— Pai, você recebeu em seu e-mail corporativo. Ninguém é
autorizado a receber informações em seus e-mails pessoais. É uma
regra da empresa, e eu não vou passar por cima disso, nem abrir
uma exceção para você. Nosso e-mail corporativo é protegido de
hackers, o seu pessoal não. E, como é uma cortesia te mandar
esses relatórios, já que você não atua mais, diretamente, nessa
empresa, espero que entenda e abra o e-mail corporativo criado
para você, quando quiser ter acesso às informações. — mantenho a
minha voz firme, mas tento não soar desrespeitoso.
Dimitri Sanchez fica alguns segundos em silêncio e fala, em
um tom de voz calmo e calculado: — Você sabe que está no poder,
mas que a palavra final é minha. E que, se eu quisesse voltar, eu
poderia. Não é? — sua ameaça é explicita, e eu reviro os olhos,
antes de respondê-lo.
Estou totalmente exausto de ameaças vazias e longe de
estar em um dos meus melhores dias.
— Faça esse favor para mim, então. Eu agradeceria
bastante, já que, assim, eu poderia realizar o meu sonho e abrir o
meu próprio negócio, bem longe daqui! Se for só isso, passar bem
papai. Também sinto a sua falta. — falo exasperado, e concluo
desligando o telefone logo em seguida — Tudo isso parece tão
absurdo, que fico chocado comigo mesmo por não ter explodido
antes.
Ser CEO da Kapaoi Company não foi algo que eu quis,
almejei, nem mesmo gosto de fazer. É apenas uma obrigação que
cumpro por ser o mais velho, e por Apolo ter abandonado a família e
todo tipo de responsabilidade. Talvez, se ele fosse realmente
apaixonado pelos vinhedos e produções de Whisky, eu poderia
passar a cadeira de bom grado e seguir em outro caminho mais
tranquilo. Mas, a vida não é assim, nunca foi e nunca será. Apenas
mais um motivo para eu sentir tanta inveja e gostar tanto de irritar
meu irmão mais novo, apesar de ter pouquíssima convivência com
ele. No fim, com Atena sendo uma cabeça de vento, muito mais
nova do que nós dois, toda a responsabilidade sobrou pra mim.
Aparentemente, ninguém está nem aí se isso tem me
consumido ou não. Como sempre, me vejo batalhando sozinho por
todos os momentos difíceis e cruciais da minha vida. Apesar de
estar de saco cheio de todas as ameaças e discursos ensaiados,
me cobrando uma boa conduta ou que eu sirva aos seus interesses,
eu ainda me mantenho firme com a fama de bom moço, acatando a
tudo o que me pedem e me sentindo um bosta.
Carrego o mundo em minhas costas, com um sorriso no
rosto, mas só queria sumir com o meu filho para qualquer outro
lugar, deixando todo esse caos para trás.
Analisando os papéis das matrículas, percebo que,
felizmente, nossa colônia tem sido um grande sucesso. Os pais
estão matriculando seus filhos no ensino integral, para que sigam o
ano letivo aqui, abandonando as suas antigas escolas. Isso quer
dizer que afortunadamente, eles gostaram do tratamento que damos
às crianças, e principalmente da nossa competência.
Meu coração se alegra demais com isso e mal posso esperar
para contar as novidades à Anne. A turma de três anos está quase
completa e sobraram poucas vagas para o berçário também.
Só de pensar nela, vejo a porta do meu escritório se abrir e a
minha amiga entrar com uma expressão preocupada. Não era isso
que eu tinha em mente quando pensei em falar com ela e seu
comportamento me deixa em alerta.
— Ludo, temos uma situação e acho que preciso da sua
ajuda. — esse tipo de pedido, vindo de Anne, nunca é bom sinal e
por isso, fico em alerta no mesmo minuto.
Minha amiga, com certeza, não falaria comigo sobre algo
assim se não fosse importante, o que me aterroriza ainda mais.
— O que aconteceu? Quem se machucou? — pergunto, me
levantando, pronta para acompanhar, quem quer que seja, até o
hospital mais próximo, já com o celular em mãos para conversar
com o possível pai e acalmá-lo.
— Ninguém se machucou, fique tranquila. Mas, o nosso
garotinho problema aprontou de novo, e infelizmente, as coisas
estão fugindo um pouco do nosso controle. — ela reclama,
aparentando estar com raiva de si mesma — Sei que não queremos
falar sobre o papai bonitão, principalmente, entrar em contato com
ele. Se você quiser, posso fazer isso tranquilamente, mas está
quase na hora de irmos embora e ele sumiu.
Sinto o sangue do meu corpo congelar, e provavelmente, a
minha expressão é de puro terror, porque ela precisa me acalmar,
antes de me contar o que realmente aconteceu: — Não… relaxa.
Ele não sumiu de verdade. — pisco sem entender, e ela continua —
Tiana ouviu-o contando para Matias que queria sumir, blábláblá.
Então, depois da natação, ele se escondeu.
Aguardo mais informações, porque não sei bem como agir, e
ela faz um afago em meu braço, antes de continuar: — Já o
localizamos pelas câmeras de segurança, ele está escondido no
parquinho, embaixo do escorregador. Mas esse comportamento não
é nada normal. Precisamos entrar em contato com a família
novamente, pois, por mais que saibamos onde ele está e que não
está correndo nenhum perigo, em sua cabecinha pequena e
confusa, ele imagina que está invisível, e assim, ninguém irá achá-
lo.
Solto um suspiro audível, segurando as lágrimas que querem
muito rolar pelo meu rosto e confirmo com a cabeça. Eu tinha dado
um prazo de uma semana para mim mesma, mas agora, sei que
não posso esperar mais, não depois disso. Preciso enfrentar essa
barreira e falar novamente com Atlas sobre seu filho.
Provavelmente, com Dafne também, aquela mocreia falsificada.
— Eu vou ligar para os pais, pode deixar. Obrigada por me
contar, Anne. — ela faz menção de falar alguma coisa, mas eu a
corto com um aceno de mão — Sou a diretora e essa é a minha
função. Não vou fugir das minhas responsabilidades porque me
sinto desconfortável com um pai, é a vida.
— Estarei na sala ao lado para tudo o que precisar, você
sabe disso.
— Obrigada!
— E o que eu faço com o garoto? — ela pergunta antes de
sair, e eu dou de ombros.
— Se não correr nenhum risco, deixa ele lá. Vamos descobrir
o que fazer com essa situação e pedirei para Atlas resgatá-lo, acho
que pode ser menos traumático do que alguém desconhecido. —
digo, tentando raciocinar rápido.
Nas outras unidades do interior existia muito menos drama,
com certeza. Ainda não havia sido treinada para tantos problemas
assim. Esse comportamento não é normal, e se os pais estão
sofrendo de alguma forma, acredito que ele esteja mil vezes mais. E
é algo que não deveria estar acontecendo, de forma alguma, com
uma criança.
Disco o número, que eu não deveria ter decorado, e começo
a morder a unha do dedão, levemente ansiosa. A voz potente e
grave me atende do outro lado, falando apenas um “Sanchez”, e
logo, todos os pelinhos do meu braço ficam arrepiados.
Como alguém pode ter esse efeito sobre mim depois de
tantos anos? Se concentra, Ludovika, você não está ligando para
bater papo, e sim, para falar de um assunto sério.
— Sou eu… Ludovika. — digo em um tom baixo, e escuto
quando ele solta um suspiro parecendo extremamente cansado.
— O que aconteceu, Ludo? Ele está bem? Se machucou? —
sua voz contém uma preocupação genuína, e não posso negar que
fico um pouco admirada. Nem todo pai se doaria tanto assim para
uma criança. Geralmente, esse papel fica com as mães.
— Bom, ele ainda está dando certo trabalho, mas não se
machucou, nem apresentou novos comportamentos agressivos com
outros colegas. — digo baixo, e ele parece ansioso pelo que está
por vir — Mas, agora, ele parece ainda mais triste e infeliz do que
antes. Outro dia, me disse que seria melhor sumir para fazer com
que você e a sua esposa parassem de brigar. Tentei tirar essa ideia
da sua cabeça, mas pelo visto, não adiantou muito, porque ao final
da aula ele se escondeu debaixo de um escorregador e tem certeza
de que ninguém irá achá-lo.
— Ele… Meu Deus! — sua voz parece perdida, e tento
consolá-lo o máximo possível.
— Ele está bem, Atlas, prometo que está. Estamos vigiando-
o através das câmeras de segurança, não corre nenhum perigo,
porém, hoje, foi dentro da escola, amanhã, pode ser na rua e as
coisas ficarem cada vez piores e mais perigosas.
— Sei disso, mas não consigo pensar em nada que possa
fazer para melhorar as coisas pro meu filho. Você não faz ideia de
como tem sido horrível esse período… desculpe te dar tanto
trabalho. — sua voz parece quebrada, e me lembro do menino de
anos atrás, que só se abria comigo, enquanto para o resto do
mundo se mostrava uma fortaleza impenetrável.
— Estou aqui para te ajudar o quanto for possível, mas certas
coisas precisam vir dos pais. Sabe disso. — digo, sem saber como
agir nesse caso, e ele confirma com um murmúrio.
— Acho que sei por que ele está agindo dessa forma. É o dia
de Dafne ir buscá-lo, e depois do que descobri, entendo o motivo de
tanta aversão. Porém, infelizmente, o juiz ainda não me deu a
guarda total e ela tem o direito de estar com ele também. — Atlas
parece se sentir tão culpado, que mesmo não tendo nada a ver com
a história, e mesmo sabendo que posso me machucar muito com
toda essa proximidade, digo: — Há algo que eu possa fazer para
ajudar? — pergunto, e escuto sua risada depreciativa do outro lado
da linha.
— Essa é a minha Ludo. Mesmo depois de tantos anos e do
que eu fiz para você, ainda é a melhor pessoa que eu já conheci.
Nunca irei merecer nada que me oferecer, sabe disso. — ele fala, e
sinto meu coração parar por alguns segundos — Preciso me
desculpar. Por isso…, por tudo…, não sei mais.
— Atlas, não precisa…
— Preciso sim. Você era a melhor coisa que existia na minha
vida, e por uma besteira, uma vingança ridícula contra Apolo, e
depois de todas as consequências que esses escolhas causaram,
nós nos afastamos.
— Não sei o que dizer. — falo, porque realmente não sei. O
pedido de desculpas que eu sempre quis ouvir, veio de uma forma
tão inesperada que não sei como agir.
Tudo parece completamente surreal, mais do que isso,
parece inadequado quando há assuntos mais importantes para
tratarmos. Eros é mais importante do que tudo nessa situação.
— Atlas, precisamos resolver a situação com Eros… De
resto, o que passou, passou. — digo, depois de um tempo em
silêncio e o escuto concordar comigo do outro lado da linha: — Você
tem razão, eu estou sendo sentimental e pouco prático. Vou ligar
para Dafne e contar sobre a situação, não posso pegá-lo novamente
sem que ela reporte ao juiz que estou agindo de má fé e
monopolizando o tempo de Eros. — ele parece tão revoltado ao
dizer isso, que tento me conter para não perguntar sobre a relação
dos dois e sanar a minha curiosidade.
— Bom, o que eu faço, então? — questiono — Ele ainda está
escondido. Vou encontrá-lo? Entrego-o para a mãe na hora da
saída?
— Se puder, converse com ele e explique que eu estou
tentando resolver tudo. Pode ser que, ouvindo isso de outra pessoa,
ele realmente entenda. Vou acionar meu advogado e pedir uma
medida mais rápida, talvez alegar algum tipo de urgência. — ele
tenta raciocinar e conclui — Duvido muito que Dafne o busque
pessoalmente, então, não vai adiantar muita coisa falar com a babá.
Mas diga que está de olho no comportamento e na saúde física
dele, porque esse recado será passado, e é tudo o que eu posso
fazer por enquanto. — ele conclui, parecendo muito cansado.
— Ninguém pode resolver todos os problemas do mundo,
Atlas. Às vezes, é bom entender isso… — tento consolá-lo, como
fazia anos atrás e seu tom de voz tem uma leve melhora.
— Sei que pode parecer estranho…, mas eu sinto muito a
sua falta, Ludo. Sinto que é, literalmente, a única que um dia me
entendeu. — ficamos em um silêncio constrangedor por alguns
segundos, eu sem coragem alguma de responder qualquer coisa a
esse homem enlouquecedor, ele, provavelmente esperando por
algum tipo de encorajamento para voltar a falar. Mesmo que eu não
expresse nenhum tipo de aprovação ou recusa, ele continua —
Você topa jantar comigo? Pelos velhos tempos?
— Atlas…
— Eu sei. Sei que não tenho o direito de te pedir isso. Mas, é
algo de que eu gostaria muito.
Respiro muito fundo, com o coração extremamente acelerado
e confirmo com a cabeça, mesmo sabendo que ele não pode me
ver, antes de falar, com uma voz baixa e trêmula: — Me mande o
endereço por mensagem. — o que pensa que está fazendo,
Ludovika?
Eu não sei aonde estava com a cabeça quando sugeri esse
encontro. Quer dizer, não é do meu feitio sair convidando mulheres
para conversar… muito menos, professoras e pessoas que estão
diretamente envolvidas no dia a dia de Eros. Mas, com Ludo é tão…
diferente, e me desperta tantas memórias boas que eu não consegui
evitar, quando vi, já tinha falado.
Vi em seu olhar, quando nos reencontramos, toda a mágoa que ela
sente, e apesar de não ter parado para pensar muito sobre o
assunto, tentando evitar o sentimento de culpa, quero consertar as
coisas. Ela merece muito isso, e para ser sincero, eu também.
Nossa história foi completamente atropelada no meio do caminho e
a grande amizade que sempre tivemos ficou perdida pelo caminho.
Não me lembro de nenhuma memória de infância sem os cabelos
ruivos e longos ao meu lado. Principalmente, não consigo me
lembrar de um dia sequer ter me sentido mais em casa do que ao
seu lado.
O sentimento pode ter sido completamente equivocado por
muito tempo, e apesar de considerá-la minha melhor amiga, sempre
soube que ela sentia algo a mais por mim. Por um tempo foi
recíproco, foi verdadeiro e o que era apenas amizade, se
transformou em algo mais colorido. E foi aí que eu caguei com tudo,
sem nenhum tipo de responsabilidade emocional, sem nenhum
respeito… sem nada.
Ela merecia mais, e ainda merece, com certeza.
Mas, como não sentir falta da única pessoa que me entendeu
verdadeiramente? Como abrir mão dessa oportunidade que o
destino está me dando de fazer o certo dessa vez?
Ludo foi e ainda é a única mulher em que eu consegui
confiar. Seu coração sempre foi bom, seus pensamentos sempre
foram alinhados aos meus, e com absoluta certeza, hoje, preciso de
seus conselhos incríveis. Talvez esteja sendo egoísta ao ansiar isso
dela, depois de tantos anos. Fiz minha escolha e estou arcando com
as consequências da forma mais amarga possível, mas ela merece
um pedido de desculpas, uma explicação.
Ela merece muito mais do que isso, na realidade e,
provavelmente, eu não sou a pessoa mais digna que existe para
oferecer tudo isso a ela. Mas, ela topou um jantar, e não consigo
ignorar o sinal de que ainda há um restinho de esperança para que
eu volte a sorrir de verdade novamente.

***
Ludovika está tão atrasada, que começo a cogitar ter tomado um
bolo. Sentado no bar do melhor restaurante da cidade, observo cada
um dos novos clientes que adentram o local, na esperança de ver
seus cabelos avermelhados e seu olhar bondoso. Mas, a cada nova
pessoa, uma nova frustração.
Será que ela aceitou de propósito, sabendo que não viria,
para me dar algum tipo de troco? Não é do seu feitio… ou, pelo
menos, não era.
Quando estou prestes a ir embora, avisto uma mulher
maravilhosa entrando no lugar, com os cabelos presos em um
coque frouxo, o corpo curvilíneo coberto por um vestido verde-
esmeralda simples, mas perfeito no conjunto. Ludo caminha em
minha direção, parecendo envergonhada.
— Me desculpe pelo atraso. Não consegui fechar a escola
mais rápido… e ai, uma coisa leva à outra… espero que não esteja
esperando há muito tempo.
— Não tem problema nenhum. — respondo, abrindo um
sorriso, que ao mesmo tempo é de alívio por ela ter aparecido, mas
também de admiração — Você está linda. — comento, e seu sorriso
envergonhado passa a ser genuíno.
— Obrigada! Estou morrendo de fome, vamos nos sentar? —
seu jeito espontâneo de sempre me alegra, e com uma mão na base
da sua coluna, eu a conduzo até a mesa.
Peço um vinho quando nos sentamos, e depois de um breve
silêncio constrangedor, eu começo a falar: — Quero te agradecer
por ter vindo e me dado essa oportunidade. Nenhum tipo de
desculpa que eu possa dar será o suficiente, mas quero que saiba
que estou arrependido de todo o coração pelo que aconteceu no
passado.
Ludovika me estuda por algum tempo, seus olhos astutos
tentando entender o que eu estou querendo dizer. E quando diz,
tenho certeza de que está disposta a saborear esse encontro de
todas as formas possíveis.
— Você está se desculpando pelo que, exatamente?
— Bom… — sinto que, dessa vez, eu quem estou
envergonhado, mas continuo, com humildade — Sei que meu
relacionamento com a Dafne te pegou de surpresa, já que
estávamos juntos, mesmo que sem rótulos, na época.
— Todos ficaram surpresos, inclusive o seu irmão, suponho.
— ela fala de uma forma sarcástica, mas seus olhos parecem
tristes. Sua fala ácida é um mecanismo de defesa, está nítido, e
inclusive, faço o mesmo.
— Bom, é claro que eu fui um imbecil na época. Me
arrependo a cada segundo do meu dia, por ter feito isso com Apolo.
— ela levanta as sobrancelhas, parecendo surpresa, e ao mesmo
tempo, com uma expressão divertida — Não exatamente por ele, é
claro. Mas Dafne, simplesmente, é a personificação do demônio. —
concluo, e por mais que ela não queria demonstrar, percebo que
fica, ao menos um pouquinho, satisfeita com a informação.
— Uma boa maneira para descrever a Barbie falsificada. —
ela resmunga, baixo, mas não deixo de escutar. Antes que eu possa
fazer qualquer comentário, achando graça do seu apelido, ela
continua: — Bom, sinto muito pelo seu casamento. Apesar de tudo,
nunca te desejei mal, e o lado bom é que você saiu dessa história
com um presente incrível.
Franzo a testa, tentando entender do que ela está falando, e
seu sorriso me deixa levemente desconcertado.
— Estou falando de Eros.
Ah, sim… é claro.
— Ele realmente é um garoto de ouro. Atualmente, é a única coisa
que me mantém são, e ao mesmo tempo, não me deixa desistir.
— Está sendo difícil para ele também. — ela fala baixinho,
como se sentisse empatia e preocupação também pelo meu filho.
— Bom, está. Dafne nunca foi uma mãe presente, nunca lhe
deu carinho, e agora, com o divórcio, tem aproveitado da situação
de maneiras tão nojentas que você nem imagina. Como não estou
mais supervisionando o tempo inteiro, sei que já aconteceu até
agressão física. — fecho o punho em cima da mesa, com tanta
raiva, que mal consigo me controlar. Mas, com um tom mais baixo,
respondo — Eu vou conseguir a guarda total, sei que vou. Nem que
eu precise comprar o juíz.
Ludo parece mortificada com a minha afirmação. Seus olhos
arregalados e surpresos dizem por si só, mas ela me responde com
um tom muito bravo: — Nunca gostei dela, mas agora, Dafne
realmente entrou para a lista das piores pessoas que eu já conheci
em toda a minha vida. — sua afirmação é absoluta, e eu confirmo
com a cabeça.
— Eu também. O que uma rebeldia adolescente não faz, não
é? — solto uma risada depreciativa e ela estreita os olhos.
— Como é?
— Eu nunca gostei dela, só queria provar que podia quebrar
as regras de vez em quando. Sabe como Apolo sempre fazia
questão de me irritar de propósito em toda ocasião possível, foi
juntar um mais um, e voilá, a pior escolha da minha vida foi feita. Se
eu pudesse voltar atrás, faria tudo diferente… — literalmente. Nunca
deixaria essa mulher incrível escapar duas vezes. Hoje, sei que
perdi a oportunidade da minha vida também.
Ludo me olha por algum tempo, mas antes de ela continuar, somos
interrompidos pelo garçom, que parece ansioso para anotar os
pedidos.
— Mas, me conte sobre como você, sendo muito mais
corajosa do que eu, largou os negócios da família Pavlova para abrir
a sua própria rede de sucesso. — mudo o assunto para águas mais
tranquilas, e seu sorriso é genuíno quando começa a me contar
tudo.
Nosso jantar corre bem, por assuntos muito mais amenos,
onde preenchemos as lacunas de todos os anos em que ficamos
sem nos ver, sem tocar novamente no assunto “relacionamentos”.
Chega de drama desnecessário e desconfortável.
— Bom, foi uma noite agradável. — Ludo diz, na porta do
restaurante, e eu confirmo com a cabeça.
— Muito obrigado pela oportunidade de conversarmos, você
não sabe o quanto adorei a sua companhia. — digo com
sinceridade, deixando toda a postura seca e máscula, que adoto em
todos os âmbitos da minha vida, de lado por alguns minutos.
Ludovika sempre teve o melhor e mais real de mim, e não poderia
ser diferente nesse momento.
— Eu também. — ela tira o aparelho celular da bolsa e
começa a pedir um carro de aplicativo, mas antes que possa
concluir o pedido, seguro seu braço, a impedindo.
Quando ela pediu para que eu mandasse o endereço, pensei
que queria algum tipo de distância, mas nunca me passou pela
cabeça que ela viria dessa forma.
— Eu vou te deixar em casa, é claro. — digo firme e ela me
olha confusa, antes de abrir um sorriso sem graça e negar com a
cabeça.
— Não precisa, vai te dar trabalho.
— De jeito nenhum, eu insisto! Além de eu nunca aceitar algo
assim, é perigoso para você agora durante a noite. Eu sou um
cavalheiro e não posso aceitar essa possibilidade, sabe disso. Você
vem comigo. — respondo autoritário, e ela dá de ombros, sabendo
que eu nunca aceitaria não como resposta.
— Tudo bem. — dá de ombros.
Ludovika termina sua frase e o meu carro chega com o
manobrista. Abro a porta do carona para ela, que parece
envergonhada, mas tem um sorrisinho no rosto, antes de me dirigir
para o meu banco.
— Tem preferência por alguma música? — pergunto, ligando
o rádio, e ela nega com a cabeça.
Conversamos amenidades durante o trajeto, que é mais curto
do que eu gostaria, e assim que chegamos à porta do seu prédio,
não sei bem como agir. Começa a tocar uma música romântica que
fez muito sucesso anos atrás, e a memória de uma Ludo mais nova,
cantarolando a canção sem parar, me invade em cheio. Antes que
eu perceba o que estou fazendo, me aproximo mais e mais, até
quase colar meus lábios nos seus.
— Atlas, não… — os lábios cheios de Ludo roçam nos meus
quando ela fala.
Se eu fosse uma pessoa melhor, me afastaria. Não seria
justo com Ludovika, invadir a sua vida sossegada e bem-sucedida
com o meu caos, mas como o egoísta que sou, não me afasto. Ao
invés disso, ergo uma mão e coloco uma mecha de cabelo ruivo
atrás da orelha delicada, antes de deslizar as pontas dos dedos pelo
rosto bonito, como fiz tantas vezes naquele tempo.
Quando Ludovika fecha os olhos e se inclina ao meu toque,
não resisto. Os lábios macios e cheios se movem contra os meus de
forma cadenciada e quase tão levemente quanto o toque de suas
mãos delicadas em minha nuca. Um encerramento e tanto para a
noite perfeita que tivemos: no carro escuro, escondidos do resto do
mundo, como fizemos no passado, estou beijando Ludovika Pavlova
e é ainda melhor do que costumava ser.
Estou beijando Atlas Sanchez.
E o beijo é completamente delicioso. Imoral. Enlouquecedor. Bem,
pelo menos, depois que perdi totalmente o senso e o agarrei com
tudo de mim. Claro que o meu acompanhante também teve sua
parcela de culpa nesse evento desastroso e inesquecível.
Os lábios de Atlas parecem ter sido feitos para serem beijados,
apreciados e para que eu me desmanche em todas as vezes que
eles tocam os meus. Fazia tanto tempo, que eu cogitei estar ficando
louca com todas as lembranças. Quantas vezes não me peguei
pensando que os nossos beijos não poderiam ser tão bons assim, e
que eram apenas as minhas memórias adolescentes gritando alto?
Obviamente, que eu estava totalmente enganada e que, talvez,
minhas lembranças nem façam jus ao quanto esse homem beija
bem. Porque agora, nesse momento, sentindo seus lábios nos
meus, eu tenho certeza de que nunca estive louca. Ou fui beijada
dessa forma por qualquer outro homem com quem me envolvi ao
longo da vida.
Não sei quanto tempo passa enquanto estamos nos beijando, mas
quando nos distanciamos o suficiente para conseguirmos olhar nos
olhos um do outro, ofegantes, um lampejo de consciência me atinge.
Eu estou realmente beijando Atlas dentro desse carro. Isso é mais
do que eu sigo absorver. Como meu coração vai lidar com tanta
informação e lembranças?
— Ludo… — sua voz parece preocupada, mas sua sentença
morre no meio do caminho. Levo minhas mãos a boca, com a
certeza de que pareço uma ameba ambulante, de olhos
arregalados, e digo em voz baixa, tentando soar tranquila ou, no
mínimo, menos apavorada do que estou: — Está tudo bem! — digo,
me recuperando do choque — Sei que fomos levados pelo momento
de nostalgia. Não tem por que se desculpar. — atalho, antes que ele
comece com um papinho furado de que não deveríamos ter feito
isso… ou algo que me deixe ainda mais constrangida — Bom,
obrigada pelo jantar, a noite foi muito agradável e eu espero que
tudo fique bem pra você. E para Eros, é claro.
— Ludo. — ele torna a me chamar, mas eu já estou abrindo a
porta e deixando seu carro. Preciso me afastar dele para entender o
que acaba de acontecer, mesmo que tenha sido incrível.
— Boa noite, Atlas. — digo, antes de fechar a porta e
caminhar em direção ao meu prédio com as pernas ainda bambas.
Assim que entro em meu apartamento, me jogo no sofá, sem nem
tirar os sapatos. Coloco novamente a mão na boca e gargalho como
uma adolescente, de olhos fechados, revivendo o momento em
minha mente. Se alguém me visse nesse vexame de posição,
provavelmente, riria da minha cara, mas não consigo evitar. As
borboletas no meu estômago estão fazendo festa demais para que
eu possa disfarçar.
Depois de anos, eu e Atlas nos beijamos.
Ele me beijou. E foi ainda mais incrível do que antes.
Obviamente, sei que isso não quer dizer nada, por mais nostálgica e
feliz que eu esteja, ainda sou uma mulher madura o suficiente para
não me iludir com esse tipo de coisa. Não posso me iludir. Tenho
que manter os pés no chão e ter consciência de que nós dois não
estamos destinados a ficar juntos, independentemente do quanto eu
quis um dia. Esse será apenas mais um beijo que vai ficar guardado
em meus melhores pensamentos, mas não posso viver a minha vida
novamente em função de um homem que não retribui meus
sentimentos. Foi coisa de momento, e quanto mais eu acreditar
nessa afirmação, menos eu vou me machucar.
Não vou criar nenhum tipo de expectativa de novo. Me recuso
terminantemente.

