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MONIK REGIS

ATRAÇÃO IRRESISTÍVEL

1ª Edição, 2024
Copyright ₢ Monik Regis
©2022 Brazil by Monik Regis
Proudly Created Monik Regis
Todos os direitos reservados à Monik Regis
Não está autorizada a partilha desse livro por qualquer meio existente sem autorização prévia do
autor. A violação de direitos autorais gera multa.

Os direitos morais, patrimoniais, prazos de proteção e direito dos sucessores estão regulados na
Lei nº. 9.610/98

Pirataria é crime.

Pirataria é crime e está previsto no art. 184 do Código Penal, com pena de até quatro anos de
prisão, além do pagamento de multa.

Revisão e copidesque: Carol Catalani


Design interno e externo: Nay Lisboa

M744 Regis, Monik. Atração irresistível. São Paulo, Brasil.


1ª edição, 2024.
ISBN: 9786598240363
1. Literatura nacional, 2. Dark 3. Drama, 4. Romance
DEDICATÓRIA

Para todas as apaixonadas por um anti-herói, as que se aventuram na


saciedade de amar um criminoso. Para todas as apaixonadas por um homem
que seja mandão, mas ao mesmo tempo o mais sensível e disposto a mover
o mundo por uma mulher.
EPÍGRAFE

Você o conheceu em um dos seus piores dias.


Ele feriu os sentimentos mais puros que você nutria por ele.
Seu maior erro talvez seja amá-lo.
Mesmo conhecendo o quão filha da puta ele foi com você,
você o ama. Minha doce, Maitê.
A sua raiva por ele não foi tão forte ao ponto de dizer o tamanho da sua
dor.

Ele mostrou a você seu pior lado,


e mesmo assim, você ficou.
Aviso da autora

Bem-vindos ao primeiro livro da duologia de Atração Irresistível.

O livro contém cenas como agressões físicas e verbais, torturas, abuso


sexual, lactofilia, envolvimento no crime, uso de drogas e bebidas, tráfico,
BDSM e sexo explícito. Lembrando, não estou fazendo apologia ao crime.
Qualquer cena com a realidade é mera coincidência, toda escrita são ideias
tiradas da imaginação da autora.

Desejo uma boa leitura e que esse casal fique eternizado em nossas
vidas.
CAPÍTULO 01

“Esteja sempre preparado para fechar seu coração” é uma frase que
carrego desde a minha infância. Tatuei-a no meu antebraço há três anos, ao
lado de outras tatuagens significativas. Essa simples frase composta por
letras, sinaliza muitas coisas na minha vida. Para começo de conversa, para
estar onde estou, precisei tomar muitos atos maldosos.
Tiro o isqueiro que está em cima da minha mesa à minha frente. Eu
preciso de um pouco da sensação de relaxamento. Por isso não hesito muito
em acender um baseado sentado na cadeira de couro no quarto. Coloco-o
entre meus lábios secos. Sinto a amargura ao puxar a fumaça, prendo e solto
no ar, e logo some sob meu olhar.
Repenso algumas possibilidades, estava prestes a entrar em um assalto.
Alguns pensamentos preenchem a minha cabeça, são sensações que fazem
reviver várias coisas, entre elas, jamais teria o medo. Afinal, não lembro a
última vez que tive a sensação de medo. Talvez quando meu pai me olhava
com aquele olhar maligno antes de partir para cima do seu único filho e o
espancar, eu era seu único filho.
Depois de velho não consegui ter a sensação de medo, medo de perder
alguém? Que caralho. Eu sou o Italiano, eu jamais vou ter algo que eu tenha
medo de perder.
O artigo 157 corrói no meu sangue, transborda na minha vida, e em breve
estaria praticando mais um artigo. Formação de quadrilha.
Enormes quantias de dinheiro, diria um assalto grande, garantindo vários
luxos.
A frieza penetra no subconsciente, a adrenalina corre no corpo.
Por sorte, sou bom nisso.
Na minha frente tem uma balaclava preta, munições, colete à prova de
balas; é um equipamento que ajuda a absorver o impacto e reduzir ou
impedir a penetração de projéteis de arma de fogo e estilhaços de explosões
no corpo. E no canto, não muito distante de mim, a AK-47 calibre
7,62x39mm. Olho por alguns segundos, e travo minha mandíbula.
Uns dos maiores bandidos foram convocados, entre eles, meu nome está
como o comandante.
Talvez isso, essa sensação de poder, seja o que nasci para sempre fazer,
ser temido por várias pessoas, mesmo assim, com tanto poder, sempre
mantive minha única personalidade, ser neutro e calado.
Parado, ainda sentado na cadeira, apago meu baseado, em seguida me
levanto. Engulo o gosto da maconha na saliva, deixando a ponta dentro do
cinzeiro. Caminho em direção da balaclava, pego-a, com minha respiração
calma coloco-a sobre meu rosto, passando por meu cabelo e rosto.
Os meus olhos cor de avelã focam em direção ao pequeno espelho,
proporcional para apenas meu fosse. A balaclava cobre todo o meu rosto,
apenas meus olhos são visíveis por cada buraco nos olhos.
Espanto meus pensamentos, quando ouço o barulho do meu celular ao
ecoar na minha audição, pude senti-lo vibrar na minha cintura entre o cós da
minha calça e minha pele quente. Desvio minha atenção, imediatamente
pego-o, então atendo a chamada.
— E aí, bandido mau. Está tudo correto para o maior dilúvio à plena luz
do dia? — Escuto a voz masculina e baixa em um tom de suspense,
permaneço em silêncio. — Está, Italiano?
Essa voz é do Gil, William Gilson Gonçalves, é um dos caras da
quadrilha, um dos quatro que participam dos assaltos e, consequentemente,
participará deste. Gil é sempre o mais sem graça em momentos sérios.
Normalmente, não parece que tem vinte e três anos.
— Ele não atendeu?
Ouço a voz do HG no fundo. Puxo a touca, tirando-a.
HG é um dos outros, seu nome é Henrique. Está na quadrilha há um
tempo, assim como os outros.
— Atendeu, pô, mas está mudo. Qual foi, Italiano? Fala comigo. Será
que ele infartou? — Gil fala, ainda raciocinando meu silêncio.
— As brincadeiras, caralho! — HG completa no fundo.
— Quero saber, atendeu e ficou quieto, Italiano está com trinta e quatro
anos, as vezes teve algum problema respiratório... Estou começando a ficar
preocupado.
— Pare de ficar brincando com quem não deve. — HG alerta mais uma
vez no fundo.
— Eu tô na linha, Gil, — Ele fica imediatamente em silêncio. — A
ligação está no viva-voz pra todo mundo ouvir? — Pergunto ao notar a
minha voz duplicando na ligação.
— Não... não, não. — Fala rápido, em seguida a chamada fica com
dificuldade em escutar, mostrando que estava sim no viva-voz.
— O que você quer? — Pergunto.
— Estamos saindo em vinte e cinco minutos, lava o rosto na pia e ora por
Deus, a água é sagrada. — Sento na cadeira novamente, ouvindo-o falar. —
Em vinte e cinco minutos estaremos no maior assalto.
— Qual os nomes dos atendentes que estarão lá dentro? — HG pergunta
para um deles no fundo. Porém, respondo.
— Um gerente, nome Fábio e uma jovem-aprendiz, Maitê. — Um
murmúrio sai dos meus lábios.
— Não podemos fraquejar, qualquer vacilo, estaremos ferrados. — HG
alerta.
— Em vinte minutos estou no local marcado.
Afasto o celular da orelha, e encerro a ligação.
Guardo-o no bolso. Como sou um pouco afastado deles no quesito
amizade, estou sempre evitando qualquer tipo de brincadeiras.
Levanto novamente da cadeira. Naquele momento a frieza toma conta do
meu corpo, resultando assim, no momento onde me preparo para começar as
cenas.
Coloco todas as coisas dentro da mochila preta, minha roupa do assalto,
balaclava. Coloco o colete à prova de balas por cima da minha camisa preta,
e coloco o fuzil da mesma cor na bandoleira.
Saio de dentro da casa, me deparando com o meu Azera na pequena
garagem. Enfio meu corpo no banco do motorista e deixo as coisas no banco
ao lado. Pego o trajeto mais rápido dentro do Alemão, até o local
combinado.
Estaciono o carro dentro da garagem enorme, depois de certos minutos,
onde vários carros estão localizados, principalmente a van que está
programada para o assalto.
— Tira as minhas coisas do banco do passageiro. — Ordeno para um
deles quando desço do carro.
HG faz como mando, e minha atenção de imediato vai para meu celular
vibrando em uma ligação. Tocou três vezes durante meu percurso até aqui.
Pego em mãos. Analiso o número da minha prima sob meu olhar, mas sei
que através da ligação, é minha madrinha.
Suspiro fundo.
Encerro a ligação sem atender, coloco o celular no modo avião para
guardar na mochila.
Maressa é minha madrinha, desde novo ela me criou. Deu a vida como se
fosse o primeiro filho dela, com alguns anos veio a Lara, que hoje em dia
tem quatorze anos. Porém, minha vida e a delas não caminham no mesmo
trilho, eu gosto de ficar do meu lado, com um muro que criei, e não envolver
nenhuma delas na minha vida dentro do crime. Minha vida não tem volta.
Quando decidi me envolver em vários crimes, estelionato, tráfico e jogos de
apostas.
Em algumas fofocas, soube que meu nome rolaria até como de frente
daqui do Complexo Do Alemão, o chefe. Carrego vários artigos no meu
nome, sou um dos mais conhecidos e respeitados na região do Rio De
Janeiro. Fui preso aos dezessete anos de idade, fiquei um tempo na Febem e
depois conclui alguns anos em presídio, qual seria minha ética em colocar a
vida das duas no meio?
Mais uma vez, espanto meus pensamentos. Faltam apenas dois minutos
para o meu horário marcado: 15h30min.
Pego a mochila, o vento frio toma conta do meu corpo, estudo cada
expressão de todos, que estão fortemente armados e vestidos com o colete.
HG, Gil e mais dois deles, Nando e Cleiton.
Poucos minutos depois, já havia trocado minha roupa, agora com uma
bota preta, calça e blusa fina na mesma cor, por cima do colete, tampando
qualquer tatuagem possível pra não deixar vestígios.
— Todos dentro da van. — Mando.
Gil vem para o meu lado, sendo seguido pelo HG. Coloco minha mochila
para frente. As luvas estão em minhas mãos; visto mais um colete sobre meu
peito, totalizando dois, nas cores pretas. Toda prevenção é pouca; aprendi
isso há muito tempo.
Passo meu fuzil na bandoleira em meu pescoço, analisando
vagarosamente a balaclava entre minhas mãos. Estou acostumado com todo
esse sentimento: a sensação da frieza, o repúdio pelo transtorno da mente,
para prepará-la para as piores cenas nos próximos minutos. Subo meu olhar,
analisando HG e Gil um pouco à minha frente.
— Ninguém aqui vai desistir, caralho. — Passo o olhar por cada um
deles dentro da van. — Eles vão mandar até helicóptero, então manteremos
nossos corpos em sigilo. Seremos rápidos, porra, rápidos! Se alguém reagir,
teremos que atirar, como treinamos durante esses três meses. Iremos fazer
melhor. — Murmuro a última frase como um comandante cheio de raiva.
— Caralho, vamos foder várias mulheres depois desse assalto, vai rolar
até uma suruba entre HG, Italiano e eu, com as piranhas. — A voz do Gil
soa gradativamente, tirando risada de todos.
Reviro os olhos.
Dá pra perceber o quanto esse é o mais favorável para todos, e o mais
chato pra mim? Ele é um saco, porra.
Ouço-os falando do nervosismo do momento. Basta alguns segundos
para tirar a minha luva da mão direita e pegar o celular na minha mochila,
com ele em mãos entro nas mensagens da Lara, porém sei que nesse
momento é minha madrinha, então as leio.

Lara: Oi, aqui é sua madrinha, como você está?


Faz tempo que não dá notícias, estou preocupada.
Não pode pelo menos dizer que está bem?
Caso veja as mensagens ou as ligações, me retorna dizendo que está bem.

Italiano: Estou bem!


Respondo sua mensagem, entretanto, não é enviada. Afinal, havia
colocado o telefone em modo avião antes de chegar aqui, e assim
permanece, não vou falar que estou bem sem saber qual será meu destino
nos próximos minutos, dentro de um banco do Brasil, assaltando.
Aos doze anos, eu tinha em mente estudar ou, talvez, tornar-me “alguém”
na vida. Contudo, a dura realidade sempre foi diferente dos sonhos e das
minhas esperanças. Aos treze anos, comecei a ter uma visão mais ampla,
percebendo que não havia esperança nem sonho na minha mente. Parecia
que eu havia nascido para outro tipo de aventura: o crime.
Na época, matei as necessidades da minha madrinha dentro de casa, mas
ela sempre perguntava de onde estava conseguindo tanto dinheiro. O que eu
diria? Que estava começando no crime? Não. Então menti. Mas ela
descobriu e na época apanhei de madeira da mão dela. Suas palavras e seu
olhar transmitiam ódio e tristeza, mas Maressa não podia fazer nada. Não
havia mais volta, e na mente do filho dela só restava o ódio e a neurose de
um jovem sem pais e sem futuro.
Ela dizia: “Edgar Mazza, vai estudar.”
Eu nunca a ouvi, pelo contrário, ria da sua cara como se essa frase fosse
para mim uma piada.
Há alguns metros do banco, a van toda fumê chama a atenção, o bonde
dentro da van não é visto do lado de fora. Em nossos rostos estão as
balaclavas, cada um tinha uma da sua cor. A do Gil Vermelha, HG verde,
Cleiton roxa e o motorista, Nando azul, no topo da sua cabeça.
A frieza toma conta do lugar, um por cento a mais. Neste momento,
criminoso que não acredita em Jesus, faz até uma oração, a atenção é
redobrada no local. Travei meu maxilar, desviando o olhar, sentado na parte
de trás, olhei para os três.
— Se pá, até helicóptero sobrevoa hoje! — Gil avisa.
Observo sua balaclava, sua respiração está pesada e ele parece tenso,
assim como qualquer um estava.
— Você só fala merda, Gil. Fica quieto por um segundo! — HG rebate.
Desvio minha atenção, seguro o fuzil firme, soltando o ar forte do
pulmão.
— O único que tá relaxado aqui é o Italiano, tomou alguma parada, cara?
— Gil ainda fala, a fim de obter alguma resposta minha. Encaro seu rosto.
Todos estão tensos…menos eu.
— Não tenho nada a perder caso algo dê errado. — Murmuro, deixando
todos em silêncio. O motorista freia em frente ao banco, poucos segundos
após minha fala. — Sem vacilar, porra! Lá dentro tem o gerente e a menina
do jovem-aprendiz, nosso foco será apenas um.
— Cair para a tesouraria e encher os malotes, caso alguém queira dar
uma de super-herói, iremos atirar. — HG afirma, pronto para a guerra que
nós iremos causar.
Da van, pulamos em direção a entrada do banco, a atenção de todos
presentes vem ao nosso encontro, com o fuzil apontado para o rosto de cada
um, o medo toma conta de todos eles. É nítida a feição em cada olhar dos
clientes dentro do banco, principalmente quando eles já estão se abaixando,
mostrando serem comandados antes de um de nós abrirmos a boca.
Todos evitam olhar na nossa direção na entrada do banco, cada um do
lado um do outro, com meus olhos estreitos, analiso cada parte, obtenho a
ferocidade da sagacidade.
— No chão, porra, no chão! — Cada um de nós entramos, atirando em
quatro câmeras, e resta apenas uma gravando. — Se alguém pegar o celular
ou falar uma palavra, irei atirar, não quero nenhum de vocês dando uma de
herói! — Falo.
Agora vejo todos deitados com as mãos para trás.
Entro ao lado do HG, caminho para perto do gerente.
— Bora, abre a boca e você garante a tua vida, tem dois filhos
aguardando você em casa. — HG segura o gerente pelos braços, tirando-o do
chão.
Minha atenção sai do HG, que leva o gerente para o cofre onde exige a
senha, enquanto firmo minha visão na garota que está atrás da mesa do
gerente.
A visão que obtenho é do rosto no chão, e o cabelo bagunçado para trás,
os fios pretos e enormes chamam minha atenção.
É ela… Maitê, jovem-aprendiz.
A roupa social chama atenção no seu corpo, uma camisa feminina social
e uma calça alfaiataria na cor bege. Analiso cada detalhe, confirmando o
quanto seu corpo tremia de medo contra o chão. Ela sente minha presença
intacta a poucos passos dela, seus olhos fixam nas minhas botas de couro
preta, então levanta o olhar com receio, os olhos negritos sobem pela minha
calça preta, meu quadril, colete, chegando na balaclava.
Não, no meu rosto não…
Pelos próximos segundos, observo suas bochechas vermelhas e a
expressão de assustada, os óculos de grau meio desajeitados em seu rosto.
Rapidamente ela abaixa o rosto, o que significa que ela não consegue ver a
cor dos meus olhos.
No fundo, a gritaria entra na minha audição, retornado aos poucos minha
atenção.
Eu estou na cena de um assalto. Como deixei minha mente viajar? Pode
ser por milésimos segundos, mas é o suficiente para você morrer, Italiano.
Meu subconsciente alerta.
Aproximo e olho para os lados, Nando e Cleiton cuidam dos que estão
deitados no chão e HG e Gil estão com o gerente.
Abaixo ao seu lado, ajeitando o fuzil.
— Eu não fiz nada. — Sua voz sai trêmula. — Por favor. — Implora.
Passo a língua em meus lábios através daquela máscara, obtendo a textura
seca.
— Ae! Esse gerente filho da puta está dizendo que não sabe a senha! —
A voz do HG expande dentro do banco em um tom de ódio.
— Eu te imploro... — Ela sussurra mais uma vez.
Levo uma única mão em seu braço, com força consigo levantá-la, coloco
seu corpo na frente do meu, impedindo-a de me olhar.
Minha mão direita gruda na pele da sua nuca, contornando meus dedos e
aperto levemente. Assimilo mais ou menos 1,50m para ela, pequena, meu
corpo alto e musculoso cobre o seu. Consigo ouvir sua respiração pesada e
seu choro sendo engolido por sua garganta pelo medo de morrer.
Por baixo da minha roupa está quente, agora com seu corpo grudado no
meu, aumenta a fervura na minha pele. Guio Maitê rápida e facilmente até o
HG, caindo para a tesouraria.
— Bora ou vai morrer todo mundo, caralho, todo mundo! — HG grita
alto. — Esse filho da puta está falando que não sabe a senha! — Aponta o
fuzil para a cabeça dele. —
Mas ele sabe e está querendo dar uma de herói, — Escuto o barulho de
um soco forte no estômago do gerente, seu grito de dor ecoa.
Junto com esse barulho, ouço o choro da menina intensificar, e seu corpo
tremer mais forte pelo medo. O gerente não pensa mais, ele simplesmente
entrega a senha com seus dedos, sentindo o gosto do ferro da arma na sua
boca, o acesso aparece “liberado”. Em questão de segundos, ele entrega a
senha, o cofre abre, e escuto o fuzil ser disparado na cabeça dele. Um aperto
do gatilho é o suficiente para o sangue jorrar, transparecendo o cheiro de
ferrugem da sua cabeça baleada. HG empurra o corpo sem vida no chão com
suas luvas em mãos.
Vários gritos ecoam dentro daquele banco. Eu permaneço em silêncio.
Porra, ele matou o gerente.
Olho em volta e isso está um caos, então empurro a garota com mais
força, apertando-a em minhas mãos. Ela choraminga e mantém a cabeça
baixa, tremendo de medo.
— Porra, não era pra matá-lo! — Gil aproxima-se.
— Bora, porra! — Contesta HG.
Faço a menina deitar no chão, ela deita na mesma posição que a
encontrei atrás daquela mesa, com a cabeça para baixo, negando ver o
quanto o dia dela foi amaldiçoado com uma quadrilha de bandidos.
Gil joga uma mochila ao lado do HG e juntos enchemos vários sacos
pretos de dinheiro, enquanto o restante fica na frente. Com as mãos firmes,
levanto, sobre mais ajuda dos outros, colocamos os malotes dentro do
veículo do lado de fora, tudo calculado.
A rua está vazia e isso me faz perceber que todos sabem o que está
acontecendo.
Volto para dentro do banco e pego o último malote, tudo em questão de
segundos. Rapidamente, colocamos várias quantias de dinheiro dentro da
van. Um vai, outro entra, um cuida do pessoal. Até o barulho da sirene ecoar
pela rua e apenas meu corpo restar dentro do banco.
Puxo a garota pelos braços, levantando-a mais uma vez e a coloco seu
corpo na minha frente. Ela fica quieta, do jeito que queria que ela ficasse. Do
lado de fora, aperto o fuzil do lado do seu corpo, com a mão direita e o outro
braço em volta da sua clavícula, possibilitando de atirar a qualquer momento
no seu corpo sob minha arma, a mantenho de refém.
— Vai, Caralho, entra, sem dizer uma palavra. — Minha voz sai em tom
de raiva, conforme ouço barulhos. Com facilidade coloco seu corpo dentro
da van, na parte de trás, junto com os outros.
A van já entra em movimento, não temos tempo para pensar. Passo
qualquer pedaço de tecido em volta de seus olhos, pra ela não conseguir
enxergar nada, seu corpo fica encolhido, sentado no chão. Ela está em estado
de choque, seu corpo treme a todo momento. Os barulhos da sirene eram
escutados e os movimento bruscos da van dava a entender que estávamos em
uma fuga.
— Não era pra ter colocado essa garota aqui dentro, porra! — HG fala,
incrédulo.
— Vamos abandoná-la assim que a perseguição parar. — Rebato. A van
freia bruscamente e o grito do motorista avisa.
— Atirem, porra! — Alerta.
A porta da van é aberta por um de nós, levanto a refém rapidamente,
posicionando-a na minha frente. Ela é usada como um escudo para qualquer
um de nós aqui dentro.
Aperto o fuzil em minha mão, começando a atirar de frente para as
viaturas, com a troca de tiros, o barulho dos disparos é ouvido na avenida.
Somos famosos pela quadrilha montada, treinamos para isso e sabemos
praticar. Daqui são quatro fuzis, contra alguns polícias. Mudo de posição,
encostando rapidamente contra a lateral de dentro da van, respirando forte,
mantendo o corpo da menina envolvido comigo. Ela chora baixo, quase
engolindo o choro, percebendo o quanto está quase morta.
A van volta acelerar, eles fecham a porta com dificuldade e nesse
instante, a sirene já não é mais ouvida na perseguição. Sendo assim, eles
abandonaram a porra da perseguição.
— Porra! — HG desfere um murro forte na lateral da van. Em seguida,
tiramos a balaclava dos nossos rostos. — Conseguimos! — Comemora.
Após colocar a garota no chão, seu corpo encolhe de novo.
— Essa garota aqui vai causar problemas. — Cleiton fala e olha na
minha direção.
— Por favor! — A voz trêmula da menina mais uma vez ecoa na minha
cabeça, enquanto seus olhos estão tampados pelo tecido, ela abraça seus
joelhos no peito, sentada.
— Cala a boca, garota! — HG esbraveja.
— Por favor... Por favor. — Com um alternador de voz me abaixo ao seu
lado. — Só sabe falar isso, caralho?
Desço o olhar para o crachá e leio seu
nome, Maitê, a foto do seu rosto moldado dentro do crachá.
— Próxima parada vamos abandona-la, desenrola aí. — HG bate três
vezes na parte da frente, para alertar o motorista.
Permaneço em silêncio, passo a mão pelo meu cabelo e sinto a respiração
pesada, coração acelerado, então mais uma vez meu olhar vai até Maitê,
observando-a. Os traços dela são bonitos, tem um corpo bonito, unhas
grandes, todas pintadas, a estrutura do seu corpo moldado pela roupa.
— Fica calma, não vamos matá-la.
— Como me promete isso? — Seus lábios tremem.
— Não prometo nada jovem-aprendiz. Mas nosso foco aqui não é matar
ninguém.
— Mataram o gerente. — Ela sussurra, chorando.
— Você não vai se fazer de super-heroína, vai? — Minha voz interroga.
Ela nega, seu medo a permite negar.
— Então, seus pais terão a primogênita deles de volta.
Maitê entra em choque, escolhe um pouco mais no chão pelo transe.
Eu te conheço além do que imaginava.
Alguns minutos depois a van estava prestes a parar em algum local, para
assim, ordenar a descida da refém.
— Você não vai abrir a boca pra ninguém. — Murmuro firme, levanto a
Maitê com minhas mãos. Colocando-a na minha frente, seguro seu corpo
fortemente. — Ou vai morrer, entendeu? Eu sei onde você mora, o local, sei
tudo sobre sua vida, sua mãe.
— Sim... — Maitê concorda, com a voz falha sussurra.
— Fala mais alto, caralho.
— Sim, eu entendi! — Afirma.
Passamos alguns minutos com o choro da menina nos nossos ouvidos até
a van parar em frente a um lugar vazio, era quase no meio de um local
afastado da cidade do Rio de Janeiro, HG abre a porta.
— Vai, manda ela sair! — HG manda. Empurro-a para frente, seu corpo
está fraco.
— Vai andar pra frente e sem olhar pra trás, ou eu atiro na tua cabeça,
vai! — Minha voz rouca murmura perto do seu ouvido.
Forço a garota descer, eles ficam observando-a dar alguns passos para
frente, assim que percebem que Maitê não olha para trás, fecham a porta
devagar. Então, mandamos o motorista guiar para queimarmos a van com as
roupas
— Espero que essa menina. — HG me olha — Não traga problemas.
CAPÍTULO 02

São quase 10h00min da terça-feira, quando guardo a escova de dentes e


pego uma toalha, começando a enxugar meu rosto e meu cabelo.
Passei quatro dias seguidos dentro de um quarto todo fechado, em uma
casa no fim do mundo, ao lado dos rapazes. Porra, irmão, odeio dividir
quarto com alguém. Estou com a consciência mais leve porque hoje é o meu
último dia aqui, e que vou voltar às atividades normalmente.
— Estamos bebendo, vamos?
Gil entra no quarto, sua voz chama minha atenção, então viro meu corpo
para a direção da porta.
Seus olhos descem por meu abdômen e passa por minha cueca preta.
Aperto a toalha em mãos, segurando.
— O que está olhando com essa cara? — Pergunto e observo sua
expressão.
— Você está gostoso, olha os músculos todo preenchido, caraca, tá
marcando a cueca pra porra, nem está duro.
Como sempre a voz do engraçadinho me enche de raiva.
— Vai encher a paciência de outro, William, parece que quer de toda
maneira ver como é a cor do meu pau! — Falo, demonstrando raiva no tom
da minha voz.
Pego a mochila que trouxe algumas coisas, e separo minha bermuda e
uma camiseta preta.
— E qual é a cor? — Minha íris séria vai até ele novamente.
Gil está encostado na porta, esperando a qualquer momento uma raiva
maior me atingir. Na verdade, ele está tentando me estressar como sempre
faz.
— Está de sacanagem mesmo? — Cerro o maxilar. — Vai encher a
paciência de outro, me deixa em paz.
— Tô não, Italiano. Você está velho demais, quer um suco de maracujá?
— Suspiro fundo. — Eu faço, sei que você gosta. — Junto minhas
sobrancelhas, fitando-o.
— Maracujá?
— É velho, estressado, fica com essa cara de marra em todo canto, única
coisa que te acalma é um suco de maracujá.
Continuo em silêncio dentro do quarto. Tenho que conseguir muita
paciência pra aguentá-lo falando por horas.
— Me deixa cheio de vontade. — Rolo os olhos. — Sério, estamos
bebendo e assistindo o jornal, passamos mais uma vez na telinha daquela TV
velha, o som baixo e aquele copo de whisky. — Mando um joia pra ele, que
retira-se do cômodo onde estamos dormindo.
Pego minha roupa e visto rápido, jogo meu desodorante e tiro meu
hidratante corporal masculino, Cassino, de dentro da mochila, jogo um
pouco do produto na palma da minha mão, espalhando pelas pernas, em
seguida pelo braço em cima das tatuagens, depois guardo novamente.
Arrasto a minha corrente de ouro de dentro da camiseta, colocando-a por
cima. Eu sempre gosto de ficar cheiroso e arrumado.
Pego meu celular em mãos, analiso as horas por breves segundos, antes
de enfia-lo no bolso, são exatamente 10h00min.
Meus passos calmos vão até o tumulto que está acontecendo e assim que
sinto o cheiro de churrasco, meu estômago revira, bebi demais na noite
passada. Opto por fazer um café da manhã rápido e um lanche. Assim que
termino de fazer, sento no canto sozinho e começo a comer.
Gil conversa com todos e ri, enquanto eles mantêm cada um, um sorriso
no rosto, bebem e fumam. Pela porta aberta, saia a fumaça do baseado de
cada um. Sinceramente? Um ambiente caótico viver ao lado deles por
poucos dias. Se eu ficar um dia a mais aqui, acho que fico mais louco.
Os olhos de HG vêm na minha direção, ele apenas aponta para a direção
do lado de fora, me chamando para sair. Então, aponto para o meu lanche,
dizendo que assim acabasse iria até ele. Ele não dá atenção e sai em direção
a porta aberta.
Pela expressão sei qual assunto trata-se. Mais uma vez ele tocará na
mesma tecla.
Levo mais uma vez o lanche na minha boca, terminando de comer. Deixo
o resto do café em cima da pequena mesa velha, que tinha na cozinha e
caminho do lado de fora, passo a mão no meu cabelo, que estava úmido
ainda e ajeito os fios para trás.
— Olha isso aqui. — HG segura o crachá em suas mãos. Então meus
olhos vão até a foto da menina estampada e o nome. — Essa garota mora
longe mesmo, Italiano? — Confirmo, sério. — Você quem buscou a ficha de
todos.
Na sua mão, tem o mesmo crachá que vi há quatro dias com ela, está
arrebentado. Mostra que caiu do pescoço dela em algum impulso.
Sinto a presença do Gil ao nosso lado. Direciono meu olhar ao rosto dele
e aponto com a cabeça para HG.
— Qual foi? — Gil investiga.
— Essa vagabunda aqui que o Italiano resolveu foder nosso plano e
coloca-la como refém mora longe? — HG mais uma vez tenta opinar. Chato!
— Que eu tenha sabido sim, sabido? — De imediato Gil foca na palavra
que disse.
— Não... Soubedo. — Junto as sobrancelhas ao ouvir HG.
— Que eu tenha s-sabido… — Mais uma vez Gil.
— Sabido? — Murmuro, negando.
— Soubedo... soubido... a palavra certa é soubido. — HG fala mais uma
vez.
— Que eu tenha soubedo. — Passo a mão no rosto. Suspiro fundo ao
notar meu nervosismo com a voz do Gil.
— Sabido, sabedo. — HG alerta.
— É soubesse! — Reclamo.
— Que eu tenha soubesse? Tá fumando rola, caralho? — Gil ironiza e ri
alto.
— Porra, fala o que ia falar, irmão. — Meu tom de raiva soa entre nós.
— Eu puxei a ficha três meses atrás e ela mora longe, demorou? —
Encaro Gil quando sua voz fala entre nós, respirando forte.
— Três meses atrás, amanhã é um novo dia, irmão, você não procurou
atualizar? — O tom de voz do HG é de raiva.
— Não. — Gil afirma.
— Eu vou atrás dessa vagabunda quando retornarmos para comunidade,
irmão — HG olha nos meus olhos. — Caso ela estiver morando perto. —
Puxo o crachá da mão do HG com força, enquanto olho bolado em seus
olhos. Ele fica em silêncio.
— O que foi, galera, vamos discutir agora? — Levo meus olhos no rosto
do Gil. — Depois do dia de hoje, uns vão viajar. — Olha para dentro e volta
para o meu rosto. — Outros vão gastar com puta, bebida e luxar. —
Intensifica o olhar no HG. — Outros vão guardar, então vamos ficar
tranquilos, curtir juntos.
— Não quero ficar escutando conversas na minha cabeça, HG. — Falo.
Ele confirma sério.
Suspiro fundo mais uma vez, eu tento controlar a raiva. HG sai em
direção da casa, nitidamente com raiva, assim como eu. Guardo o crachá no
meu bolso sem dialogar com nenhuma uma palavra a mais.
— Tem que entender que ele está certo nessa conversa. — Fico calado
com a voz do Gil.
Desvio minha atenção. Não penso muito para entrar novamente com o
crachá entre minhas mãos. Pego uma cadeira, sentando no meu canto, sem
falar nada, calado.
Permaneço em silêncio, as vozes deles somem na minha cabeça. Abaixo
minha atenção para a palma da minha mão, onde está o crachá entre meus
dedos. Esses olhos... são diferentes de qualquer pessoa que conheço.
Estou maluco para retornar para a comunidade, sair de dentro desse local
fechado. Hoje com meus trinta e quatro anos de idade, evito entrar em atrito
com qualquer um que seja. Afinal, sou conhecido como o cabeça da
quadrilha e estou prometendo que é meu último assalto. Meu próximo passo
é tornar-me alguém superior, o chefe da organização criminosa.
Sei que tem alguns polícias determinados a pegar o chefe que atua na
comunidade do Alemão, famoso Iguinho, um dos mais procurados que hoje
deve estar curtindo em Angra dos Reis ― Rio de Janeiro, com a esposa. Ele
atua há anos no crime, dono de um dos maiores jogos do tráfico. O crime na
comunidade não envolve só a venda de drogas, mas envolve um percentual
enorme como; receber aluguel das casas, estelionato, roubo fora da
comunidade, crack, maconha, cocaína, etc… A maior parte desse dinheiro o
chefe comanda, e é raro quem não deseje está no lugar dele.

Dois... três... quatro goles de whisky passam pela minha garganta, sinto o
copo gélido na minha mão por causa do gelo. Abaixo meu olhar sob meu
pulso direito, o horário: 23h00min, passa por minha atenção. Chegamos na
comunidade há algumas horas, eles bebem desde manhã, enquanto eu fico
mais relaxado. Pego meu primeiro copo apenas agora.
Quando acontecem muitas festas dessa forma, muitas mulheres estão
sempre aparecendo para sensualizar com os homens, o dinheiro e luxo
proporciona essa sensação de poder para elas.
Seguro meu copo com a mão esquerda, a direita vai até meu bolso,
pegando meu celular, desbloqueio e tiro do modo avião.
De imediato as mensagens e ligações perdidas caem automaticamente na
barra de notificações, até mesmo duas ligações perdidas há trinta minutos
atrás. O nome Lara aparece na minha tela. Porra, elas nunca vão cansar de
serem avisadas que não estou com tempo para ficar conversando com elas.
— Sua prima? — A voz do meu companheiro desperta minha atenção.
Tiro meu olhar do celular, então analiso Gil, que estava sentado ao meu
lado fumando seu baseado. Os olhos pequenos e vermelhos me fitam, quase
sumindo pela onda da maconha.
— É. — Confirmo.
— Responde, cara, não está vendo que ela fica preocupada? — Alerta.
— Preocupação com o quê? Elas sabem o que faço.
— Sua madrinha preocupa-se com você, queria ter alguém para se
preocupar comigo dessa forma. — Nego.
Meu celular apaga a tela, então guardo novamente no meu bolso.
— E sua mãe? — Pergunto.
— Ela se preocupa, mas não da forma que quero, tento alertá-la, agora
ela deve estar com algum homem. — Desvio minha atenção para os outros
homens que bebem no mesmo local.
As mulheres presentes estão em pé, tentando arrumar alguém para
proporcionar a noite de luxo que elas querem.
— Sua mãe ainda está nessa?
— Há tempos, Italiano, Érica não sairá mais dessa vida... ela me teve
assim. — Viro meu rosto para ele.
Fico um tempo ao seu lado, conversando, o assunto entrava em relação a
ele e sua mãe. Érica deu à luz nova, ela sempre esteve na mesma vida de
prostituição, e até hoje não mudou.
— Ela queria transar com o HG… — Afirmo, sério.
— Mas ele não quis, ele é meu amigo. Ele não aceitou. — Tenta passar
confiança em suas palavras.
Sinceramente? Eu não acredito nesse assunto, HG não conseguirá resistir.
Uma mulher para ele sempre será bem-vinda. Penso quando olho em direção
a ele que está a poucos passos de distância, enquanto conversa com vários
rapazes armados. Aqui é normal vermos fuzil, armamentos, até mesmo
venda de drogas. É o mais comum dentro das comunidades, o tráfico. Todos
nós estamos envolvidos nas contratações do crime, e principalmente nos
armamentos. Isso serve para garantir a segurança um do outro,
principalmente do mais respeitado, o chefe do tráfico.
Então, isso atrai muitas pessoas, principalmente mulheres, estamos
falando de algo que gera dinheiro, conhecimento. HG tem o poder dele no
tráfico, e ele é o estilo de homem apto para Érica, mãe do William Gilson. Já
teve repercussões em relação a HG e Érica, lembro-me das fofocas na
comunidade, e isso dificultou a confiança, querendo ou não, HG e Gil são
melhores amigos.
Érica teve Gil aos quatorze anos de idade, parto prematuro, segundo ele,
quase morreu pelas dificuldades quando nasceu.
— Sua mãe está com quantos anos? — Pergunto.
— Trinta e sete. — Confirma.
Percebo que estava há um tempo olhando para o HG, quando sua
expressão duvidosa me olha. Revido seu olhar sem desviar, fazendo-o
desviar.
Um pouco à minha frente, a mulher loira chama a atenção, consigo ouvir
a música tocando no fundo, um tipo de pagode agora, enquanto ela se
contagia pelo som, dançando. Ela usa um salto, usa um vestido curto, quase
mostrando sua parte íntima, cabelo loiro, enorme chegando em sua bunda.
Isso mostra ser aplique. Ao seu lado uma de cabelo cacheado acompanha.
Veste-se quase igual a loira. Os dois rostos vêm na minha direção. Os dois
rostos ganham sorrisos em seus lábios.
— Qual vai escolher? — Gil ironiza.
— A loira. — Respondo.
— Porra, a mais bonita vai ficar com você? — Gil reclama enquanto
chamo a loira com a mão vazia. As duas vem na nossa direção. — Está de
sacanagem, Italiano, seu filho da puta. — Sua voz baixa soa ao meu lado.
A loira senta na minha perna direita, sem olhá-la, miro minha atenção
para frente.
— Estava te querendo desde da hora que subi. — Fala perto do meu rosto
com sua respiração próxima. Viro meu rosto em sua direção, sem olhá-la nos
olhos miro minha atenção na sua bochecha. — Todo perfumado. — Elogia.
Eu continuo calado.
Seguro seu copo com a minha mão esquerda, ela aproxima o rosto
tentando tirar um beijo dos meus lábios. Sério, desvio meu rosto levemente
para o lado, cerrando meu maxilar.
— Sem beijo — falo, simples. — É prostituta? — Encaro-a, então
confirma levemente. — Pago pelo seu trabalho! — Um murmúrio sai dos
meus lábios, enquanto ela continua olhando na minha direção.
— Meu nome é Fernanda, Italiano... — Balanço a cabeça em
confirmação sem respondê-la.
— Amiga. — A morena levanta. Percorro meu olhar por ela, pensando
que caralho ela quer. — Vou te aguardar onde estavam nossos amigos. —
Gil continua sentado, braços cruzados e a expressão séria.
— Não vai ficar com ele, Lorena? — A loira aponta para Gil com a
cabeça. Sua mão desliza em volta do meu ombro, ajeitando a postura na
minha perna.
— Ele não quer, deve se achar. — Sussurra a última frase para si mesma.
— Eu? — Gil solta uma risadinha. — Me acho só um pouco, sou bonito.
Mas hoje estou tranquilo. — A morena confirma e se despede da amiga com
a expressão de raiva.
— Então, vamos sair daqui? — A voz da loira soa, e logo levanta seu
corpo.
— Daqui a pouco estou de volta, William. — Olho para o Gil que
confirma.
Ajeito minha arma na cintura antes de sair do local.
Ao lado dela, saio do local onde todos bebem, quando chegamos do lado
de fora da casa, destravo o alarme do meu Azera. Enfio meu corpo dentro do
carro, colocando meu copo no suporte e assim que Fernanda senta no banco
do passageiro, ligo o carro saindo pela comunidade.
— Vamos conversar sobre algo? — Não a respondo.
Uma das minhas características é ser quieto, o suficiente para não passar
uma falsa impressão. Esse é um dos meus pontos mais fortes desde criança.
Afasto meus pensamentos quando meu telefone toca em uma ligação,
tiro-o do meu bolso e o nome da Lara aparece estampado na minha tela.
Atendo dessa vez sem dar atenção para a mulher ao meu lado, pelos
primeiros segundos fica em silêncio, até eu ouvir a voz da minha prima.
— Ele atendeu, mãe! — Certifica para a minha madrinha, de imediato
que o celular foi passado para Maressa.
— Edgar? — A voz da minha madrinha soa.
— Tô escutando, o que foi?
— O que foi? Você está de brincadeira, estou tentando conversar com
você há cinco dias, cinco dias! — Respira fundo. — Eu saí atrás de você
perguntando onde você estava, e ninguém sabia o que dizer, Edgar.
— Eu estou tranquilo.
— Esses cinco dias e nem se quer conseguir dormi, passei madrugadas
em claro por sua culpa, uma hora vou infartar com essa preocupação que
sinto por sua vida, Edgar. — Afirma na última frase e continuo em silêncio.
— Eu te falei várias vezes pra não entrar nessa vida...
— Vai começar no mesmo assunto de sempre? Tô ocupado, depois
converso com você, estou tranquilo na comunidade, Maressa, qualquer
problema me liga. — Murmuro, desligando a ligação.
— Sua mãe? — A voz da moça ecoa ao meu lado, suspiro, colocando o
celular no painel.

