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Copyright © 2019 by Editora Angel.

Direção Editorial: Editora Angel


Produção Editorial: Cristiane Saavedra Edições
Tradução: Samantha Silveira | CS Edições
Preparação: Cristiane Saavedra | CS Edições
Revisão: Marta Fagundes | CS Edições
Projeto Gráfico e Diagramação: Cristiane Saavedra | CS Edições
Capa: Denis Lenzi

Todos os direitos reservados e protegidos pela lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte
deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou
transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos,
gravação ou quaisquer outros. Os direitos morais do autor foram declarados.

Esta obra literária é ficção. Qualquer nome, lugares, personagens e incidentes são produto
da imaginação do autor. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, eventos
ou estabelecimentos é mera coincidência.

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa


(Decreto Legislativo nº 54, de 1995)
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
BIBLIOTECÁRIA RESPONSÁVEL: ALINE GRAZIELE BENITEZ CRB-1/3129

B926r
1.ed
Bay, Louise
O rei de Wall Street [recurso eletrônico]/ Louise Bay; tradução de Samantha
Silveira – 1.ed. – Campinas,SP: Angel, 2020.

ISBN: 978-85-92596-99-6

1. Literatura americana. 2. Romance. I. Silveira, Samantha. II. Título.


CDD 810

ÍNDICE PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO:


1. Literatura americana: romance

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA ANGEL


http://editoraangel.com.br
SUMÁRIO
CAPA
FOLHA DE ROSTO
FICHA CATALOGRÁFICA
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO QUATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSETE
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
SOBRE A AUTORA
EDITORA ANGEL
CAPÍTULO UM

D ez. Minutos. Não parecia muito tempo, mas, sentada ali, na frente
de Max King – mais conhecido como o Rei de Wall Street –
enquanto ele lia silenciosamente o primeiro rascunho de um
relatório que eu tinha preparado sobre a indústria têxtil em Bangladesh,
pareceu uma eternidade.
Resistindo ao desejo de voltar ao meu eu curioso, de quatorze anos de
idade e perguntar o que ele estava achando, olhei ao redor, tentando encontrar
outro alvo para fixar o olhar.
O escritório de Max combinava perfeitamente com ele – ar condicionado
na temperatura de um iglu: paredes, tetos e pisos, tudo branco fosco,
contribuindo para um ambiente ártico. A mesa era cromada e com tampo de
vidro; o sol de Nova York entrava através das persianas opacas tentando, sem
sucesso, descongelar o gelo da sala. Eu odiava esse lugar. Toda vez que
entrava aqui, sentia vontade de mostrar meu sutiã ou pichar as paredes com
batom vermelho vivo. Para a morte, poderia até ser um lugar divertido.
O suspiro de Max trouxe minha atenção de volta para o longo dedo
indicador percorrendo a página da minha pesquisa. Ele balançou a cabeça.
Meu estômago revirou. Sabia que impressioná-lo seria uma tarefa impossível,
mesmo que secretamente eu esperasse supreendê-lo. Trabalhei muito nesse
relatório, minha primeira pesquisa para o Max King. Eu mal dormi e trabalhei
dobrado para não negligenciar as minhas outras obrigações no escritório.
Imprimi e analisei tudo o que existia documentado sobre a indústria na última
década. Estudei detalhadamente as estatísticas, tentando encontrar padrões e
tirar conclusões. E vasculhei os arquivos da King & Associates à procura de
qualquer pesquisa mais antiga para conseguir justificar as inconsistências.
Tinha verificado todas as possibilidades, não tinha? Imprimi o relatório mais
cedo naquela manhã, muito antes de qualquer pessoa chegar. Eu tinha feito –
estava feliz e orgulhosa – um bom trabalho.
— Conversou com o Marvin sobre os dados mais recentes? — perguntou
ele.
Assenti com a cabeça, mas como ele não me olhou, respondi:
— Conversei. Todos os gráficos são baseados nos últimos números. —
Será que estavam errados? Ele esperava alguma outra coisa?
Eu só queria que ele dissesse “bom trabalho”.
Desde que me matriculei na faculdade de admistração, sonhei em
trabalhar para Max King. Ele era o poder por trás do trono de muitas das
histórias de sucesso de Wall Street nos últimos anos. A King & Associates
fornecia pesquisas críticas aos bancos de investimento que ajudavam em seu
poder de decisão. Gostava da ideia de uma tonelada de bancários – vestidos
elegantemente – gritando o quão ricos eram e sobre como o homem que
tornou isso possível era humilde a respeito de seu trabalho, apenas sendo
incrível no que fazia. Discreto, determinado e extremamente bem-sucedido:
ele era tudo o que eu queria ser. Quando recebi a oferta, no meu último
semestre, para ser pesquisadora junior da King & Associates, fiquei
animadíssima, mas também senti uma sensação estranha de que o universo
tinha sido desvendado como deveria, como se o próximo passo no meu
destino estivesse ali naquela empresa.
Destino, o cacete! As primeiras seis semanas no emprego não foram nada
do que eu tinha esperado. Pensei que estaria cercada por pessoas entre vinte e
trinta anos, ambiciosas, inteligentes e bem-vestidas. Os clientes para os quais
trabalhávamos – quase todos os bancos de investimentos em Manhattan –
eram fenomenais e cumpriam com as expectativas que eu tive. Max King, no
entanto, acabou por ser uma grande decepção. Na verdade – apesar de
insanamente inteligente, respeitado por todos em Wall Street e ter a aparência
de quem devia estar em um pôster na parede do quarto de uma adolescente –,
ele era...
Frio.
Rude.
Intransigente.
Um completo babaca.
Ele era tão bonito pessoalmente como na capa da revista Forbes ou em
qualquer outra de publicidade que vi enquanto fuçava sobre ele na internet
durante meu MBA em Berkeley. Teve um dia que cheguei bem mais cedo, e o
vi com roupas de corrida – suado, ofegante, vestido com Lycra. As coxas
eram tão fortes que pareciam ser feitas de mármore. Ombros largos, nariz
bem acentuado, cabelo castanho escuro e brilhante – o que era um
desperdício para aquele homem – e um bronzeado permanente que gritava
“viajo de férias quatro vezes por ano”. No escritório, ele usava trajes feitos
sob medida. Ternos feitos à mão que caíam de uma determinada maneira
sobre os ombros que reconheci das poucas reuniões que tive com meu pai.
Seu rosto e corpo faziam jus a todas as expectativas que eu tive. Trabalhar
com ele, nem tanto.
Não esperava que ele fosse tão tirano.
Todas as manhãs quando ele atravessava por entre as mesas do escritório
em diereção a sala dele, jamais cumprimentava qualquer um com um simples
bom-dia. Gritava tão alto com frequência ao telefone, que se podia ouvir no
lobby do elevador. E na última terça, quando passei por ele e dei um sorriso,
as veias em seu pescoço saltaram e tive a impressão de que ele queria
estender a mão e me estrangular.
Alisei as palmas através do tecido da minha saia Zara. Talvez eu o
irritasse por não ser tão elegante quanto as outras mulheres do escritório. Não
costumava me vestir com Prada. Eu não dava importância a esse detalhe?
Claro que dava, só não tinha condições de pagar por nada melhor, por
enquanto.
Como mais nova contratada, estava no nível mais baixo da hierarquia. O
que significava que eu sabia qual sanduíche pedir para o Sr. King – tinha o
número de todas as empresas de entrega-expressa na discagem rápida – e
como destravar a xerox. Mas isso era de se esperar e estava feliz porque
consegui trabalhar com o homem que eu tinha pesquisado e admirado por
anos.
E aqui estava ele, balançando a cabeça e empunhando uma caneta com a
tinta mais vermelha que eu já tinha visto. A cada círculo, cruz e ponto de
interrogação exagerado que fazia, eu parecia me encolher.
— Onde estão suas referências? — perguntou sem erguer o olhar do
papel.
Referências? Quando olhei nos outros relatórios feitos anteriormente, em
nenhum tinha sido colocado fontes de pesquisa.
— Estão na minha mesa...
— Você conversou com o Donny?
— Estou esperando o retorno dele. — Ele olhou para cima e tentei não
estremecer. Fiz duas ligações para o contato de Max na Organização Mundial
do Comércio, mas não consegui fazer com que o homem me atendesse.
Ele balançou a cabeça, pegou seu telefone e discou.
— Oi, Figurão — disse ele. — Preciso entender a posição de Everything
But Arms. Ouvi dizer que seu pessoal está pressionando a União Européia. —
Max não colocou o telefone no viva-voz, então observei enquanto ele fazia
anotações no meu relatório. — Ajudaria muito no que estou fazendo sobre
Bangladesh. — Max sorriu, olhou brevemente para cima, encontrando meu
olhar e desviou rapidamente como se me vir o deixasse irritado. Ótimo.
Max desligou.
— Eu tentei falar com ele duas vezes...
— Resultados, não esforço, são recompensados — disse ele em um tom
curto e grosso.
Então, ele não dava crédito por tentar? O que eu poderia ter feito com
exceção de aparecer no escritório do homem? Eu não era o Max King. Por
que alguém da Organização Mundial do Comério atenderia a ligação de uma
reles pesquisadora?
Jesus, ele não podia pegar leve com uma garota?
Antes que eu tivesse chance de responder, seu celular vibrou na mesa.
— Amanda? — berrou ao telefone. Nossa. O escritório era pequeno,
então eu sabia que não tinha nenhuma Amanda trabalhando na King &
Associates. Senti uma estranha sensação de satisfação por ele não ser
grosseiro só comigo. Não o via interagir muito com os demais, porém, de
alguma forma sua atitude em relação a mim, parecia pessoal. E a impressão
foi de que Amanda recebia o mesmo tratamento brusco que eu. — Não
vamos discutir sobre isso outra vez. Eu disse não! — Namorada? O tablóide,
Page 6, nunca fez matéria alguma sobre Max estar saindo com alguém. Mas
tinha que estar. Um homem feito ele, idiota ou não, não ficaria sozinho.
Parecia que Amanda tinha a honra de aturá-lo fora do horário de expediente.
Quando desligou, jogou o telefone na mesa, observando-o enquanto
deslizava pelo vidro e parava ao lado do laptop. Continuando a ler, esfregou
os longos e bronzeados dedos na testa, como se Amanda tivesse lhe causado
dor de cabeça. Não achei que meu relatório também estava ajudando muito.
— Erros de digitação não são aceitáveis, Srta. Jayne. Não há desculpa
para ser nada menos do que excepcional quando se trata de algo que só
requer esforço. — Ele fechou o relatório, recostou-se na cadeira e fixou o
olhar em mim. — Atenção aos detalhes não exige engenhosidade,
criatividade ou pensamento divergente. Se não consegue fazer o básico, por
que eu deveria confiar em você com algo mais complicado?
Erros de digitação? Eu li esse relatório mil vezes.
Ele cruzou as mãos sobre a mesa.
— Revise de acordo com as minhas anotações e só me devolva depois que
não tiver mais nenhum erro. Vou multá-la por cada erro seu que eu encontrar.
Vai me multar? Queria retrucar dizendo que se eu pudesse multá-lo toda
vez que ele agia como babaca, eu me aposentaria dentro de três meses. Idiota.
Lentamente, alcancei meu relatório, querendo saber se ele tinha algo a
acrescentar, qualquer palavra de encorajamento ou agradecimento.
Mas não. Peguei a pilha de papéis e fui em direção à porta.
— Ah, e... Srta. Jayne?
É agora. Ele vai me deixar sair com um pouco de dignidade. Eu me virei
para ele, ansiosa.
— Pastrami com pão de centeio, sem picles.
Fiquei plantada no lugar, respirando através do soco que acabei de levar
na boca do estômago.
Mas. Que. Cretino.
— Para o meu almoço — acrescentou ele, claramente sem entender
porque eu já não tinha saído.
Assenti com a cabeça e abri a porta. Se não saísse logo, provavelmente
me atiraria sobre sua mesa e arrancaria todos os fios daquele cabelo perfeito.
Quando fechei a porta, Donna, a assistente de Max, perguntou:
— Como foi?
Revirei os olhos.
— Não sei como você aguenta trabalhar pra ele. Ele é tão... — Comecei a
folhear o relatório, procurando pelos erros de digitação aos quais ele se
referiu.
Donna arrastou a cadeira para trás e se levantou.
— Cão que late não morde. Você está saindo para ir à lanchonete?
— Sim. Pastrami hoje.
Donna pegou seu casaco.
— Vou com você. Preciso fazer um lanche. — Ela pegou a carteira e
saímos para o centro de Nova York. Mas é claro que Max não gostava de
nenhuma das lanchonetes próximas do escritório. Em vez disso, tínhamos que
caminhar cinco quarteirões a nordeste até o Joey’s Café. Pelo menos, estava
ensolarado, e bem no começo do ano para que a umidade fizesse com que a
ida até a lanchonete parecesse uma caminhada ao meio-dia nas ruas de
Calcutá.
— Oi, Donna. Oi, Harper — Joey, o proprietário, nos cumprimentou
quando passamos pela porta de vidro. A lanchonete era exatamente o oposto
do tipo de lugar onde eu esperaria que Max pedisse comida. Claramente, era
um lugar familiar que não via reforma desde a época dos Beatles. Aqui não
havia nada da personalidade astuta, moderna e implacável que compunha
Max King.
— Como está o chefe? — perguntou Joey.
— Ah, você sabe — disse Donna. — Trabalhando muito, como sempre. O
que ele pediu, Harper?
— Pastrami com pão de centeio. Picles extra. — Nada como a vingança
passiva-agressiva.
Joey levantou as sobrancelhas.
— Picles extra? — Jesus, é claro que o Joey conhecia as preferências de
Max.
— Tá bom. — Estremeci. — Nada de picles.
Donna me acotovelou.
— E eu vou querer um sanduíche de peru no pão sovado — disse ela,
então virou-se para mim. — Vamos comer aqui para podermos conversar.
— Faça dois desse — eu disse ao Joey.
A lanchonete tinha algumas mesas, mas as cadeiras não combinavam. A
maioria dos clientes fazia pedidos para viagem, mas hoje estava agradecida
por alguns minutos a mais fora do escritório. Acompanhei Donna enquanto
nos conduzia até uma das mesas na parte de trás.
Picles extra? — perguntou ela, sorrindo.
— Eu sei. — Suspirei. — Isso foi infantil. Sinto muito. Eu só queria que
ele não fosse tão bab...
— Me conta o que aconteceu.
Resumi a nossa reunião – sua irritação por eu não ter conseguido falar
com o contato dele na OMC, o discurso sobre os erros de digitação e a falta de
valorização pelo meu árduo trabalho.
— Diga ao Max que os Yankees mereceram tudo o que aconteceu com
eles neste fim de semana — disse Joey ao colocar nosso pedido na mesa,
junto com duas latas de refrigerante, mesmo que a gente não tenha pedido.
Joey conversava de beisebol com Max? Eles se conheciam?
— Vou dar o recado — Donna disse, sorrindo —, mas ele pode mudar a
empresa para outro lugar se eu fizer isso. Você sabe como ele é melindroso
quando se trata do Mets indo bem.
— Ele vai ter que se acostumar com isso nesta temporada. E não estou
preocupado em perdê-lo. Ele vem aqui há mais de dez anos.
Mais de dez anos?
— Sabe o que ele vai responder? — perguntou Donna, abrindo o pacote
de papel manteiga na frente dela.
— Sim, sim, nunca subestime seus clientes. — Joey voltou para trás do
balcão. — Sabe o que sempre o faz calar a boca? — perguntou ele por cima
do ombro.
Donna riu.
— Quando diz pra ele voltar depois do negócio dele ter durado três
gerações e ainda estar funcionando?
Joey apontou para Donna.
— É isso aí.
— Então, Max vem aqui há muito tempo, hein? — perguntei quando Joey
voltou para o balcão para atender a fila que havia se formado desde que
chegamos.
— Desde quando comecei a trabalhar para ele. E isso já tem quase sete
anos.
— Uma pessoa de hábitos. Entendi. — Não havia muita espontaneidade a
respeito de Max pelo que eu tinha visto.
Donna inclinou a cabeça.
— Mais para um enorme senso de lealdade. Como esta área está em
desenvolvimento e restaurantes estão abrindo em cada esquina, o negócio do
Joey sofreu um bocado. Max jamais foi a qualquer outro lugar. Ele até trouxe
clientes pra cá.
A descrição de Donna entrou em conflito com a frieza egocêntrica na qual
me deparei no escritório. Mordi o meu sanduíche.
— Ele pode ser desafiador, exigente e um pé no saco, mas isso é uma
grande parcela do que o tornou bem-sucedido.
Eu queria ter o sucesso dele, mas ainda ser uma boa pessoa. Seria
ingenuidade minha em pensar que isso era possível em Wall Street?
Donna pressionou a fatia de cima do pão no peru com a ponta dos dedos,
apertando o sanduíche.
— Ele não é tão ruim quanto você pensa. Veja pelo lado positivo: se ele
dissesse que o seu relatório estava bom, o que teria aprendido? — Ela pegou
o lanche. — Não pode esperar que tudo dê certo na primeira vez. E sobre os
erros de digitação, ele estava errado? — Ela deu uma mordida e esperou pela
minha resposta.
— Não. — Mordi a parte interna do lábio. — Mas você tem que admitir,
o jeito que ele fala é uma droga. — Puxei um pedaço do peru que estava por
baixo do pão e coloquei na boca. Tinha me esforçado tanto, esperava algum
tipo de reconhecimento.
— Às vezes. Até que prove o quanto é boa. Mas, assim que isso
acontecer, ele vai te apoiar completamente. Ele me deu esse trabalho sabendo
que eu era mãe solteira, e se certificou de que eu nunca perdesse um jogo,
evento ou reunião escolar. — Ela abriu a lata de refrigerante. — Quando
minha filha pegou catapora, logo depois que comecei a trabalhar com ele,
vim para o trabalho de qualquer maneira. Eu nunca o vi tão bravo. Quando
ele me viu, me acompanhou para fora do prédio e me mandou pra casa. Não
era nada demais, minha mãe estava tomando conta e ela estava bem, mas ele
insistiu que eu ficasse em casa até que minha filha voltasse à escola.
Fiquei boquiaberta. Esse não parecia o Max que eu conhecia.
— Ele é um homem muito bom. É focado e determinado. Assume a
responsabilidade de seus empregados com seriedade – especialmente se
tiverem potencial.
— A única coisa que eu não vejo mesmo é ele assumir a responsabilidade
por ser um panaca condescendente.
Donna riu.
— Você está lá para aprender, para se aperfeiçoar. Ele vai te ensinar, mas
dizer apenas que fez um bom trabalho, não vai te ajudar.
Puxei um guardanapo do porta-guardanapos antigo e limpei o canto da
boca.
Como me ajudou, além de destruir completamente a minha
autoconfiança?
— Se soubesse como a reunião de hoje se desenrolaria, o que teria feito
de diferente? — perguntou Donna.
Dei de ombros. Fiz um bom trabalho, mas ele se recusou a reconhecer.
— Ah, qual é?! Não vá me dizer que faria as coisas exatamente da mesma
forma...
— Tá legal, não. Eu teria imprimido as fontes e levado para a reunião.
Donna assentiu.
— Bom. O quê mais? — Ela deu outra mordida no sanduíche.
— Provavelmente, tentaria tentado falar com o contato de Max na OMC
mais algumas vezes, talvez enviado um e-mail. Podia ter insistido mais em
localizá-lo. E podia ter enviado tudo para a revisão. — Tínhamos um serviço
noturno, mas porque fiquei trabalhando até tarde, perdi o prazo para enviá-lo.
Devia ter garantido que tudo ficasse pronto a tempo.
Ergui o olhar de onde estava beliscando meu sanduíche, para olhar nela.
— Não estou dizendo que não aprendi nada. Só achei que ele seria mais
gentil. Há anos que vinha desejando trabalhar com ele. E não imaginei que
fosse fantasiar em socar o rosto dele com tanta frequência.
Donna riu.
— Isso, Harper, é o que significa ter um chefe.
Tudo bem, eu podia aceitar que Max era bom com Donna e Joey, pelo
jeito. Mas ele não era assim comigo. O que só piorava tudo. O que foi que eu
fiz para ele? Fui escolhida para ter tratamento especial? Sim, o meu relatório
podia estar melhor, mas apesar do que a Donna disse, eu não merecia a
reação que recebi. Ele podia ter feito um pequeno elogio pelo menos.
Agora que minhas expectativas de trabalhar com Max foram devida e
verdadeiramente estilhaçadas, tinha que me concentrar em conseguir o que
pudesse da experiência e seguir em frente. Ia refazer meu relatório e o
deixaria perfeito. Tiraria o máximo de proveito em trabalhar para a King &
Associates, faria uma tonelada de contatos, e depois de dois anos estaria
numa boa posição para trabalhar por conta própria ou diretamente para um
banco.

Como convenci a minha melhor amiga, Grace, a me ajudar na mudança


para o meu novo apartamento, eu não fazia ideia. Crescer na Park Avenue
não fez dela uma trabalhadora braçal.
— O que tem aqui, um cadáver? — perguntou ela, o brilho de suor na
testa refletindo a luz do elevador.
— Sim, minha última melhor amiga. — Inclinei a cabeça em direção ao
velho baú de madeira de pinho aos nossos pés e a última coisa que restava no
caminhão. — Tem espaço para mais uma. — Dei risada.
— É melhor ter vinho na geladeira. — Grace abanou o rosto. — Não
estou acostumada a fazer este tipo de esforço físico vestida.
— Olha só, então você deveria estar agradecida. Estou expandindo seus
horizontes, te mostrando como nós mulheres comuns vivemos. — Estava
morando com Grace desde que cheguei a Nova York, de Berkeley, há quase
três meses. Ela tinha sido incrivelmente compreensiva quando minha mãe
enviou todas as minhas coisas para o seu apartamento no Brooklyn, mas
agora que a estava fazendo me ajudar a trazer tudo para onde eu ia morar, a
paciência dela estava se esgotando. — E sou pobre demais para ter uma
geladeira. E vinho.
O aluguel no meu apartamento era um absurdo, mas ficava em Manhattan
e era tudo o que me importava. Não seria uma nova-iorquina que vivia no
Brooklyn. Queria explorar essa experiência de todas as formas que eu
merecesse, então resolvi sacrificar o espaço pela localização: um
insignificante edifício estilo vitoriano na esquina da Rivington com a Clinton,
em Lower Manhattan. Os prédios ao lado eram cobertos de pichações, mas
este tinha sido recentemente reformado e me garantiram de que estava cheio
de jovens profissionais, por estar tão próximo de Wall Street. Profissional do
quê? Assassinos de aluguel?
— Vai ficar... aconchegante — disse Grace. — Tem certeza de que não
quer que eu pergunte sobre o apartamento de um dormitório do outro lado do
corredor ao meu?
Meu apartamento em Berkeley era pelo menos duas vezes maior do que o
novo. E o da Grace, no Brooklyn, era um palácio em comparação, mas eu
estava bem com o menor.
— Tenho. Tudo faz parte da experiência de viver Nova York, não é?
— Assim são as baratas, mas você não precisa procurá-las. A ideia é
evitá-las. — Grace era a pessoa que tentava tornar a vida de todos um pouco
melhor, e essa era uma das razões pelas quais eu a amava.
— Sim, mas quero estar no centro de tudo. Além disso, tem uma
academia no subsolo, então vou economizar dinheiro. E também com
transporte. Posso ir a pé para o trabalho. Caramba, dá quase pra ver o
escritório da janela do meu quarto.
— Pensei que odiasse o trabalho. Não seria melhor ficar mais afastada?
— perguntou quando o elevador abriu a porta no meu andar.
Segurei o baú por baixo.
— Não odeio o trabalho. Odeio meu chefe.
— O gostoso? — perguntou Grace.
— Pode segurar aí desse lado? — perguntei. Não queria me lembrar da
pontuação do meu chefe no termômetro da gostosura. Estiquei a perna para
tentar impedir que a porta do elevador se fechasse. — Porcaria. Conseguiu
pegar? — Saímos do elevador, virando a esquerda em direção ao meu
apartamento.
— Precisamos de um homem para fazer essa merda — disse Grace
enquanto pelejava com as minhas chaves.
— Precisamos de homens para transar e esfregar os pés — retruquei. —
Somos capazes de carregar nossos próprios móveis.
— No futuro, você pode carregar os seus móveis. Eu encontrarei um
homem.
Abri a porta e deslizamos o báu para dentro.
— Deixe aqui mesmo até eu decidir se devo colocar ou não no pé da
cama.
— Onde está aquele vinho que você me prometeu? — Grace passou por
mim e desabou no meu pequeno sofá de dois lugares.
Apesar dos meus protestos, as únicas coisas que eu tinha na geladeira
eram duas garrafas de vinho e um pedaço de queijo parmesão.
— O que estava dizendo do seu chefe gostoso? Pensei que tinha mudado
de religião para a Igreja do Rei enquanto estava em Berkeley. O que
aconteceu?
Entreguei a Grace uma taça de vinho, sentei e tirei o tênis. Não queria
pensar em Max ou na maneira como ele fazia eu me sentir tão inadequada,
fora do lugar e desconfortável.
— Acho que preciso renovar minhas roupas de trabalho. — Quanto mais
eu pensava sobre o que tinha vestido para a minha reunião com o Max, mais
percebia que deveria chamar a atenção por ser diferente diante de todos os
Max Mara e Prada de Wall Street.
— Você está ótima. Sempre superpolida. Está tentando impressionar seu
chefe gostoso?
Revirei os olhos.
— Isso seria impossível. Ele é o homem mais arrogante que você jamais
vai conhecer. Nada nunca é bom o suficiente.
Minha conversa com Donna no almoço de ontem tinha amortecido
temporariamente a fúria por Max, mas voltou com força total hoje. Ele podia
ser o melhor no que fazia e ser tão gostoso ao ponto de te deixar de quatro,
mas não justifica sua babaquice extrema. E não o deixaria me diminuir. Eu o
odiava. Determinada a mostrar que tinha agido errado comigo, trouxe para
casa o relatório de Bangladesh para trabalhar durante o fim de semana.
Muitos dos comentários que ele fez, mostravam que sabia muito mais sobre a
indústria têxtil em Bangladesh do que eu, mesmo depois da minha pesquisa.
Será que esse projeto foi um teste? Fosse ou não, ia passar o resto do fim de
semana fazendo do meu trabalho o melhor que ele já tinha visto.
— Nada nunca é bom o suficiente? — Grace perguntou. — Parece
familiar.
— Talvez eu seja um pouco perfeccionista, mas não tenho nada de
parecido com aquele homem. Acredite em mim. Tive o maior trabalho em um
relatório que ele me pediu para fazer e simplesmente detonou o trabalho. Não
disse nada de positivo sobre o que eu fiz.
— Por que está deixando isso te incomodar? Deixa pra lá.
Como não me incomodar com o que aconteceu? Eu queria ser boa no meu
trabalho. Queria que Max enxergasse isso.
— Mas me dediquei ao extremo e ficou um excelente trabalho. Ele é que
é um idiota.
— E daí? Se ele é um completo babaca, então por que a opinião dele
importa para alguma coisa? — Grace vivia nos EUA desde os cinco anos de
idade, mas ainda conservava um pouco do sotaque britânico herdado pela
família. O jeito que ela dizia “bacaca” era um dos meus favoritos.
Especialmente por se encaixar perfeitamente a Max King.
— Não estou dizendo que importa. Só que me deixou chateada. — Só que
importava, por mais que eu negasse.
— O que esperava? Um homem rico e bonito daquele jeito, está fadado a
ter um lado negativo. — Ela deu de ombros e tomou um gole de vinho. —
Não pode deixar isso te afetar tanto assim. Suas expectativas em relação aos
homens são altas demais. Você vai passar a vida toda decepcionada.
Meu celular começou a tocar.
— Falando em estar desapontada. — Mostrei a tela à Grace. Era o
advogado do meu pai.
— Alô, Harper falando — respondi.
— Srta. Jayne. É Kenneth Bray. — Por que ele estava me ligando no fim
de semana?
— Sim, Sr. Bray. Em que posso ajudá-lo? — Revirei os olhos.
Aparentemente, meu pai tinha feito uma poupança para mim. As cartas
que recebi falando disso estavam abarrotadas no báu que acabamos de
arrastar do caminhão. Não tinha respondido a nenhuma delas. Não queria o
dinheiro dele. Comecei a aceitar só na faculdade. Achei que ele me devia,
pelo menos isso, mas depois de um ano, arrumei um emprego e parei de
descontar os cheques. Não podia aceitar o dinheiro de um estranho, mesmo
que ele estivesse geneticamente relacionado a mim.
— Quero providenciar para que venha ao escritório para podermos
conversar sobre os detalhes do dinheiro que seu pai guardou pra você.
— Agradeço a sua persistência, mas não estou interessada no dinheiro do
meu pai. — Tudo o que eu sempre quis era um homem que aparecesse nos
meus aniversários e nos eventos escolares, ou para qualquer coisa que fosse a
meu respeito. Grace estava errada; minhas expectativas em relação aos
homens estavam no fundo do poço. A ausência do meu pai durante a minha
infância tinha assegurado isso. Não esperava nada dos homens, além de
decepção.
O Sr. Bray tentou me convencer a encontrá-lo. No final, eu disse que leria
a papelada e retornaria o contato.
Desliguei e respirei fundo.
— Você está bem? — perguntou Grace.
Limpei a borda da taça com a ponta do polegar.
— Estou — respondi. Era mais fácil quando eu podia fingir que meu pai
não existia. Quando ele entrou em contato comigo, ou melhor, o advogado
dele, me senti como Sísifo vendo a pedra cair das minhas costas e descer
morro abaixo outra vez. Isso me fez voltar à estaca zero, e todos os
pensamentos de como eu deveria ter tido um pai diferente, uma vida
diferente, uma família diferente que, em condições normais teria sido capaz
de enterrar, subiu rapidamente à superfície.
Meu pai engravidou a minha mãe e se recusou a agir corretamente e se
casar com ela. Ele nos abandonou. Mandava dinheiro – assim, estaríamos
financeiramente providas. Mas o que eu queria mesmo era um pai presente.
Eventualmente, todas as promessas quebradas formaram uma montanha tão
grande que eu já não conseguia ver o topo. As festas de aniversário das quais
eu ficava de olho na porta esperando-o aparecer, tiveram consequências.
Durante muitos Natais a única coisa que eu pedia ao Papai Noel era o meu
pai. Foi a ausência dele na minha vida que tinha sido o verdadeiro problema,
porque dava a impressão de que sempre existia alguém que vinha primeiro,
em algum outro lugar onde ele preferiria estar. Isso me deixou com a
sensação de que eu não valia o tempo de ninguém.
— Você quer conversar sobre isso? — perguntou Grace.
Sorri.
— Em hipótese alguma. Quero ficar um pouco bêbada no meu novo
apartamento com a minha melhor amiga. Talvez fofocar e tomar sorvete.
— Essa é a nossa especialidade — completou Grace. — Podemos
conversar sobre homens?
— Podemos, mas vou te avisar que se tentar me arrumar um encontro,
vou chutar sua bunda de volta para o Brooklyn.
— Mas ainda nem ouviu com quem é.
Dei risada. Ela era tão fácil de decifrar.
— Não estou interessada em sair com ninguém. Estou focando na minha
carreira. Dessa forma, não me decepcionarei. — As palavras de Max King:
resultados, não o esforço, são recompensados, soaram nos meus ouvidos.
Teria que fazer melhor; trabalhar mais. Não tinha tempo para sair ou ter
encontros.
— Você é tão cética. Nem todo homem é igual ao seu pai.
— Não disse que era. Não banque a psicóloga comigo. Quero me
estabelecer aqui em Nova York. Sair com alguém não é a minha prioridade.
Só isso. — Tomei um gole de vinho e dobrei as pernas embaixo do corpo.
Eu levaria a melhor sobre Max King mesmo se isso me matasse. Segui
sua carreira tão cuidadosamente que era como se eu o conhecesse. Mas me
imaginei como sua protegida. Começaria a trabalhar para ele e receberia o
elogio de que ele nunca tinha conhecido alguém tão talentosa. Assumi que
em questão de dias seríamos capazes de terminar as frases um do outro e
iríamos nos cumprimentar com um high five depois das reuniões. E, admito,
tive um sonho erótico com ele. Ou dois.
Tudo isso antes de conhecê-lo. Como fui idiota...
— Sexo! — exclamei. — É nisso que os homens são bons. Talvez eu
arrume um amante.
— Só isso? — perguntou Grace.
Tracei a borda da taça com o dedo.
— Para o que mais precisamos deles?
— Amizade?
— Eu tenho você — respondi.
— Apoio emocional?
— De novo, esse é o seu trabalho. Junto com sorvete, vinho e as
ocasionais compras em excesso.
— E é um trabalho que levamos muito a sério. Mas e quando quiser
filhos? — perguntou Grace.
Essa era a última coisa que me passava pela cabeça. Minha mãe mudou de
profissão, deixou de trabalhar na área financeira para se tornar professora
para poder passar mais tempo comigo. Tinha certeza de que eu não seria
capaz de fazer tal sacrifício.
— Se e quando algum dia eu chegar a pensar nisso, irei a um banco de
esperma. Deu certo com a minha mãe.
— Sua mãe não foi a um banco de esperma.
Tomei um gole de vinho.
— É como se tivesse ido. — Não tive pai no que me dizia respeito.
— Me dá o seu iPad. Quero ver esse seu chefe gostoso mais uma vez.
Eu gemi.
— Não. — Peguei o tablet na mesa ao lado do sofá e passei para ela,
mesmo não querendo.
— Max King, certo?
Não respondi.
— Realmente ele é ridiculamente bonito. — Grace passou o dedo na tela.
Deliberadamente, não olhei. Ele não merecia a minha atenção.
— Guarde isso. Já basta eu ter que lidar com ele de segunda a sexta. Me
deixe aproveitar o fim de semana sem ter que olhar para aquele rosto
arrogante. — Olhei na imagem da capa da Forbes que Grace tinha aberto.
Braços cruzados, expressão austera, lábios carnudos.
Idiota.
Uma batida vindo de cima chamou a minha atenção e olhei para o teto. A
bonita luminária de vidro balançou de um lado para o outro.
— Isso foi uma bomba que acabou de explodir? — perguntei.
— Parece que seu vizinho do andar de cima acabou de deixar cair uma
bigorna em cima do Papa-Léguas.
Coloquei o dedo sobre os lábios e ouvi atentamente. Os olhos de Grace
arregalaram quando o que tinha começado como um murmúrio incoerente se
transformou no som inconfundível de uma mulher transando.
Ofegando. Gemendo. Implorando.
Então outra pancada. O que diabos estava acontecendo lá em cima? Tinha
mais de duas pessoas envolvidas?
O barulho de pele batendo contra pele seguia do som de uma mulher
gemendo alto. Calor subiu pelo meu pescoço e se espalhou pelo rosto.
Alguém estava se divertindo muito mais do que nós em um sábado à tarde.
Uma voz inconfundivelmente masculina gritou “porra” e os gritos da
mulher saíram apressados e desesperados. A batida de uma cabeceira de cama
contra a parede era cada vez mais alta. Gemidos sem fôlego da mulher quase
pareciam apavorados. Meu lustre começou a balançar com mais força, e eu
juro que as vibrações de qualquer que seja o movél que estava batendo contra
qualquer que fosse a parede, viajou para baixo através do teto direto para a
minha virilha. Apertei as coxas assim que o homem gritou para Deus e ela
deu um último e nítido grito que ecoou através do meu apartamento cheio de
caixas.
No silêncio que se seguiu, meu coração martelava por baixo do suéter. Eu
estava metade exaltada com o que eu tinha ouvido; e metade envergonhada
por conscientemente ter escutado algo tão pessoal.
Alguém a menos de três metros de mim tinha acabado de gozar para a
América.
— Esse pode ser um cara que eu tenha que conhecer — disse Grace
quando estava claro que as aventuras sexuais tinham parado. — Ele
certamente parecia saber o que estava fazendo.
— Eles pareciam bastante... compatíveis. — Será que alguma vez eu tinha
soado tão desesperada assim durante o sexo, sedenta pelo orgasmo? Conhecia
os sons de uma mulher que exagerava no quarto. A mulher no andar de cima
não estava fingindo. Como se sobressaltar em algumas partes assustadoras de
um filme de terror, os sons dela foram involuntários.
— Parece que o sexo entre eles foi extraordinário. Talvez você devesse
bater na porta deles e sugerir um ménage.
Revirei os olhos.
— Sim, junto com uma xícara de açúcar.
Passos clicaram ao longo do teto.
— Ela continuou usando os sapatos de salto — disse Grace. — Legal.
Os passos ecoaram pelo teto na direção do baú. A porta do andar de cima
abriu e rangeu, depois bateu. O som dos passos desapareceram.
— Bem, ela conseguiu o que queria e foi embora. Você não vai precisar
de uma TV aqui. Pode simplesmente sintonizar na novela que é seu vizinho.
— Acha que era uma prostituta? — perguntei. Uma mulher saindo com
menos de cinco minutos depois de um orgasmo daquele, não era normal.
Certamente saiu para respirar um pouco de ar fresco ou uma segunda rodada?
Caramba, não tinha certeza se conseguiria me levantar, e muito menos usar
salto alto, antes de uma hora ter se passado depois do que ela experimentou.
— Prostituta? Se for, ela é sortuda. — Grace riu. — Mas acho que não.
Um homem que pode fazer uma mulher gemer daquele jeito não precisa
pagar por sexo. — Ela se inclinou e colocou a taça vazia em uma das dezenas
de caixas espalhadas pelo apartamento. — Bem, vou pra casa usar o meu
vibrador.
— Isso é realmente muita informação.
— Mas continue me contando sobre seus vizinhos. E se esbarrar com eles,
tente tirar uma foto.
— Claro, porque se você for se masturbar pensando nos meus vizinhos,
seria melhor com fotos. — Assenti com sarcasmo. — Você é uma pervertida.
Sabe disso, né?
Grace deu de ombros e se levantou.
— Foi melhor que filme pornô.
Ela estava certa. Só esperava que esse “show” não fosse frequente. Se não
bastasse eu me sentir bastante incapaz no trabalho, não precisava ter o mesmo
sentimento em casa.
CAPÍTULO DOIS

H arper Jayne estava me irritando muito.


E desde o momento em que começou a trabalhar aqui, há
quase dois meses. Até agora consegui manter a distância.
Ela era inteligente. Esse não era o problema.
E se dava muito bem com os colegas de trabalho. Eu não podia reclamar.
Harper não parecia se importar em ajudar Donna com a xerox. Não havia
delírios de grandeza com o qual eu poderia me queixar.
Ela tinha ansiedade em aprender. Isso foi uma das primeiras coisas que
me irritou. Era ávida demais. O jeito de me olhar com aqueles grandes olhos
castanhos, como se estivesse disposta a fazer tudo e qualquer coisa que eu
sugerisse, era enlouquecedor. Toda vez que eu olhava para ela, mesmo que
fosse um vislumbre dela na cozinha quando eu entrava no escritório, a
imaginava de joelhos na minha sala, abrindo aquela boca vermelha e
molhada, implorando pelo meu pau.
E isso era um problema.
Sempre tive uma divisão estrita entre a minha vida profissional e a
pessoal, e nunca houve exceção. Eu era o chefe com uma reputação a zelar.
Não queria que a minha vida pessoal fosse mais interessante do que a
profissional.
Estava batendo a caneta na mesa e pensando que precisava arranjar uma
solução. Demitir ou esquecê-la. Eu tinha que fazer alguma coisa.
Acabava passando mais tempo na minha sala com a porta fechada na
tentativa de criar certa distância entre mim e Harper. Normalmente eu
circulava pela parte aberta do escritório e passava um tempo com o pessoal,
verificando como as coisas estavam indo. Mas agora aquele lugar parecia
contaminado. Quando tinha que interagir com ela, eu a chamava por Srta.
Jayne como uma maneira de manter distância. Não estava dando certo. Passei
as mãos pelo cabelo. Precisava de um plano. Não podia deixar que uma
pesquisadora júnior mudasse o meu jeito de trabalhar, porque a forma como
eu conduzia a minha empresa era o que fazia da King & Associates a melhor
do ramo, e a Wall Street inteira sabia disso.
Distrações eram a última coisa que eu precisava nesse momento.
Atualmente meu foco já estava bastante dividido. Morar com Amanda em
tempo integral foi mais desafiante do que pensei e isso significava passar
muito mais tempo fora do escritório, ficando em Connecticut. Também estava
tentando conseguir uma nova conta com um banco de investimento que a
King & Associates não tinha trabalhado antes e, em breve, teria uma reunião
fundamental e privilegiada com uma fonte interna.
— Entre — disse quando escutei uma batida na porta, esperando que não
fosse Harper com o relatório revisado.
— Bom dia, Max — Donna disse quando entrou e fechou a porta.
— Obrigado. — Peguei a grande caneca de café que ela me ofereceu,
tentando ler seu rosto. — Como você está?
— Estou bem. Temos muito para repassar. — A gente se reunia
diariamente durante um breve intervalo, verificando compromissos e
pendências.
Estiquei a gola da camisa.
— Sou eu ou aqui está mais quente do que o normal?
Donna sacudiu a cabeça.
— Não, e não vou diminuir a temperatura do ar condicionado, também.
Está ridiculamente frio aqui.
Suspirei. Não valia a pena discutir com Donna. Na maioria das vezes. Isso
foi o que aprendi com as mulheres da minha vida – escolha as suas batalhas.
— Então — ela disse enquanto se sentava na cadeira à frente da mesa. A
mesma que Harper tinha usado na sexta-feira. Harper tinha cruzado as pernas
e apoiado os braços firmemente nos braços da cadeira, quase como se
estivesse se preparando para um pouso forçado. Mas tinha me dado uma
visão perfeita de seus seios firmes e empinados, e o longo cabelo castanho
caindo suavemente sobre os ombros.
— O que está acontecendo? — perguntou Donna.
— Hã? — perguntei, erguendo o olhar para ela.
— Você está bem? Parece distraído.
Balancei a cabeça e me recostei na cadeira. Precisava me concentrar.
— Eu estou bem. Só que com um milhão de coisas na cabeça. Será uma
semana agitada.
— Está certo, então vamos começar. Você vai almoçar amanhã com
Wilson da D&G Consultoria. Está marcado para o meio-dia no Tribeca Grill.
— Cancelar não é uma opção, né? — Wilson era um concorrente e um
egocêntrico, portanto cancelar seria um problema. E por ele ser tão
convencido, eu costumava tirar algumas informações úteis de nossos
almoços.
— Sim, está em cima da hora. Você cancelou as últimas três vezes.
— E não podemos ir ao Joey’s?
Donna apenas ergueu as sobrancelhas. Suspirei, lembrando-me de que
esta era outra batalha que não valia a pena brigar.
— E Harper gostaria de marcar um horário esta tarde para entregar o
relatório que ela revisou.
Comecei a clicar no meu calendário. Eu vi Harper na sexta-feira.
Precisava vê-la menos, não mais.
— O que está fazendo? Estou com a sua agenda aqui. — Ela apontou para
o tablet. — Você tem horário hoje às quatro.
— Acho que não precisamos de uma reunião para isso. Ela pode deixar
com você e dou uma olhada quando puder. — Encaro meu bloco de notas,
anotando Almoço com Wilson sem nenhum motivo específico.
— Você geralmente gosta de uma reunião de acompanhamento.
— Estou ocupado e não tenho tempo para ver um trabalho que
provavelmente não está bom. — Isso foi injusto. O trabalho da Harper não
estava ruim. Ela cometeu alguns erros, mas nada do que eu não esperaria de
alguém que nunca tinha trabalhado comigo – a qualidade que eu estava
acostumado dos novos pesquisadores juniores era muito mais descuidada e eu
estava exigindo demais, sabia disso. Ela não tinha conseguido falar com
Donny, mas ele era um filho da puta hierárquico. Pedir para ela conversar
com ele era uma tarefa quase impossível.
Acontece que ela trabalhava bem – tinha até algumas ideias bastante
criativas –, por isso eu não tinha razão para demiti-la tão cedo.
Isso poderia ser um problema.
— O relatório está tão ruim assim? — perguntou Donna.
— Não, mas também não preciso dela sentada aí me observando. — Já
bastou na sexta-feira que ela ficou sentada aí, a menos de dois metros de
distância, e foi uma completa distração. Quase não consegui me concentrar
porque estava tentando descobrir qual era o perfume dela, uma mistura
almiscarada e sexy. E como as mãos se agarraram e depois se afrouxaram nos
braços da cadeira, me fazendo ter uma ereção ao pensar naquelas mãos
deslizando pelo meu peito e envolvendo o meu pau.
Porra, ela era problema.
— Principalmente se você vai me obrigar a almoçar com Wilson —
acrescentei quando olhei para Donna e ela estava me encarando com olhos
semicerrados. Não queria que ela fizesse mais perguntas sobre a Harper,
mesmo que fosse a respeito da qualidade de seu trabalho.
Ela respirou fundo.
— Olha, não quero me intrometer...
— Então, não se intrometa — respondi grosseiramente. O que ela ia
dizer? Será que percebeu que eu estava tratando a Harper de forma diferente?
Que estava atraído por ela?
Atraído. Merda. Precisava me manter afastado. Era só um rosto bonito
com peitos incríveis e bunda fantástica. Conhecia muitas mulheres com esse
perfil. Meu telefone estava cheio com números de mulheres assim na
discagem rápida que viriam e me ajudariam a tirar Harper da cabeça esta
noite se eu achasse que isso fosse ajudar. Ela não era nada especial.
— Você está sendo muito duro com ela, e não acho que seja sobre o seu
desempenho no escritório.
Fiquei tenso como se tivesse sido pego com a boca na botija. Congelei,
não querendo reagir de um jeito que pudesse confirmar qualquer suspeita.
— Você está assim por causa da Amanda? — perguntou ela, a cabeça
inclinada de lado.
Meus ombros cederam. Afinal, não tinha percebido nada em minhas
interações com Harper.
— Deve levar tempo para que ambos se adaptem. Faz quanto tempo que
Pandora foi embora? — perguntou Donna.
— Umas seis semanas. Sim, leva tempo. — Ergui as sobrancelhas. A mãe
de Amanda, Pandora, e o marido, Jason, foram para Zurique porque ele
arrumou um novo emprego. — Sempre fui tão presente na vida dela, que não
percebi o quanto mudara. — Sempre tive guarda compartilhada da minha
filha de quatorze anos, mas para mim, significava apenas fins de semana e
feriados. Estava percebendo bem depressa que nos últimos quatorze anos
fiquei com a parte boa, com os momentos divertidos com Amanda. Não tinha
que me preocupar com lição de casa, tintura de cabelo ou maquiagem. —
Agora estamos nos adaptando. E o caminho é um desafio.
Costumava ficar em Connecticut somente nos fins de semana, mas
Pandora e eu concordamos que Amanda devia permanecer na mesma escola.
Então, agora eu ficava em Manhattan apenas duas noites por semana
enquanto Amanda permanecia com os avós. Trabalhava no trem no trajeto
casa-trabalho e depois que Amanda ia dormir, mas não estava acostumado a
isso.
Nem com a atitude da minha filha.
— Ela quer pintar o cabelo. Já disse não um milhão de vezes, mas ela não
esquece esse assunto. — Suspirei. Não estava habituado a ser repetitivo. —
Juro que um dia vou chegar em casa e encontrá-la com o cabelo pintado.
Donna riu.
— Adolescentes são um desafio. Estou feliz por ainda ter alguns anos até
chegar a minha vez. Bem, sei o que costumava passar pela minha cabeça aos
quatorze anos. Não é nada bonito.
Não tinha ideia do que se passava na cabeça de Amanda na maioria das
vezes.
— Não sei se quero saber — respondi, passando as mãos pelo rosto.
Donna sorriu.
— Acredite, é melhor você nem sem saber. Tente dizer sim às vezes,
dessa forma, nem tudo vira discussão. O que a Pandora falou?
— Que cortaria minhas bolas se eu a deixasse pintar o cabelo.
— Bem, pelo menos estão de acordo.
Pandora e eu concordamos com a maioria das coisas quando se tratava da
nossa filha. Como éramos bem jovens quando Pandora engravidou,
decidimos recomeçar do zero. Sem bagagens. Sem ressentimentos. Apenas
tentamos fazer o melhor que pudemos. Por pouco tempo brincamos com a
ideia de tentar fazer as coisas darem certo entre nós, mas nenhum dos dois
tentou com muito afinco. Tinha sido uma aventura antes da faculdade e nada
mais.
Não sei se foi ou não uma decisão consciente, mas assim que Amanda
nasceu, soube que minha vida seria toda em função da minha filha. Sim, a
minha empresa era importante, mas porque precisava dela para sustentar
Amanda, queria que ela tivesse todas as coisas boas, era isso o que me
motivava. Estava determinado que, apesar de Pandora e eu termos cometido o
erro de ela ter engravidado, ter uma filha jamais seria. Ela era a única coisa
importante na minha vida e a razão pela qual nunca haveria espaço para mais
ninguém.
Com o apoio de nossos pais fomos capazes de concluir a faculdade.
Pandora conheceu Jason no segundo ano e eles se casaram pouco depois da
formatura. Fui um dos padrinhos e Amanda ficou no meu colo durante a
cerimônia. Era um arranjo estranho, mas funcionou durante todos esses anos.
Mas, olhando para trás, Pandora foi responsável pela educação da Amanda
diariamente. Agora, o bastão foi passado para mim.
— Sim. No entanto, a mudança é maior do que eu pensava. Antes, se me
pedisse para pintar o cabelo, eu teria dito para perguntar à mãe, ou
respondido que não e a levaria para casa, deixando Pandora com as
consequências. Agora é tudo comigo.
— Lembre-se, Amanda provavelmente está sentindo falta da mãe
também.
— Foi ideia dela que eles fossem sozinhos. Jason estava prestes a
dispensar o emprego em Zurique.
— Eu sei, mas ela está na idade em que às vezes consegue ver o ponto de
vista de um adulto e às vezes, ainda ser uma criança.
Assenti com a cabeça e meu coração deu um aperto que só Amanda era
capaz de provocar. Ela tinha apenas quatorze anos. Jesus, nenhum dinheiro
no mundo me faria voltar no tempo. Era tudo tão estranho.
— Elas conversam pelo Skype o tempo todo. Acho que convivo mais com
a Pandora agora do que antes. A gente conversou pelo Skype, literalmente, o
jantar inteiro na noite passada. — Dei risada. — Na verdade, foi legal. Acho
que a Pandora está preocupada de não ter feito a coisa certa ao deixá-la
comigo.
— Tenho certeza de que vai ficar tudo bem. Só precisam se acostumar um
com o outro.
Assenti.
— Sim, espero que ela... — Meu FaceTime tocou. — Aqui está ela. —
Peguei o celular. — Oi, a Donna está aqui, diga oi.
— Oi, Donna — respondeu minha filha.
— Olá, Amanda. Você está tão bonita.
— Mas eu ficaria melhor com o cabelo loiro, né?
Donna riu e se levantou.
— Prefiro não comentar. Vou sair para que possam conversar um pouco.
— Oi, meu amor. Tudo bem? — perguntei quando Donna fechou a porta
ao sair.
— Só queria saber quando vai voltar pra casa.
Verifiquei o relógio no notebook. Ainda era meio-dia.
— Provavelmente, só lá pelas oito. Marion está aí, certo?
Minha governanta conhecia Amanda desde que era bebê, então era a
pessoa perfeita para ficar com ela depois da escola e nos feriados. Esta
semana, Amanda estava de férias.
— Sim, ela está aqui. Só pensei que talvez você fosse voltar pra casa mais
cedo hoje.
Meu coração apertou novamente. Noventa por cento do tempo, ela me
deixava maluco, mas eram por momentos como esses que eu vivia. Pode ter
quatorze anos, mas às vezes ainda precisava do pai.
— Como foi sua manhã?
— Ugh. Não quero falar sobre isso.
— Ainda está brigando com a Samantha? Sabe que vai se sentir melhor se
desabafar. Os problemas são uma merda...
— Paiiii.
Dei risada. Ela não gostava de qualquer conversa que envolvesse
intestinos ou gases, então sempre que eu tinha chance, a provocava.
— Já chamaram a Samantha para o baile — murmurou ela.
Aquilo chamou a minha atenção.
— O que você quer dizer com chamaram? Tipo, um menino a convidou?
Como num encontro? — Minha garganta começou a se fechar e eu tossi. —
Você está no Ensino Fundamental, pelo amor de Deus, não pode ir a
encontros. — O baile da oitava série de Amanda estava ocupando espaço
demais na cabeça da minha filha. Preferiria que seu foco fosse em
matemática ou geografia.
— Tenho quatorze anos e não doze.
Havia diferença?
— Mas você vai com a Patti e suas outras amigas, não é? — Tentei
impedir que o pânico crescente refletisse no meu tom.
— Claro, mas...
— Quer que um garoto te chame e ele não convidou? — Eu queria
desesperadamente que ela dissesse não, que negasse que o meu pior pesadelo
estava se tornando realidade.
— Não. Ainda não. Obrigada por me lembrar. Vou ligar pra mamãe.
Converso com você mais tarde.
— Amanda, não desliga. O que...
Ela desligou. Jesus, o que foi que eu fiz agora? Não estava fazendo nada
direito no momento. As coisas eram muito mais fáceis quando ela morava
com a mãe. Antes da mudança, não fazia nada de errado. Tudo o que eu tinha
que fazer eram algumas cócegas, contar piadas, ler uma história antes de
dormir e ela me achava incrível. Agora, tudo o que fazia tinha como resposta
um revirar de olhos ou um Paiiii.
Porra. Eu precisava ligar para a Pandora. Quem sambe até enviar Amanda
para Zurique no final de semana do baile? Dessa forma não haveria garotos
ou encontros e eu não teria que me preocupar em ir preso por assassinato.
Minha filha tinha quatorze anos – não estava preparada para a realidade da
espécie masculina.
— Entre — ladrei para a batida forte na porta. Harper entrou na sala.
Gemi. Estar no mesmo lugar que ela era a última coisa que eu precisava.
— O que foi? — perguntei conforme vinha na minha direção.
— O relatório revisado de Bangladesh. — Ela levantou alguns papéis.
— Podia ter deixado com Donna.
Ela colocou o relatório na minha mesa bruscamente.
— Tenho certeza de que se eu tivesse deixado com a Donna, você teria
dito que eu deveria ter entregue em mãos.
Ah. Atrevida. Fui pego de surpresa. Tive que me segurar para não sorrir.
Ela estava certa, eu estava sendo muito duro com ela. Mas não era pessoal.
Tudo bem, era um pouco pessoal. É só que ela me irritava. Eu me orgulhava
de não ser emotivo no trabalho. Sempre consegui separar as diferentes áreas
da minha vida, desligava um mundo enquanto estava em outro. Harper
borrava as linhas. Durante nossas reuniões, ficava obcecado na curvatura de
seu pescoço, ou na blusa justa nos seios. Tentava descobrir qual era o seu
perfume ou imaginando como seria sentir a sua pele sob os meus dedos.
Tentei desligar essa parte da minha imaginação. Repetidamente.
Encarei a tela do notebook.
— Bem, agora que está aqui, apenas deixe-o na mesa que vou tentar olhar
depois.
— Vou deixar o seu sanduíche com a Donna, então — respondeu e se
virou para sair. Estava usando um vestido novo. Ficou bom nela, exibia a
bunda e o gingado dos quadris ao mesmo tempo em que era de gola alta e
recatado.
Não tive tempo de responder porque ela saiu e bateu a porta.
Jesus, estava recebendo respostas ariscas de todos os lados hoje. Era lua
cheia? Peguei o celular e liguei para a Amanda. Não atendeu.
Tinha uma pilha de papéis para verificar, mas queria chegar ao fundo da
questão com Amanda. Se tinha esperanças de ir ao baile com um garoto,
tínhamos muito o que conversar. Reuni todas as minhas coisas. Trabalharia
no trem. Sair do escritório seria um bônus duplo – poderia estar com a minha
filha e colocar certa distância entre mim e Harper. Mas não era uma solução a
longo prazo. Não podia deixar de vir ao escritório para evitar a Harper.
Precisava de um plano para mantê-la longe de mim. Uma forma de garantir
que ela não quisesse nada comigo