***

Enquanto passo meu creminho hidratante nos cotovelos, pronta


para dormir, me olho no espelho, analisando bem a Ludovika atual.
Não sei se é porque estou aqui, e Havdiam me traz muitas
recordações, ou se é simplesmente porque da última vez em que
Atlas e eu nos beijamos eu era apenas uma garota, que logo em
seguida foi trocada, mas começo a me analisar, como há muito
tempo não fazia.
Mais cedo, quando estava pesando a decisão de ir ou não àquele
jantar, não resisti e dei uma espiada no site de pesquisas. Atlas e
Dafne realmente formavam o casal perfeito. Seus cabelos escuros e
seu porte másculo contrastado ao cabelo muito loiro e ao corpo
esculpido por plásticas da esposa em questão. Dafne sempre foi
uma mulher bonita e com o passar dos anos, a sua obsessão por se
tornar perfeita, aparentemente, a submeteu a vários tratamentos
estéticos. O que poderia ter dado muito errado para algumas
pessoas, nela, pareceu apenas iluminar e realçar sua beleza
natural. Infelizmente, a Barbie falsificada não tem um mero fio de
cabelo fora do lugar para que eu pudesse encontrar um mísero
defeito, além da sua personalidade horrível.
Não é despeito, nem baixa autoestima, mas como eu poderia
competir com ela no quesito aparência?
Meus cabelos ruivos em corte médio são sem graça, e geralmente,
estão presos em um rabo de cavalo prático. Algumas linhas de
expressão já começaram a aparecer, e não vou mentir que tenho,
sim, um ou outro pneuzinho, apesar de me exercitar
constantemente.
Uma mulher normal.
Com um corpo normal.
Completamente comum.
Nada adequada para um Deus Grego que, com o passar dos anos,
se tornou cada vez mais bonito. Um homem de beleza
extraordinária.
Me repreendo mentalmente, logo em seguida. Que tipo de
pensamento é esse?
Eu não vim ao mundo para competir com nenhuma mulher, por
homem nenhum. Se eu não for o suficiente, ele quem está
perdendo. Quero ser única na vida da pessoa que resolveu estar ao
meu lado. Quero alguém que escolha estar ao meu lado, porque me
admira e me deseja exatamente como eu sou e nada mais.
Com essa injeção de ânimo, um pouco de orgulho e uma
dose extra de amor-próprio, deito-me na cama e me obrigo a dormir.
Amanhã será um novo dia, e eu preciso estar descansada para
continuar a fazer o que eu mais amo: cuidar das minhas crianças e
administrar a minha escola.
Pelo menos, para isso, eu não preciso de homem nenhum.
— Não. Eu não vou aumentar o prazo para a entrega da
mercadoria, vocês vão dar um jeito de honrar com o compromisso!
— grito com o chefe da expedição ao telefone, e em seguida me
arrependo, o que, é claro, não deixo transparecer. Respiro fundo e
com um tom de voz mais controlado, continuo — Se a produção
precisar aumentar a carga horária, que seja. Contanto que a gente
consiga entregar para Hades tudo o que ele comprou e está nos
prestigiando nesse negócio milionário, eu não me importo em pagar
horas extras.
— Senhor… — ele diz, parecendo acuado, mas eu corto
desculpas.
— Não estou disposto a desperdiçar nosso tempo com
conversa fiada. Precisamos fazer essa entrega de qualquer jeito. —
digo, e desligo o telefone.
Aperto as têmporas, com a certeza de que hoje, o dia vai ser
horroroso, e espero muito que as coisas não piorem ainda mais. Os
negócios de Hades estão começando, finalmente, a deslanchar, e
por mais ansioso que eu esteja para ver seu plano realmente dar
certo, para mim, tudo está um verdadeiro caos. O bom de ser seu
único fornecedor de bebidas é que o dinheiro que arrecadaremos é
enorme, em contrapartida, nossa produção para outros clientes está
extremamente atrasada. Uma grande faca de dois gumes, isso sim.
Até ter certeza de que as coisas vão dar certo, eu preciso manter os
pés no chão. Porém, neste meio tempo, todo mundo está uma
grande pilha de estresse, principalmente eu, que preciso manter as
coisas andando e os funcionários minimamente satisfeitos para que
não aconteça nada de errado.
Sinto que a minha cabeça está em uma panela de pressão e,
na dúvida, terei que avisar ao meu amigo de longa data que pode
haver um atraso com a entrega de parte da mercadoria, coisa que
sei que não será nada fácil, conhecendo o próprio diabo em
questão.
— Hades? — falo, assim que ele atende ao telefone, e pelo
som alto do ambiente, sei que ele já está trabalhando, mesmo
sendo apenas duas horas da tarde.
— Atlas! Espero que tenha me ligado para dar boas notícias,
ou para pedir passe vip para a inauguração da Gehenna. Estou
cheio de trabalho para ficar de papo furado… — ele começa a dizer,
e eu não consigo evitar a gargalhada.
— Você realmente está levando a sério essa história de criar
uma boate "inferno" em todas as línguas, né? Qual é essa? Não
reconheci. — pergunto, tentando amaciar seu ego, antes de lhe dar
más notícias.
— Latim. — seu tom parece muito orgulhoso de si mesmo —
Achei interessante… enfim, passes vip, então?
— Na verdade, não. — digo baixo e ele resmunga, mas não
me interrompe — Estou com problema de superprodução, manter
todos os seus sete infernos, mais os outros clientes, está sendo
uma tarefa difícil, a qual ainda não nos adaptamos cem por cento.
Não estou garantindo que irei atrasar, tentaremos ao máximo te
entregar tudo no prazo combinado.
— Sei… — ele responde, parecendo mal-humorado.
— Se a entrega for feita, metade essa semana e metade na
próxima, não te compromete, não é? — digo, tentando manipulá-lo,
mas a esse ponto, sei que ele já sacou tudo.
— Você tem sorte de sermos amigos. — é a única coisa que
o diabo diz, antes de desligar na minha cara.
Bom, eu não vou reclamar. Melhor do que travar uma briga
pelo telefone, sabendo que tenho muito mais a perder do que ele.
Me jogo na cadeira, frustrado com tantos problemas, e a tela
exibe um e-mail bem irritante do antigo CEO da Kapaoi Company.
Dimitri Sanchez, realmente, não consegue largar o osso e continua
se envolvendo constantemente nas decisões da empresa, me
deixando especialmente puto e frustrado com suas intromissões fora
de hora.
Viver dentro de uma panela de pressão deve ser muito
melhor do que estar sob a minha pele nesse momento, com certeza.
Que fase, Atlas.
Dafne não para de mandar mensagens caluniosas, e até
mesmo, ameaçadoras. Furiosa porque as coisas não estão saindo
do jeito que ela esperava, ela já começa a perder a cabeça. Para
minha infelicidade, sua família é poderosa, e contrataram mais
alguns advogados de reforço, para garantir que ela saia garantida
com a pensão da qual sempre esteve atrás, e de quebra, com a
guarda do nosso filho, para que o dinheiro nunca pare de entrar. O
juiz não corre com os processos, Eros continua relutante em
encontra-la e as coisas não parecem boas para nenhum dos dois.
Tudo o que eu queria era resolver logo essa situação revoltante. A
esse ponto, não me importo de perder grande parte do meu dinheiro
de forma completamente injusta. Eu só quero o mínimo de paz em
minha vida, e pelo visto, isso não irá acontecer tão cedo.
Nas redes sociais, meu irmão Apolo parece feliz ao lado de
uma mulher bonita, porém, pouco sorridente, e mais uma vez, o
invejo por poder seguir o seu caminho sem interferências de nossos
pais, ou da sua ex, roubada por mim. O que eu não daria para voltar
no tempo e deixar as coisas como estavam? Com absoluta certeza,
ele não aguentaria mais dois meses ao lado da loira fútil e muito
dissimulada, e continuaríamos a nossa vida, livre de Dafne, dos
Marquezine, e principalmente, sem essa rixa e guerra infindável. Se
perguntarem, eu nego até a morte, mas apesar de toda a raiva
acumulada no decorrer dos anos, sinto falta do meu irmão, porém,
sei que ele nunca irá me perdoar, e eu não irei implorar migalhas,
nem me humilhar para que isso aconteça. Simplesmente, não é do
meu feitio, e imagino que esse caso realmente não tenha solução.
Milhares de possibilidades rondando a minha mente,
inúmeras coisas acontecendo ao mesmo tempo, preocupações com
tudo o que possa ser possível de se preocupar. Apesar de tudo isso,
as únicas coisas que têm permeado os meus pensamentos são os
lábios de Ludo junto aos meus, naquele beijo enlouquecedor.
Parece completamente surreal que tenhamos nos
reencontrado depois de tantos anos. Mais inacreditável ainda, é que
a nossa conexão continue, mesmo que debaixo de algumas
camadas de mágoa e vergonha, ardente.
Como ela consegue, depois de tudo, ser meiga e
compreensiva?
Como Ludo conseguiu ficar ainda mais bonita com o passar
dos anos?
Por que parece que o tempo parou e que voltamos ao
passado quando nos beijamos, dentro daquele carro?
Tenho consciência de que passei dos limites, e que ela ficou
assustada com a minha atitude. Não queria que isso acontecesse,
muito menos, queria forçar uma barra, parecendo que sou um
predador incontrolável. Mas não pude evitar. Muita nostalgia, muitos
sentimentos antigos e várias memórias aconteceram naquele
momento. Apenas pareceu certo, como sempre foi.
Claro que tenho também a ciência de que ela não quer nada
comigo, eu a magoei no passado, mesmo sem nenhuma intenção,
foi inevitável. Uma escolha péssima, com a qual terei que conviver
para o resto da vida, mas com a certeza de que, se eu pudesse
mudar tudo, sem sombra de dúvidas, eu mudaria. Agi cego de ódio
e revolta, mas nunca amei Dafne, se eu tivesse tido coragem o
suficiente de pular fora dessa relação, antes de ser tarde demais, eu
realmente teria pulado e faria tudo diferente.
Eros poderia ser um filho meu com uma pessoa diferente e,
com absoluta certeza, eu teria sido mais feliz e próspero com essa
relação. Amizade, cumplicidade e um amor fácil, que sempre existiu
entre mim e Ludovika Pavlova.
Agora, eu não posso me lamentar e continuar remoendo os
erros do passado, mas posso tentar reaver a situação. Por mais que
eu saiba que é um grande tiro no escuro, não vou perder essa
segunda oportunidade que a vida me deu. Farei de tudo para
reconquistar a única mulher que fez com que todos os meus
pensamentos sumissem, a mulher que sempre trouxe paz para a
minha vida.
Vou tentar a sorte e contar com a bondade do Universo para
comigo, pela primeira vez na vida, porque irei me arrastar atrás
dessa mulher, até que ela me perdoe e me aceite de volta.
Preciso do seu toque e dos seus beijos novamente.
Eu preciso dela, como jamais precisei antes.
Demorou muito tempo, mas finalmente, precisei de um
choque de realidade como esse, para que eu entendesse que
sempre foi ela.
Seguir o meu dia, e trabalhar como se nada tivesse acontecido
ontem, é uma experiência que beira à tortura. Relembrar, a cada
segundo, da conversa que tive com Atlas e de como ele, apesar de
tantos anos, tem facilidade para conversar comigo e se abrir é uma
faca de dois gumes. Eu sempre gostei da nossa proximidade, de
como era fácil e certo quando estávamos juntos, e principalmente,
de como nos sentíamos confortáveis na presença um do outro. Foi
uma surpresa perceber que ainda nos sentimos assim, mesmo
depois de tanto tempo, e principalmente, de tanta bagagem.
Seu olhar e postura me mostraram que ele estava
arrependido do caminho que as nossas vidas seguiram, mas não
posso me iludir, isso pode machucar e muito o meu coração. Atlas
sempre soube, apesar de nunca ter sido pronunciado com todas as
letras, o quanto eu era apaixonada por ele. Ontem, mesmo nas
entrelinhas, ele disse isso, e apesar de me envergonhar um pouco,
não sou mais uma adolescente ingênua. Preciso manter a minha
cabeça fria e no lugar, não posso me iludir.
Um beijo não irá fazer com que eu volte a ser uma mulher
emocionada e sem controle nenhum sobre meus sentimentos. Foi
uma longa trajetória para chegar até aqui e eu mereço mais
respeito, além de uma pessoa que seja totalmente recíproca. Eu
nunca fui o suficiente para ele, não dessa forma, e não será agora
que, magicamente, Atlas irá me notar. O que eu preciso fazer é
deixar isso para lá e focar no meu trabalho, ou, tentar fingir ao
máximo que não estou sentindo tudo isso com ainda mais
intensidade, depois de uma noite cheia de sonhos desconexos e
inseguranças.
Começo a fazer as minhas visitas diárias a todas as salas,
um hábito que peguei para conseguir ficar de olho em Eros, sem dar
a todos sobre o que falar. Não quero ser acusada de preferência por
algum aluno, já é difícil demais toda a situação para ter que lidar
com isso também. Hoje, o garoto parece feliz, brincando na piscina
com os amigos de turma, sem a sua tradicional carranca emburrada.
Abro um sorriso amplo quando cumprimento a turma, e todos
respondem um sonoro: "Boa tarde, diretora Pavlova".
Deixo a sala rindo da interação, que agora já é tradicional, e
encontro James com um enorme buquê de flores, indo em direção à
minha sala.
— Dona Pavlova, desculpe incomodar, — ele diz, parecendo
sem graça, mas me estende as flores e continua — deixaram na
entrada para a senhora.
Fico surpresa e um pouco sem jeito pego o buquê, cheirando
os lírios lindos. Minha flor preferida.
— Imagina, senhor James! Obrigada por trazê-las, vou deixar
em minha sala. — digo com um sorriso, e deixo o resto das turmas
para visitar uma outra hora, com o coração acelerado por receber tal
presente. Não imaginei que receberia flores, principalmente, no
horário de trabalho.
Na verdade, se elas não forem de Atlas, eu não sei de quem
mais poderiam ser. Por isso, subo as escadas, ansiosa para ler o
cartão que parece brilhar, alocado nas flores.

"Ludo,
Eu adorei nosso tempo juntos.
Parecia que éramos jovens novamente, e apenas você me
faz sentir assim.
Senti muito a sua falta, e gostaria de me encontrar com você
novamente.
Espero que aceite o convite, Atlas."

Minhas mãos tremem levemente enquanto agarro o bilhete, como se


ele fosse algo precioso. Em todos os anos que eu o conheço, nunca
ganhei flores. Claro que outros presentes vieram ao longo do
caminho, sempre carinhosos, mas nunca românticos.
Não posso me deixar levar pelas emoções, mas sei que
realmente não estava esperando nada assim. A surpresa é muito
bem-vinda, e me faz pensar no quanto eu realmente quero me
encontrar com ele novamente.
— Então, é verdade! — Anne diz, parecendo se deliciar com
a informação — Você realmente recebeu flores! Mal chegou e já
está arrasando corações na capital!
— Não é bem assim… — digo, um pouco sem graça, e ela
revira os olhos, tomando o cartão das minhas mãos para lê-lo, sem
nenhum tipo de cerimônia.
— Peraí… Adorei nosso tempo juntos? — ela dá uma
entonação chocada à frase, antes de arregalar os olhos, e cobrir a
boca — Vocês se encontraram! — confirmo com a cabeça, sentindo
meu rosto e pescoço se esquentarem consideravelmente, e ela
confirma com a cabeça, processando a informação. Mas, quando
entende o que eu realmente estou falando, estreia os olhos na
minha direção, e aponta o dedo pra mim, parecendo furiosa — E,
por que não me contou? Que traição! Achei que éramos amigas!
Anne sempre foi dramática, mas dessa vez, sua atuação se
superou.
— Ah… para com isso, né? Eu não preciso te contar todos os
passos que eu dou. — digo, desviando o olhar, porque sei que omiti
esse fato dela, justamente, porque não queria ter esse tipo de
conversa.
É cem por cento verdade o fato de que sempre escondemos
alguns fatos vergonhosos das nossas bests, porque sabemos que
elas vão criar muitas expectativas, ou nos xingar horrores por
estarmos sendo otárias. Como ainda não decidi se estou sendo
otária, ou se estou criando expectativas vazias, preferi me abster.
— Bom… vou te contar, então, sua enxerida! — brinco, e ela
se senta, parecendo realmente ansiosa pelo que eu vou falar.
— Não me esconda nada.
— Ele me convidou para jantar ontem, eu aceitei. Fomos a
um restaurante legal, conversamos sobre o passado e ele pediu
desculpas pela maneira que me tratou naquela época. Se abriu
acerca de como andava a sua vida e o quanto as coisas estão
difíceis para ele, no momento. E… — faço um mistério, com um
sorrisinho travesso no rosto, e ela parece prestes a pular do seu
assento e me esganar.
— E…? Desembucha!
— Ele me deu uma carona, e quando fomos nos despedir, a
gente se beijou.
Anne dá um grito tão alto e eufórico que preciso contê-la para
não chamar ainda mais atenção. Ela parece completamente em
êxtase com essa informação, e tenho certeza de que, atualmente,
sou o seu entretenimento preferido.
— Sério? E foi bom? Como você se lembrava? Se
decepcionou? O que aconteceu? Quero todos os detalhes! — ela
diz, e eu solto uma risadinha, antes de confirmar com a cabeça mais
uma vez e começar a falar em um tom de voz bem mais contido.
— Foi incrível, mágico mesmo. Acho que tanto para mim,
quanto para ele, já que me mandou essas flores hoje. Mas eu
realmente, não sei o que esperar. Não quero me iludir, nem fazer
papel de boba mais uma vez. Eu sou uma mulher independente e
não tenho mais idade para isso, sabe? — desabafo, sentindo um
alívio grande por ter com quem conversar, mesmo minha melhor
amiga sendo meio doida e certamente, uma fanfiqueira de primeira.
— Bom, vocês dois amadureceram. Não é surpresa alguma
ele te tratar bem, você é um mulherão incrível. Aparentemente, Atlas
abriu os olhos e colocou óculos, antes tarde do que nunca, não é?
— Amo como você me enaltece. — brinco, revirando os olhos
e ela nega com a cabeça.
— Ludo, você realmente é linda. Físico e coração. Acho que
ele, finalmente, passou a dar valor para isso. E por mais complicada
que seja a vida dele no momento, com aquela bruxa sanguessuga
querendo o seu dinheiro, meu conselho sempre será: seja fiel aos
seu sentimentos, e não fique com medo do "e se". O que você sente
e quer fazer? — seu tom de voz passa a ficar mais sério, e quando
acaba de falar, solto um suspiro audível, perdida.
— Bom, não é segredo para ninguém, o quanto eu sempre fui
apaixonada por ele. É apenas uma afirmação óbvia para todos que
um dia já me conheceram. Mas, eu não sei… Tenho medo de me
machucar demais. Não tenho mais idade para ter um coração
partido e conseguir sobreviver ao processo.
— Ludo, não deixe o passado influenciar o seu presente.
Acho que você deveria ver onde isso tudo vai dar. Como você
mesma disse, os dois são adultos e não tem mais espaço para
joguinhos, simples assim! Se você perceber que algo não está certo,
corte, siga a sua vida e pronto. Mas, você nunca vai saber, se não
tentar.
Suas palavras ficam martelando em minha cabeça e não
respondo nada. Preciso entender o que está acontecendo primeiro,
investigar melhor os meus sentimentos, antes de dar qualquer
resposta concreta, tanto para ele, quanto para ela.
— Eu prometo que vou pensar. — digo baixo, e ela abre um
sorrisinho.
— Essa é a minha garota! Geralmente, quando diz isso, sei
que vai tomar a decisão certa.
Se eu realmente aceitar o convite e deixar as coisas correrem
sem o medo do “e se” que sempre me barrou por muito tempo,
preciso ir com tudo e sem medo. Preciso me comprometer em não
me autossabotar, e principalmente, em reconquistá-lo. Não quero
entrar nesse jogo para perder mais uma vez. Se eu for para esse
jantar, será para colocar todas as cartas na mesa e pegar Atlas de
volta para mim.
Não tenho mais tempo a perder.
Um adolescente.
Simplesmente, parece que eu voltei ao passado, com o plus de
milhares de novas responsabilidades, e um filho de bônus. Além de
uma ex-mulher insuportável.
— Por que você não vai ficar com a gente na festa do pijama? —
Eros pergunta desconfiado, e eu dou de ombros.
— Papai tem outro compromisso. Mas tenho certeza de que a
tia Atena preparou muitas coisas legais para vocês. — respondo, e
ele parece satisfeito com a informação.
Minha irmã, aquela pequena chantagista, simplesmente, pediu uma
bolsa caríssima, em troca de uma noite divertida com o seu único
sobrinho. Além, é claro, de uma pequena fortuna para comprar tudo
o que ela julgou necessário para lhe dar essa festa incrível. Não que
eu realmente esteja reclamando, porque será algo divertido para
ele, diferentemente de ficar trancafiado em casa com a sua babá
fazendo horas extras. A pobre Gabrielle já tem muito com o que se
preocupar durante o dia, apesar de ele estar na colônia de férias,
Eros tem sido terrível nos períodos em que está em casa.
— Tia Atena tá de namorado novo! — ele fala depois de algum
tempo, com um sorrisinho travesso e, ao mesmo tempo, curioso no
rosto. Me surpreendo com a informação. Não por Atena estar
namorando, porque é natural na sua idade, mas por Eros saber
desse detalhe.
— Sério? E como você descobriu? — pergunto, entrando em
sua conspiração.
— Eu a ouvi falando ao telefone outro dia… parecia toda
boba. — ele comenta, e solta uma risada alta.
— Bom, sua tia está na idade de namorar… você, ainda não.
— Eca! Eu não quero namorar nunca! — ele responde,
fazendo uma cara de nojo que faz com que eu segure uma risada.
— Bom, um dia você vai querer, acredite. — respondo, dando
de ombros.
— E você? Não quer namorar? — ele pergunta, como se
fosse algo banal, e eu franzo a testa, sem entender onde isso vai
dar. Mesmo com todos os problemas com Dafne, ele sempre me viu
com a mãe, e achei que seria um grande problema quando, e
principalmente se, eu me envolvesse com outra pessoa — Bom,
você também tá na idade de namorar…, né?
— Filho… eu e sua mãe não vamos voltar. Você entende
isso, não entende? — pergunto cauteloso, observando-o pelo
retrovisor.
— Eu sei. — sua convicção me assusta, mas antes que eu
questione, ele continua — Mas, meu amigo Dave me contou que
seu pai agora tem uma namorada muito legal. E que ele, às vezes,
chama ela de mãe.
Fico surpreso demais com a sua linha de raciocínio para
começar a articular qualquer resposta plausível. Por isso, vou pelo
lado fácil, perguntando sobre o tal Dave e a sua madrasta incrível,
enquanto ainda não chegamos ao nosso destino. Não consigo evitar
de pensar em Ludo e em como ela realmente seria uma pessoa
espetacular como essa figura feminina para Eros, mas não posso
me deixar levar… as coisas tendem a ser muito difíceis para mim. O
caminho é tortuoso e acreditar que ela ainda vai querer algo além de
amizade, depois de tantos anos, e principalmente, de como eu agi
com ela, é muita pretensão.
— Eros, se comporte, ok? — digo, deixando-o entrar na casa
e correr ao encontro de Atena, que aparentemente, trouxe uma noite
das arábias com tantas tendas e coisas que o deixam
completamente deslumbrado.
— Atlas! — a voz da matriarca, vovó Camélia, soa alto,
indicando que está próxima e que eu não conseguirei evitá-la.
— Boa noite, vovó. — respondo, mantendo uma certa
distância, e ela abre um sorriso, parecendo estender uma bandeira
branca.
— Sei que fui dura com você nos últimos tempos, mas,
querido, você sabe que consegue mais do que qualquer um, passar
por tudo isso. — fico surpreso com as suas palavras, mas ela não
dá tempo para que eu responda, e logo continua — Espero que
esteja fazendo a coisa certa. Com quem você vai sair hoje?
Estreito os olhos, pensando em quem comentou com essa
bruxa sobre o meu encontro e evito responder, para não me
comprometer.
— Ah, Atlas…, você está todo arrumado, deixou Eros para
dormir aqui e ainda caiu na chantagem de Atena. Com certeza, você
tem um encontro. — ela fala divertida, e eu dou de ombros.
— Vou jantar com uma amiga antiga…
— Ah! Então, você já se reencontrou com a Ludovika
Pavlova? Muito bem, muito bem! — seu sorriso é enorme, e isso só
confirma a minha suspeita de que ela armou tudo, falando da
colônia de férias para Eros, na esperança de nós nos
reconectarmos.
Vovó sempre teve um fraco pela família Pavlova, e
principalmente, por Ludo, que vivia conversando com ela e
roubando biscoitos.
— Bom, então, você realmente armou esse reencontro,
presumo. — digo consternado, mas abro um sorriso, mostrando que
não estou com raiva.
— Ah, você é muito lento, às vezes, meu filho! Desculpe-me
por falar isso, mas realmente, precisava de um empurrãozinho.
Dafne nunca foi pra você. — ela diz, com uma expressão de
completo ultraje, e eu não consigo evitar a gargalhada.
— Um dia, a senhora vai ser presa por falar demais, vovó.
Estou lhe avisando. — respondo, ignorando totalmente a sua
afirmação.
— Não estrague tudo. Ludo é uma moça direita e boa. Não
merece o que a fez passar, não o faça novamente.
— Boa noite, vovó! — digo lhe dando as costas,
principalmente, para que ela não veja a minha expressão culpada.
Por todo o caminho, fico remoendo as conversas que tive com Eros
e com vovó, me perguntando se realmente seria possível algo
acontecer entre nós dois. Aparentemente, a aprovação da dona
Camélia eu teria, com certeza, mas será que Eros aceitaria bem a
situação?
Por que você está pensando no futuro, Atlas? Foi apenas um beijo,
se recomponha! Me repreendo mentalmente, assim que chego à
porta do seu apartamento.

Atlas: Estou na sua porta, mas leve o tempo que precisar.