— Ninguém. Tá parecendo repórter, vamos transar apenas. — Falo sério.


Quando era novo aprendi a ser afastado de mulheres, utilizando-as para
fins de prazer. Nunca consegui a oportunidade de ter um pai “bom” para
ganhar ensinamentos e educação. Descobri com o tempo e a rua várias
coisas que sei hoje em dia.
CAPÍTULO 03

A leve pressão das minhas duas mãos na cabeça da Fernanda, comanda um


boquete profundo no meu pau. Meus dedos enrolam nos seus fios loiros,
enquanto sua boca sobe e desce com rapidez e força, molhando cada
centímetro dele, que está duro dentro da sua boca.
— Italiano. — Choraminga com sua voz baixa e quase impossível de ouvi-
la contra meu pau.
Eu adoto sempre a vibe que qualquer mulher passa quando está ao meu
lado. Fernanda por exemplo, deixou explícito que conseguiria manter a
ferocidade em satisfazer meu tesão, e agora, neste momento, tenta esquivar,
praticamente choramingando. Estava prestes a ter a sensação final de gozar na
sua boca, mas suas duas mãos impedem, batendo contra minha coxa
rapidamente e empurra a cabeça com os fios loiros para trás. Ela afasta a boca,
me fazendo soltar seu cabelo. Que raiva!
— Estava machucando. — Levanto.
Ergo minha cueca preta e a bermuda, fechando o zíper. De imediato meu
pau reclama dentro da boxer, necessitado em gozar.
— Posso tentar mais uma vez, Italiano. — Pede. Meu olhar duro e sincero
é o suficiente para ela entender o quão nervoso estou para uma outra tentativa.
— Posso tentar mais uma vez!
— Não. — Murmuro.
— Eu não sei o que aconteceu, estava muito fundo, mas te acho tão
gostoso. — Contínuo sério sem olhá-la.
Tento manter minha única postura neutra. Quase impossível não sentir
raiva.
Então, pego meu telefone em mãos, observando o nome da Lara estampado
em uma mensagem.
— Vamos… — A voz da Fernanda vai sumindo do meu campo de
audição, enquanto digito a mensagem.

Lara: Está aí? Agora sou eu, a Lara.


Na hora que ver a mensagem, me responda.

Italiano: Estou aqui, o que foi?

Lara: Poderia vir aqui em casa?

Retorno suas mensagens, guardando o celular no bolso da minha bermuda


quando ela responde de volta. Sem olhar para o rosto da Fernanda, começo a ir
em direção à saída do local onde estávamos, que é a casa dela.
— Estou indo embora. — Ela tenta falar. Mas de imediato saio de dentro
da casa, ouvindo-a no fundo.
Do lado de fora, com meu carro destravado no alarme, enfio meu corpo
novamente dentro do Azera preto. Ligo o carro, dirijo em direção à casa da
Maressa, minha madrinha.
Cerca de onze minutos depois, estou com o carro parado do lado de foda
da casa. Agora obtenho a visão entre várias casas da comunidade, a casa e a
rua onde cresci e passei minha infância. A estrutura é quase a mesma, poucas
coisas mudaram, mas minhas memórias continuam intactas na minha mente,
mesmo com a persuasão e reflexão do quanto sofri sobre comandos dados pelo
meu pai antes de morrer.
Certeza que agora está queimando no fogo do inferno.
Cerro meu maxilar, espantando lembranças e desço do carro, o cheiro de
algum tipo de salgado invade minhas narinas. A lua e a luz clareiam o solo da
rua, intensificando. Ao fechar a porta, na saída da casa e o portão sendo
arrastado por um barulho, Lara invade meu campo de visão. Ela coloca
metade do seu corpo para fora, a adolescente me encara.
Caminho em passos de vagarosos. Passo pela frente do carro, assim que
me aproximo dela, meus olhos vão no seu rosto. Seu cabelo preto na altura do
ombro, curto. Um vestido rodado na cor branca intensifica sua pele.
— O que foi? — Pergunto. Cruzo meus braços ao parar poucos passos de
distância do seu corpo.
— Está com pressa? — Pergunta. Nego seriamente, apenas aguardando.
— Fala.
— Você está muito afastado da minha mãe. — Olho nos seus olhos.
— Eu acho que a filha dela é você, Lara, não sou eu. Minha mãe morreu
quando eu tinha dois anos de idade. — Ela solta uma risada forçada de
imediato, enquanto me olha.
— Você só pode estar brincando! Minha mãe te considera como um filho.
— Aponta o dedo na minha direção. — A Maressa te ama como um filho.
Com uma expressão séria, ignoro-a. Como pode ser tão destemida a querer
algo? Principalmente com esse dedo apontado na minha direção.
Pobre Lara, quatorze anos e não viveu o começo do que passei na minha
infância.
— Eu achei que tinha acontecido algo. — O baixo profundo da minha voz
rouca atinge em cheio, o timbre carregado de ódio.
— Ela sempre fez de tudo por você, qual é o problema em fazer o mínimo
para ela? O mínimo, Edgar! Ah… não pode, é criminoso, é bandido. — Sua
voz carregada de sarcasmo ironiza.
— Lara, o que está acontecendo? — A porta da sala atrás da Lara é aberta,
a fresta da luz iluminou a garagem escura. Então, minha madrinha surge sob
meu olhar quando ergo minha atenção.
Minha madrinha aproxima, sua expressão é séria, ela tenta entender o que
está havendo.
— Eu estou bem. — Olho para Maressa, que se aproxima, parando ao lado
da Lara, que dá mais uma risada forçada mostrando seu aparelho nos dentes e
nega, dando as costas, seus passos vão pra dentro da casa sem olhar para trás.
— Você está bem? — Confirmo, dando alguns passos para trás, afasto aos
poucos do portão.
— Estou bem, Maressa, como sempre estive. — Ela nega.
— O que vocês estavam discutindo? — Nego em silêncio.
— Estou indo embora, mas qualquer problema, me liga. — Ela confirma.
Então, saio em direção ao meu carro.
Seus olhos admiram quando enfio meu corpo dentro dele.
Elas sempre vão me enxergar como a mesma merda de sempre.

No dia seguinte, estou no mesmo local que os garotos, é perto da garagem


onde havíamos pego a van, uma boca de fumo onde ocorre o maior trabalho
do tráfico. Aqui onde ocorre a gerência, tem vários cargos. Um dos mais
conhecidos é o chefe; Iguinho, gerente de todas as biqueiras que tem
espalhadas pela comunidade; eu, gerente do pó, aquele que cuida da entrada
da cocaína e dos transportes; William, o Gil.
Nas horas vagas, sou o comandante dos assaltos, o que leva meses para
executar. Todo mapa montado do assalto, pessoas que estão envolvidas,
mortes, câmeras.
Na frente estão HG e Gil, os dois encaram meu rosto, em pé permaneço
encostado na parede que dá saída para a rua quase escura. O horário
18h00min, intensifica as ruas, o sol do fim de tarde aparece refletido nas
casas.
Ajeito minha mão direita sob o coldre na minha cintura, conferindo minha
Glock.
As coisas pareciam estar sob controle.
Até agora parece.
O que pode piorar?
— Os dois estão quietos, o que está acontecendo? — Levanto a cabeça,
meus olhos pairam sobre a perspectiva da frase do HG.
Gil está quieto, na realidade isso é raro acontecer. Eu sou sempre calado,
mas hoje estou mais, pois sobretudo, não tenho o Gil para me deixar com
raiva.
— Fala, porra, o que aconteceu com vocês? — HG ajusta sua postura em
pé, impaciente.
— Minha mãe. — Gil responde ao ajeitar seu boné branco na cabeça.
— O que ela fez? — HG investiga.
— Ela voltou pra casa hoje, ela estava desde sexta-feira na rua. —
Continuo em silêncio, e sua voz é baixa.
— Sua mãe sabe o que faz, é velha. — HG alerta de imediato. Hm.
— Ela não sabe, irmão, ela não tem noção do perigo. — Observo Gil falar
com um tom esbravejando seu ódio supremo. De uma forma que jamais
pensaria em vê-lo.
Escuto os dois continuarem com o assunto, e meu silêncio reina naquela
conversa deles. Afinal, não tem como eu opinar em nada, acho que minha
opinião não serve para nada.
— Caso eu pegue alguém com ela e for conhecido, eu tenho a coragem de
matá-lo. — Seu tom tinha ódio, mais uma vez ele ajeita o boné, respirando
fundo.
Todos mantêm um silêncio, HG me olha, eu olho para o Gil, assim ficamos
por alguns segundos. Como pode esquentar tanto o clima?
— Acho que sua mãe tem vida. — HG fala mais uma vez.
— Vamos ficar tranquilos, os três mosqueteiros. — Gil solta uma risadinha
baixa.
— Mosqueteiros? — Olho seu rosto.
— Somos os três mosqueteiros, você… — Traz a mão no meu ombro,
meus olhos percorrem até seu rosto, o que o faz tirar, pela forma que o encaro.
— O que foi, mosqueteiro um?
— Vocês dois parecem dois casados, sério. — HG nega. — De tanta briga.
— Você é o mosqueteiro três. — Gil aponta para o HG, seus lábios
crescem em um sorriso largo sem mostrar os dentes.
O tom de pele clara reflete, sua barba feita, corpo meio termo, não é forte e
nem magro, tem os olhos castanhos claros. Já HG é mais forte, cabelo baixo
com luzes, traços mais grossos, sua pele parda.
— Mosqueteiro três. — Em pé dá um tapa levemente no ombro do HG.
— Você é o dois? — HG interroga Gil, que confirma.
Fico por um tempo ouvindo-os brincar entre si, mas, os dois são
despertados pelo celular do HG ao tocar. O nome do Cleiton aparece sobre a
tela, por ser noite, consigo ver a tela clarear sob meus olhos, mesmo com o
celular entre as mãos do HG. Ele atende o celular, imediatamente leva o
celular no viva-voz.
— Cleiton? — Questiona.
— Boa noite, Henrique. Está lembrando da refém?
— Sei, a vagabunda.
— A notícia sobre o assalto ainda está acontecendo nos jornais. Agora, nas
maiorias das notícias, está rolando o assunto sobre a ‘refém.’ — HG fica em
silêncio, seus olhos vêm na minha direção, com meus olhos no seu rosto,
intensifico meu olhar. — Estou avisando sobre isso para ficarmos por dentro
das notícias, pois agora ela estará disponível para investigações dos policiais.
Qualquer problema, estou disponível.
— Entendo, Cleiton. Agradeço pela notícia. — HG encerra a ligação.
Seu corpo vira em direção da parede, então um barulho da sua mão
batendo contra a parede invade minha audição. Desvio a minha atenção para
rua, não contendo uma expressão neutra.
Murro na parede. Fala sério! Bagulho de criança.
— Henrique. — Gil ajeita o boné.
— Eu falei pra você. — HG aponta o dedo na minha direção,
aproximando. — Eu falei, caralho. — Cerro meu maxilar. Encaro-o.
— Abaixa a porra da sua mão caso você não queria ficar sem ela nesse
momento. — O drible da minha voz soa entre nós dois, é notável meu tom de
raiva.
Os olhos do HG de relance descem para sua mão, oscilando para os meus
olhos. Com total certeza que eu não estou brincando, ele abaixa a mão.
— A refém é problema meu, não de vocês pra ficarem mastigando o
mesmo assunto toda hora. — Rebato qualquer voz dele. — Eu não brinco com
o meu trabalho. — Falo pela última vez.
Então, com meu rosto sério saio do local, deixando-os para trás.
CAPÍTULO 04

TRÊS MESES ATRÁS


São quase três horas da tarde quando reúno todos os meus utensílios em
cima da mesa de trabalho. O Gerente estava prestes a deixar o banco, então
tento arrumar rapidamente as últimas coisas para conseguir uma carona pelo
dia estar chuvoso.
Confesso, sou uma negação em fazer algo rápido. Quando guardo o
celular, ajeito meus óculos de grau no meu rosto. Droga… a única visão que
obtenho é das costas do gerente saindo pela porta, sem ao menos se despedir
e caminhar pela outra porta do caixa do lado de fora, cumprimentando
algumas pessoas.
Há algumas semanas prometi comprar pelo menos uma bicicleta e vir
trabalhar, mas foi em vão, não vou gastar o salário tão rápido. Prefiro vir a
pé, cumprimentar algumas pessoas e trabalhar como todos os dias.
Comecei a trabalhar há alguns meses, como jovem aprendiz no banco do
Brasil, atuo na parte de arquivamento, na digitalização e na organização de
documentos, entre outras funções. Quando finalizei meus estudos e me
formei na última série do ensino médio, comecei a distribuir alguns
currículos como jovem aprendiz, por ter cursinho de computação, foi um
pouco fácil conseguir algo.
Coloco minha bolsa de couro no ombro, e deixo o meu local de trabalho
para trás. Na saída, consigo a presença do gerente com o celular na orelha, e
a mão na porta pronto para abrir a porta do seu HB20 novo na cor preta.
— Maitê, quer carona? — A sua voz soa firme quando fecho a porta do
banco. — Estava com pressa e esqueci de oferecer.
— Tem certeza que não vou atrapalhar?
Espero que não. Já consigo sentir os pingos finos da chuva sob minha
pele.
— Claro que não, entra.
Meio surpresa por conseguir, aproximo a porta do passageiro. Entro no
carro e sento no banco confortável, Fábio me encara de relance e fecha a
porta do seu lado.
— Minha mulher não atende. — Deixa o celular em cima do painel.
— Aconteceu algo? — Pergunto, assim que fecho a porta do meu lado.
— Provavelmente não. Daqui umas semanas ela ganha nosso filho, deve
estar dormindo.
Fábio deve ter uma idade média de quarenta anos, seu cabelo é preto de
tintura e o rosto é liso, sem barba, o que mostra que sempre está fazendo.
Não sei muitas coisas sobre ele, na realidade quase nada, afinal dentro de um
local de trabalho, só ocorre conversas e discussões sobre os trabalhos.
— Que venha com saúde. — Apenas digo isso e observo o carro começar
a movimentar.
— Irá vim sim, Maitê.
Sua atenção está focada na direção, ele mantém as duas mãos no volante
pelo mesmo caminho onde leva até o trajeto da minha casa, não tão longe. O
banco fica localizado em Ramos, um bairro aqui no Rio de Janeiro e eu
moro na Olaria, fica a quase sete minutos da minha casa.
Fábio dirige o caminho todo, ele me deixa quase na rua de casa.
Agradeço sua carona, e desço do seu carro. Os pingos fracos novamente
esfriam sob minha pele. Caminho em direção da calçada de casa, quase no
portão tenho a pequena sensação de despertar algo no meu corpo. Paro na
frente do portão de costas para a rua.
A sensação de ser observada contagia meu sangue frio, que esquenta
rapidamente pelas veias.
Pela sensação estranha, isso já é quase a quarta vez repetindo-se. Estreito
um pouco meu olhar pelos pingos engrossando, meu rosto vira, e começo a
examinar a rua da minha casa. Tinham alguns carros estacionados, mas o
único que meus olhos param, é em um carro vermelho com os vidros
escuros. Não consigo distinguir o modelo do carro, mas creio que seja a
primeira vez vendo-o aqui na rua de casa.
Algo estranho preenche meus sentimentos, um tipo de vontade em querer
saber se tem alguém dentro dele. A sensação me consome envolta de todo
meu corpo, como se meu corpo passasse dentro de um anel em chamas de
fogo. Uma enorme obsessão atinge meus sentimentos mais a fundo possível.
Espanto meus pensamentos, quando ouço o meu celular tocar em uma
mensagem qualquer.
Respiro fundo e procuro pela chave dentro da minha bolsa, quando acho,
destravo o portão, entrando para dentro de casa.
Tem alguém me observando.
Essa sensação de obsessão é horrível.
Passo pela garagem, finalmente respiro mais forte possível ao fechar a
porta de casa. O cheiro aconchegante da casa limpa invade meu nariz. Minha
mãe está sentada no sofá, sua concentração de um caderno nas suas pernas
vem na minha direção. O uniforme do seu próprio salão acompanha uma
calça jeans.
— Cheguei mais cedo hoje. — Ela fala.
— Boa tarde. — Me aproximo. Troco um beijo em seu rosto, em seguida
me afasto.
— O que foi essa cara?
— Eu não sei, há um tempo estou com uma sensação estranha.
— Qual sensação? — Sua expressão muda. — É seu pai?
— Não. Não é ele. Não é nada demais, mãe.
Tranquilizo. Apesar do bom convívio com minha mãe, meu pai foi
diferente, ele mal vive em casa, sempre está trabalhando como motorista de
aplicativos. Na infância nosso convívio foi como de pai e filha, mas com o
passar dos anos, nós nos afastamos um pouco.
— Não me esconda nada.
— Não é nada, prometo.
Deixo minha bolsa em cima do sofá. Meu estômago estava pedindo algo
para cobrir a fome. Pego uma xícara em cima da pilha de louça, ligando a
cafeteira no balcão onde divide a sala e a cozinha.
— Você realmente está bem?
— Estou. Eu só estava pensando em algumas coisas, isso está me dando
sensações ruins. — Com a xícara em mãos começo a tomar meu café,
encostada no balcão.
— Sobre seu trabalho? — Avisto ela levantar do sofá, caminhando na
minha direção com o caderno de anotações em mãos.
Ela me olha nos olhos. Seu cabelo está loiro, está preso em um coque,
rosto limpo de qualquer expressão.
— Sim. Sobre tudo.
Falo, não admito o que é de verdade. Essa sensação de ser observada por
alguém.
— Então está tudo bem? — Confirmo com a cabeça.
Não. Acho que está qualquer coisa, menos bem. Não tem como estar bem
com uma sensação surreal que tenha algum louco me observando.
Isso torna-se um verdadeiro perigo.
Atualmente
Dia 09, são exatamente 19h00min, estou completando meus dezoito
anos de idade. Minha mãe queria uma comemoração, e mesmo passando
por cima da minha permissão, ela acabou chamando sua amiga mais
próxima e uma amiga minha para essa reunião. Tendo que concentrar mais
conversas das meninas, elas falam vários assuntos diante uma das outras.
Mas minha cabeça está tão cansada, eu só quero dormir, é tão difícil
entenderem isso?
Há poucos dias, o banco onde eu trabalhava como jovem-aprendiz foi
assaltado, me fizeram de refém da situação. Pensei de várias formas que iria
morrer, que meu corpo iria ser coberto pelos tiros daqueles armamentos
potentes.
A sensação era de morte.
Eu sei do que são capazes, eles são cruéis para qualquer pessoa, entre
elas, para um cara que tinha filhos, o gerente Fábio. O coitado morreu na
minha frente, e eu só queria virar fumaça para conseguir fugir daquela
situação.
— Está quieta por qual motivo? — Levanto minha cabeça, olhando nos
olhos da minha amiga Lorena.
Seu cabelo cacheado, jogado para trás, aquele par de olhos escuros me
olham curiosos buscando pela resposta. Seu corpo está dentro de um
vestido curto, com tecido leve na cor branca de alças finas. Lorena é uma
amiga de infância, crescemos juntas.
— Hum, está pensando no que ocorreu com você? — Passo meus olhos
pelas meninas, elas conversavam entre si, enquanto Lorena e eu estamos
mais afastadas na sala pequena.
— Não é isso, talvez um pouco... eu fico pensando em várias coisas. —
Murmuro para ela.
Não quero falar pra ninguém sobre isso, muito menos pra minha mãe, os
Agentes presentes disseram que é normal, que é o psicológico dando sinais.
Todas as noites sonho com o gerente sendo morto na minha frente, lembro
de quase todo o ocorrido, e meu único medo é ser morta pelas ameaças.
A pessoa que pode distinguir algo sobre eles sou eu. A perspectiva é que
eu fique bem, que essas coisas acabem logo, e que eu finalmente volte com
minha saúde mental, se isso ocorrer.
— Eu estou cansada, apenas isso.
— Tem certeza? Vamos conversar com a Maria e a Laís. — Confirmo
para ela. Levanto do local onde estou, me aproximando das outras meninas.
— O que foi, Maitê? É seu aniversário, vamos animar esse rostinho
triste. — Minha mãe fala com seu tom de voz preocupado.
— Estou cansada. — Sento ao lado dela.
— Já comemoramos por você. — Vejo duas garrafas de vinho vazias em
cima da mesa, e as risadas delas em meio às conversas preenchem a casa.
— Maitê tem que esquecer os problemas, foca em um pouco de lazer
para sua mente. — Lorena completa.
— Maitê, não as escute. Sente-se conosco, portanto sua saúde mental
vale mais. — Maria, amiga da minha mãe fala, seu cabelo cacheado curto,
pele negra e os olhos repletos de sinceridade me analisam. — Está cansada?
Vai para o seu quarto.
— Quer ir para o quarto? — Minha mãe interroga. Confirmo. — Vai.
— Feliz aniversário! — Maria deseja junto com a Lorena. Me despeço
das duas com um beijo no rosto, caminhando para o meu quarto no corredor
de casa.
Atualmente moro em Olaria, é um bairro localizado entre Ramos,
Bonsucesso, Penha e o Complexo do Alemão, denominada entre algumas
tradições, vivo desde quando nasci no Rio de Janeiro.
Tiro meu macacão bege, que havia colocado para receber as meninas e
coloco um vestido curto e fresco, amarro nas costas a alça no pescoço, na
parte de trás, sentindo o tecido fresquinho. Minha pele bronzeada em uma
marquinha de biquíni destaca, ajeito meus seios dentro do vestido.
Passo o resto da noite no meu quarto, deitei na cama, vejo vídeos, mexo
no celular mesmo com a dificuldade em enxergar sem meus óculos, pois no
assalto acabei perdendo-os. Estou esperando um novo chegar, para assim,
poder começar a usá-lo.
Entro no meu Instagram, normalmente minhas redes sociais são
privadas. As opções de aceitações aparecem, normalmente sempre alguém
pede pra seguir. Porém, um perfil me chama a atenção, então clico no nome
sem nexo que aparece, pedindo para me seguir. Está com total de zero
publicações, apenas cinquenta seguidores, todos os perfis são mulheres e
seguindo total de zero pessoas. Uma foto de perfil sinaliza ter sido tirada
quase no escuro, com uma respiração baixa, acabo excluindo a solicitação,
não aceitando.
— Estranho. — Suspiro fundo, passando a mão em meu rosto ao
abandonar o celular em cima da cama.
— Está tudo bem? — Ouço o ranger da porta, sinalizando a entrada da
minha mãe.
— Sim, está.
— Alguns agentes haviam ligado, mas você disse que estava
indisponível para conversar.
— Não quero, mãe. — Ela confirma, sorrindo.
— Pense que ficará tudo bem, filha. Não irá ocorrer nada com você.
Não precisa mais preocupar-se com isso, Deus ajudará que cada um
daqueles assaltantes pague pelo que fizeram. — Se aproxima, segurando
minha mão. — Mas fica tranquila, não pressiona sua cabeça.
— Hoje estou bem melhor que nos outros dias.
— Quero vê-la dessa forma.
— Mas não quero conversar sobre isso com ninguém, entende? — Ela
confirma.
— E ninguém irá fazê-la falar. — Abro um sorriso para ela.
Medo, na minha cabeça tem apenas esse sentimento, mas vou tentar
esquecer tudo que passei, e voltar a viver minha vida normalmente depois
desses dias.
— Amanhã quero sair um pouco, quero ir em algum lugar para comer,
vou chamar a Lorena. — Ela distribui um sorriso em seus lábios.
Os dentes alinhados e brancos da minha mãe são bonitos, seu cabelo
loiro meio ondulado, pele parda.
— Quero seu bem. — Dou um sorriso fraco. — Pronta pra sair desses
calmantes que tomou todos esses dias? — Confirmo pra ela. — Pode
dormir comigo novamente.
— Tá bem, mãe. — Dou uma risada fraca.
Após minha mãe sair do quarto, separo a bombinha disponível para
aliviar a produção de leite dos meus hormônios. Quando eu completei
minha adolescência, descobri através de exames os hormônios para a
produção de leite. Galactorreia é a condição em que as glândulas mamárias
produzem leite na ausência da gravidez. Nos últimos meses houve uma
melhora, após eu tomar uma dosagem de remédios, o que hoje em dia faz
somente vazar quando estou muito nervosa. Eu tinha vergonha, hoje em dia,
sou mais tranquila em exigir algo sobre isso na minha vida.
O dia seguinte chegou, e o horário que eu e Lorena combinamos
chegou. Já trocada, uma saia jeans com detalhe de zíper na frente, marca
minhas curvas, o body sem mangas na cor lilás, um tópico de roupa mais
sexy, intensifica o decote dos meus seios. Meu cabelo solto, está hidratado,
e o cheiro razoável atinge meu nariz.
Encontro Lorena no barzinho, nós duas começamos a comer as porções,
e eu tomo meu suco de laranja natural, enquanto Lorena toma de um corpo
de cerveja.
— Qual o problema? — Lorena pergunta, sorrindo.
O horário é 00h00min de terça-feira, no dia anterior havia chamado a
Lorena, e finalmente viemos para algum local aberto. No fundo fica um
pagode, a música entra na minha audição deixando o clima mais razoável.
Eu gosto de curtir algo assim. Faz tempo desde a última vez.
— Minha mãe não queria que viesse sozinha, imagina ir para esse
churrasco que você quer ir — Falo baixo.
— O que foi, amiga, será uma festa em uma comunidade conhecida,
todo mundo respeita. — Fala firme— Acha que eu te colocaria em perigo?
— Pode ser nas próximas semanas?
— Você não quer hoje? — Nego, ela dá de ombros com indiferença,
bebendo cerveja. — Pode ser. Quero seu bem, que você pare com esse
receio, nós curtimos todo final de semana.
— Estava tomando calmante, parei ontem.
— Como a sua mente reagiu?
— Normal, apenas insônia. — Ela fica em silêncio.
Na noite anterior, consegui dormir após muita insônia.
Alguns pensamentos sem sentido vêm à tona.
Basicamente, a mesma sensação de agora, uma sensação de ser
observada por alguém. Como se alguém estivesse observando o meu corpo
sentado nessa cadeira, pronto para qualquer ação da minha parte.
Levanto meu olhar para algum outro local, examino cada uma das
pessoas presentes, tem casais bebendo e pessoas solteiras aproveitando, era
um local relaxado. Estamos do lado de fora, onde tinha outras mesas, a rua
meio cheia, o tempo fresco proporcional para todos.
— Tá procurando alguém? — Pergunta ela e eu nego.
A sensação não vai embora, pelo contrário, é como se fosse penetrada
por minha pele.
Suspiro fundo.
Coloco meu cabelo todo para trás, notando que ninguém está olhando
para nossa direção, consequentemente, isso soa mais estranho possível.
O que pode ser?
CAPÍTULO 05

Solto a fumaça do meu cigarro e apago, dentro do carro estacionado em


uma rua, deixo o vidro entreaberto. Meu telefone em cima do painel toca em
uma ligação, observo o nome do Gil na tela.
Porra, em plena noite desse sábado, não faz nem muito tempo que o tinha
visto no Complexo do Alemão e já está enchendo o meu saco. Atendo sua
ligação, coloco-o no viva voz. A luz de dentro do carro está acesa e consigo
observar meus olhos cor de avelã no retrovisor.
— Fala bandido mau, está por onde? — Fico em silêncio. — Fala
mosqueteiro um, qual foi?
— Não tenho tempo pra assunto errado, caralho, qual é o problema? —
Pergunto sem ideia. Apago a luz interior.
— Tenho um péssimo assunto. Mas antes quero saber onde você está? —
Sua voz ressoa, ajusto meu boné colocando-o para trás e suspiro.
— Daqui a pouco chego no Complexo do Alemão.
— Porra, é difícil responder onde está nesse momento?
— Vai ficar enchendo meu saco? Estou resolvendo problemas. — A
ligação fica em silêncio por alguns segundos.
— Estou ligando pra te notificar, o chefe foi pego por búzios, houve troca
de tiros e infelizmente ele foi morto no local. Nós estamos cientes do
problema.
Cerro meu maxilar. Aperto o celular levemente entre meus dedos. Tiro do
viva-voz, colocando-o de volta na minha orelha.
— E quando foi isso?
— Agora a noite, foi pego no carro, e na casa que ele estava tinha muita
droga. A mulher dele foi baleada, mas está na UTI, parece que foi baleada
com três tiros. — Sua voz é baixa. — Pelo comentário, ela não vai conseguir
escapar também.
Afasto o celular um pouco da minha orelha. Um suspiro longo sai dos
meus lábios e volto a atenção na ligação novamente.
— E você está ciente que é gerente, irá ficar no comando e estamos em
reunião... — A voz dele vai sumindo, e eu desligo a chamada.
Parto com meu carro. Deixo para trás o local anterior, lidando com
pensamentos turbulentos até onde vou encontra-lo. Acelero em alta velocidade
por vários minutos pelas vias. Com quinze minutos pelo trânsito chego ao
Complexo do Alemão.
Sem delongas, adentro a comunidade e peço para Gil me encontrar.
Ao ser informado do local, estaciono o carro, desço, travo o alarme.
Coloco o telefone e chave no bolso. Dirijo-me à entrada, onde recebo a
atenção de alguns homens. Caminho de maneira séria até Gil,
cumprimentando aqueles que fazem o mesmo.
— A parada ocorreu agora há pouco. — Aceno com a cabeça afirmando
pra ele. — Vamos aguardar algumas palavras do outro lado. — Gil informa.
Solto o ar pelo nariz, todos aproximam-se fazendo uma roda, os fuzis
portados no ombro de cada um e eu posso enxergar respeito diante da minha
situação.
Posso garantir que a vida criminosa de fato impõe sua presença na mente.
Aqui, é um ambiente de sangue frio, enfrentando desafios diariamente, e tenho
total convicção de que nasci para ser um dos pilares fortes da hierarquia,
sendo o mais temido nos lábios de
muitos.
O telefone do Gil toca. A exibição na tela é o nome de alguém de alto
escalão. Gil atende no viva-voz, instaurando o silêncio.
— O respeito na comunidade para com o Iguinho, que foi morto no local
do conflito, é evidente, pois ele estava sendo procurado pela justiça há anos.
Italiano está entre os presentes? — A voz soa do outro lado da linha.
— Está, irmão. — Gil afirma com o celular na visão de todos.
— Italiano lidera o Complexo do Alemão a partir de hoje, é o chefe da
facção na comunidade. O respeito por ele será significativo, e isso fortalecerá
a consideração dos envolvidos.
Apesar de ser um momento difícil para muitos, outro comando assumirá o
controle, e meu nome será reconhecido como líder do Complexo do Alemão.
Horas depois encontro-me ao lado do William. Dessa vez a favela está
mais quieta pela morte do Iguinho, alguns conversam sobre. Outros evitam o
contato em relação da morte.
— Estava onde quando te liguei? — Gil senta-se ao meu lado. Acende um
baseado. — O que foi, mosqueteiro?
Rodo a tela do meu celular enquanto fumo.
Na barra de pesquisa, seleciono o primeiro nome, a conta privada da Maitê
pede para seguir novamente.
Audaciosa para caralho.
A garota não aceitou a solicitação, ainda excluiu minha solicitação.
Sinceramente, estou velho demais para buscar confusão. Não estou mais na
idade de arrumar problemas como quando tinha vinte anos, mas ao escolher
essa garota, parece que me meti em encrenca.
— Vários comemorando a morte do Iguinho. — HG aproxima-se.
Ele senta ao nosso lado, na outra cadeira vazia. Guardo meu celular sob o
olhar deles na minha direção.
— Judaria. — Gil afirma.
— Qual foi, está com a cara mais marrenta do que o normal, o quê tá
acontecendo? — HG me olha.
— Nada. — Mantenho minha expressão neutra.
— Agora ele tem que ter mais postura, e o chefe. — Gil explica.
— Você fala muito, Gilson. — HG rebate.
— Não me chame de Gilson.
— Nome feio da porra, Gilson. — HG alfineta, olho em seu rosto e nego
com a cabeça. — Como que Érica te botou um nome feio assim? William
Gilson!
— Alá, vai encher o saco de outro, pô. Pelo menos sou bonito. — Gil
passa a mão no bigode feito, com a feição séria.
— Você foi atrás? — HG me olha.
O imaginava tocando no assunto do que estaria fazendo há horas atrás —
perseguindo a refém —, isso que eu estava fazendo.
— Ela estava com a amiga. — Respondo.
— Por isso não me falou onde estava. Vagabundo. — Ouço a voz do Gil.
— Essa vagabunda vai dar trabalho pra nós. — Olho nos olhos castanhos
do HG.
Não tem como, ela não vai dar trabalho. Qual é a chance de uma refém
procurar algum tipo de problema para própria cabeça dela?
— Não. — Afirmo. — Ela não é burra a esse ponto.
— Ela está em um local vizinho, fica praticamente do lado. — Aumenta
seu tom de voz.
— Quando você conversar diretamente comigo, independentemente de
qualquer lugar, sozinho ou com pessoas. Respeite a porra da minha voz.
HG se levanta da cadeira.
— Não quero ficar tocando no mesmo assunto pra brigarmos toda vez.
— Então fica no seu canto e eu fico no meu. — Ergo meu rosto até ele.
— Mas fica esperto, isso tudo é por tua culpa, qual foi da sua mente em
colocar aquela garota como refém? — Indagou HG.
— Ela era bonita — nós dois olhamos para o Gil. Ele solta uma risada
forçada e desvia o olhar. — Foi mal. — Ajeita o boné preto na cabeça,
voltando a expressão séria.
Com a mente a mil por hora, estava determinado a realizar algo, e quando
decido algo, eu cumpro. Então, sem hesitação, mergulho de cabeça na
execução do plano, mantendo minha mente focada e determinada no meu
trabalho.

— Recebi uma ligação do meu pai ontem! — Compartilho com Lorena.


Ela observa atentamente enquanto aplica maquiagem, sentada diante do
grande espelho em seu quarto.
— E ele disse o quê? — Pergunta.
— Simplesmente deu o feliz aniversário depois de vários dias.
Sinceramente, não sei o que ele esperava que eu dissesse. Alguns dias se
passaram desde o meu aniversário; apenas dei um silêncio prolongado e,
posteriormente, enviei um simples "joia". Acredito que os pais são
essenciais apenas para conceber, pois quem desempenha o papel principal é e
sempre será a mãe.
Estou precisando de uma bebida para esquecer tudo.
— Que chato, mas ele tem os motivos dele. — Lorena murmura.
— Motivos? — Questiono.
— Não sei, amiga. Ele trabalha com que mesmo?
— Motorista de aplicativos. — Digo.
— Hm... às vezes não estava com tempo.
— Ele nunca tem tempo para a filha dele. — Escuto minha amiga suspirar,
virando em minha direção quando dá uma pausa na maquiagem.
— Desculpa, falei algo errado, não é? — Sua voz soa com arrependimento
do que foi dito segundos atrás.
Mas que diabos.
Claro que ela falou, minha mente responde, mas tudo o que ela percebe é
meu ombro subindo e descendo, expressando indiferença.
Ignoro o que ela disse, mantendo minha expressão aparentemente
indiferente. A turbulência de pensamentos dentro de mim contrasta com a
calma aparente do meu exterior
— Para onde iremos? — Pergunto.
É sábado, cedendo aos persistentes pedidos de Lorena, acabei concordando
em sair com ela. Nesse processo, fiz um esforço para persuadir minha mente a
esquecer tudo o que aconteceu, buscando afastar pelo menos o medo dos meus
pensamentos.
— Ah, Maitê! É a terceira vez que você pergunta. — Lorena esbraveja. —
Não vai passar uma maquiagem?
— Não, somente esse lápis de olho e o delineado! — Aponto para a
maquiagem a sua vista e novamente ela me olha.
— Está de sacanagem! Vai com que roupa também? Aquela que fecha o
decote, que tanto insiste em usar. — Ela mesma afirma, e em seguida nega
com a cabeça.
Pego minha roupa na mochila e visto. Já vestida com uma calça jeans
colada em meu corpo e o body. Estava perfeito aos meus olhos, o body todo
decotado com alguns detalhes em preto e a calça jeans, marcando
perfeitamente minhas curvas e meu corpo baixo.
— Seus seios estão inchados e grandes, o que você faz pra eles ficarem
assim? — Minha amiga observa.
— Nada. — Respondo rápido, jogando meu cabelo todo para trás.
— A roupa está meio… — Lorena me analisa, se levanta. Puxa sua saia
para baixo — Feia! — Afirma.
— Não está feia, Lorena.
— Está sim, Maitê. Isso é pra um churrasco em família, algo casual. Mas
para o local que iremos não serve muito, trouxe mais alguma roupa? —
Respondo sua pergunta negando com a cabeça. — Então veste uma saia jeans
minha, vai ficar perfeita.
Lorena mexe no guarda-roupa, assim que ela pega a saia em mãos, joga em
minha direção. Pego no alto e analiso. É pequena, o que eu sabia de fato que
iria ficar bem apertada e curta. Tiro a calça e substituo pela saia, viro meu
corpo para o espelho, franzido minha sobrancelha.
— Não... está horrível! Você é bem mais magra. — Nego rapidamente.
— Ninguém vai te olhar dessa forma, calça, corpo todo fechado, ninguém
olha pra mulheres vestidas dessa forma. — Lorena ajeita os seios siliconados
no mini cropped.
Ela veste uma saia branca curtíssima, a maquiagem chamava a atenção e o
top cropped preto na alça fina, destacando os seios volumosos.
— Quem disse que não olham? — Dou uma risada sem humor. Coloco
uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Estou sendo sincera, amiga! O local não é para esse tipo de roupas. —
Ela afirma.
Passo minha língua nos lábios. Eu fico estressada com seu ato comigo, isso
me faz revirar meus olhos em forma de estresse.

