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ENSHRINE

Chelle Bliss
&
AFDP
Apresenta:

ENSHRINE
Chelle Bliss

Disponibilização: Lizzie
Tradução: Renata
Revisão Inicial: Ava e Mari B e Mi
Revisão Final: Sophy Glinn
Leitura Final: Fabi
Conferencia: Mi
Formatação: Eva

ENSHRINE
Chelle Bliss
Este livro é dedicado ao meu pai, avó, primos, inúmeros outros
membros da família e amigos que têm olhado nos olhos da morte
com força e dignidade.

“Sua doença não define você, e sim sua graça e coragem.”

Desconhecido.

ENSHRINE
Chelle Bliss
TUDO MUDOU EM UM INSTANTE.

PENSEI QUE SOUBESSE O QUE ERA IMPORTANTE, MAS UM


TELEFONEMA ENVIOU MINHA VIDA EM UM COLAPSO.

SOZINHA E COM MEDO, ME AGARREI AO ÚNICO HOMEM QUE


NÃO DEVERIA. FUI AVISADA SOBRE ELE E DISSERAM PARA

FICAR LONGE. “ELE É PERIGOSO.” DISSERAM. MAS QUEM

PODERIA ME MACHUCAR ME DEU O MAIOR CONFORTO. “ELE

NÃO É COMO PENSAM.” DISSE A MIM MESMA . MAS, COMO

UMA ILUSÃO, AS COISAS NUNCA SÃO O QUE PARECEM .

ENSHRINE
Chelle Bliss
1
FELIZ MALDITO ANO NOVO
BRUNO

QUATRO ANOS ANTES

Reviro na cama e passo minhas mãos pelos lençóis, percebo


que ela se foi. Após uma noite de sexo induzida por álcool, ela saiu
sem uma palavra.

O cheiro dela ainda permanece no travesseiro enquanto o puxo


sobre o meu rosto bloqueando a luz. Pensei que ela fosse diferente.
Havia uma conexão inconfundível entre nós que nunca senti antes.

Esta foi à primeira véspera de Ano Novo que fui derrubado em


mais tempo do que poderia lembrar. Nunca me permiti perder o
controle. Muito está em meus ombros para baixar minha guarda e
ficar bêbado. Mas eu fiz. Uma bebida se transformou em mais, e
acabamos na minha casa. As bebidas fluíam, as roupas saíam e a
paixão estava na jogada. Não sou tolo. Não me apaixonei por ela, mas
senti algo pela primeira vez desde que perdi Maggie, minha noiva.

Inalando seu cheiro, suspiro porque tenho que passar o dia


com minha família, e o fato de ter uma ressaca não torna a
experiência mais agradável.

Meu celular começa a vibrar, dançando loucamente na minha


mesa de cabeceira. A cada vibração contra a madeira parece que
alguém está empurrando punhais no meu cérebro. Ignorando isso,
chuto os cobertores e jogo o travesseiro do outro lado do quarto antes

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de me sentar. Pisco e esfrego os olhos para afastar o sono antes de
pegar o meu celular e ver que a chamada era da minha mãe.

Meu celular toca novamente quando estou prestes a ir em


direção ao banheiro.

“Ei” digo. A única coisa que sei sobre Franci é que ela não vai
parar de ligar até que eu atenda.

“Quando é que o meu bebê vai estar aqui?” Pergunta sem me


cumprimentar devidamente.

“Mãe, me dê um tempo. Acabei de acordar.” Alongo meu corpo


que treme quando bocejo.

“Noite difícil?” Ela ri, cobrindo o telefone para gritar com meu
pai.

“Você pode dizer isso.”

“Querido, você precisa relaxar às vezes. Você merece uma noite


despreocupada.”

“Minha vida é muito perigosa para ficar bêbado, mãe.”

“Você trabalha muito. Então venha aqui e relaxe. Quando você


estará aqui?”

Ela pergunta novamente porque é a única coisa que a


preocupa.

“Você se importaria se eu não fosse este ano?” Pergunto e


estremeço, preparando-me para a resposta.

“Venha e pare com esta merda. O ano novo é parte de nossa


tradição de família. Já tenho que lidar com Lee chegando três horas
atrasada por alguma razão absurda. Você não pode perder. Tome
uma aspirina, beba um pouco de água e entre no maldito carro.”

Caminho em direção ao banheiro para encontrar a aspirina de


que tanto preciso, especialmente, se vou lidar com eles hoje. “Bem.
Vou sair daqui à uma hora.”

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“Trinta.” Responde e desliga.

As famílias são uma dor na bunda, mas tenho a melhor do


mundo. Tenho um irmão pequeno e duas irmãs, e eles estão sempre
no meu pé por anos. Sinto falta deles, vivendo longe de casa. Mas no
final, é melhor para eles.

Meu trabalho não é seguro. Tenho sempre o cuidado de manter


o trabalho e a família separados. De jeito nenhum no inferno os
deixariam amarrados em minhas besteiras. As pessoas pensam que
tenho todos curvados a meus pés, mas tenho inimigos. Estar no topo
me faz um alvo, junto com qualquer outra pessoa relacionada a mim.

Não perco mais tempo pensando em minha família, trabalho,


ou a garota que me deixou sem uma palavra esta manhã. Tenho que
sair daqui antes que Franci comece a explodir meu celular.

Não irei ganhar qualquer elogio caminhando para casa de meus


pais com uma hora de atraso.

“Oh, olhe quem decidiu nos agraciar com sua presença.”


Gabby, minha irmãzinha, diz com tanto sarcasmo que
instantaneamente me sinto culpado.

Principalmente, porque não tenho estado muito presente na


sua vida e não temos uma relação próxima. A amo muito, mas ela
não sabe o suficiente sobre mim, como a maioria dos irmãos e irmãs
costumam fazer. Estou muito mais perto - em idade e
emocionalmente – de minha irmã, Angelique, que chamamos de Lee.

“Ah, o cara grande está aqui.” Lucca, meu irmãozinho, sobe no


sofá com um sorriso maroto.

Lucca e eu somos mais próximos. Ele cresceu mais desde que


saí de casa. Lucca foi planejado, e Gabby surgiu de uma “noite de
paixão,” palavras dos meus pais, não minhas.

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“Você me viu no Natal. Não aja como se nunca estivesse por
perto.” Penduro o meu casaco no gancho perto da porta.

Minha mãe está na cozinha, batendo panelas e frigideiras,


provavelmente fazendo mais bagunça do que uma refeição. “Você
está atrasado!”

Rolo meus olhos e sigo para sala de estar, pronto para ouvir
besteiras pelas próximas doze horas até retornar para a cidade.
“Desculpe mamãe.” Gritei passando pela cozinha e sentando-me
numa cadeira ao lado da lareira. “Bom te ver, Papai.” Toco em seu
ombro interrompendo seus pensamentos. “Mamãe tem trabalhado
em outro projeto?”

Ele solta a folha de instruções no chão. “Este maldito abajur é


como um quebra-cabeça. Por que ela não pode comprar merda que
já está montada como pessoas normais?”

Dou uma risada e sento no chão ao lado dele. “Vou ajudar.”

Ele sorri e seus ombros relaxam. Seus cabelos estão


despenteados, mas sei que provavelmente o puxou umas quinhentas
vezes por frustração. Ele é uma das pessoas mais inteligentes que
conheço, mas juntar peças nunca foi seu forte. “Obrigado.”

“Como vai a vida na cidade grande?” Gabby pergunta,


levantando os olhos do celular. “Vou visitá-lo nas férias da
primavera.”

Minha mandíbula treme com o pensamento de minha irmã na


cidade e perto de minha vida, isso nunca pode acontecer. “Gab, já
discutimos isso antes. Você não pode vir me visitar.”

“Por quê?” zomba, deixando cair seu celular na almofada ao


seu lado e cruzando os braços.

Meu pai olha para mim com uma careta.

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“Porque eu disse. O que você acha papai?” Jogo sobre seus
ombros, pois sei que irá concordar.

Desde que completou dezesseis anos, já fomos e retornamos


com ela sobre esse assunto, agora que acredita que é uma garota
“grande” o suficiente para lidar com a cidade de Nova York e meus
amigos.

Mas não importa quantos anos tenha, nunca será parte do


meu mundo. Para ela, sou seu grande irmão, maior que a vida. Mas
para os outros, sou apenas um criminoso com uma das mais
desagradáveis reputações na cidade.

“Você não vai, Gab.” Papai diz severamente. “Nunca.”

“Logo, vou ter idade suficiente para que nenhum de vocês


possa me impedir.”

Odeio garotas adolescentes. É o pior tipo de ser humano do


planeta. É mais fácil de argumentar com um pedaço de manteiga do
que uma adolescente feminina hormonal.

“Caso encerrado, Gabby.” Digo e volto para as instruções


porque não consigo ver seu rosto.

“O que você faz que é tão...” Ela acena as mãos no ar e rola os


olhos “...perigoso que não posso estar por perto?”

Minha irmãzinha não precisa saber nada sobre a minha vida.


Ela fala demais, além de ser mal-humorada. A coisa que mais
valorizo é a minha privacidade. “Você não precisa saber.”

“Papai.” Gabby lamenta e sobe no sofá como se estivesse com


dor. “É tão injusto.”

“É uma necessidade básica saber.” Digo e pego o abajur meio


construído para tentar descobrir em qual passo ele deixou.

“E você não precisa saber.” Lucca lhe diz com um sorriso


quando passa por ela e bate na parte de trás de sua cabeça. Ela grita,
correndo atrás dele enquanto ele sobe as escadas.

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Meu pai suspira e se inclina contra o sofá. “Veja toda a
diversão que você perde por não estar aqui?”

Mantenho minha cabeça baixa, encaixando as peças


rapidamente que ele não terminou.

“Sim. Estou muito triste por isso também.” Sorrio e giro o


abajur em minhas mãos para ter certeza de que está correto antes
de colocar a última parte. “Voilà.” Levanto, mostrando para o meu
pai e ganho seu aceno de aprovação.

“Esse é um abajur feio.” Ele ri e balança a cabeça. “Só mesmo


sua mãe.”

Só então, ela entra na sala com uma toalha sobre seu ombro e
metade do que parece ser o jantar em seu avental. “Vocês dois estão
falando de mim?”

Mordo meu lábio para sufocar o riso porque, mesmo sendo


adulto, sei que mamãe irá bater na minha cabeça caso me atreva a
falar dela. “Nunca, mamãe.”

“Oh, é muito bonito.” Exclama, arrebatando-o de minha mão e


girando ao redor, segurando-o como um troféu.

“Claramente, sua mãe bebeu hoje.” Papai sussurra para que a


minha mãe não possa ouvir.

“Claramente.” Respondo, mas ainda não ouso rir.

O alarme de fumaça dispara na cozinha, e minha mãe entrega


o abajur para mim. “O assado. Meu Deus!” Grita e corre para a
cozinha. “O Assado!” A fumaça está saindo da cozinha, despede-se e
segue para lá.

“Aqui vamos nós novamente. Chinês?” Papai pergunta e


sacode a cabeça. “Depois de mais de trinta anos de casamento e mais
aulas de culinária do que gostaria de admitir, você acharia que ela
aprendeu como usar um temporizador.”

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“Papai.” Eu rio e olho para a cozinha, verificando para ver se
minha mãe está longe o suficiente para escutar. “Você não saberia o
que fazer com você mesmo se ela não queimasse tudo à vista.”

“Diga isso para o meu estômago.” Diz, descansando sua mão


em meu ombro e usando-me para levantar. “Vá verificar Luc e Gab
para mim, por favor. Diga a eles que o jantar está pronto.”

“Nenhum chinês?” Pergunto e sorrio enquanto levanto do chão.

“Não. Temos um assado bem feito para nós.” Faz uma careta
antes de caminhar na direção a cozinha esfumaçada dizendo um
maldita Franci.

Subo as escadas de dois em dois e bato na porta de Lucca.


Posso ouvi-los conversar, mas suas vozes morrem rapidamente.

“Sim?” Lucca grita sem se dar ao trabalho de atender a porta.


O fodido preguiçoso não gosta de se mover, a menos que precise.

Esfregando minha testa, posso sentir a dor de cabeça que


tinha mais cedo retornando.

“Posso entrar?”

“Claro.” Lucca diz, mas o tom é tudo menos certo.

“Idiota!” Gabby diz quando abro a porta.

“O que vocês dois estão fazendo?” Sorrio, fingindo ser o irmão


que eles merecem.

“Conversando merda sobre você.” Gabby dispara em minha


direção, mas olha para o teto.

Lucca a golpeia no ombro, e seu corpo sacode com o impacto.

“Cala a boca, Gab.”

Caminho até o final da cama e olho entre eles. “Qual é o


problema aqui?”

Gabby cruza os braços na frente dela, soprando um cacho de


seu olho que tinha caído quando Lucca a atingiu. “Todo mundo

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parece saber sobre você, exceto eu. Nem sei quem é o meu irmão, e
isso me irrita.”

Meu punho aperta, e tento controlar minha raiva. Há razões


para isso.

Ela tem dúvidas há anos, mas sempre conseguimos pacificá-


la até agora. “Eu não sei como explicar isso.”

“Você é um cara bom ou mau?” Rastejando na cama em sua


bunda e descansando contra a cabeceira enquanto olha para mim.

“Eu sou um pouco de cada um.” Estremeço porque sei que soa
como besteira.

“Você é um criminoso?” Pergunta, inclinando a cabeça e


franzindo os lábios. “Porque ouvi mamãe e papai falando sobre você
às vezes, e não soa como qualquer coisa boa.”

Muito bom.

Esfrego minhas mãos em minhas calças e penso muito


cuidadosamente como devo responder.

“Pareço um criminoso?”

“Não me venha com essa besteira. Você não pode responder


minha pergunta com uma pergunta, irmão. Você magoa as pessoas?”

Suas palavras são como um soco no estômago. Sempre quis


ser seu herói. Daria a minha vida para salvar a dela. “Só se
merecerem.”

“Evasivo.” Ela morde seu lábio e rosna. “Então, você mata


pessoas?”

“Gabby, tudo o que faço é por uma razão. Não posso dizer mais
do que isso.”

“Ótimo. Sou parente de Vito Corleone.”

“Ele é mais como Michael.” Lucca acrescenta antes de me olhar


com o maior sorriso.

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“Não sou nenhum deles. Logo, tudo terminará, e serei apenas
eu.”

“Pensei que essa merda fosse para a vida toda.” Diz


manuseando o anel em seu dedo e olhando para mim.

Lucca dá um tapa na perna dela. “Você é uma garota. Ele é


muito grande para ser derrubado. Pode fazer o que ele quiser.”

“Gabby, querida, sei que você quer me visitar na cidade, mas


não é seguro. Algum dia, quando você for mais velha e eu não ser o
homem que sou agora, vou levá-la a qualquer lugar que você queira
ir.”

“Você está com vergonha de mim?” Traz seus olhos para os


meus, e morde seu lábio inferior.

“Pelo amor de Deus. Não estou com vergonha de você, mana.


Eu te amo mais que qualquer coisa. Só quero ver você crescer e não
se envolver no meu mundo.”

“Ótimo.” Lucca bufa e revira os olhos, fazendo um som


engasgado. “Pensei que você me amasse mais.”

Balanço a cabeça, dizendo-lhe que não é hora de ser


engraçado. Meu maior medo ultimamente é abrir a porta e Gabby
estar lá sem ser convidada. “Quando minha vida for diferente, vou te
mostrar toda a cidade.”

Ela enxuga suas lágrimas, mas seu lábio ainda está tremendo.
“Promete?”

Faço uma cruz sobre o meu coração. “Prometo. Algum dia


estarei tanto ao redor que vai ficar enjoada de mim.” Ela se atira em
meu colo e envolve seus braços em torno do meu pescoço. Estou
atordoado. “Gabby.” Sussurro e a abraço firmemente.

“Preocupo-me com você, irmão mais velho. Algo pode acontecer


com você. Não quero te perder.” Ela chora em meu pescoço.

“Querida!” Sussurro, acariciando seus cabelos gentilmente.

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“Nada vai acontecer comigo.”

Abraça-me mais forte. “Estou com medo por você.”

“Não se preocupe. Ninguém pode me tocar.”

Claro, isso é uma completa mentira. Não sou intocável. Sou


tão vulnerável quanto qualquer pessoa - na verdade, provavelmente
mais. Tenho um alvo enorme nas minhas costas. Estou no topo do
meu jogo, e alguém está sempre ansioso para tomar o meu lugar.

Algum dia, espero deixar essa parte da minha vida para trás.
Quanto mais tempo permaneço nela, mais me preocupo em não
poder voltar. Afundando-me no sombrio mundo de crimes faz com
que a luz no fim do túnel pareça mais distante e ainda mais
inacessível.

Logo, vou me libertar e tentar encontrar meu caminho de volta.

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2
DIA ATUAL
CALLIE

RÁPIDO.

Nomeie as cinco coisas mais importantes em sua vida. Minha


lista teria sido algo como isto: trabalho, apartamento, amigos,
dinheiro e sapatos.

Minha lista estava cheia de coisas frívolas. Quero dizer, quem


nomeia sapatos como uma das coisas mais importantes em sua vida?

Eu.

Olho ao redor do bar e me pergunto como cheguei aqui. Como


me tornei a garota que se preocupa com coisas materiais e perdeu
de vista as coisas importantes na vida? Sempre supus que teria uma
família agora, mas você sabe o que dizem sobre suposições.

Becca, minha melhor amiga, estala os dedos no meu rosto.


“Cal, você está ouvindo?”

Sorrio e aceno com a cabeça, mas suas palavras são distantes.


Verifiquei o meu celular pelo menos cinquenta vezes hoje. Estou
ansiosa esperando por um telefonema importante. Um que poderia
mudar minha vida, e não contei a uma alma sobre isso - nem mesmo
Becca. Dizer a alguém torna real, e não estou pronta para enfrentar
a possibilidade de não ter coisas importantes para lidar do que um
par de sapatos para vestir com o meu vestido favorito Donna Karan.

“Então, o que você acha?” Becca pergunta.

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Pisco algumas vezes fingindo que ouvi sua pergunta. “Você
deveria fazê-lo.”

“OK,” Diz ela saltando do banquinho.

Pego sua mão, segurando-a ao meu lado para que possa


descobrir exatamente o que disse para fazer. “Aonde você vai?”

“Perguntei se deveria tentar foder 'O carniceiro’.”

Minha boca se abre e meus olhos crescem tão largos quanto


pires. “Becca!” Grito e enrolo meus dedos em sua mão. “Sente a sua
bunda neste banco.” Olho por cima do meu ombro, seguindo seus
olhos para onde ele está sentado.

“Ele está sempre observando, na verdade olhando para você.


Pensei em tornar melhor as coisas.”

Encaro-a, completamente em choque. “Você não pode estar


falando sério.”

Lentamente, caminha para trás em direção a seu assento. “Só


estou brincando, idiota. Você agiu como se estivesse ouvindo, mas
você não ouviu nada. Pensei em foder com você.”

“Sinto muito.” A culpa de ignorá-la me consome, e mesmo que


queira contar o que está acontecendo, não ouso. “E para sua
informação, Bruno não está olhando para mim.”

Ela brinca com seu cosmopolita. “Acho que você deve ter seus
olhos verificados da próxima vez que estiver no médico, Cal. Ele está
sempre te vigiando. É sexy, mas também me arrepia. Ele é tão
perigoso.”

Rio, com a situação, mas notei isso também. “Ele está olhando
para cá agora?” Pergunto, recusando-me a virar e procurar por mim
mesma.

Ela se inclina para frente, seus olhos procurando atrás de


mim. “Está. E não desvia o olhar também.”

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“Provavelmente pensa que somos problemas ou algo assim.”
Digo e espero que ela mude de assunto porque prefiro descobrir o
que estava falando antes.

“Pode fingir que não o acha quente, Cal, mas vi você flertar
com ele mais de uma vez.”

Balanço a cabeça e sorrio levemente. “Sorrir e dizer olá não é


necessariamente flertar.”

“Ele tem uma coisa por você.”

“Provavelmente tem uma coisa por cada menina neste lugar.”

“Não.” Sacode a cabeça vigorosamente e franze os lábios. “Ele


quer você.”

“Basta de falar sobre ele.” Vejo por cima do meu ombro e


encontro seus olhos, mas rapidamente, viro assim que o pego me
observando. “O que você perguntou antes?”

“Terminei com Terrance. Quero saber se você acha que foi uma
má decisão.”

Nunca gostei de Terrance. Desde o momento em que o conheci,


fez minha pele arrepiar.

Às vezes, tenho um sentimento sobre uma pessoa quando algo


não está certo, e Terrance definitivamente cabe neste requisito. “Por
quê? O que aconteceu? Já sei a resposta.”

Ele fazia merda estranha o tempo todo. Coisas que nunca


fariam sentido a menos que estivesse tentando esconder algo.

“Encontrei mensagens em seu celular de outra mulher.”


Franziu a testa e trouxe o copo aos seus lábios enquanto esperava a
minha resposta.

“Você sabe que a infidelidade é um negócio feito para mim


também.”

“Sim.” Suspira ao redor da borda do copo. “Odeio bastardos


enganadores. Chutei a sua bunda para o meio-fio.” Ela começa a rir.

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“Você está bem, Bec?” Pergunto por que está ficando histérica
e maníaca.

Ela limpa os olhos, removendo as pequenas lágrimas que


começaram a escorrer pelas suas bochechas. “Totalmente. Nunca
estive melhor.”

“Ok.” Seu comportamento não é muito parecido com Becca


alegre, mas acho que os dois cosmos que consumiu a ajudaram a
sentir-se um pouco mais relaxada.

“Você acha que ele é um trapaceiro?” Seus olhos vagueiam de


mim e aterrissam em Bruno, que assumo ainda estar sentado no bar
virado para nós.

“Provavelmente. Ele tem um pau, não é?” Respondo e tomo um


gole do meu martini. Pensar nele fez meu corpo formigar durante
anos. Talvez seja a maneira como olha ou talvez seja o tamanho de
seu corpo, faz algo comigo.

Algo que ninguém mais fez com um único olhar.

“Sim. Quero dizer, aquele homem provavelmente não poderia


ser fiel um dia em sua vida.”

“Provavelmente não.” Franzi a testa atrás do meu copo.

“Como, agora, há uma garota pendurada em cima dele. Ela


provavelmente é seu pedaço de bunda.”

Viro rapidamente, querendo inspecionar a garota, mas ele está


sozinho e não olhando para mim, felizmente.

“Peguei você. Finja o quanto quiser, mas quer aquele homem


terrivelmente.”

Engulo a verdade. “Não. Estava apenas curiosa em saber que


tipo de mulher está com ele.”

“Ele é afim de você, minha amiga, e você dele. Apenas me


prometa que nunca vai sair com ele.”

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“Nunca sairei com ele. Prometo.” Rolo meus olhos em
zombaria. “Você está claramente bêbada. Acho que é hora de acabar
esta festa porque tenho que trabalhar amanhã.” Suspiro, Sabendo
que provavelmente vou receber um telefonema, também.

“Nós não podemos ficar para outra rodada? Espero que o Sr.
TDH1 venha aqui para dizer Olá.”

“TDH?” Pergunto, pegando uma nota de vinte da minha bolsa


para fechar o resto da nossa conta.

“Alto, moreno e bonito, Cal. Vamos. Minta para mim um pouco


mais e me diga que você não concorda.” Joga seu dinheiro na mesa,
levanta da cadeira, e caminha direto para ele.

Vou atrás dela, meus saltos clicando no chão de mármore


preta brilhante. “Becca,” imploro, tentando agarrar sua mão antes
que ela o alcance.

Ignora-me, andando mais rápido para que não possa pegá-la.


Congelo quando para na frente dele. Ele olha por cima do ombro e
encontra meu rosto. Meus olhos se alargam, e provavelmente pareço
um cervo em frente aos faróis. Becca conversa com ele, mas ainda
estou congelada a três metros de distância.

Eles estão falando, mas não consigo ouvir o que dizem. Becca
olha sobre o ombro e sorri antes de se virar. Ele me analisa, seus
olhos vagando pelo meu corpo antes de se dirigir a ela novamente.
Quero desaparecer por puro embaraço. Antes que seja capaz de
recuperar meus sentidos, Becca se afasta dele e acena para que a
siga.

Encontro meus pés, passando rapidamente por Bruno


enquanto mantenho meus olhos no chão.

Mesmo que não esteja vendo seu rosto, posso sentir seus olhos
em mim. Vou tecendo meu caminho através da multidão e fora de
sua linha de visão. “Eu vou te matar.” Digo quando a alcanço.

1 No original em inglês diz tall, dark, handsome

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“Por quê?” Sorri e agarra minha mão, puxando-me para a
porta.

“Que merda você disse a ele?” Puxo meu braço de seu aperto e
continuo andando.

“Disse que ele deveria te convidar para sair.” Ela ri atrás de


mim, e salto para enfrentá-la.

Meu coração está martelando no meu peito, e fecho meus


olhos. “Você não fez isso!”

Resmunga e cobre a boca com o dorso da mão. “Não fiz. Você


sabe. Vocês dois não iriam funcionar. Ele é um criminoso
assustador, e você é tão pura quanto à neve.”

Funguei. “Sim, sou pura. O que você realmente disse a ele,


Becca?”

“Disse que deveriam limpar este lugar. Que você tinha chiclete
no seu vestido porque algum imbecil o enfiou debaixo da mesa.”

Ele não estava me olhando com luxúria; estava verificando


meu vestido como prova. “Odeio você.”

“Deveria ter dito que você quer fodê-lo, no entanto.” Diz,


passando por mim, e saindo pela porta da frente.

Acompanhando-a e parando perto dela no estande do


manobrista. “Eu vou matar você.”

Seus olhos percorrem meu corpo e seus lábios se contorcem.


“Você precisa de sexo. Embora, não seja minha primeira escolha
para você, ele faria sem pestanejar.”

“Não preciso de sexo.” É a última coisa que preciso agora.

Ela não sabe que estou no limite. A preocupação tem me


consumido viva desde que coletei meu sangue no trabalho e voltou
anormal. Fui para mais testes e uma aspiração de medula óssea
extremamente dolorosa. Não vejo a necessidade de nos
preocuparmos. Vou compartilhar os detalhes quando souber mais.

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Ela entrega o bilhete para o manobrista, e nós ficamos lado a
lado vendo-o correr pelo estacionamento. “Só queria ver o que você
faria se eu falasse com ele, e acabou agindo como imaginei que faria.”

“E isso é?”

“Foi uma covarde completa. Sei que o homem é assustador


como o inferno, mas uma noite não mataria você. É pegar ou largar.
Tenho certeza que ele faz isso o tempo todo.”

“Nunca mais diga essas palavras.” Digo, verificando ao redor.

“Relaxe.” Diz antes de me dar um beijo de adeus e dirigir-se


para seu carro que o manobrista trouxe.

Quando entro em um táxi, não consigo entender o que ela


acabou de dizer. Nunca gostou de Bruno.

Falamos dele mais de uma vez. Ele é muito perigoso, e nós


duas sabemos disso.

Nenhuma de nós é construída para lidar com um homem desse


tipo. Mas a ideia de uma noite de sexo com ele faz meu coração bater
forte em meu peito e meus dedos do pé formigar.

Relaxe. Se ela soubesse o que estava enfrentando, não seria


tão rápida para dizer essa palavra.

Se Becca estivesse no meu lugar, estaria enlouquecendo e teria


que falar com ela.

Tiro meus sapatos quando entro em meu apartamento.


Enquanto me preparo para a cama, minha mente ainda está girando.

Esperançosamente, amanhã terei a notícia que quero ouvir.


Então posso “relaxar” e voltar à minha vida normal, onde minha
maior decisão é o que irei usar todos os dias.

Naturalmente, vivo em uma sociedade superficial, onde nós


somos ensinados que as coisas fazem uma pessoa. Compro sapatos
como se tivesse mais de dois pés. Tantos que faria girar a cabeça de
uma pessoa média. Não poupo em roupas, comprando tudo o que

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amo. Passo sem pensar. Deslizando através da vida me importando
com coisas materiais.

Todos nós temos esse momento em nossas vidas. Aquele em


que pensamos ter feito tudo. Cada peça pequena no seu lugar. Que
temos o trabalho que sempre quisemos, dinheiro no banco, e vivemos
a vida sem um cuidado no mundo.

Eu estou lá. Cheguei a fazer isso.

Quando era pequena, minha mãe sempre dizia: “Obtenha um


bom trabalho. Você será capaz de cuidar de si mesma e comprar o
que quiser. Não confie em nenhum homem. Fique na sua, Callie.”

Ela ficaria orgulhosa de mim se ainda estivesse aqui. Não


respondo a ninguém, mas a mim mesma.

Anos atrás, quando a perdi, decidi que seguiria seu conselho.


Terminei a faculdade, encontrei o trabalho mais bem remunerado em
meu campo, e vivi sem desculpas.

Sou completamente independente e autossuficiente.

Ninguém me diz o que fazer.

Mas há um problema com o conselho dela. Um que não havia


previsto. Estava vivendo através da vida até que o Dr. Craig
mencionou a única palavra que provoca medo em cada pessoa no
planeta.

Depois que eu saí de seu consultório, tive algumas realizações


que mudaram minha vida.

Os objetos são apenas essas coisas. Não fazem de nós quem


somos. Faz-nos parecer melhor do lado de fora, mesmo quando
estamos ocos por dentro. É uma ilusão, os objetos brilhantes que
nos distraem das coisas realmente importantes.

Às vezes, inevitavelmente, todos nós precisamos de alguém.


Não importa o quanto tentamos ser autossuficiente, há momentos
em que precisamos de um ombro para chorar ou braços para nos

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segurar. Mas como com a maioria das realizações na vida, não tive a
minha até que a escuridão ameaçou consumir meu mundo.

Minha vida vai mudar com uma única palavra. A parte de cima
pode ficar para baixo, a esquerda pode tornar-se direita, e nada pode
fazer sentido mais.

Alguns lerão isto e dirão: “Ugh, Callie, controle-se e pare de ser


uma cadela.” Minha resposta é esta: caminhem quilômetros em
sapatos de outra pessoa antes de correr para julgar. É sempre fácil
assumir sem qualquer conhecimento real para apoiá-lo.

Todo mundo acha que irão lidar com merda com graça, mas
na realidade, os nossos medos começam a nos sufocar.

Não sou diferente, meus medos são muitos e reais.

Todos nós somos frágeis, cheios de inseguranças e


preocupações, e não devemos ser julgados sobre como nos
comportamos na nossa hora mais escura porque nunca é bonita.

Devemos ser julgados em nossa vida como um todo, a forma


como amamos, como tratamos os outros e não como agimos quando
nosso mundo está desmoronando ao nosso redor.

Fecho meus olhos e penso em minha mãe, a sensação de seus


braços ao meu redor, confortando-me até dormir.

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3
O MOMENTO

Atrasada, corro em torno do meu apartamento como uma


louca tentando não me esquecer de nada. É inevitável, porém; quase
todos os dias, esqueço algo e acabo retornando. Aprendi há sair dez
minutos mais cedo para me dar mais tempo.

O celular toca meu mais recente e favorito, ringtone - “Sugar”


do Maroon 5, no silêncio da manhã enquanto passo pela porta.

Sem pensar, respondo. “Olá.”

“Senhora. Gentile?”

Pego as minhas chaves, tentando equilibrar meu café ao


colocar o celular sobre meu ombro e trancar a porta. “Sim.”

“Aqui é do consultório do Dr. Craig. Ele gostaria de falar com


você o mais rápido possível.”

“Estou aqui.” Caminho em direção ao meu carro, tentando


manter a agenda. Tenho todo o tráfego cronometrado. Qualquer
desvio e atingiria o horrendo tráfego da hora de pico do centro da
cidade “Por favor, aguarde, senhora.” A mulher responde antes da
pior música pop dos anos oitenta começar a tocar e sei que estou em
espera.

Colocando a chamada no alto-falante, jogo minha bolsa no


assento do passageiro. Coloco meu celular no colo e dou a partida
no carro.

Quando ligo o motor, ouço sua voz. “Callie?”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Estou aqui, doutor, mas estou atrasada. O que os testes
dizem?” Pergunto, tentando ser indiferente mesmo que minhas
entranhas estejam torcendo-se em nós.

Ele tem sido bom para mim. Provavelmente melhor do que


mereço. Sempre me atende quando estou doente, mesmo que a
agenda dele na semana esteja sem horário disponível.

“Você pode vir ao meu consultório?” Ele limpa a garganta e não


tem a mesma atitude jovial que costuma ter quando visito seu
consultório.

“Doutor, apenas me diga. Posso lidar com isso.” Verifiquei os


lados, prestes a sair da garagem, quando ele fala às palavras que
estive temendo.

“Você tem câncer.”

Silêncio.

O tempo para.

Eu congelo.

Meu carro derrapa na rua, e há um grande estrondo.

Tudo fica preto.

SUSSUROS

Posso ouvi-los, mas não consigo ver quem está ao meu redor.
Tento formar as palavras, mas é difícil.

Foi apenas um sonho.

O telefonema.

Nunca aconteceu.

O carro rodando na pista - apenas uma invenção da minha


imaginação.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Talvez, não tenha acordado esta manhã. Meu cérebro apenas
aplicou um truque cruel em mim. Nem mesmo um sonho, um
pesadelo.

Só preciso acordar. Se fizer, tudo será diferente. Eu serei eu.


Minha vida vai ser a mesma que foi ontem.

“Callie.”

Ele não é real. Acorde.

“Callie!” repete. “Acorde.”

Não é real. Então, sinto sua mão me tocando e repentinamente


meus olhos se abrem quando percebo que não era um sonho.

“Callie!” Diz novamente.

O Dr. Craig está sentado na minha cama, no hospital, e


então, me lembro do que me disse antes do carro derrapar e ser
atingida por outro veículo. A notícia, que ainda não acredito
totalmente, chocou o inferno fora de mim. Quando me encontrei com
ele para fazer os exames, implorei para contar por celular e não me
fazer retornar ao consultório.

Por algumas razões queria saber sem ele ver a expressão nos
meus olhos. Primeiro, ele é um amigo. Quero dizer, nós não bebemos
juntos, mas sempre cuidou de mim. Em um ponto, me convidou para
sair, mas recusei porque simplesmente não estava atraída
sexualmente por ele. Segundo, estou muito ocupada para tirar mais
tempo de trabalho e me encontrar com ele quando posso ter a mesma
informação por celular. Não importa como você diga a alguém que
tem câncer, não muda o fato de ter a doença. Achei que poderia lidar
com isso. Prometi-lhe que poderia. Burra, Callie. Burra.

Fecho os olhos com força, apertando-os tanto que doem


também. Não, não, não.

“Abra seus olhos.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Deitada, tomo algumas respirações profundas, ásperas,
tentando afastar tudo. Por que não poderia voltar a adormecer e
acordar na minha cama?

“Callie!” Assovia. Talvez tenha ouvido errado, já que meu


coração bateu com tanta força que praticamente não podia ouvir
nada.

Lentamente, abro os olhos, esperando que tudo seja um sonho.

Mas não é.

Ele é real.

Estou no hospital.

Mas, estou viva.

E então, lembro-me o que ele disse. “Você tem câncer.”

Talvez essa parte fosse um sonho.

Poderia estar em um acidente e ter imaginado a notícia que ele


deixou cair sobre mim pelo celular. É inteiramente possível. Certo?
Poderia ter batido minha cabeça e as drogas que me deram causou
o pior pesadelo da minha vida. Soube que é uma possibilidade desde
que fiz os testes, mas nunca acreditei que eu teria.

“O que aconteceu?”

Senta-se na borda da cama, descansando sua mão em minha


perna. “Você teve um acidente.”

“Lembro-me.” Sussurro, olhando ao redor da sala e


percebendo que estou no pronto-socorro.

Seu rosto é sombrio quando ele arrasta seus olhos para os


meus. “Você se lembra do que aconteceu antes do acidente?” De
algum modo, seu semblante fica mais profundo, e sei que não era
um sonho.

“Não.” Minto.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Nós estávamos no celular e....” Ele faz uma pausa e se
aproxima antes de pegar minha mão.

Empurrei minha cabeça de volta no travesseiro, desejando que


pudesse desaparecer. “Câncer” Sussurro.

Ele balança a cabeça, e seus olhos castanhos tornam-se


tristes. “Sim. Sinto muito.”

Ouvi-lo dizer as palavras novamente ainda não faz parecer


real. “Que tipo?” Pergunto, sabendo tudo sobre a doença miserável.
Estudei biologia na faculdade e especialização em medicina antes de
me formar uma bióloga molecular.

“Leucemia.”

“Você tem certeza? Quero dizer, é difícil dizer com um simples


exame de sangue.” Ainda não enfrento a realidade. Mesmo escutando
as palavras de sua boca uma segunda vez não me convence.

“Sim. Posso dizer com cem por cento de certeza que é


leucemia.”

A sala começa a girar. As coisas ficam cinza e desaparecem. O


som do meu coração batendo em meus ouvidos maçante junto com
tudo mais.

Não sou boba. Sabia, quando fui realizar o teste que havia uma
possibilidade de ser positivo para câncer, mas nunca realmente
acreditei. Sentada aqui e agora, ouvindo-o dizer as palavras,
novamente, não o torna mais crível.

“Callie.”

Retorno ao presente, consciente de tudo ao meu redor.

“O que é?” Grito. O medo começa a me sufocar. Sei o que


significa o diagnóstico. A longa estrada do tratamento, e se tiver
sorte, vou sobreviver.

“Fique comigo.” O dr. Craig acaricia minha mão com seu


polegar, tentando me confortar.

ENSHRINE
Chelle Bliss
As lágrimas começam a encher meus olhos, a luz do sol
atravessando a janela. “Estou aqui.” Murmuro antes libertar um
soluço ecoando no quarto.

Eu tenho câncer. Câncer. Como diabos tenho câncer?

Minha mente começa a se encher de imagens que me


assombram - flashes dos meus cabelos caindo, hematomas e
nódulos cobrindo minha pele de porcelana, e, eventualmente, um
caixão.

Ninguém ouve a palavra câncer e pensa em viver.

Ninguém.

Ao lado da palavra, câncer, no dicionário, deveria apenas


constar, “a coisa mais assustadora no mundo que eventualmente irá
matá-lo.”

As pessoas sobrevivem. Sei disso. Mas ao ouvir a notícia, essa


é a última coisa em minha mente.

“Preciso de uma segunda opinião.” Ele poderia estar errado. A


medicina ainda é “prática,” e os médicos interpretam merda errada
o tempo todo.

‘Tinha três médicos olhando seus testes. Não estou errado,


Callie.”

“Não!” Grito antes que outra rodada de lágrimas comece a cair.

“Callie.” Sussurra e aperta minha mão.

Afasto-me, enjoada com a situação.

“Quão ruim?” Pergunto antes de fechar os olhos, mordendo


meus lábios enquanto me preparo para as notícias.

“É tratável.”

Essa é outra frase maldita. Tratável. O que diabos isso quer


dizer?

Não mencionou curável. Não. Ele disse tratável.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Os médicos usam essas palavras para pacificar as pessoas. Se
fossem inteiramente sinceros, desistiriam e pareceriam os maiores
idiotas do mundo.

Irão me tratar. Conheço alguns desses tratamentos, ajudei a


desenvolver o cocktail perfeito para prolongar a vida de alguém
apenas o suficiente para encontrar uma cura.

Agora sou oficialmente uma estatística.

Callista Gentile: Paciente com câncer.

Já não importa onde vendem minhas Michael Kors 2.

Não me importo se meu carro foi esmagado em pedaços.

Nada disso importa.

Eu não estou mais na corrida de ratos em uma busca para


comprar a próxima coisa incrível.

Eu tenho que lutar pela minha vida.

2Karl Anderson, Jr, mais conhecido pelo seu nome artístico, Michael Kors, é um estilista estadunidense. Integra o juri do
programa televisivo Project Runway.

ENSHRINE
Chelle Bliss
4
ESTÁGIO 1-
NEGAÇÃO e ISOLAMENTO

MEU CELULAR TOCOU NOVAMENTE. É a décima vez hoje e é


a mesma pessoa.

A única pessoa que me perseguia dia e noite por não chamá-


la de volta, Rebecca.

Por dias, fiquei em casa, chorando muito e à beira da


desidratação, mas não conseguia sair dessa.

Não tinha vontade de sair para beber com as meninas.


Portanto, ignorei todas as chamadas de Rebecca.

O Dr. Craig contatou o meu trabalho e disse-lhes que precisava


de uma licença, ainda chama todos os dias. Todas às vezes, ignorei
as ligações. No terceiro dia, desliguei minha campainha e joguei meu
celular na mesinha de cabeceira.

Não quero ouvir a tristeza ou a piedade de ninguém. Não quero


ouvir outro “Sinto muito.”

Quero ficar sozinha. Enclausurar-me no meu apartamento,


talvez torne a situação diferente.

Sento-me no sofá, olhando para a televisão em branco e


pensando sobre a minha vida.

Da luz do sol, à escuridão, o vazio na tela transpassa-me.


Estou perdida no vazio, incapaz de tirar a morte da minha mente.

ENSHRINE
Chelle Bliss
O dia se transforma em noite.

A noite corre para o dia.

Sento, congelada e perdida.

“Callie.” Uma voz chama antes que haja um baque alto na


porta da frente. Não me importo em olhar porque não estou
respondendo. “Merda, Callie. Abra a maldita porta.”

Sentada em silêncio, com exceção de Rebecca batendo como


uma louca, mantenho meus olhos na televisão. Apesar, de saber que
ela iria me confortar, a única pessoa que realmente quero é minha
mãe. Mas, como tantas outras pessoas no mundo, não tenho mais
ninguém. Sou filha única e meus pais morreram antes dos meus
vinte anos. Eles estavam distanciados do resto da família e eu
também, por padrão.

“Não estou desistindo. Voltarei com reforços.” Seus passos se


desvanecem quando caminha para longe de minha porta, e prendo
minha respiração, esperando o bater recomeçar mais uma vez.

Reforços?

Rebecca é a coisa mais próxima que tenho de família. Nós


crescemos juntas. Brincamos no quintal. Nós sonhamos juntas,
deitadas sob as estrelas quando crianças e compartilhando nosso
conto de fadas da vida perfeita.

Tínhamos tudo. Rebecca ainda tem, mas eu não.

Eu sou Callie “Câncer” Gentile.

Já não sou apenas eu - agora, tenho uma doença horrível que


obscurece tudo na minha vida.

A luz do sol desaparece lentamente rastejando de volta pela


janela envolvendo o quarto na escuridão, mas ainda não me movo e
Rebecca não retornou.

A negação se esmaece.

Eu percebo o que tenho.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Não sou estúpida. Não importa quanto deseje, agora é uma
parte de mim.

Mas isso não significa que tenho que falar com alguém sobre
isso. Particularmente não quero falar com Rebecca. Eu a amo,
realmente, amo. Ela é minha BFF, mas agora, tenho inveja dela.

Ela ainda tem a vida perfeita. Sua maior preocupação é o que


vestir para trabalhar amanhã. Não precisa pensar no seu momento
final antes de morrer.

MEUS OLHOS ABREM QUANDO OUÇO A MANÇANENTA DA


PORTA COMEÇAR A GIRAR. Não me importo de levantar. Talvez
alguém esteja aqui para me matar e roubar toda a minha merda que
não preciso mais. Não tenho forças para lutar e não precisarei de
minha fabulosa coleção de sapatos quando estiver muito fraca para
andar algum dia.

“Apenas derrube a porra da porta.” Rebecca grita, e começo a


entrar em pânico. Lá vai a minha esperança de uma morte rápida e
sozinha.

“Tem certeza?” Pergunta um homem, sua voz grave muito


familiar, mas longe para distinguir.

“Apenas faça logo!”

Sento e contemplo a porta com os olhos arregalados, todo o


sono desaparecendo rapidamente. Mesmo se ela derrubar, ainda não
quero vê-la. Movendo-me rapidamente, tropeço para o banheiro e
tranco por dentro, escondendo-me atrás da porta em relativa
segurança.

Quero silêncio. Preciso ficar sozinha. Não tive tempo para


digerir tudo o que tem acontecido. Rebecca estando ao meu redor
não vai ajudar.

ENSHRINE
Chelle Bliss
A porta da frente racha, esmagando contra a parede; A imagem
pendurada atrás dela cai no chão e se despedaça.

“Callie?” Rebecca grita. Seus pesados passos crescem mais


altos enquanto ela procura por mim.

“Ela não está aqui.” O homem diz.

Mesmo com uma porta nos separando, cubro minhas orelhas


para bloquear os sons. É infantil, reconheço. Mas em momentos de
completo e absoluto terror, não atuo racionalmente.

“Ela está aqui. Basta procurar por ela.” Posso ouvir o pânico
em sua voz, e quero chamar-lhe, mas não faço.

Rastejo rapidamente e em silêncio para a banheira, deslizando


contra a porcelana e desejando que estivesse preenchida com água
para que pudesse afogar a minha tristeza.

“Verifique o banheiro.”

A maçaneta gira e prendo minha respiração. Está trancada, e


não abrirei.

“Merda.” Rebecca bate na porta freneticamente. “Callie, sei que


você está aí.”

Olho para o teto branco imaculado e quero saber qual o ponto


de tudo isso. Porque ralei na escola, trabalhei incontáveis horas em
um laboratório, só para ter tudo retirado das minhas mãos em um
momento? Quero fazer muitas coisas em minha vida, e agora, não
poderei.

Rebecca bate mais e começa a gritar. “Abra a porra da porta!”


Não me mexo. Uma explosão! Em poucos segundos, o homem
facilmente força a porta aberta com um alto estrondo, e, em seguida,
preenche a entrada.

Fecho os olhos e começo a sussurrar tolices para mim mesma.


Mas, assim como meu câncer, eles não vão embora.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Droga.” A voz irritada de Rebecca ecoa contra o azulejo do
banheiro. “Que porra está de errado com você?”

“Ela não parece bem.”

“Você está uma bagunça.” Assovia, pegando meus cabelos e


esfregando-o entre seus dedos. “Tire-a da banheira, por favor.” Diz a
Bruno.

“Vá embora.” Reclamo. Minha voz está fraca, e não posso dizer
com mais convicção do que isso.

Ele passa os braços por baixo das minhas costas e começa a


me levantar da banheira, olho de soslaio. Oh! Merda. Por que tem
que ser ele? Bruno.

A vaidade assume o controle por um momento e estou cheia


de embaraço, até que me lembro de que estou morrendo. Logo, me
verá em um caixão, se ele mesmo comparecer, com o pior trabalho
de maquiagem de sempre e meus cabelos parecendo algo fora de uma
revista Teen Beat3.

“Vamos linda.” Diz com um rosto suave e bons olhos.

Por um momento, desmaio por ter sido chamada de linda, e


então desaparece e fecho meus olhos. Descansando minha cabeça
em seu peito, escuto o ritmo constante de seus batimentos cardíacos
quando me leva para a sala de estar. Deixo-me perder no som.

“O que diabos aconteceu aqui?” Rebecca pergunta, seguindo


atrás de nós.

“O que você tem? Nunca vi você assim. Não há desculpa para


o seu comportamento. Você poderia pelo menos pegar o celular e me
informar que estava viva. Jesus Cristo. Fiquei em pânico. Pensei que
estivesse morta.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Eu estarei.” Sussurro com a minha cabeça enfiada sob o
queixo de Bruno. Ele para de andar e olha para mim, mas não
consigo encontrar seus olhos.

“Você é tão fodidamente dramática o tempo todo, Cal. Você não


está morrendo. Pare de besteira. Meu coração não pode levar muito
mais.”

Os olhos de Bruno se estreitam em pequenas fendas e


penetram em meu rosto. Choraria se tivesse algum líquido em meu
corpo, mas não consigo me lembrar da última vez que bebi qualquer
coisa. Fecho meus olhos novamente, incapaz de encontrar a
expressão em seu rosto. É muito para suportar. “Estou morrendo,
Bec.”

Ela não responde, mas seu corpo se enrijece. Rebecca senta-


se ao meu lado no sofá depois que Bruno me coloca gentilmente em
uma extremidade.

“Criança.” Bruno diz docemente, tocando meu queixo e


forçando meu rosto a encontrar o dele. Não pude olhar.

“Quero que vocês dois saiam.”

“Não.” Rebecca se aproxima, tem pena e pânico por todo o


rosto, e toma minhas mãos na dela.

“Por favor!” Sussurro, desejando poder rastejar para longe,


fora do alcance de seus olhares.

“Callie, baby.” Bruno me pega desprevenida, e olho para ele,


seus dedos ainda sob o meu queixo. “Você está com sede?” Pergunta.
Ele inclina ligeiramente a cabeça e preocupação substitui a pena que
vi momentos atrás. “Seus lábios estão rachados.” O toque macio do
seu polegar escova contra a minha carne dolorida, e meus lábios
abrem-se por instinto.

“Jesus. Saio de férias durante três dias e você cai na merda.”


Rebecca soa como uma puta, mas sei que é só por medo.
Provavelmente diria a mesma merda para ela se não soubesse o que
diabos estava acontecendo.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Apenas deixe-me morrer.”

“Pare de dizer está merda.” Rebecca se vira para encarar


Bruno. “Pegue um pouco de água enquanto coloco um pouco de
sentido nela.” Ela o ordena tão indiferentemente, minha boca cai
aberta.

Seus olhos se estreitam ligeiramente, mas concorda e se dirige


para a cozinha. Assisto enquanto abre os armários, procurando por
um copo, é muito mais divertido do que a televisão em branco.
Rebecca continua falando, mas continuo admirando-o.

Rebecca e eu conhecemos Bruno enquanto estávamos na


faculdade. Ele era o garoto mau da vizinhança. Cada clube em que
ele entrava, as pessoas o conheciam pelo nome. Não porque era um
cara legal, mas porque o temiam.

Eu tinha visto um homem crescido literalmente tremer quando


Bruno gritava com ele. A maioria era provavelmente por causa de
seu tamanho, mas era definitivamente por causa de seus olhos. Ele
faria dinheiro como o Hulk sendo alto, grosso e coberto com
músculos. Ele realmente é o mais assustador que conheço.

Seu tamanho não é apenas o que assusta a merda de todos.


Bruno tem uma maneira de agir. Algo que o segue em todos os
lugares que vai. Há trevas nele.

Você sabe o tipo. São fáceis de localizar a quilômetros de


distância. Quando alguém como ele anda na rua, indo direto para
você, você atravessa a rua apenas para evitá-lo.

Esse é o Bruno.

Rebecca grita comigo como se fosse uma criança, e eu a ignoro


como se fosse uma. Bruno me traz um copo de água gelada e segura
na minha frente. Sorrio para ele antes de pegar o copo, sentindo a
sede que tinha ignorado finalmente tomar conta.

Ele observa enquanto bebo todo o copo, deixando a água


escorrer pelo meu queixo sem me preocupar. Bruno fica sentado no

ENSHRINE
Chelle Bliss
braço do sofá e seus olhos analisando-me, enquanto verifico todas
as direções menos diretamente nele. Seu olhar é irritante.

“Callie, você está me ouvindo?” A voz de Rebecca está


começando a soar como unhas no quadro-negro.

“Rebecca.” Bruno volta sua atenção para ela junto com seu
olhar irritante.

“Apenas feche a boca por dois segundos.”

“Bem, eu...”

“Deixe a garota falar.” Seus olhos escuros voltam para mim,


prendendo-me no local, e engulo, instantaneamente sinto sede
novamente.

Giro o copo em minhas mãos e foco as pequenas gotas de água


escorrendo em minhas mãos. “Que dia é hoje?” Pergunto suavemente
e estremeço porque sei que estou prestes a ser repreendida.

“Sexta-feira.” Não consigo explicar a expressão no seu rosto.


“Que dia você pensou que era?”

“Não sei.” Encolho os ombros e olho para o teto.

Quando termino de beber, Bruno toma o copo e o coloca na


mesa de café. “O que aconteceu com você?”

“Eu...” Começo a ficar nervosa. Não falei as palavras a ninguém


além do médico até agora. – “Tenho...” Meus lábios começam a
tremer.

“Shh. Shh” Sussurra e toca minha bochecha. Bruno se ajoelha


e pega meu rosto em suas mãos. “Tudo ficará bem. Diga-me o que
aconteceu.”

Seguro meu lábio entre meus dentes, mordendo, então assim


não posso responder. Dizendo as palavras torna ainda mais real, e
sei que nada vai ficar bem. Olho, mordendo o lábio, ele meditando,
enquanto espera a minha resposta, mas não quero falar.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Seu polegar suavemente puxa meu lábio. “Vamos, Callie.
Alguém fez algo para você? Basta dizer a palavra e vou cuidar deles.”
Diz em um tom forte e reconfortante. No entanto, também é
completamente assustador.

Balanço a cabeça.

“Você machucou alguém?”

Eu agito novamente.

Ele não fala; apenas me estuda, e faço tudo ao meu alcance


para não contorcer-me. Posso suportar a voz de Rebecca, mesmo não
aguentando as perguntas constantes, mas não consigo lidar com
seus olhos, pois sinto como se pudesse ver minha alma.

“Eu tenho câncer.” Confesso tão suavemente que mal escuto a


minha voz. Seus olhos piscam, crescendo largo por um segundo
antes de esconder suas emoções atrás da escuridão.

“O quê?” Rebecca salta de seu lugar no sofá freneticamente.


“Você não está sendo engraçada.”

“Cale-se, Rebecca.” Bruno levanta, ficando de frente ao seu


rosto, e ela se inclina para trás. “Você não está ajudando merda.”

“Ela precisa parar de brincar. Adoro a merda dela, mas não


posso perdê-la.”

“Eu não estou.” digo, olhando para os dois de pé nariz a nariz


e temendo por Bec. “Tenho câncer.”

Eu disse as palavras. Não posso mais negar isso.

“Callie.” Rebecca grita, caindo no chão na minha frente e


descansando a cabeça em meu colo. Enrolo meus dedos em seus
cabelos, olhando para Bruno em busca de ajuda. Não do câncer, mas
de Rebecca. O luto, a coisa que eu não queria ver, está em todo o
rosto.

“Cal.” sussurra. “Fale comigo.” Mas não tenho nada a dizer.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Rebecca.” Bruno a levanta do chão por seus ombros, dando-
me espaço para respirar. “Callie precisa comer. Dê-lhe um minuto e
tenha algo para ela.” Bruno, rosna. Ele sussurra algo em seu ouvido,
e ela se afasta lentamente, sem olhar para trás.

Se não estivesse lidando com o fato de que tinha a temida


palavra- C, teria rido da maneira como a dispensou. Rebecca nunca
foi tranquila, nem facilmente recebe ordem, mas ele a manipula
como um profissional.

“Não estou com fome.” Murmuro e assisto Rebecca enquanto


procura nos armários.

Ele se ajoelha de novo e coloca minhas mãos nas dele. “Callie,


não posso começar a imaginar o que você está passando, mas você
precisa comer. Precisa de um chuveiro também.”

Ele diz com um sorriso.

Um canto da minha boca se contrai, mas não é suficiente para


me fazer sorrir. Bruno parece bom sorrindo. Quem diria? Pode ser a
primeira vez que realmente o vi fazer isso.

“Sinto muito.” Digo porque sei que devo cheirar mal.

“Há quanto tempo você está sentada aqui, Cal?”