Mando uma mensagem avisando que cheguei, e aguardo, trocando


a playlist para algo mais genérico, tentando evitar qualquer tipo de
constrangimento. Enquanto passo pelas rádios, procurando por algo
bom, fico sem ar quando vejo Ludovika abrir o portão do seu prédio
com um vestido preto justo ao seu corpo e os cabelos vermelhos
reluzindo.
Bonita pra caralho!
Me adianto para abrir a sua porta, e ela abre um sorriso
tímido.
— Boa noite, você está linda! — digo, abrindo a porta do
carona, e ela responde, parecendo ainda mais envergonhada.
— Obrigada, você também está muito bonito. — ela me
cumprimenta com um beijo no rosto, antes de entrar no carro.
Durante todo o caminho, conversamos sobre os nossos
gostos pessoais mais recentes, no quesito entretenimento. O jantar
corre com facilidade, enquanto rimos relembrando coisas da infância
e todas as trapalhadas em que nós nos metemos. Ludo parece cada
vez mais confortável com a nossa proximidade, e eu não consigo
deixar de me sentir feliz.
— Tudo parece tão fácil quando estou com você. Não
consigo me lembrar de qual foi a última vez em que tive uma
refeição tão agradável, sem pensar em nada além do agora. — digo,
abrindo um sorriso que ela corresponde, olhando nos meus olhos.
— Foi bom te reencontrar. — é a única coisa que ela diz, e
percebo um pouco de resistência em se abrir, o que é totalmente
compreensível.
Seguro em sua mão, tentando demonstrar com ações o
quanto as minhas palavras são verdadeiras.
— Ludo, eu te conheço desde o maternal. Você sempre foi
parte da minha vida, e pra mim, não importa quanto tempo
passamos sem nos ver. Parece que nada mudou, continuo me
sentindo do mesmo jeito…
— Atlas. — ela me interrompe com um olhar um pouco
magoado, e seu sorriso fraco me diz que o que ela vai dizer não é
nada bom — Muita coisa mudou. Você sempre soube o quanto eu…
gostava de você. Não brinque comigo de novo.
Seu alerta é firme e não me pega de surpresa. Sinceridade e
honestidade sempre foram características da sua personalidade.
— Eu não estou brincando. Nunca falei tão sério em toda a
minha vida. A forma que agi no passado foi um erro, mas nós
amadurecemos e mudamos. Nunca faria nada daquilo de novo, se
pudesse voltar no tempo, agiria diferente. — falo com sinceridade e,
abrindo um sorrisinho um pouco triste, continuo — Mas, eu te
entendo. Não vou e nem quero te forçar a nada, nossa amizade é
importante pra mim, e não quero atropelar as coisas. Seguiremos do
jeito que você quiser, só estou me abrindo e sendo leal aos meus
sentimentos, pra variar. Te reencontrar mexeu comigo, não vou
mentir. Você sempre foi uma mulher incrível, mas agora, está ainda
mais linda, engraçada, divertida, sensual… me desculpe, mas eu
não pude evitar.
Abaixo a cabeça por um segundo, não querendo lidar com
essa rejeição, mas Ludo responde em uma voz baixa, que tem uma
conexão direta com meu pau: — Atlas… você sabe que sempre foi
você.
Ter o sinal verde com Ludo era muito mais do que eu
esperava nesse segundo encontro. Mas levando em consideração
todos os anos que passamos juntos, antes, isso é quase um
movimento natural.
No carro, enquanto a levo para seu apartamento, seguro sua
mão, sem saber exatamente como agir, ou o que esperar. Ela
parece tão sem graça quanto eu, e não posso deixar de rir da
situação, que beira o ridículo, em que nos envolvemos.
— Estamos parecendo duas pessoas descobrindo o primeiro
amor. — dou uma risada um pouco sem graça, tentando aplacar o
silêncio constrangedor, mas ela responde com simplicidade: — Não
deixa de ser… — com essa frase pairando em minha mente,
estaciono o carro em frente à sua casa, pronto para lhe dar mais um
beijo de boa noite, mas aparentemente, Ludo tem outros planos.
Quando me inclino em sua direção, ela me dá um selinho rápido e
abaixa a cabeça, como se estivesse com vergonha, antes de falar:
— Você quer… entrar? — entendo seu convite implícito, e seu
sorriso safado me dá um vislumbre completo da situação. Nesse
momento, eu não poderia me sentir mais sortudo.
— Tem certeza? — questiono, porque não quero que ela se
sinta pressionada, mas ela confirma com a cabeça e diz um "tenho"
baixo, mas muito confiante.
Abro a porta do carro e vou até o seu lado, lhe estendendo
uma mão para ajudá-la a sair, e ainda de mãos dadas, entramos em
seu prédio. Cada um imerso em seu próprio pensamento, ansiosos
pelo que está por vir.
Ela abre a porta e sua sala é exatamente igual ao que eu
pensei que seria uma casa de Ludovika Pavlova. Confortável,
aconchegante, cheia de cores e, ao mesmo tempo, sem nada
exagerado demais.
— Sua casa é linda… você está linda. Não disse o suficiente.
— deixo implícito que estou me referindo à toda a nossa história
juntos, e ela abre um sorriso satisfeito.
— Obrigada. Você também não está nada mal. — Ludo
responde, com uma sobrancelha erguida, deixando claro que está
brincando comigo.
— Bom… obrigado? — digo em uma entonação de pergunta,
e me aproximo um pouco mais dela, circulando a sua cintura com
meus braços. Nossos olhares se conectam e colo os meus lábios
nos seus, antes que um de nós possa se arrepender de algo.
O beijo é tão bom quanto o último, mas dessa vez, é ainda
mais sensual, porque não temos a pressa e nem as limitações que
só um carro apertado pode nos dar. O clima muda entre nós, as
coisas ficam ainda mais sensuais, e quando nos afastamos, consigo
ver nitidamente o desejo em seus olhos.
— Não é justo ser tão bom assim. — sua frase até parece um
pouco emburrada, e eu abro um sorriso faceiro, antes de respondê-
la.
— Realmente, não é.
Nossos olhares estão conectados um ao outro. Escorrego as
mãos pelos seus braços nus, sentindo a pele macia na ponta dos
dedos e ela estremece. Ludovika parece ansiosa, seu corpo se
arrepia, quente e macio, com os braços cheios de sardas
alaranjadas, e sei que, a esse ponto estamos tomados pela luxúria.
Seus olhos esverdeados, geralmente calmos e gentis, estão
mais escuros, com as pupilas dilatadas de desejo. Seu cheiro é
delicioso, e continua o mesmo de antes, um adocicado, frutado, que
combina exatamente com ela. Eu o memorizei de uma forma tão
profunda, que mesmo depois de anos, poderia reconhecê-lo a uma
longa distância. Começo a passear os dedos pelas suas coxas
torneadas e, quando começo a subir levemente a saia do seu
vestido justo, ela arfa.
Com apenas um olhar, Ludo confirma com a cabeça, me
dando a permissão necessária para continuar com os meus
avanços. Desço o zíper que mantém o vestido colado em seu corpo
em poucos segundos, e meus dedos resvalam na parte de trás da
sua coxa novamente, agora, sem nenhum tecido entre nós.
Ludo abre minimamente as pernas, me dando passe livre
para continuar o que estou louco para fazer, e cola a sua boca na
minha novamente, me beijando com fervor. Puxo-a mais para perto,
roçando meu membro rijo em seu corpo, ainda coberto pela calça, e
subo uma de suas pernas, enlaçando-a em minha cintura. Mas isso
não é nem perto do suficiente, então, eu a ergo do chão, segurando-
a pela bunda e fazendo com que seu corpo se cole ao meu.
Beijo seu pescoço e a escuto suspirar baixinho, antes de
dizer: — Primeira porta à esquerda. — ela diz, indicando o corredor,
e entendo bem a sua instrução. Provavelmente, o seu quarto está
ali, nos esperando.
Caminho com ela colada ao meu corpo, enquanto mantém
seus olhos fechados e um sorrisinho travesso em seus lábios, e a
passos longos e ansiosos, chegamos. Olho ao redor, analisando
cada milímetro do espaço, mas Ludo morde a minha orelha,
chamando a atenção.
— Será que você perdeu o jeito, ou continua tão bom quanto
antes? — ela pergunta baixinho, me fazendo arrepiar, e eu a jogo na
cama, enquanto escuto a sua gargalhada.
— Igual a um vinho, Ludo… cada dia melhor. E você sabe,
que disso eu entendo. — respondo, um pouco convencido, tirando
os sapatos e a minha camisa social. Seu olhar é de pura cobiça,
mas não me demoro com exibicionismos, porque assim que vejo
sua calcinha de renda branca, fico completamente alucinado.
Eu preciso dela.
Vou em sua direção e beijo sua boca, ansioso para sentir seu
gosto novamente, enquanto meus dedos se aventuram por cima da
peça rendada.
— Minha língua vai percorrer o seu corpo inteiro. — ela puxa
o ar, mas não tem tempo para a próxima respiração, porque a beijo
com tanta força e fome, que Ludo fica sem fôlego.
As nossas línguas dançam, e rapidamente tudo se torna
ainda mais sensual. Ludo geme alto entre os beijos, enquanto meus
dedos trabalham em sua entrada já úmida e pronta para mim. A
vontade que tenho é de rasgar nossas roupas e possuí-la aqui
mesmo, em um só golpe, sem nenhum tipo de preliminar. A vontade
é tão grande de enfiar meu pau rijo fundo e ouvi-la gritar, enquanto
sua boceta molhada se expande para me dar passagem, que quase
o faço, mas sei que ela merece mais. Muito mais.
— Atlas. — ela murmura baixo, parecendo perdida em
sentimentos. Puxo seu lábio inferior entre os dentes, sugando-o e
aprofundo o beijo, lhe oferecendo tudo o que posso. Me colocando à
sua disposição, como nunca fiz antes. Ludo pressiona o corpo
contra o meu e meus dedos apertam ainda mais forte a sua bunda
gostosa e carnuda.
Eu preciso dela, estar dentro dela, agora, é tão necessário
quanto respirar, e a descoberta dessa necessidade me surpreende.
Nunca pensei que seria tão intenso e enlouquecedor me
reaproximar de alguém que eu não vejo há anos, mas a maturidade
de saber o quanto éramos realmente bons juntos, faz com que essa
ansiedade cresça ainda mais dentro de mim. Gememos na boca um
do outro enquanto os nossos corpos se roçam, em uma tortura
mútua, adiando o prazer. As mãos trêmulas passeiam pelo meu
peito já desnudo e seus dentes e língua vêm em direção a ele,
mordendo e sugando.
Não falamos nada nesse momento, apenas precisamos um
do outro ardentemente.
Meus dedos, finalmente, ultrapassam o limite do tecido da
sua calcinha, sentindo a umidade do seu tesão. O clitóris pulsa
contra meu polegar e ela murmura palavras incompreensíveis,
enquanto ataco seu ponto de prazer sem piedade. Ludovika morde
meu queixo, beija meu pescoço, me lambe e faz tudo o que
consegue, do jeito que pode, para demonstrar que também quer
tudo o que eu quero. A sua respiração está cada vez mais pesada e
quente contra a minha pele, e saber disso, infla ainda mais o meu
ego e o meu tesão. Pego seus lábios com os meus novamente e
suas mãos deslizam para o meu abdômen.
— Eu imaginei esse momento por muito tempo…, mas acho
que a minha imaginação não é tão boa assim. Você é muito melhor
do que os meus melhores sonhos. Não sabe como estava com
saudade. — ela diz, jogando seus cabelos muito ruivos para trás,
quando mergulho um dedo dentro da sua boceta molhada, e depois
mais outro, fodendo-a lentamente.
Suas palavras mexem comigo de um jeito que eu não sei
explicar. Ela sempre pensou em mim? Sempre imaginou como seria
quando nos encontrássemos novamente? Ela realmente achou que
isso iria, em algum momento, voltar a acontecer? Não mereço essa
mulher. Não mesmo. Nem em um milhão de anos.
Tê-la completamente entregue a mim, é muito melhor do que
qualquer memória que eu poderia ter. Toco o clitóris durinho, seu
botão do prazer, vibrando contra meu polegar, que mantém os
movimentos ritmados e seus gemidos aumentam, culminado em um
implorar para ser satisfeita. Ludo deixou todo tipo de vergonha para
trás e está completamente entregue a mim.
Cada vez que meus dedos invadem seu corpo, ela
choraminga, prometendo me entregar tudo, se eu apenas não parar.
Seu descontrole me enlouquece, porque sei que sou eu o
responsável por lhe dar esse prazer e lhe proporcionar esse
sentimento. Com um só movimento rasgo a sua calcinha pequena,
expondo seu sexo para mim, e ela nem reclama, absorta em todas
as sensações. O som do tecido se rasgando serve de aviso,
mostrando que o meu autocontrole já foi para o inferno.
Retiro completamente o seu vestido, deixando-a exposta e
linda para mim. Ludo, agora uma mulher feita, parece milhares de
vezes mais sensual do que a garota que conheci no passado. Seu
corpo curvilíneo e perfeito tem ainda mais sardas salpicadas em sua
pele, seus seios estão maiores e ainda mais gostosos, sua
expressão mais confiante. Ludovika nunca esteve tão bonita como
agora, a boca semiaberta pelo prazer, os olhos anuviados de
desejo, seu peito subindo e descendo ofegante, a boceta rosada,
pigando de desejo.
— O que está esperando? — ela diz, abrindo um sorrisinho
envergonhado, mas não preciso esperar por mais nada para fazer o
que eu realmente quero, que é cair de boca em seu corpo delicioso.
Desço uma trilha de beijos pelo seu pescoço, seios e barriga,
e lambo sua extensão, fazendo-a arfar ansiosa. Me ajoelho ali,
colocando ambas as coxas sobre os meus ombros, mergulhando o
rosto na boceta que estou louco para comer. Sugo, chupo, lambo,
mordisco com vontade, me deliciando, enquanto ela geme
descontroladamente, se contorcendo sob mim. Uma das minhas
mãos sobe, amassando a carne macia do seu seio, beliscando o
mamilo, enquanto minha língua não lhe dá descanso, lambendo sua
boceta encharcada, sugando o clitóris, mergulhando fundo em suas
paredes estreitas. Em poucos minutos, o orgasmo explode nela,
sem qualquer aviso, e Ludo goza tão gostoso na minha boca, que
seu prazer escorre pelo meu queixo. Eu não paro, porque estou
faminto. Continuo sugando, até sentir suas pernas se amolecerem,
e quando isso acontece, não paro de beijá-la, enquanto espero sua
respiração voltar minimamente ao normal, para que possamos
continuar.
Linda. Nua. Minha. Finalmente, minha. Eu a quero com uma
ferocidade perturbadora e que mexe com tudo o que eu vivi até
aqui. Eu só sei que preciso marcá-la como minha, chupar, morder e
beijar cada centímetro dessa pele macia e alva. Quero, em tom de
quase necessidade, ouvi-la gritar meu nome, enquanto eu mergulho
uma e outra vez dentro dela, unindo nossos corpos.
Tiro lentamente a calça e cueca, com os olhos ainda presos
nos seus, enquanto Ludo tenta recuperar a respiração, me
analisando atentamente. Seu abdômen liso e a cintura fina são um
convite para pensamentos impuros, e tudo o que consigo imaginar é
segurá-la, apertando a pele delicada e obrigando-a a descer forte no
meu pau.
— Você nunca esteve tão bonita. — digo sinceramente, com
a voz carregada de desejo — Ofegante, nua, sensual e gostosa pra
caralho. — ela parece um pouco envergonhada, mas não nega e
nem responde. Vou em sua direção, escalando a cama e beijo
novamente seus lábios, agora inchados pelas mordidas.
— Eu quero mais… quero tudo! — ela diz baixo, com os
olhos fechados, e não posso ignorar o sentimento que parece existir
nessa afirmação. Não sabemos como será o dia de amanhã, nem
como vamos agir, depois dessa noite de loucura, mas hoje, ela
realmente terá tudo de mim.
— Então, eu vou fazer a nossa noite ser inesquecível. — digo
em seu ouvido, antes de começar a beijar seu pescoço novamente.
Ludovika geme baixo, totalmente entregue.
Passeio as mãos em seu corpo, meu membro completamente
duro roçando a sua lateral. Vejo em seu olhar, o quanto ela está
entregue ao momento, e assim como eu, está entregue e tomada
pelo tesão. Sem suavidade, meto dois dedos até a base na boceta
apertada. Ela geme alto, ansiosa para ser invadida.
— Caralho, você é simplesmente deliciosa! — fecho os olhos,
tomado por todo tipo de sensações. Mantenho o ritmo com os
dedos, alargando-a, enquanto ela fecha os olhos com a respiração
ofegante, sentindo tudo. Ela me arranha enquanto o som dos meus
dedos a penetrando se mesclam com o som dos seus gemidos
baixos, querendo mais, implorando com os olhos carregados de
tesão.
— Atlas… eu…
— Olha para mim enquanto você goza. — ordeno e nossos
olhares se conectam, deixando claro todo tipo de sentimento que
existe ali, enquanto suas paredes me apertam, como se estivessem
implorando por libertação, quase como eu estou no momento.
Ludo me surpreende e segura firme meu pau, já melado com
o pré-gozo, antes de massageá-lo para cima e para baixo, ritmando
os seus movimentos com os meus. Ela está completamente
entregue ao momento, assim como eu, e preciso me controlar para
não me deixar levar pelo seu toque seguro e gostoso, e queimar a
largada.
Nós dois gememos quando nossas carícias entram em
sintonia, criando um ritmo próprio. Toco seu cabelo com a mão livre,
segurando-o um pouco, mas sem puxar demais, e inclino sua
cabeça para trás. Eu poderia lhe dar outro orgasmo, mas a quero
necessitada na primeira vez em que eu estiver dentro dela, pelo
menos, tão necessitada quanto eu estou dela nesse momento. Tiro
os dedos de dentro de seu sexo, me afasto e chupo cada um. Suas
pupilas se dilatam e ela tenta me tocar outra vez, mas nego com a
cabeça.
Sua expressão é repleta de expectativa e sem pensar em
mais nada, a coloco por cima. Sem esperar, cravo meus dedos em
sua bunda macia e faço com que ela desça por toda a minha
extensão, sentindo-a, centímetro por centímetro. A sensação de
estar dentro dela é tão deliciosa que me obriga a fechar os olhos,
tentando me controlar. Ludo não se mexe, também totalmente
rendida ao ato, com os dentes esmagando seu lábio inferior,
tentando controlar um gemido alto que sai estrangulado. Sua
respiração está ofegante e sua boceta se contrai em pequenos
espasmos. Eu mal comecei e ela está perto de gozar outra vez, o
que não é ruim, porque eu mesmo mal posso me conter. Antes de
me mover, agarro seu cabelo, obrigando-a a me encarar e sussurro:
— Minha.
Eu a faço me cavalgar, enquanto ela choraminga de prazer.
Sento-a toda em mim novamente e desço a mão entre nossos
corpos, tocando seu clitóris inchado. Ela estremece e, usando meus
ombros como apoio, ergue os quadris, ensaiando um subir e descer.
Não paro de esfregar o seu botão durinho e ela morde o lábio, como
se não quisesse gemer alto, então, desce a sua boca na minha, me
beijando com tanta vontade que fico sem ar.
A boceta é quente e úmida por dentro, e eu nunca tive que
me conter tanto na vida, deixando-a ditar o ritmo por ora, quando
tudo o que quero é fodê-la com força. Eu a faço iniciar um cavalgar
lento, controlando-a, para que não vá além do que aguenta. Aos
poucos, ela começa a relaxar, suas paredes dilatando-se para me
receber e quando me encara, com os olhos necessitados, eu
aumento a velocidade. É um inferno de uma luta, não me enterrar
profundamente em seu corpo, porque os pensamentos mais
sacanas permeiam minha mente.
Quero meter duro até ouvi-la gritar, implorar por mais, mas ao
invés disso, uno nossas bocas em um beijo lento, saboreando-a
com a língua e com o pau. Troco de posição, deitando-me sobre seu
corpo, um braço de cada lado do rosto lindo, estudando suas
reações, enquanto começo a empurrar com mais voracidade. Gemo
ao senti-la ficar cada vez mais úmida, quando entro nela. Aumento a
velocidade, roçando seu clitóris com o meu corpo, em um ritmo
insano para nós dois.
Ludo geme alto, mas eu quero ir além, quero que seu prazer
seja tão grande quanto o meu. Chupo seus seios, mordiscando o
mamilo, e sei que descobri uma zona sensível quando ela se contrai
em volta do meu pau e seus quadris empurram para cima.
— Eu preciso… Ludo… não sei se consigo me controlar
mais, estou completamente louco por você. — sussurro, de olhos
fechados.
— Quero você. Tudo de você, Atlas.
Sua confissão me deixa louco, e começo, então, a meter
duro, sem controle, enquanto ela me arranha, gostando de cada
segundo. Quando olho entre nós e vejo meu pau coberto com seu
tesão, jogo a cabeça para trás, tentando me controlar, porém, já é
tarde demais. Eu estou completamente rendido.
Penetro com força, dando tudo de mim, querendo possuí-la
de todas as formas possíveis. Nossas peles deslizam uma pela
outra e não há mais nada de suave na foda. É paixão faminta, sexo
cheio de saudade. Uma fome que toma conta dos nossos corpos,
tesão desmedido.
Seus músculos começam a me apertar com mais constância
e sei que está perto de gozar. Meu pau lateja, querendo a libertação
também e quando ela aperta à minha volta, sugo seu mamilo, como
punição por me roubar a sanidade.
— Goza pra mim. — falo baixo, e o comando parece surtir
efeito, porque sinto meu pau ser massacrado pela sua boceta,
enquanto ela enrijece e se entrega completamente.
Seus espasmos são deliciosos. É demais para aguentar, e
em poucos segundos, o clímax também me atinge, arrancando tudo
de mim. Ficamos deitados, ofegantes, tanto nos recuperar de todas
as sensações do que acabou de acontecer, e quando, finalmente,
olhamos um nos olhos do outro, vejo todo o tipo de emoção ali.
Não falamos mais nada, porque não sei bem o que falar
depois de tudo isso. Apenas abraço-a forte, puxando-a para o meu
peito, e ficamos ali até adormecermos, cada um imerso em seu
próprio pensamento.
Sinto meus músculos completamente moídos, depois da noite de
atividades intensas de ontem. Graças a Deus, ouvi aquela vozinha
interna que mandou eu me depilar ontem, antes de sair, porque nem
nos meus melhores sonhos eu imaginaria que algo assim poderia
acontecer. Um noite de sexo intenso, cheio de desejo e muito
sentimento, pelo menos, da minha parte.
Meu. Deus. Do. Céu!
Como Atlas pode continuar sendo tão gostoso quanto antes?
Ouso dizer, que realmente, ainda melhor do que a sua versão
adolescente e cheia de si. Ele mudou para melhor em todos os
sentidos, mantendo ainda seus traços mandões, e completamente
enlouquecedores, de antes. O homem que me amou a noite inteira
ontem era decidido, dedicado, sem pressa e completamente
entregue. Isso foi tão intenso que hoje eu não sei bem o que
esperar. Não estou acostumada a lidar com tantas emoções em
minha vida pacata do interior. Realmente, vir para Havdiam está
sendo um teste cardíaco para mim.
Ainda de olhos fechados, colocando meus pensamentos em
ordem, tento formular frases, para que tudo o que vivemos na noite
passada não seja interpretado como se eu fosse alguém
completamente emocionada. Eu sou, mas ele não precisa saber o
quanto me afeta, e principalmente, o quanto eu estava revivendo um
sonho. Tento pensar no que falar, para que ele entenda que gostei,
que foi satisfatório, mas que entendo que é tudo completamente
casual, e que eu não estou esperando um anel de compromisso.
Não posso parecer desesperada, muito menos iludida, como fui
anos atrás.
Mas, apesar de tudo isso, eu sei que ninguém nunca vai me
dar o que ele me dá. Nem vai fazer com que eu me sinta tão bem
como ele faz eu me sentir. Todos os sentimentos que tentei colocar
bem para debaixo do tapete, por tantos anos, voltaram com tudo,
desde o momento em que o revi em minha sala, dias atrás.
Verdade seja dita, eu nunca o esqueci.
Sempre foi Atlas.
A vida inteira, comparei qualquer outro homem com o que
tinha gravado com ele em minhas memórias. Definitivamente, hoje,
ou ontem, na madrugada, não sei mais, vi tudo aflorar novamente.
Eu tinha razão em manter tudo o que vivi antes em minha
memória e em meu coração.
Como poderia ser diferente?
Quem se compararia a um homem assim?
Abro um mínimo sorrisinho ao me lembrar do seu toque
preciso, da sua devoção ao meu corpo e de como ele parecia
realmente querer me dar o máximo de prazer possível. Dedicado ao
extremo em me fazer completamente dele.
Isso torna tudo muito mais difícil.
Não quero ter que acordar e lidar com o que vem a seguir.
Ainda preciso blindar meu coração para qualquer possível rejeição
que possa vir a acontecer. Preciso agir como a mulher madura que
sou, sem ter uma crise de choro descontrolado. Na sua frente, pelo
menos.
Um encontro casual. Um reencontro de velhos amigos, que
culminou em uma noite de sexo quente, mas nada além disso.
Você consegue, Ludovika. É apenas escutar o que ele tem a
dizer, confirmar com a cabeça, oferecer uma xícara de café, abrir a
porta e vê-lo ir embora. Não pode ser tão difícil. Você já fez isso em
momentos de carência, com outros homens.
Me mexo um pouco, atenta a qualquer movimento do outro
lado, e percebo que não tem ninguém ao meu lado. Ainda de olhos
fechados, tateio a cama, e confirmo que ela realmente está vazia.
Bom, pelo menos, ele nos poupou do constrangimento e fez
uma caminhada da vergonha mais cedo. Não consigo evitar a
decepção por alguns segundos, mas, no fundo, sei que foi melhor
assim. Não confio em mim mesma, e provavelmente, não iria
conseguir disfarçar a expressão de decepção em meu olhar. Mas,
poxa, não somos desconhecidos… ele poderia sim, me dar um
tchau. Não custava nada ter o mínimo de consideração.
Me sento, confusa, ainda sonolenta, e olho ao redor,
constatando que realmente estou completamente sozinha em meu
quarto. É isso, agora, eu preciso voltar para o mundo real, dou de
ombros, tentando me conformar, mas escuto um barulho de panelas
batendo na cozinha.
Secretamente, abro um sorriso, porque agora, sei que ele
ainda não foi embora, e me questiono sobre o que fazer. Escovar os
dentes. Talvez, pentear o cabelo e tirar a remela dos olhos. É isso,
eu tenho um plano. Não adianta acordar igual a uma maluca, ao
lado de um Deus grego, e ainda querer manter uma conversa séria,
já que, pelo barulho, Atlas não irá fazer uma caminhada furtiva e ir
embora rapidamente.
Visto o meu robe e me encaminho até o banheiro, e enquanto
estou finalizando as coisas, escuto-o entrar no quarto.
— Ludo? — ele pergunta um pouco confuso, mas saio
prendendo meu cabelo em um rabo de cavalo, e fico surpresa com o
que Atlas aprontou.
— Bom dia. — falo baixinho, olhando para o café da manhã
incrível que está espalhado em cima da minha cama.
— Bom dia… pensei em fazer um café, já que acordei
primeiro, mas acho que fiz bastante barulho. — ele fala, parecendo
sem graça, mas meu sorriso parece o encorajar.
Café da manhã na cama? Pra mim? Isso, sim, é novidade e
algo completamente inesperado.
— Eu adorei, obrigada. — digo, me sentando em uma
extremidade e pegando a xícara de café, para ter com o que me
ocupar.
Atlas me rouba um beijo casto, antes de fazer a mesma
coisa, e por alguns minutos, comemos em silêncio, cada um imerso
em seus próprios pensamentos.
— Atlas…
— Ludo…
Falamos ao mesmo tempo, e depois de uma risadinha sem
graça, lhe dou a palavra.
— Bom, noite passada foi… incrível. — ele fala, parecendo
um pouco aéreo, e continua — Sei que precisamos nos reconectar
de muitas formas, que temos anos sem conviver, que moldaram
nossa vida e nossos comportamentos, mas eu te conheço. Você me
conhece. Não podemos fingir que noite passada não foi algo
especial.
Fico momentaneamente surpresa com a sua afirmação.
Achei que essa conversa iria para um lado completamente oposto e
minha expressão confusa faz com que ele abra um sorriso amplo.
— Não sei se estou entendendo aonde você quer chegar. —
digo, depois de algum tempo. O que ele quer dizer com "não
podemos fingir que noite passada não foi algo especial".
— Ludo, não somos mais adolescentes. Não temos que fazer
joguinhos um com o outro, e tenho convicção o suficiente, para dizer
que você gostou tanto do nosso reencontro quanto eu. — confirmo
com a cabeça, porque não tem como negar algo assim.
— Mas…? — pergunto, porque sempre tem um “mas”. Isso é
fato.
— Sem “mas”. Não somos mais adolescentes, não
precisamos nos provar para o mundo, nem procurar a próxima
emoção. Eu quero ver onde isso vai dar, quero estar com você. Digo
com convicção, que tenho interesse em algo mais sério, porque,
para ser sincero, o que temos, não tem nada de casual. Nunca teve.
— como não digo nada, a sua expressão parece cada vez mais
ansiosa — Você também quer tentar?
Será que eu ainda estou dormindo? Porque tudo isso parece
confuso demais para o meu gosto. Se Atlas está tentando brincar
com os meus sentimentos, ou fazer uma pegadinha para me deixar
com cara de boba, eu não sei. Mas a cada segundo que passa, me
parece ainda mais angustiante para os dois.
— Você não está me pregando uma peça, não é? Porque, se
isso for a sua definição de brincadeira, sinto lhe informar que não
tem graça nenhuma. — falo desconfiada, e ele solta uma
gargalhada baixa.
— Meu Deus, Ludo. Acha que eu brincaria com algo assim?
Eu não sou um idiota. — levanto uma sobrancelha, com uma
expressão questionadora, e ele encolhe os ombros, antes de
completar — Pelo menos, não sou mais. E então? Você também
quer?
— Eu aceito uma nova aproximação, porque você sabe o
quanto eu gosto de você. Mas, assim como você foi sincero, eu
também serei. — respiro fundo e falo tudo o que estou sentindo
nesse momento — Não vou entrar de cabeça, sabendo que posso
me machucar, e muito. Eu não tenho mais idade para sofrer por
amor, Atlas. Não quero um relacionamento complicado, pisando em
ovos, cheio de insegurança. Se você estiver disposto a ser
transparente e leal, podemos tentar… se não, eu prefiro me abster.
Atlas me olha por alguns segundos, mas abre um sorriso
largo no rosto, antes de engatinhar em minha direção na cama e
roubar um beijo intenso e cheio de sentimentos, que me faz perder o
fôlego.
— Aprendi com os meus erros, Ludo. Eu vou te reconquistar.
ALGUM TEMPO DEPOIS…

Pela primeira vez em anos, eu me sinto bem. Feliz.


