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SINOPSE

Sabe aquele que fugiu. Toda garota tem um, certo?

O meu era um aristocrata britânico charmoso, que virou


meu mundo do avesso num verão.
Desde o momento em que vi Leo pela primeira vez à
distância através de meus binóculos, fui seduzida.
Certamente nunca esperei encontrar um homem que
tomasse banho do lado de fora da propriedade, do outro lado
da baía, nu.
Então notei seu companheiro olhando para mim com
seus binóculos me observando.
Isso me fez começar uma conversa interessante quando
eu inevitavelmente me deparei com eles.
Afinal, os ingleses bonitos só estavam alugando aquela
casa durante o verão na minha cidade à beira-mar.
Leo e eu formamos uma conexão instantânea, apesar de
sermos tecnicamente opostos. Eu o ensinei a escavar mariscos,
e ele me ensinou que nem todos os homens ricos e poderosos
são pretensiosos.
Apesar de saber que era totalmente errado para mim, não
conseguia me afastar.
Foram meses selvagens e loucos. E antes que eu
soubesse, estávamos apaixonados.
Nós dois tínhamos um desejo: mais tempo juntos.
Mas Leo tinha obrigações em sua casa. Ele vive uma
vida na qual eu nunca me encaixaria.

E eu estava indo para a faculdade de Direito.


Então, decidimos terminar e nunca mais olhar para trás.
Uma parte de mim sempre sentiu que eu deixei minha
alma gêmea partir.
Acreditava que nossa história tinha acabado.

Até cinco anos mais tarde, quando ele me enviou uma


carta que agitou meu mundo, novamente.
Pensava que meu mundo estava virado de cabeça para
baixo naquele primeiro verão?

Bem, eu ainda não sabia de nada.


CAPÍTULO 1

Felicity
Faixa 1: “Somebody’s Watching Me”,
Rockwell
— O que você está olhando?
Eu pulei ao som da voz da Sra. Angelini e abaixei meu
binóculo instantaneamente. — Você sabia que temos novos
vizinhos do outro lado da baía? — perguntei.
— Bem, eu vi algumas luzes piscando vindas da casa na
outra noite. Achei que alguém finalmente se mudou para cá.
— Sim. Eles estavam dando uma festa, eu acho.
Morávamos na baía em Narragansett, Rhode Island.
Além da casa ao lado, a única outra residência nas
proximidades era uma propriedade enorme que se estendia
através do pequeno lago que separava nossa terra da deles.
Você teria que pegar um barco para chegar lá – isto ou ser
realmente um bom nadador. A casa estava desocupada há
vários meses, mas agora alguém a tinha comprado ou a estava
alugando.
— Você sabe alguma coisa sobre eles? — ela perguntou.
— Por que eu deveria?

— Porque você obviamente tem espionado.


Limpei minha garganta. — Eu estava… observando
pássaros e por acaso os notei. São dois caras. Acho que eles
talvez sejam gays.
— E como você saberia disso?
— Bem, ambos são extremamente bonitos. Muitos dos
que parecem tão bonitos tendem a ser gays. Não é justo.
O vento soprou no longo suéter da Sra. Angelini quando
ela pegou o binóculo de mim e o ergueu até os olhos.
Ela riu depois de um momento. — Uau. Bem, eu
certamente posso ver porque você de repente gostou de…
observar pássaros.
A Sra. Angelini devolveu meu binóculo e piscou antes
de voltar para a casa, deixando-me sozinha para continuar a
vigiar os novos moradores. Mas desta vez, quando olhei, vi
algo que definitivamente não deveria ver. Um dos homens
deve ter entrado na casa, porque o outro agora estava sozinho.
Ele havia se deslocado de seu lugar anterior e agora estava nu
debaixo de um chuveiro externo. Minha boca caiu. Eu deveria
ter desviado o olhar, mas meus olhos permaneceram em seu
corpo bronzeado. A água caía sobre ele como uma cachoeira
descendo uma montanha de pedra esculpida.

Eu me senti péssima por ficar olhando, mas


honestamente… quem toma banho na frente dos vizinhos?
Embora, em sua defesa, provavelmente ele pensou que estava
sozinho. A única casa voltada para os fundos deles era a
minha. Então, possivelmente nunca imaginou que alguém tão
distante quanto eu o estivesse observando.
Minha culpa finalmente me atingiu. Pousei os binóculos
e tomei um longo gole da minha água com limão. Talvez eu
precisasse derramar na minha cabeça em vez disso. Tentando
me concentrar em qualquer coisa que não fosse o peep show1
do outro lado da baía, peguei meu telefone e comecei a
procurar empregos de verão. Não queria nada muito
estressante, apenas qualquer coisa para ganhar um pouco de
dinheiro para minha mudança à Pensilvânia no outono.
Considerando que a maior emoção que tive ultimamente foi
espionar dois homens bonitos, eu precisava de algo para
ocupar meu tempo.

Eu me formei na faculdade alguns anos atrás, mas tinha


ficado em Boston para trabalhar. Havia acabado de completar
vinte e quatro anos e me mudado de volta para casa em Rhode
Island no verão antes de ir para a faculdade de direito. A
minha casa era propriedade de Eloise Angelini, uma viúva
cujo marido possuía uma série de restaurantes de frutos do
mar. Eu estava morando com a Sra. Angelini desde meu
segundo ano no colégio. Depois que seu marido morreu, ela
decidiu se tornar uma mãe adotiva, me acolhendo depois que
minha mãe adotiva anterior se mudou. Por causa da Sra.
Angelini, consegui terminar o ensino médio com meus amigos
e não tive que deixar Narragansett. Por isso, eu sempre serei
grata. E como se me acolher não fosse o suficiente, ela decidiu
que queria me ajudar a pagar a faculdade – apesar de não ser
necessário, já que eu recebi uma bolsa de estudos integral para
Harvard.
Mesmo assim, a Sra. Angelini garantiu que eu tivesse
um lugar para chamar de lar. Ela sempre me fez sentir como se
precisasse de mim mais do que eu dela, embora eu soubesse
que não era o caso. Ela me encontrou durante um dos
momentos mais solitários de sua vida, mas eu já estava
acostumada a uma vida solitária. Nunca conheci nada além de
uma vida solitária, e aprendi a não me apegar a nada e a
ninguém. Já tinha entrado e saído de muitos lares adotivos
quando pousei na porta da Sra. Angelini aos quinze anos.
Apreciei o fato de ela não ter tentado ser minha mãe. Na
verdade, era uma verdadeira amiga e confidente. E fazíamos
rir muito uma à outra. A Sra. Angelini me deu uma sensação
de segurança, e eu a distraí da perda de seu marido. Éramos
exatamente o que a outra precisava. Mesmo assim, minha vida
me condicionou a não ficar muito confortável com alguém –
nem mesmo com a Sra. Angelini, que não fez nada além de me
acolher de braços abertos.

Gostaria de saber se agora era seguro olhar para o outro


lado da baía. Erguendo meus binóculos aos meus olhos, eu
vacilei quando encontrei o homem sexy agora esfregando seu
corpo ainda nu com uma toalha. Seu enorme pênis balançava
de um lado para o outro, e depois de perder um pouco meu
juízo, tirei meus olhos de cima dele e me movi para a
esquerda.

Eu dei um pulo. Olhando de volta para mim estava o


outro cara – com seus próprios binóculos. Ele estava me
assistindo observar seu amigo.

Oh, não.

Então, para meu horror, ele acenou, dando um sorriso


malicioso.

O que eu faço agora?

Esses caras sabiam onde eu morava, e eu provavelmente


os encontraria pela cidade. Não poderia me esconder para
sempre. Jogar com calma era minha única opção. Em vez de
correr para dentro de casa – meu primeiro instinto – tentei
manter a calma. Então sorri e acenei de volta.

Estava prestes a colocar meu binóculo para baixo


quando o vi chamar o Shower Guy2. O homem antes nu agora
tinha a toalha enrolada na cintura. O cara com o binóculo disse
algo para ele, e eles riram. Então o Shower Guy agarrou os
binóculos e acenou para mim também. Ele estava gostando
disso? Os dois aparentemente gostaram da minha estupidez.

Acenei estranhamente de volta e logo percebi que já


estava farta. Virei-me e fui para dentro de casa.

A Sra. Angelini estava parada na pia lavando pratos. —


O que há de errado, Felicity? Você está toda vermelha.

— Nada, — eu disse enquanto passava por ela para subir


para o meu quarto.
Apesar de ruminar sobre o que tinha acontecido lá fora,
forcei-me a focar mais uma vez na procura de emprego de
verão pelas próximas horas – não o mais emocionante fim de
semana do Memorial Day3, isso é certo.

Mais tarde naquela noite, a campainha tocou e eu pude


ouvir os passos da Sra. Angelini quando ela foi atender. A
porta se fechou antes que ela me chamasse do fundo da
escada.

— Felicity, talvez você queira descer aqui. Você tem


uma entrega.

Algo para mim? Pulei da cama e desci os degraus. A


Sra. Angelini estava segurando um buquê de flores amarelas
brilhantes. Narcisos?
— De quem são? — perguntei.

— Eu não sei. Mas há um cartão.


Peguei as flores dela e as levei até o balcão da cozinha.
Meu coração quase caiu no meu estômago quando abri o
cartão e li a nota.

Cara Ruiva do outro lado da baía,

Achamos que essa seria uma maneira perfeita de


agradecer por ser nossa vizinha. Esta é uma flor conhecida
como Narcissus Peeping Tom4. Precisamos dizer mais?
Aproveite-as.
Com amor,

seus vizinhos, Sig e Leo

♥Ω♥

Inferno.

Inferno foi o momento em que entrei na mercearia


alguns dias depois e quase bati nele.

— É você. — Ele ergueu uma baguete comprida de


aparência fálica e a sacudiu. — Lembra você de algo?
Meu rosto estava quente. — Muito engraçado.

— Não tenho visto muito você lá fora nos últimos dias.


Nós te assustamos?
Este não era o cara do chuveiro, mas sim aquele que me
pegou espiando. Ele tinha um forte sotaque britânico e era
extremamente alto, com cabelos escuros.
— Estou fazendo uma pausa do quintal.
— Muito quente lá fora para você, hein?

— Olha, eu não pretendia ver o que vi. Eu tenho


gostado… de observar pássaros neste verão. Então um dia
vocês dois se mudaram para cá e eu…

— Ora, ora, ora… — o outro cara apareceu ao lado de


seu companheiro de casa. — Sinto muito por qualquer coisa
que ele possa ter dito a você até agora. Fique tranquila, é tudo
uma merda. Ele só está brincando. — Esse também tinha um
forte sotaque britânico. — Não creio que nós tenhamos sido
apresentados adequadamente.

— Embora, você tenha conhecido indevidamente… —


seu amigo repreendeu.
— Feche a matraca, Sigmund.

Ok, então o idiota é Sig – ou Sigmund. O que antes


estava nu deve ser Leo, então. Ambos eram altos e bonitos,
mas Leo, com seus traços esculpidos, cabelo brilhante e olhos
marcantes estava em outro nível – um Adônis absoluto, e
incrivelmente lindo.
Sigmund encolheu os ombros. — Certamente ela sabe
que estou apenas brincando.
— Mas você não sabe quando parar. Esse sempre foi o
seu problema. Não pode ver como o rosto dela está ficando
vermelho? Você a está envergonhando.

Uh… o quão vermelho meu rosto está ficando? Isso é


mortificante. Nunca consegui controlar isso sobre mim.
Afinal, eu era uma ruiva de pele clara coberta de sardas.
Sempre que eu ficava envergonhada, basicamente ficava
vermelha da cabeça aos pés.

O tom de Leo suavizou. — Peço desculpas por seu


comportamento rude. — Ele estendeu a mão. — Sou Leo
Covington.

Eu peguei, apreciando o calor de sua pele. — Felicity


Dunleavy.
O outro cara ofereceu sua mão. — Sigmund Benedictus.
Mas, por favor, me chame de Sig.
Benedictus?
O que foi um idiota.

Ele com certeza foi.


Apropriado.

— Prazer em conhecê-lo, — eu disse.

— E você também, Freckles5.


Freckles? Ele não poderia ter inventado um apelido mais
original? Eu tinha vergonha de minhas sardas e normalmente
queria matar qualquer um que me apelidasse de Freckles.
— Você se importa em não me chamar assim?

— Você prefere um apelido diferente? — Perguntou Sig.


— Peeping Tom, talvez?
Leo cerrou os dentes. — Já chega. Sério.

— Muito bem. Eu vou me comportar. Irei em busca de


tapenade6 para este pão. — E piscou o olho. — Já volto.
O alívio tomou conta de mim enquanto ele se afastava.
— Eu… sinto muito por ele, — disse Leo.

— Bem, dado como você me conheceu, a zombaria é


justificada. Não deveria estar espiando.
— Acho que você não previu me ver desprovido de
roupas. Essa foi a primeira vez que eu fiz isso. Presumi que
ninguém estivesse nas proximidades, é claro. Para que conste,
eu não tenho o hábito de tomar banho para que o mundo
inteiro veja. Nunca tomei um banho ao ar livre na Inglaterra.
Portanto, é uma novidade.
Leo é simplesmente impressionante. Seu cabelo é
castanho claro com tons dourados. Ele tem uma bela estrutura
óssea e lábios carnudos que são difíceis de não olhar
fixamente. Não há nada que eu mudaria em seu rosto. Seus
olhos são de um azul profundo. Eles me lembram de um
pedaço de vidro do mar que eu havia usado para fazer um
colar uma vez.
Eu limpei minha garganta. — O que o traz a
Narragansett?
— Estou tirando seis meses de férias. Parecia um bom
local para me soltar. Escolhemos este lugar aleatoriamente em
um mapa, na verdade. Sigmund e eu passamos nosso tempo
em alguns locais diferentes. Primeiro foi Califórnia, depois
Nova York, e agora Rhode Island.

— Vocês dois estão… juntos?


Sua sobrancelha se ergueu. — O que você quer dizer
com juntos? Estamos morando juntos. Mas se você quer dizer
romanticamente juntos, então não. Exatamente o que você
presumiu?

— Achei que você era gay.


— Se eu fosse gay, teria um gosto muito melhor para
homens do que aquele meu primo idiota. O que em nome de
Deus te fez pensar que éramos gays?
— Eu não sei. Dois homens bonitos… morando juntos
em uma casa grande…

— Então, se eu sou um cara que mora com outro


homem, estou automaticamente transando dele?
— Tem razão. Essa foi uma suposição precipitada.

— Obrigado pelo elogio, a propósito.


Simplesmente o chamei de bonito, não é? Sentindo-me
repentinamente quente, olhei para a seção de produtos
hortifrutigranjeiros. — Bem, é melhor eu ir…
— Antes disso, quero pedir desculpas pelas flores que
ele mandou a você na outra noite. Eu o incentivei a não fazer
isso. Nem todos apreciam tal senso de humor.
Dei de ombros. — Tudo bem. E elas eram bonitas.
Fiquei constrangida, no início, mas depois acabei rindo de
tudo. A Sra. Angelini certamente se divertiu muito.
Sua sobrancelha se ergueu. — Sra. Angelini?

Como posso explicar quem ela é sem descarregar minha


história sobre esse estranho? Mantive as coisas simples. —
Ela é minha colega de quarto.

— Ah. Colega de quarto. Então ela deve ser sua amante


lésbica. — Ele levantou uma sobrancelha e eu tive que rir. —
De qualquer forma, por que você a chama de Sra. Angelini?
Ela não tem um primeiro nome?

— Bem, ela tem setenta anos. É mais uma questão de


respeito. É como comecei a chamá-la alguns anos atrás, e
pegou. Ela sempre me pediu para chamá-la pelo primeiro
nome, mas eu me acostumei a chamá-la de Sra. Angelini.
— Percebo. — Seus olhos fixaram-se nos meus por um
momento. — Sua colega de quarto tem setenta anos. E quantos
anos você tem, posso perguntar?
— Vinte e quatro. E você?
— Vinte e oito, — respondeu ele. Seus olhos
permaneceram nos meus um pouco mais. — Escute, vamos
alugar a casa em frente a sua durante todo o verão.
Praticamente não sabemos nada sobre Narragansett. Eu
adoraria saber quais lugares ir e coisas para fazer aqui. Talvez
você não se importe de vir tomar chá esta semana?
— Chá? Vocês realmente são britânicos, não é?

— Culpado da acusação. — Seus dentes brancos


brilharam.
Olhando para os meus pés, disse: — Não sei.

— Prometo não tirar a roupa… — acrescentou com um


sorriso torto.
Soltei uma risada muito necessária. — Bem, já que você
colocou dessa forma.
— Amanhã às duas, então? Ou a hora que for melhor
para você.
Uma parte de mim queria recusar, mas por quê? Não era
como se eu tivesse algo mais emocionante acontecendo. Não
entendi muito bem se ele realmente queria minha experiência
em Narragansett, ou se havia algo mais no convite, agora que
eu sabia que ele não era gay.

— Certo. Amanhã as duas.


— Brilhante. Você sabe como chegar até a casa sem ter
que atravessar a nado, não é?
— Sim. — Eu sorri.
— Muito bem, então. E eu prometo, Sigmund se
comportará da melhor forma.
— Consigo lidar com isso se ele não o fizer.
Este turista aparentemente rico não tinha ideia do quanto
eu poderia lidar. Eu posso ficar vermelha quando me sinto
envergonhada, mas com o passar dos anos adquiri uma casca
bem grossa.

É assim que acontece quando você sempre teve que se


defender sozinha.
CAPÍTULO 2

Felicity
Faixa 2: “It’s the Hard-Knock Life”, elenco
original de Annie da Broadway
— O que exatamente se veste para tomar chá? —
perguntei.

— Eu vou te dizer o que não se veste. Essa camiseta de


“gamer girl” esfarrapada que você está usando.
Minha melhor amiga, Bailey, estava começando seu
segundo ano de graduação na Brown. Ela morava a cerca de
quarenta minutos de distância em Providence, mas foi me
visitar algumas horas antes que eu fosse para a casa dos
vizinhos.

— É por isso que estou perguntando a você. Você tem


um senso de moda muito melhor do que eu.

Ela vasculhou meu armário. — Estou pensando… em


algo mais formal e apropriado, porém chique.
— Sério? Além de seus sotaques, esses caras não
parecem nada apropriados. Eles são mais selvagens.
— Pense sobre isso. Chá? Isso é como sinônimo de gola
alta e camisas. — Ela pegou uma camisa branca que eu
costumava usar para entrevistas. — Isso parece bom. O que
você tem de saias?
— Eu realmente não uso saia.
— É mesmo. Seu armário inteiro é composto de jeans, as
mesmas camisetas em cores diferentes e alguns moletons.

— Bem, isso é o que eu gosto.


— Você precisa de algo para ocasiões especiais, no
entanto.
— Eu realmente não vou a lugar nenhum.
Ela conseguiu encontrar a saia que eu tinha no fundo do
meu armário. — O que é isso?
— Essa é a saia que eu usava nas apresentações do coral
no colégio.
— Será que serve?

— Acho que sim, mas você não acha que é muito


formal?

— Nah. Experimente.
Tirei a roupa, coloquei a camisa branca e abotoei antes
deslizando a saia longa e preta sobre minhas pernas.

Bailey me olhou de cima a baixo. — Você está bonita.


— Ela continuou revistando no meu armário. — Que tal isso?
— Ela pegou um blazer cinza de um dos cabides. — Você
precisa de algo para enfeitar a camisa branca.

— É junho. Não está quente demais para um blazer?

— Bem, você vai estar no ar condicionado, certo?


— Pode ser. Não tenho certeza. — Escorreguei o blazer
sobre meus ombros.

— Por que esses caras estão alugando aquela casa,


mesmo?
— Ele disse que escolheram Narragansett
aleatoriamente. Eles estão numas férias de seis meses aqui nos
Estados Unidos.

— Esquisito. Mas legal ao mesmo tempo. — Ela sorriu.


— Você acha que esse cara gosta de você?
Fechei o último botão do blazer. — Eu não sei.

— Bem, ele não tem ideia de que convidou a campeã de


xadrez de Narragansett High para o chá.

— Sim, eu não acho que isso seja algo para anunciar. Já


é ruim o suficiente eu estar vestida como se fosse para uma
entrevista de emprego. Não preciso destacar minhas
tendências nerds.

Ela riu. — Ok. Bem, eu tenho que correr. Deixe-me


saber como foi, ok?

— Farei isso.
— E Felicity? Venha me encontrar na cidade na próxima
semana. Vamos fazer compras. Eu não percebi o quão ruim era
a situação do seu guarda-roupa.

— Não é necessário.

— Oh, acredite em mim, é necessário.

♥Ω♥

Estacionei meu minúsculo carro em frente à bela


propriedade, com uma entrada circular. A casa apresentava
revestimento em madeira e uma varanda frontal deslumbrante
com quatro cadeiras Adirondack7 brancas. Esta era a casa
mais luxuosa de Narragansett – que a maioria das pessoas só
podia pagar em seus sonhos.

Antes que eu pudesse ir até a porta da frente, Sig saiu


para me cumprimentar. Eu o encarei enquanto estava de pé
diante do meu carro.

Ele me deu uma olhada. — Não sabia que tínhamos


convidado Mary Poppins para o chá.

Excelente.

Está assim tão ruim? Eu olhei para mim mesma. É


realmente muito ruim. Saia longa preta com camisa branca e
blazer. A única coisa que faltou foi o guarda-chuva. Maldita
seja, Bailey.
Olhando para seu peito sem camisa, entendi agora que
este era sem dúvida um “chá” informal. Leo, que por acaso
vestia uma camiseta, finalmente apareceu, correndo em nossa
direção como se quisesse impedir que seu primo fizesse mais
estragos.

— Aí está você, — Leo disse.


— Nunca fui convidada para um chá antes, — eu disse.
— Achei que fosse mais formal. Mas claramente eu estava
enganada.
Leo sorriu. — Acho adorável que você tenha se vestido
bem. E, para que conste, está linda.

— E você é um mentiroso. — Eu ri, limpando alguns


fiapos da minha saia. — Mas obrigada de qualquer jeito.
Sig olhou para meu minúsculo Fiat 500 verde-menta. —
Gostaria de trazer seu carrinho de brinquedo para dentro
também?
— Deixe meu carro em paz. É fácil de estacionar e bebe
pouca gasolina.

— Sigmund pode se identificar com o fato de ser


pequeno e ter gases, — Leo brincou. Ele colocou sua mão
levemente nas minhas costas, enviando um arrepio pela minha
espinha. — Bem-vinda à nossa humilde morada. Vamos entrar.
— Dificilmente humilde. — Eu ri, olhando para a
enorme propriedade.

Eles me levaram por um grande saguão até uma cozinha


espaçosa com armários de cor creme e bancadas de granito
cintilante.

— O que posso pegar para você beber? — Leo


perguntou.

— Achei que o chá fosse a bebida predefinida hoje.

— Aposto que você gosta com apenas uma colher de


açúcar, certo? — Sig repreendeu.

Revirei meus olhos. “Spoonful of Sugar”, a famosa


canção de Mary Poppins. Esse cara é um paspalho.

Não acho que Leo entendeu a piada. Ele apenas estreitou


os olhos para o primo. — Bem, quando a convidei para o chá,
eu estava usando o termo vagamente, — disse ele. — Tenho
outras opções. Mas posso fazer chá, se você quiser.

— Nesse caso, adoraria tequila. Tem alguma? —


provoquei.
— Chá -quila. Já está chegando, linda.

— Estava brincando, mas certamente não vou recusar.


— Chá-quila é muito melhor do que chá de qualquer
maneira. — Ele piscou.

Sig havia saído da cozinha e Leo se aventurou em uma


sala adjacente que deve ser onde as bebidas estão
armazenadas. Pelo breve tempo que fiquei sozinha, olhei para
a baía através das portas francesas.

Sua voz me assustou. — Está um lindo dia. — Leo


estava segurando o que reconheci como uma garrafa de tequila
Casamigos Reposado e dois copos.

— Está lindo, sim.

Ele gesticulou com a cabeça. — Vamos desfrutar dessas


bebidas lá fora, vamos? Estou ansioso para saber mais sobre
você.

— Sobre mim? Achei que deveria estar informando você


sobre Narragansett.
— Oh. Bem, acho que podemos falar sobre isso também.
— Ele sorriu.

Leo me levou até o deck grande e colocou a bebida e os


copos sobre uma mesa. Eu me sentei em uma das cadeiras e
ele se sentou à minha frente.

Abriu a garrafa e serviu a tequila quase até a borda do


meu copo antes de se servir.

Ele alcançou seu copo em direção ao meu. — Saúde.


Nós dois tomamos ao mesmo tempo. A tequila queimou
minha garganta enquanto descia.
Lá se foi o chá. Tchim-Tchim! Quase instantaneamente,
senti o zumbido, o formigamento em minhas bochechas.
Olhando através da baía cintilante, eu disse: — É estranho ver
minha casa deste ângulo. A propriedade da Sra. Angelini
parece ainda mais bonita daqui. Na verdade, acho que essa
vista – a parte dos fundos da casa dela – é o melhor de tudo.
— Acho que a melhor parte da casa pode estar sentada à
minha frente, na verdade.
Suas palavras me fizeram corar. — Em que está
baseando isso? —perguntei. — Você nem me conhece.

— Estava tentando ser cortês, mas você está certa. Não


sei muito sobre você além do fato de que não se encanta muito
facilmente.

Sig apareceu e deu um tapinha no ombro do primo. —


Meu garoto aqui não está acostumado com isso. Normalmente
ele tem mulheres caindo a seus pés.

Eu me dirigi a Leo. — Então… você disse que vai viajar


por seis meses. Você tirou férias? Do seu trabalho ou…
Sig deu uma risadinha.

Virando-me para ele, levantei minha sobrancelha. — O


que é tão engraçado?

— Ele acha hilariante eu precisar de uma folga do


trabalho, pois isso não é realmente importante para mim, —
Leo respondeu.
— Por que isso? Você não trabalha?

— Ele é um herdeiro, — disse Sig. — Se ele trabalhar


diariamente ou não é irrelevante, embora haja
responsabilidades.
Leo parece irritado. — Meu pai está me preparando para
assumir os negócios da família, — esclareceu. — Possui várias
propriedades no interior onde vivemos na Inglaterra.
Depois de processar isso por um momento, eu disse: —
Então, essa preparação inclui uma excursão de seis meses
pelos Estados Unidos?
— Isso pode não parecer fazer sentido, mas sim, esta
viagem foi parte de um acordo que fiz com meu pai. Sendo
filho único, sempre tiveram enormes expectativas, em relação
a mim. Antes de começar a levar as coisas a sério, eu
precisava de uma pausa da pressão. Sei o que se espera de
mim, e pretendo realizar seus desejos. Mas eu precisava
primeiro deste tempo longe de casa.
— Ok, então você fez um acordo com seu pai…

Ele assentiu. — Ele me dispensou seis meses de todas as


obrigações familiares. E em troca, vou levar as coisas mais a
sério quando eu voltar.

— Você não quer assumir os negócios da família?


Sua expressão ficou um pouco séria. — O que eu quero
nunca realmente importou.

— Com todo o respeito, por que você não pode


simplesmente dizer a seu pai que não está interessado?
Sig riu baixinho.

Eu olhei para ele e de volta para Leo. — Desculpe me


intrometer.
Sig deu uma risadinha. — Acredite em mim, ele está
feliz por você estar fazendo essas perguntas, porque isso
significa que você não tem absolutamente nenhuma ideia de
quem ele é, e é exatamente o que ele prefere.
O rosto de Leo ficou um pouco vermelho.
— Do que ele está falando? — perguntei. — Quem é
você?
— Aqui? Ninguém. — Ele suspirou. — Mas em casa, na
bolha? As pessoas acham que sou uma grande coisa por causa
da família em que nasci. Sou foco de muita atenção
indesejada.
— Coitadinho. — Sig revirou os olhos. — Eu ficaria
feliz em suportar um pouco desse suposto fardo, se eu
pudesse.
Leo olhou para ele. — De qualquer forma, chega disso
por enquanto. Posso servir outro? — Ele parecia ansioso para
mudar de assunto
Estendi minha mão. — É melhor não. Já posso sentir
este subindo à minha cabeça.
— Que tal um chá de verdade, então?

— Pode ser bom.


Sig se levantou. — Eu me voluntario para fazer isso.
Posso dizer que está esperando que eu vá embora por um
segundo para que você possa conversar com Freckles em paz.

— Acredito que ela disse para você não a chamar assim,


— Leo repreendeu.
— Isso mesmo. — Ele colocou a mão sobre o coração e
fingiu arrependimento. — Perdoe-me, Mary.

Que idiota.
— Peço desculpas por ele. Realmente, se não fôssemos
parentes, eu o teria afastado há muito tempo. Mas ele é um
companheiro de viagem muito divertido, quando não está
sendo um idiota.
— Está tudo bem.

Ele inclinou a cabeça. — Fale-me mais sobre você,


Felicity.
— Bem, me formei na faculdade há alguns anos e, nos
últimos dois anos, trabalhei para uma organização sem fins
lucrativos em Boston.
— Onde você estudou?

— Harvard.
Seus olhos se arregalaram. — Nada demais. — Ele
tossiu. — Uau. Sério, parabéns.

— Obrigada.
— O que vem a seguir?

— A caminho da Pensilvânia para a Faculdade de


Direito neste outono.
— Brilhante.

— Sim. Estou tentando aproveitar o verão antes de ter


que apertar o cinto novamente.
— Sei que você mora com uma colega de quarto. Onde
está sua família?
Aqui vamos nós. — Eu não tenho uma, na verdade.

A preocupação encheu seus olhos. — Você não tem


família?
— Não. Eu cresci em lares adotivos, então vivi com
pessoas que não eram meus pais de verdade durante uma boa
parte da minha vida. A Sra. Angelini foi a última destas
pessoas. Ela me acolheu quando eu tinha quinze anos, e aquela
casa do outro lado da baía tem sido meu lar desde então.

Ele acenou com a cabeça, absorvendo minha revelação.


— Espero que não se importe com o que eu diga, mas agora a
considero ainda mais notável – tudo o que você já realizou.
Não deve ter sido fácil sua infância.
— Não foi, mas me tornou a pessoa que sou hoje. Me
tornou forte.

— Posso ver isso. — Seu olhar demorou um pouco. —


Está muito quente aqui fora?
Estava. Não apenas por causa do sol e minhas roupas
ridiculamente quentes, mas por causa da minha atração por
ele. Isso estava me fazendo queimar de uma forma que não
fazia há algum tempo. O que me deixou inquieta.

— Sim. — Eu olhei para a minha roupa. — Este traje


não foi a melhor escolha.
— Podemos entrar? Posso te mostrar a casa.

— Está bem, — eu disse, me levantando.


Passamos por Sig na cozinha e Leo me mostrou o local.

Eventualmente ele me conduziu de volta à sala de estar


pelo hall de entrada. As janelas do piso ao teto
proporcionavam uma visão nítida da baía de um ângulo
diferente, e raios de sol brilhavam contra o piso de madeira de
lei.
— Sempre me perguntei como esse lugar parecia por
dentro. É ainda mais bonito do que eu imaginava.
Ele olhou para mim. — Sim.
Estar no interior da casa realmente não tinha me
refrescado. Mexi na minha gola, tentado desabotoar a blusa,
embora soubesse que não o faria.
— Você parece um pouco desconfortável, — disse Leo.
— Estou deixando-a nervosa?
Admiti algo que provavelmente não deveria. — Acho
que talvez eu ainda não tenha superado a maneira como nos…
conhecemos.
Ele levantou as sobrancelhas. — A observação de
pássaros, você quer dizer?

— Não. Comecei a observar pássaros, mas depois que vi


vocês, definitivamente estava observando vocês. Não vou
negar isso. Acho que muito poucas pessoas teriam se afastado.
Sou só humana.
Sua boca se curvou em um sorriso. — Essa é outra razão
pela qual gosto de você, Felicity. A maioria das pessoas
poderia não ter se afastado – eu certamente não teria – mas
poucos são honestos sobre essas coisas. Passei minha vida
cercado de pessoas desonestas cujo objetivo número um é ter
uma boa aparência em vez de ser autêntico. Mal te conheço,
mas o pouco que você me deu é puramente você. E agradeço
por isso. É revigorante.
— O chá está pronto, — Sig anunciou do limiar da
porta, o que levou Leo e eu a nos virarmos para ele ao mesmo
tempo. Ele nos lançou um olhar como se soubesse que havia
interrompido um momento. — Fiz alguns bolinhos também, já
que ela estava claramente esperando um chá mais adequado.
— Obrigado. Oh, que doméstico, — Leo disse antes de
se virar para mim. — Ele é definitivamente o cozinheiro nesta
relação.
Eu os segui até uma grande sala de jantar, onde Sig
montou um serviço de chá de aparência formal. Uma
montanha de bolinhos estava empilhada na mesa.
— Então, você realmente fez isso? — perguntei.

— Sim. Do zero.
— Impressionante.
— Não há muitos ingredientes, — disse Sig. —
Certifique-se de comer um antes que esfriem. Não há nada
como manteiga derretida neles.

Peguei um e passei manteiga nele. Estava exatamente


como ele garantiu, saboroso e delicioso. Leo se encarregou de
me servir uma xícara de chá. Muito gentil.
Sig cruzou os braços. — Então, Felicity, o que é que dois
rapazes solteiros fazem para se divertir aqui?
— Você está me perguntando? — Eu disse com a boca
cheia de bolinho. — Parece que vocês dois não têm problemas
para se divertir, com suas festas e tudo mais.
Os olhos de Leo se estreitaram. — Festas?
— Sim, eu vi as luzes piscando vindo daqui uma noite e
ouvi música do outro lado da baía mais de uma vez.

Leo balançou a cabeça. — Não houve festa. Era o


Sigmund tocando sua música e zoando comigo. Na verdade,
não conhecemos ninguém desde que chegamos aqui. Os
antigos moradores instalaram aquelas luzes estroboscópicas e
o sistema de som.
Eu ri. — Bem, isso é meio bizarro. Eu apenas presumi
que vocês fossem festeiros.
— De qualquer forma, você não respondeu à minha
pergunta, — disse Sig. — O que há de bom aqui?
— Bem, tem o bar na praia. Muitas pessoas frequentam
o bar, mesmo em dias de semana. Depois, há o centro da
cidade. Existem muitos bons restaurantes. Mas se você optou
por passar uma parte de sua viagem aos EUA aqui, de todos os
lugares, talvez não esteja procurando uma vida noturna
excitante.

— Sig e eu queríamos coisas diferentes desta viagem, —


disse Leo. — Narragansett foi sua concessão para mim desde
que eu aceitei os outros lugares. Sem dúvida, estou em busca
de tranquilidade.

— Estou procurando um pedaço de algo também. — Sig


piscou.

Leo revirou os olhos. — Deixa pra lá os pontos


turísticos. Diga-me, o que os moradores locais gostam de
fazer?
— As coisas aqui são muito simples. Nós ficamos a
maior parte do tempo relaxando em nossos decks, bebendo
cerveja, ou observando o pôr-do-sol sobre a baía. Também
vamos pescar ou apanhar mariscos para o jantar.
Leo sorriu. — Você pesca?
— Ocasionalmente. Embora eu precisasse de um barco
para chegar a alguns dos melhores lugares da baía para o
quahoging.
— Co-o quê? — Leo perguntou.

— Quahoging. O ato de cavar para quahogs. Mariscos.


— Ah. Você precisa de um barco para fazer isso?
— Bem, há uma área da baía onde você pode colher
bastante, mas precisa de um barco para chegar até lá.
— Entendo. — Leo lambeu a manteiga do lado dos
lábios. — Se eu conseguir um barco, você nos leva lá?

— Hum… eu não sei… — gaguejei.


O rosto de Leo caiu. — Sinto muito. Eu não pretendia
voluntariar você para ser nossa guia turística. Esse não é o seu
trabalho.
— Só não sei se posso me comprometer com alguma
coisa agora. Estou procurando um emprego de verão. Tenho
algumas oportunidades, por isso não saberei meus horários
ainda.
Ele acenou com a cabeça, apesar de estar desapontado.
— É justo.
Eu exalei. — Então… quanto tempo vocês ficarão aqui
exatamente?
— Até final de agosto, — respondeu Leo.
— Eu preferia partir mais cedo, — Sig interrompeu. —
Estou mais ansioso para voltar para casa do que Leo.
— Então vocês irão voltar para a Inglaterra?
Leo suspirou. — Esse é o plano.
— A família dele tomará suas bolas se ele não voltar até
setembro, — interrompeu Sig.
Leo decidiu mudar de assunto. — Então, você disse que
iria para a faculdade de direito no outono. Conte-me mais. Em
que universidade e em que área jurídica pretende se
especializar?

— Drexel8. E um dia quero trabalhar em defesa da


criança, para ajudar as crianças que cresceram da maneira que
eu cresci. É muito importante para mim, fazer algo que me
seja familiar, onde eu possa fazer a diferença.
— Se todos seguissem suas paixões, o mundo seria um
lugar melhor. — Leo sorriu.

Sig olhou entre nós. — Perdi algo? Crianças que


cresceram como você?
— Eu disse a seu primo mais cedo que cresci no sistema
de adoção.
— Uma órfã?
Eu odiava esse termo. — Sim.

Sig piscou algumas vezes. — Deixe-me ver se entendi


bem. Você é uma órfã ruiva. Morando com uma mulher mais
velha. O nome dela é Miss Hannigan, por acaso? — Ele
inclinou a cabeça. — Tem um cachorro chamado Sandy?
Muito engraçado. Revirei meus olhos. — Acho muito
estranho saber o quanto você conhece Annie, Sig. Eu não teria
considerado você como alguém tão bem versado em musicais.
Primeiro Mary Poppins, agora isto.
O rosto de Leo ficou vermelho quando ele se virou para
o primo. — Você é um completo idiota.
— E você é… papai Warbucks, aparentemente.
Leo quase cuspiu o chá.
— Na verdade, nossa avó me levou para ver Annie em
Londres quando eu era criança. — Sig olhou para mim. —
Sinto muito. Vou deixar de ser um idiota por enquanto, —
disse ele. Pela primeira vez desde que o conheci, pareceu
genuinamente interessado. — O que aconteceu com sua
família?
Antes que eu pudesse responder, Leo disse: — Não acho
que você precise se intrometer no passado dela agora. Deixe a
garota desfrutar de seu chá sem ter que contar a história de sua
vida.
— Não tenho nenhum problema em falar sobre isso, —
insisti.
Leo acenou com a cabeça.
Eu me preparei para explicar. — Minha mãe morreu por
overdose quando eu tinha sete anos. Ela já havia se afastado de
sua família muito antes de eu nascer. Quando você fica sem
um dos pais nessa idade, não tem ninguém ansioso para adotá-
lo. As pessoas preferem recém-nascidos, não crianças
magricelas de sete anos que não falam muito. Então, fui
colocada em várias casas, mas por uma razão ou outra,
ninguém foi capaz de me adotar. Tive muita sorte – consegui
passar pelo sistema sem ser fisicamente ou emocionalmente
prejudicada. Esse não é o caso de muitas crianças. Então, no
final das contas, um dia eu gostaria de poder ajudar aqueles
que são menos afortunados do que eu.
Sig acenou com a cabeça. — Isso é louvável.
— Isso é um elogio da sua bunda sarcástica? — Eu
perguntei.
Leo bufou.
Mudei meu foco para ele. — O que é que você faz,
Sigmund?
— Além de ficar na sombra do meu primo muito mais
bonito e bem sucedido, você quer dizer… — ele se levantou
de repente. — Ao que parece, eu poderia ter combinado com
uma linda menina persa que está a três mil quilômetros de
distância. Preciso me aprontar. — Ele ergueu sua xícara de chá
em minha direção. — Foi bom conversar com você, Freckles.
Digo, Felicity. — Ele piscou.
— Boa viagem, — Leo murmurou quando ele saiu.
— Essa foi uma forma meio aleatória de partir.
— Esse é o comportamento típico de Sigmund. Ele está
numa encruzilhada neste momento, sem saber o que quer fazer
da vida dele. Acho que sua pergunta o assustou. Sem
mencionar que este é o maior tempo que o vi sentado em um
só lugar desde que chegamos. Sempre teve bicho carpinteiro
nas calças. Ele nunca fica satisfeito apenas em estar sozinho,
ou relaxar e curtir a vida. Está sempre indo em busca da
próxima novidade, da próxima mulher, da próxima aventura.
— Faz sentido porque não foi ele que quis vir para
Narragansett, então.
— O negócio era que, se passássemos a primeira metade
da nossa viagem em cidades metropolitanas, ele teria que ir
aonde eu escolhesse na última metade. E até agora? Isso foi
exatamente o que o médico receitou.
— No entanto, mesmo aqui, ele ainda está tentando
encontrar maneiras de entrar em ação.
— Precisamente. — Leo inclinou a cabeça para trás,
rindo. — E eu amo que você não mede as palavras.
— Sou curta e direta, uma vez que me sinto confortável
perto de alguém. A vida é muito curta para não ser.

— Não posso dizer que é uma lufada de ar fresco falar


com alguém que não está tentando ser algo que não é. Eu te
invejo de muitas maneiras.
— Inveja? Como assim?
— Em casa – a vida em que nasci – espera-se que você
aja de uma certa maneira, que se comporte de uma forma
muito mecânica, por falta de uma palavra melhor. Nunca me
senti bem em ser eu mesmo, não só porque estou
constantemente sendo observado e julgado, mas porque
ninguém me aceitará a menos que eu corresponda às suas
expectativas. Por mais difícil que eu saiba que sua educação
tenha sido, aparentemente permitiu que se tornasse você
mesma, uma mulher forte que diz o que quer, e faz suas
próprias escolhas. Uma família que a estimula, pode ser uma
coisa maravilhosa. Mas a família também pode ser um fardo…
sufocante.
Eu arqueei uma sobrancelha. — Você não espera que eu
sinta pena de você…
Ele balançou sua cabeça. — Deus, não. Me desculpe se
eu fui por esse caminho…
— Sem problemas. Estou apenas provocando. Não
consigo entender suas lutas, assim como você não entenderia
as minhas. Claramente viemos de dois mundos diferentes.
Leo continuou a olhar através de mim enquanto meu
coração disparava. Desviei o olhar.
Então eu olhei para o meu relógio. — Bem, na verdade é
mais tarde do que eu pensava. É melhor eu voltar. — Eu me
levantei da minha cadeira. — Muito obrigada pelo chá e pelo
chá-quila.
Leo se levantou, sua cadeira derrapando no chão. —
Tem certeza que tem que sair?
— Sim, é realmente melhor.
Ele piscou, parecendo surpreso. Também não podia dizer
que entendia isso completamente.
— Vou acompanhá-la até o seu carro.
— Obrigada.

Meus sapatos clicaram contra o chão de mármore do


foyer enquanto Leo liderava o caminho de volta para a frente
da casa.
Ficamos frente a frente enquanto uma brisa leve soprava
meus longos e grossos cabelos ruivos ao redor. Não era liso
nem encaracolado em seu estado natural, apenas uma cabeleira
suave ondulada. Um fio voou em minha boca, e eu soprei um
pouco de ar para tirá-lo do meu rosto.
Estava prestes a me despedir quando Leo me
surpreendeu com uma pergunta.
— Por que você não gosta das suas sardas? — Seus
olhos caíram para minhas bochechas.
Dei de ombros. — Eu não sei. Quando eu era mais
jovem, as pessoas zombavam de mim por causa delas, e acho
que isso me fez odiá-las.
Leo olhou para o meu pescoço. — Eu as amo,
especialmente a forma como seguem pelo seu pescoço. Elas
lhe dão caráter.
— Poucas lhe dão caráter, — eu olho para os meus pés.
— Sou coberta delas.

— Sim, eu sei. É lindo. — Ele fez uma pausa. — Você é


linda.

Olhei para cima e encontrei seus olhos.


Enquanto eu não me sentia bonita vindo aqui com minha
roupa de Mary Poppins, o homem na minha frente, a maneira
como ele me olhava, me fez sentir bonita, por alguma razão. E
isso me fez sentir… como se estivesse fugindo.
Levantei minha mão. — Bem, vejo você pela cidade, eu
acho.

Quando comecei a andar em direção ao meu carro, Leo


me chamou. — Felicity, espere.

Eu me virei. — Sim?
Ele enfiou as mãos nos bolsos. — Você me deixa levá-la
para sair um dia destes?
Minha boca se abriu, mas tudo que consegui pensar foi:
— Em um encontro?
— Claro. — Ele riu. — O que mais?
Ele parecia tão bonito enquanto esperava pela minha
resposta, o sol refletindo em seus olhos azuis. Uma parte de
mim queria dizer sim. Mas eu sabia que me aproximar desse
cara seria uma má ideia.
Então forcei as palavras a saírem. — Muito obrigada
pela oferta, mas acho que não.
Ele franziu a testa. — Posso perguntar por quê?
Apesar da minha sinceridade sobre certas coisas hoje,
não quis admitir a razão pela qual eu havia recusado: ele me
aterrorizava. Por alguma razão, eu sabia que dizer sim levaria
a um inevitável desgosto no final do verão. Eu precisava me
proteger.
— Só… não estou interessada, — finalmente digo.
Droga, isso era uma mentira.
Ele balançou a cabeça lentamente. — Ok. É justo.
— Muito obrigada novamente pelo chá, — eu disse
antes de fugir para o meu carro a fim de não ter que enfrentar a
tensão persistente. Exceto na minha pressa, eu acidentalmente
coloquei o carro em marcha ré. Pisando no freio rápido, acenei
sem jeito e ri. Quando o sorriso de Leo não alcançou seus
olhos, isso meio que rasgou meu coração.
Saí da garagem e desci a estrada. Nem um minuto depois
do meu percurso, eu já estava em dúvidas de ter rejeitado sua
oferta de me levar para sair. Obviamente viemos de dois
mundos diferentes, e namorar com ele seria inútil desde que
ele estava partindo, mas eu me sentia profundamente atraída
por ele – não apenas por sua aparência, mas por sua
personalidade pragmática.

Sem me dar conta, há muito que tinha passado a rua que


levava à minha casa quando finalmente olhei em volta. Dei por
mim dirigindo por cima de uma ponte, insegura para onde eu
estava indo. Mais ou menos a história da minha vida.
CAPÍTULO 3

Leo
Faixa 3: “Hot Lanigan Hot”, Buster
Poindexter
Sigmund saiu do chuveiro vestindo apenas uma toalha.
Ele olhou ao redor. — Onde está a ruiva?
— Ela foi embora, — eu murmurei.
— É por isso que você está com uma cara tão feia?

— Ficará feliz em saber que finalmente sei como você se


sente.

— Por que isso?


— Fui rejeitado.
Seus olhos se arregalaram. — O quê?

— Sim.
— Essa é literalmente a primeira vez na sua vida que
uma mulher rejeita você, não é? — Ele me deu um tapinha
forte no ombro, gostando um pouco demais disso. — Bem,
bem-vindo ao clube, companheiro. Nós servimos bolas azuis e
cerveja estragada em nosso fim de mundo.
— Brilhante.
Embora estivesse fazendo o meu melhor para levar isso
na esportiva, Felicity me rejeitar doeu um pouco. E não se
tratava de ser rejeitado. Fiquei genuinamente desapontado por
não passar mais tempo com ela. Não conseguia me lembrar da
última vez que ansiei por saber mais sobre uma garota,
desejando contar cada porra de sarda em seu corpo.
Sigmund me tirou dos meus pensamentos. — Tive a
sensação de que por alguma razão bizarra você gostou dela e
poderia ir para a matança, mas nunca imaginei que ela
rejeitaria você.
— Bem, talvez tenha sido uma decisão inteligente da
parte dela.
— Eu não poderia concordar mais, — disse ele. — Qual
é o sentido de brincar com alguém assim?
— O que isso deveria significar? — Eu agarrei. —
Alguém assim como?
— Bem, você sabe que depois de conversar com ela,
percebi que não é do tipo que só quer foder. Ela é muito séria
para isso. Então, qual é o objetivo de conhecê-la, ou sair com
ela? Nunca iria a lugar algum.
— Você não pode escolher exatamente quem você gosta,
Sigmund, mesmo que essa pessoa não se encaixe
perfeitamente na minha vida reprimida.
— Ela é o oposto de tudo o que se encaixa, na verdade.

— É exatamente por isso que eu gosto dela.

— E provavelmente seu pau está ainda mais duro por


ela, agora que rejeitou você.
Não podia negar que a rejeição me fez desejá-la mais.
Uma perseguição é sempre excitante. No entanto, Felicity
Dunleavy não se importava em ser perseguida por mim. Ao
invés de inventar uma desculpa, ela me disse muito
diretamente que não estava interessada.
— De qualquer forma… — ele riu. — Agora seus filhos
não vão acabar parecendo pertencer a Ed Sheeran. — Ele deu
uma risadinha. — Podemos encontrar uma substituta para você
esta noite, se quiser sair comigo.

Frustrado, passei a mão pelo cabelo. — Não estou


interessado nisso agora.
— Cara, ela não é nem um dez. Com o que você está
preocupado?

— Você está falando sério?

— Ela é comum. Ok, bem, ela se encaixa à sua maneira,


eu suponho.
— Ela é naturalmente linda. Não como as mulheres
plastificadas lá em casa.
— Ficarei mais do que feliz em aliviar algumas dessas
garotas quando voltarmos, já que você parece não as apreciar.
— Ele suspirou. — Sério, primo, acho que você deveria
esquecer a palavra com F e vir comigo e Shiva esta noite.
— Shiva?

— A garota persa que conheci no aplicativo.


— Oh, sim.

— Talvez ela tenha uma amiga.

De jeito nenhum eu estava com humor para isso. —


Estou me sentindo meio exausto. Acho que vou ficar em casa.
— Provavelmente melhor para mim de qualquer
maneira, — disse ele. — Sem chance de você roubar meu
trovão.

Depois que Sigmund pegou o carro para ir até


Providence, decidi fazer um telefonema atrasado para minha
mãe. Eu a estava evitando porque ela insistia em uma data
exata para o meu retorno. Ainda não tínhamos comprado
nossas passagens para casa.

Depois de três toques, minha mãe atendeu. — Bem, olá,


querido. Achei que nunca mais ouviria falar de você. Está
tarde aqui. Está tudo bem?

Eu deitei no sofá. — Tudo está bem, mãe. Desculpe,


esqueci a hora. As coisas estão um pouco agitadas.

— Muito tempo deitado na praia, perdendo um tempo


precioso?

— Isso está longe de ser um desperdício. Minha mente


está dez vezes mais clara do que quando saí.
— Bem, seu pai é certamente mais solidário a tudo isso
do que eu. Estou feliz que já esteja na metade e em setembro
eu terei meu filho de volta.
A ideia de voltar para casa fez meu estômago ficar um
pouco enjoado. — Como papai está se sentindo?

Meu pai vinha lutando contra o câncer há vários anos.


Ele sempre teve a certeza de que um desses dias sucumbiria a
ele. Antes da minha viagem, fez-me prometer que eu
continuaria com nosso sobrenome. Como eu era seu único
filho, se não me casasse e procriasse, o nome Covington
terminaria comigo. Desde então, ele manifestou seu desejo de
me ver casado com um filho antes de morrer. Sem pressão nem
nada.

— Papai tem estado muito bem ultimamente, — relatou


minha mãe.

— Estou feliz em ouvir isso.

— Quer falar com ele?

— Não se ele estiver descansando. Apenas diga a ele


que o amo.

— Ele está ansioso para ter você de volta também. Acho


que não ter este tempo para treiná-lo nos meandros do negócio
é estressante para ele.

— Não foi isso que ele me expressou da última vez que


falamos. Acho que é estressante para você.
— Bem, eu tenho uma série de perspectivas nas quais
tenho estado de olho, e certamente não posso garantir que elas
serão capazes de esperar para sempre.
Perspectivas. O termo de minha mãe para as mulheres
qualificadas para casar comigo com base em seus prestigiosos
antepassados.
Havia duas exigências impostas a um membro da classe
superior privilegiada: Não fazer nada para envergonhar sua
família e casar dentro de sua linhagem. Embora eu nunca
tivesse concordado com nada formalmente, no fundo, eu sabia
que se eu não casasse com alguém que meus pais aprovassem,
eles fariam da vida dessa pessoa um pesadelo vivo. E eu não
queria isso para ninguém. Por isso, sempre esperei me
apaixonar milagrosamente por alguém que, por acaso, fosse
aceitável aos seus olhos. Já era difícil me conectar com
alguém, mas o fato do terreno ser reduzido a apenas um
punhado de pessoas consideradas adequadas tornava quase
impossível encontrar a verdadeira química.

— Bem, mãe, não vou voltar antes do final do verão,


então perder oportunidades com as mulheres chatas que você
escolheu para mim é um risco que terei de correr.

— Chatas? Dificilmente.
— Já funcionou quando você escolheu alguém para mim
antes?

Ela fez uma pausa. — Estou tentando ajudar.

— Exatamente. Olha… eu aprecio seus esforços, mas…


— Tanto faz, certifique-se de que as travessuras que
você está aprontando não o levem a problemas irreversíveis.
Não mergulhe sua caneta na tinta errada, se entende o que
quero dizer.

— Faz algum tempo que não molho a caneta, então não


se preocupe e, quando o fizer, tomarei cuidado.
— É melhor você tomar, — ela avisou.

Ao contrário do meu primo, eu só dormi com uma


mulher nesta viagem. Foi alguém que conheci em um bar
quando estávamos em Los Angeles e, embora houvesse
atração física, não houve nada de especial nisso. Quando eu
era mais jovem, estava perfeitamente bem com encontros sem
sentido. Mas aos vinte e oito anos, descobri que precisava ser
estimulado intelectualmente, bem como sexualmente excitado.
Essa combinação era difícil de encontrar.
— Vou deixar você ir, mamãe.
— Bem, esta foi uma conversa rápida. Mas suponho que
devo me considerar sortuda por você ter ligado para começar.
— Dê um abraço no papai por mim.

— Beije aquele meu sobrinho também. O que Sigmund


está fazendo hoje à noite?
— Você provavelmente não quer saber.

— Provavelmente, não.
— Tchau, mãe.
— Adeus meu amor.

♥Ω♥

À medida que a noite avançava, não consegui me livrar


do que havia acontecido. Era raro alguém me cativar como
Felicity. E sua rejeição foi um golpe para o meu ego.

Apaguei as luzes da sala de estar enquanto me sentava


no sofá e olhava para a lua sobre a baía. Peguei meu laptop da
mesa de centro e digitei:

Felicity Dunleavy – Harvard


Um link para um vídeo apareceu como o primeiro
resultado da minha busca. Ele se intitulava Harvard Polar
Plunge: Nutsack.
Bem, isso certamente despertou minha atenção.

Era uma espécie de evento de caridade em que as


pessoas tiravam as roupas no meio do inverno e pulavam na
água gelada.
Curioso para saber o que havia acontecido, apertei o
play. Vários homens e mulheres emergiram de um oceano
agitado. Só demorou alguns segundos antes de vê-la. Felicity
vestia um maiô vermelho de uma peça e esfregou as mãos nos
braços sardentos enquanto tremia. Seus longos cabelos
estavam molhados e grudados em seu corpo.
Uma voz atrás de um microfone perguntou: — Como
você se sente?

Os dentes de Felicity bateram. — Como você acha que


eu me sinto? Estou congelando minhas bolas! — Então seus
olhos se arregalaram de pânico. — Espere, estou ao vivo na
TV?
A câmera imediatamente reduziu para duas
personalidades da televisão em uma mesa de notícias que
estavam tentando se recompor. Um deles bufou antes de
endireitar os papéis e agradecer ao repórter pela história.
E então o vídeo acabou.

Eu li a descrição sob o título.


A estudante de Harvard Felicity Dunleavy proclamou:
“Estou congelando minhas bolas” em uma estação de TV
local de Boston depois do Harvard Polar Plunge: Nutsack. em
um evento de caridade. O vídeo original se tornou viral com
quase dez milhões de acessos.

Esta versão específica do clipe teve setenta e cinco mil


visualizações.
Passei os próximos minutos assistindo novamente, e
cada vez era mais engraçado do que a anterior. Minha parte
favorita foi a expressão de choque em seu rosto adorável
quando percebeu que acabara de dizer maluquice na televisão
ao vivo.

Foi uma pena que ela não quis ter nada a ver comigo,
porque este vídeo me deu vontade de sair com ela novamente.
Balancei a cabeça, forçando-me a fechar o laptop. Acabei
cochilando, contando sardas na minha cabeça em vez de
ovelhas.

♥Ω♥

Uma semana depois, de alguma forma, deixei meu primo


me convencer a ir a um encontro duplo em um bistrô local.
Nenhuma parcela de mim queria sair com alguém que eu
nunca havia conhecido antes, mas eu tinha sido um pouco
recluso desde que cheguei em Narragansett e achei que me
faria bem pelo menos sair de casa.
Quando chegamos ao Jane’s by the Water, o encontro de
Sigmund, Shiva, e sua amiga loira, Melanie, já estavam
esperando em uma mesa no canto. Não havia nada de errado
com a pessoa que tinha sido designada para mim esta noite,
mas ela se parecia com qualquer outra garota. Nada se
destacava, nada me fazia não querer dar a volta e voltar para
casa.
— É tão bom conhecê-lo, Leo. — Melanie sorriu ao se
levantar da cadeira.
— Da mesma forma. — Peguei sua mão e a beijei
levemente em ambas as bochechas antes de me sentar.
— Sig me falou muito sobre você, — disse Shiva. —
Que bom que finalmente conseguimos fazer você sair.

— Eu só posso imaginar o que ele disse.


Sigmund deu um tapinha no meu ombro. — Todas as
coisas boas, é claro. E eu concordo, é gentil da sua parte nos
agraciar com sua presença. Só se pode hibernar por um certo
tempo.
— Este lugar tem uma comida realmente boa, — disse
Melanie, com os olhos arregalados de empolgação.
— Fico feliz em saber. — Coloquei o guardanapo de
pano no meu colo. — Embora Sigmund aqui seja um ótimo
cozinheiro, será uma boa oportunidade para provar algumas
das iguarias locais.
A conversa nos minutos seguintes foi, na melhor das
hipóteses, obsoleta. Um ajudante de garçom trouxe um pouco
de água e garantiu que nossa garçonete estaria conosco em
breve.

Então, pelo canto do olho, eu a vi. E de repente minha


noite se tornou muito mais interessante.
Felicity. O que diabos ela está fazendo aqui?

Ela vestia uma camisa branca de gola e um jaleco preto.


Ela trabalha aqui? Narragansett era claramente um mundo
pequeno.

Felicity parecia tensa, sussurrando para si mesma como


se estivesse memorizando algo. Então começou a andar em
nossa direção.
Quando seus olhos encontraram os meus, ela parecia ter
visto um fantasma. — O que você está fazendo aqui?

— Jantar fora? — Eu sorri.


— Oh, é claro. — Ela balançou a cabeça. — Essa foi
uma pergunta idiota.

— Suponho que devo perguntar o que você está fazendo


aqui…, mas parece que conseguiu o emprego que estava
procurando?

— Sim. — Ela lambeu os lábios. — É minha primeira


noite, na verdade.

— Bem, sorte de ter pegado você, então.


Virando um pedaço de papel em seu bloco, ela disse: —
Ainda estou aprendendo o básico, então tenha paciência
comigo.
— Não tenha pressa, — eu disse, meus olhos se
perdendo nos dela por um momento.

Meu primo se encarregou de apresentar Felicity para a


mesa.
— Felicity, esta é Shiva. — Ele apontou para o meu par,
sentada à minha frente. — E essa é Melanie.
Ela acenou com a cabeça para as duas mulheres. —
Prazer em conhecê-las.

— Felicity é nossa vizinha do outro lado da baía, —


disse Sigmund.
— Você cresceu em Narragansett? — Shiva perguntou.

— Sim, — respondeu Felicity.


— Somos de Warwick.

— Ah. — Felicity colocou uma mecha de cabelo atrás


da orelha. — Eles têm um ótimo… shopping lá. — Ela tirou
uma caneta do bolso, mas escorregou de suas mãos. Abaixou-
se para pegá-la e disse: — De qualquer forma, vocês já
decidiram o que gostariam de pedir? — Ela fechou os olhos
como se tivesse cometido um erro. — Na verdade, posso
começar com algo para beber? — Sussurrou: — Esqueci que
deveria perguntar isso primeiro.
— Suponho que você nunca tenha trabalhado como
garçonete antes, — Sigmund rachou.

— Como você sabe?


— Palpite ousado. — Ele sorriu.

Ela anotou nossos pedidos de bebida e voltou cerca de


dez minutos depois.
— Está pronto para fazer o pedido? — ela perguntou.

Todos acenaram com a cabeça, menos eu.


Querendo prolongar sua presença à mesa, perguntei: —
O que você recomenda comer aqui?

Ela suspirou, como se minha pergunta lhe causasse


estresse. — É minha primeira noite, então eu realmente não
tenho o conhecimento para fazer uma recomendação ainda.
Mas eu ouvi alguém dizer que os tacos são bons.
Enquanto ela contornava a mesa, anotando os pedidos de
nossos encontros primeiro, não pude deixar de notar como ela
parecia ansiosa, batendo com a caneta e balançando a perna.
Eu não conseguia descobrir se isso tinha a ver com esta ser sua
primeira noite, ou se me ver a deixava inquieta.

Mas eu sabia que meu “encontro” não segurava uma


vela à ruiva ardente em toda sua glória de sardas diante de
mim. Vê-la hoje à noite certamente não ia ajudar meus
esforços para esquecê-la.

A voz de Felicity me assustou. — E você?


— Hmm?
— O que você gostaria?
Você, eu queria dizer. Eu quero você pra caralho. Horas
com você. Para te conhecer, e contar suas sardas. Mas tenho
certeza de que isso não iria funcionar muito bem.
— Vou com os tacos, já que ouviu coisas boas. Prefiro
não arriscar, embora às vezes valha a pena arriscar – só não
com comida.
Seus olhos pousaram nos meus e ficaram lá por alguns
segundos. Minha mensagem enigmática talvez tenha chegado
até ela.
Quando ela deixou a mesa para atender nossos pedidos,
imediatamente eu ansiava por seu retorno, fingindo estar um
pouco interessado no que Melanie tinha a dizer sobre seu
trabalho como professora. Meus olhos continuaram vagando
pela sala, esperando qualquer vislumbre de Felicity à medida
que entrava e saía da cozinha.
Finalmente, ela se aproximou de nós, carregando uma
gigantesca bandeja circular que presumi conter nossa comida.
Assim que chegou, suas mãos pareciam um pouco
trêmulas; estava definitivamente no limite enquanto colocava
os pratos quentes na frente de cada um de nós.
Quando chegou ao meu, porém, de alguma forma os
tacos escorregaram do prato – e foram direto para o meu colo.
Olhei para baixo para encontrar uma bagunça quente de molho
vermelho saturando minha virilha. E então veio a queimadura.
Quente.

Quente.
Quente.
Sigmund caiu na gargalhada histérica. — Não é
exatamente a virilha de fogo que você desejou dela, não é? —
ele sussurrou.
CAPÍTULO 4

Felicity
Faixa 4: “Rock the Boat”, Aaliyah
Meu coração disparou. — Oh, meu Deus. Eu sinto
muito.
Instintivamente, peguei um guardanapo de pano e
comecei a limpar seu colo. Quando me dei conta de como isso
era inapropriado, afastei minha mão.

— Felicity, está realmente tudo bem.


Antes que Leo pudesse dizer mais alguma coisa, corri
para a cozinha e peguei uma toalha. Levando para a pia,
molhei e coloquei um pouco de sabão em pó.

— Gino, vou precisar de outro pedido de tacos. O último


acidentalmente caiu… em alguém. Eu sinto muito.