A viagem para Connecticut me relaxou e consegui me concentrar melhor


a cada quilômetro colocado entre mim e Harper.
— Panquecas? — perguntou Amanda entrando na cozinha
preguiçosamente. As portas francesas estavam abertas e uma leve brisa
circulava ao nosso redor. Apesar de não sermos nada parecidos com uma
família tradicional, sempre gostei que esta casa desse um ar de família nesse
estilo. Não tinha nada das linhas elegantes, esplendor e o glamour do meu
apartamento de Nova York, mas eu gostava de ambos, sentia-me em casa nos
dois lugares.
Acenei com a cabeça, quebrando o ovo em uma tigela. Desde que havia
feito a transição para comida sólida, Amanda e eu comíamos panquecas nos
domingos de manhã e conversávamos. As panquecas eram um lance nosso.
— Chegou mais cedo hoje — comentou ela. Havia insinuado no telefone
que me queria em casa, mas nunca esperou que eu fosse vir. Era bom poder
surpreendê-la. Entendia que o trabalho era importante, mas que ela sempre
vinha em primeiro lugar. De muitas maneiras, ela era madura, mas, de vez em
quando, eu recebia um lembrete de que ainda tinha quatorze anos.
Assenti com a cabeça de novo.
— Tipo... metade do dia mais cedo — acrescentou.
— Pensei em passar um tempo com minha mocinha favorita. Mandei
Marion para casa, então teremos panquecas. — Marion cozinhava para nós
nas noites em que eu estava em casa. Duas noites por semana, os avós da
Amanda brigavam para ficar ela. Porque passara muito tempo com eles
quando era pequena, era quase como se tivesse três casais de pais, e minhas
duas irmãs contribuíam com a cota de tias.
Amanda sentou-se em um dos bancos no balcão, enquanto me observava
preparando a massa.
— Conversou com a sua mãe hoje? — perguntei. Aprendi que não podia
simplesmente chegar e perguntar a Amanda quem ela queria que a convidasse
para o baile e porquê. Não, tinha que esperar que ela dissesse. Para minha
sorte, Amanda era uma tagarela.
— Não. Ainda não.
Fiquei em silêncio, tentando encorajá-la a falar.
— Bobby Clapham convidou a Samantha para o baile.
Segurei o misturador com mais força, mas fiquei com a boca fechada.
Tinha que escutá-la.
— E pensei que Callum Ryder fosse me convidar, mas ele não disse nada.
Quatorze anos. Ninguém me disse que sair com garotos começaria assim
tão cedo. Será que eu podia ligar para a Pandora e entrar num acordo para
trancar a Amanda no quarto até ela completar vinte e um? Podia desistir do
trabalho e dar aulas para ela em casa por alguns anos, depois ela poderia fazer
uma faculdade à distância. Era uma opção.
— Callum Ryder, ele é da sua classe? — Nunca ouvi falar dele. Ou talvez
tinha ouvido e simplesmente não dei atenção. Porque Amanda gostava de
falar, eu desligava grande parte do que dizia. Era muita coisa – todos os
amigos, as brigas, as preocupações que duravam cinco segundos. Não
conseguia acompanhar. As coisas que eu digeria passavam rapidamente pelo
meu cérebro, e eu não guardava quase nada sobre suas amizades da escola.
Estava começando a perceber que tal abordagem pode ter sido um erro.
— Meu Deus. Você escuta alguma coisa que eu digo? — reclamou ela. —
Callum mudou-se pra cá de San Francisco, no último semestre. Não se
lembra que eu te contei?
— Ah, é mesmo. — Balancei a cabeça, tentando esconder o fato de que
não tinha ideia do que ela estava falando. Por que não a mandamos para uma
escola só de garotas? — E você quer que ele te convide para o baile?
Um rubor subiu por seu rosto e uma dor lancinante disparou no meu peito.
Ela era jovem demais para tudo isso.
— Talvez — respondeu ela. — Mas só porque ele é engraçado, e eu o vi
dançar uma vez durante o intervalo e parece que ele é capaz de se mover no
ritmo da música.
— Então, todos estão indo como casais? — tentei não estremecer quando
falei. Minha garotinha.
— O que você quer dizer? — perguntou ela, tirando uma uva da tigela de
frutas no balcão.
— Se Callum lhe convidasse para o baile, ele viria buscá-la e...
— Não, Samantha e eu iremos juntas. Você disse que nos levaria. Não se
lembra? — Espalmou as mãos na frente do corpo como se eu fosse,
possivelmente, o homem mais estúpido que já tinha existido.
— Sim, eu me lembro — menti. — Mas pensei que você e Samantha não
eram mais amigas.
— Na semana passada, pai. Presta atenção.
— Tudo bem, explica pra mim porque não sei como essas coisas
funcionam. Então você vai ver o Callum lá?
Ela deu de ombros.
— Acho que sim.
O estrondo do meu pulso diminuiu. Talvez rotular essa coisa toda como
um encontro tenha sido excessivamente dramático. Despejei a massa na
frigideira, tentando encobrir meu alívio.
— Então, já tem uma fantasia para o baile? — perguntei.
— Fantasia? Você quer dizer um vestido? Não é uma festa à fantasia.
Suspirei.
— Me dá um desconto. Você tem um vestido?
Ela sorriu.
— Estava pensando se gostaria de companhia na cidade esta semana?
Sabe, poderíamos ir às compras, quem sabe?
— Em Manhattan? — Não tinha certeza se era qualificado para fazer
compras para um baile. Não sabia o que seria apropriado. Não gostava da
Amanda na cidade, e tentava desencorajar suas tentativas de me visitar
quando eu estava no apartamento de Manhattan. Nova York não era lugar
para uma criança. Havia más influências, muitas.
— Sim — respondeu ela.
— Não gosta das lojas daqui?
— Quero ter um vestido diferente de todas. — Algo em minha expressão
deve ter atraído a sua atenção. — Só porque tenho quatorze anos não
significa que encontrar o vestido perfeito não é importante, se é o que está
pensando. Talvez se você namorasse, entenderia.
Aqui vamos nós. Uma crise sempre se sobrepunha a outra. Amanda
sempre me importunava para ter uma namorada. Ou uma esposa. Mulheres
eram cansativas. O trabalho era mais fácil. Ou era, antes de Harper aparecer.
— Quero te ver bonita. Claro que entendi. Tenho muitas mulheres na
minha vida. — Com duas irmãs, uma filha e a Pandora, não havia falta de
estrogênio no meu mundo.
— Você sempre pensa nisso de uma maneira tão egoísta. — Amanda
suspirou e desceu do banco. Ela começou a pegar pratos e talheres. Ajudar na
cozinha sem que precisasse pedir era algo novo. Estava começando a ter
lembretes constantes sobre o quanto estava crescendo e, embora estivesse
orgulhoso, era como se estivéssemos descendo uma ladeira sem freios.
Queria pausar por um segundo, aproveitar o aqui e agora por alguns anos.
— Estou sendo egoísta por não namorar? — perguntei, virando as
panquecas.
— Totalmente. Você sabe o quanto sempre quis uma irmã. Mamãe está
casada com Jason a vida toda e eles me ignoraram por completo, então está
nas suas mãos. Não entendo o que está esperando. Você não quer se casar?
— Ei, espere um pouco. Um minuto atrás você estava falando sobre sair
com um garoto e agora, eu não só tenho que namorar, mas tenho que me
casar e engravidar minha esposa? — Ela deve estar conversando com as
minhas irmãs. Sempre me importunavam para sair, tentando me juntar com
suas amigas. A questão era que eu não precisava de ajuda para conseguir
mulher. Mas, nem Amanda, nem minhas irmãs precisavam ouvir sobre minha
vida sexual.
Ela riu.
— Nunca pensou nisso? Estamos aqui, nessa casa grande, só nós dois, e
logo estarei na faculdade.
— Está tentando me matar hoje? Ainda tem alguns anos antes de ir para a
faculdade. — Ela estava certa, a faculdade estava realmente se aproximando.
Claro que eu queria que ela fosse, mas talvez pudesse continuar morando em
casa. Não estava pronto para deixá-la ir inteiramente.
— Acho que seria bom você ter alguém. E se eu ganhasse uma
irmãzinha? Bem, então seria ainda melhor. — Colocou os pratos no balcão e
ajeitou os talheres em ambos os lados dos pratos.
— O que despertou esse assunto? Você não me dá esse sermão em
particular já tem algum tempo, meu amor. — Teria sido só influência das
minhas irmãs, ou estava sentindo falta da Pandora? Servi as panquecas e
desliguei o fogo. Eu não bastava para ela?
Ela deu de ombros.
— Não sei. A mãe de Samantha estava me perguntando se você estava
saindo com alguém, e eu acabei ficando com isso na cabeça.
A mãe de Samantha? Por que eu achei que havia mais por trás da questão
da mãe – recentemente divorciada – de Samantha do que um simples
interesse cordial? Desde que Amanda veio morar comigo, várias mães de
suas amigas pareciam encontrar uma desculpa para aparecer por aqui. Nunca
dei motivo a qualquer uma delas para pensar que eu estava disponível.
— Acho que seria bom se encontrasse alguém, é só isso. E eu quero uma
irmãzinha.
Eu saía – e com isso queria dizer que eu fazia sexo, muito sexo. Mas
sempre acontecia em Nova York. Nunca trouxe ninguém para casa em
Connecticut. Mantinha meus dois mundos separados. Nada além disso. Tinha
o melhor dos dois mundos – minha família em Connecticut e King &
Associates e a minha carreira em Wall Street. Nunca precisei de mais nada.
Não havia buracos na minha vida no que me dizia respeito. Aparentemente,
Amanda não estava de acordo.
— Não sentiria falta do nosso tempo de pai e filha juntos? De comer
panquecas, assistir aos jogos?
— Por que teríamos que parar? Nós três poderíamos fazer isso juntos, e
quando Chelsea estivesse mais velha, também poderia fazer panquecas.
— Chelsea? — Fiquei confuso.
— Minha irmã mais nova. Ou talvez, Amy fosse melhor. Gosto que
nossos nomes comecem com um A.
Claro. Dei risada quando Amanda sorriu para mim.
— Você é louca, mas eu amo você.
— Podia te arrumar um encontro, se quisesse.
— Pare e coma suas panquecas.
— Se concordar em ir a um encontro, não vou contar à mamãe que está
me alimentando com panquecas numa segunda-feira à noite. Você sabe que
ela ficaria louca da vida. — Uau, acho que algumas das minhas habilidades
de negociação foram passadas através da genética.
— Me diz que não está tentando me chantagear. — Baguncei o cabelo
dela quando me sentei ao seu lado no balcão. — Vou me arriscar com a sua
mãe. Ela sabe que, às vezes, o açúcar é a única solução.
— Você não é engraçado.
— Sou seu pai. Não deveria ser engraçado.
— Por favor, pense em levar uma mulher para jantar. Tinder é um bom
lugar para encontrar alguém.
Tinder?
— Me dê sua palavra de que você não está no Tinder, ou vou tomar seu
telefone e não o terá de volta até completar trinta e cinco anos.
— Papai, é claro que não estou no Tinder. Tá maluco? Tenho quatorze
anos. — Ainda bem que ela tinha senso. — Tinder é para pessoas mais
velhas. Como você. — Amanda segurou o caramelo sobre o prato e a
viscosidade âmbar escorreu.
Será que a Harper estava no Tinder? Talvez eu devesse tentar descobrir.
Porra, não. Por que eu estava pensando nisso?
— Dê uma olhada, papai. Me prometa.
— Não vou prometer nada — respondi, mas não tinha certeza do quão
convincente soei.
CAPÍTULO TRÊS

E stou à espera de um retorno de Max sobre o relatório de


Bangladesh há três dias. Trabalhei duro no fim de semana para que
ele o recebesse na segunda-feira. Não deveria me incomodar. Era
quarta-feira à noite e ele cancelou nossa reunião duas vezes. Tirei os sapatos
e caí no sofá. Conseguia ouvir Ben, ou talvez fosse Jerry, me chamando lá do
freezer.
— Parem com isso, pessoal — gritei. Não podia passar a noite comendo.
Não. Seria produtiva – aproveitaria a academia no porão. Isso tiraria o babaca
do meu chefe da cabeça. Ele passou por mim no corredor no início do dia e
me ignorou totalmente. Tudo bem, talvez meu relatório poderia ter sido
melhor, mas me dar o tratamento de silêncio não parecia profissional. Tinha
que continuar me lembrando de que ele não era o homem que pensei que
fosse e que isso não significava que eu não conseguiria bastante experiência
trabalhando para a King & Associates.
Vesti minha roupa de academia, peguei uma garrafa de água e desci. A
academia do prédio era melhor do que eu podia ter imaginado quando
comecei a procurar um lugar em Manhattan, e que ainda não tinha tido a
oportunidade de visitar. O trabalho pode não ser bom, mas o lar era um
casulo protetor de qualquer coisa ruim. Podia relaxar – concentrar-me no que
era importante.
Trinta minutos no elíptico esfriaria a minha cabeça e me impediria de
pensar nas maneiras de machucar Max King fisicamente.
Quando entrei na academia, notei que já havia três homens – um usando
os halteres, um na bicicleta e outro no remo indoor. E, além da TV no canto da
parede passando a CNN no mudo, estava silencioso. Verifiquei o resto do
espaço. Sem espelhos, então não precisava olhar para qualquer parte do meu
corpo balançando enquanto me exercitava. Perfeito. Era como se eu mesma
tivesse criado o lugar.
Indo na direção a um elíptico vazio, evitei o olhar evidente do homem
usando os pesos. Coloquei a garrafa de água no suporte do aparelho logo
atrás do homem na bicicleta – ele tinha uma bunda incrível – e subi, tentei
encontrar uma velocidade que não me mataria. Exatamente o que eu
precisava para parar de pensar no escritório – um treino intenso e uma bela
visão.
Encontrei uma velocidade no aparelho que eu sabia que seria difícil, mas
queria focar em algo diferente da decepção que a King & Associates estava
se tornando. Precisava conseguir me desligar quando não estava no escritório,
ou ficaria louca. No meu primeiro dia de trabalho meu queixo doeu de tanto
sorrir. Finalmente estava realizando meu sonho, e tudo por mérito próprio.
Parecia ter chegado no primeiro degrau de um futuro brilhante – onde o início
de todos os meus planos convergia. Estava fora de mim de tão entusiasmada.
Mas o brilho desapareceu bem rápido, em algum momento na primeira
semana, quando fui apresentada a Max e ele mal olhou para cima da mesa
para me cumprimentar.
O homem na bicicleta arfou e sentou-se, circulando os ombros, inclinando
a cabeça de um lado a outro enquanto continuava o pedalar num ritmo
acelerado. Ele tinha belas costas largas, e os cabelos pretos estavam
encharcados de suor. Precisaria de um bom banho. Se ele fosse o homem que
eu tinha ouvido fazendo sexo na cobertura, ficaria feliz em fazer-lhe
companhia.
— Você mora no prédio?
Sobressaltei quando o homem que estava usando os halteres apoiou o
braço no meu aparelho. Não o tinha visto se aproximar. Era baixinho,
exageradamente musculoso e tão bronzeado que eu tive vontade de perguntar
se ele tinha perdido alguma aposta. Ele parecia pertencer ao litoral de Jersey e
não do centro de Manhattan. Assenti com a cabeça, esperando que o fato de
eu não responder o afastasse.
— Você tem uma bunda bonita, se me permite dizer.
Sério isso? Ele levantou as mãos quando eu o olhei furiosa.
— Não precisa ficar toda brava. É só que eu gosto de uma bela bunda.
Foquei o olhar no painel do meu aparelho, querendo socar o homem.
— Acho que é melhor você ir andando — disse um homem atrás do cara
de Jersey.
— Ei — o cara de Jersey respondeu. — Estava elogiando a garota.
Continuei com a cabeça abaixada, não querendo atrair mais atenção.
— Quem perde é ela, não é? — meu salvador respondeu. Reconheci
aquela voz. Meu cérebro tentou descobrir se era uma pessoa famosa.
O cara de Jersey se afastou e olhei para cima com um sorriso.
— Obrigada...
Era como se alguém estivesse tentando acabar com a minha vida.
O maldito – Max King – estava bem na minha frente.
Pode. Me. Matar. Agora.
O homem cujo qual eu queria escapar, razão de eu ter vindo até aqui,
estava de pé no meio da minha academia no meu prédio. Olhei ao redor. O
cara de Jersey foi embora, e o remador ainda remava. Max King era o “cara
da bunda incrível”. A vida não era justa.
Meus braços e pernas pararam de funcionar e eu tropecei, meio que
descendo do elíptico, tropeçando até encostar na parede atrás dos aparelhos.
Sério? Os problemas continuavam a surgir.
— Você está bem?
Comecei a me afastar lateralmente à parede quando ele veio na minha
direção.
Assenti com a cabeça, sem saber o que diria se, na verdade, fosse capaz
de formar palavras. Como isso era possível? Meu apartamento devia ser o
meu santuário longe do comportamento estúpido desse homem do escritório.
Agora tinha que me preocupar em esbarrar com ele nos corredores do prédio
quando estivesse bêbada ou sem maquiagem. Não que tivesse importância se
ele me visse sem maquiagem ou de moletom; seria apenas outro motivo para
ele pensar menos de mim.
— Está certo, então. Acho que você mora no prédio — disse ele, então
cerrou o maxilar e piscou os olhos na direção da porta como se quisesse
escapar.
Por mim, tudo bem.
— Sim, acabei de me mudar.
Ele olhou para mim e apertou os dedos na testa do mesmo jeito de quando
revisou meu relatório de Bangladesh.
— Certo.
E foi isso. Antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa a dizer, ele
disparou, passando pela porta como se suas bolas estivessem pegando fogo.
Ele não tinha boas maneiras nem fora do escritório. Ainda era frio e
grosseiro.
Apesar da bunda incrível.
Recostei-me contra a parede, tentando entender tudo. Um ano atrás, eu
teria pensado que minha vida tinha atingido o pico por apenas estar dentro de
um raio de quatro metros de Max King. Agora ele não só me torturava no
escritório, mas acabou de transformar a academia do meu prédio em uma área
proibida. Peguei a garrafa de água e voltei para o apartamento. Podia o meu
dia piorar?

Depois do meu quase aneurisma ao dar de cara com Max na academia,


tomei o banho mais quente possível sem acabar na emergência do hospital,
sequei o cabelo e me enrolei no robe de seda branca, que eu tinha comprado
numa promoção na Barney’s. Sempre fazia eu me sentir melhor. Como se
fizesse eu me recompor. Precisava de uma dose de melhor amiga, e estaria de
volta aos trilhos.
— Oi, Grace — cumprimentei quando ela atendeu a ligação.
— Sua voz parece de quem está prestes a enfiar a cabeça no forno —
respondeu.
Queria perguntar se eu podia ir passar a noite da casa dela. E as demais
que restavam para acabar o meu prazo de locação.
— Só um dia ruim no trabalho. — Se eu contasse a ela sobre Max estar no
prédio, ela me faria voltar para o Brooklyn antes que ela pudesse dizer a
palavra sublocação. Teria que me conformar com uma sessão geral de
reclamação, então expliquei que ainda não tinha ouvido nada sobre o
relatório de Bangladesh.
— Já pensou em sair desse emprego? Não pode realmente valer a pena.
— Não posso sair. É o meu emprego dos sonhos. Foi por ele que trabalhei
tanto. Só preciso de dois anos no currículo, e então estarei livre. — E quem
poderia dizer. Talvez eu tenha impressionado ele com o relatório revisado de
Bangladesh. Poderia entrar no escritório amanhã e descobrir que ele havia
virado a página.
E eu posso ser a próxima Beyoncé.
— Dois anos é muito tempo para ser infeliz. Ainda pode conversar com o
seu pai.
Ela estava falando sério?
— Por que você está falando isso? — Grace sabia que eu era a única de
seus filhos que não trabalhava no JD Stanley, o banco de investimento dele.
Meus três meios-irmãos começaram o curso de pós-graduação em setembro
depois da faculdade. Pensei que teria a satisfação de rejeitá-lo, mas ele nunca
me chamou para trabalhar lá. Por que Grace pensaria que eu ligaria para ele?
Não queria nada dele.
— Você faz o tipo de trabalho que a empresa dele precisa, não é? Não
tem a habilidade perfeita para o negócio?
— Não importa. — Os gritos de Ben e Jerry estavam aumentando da
cozinha. — Não trabalharia para ele se fosse o último homem na Terra. E se
você se lembrar, ele nunca me ofereceu emprego. Não tinha o equipamento
de reprodução certo.
— Provavelmente não achou que você queria. — O que não significava
que ele não podia ter perguntado. — Ele não te conhece, não sabe o quão
brilhante e ambiciosa é. Ele tem o quê, cem anos de idade. Deve ser
antiquado. — Era apenas de uma geração diferente que pensava que as
mulheres deveriam ficar em casa, cuidando das crianças? Se alguma vez
tivesse me conhecido, saberia que eu não era assim.
— Não consigo acreditar que estamos tendo essa conversa. Não vou
desistir do trabalho dos meus sonhos, e não vou pedir nada ao meu pai. —
Joguei as pernas no sofá, deitei de costas e fiquei encarando o teto. — Está
realmente começando a me aborrecer ouvir você defendendo ele.
— Na verdade, não estou. Só estou tentando te oferecer uma solução.
Grace estava sempre tentando resolver meus problemas. E os problemas
de todos os homens com quem namorava. Não havia nada que Grace pudesse
fazer para corrigir essa situação.
Passos foram dados no andar de cima, fazendo a luminária balançar
suavemente para frente e para trás. Jesus, a última coisa que eu precisava era
dos meus vizinhos transando de novo. Não queria me lembrar da minha vida
sexual inexistente.
— Obrigada, mas não preciso de uma solução. Estou exatamente onde
quero estar. — Eu não era uma desistente.
— Mas está infeliz.
— Não estou. — Devia reclamar menos. Só estava frustrada por encontrar
Max no meu prédio. — Meus padrões são muito altos. — O barulho do andar
de cima soou como se alguém estivesse andando de um lado para o outro. —
Vou reajustar, recomeçar e tudo vai ficar bem.
Música clássica, Bach talvez, explodiu do andar de cima. Estava tão alto
que meu apartamento começou a vibrar. Metaleiros ou viciados por dance
music que deveriam colocar música alta e irritar seus vizinhos, não os
amantes da música clássica.
— Você está ouvindo música clássica? Jesus, menos de uma semana em
Manhattan e já estamos nos distanciando.
Dei risada.
— Não, não estou. É do andar de cima.
— Os fodedores?
— Sim. Embora não estejam trepando. Um deles calçou suas botas de
concreto e está dançando feito um elefante sobre o meu teto. — A música não
tinha abafado as pisadas constantes. — Não sei dizer se há duas pessoas lá
em cima.
— Brooklyn parece um pouco mais atraente. — Grace não conseguiu
esconder a presunção do seu tom de voz.
— Tenho certeza de que logo abaixarão o volume. Talvez tiveram um dia
ruim e estão tentando aliviar o estresse, igual eu faço com...
— Taylor Swift?
Dei de ombros, não envergonhada pela minha preferência por Swift.
— Ia dizer Stevie Wonder, mas Taylor também serve.
— Não está brava com o barulho?
Qualquer outro dia, eu estaria furiosa, mas se eu me permitisse ficar
irritada com meus vizinhos da cobertura, não teria mais nada. O trabalho
estava tão decepcionante que me deixou vazia por dentro. Todo o entusiasmo
se dissolveu, e se tornou exatamente igual ao meu antigo de garçonete na
época de faculdade – um meio para um fim. E agora, com Max no prédio, o
único lugar em que me sentia segura era atrás da porta do meu apartamento.
Certamente, logo meus vizinhos parariam de andar e diminuiriam a música.
— Me conte sobre o seu encontro? — perguntei. — Foi pra isso que
liguei.
Grace tinha uma coisa por pessoas menos afortunadas como músicos,
artistas ou mesmo qualquer um que tivesse uma vida toda bagunçada. O que
significava que sempre havia drama em sua vida, sempre alguém para
consertar.
— Ahhh — Ela suspirou. — Ele é tão talentoso. Só precisa encontrar o
patrocinador certo, ter um pouco de sorte, sabe? — Tinha me esquecido o que
ele fazia. Todos pareciam se transformar em um único homem cujo nome do
meio era “perdedor”.
— Acha que ele tem o que é preciso? — Grace gostava da ideia de
encontrar um homem antes que eles fizessem sucesso e ser aquela que estava
lá desde o início. O problema era que eles nunca conseguiam isso. Ela
simplesmente pulava de um perdedor para outro.
— Acho de verdade. Esse homem é o próximo Damien Hirst ou Jeff
Koons, eu juro.
Ah, é mesmo. Esse era um artista. Olhei para o teto quando a luminária
balançou com muito mais força.
— Ele está preparando uma montagem em Nova Jersey na próxima
semana. Você deveria vir. Vai amar.
Não tinha certeza de que Nova Jersey era o lugar para uma demonstração
do próximo Jeff Koons, mas bom, isso me faria sair.
— Tudo bem. Mas quando você diz “montagem”, o que quer dizer com
isso?
— É uma peça interativa na qual está trabalhando. Ele não quer me
mostrar, mas tenho certeza de que é incrível.
Grace era tão sensata e prática em todos os sentidos, mas queria acreditar
absolutamente no melhor de tudo. Era um pouco cativante, um pouco
irritante.
— E ele tem um amigo que eu quero te apresentar.
Eu gemi.
— Grace.
— Não, você vai gostar desse homem. Ele é um engravatado.
No andar de cima, o volume aumentou. Não conhecia música clássica,
embora minha mãe tivesse uma coisa com as suítes de violoncelo de Johann.
Bacana, mas tinha mesmo que colocar tão alto?
— Posso vestir um terno no meu cachorro. Não significa que eu queira
sair com ele.
Não era riqueza que me atraía; era a energia. Não importava se usassem
terno – embora não houvesse nada como um homem que pudesse vestir um
terno azul-marinho feito sob medida, como se isso fizesse parte dele. Talvez
odiasse Max King, mas minha nossa, ele sabia como usar um terno. E,
aparentemente, roupas de academia. Vê-lo na academia não mudou minha
opinião de que ele estava claramente a postos quando estava tendo um
embate.
— Você não tem cachorro — comentou Grace.
— Você entendeu o que eu quis dizer. — Não queria sair com ninguém,
não queria que o amor me distraísse. Vi algumas das minhas amigas indo tão
bem em suas carreiras e, de repente, ficando menos ambiciosas porque se
apaixonaram, então quando desaceleravam o ritmo, era quando eles as
dispensavam. Aconteceu até com a minha mãe. E eu não cometeria o mesmo
erro.
— Esse homem é bem-sucedido. Trabalha em algo na área de finanças, ou
talvez seja arquiteto.
— Sim, consigo entender como conseguiu misturar as duas coisas. — A
última coisa que eu queria era um homem da área financeira. A indústria
criava homens iguais ao meu pai e eles eram os piores tipos.
Grace riu.
— Sabe o que eu quero dizer. Você vem?
— Se prometer que não vai me arrumar ninguém. Não estou interessada.
— Não estou armando nada. Mas, o que posso dizer? Ele estará lá, você
também.
— Vou desligar. Preciso do meu sono da beleza. — Desliguei o telefone e
o joguei na mesa. Passava das dez, mas ir dormir mais cedo seria impossível
até que meus vizinhos amantes de Bach parassem com o barulho.
Leite quente e um Benadryl me ajudariam a dormir, mas eu só tinha
vinho, e o Benadryl tinha acabado.
Eu me servi de uma taça de Pinot Noir, fui para a cama e liguei a TV.
Depois de quarenta e cinco minutos, mal podia ouvir a TV através da
música, e as pisadas não diminuíram. Mas o que era isso, alguém estava
treinando para escalar o Kilimanjaro no andar de cima? Meus braços e pernas
começaram a se contrair de tensão. Quem quer que fosse que estava fazendo
barulho não dava a impressão de que pararia tão cedo, e eu queria dormir. Fui
mais do que paciente. Será que eu podia chamar a polícia? Havia algo no
contrato sobre não fazer barulho depois de um certo horário? Onde guardei
meu contrato de locação?
Afastei as cobertas e saí da cama, então abri a tampa do baú. A caixa de
negação – era onde estava toda a minha vida. Por fim, encontrei os papéis
que assinei pouco mais de uma semana, e comecei a folhear as páginas, quase
rasgando uma ao meio. Como alguém podia ser tão egoísta? Sexo alto era
uma coisa, mas música e prática de caminhada era outra. Corri os dedos pelas
páginas enquanto ficava cada vez mais impaciente. Sim. Dizia que eu não
podia perturbar nenhum outro vizinho depois das dez da noite. As pessoas no
andar de cima estavam violando o contrato de locação. Segurando os papéis,
eu me atrapalhei indo em direção à porta da frente, peguei as chaves e
disparei escadas acima. Olhei ao redor. Havia apenas uma porta de
apartamento. Bem, pelo menos eu não tinha que me preocupar em perturbar a
pessoa errada.
Bati na porta de metal, tentando engolir a raiva prestes a explodir. Tudo
isso era demais. Primeiro, encontrei o trabalho perfeito para que fosse
arruinado pela realidade de Max King, depois, dou de cara com ele na
academia do meu prédio. Agora, meus vizinhos barulhentos me impediam de
dormir. Tudo parecia tão injusto.
Bati de novo, mais alto desta vez. Será que não sabiam o quanto estava
alto?
A quem eu estava tentando enganar? Tinha certeza de que conseguia
ouvir esse pessoal lá dos Hamptons.
A pisada continuava subindo e descendo, para cima e para baixo. Não
havia ninguém vindo em direção à porta.
Bati os punhos contra o metal frio e gritei:
— Abra a porra da porta!
Quase que imediatamente os passos pararam, depois mudaram de direção.
Meu coração começou a disparar no peito. Será que fui longe demais? Podia
estar batendo na porta de um serial killer ou de um traficante de drogas com
paixão por Bach.
Travas começaram a abrir e eu cruzei os braços, preparada para dizer
umas verdades para o meu vizinho barulhento. Devia ter colocado um casaco
sobre o robe de seda.
A porta se abriu e, pela segunda vez, encontrei-me cara a cara com o Max
King, onde eu menos esperava encontrá-lo.
E, claro, ele tinha que estar sem camisa.
— Você está de brincadeira comigo? — berrei, jogando os braços no ar,
exasperada.
Seus olhos estavam arregalados e desceram pelo meu corpo. Segui seu
olhar. Merda, meu robe começou a abrir. Peguei a seda e a juntei contra o
corpo, tentando ignorar o fato de eu estar quase nua na frente do meu chefe.
Suas sobrancelhas quase alcançaram o teto e ele estendeu a mão.
— Entre — disse enquanto me puxava pelos cotovelos. — Você não está
vestida.
Tentei me manter firme, mas ele me agarrou com tanta força que caí sobre
ele, e nós dois tropeçamos para dentro de seu apartamento.
— Jesus, Harper — rosnou, e me afastou, mas não soltou meus braços.
Percebi que foi a primeira vez que o ouvi me chamar pelo primeiro nome.
Normalmente se dirigia a mim por Srta. Jayne. Ele fechou os olhos e com os
dentes cerrados, perguntou:
— O que você está fazendo aqui?
CAPÍTULO QUATRO

E star perto dela desse jeito me deixou louco, pois na minha cabeça
eu fazia a ela tantas coisas perversas, que sempre me preocupava
de achar que já estava familiarizado ao seu corpo quando estava ao
meu lado. E agora que a segurava, não sabia o que fazer. Só sabia que não
queria soltá-la.
— O que está fazendo aqui em cima? — Ela tentou erguer alguns papéis,
mas segurei seus braços firmemente de lado, empurrando-a contra a parede.
— O meu teto está cedendo com essas pancadas todas.
Meu cérebro perdeu a capacidade de raciocinar. Por que ela estava no
meu apartamento? Por que estava gritando?
Ver aquele protejo de mafioso dar em cima de Harper na academia,
acabou com o choque de perceber que ela residia no meu prédio. Queria
pegá-lo e jogá-lo para fora da academia aos pontapés. Então, quando ele saiu,
notei suas roupas de ginástica justas de um jeito tão colado que podia muito
bem-estar nua, então corri da academia, fugindo do formigamento na minha
pele que me dizia que eu tinha que sair antes que passasse vergonha.
E agora ela estava encurralada na parede do meu apartamento.Furiosa. E
parcialmente vestida.
Eu estava sem palavras.
Ela sempre foi tão calma e sob controle no trabalho. Era estranho vê-la
assim... agitada. Era óbvio que eu não a conhecia bem, muito provavelmente
porque praticamente a ignorava, desesperado demais para manter a maior
distância possível entre nós. Odiaria que ela adivinhasse o que estava
acontecendo no meu pequeno cérebro pervertido, que ela conhecesse todas as
coisas que eu imaginava fazer com ela.
— E a música. Qualquer um pensaria que a Orquestra Filarmônica de
Nova York está tocando aqui. Mas que droga está acontecendo?
Minhas mãos queimaram por estar segurando seus braços. Afrouxei o
agarre, mas não consegui soltá-la totalmente.
— Responde! — gritou ela. — Tenho que te aguentar me ignorando no
escritório, mas aqui você não assina meu contracheque. Está violando seu
contrato de aluguel.
Suspeitava de que havia mais sob seu lado profissional do que eu
normalmente via. Ela sugeriu algumas vezes de que me achava idiota. Foi um
alívio, porque se ela me odiasse, facilitava as coisas. Tornava maior a
distância entre nós.
Mas nada estava fácil agora, não com ela aqui, quase nua na minha frente.
Sua pele macia e quente sob meus dedos, não estava ajudando. O cheiro
almiscarado e sexy penetrando em meu corpo e indo direto para o meu pau. A
maneira como seus mamilos marcavam a seda do robe. Nada disso ajudou.
Fechei os olhos, tentando recuperar um pouco de controle sobre o que eu
estava sentindo.
— Está me ouvindo?
Não estava. Pude perceber que ela estava brava, mas não consegui
processar o que estava dizendo. Meus sentidos estavam sobrecarregados
demais.
Ela inclinou a cabeça para trás, expondo a pele lisa do pescoço longo e
suspirou exasperada. Antes que eu me desse conta, soltei seu braço e deslizei
o dedo indicador lentamente pela mandíbula e pescoço. Ela ofegou, mas não
consegui me segurar. Continuei descendo até o vão na base da garganta. Ela
era como uma droga. Cada dose que eu tomava dela me fazia querer mais. Eu
estava buscando o êxtase – o êxtase dela.
— O que você está fazendo, seu idiota?
Suas palavras me fizeram parar na hora. Idiota? Congelei e olhei para
cima. Merda, eu fazia coisas assim com ela na minha imaginação, não
pessoalmente.
— Me... Me desculpe. — Eu a soltei e me afastei, passando as mãos pelo
cabelo. O que eu estava pensando? Eu era pai. Um homem de negócios. Nada
mais importava.
Ela hesitou e franziu o cenho.
— Você é desprezível comigo no escritório — disse ela com a voz calma
e questionadora.
Assenti.
— Eu sei. — Era deliberado.
Fixei o olhar em seus fartos lábios carnudos. Todas as coisas que imaginei
aqueles lábios fazendo... Ela estava certa. Eu era um idiota.
— E você me acha burra — continuou.
— Burra? — Se isso fosse verdade ela não seria tão sedutora. Sim, ainda
seria linda, mas existiam muitas mulheres lindas neste planeta. — Não acho
você burra.
— Então por que me trata como uma merda? — Ela apontou para mim e
voz ficou mais alta. — Age como se eu não existisse. — Enfiou o dedo no
meu peito. Foi como se tivesse pressionado um botão com a palavra “pênis”.
O meu pulsava a cada toque dela.
Segurei seu dedo, forçando-a a parar o que estava fazendo e paralisei não
querendo soltá-la, e ela não afastou a mão. Em vez disso, apenas ficamos nos
encarando, ambos precisando de respostas.
Para minha surpresa, ela soltou os papéis, deu um passo à frente, envolveu
a mão livre no meu pescoço e pressionou os lábios nos meus. Alívio
atravessou meu corpo e correspondi o beijo, deslizando a língua de forma
gananciosa em sua boca. Ela gemeu, o som reverberando por todo o meu
corpo. E me tocou com total habilidade, como se tivesse praticado e pensado
nisso tanto quanto eu.
Afastei a cabeça por um segundo e um olhar confuso passou por seu
rosto. Foi exatamente o encorajamento que eu precisava. Empurrei-a contra a
parede e comecei a beijar sua clavícula.
— Eu te odeio — sussurrou ela.
Não, ela não estava agindo como se me odiasse, não estava tentando me
deter. Será que entendi errado? Levantei a cabeça e a olhei, fazendo-a franzir
a testa.
— Não pare — disse ela.
Sorri e voltei a baixar a cabeça. Ela queria isso.
— Não pare? — perguntei com a boca em seu pescoço. Ela enfiou os
dedos no meu cabelo com uma mão e passou a outra suavemente pelo meu
ombro. Foi a minha vez de gemer. Um único toque dela e todos os meus
piores medos se confirmaram – eu queria essa mulher. Não, era mais do que
isso. Conheci muitas mulheres atraentes antes, mas nunca tinha sentido um
desejo irresistível de estar o tempo todo perto delas. Ainda mais quando não
sabia praticamente nada sobre elas. Nunca me peguei pensando em uma
mulher quando deveria estar concentrado em uma teleconferência ou
apresentação. Nunca quis fazê-las sorrir ou descobrir todos os seus segredos.
Afastei suas pernas com o joelho, e ela esfregou os quadris na minha perna.
Essa garota podia acabar comigo.
Suspeitei disso na primeira vez que a vi. E tive certeza no momento em
que a vi trabalhando.
Talentosa. Bonita. Perspicaz. Sexy.
Eu queria tudo.
Havia tantos motivos pelos quais isso não poderia acontecer. Ela
trabalhava para mim. Eu só transava com as mulheres, não me envolvia.
Silenciosamente, fiquei recitando isso como um mantra. Repetidas vezes.
Eu me afastei e ela me olhou boquiaberta. Apoiei as mãos na parede em
ambos os lados de sua cabeça.
— O que foi? — perguntou ela.
— Sou seu chefe.
— Não se preocupe. O que quer que aconteça, vou apresentar minha
queixa por assédio sexual só amanhã de manhã. — Ela tocou na minha calça
e envolveu os dedos no meu pau. — É melhor fazer valer a pena.
Dei um sorriso irônico. Ela ia me manter em estado de alerta.
Ao abrir o robe, a seda escorregou por seus ombros. Passei lentamente as
mãos pela pele, evitando os seios, e desci pela barriga até a boceta
cuidadosamente aparada. Parei.
Ela arqueou as costas, empurrando o corpo no meu, querendo mais.
— Mas você me odeia — provoquei.
— Vejamos o que consegue fazer para que eu mude de ideia. — Ela
pressionou a mão na minha, empurrando meus dedos para dentro de sua
umidade.
Harper não tinha ideia do que eu tinha planejado para ela e há quanto
tempo.
Num pensamento tardio quase passageiro, deslizei os lábios nos dela. E
apesar das minhas fantasias, me coloquei de joelhos. Precisava saber se seria
capaz de deixá-la tão louca quanto ela me deixava. Tentei puxar a perna dela
sobre o ombro, mas ela resistiu, incitando-me a levantar.
— Você se esqueceu de quem é o chefe? — perguntei.
— No escritório, talvez.
Com força, eu a empurrei contra a parede e levantei sua perna. Sabia que
assim que ela sentisse a minha língua, cederia. E eu estava certo. Sempre
estava. Ela empurrou os quadris para a frente e deslizou a perna pelas minhas
costas enquanto eu passava a língua em seu clitóris, uma, duas vezes. Se ela
pensou que no quarto eu não era o chefe, estava muito enganada.
Envolvi uma das mãos em seu quadril, e a outra espalmei na barriga plana
enquanto lambia do clitóris até a fonte de sua umidade, apreciando o sabor
doce. Em abundância. Como se estivesse molhada para mim desde que nos
conhecemos. Suas unhas cavaram no meu couro cabeludo enquanto a boceta
pulsava na minha boca. Não conseguia me lembrar da última vez que tinha
feito sexo oral em uma mulher e, naquele momento, não conseguia nem me
lembrar de ter provado vagina tão gostosa como a dela: tão quente e tão
molhada.
Apesar de eu a estar segurando, parecia estar tendo dificuldade em se
manter de pé.
— Não consigo — gritou.
Tive a sensação de que não existia nada que Harper não conseguisse fazer
se ela se empenhasse, mas não ia discutir. Fiquei de pé e ela me encarou meio
aturdida, meio desapontada. Antes que tivesse a chance de me dizer
novamente o quanto me odiava, eu a joguei sobre o ombro e a levei para o
quarto.
Assim que entramos eu a derrubei na cama, cabelo castanho se
espalhando no lençol. Segurei suas pernas e as separei pelas coxas firmes,
empurrando os dedos dentro dela enquanto a língua circundava o clitóris. Ela
gritou, erguendo os quadris do colchão. Agarrei sua cintura e puxei-a mais
para mim. Ela não ia a lugar nenhum sem um orgasmo para se lembrar de
mim. Jesus Cristo, alguns minutos antes eu estava bolando estratégias para
passar menos tempo com Harper, e agora ela estava aqui – nua – na minha
cama, cobrindo a minha mão e língua com seus fluidos.
Ela soltou pequenos gemidos e sons incoerentes sobre barulho, vizinhos e
lustres. Não conseguia acompanhar o que estava dizendo. Tudo o que me
importava era a sua doce e quente boceta na minha língua. Sua respiração
ficou mais acentuada e o corpo inteiro dela começou a estremecer, seus
movimentos tornando-se descontrolados antes de gritar “Max!”. Ouvir meu
nome em seus lábios quando atingiu o clímax, perfurou um buraco na
armadura que não percebi que estava usando e, de repente, não me importei
em ser o chefe dela ou que tinha uma reputação a zelar e uma família para me
concentrar. Estava tão – esmagadoramente – atraído por ela que nesse
momento era a única coisa que importava. E quase gozei junto com ela.
Sua respiração ofegante se acalmou e ela estendeu a mão. Devia pedir que
fosse embora, parar antes que fosse tarde demais, mas em vez disso, segurei
sua mão e subi ao seu lado.
Rolei e me deitei de costas, precisando me concentrar em algo diferente
da protuberância de seus seios firmes, do jeito que seu corpo afundou em
meus lençóis, na minha cama, no meu apartamento.
Ela estava aqui. Exatamente onde não deveria estar.
— Oh, meu Deus. — Seu braço caiu sobre meu peitoral. — Forbes estava
certa quando disse que você era talentoso.
Não pude segurar a risada que se formou na garganta. Eu me virei e vi
Harper virando de lado, aparentemente, inconsciente do quão bizarro esse
cenário era. Ela beijou a minha mandíbula e tentei não olhá-la, com medo de
nunca ser capaz de desviar a atenção.
Seus dedos envolveram meu pau ainda muito duro. Jesus. Tanto esforço
para lhe dizer para ir embora. Ela passou a mão pela ponta. Havia
pouquíssima esperança de que eu conseguisse me livrar dela, não quando
estava apertando e puxando com tanta habilidade. Acabei cedendo e ergui o
olhar, encontrando-a me encarando, analisando como se estivesse tentando
descobrir uma pista de palavras cruzadas.
— Tem camisinha?
Essa era uma péssima ideia.
— Tenho — respondi enquanto alcançava a mesa de cabeceira.
Ela montou em mim e pegou o preservativo da minha mão.
— Aqui é Vegas, combinado? — questionou.
— Vegas? — perguntei enquanto ela revestia meu pênis, apertando
firmemente a base quando a alcançou.
— Esse quarto. É Vegas. O que acontece aqui, fica aqui. — Ela
posicionou meu pau na entrada dela. — Concorda? Se fizermos isso, pode ser
que eu consiga parar de te odiar. Você pode ser apenas o meu chefe.
A esta altura eu teria concordado em cortar as minhas pernas com uma
faca cega, mas gostei do que ela estava dizendo. Que depois que tivéssemos
transado tudo voltaria ao normal ou melhor do que o normal – como as coisas
deveriam ser.
— Vegas — respondi e ela sentou no meu pau, centímetro por centímetro.
Cerrei as mãos em punhos para me impedir de agarrar seus quadris e entrar
com tudo nela. Meu maxilar apertou quando Harper jogou a cabeça para trás
e se acomodou. Usando as mãos no meu peito, ela desceu um pouco mais.
— Tão bom — sussurrou ela. — Tão, mas tão profundo.
Jesus, como conseguir suportar isso apenas ficando deitado, observando?
Era demais. Eu precisava assumir o ritmo ou gozaria em menos de dez
segundos.
Seu cabelo caía em torno dos ombros, e eu estendi a mão, empurrando-o
para trás das costas, não querendo que nada atrapalhasse a minha visão de
seus seios empinados e dos mamilos rosados e inchados que estavam
salientes, implorando por atenção. Eu os puxei, um, depois o outro, e ela
estremeceu antes de descer sobre mim ainda mais rápido. Ela era perfeita,
muito melhor do que eu tinha imaginado e dos muitos pensamentos que tive
sobre ela, imaginando como ela ficaria montada em mim, nua, as pernas
abertas, os olhos turvos pela luxúria. Era tão apertada que o instinto assumiu
o controle e eu a girei, deitando-a de costas, empurrando mais fundo.
— Chega — eu disse. — Já tive o suficiente das suas constantes
provocações diárias. — Não sabia se ela queria ser provocativa. Não era
óbvia sobre isso como muitas mulheres eram. Suas roupas não eram
chamativas ou particularmente justas; nem flertou ou tentou conversar
comigo. Saí totalmente de dentro dela e voltei a entrar, agora, finalmente a
fodendo por cima, nua. Cada estocada eu pensava que ficaria mais fácil, que
ela não seria tão apertada – tão deliciosa, mas eu estava errado. Ela estava
superando cada uma das fantasias que eu tive sobre ela.
Suas mãos enroladas na parte superior dos meus braços, os dedos tão
pequenos que eram fascinantes. Eu queria parar por um segundo para
verificar se eram reais, mas a cabeceira da cama batendo na parede trouxe
meu foco de volta ao querer fazê-la gozar. Ela era tão perfeita, tão bonita e, se
a gente só ia ter essa noite, eu tinha que fazer valer a pena.
Queria ir além, mais profundo, mais rápido.
Precisava marcá-la, possuí-la, escalar dentro dela.
Era como se cada uma das imagens inapropriadas que estavam enterradas
no fundo do meu cérebro tivesse escapado e ganhado vida.
Levantei uma de suas pernas mais alto, desesperado para me enterrar
mais. Pelo jeito que ela abriu a boca, eu podia dizer que a mudança de ângulo
aumentou o prazer para nós dois. Abaixei a cabeça para beijá-la, e ela
avidamente aceitou. Apesar de não me dar qualquer sinal no escritório, ela
me tocava como se eu tivesse vivido em suas fantasias, exatamente como ela
vivia nas minhas. Havia um conhecimento entre nós, uma familiaridade que
era desconcertante, mas ao mesmo tempo, deliciosa de saborear.
Ela colocou a mão entre nossos corpos e desceu até meu pênis, apertando
a base. Quase explodi. Precisei parar.
— Você é um bundão. — Ela sorriu e limpou o suor da minha
sobrancelha com a ponta dos dedos.
— Você parece obcecada com essa ideia. Talvez devêssemos tentar na
sua bunda depois e ver se isso te cura.
— Você não se atreveria. — Ela empurrou os quadris para encontrar o
meu, e ergui a sobrancelha.
— Não? — perguntei. — Aqui é Vegas. Vale tudo.
— Cala a boca e concentre-se em me foder.
Eu adorava essa boca, de como me chamava por nomes, da forma como
dizia o meu nome.
Ela precisava aprender uma lição.
— Não estou pensando em mais nada. — Empurrei dentro dela e seus
olhos semicerraram. Comecei a entrar cada vez mais e mais fundo, grudando-
a no colchão, querendo deixar mais gostoso, precisando senti-la ainda mais.
Sentei sobre os calcanhares, puxando-a para sentar nas minhas coxas,
aproveitando a oportunidade para assistir seus seios balançarem a cada
impulso.
— Acha que eu te odeio agora? — perguntei. Ela não sentiu a química
entre nós e entendeu que eu tinha que me manter distante, caso contrário,
algo assim aconteceria?
— Não me importo. Estou muito...
Ela se perdeu no que estava dizendo e me apertou com mais força,
criando uma fricção entre nós que aqueceu meu sangue. Ela me deu um
pequeno sorriso e a quis mais perto. Eu a puxei para cima, nos colocando
cara a cara, com as pernas ao redor da minha cintura, e comecei a subi-la e
descê-la no meu pênis. Harper envolveu os braços no meu pescoço e
pressionou os lábios nos meus. Era um gesto tão íntimo, tão normal, tão
certo, como se fôssemos amantes há tempos, como se nos conhecêssemos há
anos.
Harper aumentou o ritmo, os quadris levantando facilmente em minhas
mãos e descendo com tudo no meu pau.
— Cuidado — avisei. Eu não duraria muito desse jeito.
— Não consigo parar — sussurrou ela, seus dedos correndo pelos meus
ombros. — Não consigo parar, não quero parar. — Seus movimentos se
tornaram mais intensos, mais descontrolados, e usei as mãos em seus quadris
para manter nosso ritmo constante e sua boceta totalmente cheia. Suas unhas
cavaram nos meus ombros quando se afastava para me olhar e gritar:
— Max. Assim, Max. — Seus músculos pulsando me atraíram, e em duas
estocadas acentuadas dos meus quadris, estava gozando dentro dela,
observando seu orgasmo atenuar enquanto o meu se apoderava de mim.