Realizado. Sem carregar peso demais por fazer algo que eu quis,
sem pensar nas consequências.
Quem diria que minha vida iria para esse caminho?
Que Ludovika Pavlova iria reaparecer e mexer com tudo
dentro de mim?
Que eu ainda poderia ser feliz?
Depois de alguns dias sem contar para ninguém sobre nós dois,
testando, para saber até onde realmente isso iria dar, além de
mostrar para Ludo que eu estou comprometido e sério com a nossa
relação, começamos a nos encontrar com mais frequência e em
lugares públicos. Sei que tenho um grande caminho pela frente,
onde preciso provar para Ludo todo o meu amor e o meu
comprometimento com a nossa relação, mas estou no caminho e sei
que, dessa vez, farei tudo diferente. Como provar minhas boas
intenções, além de lhe assegurar que ela é a única e que continuará
sendo? Apenas tentando bastante e dando o meu melhor. Algo nada
complicado para um cara dedicado aos seus objetivos, como eu
sou.
O bom humor tem sido contagiante e, além da minha família e
funcionários, que ficaram particularmente surpresos com o meu
temperamento, Eros parece desconfiado de alguma coisa. O garoto
tem aproveitado para brincar mais, e principalmente, aprontar
travessuras, sabendo que eu não irei repreendê-lo de forma séria.
Ele também passou a questionar, sondando o motivo do seu papai
estar sempre sorrindo tanto, coisa que tem me feito refletir bastante.
Só quando mudamos o nosso comportamento, é que
percebemos o quanto éramos carrancudos e negativos. Eu nunca
fui um homem muito divertido e piadista, mas nos últimos anos, me
tornei realmente muito mais sério e frio. Com Dafne ao meu lado,
sugando tudo o que poderia haver de bom em mim, não poderia ser
diferente. Quanto mais distantes ficamos, menos sinto seu peso e
sua negatividade. É quase como se eu estivesse passado anos em
uma prisão, e agora, finalmente estivesse experimentando a
liberdade.
— Só estou ligando para saber como passou o dia, querida.
— digo pelo alto-falante do carro, assim que Ludo atende o telefone.
— Muito bem, hoje, surpreendentemente, ninguém se
machucou ou precisou de uma conversa mais séria com a diretora.
A primeira semana do ano letivo sempre é cheia de surpresas, mas
essa correu satisfatoriamente bem. — ela brinca, também deixando
implícito que Eros se comportou.
Depois de alinharmos nosso relacionamento, e claro, com o
fim das férias, decidi trocar Eros de escola e deixá-lo aos cuidados
da melhor pessoa que eu conheço para essa função. Dafne, como
sempre, não fez nenhuma objeção, já que mal sabia onde era o
endereço da antiga escola, então, como sou eu quem tomo todo tipo
de decisão a respeito da sua educação, a transação foi bem
tranquila. A escola de Ludovika é realmente boa, além disso, agora
tenho a desculpa de vê-la com mais frequência, o que é realmente
bom. Assim, Eros também pode passar a conviver mais com ela,
para que, quando oficializamos algo mais sério e contarmos para
ele, meu filho não estranhe tanto a nossa relação.
— Que bom… sinal de que a noite de ontem não te deixou
cansada o suficiente para não conseguir trabalhar direito. — brinco,
colocando um duplo sentido na frase, que ela responde com uma
risadinha um pouco sem graça.
— Espero que seu dia também tenha sido tranquilo, já que
sei o quanto você ficou ocupado na madrugada. Hoje é o seu dia
com Eros?
— Isso, estou a caminho para buscá-lo. Como adivinhou?
— Ele parecia feliz e animado. — ela responde, e quase
posso visualizá-la dando de ombros.
— Fico feliz em saber. Logo, esse pesadelo vai acabar. —
digo para ela, e para mim também.
— Eu sei, enquanto isso, tente ser paciente. Lembre-se de
que ele é seu filho, e com cinco anos, não consegue entender muito
bem as coisas. — seu tom é de quem dá um conselho, e assim que
ela termina de falar, estaciono em frente ao prédio de Dafne,
odiando ter que desligar, e principalmente, ter que vê-la.
— Bom, vou me lembrar. Agora, preciso ir, depois
conversamos. — respondo, e ela se despede, antes de desligar a
ligação.
O porteiro já me conhece, e por isso, não sou anunciado e
quando as portas do elevador se abrem, no apartamento de andar
único, escuto uma música alta vindo da sala. Dafne parece uma
adolescente, ouvindo um som no último volume, com um drink na
mão, vestindo apenas uma camisola completamente indecente. Não
me digno a lhe dar um segundo olhar, e vou até onde sei que Eros
está, ignorando-a completamente. Meu filho, com certeza, está em
seu quarto brincando com a babá, ou vendo algum desenho na
televisão, e somente por ele eu viria até aqui.
Quando estou no meio do caminho, ela segura o meu braço e
com um olhar desejoso, ajeita as alças da camisola, tentando me
provocar. Se ela soubesse o nível do meu desinteresse, não se
prestaria a esse papel, penso ao recuar alguns passos, me
mantendo à distância.
— Não vai me dar um mísero oi? — choraminga, como se eu
fosse a porcaria do vilão dessa história — Fomos casados por anos,
Atlas…
— Não tenho o que falar com você, a não ser, que esteja
disposta a assinar o divórcio ou a abrir mão da guarda de Eros. —
respondo frio, e ela solta o meu braço como se eu a tivesse
queimado.
— Nunca! Você não vai sair dessa com vantagens Atlas. Me
engravidou, me assumiu por obrigação e ainda me fez assinar
aquele acordo pré-nupcial ridículo. Agora, quer que eu abra mão de
tudo o que é meu por direito, apenas por que está cansado de brigar
na justiça? Faça-me o favor… — ela começa com a ladainha de
sempre, e eu reviro os olhos, cansado demais para continuar com
isso.
— Dafne, não temos mais nada para conversar. O acordo
pré-nupcial foi assinado por você e até onde sei, você usufruiu e
ainda usufrui muito bem de todo o meu dinheiro, mesmo não tendo
nenhum tipo de direito sobre ele. Eu estou sendo um homem
compreensivo, e ainda estou lhe dando muito mais do que merece,
apenas para me ver livre de você. — digo cada uma das palavras
com a maior frieza que consigo, e a sua expressão é de quem foi
esbofeteada na cara. Eu nunca falei nada disso em nossas
conversas, ou falei tão abertamente sobre o divórcio com ela, para
evitar conflitos desnecessários. Mas, nesse momento, eu não me
importo mais. Só quero acabar com tudo. Estou exausto de ter que
lidar com a mulher mimada e exploradora, com quem me casei
apenas por não conseguir recuar. Uma idiotice pela qual estou
pagando com juros, é claro.
— Eu tenho direitos. Eros é meu. — ela fala baixo, cheia de
raiva também — A pensão dele é minha, não importa o que você ou
a justiça digam sobre o maldito acordo pré-nupcial, ou não! É o meu
direito! Eu fiz por merecer, Atlas! E não vou desistir, está ouvindo?
— Qual é o seu plano? Sugar todo tipo de dinheiro possível
através dele, sem lhe dar o mínimo de atenção e amor? E depois?
Quando ele crescer e não tiver mais pensão? Vai arrumar outro
marido otário para te bancar?
— O que eu faço ou não da minha vida, não é da sua conta.
— ela responde um pouco mais alto, perdendo totalmente a
compostura. Claramente, fora de si. Talvez, porque não esperasse
tanta sinceridade da minha parte.
— Veremos. Eros é meu, eu vou conseguir a sua guarda, e
você vai ficar com a parte que lhe é de direito no divórcio. Nada
mais do que isso, Dafne. E com sorte, depois disso, não vou
precisar olhar na sua cara nunca mais. — digo cruelmente, e ela fala
baixo, em um tom muito mais ameaçador do que eu esperava.
— Você não sabe do que eu sou capaz, Atlas! Está brincando
com a pessoa errada, porque eu sei muita coisa… Você não faz
ideia do que eu sou capaz de fazer! E não tenho medo das suas
ameaças!
— Pois deveria. — termino a conversa com um arrepio na
espinha, mas sem lhe dar a chance de continuar com essa
baboseira — Eu teria, se fosse você. Não entro em uma briga para
perder, e você, melhor do que ninguém, deveria saber disso.
Digo, com uma segurança que não tenho, mas a surpresa e o
medo em seu rosto maquiado, me dizem que ela comprou minha
ameaça e que, apesar de não admitir, tem sim, medo de que eu
vença essa causa na justiça e de que sua preciosa pensão seja
reduzida a um valor justo. Tento me acalmar e não pensar em todas
as coisas que ela pode fazer para prejudicar a mim e ao meu filho,
já tão maltratado por essa mulher sem escrúpulos.
O que mais ela poderia fazer para me prejudicar?
— Quero atualizações da minha novela preferida! — Anne diz na
hora do almoço, me entregando a salada que trouxe para nós duas.
Meu sorrisinho lhe deixa ansiosa e sei que, nos últimos tempos,
tenho sido número um das fofocas em meu grupo de amigos do
interior. Todos muito interessados em saber a identidade, e como
anda o meu relacionamento com o crush do passado.
— Nossa, nem boa tarde eu recebo! — digo revirando os
olhos, e ela solta uma risada alta.
— Ai Ludo, pelo amor de Deus, né… quem quer saber de boa
tarde, sendo que você passou um fim de semana romântico com o
boy bonitão? — ela pergunta, e eu comprimo meus lábios, tentando
evitar a todo custo o sorriso enorme que insiste em aparecer no meu
rosto.
— Nossa, que fofoqueira! Meu Deus! O que eu fiz para
merecer isso? — questiono, olhando para cima e recebo em troca
um tapinha no meu braço, que indica o quanto ela quer realmente
ouvir a história — Bom, fomos até Recanto do Sonhar conferir como
todas as escolas estavam para o início das aulas, e como sócia,
você deveria saber que está tudo certo com toda as unidades.
— Naturalmente. — ela me interrompe, mas faz um gesto
com a mão, me indicando continuar.
— E o resto do tempo passamos juntos, basicamente,
pelados durante todo o tempo. — digo, e sinto as minhas bochechas
se esquentarem.
— Ai, eu também passaria, com certeza, muito tempo pelada
com ele, viu… benza Deus.
— É bonito, mas é meu, viu? Demorou demais para dar certo,
para ter olho grande em cima dele, agora. — brinco, e ela nem se
incomoda.
— Claro né, amiga, ninguém pode tirar essa felicidade de
você. Dá pra ver o quanto você está bem, apenas pelo seu olhar.
Até a pele está brilhando. — responde, e eu confirmo com a cabeça.
A essa altura, não tem por que negar. Realmente, estou
apaixonada por ele. Mais do que nunca, na verdade. E,
principalmente, estou feliz em estar nessa posição. Nada pode ser
mais satisfatório do que, depois de tantos e tantos anos, finalmente
ser correspondida.
— E ai? Quando vão dar o próximo passo e contar para a
família? Tenho certeza de que a dona Olga vai infartar de emoção,
quando souber que a sua filhinha desencalhou, e ainda laçou um
milionário no meio do caminho. — gargalhamos juntas, e ela
continua — Acho que sua mãe ficaria feliz com qualquer um, a esse
ponto.
— Com certeza. Ela só quer netos e não importa de onde
venham. — digo com simplicidade.
— O bom é que, no pacote, já vem um de brinde, né? — fico
um pouco mais séria com essa afirmação, mas ela não deixa de ser
verdade. Eros seria muito amado pela minha mãe, que sempre quis
ter crianças rodeando a casa. Anne entende o meu silêncio
momentâneo como algo ruim, e questiona — Quando vão contar
para ele, por falar nisso? Está preocupada se o garoto vai te
aceitar?
— Na verdade, ainda não conversamos sobre isso. Sei que
Atlas quer incluir Eros em alguns passeios, mas parece sem graça
de abordar o assunto. Sinceramente? Não tenho certeza do que
devo fazer. Tenho realmente medo de ele não me aceitar, até
porque, ele já é revoltado com a mãe, pode achar que estou
competindo com ele, de alguma forma, pela atenção do pai.
— Bom, eu acho que ele te adora e vai gostar de te ter por
perto. Vocês sempre ficam conversando quando faz uma visita à
sua sala. — ela tenta me animar, mas eu dou de ombros.
— Ah, é muito diferente, né? Vamos dar tempo ao tempo.
— É o melhor a se fazer, só tome cuidado com a cobra da
Dafne, porque tenho certeza de que, assim que souber, vai fazer
algo contra vocês. — ela concorda, e finalmente, começamos a
almoçar.
— Aquela Barbie plastificada pode até tentar, mas acho que
estamos ficando blindados. A nossa relação está sendo construída
de um jeito muito legal e maduro.
— Eu sei amiga…, mas cuidado nunca é demais.

***

Em minhas visitas diárias às salas de aula, sempre estou em


contato com os alunos. O hábito, que começou para que eu
pudesse ficar de olho em Eros, agora é algo que eu realmente sinto
muito prazer em fazer. Em geral, elas são tranquilas, mas algumas
vezes, os professores pedem para que eu dê uma ou outra
palavrinha com algum aluno, e outras vezes, eles vêm até mim para
contar sobre algum assunto e pedem para que eu resolva algum
problema.
Já estou acostumada com esse contato e realmente amo ajudar,
amparar as crianças, faz parte de mim.
Hoje, assim que entro na sala do garotinho que faz o meu
coração se acelerar, percebo que estão na hora da soneca. Faço o
mínimo de barulho possível, para não acordar nenhum deles, mas
vejo os olhos muito negros do meu futuro enteado bem abertos, me
estudando. Abrimos um sorriso um para o outro, e ele se sente na
liberdade de levantar-se e vir em minha direção. Estendo-lhe a mão,
para que ele a segure, e juntos fechamos a porta com cuidado, para
não acordarmos nenhum dos seus colegas.
— Não conseguiu dormir, meu amor? — pergunto para ele,
que nega com a cabeça.
— Hoje não fiquei com sono, diretora. — ele responde, e nós
nos sentamos em um banquinho próximo à sua sala.
— E como você está? — pergunto, sondando o motivo da
sua inquietação, e ele dá de ombros.
— Tudo bem. — ele diz, e com um sorriso muito arteiro no
rosto fala baixinho, colocando as duas mãos ao redor da boca,
como se estivesse me contando um grande segredo: — Você e meu
pai se conhecem, não é?
Confirmo com a cabeça, sem entender o seu raciocínio.
— Somos amigos desde quando éramos pequenos, do seu
tamanho. — digo, de uma forma que ele consiga entender, e seu
sorriso se abre ainda mais.
— Ouvi ele falando ao telefone outro dia… e Ludovilika é um
nome muuuuito estranho, né?
— Ludovika. — o corrijo, mas confirmo com a cabeça mesmo
assim.
— Isso, Ludovilika. — ele fala novamente errado, e eu solto
uma risada baixa — Vocês estão namorando? — sua pergunta é tão
na lata, que sinto meus olhos se arregalarem de susto.
— Como assim, Eros? — pergunto, tentando entender o seu
raciocínio.
— Bom, eu já vi vocês conversando várias vezes, quando
papai vem me buscar… dão abraços… meu amigo, Lino, me contou
tudo sobre isso.
Fico tão chocada que não consigo responder nada lógico.
Não quero mentir para ele, mas também não esperava contar desse
jeito, sem Atlas ao meu lado. O que será que esse tal Lino contou
para ele, que fez com que um garotinho de cinco anos tivesse tanta
certeza?
— Ah! — sua voz soa ainda mais baixa — É segredo, né? —
a esse ponto, não tenho mais o que fazer, a não ser, confirmar com
a cabeça — Tá bom. Eu juro que não conto pra ninguém… nem pra
minha mãe.
Meu sangue gela, e sem dizer mais nada, ele salta do banco,
abre a porta da sala com certa dificuldade, por conta da altura, e
entra de novo, me deixando sozinha.
Como ele descobriu? Pelo visto, somos mais óbvios do que
achávamos.
O que eu faço agora?
Conto para Atlas?
Espero que Eros fale com ele, da mesma forma que falou
comigo?
Aparentemente, ele não viu com maus olhos, o que ele
entende por namoro em sua linguagem infantil, então, me sinto um
pouco mais aliviada por não ter sido rejeitada. Mas, como contar
para Atlas, sem parecer que estou lhe pressionando para firmarmos
algo mais sério?
Dormir com Atlas é uma novidade muito bem-vinda. Quando
mais novos, isso raramente acontecia, e sempre tínhamos que sair
correndo, escondidos e sem nenhum tipo de tranquilidade. Agora,
só apreciamos a companhia um do outro, sem nos preocuparmos
com o tempo, ou com quem vai nos pegar no flagra.
Acordo antes dele, por algum milagre, e fico admirando os
contornos firmes do seu rosto esculpido maravilhosamente. Seus
cílios negros contrastam perfeitamente com a sua pele e com o seu
cabelo. Sua expressão é tranquila e, abraçado ao meu corpo, ele
parece realmente relaxado. Faço um carinho em seus cabelos,
antes de beijar sua testa e acordá-lo.
— Bom dia, meu bem! Jajá, tenho que ir embora. — digo
baixinho e ele sorri, antes de procurar meus lábios e cola-los junto
aos seus em um beijo casto.
— Bom dia, linda. — ele responde, abrindo um sorriso, antes
de esfregar os olhos e continuar — Tenho certeza de que você pode
ficar mais um pouquinho…
— Eros vai chegar… e, bom… você sabe. — digo, dando de
ombros, e ele confirma com a cabeça.
— Acho que ele já sabe. — Atlas diz, dando um bocejo — Me
perguntou, alguns dias atrás, qual era o nome da diretora e porque
eu ficava conversando com você o tempo inteiro. Na verdade, acho
que estava sondando para saber se ele estava encrencado, mas
quando disse que éramos amigos, ele ficou com um sorrisinho muito
suspeito no rosto.
Sua fala me pega de surpresa e quase gargalho quando
escuto a sua versão. Então, o pequeno realmente estava sondando
sobre nós dois… danadinho. Atlas me olha curioso, e por isso,
resolvo contar a minha versão dos fatos.
— Anteontem, ele veio até mim e perguntou se estávamos
namorando. Mencionou um amigo chamado Lino, algo assim. —
digo, um pouco sem graça, e ele confirma com a cabeça.
— É. Ele achou muito curioso o amigo Lino ter uma nova
mãe, no caso, uma madrasta. Triste, porque sinto que a sua
carência de afeto maternal é tão grande, que ele ficou torcendo para
que eu lhe arrumasse uma nova mãe também. — sua expressão é
triste, e por mais honrada que eu esteja, ao saber que ele,
provavelmente, não vai me rejeitar, por ansiar por uma figura
feminina em sua vida, me sinto triste por ele.
— Bom, ele sempre terá a sua mãe de verdade. — comento,
sem saber se estou deixando a conversa mais leve, ou não.
— É… enfim. — ele desconversa, e sei que é porque não
confia que Dafne esteja para sempre com ele — Acho que, talvez,
esteja na hora de contarmos para ele. Se você quiser, claro. — Atlas
parece um pouco desconcertado, e pisco algumas vezes, tentando
entender o que ele está dizendo.
— Como assim?
— Ludo… estamos juntos há algum tempo, nós nos
conhecemos pela vida inteira. Disse antes, e repito, eu quero algo
sério com você. Isso, o que temos, — ele aponta para nós dois e
continua — é de verdade. No meu coração, já temos um
compromisso.
Sinto meus olhos se encherem de lágrimas, e com um sorriso
contido, confirmo com a cabeça.
— Estamos juntos. — Atlas afirma, ainda mais imponente,
unido nossas mãos e levando-as até a sua boca, antes de beijá-las
— Eu nunca amei ninguém, como eu amo você.
Sua declaração me pega de surpresa e, se antes já estava
emocionada, agora, estou com lágrimas nos olhos, chorando. Será
que isso realmente está acontecendo, ou é um sonho? Nunca
imaginei ouvir essas palavras de Atlas, e neste momento, cogito me
beliscar para saber se eu ainda estou dormindo.
— Atlas… eu não sei o que dizer. — falo baixinho, e ele ri,
limpando uma lágrima que rolou até a metade da minha bochecha.
— Bom, que aceita ser minha namorada, noiva, esposa e que
quer ficar comigo pro resto da vida, é um bom começo. — ele fala
brincando, mas as borboletas em meu estômago estão fazendo
festa nesse momento.
— Bobo! É claro que eu quero. Eu sempre te amei. —
confesso, e ele segura os meus cabelos, me puxando para mais
perto. Nossas bocas se unem, e o beijo mais gostoso de todos
acontece. Um beijo cheio de promessas, cumplicidade, amor e todo
o sentimento que tive em meu peito durante toda a minha vida.

***

Vamos juntos buscar Eros na mansão Sanchez, e por mais


envergonhada e cheia de ansiedade que eu esteja, não consigo não
me sentir nostálgica com tantas lembranças. Evito entrar na casa,
porque ainda é muito cedo para me introduzir no meio familiar,
especialmente, antes de contar a Eros exatamente o que está
acontecendo entre mim e Atlas. Por isso, com um beijo de
despedida e a promessa de que volta logo, ele desce do carro,
pronto para buscar o garoto.
O plano é simples, vamos conversar bastante, levá-lo para tomar
um sorvete, o que Atlas disse ser o seu passeio preferido, e vamos
contar que estamos namorando. Sem beijos, sem muito contato
físico e sem deixá-lo desconfortável de forma alguma. Aprendi a
lidar com crianças e sei que, por mais que nós já nos conheçamos e
ele ache que sabe alguma coisa sobre a relação do seu pai comigo,
o melhor a fazer é ir com calma. Principalmente, porque o garotinho
já está sofrendo demais com o divórcio que se prolonga há meses.
Assim que avisto os dois saindo pela porta da frente, outra
figura chama a minha atenção. Dona Camélia parece animada,
conversando com eles na saída de casa. Ela olha em direção ao
carro, e assim que me vê, abre um sorriso enorme para mim, que de
longe parece bastante orgulhoso.
— … e nós vamos tomar aquele sorvete de chocolate que
você ama, filhão. — escuto Atlas falando, quando abre a porta do
banco traseiro para que Eros entre e se sente em sua cadeirinha.
Seus olhos negros me estudam por algum tempo, e ele abre
um sorrisinho tímido, antes de dizer: — Oi, diretora Ludovilika!
— Pode me chamar de Ludo, meu amor. — digo, e ele
confirma com a cabeça.
— Tá bom.
Quando Atlas volta para o banco de motorista, seu olhar me
diz que está surpreso e um pouco apreensivo. Aparentemente, Eros
não está tão comunicativo como o seu normal.
— E então, filho? Gostou de mais uma noite do pijama com a
tia Atena? — ele pergunta para puxar papo, e então, o pequeno
começa a falar sobre todas as brincadeiras que a irmã mais nova de
Atlas inventou para a noite.
Pelo visto, esses encontros o deixam muito animado, e por
mais que eu saiba que Atlas tem uma relação conturbada com a
família, Eros ter contato com eles é fundamental. Principalmente
agora, que está passando por tantas mudanças em seu cotidiano.
Chegamos à uma sorveteria em frente à uma praça e, ainda
sem falar muito, caminho ao lado de Atlas, enquanto ele dá a mão
para o pequeno, que parece animado, falando todos os sabores de
sorvete que ele vai querer para hoje.
Escolhemos os sabores, pagamos e quando finalmente nos
sentamos todos juntos à mesa, Eros pergunta: — Por que vocês
estão tão estranhos?
Eu e Atlas nos olhamos um pouco apreensivos, mas o garoto
sempre foi muito esperto para a idade, por isso, não nos
surpreendemos tanto com a pergunta.
— Eu e Ludo temos uma coisa para te contar. — Atlas
começa e eu tento abrir um sorriso acolhedor, mesmo tremendo
inteira por dentro — Papai e a Ludo… bom, nós estamos
namorando. O que você acha sobre isso?
Ele olha pra mim por um momento, depois foca em Atlas e dá
de ombros.
— Tudo bem.
Sua reação é espantosa, e por mais que eu queira explorar
um pouco mais as suas emoções e entender exatamente o que isso
quer dizer, apenas seguro a sua mãozinha e digo: — Não quero
substituir o lugar da sua mãe, mas você vai poder contar comigo pra
sempre, combinado? — Eros me olha e abre um sorriso hesitante,
antes de confirmar com a cabeça e apertar de volta a minha mão.
Nesse momento, apesar de não poder demonstrar muitas
emoções, tanto para o pai, quanto para o filho, sinto que ganhei um
enteado e um filho postiço. Eu já amava esse garotinho muito antes
disso, mas agora, sabendo que ele me aceitou em sua família, eu o
amo muito mais.
Passar o dia com Ludo e Eros, sem precisar escolher entre
estar com um ou com o outro foi realmente incrível. Não me lembro
de ter estado tão relaxado e feliz, brincando e curtindo o momento,
sem me preocupar com mais nada, a não ser passar um tempo de
qualidade com as pessoas que eu mais amo. Ludo, depois do
sorvete, deu a ideia de irmos para uma praça com playground e
enquanto assistimos a Eros interagir e brincar com outras crianças,
pudemos conversar sobre a sua reação.
Meu garotinho recebeu bem a informação, e nos surpreendeu
com a sua atitude positiva. Ficamos felizes com a sua receptividade,
e quando ele adormeceu no banco de trás, consegui convencer
Ludovika a dormir em minha casa pela primeira vez.
Sendo assim, agora caminho com Eros até o seu quarto,
enquanto ela espera na sala, tomando uma taça de vinho, e o
coloco para dormir, ansioso para o que vem a seguir. Sem perguntar
nada, me surpreendendo mais uma vez, ele se deita e me dá um
boa noite cheio de sono, antes de se virar pro lado e adormecer em
poucos segundos. Com certeza, resultado do dia cheio de
estripulias que foi hoje.
Passo pela sala e vejo que ela não está mais lá sentada, me dirijo à
outra parte da casa e assim que entro no quarto, encontro Ludo
parada perto da porta, parecendo meio incerta sobre o que fazer.
Sua expressão é envergonhada e sei que está pensando demais
sobre o dia de hoje, e em tudo o que tem acontecido. O que não
importa muito, porque agora, tudo o que eu quero é me afundar em
seu corpo macio e tomar dela tudo o que eu conseguir.
Sem pensar muito, empurro-a contra a parede, agarrando o seu
cabelo, antes de distribuir uma trilha de beijos por seu pescoço. Ela
geme antes de os nossos lábios se encontrarem. Mordisco sua boca
e Ludo esfrega os seios no meu peito, sabendo muito bem o que faz
comigo, no que isso vai dar e entendendo o meu posicionamento
aqui. Ela não vai embora, não temos mais por que esconder ou nos
envergonharmos de alguma coisa. Tranco a porta do quarto e puxo
a sua blusa para cima, subindo as mãos pelas suas costas,
procurando pelo fecho do sutiã. Em poucos segundos, a peça está
no chão, enquanto seguro sua nuca, deixando-a parada e desço a
boca para chupar seus mamilos intumescidos.
A excitação dentro da minha calça se torna ainda mais
intensa e eu percebo que, quanto mais estamos juntos, mais
perfeito parece ser. Como se o seu corpo realmente fosse feito para
mim, para responder aos meus comandos e se entregar
completamente. Passeio as minhas mãos por seu corpo inteiro, com
as minhas palmas escorregando pelas suas curvas deliciosas e
chego até a calça jeans, que eu também faço questão de abrir e
descer o mais rápido possível. Sua calcinha rendada preta é uma
tentação, mas seu olhar desejoso é o combustível que faltava para
que eu me apresse ainda mais.
Desço sua calcinha, beijando sua barriga ao mesmo tempo, e
quando ela a retira com os pés, subo as mãos, fazendo um carinho
despretensioso que a arrepia inteira. Agarro sua bunda com as duas
mãos e ela geme baixinho, se esfregando descaradamente em mim.
Isso é demais para que eu possa aguentar.
Dou-lhe um tapa estalado e ela parece surpresa, mas não
reclama, pelo contrário, abre um sorriso espantado, mas cheio de
prazer. Tiro minha blusa com a maior pressa do mundo, e em um
segundo, estou nu na sua frente, meu pau rijo roçando a sua
entrada por conta da proximidade entre nós dois. Viro-a de costas e
seguro o meu pau pulsando com uma das mãos, com a outra, faço
com que ela abra as pernas, pronto para amá-la em pé, contra essa
parede.
Penetro-a de uma só vez, enquanto ela empina a bunda para
que eu entre mais fundo. Espalmo uma das mãos na parede e, com
a outra, seguro a sua cintura, fazendo com que ela gema a cada
contato do meu corpo com o seu. Ludo está totalmente molhada, me
permitindo escorregar sem obstáculos, porém, sua mão firme em
meu braço, cravando as unhas a cada estocada, me diz que ela
está achando tão intenso quanto eu. Sua entrada me aperta
loucamente, aumentando ainda mais o meu prazer. Sempre assim:
incrivelmente bom.
Eu não vou conseguir me segurar por muito tempo, mas ela
merece mais do que isso, não posso simplesmente acabar, gozando
rápido assim. Por isso, estoco mais algumas vezes, antes de me
retirar e beijar sua boca com vontade, depois, pego-a no colo e a
levo para a cama.
— Você me enlouquece. — é a primeira coisa que falo desde
quando entrei no quarto, e seu sorriso faceiro é toda a resposta que
eu preciso.
— Então, você faz ligeiramente, uma ideia do que faz comigo.
— sua resposta me deixa ainda mais louco.
Viro-a de bruços, beijando sua nuca e descendo para as suas
costas, escutando seus gemidos baixos. Me ajoelho entre as suas
pernas, esfregando minha glande na sua entrada, e ela vira a
cabeça de lado, me olhando nos olhos.
Ludovika começa a mostrar que não sou só eu quem sabe
atiçar, porque ela rebola gostoso, tornando impossível de resistir aos
seus encantos. Puxo a sua bunda para trás, nos encaixando, e
gememos juntos quando começo a me mover contra ela. A cada
impacto do meu corpo no seu, a sua bunda rebolando contra o meu
pau, é demais pra mim. Ver seus cabelos ruivos espalhados pela
cama, escutar seus gemidos altos e captar seu olhar, mesmo que de
lado, hipnotizado em minha direção, só aumenta o meu tesão.
Seguro a sua cintura com uma das mãos e com a outra, eu puxo o
seu cabelo.
— Está muito gostoso, não tá? — pergunto ao pé do seu
ouvido, ao puxar o seu corpo para mim.
— Muito… Atlas… — confessa, em meio a um gemido baixo
— Só não para agora...
— Gosta assim, não é? — penetro bem fundo, sentindo seus
espasmos de prazer.
— Eu amo. — ela diz ofegante.
Ludo começa a se contrair ainda mais contra mim, apertando
o meu pau a cada gemido. É delicioso como o seu corpo me
envolve, e principalmente, como eu me sinto ótimo no contato da
minha pele com a sua. Continuo as minhas estocadas em um ritmo
frenético, e quando começo a tocar seu clitóris, ela parece delirar de
tesão.
— Atlas! — Ludo geme alto o meu nome, quando invisto com
tudo até o fundo.
Aperto sua bunda com mais força, deixando as marcas dos
meus dedos, enquanto sinto-a gozar no meu pau, convulsionando
seu corpo e me esmagando por dentro. Não consigo me segurar
mais e seguindo o seu ritmo, enlouquecido pelos estímulos, gozo
também.
— Cada vez melhor, não é? — pergunto, surpreso.
— Parece impossível, mas sim… — ela diz, ainda de olhos
fechados — Amor… vamos dormir? — Ludo pergunta, e sem
esperar por uma resposta, ela se aninha em meu peito e fecha os
olhos.
Passo meu braço ao seu redor e, satisfeito, também me
rendo ao cansaço.
Não imaginei que as coisas fossem tomar esse rumo, mas não me
lembro de ter sido mais realizada em toda a minha vida. O trabalho
vai bem, meu relacionamento com Atlas está cada dia melhor e Eros
tem me aceitado com carinho e alegria em sua vida.
Mas, como tudo o que vai muito bem, tende a tomar um rumo
catastroficamente horroroso, assim que atendo ao telefone e falo um
"alô" despretensioso, sinto todo o sangue do meu corpo sumir,
quando escuto a voz do outro lado.
— Então, é com essa vozinha de sonsa que você conseguiu
ir cercando todo mundo para cair no seu papinho? — a voz
anasalada de Dafne soa do outro lado da linha, e mesmo com
tantos anos passados, parece que nada mudou. Ela continua sendo
a garota malvada do colégio. Ainda que seja alguns anos mais nova,
continua intimidando qualquer um.
— Não sei do que você está falando, e sinceramente, não me
importo nem um pouco com o que pensa a meu respeito, Dafne. —
digo firme, mas com o coração disparado. Essa surpresa,
definitivamente, foi muito desagradável, e eu não estou acostumada
a entrar em confrontos ou barracos dessa forma. Gosto de paz e
tranquilidade, por isso, nunca me dei bem em confusões, mas se ela
veio com essa intenção, não irei recuar.
— Ah, vai se fazer de desentendida, então? Esse é o seu
jogo? — pergunta, e sem me dar o direito de resposta, continua —
Soube que finalmente conseguiu fisgar Atlas. Mas, você sabe que
isso é coisa de momento, ele nunca te quis de verdade. Agora, está
vulnerável e carente, eu até entendo ele abaixar o nível assim, mas
logo vamos voltar e você será largada para escanteio novamente.
Então, faça um favor para você mesma, e suma enquanto seu
orgulho está intacto.
— Olha só… — tento argumentar, mas ela me corta
rudemente.
— Eu não estou esperando uma resposta sua. Só estou te
dando um aviso. Atlas é, e sempre foi, meu. Lide com isso e desista
enquanto é tempo.
O tu-tu-tu do outro lado da linha, me diz que ela desligou o
telefone e só percebo que estou tremendo quando olho para o
aparelho em minhas mãos. Raiva, frustração e ansiedade tomam
conta do meu corpo.
Isso, definitivamente, não é um bom jeito de começar o dia, e
eu não consigo nem imaginar o que fazer a partir de agora.
Ligo para Atlas e conto tudo sobre essa ligação ridícula?
Ignoro a situação e finjo que nada aconteceu?
Quem essa mulher pensa que é para falar comigo dessa
forma?
Por que ela está afirmando aos quatro cantos, com tanta
certeza, que ela e Atlas irão voltar?
É claro que Dafne me ligou para jogar todo o seu veneno e
me tirar da jogada, não precisa ser nenhum tipo de gênio para
perceber isso. Mas, ao mesmo tempo, não sei exatamente que tipo
de relação ela e Atlas tiveram, afinal, foram anos e anos juntos. Se
não existisse nenhum sentimento, como ele insiste em afirmar, acho
que a relação não sobreviveria. Nem ele é tão teimoso assim.
Em geral, não sou uma pessoa insegura, mas quando se
trata dele, eu pareço realmente uma menina boba, que tem medo da
própria sombra. E com tantos pensamentos reunidos, não consigo
focar em mais nada.
O que eu faço agora?