“Não sei. Terça-feira... talvez.” Estremeço e me preparo para a


repreensão que acho que virá.

“Jesus,” Murmura antes de me levantar em seus braços. “É


hora do banho, querida.”

“Não.” Solto um gemido e sacudo minhas pernas. “Ponha-me


no chão.”

“Desculpe, garota, mas você precisa tomar um banho se vamos


ficar neste apartamento. Você pode não sentir o cheiro, mas o resto
de nós sente.”

“Bruno.” Limpo minha garganta, tentando encontrar minha


voz. “Ponha-me, no chão, merda.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Ele ri, me segurando mais apertado, e dirige-se para o meu
banheiro, como se não tivesse dito uma palavra.

“Vou gritar.” Aviso antes de torcer meu corpo, tentando me


libertar. Mas ele é malditamente forte e minha luta é fútil.

“Não se preocupe. Não vou ficar lá com você. Que tipo de


homem acha que sou?” Ele olha para baixo e ri.

Oh Deus.

“Realmente, não te conheço.” O que no mundo Rebecca pensou


quando ligou para ele. Quer dizer, foda-se, chame a polícia para vir
aqui, não Bruno “O Carniceiro”.

Seu sorriso desaparece e o riso desaparece. “Sou um completo


cavalheiro.”

“Então me coloque no chão.” Exijo, balançando um pouco mais


duro em seus braços até que ele deixa-me no vaso sanitário.

Torço minhas mãos juntas no meu colo, tentando descobrir se


eu deveria correr. Há sim, de jeito nenhum ficaria nua na frente dele.
De jeito nenhum.

“Você precisa de ajuda.” Coloca a mão sob a torneira da


banheira e testa a água para mim. “Rebecca virá aqui e te ajudará
na banheira, mas vou estar aqui quando você sair.” Ele olha para
mim.

“Eu posso fazer isso.”

“Ouça. Precisa de ajuda agora. Tome um banho, então vai sair


e comer, e vamos conversar.”

“Bruno.” Sussurro, querendo que ele me olhe.

Ele se vira para mim. “Sim?”

“Aprecio sua ajuda, Rebecca também, mas realmente só quero


ficar sozinha.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Ele balança a cabeça e sai sem dizer uma palavra. O homem
nunca me disse mais que duas palavras.

Momentos depois, tento me levantar, mas meus joelhos


tremem tanto que desmorono. Nesse momento, aparece Rebecca.
“Cal.” Diz, fechando a porta atrás dela. “Vamos tirar suas roupas.”

Não estou preocupada com Rebecca me ver nua. Mudei minhas


roupas e tomei banho muitas vezes na frente dela e ela já viu cada
pedaço de mim. “Rebecca. Que diabos você estava pensando?”

“Não sei do que você está falando.” Agarra a parte inferior da


minha camisa e puxa sobre a minha cabeça.

“Bruno.” Sussurro, tentando manter minha voz baixa o


suficiente para que ele não possa ouvir, e verifico a porta. “Nós nem
o conhecemos. Por que você o trouxe para minha casa?”

Ela rola os olhos e zomba. “Quem mais conheço que


arrombaria o seu apartamento e estaria bem com isso?” Ela me
levanta como se fosse uma boneca de pano e me apoia contra a pia
antes de puxar minhas calças pelas minhas pernas.

“Já pensou, que eu queria ficar sozinha?” Pergunto quando


saio das minhas calças.

“Pensa que me importa?” Segura minhas roupas como se


tivessem a praga antes de jogar perto da porta. “Estava preocupada,
Cal. Bruno era o único que podia chamar.”

Ela estende a mão e pego antes de subir na banheira. Quando


a água atinge minha pele, afundo e fecho meus olhos. O calor me
rodeia como um cobertor, encurralando-me. Estive dormente desde
o momento em que acordei no Hospital.

“Hey, amor.” Descanso minha cabeça na parte de trás da


banheira. “Posso ter alguns minutos sozinha?”

“Não.” Diz antes de sentar-se no assoalho na frente da


banheira.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Quero gritar, mas sei que seria inútil. Rebecca é mais
cabeçuda do que eu algumas vezes. “Pelo menos olhe para o outro
lado, por favor.”

“Bem.” Vira de costas, apoiando contra o lado da banheira e


me dando um momento de privacidade.

Há um longo silêncio, e sei que deve estar matando-a. Corro


meus dedos através da água e vejo as ondulações se propagar e
respingar fora da banheira.

“Por que você não me ligou?” Pergunta com uma voz quebrada.
Está chorando; posso ouvir em sua voz.

Penso sobre a minha resposta cuidadosamente antes de


responder. Já magoei seus sentimentos, mas não quero torná-lo pior.
“Precisava de tempo para processar, Bec.”

“Mas você não deve fazer isso sozinha.”

“Isto não é como um rompimento. Não queria que você


soubesse. Precisava lidar com isso sozinha.”

Ela traz seus joelhos até seu peito, abraçando-os firmemente.


“Mas nós sempre tivemos uma a outra.”

“Bec, isto não é sobre você.” Eu ouço a aspereza em minha voz


e não recuo, o que disse é verdade. Queria ficar sozinha. Não estava
pronta para os olhares, a tristeza, o luto antes de morrer.

“Se tem a ver com você, então me preocupa.”

Não sei como responder. Seus sentimentos estão feridos de


qualquer maneira, então mudo o tópico. “Você vai me ajudar a lavar
os cabelos?”

Ela se vira e me dá um sorriso pequeno e triste. “Irei te ajudar


com qualquer coisa.”

Rebecca entra no modo mãe; ajuda-me com meus cabelos e


esfrega minhas costas antes de fazer o resto. Depois que ela me seca,
pega as primeiras roupas que encontra no meu quarto. Salto,

ENSHRINE
Chelle Bliss
quando saímos do quarto e Bruno está recostado contra a parede.
Antes que possa dizer uma palavra, ele me pega em seus braços e
dirige para a cozinha. A mesa está posta, sopa em tigelas, uma para
cada um de nós e copos de água também.

“Eu estou bem agora.” Suspiro em seu peito, enterrando meu


rosto contra sua dureza sentido o seu cheiro. Minha barriga rosna
por causa da sopa, mas meu corpo vibra por causa de seu aroma.

Eles me observam em silêncio desconfortável, esperando que


eu coma. Faço porque não quero ouvir Rebecca começar a falar
novamente. Bruno come comigo, olhando para mim ocasionalmente,
mas Rebecca o observa. Posso sentir seus olhos em mim de vez em
quando. Sei que ela tem um milhão de perguntas, mas não estou
pronta para responder ainda.

“Uma palavra.” Bruno diz para Becca e aponta para a sala de


estar. Ela olha como se tivesse sido chamada no escritório do diretor
antes de seguir para a sala de estar. Não me movo enquanto
sussurram, e não posso entender as palavras não importa o quanto
tente.

A porta da frente abre e ouço passos pesados se dirigindo para


a cozinha quando percebo a porta bater.

Meus olhos se arregalam quando Bruno volta. “O que você


ainda está fazendo aqui?”

“Rebecca teve que sair.” Diz antes de voltar a sentar.

“O quê?” Ela não me deixaria aqui. Especialmente, sozinha


com alguém que eu mal conheço.

“Eu disse a ela que você precisava de espaço.”

“Mas...”

Ele coloca o dedo sobre minha boca, e encontro seus olhos.


“Eu não vou pairar. Estou aqui apenas no caso de você precisar de
mim. Gostaria que ela ficasse? Porque vou partir e deixá-la voltar.”
Aponta para a porta da frente.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Balanço a cabeça. Rebecca fala demais para que possa lidar
com ela agora.

“Não, mas também não quero que fique.”

“Se eu for, ela volta.”

Cruzo os braços na frente do meu peito e faço beicinho. Droga.


Sou uma adulta. Não há necessidade de alguém me tratar como uma
criança. Se quiser me manter longe de todos e tudo no mundo, é
minha prerrogativa fazê-lo. Quem são eles para me dizer diferente?

Mordo meus lábios, tirando minha raiva em minha pele


rachada, e vislumbro seu rosto.

Com as minhas mãos apertadas em punhos, sinto meu interior


começar a tremer enquanto a raiva me domina.

“Bruno.”

“Sim?”

“Você pode ir. Estou melhor agora.” Mantenho a minha voz


doce e suave, embora querendo gritar. Se fosse Rebecca poderia
talvez assustá-la se gritasse alto o suficiente, mas tenho um
sentimento que Bruno não seria tão facilmente influenciado.

Coloca os cotovelos sobre a mesa, e descansa seus dedos


contra os lábios. Ele me observa. Apenas olhares fodidos. Aquele tipo
que deixa a pessoa desconfortável.

Contorço-me no meu lugar e quero fugir, mas sei que não


tenho força suficiente nas pernas para fazê-lo sem tropeçar e
aterrissar no piso de madeira. Miro por cima do seu ombro e me
concentro no relógio, desviando meus olhos dele.

“Vou passar a noite aqui.”

“Não!” Meus olhos dispararam na sua direção. “Sério, estou


bem.”

Ele cruza os braços, recostando-se na cadeira, e sorri. “Bem.


Caminhe até o seu quarto e irei embora.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Idiota.

Posso rastejar, mas andar... Isso não seria tão gracioso como
gostaria que fosse. Sei que assim que ficar de pé vai descobrir que
estou muito fraca, mas preciso tentar.

Contemplando-o, levanto e viro as costas para ele, tentando


encontrar meu equilíbrio. Meus joelhos começam a tremer e nem dou
um passo. Estabilizando-me sobre a mesa mais uma vez, olho para
Bruno por cima do ombro e agarro a mesa mais apertada. Observa-
me atentamente com o mesmo sorriso de merda. “Eu cuido disso.”
Juro.

Que diabos fiz? Sério, Cal, que forma da porra de morrer.


Sentada na minha bunda e me enfraquecendo é imperdoável. Não
comer e beber, trouxe isso para mim.

O câncer fez isso comigo.

Em última análise, sou a culpada. Sem palavras, paralisada e


incapaz de mover-me, ele invadiu minha cabeça e fodeu comigo. Não
me sinto diferente da semana passada, mas apenas sabendo que está
crescendo dentro de mim, assustou bastante. Passei três dias
olhando para o espaço, perdida no vazio imaginado como seria meu
futuro, e desperdiçando um tempo muito precioso.

Como é fodido isso? Lamentei a perda da minha vida, mas


estou viva. Definhando no sofá quando deveria estar vivendo.

Acho que fiquei parada muito tempo porque Bruno


rapidamente levanta-me e me embala em seus braços.

“Você não precisa me carregar.” Protesto, mesmo que goste de


estar em seus braços. Está muito bom, muito agradável.

Ele contempla meu rosto e o olhar enervante desaparece,


substituído por algo mais suave, quase doce. “Você vai se machucar.”

Meu braço inconscientemente serpenteia ao redor de seu


pescoço, e descanso minha bochecha contra seu peito. Sua dureza e
calor envolvem-me. Acende a luz do quarto com seu cotovelo e

ENSHRINE
Chelle Bliss
carrega-me até a minha cama, coloca-me na borda. Vejo puxar os
cobertores e ajeitar os meus travesseiros. Bruno?

Ele levanta minhas pernas e cobre-me com os lençóis frescos


e macios. “Descanse um pouco. Vou pegar um pouco de água. Durma
por uma hora, e então vou trazer-lhe mais sopa.”

“Vou ficar bem. Apenas me traga a água e então pode ir.”

Sacode a cabeça, enfia os cobertores embaixo de mim e sai sem


outras palavras. Não sei o que dizer, então escuto e olho para a porta.

ENSHRINE
Chelle Bliss
5
ESTÁGIO 2 - RAIVA

Devo ter dormir mais de uma hora porque quando meus olhos
se abrem, Bruno está ao meu lado, totalmente vestido e dormindo
em cima dos lençóis. Seu peito subindo e descendo, lentamente,
enquanto o observo. Viro e enfio minha mão sob a minha bochecha
para me impedir de tocá-lo. Esta é a minha chance de dar uma boa
espiada nele sem ter que lidar com seus olhares. Sorrio do
pensamento dele me pegar.

Seus cachos escuros, soltos ao acaso descansam em torno de


sua testa. A cor de seus cabelos é castanho, cheios e grossos. Sua
mandíbula larga e protuberante é extremamente masculina e forrada
com barba por fazer, mas combina perfeitamente com seus cabelos.
A Luz solar atravessa a janela do chão ao teto, iluminando seu rosto
e dando-lhe um brilho angelical. E fungo com o pensamento de
Bruno e qualquer coisa santa.

Por que ele ficou?

Nós não somos nada um para o outro. Ele não é meu,


tampouco sou dele. Falamos algumas vezes de passagem, mas, além
disso, não tem motivo para se importar. Estendo a mão e toco seu
braço; é macio e duro ao mesmo tempo. Sua pele irradia calor
suficiente para aquecer uma pequena sala e sinto-a bem contra
minhas mãos frias. Os pelos em seus braços são macios e grossos
ainda mais escuros do que aqueles em sua cabeça. Grandes veias
sobressaem de seus antebraços e os rastreio levemente enquanto
dorme, porque sei que esta é a única hora que posso tocá-lo.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Sempre gostei de Bruno. Acho bonito aquele jeito malvado,
sexy. Nós tínhamos conversando brevemente no passado, mas nunca
passamos mais do que alguns minutos juntos. Desde a faculdade, o
vi ocasionalmente quando Becca e eu íamos o clube que ele
frequentava. Nunca imaginei que tivesse um lado mais suave. Não
parece ser deste tipo. Mas ontem à noite, ele mostrou para mim.
Posso nunca esquecer. Nunca. Mas a coisa engraçada sobre isso é
que quero mais.

“Está se divertindo?”

Meus olhos atiram para ele antes de puxar minha mão para
trás. “Desculpa.” Sussurro, dando-lhe um sorriso inocente.

“Não pare.” Diz e fecha os olhos novamente.

Não sei o que fazer. Basicamente, estou molestando-o em seu


sono. Foi apenas seu braço, mas ainda não tinha o direito de tocá-
lo. Deus me livre de acordar com ele acariciando meu braço. Teria
enlouquecido. Acho que…

Quando não toco novamente, ele rola para o seu lado e me


enfrenta, o marrom em seus olhos não são tão escuros quanto
pensava. Na verdade, são como uma cor profunda de mel e não o
preto que vi na noite anterior. Já não posso escapar de seu olhar,
mas mudou. Não é cético ou acusador, mas cuidadoso e preocupado
em vez disso. “Pronta para falar?” Balanço a cabeça. Ele estende a
mão e escova uma mecha de cabelo da minha bochecha, mas não me
movo, tampouco digo algo. “Quando descobriu?”

“Segunda-feira.” Fecho meus olhos.

“Você está com medo?”

Imaginar Bruno com medo um dia em sua vida é muito difícil.


Se estivesse em seu lugar, caminharia sabendo que ninguém poderia
me machucar. Seriam loucos até mesmo para tentar. Destruiria
todos.

“Estou.” Confesso pela primeira vez. Nem sequer dei estas


palavras ao Dr. Craig.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Ele imita minha postura, deslizando a mão sob sua bochecha
e descansando ao lado do meu cotovelo, tocando minha pele com as
pontas de seus dedos. “Eu sei como você se sente.”

Meus olhos alargam diante de sua admissão. “Você já sentiu


medo?”

Suas sobrancelhas se reúnem e parte da escuridão retorna.

“Sou humano, Callie. Claro que já senti.”

“Mas, pensei...”

“Todo mundo assume que sou uma besta e não tenho


sentimentos.”

“Bem, eu só...”

Novamente, coloca seu dedo sobre meus lábios e sua testa


suaviza. “Minha irmã teve câncer há alguns anos. Nunca estive tão
assustado em toda a minha vida, pensei que fosse perdê-la.”

“Oh.” Minhas suposições me fazem sentir como uma idiota.


Nós não somos o que parecemos.

Todos nós temos sentimentos. Até mesmo as pessoas que


rotulamos de “bandidos” têm um coração enterrado dentro de algum
lugar.

Ele puxa a mão para longe, mas não antes de arrastar


suavemente o dedo pelo meu lábio inferior, e inspiro fortemente. “Ela
venceu, no entanto.”

“Isso é bom.”

Ela tem sorte. Poucos escaparam da sombra do câncer.


Esconde-se no fundo por anos, adormecidos antes de atacar outra
vez. A vida torna-se sobre a próxima varredura ou exame e rezando
para não voltar.

“Ela teve câncer de mama. Passou pela quimioterapia, uma


dupla mastectomia para ter uma maior chance de sobrevivência.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Deus,” sussurro e sinto um aperto no meu peito. “Não poderia
me imaginar fazer isso.” A vida é tão preciosa, mas decidir remover
os seios seria difícil para qualquer um. E ainda voluntariamente
perder parte de si mesmo.

“Não foi fácil. Estava chateada e não queria morrer. Fez tudo
para sobreviver. Assim como você.”

“Eu não sei.” Minha voz suave transmite exatamente o que


sinto, dúvida.

“Cal.” Sussurra, tocando meu queixo e forçando-me a olhá-lo,


“Você irá, vencer isso.”

Tento não chorar. “Espero que sim.”

Ele se senta, puxando meu corpo através da cama antes de me


colocar em seu colo. “Ouça,” sussurra no meu ouvido, enviando
arrepios pela minha espinha. “Você precisa ficar louca. Ficar braba
com isso.”

“Estou.” Sussurro e olho para baixo em suas mãos segurando


as minhas.

“Você não está.” Seu fôlego quente faz cócegas no meu ouvido
e leva tudo em mim para não mover. “Você está desistindo. Sei a
diferença.”

Abro as mãos e sinto os dedos contra a minha palma. “Não


estou.” Nunca fui sensível, mas por alguma razão, gosto quando me
toca. Não sou assim. Talvez precise sentir algo diferente do vazio e
do desespero. Voltar a senti desde que ouvi meu diagnóstico.

“Preciso que você fique chateada.”

“Bruno.” Digo suavemente e finalmente olho para ele confusa.

“Sim?”

“Por quê?”

“O que você quer dizer?”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Alcançando-o, aproveito a oportunidade para correr meus
dedos através de sua barba, desejando poder sentir a suavidade de
sua bochecha. “Por que você se importa?”

Suspira, mas mantém seu controle sobre mim. “Tenho uma


confissão.” Faz uma pausa, seguro meu fôlego por medo. “Sempre
gostei de você.”

O quê? O Bruno gosta de mim?

Nunca imaginei isso. Mesmo em nossas breves conversas,


nunca demonstrou. “Você gosta?”

“Sim. Então quero que você fique louca e brigue.”

Hã. Estou sentada em seu colo, envolta em seus braços, e em


completo choque. “OK.” Sussurro, sem saber o que mais dizer e
incapaz de falar mais alto.

Ele engole em seco, o som tão perto do meu ouvido que posso
ouvir o seu desconforto. “Quando Rebecca apareceu no clube ontem
à noite e disse que algo estava errado com você, não hesitei. Vim com
ela imediatamente. Teria matado alguém se tivessem machucado
você.”

Levanto o rosto e encontro o seu olhar, escondo meu sorriso.


“Queria ficar sozinha. Você pode entender isso?” Balança a cabeça,
mas fica em silêncio. “Rebecca pode ser um pouco exagerada às
vezes.”

Sua risada faz todo o meu corpo tremer. “Percebi isso. É por
isso que fiz com que saísse na noite passada.”

“Mas você ficou.”

“Posso estar aqui e ainda não estar no seu rosto, Callie.”

É a minha vez de rir. “Você meio que está agora.” Embora


quisesse ficar sozinha, gosto de estar aqui.

“Você quer que eu vá?” Pergunta.

“Não.” Disse, e o assusto, tanto quanto a mim também.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Ele vira meu corpo para que possa descansar contra ele. “Qual
o tipo de câncer?”

Minha mão encontra o caminho para seus cabelos e enrolo


algumas mechas em torno do meu dedo.

“Leucemia.”

Seu abraço aperta em torno de mim. Ouço o grunhido que


tenta esconder como o dia.

“O que os médicos disseram?”

Médicos mentem. Sei disso. Estive no campo tempo suficiente


para não acreditar nas palavras. Nunca querem que um paciente
desista. Obtendo-lhes para dizer quanto tempo você tem que viver é
ainda mais difícil. Querem que os pacientes continuem lutando.

“É tratável.”

Afinal, o que isso quer dizer? Sei o que isso significa para
outras pessoas, mas também estou perto da doença. O conhecimento
nem sempre é poder. Às vezes, significa saber o que você deseja não
fazer. É cruel. Eu sei demais, e isso me paralisa.

“Então, nós lutaremos.”

“Nós?” Enterro meu rosto em sua camisa porque quero sentir


o calor de sua pele contra o meu rosto como a luz do sol em um dia
quente de verão.

“Confessei que quero você. Não há nenhuma maneira que estar


voltando atrás agora. Nós vamos lutar juntos.”

Que estranho. De repente, sou parte de um nós e não apenas


eu.

Estremeço e me sinto estranhamente desconfortável. “Hum,


não acho que funciona assim, Bruno.” Quando termino seguro
minha respiração e espero por sua resposta.

“Não.” Beija o topo da minha cabeça e ajusta o nosso corpo


novamente para que o seu encoste contra a cabeceira.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Devo ter medo? Este é Bruno, afinal. “Eu não sou sua.”
Defendo.

“Você é.”

“Que diabos? Está delirando?” Não sou Bruno.

Sua mão acaricia minha coxa, e me arrepio com o contato fora


da luxúria e apreensão. “Sim, é.” Ele me diz. Mesmo que seja legal,
não quero que ninguém me diga que sou basicamente sua
propriedade.

“Bruno.” Aviso, a raiva crescendo dentro de mim. Como perdi


todo o controle da minha vida rapidamente?

“Shh.” Puxa-me mais apertada contra ele.

É isso aí. Já tive o suficiente. Sento-me, de frente para ele, e


bato em seu peito. “Foda-se, saia!”

“Não.” Ele mantém a calma e não recua diante do impacto.

“Sim.” Grito e bato novamente. “Vá!”

Ele olha para minha mão. Lágrimas picam meus olhos e o bato
novamente e novamente.

Cada vez um pouco mais forte até que estou gritando e batendo
nele. Bruno apenas senta-se lá, tomando tudo sem uma palavra.

Minhas exigências para que ele saia se transformam, e


tornam-se mais sobre minha vida e menos sobre ele. Minha raiva se
manifesta e muda de direção. Estou batendo nele, mas estou
amaldiçoando a Deus por me ter dado está terrível doença.

“Por que eu?” Grito e soco o seu peito com todas as minhas
forças. “Eu não mereço isso.”

“Será que alguém merece?” Pergunta e coloca as mãos ao seu


lado, deixando-me bater nele.

Posso ter sido materialista e um pouco preocupada com coisas


que não são duráveis. Mas nunca esperei que isso se tornasse minha

ENSHRINE
Chelle Bliss
vida. Superei em meu trabalho. Tentei encontrar maneiras de curar
as pessoas, fazer a doença desaparecer, mas não foi o suficiente.

“Câncer de merda! Foda-se tudo!” Se tivesse mais energia, iria


bater-lhe algumas vezes, mas meus braços começam a se sentir
como geleia. Explodo em lágrimas, soluçando descontroladamente
até que desabo sobre ele.

“Shh,” sussurra e começa a esfregar minhas costas em


movimentos circulares. “Deixe sair.”

“Por quê?” Choro em sua camisa, minhas orelhas pulsando do


tom da minha voz. “Por que comigo?”

“Não importa. Você vai lutar contra isso e você vai vencer Cal.”

Desejo acreditar em suas palavras. Mais do que qualquer coisa


no mundo, quero acreditar, mas não posso. Ainda não estou lá. Não
posso ver através da escuridão e visualizar algo além da morte, me
esperando, me perseguindo até que desista.

Ele acaricia meus cabelos e esfrega minhas costas enquanto


soluço em sua camiseta, murmurando algo sobre a escuridão. Ouço
a batida constante de seu coração até meus olhos ficarem pesados e
eu não poder lutar mais.

ENSHRINE
Chelle Bliss
6
ATENÇÃO

“VOCÊ DEVE ESTAR DOIDA.” Rebecca caminha em volta da


minha sala de estar. Aguardo esperando por ela começar a arrancar
os cabelos.

“Eu não estou.” Digo e pego meu esmalte de unha, tentando


não olhá-la porque posso estourar na risada.

“Cal.” Para na minha frente e bate o pé. “Ele é perigoso.” Insiste


quando cruza os braços.

Rolo meus olhos e suspiro. “Você o trouxe aqui. Fez dele parte
disso, Bec. Além disso, na outra noite você queria que eu o fodesse.”

Ela aperta seus longos cabelos loiros e fica com um olhar


selvagem em seu rosto. “Eu não esperava que ele se tornasse seu
namorado. Você não pode gostar dele.”

Minha boca se abre e a olho. “Por quê?” Rebecca sempre foi à


excessivamente cautelosa em nossa amizade, mas ela começou esta
merda.

Ela joga os braços para cima e os acena no ar como uma


lunática. “Hum, Bruno ‘O carniceiro’. Lembra alguma coisa?”

“São mentiras, Bec.”

Ela começa a andar de novo, de um lado para outro através da


sala, seus calcanhares clicando no chão de madeira. “Não, elas não
são. Sei que você está passando por uma merda agora, mas você não
pode negar quem ele é.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Você não teve nenhum problema deixando-me aqui com ele
na noite passada.” Atiro de volta com um sorriso de merda.

“Ele me obrigou.”

“Ele não fez você fazer nada. Você me abandonou e me deixou


sozinha com ele.”

“Você acha que eu a abandonaria?

“Você fez.”

“Escute.” Senta-se ao meu lado e segura minhas mãos. “Saí


porque ele disse que precisava ficar sozinha e que cuidaria de você.
Sabe como ele é. Todo mundo tem medo dele, Cal, até eu. O que
deveria fazer? Jogá-lo para fora?”

“Se ele é tão assustador, por que você o chamou em primeiro


lugar?”

“Quando você não atendeu a porta, entrei em pânico. Ele foi a


primeira pessoa que apareceu em minha mente que estaria disposto
a quebrar a lei.”

Sorrio e me levanto, deixando suas mãos caírem em seu colo.


“Eu deveria ter chutado sua bunda?”

Sua cabeça empurra para trás com minhas palavras. “Não.”

“Você não me quer perto dele porque é perigoso, mas você o


traz para o meu apartamento para me salvar.”

“Sim.”

Coloco minhas mãos em meus quadris e a encaro. “Você é a


louca aqui, não eu.”

“Apenas fique longe dele.”

“Claro, mamãe.”

Ela pula e vem em minha direção. “Ele não é um homem com


quem se brinca. Bruno não é o tipo para brincadeiras.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Minha mão voa para minha bochecha, batendo em mim em vez
dela. “Aprecio sua preocupação, Bec, mas não conhece Bruno.”

“Nem você.” Me analisa. Pode estar propensa a reagir


exageradamente, mas raramente fica com raiva de mim.

“Sei o suficiente sobre ele. Você não viu a maneira como me


tratou.”

“Há um milhão de caras lá fora, que fariam o mesmo. Eu faria


o mesmo.”

“Não o deixe entrar novamente.” Exige e bate o pé, colocando


a lei.

“OK. Prometo.” Digo, cruzando meus dedos atrás das minhas


costas porque o deixarei entrar novamente. Ele não me fez nada
louco da maneira como ela parece estar no momento.

“Bom. Ouvi histórias sobre ele que fariam você fazer xixi nas
calças.”

“Você sabe o que é mais assustador do que o Bruno?”


Pergunto, querendo mudar de assunto e chegar à verdadeira questão
à mão.

“O que?”

“Câncer.”

Quando você está olhando para o cano de uma espingarda e


sabe que a esperança está perdida, é difícil se assustar com as
pequenas coisas. Bruno pode não ser pequeno, mas é algo que posso
ver, tocar e provar. O câncer está aguardando seu tempo
silenciosamente, esperando para me levar.

“Eu sei.” Sussurra antes de começar a chorar. “Não posso te


perder. Você é minha melhor amiga.”

Veja, até Rebecca me matou em sua cabeça. Estar perto dela


não ajuda no departamento de positividade, isso é certo.

ENSHRINE
Chelle Bliss
É por isso que prefiro a companhia de Bruno ao da minha
melhor amiga. Ela é muito emotiva. Preciso de algo sólido, alguém
duro, sem remorso, e não preocupado consigo mesmo. Estou muito
preocupada com a minha vida para ter que confortá-la sobre o meu
problema.

“Estou cansada, Bec. Você pode me deixar descansar?” Faço


que bocejo e espero ela pegar a dica.

Ela balança a cabeça e envolve seus braços em volta de mim


amorosamente. “Não me ignore mais. Ligue mais tarde e voltarei.”
Aceno e esfrego suas costas para confortá-la, mas não ligarei. Ela é
a última pessoa que preciso esta noite. Preciso de Bruno. O queria
aqui.

O perigo não me assusta. Minha vida já está em perigo por


causa de um inimigo interno. Bruno não é nada comparado ao
câncer.

QUANDO ELA SAI, NÃO A CHAMO, SUBO NA BANHEIRA E


SINTONIZO TUDO. Não consigo fechar o medo, mas posso pensar
sem ouvir as vozes de todos na minha cabeça.

Bruno está certo. Preciso ficar chateada. Não recuo de uma


luta. Isso é como cada outra coisa que tive que agarrar em meu
caminho para obter, mas esta será a mais importante batalha da
minha vida.

Esta manhã encontrei o cartão da consulta no meu balcão.


Tenho uma reunião com a equipe de oncologia do Hospital
Universitário para decidir o caminho certo para o tratamento para
me dar a melhor chance de sobrevivência em longo prazo. Coloco o
dedo sob a torneira e deixo os riachos de água escorrer pelo meu pé.

Eu quero viver. Ter minha vida. Quero tudo o que tinha antes
e muito mais.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Uma batida na porta me puxa de meus pensamentos. A voz de
Bruno ecoa no apartamento. “Callie!” Grita quando sua batida se
transforma em batidas rápidas.

“Callie.” Agarro uma toalha do balcão, levanto e a envolvo em


meu corpo.

Sem me preocupar em secar, vou direto para a porta antes que


a derrube. Antes de alcançar a porta, a fechadura começa a clicar e
a maçaneta da porta vira e seus olhos se arregalam, provavelmente
correspondendo aos meus, quando ele entra.

“Você acabou de estragar a minha fechadura?” Pergunto e


ajusto minha toalha, tentando envolvê-la mais apertada, mas dando-
lhe um pouco de acesso no processo.

Pelo amor de Deus.

Seus olhos mergulham para onde minha toalha acaba de abrir


antes de retornarem aos meus com um brilho. “Eu fiz. Vim preparado
desta vez.”

“Você não quebrou no outro dia?”

“Sim.” Balança a cabeça e fecha a porta. “Um amigo a


consertou enquanto você dormia.”

Não ouvi nada. Devo ter ficado apagada mais tempo do que
pensei. Geralmente escuto, mas naquela noite, o mundo poderia
acabar e teria dormido através dele.

“Obrigada.” Deveria ter tido mais perguntas, mas não importa


agora. “O que está fazendo aqui?”

Olha ao redor da sala e passa a mão pelos cabelos,


bagunçando-o. “Pensei que poderíamos passar algum tempo juntos.
Precisava ver você.”

“Estou bem.”

Um pequeno sorriso surge em seu rosto enquanto percorre o


meu corpo. “Posso ver isso.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Sorrio e pergunto-me como pareço através de seus olhos. Meus
cabelos estão pingando no chão formando uma poça perto de meus
pés, estou parada aqui e nua, envolvida em uma toalha. “Você está
flertando comigo?”

“E se estiver?” Pergunta, arqueando uma sobrancelha e me


dando um sorriso maior.

“Estou bem com isso.”

Aproxima-se e prendo minha respiração. “Tudo bem?”

Ele não está no seu típico guarda-roupa preto, e o resultado


parece ótimo. Está com calça preta com listas brancas e pretas ao
lado, com uma camiseta branca. Seus músculos salientes embaixo
da camisa, esforçando-se para libertar-se do material e o desejo de
atenção. É uma distração bem-vinda. Quanto mais penso nisso,
quando está comigo, raramente sinto o pânico que tenho quando
estou sozinha. Talvez suas maneiras calmas me mantenham
aterrada e forte. De qualquer maneira, sei que gosto.

“Gostaria que você pudesse se ver agora mesmo.”

Pisco algumas vezes, pega desprevenida, e arrasto meus olhos


para os dele. “Acho que não.”

“Sua pele está brilhando na luz e é a sombra mais pálida do


rosa. Você parece impressionante.”

Quero protestar. Sinto-me como uma merda, e muito


provavelmente, pareço também. Mas, apenas digo “Obrigada. Você
está muito bem.” Ele caminha em minha direção, olhos colados aos
meus, e estende os braços. Pisco algumas vezes e me pergunto se
estou vendo coisas. Quando percebo que ele está esperando, corro
na sua direção.

Aconchego-me em seu peito e o abraço bem apertado.

Minha pele arrepia quando o sinto acariciar minha nuca.


“Posso fazer alguma coisa por você?” Pergunta, com o rosto em meus
cabelos.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Afasto-me para encontrar seu rosto. Bruno apenas torna tudo
melhor.

Ele me faz sentir normal mesmo sabendo que nada está.


“Faça-me esquecer por algumas horas.”

Suas mãos deslizam para o lado do meu pescoço antes de


segurar meu rosto em suas mãos. Os olhos que tinham sido tão
assustadores, agora mostram o seu desejo. E percebo que estão mais
escuros. “Isso posso fazer, querida.”

Como antes, me pega em seus braços e caminha para o quarto,


salpicando meu rosto com beijos, enquanto anda. Não tenho
qualquer temor, não me preocupa se estou prestes a dormir com um
homem que todos temem.

Quando me coloca na cama e me abraça, não sinto nada, além


de paz.

Tudo desaparece, exceto, pelo seu peso em meu corpo e pela


sensação de seus lábios nos meus. Sua boca me toca com ternura,
quase como se fosse me quebrar. Mas, não quero ternura. Não desejo
lembrar quão frágil sou. Quero-o como imagino que ele é, bruto.

“Bruno.” Chamo gemendo entre os beijos. “Não seja gentil.”

“Sei o que precisa.” Coloca sua boca sobre a minha


impedindo-me de falar mais. Não quero falar. Preciso sentir.

Qualquer coisa.

Alguma coisa.

Tudo.

Ele se senta para tirar a camisa e perco-me no seu calor. Como


uma adolescente, festejo seu físico e assisto cada movimento do
músculo quando seu corpo se contorce enquanto puxa a camisa
sobre sua cabeça. Santa foda. O homem parecia grande antes, mas
nesta posição, parece enorme. Seus ombros largos parecem que vão
de uma ponta a outra da minha cama Queen Size. Sinto-me

ENSHRINE
Chelle Bliss
minúscula em sua sombra em cascata sobre a cama quando bloqueia
a luz em cima de mim.

Enquanto, examino seu peito, completamente admirada pelo


seu tamanho e dureza, puxa as bordas da minha toalha me fazendo
suspirar. O ar fresco atinge meus seios e meus mamilos
imediatamente endurecem. Não me movo para me cobrir, mas
mantenho meus olhos fixados no seu abdômen e minhas mãos
descansando em suas pernas.

Sempre o imaginei com tatuagens embaixo de suas roupas,


mas sua pele é impecável e intocada. Possivelmente, tem em suas
costas e nesta posição não posso ver, mas é apenas outra maneira
que me surpreendeu.

Deita-se sobre mim, seu peito nu, e me beija mais


profundamente do que antes. Quero tirar suas calças, e ver o que
está embaixo. Estar com um homem como Bruno, a primeira vez, é
como desembrulhar um presente de natal. Quero saber qual é o meu
presente, e espero não ser como abrir uma caixa de meias. Não
consigo imaginar. Ele é a perfeição.

Minhas mãos encontram o caminho para suas costas, e


gentilmente corro meus dedos para cima e para baixo em suas
costas, sentindo sua pele embaixo. Ele grunhiu em aprovação, o que
me fez beijá-lo mais duro e cavar minhas unhas um pouco mais
profundas.

Apenas quando estou a ponto de lamentar sobre ser demasiado


gentil, desliza seus dedos e começa a traçar círculos pelo meu
estômago. Fecho meus olhos e deixo a sensação preencher todos os
meus pensamentos quando encontram o seu caminho para o meu
monte suave. Observa-me, e através dos meus olhos semicerrados,
posso ver o seu sorriso.

“O quê?” Pergunto e tento não me contorcer sob seu toque.

Seus olhos seguem o mesmo caminho que suas mãos


acabaram de fazer e para na minha nudez.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Nada.”

“Uh-huh,” murmuro e sinto minhas bochechas corarem.

Tento mover minhas mãos para me cobrir. “Não.” Exige e


empurra minhas mãos.

Vejo o fogo em seus olhos e sei exatamente o que ele quer. Eu.
Já não sinto que preciso esconder meu corpo, e coloco minhas mãos
na cama ao meu lado, dando-lhe uma vista do meu corpo. Observo
seu rosto, particularmente seus lábios, enquanto examina meu
corpo. A língua passa pelo seu lábio inferior. Quero arrebatá-lo entre
os meus dentes e prová-lo novamente.

Antes que possa fazer exatamente isso, inclina-se para frente


e fecha a boca sobre meu mamilo.

Minhas costas levantam da cama, saboreando o calor que sua


boca pode dar e desejando mais.

Um homem como Bruno, não é preciso muito, e o jeito que me


faz sentir não precisa de muitas preliminares. Sua mão desliza entre
minhas pernas e encontra minha umidade.

Em outra hora ou lugar poderia ter ficado envergonhada, mas


agora, não me importo. Estar perto dele é suficiente para me excitar.
Não ajuda que tenha sido um longo tempo desde que estive com
alguém sexualmente.

Meus dedos cravam em seus cabelos antes que empurre seu


dedo dentro de mim. “Jesus.” Murmura com meu mamilo entre os
dentes. “Por que você não me disse que queria também, Cal?”

É um pouco engraçado e embaraçoso, mas meu corpo não


mente. Iria rir, exceto pelo seu dedo estar fazendo merda malvada
para mim.

Limpo minha mente e foco em sua boca e dedos enquanto


tocam meu corpo, trazendo-me mais prazer do que jamais imaginei.
Meus dedos do pé ondulam com cada impulso de sua mão, e meu
corpo segue o dele quando retira os dedos. Persigo o orgasmo que

ENSHRINE
Chelle Bliss
anseio tanto, mas não consigo chegar lá. Minhas coxas queimam e
minhas panturrilhas começam a se apoderar, mas ainda nada, não
importa o quanto tente. Toda vez que chego perto o suficiente, posso
quase sentir o gosto, ele muda de ritmo e me joga fora.

“Porra.” Assobio e tremo.

Levanta a cabeça e enrola os dedos dentro de mim. “Pare de


pensar tanto e vou deixar você gozar.”

Leva tudo o que tenho para não lhe dar um tapa. Todo o tempo
que estive perseguindo, tinha me negado. Suspiro antes de apertar
minha mandíbula e tentar afrouxar meu corpo, dando-lhe o controle.

Seus dedos começam a se mover novamente, e fecho meus


olhos e sinto cada ponto que ele traça. Lentamente puxa os dedos
antes de empurrar rapidamente dentro de mim. Os movimentos do
polegar em meu clitóris cada vez, enviando pequenas ondas de
choque através do meu sistema trazendo-me de volta à borda
rapidamente.

O orgasmo se constrói meus dedos do pé enrolam e meus


músculos vibram. Respiro com dificuldade, minha pele brilha com o
suor, e todo o meu ser começa a tremer.

Estou quase lá, meus olhos começam a rolar para trás por
conta própria e, em seguida, ele para. Somente fodidamente para.

Meus olhos se abrem e estou prestes a gritar quando a cama


afunda e ele está em seus pés em um movimento, descartando suas
calças. Cada palavra sentada na minha língua desaparece. Santa
mãe de tudo o que é sagrado. Bruno está pendurado como um
maldito cavalo.

Espere, não, como um garanhão.

“Quando você gozar...” diz, chutando suas calças atrás dele


antes de subir na cama, “Vai ser no meu pau.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Bem, tudo bem. Quem sou eu para discutir com essa
afirmação? “Não acho...” Gesticulo e aponto para o seu pau bem
proporcionado e bem decorado. “...que vai caber.”

“Você só precisa relaxar, carinho.” Ajeita-se entre minhas


pernas, acariciando seu pênis. “Irei fazer você sentir merda que você
nunca pensou ser possível.”

Acredito nele também. Nunca encontrei um pênis que não


tenha gostado. Sou uma das meninas afortunadas. Sabe aquela
menina que pode gozar com sexo ou sozinha. Sim, sou eu.

Nunca tive um problema para gozar. Bruno tem circunferência


suficiente e comprimento perfeito para acertar cada ponto dentro de
mim.

“Você sabe como usá-lo, no entanto?” Pergunto, querendo


provocá-lo sobre seu pau de tamanho incomum.

“Você me diz.” Esfrega a ponta contra a minha abertura.

“Preservativo.” Sufoco, a sensação esmagadora. Estou com


medo que ele vá me partir em dois, mais do que qualquer medo de
uma doença. Não pode me dar nada pior do que já tenho, mas sei
que provavelmente abateu metade da população feminina da cidade.

“Você quer ser papai?”

“Não, mas não posso acreditar que você pensaria que iria foder
sem um.” Agita a cabeça e franze a testa.

“Onde está?” Examino ao redor, mas não vejo um, e com


certeza como o inferno não o vi deslizar sobre o seu monstro.

“Está na minha mão, Cal. Apenas gostaria de sentir seu calor


antes de enjaular a fera.”

Mordo meu lábio e seguro meu riso. A fera. É o apelido perfeito


para ele e seu pau também. Depois de alguns golpes rápidos através
da minha umidade, senta-se sobre seus calcanhares e rasga o pacote
antes de deslizar sobre ele.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Estou hipnotizada e incapaz de olhar em qualquer lugar,
exceto direto em seu pau. Bruno torna a coisa mais erótica que já vi.
A forma como segura o eixo em sua mão e trabalha o látex sobre a
ponta é sexy como um inferno.

Quando termina de colocá-lo, mexe o pau em suas mãos e sei


que ele me pegou olhando fixamente. Sorrio, enquanto vem em
minha direção, e tento me afastar para escapar do monstro. Antes
que possa ficar mesmo a poucos centímetros de distância, ele me
pega pelos pés e me puxa para ele. Não tenho outro recurso senão
tomar o que pedi e o que planeja me dar. O simples pensamento do
que possa fazer para mim tem a minha boca cheia e meu interior
vibra com antecipação.

Ele se inclina para frente, descansando seu peso em um braço,


e não consigo evitar olhar com temor. Faço muito isso com ele.
Agarro em seu braço quando seus músculos se aproximam, mas eles
mantêm firmes e apoia seu corpo. Com sua mão livre, corre ao longo
da minha umidade e captura tanto quanto possível antes de começar
a empurrar seu pau dentro.

Grito, em parte por causa do desconforto, mas principalmente


de prazer, e estou pronta para dizer-lhe que pare quando seus lábios
encontram os meus e me distrai. Abafa meus gemidos com sua
língua, e puxo seu rosto para mim e enterro minhas mãos em seus
cabelos mais uma vez.

O jeito que seu pau me estira, me pergunto se fui rasgada ao


meio, mas quando puxa para fora e empurra para dentro sem tanta
resistência, a dor e o medo desaparecem.

Gostaria de ter uma maldita câmera de vídeo no meu teto para


capturar o momento porque é apenas mágico. Quero ver como seus
quadris se movem quando empurra. Seu traseiro apertando com
cada movimento.

Deus, tem que ser uma coisa bela.

Seu braço leva meu joelho por trás, e o aproxima do meu peito
sem qualquer resistência minha. Posso senti-lo deslizar mais

ENSHRINE
Chelle Bliss
profundo e arqueio minhas costas sentido mais fundo. Quando ele
puxa para fora, torce ligeiramente, enviando seu pau para cima e
direto em meu ponto G. Vejo estrelas e minha respiração engata.
Minha cabeça gira e o ar desaparece dos meus pulmões com cada
passagem do monstro contra o meu mais sensível.

Tudo dentro de mim enrola, junto com meus dedos do pé. Meu
corpo treme, empalado e debaixo dele, completamente à sua mercê.
Meu corpo persegue o seu com cada movimento, nunca querendo
que termine.

Ele grunhi, batendo em mim, e agarro os lençóis para segurar


algo, qualquer coisa. Cada impulso de seu pau é afiado e satisfatório.
A cama range e minha cabeça se aproxima cada vez mais da
cabeceira. Se sobreviver à sua porra, provavelmente vou desmaiar do
trauma na cabeça, mas pelo menos será uma memória feliz.

Não consigo parar. O orgasmo rasteja até minha espinha, e


apodera-se de tudo dentro de mim.

O jeito como me admira, a felicidade em seu rosto é demais


para suportar, e fecho meus olhos para evitar seu olhar. Cravando
minha cabeça no travesseiro, tenho o mais incrível orgasmo da
minha vida.

Ele não para ou recua quando clamo presa pelo êxtase. Esse
não é o estilo de Bruno. Pega o ritmo e empurra mais para o ponto
que não consigo respirar e meus gritos de paixão tornam-se
silenciosos. Abaixo incapaz de controlar meu corpo, e sinto cada
movimento enquanto tento encher meus pulmões com ar, mas falho.

Mesmo quando começa a diminuir os tremores, continua


implacável em sua perseguição. Dentro de segundos, outro orgasmo
constrói e temo que este possa me arruinar para sempre nunca um
homem me deu mais do que um sem algum descanso, mas na
verdade, Bruno, não pode ser como qualquer outra pessoa. Não é
seu estilo.

Meu corpo age por conta própria quando o segundo e mais


intenso orgasmo me rasga. Assim que estou prestes a chegar ao topo,

ENSHRINE
Chelle Bliss
Bruno segue, resmungando o mais gutural e feral barulho que já
ouvi.

Mas não respondo, estou muito perdida no sentimento dele


dentro de mim, quase me esmagando com seu peso enquanto goza,
e desfrutando cada minuto.

Deita-se com todo o seu peso em cima de mim antes de se


empurrar para cima e pairar sobre mim. Sua tensão nos braços e
cada veia ao longo de sua pele aparecem para a vida como se
estivessem tentando me alcançar.

A sua expressão é demais para mim. Tento olhar para ele, mas
não consigo. Realmente, tento, mas algo acontece que não posso
mais negar. Percebo que gosto dele.

Tipo, realmente gosto dele.

Incapaz de suportar o calor em seus olhos, ou perdê-lo.


Lágrimas escorrem pelas minhas bochechas e não posso pará-las.
Meus lábios tremem e meus olhos queimam com cada lágrima
caindo. Debaixo dele, da mesma forma quando batia em seu peito.
Não apenas choro; Soluços saem da minha garganta.

Por que tenho que perceber que gosto dele agora? Por que,
quando estou enfrentando minha morte eu entendo? Não é justo.

Eu sei que tenho câncer. Também sei que Bruno não é o


homem que todo mundo pensa que ele é e sempre achei que fosse.
Ele é algo mais, alguém maior e mais gentil do que já pensei possível.

Mais importante ainda, me faz esquecer por um tempo que


estou prestes a ter a luta da minha vida, e pela minha vida. Só ele
me faz querer viver. Quero sobreviver.

Sei que nesse momento quero ser de Bruno. Se quiser torná-


lo realidade, tenho que fazer tudo ao meu alcance para vencer uma
doença contra qual me sinto impotente.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Segura-me, enquanto choro, sem se preocupar em me
convencer. Através das lágrimas, posso ver o olhar de confusão e
preocupação em seu rosto, mas não posso me explicar.

Ele repete. “Shh. Vai ficar tudo bem.” Suas palavras são para
me consolar, mas elas fazem com que chore mais.

Nada vai ficar bem novamente.

Quando não resta mais lágrimas, desmaio contra seu peito. O


calor do seu corpo e o som do seu coração batendo me acalma para
dormir com pensamentos de como não quero dizer adeus.

TENHO MEDO DE ENCONTRAR SEU ROSTO QUANDO ABRO


MEUS OLHOS. MEU ROSTO INCHADO DA FESTA E DE
AUTOPIEDADE depois que ele me deu a melhor foda da minha vida.
Você está uma bagunça, Cal. Ele provavelmente pensa que sou
louca, e talvez seja. Quem faz isso? Quem tem dois orgasmos
surpreendentes e, em seguida, chora como um bebê?

Mesmo que esteja olhando para o teto, sei que está me


encarando, e não posso retirar o silêncio constrangedor por causas
do meu colapso anterior. “Sinto muito.” Digo e fecho os olhos pela
vergonha.

Ele estende a mão e toca ternamente minha bochecha. “Não


sinta.”

Ainda não consigo olhar para ele e me concentro no ventilador


de teto girando lentamente acima de nós. “Não queria chorar.”

“Acontece o tempo todo.” brinca.

Viro na sua direção com minhas sobrancelhas juntas e faço


uma careta. Tenho certeza de que, das centenas de garotas com
quem ele esteve alguém tem que ser mais doida do que eu. “Não?”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Balança a cabeça, sorrindo docemente e acariciando minha
bochecha. “Sim. A maioria das mulheres chora depois que fodo cada
centímetros de suas vidas.”

“Elas fazem?” Minha boca se abre e meus olhos se arregalam


em horror.

“Não, Callie. Elas não fazem.”

Cruzo os braços e com a mão gesticulo foda com minha mente.


“Você é um idiota.”

A cama treme enquanto ele ri as minhas custas, divertindo-se


enquanto tira o poder da minha raiva. “Mas está tudo bem. Entendi.
Você está lidando com muita merda agora.”

Estou lidando com mais merda do que quero explicar. Não


posso dizer-lhe que parte de minhas lágrimas são sobre ele. Bruno é
Bruno. Mesmo que saiba que tem um lado doce, também sei que ele
é um homem infame. Todo mundo sabe disso. Sei disso também. Ele
é o tipo de homem ‘sabor do dia’.

Ele só sente pena de mim porque tenho câncer. Talvez se


lembre de sua irmã e a luta que passaram. Preciso lembrar que a
batalha é com a minha doença e não com a tentativa de conquistá-
lo.

ENSHRINE
Chelle Bliss
7
ESTÁGIO 3 - NEGOCIAÇÃO

É segunda-feira e estou sentada na sala de espera no


consultório médico. Decido começar a ter um cara a cara com Deus
apenas no caso de haver um. Faz muito tempo que deixei de
acreditar, mas o medo da morte me faz desejar algo mais. Se você
pode me ouvir lá em cima, talvez você possa me poupar. Farei o que
quiser. Irei à igreja todos os domingos. Vou dar a caridade em vez de
comprar os meus sapatos favoritos. Nunca mais vou fazer sexo
novamente. Estremeço com minha estupidez. Mas neste momento,
acho que qualquer coisa vale a pena.

“Senhora, Gentile.” Uma mulher chama da entrada e tem


minha atenção.

Levanto-me e ando com pés pesados em direção a ela, temendo


a próxima hora da minha vida. Sinto-me marchando para o corredor
da morte para a câmara de gás. Como se, no final do corredor, tudo
o que sei pode desaparecer antes que meus olhos e vida deixem de
existir.

A enfermeira me deixa sozinha e promete que o médico vai me


ver em breve. Caminho ao redor da sala e leio cada cartaz, tentando
manter minha mente ocupada enquanto espero. Verifico o meu
celular quatro vezes depois que fico sem material de leitura.

É a quinta vez que verifico a tela, há uma mensagem de Bruno.

Bruno: Ei, linda. Estou pensando em você.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Não consigo parar meu sorriso. O homem traz esse lado em
mim. Escrevo uma mensagem, leio para mim, e depois apago. O que
posso dizer a ele?

Quando saiu na manhã seguinte ao meu colapso, não consegui


encontrar as palavras certas para disse-lhe, o ignorei e tentei me
manter ocupada e esquecê-lo. Falhei, é claro.

Era capaz de ignorá-lo e resistir ao desejo de chamá-lo e lhe


pedir para vir, mas a manutenção tornou-se um problema. Não
consigo manter minha mente fora do fato de estar doente o suficiente
para me concentrar em qualquer outra coisa.

Sinto-me perfeitamente bem, isso é estranho. Não estou muito


cansada. Não mais que alguém da minha idade que trabalha longas
horas. Não tenho nenhum dos típicos sintomas. Estaria mentindo se
não admitisse que ainda me agarro a um pequeno vislumbre de
esperança que o Dr. Craig esteja errado em relação ao meu
diagnóstico.

Assim que envio a mensagem com uma figura de rosto


sorridente porque as palavras simplesmente não parecem certas, o
médico entra na sala e toda a felicidade se evapora.

“Senhora Gentile sou o Dr. Snyder.” O homem no jaleco


perfeitamente pressionado estende sua mão para mim, e a pego só
porque não quero ser uma idiota.

“Oi.”

O que mais há a dizer? Não estou aqui para uma visita


agradável. Só quero que corte toda embromação e me diga se estou
indo viver ou morrer. Minha vida está pendurada no equilíbrio, e não
preciso discutir o tempo ou qualquer dessas besteiras. A única coisa
que importa é se posso ser curada.

Ele se senta e começa a folhear meu arquivo, estudando cada


página com indiferença e me ignorando. Tento ler sua expressão
facial e descobrir o que está prestes a dizer, mas não tenho nada.
Sento-me no topo da mesa de exame estéril, torcendo minhas mãos

ENSHRINE
Chelle Bliss
no meu colo e balanço minhas pernas para frente e para trás para
me livrar da energia nervosa.

Rebecca implorou para vir comigo, mas disse que não. Não
poderia trazê-la. Não quero alguém ao meu redor quando ouço as
notícias. Preciso ser capaz de gritar, chorar ou cair sem ninguém que
conheça veja, especialmente Bec.

Ele fecha a pasta e desliza a cadeira mais perto de mim antes


de apertar suas mãos em seu colo e olhar para mim com uma
expressão séria em seu rosto. “Revisei todos os testes e posso
confirmar que é leucemia aguda. Baseado nas recomendações da
minha equipe elaboramos um plano de tratamento que lhe dará a
maior chance de sobrevivência.”

As pessoas sempre dizem que as palavras de quatro letras são


as mais ofensivas, mas na realidade, há coisas piores que você pode
ouvir. Sobrevivência é uma delas. Não é que não queira sobreviver;
quero, mas não com esse rótulo para sempre.

Sobrevivência significa lutar, e não sei se tenho isso em mim.


Sou forte, mas não quero ter que lutar contra um inimigo invisível.
Vai ser exaustivo, e não serei a mesma pessoa que era semanas
atrás. Sempre serei Callie “Sobrevivente” Gentile.

“Ok.” Engulo a bílis que começou a subir na minha garganta.

“Você ainda está nos estágios iniciais. Não apresenta nenhum


sintoma porque não chegou ao estágio que causaria os sintomas.
Tem muita sorte de ter sido detectado cedo.”

Sorte? Como pode dizer uma coisa tão absurda? A única


maneira que eu teria sorte é se o laboratório cometesse um erro e
não o tivesse de todo. Dizer que tenho sorte porque foi pego cedo é
como dizer, “Você tem sorte que só tivemos que tomar metade da sua
perna e não ela inteira para um amputado.”