Acordei com o barulho do trânsito e o sol entrando pela janela. Era


sábado? Não, quinta-feira.
Porra. Harper.
Devo ter apagado.
Eu me sentei depressa, mas estava sozinho. Será que foi um sonho o que
aconteceu na noite passada? A dor nos músculos, os lençóis amassados ao pé
da cama, o puxão no meu estômago... Não, realmente aconteceu.
— Harper — gritei. Ela tinha ido embora. Esfreguei o rosto com as mãos
e olhei para o relógio. Caralho. Oito e meia. Normalmente a essa hora eu já
estava até o pescoço de tanto trabalho. Levantei rapidamente da cama e fui
para o chuveiro.
Levei poucos minutos caminhando até o escritório e atravessei as portas
de correr da King & Associates faltando dois minutos para às nove. Ainda
estava com os cabelos úmidos do banho.
Não tinha ideia de como lidaria com Harper no escritório hoje. Tinha mil
e uma coisas para fazer e nenhum espaço livre no cérebro. Mas a crescente
escuridão na minha cabeça me dizia que a noite passada não foi uma boa
ideia – foi péssima! Não podia transar casualmente com uma funcionária.
Isso ultrapassava muitos limites. Fazer sexo com mulheres que eu veria fora
do quarto nunca tinha sido uma opção. Já havia mulheres demais na minha
vida. E Amanda merecia toda a minha atenção quando eu não estava no
escritório – um acordo que estabeleci comigo mesmo assim que ela nasceu.
Só porque me tornei pai muito jovem não queria dizer que eu seria ruim. Ela
sempre seria a minha prioridade.
Mesmo que a noite com Harper tivesse sido tudo o que fantasiei, foi uma
ideia estúpida.
Mantive a cabeça abaixada conforme caminhava para a minha sala, mas
não consegui resistir e olhei para a mesa de Harper. Ela chegou a tempo. Seu
cabelo estava em um coque alto, revelando o longo pescoço.
— Aí está você — Donna disse. — Estava tentando te ligar no celular.
Harper virou-se para mim quando estava me virando para Donna. Harper
não tinha deixado nenhum recado esta manhã. Ela tinha passado a noite
comigo? Será que se arrependeu?
— Você veio de Connecticut? — perguntou Donna, me seguindo até a
minha sala.
— Não, só tinha algumas coisas para resolver. — Como tomar banho para
tirar o cheiro de sexo e da Harper do meu corpo. Precisava colocar a cabeça
no lugar.
— Está certo, a Amanda ligou. E não se esqueça do seu compromisso no
almoço. — Eu assenti e Donna saiu.
Coloquei o telefone no viva-voz e liguei para casa enquanto tirava o
paletó e o pendurava no gancho atrás da porta.
— Oi, meu amor. Donna disse que você ligou. Não está na ginástica hoje?
— Sentei na cadeira e liguei o notebook.
— Hum, não. Foi cancelada.
Estranho. Tinha certeza absoluta de que Marion teria me contado sobre
isso.
— Foi? — perguntei conforme verificava meus e-mails.
— Sim, então pensei que talvez pudesse ir até aí hoje à noite e nós
poderíamos sair para comprar um vestido amanhã. — Seu tom era bem
alegre. Ela sabia que eu não conseguia negar nada para aquela vozinha meiga
de “sou uma boa menina”. — Quem sabe você não me ajuda a escolher?
— Marion disse que viria de trem com você? — Esperava que ela não
tivesse pensado em vir sozinha.
— Tia Scarlett disse que me levaria, assim posso voltar pra casa com você
amanhã.
— A Scarlett disse que passaria a noite aqui? — A última coisa que eu
queria era a minha irmã no meu apartamento, se intrometendo.
— Não, ela tem um encontro.
Encontro? Ela não tinha me contado isso. Pensei que ainda estivesse
descrente dos homens depois do divórcio.
— Você devia seguir o exemplo dela, papai.
O sorriso satisfeito de Harper atravessou meu cérebro. Talvez sair com
alguém ajudaria a tirá-la da cabeça.
— Você me mantém bastante ocupado — respondi. — Que horas planeja
chegar aqui com a Scarlett?
— Eu posso ir?
Conseguia ouvir o sorriso de Amanda, e foi inevitável não sorrir. Eu era
um babaca por causa daquele sorriso.
— Não vou deixar a minha menininha sair pra comprar um vestido para o
baile de oitava série sozinha, não é?
Ela gritou e eu baixei o volume do telefone, estremecendo.
— Você tem a sua chave, então entre se eu não estiver lá.
— Podemos pegar algo pra comer no caminho?
Revirei os olhos.
— Quem sabe?
— E assistir a um filme de máfia como fizemos da última vez?
Dei risada. Porque Amanda não tinha muitas coisas dela no apartamento,
quando me visitava, normalmente acabávamos saindo, pedindo comida e
assistindo filmes. Eu amava.
— Não vou prometer. Quero que jure pra mim que praticará no piano
antes de sair. Se não passar na prova, sua mãe vai te levar para Zurique.
— Está combinado. — O piano começou a tocar no fundo. — Está
ouvindo? Já comecei.
Balancei a cabeça.
— Até mais, meu amor.
— Eu te amo, pai.
As três melhores palavras do planeta.
— Eu te amo, Amanda.
Estava desligando quando Donna entrou.
— Se vai sair mais cedo amanhã pra fazer compras, vamos passar
rapidamente pela sua agenda de hoje e de amanhã.
Eu me recostei na cadeira.
— Estou vendo que as mulheres na minha vida sabem o que vou fazer
antes de mim.
— Você tinha alguma dúvida disso?
Suspirei.
— Acho que não. — Era em dias assim que me sentia como se a minha
vida não me pertencesse. Ter meu próprio negócio era difícil e absorvia quase
toda a minha energia, mas geralmente as recompensas de trabalhar por conta
própria superavam as desvantagens. Hoje, a balança estava se inclinando na
direção errada. Eu só queria ignorar as constantes exigências do meu tempo;
ficar à toa na internet, andar de moto, conversar com a Harper. Embora não
tivesse ideia do que eu diria. Provavelmente pedir desculpas.
— Precisamos cancelar alguma coisa? — perguntei.
— Não, mas a reunião com o Andrew e o contato dele do JD Stanley é às
dez, e acho que não vai querer perder.
Ela estava certa. Não queria perder. Esperava conseguir algumas
informações internas sobre JD Stanley, o único grande banco de
investimentos com o qual King & Associates não trabalhou.
— Não, Amanda pode ficar no apartamento até depois do almoço. Temos
alguma coisa na parte da tarde?
— A reunião com Harper é às três, mas posso remarcá-la para a próxima
semana — quando Donna disse o nome dela, meu rosto esquentou e a
pulsação acelerou.
Passei um dedo em volta do colarinho. Como eu ia me aproximar dela?
Devia pedir desculpa? Ela estava de acordo com as coisas tanto quanto eu,
mas eu era o chefe dela. Não queria que pensasse que poderia acontecer de
novo. Talvez, eu devesse ser sincero, dizer que ela era ótima, mas que foi só
uma vez. Ou deveria fingir que não aconteceu? Não fazia a mínima ideia.
— É melhor. — Eu era a última pessoa que ela provavelmente queria ver.
Até porque me achava um idiota.
Fiquei colado no meu iPhone, trabalhando pelo aplicativo enquanto
Amanda estava no provador da pequena boutique onde estávamos em
Midtown. Meus dedos pairavam sobre os e-mails. Deveria mandar algo para
Harper? Mas não sabia o que dizer. Era por isso que as regras do sexo casual
deveriam ser estabelecidas antes que qualquer um tirasse a roupa. Mas foi ela
quem falou sobre Vegas. Talvez, não precisássemos ter uma conversa
embaraçosa para restabelecer o que já havia sido dito. Guardei o telefone no
bolso e tentei evitar fazer contato visual com as vendedoras.
— O que acha? — perguntou Amanda, saindo do provador.
— Porra, você só pode estar de brincadeira comigo — eu disse, recuando
em estado de choque. Fazer compras não era minha atividade favorita.
Pandora geralmente comprava as roupas da Amanda, mas a partir de agora eu
me envolveria em todas as idas às compras pelo resto da eternidade, se ela
pensava que usaria aquilo.
Amanda revirou os olhos.
— Papai, não xingue.
Não xingue? Ela teve sorte de eu não matar alguém. Alguém como o
estilista do vestido que ela estava usando.
— Tire isso, agora mesmo. Você tem quatorze anos, não vinte e cinco. —
Mostrava muita pele, parecia não haver nada que o sustentasse e era cerca de
cem centímetros mais curto além do normal. Parecia que ela estava usando
uma toalha.
— Não sou criança.
Eu não precisava de um lembrete de que ela estava crescendo muito
rápido.
— Sim, você é. E criança não usa vestidos sem mangas.
— Isso tem nome. É tomara que caia.
— Não me interessa como se chama, mal cobre sua bunda. Não vai usar
essa coisa. — Parece que foi ontem que ela só queria usar tutu. Aquela
obsessão em particular durou três meses. Costumava dormir com ele. Eu ria
quando Pandora me pedia para tentar convencê-la a tirar. Era adorável e ela
ficava toda feliz, o que mais eu poderia desejar? Um tutu seria muito bom
agora. Amanda me encarou. — Vá experimentar outro.
— Não trabalho pra você. Não pode simplesmente me dar ordens.
Eu a encarei de volta, erguendo as sobrancelhas. De jeito nenhum eu
voltaria atrás na minha decisão.
— Se quiser ir ao baile, volte para o provador e se troque. — Meneei a
cabeça em direção à cortina atrás dela. — Vou tentar encontrar algo
apropriado pra você.
— Obrigada, Coco Chanel.
Queria dar risada, mas ela precisava entender que, em nenhuma
circunstância, usaria algo feito para uma mulher de vinte e cinco anos em
busca de sexo. Além do mais, Pandora cortaria as minhas bolas. Eu teria que
ser proativo.
— Com licença — chamei a vendedora. — Pode me mostrar alguns
vestidos adequados à idade da minha filha de quatorze anos? — Deixar
Amanda escolher o vestido foi um erro. Poderia ter evitado esse problema
antes de ela ter experimentado qualquer coisa.
— Certamente, senhor — disse a loira alta. — É muito bom ver um pai
fazendo compras com a filha. — Ela sorriu como se quisesse que eu
respondesse, mas não estava com vontade de jogar conversa fora. Queria
encontrar um vestido e levar Amanda para a Serendipity, onde poderíamos
conversar tomando sorvetes e esquecer que ela estava crescendo.
— Que tal esse? — A vendedora levantou um vestido azul-bebê curto
demais.
— Algo mais comprido — eu disse.
— Pai — chamou Amanda. Eu me virei e a encontrei em um vestido
super justo que parecia ter sido costurado em tiras horizontalmente.
Andei em direção a ela.
— Tire isso. Agora.
— Tem mangas — respondeu ela, estendendo os braços.
É verdade, mas não deixava nada à imaginação, agarrando-se ao corpo e
quase não cobria a bunda. De jeito nenhum que ela sairia em público naquilo.
— Tire! — gritei.
Ela soltou um grunhido frustrado e pisou duro de volta ao provador.
— Esse — disse a vendedora, segurando um vestido de renda cor-de-rosa.
— É um vestido muito popular nesta estação.
Pelo comprimento, parecia que ia encostar ao chão quando Amanda
experimentasse, então era uma vantagem. Também tinha mangas compridas.
Eu me aproximei.
— É transparente? — perguntei, olhando o vestido. Por um segundo,
imaginei Harper nele. A cor combinaria com ela.
— É, mas a renda cobre todas as partes importantes, assim parece mais
revelador do que é — respondeu a vendedora, dissolvendo meus pensamentos
sobre Harper.
O que estava acontecendo com as pessoas?
— Minha filha tem quatorze anos. Ela não usa nada revelador, nem falso
revelador. — Eu me virei para o vestiário. — Amanda! — gritei. — Vista-se.
Vamos em outro lugar. — Claramente essa loja estava no mercado para vestir
garotas como prostitutas, então não encontraríamos nada aqui.
Amanda não disse nada quando saiu do provador, passou direto por mim e
atravessou a porta, saindo no calor. Fui atrás dela.
— Onde quer ir agora? — perguntei.
— Pra casa.
— Pensei que queria um vestido?
— Não se você vai ficar rosnando para as vendedoras e dizendo que eu
pareço uma vagabunda em tudo o que experimento.
Suspirei.
— Eu não rosnei.
Ela levantou as sobrancelhas para mim.
— E você jamais poderia parecer uma vagabunda.
Ela balançou a cabeça.
— Estou crescendo, pai. Tem que começar a se acostumar com isso.
Preferia quando Amanda gritava e chorava quando não conseguia alguma
coisa e se decepcionava comigo. Tudo o que eu queria era que ela fosse feliz.
Vestida com uma burca, mas feliz.
— Você sabe que eu te amo, né? — perguntei. — E só quero o melhor pra
você.
Ela deu de ombros.
— Só que você exagera. Pode conversar comigo, sabe? Use a lógica ao
invés de surtar.
Ajustei os passos ao ritmo leve dos dela.
— É, você está certa. Podia ter abordado as coisas de uma maneira
diferente. — Tinha ficado tão atordoado, mas não queria um relacionamento
em que só brigássemos até ela ir para a faculdade. — Não quero que você
cresça tão rápido, só isso.
— Eu sei, pai. Mas está acontecendo.
Ela estava se transformando em minha filha/terapeuta.
— Está certo. Tenha paciência comigo e vou tentar não surtar. Que tal
isso para um termo de tratado de paz?
— Podemos tentar — respondeu, dando de ombros.
Paramos na esquina da Fifty/Sixth com a Park.
— Serendipity? — perguntei.
Ela assentiu. Pelo menos isso era uma coisa da qual ela não tinha crescido
tanto para deixar de apreciar. Ainda.
— Vai colocar um tijolo na minha cabeça? — perguntou ela.
Eu brincava com ela quando era mais nova sobre retardar seu
crescimento. Naquela época ela parecia crescer trinta centímetros por mês.
Era como ver o tempo passar bem diante dos meus olhos.
— Se você tivesse uma namorada, seria mais fácil.
Dei risada, tentando ignorar flashes do sorriso de Harper enquanto
Amanda dizia a palavra namorada.
— E como saberia disso? — perguntei enquanto enlaçava o braço de
Amanda com o meu.
— Ela diria a você que esses vestidos ficaram lindos em mim —
respondeu ao atravessarmos a rua, tentando desviar do misto de trabalhadores
e turistas vindo na direção oposta.
— Amanda, você ficaria bonita em qualquer coisa. A questão não é essa.
Uma namorada não mudaria minha opinião sobre você usar roupas destinadas
às mulheres muito mais velhas. — Gostava de como estava vestida agora,
calça jeans e camiseta.
— Mas outra garota, uma adulta, pode ser capaz de convencê-lo.
— Honestamente, ninguém conseguiria me fazer mudar de ideia, e de
qualquer forma, você tem suas tias e avós. E sua mãe. Elas são garotas.
— A mamãe não conta porque não está aqui. E você nunca ouviu o que
suas irmãs dizem.
— Eu ouço a Violet. — Não consegui me lembrar exatamente a última
vez que segui um conselho dela, mas tinha certeza de que havia algum. — E
não tenho tempo para namorar. — Não tinha tido nem a chance de conversar
com Harper ou pensar no que diria quando conversássemos.
— O vovô sempre disse que a gente sempre pode encontrar tempo para
fazer as coisas que queremos fazer.
Meu pai era um homem muito sábio, mas não apreciei seu conselho nessa
situação. Talvez porque chegou muito perto da verdade.
— Podia concordar em jantar com a amiga da Scarlett.
— Que amiga? — perguntei, sentindo meu celular vibrar no bolso.
— Você sabe, a que Scarlett mencionou mais cedo?
Com certeza eu me desliguei quando minha irmã estava falando. Não me
lembro de ela mencionar ninguém.
— Não me lembro.
— Lembra, sim. A amiga dela da faculdade, que morava em Los Angeles.
— Ela puxou meu paletó. — Por favor, pai?
— Por que isso é tão importante pra você? — Não entendia por que
estava tão determinada para que eu saísse com alguém. Ela estava tentando
me distrair, esperando que se eu estivesse namorando, de repente mudaria de
opinião sobre pintar o cabelo e roupas apropriadas?
Ela deu de ombros.
— É só uma noite fora do seu cotidiano.
Meu Deus, ela parecia a minha mãe.
— E treinarei no piano por uma semana sem que tenha que pedir. Pense
nisso como a declaração de direitos do nosso tratado.
Talvez jantar com uma mulher tirasse Harper da minha cabeça. Ela não
era a única mulher inteligente, ousada e bonita na cidade de Nova York,
afinal de contas.
— Não deveria obrigá-la a tocar piano.
— Depende de você. — Ela deu de ombros. — Parece um bom acordo
pra mim.
— Um mês. E você tem que parar de choramingar sobre pintar o cabelo.
Ela sorriu para mim.
— Combinado.
Qualquer coisa para deixar a minha filha feliz. Bem, tudo menos um
vestido curto, justo ou com decote baixo para o baile da oitava série.
CAPÍTULO CINCO

M aldito. Max. King.


Pensei que o odiava antes, mas sua disposição em ser um
verdadeiro idiota havia alcançado um novo patamar atordoante.
Entrei brava no meu quarto, abri com força a tampa do cesto de roupa e
comecei a retirar as coisas para lavar. Precisava canalizar minha energia em
algo produtivo.
Tudo bem, eu tinha que assumir a responsabilidade. Transei com ele.
Porque eu quis. E foi ótimo, um momento libertador, nada mais que isso. Foi
incrível, como se ele soubesse o que eu precisava antes de mim. E tinha todo
o equipamento certo e sabia como usá-lo. Mas desde aquela noite de quinta-
feira, há dois dias, ele não falou mais comigo. Nem tinha olhado para mim.
Nós concordamos sobre Vegas, eu que sugeri. Mas não precisava me ignorar.
Homens arrogantes deveriam ser ilegais. Ou enviados para uma ilha sem
mulheres para que morressem de frustração sexual.
Vir ao meu resgate na academia sugeriu que não era o idiota que eu
pensava ser. Então, vê-lo sem camisa, e o jeito que grunhiu para mim, feito
um animal? Bem, não sei o que aconteceu comigo, mas qualquer força de
vontade que eu tinha acabou se dissolvendo e... eu o queria.
Mas o que eu tinha na cabeça? Transar com meu chefe foi uma péssima
ideia por diversos motivos. Queria desesperadamente que ele pensasse que eu
era boa no meu trabalho, não que conhecesse meus hábitos depilatórios.
Trabalhei muito para ter essa postura, não queria que me visse só como uma
trepada. Com certeza eu não queria que descobrissem e começassem a
fofocar sobre eu estar transando com o chefe para chegar a me promover ou
ser uma mulher fácil.
Graças a Deus, era sexta-feira e não teria que vê-lo por dois dias. Não que
eu tivesse que me preocupar com isso; ele cancelou três reuniões comigo só
para me evitar. O que era o comportamento de um adolescente de quinze
anos de idade.
Não era como se eu estivesse esperando por um noivado ou jantar. Mas,
caramba, um “oi, como você está? Obrigado pelo sexo gostoso”, certamente
seria de bom tom.
Peguei minhas roupas, empilhei-as numa grande sacola e a joguei perto na
porta, pronta para ir até a lavanderia. Só precisava encontrar o sutiã que eu
tinha tirado e largado na frente da TV no começo da semana. Quando entrei na
sala de estar, começou o barulho de saltos andando pelo andar de cima. Jesus,
fazia apenas dois dias que o pau do Max esteve dentro de mim, e agora ele
estava transando com outra mulher. Tinha pena de qualquer idiota que
transava com Max King. O que, aparentemente, me incluía.
Soltei um grito de frustração, então cobri a boca. Será que ele ouviu? Não
queria que ele pensasse que me incomodava estar com outra.
Eu não estava nem aí.
Mas a última coisa que eu queria fazer era ficar aqui, ouvindo meu chefe
transar com outra. Talvez não estivesse com uma mulher. Podia estar se
arrumando. Nada mais sobre esse homem me surpreenderia. Sorri,
particularmente feliz, com essa realidade idealizada.
Passando a mão sob as almofadas do sofá, agarrei uma alça do sutiã,
puxei e o joguei junto com o resto das roupas. Peguei as chaves que estavam
em cima da mesa de canto, um relatório do trabalho e o sabão de lavar roupa
que tinha comprado no caminho do escritório para casa. Tinha pelo menos
três máquinas para lavar e se eu ficasse lá, evitaria ouvir as escapadas sexuais
de Max King. Enquanto caminhava para o elevador, arrastando a sacola de
roupas, o barulho dos saltos parecia me seguir porta afora.
O elevador não demorou tanto quanto de costume, e percebi que vinha
diretamente da cobertura. Quando as portas se abriram, fiquei cara a cara com
o conhecimento de que não era Max usando os saltos altos, afinal de contas.
Havia apenas um apartamento acima de mim, então a mulher que Max King
acabara de foder, estava diante de mim.
Queria ter o superpoder de fazer parar o tempo e reorganizar as coisas.
Então, eu poderia me esconder e garantir que, quando o elevador parasse no
meu andar, a beldade na minha frente se perguntaria porque ele tinha parado.
Mas, não, entrei no elevador vestida de moletom, e fui forçada a olhar para
cima e sorrir quando a deslumbrante mulher disse:
— Boa noite.
— Oi — respondi enquanto a estudava discretamente. Sempre quis ser
loira. Tentei pintar o cabelo uma vez, mas acabou parecendo um algodão
doce cor-de-laranja. Pelo menos três centímetros mais alta do que eu, ela me
fez sentir como um hobbit ao lado de sua Arwen. Só faltava ela bagunçar
meu cabelo e dizer: “você é um amor, pequenina”.
Max King podia ser idiota, mas seu gosto por mulheres era excelente, isso
eu tinha que admitir.
Não era como se eu esperasse alguma coisa dele, mas doeu um pouco
encontrar sua última conquista quando eu era ignorada por completo. Idiota.
— Outra glamorosa noite de sexta-feira na cidade de Nova York? —
perguntou ela, sorrindo enquanto gesticulava em direção à minha sacola de
roupa.
Filha da mãe. Ela não sabia se eu ia sair ou não mais tarde com um cara
gostoso ou uma garota mais gostosa ainda.
— Tipo isso — respondi. — Mas é melhor do que desperdiçar meu tempo
com homens que não me merecem.
Ela riu.
— Sim, é preferível lavar roupa a passar tempo com a maioria dos
homens com quem eu saí.
Tubo bem, talvez estivesse sendo engraçada em vez de maldosa. Ela
percebeu que o Max era babaca? Deveria avisá-la?
— Espero que o meu encontro desta noite supere as expectativas — disse
ela. — Até agora ele parece legal, e de vez em quando a gente tem que dar
uma chance a alguém, não é?
Não consegui responder, mas dei um sorriso forçado. Ela achava o Max
legal? Ah, sim, um belo de um idiota.
As portas do elevador se abriram e ela saiu.
— Tenha uma noite divertida — disse ela, dando um pequeno aceno.
Max King era notoriamente reservado sobre sua vida privada. Nunca
mencionou ninguém nos artigos que li sobre ele. Isso levou a algumas
especulações de que era homossexual. Se ele era, certamente passava uma
ótima impressão de homem heterossexual. E ele não me devia nada, mas só
porque fomos a Las Vegas, não quis dizer que eu queria que ele fizesse a
viagem com outra pessoa tão cedo.
Quando o elevador chegou ao porão, saí arrastando minha sacola de roupa
suja. Talvez devesse pensar em tentar sublocar meu apartamento e me mudar
para o Brooklyn.
Soltei a sacola no chão com um murmúrio quando percebi que não estava
sozinha na lavanderia. Uma adolescente sentada em uma mesa comprida em
frente às lavadoras e secadoras me chamou a atenção. Ergui o olhar.
— Oi — eu disse.
— Oi — respondeu ela com um sorriso. Com papéis no colo, parecia que
estava fazendo lição de casa.
— Está se escondendo? — perguntei. Eu adorava fugir da realidade na
idade dela. Nunca tinha paz em casa, e eu ansiava por tranquilidade.
Ela franziu a testa como se estivesse pensando muito sobre a minha
pergunta.
— Na verdade, não. Estou lavando as roupas e fazendo a lição de casa ao
mesmo tempo.
— É você quem lava suas próprias roupas? — Abri a máquina e comecei
a pegar minhas toalhas de dentro da sacola.
Ela deu de ombros.
— Só algumas vezes no mês. Quando estou na casa do meu pai há certas
coisas...
— Entendi. Os meninos têm vida fácil, né?
Ela revirou os olhos e me deu vontade de rir. Ela era uma menina bonita
com a pele morena e longos cabelos escuros que caíam em volta dos ombros.
— Muito fácil. Não menstruam, né? Como é que Deus decidiu que isso
era justo?
Fechei a primeira máquina e abri uma segunda.
— Bem, deve-se presumir que Deus é homem, certo? — Tirei as peças
coloridas e coloquei na máquina. — E acho que ele entendeu que os homens
são que nem bebezinhos e que não seriam capazes de aguentar.
— São bebezinhos mesmo. Eles berram quando não conseguem as coisas
do jeito deles, exatamente como as crianças.
Dei risada.
— Você está totalmente certa.
— E sempre acham que estão certos sobre tudo. Meu pai ficou maluco
ontem porque não gostou de um vestido que experimentei para o baile de
formatura da oitava série. — Ela se inclinou para frente, gesticulando as mãos
no ar em círculos. — Eu disse a ele que estou crescendo e que usar um
vestido tomara que caia não faz de mim uma vagabunda.
— Não, não faz. Mas acho que todo pai tem uma visão diferente. Não
posso dizer, porque não tive um enquanto crescia. — Sempre quis um pai
superprotetor. Alguém que dissesse aos meus namorados que me tratassem
bem e mantivessem as mãos afastadas de mim. Meu pai não soube quando foi
o baile da minha formatura do Ensino Fundamental, e muito menos deu uma
opinião sobre o meu vestido.
— Não teve? Ele morreu? — perguntou ela, aparentemente inconsciente
do quão pessoal era a pergunta.
Eu sorri.
— Não. Simplesmente não teve interesse em mim.
A menina fez uma pausa e depois disse:
— Bem, meu pai é excessivamente interessado. Achei que minha mãe era
rigorosa.
— O que sua mãe disse sobre o vestido?
Ela deu de ombros.
— A última palavra é do meu pai. Antes ela até conseguia conversar com
ele, mas agora... — ela balançou a cabeça —, continuo dizendo que ele
precisa arrumar uma namorada. Precisa de um adulto para dizer a ele que, às
vezes, estou certa.
— Você quer que seu pai arrume uma namorada? — Que criança não
queria que os pais divorciados voltassem a ficar juntos em vez de seguir suas
vidas separadamente?
— Claro. Está sozinho há tanto tempo e quero que ele seja feliz. Não me
lembro de ele ter tido uma namorada, e minha mãe tem o Jason. Eles são
casados desde sempre. Não quero que meu pai fique sozinho.
Talvez o pai dela ainda fosse apaixonado pela ex.
— Seu pai se dá bem com seu padrasto?
— Sim. Eles costumavam jogar basquete toda semana.
Tudo bem, talvez não sentisse mais nada.
— Uau, isso parece um divórcio amigável — eu disse.
Ela franziu a testa.
— Minha mãe e meu pai nunca foram casados.
Isso pareceu familiar. Pobre garota. Um pai fracassado que não quis
assumir a responsabilidade. Eu sabia bem como era isso. Fiquei quieta, não
querendo fazê-la se sentir mal.
— É só que meu pai trabalha demais e a gente se diverte junto, mas acho
que ele precisa se divertir com uma namorada. Sabe?! Além disso, eu gostaria
de ter alguém com quem sair, fazer compras. E, principalmente, eu gostaria
de ter uma irmãzinha. Sempre fui a única criança no meio de um monte de
adultos. Sempre sou a mais nova e isso é um saco.
Eu ri.
— Está tentando fazer com que ele tenha outro filho? Precisa pegar leve
com ele. — Comecei a encher uma terceira máquina com as peças brancas.
— Ele provavelmente seria igual se fosse casado. Parece que se preocupa
com você. E porque ele é homem, sabe o que se passa na cabeça dos garotos.
— Eles pensam muito em sexo. Conseguia entender as preocupações do pai
dessa menina. Ela era meiga e linda.
— Você tem namorado? — perguntou ela.
Fiz que não com a cabeça.
— Não. Por enquanto estou concentrada no trabalho. — O que era
verdade. Nesse momento eu não estava interessada na distração que um
homem traria à minha vida. Foi apenas sexo com Max King, o que era
exatamente o que eu queria. Precisava encontrar alguém para transar que não
fosse meu chefe e um idiota.
— Essa é a resposta que meu pai sempre dá.
— Não sou boa em escolher pretendentes. — Não tinha certeza se não era
boa em escolhê-los ou se não estava procurando certo. Sabia o que eu não
queria. Sabia que alguém que colocava a família em primeiro lugar era
importante para mim, e a maioria dos homens com quem eu deparava eram
determinados e ambiciosos. Não queria um homem que não entendesse o que
deveria ser prioridade. Não queria um homem igual ao meu pai.
— Acho que vou trabalhar incansavelmente, ganhar meu próprio dinheiro,
me divertir e ver se inesperadamente o príncipe encantado aparece. —
Parecia improvável, mas não tinha perdido a esperança por completo. — O
lance sobre os garotos é que você pode pensar que eles serão uma coisa e
acabam sendo outra inteiramente diferente. — Max King foi um exemplo
perfeito disso. Ainda não sabia quem ele era. Era um babaca? Alguém que se
importava com o dono de uma pequena padaria no centro da cidade? Ou
apenas um homem que sabia trepar? Talvez todos os itens acima.
— Sério? — perguntou com os olhos arregalados.
— Sim. Tenha cuidado e evite os garotos que lhe dizem o quão ótimo eles
são. Estou à procura de um que me mostre que é um excelente homem. — Ao
me ignorar, Max provou que era um idiota. — Julgue as pessoas por suas
ações, não por suas palavras.
— Todo mundo continua me dizendo que Callum Ryder gosta de mim,
mas ele não me convidou para o baile.
— Isso acontece na oitava série? Vocês vão juntos, tipo... um casal?
Ela colocou o cabelo atrás da orelha.
— Não vão juntos. Acho que só significa que irão dançar juntos quando
estiverem lá.
Isso faz mais sentido.
— Certo. E você quer que o Callum Ryder te convide?
— Bem, se gosta de mim, pensei que convidaria.
— Mas você gosta dele? Não fique satisfeita com um garoto só porque ele
gosta de você. — Despejei sabão nas máquinas.
— Ele é popular e bom nos esportes.
— Você sente um frio na barriga quando o vê? — perguntei. Podia não
gostar dele, mas Max era gostoso. E uma excelente trepada. E tinha que
admitir que sentia frio na barriga sempre que nossos olhos se encontravam.
— Não sei. Acho que não — respondeu ela.
— Se ele não te causa frio na barriga, não vale a pena discutir com o seu
pai. Ele parece protetor.
Terminei de encher a última máquina e liguei as três máquinas.
— Não me interprete mal, eu amo meu pai. Ele só não é bom com as
mulheres.
Dei risada.
— Nenhum deles é. É uma boa lição de se aprender desde cedo.
— E ele não quer que eu cresça. E não quero ir ao baile com um vestido
cheio de babados que uma criança de três anos usaria.
— Tem uma foto aí do vestido tomara que caia?
Ela pegou o celular, correu pelas fotos e ergueu o aparelho. O vestido era
um pouco revelador.
— É bonito, mas acho que você consegue algo melhor para deixar um
pouco mais para a imaginação — respondi. — Posso ver? — Estendi a mão
para o telefone dela.
Sentei-me ao seu lado e comecei a navegar pelos sites.
— Pensou em um desses vestidos com uma saia comprida sobre uma mais
curta? Isso pode deixá-lo contente.
Ela sorriu para mim.
— Qual é o seu nome? — perguntou ela.
— Harper. Caçadora de vestidos de baile de oitava série.
— Meu nome é Amanda. À procura de um vestido de baile de oitava
série.
— É o destino — eu disse, tocando no telefone.
— Acha que eu poderia usar um tomara que caia se for longo?
O pai de Amanda parecia ser um homem que não queria que a filha
mostrasse qualquer pedaço de pele.
— Não acho que tomara que caia seja o estilo mais adorável. Acredito
que ainda dá para mostrar um pouco de pele aqui — eu disse, passando a mão
abaixo do meu pescoço. — Sem aborrecer seu pai. Precisamos encontrar
algum vestido sem manga. Que sirva para todas as mulheres; jovens e
senhoras.
Amanda sorriu para mim.
— Parece que assim pode dar certo.
— Pode ser também algo longo, mas com uma fenda na perna? — Olhei
do telefone para Amanda e a vi se remexendo animadamente.
Passamos a hora seguinte olhando diferentes estilos, descobrindo o que
seria recatado suficiente para agradar ao pai dela, mas bonito para agradá-la.
Nesse meio-tempo, a roupa de Amanda ficou pronta.
— É melhor eu voltar. Ele chegará do trabalho e vai se perguntar onde
estou. Deixei um recado anotado, mas ele não vai ler. — Ela revirou os olhos.
O telefone começou a vibrar, Papai piscando na tela. — Falando no diabo.
Ela atendeu.
— Oi, pai. — Ela revirou os olhos. — Sim, já estou subindo.
— Ele já fez o jantar — disse ela. — É melhor eu ir.
Uau. Um homem tão dedicado à filha que não saía com ninguém e ainda
cozinhava. Esse parecia um homem para se casar.
— Nunca diga não a um homem que sabe cozinhar. E lembre-se, seja
gentil com ele. Essa é a maneira de conseguir o que você quer. Os homens
são facilmente enganados com alguns elogios. — Dei uma piscadinha para
ela.
— Muito obrigada. — Ela jogou os braços ao redor do meu pescoço e eu
fiquei congelada, seu gesto me pegando de surpresa.
— Vou fazer compras novamente semana quem — comentou enquanto eu
a abraçava de volta. — Ontem foi um fracasso total, mas pelo menos agora,
não vou experimentar os mesmos vestidos novamente e ter o mesmo
argumento.
— Exatamente. Os homens têm que pensar que ganharam. Nunca deixe
isso transparecer de verdade, que conseguiu as coisas do seu jeito.
Amanda riu.
— Preciso que você me ensine algumas lições sobre garotos.
— Garota solteira — eu disse, apontando em mim. — Eu não sei nada.
— Isso não é verdade. Não vou mais ouvir uma palavra que os garotos
dizem de agora em diante. Só vou observar o que eles fazem.
— Vai longe se lembrar disso. Foi muito bom te conhecer, Amanda.
Divirta-se no seu baile.
Ela pegou a pilha de roupa limpa e dobrada e me deixou com as três
máquinas lavando a minha roupa, o relatório e pensamentos sobre o meu pai.
Será que o pai de Amanda era tão envolvido com o crescimento dela por ser
de uma geração mais nova? Quando eu era mais jovem, vez ou outra, meu
pai tentou se envolver na minha vida. Eu até me lembrei dele indo a algumas
das minhas apresentações escolares. Mas nunca durou muito e, então, não o
víamos por meses. Ele simplesmente desaparecia assim que eu começava a
esperar algo dele. Deixei de ter qualquer expectativa, eventualmente.
Ou talvez não. Ainda queria que me pedisse para ir trabalhar para ele,
mesmo sabendo de todas as vezes que me decepcionou. Acho que ainda
queria que ele provasse com suas ações que me amava. Seria como se tivesse
aparecido para todos os aniversários e apresentações escolares. Minha mãe
sempre dizia que ele me amava, mas nunca vi qualquer evidência. Então,
quando me formei e ele não me ofereceu um emprego, parei de atender suas
ligações periódicas. E agora minhas únicas comunicações com ele
aconteciam por meio de seu advogado.

— Isso é um pênis? — perguntei a Grace casualmente quando estávamos


paradas diante de uma tela na exposição em Nova Jersey que ela me
convenceu a vir. O espaço não era uma galeria bonita e glamourosa no
Chelsea, mas um enorme armazém no meio de alguma área industrial. Estava
bastante certa de que se procurássemos com certo esforço, acharíamos um
cadáver.
— Não, não é um pênis. Por que o meu namorado pintaria uma maçaneta
gigantesca?
— Os homens são estranhos. E obcecados por seus pênis — respondi.
Pensei que era óbvio. Sempre ficava surpresa quando os artistas homens não
pintavam suas anatomias. Tenho certeza de que Van Gogh tinha muitos
desenhos de pênis escondidos no sótão.
— Muitos dos grandes artistas pintaram lindas mulheres — disse Grace.
— Exatamente. Porque eram obcecados por seus pênis. Caso encerrado.
— Como estão as coisas com o idiota do seu chefe? — perguntou Grace
quando caminhamos até um pedestal com uma caixa de acrílico vazia.
Não contei a Grace que tinha acabado nua com o Max. Como podia
explicar isso a ela quando nem eu entendia? Ela ia pensar que eu teria
enlouquecido completamente.
— Ainda um idiota. — O que era verdade, ainda mais agora que ele
estava me ignorando após a nudez.
— O que você vai fazer? — perguntou ela.
Dei de ombros e tomei um gole do meu vinho branco quente.
— O que eu posso fazer? Só vou criar uma casca grossa e tentar aguentar.
— E tentar não transar com ele de novo. Risque isso, nunca mais não vou
transar com ele outra vez. Não disse a Grace que ele morava no mesmo
prédio. Não havia porque esconder essa informação, mas por algum motivo,
não senti vontade de contar.
— Ótimo. Então tenho que escutar você reclamar sobre ele nos próximos
dois anos?
— Foi você que tocou no assunto e, de qualquer maneira, eu tenho que
aguentar coisas desse tipo por você. — Eu girei o dedo no ar, depois dei uma
olhada mais de perto na caixa à nossa frente. Era como se alguém tivesse
roubado a obra de arte que deveríamos estar olhando. — Esqueceram de
colocar algo aqui? — perguntei.
— Não, deve ser algum tipo de comentário sobre reality show e como o
público vai assistir a qualquer coisa que as redes transmitirem. — Grace
ergueu as sobrancelhas. — Acho que é isso. Ou talvez tenham se esquecido
da arte.
Nós rimos antes de sermos interrompidas pelo novo namorado de Grace,
Damien, e seu amigo bem alto.
Os olhos de Grace brilharam quando disse:
— Harper, este é George.
George tinha um daqueles rostos que as pessoas descrevem como
amigáveis. Tinha cerca de 1,80 de altura, o cabelo castanho curto e estava
usando uma camisa azul de botão e jeans. Ele era bastante atraente. Não
havia nada sobre ele que, imediatamente, me faria pressionar o botão
vermelho de emergência e correr pela porta, o que acontecia com muita
frequência quando Grace me apresentava a algum homem.
— George, esta é Harper, minha melhor amiga. Pode fazer companhia a
ela? Damien vai me levar para ver o trabalho dele. — Grace puxou o braço de
Damien, deixando George e eu, sozinhos e envergonhados.
A palavra armação ecoou ao redor.
Não podiam todos ter ficado e conversado... juntos?
— Peço desculpas pela Grace. Ela caiu de cabeça muitas vezes — eu
disse.
— Quando criancinha? — perguntou George.
Fiz que não com a cabeça.
— Não, eu mesma a derrubei, toda vez que ela tentou armar pra cima de
mim.
Ele riu.
— Sim, ela é uma força da natureza. — Meio segundo de um silêncio
desconfortável se seguiu antes de George dizer: — Está gostando das obras
de arte?
— Honestamente, não. Não consegui entender. — Estremeci quando olhei
em seus olhos.
— Graças a Deus, eu não sou o único — respondeu ele, sorrindo para
mim. — Não diga a Damien que eu disse isso, mas que merda é essa? Você
entrou no quarto escuro? — Ele apontou para o outro lado do espaço em uma
parte separada do armazém. — Está cheio de mulheres segurando a cabeça e
gritando.
— Sério? — perguntei, intrigada. — Mulheres cansadas de encontros
ruins? Sinto muito, com exceção desse agora, é claro.
Ele riu novamente.
— Talvez. Não reconheci ninguém, então espero que nenhuma das
minhas ex esteja lá. — Ele piscou e, pela primeira vez na vida, em vez de ter
vontade de enfiar uma colher através do olho de um homem, achei o gesto
fofo. — Outra bebida?
— Gostei do bar. — Caminhamos em direção a um grupo enorme de
pessoas que parecia ter gosto semelhante de arte, o tipo que cheirava o vinho.
— Então, me fale sobre você. Sua mãe era fã de Wham!
— Não, meu nome foi em homenagem ao meu avô, não a George
Michael. Embora eu seja fã, particularmente de seus dias cheios de brilho.
Não havia muitos homens que me fizessem rir. Talvez essa não se
tornasse a pior armação do mundo. Pegamos nossas bebidas e encontramos
um lugar vago, longe da multidão e da arte.
— Sou arquiteto de Ohio e não gosto de gatos. E você?
— Sou de Sacramento — respondi. — Também não gosto de gatos e sou
pesquisadora em uma empresa de consultoria.
— Grace disse que você era nova na cidade. Se mudou a trabalho?
— Em parte. — Minha mudança foi totalmente por causa da King &
Associates. Eu teria me mudado para qualquer lugar para trabalhar com o
Max King. — E para morar em Nova York.
— E agora que está fazendo isso, é tudo o que pensou?
— Não me dou bem com meu chefe.
— Ah — disse ele, balançando a cabeça. — Mas alguém se dá bem com
os chefes? Quero dizer, não é como se fosse uma regra você odiá-los? Ele
não está lá pra ficar entre você e seu hábito de passear na internet?
Inclinei a cabeça.
— Não fiquei chateada porque ele interrompeu minha experiência de
compra online. Gosto do que faço. Meu chefe que é grosseiro. — E lindo. —
Arrogante. — E ótimo de cama. — E ingrato. — E beija como se tivesse sido
sua principal e melhor matéria na faculdade. Max King era um homem que
tinha todo o direito de ficar obcecado com o próprio pênis.
George tinha uma covinha que apareceu à esquerda no seu rosto quando
sorriu.
— Tenho uma empresa. Eu me pergunto se um dos homens que trabalha
para mim está em alguma festa tendo a mesma conversa a meu respeito.
Estremeci.
— Meu Deus, me desculpe. Tenho certeza de que isso não está
acontecendo...
— Não esquenta. Como eu disse, acho que é parte do trabalho; algumas
pessoas nunca vão gostar de você.
— E você está bem com isso? — perguntei, genuinamente curiosa.
— Acho que nunca pensei no assunto. Se eu ficar bem ou não, vai
acontecer do mesmo jeito, não é? Nem todo mundo gosta de você, gosta?
Dei risada.
— Ei, só me conhece há poucos minutos e já pensa que as pessoas devem
me odiar?
— Não é pessoal. É que quando está assinando o contracheque de alguém,
as coisas simplesmente são ampliadas. Normalmente, se você não se dá bem
com as pessoas, não tem química com alguém, pode simplesmente evitá-las.
Mas no trabalho, você é forçado a passar tempo com elas, então está mais
ciente de que não gosta da pessoa.
De forma geral, fazia sentido, mas ele não conhecia, especificamente, o
babaca que era Max King.
— Acho que sim.
— Que tal se eu te distrair do trabalho uma noite desta semana, te levar
pra jantar e provar que nem todos os chefes são maus?
Mordi a borda da minha taça de plástico.
— Esta semana? — perguntei.
— Sim, a menos que já tenha compromisso.
— Não. Não tenho. — Eu queria sair para jantar com George? A
lembrança dos quadris de Max me prendendo na parede de seu apartamento
passou pela minha cabeça. Toquei meu pescoço, como se ainda pudesse
sentir sua respiração sussurrando na minha pele.
— Um jantar parece ótimo.
Precisava de novas memórias para substituir as de Max King.

Segunda-feira na King & Associates estava mais movimentada do que eu


esperava. Fui colocada em um novo projeto de pesquisa de alto perfil sobre
produtos de luxo na China. Estava tão animada que quase me esqueci de que
Max King era meu chefe. Pela primeira vez em muito tempo, saí do trabalho
com um sorriso no rosto, apesar de ter passado das vinte horas.
— Oi, Barry. — Acenei para o porteiro quando passei pela mesa dele e
apertei o botão do elevador. Queria um banho quente, minha cama e talvez
um pouco de “Game of Thrones”.
Quando as portas se abriram, Max estava na minha frente com roupas de
academia, alto, bonito e olhando para o telefone.
Maldita seja, Lycra.
Parei sem saber o que fazer. Ele estava saindo ou indo para a academia?
Naquele momento, Max olhou para cima e, pela primeira vez desde que me
fez gozar um zilhão de vezes, me olhou nos olhos.
— Harper — disse ele, um tom de surpresa na voz.
Ele pensou que nunca mais me veria? Trabalhava para ele, morava no
mesmo prédio, pelo amor de Deus. Talvez não fosse tão inteligente quanto as
pessoas diziam.
— Subindo? — perguntei.
— Não, sim. — Ele pareceu confuso. — Entre. Estava querendo falar
com você.
— Bem, você sabe onde eu moro e onde trabalho, então não tenho certeza
de que se viu numa missão impossível. — Toquei minha testa. — Só
precisava ter isso em mente.
Ele agarrou meu cotovelo com sua mão grande e imediatamente o calor
inundou meu corpo. E me puxou para o elevador exatamente como tinha feito
quando apareci na porta de seu apartamento para me queixar do barulho, e
assim como aquele dia, eu estava cercada por ele, por seu cheiro, pela
respiração próxima, pela língua e por seu pênis.
CAPÍTULO SEIS

— T ire suas mãos de mim — disse ela rispidamente, torcendo o


braço e me forçando a soltá-la.
— Pensei que teríamos a chance de conversar no trabalho...
— O engraçado é que, quando você cancela reuniões com as pessoas,
significa que não conversa com elas.
Eu tinha cancelado reuniões?
— A semana passada foi complicada. E Donna controla a minha agenda.
Eu não cancelei deliberadamente...
— Não perca seu tempo.
O elevador parou no porão e as portas se abriram. Eu estava indo para a
academia.
— Moramos no mesmo edifício. Podia ter batido na minha porta. — Ela
cruzou os braços.
Tive que me esforçar muito para não sorrir. Ela era tão linda, apesar de
estar brava. Talvez até mais por causa disso.
— Vai sair? — perguntou ela.
Fiz que não com a cabeça e ela começou a apertar furiosamente o botão
do sétimo andar.
— Não pude bater na sua porta. Sei que mora no sétimo andar porque se
queixou das pisadas no seu teto, mas há cinco apartamentos lá. Confie em
mim. — Levantei seu queixo com o dedo indicador. — Eu os contei na
quinta-feira à noite.
Seu olhar estava ilegível.
— Hoje é segunda-feira, Max.
Era estranho ouvir meu nome em seus lábios de novo. Da última vez que
a ouvi falar, ela estava prestes a gozar.
Estendi a mão e acariciei os cabelos sobre os ombros.
— Sinto muito. — Era verdade, eu sentia. Desde o dia em que Amanda
nasceu, jurei que não seria o tipo de homem que brinca com as mulheres. Se
eu não queria que alguém fizesse isso com a minha filha, não podia – de
forma alguma – fazer o mesmo com outra pessoa. Talvez eu tivesse só
relacionamentos casuais, mas nunca fingi ser algo a mais. — Não estava te
ignorando. E, honestamente, fui pego de surpresa quando acordei e você não
estava lá. Pensei que fôssemos conversar antes do trabalho.
— Sim, bem, eu queria chegar no horário no trabalho. — Ela deu de
ombros e eu dei meio passo em sua direção quando as portas se abriram.
Gostava do seu atrevimento. Os funcionários da King & Associates eram
sérios e complacentes. Além de Donna, todos simplesmente acenavam com a
cabeça e diziam sim para mim. Em casa, o mundo virava de ponta-cabeça, e
era um milagre se alguma vez eu conseguisse que alguém dissesse sim para
qualquer coisa. Harper continuava a desfocar os limites entre o meu trabalho
e a minha vida pessoal.
— Você me fez chegar atrasado — eu disse, não querendo que a nossa
conversa acabasse.
— O que está fazendo? — perguntou Harper enquanto eu a seguia para
fora do elevador. — Aqui não é o seu andar.
— Quero conversar com você. — Não tinha certeza do que estava
fazendo. O que eu podia dizer a ela? — Quero me desculpar — disse com
firmeza. — Por aquela noite. Não deveria ter me aproveitado do jeito que eu
fiz. — Foi como se todas as fantasias que estavam ocupando a minha cabeça
desde que ela começou a trabalhar na King & Associates aparecessem de uma
vez quando ela parou seminua na minha frente.
Ela abriu a porta do apartamento dela, entrou e virou para me encarar.
— Se aproveitado? Jesus, você é um idiota filho da mãe. — Ela tentou
fechar a porta, mas coloquei o pé na frente.
— Sai daqui! — gritou ela.
— Eu te acho linda — falei, empurrei a porta e entrei. — Linda, mas
extremamente irritante.
Harper me encarou boquiaberta como se eu tivesse roubado todas as suas
palavras. Então, se virou, jogou a bolsa no chão e caminhou brava até sua
cama. Olhei em volta. O apartamento era pequeno e cheio de coisas por todos
os lugares, incluindo livros empilhados no chão e sapatos para onde quer que
eu olhasse. A cama estava em um dos lados, onde o chão era ligeiramente
elevado. Tirou os sapatos e começou a desabotoar a blusa. Fiquei
imediatamente duro. Ela ia tirar a roupa?
— Harper — eu disse enquanto a seguia.
— Sou irritante? — perguntou ela.
Não sabia como reagir. Queria prendê-la na cama e fazê-la me ouvir.
Beijá-la. Fodê-la.
— Sou irritante? — Ela sacudiu a cabeça descrente e se virou para mim.
— Eu sou irritante, cacete?
Como é que eu podia fazê-la ver o que eu quis dizer? Peguei uma de suas
mãos, puxei-a para mim e a beijei. Ela se soltou e empurrou meu peito, mas
envolvi os braços no corpo dela para não conseguir escapar. Por fim, ela
desistiu, aceitou que estava presa e parou.
— Me beije, Harper — pedi. — Faça o que eu digo.
— Você é um idiota — respondeu ela, golpeando-me no ombro.
Ergui as mãos para o rosto dela e trouxe os lábios para os meus. Ela não
resistiu. Enfiei a língua em sua boca e a encontrei quente e pronta. Gemi em
seus lábios e deslizei a mão até a bunda para puxá-la para mim e sentir minha
ereção. Seus dedos deslizaram pelo meu cabelo e nossos beijos se tornaram
mordidas frenéticas e gananciosas.
Ela o interrompeu e se afastou.
— Max?
Não tinha certeza do que aconteceria depois. Por que ela saiu dos meus
braços? Ela ia me pedir para ir embora?
— Sim? — respondi.
— Tire suas roupas e me fode — disse ela.
Sorri quando ela começou a desabotoar o resto dos botões da camisa, os
dedos se atrapalhando com cada um.
— Venha aqui — eu disse, dando um tapinha em suas mãos para afastá-
las.
— Tenha cuidado. Esta blusa é nova e não posso comprar outra.
Desabotoei a camisa antes de ela terminar a frase e deslizei a seda sobre
seus ombros. A pele era tão suave que me abaixei para beijar a uma parte
bronzeada exposta, desesperado para senti-la sob os lábios. Ela inclinou a
cabeça para trás e sorri com os lábios em sua pele.
— Idiota, né? — Tirei minha camiseta e bermuda.
— Quer que eu mude de ideia? — Ela inclinou o quadril, as alças do sutiã
caindo pelos ombros.
— Você não vai mudar de ideia — respondi me aproximando, puxando
sua saia até a cintura e colocando a mão dentro da calcinha.
— Não — disse ela com a voz trêmula. — Não posso estragar essa saia.
Acabei de comprá-la. — Meus dedos pressionaram suas dobras e, embora,
não estivesse tentando me impedir, percebi que estava preocupada com as
roupas. Por quê?
— Deite-se — eu disse, guiando-a até a cama, onde rapidamente tirei a
saia e calcinha.
— Max...
Queria sucumbir por causa do jeito como ela disse o meu nome.
— Sim? — Beijei o interior da coxa macia e firme e fui subindo até
alcançar a boceta. Dei-lhe uma longa lambida sobre a fenda, mas continuei
subindo, passando pela barriga e entre os seios. O ritmo foi mais lento do que
na semana passada. Sua raiva tinha diminuído e ela acariciava meus braços
com as unhas e de vez em quando sussurrava “você é um idiota” enquanto eu
continuava a beijar, lamber e chupar seu corpo inteiro.
Ela ergueu o braço acima da cabeça, apontando para a mesa de cabeceira.
— Camisinha — disse. Ela podia me achar idiota, mas não tinha
problema com o meu pau. Peguei um preservativo e, o mais rápido que pude,
o coloquei. Quando me deitei de costas, Harper levantou e começou a me
montar.
— Dessa vez não — eu disse, empurrando-a de costas. — Eu vou te
foder. Não o contrário. — Abri seus joelhos com as pernas e entrei nela. Suas
sobrancelhas se uniram enquanto ela se concentrava em não emitir o som de
prazer que eu sabia que estar sentindo. Saí e estoquei, querendo libertar
aquele gemido.
— Se vai me foder, é melhor fazer valer a pena — disse ela.
Extremamente. Irritante.
Ela sabia que estava gostando demais. Peguei uma perna e a levantei, indo
mais fundo, mostrando que era bom pra caralho.
Ela mordeu o lábio, ainda tentando não reagir.
— Sério? Não vai me dizer que está gostando? — perguntei, ofegante,
empurrando firme e sentindo-a pulsar. — Não vai me dizer que é o melhor
sexo que já fez? — Desci com tudo, empurrando-a para cima da cama, meu
maxilar cerrado.
— Vai se foder — soltou rispidamente.
— Você sabe que é. Ama o meu pau dentro de você, te fazendo gozar.
Gosta muito e vai sempre querer mais.
Um gemido profundo saiu rasgado de seu peito. Finalmente.
— Aí, está vendo? Só precisa ceder e perceber o quão gostoso é essa
sensação que eu te faço sentir.
Ela me apertou com as pernas, levantando os quadris para encontrar meus
impulsos. Um estrondo vibrou pela minha garganta diante da sensação
estonteante.
— Puta que pariu. Bom. Pra. Caralho.
Ela arranhou tão forte as minhas costas que interrompeu meu ritmo.
Quando a olhei, ela sorriu. Puxei seus braços para baixo e deslizei as palmas
contra as delas, prendendo-a no colchão e comecei a empurrar dentro dela de
novo.
— Cuidado com os modos, Srta. Jayne. Se não for cuidadosa, não vou te
deixar gozar.
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Como se pudesse me impedir.
Ela não fazia ideia.
Parei meus movimentos.
— Quer testar essa teoria? — Ela se contorceu debaixo de mim,
desesperada por mais atrito. — É, achei que não ia querer mesmo.
— Você é um porco arrogante — ela me insultou brava e virou a cabeça
de lado.
— Acho que o que você quis dizer é: “obrigada por me foder”. — Fui
para cima dela, me esfregando em seu corpo. Podia estar atormentando-a,
mas verdade seja dita, o que eu queria mesmo era gritar que ela era perfeita e
gostosa demais. Por todos esses meses em negação eu queria que ela
explodisse. Harper Jayne era tão sexy, passional e gananciosa quanto eu
imaginava.
Suas respirações estavam curtas e necessitadas e os sons cada vez mais
altos e menos controlados.
— Você é linda. E sexy e... — Pausei por um segundo. Tinha que ter
cuidado para não gozar primeiro. — E você me enlouquece no trabalho. —
Estoquei novamente. — Porque eu quero curvá-la na minha mesa e enfiar
meu pau em você. Bem. Desse. Jeito.
Ela gritou ao gozar, pulsando em volta do meu pau, possuindo-o e me
fazendo gozar. Sem conseguir evitar, rugi seu nome.
Desabei em cima de seu corpo e saboreei a sensação da minha pele quente
cobrindo a dela.
Rolando de costas, estendi a mão e a puxei para os meus braços.
— Está esperando por um high five? — perguntou e eu dei risada.
— Pare de ser chata por cinco segundos e fique aqui — eu disse. Ela
chegou alguns centímetros mais perto e se acomodou. — Tão irritante. —
Beijei o topo de sua cabeça.
Depois de alguns minutos, ela se apoiou em um dos cotovelos.
— Pensa mesmo em me comer em cima da sua mesa?
Soltei um gemido.
— Você não pode me questionar sobre coisas que eu digo enquanto estou
transando.
— Por quê? — perguntou ela. — É alguma regra que eu não conheço?
— Sim, é. A primeira regra da conversa safada é que depois de gozar, não
se discute o que foi dito no calor do momento.
Esperei uma resposta insolente, mas ela ficou em silencio por alguns
momentos antes de dizer:
— Ah. Eu não sabia. — Foi uma resposta tão incomum. Queria perguntar
o que ela estava pensando, mas apesar do fato de que, há três minutos, eu a
estava fodendo, parecia indiscrição.
Eu a puxei para mais perto.
— Você olhou meu relatório revisado de Bangladesh?
Ela acabou mesmo de me perguntar isso?
— Não.
— Não? — questionou. — Já está com ele há quase uma semana. — Ela
passou a ponta dos dedos no meu peito.
— Não vamos falar sobre isso agora. Porra, Harper, acabei de gozar não
tem nem cinco segundos. Não quero lembrar do fato de que transar com você
é totalmente inapropriado.
— Inapropriado? — gritou ela. Voltamos à gritaria? — Saia da minha
cama. — Ela tentou me empurrar.
Jesus. Não conseguia fazer nada direito com essa mulher. Exceto fazê-la
gozar, aparentemente.
Segurei seus pulsos e ela começou a me chutar, então a virei de costas e
prendi suas coxas na cama para que ela parasse.
— Jesus, mulher, você vai de oito a oitenta em um milésimo de segundo.
— Ela fechou os olhos e virou a cabeça de lado.
— Saia de cima de mim.
— Não até que me diga o que aconteceu e por que está surtada.
— Inacreditável.
Pelo menos, ela se virou e me encarou.
— O que foi? — perguntei.
— Você acabou de me dizer que transar comigo é inapropriado. Como se
o seu corpo agisse sem o seu consentimento. E espera que eu não reaja a
isso? Você é um...
— Idiota — terminei a sua frase. — Sim, ouvi as primeiras quinze mil
vezes que você disse isso. — Eu a soltei e saí da cama, aborrecido por ela ser
tão difícil a cada segundo de cada minuto em todos os dias. Eu era o chefe
dela; claro que era inapropriado que estivéssemos transando. Peguei a
bermuda e camiseta e me vesti rapidamente.
— E agora você, simplesmente, vai embora? — perguntou ela, apoiada
nos cotovelos, seus seios perfeitamente redondos me implorando para voltar
para a cama.
— Esqueceu que me mandou ir embora?
— Que se dane. — Ela levantou da cama e, furiosa, entrou no banheiro e
bateu a porta.
Puta que pariu! Ela era um pé no saco. Bonita. Talentosa. Sexy.
Perfeitamente enervante.
Será que fui um idiota? Ela era irritante, mas talvez eu não devesse ter
dito que foi inapropriado transar com ela logo depois de termos transado. Não
estava acostumado a ter que me preocupar com o que dizia às mulheres com
as quais eu transava.
Sentei-me na beira da cama e esperei por vinte minutos até ela sair do
banheiro.
— Oi — disse ela quando finalmente saiu enrolada em uma toalha. Seus
olhos continuaram a oscilar de mim para o chão.
— Oi — respondi. — Eu não quis te deixar chateada. — Nunca quis
aborrecer as mulheres da minha vida, mas acontecia com bastante frequência.
— Querendo ou não, você fez isso. — Ela balançou a cabeça. — Não sei
o que é. Talvez você não perceba como fala.
Esfreguei as mãos no rosto.
— Não sou bom com... — Como é que vou dizer que não estava
acostumado a precisar interagir com as mulheres com quem estava
transando, fora do quarto?
— Mulheres? — ela concluiu a frase para mim, arqueando uma
sobrancelha.
— Não quero te irritar, Harper. — Sim, seria estranho no trabalho, mas
verdade seja dita, eu gostava dessa mulher. — Sou a pessoa que assina seus
contracheques. Era o que eu estava tentando dizer.
— Você precisa pensar no que diz antes de começar a falar.
Assenti.
— Serei melhor no futuro.
Ela veio na minha direção.
— Tudo bem. O futuro começa agora, certo?
Eu a puxei para o meu colo. Segurei seu pescoço e pressionei os lábios
nos dela. E na mesma hora, eu a queria de novo. Não estávamos no escritório
mesmo. Aqui éramos vizinhos, não colegas de trabalho. Puxei a toalha,
deixando-a nua.
— Sim. O futuro começa agora.