***

— Ok, eu não vou perguntar pela terceira vez. Mas, se tentar


novamente colocar sal no seu café, precisarei te internar. — Anne
diz alto, chamando a atenção das poucas pessoas que estão no
refeitório, e eu olho feio em sua direção. Ela parece um pouco brava
e nem um pouco preocupada com o tipo de impressão isso causaria
para quem está nos escutando, mas balanço a cabeça em negativa,
tentando acordar e espantar todos esses pensamentos horríveis.
— Nada aconteceu.
— Conta outra… vai, desembucha. Aconteceu algo na
escola? — ela diz e mal se dá conta de que chamou a atenção de
todos os que estavam no refeitório.
Anne, como sempre, sem noção nenhuma.
— Não… nada. Mas, você tem razão, eu preciso contar para
alguém o que aconteceu, senão, provavelmente vou explodir. —
digo baixo, olhando para os lados.
Por mais que eu goste e confie em meus funcionários, sei o
quanto pode ser deliciosa uma fofoca dos patrões, então, faço um
movimento com a cabeça, e ela entende na hora, finalmente.
Caminhamos do refeitório até a minha sala, e deixamos a porta
entreaberta, para que nenhum engraçadinho cole a orelha nela. Eu
vi Fabíola, a nossa assistente de limpeza, olhando bastante curiosa
pra gente, quando passamos por ela. Provavelmente, neste
momento eles estão pensando que é algo relacionado à fofoca da
escola e, naturalmente, todos ficam ainda mais curiosos para saber
o que está acontecendo. O que, de fato, nada tem a ver com
nenhum funcionário, nem com a Recanto do Sonhar.
— Nossa, que mistério é esse? Desembucha. — ela diz
revirando os olhos e eu me jogo no sofá, completamente exausta.
— Nem vou comentar o show que você deu, para não passar
raiva. — digo, e ela abre um sorriso amarelo.
— Desculpa, mas você já estava me irritando e sabia que não
iria me falar nada, se fosse de outra forma.
— Dafne me ligou mais cedo. — solto a bomba no seu colo, e
sua expressão se fecha no mesmo momento.
— O que aquela víbora siliconada queria? — sua lealdade é
muito importante pra mim, porque ela nem hesitou em me defender,
coisa que eu aprecio muito.
— Bom, ela me ligou para falar que Atlas é dela e que eu
deveria sair da vida dele, antes de ser humilhada… enfim, em
resumo foi isso.
Minha amiga me estuda por alguns segundos e nota que
minha mão voltou a tremer ligeiramente, deixando a xícara de café,
que eu ainda seguro, com grandes chances de cair. Ela tira-a da
minha mão, sabiamente, e fala: — Amiga, essa mulher é
completamente louca. Só quer te desestruturar. Não aceite isso e
nem leve para o seu coração. — sua fala é muito confiante, por isso,
levanto uma sobrancelha questionadora e ela vai até a minha mesa,
pegando meu tablet — Coloquei um alerta para receber todas as
notícias do seu namorado. Antes que me xingue, eu precisava saber
o que está acontecendo, já que você não stalkeia por si só.
— Meu Deus, Anne… quero ver quando você tiver um
namorado… se cuida da minha vida dessa forma, tenho medo do
que vai fazer com ele.
— Ah, eu não com namoraria ninguém importante para dar
esse tipo de trabalho. — ela continua mexendo no tablet e me
estende uma página de um portal de notícias — Acontece, que
sempre que mencionam Atlas, mencionam a tal da Dafne. E nos
últimos dias, ela tem feito várias declarações na mídia, dizendo que
está tentando voltar e inventando umas mentiras como terapia de
casal etc.
Fico chocada com a falta de senso, e claro, com a esperteza.
— Se parecer que ela está tentando voltar e o malvado da
história é Atlas… provavelmente, o juiz vai acreditar nas coisas que
ela tem falado.
— Menina, esse divórcio é pior do que o da Amber e do
Depp. A mídia das socialites não fala sobre outra coisa.
— Nossa, eu realmente deveria acompanhar isso, não é? —
questiono, sem saber mais o que fazer, e ela nega com a cabeça.
— A maioria das matérias são maldosas e mentirosas. Dafne
está desesperada. A audiência está chegando e ela sabe que não
vai ganhar, por isso, está apelando para todo tipo de coisa sem
noção, como, por exemplo, te ligar.
A sua conclusão é muito mais lógica do que dizer que Atlas e
ela podem ter alguma coisa e estarem me escondendo, como foi
uma das minhas primeiras conclusões.
— Você tem razão…, mas você não tem ideia do quanto eu
odeio essa situação. — digo, com as mãos cobrindo o rosto, sem
disfarçar a minha chateação — Estar nesse meio do caminho, no
fogo cruzado, sem saber se confio ou não no que ele diz. O passado
me assombra, é horrível sentir essa insegurança. Além disso, tem
essa mulher nojenta, que ficou em sua vida por tantos anos. Isso me
leva a crer que eles têm alguma coisa em comum, que eles se
davam bem e funcionaram de alguma forma. Ninguém aceita tudo
isso de bom grado, por tanto tempo. E ainda tem Eros, que sofre
com os dois e provavelmente, agora fica ainda mais confuso comigo
em sua vida. A Ludovika que eu conheço fugiria correndo desse tipo
de situação, você sabe disso.
— Uhum. — ela responde, me deixando desabafar.
— Mas por ele… por Atlas, eu aceito tudo. Sempre foi ele,
Anne. E agora, por mais que, no passado, ele realmente tenha sido
igual a ela para permanecerem casados, ele mudou. Vejo que
mudou em suas atitudes, em seu olhar, em suas palavras. Então,
não tenho outra escolha, a não ser acreditar em nossa intuição, e
que ele gosta de mim da mesma forma que eu gosto dele. Porque,
se ele me abandonar de novo para ficar com ela, eu realmente não
sei o que eu faço. Não vou conseguir me recuperar.
— Amiga, ele nunca vai fazer isso, Atlas te ama.
— Assim eu espero. — digo cheia de incertezas — Ele vem
me buscar hoje, vou conversar com ele e tentar colocar todas as
cartas na mesa. Não posso esconder essa ligação e preciso ser leal
aos meus sentimentos. Espero que ele também seja.
Conseguir me priorizar e sair do escritório mais cedo, realmente
está sendo um divisor de águas para mim. Saber que as coisas
simplesmente andam, e que eu não preciso estar cem por cento do
tempo disponível, é libertador. Até meu pai está cooperando, e
passou a encher menos a porra do meu saco a cada decisão que
preciso tomar na empresa.
Finalmente, me sinto livre e bem, o que não acontecia há tanto
tempo que eu não consigo nem mensurar. Talvez, na realidade, eu
nunca tenha me sentido assim. E agora, que eu e Ludo abrimos
nosso relacionamento para o mundo, e que a pessoa mais
importante pra mim sabe e até mesmo apoia, nada pode estragar o
meu bom humor. Nem mesmo Dafne tem conseguido esse feito, e
não por falta de tentar, naturalmente.
Depois das suas últimas cartadas, não consigo pensar em nada que
ela não tenha coragem de fazer em seu desespero, mas a confiança
de que apesar dos seus esforços ela não vai conseguir nada, me
mantém positivo. Temos um caso muito sólido, provas que ela não é
uma boa mãe, que usurpou e gastou muito mais dinheiro do que
qualquer pessoa sã gastaria com festas, bebidas e sugestivamente
aquela foto que saiu no jornal meses atrás pode deixar implícito
drogas. Não que eu realmente ache que ela consuma esse tipo de
coisa, mas pra ser honesto, não estou nem aí. Se isso me ajudar a
ganhar o processo, eu usarei.
Olho para os lírios que comprei a caminho da escola de Ludovika, e
aproveitando que preciso buscar Eros, marquei de me encontrar
com ela também. Sei o quando Ludo adora essas flores, então, por
que não a agradar o máximo que eu conseguir? Ela merece todas
as flores do mundo.
Ainda faltam alguns minutos para os meninos serem liberados, e
como o porteiro já me conhece, libera a minha entrada com um
sorriso simpático no rosto, que faço questão de corresponder. Uma
surpresinha não faz mal a ninguém.
Mas quando estou caminhando em direção à sua sala, percebo a
porta entreaberta, e no momento em que vou bater, escuto uma fala
que me deixa paralisado: — … mas você não tem ideia do quanto
eu odeio essa situação. Estar nesse meio do caminho, no fogo
cruzado, sem saber se confio ou não no que ele diz e fala. O
passado me assombra, é horrível essa insegurança. Além disso,
tem essa mulher nojenta, que ficou em sua vida por tantos anos.
Isso me leva a crer que eles têm alguma coisa em comum, que eles
se davam bem e funcionaram de alguma forma. Ninguém aceita
tudo isso de bom grado por tanto tempo. E ainda tem Eros, que
sofre com os dois e, provavelmente, agora fica ainda mais confuso
comigo em sua vida. A Ludovika que eu conheço fugiria correndo
desse tipo de situação, você sabe disso.
Simplesmente, não sei o que dizer, muito menos o que sentir. Viro
as costas e saio dali sem me anunciar, ainda absorvendo tudo o que
ela disse.
"A Ludovika que eu conheço fugia correndo desse tipo de
situação".
Claro que eu ainda estar casado legalmente e todo o
processo de guarda de Eros é algo difícil de lidar, mas não imaginei
que essa seria uma cruz tão grande. Estamos tão perto de
resolvermos de uma vez por todas essa situação, que me recuso a
acreditar que ela esteja sofrendo tanto assim estando ao meu
lado… se anulando… não se reconhecendo mais.
Desço as escadas perdido em pensamentos, e não espero
por Eros, mandando uma mensagem para Gabrielle o buscar. No
momento, eu não quero e nem posso me encontrar com ninguém.
Preciso absorver tudo o que descobri e entender o que farei agora.
Assim que entro no carro e dou partida, deixando Ludo para
trás, a escola e tudo o que poderia denunciar que estive escutando
atrás da porta, começo a realmente pensar no que ouvi.
O que mais me doeu, foi ouvir que ela não confia em mim. Não sabe
se o que eu estou dizendo e sentindo é a verdade, sendo que me
abri e me entreguei a essa relação de corpo e alma, como nunca fiz
com ninguém. É isso que dá abaixar a guarda e deixar as pessoas
entrarem, sempre acabo me ferrando.
Me colocar no mesmo patamar de Dafne doeu, porque apesar de
ter, sim, ficado muitos anos ao seu lado, não poderíamos ser mais
diferentes. Valores, princípios e atitudes. Ludo sabe disso, ela me
conhece a vida inteira. Como ela pode pensar que eu realmente
teria os mesmos escrúpulos que a mulher que bate no filho e está
tentando ficar com a sua guarda apenas por dinheiro?
Achei que ela gostasse de Eros, que eles se dessem bem…,
mas agora, ouvindo o jeito que ela falou dele, não tenho tanta
certeza.
Não sabia que éramos um fardo tão grande em sua vida, e
isso só me leva a pensar sobre quais outros sentimentos ela está
escondendo.
No momento, eu não sei o que fazer, nem o que pensar. A
única coisa de que tenho certeza é que, se ela está tão infeliz e mal
se reconhece ao meu lado, eu preciso acabar com esse sofrimento.

***

Uma conversa franca, rápida e cirúrgica. No fim, não me


importei tanto com as coisas ruins que ela falou a meu respeito. Ela
tem todo o direito de pensar assim, devido ao nosso histórico. Mas,
o que realmente me perturbou, foi saber que ela está sofrendo de
alguma forma, se anulando ou se privando de algo para estar ao
meu lado. Nunca quis isso e não posso aceitar que ela viva dessa
forma.
Preciso manter a cabeça no lugar e fazer o que eu preciso
fazer. O fardo de encerrar a nossa relação, antes de ela se sentir
ainda pior, é menor do que seria continuar com essa relação,
apenas porque sou egoísta demais para deixá-la ir. É isso que
preciso fazer para acabar logo com essa situação e seguir em
frente.
— Atlas! — ela parece surpresa, quando me vê na porta do
seu apartamento, principalmente, pelo horário, já que passa da meia
noite.
— Ludovika, precisamos conversar. — digo sério, e sua
expressão vai de feliz para preocupada. Ela abre passagem para
que eu entre, mas fico em pé no meio da sua sala, ansioso para
fazer o que eu preciso fazer, e depois me amargurar pelo resto da
vida em minha cobertura, bebendo uma garrafa de whisky.
— Tudo bem, claro… aconteceu alguma coisa? — ela já
percebeu que estamos falando de algo sério, e sua expressão
parece preocupada — Eros está bem?
— Tudo bem com Eros, fique tranquila. Na realidade, vim
aqui para conversarmos sobre nós dois. — digo, e sua expressão
muda de ansiosa para desconfiada.
— Certo. Sou toda ouvidos. — sua postura, na defensiva, me
deixa ainda mais chateado, porque tudo indica que ela não espera
por isso, mas é algo que eu preciso fazer. Talvez, ela sofra por uma
ou duas semanas, mas vai voltar a ser a Ludo boa, e feliz de
sempre, eventualmente. Ao meu lado, ela não é mais ela mesma.
Suas palavras realmente me perturbaram.
— Você sabe que eu estou em processo de divórcio, e claro,
da guarda do Eros. E com tanta coisa acontecendo na minha vida,
eu sinto que ter mais um compromisso é algo com o qual eu não
consigo lidar. Infelizmente, sei que uma mulher precisa de carinho,
atenção e cuidado, e agora, com a empresa e tudo mais, eu não
posso te oferecer isso. — falo o discurso ensaiado e vejo a
incredulidade no seu rosto. Mas não deixo sua expressão chateada
me parar — Eu sempre vou amar você como amiga, e talvez, tenha
confundido um pouco as coisas nos últimos tempos, por isso, não
acho justo continuarmos o que quer que isso seja, antes que eu
resolva toda essa situação.
Ela fica calada por algum tempo, apenas me olhando, como
se eu pudesse estar fazendo algum tipo de piada, mas quando
conclui que tudo o que eu disse foi de verdade, confirma com a
cabeça, antes de dizer: — Como quiser, Atlas. — sua voz é tão fria,
que não parece ter saído dela.
— Foi muito bom estar com você, o tempo que passamos
juntos, realmente ficará na memória. — concluo, já dando dois
passos em direção à porta, bem ciente de que serão momentos dos
quais jamais me esquecerei — Mas, um relacionamento não se
encaixa na minha vida nesse momento.
Ludovika não demonstra nenhuma atitude, emoção e nem me
responde com palavras. Ela apenas fica me olhando por algum
tempo, e quando já começa a ficar um silêncio constrangedor entre
nós dois, ela finalmente diz: — Pode ir embora, então, eu estou
cansada e quero dormir. — suas palavras me doem tanto que não
sei explicar.
Ludo parece simplesmente não se importar com o nosso
término, enquanto dentro de mim, parece que tudo desmoronou.
Então, isso que é sofrer por amor? Porque essa dor, filha da puta no
peito, parece que nunca vai passar.
Cruzo o batente e fecho a porta, deixando-a parada na sala,
com o olhar perdido, sabendo que aqui, eu acabei com qualquer tipo
de oportunidade que eu tinha de ser feliz.
Continuo parada na minha sala de estar, sem saber exatamente
como agir, estou aqui há tanto tempo que sinto os dedos dos meus
pés dormentes. Ele simplesmente entrou em minha casa, falou que
eu não tinha espaço para mim em sua vida, fechou a porta e foi
embora.
Exatamente como eu temia, mas não posso dizer que eu estou
surpresa.
Era muito bom para ser verdade, o nosso relacionamento. Estar
com Atlas, depois de tantos anos o amando à distância, foi uma
experiência incrível, mas boa demais para ser verdade. Eu já
imaginava que iria acabar… quero dizer, no fundo, eu suspeitava.
Não teria como ser diferente, já que ele é ele, e eu sou eu. Mas, não
pensei que viria dessa forma. Completamente desprevenida, no
meio da noite, sem direito a argumentar, ou sequer a uma réplica.
Apenas um: "Boa noite, foi bom te comer por esse tempinho que
ficamos juntos, mas não quero compromisso e ter uma mulher do
lado dá muito trabalho. Te desejo o melhor, tchau."
Até eu, que sou iludida, pensei que Atlas nunca seria capaz de fazer
algo assim comigo. Pelo menos, não de novo.
Sinto, finalmente, a verdade recair sobre mim e começo a aceitar
que isso não foi um pesadelo, ou algum artigo da minha imaginação.
Ele realmente terminou comigo.
Após algum tempo, meus joelhos falham e eu caio no chão, sem
vontade nenhuma de me proteger. Sinto as lágrimas surgirem em
meu rosto, e quando dou por mim, estou caída, com o rosto
banhado em pranto e soluçando.
Ele terminou comigo.
No fundo, eu já esperava, mas, mesmo sendo pega de
surpresa, eu estou orgulhosa da minha reação. Pelo menos, eu não
implorei por migalhas, e nem aceitei qualquer coisa. O choro fica um
pouco mais alto e meu peito parece estar sendo esmagado por um
rolo de compressão. Mal consigo respirar, sentindo uma dor tão
grande que parece o fim do mundo.
Se eu sobreviver a isso, com certeza, não sofrerei por mais
nada.
Foi como dar um doce para uma criança faminta, vê-la brincar um
pouco, comer migalhas e depois, tirar tudo dela, sem nenhuma
explicação. Sinto que, agora, não tenho mais o que fazer, não tenho
doce, não tenho Atlas, não tenho nada.

***
Dois dias deitada na cama, sobrevivendo de delivery, sem ao
menos tomar banho, é o suficiente para que eu reaja e volte a
trabalhar? Acho que, provavelmente, não.
Anne já me ligou tantas vezes, tentando entender o que está
acontecendo, que sei que não conseguirei escapar da sua
inquisição por muito mais tempo. Se tem uma coisa que minha
amiga é, é determinada, por isso, quando ela me liga, em plena
terça-feira, às duas e meia da tarde, horário em que eu, certamente,
deveria estar trabalhando, resolvo atender, já com os olhos cheios
de lágrimas novamente.
— Alô. — digo, porque sei que é o suficiente para que ela
comece a falar desembestadamente.
— Olha só, eu já estava quase chamando a polícia para
arrombar a porta da sua casa, com medo de você estar morta. Quer,
pelo amor de Deus, me dizer que merda aconteceu? — sua voz
estressada, e um pouquinho temerosa, me dá um apertinho no
peito. Sei que não deveria ter sumido dessa forma, mas não tive
muita opção, e literalmente, não sabia mais o que fazer.
— Tá tudo bem, Anne. Fique tranquila. — digo, entrando em
meu modus operandi de não querer preocupar ninguém, tentando
cuidar de mim por mim mesma.
— Corta essa, sabemos que você está péssima por algum
motivo, e eu quero saber o que aconteceu. Atlas? — é só ela falar o
nome dele, que o choro corta o meu peito e não consigo resistir às
lágrimas. É demais pra mim. Por isso, mantive-o em anonimato por
toda a minha vida, não consigo lidar com isso — Estou indo praí, e é
bom que você abra a porta, porque vou tocar a campainha até você
atender.
Não tenho a oportunidade de responder, porque ela desliga o
telefone na minha cara.
Vinte minutos depois, a campainha toca como se estivesse
emperrada, sem dar um descanso, e eu me arrasto da cama até a
porta, pronta para abri-la.
— O que ele fez, e como você quer que eu o mate? — ela
pergunta abrindo os braços, e eu vou ao seu encontro chorando.
Ficamos assim por algum tempo, até que ela cheira os meus
cabelos e me afasta, me segurando pelos ombros.
— Ludo, amiga. Você precisa tomar banho! — seu tom de
voz não é carregado de crítica, e sim, de preocupação.
Provavelmente, ela nunca me viu tão pra baixo em toda a minha
vida, e contando que nos conhecemos há anos, isso quer dizer
muita coisa.
— Tudo bem. — digo, dando de ombros, porque realmente
devo estar precisando mesmo, e continuo — Fique à vontade… a
casa é sua.
Começo a me arrastar para o meu quarto e escuto-a reclamando
baixinho, antes de entrar no banheiro: — Não é possível… até na
fossa, ela é a pessoa mais educada que eu conheço.
No fim, um banho realmente me reanimou, e quando
sentamos, meia hora depois, no sofá, não estou mais tão deprimida.
Deito-me em seu colo, enquanto ela faz um carinho em meus
cabelos molhados e começo a contar o que exatamente aconteceu:
— Ele não foi me buscar na terça, como estava combinado. Achei
estranho, mas imaginei que tivesse tido um imprevisto, por isso, não
me preocupei tanto. Funções de CEO, é claro que seria isso. Então,
quando não me respondeu mais, eu fiquei um pouco preocupada,
mas não quis dar uma de namorada ciumenta, louca, por isso, me
contive. Mas, então, ele apareceu meia-noite aqui em casa, disse
meia dúzia de baboseiras, terminou comigo e foi embora. Simples
assim.
— Do nada?
— Do nada!
— Filho da puta! — ela xinga, e a esse ponto, só posso
concordar — O que você vai fazer? Pretende tentar argumentar?
— Na verdade, eu já esperava por algo do tipo… esse é Atlas
Sanchez, Anne. Não posso fingir que estou surpresa. Só fiquei
muito triste, porque pensei que talvez, viria com um sinal de que as
coisas não estavam indo bem. Foi muito de repente.
— Sinto muito, amiga, não sei o que posso fazer para te
ajudar. — ela diz, me abraçando um pouco mais forte — O que você
quer fazer? Não te julgarei se pedir minha ajuda para quebrarmos a
janela do seu carro no meio da madrugada. Eu posso fazer isso.
Solto a primeira risada verdadeira em dias, e nego com a
cabeça.
— Para ser sincera, eu só quero sumir. Não tenho nenhuma
condição psicológica de, possivelmente, encontrá-lo pela cidade, ou
quando for buscar Eros… ou sei lá. Não consigo, no momento, e
provavelmente, vai demorar bastante para que eu me cure. Não sei
o que vou fazer… achei que nunca me recuperaria de um novo
coração partido.
— Mas você vai. Tenho certeza de que sim. Se quiser voltar
para Maneville, eu te dou todo o suporte. Cuido dessa unidade e
você confere se tudo está indo bem nas outras da região. Ninguém
pode te julgar e ainda é uma saída de cenário com classe. —
confirmo com a cabeça, cogitando a ideia.
— Não sei… não me sinto muito confortável em largar tudo
aqui… ainda está tão recente. Além do mais, eu não quero parecer
covarde, fugindo do confronto.
— Amiga, estou falando sério. Quem é que tem moral para te
julgar? Você não é covarde por pensar mais em você do que no que
os outros irão pensar. Você merece ter paz. Não quero ficar longe
de você, Ludo, mas sei que será muito mais difícil para que você se
reconstrua, estando aqui.
Talvez, realmente, seja o momento de voltar para Maneville, e
para ser honesta, essa ideia me dá um pouco de alívio. Ali, tenho
amigos e pessoas que irão me dar suporte, se eu precisar. Não
preciso ficar sofrendo em Havdiam, sendo que tenho uma opção
bem mais tranquila para que eu consiga respirar.
A única coisa que realmente dói no meu coração, é saber que não
pude nem me despedir do garotinho que já ocupa uma parte tão
grande do meu coração. Talvez, eu devesse ter me apegado um
pouco menos a Eros, porque agora, eu preciso superar a falta que
pai e filho farão em minha vida.
— Filhão, papai te busca mais tarde, tudo bem? — digo para
Eros, depois de um silêncio estranho e muito incomum dentro do
carro.
— Você vai ver a Ludo? Porque eu queria ir também… — ele
começa a dizer, e parece que está cravando uma faca no meu peito.
Ainda não contei a Eros que eu e Ludovika não estamos mais
juntos, e parece que a cada segundo que passa, as coisas ficam
piores e mais complicadas. Não parece justo colocar uma pessoa na
vida de uma criança, para logo em seguida, tirá-la do nada. Não é
certo, e mesmo assim, eu preciso fazer isso. Não posso mentir para
ele.
— Não, filho… eu preciso trabalhar um pouco. — respondo, e
ele fecha a cara, como se não gostasse da resposta, o que eu,
literalmente, entendo.
— Tudo bem. — Eros responde e tira, mecanicamente, o
cinto da sua cadeirinha, antes de saltar do carro e ir em direção à
mansão.
Me sinto tão mal com a situação, que entro por alguns
minutos, apenas para ter certeza de que ele vai ser bem cuidado,
mas não consigo ficar muito. Meus pais sabem que há algo errado,
mas apenas com um olhar, eles entendem que eu não vou
responder à nenhuma pergunta. Até Atena, com a sua alegria
natural, não consegue me animar de forma nenhuma. E, quando eu
finalmente deixo a casa, para ir pro meu apartamento beber até
esquecer dos meus problemas, me sinto ainda pior.
Onde foi que eu errei tanto?
Por que eu mereço isso?