Depois de enfrentar minutos de trânsito, era evidente que tínhamos


adentrado uma comunidade, onde Lorena era reconhecida por todos.
Encontrávamo-nos numa espécie de celebração privada, financiada por
diversos homens.
— Está andando toda dura! — Ela fala próximo ao meu ouvido. Passo o
olhar por alguns rapazes que estavam presentes, meus olhos param nos fuzis
portados em cada um. — Relaxa, amiga. Aqui ninguém vai fazer nada com
você.
— Lorena, estamos com vários traficantes! — Afirmo aos sussurros do seu
lado. Acompanho-a pelo local lotado.
— Não se envolve com eles… ninguém aqui vai fazer nada.
Quando alguém me encara, desvio o olhar, não revidando. Mantenho meu
braço em volta do braço fino da Lorena, enquanto ela me guia até um local,
onde servem bebidas, e eu aguardo seu retorno. O whisky com gelo em um
copo de 700ml veio na minha direção, pego desfrutando o primeiro gole.
— Fica tranquila! — Ela murmura, e toma um gole de sua bebida.
— Você conhece alguém aqui?
— Sim, vários… — Afirma.
— Hum.
O cheiro de maconha adentra fortemente o local, o som alto, com música
de apologia ao crime. Mulheres, homens e até mesmo adolescentes. É algo
normal entre eles, o uso das drogas, cocaína, maconha, etc...
— Amiga! — Lorena grita para uma mulher alta.
Ela é bonita, cabelo loiro jogado para trás, um aplique. Lorena sai do meu
lado e abraça a menina.
— Está sozinha? — A garota aproxima-se quando pergunta.
— Não, estou com a Maitê. — As duas me olham, a loira sai do local, me
cumprimentando com um beijo no rosto. — Essa é Fernanda. — Lorena
afirma. Abro um sorriso para ela.
— Está chamando atenção, muito linda. — Fernanda me encara.
Seu olhar observa cada parte do meu corpo, como se eu realmente
estivesse deslumbrante.
— Obrigada. — Agradeço.
Meus 1,56 metros, ficam totalmente baixos ao lado dela. Fernanda deve ter
mais ou menos 1,73m de altura, assim como Lorena.
— Vamos com as minhas amigas? Estamos rodeadas de pessoas. —
Fernanda questiona quando se despede, saindo.
Lorena me fita por alguns segundos.
— Um pouco? — Pergunta.
— Não estou me sentindo à vontade. — Um murmúrio baixo dos entre
nós.
— É só um pouco. — Minha amiga tenta me convencer.
Eu simplesmente nego com minha cabeça. Não estou afim, não estou me
sentindo a vontade como acharia que iria sentir.
— Pode ir.
— Está louca? — Lorena nega com a cabeça. — Um pouco.
— Não vou, Lorena. — Bebo da minha bebida.
— Tá legal, Maitê. Quer pegar algum táxi pra ir embora? — Arqueio as
sobrancelhas com dúvida. — Sério, vim pra curtir.
A expressão da Lorena tem raiva por eu não querer acompanhá-la nessa
aventura.
— Quer ir embora? — Ela aumenta o tom de voz. — Então para com essa
cara, amiga. Que chato! — Ela segura na minha mão e me puxa no meio da
multidão.
Sigo-a, segurando meu copo. Ao dar alguns passos, colido com um corpo
robusto e masculino no meio da multidão de homens. Levanto meus olhos
surpresa, percebendo que houve um pequeno derramamento de bebida.
— Tá cega, caralho? Presta atenção. Porra. — Uma voz grossa ecoa na
minha frente.
Quando meus olhos se encontram com os seus, suas sobrancelhas se
franzem. Seu cabelo está cortado e penteado para trás, a barba está feita, e um
cordão de ouro destaca-se em seu pescoço. Seu corpo, alto e forte, fica imóvel
como uma rocha diante de mim, enquanto o medo se estampa no meu rosto.
Várias pessoas formam uma roda ao seu redor. Seus olhos cor de avelã me
encaram como se eu fosse a presa, e ele, um lobo faminto. Engulo o ar, sinto
meu coração bater forte no peito, minha respiração fica pesada. Com vários
sentimentos, minhas pernas começam a tremer como vara verde, pela sensação
angustiante de esbarrar em seu corpo.
CAPÍTULO 06

Italiano é um apelido que ganhei desde os meus quinze anos de idade. A


concepção de um apelido para substituir o nome Edgar, e ficar marcado por
qualquer pessoa que conheça meus crimes.
Muitas pessoas me conhecem como Italiano, essa é uma forma de
esconderijo. Poucas pessoas conhecem meu verdadeiro nome, Edgar Mazza.
E hoje, depois de vários anos. Meu vulgo está sendo envolvido em um
baile, como o chefe.
A festa para comemorar o meu novo gerenciamento está acontecendo.
Estudo o local, pessoas de todas as formas e roupas presentes na rua. Algumas
mulheres estão visíveis para chamar atenção, toda atenção é mérito de um luxo
para elas. Estou calado há um tempo, a todo momento nego alguma mulher,
deixo visível que não estou afim.
Em pé, acendo um baseado do lado de alguns rapazes da minha segurança.
Puxo a fumaça e solto entre meus lábios. A sensação da maconha na primeira
oportunidade é o alívio da mente barulhenta mesmo no meio do som e
conversas.
Passo meu olhar pelas mulheres rebolando em uma certa distância, porém
com o rosto virado na minha direção. Algumas rebolam de costas, olhando por
cima do ombro, os shorts e saias curtas deixavam as bundas delas aparentes.
Como todos os homens gostam.
— HG está desaparecido. — Gil fala alto pelo som. Encaro-o, e deixo meu
baseado queimando. — Todo mundo está falando de você. — Sua mão deixa
dois tapas fracos no meu ombro.
Com apenas um olhar sério, ele tira de imediato.
Talvez eu possa estar parecendo ser a porra de um velho chato.
Eu realmente sou.
— Estou atrás do HG e ele sumiu legal, aquele otário. — Apago meu
cigarro.
— Não sei do HG, Gil.
— Eu sei que você não sabe, nunca sabe de nada.
Sua voz nitidamente é interrompida na minha audição quando sinto o
impacto de um corpo pequeno, embarcando contra meu lado corporal direito,
isso faz o copo de bebida balancear um pouco e a bebida cair sobre minha
camisa.
Cerro meu maxilar, a minha expressão de raiva toma conta. Pelo impacto,
percebo ser uma mulher.
— Está cega, caralho? Presta atenção. — Viro em direção a seja quem for,
minha voz é autoritária.
Um choque de realidade treme meu corpo, os olhos pretos fixados na
minha direção, posso vê-la com a expressão de medo, pelo timbre da minha
voz raivosa. Seu corpo baixo e pequeno recua apenas um passo. O que essa
garota está fazendo aqui?
Meu corpo retrai várias vezes seguidas por um coque.
É ela.
— Amiga. Moço, desculpa, é a primeira vez dela. — A moça ao lado dela
fala, porém não tiro o olhar do rosto da garota.
Por alguns segundos a cena do rosto dela jogado no chão do banco vem a
minha mente, falta algo no seu rosto. Franzo minhas sobrancelhas; os óculos.
Eu recordo da sua expressão por baixo dos óculos de grau na cor preta.
— Italiano, calma. — A voz do Gil entra na minha audição.
— Foi sem querer. — A voz dela soa.
Com a pouca iluminação, estudo seus olhos pretos, que continuam fixados
nos meus olhos.
São pretos, enormes, como duas jabuticabas.
Eu estou fazendo um contato visual com ela.
Sua expressão tem medo e insegurança ao estar parada na minha frente,
talvez medo por estar de frente com o chefe de um tráfico.
Ela é baixa, seu corpo é pequeno e bonito. Desço meu olhar pra roupa que
ela veste, está completamente comportada em meio a essas mulheres.
Ela visivelmente não tem uma noção da onde sua amiga está trazendo-a.
Respiro forte.
Eu estou de frente a menina que mantive de refém há uns dias atrás. Caso
alguém a veja aqui dentro do território, ela estará entre a certeza de ter o resto
da sua vida nas mãos de bandidos.
— Quero as duas saindo daqui. Não quero ver nenhuma por aqui. —
Minha voz ordena.
Levo meu olhar até o rosto da outra menina sem olhar nos seus olhos.
Posso sentir a Maitê me olhar sem parar, a famosa Maitê, a refém.
— Vocês não vão ver nossa cara aqui novamente. — A amiga fala
novamente. — Vamos, Maitê... para de olhar. — Consigo ouvir sua voz baixa
resmungando para a amiga.
Dou as costas e, sem olhar para trás, respiro fundo. Gil me olha com um
olhar julgador por vários motivos, eu consigo imaginar cada pensamento na
sua cabeça.
— Caralho, que vacilo. — Passo a mão direita no rosto, visivelmente
nervoso.
— Cala a boca, papo reto. — Reclamo.
— Vou verificar.
Nesse momento toda minha vontade de curtir alguma festa, foi por água
abaixo. Molho meus lábios com a língua e Gil some no meio do pessoal.
A vida não será tão injusta com ela, fazendo-a viver no mesmo território
que eu, não mesmo.
— Cadê o Gil? — HG para ao meu lado, depois de minutos, fico em
silêncio e dou de ombros com indiferença. — Ele disse que estava aqui.
— Tá vendo-o aqui? — Fito seu olhar. Ele nega. — Então ele não está
aqui, caralho.
— Precisa de paciência.
— Vocês querem ficar fazendo perguntas com algo tão óbvio. Ele não está
aqui.
— Pelo jeito está precisando gozar, tem várias mulheres disponíveis. —
Ironiza.
Passo os olhos pela multidão e tento procurar Gil, porém ele não está no
local, pensar nisso me deixa agoniado. Me afasto um pouco com o meu celular
no bolso e o tiro. Noto meu nervosismo por minhas mãos estarem trêmulas
quando seguro-o, acabo deixando o copo de bebida jogado pelo chão.

Italiano: O que aconteceu?

Gil: Tentei fazer amizade com a Luciana, acho que era Luciana...
Não, Lorena.
Isso! Lorena. Mas a outra baixinha não quis conversar comigo, as duas
deram logo as costas e disseram que não queriam nada comigo, morrendo de
medo.

Italiano: Eu as mando saírem e você quer fazer amizade?

Gil: Não, desculpa. Tentei apenas uma troca de conversa, depois mantive
minha postura de bandido mau, e mandei meter o pé.
Reviro meus olhos, guardo o celular no bolso da minha calça e passo a
mão no meu cabelo.
Certamente isso é um perigo para ela e, consequentemente, eu tenho uma
culpa nisso.
A refém está se aproximando de onde ela tem que manter-se longe.

O sol ilumina cada parte de dentro da padaria da minha madrinha, ainda é


de manhã. Dormi um pouco mal a noite, preciso tomar um café forte.
— O que foi? — Pergunto para Lara.
Estou sentado em uma das banquetas, com meus braços apoiados no
balcão. Tomo um gole do café extra forte enquanto interrogo Lara com meu
olhar sob seu rosto do outro lado do balcão.
Lara tenta intercalar o estudo e trabalhar junto com a mãe na padaria, na
verdade, ela passa algumas horas tentando ajudar Maressa.
— Está com a cara de acabado, Italiano. — Ajeito meu corpo no banco.
Eu realmente estou um pouco cansado, a minha cabeça dói quase todos
dias, a noite anterior prejudicou um pouco.
Lara recebe apenas o meu silêncio com resposta.
— O William também estava na festa da noite passada? — Confirmo sério,
com a sua pergunta e termino de beber o café na xícara.
— Tá querendo saber dele porquê?
— Ele está com a mesma expressão que a sua, um pouco acabadinho.
— Ele deve estar com a ressaca mais forte.
— Está cheiroso — puxa o ar, fico em silêncio. — Mas é velho —
caminha em direção ao caixa para guardar o valor que entreguei. — Trinta e
quatro anos, velho.
— E qual maldade que tem? Você acha que vai ficar para sempre com seus
quatorze anos?
— Mas ainda tenho tempo pra arrumar um namorado.
— Não tem namorado. Você tem que aproveitar para estudar. — Um tom
impaciente começa a surgir na minha voz.
— Você estudou? Está metido em vários crimes. — Levanto, em seguida
ajusto a arma entre o cós da minha bermuda e a cueca.
— Eu não consegui as mesmas oportunidades que você. — Pego a chave
do meu carro no bolso da minha bermuda.
Suspiro fundo.
— Não vai perguntar dela? — Franzo minhas sobrancelhas.
— De quem?
A essa altura tenho a certeza de quem ela está falando, pois a expressão em
sua íris mostra reprovação quando pergunto.
Lara tem os mesmos traços que a mãe, os olhos, a forma do corte do cabelo
curto e a curvatura da boca.
— Ela não merece sua ignorância, Edgar — murmura meu nome baixo. —
Maressa te ama muito e você está fazendo da vida dela um inferno. — Nega.
— Ela sofre tanto por sua culpa. — Sinto minha respiração começar a pesar
em forma de nervosismo.
— Sabe por qual motivo que não fico conversando com ela? — Olho no
seu rosto. — Eu a mantenho afastada da minha vida.
— Ela soube que você está crescendo no crime, não veio trabalhar pelo
fato que passou a noite toda chorando. — Aumenta o tom de voz.
Meu sangue ferve sob a pele. Meu olhar vibra em seus olhos.
— Cala a boca, Lara. — Reclamo.
Alguém entra na padaria, enquanto meus olhos estão fixados nos olhos da
Lara. Seu peito sobe rapidamente e desce em consequência da respiração
pesada. Os olhos vermelhos tomados pela repreensão começam a lacrimejar.
— Italiano, abaixa a bola, vamos logo. — A voz do Gil entra na minha
audição.
Assimilo uma última olhada no rosto da Lara antes de sair pela entrada da
padaria. Gil acompanha meus passos, saindo ao meu lado. Eu tento obter a
paciência, mas é algo que não consigo ter há um bom tempo.
— O que aconteceu com vocês dois? — Não respondo sua pergunta.
O meu carro me espera a poucos passos, caminho em direção ao Azera
preto. Libero as portas do meu carro, e enfio meu corpo dentro do couro do
banco desconfortável, fechando a porta.
Minhas duas mãos apertam o volante firmemente. São vários anos vivendo
dessa forma com elas, essa não foi a primeira vez, as vezes me considero um
filho da puta. Eu realmente sou.
— Você é um monstro, Italiano. Você machuca todo mundo.
Essas foram as palavras que ouvi em uma discussão com a minha
madrinha há uns meses atrás.
Isso me lembra toda a merda que já fiz na minha vida.
Puxo o ar forte, nervoso.
Então, ligo o motor do carro, e com uma raiva no meu peito, vou embora.
Depois de ter resolvido algumas coisas, ainda nesse fim de domingo estou
no bairro da Olaria, Rio de Janeiro.
Me pergunto quando resolvi entrar para uma vida totalmente complicada
como essa, que agora tenho que tentar saber o que uma refém está fazendo.
É por isso que às 20h00min da noite, me encontro dentro de um outro
carro de um modelo mais barato, um Siena preto e com vidros fumês.
A casa onde a refém mora, e pintada de verde claro, um portão grande e
muro protegido por uma cerca elétrica. De frente a casa tem um carro, e minha
mente racional entra em ação, é algo suspeito ou pelo menos ameaçador para
mim.
Deslizo minha língua sob meus lábios secos quando meus olhos fixam em
uma mulher saindo de dentro da casa, assim que o portão é aberto, e ao seu
lado uma mulher loira, a mãe da Maitê.
A moça ao seu lado me lembra alguém, é uma policial, só que agora estava
sem farda ou algo que condiz com seu cargo.
Que porra.
A moça entra dentro do carro, com minha respiração pesada, olho a mãe da
Maitê voltar para dentro da casa. Então, o carro branco some pela rua.
Meus dedos envolvidos no volante apertam com força, meus neurônios
entram em um colapso.
De imediato tiro o celular do suporte, discando o número do Gil na tela do
meu celular que quase no último toque atende.
— Italiano, meu amigo. — Escuto a voz rouca na ligação.
— Está com quem?
— Com uma puta, o que aconteceu? — Fico em silêncio. Ele entende que
é para se afastar da moça ao seu lado. — Pode falar. — Pede depois de dois
minutos.
— Uma agente policial estava na casa da garota. — Seu silêncio é uma
resposta breve.
— Isso era algo esperado. Agora precisamos saber o que ela falou ou pensa
em falar pra eles.
Solto uma respiração forte.
— Tem algum plano?
Olho para o portão, dessa vez ele é aberto, e de dentro sai alguém que
mantém minha atenção fixada na sua direção, envolta uma calça preta colada
em suas coxas e cintura, cabelo enorme por cima de um body feminino na cor
preta, que percorre até seu pescoço. Quando ela joga o cabelo todo para trás,
favorece minha visão sobre ela.
— Italiano? — Observo-a fechar o portão.
Ela olha pela rua vazia, seu rosto vira na direção do carro onde me
encontro, o olhar que lança é duvidoso, mas ela não se mantém por muito
tempo. Pelo vidro escuro sei que ela não consegue ver nada aqui dentro.
Seu corpo vira na direção do carro, analiso sua bunda envolvida na calça
quando ela começa caminhar pela calçada.
A visão da frente era bonita, a de trás é melhor.
O sangue esquenta sob minha pele, minha garganta seca pela noção a
proporção de um estrago. Ela não sabe onde se meteu ao me conhecer daquela
forma. Na verdade, eu quem a meti nisso.
— Italiano! — O celular continua na minha orelha.
— Tenho…
— Tem o quê? — Gil questiona.
— Tenho um plano sim. — Apenas digo isso.
Eufórico, desligo o celular e ligo o motor do carro.
CAPÍTULO 07

A devoção pelo meu Deus estava meio duvidosa, a sensação de ter passado
por momentos ruins com aqueles bandidos de merda me causam calafrios. As
lembranças, o toque me causam um suor frio pela lateral do meu rosto.
A cada passo na rua, é como se eu estivesse sendo perseguida por alguém.
— Você é a única que pode colocá-los na cadeia.
Mas não vou.
Quero? Sim, mas prefiro prezar por minha vida em terra. E um dia creio
que vou assistir a um jornal onde eles estarão detidos.
A única sensação que minha mente tem, é ficar calada com as ameaças do
dia do assalto, os agentes irão tentar tirar algo como acusação, e o meu
psicológico só pede pela paz.
Há alguns dias atrás, estava dormindo com ajuda de calmantes. Minha
mente como se estivesse completamente barulhenta. Sempre lembro das cenas
e dos agentes.
Suspiro fundo.
Coloco meu cabelo todo pra trás sentada em uma cadeira, o local está meio
vazio, era uma lanchonete quase perto de casa. Cheguei há poucos minutos.
Estou com fome, então vim comer algo em compensação a uma janta.
Sinto o cheiro gostoso que estava no meu cabelo e no meu corpo.
Ultimamente, mesmo sem vontade, voltei a cuidar da minha aparência. Caso
nada disso tivesse acontecido, eu estaria no meu melhor auge da vida, com
meu trabalho, me cuidando como estava.
Espanto meu pensamento quando noto a entrada de alguém onde estou,
mesas de madeira espalhadas, não tem muitas pessoas, no máximo três
pessoas.
Ergo minha atenção em determinado lugar, como se minha intuição pedisse
para encarar o vulto que entra pela porta da entrada. É ele… o mesmo homem
que esbarrei no dia anterior.
Que caralho!
De canto estudo seu corpo, seu braço direito é preenchido por tatuagem,
ele veste uma camisa polo na cor preta, calça jeans. Seu corpo é estruturado,
um pouco forte e maior que o meu, muito maior…
Os olhos contêm uma energia sinistra, estão protegidos pelo boné preto na
sua cabeça.
Seu rosto sério não está concentrado no meu, ao contrário, na mesa onde
vai sentar que é a do meu lado.
Paralisada, encaro a porta na minha frente. A sensação envolta da minha
mente é com uma enorme obsessão.
Minhas pernas tremem por baixo da mesa e guardo o celular no cós da
minha calça imediatamente. Seu corpo caminha devagar até a mesa ao meu
lado, sentando.
O que esse homem faz aqui?
A moça que atende, aproxima-se da mesa ao meu lado, e ouço fazer um
único pedido, uma lata de refrigerante.
Quem vem em uma lanchonete para pedir um simples refrigerante?
Eu estou assustada, talvez pela energia que ele transmite para qualquer
pessoa. Poder e medo, uma obsessão, algo difícil de explicar.
Tento distrair minha cabeça, olhando para minhas unhas pintadas na cor
lilás. Ajeito meu cabelo mais uma vez.
— Esse é o seu pedido. — A moça se aproxima, deixando meu pedido em
cima da minha mesa.
É um suco natural, acompanhado de duas fatias de pizza. Depois de meses
comendo super bem na minha dieta, resolvi comer alguns pedaços de pizza.
— Você poderia trazer algo pra poder levar embora? — Pergunto para a
moça, ela franze a sobrancelha pela minha voz que saiu baixa demais.
Merda... respiro fundo. Passo a língua em meus lábios.
— Eu não quero comer aqui, poderia trazer algo para levar embora? —
Aumento um pouco meu tom de voz, a moça apenas confirma, rapidamente dá
as costas.
— Não tem uma amiga pra falar por você? — A voz grossa provoca ao
meu lado.
Ele se refere ao dia que nos esbarramos. Raciocínio por alguns segundos,
ele está mesmo me provocando? Viro meu rosto na sua direção, seus olhos
agora mais perto me fitam com a estrutura do seu corpo encostada na cadeira.
Eu tento me concentrar, mas só consigo apreciar seu rosto de mais perto. A
barba feita no bigode e queixo, as laterais do maxilar limpo de qualquer pelo
de barba, seu cabelo por baixo do boné parece estar cortado.
— Ontem, sua amiga que falou por você. — Seu olhar mantém-se na
minha boca.
— Foi sem querer. — Respondo.
— Por que não quer comer aqui?
Ele quer mesmo que eu responda sua pergunta? Ele sabe o motivo, está
visivelmente no ar qual é a razão pela qual não quero comer aqui.
— Perdi a fome, senhor — ele franze as sobrancelhas. — Ah... não, eu não
te chamei de velho, eu…— me enrolo na fala. — Isso é uma forma de
educação. — Mesmo tentando me explicar, sua expressão estranha continua a
me encarar.
Ele realmente parece ser mais velho que eu, mas droga…não era essa a
intenção.
— Está aqui, moça. — A atendente se aproxima com a pizza embalada
dessa vez.
Agradeço mentalmente aquele momento, apenas pego em minhas mãos.
Sem um “a” sair da minha boca, levanto da cadeira com a pizza em mãos e
seguro o suco no copo descartável. Ajeito meu celular no cós com o cotovelo,
apenas revido um olhar, em silêncio saio do local.
O medo está estampado na minha expressão.
Caso ele souber que não era fome e sim o medo de ficar naquele local ao
seu lado, eu acho que morro. Lembro-me perfeitamente que ele tinha arma e
rapazes armados ao seu lado, assim como os outros e qual sentido de ficar no
mesmo local que alguém assim?
Estou com tantos problemas na minha vida, não quero mais um.
No dia seguinte, na manhã de segunda-feira, o cheiro do café fica no ar
espalhado pelos cômodos.
As alças do meu sutiã seguram meus seios dentro da minha regata clara.
Faço o nome do pai após orar de joelhos no meu quarto, levanto, calçando
minha sandália. O horário marca 7h00min da manhã de segunda-feira. Vou em
direção a cozinha, minha mãe está em pé, fazendo o café na cafeteira
— Bom dia, mãe.
— Bom dia. — Separo meu pão para fazer com omelete. — Suas coisas do
banco chegaram, passaram pela delegacia e finalmente devolveram.
Olho em cima da mesa onde tem uma pequena caixa, com minhas coisas
de quando estava trabalhando no Banco do Brasil. Entre elas, um seria meus
óculos detonados, já que caiu no chão para todos pisotearem, ou nem estaria
dentro dessa caixa. Nenhuma vontade me ataca para abri-la.
— Não pensa mesmo em voltar?...
— Não, mãe. Não quero nunca mais pisar em algum banco. — Ela
confirma, sem questionar.
Faço a omelete com o pão. Mato o pouco da fome, junto a uma caneca de
café, sentada em uma cadeira da mesa.
As lembranças nítidas do olhar daquele homem esquisito na noite passada
vêm nas minhas lembranças. Seria uma enorme coincidência encontrá-lo no
mesmo local onde eu estava? Talvez sim.
— Tenho muitas unhas para fazer hoje. A agenda está lotada. — A voz da
minha mãe soa.
Afasto meus pensamentos, observando-a sentar na cadeira na ponta, do
outro lado da mesa com sua caneca de café em mãos.
O meu único trabalho, onde pensava em ficar por algum tempo seria
trabalhando como jovem aprendiz, mas nada condiz com nossos pensamentos.
Formada há um ano no ensino médio, agora o que me resta é tentar algo
diferente do que me causou um enorme trauma.
— Onde foi com a Lorena sábado? — Dou o mais longo gole no meu café.
— Ela me levou em um churrasco, mas não ficamos vinte minutos lá. —
Omito.
— Era onde? — Penso um pouco antes de falar, não quero mentir.
Evito dizer com palavras que era um baile.
— Complexo do Alemão. — Seu semblante muda.
Moramos em um bairro tranquilo, que é diferente do Alemão, uma
comunidade com cerca de 70 mil habitantes, e a maior parte de trajetória
dentro, é sobre crime, tráficos e envolvimento com brigas. Também tem
moradores trabalhadores e honestos, no entanto, a região onde eu estava, não
tinha nenhum.
— Cuidado, Maitê. — Sua voz é firme. — Você não precisa de mais
problemas na vida. Os agentes estão aguardando sua posição.
— Eu avisei que não vou falar nada.
— Então terá um tempo, mas eles querem saber sua versão, Maitê. Os
bandidos deixaram uma câmera filmando dentro do banco e os agentes viram
você de refém.
— Eles deixaram uma câmera?
Eu não estou sabendo quase nada das notícias, afinal, não quero
acompanhar algo que me trouxe problemas psicológicos.
— Passou nos jornais.
Os pensamentos trazem de volta lembranças vagas do dia, coisas que eu
estou tentando não lembrar durante todo esse tempo. Vozes vagas, mãos por
meu corpo e empurrões. A cena do gerente faz meu coração palpitar mais
rápido.
Por fim, termino de tomar meu café.
Uma obsessão faz minha cabeça procurar por algo no meu celular. A
solicitação na minha rede social, de preferência o Facebook, tem uma
solicitação de mensagem. Um perfil sem foto, sem nenhum acesso possível
dos amigos, apenas um nome. Azzam. Que de trás para frente, fica Mazza.
Mazza.
— Seria coincidência estar no Facebook e seu perfil aparecer como
sugestão?
Como ele conseguiu me encontrar? Minhas pernas tremem como uma vara
verde, em uma sintonia de vontade e adrenalina. Agora estranhamente, me
sinto sufocada pela ideia de que ele esteja afim de algo que envolva meu
nome.
— Você não sabe simplesmente mandar uma mensagem para uma mulher?
— Gil questiona.
— Não.
— Nunca conversou com mulher por mensagem?
— Desde quando eu preciso de celular pra ver mulher? — Sua risada
invade minha audição.
— Agora. — Me ajeito na cadeira, desconfortável.
O celular entre minhas mãos permite que eu releia a mensagem que enviei
para ela agora há pouco. Foi algo vago, mas creio que chamou a atenção da
garota, para tentar entender o que eu quero com ela.
Não quero parecer invasivo para assustá-la.
Não é simplesmente matá-la, se fosse isso, eu já havia feito. Mas eu quero
afastá-la de perto, pois essa garota é um risco para a minha vida.

Maitê: O que você quer comigo?

Suspiro fundo.
A voz do Gil entra na minha audição, mas minha concentração está na tela
do meu celular. Realmente, isso é difícil. Quem me conhece sabe como sou, o
quão bruto e sincero consigo ser, ao ponto de machucar alguém. Porém, com
ela não posso mostrar meu verdadeiro lado.

Italiano: Sabe quem eu sou?

Maitê: Bom, certamente não é o presidente dos Estados Unidos.

Molho meus lábios secos.


— Está falando o quê? — Gil pergunta.
— Nada. — Murmuro sério.
— Não está perguntando se ela sabe com quem está conversando não, né?
— Ergo meus olhos até o dele. Isso tira uma risada alta dos seus lábios. — A
qual nível chegamos?
— Fica quieto.
— Quando você conversa com mulher, fala o quê? — Cruza os braços.
— Mando o papo reto, que quero transar, que quero alguma coisa. Mas não
fico de assunto, porra.
— Fica tranquilo, você não vai transar com ela, não precisa ficar nervoso.
— Nega. — A única coisa que tem que fazer é ficar no pé pra tentar saber
sobre esses agentes, se ela sabe de algo… — Fala mais baixo, olhando no meu
rosto.
— Hum.
— E caso ela souber de algo, você tem que avisar a todos nós da quadrilha.
O restante da quadrilha está aproveitando o gerenciamento do dinheiro,
eles aproveitam em algum local apropriado, com várias mulheres. Nando e
Cleiton estão em uma viagem, voltarão daqui a duas semanas, avisaram.
— Ela mandou outra mensagem. — Fala após escutar o barulho.
Olho para a tela do meu celular.

Maitê: O que você quer?

Italiano: Caralho. Não posso conversar com você?


Conhecê-la.

Não consigo absorver mais a paciência para quase nada. Estou velho para
ficar com alguns assuntos vagos, e jogo sempre um palavrão no meio.

Dígito, apago, dígito de novo. Por fim, envio.


Isso não combina comigo. Tenho a mulher que quiser, e ficar rastejando
por alguma mulher me faz ser um prepotente.
Mas eu preciso utilizá-la a fim de algo, de escapar da minha própria cova.
— Quando namorei com a Diana era fácil conversar com ela…
Volto a escutar a voz dele, que está há minutos falando sozinho. Ele
sempre tem esse dom de ser chato às vezes.
— Diana, o travesti que você namorou?
— Não era travesti, Italiano.
— Na época todos falavam que ela era. — Mexo os ombros com
indiferença. Isso não muda nada na minha vida mesmo.
— O pessoal gostava de brincar onda com meu nome. Minha vibe é
boceta. — Fala sério.
Arrumo os fios claros do meu cabelo.
— Hum.
Mantenho minha postura na cadeira do local onde estávamos, Gil mantém-
se sentado na cadeira na frente da minha mesa de madeira. É onde passo a
maior parte do dia, um mini escritório para a gerência das drogas. Na parte do
fundo, fica o pequeno cômodo com uma mesa, coisas para a contabilidade, na
parte da frente onde meus funcionários fazem os pacotes da maconha e os
pinos de cocaína.
— Na época também falaram que o seu pau era muito grande. — Coloco o
celular no bolso.
— Melhor do que pequeno, é grosso também.
— O meu é grosso, tamanho médio, qual a cor do seu? — Solta uma
risada.
— Vai arrumar uma outra pessoa para encher a paciência.
— Você fica fácil nas minhas brincadeiras. — Levanta — Vê o que a
garotinha vai falar, me avisa depois.
Ele caminha em direção à porta, sem olhar para trás, sai do meu campo de
visão.
Me concentro em fazer algumas contabilidades e resolver meus problemas
do dia, me certifico de que todos os funcionários trabalham de uma maneira
correta, e resolvo o assunto do dinheiro.
Algumas horas haviam passado, e acabei caindo para uma reunião sobre
estarem assaltando dentro da minha área. Mandei alguns rapazes atrás, cerca
de duas horas depois, chegamos à conclusão que um menino roubou o
dinheiro de uma idosa.
— Vai apanhar de madeira e ferro. — Ordeno para os caras.
— Chefe… — A voz trêmula dele soa.
Seu corpo sem camisa, caído sob a terra no canto da comunidade, treme.
Ele tem o medo carregado em seu rosto jovem. Eu dou para ele no máximo
quinze anos de idade, e isso é algo “normal” dentro da minha área. Muitos
adolescentes pensam que o roubo a moradores foi abatido, mas jamais deixaria
moradores se sentirem oprimidos.
— Quer roubar dentro da minha área? Vai ficar logo marcado pra deixar de
arrumar problemas. — Falo alto — Está nas suas mãos, caralho. — Ordeno
para o moleque ao meu lado com a madeira em mãos.
— Eu nunca fiz isso, nunca torturei.
— Tem quantos anos?
— Quinze, meu nome é Rafa.
— Não perguntei teu nome, apenas faz o que tem que fazer.
— Mas ele é meu amigo...
— Cala a boca e faz logo, porra, sem história triste, ou os dois vão apanhar
da minha mão! — Ordeno mais uma vez. — Isso é pra deixar ciente de quem
rouba dentro da comunidade. Quero essa madeira rasgando cada centímetro da
pele dele.
Observo-o se aproximar, o maluco que está no chão machucado, suplica
para amigo que segura a madeira em mãos.
— Por favor, Rafa.
O Rafa segura firme, e a primeira madeirada nas costas do moleque no
chão é fraca, mas faz o amigo gritar de dor.
— Mais forte, do lado do prego, bora. — Falo atrás dele com um quê de
ódio na minha voz.
Arrumo minha Glock entre o cós da minha cueca. O barulho da madeira
agride meus ouvidos mais uma vez, junto ao barulho do prego rasgando a pele
do moleque.
— Tá fraco ainda.
— Desculpa, Vini — Tento ignorar essa frase do Rafa para o amigo.
— Desculpa? Você assaltou com ele? — Rafa nega com sua concentração
no amigo. — E está aqui por qual motivo?
— Ele me colocou no meio do problema.
— E está pedindo desculpa? De pessoas assim você tem que aderir ao
ódio. Ele queria te colocar junto, mas não conseguiu porque eu mandei
procurarem quem estava envolvido. Era pra você estar apanhando junto,
caralho. Amigos assim estão te condenando com eles. — Sua respiração
começa a falhar. — Está confiando em pessoas erradas.
Antes de mais uma palavra sair da minha boca, Rafa segura a madeira mais
firme, seus dedos saltam pela raiva, que forma na madeira de um tamanho
proporcional para acabar nas costas do ladrãozinho.
Então, a tortura começa pelas mãos do Rafa. Eu me concentro no barulho
da madeira agredindo cada estrutura da sua pele quente, rasgando. O sangue
começa a escorrer por cada centímetro da pele branca do menino.
Eu não consigo falar mais nada. Gosto da cena que vejo, gosto de ter a
sensação de moldar a mente de alguém para suprir minha vontade.
Quase cinquenta minutos depois, 19h00min da noite, deixo meu carro
estacionado na porta da casa da Maressa. Aguardo sua recepção há cinco
minutos.
— Está aqui por qual motivo? — Abre a porta surpresa.
Guardo a chave no meu bolso ao entrar, quando minha madrinha
disponibiliza a passagem na porta da sua sala.
Observo a sala, continua a mesma coisa de antes, apenas os sofás
mudaram, agora são novos.
Uma televisão no painel da parede, e um minúsculo corredor para transitar
para os outros cômodos.
— Vim saber como você está, Maressa.
Permaneço em pé no meio da sala. Antes dela fechar a porta, ajusta a tiara
no cabelo curto vermelho. Estudo seu vestido solto no seu corpo, na cor
branca, sem nenhum decote, confortando sua estrutura.
— Eu estou bem, Edgar.
— Está precisando de algo?
— Não. — Fecha a porta.
— Pelo jeito você sabe…
Travo minha mandíbula. Seus olhos desviam em forma de desgosto, como
ela sempre me olha.
Seu corpo senta no sofá, voltando a colocar os pés dentro da pequena
vasilha com água para limpar suas unhas.
— Não tem como eu fazer nada a mais, Edgar. Eu cuidei de você, eu te
eduquei, não como sobrinho, mas como meu filho. Você é velho demais para
saber o que é certo e errado. — Franzo as sobrancelhas.
A palavra senhor vem na minha cabeça.
Agora sou correspondido por todos ao meu redor como velho, idoso e
senhor, como pode? Porra. Essas palavras me trazem a sensação que não me
depilo, deixo os pelos das minhas bolas enormes.
— Velho? — Minha expressão é séria.
— Não nesse sentido, Edgar — solta o ar pelo nariz. — Estou falando que
você está ciente no que faz. Nunca ouviu meus conselhos, agora que não vai
escutar.
Hum. Tento não transparecer que ela realmente está certa. Nunca parei
para tentar entender seus pensamentos em relação à minha vida.
“Esteja sempre preparado para fechar seu coração.”
— Vou trocar de carro.
— Muito bom para você.
— Quero deixar meu Azera com você.
— Não, Edgar, não quero nada que seja teu. Principalmente sabendo que
vêm do crime. Não é ser chata da minha parte, apenas não. — Desvia o olhar.
Depois não quero ouvi-la dizendo o quanto sou ingrato pelo o que já fez
para mim. Deixo sua casa para trás, caminhando para fora com a cabeça
fervendo por sua negação.
Enfio meu corpo no Azera pelo banco de couro.
Quando levo a mão para ligar o motor do carro, o recebimento de uma
mensagem atrapalha minha atenção. É ela.
Maitê: Não confio o suficiente para tê-lo aqui perto.

Italiano: Em um lugar afastado?

Maitê: Longe da minha casa.

— Ingênua, pensei que seria mais difícil. — Reviro os olhos com meu tom
de voz sarcástico.
CAPÍTULO 08

Com meu corpo encostado no capô do meu Azera preto, eu interrogo


qualquer pessoa passando por perto. A rua onde ela combinou comigo, está
praticamente vazia, e aqui fica longe da sua casa.
Não consigo esconder a minha verdadeira raiva por esperar alguém há
mais de trinta minutos. Com minha moeda entre meus dedos, eu giro, tentando
conter minha raiva entalada na minha garganta.
A moeda passa entre meus dedos.
Suspiro fundo.
Guardo a moeda depois de alguns minutos.
— Fala sério, que essa maluca me fez de otário. — Passo as mãos no rosto,
nervoso.
Em primeiro lugar, eu não posso estar sozinho. Isso é um risco, e estar fora
da minha segurança, causa uma dúvida de estar tudo conforme quero.
Talvez eu esteja sendo um pouco prepotente em ficar nervoso.
Espanto meus pensamentos ao ouvir meu celular tocando. Tiro de dentro
do bolso da minha bermuda preta. Gil.
— Tudo no esquema? Bandido malvado. — Pergunta.
— Não consegue ficar uma hora sem me ver?
— Acredita que não? Acertou!
— Então começa a ficar.
— Está estressado como sempre. — Seu tom de voz é de deboche. — Fica
tranquilo, você não vai transar com a garota. Você não leva jeito com nenhuma
mulher mesmo.
— Cuida da sua vida. — Ouço sua risada.
— Liguei pra te dar um aviso — fala. — Tua madrinha está no hospital, eu
a levei.
Meu peito queima, subindo e descendo em uma respiração forte.
Essa é uma sensação que não sinto há um tempo.
— O que ela tem? — Meu tom de voz muda.
— Estava passando mal, o médico disse que era sintomas de ansiedade.
Ela está dormindo agora, depois de vários calmantes.
— E cadê a Lara? — Willian fica em silêncio por um tempo.
— Está aguardando mais notícias, deixei no hospital e vim pra minha
goma. — Respiro fundo.
— Lara é de menor, não a deixa sozinha até eu voltar. — Um murmúrio
baixo sai dentre meus lábios.
— Combinado. Vou tomar um banho, no máximo dez minutos volto para o
hospital.
— É pra ficar atento, Gil.
— Sou sujeito homem, você deu o papo, vou cumprir, caralho. — Não o
espero se despedir e encerro a ligação.
Maressa sempre teve essa mania de pensar em vários acontecimentos. Não
é a primeira vez que isso ocorre. Não entendo porque ela não repensa sobre
sua filha dentro de casa, e pelo menos uma vez na vida tenta entender que meu
destino era o único onde estou.
Minha mente racional muda completamente quando no meu par de olhos
surge, o corpo feminino moldado em uma calça de alfaiataria bege, um body
feminino na cor preta moldando os enormes seios. Sua cintura fina, os fios
grandes do seu cabelo balançam na medida que ela se aproxima. A claridade
das luzes permite observar seus traços, nariz fino, rosto desenhado,
sobrancelhas feitas e uma boca desenhada.
A desgraçada é bonita e gostosa, deve ser mais gostosa pelada.
A minha mente fértil a desenha nua na minha frente. A qual nível eu
cheguei para imaginar uma mulher nua?
Ela aproxima-se em passos curtos, o suficiente para me alcançarem.
Me afasto do meu carro, sentindo seu cheiro doce encontrar o meu nariz.
— Demorei? — Um sorriso de canto irônico surge em seus lábios.
Ela sabe que demorou o suficiente para me deixar nervoso, mas guardo
todo esse ressentimento, silenciando minha mente.
Evito ao máximo meu contato visual com o dela.
— Seu carro? — Ela aponta com a cabeça para o meu Azera atrás do meu
corpo.
— É.
— Hum. — Ela sorri.
— Vamos sair da rua. — Aponto com a cabeça em direção ao carro.
— E vai fazer o que caso eu realmente entre no seu carro? Me sequestrar?
Pela iluminação das luzes no poste, fito seus olhos pretos na minha
direção.
Sequestrar de novo? Não tem a mesma sensação que a primeira vez. A
primeira vez teve uma emoção mais forte, eu senti-la por perto pela primeira
vez.
— Sequestrar? — Franzo minhas sobrancelhas. — Eu faço isso em um
outro momento, não agora. — Percebo sua expressão medonha em seu rosto.
— Estou brincando.
— Não confio.
— Entendo, é sua primeira vez comigo. — Passo a mão na minha barba
feita.
— Entro apenas quando garantir que não serei sequestrada.
— Eu não preciso correr esse risco. Primeiro, caso eu fosse fazer isso, você
não iria ver meu rosto. Segundo, eu iria fazer em outro momento. Não sou um
otário.
Isso parece relaxar sua musculatura tensa, ela pensa por um tempo, e vê
que não tem nada a perder, caminhando em direção a porta do passageiro.
Ouço o barulho da porta ao seu lado, e sem olhá-la caminho em direção à
minha porta do motorista, entrando dentro do carro.
Primeiro passo, ganhar sua confiança. Baboseiras como ser um cara de
estrutura boa, não é comigo, nunca foi. Sempre fui o vilão da história. Aquele
que mata rindo, que se contém a vontade de ouvir ossos de um corpo humano
quebrando pelo enorme ódio.
O mundo me tratou como um bicho, e no final restou minha alternativa de
ser assim.
— Fecha a porta.
Quando seu corpo se acomoda no banco do passageiro, eu forço a barra de
ir para o seu lado, fechando a porta do carro. Meu corpo levemente encosta no
seu corpo frágil e pequeno. Maitê é pequena, minhas duas mãos desenharam
seu corpo inteiro.
Sem corresponder seu olhar, eu volto para o meu banco, e ligo o motor do
carro.
— Poderíamos ter conversado no dia que estava na lanchonete, fui lá afim
disso. — Falo, começando a dirigir.
— Você parece meio louco. Como sabia que eu estava lá?
— Te vi entrando. — Minto.
— Eu não queria trocar ideia com alguém, é…
— Italiano. — Completo sua frase.
— Italiano. — Seu tom de voz é pensativo. — Eu aproveitei a situação
hoje, na verdade eu basicamente te usei, por isso estou aqui. Na verdade, estou
achando aqui mais perigoso do que o que estava fazendo.
Me usou? Encaro seu rosto no canto dos meus olhos. A única pessoa que
está usando alguém aqui, sou eu.
— Me usou? — Volto minha atenção sob o breu da rua onde entro.
— Pra fugir de uma situação.
— Qual situação?
— Alguns agentes. — Engulo o seco pela minha garganta.
Eu esperava uma resposta desse tipo, e pelo jeito ela tem uma expressão
facial de quem é sincera. Isso será mais fácil do que pensei, usar alguém nunca
foi tão fácil assim, me saciar da sua boa vontade.
Mal sabe o quão sou um filho da puta, e que há dias atrás estava com ela.
Que sei seu endereço, onde mora, seus pais, sua melhor amiga. Horário
que sempre ia trabalhar, seu movimento para fora de casa durante um dia.
Aproveito o momento para levá-la em um local não muito longe.
Conforme o carro vai estabelecendo uma distância da onde estávamos, torna-
se uma escuridão. Até mesmo a iluminação dos postes públicos foi ficando
para trás.
Não posso sair sozinho das áreas onde estou, e paro o carro em um local
mais silencioso. Do lado de fora havia um banco vago, no meio da calçada.
— Hm… aqui? — Sua voz soa quando o carro desliga o motor e os faróis
apagam, permitindo que a luz de dentro acenda.
— Eu te chamei pra conversar.
Olho para ela do meu banco. Admiro cada detalhe do seu rosto pela breve
iluminação, os olhos dela são enormes e pretos, como uma jabuticaba.
Isso me queima por dentro.
Tento colocar na minha mente o quanto é errado sentir algum tipo de
atração por seu corpo.
Então, preciso evitá-la o mais rápido possível, para não alastrar pela minha
garganta e consumir a ruína que seria eu fodê-la.
— Não tinha um lugar melhor? — Me interroga com a expressão
duvidosa.
Faço um contato visual com ela. A qual ponto esse caralho chegou?
Estou fazendo contato visual com uma mulher, e se ela lembra de algo,
lembraria dos meus olhos marcantes.
O verde enaltecido pelo castanho torna-se uma cor avelã.
Mas não, ela não recorda, isso me conforta de alguma forma.
— O que tem hoje além daqui? Nada.
— E quer algo comigo assim?
Fico calado.
Não pensei nessa possibilidade, para dizer a verdade, eu nunca saí com
uma mulher fora de um quarto. A única coisa que procuro nelas é sexo, meros
corpos, não passa disso.
— Esperava algo romântico? Eu não sou assim. A única porra que faço é
usar mulher pra satisfazer meu prazer. — Olho no seu rosto, que muda a
expressão de imediato para assustada. — E você quer isso?
— Meu Deus! Não…— Respira forte.
— Prefiro sua amizade, apenas. — Um murmúrio da minha boca preenche
no carro, e ela só concorda.
Ainda assustada desço ao seu lado para sentarmos no banco vago.