Na manhã seguinte cheguei ao escritório mais cedo. Estava tentando


terminar de verificar o relatório da Harper sobre Bangladesh. Não queria dar
qualquer outra razão para ela pensar que eu era um idiota.
— Eu disse nada de ligações, Donna — respondi bravo pelo viva-voz e
desliguei.
Minha porta abriu e bati a mão na mesa enquanto olhava para cima.
— Max, você vai querer atender a essa ligação — avisou Donna.
Duvidava seriamente disso. A menos que fosse algo com Amanda. Merda. —
Linha um.
Em vez de ela me deixar a sós para atender a ligação, fechou a porta e
recostou-se nela com um enorme sorriso. Se Donna estava sorrindo, Amanda
deve estar bem. Certamente seria Amanda ligando para dizer que a
convidaram para o baile.
Assim que peguei o telefone e apertei a linha um, Donna disse:
— Charles Jayne.
Porra.
Charles Jayne era o fundador e sócio sênior da JD Stanley. O banco de
investimento dele não usava empresas externas, mas eu queria que abrissem
uma exceção para a King & Associates. Estava atrás deles há anos.
— Max King — atendi, tentando manter a voz calma enquanto meu pé
batucava contra a perna da mesa.
— Ouvi dizer que está incomodando consideravelmente o meu diretor de
pesquisa global — disse o homem com uma voz profunda do outro lado da
ligação.
Merda, será que fui longe demais? Meu contato me deu uma pista sobre
Harold Barker. Aparentemente ele gostava de tênis, então sugeri que se
juntasse a mim no meu camarote no US Open, no final do verão. Convidei-o
para uma reunião uma vez quando o encontrei em um coquetel, mas ele
recusou educadamente. Tinha esperanças de que o tênis fosse dar certo.
— É um prazer falar com o senhor. Não tenho certeza se me descreveria
como um incômodo. Apenas acho que podemos fazer muito pela JD Stanley,
e eu gostaria de uma oportunidade para lhe mostrar o que é possível.
— Sim, bem, isso você deixou bastante claro — respondeu ele. — É por
isso que estou ligando. Venha até aqui dia vinte e quatro e nos conte um
pouco sobre como trabalham na King & Associates.
Puta merda.
— Sim, senhor. O que...
— Dez horas, em ponto. É melhor que você faça jus à sua publicidade.
Antes que eu pudesse perguntar quanto tempo teríamos, quem estaria
junto, o que ele queria saber..., a linha ficou muda. Acho que quando se é
Charles Jayne, não se pode perder tempo.
Desliguei e olhei para o telefone.
Donna atravessou a sala a passos largos.
— Então? O que ele queria?
— Me dar a oportunidade da minha carreira. — Isso realmente
aconteceu? Sem mais nem menos, Charles Jayne ligou e me chamou para
uma reunião.
— Ele vai contratá-lo?
Dei de ombros.
— Ele quer que eu vá para uma reunião no dia vinte e quatro.
— Não acredito — disse Donna. — Parece que Harper foi uma
contratação inteligente.
O quê? Olhei para ela, esperando que se explicasse.
— Tenho certeza de que sua rede de contatos ajudou, mas a contratação
de Harper foi genial.
— O que isso tem a ver?
— Bem, ela é filha dele, não é?
— Harper? — Harper Jayne. Nunca liguei os fatos.
— Você não sabia? — perguntou Donna. — Não foi por isso que a
contratou?
— Jesus, você deve pensar que sou um verdadeiro cretino. Não
contrataria alguém só porque tem ligação com Charles Jayne. E desde quando
eu me envolvo na contratação de um pesquisador júnior?
Será que era o que a Harper pensava? Mas como podia pensar nisso? Ela
não sabia sobre a minha obsessão com JD Stanley.
— Tem certeza de que Charles Jayne é o pai da Harper? — perguntei. —
Quero dizer, ela admitiu? Vocês conversaram sobre isso?
Donna piscou.
— Não, eu simplesmente presumi por causa do sobrenome. Nunca
mencionei isso.
— Poderia ser uma coincidência — respondi, pensando em voz alta.
— Quer que eu pergunte a ela?
Eu queria perguntar? Queria saber se havia uma ligação entre eles. Será
que foi ela que arrumou essa reunião?
Já não sabia mais o que pensar. Harper estava aqui para espiar as coisas
antes que Charles Jayne decidisse me convidar para uma reunião?
— Não, eu mesmo pergunto. Pode chamá-la?
Deslizei as palmas das mãos na frente da calça. Não sabia se estava
nervoso porque tinha acabado de conversar com Charles Jayne ou se porque
estava prestes a falar com Harper.
Alguns minutos depois, Harper entrou, Donna seguindo atrás.
— Donna, pode fechar a porta, por favor? — Ela me deu um olhar
suplicante, claramente desesperada para saber a resposta.
Harper observou enquanto Donna fechava a porta e depois se virou para
mim, olhando-me desconfiada. Merda, meu pau começou a se contrair.
Precisava me concentrar.
— Sente-se, Harper. — Gesticulei em direção a uma das cadeiras em
frente à minha mesa. Ela ficou ressabiada. Obviamente.
— Precisamos conversar — eu disse.
Ela fez cara feia, imaginando que eu me referia a nós.
— A respeito de uma ligação que acabei de receber.
— Ah — respondeu, e sorriu.
Teria que ser direto com ela e perguntar:
— Você tem alguma relação com Charles Jayne?
Suas sobrancelhas franziram e ela juntou as mãos.
— Não sei o que meu sobrenome tem a ver com ele.
Recostei na cadeira e exalei. Eu tinha a minha resposta. Ela era a filha de
Charles Jayne. Donna estava certa.
— Você é filha dele? — perguntei.
Ela se levantou.
— Não estou aqui para falar sobre o meu pai.
— Ele acabou de me ligar — informei, ignorando seu olhar irritado. —
Ele quer que eu o encontre, e há muito tempo venho querendo adicioná-lo
como cliente...
— É por isso que me contratou? — sua voz ficou mais alta quando
perguntou. Eu estava lidando com isso de forma errada. — É por isso que
transou comigo?
Eu estremeci. Cristo, conseguia enxergar a situação pelo ponto de vista
dela. Levantei e dei a volta à mesa e me encostei do outro lado, não querendo
chegar muito perto, apesar de seu encanto. Tive que me segurar para não
estender a mão e tocá-la.
— Você não respondeu a minha pergunta — disse ela.
— Eu não sabia.
Ela revirou os olhos.
— Estou falando sério. Donna me disse ainda há pouco. E, de qualquer
forma, não sou eu que faço recrutamento. — Como é que eu ia dizer que sua
posição era muito inferior para que eu me envolvesse? — Não me envolvo
nos assuntos do RH.
Ela passou os braços em torno de si.
— Seja honesto. Há quanto tempo está querendo trabalhar com a JD
Stanley?
— Harper, a JD Stanley é um dos bancos de investimento mais bem-
sucedidos em Wall Street, é claro que eu quero trabalhar para eles. E você
sabe melhor do que ninguém que eles protegem sua pesquisa como se fosse
ouro. É por isso que fazem quase tudo internamente. Qualquer pessoa na
minha posição gostaria de trabalhar com eles. — Eu realmente poderia fazer
isso com o conhecimento interno dela.
Ela me encarou como se eu fosse tóxico.
Batuquei os dedos na mesa. Esta poderia ser uma situação onde todos
podiam ganhar.
— Eu preciso da sua ajuda — comentei. Agora que ela estava aqui, podia
muito bem usar isso a meu favor. — Quero que você trabalhe na
apresentação comigo. Me ajude a conseguir esse negócio.
— Uau. Você não perde tempo, não é? Nós fodemos ontem à noite e
agora pensa que vou te ajudar a estar um passo à frente.
Não era isso, de forma alguma. Pensei que ela receberia de braços abertos
a oportunidade de trabalhar em uma conta de alto perfil.
— Não, eu só pensei que você gostaria...
— De ser usada por um homem que queria tanto ter um novo cliente a
ponto de transar com alguém para conseguir isso?
Ela se virou e saiu da sala antes que eu tivesse chance de responder. Mais
uma vez, consegui dizer a coisa errada. Estava se tornando um hábito no que
dizia respeito a Harper.
CAPÍTULO SETE

L iguei para Grace logo depois da minha briga com Max e nos
encontramos em um bar na Murray Street, em Tribeca. Acenei
para o barman.
— Gostaríamos de alguns coquetéis e petiscos. Algo com bastante queijo.
— O garçom assentiu e eu me virei para Grace.
— Tá bom, estou muito confusa agora. Você tem transado com Max
King, a pessoa que mais odeia no mundo?
— Você está com total foco na coisa errada.
— Volte ao começo e me diga o que diabos está acontecendo.
Ela estava me olhando como se eu tivesse acabado de dizer que decidi me
mudar para o Alasca.
— Acho que fui contratada pela King & Associates por causa do meu
doador de esperma. — Devia ter mudado o sobrenome. Nós nunca tivemos
nenhum tipo de relação, então nem parecia ter o sobrenome dele.
— O doador de esperma é seu pai? — perguntou Grace e eu assenti. —
Como você sabe?
— E ele transou comigo, como se eu fosse uma prostituta. — Estremeci.
— Bem, mal sabe Max que, atualmente, meu pai e eu só nos comunicamos
através de advogados. — Como é que ele pôde ter sido tão frio? Deveria ter
confiado nos meus instintos a respeito dele.
— Chegaremos à parte do sexo mais tarde. Você não respondeu a minha
pergunta. — Grace me deu um tapinha no braço, tentando me fazer prestar
atenção. — Quem te disse que foi contratada por ser filha de quem é?
— Max. No escritório. — Tomei um gole do meu mojito.
Ela inclinou a cabeça de lado.
— Ele disse: “contratei você por ser filha de quem é”?
— Claro que não. Ele alegou que não sabia. Mas é obvio que estava
mentindo. Ele mesmo disse que queria trabalhar para JD Stanley.
— Tudo bem. — Grace fez uma pausa, as sobrancelhas unidas. — E você
estava transando com Max? Como isso aconteceu? — Ela remexeu as
sobrancelhas. — Trabalhando até tarde na empresa?
— Ele mora no meu prédio. É o homem da cobertura.
Grace arregalou os olhos.
— O casal transando feito coelhos? Você trepou com aquele homem?
Jesus, estou com inveja. — Ela tirou o palito da taça do Martini e mordeu
uma das azeitonas.
Tentei não sorrir. Ela deveria estar com inveja. Max sabia muito bem usar
o pau, isso eu não podia negar. Ele provavelmente devia ter transado com a
Grace, para começo de conversa. Afinal, as conexões da família dela eram
muito mais impressionantes do que as da minha.
— Então, o que vai fazer? — perguntou ela. — Ele tem perfil para ser
namorado?
— Não faço ideia. E, claro que não. — Coloquei os cotovelos no bar e
passei as mãos pelo cabelo. — O que eu estava pensando quando transei com
meu chefe? Agora tenho que pedir demissão.
— Ele disse que não sabia que você era filha dele. Ele não teria dito
alguma coisa se soubesse? Ele é do tipo mentironador?
— Mentironador? — Olhei pelo canto de olho para ela.
— Está no Dicionário da Grace. Procure.
Não tinha pensado que Max era do tipo mentiroso; ele era direto demais.
Mas era perfeitamente possível que eu tivesse sido levada pelo seu corpo
firme e lindos olhos verdes. Fui seduzida por seu cérebro brilhante e paixão
pelo trabalho?
— Isso importa? Agora ele sabe. Meu pai o convidou para fazer uma
apresentação.
— E Max disse que seu pai contou para ele?
Acenei com as mãos.
— Não, ele disse que somou dois mais dois, então pediu minha ajuda
nessa apresentação.
— E você não quer trabalhar para o seu pai?
— Não por causa do meu sobrenome.
Grace assentiu vigorosamente, o álcool claramente amolecendo partes de
seu corpo.
— Entendi, mas você está onde queria estar. Max está dizendo que não
sabia. Vai agir no calor da raiva e prejudicar seus próprios interesses, pedindo
demissão?
— Definitivamente não estou agindo no calor do momento, e nem quero
prejudicar meus interesses, mas acho que tenho que sair. É tudo humilhante
demais. Todo mundo vai saber quem é o meu pai e porquê consegui o
emprego, e não posso trabalhar com o homem que me fodeu para conseguir
uma vantagem.
— Você está pensando como mulher. Precisa pensar como se tivesse um
pênis. — Ela bateu a mão no bar e o garçom se assustou antes de colocar um
prato de queijo na frente dela. — No entanto, você tem esse emprego, precisa
provar que o merece porque é boa no que faz, não por causa do seu
sobrenome e não porque está dando para o chefe. — Ela tomou um gole de
seu coquetel. — Os homens têm ganhando vantagem usando a velha rede de
relacionamento há anos. Tem que tirar proveito das oportunidades quando
elas surgirem. Então, não só não pode desistir, como também precisa ir e
dizer a Max que deveria trabalhar na apresentação do seu pai, por causa do
seu sobrenome.
Ela não fazia o menor sentido.
— Como isso ajudaria? Só pioraria tudo.
Grace colocou a taça em cima do bar bruscamente, a bebida respingando
para os lados.
— Como se diz — ela jogou as mãos para o ar —, é uma situação onde
todos saem ganhando.
Balancei a cabeça e olhei a hora no meu celular. Devia estar chegando em
casa, com ou sem trabalho para ir amanhã cedo.
— Está me ouvindo? — perguntou Grace.
Eu não estava porque ela não estava fazendo nenhum sentido, mas abaixei
o celular e dei a ela toda a atenção.
— A King & Associates faz o tipo de trabalho que você quer fazer, certo?
— Certo. — Assenti.
— E eles são bons, certo?
Por que estávamos recapitulando aquilo?
— Certo, de novo. Mais uma e vai ganhar um faqueiro de carnes.
— Então, por que sairia de uma empresa como essa?
Ela me interrompeu antes que eu pudesse falar.
— Você só precisa mudar. — Ela segurou a minha banqueta e puxou-a
para perto dela. — Precisa mudar seu foco. A King & Associates é o melhor
lugar para sustentar o capitalismo, alimentar a ganância corporativa e todas as
coisas nerds que vocês fazem. Estou certa?
Revirei os olhos e tomei outro gole da minha bebida.
— Então fique lá. E exija trabalhar nesse projeto. Porque o seu pai é o
melhor no que ele faz, então a pessoa que fechar essa conta vai conseguir
todo o crédito, certo?
— E você acaba de ganhar o faqueiro de carnes.
— Então, banque a esperta ficando por perto. E enquanto trabalha nisso,
prove ao seu pai porque ele deveria ter lhe oferecido uma posição na empresa
dele e não aos filhos com pênis.
Coloquei a taça vazia no bar enquanto refletia sobre o que ela estava
dizendo. Ela tinha percebido alguma coisa?
— Está me dizendo para eu continuar trabalhando na King & Associates?
— Eu seria capaz de suportar a continuar trabalhando com o Max?
— Sim, porque seja lá como conseguiu o emprego, você está lá. Então
aproveite ao máximo a sua oportunidade.
— E exijo trabalhar na conta do meu pai?
— Você será famosa se conseguir fechar esse negócio, não é? E estará
mostrando o dedo do meio para o seu pai ao mesmo tempo. Como eu disse,
você só tem a ganhar. — Grace acenou para o barman, pedindo a conta.
— A menos que a gente acabe perdendo. — Seria ainda mais humilhante.
— Quando foi que você já perdeu qualquer coisa que queria? —
perguntou ela quando desceu do banquinho e entregou seu cartão American
Express Black ao barman.
— Não precisava pagar — eu disse.
— Eu não paguei. Foi cortesia do meu pai.
— Obrigada, Sr. e Sra. Park Avenue — gritei. — Pode ser que você saiba
de alguma coisa e por isso está me dizendo para eu não pedir demissão. Esta
poderia ser a minha oportunidade de provar ao meu pai que posso fazer mais
do que ficar em casa de pernas pro ar pelo resto da vida. Vou mostrar que
tenho valor e que ele deveria estar me implorando para trabalhar no seu
banco de investimentos estúpido. — Pulei da minha banqueta. — É isso.
Exatamente o que vou fazer. — Agarrei o rosto de Grace e lhe dei um beijo
estalado nos lábios. — Você é um gênio.

De alguma forma, entre sair do bar e voltar ao meu apartamento, toda a


minha paciência desapareceu e os coquetéis que consumi durante a noite me
convenceram de que era uma ótima ideia dizer logo ao Max que trabalharia
na conta da JD Stanley.
— Vou fazer isso — eu disse quando Max abriu a porta.
— Harper, oi. — Ele esfregou a palma da mão sobre os olhos e bocejou.
— Queria conversar com você mais cedo, mas saiu correndo.
O que eu estava fazendo? Parada na porta do meu chefe no meio da noite,
obviamente um pouco bêbada. Eu queria ser demitida? Recuei até bater à
parede, mas deixei meus olhos percorrerem o torso exposto e firme de Max e
seguir o rastro de pelos que se reuniam no umbigo antes de desaparecerem
debaixo da calça do pijama.
— Acho melhor você entrar — disse ele, sua voz grave e profunda.
Fiz que não com a cabeça de um jeito exagerado e deslizei as mãos atrás
das costas. Ele deu um passo na minha direção e puxou meu cotovelo.
— Eu disse, entre.
Perdi o equilíbrio e caí em cima dele. Estendi a mão para me equilibrar,
pressionando as palmas na pele quente e rígida do peito de Max. Eu me
afastei, mas ele me puxou para mais perto, nos girou e levou para dentro do
apartamento.
— Você está bêbada — disse ele enquanto me pressionava na parede e
chutava a porta com o pé para fechá-la. Seu rosto estava só a um centímetro
do meu. Eu o queria mais perto.
— Um pouco — confessei.
— Por que você saiu correndo? Não vai se demitir, se é o que está
pensando em fazer — disse ele enquanto arrastava o nariz pelo meu queixo.
— Diga-me quando descobriu — pedi, colocando as mãos em seus
ombros.
— Descobri o quê? — perguntou, começando a beijar meu pescoço.
— Que ele era meu pai.
Ele recuou e apoiou as mãos em ambos os lados da minha cabeça.
— Juro pra você que eu soube hoje. Acho que a Donna presumiu que
havia uma ligação, mas não me disse nada até eu receber o telefonema. —
Ele fez uma pausa e seu olhar passou pelo meu rosto como se estivesse
tentando descobrir se eu acreditava nele. — Por que não disse nada?
Passei por baixo de seus braços e atravessei a entrada.
— Eu não falo com o meu pai. Não tenho nada a ver com ele. — Comecei
a cutucar a unha do polegar.
— Tá bom. Bem, você não precisa trabalhar na apresentação. Só pensei
que... JD Stanley é o único banco de investimento em Wall Street com o qual
nunca trabalhei.
— E daí? — respondi, e olhei para cima.
— Bem, não posso recusar a oportunidade.
— Não quero que você a recuse.
Ele ergueu as sobrancelhas.
— Quero que você ganhe a porra dessa conta. E eu vou te ajudar.
— O que te fez mudar de ideia?
Meus olhos desceram para o chão.
— Não importa. Você vai conseguir o que quer.
Ele deu um passo à frente.
— Me conte, Harper. — Sabia que não deveria ter dito mais nada, mas
havia algo em seu tom que tornava impossível não obedecer.
Respirei fundo.
— Ele tem muitos filhos, não é?
Seus olhos percorreram meu rosto.
— Sou a única mulher... e a única a quem ele não ofereceu emprego logo
depois da faculdade.
— Por que você é mulher? Ou por que não se falam?
Permiti que suas perguntas entrassem lentamente no meu cérebro. Será
que ele tinha uma boa relação com os outros filhos?
Max estendeu a mão.
— Venha comigo.
Tão naturalmente, deslizei a palma da mão na dele, seus dedos me
segurando com força enquanto me guiava pelo corredor. O que eu estava
fazendo? Não gostava desse homem. Deveria ir para o meu apartamento.
— Sinto muito. Está tarde. Não deveria estar aqui.
— Shhh. Deixa eu te hidratar.
Ele me conduziu até uma banqueta em frente a um balcão na cozinha
enorme que eu não tinha visto antes. Na outra noite, só tinha visto
rapidamente o quarto e a entrada. Não tinha admirado o tamanho do lugar ou
o quão glamouroso era. Max também tinha um gosto incrível ou tinha
contratado um excelente designer de interiores.
— Beba — disse ele, colocando um copo de água no balcão de mármore
branco à minha frente.
Tomei um gole, de repente, muito mais sóbria do que quando bati à sua
porta.
— Mais — grunhiu ele. Jesus, ele era tão mandão. Mas obedeci e bebi
mais.
Ele contornou o balcão e ficou ao meu lado, recostando-se no mármore.
— Me conte sobre o seu pai. Acha que ele não contratou você porquê...
— Porque eu tenho peitos.
Ele ergueu as sobrancelhas.
— Sério?
— Ele me ofereceu uma grande quantia de dinheiro. — Coloquei meu
copo no balcão. — Não que ele negue a minha existência, ele periodicamente
me chama para jantar.
— Então você fala com ele?
Eu realmente precisava sair daqui.
— Não desde quando meu meio-irmão mais novo começou a trabalhar na
JD Stanley no dia de seu vigésimo segundo aniversário. Três semanas depois
que me formei na Faculdade de Administração. Mas não muito antes disso.
Max franziu os lábios.
— Achei que talvez ele estivesse esperando eu terminar a faculdade, e é
claro que eu teria dito não, mas...
Os dedos de Max acariciando meu braço dispersaram meus pensamentos.
— Ele nos deu dinheiro, pra mim e pra mãe, mas o que eu queria era uma
família.
Max afastou a mão.
— Desculpe, eu deveria parar de falar.
— Eu gosto de ouvir. Você tem muito a dizer. — Sua voz era baixa e
calma, como se estivesse sendo sincero, como se não estivesse falando com
uma mulher bêbada que achava que ele era um babaca.
Ergui as sobrancelhas.
— Estive bebendo. Tenho mais a dizer no escritório, mas lá você não é
tão interessado.
Ele segurou meu rosto.
— Como você está errada.
Seus beijos foram suaves no começo, e eu fechei os olhos, saboreando
cada um.
— Não podemos fazer isso. — Minha boca argumentou, mas minhas
mãos estavam deslizando por suas costas nuas, os músculos quentes se
amontoando sob o meu toque. — Eu não posso...
— Eu sei — respondeu ele. — Se eu for atrás da conta da JD Stanley, não
posso exatamente estar trepando com a filha do chefe. — Como se seu corpo
não tivesse acompanhando o cérebro, ele subiu minha saia. — Mas essa
bunda, essas pernas. Elas me enfeitiçaram de alguma forma. — Ele acariciou
meus quadris e desceu as mãos pela bunda, deslizando dentro da calcinha, em
seguida, me tirou do banco e me apertou contra o seu corpo.
— Nós vamos trabalhar juntos. — Abracei seu pescoço. — Não preciso
da minha cabeça cheia... — De pensamentos com você. Não podia dizer isso.
Não queria que Max pensasse que eu não seria capaz de me concentrar se
estivéssemos no escritório juntos, mas francamente, seria pedir demais. —
Devemos nos concentrar na apresentação.
Ele assentiu e capturou meu lábio inferior entre os dentes. Sem pensar,
esfreguei os quadris contra sua crescente ereção.
— Se meu pai suspeitar... Preciso mostrar a ele que sou excelente no que
faço, não que eu consegui meu trabalho na King & Associates porque estou
dando para o chefe.
— Focada — repetiu ele. — Não, fodendo o chefe.
— Estou falando sério. — Empurrei seu peito. — Pare de pensar com o
pau.
— Também estou falando sério, mas você está me encorajando. — Ele
sorriu. Foi um choque porque acontecia tão raramente. Por um momento meu
coração parou.
— Não sorria para mim, seu idiota. — Tentei sair de seus braços, mas ele
só me segurou mais apertado.
— Só essa noite. Aqui é Vegas. Começamos do zero amanhã de manhã.
Sem sexo depois desta noite.
— Vegas? Só esta noite? — Olhei intensamente em seus olhos, tentando
ver se estava dizendo a verdade. E me perguntando se eu queria mesmo que
estivesse. Sim. Esta noite seria a minha última com o Max King. Trabalhar
nessa conta e mostrar ao meu pai o que ele estava perdendo, não valia a pena
arriscar. Nem mesmo pelo Rei de Wall Street.
Ele passou suavemente a mão sobre a minha boceta, em seguida enfiou os
dedos pelas dobras.
— Só esta noite — sussurrou ele.
Meus joelhos fraquejaram e cambaleei.
— Vê o que um simples toque faz a você? O poder que tenho sobre o seu
corpo? — Ele tirou os dedos e a decepção me deixou sem fôlego. Não
precisei responder. — Você veio aqui para ser fodida, e eu não vou te
decepcionar. — Ele se inclinou e me jogou por cima do ombro.
— Eu vim para lhe dizer que trabalharia na conta! — gritei em suas costas
enquanto esperneava.
— Você veio para ser fodida.
Bem, talvez ele estivesse certo. Exceto que sóbria eu nunca teria me
arriscado a esbarrar em uma de suas outras amantes.
— Vegas — murmurou ele mais uma vez. — Só mais uma noite.
Ele me jogou na cama, minha bunda quicando no colchão, e agarrou
minha perna, me puxando em direção a ele.
— Se vou poder ter você só mais uma noite, preciso de uma lembrança
dessa sua boca bonita em volta do meu pau.
Eu sentei, meus pés balançando na lateral da cama, e ele se colocou entre
as minhas pernas, segurando minha cabeça com as mãos.
— Você não pode me exigir um boquete.
Ele ergueu uma sobrancelha como se discordasse.
Balancei a cabeça e puxei para baixo o pijama até chegar aos tornozelos.
Seu pênis saltou, duro e grosso.
— Parece estar funcionando.
Eu queria chupá-lo, e me sentia mais molhada ao pensar em seu pau entre
os meus lábios. Mas obviamente fui fácil demais, e eu não podia ser assim.
Inclinei-me para trás no colchão e abri as pernas, minha saia indo parar
em volta dos quadris, então levei as mãos até a calcinha. Querendo que ele
não tivesse dúvidas sobre o que eu estava fazendo, dobrei uma perna na cama
para que ele pudesse ver melhor, e enfiei a mão por dentro, encontrando a
minha abertura.
— Sério isso? — perguntou enquanto segurava seu pau, acariciando-o.
— Me peça gentilmente.
Ele riu, balançou a cabeça e soltou sua ereção. Sua dinâmica mudou e ele
se inclinou e tirou as minhas roupas. Primeiro a saia, depois a calcinha.
Depois começou a abrir os botões da blusa, aparentemente com dificuldade.
Ele olhou para mim, e foi a minha vez de debochar dele.
— Tá difícil aí? — perguntei.
Sem tirar os olhos de mim, ele rasgou a minha blusa. Porra, aquilo era
seda e eu só a tinha usado três vezes.
— Seu idiota!
— Já sei disso — respondeu, levando as mãos até meu sutiã e abrindo-o.
— Se só tenho esta noite, preciso ver isso — disse ele, olhando para o meu
seio enquanto espalmava minha pele e puxava os mamilos. Minhas costas
arquearam ao toque. Ele era tão vigoroso, tão determinado sobre sexo, como
em relação a tudo. Ter esse foco concentrado no meu corpo era quase demais
para suportar.
Suas mãos deixaram meus seios e deslizaram para baixo, passando pelo
estômago, até os dedos encontrarem o clitóris. Eu gemi quando seu polegar o
circulou e pressionou, arrancando meu prazer, centímetro por centímetro.
Seus dedos acariciaram minhas dobras, e joguei as mãos sobre a cabeça,
precisando que ele me levasse ao limite.
— Max — sussurrei, abrindo mais as pernas, implorando por mais.
— Você está desesperada por mim. Tenho você nas mãos.
Gemi por causa de sua boca safada. Mas ele estava certo. Estava
desesperada por ele.
— Olhe pra mim — grunhiu ele.
Abri os olhos. Ele tinha o mesmo olhar de quando se concentrava no
trabalho – como se nada fosse impedi-lo de conseguir o que queria.
Ele parou e tirou a mão, ficando em pé.
— Eu quero meu pau na sua boca. Por favor. — Sua voz estava cheia de
luxúria.
Estava me deixando excitada para que eu chupasse o pau dele? Ele jogava
sujo.
— Agora — acrescentou.
Parei enquanto pensava no meu próximo passo. Eu ia ceder? A questão
era... não estava cedendo se era o que eu queria. E eu queria chupá-lo, fazê-lo
sentir pelo menos metade do que me fazia sentir.
Sentei na beira da cama. Abri as coxas, bati no colchão bem na frente da
minha boceta e inclinei a cabeça.
— Você confia em mim para não te morder?
Ele riu.
— Não. Mas isso só aumenta a diversão.
Deslizei as unhas pela parte externa da coxa dele, subindo, e Max inclinou
a cabeça para trás soltando um suspiro abafado.
Seu pênis estava grosso e ereto na altura no estômago. Meu olhar correu
da ereção para os seus olhos, me perguntando como lidaria com ele. Ele
acariciou minha bochecha com o polegar e lhe dei um leve sorriso conforme
me inclinava para frente, então lambi da base até a ponta.
— Jesus — gritou.
Girei a língua ao redor da cabeça e coloquei apenas a ponta na boca. Não
conseguiria engolir profundamente; era grande demais. Circulei a mão na
base, segurando-o com força. Deixei escapar um gemido ao lembrar dele
dentro de mim, me preenchendo. Meus mamilos se arrepiaram, e ele deve ter
ficado observando porque os pegou entre os polegares e indicadores,
apertando e puxando, dando início a circuitos agudos de prazer dos meus
seios até o umbigo e depois descendo para o clitóris.
Eu o levei mais fundo, a mandíbula aberta ao limite.
— Isso, desse jeito. Foi assim que imaginei você.
Circulei novamente, então o levei mais fundo desta vez. Ele gemeu,
sussurrando sobre a minha boca e língua. Os dedos entrelaçados no meu
cabelo. Sem me puxar mais para ele ou me conduzindo, era como se ele só
quisesse me tocar, estar mais conectado a mim. Eu me afastei, deixando que
meus dentes raspassem seu eixo, superficialmente.
— Você é má — rosnou ele e eu bombeei seu comprimento com as duas
mãos enquanto chupava a cabeça. — Mas isso não é suficiente. — Ele
levantou meu queixo e eu soltei as mãos. Estava mais do que certa de que
estava lhe dando um ótimo boquete. Qual era o problema dele?
— Abra as pernas — disse ele. Estendendo a mão para a mesa de
cabeceira, pegou uma camisinha e cobriu o pênis em segundos. — Abre mais
— ladrou, afastando as minhas coxas. — Vou entrar tão fundo que você vai
esquecer que dia da semana é.
Antes que eu tivesse a chance de discutir, ele empurrou dentro de mim. A
força de seu corpo, do pau, me deixou sem ar, apesar de estar pronta para ele
e molhada de desejo. Olhei em seus olhos, querendo que ele entendesse que
era quase demais.
— Está tudo bem, Harper. Vou cuidar de você.
E bem na hora certa, ele sabia ser gentil.
— Relaxe e me sinta. — Não pude fazer mais nada. Era como se eu
tivesse perdido a luta. Meu corpo ficou mole e respirei fundo. Ele passou as
mãos em volta da minha cintura e me puxou para ele enquanto empurrava
seus quadris para frente. Se isso era Vegas, não tinha certeza se queria ir
embora.
Acariciando seus braços, apertei suavemente os bíceps. Eu o queria sobre
mim, me tocando, o corpo pressionado ao meu. Não precisei dizer uma
palavra. Saindo do meu interior por apenas um segundo, alcançou debaixo de
mim e me puxou mais para o meio da cama, em seguida, apoiou o corpo
acima do meu e entrou profundamente de novo.
Normalmente eu gostava de ficar por cima, de controlar o ritmo para que
eu pudesse garantir que as coisas estivessem certas, mas Max não deixou
espaço para isso. De alguma forma, eu não precisava daquilo. As coisas
estavam mais do que certas. Não tinha espaço para pensar; era tudo sobre
sensibilidade e sensação.
— Oh, meu Deus, Max — gritei.
— Outra vez. — Ele empurrou ainda mais fundo. — Grite meu nome de
novo.
Era como se ele estivesse pressionado um botão dentro de mim e
continuasse apertando até que tudo estivesse na capacidade máxima e eu
explodisse.
— Max, Max. Oh, Jesus, Max.
A cama balançava e o quarto brilhava nas cores rosa e azul quando
estocou mais três vezes, meu nome ecoando pelo ambiente.
Vegas era meu novo lugar favorito na América.
CAPÍTULO OITO

A pertei os polegares com força na madeira, me certificando de que


a fita na parte de trás da minha placa ficasse presa à porta da sala
de reunião.
— Sala de guerra? — perguntou Donna, parada com os braços cruzados
na frente de Harper. Ambas estavam encarando a placa. Reprimi o sorriso que
ameaçava os cantos da boca enquanto focava nos lábios vermelhos de Harper
e no rubor em suas bochechas. Meu Deus, ela era uma distração. Talvez
convidá-la para trabalhar nessa apresentação não era uma boa ideia. Teria que
simplesmente me controlar – ela seria um recurso útil.
Eu me virei para a porta.
— Sim, isso é uma situação de guerra. Precisamos nos preparar.
— Tudo bem. — Donna me entregou uma xícara de café, me deixando
com Harper.
— A primeira coisa que precisamos fazer é reunir informações — eu
disse. Harper assentiu. Ontem à noite tinha sido Vegas. A gente se afastar de
qualquer situação pessoal entre nós era a coisa certa a fazer, mas exigia cada
gota de autocontrole que eu tinha para não estender a mão e tocá-la.
— Jim, Marvin — gritei. Precisava me distrair, encontrar o interruptor no
meu corpo que desligasse o desejo de beijá-la, tocá-la, possuí-la...
Jim e Marvin obedientemente saíram de suas mesas e andaram a passos
largos em nossa direção.
— Donna.
— Estou aqui — disse ela atrás de mim, quase me fazendo pular de susto.
— Pare de me assustar.
Ela revirou os olhos, passou direto por mim com a bandeja de água e
frutas que estava segurando, e entrou na sala de reuniões. Ou sala de guerra.
A equipe tomou seus lugares e eu tirei meu paletó, colocando-o no
encosto da cadeira.
— Temos menos de três semanas. Vocês sabem o quanto trabalhar com a
JD Stanley significaria para a King & Associates e, para mim em especial.
Agora que finalmente temos nossa chance, vamos pra cima com tudo. — Eu
não queria ter altas expectativas. Sabia que nossas chances de conseguir essa
conta eram quase nulas. Podia ser que estávamos sendo convidados a ir lá só
porque eu estava perturbando. Talvez só nos dissessem para parar. Ou a JD
Stanley poderia estar usando isso somente como uma oportunidade para
coletar informações adicionais – insights geopolíticos fundamentais – sem
revelar nada, sem nos contratar. E, claro, havia a possibilidade de o pai de
Harper querer uma oportunidade de jogar com a situação para chamar a
atenção da filha. Vai saber.
Tudo o que importava era que estávamos tendo uma oportunidade. Eu ia
tirar o máximo proveito dela. Quaisquer que fossem as intenções de Jayne, eu
tornaria difícil – se não impossível – ele dizer não para mim.
— Precisamos dividir nosso tempo com cuidado. Primeiro descobriremos
informações sobre a JD Stanley, Jayne e os outros executivos do banco.
Quero saber tudo, desde o que dão para seus cachorros no café da manhã, até
os nomes do meio de suas amantes. — Lancei um rápido olhar para Harper.
Isso foi insensível. Porra. Mas aqui era guerra e não estávamos mais em
Vegas. Não estava acostumado a ter que questionar o que eu dizia no trabalho
porque tinha um único foco e precisava continuar assim, e fingir que Harper
era só mais uma funcionária.
Seu rosto estava sem expressão, o que foi um alívio.
— Depois olhamos o histórico de negociação deles. Quero entender ao
que eles reagem, porque investem, quando o fazem, porque preferem certos
produtos em detrimento de outros. Procurem por padrões.
Marvin levantou a mão.
— No meu tempo livre, comecei algumas pesquisas sobre o histórico de
investimentos e preferência de produto deles. Sabia que precisaríamos em
algum momento. — A capacidade de pesquisa e criação de perfil de Marvin
era a melhor que eu já tinha visto, e não me surpreendeu que já tivesse
começado. Ele era um trabalhador esforçado.
— Bom. Jim e Harper, vocês trabalhem juntos nas coisas pessoais. Use a
agência se precisarem. — Harper tinha me autorizado a dizer à equipe sobre
sua ligação pessoal, mas quis ter certeza de que lhes contaria de uma maneira
que entendessem que ela estava aqui por suas habilidades. Ficou óbvio que
era uma questão delicada para ela. Mas, a menos que surgisse o assunto, não
o abordaria.
— Pode ser que eu tenha alguns insights úteis sobre as decisões de
investimento dele — comentou Harper. Ela colocou a mão dentro do estojo
do laptop e tirou um portfólio espesso, colocando-o na mesa à sua frente. —
Mas também tenho acompanhado seus investimentos nos últimos cinco anos
e percebi algumas escolhas interessantes. Ficaria feliz em compartilhar isso.
Jesus, parecia que ela tinha pulado a Faculdade de Administração e
dedicado os últimos cinco anos pesquisando a JD Stanley.
— Gostaria de trabalhar com Marvin nisso também, se não tiver
problema.
— Marvin, trabalhe com a Harper — eu disse.
Ele estava praticamente salivando ao ver os papéis dela.
— Claro — respondeu ele, corando quando ela lhe sorriu. Conhecia essa
sensação. Havia algo natural em sua abordagem no escritório que era
totalmente desarmante. Ela não tinha o verniz duro de tantos trabalhadores de
Wall Street em Nova York. Foco.
— Vamos nos encontrar às sete e meia todas as manhãs para atualizar a
equipe. Quero que comecemos a pensar em propostas, visando pontos de
vistas. Isso não é uma simples pesquisa. Nós não queremos paralisia analítica
nesse caso. — Cabeças assentiram em volta da mesa.
— Também precisamos determinar nosso método de apresentação.
Faremos no PowerPoint? Será que vai ser em um auditório ou em uma sala
de reuniões? Converse com seus contatos. Precisamos de mais informações
do que temos, pessoal.
— Você deveria solicitar um almoço de negócios preliminar — disse
Harper, olhando diretamente para mim. — Ligue você mesmo para a
assistente dele. Diga a ela que quer levá-lo ao La Grenouille. É o favorito
dele.
A lembrança da pele lisa de seus seios sob as minhas mãos paralisou
minha língua por um segundo, e tive que desviar o olhar antes de responder:
— Não acha que é muito agressivo?
Ela fez que não com a cabeça.
— Ele não entende o conceito de muito agressivo. Vai testar a sua
coragem. Não te deu muitas informações sobre a reunião, certo?
— Nada — respondi.
— Ele está tentando te mandar numa caçada inútil. Não perca tempo.
Assuma o controle. Pergunte o que ele quer.
Assenti. Ela realmente estava certa.
— Donna, arrume um horário na minha agenda para isso. — Harper
parecia triste, mas estava grato por sua percepção, apesar do fato de eu odiar
o restaurante que ela sugeriu porque era abafado demais.
— E sobre quem vai apresentar, será eu e a Harper. Vamos precisar de
muito tempo para ensaiar.
Olhei para Harper. Seus olhos estavam arregalados, como se não tivesse
esperado que eu fosse levá-la.
— Acha que é uma boa ideia? — perguntou ela. — É claro que eu quero
participar, mas... nunca fiz isso antes.
Respirei fundo e batuquei os dedos na parte de trás da cadeira. Ela podia
ser útil, como uma cenoura que poderíamos balançar na frente de Charles
Jayne.
— Donna, quais são as próximas apresentações?
— Temos a Asia-Pac para o Goldman’s — respondeu ela. — Daqui dez
dias.
— Bom. Harper, leia sobre isso. Você pode ser minha assistente nessa
reunião. Vai te dar um pouco de experiência. Depois disso, tomo minha
decisão final.
— Goldman Sachs? — perguntou ela.
— Sim. Eles estão procurando alguém para ajudá-los em um projeto na
Ásia.
— Tudo bem. — O ligeiro tremor na voz foi a única coisa que denunciou
sua falta de confiança. Duvido que alguém mais tenha notado. — Eu vou
falar com...
— Jean — interrompeu Donna. — Ela vai te passar tudo.
— Bom. Quero ver o melhor trabalho de todos. Nós vamos conseguir essa
conta. — Bati o punho na mesa. — Vejo vocês aqui amanhã de manhã, às
sete e meia.
Silenciosamente, as pessoas saíram da sala e eu cruzei os braços.
Trabalhar com Harper ajudaria meu cérebro a redefini-la como colega, em
vez de alguém com quem eu queria transar. Alguém de quem que meu dever
era extrair seu melhor no trabalho. Eu precisava dessas barreiras reparadas e
restauradas entre os meus mundos. Deixar Harper em Vegas como parte da
minha história com as mulheres seria o primeiro passo para manter a
distância.
Primeira reunião concluída.
Seria mais fácil parar de me concentrar em seu pescoço, pernas e bunda,
certo? Meu pau pararia de se contorcer com o pensamento de suas mãos
espalmadas no vidro da porta da minha sala enquanto eu a fodia por trás.
Logo, eu não me preocuparia mais se sua carranca escondia algo que eu seria
capaz de aliviar ou resolver. Nossa relação seria estritamente profissional e
daria certo. Teria que dar.

Começar a preparar a apresentação de JD Stanley acendeu o meu lado


competitivo, mas a noite com a minha filha e irmã colocou as coisas de volta
em perspectiva.
— Você não pode, do nada, me proibir de usar maquiagem —
choramingou Amanda, contorcendo-se na baqueta em frente ao balcão.
Scarlett a trouxe para a cidade para que nós três passássemos o sábado
comprando o vestido de Amanda. Tinha esperanças de que seria a última ida
às compras para este baile, e Scarlett me apoiaria sobre essa coisa toda de
itens próprios para a idade de uma adolescente.
— Tenho certeza de que ele não está dizendo que você não vai poder usar
— comentou Scarlett.
Ignorei as duas e continuei a mexer o molho do espaguete. O apartamento
de Manhattan tinha sido uma espécie de santuário para mim ao longo dos
anos. Tudo era como eu queria. Minha casa em Connecticut sempre era
invadida pelos meus pais, os pais de Pandora, minhas irmãs e vários amigos
de Amanda. Não tinha do que me queixar. Adorava esse lado da minha vida,
mas era tudo muito prazeroso porque conseguia fugir toda semana e vir para
o meu apartamento moderno e calmo de Nova York, onde assistia a jogos
ininterruptamente e transava com uma das mulheres que parecia vagar pela
minha vida, entrando e saindo.
— Está dizendo que eu não posso usar maquiagem, pai?
— Claro que não — interrompeu Scarlett novamente e aproveitei outra
oportunidade para ficar quieto. Quanto menos eu dissesse, menor a chance de
haver uma discussão.
Amava minha filha e minha irmã, e não era como se não houvesse espaço
para todos aqui em Manhattan. Mas significava que eu não tinha nenhum
espaço mental – um descanso depois de um dia de trabalho. Os limites dos
meus mundos separados estavam amolecendo, ficando confusos.
Tudo estava mudando.
— Vou conversar com a sua mãe — respondi, pegando o orégano do
balcão.
— Não vamos comer macarrão, vamos? — perguntou Scarlett.
— Você acabou de me ver fazendo o molho.
— Não estava vendo. Estava conversando. Você sabe que não estou mais
comendo trigo.
Fechei os olhos, respirei fundo e depois olhei para Scarlett.
— Por que eu saberia que você não está comendo trigo?
— Porque tenho reclamado sobre isso sem parar no último mês.
— Qual é, pai... Você sabe que ela não come mais trigo — comentou
Amanda.
Por que as mulheres da minha vida tinham a capacidade de me fazer sentir
tão inútil? No meu trabalho eu era respeitado, alguns até me admiravam. Com
a minha família, eu era apenas um homem que esquecia que a irmã não comia
trigo.
Jesus.
— Então não coma — respondi rispidamente. — Tem sorvete de palito no
freezer.
Scarlett revirou os olhos da mesma maneira que Amanda sempre fazia.
— Não tenho cinco anos. Não posso comer sorvete no jantar.
— Bom. Então, vai comer espaguete — respondi.
Scarlett pulou da baqueta.
— Nós vamos sair — anunciou ela.
— Você acabou de me ver fazendo molho para o espaguete.
Ela deu de ombros.
— Congele. Venha, Amanda. Calce os sapatos. Nós podemos ir naquele
lugar que fica na esquina. Gosto do robalo de lá.
Inacreditável.
No escritório se eu gritasse “pule”, uma cacofonia de vozes perguntaria de
que altura. Em casa, ganhava um revirar de olhos e dar de ombros se alguém
me ouvisse.
Mas, como estava se tornando meu mantra, algumas batalhas não valiam a
pena lutar. Desliguei o fogão, peguei a carteira e as chaves e as segui para o
elevador.
Amanda entrelaçou o braço ao meu e instantaneamente me senti melhor.
Ela tinha quatorze anos, mas com jeito de vinte e sete a maior parte do tempo,
mas de vez em quando se sentia feliz por ser minha filha.
Entramos no elevador.
— Amanhã, podemos voltar na loja que fomos da última vez? —
perguntou Amanda.
— Aquela em que odiei tudo o que experimentou? — Eu não ia mudar de
ideia. Com certeza não teríamos a mesma discussão na frente de Scarlett
dessa vez, né?
— Conheci uma moça na lavanderia outro dia. Ela me deu uma ideia de
um vestido que eu acho que você ia gostar, e acho que vi alguns que podem
ser parecidos com ele naquela loja — respondeu Amanda.
— Na lavanderia? — perguntei. Por que é que Amanda estava na
lavanderia? Tinha uma empregada para lavar a roupa.
— Sim. No outro dia.
— Por que estava lavando roupa? — perguntei, dando uma olhada para
Scarlett, que estava se olhando na parede espelhada do elevador, passando
brilho labial.
— Às vezes as garotas precisam lavar a roupa — respondeu Amanda
como se fosse óbvio.
Olhei de relance para Scarlett e depois de volta para a Amanda, esperando
que uma delas fornecesse uma explicação mais detalhada.
O elevador parou antes de chegar ao térreo. As portas se abriram e Harper
apareceu. Vi em câmera lenta quando ela começou a sorrir para a minha filha.
A boca congelou quando seus olhos se ergueram para os meus e depois para a
Scarlett.
Eu deveria ter previsto isso.
Da mesma forma que havia um lapso de tempo entre o impacto de uma
bala e a dor sendo reconhecida pelo cérebro, saboreei os poucos décimos de
segundos antes de saber que as coisas ficariam complicadas. Harper estava
linda. Seu cabelo castanho brilhante estava preso em um rabo de cavalo que
destacava o longo pescoço. Ao vê-la com roupas de ginástica, achei difícil
evitar tocá-la.
— Harper! — disse Amanda.
Não conseguia entender o que estava acontecendo. Como Amanda sabia...
— Papai, é dela que eu estava falando. — Ela me olhou, percebendo a
confusão óbvia em meu rosto e esclareceu:
— Na lavanderia. — E acenou para Harper.
Olhei para Harper, que ainda tinha que entrar no elevador.
— Tem muito espaço — disse Scarlett, puxando Amanda para trás,
deixando mais espaço ao meu lado. — Oi, nos conhecemos no outro dia —
comentou Scarlett.
Mas que droga estava acontecendo? Meus mundos separados estavam
literal e figurativamente colidindo.
— Harper, este é o meu pai — disse Amanda. — Pai, esta é a Harper.
Limpei a garganta, esperando que ajudasse as palavras saírem em um tom
normal quando eu respondesse.
— Eu conheço a Harper. Ela trabalha pra mim.
Os olhos de Amanda arregalaram.
— Conhece? Bem, isso faz sentido. Ela é inteligente. Eu te contei que ela
teve algumas boas ideias sobre vestidos.
As portas se fecharam.
— Você está certa. Ela é inteligente — respondi, olhando para Harper,
tentando ver sua reação. Não era como se tivéssemos um relacionamento
pessoal, mas dado o que havia acontecido entre nós, o fato de eu não ter
contado sobre Amanda, de repente, pareceu errado. Harper tinha a mesma
expressão que usou na sala de guerra quando passei as instruções às pessoas
para a pesquisa da JD Stanley – inexpressiva e fria.
— Isso é perfeito — disse Amanda. — Como Scarlett diz, é o destino.
— Você não devia ouvir tudo o que sua tia diz. Use a Lei de Pareto. Já te
falei sobre isso antes.
Scarlett me deu um soco no braço e eu peguei uma reação no rosto de
Harper que não consegui decifrar.
— Harper, esta é a minha irmã, Scarlett.
Os belos olhos castanhos de Harper suavizaram-se ligeiramente quando
sorriu.
— Prazer em vê-la — disse ela.
— Coitadinha, ter que trabalhar com meu irmão. Acredito que ele seja um
completo tirano, não é?
Harper deu de ombros e Scarlett disse:
— Ela já sacou o seu jeito, irmão.
— Ele não é tirano. Ele me dá tudo o que eu quero — comentou Amanda.
— Posso não ser tirano, Amanda, mas também não sou um idiota que
pode ser facilmente manipulado por bajulação. Não deixei, e não vou deixar
você ir ao seu baile de Ensino Médio vestida como uma garota de vinte e
cinco anos.
Amanda me ignorou.
— E é por isso que é perfeito. — Ela sorriu e se virou para Harper. —
Você estará ocupada amanhã?
Harper ficou desconfiada, tentando tanto quanto eu acompanhar a linha de
raciocínio da minha filha.
— Você não faz a Harper trabalhar sábado, né, pai? — Ela não esperou
pela minha resposta antes de soltar meu cotovelo e colocar as mãos juntas em
posição de oração. — Por favor, por favorzinho, vem com a gente amanhã às
compras? Podemos encontrar um daqueles vestidos que vimos online. E nem
comecei a procurar os sapatos. Por favor? Se eu estiver sozinha com o papai,
ele me fará ir de tênis...
O que é que ela estava pedindo? Eu precisava passar menos tempo com a
Harper, manter meus mundos mais separados.
— Amanda, não pode se impor às pessoas dessa maneira — eu a
interrompi. — Harper não quer passar o tempo livre dela vagando por Nova
York, tentando encontrar um vestido pra você. E Scarlett vai com a gente. —
Passar o dia tentando não tocar na Harper era a última coisa que eu tinha na
minha agenda de fim de semana.
— Eu te disse que não posso ir amanhã, não disse? — disse Scarlett. —
Tenho que pegar o primeiro trem de volta porque vou levar o Pablo ao
veterinário.
— Sério?
Scarlett apenas deu de ombros. Por que é que ela não disse que não viria?
Na verdade, por que ela estava em Manhattan?
— Desculpa — respondeu Scarlett. — Achei que tivesse dito. O
veterinário me ligou hoje de manhã. Ele não tinha uma das injeções
necessárias.
Amanda se jogou contra a parede do elevador no momento em que as
portas se abriram para o saguão.
— Não tem porquê sairmos amanhã se Scarlett não vai e eu não posso
pedir a Harper para ir junto. A gente vai acabar brigando — reclamou ela.
— Vai ficar tudo bem — comentou Scarlett.
Eu baguncei o cabelo de Amanda.
— Ah, vamos. Nós encontraremos um vestido, eu prometo. — Saí do
elevador depois de Scarlett, estendendo o cotovelo para Amanda e olhando
para Harper, que estava olhando meio atordoada para a minha filha.
— Por favor, Harper? Venha com a gente? Prometo que não vai demorar
mais do que uma hora. Só duas lojas, no máximo.
Harper inalou e as portas do elevador começaram a se fechar com
Amanda desolada, ainda encostada a parede.
— Vamos, Amanda — eu disse, mantendo as portas abertas. — Tenho
certeza de que a Harper está ocupada. — Eu me virei para Harper. — Peço
desculpas por isso.
Ela balançou a cabeça.
— Está tudo bem... Eu... eu quero que você tenha um vestido bem legal e
tenho algumas horas amanhã de manhã.
— Tem? — Amanda juntou as mãos. — Você vem?
Minhas mãos começaram a suar. Essa era a última resposta que eu
esperava. Trabalhar com ela essa semana já foi difícil demais. Fui
assombrado por lampejos dela curvada sobre a mesa da sala de reuniões: eu
subindo a saia dela e revelando a bunda empinada e firme.
— Amanda — eu disse bravo. — Não pode exigir que as pessoas
simplesmente larguem tudo e façam o que você quer.
— Por que não? — ela respondeu. — Você faz isso.
Peguei Harper tentando abafar uma risada.
— Não tem problema. De verdade. Vamos nos divertir. — Ela sorriu para
Amanda. — Mas agora eu tenho que ir para a academia.
Amanda saiu do elevador.
— E você não vai mudar de ideia?
— Se ela fizer, então...
Harper me interrompeu.
— Não vou mudar de ideia. Prometo. Tenham uma boa-noite.
Harper olhou para mim enquanto as portas do elevador se fechavam, e
precisei lutar contra a vontade de abri-las, empurrá-la contra a parede e
pressionar os lábios nos dela.
Belisquei a ponta do nariz. Pensar em passar um tempo com Harper e com
a Amanda em um sábado, me deu dor de cabeça. O que eu diria a ela? Não
queria que meus funcionários conhecessem qualquer outro lado meu que não
fosse o profissional. E, embora Harper e eu tivéssemos transado, não era
como se tivéssemos jantado e eu confessado todos os meus segredos. Apesar
de ser linda, sexy, corajosa com uma pitada de doçura para somar-se à sua
acidez, ela era minha funcionária. E Vegas ficou para trás – agora estávamos
em Manhattan em tempo integral.
CAPÍTULO NOVE

D
porta.
esabei no sofá com o celular colado no ouvido. Vestida e pronta
para sair e comprar um vestido de baile de Ensino Médio com
Amanda e meu chefe, eu estava apenas aguardando a batida na

— Estou curada. Vinha sonhado com o pênis dele e de repente sumiu.


Qualquer atração que eu tinha por ele desapareceu porque nunca o conheci de
verdade.
— Simples assim? — perguntou Grace com a voz desconfiada.
— Estou falando sério. Não consigo achar atraente alguém que tem uma
filha e não acha importante me contar, que não seja homem suficiente para se
casar com a mulher que engravidou. Vivi a minha vida toda com as
consequências desse tipo de comportamento egoísta. — Encontrar Max no
elevador na noite passada foi um choque. Quando vi a mulher com ele,
acreditei que tinha esbarrado nele com a esposa e filha, e quase vomitei à la
“O Exorcista”. O alívio ao constatar que a mulher era sua irmã só durou o
tempo que demorou para registrar que ele tinha uma filha.
Ele era pai e não me contou. O que mais estava escondendo?
Não é como se estivéssemos saindo; ele não me devia nada, mas o fato de
ter sido tão sigiloso sobre isso, pareceu desonesto. Ele nunca mencionou a
filha em entrevistas ou no escritório, nem havia fotografias em sua mesa. Era
como se a estivesse escondendo. Envergonhado. O que me deixou arrasada.
Será que foi assim que meu pai se sentiu em relação a mim? Constrangido ou
envergonhado da minha existência? Coitada da Amanda.
— Mas Max não é seu pai. Bem, quando é que Charles Jayne te levou
para comprar vestidos?
Deixei a cabeça cair na almofada e olhei para o teto.
— E daí que fica com a filha em alguns fins de semana, isso não significa
que ele a quer por perto. Parecia que a irmã dele era quem estava tomando
conta dela de qualquer maneira. — Suspirei. — Mas isso é uma coisa boa.
Não gostava de me sentir atraída por Max, odiava o fato de ter transado com
o meu chefe. Agora estou curada.
Ser um babaca controlador era uma coisa. Dar as costas para a família era
outra completamente diferente. Max sendo um tirano no escritório parecia
intrinsecamente ligado ao seu sucesso em Wall Street, então talvez eu fosse
capaz de perdoá-lo a nível profissional. Talvez até tenha gostado disso. Um
pouco. Mas o fato de ele ter escondido a existência da filha, mudou
completamente a visão que eu tinha dele.
Verifiquei o relógio. Amanda disse que passaria aqui às dez. Ela era uma
criança meiga, e eu não conseguia nem imaginar como seria tentar escolher
um vestido com um homem que tinha raiva da minha existência. Ela merecia
mais que isso, então apesar de querer passar o dia na cama me recuperando
da semana cansativa de trabalho que tive, concordei em ir às compras.
— Ainda não entendi porque simplesmente parou de querer pular em
cima dele assim que descobriu que ele tem uma filha. A maioria das mulheres
acharia isso excitante — disse Grace.
— Ora, bem, eu não sou a maioria das mulheres. E duvido que esteja para
ganhar o prêmio de pai do ano tão cedo.
Max não estava prestes a ganhar o prêmio de melhor ser humano do ano
tão cedo também. Tive a impressão de que ele saiu de Vegas sem olhar para
trás. Ele não parecia nem um pouco afetado por mim no escritório. Mesmo na
manhã seguinte, depois de eu ter aparecido bêbada na sua porta. Ele preparou
a sala de guerra e tivemos nossa primeira reunião sobre JD Stanley. Não
havia compaixão em sua voz, apenas uma frieza calculada. Ele tinha visto
uma oportunidade de ganhar dinheiro com as minhas conexões e nada mais.
Bem, faria isso funcionar a meu favor também. Arrasaria na apresentação do
Goldman, dessa forma ele não poderia negar que eu fizesse parte da
apresentação do JD Stanley. Se eu pudesse ficar diante do meu pai como
adulta, uma mulher de negócios – mostrar o que eu tinha me tornado sem
qualquer ajuda dele –, talvez ele desaparecesse da minha cabeça e eu nunca
mais pensaria nele novamente. Estaria livre.
— Então, nada de dormir com o chefe de novo? — perguntou Grace.
— Com certeza nada de dormir com o chefe outra vez. Não vou permitir
que meu pai descubra e presuma que a única razão pela qual eu consegui o
emprego foi porque fico bem, deitada de costas. — Essa era a única coisa que
ele achava que as mulheres faziam direito.
— Pensei que tinha dito que não achava mais o Max atraente.
— Não acho.
— Portanto, se ainda o achasse, continuaria transando com ele?
— Por que está pegando tanto no meu pé, Anderson Cooper? Tenho mais
de uma razão para não transar com ele.
— Isso significa que vai ligar para o George?
Meu cérebro teve que vasculhar internamente e localizar o nome. Ah, o
cara da galeria de arte.
— Talvez.
— Ele disse que você pegou o número dele. — Eu peguei. Tinha gostado
dele.
Então, por que não liguei para ele?
Dei um pulo com a batida forte na minha porta.
— Harper — Amanda chamou do corredor.
Merda, chegou a hora. Respirei fundo.
— Tenho que ir — disse a Grace e desliguei. Olhei de relance no espelho
ao lado da porta, limpei um borrado de rímel do canto do olho e passei a mão
no cabelo. Conseguiria lidar com algumas horas com o homem que era meu
chefe e a filha dele. Especialmente agora que Vegas acabou e qualquer
atração que eu tinha sentido por ele não existia mais.
Seria mamão com açúcar.