Sinto lágrimas ameaçando, mas as empurro de lado e enrugo


o meu nariz. “Então, agora o quê?”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Primeiro, vamos fazer leucaférese e depois uma sessão de
quimioterapia. Se houver células leucêmicas na sua medula óssea
após a quimioterapia e a leucaférese, vamos começar outra sessão
de quimioterapia e, possivelmente, um transplante de células-
tronco.”

Amo como os médicos falam aos pacientes como se


soubéssemos o que diabos significam. Quero dizer, compreendo por
causa do meu trabalho e estudo, mas ele não sabe disso.

Sei o que significa leucaférese. Irão drenar cada grama do meu


sangue para tentar limpar as células da leucemia, que estão em
meus glóbulos brancos, antes de colocar o sangue de volta para mim.
É uma medida temporária. Muitas vezes, é usada para ajudar o
paciente a melhor chance de remissão enquanto a quimioterapia está
fazendo seu trabalho. E por isso, quero dizer matar as células boas
e ruins dentro de mim.

“Vamos ser agressivos no seu tratamento. Você é jovem e pode


lidar com isto.”

É bom que ele sente que posso, mas não tenho tanta certeza.
“Então é isso?”

“Sim. Vamos dar um passo de cada vez. Precisamos agendá-lo


para a Leucaférese e, em seguida, iniciar a quimioterapia o mais
rápido possível. Todo dia é precioso, e o tempo é crítico.”

Trabalhar num laboratório me colocou do outro lado desta


batalha. O Dr. Snyder está na linha de frente. Gostaria de saber se
tornou imune às lutas e ansiedades que esta doença causa as
pessoas em uma base diária. A notícia, não importa como
“afortunado” para ouvir, ainda é devastador.

“Você tem alguma pergunta?” Diz, enquanto desliza sua


cadeira de volta e agarra a pasta do contador.

“Não.” Sei tudo o que preciso sobre o tratamento e minhas


chances de sobrevivência.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“A enfermeira Stockton virá em breve para discutir sua estadia
no hospital e literatura sobre o que esperar.”

“Obrigada.” A raiva amarra minha voz, e não posso esconder


isso. Não me importo. Sinto-me como uma vaca preparada para o
abate. Sou apenas mais um paciente e não um ser humano. Quando
saio da clínica médica, estou completamente entorpecida e a raiva
desapareceu.

Se conseguir cinco anos com o câncer em remissão, vou


sobreviver até a velhice, mas cinco anos é um longo tempo. Todos os
dias, vou acordar e me perguntar se ele voltou e se está lentamente
me matando. Como posso fazê-lo sem completamente enlouquecer,
bato o meu punho no chão do meu apartamento, deitando a cabeça
no chão.

Uma poça de lágrimas cresce na madeira.

Por que eu tenho que passar por isso?

É injusto.

Porque eu?

Não posso fazer isso. Não tenho a vontade ou força.

Para me deitar em uma cama de hospital, ligada a máquinas


enquanto bombeiam cada gota de sangue fora de mim e devolvem-
no ao meu corpo... Simplesmente não posso. Mesmo que faça isso,
vou ter que suportar a quimioterapia.

Os médicos fazem parecer como se fosse remédio quando é


realmente veneno. Ele mata todo o bom, o ruim, e tudo mais. Poderia
morrer, e estou fodidamente chateada com isso.

Quem se importará mesmo? Becca? Tenho alguns amigos,


mas, além dela, não tenho ninguém. Meus pais foram embora. Não
tenho família. Quem vai visitar o meu túmulo ou assistir ao meu
funeral, não deixaria nada para trás. Antes que meu corpo estivesse
frio, e a sete palmos de terra. Além de uma fabulosa coleção de
sapatos meus amigos Ravage. Não tenho ninguém.

ENSHRINE
Chelle Bliss
É melhor assim. Não quero que mais ninguém fique triste. Já
tive tristeza suficiente e medo em minha vida por um pequeno
exército.

Sou uma bagunça completa.

Posso morrer.

O pensamento me paralisa.

Eu soluço até não ter mais nada, mas ainda não consigo me
mover. Verifico o teto e tento pegar meu fôlego como um peixe
tentando respirar.

Posso ouvir meu celular tocar em minha bolsa que caiu em


algum lugar perto do sofá, mas não tenho forças para rastejar e pegá-
lo. Não quero falar com qualquer um de qualquer maneira.

Focalizando em um único ponto, deitada, rodeada pelo nada,


sou jovem para morrer. As pessoas de minha idade não deve riam;
Não é natural. Tinha que estar nos contos de fadas que viveria uma
vida longa. Sempre pensei que teria mais tempo, mas sei que não
tenho muito a esperar.

Em quarenta e oito horas, vou me internar no Hospital


Universitário para ter o sangue drenado do meu corpo, juntamente
com o bônus de meu primeiro tratamento de quimioterapia.

Preciso de mais tempo. Não estou pronta para tudo começar.

O tempo é algo que sempre tomei como certo. Nunca pensei


sobre isso. Sempre pensei que teria mais do que isso e que não
estivesse em falta. Pouco fiz até perceber o quão precioso é,
realmente até que fosse tarde demais.

Quando acordo, percebo que perdi mais tempo que nunca vai
voltar.

A morte seria como dormir? Apenas nada? Raramente sonho.


É como se não existisse enquanto durmo. É assim que vai ser quando
sucumbir ao câncer que está me matando?

ENSHRINE
Chelle Bliss
Compreendo que o processo não será como um sonho, mas
uma vez que estará tudo acabado é assim que será? Nunca acreditei
em Deus, mas por uma vez na minha vida, quero crer que existe.

Não posso acreditar que há vida e nada mais. O pensamento


me assusta. Nunca quero adormecer novamente porque me lembra
muito do que poderia vir para mim. Nada. Escuridão. Morte.

Muco seco em minha bochecha juntamente com baba que


congelou no piso de madeira, enquanto dormia. A velha Callie se foi
e a nova é uma bagunça.

Não quero sair do meu apartamento. Posso fechar o mundo


quando estou aqui. Posso fingir que nada mais existe, especialmente
o câncer.

O tique-taque do relógio na parede lembra-me uma bomba de


tempo, contando os segundos restantes da minha vida. Cubro meus
ouvidos com minhas mãos e tento abafar o som, mas falho. Quando
isso não funciona, grito até que minha garganta queime.

Por volta da meia-noite, rastejo e pego um copo de água para


acalmar o fogo queimando na minha garganta. Enquanto engulo a
água da torneira, percebo que meu celular está morto. O copo escapa
da minha mão, caindo no chão e se estilhaçando em um milhão de
pequenos pedaços perto de meus pés. Minhas pernas são incapazes
de me segurar, e meu corpo desliza para baixo do balcão. Sento-me
nos pedaços de vidro e choro um pouco mais.

Tudo que continuo pensando é, por que eu? Não é que deseje
isso a mais ninguém, mas quero entender por que tenho que ser essa
que atravessa esta batalha.

Enrolo meus joelhos até meu peito e me seguro, balançando


lentamente para frente e para trás. Fico assim por horas.

Quando o sol nasce e percebo que desperdicei um pouco mais


da mesma coisa que é preciosa e em falta, decido que é hora de lutar.

ENSHRINE
Chelle Bliss
8
ESTÁGIO 4 – DEPRESSÃO

NO DIA antes de me internar no hospital, Becca liga, mas


minto para ela. Não a quero comigo quando passar pelo meu primeiro
tratamento. Não quero ninguém aqui para ver o começo da minha
batalha pela vida.

Digo, a ela que nada vai acontecer até a próxima semana e o


médico diz que sou curável. Sei que é errado dizer isso, mas faço de
qualquer maneira.

A coisa estranha sobre o câncer é que todo mundo começa a


chorar sua passagem antes que aconteça. Inferno, choro minha
morte também. Não quero vê-la passar pelo processo. Não quero que
ninguém me veja lidar com a inevitabilidade da morte.

Ela acredita em mim e diz que vai me dar espaço, mas sei o
que significa para Rebecca, vai me ligar todos os dias. Também vou
mentir.

Bruno é uma questão completamente diferente.

Ontem, bateu na minha porta três vezes. Mais cedo, saí e me


escondi no meu carro para que não soubesse que estava em casa.
Enviei um texto e disse-lhe que estava indo para o tratamento fora
da cidade para me dar a melhor chance de sobrevivência. Era uma
mentira enorme, mas necessária.

“Alguém está aqui com você?” A enfermeira pergunta quando


verifica as máquinas pelo que parece ser a décima vez na última hora
e meu recém-instalado PICC, assim não terei que sentir como uma
almofada de alfinetes.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Não.”

Afasta-se um pouco de mim e tenta esconder sua tristeza.


“Sinto Muito.”

“Não sinta.” Respondo e fecho meus olhos. Nem quero lidar


com ela ou me explicar porque não quero ninguém perto de mim. A
ideia de ter que conversar com alguém e ser cordial seria o suficiente
para me empurrar sobre a borda. Além disso, as palavras de minha
mãe se repetem em minha cabeça, não confie em ninguém. Não estou
desistindo, mas preciso encontrar minhas forças e lidar com a
realidade antes de convidar outros a se juntarem a mim.

Meu celular toca, e sei exatamente quem é a partir do toque.


Suspiro. “Ei, Bec.”

“Como você está?” Pergunta.

“Estou bem. Apenas sentei para almoçar e ler um pouco.” Não


me sinto culpada por mentir para ela.

“Quer que eu vá ai?”

“Não. Estou bem aqui sozinha. Preciso ficar um pouco


sozinha.” Cobri o celular com minha mão para abafar os sons da
máquina enquanto drena meu sangue, apenas para evitar sua visita
e preocupação.

Ela funga no celular e faço uma careta. “Você não precisa


passar por isso sozinha.”

“Não chore querida. Estou muito bem. Irei ler e dormir cedo.
Preciso parar e reunir minhas forças para o hospital na próxima
semana.” A declaração me ganha um olhar feio da enfermeira.

“OK. Telefono amanhã, então. Mas se você precisar de alguma


coisa me ligue.

“Sim, mas tenho um milhão de coisas para fazer, então não


entre em pânico se não atender. OK?”

“Sim. Amo você, Cal.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Amo você também.” Desligo antes que possa responder.

A enfermeira balança a cabeça e murmura alguma coisa antes


de sair da sala, completamente enojada comigo. Cansei de explicar
merda para às pessoas. Eu não tenho. Esta é a minha vida, e agora,
só quero ficar sozinha. Ninguém tem o direito de me julgar, a menos
que estejam em meu lugar.

As máquinas soam sem parar e as observo, esperando algo de


errado acontecer. Devo ter adormecido porque o rosto da cadela da
enfermeira me acorda.

“Acabou.” Diz e me toca levemente no ombro, fingindo cuidar


porque vi o real dela mais cedo.

“É isso?” Eu pergunto e esfrego meus olhos.

“Sim. Vamos remover o acesso IV em um momento.”

Sinto-me como uma almofada, mas sei que só vai piorar.

“Vamos começar a primeira rodada de quimioterapia antes de


liberá-la.”

Ela queria que batesse palmas ou agradecesse a ela?


Definitivamente não vou. Deveria responder, mas a ignorei.

Lágrimas silenciosas descem pelo meu rosto e olho pela janela.


É horrível mentir sem poder fazer nada e ver a vida continuar. Isso
me lembra que mesmo depois que você se for, tudo se move.

Enquanto esperava pela quimioterapia, cochilei de tédio e


exaustão. Despertei com quinze mensagens de texto perdidas, dez de
Rebecca e cinco de Bruno.

Indo para as configurações do meu celular, desligo a função de


confirmação de leitura antes que ouse abrir as mensagens.

Bruno: Eu sei que você está fora, mas como você está?

Bruno: Callie, por favor, deixe-me saber que está bem.

Bruno: Estou preocupado.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Bruno: Se você não responder, vou ligar para Rebecca.

Bruno: Callie?

Porra. A última coisa que quero é que ligue para Rebecca. Ele
saberá que menti. Tenho certeza que ela não vai ser rápida o
suficiente para colocar dois e dois juntos e me cobrir também.

Uma nova enfermeira, graças a Deus, entra com um saco IV.


“Boa tarde!” Diz em estridente voz irritante, que irrita meus nervos.

“Oi!” E freneticamente começo a responder as mensagens de


Bruno.

Eu: Estou bem. Estava dormindo.

“Irei pegar algo para você comer antes de começar seu


tratamento.”

“Não vou ficar doente se eu comer?”

“Você provavelmente vai se sentir mal depois, mas é diferente


para todos. É importante que você comece sua nutrição agora. Vou
deixá-lo aqui e você pode lanchar durante também. Mas é importante
que coma.”

Enrugo meu nariz quando penso em comida de hospital. “Eu


não consigo comer a comida daqui.”

Ela ri e bate na minha mão, sabendo exatamente o que quero


dizer. “Sei que não é a melhor, mas quem pode estragar torradas?”

“Hospitais, tenho certeza.” Murmuro sob minha respiração e


rolo meus olhos.

“Deixe-me buscar para você.” Ela oferece e coloca a bolsa IV


no gancho antes de sair.

Aproveito o tempo para terminar minha mensagem para Bruno


e espero aliviar sua ansiedade e fazer com que me deixe sozinha por
um tempo.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Eu: Vou passar pelo tratamento e não serei capaz de falar
muito.

Ele vai acreditar nisso? Preciso lembrar que passou por isso
com sua irmã e não será tão fácil de enganar.

Bruno: Acho que é mentira.

Eu: Preciso de espaço.

Pensa que estou mentindo. Quer dizer, estou, mas não quero
que ninguém saiba até mesmo ele.

Bruno: É a última coisa que você precisa.

Eu: Não me diga o que preciso.

Estou com tanta raiva que minhas mãos começam a tremer.


Quem diabos ele pensa que é?

Sério. Transei com ele. Não me casei, e ele não tem nenhuma
palavra na minha vida.

A enfermeira entra na sala com a bandeja em suas mãos, e


escondo meu celular sob o cobertor. “Aqui vamos nós. Cheira tão
bem.” Levanta a tampa e finge cheirar fazendo um som “Mmm”. Ela
é inteiramente feliz e mentirosa. “Ótimo.”

Bruno: Já passei por isso. Você está realmente fora da cidade?

Olho ao redor da sala, me perguntando se ele tem alguém me


observando. Como pode até pensar em fazer essa pergunta?

Eu: Não estou na cidade. Acho que é melhor não nos falarmos
mais. Não tenho tempo para lidar com você. Por favor, deixe-me
sozinha.

“Tudo bem.” Ela puxa a tampa, falando em uma voz


borbulhante enquanto expõe a torrada seca, queimada. “Isso não
parece bom?”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Olho para baixo e estremeço quando vejo as outras coisas na
bandeja. Resume-se a uma massa Marrom e cinza e os ovos estão
moles, e o brinde parece um biscoito. “Sim.”

“Deixe-me conectar você.” Diz, agarrando a linha IV e


conectando-a ao lado de minha cama “Você pode comer enquanto
começa o tratamento.”

Não há nenhuma maneira que possa comer. Comida é a última


coisa em minha mente.

Nem penso mais na morte. Somente em Bruno. Ele está muito


na minha mente, mais do que gostaria de admitir. Em um momento
diferente em minha vida, poderíamos ter trabalhado, sido algo
surpreendente e mudado de vida. Também teria sido perfeitamente
feliz sendo uma rapidinha de vez em quando. Mas agora isso é tudo
impossível. Estou tão perdida em pensamentos que pensei ter
perdido o posicionar do IV até sentir minha linha de PICC e me
assusto.

Bruno: Não faça isso.

Estremeço lendo sua resposta.

“Tudo bem?” Pergunta, espiando pela cama o meu celular.

“Sim,” Minto e viro a tela para evitar seu olhar intrometido.


“Bem.”

Ela ajusta o gotejamento, verifica as máquinas, e começa a


caminhar em direção à porta. “Se você precisar de qualquer coisa ou
se você passar mal, lembre-se de apertar este botão. Sei que é o seu
primeiro tempo passando por isso e você provavelmente está com
medo e insegura, mas não hesite em pressioná-lo a qualquer
momento.”

“Prometo.” Sorrio, esperando tranquilizá-la o suficiente para ir


embora.

“Precisa de mais alguma coisa antes de ir?”

“Nada.” Pode sair.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Ok.” Devolve um meio sorriso antes de desaparecer no
corredor.

Deveria responder a Bruno, mas sei que seria apenas uma


luta. Ele argumentaria e eventualmente daria de homens das
cavernas, porque sou uma covarde. Então, desligo o celular e fecho
os olhos.

SINTO MINHA BOCA ESTRANHA E O GOSTO SÓ FICA PIOR


QUANDO ENTRO EM MEU APARTAMENTO APÓS O TAXI ME
DEIXAR. Quando bebo um copo de Pepsi, meu estômago começa a
reclamar. Engulo-o rapidamente, esperando afastar qualquer
náusea. Instantaneamente percebo meu erro e corro em direção ao
banheiro quando o refrigerante começa a subir na minha garganta.

Levanto a tampa rapidamente, tudo dentro de mim derramado


no banheiro, a torrada seca, a massa marrom e cinza. Tentei contra
o meu melhor julgamento, e a Pepsi.

Meus joelhos dobram e abraço o vaso impotente para detê-lo.


Enquanto me apego ao assento, a minha pele repleta de suor e eu
sinto calor. O calor me consome. Abraço o assento mais apertado,
descansando minha cabeça no plástico fresco e mantendo minha
boca no vaso apenas no caso de algo mais decidir sair.

Gemo e choro, amaldiçoando tudo e todos na minha vida, mas


tenho culpa. A doença não era da quimioterapia; sei que é muito
cedo para ele ter esse efeito em mim. Literalmente fiquei doente de
medo.

Na minha pressa de chegar ao banheiro, não segurei meus


cabelos para trás, e agora, tenho vômito nas pontas. Começo a
pensar sobre todos os efeitos colaterais que poderia ter uma vez que
fosse mais longe aos tratamentos de quimioterapia. Vômitos, já
experimentei, há, mas, feridas na boca, fraqueza, perda de equilíbrio,
perda de cabelos e merda. Não podia sequer começar a entender.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Mesmo que não haja nada no meu estômago, ainda sinto-me
doente e não me atrevo a me mover. Só me sento lá e choro
suavemente.

Há uma pancada na minha porta da frente, e fecho meus olhos


para tentar bloqueá-lo.

“Vá embora.” Sussurro e rezo para que façam o que peço. “Por
favor, deixe-me em paz.”

“Callie.” A voz é fraca, mas sei que é ele. Porra. Apenas fique
aqui e não faça um som e ele vai embora.

Bate mais cinco vezes antes que haja silêncio novamente.


Ainda com medo de deixar o banheiro, empurro-me fora do banco e
me deito sobre o piso de cerâmica fria. Parece surpreendente contra
a minha pele e fecho os olhos, pensando nas náuseas que me
consome.

Mesmo que queira viver, sinto que a morte seria uma opção
melhor. Não sei se posso tomar isso uma e outra vez. Não ajuda que
saiba sobre os efeitos colaterais de cada tratamento. Quero dizer,
poderia ter sorte e não conseguir nada além da náusea, mas isso já
era bastante ruim.

Meu celular fica louco na cozinha, mas não consigo alcançá-


lo. Meus olhos estão muito pesados para que mantenha abertos,
então os fecho e cedo a minha exaustão.

Assim que começo a me afastar, a porta do banheiro range e


meus olhos voam abertos. “O quê?” Bruno rosna e dá um passo
dentro do pequeno banheiro de visitas, enchendo o espaço
inteiramente.

Gemo e fecho meus olhos novamente. “Vá embora.” Tento me


erguer, mas meus cotovelos escorregam. Ele agarra meus braços e
me para antes de bater no chão. “Jesus, Cal.”

“Apenas saia.” Digo e fecho meus olhos.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Ele se abaixa atrás de mim, descansando seus joelhos em
meus lados e mantendo-me ereta.

“Não estou indo a lugar nenhum.” Diz, enrolando meus cabelos


em torno de sua mão e fora de meu rosto. “Você está uma bagunça.
Por que Rebecca não está aqui?” Ele está com raiva de mim; posso
ouvir em sua voz.

Tudo o que posso fazer é gemer. Não tenho forças para uma
conversa, muito menos uma mentira.

Não há um dia em minha vida que me lembre de sentir horrível.


A quimioterapia pode estar trabalhando através do meu sistema e
matando tudo à vista, mas preciso ter certeza de fazer tudo em meu
poder para não acabar no chão novamente, vomitando minhas
tripas.

Ele se inclina para frente e toca minha testa com as mãos. “O


que aconteceu? Você está doente.”

“Porra.” Sussurro e relaxo contra o banheiro.

Seus joelhos se apertam ao meu lado.

“Vou levá-la ao hospital.”

“Pare” gemo. “Fiz a quimio. Não estou morrendo.”

“Callie.” Sussurra, e posso ouvir a dor em sua voz. “Foi


sozinha?”

Quero minha cama mais do que qualquer coisa, mas não tenho
forças para fazê-lo. “Só preciso dormir.”

“Durma.” Ele comanda e me levanta do chão, me embalando


em seus braços fortes e seguros. “Falaremos quando você acordar.”

Protestaria se tivesse energia, mas não, e Bruno também não


ouviria. Minha cabeça descansa contra seu peito, flutuando
ligeiramente enquanto ele anda. Escuto o forte batimento constante
de seu coração e fecho meus olhos, isolando tudo ao meu redor. Meu

ENSHRINE
Chelle Bliss
corpo está mole, mas me carrega com facilidade e caminha
suavemente, tentando não se mexer muito.

A proposta de Bruno é o oposto de como sempre o imaginei.

“Não sei o que você estava pensando, Cal.” Coloca-me na cama,


e encolho-me em uma bola para evitar seu olhar.

“Só quero ficar sozinha.” Fecho meus olhos e rezo pela morte.

A cama muda de peso e giro em sua direção. “Você não pode


fazer isso sozinha.”

Ele afasta um fio de cabelo do meu rosto, passando os dedos


pela minha bochecha.

“Todo mundo precisa de alguém.”

Eu enterro meu rosto nos lençóis frescos e suspiro. “Não


preciso de ninguém. Preciso ficar sozinha.” Posso ouvir a tensão em
minha voz, oscilando quando digo isso.

“Vá dormir.” Insiste, levantando-se da cama e desligando a luz.


“Estarei lá fora se precisar de mim.” Ele não me ouviu, ou está
apenas me ignorando? Quando alguém, especialmente eu, diz que
quero estar sozinha, quero dizer isso. Não é um grito de socorro ou
uma mentira dita em brincadeira. “Só quero ficar sozinha. Saia.”

Ouço seus passos pesados atravessar a sala antes que a porta


feche atrás dele. Aguardo a porta da frente abrir, mas não ouço nada.
Talvez se eu adormecer, vou me sentir melhor, mais como, for capaz
de combatê-lo. Talvez até mesmo empurrá-lo para fora da porta. Eu
bufo com o pensamento. Só preciso fechar os olhos e dormir.

“Ele não é ninguém,” Sussurro em meu travesseiro antes de


adormecer e sonhar com Bruno e uma vez que não tenho câncer.

ENSHRINE
Chelle Bliss
9
DESEJANDO...

Pisquei algumas vezes, tentando limpar o sono do meu sistema


e falhei. Minha boca parece que esteve sugando uma lata misturada
com vômito. Segurando minha respiração, escuto e espero ouvi-lo,
mas não há nada. Assim, fechando meus olhos, adormeço
novamente, horas mais tarde e na escuridão acordo com o som de
duas vozes falando alto. Posso facilmente distinguir a voz de Bruno,
mas a mulher, não reconheço. Não é Rebecca.

Quem diabos está no meu apartamento?

Eles estão discutindo.

“Pare!” Ela adverte.

Meus olhos se arregalam em seu tom em direção a Bruno.


Quem teria as bolas para falar assim, quero dizer, o cara tem o
apelido de “O carniceiro,” depois de tudo.

“Angelique, não me diga o que fazer!”

Uh-oh. Ela é sua namorada? Quem diabos é Angelique, e por


que ela está no meu apartamento?

“Você provavelmente a acordou, seu idiota.”

Se tivesse forças, rastejaria até a porta e olharia. Em vez disso,


tiro os lençóis e tento esfriar meu corpo. E quando ouço passos fora
da minha porta, respiro devagar.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Quando a porta se abre, finjo estar dormindo. Não só não
quero que ele saia da minha casa, mas também não a quero aqui.

“Ela ainda está dormindo.” Sussurra, e a porta range quando


ele começa a fechar.

“Deixe-me vê-la.” Ela pede, a luz rastejando no quarto.

Ver-me? Por quê?

“Pobre menina.” Sussurra, no caminho, sua sombra projeta


sobre a parede. Mesmo que queira vê-la, não deixarei que a
curiosidade tire o melhor de mim, então fico quieta e não rolo em
direção a eles.

“Você a conhece bem? A conheço há anos, mas nunca


estivemos pertos.” Tecnicamente, tem razão, mas há tanta coisa
errada com essa afirmação que riria se ela não soprasse meus
lençóis.

“Ela sabe sobre você?”

Essa declaração desperta meu interesse. Quis dizer “Ela sabe


que você é um Criminoso?” Porque a resposta seria sim. Quem não?

“Não.” Não? Todo mundo sabe. Todos na cidade conhecem


Bruno. Se eles não sabem, então eles são tolos.

“Bom.” A porta fecha, e quando tenho certeza que estão longe


o suficiente, sento-me. O que não sei sobre ele? Por um segundo,
esqueço-me do meu estômago e o gosto na boca e tento descobrir o
que não sei.

Meu conhecimento sobre Bruno é limitado. Das poucas


conversas curtas que tivemos, sei que não tem um emprego
“regular”. Todos o conhecem, porém, especialmente os personagens
obscuros na cidade. Sempre assumi que era um assassino como algo
dos filmes. Mas alguém assim poderia cuidar de mim do jeito que
cuidou? Isso não faz sentido. Nunca me preocupei em fazer
perguntas sobre ele. Quem perguntaria sobre isso, não que queira
que minhas palavras retornem para ele, de que estava curiosa sobre

ENSHRINE
Chelle Bliss
seu “Trabalho”. Becca e eu sempre inventávamos histórias sobre
Bruno e seu trabalho.

Mas nenhuma de nós teve a oportunidade de perguntar


exatamente o que ele faz. Agora tenho mais perguntas do que antes.

Lentamente, deslizo da cama e começo a rastejar em direção


ao banheiro para um bochecho com água. Não é nem mesmo gracioso
o suficiente para ser considerado um rastreamento; Caminho como
um verme, lento e baixo. Assim quando tenho uma mão na porta do
banheiro, minha porta do quarto se abre e Bruno entra.

“Ela está acordada!” Grita, a todo volume. “Por que você não
me chamou?” Fecho meus olhos, me esparramando no chão porque
sei que irá me levantar. “Por favor.” A única palavra não é um pedido
de ajuda, mas estou implorando para ele sair.

Suas mãos deslizam debaixo de meu corpo e me levanta. “Você


tem que ir?”

Se não quisesse morrer antes, com certeza como a merda


gostaria de fazer agora. “Não, água.” Toco em minha língua contra o
céu da minha boca, deixando-a ficar ressecada.

“Você precisa de algo para comer também.” Coloca-me de volta


na cama, certificando-se que minha cabeça descanse contra o
travesseiro. “Você quer se sentar?”

“Posso fazer isso.” Digo, afastando as mãos dele antes de me


empurrar para cima, e tombando-me.

Bruno olha por cima do ombro em direção ao corredor. “Lee!”


Grita antes de olhar para mim. “Você pode trazer água e biscoitos
para Callie?”

“Posso cuidar de mim mesma. Só preciso que você e Lee...” digo


em um tom irritado, “saiam.”

“Não está acontecendo.” Ele balança a cabeça e estreita os


olhos. “Sua atitude não me assusta, e você não tem nada a dizer
sobre isso.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“O quê?” Pergunto e tento não gritar.

“Aqui estamos.” Lee entra com um copo de água e um prato de


salgadinhos. Ela é impressionante, seus cabelos rolam fora de seus
ombros em ondas escuras cor de caramelo e repousa apenas acima
de seus peitos. Seus grandes olhos castanhos sentam-se acima de
suas bochechas perfeitamente redondas e seu nariz um pouco
arrebitado. A mulher poderia facilmente ser uma modelo com seus
olhos exóticos e corpo perfeito. Imediatamente a odeio.

“Obrigado, amor.” Bruno sorri para ela antes de tomar a água


e os biscoitos das mãos dela. “Cal, esta é minha irmã, Lee.”

Oh.

“Oi.” Ela me dá um pequeno aceno.

Sou uma idiota.

“Oi,” Respondo, mas não sorrio de volta.

“É importante que você coma alguma coisa. Seu corpo precisa


de calorias.” Droga, ela sibila e estala os dedos. “Gostaria de ter
pedaços de gengibre.”

“O quê?” As sobrancelhas de Bruno se aproximam antes de


olhá-la.

“O gengibre é bom para dor de estômago. Tenho um saco de


Susansnaps em casa, vou trazer.”

“Susansnaps?” Bruno olha para mim e rola seus olhos,


tentando me fazer sorrir.

“Isso não soa bem.”

“Meu Deus. Eles são os melhores biscoitos de gengibre. É uma


longa história. Vou guardá-la para outro dia.” Senta-se e me observa
com o mesmo conjunto de olhos escuros que ele.

“Por que vocês dois estão aqui?” Pergunto, antes de pegar o


copo de água de sua mão.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Bruno me chamou. Ele me disse o que você está passando.
Queria estar aqui contigo. Gostaria de ter alguém que soubesse o
que estava passando quando começa a quimio.” Então compreendo.
Esqueci que sua irmã teve câncer e ela era uma sobrevivente. Engulo
todo o copo enquanto fala.

“Eu pensei que você poderia usar alguém.”

O copo vazio repousa no meu colo e eu olho para trás e para


frente entre eles, percebendo as semelhanças. “Realmente só quero
ficar sozinha. Não quero ser rude ou qualquer coisa.”

“Entendo.” Toca meu pé levemente.

Bruno me segue com os olhos enquanto toma o copo da minha


mão e coloca-o sobre a mesa de cabeceira. “Não.”

“Amor.” Ela toca seu braço e gesticula em direção à porta com


a cabeça. “Posso conversar um pouco com Callie, sozinha?”

“Estarei lá fora se você precisar de mim.” Diz e aperta minha


mão.

“Ótimo.” Murmuro e sei que estou perdida.

“Cinco minutos, Lee. Ela precisa de descanso.”

“Sim, enfermeiro Bruno.” Lee ri e rola seus olhos. Senta-se no


fim da cama, esperando que ele feche a porta. Assim que seus passos
se dissipam, começa a falar. “Não vou ficar muito tempo. Só queria
conversar um pouco.”

“Ok.” Puxo os cobertores, usando-os como proteção de algum


tipo por razões desconhecidas.

Ela estende a mão e aponta para o local ao meu lado. “Posso


me aproximar?”

“Claro.” Ninguém me escuta de qualquer maneira, então por


que lutar uma batalha perdida?

“Sei que você quer ficar sozinha e vou ter certeza que você
tenha o seu espaço, mas preciso que você me ouça primeiro.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Aceno com a cabeça porque ela esteve onde estou, e tem mais
conhecimento do que eu. Mais há o fato de que ela poderia fazer
Bruno ir embora exatamente como quero.

“Cinco anos atrás, fui diagnosticada com câncer de mama. Foi


o mais horrível momento da minha vida inteira.” Ela toca minha mão
e não me afasto. “Tudo o que podia pensar era que estava morrendo.
Tinha minha vida antes que os médicos fizessem o diagnóstico.
Pensei que eles estavam cheios de merda, alimentando-me de
felicidade para me manter viva.”

“Sim”, Sussurro. Estou exatamente nesse ponto.

“Eu fechei todos da minha vida. Todos. Meu marido, agora ex.
Meus pais. Bruno. Não queria ver seus rostos. Não conseguia ter eles
olhando para mim.”

Ela me entende completamente.

“Levei muito tempo para ficar chateada o suficiente para lutar,


mas você tem que chegar lá. Não se mate antes de ter a chance de
sobreviver.”

“Estou tentando.”

“Mesmo se ninguém estiver aqui com você, tem que comer e


ficar hidratada.”

Entendo e ela continua. “Quimio é o pior, mas estará


ajudando.”

“Eu sei.”

Seu polegar acaricia o topo da minha mão como se tentasse


me acalmar. “Você sabe como funciona?”

“Sei. Trabalho em pesquisa de câncer. Estou muito


familiarizada com seus efeitos.”

“Interessante,” diz, mas não me preocupo em perguntar por


que. “Eventualmente, quebrei e comecei a deixar as pessoas ajudar.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Bruno era o melhor, na verdade. Nunca olhou para mim como se
estivesse doente ou morrendo. Ele me ajudou a recuperar a saúde.”

“Oh.”

“Sim.” Ela tem um brilho em seus olhos. “Ele é incrível assim.


Quando não tive forças para andar, ele me carregou. Não acho que
passaria por tudo isso sem ele.”

“Não pedi sua ajuda, no entanto. Mal nos conhecemos.”

O sorriso em seu rosto desaparece. “Você não o quer?”

“Quer dizer, nós nos conhecemos, mas não nos conhecemos.”

“Bem.” Ela me acaricia suavemente. “Por alguma razão, Bruno


tomou conta de você. Não irá virar as costas para você agora. Apenas
deixe-o ser sua força quando você não tem nenhuma.”

“Por quê?”

“Porque a vida é muito preciosa para desistir.”

Concordo porque sei disso. “Quero dizer, por que ele?”

“Ele não é o que todo mundo pensa, Callie.” Suspira e fecha os


olhos.

“Não sei nada sobre ele.” Digo com sinceridade. Uma hora
atrás, tinha uma opinião dele, mas agora, tudo mudou.

“Sei o que as pessoas dizem sobre ele.” Seu nariz enruga e seus
olhos mudam.

“Isso não é ele.”

Hum, acho que é óbvio o que ele é ou pelo menos como ele é.
Claramente, ser sua irmã nublou seu julgamento.

“Sei o que você está pensando, mas você está errada.”

“Ok.” Não tenho muito a dizer, porque sei que não vou ganhar
o argumento.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Vou deixar com você meu número no caso de você precisar
conversar. É melhor falar com alguém que passou por isso. Ninguém
mais vai entender.”

“Obrigada.” Meu sorriso é genuíno pela primeira vez.

“Apenas deixe-o ajudar quando precisar.”

“Só preciso descansar agora. Acha que pode levá-lo com você?”

Ela ri. “Vou fazê-lo sair comigo.”

“Obrigada.” Meu sorriso cresce mais. Talvez Lee não seja tão
ruim, afinal.

“A qualquer momento. Precisa de alguma coisa antes de


partirmos?”

“Você pode fechar as cortinas?” É totalmente claro para cair


no sono profundo.

Ela está piscando para mim antes de caminhar até as janelas


e escurecer o quarto. “Não se esqueça de me ligar, ok?” Pergunta da
porta.

“Promessa.” Minto antes que feche a porta.

Afundo na cama e fecho os olhos. “Não posso simplesmente


sair.” Bruno rosna antes que a porta comece a se mover.

“Bruno.” Lee adverte suavemente. “Ela precisa de espaço. Dê


a ela.”

“Lee, você a viu. Ela não consegue nem andar.”

“Ela vai dormir. Precisa descansar.”

“Mas...”

“Bruno.”

“Bem. Deixe-me ver se ela precisa de alguma coisa.”

“Não. Já perguntei.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Não está certo, Lee.”

“Pare de ser seu controlador. Deixe a garota em sua paz. Agora,


vamos embora.”

“Tudo bem, mas vou voltar.”

Pelo amor de Deus. O homem certamente não desiste fácil. Pelo


menos, tenho algumas horas para mim.

Escuto até que ambos saem e alguém, provavelmente Bruno,


tranca a porta.

Ele tem uma chave? Não importa. Um cara como ele não
precisa de uma. Ele já provou isso.

Fico deitada por alguns minutos até que desisto do sono.


Verifico meu e-mail, perguntando o que eu perdi no laboratório e me
sinto culpada por não estar lá.

A única mensagem que recebi é de meu chefe, aceitando minha


licença e dando-me desejos de melhoras na minha “batalha”. Para
minha sorte, não me afastei um dia por causa de doença desde que
comecei, então vou continuar a receber um salário, pelo menos pelo
próximo mês e meio. Espero que, quando acabar, estarei bem o
suficiente para voltar ao trabalho e mais do que pronta para deixar
o câncer para trás.

Espera. Estou sendo otimista?

Sinto-me melhor depois de comer algumas bolachas, mas


minha boca parece mais seca do que antes e ainda tem o mesmo
sabor metálico. Preciso de algo mais do que água; algo com sabor,
como suco.

Depois que pego uma garrafa de suco na geladeira, apoio-me


contra o armário e descanso. Se soubesse que atravessar este inferno
me curaria, faria com minha cabeça erguida e um sorriso no meu
rosto. Mas sabendo que ainda posso morrer depois de todo o
sofrimento torna mais difícil de engolir.

ENSHRINE
Chelle Bliss
10
VENHA A JESUS

NÓS TODOS TIVEMOS UM MOMENTO, aquele em que


enfrentamos o que está à nossa frente e temos que empurrar ou
desistir. Estou lá, enfrentando minha mortalidade e chegando a um
acordo com minha possível morte.

Não me mudei do chão da cozinha. Continuo sentada aqui por


horas, ouvindo os ruídos minúsculos em meu apartamento e o
mundo continua lá fora. Tudo que posso pensar é como o câncer está
crescendo dentro de mim, o tratamento está me matando, e como
estarei aqui, daqui a dez anos se não lutar.

Não estou preparada. Para o quê, eu não sei, mas não estou
pronta para nada disso. Não importa o quanto queira escapar da
realidade, tenho que vestir minha roupa de menina grande e
enfrentar o meu futuro com determinação.

As lágrimas que chorei mais cedo secaram em meu rosto, meu


nariz é uma causa perdida, e sei que minhas pálpebras estão
inchadas. Não há um momento na minha vida que me lembro de ser
tal bagunça. Sou aquela menina, com os cabelos perfeitos,
maquiagem impecável, que cada garota desejava ser. Sentada no
chão da cozinha, sei que não sou mais ela. Não se isso importa.
Chorei e o meus cabelos estão grudado nas minhas bochechas, meu
rosto está inchado, e estou usando roupas do dia anterior, mas nada
disso importa.

“Callie.” A voz de Bruno atravessa a porta e invade meus


pensamentos.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Fecho meus olhos e me pergunto se vai embora, mas sei que
não irá. Ele provou que é esse cara. Você sabe, aquele que destrói a
merda em você até que você cede.

“O quê?”

“Posso entrar?”

Essa declaração é risível. Ele entrou no meu apartamento mais


de uma vez, sem minha permissão, então por que pedir agora? “Sim.”

Tenho uma linha de visão clara para a porta e assisto com


cuidado. Ele escolheria abrir, derrubá-la, ou esperar para me
levantar.

Ouço um clique antes que ele gire a maçaneta da porta e entra.


Sorri, e parece ter uma chave no seu bolso.

“Você tem uma chave?” Pergunto e aponto para algo em seu


bolso.

Ele ri. “Levei suas chaves mais cedo.”

Pegou minhas chaves. “O quê?” Minhas. Chaves.

“Não é como se você precisasse delas, então as peguei, mas


pensei que era melhor do que arrombar a porra da porta de novo.”

Ele está de pé sobre mim, sorrindo e orgulhoso. Quero ficar


braba, mas ele tem um ponto. Poderia simplesmente derrubar minha
porta ou usar suas habilidades supercriminosas para entrar no meu
apartamento, mas em vez disso, pegou minhas chaves. “Você pode
deixá-la quando você sair.” Digo e tento me sentar.

“Como se sente?”

“Bem” Minto.

“Você parece uma merda.”

Eu olho para ele porque já sei disso, mas não preciso de um


lembrete.

“Obrigada.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Como um garoto crescido e não “O Carniceiro,” senta-se no
chão a minha frente. “Quero que me escute.” Continuo olhando, mas
ainda não consigo falar. “Preciso de você.” Faz uma pausa e olha em
volta. “Acene se entender.”

Concordo.

“Compreendo que você quer ficar sozinha. Deixou bem claro,


na verdade.”

Aceno com a cabeça.

“Mas não posso permitir.”

Rosno, e não aceno enquanto ele continua.

“Precisa de ajuda agora que você está muito fraca.”

Levanto a mão, esperando silenciá-lo, mas a empurra para


baixo.

Idiota.

“Eu sei que você vai dizer que não está fraca. Que pode lidar
com essa merda.” Agita sua mão para frente e para trás entre nós.

“Mas você não pode.”

Esbofeteio sua mão e tento controlar minha raiva. “Não sou


uma criança. Sobrevivi este tempo todo sozinha, Bruno. Sei que
estou doente. As pessoas passam por isso...” gesticulo minha mão
da mesma forma que ele fez. “...todos os dias e sobrevivem.”

Ele empurra os dedos em seus olhos e inclina sua cabeça antes


de me olhar com mais fogo do que vi antes. A escuridão se instala
dentro dele, e não apenas a cor, mas também um sentimento me
bate no peito quando me olha. “Mas você não precisa. Lee tentou.
Tentou fazer isso sozinha. Afastou todos. Mas fiquei ao seu lado,
animando-a e ajudando através de toda a coisa. Irei fazer o mesmo
para você.”

Inclino minha cabeça, e o analiso com curiosidade. “Por quê?”


É uma questão legítima. Quer dizer, duas semanas atrás, nós não

ENSHRINE
Chelle Bliss
nos conhecíamos. Na verdade não. Quero dizer, nós flertamos.
Trocamos olhares. Sim, as coisas mudaram desde então. Sei como
Bruno gosta e os sons que emite quando goza, mas isso não nos faz
BFFs.

Coloca o cotovelo contra os joelhos e apoia sua bochecha


completamente adorável e nem um pouco assustador. “Você já fez
alguma coisa completamente altruísta?”

Penso sobre a pergunta e estou um pouco envergonhada com


a minha resposta. “Não.”

Estende a mão e acaricia minha bochecha, deslizando a ponta


do dedo pela mandíbula antes de parar no meu queixo. “Hã”
murmura.

“Então você está apenas sendo gentil? Como alguém é quando


encontra um filhote de cachorro no lado da estrada. Você sabe, eles
gastam cada centavo para que seja salvo e assim podem se sentir
melhor.”

“Bem...”

“Mas o que eles não sabem é que depois que saem e ninguém
quer o vira-lata, eles o expulsam.” Torço meus lábios e me sinto
poderosa e orgulhosa de mim mesma. Quero dizer, até ele pode
entender isso.

Endireita suas costas e o assustador Bruno retorna. “Pare de


falar.”

“Você ainda não respondeu o porquê. Quero dizer, se precisar


de um caso de caridade, você pode...”

Sua mão cobre minha boca, e balança a cabeça. “Cal, você não
é caridade. Estive dentro de você.” Seu rosto está sério, e seguro
minha respiração com a lembrança.

“É apenas buceta” murmuro contra a mão dele.

Aviso. Bruno zangado emerge. “É isso que você pensa de mim?”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“O quê?” Pergunto depois que sua mão cai longe de meu rosto.

“Que apenas ando por aí fodendo tudo? Que faria isso com
alguém?”

Mordo o meu lábio e engulo, mas continuo de qualquer


maneira. “Tenho certeza que você fodeu sua cota.”

“Eu fiz.”

Dou-lhe o meu melhor rosto de “eu avisei”.

Ele toma um fôlego, seu peito cresce a cada segundo. E o tipo


me lembra do Hulk quando se expande antes de rasgar sua camisa
e cair no chão. Seus olhos se estreitam em pequenas fendas e se
concentram completamente em mim. “Pensa que você é outro pedaço
de rabo fodido?”

“Hum, sim.”

“Então vou foder uma garota doente com câncer porquê...?”

Estremeço e sei que sou infantil. “Presas fáceis.” Encolho os


ombros. Novamente, estou sendo uma idiota, e sei disso.

“Sério? Não preciso caçar os fracos, Cal.”

Gosto quando me chama de Cal. Minha barriga faz uma


cambalhota minúscula apenas ouvindo isto. “Desculpa.”

Sua mão move lentamente abaixo do seu rosto; é evidente que


está frustrado comigo. “Sei que pensa que sou um idiota, e
honestamente, posso foder qualquer garota que desejo, mas estou
aqui, com você.”

“Simplesmente não entendo.” Admito, porque me deixa


perplexa.

“Você não precisa.” Ele coloca seus lábios em minha testa, e é


tão incrível que fecho meus olhos e deixo cair à atitude. “Há quanto
tempo você está sentada aqui?”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Inclino-me para frente, descanso o rosto em seu pescoço e
enterro-me em seu cheiro. Fecho meus olhos e o cheiro. Sei que
tenho que cheirar mal, mas ele tem um cheiro celestial. Posso me
perder em seu perfume. A masculinidade misturada com algo que
não posso colocar meu dedo, mas sei que quero mais.

“Jesus, mulher. Você não pode fazer isso.”

“Não me diga o que fazer.” Meus lábios tocam sua pele


enquanto respondo.

“Você precisa de um banho.”

Meus dedos descansam contra seu peito, e resisto ao desejo de


tateá-lo sexualmente. Se estivesse me sentido melhor, aproveitaria a
oportunidade para fazer uma sensação e me perder com ele. “Preciso
de muitas coisas. Você pode me dar um novo corpo para começar?”

“Seu corpo é perfeito.”

“Câncer,” lembro, finalmente levantando a cabeça e


recostando-me no armário. Claramente, não é tão perfeito como
parece no exterior.

Ajoelha-se e me estuda. “Você pode andar?”

“Eu não sei. Não tentei.”

Ergue suas mãos para mim após se levantar. “Vamos tentar.”

Olho para ele, observando-o de perto. Realmente não sei como


vou sair do chão sem ele, então deslizo minhas mãos na sua e
deixa-o me arrastar sobre os meus pés.

Embora minhas pernas estejam fracas, não me sinto tão


doente da mesma forma quando cheguei em casa depois da
quimioterapia.

“Bom.” Envolve um braço ao redor de minhas costas e me


mantém ereta. Sorrio para ele, verdadeiramente feliz por estar de pé,
mesmo com sua ajuda. “Vamos dar alguns passos. Teste suas pernas
um pouco.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Aceno e dou um passo em frente, sentindo meus joelhos
tremerem quando tento colocar peso neles. “Sinto-me melhor.”

Ele aperta o meu lado mais forte porque sabe que estou
mentindo sobre me mover sozinha. “Como se sente sobre um
banho?”

O pensamento de relaxar em um banho de espuma me faz


querer chorar lágrimas de felicidade.

“Sim.”

“Juntos.”

Paro de me mover e estreito os olhos para ele. Não pode estar


falando sério. “Bruno, não estamos fazendo sexo.”

“Não sou um idiota. Mas não há maneira de te deixar sozinha.


Então posso entrar com você ou assistir. Qual você prefere?”

“Juntos?” Solto, assustada com a ideia.

Começa a me mover de novo, levando-me para o banheiro


principal. “Sim.”

“Sei que muitas pessoas não vão dizer isso, mas você sabe que
é um idiota, certo?”

“Sei disso.” Beija o topo da minha cabeça e ri.

Depois que liga a torneira, e tira a roupa com nenhuma


vergonha ou cuidado no mundo. “Você quer ajuda?” Pergunta,
chutando suas calças para o lado e jogando-as debaixo do armário.
Nu como um pássaro, fica lá com as mãos sobre seus quadris, como
se fosse à coisa mais natural do mundo.

“O que você quer dizer com tudo isso?” Pergunto, segurando a


minha camisa folgada e provocando-o para aliviar a minha
ansiedade. Sempre a chamei de minha camisa da sorte, mas
realmente, é uma camisa velha da faculdade. A roubei de um atleta
com quem tive um caso de uma noite e nunca me preocupei em
devolvê-la. “Acho que consigo.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Não.” Coloca as mãos nas minhas e me para. “Deixe-me.”

“Ainda não estou fazendo sexo.”

Começa a levantar minha camisa e ignora o meu comentário


completamente. “Decidi uma coisa.”

“O quê?” Pergunto uma vez que a camisa está no meu rosto.

“Gosto quando você tem uma atitude.”

Solto uma pequena risada. “Você teria uma também se alguém


invadisse sua casa e não fosse embora.”

“Cal.” levanta-me envolvendo um braço em volta da minha


cintura e puxando minha calcinha para o chão. “É isso que você
acha?”

Sinto-me suja. Aqui está ele me ajudando, sendo doce, e coloco


minha máscara de cadela e jogo comentários como se não tivesse
sentimentos. “Não.” Admito completamente envergonhada. “Bem,
talvez no início. Mas você está crescendo em mim.” Sorrio para ele,
descansando minhas mãos em seus ombros enquanto saio da minha
calcinha.

Ele rosna e levanta-me em seus braços, trazendo-me com ele


para a banheira. Embora, parte de mim até queira protestar, relaxo
contra o seu peito e aprecio seu calor e força. Lentamente, nos abaixa
na água, prestando muita atenção para não cair no processo, pelo
qual sou grata.

“Está muito quente?” Pergunta, pois sibilo quando minha


bunda bate na água quente.

“Não. É bom. Só preciso me acostumar com isso.”

Ele descansa minhas costas contra suas pernas, derramando


suavemente a água quente contra a minha pele. “Melhor?”

“Muito.” Sorrio suavemente e derreto contra ele, sentindo-me


completamente em paz.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Venha aqui.” Ele me ajusta, deslizando-me entre as pernas
antes de me puxar de volta contra ele.

Afundo-me em seu peito, deixando a água acariciar minha pele


e apreciando a sensação de seu duro corpo atrás de mim. Em outro
momento da minha vida não teria sido capaz de manter as minhas
mãos longe dele, mas agora, estou muito doente para pensar em algo
além do conforto.

Ficamos assim por um tempo, descanso contra seu corpo e ele


espirra água em minha pele, arrastando as mãos pelos meus braços.
A água pinga da torneira e o eco é alto e estranhamente calmante.
Prende-me com as pernas e coloco meus braços contra seus joelhos
e relaxo.

“Quando é a sua próxima sessão de quimioterapia?”

“Você quer acompanhar?” Sei que soa frio e vadia, mas


realmente, é a última coisa que quero pensar.

“Vou te levar.” Ele rosna, seus lábios tocando meu ombro


enquanto fala, suas palavras me esmagando. Acho que estou
estranhamente contente com isso.

“Você ainda não respondeu o porquê, Bruno.”

Seus braços apertam o meu corpo, logo abaixo do meu peito.


Sua boca está contra o meu ouvido enquanto fala. “Não tenha medo
de mim.” Estremeço em seus braços enquanto sua voz percorre
minha pele.

“É assim tão simples?” Realmente estou com medo dele, mas


não pelas mesmas razões que costumava ser.

“Não, mas é um começo.”

“Sei quem você é e o que você faz.”

“Não. Você não sabe.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Giro ligeiramente, meus lábios quase roçando contra sua boca
quando faço. “Sei sim.” Vejo a dor em seus olhos, mesmo que tente
escondê-la.

“Não. Você acha que sabe tudo sobre mim, mas não sabe, Cal.”

“Eu faço.” Argumento, mantendo contato visual. Ainda não


consegui tirar da minha cabeça a conversa que tive com Lee.

Sua mão encontra o seu caminho para a minha bochecha, e


acaricia meu rosto suavemente. “Não.” Vejo que não vai ceder. “Eles
te chamam de ‘O carniceiro’, Bruno. Acho que é bem claro.”

Seus olhos piscam, a escuridão desaparece rapidamente antes


que suas bochechas quase toquem os cantos de seus olhos. Seu
corpo começa a tremer e então seu riso cresce.

“Todo mundo me chama de 'O carniceiro'? Sério? Pensei que


era apenas as pessoas no meu círculo e não as pessoas em geral
como você.”

Aceno com a cabeça e meu estômago começa a vibrar. “Sim.


Todo mundo faz.”

“Isso é....” Ele ri mais alto, ainda segurando meu rosto, “...a
coisa mais engraçada que já ouvi.”

“A coisa mais engraçada que já ouviu.”

Meus olhos se arregalam e sou pega de surpresa quando suas


palavras saem. “Não sabia?” Sussurro e de repente sinto-me horrível
por lhe dar a notícia.

Ele para de rir tempo suficiente para falar, mas o sorriso em


seu rosto é o maior que já vi, e é lindo. “Ninguém nunca teve as bolas
para me dizer, também. Só os meus amigos me chamam assim.”

Me sentiria mais culpada se ele não sorrisse, então começo a


rir também. “Não posso acreditar que você não sabia.”

“Gosto disso.” admite e roça seu polegar através de meu lábio


inferior, seus olhos seguindo o caminho.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Sorrio; em parte por nervosismo por estar me tocando, e em
parte por gostar do apelido que faz as pessoas tremerem quando
passa. “Se as pessoas te vissem agora, você perderia toda a
credibilidade.” Suas sobrancelhas se erguem e sua cabeça empurra
um pouco para trás. “Iria?”

“Você está tomando banho, cuidando de mim, e sendo tão


gentil. Não é muito carniceiro.”

“Tenho uma imagem para manter, não é? Vamos manter este


nosso pequeno segredo.”

“Não é um problema.”

“Ei,” sussurra, seu rosto cada vez mais sério. “Você sabe que
não é verdade, certo?” Engulo meu medo. Esta conversa tem-me na
borda. “Você não matou pessoas, você quer dizer?” É um tópico
incômodo para falar quando você está nua com um homem e
completamente à sua mercê.

“Sim.”

“Se você diz.” Sorrio falsamente para ele, mas não estou
convencida.

“Quero dizer, nunca uso uma faca, então não é verdade.”

Minha boca cai aberta em choque. “Bem...”

“Jesus, você é tão fodidamente fácil.” Ri novamente. “Eu não


sou um assassino, Cal.”

Bem, isso é uma admissão surpreendente, mas ainda não


estou convencida. Você não pode ter esse nome e sua aparência sem
fazer uma merda muito desagradável. “Ok.” Minha voz é minúscula,
mas não estou prestes a discutir.

“Como você se sente?” Pergunta, seu dedo acariciando os lados


do meu pescoço, fazendo minúsculos círculos contra minha pele.

“Melhor,” admito. Percebo que durante os últimos minutos,


nem pensei sobre como me sinto ou o que tenho.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Seus lábios encontram o caminho para a minha testa e
pressionam fortemente contra mim, enquanto segura meu rosto em
suas mãos. “Bom,” diz contra minha pele antes de se afastar. “Vamos
sair antes que você se transforme em uma ameixa seca e perca toda
a sensação de quem sou. Tenho uma imagem para zelar.”

“Não irei contar.” Deixo escapar, meio brincando, mas na


verdade não, porque nunca iria falar com qualquer um sobre Bruno.

Bruno cuidadosamente me leva da banheira e me coloca contra


o balcão antes dele me enxugar. Deveria fazê-lo por conta própria,
mas é bom ter alguém que cuide de mim pela primeira vez. O velho
eu teria tido um ataque. Não preciso de ninguém tanto quanto
preciso dele. Mas, por uma vez, não tenho nada para lutar e
nenhuma força para fazê-lo também.