No dia seguinte, terça-feira, é de manhã e minha cabeça está um pouco


pensativa. Sentado na minha cadeira, a minha única companhia é meu cigarro
de maconha. Estou com meus pés em cima da mesa, meu corpo jogado na
cadeira confortável, e os tênis pretos destacando-se.
O cheiro sobre o ar é de maconha, descarto o cigarro no cinzeiro, fechando
meus olhos com a cabeça encostada no encosto atrás da cadeira.
Ontem não fiquei muito tempo ao lado da Maitê, só deu para ela "confiar"
nas minhas palavras pelo menos um pouco. Eu não tenho muitos assuntos para
trocar com ela. Só preciso da sua confiança.
Ontem à noite cheguei no bairro, soube que minha madrinha havia sido
transferida para casa e estava dormindo à base de calmantes fortes.
— Não é possível. — A voz masculina faz meus olhos abrirem de
imediato. — Puta que pariu.
Arrumo meu corpo, a raiva começa me consumir por dentro com a voz do
Gil. Com os pés no chão, respiro fundo.
— Que cheiro de maconha.
Continuo em silêncio, chato pra porra.
— Não dormiu essa noite? Estava praticamente cochilando.
— Não.
— Percebi. — Ri.
— Você não tem algo melhor pra fazer? — Franzo minhas sobrancelhas
por baixo da aba do meu boné preto.
— Tenho. — Se aproxima. — Sentar aqui. — Ele senta na cadeira na
frente da minha mesa. — E ouvir o que tem para falar.
— O que foi?
— Maitê.
Passo minha mão direita na minha nuca, suspirando. O meu castigo aqui na
terra é não viver a paz, poderia procurar em todos lugares do mundo. Depois
que assumi minha vida, é viver sem dormir direito, ficar doente e um dia lutar
para a minha cabeça não explodir.
— Sabe que pode confiar no seu amigão. Quero saber o que aconteceu
ontem.
— Está de sacanagem mesmo. — Resmungo.
— A garota disse algo? — Encaro-o.
— Isso não te interessa, quando ela disser algo, eu falo.
— Não mesmo, eu tenho a total certeza que houve algo. — Fita meu olhar
— Eu sou curioso. Bandido malvado.
— Não aconteceu nada, ela não disse nada.
— Não? Então ficou muda, porra — bufa. — O gato comeu a língua dela
ou ela ficou calada enquanto chupava seu pau?
— Cala a boca, caralho! — Um sorriso provocante cresce em seus lábios.
— Já vi que não vou conseguir nada de você. Está precisando gozar pra
melhorar esse seu humor — levanta da cadeira. — Faz quantos dias que não
goza?
— Arruma sua mãe, quem sabe ela não me faça gozar. — Um murmúrio
sério sai dos meus lábios.
— Eu estava brincando suave. Não fala dela. — Sua voz sai baixa.
— Então não enche meu saco.
— Mais do que está cheio?
Levanto da cadeira com minhas veias fervendo de raiva. Pego o primeiro
objeto em cima da mesa de madeira na minha frente, não faço a mínima
concentração em saber o que é. Gil percebe que está prestes a receber algo na
sua cabeça. Quer dizer, até ele sair correndo em direção da porta e sumir da
minha visão.
Descarto a tesoura em cima da mesa. Ele iria receber no meio da testa dele,
e ele sabe o quão sou corajoso para fazer.
Me aproximo da porta e abro a maçaneta de ferro. Ignoro a presença de
vários rapazes após sair da minha sala e adentrar o pequeno local onde a
enorme mesa está cheia de drogas. Geralmente, eles sempre estão trabalhando,
ocorre o plantão que alguns soldados fazem revezamentos, assim como os
rapazes da parte do pó branco, a cocaína, e a maconha. Também incluído com
o crack.
O espaço é seguro — nunca estou sozinho —, a segurança é altamente
qualificada, fornece armamentos para todos. A entrada é um disfarce, na frente
é uma casa, e no fundo é a boca de fumo. Cada uma é de uma forma, essa é a
principal, o antigo chefe quis e programou assim.
— Chefe. — Algumas vozes são notáveis quando atravesso pelo local, até
sair para fora.
Passo pela pequena divisória de cimento e atravesso a casa, finalmente
saindo na rua. Meu celular vibra no bolso. É uma mensagem da Fernanda,
leio.

Fernanda: Oi, Italiano. Estou no bairro.


Não quer vir à minha casa?
Posso recebê-lo.

Olho a foto tirada dentro do banheiro. Mostra suas pernas e sua boceta
depilada.
Posso sentir desejo, mas não da maneira que espero sentir. Não da forma
sexual que quero sentir, e quando encontrar essa mulher, prometo que vou
fodê-la da forma que nenhuma mulher foi fodida na minha vida.
Respondo sua mensagem, confirmando minha presença agora pela manhã
na sua casa.
Cinquenta minutos depois me encontro limpando o suor do meu rosto
escorrendo sob minha pele em frente ao espelho do banheiro da casa. Jogo a
camisinha com minha porra dentro do vaso e dou a descarga, descartando.
Saio do banheiro já vestido com minha bermuda, minha camiseta preta e meus
pés calçados no tênis preto.
Ela estava aguardando o que queria. O dinheiro. Coloco em cima da sua
cama.
Ela está sentada nela, com seus seios de fora, o silicone sustenta sua
estrutura e veste uma calcinha vermelha no seu corpo. Uma cavala.
— Notei algo em você — olho no seu queixo. Franzo as sobrancelhas. —
Não curte o contato visual. — Pega o dinheiro em cima da cama.
— Eu não tenho contato visual com puta.
Ela raciocina minha resposta por alguns segundos. Então, começo a
caminhar em direção à saída, até ouvir sua voz e o movimento rápido da sua
mão agarrando meu braço.
— Italiano.
Vadia.
Puta.
Piranha.
Viro pra ela, minha expressão é algo específico. Uma certa raiva por sua
mão impedindo meu movimento. Ela começa a tremer com a superfície do
sentimento de medo.
Muitas vezes, quem convive comigo, tem uma pequena noção quando
aviso sobre contatos. Para ela não foi diferente. Nada além do sexo.
— Desculpa... — Seus lábios tremem pelo medo.
Penso em todas as formas mais baixas de xingamentos. Porém, meu
silêncio é algo duradouro. Sem minha complexa atenção para ela, saio da sua
casa em direção ao meu carro, e pego o meu caminho para uma casa aqui na
comunidade, onde passo algumas noites.
Atualmente, passo mais dias por aqui, mas minha outra casa fica no bairro
Higienópolis. Minha vida me faz cada dia estar em um local diferente, como
um esconderijo.
CAPÍTULO 09

Protejo um pouco meu cabelo, os pingos da chuva estão fracos, não


impossibilita de acompanhar a Lorena pela multidão de um churrasco.
Bom, eu estou um pouco estressada com ela, que tinha falado que me
levaria em um local reservado para curtimos um pouco nessa quinta-feira,
mas no final, ela me trouxe para um churrasco lotada de pessoas.
Dois dias passaram depois daquele encontro horrível com aquele
homem.
— Sério que quer ir pra lá? — Lorena pergunta quando me refiro à zona
mais afastada.
— Na realidade eu quero ir embora daqui, olha onde você me traz. Não
sei como confiar em você. — Reclamo.
Lorena tem uma expressão neutra, simplesmente mal dá ouvidos a
minha frase, virando seu copo de bebida na boca. Admito, eu estou um
pouco bêbada, deixei de beber há uns cinco minutos pela onda da bebida. O
som da música e o barulho das vozes preenchem meus tímpanos, todos no
local tinham algo em comum: droga ou bebida.
— Vamos para o outro lado. — Me chama.
Lorena me puxa pela pequena multidão, aproximando-se de uma turma
de amigos, envolvendo homens e mulheres, e uma delas é a Fernanda, a
moça loira.
Admito, isso aqui é bem suicida.
Coloco meu cabelo todo para trás e ajeito minha saia no corpo. A saia
detalhada acompanha um conjunto da parte de cima na cor preta. Chamo a
atenção dos homens. Isso é algo bom, saber que estou bonita.
— Amiga. — Chamo Lorena, cortando sua fala com seus amigos.
— O que foi dessa vez? — Encaro-a.
Seu rosto vem na minha direção em uma expressão não muito
confortável.
— Eu vou ao banheiro. — Noto chamar a atenção dos seus amigos
homens.
— Procura na parte debaixo da casa, você encontra.
Sua atenção volta para as pessoas à sua frente. Às vezes não consigo
compreender a Lorena, um dia ela está razoável, basta não fazer coisas que
ela quer, que seu temperamento muda.
Então, vou atrás do banheiro. A sensação de ser observada torna-se uma
obsessão por meu sentimento. A cada passo pela parte superior da escada,
enquanto passo pela multidão de pessoas com minhas sandálias baixas no
chão, meu corpo se condena pela onda da bebida atingindo cada partícula
da minha mente, eu estou bêbada. Passo por homens, eles fedem a maconha
e tentam me tocar, mas reluto, e finalmente atravesso a escada.
Na fila do banheiro, aguardo meu momento. São minutos para aguardar,
rapidamente faço minha necessidade para urinar. Claro, antes de sair do
banheiro confiro como estou bonita
Atravesso a porta do banheiro, dessa vez sem fila, no terceiro passo pelo
pequeno corredor, uma mão firme segura meu braço. Tão forte que provoca
uma rigidez de dor na minha pele.
— Estou observando-a desde da hora que estava com a Lorena.
Ergo minha atenção para o dono da voz, é um rapaz desconhecido. A
pouca claridade permite seus olhos castanhos brilharem na minha direção,
pouca barba e um sorriso safado em seus lábios. Parece bêbado.
— Eu não estou afim. — Tento afastar-me.
— Como é seu nome, hum?
— Cara, eu não quero. — Levo as mãos no seu peitoral quando sinto-o
agarrando minha cintura.
— Sua amiga disse pra vir atrás, que você aceitaria.
— Eu não te conheço.
— Pode me conhecer agora, boneca.
— Qual parte não estou afim você não entendeu? — Fito sua barba meio
falhada.
Ele está armado. Consigo sentir quando ele me puxa para mais perto do
seu corpo. Isso acontece quando não tem uma mosca aqui.
Que droga.
Por intuição de mulher, eu pego meu joelho, não ligo se a arma na sua
cintura pode me matar. Acerto uma joelhada no meio das suas pernas. O
gemido rouco de dor sai entre seus lábios. Ele protege sua parte íntima com
as duas mãos, agora encostado na parede atrás.
— Não sabe com onde se meteu, desgraçada. Eu vou te matar agora…
— Sua voz contém raiva.
Eu consigo respirar fundo e coração batendo forte pelo medo.
— Faça isso. — A voz grossa ao nosso lado chama a atenção. — Quero
assistir você matando-a.
Estudo-o no meio do caminho, ele está com a expressão mais séria do
que nas últimas vezes. Contém um pouco de raiva por assistir esse doente
tentando algo comigo.
O Italiano, o dono dos olhos cor de avelã.
Seus braços cruzados, permitem que a sua camisa escura marque os
bíceps dos seus braços, seu braço direito fechado pela tatuagem, cabelo
penteado para trás em um corte. Olho-o como uma garotinha.
— Desculpa, parceiro. Foi um engano entre mim e uma menina da festa.
— A voz falha do rapaz soa com medo.
Desgraçado.
— Tem certeza? — Aproxima-se em passos lentos.
Seu corpo mais alto, para de costas para mim, e de frente para o rapaz,
que por ironia, está com medo.
— Sabe quem vai morrer? — A voz do Italiano me causa pequenos
arrepios por meu corpo. — Você.
Imagino esse homem gemendo.
— Desculpa, amigo. — O rapaz começa a sair devagarinho, tomado
pelo medo, em direção a escada, e some dos nossos campos de visão.
— Obrigada. — Sussurro.
— Vou te fazer uma pergunta sincera. — Ele vira-se de frente. — Você
sabe onde está, em qual lugar está se metendo?
A pouca iluminação permite seus olhos me analisarem.
— Hum? — Questiona. — Não ouviu quando eu falei no primeiro dia?
Não quero te ver aqui. Eu não quero te ver nessa área. — Seu tom de voz
vai mudando.
— Eu sei.
— Não, você não sabe. — Nega. — Sua amiga é uma puta, ela vive
aqui, vive para os bandidos. Eu não quero falar mais uma vez para você,
ninguém aqui é brincadeira. — Ele começa a caminhar em direção a saída.
— Vem logo, porra.
— Pra onde?
— Vou te tirar daqui. — Não olha mais para trás, saindo.
O barulho, o som vêm de cima. Mas o que me aguarda neste momento é
a saída do local onde estou. Acho que, por mais irônico que seja, eu
concordo com ele.
Saio da residência sem olhar para trás. Ele já está dentro do seu Azera
preto. Entro no seu carro sem enrolação.
Nem um pouco educado em esperar.
Em silêncio, saímos da onde o carro estava estacionado pela rua. Seu
braço direito sobre o volante, todo tatuado é algo bonito de se ver, ele
dirigindo. As luzes vão ficando para trás, sumindo do campo de visão
depois de minutos. O carro para em um local escuro, quase em um lugar
sem nada.
Isso é proporcional para ser morta.
— Italiano. — Um murmúrio de medo reprime entre meus lábios. — O
que tem aqui?
— Está vendo isso? — Ele desliga o carro. Sua mão direita abre o porta-
luvas, ele mostra a arma, mas não tira, fechando o porta-luvas novamente.
— Sabe onde você está se metendo? — Encaro-o encolhida no banco do
passageiro.
A bebida ainda faz efeito por meu corpo, pela minha consciência. Não
estou sóbria, e solto um sorriso irônico nos meus lábios, isso faz suas
sobrancelhas grossas e feitas se juntarem em forma de dúvida, me
encarando.
— Agora era pra eu estar me lamentando no meu quarto. Vendo essa
arma na minha frente me fez lembrar — um riso sem humor sai do meu
nariz. — Do dia que o banco onde eu trabalhava foi assaltado.
Engulo o ar.
— Recusar falar por medo, por lembranças de ansiedade. — Eu
continuo.
Seus olhos claros vão em direção ao para-brisas do carro. Olhos
esverdeados, nas cores avelã, um castanho sincronizado com um verde.
Algo cativante.
— Eu poderia estar me lamentando, mas sabe tudo que eu quero? É
beber. — Falo com uma voz firme. Bom, é o que acho. — Esquecer.
Estudo cada parte desse homem. Ele é estranho, mas é gostoso, eu não
nego isso. E parece que ficar no mesmo carro que eu, causa um reboliço de
emoções.
Italiano me olha sem entender quando tiro minha sandália dos meus pés.
Simplesmente, apoio para sentar de frente pra ele, no seu colo de pernas
abertas.
— Maitê, sai. — Sua voz é firme, mas ele não faz nenhuma força nas
suas duas mãos para baixo. — Você está bêbada.
— Fica quieto. — Levo meu dedo direito aos seus lábios, fazendo seu
silêncio prevalecer.
Estou querendo-o, uma completa obsessão enraizada forma-se na minha
imaginação. Talvez a bebida tenha dado um pouco de coragem neste
momento, na realidade, eu acho que a bebida deu a devida coragem.
Meu corpo se alivia quando ele permite o banco ir para trás, liberando
espaço para meu mim, contra o volante. Ele é grande, sua estrutura
muscular, meu corpo cobre perfeitamente em cima das suas coxas grossas.
Seguro seu pulso quando ele tenta levar na minha cintura para me tirar.
Qual era o problema desse cara? Eu quero dar para ele.
Levo minhas duas mãos no seu pescoço, a pele ferve pela quentura.
Aproximo minha boca, mas ele vira seu rosto para o lado, segurando meus
dois pulsos.
— Não. — Respira fundo.
— Como não? — Rebolo lentamente contra seu corpo. — Eu consigo
senti-lo duro. — Minha boca sussurra perto do seu maxilar.
Seu cheiro masculino é tão bom. Sua respiração é forte, ele fecha seus
olhos com força, relutando. Por dentro da sua bermuda, contra a minha saia
levemente levantada pela posição, consigo senti-lo duro, seu pau está
extremamente duro. Isso me alucina, eu estou prestes a me tocar depois no
banho, caso ele não me foda aqui.
Arranho seu pescoço com minhas unhas grandes.
— Tudo bem… — Falo.
Tento sair de cima do seu corpo, então por um impasse, a cena começa.
Suas duas mãos abandonam meu pulso, ele traz uma no meu pescoço e a
outra para na minha nuca, puxando os fios do meu cabelo para trás. Sem
hesitar, sua boca quente encaixa na minha, entrelaçando nossos lábios em
um beijo de língua sem fôlego.
Italiano cola a testa na minha, quando puxo o ar no intervalo mais
doloroso, quando afasto da sua língua. Nossas respirações estão misturadas.
Ele continua com seus olhos fechados, parece estar pensando em algo.
— Aconteceu algo? — Ele abre seus olhos.
Pela primeira vez encarando-o de perto, tão perto que parece ser surreal.
Seu pau duro pulsa descontroladamente de vontade dentro da sua bermuda.
Suas mãos abandonam meu pescoço e cabelo.
— Você nunca pegou uma garotinha assim, não é?
— Garotinha? — Interroga.
— Você sabe foder? — Observo sua expressão ficar mais séria,
deixando-o nervoso pela minha provocação
Meu dedo desliza sobre sua boca, contornando. Vou me arrepender no
dia de amanhã por fazer algo estando bêbada.
— Vai aguentar esse caralho duro batendo no seu útero? — Agarra meu
pescoço com sua mão direita. — Vou te comer com força, e não quero te
ouvir pedindo pra parar.
Meu Deus.
Ele sobe minha saia com força, arrastando minha calcinha de lado. Eu
apenas fecho os olhos ao ouvi-lo abrindo o zíper da sua bermuda. Minhas
pernas tremem junto com minha boceta, que está molhada pela lubrificação.
— Olha aqui pra cara de quem vai te comer. Está praticamente
implorando pra sentar. — Sua mão segura meu rosto, me fazendo abrir os
olhos.
Seu pau duro é grande e grosso, as veias, a cabecinha, tem uma cor
bronzeada. Cada centímetro que entrar dentro de mim, será um gemido de
dor.
Ergo meu olhar para ele novamente. Com sua mão no meu maxilar, ele
gruda seus lábios quentes no meu novamente, e eu agradeço para esconder
o quão fiquei tímida olhando seu pau, quase babando.
Italiano explora meu corpo com sua outra mão. Ele apalpa a pele quente
da minha bunda inteira com força
Afundo minhas unhas grandes no seu pescoço, explorando seu peitoral
com camisa.
— Posso te ver? — Peço, ofegante.
Ele encosta a cabeça no banco de olhos fechados e respira fundo,
confirmando. Com sua ajuda, tiro sua camiseta.
Jesus... Esse homem é tudo de bom, qual seu defeito?
Seu peitoral nu, abdômen definido, cada parte da sua musculatura eu
deslizo minhas mãos pra senti-lo. Ele aprecia cada detalhe da minha
expressão, e eu pego no seu pau, sentindo a textura da sua cabecinha
molhada.
— Senta. — Ele estica o braço, e volta a mão com uma camisinha, me
entregando.
Então, pego-a da sua mão e abro, colocando com uma certa dificuldade
no seu pau grande e grosso. Faço isso com seus olhos me observando, e
principalmente, analisando meus seios dentro top StreetWear na cor preta.
Uma onda mais potente de tesão me atinge, quando sinto seus dedos
deslizando na minha boceta molhada. Eu fecho os olhos, sentindo o toque
do seu dedo deslizando pela lubrificação. Cravo minhas unhas na sua nuca,
e mordo meu lábio inferior com uma certa força.
— Você gosta assim? — A voz grossa soa.
— Sim, é gostoso. — Abro meus olhos.
Choramingo com seu dedo provocando meu clitóris inchado, sua
respiração tensa bate contra meu rosto. Eu gozo fácil pra ele, é só continuar
masturbar meu clitóris.
Minha boceta pulsa forte, então, Italiano afasta sua mão, puxando minha
cintura para mais perto, me forçando a me posicionar em cima do seu pau.
Ele fecha os olhos pela sensação mesmo com a camisinha, que impede
um pouco de ter a mesma sensação na pele.
Minha boceta lubrificada começa deslizar devagar sob seu pau duro.
Dói…dói muito. Ele tira dos meus lábios um gemido de dor pelo
tamanho, a proporção e a grossura entrando dentro de mim. Rebolo
lentamente, sentando.
Cravo meus dentes no meu lábio inferior, com sua mão grossa apertando
minha cintura fina, como se a qualquer momento fosse quebrá-la.
— Me fode. — Peço — Me fode essa noite e amanhã esqueceremos o
que aconteceu aqui. — Suplico, fazendo-o abrir os olhos. — Rebolo com
força, jogando meu cabelo para trás.
Segurando o gemido, Italiano.
Ele não raciocina muito, seu único ato é desferir um, dois, três tapas
com força na minha bunda. Ele segura com as duas mãos e começa a me
foder por baixo.
Em tentativa de aliviar o quanto eu estou pedindo para ele me foder
agora, nesse exato momento.
Beijo sua boca, arranhando seu pescoço. Tapas na minha bunda, meu
gemido, espalhada no carro, vidro embaçando e nossos olhares cruzando
um ao outro, como dois sedentos por sexo. Mesmo sentindo dor no meu
canal vaginal, é essa onda de sexo que quero sentir.
Italiano parece um cara que jamais dá prazer a alguém.
A sensação é inexplicável, a onda da bebida se mistura na minha
sintonia. Eu estou prestes a gozar com poucos minutos, a sensibilidade me
permite sentir um prazer enorme, sentando no seu pau descontroladamente.
Eu arranho seu pescoço e peitoral com força, sem nenhuma piedade, na
mesma intensidade que ele me come por baixo.
Solto um gemido dos meus lábios entreabertos, perto do seu pescoço
quente. Ele respira fundo, segurando o seu gemido. Suas duas mãos estão
por baixo da minha bunda, forçando a cada entrada dos nossos corpos
encaixando.
Estou prestes a gozar.
— Isso… assim, me fode. — Peço, ofegante. — Eu vou gozar pra você,
Italiano.
Essa minha frase, faz ele afundar mais a cada investida dentro de mim,
sem se importar se está doendo. Ele só quer gozar e eu também. Seus tapas
me fazem ficar fraca, como é gostoso senti-lo me batendo.
— Goza. — Ele ordena.
Minhas pernas estão fracas. Eu travo na sua cintura, rebolando com a
sensibilidade dos meus seios pulando. Meu rosto se torna em uma
expressão prazerosa, simplesmente puxo seu lábio inferior, colocando
nossos lábios sem beijá-lo, apenas fazendo-o me olhar nos olhos.
Eu gozo no seu pau, meu orgasmo me permite sentir minhas pernas
fracas. As reboladas são intensas com meus gemidos, provocando uma
lubrificação mais forte do meu gozo.
Sua boca entreaberta solta uma respiração pesada, ofegante. Seus
músculos tensos relaxam, a sua expressão facial muda para o prazer mais
profundo, e com mais força ele aperta a pele da minha bunda, sem segurar
ao me sentir gozando.
O clima vai ganhando realidade quando as estocadas diminuem.
Eu transei com ele.
Mesmo desconfortável pela posição, mas transei.
Suas mãos me abandonam de imediato, seu braço direito firme segura
na minha cintura, com facilidade ele consegue me levantar em direção ao
outro banco.
Respiro o cheiro de sexo dentro do carro.
Calado, ele tira a camisinha cheia de porra e eu ajeito minha roupa no
corpo. Italiano simplesmente joga a camisinha cheia pela janela, antes de
ligar o carro para sair do local onde estamos. Sério e calado, então prefiro
ficar calada também.
Horas depois entro em casa, são quase 3h00min da manhã. De banho
recém tomado, deitada na minha, antes de virar para o lado e apagar no
sono, vejo a ligação da Lorena.
— Qual é o seu problema? Arrumei o Fred para você.
— Lorena.
— Você saiu e não avisou, onde está agora? — Seu tom voz é de
repreensão.
— Em casa.
— Como, Maitê? Você estava aqui na Penha comigo. — Escuto sua voz.
— Com quem você foi?
“Sua amiga é uma puta.”
Recordo das palavras na minha cabeça.
— Um amigo. — Minto.
— Qual amigo?
— Você não conhece.
— Meu Deus do céu!
— Vou dormir, estou cansada. — Sussurro.
— Meu Deus, Maitê, tome cuidado onde vai se meter. Vou desligar aqui,
amanhã conversamos, descansa. — Desliga a ligação.
CAPÍTULO 10

— Domingo, Rio de Janeiro, estou suado com esse sol quente. Estou
bonito, gostoso e rico. — Escuto Gil falar sentado na cadeira. — Pago tudo à
vista
São quase 17h00min, ouvi-lo o dia todo virou algo da minha rotina.
— Não consegue calar sua boca um minuto? — Pergunto com a atenção
na tela do meu celular.
— Ontem passei por um momento constrangedor, idoso. — Fala de
novo.
Respiro fundo.
Olho na sua direção, sentado na minha cadeira atrás da mesa de madeira.
— Não me olhe assim. — Coloca a mão no peito.
Há uns meses atrás não suportava estar com ele, não no mesmo lugar, e
hoje, depois de tanta dor de cabeça, ele é o gerente do meu negócio no
crime. Ainda me questiono como consigo aguentar estar com ele,
teoricamente somos opostos um do outro.
— Ontem vi a refém naquele churrasco. — Seu tom de voz fica sério.
Cerro minha mandíbula, calado.
Tentei ser forte, eu tentei evitá-la na noite anterior, mas ela praticamente
implorou para ser comida. O pouco da bebida que eu consumi, foi o
suficiente para fazer o que não era para ser feito. A única coisa que queria
era me aproximar a fim de obter informações do bojo criminoso.
Porra.
Caralho.
— Ela tá pisando na nossa área.
— Eu sei, não precisa falar algo que eu estou vendo. — Reclamo.
— Então faça algo. — Fala sério e firme. — Ela é uma ameaça para nós,
e está colocando a vida em risco.
— Eu sei. — Murmuro.
— Porra, imagina…
— Cala a boca. — Me estresso.
— Estou falando a verdade.
— Uma porra esse caralho, eu sei, eu sei!
— Acha que ela confia em você, para falar algo? — Nega, encaro-o. —
Apenas não perde o foco daquela garota. A sorte que ontem você a mandou
sair da onde estávamos.
Minha língua quente percorre meus lábios. É, eu a mandei sair.
— Italiano. — Ouço-o dizer mais baixo.
— O que foi?
— Você foi pra onde ontem?
— Lugar nenhum. — Dou de ombros, estressado.
— E a levou embora? — Confirmo.
Não só levei, eu comi dentro do carro, em uma posição horrível, mas o
suficiente para sentir o quanto aquela cachorra estava molhada enquanto
sentava no meu pau. Primeira e última vez, minha relação com ela será sobre
outros problemas. Não vou atrapalhar meu plano por causa de uma mulher,
que é algo que consigo quando quiser e no horário que eu queira.
Mas só de lembrar, meu pau endurece dentro da calça de moletom,
reclamando na cueca.
— Está estressado?
— Quer mesmo que eu te responda? — Franzo minhas sobrancelhas.
— Precisa de mulher. — Levanto da cadeira.
— Eu vou ir atrás de uma agora, tentar esquecer esses problemas. — Sua
risada irônica soa no cômodo.
Tiro meu celular do bolso, disposto a esquecer esses problemas com
qualquer mulher disposta. A primeira a querer algo, lembro-me que seu
nome é Brenda, então não hesito em marcar um horário.
Horas depois.
— Você quer ficar satisfeito da melhor maneira possível, e eu posso te
proporcionar isso.
Sua expressão facial é safada. Ela se abaixa na minha frente, ajoelhando
no chão entre minhas pernas. Seguro sua nuca, puxando seu cabelo loiro
para trás. Desconto minha vontade em um tapa no seu rosto.
— Cala a boca. Quero te sentir mamando, não ouvir sua voz. — Minha
voz rouca reclama. Sou recompensado com um sorriso safado em seus lábios
e mordidas.
Brenda percorre sua língua no meu pau com uma camisinha, isso impede
de senti-la mais afundo na pele, mas é o suficiente para sentir o começo do
seu boquete. Ela lambuza com sua saliva, indo mais a fundo na garganta e
volta, passando sua língua sob a cabecinha inchada.
Meu pau pulsa dentro da camisinha descontroladamente. Fecho os olhos,
lembrando do rostinho safado da Maitê. Isso faz meu pau pulsar, reclamar
dentro da camisinha, o pré gozo acaba lubrificando a camisinha.
Eu estou lembrando daquela vagabunda, enquanto tenho outra mamando
meu pau duro. Eu não posso negar, não esqueço do seu rostinho implorando
para ser fodida, e essa porra de pensamentos estão me deixando louco.
Enfio minhas duas mãos entre os fios loiros da Brenda, começando a
forçá-la contra meu pau duro. Ouço o barulho da sua saliva na medida que
tento me dar o prazer o mais rápido que consigo com sua boca.
— Italiano… — Sua voz é quase impossível de ouvir.
Ela segura suas duas mãos contra minhas coxas, abro meus olhos,
encarando-a. Seus olhos estão lacrimejando. Uma lágrima solitária escorrer
por sua bochecha, em um impulso ela afasta-se, empurrando contra minhas
duas coxas com suas unhas cravadas.
Solto seu cabelo, respirando forte. Seu corpo cai sentado sob o solo do
chão.
— Desculpa. — Pede.
Ergo meu corpo, no mesmo instante, ela ergue seu corpo, levantando.
Subo a bermuda, guardando meu pau dentro da cueca, subindo a calça.
Descarto a camisinha em qualquer canto para ela jogar fora.
— Eu não sei o que aconteceu.
Nenhuma delas consegue segurar um boquete profundo, ou uma transa
comigo. Isso me faz não querer acompanhar mais nenhuma delas na minha
vida.
— Italiano — aproxima-se. — Pare, por favor. — Começo a caminhar
em direção a saída. — Vamos tentar outra posição?
Calado, saio da residência em direção à rua. Enfio meu corpo dentro do
meu carro um pouco a frente, e pego o trajeto da minha casa, para assim,
tirar o cheiro de perfume barato dessa garota.
Depois de passar cerca de horas em casa, resolvi vir à casa da minha
madrinha. O seu rosto tranquilo em me ver é perspectivo em um sorriso
fraco.
— Entra. — Atravesso a porta da sua casa. — Como você está?
— Tranquilo. — Respondo.
Ela ajeita seu roupão no corpo, caminhando de volta para o sofá onde
limpava o pé… de novo?
— Quantas vezes você faz isso por semana? — Cruzo os braços, meu
semblante sério torna-se duvidoso.
— Uma.
— Hum.
— Não vai sentar no sofá?
Termino de me aproximar do sofá, sentando ao seu lado. Isso é raro de
acontecer, na verdade, mal lembro a última vez que sentei no sofá para
conversar com ela ou a Lara.
— Você e seu mesmo cheiro de sempre.
— A senhora quem comprou o hidratante aquela vez, depois não deixei
de comprar.
— Seu padrinho usava — lembra do ex marido. — Ele amava. — Fico
em silêncio.
O marido dela morreu há anos. Faz uns quatorze anos, Lara estava na
barriga ainda.
— E como passou aquele dia?
— Qual dia? — Ela interroga.
— Do hospital, está melhor?
— Estou bem, melhorei. — Confirma.
— Mãe, cheguei! — Escuto a voz da Lara quando ela bate a porta. —
Carro do Edgar de fora. — Aproxima-se. — Hum, sabia que esse velho
estava aqui.
— Velho? — Encaro seu uniforme da padaria.
— É, você está em fase de aceitação ainda. — Encosta no sofá e me dá
um beijo no rosto.
Permito-a dar um beijo no meu rosto. Ela troca algumas frases, avisando
que vai tomar banho, e some dos nossos campos de visão.
— Cleiton e Nando não voltaram de viagem? — Minha madrinha
pergunta quando levanto do sofá.
— Não. Vou embora, qualquer problema me liga. — Me despeço.
— Tudo bem. Me avise quando chegar na sua casa. — Confirmo antes de
sair pela porta da sala.
A minha vontade agora era trocar alguma mensagem com a Maitê, mas
deixo minha consciência ciente do erro que cometi ontem. Até esquecermos
essa cena, não irei chamá-la, depois volto com meu plano de me aproximar
novamente.

Dia seguinte
SEGUNDA-FEIRA|17H45MIN PM

Estou prestes a sair de uma rua quando tiro a camiseta do meu ombro, e
envolvo no meu corpo novamente, vestindo. Minha atenção é nitidamente
mudada quando a mãe do Gil se aproxima andando na rua.
— Italiano. — Escuto sua voz.
Ela usa um vestido curto, quase aparecendo a calcinha, isso se utiliza
uma calcinha. Não posso mentir, ela é gostosa.
— Hum? — Franzo as sobrancelhas.
— Viu meu filho?
— Não.
— Estou querendo conversar com ele. — Encaro seu ombro largo. Seu
cabelo preto amarrado em um coque.
— Deve estar gerenciando algo.
— Está com alguém assumido? — Seu assunto muda.
Fico calado. Ela realmente está querendo investigar algo sobre minha
vida pessoal?
— Não.
— Seus olhos são verdes.
Caso ela não fume, ela cheira algo. O assunto mais prepotente da minha
vida.
Giro a chave na minha mão direita, caminhando em direção a minha
XRE preta estacionada a uns passos da minha direção na rua. Não aguardo
mais seu assunto, saindo pela rua na minha moto em direção onde alguns
rapazes ficam no fim da tarde.
— Sua mãe está mexendo com drogas? — Desço da moto.
Minha atenção vai em direção ao bar onde alguns rapazes estão sentados,
incluindo Gil e HG.
— Não sei o que essa mulher faz da vida. — Dá de ombro, indiferença.
— Me parou na rua, falando coisas aleatórias. Investigando minha vida
pessoal. — HG encara com um semblante sério.
— Ela foi me procurar? — Confirmo com a pergunta do Gil.
— Cleiton e Nando estão voltando para a cidade. — A voz do HG alerta
entre nós.
Sento ao lado deles em uma cadeira. Era de esperar a volta do Cleiton e
Nando na cidade, depois de duas semanas viajando, enfiando o dinheiro do
assalto em lixos e mulheres.
— Os três mosqueteiros reunidos aqui. — HG abre um sorriso,
provocando.
— Eu, Gil, mosqueteiro dois estou de greve.
— Por quê? — Calado, ouço-os.
— Estou com problemas.
— Envolve mulher? Acho que todos nós aqui temos um caso com
mulher. — Seus lábios soltaram uma risada.
— Meu problema é com duas mulheres. Minha mãe e outra menina. —
Gil respira fundo.
— Aquela?
— Ela mesmo.
Permaneço calado ao notar que estou sobrando no assunto entre eles.
— E você? — Volto a atenção para eles quando noto a voz do HG ser
direcionada pra mim.
— Eu o quê?
— Qual seu problema?
— Isso é um problema meu. — Respondo.
— Nenhum dia esse cara está de bom humor. — A risada do Gil sai alta.
— O ensinei a fazer um suco de maracujá. — Quando falo que o Gil me
estressa, não é brincadeira.
— Acho que nada acalma o humor desse cara. — HG e Gil começam a
falar entre si.
Levanto da cadeira, caminho para outra cadeira mais distante, e peço um
salgado para comer. Um pastel agora é o suficiente para combater minha
fome.
Permaneço no meu canto, longe dos dois, que dessa vez falam no meu
nome.
Começo a olhar para a tela do meu celular enquanto aguardo o salgado.
Então, sem delongas, eu vou no número salvo da Maitê. Não a havia
chamado nas mensagens, mas que, por mais engraçado que seja essa porra,
não hesito em mandar uma mensagem para ela.

Italiano: Salva meu contato. Italiano.

Maitê: Achei que nunca iria chamar nesse número.

É, eu também não acredito que estou fazendo essa porra. Mas não posso
deixar-la se afastar simplesmente do nada, preciso me manter informado.

. Italiano: Eu não ia chamar, mas achei seu número salvo aqui.


Está sem foto de perfil?
Maitê: Não, só não salvei seu contato.

Respiro fundo.
Dígito algumas coisas, por fim não mando nada, até ouvir a voz e o
barulho das cadeiras ao meu lado serem preenchidas por dois corpos.
— Afastou-se de nós? — Gil ironiza.
Guardo meu celular no bolso quase bolado de novo.
— Ontem vi a mulher do Cleiton com um moleque. — O tom de voz do
Gil muda pra mais sério.
— Sério? — HG investiga.
— Sério
— Quem era? — Encaro-o, perguntando.
— Filho dos dois, o Davi de quatro anos. — Eu e HG nos encaramos por
longos segundos seriamente. O local é preenchido pela risada do Gil. —
Bando de curioso do caralho!
CAPÍTULO 11

De manhã tomo um café da manhã ao lado da Lorena. Depois do dia do


assalto, a Lorena não sai do meu lado em nenhum momento. Às vezes passa a
sufocar. São quase 17h00min e ela ainda está na minha casa.
— Sua mãe foi trabalhar?
— Foi de manhã, deve que almoçou na rua mesmo.
— Hum. Ontem você me abandonou, Maitê. Saiu com quem da festa?
— Com um amigo. — Minto.
Não tem motivos para falar com quem sai da festa. Que por incrível que
pareça, lembrar faz minhas bochechas arderem de vergonha. Eu praticamente
implorei para transar com o Italiano.
— Você é louca. — Encaro-a. Seu cabelo cacheado está amarrado em um
coque.
— Eu sei. — Afirmo.
— Toma cuidado.
— Você me deixou sozinha e ainda colocou um homem pra encher o pingo
da minha paciência, e pede pra eu ter cuidado?
Suspiro fundo.
— Foi mal.
Foi péssimo!
— Ele estava afim de você. — O timbre da sua voz é irônico, enquanto ela
termina de mastigar o último pedaço de pão. — Agora deve não estar mais,
inclusive ele me disse que o seu amigo é forte no crime…
Jesus.
Lorena é inteligente ao ponto de procurar com quem sai da festa, e pela sua
expressão ela sabe perfeitamente com quem foi.
— Cuidado, Maitê. O bicho papão existe, e é o Italiano na sua vida. —
Levanta-se da cadeira, limpando a boca com a própria mão.
— Você é louca. — Solto uma risada sem humor.
— Só tome cuidado, me preocupo com você. — Ajeita o vestido curto no
corpo magro.
— Eu sei, não sou boba. Foi só pra sair da festa.
Obviamente que não foi Maitê. Um nó forma-se na minha garganta quando
me recordo do seu corpo, de cada estrutura do pau duro, as veias, a cabecinha
perfeitamente desenhadinha. Ah, como deve ser bom chupar seu pau em um
boquete.
Eu queria senti-lo.
Eu consegui quase implorando, no entanto ainda não foi o suficiente.
Porém, sei o quão perigoso é me envolver de alguma forma com alguém
que mal conheço, mas que o mínimo que sei, é sobre o crime na sua vida.
Ironia, Maitê, você deve odiar pessoas assim. Você foi alvo de um assalto por
um bandidinho de merda.
Lorena se despede, pronta para ir embora. Despeço-me com poucas
palavras. Minutos depois estou com meus óculos novos no meu rosto. Sentada
no sofá de casa, eu encaro a tela do meu celular.