O chef não parecia muito feliz, mas que escolha eu tinha


a não ser pedir a ele?
Levei o pano úmido de volta para a mesa de Leo e
entreguei para ele. — Mais uma vez, sinto muito.
— Não precisa se desculpar. Foi engraçado, na verdade,
— ele disse, colocando a mão suavemente no meu pulso.
O contato enviou uma explosão inesperada de excitação
por mim. — Não foi engraçado para mim. — Eu puxei meu
pulso. — Fiz outro pedido. E é por minha conta. Por minha
conta, quero dizer que vou cobrir o custo.
— Não seja ridícula.
Eu fui embora novamente antes que ele pudesse dizer
mais alguma coisa.
Quando voltei para a cozinha, demorei alguns minutos
para me recompor antes de Gino anunciar que os tacos
substitutos estavam prontos. Suando, tirei o prato do balcão e
voltei para a sala de jantar.
Colocando o prato com cuidado na frente de Leo, me
recusei a fazer contato visual com ele, em vez disso, olhei para
um Sig sorridente.
O restante da noite, fiz o meu melhor para evitar a mesa
da desgraça. Suponho que isso me tornasse uma péssima
garçonete, mas não podia arriscar fazer papel de idiota ainda
maior. Às vezes, quando eu olhava para eles, notava os olhos
de Leo em mim. Ele deve ter sentido pena da minha bunda
patética esta noite. Sim, este era meu primeiro turno, mas eu
estava nervosa principalmente porque não conseguia parar de
pensar nele desde que me chamou para sair naquele dia em sua
casa. E agora, vê-lo em um encontro com uma garota linda era
chocante. Mas é assim que funciona, certo? Você dorme, você
perde.

♥Ω♥

Na manhã seguinte, no café da manhã, a Sra. Angelini


pareceu sentir que algo estava me incomodando.

— Está tudo bem, Felicity?


Coloco minha caneca de café na mesa. — Por que você
pergunta?
— Você não disse uma palavra durante toda a manhã.
Como foi sua primeira noite no restaurante?
— Oh. — Balancei minha cabeça. — Foi estranho.

— Por que?
— Você conhece os vizinhos do outro lado da baía? Eles
jantaram no Jane’s ontem à noite.
— Os garotos bonitos da Grã-Bretanha? O que há de
errado nisso?

— Bem, para começar, deixei cair um prato quente de


tacos na virilha de Leo.

A boca dela caiu. — Você o que?


— Sim. Foi um acidente, mas mesmo assim foi terrível.
Eu pedi uma substituição para ele e deixei os tacos fora da
conta, mas depois que eles foram embora, havia um monte de
dinheiro na mesa. Eles me deixaram uma grande gorjeta.
— Isso não parece tão ruim assim.

— Não é. Mas…
A sobrancelha da Sra. Angelini franziu. — Aconteceu
alguma coisa quando você foi lá tomar chá outro dia? No fim,
você não me contou. Sinto que estou perdendo parte da
história.

Eu exalei. — Eles estavam em um encontro duplo ontem


à noite com duas garotas lindas. Fiquei desconcertada,
principalmente porque Leo me convidou para sair naquele dia
na casa deles.
Ela franziu o cenho. — Então, você concordou em sair
com ele, e agora ele está namorando outra pessoa? Que
descarado!

— Não, não. Não é isso. Eu disse a ele que não estava


interessada.
Seus olhos se estreitaram. — Você fez?

— Eu o considero extremamente atraente e carismático.


Mas não acho uma boa ideia me envolver com alguém que só
fica deste lado do Atlântico por alguns meses. Isso seria uma
receita para o desastre.

— Mas ele não quer se envolver. Ele só quer se divertir.

Sua resposta me chocou um pouco. Também me fez


duvidar novamente se eu tinha tomado a decisão certa.

— Isso não é minha praia.

— Diversão não é sua praia? — Ela deu uma risadinha.

— Eu gosto de… diversão. Só não com homens


charmosos que estão deixando o país.

— Isso é justo. Você está tentando se proteger. Eu


entendo. — Ela se levantou para se servir de outra xícara de
café e olhou para mim. — Sabe, um dos maiores
arrependimentos que tenho da minha juventude é que sempre
fui muito certinha. Henry foi a melhor coisa que já aconteceu
comigo, mas eu sempre desejei ter me divertido um pouco
mais antes de me casar.

— Acha que eu deveria ter dito sim a ele, mesmo que


não possa dar a lugar nenhum?
Ela mexeu sua xícara. — Entendo seu ponto em dizer
não a ele, e eu certamente não quero que você se machuque.
Mas também reconheço que você leva a vida muito a sério –
muito a sério para alguém da sua idade. — Ela bateu na colher.
— Já se escondeu por trás de seus trabalhos escolares e outras
coisas obrigatórias desde que te conheço. Mas só se é jovem
uma vez. Este é o tempo em sua vida para fazer lembranças
que pode olhar para trás quando estiver velha como eu. —
Voltando ao seu lugar, ela disse: — Você tem muitos anos para
se preocupar com monogamia e estabilidade.

— Você não está me fazendo sentir melhor.


— Eu não quis fazer você se sentir mal sobre sua
decisão. Eu só quero ver você se divertir. Isso é tudo. Você
merece, Felicity. Se esforçou tanto. E está prestes a embarcar
na faculdade de direito, onde tenho certeza que se enterrará
nos livros por mais alguns anos. Antes que você perceba, seus
vinte anos terão passado diante de seus olhos. Então, seria
melhor aproveitar este verão para se soltar um pouco.

Minha cabeça parecia estar girando. — Agradeço o


conselho.

Depois do café da manhã, continuei pensando em tudo o


que ela tinha dito enquanto me retirava para meu quarto para
organizar minha agenda de junho. Eu era uma nerd
planejadora, reunindo vários cadernos e adesivos para
organizar meu tempo. Quando olhei para algumas das
anotações deste mês, percebi que não havia uma única coisa
“divertida”. Cada item listado era algo obrigatório que eu
precisava fazer antes de partir no fim do verão: consultas
médicas, coisas para a faculdade que eu precisava comprar.
Isso só apoiava o argumento da Sra. Angelini.

Fechei a agenda e a enfiei na gaveta, decidindo sair para


pegar um pouco de sol. Eu tinha pele clara e precisava de
muita proteção, mas fazia questão de pegar pelo menos quinze
minutos de sol por dia para a vitamina D.

Pegando uma lata de água com gás da geladeira, fui para


os fundos e me sentei em uma das cadeiras Adirondack.
Depois de alguns minutos, notei algo se movendo na minha
direção ao longe. Era um barco, e a cada segundo, ele se
aproximava mais do meu lado da baía. Andei até a borda da
água.
O barco estava agora perto o suficiente para que eu
pudesse ver o piloto. Ele acenou. Oh, meu Deus. Meu coração
acelerou. Era Leo dirigindo este barco em minha direção.
— O que você está fazendo? — perguntei quando ele
atracou.

— O que parece que estou fazendo? — Ele riu.

— Você comprou essa coisa?


— É alugado para o verão.

— É muito bonito.

— Bem, estou feliz que você pense assim, porque eu


esperava que quisesse dar uma volta comigo, me mostrar
aquele lugar onde você consegue aqueles mariscos… como
eles se chamam mesmo?

— Quahogs.
— Isso mesmo. — Ele coçou o queixo. — Convenci
Sigmund de que deveríamos ter algo como um cozido de
mariscos hoje à noite. Eu ia comprar algumas lagostas no
supermercado, mas achei que mariscos frescos seriam uma boa
opção. O que você diz?
Eu esfreguei meu queixo.
Ele pareceu sentir minha hesitação. — Não tenho um
motivo oculto aqui, Felicity, caso isso esteja preocupando
você. Deixou bem claro que não estava interessada. Estou
apenas procurando explorar Narragansett um pouco. Acho que
você seria uma companhia fantástica, mas eu entendo se
estiver ocupada.
Ele parecia tão adorável com aquele sorriso esperançoso
e o sol brilhando em seu lindo cabelo castanho claro que
parecia quase loiro escuro sob o sol. Minhas paredes
começaram a quebrar. Ele alugou um maldito barco – um caro
barco- para ir “explorar” comigo. Aí de jeito nenhum eu
poderia dizer não.
— Você sabe que não pode ir sem ancinhos e outras
coisas, certo?
— Esta é a parte em que mostro como sou um idiota,
apesar de minha tentativa de parecer náutico. Nunca dirigi um
barco antes disso. Consegui um certificado temporário para
operá-lo. Eu também nunca pesquei nada além de informação
em minha vida. Você vai ter que me ajudar.
Apontei para trás de mim. — Bem, acontece que eu
tenho ancinhos e pás na garagem.
— Pás? Estamos enterrando um cadáver também? — Ele
piscou.
— Não. Mas você está prestes a aprender como cavar
mariscos com uma especialista. Às vezes uso meus pés, mas
acho que devo ensiná-lo com o equipamento.
— É o meu dia de sorte. — Leo sorriu.

— Eu volto já.
Calafrios percorreram minha espinha quando entrei em
casa a caminho da garagem do lado oposto.

Sra. Angelini me deteve na cozinha. — Aquele é o


britânico no barco?

— Sim. Ele quer ir pescar.


Ela sorriu com conhecimento de causa. — Claro, que ele
quer.

Dei de ombros. — É só pescar.


— É claro.
Meu rosto ficou quente enquanto eu continuava
andando. — Vou pegar os ancinhos e as pás.
Ela gritou. — Divirta-se, querida.
Depois que eu trouxe o equipamento, Leo me ajudou a
embarcar antes de dar partida no barco e começar a pilotar. Eu
esperava que ele fosse muito mais rápido.
— Há alguma razão para você ir tão devagar? — Eu
perguntei.
— Achei que a navegação era para ser um pouco…
vagarosa.
— Não. — Balancei minha cabeça. — Temos trabalho a
fazer. Deixe-me ir ao volante.

Parecendo divertido, Leo sorriu ao se afastar.


Eu movi o acelerador e decolamos em alta velocidade,
nossos cabelos voando ao vento enquanto névoas de água
espirravam nós.

Ele gritou acima do som do motor. — Aparentemente, só


estou equipado para operar barcos a remo.

— Está tudo bem, novato, — gritei.


Seus dentes brilharam à luz do sol enquanto ele sorria
largamente. Era quase dolorosamente bonito.

Fazia muito tempo que eu não dirigia sobre a água.


Navegar era um passatempo popular aqui, mas nem a Sra.
Angelini nem eu tinhamos um barco. Assim, as únicas vezes
que eu dirigi na água era quando um amigo me convidava ou
quando o irmão da Sra. Angelini vinha de Newport para nos
visitar. Ele às vezes me deixava dirigi-lo. Os ancinhos e outras
ferramentas eram tecnicamente dele.

Quando chegamos à parte da baía onde eu normalmente


escavava os mariscos, Leo e eu atracamos o barco e saímos.

— Você vai precisar arregaçar as calças, — eu disse.


— Mas acabamos de nos conhecer, — ele brincou.
Isso me fez pensar como era estranho que eu já o tivesse
visto nu. Aquilo parecia errado. Mas talvez seja por isso que
eu nunca parei de corar ao redor dele. A memória de seu
glorioso físico nunca se afastava muito da minha mente. E
neste momento, em seu jeans escuro, sua bunda parecia tão
boa quanto no dia em que eu o vi pelado. A camiseta de Leo
estava encharcada com o spray de água que nos atingia
continuamente no passeio até aqui. O tecido branco e molhado
se agarrou a ele, permitindo-me um contorno claro do peito
esculpido embaixo.

Começamos a cavar na água, procurando por quahogs


com os ancinhos maiores.
— O que é essa coisa? — ele perguntou, olhando para a
ferramenta de plástico verde que eu segurava. Ela tinha um
buraco no centro.
— Isso é o que usamos para medir o tamanho.

— Interessante. — Ele sorriu.


Parecia um mini buraco de glória. Mas eu não ia apontar
isso.

— Temos que segurar nossos quahogs e, se um deles


escapar, é muito pequeno para pegá-lo. Na verdade, é ilegal
pegá-los.

— Realmente. Bem, você aprende algo novo todos os


dias. Eu teria agarrado todos, — disse ele.
— Não. Isso seria como sequestrar bebês. E há uma
multa pesada se alguém pegar.
Não estávamos tendo muita sorte na água, então nos
mudamos para a areia.

— Você não precisa cavar muito fundo, — eu disse. —


De 13 a 20 centímetros… não encontraremos nada além disso.
E só movemos levemente a areia, senão você pode matar o
molusco se quebrar a casca.
— E eles disseram que isso era divertido e sem estresse.

— Você vai pegar o jeito. Apenas me observe.


— Entendi, — disse, embora continuasse fazendo sem
ter noção do que eu lhe havia dito para não fazer.

— Estes aqui são muito pequenos, — eu disse. —


Vamos mudar para um lugar diferente. Mas primeiro temos
que colocar a areia de volta para ajudá-los a sobreviver.

Depois de nos mudarmos para um local diferente,


finalmente tivemos um pouco de sorte.

— Acertamos no filão-mãe9 aqui! — Eu anunciei. — É


um buraco de mel.

Ele torceu o nariz. — Um… buraco de mel?


— Sim. Um ponto ideal. Um buraco de mel. É assim que
o irmão da Sra. Angelini, Paul, chama quando você encontra
um monte de mariscos todos reunidos. Tenho certeza que ele
inventou esse nome.
— Eu adorei. — Leo sorriu.

Cerca de uma hora em nossa aventura, Leo estava


finalmente pegando o jeito das coisas. Antes que eu
percebesse, tínhamos enchido um balde inteiro com mariscos.

Depois que nosso trabalho terminou, tiramos um tempo


para relaxar na areia.

Leo apoiou o braço no topo do balde. — Isso foi muito


trabalho, mas valeu a pena.
— Sim, eu gosto do fato de aliviar minha mente quando
me ocupo disso.
— O que está pensando? Alguma coisa te estressando?

Devo ser honesta? Eu ri. — Você.


Seus olhos se arregalaram. — Eu?
— Um pouco. Sim, — eu admiti. — Ontem à noite… foi
estranho.
— Ah. — Ele assentiu. — Vamos conversar sobre isso.
Eu não ia tocar no assunto, mas já que você o fez…

Dei de ombros. — Não sei o que dizer sobre isso. Acho


que estava nervosa porque não esperava vê-lo, e o fato de você
estar em um encontro foi estranho, por algum motivo.

— Foi estranho para mim também, — disse ele.


— Encontrar-me?

— Não. O encontro. Eu não tinha vontade de ir, mas


cedi à insistência do meu primo.
Eu pisquei. — Você não vai vê-la de novo, ou…?

Ele balançou sua cabeça. — Não estou interessado nela.


— Imagino que ela esteja desapontada, então.
— Eu não sei. E realmente não me importo. — Seus
olhos perfuraram os meus.
— Eu menti outro dia quando disse que não estava
interessada em sair com você, — admiti depois de um
momento. — Minha rejeição não teve nada a ver com falta de
interesse. Só tenho o péssimo hábito de evitar coisas que
trazem riscos. Não quero gostar de você e depois ter que lidar
com a sua partida e tudo mais. Então eu disse não, apesar de
querer dizer sim.
Leo sorriu. — Obrigado por sua honestidade. Eu entendo
completamente. — Ele jogou uma pedra na água. — E agora
vou ser honesto com você e admitir que meu aluguel deste
barco não teve nada a ver com querer mariscos para o jantar.
— Ele se virou para mim. — Nem sei que gosto tem. Eu só
queria uma desculpa para te ver novamente.
— Bem, isso foi muito trabalho para alguém que nem
queria mariscos, — provoquei.
— Suponho. Mas sem esse disfarce, eu teria que admitir
logo de cara que não conseguia parar de pensar em você. E
não tinha certeza se você queria ouvir isso.
Esfregando meus pés descalços na areia, perguntei: —
Quem é você, Leo?
— O que você quer dizer?

— Quero dizer…Sig falou sobre o fato de que você ser


alguém importante. É apenas baseado no dinheiro, ou há algo
mais que não está me dizendo?
Pela primeira vez desde que o conheci, percebi uma
expressão de verdadeiro desconforto no rosto de Leo.
— Meu pai é um duque. O sexto duque de
Westfordshire, — finalmente disse. — É um título que ele
herdou de seu pai, o quinto duque. Como filho único, um dia
vou herdá-lo de meu pai também e me tornar o sétimo duque
de Westfordshire. Junto com esse título vem a propriedade e o
controle do vasto patrimônio da minha família.
Uau. Ok. — Você é da realeza?
— Não. Não sou da realeza. Somos mais como
proprietários de terras, ricos idiotas.
— Oh, meu Deus…
— Literalmente.
— Jesus, você está certo. — Eu cobri meu rosto. — Oh,
meu Senhor, literalmente.
— Lord Covington, sim. Mas, por favor, nunca me
chame assim. — Ele deu uma risadinha.
Eu bufei em meu cabelo. — Isto é definitivamente maior
do que eu imaginava.
— Não é algo que eu queria anunciar no segundo em
que nos conhecemos. Prefiro que as pessoas vejam quem eu
sou além de tudo isso. Mas isso não é possível na minha casa.
E sua reação chocada só prova como as pessoas me veem de
maneira diferente. Mimado e intitulado, talvez?
— Lamento que minha reação o tenha deixado
desconfortável. Eu não queria te dar a impressão que eu vejo
você de forma diferente. Juro que não.
— Só gostaria de esquecer isso por um tempo. Isso é
tudo. Não estou tentando esconder nada. Falar sobre isso tira o
objetivo dessa prorrogação. Mas você tem todo o direito de
perguntar quem eu sou.
De repente, me senti estranhamente ligada a ele. —
Posso me identificar com querer esquecer. É como… quando
digo às pessoas que estive sozinha a maior parte da minha
vida, e elas definitivamente me veem de forma diferente.
Existem tantas noções preconcebidas sobre crescer no sistema
de acolhimento familiar. Eles presumem que devo estar
perturbada ou instável de alguma forma porque não tive uma
base familiar sólida. Por causa dessas reações estranhas,
prefiro não contar às pessoas também. Mas você não pode
exatamente mentir quando as pessoas perguntam, não é
mesmo?
— Sim.

— Obrigada por sua honestidade, — eu disse. — Você


poderia ter mentido ou minimizado totalmente e eu nunca teria
sabido a diferença.
— Você pode me perguntar qualquer coisa, Felicity.
Sempre serei honesto.
Quando nossos olhos se encontraram, senti uma
necessidade de escapar. De pé, eu me afastei. — Bem,
provavelmente deveríamos voltar.
Ele também se levantou. — Você vem para o jantar?

Ele me observou cuidadosamente enquanto eu lutava


com minha resposta.
— Consigo ver as rodas girando em sua cabeça, — ele
disse. — Você não tem certeza se deve dizer sim.
Tecnicamente, não será um encontro, se isso te faz sentir
melhor. Meu primo idiota estará lá para arruinar qualquer
chance de privacidade. É apenas um jantar, porque,
francamente, não haveria mariscos sem você, e você deveria,
pelo menos, aproveitar os frutos do seu trabalho.
Quando ele colocava dessa forma, era difícil dizer não.

— Certo. Apenas um jantar. Eu posso viver com isso.


Ele ergueu o balde pesado. — Você vai dirigir
novamente, ou eu?
— Bem, se quisermos fazer isso para o jantar antes do
anoitecer, eu provavelmente deveria assumir o volante, vovô.
Leo fechou os olhos. — Ai.
Depois de passar a tarde com Leo, eu me senti muito
mais confortável ao redor dele do que antes. Ele tinha me
mostrado seu lado vulnerável hoje, e isso dificultava ter receio
dele. Sobretudo temia os meus próprios sentimentos. Mas no
final das contas, queria aproveitar esta noite e não a analisar.
Então foi essa a escolha que eu fiz.
Parei a embarcação do meu lado da baía e Leo saiu para
me ajudar a devolver as ferramentas à garagem.
De volta ao barco, ele disse: — Que tal jantar às oito?
— Tudo bem.

— Devo buscá-la no barco ou você dirige?


— Eu posso dirigir.
Ele piscou. — Até então, amor.
Fiquei de pé e observei enquanto ele ligava o barco e
fazia seu caminho de volta através da baía até sua casa.
Quando ele desapareceu na distância, um pouco de pânico se
instalou. Podia sentir meu coração batendo no peito. Queria
dizer a ele para se acalmar, para não ter esperanças sobre um
homem que não poderia ter. Mas eu sabia que tinha pouco
controle sobre o que o fazia bater daquela maneira.
Provavelmente batia com mais força quanto mais eu tentava
detê-lo.

Minhas pernas estavam bambas enquanto eu entrava em


casa, meu corpo ainda estava acostumado a estar no barco
agitado, aparentemente. Ou talvez essa atração insana por Leo
tenha causado a fraqueza em minhas pernas.
A Sra. Angelini desceu as escadas quando me ouviu
entrar.
— Bem, você com certeza esteve fora por tempo
suficiente.

— Sim. Nós temos uma tonelada de mariscos. Vou jantar


na casa deles hoje à noite.
— Ótimo. — Ela sorriu. — Estou feliz que você está
relaxando um pouco.
Eu não tinha ideia do que vestir. Bailey e eu íamos às
compras em breve, mas ainda não tínhamos tido a chance.
— Sra. Angelini?
Ela se virou. — Sim?
— Preciso de sua ajuda. Quero estar bonita para este
jantar, mas não tenho nada além de jeans e camisetas no meu
armário. Não quero usar a mesma saia comprida que usei
quando fui lá da última vez. Seu primo me chamou de Mary
Poppins…
— Ele o quê? — Ela riu.
— Sim. Mas eu meio que mereci. — Dei de ombros. —
De qualquer forma, quero usar algo bonito – não muito
elegante, mas não tão desalinhado quanto jeans e uma
camiseta.

— Eu deixaria você pegar algo meu emprestado, mas


sou corpulenta demais. — Ela olhou para o relógio. — Tenho
uma ideia melhor. Minha amiga Helena é dona da butique na
cidade. Fecha bem cedo. Não temos muito tempo, mas aposto
que ela o deixaria aberto um pouco mais tarde para nós.
Faremos o possível para obter algo que acentue sua beleza,
mas não exagere.
Nunca pedi muito a ela, mas quando pedia, a Sra.
Angelini sempre atendia. Tentei bloquear as emoções que
borbulhavam dentro de mim agora, porque a vinda dela em
meu resgate mais uma vez me lembrou exatamente algo que
uma mãe faria.
CAPÍTULO 5

Leo
Faixa 5: “The Lady in Red”, Chris de
Burgh
Carregando o balde pesado para dentro de casa, eu disse:
— Por favor, diga-me que você sabe cozinhar mariscos.

Sigmund estreitou os olhos. — O que, em nome de


Deus, você trouxe?
— Felicity e eu levamos meu barco para cavar isto.

— Seu barco?
— Sim. Dê uma olhada lá fora. Chegou enquanto você
não estava. Alugado, é claro.
— Você perdeu a cabeça?
— Pode ser. — Eu sorri. — Sim.

— Alguma vez você pilotou um barco em sua vida, além


de ter pisado no iate de seu pai?
— Estar aqui em Narragansett trata-se de explorar coisas
novas, Sigmund.
— E tenho certeza que explorar coisas novas era
exatamente o que você pretendia com este barco hoje, hein?
— Foi divertido.

— Eu esperava que você a esquecesse depois que ela


jogou aquele taco na sua virilha e ridicularizou o nosso
encontro de ontem à noite.
— A única zombaria sobre esse encontro foi a conversa
sobre morte cerebral.
— Ok, e agora? Estou amarrado na Operação Foder a
Ginger10 Top porque tenho que aprender a cozinhar estas
coisas?
— Você é o cozinheiro. É o que você faz. Descubra algo
que não me envergonhe.
— Você vai me dever muito por isso.
Arqueei minha sobrancelha. — Suponho que pagar a
conta de toda esta viagem não conta para nada, então?

— Ponto sólido.
— Eu também disse a ela que íamos comer lagosta.

— Então, eu devo fazer um banquete de frutos do mar


completo para vocês dois?

— Vou sair e pegar as lagostas. Você descobre como


fazer essas coisas.
Depois de ir para a loja e pegar três lagostas de meio
quilo, voltei para casa e descobri que Sigmund havia removido
alguns dos mariscos de suas conchas e os estava cortando em
pedaços minúsculos. Ele me enviou uma mensagem pedindo
linguiça portuguesa também.

— O que você está fazendo cortando-os? Achei que


devíamos quebrá-los e comê-los assim?
— É isso que você gostaria de fazer com a Ginger?
Abri-la e comê-la? — Ele deu uma risadinha.
— Você pode , por favor, parar?
— Por que minhas insinuações de repente estão
incomodando tanto você?

— Porque minha atração por ela não tem nada a ver com
sexo. — Isso era em parte uma mentira. — Quer dizer, estou
sexualmente atraído por ela, mas não é só isso. — Limpei o
suor da minha testa. — De qualquer forma, responda minha
pergunta. O que diabos você está fazendo com esses mariscos?
Por que eles não estão nas cascas? É melhor não os arruinar.

— Esta é uma receita chamada stuffies11. Achei


apropriado, considerando que você gostaria de rechear Pippi
Longstocking12.
Revirei meus olhos. — Sério, o que você está
recheando?

— Relaxe. Foi por isso que eu pedi para você comprar a


salsicha.

— Por favor, me diga que a salsicha não era algum tipo


de coisa sexual doentia também?
— Não, seu maldito punheteiro. Quem é que agora tem a
mente suja?
— Claramente eu não confio em você.

— A salsicha será misturada com os mariscos e


breadcrumbs13, em seguida colocada de volta nas conchas e
cozida. É aparentemente uma maneira bastante popular de
fazê-las, apesar de sua suposição de que estou tentando
provocá-lo ou sabotar seu jantar.
Relaxei um pouco. Eu deveria ter mais confiança nele. A
única coisa que ele raramente bagunçava era comida.

Olhando para o relógio, percebi que não demoraria


muito para que Felicity chegasse às oito. Minhas roupas ainda
cheiravam ao oceano salgado de nossa excursão hoje cedo.
Deixando Sigmund na cozinha, subi para tomar banho e me
vestir.

Quando voltei lá embaixo, os balcões estavam vazios. —


Onde está a comida?

— Será que você pode se acalmar? Eu não estraguei


nada. Os mariscos estão no forno. E as lagostas estão
fervendo. Tudo está sob controle – exceto você. Fique
tranquilo.

— E outra coisa, você não pode ser um idiota com ela


esta noite? Isso é pedir muito?

— Não posso prometer que não irei me descuidar. Mas


eu vou tentar. A menos que você prefira que eu saia?
— Não. Eu disse a ela que nos reuniríamos como um
grupo. Não quero assustá-la. Não é para ser um encontro.

— Ah. Entendo o que você está fazendo. Muito esperto.


Enrole-a fazendo-a acreditar que você não está mais
interessado em namorá-la, enquanto a encanta lentamente.

A campainha tocou.
— É ela. Ative o botão de boas maneiras.

Ele pressionou repetidamente em seu peito. — Droga.


Deve estar com defeito. Parece que você está sem sorte.
Suspirei e fui até a porta da frente. Quando abri, a
respiração quase deixou meu corpo.

Seu cabelo flamejante estava solto, penteado em longos


cachos. Ela usava um vestido vermelho brilhante que não era
formal, era de algodão fino com um laço no pescoço. Era
curto, simples e sexy pra caralho, acentuando suas longas
pernas. Os lábios foram pintados com um tom de vermelho
semelhante. Este era um visual bem diferente dela, mas eu
adorei. Minha parte favorita era a capacidade de ver pela
primeira vez até onde as sardas desciam em seu peito.

— Felicity, você está… — limpei a garganta. —


Incrível.

— Obrigada. Pensei que seria bom se eu me vestisse de


verdade pela primeira vez. Sabe, não exatamente Mary
Poppins, tampouco tomboy14, ou seja, meio termo.

— Você está linda, não importa como está vestida. Mas


você está particularmente deslumbrante hoje à noite. — Sacudi
a cabeça, percebendo que estava muito hipnotizado, que não a
tinha convidado para entrar. — Entre. Entre.
Ao entrar no saguão, ela respirou fundo. — Algo cheira
bem.

— Ele está fazendo… stuffies?


— Aí, sim. Boa escolha.

O fato de ela ter ouvido falar disso me deixou aliviado.

Quando entramos na cozinha, os olhos do meu primo se


arregalaram. — Felicity, você está absolutamente linda.
— Ora, obrigada. Acho que essa pode ser a primeira
coisa legal que você já me disse.

— Bem, é merecido.

Seu elogio me irritou. E não gostei do jeito que ele


estava olhando para ela agora, também – como se finalmente
estivesse vendo o que eu tinha visto todo esse tempo. Mas não
importava para mim se ela estava com um vestido vermelho
ou uma camiseta larga; ela era linda.

— O que posso pegar para você beber? — perguntei.

— Surpreenda-me. — Ela sorriu.

Na Inglaterra, eles sempre serviam vinho branco com


frutos do mar, portanto, imaginei que essa seria a melhor
escolha para esta noite. Então me lembrei da garrafa de Dom
Pérignon gelada e optei por abri-la. Depois de servir duas
taças, entreguei-lhe uma e observei enquanto ela tomava um
gole. Quando ela lambeu os lábios, eu juro que meu pau se
moveu.

— Mmm… ótimo. Eu amo champanhe Obrigada.

Sigmund abriu o forno e colocou a bandeja de mariscos


recheados no balcão. Tive que admitir, eles pareciam e
cheiravam deliciosamente.

Felicity inclinou a cabeça sobre a bandeja. — Você já


tinha feito stuffies, Sig?

— Esta foi minha primeira vez.


— Impressionante.

— Se a comida é o caminho para o seu coração, amor,


meu primo não tem chance. — Ele riu.
Ela me deu um tapinha no ombro. — Bem, é um grande
capitão de barco. Pelo menos ele tem isso.
Limpei minha garganta. — O que ela realmente quer
dizer, eu fiz um grande esforço antes que tivesse que tirar o
volante de mim porque eu estava dirigindo como um vovô.
Ela sorriu por trás do champanhe. Eu amei seu sorriso,
especialmente quando estava focado em mim.

A voz na minha cabeça pareceu vir do nada. “O que você


está fazendo?” A resposta era certa: me apaixonar por alguém
que eu não podia. Só não sabia como impedir. Afastei a voz
negativa.
Sigmund pegou uma cerveja na geladeira. — Sabe, não
iria matá-lo pôr a mesa, Leo.

Ele estava certo. Eu deveria ter pelo menos me oferecido


para fazer isso. Estava um pouco distraído.

Felicity colocou o copo no balcão. — Eu posso ajudar.


— Não, você é a convidada. Não fará tal coisa, — eu
disse.

Ela não quis ouvir e começou a vasculhar os armários


em busca de pratos. Acabamos colocando a mesa juntos.
Depois de termos arrumado tudo e nos acomodado em
nossos assentos, Felicity olhou em volta, como se nos
estivesse faltando algo.
— Você tem… babadores?

Meu primo parecia horrorizado. — Babadores? Como


um babador de bebê? Não. Infelizmente não.
— Sim. A lagosta pode sujar bastante. — Ela se
levantou e desapareceu na cozinha antes de retornar com três
panos de prato.

Foi até meu lado da mesa e enfiou um dos panos na parte


de cima da minha camisa antes de passar suavemente a mão
sobre ela. Esse simples toque mexeu comigo.

Então, entregou o outro para Sigmund, esquecendo-se de


colocá-lo nele. Isso me agradou infinitamente. Meu primo
ignorou o pano e começou a comer sem ele.

Alguns minutos depois do jantar, ficou claro que Felicity


realmente sabia quebrar a lagosta com precisão, e certamente
não tinha medo de fazer bagunça.

Ela chupou o suco de uma das conchas. — Isso é


incrível. Obrigada. Não é todo dia que consigo comer lagosta.
Este é um tratamento especial.

— Achei que você comesse o tempo todo, considerando


que é uma iguaria local, — eu disse.
Ela balançou a cabeça. — Sra. Angelini é alérgica a
frutos do mar. O que é incrivelmente irônico, uma vez que seu
marido era dono de uma rede de restaurantes de frutos do mar
antes de morrer. Mas nunca temos lagosta, e eu normalmente
não a compro quando estou sozinha, já que é muito caro.

Suas palavras foram um alerta. Nem todos podiam se dar


ao luxo de comer o que quisessem, quando quisessem. Que
idiota, Leo. Ela provavelmente está me vendo como se eu
fosse de outro planeta.
— Eu sinto muito. Isso foi estúpido da minha parte.
Claro, lagosta é cara.
— Nem um pouco estúpido. A Sra. Angelini é rica. Ela
me compraria lagosta sempre que eu quisesse, se eu pedisse.
Mas eu não gostaria de comer na frente dela. Também tento
não tirar vantagem de sua generosidade. Sempre tentou me dar
dinheiro para a faculdade, mas não acho que ela deva pagar
por isso. Continuamente insisti em pagar minhas despesas. Me
faz sentir mais segura, sabendo que posso.
Eu concordei. — Tenho certeza que a maioria das
pessoas iria tirar proveito.

— Não me sinto muito à vontade em nenhum lugar.


Uma vez que você começa a depender de alguém e ele se vai –
e depois o quê? É preciso ser capaz de se cuidar sozinho.

Meu peito se apertou quando percebi o significado mais


profundo por trás dela não querer aceitar ajuda. Os adultos em
sua vida sempre a abandonaram. Era a isso que ela estava
acostumada, e a razão pela qual era tão forte.
O clima logo melhorou quando um dilúvio de suco de
lagosta saiu da casca de Sigmund e atingiu sua camisa de
trezentos dólares.
— Merda! — Ele gritou enquanto olhava para si mesmo.
— Não vou dizer que te avisei. — Felicity riu.

Ele fingiu não se importar, mas o olhar mal-humorado


em seu rosto me disse que se arrependia de não ter encoberto.
Passei o resto do jantar perguntando à Felicity coisas
sobre as quais eu estava curioso, por exemplo, como era a vida
em Harvard. Soube que ela fazia parte da equipe de Frisbee de
Harvard. Falou mais de seus planos em se tornar advogada
para que pudesse usar essa oportunidade e ajudar as pessoas.
Ela sabia o que queria e exatamente como iria chegar lá.
Admirei seu desejo de independência, mas também percebi
sua aparente necessidade de que ninguém mais viesse de um
ambiente desfavorável.
Eu me encolhi quando ela virou o jogo para mim.

— Então, chega de falar sobre mim, — disse ela. —


Conte-me mais sobre sua situação na Inglaterra. Como é onde
você mora?

— O campo é lindo, mas eu fujo para Londres bastante


nos fins de semana. Antes de sair para vir aqui, passei meus
dias seguindo meu pai, na maior parte do tempo.

— Você foi para a faculdade, certo?


Sigmund bufou, muito divertido com sua pergunta. —
Percebo como você pode ter duvidado disso.

Ela se virou para ele. — Não queria que isso fosse um


insulto. Ele simplesmente nunca mencionou isso, e eu não
queria presumir.

— Sim, eu fui para a universidade. — Eu olhei para


Sigmund. — Apesar de muitas coisas serem entregues a
alguém na minha posição, fiz meu mestrado na London
Business Escola.
— Legal. — Ela inclinou a cabeça. — Quantas
propriedades seu pai possui?

— Muitas para contar, honestamente.


— Metade da Inglaterra pertence a menos de um por
cento da população, — explicou Sigmund.
— Deus, isso é uma tremenda responsabilidade e muita
pressão, tenho certeza.

— É também por isso que metade das mulheres elegíveis


em nossa região tentam cravar suas garras nele, — meu primo
adicionado.

— E eu aqui pensando que era apenas minha aparência,


— disse, ficando mais furioso a cada segundo. — Obrigado
pela informação, embora não fosse necessária.

— Na verdade, estou um pouco interessada em saber


sobre tudo isso, — disse Felicity, remexendo-se em sua
cadeira. — Existe uma fila de debutantes esperando por você
em casa ou algo assim?
— Ele tem que se casar com alguém que seus pais
considerem adequado, — Sigmund ofereceu antes de tomar
um gole de sua cerveja.
Por que diabos ele tocaria nisso agora?
Sua expressão escureceu. — Como um casamento
arranjado?
— Não, — esclareci antes que meu primo pudesse dizer
outra palavra. — Não um casamento arranjado. Eu nunca faria
isso. Em última análise, a decisão é minha. Mas a expectativa
sempre foi de que eu me casasse com alguém de origem
semelhante.

— O que acontece se você não fizer isso?


Sigmund deu uma risadinha. — Seus pais provavelmente
o deserdariam.

— Isso não é verdade, — retruquei.


Ele apertou os olhos. — Mesmo?

Sabia por que ele estava fazendo isso. Ele foi contra eu ir
atrás de Felicity desde o início, e estava tentando atrapalhar as
coisas. Mesmo que parte do que ele divulgou fosse
parcialmente verdade, eu esperava um pouco de tempo com
ela antes que ela fugisse.
— Você não tem um lugar para ir esta noite? —
perguntei a ele.
— Na verdade, não. Sem planos.
Eu olhei para ele.

Depois que ele levou seu prato para a cozinha, peguei o


de Felicity e depois o meu. — Já volto, — eu disse a ela. —
Posso pegar mais champanhe?

Ela balançou a cabeça, parecendo um pouco nervosa


com nossa conversa. — Não, obrigada.
Na cozinha, cerrei os dentes e sussurrei: — Ótimo
trabalho ao tentar assustá-la.
— Estou te fazendo um favor. Como é justo deixá-la
esperançosa quando você sabe muito bem que não tem um
futuro com ela? Veja como ela veio aqui esta noite.
Obviamente está vestida para impressionar e não se faz
exatamente de difícil.
— Você não tem o direito de manipular as coisas. Eu
pretendia ser honesto com ela sobre minha situação. Mas não
era o seu dever lançar tudo num simples jantar.
Felicity apareceu, entrando na cozinha segurando a
bandeja de mariscos vazia. Pelo olhar preocupado em seu
rosto, eu poderia dizer que ela ouviu tudo o que acabamos de
dizer ou suspeitou que estávamos discutindo.

— Por favor, sente-se e relaxe, — eu disse, estendendo


minha mão. — Eu cuido disso.
— Está tudo bem, — ela insistiu.

Juntos, trouxemos tudo da mesa para a cozinha em


silêncio. Depois, nos revezamos lavando as mãos na pia.
Entregando a ela um pano de prato, eu disse: — Vamos
sair por um momento, certo?
— Claro.
Peguei nossas taças de champanhe, junto com a garrafa
de Dom e alguns morangos da geladeira, e os levei para fora.
— Você está bem? — ela perguntou assim que pisamos
no deck dos fundos.
— Sim. — Coloquei tudo em uma mesa. — Por que
você pergunta?
— Parecia desconfortável quando eu estava perguntando
sobre sua vida em casa, particularmente quando Sig decidiu
falar por você. Por que parece ter vergonha de quem você é?

— Porque não é quem eu sou. Quem eu sou não tem


nada a ver com de onde venho ou com as expectativas
colocadas sobre mim. — Meu tom saiu mais duro do que eu
pretendia.

— Sinto muito. Você tem razão. Essa foi uma maneira


idiota de falar isso. O que eu quis dizer é… você não deve
sentir que tem que esconder nada só porque sua vida é
diferente do normal. A maioria das pessoas ficaria bastante
impressionada, na verdade.

— Você não é a maioria das pessoas, não é? Nada disso


te impressiona nem um pouco. Na verdade, é um impedimento
para conhecê-la melhor.
Ela ficou em silêncio, sem confirmar nem negar.
Exalei. — O dilema da minha vida sempre foi equilibrar
o que quero com o que minha família quer para mim. O último
normalmente vence. — Eu olhei para o céu estrelado. — Sei
que sou afortunado em muitos aspectos, mas há dias em que
gostaria de poder apenas viver uma vida normal, sem ter que
levar ninguém em consideração no que diz respeito à minha
própria felicidade. Com você hoje – naquela água – eu estava
mais feliz do que nunca em muito tempo. — Eu balancei
minha cabeça. — Desculpe. Você não se inscreveu para ser
minha terapeuta hoje à noite. Deveria estar entretendo você.
Felicity colocou a mão no peito. — Está de brincadeira?
De todos os breves momentos que passamos juntos, este é o
meu favorito. Hoje sinto que consegui conhecer o seu eu
verdadeiro. O lado vulnerável. Vulnerabilidade é… sexy.
— Sexy, hein? — Eu ri. — Devo começar a chorar,
então?
— Você não precisa ir tão longe.

— Ok. — Eu sorri.
Nossos olhos se encontraram, e eu não queria nada mais
do que beijá-la.

Ela estremeceu. — Está mais frio esta noite do que eu


pensava, era para ter trazido um suéter.
— Volto logo. — Corri para dentro e peguei uma das
minhas jaquetas.
Voltei para o deck e enrolei em seus ombros.
— Obrigada. Isso foi muito fofo.
— Bem… — eu sorri. — Não gostaria que você
congelasse suas bolas.
CAPÍTULO 6

Felicity
Faixa 6: “Blowing Kisses in the Wind”,
Paula Abdul
Não acredito que ele sabe disso. — Você me procurou
no Google. Parabéns.

— No dia em que você me rejeitou, eu estava me


sentindo um pouco deprimido. Naquela noite, senti falta de
olhar para o seu rosto. Então, sim. Fui à Internet, pesquisei seu
nome e encontrei aquele pote de ouro inesperado.
— Essa é a minha única reivindicação à fama.
— Foi hilário.

— Sério, o que há de errado com as pessoas? Eles não


têm vida. Quero dizer, ele era engraçado, mas não foi tão
engraçado. Para obter milhões de acessos?
— Não foi só o que você disse. Era a expressão adorável
em seu rosto quando você percebeu que estava ao vivo na
televisão. É também o fato de que você é linda. É por isso que
se tornou viral.
— Não me vejo assim, — disse eu. — Nunca vi.
— Isso não muda a verdade.
— Sinto que pareço diferente de todas as outras. Quer
dizer, há outras pessoas com cabelos ruivos e sardas por todo o
corpo. Mas quantas você encontra diariamente? Muito pouco.
Somos uma raça rara.

— Precisamente. Você é excepcionalmente linda. Mas


não é apenas sua pele e cabelo que a diferenciam. São os seus
olhos, a maneira como eles parecem penetrar em tudo com
genuína admiração e interesse. Posso ver o que há de bom em
você apenas olhando para eles. E têm tantas características que
eu adoro. Seu nariz tem a menor saliência no centro. Seus
lábios e sua cor vermelha natural, mesmo quando não está
usando batom. E sim, as sardas. Não me faça começar a falar
sobre elas. Elas são a minha fraqueza.
Revirei os olhos, sentindo minhas bochechas
esquentarem. — Você é louco.

— Estou loucamente atraído por você, sim.


Sua admissão direta fez com que todo o meu corpo
esquentasse. Tive que olhar para baixo porque era demais –
não apenas o jeito que ele estava olhando para mim, mas
porque eu estava incrivelmente atraída por ele também. Leo
não era apenas bonito. Ele era lindo da cabeça aos pés.
Quanto mais eu olhava para ele, mais fora de controle eu me
sentia. Mais, eu queria que ele me beijasse. Cada vez que
meus olhos pousavam em seus lábios carnudos, eu sentia
minha língua zumbir com a necessidade de prová-los.
— O que eu acabei de dizer incomodou você?

Ajustando sua jaqueta em volta dos ombros, eu disse: —


Não é o que você disse sobre mim. É como você me faz sentir,
como estou atraída por você também. É mútuo.
Sua respiração pareceu contrair, e antes que ele pudesse
responder, decidi que precisava de mais champanhe.
Peguei a garrafa em cima da mesa. — Você se importa?

— Permita-me, — disse ele enquanto servia. — Você


gostaria de um morango?

— Claro. — Eu imediatamente bebi metade da minha


taça.

Em vez de simplesmente me entregar um, Leo pegou um


morango. Com um brilho travesso em seus olhos, ele o
colocou entre os lábios e falou através dos dentes. — Venha
pegar.

Ele está falando sério? Minhas mãos ficaram suadas


enquanto eu considerava se deveria ir em frente. Inclinei-me
com o coração acelerado e cuidadosamente usei meus dentes
para recuperar o morango. Nossos lábios nem se tocaram, mas
eu podia sentir o calor de sua respiração irregular, que enviou
um choque pelo meu corpo.
— Santo Deus! Não achei que você faria isso. — Ele
lambeu os lábios.

Enquanto eu mastigava o morango, olhei para baixo e


me perguntei se estava enlouquecendo. Porque isso? O que eu
acabei de fazer? Isso não era nada parecido comigo. Mas era
muito erótico. Leo era tão inebriante que prejudicava meu
julgamento. Eu precisava ter cuidado, porque estava me
preparando para me machucar. A Sra. Angelini achava que eu
deveria me soltar um pouco. Mas esta noite não me sentia à
vontade para me soltar. Parecia que meus sentimentos estavam
se enredando neste homem. Não tinha certeza se era capaz de
apenas aproveitar o presente com alguém que inevitavelmente
estaria partindo.

Era tudo que eu conseguia pensar, mesmo com todo


verão ainda pela frente.

— Por quanto tempo você planeja olhar para seus pés e


não para mim? — Leo perguntou.

Finalmente encontrando seus olhos, sacudi minha


cabeça. — Sinto muito. Eu não sei como lidar com isto.
Quando eu disse à Sra. Angelini que tinha rejeitado você
porque não achava uma boa ideia sair com alguém que estaria
partindo em breve, ela sugeriu que eu me soltasse, não me
preocupando tanto com o que poderia acontecer no futuro.
Decidi tentar isso hoje à noite. Mas não acho que seja da
minha natureza. Porque como você está aqui na minha frente,
eu deveria estar me soltando, e só consigo pensar no fato de
que já estou triste, e você ainda nem sequer foi embora. — Eu
encarei meu champanhe. — Não consigo relaxar tempo
suficiente para aproveitar estar com você.

— Você é sensata e prática. Não há nada de errado nisso.


— Não há nada de errado com isso, mas torna a vida
muito chata.

— Você se formou em Harvard, é uma capitã de


embarcação e pescadora, jogadora de Frisbee, para não
mencionar uma superestrela viral – isso está longe de ser chato
para mim. — Ele sorriu.

Eu sorri. — Você gosta de mim porque sou diferente do


que você está acostumado.
Seu sorriso desapareceu enquanto seu olhar queimava
através de mim. — Eu gosto de você porque você é você. Não
apenas como você me faz sentir, mas como você olha para
mim. Você me vê como a pessoa que sou, não como meu título
ou status social ou de onde venho. Mas, mais do que isso, é tão
inteligente e real quanto bela. Deus, Felicity, não pensei em
mais nada desde que te conheci. — Ele continuou a examinar
meu rosto. — O que você está pensando?
— Estou pensando em algumas das coisas que Sig
estava dizendo lá dentro, para ser honesta.

— Tudo bem. — Ele engoliu em seco. — Que perguntas


você tem?

— Então… digamos que você disse a seus pais que


conheceu uma garota neste verão em Rhode Island. E que você
realmente gosta dela. Qual seria a reação deles?

Ele arranhou seu queixo. — Você quer uma resposta


honesta, eu suponho.
Eu concordei.

— Eles – minha mãe, em particular – tornariam minha


vida muito difícil. Eles me querem na Inglaterra, estabelecido
e focado em continuar o legado de meu pai, não focado em
alguém fora da bolha em que vivem.

Engoli. — E hipoteticamente, se você conhecesse


alguém aqui nos Estados Unidos ou de qualquer outro lugar, e
a levasse para casa na Inglaterra, que não seria aceitável para
eles?
Uma expressão de dor cruzou seu rosto. — Eles não
seriam capazes de me impedir, mas podem tornar a vida
daquela pessoa miserável. E eu não sujeitaria alguém de quem
gosto a tudo isso. Não seria justo. Essa é a resposta. Não posso
mudar como eles são, como agem e quais são suas
expectativas.
A derrota tomou conta de mim. — Sinto muito se
minhas perguntas são muito intrusivas. Quer dizer, nós só
tivemos um encontro…

Ele sorriu. — Então, isto é um encontro?

Meus olhos se arregalaram. — Não era para ser?

— Estou brincando. Eu não chamaria assim porque não


queria assustá-la. Mas certamente pretendia que fosse um
encontro.

— Oh. — Eu olhei para os meus sapatos.

— Posso te perguntar uma coisa? — ele perguntou.


— Claro. — Eu olhei para cima, endireitando minha
postura.

— Quando foi a última vez que você teve um namorado?

Pareceu uma eternidade. Terminei meu champanhe antes


de pousar a taça. — No meu primeiro ano na faculdade,
conheci um cara – Finn – com quem saí por cerca de um ano.
Acabou sendo incapaz de lidar com a pressão do curso e
abandonou a faculdade. Ele tinha alguns sérios problemas de
ansiedade. E era uma droga porque eu esperava ser razão
suficiente para ele ficar, mas quando alguém tem uma luta
interna, às vezes não há nada que se possa fazer. Nunca levei
isso para o lado pessoal, porque entendi o que era. Sua partida
ainda foi uma droga, no entanto. Acabei me concentrando
ainda mais na escola depois disso. No meu segundo ano, entrei
para a equipe do Frisbee e fiz tudo o que pude para me
convencer de que era melhor ficar sozinha. É mais ou menos
como ainda estou.

— Você nunca namorou ninguém depois?


— Não. Também tive um namorado sério no colégio,
mas terminamos antes da faculdade. Então, eu tive dois
relacionamentos. Desde então, tenho saído com caras aqui e
ali. Mas nada que durasse além de alguns encontros. Nada que
importasse, sabe?
— Nada que importasse… — ele murmurou. — Posso
me identificar com isso. Eu estive com meu quinhão de
mulheres. Mas não posso dizer se alguma delas importou. —
Ele deu alguns passos em minha direção. — Sei que mal nos
conhecemos. Mas desde o momento em que te encontrei, de
alguma forma eu soube que você era importante para mim,
Felicity. Isso soa estranho?

— Essa coisa toda tem sido um pouco estranha. — Eu ri


quando olhei para este homem impressionante que eu teria
assumido ser inatingível, senão fosse pelo fato de que ele
claramente gostava de mim. — Não de uma forma ruim.
Apenas um tipo diferente de experiência. E sinto muito se
transformei esta noite em algo muito sério. Deveríamos estar
nos divertindo.

— Não é loucura pensar no futuro. Com isso, quero


dizer minha partida. Não está tão longe assim. Poderíamos
optar por ignorá-la ou admiti-la, mas não altera o fato de que
eu não ficarei aqui para sempre. Portanto, o ponto principal é
que você tem todo o direito de proteger seu coração, assim
como eu não tenho o direito de brincar com ele. Esta noite, no
jantar, quando você estava falando sobre como encara todos
em sua vida como participantes temporários… — Ele fez uma
pausa, apontando para o peito. — Isso me atingiu com força.
Porque não quero ser mais uma pessoa que entra na sua vida e
te deixa machucada. A última coisa que quero fazer é
machucar você.

Meu estômago estava embrulhado. — Sim, então essa


situação é meio ruim, não é?
— Eu não estava esperando por isso, encontrar alguém
aqui que eu realmente queria conhecer melhor, passar um
tempo com ela. Isso não fazia parte do plano. — Ele fechou os
olhos brevemente. — Ao mesmo tempo, gostaria de ter
conhecido você bem no início desta jornada e não na última
etapa.
Eu queria tanto que ele se inclinasse e me beijasse. Mas
também esperava que não. A confusão rasgou meu coração
quando uma suave brisa noturna enviou seu delicioso, perfume
masculino para mim. Eu senti como se este momento de
silêncio fosse uma encruzilhada, onde eu decidi se escaparia
de ter meu coração partido ou mergulharia de cabeça no fogo.
No final das contas, o medo venceu.
Diz! — Acho que é melhor não continuarmos a nos ver,
— finalmente consegui dizer. — Eu sinto algo dentro do meu
peito sempre que estou com você. E está me dizendo que é
melhor não levarmos adiante.

Ele olhou profundamente nos meus olhos, pegou minha


mão e a colocou sobre o coração. — Sinta isso. Acho que
podemos estar sentindo a mesma coisa.

Seu coração bateu tão rápido contra a minha mão.


— Uau, — sussurrei.
— Isso é o que está acontecendo quase todo momento
que estou com você. Por esse motivo, temo que você possa
estar certo sobre tudo isso… por mais que eu não queira
enfrentar.
Eu tirei minha mão e olhei para mim mesma . — Eu
esperava que este vestido vermelho me transformasse
magicamente em uma mulher despreocupada por uma noite.
— Não quero que você seja outra pessoa senão quem
você é, Felicity.
Cada segundo adicional tornava mais difícil sair, mas
sabia que era a coisa certa a fazer.

— Acho que devo ir para casa.


A decepção em seu rosto era clara. — Sinto muito que
esta noite tenha se tornado estranha.
— Não foi estranho. Foi real. Eu aprecio muito sua
honestidade. E o jantar foi incrível. Agradeça a Sig por mim.

Quando comecei a me afastar, ele me seguiu. — É isso,


então? Não vamos nos ver? Mesmo apenas como amigos?
Meus olhos ardiam quando me virei para encará-lo. —
Acho que é mais fácil se não o fizermos.
Ele piscou como se estivesse procurando uma resposta,
mas não conseguisse encontrar uma.

Voltamos a entrar silêncio para a garagem onde meu


carro estava estacionado.
— Tenho um favor a pedir, — ele finalmente disse.
— Ok…
— Quero ver você mais uma vez antes de ir embora,
mesmo que seja apenas para o chá. Eu não sei quando você
está indo para a faculdade?
— Provavelmente no final de agosto.

— É mais ou menos na época em que estamos indo


embora também. Não temos um dia exato. Ainda está no ar.
Mas será que não haveria problema? Ver um ao outro no final
do verão?
Eu não sabia como isso iria ajudar, mas não tive
coragem de dizer não. — Sim. Tudo bem. — Eu sorri, olhando
para o meu telefone. — Acabei de perceber que nem mesmo
temos os números um do outro.
— Bem, quem precisa de números quando você tem um
barco para navegar pela baía, certo?
— Isso mesmo. Estou apenas a um passeio de barco de
dezesseis quilômetros por hora. — Eu pisquei.

— Pode ser mais rápido se eu nadar, certo?


A tensão no ar parecia mais densa a cada segundo.
— Posso? — Ele pegou meu telefone e digitou seu
número de telefone. Quando o colocou de volta na minha mão,
ele cruzou os dedos sobre os meus. O calor desse toque
ressoou por todo o meu corpo. Nunca tive tanto medo de
alguém me beijando na minha vida. Eu não queria saber como
seria se estivéssemos nos separando. Isso iria me assombrar.
No entanto, eu também ansiava por isso.
Mas, infelizmente, em vez de se aproximar, ele soltou
minha mão e um frio apoderou-se de mim.

Depois que devolvi sua jaqueta, corri para abrir a porta


do carro.
Leo parecia taciturno enquanto se levantava e me
observava entrar.
Liguei a ignição e ofereci um aceno simples. Meu
coração apertou quando Leo tocou a boca com a mão e me
soprou um beijo lento e gentil. Lá estava. O beijo que eu tinha
certeza que ele queria me dar, mas optou por não dar. Eu
adoraria isso, mesmo que nunca atingisse fisicamente meus
lábios. Alcançou meu coração.
Sabia que tinha tomado a decisão certa, mas enquanto
dirigia, me sentia cada vez mais insegura e incompleta.
CAPÍTULO 7

Leo
Faixa 7: “Hello Again”, Neil Diamond
— Cadê a Chapeuzinho Vermelho? — meu primo
perguntou quando entrei em casa.
— Se foi.
— Se foi? Para aonde ela foi?
Sentindo-me amargo, cerrei os dentes. — Ela foi para
casa. Acabou. Seu plano para assustá-la funcionou. Está feliz
agora?
Seus olhos se arregalaram em choque. — Ela foi embora
por causa do que eu disse no jantar?
— Não era essa a sua intenção? — Eu gritei. — Jogando
fora toda a minha roupa suja para assustá-la? Ela me pediu
para explicar, e isso levou a uma conversa sobre o quão viável
seria para nós continuarmos nos vendo se ela acabasse se
machucando com a minha partida. Então, chegou à conclusão
que terminar antes de começar era melhor.

— E você não acha que isso é melhor?


Provavelmente era o melhor. Mas certo ou errado não
mudava o que eu sentia por ela. — Esperava algum tempo
com ela antes do inevitável. No final das contas, concordei
com sua decisão. Mas nada disso deveria ter sido influenciado
por ninguém além dela e de mim.
— Bem, eu sinto muito. Não era minha intenção fazê-la
partir.

Além de irritado, passei por ele e subi para o meu


quarto. Eu sabia que provavelmente tínhamos tomado a
decisão certa de não avançar as coisas, mas não parecia certo.
Como eu poderia estar tão triste por causa de alguém que eu
mal conhecia? Meu instinto dizia-me que eu simplesmente
havia deixado alguém importante ir.

Não podia deixar que isso me impedisse de aproveitar o


resto da minha folga aqui nos Estados Unidos porque
precisava voltar para a Inglaterra com a cabeça limpa. Puro e
simples, eu precisava superar Felicity, gostasse ou não.

♥Ω♥

Duas semanas se passaram. Dependendo de como você


olhava para isso, poderíamos dizer que eu tinha feito um bom
trabalho me distraindo – ou você poderia dizer que eu tinha
enlouquecido.

Sigmund tinha acabado de voltar de uma ida à loja de


bebidas quando entrou na cozinha para me encontrar
praticando meu novo hobby.

Ele colocou o saco de papel na bancada. — Que diabos


está fazendo?
Pressionei a pausa no vídeo do YouTube. — Pintando.

— Isso eu percebi, mas por quê?


Outra noite eu encontrei alguns vídeos de um cara
chamado Bob Ross. Aparentemente, seus tutoriais de pintura
eram lendários. Mas eu nunca tinha ouvido falar dele. Depois
de uma hora observando-o pintar, fiquei paralisado com os
movimentos de seu pincel e suas instruções simples. De
alguma forma, eu me convenci de que poderia ser capaz de
pintar tão bem sob orientação de seus vídeos. Ele fazia tudo
parecer tão fácil. No entanto, quando tentei executar as etapas
sozinho, não funcionou da maneira que eu imaginava.

Recuei e cruzei os braços para dar uma olhada na minha


pintura, que apresentava uma série de manchas verdes que
eram supostamente árvores. — Está progredindo, você não
acha?

— Para um projeto de arte de escola infantil, talvez, sim.


É isso que você faz quando não estou em casa?

— Na verdade, venho praticando há dias – só no meu


quarto, não aqui. Mas eu precisava mudar de cenário. Então,
trouxe tudo para a cozinha. Melhor iluminação.
Ele olhou para o vídeo. — Vai deixar seu cabelo crescer
como uma bola gigante? para combinar com o dele também?
— Poderia.

— Qualquer coisa que faça seu barco flutuar, primo. É


melhor do que ficar deprimido sem fazer nada. Só um pouco
melhor, devo acrescentar.

Eu estava triste desde a noite em que Felicity e eu


decidimos não nos ver mais. Não parecia capaz de desfrutar de
nada além de estar sozinho e praticar meu novo hobby. Eu não
conseguia nem categorizar isso como diversão, realmente. Era
puramente distração. Sigmund tentou me fazer sair com ele,
mas eu não tinha interesse nem energia. Pela primeira vez na
minha vida, entendi como era a depressão.

Depois que ele me deixou sozinho, abri um saquinho de


bala de caramelo e água salgada e retomei minha pintura. Esse
era o outro hábito estranho que desenvolvi, uma afinidade com
este doce mastigável que parecia ser popular aqui e
provavelmente apodreceria meus dentes em algum momento.
A propósito, não tinha gosto de água salgada.

Quando meu telefone tocou, larguei meu pincel para


pegá-lo. Olhando para o número, sorri.

— Vovó, — eu respondi.

— Leo, como você está, meu menino?

— Eu estou… — fiz uma pausa, olhei para minha


pintura e ri de mim mesmo por um momento.

Hesitando, pensei se devia ou não contar a verdade.


Vovó era a única pessoa neste mundo para quem eu poderia
me abrir. Mesmo que isso não mudasse nada, ela era a única
voz da razão e compreensão em toda a minha família.

Eu finalmente falei: — Já estive melhor.

— Me diga o que há de errado. É sobre uma garota?


Eu puxei meu cabelo enquanto andava. — Eu… conheci
alguém, sim. Uma pessoa muito especial, extremamente
inteligente, bonita e justa. Mas decidi não avançar as coisas, já
que não seria sábio… por razões óbvias.

— Você não contou a sua mãe sobre isso, não é?

— Claro, que não.


— Ótimo. Não precisa do estresse adicional. O que ela
não sabe não vai machucá-la.

— Concordo.

— Então, você sabe que tomou a decisão certa, mas não


consegue parar de pensar nessa garota, eu suponho? Fale-me
sobre ela.

Passei os próximos minutos descrevendo Felicity para


minha avó. No fundo, minha avó era romântica.

— Uma órfã? Sua mãe iria crucificar aquela pobre


garota.
— Essa é uma das muitas razões pelas quais tenho de
seguir em frente.

— Quanto tempo você ficará aí?


— Até final de agosto era meu plano.

— Você consideraria outro destino? Talvez, se saísse da


cidade, seria mais fácil esquecê-la.

Pensei em deixar Narragansett. Sigmund certamente


toparia. Mas, por algum motivo, não consegui puxar o gatilho.
Já havíamos pago por nossa estadia aqui até o final do verão –
não que o dinheiro importasse se eu realmente quisesse ir
embora.

— Não tenho nenhum desejo de ir a qualquer outro lugar


agora. É pacífico aqui e…

Ela terminou minha frase. — Você não está pronto,


porque uma parte de você ainda quer estar perto dela.

Eu hesitei. — Talvez em um nível subconsciente. Ela


concordou em me ver mais uma vez antes de eu sair e antes de
ir para a faculdade de direito.

— E você não a encontrou nesse ínterim?


— Não saí muito de casa, exceto para comprar balas e
material de pintura.

— Balas e pintura? — Ela riu. — O que você está


pintando?

Coloquei outro pedaço de caramelo na boca e mastiguei.


— Pequenas nuvens felizes.
— O quê?

Eu ri. — Não importa, vó.

— Bem, isso soa como uma existência estranha, meu


querido. Você precisa se dar um bom e rápido chute na bunda.
Eu percebo a pressão que seus pais colocaram sobre você. E
não discordo inteiramente de que tenha que cumprir sua
responsabilidade de continuar com o nome Covington e se
casar com alguém apropriado para essa responsabilidade,
alguém que entende nosso mundo e pode lidar com o estresse.
Mas eu não seria contrária a que você fizesse o que fosse
preciso para ser feliz apesar de tudo.

— Não entendo aonde você quer chegar.


— Como eu disse antes, o que sua mãe não sabe não vai
machucá-la. Algum dia você se casará com uma mulher que
seus pais aprovam. Mas o que você faz a portas fechadas é
problema seu. Talvez você possa fazer um acordo com alguém
– alguém que precise se esconder atrás das aparências
também.
— Você está sugerindo que eu entre em um casamento
falso algum dia e continue a viver minha vida da maneira que
eu quiser?

— Só estou dizendo… há opções. Nem tudo é preto e


branco, certamente não no mundo de onde viemos.
Embora a sugestão de minha avó fosse interessante, para
dizer o mínimo, acabei concluindo que ela estava louca por
sugerir tal coisa. Seria difícil encontrar uma mulher de quem
eu gostasse e que também atendesse aos critérios de meus pais.
A única coisa mais difícil poderia ser encontrar uma mulher
disposta a entrar em um casamento sem amor para que eu
pudesse ficar livre para entreter qualquer namorico que eu
quisesse – sem mencionar a redução de alguém de quem eu
gostava a uma concubina virtual.
Eu tinha que dar crédito a vovó por pensar fora da caixa,
no entanto. Ela era uma rebelde. E criativa, se nada mais.

♥Ω♥

Na noite seguinte, Sigmund partiu em uma viagem de


fim de semana para Newport com outra mulher que conheceu
no aplicativo de namoro. Quando ela chegou para buscá-lo, ele
tentou de tudo para que eu concordasse, mas eu recusei.
Vendo que ele não estaria em casa para fazer o jantar, me
forcei para largar meu pincel o tempo suficiente para ir ao
supermercado.
É uma realidade fria quando você percebe que todas as
opções disponíveis na loja significam pouco porque você não
pode cozinhar para salvar sua vida. Escolhi uma caixa de
SpaghettiOs15, algo que pretendia experimentar desde que
cheguei aos Estados Unidos, e peguei um espaguete enquanto
fazia isso. Eu fui estragado minha vida inteira com chefs
particulares, e nunca comi nenhum dos alimentos processados
de que ouvi falar. A comida lixo era uma novidade.
Eu tinha acabado de sair de um dos corredores quando
um flash vermelho chamou minha atenção. Meu coração
acelerou ao ver Felicity parada na seção de padaria, olhando
para a vitrine. Ela não tinha me notado. Eu não tinha certeza se
deveria dizer olá ou apenas continuar andando. Sabia que o
último seria mais sábio, considerando todos as coisas, mas
então o universo tomou a decisão por mim quando Felicity se
virou e encontrou meus olhos.
Sua boca se abriu ligeiramente. Ela parecia não saber se
fugia ou dizia algo.
Eu sorri e dei alguns passos em sua direção. — Que bom
encontrar você aqui.