A vida não está se tornando tudo o que esperava. Bruno não é


quem penso. Agora, acreditar que ele não era “O Carniceiro”? Porra,
não.

Você não consegue esse título sem que haja alguma verdade
nisso. Mas ele não é o bicho-papão também. Ele é macio, terno, até.
Sua força durante meu tempo de necessidade me dá consolo e me
deixa querendo mais.

Mas tenho medo de precisar dele. Desejo a força que me dá.


Não consigo parar de pensar sobre suas palavras depois que me
coloca na cama e enrola seu corpo ao redor do meu.

Ele não é quem pensei que era. Quem é ele?

Sei que vou descobrir, mas realmente quero saber?

Seus braços fortes, quentes e protetores me fazem sentir muito


bem para ficar acordada. A última coisa de que me lembro é ouvi-lo
sussurrar, “Você vai sobreviver.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
11
ESTÁGIO 3 CONTINUAÇÃO –
UM PASSO PARA TRÁS

Outra semana da minha vida passa em um borrão. Sentada no


meu segundo tratamento de quimioterapia, penso em tudo o que
aconteceu desde que ouvi a notícia devastadora.

As coisas materiais já não importam. Não sou tão forte quanto


pensava, mas estou tentando.

Bruno tornou-se um elemento fixo em minha vida. Fechando


as pessoas não é mais possível.

Quero viver.

Ao longo da última semana, Rebecca e Bruno me mantiveram


ocupada. Tenho recuperado as minha força e comecei a me sentir
melhor com a ajuda.

Rebecca não estava feliz que Bruno estivesse ao redor no


começo, mas ele cresceu lentamente sobre ela.

“Há algo nele,” insiste, sentada em uma cadeira na frente da


minha na cadeira da quimio, movendo-se para frente e para trás
usando seus pés.

“O que você quer dizer?” Faço-me de desentendida porque sei


para onde ela está indo.

Ela bate seu dedo contra seu lábio e as rugas em sua testa se
aprofundam. “Não posso descrever, mas há algo que...”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Eu sei.” Pego um biscoito da mesa e coloco na minha boca
antes de dizer algo mais.

“Ainda não gosto dele em torno de você.”

Engulo as migalhas secas em minha boca. “Bec, ele é


inofensivo.” Minto, mas acho mais fácil quanto mais faço isso. Depois
de passar tanto tempo com ele, quase acredito em minhas próprias
besteiras.

Seu nariz enruga e ela balança a cabeça rapidamente. “Não é,


Cal. É assustador e perigoso.”

Sorrio do seu absurdo. Umas semanas atrás teria dito a


mesma coisa. Nunca o deixaria entrar, mas agora, vi outro lado dele,
um que só me dá conforto. “Ainda não me matou, então acho que
estou segura.”

A cadeira range e ela se aproxima. “Mas o seu pessoal...”


sussurra.

Suspiro e cubro minha boca, totalmente brincando com ela.


“Ele tem pessoal?”

“Sim.” Acena com um olhar muito sério em seu rosto. “Tem.”

Aproximo meu rosto e digo num tom para que ela possa ouvir.
“Ele os mantêm em gaiolas?”

“Falo sério.” Diz e faz uma careta.

“Bec.” Rio, inclinando-me para trás e relaxando. “Bruno não é


o que pensamos.”

“As ilusões são perigosas. Fazem você entrar, e no último


minuto...” Ela faz um movimento de corte em sua garganta.

“Você é tão dramática.” Sorrio. “Se Bruno quisesse me


machucar, não estaria aqui. É o homem mais gentil que já conheci.”

“Enfermeira,” Becca chama e aponta para mim. “A


quimioterapia confunde o cérebro?”

ENSHRINE
Chelle Bliss
A enfermeira franze os lábios e parece confusa. “Com licença?”

Becca agita a mão na minha frente. “Pode confundir sua


mente? Seu pensamento foi alterado.”

“Deveria chamar um médico?” Pergunta e começa a se mover


para mim com as mãos estendidas, coloco minhas mãos entre nós e
a detenho, lançando um olhar fulminante para Becca. “Estou bem,
enfermeira Bobby.” Verifico o seu crachá para ter certeza de usar o
nome certo. “Minha amiga está apenas sendo dramática.”

Olha para nós duas. “Tem certeza, querida?”

“Becca, diga à mulher que estou bem.” Meu maxilar aperta.

Becca gira no banco, agindo mais mentalmente perturbada do


que eu. “Oh, ela está bem.” Começa a dizer e para sua cadeira até
que esteja enfrentando a enfermeira Bobby. “Está namorando um
cara que chamamos de ‘O carniceiro’, assim claramente seu
pensamento está perfeito.”

Pobre Bobby. Parece confusa como toda merda e um pouco


assustada. “Oh, querida.” Olhos analisando ao redor da sala, e sei
que ela quer fugir.

“Quero dizer, o que não há para amar um homem que mata


pessoas para viver, certo, Bobby?” Becca ri como uma lunática.

“Um...” murmura Bobby.

“Bobby, você pode ir. Becca está tendo um momento. Um


momento muito estúpido que ela se arrependerá mais tarde.”

“Por que, vai mandá-lo atrás de mim?” Cobre sua boca,


fingindo estar em pânico.

Olho para Bobby e sorrio. “Deixe-nos um pouco. Minha amiga


está apenas brincando um jogo muito sem graça.”

“OK,” sussurra e começa a se afastar, mas ela mantém seus


olhos em nós.

“Mas se você precisar de mim, apenas grite.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Becca.” Minha voz é firme e inabalável.

“Callie.”

“Você é uma merda.”

“Ela é muito fácil, e juro que você está indo para o fundo.”

“Não vamos nos esquecer de quem é a culpa?”

“Sua” responde com um sorriso culpado.

“Idiota.”

“Apenas tenha cuidado com ele, querida.”

“Você já viu, não é?”

“O quê?” Pergunta, inclinando a cabeça como se não soubesse


do que estou falando, embora ela claramente saiba.

“Disse que há algo nele. Você sabe que ele não é o que
pensamos. Pode sentir isso.”

“Não sei o que pensar ou sentir. Ele ainda é perigoso. Disso


tenho certeza. Mas há algo que não posso compreender. Algo que não
se encaixa.”

“Tudo o que sei é que me ajudou mais do que jamais poderia


explicar.”

“Você transou com ele?”

Não consigo esconder o meu sorriso.

Seus olhos se arregalam e sua boca se abre. “Jesus, Cal, não


posso acreditar.”

Eu rio da sua falsa angústia, mas sei que vai pedir detalhes.
“Não me diga que se tivesse a chance, não teria feito a mesma coisa.”

“Bem, sim. Duh. Lista de desejos.”

“Como você teria listado ele?”

“Sexo quente e bagunçado com um criminoso assustador.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Você é louca.”

“Diz à garota que fez isso.” Ela se aproxima. “Então como foi?”

“O quê?”

“Quente?”

Suspiro porque foi e mais. “Sim.” Sorrio, lembrando


exatamente como sexy tinha sido.

“Odeio você às vezes.” Ela ri e bate na minha perna brincando.

“Quer mudar de vida?” Sinto-me culpada assim que sai da


minha boca.

Sua risada morre. “Eu faria.”

“Nunca desejaria isso em você, Bec.”

“Mas trocaria de lugar com você em um piscar de olhos. Você


é minha melhor amiga. Não posso ter algo acontecendo com você...”

“Não estou indo a lugar nenhum.”

Quando acordei esta manhã, fiz um pacto com Deus. Sei que
parece insano, e talvez esteja perdendo a cabeça, mas que droga,
nada vale a pena. Prometi que se Ele me salvar, se Ele me poupar da
morte, que devo dedicar minha vida a encontrar uma cura, assim
ninguém mais terá que atravessar o que passei nas últimas três
semanas. Disse também, que até desistiria da obsessão por sapatos,
deixaria de comprar bolsas em massa e me doaria para impedir que
a doença lentamente mate a humanidade. Vou me tornar ‘Madre
Teresa’ se isso significa que vou sobreviver.

Sentada entre os outros pacientes com câncer e vendo quão


graciosos eles são me dá energia renovada. Não estão caindo aos
pedaços ou têm medo de viver. Se eles podem empurrar e mostrar
força, também posso. Com Rebecca ao meu lado e Bruno
insinuando-se no meu mundo, sinto que tudo é possível.

ENSHRINE
Chelle Bliss
12
TÓXICO

BRUNO está no meu apartamento esperando por nós quando


subimos os degraus. Caminhando em frente à minha porta como um
animal enjaulado, está murmurando suavemente para si mesmo.

Becca e eu paramos quando o vemos. “Bruno?”

Ele congela e vira nos calcanhares para nos encarar. “Porra,


Cal. Estava preocupado.”

“Sobre?” Pergunto, dando um passo mais perto e segurando


Becca de volta com um braço. Ele se aproxima, estendendo a mão
para mim com um olhar selvagem em seus olhos. “Você.”

Minha bochecha pressiona contra sua palma e fecho meus


olhos. “Estava na quimioterapia. Disse a você sobre isso.”

“Queria te levar.” Diz e corre o polegar para baixo da maçã da


minha bochecha. Olho e sorrio, tentando fazê-lo relaxar. “Becca me
levou. Estava em boas mãos.”

Verifica por cima do meu ombro e tenta sorrir. “Ela está bem?”
Pergunta e me ignora.

“Estou aqui, você sabia.” digo e toco seu peito.

“Sim.” Becca também me ignora. “Melhor do que pensei que


seria.”

“Tomo conta daqui.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Olá?” Pergunto, olhando para trás e para frente entre os dois.
“Ainda aqui.”

Becca aparece por trás de mim e beija minha bochecha. “Vou


deixá-la em mãos muito capazes.” E reprime uma risadinha
enquanto sussurra em meu ouvido.

“Bec.”

“Ligue se precisar de alguma coisa. Tenho que correr para o


trabalho. Estou atrasada para o meu turno.”

Antes que possa discutir, vira-se e quase salta pelo meu


corredor antes de desaparecer na escada. Becca não está atrasada.
São apenas três, e sei que não precisa estar no bar para trabalhar
no seu segundo emprego até depois das sete.

“Com fome?” Pergunta, retornando sua atenção para mim.

“Está mais calmo?” Coloco minha mão contra seu peito,


saboreando a sensação do seu coração batendo sob a minha mão.

Ele ri baixinho. “Sou calmo. Apenas um dia de merda no


trabalho.”

“Ninguém para matar?” Lanço uma luz sobre seu trabalho, seja
o que for, mesmo que não entenda completamente.

“Não. Todos sobreviveram hoje. Então, que tal comer?”


Pergunta, puxando minha chave do bolso, pois nunca devolveu, e
destrancando minha porta.

“Não tenho vontade de comer. Meu estômago não está tão bem.
Comi biscoitos durante a quimioterapia.” Digo, enquanto me leva
para dentro com um braço em volta de mim. “Mas não acho que eles
vão ficar por muito mais tempo.” Sem hesitação, me empurra em
seus braços e me leva para a cama. “Banheiro, por favor.”

“Cama.”

“Bruno.”

“Callie.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
O homem é impossível.

Quando ele me estabelece, sai da sala e ouço movimento na


cozinha. Antes que possa levantar, está de volta e tem uma tigela na
mão. “Use isso.” coloca-o na cama ao meu lado.

Faço uma careta, enrugando meu nariz em desgosto. “O quê?”

“Vou limpá-la. Não quero você deitada no chão do banheiro.”

O pensamento dele limpando meu vômito faz meu estômago


virar mais. “Não. Irei ao banheiro.”

“Fique aqui.” Empurra-me para trás e levanta minhas pernas,


me posicionando contra a cabeceira como se fosse um travesseiro
decorativo. “Relaxe. Estou cuidando de você. Se você vai vomitar,
faça na tigela.”

Os homens são estranhos. Não limparia seu vômito. Mesmo


que o amasse, adorasse seu chão, simplesmente não poderia fazê-lo.

“Vou fazer um pouco de sopa enquanto você descansa.”

“E se não quiser sopa?”

“É a melhor coisa para você.”

Quando ele se tornou minha mãe? “Quem disse?”

“Lee.”

Bem, tudo bem então. Se sua irmã, aquela que sobreviveu a


esta doença, me disser sopa, beberei.

Ele sai e ouço enquanto começa a preparar a sopa... A partir


do zero. Sim, a partir do zero. Quem é esse homem? Espero Campbell
ou talvez algum outro enlatado, mas isso não é Bruno. Ele não faz
nada fácil.

Penso em Lee e me pergunto como ela lidou com tudo,


especialmente com ele.

Eu: Ei, Lee. É a Callie. Espero não te incomodar.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Não sei mais o que dizer. Só a encontrei uma vez, mas temos
duas coisas importantes em comum.

Lee: Ei! É tão bom ouvir de você. Como você está indo?

Mas ela torna fácil e coloca a minha mente à vontade.

Eu: Estou bem. Cheguei em casa da segunda sessão. Não me


sinto tão bem e esperando que piore.

Deito-me contra os travesseiros e rezo para não vomitar todo o


biscoito que consumi mais cedo.

Lee: Você está sozinha?

Eu: Não. Seu irmão está aqui fingindo ser Emeril Lagasse e me
fazendo sopa.

Rio ao pensar. As imagens dele como o chefe de cozinha sueco


do Muppets enchem minha mente e meu riso cresce. Talvez ele grite,
“Bam!” Quando ele joga as especiarias para torná-lo macho. Quem
me dera ter uma visão clara dele de onde estou sentada, mas pego
um vislumbre de vez em quando.

Lee: Ele é bom assim. Sopa é uma ótima ideia. Confie em mim,
eu sei.

Eu: Bruno disse que deveria comê-la.

Lee: Aprendemos que era melhor depois da quimioterapia. É


mais fácil jogar sopa do que biscoitos. Aprendi da maneira mais difícil.

Ah Merda. Biscoitos provavelmente se pareçam como vidro


subindo em minha garganta.

Eles com certeza não são gentis no caminho para baixo.

Eu: Diga-me que fica mais fácil.

Lee: Fica mais fácil.

Eu: Sim?

Lee: Não.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Bem, pelo menos ela é honesta, o que me faz rir porque estaria
bem com uma mentira.

Lee: Que tipo de sopa ele está fazendo?

“Bruno, que tipo de sopa você está fazendo?” Grito porque o


cheiro não me bateu ainda para ser capaz de responder.

“Gengibre tailandês.”

Esfrego meu rosto por sua resposta, mas mando a mensagem


de qualquer maneira. Gengibre tailandês? Pensei que sopa de
macarrão com frango fosse boa, mas parece que estou errada.

“Por quê?” Ele grita de volta.

“Lee.”

“Ahhh,” diz, entrando na sala e secando as mãos. Inclina-se


contra a porta e me observa antes de jogar o pano de prato sobre seu
ombro.

“O gengibre é bom para você.”

Aceno, lembrando o que Lee me contou antes. Faz todo o


sentido.

“Precisa de ajuda?” Pergunto, mas sei que não vou me mover


desta cama.

“Não. Tenho tudo sob controle.”

“Ok.” Sorrio admirando a sua beleza. Se me sentisse melhor,


estaria nele como branco no arroz. A camisa preta apertada abraça
cada músculo, mostrando a curva de cada fenda que quero lamber e
explorar. As coxas debaixo das calças, esticando contra o material
que desejo próximo a mim.

“Precisa de alguma coisa?” Pergunta, a expressão em seu rosto


fazendo-me pensar que pode ler minha mente.

“Não.” Digo e mantenho o olhar sobre seu corpo.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Volta para a cozinha, assobiando uma melodia que nunca
ouvi.

Lee: Escolha perfeita. Não esperaria qualquer outra coisa de


Bruno.

Eu: É um enigma.

Lee: Você não tem ideia.

Ela não conta nada tampouco dele, mas nunca vou esquecer a
sua conversa fora da minha porta quando pensaram que não estava
escutando.

Eu: Então gostaria de saber...

Lee: Sim?

Quero perguntar sobre Bruno, mas decidi contra isso.

Eu: Irei ficar mais doente depois desta sessão?

Lee: Provavelmente. Os efeitos colaterais irão mudar. Além de


estar doente, você provavelmente vai passar por algumas coisas
bastante estranhas e assustadoras.

Talvez devesse ter perguntado sobre ele em vez disso. Acho


que não quero que ela continue com as informações. Antes que possa
digitar de volta, meu estômago decide que não quer mais bolachas.
Puxando a tigela na minha frente, atiro tudo dentro e sinto cada
biscoito cortando em seu caminho para cima.

Bruno está na sala antes que possa me recompor. Tem um


copo de água e uma toalha em sua mão, segurando-a para mim.

“Isso é nojento.” Queixo-me colocando a tigela no meu colo e


tomando a toalha para enxugar meu rosto.

“Eu sei.” Sacode o copo, me incitando a pegá-lo. “Água.”


Homem mandão.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Meus olhos rasgam, tornando difícil ver. Mas assim que
encontro o copo, agarra-o e começo a beber. O líquido fresco
deslizando pela minha garganta acalma a queimadura da doença.

Depois de beber cada gota, suspiro e relaxo contra a cabeceira


da cama.

“Você está bem?”

“Estou.” Fecho meus olhos.

A tigela se move do meu colo e ele a pega, indo em direção ao


banheiro com ela em suas mãos. “Posso fazer isso.” Grito e sinto-me
culpada por ele estar limpando meu vômito.

“Deixe comigo.”

Eu: Como você lidou com esse homem?

Lee: Fica mais fácil.

Eu: Duvido que qualquer coisa sobre ele seja fácil.

Envia de volta um emoticon com uma língua saindo.

Ela entende. Tudo isso.

ENSHRINE
Chelle Bliss
13
A DOR É UMA CADELA

Acordo com lágrimas em meus olhos e minha pele parece que


está pegando fogo.

Bruno me puxou contra ele e apagou imediatamente na noite


passada, mas entre meus sonhos e seu calor, não consigo mais
dormir.

Tento empurrar seu braço do meu peito, mas falho. Ele é


muito forte e seu braço também é pesado para movê-lo. Meu pânico
começa a subir e minha pele parece mais quente, quase como se
estivesse pegando fogo.

“Bruno.” choro, lutando debaixo dele para me libertar.

Ele se agita e grunhe, mas não acorda.

“Bruno!” Empurro mais e não consigo parar o pânico em minha


voz.

“O quê?” Grita, levantando e levando seu braço com ele. “Tem


algo de errado?” Abaixa-se para me tocar e encolho-me.

“Não.”

“Sua pele dói?” Pergunta como se estivesse lendo minha


mente, e aceno com a cabeça tremendo os lábios.

“Muito ruim. Não aguento.” As lágrimas escorrem pelas


minhas bochechas, e começo a balançar para trás e para frente,
tornando-o pior.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Pare de se mexer.” Diz e arrebata suas mãos rapidamente.
“Vou dar-lhe um banho frio.”

“Não, não posso me mexer.”

“Confie em mim.” Salta da cama e desaparece no banheiro.

Soluço, ouvindo a água escorrer e perguntando-me como vou


me levantar. Mesmo o pensamento dele me carregando, me apavora.
As roupas contra a minha pele são demais para lidar.

“Lee.” Bruno diz rapidamente. “A pele dela. Você pode vir?”


Quero dizer-lhe que não, chorar que não a quero ao redor, mas não
sou capaz de argumentar ou falar.

“Lee está vindo.” Diz quando sai do quarto. “Ela pode ajudar.”

Ele passa as mãos pelos cabelos.

“Não” grito enquanto se aproxima, jogando minhas mãos para


cima para detê-lo. “Por favor, não me toque.”

“Caminhe ou levo você. De qualquer maneira vai doer como um


filho da puta, mas o frio da água vai ajudar, Cal. Confie em mim.”

Eu faço.

Inteiramente.

Mais do que qualquer outra pessoa na minha vida, na verdade.


Se não fosse por ele, não sei se teria conseguido passar as primeiras
semanas sem ficar louca.

“Caminho.” Engasgo com minhas lágrimas, empurrando-me


com minhas mãos. O algodão macio dos lençóis parece mais como
brasas, chamuscando minha carne com cada movimento.

Bruno me observa lutando, me ouvindo gemer a cada passo


antes de me agarrar o mais suavemente possível e me levar para a
banheira. Mas em vez de me colocar no chão e me despir, coloca
meus pés na água gelada e começa a tirar minha roupa.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Isso é bom. Na verdade, é melhor do que isso. Afundando na
água, minha pele esfria e o fogo parece diminuir um pouco. Nunca
em minha vida senti uma dor abrasadora em todo o meu corpo. Não
foi embora, mas já não quero morrer ou chorar incontrolavelmente.

“Jesus,” murmura, arrastando os dedos por seus cabelos


grossos e escuros e olhando para mim. “Eu pensei que estivesse
pronto para isso.”

Pego meus joelhos, trazendo-os ao meu corpo para esconder


meus seios. “Para quê?” Arrasto meus olhos para ele.

“Para a dor que você vai passar. É difícil de assistir. Pensei ter
me preparado para isso. Sei como é. Vi Lee passar pela mesma
merda.” Engole duro e toma uma respiração profunda. “Mas ver você,
faz meu peito doer.” Coloca a mão sobre o coração e aperta a camisa.

Meu rosto repousa contra meus joelhos enquanto o observo.


Sinto meu coração bater um pouco mais rápido em sua doçura. “Por
que ligou para ela?”

Senta-se na borda e sorri suavemente, sua respiração ainda


irregular. “A única pessoa que conheço mais forte do que eu, é ela.
Pode ajudá-la através disso. Preparar você para o que está à frente.
Demorou um pouco para aprender os truques, maneiras de lidar com
os efeitos da quimioterapia. Você precisa dela, Cal.”

“Ok.” Meu corpo está mais frio, a dor menos perceptível


quando a água atinge apenas abaixo dos meus joelhos. Quando me
inclino para frente para desligar a água, me bate no braço e me puxa
para o meu lugar com um único olhar.

“Você está acostumada a fazer tudo sozinha?” Recolhe um


pouco de água em sua mão antes de deixá-la escorrer pelas minhas
costas.

Salto da frieza contra a minha pele. “Estou. Por quê? Você tem
pessoas que o ajuda com tudo?”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Sua boca está entreaberta enquanto sacode a cabeça. “É só
que, todos nós precisamos de alguém em algum momento em nossa
vida.”

O observo e não acredito. “Quando você já precisou de


alguém?”

Seu rosto suaviza. “Muitas vezes.”

“Como?” Empurro porque nunca cede nada facilmente.

“Quando preciso de alguém, minha irmã é minha rocha.”

Não que seja improvável, mas pensei que teria dito um homem
era sua rocha, não uma mulher, mas faz sentido. Eles parecem
próximos. “Quando?”

“Perdi alguém muito próximo.” Faz uma pausa, a água


pingando de sua mão, mas não diz nada. Não digo nada, pois vai
encontrar uma maneira de desviar a conversa.

“Ela morreu quando eu era muito jovem, mal sai do ensino


médio. Lee estava lá para mim. Cuidou de mim e certificou-se de não
me deixar perder o controle e fazer algo estúpido.”

“O que você teria feito?”

“É uma história tão longa, querida.”

“Tenho bastante tempo.” Sorrio, curvando sobre meus joelhos


para dar-lhe um melhor acesso as minhas costas.

“Depois do colegial, minha namorada descobriu que estava


grávida. Não ficamos exatamente emocionados sobre a situação.
Éramos jovens e estúpidos. Mas depois de um tempo, nós chegamos
a um acordo com isso. Planejamos um casamento e decidimos ter
uma família.” Posso ouvir a tensão em sua voz, a dor ainda escondida
em suas palavras.

“Então estamos planejando um casamento, tentando superar


nosso primeiro ano de faculdade, e tudo desapareceu e estava
impotente para detê-lo.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“O que aconteceu? Se não quiser falar sobre isso, entendo.”
Sou uma completa idiota, empurrei-o para falar e reviver algo
doloroso.

Seu peito se agita e ele não responde imediatamente. As rugas


perto de seus olhos aprofundaram. “Foram assassinados.”

“Oh Deus. Sinto muito. Não deveria ter....” Não consigo


pronunciar o resto das minhas palavras porque estou sufocada. Vê-
lo triste e vulnerável é demais para mim.

“Um viciado tentou roubar seu carro. Em vez de sair, ela


argumentou e ele atirou em sua cabeça.”

“Jesus,” sussurro e meu coração dói por ele.

“Sim. Deixou nosso bebê e ela morrer em um semáforo.”

“Não consigo imaginar.”

“Pergunto-me todos os dias por que não saiu do maldito carro.


Não valia a pena a sua vida. A vida de nosso bebê ou qualquer outra
coisa. Era só um carro.”

Estendendo o braço, toco sua mão descansando ao lado dele


na borda da banheira e dou-lhe um aperto forte. “Desculpe-me,
Bruno.”

“Fiquei fora dos trilhos depois disso. Não vi um propósito na


vida. Mesmo que não tivéssemos planejado o bebê, sonhava com o
dia em que nos tornaríamos uma família. Nunca me preparei para
perdê-los. Lee ficou ao meu lado, lembrando-me que Maggie não
gostaria que me perdesse.”

“Sua irmã o ama.”

“Ela faz. Mas não precisava cuidar de mim como fez. Nem
sequer lembro-me do funeral. Estava entre a raiva cega e paralisia.
Mas ela apareceu e me deu uma razão para continuar.”

“Gostaria de ter uma irmã.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Ele põe uma mão no meu ombro antes de driblar a água fria
pelas minhas costas mais uma vez. “Quando Lee ficou doente, ainda
estava uma bagunça. Mas tinha que ajudá-la. Ela me puxou da
escuridão e prometi ser tudo o que precisava para sobreviver do
Câncer de mama. Vê, não era inteiramente altruísta, não poderia
perdê-la. Perder outra pessoa, especialmente uma que amo mais do
que qualquer pessoa ainda andando neste planeta, teria me
destruído. Não haveria retorno daquela perda, Cal. Não voltaria.”

“Não importa por que você fez isso, Bruno, só que você fez. Mas
ainda não entendo por que você está aqui comigo, me ajudando com
isso.”

Sua sobrancelha esquerda sobe quando sorri para mim.


“Ainda não descobri isso, e você?”

“Não,” solto um gemido, sabendo que está brincando comigo


como um gato brinca com um rato.

Quando começa a responder há uma batida na porta. “Tenho


que atender.” diz, saltando da borda da banheira como se tivesse
sido salvo.

“Porra,” assobio, descansando minha testa contra meus


joelhos. “Tempo perfeito, Lee.” Ela o salva mais uma vez e ajuda a
me manter no escuro.

ENSHRINE
Chelle Bliss
14
ALGUMAS COISAS SÃO MELHORES NÃO DITAS

QUANDO SAIO DA BANHEIRA e visto meu robe, Bruno e Lee


estão sentados na cozinha esperando por mim.

“Ei” Lee me cumprimenta com os braços estendidos enquanto


seus olhos buscam os meus.

“Oi.” A abraço com força, mas suas mãos mal me tocam.

“Você está bem?” Pergunta, dando um passo para trás e


olhando para mim.

Assinto. “Muito melhor.” Meu sorriso se alarga porque estou


de repente grata pelas duas pessoas na minha cozinha. “A sopa de
gengibre ajudou minha barriga também.”

“Graças a Deus.” Sussurra e esfrega sua testa.

“Bem, senhoras. Embora aprecie uma boa conversa.” Ele


levanta-se e enfia a carteira e as chaves no bolso. “Tenho trabalho a
fazer. Voltarei mais tarde.”

“Agora?” Verifico o relógio e me pergunto por que está se


esquivando.

“Sim.”

“Você vai voltar?” As palavras saem de minha boca antes que


possa pará-las.

“Vou tentar, mas se não der, Lee vai ficar e passarei amanhã.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Entra minha atitude rabugenta que é totalmente deslocada e
inesperada. “Bom.”

Caminha em nossa direção, dando a Lee um beijo na bochecha


antes de parar na minha frente. “Vejo que está se sentindo melhor.”
Seus dedos encontram meu queixo, levanto-o para encontrar seu
rosto. “Seja uma boa garota.” Pisca antes de me beijar no nariz.
“Serei.”

“Posso estar dormindo.” De repente, sinto-me irritada.

“Tenho uma chave, lembra?”

“Sim.” Minha voz é leve e arejada.

Seus lábios pressionam contra os meus, fazendo meus dedos


do pé se enrolar na madeira dura. Ele não me toca em qualquer outro
lugar, apenas seus dedos contra o meu queixo e seus lábios nos
meus. Pura perfeição. Doçura que nunca teria imaginado que
tivesse.

“Cuide dela, irmã.” Diz a Lee.

“Prometo.” Responde e me dá o maior sorriso sobre seu ombro.

“Não me espere.” Diz antes de partir.

“Espero que não se importe de estar aqui. Posso ir embora se


você quiser.” Lee oferece, dando-me um sorriso apologético.

“Não.” Pego a chaleira vazia do fogão e começo a enchê-la.


“Aceita algo para beber?”

“Adoraria.” Senta-se, esperando que termine, e olha ao redor


do meu apartamento com fascínio.

“Este lugar é muito bonito.”

“Era meu sonho viver aqui há muito tempo, mas agora, parece
tão sem importância.” Olho ao redor quando me sento ao seu lado.
Mas tem razão. É realmente bom. “É apenas um lugar para viver
agora.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Não. Isso não é verdade.” Toca minha mão e aperta seus
lábios. “Todos nós temos algo que amamos, coisas que nos mantêm
avançando na vida. Algo muito ruim nos puxa para baixo se não o
fizermos.”

Não tinha pensado nisso dessa maneira. Coisas como meu


apartamento bonito e moderno, minha coleção de sapatos estelar, e
meu guarda-roupa insano me manteve em movimento a cada dia.

O trabalho é mais do que um salário, mas nunca fez mal


doar-se. “Verdade.”

“Bruno se assustou mais cedo?”

“Não.” Encolho os ombros, tentando dar-lhe um sorriso.


“Entrou em pânico, no entanto.”

“Para um cara duro, às vezes sente a dor dos outros um pouco


forte demais.”

“Contou-me sobre Maggie.” Digo.

“Ele falou?” Suas sobrancelhas se erguem e seus lábios se


separam.

Aceno com a cabeça e espero que me conte mais. “Quando


estava na banheira. disse-me que todos precisam de alguém às
vezes. Explicou como você o ajudou durante esse tempo em sua
vida.” O bule começa a assobiar.

“Meu irmão exagera. O ajudei, mas não fiz nada mais do que
alguém faria por alguém que eles amam. Estava ao meu lado
enquanto lutava também. Este é o que somos. É quem somos.”

“Vocês dois têm sorte.” Digo enquanto pego as xícaras de chá.


“Camomila está bom?”

“Tudo está bem contanto que você tenha açúcar.”

Equilibro as xícaras minúsculas em uma mão para levar o


açúcar para a mesa e coloco-o em frente a ela. “Estou feliz por você
estar aqui, Lee.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Disse que poderia me ligar a qualquer hora, Callie. Quis dizer
isso realmente.”

Despejo nosso chá e conversamos como garotas por mais de


uma hora. Ela não menciona câncer e finalmente, a conversa volta-
se para Bruno, que rapidamente tornar-se o meu tópico favorito.

“Então, como ele realmente é?” Pergunto e bebo o chá da


minha xícara.

“Ele é exatamente o que você pensa. Às vezes temperamental,


mas, todos nós somos de vez em quando. Ele é leal à alma. Dedicado
ao seu trabalho e ama mais do que qualquer um que conheço.”

“Qual é o seu trabalho, exatamente?” Ergo a cabeça, prendo


minha respiração antecipando que vai me contar tudo.

Ela baixa o olhar para a xícara, quebrando o contato visual


comigo pela primeira vez.

“Não é assunto meu, Callie.”

Droga. “Está tudo bem, Lee. Nunca pediria que você o traísse.”
Não ajuda a dissipar quaisquer rumores que ouvi sobre ele e seu
“negócio”.

“Ele certamente contou a você.”

“Eu não entendo. E ele não falou nada.” Ela ri, seus dedos
envolvem em torno da xícara. “É difícil às vezes.”

“Você sabe?”

“Novamente, é para ele dizer.”

Sento-me na minha cadeira e sinto a derrota. “Que bom você


estar aqui, Lee, honestamente?”

“Ele vai te dizer quando for a hora, querida. Prometo.” Bate


na minha mão e seu rosto se ilumina com a vontade de rir.

“Posso morrer primeiro.” resmungo.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Bruno não vai deixar você. Antes de eu ir, queria falar com
você sobre a sua quimioterapia. Como você acha que está indo?”

“Está me matando.” Admito. Parece, pelo menos. Não me sinto


mais saudável ou mais forte, apenas doente e fraca, mas é veneno,
afinal.

“Então está fazendo o que é suposto.”

Dou-lhe um sorriso torto. “Sim.”

“Esteja preparada para outros efeitos colaterais que podem vir


ao longo do caminho. Como estão os seus cabelos?”

“Dói.” Correr uma escova através dos fios tornou-se quase


impossível. Cada fio dói quando uso um rabo de cavalo por muito
tempo.

“Provavelmente vai começar a cair em breve.”

Meus dedos instintivamente encontram alguns fios e os gira


suavemente. “Oh Deus.”

“É melhor raspar antes que isso comece a acontecer. Vai se


sentir mais no controle.”

Não me sinto no controle há muito tempo. Raspar minha


cabeça não vai me ajudar a sentir qualquer melhora, mas vai me
lembrar, exatamente, o que estou passando. O pensamento de tudo
caindo no chão faz meu peito apertar.

Cada fio de ouro é pura perfeição. Corte reto, brilhante e


intocado loiro que brilha na luz do sol. Anos desperdiçados me
preocupando apenas em deixá-lo bonito, e tudo para cair e nunca
mais ser o mesmo.

“Será que vai voltar a ser o mesmo?” Pergunto, ainda


brincando com as mechas.

“Provavelmente não. Meus cabelos eram vermelhos antes


disso.” diz, puxando seu rabo de cavalo.

“Serio?” Meus olhos se arregalam e fico assustada.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Não.”

Rio nervosamente. “Vejo que ser um espertinho é de família.”

Enquanto caminho para a porta, penso no que disse. São


apenas cabelos. Não é quem sou; é apenas uma pequena parte de
mim. As pessoas mudam de cabelo todos os dias e eventualmente
volta a crescer.

“Ei,” chamo. “Tudo isso vai cair?” Toco minhas sobrancelhas e


rezo para que negue.

“Tudo” responde e olha para baixo na direção da minha virilha.


“Todos os pelos.”

“Oh, porra.” Murmuro.

“Basta pensar em todo o tempo que vai economizar se


depilando.”

“Essa é uma maneira de encarar a situação.”

“Há sempre um lado positivo, enquanto você está viva.” Ela


acena um adeus e sai.

“Sim” murmuro enquanto fecho a porta. Depilar não seria uma


coisa que teria que fazer novamente por um tempo muito longo.

O que penso como um problema, Lee pensa como economizar


tempo. Engraçado como vemos o mundo de formas diferentes ao
passar pela mesma coisa.

ENSHRINE
Chelle Bliss
15
A MUDANÇA ESTÁ VINDO... PRONTA OU NÃO

BRUNO cai na cama logo após o nascer do sol. Não dormi uma
piscadela sem ele ao meu lado. Continuei reproduzindo tudo o que
Lee disse e as coisas que ele me contou. E mais uma vez eles passam
pela minha cabeça, mas ainda não faz sentido nada disso.

“Ei” diz, me enfiando debaixo do braço quando ele me puxa


para o lado dele.

“Senti sua falta.” Digo sem pensar.

Beija a minha testa, deixando seus lábios permanecerem na


minha pele. “Desculpe por não ter conseguido chegar mais cedo.”

“Está bem. Simplesmente não conseguia dormir depois que Lee


saiu.” Enterro meu rosto em seu peito e suspiro. “Estou tão exausta.”

Puxa-me para mais perto e acaricia minhas costas. “O que ela


disse que deixou você tão assustada?”

“Disse que deveria raspar minha cabeça.” Minha voz soa


amortecida por sua pele.

“Desculpe, Cal.”

“Está bem. É só cabelo.”

“Vou te ajudar.” Oferece e respira profundamente em meus


cabelos.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Sinta o seu cheiro agora porque não vai estar aí mais tarde.”
É um pouco engraçado, mas realmente quero chorar ao pensar em
ficar careca. “Irei fazer isso sozinha.”

“Cal, te disse sobre fazer merda sozinha.”

Afasto-me para ver seu rosto. “Isso é algo que tenho que fazer.
OK?”

Balança a cabeça e enfia os dedos nos fios. “É apenas cabelo.”

“Eu sei.” Relaxo sobre o seu corpo e adormeço enquanto


esfrega minhas costas.

Não me lembro do meu sonho, mas acordo em um suor frio


com meu coração acelerado. Verificando o relógio, percebo que estou
dormindo há mais de dez horas.

Bruno não se mexeu e tem o braço em volta de mim.


Lentamente, afastou-me da cama, levantando o braço e deslizando
por baixo até meus pés tocarem o chão.

Sei o que tenho que fazer antes dele acordar. Tenho uma
navalha sobressalente no armário que meu ex-namorado deixou
para trás.

Parada na frente do espelho, choro e as lágrimas começam a


cair, no balcão como grandes pingos de chuva caindo do céu.

Minhas mãos tremem cada vez que levanto a navalha para a


minha cabeça e começo a temer. O pensamento de voluntariamente
cortar meus cachos loiros perfeitos é além de aterrador. Passei anos
acertando os meus cabelos, mas sei que não vai durar por muito
tempo.

Inevitavelmente, vai cair. Não posso fazer nada para detê-lo.


Mesmo que eu tenha rezado para que fosse uma das sortudas que
não perderiam seus cabelos, ele já está começando a diminuir.

“Você consegue fazer isso.” Digo a mim mesma no espelho,


enxugando as lágrimas. “É só cabelo.” Minha voz racha na última

ENSHRINE
Chelle Bliss
palavra. Tenho duas escolhas: guardar a navalha ou esperar que
caiam em tufos, ou me livrar dele e assumir o controle da situação.

Sempre gostei de estar no controle e no comando do meu


destino. Acho que é por isso que estou solteira neste percurso.
Porque estar com alguém significa dar o controle e perder um pedaço
de mim mesmo ao longo do caminho.

Este é a minha oportunidade para estar no comando, fazer do


câncer a minha cadela. Tenho que fazer isso.

Cortar meus cabelos é o primeiro passo para ganhar o controle.

Limpo meus olhos novamente, piscando algumas vezes para


limpar minha visão antes de levantar a tesoura para os meus
cabelos. “É minha escolha.” Sussurro e vejo o meu reflexo. Sabia que
seria difícil, mas não esperava que tanto, sinto uma ansiedade que
me faz perder a calma.

Julgamos os outros pela aparência. Muitas vezes, nem


percebemos que estamos fazendo isto. Cabelos é algo que as pessoas
veem de longe e iniciam sua avaliação. É ridículo.

As mulheres gastam centenas de reais tentando deixar seus


cabelos perfeitos para ter algum senso irreal de beleza.

Sou culpada disso.

Não deveria ser tão difícil de correr a navalha através dos meus
cabelos e vê-los cair ao chão. Lentamente, empurro as navalhas
pelos meus cabelos, começando pelo lado esquerdo perto da minha
orelha. Mas quando a primeira mecha de cabelo cai diante de meus
olhos, as lágrimas começam novamente e minha visão borra.

“Posso fazer isso.” Sussurro novamente, continuando a me


dar uma conversa animada.

Por que isso é tão difícil? Vai voltar a crescer, não estou
cortando um braço;

É apenas cabelos. Mas tornou-se parte da minha identidade, e


estou perdendo outro pedaço de mim.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Por vontade própria ou não, não consigo evitar que minhas
mãos tremam. Agarrando meus cabelos, os seguro e tento manter o
movimento da navalha constante quando passo sobre a minha pele.
Com um punhado separado na minha mão, não posso ajudar, mas
olho para baixo. Paralisada.

No grande esquema das coisas, é irrelevante. Não importa, mas


ainda amo cada centímetro dele.

Tudo gira fora de controle.

Tudo.

Sendo uma nerd autoproclamada da ciência, costumava ter


controle. Trabalhando em um laboratório, conduzo cada passo de
uma determinada maneira, em uma ordem particular, e tenho
sucesso nesse tipo de rigor. Mas o câncer tem tudo misturado em
meu cérebro.

Uma guerra está acontecendo dentro de mim. Entre o câncer


e eu. Mas há outro também. Um ato de equilíbrio, um cabo de guerra
de tipos que se tornou uma batalha constante. Quero lutar. Desejo
ser uma garota dura, pronta para chutar a bunda do câncer, mas
minha mortalidade me impede. Talvez haja um pouco de vaidade
também.

Paralisada.

Congelada.

Sinto que a maioria dos dias são iguais, como todos os outros.
O tempo se movendo e sou uma observadora, não participando de
nenhuma maneira, apenas sentada, observando o movimento do
mundo, e não posso tocá-lo.

Preciso parar de lamentar sobre a minha vida e começar a vivê-


la. Nada é mais fácil. Mas ser um espectador passivo não é para mim.
Não posso deixar isso me matar.

Não apenas meu corpo, mas meu espírito também.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Basicamente, tornei-me parte dos mortos-vivos. Não, não como
um zumbi, mas me enterrei enquanto ainda ando pela terra e não
estou fazendo nada para parar a coisa que mais tenho medo... A
morte.

Sim, comecei o tratamento, mas, além disso, a luta interna que


sempre pensei que tivesse afastado. Talvez cortar meus cabelos seja
o primeiro passo para ganhar de volta o controle que preciso.

Viro minha mão, deixando os tufos de cabelos caírem ao chão


em uma pilha minúscula. E fico lá, olhando para os meus cabelos e
pensando como minha vida se tornou louca.

Gostaria de poder dizer que minha minúscula conversa


animada torna mais fácil, que posso depilar minha cabeça sem um
cuidado, mas não é verdade. Cada passagem da navalha é como
perder um pequeno pedaço de mim mesma.

Quando termino de cortar o primeiro lado, me deixando um


moicano longo e flexível, olho para mim e me pergunto se poderia ter
tido o olhar punk-rock dos anos oitenta. Nah, teria sido a pior garota
punk-rock.

Percebo o que vai me incomodar mais sobre não ter cabelos.


Grita a paciente de quimioterapia, como o olhar de Sinead O'Connor
não está mais em voga. Não conseguirei evitar as perguntas; e não
tenho certeza se estou pronta para elas. Não acertei o ponto onde
estou confortável o suficiente falando sobre a minha doença sem
romper em lágrimas.

Meu rosto mudou também. Mesmo com apenas duas sessões


de quimio, já mostra. Os círculos escuros fazem meus olhos
parecerem mais salientes e me fazem parecer mais velha do que sou.
Minha pele não brilha como costumava, o brilho, apagado pelo
veneno dentro de mim. Inclinando-me para frente, estico a pele das
minhas bochechas. O que mais vai fazer para mim?

Não o vejo, mas sinto sua presença. Minha pele se arrepia


enquanto vejo seus olhos me olhando através do espelho.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Ele abre a porta completamente e invade minha privacidade.

“Callie.”

“Você deveria estar dormindo.” Ouço a angústia em minha


própria voz. Não estou louca, mas pensei que poderia terminar isso
antes dele acordar.

Move-se atrás de mim, mantendo seus olhos colados aos meus


no espelho. “Procurei por você e não estava mais na cama. Queria
ter certeza que você estava bem.”

Não posso segurar. Tenho certeza que não estou bem. Começo
a falar, mas tudo isso sai sem sentido. Levanto a navalha e mostro,
resmungando sobre como não posso fazê-lo. Aponto para o chão,
minha incapacidade de parar de chorar supera minhas palavras.
Choro, mais e mais alto. Não sei o que estou dizendo, mas ele parece
entender.

“Shh. Está tudo bem.” Envolve seus braços ao meu redor com
uma expressão dolorida. “Você não deve fazer isso sozinha.” Sua
força envolve-me e me faz sentir segura.

Fico em seus braços, tremendo enquanto me consola. O jeito


que me abraça me dá mais força e serenidade em um mundo
ofuscado pelo meu medo. Enterro meu rosto em seu peito, ouvindo
o batimento familiar de seu coração, e fecho os olhos. Lentamente,
minha respiração volta ao normal enquanto minhas lágrimas secam.

“Deixe-me ajudá-la.” Murmura no que restou dos meus


cabelos enquanto acaricia minhas costas.

Encontro o seu rosto, meus olhos ainda vítreos e ardentes.


“Deveria fazer isso sozinha.” Murmuro, incapaz de deter meu queixo
trêmulo.

Suas sobrancelhas se juntam e sua mão para. “Por quê?”

Encolho os ombros, não sei, mas sinto que é a minha cruz para
suportar.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Raspei a cabeça da minha irmã. Pratiquei muito na minha
própria cabeça também. Deixe-me...” Beija minha testa, seus lábios
macios escaldando minha pele. “Só fique aí e sinta o que você precisa
sentir, e farei o resto.” A bondade em seus olhos é evidente. Se não
o conhecesse melhor, pensaria que havia mais do que apenas ele
sendo agradável. Gosto muito disso, mas ele olha para mim com
tanta suavidade e adoração que já não quero fazê-lo sozinho.

Concordo não me incomodando com palavras porque temo que


vá começar a chorar de novo. Meu rosto está inchado, o meu nariz
entupido, e não posso ter muito mais sem sentir total exaustão.

Quando me viro e o vejo no espelho, espero que faça uma


careta. Algo para indicar o quão horrível realmente parece. Sinto-o.
O corte estilo moicano não é bom em mim. Não me sinto a mesma
pessoa, enquanto estou diante dele. Seu rosto nunca muda, apenas
irradia suavidade quando pega a navalha e toca meu ombro antes de
começar.

“Estou pronta.” Digo e assisto seu rosto, sem olhar para o meu
reflexo no espelho.

É fácil olhá-lo mais do que qualquer pessoa normal. Ele é


bonito e já não me assusta com um único olhar. Conheço o outro
lado de Bruno. As palavras não são boas, mas diz o que precisa e
deixa o resto para a imaginação.

Quando levanta a navalha, fecho meus olhos, esperando para


senti-la contra minha pele. O som dela movendo-se pelos cabelos,
distintos e inesquecíveis, paro e abro os olhos. Não está passando
pelos meus cabelos, mas pelos dele.

“Não quero ser deixado de fora.” Brinca antes de corta uma


parte dos seus cabelos.

Estou encantada com o gesto e de boca aberta.

Os homens podem fugir com um corte de zumbindo, eu... nem


tanto. Mas sua vontade de cortar seus lindos cabelos castanhos é
tão doce que quase quebro novamente. Mordo meu lábio, incapaz de

ENSHRINE
Chelle Bliss
desviar o olhar quando cada passagem da navalha afastada e caem
um pouco mais no chão.

Em poucos minutos, seus cabelos exuberante transformou-se


em um corte baixo. Arrasta a mão para frente e para trás, limpando
alguns retardatários que não caíram no chão. Sorrio e me pergunto
de onde veio e por que não o conheci mais cedo.

Ele faz parecer fácil. Quase me libertando.

“Pronta?” Pergunta, segurando a navalha ao lado da minha


cabeça e olhando para mim com nada além de adoração em seus
olhos.

Aceno e engulo o último pedaço de ansiedade que tenho antes


de fechar os olhos. Assistir é a parte assustadora. Com ele fazendo
isso por mim, não tenho que ser uma testemunha do evento.

Posso lidar com as consequências. Não tenho outra escolha.

Gentilmente, Bruno corre a navalha ao longo do meu couro


cabeludo, tomando seu tempo e não faltando um centímetro. De vez
em quando, ele passa a mão pelos pequenos pelos deixados para
trás. E meus olhos rolam para trás em minha cabeça. Meus cabelos
tornaram-se dolorosos, mas nesse comprimento e sob seus dedos,
faz vibrar minha pele. Mas não sexualmente. As colisões rastejam
pela minha pele e meu corpo se move em direção à sensação,
querendo mais.

Momentos mais tarde, a navalha para e suas mãos estão se


movendo no meu couro cabeludo. Meu corpo balança, seguindo
instintivamente seu movimento.

Como passei de uma bagunça completa para sentir isso tão


rapidamente? Apenas Bruno poderia fazer isso. Ninguém mais tem
esse poder sobre mim.

“Feito!” Sussurra em meu ouvido, segurando em meus ombros.


“Abra os olhos.”

Balanço a cabeça, temendo olhar no espelho. Não quero olhar.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Vamos, querida. Você parece totalmente Kick-Ass4.”

Um pequeno sorriso se forma em meus lábios da vibração de


sua voz fazendo cócegas na minha orelha, junto com ser chamada
de Kick-Ass. Não consigo parar. “Ninguém nunca me chamou de
totalmente Kick-Ass antes.” Estou mais como uma versão moderna
da Barbie do que GI Jane 5. Sua declaração é completamente risível.

“Estou com medo.” Admito suavemente.

“Cal.” Sua voz faz cócegas no meu ouvido novamente. “Você


está maravilhosa. Bonita mesmo. Lembre-se quando entrei você
tinha este moicano louco? Estava bonito, mas não teria feito uma
imagem bonita em público. Agora você está melhor do que qualquer
mulher que já vi com um corte curto. Torna-se você.”

“Então você quer esfregar?” Digo em tom de brincadeira, mas


no fundo não estou. Seus dedos fazem coisas loucas para mim. Meu
estresse se dissipa quando suas mãos se movem pela minha carne.

Sua risada profunda e suave me faz inclinar-me nele. “Vou


esfregar o que quiser.”

Sorrio baixinho, rolando minha cabeça para trás em seu


ombro.

“Vamos. Apenas olhe.” Respiro fundo e abro os olhos. Não


lentamente, prolongando a agonia, mas rapidamente, como arrancar
um Band-Aid colocado nos meus cabelos.

Hã. Não me reconheço. Isso eu sei. Até o meu rosto parece


diferente. Graças a Deus minha cabeça está bem moldada. Poderia

4É um filme estadunidense e britânico de 2010, dirigido por Matthew Vaughn. É baseado na história em
quadrinhos de mesmo nome. O filme conta a vida de um adolescente normal, chamado Dave Lizeewski, que
decide tornar-se um super-herói por influência das histórias em quadrinhos.

ENSHRINE
Chelle Bliss
ter sido realmente estranho se tivesse tido um crânio irregular, mas
de alguma forma, é simétrico. Meus cabelos não são tão leves perto
das raízes, que faz com que minha pele fique ainda mais pálida.

Pisco algumas vezes, perguntando-me se o que vejo é real.

Isto é.

Aconteceu.

Já não tenho cabelos que cascateiam pelos meus ombros ou


beijam minha bochecha. Não sentirei o sopro do vento através dos
meus cabelos. O sentimento é estranho. Ainda sou eu, mas não sou.

Uma vez, anos atrás, tive um acidente com o curvex. Lembro-


me de como meu olho parecia engraçado sem o cílio. Usei delineador
preto por um mês enquanto esperava pelos cabelos crescerem. A
única coisa que nunca esperei era que cílios realmente tinham uma
função. Senti o ar passando pelas minhas pálpebras, e meu olho
constantemente raspado ou seco como o inferno. Cílios protegem
seus olhos, dando-lhes uma linha de defesa de detritos que flutuam
pelo ar. Quando os arranquei, com minhas mãos molhadas, pensei
o quanto parecia estranho.

Cílios não são nada em comparação com os cabelos na minha


cabeça. Logo, se quisesse não aconteceria. Não só perderei os meus
cílios, mas também estarei desprovida de sobrancelhas e de todos os
outros pelos do corpo.

Uma pessoa positiva pensaria wow, que economia de tempo.


Não terei que me depilar, não teria sequer algum cabelo para
escovar, lavar, ou alisar. Isso seria grandioso se fosse algo que
quisesse. Uma escolha que fiz. Esta não era uma escolha. Uma
doença que prometi curar durante minha vida fez para mim.

Bruno, pensa que estou bem. Até mesmo disse a palavra “Kick-
Ass.” Não quero decepcioná-lo, especialmente depois que raspou a
cabeça também. Mas não há nenhuma maneira no inferno que possa
acreditar em qualquer uma dessas afirmações. Não parece ruim, mas
de nenhuma maneira estou bonita.

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“Veja.” Move-se para o meu reflexo no espelho e parece
orgulhoso. “Acho que nós dois parecemos muito lindos.” Ele corre a
mão para trás através na cabeça dele com um sorriso satisfeito.

Não posso discutir como ele parece. Com cabelo ou sem cabelo,
o homem tem isso. “Você está lindo.” Sorrio e evito concordar sobre
como pareço.

“Callie, olhe para o espelho.” Segura meus ombros e endireita


meu corpo, então estou de frente para o espelho e não tenho para
onde olhar. “Olhe.”

“Bruno.” Contorço-me desconfortavelmente em suas mãos. Já


olhei. Não vejo ou sinto-me incrível. Pareço uma paciente com
câncer, e sinto-me uma merda sobre isso.

“Apenas faça.” Rosna. Doce, agradável Bruno sai por um


momento antes de seu rosto suavizar novamente. “Por favor.”

Enrijeço em seu aperto e descasco meus olhos longe dele


arrastando-os para o meu rosto no espelho. “Estou olhando.” Digo,
minha voz tão sarcástica, ele tem sido tão bom para mim e estou
agindo como uma puta.

“Diga que você está linda.”

“Estou linda.” Repito sem rodeios.

Inclino a cabeça e meus olhos piscam para os dele. “Diga como


se sente.”

“Idiota.” Murmuro.

Sua sobrancelha esquerda sobe e atiro-lhe um sorriso falso e


espero que não tenha me ouvindo.

“Estou bonita.”

“Chame-me do que quiser, mas ainda é bonita. O cabelo é


apenas cabelo, baby. A vida é mais importante. Não faz você.”

“Você deve escrever cartões.”

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“Cal.” Seu aperto aumenta e sua voz abaixa. “Não me empurre.
Estou sendo legal e está agindo como uma cadela.”

Minhas sobrancelhas se elevam quando ouço a palavra cadela.


“Desculpa.”

“Todos nós conseguimos agir assim quando os tempos são


difíceis. Eu faço. Todos nós fazemos. Mas você tem que ver o que está
na frente de você.”

“Um paciente com câncer?”

“Não.” Suas narinas piscam, e não posso dizer se ele está na


sua sanidade comigo ou não. “Uma mulher lutando por sua vida.
Alguém tomando o controle de seu destino e pronta para chutar o
traseiro do câncer.”

“Gostaria de ter seu otimismo.”

“Você faz. Apenas foi derrotada. Vamos encontrá-lo


novamente. Não vou deixar você desistir.”

Observo-o. “Por quê?”

“Você é muito importante para desistir e deixar o câncer levá-


la.”

Hã? “Volte novamente?”

“Sei quem você é, Callie. O que você faz. Você é muito


importante para os milhões de pacientes com câncer lá fora, lutando
por suas vidas. Você não pode jogar tudo fora e sucumbir à própria
doença que eles estão lutando.”

Estou boquiaberta, realmente. Minha boca fica aberta


enquanto procuro com espanto seu rosto. Bruno sabe quem eu sou?
Sabe o que faço? Mas por quê? Como? “Como você sabe?” Pergunto,
com minha voz baixa e tímida.

“Falaremos sobre isso mais tarde.” Solta meus ombros e sai do


banheiro rapidamente.