***

No meio da garrafa de um Whisky envelhecido de oitenta e


dois, eu já aceitei que realmente, não mereço que nada de bom
aconteça em minha vida.
É a maldição de ser o filho mais velho. Todas as
responsabilidades recaem sobre mim, e eu não posso fugir, não
posso ignorar e, agora, mais do que nunca, eu tenho certeza: Não
posso ser feliz.
Talvez, a única vez em que eu saí da linha, tenha realmente
cravado o meu destino. Como se as forças superiores tivessem
determinado que, a partir dali, nada mais daria certo pra mim.
Não sei por que eu pensei que poderia tentar com ela e que
existia a possibilidade de ser feliz, depois de tantos anos me
sentindo miserável. Meu maior erro foi acreditar que as coisas
poderiam mudar.
Mas, pensando bem, talvez, realmente tenha sido melhor
assim. Ludo é boa demais para mim, ela merece alguém bom,
alguém completo e sem muitos problemas. Não um homem
completamente fodido, como eu. Não posso arrastá-la para dentro
de todos os meus problemas e não posso abrir mão deles também.
Ela está melhor sem mim.
— Será que está mesmo? — escuto uma voz muito alta, e
me assusto, deixando um pouco do líquido âmbar escorrer pela
minha boca.
Não sei se estou alucinando, ou se realmente é verdade, mas
vovó Camélia está parada em minha sala de estar, com as duas
mãos na cintura e um ar muito rigoroso em seu rosto.
Como eu vim parar no chão?
Por que o Whisky está no final, sendo que há poucos minutos
a garrafa estava pela metade?
— Agora não é um bom momento. — digo, com a língua
embolada, e ela revira os olhos, andando em minha direção, mas se
sentando no sofá no último momento. É possível que nem vovó
ache que eu sou digno de ser cuidado, o que eu não julgo.
— Atlas, o que você está fazendo com você mesmo, meu
filho? — seu tom de voz, surpreendentemente, parece preocupado,
mas eu não lhe dou ouvidos. No momento, qualquer som parece
estar alto demais, e eu não estou disposto a ouvir nenhum tipo de
sermão. Por mais verdadeiro que seja. Agora, estou mergulhado em
autopiedade, e quero continuar assim por algum tempo. Apesar
disso, tento me levantar, limpando o queixo babado, para tentar ter o
mínimo de dignidade possível.
— O que você está fazendo aqui? — pergunto, ignorando a
sua pergunta, e ela tira a garrafa da minha mão, chutando-a para
longe.
— Estou aqui porque alguém tem de cuidar de você. Se não
for eu, quem será? — ela questiona, e eu reviro os olhos, sem saber
dizer ao certo se quero, ou não, esse tipo de cuidado.
— Estou ótimo. — tento ficar em pé e cambaleio um pouco,
me agarrando a uma parte da mesa de jantar.
— Estou vendo. Vá tomar um banho e quando você ficar
minimamente sóbrio, vamos conversar.
Me sinto uma criança de cinco anos, tendo de cumprir as suas
ordens, mas não consigo pensar em nada para rebater, por isso,
faço o que ela manda. Como a bruxa que é, vovó só me lança um
olhar maligno, antes de abrir um livro e se acomodar melhor entre
as almofadas. O chuveiro, como ela sugeriu, até parece
interessante, mas quando vejo a cama macia, não penso duas
vezes, me jogo ali, apagando quase imediatamente.

***

Minha cabeça dói tanto que me recuso a abrir os olhos. Mas, como
aparentemente, estou sendo obrigado a fazê-lo, me levanto a
contragosto. Vovó Camélia parece furiosa, ela joga um copo de
água na minha cara e começa a gritar alto.
— Eu não vim até aqui para ter que cuidar de um bebum.
Faça-me o favor de se levantar, tomar um banho gelado, um copo
de café e estou te esperando na sala em vinte minutos, para termos
uma conversinha — ela grita, ralhando comigo, e não posso fazer
mais nada, além de assentir com a cabeça.
— Tudo bem. — tento me levantar, percebendo que tudo
ainda está girando.
Faço como ela manda, porque, no momento, não consigo
raciocinar direito, e quando saio do banho, percebo que são duas e
quarenta da manhã. Vovó realmente está puta da vida, do contrário,
com certeza já estaria dormindo em sua cama, tranquilamente.
Eu, Atlas, sou um homem destemido. Apesar de saber de
todos os meus defeitos, a falta de coragem nunca foi um deles. Mas,
saber que a bruxa da minha avó está bravíssima, na minha sala de
estar, no meio da madrugada, me deixa, sim, um pouco temeroso.
— Certo. Ótimo. Pelo menos, agora você parece sóbrio o suficiente
para conversarmos. — ela diz, assim que me vê entrando na sala.
— O que é tão urgente que não poderia esperar o dia de amanhã?
— questiono, tentando manter a minha pose séria, mas falhando
consideravelmente.
— Bom. Eu vi meu primeiro neto completamente acabado, no
chão da sua sala de estar, chorando e babando, em uma cena
ridícula. O que você espera de mim? Que eu feche meus olhos,
igual à desmiolada da sua mãe, e não fique aqui para te colocar nos
trilhos? — ela diz, e percebo o quão furiosa está, para sobrar até
para os meus pais. Minha expressão, provavelmente, é muito
chocada, porque ela abranda o tom de voz, e dá duas palmadinhas
ao seu lado no sofá, indicando o lugar para que eu me sente — Meu
filho, o que está acontecendo com você? Você vive carregando o
peso do mundo nas costas, para tentar não decepcionar ninguém.
— ela diz isso, como se fosse uma verdade absoluta, e não consigo
fazer nada, além de confirmar com a cabeça — Nessa ideia de
tentar ser o melhor e cumprir com o que todos esperam de você, por
uma idiotice rebelde, afastou seu irmão da família. Foi uma única
escolha errada que fez no passado, mas agora, precisa carregar
esse resultado para sempre. Aquela mulherzinha é uma cruz que
todos nós precisamos carregar, porém, você não precisa se
martirizar para sempre.
— Você não entenderia… — digo, para me safar de ter de me
explicar, mas sua expressão séria me diz que sim, ela entenderia
muito bem.
— Atlas. O papel de vítima não lhe cai bem. Você é um
guerreiro, um lutador. Vai realmente se contentar em perder a
mulher da sua vida, por que não se acha bom o suficiente? Faça-me
o favor. Lute por ela! Antes disso, porém, já passou da hora de
resolver os seus problemas do passado. Só assim, você vai se
sentir apto para viver bem o seu futuro.
— Não estou lhe acompanhando.
— Tudo se complicou na sua vida quando você traiu o seu
irmão, por conta de uma mulher. Traiu sua amizade com Ludovika
Pavlova também. — faço uma careta sem querer, indicando o
quanto isso é um assunto doloroso para mim, mas vovó não se
abala, e continua a falar — Ludo sempre te amou, tenho certeza de
que as coisas entre vocês vão se acertar, se você quiser. Mas
precisa acreditar que é capaz e merecedor.
— O problema é que eu não sou. — respondo baixo, evitando
o seu olhar.
— Ah, agora você é um pobre coitadinho… Meu Deus, que
dózinha! — ela debocha, e preciso muito conter a minha língua para
não lhe dar uma má resposta — Resolva os seus problemas e seja
merecedor. Só você pode consertar as coisas, e o primeiro passo, é
fazer as pazes com Apolo. Ele é o maior prejudicado nessa relação.
Perdeu a namorada, foi traído pelo irmão e a família escolheu o
outro lado. Quase dez anos de briga, por conta de uma mulher
nojenta como Dafne, é um completo absurdo. Muito mais do que
vocês possam aguentar. Tenho certeza de que, como o exímio
advogado que é, ele pode te dar uma luz para que a gente se livre
dessa sanguessuga o mais rápido possível.
— São muitos anos de mágoa, para ele me perdoar, vovó.
— Bom, então, está na hora de começar a tentar, não é? —
ela diz, se levantando, como se o seu trabalho aqui estivesse feito
— Resolva-se com Apolo, acabe com Dafne neste tribunal, e
quando você estiver livre de tudo o que te prende no momento,
corra atrás do amor da sua vida. Ludovika sempre foi a mulher
certa. Se você atropelar as coisas, e pular etapas, duvido muito que
tudo se ajeite no fim.
Com essas palavras doloridas, e muito verdadeiras, vovó me deixa
sozinho novamente, com a cabeça rodando, cheia de pensamentos.
Talvez, seja mesmo a hora de assumir verbalmente os meus erros,
e pedir desculpas. O problema, é saber por onde começar.
Onde é que eu estava com a cabeça, quando fui escutar vovó
Camélia?
Parado na porta do prédio de luxo, localizado do outro lado da
cidade, o mais longe possível de onde moro, fico ensaiando mais
uma vez o que falar, e como sair dessa enrascada com todos os
dentes na boca. Em todas as ocasiões em que eu e Apolo nos
encontramos, ele teve grande tendência a partir para uma briga
corporal, e eu não posso fingir que não o provoquei em muitas
ocasiões. Simplesmente, foi irresistível demais para deixar passar
batido. Agora, eu preciso arcar com as consequências de ser um
babaca de marca maior.
No escritório, eu sei que não teria a menor chance de conseguir
conversar com o meu irmão. Provavelmente, não passaria da
portaria e ainda me acarretariam constrangimentos desnecessários,
porque, por mais que todos saibam que nós não nos damos bem,
ninguém precisa saber o quanto isso é verdade ou não. Por isso,
estou aqui, tomando coragem para pedir pro porteiro me anunciar, e
ver se consigo fazer uma abordagem mais tranquila, pelo menos,
assim eu espero.
Sou anunciado depois de alguns minutos de inspiração
dentro do carro, e surpreendentemente, sem nenhum tipo de
constrangimento ou discussão, sou autorizado a subir. Isso, para ser
honesto, me preocupa mais do que se eu ouvisse um bom palavrão
em resposta, que era o que eu estava esperando. Mas assim que as
portas metálicas se abrem, encontro uma mulher baixinha e morena,
de braços cruzados, olhando feio em minha direção.
— Olha aqui, se você veio fazer alguma maldade, te garanto
que não é bem-vindo. — ela me recepciona assim, e eu tento não
rir.
Sua expressão é um pouco suicida, ela está descalça e com
uma roupa que, provavelmente, ninguém sairia na rua e continua
me vigiando com a testa franzida.
— E, então? Desembucha. Veio fazer o que aqui, Atlas? —
não estou muito acostumado a ser tratado pelo meu primeiro nome,
e definitivamente, menos ainda, por pessoas que eu não conheço.
Mas, como estou na casa de Apolo, e provavelmente, essa é a tal
namorada de quem eu ouvi falar certa vez, pelo tio que nós menos
gostamos, sinto que preciso me explicar.
Surpreendente, a morena baixinha imprime mais medo do
que meu irmão mais novo, o que, em minha opinião, quer dizer
muita coisa.
— Bem… eu vim conversar com Apolo. Ele está? —
pergunto, e ela revira os olhos com impaciência.
— Acha mesmo que, se ele estivesse, eu que estaria abrindo
a porta? — ela responde, e eu tento muito não rir, mas não consigo
conter o sorriso.
— E eu posso saber qual é o seu nome, pelo menos? Ou
devo me referir a você como cão de guarda? — ela estala a língua,
e murmura algo como "má-criação é de família", antes de
responder: — Eu me chamo Lyanna. Sou namorada do Apolo e
tenho certeza de que ele vai brigar conosco, assim que chegar da
última audiência e te vir aqui. Então, se eu fosse você,
desembuchava e falava logo o que vim fazer aqui, porque, pode me
considerar uma triagem. Se eu não achar que vale a pena, te coloco
pra fora, para evitar aborrecimentos.
Baixinha, morena, brava e desbocada. A cara de Apolo,
definitivamente. Mantenho o meu sorriso no rosto, pensando em
como esse casal, conclusivamente, combina, e ela parece achar
que eu estou rindo da sua cara, porque sua expressão se fecha
consideravelmente.
— Desculpe, eu não quis te ofender. Vim aqui, porque acho
que já passou da hora de termos uma conversa e tentarmos nos
acertar, espero que possa me ajudar nisso.
— Não sei não, você fez muita merda, cara. Não gosto de
você, não acho que você mereça estar aqui, atrapalhando a nossa
vida, e honestamente, espero que seu casamento seja horroroso,
porque você foi um filho da puta. — sua frase é feroz, e eu nem
pisco ao responder: — Fiz muita merda. Não vou fingir que não…,
mas, honestamente, foi um livramento para Apolo. Dafne é um
castigo, o meu casamento foi horroroso e agora, estou em processo
de divórcio. — digo com tranquilidade, e Lyanna me estuda com os
olhos por um momento, antes de confirmar com a cabeça.
— O irmão dela também é um castigo, talvez, seja de família.
— não entendo bem o que ela quis dizer com isso, porque até onde
sei, Tom parece ser um homem bem decente, apesar da grande
antipatia que sente por mim. Mas não me aprofundo no assunto,
porque as portas do elevador se abrem, e Apolo entra na sala,
deixando a pasta cair no chão, lívido de raiva.
Meu irmão avança em minha direção, me segurando pelo
colarinho, e com os braços caídos, não me defendo do soco que ele
dá em minha cara. Lyanna solta um grito de horror, e talvez, por
termos plateia, ele me solta, antes de cuspir as palavras: — O que
veio fazer aqui? Por que está falando com a minha mulher? Uma
traição não foi o suficiente? — sua fala contém tanto ódio, que
chego a me encolher um pouco, mas isso não o para. Na realidade,
o que faz com que ele não desfira o segundo soco é o grito agudo
de Lyanna: — Aí, Apolo, pelo amor de Deus, você não é um homem
das cavernas! Não seja melodramático, e muito menos, me coloque
no mesmo saco que aquela piranha. — ela me olha com um
sorrisinho malicioso, antes de falar — Sem ofensas.
Eu decido imediatamente que gosto de Lyanna depois dessa
sua fala, mas é claro que não demonstro nada do tipo. Apolo ainda
está muito sensível sobre a nossa relação, para que eu arrisque
falar alguma coisa.
— Agora que já me bateu e expressou a sua fúria, podemos
conversar? — digo, colocando a mão na bochecha que começa a
latejar, e ele parece avaliar se vale a pena ou não, perder o seu
tempo comigo.
— O que você quer? — seus olhos são desconfiados, e com
apenas uma troca de olhar com a baixinha, ela sai da sala e nos
deixa à sós.
— Vim te pedir perdão, Apolo.
Minha fala o desarma, e ele pisca duas vezes, sem ter
certeza se entendeu direito ou não o que eu quis dizer. Espero que
ele absorva as minhas palavras, e quando percebe que não há
nenhuma provocação e nem qualquer tipo de brincadeira, ele
levanta uma sobrancelha, parecendo muito confuso.
— Não sei se estou acompanhando. Depois de todo esse
tempo? Por quê? — seu tom de voz exige respostas, e há muita
suspeita, porém, há surpresa também.
— Somos irmãos… mesmo sangue, Apolo. Fiz uma grande
cagada, todos sabem disso, principalmente eu. Mas, não quero
deixar de conversar com você pro resto da vida. Nossa relação,
talvez, não seja a melhor de todas, depois de tanto sofrimento e
tempo afastados, mas não quero carregar o fardo de saber que
poderia ter feito diferente, mas que fui covarde demais para não vir
lhe pedir perdão.
— Então, está fazendo isso para que você se sinta melhor?
Porque, pra mim, vai continuar sendo um pedaço de merda. — ele
diz, e eu dou de ombros.
— Talvez, realmente seja, mas estou tentando fazer a minha
parte para consertar os meus erros. Estou fazendo isso por mim,
mas pelo papai, mamãe, Atena, e principalmente, por você.
— Todos preferiram você, e naquele momento, acabou a
minha relação familiar.
— Apolo, todos sentem a sua falta. Principalmente eu.
Observo meu irmão absorver todas essas informações, e ele
confirma com a cabeça, se sentando no sofá. Entendo seu gesto
como uma brecha para que eu faça o mesmo, e nós nos
observamos por alguns minutos.
— Seu olho vai ficar roxo. — ele diz, mas não há nenhum
remorso em sua voz.
— Provavelmente. Você tem malhado, né? — digo, dando de
ombros e ele solta uma gargalhada alta, balançando a cabeça.
— Você é um filho da puta.
— Sou. — dou de ombros — Mas, te garanto que te livrei da
pior burrada da sua vida, então, talvez, você devesse me agradecer.
— digo com um sorriso condescendente e um pouco depreciativo, e
Apolo me surpreende, jogando a cabeça para trás gargalhando.
— Eu vi algumas manchetes do divórcio do ano. Seu
advogado tá fazendo uma grande lambança, por falar nisso. — me
surpreendo com o seu ponto de vista, e fico tentado a perguntar
mais sobre isso, mas não é o momento.
— Ela é a pessoa mais egoísta que eu já conheci em toda a
minha vida. Meu filho, coitado, nunca teve qualquer tipo de afeto
vindo da mãe. Ela sugou metade do meu dinheiro, e agora, está
brigando pela guarda de Eros, para que eu tenha que lhe pagar
pensão. Ele me contou, outro dia, que ela já até bateu nele. — digo
cansado, e ele me observa, ansioso para saber mais.
Provavelmente, Apolo está adorando saber o quanto eu me ferrei
por ter ficado com Dafne, mas honestamente, a esse ponto, eu faria
a mesma coisa — Enfim, provavelmente, eu realmente mereça tudo
isso.
— Ninguém merece isso. Muito menos o seu filho. — ele diz
categórico, e sei bem no que está pensando, já que a maioria das
suas reclamações sempre foi a falta de cuidado que nossos pais lhe
ofereciam.
— Ele realmente não merece. Um garoto incrível, você iria
gostar de conhecê-lo. — digo, e Apolo confirma minimamente com a
cabeça.
— Bom, se não fosse você, eu quem estaria nessa situação
de merda, e principalmente, não teria conhecido a minha Lyanna.
Então, em caminhos tortuosos, tudo deu certo. Você teve o que
mereceu, e nesse ponto, o karma realmente cumpre com o seu
papel, e agora, a gente vai fazer aquela filha da mãe ter também.
Vou assumir o seu caso e ninguém vai tirar seu filho de você. — sua
expressão é feroz, e nesse momento, sei que além de ter sido
perdoado, ganhei um aliado nessa batalha.
— Acho melhor colocar isso no rosto. — a maluca da
namorada de Apolo me entrega um saco de ervilhas congeladas,
antes de dar um tapa na mão do meu irmão — Precisava disso
tudo?
Talvez não, mas valeu a pena. Penso comigo mesmo,
enquanto sinto o gelo agir no rosto. Dafne não perde por esperar.
Depois de passar um tempo na vida agitada da capital, voltar para a
minha rotina tranquila em Maneville, me parece algo completamente
surreal. Me reacostumei, querendo ou não, com o trânsito, as
construções mais antigas e toda a áura da realeza que a cidade
inspira. Ali sempre foi o meu lar, é impossível negar, apesar de
querer muito. Em Havdiam passei os momentos mais maravilhosos
e também, minhas maiores desilusões.
Por mais que eu também ame o ambiente acolhedor que só
uma vida no campo pode oferecer, os meus amigos que moram
aqui, e todas as escolas que fundei na região, meu coração,
infelizmente, ficou na capital, e eu não posso negar que dói muito,
todas as vezes em que eu penso no quanto as coisas estavam boas
para mim. Na realidade, foi melhor assim. Antes cedo, do que mais
tarde. Foi bom enquanto durou, e eu nunca tive muita expectativa
que durasse.
É. Mentir a mim mesma também faz parte desse processo de
luto que estou enfrentando. Mais uma vez, me vejo chorando por
algo que deveria ter sido e não foi. De novo, sofrendo pelos
sentimentos não correspondidos, por um homem imaturo que não
sabe o que quer, mas que sempre me teve nas mãos e nunca soube
dar o valor que eu realmente mereço.
Se recomponha, Ludovika.
E é com essa confusão de pensamentos e sentimentos, que
me deito mais uma vez na cama desarrumada, e tento compreender
melhor tudo o que aconteceu, para conseguir me curar. É um
processo, eu sei. Assim como também tenho total noção de que vai
passar, mas isso não me impede de cair no choro até dormir.

***

Uma semana se passa, até que eu finalmente decida dar um


basta nessa fossa em que tenho vivido. Já chega. Superei uma vez
e não será diferente agora. É com essa decisão que me levanto e,
sem choro ou lamentação, inicio o meu dia. Tomando cuidado para
evitar o pensamento recorrente, focando no trabalho e em mim
mesma.
E, assim, os dias se passam, e mesmo que a ferida ainda
esteja ali e que eu tenha a plena consciência de que sempre vou
amar Atlas, seguir em frente é necessário, e é o que farei. Sair com
amigos após o trabalho, sorrir despreocupada, voltar para casa e
dormir tranquilamente, já não parecem coisas distantes agora.
Mesmo que eu tenha que me esforçar um pouco mais do que o
normal para que isso aconteça e o meu consumo de vinho tenha
aumentado, as coisas vão, aos poucos, voltando ao normal. Afinal,
estar sozinha não é algo novo para mim.