Ela soltou um suspiro. — Sim.


— Você está comprando um bolo?

— Sim, realmente. É o aniversário da Sra. Angelini.


— Ah. Muito agradável.
Felicity olhou para minha cesta. — Algumas escolhas
saudáveis você tem aí.
— Sigmund está em Newport por alguns dias. Portanto,
estou planejando uma festa de alimentos processados hoje à
noite. Se não sair de uma lata ou caixa, não é permitido na
minha festa.
— Parece que você está esquecendo-se da lata de carne.
Acho que vi isso no corredor cinco.

— Obrigado pela dica, mas preciso me controlar.


Ela sorriu nervosamente. — Então como você tem
passado?

— Mantendo-me ocupado, — eu disse, percebendo suas


mãos inquietas. — Você?

— O mesmo.
Um longo momento de silêncio se seguiu.
Embora não me parecesse natural, eu me forcei a deixá-
la em paz. Presumi que era o que ela queria. — Bem, passe
meus desejos de um feliz aniversário para a Sra. Angelini.
— Irei.

Eu concordei. — Até logo.


Meu peito estava apertado enquanto eu me afastava. Fui
para a fila em transe, recusando-me a permitir que meus olhos
procurassem por ela novamente, mantendo-os fixos na esteira.
A velha à minha frente parecia ter uma infinidade de cupons.
Eu definitivamente entrei na fila errada.

Quando terminei, me peguei saindo do supermercado no


mesmo momento que Felicity, que agora carregava uma caixa
de bolo branca.

— Faz algum tempo que não nos vemos, — eu disse.


— Sim. — Ela exalou, seu corpo tenso enquanto
caminhávamos juntos por as portas de vidro deslizantes.

À medida que estávamos agora caminhando juntos em


direção ao estacionamento, puxei conversa.
— Qual bolo você escolheu?

— Apenas um bolo branco com cobertura de creme


chantilly e morangos por cima.
— Morango por cima – assim como você.

Deus, isso foi horrível. Parecia algo que Sigmund diria,


e eu deveria levar um tiro. Meus nervos aparentemente me
deixaram estúpido, além de tudo. Revirei meus olhos. — Sinto
muito. Isso foi pateticamente piegas.
— Tudo bem. — Ela sorriu. Felicity parou na frente de
seu veículo. — Bem, este é o meu. — Ela balançou a cabeça.
— Claro que é. Você sabe disso. Quem mais tem um Fiat
verde-menta nesta cidade, certo? — Ela colocou a caixa de
bolo em cima de seu carro.

— Estou estacionado ali, — ofereci estupidamente. Ela


não perguntou onde eu tinha estacionado. Por que diabos isso
importa para ela?

Ficamos um de frente para o outro, nenhum de nós se


movendo ou dizendo qualquer coisa.
Querendo continuar olhando em seus olhos, eu sabia que
não seria o primeiro a deixar este local. Enfiei a mão no bolso,
tirando um doce embrulhado. — Você gosta de caramelo?
Ela torceu o nariz. — Eu odeio isso, na verdade. É como
mastigar plástico para mim.
— Bem, veja, se você odeia caramelo, isso nunca
poderia ter funcionado entre nós de qualquer maneira. — Eu
pisquei.
Esperava que ela risse, mas sua reação foi exatamente o
oposto. Enquanto ela sorria, de alguma forma parecia triste.

— O que há de errado, Felicity?


Ela balançou a cabeça lentamente. — Eu não sei.

— Sim, você sabe. Fale comigo.


Ela não disse nada. Apenas continuou olhando nos meus
olhos. E quanto mais ela olhava, mais eu precisava provar seus
lábios mais do que minha próxima respiração.
CAPÍTULO 8

Felicity
Faixa 8: “Kiss Me”, Ed Sheeran
Não sei quantos segundos se passaram enquanto nos
encarávamos. Os sons do estacionamento pareceram
desaparecer na distância.

Nós lentamente nos aproximamos até que os lábios de


Leo estivessem a centímetros dos meus. Como nós passamos
de uma conversa casual e estranha para este momento – tão
intenso que eu mal conseguia respirar? Sentia falta dele,
pensava nele a cada segundo de todos os dias por duas
semanas enquanto olhava para a baía. E agora que ele estava
na minha frente, e não sabia como esconder meus sentimentos.
Não poderia ter dito a você quem beijou quem primeiro.
Pareceu acontecer espontaneamente. Nossos lábios se
aproximaram a ponto de se fixarem, mesmo que por força
magnética. No momento em que sua boca quente e molhada
envolveu a minha, toda a respiração que eu estava segurando
escapou para dentro dele. Leo soltou um gemido lento e sexy
que vibrava na parte de trás da minha garganta. Eu me abri
mais para deixar sua língua entrar, saboreando o gosto deste
belo homem. Fazia tanto tempo desde que eu tinha sido
beijada, mas em apenas alguns segundos soube que nunca
tinha sido beijada assim, beijada ao ponto de meus joelhos
ficarem fracos, que sentia isso em cada fibra do meu corpo.
Começamos suaves e tranquilos, mas logo se
aprofundou. Senti o metal do meu carro bater nas minhas
costas enquanto Leo encostava seu corpo no meu. Suas mãos
se enredaram em meu cabelo enquanto meus dedos cravavam
em suas costas. Estávamos perdidos um no outro, nenhum de
nós sabia que ainda estávamos em um lugar público. Ele
cheirava e tinha um gosto tão bom que eu nunca quis que
parasse, nem me importei com quem poderia estar vendo isso
acontecer.
Meu corpo zumbiu quando sua mão quente deslizou
pelas minhas costas, pousando logo acima da minha bunda. Eu
me pressionei contra ele, ciente da ereção contra meu
abdômen. Nossas línguas procuraram o gosto uma da outra
com abandono imprudente. Estendi a mão para passar meus
dedos por seu cabelo sedoso.

Não foi até um carrinho de compras alimentado pelo o


vento bateu em nós e fomos forçados a interromper o beijo.
Ele se afastou de repente conforme suas mãos
envolveram meu rosto. — Você está bem?

— Sim. — Pisquei como se estivesse saindo de um


transe.

Ele parecia atordoado, também, à medida que afastava o


carrinho e o apoiava contra uma grade.

Quando ele voltou para mim, passou a língua pelo lábio


inferior, ainda parecendo um pouco chocado. — Eu, uh, não
sei o que passou por mim. Eu simplesmente… isso não deveria
ter acontecido. Não era para eu me encontrar com você. E
certamente não era para eu te molestar no estacionamento de
um supermercado.
Esfreguei meus dedos sobre minha boca. — Tem certeza
que me atacou ou eu te ataquei?
Nós compartilhamos um sorriso.

Depois de alguns momentos de silêncio, ele disse: —


Felicity… eu sei que concordamos em não nos ver. Mas eu
não tenho conseguido parar de pensar sobre você.

Eu concordei. — Eu também tenho pensado muito em


você.

— Você tem?
— Sim, — sussurrei.

— Passei as últimas duas semanas sem fazer nada além


de pintar com Bob Ross e comer bala caramelo de água
salgada.

— Bob Ross? — Eu ri. — O quê?


— Não pergunte. — Ele balançou sua cabeça. — E não
acho que gosto de caramelo também. Mas era melhor do que
beber, ou pior, entrar no barco e cruzar a baía para fazer o
papel de bobo implorando a você todos os dias para
reconsiderar passar o verão comigo. Então optei por não fazer
isso, apenas para fazer o papel de bobo ainda maior neste
estacionamento na primeira chance que tive.

Eu era igualmente culpada pelo festival de beijos que


acabou de acontecer. Mas como eu deveria seguir meu
caminho alegre agora e esquecê-lo depois daquele beijo?

Seus olhos fixaram-se nos meus. — Diga-me o que


fazer, porque eu não quero te deixar agora.
Eu sabia que viveria para lamentar as palavras que
proferi em seguida. — Gosta de bolo?

Sua boca se curvou em um sorriso. — Só de bolo branco


com chantilly e morangos.

Minha pulsação disparou. — Gostaria de vir hoje à noite


para o aniversário da Sra. Angelini? Íamos pedir pizza, o que
não é a coisa mais saudável, mas é um passo à frente da sua
festa de SpaghettiOs.
— Uma noite com você seria um grande passo depois
disso.

— As sete, então?

— O que posso levar?


— Só você.

— O que a Sra. Angelini gosta de beber?

— Whisky. — Eu rio.

— Mesmo? Tudo bem. Vou pegar um pouco.

Eu concordei. — Até logo.


Assim que eu estava abrindo a porta do meu carro, ele
me parou. — Você pode querer tirar o bolo de cima do carro
antes de ir embora.
Fechando meus olhos brevemente, eu me encolhi. —
Claro. Isso seria uma ótima ideia.

Depois que entrei no carro, coloquei-o em movimento


quando deveria estar dando ré, quase batendo em uma grade
antes de me segurar. Por que eu nunca conseguia dirigir direito
em torno de Leo?
Ele ficou lá sorrindo enquanto me observava ir. Eu tinha
borboletas e uma sensação de pavor ao mesmo tempo. Sabia
que este convite significava muito mais do que apenas pizza e
bolo. Eu oficialmente joguei a cautela ao vento e o convidei
para minha vida. E antes que eu percebesse, ele teria ido
embora tão rápido quanto entrou.

♥Ω♥

A campainha tocou pontualmente às sete.

— Aí está o aristocrata. — A Sra. Angelini sorriu.

Minhas mãos estavam suadas quando me aproximei para


abrir a porta para Leo.

A Sra. Angelini pareceu surpresa por eu ter convidado o


britânico do outro lado da baía para seu aniversário, mas ela
não questionou minha repentina mudança de opinião. Acho
que a situação a divertiu, para ser honesta – e isso sem que eu
divulgasse o que tinha acontecido no estacionamento do
supermercado.

Leo estava atrás de um enorme buquê de flores. Em sua


outra mão, ele segurava uma garrafa de Fireball16.

— Oi, — eu disse.

Ele tirou as flores do caminho para que eu pudesse pegar


seu lindo sorriso. — Boa noite, linda.

Eu me afastei. — Entre.

A Sra. Angelini veio atrás de mim. — Olá, Leo.


— Você deve ser a Sra. Angelini. É um prazer conhecê-
la.

— Da mesma forma.

— Feliz aniversário. — Ele entregou a ela as flores e o


álcool. — Estes são para você.

— Flores e Fireball? Verdadeiramente um homem


segundo meu próprio coração. E eu suspeito de um passarinho
que ajudou você com a escolha da bebida.

— De fato. — Ele sorriu para mim.

— Bem, isso foi incrivelmente generoso. Obrigada.


Minhas três coisas favoritas começam com F: flores, Fireball e
Felicity.

— Acho que temos o último em comum. — Ele sorriu.

Maldito seja ele e seu charme.

Dona Angelini foi colocar as flores na cozinha,


deixando-nos sozinhos na sala. Seus olhos caíram para meus
lábios. Suspeitei que ele ainda estava pensando em nosso beijo
no estacionamento. Certamente não fui capaz de pensar em
muito mais.

A campainha tocou novamente, me dando um momento


para escapar da tensão enquanto atendia. O entregador de
pizza tirou duas pizzas grandes de sua embalagem isolada.
Entreguei-lhe uma gorjeta e fechei a porta.

— O que eu posso fazer? Coloque-me para trabalhar, —


disse Leo.

— Está tudo verificado. A mesa está posta. A pizza está


quente. Podemos apenas comer. Fiz uma salada também.
Nós três sentamos para jantar. Apesar dos meus nervos,
eu tinha um grande apetite, devorando três fatias de pizza e
uma tigela cheia de salada. O vinho tinto que eu estava
bebendo ajudou a me relaxar conforme a noite avançava.

Leo passou boa parte do jantar respondendo às perguntas


da Sra. Angelini sobre a Inglaterra. Ele parecia confortável em
conversar com ela, embora eu soubesse que entrar nos detalhes
de sua vida na aristocracia não era algo que ele gostava de
fazer. Mas a Sra. Angelini sempre fez você sentir como se ela
entendesse de onde você estava vindo. Ela nunca fazia
suposições sobre as pessoas apenas porque suas experiências
pessoais. Acho que Leo podia sentir isso sobre ela, e se sentia
confortável.

Em um ponto, Sra. Angelini mudou de assunto.


— Como vai a arrecadação de fundos para a Sra.
Barbosa? — ela me perguntou.

— Não tenho certeza se vamos atingir a meta neste


verão. Estamos debatendo começar de qualquer maneira, mas
então corremos o risco de deixá-la incompleta.

— O que é isso? — Leo perguntou, olhando entre nós.


— Felicity está tentando arrecadar dinheiro para uma
moradora local que cria alguns filhos adotivos. A casa dela é
muito pequena, então Felicity achou que seria uma boa ideia
tentar ajudá-la a aumentá-la.
— Qual é o seu objetivo? — ele perguntou-me.

— Trinta mil. Arrecadamos cerca de vinte desde que


comecei a campanha no ano passado.
Ele parecia um pouco confuso. — Trinta mil soa baixo
para aumentar a casa.
— Bem, é tecnicamente uma reforma de garagem. A
estrutura já está lá. Um de seus filhos tem autismo. Então, uma
vez que arrecadarmos o dinheiro, outros dois e eu vamos
remodelar aquele espaço e isolá-lo. Seu filho adotivo é Theo.
Será onde ele fará suas terapias e terá algum equipamento
sensorial. Aparentemente, fica muito barulhento na casa
principal, e é difícil para ele se acalmar e se concentrar.
Portanto, não é como uma verdadeira obra, mais como uma
garagem com eletricidade e aquecimento
— É incrível você querer fazer isso. Quem está fazendo
o trabalho?

— É mais barato se fizermos isso sozinhos, mas vamos


ter que contratar alguém para o encanamento e a eletricidade.
— Quem somos nós exatamente? — ele perguntou.

— Bem, eu e alguns amigos do colégio.


— Mas você já arrecadou o suficiente para começar?

— Sim. Acho que sim.


— Adoraria ajudar enquanto estou aqui.
— Você consegue fazer alguma dessas coisas?

Ele arqueou uma sobrancelha. — Emito uma vibração de


que não saberia?

— Eu não sei, — admiti.


— Meu pai me colocou para trabalhar muito em nossas
propriedades. E eu realmente ajudei a construir uma pequena
casa na Tanzânia em uma missão voluntária. Sim, adoraria
ajudar.

Aceitar sua ajuda significava me comprometer a passar


um tempo regular com ele. Isso era arriscado, mas como
poderia recusar?
— Bem, isso seria ótimo.

— Ótimo, então. — Ele sorriu. — Eu também gostaria


de contribuir para a arrecadação de fundos.

— Não se sinta obrigado.


— Não. Eu realmente gostaria.
— Ok. Vou mandar uma mensagem para você com as
informações.
— Obrigado.
Abrindo meu telefone, rolei para baixo até seu nome e
enviei a ele um link para a página de arrecadação de fundos
que criei.
Então eu me levantei. — Vou pegar o bolo.

Ele se levantou da cadeira. — Deixe-me ajudá-la.


— Não. Por favor. Fique e termine sua bebida.

Depois que fui para a cozinha, tirei a caixa da geladeira e


coloquei o bolo em um prato grande e redondo. Abri o pacote
de velas e coloquei nas bordas. Podia ouvir a Sra. Angelini e
Leo rindo na sala de jantar.

Poucos minutos depois, a Sra. Angelini se esgueirou por


trás de mim. — Ele é adorável, — ela sussurrou.

— E perigoso…
— Porque ele está indo embora, sim. Mas isso não o
torna menos adorável.

— Estou tentando não pensar demais nas coisas agora.


— Você absolutamente não deveria.
Soltando um suspiro, carreguei o bolo para a sala de
jantar.
Cantamos “Parabéns pra você” e passamos os minutos
seguintes devorando nossas generosas fatias de bolo.

Leo levou a mão ao canto da minha boca em um ponto,


fazendo-me estremecer.

— Desculpe ter assustado você. Você tinha um pouco de


chantilly no rosto.
Lambendo a ponta dos meus lábios, eu disse, —
Obrigada.

Sra. Angelini sorriu. Eu sabia o que ela estava pensando.


Era a mesma coisa que eu: estava completamente ferrada.
CAPÍTULO 9

Leo
Faixa 9: “Shout Out to My Ex”, Little Mix
Felicity insistiu em levar nossos pratos para a cozinha.
Não me deixou ajudar e eu não forcei o assunto porque
suspeitei que ela precisava respirar. A intensidade entre nós
que havia crescido vertiginosamente no estacionamento hoje,
não havia diminuído. Eu sabia que a deixava nervosa. Só
esperava que fosse porque ela gostava de mim e não sabia o
que fazer com esses sentimentos. Eu também não sabia o que
fazer com tudo isso.

Nosso beijo me atingiu em cheio. Repassei a cada


segundo da tarde. E agora que estava aqui com ela, a
necessidade de uma repetição parecia ainda mais urgente do
que eu havia previsto.

A Sra. Angelini interrompeu meus pensamentos. —


Você parece apaixonado pela minha garota.
Eu parei no meio do gole. — Como você sabe?
— Você não tirou os olhos dela. — Ela riu. — Suponho
que não tirei os olhos de você, e foi assim que percebi.
— Acho que é óbvio o quanto eu gosto dela.
Ela sorriu. — Felicity é o pacote completo. Ela é tão
bonita por dentro quanto por fora. E não faz a menor ideia do
quanto é linda.
— Isso é parte do que me fascina nela. Ela ser tão
inteligente.

— E também é muito cautelosa. Mas quando abrir seu


coração para alguém algum dia, eu sei que dará a essa pessoa
tudo.

Balancei a cabeça, e um aperto desconfortável surgiu em


meu peito. Talvez porque eu soubesse que essa pessoa não
seria eu. E eu o invejava – quem quer que fosse.
— Está claro que ambas têm um ótimo relacionamento,
— eu disse. — Acho interessante, porém, que ela insista em
chamá-la de Sra. Angelini.
— Há anos tento fazê-la me chamar de Eloise. Não
chamando é um mecanismo de proteção da parte dela, eu acho.
Tenho certeza de que ela lhe contou sobre seu passado.
Quando criança, ela se permitiu ficar perto de cuidadores uma
ou duas vezes, e o tiro saiu pela culatra. Espero que agora ela
saiba, que não estou indo a lugar nenhum. Ela é adulta,
obviamente. Tecnicamente, não sou responsável por ela de
forma alguma. Mas é a única família que tenho além do meu
irmão. Então, eu estaria perdida se ela me deixasse. Preciso
dela tanto quanto ela precisa de mim.

— Isso é bonito. Realmente. Estou feliz que vocês se


encontraram.

— Não a machuque muito, — ela disse depois de um


momento.
Sem saber como responder, simplesmente digo a
verdade. — Não pretendo machucá-la de jeito nenhum.
— Mas você irá. Ela vai deixar você fazer isso. O fato de
ter convidado você para vir aqui esta noite me diz isso.
Felicity entrou naquele momento, interrompendo
qualquer outra visão que eu pudesse ter obtido da Sra.
Angelini, cujas palavras me deixaram inquieto. Embora a
mensagem certamente não fosse nada que eu já não soubesse.

A Sra. Angelini se levantou. — Obrigada pelo jantar de


aniversário, meninos. O Fireball está me chamando. Vou
servir-me de uma bebida, e ir para o meu quarto, e ler o meu
livro fumegante. — Ela piscou. — Por que você não mostra a
Leo o restante da casa?

Felicity se virou para mim. — Você gostaria de fazer um


tour?

— Eu adoraria, — eu disse, terminando o meu vinho.


Ela então me levou por todas os ambientes do primeiro
andar, que incluíam uma biblioteca impressionante com
prateleiras embutidas e uma mesa de madeira ornamentada.
Não ia sugerir que ela me mostrasse seu quarto, mas
quando ela começou a subir as escadas, eu a segui.

Passamos pelo quarto da Sra. Angelini e continuamos


pelo corredor até chegarmos ao final. Felicity abriu a porta e
me levou para dentro. Fiquei feliz por ela ter confiado em mim
o suficiente para me levar para seu quarto. Eu iria permanecer
no meu melhor comportamento esta noite, mas ela não tinha
como saber disso, especialmente depois da maneira como
ataquei sua boca hoje cedo.

O quarto de Felicity era muito mais feminino do que eu


poderia ter imaginado – não que ela não fosse uma beleza
feminina, mas nunca pareceu como uma garota feminina.
Fiquei surpreso ao encontrá-lo decorado em cores pastel.

— Então, este é o meu quarto. Não o mudei há anos.


Mas eu o adoro. É espaçoso e tem vista para a baía.

Havia algo muito calmante sobre este ambiente. Era


organizado e tinha a mesma elegância silenciosa que ela.

Uma série de cadernos em todas as cores do arco-íris


chamou minha atenção. Eles estavam alinhados em uma
prateleira.

— O que é tudo isso?

— São minhas agendas. E são todas para este ano.

— Achei que a maioria das pessoas tinha uma agenda,


não vinte.

Ela riu. — Eu os coleciono. Eu não sei. Eles me fazem


feliz. Planeadores e adesivos. Sei que parece uma loucura.

— Loucura? Você está falando com um homem que tem


pintado com a intenção de se tornar o próximo Picasso,
quando a realidade é mais como pintura infantil.

— Isso é verdade. — Ela suspirou. — Bem, suponho


que, como sua pintura, os planejadores são… terapêuticos para
mim. Eu me sinto mais organizada quando sei o que estou
fazendo e para onde estou indo. Ao crescer, sempre foi
importante para mim sentir que tinha controle sobre minha
vida, mesmo quando nunca sabia bem onde iria parar. De
alguma forma, se eu pegasse um dia de cada vez e anotasse
tudo o que estava para acontecer, isso me trazia algum consolo
e diminuía meu medo sobre o futuro como um todo. Tipo, vou
checar meu planejador e dizer a mim mesma: “Hoje, Felicity,
você vai fazer XYZ. Você não precisa se preocupar com mais
nada”. — Ela balançou a cabeça. — E então, é claro, esse
hábito se transformou em um vício superficial por
planejadores coloridos e adesivos. Estou fazendo isso soar
muito mais profundo do que deveria.

— Não. Faz todo o sentido. E estou aprendendo que,


quando se trata de você, nada é superficial. Há um significado
mais profundo por trás de quase tudo. — Meus olhos vagaram
para uma colagem de fotos em sua parede – uma cidade à
noite, duas mãos com dedos entrelaçados, planejadores mais
coloridos. Eu fui até lá. — O que é isso?
Felicity parecia hesitante. — É um quadro de
visualização.

— O que isso significa?


— Estas são todas as coisas que imagino no meu futuro,
coisas que quero na minha vida. Visualizá-los em um quadro
como este deve ajudar a manifestá-los.
Inclinei-me para a imagem. — É Nova York?

— Sim. No fundo, sou uma garota da cidade, embora


tenha crescido perto da água. Eu adoraria morar no centro no
meio de toda a ação algum dia. Em Boston, eu morava em
Cambridge, que não era bem uma metrópole. Não precisa ser
Nova York, no entanto. Esse foi apenas o exemplo que usei.
— Eu não tenho que perguntar sobre os planejadores. Eu
sei tudo sobre o seu vício nisso agora. — Eu sorri.

— Sim. Eu não sei por que joguei aqueles lá. Para


garantir, eu acho.
A imagem das mãos entrelaçadas me deixou muito
curioso. — Conte-me sobre isso. O que isso significa para
você?

— Não é óbvio? — Ela corou. — Algum dia eu quero


um parceiro no crime. As mãos representam… confiança, não
soltar.

Claro. O oposto de abandono.


— Então, mesmo que você tenha dito que não quer
depender de ninguém, você quer um parceiro de vida.

— Claro. Não quis dizer que quero passar a vida


sozinha, só que não quero sentir que não consigo sobreviver
sozinha.

— Entendo completamente, — eu sussurrei. Aquele


sentimento no meu peito estava de volta – aquele que se
desenvolveu quando a Sra. Angelini falou sobre Felicity dar
todo o seu coração para alguém algum dia.
— Se você tivesse um quadro de visão, — ela
perguntou, — O que estaria nele?

No momento? Seu rosto. É basicamente isso. Soltando


um longo suspiro, levei algum tempo para refletir sobre uma
resposta. — Eu acho que quando o seu futuro parece traçado,
há pouco espaço para a imaginação. Verdadeiramente nunca
pensei sobre o que eu poderia realmente querer se não
houvesse quaisquer restrições. — Encarei sua colagem. —
Mas suponho que meu quadro se pareça um pouco com o seu
– menos os planejadores, é claro. As luzes brilhantes de uma
cidade, talvez algumas pirâmides – você sabe, representando a
possibilidade de viajar pelo mundo sem obrigações. Essa seria
a minha maior fantasia – ter indefinidamente a liberdade que
estou proporcionando a mim mesmo agora.
— Mas, no final das contas, Leo, tudo é uma escolha, —
disse ela. — Em algum nível, você está escolhendo seu destino
pelo bem de sua família, não é? Eu te respeito por isso, mesmo
que eu não consiga me identificar. Não tenho ninguém que
dependa de mim para manter um nome de família. Não tenho
responsabilidade para com ninguém além de mim mesma. Se
eu estivesse no seu lugar, provavelmente faria a mesma coisa.
Nunca considerei minha decisão de continuar a linhagem
de meu pai como uma escolha. Mas suponho que sim. Não
havia algemas em mim.
Concordei. — Obrigado por compartilhar essa
perspectiva. É uma maneira diferente de ver as coisas. Não
existe falta total de escolha, existe?
Seu telefone tocou e ela olhou para ele. Seus olhos se
arregalaram.
— O que foi? — Eu perguntei.
— Recebo notificações quando alguém faz uma doação
para o fundo da Sra. Barbosa. — Ela olhou para mim. — O
que você fez?
Quando Felicity estava limpando a cozinha mais cedo,
eu cliquei no link de doação e enviei o resto do dinheiro – dez
mil dólares – que permitiria a ela atingir a meta.
— Eu fiz doações para causas muito menos importantes
na minha vida, — eu disse. — Queria ter certeza de que
tínhamos o que precisávamos para começar.
— Você não tinha que doar tudo isso. É uma loucura.
— Não é, realmente. Estaremos ajudando alguém que
precisa, e posso passar o tempo programado com você. E não
posso colocar uma etiqueta de preço nisso.

— Bem, normalmente, eu ficaria brava com você por


doar tanto, mas é tão necessário, e é por uma boa causa. Eu
realmente aprecio sua generosidade. Sem a sua doação e a da
Sra. Angelini, isso provavelmente não teria acontecido por
pelo menos mais um ou dois anos, se é que alguma vez iria.
— É realmente um prazer, Felicity. — Sentando em sua
cama, olhei ao redor. — Estar aqui… — eu pausei. — É tão…
bom. Tão acolhedor, convidativo. Esta casa, em geral.
Principalmente a linda garota que mora aqui. — Eu pisquei. —
Você também.

Ela riu. — Um bom.


— Sério, Sra. Angelini é uma joia. Foi ótimo conhecê-la.
Obrigado por me convidar esta noite.

— De nada. E sim, eu sei. Eu sou uma garota de sorte


por morar aqui.

— Pelo que eu percebi, a Sra. Angelini se sente sortuda


por ter você em sua vida também.
— Ela é a melhor.

— Você acha que ela me adotaria também? — Eu


provoquei.
— Bem, então, você seria como meu meio-irmão, e isso
seria assustador.
— Porque eu estaria tentando entrar furtivamente em seu
quarto à noite? — Eu sorri maliciosamente.
— Eu li um livro assim uma vez. Não acabou bem.
— Interessante. — Eu coloquei meus pés para cima,
afundando em seu travesseiro.
— Sinta-se à vontade para ficar mais confortável, —
disse ela, com a sobrancelha levantada.

— Sinto muito. Isso te incomoda?


— Estou brincando.
Coloquei minhas mãos atrás da cabeça. — Percebi que
você está mantendo distância. Talvez seja uma boa ideia
depois do que aconteceu hoje?
— Provavelmente. — Felicity corou.

— É inteligente da sua parte fazer isso, porque com


certeza, tentaria beijá-la novamente.
Suas bochechas ficaram vermelhas. Ela era tão bonita,
vestida com uma camiseta cor de pêssego que combinava com
seu cabelo e pele. Seu cabelo estava um pouco mais liso do
que sua textura fofa de costume.

— A propósito, a Sra. Angelini me deu um aviso esta


noite, — eu disse.
— Qual?

— Sim. Ela disse para ter certeza de não te machucar


muito.
Felicity fechou os olhos. — Gostaria que ela não tivesse
dito isso. Eu sinto muito.
— Não sinta. Ela está certa. O que me faz pensar por
que você me convidou. Você já havia decidido que era melhor
não nos vermos mais. Meu beijo mudou as coisas?
Ela inclinou a cabeça. — Você me beijou ou eu beijei
você?
— Pensando bem, você pode ter iniciado. — Eu sorri. —
Espere – você aproveitou o estado patético em que me
encontrou no supermercado?
Ela encolheu os ombros. — Eu me senti mal por você. O
SpaghettiOs? Isso era patético. Eu tinha que fazer alguma
coisa.
Eu me endireitei contra a cabeceira da cama. — Ok, com
toda a seriedade, além do beijo, o que fez você me convidar
esta noite?
Felicity continuou a manter distância no quarto enquanto
olhava para baixo.

— Em Harvard, eu costumava jogar Frisbee, certo? —


ela disse, olhando para cima. — Fui uma das piores jogadoras
da equipe e não ganhávamos com muita frequência. Sempre
soube que na maioria das vezes iria perder. No entanto, eu
estava bem com isso porque a experiência revigorante valeu a
pena. Contanto que eu não esperasse vencer, eu estava bem.
Eu poderia simplesmente aproveitar a experiência. — Ela
exalou. — Apaixonar-me por você é um jogo perdido.
— Mas um que você está disposta a jogar? — Meu
coração disparou. — Estou no jogo, se você estiver.

— Se vamos passar um tempo juntos, eu tenho que


deixar você saber que eu… não posso dormir com você.

Tudo bem. Porra.


Certamente não esperava para ela mencionar sexo agora,
mesmo que a ideia disso nunca tenha estado muito longe da
minha mente nos últimos dias.
— Entendo. — Mesmo que isso me mate. Mas ela
reabriu a possibilidade de passarmos o verão juntos. Levantei-
me e fui até onde ela tinha seus planejadores alinhados na
prateleira. — Você tem um desses de sobra?
Ela apertou os olhos, parecendo perplexa. — Hum…
claro. Os da direita são novos.
Puxei um azul da prateleira. — Vou devolvê-lo no final
do verão. Tudo certo?

Felicity encolheu os ombros. — Ok.


A última coisa que eu queria fazer era deixá-la esta
noite. Mas desde que ela se resignou a me deixar machucá-la,
meu instinto me disse para me controlar ao fazê-lo.
— Obrigado por uma noite adorável, Felicity.

— Você está indo?


— Acho que é melhor se eu for. Especialmente já que
temos um longo dia amanhã.

— Nós temos?
— A menos que você esteja trabalhando no restaurante?
— Não até a noite seguinte.

— Brilhante, então. Venho buscá-la pela manhã e iremos


à loja para começar a comprar suprimentos para a reforma.
Quantas pessoas você disse que podem ajudar?
— Minha amiga Bailey e seu namorado moram em
Providence. Sei que eles estão definitivamente dentro. Entro
em contato com eles hoje à noite e confirmo quem pode
comparecer amanhã.

— Está tudo bem se eles não puderem. Podemos


começar de qualquer maneira. Mas quanto mais, melhor. O
que você já tem em termos de ferramentas? Estou me
perguntando o que precisamos comprar.

— Nosso vizinho trabalha com construção. Ele tem uma


tonelada de ferramentas elétricas em sua garagem –
provavelmente quase tudo de que precisamos. Ele me disse
apenas para avisá-lo quando eu precisar pegar as coisas
emprestadas. Posso mandar uma mensagem para ele. — Ela
sorriu. — Não posso acreditar que isso está realmente
acontecendo.
Enquanto descíamos as escadas, a excitação correu por
mim. Eu passaria o dia com ela amanhã. E trabalhar neste
projeto seria a melhor maneira de gastar minhas energias do
que pintar uma arte que eu estava com vergonha de mostrar a
alguém.

Ficamos um de frente para o outro na porta. Decidi não


ceder à necessidade de beijá-la novamente.

— Caso haja alguma dúvida, Felicity, — eu disse


enquanto me virava para sair, — definitivamente fui eu quem
beijou você hoje.

♥Ω♥
Na manhã seguinte, peguei Felicity bem cedo e fomos à
loja de materiais de construção mais próxima. Fomos capaz de
pedir muitas ferramentas emprestadas ao vizinho de Felicity,
Hank Rogers: um compressor de ar, pregador pneumático e
serra cortadora, entre outras coisas. Portanto, o primeiro passo
seria preparar a estrutura. Aluguei uma caminhonete, para que
pudéssemos transportar a madeira que usaríamos para começar
a enquadrar o interior. Em seguida, teríamos que contratar um
eletricista e encanador antes de retomar a última de nossas
tarefas, coisas como forro, pintura, depois piso.
A senhora Barbosa estava fora quando chegamos na
casa dela, depois de nossa ida às compras. Felicity e eu fomos
direto para a velha estrutura da garagem que estaríamos
reformando e começamos. Felizmente, lembrei-me de muito
do que aprendi com meu pai quando ele me levou com ele em
uma missão voluntária na Tanzânia alguns anos atrás. Nessa
viagem, construímos um anexo à escola.
Felicity segou os pinos enquanto eu os colocava no
lugar. Também ensinei a ela como cortar a madeira
corretamente. Nossa equipe de duas pessoas começou muito
bem, digamos assim. Mas algumas horas depois, nossa
parceria particular foi interrompida quando seus amigos
chegaram para ajudar. Dois caras e uma garota entraram na
garagem.
— Desculpe, estamos atrasados, — disse a garota.
— Não sabia que você estava de volta a Narragansett, —
disse Felicity para um dos caras.
Ele assentiu. — Há quanto tempo, Felicity.
Obtendo uma vibração estranha, olhei entre eles.
Felicity parecia desconfortável ao se virar para mim. —
Leo, esta é minha melhor amiga, Bailey.

— Prazer em conhecê-la, — eu disse.


— Igualmente. — Ela sorriu.
— E este é o namorado dela, Stewart.
— Stewart, como vai, cara? — Eu apertei sua mão.
Então ela se virou para o outro cara. — E este é Matt.

Balancei a cabeça em direção a ele enquanto minhas


suspeitas cresciam. — Oi.
— Oi, — ele disse, parecendo tão receoso quanto eu.

Matt era alguns centímetros mais baixo do que eu, com


cabelos e olhos escuros. Eu teria que perguntar a Felicity sobre
ele mais tarde.
Ela mostrou a eles o espaço por alguns minutos. — Se
um de vocês quiser lidar com o corte da madeira, isso seria
ótimo, — disse ela. — Assim posso continuar a ajudar Leo.

Matt se ofereceu para lidar com o corte de madeira


enquanto Bailey e seu namorado trabalhavam para limpar um
pouco do lixo do lado oposto onde eu estava trabalhando.
Em um ponto, Felicity me parou. — Acho que a Sra.
Barbosa acabou de chegar. Devíamos ir dizer olá.
Larguei o pedaço de madeira que ia afixar na parede. —
Tudo bem…
Deixamos os outros três na garagem e fomos para a
residência principal.
Antes que eu pudesse piscar, um menino grande saiu
correndo da casa e caiu direto no meu peito, quase me
derrubando. Sem dizer nada, ele pegou minha mão e me levou
para o quintal enquanto corria em alta velocidade.
— O que está acontecendo, cara? — perguntei.
Ele gritou, mas não disse nada. Em segundos, percebi
que ele não era nada normal. Esta deve ser a criança com
necessidades especiais para a qual estávamos renovando o
espaço de terapia. Eu ri, aliviado por não ter tido uma reação
precipitada de quase ser agarrado por uma criança quase tão
grande quanto eu. Sabia que ele só tinha uns treze ou quatorze
anos.
O menino me levou a um balanço de banco e nos
sentamos. Ele começou a nos balançar com as pernas enquanto
continuava a segurar minha mão. Há uma primeira vez para
tudo na vida, eu acho.
Eu avistei Felicity correndo em nossa direção.

— Então, tudo bem, você conheceu Theo, — ela disse,


sem fôlego.
— Eu certamente conheci. Ficamos bastante íntimos em
questão de segundos.
Apareceu uma mulher que presumi ser Sra. Barbosa. —
Leo, eu sinto muito. Theo adora quando temos novos rostos
em casa, especialmente rapazes. Está tão acostumado com
todas as terapeutas que vêm trabalhar com ele. Acho que ele
ficou um pouco animado em vê-lo.
Eu olhei para ele e ele olhou para mim antes de colocar a
cabeça no meu ombro.
— Espero que não se sinta desconfortável, — disse ela.
— Claro que não.
Theo era como um ursinho de pelúcia de quase noventa
quilos. Certamente não havia nada para se sentir
desconfortável.
— Obrigada por agradá-lo. Ele não fala nada, mas posso
ver que ele gosta de você, mesmo que não possa me dizer. E
acredite em mim, ele pode sentir os bons.
— Seu radar deve estar desligado hoje, então, — eu
brinquei enquanto ele continuava a nos balançar.
Ela sorriu. — Eu não posso agradecer o suficiente por
sua doação que ajudou a tornar tudo isso possível. Felicity me
contou. Nem sei o que dizer.

— Não há necessidade de dizer nada. Estou feliz em


fazer isso. Você nos verá muito durante as próximas semanas.
— Soube que você é da Inglaterra e que só está aqui
durante o verão?
— Sim. E poder trabalhar neste projeto trará um
significado importante para a última etapa da minha viagem.
Sra. Barbosa olhou para trás em direção à casa. — Eu
gostaria de poder ficar e conversar, mas meus outros filhos
precisam de mim dentro de casa. É hora de fazer o almoço. —
Ela acenou para o menino. — Vamos, Theo.
Theo não se mexeu. Ele parecia muito confortável
enquanto continuava a encostar a cabeça no meu ombro.
— Está tudo bem. Ele pode ficar comigo. Vou garantir
que ele entre em segurança.
— Tem certeza? — ela disse.
— Sim.
Não parecia que tínhamos muita escolha; esse garoto não
iria me deixar ir tão cedo.
Depois que ela saiu, Felicity sorriu ao olhar para mim.
— Você é muito gentil em deixá-lo fazer isso.
— Todo homem pode dar uma volta num balanço de vez
em quando.
Ela deu uma risadinha. — Você quer que eu fique aqui
com você?
— Não. Nós ficaremos bem.
— Certo. — Ela sorriu.
— Ei… — chamei enquanto ela se afastava.
— Sim?

— Aquele cara… Matt. Quem é ele?


Felicity deixou escapar um suspiro. — Você sentiu algo?
É por isso que você está perguntando?

— Sim, eu senti. Você parecia nervosa perto dele desde


o momento em que ele chegou.
Ela olhou para a garagem. — Ele era meu namorado do
colégio. Não tinha ideia de que Stewart o traria aqui. Eles são
bons amigos. A última coisa que ouvi sobre ele foi que Matt
estava morando na Pensilvânia. Nunca esperei vê-lo.

Isso me deu uma pausa. — Ele mora na Pensilvânia. O


mesmo lugar para onde você está indo?
— Sim. Isso é apenas uma coincidência, é claro. Ele
acabou entrando na UPENN17 depois do colégio. É por isso
que seguimos caminhos separados. Na época, eu estava muito
chateada com isso. Não entendi por que a distância tinha que
ser importante. Mas eu acho que ele percebeu que não seria
capaz de ser fiel ou algo assim.
— Entendo.
— Faz um tempo que não o vejo. Ele geralmente não
volta para casa no verão. Talvez eu o tenha visto duas vezes
nos anos desde que terminamos.

Minhas suspeitas aumentaram. — Interessante que ele


decidiu vir ajudar de repente. — Droga. Eu podia sentir esse
ciúme estranho subindo à superfície. Eu não tinha o direito de
me sentir territorial sobre ela, mas me senti ameaçado por seu
ex.
— Bem, ele é um bom amigo de Stewart.

Ela é tão ingênua? — Não se engane, ele veio aqui por


sua causa.
— Acho que não.

— Confie em mim. Ele está usando isso como uma


oportunidade para se reconectar. Ele sentiu falta do seu lindo
rosto. — Assim como eu irei.
— Bem, isso é muito ruim para ele, não é? — Ela
balançou a cabeça. — De qualquer forma, é melhor eu ir
ajudá-los.

Meus olhos permaneceram colados a ela enquanto se


afastava, mas eu continuei no balanço com Theo. Tinha apenas
uma visão limitada da garagem daqui.
Em um ponto, enquanto Felicity caminhava da garagem
para a casa, Matt a parou. Eles conversaram um pouco. Eu
tinha certeza de que ele estava feliz por tê-la encurralado.
Ela continuou olhando para os pés. Ele definitivamente
mexia com ela.

Virei-me para Theo e murmurei: — Se você não


estivesse me bloqueando, eu poderia tê-la resgatado disso,
sabe.
Ele riu e começou a mover o balanço mais rápido.
Pendurado na beirada, avisei: — Não acho que essas
coisas foram feitas para ir tão rápido, cara.
Ele riu ainda mais.
Ao todo, passei quase uma hora naquele balanço com
Theo antes que ele disparasse aleatoriamente em direção à
casa. Eu o persegui para garantir que ele entrasse em
segurança.

Voltei à minha tarefa de colocar a estrutura. De vez em


quando, Matt me trazia os pedaços de madeira de tamanho
apropriado e eu fingia ser cordial enquanto o avaliava.
Depois que nosso trabalho foi feito por hoje, Felicity e
eu arrumamos tudo na minha caminhonete alugada quando os
outros três saíram no Jeep de Stewart.

Ao descermos a estrada, eu me virei para ela. — Acho


que fizemos muito no primeiro dia, certo?
— Muito mais do que eu pensava.
— O que Matt queria quando ele te parou mais cedo? —
perguntei. — Eu vi você falar com ele enquanto eu estava
balançando com Theo.
— Ele me perguntou o que eu estava fazendo e disse que
deveríamos nos encontrar quando eu me mudar para a
Pensilvânia, mas eu ignorei. Não vou fazer isso.
Eu sabia. — Nem deveria, se ele te magoou no passado,
— eu disse, engolindo o nó na garganta. Ele só voltou à vida
dela por alguns minutos e tentou fazer uma jogada por ela. —
Por quanto tempo ele ficará?
— Não tenho certeza. Ele está de férias em Narragansett,
visitando sua família. Tem que voltar para trabalhar, eu
suponho. — Ela virou-se para mim. — Ele também perguntou
se você e eu estávamos juntos.
— O que você disse?

— Eu disse a ele que estávamos vendo para onde as


coisas vão.

— Essa é a verdade, eu suponho. — Aumentei meu


aperto no volante. — De qualquer forma, lamento que ele
tenha aparecido se isso prejudicou seu entusiasmo hoje. —
Olhando para ela novamente, eu parei. — O fato de você ter
ficado tão afetada me fez pensar se ainda sente algo por ele?
Ela balançou a cabeça enquanto girava o anel de prata no
dedo. — A única coisa que me chateou em vê-lo era que isso
me lembrava de como as coisas terminaram – do fato de que
quase todos os relacionamentos terminam. Não estou a fim de
ninguém agora, exceto você, Leo, se é isso que está se
perguntando. E isso é realmente uma droga para mim.
Parte da tensão que vinha crescendo dentro do meu
corpo o dia todo começou a se elevar. — Acho que somos um
time fodido, então. Porque tudo que eu conseguia pensar era
na sorte que ele teve de viver onde você está. E a maneira
como ele estava olhando para você me deixou um pouco
inquieto, embora eu não tenha o direito de estar.
Felicity permaneceu em silêncio por vários segundos
enquanto olhava pela janela. — Matt foi meu primeiro…tudo.
Cedi demais de mim mesma a ele quando era muito jovem. É
por isso que quando o outro relacionamento que eu tinha na
faculdade terminou, quase não me incomodou. Já havia estado
lá e feito isso com Matt e tinha perdido alguma capacidade de
ser magoada até então.
— Você realmente perde a capacidade ou apenas a
bloqueia?

— Sou definitivamente uma boa bloqueadora de


emoções. É um talento bastante praticado. — Ela deu um
sorriso triste. — Alguma vez você já teve seu coração partido?
Balancei minha cabeça. — Eu só tive uma namorada
séria… na escola secundária. Acabei traindo-a. Eu era muito
jovem para um relacionamento na época. Não faria isso com
alguém hoje. Mas, naquela época, eu era apenas um
adolescente estúpido.
— E além dela você não teve outra namorada?
— Já namorei muito, mas nada muito sério, não.
— Você é um playboy. Estou certa?

— Eu era. Mas não é uma coisa ruim se não está


enganando ninguém, certo?
— Você disse que era… no passado. Não se considera
mais um mulherengo?
— Desde que cheguei aqui, não estou vivendo o estilo
de vida de um playboy, nem me importo com isso no
momento.
— Parece se importar muito com o que seus pais
pensam. Eles não se importam que você faça isso em casa?

— Há uma regra tácita de onde eu venho de que


qualquer coisa que você faça antes do casamento, embora não
deva ser mencionada em grandes detalhes, é válido. Mas
quanto mais me aproximo dos trinta, mais pressão há para me
acomodar.
— Por que trinta, especificamente?

— Sempre foi um número mágico na minha família.


Todo homem se casou quando tinha trinta anos. Meu pai
parece esperar o mesmo de mim.
— Trinta ainda é muito jovem.
— O problema é que não creio ter dito isto, mas meu pai
vem lutando contra o câncer há vários anos. Ele acha que não
lhe resta muito tempo. Às vezes sinto esta pressão para me
acomodar, caso algo lhe aconteça, para que ele morra em paz,
sabendo que as coisas seguirão como deveriam.
— Sinto muito por ouvir isso. Eu não sabia. — Ela fez
uma pausa. — Por que ele se importa tanto se você esteja
casado, desde que possa continuar a fazer seu trabalho para
ele?
— Tem a ver com a continuação do nome de família. Ele
quer ter a certeza de que um dia eu me casarei e terei um filho
homem. Parece ser tudo com o que ele se importa. Todo o lado
da família de meu pai é inflexível que não tem utilidade para
mim se eu não procriar. Sem mencionar que uma das irmãs de
meu pai e seus filhos são muito rancorosos de que a herança
da família irá para mim e não para eles. É apenas a maneira
como está escrito, não escolha minha. Portanto, eles tentam
tornar minha vida miserável quando podem.

— Como assim?
— Um dos meus primos é uma verdadeira praga. Ela
alertou a imprensa uma vez quando eu estava de férias, e eles
imprimiram fotos minhas me bronzeando pelado.
— Ugh. — Ela se encolheu. — Essa não é a família de
Sig, é?
— Não. Sigmund é meu primo por parte de mãe. Um
bando muito mais simpático, mas mais louco.
— Lamento que você tenha que lidar com isso.
— Há vidas piores para se viver. Sei que sou um
privilegiado. Não tenho o direito de reclamar.
— Não, mas é a sua luta pessoal. Mesmo que não se
compare ao que muitas pessoas têm que passar neste mundo,
você tem o direito de ficar com raiva ou frustrado,
especialmente quando se trata de sua família traindo sua
confiança.
— Obrigado por sempre me fazer ver as coisas sob um
ângulo diferente. — Peguei sua mão. — É por isso que não
posso deixar de querer estar perto de você. — Considerei
convidá-la para jantar esta noite, mas não queria sobrecarregá-
la, já que passamos o dia inteiro juntos. Eu puxei minha mão.
— Hoje foi um longo dia. Tenho certeza de que você está
morrendo de vontade de tomar banho, assim como eu.
— Você está dizendo que preciso de um? — Ela deu
uma risadinha.
— Não, você tem um cheiro delicioso mesmo quando
está transpirando. — Eu lamberia cada gota de suor de seu
corpo agora, se pudesse.
Quando chegamos na casa da Felicity, me esforcei para
não a inclinar e beijá-la. Mas tinha sido um dia estranho com o
ex dela aparecendo e tudo, e eu não queria pressionar nada
agora. Então, por mais que eu ansiasse em provar seus lábios
novamente, simplesmente disse: — Eu te ligo.

— Uh… ok. — Ela deu um sorriso hesitante.


Ela está chateada?
Seus olhos caíram para minha boca, e me ocorreu que
talvez esperasse que eu a beijasse. Mas antes que eu pudesse
retificar qualquer coisa, Felicity saiu da caminhonete. Esperei
para ter certeza de que ela entrasse antes de sair.

♥Ω♥

Sigmund estava na cozinha quando entrei em casa. —


Onde diabos você foi? Eu tenho mandado mensagens para
você o dia todo.
— Desculpa. Estive ocupado e não verifiquei meu
telefone.
Tinha esquecido que ele estava voltando hoje de sua
viagem a Newport.
— Ocupado? O que diabos você tem feito? — ele
perguntou.
Por uma fração de segundo, considerei manter minha
reconciliação com Felicity para mim, mas meu primo astuto e
irritante descobriria logo.
— Estava com Felicity.
Seus olhos se arregalaram. — A Ginger? Ela está de
volta? — Ele revirou os olhos. — Eu deveria saber.
— Por que isso?
— Bem, claramente você estava à beira da loucura antes
de eu sair, com sua pintura e consumo de bala de caramelo. Eu
sabia que você não demoraria muito antes de ceder e rastejar
por outra chance com ela.

— Na verdade, eu não tinha planejado vê-la novamente.


Nós nos encontramos no supermercado ontem, e uma coisa
levou a outra.
— Você transou com ela?
— Não. Isso não está acontecendo. Ela deixou bem
claro. Mas nós tivemos um momento. Nós nos beijamos – no
estacionamento.
— Pelo amor de Deus, não poderia ter escolhido um
lugar diferente para beijá-la?
— Foi de momento, na verdade. Não tive um período
para contemplar se era apropriado ou não. E não dou a
mínima. Foi incrível. E o melhor beijo que já experimentei.
Então ela me convidou para jantar. Eu conheci a Sra. Angelini.
E hoje, passamos o dia inteiro ajudando a reformar a garagem
de uma mãe adotiva local. Estamos transformando isso em um
espaço de terapia para seu filho com necessidades especiais.
— Bem, essa é uma maneira nobre de fodê-la.

— Não é disso que se trata.


— Tudo bem. Se você diz. — Ele sorriu. — Em todo
caso, isso certamente é muito para ter acontecido em um fim
de semana. Espero que você saiba no que está se metendo.
— No que estou me metendo não é da sua conta. — Abri
a geladeira e peguei uma cerveja. — Enfim, como foi sua
viagem?
— Foi selvagem.
— Mesmo? — Eu tomei um gole. — Se divertiu com…
qual é mesmo o nome dela?
— Maria.
— Isso mesmo.
— Sim. Eu me diverti muito com Maria… e Maria.
— Havia duas Marias lá?

Ele franziu as sobrancelhas. — A amiga dela.


— Ambas se chamam Maria?
— Sim. Aparentemente, metade das meninas
portuguesas daqui se chamam Maria. Eu me diverti igualmente
com as duas.
Meus olhos quase saltaram da minha cabeça. — Espere,
você transou com a amiga dela também?
— Todos nós brincamos juntos.
— Jesus Cristo.

— Ou melhor ainda, Ave Maria. — Ele piscou.


Revirei meus olhos. — E você me acusa de ir rápido?
CAPÍTULO 10

Felicity
Faixa 10: “Maria”, Blondie
Voltando do trabalho para casa no restaurante, pensei
nos últimos dias. Como tive que trabalhar nas últimas três
noites, não consegui passar nenhum tempo significativo com
Leo, além de trabalhar na casa da Sra. Barbosa durante o dia.
Matt só apareceu de novo um daqueles dias. Tive a
impressão de que trabalhar ao lado de Leo não era o que ele
tinha em mente quando se ofereceu para ajudar. Leo também
parecia desconfortável perto de Matt, então foi bom que Matt
fugisse. Duvidava que o veria novamente antes que ele
voltasse para a Pensilvânia.
Cada vez que Leo me levava da casa da Sra. Barbosa, a
gente dizia adeus, e eu espero que ele me beije. Ansiava por
isso desde aquele dia no estacionamento e me perguntei por
que ele não tinha tentado novamente. Foi porque eu disse a ele
que não faria sexo? Ele achou que eu quis dizer que todo
contato físico estava fora de questão? E eu quis dizer o que
disse sobre não dormir com ele? Ou estava apenas com medo
de que dar aquele passo significasse que eu sofreria ainda mais
quando ele fosse embora?

Eu tinha certeza que era o último, considerando que as


fantasias sexuais com Leo me mantinham acordada à noite. Eu
o queria tanto. Mais desconcertante do que ele não me beijar
foi o fato de que ele não me pediu para sair depois dos meus
turnos. Talvez ele tenha presumido que eu estaria cansada?
Suspirei.

Eram dez da noite quando cheguei em casa e tomei


banho. Sentada sozinha no meu quarto, eu ansiava por vê-lo.
Olhando pela janela no quarto, pude ver que as luzes da casa
de Leo estavam acesas do outro lado da baía. Sentindo-me
inquieta, optei por arriscar e ir para lá. Se eu demorasse o
suficiente para me vestir para algo mais agradável, sabia que
mudaria de ideia. Olhei para baixo e me encolhi: uma camiseta
da Hello Kitty e shorts jeans. Mas este traje teria que servir
porque eu não tinha tempo para refletir sobre isso.
Peguei minhas chaves, desci as escadas e corri até meu
carro. A Sra. Angelini já tinha ido dormir, por isso não me dei
ao trabalho de avisá-la para onde eu estava indo.

Minha pulsação acelerou quando parei na frente da casa


de Leo. Saindo do carro, olhei para o céu escuro noturno e
fiquei arrepiada. Eu sabia muito bem como seria aparecer aqui
sem aviso prévio a esta hora. É possível afirmar que se trata
um encontro sexual? Mas a mensagem que eu enviava não
interessava; eu só precisava vê-lo.
Bati na porta e, alguns segundos depois, ela se abriu.
Mas a pessoa que me cumprimentou não era Leo nem Sig.

— Posso ajudar? — Uma pequena morena inclinou a


cabeça.

Engoli. — Leo está?


— Sim. Ele está lá em cima tomando banho.

Meu estômago revirou quando meus olhos encontraram


outra garota de cabelos escuros sentada no sofá. O que
exatamente eu interrompi? Eu não ia ficar para descobrir.
Completamente perdida, eu estava prestes a me virar e
voltar para o meu carro quando o som da voz de Sig me
empacou.
— Ginger! Onde você está indo?

Eu me virei para encará-lo. — Uh… casa. Parece que


vocês estão muito ocupados.

Ele sorriu. — Só jantar e uma orgia.


Meus olhos se arregalaram. — O quê?

— Felicity! — Leo desceu a escada. Ele usava uma


camiseta e jeans e seu cabelo estava molhado.
Nossos olhos se encontraram. — Vejo que vocês estão
ocupados, então vou indo.
Leo balançou a cabeça quase freneticamente. — Espere
o quê? Não. Ocupado? Não estou nem um pouco ocupado. São
amigas dele, não minhas.
Eu olhei para Sig, então de volta para Leo. — Ele disse
que havia uma orgia esta noite, então eu não sabia o que…

— O quê? — Os olhos de Leo lançaram punhais em seu


primo. — Que porra você disse a ela?

Sig virou-se para mim. — Há uma orgia acontecendo


hoje à noite. Só não envolvendo o Leo. Você não me deu uma
oportunidade para esclarecer, Ginger.

Suas amigas riram.

— Você conheceu formalmente as Marias? — Perguntou


Sig.
Eu pisquei. — As quem?

Ele passou o braço em volta de uma das meninas. —


Esta é Maria Josefina. — Ele se virou para o outro no sofá. —
E essa é Maria Isabel.

Eu acenei. — Prazer em conhecê-las.

Sig riu. — Lamento ter atemorizado você, Ginger.


— Esse é seu apelido permanente para mim agora?
Acaba de usá-lo três vezes seguidas. Está ficando preguiçoso
para pensar em novos?
— Eu acho que Ginger combina com você. Sim. Gosto
bastante disso.

Revirando meus olhos, eu admiti. — Acho que é melhor


do que Freckles.

Leo continuou a olhar para Sig enquanto colocava a mão


nas minhas costas. — Vamos lá para o deck, Felicity.

Uma vez lá fora, ele puxou o cabelo. — Sinto muito por


isso. Eu estava do lado de fora dando um mergulho no lago
quando ele chegou com essas garotas, então escapei escada
acima para tomar um banho e, quando desci, lá estava você.

— Não vou mentir. Eu tive um mini ataque de pânico,


pensando que tinha interrompido algo.
Ele balançou sua cabeça. — Desculpe. Imagino o que
parecia.

— Especialmente porque você não me pediu para sair


nos últimos dias. Eu não sabia o que pensar.

Leo colocou a mão na minha bochecha, enviando


arrepios pelo meu corpo. — Você acha que eu não queria sair
você?

— Eu não sei.

Ele exalou. — Felicity… o momento em que você


concordou em passar um tempo comigo neste verão acabou
com qualquer chance de eu ficar com qualquer outra pessoa.
Sei que não somos tecnicamente exclusivos, mas não faria isso
com você. Está claro?

Suas palavras, embora reconfortantes, ainda me


deixaram com perguntas. — Você é um autoproclamado
playboy – pelo menos disse que era no passado, então… — Eu
cobri meu rosto. — Esquece. Sinto-me estúpida. Desculpe.

— Não sinta. — Ele pegou minha mão e entrelaçou seus


dedos com os meus. — Estou feliz que você veio. Queria vê-la
esta noite, mas presumi que você estaria muito cansada depois
de um longo dia. Não queria sobrecarregá-la, já que passamos
os dias juntos na casa da Sra. Barbosa. Tenho tentado me
controlar, mas estou morrendo de vontade de passar mais
tempo com você.

— Eu realmente queria ver você também, então achei


que podia arriscar e apenas passar por aqui.
— E então, por sorte, Sigmund está com seu harém.

— Ele está realmente com essas duas garotas?

— Aparentemente, sim – as Marias. Ele começou a sair


com uma delas, e ela trouxe uma amiga para sua escapadela de
fim de semana em Newport. Ela é Maria também. E a próxima
coisa que você sabe, é uma festa de três.

— Tem certeza de que ele não está escondendo uma


terceira Maria em algum lugar? — Eu ri.
— Com Sigmund, tudo é possível.

Nós rimos e eu estreitei meus olhos. — Você já teve uma


terceira Maria em algum lugar?

As pupilas de Leo dilataram-se. — Ok, isso veio do


nada.

— Realmente não. Estávamos no assunto.

— Verdade. — Ele hesitou. — Sim. Eu tive uma. Uma


vez.
O ciúme passou por mim enquanto eu puxava minha
mão da dele. — Entendo.

— Eu não vou mentir se você me perguntar algo.


Sempre direi a verdade.

Aproveitando sua promessa, acrescentei outra pergunta,


com uma leve amargura no meu tom. — Você gostou?

— Talvez você não acredite nisto, mas eu não gostei


tanto quanto imaginava. Era uma tarefa demasiado
coreográfica – preocupar-me em agradá-las igualmente. E eu
me vi gravitando em direção a uma garota sobre a outra. Foi
embaraçoso. A experiência me fez perceber que eu prefiro
muito mais poder dar tudo a uma só pessoa. — Ele passou a
mão pela minha bochecha, estudando meu rosto. — Jesus,
você está ficando tão vermelha. Eu te chateei?
— Não é isso não. — Eu expirei. — Quando você
mencionou dar mais atenção a uma garota, o visual de você
naquela situação me deixou um pouco… não sei. — Parei
antes que pudesse vomitar o resto.
Ele deu um passo à frente. — Um pouco o quê?
— Perturbada, eu acho. Ciumenta, talvez. — Eu mordi
meu lábio inferior. — Esquece.
Alguns momentos de silêncio constrangedor se
passaram. — Isso te excitou? — ele perguntou em voz baixa.
— Pensar em mim fodendo?
Meus mamilos endureceram. Deus, essa palavra saindo
de sua boca.

— Não o pensamento de você com outras garotas…


apenas o pensamento disso.

— Claro. Foi isso que eu quis dizer.


— A ideia de você, sim.
Ele se aproximou. — A ideia… de mim e de você…

— Talvez, — eu admiti, me sentindo mais quente pelo


segundo.
Ele enxugou o suor da testa. — Está quente esta noite,
não? — Ele olhou para a água. — Vamos sentar no barco.
Podemos ir dar uma volta, se você quiser. Nunca passei a noite
nele. As luzes devem ser fantásticas, de acordo com o cara que
me alugou.
Concordei. — Isso soa bem.
— Devíamos pegar água na cozinha, caso você fique
com sede.
Eu o segui de volta para a casa. Quando entramos na
cozinha, as duas Marias estavam penduradas em Sig enquanto
ele cozinhava.
— Vocês dois estão se juntando a nós para comer? —
Perguntou Sig.
— Não, vamos sair no barco, — disse Leo, puxando
duas águas da geladeira.
— Tão tarde? Você nem consegue navegar naquela coisa
durante o dia, Leo.
— Não vamos longe. Só estou dando uma volta.
— Tudo bem, então, — disse Sig enquanto se virava
para mim e piscou. — Adeus, Kitty18.
Kitty? — Achei que era Ginger agora.
Ele apontou para minha camiseta. — Olá, Kitty? Tchau,
Kitty. Entendeu? Além disso… você tem doze anos?
Suas amigas riram.
— Cai fora, — disse Leo, colocando a mão na parte
inferior das minhas costas para me conduzir para fora da casa.
— Lamento por meu primo idiota, — ele disse enquanto
caminhávamos.

— Eu realmente o acho divertido. Tudo bem.


— Ele fica ainda pior quando está puto como está esta
noite.

— Por que ele está chateado?


Leo parecia confuso. — O que você quer dizer?

— Você disse que ele está chateado.


Ele riu. — Puto de onde viemos significa bêbado.
— Ah.

Nós entramos no barco, e ele acendeu as luzes. Mas não


ligou o motor. Apenas nos sentamos em extremidades opostas
do banco e flutuamos.
O olhar de Leo pousou em meu peito. — Foda-se o que
quer que meu primo diga. Você está adorável com essa
camiseta.
— Tenho certeza que as pessoas olham para a maneira
como eu me visto às vezes e reviram os olhos. Jamais
imaginariam que eu me formei em Harvard e estou prestes a
entrar na faculdade de direito. Mas eu gosto de coisas bonitas
e esquisitas me fazem sorrir. Então, processe-me.

— É tudo parte do que a torna única. Você não dá a


mínima. Ao mesmo tempo, fica incrível com tudo o que veste
– mesmo com uma carinha de gatinho de desenho animado em
sua camiseta, tudo o que vejo é a linda mulher dentro dela. —
Seus olhos se moveram sobre mim antes que ele olhasse em
direção à água. — Quer dar uma volta, ou…

— Eu acho que devemos apenas sentar aqui. Quero


poder falar e não podemos fazer isso se o motor estiver
funcionando.

— Tudo bem. — Ele sorriu.


Eu olhei para a minha camiseta. — Então… há um
pouco mais sobre Hello Kitty, na verdade, do que apenas eu
gostar.
— O que é isso? Diga-me.
— Isso me lembra minha mãe… antes de morrer. — Eu
olhei para as estrelas. — Havia uma loja Sanrio19 no
shopping. Ela me levava lá e me deixava escolher bugigangas
da Hello Kitty. Essa é uma das poucas lembranças que tenho
com minha mãe. Sempre que olho para esta gata, ela me
lembra aquele tempo inocente em minha vida. Seria de se
esperar que me entristecesse, mas por alguma razão, não o faz.
Leva-me de volta a esses simples momentos antes de tudo
mudar.
— Faz sentido. Nada nunca é superficial quando se trata
de você.
Quando ele olhou nos meus olhos, crio coragem. — Por
que você não me beijou?