Italiano: Me envia uma foto sua.

É nesse momento que meu pensamento afirma, que coisa mais antiética, de
velho. Meu Deus. Também estou esperando o que de um homem como ele?
Pelo jeito, ele é apenas gostoso. Ogro, acompanhado de péssimo em assunto.
Desligo a tela do meu celular ouvindo minha mãe entrar pela porta da sala.
Seu semblante cansado me encara, cabelo loiro preso em um coque, uniforme
do seu próprio salão envolta ao seu corpo.
— Cheguei, meu amor — sua voz soa doce. — Seu pai me trouxe, não deu
tempo de descer para conversar com você.
— Oi, Mãe.
— Os óculos ficaram perfeitos no seu rosto. Vou tomar um banho —
aproxima-se, deixando um beijo na minha testa. — Seu pai não conversou
com você?
— Não.
— Nem um “parabéns.”
— Nada. — Ela respira fundo, chateada.
Meu pai trabalha na área de transporte, taxista. Há uns meses ela e meu pai
não ficam mais próximos, mas ainda estão casados. Ele sempre está dormindo
fora por causa do seu trabalho, que segundo ele, é muito cansativo. Bom,
desde criança, minha convivência com ele foi de pai e filha, mas que
ultimamente está mudando.
— Onde você estava na noite passada? — Pergunta.
— Em uma festa.
— Ou melhor, em uma favela. — Ela ironiza, cruzando seus braços
envoltos em uma bolsa de ombro.
Engulo o ar.
— Como soube? — Franzo minhas sobrancelhas.
— Não importa. Sabe onde está se metendo? — Arqueia a sobrancelha. —
Você foi feita de refém, Maitê. No churrasco que você está indo, é constante o
perigo para você, e mesmo assim, está frequentando. Não te quero novamente
nessas festas — respiro fraco — não me importo que saia, divirta-se, beije,
conheça novas pessoas e amizades. Mas esses lugares são perigosos. Pode ir
em um barzinho, aqui mesmo tem vários, em Bonsucesso tem vários também,
mas festa com bandido não é brincadeira.
— Eu sei.
— Então não frequenta mais. — Caminha em direção ao corredor. — Eu
me preocupo com minha única filha. Sou sua amiga, mas antes te criei, e
eduquei e te amo. Jamais quero seu mal. — Seu tom de voz é alto pelo
corredor.
Depois da conversa com minha mãe, meu pai me chama na mensagem com
intuito de me parabenizar depois de vários dias.

Emanuel: Desculpa por não ter desejado um feliz aniversário antes. Minha
vida está corrida esse ano, filha. Estou trabalhando muito.
Maitê: Tudo bem, não tem problema mesmo. Emanuel: Estou com saudades de você. Vou almoçar com vocês nessa semana, combinado?
Maitê: Hum. Está bem.

Emanuel: Eu te amo, Maitê.

Respiro fraco. Saio da sua mensagem sem nenhum entusiasmo para


respondê-lo, depois respondo-o.
Mas meu entusiasmo para mandar uma foto para o Italiano é diferente, eu
envio algo da galeria, uma foto tirada em frente ao espelho com um vestido
curto.
Essa foto foi tirada uma semana antes do banco ser assaltado. Eu saí à
noite para tomar um vinho com a Lorena, no entanto, estava sozinha pela rua,
e nessa mesma noite eu tive uma sensação surreal pela rua, como…se alguém
observasse cada passo meu.

Italiano: Quero você pronta essa noite, às 21h00min.

Sua mensagem é encaminhada através da minha foto enviada.


Meu Deus.
Mais tarde, estou de banho tomado e cabelo arrumado.
Entre uma escolha, escutar e obedecer a minha mãe, a certeza que eu não
faço nenhuma. Consigo cumprir a promessa de não frequentar a festa, mas
qual diferença faz se estou arrumada para sair com um homem que com toda
certeza é mais sujo que o governo?
E por incrível que pareça, o meu vestido marcado no meu corpo ressoa o
quão estou totalmente arrumada para vê-lo. É um vestido preto, aberto na
lateral na minha coxa direita, com comprimento até meus joelhos e sem alças.
Com uma bolsinha no meu ombro, saio em direção ao corredor de casa em
passos lentos, ouvindo o barulho do meu salto baixo. Quase atravessando a
sala, a voz da minha mãe é firme.
— Caraca! Que mulher linda.
— Obrigada.
— Teu pai te avisou? — Confirmo. — Seus seios como estão?
— Estão normais. — Respondo-a. Havia tirado na bombinha mais cedo
pra evitar dor ou vazar. — Vou sair e não sei o horário de voltar.
— Com quem?
— Com um amigo. — Seu sorriso cresceu em seus lábios.
— Estou confiando que não vai para aqueles lugares.
— Sim, mãe, prometo. — Abro um sorriso fraco.
É, sou péssima em cumprir promessas, quando na realidade, eu estou
saindo com um cara de caráter totalmente duvidoso.
Consigo sair de casa sem muitos questionamentos, e na rua de baixo, o
Azera preto estacionado a poucos metros é percebido por minha atenção. Os
vidros fumês dificultavam qualquer visão do lado de dentro.
Estou com medo, admito.
Penso em caminhar em direção ao carro.
A porta do passageiro é aberta pelo lado de dentro. Entro, fechando a
porta. O ar gelado ligado corrói por todo meu corpo quente.
Em silêncio, ouço o barulho do carro sendo ligado. Sem um boa noite, ou
qualquer coisa do tipo, somente o movimento do carro andando pela rua.
Seu cheiro é bom, a forma que se veste torna-o mais gostoso: bermuda
bege desenhada nas suas coxas, a camiseta escura destaca seus bíceps.
Encaro-o quando noto sua atenção no meu rosto, dirigindo o carro com
apenas uma mão direita.
— O que foi?
— Não pode olhar? — Encosto no banco. — Pra onde está me levando?
Silêncio.
— Eu acho que é um dever meu saber.
Silêncio de novo.
Levo minha mão esquerda à sua coxa, tentando chamar sua atenção,
imediatamente ele retira minha mão. Seu olhar desconfiado ressoa entre
nossos olhares.
— Sem encostar. — Diz sério.
O suficiente para irmos o restante do trajeto todo em silêncio com meu
coração parecendo uma escola de samba no meu peito.
— Tem problema levá-la em um motel? — Ele pergunta perto do
estabelecimento.
Não, não tem problema. Ele quer transar, eu também quero. Apenas algo
de momento, como queremos e sem ressentimento.
— Não, não tem. — Respondo firme.
Ele pede a reserva do quarto do motel, e minutos depois, estamos dentro
dele. O cheiro do local é bom, contém uma limpeza boa, iluminação que
possibilita luxúria, e TV ligada tem uma música sexy.
Seu olhar, nitidamente cheio de desejo sexual, examina meu corpo, minha
cintura, meus seios marcados no vestido. O cabelo solto para trás.
Italiano senta na ponta da cama, olhando na minha direção.
Senhor... O Senhor agora não é ele, é Jesus.
— Vem aqui. — O timbre da sua voz é autoritário.
Me aproximo em passos lentos, quando descarto a bolsa pequena em
qualquer canto. Sento na sua coxa, inalando seu cheiro mais de perto, é bom,
um cheiro masculino, como um magnata.
O toque dele ressoa ao desejo quando ele levanta meu vestido, passando a
mão direita por minha coxa. Ele sobe devagar, até revelar minha calcinha
vermelha.
Nossas respirações estão tensas. Eu sinto um ar puro de desejo e
fascinação, como nunca senti na minha vida.
Sua mão explora minha coxa, a pele fina e hidratada. Italiano é gostoso,
seu rosto desenhado, a sua barba feita no queixo e bigode, e os olhos…
percebo que estou encarando-o, quando seus olhos estão fixados nos meus
olhos. Assisti-lo e não tocar é um castigo, então me aproximo, beijando-o.
Nossos lábios se conectam em um beijo molhado com a língua. O tesão
que sinto agora faz minha calcinha umedecer, principalmente quando sinto o
volume duro batendo contra a lateral do meu quadril. Italiano explora sua mão
esquerda por minha bunda, agora aproveita para subir o tecido do meu vestido
até minha cintura, e isso possibilita ele apertar a pele quente da minha bunda.
Eu estou molhada no meio das minhas pernas.
Cravo minhas unhas no seu pescoço, arranhando. Um gemido baixo sai por
entre meus lábios, só de senti-lo desferindo um tapa forte na minha bunda.
Caralho.
Como ele está duro, o volume parece que vai explodir por baixo da sua
bermuda.
— Italiano. — Sussurro quase sem voz.
— Hum, o que você quer agora? — Sua mão apalpa minha bunda.
Consigo sentir sua respiração forte contra meu rosto. Por incrível que
pareça, essa vontade de foder com um homem é incrivelmente nova para mim.
Nenhum homem me despertou tanto interesse quanto ele.
Que visão…
Que corpo…
Olhos…
— Posso realizar uma vontade? — Peço, tímida.
Sem esperar sua resposta, eu levanto. Apoio nas suas coxas, ajoelhando na
sua frente. Minhas bochechas queimam, eu não sei se por prazer ou vergonha.
A minha boceta pulsa descontroladamente no meio das minhas pernas.
Italiano analisa a cena, enquanto tira sua camisa, eu abro o zíper da sua
bermuda. A enorme ereção faz minha língua circular nos meus lábios, ao
terminar de tirar sua bermuda com sua ajuda.
Então, um choque de visão me faz engolir o ar, ele sabe como é gostoso.
A forma do seu olhar, cada detalhe do seu pau duro perto do meu rosto: é
grosso, grande e tem veias. A cabecinha parece estar lubrificada pelo pré gozo.
— Vai conseguir engolir esse caralho todo? — Ele traz a mão por baixo do
meu cabelo, puxando. — Ou vai fazer como as outras?
— Outras? — Meus lábios tremem.
A força da sua mão no meu cabelo me faz ir da terra ao céu.
— Hum? Abusada, só me responde, vai conseguir engolir esse caralho
nessa boca aveludada? — Encaro-o, e olho seu pau pulsando de tesão. —
Mama. — Desfere um tapa fraco com sua outra mão.
Minha língua quente percorre por sua cabecinha. O pré gozo dilacera na
minha língua, empinada, eu começo a chupar seu pau na pele. É melhor do
que imaginei, a textura é gostosa, o cheiro é bom e seu gosto é melhor.
— Vou foder com sua boca. — Sua voz grossa solta um murmúrio
desejável.
Ele permite que eu explore por inteiro, o comprimento, a grossura e a
cabecinha. Suas bolas inchadas de porra. Cravo minhas unhas na sua coxa, a
forma de demonstração o quanto ele vai me machucar. Mas não é o suficiente
pra parar, eu quero mais.
Eu quero que ele foda minha boca, levando de mim como uma puta.
Ele faz isso, ele começa a empurrar minha cabeça contra o seu pau, uma
garganta profunda, misturada com um boquete bem feito. Exala uma lamúria
de sensações. Dor e prazer ao mesmo tempo.
Eu me mantenho como uma mulher para satisfazê-lo, os joelhos doem
contra o chão. Isso não me impede de levar tapas na minha cara, puxões de
cabelo e xingamentos como “Puta, assim tá gostoso” “Vagabunda”. Tudo isso
com a gravidade da sua voz, tomada por desejo.
Goze na minha boca.
Eu quero que ele goze para mim.
— Vou gozar… caralho, porra…
O aperto envolta dos meus fios de cabelo fica fraco. O jato quente é
preenchido na minha boca, acompanhado de um gemido baixo dos seus lábios.
Oh céus…que gostoso.
Seus músculos, que antes estavam tensos, relaxam contra minhas unhas
ainda cravadas na sua pele. Ele simplesmente goza da melhor maneira
enquanto fode a porra da minha boca e garganta.
Sinto o gosto, conforme sua porra escorre pelo canto da minha boca e
engulo a porra da dentro, quando ele tira seu pau. Ergo meu rosto e minha
expressão safada observa seu semblante, ele gostou de gozar assim.
Ainda com o couro cabeludo ardendo e a garganta doendo, levanto-me do
chão. Meu vestido na metade dos seios, termina de descer deixando-os à
mostra. Isso para mim é uma tortura, principalmente quando noto seus olhos
em direção a eles, e suas sobrancelhas juntam em dúvidas.
Abaixo o olhar. Meu mamilo direito vazou um pouco pelo prazer. É umas
das sensações que possibilita o vazamento.
Meu Deus, vazou.
CAPÍTULO 12

Desde minha adolescência me perguntava o motivo de ter seios mais


inchados, ou quando perguntavam o que eu fazia para tê-los assim, grandes.
Foi quando um tempo depois, descobri sobre meu hormônio, galactorreia.
Hoje em dia sou mais aberta em relação a isso, e não sinto vergonha.
Possivelmente entrarei em tratamento para cortar esse problema hormonal.
— Italiano? — chamo-o. — Está tudo bem?
— O que é isso?
Ainda sentado, sua testa franzida interroga na minha direção. Seguro
meu vestido, puxando-o para cima, tampando meus dois seios.
— Longa história.
— Não quero história. — Ele simplesmente se levanta.
Pela sua expressão acabo entendo que vou ter que lidar com um ogro
para explicar tudo. Isso se ele entender de alguma maneira.
— Isso são hormônios — falo. — Eu desenvolvi hormônios em uma
idade, produção de leite sem estar grávida. — Encaro-o.
Há um tempo atrás, na minha última relação sexual, por incrível que
pareça, eu escondi isso. Primeiramente, o cara transava fofo, eu não queria
mostrar algo sem ir a fundo na relação com ele. Eu só queria transar com
brutalidade, enquanto o rapaz, ficava em um sexo mole.
— Isso é normal. — Um murmúrio baixo sai entre meus lábios.
— Normal? — Passa a mão na barba, suspirando. — Porra. Eu não sei o
que estou fazendo aqui.
Ele se abaixa, mediante sua cueca, veste-se cobrindo o volume bruto
dentro da cueca, que mesmo gozando em um boquete, não foi o suficiente
para matar sua vontade.
— O que está fazendo?
Silêncio.
— Italiano.
— Pega o que trouxe e arruma essa sua roupa no corpo.
Ele permanece assim, indo procurar algo no frigobar ao me oferecer as
costas. Essa é sua única resposta.
— Você tem medo. — A minha voz baixa permanece sob o ar, parado
com a porta do frigobar aberta, ele ouve minha voz. — Não tem? Ou não
quer me foder. — Suas costas largas viram, dando visão do seu rosto na
minha direção.
Que merda.
Meu coração está acelerado quando meus olhos se encontram com os
dele. Italiano coloca seus olhos na minha direção, como se eu fosse uma
ameaça para ele.
Psicopata.
Estranho.
Maluco.
Acho que tem mais palavras para descrevê-lo, daria um livro para cada
problema psicológico desse cara. Gostoso, mas ao mesmo tempo,
problemático.
Simplesmente arrumo meu vestido no corpo, sem importância, com o
cabelo bagunçado, pego meu salto e minha bolsa, caminhando em direção a
porta. No entanto, é o suficiente para senti-lo agarrando meu cabelo por trás.
Dois nós no meu cabelo é o suficiente para o impacto do meu corpo ser
puxado para trás, batendo contra a estrutura muscular do seu tórax.
Minha boca entreaberta emite um som do gemido dolorido, os saltos
entre meus dedos escorregam junto com a bolsa para o chão.
— Italiano. — Ofegante, choramingo.
Eu sinto…prazer quando sinto o volume duro batendo contra a parte
superior da minha lombar. Ao mesmo tempo a adrenalina conjuga com uma
sensação da sua mão livre apertando minha garganta.
Esse corpo, a forma que sua mão me pega, como se em um outro mundo
já havia sentido.
Sinto o toque da sua boca gelada no meu pescoço devagar. Jogo meu
pescoço para o lado, favorecendo o local para ele. Minha pulsação no meio
das pernas é um incômodo, pelo prazer de senti-lo passando a sua barba do
seu queixo com brutalidade contra a pele quente do meu ombro.
— Sabe qual foi seu problema? Entrar na porra da minha vida. — Sua
voz grossa acompanhada da sua respiração quente no meu ombro me causa
calafrios. — Acredita que é um problema pra mim?
— Qual problema? — Meus lábios trêmulos perguntam.
— Quero te comer com força, Maitê. Mas ao mesmo tempo eu sinto pena
de você.
Fecho os olhos.
— Faça. — Um gemido sofrido sai dos meus lábios quando puxa meu
cabelo mais forte. — Eu quero que me foda como quer, Italiano.
É o suficiente para senti-lo me empurrar em direção a enorme cama do
motel. A luz vermelha reflete a luxúria do quarto, enquanto no fundo a
música toca. Ele praticamente força meu corpo contra o colchão, mantenho
meus pés no chão, empinando minha bunda. Suas duas mãos escorregam
pela minha cintura, arrastando-as para tirar meu vestido e tirar minha
calcinha.
Um tapa na minha pele quente da bunda.
Solto um gemido sofredor. A sua mão é pesada, grande e arde com um
simples tapa.
— Coloca os joelhos em cima da cama.
Uma ordem é dada. Eu obedeço sem contrariar.
— Os dois pulsos para trás. — Ordena.
Fecho meus olhos contra o lençol da cama, e meus dois pulsos vão para
trás na posição de quatro. Onde, mais envolvente, ele toca entre minhas
pernas com sua mão grande, sentindo minha boceta extremamente molhada
para receber seu pau.
Sua mão provoca meu clitóris, levando minha imaginação à loucura.
Junto com sua mão, a cabecinha quente envolve a entrada da minha boceta,
sem esperar sua entrada, mordo meu lábio inferior na dor envolvida do
prazer quando sua cabecinha perfura minha boceta.
— Filho da puta… — Xingo, gemendo.
Suas duas mãos vão até minha cintura apertando, dando força para ele
entrar com seu pau duro para dentro. A ardência como se rasgasse cada
centímetro tira gemidos dos meus lábios.
Eu quero que ele continue.
Quero que me foda.
Conforme ele começa a se movimentar com brutalidade, a dor some um
pouco, alastrando o prazer. Italiano não tem piedade nenhuma, seu corpo
encaixa com minha bunda empinada a cada estocada. É quase incontrolável
o barulho alto pelo quarto. “Me fode, Italiano”, “Caralho”, “Filho da puta”.
Todas essas palavras são soltas da minha boca a cada tapa forte na minha
bunda e investida do seu pau duro dentro do meu canal vaginal.
— Está doendo.
— Cala a boca e sente essa porra dura dentro de você. — Sua mão
pesada desfere um tapa na minha bunda. — Não quer que eu te foda, hum?
Sinto cada centímetro saindo e entrando na posição de quatro, empinada
ao máximo para ele. Seus movimentos são tão brutos, que consigo sentir o
começo de orgasmo enraizando no meu corpo. É tão forte que não consigo
domar meus próprios sentimentos. Meus olhos lacrimejam no cantinho, e só
assim percebo, eu estou prestes a gozar como nunca gozei em um pau.
— Oh, assim… — choramingo. — Eu estou quase gozando, porra…
A obsessão que antes não sentia, agora é quase difícil de controlar. Ele é
gostoso, como não gozar? Então, minhas pernas tremem, meus lábios soltam
gemidos e uma respiração sem controle algum, enquanto gozo no seu pau.
Agora, lubrificando mais do que está, sou presenteada com mais tapas
seguidos. Um, dois, três tapas. Cravo minhas unhas nas minhas próprias
mãos.
Cansada, quando ele sai de dentro de mim, eu caio no colchão. Sufocada.
— Levanta. — Fala assim que tira a algema dos meus pulsos.
Eu apenas obedeço como ele exige. Italiano simplesmente pega os meus
1,56 m em seu colo, fazendo com que minhas pernas abertas circulem em
volta da sua cintura tensa e suada. Eu sofro por alguns segundos com a
grossura do seu pau entrando dentro de mim de novo, como algo
escorregadio, mas dolorido.
Ele esfolou minha boceta, eu tenho certeza.
Cravo minhas unhas no seu pescoço: seu semblante é sério, em pé ele
começa a me foder de novo dentro do motel. Mostrando a melhor paisagem
dos seus olhos cor de avelã cravados na minha direção.
Reviro meus olhos com seu pau entrando e saindo de dentro de mim,
meu pequeno corpo é guiado por suas duas mãos grossas, por baixo da
minha bunda.
— Assim…me fode mais forte!
Italiano me usa como um objeto sexual, ele fica louco quando meus
lábios reprimem essa frase. Agora, me comendo com mais força possível.
Seus músculos tensos causam borbulhas no meu estômago, a gota de suor
escorre na lateral do seu maxilar, e seus lábios entreabertos soltam uma
respiração forte.
A dor nos meus seios saltando, é impossível não a sentir.
— Aí, caralho. — Choramingo.
Apoio com mais força no seu pescoço. Nosso choque de quadril fica
mais forte pela penetração lubrificada, cada vez mais forte. Seus músculos a
cada milésimos ficam mais relaxados, ele está perto do seu ápice para gozar.
Como algo surreal, não acredito quando ele, entrando e saindo de dentro de
mim, diminui suas estocadas, agora trazendo o seu rosto para meus seios
com os bicos rígidos.
Ele toca a língua no meu mamilo direito, aprofundando um contato
quando começa a chupa-lo. Seu pau preenche minha boceta de porra quente.
Sinto o contato do meu leite na sua língua, e seu corpo cansado estremece,
gozando.
— Meu Deus. — Falo quando ele abandona meu mamilo, e coloco
minha boca seca contra seu ombro suado.
Foi bom senti-lo nos meus seios.

Dia seguinte
TERÇA-FEIRA|9H00MIN AM
— Seu pai vai vir almoçar hoje.
Com minha caneca de leite e café em mãos, minha mãe atrai minha
atenção sentada na cadeira à minha frente.
— Está falando sério?
— Sim. — Confirma. — Ele disse que chega daqui a pouco, e fica para
almoçar.
— Mas e seu trabalho?
— Hoje atendo somente na parte da tarde.
— Mãe — chamo sua atenção. — Não me diz que a senhora desmarcou
clientes para passar parte da manhã com meu pai?
Suspiro fundo com seu silêncio.
Ela fez isso.
Sei que ela o ama, mas ele prioriza seu trabalho, da mesma maneira ela
deveria tratá-lo em relação ao trabalho.
— Machucou seus pulsos? — Meu olhar vai para os meus pulsos.
As duas mãos segurando a caneca um pouco na minha frente.
— Eu machuquei ontem. — Respondo-a. Não contente com a resposta,
ela faz uma expressão de dúvida.
Arrumo minha postura em cima da cadeira, a ardência da minha bunda
me faz soltar um suspiro baixo. Estou usando calça pantalona para disfarçar
o quanto minha bunda está doendo e marcada.
Termino meu café na mesa. Depois, quase por volta das dez horas da
manhã, fazemos a recepção do meu pai em casa, já que há muito tempo não
temos um assunto em família.
Família.
Família nas horas vagas. Quando ainda nova, lembro-me de todos os
eventos entre nós três, com o passar dos anos, as coisas mudaram. Na
realidade, meu pai mudou seu comportamento, que segundo ele, é por causa
do seu trabalho.
— Está linda, Maitê. — Meu pai acrescenta na sua frase, trocando o
assunto enquanto está sentado ao lado da minha mãe. — Estava com
saudades de você.
— Hum. — Minha mãe sorri com o elogio, envolvida do lado do meu pai
no seu ombro. Os dois sentados juntos. — Obrigada. — Respondo.
— Cadê seu piercing do nariz?
— Eu tirei, vou voltar a usar.
— Está desconfortável, medo de escutar?
— Escutar? — Franzo minhas sobrancelhas, sentada no sofá pequeno.
— Um sermão por estar frequentando lugares onde tem bandidos? —
Prendo minha respiração, estudando seu rosto: Sua barba por fazer, olhos
claros e o rosto sério dessa vez. — Falei pra sua mãe começar a observar o
que você está fazendo.
— Não precisa. Eu sei me virar. — Levanto do pequeno sofá.
— Precisa, Maitê Andrade. Isso é perigoso, eu... — Aponta para o seu
peitoral. — Eu não quero vê-la frequentar lugares assim.
— Eu não estou mais frequentando. Foi apenas um dia que a minha
amiga me levou.
— Que amiga? — O tom da voz do meu pai muda mediante minha fala.
— Lorena. — Falo.
O silêncio reina agora na sala. Não aconteceu nada demais pra ter um
discurso entre nós em relação a isso.
— Já passou. — Minha mãe toma voz. — Não frequenta mais lugares
como esse e está tudo bem. Você sabe o que passou no banco, não queremos
seu mal.
Meu pai continua sério, calado. Parece chateado, e eu não quero provocar
uma discussão no dia que nós dois nos encontramos depois de tanto tempo.
— Está bem em relação ao acontecido do assalto? — Meu pai interroga.
Ele tem minha resposta com uma confirmação de cabeça.
— Vou arrumar meu quarto e volto para ajudar vocês no almoço.
— Não fique chateada, só é uma preocupação. Eu te amo, é minha filha.
— Meu pai alerta.
— Tudo bem, eu entendo. — Afasto-me da sala em direção ao meu
quarto.
Sempre quando toca em relação ao assalto, eu sinto meu corpo queimar
por lembranças. Como se vivesse a cena novamente na minha frente. A
morte, os tiros, as vozes e as pessoas agoniadas.
Tudo estava começando a ficar um pouco difícil de controlar. Bastou
entrar para meu quarto e os agentes policiais pedirem um depoimento hoje
antes do almoço. Eu quero simplesmente me enfiar em um buraco e me
enterrar dentro dele, mas não é possível.
Então, a única solução foi vestir um vestido longo, colocar um salto
baixo e pentear meu cabelo. Para agora estar atravessando um corredor
pequeno do local do depoimento.
Achei que nesse momento ajudaria meus pais no almoço. A realidade
que vim depor pela primeira vez.
Na sala toda branca, com uma mesa no centro e duas cadeiras, eu sento.
Atrás dos dois agentes policiais, havia um vidro enorme, onde pessoas aqui
têm visão dos suspeitos sem serem vistos.
— Maitê Andrade. — A moça com crachá escrito “Vânia” dá sua
saudação. Ao seu lado está um rapaz com uma planilha em cima da mesa. —
Como está sua vida?
— Oi, Vânia. Quase impossível esquecer tudo.
— Levanta-se. — Ela arrasta a sua cadeira para trás. — Encontramos
um suspeito. — Meus pelos arrepiam. — Ele foi capturado na câmera duas
horas antes do assalto e parece ser suspeito. Todos os pontos interligados da
câmera levam-no para dentro do banco duas horas antes de tudo acontecer.
Calada, eu me levanto. Quase perto do vidro, meu corpo estremece ao
vê-lo entrando no meu campo de visão. O rapaz é baixo, seu corpo magro,
não tem nada por seu corpo, nem a enorme cicatriz que consegui ver no
tornozelo de um deles, quando a calça prendeu um pouco na sua panturrilha.
— Não. Não me recordo dele. — Minha voz soa firme, ou pelo menos
tento.
Vânia respira fundo, fracassada. Minutos depois volto sentar na cadeira à
sua frente.
— Não reconheço nada. — Falo a verdade.
— Maitê — ela para de frente, colocando as duas mãos em cima da
mesa. — Certeza que não lembra de nada?
— Não, não lembro.
— Eles te ameaçam?
— Eu… não. — Sussurro baixo.
Sua atenção com um sorriso convencido em seus lábios desvia para o
rapaz ao seu lado e ele anota algo.
Droga.
— Ela foi ameaçada pelos bandidos que a mantiveram refém — me
encara. — Eles a ameaçaram com algo?
— Eu não sei, eu não vi nada além de escutar eles comemorando.
— Viu algo em algum deles?
— Não, eu não vi nada, eu não sei de nada — nego. — Não sei,
simplesmente não sei! — Nego mais uma vez. — Por favor, eu só quero ir
embora, não quero mais falar. — Ela confirma.
— Não precisa ter medo, garantimos seguranças a sua família. —
Nitidamente não quero mais continuar dentro da sala por estar sendo
pressionada. — Libera a refém!
Volto para casa com a sensação pelas ruas do Rio de Janeiro: ser
observada. Algo enraizado na minha cabeça, prefiro pensar que seja minha
ansiedade atacando.
CAPÍTULO 13

— Desgraçado. Seu filho da puta! — A voz de um dos meus


funcionários é agoniada enquanto levanta um corpo quase sem vida na sua
frente.
Depois de quase vinte minutos sendo torturado por meus funcionários, o
barulho do tiro ecoa contra seu corpo no matagal. O ângulo foi no centro da
sua testa. O cheiro de urina e sangue é forte.
Seu corpo entende como o medo é agoniado e acaba urinando na sua
própria roupa.
É saciável vê-lo morrer. O fim da sua vida foi por causa do abuso de uma
criança de doze anos, sua sobrinha. A própria irmã dele foi pedir o fim na
boca de fumo.
Viro meu corpo, deixando-os para trás, para lidar com o corpo sem vida.
Em passos lentos, eu caminho por uma pequena ladeira em direção à minha
moto a poucos passos. Mas no caminho, Cleiton, Nando, HG e Gil estavam
juntos.
— Chegaram no Rio de Janeiro de volta, Italiano. — A voz do HG é
irônica.
— Garantiram as férias em lugares chiques e daqui um tempo garante
dentro de uma cadeia. — Gil tem um sorriso sincero nos lábios ao falar, mas
logo desfaz percebendo que nenhum de nós ligou para sua piada. — Foi mal.
Porra, esse cara só fala merda.
— E você, Italiano? — Cleiton aproxima-se, trazendo a mão até meu
ombro.
— Não precisa encostar. — Encaro-o.
— Qual foi a atividade em relação a menina? Sabemos que ela mora
perto daqui. — Nando começa o assunto entre nós.
— Eu falei pra eles. — HG me encara.
Confio na garota? Não, mas garanto que ela não abrirá a boca. Não
conhecendo-a como me aproximei. Está visivelmente o quanto tem medo de
ser perseguida novamente.
— Ela não vai envolver na vida de nenhum de nós. — Respondo firme,
olhando cada semblante.
— Ela lembra de algum de nós? — Nando pergunta. Eu nego, sério.
Porra, isso saiu do foco, porque caralho não perguntei essa porra? Eu mal
sei o que ela lembra. Estou deixando a mente me enganar por culpa de
mulher, por causa de boceta.
— Estamos colocando confiança em você, hoje em dia pode ter o
comando que tem — HG começa — Mas antes você foi ajudado por nós,
estávamos juntos. Somos o que? — Seus olhos castanhos se viram na minha
direção. — Somos uma família.
— Família? — Junto às minhas sobrancelhas, perguntando. — Eu não
precisei e não preciso de ninguém. Tudo que consegui, eu que fiz acontecer.
Poder, dinheiro e mulher, são méritos meus. Se eu faço algo, se eu entro em
contato pra informar vocês de algo, é como se fosse trabalho, uma
obrigação. — Oriento-os.
Eles engolem o ar, calados. Quase em um sussurro concordam.
— Só mantém a refém longe do sistema. — HG orienta.
Antes de sair, Nando e Cleiton se despedem, menos eu, que fico em
silêncio de braços cruzados.
— Você e o Italiano parecem estar escondendo algo. — HG nega.
— A única coisa que escondo é meu pau na cueca. — Falo, sério.
— Caralho — Gil ri. — Gostoso, vida.
Pego a chave da minha moto no bolso da bermuda. Antes de seguir meu
caminho, quando subo na moto, Lara e Érica descem a ladeira, cerro meu
olhar em direção da minha prima.
Porra. O que a Lara está fazendo com essa mulher?
— Aí, aí! — Gil coloca as duas mãos na cintura.
Olho em direção às duas. Quase xingando a Lara por está andando com
uma puta.
— Por que minha mãe está te olhando assim? — Encaro o semblante
sério do Gil na minha direção.
— Eu que vou saber, porra.
— Sabe sim. Justo a mãe do nosso amigo? — HG brinca.
Filho da puta.
Quem come ela, é você. Eu tenho quase certeza disso.
— Estão achando o quê? — Pergunto.
— Conversa com ela? — Gil questiona sério.
Meu semblante muda mais, eu fico seríssimo. O suficiente para ele soltar
uma risada sem ânimo, mostro o dedo do meio em seguida, sem paciência.
— Tirem a porra do olho da Lara. Vai apanhar de madeira. — Alerto,
ouvindo a risada do HG.
Ligo a moto. Eu guio em direção às duas segurando para não forçar a
Lara subir na minha garupa.
— Sobe, Lara.
— Pra quê? — Seus passos pararam ao lado da moto, enquanto Érica
continua.
— Está vulgar essa sua roupa. — Olho seu short jeans curto.
— E você é velho. — Sem contestar, ela sabe na minha garupa. — Me
deixa em casa.
— Para de andar com mal elemento. — Escuto sua risada.
— Mal elemento é você, cara. Velho chato.
Começo a guiar a moto pelas ruas, ouvindo sua voz atrás, questionando
várias coisas. Algumas eu respondo, outras finjo que não ouvi.
— Está conversando hoje. Aconteceu algo?
Tipo essa: não a respondo.
Estou normal. Apesar de ter um crachá na cômoda do meu quarto, da
menina que fiz de refém. Incrivelmente ontem saí com ela e transei. Fiz
coisas sem um pingo de noção. Não quero me envolver em mais problemas.
Mesmo que a porra do meu pau fique duro toda vez que lembro dela.
A alternativa é chamar duas mulheres para suprir meu prazer dessa vez, e
esquecê-la.
Quatro horas mais tarde e vim ao local de encontro com os rapazes.
Havia tomado um banho, então meu cheiro de banho recém tomado deixa
minha pele mais suave.
— Nando estava falando uns assuntos nada a ver sobre o plano dele.
Quando entro no local, que é uma laje, a voz do Gil avisa sobre Nando.
Franzo minhas sobrancelhas pela dúvida, eu não pedi nenhum plano.
— Que plano?
— Não sei, irmão. Eu tentei saber, mas ele não disse. — Passo a mão no
rosto, nervoso.
Paro em frente ao Gil, encostado no muro da superfície onde estamos.
Ele deixa a arma da sua cintura amostra, largado no muro com os braços
cruzados.
Nando acabou de voltar para a comunidade, e pela maneira de agir, está
querendo arrumar problemas diante das minhas palavras.
Filho da puta.
— Esses caras estão pensando o quê? Que sou mãe deles?
— Parece. — Gil ironiza.
— Mande-o vir aqui em dez minutos. — Ordeno.
Gil não hesita em acionar a conexão do rádio na minha frente, e se
comunicar com ele. Quando finaliza o rádio, me encara.
— Deve ser a garota. A refém.
— Eles estão achando que somos família mesmo. — Nego, sério.
O meu poder diz muito como lidar comigo, a gerência de comandar o
crime não é para qualquer um. Na verdade, eles ainda acham que somos
família.
Encaro Nando, seus passos pela escada de ferro entram pelo solo da laje.
— Deixe-nos a sós, Gil. Saia. — A voz do Nando invade minha audição.
Cruzo os braços.
— Pode ficar, William. — Ordeno. — Qual é o seu problema com essa
porra de plano?
— Você não está entendendo. — Sua voz sai trêmula.
— Entendendo? Eu vou entender agora.
— Fui atrás da garota. — Minha garganta seca imediatamente a sua voz.
— Eu mandei? — Encaro-o.
— Não mandou. A garota estava com agentes, eu vi. — Ele fala.
— Ela está desde o dia que vocês foram viajar, ela não vai falar nada.
— Acha que conversar um dia com ela vai resolver algum problema?
Acha mesmo que mulher é confiável? Aquela vagabunda não vai pensar em
nada.
Respiro fundo.
As gotas de suor em nervosismo começam a transparecer no meu rosto.
— E você quer fazer o quê? Matar a porra de uma garota inocente? —
Aumento meu tom de voz.
— Ele está certo, Nando — Gil orienta. — A garota tem medo, ela não
deve falar nada.
— Como vocês garantem isso? — Nando questiona mais uma vez.
— Não tem que garantir nada — arrumo minha posição quando falo. —
Vocês sentam e esperam, não tem que fazer nada e nem falar nada. Não tem
que ir atrás de ninguém, vocês obedecem a minha ordem. — Paro na sua
frente.
— Desculpa. — Abaixa o seu tom de voz.
— Eu falo apenas uma vez, espero não ter que ganhar um inimigo dentro
da mesma facção que a minha. — Seus olhos castanhos me observam. —
Não tem família aqui, eu sou o chefe e vocês são funcionários. — Meu tom
de voz tem bolação.
Então, saio do local pela escada de ferro. Ouço passos atrás, me
acompanhando, sei que é o Gil pela forma que vem atrás.
— Você tem que procurar saber se ela sabe de algum de nós. — Gil
alcança ao meu lado.
Depois desses problemas, acabo mandando uma mensagem se ela está
podendo conversar, mas nenhuma cai no seu celular.
CAPÍTULO 14

Aproveito o caminho e paro em frente a uma padaria na rua de casa


mesmo, levo a mão até minha bolsa procurando por algum dinheiro.
Protetor solar... não.
Batom... também não.
Absorvente? Não.
Passo minha mão mais uma vez dentro do couro da bolsa preta. Um sorriso
pequeno cresce em meus lábios quando encontro uma nota de vinte reais. Olho
em volta e acabo entrando na padaria. Está praticamente vazia. Me aproximo
do balcão, encarando a atendente distraída.
— Moça? — Chamo-a.
O corpo alto e magro, bonito, vira-se na minha direção. Observo-a. Sua
expressão mediante a minha presença é uma realidade para ela, ela me encara
como se eu fosse um ET.
— Pode me vender um? — Aponto meu dedo para a água de coco no
recipiente da caixinha.
— Você é a moça do assalto. — Surpresa, pega a água, colocando-a no
balcão.
— Sou, qual o problema?
— Nenhum, desculpe — me olha. — Não queria deixá-la constrangida, é
que aqui pela Olaria todos falaram sobre o assunto.
— Hum... — Deixo a nota em cima do balcão, aguardando meu troco.
— Sinto muito por ter passado por um momento assim, deve ser horrível
— pego o restante do dinheiro e guardo. — Sinto muito mesmo.
— Não precisa sentir nada. — Encaro-a novamente, dessa vez enfio o
pequeno canudo na água de coco.
— Eu acho que conheço a sua mãe.
— A Laís?
— Isso, ela mesmo, sua mãe tem muito orgulho de você — minha
expressão suaviza, mas ainda não abro uma simpatia. — Ela é tranquila.
— Ela é sim.
— Não se parece com ela.
— Me pareço mais com meu pai.
— Luísa, vim aqui entregar isso, Lara não conseguiu vir — escuto a voz de
uma mulher quando ela entra na padaria do meu lado. — Oi. — Sua voz
retribui quando olho em sua direção.
Com um sorriso fraco em meus lábios, cumprimento-a. sua aparência é
mais velha, cabelo curto na cor vermelha. Uniforme da padaria. Pão da
comunidade, é o que destaca no seu uniforme.
Em silêncio, pego o canudo em direção à minha boca começando a tomar
minha água de coco e saio da padaria como se fosse uma criança ganhando
seu doce preferido.
Quando chego em casa, o carro do meu pai ainda está do lado de fora, mas
o silêncio da casa me deixa desconfortável. Caminho até meu quarto. A porta
do quarto da minha mãe está fechada.
Certeza que estão dormindo ou…transando.
Meus pais mal passam tempos assim juntos, algo essencial do
relacionamento, momentos como dormir juntos, transar e conversar. Não sei
quando foi a última vez que vi minha mãe relaxada sem a presença do meu
pai, e às vezes me machuca em saber que ela fica bem com a sua presença.
Como se ele não tivesse sumido por semanas, sem uma notícia, apenas falando
de trabalho, trabalho e trabalho.
Na maioria das vezes ele está sempre trabalhando. Antes costumávamos
passar datas comemorativas juntos, hoje em dia, não parece ter a mesma
sensação como aquela de antes, quando eu era adolescente e estava sempre
com meus pais.
Deixo a bolsa em um canto qualquer dentro do meu quarto, fechando a
porta.
O meu celular tem uma mensagem, que pela barra de notificação consigo
vê-la, Italiano. Não o respondo.
Posso resistir até o último minuto, mesmo que a forma que ele transa me
deixe louca. A tentação de tê-lo novamente não é ignorada por minha boceta
piscando ao ter lembranças. Entretanto, a sensação dele chupando meus seios
foi uma liberdade para mim, já que ninguém nunca havia feito isso.
Todo o corpo daquele homem é algo surreal.
Às vezes penso como deve ser sua vida, quem são as pessoas da sua
família, a convivência. E isso me assusta, pois eu realmente não sei nada sobre
ele.
Droga.
Como pode ser tão gostoso?

Italiano: Responde, Maitê.