***

Claro que nem tudo acontece como queremos na vida adulta,


e meu tempo de me esconder chega ao fim. Recebo um chamado
para resolver algumas burocracias da escola em Havdiam e como
proprietária do negócio, minha presença é indispensável. É hora de
me preparar para um possível encontro com o homem que partiu
meu coração e com o garotinho que o conquistou, e que Deus me
ajude com isso.
— Não é motivo para surtar, Ludo. — Anne afirma do outro
lado da linha, quando reclamo do fato de que não me sinto muito
confortável para encontrar com certas pessoas, por mais madura
que eu seja — Sabe que, se eu pudesse, resolveria tudo sozinha.
— É, eu sei. — tomo um gole da taça de vinho, sentada
diante do meu computador, na sala do apartamento mobiliado que
mantenho na cidade pequena — De toda forma, já é hora de
enfrentar os fatos, certo?
— Certo. — minha amiga responde — Mas de que fatos,
exatamente, estamos falando?
— Não me faça falar. — peço.
— Amiga, acho que, talvez, dar uma busca nas colunas de
fofoca, possa te fazer mais bem do que mal, a esse ponto. —
aconselha — Aparentemente, a mocreia siliconada não está com
aquela bola toda.
— Anne, isso não me interessa. — minto.
— Ah, claro! — ri, me conhecendo bem demais — Procura
logo, Ludovika. Nos vemos amanhã?
— É o planejado. — suspiro desanimada, enquanto encaro a
tela do notebook à minha frente — Até amanhã, amiga.
Desligo o telefone e, claro, sigo o conselho de Anne,
buscando o nome de Atlas. Várias notícias pipocam na tela,
algumas manchetes sensacionalistas sobre a batalha do casal pela
guarda do filho; acusações infundadas da ex-mulher de Atlas e
afirmações de que fez tudo o que podia pelo casamento; o homem
lindo de olhos escuros, parecendo triste e mais cansado do que
nunca, também é fotografado em vários momentos, e ali, no meio
delas, há até mesmo fotos de Atlas e Apolo, seu irmão, chegando
juntos à mansão Sanchez, acompanhados de uma mulher baixinha
com os cabelos escuros presos em um rabo de cavalo.
Se por um lado, fico feliz que ele tenha se resolvido com o
irmão, por outro lado, não consigo entender o que se passa em sua
cabeça.
Então, ele não voltou com a ex, afinal. Grande coisa!
Por que é que Anne pensou que isso aliviaria o meu
coração?
Claro que saber que aquela Barbie Plastificada não
conseguiu o que queria, no final das contas, é uma novidade que
causa certa satisfação, não há como negar. Porém, saber disso,
também me faz pensar que, ainda que ele não tenha reatado com
Dafne, eu não era o suficiente. Mesmo com a siliconada cruel fora
do panorama, Atlas não me escolheu. E é disso que eu preciso me
lembrar, sempre que o vir.
Todas as vezes em que sorrir, e que aqueles olhos escuros e
sedutores buscarem os meus, ele não me ama.
Não amava antes, não o fez agora.
Pelo menos, ele terminou tudo dessa vez.
Talvez, eu esteja pensando demais, e essa visita breve a
Recanto do Sonhar não me faça encontrá-lo, no fim das costas.
Mas, o que mais eu poderia fazer, além de traçar todos os cenários
possíveis e preparar o meu coração machucado? É melhor assim,
do que ser surpreendida e pega de guarda baixa.
No momento, eu preciso cimentar e criar alicerces para todos
os muros do meu coração.
Há duas semanas, eu, Phillip e Apolo estamos construindo
uma defesa muito concisa para que a audiência seja um sucesso.
Apesar da confiança em ter como representante, meu irmão e um
dos melhores advogados do país, ainda tenho pesadelos à noite
com a perda da guarda de Eros, e com a possibilidade de ter que
voltar a morar na casa dos meus pais, porque Dafne roubou todo o
meu dinheiro. Um medo irracional, mas bastante apavorante, eu
devo confessar.
Apesar da saudade enorme de Ludo, e de saber que a cada
dia que passa, a chance de perdê-la para sempre é ainda maior,
vovó Camélia tem razão. Eu preciso encerrar todos os capítulos do
passado para que consiga viver o presente plenamente. E Ludovika
é o meu futuro, disso, eu tenho certeza.
Não resisti à saudade e fui procurá-la em sua sala, alguns dias
atrás, e apesar de ter tomado uma comida de rabo enorme de sua
fiel escudeira, Anne, entendi melhor o que aconteceu naquele dia
em que ouvi parte de uma conversa, escondido atrás da porta.
Anne, apesar de todos os xingos e protestos, prometeu me ajudar a
recuperar a confiança da amiga, mas garantiu que, para isso, eu
realmente deveria me livrar de Dafne, e essa é atualmente a minha
meta de vida.
Eu preciso ganhar esse processo de guarda, assinar
finalmente o divórcio e seguir em frente.
— Vai dar tudo certo, cunhadinho! Apolo é o melhor! —
Lyanna diz, dando dois tapinhas em meu ombro, e eu confirmo com
a cabeça, sentindo um bolo na garganta tão grande, que mal
consigo falar.
— Espero que sim. Pra alguma coisa ele tem que prestar. —
brinco, e em retribuição, ganho um tapa mais forte pelo comentário
maldoso.
— É assim que o agradece? — ela ralha comigo, mas Apolo
solta uma risada baixa, antes de segurar em sua cintura e beijar
seus cabelos.
— Eu não preciso de um pinscher para me defender,
Wandinha.
— Ah não! Agora eu sou um pinscher? Sinceramente, não
mereço isso… — o casal começa a discutir, mas ignoro
completamente, olhando para os lados, ansioso. A audiência
começa em poucos minutos e ainda não vi nenhum sinal de Dafne
ou dos seus advogados de defesa.
— Ela pode faltar à audiência? — questiono, conferindo mais
uma vez o relógio.
— Ah, ela, com certeza, não vai faltar. Isso acabaria com o
seu papel de divorciada sofrida, que tem bancado para a mídia. Ela
vai aparecer, confie em mim. — Apolo diz, e como se tivesse sido
conjurada do inferno, minha ex-mulher surge de preto do outro lado
do corredor, cercada de paparazzis que a adulam, enquanto ela
ostenta uma expressão triste no rosto maquiado — Está vendo? —
ele aponta com a mão displicentemente, e vejo a expressão de
Lyanna se fechar.
— Foi por ela, que vocês brigaram por tanto tempo? Credo…
eu sou mais eu! — a baixinha exclama, mas percebo que está
observando a expressão do namorado, para ver se ele se abala ou
não, com a presença da ex.
Aparentemente, sua avaliação é positiva, porque os dois
entram para a sala juntos, e eu sigo em seu encalço, com um Phillip
muito calado ao meu lado. Meu advogado não ficou muito satisfeito
em ter meu irmão mais novo como companheiro de caso, um
grande concorrente do seu escritório, mas como continuo pagando
aos dois, ambos precisam cooperar.
O juiz começa a audiência, e mesmo sem saber ao certo, se
está ou não, dando certo, a expressão matadora no rosto de Apolo,
me diz que ele vai ter um prazer muito especial em acabar com
Dafne. Já o semblante no rosto dela, se desestabilizou um pouco,
ao ver os dois irmãos palhaços, que um dia brigaram por ela, lado a
lado, prontos para acabar com todos os seus argumentos.
A raiva me consome e eu não sei dizer exatamente quanto
tempo passa. Os trâmites acontecem, não aceitamos o acordo
absurdo que ela pede, oferecemos algo justo, pedindo a custódia
total de Eros. Ela chora, se faz de boa moça, seus advogados
alegam que o filho não pode ficar sem a mãe, mas com as provas e
o possível depoimento do pequeno, conseguiremos uma decisão
favorável.
A imprensa noticia cada decisão com tanta avidez, que eu
não consigo nem piscar, sem ter um flash estourado na minha cara,
mas sigo com a expressão impassível de quem sabe que vai
ganhar. Pelo menos, é isso que tento passar em todas as vezes que
não estou sozinho. Apenas meus advogados, minha família e Ludo,
sabem o quão apreensivo eu estou com essa audiência.
— Vai dar tudo certo. Agora, precisamos esperar o que ela
vai dizer, e se for necessário, colocamos Eros para depor. — meu
irmão diz, apertando meu ombro em sinal de apoio e eu confirmo
com a cabeça.
Não quero submeter Eros a esse tipo de coisa, mas, se for
para conseguir sua guarda, é o que faremos. Apolo, Lyanna e ele se
deram muito bem, por incrível que pareça, pois o garotinho que
sempre foi muito cismado e nunca deu muita confiança para
ninguém, mas se aproximou quase que instantaneamente do meu
irmão. Quando conversamos mais cedo, Apolo explicou tudo o que
iríamos fazer, e ele já sabe que, talvez, tenha que contar para o juiz
com quem prefere ficar.
Mais algumas horas se passam, e quando finalmente temos
uma decisão, ela é favorável. Graças aos céus!
— … determino, então, que a guarda de Eros Marquezine
Sanchez fique com o pai, Atlas Érico Sanchez. A mãe, Dafne
Marquezine Sanchez, poderá visitá-lo, aos finais de semana. Essa
determinação visa o melhor para a criança. — o senhor diz, lendo
um papel e meu coração bate descompassado, tamanha a
felicidade. Alguns minutos de baboseira depois, ele encerra a
audiência e eu, Apolo e Phillip comemoramos.
Dafne parece perdida, sentada do outro lado, com seu
advogado a consolando, mas quando o juiz deixa o seu lugar e ela
percebe que realmente perdeu, começa a gritar descontrolada.
— Eu vou pedir revisão! Esse juiz está errado! Não pode tirar
o menino de mim! Ele e a pensão são meus! — ela esbraveja, e um
membro da guarda real cogita contê-la, mas ela não se importa nem
um pouco com a exposição nem com o perigo de ser presa por
desacato à autoridade. Seu advogado tenta fazê-la recobrar o
controle, mas Apolo gargalha alto, tendo finalmente a sua vingança
completa, pelo que vejo. Isso a enfurece ainda mais, e me sentindo
vingado, assisto de camarote a todo o seu teatro ir para o ralo,
quando avança em nossa direção — Vocês dois são as piores
pessoas que eu já conheci! Não vou sossegar até conseguir todo o
dinheiro que me é de direito! Estou falando sério, vocês vão pagar.
Os flashes continuam estourando em nossa direção,
enquanto o advogado tenta segurá-la, para não vir em nossa
direção nos agredir fisicamente. Mas, por acaso, um fotógrafo não
tem a sorte de conseguir fugir do seu radar, e quando se aproxima
mais, para obter o melhor click, acaba levando vários tapas de uma
mulher completamente descontrolada.
Não consigo conter a risada de felicidade, exultante com o
que está acontecendo. Eu ganhei. Consegui. E ainda, de brinde,
Dafne foi desmascarada por ela mesma, perdendo o controle
perante a mídia e todos os seus familiares que assistiram à
audiência.
Saímos, ainda aos risos, sentindo um alívio tão grande que
mal consigo explicar. Apolo, joga os braços sobre os meus ombros,
com um sorriso enorme no rosto.
— Eu sou muito foda mesmo, puta que pariu! — ele fala,
assim que saímos do fórum e eu gargalho alto.
— Você realmente é foda. — confirmo, quando encontramos
Lyanna, que se joga em seus braços, animada demais para se
conter.
— Yes! A gente acabou com aquela oxigenada horrorosa!
Somos um bom time, hein? — ela diz animada, e eu confirmo com a
cabeça, porém, meu sorriso, que antes era enorme, murcha um
pouco.
O time só estaria completo se Ludovika estivesse aqui. Apolo,
percebendo meu posicionamento, se aproxima, dando um soco em
minha costela, antes de dizer: — Quem é ela? Fala logo.
— O quê? — pergunto, massageando a lateral do meu corpo.
Essas demonstrações de carinho, para mim, parecem muito mais
com uma forma de ir descontando todos os anos de raiva que eu o
fiz passar. Mas, como sei que mereço, não reclamo… pelo menos,
não muito.
— A mulher por quem você está apaixonado e os caralhos a
quatro. Vovó comentou, no almoço da semana passada.
— Aquela velha fofoqueira. Você voltou pra casa há dez dias
e ela já está contando tudo sobre a nossa vida. — reclamo, e ele
não se dá ao trabalho de se defender, esperando por uma resposta
— Ludovika Pavlova.
— Eu sempre soube! — ele grita animado, enquanto Lyanna
nos observa com os olhos curiosos — Deveria ter dado o troco
ficando com ela, ou algo do tipo. Mas, a ruivinha sempre foi decente
demais para aceitar esse tipo de baixaria. — ele diz, e recebe uma
cotovelada bem dada da namorada — O quê? Eu era adolescente…
e não te conhecia ainda. Mulher maluca!
— Maluca, não! — ela fala ameaçadoramente, e eu
interrompo, o que aprendi muito rápido, o que pode virar uma
discussão de horas.
— Enfim, eu estava com ela…, mas me afastei. Não podia
jogá-la no meio dessa sujeira toda.
— Baboseira! — Lyanna fala, e Apolo concorda, fazendo com
que eu me sinta um merda ainda maior.
— Vai atrás dela logo, se é o que te faz feliz. Bom que acaba
com essa sua cara de cu. — ele brinca, mas quando volta a falar,
continua com um tom de voz bem mais sério — Você ficou muito
tempo preso a esse demônio, apenas por aparências. Dafne não
pode ser o fim. Não seja covarde.
— Não serei. — digo, ouvindo o conselho do meu irmão mais
novo, que aparentemente, se tornou um homem muito sábio desde
quando paramos de nos falar.
— É assim que se fala! — Lyanna comemora, animada —
Estou doida para ter outra cunhada e poder falar mal de vocês.
Atena é legal, mas ela defende os irmãos, o que eu, simplesmente,
acho uma chatice. — a baixinha brinca, e nós dois caímos na risada.
Acho que está na hora de correr atrás de Ludovika mais uma
vez. E espero que seja a última vez, porque eu nunca vou soltá-la,
se ela me aceitar novamente.
"O CEO da Kapaoi Company, Atlas Sanchez, ganha a ação contra
sua ex-mulher, Dafne Marquezine Sanchez! A mulher se descontrola
com a determinação do juiz e agride três paparazzis."
A manchete em vermelho é extremamente chamativa, no rodapé da
reportagem que passa na televisão. Ali, registros do momento em
que o juiz lê a sentença, os irmãos comemorando juntos a vitória, e
a Barbie oxigenada dando o maior chilique da história, passam
como se tudo isso fosse uma fofoca deliciosa demais para não ser
mostrada em todos os jornais de Vongher. Na realidade, há dias que
não se fala de outra coisas na imprensa local, muitos canais estão
tratando como o divórcio de Depp e Amber, o que eu acho um
exagero total. Dafne tem usado de toda essa publicidade para se
promover e dizer aos quatro ventos que está nesse divórcio sem
querer, porque sua vontade era continuar com a sua família incrível
e linda. Já, Atlas, não se pronunciou em nenhuma das ocasiões em
que paparazzis colocaram um microfone em sua cara. Não, que eu
realmente esteja acompanhando cada detalhe do caso,
simplesmente, toda vez que ligo a televisão, estão falando deles, e
eu, que não tenho sangue de barata, dou uma espiada para saber
sobre o que eles estão falando.
As imagens que passam na televisão são ao vivo, e quando o
homem de terno escuro entra no fórum com o semblante fechado,
ao lado de outro muito parecido com ele, igualmente marrento,
aumento o volume para ouvir o que estão falando sobre eles. Ainda
fico surpresa ao ver Atlas e Apolo lado a lado, isso quer dizer que
eles fizeram as pazes, coisa que eu achei que não aconteceria tão
cedo.
Acompanho por horas, tudo o que é falado, cada depoimento
e cada palavra dita, ansiosa para saber da sentença. Meu coração
se alegra com o veredito do juiz, sabendo que, finalmente, pai e filho
terão paz com toda essa história horrorosa. Sinto tanta saudade de
Atlas e de Eros, que cogito ligar, parabenizando-o pela vitória, mas
isso seria me humilhar demais. Além disso, estou em meu detox e,
no momento, reatar o contato não é algo bom para nenhum de nós
dois.
Sei que ainda falta muito para acalmar o meu coração e
encerrar essa história, mas preciso continuar tentando. É
fundamental que as coisas mantenham o seu curso e que tudo
continue assim. Agora que eu finalmente parei de chorar, me
conformei e estou seguindo em frente, não posso ter uma recaída.
Por maior que seja a vontade de entrar em contato.
Já tentei reconquistá-lo, agora, eu preciso esquecê-lo.
Mudo de canal, assim que acaba a cobertura da audiência e
começa a passar Dafne completamente descontrolada, batendo na
imprensa. Agora, acabou, não preciso me sujeitar a ver esse tipo de
coisa. Tento ao máximo esquecer do assunto, e apesar de o nome,
Atlas, continuar rondando os meus pensamentos, volto a fazer a
minha faxina. Sim, eu sou o tipo de pessoa que, para acalmar os
pensamentos e limpar as ideias, precisa limpar a casa com afinco.
Se eu me dedicar muito a essa função, eu consigo esquecer de todo
o resto, e com sorte, meus músculos ficarão cansados o suficiente
para que eu consiga descansar.
Agora que voltei para Maneville e não tenho mais o cargo de
diretora de nenhuma escola, faço uma peregrinação semanal para
confirmar se tudo está indo bem, mas no geral, estou tendo um
tempo sabático. Preferi assim, depois de um tempo tentando de
tudo para esquecê-lo. Porém, com tanto tempo livre, minha casa
nunca esteve tão limpa, e minhas mãos tão ressecadas.
Enquanto esfrego o banheiro, cantando uma música antiga,
de uma banda particularmente vergonhosa para admitir em voz alta,
continuo a pensar em como, provavelmente, deve estar a vida na
capital, nesse momento. Anne sempre me dá relatórios diários sobre
a escola e sobre Eros, mas nunca toca no assunto proibido. Ainda é
demais para mim, saber se ele aparece feliz, ou acompanhado, para
buscar o garoto. Além da cobertura do divórcio, não procurei saber
de mais nada de Atlas, e acredito que seja melhor continuar dessa
forma.
— Everybody…. Yeahhhh! — grito, me remexendo — Rock
your body, yeaaaah! — Backstreet's back, alright — estou no meio
da minha melhor performance, completamente molhada, quando a
campainha toca, quase me matando de susto.
Quem será?
Abaixo o som e vou abrir à porta, deixando um rastro de
pingos de água pela casa inteira. Quando abro, não consigo
disfarçar a surpresa. Eros está vestido com uma roupa social e uma
gravata borboleta, segurando um buquê de lírios enormes, com
certa dificuldade. Quem é que faz isso com uma criança? Essas
flores devem pesar muito nas mãozinhas pequenas! E ao mesmo
tempo, estou pensando que essa é a cena mais linda que eu já vi, é
claro.
Fico sem reação por alguns segundos, mas me abaixo para
abraçá-lo com força. Ele se joga em minha direção, largando as
flores de qualquer jeito no chão, e sinto meus olhos marejarem, me
dando conta, só agora, de como eu amo e senti saudade dele.
— Oi, Ludovilika. — ele diz sem graça, depois de algum
tempo que ficamos abraçados e eu abro um sorriso, respondendo:
— Oi, meu amor… que surpresa! — digo, e procuro ao redor pelo
pai da criança. Não existe a menor possibilidade de ele ter vindo
sozinho me encontrar, mas Atlas não está em lugar nenhum à minha
vista.
O menino pega o buquê de flores do chão, me entregando, e
começa a falar muito alto: — Senti muita saudade de você e resolvi
vir fazer uma surpresa! — tento segurar a risada, porque sei que
isso foi ensaiado e confirmo com a cabeça.
— Também senti muito a sua falta, Eros. — assim que
respondo, Atlas surge da lateral da casa, segurando outro buquê de
lírios, igual ao do filho, com um olhar de cachorro sem dono.
— Sentimos sua falta. — ele diz, completando a frase do
filho, e me estende as flores, que tenho certa relutância em aceitar.
— Acha que pode vir desse jeito aqui, e pronto? Resolvido?
— questiono baixo, para não assustar o garoto. Os pais já brigaram
o suficiente na sua frente, para que ele tenha que presenciar algo
assim novamente.
— Sei que não, Ludo…, mas… senti tanto a sua falta. — sua
fala parece embargada, e tento ao máximo não cair em tentação.
Três vezes é demais, até para mim.
— Atlas, você não pode vir aqui falando esse tipo de coisa.
Não é certo. — digo baixo, e Eros abraça as minhas pernas,
parecendo entender muito melhor do que eu gostaria, o que está
acontecendo.
— Por favor… — ele diz com sua vozinha infantil, e Atlas
abre um sorriso para o filho, antes de voltar a me olhar.
— Ludo, me dá uma nova chance, ou pelo menos, escute o
que eu tenho a lhe dizer. Por favor. — seus olhos parecem sinceros,
e quando ele toca meu braço, sei que, no fim, estou completamente
rendida. Mais uma vez — Me aceita de volta.
Nos aceita de volta?
— Por favor, por favor! — Eros fala, ainda abraçando as
minhas pernas.
Sinto meus olhos marejarem de emoção, e fico
completamente sem reação. Tinha prometido para mim mesma que
não iria cair em tentação, mas como resistir a esses dois?
— Você acha que pode vir, depois de todo esse tempo, aqui
me pedindo para voltar? E ainda traz Eros? Isso não é justo, Atlas.
— Você acha que pode vir, depois de todo esse tempo, aqui
me pedindo para voltar? E ainda traz Eros? Isso não é justo, Atlas.
Suas palavras são carregadas de censura, e agora, me
questiono se ter trazido meu filho para essa situação, foi uma boa
ideia. Achei que, com a presença do menino, ela fosse se sentir
compelida a me ouvir, mas se ela nos recusar, serão dois corações
partidos voltando para a capital, com uma hora e meia de estrada
em um silêncio horroroso.
— Ludo, eu só peço que você escute o que eu tenho a dizer.
Não estou pedindo o seu perdão. Ainda não. Apenas, me deixe
explicar. — falo, e ela, sem dizer nada, abre a porta por completo,
nos deixando passar.
Assim que entro no apartamento pequeno, praticamente uma
cópia do seu em Havdiam, sinto o cheiro de água sanitária. Antes de
questioná-la, ela levanta os braços em rendição e diz: — Eu estava
limpando, então… não reparem. — ela diz parecendo sem graça,
mas é óbvio que eu reparo. Reparo em tudo, em seu short apertado,
em sua blusa branca, levemente transparente, e no rubor das suas
bochechas, quando percebe o que eu estou fazendo.
— Eros, filho, você se lembra do que combinamos, não é?
Fique brincando aqui na sala com o seu tablet, porque eu e Ludo
precisamos conversar sobre algumas coisas importantes. — digo, e
ele confirma com a cabeça, com um olhar esperançoso no rosto.
— Tá bom! Eu vou ficar quietinho, prometo! — ele se senta
no sofá, como se fosse dono da casa, e abre a mochila, pegando o
aparelho que raramente eu o deixo usar. Ludo observa tudo com
olhos cheios de água, e sem dizer nada, beija o topo da cabeça do
garoto e me indica a direção do quarto, para conversarmos.
Vou atrás dela, buscando as melhores palavras para contar
tudo o que ouvi e pedir perdão por tudo o que fiz. Ela se senta na
cama e parece esperar que eu comece a conversa, o que eu faço,
assim que tomo uma lufada de ar, buscando coragem.
— Ludo, sei que você tem toda a razão para estar com raiva.
Sei que as coisas não foram explicadas e que tudo o que falei te
machucou. Eu juro, juro por Eros, que fiz o que fiz, pensando ser o
certo. Mas, em momento nenhum, nada do que falei foi verdade.
— Não jure em vão. — ela me repreende, mas nego com a
cabeça.
— Não estou jurando em vão. Estou falando a verdade. Você
precisa acreditar em mim. — me ajoelho na sua frente, segurando a
sua mão. Ela parece surpresa com a atitude, mas não tira a mão da
minha, o que eu vejo como um avanço, por isso, continuo —
Naquele dia, eu fui até o seu escritório te buscar, como havíamos
conversado, e escutei parte de uma conversa sua com Anne.
Ludovika parece surpresa e um pouco aborrecida com a
minha confissão, mas não me interrompe.
— Peço desculpas por ter agido dessa forma, mas a porta
estava entreaberta, eu não pude evitar escutar. Você estava falando
que a situação em que vivíamos era demais para você, que não se
reconhecia mais com a suas atitudes… eu simplesmente não soube
o que fazer. Me desesperei, pensei que estava atrapalhando a sua
vida e fui embora sem saber o que pensar. — digo baixo — Eu
realmente achei que estava fazendo o melhor para você.
— Atlas… como você pôde pensar isso? E pior, não
conversar comigo, nem me questionar cara a cara… isso não está
certo em milhares de camadas.
— Eu sei, Ludo. Eu sei que errei, e sei que, talvez, vá errar
muitas vezes mais. Só que, para ser honesto, preciso aprender a ter
um relacionamento saudável. Hoje, eu sei que houve mais da
conversa que eu não ouvi. Fui atrás de você, alguns dias depois,
para implorar por seu perdão, porque não aguentei de saudade, e
Anne soltou poucas e boas pra cima de mim. Preferi estar
completamente livre, para não lhe causar mais nenhum sofrimento.
Precisava me livrar de Dafne, resolver o meu passado, para viver o
presente e pensar no futuro, antes de vir implorar de joelhos pelo
seu perdão.
Não sei mais o que fazer ou dizer, tudo o que eu podia, eu
disse. Estou de joelhos, implorando pelo perdão da mulher mais
incrível do mundo, e a única que amei durante toda a minha vida. Só
cabe a ela me perdoar agora.
Seu olhar procura qualquer vestígio de mentira, mas não há
nada. E quando ela toma uma decisão e abre um sorriso, sinto um
peso enorme sair das minhas costas.
— Atlas… você não pode fugir sempre que as coisas ficarem
difíceis. Não funciona assim e, não é normal tomar esse tipo de
atitude.
— Eu não vou fugir mais. Sei que você consegue aguentar,
não preciso ter medo com você. — digo, e seguro sua mão com
ainda mais força — Para ser sincero, fiquei com medo de te
prejudicar, com toda a minha carga.
— Que tal dividir o peso com outra pessoa? — ela diz, se
aproximando um pouco mais.
— Não faria isso com mais ninguém. — falo sinceramente, e
quando ela cola a sua boca na minha, tenho certeza de que essa é
uma promessa que eu vou cumprir pro resto de nossas vidas.

***

Mal consigo acreditar que Ludo nos aceitou, finalmente, de volta.


Depois de uma conversa à tarde, com direito a piquenique
improvisado com Eros, estamos finalmente a sós. Agora, ainda sem
saber exatamente como agir, observo-a sair do banheiro, com uma
camisola laranja e um creme hidratante nas mãos. Seu sorriso ainda
é contido, mas sei que isso acabará logo, logo, porque mal consigo
me conter, e caminho em sua direção, ansioso para fazer o que
estou o dia inteiro louco de vontade.
Seguro sua cintura, colando seu corpo ao meu e desço minha boca,
colando seus lábios aos meus em um beijo casto. Começo, então, a
descer pelo seu maxilar e queixo, e quando chego ao pescoço, falo
baixo: — Por favor, me diga que quer isso tanto quanto eu.
Quando me afasto para esperar a resposta, vejo suas
bochechas coradas de excitação. Ludo parece tão ansiosa quanto
eu, mas não diz nada, apenas morde o lábio inferior, balançando a
cabeça para cima e para baixo, em um movimento afirmativo.
— Eu preciso ouvir, amor. Preciso mesmo. Esperei tanto
tempo para te ter de volta em minha vida, que preciso ouvir você
dizer que me quer, em definitivo, em sua vida.
Ludovika parece em transe, e sua respiração acelerada me
deixa ainda mais duro, porque sei que minha mulher se sente tão
atraída por mim, quanto eu me sinto por ela. É inevitável pensar em
como o destino trabalha de formas misteriosas, ao mesmo tempo,
perfeitas. Fomos feitos um para o outro desde crianças.
— Eu sempre fui sua, Atlas. Você sabe que eu quero, que
sempre quis e provavelmente, sempre irei querer estar com você, de
todas as maneiras. — suas palavras são firmes, e eu mal consigo
me conter para não avançar em sua direção como um louco, movido
pelo tesão. Nosso novo reencontro merece um pouco mais de
compostura da minha parte, e para ser sincero, não quero queimar a
largada tão rápido, quero curtir cada milímetro do seu corpo, dos
seus orgasmos e do seu toque gentil.
Nunca amei ninguém do jeito que a amo, e talvez, esse seja
o melhor sentimento que já experimentei em toda a minha vida.
— Eu também sou inteiramente seu. Sempre fui, mesmo
quando ainda não sabia disso.
Segurando-a pela bunda, pego-a no colo, sentindo que as
suas coxas se abrem para me acomodar. Ela enlaça as pernas ao
meu redor e nossas bocas voltam a se unir, dessa vez, mais ferozes
e ansiosas. A saudade do seu cheiro, do calor da pele dela e do seu
gosto, me movem. Uma combinação explosiva, que toma conta de
mim e me transforma em um primitivo, sem nenhum tipo de controle.
O que me acalenta é que, pela sua reação, Ludovika também sente
tudo isso, na mesma intensidade. O que faz com que a nossa
combinação seja explosiva e incrível.
Não há mais espaço para conversas, explicações, dúvidas.
Isso ficou para trás e já foi resolvido. Agora, nos restam apenas
gemidos, línguas dançando uma com a outra e mãos apertando e
marcando a pele.
Ainda com ela montada em mim, fecho a porta do quarto com
o pé, tentando fazer o menor barulho possível, para não acordar
Eros. Jogo-a na cama e a observo por alguns momentos, o peito
subindo e descendo, com a respiração ofegante tamanho o tesão.
— Eros? — ela questiona preocupada e eu tranco a porta
automaticamente.
— Continuará dormindo.
Começo a me despir, enquanto ela me olha com tanto desejo,
que me sinto o homem mais sortudo do mundo. Quando finalmente
estou nu, vou em sua direção, pronto para arrancar a camisola que
ela acabou de vestir. Ela me ajuda apressada, e solto uma risada
baixa, pensando em como estamos parecendo aqueles dois
adolescentes do passado, descobrindo o sexo pela primeira vez.
— Eu nunca vou me cansar de dizer o quanto eu te quero. —
ela diz, observando minha ereção, que aponta em sua direção, e me
abaixo para beijá-la, ansioso para tocar em cada parte do seu corpo
macio.
— Eu nunca vou me cansar de te provar o quanto eu te amo.
— respondo, e vejo seus olhos demonstrarem amor. Suas
bochechas e pescoço ficam levemente vermelhos, mas ela não se
move e nem diz nada, esperando para que eu tome uma atitude.
Sem dizer mais nada, eu a viro de costas, fazendo com que
ela fique contra o colchão macio. Mordo sua bunda com vontade e a
escuto soltar um gritinho surpreso, mas antes que ela possa
protestar, separo suas pernas e abocanho sua intimidade, lambendo
e sugando, do jeito que eu sei que ela gosta. Sua umidade se
espalha pelos meus lábios e dedos, enquanto Ludo geme e rebola
em meu rosto, sem qualquer timidez. Levo-a ao limite, mas antes
que possa gozar, viro-a novamente, de frente para mim.
— Você é incrivelmente linda. — exclamo, posicionando meu
pau em sua entrada, antes de começar a sugar seus peitos rosados
e deliciosos.
Não espero que ela responda para começar a penetrá-la.
Testo sua entrada, colocando apenas a cabeça, para provocá-la, e
ela se empurra contra mim. Me sinto tão cheio de desejo, que sei
que não conseguirei me segurar por muito tempo. Mas, tudo bem,
teremos o resto da vida para irmos lento e gostoso. Agora, eu
apenas preciso dela.
Mal posso acreditar que a porra desse pesadelo acabou e,
agora, para completar e deixar tudo perfeito, a minha mulher, minha
Ludo, está no lugar a que pertence, ao meu lado.
Entro lentamente, tentando não ser bruto, mas quando estou
na metade, sei que não conseguirei me controlar. É tão bom, que
em um só segundo me enterro inteiro em seu interior quente e
apertado. Ela grita de susto e prazer, pedindo por mais, e com esse
passe livre, começo a me mover com força. As batidas em seu
corpo fazem um som particularmente nosso, a cada vez que invisto
contra ela, criando um ritmo próprio.
— Mais forte. Eu quero tudo, Atlas.
Minha missão de vida é lhe dar tudo o que quiser. Por isso,
com uma das mãos, estimulo um mamilo rígido, enquanto meus
quadris não param de se mover. Quando Ludo começa a
convulsionar, desço a mão até o seu clitóris, sentindo meu orgasmo
cortar meu corpo junto ao dela. Suas contrações deixam tudo muito
mais gostoso e sensual do que eu poderia, um dia, sequer imaginar.
Gozar com ela é incrível, e ainda com a respiração ofegante,
a puxo para o meu peito, beijando sua testa, antes de dizer: — Eu te
amo, Ludo.
— Não mais do que eu, Atlas. — ela responde, mordendo
levemente meu pescoço, antes de soltar um suspiro satisfeito.
Talvez, no fim, a vida realmente possa ser boa.
— Sério, seu irmão merece a noiva que tem. Ela está me
enlouquecendo com essa história de ser madrinha, assim como ele
tem te enlouquecido com toda a história de lua de mel perfeita etc.
— Ludo reclama, se jogando com tudo no sofá, sem se preocupar
muito em amassar o vestido, ou estragar o penteado. Realmente,
ela não é o tipo de mulher que daria um chilique por uma coisa tão
banal. Uma das milhares de características que eu amo em sua
personalidade. Na realidade, Ludo não é do tipo que dá chilique por
nada, no geral.
Lyanna, assim que conheceu Ludovika, colou nela como se
fossem melhores amigas há anos. Sei que, às vezes, minha mulher
reclama de todas as loucuras pelas quais a baixinha a faz passar,
mas para ser sincero, sei que elas se adoram. Ludo pode reclamar,
mas no fim, só tem elogios para fazer à minha cunhada.
— Bom, ela é a noiva… acho que tem direito de ser um
pouco histérica hoje, não? — questiono, segurando o riso e sou
fuzilado com um olhar.
— Sua irmã poderia ajudar também… tudo eu. Mas ok, logo, eles
dirão sim e as coisas vão voltar ao normal. Não entendi que mania é
essa de achar que Apolo vai largá-la no altar, ele é o cara mais
devoto a uma mulher que eu já conheci. — me incomodo com a sua
afirmação, porque esse cara sou eu, com ela, mas não entro em
discussão — Essa semana foi estressante com a despedida de
solteira, chá de lingerie, dia de spa das garotas. Eu mal consegui
trabalhar, apesar de uma ou outra coisa ter sido bem divertida. —
ela diz com um sorrisinho no rosto, e eu me afasto com a testa
franzida.
— Eu sabia que tinha stripper no meio! É a cara daquelas
amigas loucas dela! — reclamo e ela gargalha.
— Bom, pelo menos, sabe que eu não tive nada a ver com
isso. — ela dá de ombros, e a cerimonialista grita algumas
instruções, dizendo que o casamento vai começar.
Todos os padrinhos se alinham para a entrada da cerimônia,
e Lyanna aparece, muito bonita, vestida de branco, com uma
expressão de quem está prestes a vomitar. Suas amigas conversam
com ela brevemente, e a baixinha vem até Ludo, pedir alguma coisa
que eu não escuto direito.
— O que foi? — pergunto, quando ela volta ao seu lugar, e
ela dá de ombros, antes de falar: — Ela queria saber se Apolo já
estava pronto, no altar… como se ele fosse capaz de fugir. — Ludo
revira os olhos e eu não consigo segurar a gargalhada, que faz com
que todos ali me olhem feio.
— Vamos começar, então. Atlas e Ludo, vocês são os
primeiros padrinhos da fila. Três, dois, um. — uma música começa a
tocar, as portas se abrem e eu entro, de braços dados com minha
ruiva, distribuindo sorrisos para toda a família.
Apolo, no altar, parece nervoso, e prestes a vomitar, mas
quando trocamos um olhar, há felicidade e respeito ali. Ele merece
ser feliz no fim das contas, assim como eu também aprendi a
acreditar que mereço.
Lyanna entra, todos vão às lágrimas e a cerimônia ocorre do
melhor jeito possível. Eles trocam palavras lindas em seus votos, e
quando o sim acontece, fico feliz por estar presenciando esse
momento.
Fazer as pazes com Apolo foi uma das melhores coisas que
fiz. Perdemos muito tempo brigados, mas agora, estamos tentando
recuperar aos poucos, todos os anos perdidos, em uma relação
muito mais saudável do que tínhamos quando éramos mais novos.
Quando a festa começa, e os noivos finalmente se tornaram marido
e mulher, eu começo a ficar nervoso. Minha hora está chegando
também, muito mais perto do que Ludo imagina, pelo menos.