Seus olhos se arregalaram. — Você acha que eu não


queria te beijar?
— Eu não sei. Parece que você está intencionalmente se
afastando. Também não me convidou para ir a lugar nenhum.
Eu apenas pensei…
— Tem razão. Estou com um pouco de medo de beijar
você de novo. Porquê da última vez que nos beijamos, nem
estava mais nesta maldita Terra. Nunca senti nada parecido.
Aquele estacionamento não existia. Você me disse que certas
coisas estavam fora dos limites, e eu não confio em mim
mesmo para não levar as coisas longe demais. — Ele exalou.
— Tenho pisado em cascas de ovos porque eu não quero
pressioná-la para algo do qual você se arrependeria.

O único arrependimento que tive neste momento foi tê-


lo feito se sentir assim. — Estou lutando com o que eu disse
para você no meu quarto naquela noite – o limite que eu
estabeleci. Às vezes eu deixo escapar coisas com as quais
estou preocupada antes de pensar sobre elas. É como se eu
tivesse medo de mudar de ideia, então me certifico de falar.
— Mudou de ideia sobre o que você disse? — ele
perguntou baixinho.

— Eu não sei, — eu sussurrei. — Às vezes, as coisas


que mais me assustam são as que eu realmente quero.
Ele engoliu em seco. — Você sabe o que eu acho,
Felicity?
— O quê?

— Acho que não devemos nos preocupar tanto com isso.


Limites, sem limites. Acho que precisamos deixar a vida
acontecer e ver onde ela vai. — Ele estendeu a mão. —
Combinado?

Apertei sua mão e sorri, gostando do calor de sua pele


um pouco demais.

Ele olhou para a água novamente. — Não prometo que


não irei te machucar. Acho que já estabelecemos que é um
fato. Ambos vamos acabar machucados. Mas eu prometo fazer
com que cada momento com você importe até aquele
momento.
Eu precisava confiar nele. — Certo.

— Há algo mais que preciso dizer, — acrescentou.


Acenei para ele.
— Sei que anteriormente comparamos o que estamos
fazendo neste verão como perdido. Mas quero deixar algo
claro. Enquanto eu estiver aqui, enquanto estivermos juntos,
isto é um relacionamento, não é um joguinho, para mim. E
mesmo que tenha que terminar, não é menos valioso do que se
tivesse durado para sempre. Temos uma tendência na vida para
julgar o valor de um relacionamento pelo tempo que ele dura.
Mas alguns dos piores são os que duram muito tempo. Uma
conexão entre duas pessoas não é menos valiosa se for
interrompida pelas circunstâncias. — Seus olhos brilharam ao
luar. — Você já significa muito para mim.

Emoções borbulharam dentro de mim; realmente


precisava ouvir isso.

— Estou tão feliz que você veio esta noite, — disse ele.
— Eu também.
Ele olhou para a casa. — Depois que eles comerem,
tenho certeza que ele vai levar as Marias para cima. Talvez
seja seguro entrar então. Podemos ter a sala de estar só para
nós.

Dei de ombros. — De qualquer maneira. Não me


importa se eles estão lá, desde que possamos ficar juntos.
— Ficar com você está se tornando uma das minhas
coisas favoritas, — disse ele.
Sua admissão me fez sentir culpada. Algo que eu fiz
ontem à noite antes de dormir começou a pesar em mim. —
Tenho uma confissão, Leo, e não sei se você vai gostar.
O corpo dele ficou rígido. — Tudo bem.
— Lembra quando você disse que me pesquisou no
Google uma vez?
— Sim? — Ele engoliu em seco.
— Bem, eu fiz o mesmo com você. Tudo começou
porque eu queria saber sobre o sistema de noivado e o mundo
de onde você vem, sem ter que fazer um milhão de perguntas.
Isso, infelizmente, levou a outras pesquisas na Internet.

Sua expressão caiu. — Encontrou algo interessante?


— Muitas, na verdade, — eu disse.
— Tenho certeza. — Ele esfregou a mão no rosto,
parecendo frustrado. — É uma pena que para me conhecer
tenha de envolver aulas de história e pesquisa.
Merda. — Você está chateado comigo.

— Não. Não, claro que não. Estou surpreso que você


tenha demorado tanto, sinceramente. É que… tudo isso não é
uma representação de quem eu sou. Não a história, é claro.
Mas a parte dos mexericos. É a mentira, principalmente.
Alguns paparazzi tirando uma foto minha e uma garota que
eles acham que é minha futura esposa, quando na verdade, nós
provavelmente tínhamos acabado de nos conhecer. Ou dizendo
que estou comprando cocaína quando era maconha, que eu
raramente fumo, mas é claro que eles vão me transformar em
um viciado em drogas. Basicamente, é lixo noventa e nove por
cento do tempo. Portanto, é inútil.
— Eu entendo isso.

— Você entende? — Ele analisou meus olhos.


— Sim. Entendo.
— Bem, então, você é inteligente. Muitas pessoas não
são. Eles apenas acreditam no que leem. Nunca vai me
conhecer por meio de alguma fofoca da alta sociedade.
Odiava tê-lo chateado. Mais do que isso, odiava tê-lo
desapontado.
— Sua mãe é muito bonita, — acrescentei.
— Isso ela é. Obrigado.
— Posso ver muito do rosto dela no seu.
— Você está dizendo que me acha bonito, então? — Ele
piscou. — Então, que outras coisas você desenterrou?
Estava com medo de fazer a próxima pergunta, mas ele
parecia aberto a novas inquisições.
— Você tem um irmão?
Sua expressão escureceu. — Onde você leu isso?
— Havia um site que listava as árvores genealógicas de
um bando de proprietários de terras, famílias aristocráticas.
Sabe como é a pesquisa na Internet – ela o leva de uma toca de
coelho para a próxima. De qualquer forma, listava Leo e
Thomas como os filhos de seus pais, Leo e Scarlet. Você disse
que era filho único, então eu fiquei curiosa.
Ele balançou a cabeça lentamente e olhou para os
polegares enquanto os girava. — Thomas é meu irmão, sim,
— ele finalmente disse.
— Não sabia que você tinha…

— Ele morreu no parto.


Meu coração apertou. — Oh, não. Puxa, sinto muito.
— Está tudo bem, — ele sussurrou.
— Ele era mais velho ou mais novo?
— Nenhum dos dois. Ele era meu gêmeo.

Meu peito parecia mais pesado a cada momento.


— Houve algumas complicações. Aparentemente, algo
pode acontecer quando um gêmeo essencialmente doa sangue
para o outro. É chamada de síndrome da transfusão de gêmeos.
E o receptor pode sofrer complicações. Nem sempre termina
mal, mas no nosso caso acabou. Eles tentaram uma cirurgia
para salvá-lo, mas ele nasceu morto. Meus pais cometeram o
erro de anunciar que teriam gêmeos antes do tempo, para que
não pudessem lamentar em particular. A imprensa estava por
toda parte – no enterro e tudo.
Senti-me absolutamente enjoada por ter iniciado esta
conversa.
Lágrimas se formaram em meus olhos. — Nunca deveria
ter tocado nisso. — Peguei sua mão. — Sinto muito, Leo.
— Tudo bem. — Ele enrolou seus dedos nos meus e
apertou. — É o que é. Eu não posso mudar isso. — Ele ficou
em silêncio por um tempo. — Posso fazer uma pergunta
pessoal também?
Eu concordei.
— Você tem alguma ideia de quem é seu pai?
Deve ter presumido que esse era um assunto delicado
para mim, mas eu estava bastante entorpecida com a ideia de
meu pai. Pelo menos foi assim que eu me treinei – não sentir
nada.

— Nenhum palpite.
— Já tentou descobrir?
Peguei uma água e tomei um longo gole antes de fechar
a garrafa. — Quando eu era pequena, eu só acreditava no que
minha mãe dizia. Ela me disse que não sabia quem era meu pai
e que não havia maneira de descobrir. Quando fiquei mais
velha e entendi a natureza de seu estilo de vida como viciada –
que ela poderia ter usado seu corpo por dinheiro para drogas –
percebi que isso provavelmente era verdade. Acho que eu
poderia ter contratado um investigador particular, mas nunca o
procurei. Quem quer que ele seja, provavelmente é um
traficante de drogas com quem minha mãe se envolveu, ou
uma pobre e insuspeita alma que não tem nenhuma pista de
que ele teve uma criança. Não quero fazer ninguém passar
pelo choque de descobrir que eles têm um filho vinte e quatro
anos depois.

Leo sorriu com simpatia. — E se ele não estivesse


desapontado? E se ele considerasse isso uma bênção?
Balancei minha cabeça. — Acho que não quero saber a
verdade. Eu sei que parece estranho, mas eu não penso que
poderia lidar com ser rejeitada por ele – seja ele quem for. É
por isso que nunca fiz um daqueles testes de genealogia que
combinam você com parentes. Talvez eu esteja perdendo.
Talvez eu não esteja. É um risco que decidi correr. Ou não
tomar. Não importa como você olhe para ele.

— É justo.
— Acha que eu sou idiota por fechar a porta sobre a
possibilidade que eu poderia encontrar meu pai algum dia?

— Não há absolutamente nada sobre você que seja


idiota, Felicity. Você sabe quem você é e com o que pode lidar.
O barco balançou suavemente enquanto continuamos a
conversar.
— É incrível como me sinto confortável perto de você,
— disse Leo. — Em casa, sinto que sou duas pessoas – aquela
que os outros veem e aquela que realmente sou, meu eu
autêntico. Não confio em quase ninguém. Mas eu confio em
você. É uma boa sensação baixar a guarda. — Ele olhou para o
céu. — Ao mesmo tempo, sinto essa pressão de experimentar
muito mais com você no pouco tempo que temos porque estou
indo embora. Eu quero saber tudo sobre você.
— Não há muito o que contar. Já te contei quase tudo. O
que mais você quer saber?

Seus olhos queimaram os meus por vários segundos. —


Quero saber pelo que você anseia…
Apesar do ar noturno agora frio, eu senti uma onda de
calor.
— Isso, — eu finalmente disse. — Eu não estava
preocupada com você indo embora até que você me lembrou
agora de quão pouco tempo nós temos. Estive perdida em
nossa conversa esta noite. Estou adorando estar aqui com
você. É pacífico e emocionante ao mesmo tempo. Anseio por
mais momentos como este.
Ele pegou minha mão na sua. — Você quer saber o que
eu anseio?

— O quê?
— Mais tempo. — Ele apertou. — Mais tempo com
você. Ou talvez eu anseie por tempo para ficar parado.

— Sim, — eu murmurei.
Quando esfreguei as mãos nos braços, ele disse: — Está
mais frio do que pensei aqui. Quer entrar um pouco? Estou
pensando que eles provavelmente estão lá em cima agora.
Talvez tenhamos um pouco de privacidade.
— Parece bom.
Saímos do barco, e entramos. Felizmente, a cozinha
estava vazia. Eu podia ouvir passos no andar de cima e risadas
à distância, mas parecia que estávamos livres de ter que lidar
com o trio.
— Está a fim de fazer um lanche? — Leo perguntou. —
Sinto que devo fazer algo para você comer.
— Na verdade, eu pulei o jantar. Não estava com tanta
fome antes, mas agora estou. Então sim, eu poderia comer.
Ele olhou ao redor da cozinha. — Bem, vou fazer algo
para você, então.
— Achei que você não sabia cozinhar.
— E não sei.
Isso me deu uma boa risada.
— Nunca cozinhei para ninguém, — disse ele. — Mas é
sua noite de sorte. Porque vou cozinhar para você.
— Isso vai ser interessante.
— Na verdade, provavelmente vai ser terrível.

— O que você está fazendo?


— É uma coisinha chamada… você vai descobrir. — Ele
piscou. — Por acaso, não faço a menor ideia. Mas vou pensar
em algo. Sente-se na sala de estar e coloque os pés para cima.
Vou levar o jantar até você. Posso lhe servir uma taça de
vinho?
— É meia-noite. Talvez não deveria.
— São cinco horas em algum lugar, Felicity.

— Certo, claro. — Dei de ombros. — Por que não?


Ele me serviu um copo de vinho, e eu fiz o que ele me
disse: coloquei meus pés na sala de estar enquanto olhava pela
grande janela iluminada à luz da lua sobre a baía. Um
aconchego se apoderou de mim. Leo me fez sentir desejada,
especial e segura de uma forma que eu não estava acostumada
a experimentar. Se eu pudesse engarrafar este sentimento para
sempre, eu o faria. Sabia que era passageiro, mas no momento,
eu o acariciava.
Ao longo dos próximos minutos, ouvi muitos tinidos na
cozinha. Esperava que Leo não estivesse em algum tipo de
dificuldade. Finalmente, ele apareceu na entrada da sala de
estar.

— Ok, então parece que Sigmund cozinhou


decentemente tudo o que tínhamos na geladeira esta noite.
Tentei fazer uma omelete para você, mas mexi muito com ela
e agora parece um cérebro ensopado.
Eu gargalhei. Ele é adorável. Possivelmente precisava
resgatá-lo, mesmo que isso fosse super divertido. — Você
precisa de ajuda?
— Não. Eu tenho um plano B. Vou apresentá-lo a você,
mas precisa prometer que não vai rir.
— Prometo. — Eu pausei. — Não rir… muito.
Ele franziu as sobrancelhas. — Volto já.
Poucos minutos depois, ele voltou carregando um único
prato.
Meu queixo caiu quando olhei mais de perto e percebi o
que havia nele: SpaghettiOs. A parte mais engraçada era a
guarnição de manjericão no canto para ficar chique.

— Acontece que eu sei abrir uma lata e aquecer o


conteúdo.
— Mas veja como você caprichou.

— Esperava que o enfeite distraísse a oferta, de outra


forma patética. Será que conta como cozinhar se sair de uma
lata?
— Sabe de uma coisa? Eu vou comer isto. E eu vou
gostar. Sabe por quê?
— Por que? — Ele sorriu.
— Porque você fez, mesmo que isso só implicasse em
abrir a lata e aquecê-la. Você disse que nunca havia feito nada
para alguém. Sinto-me honrada por ser a primeira. — Eu não
comia SpaghettiOs desde que era criança. Dei uma mordida,
surpresa ao descobrir que eles tinham um gosto melhor do que
eu me lembrava. — Isso está surpreendentemente bom…
picante.
— Mesmo?
— Ou talvez eu só esteja com tanta fome que qualquer
coisa tem um gosto bom.
— Provavelmente o último. Mas vou encarar isso como
um elogio.
Segurando o garfo contra a sua boca, eu disse: — Prove.
Leo deu uma mordida e falou com a boca cheia. — Não
é ruim.
Acabei alimentando-o com pedaços aleatórios de
SpaghettiOs enquanto conversávamos e ríamos.
Esta noite, este “jantar”, mesmo que um pouco ridículo,
foi tudo para mim. Há alguns momentos em que você
simplesmente sabe que nunca vai esquecer, e este jantar de
SpaghettiOs é um deles.
Depois que terminei de comer, Leo levou meu prato a
cozinha.
Ele voltou para seu assento no sofá ao meu lado. Meus
olhos caíram em sua boca. Lambendo um pouco de vinho
restante dos meus lábios, esperava tanto que ele me beijasse.
Parecia que ele tinha captado meu sinal, porque em
segundos inclinou-se, respirando irregularmente antes de levar
minha boca à dele. Eu suspirei, talvez um pouco alto demais,
porque ele riu contra meus lábios. À medida que se encostava
sobre mim no sofá, pressionando seu peito no meu, Leo me
beijava como se sua vida dependesse disso, como se ele
estivesse compensando o tempo todo desta semana, quando
tinha se segurado.
Enfiando meus dedos em seus cabelos, eu relaxei no
beijo, forçando a voz dentro da minha cabeça que estava
pronta para me lembrar que eu estava me preparando para um
coração partido. Eu o beijei mais forte, gemendo contra sua
boca e saboreando seu gosto. Ele gemeu quando pegou meu
lábio inferior entre os dentes e puxou muito suavemente antes
de aprofundar o beijo mais uma vez. Pela maneira como ele
beijava, era fácil imaginar como seria na cama. Suspeitei que
ele soubesse exatamente como agradar a uma mulher.
Conforme que o beijo aumentava, de alguma forma
acabei embaixo dele. Em vez de resistir à mudança, abri
minhas pernas, permitindo que se posicionasse entre elas.
Através de sua calça jeans, eu senti o calor de sua ereção
enquanto ele se esfregava contra meu clitóris latejante. Leo
abaixou a boca, beijando o comprimento do meu pescoço.
Então ele parou de repente, descansando sua boca contra
minha pele e respirando contra mim por vários segundos.
Ele olhou para mim atordoado antes de se afastar. —
Eu… acho que devo parar.
— Por que?
— Porque começou a parecer que você não iria me
impedir se eu fosse mais longe.
— Tem razão. Eu não teria, — eu disse honestamente.
Meu corpo ansiava por seu retorno quando uma frieza tomou
conta de mim.
— Felicity… — ele sussurrou.

— O quê?
— Eu estava a segundos de estar dentro de você. Pelo
menos é onde eu queria estar. Mas sei que não é isso que você
quer agora, mesmo que esteja se deixando levar. — Ele
inclinou a cabeça na parte de trás do o sofá e se virou para
mim. — Perco todo o senso de julgamento quando estou
beijando, cheirando, tocando em você. Não sou de forma
alguma novo nisso…, mas esse nível de necessidade é novo
para mim. Nunca me senti tão atraído por alguém com quem
também preciso ter cuidado. Nunca me importei tanto antes…
…você me perguntou antes pelo que eu anseio. E eu não
fui completamente específico. Eu disse “mais tempo”, e é
claro que é verdade. Mas eu anseio por muito mais quando se
trata de você. Anseio por coisas mundanas do dia a dia que
nunca desejei – como um encontro noturno, sair para jantar e
voltar para casa para nos enroscarmos no sofá. Nunca desejei
isso com ninguém. Nunca. Não poderia ter se importado
menos com essas coisas antes. Mas também anseio por deitar
com você à noite… para adorar o seu corpo, para traçar minha
língua sobre cada uma de suas sardas, para levar meu tempo
com você e dar-lhe o melhor orgasmo de merda que já sonhou.
E se acha que nunca estará pronta para isso comigo, preciso ter
cuidado para não forçar as coisas. Mas não posso mentir para
você. Eu quero isso. Quero tudo isso com você, Felicity.
Muito.

Eu mal conseguia respirar. — De onde diabos você veio,


Leo? — Fechei meus olhos e exalei. — Isso é tão fodido. Eu
quero você também. Só estou com medo.
— Você não é a única.
Sentei-me, descansando minha cabeça em seu ombro. —
Sei que provavelmente deveria ir para casa, mas não quero.
— Passe a noite comigo, então. Não temos que subir.
Vamos ficar aqui e conversar até não conseguirmos mais
manter os olhos abertos. Só não vá.

Eu olhei para ele. — Ok. Eu não vou. — Aninhando


meu corpo na dobra de seu braço, eu disse: — Conte-me uma
história.
— Que tipo de história?
— Leve-me para o interior da Inglaterra. Virtualmente.
Me leve para casa com você. Me diga como é. Finja que você
acabou de voltar. Diga-me o que acontece. Descreva para mim
como é tudo.
— Tudo bem. — Ele apoiou o queixo na minha cabeça e
me envolveu em seus braços. — Há colinas verdes por todo o
lado. Está chovendo, então eu posso ver um arco-íris ao longe
enquanto o motorista se aproxima de nossa propriedade.
— Fale-me sobre a sua casa.
— É muito… grande, uma casa imponente.
— Como um castelo?

— Não exatamente.
— Como em Downton Abbey?
— Como uma versão disso, talvez. Feito de tijolo.

— O que há quando você entra?


— Quando entro, não é nem a minha mãe nem o meu pai
que me cumprimentam, mas sim Camila, nossa governanta.
— O que ela faz exatamente?
— Supervisiona a equipe.
— Quantas pessoas trabalham lá?
— Cerca de dez.
— Uau.
— É um pouco demais, mas é como sempre foi de
geração em geração.
— Seus pais não vão cumprimentá-lo quando você
chegar?
— Se eu cheguei durante o dia, mamãe provavelmente
está fora em alguma reunião com suas amigas. Meu pai está
provavelmente em seu escritório … se ele estiver disposto para
trabalhar naquele dia específico.
— Ok, então é Camila que você vê primeiro. Como ela
é?
— Ela é alta e pode ser um pouco assustadora. — Ele
riu. — Mantém a casa em ordem, no entanto. Mais velha… na
casa dos cinquenta. Cabelo loiro amarrado firmemente em um
coque. Comportamento muito sério, mas consegue quebrar um
sorriso de vez em quando se eu me esforçar o suficiente para
isso. Eu amo fazê-la rir porque não é algo que oferece muito
facilmente.
Eu sorri. — Qual é a primeira coisa que você faz?
— Largo minhas coisas e vou para a cozinha com
Camila. Ela e eu teremos uma conversa sobre minhas viagens.
Vou dar a ela uma breve recapitulação de nossa turnê.
Provavelmente estou exausto, então irei para o meu quarto
logo depois.
— Como é o seu quarto?
— É grande. Uma cama de dossel. Moldura de coroa em
madeira escura. Um pouco deprimente e frio, na verdade.
— Qual é a primeira coisa que você faz quando chega ao
seu quarto?
— Eu tomo um banho longo e quente no meu banheiro.
— E depois?
— Caio totalmente, cansado da viagem, mas
completamente e totalmente deprimido por tê-la deixado.
Então, vou para a minha cama e passo a primeira de muitas
noites olhando para a sua foto.

Mesmo que o que ele acabara de dizer me tivesse


atingido no fundo do coração, eu iluminei as coisas golpeando
seu peito. — Chato.
— Pode ser. — Ele sorriu, mas não atingiu seus olhos.
Enrolando-se ainda mais em seus braços, descansei
minha cabeça em seu peito, aliviada pelo aumento e
diminuição de sua respiração. Então Leo beijou o topo da
minha cabeça.
Acabamos conversando até altas horas da manhã – até
que o som da voz de Sig nos acordou no dia seguinte.
CAPÍTULO 11

Leo
Faixa 11: “Jealous Guy”, John Lennon e
The Plastic Ono Band
— Ora, ora, ora, o que está acontecendo aqui?
A voz do meu primo era áspera.

— Com o que se parece? — Eu disse, apertando os olhos


para o sol brilhando pelas janelas da sala de estar.
— Para mim? Parece que alguém passou de Hello Kitty
para Hello Titty20 na noite passada.
Os olhos de Felicity se abriram.
— Não é da sua conta, — eu disse, esfregando seus
ombros. — Você está bem?
Ela ergueu os olhos meio grogue e sorriu. — Claro. Por
que eu não estaria?
Fiquei aliviado por ela parecer feliz por ainda estar aqui.
Nós estivemos conversando por tanto tempo ontem à noite que
ambos apagamos.
— Onde estão as Marias? — ela perguntou a Sig.
— Elas estão descendo. Eu ia fazer o café da manhã.
Vocês dois estão com fome?
Não achei que ela gostaria de ficar perto do harém de
Sigmund, então me surpreendi quando ela disse: — Sim. O
café da manhã parece ótimo.
Felicity se levantou do sofá, parecendo adorável com o
cabelo bagunçado de sono. Embora muitas vezes eu
fantasiasse sobre acordar ao lado dela à noite, eu não tinha
previsto que nossa primeira festa do pijama seria no sofá. Não
foi a noite de descanso mais confortável, mas eu faria todas as
noites se isso significasse que ela ficaria novamente.
Depois que Sig desapareceu na cozinha, coloquei minha
mão em sua bochecha. — Como você dormiu?

— Surpreendentemente bem. Quando acordei, demorei


um segundo para perceber onde estava. — Ela apertou os
olhos. — O quê?
— Eu quero beijar você, — eu admiti.

— Beije-me, então.
Bem quando eu me preparei para plantar um beijo nela,
fomos interrompidos pelo som das garotas de Sigmund
descendo as escadas.
Agora que nosso momento estava arruinado, Felicity e
eu nos aventuramos na cozinha. O café tinha acabado de ser
feito, então peguei duas canecas. Sigmund estava no balcão
misturando ovos para o que eu supus serem omeletes.
— Como toma o seu café? — Eu perguntei.

— Preto, como a alma de Sigmund, — ela brincou.

— Acho que você quis dizer quente como Sigmund, —


meu primo rebateu.
Felicity riu e Sigmund sorriu enquanto continuava a
cozinhar. Foi bom vê-los se dando bem. Estava preocupado
que ele pudesse tê-la irritado, embora ela provavelmente nunca
o admitisse. Mas se eu não soubesse melhor, quase parecia que
ela gostava da companhia dele.
Servi quatro cafés, servindo Felicity primeiro e depois as
Marias.
As namoradas de Sigmund começaram a conversar em
português, e percebi que Felicity piscava rapidamente
enquanto ouvia, como se estivesse tentando decifrar o que elas
estavam dizendo.
Finalmente, ela deixou escapar: — É a maneira como eu
o chupo.

O quê?

— Isso chamou sua atenção, não é? — ela adicionou.


Ambas as mulheres congelaram ao mesmo tempo.

— Estou perdido, — eu disse. — O que está


acontecendo?

Felicity se virou para mim. — Elas não têm certeza do


que você vê em mim. Eu disse a elas que deve ser a maneira
como eu chupo você. — Ela olhou de volta para as garotas. —
Brincadeirinha, a propósito. Não fiz isso com ele… ainda. Foi
apenas a primeira coisa que veio à mente. — Ela colocou a
mão no meu joelho. — Elas estão falando merda sobre nós
desde o momento em que desceram.
Eu não sabia o que me afetou mais – a coragem dessas
meninas ou o fato de que Felicity tinha insinuado que ela
planejava me chupar.

— Você fala português? — Maria Um perguntou,


parecendo perplexa.
— Uma das mães adotivas que tive quando era criança
era de Portugal. A mãe dela, a quem chamava de Vovó – que,
como você sabe, significa avó – me ensinou português. Então,
embora eu não fale muito, posso entender muito bem.

— Merda, — Sigmund murmurou. Até ele olhou


envergonhado com o comportamento de suas amigas.

Mas eu estava orgulhoso da maneira como Felicity lidou


com isso.
— Se você vai falar merda sobre alguém, provavelmente
deve se certificar de que essa pessoa não fale a língua, —
acrescentou Felicity. — Nem todo mundo é unilíngue.
— Sinto muito. Não queríamos dizer nada com isso, —
disse Maria Dois.

— Quer dizer, não queria que eu entendesse. Você


certamente quis dizer o que disse. É muito triste quando as
mulheres decidem falar mal de outras mulheres antes de
conhecê-las. Você tem sorte de eu ser inteligente o suficiente
para entender o que realmente está acontecendo quando tal
situação ocorre. Vocês fazem isso para se sentirem melhor
consigo mesmas. Quero dizer, quão insegura você tem que ser
para bajular simultaneamente o mesmo homem, certo? Vocês
são tão maravilhosas que ele precisa de duas de vocês?
Pensem sobre isso. É patético. — Felicity tomou um longo
gole de seu café. — De qualquer forma, estamos quites. Você
disse uma coisa maldosa. Eu disse outra coisa maldosa. Agora
vamos esquecer isso e comer um pouco desses ovos. A vida é
curta demais para essa merda.

Ela se virou para mim antes de olhar para eles. — A


propósito, também não tenho certeza do que ele vê em mim.
Mas tenho tentado afastar o cara desde que o conheci e não
consigo fazer isso. — Ela piscou para mim.

Deus. Eu queria levantá-la e beijá-la com tanta força,


mas estava sem palavras no momento. O que eu vi nela? Essa
não era uma resposta curta. Era mais como se eu não pudesse
ver mais nada quando ela estava por perto.
Surpreendentemente, o resto do café da manhã correu
relativamente bem. Depois que Felicity colocou as Marias no
lugar, ela passou boa parte da manhã conversando com elas.
Até pediu que testassem seu português, para que ela pudesse
provar o quanto se lembrava.

No momento em que Sigmund e eu limpamos os pratos


de todos, você pensaria que as três eram amigas pelo jeito que
estavam rindo juntas. Tudo foi aparentemente esquecido. É
preciso um tipo especial de pessoa para fazer amizade com
pessoas que estavam tentando derrubá-la momentos antes.
Felicity sem dúvida tinha prática em se provar para pessoas
que faziam suposições sobre ela.

♥Ω♥

No final da tarde, Felicity e eu fomos até a casa da Sra.


Barbosa para dar os retoques finais no interior antes que
tivéssemos que fazer uma pausa para deixar o eletricista entrar
e fazer a sua parte.
Para minha consternação, seu ex, Matt, apareceu para
ajudar, junto com Bailey e Stewart. Ele disse que era seu
último dia antes de retornar à Pensilvânia.
As coisas foram bastante rotineiras até o final da tarde,
quando Matt perguntou a Felicity se ele poderia falar com ela
em particular. Ela o seguiu até o quintal e eles se sentaram no
balanço onde Theo me manteve como refém. Meu sangue
ferveu.

Enquanto eu permanecia em um lugar onde eu podia ver


o que eles estavam fazendo, eu murmurei, — O que ele quer?
— Não tinha percebido que tinha feito essa pergunta em voz
alta até Bailey me responder.
— Ele a quer.

Eu me virei para ela. — Elabore.

Ela olhou para eles enquanto respondia. — Ele está


convencido de que, assim que ela se mudar para a Pensilvânia,
eles vão se reconciliar.

Engoli. — A que distância ele está de onde ela vai


morar?
— Cerca de quarenta e cinco minutos.

Brilhante. Simplesmente, brilhante. — Você sabe com


certeza que ele está tentando voltar com ela?

— Sim. Ele disse a Stewart. Provavelmente não deveria


estar lhe contando isso, mas suponho que seja bom para você
saber o que está enfrentando. Não que isso importe, certo? Já
que você está indo embora.

Ela tinha razão. Não deveria ter importado, mas de


alguma forma importava. Muito.

— Você acha que ela ainda sente algo por ele?


— Realmente não sei. Ela diria que não, se você
perguntasse, mas ficou completamente arrasada quando ele
terminou com ela. Portanto, não posso imaginar que ela ainda
não abrigue alguns sentimentos. Embora agora, esteja
realmente a fim de você. Talvez não perceba nenhum
sentimento que ainda tem por Matt até que você saia de cena e
ela esteja na Pensilvânia.

A adrenalina correu em minhas veias. Pareceu como se


Bailey estivesse intencionalmente tentando me provocar, como
se ela sentisse uma certa animosidade sobre o fato de que eu
estava destinado a machucar sua amiga. E não poderia culpá-
la, porra.
— Ele se preocupa com ela, — acrescentou ela depois
de um momento. — Eu sei que ele partiu seu coração, mas diz
que sempre se arrependeu. Eles eram tão jovens. Ele achava
que estava fazendo o que era certo para os dois na época. Mas,
em retrospecto, disse que percebeu que sempre a amou.

Suas palavras me destruíram completamente, mas


apreciei sua franqueza – até o que ela disse a seguir.

— Não acho que ele é o único que ainda tem


sentimentos. Felicity não vai admitir nada porque ele a
machucou. Mas eu não ficaria surpresa se em algum nível
subconsciente, ela escolheu a Pensilvânia para a faculdade de
direito porque sabia que ele está lá.
Eu me senti um pouco enjoado.
Depois de sua conversa, Matt saiu, e Felicity ficou
quieta pelo resto da tarde. A mudança em seu humor me
deixou inquieto, porque me disse que ele teve um efeito sobre
ela. Mas talvez minha própria reação à ideia de ela nutrir
sentimentos por ele me deixou ainda mais inquieto.
Durante a volta para casa, ela foi a primeira a tocar no
assunto.
— Sinto muito por ter saído para falar com Matt mais
cedo.

Eu apertei minha mandíbula. — Você não precisa se


desculpar.
— Foi rude da minha parte.

— Você não me deve uma explicação.


— Você provavelmente está se perguntando do que se
tratava, no entanto.
Minha pulsação acelerou. Foda-se, sim, eu quero saber.
— Não precisa me dizer, se não quiser.

Ela olhou pela janela do carro. — Matt parece pensar


que devemos nos reconectar só porque estou me mudando para
a Pensilvânia. Ele afirma que foi um erro quando terminou as
coisas comigo, e quando este verão acabar e eu terminar o que
ele chama de “minha pequena aventura” com você, ele estará
lá esperando por mim.
Eu queria matá-lo, porra. Limpando a garganta, eu disse:
— É isso que parece para você – uma pequena aventura?
— Parece mais, mesmo que seja temporário.

Alcançando sua mão, eu a trouxe para minha boca e a


beijei. — Sinto mais também. Mas a nossa situação é o que é,
Felicity. Você precisa fazer o que quer que a faça feliz depois
deste verão. — Admitir isso foi difícil.
— Eu não vou voltar para ele. Nunca terei paz estando
com alguém que me deixou no passado. Nunca poderei confiar
nele novamente.

Porra. Meu peito doeu. — Você não pode confiar nele


por deixá-la no passado, assim como não pode confiar em
alguém que te deixa no futuro.

Ela soltou um longo suspiro, mas não respondeu.


— Só quero que você seja feliz, — sussurrei, querendo
dizer isso, mesmo que me matasse pensar nela com outro
homem.
— Estou feliz – passando o verão com você. Não quero
pensar em nada além de agosto, — disse ela.

— Nós temos isso em comum.


Desta vez, ela pegou minha mão e a beijou. — De
qualquer forma, eu não queria te deixar desconfortável indo
falar com ele.
— Você não fez nada de errado. Meus sentimentos
irracionais por causa disso foram o que aparentemente não
consegui lidar.
— Bem, ele se foi agora. Não aparecerá novamente.
Então, não vamos pensar mais nisso. Certo?
Ainda lutando com meu ciúme, eu mordi meu lábio. —
Tudo bem, amor.

Depois de algum silêncio, trouxe à tona algo que estava


esperando para perguntar. — Então… Sigmund me disse que
ele e as Marias estão planejando passar o próximo fim de
semana de 4 de julho em Boston. Ele queria saber se
queríamos nos juntar a eles.

Ela revirou os olhos sarcasticamente. — Por mais que eu


ame as Marias, isso soa meio miserável para mim.
— Para mim também. — Soltei um suspiro de alívio. —
Ótimo. Pensei em perguntar, mas prefiro ficar aqui e ter a casa
só para nós, isto é, se você quiser ficar comigo o fim de
semana, — eu rapidamente corrigi. — Pode ficar com minha
cama. Vou dormir no quarto de Sigmund. Não quero que você
pense que estou perguntando porque…
— Claro que sim! Nem preciso pensar sobre isso. Não
haverá muito mais oportunidades. Só nos restam alguns fins de
semana e tenho certeza de que ele não estará fora em todos
eles. Não que eu não goste dele, mas…
— Mas ele pode ser um pé no saco, e é bom ter algum
tempo de privacidade, não é?
— Exatamente, — ela concordou.

Foda-se, sim. — É melhor eu estocar SpaghettiOs.


— Ou… poderíamos simplesmente pedir comida para
viagem. — Ela piscou.

— Não se preocupe, só estava brincando. Vou poupar


você.
Seus olhos brilharam. — Sabe qual é a melhor parte?

— Qual?
— Eu não tenho que trabalhar na sexta à noite. Portanto,
podemos começar o fim de semana na sexta-feira à tarde.
— Brilhante. Acho que eles estão indo para Boston por
volta da mesma hora.

— Isso não poderia ser mais perfeito.


Sentindo-me em êxtase, fiz uma pausa. — Não,
realmente não poderia.

♥Ω♥

Felicity teve que trabalhar naquela noite, então eu a


deixei e voltei para casa. Meu telefone tocou enquanto eu
vasculhava a geladeira, esperando por sobras de tudo o que
Sigmund tinha feito de almoço.
Era minha avó. Pressionei um botão para colocá-la no
viva-voz. — Oi, vó. É tarde aí. Está tudo bem?

— Sim. Não tive a intenção de alarmar você. Estou


tendo problemas para dormir, então resolvi dar uma checada.
A última vez que conversamos era uma situação triste.

Tanta coisa aconteceu desde então. — Estou indo muito


bem, na verdade.

— Você conseguiu superar a garota?


Eu hesitei. — Não exatamente. Uh… as coisas tomaram
um rumo inesperado depois que nos falamos pela última vez.

Ela descobriu sem eu ter que dizer nada. — Oh, meu…


— Sim. — Nos minutos seguintes, contei à minha avó a
recente reviravolta nos acontecimentos com Felicity. — De
qualquer forma, eu sei o que você vai dizer – que passar mais
tempo com ela é uma ideia terrível. Mas não posso deixá-la
enquanto estiver aqui.
— Não irei lhe causar angústia, Leo. Depois de termos
conversado anteriormente, suspeitei que poderia não ter sido a
última vez que ela surgiu. Desde que você esteja preparado
para o resultado inevitável, não vejo nenhum problema com
isso.

— Você não vai me dar um sermão, então?


— Que bem isso faria? Ao contrário da minha filha
cabeça-dura, percebo que nenhuma bronca mudará as coisas
quando se trata de questões do coração. Nem tento. Há
momentos na vida em que simplesmente escolhemos pular no
fogo, mesmo sabendo que vamos nos queimar. Todos nós já
fizemos isso. E quero que você saiba que sua mãe também não
é estranha a isso.
— O que isso significa? Que você está me escondendo?
— Digamos apenas, antes de se casar com seu pai, havia
um certo jardineiro que eu já tinha visto muitas vezes
descendo da janela do quarto de sua mãe.
Meu queixo caiu. — Mesmo…
— Sinta-se à vontade para fazer o que quiser com essa
informação. Embora, se você a questionar, ela provavelmente
dirá que estou senil e negará. Mas garanto a você, é verdade.
Eu ri. — Obrigado pela dica, vó.
Ela suspirou. — É uma pena que você não possa
aprender uma lição com Sigmund. Ele nunca envolve seu
coração em nada.
— Só deixei que isso acontecesse agora. Para mim isto é
novidade. E sei que seria muito mais fácil ser como Sigmund
neste momento.
Ela riu. — A ironia, claro, é que seu primo não tem as
mesmas expectativas colocadas sobre ele. Ele seria perfeito
para uma vida de manter as aparências.

— Bem, ele está saindo com duas mulheres ao mesmo


tempo atualmente.

— O que há de novo nisso?


— Quero dizer, literalmente ao mesmo tempo. Isso é o
que há de novo.

— Oh. Ele é exagerado, aquele ali.


Meu primo entrou na sala.
— Falando no diabo, vó. Sigmund acabou de chegar
aqui. Vou deixa-la ir. Eu preciso informá-lo sobre algumas
coisas.
— Tudo bem. Amo você, meu garoto. Diga olá ao meu
outro neto e se comporte.
— Irei. — Desliguei e me virei para ele. — Vovó disse
para se comportar.
— É por isso que sou o favorito dela.
Joguei meu telefone de lado. — Então, eu contei a
Felicity sobre a viagem a Boston e decidimos apenas ficar
aqui.
— Ah. Aproveitando a casa só para você para ter uma
festa de trepada em paz, hein?
— Duvido muito que isso aconteça.
— Você espera que eu acredite nisso?
— Não sei o que vai acontecer. O que ela quiser.
— Você não tem nenhuma decisão sobre isso, e sabe
disso. Pare de agir como se você não estivesse morrendo de
vontade de transar com ela. É o único momento em sua vida
em que você teve que esperar por qualquer coisa que quisesse.

— Não precisamos fazer sexo para desfrutarmos um do


outro.
Ele examinou meu rosto. — Tudo bem, eu vou parar. É
claro que você realmente gosta dela. E eu não posso acreditar
que estou dizendo isso, mas estou… começando também.
Apertei os olhos. — O que isso deveria significar?
— Relaxa. Já estou com as mãos ocupadas. Eu não gosto
da sua garota dessa forma. Só quis dizer que agora posso ver
por que você gosta dela. Estou gostando dela. Ainda afirmo
que você está cometendo um erro e se metendo em confusão,
mas não vou mais te incomodar com isso.
— Obrigado.
Ele saiu da sala e alguns minutos depois voltou, jogando
uma caixa no meu peito.
Era uma caixa gigantesca de preservativos.
— Que diabos? Eu tenho o meu, obrigado. Quem precisa
tantos preservativos, afinal?
— As Marias me levaram a uma loja de atacado em
Massachusetts. Chama-se BJ’s Warehouse21. Nome adequado,
hein?
— Você é louco.
— Tenho três pacote disso. Você pode ficar com essa.
Balançando a cabeça, joguei a caixa de preservativos e o
acertei no peito.
CAPÍTULO 12

Felicity
Faixa 12: “Sunshine of Your Love”, Cream
A tarde de sexta-feira pareceu demorar uma eternidade
para chegar. Passei a manhã limpando meu quarto e
preparando mais alguns dos meus planejadores, só para passar
o tempo. Finalmente optei por sair do meu sofrimento e fui
para a casa do Leo um pouco mais cedo.
O sol da tarde estava brilhando fortemente quando
toquei a campainha.
Ele abriu a porta com um grande sorriso. — Bem-vinda
ao lar, linda.
— Quem me dera, — eu disse, dando-lhe uma olhada.
— Entre.

Uau. Ao que parece, ele tinha acabado de levantar pesos.


Ele usava uma calça preta justa de ginástica. Nunca pensei
que um homem de calça de ginástica pudesse ser sexy, mas
eles realmente exibiam os músculos em suas pernas, que eu
sabia que ele teve que trabalhar muito para obter. Um brilho de
suor cintilava em seu peito, e seus grandes pés estavam
descalços, o que eu achei incrivelmente sexy.

— Interrompi sua rotina de condicionamento físico?


— Achei que você estava chegando perto das três, então
resolvi fazer um treino, mas ver você mais cedo é muito
melhor. — Ele olhou para minha bolsa de mão, que estava
coberta de pequenas cabeças da Hello Kitty. — Você é
adorável com essa bolsa.
— Hello Kitty. Você esperava mais alguma coisa? — Ela
caiu no chão com um baque enquanto eu olhava ao redor. —
Sig já saiu?
— Sim. Estamos totalmente livres. Embora ele tenha
deixado um presente para você.
Leo foi até uma vitrine de bolo de vidro no balcão. Sig
havia assado algo e deixado uma nota adesiva na frente do
vidro.
Eu o tirei e li.
Um pão de gengibre para uma ruiva.

Eu sei que você vai sentir minha falta neste fim de


semana. (Não!)

Você e Leo terão que tentar encontrar uma maneira de


entreter um ao outro.
Tenho certeza que pode descobrir alguma coisa, hein?

P.S.: Esta é uma nova receita. Espero que você goste. Eu


sugiro adicionar um pouco de creme “Leo é inútil”, que está
na geladeira.

Com carinho,
Seu imbecil favorito

— Ele é uma alegria, não é? — Leo revirou os olhos. —


Pelo menos é comestível, ao contrário da maioria das porcarias
que ele provoca.
— Definitivamente vou devorar isso mais tarde. — De
alguma forma, meus olhos estavam realmente no corpo de Leo
quando eu disse isso. E não pude deixar de pensar o quanto eu
queria devorá-lo.

Seus olhos permaneceram nos meus, então caíram para o


meu peito, que provavelmente estava mais exposto do que ele
já tinha visto. — Você está linda pra caralho agora.

Olhei para o meu shorts jeans e top. — Obrigada. —


Reparei os cumes de seu peito. — Você deveria terminar seu
treino, já que eu o interrompi. — Talvez eu assista.

— Não há necessidade. Estava praticamente terminando.


Estive meio que pulando nas paredes o dia todo esperando por
você. Energia nervosa, eu acho.

— Oh, meu Deus. Eu estava do mesmo jeito. Embora


esteja surpresa que você esteja nervoso por me ter aqui.
— Mais como animado – no topo do mundo. Eu só
quero que você tenha um bom final de semana e seja feliz. Isso
é tudo.
— E estou, Leo. Eu realmente estou. Não quero pensar
demais em nada. Eu só quero me soltar e me divertir com
você.
— Eu também, — ele disse, beliscando levemente minha
bochecha. — Por falar nisso, o que você quer beber?

— Vou esperar um pouco. A noite é uma criança

— Provavelmente uma boa ideia. — Leo sorriu. — O


que quer fazer primeiro? Podemos sair de barco por um tempo,
nadar na baía, assistir a um filme – as possibilidades são
infinitas.
— Está muito quente lá fora. Acho que seria bom nadar
antes de o sol se pôr.

Ele assentiu. — Deixe-me mostrar seu quarto para que


você possa se trocar.

Amei que ele estava sendo respeitoso, me dando meu


próprio quarto. Eu não tinha certeza de como dizer a ele que
esperava dormir com ele esta noite. Possivelmente seria
sensato ter a opção de quartos separados, no entanto.
Ele me levou escada acima e para dentro do quarto.

— Este é meu, mas estarei dormindo no quarto de


Sigmund. Também tem um quarto de hóspedes, mas não é tão
bom quanto este, e este quarto tem um ótimo banheiro.

O quarto era deslumbrante – móveis pretos elegantes e


lençóis de cetim cinza. Parecia algo adequado para um rei ou
um senhor.

— É muito bom. Obrigada por me oferecer seu quarto.

— Qualquer coisa para você. — Ele respirou fundo. —


De qualquer forma, eu deveria deixar você se trocar. — Mas
ele não se mexeu.

Sentei-me na beira da cama e olhei para a mesa de


cabeceira. Um colar que eu o vi usar antes estava no topo.
Tinha um anel de ouro e diamante de um homem pendurado
nele.
— Qual é a história com o anel naquele colar?

— Era do meu avô. É meu bem mais precioso, então não


viajo sem ele. É como um amuleto da sorte. Ele me deu
quando eu tinha dezesseis anos. Meu avô estava doente e sabia
que não tinha muito tempo. Era um anel que ele sempre usava
no dedo mindinho. Ele me disse para usá-lo em volta do
pescoço como uma lembrança. Sinto que isso me traz força
nos momentos em que eu preciso disso.

— Isso é incrível. Eu me perguntei se isso tinha algum


significado…
A gaveta embaixo dela estava parcialmente aberta.

— Aquilo ali é uma caixa de preservativos e tanto.


Nunca é demais ter cuidado, eu acho?

O rosto de Leo ficou vermelho como uma beterraba –


como eu nunca tinha visto antes.

Ele cerrou os dentes. — Foda-se, Sigmund.

— Não é nada demais. Todo cara tem camisinha na


gaveta…

— Pode ser. Mas nem todo cara tem uma caixa grande o
suficiente para uma pequena aldeia. Eu não coloquei isso aí.
Meu primo idiota comprou aquela caixa como um presente
para este fim de semana. Devolvi, mas ele deve ter colocado aí
e convenientemente deixado a gaveta aberta. Provavelmente
esperava que você os encontrasse.

— Onde diabos ele conseguiu uma caixa tão grande?

— BJ’s.
— Sig é provavelmente a única pessoa na Terra que
pode realmente precisar disso em grande quantidade. — Juntei
minha coragem por um momento.
Leo leu minha mente. — Parece que você tem uma
pergunta.
— Estou curiosa. Você esteve com alguém desde que
chegou aos Estados Unidos?

Leo piscou algumas vezes. — Uma pessoa. Quando


estávamos na Califórnia, no primeiro mês. Foi apenas uma
coisa de uma noite. Sem apego emocional. Não significou
nada, e eu fui cuidadoso.

— Você disse que esteve com muitas mulheres… — Eu


senti meu rosto esquentar. — Desculpa. Não planejava ter essa
conversa agora. Eu apenas estive pensando sobre isso.

Leo se sentou ao meu lado. — Olha, eu já disse que você


pode me perguntar qualquer coisa, e eu vou te dizer a verdade.
— Ele suspirou. — Mas nunca fiz sexo desprotegido. Nem
uma vez. E faço exames regulares para garantir.

— Tudo bem, — eu disse, aliviada que ele ofereceu


aquela última informação.

Ele desviou o olhar. — Acho que estive com cerca de


vinte e cinco garotas, se eu tivesse que fazer uma estimativa.
Tive uma namorada no colégio, e desde então tive apenas
encontros casuais – principalmente mulheres que queriam
mais de mim ou queriam dormir comigo por causa do meu
status. Tenho sido extremamente cuidadoso porque sei que,
para muitas das mulheres na minha casa, há grandes incentivos
para me prender. Tenho sentido um pouco de medo durante
cada encontro sexual, sinceramente. Sempre insisti em usar
meus próprios preservativos – coisas assim. Nunca confiei que
alguém não iria mexer neles. Parece loucura?

— Não, não parece loucura. Eu não confiaria em


ninguém, também, se eu fosse você.
— Não consigo me lembrar da última vez que me soltei
completamente durante o sexo, apenas me permiti ficar
completamente envolvido em alguém. Sempre há um pouco de
ansiedade atrapalhando as coisas. — Ele fez uma pausa, seus
olhos procurando os meus. — Quando foi a última vez para
você?
Nossa. Agora era minha vez de parar e calcular.
Certamente não havia tantos. — Faz algum tempo…
— Sim? Quanto tempo?
— Bem, eu já disse que tive dois relacionamentos.
Minha primeira vez foi com Matt, e então meu namorado da
faculdade, Finn. Depois que isso acabou, eu não fiquei com
ninguém por um longo tempo. — Fiz uma pausa, minhas
palmas ficando suadas. — Cerca de um ano atrás, quando eu
ainda morava em Boston, eu só… comecei a sentir falta de
sexo. Então, encontrei alguém que conheci online e que disse
estar interessado apenas em um caso de uma noite. Eu fui
segura, é claro, mas fazia tanto tempo e eu precisava disso. —
Exalei, não tenho certeza por que isso foi difícil de admitir
quando Leo era muito mais experiente.

Ele soltou um suspiro trêmulo. Eu não poderia dizer se


estava chateado ou excitado com o que eu acabei de admitir.
Então ele perguntou: — Isso… coçou sua coceira?

— Sim, eu suponho. Mas não houve ninguém desde


então. Então, já faz um tempo. — Balancei minha cabeça. —
Não acredito que acabei de admitir isso para você. — Comecei
a olhar para baixo, mas senti sua mão em meu queixo.
Ele trouxe meus olhos nos dele. — Por que?
— Eu não sei. Não quero que você pense que eu levo
isso levianamente ou algo assim.
— Você não deveria se sentir envergonhada. Você é
humana. Tem necessidades. — Ele baixou a mão para a minha
perna. Sua voz ficou mais grossa. — Quer saber o que eu
realmente penso sobre isso?

— Sim.
Ele apertou meu joelho. — Certo. Claro, não adoro
pensar em você fazendo sexo com um cara estranho. Mas eu
acho isso incrivelmente sexy que sabia o que queria e se
deixou levar. Parece um pouco reservada, mas acho que há um
lado selvagem em algum lugar. E estou aqui para isso. Estou
muito aqui para isso. — Ele se inclinou e beijou meu pescoço.
Inclinei minha cabeça para trás para aproveitar. — Acho
que a libido de todos atinge o pico em momentos diferentes.
Quanto mais velha fico, mais desejo por sexo sinto.

Leo agarrou um de seus travesseiros e colocou sobre o


rosto, deixando escapar um gemido abafado.

— O que foi? — Eu ri.


Seu cabelo estava um pouco bagunçado quando ele saiu
de trás do travesseiro. — Percebe que está me matando agora,
certo? Não consigo me lembrar da última vez em que fiquei
assim. E estamos apenas conversando. Ainda é muito cedo
para me sentir assim durante o fim de semana. Eu deveria estar
no meu melhor comportamento, mas foda-se, Felicity… — ele
apontou para a ereção maciça que ameaçava estourar através
de sua meia-calça preta de treino. — Claro, eu escolheria as
piores calças para usar nessas circunstâncias. Veja isso. É
patético.

— Acho que é sexy, na verdade. — Eu forcei meus


olhos para encontrar os dele. — Eu acho você incrivelmente
gostoso.
Ele se aproximou. — Você acha?

— Sim.
Suas pupilas pareceram dilatar. — Bem, o sentimento é
mútuo.
— Você não precisa se preocupar tanto em se comportar.
Independentemente do que eu possa ter dito em algum
momento, as coisas mudaram. Acho que gostaria de ver você
não se comportando da melhor forma.
Sua boca se curvou em um sorriso antes que ele
plantasse um beijo longo e forte em meus lábios. Depois de
nossa conversa, eu estava cada vez mais molhada a cada
segundo que sua língua girava em torno de minha boca.

Leo se afastou. — Não tenho certeza se você sabe


exatamente o que está pretendendo ao me pedir para não me
comportar, Srta. Dunleavy.

Eu olhei para baixo para seu pau duro novamente, e


minha boca praticamente encheu de água. O que está
acontecendo comigo?
— Sério… — ele disse. — Independentemente do
quanto eu te queira, não há pressão neste fim de semana, ok?
Espero que você saiba disso. E para que conste, há muitas
maneiras de explorar um ao outro sem dormirmos juntos.
Muitas opções disponíveis.
— Adoraria saber quais são as minhas opções. — Eu
sorri provocativamente.

— Elas são infinitas, na verdade.


— Diga-me.
— Você quer que eu soletre uma para você?

Mordendo meu lábio inferior, eu balancei a cabeça. —


Sim.

— Ok, para ser mais específico… — a respiração de Leo


fez cócegas em minha orelha quando ele se inclinou e
sussurrou: — Não há lugar que eu preferisse estar do que
dentro de você, Felicity. Mas se não é isso que você deseja, eu
adoraria que se sentasse no meu rosto e montasse até gozar.
Posso encontrar maneiras de fazer você gritar. Tudo que você
precisa fazer é me dizer o que deseja. A bola está do seu lado e
nada está fora da mesa. Mas não fazer nada também é uma
opção. Estou muito feliz por você estar aqui e mal posso
esperar para passar este tempo com você.

Minhas pernas tremeram de ansiedade.


— Isso foi direto o suficiente para você? — Ele deu uma
risadinha.

— Mmm-hmm, — eu murmurei, tão excitada que mal


conseguia falar. — Soa bem.
— Neste ponto… — Leo deu um tapa na minha perna.
— Estou indo tomar um banho. Frio. Isso lhe dará alguma
privacidade. Você se troca. Te encontro lá embaixo em alguns
minutos.
Ele deu um último beijo em meus lábios e eu ansiava
que ele ficasse nesta cama e me pegasse. Aprofundou o beijo
por alguns segundos enquanto nossas línguas colidiam antes
de voltar a se mover. — Porra, preciso me controlar. — Ele
deu um pulo. — Indo para o banho! — Saindo correndo da
sala tão rápido que tropeçou no tapete. — Droga, eu estou
bem, — ele disse enquanto desaparecia porta afora.
Minha boca doeu de tanto sorrir. Enquanto me despia,
percebi que meus mamilos estavam duros como aço. Depois
de colocar meu biquíni, puxei uma saída de praia ao redor do
meu corpo e coloquei os chinelos.

Toda aquela conversa sobre sexo me deixou excitada e


incomodada, mas foi Leo quem me deixou assim. A maneira
como ele olhou para mim desde o momento em que o conheci.
Do jeito que ele me queria. Do jeito que eu o queria. Sempre
foi tão intenso. Simplesmente nunca me soltei por tempo
suficiente para experimentar a profundidade disso.
Depois de me aventurar escada abaixo, encontrei Leo ao
telefone, parecendo tenso.
— Espera aí, mãe, — ele disse. Então ele sussurrou para
mim: — Já vou. É minha mãe.

Acenando com a mão, eu disse: — Não tenha pressa.


Fui até as portas francesas que davam para o deck, mas
não pude deixar de ouvir sua conversa.

— Então, eles vão começar outra rodada de tratamento,


— disse ele.

Meu coração afundou. Merda. Isso deve ser sobre seu


pai. Eu me virei, incapaz de fingir que não tinha ouvido.
Ele continuou falando com sua mãe por vários minutos.
A certa altura, finalmente entrei na sala ao lado para dar a ele
um pouco de privacidade. Quando voltei para a cozinha, ele
ainda estava imerso na conversa, puxando o cabelo enquanto
caminhava.

— Sim. Ok. Coloque-o na linha. — Ele exalou antes de


parecer que sua mãe havia colocado seu pai na linha. — Achei
que tivéssemos um acordo, velho. Não adoeça enquanto eu
estiver fora. — Ele fez uma pausa. — Como você está se
sentindo?
Leo falou com seu pai por cerca de cinco minutos antes
de a ligação terminar.
Ele desligou e olhou para o telefone por um momento
antes de se virar para mim. — O câncer do meu pai está
crescendo. Eles precisam começar seu tratamento novamente.
— Percebi isso. Sinto muito, Leo. — Nunca parecia
saber o que dizer em situações horríveis como essa.

— Ele esteve bem no ano passado. Não houve


crescimento de seu tumor no pulmão – até agora. Esperava que
continuasse assim.

— Eu imagino. Deve ser muito difícil para você e sua


mãe.
— Ele insiste que eu não preciso voltar agora. Sinto que
deveria, mas, ao mesmo tempo, ainda não posso deixar
Narragansett. Isso faz de mim uma pessoa má?
Afastei o pânico que passou por mim com a perspectiva
de sua partida. — Acho que você saberia se precisasse ir para
casa. Você está a sete horas de voo, certo? Sua mãe lhe diria se
alguma coisa mudasse.

Ele assentiu. — Isso é verdade. Você tem razão. Meu pai


apoiou muito esta viagem. Vou tentar não me sentir culpado.
Em vez disso, preciso pensar positivo – acreditar que ele vai
superar isso, assim como ele passou por todas os outros
tratamentos.
Eu passei meus braços em volta dele. — O que você
precisa agora?
Ele me apertou com mais força e soprou no meu
pescoço. — Você. Isso. Eu só preciso tocar em você.
Nos abraçamos por vários minutos. Podia sentir seu
coração batendo contra meu peito.
— Vamos dar um mergulho na baía, — disse ele
finalmente.
Quando saímos, eu escorreguei minha saída de praia.
Leo tentou tornar seu olhar sutil, mas eu o peguei me
examinando sempre que podia. E não me importei nem um
pouco, porque aproveitei cada minuto cobiçando seu corpo
perfeito enquanto ele usava nada além de shorts de banho.

Passamos a hora seguinte brincando na água como dois


adolescentes, embora a baía estivesse bem fria. Ficamos
bastante tempo, porém, que comecei a sentir mais quente
embaixo d’água do que fora dela. Sentia o frio sempre que ele
me levantava no ar e me jogava. Eu amei envolver minhas
pernas em torno dele, a sensação de sua boca molhada com a
água enquanto me beijava.
Quando saímos da baía, ele disse: — Você pode ir
primeiro no chuveiro externo, se preferir, antes de entrarmos.

— Obrigada.
Ao caminhar até o infame chuveiro e ligar a água, fiquei
tentada a me despir aqui, como Leo uma vez fez. O que ele
faria se eu fizesse?
CAPÍTULO 13

Leo
Faixa 13: “2 Become 1”, Spice Girls
Meu coração quase parou quando Felicity desamarrou as
alças em volta do pescoço e deixou a parte superior do biquíni
cair no chão. Ela rapidamente colocou as mãos sobre os seios
para cobri-los. Sim, eu planejava sentar aqui nesta cadeira
Adirondack e apreciar a visão dela tomando banho. Mas nunca
esperei que ela se despisse na minha frente. Nunca esperei por
isso.
O que ela está fazendo?
Estou sonhando?
Ela fechou os olhos e deixou a água escorrer em seus
cabelos. Então abaixou as mãos, finalmente me permitindo
uma visão clara de seus seios.
Puta merda.
Tinha imaginado como eram, e a realidade só excedeu
minhas expectativas. Antes que eu pudesse processar seu
topless, Felicity tirou a parte de baixo do biquíni.
Meu coração começou a disparar quando olhei seu corpo
totalmente nu. Eu estava tão congelado quanto excitado. Sua
boceta estava toda depilada. Fodidamente nua – lisa e perfeita.
Lá se vão as piadas de Sigmund sobre as bocetas de fogo.
Porra. Porra. Porra. Perfeita. Ela é perfeita.
Felicity me deu um olhar sedutor quando nossos olhos se
encontraram, e eu senti que essa era minha deixa para me
juntar a ela. Pelo menos esperava não estar imaginando aquele
sinal.
Duro como uma rocha, eu ansiosamente me levantei e
caminhei até o chuveiro.
— Olho por olho, é isso? — perguntei, me sentindo um
pouco ofegante.
— Pode ser. — Ela deu um sorriso travesso. — Pensei
em recriar a forma como nos conhecemos.
Levei um momento para examinar sua beleza. Eu sonhei
com este corpo quase todas as noites desde a primeira vez que
coloquei os olhos nela. Minha imaginação não tinha feito
justiça ao seu corpo. Como eu suspeitava, muito mais do que
seu rosto e seu pescoço eram cobertos por sardas. Meu sonho
de contá-las todas seria mais desafiador do que o previsto. Mas
não me importaria se eu morresse tentando.
— Cristo. Você é perfeita. Tem ideia do quanto eu quero
você agora, Felicity?

— Não…, mas eu acho que você deveria me mostrar.


Minha respiração engatou. — Tem certeza? Não sei se
percebe o que está pedindo.
Ela ofegou. — Sim. Eu sei.

Eu gemi, movendo minha boca até o pescoço dela e


chupando antes de correr minha língua ao longo do seu peito.

Fiquei surpreso ao descobrir que embora as sardas


cobrissem sua parte superior do peito, braços e pernas, não
havia quase nenhuma em seus seios, que naturalmente eram
unidos e perfeitamente redondos. Foi como se Deus tivesse
ficado sem sardas.

Levei seu mamilo cor de rosa para dentro de minha boca


e suguei com tanta força que esperei não estar machucando-a.
Depois fiz o mesmo do outro lado. Minha mão escorregou
para baixo, momentaneamente segurando sua bunda enquanto
eu continuava a chupar.

Caindo de joelhos, deslizei minhas mãos dos seios para


baixo até a barriga, que também era na maior livre de sardas,
em comparação com as outras partes do seu corpo.

Sua linda boceta nua estava agora no nível dos olhos.


Olhei para ela e percebi a necessidade em seus olhos enquanto
ela olhava para mim, sua respiração se tornando mais pesada a
cada segundo.

Incapaz de resistir, pressionei minha boca em seu monte


e sacudi minha língua contra ela. Meus olhos rolaram para trás
enquanto saboreava o primeiro reconhecimento de seu gosto.
Doce céu. Agarrando meu cabelo enquanto eu continuava a
descer sobre ela.
— Isso. Puxe a porra do meu cabelo, — eu gemi contra
ela. — Sinta minha boca.

Pressionando meu polegar sobre seu clitóris enquanto


lambia a carne tenra, saboreei cada puxão e arranhão de suas
mãos conforme ela movia seus quadris para encontrar as
investidas da minha língua voraz. Eu a comi por vários
minutos até que se retraiu abruptamente.
Levantei-me, com medo de ter feito algo para machucá-
la. — Você está bem?

Quando a água caiu sobre nós, ela olhou nos meus olhos
e disse: — Quase gozei.

— Isso é ruim?

— Quero você dentro de mim primeiro, Leo.


Meu coração ansioso disparou. Não tinha intenção de
discutir com ela ou questionar seu pedido. Eu precisava muito
dela.
— Deixe-me ir buscar algo, — eu disse, me preparando
para correr escada acima para aquela caixa gigantesca de
preservativos.
Ela agarrou meu pulso. — Só quero que você saiba…
estou tomando a pílula. Comecei a tomar quando nos vimos
pela primeira vez, para ficarmos seguros – no caso de
acontecer alguma coisa. Nunca confiei que não acontecesse.
No entanto, você ainda deve pegar um preservativo, se quiser
ser mais cuidadoso.

Ela tomou a pílula por mim?

As rodas em minha cabeça giraram. Eu não queria nada


mais do que me enterrar dentro dela sem nenhuma barreira.
— Estaria tudo bem se eu não… usasse nada?

— Está tudo bem para mim, mas eu apenas achei que


você gostaria de ser cuida…
— Não. Eu quero sentir você nu. Pelo menos uma vez.

Felicity acenou com a cabeça quando saímos do


chuveiro. Peguei uma toalha e sequei-a antes de limpá-la sobre
meu próprio corpo.

— Vamos entrar, — eu disse rispidamente.