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Permaneço lá completamente atordoada, me olhando no
espelho. Já não sou a mesma pessoa admirando os meus cabelos no
reflexo, mas olhando para mim e perguntando, “Que Porra?”

No momento em que o alcanço, já calçou suas botas e está se


dirigindo para a porta da frente. “Bruno, precisamos conversar.”

Abre a porta sem sequer olhar para mim. “Mais tarde, Cal.”

“Agora!” Minha voz é estridente e pânico ata-me.

“Já falei demais.” Não diz mais nada. Sai e tenho um milhão
de perguntas sem respostas.

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16
ESTÁGIO 4 - DEPRESSÃO REVISITADA

A VIDA TORNOU-SE...

Nem sei a palavra para descrevê-la.

Esgotada.

Deprimente.

Inevitável.

Solitária.

Quando Bruno saiu de meu apartamento duas semanas atrás,


disse: “Foda-se... Boa viagem.”

Ele ligou, mandou mensagens de texto, e até bateu, mas nunca


respondi ou o deixei entrar. Não quero ninguém ao meu redor,
especialmente ele. Não estava me dizendo nada, e estava cansada
dos seus jogos.

Nunca fui à garota para ficar bem com segredos.

Esperei que arrombasse a porta e entrasse, mas não o fez.

A última semana foi pacífica. Até Becca tinha se tornado


escassa. Seu chefe a prendou no trabalho, fazendo-a trabalhar em
turnos duplos.

A quimioterapia ainda é um chute na mina bunda, e me sinto


mais doente do que já estive antes. Rastejo ao redor do meu
apartamento quando preciso me locomover. Aprendi rapidamente a

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configurar tudo antes de sair para o tratamento. Coloco água
suficiente, pequenos lanches para o caso de sentir fome, e tenho o
meu pote de vômito próximo, caso precise. Não preciso de ninguém
para tomar conta de mim, especialmente ele.

Meu corte baixo agora está com manchas suaves e muito


poucos cabelos à vista. Minhas sobrancelhas se foram, meus cílios
estão pendurados por um fio, e o resto de mim é mais suave do que
nunca. Toda vez que me olho no espelho, tenho que fazer duas vezes.

Perdi muito peso. Pareço um esqueleto sem pelos. Não há


pessoa no mundo que desejo que me veja assim. Tenho meus
mantimentos entregues e só deixo meu apartamento para ir à
quimioterapia ou para a consulta médica e depois venho direto para
casa.

Tento assistir televisão, mas nada prende meu interesse. Não


posso rir ou me perder em qualquer coisa, nem mesmo um livro que
teria gostado antes.

Ainda tenho medo da morte. Como não posso?

Quando encontro energia, começo a limpar cada gaveta e


armário que tenho. Se eu morrer, não quero que ninguém tenha que
passar por minhas coisas. Lembro-me de como minha família agiu
quando minha avó morreu. Eles remexeram suas coisas, e tudo o
que tinha sido privado tornou-se público. A coisa mais inteligente
que ela fez foi rotular os itens grandes. Na parte de trás de cada
pintura, peça de mobiliário ou decoração, tinha colocado um pedaço
de fita com o nome da pessoa que queria presentear depois que
deixou este mundo. Pensei que era peculiar na época, mas agora,
compreendo o que estava pensando. Sabia que na idade dela o fim
estava próximo e queria seus desejos realizados.

Mas não tenho ninguém para deixar minhas coisas, exceto


Rebecca. Além do trabalho, as únicas coisas importantes na minha
vida tinham sido minhas coisas.

Coisas que ninguém quer.

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Meus bens valiosos seriam doados para uma loja de artigos de
segunda mão. Alguém gastaria alguns reais quando na verdade
custaram centenas de reais e tentei o meu melhor para manter o
exterior perfeito.

Que merda de lixo.

Em vez de passar tempo com amigos e possivelmente


encontrar o amor da minha vida, trabalhei e fiz compras. Que diabos
escreveriam no meu obituário?

“Callie Gentile morreu aos trinta e dois anos com uma coleção
de sapatos incomparáveis, armário de roupas de grife, e sozinha. Em
vez de flores, envie um pagamento ao Visa para ajudar a pagar o seu
vício em compras.”

Minha vida tem sido risível.

São só minhas coisas e eu.

Sento no escuro apoiada contra a parede dentro do meu closet


com meus olhos varrendo minha vida. O que já tive orgulho agora,
me envergonha. Lágrimas deslizam pelo meu rosto, mas não tenho a
energia para soluçar.

Penduro minha cabeça, uma guerra acontecendo dentro de


mim. Sei que estou sendo egoísta e ridícula. Minha mente não está
certa.

A luz fluindo em meu armário faz minha coleção de sapatos


parecer um santuário.

Um idiota, mas é tudo que tenho.

“Callie.” A voz de Bruno é suave.

Não me movo e não volto a me importar. Limpo meu rosto e


olho para a porta, esperando que vá embora.

“Abra a porra da porta!” Sua voz fica mais alta enquanto bate
na porta. Tenho certeza que todos os meus vizinhos já o ouviram.

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Ah Merda. Bruno está chateado. Não tenho que abrir a porta
para saber. Meu celular começa a tocar e salto. Rapidamente, o
cubro com minhas mãos para abafar o som.

“Posso ouvir o seu celular. Abra a porta.”

Faço uma careta e rolo meus olhos. “Maldito traidor.” Assobio


e olho para o meu celular.

Eu: Vá embora.

Um texto faria o truque. Empurro-me para fora do chão e entro


no meu quarto.

“Não!” Grita e hesito.

Eu: Vou chamar a polícia.

“Continue. Estarei dentro antes que cheguem aqui.”

Ah! Grrr. Bruno assustador voltou.

Caminho em direção à porta e tento não fazer um som.

“Callie.” Sua voz está mais suave desta vez. “Preciso saber se
você está bem.”

Um tiro de misericórdia.

Eu: Estou bem. Por favor, vá embora.

Não há resposta. Espero ouvir qualquer coisa que indique que


ficou, e quando não ouço nada, dou mais um passo. Lentamente,
ando em direção à porta e coloco meu olho contra o olho mágico.
Escuridão. Nada. Nem mesmo as luzes no corredor. Olho novamente
confusa.

“Estou te vendo,” Diz.

Pulo. Porra do inferno.

“Posso te ver através do olho mágico. Apenas me deixe entrar.”

Colocando minhas costas contra a porta, deslizo para baixo,


estabelecendo-me na frente dele para bloquear seu caminho. Ele

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pode entrar e, provavelmente, empurrando a abriria, mesmo com o
meu peso contra ele, mas acho que é a minha única chance. Não
conseguirá passar, não importa o quê.

Não ouço nada durante pelo menos um minuto antes dele


dizer, “Não estou desistindo. Voltarei mais tarde.”

Engulo, lutando contra a secura em minha garganta, e meus


nervos disparam. Sei o que significa isso. Só posso deixá-lo fora por
um tempo. Não me mexo, mesmo depois que ouço seus pés pisando
na escada.

Minha cabeça começa a bater contra a porta. No início, é uma


reação, mas depois se torna algo mais. Estou tão puta.

Irritada por tudo.

Tudo.

Não consigo pensar em uma única coisa ou pessoa com que


não esteja chateada, e esmagar minha cabeça repetidamente na
porta de madeira apenas parece certo.

“Por que eu?” Grito. “Por que tem que ser eu?”

Não sei se espero uma resposta, mas é bom tirá-la do meu


peito.

“FODA-SE!” Grito de novo e bato minhas mãos no chão.

Estou chateada com meu médico, câncer, quimioterapia, meu


trabalho, câncer, Rebecca, Bruno, câncer, meus pais por me
deixarem sozinha. Não consigo pensar em nada mais, não deixo de
fora minha coleção de sapatos que agrava a minha raiva. Quem
precisa de tantos malditos sapatos. Tenho dois pés. Talvez se tivesse
passado mais tempo aproveitando a vida em vez de comprar coisas,
não estaria nesta situação.

O riso explode fora de mim.

Riso histérico, louco.

Acho que realmente saio do fundo do poço.

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Perdi cada maldito pedaço dentro da minha cabeça.

Como posso pensar que os sapatos são o problema? Sei melhor


do que isso. É mais fácil culpar algo tão estúpido do que perceber
que meu próprio corpo está atacando a si mesmo.

É por isso que escolhi câncer quando decidi me tornar uma


cientista. Uma doença raramente causada por algo que alguém faz,
mas afeta milhões de pessoas. Mata sem discriminação. Ele vem em
várias formas. Embora tenha havido avanços e tratamentos, ainda
não há cura. Queria mudar isso. Quando decidi meu foco
profissional sabia que era mais valoroso.

Não sou especial. Gosto de pensar que sou, mas sei que, assim
como as outras pessoas lutando contra esta doença, pegou-me sem
pensar em quem eu era.

Rio até chorar. Minhas emoções estão em toda parte e não


posso controlá-las. Enrolo-me no chão enquanto minhas lágrimas
diminuem. Talvez amanhã me sinta diferente. Talvez então, possa
enfrentar o mundo.

Há uma alta probabilidade que tenha um colapso mental.


Estar sozinha e passar pela quantidade de estresse que estou
passando são uma combinação perversa.

Enquanto, rastejo para minha cama, penso que amanhã será


diferente.

ENDUREÇO QUANDO SINTO A CAMA AFUNDAR.

Alguém rasteja em minha cama atrás de mim, serpenteando


seu braço em torno de mim. E não ouvi nada.

ENSHRINE
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“Shh. Relaxe,” O homem sussurra e puxa minhas costas mais
apertadas para sua frente. Mesmo que ainda esteja meio dormindo,
sinos de alarme estão saindo em minha cabeça. “B-Bruno?”

Gaguejo e rezo para que seja ele.

“Sim. Volte a dormir. Vamos conversar de manhã.” Beija meu


pescoço e derreto contra ele, aliviada que esteja aqui.

Porra. Ele invadiu... novamente.

Mas, novamente, sinto-me bem contra seu peito. Senti sua


falta. Seus braços me fazem sentir segura. O perfume familiar de seu
corpo me acalma, e não quero que vá embora.

Não dormi direito em dias... semanas, se estou sendo honesta.


Entre a quimioterapia, calafrios, e minha cama solitária. Caminho a
maioria das noites. Quando tenho forças para andar. O pânico tem
sido parte da minha rotina diária. Estava a um passo de enlouquecer
antes de começar a gritar no vazio do meu apartamento, e
eventualmente desabando por exaustão.

Em vez de chutá-lo e começar uma luta, empurro minhas


costas tão perto dele quanto possível e fecho os olhos. Lidarei com
ele amanhã.

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17
A MANHÃ SEGUINTE

Acordo em uma cama vazia. A princípio, eu penso ter sonhado


com ele rastejando em minha cama.

Então eu sinto seu cheiro em meu travesseiro e sei que não


era um sonho. Bruno veio para meu apartamento, entrou e deitou
em minha cama.

Por mais que eu devesse ficar louca, eu não consigo parar de


sorrir.

Sim, claro, ainda estou tendo um colapso mental.

Nenhuma pessoa sã estaria sorrindo sobre o que tinha


acontecido. Só eu. E somente agora.

Alguns meses atrás, eu o teria parado na cozinha com uma


joelhada nas bolas e em seguida, chamado a polícia para
denunciá-lo por ter forçado a entrada. Mas o novo eu, a que tem um
câncer, é grata por, pela primeira vez em muito tempo, não estar
mais sozinha.

Minha mente está correndo, movendo-se selvagem e louca de


pensamento em pensamento, e eu não posso parar com isso. Eu rolo,
enterrando meu rosto no travesseiro e inalando o que restou do
perfume que Bruno deixou para trás, e eu gargalho.

Sim, eu gargalho como uma pessoa louca.

“Cal.”

ENSHRINE
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Eu solto um gemido, quase desejando poder me sufocar com o
travesseiro. Eu imagino como estou parecendo agora com a minha
cabeça brilhando sob a luz do sol, minha bunda nua em exibição
com meu rosto enterrado no travesseiro e rindo como uma lunática
- tem que ser uma visão.

Ele assobia e eu busco o cobertor ao meu redor para me cobrir.


Rolo meu corpo enrolando o cobertor em torno de mim quando eu
me movo. “Apreciando o espetáculo?” Pergunto olhando para ele.

“Imensamente.” Ele sorri, descansando seu corpo contra o


batente da porta com seus braços cruzado e olhando especialmente
feliz. Ele empurra e vem em minha direção rapidamente.

“Então, em uma escala de um a dez, quanto você está chateada


comigo?”

“Cerca de vinte”, eu digo a ele, estreitando meus olhos quando


se senta na cama.

“Bom.” Meus dedos apertam o cobertor em vez de estrangulá-


lo. “Por que isso é bom?”

“A raiva é uma boa emoção.”

“Hã?”

“Motiva as pessoas.”

“Escute, Tony Robbins, eu não preciso de motivação.” Minha


mandíbula aperta e meus dentes raspam um nos outros enquanto
tento controlar minha respiração.

“Você precisa.”

“Eu não.”

“Você sim.”

Ugh.

“Por quê?”

“Estou levando você para algum lugar.”

ENSHRINE
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Eu balanço minha cabeça tensa. “Não vou sair de casa.”

Ele balança a cabeça e continua sorrindo estupidamente. “Nós


temos um compromisso, e vamos mantê-lo.”

Eu aperto meus dentes. “O quê?”

“É um segredo.”

Eu rolo os olhos sem nem perceber. “Pelo amor de Deus. Eu


odeio segredos.”

Ele toca minha mão, me fazendo apertar ainda mais os


cobertores contra o meu peito.

“Esse você vai adorar.”

“Eu deveria mandar prendê-lo por invadir ontem à noite.”

“Você não vai.”

“Eu poderia.”

“Mas você não vai.”

Gah. Esse homem me deixa louca. “Como você tem tanta


certeza?”

Ele ri e bate em minha mão antes de ficar de pé. “Eu não


invadi. Usei uma chave.”

Minha boca cai aberta e eu tento formar palavras, mas nada


vem.

“Então você vai levantar. Temos um dia agitado planejado.”

“Você...” Eu aponto para ele por debaixo das cobertas. “Eu não
tenho planos. Só vou me enterrar aqui e ficar chateada com você.”

Ele segura seu estômago, dobrando-se enquanto ria mais alto.


“Fique chateada o quanto quiser, mas no final do dia, você ainda vai
me beijar.”

“Não vou.”

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“Vai sim.”

“Porra.” Eu sibilo e sei que é uma batalha perdida.

“Levanta.” Ele me diz novamente e puxa o lençol que forra a


cama. Isso me faz cair da cama, todo o meu corpo nu ficando visível.

“Maldição.” Eu me ajoelho, usando minhas mãos como escudo.

“Não cubra as coisas boas.”

“Vire-se!” Eu grito, saltando de pé, ainda me cobrindo.

“Eu poderia usar um chuveiro.” Ele se estende mostrando cada


músculo do seu corpo. Eu salivo, encontrando-me paralisada
examinando cada pedacinho, fazendo-me ser pega olhando. “Você
quer se juntar a mim?” Ele sorri.

De repente, eu me lembro de que eu deveria estar chateada e


limpo a luxúria da minha mente. Ele caminha para frente e empurra
as minhas mãos para longe do meu corpo. Seus olhos rastejam
através da minha pele tomando seu tempo para obter um olhar
completo. “Você está muito magra Callie. O que você tem feito
enquanto eu estive fora?”

“Você não estava fora.” Eu o corrijo. Meu rosto aquece e eu


estou inundada com vergonha da minha nudez e por empurrá-lo
para longe.

“Você tem se alimentado?”

“Sim.”

“O quê?”

Eu cruzo meus braços sobre meu peito para me proteger.


“Sim.”

Ele move seu rosto mais perto, seus olhos ficando escuros e
sérios. “O que você tem comido?”

“Biscoitos e outras coisas.”

“Que outras coisas?” Ele brilha.

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Eu não posso me mover. “Biscoitos.”

“Jesus.” Ele arrasta a mão pela parte superior da cabeça e


quebra o contato visual. “Eu sabia que você iria puxar essa merda.”

Meu rosto aperta como se eu comesse algo azedo. “Com


licença?”

“Eu sabia que você não cuidaria de si mesma. Eu decidi lhe


dar algum tempo sozinha. Dar-lhe tempo para trabalhar com tudo
isso e lidar com a jornada pela frente.”

“Você faz parecer que é uma viagem de carro.” Eu bufo.

Ele não ri. “Eu te dei espaço e você se deixou cair.”

Eu movimento para baixo meu corpo, deixando-o ter outro


olhar. “Eu pareço estar inteira.”

“Não. Uma boa rajada de vento pode derrubá-la.”

“Você não está no comando da minha vida Bruno.” Eu rosno.

Ele se aproxima e nossos narizes tocam. “Alguém precisa estar


no comando.”

Eu guincho do contato.

“Sua besteira acabou.”

Meus olhos se arregalam.

“Você teve seu tempo para lidar, ter um ataque, chorar até
seus olhos saltarem para fora, e reclamar sobre a vida” Ele me segura
acima dos cotovelos e aperta suavemente. “Seu tempo de sentir pena
de si mesma acabou. É hora de lutar.”

“Você vai ser meu treinador?” Eu mordo meu lábio e quero rir.

Suas mãos pulsam enquanto ele me segura um pouco mais


apertado antes de soltar. “Pare de ser uma espertinha.”

Eu sorrio para ele, fingindo inocência. “Eu não sou.”

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Ele anda atrás de mim, passando o dedo pelo meu lado.
Estremeço pelo toque suave e pela natureza sexual do movimento.
Depois que sua mão chega próxima ao meu traseiro, ele bate. “Para
o banho.”

Olho para ele por cima do ombro e me recuso a acalmar a pele


que ele acabou de golpear.

“Sozinha.”

Não há nenhum sorriso em seu rosto. “Você está muito magra


e frágil. Alguém tem que ficar lá no caso de você começar a cair.”

Eu rosno, mas ele rosna mais alto. Eu rolo meus olhos e


marcho para o banheiro com os braços cruzados. “Eu não vou foder
com você!” Eu grito.

“Eu não fodo com galhos, querida. Desculpe desapontá-la.”

Eu olho para ele enquanto estou ao lado do chuveiro. “Eu não


sou um galho. Você está mentindo Bruno. Tenho certeza de que você
fodeu todas as cadelas magras na cena do clube.”

“Cal” Adverte, caminhando em minha direção antes de segurar


meu rosto em suas mãos. “Essa era a minha vida, está no passado.
Não é importante. Estamos falando do agora.”

“Então você está dizendo que fodeu as ′cadelas magras′?” Eu


uso meus dedos para fazer as aspas no ar para marcar meu ponto.
“Mas você não vai me foder?”

“Você disse que não queria que eu te fodesse.” Disse serrando


seus olhos. “E....” ele coloca seu dedo contra meus lábios antes que
eu possa responder “...pare de chamá-las de cadelas. Não é agradável
esse nome.”

Meu cenho fica mais intenso. “Bem...” Eu murmuro contra seu


dedo e olho na direção do chuveiro.

“Depois de você.” Ele estende a mão e espera que eu entre.

“Eu aqueço a água primeiro.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“O quê?” Ele olha para mim, totalmente confuso.

“Eu ligo a água primeiro e deixo aquecer antes de entrar. Como


você faz?”

Ele alcança o chuveiro e gira a torneira enquanto nós nos


encaramos e não dizemos uma palavra. Depois de um minuto, ele
testa a água e faz um movimento para eu entrar.

Eu aceno, ainda não querendo falar com ele, e entro. Mesmo


que eu me negue a chegar para trás, Bruno entra. Ele envolve um
braço ao meu redor e me puxa para baixo da água e contra seu corpo,
mas eu não luto para me libertar.

“Não se preocupe,” Ele me diz, acariciando minhas costas


levemente para me acalmar. “Eu prometo ser um perfeito cavalheiro.”

Lamento a minha declaração anterior. Bruno tem um corpo


que pede para ser tocado. A largura dos seus ombros combina
perfeitamente com seu peito enorme. Não há um defeito em qualquer
lugar. Nem uma tatuagem ou uma cicatriz visível a olho nu. Eu
pensei, que em sua linha de trabalho, ele estaria cheio de velhas
feridas, mas não há nada.

Eu mordo minha língua para me impedir de falar com ele. Eu


não vou ser a primeira a quebrar o silêncio. Eu o pego me verificando
algumas vezes, mas finjo estar irritada.

Bruno derrama gel de banho em suas mãos antes de acariciar


meus braços, suavemente ensaboando minha pele e mantendo seus
olhos em mim o tempo todo. Eu fecho meus olhos, evitando seu olhar
e aproveitando o sentimento dele me tocando. Mesmo que seja
inocente, parece surpreendente. Mesmo sendo um toque nada
sexual. Isso é algo mais. Algo maior.

Depois que nós saímos e retiramos a toalha, eu agarro o


roupão de trás da porta e coloco, puxando-o firmemente em torno de
mim. É como um escudo invisível de proteção, e eu preciso dele com
Bruno ao meu redor.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Ele pega algumas roupas de uma mochila ao lado do meu
armário e não diz uma palavra. Eu me pergunto o que mais está lá
dentro, mas em vez de olhar, vou ao Closet para me vestir.

Porcaria. O que eu devo vestir? Ele não me disse para onde


vamos. Não sei se é casual ou se eu preciso de algo mais formal. Eu
suspiro enquanto ando de um lado para o outro, sabendo que terei
que ser a primeira a falar.

“Bruno.” Eu sussurro perto da porta.

“Sim?”

“Onde estamos indo? Eu não sei o que vestir.” Eu olho através


da porta entreaberta e o vislumbro deslizando sua calça jeans
cobrindo seu traseiro. É um magnífico traseiro, redondo e duro como
pregos.

“Apenas se vista casual.”

Grrr. Pego um par de jeans e um top, deslizando-os antes de


calçar o meu par favorito de sandálias - nada muito alto. Eu não
posso ter uma chance de cair com as tonturas que tenho tido. Antes
de deixar o closet, pego meu chapéu preto para esconder minha
cabeça raspada. Quando saio, ele está sentado na cama, olhando
para o celular.

“Pronto?” Eu pergunto.

Ele olha para cima, mas não fala. Ele sai da sala, deslizando o
celular em seu bolso traseiro, e não olha para trás.

“Yay,” Eu vibro silenciosamente assim só posso ouvir, vou em


direção à porta da frente. “Arrebentar.”

Eu já posso dizer que vai ser um daqueles dias. O que começou


com um banho vai se transformar em um dia estranho.

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18
SALADA AWKWARD

EU SEI. Eu sei. A palavra é realmente muito diferente. Mas, no


caso do passeio de carro, a única maneira que eu posso descrever é
awkwardauce.

Bruno para na frente de uma loja que eu nunca ouvi falar em


uma parte da cidade que eu nunca fui. Olho o letreiro, confusa e
curiosa. Não me movo nem falo.

“Pronta?” Ele pergunta, finalmente quebrando o silêncio.

“Que lugar é esse?” Eu me aproximo da janela e tento dar uma


olhada melhor.

“É a loja da minha irmã.”

Eu sorrio com a menção de Lee. “Mas de quê?”

“Você tem que entrar e ver.”

Eu abro a porta porque é Lee e não é sobre ele. Ando


rapidamente em direção à loja porque a curiosidade tem obtido o
melhor de mim.

Colocando minhas mãos ao redor do meu rosto, olho para


dentro da loja e amo tudo o que vejo. As paredes são rosa brilhante
e o carpete branco são bonitos, mas as coisas dentro é o que chamam
a atenção. “O que é esse lugar?” Pergunto a Bruno novamente,
sentindo sua presença atrás de mim.

ENSHRINE
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“Depois que ela venceu o câncer, decidiu abrir essa boutique.
É dedicada a ajudar pacientes com câncer a se sentirem normais
novamente.”

“Eu não sei se eu vou me sentir normal novamente.” Eu


sussurro antes de virar para ele. “Foi muito gentil da sua parte me
trazendo aqui e estou muito animada para ver a loja, mas não quero
nada lá de dentro.” Estou sendo ingrata. Normal não é uma palavra
que poderei usar novamente para me descrever.

“Você precisa de tudo que tem ai dentro. Você precisa se sentir


como você novamente.”

“Impossível.”

“Não, não é.”

Fecho a cara e fico na ponta dos pés. “Você precisa parar...”


cutuco ele no peito. “...de ficar me dizendo o que fazer.”

Ele olha para mim antes de curvar-se para baixo e envolver


seus braços em torno de minha cintura. Eu me viro tentando me
libertar, mas ele me ergue sobre o ombro e se dirige para a porta.

“Bruno!” Eu grito e bato em suas costas.

Ele bate na minha bunda antes de abrir a porta. “Pare.”

“Ponha-me para baixo.” Eu grito e chuto minhas pernas.

Ele não escuta. “Estamos aqui.”

Eu tento olhar ao redor de seu corpo, mas estou pendurada e


ele é muito fodidamente largo.

“O que você está fazendo?” A voz de Lee me faz sorrir.


“Coloque-a no chão imediatamente!”

Eu não posso deixar de rir porque Lee fala com ele como eu
sempre quis. Ela é a chefe. Mas eu gosto disso sobre ela. Ele deixa a
merda machista por ela. Ela é a fraqueza dele.

“Ela não quis ouvir, Lee. Ela não entraria.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Não é sua escolha.”

Ele solta seu aperto e eu escorrego para abaixo de seu corpo.


Não posso esconder meu sorriso debochado quando meus olhos se
encontram com os dele. Ele rosna e eu rio de sua raiva. “Obrigada
Lee.” Eu digo.

Endireitando minhas roupas e chapéu.

“Callie.” Ela estende seus braços para mim, esperando por


mim para abraçá-la. “Eu estive pensando muito em você.”

Eu vou para ela, envolvendo meus braços ao redor de seu


corpo e abraçando-a firmemente. “Eu também.” Eu não minto.

Lee foi à única pessoa com quem conversei nas últimas duas
semanas. Nós enviamos mensagens de texto e conversamos, mas não
a deixei vir até minha casa. Ela respeita meu espaço, mas está
sempre lá para mim quando preciso dela. Ela é a única pessoa que
sabe exatamente o que estou passando.

“Não fique brava com ele.” Lee me segura ao longe e me olha.


“Eu pedi que a trouxesse aqui hoje. Ele está apenas seguindo as
ordens.” Ela agarra meus lados.

Normalmente, eu daria um tapa com as mãos, mas eu sei


exatamente o que ela está pensando. A mesma coisa que Bruno me
disse. Estou muito magra, frágil, quebradiça.

“Bem.” Ela se vira para seu irmão e ergue o queixo. “Você pode
sair agora.”

“Mas...”

Ela sacode a cabeça e o empurra para a porta. “É um dia de


meninas. Você não é bem vindo aqui.”

Expandindo seu peitoral, ele cruza os braços em frente a si


mesmo e olha entre nós duas. “Essa é a gratidão que tenho por tudo
o que tenho feito?”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Ela ri, empurrando contra seu peito. “Vá, Bruno. Pare de agir
como um bebê pelo menos uma vez.”

Eu podia pegar moscas com a maneira como minha boca se


abre.

Bruno olha para mim quando seu traseiro bate na porta.


“Estarei de volta em três horas.”

Eu estalo a boca e aceno com a cabeça.

“Nos dê quatro.” Lee diz e empurra a porta atrás dele. “Tchau,


irmão.”

“Comporte-se.” Ele diz a ela e pisca.

Ela o observa entrar no carro antes de se virar para mim e rir.


“Ele é assim um bobão.”

“Acho que não o descreveria assim.”

“Você irá, quando conhecê-lo melhor.”

Eu deveria corrigi-la, mas não vou. “Então, o que estamos


fazendo? Conte-me sobre esse lugar.”

Ela se senta no sofá no meio da loja e bate na almofada,


superanimada. “Quando eu estava doente, me sentia uma merda.
Quero dizer, uma completa merda.” Falando mais rápido do que o
normal, ela pega minha mão enquanto eu me sento. “Eu me olhei no
espelho e me perguntei para quem diabos eu estava olhando, porque
com certeza não parecia comigo. Enquanto passava por mais e mais
quimioterapia, senti como se estivesse desaparecendo. Eu queria ter
algum lugar para ir, algum lugar que poderia me ajudar a me sentir
melhor sobre mim e como eu parecia.”

“Eu sei o que você quer dizer.” Eu murmuro.

“Então, quando terminei o tratamento e comecei a pensar que


poderia ajudar outras pessoas passando pelo que eu tinha, decidi
que iria ajudá-los a se sentir mais como eles mesmos antes do
câncer.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“OK. Eu pego as perucas.” Eu retiro meu chapéu e esfrego
minha cabeça calva. “Mas o que mais você oferece?”

“É uma ótima pergunta. Nós ensinamos as pessoas a fazer a


sua maquiagem da maneira correta. Eu não estou dizendo que nem
todos sabem como, mas nós realmente ensinamos alguns truques.
Mostramos como recriar sobrancelhas e cílios com produtos para
que não seja tão claro para alguém andando na rua. Damos-lhe
ferramentas, assim se você olhar em um espelho enquanto anda por
ai, você olharia e pensaria 'essa sou eu'.”

“Então maquiagem e cabelo. Tipo como um salão de câncer?”

Ela ri e as pequenas rugas perto de seus olhos se aprofundam.


“Somos mais do que isso, mas é um bom começo.”

Eu rio com ela. “Eu não queria que isso saísse errado. Eu não
tenho superado minha aparência. Eu disse a mim mesma para parar
de ser tão vaidosa.”

“Não é ser vaidosa.” Ela me corrige e aperta a minha mão.


“Quando nos sentimos melhor sobre como nos parecemos, mesmo
por um pouco de tempo, isso ajuda como nos sentimos por dentro.
Isso nos dá um pequeno pedaço de normalidade.”

“Sinto falta do normal. Eu me lembro quando eu pensava que


aquela palavra significava chato, mas eu mataria para um pequeno
pedaço disso agora.”

Ela se levanta e se move em direção às perucas que alinham


as paredes. “Você encontrará um novo normal.”

“Eu espero.” Olho para minhas mãos enquanto ela decide


sobre uma peruca.

“Eu sinto falta dos dias em que eu não tive que raspar minhas
pernas, embora.”

Fazer a luz do que eu estou passando e sobre o que ela


sobreviveu. “Esta seria perfeita.” Ela diz depois que arranca uma

ENSHRINE
Chelle Bliss
peruca loira da coleção. “É o mais próximo dos seus cabelos. Apenas
uma guarnição rápida e voilà.”

Ela faz parecer fácil e totalmente possível. “É muito perto.” Eu


tento reunir uma cara feliz.

“Você pode tingir isso se quiser. É cabelo real, então você pode
fazer o que quiser.” Ela fala para me juntar a ela.

Ando em sua direção e tento ser otimista porque quero fazer


Lee feliz. Ela posiciona-se atrás de mim no espelho antes de colocar
a peruca no meu couro cabeludo. Um pouco de rebocadores e ajustes
mais tarde, e eu quase me pareço comigo novamente. O cabelo é um
pouco mais do que eu tinha antes, mas é tão reto e loiro como o meu
velho cabelo.

Seu sorriso se alarga. “É perfeito.” Ela bate palmas. “Oh meu


Deus, absolutamente impressionante.”

Deus, absolutamente impressionante.

Não parece ruim em tudo. Eu posso totalmente balançar. “Eu


gosto.” Eu sorrio, e desta vez, é genuíno.

“Vamos continuar.” Ela me puxa para a parte de trás da loja.


Assim que minha bunda bate no assento, ela me gira ao redor para
enfrentar o espelho.

Não posso deixar de olhar. Meu cabelo novo é bonito e me dá


um pedaço minúsculo de eu mesma de volta.

“Feliz?” Ela pergunta, pegando meu olho no espelho.

“Muito.”

“Então vamos fazer suas sobrancelhas.”

“O que isso significa?” Eu pergunto, olhando o local onde eu


costumava ter sobrancelhas.

“Basicamente, nós vamos pintá-las para você. Temos um


estêncil que lhe damos para que seja fácil de duplicar por conta
própria.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Um estêncil?”

Ela puxa um minúsculo pedaço de plástico de cima da mesa.


“Como esse.” Eu olho e entendo o que ela quer dizer. Parece com o
estêncil que minha mãe costumava usar quando ela fazia artesanato.
Aplique cor entre as linhas, e sai perfeito toda vez. “Vou mostrar-lhe
como aplicá-lo e vamos descobrir a melhor cor, e então você pode
usar todos os dias.”

Ela explica as etapas depois que finalmente decidi sobre a


sombra perfeita com um toque de castanho. As cores loiras ficaram
brancas para minha pele e se perderam. Mas marrom claro pareceu
bom e mostra apenas o suficiente para parecer real. Faço anotações
mentais sobre o modo de mover o pincel para que eu possa recriá-lo
mais tarde. Não consigo ver o que ela está fazendo porque ela afastou
a minha cadeira do espelho.

“Agora vem a grande decisão.” Ela puxa dois itens de seu kit
de maquiagem. “Você pode ir com cílios falsos, ou você pode usar um
lápis e apenas seguir a curva do seu olho para dar a ilusão de cílios.”

“Eu vou tomar a ilusão.” Lembro-me de meus dias de clube o


problema que eu tinha com cílios postiços. Eles sempre me
cutucavam nos olhos, fora às vezes em que os cílios ficavam tortos e
isso era sempre. Eles não são para mim. Eu sei meus limites e eu
abraço eles.

“Boa escolha.” Ela joga os cílios na lixeira. Sento-me


perfeitamente imóvel e deixo-a aplicar o delineador para as minhas
pálpebras. “Feito.” Ela vira minha cadeira de volta para o espelho.

Eu suspiro.

Sou eu.

Não o eu com câncer, mas o velho eu.

“Lee.” Minha voz racha enquanto lágrimas se formam em meus


olhos.

“Não chore.” Ela aperta meus ombros. “Seus cílios cairão.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Eu rio enquanto lágrimas de alegria derramam por minhas
bochechas. “Eu nem sei o que dizer.”

“Você não tem que dizer nada, Callie. É o que eu faço, e você
merece. Nós todos merecemos, nos faz se sentir bem.”

Eu me inclino para olhar mais perto. “Quero dizer, eu pareço


comigo.”

“Esse é o ponto, boba.”

Eu aceno e.... Uau. O reflexo que eu vi minha vida inteira está


bem na minha frente e olho fixo para mim agora. Os cabelos loiros,
e as sobrancelhas pintadas faz com que me veja mais humana
novamente. “Eu nem sei como agradecer.” Eu sussurro e viro minha
cabeça, obtendo um olhar de outro ângulo.

“Noventa e nove por cento das pessoas que você vê todos os


dias não vai notar a diferença. Elas só vão olhar para você e ver uma
mulher bonita. Elas não conhecerão a verdadeira luta que você está
passando, a menos que você compartilhe com elas.”

Eu respiro um suspiro de alívio. Eu não quero compartilhar


com a maioria das pessoas. Compartilhar leva a perguntas. Muitas
das quais eu não quero responder. Falar sobre o câncer torna tudo
mais real. Quero dizer, como alguém que nunca passou pela luta
realmente entende. Eles não podem. Nenhuma palavra pode explicar
adequadamente um câncer na vida do paciente.

“Aqui.” Ela me entrega um saco cheio de maquiagem. “Há


algumas guloseimas extras. Mesmo um corretivo assassino que é à
prova d'água para ajudar a esconder as olheiras e manchas na sua
pele. Você pode fazer sua pele parecer impecável.”

“Obrigada.” Eu aperto-o firmemente ao meu peito. “O que


agora?”

“Agora, vamos almoçar.”

“Almoço?”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Sim.” Ela pega suas chaves do balcão. “Você está muito magra
e precisa de comida.”

Deve ser uma coisa de família. A necessidade de me engordar


é algo que ambos têm mencionados. Eu sei que perdi peso, mas eu
não acho que foi tanto para ser perceptível.

Embora os dois tenham agido como se eu fosse uma bomba-


relógio de ossos.

“Boa. Eu preciso de uma bebida.”

“Foi por isso que eu disse ao Bruno para nos dar quatro horas.
Eu queria passar mais tempo com você.”

Eu a sigo em direção à porta e pego o meu reflexo em cada


espelho. “Nada como colocar um pouco de espaço entre ele e eu seja
perfeito.”

Ela para, virando os calcanhares para me encarar. “Ele não é


tão ruim quanto você pensa.”

“Por que você não me ilumina?” Eu levanto minha nova


sobrancelha.

“Pague-me algumas bebidas e tudo é possível.” Ela ri e se dirige


para a porta.

“Eu posso fazer isso.” Eu rio também.

Agora, eu tenho um plano.

ENSHRINE
Chelle Bliss
19
PERTO DO COLETE

LEE MENTIU.

Eu a subornei com álcool e comida por duas horas, e ela não


falou de um único segredo. Ela insinuou. Oh, como ela insinuou.
Mas no final, ela disse que eles não eram seus segredos para contar.

Quando Bruno entrou no pequeno café do outro lado da rua,


eu estava meio alegrinha e Lee estava muito além disso. “Vejo que
vocês duas estão se divertindo.”

Ele brinca olhando para nós, totalmente não impressionado.

“Nós estávamos apenas falando sobre você. Segredos não são


bons, Bruno.” Eu pisco fora de sincronia.

Seus olhos se arregalam e ele olha para Lee. “O quê?”

“Irmão.” Ela fala embolada e acena sua mão em sua frente. “Os
meus lábios estão selados. Eu não disse uma única palavra.” Ela
insinua e pisca lentamente.

“Jesus.” Ele murmura e arrasta a mão em seu rosto. “Lembre-


me de não deixar vocês duas juntas novamente.”

“Somos adultas.”

“Hey!” Ela grita e estende a mão para agarrá-lo, mas erra.


“Estamos apenas tendo bebidas e tendo uma conversa de meninas.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Disso é que eu tenho medo, Lee.” Ele balança a cabeça, e eu
posso dizer que ele não está muito feliz com qualquer uma de nós
agora.

“Você nem mencionou como ela está bonita.” Sua mão se move
em minha direção e cai para a mesa. Alguém está além do ponto de
retorno. Estive lá e não é bonito.

“Cal é linda não importa como esteja.” Ele afirma, ficando de


pé com seus ombros para trás.

Minha cabeça gira, mas com minha nova maquiagem e cabelo,


eu realmente sinto suas palavras.

“Obrigada.” Eu digo com um sorriso tolo.

“Eu acho que é hora de irmos.” Bruno joga na mesa duzentos


dólares e estende a mão para mim.

Coloco minha mão na dele e deixe-o me puxar me colocando


de pé. Minha cabeça gira, o licor batendo em mim já que eu
finalmente estou de pé. “Ela pode precisar de um pouco de ajuda.”
Eu falo para ele, levantando meu queixo na direção de Lee.

Ele balança a cabeça antes de passar a mão em volta da


cintura dela. “Tudo certo, princesa?”

“Eu estou bem.” Ela fala e fica sobre seus pés, balançando em
seus braços. Ela coloca o dedo sobre a boca. “Shh. Não se preocupe.
Seu segredo está seguro comigo.” Ela repete sua declaração anterior
e dá-lhe um sorriso torto.

Seus olhos deslizam para os meus, e eu não consigo tirar o


sorriso do meu rosto. Mesmo que eu a tenha embebedado, ela não
derramou suas entranhas, eu sei que há algo que nenhum deles quer
me contar. Eventualmente, eu vou descobrir. Eu não vou desistir até
saber.

Enquanto nos dirigimos para a porta ela continua


balbuciando, ele olha para mim. “Ela está obviamente falando sem
sentido porque está muito bêbada.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Sim.” Eu mordo meu lábio para reprimir meu riso.

Eles, especialmente ele, acham que eu sou tão fácil de


enganar? Quero dizer, eles derrubaram dicas em toda parte. Ele pode
negar tudo o que quiser, mas há algo lá e não vai ser fácil descobrir.

Lee lamenta o passeio de carro e afirma que ela vai ficar doente
porque seu irmão dirige como um ‘louco’, Suas palavras não as
minhas. Bruno está inquieto e irritado e isso irradia dele. Posso dizer
que ele está aliviado quando a coloca na cama e nós seguimos.

“Você quer conversar?”

Ele não olha para mim, mantendo os olhos na estrada. “Não.”

“Não é justo, Bruno.” Cruzando os braços, eu olho para ele.

Seus olhos deslizam para o lado, mas ele ainda não me olha.
“Temos coisas mais importância sobre o que falar.”

“O que é mais importante do que um segredo?”

“Sua vida.”

“Eu acho que estou muito viva agora.”

“No momento.”

“O que diabos isso significa?” Eu estou apertando minha


mandíbula tão fortemente que meus dentes começam a doer.

“Você terminou com a festa de piedade.”

Minha boca cai aberta.

“É hora de você crescer um par de bolas e lutar.”

“Cientificamente, é impossível, Bruno. Eu não sei se você


perdeu a aula de ciências, Mas eu estou jogando duro lá fora. “Estou
orgulhosa de mim mesma.”

Sua mandíbula pulsa pelo aperto. “O que você fez nas últimas
duas semanas?” Ele está acelerando, dirigindo um pouco mais
rápido do que estou acostumada, e me colocando nervosa.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Eu tenho feito coisas.”

“Você não saiu de casa?”

“Você não está me observando?”

Ele olha para mim, seus olhos se estreitando enquanto suas


mãos apertam o volante com mais força.

“Talvez eu devesse ter feito.”

Afastando-me dele, vejo a cidade passar. “Passar o dia com sua


irmã realmente ajudou.” Meus dedos vão para meu novo cabelo,
torcendo nervosamente.

“Boa. Talvez você esteja pronta para chutar a bunda do câncer.


Não?”

“Sim,” Eu sussurro quando meu nariz começa a formigar e


meus olhos se enchem de lágrimas.

“Falaremos mais quando chegarmos à sua casa.”

“Por que não vamos para a sua casa?”

“Não é seguro.”

Bruno também não é seguro, mas aqui está ele, no meu espaço
e fazendo-se um acessório na minha vida.

Estou pronta para a conversa. Preciso de respostas.

“EU TENHO UM MILHÃO O QUE...” BRUNO COBRE MINHA


BOCA COM SUA MÂO E IMPULSIONA MEU CORPO CONTRA a porta.
Abro-me para ele. Faz muito tempo que não o experimento. Ele
planta as palmas das mãos contra minhas costas e esfrega minha
pele com seus polegares que encontraram seu caminho sob minha
camisa.

Céus.

ENSHRINE
Chelle Bliss
É como me sinto em seus braços. Todos os pensamentos
desaparecem quando sua língua toca a minha, invadindo minha
boca lentamente antes de começar a ser mais exigente.

Eu fui beijada, provavelmente milhares de vezes na minha


vida. Mas não há nada mais devastador do que a boca de Bruno na
minha. A maneira como ele me segura em seus braços e escava suas
pontas do dedo em minha pele quando me beija faz meus joelhos
ficarem fracos e me deixa ofegante por ar.

Minhas mãos encontram seu caminho ao redor de seu pescoço,


descansando na borda de seu cabelo.

Quando eu rasgo sua pele com minhas unhas, ele geme em


minha boca. Uma cascata de arrepios abaixo da minha espinha, o
toque familiar quer bater em mim como uma tonelada de tijolos.

Quero esse homem.

Eu preciso dele.

Não posso mais negar isso.

Tempo.

Quero mais. Mais dele. Mais de nós.

Os segredos já não importam. É sobre como ele me toca, a


maneira como ele fala para mim, e como ele se importa sem condição.

Quando suas mãos tocam minha bunda e começam a amassar,


aproveito a oportunidade de me levantar e envolver minhas pernas
em torno de sua cintura.

Incapaz de me controlar, gemo quando seu pau duro toca


contra o meu centro.

Sabendo que ele me quer tanto quanto eu quero que ele faça
coisas para mim. Esse homem, que tem mulheres se atirando, me
quer.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Quando eu começo a moer contra ele, ele me leva para o sofá
e me coloca para baixo suavemente antes de descansar seu corpo ao
lado do meu. Nossos lábios não se separaram.

Crescendo com mais fome, minhas mãos encontrar o seu


caminho sob sua camisa e acaricia os gomos de seu estômago
definido. A pele lisa desliza facilmente contra os meus dedos. Sua
pele está quente e suave e amo como ele reage ao meu toque.

“Bruno.” Eu gemo em sua boca. Ele geme e me beija com mais


força.

Quando sua mão começa a deslizar para cima da minha perna,


eu quero dizer não. Eu não senti desejo sexual desde que comecei a
quimioterapia. Desde a primeira e última vez que transei com ele.
Mas eu quero seu toque. Não à parte sexual, mas a parte que
necessito e que me conforta.

Eu não quero mais pensar. É tudo que tenho feito há semanas.


Pensar e me preocupar, em vez de viver. Ele desabotoa meu jeans,
deslizando os dedos embaixo da minha calcinha. Minhas pernas se
abrem por vontade própria.

Seus dedos percorrem minha umidade suavemente antes de


circundar meu clitóris. Minhas costas se inclinam como um arco e
meu corpo sobe para atender seu toque. Sinto minha respiração
acelerar e meu corpo começa a tremer, seus movimentos se tornam
mais focados e eu não posso mais afastar o orgasmo que eu nem
sabia que queria.

Enquanto as ondas de prazer caem sobre mim, os gemidos de


Bruno correspondem aos meus. Minhas mãos se prendem à sua pele
como uma linha de vida e minha respiração cessa. Seus lábios
deixam os meus e encontra o meu pescoço, mordiscando minha
carne entre cada réplica do êxtase varrendo meu corpo e roubando
minha energia.

Quando a última pontada de prazer deixa meu sistema, eu


inspiro e tento recuperar minha respiração. Eu fecho meus olhos, a
sensação e sentimentos são demais.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Eu não tinha sequer pensado sobre o quanto precisava disso.
Nada me trouxe prazer, além de Bruno, desde o dia que ouvi que
tenho câncer. Mas neste momento, com ele, me lembro que ainda há
tanta vida para viver.

Mais do que apenas sapatos e roupas.

A conexão com outras pessoas, especialmente ele. A forma


como Bruno instintivamente sabe o que preciso mais do que eu
mesma. Mesmo doente, eu quero saborear cada bocado e momento
com abandono.

Bruno acaricia seu rosto em meu pescoço, sua respiração está


pesada e ofegante. Eu estou provavelmente sendo estranha, mas há
algo sobre ouvi-lo, até mesmo sua respiração, que traz consolo para
minha vida fodida.

Minha mão toca sua calça jeans, segurando seu pênis firme
através do material. Sua mão cobre a minha, acalmando-a apenas
quando eu começo a acariciar seu comprimento. “Não.”

Eu viro meu rosto, olhando em seus olhos e franzindo a testa.


“Você não me quer?” Eu pergunto, imediatamente sentindo como
uma idiota necessitada.

“Eu quero.” Ele puxa minha mão longe de seu corpo. “Mas
agora não. Ainda não. Quando você estiver melhor, vou te foder de
oito maneiras diferentes novamente, mas não é a hora.”

Meu rosto cora com sua resposta e ele se senta, pairando sobre
mim. “Ouça, Callie. Eu realmente quero você, mas você não está
pronta para o que eu tenho para oferecer.”

Eu olho para ele, completamente confusa. “Você não teve


nenhum problema em me dar um orgasmo.”

“Você precisava.”

“Você precisa de um também pela aparência das coisas.” Meus


olhos caem para suas calças e a muito visível protuberância.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Ele ri e balança a cabeça, os dedos dele acariciando o dorso de
minha mão enquanto ele me detém. “Estou me segurando tanto
agora que eu provavelmente a quebraria ao meio.” Seus olhos estão
escuros e a necessidade é completamente visível.

“Eu acho que você está sendo um pouco dramático.”

Ele se inclina para frente, sem deixar espaço entre os nossos


rostos. “Disse à menina que deveria ganhar um Oscar pela festa de
piedade que tem vivido.”

Eu engulo, sinto a minha boca de repente seca. “Eu tinha uma


boa razão.”

Ele me puxa para cima, me posicionando em seu colo para eu


encará-lo. “Eu lhe dei tempo para enlouquecer com a possibilidade
de enfrentar a sua morte, mas o tempo acabou.”

“Mas eu acho que é normal. Não é como se eu fosse para o


fundo do poço.”

Ele afasta os cabelos dos meus olhos. “Você fez querida. Você
fez.”

“Então, por que foi uma festa de piedade?” Eu me contorço em


seu colo e me movo tocando seus cabelos com os dedos.

Sua cabeça se inclina e ele relaxa de volta nas almofadas,


levando-me com ele. “É normal sofrer. Isto é verdade. Mas fazê-lo
tanto quanto você fez não é saudável.”

Eu rio e coloco minhas mãos contra seu peito duro. “Você é


um psiquiatra agora?”

Ele descansa suas mãos contra a minha e suspira. “Não.


Quando Lee ficou doente, eu li tudo que podia; Eu tive que aprender
tudo sobre a doença e sobre como lidar com ela. Ela era muito
parecida com você. Se despedaçou primeiro. Se entristeceu como
você está fazendo agora, mas ela saiu muito mais rápido e decidiu
lutar. Ela não estava disposta a desistir da vida tão facilmente.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Eu não respondo imediatamente. Penso nas suas palavras
antes de responder. “Eu não estou desistindo. Deus, eu amo a vida.
Eu não estou pronta para morrer.’

“Então por que você não está lutando?”

“Eu não sei.” Eu cravo minhas unhas em seu peito. “Estou tão
assustada que me sinto paralisada.” Eu sussurro quase
envergonhada de admitir como me sinto.

“Entendi. Eu sei. Mas é hora de você lutar. Você tem que ter a
força e o desejo para vencer o câncer. Se não fizer isso, se continuar
no mesmo caminho, vai te consumir e eventualmente levá-la.”

Inclinando-me para frente, descanso a cabeça no ombro e


enterro o rosto em seu pescoço, ele começa a esfregar minhas costas.
“Alguns dias, eu mal tenho energia para andar. Como você quer que
eu lute?” Eu movo minha cabeça, quase tentando rastejar dentro
dele. O calor de seu corpo e a maneira como ele me toca me faz querer
mais. Eu nunca quero que isso termine.

“Você vai me deixar lutar com você.”

Minhas mãos se movem para suas costas e eu as coloco


debaixo da camisa dele. Ele tem pequenos entalhes logo acima de
seu traseiro e eu descanso meus dedos contra eles.

“Você não deveria, Bruno.”

“Você não pode fazer isso por conta própria.”

“Não?” Eu pergunto, esfregando sua carne quente.

“Você provou isso. Você mal está comendo, não sai de casa.
Está apenas existindo e esperando o que quer que aconteça a
seguir.”

“Eu sei. Eu sinto muito?” Eu digo como uma pergunta e não


uma declaração.

“Eu não vou sair do seu lado, Cal. Vamos lutar juntos. Eu não
vou deixar que você fique sozinha.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Mas por quê?” Eu pergunto e rezo para ele responder. Como
estamos sendo abertos e honestos, é tempo para mergulhar em um
por que ele está aqui. A maioria dos homens teria aberto a porta para
Becca e então, limpado as suas mãos de qualquer problema que eu
estava tendo, mas ele não fez e eu estou confusa sobre isso.

“Você não se lembra de mim, não é?”

“Lembro-me do clube.”

“Isso não.”

Plantando minhas palmas das mãos contra suas costas, eu


ainda penso sobre o que diabos significa essa declaração. “Só o
conheço do clube. Sobre o que você está falando?”

“Você honestamente não se lembra, não é?” Ele pergunta,


agarrando-me pelos braços e obrigando-me a olhar para ele. Suas
sobrancelhas se juntam enquanto seus olhos buscam os meus.

“Deus, eu não achei que você estava tão bêbada.”

Bêbada.

Clube.

Bruno.

Bêbada.

Deus, eu tive mais de uma noite bêbada no clube.

“Cal, já estivemos juntos.” Ele segura meus braços com uma


mão e toca minha bochecha com a outra.

“Sim. Algumas semanas atrás, depois que você invadiu com


Bec.”

“Não.” Ele suspira. “Muito antes disso.”

“O quê?” Eu pergunto e minha boca cai. Meus olhos começam


a percorrer seu rosto enquanto tento me lembrar do que ele está
falando.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Véspera de Ano Novo, quatro anos atrás.”

Meus olhos se encaixam nos dele enquanto as lembranças


começam a voltar para mim em jorros, mas principalmente em
figuras sombrias que eu não consigo entender. “Eu...” Lembro-me de
ter falado com ele brevemente, mas a noite é um borrão completo
depois disso. Quando acordei naquela manhã, não podia ver o rosto
do homem na cama comigo. Não parei para olhar. Eu me vesti e sai
correndo de lá sem olhar para trás. Nunca imaginei que fosse Bruno
deitado na cama completamente nu e desmaiado.

“Nós dois estávamos bêbados. Foi a primeira vez que eu


realmente tive as bolas para falar com você. Eu sempre te observava.
Perguntei quem você era. Naquela noite, falei com você. Toquei você.
Eu não pude deixar de te beijar.”

“Você ficou bêbado?” Eu nunca vi ele fora de controle.

“Pela primeira vez, deixei minha guarda baixa e vivi como uma
pessoa normal.”

“E nós fodemos?” Eu não posso acreditar no que ele está me


dizendo agora.

Sua mão toca meu queixo e fecha minha boca. “Sim.” Ele acena
lentamente.

“Eu meio que me lembro da noite. Está tão confusa em minha


mente.”

“Bem, nós não paramos de beber. Acabamos na minha casa,


fodendo como coelhos, bebi mais Jack do que eu gostaria de me
lembrar, e quando acordei de manhã, você tinha sumido.”

“Lembro-me de estar tão doente no dia seguinte. Eu não


conseguia entender como fiquei tão bêbada. Quando saí pela manhã,
não parei para ver quem estava na cama. E não olhei para trás.”

“Droga. Eu pensei que você sabia com certeza. É minha culpa


que você estivesse tão bêbada.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Sou uma adulta, Bruno. Tenho a sensação de que, felizmente,
acompanhei a sedução. Por que você não falou comigo desde então?”

“Eu tentei, Callie. Eu tentei. Mas toda vez que eu chegava perto
de você, você fugia antes que eu pudesse me aproximar.”

“Você é meio assustador.” Eu sussurro.

“Eu achei que você estava chateada comigo. Que você se


arrependeu da nossa noite juntos. E deixei isso pra lá. Achei que não
era para ser. Mas assisti você. Eu me sentava em meu escritório,
esperando você e Becca aparecerem. Deus!” Ele diz e corre os dedos
através de seus cabelos. “Eu queria te beijar de novo tanto. Eu doía
por você. Mas eu nunca forçaria você a estar comigo.”

“Bruno.” Eu toco seu rosto, varrendo a ponta do dedo em sua


bochecha. “Eu não lembrava. Eu não estava braba com você. Achei
que você estava me encarando porque você me odiava. Você tem uma
maneira de enlouquecer as pessoas.”

“Eu realmente pensei que você se lembrasse.” Sua mão envolve


a parte de trás do meu pescoço e puxa meus lábios para os seus.

Quando ele me liberta e eu olho em seus olhos, vejo um olhar


diferente da raiva. Entendimento escrito em todo o rosto. “Eu sinto
muito.”