Estar em um táxi com meu chefe e a filha dele depois que concordamos
em parar de transar, era mais do que estranho. Deixei a compaixão por
Amanda superar a minha lógica quando concordei em fazer compras hoje.
Subestimei o quão estranho seria passar um tempo com Max. Pensei que seria
um caso simples de salvar uma adolescente de quatorze anos do pai inflexível
e indiferente. O problema era que tinha me esquecido de que o pai em
questão era meu chefe e tinha me visto nua.
— Você concorda? — Amanda perguntou, olhando para o pai.
Tínhamos apanhado um táxi no centro da cidade e Amanda tagarelava
sobre o tipo de vestido que queria. Max parecia ter pouco interesse nela
enquanto olhava pela janela.
— Acho que vai chover — disse ele.
— Pai. — Ela deu um soco na perna dele e ele segurou sua mão
envolvendo-a na dele. — Você concorda sobre o vestido?
— Não irei me comprometer com nada até eu ver.
— Bem, se não encontrarmos algo hoje, vou pelada.
Max riu.
— Se você fosse alguns anos mais velha, eu podia me preocupar. No
momento, acho que sua angústia adolescente é minha apólice de seguro
contra essa possibilidade.
— Não entendi o que acabou de dizer — comentou ela.
— E isso significa uma vitória dupla pra mim, meu amor. — Quando ele
colocou o braço em volta do ombro dela para trazê-la para mais perto dele,
acabou pegando na manga do meu casaco. — Desculpe — disse ele e eu
sorri, olhando fixamente minhas mãos no colo. Não sabia se estava
imaginando coisas, queria olhar para os dois. Pareciam confortáveis juntos,
felizes. Senti uma pontada de ciúme.
— Chegamos — anunciou Amanda quando o táxi parou.
A umidade me atingiu quando saí do carro.
— Com certeza vai chover — murmurou Max, olhando para o céu.
Ao pararmos na frente da boutique, Max segurou a porta aberta
gesticulando para eu entrar na frente dele, enquanto Amanda liderava o
caminho. Esperava conseguir comprar logo o vestido nessa loja para eu voltar
para casa antes do almoço.
Quando começamos a dar uma olhada pelas araras, Max encontrou uma
cadeira do lado de fora dos provadores e se concentrou no telefone, em vez
da filha. Típico. Por que veio, então?
— Que tal esse? — perguntou Amanda, segurando um vestido roxo longo
na frente do corpo ao se virar para mim.
Sorri abertamente.
— Lindo! Separe para experimentar.
Nós escolhemos seis vestidos, e Amanda conseguiu pegar, sem o pai ver,
dois tomara que caia que eu tinha certeza de que o pai não acharia nada bom.
— Podemos procurar sapatos e uma bolsa assim que encontrarmos o
vestido — falei quando Amanda parou no caminho para o provador,
fascinada por uma mesa de bolsas cintilantes.
Pendurei os vestidos que estava carregando e fechei a cortina de Amanda.
— Harper, você vai ficar por aqui enquanto experimento os vestidos para
poder ver antes do meu pai? Quero surpreendê-lo com a escolha perfeita.
— É claro — respondi e me encostei à parede em frente à cabine de
Amanda. — Qual deles vai experimentar primeiro?
— O roxo. Uh-oh — disse ela. — Meu pai não vai gostar deste.
Na hora em que abriu a cortina, soube que ela estava certa. Max jamais
concordaria com esse vestido. E não podia culpá-lo. Uma jovem de vinte e
cinco anos teria que se esforçar muito para não parecer vulgar nele. O decote
era profundo, baixo demais com uma grande faixa em tecido transparente que
até mesmo deixava o sutiã aparente.
— Acho que não combina com você — comentei, não querendo ferir seus
sentimentos ou que ela sentisse que a opinião do pai era a única que contava.
— As pessoas dizem que você deve usar o vestido, não o vestido te usar.
Porém, não tenho certeza do que significa, mas acho que estamos em
território perigoso. E o outro mais curto?
Então, ela apareceu em um lindo vestido amarelo com alças finas, corpete
todo bordado com pedras brilhantes e uma saia rendada que parava logo
acima do joelho.
— O que achou desse? — perguntei, sorrindo.
— Acho que meu pai vai gostar — respondeu, mas o olhar em seu rosto
dizia que, embora pensasse que ele aprovaria, ela não estava apaixonada pelo
vestido. — Mas acho que quero parecer mais... adulta.
Assenti. O vestido ficou lindo nela, embora fosse muito parecido com
uma versão mais adulta de algo que uma criança de oito anos usaria. E se
Max ia gostar e ela não, então nem sequer mostraríamos a ele.
— Experimente o azul royal. Acho que ficaria ótimo em contraste com o
seu cabelo preto, e acessórios prateados combinariam perfeitamente com ele.
É mais sofisticado.
Ela se virou e puxou o cabelo de lado, e percebi que estava me pedindo
para abrir o zíper.
— Você usaria esse? — perguntou enquanto eu a ajudava a tirar o
vestido.
Assenti.
— Sim. É lindo. Não que eu teria onde usar um vestido assim. — Fechei a
cortina para que ela pudesse se vestir com privacidade.
— Num encontro? — perguntou. — Você tem namorado?
Meu estômago revirou quando me lembrei da nossa conversa na
lavanderia. Será que ela contou ao Max tudo o que eu disse? Dei uma olhada
na saída dos provadores. Dava para o Max ouvir a nossa conversa?
— Não. No momento, não.
— Você é tão linda. Quando for mais velha, quero amar meu trabalho,
mas quero que alguém me ame, também. — Não descartei o amor. Só que ele
nunca me encontrou. Talvez Grace tivesse razão e eu estava à procura da
perfeição. — Meu pai é como você. Sempre ocupado com o trabalho. Sempre
diz que entre o trabalho e eu, ele tem mais do que o suficiente para qualquer
homem.
Não pude deixar de sorrir. Era óbvio que ela queria a aprovação do pai, e
comecei a ter a impressão de que os dois realmente tinham um bom
relacionamento. Talvez fossem mais próximos do que eu pensava.
— Vocês saem muito? — perguntei, baixando o tom de voz.
— Meu pai e eu? Sim. Tipo, o tempo todo — respondeu.
Antes que eu tivesse chance de fazer mais perguntas a Amanda sobre seu
relacionamento com Max, ela abriu a cortina, sorrindo.
— Gosto muito deste — disse ela, saindo com uma saia longa de crepe
plissado com uma abertura na lateral.
— É muito bonito. — Eu me aproximei para ajustar a saia. — Amei. É
lindo. — Os ombros eram de um tecido prateado contrastando com o azul
que descia e cruzava no busto, num estilo grego. Não tinha decote, mas ao
mesmo tempo era espetacular. — E ficou lindo em contraste com seu cabelo.
Vou buscar alguns sapatos. Fique aqui.
Quando saí dos provadores, meus olhos encontraram os de Max quando
ele levantou os dele do telefone.
— Está tudo bem? — perguntou.
Assenti.
— Só vou pegar alguns sapatos.
Quando passei, ele segurou meu pulso. Travei no lugar. Quase que
imediatamente ele soltou a minha mão.
— Desculpa. Só queria te agradecer. Isso significa muito para a Amanda.
Assenti com a cabeça, mas não olhei para ele. Meu cérebro estava
falhando. Num minuto, ele estava gritando comigo, caso não pedisse seu
lanche certo. No seguinte estava me agradecendo por deixar sua filha feliz.
Sem falar naqueles beijos.
E não conseguia descobrir a dinâmica entre Max e Amanda. Ele parecia
bastante envolvido na vida dela. Mais do que eu pensava. Mas se nunca foi
casado com a mãe dela, como isso funcionava? Nunca deu certo com o meu
pai.
Peguei um par de sandálias prateadas com salto baixo e corri de volta para
Amanda.
— Ele vai gostar? Podemos convencê-lo? — perguntou ela ao pegar as
sandálias e amarrá-las. — É esse, não é?
— Você o conhece melhor do que eu, mas acho que está linda nele.
— Paiiii! — gritou ela. — Estou saindo. E gostei muito desse. É perfeito,
portanto não pode ficar bravo.
Seu sorriso era tão grande que não pude deixar de sorrir também.
Esperava muito que ele aprovasse. Amanda merecia usar o vestido. Era
apropriado para sua idade e verdadeiramente elegante.
Ela saiu do provador, entrando na área aberta da loja e, de canto de olho
espiei o rosto de Max. Suas sobrancelhas estavam na metade da testa
enquanto ela dava uma girada completa para ele ver.
— O que acha? — perguntou ela.
Ele sacudiu ligeiramente a cabeça enquanto se levantava e respirou fundo.
— Acho que parece muito adulta. — Os ombros de Amanda cederam. —
E absolutamente linda. — Ele a puxou para um abraço. — Você encontrou
seu vestido, meu amor. — Ele baixou a voz e falou em seu ouvido enquanto
continuavam abraçados: — Você está crescendo tão depressa. Tem que me
perdoar por querer mantê-la para mim por mais tempo do que deveria.
Lágrimas brotaram nos meus olhos. Ele parecia tão genuíno. Tão
completamente apaixonado pela filha.
— Sempre serei sua, pai — respondeu ela, sorrindo. Ele a beijou na
bochecha e a soltou.
Max pareceu recuperar a compostura.
— Dê outra voltinha pra mim — pediu ele, levantando a mão dela com a
sua e a rodopiou.
A saia do vestido levantava conforme ela girava cada vez mais rápido.
Max sorriu e Amanda dava risadas. Meu coração apertou. Era como se eu
estivesse invadindo o que deveria ser um momento particular. Devia ter
minhas próprias lembranças assim, não ter que roubar as de outras pessoas.

— Sabe o que isto significa? — perguntou Amanda quando saímos para a


calçada, o calor nos engolindo imediatamente. Ela carregava duas sacolas
brancas, uma com o vestido e outra com os sapatos e uma bolsa que tínhamos
visto quando nos dirigimos ao caixa.
— Que vamos deixar a coitada da Harper continuar com o fim de semana
dela? — respondeu Max.
Senti o estômago revirar. Será que tinha abusado da hospitalidade?
Estava só tentando ajudar. Max não precisava ser tão ingrato. Abri a boca
para me despedir e ir embora, mas Amanda pegou a mão do pai e tentou
puxá-lo pela rua.
— Não, seu bobo. Significa que temos algo para comemorar.
Max revirou os olhos.
— Como se você precisasse de uma desculpa.
— Bem, vou me despedir de vocês. Seu vestido é lindo, Amanda.
Os olhos de Amanda estreitaram.
— Não. Você tem que vir — respondeu ela. — Tem que comemorar com
a gente. — Ela acenou para que eu os seguisse.
— Você comemora com seu pai — respondi, olhando na outra direção.
Comprar o vestido realmente não envolveu muita interação com Max. Passei
a maior parte do tempo com Amanda. Além da corrida no táxi, as coisas não
foram muito desconfortáveis. E ver Max com Amanda deu a entender que
tinham um relacionamento melhor do que eu jamais tive com meu pai. Se eu
saísse agora, estaria à frente. Sobreviveria sem chamar meu chefe de babaca e
sem ficar nua com ele. Talvez, houvesse um meio-termo. E,
esperançosamente, as constantes comparações que eu estava fazendo entre o
relacionamento de Max e Amanda com o que eu tinha com o meu pai,
parariam.
— Quero que você venha — disse Amanda.
Sorri, mas antes que eu pudesse pensar em uma desculpa, Max interveio:
— Amanda, Harper tem coisas para fazer. Nós abusamos demais do
tempo livre dela.
Estava claro que ele queria se livrar de mim. E eu entendi. Apenas alguns
dias depois de concordar em manter as coisas estritamente profissionais, eu
estava parada na calçada com ele e a filha. E mesmo querendo ir embora,
doeu um pouco por ele estar tão ansioso para ver-se livre de mim.
O rosto de Amanda entristeceu.
— Não quero comemorar sem ela. Se não fosse pela Harper, eu não teria
encontrado meu vestido. Tem certeza de que não pode vir? Iremos ao meu
lugar favorito.
Olhei para Max, cujo olhar viajou entre mim e a filha. Os cantos de sua
boca se contorceram, como se estivesse tentando reprimir um sorriso.
— Tenho certeza de que seu pai quer desligar-se do trabalho e passar um
tempo com você...
— Paiiii... — choramingou Amanda. — Você quer que Harper venha, não
quer?
Max bagunçou o cabelo da filha e ela rapidamente saiu de seu alcance.
Ele virou para mim e me deu o maior sorriso “molha calcinha” que eu já vi,
os olhos verdes vívidos contra o sol de Nova York, emoldurados por cílios
quase longos demais.
— Harper, nós adoraríamos que viesse com a gente caso tenha
disponibilidade. Mas não sinta que tem que ceder aos chororôs da minha
filha. Ela está muito mal-acostumada a conseguir tudo o que quer.
Antes que meu lado sensível – a parte que apreciava esse novo meio-
termo – pudesse voltar para o centro da cidade, concordei.
— Bem, eu deveria ter perguntado antes de aceitar, mas onde iremos
comemorar? — perguntei enquanto caminhávamos para o leste.
— Serendipity — respondeu Amanda. — É o nosso lugar. A gente
sempre vem de trem no final do verão e comemoramos a volta às aulas.
— Da sua mãe? — perguntei.
— De Connecticut. Às vezes, minha mãe e Jason vêm, e em outras, a
gente vem juntos. Você se lembra daquele ano em que tia Scarlett também
veio? — perguntou ao pai. — Ela queria pedir uma coisa de cada porque não
conseguia se decidir.
— Ela pediu uma coisa de cada — respondeu Max. — O que é bem típico
da minha irmã.
— Minha mãe e Jason se mudaram para a Europa, então agora somos
apenas nós dois. — Ela se virou para o pai. — Está adorando que eu more
com você em tempo integral, né?
Max riu e olhou para mim.
— Ela está me deixando louco.
Eles moravam juntos?
— Não sabia que moravam em Connecticut — comentei. Eu estava
fascinada pela vida secreta que o Rei de Wall Street tinha longe de
Manhattan. E me sentindo uma jornalista investigativa, juntando pequenos
fragmentos de informação.
— Sim, perto da casa da mamãe e de Jason. E da vovó e do vovô King e
vovô Bob e vovó Mary. E Scarlett.
— Jesus. Você fez parecer como se morássemos em algum tipo de
comunidade. — Max jogou os braços sobre os ombros da filha. — Todos nós
só moramos perto. A mãe da Amanda, Pandora, e eu namorávamos no
colegial, e fazia sentido depois da faculdade morarmos perto. Dessa forma —
disse ele, voltando-se para Amanda —, quando sua mãe se cansasse de você,
ela poderia descansar e te largar comigo.
Amanda sorriu e revirou os olhos, a explicação era obviamente algo que
ela estava acostumada a ouvir.
— Então o apartamento é apenas uma segunda residência? — perguntei.
Ele assentiu.
— Sim. Eu costumava ficar em Manhattan durante a semana e voltar para
Connecticut nos finais de semana, mas agora só fico aqui duas noites por
semana.
Amanda parou abruptamente.
— Meu Deus. Você terá que vir em casa, Harper. Na noite do baile. Me
ajuda a me arrumar?
Não sabia o que dizer. Tentei não parecer muito chocada. Eu realmente
estava gostando cada vez mais da Amanda e Max continuava me
surpreendendo. Queria invadir um pouco mais o mundo deles, mas sabia que
era totalmente inapropriado.
Max inclinou a cabeça, apontando que ela precisava continuar a andar.
— Amanda. Já chega. Não pode simplesmente supor que as pessoas
querem ser monopolizadas por você.
Nós voltamos a caminhar, seguindo ao norte para a Sexta Avenida.
— Por que não? Vovó diz que eu herdei todo o meu charme dela e que
Deus pulou uma geração com você.
Dei risada e Max revirou os olhos.
Felizmente, a atenção de Amanda foi desviada de mim.
— Ah, queria dizer que decidi entrar na competição de piano no próximo
semestre — comentou ela.
— Não tínhamos verificado há alguns meses que a sua aula de piano e
ginástica são no mesmo dia, ou o horário vai mudar no próximo semestre? —
perguntou Max.
Ele parecia conhecer tão bem a agenda da filha, que se alguém tivesse me
dito ontem, eu não teria acreditado. Mas com o passar do dia, ficou claro que
ele estava mais envolvido na vida dela do que eu lhe dera crédito.
— Bem, a ginástica é às seis e a aula de piano, às oito. Então, acho que
consigo fazer as duas coisas se a Marion me levar de carro.
Essa era uma versão tão diferente de Max King: calorosa, acessível e
relaxada. Tão distante do homem impaciente e impiedoso que fundou a King
& Associates, do homem sexy e exigente que manipulou meu corpo como se
pertencesse a ele. Este Max King era pai e homem de família.
Um trovão rugiu acima de nós.
— Eu falei que ia chover — disse Max. — Vamos. — Ele estendeu a mão
para mim, então como se lembrasse de quem éramos um para o outro, a
recuou e acenou para a Terceira Avenida como se estivéssemos quase lá, e
não a dois quarteirões de distância.
Nós não íamos conseguir chegar sem nos molhar. Gostas generosas de
chuva começaram a pingar no chão.
— Vamos, Harper — Amanda chamou quando ela e Max começaram a
correr.
Amanda apontou para um flash de luz acima de nós e começou a contar:
— Uma banana, duas bananas, três bananas, quatro bananas. — Um
trovão terminou sua contagem regressiva e Amanda gritou:
— Rápido, a chuva vai cair.
Eu corri atrás deles enquanto tecíamos entre turistas e debaixo de guarda-
chuvas. Quando chegamos ao Serendipity, o relâmpago voltou a brilhar e a
chuva começou a cair mais pesada.
— Vamos entrar — eu disse, e a gente se amontoou em uma entrada já
lotada, à espera de uma mesa.
— Eu tô ensopada feito um rato afogado, pai? — perguntou Amanda,
sorrindo para o pai. Ela era uma linda garota que herdara os grandes olhos
verdes, pele morena e cabelos quase pretos do pai.
Max riu.
— Um pouco.
Limpei os olhos, tentando tirar o inevitável rímel escorrido.
— Tenho certeza de que pareço Alice Cooper — comentei.
— Você está muito bonita, parece saída de um filme ou algo parecido —
disse Amanda. — Ela não é bonita, pai?
Balancei a cabeça e uma mecha encharcada colou no meu rosto. Para a
minha surpresa, Max estendeu a mão e a colocou atrás da orelha. Calor
correu pelo meu corpo e eu queria pegar a mão dele, entrelaçar nossas mãos.
Mas em vez disso, concentrei-me na garçonete atrás de Max, preocupada em
perder o controle se olhasse para ele, talvez o puxasse para um beijo, como
fiz na primeira noite em que ficamos juntos.
Ele rapidamente se virou para Amanda e pegou o rosto dela nas mãos.
— Não tão bonita quanto a minha rata afogada — respondeu ele.
— Gah. É por isso que nunca vou conseguir uma irmãzinha. — Ela se
afastou dele. — Precisa aprender a elogiar as mulheres ou nunca vai se casar.
Casar? Mantive os olhos focados no restaurante, esperando que a
maquiagem escondesse o vermelho das minhas bochechas. Pela primeira vez
desde que saí da loja de roupas, senti como se não devesse estar aqui.
Lembrei-me da nossa conversa na lavanderia. Ela queria que o pai
encontrasse alguém. Será que Amanda estava tentando armar para nós dois?
Ela tinha que saber que Max e eu estávamos... Não estávamos envolvidos
dessa maneira, jamais estaríamos envolvidos assim.
CAPÍTULO DEZ

O dia com Harper e Amanda foi de longe... mais fácil do que eu


esperava. Depois de finalmente pegar o trem de volta a Connecticut,
Amanda não conseguia parar de falar sobre o vestido e sobre a Harper e o
quanto gostava dela. E eu não a impedi.
— Podíamos convidar a Harper para jantar — disse Amanda enquanto
arrumava os talheres no balcão da cozinha.
— Talvez... algum dia. — Ela gostaria daqui? Gostaria de mim aqui?
Não tinha certeza.
— Bem, o baile será em breve. Então ela virá, com certeza.
Não sei se Harper aceitou o convite. Mas Amanda estava feliz e isso era
tudo que eu podia desejar. O fato de Harper ter escolhido o vestido perfeito
não foi nada ruim. Eu me perguntei se ela, secretamente, tentaria algo vulgar,
só para mexer comigo, me dar o troco por eu ser um idiota. Não a teria
culpado, mas ela não fez nada disso. Esteva alegre e bonita e totalmente
focada em Amanda. E me peguei querendo prolongar nosso tempo juntos,
mantê-la por perto um pouco mais.
— Quem é Harper? — perguntou minha irmã, Violet. Senti o cheiro de
interrogatório se formando, e meu instinto foi dar uma pausa no assunto e
fugir.
— Eu te disse, a garota que trabalha com o papai que me ajudou a
escolher o vestido.
— Pensei que tinha ida às compras com uma amiga sua — comentou
Violet para Amanda, tentando chamar minha atenção, mas eu
deliberadamente me ocupei com a salada.
— Ela é minha amiga — respondeu Amanda. — Ela mora em Manhattan,
no mesmo prédio que o papai.
— E trabalha com o seu pai? — perguntou Violet, estendendo a mão
sobre o balcão, pegou um pedaço de pepino e o jogou na boca. Olhei de
relance para Amanda, que estava balançando a cabeça. — Parece uma
estranha coincidência. — Ela baixou a voz. — Você vê uma garota bonita no
corredor do seu prédio e oferece a ela trabalho para apontar seus lápis?
— Não seja ridícula — respondi e entreguei a salada para ela colocar no
balcão.
Uma forte batida na porta fez Amanda gritar:
— Scarlett! — Minhas irmãs estavam determinadas a invadir minha noite.
Violet morava no Brooklyn, por isso não a víamos tantas vezes quanto
Scarlett, mas ainda se esforçava para vir uma vez por mês. Gostava das
minhas irmãs, mas quanto menor número delas houvesse no mesmo
ambiente, melhor. Peguei uma garrafa de Pinot Noir do balcão e abri.
— Oi, idiota — cumprimentou Scarlett ao entrar na sala da família.
— É bom te ver também. — Entreguei a ela uma taça de vinho e a beijei
no rosto.
— Estou falando sério. Por que não me ligou de volta? — perguntou
Scarlett.
— Quando? — perguntei. Não me lembrava de ter recebido mensagem
dela.
— Deixei uma mensagem na sua caixa postal dizendo sobre a minha
amiga April — disse Scarlett, jogando a bolsa no balcão enquanto sentava em
um banquinho. — Ela me pediu para armar um encontro entre vocês dois,
embora só Deus saiba o porquê.
— Não recebi a mensagem. — Ou talvez só tenha escutado metade e a
excluído antes que pudesse chegar na parte da April. — Desculpa.
— Então? — perguntou ela.
— Então, o quê? — perguntei, querendo que ela mudasse de assunto.
Virei para o forno, pegando a lasanha que a empregada havia deixado. Nunca
quis sair com as amigas das minhas irmãs. Fiquei surpreso por ainda
tentarem. Minha vida estava cheia até a borda.
— Então, vai levá-la para sair? — perguntou ela como se eu fosse
estúpido. Para ser justo, eu estava sendo deliberadamente obstrutivo. É que
eu não precisava que elas interferissem na minha vida amorosa. Estava feliz
com as coisas como elas estavam.
— Parece que a April pode ter concorrência — disse Violet. Scarlett lhe
lançou um olhar e Violet deu de ombros. — Nós conversamos muito sobre a
Harper esta noite. Ela definitivamente conseguiria o selo de aprovação da
Amanda.
Nunca tive que me preocupar se Amanda ia gostar de alguma das
mulheres com quem eu fiquei. Ela nunca conheceu nenhuma e era assim que
eu gostava. Foi uma simples coincidência Amanda conhecer a Harper.
Scarlett continuou a conversar sobre April, o que eu consegui facilmente
não dar a mínima. Harper era um pouco mais difícil de esquecer.
— April vem de uma família formidável. Ela é loira, como eu sei que
gosta.
Gostava de loiras? Não tinha certeza se a cor do cabelo era um fator
decisivo para mim. O cabelo de Harper era castanho, mas pareceu quase preto
na chuva. Imagens dela parada na fila da Serendipity apareceram na minha
cabeça. Ela estava linda. Suas bochechas rosadas por ter corrido, os olhos
castanhos brilhantes. Em certo momento, ela lambeu gotas de chuva do lábio
superior. Foi apenas a presença de Amanda que me impediu de tirar o cabelo
molhado de seu rosto, saborear a pele macia sob os polegares e pressionar os
lábios nos dela. Se tivesse sido só nós dois, eu a teria arrastado de volta para
o apartamento e passado a tarde sem roupa e me satisfazendo com ela, em
vez de sorvete.
— Do que está sorrindo? — perguntou Violet.
— Não estou sorrindo de nada. — Precisava afastar esses pensamentos
sobre Harper. Um gosto dela deveria me curar. Essa foi a minha justificativa
para transar com ela pela primeira vez, na segunda e na terceira. Mas vê-la
hoje, relaxada, calorosa e tão focada em ter certeza de que Amanda estivesse
feliz, fez crescer essa sensação que sentia por dentro quando estava perto dela
ou pensava nela. Elas riram e conversaram como se fossem velhas amigas e
pude ouvi-las nos provadores enquanto fingia prestar atenção nos meus e-
mails; aquilo me fez sorrir e me sentir bem.
— Posso mostrar a elas o meu vestido? — perguntou Amanda.
— Depois do jantar.
— Papai comprou os sapatos mais bonitos para usar junto. Não sei se ele
teria feito isso se não fosse a Harper, mas ela disse que os compraria caso ele
não comprasse.
— Eu ia comprar os sapatos. Me dê um pouco de crédito. Sei que não
pode ir de tênis. — O rosto de Harper se iluminou quando viu os sapatos.
Quis pedir um par do tamanho dela também. Talvez, tentaria achar algo
semelhante para ela. Afinal, acabei com a sua blusa.
— Então, quero saber mais sobre a Harper — disse Violet. — Qual a
idade dela? Ela é bonita?
Amanda pegou uma colherada de salada e parou, pensando na pergunta.
— Presta atenção, Amanda — eu disse, tentando distraí-las daquela
pergunta. — Vai acabar derramando tudo na mesa.
— Minha idade? — perguntou Violet.
Ela assentiu e colocou um pouco de salada no prato.
— Acho que sim. Ela é adulta. E muito bonita.
Elas estavam certas a respeito disso. Ela era muito atraente.
— Diria que cerca de vinte e cinco — comentou Scarlett. — Linda,
também, e trabalha justamente com Max. — Evitei os olhares de Scarlett.
Mas ela estava certa, Harper era linda. E inteligente. E ótima na cama.
— Ela é uma das minhas funcionárias e mora no prédio. Amanda
implorou que fosse fazer compras com ela. Tenho certeza de que era a última
coisa que ela queria fazer.
— Ela gostou — disse Amanda com total confiança. Lógico, por que uma
pessoa de vinte e poucos anos não iria gostar de fazer compras com o chefe e
a filha dele? Harper tinha sido excepcionalmente boa nisso. Foi bom vê-las
juntas.
— Ela sairia em um encontro com o seu pai, ou ela é bonita demais para
ele?
Amanda sorriu.
— Ah, meu Deus, isso seria tão incrível. E sei que ela não tem namorado.
Fingi que não estava prestando atenção, peguei as colheres de salada da
Amanda e terminei de distribuir para todos. Normalmente, eu já teria acabado
com aquele tipo de conversa. Eu me tornei bom em desviar a atenção da
minha vida amorosa, mas dessa vez era um pouco diferente. Descobri que
gostava da conversa sobre Harper – gostei da reação de Amanda a respeito
dela. E não me importa que elas nos considerem um casal. Não que isso fosse
acontecer algum dia; concordamos que não aconteceria. Só não me importei
dessa ser uma possibilidade na cabeça da minha família.

Na segunda-feira cheguei tarde ao escritório. Estava comprando sapatos


para a Harper. Levou muito tempo para comprar, sem saber o que estava
fazendo e porquê. Agora, estava atrasado e irritado, e ainda não tinha certeza
se realmente daria ou não os sapatos. De acordo com a minha agenda, agora
precisava verificar sobre o convite do almoço com Charles Jayne, como
Harper havia sugerido.
— Max, estou com Margaret Hooper, assistente de Charles Jayne, na
linha pra você — gritou Donna no meu viva-voz.
— Obrigado. — Limpei a garganta e aprumei os ombros. Assistentes
tinham muito mais poder do que as pessoas se davam conta, e eu tinha
certeza de que Margaret tinha considerável influência com Charles Jayne.
Peguei o telefone.
— Sra. Hooper, Max King da King & Associates falando. — Podia dizer
pela resposta dela, que foi gentil e prestativa, que ficou satisfeita por eu ter
ligado para ela e não apenas ter pedido a Donna para ligar em meu nome.
Harper deu uma boa sugestão. Então, agora que Margaret estava do nosso
lado, precisava convencê-la a me deixar levar Charles para almoçar.
— Como você sabe, o Sr. Jayne me pediu para ir vê-lo no dia vinte e
quatro. Não quero fazê-lo perder tempo.
— Tem razão, ele não tem muito tempo para fazer quase nada, então
como posso ajudar? — perguntou ela.
— Quero tornar a apresentação a mais focada e útil possível. Agora, é
claro, isso me beneficia porque fornece ao Sr. Jayne o que ele mais precisa.
— De fato, Sr. King — respondeu ela, ceticismo subindo o tom da sua
voz.
— Por favor, me chame de Max.
Pude ouvi-la sorrir pela Wall Street.
— Tudo bem, Max, o que você quer?
— Quero criar uma situação onde todos possam sair ganhando. Se eu
entender o que o Sr. Jayne está procurando, então nossa apresentação não
será um desperdício de tempo para ninguém. Ele fica feliz. E eu fico feliz. Se
eu puder almoçar com o Sr. Jayne...
— O problema é que ele não tem disponibilidade para um almoço entre
agora e o dia vinte e quatro. Sua agenda é preenchida de forma rápida,
infelizmente. — O tom de voz dela passou de amigável e acessível para
brusca e sucinta. Não podia dizer se ela estava sendo honesta, ou se eu estava
sendo dispensado.
— Ficaria muito feliz de ir ao escritório da JD Stanley e levar o almoço
para o Sr. Jayne, se isso ajudar — sugeri. — Alternativamente, providenciaria
a reserva de uma mesa em La Grenouille se estiver tudo bem para ele.
— Sinto muito. Se dependesse de mim, adoraria encontrar espaço na
agenda dele. Mas lamento não poder ajudar. — Aquilo soou como uma
desculpa esfarrapada. Caso contrário, ela teria dito que iria verificar com
Charles Jayne e depois me retornaria.
— Que pena. — Parei por um segundo, considerando minhas opções.
Valeria a pena tentar pressionar um pouco mais ou correria o risco de
conseguir uma reação negativa?
Talvez eu devesse mencionar o nome da Harper. Ainda não sabia direito
qual era a desavença entre ela e o pai. Não poderia ser apenas sobre o fato de
ele não ter oferecido um emprego a ela quando se formou. Harper mencionou
que as coisas não iam bem entre eles antes disso.
Ela sabia que a razão pela qual nós lhe daríamos uma vaga na equipe de
apresentação era porque era filha de Charles Jayne, certo? Então ela entendeu
até certo ponto que estava sendo usada. Normalmente, não existe a menor
chance de eu ter uma pesquisadora júnior como assistente numa reunião
como essa. Mas ao mesmo tempo, eu tinha discutido esse assunto com ela,
tinha pedido sua aprovação antes de tomar qualquer decisão.
Precisava decidir meu próximo passo rapidamente ou Margaret desligaria.
Foda-se, isso era guerra.
— Imaginei que gostaria de ver a filha em um ambiente profissional — eu
disse. O silêncio do outro lado da linha me incitou a continuar: — Pensei em
levar a Harper Jayne ao almoço. Mas entendo que o Sr. Jayne seja muito
ocupado.
— Por favor, aguarde na linha, Sr. King — respondeu ela e sua voz foi
rapidamente substituída por Vivaldi.
Será que tinha acabado de ser o babaca que a Harper me acusava ser?
Usá-la para conseguir um almoço com Charles Jayne era pior do que
aproveitar o fato de que a oferta dele para uma reunião provavelmente
estava ligada a ela estar trabalhando aqui? O problema era que nenhum de
nós tinha certeza se recebi ou não o telefonema de Charles Jayne por causa da
Harper. Independentemente disso, não fui eu quem usou essa jogada – eu
nem sabia que eles eram parentes. Tudo o que fiz foi aproveitar uma
oportunidade de negócio. Que se foda.
O almoço exigia uma interação que ia além do profissional. Não tinha
ideia se Harper pensaria ou não que essa foi a coisa certa a fazer, afinal, ela
concordou em participar da apresentação, ou se ela me daria uma joelhada
nas bolas e entregaria seu pedido de demissão se eu sequer sugerisse isso.
Deveria ter pensado nessa ligação toda com mais cuidado, talvez ter
Harper na sala enquanto falasse com Margaret. Esse não era eu. Não sabia se
Harper tinha afetado a minha conduta profissional ou se era o pensamento de
conseguir JD Stanley como cliente.
Provavelmente a Margaret voltaria ao telefone e diria que a agenda de
Charles Jayne estava cheia. Alcancei o colarinho e passei o dedo ao redor do
material engomado. Não deveria ter agido tão precipitadamente.
— Sr. King, vou conseguir um horário para a quarta-feira. O Sr. Jayne
verá você e a Harper ao meio-dia e meia no La Grenouille.
Merda. Essa era a resposta que eu queria, e a que me fez sentir
desconfortável.
Eu esperava ter feito a coisa certa.
Depois de agradecer a Margaret, desliguei o telefone.
Talvez, não tivesse que contar a Harper. Talvez eu pudesse aparecer
sozinho para almoçar e dizer que Harper ficou presa, ocupada no escritório,
ou que estava doente.
Mas Charles Jayne não havia fundado um banco de investimento líder no
setor sem a capacidade de sentir o cheiro de mentira a um quilômetro de
distância. Não. Teria que confessar a Harper o que fiz, e se ela não quisesse ir
nesse almoço, precisaria cancelar.
Jesus, por que isso era tão complicado? Fiz o que era preciso para vencer.
Se a Harper e eu não tivéssemos transado, estaria duvidando de mim?
— Conseguiu? — perguntou Donna quando abriu a porta.
Assenti com a cabeça e me inclinei para trás na cadeira.
— Quarta-feira — respondi.
— Bem, por que parece não estar feliz? As coisas estão se encaminhando
como planejou.
Esfreguei o rosto.
— Sim, talvez.
— O que está acontecendo com você? Esta é uma ótima notícia. — Ela
fechou a porta.
Donna estava certa; era isso o que eu estava esperando. O que tinha sido
meu último objetivo há apenas três semanas, agora estava manchado com o
conhecimento de que eu tinha conseguido, usando Harper.
As pessoas diziam que eu era implacável nos negócios e pode ser verdade,
mas nunca fui dissimulado, e sempre tentei fazer a coisa certa. Queria ser
alguém que minha filha pudesse admirar, respeitar e imitar de algumas
maneiras. Queria que fosse ambiciosa e motivada. Mas meu maior desejo era
que ela crescesse sabendo o que era importante, que se tornasse alguém que
entendesse que a integridade e trabalho árduo eram o caminho certo a
percorrer. Não queria criar uma filha que vendesse a alma por um pedaço da
torta corporativa. Trabalhei muito para não ser esse homem. Será que tinha
acabado de jogar tudo isso fora?
Sempre achei que os limites éticos eram bem distintos em Wall Street,
mas hoje essa linha ficou mais confusa e eu não tinha certeza de que lado
estava.
Em vez de subir de elevador quando cheguei em casa depois do trabalho,
decidi ir pela escada. Estava prestes a fazer uma coisa estúpida, dando estes
sapatos a Harper?
Bem possível.
Meus sapatos faziam barulho nos degraus de metal como se estivessem
tentando chamar a atenção para minha subida, que era a última coisa que eu
queria. A sacola branca de Jimmy Choo balançava. Passei cerca de uma hora
na loja em Bleaker Street antes de fazer a compra que me fez chegar atrasado
ao trabalho. Nunca comprei nada para uma mulher fora da minha família,
jamais. Mas desde que vi o olhar de pura alegria iluminando o rosto de
Harper quando ela escolheu os sapatos de Amanda, quis ver aquela expressão
novamente. Ela ficou animada, alegre e cheia de entusiasmo. E como filha de
um dos homens mais ricos de Nova York, foi algo bom de ver. Ela deveria
estar acostumada ao luxo, mas de alguma forma conseguiu fazer Amanda se
sentir especial.
Queria que ela se sentisse da mesma maneira de novo.
A vendedora da loja foi muito paciente comigo. Mas já tinha visto o par
que eu queria assim que entrei. Eles eram uma versão adulta do par que
comprei para Amanda. O salto era mais alto e mais fino e as tiras mais
intrincadas, e eram cobertas com aquele acabamento brilhante que ela e
Amanda tinham enlouquecido no sábado.
Rasguei os botões da blusa dela, então eu lhe devia, não? Memórias de
seus seios fartos aparecendo quando rasguei sua blusa surgiram na minha
cabeça e tentei afastá-las.
Mas eu tinha mais do que um motivo para comprar os sapatos para ela.
Harper encontrou um vestido para a minha filha que reduziu as chances de eu
ser preso pelo assassinato de todo e qualquer garoto de quatorze anos que
sequer a olhasse. Tinha que agradecê-la e os sapatos eram um presente
apropriado.
Quando cheguei ao seu andar, parei antes de abrir a porta corta-fogo.
Podia simplesmente deixá-los na porta dela. Queria que ela os tivesse mais do
que eu queria ser aquele que os deu, para ver aquele olhar de deleite em seu
rosto. Pelo menos, eu esperava que fosse de alegria. Comprar um sapato para
um funcionário não era a atitude de um chefe – eles tinham um toque de
Vegas e eu não sabia como ela reagiria a isso.
Precisava parar de ser tão covarde.
Bati três vezes em sua porta e estendi as mãos, tentando resistir à
comichão que eu sabia que começaria em meus dedos quando ela aparecesse.
Era como se eu estivesse pré-programado para tocá-la sempre que a visse.
Ela apareceu segundos depois, vestindo uma camiseta da Berkeley e
legging, o cabelo preso em um rabo de cavalo alto – um estilo que nunca a vi
usar para trabalhar. Ela estava de tirar o fôlego.
— Oi — disse ela, com a boca ligeiramente aberta.
— Oi. — Ofereci a sacola para ela.
Suas sobrancelhas franziram.
— O que é isso? — perguntou, embora não tenha aceitado.
— Um agradecimento. Por sábado e... Você sabe, por ter desistido do seu
fim de semana de folga.
Suas sobrancelhas levantaram e um sorriso tremeu nos cantos de sua
boca.
— Sério? — perguntou. — Tudo bem. Você não precisava me comprar
um presente. — Então franziu a testa.
Não esperava essa reação. Eu queria fazê-la sorrir, talvez que passasse as
mãos suavemente pelo meu cabelo e me beijasse.
— Tudo bem — Deveria contar a ela sobre o almoço, esclarecer isso logo.
— E eu tenho algo pra te falar.
Ela abriu mais a porta e a segui para dentro, deixando os Jimmy Choo
debaixo do cabideiro. Ela não ia nem olhar os sapatos? Quando ela fechou,
instantaneamente, eu soube que cometi um erro. De repente, voltei para
Vegas. Não conseguia parar de olhar para a sua bunda, imaginando se estava
usando sutiã por baixo da blusa. A coceira nos dedos ficou mais forte, e tive
que respirar fundo para acalmar a crescente pulsação.
— Quer uma bebida? — perguntou.
— Claro, obrigado. — Segurar um copo ocuparia as mãos, impedindo-as
de vagar pela bainha da camiseta e contornar a pele macia.
Ela colocou dois copos no pequeno balcão enquanto eu observava.
Parecia despreocupada com a minha presença, como se eu fosse algo
diferente de estar extremamente atraído por ela.
Ela me entregou um copo de limonada e encostou-se ao armário.
— Então... — disse ela.
Seus pequenos dedos delicados envolveram o copo e eu não pude deixar
de imaginar como seria senti-los frios, pela bebida gelada, descendo pelo meu
peito.
— Max — disse ela e eu levantei a cabeça com tudo para olhá-la. — O
que você tem para me dizer?
Merda. Eu me mexi desconfortável, tentando recuperar o controle.
— Segui seu conselho e liguei para a assistente do seu pai.
— Preferiria que não se referisse a ele como meu pai.
Assenti. Queria saber por que ela tão, obviamente, não gostava do
homem. Não falava com ele, mas mantinha um dossiê sobre seus
investimentos. Não queria nada com ele, exceto mostrar o quão digna de sua
atenção ela era.
— Devemos falar sobre isso? Eu realmente não entendo a história de
vocês. E gostaria de entender.
— Conversar sobre pais é algo que normalmente você faz com seus
funcionários? — perguntou ela, franzindo a testa. Então se afastou do balcão
e veio na minha direção, claramente querendo que eu saísse do caminho para
que ela pudesse sair da cozinha. Nossos corpos estavam próximos, o calor de
sua respiração soprando na minha camisa. Eu não me mexi. Gostava de tê-la
perto. Eu queria mais.
Passei o dedo pelo pescoço à mostra e seus lábios se abriram, mas quando
seus olhos encontraram os meus, ela passou por mim.
Eu me virei e a observei indo tranquilamente em direção à porta.
— Você deveria ir embora — disse ela, olhando para o chão.
— Deveria. — Concordei. Mas não queria. Eu queria ficar e despi-la,
depois curvá-la sobre o sofá e deslizar dentro dela. Andei em sua direção e
descansei a mão em seu quadril.
— O que você tem para me dizer?
Ah, sim, almoço. Sua presença é como uma espécie de neblina, turva meu
cérebro e julgamento.
Ela colocou a mão no meu braço e subiu até o ombro. Tive que respirar
conscientemente.
— Max?
Seu tom brusco me chamou a atenção.
— Liguei para a assistente dele. Ela conseguiu um horário na agenda dele.
— Dando um meio passo mais perto, deslizei a mão suavemente de seu
quadril para a parte baixa de suas costas.
Ela ergueu as sobrancelhas quando inclinou a cabeça para me olhar.
— Isso é bom, certo?
Assenti.
— Exceto que ele parecia estar ocupado até eu dizer que você se juntaria
a nós.
Tirando a mão do meu ombro, ela deu dois passos para o lado.
— E então você está aqui. Com presentes. E mãos bobas.
Eu dei um passo para trás, tirado a mão de seu corpo caloroso.
— O quê? Não. — Era isso que parecia? Como se eu estivesse tentando
suborná-la? Seduzindo-a para concordar em ir ao almoço?
— Jesus, eu sei que acha que eu sou um idiota. Mas, não.
Ela deu de ombros. Não acreditou em mim? Porra. Por isso que as linhas
eram melhores quando eram claramente desenhadas – quando negócios eram
negócios e sexo era sexo. Eu não devia ter vindo aqui.
— Não vá ao almoço. — Eu me aproximei da porta. — O sapato não
tinha nada a ver com o trabalho. Comprei antes da ligação com o seu pai. —
E o meu desejo por ela não tinha nada a ver com Charles Jayne. Ela o
invocou completamente sozinha.
Jesus, nunca devia ter comprado o sapato. Nunca devia ter vindo aqui. Saí
do apartamento.
— Max — disse ela e eu não respondi, deixando a porta bater.
CAPÍTULO ONZE