Respiro fundo.
Bloqueio a tela do meu celular pelo barulho na porta do quarto da minha
mãe, imediatamente as batidas na porta do meu quarto.
— Maitê?
Deixo o celular em cima da escrivaninha, caminhando em direção a porta
de madeira, abrindo-a.
— Oi.
— Estou indo embora. — Termino de abrir a porta, abraçando meu pai.
— Posso perguntar algo? — Questiono, soltando-o. — Você gosta mesmo
da minha mãe?
— Eu e sua mãe estamos casados — sua expressão é séria. — Você é
nosso fruto. — Passa a mão no meu cabelo. — Eu gosto da sua mãe.
— Gostar não é amar. Você foi embora, sumiu das nossas vidas, ela sofreu
muito, pai, agora voltam como se nada tivesse acontecido.
— Foi necessário.
— Necessário no quê? Trabalho não te exige o dia todo. — Solto uma
risada sem humor.
— Maitê.
— Tá legal, não vou me envolver no relacionamento de vocês dois.
— Não precisa se envolver. Eu e sua mãe resolvemos sempre, ela sempre
vai estar disposta a conversar comigo — encaro-o. — Por isso nós dois
sempre estaremos bem, mais cedo ou mais tarde.
— É isso que você quer, tê-la quando quiser.
— Maitê. — Um murmúrio eufórico sai por entre seus lábios como
repreensão da minha frase.
— Você acabou de afirmar isso. Ela só não enxerga ainda, pai. — Falo. —
Ela acha que você realmente a ama.
— Tenho que ir embora, ainda trabalho hoje. Está tarde.
Bufo sem paciência.
Como eu disse, não irei me intrometer, os dois são velhos e sabem decidir
sobre suas vidas, agradeço por não ser mais uma adolescente que ficaria
perdida no meio dos dois. São tantas incertezas entre eles, que a primeira
oportunidade afeta o filho.
Deixo meu pai, então ele sai pelo corredor e atravessa a porta da sala.
Ouço do meu quarto, agora pensando que minha mãe está no quarto com
saudade dele novamente por que ele vai sumir por semanas.

Italiano: Acho melhor você responder essa porra.

O senhor está ficando nervoso.


Não respondo novamente e ignoro suas mensagens, desligo meu Wi-Fi e
coloco o celular ali mesmo, abrindo a tela do meu notebook.
Vou pedir para todos os santos me ajudarem a resistir a tentação que esse
homem é. Não quero trazer problemas para a minha vida, o que ele deve ter de
sobra na dele, problemas.
Meus pensamentos estão me matando.
CAPÍTULO 15

Dois dias depois…


QUINTA-FEIRA|18H00MIN PM

Acendo o meu cigarro entre meus dedos e trago. Guardo meu bic no
bolso lateral da minha bermuda preta. Estressado.
Dormi mal. Fumar a noite tem me trazido insônias no lugar do
relaxamento, talvez por odiar ficar com coisas na cabeça, sem conseguir
esquecer nenhuma delas.
Na moral? Tenho o que eu quiser, mulheres e dinheiro, mas minha mente
não descansa de forma alguma.
— Ela não respondeu?
O ranger da porta faz barulho quando a maçaneta da minha sala é aberta
e Gil entra.
— Não sabe avisar que vai entrar? — Pergunto, olhando-o.
Seus lábios formam um sorriso pequeno, em seguida dá as costas,
fechando a porta.
Respiro fundo.
— Tô entrando — fala alto, entrando — voltando para o assunto, a única
alternativa é você ir atrás da menina.
— Ela vai achar o quê?
— Não sei.
— Que sou um maníaco.
— Leva flores — minha expressão continua séria, tentando entendê-lo.
— Um chocolate.
Ele tá falando sério? Eu levar flores e chocolate?
— Isso é sacanagem — arrumo meu boné preto — A última coisa que
essa garota vai ver é eu entregando isso. — Gil dá de ombros com
indiferença.
— Só não a deixe afastar-se assim. Você ainda não sabe de nada, pelo
jeito ela mal falou em relação ao dia do assalto. — Sopro a fumaça do meu
cigarro pra longe.
Na verdade, fiquei estressado por não ter me respondido nesses dois dias
que passaram. Desconfio que seja algo relacionado às investigações. Mesmo
diante dessa situação, não quero nenhum dos rapazes se envolvendo no
assunto que se refere a essa garota.
— Preciso perguntar sobre um problema. — Ele me olha, tentando
entender.
— Tá querendo sair do armário? — Cruza os braços em pé a minha
frente. — Se ficar puto é pior. — Completa quando observa meus olhos
semicerrados.
Apago o cigarro e guardo para terminar de fumar depois. Meu problema
vem há um tempo, e nego acreditar que seja apenas comigo.
— Você goza com todas as mulheres? — Pergunto.
— Está de brincadeira? — Solta uma risada — Com todas, irmão. Nunca
vacilei na hora, o que foi?
Molho meus lábios secos, ainda ouvindo sua risada alta.
Porra.
— Não consegue gozar? Você começou com o assunto, sou seu amigo.
Pode falar. — Diminui a risada.
— Amigo? — Fito-o. — Você não perde a oportunidade em brincar com
minha cara. — Ele fica mais sério.
Quem consegue ser amigo desse homem?
— Em alguns momentos. Tem médico para tratar isso, sabia?
— Tem?
— Ele chama-se Gil, marca com ele as dez horas da noite — reviro os
olhos. — Com toques ele vai saber o motivo, normalmente pessoas assim se
sentem à vontade em gozar com homens, quer fazer o teste? — Ignoro-o.
Chato pra porra. Estou querendo saber algo em relação à minha vida
sexual, e ele continua com as palhaçadas. Deixo-o para trás, agora saio da
sala em direção à saída com meu celular em mãos. A minha última
mensagem para a Maitê foi há dois dias e ela não respondeu nenhuma. Deve
estar achando que estou rastejando por sua presença.
— Posso conversar com você? — Ouço a voz do HG. Enfio o meu
celular no bolso.
— O que foi agora?
Caminho em passos lentos, e ele segue ao meu lado. Atravesso o local
onde ocorre o processo de embalagem das drogas, seguindo para fora.
— Preciso de um conselho. — Ele fala.
— E desde quando virei conselheiro? — Paro, encarando seu rosto.
— Tudo tem um começo.
— É mulher?
— É.
— Está pedindo conselho pra pessoa errada, procure outra pessoa.
Preciso resolver meus problemas.
Dou um tapa de leve no seu ombro, saindo do seu campo de visão. Pego
a chave no meu bolso, percebendo o tempo escurecer. Caminho para o meu
carro, e próximo da porta, enfio meu corpo no banco do motorista, e ligo o
motor, arrancando em direção à minha casa fora da comunidade.
Meu problema começa com Mai e termina com tê.
Em casa faço algum lanche para comer. De banho tomado, pele hidratada
e perfumada, visto uma roupa neutra, calça e camiseta acompanhado de um
tênis.
Nesses dois dias que fiquei em frente a casa da Maitê, percebi que o pai
dela voltou a frequentar o lugar. Emanuel é conhecido no Alemão há meses.
Quase 21h00min da noite, me encontro no meu carro, em uma das ruas
perto da casa dela. Depois de quase trinta minutos, ela surge na rua, vindo
em direção à sua casa. Estudo-a pela claridade das luzes na rua: cabelo preso
em um rabo de cavalo, conjunto de academia na cor lilás, marcando os
decotes do seu corpo.
— Quantos desgraçados gostaram de ver essa cena? — Cerro meu
maxilar.
Quando sua atenção vem para o carro, ela diminui os passos, parando ao
reconhecer o Azera preto. Então, ligo o carro, o aproximando do seu corpo
na calçada.
Paro o carro na contramão do seu lado, mantenho ligado e abaixo um
pouco do vidro, possibilitando-a ouvir minha voz.
— Entra do outro lado antes que te coloque a força aqui dentro.
— Minha mãe pode ver isso. Você é louco! — Encaro-a pelo vidro. Um
pouco do cabelo está grudado no suor do seu rosto.
— Entra antes que ela veja, não vou mandar de novo.
Seu suspiro fundo é forte.
Maitê entra no banco do carona.
Quando ela senta e bate a porta, acelero forte. Sinto seu cheiro de suor e
baunilha misturado, invadindo o carro em questão de segundos.
— Está me sequestrando agora?
— Me negou voz durante dois dias, pra chegar na porta da sua casa e não
se fazer de difícil por nem um minuto?
Com a mão direita giro o volante pelas ruas da Olaria, rápido.
— Vai devagar, cara — escuto a buzina de um carro quando entro de uma
vez na esquina — Italiano. — Sinto a sua mão apertar minha coxa.
— Tira. — Ela confirma, tirando quando desconfiado encaro seu rosto.
— Estava com tanta saudade e quer ficar bancando o cara fodão — agora
em uma velocidade menor, saio de Olaria. — Vai me levar pra um motel de
novo?
— Não.
— Então onde? Sua casa?
— Também não. Me negou voz por dois dias.
— Parei de fazer caridades. — Reviro levemente os olhos.
— Não sei se você entendeu, mas o banco onde eu trabalhava foi
assaltado. Estou com vários problemas, eu tenho agentes policiais me
fazendo depor.
— Só lembra, os policiais têm a proteção deles, você não tem.
— Eu sei, eu não sou otária. — Responde. — Eu acho que estou ficando
maluca.
A olho por alguns segundos ao ouvi-la em um tom baixo, enquanto
encara seus próprios dedos na sua perna, seu nariz é pequeno e empinado,
cílios grandes. Ombro encolhido, ela está com medo.
— Por quê? — Volto a atenção para a direção.
— Depois do assalto tudo na minha vida mudou. Eu tenho pesadelos, eu
não vivo como antes, eu tenho medo de sair na rua, eu tenho medo de andar
sozinha. — Aperto o volante entre meus dedos. — Eu sinto que alguém me
vigia.
— Já viu alguém?
— Não, mas um dia estava saindo da delegacia quando fui depor, eu
tenho certeza que tinha alguém.
Lembro imediatamente de quando o Nando foi atrás dela nesse dia.
Desgraçado.
— Às vezes tem mesmo. Por isso te dou o conselho, você não tem
proteção, então fica calada, faça sua parte e se mantenha longe dos
problemas.
— Você se lembra de algo ou alguma pessoa?
— De uma enorme cicatriz no tornozelo de um deles. — Cleiton. Que
vacilo…
O Cleiton tem essa porra de cicatriz no tornozelo. Pela forma que ela
disse, ela lembra-se perfeitamente dessa porra no Cleiton.
Seguimos o restante do trajeto em direção a minha casa entre
Bonsucesso. Dentro da casa, aguardo Maitê sair de dentro do banheiro, que
segundo ela ia tirar o suor do corpo. Sentado na poltrona preta no canto da
cama, permaneço em silêncio virando minha moeda entre meus dedos
enquanto penso.
Eu não vou transar com ela. Eu não posso transar com ela mesmo
sentindo a vontade de foder aquele corpo de novo.
Tenho que lidar em relação ao Cleiton sobre aquela cicatriz.

Respiro fundo.
Olho a moeda na palma da minha mão e guardo-a no meu bolso,
cruzando os braços ao ouvir o barulho da porta ser aberta.
Ela está apenas com uma toalha.
Estudo seu corpo baixo, envolta na toalha branca, cabelo seco penteado
para trás. A fumaça de dentro do banheiro surge no meu campo de visão.
— Por que está de toalha? — Minha voz grossa questiona.
— Estou com fome.
— Fome? O que a toalha tem a ver com seu estômago? — Franzo as
sobrancelhas.
Ela aproxima-se em passos Lentos com os pés descalços no chão. Minha
respiração começa a pesar conforme o calor do seu corpo se aproxima.
— Maitê, veste a sua roupa. — Encaro seus olhos pretos quando ela para
na minha frente.
— Pensei que iria gostar de me ver assim.
Ela deixa a toalha cair no chão. Meu pau reclama dentro da cueca, agora
ficando mais duro do que estava minutos atrás, só de senti-la no mesmo
quarto que eu.
Como vou me explicar depois que isso aqui está errado e que não pode
acontecer nenhum toque?
— Já que não vai me tocar. — Ela sorria, olhando o volume bruto na
minha bermuda e afasta em passos curtos. — Vou me trocar.
Olho sua bunda desenhada, quando ela caminha em direção ao banheiro
sem olhar para trás. Seu cabelo grande proporciona a visão de tê-la nessa
posição.
— Aqui estamos perto de Bonsucesso, não é?
Me levanto sem respondê-la, caminhando devagar em passos até a porta
do banheiro. Ela vira-se na minha direção, agora com as roupas em mãos, e
meus olhos fixados no dela.
Seus seios grandes estão com os mamilos rígidos e pontudos, cintura
fina, lateral do seu quadril desenhada. Ela olha nos meus olhos, respirando
forte.
Eu sinto meu pau reclamando dentro da cueca, ele a quer. Consigo senti-
lo pulsar descontroladamente.
— Vou me vestir. — Seguro seu pulso firme.
— Cadê a calcinha? — Olho para sua mão.
— Não usei. — Nego.
— E você sai assim na rua?
— Qual o problema?
— Está ligada quanto filho da puta existe?
— Agora a roupa é culpada?
— Isso deve marcar pra caralho a sua boceta.
— Eu estou te escutando ainda? Nós dois não temos nada. — Malandra.
— Está apertando meu pulso.
Levo meu olhar onde seu pulso começa a ganhar um tom vermelho.
Rápido, viro seu corpo, pelo susto, ela abandona as roupas no chão. Seguro
sua nuca à minha mão direita e sinto seus fios macios e um pouco molhados
pela água do chuveiro de minutos atrás.
— Italiano… — Sussurra.
Tento me controlar para não a machucar muito.
— Agora vai fazer o quê? — Pergunta com o rosto contra o box do
banheiro.
— Você gosta de me ver estressado?
— Depende — brinca com um sorriso e de olhos fechados. — Não quero
que me machuque.
— Me deixou estressado usando essa porra na rua.
— Então vai ficar toda vez. Esqueceu que não somos nada? — Aperto
sua nuca.
— Não somos nada mesmo. — Encosto meu corpo no seu, por trás. —
Depois fica reclamando que tem alguém te seguindo.
Com minha mão esquerda, aperto sua cintura e desço até a lateral do seu
quadril.
— Está dizendo que é por causa das minhas roupas? Machista.
Sinto sua pele macia, passo a mão por sua bunda, na lateral e apalpo
devagar. Deixo um tapa com força. Que miragem do caralho...
— Dói.
— É pra doer mesmo, toda vez que você me estressar vai acontecer isso
aqui.
Deixo outro tapa forte, ouvindo seus lábios soltarem um gemido
dolorido.
— Por favor…
— Fica caladinha, fica. — Deixo mais um tapa, observando o tom
vermelho.
Eu tenho que admitir, nenhuma mulher consegue deixar meu pau duro da
forma que está. A vontade de foder seu corpo é impossível não sentir,
mesmo que eu não queira cair nessa atração irresistível, e não consigo.
— Está doendo, Italiano.
Segurando sua nuca, levo seu corpo até a cama, jogando-a com força em
cima dela. Pode doer, mas ela está gostando. Levo minhas duas mãos ao seu
pé, puxando-a para perto da borda. Com facilidade consigo trazer seu corpo.
O quadril remexe contra o colchão.
— Vai me fazer gozar na sua boca?
Ignoro seu rosto quando ela abre as pernas. Molho meus lábios com a
língua, passando a mão no meu cabelo.
Não respondo sua provocação e ajusto a posição ajoelhando perto da sua
virilha. Seu cheiro é bom.
— Ah…assim.
Chupo o lábio da sua boceta devagar, prendo-a com força, fazendo suas
pernas irem pra cima do meu ombro, deixando-a exposta pra minha boca a
devorar.
Deslizo minha língua sentindo cada centímetro da sua boceta, seu gosto,
sua textura macia. Ela geme baixo, conforme meus movimentos ficam tensos
por sua boceta.
Faz anos que não faço um sexo oral em alguma mulher.
— Gosta do que faço? — Pergunto, enfiando dois dedos dentro do seu
canal vaginal.
Provoco seu clitóris com a língua e respiro fundo quando ela rebola,
gemendo.
— Sim… é muito bom.
Fodo-a por um tempo com meus dedos e ao tirá-los de dentro dela, eu
faço questão de chupá-los. Volto a ataca-la com minha língua, deslizando a
barba do meu queixo contra seu clitóris, enquanto ela crava as unhas nos
meus ombros, erguendo seu quadril e cai sobre a cama novamente.
Amanhã vou me arrepender. Como as outras vezes.
Maitê rebola contra a minha boca e aperta minha cabeça contra suas
pernas. Eu deixo vários tapas na lateral da sua coxa, ouvindo seu gemido.
Ergo meu olhar, observando-a: seus olhos estão fechados, os bicos dos seus
seios duros, sua boca entreaberta emite gemidos altos.
É minha terceira vez proporcionando prazer para uma mulher, e as três
vezes foram com ela.
— Não para — fecho os olhos, sinto suas mãos encostarem no meu
cabelo, é permitido rolar. — Eu vou gozar pra você.
Controlo meu gemido. Eu luto para não gozar apenas chupando sua
boceta, isso soaria muito inapropriado para quem mal consegue gozar com
outra mulher.
Seu clitóris incha contra minha boca, o cheiro e o gosto do seu orgasmo
invadem meu paladar rapidamente conforme seu quadril rebola com mais
força.
Seus músculos relaxam. Fracas, suas pernas tremem contra meu rosto.
O celular no fundo desperta nosso momento. Levanto, olhando seu corpo
cansado em cima da cama, e pego o celular em cima da cômoda.
Cleiton. Ignoro a chamada, colocando no modo offline.
— Vem. — Ela olha nos meus olhos. — Eu posso mamar no seu pau?
Respiro fundo. Claro que ela pode, eu não vou negar. Não demora muito,
eu fico sem roupa na sua frente, em pé, mantenho meu corpo para ela fazer
um boquete, sentada na borda da cama.
— Sabe o que você é? — Seguro seu cabelo entre meus dedos, forçando-
me a olhar. — Malandra.
Fecho os olhos quando sua língua quente desliza pela cabecinha inchada
do meu pau.
— Eu sou? — Sua voz traz calafrios por meu corpo.
Maitê começa a chupar meu pau enquanto minha mão direita segura seu
cabelo. Meus músculos tensionam.
Porra.
Eu estou prestes a gozar com poucos minutos da sua boca no meu pau
duro. Até então, estava reclamando de não conseguir gozar. Maitê me fita
com os olhos cheios de desejo, quando erguem na minha direção. Que visão.
Louco de tesão, meu pau pulsa no boquete parafuso que ela faz, sua língua
desliza pela extensão do meu comprimento com veias salientes.
Liberando minha vontade de gozar, eu permito meu líquido quente
encher a sua boca aveludada.
CAPÍTULO 16

Italiano puxa o ar forte, quando rebolo lentamente no seu pau duro e quico
rápido, sentindo o corpo estremecer diante da sensação que ele me
proporciona nesse momento. Eu estou gozando outra vez. Nossos corpos
suados e uma só respiração se misturam em uma sintonia.
Seu pau entra e sai de dentro de mim, enquanto ele me fode por baixo, e
diminui os movimentos quando eu paro de quicar, sentando no fundo e rebolo
rápido, liberando mais uma vez meu orgasmo. Meu coração bate rápido no
meu peito e minhas pernas tremem.
Italiano aprecia a visão de me olhar derretendo de prazer no seu pau.
— Vem aqui. — Sem esperar, ele me tira de cima dele com facilidade e me
coloca ao lado da cama, de barriga para baixo no lençol.
— O que vai fazer? — Sua mão esquerda brutalmente abre minhas pernas.
Minha cabeça contra o colchão e o cabelo todo grudado no rosto mostra
como estou. Destruída. A sua mão direita aperta meus dois pulsos para trás em
forma de domar. Concluo quando o tapa forte me faz morder o lábio inferior.
Uau…
Estou toda dolorida, agora ficarei mais e mais. Sou pequena, a única coisa
grande são meus seios e um pouco da minha bunda malhada, fora isso sou
frágil para mãos desse homem. Sou tão safada que chego a sonhar, mas no ato
eu choro, e italiano é enorme. Ou seja, fico destruída.
— Empina essa bunda. — Respiro forte, e obedeço. — Empina mais,
caralho. — Choramingo baixo.
Sinto a pulsação da minha boceta no meio das minhas pernas. Ele encosta
seu corpo sobre o meu por trás, penetrando. Um gemido alto sai da minha
boca, quando sinto seu pau rasgando cada centímetro naquela posição. Sua
mão direita afunda o colchão ao meu lado.
— Você quer ser fodida assim, não é? — Sua voz grossa soa perto da
minha orelha exalando luxúria.
— Quero. — Choramingo contra o lençol, gemendo a cada investida
dentro de mim.
Que homem bruto.
Seu corpo começa a se movimentar com mais força contra o meu. Agora,
fazendo o barulho ecoar entre as quatro paredes. Nossos suores grudam um no
outro, e nossas respirações são fortes. Eu quase choro em senti-lo assim, forte
e bruto.
Uma onda mais forte de prazer percorre o todo meu corpo. Tapas e
mordidas são depositados por toda parte do meu corpo. Meus olhos ardem
com as lágrimas.
— Aí, porra. — Ouço seu gemido alto, que faz meu corpo estremecer.
Como é gostoso ouvi-lo gemer.
Quando penso em pedir para parar, o líquido quente escorre dentro da
minha boceta, agora diminuindo as investidas e parando seu pau no fundo do
meu canal vaginal.
— Meu pulso está doendo. — Reclamo. Ele libera do seu aperto.
Em seguida, sai de dentro de mim, deitando ao meu lado. Depois de
recuperar minha dignidade, eu me levanto, tampando meus seios por vazar um
pouco.
— Eu vou tomar um banho primeiro. — Encaro-o. Seu corpo nu e suado
está na cama, encostado na cabeceira aveludada. Seus olhos observam meu
braço nos seios. — Tudo bem?
Ele permanece em silêncio. Então, viro-me em direção a porta do banheiro
e entro, fechando a porta. Começo um banho com a água morna do chuveiro.
Me questiono se essa é a casa dele. A estrutura é boa, banheiro limpo,
pisos neutros. Tudo arrumado, toalhas brancas, assim como o tapete no chão.
Ergo meu olhar em direção a maçaneta movimentando e depois de
segundos ela volta ao normal. Solto um ar pelo nariz. Que falta de coragem.
Na verdade, ele é o meu oposto, sua personalidade, suas demonstrações de
sentimentos, principalmente em um sexo. Parece ser um homem deprimido
com a vida, e isso me causa várias dúvidas.
De onde ele vem?
Quem são as pessoas da sua família?
Amigos?
Após terminar o banho, com minha roupa vestida e cabelo penteado para
trás, eu saio do banheiro. Italiano deixa o celular com a tela virada para baixo
em cima da cômoda e passa perto do meu corpo, libero o caminho da porta,
observando-o entrar no banheiro e fechar a porta.
Como eu disse, a casa é limpa e aconchegante. Banheiro no corredor
pequeno, sala dividida com a cozinha. O corredor leva para um cômodo
fechado, esse quarto e mais um quarto de hóspedes.
A Maitê curiosa que habita dentro de mim não hesita em vagar um pouco
pela casa. Principalmente pela porta do cômodo fechada, que por coincidência,
está muito bem trancada. Estranho.
Droga.
Volto para a cozinha, barriga ronca pela fome. Eu passo longos minutos
sentada na cadeira da cozinha. Xingo mentalmente pela fome. Espanto meus
pensamentos pelo cheiro de banho recém tomado invadindo a cozinha. O dono
do cheiro veste uma camisa preta, bermuda leve, de tecido fresco dessa vez.
Hum… ele tem roupas aqui. Ele mora aqui.
— Você mora aqui? — Pergunto, olhando-o pegar um copo e encher de
água no purificador em cima do balcão.
— Não. — Mentiroso.
— Mas é seu?
— É, Maitê.
— Hum...— Coloco meu cabelo pra trás.
Olho-o virar o copo de água, bebendo em uma só golada. Até assim ele
consegue ser gostoso, como pode?
— Você tem cara de ter uma certa idade. — Ele me encara dessa vez,
deixando o copo em cima do balcão.
— O que é uma certa idade? — Questiona.
— Tem quarenta?
— Porra de quarenta.
— Então é qual idade?
— Trinta e quatro. — Abro um sorriso.
— Perto dos quarenta.
— Falta muito ainda.
Ouço seu suspiro. Me levanto da cadeira sendo observada por seus olhos
cor de avelã.
— Você tem dezoito, mas logo chega aos quarenta.
— Como sabe que tenho dezoito?
— Você me disse. — Não me lembro de ter falado, ou talvez quem esteja
velha de cabeça aqui seja eu.
— Acho melhor irmos embora.
— Maitê. — Encaro-o dessa vez, que já tinha uma moeda em suas mãos,
girando-a entre seus dedos. — Tá com fome?
— Muita.
— Pedi algo pra você comer, deve estar chegando.
Abro um sorriso. Eu vou matar minha fome, não acredito que vou matar a
minha fome.
— Posso fazer uma pergunta?
— Sim? — Observo-o girar a moeda, olhando para sua mão e guardá-la no
bolso.
— Seu leite... — Continuo séria.
Ele quer meus seios.
— O que tem?
Fito-o por longos segundos: sua expressão séria, boca desenhadinha e
molhada, sobrancelhas grossas, feitas, barba feita e seu cabelo castanho
penteado.
— Estou com vontade de experimentar de novo. — Silêncio. — Porra,
esquece essa merda. — Passa as duas mãos no rosto, nervoso.
— No sofá é melhor. — Falo. — Pode vir.
Caminho em direção ao sofá, que abre quando puxo-o, ficando maior.
Sento nele, aguardando o Italiano vir. Demora alguns minutos, coloco uma das
almofadas quando se aproxima. Deixo meu mamilo do lado direito exposto
pra ele
— Deita e coloca a cabeça aqui.
Não me importo com isso, até mesmo se for pra matar a vontade de
experimentar.
Italiano ajeita a posição, deitando-se sobre a almofada. Sua respiração
pesada bate contra minha pele, e fecho levemente os olhos quando sinto o
alívio da sua boca no meu mamilo, começando a chupa-lo. Como é boa essa
sensação…
No dia seguinte, quando são 10h00mim, passo em frente a um banco.
Apresso meus passos para atravessar rápido, no clima nublado.
— Maitê? — Diminuo meus passos, ouvindo uma voz masculina
reconhecida.
Minha atenção bate no rosto de um rapaz novo, barba por fazer, olhos
castanhos.
É o rapaz que tirou minha virgindade. É o Levi, tem vinte e dois anos.
Pode-se dizer que ele mudou desde a última vez que o vi. Sou baixa,
completamente desapareço ao lado de qualquer um, mas Levi não é muito
alto.
— Oi. — Dou um sorriso simpático, segurando uma bíblia em mãos.
— Estava aonde?
— Hum — olho pra bíblia e volto até seu rosto. — Em uma loja. — Ouço
sua risada.
Franzo as sobrancelhas tentando entender sua risada.
— Não estou brincando, fui em uma loja comprar. — Mostro para ele.
— Virou religiosa?
— Eu só estou disposta a ler a bíblia.
— Está indo pra casa? — Confirmo. — Te acompanho.
— Trabalhando com o que?
— Hoje em dia tô na área de administração — Confirmo. — E você?
— Por enquanto em nada.
— Lembro que estava de jovem aprendiz.
— Eu saí.
— Por quê?
— Não soube do assalto do banco?
— Ouvi boatos, mas não procurei saber. — Continuo caminhando.
Dessa vez fico calada. Não quero progredir o assunto com ele. Quanto
menos eu tocar nesse assunto com alguém, melhor é para mim.
Paramos de caminhar em frente ao portão da minha casa, olho para a rua
acima.
— Depois nos falamos, pode ser? — Estende a mão, aperto, retribuindo.
— Cada dia fica mais linda.
— Obrigada. — Forço um sorriso em meus lábios.
Entro em casa, deixando a bíblia que minha mãe pediu para comprar em
cima da mesa.
— Vai sair hoje? — Ela aparece na cozinha, dou de ombros. — Você
chegou a 1h00min da manhã, era uma corrida.
— Foi além da corrida. — Pego um copo de água e bebo.
— O quê?
— Eu saí com uma amiga pra correr.
— Leva o celular dessa vez e avisa.
Pego meus óculos em cima da mesa, e caminho para o meu quarto. Tiro
meu sutiã apertado. Meus seios doem e estão um pouco inchados, tiro toda
minha roupa entrando no banheiro. A água fria me traz lembranças da noite
anterior.

As mãos fortes por meu corpo. Sua boca no meu mamilo. Abro um sorriso
convencido enquanto a água escorre pelo meu corpo. Fico pensando o que
existe por trás daquela muralha, quais são os sentimentos dele. E qual é o meu
problema ao imaginar isso? Eu nem sei o nome dele e não conheço nada da
sua vida.
Minutos depois, visto uma roupa fresca fora do banheiro. Cabelo molhado
por ter passado por uma hidratação, não podia deixar de lavar meu cabelo.
Leio as mensagens no meu celular.

Lorena: Amiga, vou na tua casa amanhã de manhã

Respondo-a apenas com um joia na mensagem.

Italiano: Você tirou quantos reais da minha carteira?

Maitê: O suficiente para pagar o uber.


Italiano: Cem reais?
Maitê: O restante foi pra pagar
meu tempo com você. Você paga suas putas.

Italiano: Você vale mais que cem reais.

A mensagem cai, leio pela barra de notificações e em seguida aparecer a


“mensagem apagada."

Maitê: O que apagou?

Italiano: Nada. Quero você pronta às 21h00min da noite.

Saio da mensagem, bloqueando meu celular sem respondê-lo. Ergo meu


olhar quando a porta faz barulho, e meu pai surge.
— Cheguei agora e soube que ontem você veio de Uber.
— Sim, qual problema?
— Era madrugada, é perigoso andar assim, Maitê.
— Eu sei. — Murmuro.
Vou em direção ao espelho e tiro a toalha do meu cabelo, começando a
pentear os fios enormes preto.
— É algum homem?
— Não.
— Certeza?
— Absoluta. — Confirmo.
— Você parou de frequentar aqueles lugares?
— Até hoje sim. — Levanto meus olhos, encarando-o através do espelho.
— Qual seu medo?
— Você se envolver com algum daqueles caras, eu juro que mato.
— Não vai acontecer.
— Você foi feita de refém e ficar frequentando esses lugares é um dos
últimos lugares para o seu psicológico. — Confirmo — Espero mesmo que
não tenha envolvimento com nenhum traficante, eles não valem a terra onde
serão enterrados, estou apenas avisando-a.
CAPÍTULO 17

Nesta manhã havia acordado sozinho na sala, que por ironia, eu estava com
a Maitê na noite anterior. Não sei qual horário Maitê foi embora. Na verdade,
não sei como ela foi embora.
Eu tento amenizar minha convivência com as pessoas, mas algumas não
facilitam. Como ela foi embora de madrugada e sozinha? Também não faço a
mínima noção de como dormi rápido assim. Odeio compartilhar lugares para
dormir com alguém, qualquer barulho, desperto. Pela primeira vez isso
acontece.
Tiro a moeda do meu bolso, esperando o retorno de alguns seguranças, fico
um tempo girando-a nos meus dedos. O que eu estava pensando em pedir para
me deixar mamar nos seios dela? A cena vem na minha cabeça, sinto meu
rosto queimar, assim como meu corpo, — eu estava gostando. — Estou me
sentindo um idiota.
Olho a moeda antiga na minha mão.
Respiro fundo.
Encosto minha cabeça no banco e guardo a moeda no bolso.
Quando HG manda uma mensagem avisando que o caminho está limpo até
o meu destino na comunidade. Eu abaixo o portão com o dispositivo, e ligo o
carro, dirigindo em direção a comunidade. Quando atingindo certo limite de
caminho, o carro dos meus seguranças, começam a me seguir para concluir o
trajeto sem risco.
O tempo está escuro ainda, às 5h40min da manhã, me encontro em uma
onda de momento por ter passado a noite anterior como passei.
Minutos depois entro na comunidade, próximo a padaria da Maressa,
estaciono o carro. Meu estômago pede por um café e algo para comer. Os
rapazes fazem a segurança do lado de fora, e eu entro na padaria.
— Agora? — Sento no banco, olhando-a.
— Estou com o estômago na cabeça. — Coloco meus dois antebraços no
balcão.
— Procura quando precisa de algo, Edgar? — Começa a preparar o mesmo
de sempre.
Quando meu estômago ronca, eu passo a mão no abdômen. Maressa
retorna com o café na caneca, um pão recheado de presunto na chapa. Isso
deve matar a minha fome.
— Estava procurando mais problemas? — Pergunta.
Termino de mastigar a primeira mordida do pão em silêncio.
— Ou estava com mulher. Cheira a mulher. — Vira-se na minha direção.
— Estou? Deve ser sua imaginação. — Puxo a camisa, cheirando. Estou
cheirando mesmo.
— Mãe! — Encaro a Lara, entrando dos fundos. — Oi, velho. — Acena
com um sorriso mostrando o aparelho.
— Velho o caralho. — Murmuro de boca cheia. Menina estressante.
— Beijo no rosto. — Ela apoia em algo no balcão.
Não me movo e não me aproximo, mas ela consegue se aproximar quando
sobe em algo atrás do balcão, deixa um beijo no canto do meu rosto.
— Está cheirando a mulher. — Faz uma expressão, voltando para o chão.
— Deve ser sua imaginação, filha. — Maressa debocha.
Agora Maressa vai começar a com o mesmo humor do Gil e Lara? Está de
sacanagem.
— Mãe, amanhã vai ter uma festa. — Termino de comer meu pão,
ouvindo, e pego a caneca de café, terminando-o. — É festa de um amigo, eu
posso ir?
— Perigoso. — Falo sério.
— Você é muito nova e é perigoso sair sozinha. — Maressa completa.
— Perigoso? — Encaro a Lara.
— É, tem muitos homens com má intenção. — Respondo.
— Não é assim também. — Rebate.
— Não? — Dou mais um gole no café, terminando de beber. — Depois
pesquisa nos jornais. Vai não, fica em casa mesmo. — Ela suspira fundo.
Meses atrás eu me afastei um pouco, entretanto sempre cuidarei da Lara.
Sempre coloquei as duas como prioridade na minha vida no começo do meu
crime. Lara ainda é nova, quatorze anos. Troquei roupa dela, ajudava a
Maressa quando eu tinha vinte anos. Então, sempre irei opinar em relação a
saídas para lugares duvidosos.
Nos últimos dias me afastei. Admito. Não queria e não quero ver as duas
sofrendo por minha culpa.
Horas depois estou resolvendo umas contabilidades rápidas, seguro
algumas coisas em mãos, jogando dentro da mochila e jogo a caneta para
outro lado. Arrumo minha postura na cadeira, ainda sentindo o cheiro doce da
minha roupa.
— E aí, bandido mau. — Gil entra na minha sala, como sempre sem avisar.
Demorou a vir encher minha paciência.
— Procurei sobre aquele nosso assunto de ontem. — Senta na cadeira.
— Qual assunto?
— Sobre não conseguir gozar.
Suspiro fundo.
— Está de brincadeira?
— Eu? Claro que não! O médico Gil andrologista em trabalho. — Ele tira
uma folha do bolso, olhando-a. — Bom...
— Não, Gil. — Passo a mão na nuca, estressado.
— Relaxa, vou te ajudar.
— Sai daqui e fecha essa porta. Volta aqui para assunto sério, entendeu?
— Nossa, vida...
— Ficou louco? Vai, sai daqui! — Falo, ouvindo-o rir sem parar. — E fala
sobre isso pra alguém, não estou de brincadeira com você, filho da puta. Eu
acabo com a sua vida. — Ele levanta-se da cadeira, rindo, e ergue os dois
braços.
— Foi mal. — Com o boné branco desajeitado na cabeça, manda beijo no
ar, saindo.
No meu celular há mensagens do Cleiton, entre outras, da Maitê.
Maitê: Eles entregaram o lanche saudável que pediu e o suco.