“Quando Becca veio até mim, entrei em pânico. Eu percebi que


era o meu caminho, e eu faria qualquer coisa para obter mais uma
noite com você. Quando você disse que tinha câncer, tudo mudou.
Eu não queria mais te foder. Eu queria te salvar. Te proteger, tirar
sua dor e fazer tudo certo. Não havia jeito de te deixar sozinha e
deixar você me afastar. Não depois do que tínhamos compartilhado.”

“Isso foi ótimo?” Agora estou chateado por não me lembrar. Eu


quero me lembrar de cada momento disso, mas tudo o que eu vejo é
um espaço em branco.

O canto de sua boca sobe, quase tocando o canto do olho.


“Ótimo nem sequer começa a descrevê-la, Cal.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Porra,” Eu murmuro, minha raiva aumentando. “Você pode
ter qualquer garota que você quiser. Por que você quer estar aqui
comigo? Passar tempo com uma garota que está tão doente, que não
pode nem mesmo cuidar de si. Eu sou uma bagunça.”

“Eu não posso discutir esse ponto. Eu obviamente não estava


tão bêbado como você estava naquela noite. Eu tenho beijado muitas
mulheres na minha vida, passei a noite com mais do que posso me
lembrar. Mas naquela noite, com você... algo mudou em mim.” Ele
franziu o cenho e piscou lentamente. “Quando pensei que você
estava me ignorando eu tentei tirar você fora de meu sistema. Eu
disse a mim mesmo que era apenas o licor. Mas quando Becca veio
até mim, eu não podia mais negar como me sentia.”

“Então você gosta de mim?” Ainda tenho um problema ao


processar essas novas informações.

“Cal, eu mais do que gosto de você.”

Não posso deixar de olhar para ele, chocada. “OK.”

“Eu não espero que você entenda. Sei que é algo novo para
você, mas estar com você é como chegar casa.”

“Tudo sobre sexo bêbado?”

“Passamos horas conversando naquela noite. Nós


compartilhamos segredos. Você estava falando muito sobre sua vida.
Eu senti como se eu pudesse ser eu mesmo ao seu redor. Nunca,
nem uma vez você olhou para mim com medo. Foi tão refrescante.
Confie em mim, o sexo estava fora da parada. Nunca realizou ou
sumiu, mas foi mais do que a parte física.”

“Hmm. Eu disse-lhe coisas?” Eu prendo meus lábios e me


pergunto o que eu tagarelei naquela noite.

“Muitas coisas.”

“Gostou?”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Não é importante. Você estava bêbada. Eu estava bêbado.
Vamos deixar isso assim. Mas...” Ele coloca seu dedo em meus
lábios. “Deixe pra lá.”

Eu concordo. “Você gosta de mim?” Ele pergunta.

Eu concordo. Eu faço. Eu gosto muito dele

Bruno é fácil de amar. Além de sempre estar disponível para


consolar, ele acima de tudo, me faz ansiar sua força. Sinto que ele
faria qualquer coisa por mim. Ninguém nunca se importou comigo
assim desde que eu perdi minha mãe. Ela foi à única pessoa que me
mimou e me disse que tudo ficaria bem. Então Bruno entrou em
minha vida, e quando ele está comigo, sinto que nada pode me tocar.

“Eu estou me chutando por todo o tempo que perdi pensando


que você me odiava e lamentando ter estado comigo. Honestamente,
nunca pensei que você não se lembrasse.”

“Não” Eu murmuro contra seu dedo antes que ele se afaste.


“Você está aqui agora.” Eu sorrio.

“Eu estou.” Ele segura meu rosto em suas mãos. Eu me


inclino, derretendo em seu toque. “Eu não estou indo a qualquer
lugar. Agora que eu tenho você, não vou deixar você sumir
novamente.”

“Por que não me disse Bruno?”

Ele estremece. “Eu queria. Eu tentei, mas eu não queria


complicar as coisas. Você já estava lidando com tanto, e eu não
queria acrescentar mais.”

“É por isso que você me deixou nas últimas duas semanas?”

Ele olha para longe antes de olhar para mim com uma careta.
“Eu tinha trabalho a fazer. Tive que sair da cidade. Achei que
precisava de um pouco de tempo sozinha. Eu mantive contato com
Becca, e ela me assegurou de que você estava bem. Agora eu sei que
vou ter que falar com ela novamente.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Minhas sobrancelhas se levantam ao pensar nele conversando
um pouco com ela. “Ela ficou me verificando, mas eu sou muito
persuasiva e ela é realmente crédula.”

“Eu vejo isso agora.”

“Eu pensei que você nunca mais voltaria.” Eu admito e uso


meus ombros para empurrar sua mão mais contra meu rosto.

“Eu sempre vou voltar para você.”

“Esse era o seu segredo?” Eu pergunto como quem não quer


nada. Bruno nunca falou tanto assim, e eu acho que agora, enquanto
ele está sendo tão solto, é o momento de tentar descobrir o que eu
quero para saber mais do que tudo. Quero dizer, ele já falou algo que
caiu como uma bomba em mim, por que não colocar tudo pra fora.

“Sim. Esse é o meu segredo.”

Eu poderia falar que isso era besteira, mas Bruno nunca


mentiu para mim antes. Ele pode ter omitido uma coisa ou duas,
mas nunca mentiu. “Você tem certeza?”

“Sim,” Ele responde e então olha para mim novamente. “Então


você não está louca?”

“Sobre o quê?” Eu lanço meus braços ao redor de seu pescoço.

“Que eu não te contei mais cedo.”

Eu balanço a cabeça e dou um sorriso sem graça. “Eu


provavelmente não teria sido capaz de lidar com essa informação se
você tivesse me dito antes.”

“Eu não penso assim. Não era importante, e você tinha


bastante merda em sua mente.”

“Sim.” Eu sussurro, fazendo cócegas em seu pescoço com


minhas unhas. “E agora, o quê?”

“Agora, nós lutamos. Deixe-me ajudar. Não aceitarei um não


como resposta.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Então, por que está pedindo para eu deixar você ajudar?
Parece que não tenho escolha.” Eu enterro meu rosto em seu
pescoço.

Sua mão acaricia minhas costas, lentamente trabalhando para


cima e para baixo na minha espinha. “Você não tem. Mas não há
mais pena e tristeza. Você vai ter que fazer tudo o que eu digo.”

“Tudo?”

Ele sorri. “Tudo.”

Eu não gosto do som disso, mas eu sei que tenho que ganhar.
Eu tenho que ter mais tempo com este homem. Eu não estou pronta
para desistir e cair no câncer. Depois que eu ficar melhor, preciso
impedir que esta doença destrua tantas vidas.

Bruno vai ser a minha salvação.

ENSHRINE
Chelle Bliss
20
LUTAR NÃO É FÁCIL

Eu me arrependo de minhas palavras.

Bruno toma liberdades que eu não esperava. Dizer a um


homem, qualquer homem, que você vai fazer tudo o que dizem é como
o beijo da morte. Eu pensei que seria capaz de limitar com as
“Regras” quando ele saísse do meu lado, mas não. Ele se certifica de
estar por perto em todos os momentos.

E quando ele não está, se certifica de que eu não me esqueça


de seguir seus comandos.

Quero dizer, sério. O homem tem problemas de controle.

Bruno: Você está comendo?

Eu olho para trás e para frente entre o meu celular e o prato.


Eu realmente fiz um sanduíche. Salada de frango não era a minha
melhor escolha quando o meu estômago já estava dando
cambalhotas. A maionese e a textura me fazem querer vomitar. Dou
uma mordida e engulo isso com um grande copo de água. Eu estava
olhando para ele por alguns minutos quando ele me enviou o texto.

Eu: Sim. Estou comendo o que você deixou para mim.

Bruno: Tire uma foto.

“Ele não pode estar falando sério.” Eu olho o celular e depois


para o meu sanduíche com apenas uma mordida em falta. Eu sei que
ele não ficará emocionado com a quantidade que comi. Eu encolho
os ombros e tiro uma foto, enviando para ele. Eu penso em fingir e

ENSHRINE
Chelle Bliss
dar um monte de mordidas. Cuspi-lo no lixo, mas eu não vou. Por
quê? Porque a porra louca, controlador provavelmente irá verificar a
lata de lixo quando vier mais tarde.

Bruno: Coma mais.

Não posso fazer isso. Nem mesmo para Bruno.

Eu: Eu não quero. Meu estomago concorda comigo.

Bruno: Eu vou ter algo entregue. Coma tudo isso.

Com a boca fechada, grito para mim mesma. O homem é


impossível. Eu só tenho poucas horas antes da minha consulta de
quimioterapia, e ele insiste que eu encha meu estômago antes. Eu
não vejo o ponto desde que eu estou indo somente esvaziar ele todo
depois.

Trinta minutos depois, uma entrega chega de La Cucina, um


restaurante italiano local.

A parte mais engraçada sobre isso é que eles não têm um


serviço de entrega. Bruno havia convencido alguém para entregar a
comida e fazê-lo rapidamente. Eu não culpo o cara. Bruno poderia
convencer - mais como intimidar - alguém a fazer qualquer coisa.

Dando uma de espertinha, tiro fotos enquanto como. Tirando


fotos da comida em várias fases de desordem e fazendo selfies com
ela em minha boca. Eu realmente como cada mordida. É um dos
meus restaurantes favoritos, e tem sido há anos desde que provei
seu frango.

Quando Bruno chega para me levar ao tratamento, já tomei


banho e estou adormecida no sofá. Eu sei que outra noite cheia de
doença e da incapacidade de fazer mais do que gemer e estar doente
está à frente. Pensei que seria bom tomar um banho antes, porque
depois eu seria inútil.

“Callie”, Bruno sussurra e acaricia meu braço.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Eu dou um pulo, morrendo de medo do pesadelo que eu estava
tendo. “Jesus. Você me assustou.” Eu resmungo e esfrego meus
olhos.

“É hora de ir. Pronta?”

Quero dizer não, porque quem quer ter o veneno injetado em


seu sistema?

“Sim.” Eu me empurro novamente para fora do sofá,


balançando quando me levanto.

Seu rosto muda. “Você está bem?”

Eu sorrio e me agarro a ele por apoio. “Estou bem. Apenas com


sono.”

Ele segura meus braços e olha para mim com preocupação.


“Você quer que eu leve você?” Ele pergunta com um olhar sério em
seu rosto.

“Hum” Eu murmuro. Ele se move como se estivesse prestes a


me levantar em seus braços, mas eu bato em suas mãos. “Bruno,
estou bem. Eu posso andar. Pare.”

Ele me puxa em seus braços e me aperta com força. Eu não


posso me ajudar, e acabo enterrando meu rosto para cheirá-lo.

Isso vem se tornando meu novo passatempo favorito. Isso e


ouvir seus batimentos cardíacos, ficando perdida no ritmo forte e
constante de seu coração batendo. “Vou passar a noite aqui.”

“Mmmhmm,” Eu murmuro em seu peito emaranhando meus


dedos na parte de trás de sua camisa. Eu não quero me mover. Estou
muito confortável para me mexer.

“Vamos.” Ele beija minha cabeça. “Temos uma guerra a


ganhar.”

Eu sorrio em sua camisa. Ao entrar na batalha, é bom ter um


aliado que assusta a merda de todos. Gostaria que Bruno pudesse
dizer “Boo” ao câncer e persegui-lo. Mas como isso não é possível, é

ENSHRINE
Chelle Bliss
bom tê-lo como parceiro para me manter no caminho certo e caminho
para a recuperação.

“Bruno.” Eu sussurro antes de olhar para ele.

“Sim?”

“Estou feliz que você esteja aqui comigo.”

Ele sorri suavemente. “Eu também, Cal. Oh, eu trouxe algo


para você.”

“Você trouxe?”

Ele puxa algo do bolso traseiro. “Aqui.”

“O que é?” Eu pego de suas mãos e abro a bolsa minúscula.

“Abra.” Assim como ele, não dá nada.

Alcançando dentro, eu puxo para fora um jogo de Tag em uma


corrente. Eu olho para elas e leio a inscrição.

O sentimento é demais. Lágrimas se formam em meus olhos


ao ler as palavras.

Quando vou ler novamente, ele os puxa de minhas mãos e


deixa a bolsa cair no chão. “Aqui, deixe-me colocá-las.”

Choro e sinto as lágrimas escorrerem no meu rosto enquanto


ele desliza as tags sobre a minha cabeça. “Shh. Eu só queria dar-lhe
algo para lembrar que você é uma lutadora. Uma sobrevivente.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Eu choro mais forte e toco as peças de metal, olhando para ele
com olhos lacrimejantes.

“Obrigada.” Eu engasgo enquanto falo.

“Vamos chutar algumas bundas, hein?”

Eu aceno e limpo meus olhos. “Estou pronta.” Pela primeira


vez em muito tempo, eu sinto isso também. Eu não vou deixar isso
tirar o melhor de mim. Eu quero esmagar o câncer. Não vou perder.

Vou dar o melhor de mim. Isso não vai me derrubar.

Enquanto estou presa à máquina e lendo uma revista, Bruno


se recusa a ir embora.

Eu tento não pensar sobre isso. Ele provavelmente tem


trabalho para fazer, mas eu ainda não descobri exatamente o que ele
faz. Algo ilegal. Provavelmente é melhor eu não saber, mas eu
deveria.

Quando ele volta pelas portas, ele tem três grandes sacos nas
mãos.

“Você está bem?” Ele me pergunta enquanto se senta no


banquinho na minha frente.

“Sim.” Eu me movimento para as sacolas tentando ver o que


está dentro.

“Só um pouco para os pacientes.” Ele procura alguma coisa


dentro do saco perto dele, e eu não posso arrastar meus olhos para
longe. Ele puxa uma pilha de livros de bolso. “Eu pensei que eles
poderiam usar um pouco de material de leitura por aqui.”

Este homem. Deus, ele está cheio de surpresas. “Você comprou


presentes?” Eu não posso esconder meu choque.

Ele continua a tirar livros, doces e lanches. “Algumas pessoas


têm de gastar muito mais tempo aqui do que você. Eles merecem
novos livros para ajudá-los a passar pelo tratamento.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Eu fico com ele. Quero dizer, este homem pode ser um sonho.
Nenhum homem é tão bom quanto ele é com completos estranhos.
Como diabos ele poderia ser Bruno “O Carniceiro”, mas também ser
um homem que traz livros para pacientes com câncer?

Impossível.

“Tenho algumas outras coisas também.” O último saco contém


almofadas de pescoço. Antes que eu possa dizer qualquer palavra,
ele as entrega para algumas pessoas na sala e volta para mim com
um sorriso em seu rosto. “Achei que ficariam mais confortáveis.”

“Quem é você?” Eu pergunto e balanço a cabeça.

“O quê?”

“Quem é você? Eu apenas não entendo. Eu não entendo você.


Você é um enigma.”

“Eu sou apenas eu, Cal.” Ele puxa o banquinho debaixo dele e
se aproxima.

Eu me inclino para frente. “Você não é quem eles dizem que


você é.” Eu sussurro e olho ao redor para ver se alguém me ouviu,
mas eles estão muito ocupados com os novos livros e almofadas para
prestar atenção em mim.

Ele encolhe os ombros. “As pessoas raramente são.”

“Então quem é você?”

“Bruno.”

Idiota. “O Carniceiro?”

“Eu ouvi.” Ele sorri.

“OK. Responda isso.” Eu me inclino mais perto. “Como poderia


um homem chamado 'O Carniceiro' trazer um travesseiro para
alguém que ele sequer conhece?” Eu levanto uma das minhas
sobrancelhas pintadas para efeito.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Porque eles não conhecem o verdadeiro eu. Eles sabem os
rumores, eles compõem histórias, mas nenhum deles sabe quem eu
realmente sou.”

“Bem, isso é óbvio.” Eu rio suavemente e cubro minha boca,


tentando não trazer a atenção para nós.

“O que você faz exatamente?”

Ele olha ao redor da sala antes de me olhar diretamente nos


olhos. “Eu sou tudo o que dizem que eu sou e mais.”

Meus olhos se arregalam. “Sério?”

Ele ri. “Não, Cal. Você é muito fácil.”

Meus lábios rosnam. “Bem, você não conseguiu esse apelido


resgatando filhotes.”

Ele cruza os braços sobre o peito e sorri. “Diga-me o que você


pensa que eu faço.”

Eu me movo em meu assento, mal capaz de conter minha


excitação. “Ok.” Eu esfrego minhas mãos juntas e começo a pensar
sobre criminosos. “Traficante de drogas?”

“Não.” Seu rosto não muda.

“Assassino de aluguel.” Eu aceno, porque isso faria sentido


total.

“Não.” Ele pisca.

Eu suspiro e tento pensar em outras atividades ilegais que


caberiam com seu M.O.

“Lavador de dinheiro?”

“Não.” Uma de suas mãos chega perto de sua boca enquanto


ele descansa um dedo contra seus lábios.

“Porra,” Eu murmuro e me inclino para trás na minha cadeira.


Minha mente não funciona dessa maneira.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Você acha que eu roubaria as pessoas inocentes?” Suas
sobrancelhas se juntam, o que é engraçado. Ele não está tão
incomodado quando eu pergunto se ele é um assassino contratado,
mas o pensamento de eu, pensando que ele é um ladrão, o incomoda.
Deixe o enigma continuar.

“Desculpe.” Eu encolho os ombros por algum motivo. “Apenas


jogando palpites. Ladrão de banco?”

“Nem mesmo perto.”

Bem, merda. “Eu entendi.” Eu estalo meus dedos. “Prostituto!”


Ele quase cai da cadeira de tanto rir, e as pessoas no quarto olham
para nós. Eu sorrio, completamente envergonhada. “Você é um
cafetão. Não é? Faz sentido.” Eu sussurro.

Seus olhos brilham de riso enquanto as minúsculas linhas ao


redor de seus olhos se aprofundam. “Como isso faz sentido em sua
linda mente brilhante?”

Bato meu dedo contra meus lábios e penso em um bom caso


para o que ele se encaixa. “Um, bem. Você foi embora tarde da noite.
Eu imagino que é quando a maior parte da ação acontece.” Eu
levanto minhas sobrancelhas. “Você tem que ter mão forte para ser
cafetão, para que as pessoas tenham medo de você, certo? Quero
dizer, é o que eu acho.”

“Querida.” Ele acaricia meu rosto, tentando segurar sua


risada. “Você tem ouvido muito Snoop Dog.”

“Então, não um cafetão?” Eu saco meus lábios e começo a rir.

“Não. Não sou um cafetão.”

“Eu estou ficando sem merda aqui, Bruno.”

“Eu sei.” Seu sorriso se alarga.

“Hacker?”

Ele sacode a cabeça.

“Tráfico humano?”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Isso me faz ganhar um olhar que só pode ser descrito como se
eu precisasse de um hospício. “Bookiemaker?”

Suas sobrancelhas se erguem de novo.

“É isso aí.”

“Não.”

“Porra,” Eu arrasto minhas mãos pelas minhas bochechas,


quase sem ideias.

“Chantagem?”

“Você está se alongando agora.”

“Bem.” Eu cruzo meus braços sobre meu peito. “Eu vou ficar
com cafetão. É o mais engraçado.”

Ele esfrega o rosto, mas eu posso ver o seu sorriso.

A enfermeira se aproxima de nós. “Está tudo pronto.”

Eu olho para ela em estado de choque. “Já?”

“Vai mais rápido quando você está se divertindo.” Ela pisca


para mim e seus olhos piscam para Bruno.

Eu aceno e mordo meu lábio. “Mesmo horário na próxima


semana?” Ela pergunta enquanto desamarra tudo.

“Mesmo horário.”

Ela se inclina para frente, perto do meu ouvido. “Traga o


bonitinho de novo. Ajuda o tempo a passar mais rápido para nós
também.” Ela se endireita e pisca para mim antes de sair com seus
quadris balançando.

“Eu acho que você tem uma fã.”

“Deve ser a minha mão de cafetão.” Ele ri.

Idiota.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Mesmo que eu não tenha descoberto uma maldita coisa, Bruno
fez passar o tempo. Ao invés de se concentrar no ruim, nós rimos e
conversamos o tempo todo. Tudo é diferente com ele ao redor. O
tempo passa mais rápido, a vida parece mais fácil e eu sorrio mais.
Ele invadiu todos os aspectos da minha vida e melhorou.

Admito... preciso dele.

ENSHRINE
Chelle Bliss
21
ESTÁGIO 5 - ACEITAÇÃO

Eu não estou bem com o que está acontecendo comigo.


Ninguém em meu lugar estaria, mas eu posso aceitar o meu destino
e seguir em frente. O controle é algo que eu sempre precisei e sinto
como se estivesse começando a recuperá-lo lentamente. Embora eu
não possa acenar uma varinha mágica e melhorar, posso assumir o
controle do meu tratamento.

A quinta rodada de quimio foi mais fácil do que eu esperava.


Mesmo depois disso, eu não estou tão doente quanto antes. Eu não
sei se meu interior está morto e a quimioterapia não está realmente
atingindo seu objetivo ou se eu me acostumei com seus efeitos
colaterais.

Bruno espera comigo por algumas horas depois de chegarmos


em casa. Ele procura qualquer sinal de que estou ficando doente,
mas isso não acontece. Pouco depois das oito, Becca aparece na
minha porta e eles trocam de lugar.

“Então é assim que isso vai acontecer?” Eu pergunto enquanto


ela entra e lança a bolsa no aparador.

Ela toca seu peito e ri. “Eu não sei o que você quer dizer.”

“Vocês dois estão se juntando contra mim, Bec.”

“Ele está apenas preocupado e eu também. Eu imaginei que


ele abriria a porta para mim quando você não fizesse.” Ela mostra a
língua.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Eu teria.” Eu sorrio inocentemente.

Ela se senta ao meu lado, quase desmoronando. “Você mente,


mas eu te amo de qualquer maneira. B me ligou e me disse para vir
enquanto ele ia trabalhar.”

“Oh, ele fez?” Eu cruzo meus braços e penso nas maneiras de


fazê-lo pagar mais tarde. Quem estou tentando enganar? Este é
Bruno. “Você está chamando ele de B agora?”

Ela ri, corando levemente. “É estranho, não é? Nem sequer me


faça começar no fato de eu ter dito que ele tinha que ir trabalhar
como se tivesse um emprego de verdade.”

Eu rio, suavemente no início antes que cresça mais alto. “Eu


tentei adivinhar o que ele faz hoje. Falha épica.”

“Oh meu Deus.” Sua boca se abre.

“Sim. Eu estive sem opções no mundo criminoso.”

“Você acha que ele realmente te contaria?” Ela me olha como


se eu fosse louca. Eu estive recebendo muito esse olhar ultimamente.

Encolho os ombros através do meu riso, lembrando como ele


reagiu ao comentário sobre cafetão.

O homem pode assustar a merda fora das pessoas, mas


quando ele ri nada é mais hipnotizante e belo do que ele.

“Jesus, como eu não percebi?” Ela dá um leve tapa na testa.


“Você parece incrível, Cal.” Ela estende a mão e toca as pontas dos
meus cabelos, esfregando-as. “É tão real.”

“Isso é porque é idiota.” Eu bato afastando sua mão. “O que há


de novo no mundo de Becca?”

“Não muito. Ainda solteira e solitária, trabalhando mais horas


do que eu gostaria de admitir. Mas nada de diferente, o que é apenas
ótimo.” Ela diz sarcasticamente. “E quanto a você?”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Bem, Bruno decidiu que eu não posso cuidar de mim mesma.
Mas eu tenho que admitir Bec, eu me sinto melhor do que tenho me
sentido em um tempo.”

“Sim?” Ela pergunta com excitação.

“Eu não quero dizer que me sinto fantástica fisicamente, mas


sinto que posso realmente vencer.”

“Bruno.” Ela suspira.

“Ele é um dos motivos. Tem algo nele. Eu não entendo.”

“Eu também. Talvez ele apenas te assuste tanto que você se


esqueça do câncer.”

Ele me assustou, mas isso foi há séculos. Talvez eu nunca


tivesse medo dele; Eu honestamente não me lembro do que me
assustou antes. “Você sabia que eu o fodi?”

“Ah sim. Isso aconteceu há algumas semanas. Eu não sou uma


idiota.” Ela revira os olhos.

Eu balanço a cabeça vigorosamente. “Não. Não. Há muito


tempo!”

Ela bate na minha perna e suspira. “Saia daqui! Quando?”

“Véspera de Ano Novo uns dois anos atrás. Ele me contou


sobre isso na noite passada. Porra, não sei por que não me lembro.
Eu sabia que estava bêbada, mas não tão bêbada que eu tenha
esquecido de que transei com ele.”

“Porra,” Ela assobia. “Eu não esqueceria um segundo desse


homem dentro de mim.”

“Um.” Eu murmuro, me sentindo um pouco estranha e


possessiva por Bruno. “TMI.”

“Como ele foi?” Ela salta no sofá.

Meu corpo se sente sem peso e minhas mãos formigam. Não


porque eu esteja pensando sobre nós transando, mas porque estou

ENSHRINE
Chelle Bliss
me sentindo como o velho pré-câncer. Nós somos melhores amigas.
Ela é a única pessoa na minha vida em que posso confiar e que não
irá me julgar.

Tudo sobre hoje parece certo. “Ótimo.”

Ela agarra meu rosto e chega muito perto. “Uma menina não
diz apenas ótimo quando está falando sobre dormir com Bruno.
Quero os detalhes, Cal. É justo.”

Ela segura meu rosto tão forte que eu faço lábios de peixinho
quando falo. “Como isso é justo?”

“Porque eu te digo tudo.” Ela me solta e cruza as mãos em seu


colo como se estivéssemos falando de sapatos.

Meus olhos crescem amplos e selvagens. “Você mente.”

“Eu lhe falei sobre Jason e aquela coisa que ele fez com sua
língua.”

Eu estremeço e seguro minha mão. “Não repita.”

“Você nunca vai entender.”

“Eu estou bem.”

“Mas eu compartilho.”

Ela faz e eu também, mas não estou disposta a falar sobre


Bruno. Nem mesmo com Becca. “Eu também. Estou com sede. Você
pode me fazer um chá?” Eu pergunto, tocando meu pescoço e
rezando para ela se apaixone.

“Tudo o que quiser.” Ela se levanta e dirige-se para a cozinha,


mas para na porta “No entanto, ainda não terminamos de falar sobre
ele. Só para você saber.”

Eu aceno com a cabeça e sorrio, mas não pretendo contar nada


a ela. É melhor deixar algumas coisas não ditas sobre Bruno ter uma
reputação a defender, e embora eu ame Becca, ela pode ser uma
fofoqueira. Ninguém na rua precisa saber sobre o outro lado, o único
que eu conheço do homem. Nem mesmo Becca.

ENSHRINE
Chelle Bliss
No momento em que ela volta para a sala de estar com meu
chá favorito Twinings em sua mão. The Voice começa. É o nosso
prazer secreto. Se não estamos juntas quando está passando, nós
enviamos texto todo o tempo como adolescentes. O tempo funciona
perfeitamente. Nós sentamos em silêncio e tagarelamos apenas sobre
os concorrentes durante os comerciais.

Quando a porta da frente abre e fecha, eu olho para o relógio.


O programa começou há apenas cinco minutos e não há como Bec
me perguntar sobre Bruno com ele aqui. Eu sorrio e faço uma dança
feliz por dentro.

“O que vocês estão fazendo?” Ele pergunta enquanto entra na


sala de estar.

“Shh!” Becca fala sem desviar o olhar da televisão.

Ele põe seu braço em volta de mim e coloca sua boca junto ao
meu ouvido quando se senta.

“Ela leva isso um pouco a sério, não é?” Ele sussurra e


descansa sua mão contra meu ombro.

“Sim. Shh.” Eu digo a ele porque eu também.

Ele chuta suas botas e coloca seus pés sobre a mesa de café
antes de relaxar no sofá ao meu lado. Coloco a cabeça em seu ombro
e vejo o último concorrente cantar. A canção é tão bonita que traz
lágrimas aos meus olhos. Ela canta parte de “Beautiful” por
Christina Aguilera. Cada palavra dessa canção me lembra do último
mês. A maneira que eu tenho lutado com a minha autoimagem e com
a quimioterapia, e como a minha visão da vida mudou. Eu não sou
a mesma pessoa. Sou melhor do que eu já tinha sido. Cada palavra
fala comigo.

Bruno limpa uma lágrima da minha bochecha enquanto ela


escorre, parando-a antes que caia em meu peito. Eu lhe dou um
pequeno sorriso porque eu posso ver a preocupação em seus olhos.

Ele provavelmente não está ouvindo as palavras ou não


entende como elas me afetam, mas elas fazem.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Isso foi incrível.” Becca começa a aplaudir.

“Sim.” Eu engulo o caroço.

“Ela estava bem.” Bruno fala. Posso dizer que este não é o seu
tipo de show, mas mesmo alguém que nunca o viu pode apreciar a
beleza de uma canção cantada por alguém com uma voz assassina.

Chegando mais perto, eu seguro suas mãos mais firme. Ele só


esteve ausente por algumas horas, mas senti sua falta. Meus dias e
noites são mais fáceis desde que eu sei que ele estará lá comigo. Ele
está lá para o bem, para o mal, e definitivamente para o feio.

“Vocês dois provavelmente querem ficar sozinhos, hein?”


Becca olha para mim.

Quando eu olho para ela, ela pisca. “Você pode ficar.” Eu


minto. Quero ficar sozinha com ele, e eu acho que se ela permanecer,
isso vai se transformar em um interrogatório. Embora eu ame ambos
por diferentes razões, seus mundos não se misturam.

“Obrigado, B.” Bruno diz.

Eu tenho que esconder meu riso. Ambos chamam um ao outro


B. É meio bonito e nauseante ao mesmo tempo.

Becca me dá um beijo de adeus e eu penso que ela só daria um


aperto de mão em Bruno, mas não. Para meu choque, ela o abraça e
sussurra em seu ouvido. Ele ri, ela sorri, e eu estou confusa olhando
ele a levar até a porta. Eles formaram uma amizade sem eu ter ficado
sabendo, mas eu sei que sou sua ligação.

Quando ela sai, ele entra na sala e me deixa em pé na porta da


frente, coçando minha cabeça em confusão. “O que ela disse para
você?” Eu pergunto.

“Nada.” Ele se senta no sofá com os braços estendidos e um


sorriso enorme em sua cara. Seus olhos escuros brilham com
brincadeiras.

Meus olhos estreitam e eu sei que eles não estão me dizendo


algo. “O que vocês dois estão tramando?” Minhas mãos

ENSHRINE
Chelle Bliss
instintivamente pousam em meus quadris e meu corpo inteiro grita
besteira.

“Sério. Nós não estamos tramando nada.” Ele acaricia a


almofada ao lado dele e olha para ela, esperando por mim. “Venha
aqui.”

Eu balanço a cabeça. “Não. Não até você me dizer o que ela


disse.”

Ele me olha diretamente nos olhos. “Ela disse para te foder


bem hoje à noite.”

Minha boca fica aberta e eu pisco. “Bem.” Limpo minha


garganta e pisco novamente.

Becca realmente diria isso a ele...? Nah. “Você está mentindo.”

Ele me pede para vir até ele. “Beije-me e eu lhe direi.”

“É assim tão fácil?” Dou um passo à frente.

“Sim.”

Eu paro e fico a cerca de três metros de distância estudando-


o. “É um truque, não é?”

Ele inclina a cabeça e sorri. “Como um beijo poderia ser um


truque?”

“Tenho certeza que você vai descobrir um caminho.”

“Traga sua bunda fina aqui e me beije Cal.”

Eu fecho a distância entre nós e penso sobre a sorte que eu


tenho. Rastejando para seu colo, envolvo meus braços ao seu redor
e olho em seus olhos. Ele olha para trás antes de colocar meu rosto
em suas mãos e me beijar. Suavemente no início antes de
transformá-lo em algo mais exigente e apaixonado.

“Bruno.” Eu murmuro entre respirações.

“Shh. Sem sexo. Nós estamos apenas nos beijando.” Ele me diz
e volta a me beijar.

ENSHRINE
Chelle Bliss
O alívio me inunda. Embora me sinta bem, eu não estou pronta
para estar com ele novamente. Meu corpo não está pronto para isso.
Minha cabeça estaria a bordo, mas o resto de mim não está lá.

Quimo faz isso comigo. Cada polegada de sensualidade que eu


sentia se evaporou e minha libido desapareceu.

Estar em seus braços com ele entre minhas pernas, me


beijando, me sinto melhor do que qualquer coisa. Suas emoções
passam de seus lábios, e eu os sinto em minha alma. Nós ficamos
assim por um longo tempo até que ele me levanta em seus braços e
me leva para a cama.

“Bruno.” Eu sussurro depois de deitar na cama por mais de


uma hora, incapaz de dormir. Eu normalmente não o acordaria, mas
sei que ele também não está dormindo. Sua respiração não mudou e
seus dedos ainda estão acariciando meu braço com seu corpo
enrolado contra minhas costas.

“Sim?” Ele rola em suas costas, levando-me com ele.

Enrolo em seu lado e olho para ele na escuridão. Apenas o


esboço de seu rosto é visível no luar. “Você acha que há alguma coisa
depois disso?”

“Espero que o café da manhã.”

Eu soco seu peito. “Estou falando sério.”

Sua mão cobre a minha, segurando-a contra seu peito. “Eu


não penso muito sobre isso.”

“Você acredita em Deus?” Eu nunca pensei sobre isso também.


Depois de perder minha mãe, eu parei de acreditar. Se havia algum
ser supremo, por que ele ou ela permitiria tanto sofrimento?

“Fui criada católica.”

“Nós fomos todos criados como algo.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Eu acaricio seu peito enquanto ele segura minha mão contra
ele. “Eu não tinha rezado em anos. Quando Lee ficou doente, eu
encontrei-me voltando para Deus para fazê-la melhor.”

Meu sorriso é pequeno e suave. “Eu acho que todo mundo faz
isso em um momento de necessidade.”

“Talvez.” Ele beija minha testa com ternura e deixa seus lábios
se demorarem.

“Você sabe o que me assusta mais do que morrer?” Eu me


pergunto por que tenho que dizer a alguém. Segurando segredos e
medos para mim mesma tem me corroído por dentro desde o dia em
que ouvi que o câncer estava crescendo dentro de mim.

“O quê?” Ele murmura contra a minha pele.

“Que quando morremos não há nada depois. Como quando


você está dormindo e não sonhando somente escuridão. Você não
existe mais. Isso me assusta, Bruno.”

“Baby,” Ele sussurra e me puxa para mais perto de seu corpo.


“Eu não acredito que seja isso que acontece.”

“Você não acha?” Estou chocada.

“Eu não.” Sua mão desliza em minhas costas.

“Hã” Eu murmuro.

“A vida parece inútil sem algo mais.”

“Eu queria poder acreditar.” Eu admito e laço meus dedos com


os dele contra seu peito.

“O que o faz duvidar disso?”

Eu encosto meu rosto contra sua pele, capturando seu calor,


e eu desejo poder rastejar dentro dele. Tudo sobre ele me faz sentir
confortável. Como se eu pudesse enfrentar qualquer coisa no mundo
enquanto ele estiver comigo. “Quando perdi minha mãe, perdi
qualquer fé que eu tinha.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Seus dedos flexionam os meus e dobram sob minha palma.
“Sim, eu posso entender isso. Eu senti isso quando perdi Maggie e
nosso filho por nascer.”

“Há tanta tristeza no mundo que é difícil para eu acreditar que


é tudo parte de algum plano.”

“Eu acho que sem as lutas na vida, nós não saboreamos as


belas coisas. Nada seria tão doce se não fosse pelo mal.”

“Eu não sei.” Eu mastigo o interior do meu lábio.

“Sem a escuridão, o nascer do sol não seria tão espetacular,


Cal. A cor não seria tão brilhante. Você sabia?”

Quem diabos é esse homem? Ninguém com seu apelido fala


assim. Como ele pode acreditar em Deus, na beleza do mundo, e
possivelmente assassinar pessoas? Sobre o que estou falando? Eu
não tenho ideia do que ele faz, mas é algo que ele não está disposto
a divulgar.

“Podemos ver o nascer do sol?” Eu pergunto e paro de tentar


descobrir quem ele é de fato.

“Eu não conseguiria pensar em nada mais perfeito.”

“De manhã?” Eu relaxo com ele.

“Eu vou acordar você.” Ele diz, inclinando-se para frente para
me beijar. Eu movo meu rosto e beijo ele primeiro. Ele me faz feliz.

Enquanto me deito lá, esperando o sono me levar, sinto-me


completamente em paz. Não há turbulência interior, sem medo de
dormir ou da morte. Só pura felicidade. Posso contar em uma mão o
número de vezes que pensei sobre o câncer nas últimas vinte e
quatro horas.

Em vez de se tornar o fator incapacitante em meu dia, tornou-


se um segundo pensamento.

Há muita coisa boa para se temer.

ENSHRINE
Chelle Bliss
22
BELEZA E CRENÇA

Sentamos na praia, ouvindo as ondas em completa escuridão.


Fiel à sua palavra, Bruno me acordou para o nascer do sol. Já faz
tempo que não tenho tempo para assistir o sol beijar o horizonte
antes de arder para a vida.

Sentada entre as suas pernas, fecho os olhos. Limpo minha


mente e me concentro em como me sinto com ele contra mim e a
água batendo contra a areia a poucos metros de nós.

Eu devo ter adormecido porque Bruno beija minha testa e me


acorda. “Está bem, Cal.” Ele sussurra contra minha pele.

Eu endireito e esfrego o sono de meus olhos. “Desculpe, eu


cochilei.” Eu olho para cima em ele. “É tão cedo.”

“Você está compensando por um mês de não dormir.”

Eu aceno, meu sorriso crescendo mais. “Eu sempre durmo


bem quando você está comigo.”

“Olhe.” Ele aponta para o horizonte e meus olhos seguem.

O sol não é visível ainda, mas as cores tocam no horizonte


como se um arco-íris tivesse achatado para se aproximar da água. O
vermelho cresce mais brilhante, o amarelo chamuscando o céu
enquanto as primeiras sugestões do sol sobem acima da superfície.
Eu seguro minha respiração, enquanto olho a beleza de toda a coisa.
O sol mal olhou acima do horizonte, mas a majestade dos raios
fluindo através do céu me dá arrepios.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Bruno me abraça com força. “Respire.”

Eu suspiro em uma respiração, completamente perdida no


momento. A beleza é demais. Também real. Muito crua. Sentada em
seus braços, observando o sol nascer em um novo dia me lembra de
como cada dia é especial, um milagre.

Ele tem razão. Quando você vê o céu azul dia após dia e nunca
presta atenção à escuridão, o nascer do sol não é tão bonito. Mas
quando você assiste a queda negra e vê as cores resplandecer no céu,
é difícil negar que há algo maior do que nós.

O apreço pela luz nunca pode vir sem a escuridão.

É uma metáfora para a minha vida.

Eu nunca gostei muito antes. Não me interpretem mal. Eu amo


meus sapatos, meu trabalho e minhas roupas, mas quão importante
são eles, realmente? Nada no grandioso esquema das coisas.

O tempo é a coisa mais preciosa que temos. Passamos


cegamente os nossos dias como se eles fossem uma oferta infinita.
Cada ano, o tempo se move mais rápido, evaporando diante dos
nossos olhos, e nem sequer percebemos isso. A única vez que
prestamos atenção ao tempo é quando nos dizem que o nosso está
se esgotando.

Quando a linha de chegada está à vista, nós finalmente


entendemos como limitado e precioso o tempo realmente é, mas
somos impotentes para parar sua passagem. Eu nunca pensei em
minha morte. Não foi até que ela se aproximou mais que eu percebi
que queria mais. Era a única coisa que importava. Nenhum dinheiro
no mundo poderia comprar mais tempo e, inevitavelmente, todos
sucumbiremos ao mesmo destino. Mas eu não estou pronta para
jogar a toalha e cruzar a linha de chegada da minha vida.

“É tão bonito.” Eu sussurro, piscando por trás das lágrimas.


Ele beija minha cabeça e não fala nada.

Eu não posso me mover.

ENSHRINE
Chelle Bliss
A espetacularidade de um evento que acontece todos os dias
não se perdeu. Eu nunca havia acordado tão cedo para assistir. Eu
tomei isso como certo apenas como fiz com os minutos em minha
vida.

Como o mundo ficou tão confuso? Eu sei quando aconteceu


para mim. Perder minha mãe foi o momento decisivo da minha vida.
Deveria ter me feito perceber como fugaz tudo era, mas não. Isso me
deixou cansada. Eu questionei tudo, mesmo Deus, e caminhei
através da vida cega a todas as coisas realmente importantes ao meu
redor.

Eu era muito jovem para perceber que o tempo não era infinito.
No segundo em que nascemos, um relógio começa a correr em
direção a nossa morte. Enfrentar minha própria mortalidade me fe z
compreender o quanto eu desejava mais de algo que tinha uma
imutável data de validade.

“Você entende o que eu quero dizer?” Bruno sussurra em meu


ouvido, esmagando-me em seus braços. “Só a noite mostra a
verdadeira beleza da luz do sol.”

“Eu entendo.” Eu mal consigo fazer as palavras saírem entre


minhas lágrimas. A alegria, a paz e o temor que sinto ao ver o nascer
do sol são diferentes de tudo o que eu já experimentei.

Bruno fez isso. Ele me deu aquele pedaço de consolo e


compreensão que não tinha ainda clicado em meu cérebro.

Em vez de pensar sobre o câncer como uma maldição, eu


percebo que ele vai fazer tudo mais doce cada momento deixado em
minha vida, por mais longo que seja, será saboreado e nunca dado
como certo novamente.

ENSHRINE
Chelle Bliss
23
SEJA DIRETO

“Eu deixo o último slide das férias, mas eu me recuso a deixá-


la sentar sozinha no Natal.” Becca me fala pelo celular.

“Foi Dia de Ação de Graças. A única parte do feriado que eu


sempre gostei era Black Friday de qualquer maneira.”

Realmente, é a melhor parte. Eu costumava planejar meus


dias de ataque com antecedência e ficava de olho na internet para
ver os anúncios. Nunca esperei o jornal na manhã de ação de graças.
Becca e eu sempre passamos Black Friday correndo de loja em loja,
agarrando cada negócio que pudéssemos colocar em nossas mãos.
Mas isso era impossível esse ano. Eu estava muito doente para lidar,
e meu sistema imunológico muito baixo para estar em torno de
multidões.

Além disso, eu não tinha vontade de comprar mais coisas que


eu não precisava.

Imprudentemente, eu fico mudando os canais na televisão


enquanto Becca reclama não parando nem para tomar ar. “O Natal
é especial.”

“Não é para mim.” Estar sem uma família não faz o feriado
especial para mim. Não desde que eu era uma criança e sentia a
excitação do feriado.

Ela ofegou. “Mas meus pais estão esperando você.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Bruno me convidou para passar o natal com ele.” Eu jogo a
informação, tentando tirá-la das minhas costas.

“Serio?” Eu posso ouvir o choque em sua voz. “Ele não me


contou.”

“Sim, realmente.” Eu não posso esconder o aborrecimento em


minha voz. “A propósito, quando vocês dois se tornaram BFFs?”

“Nós não somos.” Ela suspira. “Nós dois nos preocupamos com
você.”

“Hã.”

“Então você vai com ele?”

“Eu não sei.” Quando penso em passar as festas com sua


família, me alegro, mas também me aterrorizo. Conhecer a família de
alguém pela primeira vez é estressante o suficiente; Isso acontecendo
no natal poderia torná-lo algo para se colocar em um livro de registro.

“Eu acho que você deveria.” Ela me diz para o meu choque
total.

Largo o controle remoto no meu colo. “Quem sequestrou minha


melhor amiga? Você tem que está brincando comigo.”

“Vai ser bom para você.”

Eu esfrego meu rosto, confusa e incapaz de tomar a decisão.


“Vou pensar sobre isso. De qualquer maneira, eu prometo não estar
sozinha no Natal. OK?”

“Eu vou te cobrar, Cal.”

“Eu sei que você vai.” Porque ela nunca esquece uma
promessa. A mulher tem uma mente como uma abóbada de aço.
Pergunte a ela o que comeu ontem e provavelmente não poderá se
lembrar.

Pergunte o que você disse a ela em 2008 depois de um encontro


ruim e ela pode se lembrar palavra por palavra. Ela me assusta

ENSHRINE
Chelle Bliss
algumas vezes com sua estranha capacidade de se lembrar de merda
estúpida.

Ela ri, o que me faz sorrir. Eu senti falta de seu riso... a beleza
nele.

Toda vez que ela ri, eu não posso deixar de sorrir. E tem o tipo
de riso que é um pouco bobo e às vezes termina com um bufar ou
ronco. É precioso e me faz amá-la mais.

Falta apenas algumas semanas até o natal, e sei que tenho de


tomar minha decisão em breve. Eu tenho um tratamento de
quimioterapia, o que significa que provavelmente vou descobrir se
estou em remissão em torno do grande dia. Sorte minha.

“Eu tenho que correr, Bec. Eu tenho coisas para fazer.”

“Você tem?”

“Eu tenho.” Eu minto. Eu só não queria mais falar sobre o


natal.

“Me ligue mais tarde?”

“Eu vou.”

“Amo você.”

“Amo você também querida.”

E tomo a decisão, vou passar o natal com Bruno. Por que não
tentar algo diferente? Durante anos, os pais de Becca me convidavam
para fazer parte de sua família, e eu sou grata por isso. Às vezes faz
meu coração doer, mas eu estaria perdida sem eles.

Natal com a - Espere, eu nem sei seu sobrenome. Eu nunca


me incomodei em perguntar, e nem sequer me passou pela cabeça.
Eu nunca ouvi isso de passagem.

Ele sempre foi Bruno ‘O carniceiro.’ Mas nunca um sobrenome


foi mencionado.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Eu: Qual é o seu sobrenome?

Além de querer saber, eu saberei com qual família eu estarei,


também acho que uma rápida pesquisa no Google pode ser divertida.
É o meu recurso para obter informações importantes sobre alguém.
Eu sempre dou um google em meus encontros. Descobrir se eles são
criminosos sempre foi importante. Mas eu sei que Bruno é um
criminoso. Embora eu saiba que provavelmente não há uma coisa
que eu aprenda que eu já não saiba.

Bruno: Bruno.

Eu digitei a pergunta errada? Eu olho para baixo. Não. Eu


perguntei direito.

Eu: Não, eu quero dizer o seu último nome. Eu sei que o seu
primeiro nome é Bruno. Duh.

Bruno: Bruno.

“Que merda?” Eu gemi e olhei para sua resposta.

Eu: Claramente temos um mal-entendido. O seu nome é Bruno


ou o seu sobrenome?

Bruno: Sobrenome.

Hã. Nunca em um milhão de anos eu teria pensado que não


era seu nome.

Eu: Então, qual é o seu primeiro nome?

Descobri que este pequeno detalhe me tem na borda do meu


assento. Eu preciso saber o nome do homem que eu tenho, lenta e
seguramente, caído durante o último mês.

Bruno: Eu ia te dizer, mas então eu teria que te matar.

Eu pisco. Ele não pode estar falando sério.

Eu: Você é um idiota.

Bruno: Eu sei.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Eu ri. Ele é irritante e engraçado. Tipicamente, a combinação,
juntamente com seu jeito de homem das cavernas, teria me feito
correr para as colinas, mas algo sobre ele me faz querer mais.

Bruno: Rocco

OK. Aguarde. Ele tem um nome fodão como Bruno, mas


Rocco... É simplesmente perfeito.

Talvez eu o renomeie. Ele seria um Rocky perfeito. ‘O


carniceiro’ com certeza não cabe mais.

“Rocco Bruno,” Repito para mim mesma e sorrio. É


absolutamente perfeito.

Eu: É perfeito, Rocky.

Bruno: Não.

Oooo. Eu bati um acorde.

Eu: Porquê?

Bruno: Ninguém me chamou Rocco ou Rocky desde que eu era


criança.

Eu: Mas eu gosto.

Ele não responde imediatamente. A mensagem nem mesmo


mostra que ele a leu, mas eu sei que ele tem que ter. Eu vou esperar.
Eu sou paciente e ele não pode me ignorar por muito tempo. Pelo
muito que eu sei sobre ele.

Meus olhos estão pesados e ardendo enquanto eu assisto


Férias de Natal pela centésima vez na minha vida enquanto espero
ele responder. Eu sempre desejei ter aquela grande família insana.
Ficar louca com parentes idiotas seria muito melhor do que estar
sozinha e acordar sem presentes sob minha árvore de Natal.

Talvez algum dia.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“BONITA.” Ele assobia antes que o barulho se aproxime de
mim.

“Bruno.”

“Sim.” Ele envolve seus braços ao redor e me puxa contra seu


lado.

Enrolo-o, quase instintivamente. “Você não me enviou o texto


de volta.” Eu reclamo sem abrir os olhos.

“Fiquei ocupado no trabalho.”

“Teve que matar alguém?”

Ele ri e acaricia meus cabelos. “Você é preciosa com toda sua


cultura pop como referências. Com certeza, não sou o padrinho.”

Eu rio e olho para ele. “Você é mais como Rocky.” Eu olho.

Ele olha para cima e tenta esconder seu desconforto com o


apelido. “Sim, eu acho que você poderia dizer isso.”

Eu me empurro para encará-lo. “Por que odeia isso?”

Ele faz uma careta e me coloca no colo. “Você não vai entender,
Cal.”

Coloco a mão no peito, bem acima do coração. “Me teste.”

Ele me ajusta, então eu não estou descansando contra seu


pênis. Isso me deixa um pouco triste porque é gostoso senti-lo
pressionando contra meu corpo. “Meus amigos costumavam me
chamar de Rocky quando eu era criança. Eu era um perturbador, e
não era um apelido que eu queria manter quando adulto.”

Franzi o cenho e arrasto minhas sobrancelhas juntas em


confusão. “Mas você está bem com 'Carniceiro'?”

Ele ri silenciosamente com a boca fechada. “As pessoas que


não me conhecem me chamam assim. É divertido.”

“Mas Rocky incomoda você?”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Sim.”

Eu procuro seus olhos e tento descobrir se ele está brincando.


“Você me deixou confusa.”

“Eu sei.” Ele sorri e passa os dedos pela minha bochecha.


“Estou tentando pensar sobre como explicar isso para você.”

“Por favor.”

“O carniceiro é um absurdo. É um mito. Ele é uma pessoa que


as pessoas acreditam que eu seja. Eu sei que ele não é real. Eu os
deixo acreditar no que eles querem. Mas Rocky, o garoto zangado
que olhou para uma luta em cada turno, não é quem eu sou, nunca
mais. Não é alguém que eu queira ser novamente.”

Meu coração quebra um pouco. Inclino-me para frente e falo


suavemente, tentando não soar julgadora “Mas você machuca as
pessoas para viver, certo?”

Sua mão toca minha bochecha, e eu empurro meu rosto nela.


“Você acha que eu machuco pessoas?”

Não consigo imaginá-lo machucando ninguém. “Conhecendo


você como eu faço agora... Não. Eu não posso imaginar.” Eu sorrio
para ele, meu coração pronto para explodir com tantas emoções. “O
homem que cuida das pessoas que ama com tanta paixão não pode
ser o mesmo homem que quebraria as pernas de outras.”

“Não posso falar do meu trabalho, Cal. Você sabe disso.”

“Eu sei.” Eu fiz uma careta. Deus, quero saber tudo sobre esse
homem... tudo.

“Mas eu posso te dizer isso...” Ele coloca a outra mão em meu


rosto, segurando-o para que eu não possa olhar para qualquer outro
lugar, mas em seus olhos. “Eu nunca fiz nada a ninguém que eles
não merecessem.”

“OK,” Eu sussurro e tento encontrar consolo nessa declaração


- tipo - Ela não diz que ele nunca matou ninguém, só que se ele fez,
eles mereceram.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Você entende o que eu estou dizendo?”

“Eu acho que sim.”

Ele se inclina para frente e coloca seus lábios contra a minha


testa. “Eu nunca faria nada para machucar você.”

“Eu sei.” Nenhum osso no meu corpo duvida de suas palavras.

“Venha aqui.” Ele diz, soltando meu rosto e envolvendo seus


braços ao redor das minhas costas. Deixei-o me puxar em direção ao
seu peito e eu coloco a cabeça sob o queixo. “Lá são apenas coisas
que eu não posso te dizer. Ainda não, pelo menos. Um dia você vai
entender.”

“Eu vou?” Eu seguro sua camisa em minhas mãos, agarrando-


a firmemente.

Ele esfrega minhas costas com uma mão e enfia seus dedos
nos meus cabelos com a outra. “Você irá.”

“Algum dia?” Isso significa que Bruno planeja ficar por aqui
quando eu estiver melhor?

Suas mãos me acariciam ainda. “Por que você pergunta


assim?”

“Eu só acho...” Eu não posso dizer as palavras. Ouvir que eu


sou apenas temporária vai me rasgar. Me afasto de seus braços que
apertam em torno de mim, não deixando nenhum espaço entre
nossos corpos. “Você acha que vou a algum lugar, Cal?” Ele descansa
sua bochecha contra o topo da minha cabeça.

“Eu não estou indo a lugar nenhum. Doente, saudável, ou uma


dor geral na bunda, você não se livrará de mim tão fácil.”

Eu sorrio e sei que sou uma dor na bunda. Tipicamente, mas


isso nunca parece perturbá-lo. “Promete?” Eu pergunto e deslizo
minha mão por seu pescoço, colocando minha palma contra seu
pulso.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Prometo. Então por que você queria saber sobre meu
sobrenome?”

Fecho meus olhos e sinto o toque de seu pulso contra a minha


palma. “Eu queria saber o nome da família que irei passar o natal
este ano.”

“Sim?” Eu posso ouvir a excitação em sua voz.

“Sim. Estou indo para um Natal da Família Bruno.”

“Você fez minha noite, garota.”

“É assustador, mas estou animada.” Realmente, estou


petrificada, mas eu nunca vou dizer a ele.

“Não há nada para ter medo da minha família, ela vai te amar.”

Eu não estou preocupada que eles iram; A coisa que me tem


com mais medo é que vou me apaixonar loucamente pela família de
Bruno.

Lee, já me fez apaixonar por ela, e não consigo imaginar não


tê-la em minha vida.

Mas e se sua família inteira for como os dois?

E se eu os amar tanto que não ser parte deles quebrará meu


coração?

ENSHRINE
Chelle Bliss
24
PODE BEIJAR MINHA BUNDA

Becca, Lee e Bruno estão vindo para uma pequena festa depois
que eu terminar com meu último tratamento de quimioterapia.
Preparei comida ontem à noite e os convidei para comemorar o fim
para o tipo de medicina mais merda do planeta.

Em vez de Bruno vir comigo, peço a Becca para estar ao meu


lado quando me disserem que terminei. Eu sei que as chances de
precisar de mais no futuro são bastante altas, mas por agora, estou
feita.

Acabado.

Finito.

Finalização.

Fim.

Fatto.

“Então é isso?” Pergunto à enfermeira enquanto ela me


desamarra.

“Sim. Tenho orgulho em dizer que você completou seu


tratamento.”

“Hã,” Eu murmuro. “Eu esperava mais.”

“Eu gostaria que pudéssemos jogar confete e festa, mas nós


temos o sino.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Durante as seis vezes que tive o tratamento, ouvi a campainha
duas vezes. Cada toque sinaliza o fim do plano de tratamento de
alguém e dá um sentimento de esperança a todos ainda sentado na
cadeira. Esperamos pela nossa vez e oramos para que o façamos.
Hoje é a minha vez de tocar o sino e dar o beijo de adeus.