P arei ao lado da mesa de Donna, ombros aprumados, pronta para a


guerra.
Eram onze e cinquenta. Precisávamos sair agora se quiséssemos
chegar a tempo em Midtown para o almoço com o meu pai, mas Max não
estava em sua sala.
Eu não tinha falado com ele desde que saiu do meu apartamento. Imaginei
que Donna me enviaria um pedido de reunião ou que eu seria convocada para
a sala de Max e que seria dito que eu almoçaria com eles para o bem da
equipe. A questão era que eu estava feliz em fazer isso. Bem, não
necessariamente feliz, mas estava preparada para almoçar com o meu pai.
Queria ser vista no time vencedor. O almoço só podia ajudar com o meu
objetivo se significasse que tínhamos mais chances de sermos bem-sucedidos
em nossa apresentação.
Coloquei um vestido azul marinho que parava logo acima do joelho e
tinha um decote redondo, e um terninho – sem colarinho – combinando que
tinha mandado fazer sob medida para acompanhar o contorno da cintura. Era
o meu terninho da sorte de entrevista – e o mais próximo de um Prada que
pude pagar.
— Donna, preciso sair — disse Max quando passou por mim e entrou em
sua sala. Donna o seguiu, colocando o arquivo que estava segurando, na
mesa.
Max apareceu na porta.
— Harper — disse ele, tocando no colarinho do paletó azul marinho.
Queria dar um passo à frente e passar os dedos sobre o tecido. Ele estava
bonito. Sempre estava bonito.
— Você está pronto? — perguntei.
Ele apenas assentiu com a cabeça e nos dirigimos para os elevadores.
— Boa sorte — disse Donna quando passamos.
Ficamos parados em silêncio esperando pelos elevadores, cercados por
funcionários da King & Associates.
Também deveria agradecê-lo pelos sapatos. Ele provavelmente pensou
que eu era ingrata, mas não foi isso. O presente me pegou desprevenida e
trouxe de volta lembranças dos presentes extravagantes que meu pai
costumava me mandar quando criança para tentar compensar o fato de ter
esquecido o meu aniversário, ou não ter aparecido para me visitar quando
disse que iria.
Talvez, ao desembrulhar o bonito Jimmy Choo foi o que me fez mudar de
ideia, mas pensando melhor, ocorreu-me que talvez Max não tivesse
entendido exatamente como seu timing foi péssimo. O presente tinha sido um
agradecimento em vez de um suborno. Provavelmente ele não tenha
percebido que deu a impressão de estar tentando me manipular com presentes
e flertes. Com essa percepção veio o entendimento de alguns de seus
comportamentos estranhos no sábado. Percebi que, por qualquer que fosse o
motivo, ele estava um pouco estranho comigo. Isso claramente não o impediu
de tentar me seduzir ou me foder como se fosse seu trabalho. Mas fora a
sedução e o sexo, ele não era tão confiante, tão experiente.
Quando Max e eu nos acomodamos no táxi, que acelerou pela cidade,
começamos a falar ao mesmo tempo:
— Queria pedir desculpas — eu disse.
— Obrigado por ter vindo — disse ele.
Nós nos viramos um para o outro e ele me deu um pequeno sorriso.
— Os sapatos são lindos — eu disse.
Ele desviou o olhar.
— Foi inapropriado. Não deveria ter comprado. — Ele passou a mão pelo
cabelo e eu contemplei seus longos dedos, sabendo exatamente como era
senti-los por todo o meu corpo.
— O que fez foi muito legal.
— É só que você pareceu ter gostado dos que a Amanda comprou no
sábado.
Sorri abertamente. Eram mais altos, mais brilhantes e mais sensuais do
que os da filha dele.
— E sei também que ocupei muito o seu tempo. Desistir do seu fim de
semana foi...
— Não foi nada. — Não podia admitir exatamente que assumi que ele era
desinteressado pela filha e que queria salvá-la de sua apatia. Eu não podia
estar mais errada. Ele claramente amava Amanda e ela a ele. O Rei de Wall
Street tinha uma identidade secreta em Connecticut como pai solteiro e
homem de família.
Primeiro nós nos tocamos, beijamos, transamos quando eu o conhecia
como um egocêntrico arrogante, determinando e impiedoso. E, de alguma
forma, sua vida fora do trabalho o tornava ainda mais atraente. Eu sabia que
tinha que lutar contra isso.
— E obrigado por vir hoje. Presumi que não viria — disse ele.
Eu meio que admirava o fato de ele não ter me pedido para participar
desse almoço de novo, não tentara me pressionar. Mas não precisava. Eu
queria estar aqui.
— Eu te disse. Quero isso tanto quanto você. Apenas por razões
diferentes.
— Nunca se deu bem com seu pai... desculpe... Charles Jayne?
Respirei fundo. Não queria falar sobre isso. Agora não. Nem nunca.
Dei de ombros e ele não me pressionou para dizer mais nada. Nós apenas
ficamos ali, as janelas abaixadas, as buzinas e gritos de Nova York sugando o
silêncio entre nós. Deveria ter sido estranho. Tinha certeza de que, se não
tivéssemos transado, eu teria tentado conversar educadamente, talvez até
tentado impressionar o chefe. De alguma forma, tudo isso parecia redundante
agora. Ridículo mesmo.
O restaurante estava ocupado com conversas e eu deslizei no assento de
veludo vermelho. Fomos os primeiros a chegar, o que foi um alívio. Tinha
algum tempo para me recompor. Não ia ao La Grenouille há anos, desde a
última vez que vi o meu pai. O lugar não mudou nada.
— Aqui é muito... — Max olhou em volta do restaurante, a testa enrugada
e os lábios apertados. Eu tinha certeza de que Max era um homem
requintado, do tipo que aprecia e prefere o arrojado e moderno. A decoração
do La Grenouille era antiquada. O papel de parede era dourado e creme e os
lustres de cristal propagavam uma luz amarela que descia como um cobertor
pesado. O resto de Nova York estava celebrando a América do século XXI
enquanto estávamos aqui, fingindo estar na França do século XIX.
Precisei abafar uma risadinha.
— Você nunca esteve aqui? — perguntei.
— Não. — Ele franziu a testa. — E agora eu sei o porquê. — Ele sacudiu
o guardanapo e o colocou no colo. — É tudo velho. E muito... — Antes que
Max pudesse terminar seu pensamento, a host se aproximou com meu pai,
que chegara na hora certa.
Max se levantou, mas meu pai me cumprimentou primeiro.
— Harper, como vai? — perguntou ele quando me inclinei, aceitando seu
beijo no rosto. Sem dúvida, a ordem na saudação era mais sobre ele tentar se
certificar de que Max se sentisse tão pouco importante quanto possível,
embora não pudesse imaginar Max se importar. De fato, depois de tê-lo visto
com a filha, provavelmente achou que teria sido estranho se tivesse
acontecido de outra maneira.
— E você deve ser Max King — disse meu pai, estendendo a mão, que
Max segurou.
Ele tinha envelhecido desde a última vez que o vi. Ainda era bonito, mas
o cabelo estava mais grisalho e agora tinha olheiras. Ainda estava elegante,
no entanto, eu me perguntei se tinha sido a aparência dele que seduziu minha
mãe e todas as outras mulheres, ou o dinheiro, ou o poder?
— Então, Harper — disse meu pai, pegando um cardápio do garçom. —
Está trabalhando na King & Associates.
Eu dei uma olhada em Max, depois de volta para o meu pai.
— Sim. Faz uns três meses.
Ele assentiu e baixou o cardápio, mas não respondeu. O silêncio pareceu
desconfortável, mas não sabia o que dizer. Não queria saber nada a respeito
dele, então qual era o propósito de perguntar? Tinha certeza de que, se
dissesse alguma coisa, sairia acusadora e um pouco mal-educada, porque era
assim que eu me sentia.
— Estamos muito satisfeitos em tê-la conosco. — Max preencheu o
silêncio.
Meu pai levantou as sobrancelhas.
— Por que não me contou?
O quê? Ele esqueceu que não nos falamos? Ele, ocasionalmente, tentava
me dar dinheiro através de seus advogados, e eu recusava constantemente.
Essa era a extensão do nosso relacionamento.
— Ela desenvolve alguns dos melhores trabalhos que já vi de um
pesquisador júnior — disse Max, recostando-se. Era claramente um exagero,
dada toda aquela canetada vermelha que ele tinha espalhado pelo meu
relatório de Bangladesh, mas suponho que pensou que isso amoleceria meu
pai.
Meu pai não respondeu. Tentei não virar a cabeça porque não queria
deixar óbvio que eu estava olhando para o Max, mas queria ver a expressão
em seu rosto. Será que estava se sentindo tão desconfortável quanto eu?
— Você está atrás da minha empresa há anos, Sr. King — disse meu pai,
endireitando a gravata. — Foi por essa razão que contratou minha filha?
Max fez uma pausa antes de responder.
— Tive sorte de recrutar alguém tão talentoso. Ela é inteligente e trabalha
duro. — Max sorriu. — Sou muito grato por você não ter conseguido
convencê-la a trabalhar na JD Stanley — comentou ele como se não tivesse
acabado de dar a maior indireta na forma de elogio na história das indiretas, e
eu queria sorrir para ele, tocá-lo, e dar alguma indicação de que apreciei seu
apoio. — Mas para responder à sua pergunta, não tinha ideia de que ela era
sua filha até depois da nossa conversa ao telefone. É algo que ela nunca
mencionou.
— É mesmo? — perguntou.
— Uma coisa que você deve saber sobre mim de antemão — disse Max
quando ele se inclinou para frente. — Eu não minto.
— Mas você vem querendo trabalhar para a JD Stanley há muito tempo
— respondeu meu pai.
— Tem razão. Eu quero. Assim como o resto dos meus concorrentes.
O garçom serviu nossos copos de água e puxei o meu na minha direção,
tocando na haste.
— Você parece um pouco mais tenaz do que a maioria. Um pouco mais
disposto a fazer o que for preciso — comentou meu pai.
— Estou feliz que tenha notado minha tenacidade — respondeu Max. —
É o que ajudou a tornar a King & Associates a empresa de pesquisa
geopolítica mais bem-sucedida da América. — Meu pai olhou para mim e eu
olhei para o meu colo. — Isso e a qualidade do trabalho que fazemos.
Era óbvio que Max não tinha falta de confiança e moralidade. Deveria
estar orgulhoso e, naquele momento, eu estava orgulhosa de conhecê-lo.
— Você sabia que Harper estava trabalhando conosco quando me ligou?
— Max perguntou, invertendo a situação contra o meu pai. Era uma pergunta
que eu estava desesperada pela resposta. Com a minha experiência, as ações
de meu pai eram quase sempre egoístas, e se ele ligou para Max porque sabia
que eu estava trabalhando na King & Associates, não sabia a razão.
— Minha resposta mudará alguma coisa? — perguntou meu pai.
— Absolutamente não. Eu sei que quando vir nosso trabalho, entenderá o
que podemos fazer por você, então o motivo pelo qual ligou não importará
mais.
Meu pai colocou o punho na boca e tossiu.
— As pessoas dizem que é o melhor no que faz. — Ele fez uma pausa. —
E essa foi a razão da minha ligação. Não sabia que Harper trabalhava para
você até que ligou para a Margaret.
Tomei um gole de água. Tinha certeza de que meu pai estava dizendo a
verdade. Por que ele saberia? Tinha tido pouco ou nenhum interesse na
minha vida até agora; por que mudaria a essa altura?
— Está gostando do trabalho, Harper? — perguntou ele.
Eu assenti.
— Estou. Escolhi trabalhar na King & Associates porque é a melhor. Não
me inscrevi em nenhum outro lugar. — Senti o olhar de Max em mim. Eu
beirava a obsessão e fui completamente obstinada em conseguir um emprego
para trabalhar com Max. Tinha adaptado meus projetos na Faculdade de
Administração para assuntos que eu achava que atrairiam a atenção da King
& Associates para o meu currículo, e eu até visitei o saguão do prédio quando
vim a Nova York para ver Grace no feriado de Quatro de Julho no ano
passado. Sempre soube que a King & Associates era o meu lugar.
— Você sabe que pode fazer o que quiser com sua poupança, agora que
tem vinte e cinco anos. Não precisa fazer nada que não queira — disse meu
pai, ajeitando a gravata.
Sério que ele estava falando da poupança que fez para mim na frente do
meu chefe? A mesma que eu não queria? Ele estava tentando,
deliberadamente, me envergonhar? Fazer Max se sentir desconfortável?
Pensei que nós tínhamos vindo aqui para falar de negócios.
— Quero trabalhar na King & Associates. Eu me esforcei muito para
conseguir a minha oportunidade. E não preciso do seu dinheiro. — Era tão
difícil ele acreditar que eu era boa o suficiente, que eu queria isso? Este
almoço deveria ser sobre negócios e o começo para eu provar para o meu pai
que não precisava de uma poupança. — Posso perguntar por que está
pensando em terceirizar algumas de suas pesquisas a essa altura? Alguma
coisa mudou na empresa? — perguntei.
Meus olhos foram rapidamente para Max, que estava assentindo,
encorajando a minha pergunta, e me permiti relaxar um pouco.
Meu pai suspirou.
— Bem, acho que é bom manter as pessoas que trabalham pra você
sempre em alerta e preparados, e tenho acompanhado o que vocês fazem e
acabei querendo ouvir um pouco mais a respeito.
Fiquei quieta durante a maior parte do tempo durante o almoço,
concentrando-me nas respostas que meu pai dava às perguntas de Max,
memorizando-as. Tentei esquecer que o homem sentado na outra extremidade
era geneticamente ligado a mim e focar nele como um cliente.
Foi a primeira vez que vi Max com um cliente. E foi fácil entender porque
era tão bem-sucedido. Ele tinha um encanto que fez meu pai revelar coisas
que eu não sabia se ele tinha planejado. E Max fez tudo sem entregar nada de
si. Ele deixou meu pai dominar a conversa em termos de número de palavras
faladas, mas o modo como Max o incitou em direção a certos assuntos,
significava que era ele quem controlava.
Ele era tão brilhante quanto diziam.
Sabia que ele era inteligente, mas não esperava o resto: carisma e
controle. Era como ver um mago em ação, lançando feitiços nas pessoas para
que elas contassem seus segredos.
— E, é claro que a Harper vai trabalhar na apresentação — disse Max,
chamando minha atenção enquanto eu olhava para ele. Olhei de volta para o
meu pai, dando-lhe um sorriso tenso.
— Ela vai? — perguntou, parecendo surpreso. — Com tão pouca
experiência?
Ótimo. Outra crítica na frente do meu chefe. Fiquei pensando se ele sabia
que não precisava verbalizar cada pensamento a meu respeito.
A pior parte disso tudo era que eu tinha certeza de que ele não disse
aquilo para tentar me humilhar. Acho que tinha tão pouca consideração pelos
meus sentimentos que não lhe ocorreu que estava sendo ofensivo.
— Sim, senhor. Quero colocar nisso o meu melhor pessoal — disse Max.
— Bem, se é tão bom quanto diz, eu deveria confiar no seu julgamento —
meu pai respondeu e sorriu forçado.
Memórias de esperar por seu carro estacionar na porta no dia do meu
aniversário ou a ligação no Natal continuavam interrompendo minha
concentração. O presente caro que ele enviava para se desculpar por não ter
conseguido aparecer ou ligar, me fazia gostar dele novamente até a próxima
vez que ele me decepcionaria. O nó apertado que senti no estômago quando
minha mãe se desculpava por sua ausência na aula de dança ou na escola, fez
meu estômago doer. A humilhação que senti quando soube que para o meu
meio-irmão mais novo foi oferecido um emprego na JD Stanley logo após a
formatura me fez ferver de raiva.
Achei que não sentiria nada se viéssemos almoçar depois de tanto tempo
sem termos contato, que tudo se resumiria a apenas trabalho.
Mas seu abandono era doloroso demais para esquecer.
Eu não devia ter vindo. Foi como abrir uma antiga cicatriz. Ele não
merecia meu tempo e nem a minha atenção. Ele não merecia minha simpatia.
Não mais.
Na minha cozinha, servi Patron no copo de shot da Golden Gate Bridge
que tinha colocado no balcão e coloquei a garrafa de lado. Tequila faria o dia
de hoje desaparecer e me ajudaria a dormir.
Max tinha ido a outra reunião em Midtown depois do almoço, e eu voltei
a Wall Street sozinha. Fiquei agradecida pelo espaço, por ter um tempo para
me recompor antes de voltar ao escritório. Fui improdutiva pelo resto da
tarde, observando o relógio e desejando que ele acelerasse. Saí quando deu a
hora e vim para casa disposta a beber.
E viva a tequila. A bebida me tiraria daquele sentimento de perda, de
abandono e de vergonha por ele ainda ter o poder de me ferir.
Quando alcancei o copo, ouvi uma batida na porta. Poderia ser a Grace,
mas era improvável porque ela ligaria para saber se eu estava em casa. Não,
devia ser o Max.
O pensamento do corpo firme de Max sobre o meu, empurrando em mim,
enchendo-me com apenas ele, parecia ser melhor do que a tequila.
Abri a porta, convidando-o a entrar. Depois que passou pelo limiar,
empurrei-a para fechá-la.
— Oi. Só queria ver...
— Quer uma dose? — perguntei.
Seu olhar estreitou, fazendo que não com a cabeça; virei e voltei para a
cozinha.
Peguei o copo cheio, e antes que eu pudesse levá-lo aos lábios, Max o
pegou da minha mão.
Pensei que ele fosse beber, mas em vez disso, jogou o copo e o que tinha
dentro na pia. O som do vidro batendo no metal ecoou no silêncio entre nós.
Sem me importar pelo que ele tinha acabado de fazer, abri o armário e
peguei outro copo, esse com estampa do Space Needle. Enchi com tequila,
então segurei o copo com força para que Max não pudesse tirá-lo de mim. Ele
o arrancou da minha mão como se não fosse nada. Quando foi jogá-lo na pia,
eu disse:
— Não quebre esse. Eu gosto dele.
— Beber não vai ajudar — disse ele, jogando a bebida na pia e colocando
o copo na mesa. Ele pegou a garrafa e fechou a tampa.
Cruzei os braços.
— Você é tão chato — soei como uma adolescente, mas ele estava
acostumado.
Ele colocou a garrafa em cima da geladeira e deu um passo na minha
direção.
— Eu sei. — Max levantou meu queixo e olhou para mim. — Quanto já
bebeu?
Dei de ombros, sem vontade de dizer que ele tinha acabado com a minha
diversão antes de começar.
— Diga, Harper. — Ele arrastou o polegar ao longo do meu queixo, de
forma rude e íntima. Meu corpo relaxou como se ele fosse a tequila, e fechei
os olhos, ficando assim por um tempo.
Descruzei os braços.
— Nada. — Abri os olhos.
Ele assentiu com a cabeça e me puxou para um abraço, cercando-me com
o cheiro que eu agora associava a sexo, conforto e paz. Deixei-o me abraçar,
pressionando o rosto em seu peito e apertando os braços em volta de sua
cintura.
— Não sou vidente, mas acho que talvez o dia de hoje tenha te trazido
alguns problemas à tona. — Ele me apertou um pouco mais quando não
respondi. — Quer conversar sobre isso em vez de se embebedar?
— De jeito nenhum — respondi. Só de ele estar aqui me abraçando fez
tudo parecer muito melhor. — E peço desculpas pelos sapatos. Eles são
lindos e eu amei. Às vezes tenho dificuldade em aceitar presentes.
Ele riu.
— Posso perguntar por quê?
Dei de ombros e ele não me perguntou mais nada.
Ficamos na cozinha tanto tempo que pareceu horas, apenas nos
abraçando, até que consegui dizer:
— Eu estou bem. — Seu peito abafou minhas palavras.
Ele suspirou, suas costelas subindo e descendo contra os meus seios.
— Eu deveria ir embora — disse, mas sem me soltar.
— Não — sussurrei.
— Eu não quero ir. — Ele parecia cansado. Como se eu, ao abraçá-lo,
tivesse exaurido sua energia. — E é por isso que eu devia ir. Nós dissemos:
nada de viagens a Vegas outra vez.
É verdade. E foi a coisa certa a fazer. O problema era que quanto mais
tempo eu passava com ele, mais queria passar.
— Então, vamos para outro lugar — eu disse, subindo suavemente as
mãos por suas costas, mexendo os quadris minimamente.
— Harper — sussurrou.
— Aruba — sugeri. — Ou Paris.
Ele baixou a cabeça e beijou meu pescoço. Meus joelhos fraquejaram de
alívio. Era o que eu desejava desde que ele chegou, desde o almoço, desde a
última vez que me tocou.
— Ou apenas aqui — eu disse, arrastando os dedos pela lateral de seu
corpo e em volta do pescoço. — Me beija — sussurrei. — Apenas fique aqui
comigo.
Ele agarrou minha bunda e roçou os lábios nos meus, primeiro à esquerda
e depois à direita. Eu queria mais. Eu o queria. Não sabia se ele estava
tentando me atormentar ou ainda pesando os prós e os contras de estar
comigo novamente.
Deslizei as mãos pelo seu peito e ele segurou meus pulsos antes que eu
pudesse convencê-lo a ficar.
— Você me quer, né? — perguntou ele, colocando as minhas mãos no
balcão atrás de mim.
Eu queria esquecer o dia de hoje.
— Me beija.
— Você acha que quer isso para fazê-la se sentir melhor por causa de
hoje. Mas não é — disse ele, seus olhos fixos nos meus. — É sobre isso... —
Suas mãos subiram, acariciando meus braços e seguraram meu rosto. —
Sobre o que você sente quando eu te toco. — Ele se inclinou e beijou o canto
da minha boca, me provocando, me fazendo esperar. — Sobre como precisa
que eu te foda mais do que precisa da próxima respiração. — Ele abriu
minhas pernas com o joelho.
Não podia discutir com ele. Nada do que estava dizendo era mentira.
Eu o queria. A todo segundo. Desde antes de conhecê-lo.
Mesmo quando achava que ele era idiota, eu o queria.
Mas não eu não admitiria.
Eu me contorci quando ele alcançou o cós da legging, a mão insistente
empurrando para dentro da calcinha.
— Está vendo? — perguntou. — Está molhada pra mim.
Ele correu dois dedos para cima e para baixo, do meu clitóris para a
entrada, não dando nenhum alívio. Girei os quadris em um esforço para senti-
lo mais fundo, mais forte.
— Admita — disse ele. — Admita o quanto você me quer.
Tirei as mãos do balcão onde ele as colocou e agarrei sua camisa, me
atrapalhando com os botões.
— Não — disse ele, tirando a mão da calcinha e afastando as minhas de
sua camisa.
Soltei um gemido de frustração.
— Admita — disse ele.
— Eu quero ser fodida. — Era verdade.
— Você é a mulher mais irritante que eu conheço. E isso é algo difícil de
superar dado às mulheres na minha vida. — Ele subiu minha camiseta,
fazendo-me estremecer quando roçou minha pele com as palmas das mãos.
— Porra — disse quando percebeu que eu não estava de sutiã. — Me diz. Me
diz, agora.
— Quer se sentir especial? — perguntei, provocando-o. — Precisa saber
que as mulheres te desejam mais do que a qualquer outro?
Ele balançou lentamente a cabeça.
— Só você. Preciso ouvir isso de você.
— Por quê? — perguntei quando ele se inclinou e colocou um mamilo na
boca, a língua circulando e sugando, seus dedos puxando o outro.
— Porque é a verdade — disse ele e me beijou novamente nos lábios. —
Porque é o que eu sinto sempre que penso em você, sempre que está por
perto.
Calor correu pelo meu corpo e passei os braços em volta de seu pescoço,
olhando-o nos olhos. Ele me encarou de volta e me sentou no balcão da
cozinha.
Eu assenti.
— É verdade. Eu quero você. — As palavras soaram calmas quando
saíram. Será que ele percebeu?
— Eu sei — disse ele, seu olhar foi para a minha boca pouco antes de
pressionar os lábios nos meus. Suspirei de alívio. Uma onda de calmaria nos
envolveu como se nossas admissões mútuas tivessem nos unido. Minha
língua encontrou a dele e, em vez de ser apressada e possessiva, me permiti
seguir seu ritmo. Encorajei sua sedução sobre mim.
Ele se inclinou para trás e deu um beijo no meu nariz.
— Se ainda está vestida é porque não estou fazendo algo corretamente —
disse ele enquanto puxava o cós da legging.
O que acabei de admitir para ele? Eu disse que queria mais? Não sei
dizer, mas tudo o que eu conseguia focar eram os dedos dele descendo minha
legging, seu olhar vidrado enquanto examinava cada centímetro de pele como
se não acreditasse no que estava vendo. Nada mais parecia importar.
Quando minhas roupas caíram no chão, ele me tirou do balcão e me levou
para a cama. Quando ficamos juntos antes, nós dois agimos como se
estivéssemos contra o tempo. Agarrando um ao outro, desesperados para
fazer o outro se sentir bem o mais rápido possível, no caso de alguém tocar a
campainha e dizer que o nosso tempo acabou. Dessa vez era diferente.
Nossos beijos eram preguiçosos, nossos movimentos lânguidos. Deitado ao
meu lado, ele correu as palmas das mãos pelo meu corpo e levou a mão até a
parte interna da minha coxa.
— Você está usando gravata — sussurrei.
— Como eu disse, uma das pesquisadoras juniores mais brilhantes com
quem já trabalhei.
Sorri e estendi a mão, puxando o tecido de seda de seu pescoço, abri os
dois primeiros botões da camisa e coloquei a mão na pele logo abaixo do
pescoço. Suspirei. Ele me faria esquecer o dia de hoje.
Rapidamente ele se levantou e ficou completamente nu em segundos,
jogando o terno de três mil dólares nas costas da minha poltrona. Então, sem
perguntar, abriu a gaveta da minha mesa de cabeceira e pegou um
preservativo.
— Está saindo com alguém? — perguntou enquanto se juntava a mim na
cama. — Não. Não responda.
Acariciei seu rosto e ele olhou para mim.
— Você está saindo com alguém? — perguntei.
— Não — respondeu. — Estou...
Acariciei seus lábios com o polegar. Ele não precisava se explicar. Eu não
me importava de verdade, porque o que quer que estivesse acontecendo em
seu mundo, ou no meu, eu queria que isso acontecesse. Não queria pensar no
amanhã, em considerar as consequências. Queria saborear o jeito que seus
olhos, língua e mãos pareciam me adorar.
Ele se inclinou e me beijou, tomando meu lábio inferior entre os dentes
antes de morder até doer, depois empurrou a língua na minha. Podia beijá-lo
para sempre. Se o pênis dele caísse, eu poderia ficar feliz pelo resto da vida
apenas com a sua língua. Sem parar de me beijar, ele colocou o preservativo.
— Eu amo os seus beijos — eu disse antes que tivesse tempo para pensar
que talvez isso não fosse algo que eu devesse dizer.
Ele gemeu na minha boca.
— E o que mais? — perguntou, seus dedos deslizando para a junção da
parte interna da minha coxa.
— Seus dedos, rosto, seu pau. — Sem pensar duas vezes, ele estava em
cima de mim, entrando, devagar, mas completamente profundo. Trouxe os
joelhos até onde consegui, abrindo-me ao máximo para ele.
— Assim? — perguntou quando parou dentro de mim.
Assenti com a cabeça, os dedos cavando em seus ombros.
— Relaxe — disse ele. — Somos apenas você e eu.
Eu exalei. Era só ele e eu. Nada mais importava.
Seus olhos se abriram mais ainda, como se estivesse me perguntando se
eu estava pronta, e eu deslizei as mãos sobre sua bunda em resposta. Ele saiu
quase tão lentamente quanto me preencheu e eu gemi, dominada pela
sensação.
— Harper — sussurrou. — Olhe para mim.
Estava observando sua ereção entrar em mim. Olhei para cima e ele
desceu com tudo enquanto eu me agarrava a ele.
— Você ama o meu pau. Você disse isso, baby, e agora vai tê-lo. Vou te
dar tudo o que precisa.
Ele mergulhou em mim, desta vez não dando tempo para eu me recuperar
antes de puxar para fora e empurrar de volta. Ele gemeu através da mandíbula
cerrada.
Eu faço isso com você, era tudo que conseguia pensar.
Esse homem, que parecia que a Gucci fazia ternos só porque ele existia,
gemeu por minha causa.
Este homem, cujos belos olhos verdes diziam a todos que o conheciam
que ele era o chefe, estava transando comigo.
Esse homem, que governava a Wall Street, o poder por trás do
desempenho dos principais bancos de investimento em Manhattan, estava
tendo que se concentrar para não gozar muito rápido por minha causa.
Eu coloquei o Rei de Wall Street de joelhos.
— Jesus, Harper.
Empurrei contra seu peito e me mexi para que ele parasse. Nós dois
iríamos gozar em segundos se continuássemos assim. Saí debaixo dele.
— O quê? Estava perfeito — disse ele.
— Muito perfeito — respondi e me deitei de bruços. Vê-lo tão desfeito
me levaria ao limite muito depressa.
Ele deslizou as mãos sob as minhas coxas e me puxou em direção a ele e
direto para o seu pau. Minhas costas arquearam quando o prazer me
atravessou pelas pernas e ricocheteou da esquerda para a direita, e depois
subiu pelo corpo. Eu me apoiei nas mãos, tentando participar de alguma
forma, mas não consegui.
Fiquei tensa conforme ele passava a mão pela minha espinha, e depois
apertou meu ombro.
— Tão apertada. Tão gostoso — gemeu.
Em segundos eu estava no limite, a mudança de posição não fez nada para
diminuir meu desejo por ele, para afastar meu orgasmo. Seu toque fazia com
que tudo fosse tão intenso quanto antes.
— Max — gritei.
Ele empurrou mais forte desta vez.
— De novo — ofegou ele.
— Max. Por favor... Deus... Max. — Não consegui me segurar mais.
Enquanto eu voltava do clímax, Max gritou meu nome e desmoronou em
cima de mim, a parte da frente de seu corpo nas minhas costas, então rolou de
lado, me puxando com ele.
CAPÍTULO DOZE

S aí do banheiro e vi que Harper não havia mexido um músculo. Não


podia culpá-la; passamos a maior parte da noite transando, e eu
estava exausto.
— Pelo que vi hoje, seu pai ainda tem muito poder sobre você.
Harper puxou o lençol sobre o rosto.
— Sério? Você está parado aí com o seu pau olhando pra mim enquanto
ainda tenho o seu gozo entre as pernas, e vamos falar sobre o meu pai?
— Você não tem o meu gozo entre as pernas. Acabei de jogar o
preservativo fora.
Ela saiu de debaixo do lençol para me encarar.
— Eu quis dizer figurativamente.
Ela era absurdamente de tirar o fôlego quando estava furiosa comigo, e eu
rapidamente me esqueci do que estávamos falando.
— Você é linda. — Engatinhei pelo colchão. Queria puxá-la para mim,
mas ela me deu um soco no braço e foi para o banheiro.
— Você não pega nada de dinheiro dele, pega? — perguntei. O
apartamento, as roupas. Ela não aceitava qualquer ajuda, pelo que eu podia
ver. Gostava disso nela. Ela era independente. Impossível de ser comprada.
— Por que a pergunta? — Ela apareceu na porta do banheiro, uma mão no
batente, totalmente despreocupada com sua nudez. Eu realmente gostei disso
nela. Gostava dos quadris largos, enfatizando a cintura fina. Gostava do jeito
que seus seios se projetavam como se quisessem participar da conversa. Meu
pau endureceu.
— Max? — incitou, e eu ergui o olhar para o dela. — Você é um
pervertido.
— Você está nua. O que vou fazer além de te olhar?
— Não sei, me responder?
Até o sarcasmo dela me excitava.
Ela puxou o cabelo para trás como se fosse amarrá-lo, o que levantou os
seios e alongou o estômago.
— Venha aqui antes que eu comece a me masturbar.
Ela soltou o cabelo e deu um passo em direção à cama. Eu a agarrei,
puxando-a para baixo e para mim, envolvendo as pernas nela, apertando-a no
meu peito. Não conseguia chegar perto o suficiente para saciar minha sede
por ela.
— É verdade. Não aceito dinheiro dele. Comecei a pegar um pouco
quando fui para a faculdade. Percebi que ele me devia isso. Mas não parecia
certo. Eu não conhecia aquele homem.
Eu a puxei mais perto. Eles pareciam estranhos no almoço; ele perguntou
sobre as coisas mais básicas que qualquer pai já deveria saber. Não havia
afeição por parte de Harper. Ele era o homem que eu nunca quis ser para
Amanda.
— Ele e a sua mãe se divorciaram? — perguntei.
— Não. — Ela exalou bruscamente. — Ele não teve a decência de se
casar com ela para começo de conversa.
Oh.
— Pandora e eu não nos casamos — comentei.
— Sim, você tinha dito. Não quis se casar com ela? — perguntou ela.
Depois de vê-la com o pai hoje, imaginei se queria me fazer essa pergunta há
algum tempo.
Dobrei um braço embaixo da cabeça.
— Nenhum dos dois quis casar.
— Mas você quis a Amanda. Quero dizer, manteve o contato com ela.
Meu polegar contornou seu quadril.
— Claro. Pandora e eu conversamos sobre nos casarmos, e não sei dizer
por que não rolou. Estávamos prestes a ir para a faculdade e talvez
soubéssemos que estaríamos cometendo um erro por cima do outro. — Tinha
sido a decisão certa. — Não que Amanda tenha sido um erro. Apenas a
gravidez que não foi planejada. Obviamente. — Harper olhou para mim e eu
sorri para ela. — Pandora e eu éramos bons amigos, e pouco antes da
formatura uma coisa levou a outra... Nunca foi para ser mais do que um
adeus. — Suspirei. — O que nos uniu para sempre.
Harper apertou os lábios no meu peito.
— Ela nunca quis casar, nem mesmo depois que Amanda nasceu?
Beijei sua testa.
— Acho que não. Ela conheceu Jason quando Amanda estava com quase
um ano de idade.
— Isso te incomodou? — perguntou.
— Não, de jeito nenhum. — Realmente nunca me incomodou. Gostava do
Jason. Ele era bom para Pandora e para a minha filha. — Acho que os pais
dela estavam preocupados, mas eu sempre quis que Pandora fosse feliz. Nós
éramos amigos há muito tempo. E isso não me impediu de querer ser o
melhor pai que poderia ser.
Harper não respondeu, mas senti que ela tinha mais a dizer. Estava feliz
de ficar abraçado a ela em silêncio.
Por fim, suspirou e disse:
— Concordei em ir às compras porque presumi que Amanda ficaria triste
fazendo compras com você. Presumi que tinha tanto interesse em Amanda
quanto meu pai em mim.
Eu me afastei um pouco para olhar para ela.
— Sério? — eu disse. — Ela adora fazer compras. Não se importa com
quem esteja junto, mas eu gosto de levá-la. Acho que desde que Pandora se
mudou, ela sente falta... — Eu quase disse da mãe dela, mas não queria que
Harper entendesse mal o que eu estava dizendo. — Você sabe, coisas de
garotas. E Scarlett está saindo com uma dúzia de homens e Violet está...
— Violet? — perguntou ela.
— Minha outra irmã — expliquei. — E as duas avós querem que Amanda
fique uma garotinha o maior tempo possível. Então, nós temos propósitos e
objetivos mútuos. — Eu a puxei para mais perto e ela novamente pressionou
o rosto no meu peito. — Ela adorou você ter ido junto. Não parou de falar a
seu respeito quando chegamos em casa, certamente causando surpresas.
— Ah, é? — perguntou ela. — Que tipo de surpresas?
— Do tipo intrometido. Acho que porque trabalhamos juntos e moramos
no mesmo prédio. Acho que minhas irmãs acreditaram que... — O que elas
pensaram? Que estávamos saindo?
— Violet é mais nova que você? — perguntou e fiquei agradecido por ela
ter seguido em uma direção diferente.
— Sim, e ela enche o meu saco. Sempre interferindo na vida de todos. Ela
é uma intrometida. — Eu ri quando percebi que poderia ser uma coisa
genética. — Ela é muito parecida com Amanda nesse aspecto. — Amanda
usava a constante reclamação sobre querer uma irmãzinha como interesse
próprio, mas eu tinha certeza de que ela queria que eu fosse feliz. — Elas têm
muito em comum.
— Parece que você é muito ocupado. Mesmo sem a King & Associates.
Suspirei.
— Eles ocupam dois espaços diferentes no meu cérebro.
— Talvez — comentou. Ela se mexeu contra mim, e rolei até que ela
estava de costas e eu estava olhando para ela.
— Você é a exceção — eu disse. — Parece que fixou residência em
ambos os espaços. — Rocei o nariz no dela e me afastei para olhá-la. —
Percebi isso no táxi hoje. Gostei que pudéssemos estar juntos, perto um do
outro. Sem conversar, sem se tocar.
Ela assentiu com a cabeça lentamente.
— Isso é novo pra mim — eu disse. Não tinha certeza do que isso era. Se
eu estava apenas tendo um relacionamento pessoal com alguém com quem
trabalhava, ou se estava fazendo sexo com alguém que eu conhecia além do
sobrenome. Ou se era o fato de que sempre que a via, sempre que pensava
nela, sempre que a tocava, eu queria mais. Tudo era novo.
Abaixei a cabeça para beijar seu nariz enquanto ela envolvia as pernas ao
meu redor, me puxando até meu pau empurrar nela.
Já fodi muitas mulheres atraentes com belas bundas firmes, pernas longas
e magras, e peitos enormes. Harper era atraente, linda mesmo, mas com ela,
as coisas que me deixavam duro, que me faziam gemer, eram mais do que
apenas físico. Gostava do jeito que o silêncio era confortável, o jeito que ela
conseguia me fazer rir, o jeito que parecia se abrir enquanto eu mergulhava
nela.
— Você quer um pouco disso? — perguntei, roçando nela. Ela sorriu e eu
sacudi a cabeça. — Insaciável — eu disse e me abaixei, apoiando-me nos
antebraços e lambi ao longo de sua clavícula. Ela enfiou as mãos no meu
cabelo por trás, fazendo arrepios correrem pela minha pele. Segurei seus
seios com as mãos, roçando os mamilos com a língua e depois os raspando
com os dentes. Ela arqueou contra mim quando meus beliscões se tornaram
descuidados e mais fortes. Meu pau latejou com a reação dela, mas não
encontraria alívio tão cedo. Provocar sua luxúria me deixava excitado, seu
desejo me levava junto.
— Quero ver você com os sapatos que eu comprei — eu disse, minha voz
rouca. Ela nua naqueles sapatos foi o centro da atenção dos meus
pensamentos desde que os comprei.
Ela sorriu para mim e deslizou por baixo do meu braço, indo até o
armário. Eu me virei de costas, esperando por ela. Ela apareceu no batente, as
mãos para cima, apoiando-se em ambos os lados do batente, um sapato
tocando a lateral da comprida perna bronzeada. Não consegui impedir o
gemido arrancado do meu peito. Estendi a mão em sua direção, mas ela se
virou, balançando os quadris para um lado e depois para o outro.
— Como eles são, olhando de trás? — perguntou. Não sabia onde me
concentrar; no espesso cabelo macio cobrindo as costas, abaixo na sua cintura
estreita, ou na bunda firme e empinada conforme se projetava para chamar a
minha atenção, ou entre as coxas onde eu sabia que era tão macio e molhado.
Os sapatos ampliavam cada centímetro de seu corpo perfeito.
— Venha aqui e me deixe te mostrar o que penso de você com esses
sapatos.
Ela deu pequenos passos em direção à cama, sua boceta perfeitamente
aparada me hipnotizando enquanto se aproximava. Porra, eu nunca me
cansava disso.
Ela segurou os seios, juntando-os enquanto encostava-se à cama. Eu me
levantei e fiquei de joelhos para encontrá-la, querendo que o espaço entre nós
desaparecesse. Tocando entre suas coxas com uma mão, agarrei sua bunda e
a puxei para os meus dedos.
— Você é perfeita — sussurrei. Ela me deu um pequeno sorriso e sua
cabeça inclinou para trás enquanto meus dedos entravam mais
profundamente.
O sangue correu para o meu pau e eu o queria na mão, na sua boceta, mas
não queria soltá-la. Ela tropeçou um pouco, o que piorou, estava tão afetada
só por causa dos meus dedos, que não conseguia ficar de pé.
— Quero você deitada de costas, com os pés pra cima — eu disse e puxei-
a para a cama.
Trilhei um caminho de beijos até seu umbigo. Ela se mexeu, ficando cada
vez mais inquieta, mexendo e se contorcendo debaixo de mim. Desci mais e
segurei suas coxas, abrindo-as, os sapatos para cima, um de cada lado meu.
Ela gritou quando soprei seu sexo. Os sons dela me incitaram. Abri os
lábios, expondo o clitóris. Ela ficou tensa. Não sabia se era de expectativa ou
de constrangimento. Eu me inclinei e circulei o feixe de nervos com a língua.
Sua respiração ficou mais audível e mais profunda quando chupei antes de
lamber a entrada.
Nunca provei nada igual. Era como a primavera – calorosa, fresca e
convidativa. Não conseguia me saciar nem conforme mergulhava nela,
lambendo a umidade que já não cobria meu queixo.
Podia ficar desse jeito, meu rosto enterrado nela, pelo resto dos meus dias.
Segurei meu pau duro feito pedra, que estava desesperado para provar a
doçura que revestia a minha língua. Passei a mão nele, mas me forcei a soltá-
lo; não queria gozar ainda. Assim que eu a penetrasse, estaria acabado – meu
corpo quebraria com cada urgência que eu tinha de agradá-la em um esforço
para chegar ao orgasmo.
Usando os cotovelos, abri suas coxas ainda mais, a língua conectando-se
com o clitóris enquanto meus polegares mergulhavam nela, empurrando sua
entrada, girando e circulando ao contrário. Seu corpo começou a tremer e
ouvi o sussurro do meu nome em seus lábios. Queria ouvi-lo mais alto.
Aumentei a pressão da língua e suas mãos agarraram meu cabelo, gritando:
— Max, meu Deus, Max.
O orgasmo se espalhou por ela como um raio de eletricidade, sua boceta
contraindo, empurrando meus polegares. Retirei as mãos e deslizei a língua
para aliviá-la, sentindo a pulsação.
Olhei para ela, os braços estendidos para cima enquanto as costas
começaram a descer no colchão. Foi a primeira vez que tive a vontade de
filmar uma mulher. Nunca precisaria sair com alguém novamente se eu
tivesse uma gravação de Harper gozando na minha língua desse jeito.
Deus, ela era perfeita quando se desfazia.
Fui para o lado dela quando abriu os olhos e sorriu para mim.
— Você é bom nisso — disse ela.
— O que eu devo dizer? — Dei risada.
— Aprenda a aceitar um elogio — respondeu, levantando-se e sentando
sobre mim, uma perna de cada lado. — É só dizer “obrigado”.
Balancei a cabeça, segurando seus quadris com as mãos. Sua umidade
revestia meu pau conforme ela se movia para frente e para trás.
Gemi, o calor dela se infiltrando em minhas veias. Não ia durar muito
tempo. Desesperado, estendi a mão até a mesa de cabeceira. Eu me atrapalhei
com a gaveta, tive que me esticar para alcançar lá dentro. A madeira
apertando meu pulso e eu remexi, procurando por um preservativo.
Sorrindo, ela pegou a embalagem quadrada antes que eu tivesse a chance
de discutir e colocou em mim o preservativo – tentadoramente devagar –
ambos olhando para o meu pênis saliente em suas mãos.
— Não faz muito tempo, mas você se lembra de como é bom? —
perguntou, apertando a base do meu pau. — Como sou apertada?
Eu gemi, precisando que ela me lembrasse.
Ela se levantou e posicionou a ponta em sua abertura.
— Como desliza tão profundamente?
— Porra, Harper. Está tentando me matar?
Ela reuniu o cabelo para cima, e depois o soltou, acariciando os seios
enquanto remexia os quadris e me levava um pouco mais fundo.
— Você se lembra de como se encaixa tão bem? É grande demais. — Ela
me recebeu um pouco mais. — Quase. — Um pouco mais. — Sempre acho
que vai ser doloroso, mas não. — Ela colocou as mãos no meu torso,
firmando-se, o que juntou seus seios, empurrando-os mais perto de mim. Ela
jogou a cabeça para trás e eu quase gozei naquele instante. — É bom demais
para ser doloroso. — Ela continuou rebolando os quadris, me provocando,
sabendo que eu queria estar afundado nela. — Você se lembra de como é
bom?
Agarrei seus quadris, tentando fazer qualquer coisa que eu pudesse para
me impedir de enfiar meu pau tão profundamente que ela nunca mais andaria
de novo.
Ela deslizou tudo até o fim, arregalando os olhos a cada movimento,
depois parou.
— Nunca me lembro — sussurrou. — Sempre me esqueço de quão boa é
a sensação.
Paciência me abandonando, rosnei e me sentei, girando-a de costas e
empurrando dentro dela.
— Garantirei que nunca mais se esqueça.
Queria transar com ela para sempre.

Depois de passar a noite com Harper, demorei mais do que o costume


para acabar com tudo que eu precisava fazer, então peguei o trem mais tarde.
— Cheguei — eu gritei. Podia ouvir a televisão da sala. Normalmente eu
voltava a Connecticut durante a semana e encontrava Marion limpando a
cozinha, mas o carro dela não estava na garagem. Ela estava aqui sozinha?
— Amanda — gritei. Presumi que não precisava mais de alguém tomando
conta dela, mas não gostei da ideia de ela ficar sozinha, esperando eu voltar.
— Estou aqui! — gritou sobre o barulho da música e gritaria. Tirei o
paletó e o coloquei na parte de trás de uma das banquetas e deixei o celular
no balcão. Uma boa taça de Pinot Noir era o que eu precisava. Foi uma
semana difícil. Coloquei uma taça no balcão e tirei uma garrafa de vinho da
adega climatizada.
— Pode me servir uma? — Scarlett perguntou atrás de mim.
— Oi. — Eu peguei outra taça. — O que está fazendo aqui?
Ela sentou na banqueta do meio.
— Não queria ficar sozinha esta noite. Posso dormir aqui?
Assenti. Estava óbvio que ela queria conversar. Servi o vinho em sua taça
enquanto ela segurava a haste.
— Estou pensando em me mudar para a cidade — comentou, inclinando a
cabeça enquanto observava a taça encher. — Às vezes, parece que
Connecticut é onde eu deveria estar daqui a dez anos, e não agora. Isso faz
sentido? — perguntou.
— Mudança é sempre bom, acho. Você nunca morou em Manhattan. O
que faria com o trabalho? — Ela trabalhava em um banco de investimentos
nos arredores de Westhaven.
Ela deu de ombros.
Porra, tomara que ela não me peça emprego.
— Pensei em pedir transferência. Tem uma vaga na tesouraria em
Manhattan agora. É uma posição acima, mas tenho a experiência.
Acenei com a cabeça, aliviado por não estarmos prestes a ter uma
conversa difícil. Meu celular vibrou no balcão com uma mensagem, o nome
de Harper aparecendo na tela. Percebi que Scarlett viu, pois me olhou.
Ela não disse nada, assim peguei o celular, abri a mensagem.
Manhattan não é divertido quando o Rei não está em casa.

Sorri e olhei para Scarlett, cujas sobrancelhas estavam tão altas que quase
desapareciam no começo da raiz do cabelo.
— Há alguma coisa que gostaria de dividir?
Engoli meu sorriso e peguei minha taça.
— É só coisa de trabalho. — Tomei um gole.
— Sim, isso parecia coisa de trabalho.
O pensamento de tentar manter meus sentimentos pela Harper no âmbito
profissional desapareceu há muito tempo. Ela deixou claro que não queria ser
vista como a mulher que estava transando com o chefe, e eu não queria
enlamear as águas entre o profissional e o pessoal mais do que eu já tinha
feito. No escritório, combinamos de nos evitarmos. Facilmente resolvido, já
que as reuniões pela manhã sobre JD Stanley eram as únicas vezes que
realmente nos víamos. Alguma distância no escritório era uma coisa boa.
Mas toda a distância desaparecia assim que voltávamos para o
apartamento dela – por algum motivo, ela se recusou a ir até o meu, embora
fosse maior.
— Oi, pai — cumprimentou Amanda, interrompendo o silêncio.
— Oi, linda — respondi, inclinando-me para dar um beijo na minha filha.
Eu me perguntava quando ela não ia mais querer me beijar. Nossos pais
ficavam me avisando sobre a adolescência, assegurando-me de que nossa
discussão sobre o vestido era só a ponta de um iceberg gigante.
— Vai responder à mensagem da Harper? — perguntou Scarlett, sorrindo
para mim. Se o Pinot Noir não estivesse tão bom, teria jogado o resto na
cabeça dela. Minha filha não ia deixar de notar a alusão e Scarlett sabia disso.
— Harper mandou mensagem? — perguntou Amanda previsivelmente. —
Pode perguntar se ela virá ajudar a me arrumar para o baile? Quero que ela
passe o delineador em mim para ficar igual ao dela.
Coloquei o celular de volta no balcão.
— Não, não vou pedir a Harper para vir a Connecticut para te ajudar a se
arrumar. Ela não é sua personal stylist.
— Ela está muito ocupada cuidando das necessidades de outra pessoa
desta família, não está? — brincou Scarlett e eu a olhei feio.
— Como? — perguntou Amanda.
— Vamos falar da sua vida amorosa, que tal, Scarlett? — perguntei.
Ela inclinou a cabeça.
— Ah, então, você admite que Harper faz parte da sua vida amorosa?
Merda. Geralmente eu era melhor em evitar os interrogatórios dela. Eu me
virei para a geladeira.
— Já comeu? — perguntei a Amanda, tentando ignorar minha irmã.
— Me conte mais sobre a Harper, Amanda.
Eu gemi, internamente.
— Quero ser igual a ela quando for mais velha. Você a viu, né? —
Amanda tagarelou sobre o quão maravilhosa a Harper era, como era sábia a
respeito de garotos e como era ótimo o seu senso de moda. Parecia que a
Amanda a conhecia há anos, em vez de ter passado um tempo com ela em
duas ocasiões apenas.
— Então, jantar? — perguntei, esperando que elas mudassem de assunto.
— Posso comer a lasanha que está na geladeira? — perguntou Amanda,
apontando para a geladeira.
Parecia uma ótima ideia. Marion tinha até deixado uma salada também.
— Harper é ótima, não é? — perguntou Amanda.
Olhei para a minha irmã, que segurou meu olhar e perguntou à Amanda:
— Acha que ela gosta do seu pai?
— Scarlett — adverti.
— Ela tem namorado? — perguntou Scarlett, essa era uma questão que eu
tinha um pouco mais de interesse. Harper tinha falado de alguém para a
Amanda?
— Não, ela disse que está muito focada no trabalho — respondeu
Amanda. — Quando conversamos, ela praticamente concordou que os
garotos eram idiotas que deveriam ser evitados a todo custo.
Não pude conter uma risada, e acabei ganhando um olhar desconfiado da
minha irmã.
— Ela é uma mulher muito sensata.
Coloquei a salada no balcão.
— Pode pegar os pratos? — pedi a Amanda. Ela pulou da banqueta e
começou a arrumar os talheres e pratos enquanto eu servia a lasanha.
— Você sabe que só queremos que seja feliz — disse minha irmã,
abaixando a voz. — E pelo que me lembro, Harper é linda. — Ela bateu sua
taça na minha antes de tomar outro gole. — Amanda, obviamente, gosta dela.
Entreguei um prato de comida a ela, fingindo não estar escutando.
— Já pensou em convidá-la para sair?
Ignorando Scarlett, coloquei lasanha no meu prato e no de Amanda,
depois coloquei a louça de volta na geladeira. Minha irmã me importunava
para arrumar uma namorada quase tanto quanto Amanda, mas por que
estavam obcecadas pela Harper? Quem tinha que estar era eu. Quando voltei
para o balcão, Amanda e Scarlett estavam me encarando como se esperassem
que eu dissesse alguma coisa.
— O quê? — perguntei, sentando-me na banqueta ao lado delas e
pegando uma garfada de comida.
— Já pensou em convidar Harper para sair, pai? — perguntou Amanda,
como se eu fosse a pessoa mais burra com quem já precisou lidar.
Engoli e coloquei um pouco de salada no meu prato.
— O que está acontecendo com vocês duas? Eu já disse, Harper trabalha
pra mim. Que obsessão é essa por ela?
— Eu gosto dela. — Amanda deu de ombros.
Scarlett sorriu.
— E isso deveria ser razão suficiente. Por que não a leva para jantar? O
que uma noite poderia prejudicar?
Mal sabiam que tentar limitar o tempo com a Harper em apenas uma noite
seria impossível. Quaisquer que fossem os limites que coloquei com ela,
foram derrubados e superados. Nós nunca estivemos em Las Vegas. Bem, eu
não consegui de qualquer maneira. Mesmo aqui, com a minha irmã e filha,
uma situação que sempre foi muito consumidora, fiquei me perguntando o
que Harper estava fazendo, com quem estava passando o tempo. Ela sentia
igual? E se teve a mesma sensação, o que aconteceria? Viria para
Connecticut? Conheceria a minha família?
Eu queria que ela conhecesse?
— Acha que eu deveria namorar, hein? — perguntei. Scarlett estava certa,
era bom que Amanda gostava da Harper. Se minha filha estava de acordo
com isso, talvez eu devesse convidar Harper para sair. Oficialmente.
Amanda bateu na minha cabeça com o punho.
— Vamos, pai, duh. Só venho dizendo isso a minha vida toda.
— Tudo bem — respondi.
— O que “tudo bem” significa? — perguntou Amanda.
— Significa: por favor, não fale com a boca cheia — eu disse, olhando
para a minha filha.
Ela riu e engoliu.
— Desculpa. Mas o que significa “tudo bem”?
— Significa: tudo bem, vou pensar em convidá-la para sair. — A situação
com Harper parecia um quebra-cabeça com muitas peças. Harper trabalhar
para mim, complicou as coisas, e o pai ainda era o fundador de JD Stanley.
Nós também morávamos no mesmo prédio. Nunca tinha me envolvido com
alguém antes – eu estava fadado a estragar tudo. Havia muitas desvantagens.
Sair com uma das amigas de Scarlett provavelmente seria menos complicado.
Haveria menos choques posteriores se não desse certo.
Mas não seria a Harper.
— Vai pensar? — gritou Amanda. — Isso significa que ela pode vir
ajudar a me arrumar para o baile? Posso ligar agora pra ela e perguntar?
— Eu disse que pensaria em convidá-la para jantar, não contratá-la pra
fazer sua maquiagem. Jesus.
Amanda fez uma pausa, o que significava que estava pensando, e que só
poderia ser ruim.
— Você podia fazer o jantar pra ela aqui mesmo. Depois que eu sair para
o baile.
Podia. Seria bom ver Harper em Connecticut. Não foi a pior ideia que
Amanda já teve.
— Vou pensar no assunto — eu disse e Amanda gritou novamente.
Olhei para Scarlett, que sorriu para mim.
— Que foi? — perguntei a ela.
Ela deu de ombros.
— Nada.
Amanda abandonou seu prato de comida e foi para a sala, sem dúvida,
procurar seu celular.
— Posso ligar agora pra ela? Ver se estará desocupada? Vai ser muito
divertido. Será a melhor noite de todos os tempos!
— Você precisa diminuir suas expectativas — eu disse à minha filha. —
E prepare-se para o fato de ela poder dizer não.
Ela parou e virou para me encarar.
— E daí se ela me disser não? Você sempre me falou que não aceita não
como resposta.
Não podia discutir com isso. Estava acostumado a conseguir o que queria.
E agora, eu queria a Harper.
CAPÍTULO TREZE

E u não me lembrava de já ter ficado tão nervosa assim antes.


Ensaiei e me preparei para a apresentação da Goldman, e trinta
minutos atrás eu estava me sentindo bastante confiante. Mas à
medida que a reunião se aproximava, meu coração começou a acelerar como
se estivesse correndo sobre brasas.
— Você vai conseguir responder qualquer pergunta sobre o processo de
pesquisa? — perguntou Max.
Assenti com a cabeça, remexendo na barra da saia enquanto estávamos no
táxi a caminho de Midtown. Queria ter trazido um pouco de água. A garganta
estava seca e fechada. Serviriam água quando chegássemos, não?
Eram as perguntas que mais me preocupavam. Pratiquei excruciantemente
para esta apresentação. Podia até ser um aquecimento para a reunião com a
JD Stanley, mas ainda era importante. Deixaríamos de lucrar seis dígitos se
eu estragasse essa apresentação. Isso pode até ser uma gota no oceano de
Wall Street, mas para mim, era muito dinheiro.
A minha parte na apresentação eu dominava. Ao contrário de Max, que
parecia falar de improviso, eu tinha escrito um roteiro e o memorizei. Em
casa, ensaiei em voz alta repetidas vezes. Sabia exatamente quando pausar,
quando pedir às pessoas para virar a página na apresentação impressa e
quando dar destaque. Contanto que eu não me esquecesse das impressões,
ficaria tudo bem. Mexi no assoalho perto dos meus pés, alcançando minha
maleta executiva para me certificar de que os papéis estavam todos lá.
Estavam. Assim como nas últimas trinta e seis vezes que verifiquei.
— Não fique nervosa — disse Max, alisando a gravata. — Vai dar tudo
certo. O ensaio foi bom.
Como ele podia saber se essa reunião ia dar certo? Claro que ele tinha
visto o ensaio, mas quando se estava sob pressão, ninguém sabia como as
coisas acabariam. Superava o nervoso e a pressão por estar superpreparada,
mas não poderia me preparar para as perguntas, pelo menos não para todas.
— Pra você é fácil falar — repliquei.
— Estou falando sério — disse ele, colocando a mão no meu joelho.
Eu a afastei. A última coisa que precisava era ficar pensando nele pelado.
— Desculpe, preciso... — Não tinha certeza do que eu precisava.
Ele olhou pela janela.
— Tudo bem, já entendi. E se eu te pedir um favor? Isso ajudaria a
distrair sua cabeça? — perguntou.
Não respondi, insegura de tudo que não fosse o meu roteiro.
— Amanda quer que você a ajude a se arrumar para o baile. Eu disse que
te perguntaria.
Não era o que eu esperava, de jeito nenhum.
— Em Connecticut? — perguntei.
Ele assentiu.
— Não precisa ir, mas sei que a Amanda gostaria que você fosse. Ela
sugeriu que nós dois jantássemos juntos depois que ela saísse para o baile.
— Ela está tentando armar para nos juntar? — Dei risada.
— Acho que sim. Ela é uma grande fã sua. — Max sorriu. — É de
família, aparentemente.
Sorri. Max e eu não conversamos sobre o que sentíamos um pelo outro,
então o comentário dele foi inesperado. Quis tocá-lo, beijá-lo, mas me
contive. Precisava manter a cabeça no que estava em jogo.
— E eu gostaria que fosse — disse ele.
Eu gostava de Amanda, mas não sabia como me sentia sobre ela tentar
armar um encontro entre nós dois.
— É estranho sua filha tentar armar um encontro pra você.
Max inclinou a cabeça.
— Também acho. Mas ela continua falando sobre eu namorar e casar. Já
me acostumei.
— Você contou a ela que estamos...
— Fodendo feito coelhos? Curiosamente, não — respondeu, rindo.
Era o que estávamos fazendo? Apenas transando. Ainda não sabia. Eu
gostava dele, realmente gostava, mas ele era meu chefe, tinha uma filha e
toda essa vida secreta em Connecticut que eu nunca tinha ouvido falar.
— Acho que talvez ela tenha percebido que eu gosto de você — disse ele.
Um frio na barriga me distraiu da minha pulsação acelerada. — Sei que
minha irmã percebeu.
Ele gostava de mim? Isso significa que não era apenas sexo para ele?
Também tinha as minhas dúvidas se para mim era apenas isso.
— Scarlett? — perguntei.
— Sim, ela fez alguns comentários quando seu nome foi mencionado. —
Ele apoiou o braço na parte de trás do assento. — Olha, não se sinta
pressionada, mas eu gostaria que você fosse, mesmo que não seja por causa
desse baile... É só daqui a três semanas. Pode ser que já tenha compromisso.
— Não tenho.
Ele levantou uma sobrancelha para mim.
— Não tem? — perguntou. Fiz que não com a cabeça.
— Então? Isso significa que irá?
— Claro. — Sorri e o canto de sua boca ergueu. Dava para perceber que
nós dois queríamos nos tocar, nos beijar, mas havia algum tipo de campo de
força imaginário que existia quando estávamos vestidos com as roupas de
trabalho.
O táxi parou na Quinta Avenida. Merda, chegou a hora.

— Max King para Peter Jones — disse ele quando paramos na recepção.
Subindo no elevador, ele disse:
— Já fiz isso um milhão de vezes, Harper. Vou intervir se ficar
complicado.
Ele queria me tranquilizar, mas eu não queria que ele intervisse. Queria
arrasar aqui, assim a apresentação da JD Stanley seria fácil. Ou mais fácil. Eu
realmente queria que meu pai visse do que eu era capaz de fazer,
independente dele. Quem sabe então se perguntaria o que tinha perdido,
percebido que apenas jogar dinheiro em uma situação não significava
conhecer uma pessoa, influenciar ou inspirá-la.
— Estou bem — eu disse com um sorriso sincero e profissional. — Está
tudo bem.
Quando entramos na sala de reuniões, três homens se levantaram de suas
cadeiras do outro lado da mesa oval de mogno para nos cumprimentar. Todos
brancos, calvos, e ligeiramente acima do peso. Na verdade, eu podia ter
trocado qualquer parte deles e tinha certeza de que ninguém notaria.
Após as apresentações, ocupamos nossos assentos à mesa.
— Senhores, temos algumas informações impressas que gostaríamos de
passar a todos — disse Max enquanto eu distribuía três cópias da nossa
apresentação.
Nenhum deles fez movimento para pegar os papéis.
O homem de terno cinza colocou as mãos à frente dele.
— Por que não nos fala sobre a experiência que vocês têm na Ásia? A
maioria de seus concorrentes tem escritórios locais, e eu gostaria de entender
um pouco mais em como podem fornecer qualquer verdadeiro valor de suas
mesas daqui de Manhattan.
Merda. Merda. Merda. Merda. Merda.
Não estava indo como planejado. A apresentação era onde eu me sentia
segura.
Olhei de relance para Max, que parecia totalmente relaxado como se
tivesse acabado de perguntar o nome de solteira de sua mãe. Ele recostou-se
na cadeira e assentiu.
— Claro. Fico feliz em falar sobre nossas escolhas estratégicas em termos
de alcance internacional.
Ele continuou explicando que como suas despesas gerais eram poucas,
significava que podia contratar especialistas in loco, o que poderia mudar de
projeto para projeto, onde seus concorrentes precisavam usar as pessoas que
empregavam em seu escritório local, independentemente de serem ou não
qualificados.
— Você vê alguém em sua mesa em Kuala Lumpur ainda no mesmo
lugar, eles não conhecem pessoas e não descobrem o que está acontecendo de
fato. Minha rede de contatos são as pessoas que vivem a realidade cotidiana
das situações geopolíticas em muitos setores. — Max inclinou-se para frente
enquanto falava, olhando para seus espectadores como se fossem as pessoas
mais importantes do mundo, e como se tivesse informações valiosas para
dividir. Eles pareciam achá-lo tão interessante quanto eu.
Max rebateu cada uma das perguntas como se fosse Nadal voltando a
jogar, e à medida que a reunião avançava, os engravatados relaxaram
visivelmente, até riram de alguns comentários irônicos dele.
— Você acha que o real processo produz algo que não vimos a respeito,
antes? — O homem do meio batucou os dedos no braço da cadeira. —
Claramente você vê isso como parte da sua vantagem competitiva.
Max se virou para mim. Essa era a parte da apresentação que eu tinha me
preparado.
— Harper, gostaria de acrescentar algo aqui?
Levantei o canto da boca, tentando fingir um sorriso, querendo esconder o
fato de que não me lembrava de nada. Absolutamente nada.
— Sim, bem. — Folheei minha cópia da apresentação que tinha ficado
intocada. — Como disse, vemos que essa é uma vantagem competitiva
importante sobre os outros no mercado... — Olhei para cima e vi três pares de
olhos focados em mim. Peguei meu copo de água e tomei um gole. Minha
cabeça deu branco. Já passei por isso centenas de vezes, mas precisava de um
pouco de tempo. — Mas gostamos de concluir as coisas — soltei. Esse era
um dos meus pontos-chave, não era? Não sabia o que estava dizendo.
Comecei a folhear a apresentação freneticamente. — Eu... Se eu pudesse
apenas...
Max colocou a mão no meu antebraço.
— Harper está certa. Uma das principais coisas que nos diferencia dos
outros no mercado são as conclusões que podemos extrair. — Várias vezes
Max parou e se virou para mim, dando a oportunidade para eu intervir e falar
algo se eu fosse capaz de pensar em uma única coisa sequer.
Eventualmente eu me desliguei e afundei na cadeira.
Foi-me dada essa enorme oportunidade, e eu acabei com ela, totalmente.
Mas que droga estava acontecendo comigo? Eu estava bem preparada. Não
poderia estar mais. Será que subconscientemente achei que não merecia estar
aqui? Os comentários do meu pai na semana passada tinham se aprofundado
mais do que imaginei? Estava tentando tanto provar para ele que era digna
desse trabalho, mas acho que nem eu realmente acreditava nisso.