O mundo cai na minha cabeça e não acordo com nada pela primeira vez.
Descarto o celular em cima da mesa com a tela ligada e passo a mão no rosto.
Descarto meus pensamentos quando HG e Cleiton entram na minha sala.
— Vocês não sabem avisar que estão entrando? — Guardo o celular. —
Reunião agora e não estou sabendo?
— Vim conversar em relação a garota. — Cleiton avisa. — Tentei ligar
ontem e você não recebeu a ligação.
— E querem saber o que?
— Ela se lembra de alguém de nós? — HG pergunta.
— Não. — Respondo.
— Ela viu algo em algum de nós? — Cleiton me encara. Ergo meu olhar
na sua direção e sustento seus olhos castanhos.
— Não. — Minha resposta é firme sem desviar meu olhar.
Tenho certeza que se eu abrir a boca, eles não vão deixá-la em paz.
São 18h00min. Giro a moeda em minhas mãos, olhando-a entre meus
dedos. Encostado em uma parede, esvazio minha imaginação olhando a moeda
traçar cada parte dos meus dedos. Sinto um pouco de dor de cabeça, hoje está
mais leve que as outras vezes, mas ainda assim, ela dói.
Paro de fazer os movimentos da moeda quando o cheiro de mulher
conhecido invade minhas narinas. Ergo meu olhar, encarando Lara parar seus
passos a minha frente: cabelo curto e preto, o piercing destacando no nariz e a
correntinha no pescoço. Dei de presente para ela, quando ela fez dez anos de
idade.
— Italiano. — Guardo minha moeda, encarando-a.
— O que foi?
— Eu preciso entregar essas coisas pra minha mãe em uma outra padaria, é
na Olaria. — Desço o olhar pra sacola em seu braço. — Tem como me levar?
— Passo a mão no pescoço, olhando para os caras e Gil surge no meu campo
de visão.
— Gil, leva ela na Olaria. — Lara dá alguns passos pra trás, respirando
forte.
— Vou levar! — Segura a chave do carro dele em mãos.
— Toma cuidado.
Gil não revida o olhar, e vai em direção ao carro. Lara me olha de volta, se
aproximando, sinto suas duas mãos nos meus braços cruzados.
— Beijo e obrigada. — Abaixo o rosto, permitindo o beijo no canto. —
Velho.
— Velho o caralho, Lara. — Falo em um tom de bolação por esse apelido
chato.
Lara vira-se, caminhando em direção ao carro. Fixo meus olhos cerrados
na sua bunda quase amostra no vestido branco, colocado em seu corpo magro.
— Lara. — Ela para, virando-se na minha direção. Ergo meu olhar. —
Abaixa esse vestido.
Quem disse que obedece? Ela continuou caminhando em direção a porta
do passageiro do carro. Estressante. Às vezes me tira a paciência como se
fosse uma filha.
— Ainda bem que o Gil é de confiança. — HG para ao meu lado. Escuto
sua voz sem tirar o olhar do Golf do Gil sair pela rua. — Ele te respeita.
— Ninguém é maluco.
— Dentro do carro… — Observo-o.
— Dentro do carro o quê?
— Caso você colocasse qualquer um desses. — Olha para os outros
seguranças. — Tentaria algo com ela, Gil te respeita e respeita-a.
— Ninguém é louco. A garota tem apenas quatorze anos. Todos estão
cientes para não se aproximarem dela.
— Entendi.
— Lara tem que estudar.
— Nunca a vi saindo, ela é tranquila, ninguém nunca disse nada sobre ela.
— Semicerro meus olhos. Passo a mão na minha barba e passo duas vezes no
queixo, sério.
— Por que tá me falando isso? — Dá de ombros.
Ele é despertado pelo seu celular tocando. Assim que pega, o nome Érica
na tela faz o desviá-la do meu campo de visão. Em seguida caminha para
longe, conversando no telefone.
Justo a mãe do melhor amigo. Gil confiando que ele não tem coragem de
ficar com a mãe.
O relógio no meu pulso marca 19h00min. Depois de aparar a barba e cortar
o cabelo em uma barbearia, acabei vindo para a padaria da minha madrinha.
— Você levou a Lara para Olaria? — Nego. — Ela voltou estranha.
— Estranha como?
— Não sei, Edgar. — Me encara — Veio aqui, disse que estava tudo certo
e normalmente ela sempre fica pra ajudar, dessa vez disse que ia dormir.
Parece que está abalada com algo, chateada...— Franzo minhas sobrancelhas.
— Gil quem levou.
— Depois vou tentar conversar com ela. Deve ter brigado com alguém.
Adolescência.
Suspira. Fico em silêncio e coloco o dinheiro em cima do balcão, em
seguida me levanto, e me despeço dela. Do lado de fora da padaria faço uma
ligação para o Gil.
— Hum? — O barulho alto de vozes no fundo atinge minha audição.
— O que está fazendo?
— Bebendo.
— Aconteceu algum problema quando você levou a Lara pra Olaria? —
Ele fica em silêncio por alguns minutos, escuto falar algo no fundo, e sair do
meio do som.
— O que? Não entendi.
— A Lara, Gil. Perguntei se aconteceu algo quando você a levou.
— Não, estava tudo tranquilo. — Desvio o olhar, suspirando. Não espero
ele dizer mais nada e encerro a ligação.
Na minha mente, passou que havia acontecido algo errado, ela é da minha
família e qualquer pessoa pode tentar algo, mas como não houve nada, fico
tranquilo. Por isso gosto de mantê-las afastadas do meu dia a dia, qualquer
problema acontecendo com qualquer uma das duas, minha consciência vai me
matar para o resto da vida.
CAPÍTULO 18

Maitê demorou a responder, mas quando respondeu, não evitou em dizer


que queria me ver. Coloco a chave em cima do balcão, observando-a: a saia
azul em um tecido leve marca seu quadril, como a parte de cima do
conjunto marca seus seios.
— Eu trouxe o troco. — Encosto no balcão da casa. Franzo as
sobrancelhas.
— Não quero. Você nunca mais vai embora daquela maneira.
— Você estava dormindo muito bem, fiquei com receio em acordá-lo.
— Meu rosto ferve com sua voz.
Encaro-a por um tempo. A imensidão dos olhos pretos na minha
direção, cabelo preto penteado para trás. Seu rosto não tem nenhuma
mancha, a pele é lisa, e sinto uma imensa vontade de tocá-la para saber
como é o toque da maciez.
— Tem alguém da sua família vivo? — Pergunta em um tom de receio.
— Pra quê quer saber?
— Jesus, que sem educação. — Nega. — Apenas quero saber, Italiano.
— Uma madrinha e a filha dela. — Colo os dois braços em cima do
balcão. — Mas minha vida me afastou das duas.
— Elas te consideram?
— Ultimamente estou sendo um filho da puta, minha madrinha chegou a
desenvolver até crises de ansiedade. — Fito seus lábios carnudos
reprimindo.
— Não sabe o sentimento ruim que ela deve ter. Meu pai também se
afastou, recentemente voltou como se nada tivesse acontecido.
Emanuel é mesmo o pai dela. Tinha uma certa dúvida. Ele não sabe
esconder ninguém da família.
— Minha mãe é uma boa mãe, e seus pais?
Respiro fraco. Encaro o balcão de relance, pensando. Meus pais não
existem na minha vida.
— Minha mãe e meu pai são a Maressa. — Minha resposta é firme.
— Então valoriza-a. — Ouço sua voz.
Meus olhos se concentram nos olhos de jabuticaba. Não entendo como
estou ouvindo-a ainda. Se o conselho fosse bom, era vendido.
— Quer saber mais o quê?
Mesmo que você não saiba nada da minha vida.
— Você tem coração?
— Estou vivo. — Um riso sem humor é ouvido dos seus lábios.
— Somente para bombear sangue, não tem sentimento algum.
— Sentimento não está no coração. — Ela engole o ar. — Você só sente
o que permite sentir.
Arrumo minha posição enquanto ela mantém-se encostada de frente ao
balcão. Me aproximo por trás dela, encostando meu corpo alto por trás dela.
— O seu cérebro que fornece sentimentos. — Murmuro perto do seu
ouvido. — Ou está acostumada a ver filmes de romance?
Ela tem um cheiro suave: baunilha.
— Eu gosto de ler. — Responde em um sussurro.
— E nos livros os casais terminam juntos? — Ela confirma.
— Eu acredito em amores assim, mesmo sabendo que o era uma vez não
existe.
Essa garota não era para estar nas minhas mãos. Não era para eu estar
aqui com ela, e mais uma vez eu a trouxe. Maitê não tem um pingo de
noção de quem eu sou.
— Italiano?
— História de amor não existe.
— Existe. — Me olha por cima do ombro, trazendo os olhos pretos nos
meus. — Eu acredito.
É nesse instante que meu corpo inteiro colapsa com seus olhos. Mas sou
despertado com o barulho do meu celular no bolso. Maitê vira seu rosto
para frente, imediatamente pego o celular no bolso me afastando.
Maressa.
— O que aconteceu?
— Edgar, a Lara saiu eram 19h00min e até agora não voltou para casa.
O relógio no meu pulso marca quase 22h00min da noite de um dia
chuvoso.
— Eu tento ligar para o celular dela, mas para na caixa postal. Eu não
sei o que fazer.
Passo a mão livre na minha boca e respiro forte. Lara está começando a
dar trabalho.
— Ela disse que ia para onde? — Pergunto.
— Na casa da amiga dela, a Beatriz.
— Vou mandar alguns homens atrás dela. — Maressa despede com a
voz fraca, encerro a ligação.
Não penso quando mando mensagem para o Gil ir atrás dela, e peço
para me ligar a qualquer problema. Todas a minhas mensagens no celular na
Lara, nenhuma é recebida.
Maitê está parada no começo do corredor, olhando em direção a porta.
Tiro a carteira de dentro do bolso da minha calça, colocando em cima do
balcão com o celular.
— O que tem naquela porta? — Aponta o dedo.
— Um quarto vazio.
— Está falando sério?
— Pra que vou mentir?
— Tem chave? — Confirmo. — Posso ver?
— Não.
— Hum... quando penso que sei algo sobre você, não passa de uma falsa
impressão, eu não sei de nada. — Ela vai em direção a saída.
— Falo para o seu bem. — Seguro seu pulso.
— Agora você decide o que é bom pra minha vida? — Seus olhos me
interrogam.
Meu olhar analisa seu corpo na minha frente. Começo a imaginar várias
cenas com ela, isso torna meu corpo quente. As veias esquentam, e penso
em controlar minha situação com ela.
— Está machucando.
Viro-a de costas. Seguro seus dois pulsos para trás, apertando sua nuca
com minha outra mão. Empurro-a contra a parede e faço seu rosto ser
encostado de lado na parede fria à minha frente. Seus lábios soltam um
gemido em uma sensação melancólica.
Encosto meu pau duro contra seu corpo. Esse gesto está machucando-a,
imagina quando souber o que está dentro do outro quarto. A última pessoa
que trouxe aqui, foi há dois anos, última vez que aquele quarto foi aberto
sem ser para a faxina.
— Você gosta de ser agressivo… — Calo sua boca puxando seus fios de
cabelo para trás. — Aí...
A saia curta na sua bunda pede para ser levantada. Maitê está
começando a me deixar maluco por ela, como nunca fiquei por outra
mulher na minha vida. Eu estou quebrando regras da minha cúpula.
— Italiano, eu quero que você me foda.
— Mas antes você tem uma punição, caralho. — Mordo seu pescoço
devagar.
— Eu não fiz nada.
— Você me deixou estressado quando foi embora daquela forma.
— Dói. — Tiro minha mão da sua nuca subindo a saia, revelando-a sem
calcinha.
— Está de sacanagem! — Minha voz sai grossa e quase some. — Isso
foi só pra me ver ou você está acostumada a andar assim? — Me estresso.
— Não saio — escuto sua voz trêmula. — Foi pra te ver. — Mentirosa.
— Está mentindo, Maitê! — Olho sua bunda malhada exposta. — Porra,
não é para sair assim na rua.
— Agora…
Ela solta um gemido com um tapa forte na sua bunda. A marcação na
pele branca é inevitável.
— Que ódio da sua cara. — Desfiro mais um tapa.
— Aí... — Apalpo sua pele e deixo mais um tapa forte com o barulho
alto. — Caralho. — Entre gemidos xinga. — Está doendo.
— É pra doer. — Mais um tapa forte. — Vou dizer apenas essa vez, caso
eu veja você de novo na rua sem calcinha, você vai apanhar de chicote. —
Sua respiração pesada. Ofegante com o rosto contra a parede, treme. — Não
quer ser punida? Não me desrespeita. Entendeu? — Falo perto do seu
ouvido.
— Sim. — Diz falho. — Eu entendi.
Com força, guio seu corpo em direção ao quarto com seu pulso preso
entre meus dedos.
— Vamos fazer um trato? — Pergunto, começando a tirar sua roupa. —
Essa é nossa última noite?
Eu sei que não será a última.
Sua respiração é ofegante, principalmente quando aliso seus mamilos
com minha mão, sentindo-os entre meus dedos.
— Mais uma vez não vamos cumprir nenhum trato.
Minhas mãos passeiam por sua cintura, aperto levemente sua pele nua
contra meus dedos. As pintas pequenas espalhadas por seu corpo, cintura,
cabelo grande, e o sorriso safado em seus lábios.
Ela tenta tocar no meu corpo, mas seguro seu pulso, virando-a de costas.
Coloco-a empinada na cama, com os pés no chão e rosto contra o colchão,
rápido abro suas pernas com meu pé direito. Percebo o quanto fui agressivo
com os tapas na sua bunda, contém marcação por todo seu rabo.
Toco entre suas pernas. Sua boceta molhada desliza suavemente nos
meus dedos.
— Hum… gosta disso? — Minha voz soa com luxúria. — Gosta,
malandra?
— Ah, é bom. — Solta um gemido.
— Gostou dos tapas? — Aperto seus lábios inchados entre meus dedos.
— Não era pra gostar. — Levo meus dedos até a minha boca, chupando o
seu gosto. — Era pra doer, Maitê.
— Doeu muito. — Minha mão suave desliza por sua boceta que está
pulsando de tesão. Com a outra mão, aperto sua bunda. — Por favor...
— Por favor? — Solto o ar pelo nariz. — Pense em um por favor
quando usar algo sem calcinha de novo, sua puta.
Deixo um tapa forte, que faz seu corpo sobressaltar e colar no colchão.
Essa garota está me deixando maluco. Mais um tapa forte, o barulho é alto e
mistura com seu gemido agoniado.
— Eu falei, Maitê, o próximo não será tapa. — Falo, segurando seus
pulsos pra trás. — Sua punição será mais forte.
Solto-a, ela tenta levantar, mas deslizo minha mão por suas costas, a
mantenho naquela posição.
— É pra ficar assim — ordeno. — Fica quietinha, fica.
Sinto alívio quando tiro meu pau duro de dentro da minha cueca preta,
ainda de roupa, só meu pau fica para fora após descer um pouco da
bermuda e cueca. A cabecinha está melada com o pré gozo, famoso pau
babão. Provoco-a, batendo meu pau duro na lateral da sua bunda.
— Meu Deus. — Me olha por cima do ombro.
— O que você quer?
— Me fode! — Pede, ofegante. — Eu quero que você me foda, Italiano.
— Deita e vira de frente. — Mando. Enquanto ela vira-se, eu tiro minha
roupa, ficando pelado.
— Vira de lado e segura suas pernas com os dois braços.
Ela obedece, e assim faz. Deitada, passa dos dois braços na volta dos
joelhos por baixo e fica de lado na cama, exposta com sua boceta inchada e
pulsante na minha direção.
— Não sai da posição e não tira as mãos.

Maitê simplesmente obedece. Cachorra. Concorda como uma submissa


pronta para ser fodida.
Envolvo meu pau na sua entrada, entrando com vontade. Sua expressão
fica mais firme, suas linhas faciais mostram prazer e dor por cada
centímetro do meu pau duro entrando na sua boceta. Com minha boca
entreaberta, eu solto um gemido baixo.
Maitê sustenta o olhar. A cada investida dentro dela, seu corpo pulsa
forte, enquanto seguro seu quadril. Fecho os olhos e me deixo levar com as
investidas fortes dentro dela. A lubrificação fica intensa, nós dois trocamos
a mesma energia sexual de tesão.
Pelo menos estou tentando me controlar para não a foder como
realmente quero. A forma que ela não conseguiria levantar dessa cama para
dar nenhum passo. A raiva por sua calcinha me deixa com mais vontade de
transar com raiva.
Maitê é bonita, principalmente quando está me olhando com essa cara
de safada e choramingando enquanto a fodo. Seu corpo rendido pulsa
descontroladamente, eu roço meu pau dentro dela sem piedade dessa vez.
— Isso, caralho… como é bom quando me fode assim. — Cravo meus
dedos na pele da sua coxa sem parar. — Não pare. — Revira os olhos,
permitindo seu corpo todo saltar, principalmente seus seios contra o
colchão.
O suor começa a escorrer por cada extensão do meu corpo. Eu controlo
a vontade de gozar, como isso é possível? Não estou há três minutos aqui.
Seus músculos ficam rígidos e ela aperta a própria pele da perna,
sentindo prazer, sendo domada pela sensação e o barulho dos nossos corpos
chocando um no outro freneticamente.
— Goza no meu pau. — Mando, ofegante. Pele na pele.
No fundo me perco. Ela estremece com a impiedade dessa vez. O roçar
do meu pau no fundo da sua boceta, provoca um colapso maior para seu
prazer, e volto a me movimentar dentro dela.
Seus músculos tremem. A ânsia do seu gozo me deixa mais lúcido.
Então sinto a sua lubrificação mais forte.
Maitê deixa seu quadril rebolar levemente no meu pau. Prestes a gozar,
geme alto, revirando seus olhos e se perde na sensação do nosso sexo, agora
gozando, eu não me seguro. Meu pau duro pulsa rigidamente dentro dela,
quase dois segundos depois dela lambuza-lo com seu gozo, eu preencho-a
com minha porra quente.
— A… que caralho. — Solto gemidos roucos, diminuindo meus
movimentos dentro dela.
Depois da satisfação, sua voz é baixa quando se levanta para ir ao
banheiro.
— Eu estou destruída, transamos ontem e hoje. Minha boceta deve estar
esfolada.
— Quero que me obedeça em relação essa porra de calcinha. — Falo
sério, olhando seus movimentos de costas em direção a porta do banheiro
aberta. — Estou falando sério.
Pego meu celular na cozinha, certificando algum aparecimento da Lara,
e nada dela aparecer ainda. Tento ligar, mas é encaminhado para a caixa
postal.
Respiro fundo.
No quarto, não evito acompanhar Maitê no banheiro. Através da porta,
ela deixa seu cabelo amarrado em um coque, deixando a água escorrer por
seu corpo.
Quando sente minha presença, abre os olhos me fitando.
— Italiano. — Abre um sorriso fraco, oferecendo espaço no chuveiro.
— Vire de costas.
Maitê faz. Eu começo a ensaboa-la sem acreditar que estou fazendo isso.
Seu corpo quente, ainda do sexo, se perde na água morna.
— É bom sentir você e estar com você, mesmo sendo um ogro e falando
quase nada.
Maitê vira em minha direção, passando as duas mãos no meu pescoço,
ficando na ponta dos pés. Abaixo um pouco, permitindo um beijo entre nós
dois rolar dentro do banheiro. Contra a parede, coloco seu corpo, beijando
seus lábios molhados. Minhas mãos envolvem na sua cintura.
— Italiano… — Ela choraminga baixo contra meus lábios.
Abaixo meu rosto um pouco, levando a minha boca em direção ao seu
mamilo direito, suavizando minha língua contra o bico rígido, e, com
vontade, começo a chupa-lo. O gosto bom invade meu paladar sem demora,
sentindo o calor do seu corpo contra o meu.
CAPÍTULO 19

Em uma tentativa de forçar que estou sonhando, sou despertado pelo


celular tocando na cozinha. O quarto escuro me traz lembranças da noite
anterior, eu estou deitado ao lado da Maitê, seu cheiro pregado na minha
pele sem camisa, deitado perto dos seus seios, sinto-a. Mesmo com o ar-
condicionado desligado, o frio atinge meu corpo, o barulho da chuva cai do
lado de fora.
Sento na cama, ligando o abajur ao meu lado, passo as mãos no meu
rosto. Ela está nua, pela forma que sente frio envolvida com seu próprio
corpo.
Apoio o cotovelo no colchão, me aproximando, diante do seu sono
pesado, levo minha mão direita em direção ao seu rosto calmo. Meu dedo
percorre por sua face, é macia e suave, como imaginei na cozinha.
Respiro fundo.
Merda. O celular.
Tiro uma coberta do guarda-roupa, cobrindo seu corpo, a manta branca
conforta seu sono, e ela abraça.
Vou em direção à cozinha. Agora, meu celular volta a tocar em desespero
em cima do balcão. Lara, é ela.
— Você tem a porra de dois segundos pra começar a falar. — Meu tom
de voz é firme.
— Edgar… — Sua voz é quase falha em meio ao barulho alto de som e
conversas. — Eu estou em uma festa, estou trancada em um quarto. Eu acho
que bebi muito. — Passo minha mão livre na minha testa.
A minha raiva toma contato com minha reação por sua atitude. Ela está
desde 19h00min sem avisar sua mãe, e agora já são 3h00min da manhã.
Maressa sempre fez de tudo pela filha.
— Onde você está? Lara.
— Na casa de um rapaz. — Ela fala o endereço, eu tento memorizar. —
Está tudo girando...
— Não sai daí, me espera nesse quarto. — Ela não responde. Encerro a
ligação, agora estou estressado.
Enfio o celular no cós da bermuda e caminho em direção ao quarto. Visto
uma blusa de frio rápido, colocando um boné preto na cabeça e o capuz da
blusa preta. Apago o abajur, com um chinelo nos pés, saindo do quarto,
trancando a porta do lado de fora. Caso acordasse, Maitê tentaria ir embora
sozinha.
Antes de sair de casa, passo uma água no rosto e uma pasta de dente no
meu dedo contra meus dentes.
Rápido saio de casa com as gotas de chuva contra meu corpo. O frio
tranquiliza quando entro dentro do meu carro. Saio da garagem, travando o
portão no aparelho. Inicio o trajeto pelo ponto de referência que ela ofereceu,
fica uns doze minutos do local onde estou, é perto de Ramos.
Consigo achar a casa, jogando o endereço na internet. Quando estaciono
o carro, o som é alto com as conversas das pessoas. Saio de dentro do Azera,
em passos calmos vou até portão enorme aberto, agora com a chuva mais
tranquila, duas garotas vem na minha direção. O semblante das duas não
nega que passaram a noite com drogas, bebidas e putaria: cabelo molhado,
maquiagem borrada.
Isso cheira a bebida e maconha. Estudo para dentro de casa, poucas
pessoas loucas estão nas gotas de chuvas. A maioria está dentro de casa.
— Que gato. — A voz de uma das duas me traz para a realidade. — Oi,
podemos ajudar você? — A de cabelo loiro sorri mais aberta.
Parece louca pra ser fodida aqui mesmo.
— Sou a Beatriz. — Então essa é a amiga da Lara.
— Não liga pra ela — a ruiva diz. — É... parece perdido.
— Não, estou no lugar certo — olho para o ombro dela, evitando contato
visual. — Quero a Lara, traga ela até aqui. — Ordeno, encarando seu
pescoço. Ela engole a própria saliva.
— Ela está sumida…
— Ela disse que está em algum quarto. É melhor trazer essa menina aqui,
se eu entrar nesse lugar nojento, vai ser pior pra vocês. — As duas sorriem,
gostando do meu tom de voz.
As duas oferecem as costas e saem rebolando pela grama da casa.
Encosto na lateral do portão, tentando amenizar as gotas de chuva, mesmo
estando todo molhado.
— Tá sozinho? — A ruiva volta sozinha. Caralho.
— Vê alguém comigo? — Questiono. Ela fica em silêncio, negando.
— Prazer, Eliane… — É nítido que está sob efeito de bebida.
— Eu não estou aqui nessa porra de lugar pra transar com alguém. —
Minha resposta a faz confirmar com a cabeça.
Meu olhar duro vai em direção a saída da porta, de onde surge Lara. Ela
não me olha, passando pelo portão, estudo seu rosto: maquiagem borrada,
um tom avermelhado. Short jeans curto e a parte de cima vulgar, tapando
apenas seus seios.
Seus passos são rápidos em direção a porta do passageiro do meu carro.
Seu corpo contém cheiro de maconha e bebida misturada, ela fede.
Em silêncio, saio do local onde estava. Caminho em direção a porta do
motorista quando atravesso a rua, entrando no meu carro. Em silêncio
permaneço, começando a dirigir.
— Por favor, não me deixa em casa. — De canto, encaro-a. — Não estou
afim de ver minha mãe chorando.
— Não vou te dizer nada agora, Lara. Mas quando você acordar em sã
consciência, vai me ouvir. Isso não é atitude. — Mudo o trajeto em direção à
minha casa.
— Está preocupado comigo, Italiano? — Seu ânimo muda pra deboche.
— Você tá louca. — Inalo seu cheiro ruim, olhando a rua. — O que fez
além de beber e fumar maconha?

— Eu não sei — suspira. — Eu não lembro de quase nada. Eu estou meio


bêbada — baixa a fala com a cabeça encostada no banco. — Havia dois
rapazes, um deles… — Ela para de falar, começando a trocar o assunto. —
O Gil me ligou a noite toda, mandou ele ir atrás de mim? — Solta um riso
sem humor.
Procuro ser paciente, algo que nunca fui. Nesse momento é idiotice
minha discutir com uma adolescente prestes a vomitar no tapete do meu
carro de tanta loucura.
Depois de fazer todo trajeto, deixo o carro estacionado na garagem
fechada. Entro com a Lara pela porta da sala, seu semblante agora é sério.
— Tem mulher aqui? — Pergunta.
— Fica quieta, consegue passar uma água no corpo? Tá fedendo pra
caralho. — Olho quando senta no meu sofá.
— Amanhã de manhã, não vou por agora. Sua puta está no quarto? —
Suspiro mais uma vez.
Permaneço em silêncio. Amanhã tenho que mandar lavar esse sofá, vai
ficar fedendo esse cheiro horrível que está carregando. Deixo uma manta
com ela, sem responder a pergunta idiota, vou para o quarto.
Maitê ainda dorme. No banheiro, tomo um banho. Deixo a água morna
escorrer pelo meu corpo, quase impossível de relaxar.
Lara tem apenas quatorze anos. Sinceramente, nunca cheguei em uma
parte de lidar com uma adolescente. Pensando sobre isso, sobre ela ter ficado
com alguém nessa festa.
Saio do banho e visto apenas uma cueca. Cabelo penteado para trás e
corpo seco pela toalha.
Eu deixo uma mensagem para a Maressa, avisando-a que a Lara está bem
e comigo. Não demora pra ela responder mais aliviada. Para ter uma noção,
ela está acordada até agora aguardando pela filha.
— Jesus… — Maitê senta na cama olhando na minha direção. — Achei
que estava sonhando. — Escuto sua voz de sono antes dela voltar a deitar.
Maluca.
— Qual horário? — Deixo o celular na cômoda e deito minha cabeça no
travesseiro. — Não vai responder? Preciso ir embora, vou pegar um Uber...
— Não me estressa mais.
— Qual o problema?
— Você não vai embora sozinha. — Ela solta uma risada.
Mantenho minha mão direita por baixo da minha cabeça enquanto ela me
olha, deitada ao meu lado.
— O que aconteceu? — Olho para o teto escuro.
— Fui atrás da Lara, minha prima, ela está na sala, drogada e bêbada.
— Qual a idade dela?
— Quatorze anos.
— Muito nova. A mãe dela conversa com ela sobre isso? Eu era
adolescente, mas nunca dei trabalho para a minha mãe com drogas e bebidas.
— Eu não sei. A Maressa é uma boa mãe. — Respondo. — Eu não tenho
paciência pra lidar com essas coisas.
Me viro para o seu lado, o que resta é o nosso silêncio. Em silêncio
permaneço, colocando meu rosto perto dos seus seios, ela ajeita a posição
sem dizer nada e permite, colocando a mão no meu cabelo, aperto sua
cintura fina. Busco imediatamente seu mamilo entre meus lábios.
De manhã termino um café forte. Queria ter saído para comprar algo pra
comer, mas a porta da sala trancada impediu, e não acordei Italiano para avisar
que queria sair. Principalmente com a saia sem calcinha. Ainda vou provocá-
lo, não por enquanto, minha bunda ainda arde por causa dos tapas.
Com a xícara cheia de café, encosto no balcão, tomando. A prima do
Italiano está no banheiro desde a hora que acordei. O barulho do chuveiro
ligado não cessa por nenhum minuto. 7h00min da manhã e com toda certeza
seu estômago irá revirar por causa da ressaca.
Ergo meu rosto na direção do corredor, engolindo um gole do café. Meus
olhos estudam o Italiano no corredor, enquanto caminha na direção do balcão.
Seus dedos passam pelos fios de cabelo castanhos e coloca o boné. Agora com
uma calça moletom cinza, camiseta preta e uma blusa de frio. Mesmo com a
blusa, seu corpo marca a região do bíceps, costas largas e peitoral.
Que homem gostoso...
— Está me olhando assim, por quê?
— Não pode olhar?
— Cadê a Lara? — Aponto para o banheiro, observando-o, pegar a garrafa
e colocar café em uma caneca.
— Está frio, não é? O tempo fechado e chuvoso. — Olho sua blusa.
Ele está de blusa, calça e tênis, enquanto eu tinha apenas um conjunto de
roupa, ainda assim, sem calcinha. Ele permanece em silêncio.
Ogro.
Quando Italiano termina o café, sua mão abre o zíper da blusa, deixando-a
em cima do balcão. Sem me olhar, arruma o relógio no pulso.
— Vou te levar embora. — Diz sério.
Italiano é o oposto da minha personalidade, sem dúvidas alguma. Sua
forma de lidar com as coisas, seu jeito bruto com as pessoas. O oposto.
Ignoro meus pensamentos com o barulho na porta do banheiro sendo
aberta. A menina de cabelo curto surge no corredor. Vestindo a blusa de frio,
observo seus olhos e sua mão mexer no cabelo molhado. Ela veste um short
jeans curto e um cropped vulgar.
Ela é mais baixa que eu.
— Oi. — Cumprimento quando seus olhos castanhos batem no meu. —
Meu nome é Maitê.
— Hum. — Responde sincera.
— Vamos. — Italiano chama.
Com o clima pesado, eu lavo os dois copos.
Em seguida, saio atrás da Lara, que chegando perto do carro, entra no
banco do passageiro, fechando a porta com uma certa força
— Eu vou de Uber. — Viro pro Italiano. Ele termina de trancar a casa e
me olha sério.
— Que Uber, Maitê?
— Uber, carro. — Explico.
— Vai começar a me estressar? — Olha minhas pernas. — Você está sem
calcinha. Não é para sair assim. Vou te deixar na sua casa.
— Acho que tua prima não está muito bem, não quero atrapalhar.
— Lara não manda em nada, se tem alguém que tá atrapalhando aqui, é ela
— caminha para o lado da porta do motorista. — Entra, agora. — Me olha por
cima.
Respiro fundo. Então entro no banco de trás, em silêncio no trajeto todo
quando se inicia.
— Vai fazer outro caminho? — Lara questiona e recebe o silêncio firme.
Molho meus lábios com a língua. Quando me pego pensando, eu estou
observando cada momento do Italiano dirigindo seu carro. A forma como a
mão gira no volante, destacando sua tatuagem. Meus olhos encontram-se nos
seus. Seus olhos nos meus. Ele me olha. Pelo retrovisor do meu, consigo
admirar o quanto esses olhos esverdeados me tiram um suspiro fundo do
pulmão.
Parece ser errado, mas é enraizado na minha cabeça como algo bom. Eu
me deixo levar por isso, pelos momentos bons. Algo que, por muito tempo, eu
nunca havia sentido na minha vida.
Eu estava louca para beijá-lo naquele momento. Como nunca beijei
nenhum homem na minha vida. Parecia algo engraçado.
Italiano me deixa quase perto de casa, e claro, não resisto, eu deixo um
selinho em seus lábios quando ele traz a atenção para o meu rosto. Ele fica
quieto e paralisado, como sempre. Ajeitando minha saia, eu desço do carro.
— Quem é ela? — A voz baixa da menina pergunta quando eu fecho a
porta.
Sem olhar para trás, eu sei que o carro ainda está parado. Simplesmente
entro em casa, somente assim, escuto o barulho do carro pela rua.
— Que susto...— Coloco a mão no peito, olhando Lorena e minha mãe.
— Meu Deus — olha pra blusa. – Isso ficou enorme em você. — Passo
pelas duas.
— Preciso de um banho quente e descansar. Minha cólica está me
matando.
— Que cheiro de perfume masculino. — Lorena brinca.
— É, pelo jeito, um dos melhores perfumes. — Entro para o meu quarto.
Dentro do quarto, eu tiro toda minha roupa. Sou despertada com o barulho
da porta, e antes que eu consiga cobrir meu corpo com a toalha, Lorena
consegue ver as marcações vermelhas na minha bunda.
— Desculpa, eu não sabia — olho seu rosto. Quase falo algo sem sentido.
— A noite rendeu...
— Avise quando for entrar.
— Não acontecerá de novo. — Nega. — Vem ficar com a gente na sala, e
toma cuidado pra ninguém ver esses tapas na sua bunda.
Respiro fundo quando a porta é fechada.
CAPÍTULO 20

— Minha cabeça está doendo, só quero dormir. — Lara fala, sentada no


sofá.
Encostado na parede da sala, olho atento em direção a ela. Passo a mão
pela minha barba, lembrando do local sujo e da quantidade de porcaria que
tinha. O caminho todo, eu tentei aconselhar e abrir os olhos dela em relação
a essa vida medíocre que ela está sujeita.
— Não é atitude de se fazer, Lara, você tem apenas quatorze anos, é
adolescente, mas entende o que é errado e certo. — A voz da Maressa sai
firme. — Você nunca foi assim, nunca precisei me preocupar com você.
Você saiu às 19h00min, dizendo que ia até sua amiga e voltaria rápido.
— Mãe, fica...
— Cala a boca você e escuta. — Minha voz sai firme. Caminho em
direção ao sofá, parando a sua frente. — Você está errada, Lara. Quem
ofereceu aquelas merdas pra você?
— Ninguém, eu fumei e bebi por conta própria. — Passo a mão no
rosto, nervoso.
Respiro fundo.
Tenho trinta e quatro anos, mas os estresses trazem as doenças mais
cedo. Quando não é uma pessoa, é outra tentando testar o nível da minha
paciência no dia a dia.
— Meu Deus. Você usou essas coisas? — Maressa sussurra, encaro-a.
Seus olhos lacrimejam.
— Você não sai mais de casa. — Fito Lara, falando.
— Qual o problema em sair? Ninguém tentou nada comigo, nem
ofereceram nada, eu fiz por vontade própria. — Encosta a cabeça no sofá,
subindo as duas pernas, colocando em cima do sofá e abraçando-as.
— Olha o short, está mostrando tudo, Lara. — Maressa orienta.
— Quer que eu saia de saia batendo nos pés e blusa de frio?
— Você acha que esses filhos da puta vão respeitá-la dessa forma? —
Cruzo os braços. — Ninguém daquelas pessoas são suas amigas, as garotas
não estavam ligando pra caso qualquer um daqueles pela saco te
estuprassem. — Lara engole a própria saliva. — Você ficou com alguém lá?
— Vai fazer o quê caso falar que sim?
— Fala e você vê. — Um sorriso irônico surge em seus lábios.
— Está com ciúmes? — Reviro os olhos.
— Isso não é ciúmes. — Nego.
— Hum... agora vamos falar um pouco sobre você? — Arqueio a
sobrancelha quando ela traz seus olhos até os meus. — Em primeiro lugar
você não é meu pai, que eu saiba ele morreu. — Engulo o ar dessa vez.
Nem uma palavra sai da minha boca, olhando diretamente em seus
olhos, eu penso. Pela primeira vez alguém me calou nessa vida sem precisar
encostar um dedo no meu corpo. Meu corpo reage mediante a sua frase.
Ela está certa.
Eu não sou o pai dela, nunca fui.
— Lara, chega! — Observo-a engolindo as próprias palavras, desviando
seu olhar com a voz da mãe. — Chega de ser criança, o Edgar...
— Ela está certa, Maressa. — Encaro-a. — Deixa ela fazer o que quiser
da vida.
Ela fica em silêncio. Sinto minha cabeça começando a doer, acho que
realmente estou doente, aquela parada de rosto esquentando, é febre.
Principalmente depois da chuva de ontem.
— Edgar... — Lara levanta.
— Fica aí. — Murmuro sério.
Não tenho a intenção de desejar o mal a ela, jamais. Fui até ela essa
madrugada, debaixo de uma chuva, não com a intenção de mostrar que
estou certo e aconselhar. Fui atrás pela consideração que tenho com ela,
frequentei lugares da mesma forma durante toda minha vida. Caio na
realidade quando essa frase que ela disse agora há pouco está certa, não sou
pai e não sou a mãe dela. O papel de responsabilidade é da Maressa.
Não tenho como mandar em nada na vida e não vou mandar, não mais.
Saio da casa, ouvindo a Maressa chamar. Não atendo seu chamado e
caminho em direção ao meu carro. Gil está do lado do meu carro, ele
guarda seu celular no bolso, me encarando agora.
— Senhor. — Leva a mão no peito.
— O que você quer? — Ajeito meu boné.
— Como a Lara está? — Em indiferença dou de ombros. — Você a
trouxe?
— Tá na casa da mãe dela.
— Não a achei em nenhum lugar ontem, ligava e dava caixa postal.
Mandei mensagens, tentei te ligar várias vezes e ela não atendeu nenhuma
— olho seu rosto. — Isso que ela fez não é atitude, na moral, parceiro, ela
sabe o que é certo e errado.
— Sei. — Olho para o céu. Tempo nublado.
— Estava aonde ontem?
— Ocupado. — Murmuro.
— Estava mesmo, olha — ele aproxima-se, a mão vem na minha
camisa. Um fio de cabelo enorme surge entre seus dedos. — Caraca,
morena! — Molho meus lábios.
— Acabou?
Agora tenho que ouvi-lo falando suas piadas. Estou estressado com a
Lara, lidar com as piadas do Gil não vai ajudar meu estresse elevado.
— Olha o tamanho do cabelo dessa garota — passa pelos dedos, me
olhando. — Está maluco, essa deve ser gostosa. — Semicerro os olhos.
Cruzo os braços, observo seu bigode, que agora está na cor natural. Puxo o
fio de cabelo dos seus dedos, deixando sumir pelo ar. — Caraca, quanta
maldade.
— Vai encher o saco de outro.
— Quem é a garota?
— Sua mãe. — Seu sorriso desmancha.
— Não é, ela não tem o cabelo assim. — Fala baixo.
Não ligo para sua voz, enfiando meu corpo dentro do meu carro. Gil é
ligeiro e sem graça, sua mão bate no vidro fumê do meu lado, com a
intenção que eu abaixe, mas não faço isso.
— Vou descobrir quem é! — Grita alto do lado de fora antes que eu saia
com o carro.
Um tempo depois, estou sentado na minha cadeira. Gil está resolvendo
algumas coisas e do seu lado está HG, eles trocam assunto em relação ao
crime, armamentos e drogas. A moeda gira em torno do meu dedo, tiro meu
foco dela ao ouvir meu nome entre os dois. Ergo meu rosto.
— Tomou seu café hoje? Seus olhos estão piscando até devagar. — HG
pergunta.
— Está com sono? — Gil interroga.
— Não — falo sério. — Estou doente, febre. — Gil se aproxima da
minha mesa, tua mão vem na minha testa. Dou um peteleco, irando-a com
raiva. — Não encosta.
— Febre... — Solta uma risada. — Mais gelado que defunto. — HG dá
uma risada alta.
— O que foi agora? — HG sorri.
— Isso é amor. — Encaro Gil.
— Amor... — Guardo a moeda.
— Italiano apaixonado? — A voz irônica do HG me faz sentir raiva.
— Não sei ainda, mas sei que é uma morena. — HG me encara quando
Gil brinca, encaro seu rosto de volta.
— Agora perdeu o que na minha cara? O cu? — Pergunto. — Vamos,
saiam. Tenho vários problemas pra resolver e vocês estão me enchendo a
paciência faz horas. — Gil fica sério. Levanta os braços em forma de
rendição e sai da sala.
Já o HG fica alguns segundos parado na frente da mesa, olhando na
minha direção.
— Ontem sua prima deu o maior problema... Sua madrinha ficou
preocupada. — Encostado na cadeira, encaro-o.
— E o que você tem a ver com isso?
— Estava aonde? Vários parceiros foram ajudar sua madrinha, ela
simplesmente disse que você não estava.
— Agora tenho que te dar satisfação da minha vida? Quer saber quem
chupa meu pau? Quem geme meu nome enquanto senta pra mim? — Ele
solta uma risada.
— Você... — Tiro a Glock na cintura, colocando-a sob a mesa.
Ouço o silêncio.
— Eu o quê? — Molho meus lábios.
— Esquece. — Me observa antes de sair pela porta
— Caralho! — Passo minhas duas mãos no rosto.
Não demora para vir a vontade de fumar um baseado.

Estou há algumas horas sentada no sofá. Minha mãe foi para seu
trabalho, pois tinha clientes na parte da manhã e Lorena ficou na minha
casa. Ajeito minhas pernas no sofá e jogo meu cabelo todo para trás,
colocando atrás da orelha.
— Sua mãe parece estar meia...
— Triste? — Ela confirma. — Meu pai não veio essa madrugada, eles
devem ter brigado, como sempre. — Respondo-a.
— Você acha que seu pai volta a morar aqui?
— Não sei — encosto no sofá. — Ele anda muito distante.
— Não acha que esteja escondendo algo? — Encaro-a dessa vez,
franzindo as sobrancelhas.
— Outra mulher?
— Talvez, mas não estou falando apenas sobre isso. — Murmura. —
Alguma outra coisa. — Desvio o olhar.
— Eu não sei.
— Sua mãe merece alguém que a valorize, seu pai simplesmente saiu de
casa, não ligou pra ela.
Ela não está errada, minha mãe fica como uma boneca para o meu pai e
quem garante que não há outra mulher por trás?
— Eu realmente não entendo a cabeça de homem.
— Falando em homem. — Lorena morde levemente seu lábio inferior.
— Esses tapas na sua bunda renderam a noite toda.
— Não foram tapas.
— Foi o quê?
— Choveu muito de madrugada e pra esconder da chuva, corri e corri
muito, acabei caindo e batendo minha bunda no chão. — Ela revira os
olhos.
— Para de mentir! — Levanta. Lorena aproxima, suas mãos seguram a
minha, me fazendo levantar. — Olhe para isso. — Traz as mãos até a minha
legging, mas seguro seu pulso, impedindo-a de abaixar minha calça.
— Lorena? Não! — Exclamo.
As marcas estão vermelhas, mas não permito abaixar minha calça só
para vê-las. Que louca.
— Tudo bem, só dizer que não quer compartilhar quem foi.
— Mesmo se tivesse alguém, eu não vou falar coisas em relação ao meu
sexo e minha vida entre quatro paredes com algum homem. Nem pra você.
Ela se afasta um pouco. Às vezes penso quantas loucuras essa garota faz
na vida, meu Deus. Sempre contei as coisas pra ela, mas nada sobre sexo
tão detalhado e como contaria sobre essa cena? " Amiga, fui punida com
vários tapas na bunda por não usar calcinha por baixo da saia."
Aquele homem vai acabar comigo... mesmo ele com a mente em me
castigar, a vontade em provocá-lo bate cada segundo na minha cabeça,
"chicote" essa palavra não sai da minha cabeça, é mentira, eu tenho certeza,
não tem chicote e quero ver se é verdade. Qual será a dor do prazer em
apanhar dele ele assim?
— Acho melhor eu ir embora. — Escuto sua voz. — Algum problema?
— Nenhum. Vou te levar até a porta.
— Vai trancar a porta? — Confirmo, caminhando em direção a saída. —
Fala pra sua mãe que depois mando mensagem pra ela.
— Tá bem, fecha o portão. — Lorena confirma.
Ela sai sem se despedir. Tranco a porta da sala por dentro, respirando
fundo. Depois de um tempo sozinha, decido mandar uma mensagem para o
Italiano.
Maitê: A sua blusa fica separada pra você pegar quando
quiser, senhor.
ótimo.
Depois de comer, eu pedi um Uber. O lanche estava

— Maitê. Abre a porta. — Meu pai chama do lado de fora de casa.


Não hesito em colocar meu celular na mesinha de centro e ir até a porta
pra abrir.
— Cadê sua mãe? — Ele segura meu rosto, deixando um beijo na minha
testa.
— Ela está trabalhando.
— Você saiu ontem?
— Sim. — Encaro-o.
— Com quem?
— Com uns amigos, não dormi em casa.
— Maitê, cuidado em sair dessa forma. Você nunca sabe quando e como
confiar em alguém, estou falando pelo seu bem.
— Eu sei. — Sussurro.
— Quando sua mãe voltar, pede pra atender minhas ligações. — Fala
antes de sair do meu campo de visão.
Mais tarde, por volta das 15h00min da tarde, estou pela rua. É quando
ouço alguém me chamando.
— Coincidência? — Coloco meu cabelo de lado quando ouço a voz do
Levi.
Hoje o Rio de Janeiro está com o clima quente, mesmo nublado. Paro de
caminhar assim que escuto a voz dele atrás de mim. Viro em sua direção
com um sorriso em meus lábios.
— Acho que você tá me seguindo.
— Acabei de sair do trabalho. — Observo sua roupa social. — Quer
uma carona?
— Não precisa.
Levi estuda meu corpo no vestido lilás claro. O vestido marca minhas
curvas e meus seios.
— Você consegue uma ótima foto posando de biquíni. — Ele está
falando sério?
— Levi!
— Estou dizendo a verdade. — Solta um sorriso.
— Em relação a carona, não precisa. — Mudo o assunto.
— Tem certeza? — Confirmo — Te levo, Maitê.
— Não precisa, minha casa é perto.
— Não precisa ficar envergonhada por causa do nosso passado. Passou,
entendeu?
— Eu sei, até porque quem vive de passado é museu, hoje são novos
ares. — A brisa do vento bate contra o meu rosto.
— Hum.
Olho atrás do seu corpo, sentindo ser observada, passo meu olhar pela
rua toda, não tem ninguém e nem um carro em movimento.
Estranho…
Estou ficando mais louca a cada dia sobre esse lance em ser observada,
ignoro completamente mais uma vez a minha cabeça. Acho que a vontade
em gozar com Italiano está afetando minha cabeça.
— Eu preciso ir, Levi. — Ele confirma.
Próximo à minha casa, ouço um carro pela rua. Viro meu rosto, olhando
em direção, meu coração palpita levemente, mas no carro é um simples
senhor dirigindo um HB20 branco. Suspiro aliviada para entrar em casa.
CAPÍTULO 21

Três dias depois


16H00MIN PM

Miro o alvo à minha frente, atirando. A bala preenche em cheio a madeira.