“Sim. Acho que é uma ótima ideia.” Eu sorrio. “Mas eu acho


que confetes seria melhor do que tocar o sino.”

Ela escava em seu bolso e estende a mão. “Balas?”

Eu ri. “Eu vou levar. A uva é a minha favorita.” Eu a


desembrulhei e enfio em minha boca o mais rápido possível. A
quimio deixa um gosto horrível na minha boca, e estou esperando
que a uva o domine. Dou-lhe um abraço antes de pegar minha bolsa
e seguir em frente para o sino.

Meus dedos tremem quando eu me aproximo. A emoção e o


alívio que vem sobre mim é algo que eu esperava, mas a esperança
me lança para um loop. Eu não ultrapasso em respeito aos outros
pacientes. Eu toco-o algumas vezes e vou embora, sentindo uma
nova sensação de calma e alegria.

Antes de Becca e eu sairmos, eu me viro e olho para trás. Eu


nunca quero estar em uma daquelas cadeiras novamente. Eu quero
resgatar cada pessoa que se senta lá e luta por sobrevivência.

Minha vida está avançando. Eu sinto em meu coração, que vou


ficar bem.

Mesmo que o câncer não tenha desaparecido, eu não vou olhar


para trás com pesar.

Eu me viro, deixando tudo para trás. Becca enrola os dedos


nos meus quando nós caminhamos para o ar frio que desce sobre
Nova York. “Você conseguiu!” Ela exclama e lança confete em mim
que tira de seu bolso.

Eu rio e cuspo alguns que aterrou em minha boca. “Eu


consegui!” Eu grito e olho em direção ao céu. “Eu estou chutando a
bunda do câncer!” Eu grito alto o suficiente para ganhar algumas

ENSHRINE
Chelle Bliss
buzinadas. Meus braços estão estendidos e eu fecho meus olhos e
respiro fundo.

Coloco mina língua para fora, deixo os flocos de neve


minúsculos caírem em minha boca e derreterem.

Há algo especial nessa época do ano. Faz parecer qualquer


coisa possível, incluindo a remissão. “Eu consegui porra!”

“Essa é minha menina.” Becca canta ao meu lado. “E aqui está


o seu cara.”

Eu me movo rapidamente, procurando por ele. E então eu o


vejo. Rocco Bruno com uma limusine e o maior buquê de rosas
vermelhas e um bilhão de balões. Não consigo tirar o sorriso do meu
rosto enquanto eu fico lá, olhando para ele.

“Puta de sorte.” Becca murmura antes de bater na minha


bunda. “Vamos celebrar!”

“Cal.” Bruno diz quando eu chego perto o suficiente para ele


me tocar.

“Ei” Eu respondo, meu sorriso é tão grande minhas bochechas


doem. “Tudo isso é para mim?” Meus olhos seguem o tamanho da
limusine antes de olhar para a perfeição do enorme ramalhete.

“Ele é.” Ele coloca a mão em meu rosto, envolvendo seus dedos
nos meus e puxando meu rosto para o dele. O calor de seus lábios
envia zumbidos abaixo de minha espinha e me deixa sem fôlego.

Meus olhos se enchem de lágrimas e não consigo detê-las.


Minha alegria é demais para conter. Eu me jogo em seus braços e
salpico seu pescoço com beijos. “Obrigada. Obrigada. Obrigada.” Eu
canto e movo meus lábios para o rosto dele. Ele ri e vira a cabeça a
tempo de capturar meus lábios.

“Vocês dois realmente me deixam doente.” Becca resmunga


atrás de nós antes de subir na limusine. “Vamos. Vejo bebidas no
meu futuro.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Bruno e eu rimos, olhando um para o outro. Posso ver a alegria
em seus olhos, o alívio que essa parte da minha jornada acabou.
“Depois de você.” Ele se dirige para a porta da limusine.

Quando eu entro, penso sobre como surreal minha vida tem


sido nos últimos meses. O telefonema, o acidente, bloqueando-me
para longe do mundo, o câncer, perder meus cabelos - quero dizer,
cada trecho - crescendo perto de Bruno, dependendo dele, Becca
estando ao meu lado... quando eu a deixei, Lee entrando em minha
vida como um anjo da guarda, e como eu sou verdadeiramente a
menina mais afortunada no mundo.

“SURPRESA!” Lee grita quando caminhamos através da porta


dianteira, e ela joga um monte de confetes sobre nós.

Bruno geme e me viro para olhá-lo com o maior sorriso no


rosto, explodo em um ataque de risos incontroláveis. O cara duro
tem confetes em toda parte. A maioria deles aterrissou nele,
pendurados em seus cílios, sobre seus lábios e toda a sua cabeça.
Os confetes cor-de-rosa o cobrem todo. Ele parece adorável e
miserável.

“Não diga.” Ele murmura.

“Mas você parece...” Eu não termino a declaração porque ele


começa a tentar tirá-los de seus cílios usando seus lábios, e o rosto
que ele faz tem o meu riso retornando ainda mais forte.

“Meu Deus!” Eu suspiro quando tento pegar minha respiração.

“Desculpa.” Lee se desculpa, parecendo não estar nem um


pouco triste por cobrir seu irmão como um avalanche de confetes
cor-de-rosa.

Sua mão corre furiosamente em sua cabeça, os confetes caindo


sobre seus ombros como a caspa mais bonita no mundo. “Jesus, Lee.
Não acha isso exagero?”

“É uma festa, mano. Sorria um pouco, porra.” Ela pisca para


mim.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Todos nós rimos, exceto ele. Ele não está realmente chateado,
mas não importa o quão duro ele tente, ele não pode tirá-lo. É como
se quisesse fazer parte dele. Eu entendo isso completamente. Eu
nunca quero estar separado do homem também.

“Você conseguiu?” Bruno pergunta a Lee, limpando o confete


de seus lábios.

Ela balança a cabeça e dirige-se para a minha sala. “Tudo está


como você pediu.”

Eu me viro, seguindo seus olhos, e vejo instantaneamente.

Uma árvore de Natal.

Não apenas uma árvore, mas uma diferente de tudo que eu já


vi. Isso me lembra uma versão menor da que eu visitava todos os
anos no Rockefeller Center. Larga e alta, ela toca meu teto e tem
tantas luzes e ornamentos que eu me pergunto como fica na posição
vertical.

“Você fez isso?” Eu olho para frente e para trás entre ele e a
árvore.

Ele balança a cabeça e olha para a irmã. “Lee ajudou.”

Vou direto para ela e envolvo-a no maior abraço de urso.


“Obrigada, Lee. Obrigada.” Eu sussurro e a aperto.

“Você é bem-vinda, Callie. Qualquer coisa para você e meu


irmão mais velho.”

Eu seguro sua mão e pego a de Bruno também antes de


caminhar até a árvore para vê-la melhor. Eu nem sequer posso
descrever adequadamente a magnificência e grandeza. As luzes
mágicas, e em vez de serem as lâmpadas minúsculas típicas que você
pode começar em toda a loja de departamento, elas são grandes
globos redondos que cintilam. Os ornamentos são de todas as cores
e formas imagináveis. Enormes, maiores do que o meu punho e estão
espalhados entre os menores, com mais lâmpadas de vidro delicadas.

ENSHRINE
Chelle Bliss
É moderno, mas clássico. Nada de guirlanda brega, mas sim
uma ampla fita vermelha descendo a árvore em córregos. É....
espetacular.

“Beber! Quem quer um?” Becca grita da cozinha enquanto o


resto de nós ainda observa a árvore.

“Eu!” Lee sai, deixando Bruno e eu sozinhos.

Envolvo meu braço em torno de sua cintura e descanso minha


cabeça em seu peito. “Eu nem sequer sei como começar a agradecer.”

“Eu não quero um agradecimento. Ver o olhar em seu rosto


agora é tudo que eu preciso.”

Sorrio e enxugo as lágrimas. Eu sou um trem desgovernado de


emoções, mas nenhum deles é de tristeza.

“Você é demais, Bruno.”

“Eu sei.” Ele ri antes de beijar o topo da minha cabeça.

Eu sinto seus lábios contra mim, o calor deles quando me


beija. Quando fui para a sessão de quimio, decidi renunciar a peruca
e ir ao natural. Até agora, eu só costumava ver minha cabeça careca,
e eu sei que as pessoas sentadas comigo passando por tratamento
olham da mesma forma.

Bato em seu estômago de brincadeira antes de ficar na ponta


dos pés, querendo sentir seus lábios nos meus.

Assim quando seus lábios tocam os meus, as meninas voltam


para o quarto. “Esses dois podem fazer uma menina doente, você
sabia?” Becca se queixa e faz um barulho de enjoo.

“Sim. Eu não posso esperar para lidar com isso por dias na
casa dos meus pais.” Lee acrescenta.

Bruno e eu sorrimos como idiotas e as ignoramos. “Feliz?” Sua


mão toca meu rosto.

Fecho meus olhos, derretendo em sua mão. “Mais do que


nunca.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Engraçado como isso funciona.

A escuridão me mostrou a luz.

Bruno é o sol que aqueceu o meu mundo, afastando o escuro


e brilhando uma bela luz em minha vida. Em pé entre os três, eu
percebo que eu sou a garota mais sortuda do mundo.

ENSHRINE
Chelle Bliss
25
BUON NATALE

“Hum, você não está indo para o caminho errado?” Eu olho


para baixo no aplicativo do Google Maps no meu celular.

“Não.” Ele não olha para mim, apenas mantém seus olhos na
estrada, dirigindo na direção errada.

Aponto para a pequena seta na tela. “Diz para ficar em 80 e


não 380.”

“Querida quem está dirigindo?”

“Você, mas a Apple não concorda.”

“Seus mapas são merdas.”

“Não, não são.”

“Onde você dirigi a 80?”

“Através da Pensilvânia.”

“Exatamente.” Meu rosto mostra minha confusão quando ele


olha para mim. “Eu não vou para PA.”

“Por quê?” Meus olhos correm em torno.

“É melhor ficar onde sou conhecido.”

“As pessoas o conhecem?” Eu pergunto e rio, sendo uma


espertinha completa. “Eu tenho certeza que eles sabem quem você é
na Pensilvânia também.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“É mais seguro.” Ele sacode a cabeça e aperta o volante mais
forte, ajustando em seu assento. “Eu gosto desse jeito. São mais dez
minutos. Você pode lidar com isso?”

“Uh, sim. Tem certeza que é só mais dez minutos? Quero dizer,
parece que você está saindo do caminho para não deixar o estado.
Como, maneira isso não é fora do caminho.” Ele olha para mim com
um olhar tão sério que mordo meu lábio para me impedir de
continuar. “Então, Lee é sua única irmã?”

“Tenho outra.”

“Algum irmão?”

“Um.” O velho Bruno está de volta. Não o que me disse sobre


o nascer do sol, mas o ligeiramente desconfiado e estressado cara
que mantém suas respostas curtas e não adiciona qualquer coisa
que as pessoas normais chamariam de ‘conversa fiada’. “Estou
apenas tentando imaginar quantas pessoas estarão lá. Estou muito
nervosa.” Eu admito e olho para fora da janela, observando as
árvores cobertas de neve desaparecer.

“Desculpa. Estou sendo um idiota. Também estou nervoso,


Cal. Nunca trouxe ninguém para casa comigo.”

Eu fico com ele. “Nunca?”

“Nunca.”

“Hã” Eu digo.

“Não é um negócio tão grande, Cal. Eu nunca tive uma


namorada para trazer para casa.”

“Certo.”

“De qualquer maneira, você conheceu Lee, mas também há


Gabby, que é a mais nova de todos nós, e então há meu irmão,
Lucca.” Ele sopra o ar de sua boca e agita sua cabeça. “Ele é um
pedaço de trabalho, no entanto.”

“Então você é o mais velho, de Lee, Lucca e Gabby. Certo?”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Você entendeu.”

“O que há de errado com Lucca?” Ele é tão sortudo por ter um


irmão e irmãs. Não importa o quão louco eles o façam, ele tem que
saber como a família é especial... Eu daria qualquer coisa para tornar
esse aspecto da minha vida diferente. Becca é a coisa mais próxima
que tenho de uma irmã.

“Ele simplesmente se recusa a crescer.”

“Hum, ele tem um pau. A maioria dos homens não crescem.”

“Ajo como um adulto.”

Eu toco seu braço e aperto. “Mas você é mais velho. Quantos


anos ele tem?”

“Vinte e um.”

“Oh, por favor, Bruno. Ele poderia muito bem ser um bebê. Dê-
lhe um pouco de folga.”

Ele levanta o queixo em minha direção. “Você vai ver quando


conhecê-lo.”

Eu sorrio porque estou certa. Os homens não envelhecem


mentalmente de acordo com a sua idade, aos 21 anos ainda agem
como adolescentes, exceto quando eles são bastardos. “E seus pais?”

“O nome do meu pai é Gino e minha mãe é Franci. São típicos


italianos.”

“Então estamos falando, o quê? Alto?”

“Sim.” Ele sorri.

“Bem, se eles são como Lee, eu tenho certeza que vou amá-los.
Fale-me sobre eles.”

Bruno passa o resto do caminho contando-me tudo sobre sua


infância.

Sua família parece ter um vínculo que eu invejo. Seus pais se


conheceram em Woodstock, caindo loucamente apaixonados, e

ENSHRINE
Chelle Bliss
casando uma semana depois. Ele culpa as drogas por seu namoro
rápido, mas ele só está brincando... eu acho. Bruno diz que
esperaram para começar suas famílias porque eles estavam
aproveitando a vida um pouco mais.

“Eles não são seus típicos idosos conservadores. Basta estar


preparada. Minhas mãe pode jogar...” Sua voz some.

Meus olhos se arregalam e eu tenho medo de ouvi-lo terminar


a declaração. “Ela pode jogar o quê?”

“Sujo. Ela é muito relaxada em relação ao sexo e não tem


fronteira nem filtro.”

Eu rio. Eu já gosto dela. “Ela parece perfeita.”

“Papai não é melhor. Eu juro que a quantidade de ervas que


eles usaram em sua juventude tem atenuado seus processos de
pensamento.” Ele relaxa no assento do motorista.

“Você está preocupado?” Eu pego sua mão livre e envolvo


nossos dedos.

“Não.” Ele olha para mim. “Está tudo bem.”

“Eu pareço bem?” Eu pergunto e toco minha peruca. Eu


raramente percebo que não é meu cabelo real a maior parte do
tempo. Tornou-se parte de mim.

“Cal, eles passaram pelo câncer com Lee. Eles sabem


exatamente o que acontece com alguém lutando por sua vida.”

“Sim” Eu sussurro, e eu sei que vai ficar bem. Lee é a única


que me faz sentir a mais bonita do mundo além de Bruno. Eu olho
meu reflexo no espelho lateral e reconheço a menina olhando de
volta. Lee deu isso para mim.

De alguma forma, eu cochilo enquanto nós dirigimos através


de Nova York em direção a Watkins Glen na base do lago Seneca.
Quando abro os olhos, o terreno mudou.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Rolling Hills e montanhas enchem a janela até onde os olhos
possam ver. “Onde estamos?” Eu esfrego meus olhos e me estico.

“Watkins Glen. Estamos a poucos quilômetros de distância dos


meus pais.”

“Oh.” Eu endireito rapidamente, puxando para baixo a viseira


e verificando minha maquiagem no espelho. Quero parecer perfeita
quando encontrar a família dele. A última coisa que quero é fazer
uma má impressão.

Meu estômago se enche de borboletas, quanto mais perto


ficamos. Bruno pega minha mão, acariciando lentamente o topo com
seu polegar. “Apenas respire, Cal.”

Eu rio nervosamente. A última coisa que eu quero é ficar tão


nervosa que só consiga balbuciar - Porque às vezes eu faço isso - E
falo incontrolavelmente. Normalmente não faço isso.

Bruno, não colabora, porque ele não é muito falante, mas sei
que tenho a capacidade de ser um tagarela às vezes.

“É tão bonito aqui.” Eu empurro a viseira para que eu possa


ter uma visão melhor. O centro da cidade é clássico e pitoresco.
Parece com as pequenas cidades que eu sonhei quando era criança.
Crescer em Up in New York City me fez ansiar por espaços verdes,
um quintal para jogar, e a capacidade de não ter que olhar por cima
do meu ombro toda vez que eu sair de casa.

“Você cresceu aqui?”

“Passamos muito tempo aqui. Vivemos na cidade, mas


passamos os fins de semana aqui e cada feriado. Há uns dez anos,
meus pais se mudaram para cá permanentemente.”

“Você teve sorte.”

“Acho que sim.”

“Eu teria matado para crescer aqui. Sério. É o tipo de lugar


que eu sempre imaginei quando eu lia livros quando criança.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Lia muito?” Ele pergunta.

É a minha fuga. A maneira que eu posso esquecer minha vida


e viver um milhão de vidas que não são minhas. “Sim.”

“Eu não era muito de ler ficção quando criança.”

Eu olho para ele e não imagino ele lendo. “Revista em


quadrinhos?”

“Eu gostava de livros militares.”

Não é chocante que ele goste de coisas que lidam com guerras.
É uma coisa de homem, e eu posso ver Bruno passar incontáveis
horas lendo sobre batalhas e armamento.

A orla está alinhada com barcos, e depois dá lugar a uma rua


arborizada com belas casas que têm mais de cinquenta anos.
“Chegamos”, ele anuncia enquanto encosta perto da calçada de uma
impressionante casa branca vitoriana.

“Jesus, é enorme.”

“Isso é o que ela diz.” Ele ri e meus olhos se prendem nisso.

Eu não consigo parar meu riso. O senso de humor de Bruno


é.... desligado e estranhamente programado. Não são muitas vezes
que ele faz algo engraçado, mas quando ele faz, eu gosto.

“Às vezes eu acho que você é um idiota.”

Ele pisca para mim e pula do Range Rover. Abro a porta e salto
também para segui-lo de perto.

“Eu estava indo abrir sua porta.” Ele me diz enquanto ronda o
Rover e para diante de mim.

“Entendi. Eu sou uma garota grande.” Eu sorrio para ele, largo


e brincalhão. Isso é o que eu preciso este fim de semana. Eu quero
sorrir.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Ele envolve seus braços ao meu redor e beija minha bochecha.
O calor de sua boca afastando o frio que começou a tocar na minha
pele exposta. “Está ficando frio.”

Suas mãos tocam suavemente minha bunda. “Vamos para


dentro e te esquentar.”

“Você só me quer nua.”

Ele se inclina mais perto com sua boca ao lado de minha


orelha. “Embora eu queira enterrar meu pau em você, eu não
aconselharia você a caminhar nua. Minha mãe pode se zangar.”

“Nunca diga pau e mãe na mesma frase, por favor.” Eu rio e


coloco minhas mãos frias sob sua jaqueta e camisa para encontrar
seu calor. Ele assobia quando meus dedos tocam sua carne.

“Oh meu Deus, Rocco está aqui!” Grita uma voz masculina da
casa e nós dois nos viramos.

“Papai.” Ele olha para a porta. “Pronta?”

Eu aceno e olho para o pai uma vez mais. A semelhança é


estranha. É como olhar para o futuro, e eu gosto do que vejo. O
homem tem cachos cinzentos soltos que voam em torno de seu rosto.
A camisa cardigan me lembra algo de Tipsy o Elfos-brincalhão e
festivo.

“Olá papai.” Bruno cumprimenta seu pai quando subimos os


degraus, mas me escondo atrás ele.

“Roc.” Seu pai o colhe em um abraço de urso no momento em


que seus pés tocam o topo da escada e realmente o levanta, tirando-
o do chão. “Você está mais leve. Perdendo peso?”

Quando seu pai o coloca para baixo, Bruno dá socos no ombro.


“Pare com essa merda. Você sabe que eu posso chutar sua bunda.”

“Você pode tentar, garoto, mas eu sempre serei mais forte.”

Bruno vira e me puxa para frente. “Pai, essa é Callie.”

“Ela é um nocaute, filho.” Seu pai bate-lhe no ombro.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Recebo o sinal inicial de aprovação e já passei no teste até
agora. “Olá, Sr. Bruno.”

Sorrio e estendo a mão.

Ele olha para baixo, confusão escrita em todo o rosto. Ele me


embrulha em um abraço apenas como ele deu em Bruno. Eu não
consigo respirar e me pergunto o quanto minhas costelas vão
aguentar sob o esmagamento de seu corpo contra o meu.

“Pops, não a mate, por favor.” Bruno fala para seu pai e me
agarra pela cintura.

Quando estou em segurança no chão e seu pai desaparece na


casa, eu olho para ele e sussurro,

“Obrigada.”

“Ele vai se acalmar. Quando está muito animado, pode ficar


um pouco exagerado.”

“Rocco!” Uma mulher grita e vem correndo para fora da casa,


pulando em seus braços.

“Mamãe.” Ele sussurra e gira ao redor com ela em seus braços.

O sorriso no meu rosto cresce tão largo. Este lado do homem


é algo que eu só vejo com sua irmã. Ele é um homem de família. Seu
rosto muda em torno deles, seu corpo relaxa, e ele é uma pessoa
inteiramente diferente. Ele não fica tão sério e tão rígido. Há uma
calma e naturalidade em como ele move e age perto deles.

Ela segura seu rosto em suas mãos e salpica-o com beijos.


“Você parece cansado, bebê.”

“Eu estou bem, mãe.” Ele ri e a deixa continuar beijando seu


rosto.

Lee sai da casa, rindo, e vai direto para mim. “Bem vinda à
Nuthouse.”

“Parece a melhor maneira de passar o Natal.” Eu digo a ela


olhando-a de frente quando ela finalmente solta Bruno.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Você diz isso agora, mas espere.” Lee ri.

A Sra. Bruno dirige a sua atenção para mim. “Quem temos


aqui?”

“Mãe, Callie. Callie, mamãe.” Bruno nos apresenta, movendo-


se para frente e para trás.

Seus olhos se arregalam e ela dá um passo adiante. “Oh, você


é uma coisinha bonita.”

Eu sorrio e sinto meu rubor no rosto. “Obrigada.” Eu olho para


baixo em direção a meus pés. Ela toca minhas bochechas com as
mãos quentes antes de segurar meu rosto entre suas mãos.

“Deixe-me dar uma olhada melhor em você.” Ela sorri e eu


sorrio de volta com meu estômago começando a embrulhar.
“Perfeição.” Ela sussurra e olha para Bruno. “Eu não esperaria nada
menos do meu menino.”

Eu esfrego minhas mãos juntas e as levo até minha boca,


soprando o calor da respiração. Ajuda a esconder a minha expressão
facial, que é uma mistura de felicidade.

“Está frio aqui fora. Pra dentro todos.” Lee coloca sua mão
contra minhas costas e me leva adiante.

Bruno vem para o meu lado e segura a porta para mim.


“Prepara-se. Ficará mais louco.” Eu sorrio, porque eu não acho que
seus pais sejam loucos. Talvez um pouco excêntricos, mas todos nós
temos um pouco de maluquice dentro de nós. Alguns de nós são
apenas melhores em escondê-los do que outros.

“Lucca,” A Sra. Bruno grita. “Traga seu traseiro preguiçoso


aqui e diga olá para seu irmão.” Ela olha por cima do ombro para
nós. “E sua namorada sexy como o inferno.”

Assim que ela terminar a declaração, uma porta no andar de


cima se abre e Lucca aparece meio vestido. Seus olhos piscam para
nós, enquanto ele corre pelas escadas, um sorriso gigantesco e

ENSHRINE
Chelle Bliss
irregular se espalhando pelo seu rosto. “Agradável”, Ele murmura
enquanto seus olhos viajam pelo meu corpo.

“Pare com isso.” Bruno dá um tapa na cabeça dele e seu corpo


inteiro empurra.

“Eu não fiz nada, idiota.” Lucca zomba de Bruno, mas ele
mantém os olhos colados em mim.

“Pare de olhar para ela como uma fatia de torta.”

“Aposto que ela é mais doce.”

Bruno bate nele novamente, desta vez um pouco mais forte, e


Lucca grita. “Estou seriamente indo chutar o seu traseiro este fim de
semana, Lucca. Pare de ser um idiota.”

Eu começo a rir incontrolavelmente. Mesmo que Lucca seja um


merdinha implicante, eu lhe dou um passe livre porque ele é um
menino ainda. Além disso, o jeito que ele consegue irritar Bruno, eu
meio que adoro.

“Não se preocupe”, Lucca diz a Bruno e coça a cabeça. “Minha


mulher estará chegando em alguns minutos.”

“No entanto, você nem sequer está vestido.” Lee diz enquanto
ela passa por ele e faz um barulho profundo em sua garganta.

“Quem precisa de roupas quando ela está por perto?” Lucca ri


e flexiona seus músculos.

“Eu apenas não posso acreditar que você tem uma mulher.”
Bruno suspira. “As maravilhas nunca cessam.”

“Eu tive mais mulheres do que você nunca vai ter, Rocco.”

Os nomes são confusos. Eu tenho que lembrar que eles não o


chamam de Bruno porque eles são todos Brunos.

Bruno se move atrás de mim e me ajuda com o meu casaco


antes de remover o seu próprio.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Entre na sala de estar e sente-se junto ao fogo para aquecer
enquanto eu pego a nossa bagagem.”

“Ok.” Eu ainda estou rindo da maneira como ele age com seu
irmão. Eu estou com invejosa. Mas então novamente, eu invejo todos
eles por terem um ao outro. É tudo que eu quero e não tive desde a
minha infância.

“Cal” Lee grita da sala de estar.

“Já estou indo.” Eu falo e me ponho na ponta dos pés para dar
um beijo em Bruno antes de desaparecer na direção de sua voz.

“Uau,” Eu murmuro quando entro na sala de estar, que está


na parte de trás da casa. Janelas de parede a parede dão a vista mais
espetacular do lago. Neve cobre as árvores e o lago é de um azul mais
escuro que eu já vi.

“Sim, às vezes eu esqueço o quão lindo é esse lugar.” Lee


acaricia o sofá próximo a ela. “Sente-se.” Sigo as ordens e me sento,
mas mantenho meus olhos colados às janelas.

A vista da neve que cai, vibra sobre o lago, e então desaparece,


me cativa “Como foi o tratamento? Você precisa de um descanso?”

“Dormi no carro. Você sabe que seu irmão não é o melhor


conversador.”

Ela sorri e se deita de novo no sofá. “Como você está se


sentindo?”

“Muito bem, na verdade.”

“Você fez a varredura e o exame de sangue desde o último


tratamento?”

Eu dou-lhe um sorriso sem graça. “Sim. Fui ontem e fiz tudo.


Agora, nós apenas aguardamos.”

“Não importa o quê...” ela envolve seu braço em torno de


minhas costas, me abraçando desajeitadamente “...você pode
enfrentar qualquer coisa.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Eu me pergunto se posso mesmo.” Eu murmuro, não
percebendo que eu digo isso em voz alta.

“Você pode. Lembro-me de como eu estava assustada para


conseguir o meu feito. Eu receava que o câncer se espalhasse e que
a quimioterapia não funcionasse. Eu me preocupei por nada.”

“Mas e se eu não tiver tanta sorte quanto você?”

Ela chuta os pés para cima da mesa de café, e depois de eu


empurrar meus sapatos, eu faço o mesmo. Lee me deixa confortável.
“Então você luta novamente.”

Eu olho para ela e franzo o cenho ao pensar. “Não é tão fácil.”

“Isto é. Não vai ser fácil, mas que outra opção existe,
realmente?”

“Nenhuma.” Eu admito e seguro sua mão, embrulhando


nossos dedos juntos.

“Eu não saberia o que fazer sem você, Lee.”

“Eu sou muito impressionante, não sou?” Ela cobre a boca com
a mão livre.

“Você é.” Eu sorrio e empurro para trás as lágrimas. Bruno me


fez passar por isso muito; Ele me dá tanta força, mas Lee me deu
algo que ele nunca poderia esperança e autoconfiança.

“Merda!” Sra. Bruno grita da cozinha.

“Eu deveria ir vê-la.”

“Eu vou também.” Eu digo a ela, ficando de pé e seguindo-a.

A Sra. Bruno está parada com o chão coberto de farinha ao


seu redor quando entramos, e Lee pega uma toalha e se junta a ela.
“O que aconteceu, mamãe?”

Ela sopra um suspiro, criando uma nuvem. “Seu maldito pai e


seu frango Piccata. O homem tem que ser difícil.”

“Você faz o melhor, no entanto, mamãe.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Não tenho sorte?” Ela ri, pegando outra toalha no balcão.
“Que bagunça.” Eu puxo o rolo de toalhas de papel do suporte e
mergulho um punhado sob a água para juntá-los. “Oh, Callie. Não
fique suja.”

“Eu não posso apenas assistir vocês meninas terem toda a


diversão, posso?”

“Querida, se essa merda é divertida para você, então eu acho


que você precisa de alguma ajuda.” Diz Sra. Bruno enquanto ela cai
de volta em sua bunda.

“O que vocês estão fazendo?” Bruno pergunta enquanto entra.

“Nós pensamos em fazer uma roda de coca e achei que esta era
a melhor maneira de fazer.” Sua mãe responde sem olhar para cima.

“Mamãe…”

“O que diabos parece que estamos fazendo, Rocco?”

Ele está certo sobre ela. Ela não tem filtro. Eu a ela.

“Coca soa bem, porém.” Lee brinca e começa a rir.

“Pelo amor de...” Bruno murmura e agarra uma pilha de


toalhas da gaveta ao lado da pia.

“É culpa de seu pai. Ele quer Piccata, e você sabe como eu


odeio tocar em frango. Eu fico nervosa em torno deles.”

“Você não superou seu medo de frango? Está morto. Não vai
atacar você.” Ele nos afasta do caminho e limpa o resto de farinha
do chão branco.

“Viagem ruim com ácido” Ela me diz antes de olhar para ele.
“Eu nunca vou superar isso.”

“Onde está Gabby?” Lee pergunta, mudando de assunto.

“Ela está na casa de um amigo. Eles estão estudando.” Ela usa


citações e rola os olhos dela. “Eu não sei por que a garota não pode
ser honesta sobre essa merda.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Eu me inclino contra o balcão, olhando para frente entre
Bruno e sua mãe. Ele esfrega a mão pelo rosto e parece um pouco
mais sério do que fez antes. “Quem é o amigo?”

“Calma, garoto.” A Sra. Bruno aponta o dedo para ele.

Eu quase caio. Eu mordo meu lábio e mantenho minha boca


fechada para esconder meu riso.

“Mamãe.”

“O nome de sua amiga é Trista ou algo assim” diz a Sra. Bruno,


jogando a toalha pelas escadas do porão.

“Você me fez pensar que ela estava na casa de um garoto, pelo


amor de Deus.”

“Não se engane.” Ela ri. “Elas não estão estudando.”

“Espere.” Bruno se levanta, sua cabeça se inclina, e seus olhos


estreitos. “Você está falando que Gabby e Trista são um casal?”

“Sim.” O rosto de sua mãe se aperta. “É muito escandaloso


para essa pequena cidade.”

“Oh, foda-se o que as pessoas pensam, Ma. Fodam-se todos.”


Lee argumenta.

“Eu sei, querida. Só me preocupo com minha garotinha.”

Bruno ergue as mãos. “Espere. Então você está dizendo que


Gabby é uma...”

A Sra. Bruno acena com a cabeça. “Uma lésbica. Sim.”

Um sorriso gigante se espalha pelo rosto dele e seu corpo


relaxa visivelmente. “Merda, obrigado.”

“Huh?” Murmura Lee enquanto olha para seu irmão.

“Eu não terei que ir para a prisão por matar um pequeno pau
por derrubá-la. Eu estou bem.” Ele ri e arrasta a mão pelos cabelos.
Farinha cobre seu rosto, e faz pequenas estrias brancas em seus
cabelos. Ele olha para a mão e percebe o que ele fez. “Droga.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Eu aperto sua mão e sorrio. “Dê uma boa olhada em você, B.”

“Vá se lavar, pequeno foguete.” A Sra. Bruno sorri para ele,


seus olhos se lançam para mim.

Minha boca se abre. “Pequeno foguete?” Olho para ele, e seus


olhos estão arregalados. Ele endurece ao meu lado. “Não me chame
assim, mamãe.”

Ela caminha até ele e acaricia sua bochecha. “Você sempre


será meu pequeno foguete, Rocco.”

“Oh meu Deus.” Lee ri histericamente atrás da Sra. Bruno.

“Pequeno foguete?” Eu sussurro.

A Sra. Bruno olha para mim e continua a acariciar seu rosto


coberto de farinha. “Quando ele era uma criança, ele resolveu puxar
para baixo suas calças e mijar na calçada. Ele pensava que era
Picasso. Daí o apelido.”

Bruno fecha os olhos e respira profundamente. “Vou tomar um


banho.”

Aperta minha mão. “Quer se juntar a mim?”

Eu balanço a cabeça. “Não.” Eu quero ouvir mais sobre o


pequeno foguete.

ENSHRINE
Chelle Bliss
26
MEMÓRIAS

Quando eu acordei de manhã, eu o vejo dormir. Ontem à noite


foi a mais divertida que tive em... bem, anos. Depois do jantar, seus
pais tiraram filmes caseiros antigos e passaram a noite embaraçando
Bruno e me entretendo. Eles abriram mais de uma garrafa de
champanhe, e quanto mais bebemos, mais engraçadas as coisas se
tornaram.

Gabby chegou após o jantar e se apresentou, mas ela


rapidamente desculpou-se e foi para seu quarto. Eu pensei ter
sentido um cheiro nela, como se talvez estivesse fumando maconha,
mas eu não podia ter certeza e não era da minha conta.

Bruno a olhou cautelosamente, mas não empurrou o caso.

Eu amo Becca até a morte, mas sua família seria classificada


como tediosa comparada aos Brunos. Diabos, acho que a maioria
dos Estados Unidos seria. Não consigo tirar o sorriso da minha cara
quando penso sobre eles e ao vê-lo dormir.

Eu traço o contorno de sua mandíbula, meus dedos


persistentes contra sua pele. O resistente, homem mandão vem de
uma família tão amorosa que algo não se encaixa.

Meu cérebro não pode se envolver em torno do fato de que


“pequeno foguete” cresceu para ser “O Carniceiro.” Eu me pergunto
se seus pais sabem sobre ele. Conhecem a sua vida atual, o seu
trabalho, sua... reputação. Eles não têm medo dele, mas todo mundo

ENSHRINE
Chelle Bliss
- pelo menos na nossa área- o conhece e tremem em suas botas
quando ele passa.

Faço pequenos círculos com o dedo ao redor de seu peito,


continuo tentando entendê-lo. Quando ele dorme, ele parece um
gigante pacífico. Eu diria até um ursinho de pelúcia, mas nem uma
polegada dele é macia.

“Bom dia,” Ele sussurra sem se mover.

Perdida em pensamentos, eu não tinha percebido que ele tinha


acordado. “Bom dia, Foguete.” Meus olhos deslizam para os dele,
mas ele não parece divertido.

“Diga isso de novo.” Ele me desafia com um sorriso lento e


preguiçoso.

“Pequeno Foguete,” Eu sussurro novamente e sorrio.

Como se eu não pesasse nada, suas mãos agarraram minha


cintura e ele me levanta no ar me fazendo montá-lo bem em cima do
seu pênis.

Bruno e eu não temos sido íntimos em tanto tempo. Tenho


certeza que ele quer, mas o sexo tem sido a última coisa em minha
mente - até agora.

“Agora, fale de novo?” Suas mãos escavam meus quadris,


quase dolorosamente agarrando minha pele nua.

“Pequeno foguete.” Eu gemo, e me contorço contra seu


comprimento endurecido.

Suas mãos deslizam para minha bunda e me agarra áspero


enquanto rola seus quadris. Eu suspiro e ele senta-se, cobrindo
rapidamente a minha boca com a dele e capturando um gemido antes
de acordar a casa inteira.

“Shh,” Ele sussurra contra meus lábios e puxa meu corpo


perto dele, pressionando ainda mais seu pênis em minha carne.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Não podemos fazer isso.” Minhas unhas cravam em seus
ombros. Eu não quero dizer o que eu digo, é claro. Eu quero ele. Já
faz muito tempo, mas está ainda é a casa de seus pais.

“Por quê?” Suas sobrancelhas se levantam.

“É a casa de seus pais.” Eu gemo enquanto ele beija um


caminho pelo meu pescoço. “Não podemos.”

Minha voz está necessitada.

“Eles não podem ouvir.” Ele me diz contra minha pele. “Eu
quero você, Cal. Eu não posso esperar mais.”

“Eu quero você também.” Eu admito antes de inclinar a cabeça


para trás e dar-lhe melhor acesso aos meus seios.

Ele chupa uma respiração, arrastando as mãos para baixo do


meu pescoço e se estabelecendo logo acima de meu seio. Ele empurra
para baixo, fazendo com que meu corpo arqueie e jogo minha cabeça
para trás erguendo ainda mais os seios. “Perfeito.” Ele captura meu
mamilo entre seus lábios e eu grito.

Minhas mãos descansam em sua canela, mantendo-me


equilibrada enquanto ele adora o meu seio. Eu gemo e me contorço,
esfregando-me contra seu pau. Ele é duro, sólido e pronto. Quando
sua mão desliza entre nós, eu gemo tão alto que tenho que ter
acordado alguém. Eu congelo e escuto o barulho, mas Bruno não
para. Meu corpo precisa disso e assim possivelmente ele detém o
recorde de mais tempo gasto com um homem sem sexo envolvido. Eu
não quero que seja assim com a gente. Ele merece prazer e quero
isso.

Assim como eu estou prestes a pedir-lhe para obter um


preservativo, é como se lesse a minha mente, ele agarra um da mesa
de cabeceira. Eu não vi isso antes, mas ele deve ter planejado toda a
coisa. Também não vou questioná-lo.

Rasga com os dentes enquanto eu desço pelas pernas. Em


poucos segundos, está pronto para levá-lo. Mas antes que eu possa,

ENSHRINE
Chelle Bliss
me agarra e me vira nas minhas costas. Está em cima de mim antes
que eu possa protestar.

Por um breve momento, acho que ele vai ser gentil. Que vai
deslizar dentro de mim polegadas por polegada, mas eu estou errada.
Depois que ele esfrega seu pênis através da minha umidade e eu
estou ofegante como um gato no cio, ele empurra para dentro
rapidamente. Eu suspiro e sua mão cobre minha boca, abafando
meus gritos de prazer.

Fechando em seu bíceps, empurro de volta no ritmo. Quando


ele puxa, eu empurro enquanto nós fodemos um ao outro. Mais de
um mês de emoções reprimidas vêm derramando. O desejo.

A necessidade. O amor?

Espera.

Eu amo Bruno?

Eu empurro o pensamento da minha mente, deixando nossos


corpos se tornarem um e concentrando-se apenas nele. A maneira
como ele cheira, geme meu nome, e a sensação dele em mim e em
cima de mim. O peso do seu corpo em cima do meu me faz sentir
envolvida e engolida inteira.

Envolvo minhas pernas ao redor dele e derrubo minha bunda


quando suas mãos deslizam debaixo de mim.

Seu pau atinge os pontos perfeitos, fazendo com que meu


orgasmo cresça rapidamente. Eu não esperava que isso acontecesse
tão rápido.

Quando ele empurra para dentro, mais profundo desta vez,


tudo no meu corpo aperta. Eu fecho meus olhos e deixo o orgasmo
bater sobre mim. Meus dedos do pé torcem e eu mordo meus lábios
para sufocar os gritos de prazer enquanto ele implacavelmente fode
meu corpo, perseguindo sua própria liberação. Quando ele colapsa
em cima de mim, sem fôlego e suado, eu sorrio contra sua pele e
suspiro.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Se eu pudesse escolher uma maneira de morrer, fodidamente
Bruno seria a melhor maneira de ir.

ENSHRINE
Chelle Bliss
27
CAFÉ-DA-MANHÃ DOS CAMPÕES

“Você dormiu bem?” Pergunta a Sra. Bruno quando entramos


na cozinha.

Está prendendo uma caneca de café perto de seus lábios e está


tentando esconder seu sorriso “Ótimo.” Bruno olha para mim e
aperta minha mão.

“Sim, ótimo.” Eu sorrio e salto de pé a pé porque eu sei que


não estávamos tão quietos como eu pensava.

“Parecia isso.” Ela murmura antes de levantar a caneca para


seus lábios.

“Então, o que vocês iram fazer hoje?” Pergunta Sr Bruno,


sentado em sua cueca boxe e lendo o jornal.

“Hum.” Eu murmuro e tento não olhar para seu pai meio nu.

“Merda, Pop. Você não pode usar calças, pelo menos hoje?”

Coloca o jornal e olha para Bruno. “Por quê? Por favor, minha
sunga de praia mostra mais.” O Sr. Bruno ri, levantando o papel na
frente de seu rosto.

“Graças à merda está nevando,” Murmura Bruno, seus olhos


correndo para o teto.

“Ouvi isso. Banheira de hidromassagem, baby.” Seu pai ri


atrás do papel e o sacode com um pouco de efeito.

“Cristo!” Bruno assobia.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Está tudo bem.” Eu aperto sua mão e sorrio. “É a casa dele.
Eu não estou incomodada por isto.”

Gabby vem pulando para a cozinha. “Bom dia, família.”

Direto para a geladeira, ignorando-nos antes que ela enterre


seu rosto dentro e procure por alguma coisa.

“Prateleira de cima,” Sra. Bruno grita por cima do ombro dela


e então olha para nós. “Ela está nessa merda de soja.” Ela faz uma
careta e finge morder.

“Café?” Bruno me pergunta, decidindo ignorar todos na sala.

Eu o sigo ao redor da ilha da cozinha, tentando não olhar para


o Sr. Bruno mais.

“Eu adoraria um copo.”

“Eu sinto muito.” Ele sussurra enquanto desliza as xícaras de


café na frente da panela.

Eu me inclino contra o balcão e enfrento sua família. “Não


sinta.” Eu não me importo como peculiares e sujos são; Eu gosto
deles.

“O que você quer fazer hoje?” Ele me pergunta, enchendo


nossas canecas antes de deslizar uma na minha frente para
adicionar o meu açúcar e leite.

“Eu não me importo.”

“Ah não,” Sra. Bruno entra, espionando nossa conversa. “É


véspera de Natal. Você sabe o que isso significa.”

Bruno pende a cabeça e suspira. “Não, mãe. Nós estamos


fazendo a nossa própria coisa hoje.”

“Callie não...”

“Eu topo qualquer coisa.” Eu rio e aplico duas colheres de


açúcar em minha caneca.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Qual é o plano?” Eu pergunto enquanto agito meu cálice do
céu.

“Malditas mulheres,” Bruno murmura, batendo a colher na


borda da caneca e fingindo aborrecimento.

“Bem.” Ela empurra sua cadeira para trás e fica de pé. “Nós
temos uma tradição. Hoje nós cortaremos nossa árvore e vamos
decorá-la como uma família. Sempre e sempre, desde que eu estou
viva.”

“Parece divertido.” Eu digo atrás da minha caneca. Nunca em


minha vida eu ajudei a cortar uma árvore. Meus pais optaram pelas
falsas árvores de plástico quando eu estava crescendo.

“Que pesadelo.”

Eu atiro a Bruno um olhar igual que vi Lee dar-lhe uma ou


duas vezes para silenciá-lo.

“Silêncio.”

“Então vamos fazer o jantar, talvez cantar canções de natal, e


ir até a Igreja para missa.”

Bruno cruza um braço sobre seu peito e segura a caneca na


frente de seu rosto.

“Hum, mãe, eu não vou para a cidade.”

“Por quê?” Ela olha para ele com as mãos nos quadris.

Eu me inclino para que ele possa me ouvir. “Apenas vá. Faça-


a feliz.” Eu digo a ele e descanso minha mão em seu braço. “Eu daria
qualquer coisa para fazer minha mãe feliz mais uma vez.”

“Tudo bem, mamãe. Vamos passar o dia com a família.” Seu


rosto se aperta como se estivesse com dor. “Mesmo igreja.”

Eu sorrio e sua mãe bate palmas. “Sim!” Ela aplaude.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Gabby, vá arrancar o traseiro do seu irmão da cama. É hora
de pegar uma árvore.” Ela grita enquanto caminha em direção a pia
com seu copo de café vazio que ela agarrou da mesa.

Gabby coloca seu leite de soja no balcão, meio bêbada e rola


os olhos. “Mãe, eu estou bem aqui. Você não precisa gritar.”

“Basta ir buscar Lucca.”

Gabby sai correndo, dando dois passos de cada vez. Seus


pesados passos ecoam na cozinha. “Preguiçoso. Levante sua bunda.
Tá na hora da árvore.”

A voz de Lucca está abafada quando ele grita com Gabby.

“Levante-se ou Rocco estará vindo para acordar seu traseiro.”

Um baque alto soa antes que os pés frenéticos se movam pelo


quarto acima de nós. Eu olho para cima em direção a Bruno e ele
sorri amplamente. “Garoto esperto.”

“Você é um valentão.” Eu digo a ele e fecho meus lábios.

Sua mandíbula tiquetaqueia, mas um sorriso se espalha pelo


rosto dele. “Ele é meu irmão. Alguém tem de persegui-lo.”

“Esse não é o seu trabalho.”

“Sim. Isto é. Ele não parece ter perdido muito da insolência,


por toda a merda que eu coloquei nele.”

“Verdade.”

“Ok, vocês dois.” Sua mãe nos diz e agarra as canecas de


nossas mãos. “Vão se arrumar. Temos uma árvore para cortar.”

Bruno me dá uma olhada enquanto pego minha caneca, não


pronta para desistir da minha caneca de café.

“OK,” Eu resmungo com um sorriso falso.

“É sua culpa.” Ele sussurra quando nós saímos da cozinha e


ficamos no pé da escada.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Minha culpa?” Eu pergunto, colocando uma mão em meu
peito.

“Eu tentei nos tirar daquilo, mas você tinha que agradar a
minha mãe.”

“Oh, cale-se. Nós iremos cortar uma árvore.” Eu furo meus


dedos em seu peito e estreito meus olhos. “E você irá gostar.”

Ele me ergue, joga meu corpo sobre seu ombro, e sobe os


degraus enquanto eu grito de dor. Ele bate na minha bunda e ri.
“Este vai ser o melhor Natal de todos.” Ele proclama quando me lança
na cama e sobe em cima de mim.

“Oh não, você não...” Eu digo a ele e tento empurrá-lo para


fora, mas eu falho.

“Você quer isso.” Ele sussurra e empurra seu pênis contra


mim.

“Eu quero.” Eu admito.

“Depois da árvore.” Ele beija meus lábios antes de saltar da


cama em um só movimento.

“Mas...”

“Você escolheu cortar uma árvore, e é isso que você irá


receber.” Ele agarra minhas pernas e me puxa para fora da cama
antes de me levar para o banheiro. “Se você implorar, talvez eu te
deixe gozar enquanto tomamos banho.”

A emoção inunda-me. “Por favor.” Eu imploro, minha voz doce


açucarada.

“Por favor, o quê?” Ele pergunta, segurando meus quadris e


me empurrando para dentro do banheiro.

“Eu quero o seu log Yule, Bruno.” Eu rio enquanto ele fecha a
porta.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Bruno não me dá apenas um orgasmo enquanto tomamos
banho, mas dois. Isso de fato está se tornando o melhor Natal em
mais tempo do que eu posso lembrar.

ENSHRINE
Chelle Bliss
28
O REAL BRUNO, POR FAVOR, PASSAR PARA FRENTE?

Cortar uma árvore de Natal é uma experiência. Agora eu sei


por que tantas pessoas optam por uma artificial. Encontrar a perfeita
que todos podem concordar não é uma tarefa fácil. Há um monte de
maldição e um pouco de gritos até encontrar o caminho certo.

Quando a encontramos, Bruno a corta enquanto o resto de nós


fica de pé e treme.

Ele e eu dirigimos para a casa sozinhos com a árvore no teto


do Range Rover enquanto seus pais e irmãos seguem de perto.

“Bruno.” Eu murmuro porque o tempo todo eu o assisti


trabalhar a serra contra o tronco da árvore, eu não conseguia tirar
seu apelido da minha cabeça.

Ele olha para o outro lado. “Sim?”

Eu abaixo o volume do rádio, abafando o som dos corais de


Natal.

“Eu tenho que perguntar uma coisa, e eu preciso que você seja
honesto comigo.”

“Ok.” Eu posso ouvir a incerteza em sua voz.

Eu viro em meu assento, ajustando o cinto de segurança assim


eu posso vê-lo enquanto eu falo e espero que ele responda. “Quem é
Você?”

“Baby, que tipo de pergunta é essa?”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Eu engulo o medo e continuo. “Não faz sentido.”

“O que não faz?” Sua mandíbula aperta antes que seus olhos
voltem para a estrada na nossa frente.

“Você. Quero dizer, supostamente você é um cara maluco, mas


então você vem para casa e é o homem mais doce. Você ama sua
família - inferno, você corta árvore para o natal.”

“Sou o mesmo homem que sempre sou, Cal.”

Eu enrugo meu nariz. “Não se compara, Pequeno Foguete.”

“Cal,” Ele adverte e me dá um olhar de lado.

“Você é muito legal para um cara que machuca pessoas.


Preciso que me diga quem você é.”

“Por quê? Não deve importar. Você sabe quem eu sou.”

Sacudo a cabeça e torço as mãos no meu colo nervosamente.


“Eu não. Eu não acho que eu possa continuar a te ver se você não
for honesto comigo, Bruno.”

Se ele gosta de mim, me ama mesmo, ele tem que me dizer a


verdade. Vou usar qualquer coisa, inclusive a ameaça de nunca vê-
lo novamente para obter as respostas.

Ele não fala no início, apenas dirige. Eu assisto enquanto seu


peito se ergue e seus olhos movem-se como se pesasse suas opções.
“Se eu te disser, você vai estar em perigo.”

“Eu vou ficar bem.”

“Você não conhece as pessoas na minha vida, Callie. É melhor


que você não saiba toda a verdade.”

“Eu acho que ter você em minha vida é perigoso. Mas eu quero
saber quem é o homem real por quem eu estou me apaixonando.”

“Você está se apaixonando por mim?” Sua voz suaviza e seu


rosto relaxa.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Eu estou. Eu tenho, quero dizer.” Eu suspiro e coleciono meus
pensamentos. “Tenho medo de te amar. Eu não posso amar alguém
que machuca as pessoas para ganhar a vida. Eu não sei quem você
realmente é, e isso assusta a porcaria fora de mim. Eu quero te amar
com todo o meu coração, me dar para você completamente, mas eu
não posso sem saber que é o real Rocco Bruno. E eu não sei quem
ele é. Quero dizer, eu sei quem ele é quando está em casa comigo,
cuidando de mim quando estou doente e tento passar pela minha
quimioterapia, mas eu não sei quem é o homem que sai do meu
apartamento e faz as pessoas andarem um pouco mais rápido e
manter as suas cabeças para baixo quando ele está passando.” Eu
bati o nível de balbuciar e continuei. “Quero dizer que ele não é esse
homem. Não é aquele que mata as pessoas. Não ‘O Carniceiro’ Ele
não pode ser. Isso não faz sentido. Pequeno Foguete não pode
machucar as pessoas. Ele é muito bom.”

“Eu estou bem aqui, você sabia” Ele me interrompe.

“Pelo amor de Deus, quem é você?” Eu exijo, arrastando meus


dedos pelo meu rosto nervosamente, e eu começo a hiperventilar.

“Calma, Cal. Você está ficando muito cansada. Respire,


querida.”

“Como você pode me dizer para respirar em um momento como


este? Você pode estar sendo procurado pela polícia, posso estar
ajudando e instigando um criminoso e nem sei disso.” Eu suspiro
para pegar mais ar e continuar em curso. “Você invadiu meu
apartamento. Quero dizer, essa foi minha primeira suspeita de que
algo não estava certo. Pessoas normais não fazem essa merda. Você
fez, no entanto. Você me fodeu e não mencionou esse fato para mim
por um longo tempo, Bruno, uma porra de tempo.” Eu suspiro um
pouco mais de ar. “Todos os dias, eu estou um pouco mais
apaixonada por você, e eu estou morrendo de medo que um dia os
policiais irão derrubar minha porta e arrastar sua bunda para à
cadeia. Meu rosto vai ser estampado nas páginas de cada jornal
como a mulher que amava o criminoso mais notório da cidade de
Nova York. Não quero isso. Quem. Porra. É. Você?” Eu suspiro por
ar por um tempo, sentindo minha respiração irregular.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“OK,” Ele sussurra e agarra minha mão, dando um aperto
forte. “Acalme-se e respire um pouco e eu vou te dizer tudo.”

“Você vai?” Eu pergunto entre respirações.

“Eu vou.” Ele promete com um olhar nervoso em seu rosto.


“Quando voltarmos para a casa dos meus pais. Vou explicar tudo.”

“Você está mentindo. Você está me apaziguando.”

“Eu não estou, querida. Eu prometo lhe dizer tudo quando eu


puder te segurar enquanto eu falo. Eu não vou fazer essa merda no
carro.”

Eu mordo meu lábio e penso. Ele está brincando comigo? Eu


não gosto da ideia dele mentindo para mim novamente. “Se você não
falar, eu vou perguntar a seus pais ou informá-los de seu status e
novo apelido. Você não é mais o pequeno foguete, Bruno.”

“Eles sabem tudo sobre mim, Callie.” Sua voz é de remorso e


triste, que não ajuda minhas esperanças que tudo que falam sobre
ele seja uma mentira.

“Oh,” Eu exploro para fora. “Bem então.”

“Você pode perguntar quem eu sou se você preferir ouvi-lo de


outra pessoa.”

“Não.” Eu admito e franzindo o cenho, olhando para minhas


mãos, sabendo que provavelmente eu tenha soado como uma
lunática, momentos atrás. “Quero ouvir de você.”

“Nós estaremos em casa em dez minutos, e você saberá mais


do que você sempre quis. Prometo.”

“'OK,” Eu sussurro, deixando cair à conversa e virando o rádio


de volta para me perder em meus pensamentos. Eu repasso seus
comentários em minha mente repetidamente outra vez. Suas
palavras foram sinistras e não me convenceram.

ENSHRINE
Chelle Bliss
E se ele for um assassino? Eu ainda o amaria? É impossível
pensar que posso, mas há o outro lado. O homem que cuidou de mim
quando eu não tinha ninguém.

Ouvi-lo de seus próprios lábios mudaria meus sentimentos?


Eu não sei ao certo, e isso me assusta terrivelmente.

TRINTA LONGOS MINUTOS MAIS TARDE, BRUNO transportou


a árvore para dentro de casa colocando-a de pé no lugar certo.
Quando ele se levanta e limpa as mãos em sua calça jeans,
removendo a seiva, ele faz um movimento com o queixo e olha a
escada. Eu tomo isto como uma sugestão. É agora ou nunca. Logo,
eu saberei quem é realmente o homem por quem me apaixonei.

O pensamento me aterroriza.

Eu aceno com a cabeça e estendo minha mão para ele. Eu


capto vislumbres dele enquanto caminhamos, em silêncio em nossa
ascensão até chegar à porta. “Você tem certeza que precisa saber?”
Ele me pergunta com uma mão na maçaneta da porta.