Tentei apagar a terrível reunião na Goldman Sachs, mas o banho de


banheira não estava ajudando. Nem o óleo de banho de Jo Malone ou a tal
música suave penetrando pelo quarto. Estava tentando relaxar, me acalmar.
Nada estava funcionando. Tudo o que eu conseguia fazer era repensar na
desastrosa reunião daquela manhã, repetidamente.
Deslizei debaixo da água, mergulhando a cabeça inteira com a inútil
esperança de levar embora a vergonha.
Levantei a cabeça em busca de ar. Não, eu ainda queria morrer.
Max deve pensar que sou idiota.
Minha respiração parou com a forte batida na porta. Timing perfeito. Aqui
estava ele para me dizer isso. Bem, não precisava atender à porta. Eu o
ignorei.
— Harper, eu sei que está aí. Abra a porta.
Não devia ter colocado essa música. Saí da banheira e enrolei uma toalha
no corpo.
Max começou a bater na porta.
— Estou indo — gritei. Abri e imediatamente me virei, voltando para o
banheiro.
— Que bom ver você, também — murmurou. Deixei a toalha cair e voltei
para a banheira.
Pensei que ele fosse me seguir, mas ao invés disso, ouvi as portas do
armário da cozinha abrindo. O que ele estava fazendo?
Ele apareceu descalço, sem o paletó e a gravata, segurando duas taças de
vinho. Naquele instante, ele podia muito bem ter sido o homem perfeito.
— Você tem uma bunda durinha bem legal — eu disse. Ele sorriu. — E
eu peço desculpas por ter estragado tudo.
Ele me entregou uma taça, que eu aceitei agradecida. Claro que ele trouxe
a garrafa com ele – eu não tinha nada tão bom. O gosto era de algo que
custava o salário de um mês.
Max suspirou, fechou a porta do banheiro e começou a desabotoar a
camisa. Quando chegou ao último botão, tomou um gole de vinho e colocou a
taça ao lado da banheira, retirou o resto das roupas.
— O que está fazendo? — perguntei quando ele entrou na banheira.
Ele não respondeu, apenas sentou-se na outra extremidade, puxando
minhas pernas sobre as dele.
— Você gaguejou hoje — comentou, tomando um gole de vinho.
— Sim, obrigada, Capitão Óbvio. Se está aqui para fazer eu me sentir
pior, pode ir embora agora mesmo.
Ele agiu como se não tivesse me ouvido, acariciando a minha perna que
estava descansando em sua coxa.
— Conhece o Michael Jordan?
Agora ia falar sobre esportes? Maravilha. Era só o que me faltava.
Assenti.
— Maior jogador de basquete de todos os tempos, certo? Um vencedor
consumado.
— Er... Sim. — Onde diabos ele queria chegar com isso?
— Bem, algo que ele disse foi o melhor conselho de negócios que já
recebi. Era assim: “eu errei mais de nove mil arremessos na minha carreira e
perdi quase trezentos jogos”. — Ele acariciou minhas pernas, subindo e
descendo. — “Vinte e seis vezes me foi confiado para fazer o arremesso
decisivo da vitória do jogo e errei. Falhei repetidas vezes na vida. E é por isso
que eu tive sucesso”.
Ele pausou e nos encaramos.
— Todos nós fazemos besteiras, Harper. Todos nós gaguejamos. É assim
que a gente melhora.
Suspirei e deslizei as palmas das mãos sobre a superfície da água.
— Sim, bem, não sou uma jogadora de basquete — murmurei.
— Claro que você é. Nós todos somos. Não saiu do útero sabendo de
tudo. Quantas vezes você caiu, antes de aprender a andar? Não podemos
desistir quando fracassamos na primeira tentativa. — Ele pegou meu pé,
pressionando os polegares na sola. — O problema é que chega em um ponto
na vida que você não ferra com as coisas por um tempo. Fica craque em
passar nas provas, se forma, consegue um emprego. Tudo vai bem. Mas é
uma falsa sensação de segurança, porque se for aprender e crescer, fazer
merda é inevitável.
— Então se está dizendo que meu fiasco ia acontecer de qualquer
maneira, por que me levou na apresentação? — Tentei afastar minha perna
dele, mas ele a segurou firme.
— Posso ser bom, mas não sou vidente. Ninguém sabe quando irá
fracassar, só que vai, em algum momento.
A pressão no meu peito começou a aliviar. Ele estava certo. Claro que
estava.
— Mas eu odeio isso.
— Tenho certeza de que Michael Jordan odiou perder aqueles arremessos
decisivos.
Não comentei nada. Eu era nova e inexperiente e deixara transparecer.
— Harper, é por isso que eu quis que você fizesse a apresentação da
Goldman. Não queria que gaguejasse na frente do seu pai.
Ele realmente estava tentando me proteger? Carinho por ele se espalhou
pelo meu corpo. Não estava acostumada a ter alguém me protegendo de
maneira tão óbvia. Não de um homem, pelo menos. E eu gostei. Mais do que
gostei.
Puxei meu pé de suas mãos e me sentei em seu colo com uma perna de
cada lado.
— Você sempre diz a coisa certa.
Ele deu risada.
— Acho que minha filha discordaria.
Abracei seu pescoço e o beijei brevemente na mandíbula.
— Você fica sexy molhado — eu disse.
— Você é sexy o tempo todo — respondeu ele.
— Exatamente a coisa certa — sussurrei e pressionei os lábios nos dele.
Sua língua tocou a minha.
Ele se mexeu, me afastando.
— Vem. Vamos sair. Eu quero te foder sem ser interrompido pelos
vizinhos reclamando da água pingando do teto.
Bem, eu também não podia argumentar com essa lógica.
Ele me segurou firme enquanto saíamos do banheiro e me empurrou para
a cama, caindo ao meu lado. Abriu a minha toalha como se estivesse me
inspecionando em busca de pistas, seus olhos passando pelo meu corpo nu.
— Você é linda — disse ele, estreitando os olhos ao dizer isso, como se
não conseguisse acreditar.
Uma onda de pânico me atingiu bem no peito quando passei os dedos pelo
cabelo dele. Não conseguia imaginar não ter isso, não tê-lo, não conversar
com ele, não beijá-lo, não transar com ele. O que eu faria quando tudo
acabasse?
— Mal posso esperar para você ir a Connecticut — disse ele. — Quero ter
você na minha cama para mudar um pouco. — Ele baixou a cabeça e circulou
um dos mamilos com a língua.
O aperto na minha barriga afugentou o pânico e eu virei o quadril de lado,
enroscando as pernas com as dele. Sua toalha abriu e eu segurei seu pau duro
e pesado. Estremeci quando comecei a bombear o punho para cima e para
baixo. Ele sibilou por entre os dentes, jogando a cabeça para trás.
— Fiquei pensando nas suas mãos o meu pau o dia todo — disse ele. —
Você é uma tremenda distração.
— E enervante, lembra?
Ele tocou a minha boceta e eu empurrei os quadris para encontrar seus
dedos, sempre ávida por seu toque.
— Isso é parte da distração, parte da atração. — Seus dedos mergulharam
dentro de mim, o polegar pressionando contra o clitóris, a decepção e a
vergonha daquele dia se dissolveram sob o seu toque.
— Você pensa em mim? — perguntou, bombeando lentamente em
minhas mãos. — Pensa nisso? — Raspou os dentes no meu ombro, então
mordeu, fazendo-me gemer.
— O tempo todo. — Era verdade. A única maneira de sobreviver no
escritório era evitá-lo, mas era como tentar escapar da gravidade. Minha
atração por ele era inevitável.
Soltei seu pênis e ele começou a deslizá-lo sobre o meu sexo, provocando,
prometendo. Alcancei a mesa de cabeceira atrás de mim, mas ele foi mais
rápido na busca do preservativo.
— Preciso estar dentro de você agora — sussurrou. — Passei o dia todo te
querendo. — Ele parou de se mexer e eu choraminguei. — Eu sei, Harper,
preciso disso, também.
Nunca fui sexualmente tão vulnerável com um homem, nunca ofereci
tanto de mim. Mas com ele não foi uma escolha; era obrigatório. Não havia
outro jeito.
Ele enfiou as palmas das mãos debaixo da minha bunda e me puxou em
direção a ele conforme se sentava sobre as pernas dobradas, o calor de seus
olhos substituindo o calor do corpo.
Seu olhar me perfurou quando entrou em mim. Não foi devagar, mas
também não se apressou, apenas se moveu com um intenso e confiante
impulso que quase me fez atingir o clímax – a sensação de ser totalmente
consumida por ele, mental e fisicamente, me levando ao limite, ameaçando
me derrubar no precipício.
— Max! — gritei.
— Estou aqui. Fodendo você, precisando de você. Te possuindo.
Ele estava certo. Max realmente me possuiu.
Levantei os joelhos e ele rosnou.
— Vou te comer na minha mesa um dia enquanto você olha Manhattan,
com a saia em volta da cintura e essa bunda empinada no ar. — Ele empurrou
de novo. — Quero você na minha cama em Connecticut, nas escadas, contra
a parede do saguão desse apartamento. Quero você em todos os táxis que
dividirmos. Nunca quis ninguém assim.
Suas palavras passaram por mim como o sol, aquecendo minha pele,
tirando meu cérebro das sombras.
Eu o queria tanto que era quase assustador. Antes que o medo pudesse se
apoderar de mim, o prazer deixou minha barriga e desceu pelas pernas e
braços.
— Max... — sussurrei, cravando as unhas em sua pele.
— Eu sei. Eu sei. Eu sei. — Ele me conhecia, entendia tudo.
Naquele momento a gente se uniu, se conectou – nós éramos inseparáveis.
CAPÍTULO QUATORZE

— B om dia — eu disse quando passei pela mesa de Donna. Ela


olhou para mim com desconfiança, provavelmente porque eu
estava sorrindo.
— Você está bem? — perguntou da porta enquanto eu tirava o paletó.
Eu olhei para ela, ainda sorrindo.
— Estou ótimo, como você está? — Ontem à noite com a Harper tinha
sido maravilhoso. Sexo sempre foi uma parte importante da minha rotina, da
minha vida, mas com Harper havia um nível de conexão que nunca tive com
ninguém. Talvez tenha sido essa a razão pela qual minha família sempre me
incomodava para encontrar uma namorada. Talvez tenham percebido que
relacionamentos poderiam ser muito bons, que as coisas fossem fáceis assim
com alguém. Harper me fazia rir, me excitava e me deixava louco num
espaço de dez segundos. Nunca me cansava dela.
— Estou bem, obrigada. Um pouco preocupada que ladrões de corpos
tenham se apoderado do meu chefe, mas, ei, estamos em Manhattan, então é
de se esperar.
— Você é muito nova para ser tão cínica, Donna — respondi.
— Tudo bem, agora você está realmente começando a me assustar. Posso
te trazer um pouco de café? Talvez isso te faça voltar ao normal — disse ela
ao mesmo tempo em que seu telefone tocou. — Já volto — avisou, depois
fechou a porta.
Sentei e girei a cadeira, ficando de frente para a cidade. Estava prestes a
conseguir a conta do JD Stanley, meu Everest pessoal. Amanda estava feliz e
saudável. Eu estava transando com a mulher mais linda que já vi na vida.
Não, estávamos fazendo mais do que sexo. Estávamos namorando? Girei de
volta para a mesa. Talvez quando ela fosse a Connecticut, deveríamos
conversar sobre o que estávamos fazendo. Eu queria que ela conhecesse
Scarlett e Violet apropriadamente – elas poderiam passar para tomar alguns
drinques nessa noite, mas eu a queria só para mim quando Amanda saísse
para o baile. Talvez fosse melhor deixar as apresentações para o café da
manhã no dia seguinte. Esperava que Harper planejasse passar a noite. Assim
que a tivesse na minha casa, sabia que seria difícil deixá-la ir embora.
Pressionei o botão do viva-voz, quando Donna ligou no meu telefone.
— Charles Jayne na linha um.
Confuso, peguei o telefone. Correu tudo bem no almoço. Eu tinha tudo o
que precisava e estávamos no caminho certo para arrasar na nossa
apresentação na semana que vem. Esperava que ele não cancelasse.
— Max King. Como posso ajudar?
— Quero conversar com você sobre a apresentação da próxima semana.
Merda, ele ia cancelar. Recostei-me na cadeira. Não deixaria que ele
percebesse minha agitação.
— Claro, senhor, estamos ansiosos para isso. Harper tem feito um
excelente trabalho. Tenho certeza de que ficará impressionado.
— É sobre o envolvimento da Harper que eu quero falar com você.
Apertei o telefone com mais força.
— Estou ouvindo — respondi, meu tom um pouco mais sucinto do que
antes.
— Gosto de manter a minha vida profissional separada da pessoal —
Charles começou a dizer. Essa era a minha norma de conduta antes de Harper
borrar as linhas entre elas. Ainda acreditava que era uma boa norma. Harper
era apenas alguém que eu não conseguia resistir. Mas Charles deu emprego a
seus filhos, então o que estava dizendo não fazia muito sentido.
— Ok — respondi.
— Acho que não é uma boa ideia Harper trabalhar na conta da JD
Stanley. Você me entende?
Empurrei a cadeira para longe da mesa.
— Não sei se entendo — respondi.
— Não quero que ninguém pense que a decisão que tomei com relação a
King & Associates tenha algo a ver com a Harper. Negócio é negócio.
— Mas quero te oferecer nosso melhor pessoal e...
— Fica inteiramente ao seu critério — ele me interrompeu. — Não estou
forçando você a fazer nada. Mas se vai apresentar sua empresa na próxima
semana, eu não quero Harper na equipe.
Merda. Bem, eu entendia. E me colocando no lugar dele, me sentiria da
mesma maneira. Não sei se Harper seria tão compreensiva. Mas ele era um
cliente em potencial, um que eu estava desesperado para conseguir.
— Claro, senhor, depende inteiramente de você, com qual equipe quer
trabalhar.
— Fico feliz que entenda. E ansioso para ouvir o que você tem a dizer.
Desliguei e afundei na cadeira. Será que agi certo? Como eu ia dizer isso
a Harper? Eu poderia desistir. Mas essa era a oportunidade que sempre
esperei e Harper sabia disso. Ela entenderia, ou não? Isso não era pessoal.
Era trabalho.
Porcaria. Levantei e peguei o paletó. Precisava de um pouco de ar fresco e
bom senso.
— Vou ao Joey tomar um café — avisei a Donna enquanto me dirigia
para os elevadores.
— Está tudo bem? — perguntou depois que eu passei. Não consegui
responder.
Harper entenderia. Na verdade, talvez ficasse aliviada. Podia ganhar um
pouco mais de tempo, aumentar a confiança depois de ter gaguejado na
apresentação para a Goldman.
Mas algo me dizia que ela não pensaria dessa forma. Pode ser negócio
para mim, mas era muito pessoal para ela.
Foi como se Charles Jayne tivesse atirado uma granada e fiquei me
preparando para a explosão, mas esperando que falhasse.
Três... Dois... Um.

— Pode chamar a Harper aqui? — pedi à Donna pelo viva-voz, limpando


a tela com o polegar.
— Claro.
Levantei, tirei o paletó e enrolei as mangas. O café e uma conversa com
Joey sobre beisebol me ajudaram a decidir que Harper seria dispensada da
equipe do JD Stanley e que faria isso o mais rápido possível. Como era um
assunto relacionado ao trabalho, eu deveria dizer a ela no escritório. Parte de
mim queria levar uma garrafa de vinho para o seu apartamento, tomar um
banho de banheira e contar isso quando já tivéssemos bebido uma taça. Dessa
forma, eu poderia abraçá-la se ficasse chateada. Mas Harper foi clara ao dizer
que não queria tratamento especial no trabalho.
— Oi — cumprimentou Harper ao aparecer na minha porta.
— Oi — respondi, então limpei a garganta. — Feche a porta e sente-se.
Ela franziu a testa e fez o que pedi.
Respirei fundo.
— Quero falar com você sobre a conta JD Stanley. — Suas mãos
apertaram os braços da cadeira. — Farei uma mudança e levarei Marvin
comigo para ser meu assistente na apresentação do JD Stanley.
Esperei pela explosão.
O olhar dela caiu para seu colo, depois subiu para encontrar o meu.
— É porque eu vacilei na reunião da Goldman? — perguntou.
Claro que era o que ela ia pensar. Essa era a minha deixa. Podia dizer que
precisávamos de alguém mais experiente. Não precisava contar o que seu pai
disse. Não precisava fazê-la sofrer.
— Como irei aprender com meus erros se não me der outra chance? —
Ela se inclinou um pouco para frente. — Estou preparada desta vez. Eu
realmente conheço o material, até mesmo as suas partes.
Ela estava pronta. Eu sabia que estava pela forma como falava confiante
em nossas reuniões matinais, que nem o fracasso com a Goldman a minou,
pelo contrário, a alimentou.
Entrelacei as mãos sobre a mesa. Eu devia mentir para ela? Seria capaz
de fazer isso?
Gostava de conseguir o que queria. E eu queria fazer a apresentação de
JD Stanley sem a Harper e que ela estivesse de acordo. Mas não podia ser
desonesto. Eu não era esse tipo de homem.
— Eu sei que está preparada. Não é isso.
— Estou falando sério, Max. Posso te mostrar. Confia em mim. Posso
fazer a apresentação para a empresa inteira, até mesmo para as pessoas na rua
se for preciso. Eu consigo fazer isso.
Porra, ia ser mais difícil do que eu esperava. Ela estava tão comprometida
com esta apresentação. Mesmo que suas razões não fossem todas
profissionais, a atitude dela era. Eu assenti.
— Eu sei que não existe pessoa melhor para o trabalho.
— Então por quê? — perguntou, batendo as mãos nos braços da cadeira.
— Seu pai me ligou esta manhã. — Ela chegou mais para frente e eu
respirei fundo. — Ele disse que não quer você na apresentação.
Ela cedeu na cadeira, olhando para a mesa, com os olhos cheios de
lágrimas. Nunca tinha experimentado nada igual. Na empresa tudo era tão
claro para mim. Em casa é que as coisas eram cinza e eu sempre questionava
minhas decisões. Dizer isso a Harper despertou um lado diferente em mim.
Eu queria ir até ela e confortá-la.
— Ele disse por quê? — perguntou.
— Só que não queria misturar pessoal e profissional. O que eu posso
entender.
Ela se levantou.
— Ele emprega três filhos homens. Isso não é misturar profissional com
pessoal?
Esfreguei as mãos. Como eu poderia remediar essa situação?
— Entendo que é frustrante.
— Frustrante? — gritou ela. — Está de brincadeira comigo? O cara é um
idiota. Ele está tentando acabar com a minha carreira.
Não tive a impressão de que ele estava sendo nada além de egoísta.
— Talvez ele se sinta um pouco desconfortável porque vocês não se
falam. — Acho que me sentiria da mesma forma. — Tenho certeza de que ele
não estava tentando te humilhar.
Harper colocou as mãos na mesa e se inclinou na minha direção.
— E então você apenas disse: “sim, senhor, obrigado, senhor? Quem se
importa se eu ferrar com a garota que estive comendo nas últimas semanas.
Quem liga para os sentimentos dela? Contanto que eu ainda tenha uma
chance de negócios com você, farei qualquer coisa que disser”. Foi assim que
aconteceu?
Seu tom escorria veneno de verdade e ela passou dos limites. Agi de
acordo com os melhores interesses da King & Associates e se ela estivesse
sendo racional, enxergaria isso.
— Não, eu disse que achava que você era a melhor pessoa para o
trabalho. — Ela achou que eu ia discutir com ele? Em última análise, ele era
o cliente. Ele escolhia a equipe.
Ela balançou a cabeça.
— E mesmo assim disse a ele que me trocaria?
— Harper, ele é o cliente. Pode escolher quem quer trabalhando para ele.
Ela se mexeu, colocando a mão no quadril.
— Adivinha, babaca? Você também pode escolher para quem trabalha.
Não consegue enxergar isso? Ele estava te testando. Vendo se caso ele te
pedisse para pular, se você perguntaria de qual altura. Ele é um desgraçado
que está determinado a infernizar minha vida. — Ela cobriu o rosto com as
mãos e meu coração apertou. Porra, odiava o que ela estava fazendo comigo.
Não fiz nada de errado. A última coisa que eu queria fazer era aborrecê-la.
Queria desesperadamente ir até ela para consolá-la, mas o assunto aqui era o
trabalho.
Ela alisou a saia e aprumou os ombros.
— Ele te pediu para escolher entre ele e eu — disse ela com a voz calma.
— E você tomou sua decisão. Então, boa sorte. — Ela virou e se dirigiu para
a porta.
Queria correr atrás dela, fazê-la entender, mas ela saiu antes que eu
tivesse chance de levantar. A última coisa que queria era fazer uma cena e
piorar a situação. Sairia mais cedo, mas em vez de voltar para Connecticut
hoje à noite, eu iria até a casa dela para conversarmos.
CAPÍTULO QUINZE

S aí do trabalho e fui direto para o apartamento de Grace, o rosto


todo borrado pelas lágrimas. No metrô, tentei entender por que eu
estava chateada e com quem estava mais –meu pai ou Max. Não
consegui chegar a nenhuma conclusão.
— Acha que ele sabia? — perguntou Grace.
Sentei no sofá cinza de cinco mil dólares dela, no Brooklyn, alisando o
braço de veludo, o que me proporcionou um ligeiro conforto. Grace me
entregou uma taça enorme de vinho tinto e sentou.
— O quê? Que meu pai estava testando ele? — Era isso? Um teste? Ou
uma demonstração de poder?
Quando saí da sala do Max, voltei para a minha mesa, imprimi minha
carta de demissão, coloquei em um envelope e deixei com a Donna para
entregar a ele. Não tinha muitos itens pessoais no escritório, portanto
consegui colocar tudo na minha pasta.
Chorei o caminho todo até o Brooklyn.
— Não, você acha que seu pai sabia que Max King estava transando com
a filha dele?
Levantei a cabeça.
— Mas como ele ia saber? E, de qualquer maneira, o que ele tem a ver
com isso?
Ela deu de ombros.
— Não sei. Pais protegem as filhas.
Bufei.
— É, mas os doadores de esperma, não. — Sabia que Charles Jayne não
tinha qualquer instinto paternal na vida.
— Só acho um pouco estranho que ele tenha aceitado o convite para
almoçar e depois não quis que você trabalhasse na equipe.
Muito do que Charles Jayne fez não fazia sentido. Ele devia saber que JD
Stanley era uma grande conta, e se pediu que eu fosse dispensada da equipe,
ficaria mal para mim.
— Ele só não me quer perto dele. — Cravei a unha no veludo.
Grace tomou um gole de vinho.
— Talvez.
— Talvez? — perguntei.
— É só que parece que não estamos vendo a situação por inteiro.
Jesus, desde quando Grace dava o benefício da dúvida ao meu pai? Ela
sabia que babaca ele tinha sido ao longo dos anos.
— Está ficando do lado dele?
Ela girou a haste da taça entre os dedos.
— Não, de jeito nenhum. Não existe qualquer lado pra mim, exceto o seu.
Só estou dizendo que as coisas não batem.
Bebi um pouco de vinho, desesperada pelo líquido relaxante fazer sua
mágica.
— Tudo bem, seu pai é um idiota. Vamos partir desse princípio. E, por
qualquer que seja o motivo, não quis que você trabalhasse na conta dele. —
Ela enrolou os lábios para dentro da boca como se estivesse tentando se
segurar para não dizer o que queria. — Estou preocupada com o quanto está
incomodada por causa disso. E que se demitiu de um trabalho que se esforçou
tanto para conseguir. Você não está deixando seu pai te controlar?
Quando surgiu a apresentação de JD Stanley, achei que seria uma
oportunidade para finalmente me libertar do meu pai.
— É só que pensei que desta vez a vantagem seria minha. Teria a chance
de esfregar isso na cara dele e mostrar-lhe o que estava perdendo. — Devia
ter imaginado. Nunca tive a vantagem no que dizia a respeito do meu pai.
— Estou supondo que ele sabia disso e não queria ver. A maioria dos
idiotas não quer ser lembrada de sua idiotice. Ou eles reinventam a realidade
para não serem idiotas, ou evitam qualquer situação em que possam ser
lembrados. — Grace falava por experiência, e de repente, me senti mal por
estar aqui e despejar tudo isso nela. Seu pai havia traído a mãe dela mais de
uma vez, e sempre dizia que depois era como se ele tivesse usado um cinzel
imaginário e passado pelas memórias das pessoas, talhando a história
novamente. — Seu pai é um homem poderoso e homens poderosos não
gostam de estar errados.
— Mas ele concordou com o almoço. — Limpei uma gota inexistente de
vinho do lado de fora da taça. Por que ele concordou em almoçar sabendo
que eu estaria lá e depois teve problema por eu trabalhar na equipe?
Grace assentiu.
— Provavelmente ele estava curioso, queria ver se o perdoou.
O almoço foi bom. Educado e profissional. Será que esperava mesmo
algo mais?
— E provavelmente não pensou em como você se sentiria a respeito —
continuou Grace. — Tenho certeza de que ele é como a maioria dos homens,
concentrado demais no próprio umbigo para se preocupar com mais alguém.
Egoísta era exatamente a palavra que definia meu pai. Quando eu era
criança e ele não aparecia quando combinava, eu fingia para a minha mãe que
não era grande coisa. Lembro nitidamente que ele a fazia chorar muito e que
ela chorava ainda mais quando eu ficava decepcionada. Então, aprendi cedo a
mascarar minha dor e aborrecimento. Mas era logo substituído por raiva e
frustração, o que eu não era tão boa assim em disfarçar.
Ergui o olhar e vi Grace inclinando a garrada para colocar vinho na minha
taça.
— Ficaria surpresa se ele estivesse tentando sabotar sua carreira — disse
ela enquanto enchia a taça. — Tenho certeza de que ele poderia ter te
impedido de conseguir um emprego em Wall Street facilmente, se ele
realmente quisesse. Ele pediu a Max que demitisse você?
Fiz que não com a cabeça.
— Acho que não. Apenas disse que não queria que eu trabalhasse na
conta porque queria manter o pessoal separado do profissional.
Talvez Grace estivesse certa e tenha sido menos a respeito do meu pai
tentar acabar comigo e mais sobre ele se proteger. Meus olhos encheram de
lágrimas. Cobri o rosto com a mão livre numa espécie de esforço inútil de
impedi-las de cair.
Se eu não estivesse tão envergonhada pelo fato de meu pai não querer que
eu trabalhasse na conta, assim como não me quis quando eu nasci, as coisas
poderiam ser diferentes. Um cliente qualquer solicitar uma mudança na
equipe teria sido doloroso, mas eu teria superado. Meu pai pedir que eu não
trabalhasse em sua conta se tivéssemos uma boa relação talvez tenha sido
suportável, mas foi a parte com Max que tornou tudo tão humilhante. De
alguma forma, ter contado a ele sobre meu pai, ter confiado nele, fez com que
sua decisão de aceitar os desejos do meu pai sem hesitar, parecesse para mim,
como se uma faca enferrujada aprofundasse ainda mais o corte.
Quis trabalhar para Max King desde que me entendia por gente e destruí
tudo ao dormir com ele.
— É uma enorme traição — consegui dizer com a voz embargada.
As almofadas ao meu lado afundaram e me mexi ao mesmo tempo em que
Grace pegou a taça da minha mão. Ela sorriu.
— Desculpa. Não posso deixar você derramar vinho tinto nesse sofá
lindo. Ponha tudo para fora, chore à vontade, mas não segure o vinho
enquanto estiver fazendo isso.
Eu ri, sua preocupação pelo estofado me fez escapar um pouco da tristeza.
— Você está certa. Este sofá é bom demais para se estragado por causa de
um homem. Você finge que não gosta das coisas boas da vida, minha amiga,
mas não consegue evitar gerações de educação.
Ela tomou um gole do vinho que acabara de tirar de mim.
— Eu sei. Por mais que eu tente, é mais forte do que eu. Tenho um senhor
bom gosto.
Dei risada.
— Tem mesmo. Por mais que lute contra, sempre será a princesa da Park
Avenue.
— Viu? Pelo menos posso fazê-la rir com as minhas ridículas escolhas de
vida. — Grace virou, e se sentou de pernas cruzadas à minha frente, me
dando total atenção. — Falando de escolhas ridículas, me fale sobre o lance
da demissão.
— Max tinha uma decisão a tomar. Sabia como eu me sentia com relação
ao meu pai e não hesitou em escolhê-lo em vez de mim. — Balancei a
cabeça. — Se ele fosse somente o meu chefe, se eu não tivesse contado como
meu pai me abandonou, talvez eu conseguisse engolir de ser dispensada da
equipe que trabalharia na conta do JD Stanley. Mas o jeito que ele tão
facilmente escolheu os negócios em vez de mim, foi demais pra suportar. —
Era como se ele tivesse estabelecido um limite e dito que meus sentimentos
nunca seriam mais importantes do que o trabalho.
— Não sabia que a relação de vocês estava tão séria — disse ela.
— Não está séria. — Talvez se tenha se tornado sem que eu me desse
conta.
— Mas sério suficiente já que você quis que ele tivesse escolhido ficar do
seu lado, e não do trabalho — comentou. Não respondi. Não sabia o que
dizer. — O que ele deu como justificativa? — perguntou Grace.
— Disse apenas que o cliente pode escolher a equipe.
Grace estremeceu.
— Não se atreva a dizer que ele está certo. — Ele estava errado, ou não?
— Seria diferente se Max e eu não estivéssemos transando, mas estamos.
Não mais. Não sou apenas a funcionária dele. — Não sabia ao certo o que
éramos um para o outro e imaginei que já não importava mais. Mas ele me
devia alguma coisa. Algum tipo de lealdade. Não devia?
— Não sei se você teria ficado chateada desse jeito, a ponto de pedir
demissão, se era apenas sexo. Você diz que não é sério, mas parece que é,
vendo do seu ponto de vista. Sente alguma coisa por ele?
Afastei o cabelo do rosto como se isso fosse me ajudar a ver mais
claramente. Será que eu sentia algo por ele?
— Sinto que quero dar um soco na cara dele, isso conta? — perguntei
enquanto Grace esfregava minhas costas.
Mas não queria socar Max, não de verdade. Não estava com raiva. Eu me
sentia arrasada, como se tivesse levado um gancho de direita na barriga. Em
algum lugar ao longo do caminho, eu o deixei se aproximar, e gostava de
ficar com ele – me sentia feliz, e não só quando fazíamos sexo. Não
conseguia me lembrar de uma época em que isso tivesse acontecido de
verdade em relação aos meus outros relacionamentos. Meu pai fez um bom
trabalho para que eu crescesse desolada; as cicatrizes do nosso
relacionamento criaram uma barreira entre mim e os homens. Ninguém nunca
a tinha atravessado. Ninguém, exceto Max. Foi apenas sexo – sexo incrível –,
então em algum momento, conforme se revelava para mim, fui forçada a
fazer o mesmo. Ele fez eu me abrir e acabei me permitindo começar a sentir.
— Acho que talvez sinta mais por ele do que está admitindo pra você
mesma — disse Grace.
Claro que eu sentia algo por ele.
Max foi a única experiência com um homem onde não tive que descobrir
como ou quando terminaríamos antes mesmo de qualquer coisa começar.
Sabia que terminaria com meu namorado da faculdade quando nos
formássemos. Sabia que o homem com quem eu saía ocasionalmente em
Berkeley nunca deixaria o Norte da Califórnia e que eu nunca ficaria. Sempre
vi o fim antes que tudo começasse. E aquilo me convinha. Significava não me
apegar ou ter falsas expectativas. Com Max eu nunca vi o final, por isso me
senti enganada por todo tempo que poderíamos ter tido juntos no futuro.
Minhas expectativas sobre ele e nós, eram muito altas porque não tinham
limites.
Eu queria desesperadamente que Max tivesse dito ao meu pai que se ele
não me queria trabalhando na equipe, então não aceitaria o trabalho. Enfim,
eu queria que um homem me colocasse em primeiro lugar. Antes do dinheiro,
antes dos negócios. Queria que Max se impusesse e me reivindicasse como
meu pai nunca fez.
Compreendi que agora meu coração estava fechado para qualquer futuro
feliz. Desativado. Todo homem que viesse depois disso sempre teria limites.

Estava no closet da Grace, cercada pelo guarda-roupa de grife que eu


estava furtando desde que cheguei, há pouco mais de uma semana. Talvez
não usasse aquelas roupas com frequência, mas com certeza tinha muitas
peças bonitas. Não podia evitar meu retorno a Manhattan por mais tempo.
Imaginei que não cruzaria com Max se eu voltasse num sábado. Precisava
voltar para o meu apartamento.
— Isso é Gucci! — gritei do seu quarto, tirando uma saia lápis preta.
— Jesus, dá pra ouvir a sua voz em três quarteirões. Acho que prefiro
você muda.
Não tive muito o que falar nos primeiros dias de estadia na casa da Grace.
Era como se a dor de me afastar da minha vida tivesse roubado as minhas
palavras. Mas depois do terceiro dia na cama, Grace literalmente me
empurrou para a sala e me forçou a assistir tv e fazer comentários sobre
episódios de “Real Housewives”. As coisas melhoraram um pouco depois
disso e consegui conter a tristeza. Mas ainda estava lá, à espreita, esperando
que eu ficasse sozinha para poder assumir o controle.
— Sim, essa saia fica ótima com a blusa cinza de alcinhas de seda da ysl.
— Não posso usar nada da Gucci só para colocar algumas coisas numa
mala e depois arrastá-la pelo metrô. — Não sabia como pagaria o aluguel,
mas algo me impediu de notificar o dono do meu apartamento. Esperei por
tanto tempo para morar em Manhattan e trabalhar na King & Associates – só
que eu ainda não estava pronta para deixar tudo para trás. Relutantemente,
coloquei a saia de volta no armário.
Grace apareceu na porta do closet e encostou-se ao batente da porta.
— Você me ama, certo?
Virei a cabeça rapidamente para ela. Quando Grace começava uma frase
com aquele prefácio, sabia que o que viria a seguir não era algo que eu queria
ouvir.
Voltei para as prateleiras de roupas.
— Não sei, depende do que vai dizer — respondi.
— Bem, estava pensando que enquanto estiver em Manhattan, talvez
fosse querer ligar para seu pai.
Eu me virei para olhá-la, completamente confusa.
— E por que eu ia querer fazer isso?
— Para conseguir algumas respostas. Ouvir o que ele tem a dizer.
— Por que eu daria a ele um pouco que fosse do meu tempo ou energia?
— Só porque Grace parecia estar reconsiderando seu relacionamento com os
pais dela e o dinheiro deles, não significava que eu tinha que fazer o mesmo.
— Honestamente? — perguntou. — Porque acho que gasta tempo e
energia demais com ele. Tudo o que faz parece ser uma reação ao seu pai.
Olhei através da pilha de camisetas que estava verificando.
— Como pode dizer isso? Não peguei nada dele desde a faculdade.
— Você acha que acabar trabalhando na King & Associates, no único
lugar da cidade que não presta serviços para o seu pai, não teve nada a ver
com ele? Você saiu de um emprego que supostamente amava por causa dele.
— Não saí de lá por causa dele, foi por causa do Max — respondi. —
Você entendeu tudo errado.
Ela caminhou até mim e parou na minha frente, colocando as mãos nos
meus ombros.
— Foi sobre uma decisão de negócios que Max fez a respeito da JD
Stanley – a empresa do seu pai. Apesar do seu desejo de evitá-lo, ele está por
toda parte em sua vida, pressionando você de uma maneira ou de outra, seja
para evitá-lo ou lhe mostrar seus erros. — Ela soltou as mãos e abriu a palma
das mãos. — Não está cansada disso?
Fiquei espantada. Era isso o que ela pensava? Caí de joelhos, e me sentei
com as pernas cruzadas.
— Você acha que eu tenho algum tipo de obsessão distorcida pelo meu
pai?
Grace sentou-se comigo no chão.
— Olha, você não é obcecada do tipo... Kathy Bates, no filme Louca
Obsessão, mas sim, acho que o deixou consumir muito da sua vida e
energia... — Grace pausou. — E sua felicidade.
Olhei para ela. Queria ver incerteza em seus olhos, mas não havia
nenhuma. E eu sabia que ela me amava e queria o melhor para mim.
— Mas ele abandonou a mim e a minha mãe. Trepou com todas as
mulheres na região dos três Estados mais próximos. E todos os filhos dele
trabalham...
— Olha, não estou dizendo que está errada. Estou dizendo para que ponha
um ponto final nessa situação, assim poderá deixar isso para trás de uma vez
por todas. Não deixe que isso domine sua vida. Você é adulta.
— Simples assim e... Livre estou? — Ele sempre seria meu pai, e sempre
seria um idiota. Não acho que isso mudaria.
— Bem, claramente não é tão fácil, não estamos em um musical da
Disney, mas talvez deva conversar com ele. Diga como se sente. Acho que
não tem nada a perder. Isso está arruinando a sua vida.
Bufei.
— Isso é um pouco dramático, não é?
Ela deu de ombros.
— Talvez eu tenha entendido errado, mas você está conversando comigo
no chão do meu closet. — Ela colocou as mãos nos quadris. — Está
convencida de que seu pai está tentando acabar com você. Bem, você o está
deixando fazer isso.
Deitei no chão, precisando pensar. Será que estava deixando meu pai
controlar a minha vida? Por não aceitar o dinheiro dele, pensei que estava
fazendo o oposto. E me dei bem na carreira sem ele. Eu me demiti porque
Max tinha colocado o trabalho em primeiro lugar. Meu pai não foi o
problema... Exceto que estávamos falando de um negócio com a JD Stanley.
— Não estou dizendo que seu pai não é um babaca. Ele não vai ganhar o
prêmio de pai do ano tão cedo. E entendo que quando era criança, ele te
decepcionou repetidamente. — Ele me decepcionou. — E não estou dizendo
que vocês precisam ter algum tipo de relacionamento idílico. Apenas aceite a
realidade da situação e toque com a sua vida. Acho que uma conversa com
ele pode ajudar.
Ela estava certa. Desde que me mudei para Nova York, meus
pensamentos sobre meu pai se reuniram como ondas em direção à praia.
Acontece que elas sempre voltavam à margem.
Minha obsessão com a King & Associates tinha sido genuinamente sobre
Max King. Não teve nada a ver com o meu pai ou o fato de Max não ter
trabalhado com JD Stanley. Mas parte de mim sempre soube que fazer
faculdade de administração era provar que ele estava perdendo por não me
conhecer, e que eu era tão boa quanto meus meios-irmãos. E Grace estava
certa, parte do motivo pelo qual me demiti foi que meu pai não me queria –
as feridas que ele formou estavam sendo pressionadas por outra pessoa dessa
vez.
Meu desapontamento pelo meu pai não ia a lugar nenhum. Flutuava ao
meu redor como um mau cheiro, me influenciando tão sutilmente que não
percebi seu domínio sobre mim. Grace estava certa; ele tinha muito poder
sobre o meu aqui e agora.
— Você tem que lidar com a raiz da questão — disse Grace. — Minha
avó sempre dizia: “Se você simplesmente cortar as folhas das ervas daninhas,
elas voltarão”. Até agora, ela nunca errou.
Talvez se eu colocasse tudo para fora – despejasse minha fúria nele –
seria como expelir o veneno, e eu estaria livre. Não tinha nada a perder o
confrontando, dizendo a ele como eu estava me sentindo – como ele me fez
sentir.
Levantei de uma vez e procurei por suas prateleiras de roupas.
— Qual delas é a blusa da ysl?

Mesmo que eu não tivesse dinheiro, nem emprego, e o valor da corrida


fosse algo que se aproximasse ao preço de um carro popular, aceitei a
sugestão de Grace e peguei um táxi para Manhattan. Pisei na calçada ao lado
da mansão do meu pai em East Upper Side, o calor quase insuportável.
Não tinha ideia se ele estava em casa. Mesmo se estivesse, poderia ter
companhia ou estar ocupado. Eu provavelmente deveria ter ligado antes, mas
não podia suportar a ideia de ele me dispensando, e eu tinha certeza de que
perderia a coragem se ele sugerisse outra hora.
Subi os degraus da entrada e toquei a campainha. Imediatamente ouvi
passos atrás da porta.
— Olá? — A governanta do meu pai olhou para mim.
— Oi, Miriam, meu pai está em casa?
— Harper? Santo Deus, menina, não te vejo há anos. — Ela me puxou
para dentro. — Você está magra demais. Posso trazer algo pra você comer? A
sopa que estou fazendo ainda demorará algumas horas pra ficar pronta, mas
assei frango ontem. Posso fazer um lanche pra você.
— Obrigada, mas estou bem. — Não esperava pela cordialidade, pela
acolhida, ser tratada como se fosse da família. — É bom te ver tão bem.
— Velha, querida, é como eu pareço, mas é o que sou. — Ela começou a
seguir pelo corredor, acenando para eu acompanhá-la. — Me deixe ligar para
o escritório dele.
Não consegui ouvir a reação do meu pai à minha chegada, mas a conversa
foi curta e não pareceu envolver nenhum encorajamento para me ver.
— Pode subir, querida. É no segundo andar, a primeira porta à direita.
Sorri e respirei fundo. Eu estava realmente fazendo isso.
Subindo as escadas, olhei para o topo. Meu pai estava lá, olhando para
baixo.
— Harper. Que bom ver você.
Ele agiu como se não fosse completamente ridículo eu estar aqui. Vim
nessa casa três, talvez quatro vezes em toda a minha vida, e nenhuma nos
últimos cinco anos.
— Obrigado por me receber — respondi. Não sabia bem como lidar com
a recepção.
— Mas é claro. Estou muito feliz. — Quando cheguei ao topo da escada,
ele me segurou pelos braços e me beijou no rosto. — Miriam lhe ofereceu
algo para comer ou beber?
Eu ri, apesar de tudo.
— Um jantar inteiro de frango assado se eu quisesse.
— Bom, muito bom. Entre.
Entramos em seu escritório, uma sala toda em tons de azul pálido e
branco que me lembrou o oceano. Tinha passado por uma reforma desde a
última vez em que estive aqui. Sentei na cadeira em frente à sua mesa. Ele
sentou-se e depois levantou rapidamente.
— Desculpe, não deveríamos estar sentados com uma mesa entre nós
desse jeito. Podemos descer. Ou ir para o jardim. Não pensei direito.
Ele estava nervoso. Eu não. Raramente o via desnorteado – sempre agia
como se tudo estivesse acontecendo exatamente como planejara.
— Eu estou bem — disse, balançando a cabeça. — Aqui está bom.
Ele sentou novamente.
— Se você tem certeza. Miriam a mandou até aqui porque não estou tão
bom para descer as escadas desde que machuquei o joelho jogando tênis no
verão passado.
Não conseguia me lembrar do meu pai sendo tão franco, dividindo algo
tão pessoal comigo antes.
— Você está bem? — perguntei.
— Sim, sim, mas estou ficando mais velho e meu corpo não se recupera
mais tão rápido. — Ele recostou na cadeira. — De qualquer forma, é muito
bom te ver. — Ele assentiu como se estivesse tentando se convencer. — Nós
realmente não conseguimos conversar tanto quanto eu esperava no almoço.
Como você está? Está gostando de morar em Nova York?
Eu me senti como se tivesse ido ao teatro e, depois de ter voltado do
intervalo para o meu lugar, descoberto que estava assistindo a uma peça
completamente diferente. Meu pai falava comigo como se eu tivesse ficado
fora durante o verão, e não por toda a sua vida.
— Está tudo bem. — Retorci as mãos no colo. — Imagino que esteja se
perguntando por que estou aqui.
— Não culpo você pela King & Associates ter cancelado a nossa reunião,
se é o que pensa. Jamais deveria ter pedido para você ser substituída. Eu só
pensei que seria mais fácil se...
— O quê? — Mais fácil? Mais fácil para ele, talvez.
— Mas acabou tudo bem. Você está aqui.
A conversa não estava indo como eu tinha planejado. Presumi que faria as
perguntas, às quais ele responderia com meias-verdades e mentiras e eu o
confrontaria. Não tinha ideia do que estava acontecendo.
— Não estou entendendo o que está dizendo. A King & Associates
cancelou a reunião?
— Sim, o que está tudo bem. Temos excelentes recursos internos.
Por que o Max fez isso? A JD Stanley poderia tê-lo tornado
consideravelmente mais rico do que já era.
— Quando?
— Ontem. — Suas sobrancelhas franziram. — Você não sabia?
Pensamentos sobre Max cancelando a apresentação formaram um
redemoinho de culpa na barriga. Não era isso o que eu queria? Balancei a
cabeça. Precisava me concentrar no aqui e agora, não me distrair pensando no
Max.
— Posso te fazer uma pergunta?
Meu pai pareceu um pouco desconfortável, mas assentiu.
— Por que você não me ofereceu um emprego na JD Stanley?
Pronto. Perguntei. E mesmo que não conseguisse uma resposta, ainda
senti uma sensação de alívio por finalmente perguntar.
A boca do meu pai se abriu, mas não disse nada. Ele suspirou e encostou a
cabeça na cadeira. Por alguns segundos constrangedores ficamos em silêncio
até que ele finalmente disse:
— Olha, eu sei que não fui um bom pai.
Nunca esperei ouvir essas palavras. Meu estômago revirou e,
instintivamente, olhei em volta procurando por uma lata de lixo, procurando
algum lugar para vomitar. Abri uma porta e agora não tinha como fechá-la –
perdi o controle da situação e senti como se estivesse despencando em um
buraco de coelho.
— Nunca acertei com meus filhos quando eram mais novos. Não tinha
realmente um relacionamento com nenhuma de suas mães, e sempre me senti
como um impostor toda vez que passava algum tempo com qualquer um de
vocês. Era mais fácil jogar dinheiro em uma situação e seguir em frente.
— Um impostor? — perguntei. Ele estava realmente dizendo que se
sentia desconfortável e por isso escolheu o caminho mais fácil?
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Ninguém poderia me descrever como um homem de família, e sua mãe
era uma boa pessoa.
— Eu sei. — Não queria que ele falasse da minha mãe. — Ela fez o
melhor que pôde.
— O que foi muito bom, considerando o que você se tornou. É uma
mulher linda, brilhante e talentosa. E não posso levar crédito algum nisso.
Nós dois podemos concordar com isso, mas era desconfortável ouvi-lo.
Esperei por uma discussão que justificasse o que fez. Em vez disso, estava
recebendo um mea-culpa. Não sabia o que fazer com aquilo.
Ele estava me dizendo exatamente o que eu queria ouvir?
— É uma péssima desculpa, mas acho que senti que não poderia fazer
nada além de piorar a situação. A melhor maneira pela qual sabia contribuir
era através do dinheiro.
Ele sabia que também contribuiu para a minha insegurança, dor e falta de
confiança? Ele se concentrou no que deu e não no que tirou.
— E eu era jovem e trabalhava vinte horas por dia e... — Seus olhos se
arregalaram. — Você já sabe. Gostava das mulheres. Então, acho que me
senti hipócrita, tentando bancar o pai da família.
— Acho que isso faria sentido na primeira vez que engravidou uma
mulher. — Minha mãe foi a primeira que engravidou, e ele deveria ter
aprendido a lição.
Ele assentiu.
— Você está certa. Não só acabei cometendo erros na minha vida, mas os
repeti. Mas tive que ser responsável com meus outros filhos sobre a situação
deles. Estou descrevendo minhas razões para agir da maneira que agi com
você.
— Você não respondeu a minha pergunta.
Ele suspirou.
— Por que eu te ofereceria um emprego quando você tão claramente me
desprezava? Foi diferente com seus irmãos, eles me permitiram fazer as
pazes.
Deu risada.
— Sei. Então, a culpa é minha. — Típico. Imaginei que ele jogaria a
culpa em mim, mas não deveria ficar surpresa.
— Não estou te culpando, mas de alguma forma, eu construí um
relacionamento com seus irmãos.
Senti o puxão do ciúme. Por que eles acabaram tendo um pai?
— Tinha esperanças de que fizéssemos o mesmo, mas enquanto esteve na
faculdade, você cortou todo o contato.
— E você jogou dinheiro no meio para estabelecer a confiança? —
perguntei.
— Acho que sim. Pensei que, pelo menos se você estivesse bem
financeiramente pelo resto da vida, eu não teria que viver com essa culpa.
— Então, não foi porque sou menina? Uma mulher.
— O quê? — Ele riu, surpresa estampou em seu rosto. — Claro que não.
Você deixou claro que não queria contato, e se for para eu ser completamente
honesto, não queria um lembrete constante de como havia falhado com você.
É difícil saber que sua filha te odeia, te vê como uma espécie de monstro. É
ainda mais difícil saber que de certa forma, é justificado.
Não conseguia falar. Deixei a falta de oferta de trabalho alimentar meu
ressentimento? Ou aqueles sentimentos estiveram lá o tempo todo?
— É por isso que disse a Max para me tirar da equipe?
Ele respirou fundo.
— Até certo ponto. Mas também porque não podia contratar uma empresa
por uma grande quantia quando minha filha estava envolvida no negócio. —
Ele levantou a mão, indicando que ainda não tinha terminado. — Eu sei que
emprego meus filhos, mas não os gerencio, e os salários deles são
consideravelmente menores do que eu teria gasto com a King & Associates.
— Ele passou a mão pelo cabelo. — Devia ter mencionado alguma coisa no
almoço ou ligado depois. Mas é que as coisas estavam civilizadas entre nós e
não queria estragar isso.
Ele riu e colocou a cabeça entre as mãos.
— É como se eu perdesse todo o discernimento quando se trata de você.
Faço tudo errado por mais que eu tente.
Tudo o que disse fazia sentido, mas em vez de me sentir aliviada ou feliz,
me sentia traída. Como se alguém tivesse roubado minha justificativa para
odiá-lo. Ele fez merda, tinha errado. Mas do jeito que explicou, suas ações
não pareciam mais maliciosas. Ele era o melhor mentiroso que já vi na vida,
ou era apenas um ser humano imperfeito. Talvez houvesse um pouco de
ambos nele. Era como se eu estivesse sofrendo uma dor crônica por anos e,
agora que acabou de desaparecer, me esqueci quem eu era sem isso. Meu
ódio se tornou uma parte tão grande de mim que, sem aquilo, não sabia bem o
que fazer. Ainda assim, Grace estava certa – eu me senti mais leve por
conversar com ele.
— Nunca quis te magoar, mas eu não soube como evitar — disse ele.
Estreitei os olhos, tentando me livrar das lágrimas que se formavam. Ele
me machucou. Repetidas vezes. Mas não achei que estava mentindo quando
disse que não tinha sido intencional. Eu assenti.
— Acredito em você.
Ele apertou a ponte do nariz.
— Não posso te dizer... — Ele parou e apenas balançou a cabeça. —
Gostaria de uma chance de ser melhor pra você, se é algo que tenha interesse.
Talvez pudéssemos passar algum tempo juntos, para jantarmos ou algo assim.
Ele estava pedindo uma chance para fazer as pazes. Mesmo nesse
momento, quando não falei com ele durante anos. Não me culpou, não
expressou qualquer ressentimento – estava apenas triste e arrependido, e isso
neutralizou minha raiva em relação a ele.
Respirei fundo e me levantei.
— Preciso de um tempo para digerir isso.
Ele se levantou, enfiou as mãos nos bolsos e deu a volta na mesa, vindo
na minha direção, seu olhar caindo para o chão.
— Eu entendo.
Ele pensou que eu estava dando uma desculpa esfarrapada, quando eu
realmente estava lutando contra anos o rejeitando antes que ele pudesse me
rejeitar.
— Talvez eu consiga ficar para uma bebida e um lanche da próxima vez.
— As palavras saíram pela minha garganta seca, mas eu estava determinada a
dizê-las. Não era fácil assumir, mas estava arrependida. Eu me agarrei aos
sentimentos que tive quando criança e lhes dei importância e justificativa na
vida adulta. E, embora esses sentimentos não tivessem simplesmente
desaparecido, eu os vi pelo que eram – sem sentido e inúteis. Ele estava certo
quando disse que o via como um monstro. Já tinha idade suficiente para saber
que o medo de monstros era mais sobre imaginação do que da realidade.
Ele levantou a cabeça.
— Eu adoraria. Você decide quando.
Eu me virei e saímos do escritório dele.
— Talvez no próximo fim de semana — sugeri.
— Eu gostaria muito — respondeu com a voz embargada.
Quando chegamos no topo da escada, me virei para ele e sorri.
— Poupe seu joelho, eu te vejo no sábado.