Antes que ela pudesse acenar com a cabeça, eu a


levantei em meus braços e a carreguei para dentro de casa,
meu pau latejante tão rígido que estava francamente doloroso.
Nossos lábios se encontraram em um beijo enquanto
entrávamos.

— Vamos fazer isso perto do fogo, — disse ela.

Mais cedo, eu liguei a lareira elétrica, nunca esperando


que ela servisse como pano de fundo. Talvez meu quarto
tivesse sido um lugar mais apropriado para nossa primeira vez,
mas eu não me importei.

Praticamente caímos um sobre o outro no chão. Pelo


menos o tapete debaixo de nós era bastante peludo. Enquanto a
lareira rugia, a beijei com mais força, primeiro em seu pescoço
e depois em todo seu corpo.

— Tem certeza de que não quer ir para a minha cama?


— Murmurei sobre sua pele.
— Não. Por favor. Apenas… — suas palavras foram
sumindo. — Foda-me aqui.

Foda-se. Isso era tudo que eu precisava ouvir. Em


segundos, baixei meu calção de banho e coloquei a ponta do
meu pau sua entrada, incapaz de esperar nem um segundo para
penetrá-la. Engasguei com a sensação incrível de estar dentro
de sua boceta. Estava quente e úmida – tudo com que sempre
sonhei e muito mais. Comecei a entrar e sair, mal conseguindo
me conter para não gozar.
— Você é gostosa pra caralho, Felicity. Estou com tanto
medo.

— Por que? — ela ofegou.

— Porque eu sinto que estou prestes a quebra-la.

— Faça, — ela ofegou. — Eu aguento.


Sem saber como chegamos a este lugar tão rápido,
comecei a fodê-la com abandono imprudente, o puro prazer de
sua boceta apertada envolvendo meu pau, tornando impossível
pensar sobre as consequências.

Ela se contorceu embaixo de mim quando dobrei suas


pernas para trás e bati nela, me sentindo mais fora de controle
do que em toda a minha vida. Não havia nada me segurando –
nenhum medo das consequências ou dúvida. Essa foi a
primeira vez para mim: que realmente me deixei levar. Sem
mencionar que eu nunca tinha feito isso sem camisinha, e a
fricção de nossos corpos nus era um êxtase úmido. Eu estava
tão feliz por experimentar essa sensação com ela, essa linda
mulher que me dominou completamente – coração, corpo e
alma.

— Você é a primeira mulher que eu já estive assim, e é


melhor do que eu poderia ter imaginado. Isso é… tão… bom
pra caralho.

— Eu sei. — Ela ofegou. — Eu sei, Leo.

Eu a comi com tanta força que poderia ter sido melhor


estarmos no chão da sala, já que poderíamos muito bem ter
quebrado a cama. Sentindo que estava se desfazendo, diminuí
o ritmo, na esperança de não gozar muito cedo.
Mas no momento em que diminuí a velocidade, Felicity
começou a mover os quadris mais rápido, então não tive
escolha a não ser pegar o ritmo, que eu sabia que seria o meu
fim.

Em segundos, meu orgasmo subiu à superfície e


começou a disparar através de mim como um vulcão em
erupção.

— Porra, — eu gritei quando comecei a gozar,


esperando que estivesse tudo bem que eu não tivesse saído.
Enquanto meu esperma a enchia, senti sua boceta apertar
em torno de mim. Felicity gritou de prazer ao chegar ao
clímax.
Eu deitei no chão, ainda dentro dela, por vários minutos
enquanto nos beijávamos. Embora devêssemos estar saciados,
eu só queria mais. Corri minha língua ao longo das sardas sob
seu pescoço e, em seguida, abaixei minha boca, pressionando-
a suavemente contra seus seios. Quando olhei para cima, ela
estava observando cada movimento que fiz.
— Gosta de me ver te devorar, não é? Você gosta de me
ver gozar.
Ela sorriu. — Culpada. Especialmente adorei ver seu
rosto quando você entrava e saía de mim. E a maneira como
seus olhos reviraram quando você gozou.
— Eu estava tão calmo e controlado.
Ela riu. — Exatamente o oposto.

Finalmente tirei antes de me deitar ao seu lado. — Eu


tinha grandes planos para esta noite. Queria levá-la a um bom
restaurante para jantar, depois talvez levá-la de volta ao meu
quarto e fazer amor com você adequadamente. Foder com
você no chão foi meio bárbaro.
Ela passou o dedo pelo meu queixo. — Foi perfeito.

— Sabe de uma coisa? Eu também acho que sim. E é


errado que eu nem queira me levantar deste chão? Quero ficar
aqui com você para sempre na frente deste fogo.

— Devíamos pedir comida para que possamos comer


nus.
— Você é a mulher segundo o meu coração, sabia disso?

— Tenho que desistir de você no final do verão, — disse


ela com um encolher de ombros. — Não estou com vontade de
compartilhá-lo com ninguém esta noite.

Meu peito apertou quando uma onda de realidade me


atingiu. Minha decisão de dormir com ela tornou as coisas
muito mais complicadas. Por mais que eu nunca trocasse a
experiência, provavelmente ainda era um erro, dado o quão
mais apegado a ela eu me sentia agora.
— O que você está pensando? — perguntou.

Não poderia dizer a ela que nunca me senti assim antes.


Não seria justo abrir meu coração assim quando eu estava
prestes a ir embora.

— Estou pensando em como estou ferrado, —


finalmente disse.
— Você não é o único.

Levantei-me e ofereci minha mão a ela. — Vamos. Vou


levá-la para o meu quarto.
Felicity riu quando eu a levantei e a carreguei escada
acima.

Depois que a coloquei na cama, eu a sufoquei com


beijos, por todo o corpo.
Ela colocou uma mão delicada no meu peito, parecendo
contemplativa.

— Você está bem? — perguntei.


Ela encontrou meu olhar. — Sim. Realmente estou. Este
é o melhor 4 de julho que já tive.
— Fizemos nossos próprios fogos de artifício, não é?
Ela sorriu com um rubor adorável.

Hoje foi estranho. Passei de um sentimento de paz para


ansioso em um instante. Ainda precisava aprender muito sobre
ela e meu tempo estava acabando.

— Diga-me algo que ninguém mais sabe sobre você, —


pedi. — Eu quero que um dos seus segredos seja todo meu.
Ela piscou. — Não tenho nenhuma coisa sórdida
escondida. Eu só tenho coisas nas quais me escondo.
Enrolei uma mecha de seu cabelo ruivo em volta do meu
dedo. — O que você quer dizer?

— Às vezes me escondo atrás de uma fachada de força,


a fim de me convencer que sou forte. Na maior parte das
vezes, sou. Mas há certas mentiras que eu digo a mim mesma
e a outras pessoas. Já lhe contei essa mesma mentira. Ou pelo
menos eu insinuei isso.
— O que é?
— Que eu não preciso de ninguém. Isso não é verdade.
Todo mundo precisa de alguém. E não fui exatamente honesta
quando você me perguntou como me sentia sobre a ideia de
encontrar meu pai. A verdade é que tenho medo da rejeição.
No fundo do meu coração, o pensamento de um pai que pode
me amar me deixa tão emocionada que não consigo nem
pensar nisso. Não vou me permitir. Então, eu não sou tão forte
quanto poderia parecer quando você me conheceu. Esse é o
meu segredo – ou talvez fossem dois segredos.

Sua admissão tocou meu coração. — Obrigado por


compartilhar isso comigo. Embora eu deva dizer, não a torna
menos forte para mim. A força é derivada de ações, não de
sentimentos. Não podemos controlar como nos sentimos por
dentro, nossas emoções ou fraquezas. Mas podemos controlar
como perseveramos apesar delas. Nesse sentido, você é uma
das pessoas mais fortes que já conheci. E suas
vulnerabilidades emocionais – muito menos sua necessidade
de amor em sua vida – certamente não abatem nada.
Ela entrelaçou seus dedos com os meus. — Sua vez.
Diga-me algo que você nunca disse a ninguém.
Oh, garoto. Suponho que tenha pedido isso.

Olhando para o teto, eu disse, — Mesmo que a um nível


racional, eu sei que não foi minha culpa, frequentemente eu
me culpo pelo fato de meu irmão não estar aqui. Quando você
me disse que tinha lido sobre a existência dele na Internet, eu
fiquei um pouco atordoado demais em relação a tudo. Gostaria
de lhe contar mais sobre isso. Mas é difícil para mim falar
sobre o assunto – na verdade, nunca falei.
Fecho meus olhos. — Nunca vou superar a ideia de que
minha presença no útero com ele basicamente oprimiu seu
organismo até que não pudesse sobreviver. Muitas vezes me
pergunto como teria sido minha vida com um irmão, sabe? Ele
pode ter desejado toda a glória, toda a responsabilidade de
agradar meus pais, e eu teria ficado feliz em deixá-lo assumir.
Podia ter aliviado um pouco o fardo sobre mim. Sua mera
existência pode ter sido minha passagem para fora de
Westfordshire. Ou talvez eu nunca teria desejado sair dele.
Poderia ter sido meu melhor amigo. Porém eu nunca saberei.
— Eu exalei. — Ele é parte do motivo pelo qual sempre sinto
essa necessidade imensa de agradar meus pais. Às vezes me
pergunto se Deus escolheu errado. — Finalmente olhei em
seus olhos. — Então esse é o meu segredo.
Ela se inclinou e me beijou, como se quisesse tirar a dor.

— Obviamente odeio que você se sinta assim, e sei que


nem sempre é fácil acreditar nas pessoas quando elas dizem
que não é sua culpa, — disse ela. — Mas eu entendo. Por
vezes nos culpamos por coisas sobre as quais não temos
controle. Muitas vezes me pergunto se minha mãe estivesse
viva se ela não tivesse me tido. A pressão de ter um filho
ilegítimo enquanto lutava contra as drogas a levou ao limite?
Nunca saberei. Mas eu penso sobre coisas assim, também.
Eu sorri. — Bem, onde quer que sua mãe esteja, tenho
certeza de que ela está orgulhosa de sua filha.

— Talvez não hoje, depois de deixar você me foder no


chão da sua sala de estar. — Ela corou. — Mas em geral, sim.

— Na verdade, falando nisso, eu realmente quero fazer


de novo agora nesta cama, — eu disse, sorrindo como uma
idiota. — Mas acho que devemos comer primeiro porque você
vai precisar de energia.
Felicity saltou quando fogos de artifício explodiram fora
da janela. — Jesus! Por um segundo, pensei que fosse um
tiroteio. Esqueci que era 4 de julho. Eles surgiram de repente.
— As melhores coisas da vida costumam ser assim. —
Não é verdade? Felicity Dunleavy havia disparado no meu
mundo do nada – virando minha vida de cabeça para baixo da
melhor maneira possível.
CAPÍTULO 14

Felicity
Faixa 14: “Drunk in Love”, Beyoncé
Como o domingo chegou aqui tão rápido? Eu estava
vivendo em um sonho desde que cheguei na casa de Leo.
Sexta-feira tinha sido tudo sobre como conhecer os corpos um
do outro – de várias maneiras em vários quartos e em várias
superfícies. A noite passou em uma névoa induzida pelo sexo.
Então, no sábado, nós nos aventuramos fora de casa e
fomos passar o dia em Newport. Levei Leo para ver as
famosas mansões. Jantamos lá e voltamos cedo para
Narragansett, porque estávamos com muito tesão para esperar
até mais tarde para fazer sexo. Tomei uma decisão consciente
de não beber neste fim de semana porque queria estar presente
em cada desses momentos preciosos com Leo.

Mas enquanto eu estava na cozinha observando-o mexer


na cafeteira na tarde de domingo, a realidade de tudo me
atingiu. Eu me apaixonei por este homem, e ele tinha apenas
algumas semanas restantes. Então nunca mais o veria
novamente. Esse sempre foi o plano, mas por alguma razão
aquele fato severo só me atingiu em ondas, e este me matou.
Depois que ele pressionou para começar o café, Leo se
aproximou. Seus olhos tinham uma afeição clara que
combinava com a minha por ele. Nesse momento, percebi que
se não tomasse uma bebida – e não a cafeinada que está sendo
preparada no momento – a dor seria insuportável. Eu precisava
anestesiar isso. Sabia que era errado, mas não podia permitir
que meus sentimentos piorassem ainda mais.

— Você caiu em transe, — disse ele. — Está tudo bem?


— Acho que devemos tomar um pouco de tequila.
— Bem, essa foi uma resposta muito aleatória.
— Sei. Mas estive sóbria todo o fim de semana. Estou
com vontade de ficar bêbada.

Iria demorar mais do que embriaguez para esquecer


minhas preocupações esta noite.
Ele se inclinou e falou em meus lábios. — Você está
tentando tirar vantagem de mim? Sabe que pode fazer isso sem
álcool, certo?
— Nunca fiz sexo bêbado antes. Imagino que podemos
tentar. Você me faz sentir segura o suficiente para me soltar
dessa maneira.

— Quer ficar bêbada comigo? — Ele deu um sorriso


malicioso. — Bem, então é tequila.

Leo pegou os copos e a garrafa, e voltamos para


desfrutar de nossas bebidas no deque com vista para a baía.
Dentro de uma hora, estávamos ambos muito bêbados.

A próxima coisa que eu sabia, Leo tinha me levantado


no ar e estava levando-me escada acima para o quarto dele. O
álcool não só anestesiava toda a minha ansiedade, como
também despertava um lado aventureiro que de outra forma
não existia.
— Amarre-me, meu Lorde, — eu falei quando Leo me
jogou na cama.
Ele riu. — Você não acabou de dizer isso.
— Não tenho certeza de qual parte você está
perguntando. A propósito, você se irritou quando eu te chamei
assim?
— De qualquer outra pessoa, teria sido chato, mas vindo
de você é meio sexy. Sinta-se à vontade para dizer novamente,
mas na verdade eu estava me referindo à parte de amarrar
você.
— Podemos brincar de Lorde Covington mantendo em
cativeiro a camponesa?

— Você é má quando está bêbada, sabia disso? — Ele


colocou os joelhos de cada lado do meu corpo e beijou meu
pescoço. — Isso traz à tona o seu lado desviante.

Dei de ombros. — Pelo menos você pode dizer que


experimentou os dois lados de mim antes de nos separarmos.

— Não fale sobre isso agora – minha saída.


— O que você vai fazer se eu te desafiar?

— Deixe-me adivinhar… a resposta certa é amarrar


você?

— Pode ser.
— Cuidado com o que deseja, Srta. Dunleavy. Não tenho
nenhum problema em dar exatamente o que você está pedindo
e muito mais. Especialmente como estou me sentindo agora.
— Estou meio curiosa sobre a parte “e mais”.

Com um cintilar em seus olhos, Leo pulou da cama e foi


para o closet. Ele voltou com uma de suas gravatas.
— Levante as mãos sobre a cabeça, — exigiu. Seus
olhos estavam muito sérios e uma emoção passou por mim.
Leo colocou a gravata em volta dos meus pulsos e deu um nó.
— Eu colocaria algo sobre seus olhos, mas gosto demais de
olhar para eles.

Depois que ele trabalhou para tirar meu biquíni, ele


puxou o short para baixo, deixando seu pau brilhante pairando
no ar.

— O que devo fazer primeiro? — ele perguntou.

— Coloque seu pau na minha boca.

Eu só o chupei uma vez neste fim de semana, um


momento aleatório em que o peguei no banheiro. Ele foi pego
de surpresa e gozou em questão de segundos.

— Você descobriu minha fraqueza, não é? Talvez dure


mais de vinte segundos desta vez.

Sentei-me um pouco, com minhas mãos ainda sobre


minha cabeça, quando Leo se ajoelhou diante de mim na cama
e enfiou seu pau na minha boca. Ele gemeu e seus olhos
rolaram para trás, rendendo-se ao prazer gratuito enquanto eu
o levava garganta abaixo.
E de repente puxou e deslizou para baixo. — Abra bem
as pernas.

Em segundos, ele se empurrou para dentro, me fodendo


com força. Desejei que minhas mãos estivessem livres para
poder agarrar seus cabelos, mas havia algo excitante em
renunciar a esse pouco de controle.

— Vou gozar, Felicity, — ele gemeu. — Maldita seja sua


boceta e o álcool me deixando fraco. Mas eu sei que você não
está pronta ainda.

Inclinando minha cabeça para trás, eu ofeguei, — Goze


no meu peito.

Seus olhos se arregalaram quando ele puxou para fora,


empurrando seu pau grosso até que fluxos de esperma quente
dispararam por toda a minha pele. Foi simplesmente de tirar o
fôlego – o a maneira como sua boca se abriu enquanto ele
gozava e os sons que ele fazia enquanto me cobria.

— Me desamarre, — eu implorei, tão incrivelmente


excitada.

Ele fez o que eu disse, e no momento em que minhas


mãos estavam livres, eu as trouxe para o meu clitóris e
circulei-o com meus dois dedos do meio. Leo observou
atentamente enquanto eu me masturbava. Demorou alguns
segundos antes que os músculos entre minhas pernas se
contraíssem.

— Assistir você fazer isso com minha porra em cima de


você é a coisa mais sexy que eu já vi.

Ele deitou em cima de mim e deslizou sua língua em


minha boca enquanto mais uma vez caímos em um beijo
profundo.

Pegamos a tequila e ficamos bêbados na cama pelo resto


do dia.

A tarde virou noite e tínhamos acabado de fazer sexo


novamente quando Leo lentamente saiu de mim e disse: — Eu
amo tanto…foder com você.

Meu coração quase parou. Por uma fração de segundo,


pensei que ele iria dizer que me amava. Importaria que tivesse
dito isso enquanto estava embriagado? Provavelmente não.
Mas quando completou a frase, senti tanto desapontamento
quanto alívio.

Por que eu iria querer que ele dissesse essas palavras de


qualquer maneira? Estúpida.

O quarto girou um pouco, mas não me arrependi da


tequila. Ela tinha feito seu trabalho. Rezei para que a ideia de
ele me amar – ou não me amar – fosse embora e obrigasse
minha mente a outra coisa.

Afundando-me nos lençóis de seda de Leo, fiz outro


anúncio aleatório e bêbado.

— Eu gostaria de ter um pônei Shetland22.


Leo desatou a rir. — De onde, em nome de Deus, veio
isso?

Eu solucei. — Culpe a tequila. Mas um pônei Shetland é


algo que eu costumava desejar muito quando era criança e, por
algum motivo, eu realmente quero um agora.

— Tipo, neste segundo?

— Sim.
— Você o levaria para a faculdade de direito com você?

— Bem, esse é o problema.

— Na verdade, temos vários cavalos na propriedade de


nossa família.
— Veja? Você é sortudo. Um pônei Shetland se
encaixaria perfeitamente.
— Tenho certeza de que considero todos eles garantidos.
— Leo acariciou meu pescoço. — O que tem os Shetland que
você gosta?

— Você já viu um?


— Não posso dizer que sim. — Ele estendeu a mão para
a mesa de cabeceira e pegou seu telefone. — Deixe-me
pesquisar. — Ele rolou por um tempo. — Ah. Eles são da
Escócia. Diz aqui que eles foram originalmente usados como
cavalos de carga no século XVIII, levados para trabalhar nas
minas de carvão na Inglaterra. — Ele se virou para mim. —
Eles são basicamente ingleses. É por isso que você gosta deles.
Eu gargalhei. — Tem que ser isso.
— Embora, achei que você preferia que nós fossemos
pendurados como cavalos. Não os próprios cavalos. — Ele
deu um tapa em si mesmo. — Cristo, eu pareço meu primo.
Desculpa. — Ele olhou de volta para a imagem em seu
telefone. — Puxa, eles são minúsculos, não são?
— Sim. São tão fofos.
Ele jogou o telefone e passou os braços em volta de
mim, beijando o topo da minha cabeça. — Você é fofa.
Queria aproveitar ao máximo o resto da noite, mas de
alguma forma deitar nos braços de Leo foi a última coisa que
me lembrei antes de adormecer.

♥Ω♥
Um ar sombrio lançou uma sombra sobre a manhã de
segunda-feira. Nossa estadia estava oficialmente terminada e
isso me aborreceu. Como era de se esperar, eu tinha acordado
com uma terrível ressaca. Leo dirigiu até Dunkin’ Donuts para
pegar bagels, e acabou voltando não só com eles, mas também
com donuts e outros doces, bem como uma caixa gigante de
café.

— Não sabia que estávamos patrocinando o café da


manhã para toda a cidade, — provoquei.

— Bem, eu não tinha certeza do que você gostava, então


pensei em escolher uma variedade. E achei que você precisaria
de muito café esta manhã.

— Isso é definitivamente o suficiente.


Ele parecia um pouco nervoso, enquanto verificava o
telefone.

— Tudo certo? — perguntei. — É Sig? Ele deve estar


voltando de Boston em breve.
Ele colocou o telefone no bolso. — Não, ninguém
mandou mensagem. Eu só estava checando a hora.
— Você tem olhado muito para o seu telefone. Achei
que alguém estava enviando uma mensagem para você.

Ele hesitou. — Estou esperando um… visitante.


Antes que ele pudesse elaborar, a campainha tocou.
— Aí está ele. Fique aqui. Eu volto já.

Ao invés de esperar, eu o segui até o foyer.


Quando ele abriu a porta, não pude acreditar nos meus
olhos. Meu queixo caiu.
Um homem estava na varanda ao lado do pônei Shetland
mais lindo e cinza que eu já tinha visto.

— Leo, o que… o que você fez?


Ele não respondeu e, em vez disso, tirou um grande
maço de dinheiro da carteira e pagou ao homem. Eles trocaram
algumas informações e, antes que eu percebesse, o cara havia
sumido, mas o pônei ficou. Com a boca ainda entreaberta, me
aproximei e comecei a esfregar sua crina macia.
— Você é louco? — Eu gritei com Leo.

— Ok, me escute. Eu…


— O que devemos fazer com ele?

— Ontem à noite, depois que você finalmente desmaiou,


entrei na Internet para ver se havia algum pônei Shetland à
venda na área. Por sorte, este rapaz está se mudando para a
Flórida e precisava despachar este rapazinho o mais rápido
possível. Imaginei que iríamos apreciá-lo por algumas
semanas e depois encontrar um lar permanente para ele antes
que ambos deixássemos a cidade.

— Tudo bem…, mas onde você vai colocá-lo?


— Vou mantê-lo aqui.

Eu olhei em volta. — Aqui?


— Sim. Sigmund não vai se importar.
— O que acontece se não conseguirmos encontrar um lar
para ele?
— No pior dos casos, vou levá-lo de volta para a
Inglaterra. Ele pode se juntar aos outros cavalos em nossa
propriedade.
— Não consigo imaginar como deve ser caro enviar um
cavalo para a Inglaterra.

— Ele não é muito maior do que um cachorro grande.


Não deve ser um problema.
— Como você vai explicar levar um cavalo de volta para
casa com você? Sua família vai pensar que você enlouqueceu.
— Peguei meu telefone e fiz uma rápida pesquisa no Google.
— Oh, meu Deus, Leo. Dez mil dólares em média. É quanto
custa enviar um cavalo para o exterior!
— Não importa. — Ele se aproximou de mim. — Deixe-
me perguntar. Você está feliz por ele estar aqui?

— Sim. Muito, mas…


— Então vale a pena cada centavo. — Ele acariciou o
pônei. — Não posso te oferecer o mundo. Eu não posso nem te
dar, porra. Deixe-me dar a você até o final do verão. Então eu
prometo que vou garantir que ele vá para uma boa casa –
mesmo que seja a minha.

Lágrimas saltaram dos meus olhos. Muito sobre o que


ele tinha acabado de dizer que me emocionou. E essa foi a
coisa mais doce que alguém já fez por mim.

— É errado eu estar com um pouco de ciúme porque ele


pode viver com você? — Uma lágrima caiu do meu olho.
Leo se curvou para me encontrar onde me ajoelhei. Ele
enxugou meus olhos e me beijou longa e apaixonadamente até
que o cavalo relinchou, interrompendo nosso momento.
— Ele tem nome? — perguntei.
— Não perguntei. — Ele se virou para o animal. —
Identifique-se.

O cavalo relinchou novamente.


Balancei minha cabeça de tanto rir. — Isso é Ludicrous
23.

— De fato. — Leo olhou para o animal. — Hmm… Esse


seria um nome adequado para ele, você não acha?
— O quê?

— Ludicrous.
— Você sabe o que? — Passei meus braços em volta do
pescoço do pônei e o abracei. — Estranhamente, não consigo
pensar em um nome melhor.
Aqui estava ele, nosso novo filho de amor temporário.

Nós gastamos o resto do dia comprando suprimentos


para ele. Ludicrous era apenas a distração que eu precisava do
meu apego cada vez maior por Leo. Embora, eu realmente
quisesse me apaixonar por um cavalo e por um homem que eu
não seria capaz de manter?
Congelei quando percebi o que acabara de admitir para
mim mesma – estava me apaixonando por Leo.
CAPÍTULO 15

Leo
Faixa 15: “Never Say Goodbye”, Bon Jovi
Depois de um dia inteiro de brincadeiras – literalmente –
Felicity voltou para casa na segunda à noite. Quando Sigmund
voltou de sua viagem mais tarde naquela noite, ele não achou
graça em descobrir nosso novo colega de quarto.
— Por que diabos há um cavalo em nossa sala de estar?

Fechei a revista que estava olhando. — Oh, você está de


volta.

— Sim. Aparentemente, eu deveria ter ficado em


Boston. Que porra está acontecendo?

— Esse é Ludicrous.
— Você está me dizendo.
— Não. Esse é o nome dele. Ludicrous. Eu o comprei
para Felicity.
— Eu perguntaria por quê, mas não há uma resposta que
possa fazer sentido.
Tínhamos criado um portão de segurança para isolar
uma área da sala de estar.

— Ela me disse que sempre quis um pônei Shetland,


então decidi comprar um e mantê-lo aqui pelo resto do verão.
— Sim. Isso faz sentido pra caralho, Leo. Eu sabia que
você era um pouco idiota quando se tratava dela, mas isso leva
a um novo nível.
— Não se preocupe. Ele vai passar um bom tempo no
quintal lateral. Eu só o trouxe hoje à noite porque está
chovendo.
— Pelo menos conseguiu transar com ela antes que ela
transformasse este lugar em uma fazenda?
— Isso não é da sua conta.

Ele riu. — Vou verificar a caixa de preservativos que


deixei para você e ver se está aberta.
— Isso não vai te dizer nada, na verdade. —
Imediatamente me arrependi de minhas palavras.

— Por que? Por favor, me diga que você cobriu isso.


Minha falta de resposta e talvez a expressão em meu
rosto o tenha levado a tirar a conclusão certa.
Seus olhos se arregalaram. — Você não usou nada com
ela? Você está louco?

— Ela está tomando pílula.


Ele aumentou seu tom. — Não dou a mínima para o que
ela diz. Você não pode confiar nisso.
— Sim, mas posso confiar nela. E eu confio.

— Bem, você é mais estúpido do que eu pensava, então.


— Sabe que eu não levo essas coisas levianamente.
Sempre tive cuidado.
— Você percebe o quão facilmente ela poderia
encurralá-lo?
— Ela não faria isso.

— Como você sabe?

— Porque a conheço e confio nela mais do que em


qualquer pessoa que já conheci. Eu confio nela mais do que
em você, pelo amor de Deus.

— Acho que você está oficialmente delirando.


— Não é da sua conta, Sigmund. Além disso, como é
que fazer sexo desprotegido com alguém em quem confio, que
está tomando a pílula, é pior do que dormir com várias
mulheres ao mesmo tempo e depender apenas de
preservativos? Eles podem romper. Nada é infalível. Você está
correndo um risco cada vez que você enfia seu pau em
alguém.

— Com preservativos, pelo menos eu tenho algum


controle. Você não tem nada além da palavra dela de que toma
um comprimido. E se ela engravidar? Como diabos você
explicaria isso a seus pais? Você ficaria preso a ela.

Preso a ela.
Será que ele pensou que a ideia de estar
permanentemente ligado à Felicity me assustaria? Isso me deu
a reação oposta – um pensamento fugaz que talvez engravidá-
la me colocaria em uma situação em que eu não teria outra
escolha senão estar com ela. Nesse cenário, seguir meu
coração e fazer a coisa certa seria uma e a mesma coisa.

— Não precisamos discutir mais isso, — eu disse.


— Sim, porque claramente não há como falar com você.

Eu felizmente mudei de assunto. — Como foi seu fim de


semana?
Sigmund olhou para seus sapatos e murmurou: —
Poderia ter sido melhor.

— Por que?
— Parece que ter um pequeno harém só é bom, desde
que ninguém se apegue. — Ele revirou os olhos. — Elas…
começaram a brigar.
— Sobre o quê?

— Sobre não ter tempo suficiente a sós comigo.


Começaram a competir. Ficou estranho, e eu estava pronto
para o fim de semana terminar.

— Então, chega de Marias, eu suponho.

— Sim.

Eu estava gostando de seu “relacionamento” mais


recente, se é que você pode chamá-lo assim, porque parecia
tirar sua atenção de mim. Mas provavelmente não demoraria
muito para que ele encontrasse outra pessoa para ocupar seu
tempo.

♥Ω♥

Na manhã seguinte, acordei com uma mensagem do meu


primo.
Sigmund: Ei, idiota. Aquele seu cavalo maldito acabou
de cagar no chão. Desça e limpe antes que eu vomite.

Oh. Não era exatamente desse jeito que eu queria


começar meu dia, mas acho que merecia por minha decisão
precipitada de comprar o animal.

Depois de limpar a bagunça, levei o cavalo para fora e o


alimentei. Era um belo dia, para que ele pudesse ficar no
quintal lateral sem que eu me sentisse culpado. Eu precisava
começar a procurar um lar permanente para ele. Quanto mais
cedo eu organizasse algo, melhor. Mas certamente encontrar
um bom lar para o Ludicrous era o menor dos meus
problemas. Hoje, em particular, me senti mais deprimido do
que o normal com a inevitabilidade de ter que deixar Felicity.
Era difícil acreditar que só nos conhecíamos há algumas
semanas, porque eu não conseguia me lembrar de uma época
em que ela não estivesse em minha vida.
Meus planos para hoje estavam no ar. Em uma terça-
feira, normalmente eu teria ido para casa da Sra. Barbosa, mas
o eletricista e o encanador precisavam de mais um dia para
completar seus trabalhos. Assim, não poderíamos voltar a
trabalhar lá até amanhã, na melhor das hipóteses. Não tinha
certeza se deveria ligar para Felicity ou dar-lhe algum espaço
após o turbilhão do final de semana que tínhamos tido. Eu me
sentia ainda mais viciado nela agora, mas também reconheci
que se eu mantivesse este ritmo, só a machucaria mais quando
eu partisse. Mas parte de mim tinha começado a se perguntar
se havia alguma maneira de fazer isto funcionar. Era uma
loucura até mesmo refletir, mas eu não compreendia como iria
esquecê-la. Sem dúvida, seria a coisa mais dolorosa que eu já
tinha tido que fazer. Era possível simplesmente afastar-se de
alguém de quem você realmente gostava?

Precisava falar com alguém. Não podia ser Sigmund,


isso era certo. Ele apenas me diria para arrancar o Band-Aid e
reservar minha passagem para casa hoje à noite.

Havia apenas uma pessoa em quem eu poderia confiar


nessa situação. Peguei meu telefone e liguei para ela.
— Oi, Leo, — ela respondeu. — Tudo bem?
Normalmente sou eu ligando para você.

— Estou bem, Vovó. Mas eu preciso falar com você.

— O que é?
— É sobre… Felicity.

— O que aconteceu? Oh, meu Deus, ela não está


grávida, está?

— Não, não, vó. Não é nada disso.


— Oh, graças a Deus. Você quase me deu um ataque
cardíaco.

— Eu preciso te fazer uma pergunta honesta.

— Ok, meu querido.


— Você realmente acha que eles me renegariam se eu
encontrasse uma maneira de fazer funcionar com ela?

Vovó fez uma pausa e soltou um longo suspiro no meu


ouvido. — Seus pais… — Ela suspirou. — Minha opinião
honesta é que eles não renegariam você. Mas isso não quer
dizer que eles não tornariam sua vida miserável,
principalmente sua mãe. No entanto, se eu acho que eles
tirariam qualquer coisa que é seu por direito? Não.
— Não se trata das coisas materiais para mim – o
dinheiro, minha herança. Não é isso que me preocupa. Meu
medo é perturbar meu pai, especialmente em seu estado.
Quero satisfazer as expectativas dele em relação a mim. Mas a
que custo? Eu não sinto que posso simplesmente…deixá-la. E
se ela for a tal, vó? Só passou pouco mais de um mês, mas às
vezes sentimos coisas em nosso instinto. E se ela for a única, e
eu passar o resto de minha vida vivendo com pesar porque me
afastei?
Minha avó suspirou. — Realmente se meteu em uma
situação difícil, não é? — Depois de um período de silêncio,
ela disse: — Você me pediu minha opinião honesta, meu amor.
E então eu vou dar a você, mesmo que você não queira ouvir.
Me preparando, eu engoli. — Ok.

— Entendo como você deve estar se sentindo agora, e


não tenho dúvidas de que seus sentimentos por esta garota são
reais, mesmo que as coisas tenham se passado muito rápido.
Francamente, pelo que você descreveu, ela parece amorosa,
inteligente, bonita, compreensiva e genuína. Digna do meu
neto, de fato. Mas é também a primeira vez em sua vida que
você se sente assim por alguém. Os primeiros amores têm uma
maneira de não apenas nos arrebatar, mas também de enevoar
nosso julgamento. Por mais que você se importe com ela, acho
que no fundo entende porque ela nunca poderia servir. No
entanto, essas razões não influenciam seus sentimentos por
ela. E eu entendo isso. Mas é preciso olhar para o quadro
geral. A vida a que ela teria que se acostumar aqui é muito
diferente da sua, e isso acabaria desgastando-a. O escrutínio do
público, o escrutínio de sua mãe – realmente acha justo
arrastá-la para todas essas complicações em um momento em
que ela está prestes a dar o próximo passo em sua formação?
Você a descreveu como uma mulher de espírito livre, que está
acostumada a não depender de ninguém. Não a impeça. Isso é
o que você estaria fazendo se lhe pedisse para vir para a
Inglaterra. E certamente sabe que viver na América não é uma
opção para você. A única coisa que seu pai realmente não
poderia perdoar seria você abandonar seu legado aqui em casa.
Portanto, sinto que não há escolha aqui, por mais difícil que
isso seja para você aceitar.
Eu não disse nada enquanto deixava tudo penetrar. Ela
estava certa, mas eu odiava admitir isso para mim mesmo.
— Às vezes… — ela acrescentou. — Soltar alguém
pode ser um gesto de amor tão importante quanto se agarrar a
ele.
Eu concordei, com meu estômago embrulhado. Tudo o
que ela disse que era verdade. No meu coração, eu sabia que
precisava deixar Felicity ir – para o seu próprio bem mais do
que qualquer outra coisa. Só não sabia como fazer.

♥Ω♥

Passei o resto do dia totalmente deprimido e acabei


voltando aos meus tutoriais de pintura de Bob Ross pela
primeira vez em muito tempo. Sigmund já tinha conectado
com alguém novo, então ele estava fora de casa para um
encontro com ela. Parabéns. Isso me dava o espaço para
espalhar todas as minhas coisas pela cozinha.

Gostaria de ligar para Felicity, mas disse a mim mesmo


que deveria continuar a dar espaço a ela hoje, especialmente
depois da conversa com minha avó, que me deixou tonto.
Ajudou a solidificar o que eu já sabia – que não havia chance
para que as coisas funcionassem – mas a dura verdade era uma
pílula difícil de engolir. Independentemente de meus próprios
sentimentos sobre o assunto, se eu queria o melhor para
Felicity, precisava deixá-la ir.
A pintura em que eu estava trabalhando hoje me
lembrava muito uma cena de Narragansett. Havia um
manancial de água e árvores ao redor. E, claro, nuvenzinhas
felizes. Meus olhos perambulavam da tela para a janela. Um
flash de cabelos vermelhos soprando ao vento encontrou meus
olhos.

Felicity estava no quintal lateral, alimentando Ludicrous


com uma longa cenoura. O olhar de alegria em seu rosto
momentaneamente me fez esquecer o que estava lamentando.
Depois que ele destruiu totalmente a cenoura, ela colocou os
braços em volta do pescoço e deu-lhe um abraço. Quando ela
fechou os olhos, parecendo tão contente, uma onda de culpa
me atingiu. Aquele lindo espirito seria esmagado em pouco
mais de um mês.
Largando meu pincel, caminhei até a porta dos fundos e
me aventurei até o quintal.
— Nunca pensei que teria ciúme de um cavalo, mas aqui
estamos.

Ela ergueu os olhos de repente. — Você me assustou.


— Esperava que eu não soubesse que você estava aqui?
Por que não me ligou?

— Não tive notícias suas durante toda a manhã. Não


tinha certeza se estava ocupado. Mas eu realmente queria para
ver o cavalo, então pensei em dar uma espiada e ver se ele
estava no quintal, já que está um bom dia.
— Nunca estou muito ocupado para você.
— O que estava fazendo? — ela perguntou.

— Estava realmente… pintando. Eu perdi o hábito de


praticar, então pensei em aproveitar a chance de Sigmund estar
fora, para não ter que lidar com o seu bufo. De qualquer
forma, estou feliz por você estar aqui. Eu queria te ver, mas
pensei em te dar um pouco de tempo, já que este fim de
semana foi bastante intenso. Imaginei que talvez você
precisasse de um descanso.

Ela voltou a acariciar o cavalo. — Talvez eu devesse me


sentir assim, mas não sinto. Eu gostaria de ter feito isso. Isso
tornaria tudo mais fácil.

— Sim. Eu sei. — Enfiei as mãos nos bolsos.


Manter minha posição quando se tratasse de minha
decisão não seria fácil. Sempre que Felicity estava fisicamente
comigo, a ideia de perdê-la para sempre parecia ainda mais
impossível.

— Como você está se sentindo… depois de tudo? —


perguntei.
Desviando sua atenção de Ludicrous por um momento,
ela disse: — Estou bem. Não me arrependo de nada do que
fizemos, se é isso que você está perguntando.
— Acho que estava me perguntando onde está sua
cabeça a esse respeito, sim. Ficamos muito envolvidos. Você
esteve na minha mente ainda mais do que o normal desde que
saiu ontem. Com os dias passando tão rápido, estou ficando
mais ansioso. Não sei como devo dizer adeus a você.

Felicity não olhou para mim. — Talvez não devêssemos


dizer adeus.
— O que você quer dizer? — Por um momento, meu
coração se encheu de esperança.
Ainda olhando para Ludicrous, ela disse: — Tenho
pensado muito sobre isso, e acho que talvez nós apenas
escolhemos uma hora para não nos vermos mais – chegando a
hora – e pular o adeus completamente. Não consigo imaginar
dizer adeus a você, Leo. Sei que o que acabei de propor parece
muito cruel, mas acho que, de certa forma, pode ser mais fácil
para mim…
— Mas tem que haver um adeus. Se sabemos que é
nossa última vez juntos, como podemos evitar isso? Não posso
simplesmente me afastar de você e não dizer adeus.
— Talvez não possamos evitá-lo completamente. Só não
quero um longo adeus.
Não poderia adiar mais essa discussão.
— Eu não queria ter essa conversa hoje, mas talvez seja
o melhor. — Meu peito se encheu de ansiedade antecipatória.
— Nunca discutimos logística. Com isso quero dizer, o que
acontece depois que nos separamos? Estaremos em contato?

Felicity fechou os olhos e abraçou o pônei mais perto


enquanto ela passava as mãos ao longo de sua crina. Então
finalmente olhou para mim. — Não sei se posso lidar com
isso.
Engoli. — Não pode lidar com… manter contato
comigo?

Ela acenou com a cabeça.


— Você está sugerindo que nunca mais nos falemos? —
Fiquei chocado. — Eu não sei se eu posso fazer isso, Felicity.
No mínimo, preciso saber que você está bem. Não posso
simplesmente apagar você.
— Isso é doloroso para mim também. Não sei qual é a
resposta certa. Mas não acho que aguento ouvir sobre você
seguir em frente, se casar, ter filhos algum dia.
Em todo o tempo que a conheço, nunca tive a impressão
de que ela iria querer perder o contato por completo. Talvez
isso tenha sido ingênuo da minha parte. Sabia que não
poderíamos ficar juntos. Mas nunca mais ver ou ouvir falar
dela? Parecia inimaginável. O pânico tomou conta de mim.

— Isso é negociável?
Um olhar perturbado cruzou seu rosto. — Leo…

Minha prioridade precisava ser o melhor para ela. Talvez


minha necessidade de manter contato fosse egoísta. Ou talvez
tenha sido uma tentativa de segurar os últimos resquícios de
esperança de que não seria o nosso fim. Se minha prioridade
era realmente evitar o máximo de danos da minha partida,
talvez ela estivesse certa, por mais doloroso que fosse era
imaginar nunca mais ver ou ouvir falar dela.
— Eu farei o que você quiser, Felicity. Dói, mas não vou
culpa-la por não querer manter contato. Não vai alterar as
memórias incríveis que tenho de você de forma alguma. Vou
respeitar sua decisão, mesmo que seja difícil de aceitar agora.

— Você acha que é o que eu quero? — Ela balançou a


cabeça lentamente, com a voz trêmula. — É só o que eu
consigo lidar, você sabe?
— Venha aqui. — Quando ela começou a chorar, estendi
a mão e a puxei em meus braços.
Respirando longa e profundamente seu cheiro, senti meu
peito se contrair. Decidi ser honesto com ela de uma forma que
não pretendia ser até este momento.
— Esta manhã eu estava quebrando a cabeça, tentando
descobrir uma maneira de fazer isso funcionar.
Ela se afastou e olhou para mim com os olhos
arregalados.
— Deixar minha família seria obviamente difícil. Tudo o
que sou obrigado a lidar está lá. As promessas que fiz a meu
pai não serão possíveis a menos que eu esteja
permanentemente na Inglaterra. Mas nos últimos dias, tenho
lutado com a ideia de implorar para que você venha para o
Reino Unido comigo.

Felicity parecia chocada, com os olhos arregalados. —


Estou surpresa de ouvir você dizer isso.
— Então você subestimou meus sentimentos por você.

— Só nunca pensei que você consideraria isso.


Apesar de todos os conselhos da minha avó, eu precisava
saber. — Você diria que sim se eu pedisse para você correr o
risco e ficar comigo?
Ela piscou, parecendo atormentada. — Eu honestamente
não sei.

A sua hesitação falou muito. Se houvesse agora


apreensão, uma vez que ela chegasse a Inglaterra, o estresse
que nos saudava só consolidaria que ela tinha tomado a
decisão errada. Seria necessário que ela tivesse cem por cento
de certeza, e estava longe disso.
— Falei com minha avó esta manhã sobre isso. Confio
nela mais do que em qualquer outra pessoa e queria a sua
opinião honesta. Ela me ajudou a ver que mesmo que pedindo
para você voltar para casa comigo pudesse ser o que eu queria,
não seria justo para você. Pedir que abandone tudo e se
habitue a uma vida tão diferente da que está acostumada, não
seria do seu interesse. Sem mencionar que os abutres sairiam e
tentariam tornar sua vida miserável – talvez não eternamente,
mas definitivamente no início. Sei que jamais poderia me
perdoar se te atrapalhasse no auge de tua vida de tal maneira
forma.
Mas, porra, se você me dissesse que sim, eu arriscaria
tudo.
Felicity acenou com a cabeça. — Se você me
perguntasse… saiba apenas que eu gostaria de dizer sim. Mas
não creio que sua avó esteja errada. Não tenho nenhuma ideia
no que me meteria. Eu não gostaria de colocar esse tipo de
estresse em você, tampouco de ter que me preocupar com a
forma como as pessoas me tratam. E há uma coisinha chamada
Faculdade de Direito que eu deveria estar cursando. Mudar-me
para a Inglaterra faria descarrilar isso por um tempo. Só não
sei como poderíamos fazer isso funcionar, mesmo se
quiséssemos
Eu a puxei para mim novamente e falei em seu ouvido.
— Então, como vamos lidar com as semanas que nos restam?
Me diga o que você quer.
Falando contra meu ombro, ela disse: — Ainda quero
ver você todos os dias. Vamos levar isso a cada momento…
até que não haja mais nenhum momento.

Suspirei. Não havia outra maneira de lidar com isso. —


Está esquentando, hein? — Peguei a mão dela. — Vamos
entrar.
Felicity me seguiu até dentro de casa e deteve-se pouco
tempo quando viu meu cavalete na cozinha. — Oh, meu Deus.
Você fez isso?

— Sim. É o que eu faço quando estou estressado,


aparentemente. — Estendi a mão para uma tigela no balcão.
— Bala?
Ela balançou a cabeça. — Não. — Caminhando até o
cavalete para dar uma olhada mais de perto. — A maneira
como você descreveu suas habilidades de pintura fez parecer
que você era horrível. Isso é muito bom, Leo.
— Bem, você pega o jeito depois de um tempo. Estou
melhorando em copiar seus movimentos exatos. Mas não é um
verdadeiro talento se você tem que seguir a liderança de outra
pessoa o tempo todo.
— Discordo. Eu nunca poderia fazer isso.

O feedback dela realmente me fez sentir muito bem.


Sempre suspeitei que não era um artista tão ruim quanto
Sigmund queria que eu acreditasse. Mas é difícil julgar seu
próprio trabalho.
— Este é provavelmente o meu melhor até agora. Então,
obrigado pelo elogio.

— Posso ficar com ele quando você terminar?


Eu sorri. — Claro.
— Vou pendurá-lo no meu quarto.
— Tem certeza de que ficará bem com o lembrete?
Felicity colocou a mão na minha bochecha. — Não há
como eu ser capaz de apagar você, Leo. Sempre vou querer me
lembrar desse tempo. Eu só não quero ter que ver você com
qualquer outra pessoa.

Sentindo uma dor no peito, peguei sua mão e a beijei. —


Você vai passar o resto da tarde aqui?
— Tenho que trabalhar hoje à noite, mas tenho algumas
horas antes de ter que me arrumar. Posso vê-lo pintar?
Obviamente você tem um longo caminho a percorrer.
— Se você quiser. Claro.
Durante a hora seguinte, minha bela ruiva sentou-se no
chão com as pernas cruzadas, me observando pintar enquanto
Bob Ross me instruía do laptop.

Foi tranquilo. E por enquanto, ela estava aqui comigo. O


que mais eu poderia querer? Se eu pudesse ter congelado o
tempo, este poderia ter sido o momento que escolheria para
fazer uma pausa.
♥Ω♥

Mais tarde naquela noite, depois que Felicity foi e levou


o quadro com ela, meu primo me encontrou sentado na sala de
estar com a cabeça nas mãos.
— Você foi e fez isso, não é? — ele disse.
— Fiz o quê? — Eu perguntei, sentindo como se meu
espírito tivesse sido arrancado do meu corpo.
— Você se apaixonou por ela.
Eu me virei para olhar para ele. — O que você quer que
eu diga?
Ele respirou fundo. — Na verdade, sinto pena de você,
primo. Isso me faz desejar nunca termos parado neste maldito
lugar.
Eu sabia que desta vez eu nunca negociaria com ele,
nunca negociaria tendo a experiência de possuir sentimentos
autênticos por alguém. Sigmund nunca havia estado
apaixonado, então eu não podia esperar que ele entendesse.
Você simplesmente não entende até que isso aconteça com
você.
— Você disse a ela? — ele perguntou.
— Dizer a ela o quê?
— Que você a ama?
— Não. Não há sentido. Contar a ela só complicaria
mais as coisas. Nós concordamos em passar o resto do meu
tempo aqui.
— Por passar o resto do tempo, eu suponho que você
queira dizer foder os miolos um do outro.
Eu não dignifiquei isso com uma resposta.
O tom de Sigmund ficou sério. — Ok, então qual é o
plano depois que você sair?
— É isso aí. Ela acha que não devemos manter contato
se não estivermos juntos.
— Sério? De jeito nenhum?
— É isso mesmo. Acha que vai ser muito doloroso.
Ele coçou o queixo. — Isso é sábio, na verdade. Pelo
menos um de vocês entende que nada de bom pode resultar
disso. — Ele suspirou. — Só para constar, não fico feliz em
ver você assim.
— Essa pode ser a coisa mais legal que você me disse
durante todo o verão.
— Sim, bem, acho que fui envenenado pelos vapores
residuais do amor no ar.
Revirei os olhos e ri. — Você é um idiota, sabia disso?
CAPÍTULO 16

Felicity
Faixa 16: “Never Forget You”, Zara
Larsson
FINAL DE AGOSTO
Leo me deixou em minha casa depois de uma manhã de
dar os últimos retoques na renovação da garagem da Sra.
Barbosa. Ao sair do chuveiro, pensei sobre a rapidez com que
o tempo passava. Tinha que partir para a Pensilvânia em uma
semana, e Leo tinha decidido reservar seu voo por volta da
mesma época. Faltava uma semana.

Durante as últimas seis semanas, fizemos um excelente


trabalho levando as coisas dia após dia, nos empenhando
principalmente em terminar o trabalho na casa da Sra.
Barbosa. O ambiente agora estava totalmente funcional, e era
tão gratificante ver Theo curtindo seu novo balanço interno e
tendo suas sessões de terapia em um canto da sala. Leo e eu
tínhamos feito algo de bom neste verão, ao mesmo tempo em
que tirávamos nossas mentes do inevitável.
Havíamos passado o máximo possível do resto do nosso
tempo juntos, aproveitando as coisas simples como caçar
mariscos e relaxando as tardes com o Ludicrous quando eu
não precisava trabalhar no Jane’s.
Algumas semanas atrás, porém, eu havia dito ao Leo que
achava que deveríamos deixar de ser íntimos. Por mais que
isso o tivesse magoado, ele concordou que continuar nossa
relação sexual só tornaria as coisas mais difíceis no final.
Então paramos com isso, facilitado pelo fato de eu não passar
mais a noite em sua casa.
Assim, não dormíamos mais juntos, mas muitas vezes eu
tinha sonhos sexuais com ele que me acordavam à noite. Eles
eram intensos e sempre me pareceram tão reais. Em um deles,
porém, eu tinha a clara percepção de que o homem que fazia
amor comigo não era meu. Ele era o futuro marido de outra
pessoa, o futuro de outra pessoa. Acordei suando, torturada
pelas emoções que o sonho havia evocado.
Mas é o seguinte. Por mais que eu tenha me convencido
de que parar de fazer sexo era o melhor, não poderia dizer que
me fez sentir menos apegada a ele. Você pode separar
fisicamente duas pessoas, mas se tudo o que querem é ficar
juntas, de certa forma o esforço para se manterem afastados
apenas fortalece a conexão não física. Na verdade, eu o amava
mais, e o desejava muito mais. O desejo era mais poderoso do
que o sexo jamais poderia ser.

Enquanto eu me enxugava, uma notificação de texto me


tirou dos meus pensamentos. Olhei para o meu telefone.
Leo: Precisamos conversar. Devo ir aí?

Isso não parecia certo.

Felicity: A Sra. Angelini está com uma amiga. Eu posso


ir até você. Está tudo bem?
Leo: Vou explicar quando você chegar aqui.

Com uma sensação inquietante no estômago, me vesti o


mais rápido possível e dirigi mais rápido do que deveria para a
casa de Leo.
Quando ele abriu a porta, seu rosto estava solene.

Eu entrei. — O que há de errado?


— Minha mãe acabou de ligar. Meu pai contraiu uma
infecção grave durante o último tratamento e ela está
preocupada que algo possa acontecer com ele. Eu tenho que ir,
Felicity. Reservei um voo para amanhã à noite porque era o
mais rápido que eu poderia conseguir. Não tenho escolha.

Agarrei meu peito como se para impedir meu coração de


pular fora dele. Ele só tinha mais uma semana, mas isso não
tornava menos chocante.

— Claro, você não tem escolha. Você tem que ir.


— Isso está me matando, — disse ele. — Nós
deveríamos estimar a última semana juntos. Não estou de
forma alguma, pronto para deixá-la.
— Onde está Sig? — Eu não sabia mais o que dizer.

— Ele está empacotando algumas de nossas coisas.


— O que posso fazer para ajudar?

Seus olhos pareciam vazios. — Diga-me que isso é um


pesadelo para que eu possa acordar dele.

Tentando manter a calma, eu sabia que precisava superar


isso. Essa abordagem seria melhor para nós dois. — Você
precisa que eu leve o Ludicrous?

Leo havia tentado durante o último mês, sem sorte,


garantir uma colocação permanente para o pônei. Não parecia
bom.
— Soube por uma fazenda esta manhã que me parecia
interessada. É um lugar que oferece passeios terapêuticos para
crianças com necessidades especiais. Perguntei se poderia
deixá-lo amanhã de manhã, e eles iriam retornar para mim.
Pareceu-me promissor, mas se eles não puderem levá-lo, eu
avisarei.

— Não tem problema. Eu posso descobrir algo.

— Você não deveria ter que fazer isso. — Leo se virou


para a janela, parecendo atordoado.

A cada segundo que passava, meu coração se partia um


pouco mais. Em vez de o afastar desta vez, eu o puxei para
perto. — Leo, está tudo bem. Vai ficar tudo bem.

Ele enterrou a cabeça no meu peito e ficamos abraçados.

Quando Sig entrou na sala, mal registrou. Ele não disse


nada, o que não era do seu feitio, mas fiquei grato.

Leo falou em meu pescoço. — Eu sei que você não


queria um adeus longo e doloroso, mas sinto que estou sendo
afastado de você, e isso não é o melhor.

— Faça o que for preciso, Leo. Seu pai precisa de você.


Nós estávamos a ponto de chegar a este lugar de qualquer
maneira. Não teria sido mais fácil então. — Finalmente recuei
e me forcei a dizer: — Acho que é melhor se deixarmos um ao
outro agora. Aproveite esta noite e amanhã para limpar sua
cabeça e colocar seus negócios em ordem antes do seu voo.
Vai ser muito difícil arrastar isso. Eu não consigo lidar com
isso.

— Não posso. — Ele continuou balançando a cabeça. —


Não consigo dizer adeus a você.
— Mas você não precisa. — Meu peito subia e descia.
— Eu vou embora.

— Dê-me cinco minutos. — Leo fechou os olhos com


força antes de abri-los. — Apenas me dê cinco minutos para te
abraçar.

Balancei a cabeça, caindo de volta em seus braços. Seu


coração batendo contra o meu era como um relógio.

Não sei se foi cinco, dez ou vinte minutos depois que me


forcei a me afastar. Suspeitei que Leo não teria me deixado ir
se eu não tivesse sido a primeira a me mover.

Enquanto eu enxugava as lágrimas dos meus olhos,


percebi que ele parecia estar lutando contra elas também.

— Dê-me seu telefone, por favor, — disse ele.


Entreguei a ele e observei enquanto ele adicionava
algumas informações.

— Eu coloquei meu e-mail e endereço em dois lugares –


sob meu nome em seus contatos e nas anotações. Se você
mudar de ideia sobre manter contato comigo, tem todas as
minhas informações agora. E Felicity, se você precisar de
alguma coisa, se precisar de ajuda de alguma forma, ou de
qualquer coisa, por favor, prometa que me avisará.
Leo me puxou para um último beijo longo e doloroso, e
eu tentei o meu melhor para bloquear a magnitude dele.

Respirando fundo, dei alguns passos para trás. — Irei


embora, ok? E voltarei para dizer adeus ao Ludicrous e depois
vou para casa.
Leo balançou a cabeça e fechou os olhos, como se não
pudesse suportar me ver sair. Essa foi a última coisa que vi
antes de colocar um pé na frente do outro e fazer meu caminho
para fora da porta, sentindo como se meu coração tivesse se
despedaçado em um milhão de pedaços.

♥Ω♥

No dia seguinte, me sentia péssima. Eu me revirei a


noite toda, e a dor em meu corpo era a manifestação física de
meu coração partido. Saber que Leo ainda estava do outro lado
da baía e que ele estava tão ferido quanto eu me assombrava.
Não fiz nada além de ficar de mau humor no meu quarto
e olhar pela janela em direção à casa de Leo. Tentei me ocupar
em fazer as malas para a Pensilvânia, mas estava pensando
nele.

A Sra. Angelini não estava em casa. Ela raramente saía


durante o dia inteiro, mas hoje tinha ido visitar uma amiga a
uma hora de distância em Massachusetts. Ela me perguntou se
eu preferia que ela cancelasse para que pudesse me distrair da
partida de Leo, mas eu assegurei a ela que não faria diferença
e a convenci a manter seus planos.

Nem sabia que horas era seu voo, só que era esta noite.
Ele não me ligou sobre Ludicrous, então eu só poderia
presumir que a fazenda que ele encontrou concordou em levá-
lo esta manhã; pelo menos esperava que sim. Eu teria
descoberto se ele precisasse de mim.
Quando as 5 da tarde chegaram, finalmente desci as
escadas. Pelo que eu sabia, Leo já havia partido para o
aeroporto. Ele já havia partido de Narragansett.

Quando a campainha tocou, meu coração deu um salto.


A Sra. Angelini só deveria voltar por volta das nove.
Espiei pelo olho mágico para encontrar Leo, uma visão
que me deixou sem fôlego.

Quando abri a porta, ele parecia ofegante, também. —


Sinto muito, Felicity, — ele gaguejou. — Eu sei que prometi
não fazer isso, para prolongar nosso adeus, mas esqueci de lhe
dar uma coisa. — Ele me entregou o planejador azul que
pegou na primeira noite em que o convidei. — Escrevi aqui e
queria dar a você como uma lembrança. Me desculpe se eu
estar aqui te aborrece. Eu…
Pulei em seus braços. O arrependimento que vinha
crescendo dentro de mim o dia todo se tornou insuportável. O
curto adeus que eu pedi foi inútil. Minhas emoções estavam
me golpeando – uma punição por tentar impedi-las. A maneira
como as coisas terminaram ontem nunca foi o que eu desejei;
só estava com medo de experimentar o que estava sentindo
agora.
Ele me beijou com tanta força que quase caí para trás. Se
ontem eu não tivesse querido sentir nada, isto era o oposto.
Inspirá-lo era a única coisa que importava no mundo, mesmo
que por uma última vez. Não havia palavras. Leo me levantou
no ar, e eu enrolei minhas pernas em torno de seu tronco.
Nossos corações batiam um contra o outro.
O que eu precisava agora mesmo, sabia que seria
prejudicial. Mas, como um viciado em drogas prestes a tomar
uma dose, eu simplesmente não me importava.
— Eu quero você, — respirei em sua boca, sabendo que
ele estava esperando permissão para cruzar a barreira que eu
havia definido anteriormente. — Por favor.
Ele soltou um gemido profundo que vibrou na minha
garganta.

Em segundos, nossas calças estavam para baixo e ele se


empurrou dentro de mim com minhas costas contra a parede
na entrada da Sra. Angelini. Puxando seus cabelos, eu balancei
meus quadris para encontrar seus movimentos frenéticos. Não
havia nada de gentil na maneira como ele me fodia, nem na
maneira como eu recebia desesperadamente cada impulso.
Tiramos nossa raiva um do outro, um ato final desesperado.
Foi o sexo mais intenso que eu já havia tido e provavelmente o
único término adequado para a paixão que havíamos sentido
neste verão.

Não demorou muito. Dentro de alguns minutos, o corpo


de Leo começou a se agitar. Senti o calor de seu esperma entre
minhas pernas enquanto meus próprios músculos se contraíam
em torno de seu pau. Ele continuou a me abraçar ao me apoiar
nele, sentindo-me subitamente mole, muito fraca para suportar
mais um adeus.

— Deus, isso dói, — ele sussurrou.


Lentamente me colocou no chão e ajustou suas calças
enquanto eu puxava meu short para cima.

E então seu telefone vibrou.


Limpei uma lágrima do meu olho. — É Sig?

— Sim, — ele sussurrou, parecendo perturbado.


— A que horas é o seu voo?
— Nove. Já deveríamos ter saído agora. Ele está me
dando uma bronca por estar aqui.
— Vá, — eu disse, acenando com a mão.
Ele enxugou uma lágrima da minha bochecha. — Serei
eternamente grato por ter quebrado as regras.
— Eu também, Leo. — Eu agarrei sua camisa. — Sem
arrependimentos, ok?

Ele me olhou fixamente por vários segundos. Pegou o


colar que estava usando, aquele que mantinha o anel de
diamantes de seu avô, e o colocou ao redor do meu pescoço.
Eu olhei para ele aturdida. Então ele me puxou para um último
beijo forte, mas casto, antes de ir embora.
Dando a volta na garagem da frente uma última vez e
disse: — Nunca irei encontrar outra você.
Então ele entrou no carro. E se foi.
Desta vez, eu sabia que era real. Eu ficara inquieta o dia
todo porque, em algum nível, eu sabia que ele viria até mim,
sabia que não iria ficar longe. Esperava por ele mesmo que eu
não tivesse me dado conta disso. Uma estranha calma
apoderou-se de mim agora que eu sabia que ele tinha
realmente ido embora. Não havia mais pressão para implorar
que ele ficasse ou fizesse algo precipitado.
Demorou um pouco antes de criar coragem para abrir o
planejador que ele havia me devolvido. A Sra. Angelini ainda
não tinha voltado para casa quando eu fiz um chá e sentei-me
à mesa da cozinha para ler. Lá dentro, havia uma entrada para
todos os dias que ele o teve em sua posse. Foi o nosso verão
inteiro, reduzido a um caderno de cinco por oito.

26 de junho: Só vou admitir isto aqui, porque sou muito


covarde para dizer isto na sua cara. Hoje fiquei com muita
inveja quando seu ex a levou para conversar. Eu o invejo por
tantas razões; ele já experimentou coisas com você que eu não
experimentei. Como é correto que eu não queira que mais
ninguém te tenha quando eu não posso ficar e ser o único?
Não é justo, então eu preciso aguentar. Mas caramba, eu
queria estrangulá-lo só por olhar para você.
Eu continuei lendo.

30 de junho: Você sabia que um de seus olhos é de uma


cor verde mais clara que o outro? Acho isso fascinante, quase
tão fascinante quanto as sardas que sempre me provocam,
implorando-me para contá-los. Você é linda, Felicity.

Algumas entradas eram apenas descrições do que


havíamos feito em um determinado dia, como trabalhar na
casa da Sra. Barbosa ou sair para comer. Mas de vez em
quando, um deles partia meu coração.
7 de julho: Foi, sem dúvida, o melhor fim de semana da
minha vida. Eu disse a mim mesmo que não ia dizer essa
palavra de três letras, Felicity. Porque não é justo, dadas as
nossas circunstâncias. Mas eu me pergunto se você pode
sentir isso. Você consegue ver isso em meus olhos? Você
consegue senti-lo na batida do meu coração? Eu me pergunto
se tenho mesmo que dizê-la, ou se ela tem sido óbvia por
muito tempo.

Limpei uma lágrima da minha bochecha e li cada


entrada até eu cheguei a última.
21 de agosto: Você acabou de sair pela última vez, e eu
estou vazio. Se há uma coisa que levo do nosso tempo juntos,
por favor, lembre-se que eu nunca esquecerei esta experiência
com você. Eu nunca vou esquecê-la, Felicity. Mas estou
assombrado com a ideia de que pensará em mim como apenas
mais uma pessoa que a abandonou nesta vida. Se eu pudesse
ter um desejo agora mesmo (além da saúde de meu pai), seria
este: Gostaria de estar em sua companhia e saber que essa
decisão não arruinaria sua vida. Jamais poderia viver comigo
mesmo se eu a arrastasse para uma vida da qual você se
arrependeria.
Lembre-se de que não importa o quão longe estejamos
um do outro, estaremos sempre olhando para a mesma lua. À
noite, sempre que você a notar, espero que pense em mim.
Prometo fazer o mesmo – olhar para a lua e pensar em você.
E o sol e as estrelas também. Posso estar indo embora, mas
você sempre estará no meu coração. Isso pode não ser um
consolo agora. Mas é a verdade.
CAPÍTULO 17

Felicity
Faixa 17: “Coming Home”, Skylar Grey
Tanta coisa havia mudado e, no entanto, tudo era o
mesmo.
Bebericando minha taça de vinho no apartamento de
Bailey em Providence, parecia como nos velhos tempos, só
que agora havia uma criança de dois anos saindo com a gente.
Minha melhor amiga engravidou enquanto eu estava na
faculdade de direito. Ela e Stewart não haviam planejado isso,
e ela acabou colocando suas ambições de carreira em espera
para ficar em casa com a pequena Kayla, enquanto Stewart
trabalhava no Laboratório de Pesquisa da Brown University.