LUDOVIKA PAVLOVA

Posso reclamar, de vez em quando, das loucuras e do ritmo insano


de Lyanna, mas seguro ao máximo as lágrimas, quando a vejo
entrar na igreja para jurar amor eterno ao meu cunhado. No fim,
criamos uma amizade muito legal, e por sermos outsiders da família
Sanchez, e nutrimos uma grande antipatia pela Barbie Oxigenada,
foi fácil nos aproximarmos. Seu jeito animado e um pouco louco,
contrasta bem com o meu, que é mais calmo e pé no chão, e por
mais cansada que eu esteja, entendo bem que noivas tem, sim, o
direito de pirar de vez em quando. Mas, ao ouvi-los dizer sim, sinto
um alívio grande me invadir. Agora, podemos voltar a ser amigas,
sem peso de nenhuma decisão relacionada a casamentos.
Se eu for realmente sincera com os meus sentimentos, talvez,
esteja um pouquinho desejosa para passar por tudo isso, e talvez,
minha irritação seja uma pontinha de inveja.
Lyanna tem vários anos a menos do que eu, conhece Apolo
há pouco tempo também, mas não hesitou nem um minuto em se
unir a ele em matrimônio. Sei que Atlas e eu somos diferentes, e
depois do divórcio traumático, talvez ele não queira se envolver
dessa forma, mas a Ludovika criança, e confesso, que até a mais
velha, sempre sonhou em entrar de branco em uma igreja…
— Mil beijos pelos seus pensamentos. — Atlas chega, me
estendendo uma taça de champanhe, e eu nego com a cabeça.
— Vai ter que se esforçar um pouco mais do que isso. —
brinco, e Eros aparece correndo em nossa direção, perguntando se
pode brincar com outras crianças. Atlas lhe dá certas instruções,
mas o garotinho, que um dia foi triste e não brincava na escola, sai
correndo às gargalhadas para interagir com seus amiguinhos.
— Ele parece bem. — comento, observando-o correr, e Atlas
beija o topo da minha cabeça, antes de responder: — Agora ele tem
amor de mãe. Claro que está bem. — sinto minhas bochechas
esquentarem, mas antes que eu possa responder, a cerimonialista
anuncia que a noiva vai jogar o buquê.
— Você não vai? — ele parece indignado, quando não me
movo do lugar.
— Ah… isso é besteira. — comento, dando de ombros.
— Não! Você tem que ir. — sua fala é enfática, e eu sou,
praticamente, rebocada até a leva de mulheres completamente
loucas e histéricas que estão em busca do tão sonhado buquê.
Fanny e Vall, amigas de Lyanna, são as primeiras da fila, e parecem
se empurrar para conseguir o melhor lugar. Fico na lateral,
esperando não ser pisoteada, e a noiva começa a contagem para
jogar o buquê.
— Um… Dois… Três… — mas, ao invés de jogar as flores,
ela se vira e começa a caminhar em minha direção, com um sorriso
amplo e luminoso.
Sinto todos os olhares em mim, e meu corpo queima de
vergonha.
O que está acontecendo?
Atlas, então, aparece no meu campo de visão, e quando recebo as
flores da minha cunhada, ele se ajoelha no chão, abrindo uma
caixinha vermelha de veludo. Levo as mãos à boca, chocada
demais para fazer qualquer outra coisa, e com os olhos marejados,
escuto as palavras mais doces do mundo: — Ludo, você sempre foi
luz em minha vida. Quando te reencontrei, senti que fui guiado
novamente pela escuridão. Eu nunca amei ninguém como eu te
amo, nunca me senti tão bem com outra pessoa, se não, com você.
Quero te ter para sempre em minha vida, te amar em cada momento
que respirar, e saber que pude te jurar amor eterno de todas as
formas possíveis. — a esse ponto, estou tremendo inteira, e não sei
bem o que fazer, a não ser assentir com a cabeça, o que todos já
sabem que está em meu coração — Ludovika Pavlova, você aceita
se casar comigo e ficar eternamente ao meu lado, dividindo a sua
vida comigo?
— É claro que eu aceito! — respondo, e ele coloca o anel em
meu dedo anelar, beijando minha mão, antes de se levantar. Atlas
me abraça apertado, ouvindo os gritos de todos os convidados, mas
quando cola a sua boca na minha, não há mais nada, além de nós
dois.
Uma voz se sobressai entre os gritos dos nossos amigos e
familiares: — Eu sabia que tinha razão, quando disse que vocês
dois faziam um belo casal. Pena que demorou mais de dez anos
para isso acontecer! — dona Camélia diz em alto e bom som,
arrancando uma gargalhada de todos ao nosso redor.
AGRADECIMENTOS

Agradeço imensamente a você que deu uma chance para


Atlas e Ludovika e chegou até aqui. Se você amou este livro tanto
quanto eu, não deixe de avaliar, por favor.
Para as minhas leitoras goxtosas deixo aqui todo o meu
amor. Como sempre digo: sem vocês eu não sou nada! Cada vez
mais grata pela cumplicidade, apoio e amizade! Amo nosso grupo,
nossas conversas e nossa família. As interações, indicações e
leituras são fundamentais para mim. Amo vocês com todo o meu
coração!
Para a minha outra metade literária, Priscilla Averati. Você é
pro resto da vida. Sem seu apoio não seria a mesma coisa, sem a
nossa amizade e cumplicidade não teríamos o que temos hoje.
Agradeço de coração por tudo sempre. Te amo infinito. #Prisa
Minhas meninas super venenosas, minhas namoradas, vocês
são o melhor presente de todos. Obrigada pelo apoio surreal que
vocês me dão todos os dias, eu sou muito grata. Nossa amizade é
uma das coisas que me mantém de pé e caminhando hoje em dia.
Eu amo vocês. Amo demais, do fundo do coração. Amo muito muito
muito.
Para a minha amiga e beta querida, Juju, obrigada por
sempre surtar e amar minhas histórias.
Vanessa, você sabe o quanto é fundamental! Sem você eu
realmente não sou nada, minha carreira nem existiria. Eu sou grata
demais por tudo o que você tem feito por mim, me ajuda em tudo o
que eu preciso e se preocupa comigo como ninguém mais. Eu sou
grata demais pela sua amizade além de todo apoio com a
assessoria. Você é foda demais. Te amo.
Por fim, mas não menos importante, para a minha família por
todo o apoio. À Deus por me capacitar e aos meus amigos por
aguentarem as minhas “sumidas” em períodos pré-lançamento. Amo
vocês.
QUERO MUITO TE CONHECER MELHOR!
Parece inalcançável a relação autor/leitor, e por isso estou sempre
aberta, tanto nas minhas redes sociais quanto no meu grupo de
leitoras para conversarmos.
Se você gostou do meu trabalho, vem conversar comigo!

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Página do Facebook: Autora Isabella Silveira

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Isabella Silveira é natural de São Paulo, porém cresceu na
capital de Minas Gerais. Publicitária e comunicóloga, desde cedo
percebeu que a se comunicar era algo muito além da fala.
Na literatura descobriu inúmeros novos mundos, e ainda
criança sentia a maior felicidade em ter um livro nas mãos. Ainda
nova arriscou alguns rascunhos que nunca saíram do papel, porém
após ler estórias que não correspondiam às suas expectativas e
conversavam com a mulher decidida que ela sempre quis ser,
resolveu colocar as suas ideias no papel, e posteriormente mostrá-
las ao mundo.
Amante da literatura nacional se aventurou na escrita por não
se conformar com o óbvio e ainda hoje tem o objetivo de
surpreender seus leitores com enredos diferentes do usual.
Escritora de mulheres fortes, independentes e donas do seu
próprio destino.
Ainda não conhece as minhas outras obras?
Te convido a ler e depois vir comentar comigo!

Achei você em Paris Lara é uma aeromoça que sempre sonhou


em conhecer a cidade Luz.
Feliz, destemida, dedicada, cheia de garra e com o coração enorme
ela passa por cima de todos os obstáculos para conseguir o seu
objetivo, visitar Paris.
Mesmo com as adversidades, e enfrentando preconceitos pela cor
de sua pele, ela não se abala e passa por cima de todos os
percalços para ver a sonhada Torre Eiffel. Mas, quem diria, que
quando ela realmente chegasse em seu objetivo, o seu coração
bateria mais rápido por outro motivo?
Victor ainda está tentando encontrar o seu lugar no mundo. Adotado
por uma família muito bem sucedida, sempre se viu como a ovelha
negra. Arquiteto cheio de talento, o nerd atrapalhado resolve se
mudar para o outro lado do mundo em busca de algo mais. Quem
diria que ele encontraria o seu "mais" atropelando a bela donzela,
com a sua mala, correndo para o embarque em um avião?

Entre Posts e Amores Laís é uma menina sonhadora.


Quando viu a oportunidade de sair do interior de Minas e conseguir
uma vida melhor para si e para a sua família a agarrou com unhas e
dentes. Hoje, formada em Relações Públicas pela USP se vê mais
quebrada do que nunca. Ela precisa de dinheiro!
Na ânsia de mostrar para todos de sua cidade do interior que
conseguiu “vencer na vida”, ela resolveu anos atrás mostrar todas
as suas experiências da cidade grande pelas redes sociais, e foi
assim que sua carreira um pouquinho mentirosa de blogueira
começou.
Apesar disso, sem ainda conseguir ganhar dinheiro efetivamente
com a blogueiragem ela parte com tudo para o seu maior sonho: ser
cerimonialista no mercado de casamentos. Situações extremas
pedem medidas desesperadas, e por isso ela faz de tudo para
conseguir o seu emprego dos sonhos, tentando manter a qualquer
custo a pose de boa vida nas redes sociais.
Ela só não esperava conhecer o homem mais incrível do mundo
durante esse processo, e nem que ele fosse sobrinho da sua futura
chefe.
Diego é o verdadeiro príncipe dos contos de fadas! Lindo e muito
simpático, sua meta de vida e ajudar as pessoas, sejam elas
próximas ou não. Depois de 2 anos em uma missão na Indonésia
ele volta por um ultimato: ele precisa entrar para os negócios da
família. Mas um esbarrão em uma linda caipirinha faz com que esse
trabalho prometa ficar muito mais leve e divertido.
Entre trapalhadas, casamentos, amores e mentiras, Laís tenta
equilibrar tudo sem se perder no processo. Mas até quando ela
conseguirá sustentar toda a pose sem acabar se quebrando?
Laís é casamenteira por profissão e blogueira por vocação.
Conheçam essa história e se encantem.

Entre Luzes e Romances Depois de muitas aventuras, Laís


conseguiu enfim o seu "feliz para sempre" com o seu príncipe
ativista Diego.
O que ela não sabe é que depois do tão sonhado SIM, é que as
coisas começariam a ficar interessantes.
Época de natal sempre nos reservam grandes surpresas, e para
uma blogueira gravidíssima isso não poderia ser diferente. Mais
apaixonada pelo seu enfim marido do que nunca, Laís está vivendo
seu conto de fadas. Entre casamentos, vídeos e uma família muito
bagunceira passando o natal pela primeira vez na capital, ela
precisará equilibrar tudo e fazer com que seu bem mais precioso
não sofra no processo. Luíza, sua filha
E se eu me apaixonar por você?
Liz é uma médica, cirurgiã obstetra, renomada, dona do seu próprio
nariz e do seu próprio destino. Extremamente independente, ela tem
como objetivo ser feliz e por isso não aceita migalhas de homem
nenhum.
Carlos é um tímido professor de música, que sonha em encontrar
alguém que faça o seu coração suspirar, e ser digna o suficiente
para recitar as mais belas canções de sua banda preferida. The
Beatles.
Um incêndio cruza o caminho dos dois, e une esse casal
improvável. Mas será que isso é o suficiente para mantê-los unidos?
Venha se aventurar, rir e se apaixonar por Liz e Carlos, ao som da
banda mais famosa de todos os tempos. The Beatles.

Antologia LUNY – Lucy Seja muito bem-vindo à LUNY!


Conhecida não apenas pelos belos jardins ao redor do campus, mas
principalmente por ser considerada uma das universidades mais
renomadas do mundo, a centenária Liber University of New York é
um sonho realizado para muitos.
Há quem diga que a faculdade é a melhor fase da vida.
Verdade ou não, na LUNY, entre salas de aula, dormitórios, festas,
jogos do Zion — o lendário time de futebol americano —,
fraternidades e encontros no Titans — o bar mais badalado da
região —, o amor acontece.
É tempo de descobertas; De (re)começar;
Errar e aprender;
Se aceitar;
Fazer amigos;
Sair sem hora para voltar; Roubar um beijo;
Ser beijada ou beijado; É tempo de se apaixonar.
E você vai ter a oportunidade de desfrutar desses encontros
especiais, que irão te arrancar suspiros, do início ao fim.
Uma Universidade, onze amores.
Que tal passar um tempinho acompanhado dessa coletânea de
contos românticos que se passam na LUNY?

Por trás dos Bastidores Lia Reed volta para Los Angeles com um
único objetivo, fazer a sua estreia em Hollywood.
Desde a morte traumática de seu pai, um ator famoso da indústria
cinematográfica americana, ela enfrentou uma mudança para o
Brasil e iniciou a sua própria carreira sob os holofotes.
Hoje, mais velha e espalhafatosa, com nove ex-namorados, traumas
ainda não superados e insegurança em seus próprios atos, ela tem
uma única certeza: sua carreira é o que mais importa.
Ela jurou não se apaixonar e o objetivo era claro: fazer a sua estreia
sem nenhum efeito colateral. Só não contava que encontraria seu
futuro marido no primeiro dia de filmagens. E, principalmente, com a
confusão que ela vai se meter depois disso.

Top Model: A modelo do CEO


Luiza Franco precisa desesperadamente de dinheiro para cuidar da
casa e pagar o tratamento de câncer de seu pai. Por isso, tem
passado por inúmeras entrevistas frustradas, até que, por uma obra
do destino, é atropelada por uma montanha de músculos a caminho
do seu emprego dos sonhos.
Pedro Alcoforado tem um único objetivo: trabalhar duro e fazer valer
a pena a vaga de CEO que sua prima lhe ofereceu. Pelo menos até
esbarrar em uma morena linda e desastrada de olhos azuis.
Em um encontro duplamente inesperado, Luiza se vê obrigada a ser
secretária na tão exclusiva Brumpel, e ter como chefe o homem
tempestuoso que mexe com o seu coração.
Mas, uma oportunidade surge e ela começa a trabalhar como
modelo, trazendo consigo o pior lado de Pedro.
Quanto mais ela cresce na carreira, mais possessivo ele se torna.
Será que o amor sobreviverá a tantos percalços?

Por trás de um Contrato Layla Miller sempre lutou para ter o


mundo aos seus pés. Com a sua carreira de modelo já consolidada,
ela decidiu se aventurar como atriz em busca de novas emoções e
um novo propósito.
Desde o seu último término, as coisas não andaram muito bem pra
ela, tanto em seu coração quanto com a mídia. As fake news
repercutiram e ela batalhou demais para conseguir limpar o seu
nome e voltar a ter uma boa reputação. Para ela, o trabalho é o seu
bem mais importante e nada nem ninguém vai desviar o foco no seu
destino.
Por isso, quando um figurante contratado para ser o seu
acompanhante em uma premiação cai de joelhos aos seus pés,
dando a impressão de que a estava pedindo em casamento, ela não
vê outra alternativa: precisa participar dessa loucura de um
casamento por contrato.
O arranjo que deveria ser simples tem apenas uma complicação:
Tyler Lewis. Sua língua afiada, seus músculos aparentes e seu
humor ácido, fazem com que ela se perca ainda mais entre mentira
e realidade.
Cedendo à Tentação
Quatorze anos a separam da menina que teve o seu coração partido
para a mulher que adora pisar no coração dos outros.
Marcos Bessa voltou para o Brasil em busca de redenção.
Há anos ele deixou para trás uma menina confusa e apaixonada em
uma cidadezinha do interior, sabendo que isso seria o melhor para
os dois e foi se aventurar no exterior. Com a sua volta para o Brasil,
encontra uma proposta irrecusável de trabalho na empresa que
Clara Machado fundou.
O que ele não esperava era que a menina de olhos claros e sorriso
fácil, depois de tantos anos se tornaria a mulher linda, sensual,
ardilosa, com um humor ácido e nenhuma paciência para as suas
cantadas baratas.
O pior? Ele se vê intimado pela mulher que o leva a loucura: em três
meses o adendo em seu contrato acaba e ela poderá demiti-lo como
planeja fazer desde o seu retorno.
Marcos tem um prazo para reconquistar a mulher por quem sempre
foi apaixonado e que ainda guarda mágoa pelo passado, embora
não seja totalmente indiferente às suas investidas.
Será que ela conseguirá resistir?

Um Amor para o Pai Viúvo Arthur perdeu a sua esposa no parto de


Alice, e hoje, depois de dois meses se vê completamente perdido e
sem saber o que fazer. Cuidar de uma criança recém-nascida é
difícil, mas sem ajuda, se torna uma missão quase impossível.
Letícia está sobrevivendo em sua vida monótona de enfermeira,
cuidando de todos e esquecendo de cuidar de si, tentando superar a
perda de sua filha.
Um encontro no corredor de fraldas acontece tarde da noite e os
antigos colegas de escola se reencontram. Arthur desalentado e
sem saber o que comprar. Letícia se compadece, resolve ajudar e
se apaixona pela bebê de cabelos loiros, e, porque não dizer, pelo
projeto de lenhador completamente tatuado, segurando a criança
com tanta proteção.
Uma amizade, uma família fora do padrão e um bebê que une um
casal improvável.
Será que eles estão destinados a ficarem juntos?

Amor nas Alturas


Guilherme Alcântara é um piloto sério e tímido que sempre viveu
respeitando as regras. Filho de uma família tradicional gaúcha, que
trabalha no ramo do empreendedorismo, ele lutou bravamente para
conquistar a sua independência e seguir a profissão que sempre
sonhou.
Quando, por uma coincidência do destino, ele se esbarra em Loara
Castro, uma morena linda de olhos enlouquecedores no aeroporto,
Guilherme percebe que a vida pode ser muito mais do que ele
sempre imaginou.
Um encontro ao acaso, momentos quentes em uma cabine de
banheiro, uma despedida despretensiosa.
O que ele não esperava era que o destino os colocaria frente a
frente de novo, e agora, sob novas regras, que nenhum dos dois
está disposto a cumprir.

Segunda Chance: Um bebê para o Médico O jovem médico e pai


solo, Murilo Mazzini, após ter um filho com sua melhor amiga ainda
adolescente, se dedicou aos estudos e à carreira, deixando a vida
amorosa em segundo plano. Pelo menos, até se encantar por Lou.
Louise Vieira é uma mulher batalhadora que desistiu de confiar nos
homens quando acabou sendo abandonada grávida pelo ex. Até
que encontra em Murilo um bom amigo e alguém com quem pode
contar.
O charmoso milionário se vê apaixonado pela mulher frágil e,
disposto a conquistá-la e evitar a todo custo a friendzone, precisa
lidar com a resistência da moça e suas inseguranças. Murilo está
mais do que determinado a tê-la para si.
Será que Lou vai ser capaz de resistir ao seu charme de bom
moço?

Sem Retorno
Matteo Rizzi não sabia bem em que estava se envolvendo quando
se rendeu ao dinheiro fácil oferecido por um parente. Fato é, ele
poderia ter saído do negócio escuro e perigoso enquanto podia, mas
o poder e o dinheiro falaram mais alto. O que o atraente criminoso
não esperava, era envolver seu amor da adolescência na confusão
que se tornou sua vida.
Luna Castro sempre foi uma mulher certinha e cercada de cuidados.
Empresária bem sucedida, ela não contava que se envolveria nas
confusões do homem por quem sempre foi apaixonada e para quem
se guardou a vida toda.
Em uma situação extraordinária, eles se veem juntos e obrigados a
fugir dos perigos que perseguem Matteo e que agora, envolvem a
doce e inocente Luna. Em uma jornada perigosa e repleta de ação,
o improvável casal tem que se unir para escapar dos mafiosos que
os ameaçam.
Entre tantas emoções e enrascadas, ambos precisam lidar com os
sentimentos que se tornam cada vez mais fortes nesse amor em
fuga.

Escolhida para o Príncipe William Charles Scott Carter, príncipe


herdeiro do trono de Lanuver, está em busca de uma esposa.
Impopular, visto como arrogante e hostil, ele acredita que não
merece ser feliz. Para cumprir sua obrigação, aceita um casamento
por conveniência e ascender ao trono. Ele só não contava em ter
que procurar a "escolhida" em terras rivais, aonde o passado voltará
para lhe atormentar, e segredos antigos estarão prestes a serem
revelados.
Leah Elizabeth Lancaster Reimond sempre quis uma vida simples.
Apesar de ser princesa de Vongher, ela nunca almejou a coroa, o
poder, nem os deveres que vinham atrelados a ela. O que ela não
esperava, era que seu maior inimigo voltasse para assombrá-la e
mudasse a sua vida inteira de uma hora para outra.
Um casamento arranjado.
Duas pessoas que se odeiam.
Um embate.
Em meio ao caos, o amor surgirá?

O pai é o CEO
Anthony Watson só pensa em uma coisa: trabalho.
Tempo é dinheiro, dinheiro é poder e poder é tudo o que uma
pessoa pode querer. Um dos homens mais ricos de Lanuver, dono
de uma rede de hotéis de luxo e também de um Condado, ele não
se envolve com ninguém, tendo a sua vida milimetricamente
calculada.
Pelo menos era assim até conhecer a loirinha viajante que
conseguiu para abalar as suas estruturas.
Luana Albuquerque é uma escritora romântica e certinha.
Após o sucesso do seu último lançamento, ela embarca em uma
viagem sozinha para o país que inspirou suas histórias: Lanuver.
Mas, ela não esperava cruzar o caminho de um homem sério e
incrivelmente bonito, que parece ter como objetivo de vida estar em
todos os lugares que ela vai apenas para roubar o seu juízo.
Um envolvimento, momentos quentes e avassaladores, uma
despedida cheia de mal-entendidos.
Alguns meses depois ele ainda não conseguiu tirá-la de seu
sistema, e ela teve como herança da viagem o seu bem mais
precioso: seu filho. Será que apesar de todas as dificuldades eles
conseguirão ficar juntos?
De uma coisa Luana tem certeza: O pai é o CEO.

A obsessão do CEO grego – Um contrato com a virgem


Milionário, ardiloso, cafajeste e poderoso como nunca, Alex Zur está
de volta para reconquistar tudo o que perdeu anos atrás.
Acostumado a ter o mundo a seus pés, sua obsessão por vingança
só perde para o desejo insano de ter de volta a única mulher que
amou, Laura Morais.
Laura é uma jovem boa e generosa que ainda precisa lidar com a
depressão ocasionada por traumas do passado. E em uma
reviravolta do destino se vê obrigada a aceitar um contrato de
casamento falso, oferecido pelo pior inimigo do seu pai, e torcer
para que assim consiga ajudar a sua família.
Ele passou anos planejando minuciosamente como destruir o seu
maior inimigo e reconquistar a única mulher que amou. Agora,
precisa descobrir como não se perder em uma história de vingança,
poder e amor.

Esse Professor vai ser MEU!


Andrew Miller é um professor universitário sério, totalmente focado
em sua vida profissional. Em busca de seu tão sonhado PHD fora
de seu país, é cético sobre o amor, e a última coisa que ele busca é
se envolver com alguém.
Lexie Wood é uma das garotas mais populares da universidade. A
cheerleader está determinada a deixar os idiotas de lado e somente
se envolver quando for alguém que cumpra uma certa lista de
requisitos totalmente contrários aos seus últimos relacionamentos.
Quando seus caminhos se encontram, ela se encanta e decide focar
seus esforços em conquistar o professor, enquanto Andrew a evita
de toda forma, apesar da atração enlouquecedora pela loira que
anda bagunçando seu mundo sempre tão organizado.
Nesse jogo de cão e gato e em meio a provocações mútuas, Lexie e
Andrew irão descobrir que esse caminho perigoso pode ser a
melhor coisa que já lhes aconteceu.

Um Geek para chamar de MEU!


Josh Bergman estava acostumado com a sua vida pacata: Sem
festas, sem agitação, sem emoção. O típico geek virgem que fica
com a cara enfiada no computador vinte e quatro horas por dia. Até
que, a sua crush mor, Leslie Wood, a menina mais popular do
campos, se matricula na mesma aula que ele.
Leslie Wood é a capitã das líderes de torcida. Apesar de toda a
popularidade, ela é uma garota tímida que não está nem aí para
todos os meninos que ficam no seu pé. Seu tipo é específico, e é
uma pena que eles nunca a olhem duas vezes.
Uma amizade improvável surge, e com ela uma atração
enlouquecedora. Mas, é em uma festa que tudo vai mudar.
Entre descobertas, amores, e uma amizade muito colorida, Josh e
Lie se envolverão de uma maneira irreparável. Será que o Geek e a
garota popular ficarão juntos apesar de todas as diferenças?

Hipnotizada pelo CEO


Thomas Brown é o dono de uma joalheria famosa e está realizando
um sonho antigo da família abrindo uma loja em solo brasileiro. Para
ele, tudo sempre foi muito prático, e tinha encontros esporádicos
sem nenhum tipo de envolvimento.

Solteiro convicto, ele não acreditava em nenhuma dessas bobagens


de amor romântico, pelo menos não até cruzar com uma morena
curvilínea de língua afiada.
O CEO foi pego de surpresa quando cruzou o caminho de Lauren
Araújo. A brasileira, além de competente é uma tentação para o
executivo, que evita qualquer relacionamento que não seja casual.
E, para piorar, ela é uma peça importante para que os seus
negócios obtenham o sucesso esperado.
Misturar trabalho com prazer sempre foi sinônimo de problemas,
mas quando se entrega ao desejo e se vê rendido pela mulher que
consegue tirá-lo do rumo, Thomas terá decisões a tomar.
Será que o cafajeste ranzinza se renderá ao amor?

Sob a Proteção do CEO Viúvo Dylan Ward é um CEO de uma


empresa especializada em segurança em Lanuver. Viúvo há quatro
anos, ele se tornou recluso, sem contato com nenhuma outra mulher
além de sua filha, Sophie, uma menina alegre e a única capaz de
arrancar sorrisos do homem amargurado.
Lindsay se casou jovem, encantada por um príncipe encantado que
logo descobriu ser um homem sádico e sem escrúpulos. Descobriu
nos primeiros meses as traições, e sempre que questionava alguma
coisa, levava uma surra. Do que adianta morar em um palácio de
cristal, se é presa em cativeiro? Sua única alegria é encontrar a
pequena Sophie na praça do condomínio de luxo onde moram.
Tudo muda quando um homem sério, e protetor surge através da
garotinha, oferecendo a Lindsay escapatória para a situação
perigosa em que vive.
Em uma trama de amor e superação, cheia de reviravoltas, Dylan e
Lindsay irão redescobrir o amor.

CEO’S EM ALTO MAR


Eles são poderosos, magnatas, bilionários e CEO 's.
Anthony Watson, Alex Zur e Dylan Ward embarcam em um
cruzeiro com as suas amadas para comemorar as festividades do
fim de ano. Além de todo o clima de romance e aventura, os
engravatados são convidados para uma reunião a portas fechadas.
Um negócio secreto entre um grupo seleto de pessoas é fechado e
agora as coisas estão mais tensas do que nunca.
O que será que eles estão aprontando?
Quem são os outros CEO 's convidados?
Leia CEO's em Alto Mar para saber tudo sobre essa história, e
conheça os próximos protagonistas da série Eu amo um CEO.

Archie - Jogo Perigoso Archibald Evans está vivendo a sua vida


dos sonhos. Forte, bonito, sedutor, rico, inteligente e claro, imortal.
Apesar de ser o vampiro mais novo do clã, sua má fama se dá
principalmente porque ele se envolve em todo tipo de confusão sem
se importar com as consequências.
Leighton Bernardi é uma órfã que vive uma vida pacata.
Contadora autônoma, ela raramente se diverte, tendo o seu gato
Félix como seu melhor amigo. Mas, tudo muda quando em um
encontro frustrado, ela se vê em perigo, e é salva pelo bad boy
tatuado.
Um amor impossível, uma atração enlouquecedora, e duas
pessoas, em teoria, incompatíveis. Será que o amor irá sobreviver a
todos os percalços?

A Redenção do CEO Cafajeste Apolo Sanchez é o CEO da melhor


firma de advocacia de Havdiam. Respeitado por sua competência e
sucesso profissional, além de ser famoso por ser um homem muito
bonito, mas difícil de lidar. Exigente e controlador, sua presença
intimida e assusta quem se aproxima, e até mesmo quem trabalha
com ele.
Lyanna Johnson é uma jovem jornalista falida que precisa
muito de um emprego se quiser continuar morando nas terras
quentes de Vongher. Ela, em seu maior desespero financeiro, acaba
se candidatando a uma vaga de secretária pro advogado mais
famoso da capital. E é assim que ela acaba conhecendo o intragável
(e lindo) dono do lugar com quem passa a trabalhar diariamente.
Entre farpas, provocações e discussões, eles se detestam e
se desejam na mesma medida. E quando o tesão fala mais alto, é
difícil negar a química que possuem.
Seria Lyanna a responsável por amolecer o coração
endurecido do CEO intratável?

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