— Ah, sim, e uma última coisa — comentei, fazendo um resumo da


conversa com o meu pai para Grace. Como boa amiga que era, ela me
entregou uma taça de vinho assim que entrei pela porta. — Ele disse que Max
cancelou a reunião.
Max tinha feito isso por mim? Tentei pensar em outras possíveis
motivações. Sabia o quanto ele queria a JD Stanley como cliente.
— Uau. — As sobrancelhas de Grace desapareceram por baixo da franja.
— Então, agora já pode fazer as pazes com ele.
Quase engasguei com o vinho.
— Você está doida? Max é passado — eu disse quando me recuperei. —
Preciso tocar minha vida. — A verdade era que ele nunca ficou longe dos
meus pensamentos. E me perguntava constantemente com quem ele estava,
no que estava trabalhando. Eu me sentia como uma ferida aberta,
constantemente sendo mergulhada em vinagre. Fiz o melhor que pude para
não demonstrar. A gente não se conhecia há tanto tempo assim, e me sentia
estúpida por sofrer dessa maneira.
Grace suspirou.
— Eu te conheço há muito tempo, Harper. Você não me engana.
— Não sei o que está querendo dizer.
— Se Max fosse passado, você não teria saído do seu apartamento.
— Estou evitando-o porque acabou. — Parte da razão pela qual não liguei
meu telefone era porque não queria descobrir que Max não tinha ligado ou
mandado mensagem.
— Não, você o está evitando porque não quer que tudo esteja acabado.
Primeiro largou o emprego porque ele não te escolheu sobre um acordo de
negócios — disse ela, levantando um dedo. — Então, ficou praticamente
catatônica nos primeiros dias depois que fugiu e, embora esteja se movendo
agora, seu funcionamento automático ainda está definido para ficar
deprimida. — Ela ergueu um segundo dedo. — Você não liga o telefone
porque está evitando as mensagens dele. — Ela ergueu um terceiro dedo. —
O que quero dizer é, ele é a versão mais linda do homem mais bonito do
planeta, e você está apaixonada por ele.
— Apaixonada por ele? — Bufei. — Não seja ridícula. — Amor não era
dessa forma. Aquilo era mágoa, traição, raiva. Não era?
— E o fato de ele ter desistido da apresentação da JD Stanley, bem, isso
é...
— Isso é o quê? Ele devia ter feito isso logo no começo.
— Você está maluca? Max estava certo; o cliente escolhe a equipe que
quiser. Se estivessem só trepando, ele teria dito que você tinha que aceitar e
ponto final. É óbvio que ele gosta de você.
Eu tinha esperado muito dele? Sentia algo tão profundo por ele... só
queria que ele sentisse o mesmo.
— E estava esperando que ele falhasse, que fosse quem você acha que seu
pai era — disse Grace.
Comecei pensando que Max King era um babaca, mas descobri alguém
muito diferente interiormente: alguém carinhoso, generoso e especial. Meu
coração comprimiu como se estivesse se alongando depois de uma soneca.
Eu sentia falta dele.
— Ele não é meu pai. — Mas tinha esperado que ele falhasse? Até
mesmo procurei por isso?
— Então ligue seu celular. Na verdade, não, eu vou fazer isso. — Grace
correu para a cozinha. Deixei meu telefone em cima da geladeira. Sabia que
se ele estivesse no meu quarto à noite, ficaria tentada a ligá-lo.
Grace não se atreveria a ligá-lo sem que eu dissesse para ligar, ou se
atreveria?
Claro que sim, e eu não tinha energia para discutir. Estava cansada de
sentir falta dele. Ansiava pelos braços de Max em volta do meu corpo, suas
sábias palavras me dizendo que tudo ficaria bem, a forma como não tinha que
fazer nada além de me abraçar para me fazer sentir melhor. Meu estômago
revirou.
Ela jogou meu telefone – que não parava de apitar.
— Garanto a você que terá cem mensagens e recados dele, na caixa
postal. Poucos homens são capazes de romper o campo de força invisível que
têm em volta do coração, minha linda amiga. Não pense que isso vai durar
para sempre. Faça o certo antes que seja tarde demais.
CAPÍTULO DEZESSEIS

— V ocê parece distraído — comentou Scarlett antes de colocar uma


azeitona na boca. Ela deveria estar me ajudando a preparar o
jantar já que Amanda e Violet estavam na sala. Em vez disso, Scarlett estava
sentada na banqueta do balcão, bebendo e me vendo cozinhar. — O que você
tem?
— Você sempre acha que estou distraído — respondi, mas ela estava
certa. Não dormia bem desde quando Harper saiu da King & Associates há
dez dias. Ela simplesmente desapareceu. Nosso porteiro não a viu; ela não
estava atendia ao telefone. Podia estar numa vala, ou apenas me ignorando.
— É verdade, mas dessa vez é diferente. Conte tudo pra maninha aqui. É
com o trabalho? — Ela ofegou. — Está viciado em jogatina? Perdeu todo seu
dinheiro? Descobriu que tem uma doença horrível no pênis?
Suspirei.
— Pare com isso. Só estou bastante ocupado no escritório. — Comecei a
fatiar os tomates, ignorando Scarlett. Eu costumava ser muito bom em
esconder meus sentimentos. Será que minha preocupação pela Harper estava
começando a transparecer?
— Mentira. Conheço essa desculpa esfarrapada de estar cheio de trabalho.
Ergui o olhar.
— Não é nada. Uma mulher no trabalho sumiu e estou um pouco
preocupado. Só isso.
— Como assim sumiu? Tipo... foi sequestrada?
Revirei os olhos.
— Você sempre pensa no cenário mais dramático possível, não é?
Ela desceu da banqueta e pegou o vinho na geladeira.
— Bem, se deixou você todo cabisbaixo e deprimido com olheiras,
suponho que algo realmente ruim aconteceu.
— Não estou cabisbaixo e deprimido — retruquei. — Harper pediu
demissão e não consigo falar com ela.
— Harper? — perguntou.
Pelo seu tom de voz e sorriso largo, certamente acabei de deixar abertos
os portões de Tróia. Porra. Devia ter ficado de boca fechada.
— E aí? — perguntou Violet, colocando a taça em cima do balcão. — A
gente vai comer logo? Estou morrendo de fome.
— Harper se demitiu e Max não consegue falar com ela — disse Scarlett,
proferindo lentamente as palavras, tentando transmitir um significado a
Violet. Ela era uma idiota se achasse que eu não sabia o que estava fazendo.
— Não é nada demais — eu disse. — Você quer mais? — perguntei a
Violet.
— Sempre. Onde acha que ela foi? — perguntou Violet.
Seu tom trivial ligou um interruptor. Estava cansado de guardar tudo isso.
Soltei a faca na tábua de cortar.
— Não faço ideia. — Esfreguei os olhos com as palmas das mãos. —
Liguei um milhão de vezes, mas ela não atende. Só espero que esteja brava e
não, você sabe, machucada de alguma forma. — Tinha dificuldade até de
pensar nela sofrendo por causa de qualquer coisa que eu tenha feito. O pior
era não poder fazer nada para corrigir a situação. Essa perda de poder não era
algo com a qual eu estava acostumado ou à vontade. Desde Amanda,
trabalhei muito para ser o homem que tinha solução – para tudo. Era parte da
razão pela qual eu era tão focado no trabalho – sabia que dinheiro resolvia
muitos problemas.
Ignorei o olhar entre as minhas irmãs. Estava muito frustrado para me
importar. Não conhecia nenhuma das amigas de Harper, não conhecia
nenhum dos lugares que ela frequentava. Nós vivíamos juntos em uma bolha
perfeita e eu estava feliz com isso. Ou tinha sido. Agora só desejava tê-la
conhecido melhor. Primeiro porque poderia saber onde ela estava, e segundo
porque me dei conta de que agora havia muito mais para conhecer. E eu me
odiava por ferrar as coisas e perder tudo.
— O que você fez? — perguntou Scarlett.
— Eu estraguei tudo. Foi isso o que fiz. Eu a tirei de uma grande conta e
ela pediu demissão. — Expliquei tudo o que havia acontecido com a JD
Stanley e que Charles Jayne era o pai de Harper. Praticamente nem parei para
respirar – me fez bem desabafar. Como eu não tinha levado os sentimentos de
Harper em consideração quando lhe disse que estava fora da equipe. Sempre
que os clientes faziam pedidos de mudança de equipe, nunca precisei me
preocupar com os sentimentos da pessoa que recebia a notícia. Eram apenas
negócios. Mas a decisão de Charles Jayne de tirar a Harper da equipe, era
pessoal. E eu devia ter percebido. O fato de ter aceitado seu ultimato tão
facilmente me fez sentir desconfortável – um pouco sujo. Tive certeza de que
não queria fazer negócios com um homem que tomava decisões tão frias em
relação à filha. Para mim, Amanda viria antes dos negócios, do meu orgulho.
De tudo. Nunca deixei de colocá-la em primeiro lugar. Charles Jayne não era
um homem confiável.
— Sinto que está deixando de contar uma parte importante da história —
disse Scarlett. — Não sei, mas você tirar uma funcionária da equipe e ela
pedir demissão, normalmente não te deixaria tão irritado.
Não sabia o que dizer. Nunca tinha discutido sobre mulheres com as
minhas irmãs. Jamais conversei a respeito de sofrimentos ou debatia sobre
uma briga com uma namorada – porque nunca tinha experimentado nenhuma
dessas coisas. Peguei a garrafa de Pinot Noir que Violet tinha deixado no
balcão e enchi minha taça, impaciente para enchê-la tanto quanto fosse
possível.
— Você gosta dela? — perguntou Violet.
Assenti.
— Finalmente — disse Scarlett, mais para si mesma do que para nós.
— E era recíproco? — perguntou Violet.
Respirei fundo. Era? As coisas eram boas entre nós, pensei.
— Como vou saber?
O sorriso de Violet iluminou seu rosto como se estivesse esperando por
essa conversa a vida toda.
— Bem, ela mantém o olhar fixo no seu? Ela faz...
— Jesus, Violet, você conhece mesmo o nosso irmão? O homem não é
um monge, ele sabe quando as mulheres o querem. Ele está perguntando
como vai saber se ela tem sentimentos. Estou certa? — perguntou Scarlett.
Assenti novamente.
— Está. — Isso era excruciante. Raramente estava em uma posição em
que Scarlett tinha mais controle sobre uma conversa do que eu.
— Então estavam dormindo juntos? — perguntou Violet.
Scarlett bateu a mão no balcão.
— Tente acompanhar.
— Como assim? — gritou Violet. — Ninguém me disse que ele estava
dormindo com ela. Você sabia?
— Suspeitei.
— Não, você não suspeitava — eu disse. — Diz isso agora, mas não sabia
de nada.
— Percebi quando a encontrei no elevador, que havia algo entre vocês
dois. — Scarlett deu de ombros. — Tenho sexto sentido para essas coisas. De
qualquer forma, vamos voltar ao fato de que nosso irmão tem sentimentos por
alguém. Quero dizer, isso nunca aconteceu antes. Precisamos manter o foco.
Há quanto tempo estão transando?
Não havia sentido em sugerir que eu não queria falar sobre isso agora –
era tarde demais. E, de qualquer maneira, queria conversar. Precisava saber
se havia algo que eu pudesse fazer. Queria uma chance de dizer a Harper
como me sentia, que a queria de volta.
— Foi casual, a gente não saía. — Será que ela achou que tinha sido
apenas sexo? — Devia tê-la levado a um encontro ou algo do tipo. Eu tinha
planejado conversarmos para saber o que ela queria, quando viesse para o
baile de Amanda.
— Como é que é? Então foi uma série de rapidinhas? — perguntou
Violet.
Foi isso? Não para mim, mas enxergando por esse lado, talvez tenha sido
apenas isso para ela.
— Eu realmente nunca fiz o lance de encontro — admiti. — Nós
moramos no mesmo prédio e fico aqui a maior parte do tempo... — Vendo de
fora da situação, parecia sexo casual. Mas para mim, desde que ela começou
a trabalhar na King & Associates, teve a minha atenção como nenhuma outra
mulher.
— Fizeram coisas juntos? Cozinharam? Saíram sem transar? —
perguntou Violet.
Estremeci.
— Pedimos comida, isso conta?
Aparentemente não, se o semblante das minhas irmãs fosse qualquer
indicação.
— Nós passávamos a noite juntos. Conversávamos. — Tomando banho
de banheira, embora não fosse admitir isso para elas. Adorava a forma como
ela encarava o mundo. Adorava ouvi-la falar. Ela era corajosa com uma
mistura de um pouco de idealismo. Era uma combinação perfeita.
— Bem, isso é bom. E era no começo, certo?
— Sim — respondi, mas era tão bom entre nós. Quando estávamos juntos
era como se eu não quisesse apressar a próxima fase porque o ponto em que
estávamos era tão bom e eu queria espremer até a última gota.
— E ela pediu demissão porque você a tirou da equipe que ia se
apresentar para o pai dela? — perguntou Violet.
— Sim. O pai dela ligou e disse que não a queria envolvida na conta
porque queria manter os negócios separados do pessoal.
— E você pensou que estava tudo bem porque também é assim que gosta
de trabalhar? — perguntou Scarlett.
— Sim. Eu o vi como um possível cliente pedindo por uma simples
mudança na equipe, em vez de um pai que não estava colocando a filha em
primeiro lugar.
— Honestamente — disse Violet — Não me parece algo que você não
possa voltar atrás.
— Desisti da apresentação — comentei.
— Desistiu? — perguntou Scarlett. — Uau. Ela sabe?
Fiz que não com a cabeça.
— Não, fiz isso depois que vi como ficou aborrecida e percebi como ele
não dava a mínima para ela. Se ele estava disposto a fazer isso com a própria
filha, o que faria com um parceiro de negócios? — Não foi a primeira vez
que recusei um cliente porque não gostei da abordagem deles nos negócios.
Só queria poder explicar a ela que entendi que tinha tomado a decisão errada.
— Agora ela se foi, simplesmente desapareceu.
— Você deve realmente amar essa mulher. — Scarlett sorriu. — Nunca vi
você assim.
— Deixe de drama. Não estou dizendo que a amo, eu... — Eu estava
perdido. Em um novo território e sem mapa. — Mas se ela não fala comigo,
não atende ao telefone ou à porta, o que é que eu faço?
Scarlett inclinou a cabeça de lado.
— Amanda! — gritou ela.
— Não diga nada a ela — sussurrei.
— Confie em mim — respondeu.
Amanda entrou, com o olhar grudado no celular. Como não quebrava os
ossos regularmente, eu não fazia ideia. Nunca olhava para onde estava
andando.
— Não mexa com o telefone enquanto está andando. Um dia vai pisar na
frente de um ônibus porque está com essa fixação pelo Snapchat.
Amanda revirou os olhos, mas colocou o celular no bolso da calça jeans.
— O jantar está pronto? Estou com fome.
— Está ansiosa para o baile amanhã? — perguntou Scarlett. Não sabia o
que ela estava tramando, mas podia dizer que tinha um plano.
Os olhos de Amanda se iluminaram.
— Sim, vai ser perfeito. Ontem, Callum finalmente me perguntou se eu
ia. Respondi que ia sozinha. Não preciso de um homem.
As mulheres King soltaram juntas um coro de “muito bem”, “é isso aí” e
“toca aqui”. Só esperava que fosse o primeiro passo de uma vida inteira de
celibato para a minha filha.
— E está tudo certo com seu vestido? — perguntou Scarlett.
Amanda sentou na banqueta à minha frente.
— Sim, você viu, né? Foi o vestido que a Harper me ajudou a escolher.
— Harper é a garota que trabalha com seu pai e com quem você gosta de
conversar? — perguntou Violet. Cristo, elas estavam jogando feito um time.
Amanda assentiu, os olhos piscando de mim para suas tias.
— Você a conheceu, né, Scarlett? Ela é tão legal e bonita. Não é, pai?
O som do nome de Harper acelerou minha pulsação. Dei um sorriso triste.
— Sim, ela é muito bonita.
— Você também vai conhecê-la, Violet. Vai vir me ajudar a me arrumar
para o baile, né?
Merda, como eu conseguiria contar a minha filha que Harper não viria?
— Claro. Não perderia isso por nada nesse mundo. — Minha filha era a
única pessoa que tinha a capacidade de conseguir com que as minhas irmãs
fizessem qualquer coisa.
— Preciso falar com você sobre a Harper, querida — eu disse.
— O que é? Se for sobre carona da estação, ela não precisa porque vem
de carro.
O quê? Não conversei com a Harper sobre como ela chegaria a
Connecticut.
— Não sei se ela ainda vai conseguir vir, meu amor. Mas você terá suas
tias. E podemos chamar a sua mãe no Skype o tempo todo que estiver se
preparando.
Amanda olhou para mim com os lábios franzidos.
— Do que você está falando? Claro que a Harper virá. Ela disse hoje de
manhã que chegaria aqui às quatro. Vai trazer a maquiagem.
Meu coração começou a disparar. Eu tinha ouvido direito? Amanda tem
conversado com a Harper? Apertei o balcão, tentando entender o que ela
estava dizendo.
— Você conversou com ela? — perguntou Scarlett.
— Claro! Ela é minha amiga. — Amanda olhou em volta para nós três. —
O que está acontecendo com vocês? Estão todos agindo de forma estranha.
Harper vinha para cá. Eu teria uma chance de me explicar, de dizer que
ela era importante para mim. Mais do que importante. Não a deixaria ir
embora até que ouvisse meus argumentos e entendesse que eu estava
arrependido. Não a deixaria me afastar. Estava acostumado a conseguir o que
eu queria e Harper Jayne não seria exceção.

— Só porque ela concordou em vir e ajudar Amanda, não significa que


quer alguma coisa comigo. — Lembrei a minha irmã, um pouco depois das
três e meia da tarde. — Você não acha que isso está um pouco exagerado? —
Olhei em volta para a sala de jantar, a mesa com a porcelana e cristais que
minha mãe me forçou a comprar quando cheguei aos trinta e ela concluiu que
eu finalmente era adulto, apesar de já ser pai há mais de uma década naquela
altura.
— Não, não está nada exagerado — respondeu Scarlett. — E, de qualquer
forma, o que você tem a perder? Na pior das hipóteses, não está pior do que
estava antes de ela chegar.
Precisava continuar me lembrando que sabia como ir atrás do que eu
queria. Ganhava a vida fazendo isso. Conseguir a Harper de volta tinha que
ser uma possibilidade, não tinha?
— Poli toda a prataria exatamente como a vovó King me ensinou — disse
Amanda, juntando-se a Scarlett e a mim na mesa. Ela me deu um tapinha nas
costas. — Ficou bom. Ela não será capaz de resistir à sua lasanha, pai. É a
melhor.
Não tinha coragem de lhe dizer que não fazia ideia se Harper sequer me
ouviria.
Eu tinha que admitir, a mesa estava bonita, mas faltava alguma coisa.
— Esquecemos as flores — comentei.
Amanda me ajudou a escolher algumas do jardim para usarmos como
decoração na mesa. Não consegui achar um vaso, então improvisamos e
usamos um copo de água. Amanda desapareceu para buscá-las.
— E depois vocês levarão a Amanda ao baile e então eu pergunto a
Harper se ela está com fome? — perguntei a Scarlett.
— Jesus, você perdeu o brio em algum lugar no meio do caminho? —
perguntou Scarlett. — Você pergunta se podem conversar um pouco. Então,
você se desculpa e admite que é um idiota. Veja como ela reage, se precisar
se desculpar novamente, faça isso e diga como se sente. Jesus, homem, você
administra uma empresa multimilionária; não é tão difícil assim.
Isso era muito mais difícil do que qualquer coisa que já fiz, mas ela estava
certa – precisava encontrar a minha coragem. Diria a Harper como me sentia.
Diria que não devíamos deixar que o trabalho interferisse entre nós.
Seria fácil, certo?
— Não vai usar isso, vai? — perguntou Violet enquanto entrava na sala.
— Bem pensando — disse Scarlett. — Coloque a melhor calça jeans que
tem e uma camisa azul de botão. O slogan da camiseta não vai dar certo para
você.
— Ei, isso é vintage — resmunguei.
— Vá se trocar — disse Violet.
Será que eu tinha tempo para tomar banho? Olhei no relógio e meu
estômago revirou. Vinte minutos e ela estaria aqui. Na minha casa. No lugar
que fantasiei em transar com ela. Harper foi a única mulher que eu quis trazer
para a minha casa, para a minha vida.
Subi as escadas de dois em dois degraus. Precisava repassar o que queria
dizer e não queria que ninguém me perturbasse.
Era a apresentação mais importante da minha vida e eu não tinha
ensaiado.
CAPÍTULO DEZESSETE

— O que você me fez fazer? — gritei com o meu celular no viva-voz


enquanto pegava a rodovia 95. O anunciou que meu destino
GPS
estava a seis minutos de distância. Eu odiava dirigir, especialmente em
estradas que não conhecia, e essa era a primeira vez que ia a Connecticut. —
Isso é uma péssima ideia.
— É uma ótima ideia — respondeu Grace. — E de qualquer forma,
aconteça o que acontecer, você fez a coisa certa pela Amanda.
Prometi a Amanda que a ajudaria a se arrumar para o baile e não deixaria
uma garota de quatorze anos na mão. Conhecia a sensação de ser
decepcionada por um adulto, e eu nunca, conscientemente, infligiria esse
sentimento a outra pessoa.
— O que você está vestindo? — perguntou Grace. — Por favor, me diga
que está de saia. Homens adoram.
— Coloquei um short.
— Aquela combinação sexy da blusa de botão e o short casual que beira a
indecência?
Sorri, secretamente satisfeita com o endosso.
— Ele não é indecente. Apenas curto. — Tudo bem, era um pouco
indecente.
Amanda era apenas parte da razão pela qual pedi emprestado o carro novo
da Grace para dirigir até Connecticut. Queria ver o Max. Descobrir se a dor
excruciante que sentia diminuiria quando o visse. E se o que eu sentia era
amor ou apenas arrependimento esmagando o meu coração.
Homens antes de Max sempre foram um obstáculo para algo mais.
Sempre encontrava uma escapatória, nunca tinha me comprometido. Com
Max não ficava constantemente procurando pelo fim. Eu me sentia feliz por
simplesmente estar com ele, compartilhar coisas, conversar, desfrutar de
apenas estarmos juntos. Meus sentimentos por ele tinham se esgueirado por
trás de mim e só gritado buuu quando Max já tinha ido embora.
— Bom, não vai precisar disso, mas boa sorte.
Como ela podia dizer aquilo? Havia uma real possibilidade do Max estar
furioso comigo. Saí do trabalho sem cumprir aviso. Gritei com ele, desliguei
o celular e ignorei todas as suas mensagens.
E o pior de tudo, Max não fez nada de errado quando concordou em me
tirar da equipe. Talvez tenha sido um pouco insensível, mas meu
relacionamento com meu pai não era uma briga que Max tinha que comprar.
Não era como se a única razão pela qual a King & Associates conseguiu uma
reunião tivesse sido porque eu trabalhava lá.
Meu estômago revirou só de pensar que eu não seria mais uma
funcionária da King & Associates. Trabalhei tanto para conseguir estar lá.
Mas não me arrependia de nada. Conheci o Max e sempre seria grata pelo
que quer que tenha acontecido entre a gente. Essa situação me forçou a lidar
com meu pai. Pensei que a King & Associates me ajudaria a construir minha
carreira, mas na verdade, ela ajudou a curar minha alma.
Quando parei em frente à casa de dois andares com fachada de madeira
cinza e branca, fui tomada pelo nervoso. Não conhecia o homem que morava
aqui. O lugar parecia tão... familiar. Havia um campo ao lado, e o que parecia
ser um celeiro do outro. Contei quatro carros na entrada da garagem de
cascalho. Uau. Estavam dando uma festa?
Estiquei o braço até o banco de trás e peguei a sidra espumante sem álcool
que trouxe junto com a maquiagem.
— Oi, Harper.
Saí do carro e vi Amanda na porta, acenando para mim. Sorri, incapaz de
acenar de volta porque estava com as mãos cheias.
— Oi, como você está? — perguntei, olhando por cima do teto do carro.
— Está nervosa?
— Nem um pouco — respondeu enquanto eu trancava o carro. —
Especialmente agora que você chegou.
Vozes ficaram mais altas quando Amanda e eu cruzamos a entrada de
piso de ardósia. A casa passava uma impressão completamente diferente do
escritório de Max. Fotografias da Amanda marcavam as paredes. As portas,
molduras e vigas do teto eram pintadas de um tom aconchegante na cor mel e
o ambiente era grande e arejado, com portas abertas que davam para a área da
piscina. Conforme seguíamos para a cozinha, Max apareceu.
Meu sofrimento desapareceu, senti o corpo cedendo de alívio como se
estivesse morrendo de sede e finalmente encontrado um oásis.
Ciente de todos ao nosso redor, evitei fazer contato visual. Se ele
estivesse com raiva de mim, não sabia como eu reagiria.
— Harper — cumprimentou ele. — Fique à vontade. Foi muito gentil da
sua parte vir até aqui. Tenho certeza de que não sei o que Amanda fez para
merecer isso. — Ele não parecia nem um pouco aborrecido, então ergui o
olhar e ele estava sorrindo para mim. Tentei esconder minha alegria,
assentindo enquanto dava uma olhada atrás dele para duas mulheres nos
olhando.
Sua irmã, Scarlett, eu já conhecia. Quem era a outra? Sabia que a mãe de
Amanda não teria conseguido vir a tempo da Europa. Será que já era tarde
demais? Max tinha tocado com sua vida? Não, deve ser a Violet. Ela era
parecida com ele e Amanda.
— Vamos subir. Não temos muito tempo — disse Amanda.
— Vocês têm duas horas, o que dá tempo de sobra para apresentar Harper
às suas tias — disse Max.
Tinha certeza de que meu alívio transpareceu com meu suspiro acentuado.
Sim, tias.
— Oi — disse, oferecendo um curto aceno de mão. As duas desceram das
banquetas e vieram me cumprimentar.
— Sou a Scarlett, nos conhecemos no elevador — disse a loira, me
puxando para um abraço como se eu a conhecesse a vida toda.
— Sou a Violet, a mais nova. — O abraço de Violet foi ligeiramente
menos efusivo, mas um pouco mais familiar do que eu esperava.
Tive a nítida impressão de que fui o assunto de uma conversa entre as
duas.
— Gostaria de beber alguma coisa? — perguntou Max.
Levantei a sidra sem álcool.
— Eu trouxe isso. — Olhei entre Max e a filha.
— Deveria saber o que fazer quando alguém lhe dá um presente — disse
Max.
Amanda cobriu a boca com as mãos e disse:
— Sinto muito. Foi muito gentil da sua parte e não precisava.
Que menina mais meiga.
— O prazer é todo meu — respondi.
— Por que não vai tomar banho? Violet pode levar um pouco de
espumante pra você quando for arrumar seu cabelo.
Amanda correu para o andar de cima, deixando-me na cozinha com Max e
suas irmãs. Esperava ter Amanda como proteção enquanto estava aqui. E não
sabia se o disfarce amigável de Max cairia assim que ela saísse da cozinha.
Respirei fundo. Eu conseguiria. Max merecia que eu reconhecesse o meu
erro.
— Tenho a opção adulta do espumante sem álcool, quer? — perguntou
ele.
— E qual é? — Foi inevitável sorrir. Não vê-lo por tanto tempo me fez
esquecer a atração. Esquecer de que toda vez que eu estava perto dele, queria
tocá-lo. E agora que estava aqui, queria conversar com ele, pedir desculpas,
perguntar se era tarde demais para que as coisas entre nós voltassem a ser
como antes.
— Champanhe — respondeu com um sorriso. Ele não parecia bravo, mas
o tinha visto no almoço com meu pai, era ótimo em fazer as pessoas se
sentirem confortáveis. Ele estava apenas fingindo?
— Alguém te deixou cair de cabeça no chão? — perguntou Scarlett. —
Estou sempre te pedindo uma taça de champanhe.
Max deu de ombros.
— O quer que eu diga? Não vou desperdiçar champanhe com a minha
irmã. — Ele me lançou um olhar enquanto pegava as taças e as colocava no
balcão.
Ele estava tentando me impressionar? Apertei os lábios, tentando segurar
o sorriso só de pensar que podia ser isso.
— Muita gentileza sua ter vindo até aqui... — disse Violet, deixando a
frase sutilmente inacabada. Eu parecia uma idiota por ter vindo até aqui por
causa de uma garota de quatorze anos que mal conhecia? Ela sabia que,
embora eu realmente quisesse fazer dessa noite especial para Amanda, eu
queria ver Max? Precisava me desculpar.
Olhei ao redor, querendo dizer a Max que vim tanto por ele quanto por
sua filha.
— Amanda é uma garota adorável e... — Dei de ombros, ainda incapaz de
pronunciar as palavras.
— Bem, eu sei que meu irmão está contente por você ter vindo.
Meu coração comprimiu. Max estava feliz por eu estar aqui? Por causa
da Amanda ou porque ele queria me ver?
Max me entregou uma taça e quando a peguei, nossos dedos se tocaram
quase que imperceptivelmente. Olhei-o nos olhos e ele sorriu. Devia puxá-lo
de lado e me desculpar agora?
— Violet, Harper — Amanda chamou lá de cima. — Preciso do meu
esquadrão da beleza. Já saí do banho.
Dei risada.
— Esquadrão da beleza? Ela tem quatorze anos, né?
Max revirou os olhos.
— Ela é precoce, pensa que tem 27.
— Estou indo! — gritei, me curvando para pegar minha bolsa. Odiava ver
adolescentes excessivamente maquiadas, e sabia que Max não queria que a
filha parecesse a garota de 27 anos que ela achava que era, então junto com
um pouco da minha maquiagem, trouxe um hidratante iluminador e brilho
labial. Bastava um pouco de rímel e eu acreditava que ela não precisaria de
muito mais.
— Levarei as bebidas — disse Max pegando uma bandeja enquanto
Violet e eu subíamos as escadas. Ao passarmos por um aparador, inclinei-me
para olhar mais de perto a foto de um casamento.
— Lindo — murmurei. Amanda, vestida de dama de honra, estava ao lado
de uma noiva e um noivo que eu não reconheci.
— É do casamento da Pandora e do Jason — comentou Max atrás de
mim.
Ele tinha a foto do casamento da sua ex na casa dele?
— Uau, isso é... — Queria dizer estranho porque era, mas também era
meigo e de coração aberto e todas as coisas que eu sabia que Max era. —
Pandora é linda — eu disse, e olhei por cima do ombro para ele, que assentiu
como se fosse apenas a constatação de um fato.
O quarto de Amanda era do jeito que eu imaginava para uma garota
normal de quatorze anos. Um pôster do filme “A Escolha Perfeita” sobre a
cabeceira da cama, uma colcha listrada de azul e branco e uma estante cheia
de livros que cobria uma das paredes. Apesar da casa ser grande, era toda
familiar. Não tinha frescuras.
— Que tal uma máscara facial enquanto Violet seca o seu cabelo? —
sugeri.
Amanda sorriu.
— Seria o máximo.
Max colocou a bandeja numa mesa.
— Obrigada, pai. Não se esqueça de acender o forno para assar a lasanha.
— Ela pegou a taça de espumante que o pai ofereceu, era óbvio que ele
queria fazê-la se sentir especial. — Você vai amar, Harper. Meu pai é um
ótimo cozinheiro e massa é a sua especialidade.
Foi meigo da parte dela pensar que eu ia ficar para o jantar. Não precisava
corrigi-la agora. Chamaria Max discretamente antes que ele saísse para levar
Amanda, e quando ele tivesse chance de pensar no que eu tinha a dizer,
talvez me ligasse. Tinha esperanças de que me perdoasse.
— Obrigada, meu amor, mas acho que dou conta do fogão — ele
continuou a falar, mas fixou o olhar no meu e não consegui desviar. — Mas
de qualquer maneira, Harper ainda não concordou em ficar para jantar.
Meu coração acelerou de repente, batendo duas vezes mais rápido. Ele
queria que eu ficasse para jantar. Mas eu ainda não tinha me desculpado.
— Mas vai, não vai, Harper? Vai ficar e fazer companhia pro meu pai
enquanto estou no baile?
— Amanda — advertiu Max.
— Pai, pergunte. Ela não pode dizer que vai ficar até que você a convide.
Diga para ele, Violet.
— Pode parecer que a minha filha esteja me intimidando a fazer isso, o
que é a última coisa que eu quero que pense. — Ele suspirou, balançando a
cabeça para a irmã e a filha. — E realmente agradeço a oportunidade de
convidá-la na frente das duas mulheres mais intrometidas deste planeta. —
Max se virou para me olhar. — Mas gostaria muito que ficasse para jantar,
assim poderíamos conversar, e quem sabe, acertarmos as coisas entre nós. —
Ele passou as mãos pelo cabelo.
Tentei esconder o sorriso. Não sabia o que significava “acertamos as
coisas”. Torcia para que, no mínimo, significasse que não nos odiaríamos.
Mas uma grande parte em mim realmente queria mais, mais do que eu
merecia. Eu queria o Max. Tinha que acreditar que não era tarde demais.
— Lasanha é meu prato favorito — respondi.

— Meu Deus, eu me lembro de quando ela nasceu — comentou Violet


quando descemos as escadas depois de enfeitar Amanda pelo máximo de
tempo possível. — Parece que foi ontem. E agora...
Max jogou o telefone no balcão e ergueu as sobrancelhas, imediatamente
atento ao momento com sua família, apesar de qualquer emergência do
trabalho que estivesse lhe causando estresse.
— Ela está pronta? — perguntou. Ele nos deixou para enfeitar e arrumar
sua filha, mas estava obviamente tão envolvido no evento quanto todas nós.
Assenti.
— Ela está vindo.
Violet fez algumas ondas no cabelo de Amanda, o que deu um ar bem
natural, caindo por seus ombros. E apesar de eu ter levado bastante tempo na
maquiagem, poderia ter sido feito em dois minutos – era só um pouco de
rímel e um toque de brilho labial. Espero que Max aprove.
Fiquei observando Max olhar para a filha descendo as escadas no vestido
azul e prateado que escolhemos. Seus olhos se encheram de lágrimas e ele
inclinou a cabeça.
— Meu amor, você está absolutamente linda.
Meu coração apertou. Queria estender a mão e tocá-lo.
Ele caminhou em sua direção e ela recuou, erguendo as mãos para
impedi-lo de se aproximar.
— Não pode me tocar, vai estragar meu cabelo ou borrar a maquiagem.
Ele riu, inclinou-se e beijou o topo de sua cabeça.
— Você está ficando tão alta. Vai chamar a sua mãe no FaceTime?
Ela negou com a cabeça.
— Ela vai acabar ficando emocionada. A gente tira algumas fotos.
Amanhã eu mando pra ela.
Ela podia ter só quatorze anos, mas se preocupava com os sentimentos da
mãe em uma situação que era, na verdade, sobre ela, mostrava muito a
respeito de seu caráter. Uma personalidade que tinha sido moldada em parte
pelo homem que eu tão estupidamente abandonei.
Eu me afastei enquanto Scarlett e Violet juntavam suas coisas e
conduziam Amanda até a porta. Max as acompanhou, depois parou e
recostou-se no batente.
Antes de entrar no carro, Amanda virou e acenou.
— Tchau, pai. Tchau, Harper. Aproveitem o encontro.
Fiquei com a impressão de que Amanda ficaria muito feliz em ver nosso
jantar se tornar algo mais do que desculpas e esclarecimentos, e isso me dava
um pouco de esperança de que ela sabia alguma coisa das intenções de Max.
Ficamos observando-as se afastarem até os faróis traseiros desaparecerem
completamente.
— Ela é linda, Max — eu disse.
— Ela é. Obrigado por estar aqui, por ajudá-la. Queria que essa noite
fosse especial, ela está tão empolgada.
— Foi uma honra. Não quis ir com elas? — perguntei quando ele fechou a
porta.
— Amanda não deixou. Acho que ela ficou preocupada que eu acabasse
dando uma surra em Callum Ryder se tivesse oportunidade. De qualquer
forma, temos coisas para conversar — respondeu. Ele manteve o olhar fixo
no meu e eu fiquei sem fôlego.
Tinha que pedir desculpas por algumas coisas.
— Max, não sei o que dizer. Sinto muito, muito mesmo. Fui uma idiota e
egoísta e perdi todo o meu juízo quando se tratou de JD Stanley. Você não
fez nada de errado... — Minhas palavras saíram uma atrás da outra. Queria
dizer tudo antes que ele tivesse a chance de dizer qualquer coisa que tornasse
mais difícil de continuar a me abrir, queria fazê-lo ver como eu entendia que
ele não fez nada de errado. Cobri o rosto com as mãos.
— Sou eu quem tem que pedir desculpas. — Ele tirou minhas mãos do
rosto e entrelaçou nossos dedos. — Estávamos envolvidos e não pensei nas
consequências de aceitar o ultimato de seu pai. Não tenho experiência em
misturar o pessoal e o profissional, então não pensei em você, nem nos seus
sentimentos. Deveria ter pensado.
— Não é como se o que tínhamos fosse sério, mas se fosse...
Ele apertou minhas mãos e calor percorreu pelo meu corpo.
— Talvez eu tenha lhe dado a impressão de que era só sexo, mas sei que
pra mim jamais foi só isso. Quero te levar para sair, ter você aqui comigo e
com a Amanda. Quero conversar, rir e acordar com você. — Ele suspirou e
balançou a cabeça. — Pensei que tivéssemos tempo. Perdi a parte que eu
deveria ter dito o quanto você era importante pra mim. Eu te falei que não
tinha nenhuma experiência nessas coisas.
Meu estômago revirou.
— Eu era importante? — Isso significava que ele havia seguido em
frente?
— Era e é — disse ele. — Estou muito arrependido por ter estragado
tudo.
Por que ele estava deixando tudo tão fácil para mim? Imaginei que
precisaria tentar convencê-lo, persuadi-lo.
Não era tarde demais. Fechei os olhos, tentando me recompor.
— Você não estragou. Não fizemos promessas ao outro, e você não tem
que se envolver nos meus problemas com o meu pai.
— Quero que os seus problemas sejam os meus problemas — respondeu
ele.
Os cantos da minha boca se contraíram.
— Quer?
Ele assentiu.
— E estou pronto para fazer qualquer promessa que quiser. Quero ser o
homem que merece você. O homem que fará qualquer coisa pela mulher que
ama.
Engoli.
— Ama? — Eu me aproximei dele até que nossos corpos estavam quase
se tocando.
Ele deu de ombros.
— Sim. Eu te amo e preciso que saiba disso. E quero que me dê uma
chance. Vou errar. Muito. Não tive muita prática, vou precisar que fique no
meu pé.
— Max, nunca confiei em nenhum homem. Não sei como ser essa
mulher. — Nunca esperei que um relacionamento desse certo antes, nunca
precisei. — Você vai ter que ser paciente comigo, mas prometo que farei o
melhor possível se me der outra chance.
— Você pode ter uma vida inteira de chances — disse ele. — Não
consigo pensar em nada que não pudesse deixar de te perdoar. — Seus olhos
estavam serenos e eu estendi a mão e acariciei sua mandíbula. Ele ainda era
de tirar o fôlego, lindo, mas de alguma forma, as fotografias que eu tinha
visto dele antes de conhecê-lo, nunca lhe fizeram justiça. Não mostravam que
alma linda ele tinha, que pai maravilhoso era.
Inclinei a cabeça de lado.
— Você conhece quem me contou sobre esse negócio que o Michael
Jordan disse uma vez. — Soltei as mãos dele e subi suavemente as minhas
por seu peito, olhando para ele. — Se não me engano era: “Errei mais de
nove mil arremessos na carreira e perdi quase trezentos jogos”.
Max levantou uma sobrancelha.
Continuei:
— Ele ainda disse: “Fracassei repetidas vezes na vida. E é por isso que eu
tive sucesso”.
Sutilmente, subi e desci um dos ombros quando ele deslizou as mãos em
volta da minha cintura.
— Quem me contou foi o homem por quem estou apaixonada. Acho que
ele diria que deveríamos continuar tentando até vencermos.
O sorriso do Max me deu um frio na barriga.
— Parece um homem inteligente — ele pausou e depois disse: — Parece
um cara de sorte. — Ele me puxou para mais perto e pressionou os lábios
contra os meus. — Senti tanto a sua falta.
Sua língua arrastou ao longo dos meus lábios antes de avançar e encontrar
a minha. Tinha me esquecido o quão urgente sua boca era, o quanto seus
beijos podiam ser apaixonados. A cada segundo, meus joelhos ficavam mais
fracos, minha respiração mais curta, mas eu queria mais.
A gente se afastou ofegando, nossas testas descansando uma na outra.
— Também senti a sua falta. — Deslizei os braços em volta de seu
pescoço. Quando ele me levantou, envolvi as pernas na cintura dele.
— A lasanha vai ter que esperar — disse ele enquanto me levava pelas
escadas. — Fantasiei em ter você nesta casa um milhão de vezes. Sonhei em
te curvar no balcão da cozinha e te foder por trás, pensei em te deitar na mesa
de jantar e fazer sua boceta tremer com a minha língua. Mas nesse momento
vou fazer amor com você na minha cama.
Quando chegamos ao quarto eu me desenrosquei do corpo de Max e tirei
sua camisa de dentro do jeans, desabotoando os botões que mantinham a pele
longe da minha. Queria tempo para ver onde eu estava, conhecer mais do
Max, ouvir histórias das fotografias em preto e branco que cobriam as
paredes de seu quarto e saber por que escolheu a enorme cama de dossel em
mogno. Mas seu toque apagou temporariamente todas as perguntas da minha
cabeça.
— Essa roupa tem me deixado louco — disse ele, estendendo a mão por
baixo do short e apertando a minha bunda.
— Então teve o efeito desejado — respondi.
— Harper, você poderia aparecer vestida com um saco de lixo que me
enfeitiçaria.
— Sei como se sente — eu disse.
Quando estávamos os dois nus, ficamos parados, olhando nos olhos um
do outro, Max segurando meu rosto.
— É tão bom ter você aqui — sussurrou. — Senti falta da sua pele linda e
macia. — Ele acariciou meus seios, desceu as mãos pela cintura, passou na
bunda e parou no seu alvo. — Sua boceta perfeitamente molhada. — Ele
mergulhou a mão entre as minhas pernas e gemeu. — Senti falta disso. Dos
seus sons, sua umidade.
Meu corpo enrijeceu e eu tremi.
— Eu tenho que estar dentro de você. Vou com calma mais tarde, mas
preciso te sentir me apertando. Preciso dessa proximidade.
Era o que eu também precisava.
Ele nos virou e me prendeu na parede. Levantando a minha perna, ele
esfregou a ponta do pênis no meu sexo.
— Max, preservativo — eu disse sem fôlego e desesperada.
Ele fez que não com a cabeça.
— Acabei de fazer meus exames anuais. Está tudo bem.
Oh. Eu não tinha dormido com ninguém além dele desde que fiz meus
últimos exames.
— Eu também, e estou tomando pílula.
Gemi quando ele empurrou dentro de mim e parou.
— Bom — disse ele.
— Max. — Apertei os dedos em seus braços. Precisava que ele esperasse
alguns segundos para que eu me acostumasse. Depois de não ter ficado com
ele por tanto tempo, nessa posição, parecia me preencher mais do que o
normal.
Ele acelerou o ritmo.
— Não vou conseguir durar muito tempo, e depois que terminar, vou
comer você na cama e depois no banheiro. Vou ficar dentro de você por
horas.
Pensar no movimento implacável do seu pau – saindo e entrando em mim
– me deixou completamente sem fôlego.
— Uma vez nunca basta com você. Preciso de você o tempo todo, para
sempre.
Senti como se estivesse pedalando em direção ao topo de uma montanha,
ofegando e gemendo, desesperada para chegar ao topo. Conforme Max
empurrava em mim de novo, seu pau entrando profundamente, eu me
encontrei no ápice. Arqueei as costas quando comecei a cair em queda livre
do outro lado.
— Eu te amo — sussurrei ao vento.
Max estava logo atrás de mim, grunhindo meu nome no meu ouvido
enquanto afundava os quadris contra os meus tão agudamente que doeria se
não fosse pelo efeito isolante do meu orgasmo.
— Eu te amo — gritou ele.
Sua pele estava quente e pegajosa pelo esforço quando passei os braços ao
redor dele, pressionando os seios contra seu peito, esperando conseguir me
prender a ele permanentemente. Ele me ergueu pela bunda e eu envolvi as
pernas nele ao mesmo tempo em que ele nos levava para a cama, ainda dentro
de mim. Ele sentou-se na beira da cama, meus joelhos apoiados de cada lado
seu.
— Deite-se — eu disse. Seus olhos pareciam atordoados quando fez o que
eu pedi. — Não cheguei tarde demais — murmurei, começando a mover os
quadris, suavemente, apreciando a sensação dele ainda dentro de mim.
Ele tocou meus seios, esfregando os mamilos com os polegares enquanto
olhava para cima. Seu toque me fazendo derreter. Contraí os músculos,
tentando conter a umidade que seu toque causou.
Ele gemeu e deslizou a mão no meu clitóris.
— Tarde demais?
Não sabia se conseguiria dizer as palavras com clareza. Eu já o queria de
novo, queria subir a montanha, embora ainda estivesse sem fôlego da
primeira subida.
— Estava preocupada que fosse... — Ofeguei quando ele aumentou a
pressão no meu clitóris. — Estava... — Não consegui falar ou me mover
enquanto fitas de prazer se desenrolavam dentro de mim. Meu cérebro não
tinha capacidade.
Como se entendesse, Max levantou os quadris da cama e eu parei, feliz
por sentar em cima dele, por ser possuída por ele.
— Me diz com o que estava preocupada — disse Max, os músculos do
pescoço tensionando.
Apoiei as palmas no peito dele.
— Que fosse tarde demais para nós — respondi.
Ele agarrou meus quadris e me rolou de costas.
— Nunca — disse ele, empurrando dentro de mim. — Jamais.
Era exatamente o que eu precisava ouvir. Estendi a mão e tracei os dedos
sobre suas sobrancelhas.
— Eu te amo. — Não conseguia parar de repetir essas palavras. Nunca as
tinha dito a nenhum homem antes. Ninguém antes de Max as mereceu.
Meu orgasmo me pegou, empurrando através do meu corpo como um
tremor: silencioso, intenso e poderoso.
— Meu Deus, seu rosto quando goza — rosnou Max e empurrou de novo,
entrando em erupção dentro de mim.
Ele rolou de lado e me puxou para ele.
— Quando eu recuperar o fôlego vou beijar cada centímetro da sua pele,
então a farei gozar com a minha língua.
— Pode ser que a gente não tenha mais tempo. — Passei os dedos por seu
cabelo. — Tenho que voltar para Manhattan.
Ele me apertou mais forte.
— Fique. Nunca mais vá embora.
Dei risada.
— Você é ridículo.
— Talvez.
— As coisas parecem um pouco diferentes — eu disse. Talvez porque
estivéssemos longe de Manhattan. Talvez porque eu sabia o quanto foi
doloroso perdê-lo e sabia que me esforçaria muito para nunca mais repetir
esse erro. — Não sei porque, só que...
— Acho que parece o começo do para sempre — respondeu ele
simplesmente.
EPÍLOGO
TRÊS MESES DEPOIS
— E ntre — eu disse em voz alta e bravo sem desviar o olhar do
laptop. Pensei que todos já tivessem ido embora do escritório.
Queria muito terminar este trabalho sem interrupção e voltar para o meu
apartamento e deixar a minha garota nua.
— Estou procurando o Rei de Wall Street — disse Harper ao abrir a porta.
Afastei a cadeira da mesa.
— Oi, pensei que ia te encontrar no apartamento.
Ela se aproximou, contornando a mesa, arrastando as mãos sobre os
papéis amontoados nela.
— Não consegui esperar — respondeu, colocando a bolsa na mesa perto
da janela.
Girei a cadeira para ficar de frente para ela.
— Como foi o jantar com seu pai? — Harper e o pai tinham se encontrado
algumas vezes nos últimos meses.
— Foi bom. — Às vezes eu me perguntava se as lágrimas que muitas
vezes apareciam depois de um de seus encontros valiam a pena ou não, mas
ela me garantiu que estava chorando por causa do passado deles e não pelo
futuro. Se ela queria construir um relacionamento com o pai, ficaria feliz em
apoiá-la em qualquer coisa que resolvesse. — Na verdade, foi legal. Estamos
começando a nos conhecer um pouco melhor agora. — Ela se inclinou para
frente e desfez o nó da minha gravata. — E pensei em vir aqui e me assegurar
de que estava concentrado no trabalho. — Lentamente, puxou a gravata do
meu pescoço e sentou na mesa. — Eu me lembro de como costumava me
dizer o quanto não conseguia ficar concentrado quando eu trabalhava aqui —
comentou ela, levantando um pouco a saia, exibindo mais pedaços de suas
coxas morenas e longas.
— É verdade — eu disse, um pouco atordoado pela mulher na minha
frente. — É melhor mesmo você não trabalhar mais aqui.
— Concordo — afirmou ela, empurrando a cadeira com o pé para que
ficasse de frente para ela.
— Gosto dos seus sapatos — comentei. Foi o primeiro par da Jimmy
Choo que comprei para ela. Estava me tornando um cliente assíduo. Nunca a
tinha visto usá-los fora do quarto, e pareciam um pouco demais para jantar
com o pai.
Ela começou a desabotoar sua blusa.
— Eu me lembro de você dizendo que costumava pensar em mim... —
Ela abriu a seda macia, revelando os seios firmes e empinados. — aqui... —
Inclinou-se para trás. — Na sua mesa.
Jesus. O sangue correu para o meu pau. Tinha pensado em outras coisas
também enquanto Harper trabalhava na King & Associates. E apesar de
sermos um casal agora, não consegui convencer Harper a voltar a trabalhar
para mim. Talvez tenha sido melhor.
— Me diga o que costumava pensar. — Suas costas arquearam e deslizou
os pés pelas minhas coxas.
Agarrei suas pernas e as abri, a saia subiu até quase a cintura. Sim, era
exatamente assim que eu a tinha imaginado.
— Cacete, Harper, você está sem calcinha.
Ela inclinou a cabeça.
— É assim que imaginou?
Levantei as pernas dela, colocando-as sobre os ombros e desci a cabeça.
— Sim, está deixando a minha mesa toda molhada. — Soprei sua boceta.
Ela gemeu, o tom ficando mais alto conforme eu lambia a fenda, antes de
deslizar um polegar na entrada. — Fantasiei em te fazer gozar nessa mesa. —
Circulei o clitóris com a língua e ela deitou como se estivesse admitindo a
derrota, seus dedos enredando-se pelo meu cabelo. Ela veio ao escritório para
ser fodida e estava prestes a realizar seu desejo.
Seus gemidos ficaram mais altos à medida que a boceta ficava cada vez
mais molhada. Por um breve momento, me preocupei em sermos ouvidos,
mas foda-se, eu era o chefe e poderia fazer o que quisesse com a mulher com
quem eu passaria o resto da minha vida.
Eu me atrapalhei para abrir a calça, minha ereção quase dolorosamente
contra o zíper. Ele se soltou e o peguei na mão. Comê-la aqui, deixando-a
louca com a minha língua, as luzes da cidade atrás de mim, a riqueza de
Manhattan ao nosso redor, me fez sentir como um rei.
— Preciso te foder — eu disse, descendo as pernas do meu pescoço e
fiquei de pé. Soltei a calça e mergulhei nela. Jesus, ela era sempre apertada
pra caralho. Levou as mãos para trás para alcançar a borda da mesa enquanto
tentava se segurar diante das minhas investidas que a empurravam. Ela era
perfeita. Envolvi as mãos em sua cintura e a puxei fortemente para mim
quando ela começou a contorcer os quadris. Ela estava muito perto, cedo
demais.
— Acho que você fantasiou sobre isso também — eu disse, enfiando nela
sem parar.
Ela gritou.
— Max — Ela chamar meu nome sempre era o tiro de partida para o meu
orgasmo. Empurrei mais forte e ela gritou mais alto ainda. — Max, Max, oh,
Jesus.
Pouco antes de eu gozar, saí dela e a levantei.
— Vire de bruços, quero ver essa linda bunda empinada, curvada sobre a
minha mesa. — Se ela queria satisfazer a minha fantasia, eu queria tudo.
Ela sorriu e se virou, os saltos empurrando sua bunda firme e empinada
no ar. Os braços se espalharam pela mesa, meus papéis voando para os lados.
— Você me quer assim? — perguntou.
Respondi separando suas pernas ligeiramente e enfiando dentro nela de
novo. Minha força a empurrou ainda mais pela mesa e ela apertou os dedos
na borda como se sua vida dependesse disso.
— Exatamente — gemi. — É assim que eu te queria naquele primeiro dia
que entrou na minha sala. — Ela estremeceu debaixo de mim, o começo de
seu orgasmo agitando seu corpo. — E como continuei pensando em você
todos os dias desde então.
— Max — choramingou, levantando a cabeça com o que restava de sua
energia. — Por favor, Deus, Max. — E ela me apertou e parou e me permiti
um último impulso antes de derramar dentro nela e desabar em suas costas.
Ficamos assim por mais alguns minutos, ofegantes, nossas roupas metade
penduradas, suadas e amarrotadas.
— Bem, isso foi uma bela surpresa — eu disse enquanto me levantava,
vestindo as calças.
Harper ainda estava oscilante quando se levantou da mesa, e estendi a
mão para firmá-la.
— Achei que era estranho nunca termos transado aqui, visto que foi onde
tudo começou — comentou e olhou ao redor da sala enquanto ajeitava a
blusa.
Inclinando-me, dei um beijo em seus lábios.
— Não precisa ser só essa vez — eu disse. — Sou totalmente a favor de
ficar trabalhando até tarde, se esta é a recompensa que vou ganhar. — Não
trabalhava até tarde com muita frequência. Ainda só passava duas noites por
semana em Manhattan e sempre ficava com a Harper nessas duas noites.
— Você ganha muitas recompensas, meu amigo — disse ela, passando a
mão sobre o meu peito suavemente.
Agarrei seu pulso.
— Eu quero mais.
Ela abriu um pouco a boca e percebi que tinha uma resposta sarcástica,
mas depois mudou de ideia sobre compartilhá-la comigo.
— Mais? — perguntou.
Assenti.
— Para nós, pra você e pra mim. Quero que a gente transe na minha mesa
quando tivermos noventa anos e casados há sessenta e com quatro filhos.
Harper deu um passo para trás.
— Do que você está falando? — Ela balançou a cabeça. — Não vou a
lugar nenhum.
— Promete? — perguntei.
— Se prometo trepar com você na sua mesa quando estiver com noventa
anos? — perguntou rindo.
— Case comigo, Harper. — Não era assim que eu tinha planejado.
Presumi que ficaríamos juntos para sempre e pensei em pedi-la em
casamento, mas não esperava que essas palavras saíssem da minha boca hoje.
Meus olhos piscaram com os dela e envolvi as mãos por sua cintura.
— Case comigo — repeti. — Posso fazer o lance todo do pedido, outra
hora, com uma aliança e um quarteto de cordas, mas me diga agora que vai
dizer sim. Não quero passar outro dia sem saber que vai ser minha esposa.
Ela inclinou a cabeça e me deu um pequeno sorriso.
— Tá bom, mas vou ter dois pedidos, né? Este e um com uma aliança?
— Jesus, sempre tão exigente.
Ela deu de ombros.
— Estou só confirmando qual foi o pedido.
— Sim, dois pedidos. E você concorda em ser minha esposa, ter dez
filhos comigo e trepar comigo na minha mesa quando eu tiver noventa anos.
— Negócio fechado — respondeu e passou a mão em volta do meu
pescoço e me puxou, trazendo minha boca para a dela.

UM ANO DEPOIS
— Caramba! — gritei do banheiro do andar de baixo.
— Eu te disse! — gritou Max de volta.
Voltei para a cozinha, apertando o teste de gravidez na mão.
— Vamos precisar de um barco maior — comentei.
Max sorriu. Ele me engravidou de Amy há pouco mais de um ano,
naquela noite em que a gente transou pela primeira vez na mesa do escritório
dele. Aquilo aconteceu várias vezes depois. A gravidez me deixou mais
excitada do que o normal.
— Do que você está falando? — perguntou Amanda, tirando a irmãzinha
da cadeirinha de balanço e a pegando no colo, apoiando no quadril. — Não
temos um barco.
Quando cheguei perto de Max, ele colocou o braço em volta do meu
pescoço e me puxou para ele, beijando-me na cabeça.
— Parabéns.
— O que foi que você fez comigo? — perguntei, balançando a cabeça.
— O que sei fazer de melhor — disse ele. — Sem dúvida, é outra menina,
porque não tenho mulheres suficientes na minha vida.
— Do que vocês estão falando? — repetiu Amanda, seus olhos se
estreitaram quando olhou para nós.
— Harper está grávida — anunciou Max.
— De novo? — perguntou Amanda.
Ele abriu um enorme sorriso.
— De novo.
Amanda me entregou Amy e nos abraçou.
— Isso é incrível. Quis uma irmã por tanto tempo e agora vou perder a
conta.
— Vai ter que se casar comigo agora — disse Max.
— Não vejo porquê. Já te disse para não ter pressa, e de qualquer forma,
se estivesse falando sério, teria feito um pedido apropriado. Do tipo com um
dos joelhos no chão, uma aliança. Esse era o acordo. Lembre-se, o esforço é
recompensado, Sr. King. — Coloquei as mãos nos quadris.
— Alguma vez você faz o que lhe é pedido? — perguntou ele, revirando
os olhos.
— Aparentemente, fico grávida conforme a demanda. Isso conta?
— Faço a maior parte do esforço no que diz respeito a isso. — Ele sorriu
para mim.
Revirei os olhos.
— Ah, sério?
— Chegou a hora, Harper.
— Max, estou grávida. Não percebeu isso? Não vou andar até o altar
grávida.
— Quero muito ser dama de honra — disse Amanda. — Na verdade,
posso muito bem comprar um vestido e usá-lo em casa se vocês dois não se
controlarem.
— Sr. King. — Um dos funcionários da empresa do buffet veio da área da
piscina para a sala de jantar. Graças a Deus tínhamos ajuda dessa vez. A
gente vivia em um estado de caos perpétuo nos melhores dias. Hoje
aumentamos o caos, fazendo um churrasco de boas-vindas para Pandora e
Jason em casa. — Estamos preparados e prontos para quando seus
convidados chegarem. Já iremos começar a servir algumas bebidas.
Eu me virei para o Max.
— Puta merda. Outros dezoito meses sem beber.
— Bem, estará em boa companhia — disse Max, abraçando-me apertado,
Amy agarrando seu cabelo.
Pandora e Jason também estavam esperando um filho. Era o motivo por
estarem voltando para a América. Isso e porque sentiam falta da Amanda.
— Não sei se caberão todos nessa festa — murmurei. A festa era apenas
uma reunião familiar, mas a lista crescia a cada dia. Junto com a minha mãe,
estávamos esperando os pais de Max, os pais de Pandora, Scarlett e seu novo
namorado, Violet, Grace e o irmão de Jason.
— Falei com um arquiteto na semana passada — comentou Max, pegando
Amy de mim. Max King nunca teve falta de atenção feminina de qualquer
tipo, então é claro que Amy era a filhinha do papai.
— Arquiteto? — perguntei, abrindo a geladeira. Agora tinha uma
explicação para aquele desejo de queijo, eu ia ceder a ele.
— Você está certa, precisamos de mais espaço. Pensei que talvez também
pudéssemos fazer uma casa de piscina, porque vamos precisar de ajuda em
tempo integral. — Max saiu da cozinha no meio da conversa antes que eu
pudesse dizer que tinha certeza de que conseguiríamos lidar com as coisas
sem ninguém morando com a gente.
Era como se a vida estivesse definida em alta velocidade – Max e eu
morando juntos, Amy, um segundo bebê.
— Meninas — Max chamou do escritório.
Fechei a porta da geladeira com o quadril.
— O que ele quer? — perguntei a Amanda.
— Não sei, mas vamos lá ver — respondeu, me empurrando em direção
ao escritório.
— Está sentindo o cheiro? — perguntei. — E de onde vem essa música?
Abri a porta do escritório e o encontrei vazio, mas as portas que davam
para o quintal estavam abertas, as cortinas brancas balançando com a brisa.
— O que está acontecendo, Amanda? — perguntei. Ela deu de ombros,
me empurrando em direção às portas. Quando saí, vi Max bem na minha
frente, com um dos joelhos no chão, cercado por todas as rosas coloridas que
existiam. Olhei em volta. Flores cobriam o chão e enormes vasos estavam
espalhados pelo gramado, adicionando cor aonde quer que eu olhasse. À
minha esquerda, um violoncelista, tocando o que reconheci imediatamente
como uma composição de Bach, a mesma peça que Max havia colocado no
volume máximo na noite em que dormimos juntos pela primeira vez.
Amy estava em seu tapete ao lado de Max, olhando para mim, sorrindo,
os lindos olhos verdes iguais aos do pai.
— O que você está fazendo? — perguntei. — Como... Quando... — Eu
me virei para Amanda, cujo sorriso me disse que estava claramente envolvida
nessa armação toda.
— Bem, onde há esforço necessário, não há desculpa para não tornar as
coisas perfeitas — disse ele. — E eu pensei, nós quatro aqui juntos e agora
com o número cinco a caminho... — Ele respirou fundo. — Não posso
imaginar nada mais perfeito do que isso.
Ele abriu a caixa vermelha que segurava, revelando um enorme diamante
corte de princesa.
— Harper, eu te amei desde o momento em que coloquei os olhos em
você. Você já é o meu coração, minha alma, minha família e agora eu quero
que o mundo saiba. Como o Rei de Wall Street, preciso que seja a minha
rainha. Case comigo.
Sorri. Como uma mulher poderia dizer recusar um pedido como esse?
AGRADECIMENTOS
Muito obrigada por lerem O Rei de Wall Street. Tem sido um ano maluco
para mim e sei que alguns de vocês queriam ler algo meu antes. Obrigada por
esperarem pacientemente. Espero que não tenha que esperar muito pelo
próximo. Adoro ouvir vocês nas redes sociais – nunca deixam eu me sentir
solitária! (Estou prestes a entrar para as estatísticas dos pontos de
exclamação).
Ainda acordo todos os dias sem conseguir acreditar que sou capaz de
dividir minhas histórias com vocês e que todos as leem! Obrigada. Amo
vocês!
Elizabeth, você é a melhor. Obrigada por sua paciência e sabedoria nesta
jornada.
Nina – minha esposa irmã. O que eu faria sem você? Com quem eu falaria
enquanto faço minhas mamografias? Com quem eu desabafaria? Você me faz
uivar. Você é incrível. PS, agradeça a Charlie pela dica de capa.
Jéssica Hawkins. E aí, BFF? Ha! Eu te amo. Amo sua escrita. Amo sua
postura e determinação. Ansiosa pela mudança para o deserto só para você
poder me levar para passear.
Karen Booth – tenho muita sorte em ter você na minha vida virtual! Como
conquistou o mundo em 2016 é algo incrível! Que continue assim por muito
tempo. É obrigatório usar seus poderes mágicos com sinopses.
Para todos os autores incríveis que constantemente me ajudam e dão
apoio – eu amo essa comunidade e tenho muito orgulho de fazer parte dela.
Najla Qamber – obrigada pela capa incrível e por me socorrer. Você é tão
talentosa.
Letitia Hasser – essa fonte é tão boa que eu quero comê-la. Obrigada.
Jules Rapley Collins – obrigada por ser um grande apoio, meu bem.
Megan Fields, você é uma querida. Obrigada por me dizer a verdade, sempre.
Obrigada a Jacquie Jax Denison, Lucy May, Lauren Hutton, Kingston
Westmoreland, Lauren Luman, Mimi Perez Sanchez, Ashton Williams
Shone, Tina Haynes Marshall, Susan Ann Whitaker, Vicky Marsh e Sally
Ann Cole.
Twirly, sua contribuição é inestimável, como sempre. Você descobriu que
idiota que senta em uma cadeira de ouro? A referência clássica é para você,
obviamente.
SOBRE A AUTORA
A escritora best-seller do USA Today, Louise Bay, escreve romances
sexy e contemporâneos – do estilo que ela gosta de ler. Seus livros incluem
os romances Faithful (atualmente não está à venda, para uma nova revisão!),
Hopeful, The Empire State Series, The Nights Series (uma série de livros
independentes, cada um com personagens diferentes) e O Rei de Wall Street.
Arruinada pelas minisséries românticas dos anos oitenta, Louise ama
todas as coisas românticas. Como não tem o suficiente disso na vida real, ela
desaparece nos mundos fictícios dos livros e filmes.
Louise ama a chuva, The West Wing, Londres, os dias em que não precisa
usar maquiagem, ficar sozinha, estar com amigos, elefantes e champanhe.
Ela adora ouvir os leitores, então entre em contato!
Vamos nos conectar!

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