— Então, você vai dormir na mansão esta noite? —


Bailey perguntou enquanto colocava a filha na cadeira de
alimentação.
Eu concordei. — Provavelmente. Vai ser estranho estar
lá sem ela. Mas é melhor eu me acostumar com isso.
Eu havia dirigido direto para Bailey da Filadélfia porque
ainda não estava pronta para ir para a casa vazia da Sra.
Angelini. “Coming Home” de Skylar Grey tocou no rádio
enquanto eu dirigia, e eu fiquei tão emocionada que tive que
parar em uma área de descanso para pegar alguns lenços de
papel. Todos os sentimentos dos quais eu estava escondendo
vieram à tona.
Mas suponho que faça sentido. Foi a primeira vez que
voltei a Rhode Island desde que minha mãe adotiva morreu
repentinamente de ataque cardíaco, dois anos atrás – uma
semana depois de me formar na faculdade de direito. Eu ainda
não havia absorvida o choque. Quando isso aconteceu, eu
voltei da Pensilvânia para o velório e o funeral, mas não pude
ficar muito tempo em Rhode Island depois. Eu estava
estudando para a advocacia e me candidatando a empregos,
mas principalmente, lá não adiantava ficar se a Sra. Angelini
já havia partido.

Desde sua morte, eu estava reavaliando o que eu queria


da vida e percebi que realmente sentia falta de casa, mesmo
que a Sra. Angelini não estivesse mais lá. Ansiava por estar
perto de seu espírito, que representava a única família que
conheci. Algo parecia estar me chamando de volta para Rhode
Island agora, mesmo que eu não entendesse totalmente. E
também esperava encontrar uma posição que parecia mais
gratificante do que o trabalho de associado júnior que eu
peguei logo após a escola.
Há cerca de um mês, desisti, com a intenção de voltar
para Narragansett, embora não tivesse nada planejado. Eu
precisaria passar pelo exame da ordem de Rhode Island antes
de encontrar outra posição. A próxima oportunidade seria em
seis meses, então esse tempo de folga seria minha chance de
me organizar e resolver a situação com a casa da Sra.
Angelini, bem como resolver pela minha cabeça. O cenário
perfeito seria eventualmente encontrar um emprego em
Providence – relativamente perto de Narragansett – para que
eu pudesse morar na mesma casa e não precisar alugar outra.
Não tive coragem de vender a propriedade da Sra. Angelini e
esperava nunca ser forçada a isso por razões financeiras.
— A casa ainda está em bom estado? — Perguntou
Bailey.
Eu concordei. — O irmão dela, Paul, e o vizinho, Hank
Rogers, estão cuidando dela. Agora que vou ficar lá, eles não
precisarão mais fazer isso. Embora, eu possa estar ligando para
eles e pedir ajuda quando algo inevitavelmente quebrar.
— Você sabe que também pode contar conosco. Stewart
sempre pode dirigir se você estiver em apuros e não puder
consertar alguma coisa.
— Esperançosamente eu não vou precisar incomodar
vocês, mas obrigada.

Ela hesitou. — Apenas um aviso – Matt está


supostamente voltando para casa no fim de semana do Dia do
Trabalho. Stewart queria fazer um churrasco, mas não sei
como você se sente ao vê-lo.
Suspirei. — Tanto faz. Eu cuido disso se ele estiver lá.
Não o vejo há anos, nem me importo em vê-lo.

Aprendi muitas lições desde que me formei na faculdade


de direito. A primeira foi uma validação de algo que sempre
ouvi enquanto crescia: quando alguém mostra quem é,
acredite na primeira vez. Cerca de um ano depois de me
mudar para a Pensilvânia, acabei dando ao meu ex, Matt, uma
segunda chance. Ele tinha aparecido por um tempo, sob o
pretexto de que podíamos ser amigos. De fato, ele me apoiou
durante o tempo em que eu estava mais desolada. Embora eu
nunca tenha admitido o quanto eu estava confusa, ele sabia
que eu estava superando Leo.

Depois que Matt ganhou voltou às minhas boas graças,


começamos um relacionamento novamente. Parecia mais fácil
confiar nele do que em alguém totalmente novo. Depois de
Leo, não tive energia mental para começar do zero. Ao mesmo
tempo, não queria ficar sozinha.

Mas depois que a novidade de nosso reencontro passou,


Matt começou a agir de maneira diferente. Suspeitei que ele
estava tendo um caso com uma colega de trabalho, mas nunca
fui capaz de provar. Eu terminei com ele depois de um ano ou
mais – antes que eu pudesse me machucar novamente. Porém,
para ser honesta comigo mesma, independentemente das
minhas suspeitas, simplesmente não estava apaixonada por ele.
Tentei não pensar em Leo durante esse tempo, mas no fundo
do meu coração, os sentimentos que ainda nutria por ele
tornavam impossível me entregar completamente para Matt.
Talvez algum dia aparecesse alguém que pudesse me fazer
amar o suficiente e esquecê-lo, mas certamente não era Matt.
E não houve mais ninguém desde então.

Apesar disso, e considerando o quão magoada eu fiquei


quando Leo foi embora, eu pensei que tinha feito um bom
trabalho em colocá-lo fora da minha mente ao longo dos anos.
Como sempre fiz quando enfrentei as dificuldades da vida, me
joguei na escola e meu relacionamento fracassado com Matt.
Então, quando passei no exame da ordem de advogados e fui
contratada pela empresa onde havia estagiado anteriormente,
tive uma distração ainda maior.
Ainda assim, nos últimos seis meses, comecei a me
sentir solitária na Pensilvânia. Dar tudo de mim no meu
trabalho sem sentido não era o suficiente; precisava de algo
mais gratificante. Assim que passei no exame em Rhode
Island, quis voltar ao que sempre disse que queria – usar meu
diploma para ajudar crianças que cresceram como eu. Esse era
meu objetivo.

Bailey me serviu mais vinho. — Você tem trabalhado


tanto por tanto tempo. Saiu direto da faculdade de direito e
acabou perdendo a Sra. Angelini, depois foi aprovada na
Ordem dos Advogados e começou um emprego. Merece esta
pausa.

— Sim, contanto que não demore muito. Você me


conhece. Sempre preciso de algo para me concentrar, ou então
enlouqueço. Cuidar da casa não será suficiente.

— Por quanto tempo você pode se dar ao luxo de não


trabalhar?

— Bem, graças à Sra. Angelini, eu não tenho uma


hipoteca. E ela deixou dinheiro suficiente para cobrir os
impostos sobre a propriedade por pelo menos cinco anos.

— Ótimo. Tente aproveitar este tempo.

Esse era o problema. Eu não queria muito tempo livre.


Enquanto as memórias me trouxeram de volta aqui, eu me
preocupei que isso pudesse sair pela culatra. Meu maior medo
era ficar deprimida morando sozinha na casa em Narragansett,
com pouco mais em que me concentrar. Não apenas senti falta
de minha amada mãe adotiva, mas as memórias de Leo
estariam mais frescas lá em casa. Eu me preocupava em ter
que olhar para o outro lado da baía e lidar com todos os
sentimentos que poderiam surgir.

Como se o destino estivesse prestando atenção às minhas


atuais inseguranças, Bailey foi até seu armário e voltou com
uma lata de SpaghettiOs, de todas as coisas. Isso parecia um
sinal estranho do universo. Meus olhos se encheram de
lágrimas.

— Você está bem? — Bailey perguntou enquanto abria a


lata e colocava o conteúdo em uma pequena panela no fogão.

— Sim. Apenas alergia. — Eu funguei.

♥Ω♥

Era estranho estar de volta em casa sem ela. Esta foi


parte da razão pela qual eu evitei por tanto tempo.

Lá em cima, fui direto para o quarto da Sra. Angelini,


que parecia o mesmo de que eu me lembrava. Seu longo suéter
de lã ainda estava jogado sobre uma cadeira no canto, como se
ela pudesse entrar a qualquer momento e vesti-lo. Deitei na
cama e me enrolei em seu travesseiro, que ainda tinha um
toque do seu cheiro. Como isso era possível depois de dois
anos? Abrindo a gaveta da mesa lateral, encontrei uma garrafa
meio vazia de Fireball.

Sorrindo, eu abri e saudei o teto. — Isto é por você, Sra.


Angelini. — Tomei um longo gole, o licor de canela
queimando minha garganta enquanto descia.
Depois de vários minutos e mais alguns goles, eu podia
sentir isso subindo à minha cabeça. E não estava tendo um
efeito relaxante. Em vez disso, me senti emocional. Os
pensamentos da Sra. Angelini inundaram meus sentidos. Tinha
vários arrependimentos quando se tratava dela. Achei que teria
muitos mais anos para mostrar a ela o quanto eu a apreciava –
o quanto a amava. Não foi até que ela se foi que percebi que
ela era minha mãe – de todas as maneiras que importavam,
pelo menos.
Ela nunca soube que eu a via assim. Eu a tive em minha
vida por mais tempo do que a mulher que me deu à luz, e eu
nem mesmo a chamava pelo primeiro nome. Sem dúvida, teria
trazido alegria a ela saber que eu abri meu coração para ela.
Olhar ao redor de seu quarto só validou isso. Havia fotos
minhas em todos os lugares: eu e Matt vestidos para nosso
baile de formatura, minha formatura do ensino médio e da
faculdade, fotos da Sra. Angelini e eu no barco com seu irmão,
Paul.
Por que às vezes só percebemos o quanto amamos
alguém quando os perdemos? É uma das coisas mais injustas
da vida, se você quer saber. Fechando a garrafa de Fireball,
coloquei-a de volta em sua mesinha de cabeceira. Poderia
adormecer em sua cama, uma bagunça de soluços, mas me
levantei do colchão e fui para o meu quarto.
Se eu pensei que isso aliviaria meu coração dolorido, eu
estava errada. A primeira coisa que meus olhos encontraram
foi a pintura de Leo, aquela que eu o observei criar no dia em
que admitimos que basicamente tudo acabara para nós.
Lembrei-me daquela sensação horrivelmente agridoce de vê-lo
pintar naquela tarde, uma mistura de desesperança e
apreciação pelo momento. E agora eu estava pensando nele
novamente. Como se chorar por causa dos SpaghettiOs de uma
criança de dois anos não fosse ruim o suficiente.

Caminhando para a minha janela, olhei para fora da baía


na casa onde Leo e Sig viveram. Pensar no primo de Leo me
fez rir. Ele era um idiota – mas engraçado.

Havia luzes acesas na casa. Eu não tinha ideia de quem


morava lá agora, mas era fácil imaginar que Leo e Sig estavam
lá dentro, como se fosse ontem – Sig cozinhando na cozinha
enquanto Leo se preparava para dirigir o barco pela baía.
Olhei para a lua iluminando o céu noturno.
À noite, quando você olhar para ela, espero que pense
em mim.
Não houve uma única vez que olhei para a lua nos
últimos cinco anos sem pensar em Leo. Meu coração apertou.
Eu precisava parar. Mas, como qualquer coisa, quanto mais eu
tentava parar de pensar nele, pior era.
Ele tem trinta e três anos agora.

Deve ter se casado. Gostaria de saber se ele tinha filho.


Eu me pergunto o que aconteceu quando ele voltou, se seu pai
havia sobrevivido ao câncer. Eu me perguntei um monte de
coisas, mesmo enquanto tentava não deixar essas perguntas
tomarem conta do meu cérebro. Leo estava sempre lá por trás
disso, no entanto. Sempre.

Mais uma vez, minha mente voltou-se para pensamentos


de arrependimento. Não só gostaria de ter contado à Sra.
Angelini como me sinto por ela, mas também me perguntei o
que teria acontecido se eu tivesse respondido a Leo de maneira
diferente quando ele me perguntou se eu consideraria ir para a
Inglaterra com ele. Lembrei-me da decepção em seu rosto
quando expressei minhas dúvidas e medos. Aquele foi o
momento que realmente acabou com todas as esperanças –
acabou conosco.
Havia tomado a decisão certa? Claro, fiz a coisa
“responsável” – terminei meus estudos, comecei minha
carreira. Mas onde foi que seguir meus planos realmente me
levou? Ainda não tinha encontrado um emprego que me
fizesse feliz. E certamente não tinha encontrado um homem
que me fizesse tão feliz quanto fui durante aquelas semanas
com Leo.

Será que lidar com o escrutínio de metade da Inglaterra


teria sido pior do que um desejo infinito pelo resto da minha
vida? Pelo menos eu teria Leo ao meu lado. O estresse poderia
ter sido temporário. Eu poderia ter me acostumado com isso.
Mas o arrependimento que ainda guardava no meu coração até
hoje? Isso pode durar para sempre.
Havia uma vozinha no fundo da minha cabeça que
ocasionalmente dizia: Ligue para ele. Mas toda vez que ela
falava, eu a fechava. Tomei minha decisão cinco anos atrás.
Agora eu tinha que conviver com isso. Embora estar longe
dele signifique um pensamento “e se” constante, entrar em
contato com ele pode significar uma dor perpétua. Meu
instinto me disse que ele já havia seguido em frente, e
confirmando isso me arruinaria. Era melhor não saber. Era
melhor imaginar que vivíamos em seu coração do que
perceber que ele quase me esqueceu.
Afastando esses pensamentos da minha cabeça e
forçando-me para longe da janela, eu me lembrei de me
concentrar no motivo de estar aqui: para homenagear a Sra.
Angelini enquanto encontrava uma maneira de ganhar uma
vida significativa. Havia ironia nisso. Uma vez eu havia dito a
Leo que não podia me identificar com o fato de ter uma
família ou um legado. E mesmo assim, com a Sra. Angelini
morta, aqui estava eu, não querendo nada mais do que deixá-la
orgulhosa, manter esta casa funcionando, e manter viva sua
memória. Se isso não era sustentar um legado, eu não sabia o
que era.
CAPÍTULO 18

Felicity
Faixa 18: “Please Read the Letter”, Robert
Plant e Alison Krauss
No dia seguinte, alguém bateu na porta. Era o vizinho,
Hank Rogers, que foi tão prestativo nos dois anos desde a
morte da Sra. Angelini.
— Oi, Felicity. Bem vinda ao lar, — ele disse quando eu
abri a porta. — Tudo bem? — Ele limpou suas grandes botas
de operário no tapete.
— Sim. — Suspirei. — Só estou tentando me acostumar
a estar de volta. Estou feliz que você veio. Estava prestes a ir
para a sua casa e ver se havia algo que eu precisava saber.

Ele entrou, colocou as mãos nos quadris e olhou em


volta. — Não. Além da água quente e o aquecedor sendo
substituído na semana passada, nada novo. Claro, você já sabe
porque pagou por isso, mas está tudo resolvido.
A Sra. Angelini havia me deixado uma boa quantia de
dinheiro para lidar com essas coisas, então eu pedi a Hank que
me enviasse as contas, mesmo enquanto ele gentilmente
cuidava da logística na minha ausência.
— Tente não se estressar muito, — disse ele. — Ela
gostaria que você relaxasse um pouco e aproveitasse a casa.
Você sabe disso.
— Sim, vou tentar. Espero um verão tranquilo e muito
tempo para colocar a casa em forma para os meses mais frios.

— Uma boa maneira de encarar isso. — Ele sorriu.


— Tem certeza de que não há nada que eu precise saber?
Hank coçou o queixo. — Oh! Tenho verificado a
correspondência a cada poucos dias e a pego. Deixo-a em uma
pilha sobre a mesa no canto da sala de estar. Não é muito, já
que você tinha a maioria das contas encaminhadas para você,
mas há alguns cartões que as pessoas enviaram, muitos que
vieram na época em que ela morreu – cartões de solidariedade
e coisas assim. Eu os guardei. E alguns catálogos que você
provavelmente não quer. Joguei fora qualquer coisa que fosse
definitivamente correspondência inútil. Mas as coisas ainda
chegam endereçadas a você e a ela de vez em quando. Se não
tenho certeza do que é, guardo-o na pilha desde que você me
disse para não encaminhar nada, exceto contas ou avisos de
impostos.

Eu concordei. — Eu agradeço. Vou repassar tudo.


Obrigada novamente por toda a sua ajuda. Nunca poderei lhe
pagar em troca.

— Não há necessidade. Eloise era uma verdadeira


amiga. Faria qualquer coisa por ela. — Ele sorriu. — E isso se
estende a você. Só me avise se precisar de alguma coisa, ok?

— Irei, Hank.
— Esta semana, a patroa quer que você escolha uma
noite para vir jantar. Ela vai fazer aquela caçarola de frutos do
mar que você gosta.
— Eu adoraria. Vou mandar uma mensagem para ela e
resolver isso. — Eu sorri.
Depois que ele saiu, preparei um lanche e comi fora em
uma das cadeiras Adirondack no quintal. O calor de agosto era
um pouco demais, então não demorei muito.
Quando voltei para dentro, decidi examinar algumas das
correspondências que Hank vinha acumulando em alguns
anos.
Como ele disse, havia vários cartões de solidariedade. E
sorri com a quantidade de catálogos da Victoria’s Secret que
havia. Por que Hank não apenas jogou isso fora, eu não tinha
certeza. Talvez ele tenha gostado.
Fiz uma pausa em um envelope endereçado a mim. Ao
contrário dos cartões com meu nome, parecia mais uma carta.
Quando vi o nome na etiqueta do endereço do remetente,
quase tive um ataque cardíaco: Leo Covington. Congelei e o
envelope escorregou de minhas mãos. Meu coração disparou.

Quando me abaixei para pegar o envelope, observei mais


de perto a linha abaixo do meu nome: Aos cuidados de Eloise
Angelini. Ele sabia que a única maneira de me encontrar era
através dela, já que ele não tinha meu endereço.

Oh, meu Deus. Há quanto tempo isso está aqui?


Estava com medo de abri-la. Meu almoço parecia
poderia reaparecer, e a sala parecia balançar.
Minha mão tremia quando levei a carta para o sofá e abri
o envelope, trêmula. O papel era grosso e de cor creme, e as
palavras foram escritas com tinta azul.

Querida Felicity,
Nem sei por onde começar, mas provavelmente deveria
começar com: — Como vai você? Já faz muito tempo, hein?

Espero sinceramente que esta carta encontre você bem.


Tenho certeza de que você não esperava por isso. Posso dizer
honestamente que não esperava escrevê-la.
Mas aqui vai.

Enquanto estou sentado aqui sozinho em meu quarto, há


mais de cem pessoas no andar de baixo me celebrando. E tudo
que eu queria fazer a noite toda era fugir. Os pensamentos
sobre você são particularmente pesados hoje. Isso não é nada
novo – simplesmente não acontece normalmente até que eu
coloco minha cabeça no travesseiro à noite e fecho meus
olhos. É sempre em você que estou pensando naquele
momento.

Às vezes me pergunto se sou apenas eu me sentindo


assim. Eu me pergunto se você ainda pensa em mim tanto
quanto eu penso em você. Disse a mim mesmo que não iria
entrar em contato com você, que nada de bom poderia
resultar disso depois de tanto tempo. Esta não é a primeira vez
que eu quebrei minha promessa de não tentar falar com você,
no entanto. Tentei ligar para você há cerca de um mês, mas
não atendeu seu telefone.

Tive que parar de ler por um momento. Isso doeu muito


meu coração. Alguns anos atrás, eu me livrei do meu celular
antigo e troquei para um novo telefone e número que meu
escritório de advocacia tinha me dado. Embora eu tenha
transferido todas as informações de Leo para o meu novo
telefone, se ele tentasse falar comigo no número antigo, eu não
saberia. Quando eu deixei meu trabalho, mantive o número do
meu telefone corporativo, mas mudei para um plano pessoal.

Continuei lendo.

Não tenho outra maneira de entrar em contato com


você, então estou escrevendo esta carta na esperança de que
você a receba. Felicity, a verdade é que ainda te amo. E caso
não estivesse claro que eu me sentia assim, me apaixonei
profundamente por você naquele verão. Em algum nível, eu
sabia disso quando saí. Mas eu não tinha percebido a
extensão disso até que não estivéssemos mais juntos. Ainda há
momentos em que desejo mais por você do que pelo ar que
respiro. Eles acontecem em momentos muito aleatórios – de
repente eu vou sentir o cheiro de algo que me lembra você. Ou
vejo um flash de cabelo ruivo nas ruas de Londres e penso por
um segundo louco que você mudou de ideia e veio atrás de
mim, apenas para perceber que era apenas uma ilusão
passageira.

Eu ainda estou apaixonado por você, ou pelo menos a


memória de você. Quanto às razões pelas quais supostamente
não poderíamos estar juntos – nada mudou a esse respeito.
Minha vida não se encaixa de forma alguma na sua. Sou
totalmente errado para você em todos os sentidos – além do
fato de que a amo. Se você ainda está lendo isto e não o
transformou em uma bola por frustração, provavelmente está
se perguntando por que estou lhe contando tudo isto. Por que
agora… depois de todo este tempo ter passado?

Bem, aqui está: vou me casar, Felicity. Meu pai está


morrendo. Ele travou uma boa batalha nos últimos anos, mas
não há mais nada que eles possam fazer. Eles suspenderam
todos os tratamentos e ele só tem cerca de seis meses de vida,
se tivermos sorte. Como sempre foi o plano, quero dar a ele a
paz que sei que ele precisa. Ele quer saber que estou resolvido
e que vou para cumprir seus desejos, dando continuidade ao
nome da família e aos negócios.

Estou noivo de uma mulher maravilhosa, que merece um


homem cujo coração pertence apenas a ela. O nome dela é
Darcie. Ela era na verdade uma das minhas amigas enquanto
crescia, e nos reconectamos há cerca de um ano. Ela é gentil e
bonita e conhece essa vida por dentro e por fora. Além disso,
ela é uma boa pessoa de quem gosto muito. Eu não acho que
me arrependeria de me casar com ela. A única coisa que
lamento é que ela não é você. Assim que nos casarmos,
pretendo levar minha promessa a sério. Parte do
planejamento para isso é tentar resolver esses sentimentos não
resolvidos antes de assumir um compromisso vitalício.

Pelo que sei, você pode estar apaixonada por outra


pessoa agora. Pode ter seguido em frente. Eu tentei te
procurar. Eu tentei encontrar informações, e eu não achei
nada.

Sinto que esta carta é minha última esperança de chegar


até você. Eu sei que estou divagando. E admito que estou um
pouco puto. (Isso significa bêbado, lembra?) Ter alguns
Negronis24 era a única maneira de tolerar essa festa de
noivado. O que me lembra de que provavelmente devo voltar a
ele em algum momento. Então, deixe-me chegar ao cerne
desta carta.

Se houver alguma chance de você se arrepender de estar


longe de mim como me arrependi de estar longe de você, eu
preciso saber. Me avise. Não sei o que isso significará para
nós, mas tenho quase certeza de que a única maneira de
prosseguir com esse casamento é saber que não há chance de
nos reconectarmos nesta vida.

Preciso saber se você ainda está pensando em mim.


Preciso saber se há alguma chance de você querer me ver
novamente. Se você não responder, vou entender. Vou receber
a mensagem em alto e bom som. Não sei quando você
receberá esta carta, mas meu casamento está marcado para
16 de setembro.

Tive que parar de ler novamente. Meu coração estava


batendo forte por minuto. Eu olhei para a data no topo da
carta: 2 de junho de 2025. Puta merda. Ele o havia escrito há
pouco mais de dois meses.
16 de setembro.
Eu calculei na minha cabeça. Oh, meu Deus. Isso é
daqui a três semanas.
Ele presumiu que a Sra. Angelini estaria aqui para me
contar sobre isso – o que ela absolutamente faria no segundo
em que a recebesse. Mas agora, ele deve ter pensado que eu
escolhi não responder. Olhei para o envelope e, embora o
carimbo da data estivesse borrado, tinha uma etiqueta de
correio expresso, o que significava que provavelmente
demorou menos de uma semana para chegar aqui.
Provavelmente estava parada aqui por dois meses inteiros.
Eu me preparei para ler a última parte da carta.

Eu não quero machucar Darcie. Tenho toda a intenção


de honrar o compromisso que estou prestes a assumir. Mas eu
estaria cometendo uma grande injustiça se não pelo menos
falasse com você antes que fosse tarde demais.
Novamente, você não precisa responder se esta carta o
aborrece de alguma forma. Eu não consigo imaginar onde
você está em sua vida agora e se receber esta notícia é
perturbador. Mas Felicity, se houver alguma chance de você
querer me ver de novo, de jogar a cautela ao vento enquanto
resolvemos as coisas juntos, eu preciso saber.
Com amor (sempre),

Leo

♥Ω♥

Com a carta em mãos, devo ter caminhado por três horas


direto.

Tenho uma chance de impedi-lo antes que ele se case.


No entanto, ele provavelmente já havia presumido que
eu não responderia e havia chegado a um acordo com seus
planos. Entrar em contato com ele agora seria cruel. Isso
viraria seu mundo de cabeça para baixo. Seria justo? Mas
como não poderia? Eu ainda o amava. Esta era minha chance
de dizer a ele – algo que eu nunca fiz. A morte repentina da
Sra. Angelini não me havia ensinado a não deixar as coisas por
dizer?

Por falar na Sra. Angelini, eu teria dado qualquer coisa –


qualquer coisa – para ouvir seu conselho agora. Claro, eu
poderia ligar para Bailey, mas nem sempre confiei que ela
tivesse meus melhores interesses em mente. Eu a amava, mas
ela era muito imprudente. Ela me diria para pegar um avião e
ir para lá esta noite.

Olhei para o teto e fiz uma oração silenciosa.


Provavelmente deveria estar falando com Deus, mas era com a
Sra. Angelini que tentei falar.

— O que você me diria para fazer? — sussurrei.


Obriguei-me a tomar um banho, imaginando que água
corrente poderia me trazer alguma clareza. Mas não ajudou.

Enquanto me vestia, eu me sentia cada vez mais em


pânico, como se minha vida agora tivesse um cronômetro
ligado a ela, e o som do tique-taque fosse ensurdecedor.

Precisando de algo no meu estômago antes de desmaiar,


fui até o armário de lanches. Não havia muito lá, mas notei
uma velha lata azul de biscoitos amanteigados e me perguntei
se eles ainda estavam bons. Nesse caso, provavelmente
comeria tudo.
Quando abri a lata, porém, não havia biscoitos dentro.
Em vez disso, encontrei algo que não via há mais de cinco
anos: o colar de Leo – aquele com o anel de diamante que
pertencera ao seu avô. Provavelmente valia o preço de uma
pequena casa, e eu estava com muito medo de levá-lo comigo
para a Pensilvânia. Estava preocupada que algo pudesse
acontecer com ele, e tinha sido muito doloroso de se olhar. Eu
disse à Sra. Angelini para colocá-lo em um lugar seguro, e ela
me garantiu que cuidaria dele. Eu sabia por que ela o colocou
nesta vasilha. Se alguém fosse roubar a casa, este seria o
último lugar onde eles procurariam por joias que custam uma
fortuna.
Colocando-o em volta do pescoço, me lembrei
exatamente como me senti quando Leo o colocou em mim.
Fiquei arrasada porque ele estava prestes a ir embora, mas
também confusa sobre por que ele estava me confiando uma
herança de família tão importante, quando ele nunca iria vê-lo
– ou a mim – de novo. Parecia estranho e me deixou um pouco
inquieta. Não conseguia imaginá-lo querendo que eu
guardasse algo tão importante para sempre.
Quando isso me atingiu, arrepios percorreram meu
corpo. É isso. Este foi o sinal pelo qual orei. A Sra. Angelini
me levou até onde ela guardava o colar, mas só eu poderia
interpretar o que isso significava. Fechei meus olhos e sabia
que ela queria que eu seguisse meu coração e fosse até ele.
Isso é o que eu queria também, embora estivesse com medo.
Brincando com o diamante em volta do meu pescoço,
peguei o telefone e liguei para Bailey para informá-la de tudo
o que tinha acabado de acontecer.
— Você já o pesquisou no Google? — ela perguntou.

— Não. Não quero ver fotos dele com ela. E consegui


não o procurar no Google todos esses anos. Não vou começar
agora. Nem saberia em que acreditar.

— Ok. Qual é o seu próximo passo?


— Você acha que eu deveria ligar para ele?
— E se você simplesmente for lá? — Bailey sugeriu.

— Sem nenhum aviso?


— Talvez você precise vê-lo para saber se quer
interromper um maldito casamento. Não sente que precisa
estar lá para saber se a conexão ainda está viva? Se você ligar
e estragar tudo para ele, pode ser prematuro. Esse tipo de coisa
tem que ser feito pessoalmente. Eu digo coloque sua bunda em
um avião e vá. Olhe nos olhos dele e acho que em segundos
você saberá se está certa. E se não for, pelo menos, você pode
dar um adeus final.

Se eu me permitisse pensar demais nas coisas, nada


jamais seria feito. E eu não tinha o luxo de tempo neste caso.
Precisava tomar uma decisão antes que pudesse até mesmo
comer um biscoito.
Meu estômago começou a se agitar, não por causa do
meu debate interno, mas porque eu sabia que tinha decidido ir.
CAPÍTULO 19

Felicity
Faixa 19: “Long Long Journey”, Enya
Passear pelo interior inglês parecia um sonho, mais
pitoresco do que eu poderia imaginar – animais pastando nas
laterais da estrada, belas arquiteturas de pedra, campos
verdejantes espalhados por quilômetros. Arrepios passaram
por mim durante quase toda a duração do percurso do carro.
Meu motorista finalmente me deixou no chalé coberto de
vinhas onde eu estaria hospedada.
A velhinha que dirigia esta pousada me cumprimentou
na porta. — Bem-vinda a Bainbridge Inn.
Ela deu um passo para o lado para me deixar entrar.
Escolhi este lugar porque ficava a apenas três quilômetros da
propriedade Covington em Westfordshire.

Quando meu voo pousou, era tarde para ir direto para


Leo. Eu iria pela manhã. Precisava de tempo para encontrar
meu rumo. Foi um longo voo, e o estresse da antecipação me
deixou mentalmente exausta. Não queria vê-lo assim. Eu
precisava de uma boa noite de sono e então, podia chover
canivetes o inferno que fosse, eu iria para a casa dele pela
manhã.
— Sou Lavinia, — disse a mulher. — Estou ao seu
serviço durante a sua estadia.
Ela era baixa e delicada. Pedir a ela para fazer qualquer
coisa por mim parecia errado.

— Você me proporcionou um lugar seguro para dormir,


e isso é tudo de que preciso.
— Eu vivo para servir aos meus hospedes. — Ela sorriu.
— E gosto muito da companhia. Deixe-me fazer um chá para
você. Eu mostraria seu quarto, mas escadas e eu não temos nos
dados bem ultimamente. Tento limitar o número de viagens
que tenho que fazer.
Isso me fez sentir mal. Ela estava velha demais para essa
merda.
— Chá parece ótimo, — eu disse a ela. — E sem
preocupações. Eu não preciso que você me acompanhe.
Apenas me diga onde é.

— Primeira porta à esquerda assim que você chegar ao


topo.
O quarto do andar de cima tinha um charme à moda
antiga. Com papel de parede floral e estrutura de cama de
ferro, parecia uma versão em tamanho real de um quarto de
casa de bonecas dos anos 70. A cama estava rangendo e um
pouco desconfortável, mas obviamente tinha que servir.

Depois de colocar minhas malas em um canto, desci as


escadas.
Lavinia já tinha posto a mesa na cozinha. A água do chá
começou a ferver no fogão.
— Você está com vontade de comer algo, minha
querida?
— Não, obrigada. Eu comi algo no aeroporto quando
aterrissei.
Ela colocou um prato de biscoitos na minha frente. — O
que a traz em Westfordshire?
Ela tinha que saber quem era Leo Covington, então de
jeito nenhum eu mencionaria o nome dele. Mantive as coisas
genéricas.
— Eu vim para me reconectar com um homem do meu
passado, — eu disse enquanto ela servia o chá.

Ela se inclinou. — Bem, isso pode ser a coisa mais


emocionante que já ouvi por aqui há algum tempo.

Tomei um gole e ri. — É mais assustador do que


emocionante, na realidade.
— Me conte a história.

Sem entrar em detalhes, contei a ela sobre o verão em


que me apaixonei por um homem bonito e charmoso britânico
de Westfordshire que me surpreendeu. Terminei com a
essência da carta.

— É tão romântico, — ela jorrou.

— É, mas igualmente assustador. Gostaria de ter


recebido a carta quando ela chegou, dois meses antes. Neste
ponto, ele provavelmente presumiu que recebi e optei por não
responder. Vai ser um choque me ver. — Meu coração
afundou. — Isso pode não acabar bem, Lavinia.

Ela empurrou o prato de biscoitos para mais perto. —


Tenha esperança. Se for para ser, tudo dará certo no final. —
Lavinia inclinou a cabeça. — Existe uma razão pela qual você
escolheu não ligar para ele primeiro?

— Eu decidi que seria mais significativo se eu


simplesmente viesse. Isso parece muito importante para uma
chamada telefônica. Se ele não me vir pessoalmente, não
saberá realmente se os sentimentos que pensa que tem estão
realmente lá. Eu preciso ver o olhar em seus olhos, entende?

— Acho que o pobre coitado pode ter um ataque


cardíaco.

Eu me encolhi. — Espero que não.

— Isso não seria um final muito bom para a história,


seria? — Ela cuidadosamente se levantou de sua cadeira. —
Bem, se eu soubesse o que você estava prestes a embarcar,
teria oferecido a você algo muito mais forte do que chá.
Eu ri, lembrando do meu primeiro chá com Leo e Sig,
que se transformou em chá-quila.

— Posso te oferecer algo para acalmá-lo antes de


dormir? — ela perguntou.

Estava prestes a recusar, porque era tarde demais para


beber, mas então percebi o que estava em sua mão: uma
garrafa de Fireball.

Meus olhos se arregalaram. — Você bebe Fireball?

— Bem, eu tenho algumas opções diferentes. Mas este é


meu favorito, sim. Não gostou?

— Não é isso. É… Bem, alguém que foi muito especial


para mim, que já faleceu, essa era sua bebida favorita. Não
posso evitar, mas acho que você tirou isso foi uma mensagem
dela.

— Bem, veja, agora você deve tomar uma bebida antes


de dormir. — Ela derramou um pouco de Fireball em um
pequeno copo para mim.

— Obrigada, — eu disse enquanto engolia.

— Aí está. — Ela riu.


Não havia nada como aquela queimadura picante.
Definitivamente não era o meu favorito, mas seria para sempre
especial porque a Sra. Angelini adorava.
Levei meu copo para a pia. — Estou muito grata por ter
encontrado este lugar. Tem o conforto de casa que aprecio esta
noite. Estou tão nervosa e é bom saber que tenho um lugar
para onde voltar amanhã se nem tudo der certo a meu favor.

— Bem, para que conste, não tenho mais ninguém


agendado para o futuro previsível. Portanto, mesmo que as
coisas não funcionem, espero que você fique um pouco e
aproveite Westfordshire, aproveite o descanso de casa.
Eu sorri, mas se Leo me mandasse fazer as malas, eu
estaria deixando este campo mais rápido do que um morcego
fora do inferno.

♥Ω♥

Na manhã seguinte, meus nervos estavam


completamente à flor da pele. Lavinia me fez chá com ovos.
Forcei tudo para baixo para ter um pouco de energia. Chamei
um serviço de carro para me levar à propriedade de Leo, e
minha carona estaria aqui a qualquer minuto.

Escolhi um vestido preto para a ocasião tanto de ter meu


coração partido quanto de me reunir com o amor da minha
vida. Também havia optado por usar o anel do avô de Leo ao
pescoço. Não o tinha tirado desde que o encontrei na caixa de
biscoitos da Sra. Angelin.

Quando meu carro parou, Lavinia me deu um abraço,


cumprimentei meu motorista e entrei. Quando ele saiu pela
estrada, dei-lhe o endereço do meu destino.

— Você tem um compromisso na Mansão Covington,


senhorita? — ele perguntou.

— Vou… visitar um amigo.


— Não foi isso que perguntei. Eles estão esperando por
você?

— Não.

— Você não tem hora marcada?


Merda. Eu não tinha pensado sobre a logística disso.
Não era como se eu estivesse visitando Leo em uma casa
normal. Não me ocorreu que pudesse ter problemas para obter
acesso. — Hum… eu irei tentar, então.

— Com todo o respeito, senhora, não quero ficar a par


de suas travessuras se for algum tipo de situação de assédio.

O quê? Balancei minha cabeça. — Eu prometo que não


é nada disso.

Ele suspirou, mas continuou dirigindo. Por fim,


chegamos ao que presumi ser a propriedade Covington. Havia
uma longa estrada que servia de entrada de automóveis e, no
final, uma fonte. A propriedade de tijolos era cercada por
colinas verdes e ondulantes e parecia algo saído de um filme –
de outro mundo.

Quanto mais ele se aproximava do prédio principal, mais


forte meu coração batia. Agora não há volta agora. Eu só
queria ter percebido antes que isso seria mais complicado do
que tocar a campainha e ter Leo atendendo. Posso ter ido para
Harvard e me formado em direito, mas às vezes não era muito
inteligente.

O motorista parou na frente e, com as pernas bambas, saí


do veículo. Depois que fechei a porta, ele saiu correndo. Eu
planejava pedir a ele para esperar por mim, mas ele nunca me
deu a chance.
Merda! Realmente achava que eu era uma perseguidora
e não queria ser associado a mim. Obrigada pelo seu apoio,
idiota.
Com minha pulsação acelerada, subi os degraus da
enorme e ornamentada porta da frente, flanqueada por dois
pilares gigantescos. Toquei a campainha, que quase imitou os
sinos de uma igreja.
Alguns segundos depois, um homem vestido com um
terno preto a abriu. — Posso te ajudar?
As palavras mal saíram. — Sim. Estou aqui para ver Leo
Covington.

Sua sobrancelha se ergueu. — Creio que ele está


esperando por você?
— Na verdade, não. Eu não tenho hora marcada. Mas ele
sabe quem eu sou e gostaria de saber que estou aqui.
Seus olhos se estreitaram. — Seu nome?

Eu limpei minha garganta. — Felicity Dunleavy.


Ele puxou um dispositivo do bolso que parecia um
walkie talkie e falou nele. Ele falou tão baixo que eu não
entendi o que disse.
Então um homem muito maior apareceu na porta. —
Senhorita, não deixamos entrar nesta casa ninguém que não
tenha hora marcada. Se ele estivesse esperando por você, teria
nos avisado. Mantemos uma lista dos convidados que devem
chegar todos os dias, e você não está nela.

— Entendo. Você tem medidas de segurança que precisa


cumprir. Não estou pedindo que você me deixe entrar, apenas
que você o deixe saber que estou aqui.

— Se o incomodássemos sempre que um estranho


aleatório aparecesse e tentasse entrar, certamente nenhum de
nós teria um emprego, — disse um dos homens.

Meu coração disparou. — Escute, sou uma velha amiga


dele. Eu absolutamente garanto que se você contar a ele que
estou aqui, ele não vai despedi-lo.

Os dois homens se entreolharam. Um brilho de suor se


formou em minha testa. Esse não era um cenário que eu havia
previsto, apesar das muitas maneiras que imaginei no
momento em que apareci em sua porta.
— Se você é realmente uma velha amiga, — disse o
homem menor, —deveria poder contatá-lo diretamente. Ele
então a colocaria em uma lista aprovada de pessoas com
permissão para entrar nesta casa. Até então, terei que pedir que
você saia do local.

Isso não era bom. Ainda tinha o número de Leo, e eu


acho que eu poderia ligar para ele. Mas isso parecia uma
maneira impetuosa e informal de deixá-lo saber que eu estou
aqui.

Mas parecia que não tinha escolha. Fui pegar meu


telefone da bolsa, mas depois de muito dar tapinhas na parte
inferior, percebi que não estava lá. Fiquei tão confusa esta
manhã que devo ter deixado na casa de Lavinia.
Merda! O que eu faço agora? Olhei para os homens
bloqueando meu caminho. — Escute, realmente preciso de sua
ajuda. Eu vim dos Estados Unidos. Entendo que ele não sabe
que estou aqui, mas eu prometo que ele não ficará bravo se
você simplesmente contar a ele…

A porta se fechou na minha cara.


O silêncio foi ensurdecedor.
Não posso acreditar que isso está acontecendo. Olhei
em volta e me perguntei se gritaria. De alguma forma, eu não
achei que isso daria certo por aqui. Mas de que outra forma eu
deveria chegar até Leo?

Sem a menor ideia do que mais fazer, toquei a


campainha novamente.
O homem maior respondeu imediatamente. — Fechar a
porta foi a sua deixa para sair com alguma dignidade. Eu não
queria ter que usar a força para removê-la da propriedade. Mas
temo que se você continuar a insistir em entrar, não terei
escolha a não ser carregá-la para fora do local.
Isso me irritou. E levantei minha voz. — Você não fará
tal coisa. Não vai colocar a mão em mim. Entendeu?

— Receio que você não me deu escolha.


— Ficar na porta de alguém não é crime. Não empurrei
você nem tentei entrar. Se você me tocar, vou chutá-lo direto
nas bolas!
Isso não pareceu assustá-lo. A próxima coisa que eu
sabia, mais dois homens apareceram, e comecei a me
preocupar com minha segurança. O que exatamente eles estão
planejando fazer?
Meus instintos me disseram para gritar. — Leo! Socorro!

Eu não tinha ideia se ele estava em casa. Mas continuei a


gritar, repetindo seu nome. Esses caras chamariam a polícia?
Pensei em ir embora, mas não tinha telefone para discar para
um motorista. Teria que caminhar os três quilômetros de volta
para a casa de Lavinia.
E então, quando achei que ia enlouquecer, ouvi sua voz.

— Que diabos está acontecendo aqui?


Eu olhei para cima. — Leo. Oh, meu Deus.
Ele não tinha me olhado no rosto até que eu disse seu
nome. Ele ficou branco quando seus olhos encontraram os
meus. E apenas piscou, como se não tivesse certeza de que eu
estava realmente parada na frente dele.

— Felicity… — ele sussurrou.


— Sinto muito por ter feito uma cena. Mas eles não
diriam a você que eu estava aqui.
Leo me olhou incrédulo enquanto um dos homens
tentava explicar.

— Você conhece esta mulher? Nós não pensamos…


— Por favor, deixe-nos em paz. — Leo estendeu a mão.
— Voltem para dentro.

O homem gaguejou: — Vossa Graça, estávamos


apenas…

— Deixe-nos sozinhos! — Leo gritou.


O ar ficou em silêncio. O homem acenou com a cabeça,
e os outros caras o seguiram de volta para a casa. A porta não
fechou completamente atrás deles, mas pelo menos estávamos
sozinhos agora.
Leo não parecia feliz nem chateado. Sua expressão era
de puro choque.
— O que você está fazendo aqui? — ele finalmente
perguntou.

Meu coração quase parou. Por que ele está me


perguntando isso? Minha voz tremeu. — Recebi sua carta.
Dois meses atrasada. Lamento não ter respondido, mas só a vi
empilhada há alguns dias.
Suas sobrancelhas se franziram. — Minha carta…?
— Sim. — Eu pesquei o envelope dentro da minha
bolsa. — A carta que você me escreveu em junho. Você disse
que se casaria em setembro – daqui a menos de três semanas.
E precisava saber se eu ainda sentia algo por você antes de dar
esse passo. Fiquei muito chocada ao recebê-la, mas,
honestamente, Leo, também não parei de pensar em você ao
longo dos anos. Teria vindo mais cedo se eu…
— Deixe-me ver, por favor. — Ele estendeu a mão. — A
carta.

Confusa, entreguei a ele.


O que está acontecendo?
Então, uma sensação de pavor tomou conta de mim. A
carta mencionava que ele estava bebendo.
Oh, não. O pânico apertou meu peito.

— Você não se lembra de ter escrito isso? — perguntei


com um nó na garganta.
Ele parecia não acreditar enquanto olhava para ela. —
Claro que eu lembro.

— Por que você está agindo como se não estivesse?


— Felicity… — deu alguns passos em minha direção e
entregou a carta de volta. — Veja a data.
Eu olhei para baixo e li. — Diz 2 de junho de 2025.
— Isso não é um cinco. — Ele fez uma pausa. — É um
três. Escrevi esta carta para você há mais de dois anos.

Alguns segundos se passaram enquanto eu processava o


que ele dizia. Parecia que todo o ar deixou meu corpo. Então
meu coração caiu aos meus pés. — Como pode ser? — Eu
olhei para baixo novamente, a carta tremendo em minha mão
trêmula. Três… cinco… Tudo parecia embaçado agora.
— Eu não posso acreditar que você está aqui, — ele
sussurrou.
Limpei minha garganta. — Espere… então, hum, se isso
foi escrito há dois anos, então… você está…

Ele terminou minha frase. — Casado.


O sol pareceu desaparecer naquele momento. Parecia
que o mundo estava se fechando sobre mim. Eu queria correr,
mas não conseguia me mover. — Oh.
— Por que você só viu a carta agora?
Meus olhos se fecharam. — Sra. Angelini faleceu após
um ataque cardíaco há cerca de dois anos. Esta carta deve ter
chegado na época em que ela morreu. Misturou-se a um monte
de cartões de condolência. Eu só descobri quando estava
passando por toda a correspondência na casa dela
recentemente, e é por isso… — minhas palavras sumiram.
— Oh, Felicity. Lamento muito saber da Sra. Angelini.
— Obrigada.
— Eu sei o quanto ela significava para você.
Você também significou muito para mim.

Enquanto estávamos frente a frente, leves gotas de chuva


começaram a cair.

— Você está linda, — disse ele.


Essas palavras foram como uma faca no meu coração.
— Você também. Bonito. — Eu concordei. — Saudável.
Saudável? Nem sabia o que estava dizendo neste
momento.
Ele continuou balançando a cabeça. — Eu não sei o que
dizer. Estou sem palavras agora. Mal consigo respirar, quanto
mais falar.
— Eu posso me identificar.
Ele olhou para além de mim, como se procurasse um
veículo. — Quando você chegou aqui? Você está hospedada
em algum lugar?

— Noite passada. Estou em uma pousada a três


quilômetros de distância.

Eu olhei e notei um grupo de pessoas dentro da casa


olhando para nós da janela.
— Qual é o nome do lugar? — ele perguntou.

— The Bainbridge Inn, — eu respondi, ainda focada na


janela.
— Precisamos conversar, — disse ele. — Eu te encontro
lá mais tarde.
— Acho que não preciso perguntar por que você não
está me convidando para entrar. Não tenho certeza se há mais
alguma coisa a dizer. Honestamente, eu deveria simplesmente
voltar para os Estados Unidos, Leo. — Meus olhos começaram
a lacrimejar.
— Por favor, não saia de Westfordshire. — Seu tom era
urgente. — Pelo menos não até que tenhamos a chance de
conversar adequadamente em particular, certo?

Só então a porta se abriu. E uma mulher atraente em


torno da minha idade estava parada na porta. Ela usava um
vestido rosa que acentuava sua cintura fina. Seu cabelo era
loiro, liso e cortado logo acima dos ombros. Com base em seu
olhar desdenhoso, não demorou muito para descobrir quem
era.
Ela me olhou de cima a baixo. — O que está
acontecendo aqui?

Leo abriu a boca, mas não dei a ele a chance de


responder.
— Nada, — eu disse, endireitando minha postura e
fingindo um sorriso. — Sou uma velha amiga do Leo. Eu o
conheci quando ele estava visitando os Estados Unidos, anos
atrás, e pensei em vir dizer olá enquanto estivesse aqui
visitando a Inglaterra. Eu teria ligado, mas deixei meu telefone
no lugar que estou hospedada. Além disso, como sou idiota,
não percebi que precisava de hora marcada. Fiz um certo
rebuliço com o seu pessoal de segurança. Leo saiu quando
ouviu a confusão.
Seus olhos se moveram entre nós dois. — Entendo, —
disse ela, parecendo cética.

Eu me perguntei se ela podia sentir a tremura em minha


voz, se podia ver as lágrimas persistentes em meus olhos. Se
poderia ver que ela interrompeu o momento em que todo o
meu mundo virou de cabeça para baixo? O momento em que
meu coração foi arrancado do meu peito?
Pelo bem de Leo, eu esperava que não. Ele não merecia
a posição minha estupidez e a incapacidade de decifrar um
número simples.
Eu não consigo respirar.
Eu preciso sair daqui.
Forçando a compostura, eu disse: — Leo, foi bom vê-lo.
Espero que você tenha um ótimo dia.
Quando me virei para ir embora, ele chamou: —
Felicity, espere.

Seu apelo era doloroso. Recusando-me a me virar e


reconhecer, continuei andando pelo longo caminho até sair do
terreno de Covington. Só quando virei a esquina da estrada
principal permiti que minhas lágrimas caíssem.
Eu nem tinha certeza se sabia como voltar para a maldita
pousada. E não era como se eu tivesse um telefone para
checar.
Aqui neste campo chuvoso foi o ponto mais baixo da
minha vida.
CAPÍTULO 20

Felicity
Faixa 20: “Someone Like You”, Adele
Se eu soubesse que andaria três quilômetros, teria usado
tênis. Meus saltos estavam agora cobertos de lama. No
entanto, este vestido preto agora encharcado era perfeito para
lamentar toda a esperança de um futuro com Leo Covington.
Enquanto a chuva caía, percebi que tinha cerca de um
quilômetro a mais pela frente. Felizmente, eu parei e falei com
alguém que me deu instruções precisas de como voltar a pé a
casa de Lavinia.

A certa altura, um carro começou a andar devagar ao


meu lado.

Excelente.

— Cristo, você está uma bagunça, — disse o motorista


do sexo masculino.
Interrompendo meus passos, me virei para ele. Ele tinha
barba e usava o que parecia uma boina.

— Isso é o que acontece quando se está andando na


chuva.
— Entre.
Exatamente o que eu precisava – ser atacada e deixada
para morrer no interior da Inglaterra.
— Sinto muito. Mas, não entro em carros com homens
estranhos, especialmente aqueles com tons grosseiros.

— Ginger, entre no carro. Você está encharcada.


Eu parei. Ginger?
Não pode ser. Não se parecia em nada com ele.
Apertei os olhos. — Sig?
— Você está me dizendo que não sabe que eu sou?
Presumi que fosse por isso que estava sendo uma vadia.
— Não, claro que não sabia que era você. Desde quando
você usa barba… e boina?
— Desde quando você anda pela Inglaterra na chuva
com cara de quem vai a um funeral.? Embora você nunca
tenha tido senso de moda.

— Como sabia onde eu estava?


— Leo me ligou. Ele disse que você saiu a pé e me pediu
para garantir que voltasse em segurança.

— Eu perguntaria por que ele não veio pessoalmente,


mas tenho certeza de que está apagando um grande incêndio
em casa agora. — Uma risada levemente irritada escapou de
mim. — Você deve ter se divertido pra caralho quando
descobriu tudo isso.
— Entre, Ginger.

Decidi aceitar sua oferta. Uma vez lá dentro, coloquei o


cinto de segurança. — Obrigada.

Ele partiu sem dizer uma palavra, mas finalmente bufou:


— Não, só para constar, não me deixa feliz pra caralho saber
que você está sofrendo. Posso ser um bastardo sarcástico, mas
não sou sem coração.
Meu peito apertou. — Desculpe, insinuar que você
estava. Foi um dia difícil.
Ele me deu uma olhada. — Pergunta idiota, talvez, mas
você está bem?

— Honestamente? — Suspirei. — Não.

— Compreensível.
Olhei para fora da janela por um momento antes de
voltar para os limpadores de para-brisa.

— Ele tem filhos?


Sig balançou a cabeça. — Não.

O alívio tomou conta de mim. Não que isso mudasse


alguma coisa, mas eu não precisava lidar com isso além de
tudo o mais.

— Ele te contou tudo? Como vim parar aqui?


— Sim. Um erro bem estranho, se você me perguntar,
mas qualquer um poderia ter cometido.
Eu o examinei de cima a baixo. — Por que você está tão
diferente?

Sua mandíbula se contraiu. — Digamos que você não é a


única passando por um momento difícil.

Humm… — Quer falar sobre isso?


— Não, eu absolutamente não quero.

— Ok.
Depois de vários minutos de silêncio, ele parou na frente
da casa de Lavinia.

— Este é o lugar, certo?


— Sim.

Estacionou o carro e saiu.

— O que você está fazendo? — perguntei.

— Estou entrando com você.


— Por que?

— Porque recebi instruções para não a deixar sair do


país ainda e ter certeza de que está bem. Você admitiu que não
está. Prometi a Leo que cuidaria de você.

Eu revirei meus olhos. — Não estou sozinha. Lavinia,


dona deste lugar, está comigo. E por que você está à
disposição de Leo?

— Devo muito a ele.

Humm…

Enquanto eu caminhava em direção à porta, ele me


seguiu.

— Está realmente entrando?

Ele assentiu.

Definitivamente entrei na versão britânica de A Ilha da


Fantasia.

Lavinia sorriu ao abrir a porta. — Este deve ser o


homem adorável sobre o qual você me contou!
— Não, não, — fui rápida em corrigir. — Este é Sig. Ele
apenas me trouxe aqui. É uma longa história, mas as coisas
não deram certo hoje. — Balancei minha cabeça. — Acontece
que eu interpretei mal a data naquela carta. Na verdade, foi
escrito há dois anos, não há dois meses. Ele está casado e eu
praticamente fiz papel de boba.

— Oh, céus. — Sua boca caiu quando ela me puxou para


um abraço. — Me desculpe. Isso é devastador. — Ela olhou
para Sig. — Seu motorista vai ficar?

— Sig é, na verdade, primo de Leo. Ele está… cuidando


de mim.

— Prazer em conhecê-la, Lavinia. — Sig estendeu a


mão.

Ela pegou. — Eu sinto um rosto muito bonito por trás


desse exterior cinzento. Você é bem-vindo para ficar o tempo
que quiser.

Sig olhou em volta. — Onde está o álcool? Ginger vai


precisar.

Álcool? Eu não tinha estômago para nada agora, muito


menos isso.

— Estou bem.
Ele me ignorou enquanto se virava para Lavinia. — O
que você tem em casa?

— Fireball e uísque.

Sig hesitou. — Nojento. Vou até o armazém. — Ele se


virou para a porta. — Lavinia, você precisa ter certeza que ela
não vá a lugar nenhum na minha ausência.
Olhei para mim mesma. — Pareço estar em condições de
sair de casa novamente neste momento? Levaria pelo menos
uma hora para me limpar e mais tempo para arranjar um carro
para a fuga. Então, você está bem. Não vou fugir.
Depois que Sig foi para o armazém, Lavinia tentou me
fazer contar mais sobre o que aconteceu, mas eu não estava
pronta para repetir. Em vez disso, me deitei em seu sofá e
fechei os olhos, tentando me livrar dessa dor de cabeça
latejante.
Quando Sig voltou, me levantei. Ele estava carregando
dois sacos de papel. Em pouco tempo, descarregou as coisas
para fazer margaritas no balcão, além de muita comida.
— Não sabia que íamos dar uma festa, — disse.

— Uma festa de piedade.

— Isso é meio ridículo, você sabe.

Ele fez uma pausa. — Qual é a alternativa? Sentar no


canto, e chorar por tudo? Você quer que ele venha aqui e
encontre você nesse estado?

Sig estava certo. Leo disse que viria me ver. Eu não


tinha certeza sobre o propósito disso, mas seria melhor se eu
não estivesse uma bagunça. Então, talvez tomar alguns
drinques evitasse que eu me perdesse totalmente.
— Posso ajudar? — perguntei.

— Não. Mas você pode ajudar a si mesma. Ainda parece


um mostro do pântano. Vá tomar um banho e tire as roupas do
funeral.
Balancei a cabeça e fui chorar embaixo do chuveiro
quente, o que me deixou um pouco melhor. Vesti minha
camiseta e jeans favoritos e me senti muito mais confortável.

Quando voltei à cozinha, Sig olhou para minha camiseta


de seu lugar no fogão. — Oh, Hello Kitty. É tão bom ver você
de novo.
— Algumas coisas nunca mudam, Sig. — Eu ri.

— Como seu estilo horrível.


— Não tenho certeza se você é alguém para falar sobre
estilo agora, Sigmund.
— Touché, amor.
Ele estava mexendo algo em uma panela grande.

Inclinei minha cabeça sobre o fogão. — O que você está


fazendo?
— Sopa de Lágrimas de Amor não Correspondido.

Dei um tapa em seu braço. — Grosseiro.


— Você está sorrindo, no entanto. — Ele piscou. — É o
início de um chili de carne, na verdade. — Ele apontou para o
outro lado do balcão. — Tem uma margarita esperando por
você naquele copo de plástico vermelho.

— Uau. Obrigada.
Lavinia entrou na cozinha com margarita na mão. —
Estes são muito bons. Nunca tomei um antes.

Isso me fez rir. Ela parecia tão fofa segurando aquele


copo grande.
Uma colher caiu no chão e Sigmund se abaixou para
pegá-la. A boina que ele estava usando escorregou de sua
cabeça. E fiquei chocada ao ver que sua espessa juba de cabelo
havia sumido, substituída por um corte curto e aparado.
Estranho. Eu não disse nada, mas certamente me perguntei por
que ele cortou.

Na hora seguinte, Sig fez pão de milho na torradeira e


ofereceu uma variedade de coberturas para o chili: abacate
fatiado, queijo ralado, creme de leite e pimenta jalapeño.

Eu o ajudei a colocar a mesa enquanto ele carregava a


panela, colocando-a sobre a mesa.
Enquanto comíamos, Lavinia clamou elogios a Sig. — É
difícil encontrar um homem tão bonito que sabe cozinhar.
— Você está insinuando algo, Lavinia? — ele perguntou.
Ela corou. Foi incrivelmente adorável. — Se eu fosse
quarenta anos mais jovem, talvez.
— Idade é apenas um número. — Sig olhou para mim.
— Mais ou menos como 2023 versus 2025.

Deixei cair minha colher e olhei para ele.


— Cedo demais? — Ele sorriu.
Então, surpreendentemente, comecei a rir até chorar.
Não sabia se minhas lágrimas eram de felicidade ou tristeza,
mas era bom deixar tudo sair depois do dia que tive.
Sig checou muito o telefone durante o jantar. Eu me
perguntei se Leo estava enviando mensagens para ele, mas
estava com medo de perguntar.
Ele apontou para meu copo vazio. — Você quer outra
bebida? Só tomou uma.

— Não, é melhor não.


— Pode precisar de uma.
— Por que?

— Porque ele está a caminho.


Merda. Meu estômago embrulhou. — Ok, sim.
— Imaginei isso.

Sig se levantou e serviu o resto da margarita gelada no


meu copo.

— Vá se preparar. Eu cuido da limpeza.


— Tem certeza?
— Não tenho mais nada para fazer.

— Obrigada, Sig. Realmente. — Acontece que este


jantar foi exatamente o que eu precisava para me acalmar.
Quem saberia que em um momento como este, Sigmund
Benedictus seria meu salvador? A vida é engraçada – quando
não é terrivelmente triste.
Dez minutos depois, a campainha tocou. Deixei Lavinia
atender, porque depois da cena que eu fiz antes, não havia
como eu correr para a porta. Nunca mais me colocaria em uma
posição tão vulnerável.

Eu me levantei do sofá, mas não me movi do meu lugar.


Apenas escutei.
— Eu te conheço, — surgiu a voz de Lavinia da porta.
— Oh, meu Deus. Você é… Sua Graça? O que está fazendo na
minha casa? Fiz algo de errado?
Não me ocorreu que ela iria surtar.

— Não, senhora. Lamento alarmar você. Estou aqui para


ver Felicity. E, por favor, me chame de Leo.
— Ela disse que o nome de seu amor perdido era Leo,
mas eu nunca imaginei. — Ela olhou para mim por um
momento. — Você está… oh, meu querido. É você. Você é o
homem que partiu o coração dela.

Seus olhos encontraram os meus e, de repente, as


margaritas não estavam à altura das minhas emoções. Lá se foi
o plano. O olhar de dor em seu rosto me deixou triste, não só
por mim, mas por ele. Eu sabia que doía para Leo saber que
ele me ferira. Ele não tinha a intenção de fazê-lo. Nenhum de
nós tinha a intenção de que isso acontecesse.

Como Lavinia ainda estava paralisada de choque, ela


não o convidou para entrar.
Sig veio em seu socorro. — Lavinia, antes você estava
me contando sobre aquele jogo que queria me ensinar a jogar.
Eu limpei a mesa. Por que você não pega as cartas?
— Ah, sim. — Ela saiu de seu estupor. — Deixe-me
pegá-las. — E saiu correndo.
Uma vez que saíram da sala, Leo entrou e caminhou na
minha direção. Tudo em mim parecia eletrificado. Ele olhou
para mim durante alguns segundos antes de estender a mão e
me puxar para seus braços. Pude sentir instantaneamente seu
batimento cardíaco.

Não esperava que ele me tocasse – mais cedo ele tinha


mantido distância. No calor de seus braços, baixei minha
guarda por um momento, permitindo-me experimentar o
conforto de seu abraço e seu cheiro familiar, mesmo que fosse
agridoce. Ainda assim, não queria que ele me soltasse.
— Sinto muito por hoje, — ele sussurrou. — E sinto
muito por ter demorado tanto para chegar aqui.

Quando ele se afastou, me perguntei se essa foi a última


vez que o senti contra mim.
Ele olhou para o meu peito. — Olhe para você, aqui na
Inglaterra, com sua camiseta da Hello Kitty.
— Bem, Sig foi gentil o suficiente para apontar que eu
parecia um monstro do pântano com minha roupa encharcada
antes.
Leo forçou um sorriso. — Você mencionou que não
tinha telefone. Eu me senti péssimo quando foi embora na
chuva. Estou feliz que ele esteve com você até que eu pudesse
estar aqui.
— Você presumiu que eu iria fugir?

— Sim, na verdade. E não poderia culpá-la.


— Talvez você estivesse certo. Eu poderia ter ido. — Eu
olhei para baixo. — O que aconteceu depois que eu te deixei
hoje?
Quando ele exalou, o breve toque de sua respiração
contra minha pele foi uma tortura.

— Expliquei tudo a Darcie. Embora no momento em que


ela te viu, soube quem você era.

Meus olhos se arregalaram quando olhei para cima. —


Ela sabe? Como?
— Anos atrás, eu contei a ela sobre você. Ela deu uma
olhada e descobriu.
— Você contou a ela sobre mim?
— Darcie e eu éramos amigos quando éramos jovens,
muito antes de nos tornarmos um casal. O pai dela é um
dignitário e amigo do meu pai. Quando ela e eu nos
reconectamos como adultos, confessei que ainda estava
apaixonado por alguém. A única coisa que ela não sabia até
agora era que eu havia escrito a carta. Mas eu expliquei isso
hoje.

— Estou surpresa que você admitisse isso para ela.


— Não elaborei o assunto, apenas disse que tinha me
aproximado de você antes do casamento, porque as coisas não
estavam resolvidas entre nós. Não precisei detalhar nada.
Acho que ela colocou dois e dois juntos – o suficiente para
perceber a inaptidão de minhas ações.
— Ela deve ter ficado chateada por você ter vindo me
ver.
— Não ficou feliz. Mas acho que entendeu.

— Bem, ela é uma mulher muito melhor do que eu. Eu


teria dado uma surra em você se tivesse ido ver uma
vagabunda que apareceu na nossa porta.
— Darcie não está entusiasmada, para dizer o mínimo,
mas eu tive que ser honesto. — Depois de um longo momento
de silêncio, ele balançou a cabeça. — Eu sinto tanto. Acho que
ainda estou em choque. Pensei em vir aqui com um milhão de
coisas a dizer, mas estou… sem palavras.
— Entendo.
Leo estendeu a mão e tocou o anel pendurado em meu
pescoço. O toque de sua mão contra meu peito enviou ondas
de choque através de mim.
— Percebi que você estava usando antes. — Ele colocou
a mão ao lado do corpo.
Corri meus dedos sobre o anel. — Eu usei para ter
coragem. Achei que seria um amuleto de boa sorte. Pelo visto,
teve o efeito oposto.

— Sim, — ele sussurrou.


Não conseguia continuar olhando em seus olhos, então
sugeri que nos sentássemos no sofá.