“Eu tenho que saber.” Eu faço uma careta, mas coloco minha
mão sobre a dele e viro a maçaneta.

Quando entro, ele me puxa para trás, girando-me até nossos


peitos colidirem “Eu te amo, Callie. Eu não quero que nada que eu
diga para você mude isso.”

Eu posso ver a tristeza em seus olhos e a verdade por trás de


suas palavras. Eu sinto isso em sua voz quando ele diz o meu nome.
“Eu também te amo, Bruno, mas eu preciso saber se eu amo o
homem que acho que conheço.” Eu digo a ele, na minha ponta dos
pés dando-lhe um leve beijo.

Seus braços me envolvem, puxando-me mais apertado contra


ele e beijando-me um pouco intenso. “Isso pode esperar.” Eu digo a

ENSHRINE
Chelle Bliss
ele enquanto empurro contra ele, sem querer esquecer o que eu
preciso ouvir. “Primeiro, você precisa me contar tudo.”

Ele balança a cabeça, me levantando pela bunda e me levando


para o quarto. Chuta a porta fechada antes de nos mover para a
cama. Quando ele senta, ele não me liberta. Comigo sentada em seu
colo, ele respira fundo, e fecha o seus olhos. “Eu nem sei por onde
começar.” Seus olhos se abrem, há a escuridão mais profunda que
eu já vi neles antes.

Minhas mãos serpenteiam em torno de seu pescoço e


acariciam a pele logo acima de seu colarinho. “Do início.”

“Não. Quero dizer-lhe quem sou primeiro e depois como isso


aconteceu.”

Eu aceno com a cabeça e meu pulso começa a pular. Meu


coração está batendo contra minhas costelas tão duro que gostaria
de saber se ele pode ouvi-lo. Seus olhos mergulham em minha boca
antes de voltar aos meus olhos.

“Eu não sou um carniceiro, Cal, querida.”

“Você matou alguém?” Eu soltei e me preparo para ouvir a


verdade.

“Eu matei, mas todos eles eram maus.”

Eu penduro minha cabeça, observando o pulso em seu pescoço


latejar. “Alguns diriam que você é um homem mau, Bruno.”

“As únicas pessoas que sabem o que estou prestes a lhe dizer
são minha família. Você não pode nunca repetir uma palavra do que
estou prestes a dizer-lhe a mais ninguém. Nem mesmo Rebecca pode
saber. Compreende?”

Eu aceno e olho diretamente nos olhos. “Eu prometo.”

Ele toma meu rosto em suas mãos. “Eu trabalho para a CIA
por anos. Eu sou um membro da Força-Tarefa Antiterrorismo.”

Eu não falo. Eu não posso falar. Estou confusa e sem palavras.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Eu estou profundamente disfarçado, fazendo negócios com
muitos criminosos na cidade para eliminar os terroristas e ajudar a
controlar o fluxo de dinheiro para fora do país. Tenho que ficar em
meu papel e nunca vacilar. Eu deixo o povo acreditar que eu sou ‘o
carniceiro’ ou qualquer outra coisa que eles queiram me apelidar,
porque a palavra viaja. Quando alguém precisa de algo, eles vêm a
mim. Eles têm confiança em minhas habilidades apenas pelos
murmúrios na rua. Não sei se você está entendendo o que estou
dizendo.”

Eu aceno e tento processar tudo o que ele está me dizendo,


mas não tenho certeza se acredito nisto.

“Eu estava nas forças armadas. Hard-core Semper Fi, e antes


de terminar a minha visita, fui abordado pelo Departamento de
Estado para me tornar um recruta da CIA e ajudar combater a guerra
contra o terrorismo. Isso foi após o 11/9, e sendo um Nova Iorquino,
eu me senti honrado de ajudar a derrubar os bastardos que
destruíram nossa cidade e tentaram atacar o medo no coração dos
americanos. Eu me juntei assim que meus pés atingiram o solo dos
EUA, e nunca olhei para trás.”

“OK,” Eu sussurro e minha mente corre.

“Eu fui colocado na cidade de New York por causa de meu


conhecimento original da cidade, junto com minha experiência com
o submundo desde a minha juventude. Muitas pessoas sabiam que
eu era um soldado, mas eles pensaram que eu vim desarticulado
após a guerra e não me interessei em jogar pelas regras de ninguém,
a não ser a minha própria. Eles nunca pararam para pensar que eu
poderia ter feito outra coisa senão reverter meus velhos hábitos
desde a minha juventude. Eu me encaixava e me tornei o que sou,
tão poucos conhecem e ajudam o governo a acompanhar e deter mais
terroristas do que você jamais gostaria de saber espreitado na
cidade.”

“OK,” Eu murmuro. Claramente, eu não consigo pensar em


nada porque minha mente está cambaleando por sua admissão.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Foram uns bons dez anos, mas estou cansado. O peso da
doença de minha irmã me deixou cansado às vezes, mas então
quando todo o inferno se solta ao redor do mundo, eu me vejo sugado
de volta e encontro novas unidades para me manter em frente. Eu
sinto que é meu dever manter nosso país seguro. Para manter
pessoas como você seguras.”

Ele acaricia minha bochecha. “Você entende o que eu estou lhe


dizendo?”

“Então você não é um cara mau?” Eu estremeço.

“Não, Cal. Eu sou o que te mantém seguro à noite, junto com


todos os outros cidadãos de nossa grande nação.”

“Mas você...” Minha voz sai.

“Eu machuquei as pessoas? Sim. Mas cada um deles queria


matar americanos. Eles queriam arruinar nosso modo de vida. Eu
nunca machucaria ninguém, a menos que não houvesse outro
caminho. Tem que acreditar em mim, Callie. Eu sou o homem que
tem deitado ao seu lado toda noite, aquele que te abraçou através
das suas lágrimas e te levou para a sua cama. Eu sou o homem que
esteve ao seu lado através de sua batalha e ajudou você a continuar
mesmo quando você queria desistir.”

“Você é.” Eu admito.

“Nunca faria mal a você. Eu amei você de longe por muito


tempo. Meu coração doía cada vez que entrava no clube. Vendo você
flertar com caras fazendo minha pele rastejar, mas eu pensei que
você estava fazendo isso para me machucar. Eu não poderia dizer
quem eu era mesmo depois que percebi que você não se lembrava.
Mesmo quando segui você algumas noites para ter certeza de que
você estava bem, eu queria te dizer, mas eu sabia que não seria certo.
Conhecer meu segredo é um fardo especial e é um duro segredo para
suportar.”

“Mas eu posso.” Eu digo a ele e quero dizer cada palavra.

“Você não pode dizer a Becca.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Eu sei.” Vai ser difícil, mas eu posso fazer isso. Eu não tenho
que me preocupar com minha família porque eu não tenho ninguém.
Mesmo que eu não possa dizer a Bec quem ele é, seus sentimentos
em preocupar-se comigo já mudou. Eles formaram um vínculo
próprio, e não acredita mais nos rumores que ouvimos sobre ele.

“Você me odeia?” Ele pergunta as linhas em sua testa mais


profunda do que eu já vi.

Eu balanço minha cabeça entre suas mãos. “Não.” Eu


respondo verdadeiramente.

Faz todo o sentido. Minha mente pode nunca envolver o fato


de que ele não é um assassino Ele desempenhou o papel, e jogou
muito bem, até o ponto que eu daria ao homem um Oscar. Mas não
cabe ao homem que cuidou de mim e se preocupou comigo.

“Você tem permissão para me dizer isso?” Eu pergunto, me


perguntando se ele vai perder o emprego por expor seu segredo.

“Sim.” Ele respira profundamente, esfarrapado e pisca. “Eu


tinha permissão algumas semanas atrás.”

“Espere.” Eu toco seu peito e engulo o pouco de raiva que eu


sinto agarrando-me “Então você poderia ter me contado há uma
semana, mas você não fez?”

“Eu quis esperar até que o momento fosse perfeito.” Seus


polegares escovam de encontro a meu lábio.

“Se eu não tivesse te empurrado hoje, você teria me dito antes


de irmos para casa?”

Seus olhos mergulharam em meus lábios e se demoraram.


“Quando você me empurrou naquela noite e eu desapareci, eu sabia
que tinha que te dizer, mas tinha que limpar com meus superiores.
Eu fui para DC e tive de obter aprovação. Era uma cadela a fazer,
mas eu deixei bem claro que era necessário. Eles fizeram uma
verificação de antecedentes sobre você e eventualmente me deram o
ok. Assim eu planejei falar para você, Cal, mas eu só precisava de
tempo para estar certo de como. Você compreende?”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Sim.” Eu fiz uma careta porque eu estava tão puta com ele
quando ele saiu pela porta naquela noite. Ele tentou falar comigo e
eu o desliguei. “Você promete que tudo que você me disse é verdade?”
Parecia certo, todas as suas palavras, mas uma parte de mim ainda
não podia reconciliar o fato de que ele não é o homem que eu pensei
que era por tantos anos. Bruno não é um assassino ou um
criminoso. Em meu coração, eu sei que é verdade - o homem que
esteve ao meu lado durante a minha quimioterapia não é um homem
que poderia ferir uma pessoa inocente, especialmente para lucrar.

“Eu estive apaixonado por você por muito tempo para arriscar
perder você. Eu não mentiria sobre o homem que eu sou. Tudo o que
você ouviu sobre mim é uma persona, uma fachada que as pessoas
criaram. Você conhece o homem que sou.”

Eu sorrio docemente e sei exatamente o que ele quer dizer. É


por isso que eu não posso embrulhar o meu cérebro em torno de
duas pessoas muito diferentes: a que eu ouvi que ele era e a que eu
conheço. Tudo o que ele diz faz sentido.

“Crianças!” Sua mãe grita de baixo.

Bruno geme e coloca a testa contra a minha. “Eu realmente


não estou no clima para descer.”

Envolvo minhas mãos em torno de sua cintura e fecho meus


olhos. “Bruno.”

“Sim?” Ele pergunta antes de beijar minha testa.

Eu respiro fundo, e assim que seus olhos se encontram com


os meus, eu digo;

“Eu também te amo.”

Seu pequeno sorriso se alarga com minhas palavras. As mãos


ao redor do meu rosto deslizam para a parte de trás da minha cabeça
e trazem meus lábios para os dele. O amor que temos um pelo outro
derrama através do beijo selando o momento perfeitamente. Meus
olhos se enchem de lágrimas enquanto ele me beija. Não por tristeza,

ENSHRINE
Chelle Bliss
mas o meu coração se enche de felicidade e amor o que torna muito
para suportar sem chorar.

Posso imaginar o que as pessoas estão pensando. “Uau, Cal,


isso foi rápido.” Mas na realidade, o tempo não é infinito para mim.
Os últimos dois meses me ensinaram que o tempo é precioso e
inflexível. Eu estou apaixonada por ele. Ninguém cuidou de mim da
maneira ele tem; Ninguém me mostrou tal compaixão sem pedir nada
em troca.

Negar meus sentimentos e a maneira que eu o imploro por tê-


lo perto seria um desserviço para mim e uma bofetada no rosto para
ele. Ele colocou seu coração na linha, junto com sua vida, confiando
em mim. Quem sou eu para não fazer o mesmo?

Quando ele se afasta, seu rosto está relaxado e o véu invisível


que ele esconde atrás parece desaparecer.

“Então, aquele apartamento acima do clube é o seu verdadeiro


lar?” Eu pergunto, rezando para ele dizer que não.

Não foi horrível, mas não planejei uma estadia muito


frequente.

Paramos lá uma vez, e fiquei surpresa como impecáveis e


arrumado tudo realmente era. Eu não sei se assisti muitos filmes,
mas eu pensei que seria diferente.

“Não baby. Isso é para o trabalho. Tenho um lugar perto


daqui.”

“Posso ver?” Eu pergunto, me contorcendo de excitação.

“Sim, Cal. Vou levá-la lá hoje. Jesus!” Ele murmura e sopra


uma dura respiração. “Eu sinto como se um peso tivesse sido tirado
de meus ombros.”

“Eu teria te amado de qualquer maneira.” Eu digo a ele,


colocando minha mão contra sua bochecha e sorrindo.

“Mentirosa.” Ele murmura e fecha os olhos.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Seu coração, Bruno. É tão grande e cheio de amor. Como eu
não poderia?”

“Crianças!”

Eu fico rindo quando ele rola os olhos. “É legal.” Eu digo a ele.


“O fato de seus pais pensarem em nós como crianças, mesmo em
nossos trinta, é cativante.”

“Você está feliz?” Seus olhos buscam os meus enquanto limpa


as poucas lágrimas perdidas.

“Tanto que eu não posso nem mesmo começar a explicar.” Eu


admito e acaricio sua bochecha com meus dedos, arrastando-os
através de sua barba por fazer.

Ele sorri. “Eu também. Mais do que eu estive há muito, muito


tempo.”

Há uma batida na porta. “Mamãe disse que vocês dois


deveriam parar de dar amassos e levar seus traseiros no andar de
baixo.” Lucca diz através da porta, alto o suficiente para que toda a
casa possa ouvir.

“É melhor irmos.” Eu digo a ele quando posso ver que ele está
prestes a explodir. “Não mate Lucca também.”

“Todas as apostas estão fora quando se trata desse merda.” Ele


ri e me ajuda a sair de seu colo.

Eu dou um tapa no ombro dele e rio. “Ele é adorável.”

“Sim.” Ele esfrega uma mão por seu rosto e suspira. “Assim
são os ursos bebê até que crescem e arrancam seu rosto fora.”

Quando Bruno abre a porta do quarto, Lucca desce as escadas


como um morcego fora do inferno enquanto descemos as escadas, de
mãos dadas, não consigo tirar o sorriso do meu rosto.

O pensamento de morrer, e o câncer que ainda pode estar


dentro de mim raramente entrou em minha mente desde que

ENSHRINE
Chelle Bliss
chegamos. Muito amor e felicidade existem nesta casa para deix ar a
tristeza infiltra-se.

ENSHRINE
Chelle Bliss
29
NATAL NO ESTILO BRUNO

Quando criança, minha família tinha uma rotina de Natal.


Quando eu era pequeno, passávamos a véspera de Natal fazendo
compras de última hora para o grande dia. Não tínhamos outra
família. Era apenas nós três. Quando todos os outros já estavam
comemorando em família, nós éramos os últimos poucos
retardatários nas lojas que escolhiam coisas no último minuto, itens
que minha mãe sempre esquecia.

Ela costumava me dizer, “Este é o melhor dia para comprar,


Callie. Lembre-se sempre disso. É quando você consegue as
melhores ofertas.” Ela e eu passávamos a noite embrulhando
presentes antes de eu correr para a minha cama e esperar a manhã
de Natal chegar.

É tão diferente dos Brunos. Não há compras na véspera de


Natal. Depois de nós descermos, decoramos a árvore de Natal,
preparamos a refeição para o grande dia, e eventualmente fomos à
igreja.

Há séculos que eu entrei em uma casa de Deus. Os


movimentos familiares e frases voltam para mim. Com Bruno ao meu
lado, nos damos às mãos e escutamos o sermão. Aguardo cada
palavra que o padre pronuncia.

Quando saímos da igreja, sinto-me mais leve. A preocupação


de haver nada além da escuridão foi afastada. Como não poderia não
haver mais nada? A vida é tão preciosa e especial; Não poderia ser
apenas um acidente para tudo ao meu redor ganhar vida. Tem que

ENSHRINE
Chelle Bliss
haver algum propósito para tudo. Algum grande plano que ainda não
foi revelado.

Quando deito ao seu lado e adormeço, não sinto nada além de


paz. Sim, já não tenho medo. Não sobre Bruno. Não sobre a morte.
Tudo foi substituído pela tranquilidade.

“Cal” Bruno sussurra na minha orelha, “Acorde, meu amor.”

“Que horas são?” Eu gemo.

“Tempo de presente.” Ele diz brincando.

“Ei, Rocco, você está acordado?” Lucca grita e bate na porta.

O quarto ainda está escuro e o sol não subiu ainda, mas pelos
sons da casa, todo mundo já está acordado e esperando.

“Vamos, linda.” Seus dedos deslizam pela parte superior do


meu peito, causando arrepios na minha pele.

“Estou acordada.” Eu gemo e esfrego meus olhos. “Mal, mas


estou acordada.”

Depois que estamos vestidos, Bruno quase me puxa para baixo


das escadas de tão animado. Meu corpo protesta, ainda na
necessidade de dormir a cada minuto. Mas quando entramos na sala,
meus olhos se arregalam.

Parece que um Papai Noel passou por aqui ou o Polo Norte


desembarcou em Watkins Glen.

Na noite passada, apenas alguns presentes estavam debaixo


da árvore. Mas durante a noite, o espaço vazio foi preenchido e
transborda em grande parte da sala.

“Puta merda.” Eu murmuro, esfregando meus olhos para ver


se estou sonhando.

“Muito legal, não é?” Gabby diz, seu corpo saltando no chão,
quase vibrando com entusiasmo.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Sente-se, sente-se.” Os braços da Sra. Bruno se agitam
enquanto ela caminha em nossa direção.

Eu olho para cima, e a vejo, vestindo seu pijama. Ele é


enfeitado para o feriado. A longa roupinha tem renas pequenas em
um fundo vermelho. Ela tem pantufas e um par de chifres peludos
de rena em sua cabeça.

“Ah,” Diz o Sr. Bruno enquanto entra com uma roupa de papai
Noel.

Esta família é demais.

“Papai, você parece um idiota. Estamos todos muitos velhos


para a merda de papai Noel.” Sr Bruno suspira e coloca a mão no
peito. “Como você se atreve, Lucca? Papai Noel é real.”

“Sim, talvez, mas você não é ele. Tire essa merda.”

Bruno ri, trazendo minha mão à sua boca e beijando-a


suavemente. “Eles não são normais,” Ele sussurra contra minha
pele.

Eu olho para ele com o maior sorriso. Isso era tudo que eu
sempre quis quando criança. É o que eu sonhei quando assisti a
cada filme de Natal louco. Eu quero está para ser minha família.
“Normal é superestimado.”

“Apenas espere. Você não viu o resto.”

Meus olhos se arregalam. “O resto?”

“Sim. Haverá uma casa cheia de malucos esta tarde.”

Porra. Mais Brunos. “Tenho certeza que vai ficar tudo bem.”
Eu engulo.

“Eles fazem meus pais parecerem...”

“Não diga isso, pequeno foguete. Você sabe que nos ama.” A
Sra. Bruno ajusta as renas, endireitando-as.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Tio Pete, nem tanto.” Bruno murmura, arrastando-me para o
sofá ao lado da árvore enfeitada.

Bruno e eu somos os únicos dois não ostentando algum tipo


de roupa temática. Se ele tivesse colocado uma camiseta de Natal
essa manhã, eu teria corrido para fora de casa em terror. Eu teria
pensado que seu corpo tinha sido arrebatado e seu cérebro
substituído por um outro alguém, não Bruno.

Não há rima ou razão para as próximas duas horas. Sr Bruno


puxa presentes sob a árvore e entrega-os. Todo mundo observa como
cada presente é aberto, um por um, e cada presente é acompanhado
por vários owws e ahhs.

Para o meu choque, tenho alguns presentes escondidos


embaixo da árvore. Algumas lindas roupas de Lee, alguns produtos
de banho de seus pais e um pequeno pacote de Bruno. Coloco-o ao
meu lado e continuo olhando para ele, um pouco nervosa sobre o
que poderia estar dentro. Ele não me daria um anel.

Qualquer coisa que venha em pequenas caixas sempre faz o


coração de uma menina disparar.

Isso me assusta, no entanto. Quando ele me empurra e diz:


“Abra.” Eu quero desaparecer.

Todos os olhos estão em mim enquanto eu rasgo o papel de


embrulho, um sorriso nervoso no meu rosto, e mantenho meus olhos
na caixa, não ousando olhar em qualquer outro lugar. Abrindo o
cartão lentamente, eu prendo minha respiração.

Callie, Obrigado por trazer a luz para o meu mundo escuro.


Lembre-se disso, sem ela, as pequenas coisas não seriam tão
doces. Embora a escuridão tenha nos unido, nada nos separará.
Pense em mim, em nós, toda vez que você olhar isso e lembre-
se que meu amor queima tão brilhante e forte como os raios de
sol. Eu estarei sempre lá para arrancá-la da escuridão,

ENSHRINE
Chelle Bliss
eclipsando-o, e abrigando você do mau. Eu sempre estarei lá
puxando você para frente e para a luz. Amor, Rocco.

Meus olhos se enchem de lágrimas, caindo no cartão como


grandes pingos de chuva caindo do céu. A escrita começa a manchar
e freneticamente tento limpar só tornando pior.

Ele envolve seu braço em torno de meu ombro e puxa-me para


seu lado. “Feliz Natal Cal,” Ele sussurra em meu ouvido antes de
beijar minha têmpora.

Com os dedos trêmulos, abro a caixa. Tem o logotipo familiar


de um dos meus favoritos designers de joias. Quando eu abro o
recipiente, eu vejo o mais bonito anel. Um anel coberto de diamantes
com um topázio azul bonito no centro.

“É tão bonito,” Eu digo enxugando os olhos antes de arrancar


o anel da caixa. Brilha no suave brilho da árvore, como raios de sol.

“Apenas prometa-me que irá usar e recordar sempre dos doces


momentos.” Ele diz, inclinando-se e falando suavemente para que
ninguém mais possa ouvir.

“Eu prometo.” Eu sufoco as lágrimas.

“Um anel?” Sua mãe salta para seus pés.

“Calma, mamãe. Não é o que você está pensando.”

“Eu posso sonhar.” Ela sorri e dá um passo mais perto.


“Deixe-me ver essa beleza.” Ela assobia e pega minha mão,
estudando a explosão de estrelas. “Impressionante.”

“É.” Eu coloco o anel em meu dedo com mãos nervosas.


Significa mais para mim do que qualquer outra coisa que eu possuo.
Eu sei que disse que as coisas não importavam, mas essa “coisa” é
mais do que uma possessão; Tem um significado.

“Obrigada” Eu digo com uma voz baixa, olhando para Bruno.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Seu sorriso é tão largo que quase toca seus olhos. A escuridão
em seus olhos desapareceu, deixando apenas a suavidade do
caramelo atrás de seus cílios luxuriantes. “Seja bem-vinda.”

Ele envolve seu braço ao meu redor.

A culpa se instala na minha barriga. Na minha pressa, e


realmente por não saber muito sobre o homem, comprei-lhe um
presente de merda. Não apenas um estúpido, mas completamente
ruim. Não meias - isso teria sido desastroso - mas algo que não se
iguala a seu presente para mim.

“Ah, Rocco, aqui está seu presente de Callie.” O Sr. Bruno


anuncia, puxando meu presente debaixo da árvore.

Eu pego de suas mãos antes que ele tenha a chance de


entregar isso para Bruno. “Eu preciso dar a você em particular,” Eu
digo a ele, lutando para pensar em uma maneira de compensá-lo.

O canto de sua boca curvas para cima. “Oh sim? É sexy?”

“Muito,” Eu minto e sei que vou estar de joelhos para


compensar a culpa que sinto por esse presente.

“Abra.” A Sra. Bruno bate palmas, parecendo muito excitada.


“Esses são os melhores tipos de presentes.”

Antes que eu possa pará-lo, ele rasga o papel do presente e


abre a caixa. Dentro está uma única chave de ouro em um anel que
eu tinha gravado com seu nome. “É ...?” Ele pergunta.

Olhando para mim e pegando a chave.

“Para minha casa.” Eu sorrio amplamente e espero que ele não


esteja desapontado.

“Eu adorei, Cal.” Ele pega meu rosto e puxa para ele antes de
me beijar.

“Essa merda não é sexy a menos que seja para...”

“Mamãe!” Bruno protesta antes que ela possa terminar a


declaração. Eu rio antes de Bruno e então todo mundo segue o

ENSHRINE
Chelle Bliss
exemplo. Ele abre o cartão, seus olhos se movendo através das
palavras.

Bruno, Você é minha amarra, minha âncora, minha baliza


de esperança. Você é o único que perseguiu e afastou a escuridão
e me trouxe de volta à luz.

Amor, Callie

Ele fecha a nota lentamente e a coloca de volta na caixa antes


de pegar a chave. “Você sabe que eu sinto o mesmo.” Ele diz e
descansa sua cabeça contra a minha. “Você acha que te salvei, Cal,
mas você me fez sentir coisas que eu nunca soube que eram
possíveis.”

Lucca começa a gaguejar alto. “Sério, vocês dois estão


matando meu Natal.”

“Cala a boca, Lucca.” Gabby diz a ele e enxuga os olhos. “Eles


são lindos.” Ela suspira alto com uma cabeça inclinada e olha para
nós dois.

“Vamos abrir presentes.” Bruno diz a seu pai. “Mantenha-os


vindo.”

Olhamos nos olhos um do outro. Sem falar uma palavra, eu


sei o que ele me diz. Eu te amo. E meus olhos dizem isso logo atrás.

HORAS MAIS TARDE A CAMPAINHA TOCA, estamos na


cozinha a horas preparando o jantar para uma casa cheia de
convidados.

“Se chegar a ser demais, basta dizer algo e vamos sair de


fininho,” Bruno diz enquanto eu limpo minhas mãos no pano de
prato. Eu aceno com a cabeça e respiro fundo antes de segui-lo para
o vestíbulo.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Ele não estava brincando quando disse que a casa ia estar
cheia. Eles não aparecem alguns de cada vez, mas em massa. Pelo
menos vinte parentes na casa, tendo presentes, comida e vinho.

“Então, o que você faz, Callie?” Seu tio Pete me pergunta


enquanto bebe algumas gemadas.

“Eu sou uma bióloga molecular.” Eu digo a ele, mexendo o meu


copo de vinho, procuro por Bruno na multidão.

“Você está falando com um mecânico, garota. Simplifique para


mim” Ele toma um gole da gemada que deixa uma borda branca em
seu bigode.

“Eu estudo as estruturas celulares do corpo. Mais importante,


eu estudo o câncer em nível molecular. Como diferentes tratamentos
mudam a célula e se ela pode ser mantida por longos períodos de
tempo, a fim de manter um corpo em remissão.”

Ele limpa a boca com a manga de seu suéter. “Eu não sei o que
você disse, mas soa emocionante.”

“Obrigada.” Eu olho para Bruno através da sala. Ele está rindo


e me dá um queixo elevado. De alguma forma, tio Pete me
encurralou, e ninguém quer tirá-lo de minhas mãos.

“Você não está orgulhosa do meu sobrinho?”

Meus olhos voltam para ele, e eu não posso deixar de sorrir.


“Eu sou.”

“Ele está trabalhando tanto, eu não acho que ele tenha muita
diversão. Eu posso dizer-lhe que você o está fazendo feliz.”

“Como você pode dizer?” Eu olho de novo para Bruno e imploro


por seu resgate com meus olhos.

“Ele está sorrindo, não é?”

“Sim.” Eu sorrio quando Bruno caminha para mim um pouco


devagar.

“Ei, tio Pete. Posso roubar Cal por alguns minutos?”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Eu deveria ir ver se sua mãe precisa de ajuda de qualquer
maneira.” Ele sorri, desculpando-se, e indo para a cozinha.

“Obrigada,” Eu digo a Bruno e repouso minha cabeça contra


seu peito.

“Você quer ir deitar-se?”

“Não. Eles são sua família, e eles estão aqui para te ver.”

“Eles estão aqui para ver todos, especialmente à mulher que


eu trouxe para casa comigo.”

“É por isso que todo mundo está me encarando?”

Faz sentido. Por um minuto, achei que talvez minha peruca


estivesse errada ou que eu manchei a minha sobrancelha, mas
depois de verificar o meu reflexo no espelho, eu penso que as pessoas
estão apenas curiosas sobre o novo convidado.

“Sim. Você é a primeira a estar aqui comigo desde Maggie.”

Olho para ele enquanto ele observa sua família. Eu me


pergunto como sua vida seria diferente se Maggie tivesse sobrevivido.
Ele provavelmente não estaria colocando sua vida em risco todos os
dias. Talvez ele nunca tivesse entrado no serviço. Se ele tivesse sido
meu, eu teria um ataque se ele tentasse se alistar.

Mesmo que eu esteja triste por sua perda, eu não consigo


imaginar passar por isso sem ele. É egoísta, e eu deveria me sentir
culpada por pensar dessa maneira, mas não.

Eu não sei se teria sobrevivido ao tratamento sem ele. Becca


nunca teria sido capaz de lidar comigo e me puxar fora da minha
miséria. Ela teria tentado como inferno, mas eu sei como eu sou
teimosa.

Durante o resto da noite, fico ao lado de Bruno e absorvo o


amor e calor que sua família oferece. Eu sei que nesse momento a
coisa que eu mais quero é uma família como essa, talvez um dia.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Mas meus sonhos terão que ser colocados em espera. Eu sei
que leva ao corpo anos para se recuperar das consequências da
quimioterapia.

“Você está pronta?” Bruno me pergunta e eu olho para ele,


confuso. “Para ir ver minha casa?”

Minha boca forma um O minúsculo antes que um sorriso


gigante espalhe através de minha cara. Eu estou saltando nas pontas
de meus dedos do pé no pensamento de ver seu lugar real. “Sim.” Eu
digo, o que o faz rir. Ele pega minha mão e diz a seus pais que vamos
voltar em breve. Eu estou tão animada quando saímos que eu quase
caio pelos degraus. Bruno apenas ri e me pega.

Em vez de dirigir-se para seu caminhão, ele me puxa para a


calçada.

“Vamos andando?” Eu pergunto, tremendo de frio.

“São três casas.” Ele me diz, pegando seu suéter e


embrulhando-o em volta dos meus ombros.

“Três?” Eu pergunto em choque.

“Sim.”

“Bem, então, por que não ficamos lá?”

Quando chegamos a uma parada na frente de uma casa de


tijolos, ele me vira para encará-lo.

“Minha mãe tem esta coisa estranha sobre ficar em sua casa
no Natal. Eu sei que quase posso ver suas janelas do meu lugar, mas
ela insiste. Então saiba que no futuro, passaremos a noite de Natal
na nossa casa. Quando tivermos nossa própria família, então talvez,
apenas talvez, ela vá ficar bem apenas com a manhã.”

Eu fico com ele. Há tanta coisa no que ele disse que tem a
minha mente cambaleando. Ele está falando sobre “nossa família”
como se fosse uma certeza que nós vamos ter uma e que eu vou estar
por aí para os próximos anos. “Você quer uma família?” Eu sussurro.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Eu quero muitas crianças, Callie.”

“Mas Bruno...” Ele me acalma, colocando seus lábios contra os


meus. Eu nunca consigo terminar a declaração. Enquanto subimos
os degraus, examino o pátio bem cuidado e majestoso da casa de
madeira cinza colonial. “É lindo.” Eu digo a ele enquanto destrava a
porta.

Ele sorri e não fala, abrindo a porta para mim e deixando-me


ser a primeira a entrar. A casa é antiga e de personalidade. Pisos de
madeira até onde o olho pode ver, as paredes alinhadas com as
fotografias e as memórias enchem o espaço.

Enquanto caminhamos pelo hall de entrada, uma foto me


chama a atenção. É um jovem Bruno com seus braços envoltos em
torno de uma mulher grávida. Ele está segurando sua barriga,
olhando para baixo com orgulho. Eu mordo meu lábio para sufocar
o choro que está prestes a se libertar.

“Ei” Ele diz, e então seus olhos seguem os meus e ele percebe
exatamente o que eu estou olhando. “Essa é Maggie.”

Eu me aproximo, querendo olhar melhor para a mulher que o


amava muito antes de eu fazer. Ela é pequena, mesmo com sua
barriga, ele é um gigante perto dela. Eu posso ver o amor em seu
rosto e a felicidade dela. O pensamento de algo tão bonito sendo
despedaçado me faz querer prometê-lo que nada como aquilo nunca
acontecerá conosco. Mas eu sei que não posso prometer tais coisas.
“Ela é maravilhosa.” Eu digo a ele, Não tenho certeza de que mais
dizer.

“Ela era.” Ele envolve seus braços em torno de minha cintura.


“Desculpe-me, você não tem que ver esta.”

Viro a cabeça, querendo ver seus olhos. “Nunca se arrependa


por ter amado e perdido. Ela é uma parte de você, Bruno, e por isso,
não há nada a se desculpar.” Eu descanso minha cabeça em seu
ombro e apenas olho para o jovem casal na foto.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Eu amava Maggie, Cal, mas não como eu te amo. Nós éramos
jovens, e eu realmente não sei se entendia o verdadeiro significado
do amor. Não me arrependo de um momento do que vivi com Maggie
e perdendo meu bebê. Eles me trouxeram para você.”

“Talvez eles te colocassem na minha vida para compensar o


buraco que deixaram para trás.”

Eu viro em seus braços e mantenho seu rosto em minhas


mãos. Ele precisa ouvir as palavras e olha em meus olhos quando eu
digo. “Bruno, se algo me acontecer, eu não quero você triste.”

“Callie, pare.” Ele agarra meus braços e tenta me acalmar.

“Não,” Eu exijo e continuo. “Se eu não vencer o câncer


crescendo dentro de mim, eu quero que você continue. Quero que
você encontre outra mulher para amar. Você tem muito para dar,
tanto amor para compartilhar que eu não quero que você esteja
sozinho novamente. Se eu não estiver mais aqui, quero saber que
você está feliz e não sozinho. Não caia no mesmo desespero que você
fez depois de perder Maggie. Lembre-se que às vezes é tudo apenas
parte da viagem que estamos destinados a viajar para estar com
aquele que está destinado a ser nosso.” As palavras são difíceis de
dizer. Enfrentando minha mortalidade e sabendo que posso ser
afastada faz meu peito doer e meu coração bater furiosamente, quase
fora de controle.

“Prometa-me.”

“Callie, eu não posso fazer isso.” Seus olhos abaixam seus


lábios em uma linha firme.

“Você tem que me prometer.” Eu sussurro e sufoco as lágrimas


que têm formado em meus olhos. “Eu nunca amei ninguém da
maneira que te amo. Preciso de você na minha vida, mas eu sei que
se eu não estiver mais aqui para te amar, então eu quero que você
esteja com alguém que você mereça. Você não está destinado a ficar
sozinho, Bruno. Nenhum de nós está. Prometa-me que você nunca
desistirá do sonho de ter uma família.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Eu prometo.” Ele grita com os dentes cerrados, mas mesmo
que eu saiba que não está querendo entender as profundezas do meu
amor, fico na ponta dos pés e o beijo.

Passamos a próxima hora olhando a casa e planejando o


futuro.

Antes de fechar os olhos naquela noite, eu percebo que sonho


mais agora e não temo o desconhecido.

Bruno me deu isso.

Ele trouxe a luz para minha escuridão e me deu esperança.

ENSHRINE
Chelle Bliss
30
REVELAÇÕES

Nós não falamos muito enquanto nos dirigimos para longe da


cidade. Acho que ambos falamos depois de passar dias com tantas
pessoas. Ele segura minha mão todo o caminho.

Assim que as rodas de seu Range Rover bate o pavimento


dentro New York City, meu celular toca.

“É o médico.” Eu digo a ele.

Ele olha para mim com os olhos arregalados. “Responda.”

Olho para o anel.

“Eu estou assustada.” Eu admito e deixo minha mão pairar


sobre o botão.

“Por quê?”

Continuo olhando o anel.

“Porque quem chama no dia após o Natal a menos que seja


ruim?”

Ele começa a pegar meu celular, mas eu o tiro do meu colo


antes que ele tenha chance. “Olá.” Eu prendo minha respiração.

“Callie, é o Dr. Craig”, ele diz. Eu tento ler o tom de sua voz e
falho.

ENSHRINE
Chelle Bliss
“Oi, doutor.” Eu engulo em seco e prendo minha respiração
novamente. Bruno dá a minha perna um apertão, tentando me
acalmar.

O Dr. Craig limpa a garganta. “Eu queria ser o único a ligar


para você e dizer isso. Eu não pensei que poderia esperar.”

Eu fecho meus olhos e minha respiração se torna rápida e


desigual. “Apenas me diga, Doc.” Aperto o meu celular com mais
força.

“Com base nos testes que fizemos há alguns dias...” Ele faz
uma pausa e eu posso ouvir o barulho de papéis “...parece que você
está em remissão.”

“Tem certeza?” Pergunto, meus olhos se movendo para Bruno.

Bruno olha em pânico e seus lábios se separam. “O quê?” Ele


diz.

“Tenho certeza, Callie. Você vai ter que se encontrar com seu
oncologista na próxima semana, mas posso dizer que, no momento,
você está livre do câncer.”

Meus lábios começam a tremer, e eu não consigo controlar as


lágrimas. O celular cai no meu colo, e cubro minha boca quando um
soluço quebra livre.

Bruno pega o celular do meu colo. “Doutor, Callie não pode


falar. O que está errado?”

Ele faz uma pausa e eu só posso ver seu rosto através das
minhas lágrimas. “Sim?” Ele pergunta com excitação. Eu choro mais
percebendo que ouvi direito.

Estou em remissão.

Eu sou uma sobrevivente.

“Você conseguiu, Callie,”

Bruno exclama e bate no volante. “Foda-se, baby!”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Eu cubro meu rosto com minhas mãos e choro como um bebê.
As lágrimas continuam vindo enquanto eu ouço a voz do Dr. Craig
na minha cabeça repetidamente, dizendo as palavras que eu nunca
pensei que ouviria.

Livre de câncer.

“Estamos celebrando hoje à noite, Cal.” Bruno diz com o maior


sorriso em seu rosto.

“Eu não posso acreditar.” Eu murmuro através das minhas


lágrimas. “Eu o ouvi direito?” Eu ainda estou em choque.

“Você fez. Você está em remissão, querida.”

Minha cabeça cai para frente, e eu me enrolo. Tanto sofrimento


encheu minha vida desde a última vez que o Dr. Craig me chamou.
Parece que foi há muito tempo, embora tenha apenas alguns meses.

Quando Bruno para o carro na frente do meu prédio, ele chega


ao meu redor e destrava meu cinto de segurança. “Baby,” Ele
sussurra e me puxa em seu colo. Segurando meu rosto em suas
mãos, ele sorri para mim. “Você fez isso. Você venceu.”

“Nós fizemos.” Eu murmuro através de lábios trêmulos.

Ele beija minha testa. “Você vai viver.”

“Sim.”

Seus braços envolvem-me firmemente, e eu enfio a cabeça sob


seu queixo, eu mesma me apertando contra seu corpo. “Eu vou
sobreviver.” Repito uma e outra vez, ainda em descrença.

Não me lembro de muitas coisas depois disso. Demoro um


pouco para recuperar minha compostura. Eu andei de um lado para
o outro entre chorar histérica, lágrimas felizes e momentos de
descrença e choque.

Bruno fica ao meu lado e repete as palavras que eu preciso


ouvir. “Você vai viver.”

ENSHRINE
Chelle Bliss
Sentado em seu colo, na escuridão e observando o brilho do
luar na sala de estar, eu sei que ele me salvou. Não apenas do câncer,
mas de mim mesma.

Sorte para mim, o tratamento funcionou. Teria, com ou sem


ele. Mas se ele não estivesse ao meu lado durante toda a viagem, eu
seria uma concha do meu antigo eu.

Não há nenhuma maneira de eu ser a pessoa que sou hoje.


Minha mãe estava errada quando me disse para não contar com mais
ninguém. Ser capaz de ficar em meus próprios pés é importante, mas
saber quando me apoiar em alguém para obter força é vital.

Bruno é mais do que meu namorado. Ele é a luz que me trouxe


de volta da escuridão. Ele afastou meus medos e me deu forças para
lutar.

Com sua ajuda, eu tenho a coisa mais importante do mundo,


tempo.

ENSHRINE
Chelle Bliss
31
CINCO ANOS DEPOIS
CALLIE

Cinco anos se passaram desde que descobri que o câncer já


não vivia dentro de mim. Uma semana depois de descobrir que eu
sobreviveria, segui com a minha promessa de trabalhar mais duro
do que nunca para ajudar a encontrar uma cura para o câncer. Eu
me transferi para uma nova instalação, procurando um novo começo
e um lugar onde Bruno não teria que olhar sobre o ombro o tempo
todo.

Já não tenho que me preocupar que ele não volte para casa à
noite porque alguém descobriu seu segredo. Ele assumiu um
emprego com os Assuntos Militares e Navais do Estado de Nova York.

Ele nunca tem que estar longe de casa, e é apenas no fim da


rua de seus pais.

Não só consegui Bruno, mas também me apaixonei por toda a


família. Desde que eu não tenha os meus próprios, não havia
nenhuma maneira de não viver perto deles e me transformar em
parte deles.

A mudança é boa.

No laboratório, estamos mais perto de uma cura do que nunca.


Minha equipe inteira trabalha incansavelmente na missão. Depois
de passar por quimioterapia, eu sei o estrago que pode ter em um
sistema e a forma como ele muda uma pessoa. Tem que haver uma
maneira melhor para erradicar a doença da face da terra. Embora
não tenhamos encontrado ainda, eu não vou desistir. Se alguém

ENSHRINE
Chelle Bliss
pode fazer isso, é a minha equipe, inclusive eu, não descanso até que
o façamos.

“Lar Doce Lar.” Bruno chama quando atravessa a porta da


frente.

“Aqui,” Grito de volta antes de tomar outro gole de vinho com


os pés apoiados na mesa de centro.

Ele está trazendo alguns sacos nas mãos quando entra. “Eu
comprei para nós umas poucas coisas.”

“O que você está fazendo?” Pergunto, erguendo uma


sobrancelha.

“O médico disse que podemos começar a tentar agora, então


eu pensei que teríamos um pouco de diversão.”

Minha barriga vira. Diversão e Bruno significam tipicamente


uma visita através da loja de sexo e algumas coisas que nunca ouvi
antes. O homem tem muita imaginação.

“E?”

Depois que ele coloca as sacolas para baixo, esfrega as mãos.


“Espere até você ver essas.” Ele diz antes de chegar ao saco.

Eu me preparo para algo tão estranho que vai me fazer correr


para fora da sala gritando por misericórdia. É tudo para mostrar, é
claro. Não há nada que ele possa fazer para mim que eu não amaria.

Para meu choque, ele puxa o par mais bonito de tênis de bebê.
“Eu pensei que poderíamos usar esses como inspiração.” Ele sorri
suavemente e os pendura no ar.

“Você não acha que é muito cedo para isso?”

O sofá mergulha ao meu lado, e ele coloca os minúsculos


sapatos no meu colo. “Nunca é cedo demais para ter esperança.”

“Bruno.” Eu suspiro, colocando a minha mão em cima da dele


e olhando para o minúsculo tênis. “Você sabe o que significa este

ENSHRINE
Chelle Bliss
ano, certo?” Eu pergunto e tento engolir as lágrimas que ameaçam
cair.

É o quinto ano. Se me derem um relatório de saúde limpo


novamente na próxima semana no meu check-up, a probabilidade
de que o câncer vai voltar será quase nada. Eu nunca estarei
totalmente livre da possibilidade, mas já não estará pendurado sobre
minha cabeça como uma bomba relógio pronta para explodir sem
aviso prévio.

“Eu sei exatamente que ano é, e o que significa.”

“Então.” Eu engulo em seco e fungo. “Vamos falar sobre isso


depois que descobrirmos.” Eu falo pra ele.

Ele me levanta do sofá e me coloca em seu colo. “Eu sei que


você está com medo. Eu também estou, mas não podemos pensar no
que poderia ser. Temos de nos concentrar no que sabemos que é
verdade.”

Olho para ele e estudo seu rosto. “Quem é você?”

“Seu marido.” Ele sorri para mim.

Às vezes eu me pego olhando para ele. Os momentos em que


ele não sabe que estou observando são os melhores. Ele é o oposto
de tudo o que eu pensava que ele fosse.

Quando eu deveria ter medo dele, eu achei que precisava dele.

Bruno me ensinou tantas coisas. Não importa quantas vezes


eu tentei explicar o que ele fez por mim, ele sempre me acalma com
um beijo. Ele não gosta de relembrar o passado. Falar sobre o que
vivi com ele ao meu lado mexe com muitos sentimentos para nós
dois.

Ele apenas diz. “Pense no futuro e não olhe para trás.” Toda
vez que duvido do nosso futuro, eu olho para baixo para o anel em
meu dedo.

A luz que Bruno trouxe à minha vida brilha mais do que


qualquer sombra lançada pelo medo e pela dúvida.

ENSHRINE
Chelle Bliss
Não importa o que o futuro reserva, eu sei que posso enfrentá-
lo com ele ao meu lado. Ele é a minha rocha, minha ancora no
presente, e minha força para seguir em frente, perseguindo a luz sem
olhar para trás.

ENSHRINE
Chelle Bliss
32
A LUZ
BRUNO

Callie acreditou nas mentiras sobre mim. Provavelmente por


isso demorou tanto tempo para se envolver. Por isso, arrebentei a
porta dela e nunca deixei sua vida novamente.

Veja, na véspera de Ano Novo que eu passei com Cal, eu nunca


tinha conhecido tanta paz como eu fiz naquele momento. Pensei que
teríamos mais. Que a noite significou tanto para ela como fez para
mim. Logo depois, eu percebi que estava errado e pensei que ela
tinha decidido que fui um erro que ela não gostaria de repetir. Nunca
imaginei que ela não lembrasse.

Quando Becca veio a mim naquela noite em lágrimas e uma


confusão completa, eu sabia que tinha que tê-la, mesmo que Callie
não me quisesse perto dela, eu não estava disposto a arriscar sua
perda por conta do meu orgulho.

Depois de descobrir que ela estava doente, não havia maneira


de ir embora ou deixá-la me empurrar para longe. Não aconteceria.
Eu tinha enterrado meus sentimentos por muito tempo, e com a vida
em risco e a possibilidade real de que ela pudesse morrer, eu não
sairia de seu lado.

Eu não posso explicar quando eu soube que a amava. Não foi


depois da nossa primeira noite juntos. Eu sabia que eu a queria na
minha vida, mas com o meu trabalho e ela me ignorando, não seria
possível. Eu não posso identificar quando soube que não haveria

ENSHRINE
Chelle Bliss
mais ninguém na minha vida, mas ela lentamente rastejou em meu
coração e consumiu toda a minha alma.

Uma coisa eu sei com certeza, se ela tivesse morrido de câncer,


eu nunca teria me recuperado. Eu perdi parte de mim quando Maggie
e meu filho não nascido morreram, e o resto teria se despedaçado
por perder Callie. Não teria havido volta em outra perda.

Quando descobrimos que ela estava em remissão, eu queria


dar-lhe o mundo. Eu deixei minha tarefa secreta assim que pude
encerrar meus casos finais e arrastar Callie para fora da cidade. Não
foi difícil convencê-la. Ela estava apaixonada pela minha família.

E demorou pouco para chegar a casar comigo e se tornar uma


de nós. Eu pedi a ela para casar comigo no aniversário de um ano de
estar livre do câncer e eu nunca olhei para trás.

Todo ano, eu seguro a respiração quando ela entra para fazer


um teste para descobrir se o câncer retornou. Eu nunca temi por
minha vida, mas sempre por ela. Quando ela tinha cinco anos
digitalizados, a mais importante e fundamental, eu quase sai da
minha mente esperando pelos resultados.

A nosso pedido, o Dr. Craig nos chamou para dar os resultados


da análise de cinco anos. Ele disse-nos que tínhamos que estar
presente em vez de ouvi-los por celular. Callie era quase catatônica
quando nos sentamos diante dele para ouvir a notícia.

“Sua varredura está limpa, Callie.” Ele nos disse, para nossa
surpresa.

Choramos, e até o Dr. Craig engasgou um pouco. Mas a notícia


nos deu a paz que precisávamos para nos concentrar no futuro sem
a nuvem negra pairando sobre as nossas cabeças.

Avanço rápido para hoje. Callie está dormindo, roncando como


louca e completamente incandescente.

Veja, logo depois que o médico nos deu a autorização,


começamos a planejar uma família. Quinze meses depois, estou
sentado aqui com meu filho embrulhado firmemente em meus

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Chelle Bliss
braços. Callie empurrou por doze horas, e meu coração doeu
observando-a passar pela dor do parto. Ela gritou e chorou, mas me
disse que se poderia passar pelo câncer, trazer meu filho para o
mundo valia a pena cada segundo excruciante.

“Como vocês vão chamá-lo?” Perguntou o médico quando veio


gritando para o mundo no Ano Novo, assim que o relógio bateu 12:01
a.m.

Callie enxugou as lágrimas de seus olhos e disse: “Lee Ray


Bruno.” Ela insistiu em colocar o nome da minha irmã, dado tudo o
que ela tinha feito para ajudar a ambos nas nossas vidas. Foi-me
dado o direito de escolher o seu nome do meio. Eu não poderia dar-
lhe o meu, e não, eu não estou dizendo qual é. Eu escolhi Ray. Porque
tanto quanto Callie diz que eu sou a luz dela, ela é a minha. Nosso
bebê é a coisa que nos une para a eternidade.

Para sempre um pedaço de nós andará nesta terra. Ele nos dá


esperança para o futuro e afasta para longe a escuridão que tem
nublado nosso mundo por cinco longos anos.

“Lee, meu filho.” Eu sussurro enquanto acaricio as linhas de


seu rosto delicado, e eu sei que vou para sempre ser apaixonado por
este homem pequeno. “Papai te ama.”

Ele solta um pequeno choro, e eu olho para Callie. Sua mão


estende e se enrola em torno do meu dedo. No momento em que
nasceu, tudo mudou.

Eu levanto-o para o meu rosto e beijo suas bochechas macias,


gordinhas. “Eu sempre vou te proteger.”

Eu sussurro em seu ouvido.

Eu chorei muito poucas vezes em minha vida. Mas quando Lee


nasceu, eu não pude parar as lágrimas de fluir. Eu tinha tudo que
eu sempre quis - uma esposa, um bebê e um futuro.

“Você quer um irmãozinho?” Eu pergunto a ele, como se fosse


me responder, e eu sorrio sobre ter um pequeno exército de crianças
correndo pela casa.

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Chelle Bliss
“Rocco.” A voz de minha mãe é um sussurro na porta.

Eu movimento para ela entrar e coloco meu dedo contra meus


lábios, olhando para Callie. Mamãe sorri e acena com a cabeça antes
de entrar na sala seguida por Gabby, Lucca, e meu pai.

Eles estão todos radiantes e animados para conhecer o mais


novo membro da família Bruno. Eles se reúnem ao meu redor,
olhando para Lee com amor em seus olhos.

“Ele é lindo, filho.” Meu pai põe a mão no meu ombro e começa
a elogiar.

“Parabéns, mano.” Lucca diz enquanto pousa a mão no meu


outro ombro. “Você é um bastardo sortudo.”

“Eu sei que você ama Mallory, Luc. Você estará sentado onde
estou logo, logo.” Eu digo a ele, incapaz de tirar o sorriso do meu
rosto.

Ele zomba. “Não em um futuro próximo, Roc. Eu não estou


preparado.”

Eu sorrio. Não achava que estaria pronto para ser um pai.


Depois de perder meu primeiro filho, o pensamento de perder outro
me paralisou. “Você está mais pronto do que você imagina.”

Ele se dirige para Gabby. “Ela vai ser derrubada primeiro.”

“Cara. A não ser que seja uma concepção imaculada, não há


como eu ficar grávida.” Gabby rola os olhos. Ela ainda está vivendo
o estilo de vida lésbico, que é ótimo para mim, porque eu não tive
que chutar o traseiro de ninguém.

“Kevin.” Lucca tosse e Gabby endurece.

Eu olho para ela, e assim que estou prestes a sair dos trilhos,
Callie diz: “Ei” e eu esqueço tudo sobre Kevin e Gabby e o traseiro
que eu acabarei tendo que bater porque ela parece que decidiu
recentemente que não será mais uma lésbica.

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Chelle Bliss
Todos os olhos se voltam para Callie, parabenizando-a e
mostrando-lhe tanto amor que começa a chorar. Está
sobrecarregada, e sei que os hormônios da gravidez estão fora de
controle ainda.

Ela estende as mãos, com lágrimas correndo


descontroladamente pelo rosto.

Eu sorrio enquanto levo Lee para ela, e minha família observa,


arrolhando sobre mim em cada movimento.

“Lee” Ela sussurra através de suas lágrimas enquanto o segura


firmemente. “Ele não é a coisa mais linda do mundo?”

“Estamos orgulhosos de você.” Minha mãe diz a Callie e beija


sua testa ternamente.

Callie olha para ela e sorri. Meu coração aperta com o


sentimento de saber que Callie está além das palavras com a
quantidade de amor no quarto. Estando sem sua mãe, ela se apega
à minha família. E na moda habitual dos Brunos, eles a tomaram
como uma de nós.

Minha mãe e Callie formaram um vínculo especial depois de


nos mudarmos para Watkins Glen.

Quando ela descobriu que estávamos tendo um bebê, elas se


tornaram inseparáveis. Eu não minto. Vivi minha vida inteira com
minha mãe pairando sobre mim, e imaginei que minha menina
precisava disso depois de ficar sem por muito tempo.

“Você quer segurá-lo, mãe?” Callie pergunta com lábios


trêmulos.

Minha mãe sorri e pega Lee dos braços de Callie rapidamente.


Ela o carrega ao redor da sala, saltando-o levemente e sussurrando
em seu ouvido.

“Pronto para isso?” Meu pai pergunta, apertando meu ombro


enquanto eu me sento na cadeira e olho minha família, sabendo que
nada será o mesmo.

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Chelle Bliss
“Estou tão pronto, pai.” Olho para ele e sorrio. Mesmo que ele
fosse meio doido às vezes, sempre foi minha pessoa favorita no
mundo. Eu quero esse tipo de relacionamento com meu filho - um
vínculo que não pode ser quebrado, não importa como embaraçoso
eu serei às vezes.

“Como está Lee?” Eu pergunto, e me sinto culpado por não


estar ao seu lado.

Ele aperta meu ombro e sorri. “O médico disse que ela está
pronta para empurrar. Nós lhe demos um pouco de privacidade, mas
vamos voltar em um minuto.”

Lee e Carlos, o namorado de Lee há muito tempo, descobriram


que ela estava grávida uma semana depois que fizemos. Dizer que as
garotas ficaram atordoadas seria um eufemismo importante. Toda a
família entrou em modo de bebê, e não parou durante sete longos
meses.

As coisas nunca mais serão as mesmas. Brunos minúsculos


andarão ao redor da casa em todos os momentos.

Tudo é diferente. Quando sair do hospital, a vida como a


conhecemos deixará de existir, e estou completamente feliz com isso.
Estou além de abençoado e não sei o que eu fiz para merecer tanta
felicidade em minha vida.

Eu pensei que quando me apaixonei por Callie que não havia


espaço no meu coração para amar mais alguém do que eu a amava.
Mas então meu filho nasceu e eu percebi que já não falta um pedaço
da minha alma.

Eu disse a Callie que a escuridão torna a luz mais profunda, e


as palavras parecem verdade. Sem as tribulações do passado, eu não
seria capaz de mensurar a enormidade da minha felicidade e dá
tranquilidade que me atinge.

Eu nunca vou deixar a escuridão ofuscar meu mundo.

Eu acalento Callie, que segura nosso filho, e sou o filho da


puta mais sortudo do mundo.

ENSHRINE
Chelle Bliss
ENSHRINE
Chelle Bliss

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