Leo sentou-se na extremidade oposta. — Quero saber


tudo, — disse ele. — Conte-me sobre os últimos cinco anos.
Respirando fundo, compus meus pensamentos. — Bem,
depois que você saiu, fui direto para a Pensilvânia. Estava
realmente chateada por nós, mas me concentrei na faculdade e
tentei bloqueá-lo. — Fiz uma pausa, olhando para os meus
dedos. — Cerca de um ano depois… comecei a namorar Matt
novamente.
Leo engoliu em seco.
— Para encurtar a história, não era para ser. Nunca foi.
Terminei com ele. Não me envolvi com mais ninguém depois
disso. Logo após que me formar na faculdade de direito, há
dois anos, a Sra. Angelini faleceu.
— O que aconteceu?
— Ela morreu durante o sono. Foi um ataque cardíaco.
Uma expressão de tristeza cruzou seu rosto. — Você
nunca conseguiu dizer adeus. Isso é difícil pra caralho. Eu
lamento.
Lágrimas ameaçaram quando eu balancei a cabeça. —
Não há muito a dizer depois disso. No tempo desde que ela se
foi, eu me atirei no trabalho. Mas me demiti no mês passado
por ser tão insatisfatório. Algo estava me chamando de volta a
Rhode Island, embora a Sra. Angelini não estivesse mais lá.
Eu costumava pensar que queria viver na cidade grande. Mas
tudo o que eu queria recentemente era estar de volta a
Narragansett. Encontrei sua carta assim que cheguei lá, e tudo
começou a fazer sentido – por que senti uma atração tão
grande em voltar. Ou assim parecia. — Sacudi minha cabeça.
— Agora, nada faz sentido.
Ele parecia atormentado e suas mãos estavam inquietas.
Meu coração apertou com a visão chocante da aliança de ouro
em seu dedo. Meu Leo está casado. Casado. Lembrei-me tão
vividamente de como era aquela mão em meu corpo. Mas
nenhuma parte dele, nem suas lindas mãos, nem seu coração
pertenciam mais a mim.
Limpei minha garganta. — Diga-me como estes últimos
cinco anos foram para você. Quer dizer, obviamente eu sei
uma coisa importante que aconteceu.
Leo soltou um suspiro e se acomodou no sofá. Ele
desviou o olhar. — Quando voltei para casa, meu pai estava
muito melhor do que eu esperava. Ele se recuperou
rapidamente dessa infecção. Então isso foi um alívio, é claro.
Mas, fora isso, me senti… perdido. A viagem para a América
deveria ter me ajudado a clarear minha cabeça, mas tudo o que
fez foi me deixar mais confuso sobre as coisas. Eu lutei
durante aquele primeiro ano. Até eu não aguentar mais. — Ele
olhou e encontrou meus olhos. — Então eu parti e voltei para
os Estados Unidos.
A adrenalina correu por mim. — O quê?
— Percebi que deixar você ir foi um grande erro. Eu fui
te encontrar em Drexel.
— O quê? — Eu repeti. Minha boca estava aberta. Ele
voltou por mim? — Eu não entendo, Leo.
— Planejei implorar para você reconsiderar encontrar
uma maneira de ficar comigo depois que terminar a faculdade.
Principalmente, só precisava ver você outra vez.
— O que aconteceu?

— Eu estava hospedado em um Airbnb perto do campus.


Não tinha certeza de como abordaria você, então decidi ir para
a cidade primeiro e depois descobrir. Mas antes que eu tivesse
a chance de te encontrar, eu te vi.
— Por que você não veio até mim? — Eu mal conseguia
respirar.

— Porque você estava com ele.


Meu estômago afundou. — Você me viu com Matt…
— Sim. Ele estava com os braços em volta de você. E
você parecia feliz. Percebi que era tarde demais, que seguiu
em frente. Eu me senti totalmente fora do meu alcance naquele
momento.
Isso rasgou meu coração. Apesar de como as coisas
poderiam ter parecido com Matt, eu teria largado tudo por Leo
em um piscar de olhos. Minha reconciliação inteira com Matt
foi uma tentativa em vão de superar Leo de qualquer maneira.
— Então, você acabou voltando para a Inglaterra? —
perguntei, desejando que minhas lágrimas fossem embora.

Ele olhou para baixo. — Sim.


Meus olhos ardiam. — Eu não tinha seguido em frente,
Leo. Estava me forçando a tentar.

Leo olhou de volta para mim. — Só depois disso eu fui


capaz de me forçar a tentar seguir em frente – porque presumi
que você tinha. Pode ver pela carta desconexa que lhe enviei
antes do meu casamento. Mesmo sabendo que você estava
com outra pessoa, não mudou o que eu sentia.
Eu limpei meus olhos. — Deus, nós somos uma
bagunça.
— Uma bagunça com um timing impecável, eu poderia
dizer. — Leo se levantou e se aventurou na cozinha, voltando
com um lenço de papel. Ele o entregou para mim.
Eu funguei. — Obrigada.
Ele observou enquanto eu limpava meu rosto.
Quando terminei, olhei para ele com olhos claros. —
Você é apaixonado por Darcie?
Claro, ele era. Ele se casou com ela, pelo amor de Deus.
Mas eu precisava ouvi-lo dizer isso.
Leo piscou. — Eu a amo mesmo. Mas é diferente. Não
posso dizer que é o mesmo tipo de amor que senti por você.
Pretérito.
— Eu confio nela, — continuou. — E eu me preocupo
profundamente com ela. Temos um respeito mútuo um pelo
outro. Merecia coisa melhor do que eu desde o início, mas fui
honesto com ela. Contei sobre você. Ela mesma teve seu
coração partido por um homem que amava pouco antes de nós
começarmos. Nós nos unimos sobre nossas mágoas mútuas,
embora fossem situações diferentes.
Leo apertou as pontas dos dedos. — Darcie não era
você, Felicity, mas ela era alguém com quem eu me sentia
confortável e com quem poderia me relacionar. Ela entrou em
minha vida em um momento em que eu precisava de
incomplexidade e companheirismo. Ela e eu nunca tivemos a
química insana que você e eu tínhamos. A evolução do nosso
relacionamento era diferente. Tudo começou com uma
amizade genuína e cresceu a partir daí.
Ele fez uma pausa, como se para descobrir como
amenizar o golpe do que estava prestes a dizer.

— Evoluiu para um relacionamento romântico. Ela


conhecia a situação com meu pai e entendia o que eu estava
enfrentando. Devido à saúde dele na época, pedi-lhe em
casamento antes que qualquer um de nós estivesse pronto para
isso. E ela sabia o motivo – porque queria que meu pai
testemunhasse. Isso não quer dizer que eu não queria me casar
com ela. Se não fosse você, não haveria mais ninguém com
quem eu poderia ter me imaginado. — Ele exalou. — Felicity,
quando você não respondeu à minha carta, tive certeza de que
minha suposição de que seguiu em frente com Matt estava
correta. Eu me forcei a seguir em frente com minha vida.
— E agora? — Eu me preparei. — Como está o seu
casamento?
— Neste momento, comigo estando aqui falando com
você? Não muito bom.
— Obviamente, eu quis dizer antes de hoje…
— Sei o que você está perguntando. — Ele suspirou. —
Não tem sido perfeito. Tivemos nossos problemas.
— Como o quê?
— Ela quer começar uma família logo.
— E você não quer?
— Não me sinto preparado. Então isso tem sido um
ponto de discórdia.
Balancei minha cabeça. — Sinto muito por todas as
perguntas. O que acontece no seu casamento não é da minha
conta.
— Você pode me perguntar qualquer coisa, Felicity.
Sempre te disse isso.

— Ela deve me odiar.


— Ela sabe que você não quis desrespeitar vindo aqui e
que não sabia que eu estava casado.

Casado.
Casado.
Casado.
A palavra parecia estar me sufocando.
— Acho que devo voltar para casa, — eu soltei.
— Fique por uma semana, — ele disse imediatamente.
— Por que?

— Porque não estou pronto para dizer adeus para você


ainda. E não tenho um motivo melhor do que isso.
— O quê – você vai me convidar para jantar na
propriedade? Digo, vamos, Leo. Qual será o propósito de
minha permanência? Eu mal posso olhar para você agora com
essa dor no meu peito.

— Você acha que eu quero te ferir? — ele gritou, então


rapidamente baixou a voz. — Não é disso que se trata. Só
preciso de tempo para processar isso antes de você ir embora.
— Ele fez uma pausa. — Uma semana, Felicity.

Ele olhou nos meus olhos. Eu tive que me lembrar que


essa situação era tão chocante para ele quanto para mim. E não
era culpa de ninguém, mas do destino.
— Como você deveria me ver, já que sua esposa sabe
quem eu sou?
— Não pretendo mentir para ela. — Ele fez uma pausa.
— E estou pedindo a Sigmund para ficar aqui na pousada com
você.

— Por que? Ele não precisa fazer isso.


— Preciso ter certeza de que você está bem, já que não
posso estar aqui com você. Não sabe se virar em
Westfordshire. E poderia usar a distração também.
— O que está acontecendo com ele, afinal?
— Vou explicar quando tivermos mais tempo. Essa não é
uma conversa rápida.
Isso me deixou inquieta.
— Está tarde, — disse, levantando-se. — É melhor eu
voltar, mas te vejo amanhã, ok?
Ele foi até a porta. Parecia tão dolorosamente bonito,
seus cabelos castanhos dourados penteados para trás. Aos
trinta e três anos, Leo estava mais sexy do que nunca. Quando
muito, ele estava fisicamente mais em forma do que eu me
lembrava. Seu suéter azul em seus ombros largos e peito
musculoso.
— Tente dormir um pouco esta noite, — disse antes de ir
embora.

Não me abraçou novamente. Parecia surreal estar de pé


em frente ao homem que eu ainda me importava tanto e não
ser capaz de tocá-lo. Era o mais próximo da pura tortura que
existia.
CAPÍTULO 21

Leo
Faixa 21: “Goodbye My Lover”, James
Blunt
A lua brilhava contra o céu escuro da noite quando entrei
em nossa propriedade. Pavor misturado com culpa me seguiu
para dentro quando abri a porta da frente.
Darcie esperava por mim no foyer, o que provavelmente
significava ela estava olhando da janela até eu chegar.
Eu não a culpo, porra.
Seus braços estavam cruzados protetoramente sobre o
peito. — Isso demorou.

— Sinto muito.
— Ainda não entendo como ela não procurou você no
Google e descobriu que estava casado.
— Compreendo sua confusão. — Tirei minha jaqueta e
pendurei no armário de casacos perto da porta.
— Então, explique, — ela exigiu.
— Venha sente-se comigo por um momento.
Ela me seguiu até a sala de estar adjacente. Nós
sentamos.
— Quando meu relacionamento com ela acabou,
concordamos em não manter contato se não fôssemos ficar
juntos. Ela deve ter optado por não pesquisar na Internet por
informações sobre mim.

— E em algum lugar ao longo do caminho, ela percebeu


que havia cometido um erro e queria você de volta? Então
simplesmente pula em um avião sem antes ligar? Quem faz
isso?
Não havia uma boa maneira de contornar essa situação.
Eu já podia ver as engrenagens girando na cabeça de Darcie.
Estendi minha mão e coloquei na dela. — Sei que você está
chateada.
— E agora? — Ela puxou a mão de volta. — Ela está
indo para casa?

— Vai ficar por uma semana. Ela e eu precisamos


conversar sobre algumas coisas. Nada mais. Não quero que ela
volte para os Estados Unidos tão chocada e magoada. Só
precisamos processar isso antes que ela vá.

Ela cerrou os dentes. — Quero lhe dizer para ir se foder


agora mesmo, Leo. Mas não tenho certeza de que seja essa a
resposta. O que quer que você ainda sinta por esta mulher não
vai desaparecer, mesmo que eu tome essa postura.

— Não culparia você se me dissesse para ir me foder,


Darcie. Eu realmente não faria. Lamento ter colocado você
nesta situação. Mas preciso que confie que eu nunca te trairia,
se é isso que a preocupa.
Ela soltou um suspiro longo e frustrado. — Então,
quando você vai vê-la novamente?

— Amanhã.
— Jesus, — ela murmurou. — Suponho que é isso que
ganho por concordar me casar com tão precipitadamente. Você
mesmo me disse, quando nos conhecemos, que ainda estava
apaixonado por ela. Eu deveria saber melhor.

— Se você se lembra, você mal tinha superado Gabriel


quando começamos a namorar.

Isso agora era irrelevante, mas eu estava desesperado


para tirar um pouco da minha atenção.
— Gabriel? Você vai metê-lo nisto? Já há muito tempo
que me afastei dele. Gabriel não vai aparecer à minha porta
sem aviso prévio anos depois. Pelo amor de Deus, Leo.
— Tem razão. Eu não deveria tê-lo trazido. — Eu olhei
para ela com olhos suplicantes. — Darcie, eu nunca menti para
você. E não pretendo começar agora, certo?
Ela bateu o pé no chão. — Que horas você vai vê-la
amanhã?

— Provavelmente à tarde. Só estarei fora por algumas


horas. E Sigmund estará conosco, se isso a fizer se sentir
melhor.

Ela ergueu a voz. — Na verdade, não. Você aponta isso


como se eu tivesse um motivo para me preocupar se ele não
estivesse com você.

— Não foi isso que eu quis dizer.


Minha esposa se levantou. — Estou indo para a cama.
Eu esperei muito tempo.

— Darcie…
Ela se virou. — Por favor, deixe-me sozinha.
Sentindo-me completamente batido e emocionalmente
esgotado, sentei-me em silêncio, sozinho por um tempo. Eu
merecia cada pedacinho da sua postura.

Depois de alguns minutos, aventurei-me na cozinha,


onde Camila ainda estava acordada fazendo um chá. Enquanto
a maioria do pessoal vivia fora das instalações, Camila sempre
foi uma funcionária que morava no local.

Anos atrás, antes de minha viagem de volta aos Estados


Unidos, eu havia confidenciado a Camila que me apaixonara
por uma garota americana. Embora eu não tivesse sido franco
com ela como fui com minha avó, Camila certamente sabia
mais sobre minha vida do que meus pais.

— Estava preocupada com você, — disse ela.

Puxei uma cadeira e me sentei. — Como deveria estar.


— Tentei domar os abutres. Passaram o dia fofocando.
Aquela garota fez uma cena e tanto. Mas meu Deus, Leo. Eu
nunca imaginei que ela fosse a mesma garota que você me
contou – Felicity.

Eu coloquei minha cabeça em minhas mãos. — Sou um


péssimo marido, Camila. Sério. Eu deveria levar um tiro pelo
meu comportamento hoje. Mas eu só…

— Você não pode deixar a ruiva ir para casa.

— Não assim, não. — Eu puxei meu cabelo. — E não é


justo com nenhuma delas.

— Leo, eu te conheço desde que você era um menino.


Eu observei muito. Você sempre tentou fazer a coisa certa. Por
seu pai, por sua mãe, por Felicity, por sua esposa. Às vezes,
mesmo quando estamos tentando fazer a coisa certa, ainda
estragamos tudo. Apenas dê a si mesmo crédito e faça o
melhor que puder. Mas também, não espere que sua esposa
tenha muita paciência com esta situação. Nenhuma mulher sã
teria.

— Estou percebendo.

Camila deslizou uma xícara de chá para mim. — Não é


para colocar sal em sua ferida, mas sua mãe de alguma forma
ficou sabendo da situação. Parece que temos uma espiã aqui
em casa. Ela ligou à sua procura enquanto você estava fora, e
espero que ela esteja atrás de você amanhã para uma
explicação.

Anos atrás, isso pode ter parecido como um pesadelo.


Mas eu estava insensível a isso neste momento. Depois de
machucar duas pessoas de quem eu gostava hoje, lidar com
mamãe parecia nada.

Eu exalei. — Vou enfrentá-la quando for necessário.

♥Ω♥

Na manhã seguinte, decidi agarrar o touro pelos chifres


afinal e enfrentar minha mãe antes que ela tivesse a chance de
me ligar. Depois que meu pai morreu, mamãe mudou-se para
uma residência separada para que Darcie e eu pudéssemos ter
nossa independência na propriedade principal da família. A
casa da minha mãe, do outro lado de Westfordshire, era quase
tão grande, com seus próprios funcionários.

— Olá, mãe, — eu disse ao vê-la no jardim.


Pude ver em sua expressão severa que ela estava
fervendo.

— Que história é essa de uma garota americana aparecer


do nada? Quem é ela?
Não valia a pena contornar nada agora. Contei a ela a
história completa, sem reter nenhuma informação. A reação de
minha mãe foi tudo o que eu sempre imaginei que seria.
Ela estava praticamente tremendo. — Você teria
desistido de tudo, Leo. Agradeça aos deuses por intervir e
tornar impossível arruinar sua vida!
— E você me pergunta por que eu nunca te disse nada ao
longo dos anos…

— Seu pai provavelmente está rolando em seu túmulo


agora.

— Duvido muito disso. Por tudo que ele sabia, fiz o


certo por ele. — Levantei minha sobrancelha. — Enfim, de
que adianta esse estilo de vida sem um pequeno escândalo
para sacudir as coisas de vez em quando, certo? Tal pai, tal
filho?
Imediatamente eu soube que aludir aos rumores de
infidelidade de meu pai foi desnecessário. — Sinto muito,
mãe. Só estou tentando apontar que dificilmente sou a
primeira pessoa incorreta nesta família.

Minha mãe tomou um longo gole de sua mimosa e bateu


a taça de champanhe. — O que você vai fazer a respeito desse
problema? Ela ainda está aqui?
— Ela não é um problema. Ela é uma pessoa. Alguém
que não tinha ideia do que ela estava se metendo. E eu acho
que o que estou fazendo neste momento não é de sua
preocupação. Não devo nenhuma explicação deste ponto em
diante a ninguém além de Darcie.

— Por que você veio aqui para falar comigo se você não
valoriza minha opinião?
— Porque eu sabia que sua cabeça provavelmente estava
prestes a explodir e eu queria acabar com seu sofrimento.

Minha mãe gritou de frustração. — Se sua avó não


estivesse já em seu leito de morte, isto poderia simplesmente
colocá-la lá.

Isso era quase cômico.


— Isso mostra o quanto você sabe sobre Vovó…

— Do que você está falando?


— Vovó sabia sobre Felicity desde o início. Ela era a
única pessoa além de Sigmund que sabia sobre nosso
relacionamento naquela época. Vovó sabe mais sobre mim do
que qualquer um, na verdade.
Isso deve deixar as calcinhas da minha mãe em um nó.

Quando seu queixo caiu, escolhi aquele momento para ir


embora.

♥Ω♥

Algumas horas depois, peguei Felicity e Sigmund no


Bainbridge Inn. Eles não tinham se matado ainda, então essa
era uma boa notícia. A doce e velha dona do lugar ficou do
lado de fora e nos acenou.
Felicity prendeu o cinto de segurança. — Onde estamos
indo?
Enquanto ela estava ao meu lado no banco do
passageiro, meu primo se sentou no banco de trás.

— Há algo que quero mostrar a você, — eu disse.


— Tenho certeza de que não é a primeira vez que você
diz isso a ela, — Sigmund falou.

Olhei para ele pelo espelho retrovisor. — Lembre-me de


porque estou levando você?

— Oh, eu não sei… porque sua esposa terá seu traseiro


se você não levar? Porque você acha que eu vou beber até cair
no esquecimento se for deixado sozinho? Porque não consegue
se fartar da minha personalidade encantadora? Porque você
não confia em você mesmo para ficar sozinho com Felicity?
Há múltiplas respostas a essa pergunta.
Ignorando-o, me virei para ela. — Na verdade, vamos
dar um passeio até uma de minhas propriedades.
Meu estômago se agitou de excitação e nervosismo pelo
que estava por vir. Tentei limitar meu olhar para Felicity
porque era doloroso. Eu sabia que não cruzaria os limites, mas
minha atração inabalável por ela era enervante. Como homem
casado, não deveria sofrer ao querer beijar outra mulher. Nem
sequer deveria me lembrar tão instantaneamente do seu gosto e
ansiar por prová-la novamente. Mas nada jamais foi como
deveria ser quando se tratava de Felicity Dunleavy.
Seus olhos se arregalaram quando chegamos à
propriedade conhecida como Brighton House. A irmã viúva de
meu pai morava aqui a maior parte do ano, mas ela estava na
França de férias. Minha tia Mildred amava animais e mantinha
uma grande fazenda na propriedade. O gerente da casa dela,
Nathaniel, era um amigo de longa data de Sigmund. Eu sabia
que meu primo provavelmente entraria para tomar uma bebida
com ele, e isso me permitiria algum tempo a sós com Felicity.
Com certeza, Nathaniel saiu para nos cumprimentar e
Sigmund desapareceu com ele. Eu apresentei Felicity como
uma amiga que mostraria a fazenda. Embora Nathaniel
parecesse confuso, tinha certeza de que Sigmund eliminaria
suas dúvidas contando sobre a novela em que minha vida
havia se tornado.
— Vamos fazer um tour pela fazenda, venha?

— Eu adoraria. — Ela sorriu.


Foi um alívio vê-la feliz pelo menos momentaneamente.
— Minha tia adora animais, como você, e esta é a
fazenda dela. Ela está de férias agora, então sua equipe cuida
deles. Mildred perdeu o marido quando estava na casa dos
trinta. Ele morreu em um acidente de carro.

— Oh, lamento.
— Nunca se casou novamente e nunca teve filhos. Os
animais são como seus filhos.

Enquanto caminhávamos em direção ao celeiro, a


excitação crescia em minhas veias.
Vários pôneis se reuniram atrás de uma divisória de
madeira.
Quando ela olhou para eles, Felicity sorriu. — Oh, meu
Deus. Aquilo é uma Shetland?

— Sim. — Eu não pude conter meu sorriso.


— Ele se parece com o Ludicrous.
Eu arqueei minha sobrancelha. — Assim como ele, hein?

— Sim.
— Olhe mais de perto.

Não havia nada melhor do que a expressão em seu rosto


quando ela percebeu.
Ela apontou em descrença. — Esse não é…

— É ele, Felicity.
— O quê?
Abri o portão e ela correu em sua direção. Felicity
colocou os braços em volta do pescoço dele e o abraçou.
Honestamente, poucas coisas na vida me trouxeram maior
alegria do que testemunhar este momento. Certamente poderia
me relacionar com a sensação de ver alguém depois de
acreditar que você nunca mais o veria na vida – porque era
isso que eu estava experimentando agora.

Apoiando a cabeça contra ele, ela disse: — Não entendo.


Achei que você encontrou uma fazenda em Rhode Island para
levá-lo. Eu disse para você me avisar se não conseguir
encontrar um lugar para ele. Como não disse nada, então
presumi que tudo tivesse resolvido. Como ele veio parar aqui?
— Nem pensar que eu ia deixá-la com essa
responsabilidade. Eu simplesmente não voltei para você antes
de partir. Consegui que aquela fazenda em Rhode Island
concordasse em mantê-lo até que eu pudesse transportá-lo de
volta para a Inglaterra. Mas isso era tudo que eles estavam
dispostos a fazer, já que não tinham espaço para ele. Cerca de
um mês depois, estava aqui. E ele tem ficado aqui desde então.
Ludicrous relinchou.

Ela começou a chorar enquanto o acariciava. — Eu disse


a mim mesma que não choraria hoje.
— Contanto que não seja eu que esteja causando suas
lágrimas, estou bem.
— Pensei em tentar encontrá-lo, — disse ela, passando
os dedos por sua crina.

— Mal você sabia…


— Só posso imaginar o que sua tia deve ter pensado
quando você o trouxe para ela.
— Ela ficou emocionada, na verdade, e considerou isso
mais um presente do que um fardo. Minha única condição era
pedir a ela que mantivesse o nome dele.
Felicity olhou para mim. — Bem, esta viagem
certamente está cheia de surpresas.

Passou cerca de vinte minutos com seu precioso pônei


antes de eu sugerir que fizéssemos uma caminhada; estava
ficando sem tempo com ela e precisávamos conversar.

— Vamos voltar e passar mais tempo com ele antes nós


partimos, — eu disse a ela.
Arrumei um almoço tardio sobre uma mesa com vista
para as colinas. Caminhamos por alguns minutos até que
apareceu em uma curva.
Quando ela percebeu a propagação, disse: — O que é
tudo isso?
— Bem, eu não posso levá-la para passear e não posso
alimentá-la. Não se preocupe – não tive nada a ver com o
cozimento de nada disso.
— Bem, graças a Deus por isso. — Ela deu uma
risadinha.

— Sem lata de SpaghettiOs à vista.


Começamos uma conversa leve e confortável durante a
refeição. Ela me contou mais sobre o emprego que deixou no
escritório de advocacia e por que isso a deixava exausta.
Enquanto falava da vida que planejava levar quando voltasse
para casa, senti vontade de voltar para aquela casa serena na
baía.

Depois de comermos, Felicity olhou para longe, e eu


encarei seu perfil, me impedindo de contar as sardas. Velhos
hábitos são difíceis de morrer.

Quando ela se virou para mim, baixei os olhos para a


mesa para não ser pego no flagra.

— Mesmo que as coisas não tenham funcionado como


eu esperava, quero que saiba que estou orgulhosa de você,
Leo. Você está fazendo tudo o que se propôs, tudo que
prometeu a seu pai que faria. Tenho certeza de que ele também
está muito orgulhoso.

— Obrigado. Obrigado. Mas agora me diga o que você


realmente sente.
— O que você quer dizer? — Ela piscou. — Eu falei
sério cada palavra.
— Eu sei que você quis dizer o que disse sobre mim.
Mas eu quero saber o que está acontecendo em sua mente
agora – sobre nós, esta situação – mesmo que me doa ouvir.
— O que estou pensando ou sentindo quando se trata de
nós não importa mais.
— Importa para mim. Eu quero ouvir, mesmo que doa.
Precisamos deixar para fora.
As bochechas de Felicity ficaram rosadas. — O que você
quer que eu diga? Quer ouvir que estou apaixonada por um
homem casado? Porque isso não é realmente bonito. — Seus
olhos brilharam. — Quer saber como me sinto? Estou…
zangada. Estou confusa. Estou frustrada. Estou assustada.
Estou com ciúmes. Estou uma bagunça. — Ela enxugou uma
lágrima dos olhos. — Ao mesmo tempo, ainda sou muito grata
por este momento, mesmo que não dure para sempre. Porque é
mais um momento no tempo com você do que eu deveria.
Meu coração estava pesado. Suas palavras refletiram
meus próprios sentimentos. Eu queria dizer muito, mas meu
medo de parecer desrespeitoso com minha esposa me
paralisou. Eu era um homem casado, o que não me dava o
direito de abrir meu coração para outra pessoa, mesmo que
quisesse desesperadamente dizer que ela não estava sozinha.
Apenas quando as palavras na ponta da minha língua
estavam prestes a me sufocar, ela mudou de assunto.

— Você vai me dizer o que aconteceu com Sig?


Sacudi minha cabeça e exalei, me preparando. Não havia
uma boa maneira de contar essa história, então simplesmente
mergulhei. — Ele se apaixonou.
CAPÍTULO 22

Felicity
Faixa 22: “Tears Dry On Their Own”, Amy
Winehouse
Meus olhos se arregalaram. — Ele se apaixonou?
Sigmund? O Sigmund das Marias? Esse Sigmund?

— Difícil de acreditar, eu sei. — Leo deu um sorriso


lindo que doeu de olhar.
— O que aconteceu?

— Ele decidiu fazer uma viagem aos Estados Unidos


novamente. E conheceu uma mulher online e voou para Nova
York por uma semana.

— E acabou se apaixonando por ela?


— Dificilmente. Essa mulher só queria se divertir, assim
como ele. Ele se aborreceu com ela rapidamente.
Eu pisquei. — Então… por quem ele se apaixonou?
Leo se acomodou em seu assento. — Ele se atrasou no
aeroporto a caminho de casa. Enquanto estava lá, começou a
brigar com uma garota que estava esperando pelo mesmo voo
que ele. Foram as duas últimas pessoas a fazer o check-in. A
companhia aérea havia feito overbook25 no voo e estava com
falta de um assento. Nenhum deles queria desistir dos seus.
Eu ri enquanto ele continuava.
— Finalmente, um pobre coitado interceptou e
concordou em pegar um avião mais tarde, então nenhum deles
teve que mudar seu voo. Mas Sigmund e Britney continuaram
brigando. Ele brincava com ela sobre tudo, desde sua altura até
as Birkenstocks26 em seus pés. Ela era pequena – apenas
cerca de um metro e sessenta. Então ele a pegou, mastigou-a e
a cuspiu. Você conhece Sigmund.
Balancei minha cabeça. — Oh, sim eu conheço.
— Bem, ela devolveu para ele ainda mais forte – como
nenhuma mulher que ele já conheceu antes. Ela o chamou de
todos os nomes possíveis: girafa, playboy, imbecil… — Ele
riu. — Ela era mais jovem – vinte e cinco contra trinta e dois.
De qualquer forma, o voo atrasou. De alguma forma, eles
acabaram vagando pelo aeroporto juntos. Ele percebeu que ela
despertou algo nele que nunca tinha experimentado antes. Ela
o desafiou em cada palavra que saiu de sua boca. Sigmund
ficou tão encantado por ela. Quanto mais tempo eles ficavam
presos naquele aeroporto juntos, mais ele se sentia atraído por
ela. Como ele mesmo disse, nunca havia ficado tão atraído por
uma mulher em sua vida. Ironicamente, por uma vez eu acho
que isso não teve nada a ver com aparência, embora ele a
achasse bastante atraente.

Eu estava na ponta do meu assento agora. — Eles


acabaram voando para a Inglaterra juntos?
Ele assentiu. — Assim que eles embarcaram no avião,
puderam trocar de assento para que pudessem se sentar um ao
lado do outro. Eles conversaram durante todo o voo. Sabe
como meu primo pode ser. Ele não é muito bom em se abrir
sobre suas inseguranças – sempre esquivando-se de perguntas
sempre que você lhe faz perguntas sobre sua carreira e outras
coisas mais. Ela aparentemente teve uma maneira de ver
através de suas táticas. Conseguindo que ele falasse com ela.

— Uau. — Eu sorri.
— Ele quase estragou tudo.

— Como?
— No típico estilo de Sigmund, ele a desafiou a se juntar
ao mile-high club27.
— Oh, Sig. — Eu ri.

— Ela disse a ele onde ele poderia colocar aquela


proposta. Ele disse naquele momento que sabia que nunca
mais seria o mesmo.

— O que aconteceu depois do voo?

— Surpreendentemente, mesmo com toda a conversa


que eles tiveram, ela não disse a ele por que estava na
Inglaterra ou para onde estava indo. Só tinha o primeiro nome
dela – Britney.

— Huh…
— Assim que pousaram, ele implorou por seu número de
celular. Mas ela disse a ele que se ele soubesse o que era bom
para ele, eles deveriam se separar.
Isso realmente me fez sentir mal por Sig. — Oh, meu
Deus. Porque? Ele deve ter ficado arrasado.

— Totalmente.
— Presumo que este não seja o fim da história, no
entanto.
Leo balançou a cabeça. — Ele continuou a segui-la pelo
aeroporto. Ela não conseguia se livrar dele. E embora dissesse
que queria que ele a deixasse em paz, ele podia ver em seus
olhos que ela não queria. Ele suspeitou que havia algo mais
acontecendo, algo que ela simplesmente não queria dizer a ele.

— Como se ela fosse casada?

Leo olhou para mim.

— Juro que isso não foi uma provocação a você. — Eu


rio.

— Na verdade, isso passou pela cabeça dele, — Leo


explicou com um sorriso. — De qualquer forma, na plataforma
onde ela esperava por seu táxi, ele disse que ele não iria se
afastar, a menos que ela lhe desse um bom motivo. Ela apenas
dizia a ele que seria melhor não saber, que ambos estariam
melhor apenas se lembrando das horas que passaram juntos e
seguindo caminhos diferentes. — Ele olhou para longe. —
Mas Sigmund não podia deixá-la ir.

— O que ele fez… entrou no táxi dela?

— Foi isso exatamente o que ele fez. Ela disse que ele
lamentaria. Mas quanto mais ela dizia coisas como essas, mais
decidido ele estava em ficar com ela. — Leo riu, mas então
sua expressão ficou séria. — Quando eles chegaram ao seu
hotel, no saguão havia duas pessoas mais velhas esperando por
ela.

Inclinei-me. — Quem eram eles?


— Os pais dela. Eles voaram dos Estados Unidos e
chegaram à Inglaterra antes dela.

Eu estava confusa. — Por que eles não viajaram juntos?


— Ela aparentemente tinha alguns negócios para tratar
em casa primeiro. Então, eles se encontraram em Londres.

Eu inclinei minha cabeça. — Então… eles estavam de


férias?

— Quem me dera. — Leo soltou um suspiro. — Britney


foi forçada a contar tudo para Sigmund naquele momento –
que ela não estava de férias na Inglaterra. Ela viajou para cá
em busca de um tratamento experimental… para seu câncer.

Meu coração afundou. — Oh, não.

— Sigmund ficou abalado. Ele não tinha a menor noção


de que ela estava doente.

Eu senti que ia chorar. Leo parecia que faria o mesmo.

— Puta merda, — eu sussurrei.


— Com seus pais ali parados, observando tudo, ela
perguntou-lhe com raiva se ele estava feliz agora – ele não
conseguia entender porque ela preferia partir de lá. Na
verdade, ele lhe disse que, sim, ele estava feliz. Que nunca
havia estado tão feliz em sua vida, e o fato de ela estar doente
não mudou o que ele sentia.

Oh, meu coração.

— Ela implorou para ele se livrar dela, mas ele não o


fez. Antes de seu tratamento começar, eles se esconderam em
um quarto de hotel juntos e aproveitaram ao máximo esse
tempo. Então, ele passava todas as horas de cada dia com ela
durante seus tratamentos em um hospital em Londres. Os pais
dela ficaram realmente encantados com ele e gratos por ter
dado alegria à sua filha durante um período tão difícil.
O medo se apoderou de mim enquanto Leo respirava
fundo.

— Uma noite, — ele continuou, — Sigmund veio direto


do hospital para minha casa. Ele parecia exausto e me disse
que finalmente entendeu. Quando perguntei sobre o que ele
estava falando, ele disse: “Entendo como você se sentiu em
relação a Felicity – por que você se recusou a desistir dela.
Quando se está apaixonado por alguém, simplesmente não
dá”. — Leo sorriu. — Isto era como se meu primo finalmente
tivesse crescido. Mas foi uma pena que ele teve que suportar
tanta dor junto com isso.

Eu me preparei. — O que aconteceu com ela, Leo?


— Os tratamentos não funcionaram. Ela morreu seis
meses depois de chegar à Inglaterra, e meu primo não foi o
mesmo desde então. Provavelmente nunca será.
Não consegui impedir que as lágrimas caíssem agora.
Leo me deu um minuto para me recompor.

— Como devo olhar para Sig, agora? — Eu perguntei.

— Eu sei. Estava hesitante em contar a história, mas


você perguntou.

— Ela foi sua primeira namorada de verdade?

— Ela era sua esposa, na verdade. Ele se casou com ela


um mês antes de ela morrer.

Isso cortou como uma faca. — Estou arrasada por ele.


Leo olhou para as colinas. — De uma forma estranha,
por mais devastador que tenha sido para ele perdê-la, acho que
ela salvou sua vida. Ele diz que experimentaria o sofrimento
muitas vezes novamente, desde que a conhecesse. Ele até
raspou a cabeça para combinar com a dela.
Isso me atingiu. — É por isso que o cabelo dele está tão
curto.
— Sim.
— Há quanto tempo ela morreu?

— Foi há apenas três meses, Felicity.


Oh, meu Deus. — Onde estão os pais dela?
— Eles voltaram para os Estados Unidos, mas sei que
são eternamente gratos por Britney ter passado seus últimos
dias aqui com Sig.
Pensei que perder Leo era doloroso, mas claramente
havia maneiras muito piores de perder alguém. Ouvir essa
história me fez perceber como a vida é frágil.
Leo se levantou. — Vamos. Acho que precisamos mudar
os ânimos antes de vê-lo novamente.
Voltamos para onde os animais estavam e um lavrador
trouxe dois cavalos. Cada um de nós escalou em cima de um e
deu um passeio em torno da propriedade.
— Ainda estou pensando em Sig, — eu disse enquanto
cavalgávamos.

— Imaginei isso – provavelmente a única coisa que tira


sua mente de nós, hein?
Suspirei. — Sim.

Depois de vários minutos cavalgando em silêncio, ele


disse: — Fale comigo, Felicity. Esqueça o que é adequado e o
que não é. Diga-me o que você está pensando agora.
Os cavalos relincharam ao mesmo tempo.
— Estou pensando que você colhe o que você semear na
vida. Cada pedaço de dor que estou sentindo agora é obra
minha.
Leo pareceu surpreso. Ele puxou as rédeas para parar seu
cavalo. Então eu fiz o mesmo.
— Diga-me o que você quer dizer, — ele exigiu.

— Leo, como eu pude deixar você ir? Você me


perguntou sem rodeios se eu consideraria vir para cá, ficar
com você, e eu abandonei isso mais rápido do que você
poderia piscar. Não sei o que estava pensando. Se era medo –
medo do quanto intensos eram meus sentimentos, talvez. E se
arriscar com você naquela época significaria colocar outra
pessoa em primeiro lugar pela primeira vez na minha vida, e
isso é assustador quando você cresce acreditando que as
pessoas sempre vão te machucar e que você nunca deve
depender de ninguém. Mas a verdade é que tomei essa
decisão. Então, tudo isso – a situação em que estamos, a
situação em que coloquei você agora – é minha culpa.
Seu rosto ficou vermelho. — Sua culpa porque você não
estava disposta a se jogar em um mundo sobre o qual nada
sabia por um homem que conhecia há apenas algumas
semanas? E não se esqueça, fui eu que te deixei, Felicity. Não
o contrário. E eu me afastei novamente como um covarde
quando te vi com Matt na Filadélfia, porque presumi que você
fosse feliz. Eu poderia ter dito algo. Eu me convenci de que a
viagem havia sido um lapso momentâneo de sensatez e que
você estava onde deveria estar – feliz com ele na grande
cidade, assim como seu quadro de visão. Então você vê, eu me
afastei não uma vez, mas duas. — Ele estendeu a mão e
segurou minha bochecha. — Nada disso é sua culpa, linda.
Entende?
Fechei meus olhos, saboreando seu toque gentil,
permitindo-me sentir o conforto nele por alguns momentos
sem permitir que a culpa apareça. — Isso é o que é agora, Leo.
O destino simplesmente não tem estado do nosso lado, — eu
sussurrei.

Depois disso, cavalgamos em silêncio até devolvermos


os cavalos.
Uma vez que tinham sido levados de volta ao celeiro,
fizemos outra visita à Ludicrous para que eu pudesse dizer
adeus. Já estava na hora de Leo me levar para casa. Eu tinha
certeza de que Darcie estava contando os minutos.

Estávamos quase de volta à casa quando Leo parou de


andar e me encarou.
— Olhe para mim, Felicity.

Eu olhei em seus olhos.


— Sei que muita coisa mudou… — ele disse. — Mas
ainda sou eu. Estou aqui. Você pode me dizer qualquer coisa.
Quero que você me diga o que fazer. Como posso consertar
isso?
Disse a primeira coisa que me veio à mente, atendendo
aos alertas em meu instinto e a voz dentro da minha cabeça. —
Diga-me para ir para casa.
Ele sacudiu o sua cabeça. — Não consigo fazer isso.
Meu coração estava ferido depois de tudo que soube
hoje. — A única coisa mais dolorosa do que dizer adeus a
você uma vez é estar na sua frente agora, sentindo todas as
mesmas emoções e não ser capaz de experimentá-las. E eu
queria que você ainda não me olhasse da mesma forma que
sempre fez, além de tudo.

Seus olhos vagaram pelo meu pescoço. Ele então os


fechou abruptamente, como se para se punir. A coisa fodida
era que a química sexual entre nós parecia mais forte do que
nunca. Sempre tivemos uma centelha intensa, mas parecia mil
vezes pior, alimentada pela incapacidade de satisfazê-la.
Precisando de uma fuga, olhei para o meu relógio. —
Quanto tempo você disse a ela que iria ficar?
— Algumas horas.
— É muito além disso. Nós devemos ir.

Ele mordeu o lábio inferior. — Certo.


Continuamos caminhando de volta para a casa sem dizer
mais nada.
Sig se despediu de seu amigo antes de se juntar a nós na
frente.

— Suponho que está tudo resolvido entre vocês dois,


certo? — Sig provocou. — Você pelo menos viu seu cavalo…
Bizarro? É esse o nome dele?

Ainda congestionado de tanto chorar, funguei e ri. —


Ludicrous.
— Ah, sim. Ainda a coisa mais idiota, meu primo já fez.
Foi difícil olhar para Sig da mesma maneira, mas tentei
não deixar transparecer que Leo tinha me dito alguma coisa.
Fiquei totalmente emocionada depois do passeio.
Enquanto Leo me levava para casa, nós roubávamos
olhares um para o outro. Cada vez que eu sentia vontade de me
encarar e tocá-lo, forçava meus olhos para a aliança de
casamento em sua mão. Nunca foi tão fácil olhar para ela. Este
dia não tinha contribuído em nada para o meu fechamento.
Sinceramente, foi preciso tudo em mim para não estourar em
lágrimas.
Saio do carro antes mesmo que Leo pudesse dizer adeus.
Não conseguia mais olhar para ele.
— Te vejo amanhã? — ele chamou.
— Claro, — eu disse, não querendo discutir sobre isso, o
que só iria prolongar sua permanência. Ele me queria aqui por
uma semana, mas eu não sabia o quanto mais eu poderia
aguentar.

Depois que ele foi embora, fiquei aliviada. Se eu


perdesse o controle agora, pelo menos ele não testemunharia.
Lavinia tinha deixado um bilhete na mesa da cozinha,
avisando Sig e eu que um vizinho na rua a convidou para
jantar.
Sig me encontrou na cozinha e pegou a garrafa de
Fireball de Lavinia junto com dois copos. Ele puxou uma
cadeira e apontou para a outra na minha frente.
— Sente-se, Ginger. Nós vamos beber. — Ele olhou para
baixo na garrafa. — Estou com preguiça de fazer margaritas,
então isso terá que servir por enquanto.
Hoje à noite não estava em lugar de argumentar contra
uma bebida forte.
Depois que ele serviu uma, deslizou o copo na minha
direção.

Eu tomei um longo gole e apreciei a queimadura.


Embora não tivesse dito nada sobre meus sentimentos a
Sig, pareceu ler minha mente.

— Também não sei que porra ele está fazendo, Felicity.


Acho que está esperando resolver esta confusão de alguma
forma, mas não há solução rápida quando se está casado com
uma pessoa e apaixonado por outra.
Meus olhos dispararam.
— Não estou dizendo que ele não ama Darcie, mas com
certeza ele ainda está apaixonado por você.
— Ele não disse isso. Como você saberia? — Eu
perguntei.

— Porque eu consigo vê-lo. Agora sei o que parece.


Fiz uma pausa enquanto debatia se deveria dizer a ele
que sabia de sua grande perda. Em última análise, não
consegui esconder. — Sinto muito por Britney.
Ao invés de dizer nada, Sig abriu a garrafa e serviu-se de
outra bebida. Ele a bebeu e bateu seu copo contra a mesa. —
Obrigado, — finalmente disse. — Ele contou a você a história
mais triste que já existiu, hein?
Merda. Eu podia sentir as lágrimas se formando
novamente em meus olhos. Eu não queria que ele me visse
chorar. Mas as lágrimas tinham vontade própria. Eu funguei.
— Sinto muito. Acho que chorei mais hoje do que em toda a
minha vida.

— Está tudo bem, Ginger. — Sig me serviu de outra


bebida, deslizando-a para mim. — Então ele contou a você
todos os detalhes malucos de como eu a conheci?
Sorri através das lágrimas. — Sim.
— Aposto que ele se esqueceu de mencionar o quão
bonita ela era. — Sig enfiou a mão no bolso para pegar o seu
telefone. Ele rolou a tela e virou para mim.
Enxugando meus olhos, sorri ao vê-los juntos. Britney
era realmente pequena, especialmente perto de Sig, que tinha
bem mais de um metro e oitenta. Ela tinha cabelo curto e loiro
que poderia ser uma peruca e as mais belas e delicadas feições.
Seu sorriso iluminava todo o seu rosto. Ela me lembrou da
Sininho do Peter Pan. Duvidava que Sig já tivesse encontrado
alguém mais bonita. O fato de que ela estava obviamente
muito doente não diminuía isso.
Ele olhou para a imagem e sorriu. — Essa é Britney
Benedictus.
— Ela é linda. E eu sinto muito. Não consigo imaginar.

— Ela foi o amor da minha vida. Não importa que eu a


tive apenas por alguns meses. Ninguém jamais irá substituí-la.
— Ele apertou a mão contra o peito. — Ela vai viver aqui para
sempre.

Balancei minha cabeça. — Não conseguia entender


porque você estava tão diferente. Agora faz sentido.
— Faz sentido agora porque eu sou um desastre
ambulante… — ele riu. — Obrigado.
— Não quis dizer isso.
— Está tudo bem. É a verdade. — Ele exalou e desligou
o telefone. — Eu vou me recuperar eventualmente. Porque
isso é o que ela teria desejado. Por isso, irei fazer um esforço.
Por ela.
— Você vai, — eu assegurei a ele.
Me surpreendeu que ao invés de varrer o assunto para
baixo do tapete, ele continuou falando.
— O tratamento que ela estava recebendo – porque era
experimental, não era coberto pelo seguro. Seus pais ficaram
sem dinheiro. O tratamento não estava ajudando muito, mas a
ideia de que algo poderia nos dar esperança a manteve
animada. Então, quando chegou a hora de decidir se tínhamos
que parar por questões financeiras ou encontrar uma maneira
de continuar pagando por isso, Leo veio ao meu resgate. Ele
pagou pelo resto do tratamento e pelas acomodações dos seus
pais. Nunca vou me esquecer disso. E nunca vou ser capaz de
retribuir a ele.
— É por isso que você está trabalhando de graça como
meu cão de guarda. — Eu sorri.
Sig girou seu copo. — Finalmente entendo por que meu
primo não conseguiu te esquecer, não importa quantas vezes
eu falei merda pra ele sobre isso. Não é algo que você entende
totalmente até que aconteça com você.
— Então você também pode entender por que isso é tão
difícil para mim… estar aqui.
— Você é uma pessoa melhor do que eu, Ginger… por
ficar aqui.
— Estou fazendo isso porque ele me pediu, mas depois
de hoje, acho que não posso mais. — Minha voz tremeu. —
Não posso dizer adeus a ele novamente. Porque eu sei que
desta vez, será para sempre. Sempre houve um lampejo de
esperança anteriormente, de que talvez, de alguma forma,
pudéssemos encontrar o caminho de volta um ao outro. Mas eu
sei que quando ele me deixar ir desta vez, será o fim.
— O que você está me dizendo?
— Estou dizendo que preciso ir para casa. Não quero
mais sentir essa dor.
Sig soltou um longo suspiro. — Felicity, se você quiser
ir embora, sabe que não vou impedi-la, certo? Ele apenas terá
que entender. E ele vai. Porque ele te ama. Se há uma coisa
que eu sei, é isso. Ele sabe que você está sofrendo. Só não é
capaz mandá-la embora.
Limpei meus olhos pelo que parecia ser a centésima vez
hoje. — Você me levaria ao aeroporto?

— Você está tentando me matar, não está?


Olhando para a mesa, eu balancei minha cabeça. — Tem
razão. Isso é pedir muito.

— Ginger, estou brincando. Claro, eu vou te levar.


Aliviada por ter seu apoio, balancei a cabeça. — Eu não
decidi ainda. Preciso pensar sobre isso esta noite.

A ideia de ir embora fez mal ao estômago, mas não tanto


quanto a ideia de ficar. Não era como se Leo fosse deixar sua
esposa por mim. Isso não ia acabar bem e não havia razão para
prolongar.
Mais tarde naquela noite, Sig correu até o supermercado
antes que fechasse, e Lavinia ainda estava fora, então eu fiquei
sozinha pela primeira vez hoje. Depois de muito ruminar, tive
certeza de que havia tomado minha decisão de reservar um
voo para a manhã. Tinha acabado de abrir meu laptop para
reservar minha passagem quando a campainha tocou.
Sabia que Lavinia tinha dado uma chave a Sig, então a
única pessoa que poderia ser era Leo. Borboletas enxamearam
em meu estômago quando fui até a porta. Exceto quando eu
abri, e não era Leo.

Era Darcie.
CAPÍTULO 23

Leo
Faixa 23: “American Girl”, Tom Petty &
The Heartbreakers
Depois de deixar Felicity, eu não conseguia em sã
consciência enfrentar Darcie ainda. Havia muitos sentimentos
me bombardeando, e eu soube que no momento em que ela
olhasse para mim, ela seria capaz de vê-los. Eu precisava me
acalmar antes de ir para casa. Então liguei para minha esposa
para avisá-la que deixei Felicity e Sigmund, mas que iria
visitar minha avó no caminho de casa. Vovó estava em um
centro de reabilitação de luxo e nos disseram que ela não tinha
muito tempo. Eu a visitava com frequência, e cada vez era
diferente em termos de sua condição. Hoje rezei para que ela
tivesse energia suficiente para conversar comigo, porque eu
precisava disso mais do que nunca.

Minha avó parecia meio adormecida quando entrei em


seu quarto.
— Olá, Vó.
Abrindo os olhos, ela estendeu a mão trêmula. — Oi,
meu garoto. — Sua voz estava fraca.
— Como você está se sentindo?
— Bem, certamente tive dias melhores, mas este não é o
pior.
— Ótimo. — Eu sorri. — Preciso falar com você, mas
não quero esgotar sua energia.

— Nada me faz sentir mais viva do que falar com você,


meu neto. Posso estar fraca, mas minhas orelhas ainda estão
perfeitamente bem.

Sentei-me ao seu lado na cama. — Conversou com


minha mãe nos últimos dois dias?
— Não, eu não falei com ela.
Fiquei surpreso, mas talvez minha mãe soubesse que não
teria sido capaz de resolver o problema sem aborrecê-la. No
estado atual de Vovó, isso não seria sábio. Eu estava orgulhoso
de mamãe por se conter no melhor interesse de sua mãe.
— Lembra da Felicity?

Os olhos de minha avó se arregalaram. — Claro. A


garota americana. O que tem ela?

— Ela está aqui.


Vovó apertou minha mão. — Oh, meu Deus.

Eu lhe contei dos últimos dois dias. Apesar de vovó


saber que eu tinha voltado aos Estados Unidos depois daquele
primeiro ano para procurar Felicity, nunca havia contado a ela
sobre a carta que escrevi antes de me casar com Darcie. Então,
comecei por lá e terminei com a aparição da Felicity aqui.

Minha avó parecia profundamente afetada, a tal ponto


que quase me arrependi de ter contado a ela. Ela não podia se
dar ao luxo de ficar muito agitada emocionalmente.

— Isso é absolutamente devastador, Leo. Para todos os


envolvidos.
— Eu sei. Obviamente, nunca vi isso acontecendo.
Vovó lutou para respirar. — Meu amor, você sabe que eu
não tenho muito tempo restante. Portanto, sou particularmente
cuidadosa com tudo o que digo, porque nunca sei se será
minhas últimas palavras. — Ela tentou endireitar seu corpo. —
Eu preciso que você me escute com muita atenção. — Ela
olhou nos meus olhos. — Eu estava errada.

— O que você quer dizer?


Ela engoliu em seco. — Quando você me perguntou
anos atrás se eu achava melhor você abandonar todas as ideias
de estar com uma garota que você claramente amava, eu o
encorajei e desconsiderei seus sentimentos pelo bem maior de
sua reputação. Eu me preocupei que, apesar de quão
fortemente você se sentiu, o escrutínio que receberia seria
muito pior do que viver sem ela. O que não sabia então, que só
percebi quanto mais perto estou da morte… é que nada
importa mais nesta vida do que o amor.
Permaneci em silêncio, atordoado enquanto ela
continuava.

— Você sempre teve tanto medo de desagradar seu pai.


Mas posso garantir que, onde quer que esteja agora, ele vê as
coisas de uma perspectiva diferente. Seu pai não faz mais parte
deste mundo material, não está mais preocupado com dinheiro
ou prestígio. Ele entende agora que o propósito universal de
toda a nossa existência é o amor. — Seu tom tornou-se
urgente. — Meu conselho para você hoje não é o mesmo
daquela época. Se eu pudesse voltar atrás, eu lhe diria para
seguir seu coração. — Ela fez uma pausa. — Dito isso, você se
casou com uma mulher maravilhosa. Ela não merece isso. Não
é justo de qualquer maneira – deixá-la esperando quando ela
não tem todo o seu coração.

Ela falou novamente antes que eu pudesse responder.


— Leo, você precisa entender que suas decisões não
mudam o que está em seu coração. Você pode escolher
permanecer casado com Darcie para protegê-la, mas isso não
mudará o fato de que você claramente ama Felicity.

— Como você sabe que ainda a amo? — perguntei. —


Eu não te disse isso.

— Você não precisa, meu amor. Você tem a mesma


expressão de paixão e medo em seus olhos que tinha quando
me disse que estava voltando para os Estados Unidos para
procurá-la. O mesmo olhar de tristeza de quando você voltou e
me disse que ela seguiu em frente com outro. Este tormento é
o amor disfarçado. A única diferença agora é que você está
casado e já passou algum tempo.

— Todas as mesmas complicações ainda existem hoje…


— eu disse. — Todas as razões pelas quais decidimos não
ficar juntos em primeiro lugar.

— E, no entanto, aqui está você, sentindo-se da mesma


maneira. O que isso lhe diz? Isso é algo que pode controlar ou
uma mentira que tem contado a si mesmo? — Ela soltou uma
trêmula respiração. — Olha, meu querido, eu não posso te
dizer o que fazer. Só posso dizer o que aprendi ao fazer a
transição para a próxima fase de minha jornada. Já disse tudo
o que posso dizer sobre isso. Só lamento não ter percebido
naquela época que meu conselho para você era errado.
Me matou pensar que ela tinha algum arrependimento
neste ponto. — Eu te amo, vó. Não posso lhe dizer o quanto
significa ter você como minha ouvinte.
Ela sorriu. — Eu menti… tenho mais uma coisa a dizer.

— Ok, me diga.

— Estou orgulhosa de você, não importa o que você


decida – seja para seguir seu coração ou para manter seu voto
para com sua linda esposa. Não há resposta errada. É sobre
como você consegue viver. Mas você é um bom homem, Leo.
Muito mais consciencioso do que seu pai jamais foi. E mesmo
que nunca tenha dito isso, eu sei que você se culpa por causa
de como você veio a este mundo – a morte de seu irmão
gêmeo. Mas fique tranquilo, ele também está olhando para
você, tão orgulhoso quanto eu.

♥Ω♥

As palavras de minha avó se repetiram em minha mente


durante todo o caminho para casa. Como eu deveria enfrentar
Darcie quando esta tempestade de emoções ainda estava
fermentando dentro de mim? Os sentimentos crus de antes não
tinham diminuído nem um pouco. E Vovó não me disse nada
que eu já não soubesse, bem no fundo. Mas eu escolheria viver
minha vida ignorando esses sentimentos pelo bem do meu
casamento?
Entrei em casa sentindo-me completamente inquieto.
Antes que eu pudesse subir para enfrentar o incêndio,
percebi que uma mensagem de Felicity havia chegado.
Olhando para o seu tamanho, meu instinto imediatamente me
disse que era uma carta de Querido John.
Não consegui consumi-la suficientemente rápido
enquanto meu coração acelerava.

Felicity: Tenho que ir para casa, Leo. Lamento ter que


sair assim, mas não aguento mais um adeus com você. Passar
um tempo com você hoje foi verdadeiramente mágico. Ver
Ludicrous de novo, montar aqueles lindos cavalos com você,
olhar nos seus olhos e ver sua alma pela última vez. Por mais
doloroso que tenha sido, os últimos dias também foram um
presente, porque houve um tempo em que pensei que nunca
mais o veria. Mesmo depois de tudo, não me arrependo de ter
vindo aqui. Nunca me arrependi de um único momento com
você, nem mesmo os mais dolorosos. Mas meus sentimentos
por você estão me sufocando. Importar-se tão profundamente
com alguém e não ser capaz de amá-lo livremente é uma
tortura. Você é um homem casado. Quanto mais eu ficar, pior
isso vai acabar.

Enquanto você lê isso, já estou indo para o aeroporto.


Consegui pegar um voo que sai à meia-noite. Por favor, não
fique bravo com Sig por me deixar escapar. Ele entende o que
é querer alguém e não ser capaz de tê-lo. Quem sabe como
seria minha vida agora se eu tivesse arriscado cinco anos
atrás. Por favor, saiba que sempre vou te amar.
Entrei em pânico. Ela foi embora.

Perseguir alguém para fazer com que ela fique em um


país estrangeiro enquanto você está usando uma aliança de
casamento não é exatamente justo. Mas saber disso não
impediu minha vontade de fazê-lo. Mas por que? Por que
forçá-la a ficar quando eu não podia oferecer nada a ela como
as coisas estavam atualmente?

Antes que eu pudesse subir as escadas, Darcie veio atrás


de mim.
— A mensagem que você está lendo é dela, suponho.

Eu me virei e engoli em seco. — Sim.


— Ela me disse que estava saindo mais cedo do que o
planejado.
Minhas palpitações cardíacas pioraram. — Você… falou
com ela?

— Fui a pousada esta noite enquanto você estava


visitando sua avó.
Porra. — Você foi?

— Sim. Tive um momento muito difícil enquanto você


estava com ela hoje, e senti que ela e eu precisávamos ter uma
conversa.

Tentando manter a calma, perguntei: — Sobre o que


vocês conversaram?
— Não se preocupe. Eu não sou a razão pela qual ela
está indo embora. Já havia se decidido quando eu cheguei. Ela
me disse isso.
— Sim. Ela tem um voo hoje à noite. Já está no
aeroporto.
Darcie acenou com a cabeça. — Só precisava vê-la, Leo.
Queria olhar em seus olhos e ver o que você vê, para entender
melhor o que estou enfrentando. Também queria que ela
soubesse que eu realmente não a culpo por seu equívoco. Mas
acima de tudo, queria que ela soubesse o quanto sou
comprometida com você e com este casamento, o quanto amo
você, mesmo que nosso namoro tenha tomado um caminho
diferente do da maioria. Talvez, no início, tenhamos forçado
um pouco as coisas. Mas durante o ano passado, em particular,
percebi que tudo é como deveria ser. — Lágrimas encheram
seus olhos. — Eu te amo, Leo. Eu realmente amo. E nada me
deixou mais orgulhosa nesta vida do que ser sua esposa. Tenho
muito medo de perdê-lo, e você precisa saber disso.
Meu coração se partiu ao vê-la chorar, ao vê-la tão
vulnerável quando ela estava se fingindo de forte. A culpa e o
tormento torceram-se dentro de mim quando eu a abracei.
Darcie não tinha sido nada além de uma esposa incrível. Ela
não merecia esta situação em que eu a tinha colocado. Mas eu
não tinha palavras que a confortassem hoje à noite. Não
poderia mentir e dizer que a saída de Felicity não me havia
sacudido até o fundo. Portanto, eu não disse nada. Só continuei
a segurá-la.

Naquela noite, nós dormimos e nos afastamos um do


outro na cama enquanto minha mente lutava.

♥Ω♥

No dia seguinte, fui para a casa de Sigmund. Ele me


mandou uma mensagem para assegurar que eu não estava
chateado com ele por ter levado Felicity ao aeroporto. Eu
havia dito a ele para não se preocupar, que eu entendia porque
havia ajudado e incentivado sua partida da Inglaterra.

— Você parece uma merda. Nós somos gêmeos agora,


— ele disse enquanto abria a porta.
— Exceto que eu barbeei meu rosto nos últimos meses.
Você não fez isso, — rebati.

— Então você está aqui para me mandar xingar? Não


acredito nem por um segundo que não esteja zangado por eu
ter levado Ginger ao aeroporto.

— Não estou zangado, Sigmund. Eu simplesmente odeio


que tudo isso tenha acontecido. — Enfiei a mão no bolso e
tirei um pedaço de bala.

Ele me observou desembrulhar. — Não essa bala de


novo. Agora eu sei que as coisas estão ruins.

Eu ri. — Acontece que encontrei alguém vendendo na


cidade esta manhã. Não é estranho? Não tinha visto isso há
anos. Não poderia deixar passar. — Coloquei na boca e
mastiguei.

— Os deuses do caramelo estavam vendo tudo desabar,


aparentemente. — Meu primo foi até a geladeira, pegou uma
cerveja e me entregou uma.

Engoli o resto do doce, tomei um longo gole da cerveja e


exalei. — Eu não quero machucar Darcie. Mas eu já a
machuquei, não é? Eu machuquei as duas.

— Sim. É assim que a vida faz às vezes. Merdas


acontecem. Coisas terríveis acontecem, — ele terminou em
um sussurro.
— Eu sei que isso não é nada comparado ao que você
passou, cara.

Ele puxou uma cadeira e olhou para o teto. — Sabe o


que eu daria por mais um dia com ela? Mais uma hora?
Eu me aproximei e coloquei minha mão em seu ombro.
— Sei.
— A razão de eu ter ajudado Felicity a partir é porque eu
pude sentir seu sofrimento, — disse ele. — Sei como é
precisar de alguém tão desesperadamente, mas ser incapaz de
tê-la. É verdade que são duas situações diferentes – maçãs e
laranjas, em certo sentido. Mas consigo imaginar agora como
seria em sua posição.
Meu peito estava apertado. — Ela estava bem?
— Sim, quero dizer, ela não estava chorando no
aeroporto ou algo assim. Ela é forte. Estava apenas tentando se
proteger de qualquer dano futuro.
Eu concordei. — Obrigado por estar lá para ela quando
eu não pude.
— Achei que devia a ela por todas as vezes em que fui
um completo idiota.

Eu ri. — Bem, isso provavelmente é verdade.


Sigmund se levantou e se aproximou para tirar algo do
bolso da jaqueta.

— Ela me deu isso para dar a você. — Ele estendeu o


anel do meu avô na corrente de ouro.
Isso me matou por ela ter sentido a necessidade de
devolvê-lo depois de todo esse tempo. Significava o
encerramento final de nossa história. O diamante brilhava
quando eu o peguei dele. — Ela disse por que ela devolveu?

— Não. Mas acho que é bastante óbvio, não é?


— Sim. — Olhei para o metal cintilante.

Fazia muito tempo desde que eu tive isso em minha


posse. Mas eu nunca esqueci o dia em que meu avô me deu
quando eu tinha dezesseis anos, incentivando-me a usá-lo
como um pilar de força quando eu precisasse. Nesse sentido,
era irônico recuperá-lo agora, quando provavelmente eu mais
precisava. Talvez Felicity soubesse disso. Ou talvez fosse
simplesmente um encerramento para ela, o último prego em
nosso caixão.
— Sabe com o que você sempre pode contar de alguém
como eu, que perdeu tudo? — Sigmund perguntou.

— O quê?
— A verdade. Eu não tenho mais porra para dar.

Eu olhei para cima. — Desembucha, primo.


— Nada mais importa, Leo. Você está apaixonado por
Felicity. Você está com medo de machucar Darcie, mas quer
saber? Você já está, porra. Você já fez isso – no momento em
que correu para Felicity, na primeira chance que teve. Acha
que Darcie não sabe? Acha que ela é estúpida? Mas está
disposta a aguentar porque te ama. — Ele balançou sua
cabeça. — Não pode deixá-la fazer isso.
Toda a minha vida eu havia tolerado os conselhos
francos de meu primo. Mas nunca importou mais do que este
momento. Ele colocou as coisas de uma maneira que eu não
tinha considerado – que Darcie queria que nosso casamento
funcionasse mal o suficiente para aguentar meu amor por
outra pessoa.
— Precisava ouvir isso, — eu disse a ele.
— Ótimo. É por isso que eu estou aqui.

Esfrego minhas têmporas, e digo: — Tenho muito em


que pensar.
— Não tenha pressa, Leo, mas não demore muito. Se há
uma coisa que eu sei, é que o tempo nunca está garantido.
CAPÍTULO 24

Felicity
Faixa 24: “I Have Nothing”, Whitney
Houston
— Espero que ela fique bem com isso, — eu disse,
segurando uma das estatuetas de coelho de cerâmica da Sra.
Angelini.
— Vamos, — disse Bailey. — O que você vai fazer com
uma centena dessas coisas?
— Eu sei. Mas Eu sinto que ela poderia querer que eu
ficasse com isso.
— Você não pode ficar com tudo, Felicity. Ela gostaria
que você tivesse espaço para tornar este lugar seu. Está
mantendo mais da metade das coisas dela como estão.

Decidi fazer uma venda de garagem para arrecadar


dinheiro para substituir o telhado da casa da Sra. Angelini.
Embora ela tenha me deixado algum dinheiro para ser usado
nesse tipo de coisa, não duraria para sempre. Os impostos
sobre a propriedade já eram ruins o suficiente. E comigo não
trabalhando agora, uma venda de garagem parecia uma ideia
razoável. Junto com itens menores à venda, havia algumas
antiguidades maiores.
Ela ergueu uma das minhas camisetas da Hello Kitty. —
Isso é seu, certo? Por que você está se livrando disso? Achei
que você amava essas camisetas.
Isso era verdade, mas a camisa que ela segurava era a
que eu trouxe da Inglaterra. Ela tinha que ir. Não era como se
eu não tivesse uma dúzia de outras. E no caso provável de não
haver compradores, eu doaria.
— Aquela me lembra de Leo, então estou colocando
fora, — eu disse a ela.
Bailey hesitou. — Você já ouviu falar dele?
— Não. Ele não ligou desde aquela vez.
Depois que eu tinha voltado aos Estados Unidos há três
meses, Leo tinha ligado para me dizer que entendia
perfeitamente porque eu tinha partido, e para ter certeza de que
não havia ressentimentos sobre minha decisão. Ele disse que
minha ida à Inglaterra o tinha feito perceber que havia muito
que resolver quando se tratava de seu casamento e de sua vida,
em geral. Ele havia perguntado se poderia me contatar
novamente. Ele disse que não podia viver sem saber como eu
estava indo, que precisava ter certeza de que eu estava bem.
Agora eu sentia que já tinha experimentado o pior do
que a vida tinha para me oferecer no que dizia respeito a Leo.
Eu tinha conhecido sua esposa, pelo amor de Deus. Não pensei
que pudesse fazer mais mal do que já tinha feito. Então, eu
tinha concordado que ele poderia me ligar de vez em quando.
Mas ele não tinha me contatado desde aquele dia, e eu
certamente não tinha garantia de que ouviria falar dele
novamente. Eu estava tentando o meu melhor para superar o
que tinha acontecido em agosto passado, mas não passou um
dia, que não pensasse nele. Ainda o amava tanto quanto antes.
Mesmo assim, um amor interrompido é um amor. Só esperava
que algum dia a dor e o desejo diminuíssem.
Nesse ínterim, estava fazendo o que sempre fazia:
enterrando meu rosto nos livros. Eu faria o exame da ordem de
Rhode Island em fevereiro, que seria daqui a apenas alguns
meses. Eu precisava ter certeza de que passaria para que eu
pudesse encontrar um emprego aqui e colocar minha vida nos
trilhos de uma vez por todas.

♥Ω♥

A venda de garagem rendeu-me pouco mais de três mil


dólares, o que era cerca de um quarto do custo da troca do
telhado, mas era melhor do que nada.
De qualquer maneira, estava frio demais para iniciar os
reparos. Com sorte, eu encontraria uma maneira de
economizar mais dinheiro quando programei o trabalho do
telhado para a primavera.
Minha vida ultimamente era solitária. Além de visitas
ocasionais a Bailey em Providence, eu passava meus dias
sozinha, estudando e lentamente consertando a casa. Minha
rotina matinal era o café da manhã, seguido pela leitura de
livros de Direito e por fazer perguntas a mim mesma. Depois,
fazia uma pausa para almoçar e tomar café antes de passar as
tardes fazendo as coisas da casa. Em seguida, fazia uma
jornada diária no mercado de produtos frescos antes de voltar
para casa e cozinhar algo para o jantar que me deixaria com
sobras para o almoço do dia seguinte. Depois, eu passaria o
resto da noite montando meus planejadores ou vendo alguma
coisa na TV. Repetir.
Novembro era sempre uma época linda na baía. Embora
estivesse muito frio para aproveitar a água, a última época do
outono estava em pleno andamento. As lindas folhas
alaranjadas, amarelas e vermelhas nas árvores ao redor da
propriedade e através de Narragansett eram deslumbrantes.

Ultimamente, eu vinha colocando um casaco pesado e


sentava nos fundos com meu café da tarde todos os dias. A luz
do sol ajudava a contrabalançar o ar que, de outra forma, era
muito forte. Eu levava meus binóculos para fora para admirar
a folhagem que atravessava a baía. As árvores ali eram ainda
mais coloridas do que as deste lado. E sim, é claro, cada vez
que meus olhos passavam por cima da velha casa de Leo, eu
pensava nele. Isso nunca mudou.

Esta tarde em particular de espiar as folhas, entretanto,


foi diferente de qualquer uma das outras. Enquanto levava o
binóculo aos olhos e admirava as árvores à distância, quase os
deixei cair ao ver alguém olhando para mim. No começo,
pensei que estava tendo alucinações.
Não pode ser.

Estou absolutamente vendo coisas.

Mas então, segurando seus próprios binóculos nos olhos,


ele acenou.
Desta vez, meu binóculo escorregou do meu alcance e
pousou na grama abaixo. Minha mão foi para o meu peito
enquanto eu tentava conter meu coração acelerado.

Corri para dentro de casa, liguei a pia e molhei o rosto


com água. Eu tinha que estar vendo coisas que não estavam
realmente lá.
Então meu telefone apitou. Eu olhei para a tela para
encontrar uma mensagem.

Leo: Para onde você foi? Volte.

Oh, meu Deus.


O. Que. Está. Acontecendo?

Com as mãos trêmulas, peguei o telefone e digitei.

Felicity: Eu pensei que estava tendo alucinações.

Leo: Sou eu, Felicity. Você não está vendo coisas.

Felicity: Eu sei disso agora. Só não entendo o que você


está fazendo aqui.

Leo: Tenho muito a explicar, não é?

Felicity: Uh, sim.


Leo: Posso atravessar a baía para ver você?

Minhas mãos continuaram temendo enquanto eu


digitava.

Felicity: OMG. O que você está fazendo aqui???


Leo: É melhor eu explicar pessoalmente, não acha?

Em vez de responder, apenas olhei para a tela. Os pontos


dançaram enquanto ele digitava.

Leo: Interpreto o seu silêncio como um sim?


Quando eu ainda não respondi, ele mandou outra.

Leo: Tudo bem se eu for até você agora?

Finalmente digitei uma resposta.

Felicity: Desculpe. Sim. Estou apenas em choque.


Leo: Estou indo.

Não tinha ideia do que fazer comigo mesma enquanto


esperava ele chegar. Peguei uma toalha e comecei a limpar a
mesa para me distrair meu nervosismo. Não havia nem mesmo
nada para limpar.

Quando a campainha tocou, minha pulsação disparou


ainda mais rápido.
Coloquei um pé na frente do outro e abri a porta para
encontrar meu amor que há muito perdi na minha frente. Meu
coração saltou.
Leo usava uma jaqueta preta e seu cabelo estava um
pouco mais longo do que da última vez que o vi. Ele cheirava
incrível, como sempre, e eu não podia acreditar que estava
parado na minha frente em carne e osso. Por que ele está
aqui? Nem me atrevi a me permitir ter esperança.

— Oh, meu Deus, você está tremendo, — disse,


apertando meus braços e enviando arrepios pelo meu corpo.

— Leo, o que você está fazendo aqui?

Ele me soltou e deu um sorriso hesitante. — Surpresa?

— Teria adorado um aviso.


— Nunca fomos bons nisso, não é? — Ele sorriu no
silêncio. — Você vai me convidar a entrar?

Balançando minha cabeça, eu me afastei. — Oh. Claro.


Seus olhos vagaram sobre mim. — Você está
absolutamente linda, Felicity.
Eu olhei para mim mesma. Ainda estava usando meu
casaco preto volumoso e jeans.
— Você não é tão difícil de agradar, então. Mas
obrigada. E você… — pressionei minhas mãos no meu
estômago. — Sinto que vou vomitar.

— Eu faço você querer vomitar. — Ele suspirou. —


Excelente.
— Sinto muito. Não é nada pessoal. É que… não posso
acreditar que você está aqui. Quando você chegou?

— Ontem.
— Você estava do outro lado da baía todo esse tempo?

— Sim. As mesmas pessoas que quando Sigmund e eu o


alugamos. Eles ainda alugam o imóvel nos verões, mas
normalmente está vazio nesta época do ano. Portanto, eu
reservei.
— Não posso acreditar que estava do outro lado noite
passada, e eu nem percebi.

— Estava cansado da viagem e precisava me preparar


antes de jogar isso em você. Então esperei. Mas eu encontrei
os binóculos antigos na casa, e decidi olhar e lá estava você.

— Quanto tempo você vai ficar? — perguntei, desejando


que meu coração desacelerasse.
Ele piscou várias vezes. — Depende.

Isso não estava nos levando a lugar nenhum. — Leo… o


que aconteceu na sua casa? Por que você está aqui?
Ele passou a mão pelo cabelo. — Eu só… fui embora,
Felicity. Deixei. E não tenho planos de voltar até que seja
legalmente necessário.
O quê?
— O que você quer dizer com foi embora? — Eu olhei
para sua mão. Ele não estava usando sua aliança de casamento.
— E quanto a Darcie?

— Darcie e eu estamos nos divorciando.


— Oh, meu Deus, — eu murmurei, olhando
momentaneamente para seus sapatos pretos, então de volta
para ele, meus olhos provavelmente refletindo o choque que
senti.
O primeiro pensamento que me ocorreu foi: O que eu
fiz?
— E antes de você ir lá, Felicity, não é sua culpa. Darcie
e eu nos casamos, e houve sinais de alerta muito antes de você
aparecer na minha porta. — Ele olhou em direção à sala de
estar. — Podemos sentar, por favor?
— Sim, claro.

Caminhamos juntos para a sala de estar. Assim que nos


sentamos, ele imediatamente começou a falar.
— Depois que você saiu, isso me forçou a abrir meus
olhos e dar uma boa olhada no que eu queria da vida. E às
vezes reconhecer isso significa magoar os outros, algo que
evito desde o dia em que nasci. Eu sabia que se decidisse
continuar casado, estaria vivendo uma mentira. — Ele fez uma
pausa. — Eu amo Darcie. Mas não estou apaixonado por ela.
O fato de que eu evitar começar uma família foi muito
revelador. No fundo, eu sabia que isso me ligaria a ela para
sempre, e é a razão pela qual eu nunca estaria pronto.
Uma imensa tristeza por ela se apoderou de mim. —
Onde está Darcie agora?
— Ela ainda mora na casa. Iniciamos o processo de
divórcio, mas demora um pouco para ser finalizado. Ainda sou
legalmente casado, mas não estamos mais juntos.

— Ela deve estar arrasada.


Um olhar triste cruzou seu rosto quando ele concordou.
— Ela aceitou. Isto não aconteceu da noite para o dia. Desde
que você partiu, houve muitas discussões acaloradas, muitas
lágrimas… muitas noites de insônia, enquanto nós resolvíamos
tudo. Mas agora ela está melhor com isso do que estava no
início. Eu sabia que ela lutaria pelo casamento, mas não
poderia permitir que ela lutasse por isso. Estou fazendo o que
é melhor para ela, deixando-a ir e dando-lhe a liberdade de
receber o tipo de amor que merece de outra pessoa.
Minha cabeça girou. — A respeito de todo o resto… seu
trabalho?

— Deixei as coisas em desordem, mas honestamente? O


negócio, as propriedades, ficarão bem. Nada vai desmoronar.
Tenho associados para ajudar com tudo isso. A única coisa que
não posso comprar é felicidade.
Balancei minha cabeça. — Sua mãe deve ter pirado.
Ele se encolheu. — Ela não está feliz. Mas é problema
dela. Não estou deixando que isso me afete. — Leo franziu a
testa. — Vovó faleceu algumas semanas depois que você foi
embora.

Oh, não. — Eu sinto muito. Sei o quão próximo você era


dela.
— Ela me deixou com alguns conselhos de mudança de
vida no final. Serei eternamente grato a ela por me ajudar a ver
a luz. Sigmund também.
Ele fez uma pausa e se inclinou para frente, parecendo
quase desesperado. — Você está com alguém, Felicity?
Fazia apenas alguns meses desde que deixei a Inglaterra.
A ideia de eu ter conhecido alguém nessa época em que fui
incapaz de me concentrar em qualquer coisa além de Leo era
ridícula.
— Não.

Ele exalou. — Eu sei que você está em choque por eu


estar aqui. E sei que tenho que ter cuidado. Não posso esperar
entrar em sua vida depois de tudo que fiz você passar. Eu
mesmo já passei por muita coisa. E realmente só… — olhou
nos meus olhos, com sua voz tensa. — Só preciso de um
fodido abraço agora.

De jeito nenhum eu negaria a este homem o abraço de


que ele precisava desesperadamente – aquele que eu precisava
também. Mudei-me para sentar ao seu lado e passei meus
braços em torno dele. Ele me trouxe para seu peito e me
segurou forte. Todo o medo dentro de mim desapareceu
enquanto eu derretia em seu corpo. Nossos corações batiam
forte um contra o outro. Este foi o momento mais surreal da
minha vida.
Quando ele se afastou, olhou nos meus olhos novamente.
— Estamos separados há muito mais tempo do que jamais
estivemos juntos, mas não tenho sido o mesmo desde que
conheci você. Não me importo como faremos isso funcionar…
apenas que tentemos.

— Por onde começamos?


— Que tal um jantar?

— Só se você não estiver cozinhando.


Seu rosto se iluminou. — Eu senti tanto a sua falta.
Leo me trouxe em seus braços novamente e me segurou
com ainda mais força do que antes. Esta sensação diferente de
qualquer outro momento. Até agora, eu não tinha percebido a
tensão que havia prejudicado todos os abraços anteriores.
Sempre tive medo de expirar. Sempre acreditei que o perderia.
Mas não estava tensa dessa vez. Eu me permiti sentir segura
em seus braços, sem me preocupar com o futuro – pela
primeira vez na vida.

♥Ω♥

Pouco depois, Leo voltou a atravessar a baía para me dar


algum tempo para me orientar antes do jantar. Combinamos
que eu iria por volta das oito da noite. Sozinha em casa, a
adrenalina continuou a correr através de mim, embora eu
devesse estar me acalmando. Eu me senti como se estivesse no
meio de um sonho.

Ele ainda era tecnicamente casado. Eu desejava ter uma


melhor compreensão das expectativas dele para esta noite, mas
imaginei que descobriria logo.

Quando chegou à noite, fui de carro até a casa de Leo.


Um sentimento de déjà vu me atingiu no momento em que
cheguei. Tudo neste momento parecia e sentia o mesmo de
cinco anos atrás, além do fato de que agora eu dirigia um SUV
em vez de meu velho Fiat.
Eu estava atordoada quando me aproximei da porta.
Antes que eu pudesse tocar a campainha, ele abriu.

Leo vestia uma camiseta preta ajustada que parecia ter


sido pintada em seu amplo peito. Ele usava água de colônia, e
seu cabelo estava úmido do chuveiro. Tenho certeza de que era
em parte o quanto eu sentia falta dele, mas nunca havia ficado
tão lindo.
— Venha saia do frio, linda.

Leo pegou meu casaco e pendurou no armário. Eu usava


um vestido de lã marrom que exibia minhas curvas.
Ele sorriu enquanto me observava. — Você está usando
um vestido.
— Diz isso como se fosse surpreendente. — Eu bati
meus cílios.

— Bem, posso contar em uma mão as vezes que te vi de


vestido, e esta seria a número três. O primeiro foi o vermelho
na noite em que comemos mariscos – a noite em que você me
devastou quando disse que não deveríamos mais nos ver.
Então havia o vestido preto que você usou quando apareceu na
Inglaterra. Suponho que foi o dia que eu devastei você.
— Puxa, provavelmente não deveria usar vestidos,
deveria? Eles dão azar.
Ele mostrou seus dentes lindos. — Venha. Eu tenho uma
surpresa.
Eu o segui até a cozinha. No balcão, ele colocou um
banquete de frutos do mar. Havia uma torre de coquetel de
camarão, ostras e lagosta.
— Você roubou um pescador?
— Sei que você adora frutos do mar. Mas não tinha
certeza do que gostaria, então pedi várias coisas.
— Este é o seu MO. Isso me lembra da vez em que você
foi ao Dunkin Donuts e voltou com todos aqueles doces.
— Veja? — ele disse. — Não sou o único que se lembra
dos detalhes de quando estávamos juntos.
— A maior parte está enraizada na minha memória.
— Sim, — disse ele. — Tenho lutado para segurar tudo
isso, não querendo que qualquer uma dessas memórias
desapareça.

Meus olhos voltaram para a comida. — Isso parece tão


surreal, Leo. Fico pensando que vou acordar e você vai
embora de novo.
— Parece surreal para mim também, mas de um jeito
bom. Sinto-me livre pela primeira vez na minha vida. E no
sétimo céu. Mesmo assim, estou tão hesitante em fazer
qualquer coisa que possa machucá-la ou presumir que você
está pronta para recomeçar de novo comigo tão facilmente,
dado tudo o que aconteceu na Inglaterra.

— É engraçado que você use as palavras para


recomeçar. Por alguma razão estranha, é assim que parece –
um primeiro encontro, — eu disse.
— De certa forma, é um novo começo.
— Você desistiu de muito para estar aqui.
— Minha aparição agora está longe de ser um conto de
fadas. Eu sei. Esta é a vida real, um pouco diferente do verão
turbulento que tivemos uma vez. Mas você sabe, eu prefiro ter
isso do que aquilo. Porque, naquela época, sempre houve a
sensação de pavor de ter que deixa-la. E isso agora acabou. Eu
tenho minha liberdade e estou determinado a viver minha
verdade – não deixar nada ou ninguém atrapalhar o que eu
quero na vida. Apesar de todo o dinheiro e poder que tenho em
casa, desde o momento em que te conheci, Felicity, não havia
nada que eu quisesse mais do que ser seu namorado. E nada
mudou isso. — Leo estendeu a mão para mim. — Você sabe o
que mais não mudou? — Ele pegou minha mão e a colocou
em seu peito. — A maneira como meu coração bate por você.
Eu sorri. — Se isso não é prova de como você se sente,
não sei o que é.
Leo levou minha mão à boca e beijou-a. Uma coisa tão
simples, mas eu queimei toda.

Ele me soltou. — Vamos comer enquanto a comida está


fresca, vamos?
Depois de prepararmos o jantar, levamos nossos pratos
para a sala de jantar e Leo serviu o vinho. Nós relembramos
um pouco, e Leo me atualizou sobre Sig. Ele disse que seu
primo se matricularia em um programa de MBA na primavera.
O plano de longo prazo era trabalhar para Leo e assumir
algumas das responsabilidades da propriedade Covington.
— Isso vai ser tão bom para ele. Vai dar a ele algo para
se concentrar pelo menos.
O telefone de Leo tocou alguns segundos depois.
Ele olhou para baixo. — Falando no diabo…
— Sig? — Eu ri.
— Sim.

— O que ele diz?


Ele revirou os olhos. — Não tenho certeza se você quer
saber.

— Oh, garoto. Mostre-me.


Leo relutantemente virou o telefone.
Sigmund: Você já está mergulhando no Mar Vermelho?
Minhas bochechas inflamaram quando suspirei. — É
estranho que me faça feliz sempre que ele age como antes?
— Está saindo um pouco mais. Estou orgulhoso dele por
se reerguer e voltar para a faculdade.
Eu concordei. Esta foi uma notícia tão boa.
Comi mais algumas mordidas no jantar delicioso. —
Então… você disse que Darcie ainda está morando na casa.
Onde você estava morando?

Ele tomou um gole de vinho e acenou com a cabeça,


como se se preparasse para o fato de que eu estava indo para
lá.
— No último mês, tenho ficado com Sigmund. Eu
poderia ter me mudado para outras propriedades, mas optei
por morar com meu primo.

— Darcie fica com a casa no divórcio?


— Estou dando a ela, embora nosso acordo pré-nupcial
não exija que eu o faça. Minha mãe acha que estou louco.
Todo mundo está me criticando por isso. Mas eu não dou a
mínima. Eu deixei para ela, não merece perder sua casa. É o
mínimo que posso fazer.
— Eu te respeito por isso.
Um olhar sério cruzou seu rosto. — Você? Respeita-me?
— Por que você dúvida?
— Eu sempre me perguntei se o fato de eu ter deixado
Darcie influenciaria como você me via como homem. Como
se talvez tivesse mais respeito por mim se eu honrasse meu
compromisso. Ou talvez você pense, se eu pudesse me casar
com alguém e deixá-la, eu poderia fazer o mesmo com você
um dia.
Balancei minha cabeça. — Eu não vejo nada assim, Leo.
O alívio aqueceu suas feições. — Ótimo.
O vinho zumbiu dentro de mim enquanto eu olhava em
seus olhos azuis, desejando cada vez mais que ele se
estendesse por cima da mesa e me beijasse.

— Quer sobremesa? — ele perguntou, largando o


guardanapo de pano sobre a mesa.
Por melhor que fosse a comida, meu estômago estava
cheio de borboletas. Eu poderia pensar pouco mais além do
que pode ou não acontecer entre nós esta noite.
Consegui sorrir. — Não. Na verdade, estou satisfeita.
Depois de levarmos nossos pratos para a cozinha, Leo
acendeu a lareira elétrica da sala de estar e nos sentamos
juntos no mesmo sofá onde adormecemos na primeira noite
em que dormi nesta casa.
Começamos uma conversa confortável. — Sentar aqui
me lembra do da noite que ficamos conversando, apenas para
sermos acordados por Sig pela manhã, — eu disse.
Leo apoiou o braço nas costas do sofá. — Lembro-me
muito bem daquela noite. Você me pediu para levá-la
virtualmente ao interior da Inglaterra, lembra? Mal você sabia
que sua visita real não seria a fantasia perfeita.
— Apesar de tudo, eu achei tudo lindo tão lindo quanto
imaginava. E vendo como se estivéssemos sentados aqui
juntos agora, eu diria que não foi uma viagem perdida.
Leo olhou nos meus olhos, mas continuou a não me
tocar. Tive a sensação de que ele poderia estar sobrecarregado
e talvez ainda sofrendo de jetlag. A coisa certa a fazer era dar-
lhe espaço e voltar para minha casa – embora eu não quisesse
ir embora.
— Eu poderia ficar acordada a noite toda falando com
você e relembrando, — eu disse. — Mas é tarde, e acho que
devo voltar. Você fez uma longa viagem e ainda deve estar
cansado. — Eu pulei do sofá, tentando me convencer de que
era isso que eu queria.

Ele se levantou de repente. — Tem certeza?


— Podemos tomar café da manhã em minha casa.
O peito de Leo subia e descia enquanto ele me levava até
a frente da casa.
Parado na porta, inclinei-me e dei um beijo casto em sua
bochecha. — Durma bem.
Mesmo quando meu corpo reagiu ao contato, virei-me
rapidamente para o meu carro. Leo deve ter pensado que eu
estava louca por sair correndo tão abruptamente.

Ele parou na frente da casa, parecendo


compreensivelmente confuso. Assim que abri a porta do carro,
percebi que deixei meu casaco para trás. Antes que eu pudesse
sequer considerar se deveria voltar para pegá-lo, Leo ergueu o
dedo indicador e voltou correndo.
Uns poucos segundos depois, ele voltou correndo para o
meu carro.
— Você esqueceu seu casaco, — ele disse, um pouco
sem fôlego.
Eu tentei pegá-lo, mas ele não o largou.
Nossos olhos se encontraram quando ele finalmente
entregou. — Por que você está realmente me deixando assim?
Eu me atrapalhei com uma resposta. — Eu não… queria
te deixar desconfortável presumindo que eu passaria a noite.
— Por que diabos isso me deixaria desconfortável?
— Eu não sei para o que você está pronto. Suas feridas
ainda estão frescas do fim de seu casamento. Eu não queria
presumir nada ou assustar você.

— Assustar-me?
— Porque é difícil para mim esconder o quanto eu quero
você. Sinto que está escrito no meu rosto.

Ele soltou um longo suspiro antes de acariciar meu


queixo. — Oh, minha linda garota. A única coisa que me
assusta é o quão desesperadamente eu quero fazer amor com
você. Mas tenho hesitado em beijá-la ou mesmo em tocá-la,
com medo de levar as coisas longe demais. Parece que ambos
estávamos sentindo o mesmo medo. Não estou oficialmente
divorciado ainda… então você pode achar que isso é
inapropriado. Eu também pensei que talvez precisasse
construir a sua confiança novamente primeiro. — Sua
respiração era visível no ar frio. — Não quero apenas você. Eu
preciso de você.
Alívio e desejo passam sobre mim. — Acha que eu não
confio em você? Você deixou seu mundo inteiro para trás para
vir aqui por mim.
— Não se engane… — Seus olhos perfuraram os meus.
— Meu mundo inteiro é você, Felicity. Sem você, eu não
tenho nada.
Eu fechei meus olhos. — Eu me sinto da mesma forma.
E para que conste, um tecnicismo legal não significa nada,
considerando tudo que você desistiu para ficar comigo.
— Comunicação, sabe? — Ele sorriu. — Deveríamos
tentar algum dia.
Dando de ombros, eu ri. — Somos melhores do que
éramos?
— Volte para dentro, — disse ele, pegando minha mão.
Seguindo-o de volta para a casa aconchegante e
convidativa, de alguma forma eu sabia que demoraria muito
até que passássemos uma noite separados novamente.
Quando a porta se fechou atrás de nós, Leo colocou as
mãos em volta do meu rosto e me beijou por minutos a fio,
acendendo meu corpo inteiro.
Quando finalmente me largou, ele passou o polegar por
cima do meu lábio inferior. — Essa boca… como eu senti falta
dela. — Ele deslizou as mãos pelo meu cabelo. — Este cabelo
lindo. Como eu senti falta de passar minhas mãos por ele. —
Seus lábios envolveram os meus novamente enquanto ele
falava. — Está linda mulher, sentir sua falta por tanto tempo
foi insuportável pra caralho. — Ele expirou. — Por favor,
deixe-me levá-la para o meu quarto agora.
Eu acenei, e ele me levantou. Nos beijamos o caminho
todo subindo as escadas, só quebrando tempo suficiente para
que ele me colocasse suavemente na cama. Peça por peça, nós
despimo-nos um ao outro. Maravilhei-me de como seu corpo
rígido ainda estava bem, o mesmo bronze, esculpido com
perfeição. Embora a necessidade dele se sentisse urgente, eu
me esforcei para abrandar, absorvendo cada segundo disto.
Ele ecoou meus pensamentos enquanto seu corpo nu
pairava sobre o meu. — Vou tentar facilitar para você, mas não
tenho certeza se posso. Sinto que estive esperando minha vida
toda para tê-la de novo.
Não queria interromper este momento incrível, mas eu
tinha que fazer. — Há algo que preciso lhe dizer.
Seus olhos se estreitaram. — Tudo bem.
— Não tomo mais pílula. Então, precisamos de algo.
Leo congelou. — Ah. — Ele coçou o queixo. — Sinto
muito. Eu não estava pensando direito e não vim preparado. —
Ele praguejou baixinho. — Nunca pensei que íamos acabar
assim.

— Também não tenho em casa.


Ele desabou sobre mim, sua voz vibrando contra meu
pescoço. — Estou fodidamente latejando por você. Farei
qualquer coisa para estar dentro de você esta noite – arrombar
uma casa, assaltar uma loja se não estiver aberta, dar meu
braço esquerdo… o colar do vovô, talvez. Custe o que custar,
eu voltarei com preservativos.
Ele saltou por cima da cama, seu lindo e duro pênis
balançando para cima e para baixo. Então virou-se para abrir a
gaveta da mesa lateral, permitindo-me uma vista gloriosa de
seu traseiro musculoso.
Leo se virou para mim com os olhos arregalados. —
Você nunca vai acreditar nisso.
— O quê?
— Você está brincando comigo? — Ele riu em sua mão.
— A caixa gigantesca de preservativos do BJ’s de Sigmund
ainda está aqui! Acabei de verificar esta gaveta em desespero.
Nunca esperei encontrar nada.
Eu sentei. — Oh, meu Deus.
Ele abriu. — Está meio vazia, então claramente as
pessoas têm usado ao longo dos anos. Mas ainda há algumas
sobrando.
— Quem diria que demoraria cinco anos para terminar
essa caixa. Qual é a data de validade?

Leo verificou a lateral da caixa. — Verão passado. Acho


que esses caras resistiram por cinco anos, como nós.
Eu ri. — Uau.
— Eles provavelmente ainda estão bem. A data passou
apenas alguns meses. Estou disposto a correr o risco se você
estiver.
— Estou.
Ele tirou um da tira e jogou na cama, jogando a caixa
sobre a mesa. — Eu colocaria a porra de filme plástico sobre
meu pau agora mesmo se eu precisasse.

— Felizmente, não chegará a esse ponto. — Eu estava


molhada e pronta e não me importava com o que ele colocava
sobre si mesmo neste momento, contanto como estrasse dentro
de mim.
Leo rasgou o pacote do preservativo e embainhou seu
pau duro como pedra. Observei quando ele apertou a ponta e
se acariciou, lento e áspero, olhando para mim. Isso,
combinado com o olhar de desejo em seus olhos, era tão sexy.
— Senti tanto a falta dessa linda boceta.
Essa foi a última coisa que ele disse antes de se abaixar,
abrir bem minhas pernas e penetrar em mim, fechando os
olhos até que estivesse completamente dentro. Nós dois
soltamos sons ininteligíveis de prazer.
O que começou lento logo se tornou uma corrida
frenética e desesperada para consumir um ao outro. Tínhamos
feito sexo em muitas posições diferentes, mas este –
missionário, com todo o peso de Leo em cima de mim, me
segurando enquanto me fodia – era a minha favorita. Não
havia palavras pela sensação de ter o homem que eu amava
dentro de mim novamente.
— Porra, isso é ainda melhor do que eu me lembrava, —
ele gemeu. — Diga-me se estou sendo muito rude.
Quando a cama tremeu, eu cavei em suas costas com
minhas unhas, segurando-o. Não estava nem perto de acabar,
mas quando suas bolas bateram na minha bunda, eu me senti
prestes a ter um orgasmo muito mais rápido do que esperava.
Ele analisou meus olhos para confirmar que eu
realmente estava perdendo o controle. — Sim?
Eu suspirei, — Sim.
— Posso sentir isso, porra, — ele disse, seus olhos
revirando quando ele começou a gozar, me batendo com mais
força até o meu orgasmo.
O calor de seu esperma através do preservativo era a
cereja do bolo enquanto meus músculos pulsavam ao redor
dele. Ninguém jamais poderia me fazer chegar ao clímax do
jeito que Leo fez.
Nós ofegamos um pelo outro, nenhum de nós querendo
deixar ir. Depois de vários minutos, Leo saiu para se desfazer
do preservativo antes de voltar para a cama.

Nós nos encaramos enquanto ele enlaçava seus dedos


com os meus. — Não só eu não quero que você me deixe esta
noite, eu não quero passar outra noite longe de você nunca
mais, se eu puder evitar.
— Isso pode ser arranjado.
— Tenho que dizer algo, — ele disse, sua expressão
ficando séria.
Meus olhos se arregalaram, mas consegui acenar com a
cabeça.
— Amo você, Felicity Dunleavy. Embora eu tenha
escrito para você e dito de tantas maneiras indiretas, nunca
disse isso na sua cara. E eu sinto muito por isso. Prometo
compensá-la.

Eu derreti em seus braços. — Apenas certifique-se de


que cozinhar não esteja envolvido nesse plano.
Seus ombros tremeram enquanto ele ria. — Não vai
estar.
— Eu também te amo, Leo. Muito. — Coloquei minha
mão ao lado de seu rosto. — Perder você doeu tanto. Mas
reencontrá-lo fez tudo valer a pena.
— Ouça… — Ele pressionou sua testa na minha. —
Você nunca me perdeu de verdade, nem por um único
momento doloroso.
CAPÍTULO 25

Leo
Faixa 25: “Yellow”, Coldplay
Os últimos meses aqui em Narragansett com Felicity
foram os mais próximos de uma vida normal que eu já tive.
Depois de uma semana na casa alugada, mudei-me para
a casa dela. Passamos todos os minutos do dia juntos,
recuperando o tempo perdido, além das horas em que ela
precisava estudar. Sempre que ela estava ocupada, havia muito
para eu fazer entre os consertos da casa e cuidar do vasto
terreno, que agora – no auge do inverno – exigia a remoção da
neve quase todos os dias.
Mantive contato com meus subordinados na Inglaterra
para garantir que nossas propriedades tivessem tudo o que
precisavam. Foi incrível, realmente, o que pude fazer
remotamente. A única grande complicação foi que minha mãe
ainda não falava comigo. Eu sabia que ela acabaria por mudar
de ideia, então eu não estava preocupado. Se por algum
motivo não o fizesse, a perda seria dela.

Felizmente, meu advogado em casa conseguiu agilizar o


divórcio, que acabara de ser finalizado. Isso acelerou o
processo quando eu não contestei nada que Darcie pediu
financeiramente. Nunca acreditei que ela se casou comigo por
minha riqueza ou título, mas Darcie sentiu que ela merecia
algo substancial pela dor que eu a fiz passar. Não discordo.
Felizmente, como resultado, ela e eu estávamos nos dando tão
bem como provavelmente nunca estaríamos. Embora
provavelmente nunca me perdoasse, ela havia chegado a um
acordo com o fim de nossa união. Parecia estar ansiosa pelo
futuro e um novo começo. Até ouvi rumores de que ela
começou a namorar. Eu só esperava que ela fosse cuidadosa.
Não haveria falta de homens procurando capitalizar em sua
herança recém-adquirida.
Ainda que meus dias em Narragansett até o momento
tivessem sido abençoados, estava sempre à espreita o fato de
que eventualmente eu teria que voltar à Inglaterra, pelo menos
em meio período. Não podia ficar longe para sempre. Mas a
visão de como seria isso ainda era difusa. Felicity e eu não
tínhamos realmente apressado a logística do nosso futuro. Era
uma conversa que eu vinha adiando há muito tempo.
Uma tarde depois que ela chegou das compras no
supermercado, eu não pude esperar mais.
Encontrei-a na cozinha. — Precisamos conversar, amor.

Felicity examinou meu rosto. — Não sei se gosto do seu


tom. Está tudo bem?
— Sim, claro. Só quero falar sobre nossos planos para os
próximos meses. A cada dia, não tenho querido olhar além de
amanhã, mas acho que chegou a hora de discutirmos isso.
Ela colocou os itens na despensa. — Estou feliz que
você tocou no assunto. Não queria colocar um freio nas coisas
também, porque temos nos divertido muito vivendo em
negação.

— Você sabe que eu sempre quis preservá-la do estresse


de estar aos olhos do público. O drama do meu divórcio com
Darcie diminuiu um pouco, mas no momento em que eu
aparecer em Westfordshire com outra mulher no meu braço, a
merda vai bater no ventilador. Foi um milagre que ninguém
tenha vazado nada para os jornais de fofoca quando você
esteve lá. Nós nos esquivamos de uma bala.

— Você está sentindo que é hora de voltar para


Inglaterra?

— Ainda não. Definitivamente não estou pronto. E


quando estiver, será em regime de meio período. Mas quando
você voltar comigo, o que espero que volte, será como entrar
no fogo, pelo menos por um tempo. Você está bem com isso?

Ela respirou fundo. — Eu fugi de você uma vez com


medo do que as pessoas iriam pensar. Não farei isso de novo.
— Felicity pegou minhas duas mãos nas dela. — Estar
separada não é uma opção. Eu vou atravessar aquele fogo.
Inferno, vou dançar com os dois dedos do meio para cima.
Farei o que for preciso, porque não vou deixar ninguém tirar
isso de nós de novo.
Não havia nada mais sexy do que ouvir uma mulher
dizer que ela atravessaria o fogo por você.
Eu a beijei com tanta força. — Obrigada, minha linda.
Não vou deixar você desistir de seus sonhos por mim. Viajarei
de um lado para o outro, se for preciso. Não espero que você
more lá em tempo integral. Mas em um mundo ideal, você e
eu passaríamos um tempo em ambos os lugares – Narragansett
e Westfordshire – mesmo que não seja imediatamente.

— Meus objetivos na vida não são o que costumavam


ser, — disse ela. — Eu ainda vou advogar. Mas vai ter que ser
nos meus próprios termos, porque eu não vou aceitar um
emprego que vai me exigir viver longe de você por um longo
período de tempo. Estive lá e fiz isso. A carreira é importante
para mim, mas não tão importante quanto a família. — Ela fez
uma pausa. — Você é minha família, Leo.

Não havia nada mais que eu sempre quis ser. Por


semanas, fiquei preocupado com essa conversa, preocupado
que ela pudesse se sentir ameaçada por minha mãe ou com a
perspectiva de voltar para o Reino Unido comigo. Mas eu
deveria conhece-la melhor. Eu deveria saber que minha garota
era dura como aço. Isso foi algo que sempre amei nela.

♥Ω♥

Uma semana depois, Felicity chegou em casa e me


encontrou em um lugar aparentemente precário – a cozinha.

— O que está acontecendo, Leo?

— Não se assuste, — eu disse enquanto cortava um


pouco de limão. — Mas estou cozinhando.

Ela riu. — O inferno congelou?

— Estou determinado a aprender para que você não


tenha que preparar todas as refeições. Você tem estado mais
ocupada do que nunca estudando, e com o exame da ordem
chegando, quero aliviar um pouco o fardo. Comemos comida
para viagem todas as noites.

Felicity ainda parecia cética quando olhou para o laptop


no balcão. — Ok, então me diga o que você está fazendo aqui.
— Lembra como eu costumava assistir aqueles tutoriais
de pintura de Bob Ross?

— Sim…

— Bem, esta é minha nova amiga, Micheline, no


YouTube. Ela está me ensinando a cozinhar mariscos no vapor.
Vamos comer macarrão e mariscos esta noite com molho de
manteiga de limão. Achei que água quente e mariscos parecia
fácil.

— Você disse a Sig que está cozinhando para mim?

— Sim. Ele sugeriu que você tenha o 911 em prontidão.


Ela deu uma risadinha. — Bem, eu não sei o que fazer
agora. Estava preparada para passar a próxima hora
cozinhando o jantar.
Eu abaixei minha faca. — Tenho uma ideia. Por que
você não vai tomar um banho em vez disso, amor?

— Parece um plano incrível.


— Deixe-me mostrar o banheiro.

Ela estreitou os olhos desconfiada enquanto subíamos as


escadas.

Quando chegamos, ela ficou boquiaberta. — O que você


fez?

— Hoje é o aniversário de três meses do dia em que


voltei para você.
— É? Eu não percebi.

— Sim. Tenho acompanhado.


Ela deu uma olhada mais de perto nas flores amarelas e
velas espalhadas pelo banheiro. — São aquelas…

— Peeping Toms. Sim. Assim como minha linda.

Ela cobriu a boca. — Não posso acreditar que você…

— Achei que eram mais adequados do que rosas.


Felicity pegou uma e cheirou. — Isso é incrível.

— Você trabalhou tanto ultimamente. Eu só quero que


você tenha uma boa noite. Relaxe e eu chamo quando o jantar
estiver pronto.

— Obrigada, Leo.

A expressão de alegria em seu rosto me deixou muito


feliz.
De volta ao andar de baixo, eu tenho que trabalhar
seguindo meu vídeo tutorial. Primeiro, tive que deixar de
molho os mariscos para retirar a areia e a água salgada de suas
conchas. Depois derreti a manteiga e joguei o alho e as ervas
antes de acrescentar vinho e suco de limão. Depois de tudo
cozinhar, acrescentei os mariscos e o restante da manteiga.
Cobri a panela e os deixei vaporizar com o molho aromático.
Depois de ligar um temporizador, comecei a trabalhar em um
acompanhamento especial só para Felicity. Eu disse a ela para
não descer até eu enviar uma mensagem.
Quando tudo estava pronto, coloquei a frigideira de
mariscos sobre a mesa, junto com um prato de linguini cozido
al dente. Pelo menos, eu esperava que não estivesse mal
cozido. Ao olhar para o meu trabalho, imaginei se o inferno
congelaria depois de tudo, pois creio ter conseguido não
estragar este jantar. Afinal, tudo o que eu precisava eram
instruções passo-a-passo.
Quando finalmente a chamei, Felicity emergiu adorável
em uma de suas camisetas Hello Kitty sobre leggings. Seu
cabelo longo e vermelho estava úmido, e havia algumas
manchas molhadas na frente da camiseta, o que me permitiu
dar uma olhada nos seus mamilos através do material.

Ela cheirou o ar. — Podia praticamente sentir o gosto do


alho lá em cima. Tudo cheira tão bem.
— Estou feliz que você pense assim. Este é o meu jantar,
— eu provoquei. — Fiz para você um prato especial. — Eu
gesticulei para seu assento. — Sente-se.
Quando ela apertou os olhos em confusão, meu coração
disparou. Levantei a tampa de metal do prato especial que eu
havia preparado e coloquei na frente dela.
Ela caiu na gargalhada. Enquanto eu cozinhava um
banquete de mariscos e linguini, supostamente só para mim, o
prato de Felicity continha SpaghettiOs com um único marisco
no centro. Claro, foi decorado com manjericão.

— Ora, obrigada. Isso é meu?


— Imaginei você gostaria mais desse, não é?

— Bem, talvez se você tivesse queimado o jantar. Mas


isso não era necessário.
— Ok, vou poupá-la. Você não tem que comer os
SpaghettiOs. Mas experimente os mariscos por cima. E me
diga o que acha.
Felicity abriu a concha e esperei pelo momento da
realização. No segundo em que seus olhos se arregalaram, o
anel de diamante amarelo de dois quilates que eu coloquei
dentro a casca caiu no meio do SpaghettiOs.
Sua boca estava aberta enquanto ela olhava para o prato.
Essa foi a minha deixa para ir para o seu lado da mesa e ficar
de joelhos. Estendi a mão e peguei o anel, limpando o molho
primeiro.
Aqui vai. — Felicity, você me disse que iria atravessar o
fogo por mim. Quero que saiba que também não há nada que
eu não faria por você. Eu te amo mais do que tudo neste
mundo. Costumava pensar que nasci para perpetuar meu nome
de família. Mas nunca foi verdade. Agora eu sei que nasci para
ser seu marido. E o único herdeiro que eu quero é aquele que
vier de você. Você é a única mulher com quem eu quero
compartilhar essa experiência. Uma vez me contou que todos
os que já foram importantes em sua vida a deixaram. Esses
dias terminaram. Você sempre me terá. Eu quero viver o resto
de minha vida com você. Não importa onde estamos ou se eu
tenha um pouco de roupa nas costas – o que é irônico
considerando como você me conheceu. — Eu pisquei. — De
qualquer forma, o que quero dizer é que não preciso de nada
além de você.

Limpei uma lágrima de seu olho. — Felicity Dunleavy,


você é o amor da minha vida. Você me daria a honra de ser
minha esposa?

Os olhos da minha linda ruiva ainda estavam cheios de


lágrimas enquanto ela balançava a cabeça, aparentemente
incapaz de falar. Ela passou os braços em volta de mim
enquanto eu a apertava com força.

Sua voz tremia enquanto ela se afastava para me olhar


nos olhos. — Sim. Claro, eu serei sua esposa! Eu te amo
muito, Leo.
Coloquei o anel em seu dedo e a levantei de sua cadeira,
em meus braços.
Depois de beijos intermináveis e muitas lágrimas,
finalmente nos sentamos novamente. Os mariscos estavam um
pouco frios agora, mas não importava. Nada importava além
do fato de que eu amava essa mulher, e ela seria legalmente
minha para sempre.

Meu telefone tocou no meio do nosso jantar de


comemoração. Eu não iria atender, mas vi que era Sigmund.
Imediatamente coloquei-o no viva-voz.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, sua voz soou.


— Então… como foi?

— Ela disse sim! — Eu proclamei com um grande


sorriso.
— Oi, Sig! — Felicity sorriu de orelha a orelha.

— Isso é brilhante, — disse ele. — Mas eu estava me


referindo se ela sobreviveu ou não aos seus pratos.
Todos nós rimos muito disso.

Depois do jantar, tive mais uma surpresa para minha


garota.
— Vista seu casaco, nós vamos para os fundos.
— Sério? Está tão frio.
— Não se preocupe. Eu cuido disso.

Contratei alguns caras locais para montar ao ar livre


aquecedores e uma fogueira em nosso quintal enquanto
jantávamos.

Depois de colocarmos nossos casacos de parka pretos,


saímos.
Ela imediatamente percebeu as chamas. — Quando você
fez tudo isso?
— Eu tive alguma ajuda.

Em uma mesa ao lado das duas cadeiras Adirondack


havia uma garrafa de Fireball e dois pequenos copos.
— Em homenagem à Sra. Angelini, vamos desfrutar de
um pouco de Fireball hoje à noite. Sei que ela iria adorar estar
aqui e comemorar conosco.
Os olhos de Felicity brilharam com lágrimas. — Não
achei que fosse chorar outra vez esta noite, mas você
conseguiu.
Eu a puxei para um beijo. Depois que eu servi um copo
de Fireball para cada um de nós, brindamos à Sra. Angelini no
céu e batemos os copos, bebendo o licor.
Através do fogo, apontei para a casa do outro lado da
baía. — Eu prefiro estar deste lado da água com você. Mas
sempre serei grato por essa casa. Se eu não tivesse escolhido,
nunca teríamos nos conhecidos.
Ela saltou quando o primeiro conjunto de fogos de
artifício explodiu no ar noturno.
— Você está cheio de surpresas hoje!

— Achei que seria um final adequado para a nossa noite,


— expliquei. — Fogos de artifício são exatamente o que eu
senti desde o momento em que coloquei olhos em você.
— Isso é incrível, — disse ela, olhando para o céu
maravilhada. Felicity moveu sua cadeira para mais perto da
minha e encostou a cabeça no meu peito enquanto
observávamos o resto da exibição espetacular.

Talvez a única coisa menos do que perfeita era que os


aquecedores simplesmente não estavam dando conta. Estava
muito frio lá fora.

Quando os fogos de artifício finalmente acabaram,


Felicity montou em mim e cobriu meu rosto com beijos.
Quando seus lábios pousaram nos meus, eu ainda podia sentir
o gosto da canela do licor em sua língua.
Seus dentes batiam quando ela anunciou: — Esta noite
foi um sonho. Muito obrigada por tudo. Mas…

— Mas?
— Podemos entrar e fazer sexo agora? — Ela riu. —
Estou congelando minhas bolas!
EPÍLOGO

Leo
Faixa Final: “All You Need Is Love”, Beatles
QUATRO ANOS DEPOIS
Westfordshire, Inglaterra

— Faça como o papai. — Mergulhei meu pincel na tinta


amarela e demonstrei como desenhar o sol.
Estava um dia lindo, ensolarado no campo, e eu tinha
montado dois cavaletes nos fundos de nossa propriedade,
decidindo dar hoje uma lição de pintura a nossa filha de três
anos.
Infelizmente, ao invés de seguir meu exemplo, Eloise
mergulhou toda a mão na tinta antes de bater com ela contra o
papel.

— Isso é incrível, querida. — Eu ri.


Ela riu e mostrou seus adoráveis dentes de bebê, seus
cachos ruivos soprando na brisa.
— Gostaria de saber que horas a mamãe vai voltar. Deve
ser em breve agora, —disse enquanto preenchia meu sol com
mais tinta amarela.
Sigmund apareceu do nada, interrompendo nossa aula de
pintura. Eu o convidei para um bolo de aniversário.
Ele sorriu para a bagunça que minha filha estava
fazendo. — Lady Eloise, seu talento para pintar é tão
magnífico quanto o de seu pai.
Sigmund a ergueu, parecendo não se importar que ela
sujasse a camisa dele – apenas mais uma prova de quanto ele
havia mudado ao longo dos anos.
Ele fechou os olhos enquanto ela enxugava um pouco
em seu rosto. — Você é adorável, Eloise. Sabe disso?
— Milagrosamente, ela não se parece em nada com Ed
Sheeran, não é? — Eu provoquei.
— Não. Ela se parece com você com uma pequena
camada de sardas e o cabelo de Ginger. Vocês dois finalmente
se transformaram um no outro. Parabéns.
Eu ri. — Como estão as coisas no projeto Bettencourt?

— Iniciamos a construção na quarta-feira.


— Ótimo, — eu disse, largando o pincel.

Depois de obter seu MBA há dois anos, Sigmund agora


administrava uma boa parte de minhas propriedades, o que me
permitia mais tempo para ficar com minha família.

— Você tem planos para o fim de semana? — perguntei


a ele.
Ele deu um último beijo na bochecha de Eloise antes de
colocá-la na grama. — Não. Por que?
Eu hesitei. — Você sabe que Felicity está trabalhando
meio período ensinando direito americano na universidade?

Suas sobrancelhas se juntaram em suspeita. — Sim…

— Ela disse que uma de suas colegas é realmente


atraente e solteira, com uma personalidade agradável. Ela quer
convidá-la para jantar.
Ele olhou para mim. — Não.

— Ok, mas me escute…


— Não.

— Tudo bem. Tudo bem. Não posso dizer que eu não


tentei. — Suspirei. — E vou continuar tentando.

— Oh, eu sei que você vai.


Sigmund teve alguns casos de uma noite ao longo dos
anos desde a perda de Britney. Mas ele não tinha namorado ou
conhecido ninguém com quem se relacionou. Tudo tinha que
acontecer em seu próprio tempo, eu suponho.
Ansioso para mudar de assunto, ele apontou ao longe
para onde Felicity estava se aproximando em um dos cavalos
enquanto ela voltava de seu passeio matinal. — Ginger parece
estar curtindo a vida na fazenda.

Era difícil acreditar que já morávamos na Inglaterra em


tempo integral há um ano.
Nossa filha, Eloise Leonora Covington, nasceu há três
anos, na verdade. Nós nos mudamos para Brighton House no
segundo aniversário dela.
Pouco depois de Felicity e eu ficarmos noivos, quatro
anos atrás, ela descobriu que estava grávida. Felizmente, foi
apenas depois que ela passou no exame da ordem. Ela estava
mudando para um novo tipo de controle de natalidade, e não
tínhamos sido cuidadosos o suficiente. Mas, honestamente, foi
a melhor notícia que eu poderia ter recebido. Nós nos casamos
logo em seguida, em uma pequena cerimônia na baía de
Narragansett. Sigmund voou para os Estados Unidos para ser
meu padrinho, e Felicity tinha sua melhor amiga, Bailey, ao
seu lado. Comemoramos depois com um assado de mariscos
na baía e fogos de artifício. Foi a perfeição – fechando o
círculo.

Decidi assumir o controle da situação com a imprensa


local em Westfordshire, fechando um acordo com um jornal
para imprimir uma foto do nosso casamento em Rhode Island
para anunciar que eu havia me casado novamente. Doei todo o
dinheiro daquele artigo para a Sra. Barbosa e seus filhos
adotivos. Depois que a história foi para a imprensa, eu não me
incomodei em monitorar a situação online. Acabei de deixar
todos escavando enquanto eu fiquei na América. Não me
importava mais com o que alguém dizia ou pensava de mim.
Minha mãe ainda não estava falando comigo naquela época,
então ela viu as fotos no jornal junto com todo mundo. A única
pessoa que contatei com um aviso foi Darcie. Ela merecia pelo
menos isso e apreciou o aviso.

Um pouco depois de Felicity e eu nos casarmos, ela


arrumou um emprego de meio período como consultora
jurídica para o Departamento de Serviços Humanos de Rhode
Island. Finalmente estava fazendo o que sempre quis: defender
crianças. Ela continuou trabalhando lá até que nos
mudássemos e prometeu procurar uma maneira de continuar
esse trabalho assim que nos instalássemos no Reino Unido.
A primeira vez que ouvi falar da minha mãe foi logo
depois de Eloise nascer. Ela perguntou se eu gostaria de ir para
uma visita com Felicity e a bebê. Então foi isso que fizemos
quando nossa filha fez seis meses.
Minha mãe fez o melhor que pôde. Ela foi cordial com
Felicity e tentou fingir que nunca nos separamos para estar na
vida de sua neta. Eloise foi a virada do jogo. As coisas não
eram perfeitas com a mamãe até hoje, mas estavam melhores
do que antes.

Quando nos mudamos para cá no ano passado, Felicity


decidiu manter a casa em Narragansett e agora a estava
alugando para uma família. Sabíamos que, à medida que
Eloise se aproximava da idade escolar, teríamos de escolher
um local e concordamos que a Inglaterra fazia mais sentido. O
momento tinha sido certo, já que tia Mildred decidiu se mudar
para a França na mesma época, deixando sua bela casa de
fazenda vazia. Eu comprei dela. Cercada por animais, que
incluía o amado Shetland de Felicity, Ludicrous, Brighton
House era o lar permanente perfeito para nós.

Felicity parecia realmente feliz aqui, nunca querendo se


aventurar muito longe da fazenda, além de seu trabalho como
professora ou como voluntária em um lar adotivo em Londres.

Depois de seu passeio matinal ao redor do terreno,


minha esposa desceu do garanhão preto. — Sua mãe estará
aqui em breve. Ela está vindo para o bolo de aniversário de
Eloise.

— Rápido, esconda a tinta, Eloise! Não queremos que


sua vovó tenha um ataque cardíaco, — brincou Sigmund.

— Ela está realmente mais relaxada, felizmente, — eu


disse.

Felicity entrou para tomar banho e eu mandei limpar


Eloise para a pequena festa de aniversário em família.
Estávamos planejando uma festa para as crianças no final da
semana.

Como minha esposa nunca quis uma equipe enorme,


tínhamos uma governanta em meio período, Mary, que agora
estava montando balões na sala de jantar.

Era quase meio-dia quando Sigmund correu com uma


cerveja na sala de estar para assistir ao jogo de futebol. A
campainha tocou, e eu fui atender enquanto Eloise brincava no
chão ao lado dos pés de Sigmund.

Minha mãe ficou de pé na porta, segurando uma caixa


gigantesca, embrulhada.

— Olá, mãe. — Eu a beijei nas duas bochechas.

— Olá, meu querido. Mostre-me para a aniversariante.

Depois que mamãe se juntou a Eloise e Sigmund na sala


de estar, percebi meu lindo anjo descendo as escadas. Felicity
estava divina em um vestido branco simples com cintura
império. Ela e eu tínhamos um anúncio a fazer na festa. Sim
ela estava grávida, de novo, e isso era parte do anúncio, mas a
outra parte me deixou igualmente nervoso e animado.
Eu a puxei de lado. — Você está tão linda agora.

— Estou? Eu não sinto isso.

— Confie em mim, — eu disse enquanto colocava um


beijo suave em seus lábios. — Eu juro que você fica ainda
mais sexy quando está grávida.
Felicity corou. O fato de que eu ainda tinha esse efeito
sobre ela me agradava infinitamente.
Ela foi para a sala de estar e cumprimentou minha mãe
com um beijo formal padrão em cada bochecha.
Minha mãe ainda era bastante próxima de minha ex-
mulher, o que eu sabia que deixava Felicity um pouco
desconfortável – não porque ela tivesse algo contra Darcie,
mas porque a relação de minha mãe com minha ex era mais
forte do que com ela. Tecnicamente, de acordo com as regras
dos pares, tanto Darcie como Felicity tinham o título de
Duquesa de Westfordshire, embora Felicity ainda não
conseguisse se acostumar a ele. Ela sorria desajeitadamente
com uma pitada de desgosto sempre que alguém a chamasse
de “Vossa Graça”. Mas ela lidava com isso com graça, em
todo caso.

Quanto a Darcie, ela havia se reconectado recentemente


com seu ex-amante, Gabriel Davies, que agora estava
divorciado. Ele confessou que sempre se arrependeu de
terminar as coisas com ela e queria uma segunda chance. Dado
que ela ainda tinha sentimentos por ele quando nos
encontramos pela primeira vez, pode-se dizer que tudo acabou
do jeito que deveria.

Depois do almoço, fomos todos para a sala de jantar e


nos reunimos em torno de Eloise enquanto ela soprava as velas
de seu bolo Hello Kitty. (Sua mãe teve uma pequena influência
nessa escolha.) Minha filha gritou de alegria e bateu palmas
conosco enquanto a aplaudíamos. Ela adorava atenção. Nesse
sentido, ela não era nada parecida com sua mãe.

Depois que a hora do bolo acabou, olhei para Felicity, e


ela acenou com a cabeça, dando-me sinal verde.
Limpando a garganta, eu disse: — Então, temos algumas
novidades. — Eu peguei a mão dela.
Minha mãe colocou sua xícara de chá na mesa. — Oh?

Respirei fundo. — Vamos ter outro bebê.


A boca de mamãe caiu e eu sabia o que ela estava
pensando: Por favor, Deus, que seja um menino.

Antes que ela pudesse ter muitas esperanças, eu


anunciei: — E é uma menina.

Fiz uma pausa para permitir a minha mãe um segundo.


Durante tanto tempo, toda a minha existência consistiu em
produzir um herdeiro homem para continuar com o nome
Covington. Cheguei a um acordo com o fato de que isso nunca
poderia acontecer. Não importava para mim, embora eu
soubesse que importava para meu pai. Tentei seguir o conselho
que vovó me deu – que onde quer que meu pai estivesse agora,
ele via as coisas de uma perspectiva diferente e entendia o que
realmente importava. Manter o nome da família por vaidade,
em última análise, não era o propósito da vida.

— Você já descobriu? — minha mãe perguntou.


— Sim, — disse Felicity. — Fizemos um ultrassom. Na
verdade, estou com cerca de quatro meses, mas queríamos
esperar até termos certeza de que tudo parecia bem antes de
anunciarmos.
Sigmund deu a volta para o nosso lado da mesa e
ofereceu um abraço a cada um de nós. — Parabéns pessoal.
Quando ele voltou ao seu lugar, Felicity e eu mais uma
vez olhamos um para o outro.
— Eu direi a ele, — ela sussurrou. — Estávamos
pensando em chamá-la de Britney. — Ela fez uma pausa. —
Se estiver tudo bem para você, Sig. Não queremos incomodá-
lo de forma alguma. Só queremos homenageá-la se isso lhe
trouxer alegria e não tristeza.
Meu primo ficou sem palavras. Então seus olhos
começaram a brilhar. Ele se levantou da cadeira. — Um
momento, por favor.
A única vez que o vi chorar foi logo depois que sua
esposa morreu. Mas suspeitei que ele estava fazendo
exatamente isso agora no banheiro.
Felicity parecia um pouco em pânico. E, honestamente,
me perguntei se havíamos cometido um erro.
Até a minha mãe fria como uma pedra parecia que
estava prestes a chorar.

Eu sabia que o tempo não tinha realmente curado suas


feridas. Eu me perguntei se ele seria capaz de dar seu coração
a mais alguém nesta vida. Talvez isso não importasse. Talvez
tenhamos apenas um grande amor. Sabia que se algo
acontecesse com Felicity, eu nunca poderia amar outra pessoa
da mesma maneira, e ninguém jamais iria substituí-la. Por que
com Sigmund seria diferente?
Isso me lembrou de algo que eu disse uma vez a Felicity,
quando nos conhecemos: “uma conexão entre duas pessoas
não é menos valiosa se interrompida pelas circunstâncias”.
Talvez Sigmund e Britney tenham sido o maior exemplo disso.
Meu primo finalmente emergiu e, embora seus olhos
estivessem um pouco vermelhos, não havia uma lágrima à
vista.
Ele sorriu. — Obrigado por querer dar o nome dela a sua
filha. Apesar do que minha atitude de praticamente perdê-la
pode implicar, não há nada no mundo que me faça mais feliz.
Felicity colocou a mão no braço dele. — Tem certeza?

— Absolutamente. Mal posso esperar para contar aos


pais dela. — Ele sorriu. — E se os médicos estiverem errados
e vocês tiverem um filho, espero que o chame de Sigmund.

Todos caíram na gargalhada.


Se o nome Covington terminasse comigo, que fosse. Eu
morreria um homem feliz, cercado pelos meus lindos anjos
ruivos. Ou talvez minhas filhas fossem contrárias à guarda e se
recusassem a mudar seus nomes, permanecendo com ele afinal
de contas.

Tanta coisa havia mudado nos últimos nove anos desde


que Felicity Dunleavy veio tomar chá pela primeira vez.
Minha vida não tinha acabado como eu havia imaginado, e
isso foi uma coisa muito boa. Claro, eu tinha cometido erros.
Pessoas foram feridas ao longo do caminho, eu também. Mas
em meio à dor de um coração partido, separação e tristeza, eu
aprendi em primeira mão o que vovó me contou sobre o amor
antes de morrer.
O propósito da vida é amar com todo o seu coração e
alma. Não importa quando chegasse o fim dos meus dias, eu
poderia dizer que fiz exatamente isso. Minhas filhas saberiam
que seu pai as amava. E esse seria o meu legado.
Fim
Notas

[←1]
Peep Show - um filme ou programa erótico ou pornográfico visto de
uma cabine que funciona com moedas.
[←2]
Shower Guy – Garoto do Chuveiro.
[←3]
Memorial Day – Nos Estados Unidos, é um dia em que são lembrados os
que morreram no serviço militar ativo, tradicionalmente celebrado em
30 de maio, mas agora oficialmente celebrado na última segunda-feira
de maio.
[←4]
Narcissus Peeping Tom - Narciso espiando Tom.
[←5]
Freckles – Sardas.
[←6]
Tapenade - Tapenade um prato típico originário da França na região do
mediterrâneo de Provença, um patê simples e fácil de preparar.
Composto por uma mistura de azeitona, com alcaparra, anchova, tudo
picado em pequenos pedaços ou mesmo macerado e misturado com
azeite de oliva.
[←7]
A cadeira Adirondack é uma espreguiçadeira ao ar livre com apoios de
braços largos, costas altas em ripas e um assento mais alto na frente do
que nas costas.
[←8]
Universidade Drexel é uma instituição de ensino superior privada
localizada em Filadélfia, Pensilvânia, Estados Unidos.
[←9]
Uma rica fonte de algo.
[←10]
Ruiva.
[←11]
Recheio.
[←12]
Pippi Longstocking – Programa de TV, Pippi é uma menina ruiva,
personagem principal.
[←13]
Farinha de rosca.
[←14]
Garotas que se vestem e têm gostos parecidos com os dos garotos. Uma
menina tomboy é uma menina moleca.
[←15]
SpaghettiOs é uma marca americana de massas enlatadas em forma de
anel com molho de tomate.
[←16]
Fireball é feito com whisky e aroma natural de canela.
[←17]
UPENN – Universiade da Pensilvânia.
[←18]
Gatinha.
[←19]
Sanrio Co., Ltd. é uma empresa japonesa a qual desenvolveu uma série
de personagens fictícios.
[←20]
Olá, peitos!
[←21]
BJ’s Wholesale, comumente referido como BJ’s, é uma rede americana
de clubes de depósitos somente com sede em Westborough,
Massachusetts,
[←22]
O pônei Shetland é uma raça de pônei originária das ilhas Shetland.
Shetlands variam em tamanho de uma altura mínima de
aproximadamente 7 palmos a uma altura máxima oficial de 11.
[←23]
Ludicrous – que significa: bizarro/ridículo.
[←24]
Negroni é um coquetel feito de uma parte de gim, uma parte de vermute
rosso, e uma parte de Campari, enfeitado com casca de laranja.
[←25]
Overbooking é a palavra em inglês, utilizada pelas empresas aéreas,
para definir a ocorrência de excesso de reservas, ou seja, quando a venda
de passagens fica acima do número de lugares realmente disponíveis.
[←26]
Birkenstock é um fabricante alemão de calçados conhecido por sua
produção de sandálias, e outros sapatos que se destacam por seus
calçados de cortiça com contornos feitos com camadas de camurça.
[←27]
“mile-high club” (o clube da milha nas alturas), para designar o clube
“exclusivo” das pessoas que tiveram relações sexuais durante um voo.

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