O barulho da bala envolve-se com o barulho do grito do Gil vindo atrás. O sol
está quente, o que me faz ficar sem camisa.
Afasto do local, permitindo que os aprendizes treinem.
— Está maluco. — Gil aproxima.
Jogo minha camiseta no ombro, ajeitando meu boné na cabeça. Pego uma
garrafa d'água, começando a beber, acaba que um pouco escorre da minha
boca pelo meu queixo e peitoral.
— Posso limpar? — Encaro-o.
— Você não me leva a sério um dia? — Pergunto.
— Todo dia, vida. — Começo a caminhar. Gil como sempre me segue,
falando. — Aconteceu algo?
Respiro fundo.
Às vezes é quase inevitável levá-lo a sério, na verdade não dá pra levar
esse cara a sério. Qualquer coisa que eu fale pra ele, certamente virará piada.
— Está pensando no quê? — Visto minha camisa.
Gil está desconfiado, como estou mais quieto durante toda tarde e
pensativo, as piadas sem graça dele não foram respondidas por minha boca
durante o dia todo.
— Em foder com a vida de uma garota. — Ríspido, falo. — O que foi
agora? — Fito ele.
— É a morena gostosa? — Entro no carro, deixando o vidro aberto. —
Caraca, vida. — Leva a mão no peito. — Todo sério e quieto, está sexy.
Dessa vez fecho o vidro, ignorando-o. Ouço uma risada afastando-se do
carro.
Sem ligar para as piadas do William, eu ligo o carro, pegando o trajeto
dentro da comunidade com meus seguranças em algumas motos atrás.
No caminho, o celular em cima do painel vibra em mensagens. Eu pego na
intenção de ver quem é. Uma reação neutra surge no meu rosto quando leio a
mensagem da Lara.
Lara: Oi. Podemos conversar?

Edgar?

Ignoro todas as mensagens. Não estou afim de me estressar como aquele


outro dia em relação a ela. Clico na mensagem da Maitê, mandando uma
mensagem pra ela.

Italiano: Vou pegar minha blusa hoje.


À noite estou no mesmo lugar pra você me encontrar,
22h00min.
Resolvi vários problemas durante o dia ao lado de vários funcionários. De
banho tomado e bem vestido, quando deram 22h00min, havia pego minha
blusa de frio e, na intenção, mandei Maitê entrar no meu carro.
Estou tentando afastar-me dela, ainda depois da conversa com os meninos.
Mas mais uma vez caí na tentação
— Qual é o seu problema? Disse que ia apenas pegar sua blusa, e mais
uma vez vir para na sua casa. — Sua voz ressoa quando fecho a porta.
Encaro-a, ela veste um vestido largo de alça fina. Seu rosto está na minha
direção, de braços cruzados.
— Há uns três dias atrás eu tive a sensação de ser observada. — Molho
meus lábios, observando-a. — Vi um senhor no carro, não era você, era outro
senhor de barba branca. — Semicerro meus olhos.
— Não estou com graça, Maitê. — Deixo a chave do carro em cima do
painel. Sua risada sem graça invade minha audição.
A filha da puta acha graça.
— Eu acho que estou ficando maluca, é muita coisa pra minha cabeça.
Suspira fundo.
— Quero saber quem é aquele rapaz? — Ela franze as sobrancelhas.
— Que rapaz?
— Estava conversando com você há três dias.
— Italiano...
— Italiano nada. Estou perguntando quem é, o cara parecia gostar de estar
contigo, qual é?
— Ele...
— Não mente, eu descubro. — Sustento meu olhar nos seus olhos.
— Você estava me seguindo?
— Não. — Falo. — Foi por acaso. — Cruzo os braços. — Passei e
simplesmente vi vocês dois, o vestido estava curto, era um vestido lilás. —
Aponto para o vestido dela.
O que foi agora? Ela está afim de me estressar, maneiro e prometi não me
controlar. Estava seguindo-a, não minto, quando vi aquele filho da puta dando
em cima dela, a vontade era de chegar até ele. Ele tinha uma cara de otário
olhando-a.
Me aproximo um pouco, em passos calmos, paro a sua frente. Meus olhos
não desviam dos pares de olhos pretos na minha frente, como uma jabuticaba.
Continuo de braços cruzados enquanto ela respira forte. Inalo seu cheiro:
cílios grandes, sobrancelhas feitas e a boca entreaberta.
— Ele te tocou alguma vez? Hum? — Pela reação do seu corpo e o
silêncio, eu entendo como um sim. — Maitê...
— Eu perdi a virgindade com ele, é passado, eu e ele não temos nada e não
quero ter nada com ele. — Molho meus lábios.
— Ele está indo atrás de você?
— Ele... Italiano...
— Ele o quê? É seu amigo agora? Eu vi a forma que aquele cara te olha.
Você não tem noção da raiva que sinto, de amizade aquele cara não quer nada.
Aproximadamente mais um passo, ela recua um para trás, batendo seu
corpo na parede. Suas duas mãos ficam contra a parede.
— Ele tentou conversar, mas não recebeu minha atenção.
Descruzo os braços, agora mais próximo por ela não conseguir sair por
culpa da parede, meu corpo alto encosta contra o seu. Seu corpo está trêmulo.
— Nenhum cara vai te foder como eu. — Um murmúrio eufórico sai dos
meus lábios. — Nenhum vai querer foder a sua boceta como eu fodo. —
Seguro seu rosto com minha mão direita. Os olhos pretos me fitam, trêmulos.
— Levanta seu vestido.
Silêncio.
— Levanta o seu vestido, Maitê. — Ordeno.
Abaixo meu olhar, com receio e trêmulas, suas mãos erguem o vestido
branco e florido.
— Foi pra te ver. — Meu coração falha com o que vejo.
Um sorriso de canto irônico contesta em meus lábios. Olho-a sem calcinha
assim que segura o vestido na cintura.
— Eu avisei pra não me estressar, você me estressou mais uma vez. —
Aperto seu pescoço. — Sente excitação? — Pergunto perto do seu rosto.
— Por favor. — Sussurra.
— Está com a perna tremendo e mordendo a boca. — Minha mão livre vai
até os fios do seu cabelo, puxando-os. — Saiu na rua sem calcinha também?
— Estava calor. — Sinto minha respiração pesar mais. — Ai! — Solta um
gemido com meus dedos puxando seu cabelo.
Ela pode estar me provocando e está conseguindo, não consigo ter o
controle que tinha nos outros encontros com ela. Eu sinto uma vontade enorme
em castigar seus atos.
— Pode fazer o que quiser, entendeu? Mas eu sempre vou descobrir e você
sempre será punida. — Viro-a de costas.
Seguro seus dois pulsos para trás, e com a outra mão, seguro sua nuca.
— Meu Deus. — Diz, ofegante.
— Por que será punida?
— Eu desobedeci. — Sussurra
— A partir de agora, quero que você fique caladinha. — Sinto prazer em
ouvir seu gemido de dor com meus toques fortes.

Mordo o meu lábio inferior mais uma vez, agora seguro um gemido.
Minha respiração está ofegante, quase não consigo lidar com meu peito
subindo e descendo, minhas pernas tremem igual uma vara verde, e meu
coração? Ah, ele simplesmente pode explodir a qualquer momento no meu
peito.
Desejo e medo misturados, por estar à mercê desse homem. Eu não sei do
que ele é capaz, e eu desobedeci a suas ordens. Eu queria vê-lo com raiva.
Italiano ainda segura meus dois pulsos para trás, forçando-os. Consigo
ouvir sua respiração tensa me guiando até o quarto, seu corpo rígido e
musculoso para ao lado de uma cômoda. Tento sair do seu toque, mas, ele
simplesmente me força contra a parede ao lado da cômoda, o que faz meu
corpo e rosto irem contra a parede gelada.
— Maitê! — Fecho os olhos assim que sua voz entra no meu ouvido
grossa e autoritária.
Sua mão direita segura meus pulsos frágeis com mais força ainda. Droga.
— Desculpa… — Minha voz some quando seu corpo encosta no meu por
trás. Seu volume bruto bate contra meu corpo quente. — Meu Deus.
Ele sente um desejo ardente por isso.
Quando Italiano desencosta no meu corpo, o barulho da chave sai da
gaveta. Engulo o ar e encaro a parede.
Chave…chave…
Ele pegou uma chave.
— Sente prazer?
— Em te punir? — Questiona, ofegante.
— Sim. — Silêncio. Não responde, me guiando para fora do quarto.
Calma... ele está me levando até o quarto que fiquei curiosa, o quarto
trancado. Franzo as sobrancelhas tentando entender, suas mãos liberam meus
pulsos e sinto o alívio, levo o olhar até seu rosto, o mesmo concentra na porta,
destrancando-a.
Seu peito sobe e desce em uma respiração forte, assim como eu. Camiseta
clara, expressão nitidamente séria e tensa, a bermuda jeans tem um enorme
volume do seu pau duro. Prendo o fôlego no meu pulmão com seus olhos na
minha direção e sua mão segura meu braço.
O barulho da porta abrindo-se me traz a realidade. Jesus...
— Italiano.
Não permite que minha voz seja ouvida, simplesmente me força a entrar no
quarto, fechando a porta atrás. O cheiro do quarto invade meu nariz, tudo está
limpo, aperto minhas pernas uma na outra, assim como as mãos, mas que
caralho... estou sentindo desejo e medo.
A pulsação da minha boceta quase me faz gemer de tesão.
O quarto tem vários acessórios, a parede escura e a cama tem um lençol
vinho. Os acessórios me trazem calafrios: chicote, vibradores, cordas.
— O que é isso?
— Debruça. — Trêmula, fico parada. — Debruça, Maitê.
Sua mão dá dois nós no meu cabelo, forçando-me. Minha única reação é
respirar forte. Aproximo da cama em passos devagares, deixando minha
sandália para trás, e simplesmente debruço no automático sob a cama.
Meus pés no chão possibilitam minha bunda ficar empinada pra ele, com
um pequeno pano do vestido tampando minhas nádegas. Italiano caminha até
os acessórios, e quando volta, meus braços são amarrados para trás.
Submissa. Eu estou sentindo pequenas sensações inexplicáveis. Meu rosto
contra o lençol solta uma respiração tensa, principalmente quando sua mão
sobe meu vestido, permitindo um frio bater contra minha bunda livre pra ele
me punir.
— A raiva que sinto, vou descontar aqui. — Ouço sua voz grossa.
O nervosismo faz meu leite molhar um pouco o vestido. As mãos firmes
do Italiano deslizam sob a pele quente da minha bunda.
— Caso doer muito, o nível de não aguentar. — Minha voz sai trêmula e
baixa.
Sua mão forte desliza até minha nuca, apertando-a. Sinto o seu corpo um
pouco em cima do meu, fazendo o lado direito do colchão, afundar quando ele
apoia o cotovelo para aproximar a boca perto da minha orelha.
— Não tem palavra de segurança para punição. — Sua respiração quente
bate contra minha orelha. — Eu te avisei, agora você fica quietinha.
Jesus... estou sentindo desejo por isso?
Seu corpo sai de cima, e só me resta aguardar. Me arrependo de duvidar do
seu chicote ao senti-lo passar contra minha bunda. O gélido do utensilio, a
textura faz meu corpo contrair.
— Vou bater cinco vezes na sua bunda. Caso você reclame, eu vou bater o
dobro.
Um gemido alto sai dos meus lábios, a ardência percorre a minha pele da
bunda com a primeira chicotada. Mordo meu lábio inferior, sentindo a
segunda chicotada, um choque de realidade com a dor quando vai
amenizando.
Meu peito contra o colchão entra em sintonia com minha respiração, o suor
escorre pelo meu rosto.
Três… quatro… Caralho! Dói muito, meu lábio inferior sai sangue com
minha mordida forte. Tento afastar meus pensamentos de dor, sem sucesso, a
quinta chicotada me desperta sensações múltiplas.
O chicote é jogado na cama do meu lado. Dessa vez sinto seu pau duro na
bermuda, contra minha bunda, ele faz questão de encostar seu corpo nela.
— Todas as vezes que houver desobediência, a punição será pior,
entendeu? — Fico em silêncio, respirando forte e com os olhos fechados. —
Doeu?
— Sim…
— Então fiz certo. Levanta. — Segura meus pulsos.
Não minto, eu senti dor e prazer ao mesmo tempo, mas ele sente mais
prazer em causar isso, em causar dor.
— Maitê? — Continuo em silêncio pelo toque.
Ainda em silêncio, me sento na cama com minhas duas mãos amarradas
para trás.
Ergo meu olhar, sua bermuda está marcada, sua camisa amassada e o seu
rosto está sério. Seu cabelo penteado para trás, barba feita no bigode e queixo,
ele mantém seu corpo parado à minha frente. Seu rosto é mais bonito sem
boné, deixando visível seus traços, principalmente a cor dos seus olhos.
Italiano tem várias versões, consequentemente não estou preparada para
nenhuma delas.
Qual será a próxima versão?
Engulo minha própria saliva na intenção de combater minha sede. Sua mão
vem até meu pulso, desamarrando e em seguida tira meu vestido com cuidado.
— Eu estou com sede. — Falo quando tira meu vestido pela cabeça.
— Você vai ficar até sairmos daqui, deita. — Troco apenas um olhar antes
de obedecer a sua ordem dada.
— Você não pode explicar?
— Depois nós dois conversamos.
Suas mãos prendem minhas mãos e meus pés amarrados para cima com a
corda, deixando minha boceta exposta pra ele na beirada da cama. A corda
desperta dores por meus pulsos.
Estudo sua reação, ele simplesmente empenha-se em fazer isso com toda
concentração possível. Depois de me olhar em pé, ele tira sua camiseta,
bermuda e cueca, deixando sua ereção disposta para minha direção. Fecho
meus olhos, o tamanho, a textura e as veias são nítidas.
Minha respiração pesa cada segundo que passa.
— A palavra de segurança é laranja. — Seguro minhas lágrimas. — Qual é
a palavra de segurança? — Pergunta.
— Laranja. — Respondo em um sussurro.
Sinto-o cobrindo meus olhos com algo, impedindo de ver qualquer coisa
que seja naquele quarto. Sua barba passa por meu corpo. Sou torturada com
penas deslizando por meu corpo e tapas na boceta.
Não vou mentir, minha intimidade está molhada desde o primeiro
momento com ele. Sem ver nada, consigo apenas sentir sua língua quente na
minha fenda, é torturante.
É horrível não poder fazer nada, solto um gemido baixo, cravando minhas
unhas nas minhas próprias mãos. Ele suga o lábio da minha boceta com
saciedade em um sexo oral. Meu líquido de lubrificação mistura-se com sua
saliva.
Calafrios por meu corpo são sentidos. Gemidos, meu corpo tentando mexer
contra a cama. Eu expresso com gemidos cada exploração da sua língua.
Levemente ergo minha cabeça, sentindo um orgasmo prestes acontecer.
— Assim, eu vou gozar. — Tento rebolar lentamente.
Ofegante, xingo mentalmente. Minhas pernas trêmulas, lentidão no meu
raciocínio com a sensação.
— Italiano... — Solto um gemido alto com a negação do orgasmo com seu
afastamento. — Por favor. — Mordo o canto da minha boca, sentindo minha
boceta pulsar.
CAPÍTULO 22

Maitê tem suas pernas e pulsos amarrados para cima. Ela está exposta pra
mim na beira da cama, proporcionando torturar por todo seu corpo. A fiz
chegar perto de um orgasmo três vezes, e três vezes, eu neguei seu orgasmo
como uma punição.
Estou quase tocando um foda-se, pronto para foder sua boceta com força.
Mas ela merece essa tortura.
Ela merece estar exposta dessa forma, sem enxergar e sem movimentar.
Deslizo minha mão grande na lateral do seu quadril e deixo um tapa com
força, escutando seu gemido de dor entre seus lábios. Sua expressão é uma
mistura de dor e prazer. Bochechas levemente vermelhas com o tecido sob
os olhos, cabelo bagunçado.
Meu pau reclama descontroladamente. Ele quer foder a boceta dela.
Minha mão percorre por sua entrada molhada, existente, pulsando com o
clitóris inchado. Deixo dois tapas fracos no seu montinho sensível, ela
contorce, respirando forte.
— Por favor! — Implora.
É assim que quero te ver, implorando. Não sabe o quão gostoso e
prazeroso é saber que ela pode chorar a qualquer momento. Quero vê-la
chorando. Depois de dois anos sem fazer um sexo sob submissão, ela me faz
sentir essa sensação nocauteante.
Tiro o tecido preto dos seus olhos. Ela cruza seu olhar com o meu,
mantenho minha atenção no seu rosto. O chicote ao seu lado, agarro-o
novamente, desferindo na lateral da sua bunda. Seu gemido é alto.
— Não geme. — Mais um. Ela geme de novo. — Estou mandando não
gemer, cachorra.
A cor vermelha ganha tom na lateral do seu quadril. Ela feche os olhos
com força, mordendo o lábio inferior, guardando seu gemido no fundo da
sua garganta, assim como ordeno. Mas acaba escapando um gemido baixo,
quase um choro de súplica.
— Caralho. — Quase sumindo sua voz sai quando dou mais uma
chicotada.
— Segura o gemido! — Falo autoritário, batendo o chicote mais uma
vez, ela morde o canto da boca. — Segura mais uma vez!
Bato mais uma vez e ela segura com força, abrindo os olhos, quando
batem no meu rosto, o observo lacrimejando, mas por enquanto nenhuma
lágrima escorre. Ela tenta movimentar-se, mas é impossível, a corda foi
amarrada com a força.
— Dói muito. — Sussurra.
— Isso é pra mostrar o quanto de ódio sinto quando você me desrespeita.
— Deixo o chicote em cima da cama novamente. Ela fecha os olhos,
procurando respirar. — Olha pra cá. — Ela não olha. — Maitê, olha aqui —
seus olhos vêm até os meus. — Alguém já tocou nos seus seios? — Ela
nega, mostrando a verdade nos seus olhos.
— Apenas você.
Desamarro apenas suas pernas, deixando os pulsos amarrados, elevando
para cima da sua cabeça. Enfio meu corpo entre suas pernas, abrindo-as com
força
— Seu braço não vai sair dessa posição. — Levo minha mão direita até
seu pescoço. — Caso sair eu te enforco, está me entendendo? E será punida
de novo, mas agora com minha mão apertando seu pescoço. — Sinto ela
engolir em seco. — Qual a palavra de segurança?
— Preto. — Sussurra. — Não existe palavra de segurança na punição. —
Engole em seco mais uma vez.
Aproximo minha boca da sua, ela espera o beijo, mas eu nego. Com
sincronização, a cabecinha do meu pau, inchada encontra a entrada da sua
boceta. Ela deixa suas pernas na minha cintura, encaixadas. Meu pau desliza
para dentro, rasgando cada centímetro. Seus lábios solta um gemido, coloco
minha mão direita na sua boca, intencionado de impedir o resto do seu
gemido.
Vou no fundo com força, sabendo que causa dor.
— Meu Deus. — Libero sua boca, volto devagar e deslizo com mais
força até o fundo mais uma vez, fazendo-a gemer.
Nossos corpos começam a transparecer uma sintonia forte com minha
força estocando dentro dela. O barulho exala dentro do quarto, nossos
cheiros se misturam.
— Caralho. — Sussurra baixo.
Começo a foder sua boceta com mais força, olhando para o espelho ao
lado. Sinto as paredes vaginais quentes, pulsando contra o meu pau duro.
Caralho, essa garota está sedenta por isso. Quando miro seus olhos
novamente, eles lacrimejam entre os sobressaltos do seu corpo.
— Italiano...
Ela tenta levantar os pulsos, mas volta quando levo a mão até seu
pescoço, sinto o suor escorrer no meu rosto, fazendo a linha do maxilar.
Aperto seu pescoço olhando no fundo dos seus olhos. Deixo dois tapas leves
no seu rosto e seguro seu pescoço novamente, apertando.
Meu pau duro chega no fundo da sua boceta, o encaixe dos nossos corpos
me faz ficar maluco. Foda-se, eu quero acabar com ela, não controlo minha
força. Ofegante, fodo-a com a mistura do barulho e suores. Suas pernas
tremem na minha cintura, ela geme gostoso enquanto lágrimas começam a
escorrer dos seus olhos.
Ela está chorando de dor e prazer.
A sensação mais forte é essa, prazer e dor misturada. Quando cai a
realidade, a sensação de um pau duro explorando dentro dela. Solto um
gemido rouco com nossos corpos colidindo, seu quadril movimenta rápido,
ela fecha os olhos quando os revira. Um gemido ardente sai dos seus lábios,
ela está no colapso de um squirting, consigo sentir o líquido quente na minha
pele. Saio de dentro dela, esfregando meu pau na sua boceta.

Descontroladamente, ela goza. Eu gozo na sua barriga não conseguindo


segurar meus espermas. Tiro a mão do seu pescoço, levando até sua buceta e
movimento em seu clitóris, sentindo seu orgasmo em minha mão, com força.
— Aí.... Caralho. — Geme alto, liberando tudo.
Tento controlar a respiração pesada em cima do seu corpo e ela chora em
meios gemidos. Nossas respirações entram em uma sintonia única, descanso
meu corpo em cima do seu por breves segundos antes de olhá-la.
— Maitê? — Chamo seu nome, ela não abre os olhos. — Está passando
mal? — Ela continua de olhos fechados. Procura ar no pulmão.
— Me tira daqui, por favor. — Abre os olhos, que ainda contém
lágrimas.
Levanto de cima do seu corpo. Ela senta, então desamarro seus pulsos,
deixando as coisas em cima da cama. Passo um braço atrás das suas costas e
outro por baixo das suas pernas, pegando seu corpo no colo. Deixo a cama
molhada pelo seu squirting para trás.
Levo-a diretamente para o banheiro.
— Sempre fez isso com todas? — Amarra o cabelo em um coque e entra
no chuveiro.
— Não com todas. — Respondo.
— Com quantas?
— Algumas. — A realidade.
Ela confirma, sentindo a água escorrer no seu corpo, quieta e séria.
— Está doendo muito. Eu gostei — abre os olhos, fitando meu rosto. —
Eu te desobedeci. — Suspiro fundo.
— Não te quero conversando com aquele cara. — Entro no chuveiro
junto com ela.
— Eu não converso com ele. — Pego o sabonete da mão dela.
— Vira. — Assim que ela vira-se, passo o sabonete por seu corpo,
ensaboando suas costas. — Ele é otário pra caralho.
— Ou o que acontece?
— Te avisei, a punição passa pra pior e dá próxima tu vai ficar sem
andar, porra. Dá próxima não é chicote! — Ela fica em silêncio.
Ajudo seu banho, depois de ensaboar seu corpo, entro na água pronto
para tomar o meu.
— Você sempre foi assim? — Continuo de olhos fechados, sentindo a
água escorrer por meu corpo. — O que é isso? — Abro os olhos, passando a
mão no meu cabelo, minha atenção vai até sua mão apontando para minha
perna. — Nunca tinha visto...
— Assim como? — Curiosa.
— Nunca fez amor?
Escuto sua voz baixa e ela parada a minha frente fora da água. Seus cílios
estão molhados e seus olhos levemente vermelhos.
— Não. — Falo sério.
— O que é isso? — Olho para minha perna, olhando a cicatriz enorme na
coxa.
— Uma cicatriz.
— Eu sei, senhor. Estou perguntando o porquê?
Ignoro sua pergunta e entro debaixo do chuveiro de novo, sem respondê-
la. Porra, esse senhor dela é sério mesmo?
Continuo de olhos fechados, até escutá-la saindo do banheiro, não
demoro no banho, tiro quaisquer vestígios do meu corpo. Depois de me
enxugar meu corpo, saio do banheiro com a toalha na minha cintura.
— Nunca vou saber sobre você, não é?
Ela solta seu cabelo, seus dedos passam entre os fios para alinhar. Fico
sério, tento ajeitar os fios molhados do meu cabelo para trás.
— O que mais você esconde? Te pergunto algo, você nunca responde. Na
verdade, você mal fala.
— Maitê. — Fito-a — Isso é do meu passado, entendeu?
— Mas essas coisas? Eu quero pelo menos entender o motivo.
— Faz dois anos que não trago alguém aqui, isso que quer saber? — A
encaro. — E nenhuma das mulheres que entrou aqui dentro, conhece esse
quarto aqui, nenhuma deitou na minha cama, entendeu? É isso que quer
ouvir? — Seu riso sem humor sai dos seus lábios.
— Vou embora.
Sua expressão muda mediante a minha frase. Não a deixo se afastar,
seguro seu pulso, beijando seus lábios demoradamente.
— Está doendo, não aperta. — Pede.
Puxo sua cintura para sentar no meu colo quando sento na cama. Ela
deixa sua toalha cair no chão e senta nua na minha coxa. Suas duas mãos
seguram meu rosto.
— Quero fazer um trato contigo.
— Qual agora — tiro suas mãos do meu rosto. — Vai sumir de novo?
— Quero te ver todos os dias.
Porra, qual é minha intenção nessa porra?
— Agora o trato mudou? — Ironiza.
— Te dou até amanhã pra me falar, Maitê. Posso? — Abaixo o olhar até
seus seios.
Quando ela confirma, levo meus lábios em direção ao seu mamilo rígido.
Começo a chupá-lo devagar.

1H00MIN AM

Seguro meu celular em mãos, olhando as ligações perdidas. Várias


ligações seguem pela madrugada, o que parece ser estranho quando
nenhuma delas é do Gil. O primeiro a ligar seria ele.
— Sobre o trato. — Ouço a voz da Maitê no banco do passageiro,
enquanto meu carro está parado na rua da casa dela. — Vou pensar e amanhã
te falo. — Bloqueio a tela do meu celular, colocando-o no painel.
Apenas confirmo sua frase. Não vou precipitá-la, muito menos forçá-la a
algo comigo.
— Antes nosso trato era não nos vermos. — Fito seus olhos com a
claridade da luz interior do carro acesa. — Agora quer me ver todos os dias?
— Suas covinhas ficam visíveis com seu sorriso. — Aconteceu algo?
— Os rapazes te deixaram em paz?
— Está falando dos agentes? — Confirmo, calado. — Eles continuam
perguntando.
— Você disse algo? — Ela suspira fundo.
No momento que ouço seu suspiro fundo, sinto minha mente abrindo a
imaginação do sangue correndo nas veias.
— Eu não falei nada, mas eles fizeram várias perguntas e eu acabei
enrolando e pegaram que fui ameaçada, na verdade eles sabiam, só queriam
escutar da minha boca. — Sustento seu olhar através da sua voz. Sua
expressão é neutra, parece triste. — Mas não revelei nada sobre o que sei,
não falei nada e não vou falar do que aconteceu no dia, do que falaram e o
que fizeram. Eu tenho medo.
Ela mal sabe para quem está revelando essas coisas. Meu sangue
continua fervendo nas minhas veias.
— Vou descer.
Sua mão vai em direção a porta do carro, mas a impeço. Fecho de novo
quando aproximo meu corpo, próximo seu corpo quente, sinto seu cheiro nas
minhas narinas. Maitê vira-se, olhando dentro dos meus olhos. Seu corpo
parece frágil.
Sem avisar, eu simplesmente seguro seu rosto, beijando seus lábios. Sinto
o toque do cabelo macio em minhas mãos e sua boca gelada contra a minha
em um beijo. Ela corresponde ao meu toque e retribui o beijo na mesma
intensidade.
Quando solto seus lábios, ela se aproxima sem minha permissão,
colocando a cabeça no meu peito em um ato de conforto. Encostado no meu
banco, não a tiro de perto, eu permito.
— Pode ir. — Falo.
— Eu vou. — Ergue o olhar.
Antes dela sair pela porta, ela deixa um beijo no meu maxilar,
desconfiado permaneço olhando-a. Seu corpo desce do carro, segurando o
vestido. Aguardo-a entrar na casa toda apagada de iluminação, é quando eu
pego meu celular novamente.
Minutos depois estou de frente para o HG e Cleiton, quase 2h00min da
manhã. Os dois não param de falar dentro da minha sala.
— Gil foi perseguido, o cara quase rodou para os policiais. — HG fala
mais uma vez a mesma frase.
Passo minha língua no canto da boca.
— Agora o problema é meu? — Encaro-o.
— Irmão, você não tem nada a ver com isso, entende? Mas podem ser
ameaças para nossa quadrilha. Ninguém aqui é bobo, o cara foi perseguido.
De braços cruzados, encaro HG. Estou apenas esperando-o abrir a boca
pra falar merda, eu já sei de cor qual será sua frase.
— Desde o primeiro dia você está parecendo ser cego, desde o começo
todo mundo da quadrilha vê algo, só você que não. — Quando abro a boca
pra falar algo, Gil entra na sala. — Aquela garota, eu tenho certeza, aquela
vagabunda abriu aquela boca. — Descruzo os braços, apertando minha mão,
dou três passos, olhando sua expressão. — Não estou querendo ser maior
que você, não. Mas aqui é o seguinte, éramos uma quadrilha antes disso aqui
tudo e o crime é certo pelo certo. Aquela puta…
Interrompo qualquer palavra saindo da sua boca quando minha mão
direita fechada desfere um murro forte no lado lateral do seu rosto. O
impacto gera um barulho alto, seu corpo dá dois passos para trás. Tento ir
para cima dele, mas Gil impede, me segurando com força.
— Cala a boca, caralho! Desde o começo você só fala merda. — Falo
alto, Gil nega sério olhando nos meus olhos na minha frente enquanto me
segura. — Você não tem voz aqui!
— O que, chefe? — Um dos meus funcionários pergunta do outro lado
da porta fechada.
Cleiton olha a cena sem falar nada, sem reação alguma.
— Merda. — HG reclama de dor com a mão sob o canto da boca.
— Está defendendo-a? — Cleiton interroga.
— Ele não está defendendo, Italiano tá certo. — Fica ao meu lado. — A
garota é inocente.
— Inocente? — HG questiona, sorrindo. — Agora vocês viraram o quê?
Defensores de puta?
Controlo meu último estresse. A força de vontade em deixá-lo deformado
neste exato momento, uma tremenda raiva dentro do meu peito.
— Está colocando a vida de todos nós em risco, defendendo uma
mulher? — Passo a mão no rosto com a voz do HG.
— O único assunto entre você e eu, HG, agora será de outra forma. —
Sustento seu olhar. — Não estou ameaçando, eu prefiro fazer. Mas a
orientação quem dá aqui sou eu. A garota não falou nada e não vai falar, eu
conversei com ela, eu fiquei de frente pra ela. — Aponto na minha direção.
— E se ela souber...
— Ela não sabe de nada, ela não lembra de nada e ninguém, porra! —
Bufo impaciente, estressado. — A garota está com medo, ela foi ameaçada,
tem que ser muito foda pra abrir a boca, jogando cinco bandidos na cadeia!
Ela é a única pessoa inocente.
— Na moral, HG só quer arrumar discórdia entre nós, está maluco? —
Gil respira fundo. — Os policiais me viram, acharam suspeito e
perseguiram.
— Vocês ainda vão ver como não estou errado. — HG alerta.
— Então até lá você vai ficar calado, não vai dirigir uma palavra sobre
essa garota, me entendeu? — Ele confirma, engolindo em seco. — Sai daqui
sem olhar pra trás.
HG não disse mais nada, simplesmente saiu da sala, sendo analisado por
meus seguranças. Balanço a cabeça em confirmação para um dos superiores
da segurança, em forma de dizer que está tudo normal.
Depois de alguns minutos, eu me sento na cadeira. Gil está no meio da
sala, em estado de choque, ainda com as mãos na cintura, olhando meu rosto
como se eu fosse um ET.
— Italiano — passa as mãos no rosto. — Você está transando com ela?
— Pergunta em um tom de voz baixo. Olho em seu rosto de relance e volto
para mesa.
Tiro a moeda do meu bolso, girando-a no meu dedo. Calado, eu foco
minha atenção somente na moeda passando entre meus dedos.
— Porra, você está transando com ela — começa a andar de um lado
para o outro na frente da mesa. — Caralho, porra, onde sua cabeça estava?
Eu sei onde a cabeça de baixo estava, mas a de cima, a de cima que tem
cérebro, estava onde?
Suspiro fundo mais uma vez, sentindo minha respiração falha, procuro ar
no fundo do pulmão.
— HG está errado na forma de agir, mas também não está errado nos
pensamentos dele. Agora você está transando com a garota, ela é única que
pode colocar a gente na cadeia.
— Cala a boca. — Murmuro, bolado.
— Imagina quando ela descobrir a verdade sobre tudo isso, quando ela
souber? A raiva que ela vai ficar, pode jogar todos nós na cadeia,
principalmente você.
— Sai daqui. — Paro de movimentar a moeda, subindo meu olhar até
seus olhos. — Me deixa sozinho, saia.
CAPÍTULO 23

— Você parece feliz — ajeito meu corpo no portão de casa, encostada.


Lorena me olha quando fala. — O que está acontecendo?
— Nada — dou de ombros, com indiferença. — Estou normal.
— Amiga, você tá me escondendo as coisas, eu sei. — Faz uma expressão.
— Eu estou normal. Você está vendo coisas onde não tem.
Lorena arruma seu vestido curto no corpo, em um tom branco. Com uma
respiração funda, ajeita o cabelo cacheado de lado.
— Hoje estou subindo para o Complexo do Alemão. — Franzo as
sobrancelhas com sua voz.
— Pra quê?
— Preciso resolver alguns problemas.
— Mas da última vez mandaram nós saímos.
— Aquilo foi por sua culpa em esbarrar com o Italiano no dia do baile. Eu
convivo dentro do Alemão. — Solta um riso sem humor. — E na outra vez,
você saiu com o próprio Italiano.
— Hum?
— Essas marcas no seu corpo. — Ela fica em silêncio. — Esquece, você
não irá falar mesmo.
— Lorena, não tem o que falar! — Nego. — Te expliquei sobre as marcas.
Lorena suspira fundo. Ela parece indignada por não ouvir nada da minha
boca, e assim permaneço calada. Não quero e não vou falar nada a ela em
relação à minha vida sexual, principalmente por tratar de alguém como o
Italiano.
— Tudo bem. Eu entendi, você não quer mais minha presença. — Faço
uma expressão duvidosa em meu rosto com sua frase. — Não precisa fazer
essa cara.
O sol quente favorece o suor do meu corpo, agora com essa manha da
Lorena, suo ainda mais.
— Sabe qual o problema? Tudo você arruma uma forma de me criticar, é
roupas, são meus seios. — Falo séria. — Isso é chato. Como vou contar algo?
— Nunca critiquei, aquele dia do churrasco era a realidade, cara. —
Aumenta o tom de voz. — Você que havia vestido uma roupa nada a ver.
— Nada a ver?
— Cansei, Maitê! Está assim desde que começou a se envolver com o
Italiano. Você não conhece nem um pouco da vida daquele cara.
— Está vendo? Você não sabe nem com quem estou saindo, Lorena, e já
está criticando.
— Eu tenho certeza que é ele, falo pelo seu bem, mas não quer escutar? Na
hora que estiver fodida, não vem procurar um ombro amigo.
— Ombro amigo?
— Aquele cara é assassino, é bandido, é traficante. — Aproxima o rosto
me encarando. — Ele é tudo de ruim, acha que ele é um príncipe? — Aponta o
dedo no meu rosto.
— Abaixa o dedo.
— Estou falando como sua amiga, nunca vou aceitar isso, Maitê, nunca! —
Nos encaramos por longos segundos. — Você abaixa a cabeça pra qualquer
um, imagina pra bandido? Eu conheço mais coisas do que você.
— Como você disse, quando eu estiver fodida. — Dou ênfase no eu.
— Está falando sério? — Confirmo.
— Nunca falei tão sério em toda a minha vida. Você mal sabe da minha
vida hoje em dia.
Imagina se ela souber a verdade?
— Não quero nem saber.
— Então para de querer ficar sabendo de todo jeito, todo dia o mesmo
assunto. Eu respeito o seu espaço, quero que respeite o meu também. Você
está sendo hipócrita, não queria o Fred pra ficar comigo?
— Entendi seu lado, Maitê. Estou indo embora.
Lorena joga o cabelo para o lado quando volta sua atenção para a rua, e
simplesmente sai andando sem olhar para trás. Quanta discórdia só pelo fato
de não querer falar com quem transei.
Mais tarde, ainda no mesmo dia. Eu permaneço quieta dentro de casa, a
cólica resolveu aparecer de novo. Então eu fiquei um tempo deitada.
Meu pai estava sentado no sofá ao lado da minha mãe, sua mão esquerda
na coxa dela e o braço da minha mãe em volta do ombro dele. Na força da
vontade de comer algo, após sair do quarto, eu paro no corredor, ouvindo a
conversa dos dois no sofá. Encosto na parede, tentando entender o discurso
entre eles.
— Emanuel, deixe ela se divertir. — Minha mãe fala manhosa.
— Sei que ela passou a dormir alguns dias fora de casa. — Franzo minhas
sobrancelhas quando ouço meu pai. Ajeito meus óculos de grau no rosto.
— Mas...
— Laís, Maitê acabou de sair de um assalto onde foi ameaçada, você fica
mandando sua filha pra rua assim? — Escuto seu tom de voz alto. — Sabe
pelo menos quem é? É algum traficante, marginal?
Laís Silveira nunca foi uma mãe de me proibir de algo, pelo contrário.
— Emanuel...
— Está vendo, você não sabe nem com quem sua filha está saindo. —
Escuto a voz dele afastando, o que diz que ele está furioso e está caminhando
em direção da porta. — E eu vou conversar com ela, vou tentar me resolver
com ela. — Quando ouço o barulho da porta, saio do corredor em direção a
sala. A atenção da minha mãe vem até meu rosto, seu corpo envolta de uma
roupa confortável.
— Você disse pra ele os dias em que dormi fora? — Ela nega com
sinceridade.
Isso soa estranho rapidamente, como não? Então quem disse para meu pai?
— Evita ficar saindo a partir de hoje, está saindo todos os dias, Maitê.
Em passos calmos, ela passa por mim em direção ao corredor. Sinto minha
cabeça enraizar vários pensamentos, fico parada no meio da sala, olhando para
um ponto fixo.
Há um momento atrás meu grande problema é estar envolvida com um
traficante, e ao mesmo momento gostar do quão gostoso é estar à mercê
daquele homem. Não conheço todas as versões do Italiano, eu tenho medo de
qual seja sua verdadeira face, mas enquanto está assim, está bom, está tudo
gostosinho.
Admito que no fundo tenho um pouco de medo em continuar me
encontrando com ele. Imagino como minha mãe reagiria diante dessa situação,
ao saber que a filha está com um traficante. Esse homem está acabando com
minha vida, ele está entrando de uma forma intensa dentro da minha mente.
E claro, eu não vou negar o trato de vê-lo quase todos os dias. Eu quero, eu
vou fazer.
Mas ao mesmo tempo, fico intrigada como meu pai soube tão rápido assim
das minhas saídas…

Depois de passar uma má noite de sono, após a minha discussão com o


HG, estou cansado, minha cabeça envolve a dor como uma faixa às 19h00min.
Ultimamente não posso ficar estressado, os problemas me atacam com tudo,
principalmente minha consciência.
Na ladeira, em uma das ruas, Lara desce. Meu olhar estuda os meninos
desviando sua atenção para longe dela, mostrando respeito pelo menos na
minha presença. Eu não ligo mais, não depois daquela frase, não sou pai dela,
não posso controlar todos os passos da sua vida. Ela está certa.
Lara veste uma calça jeans, blusa normal de alça, seu cabelo está solto.
Afasto qualquer pensamento quando ela está na minha frente.
— Italiano, podemos conversar? — Encaro-a.
— O que foi?
— Vai me escutar? — Permaneço em silêncio. — Por favor.
— Fala logo. — Exclamo, olhando a iluminação na rua.
— Pode me olhar? — Sem esforço algum, eu olho seu rosto. — Eu...
— Lara, não quero escutar história triste. Estou com pressa, fala logo.
— Eu quero te falar, te considero muito e vim pedir desculpa por aquele
dia. Por favor, eu errei em agir daquela forma, em ter feito aquela cena de
dizer sobre você não ser um...
— Eu não sou, Lara. — Murmuro sério. — Você não está errada.
— Edgar.
— Sua mãe é a Maressa, ela que tem palavra sobre você, entende?
— Me desculpa — suspiro fundo, molho meus lábios na intenção de ficar
em silêncio. — Eu estava errada, agi de cabeça quente, eu me arrependo de
tudo que fiz, de ter bebido e usado aquele baseado. — Seus olhos lacrimejam,
duas lágrimas escorrem por seu rosto, ela leva a palma da mão limpando-as.
— Eu estava estressada, mas aprendi que nada resolve daquela forma.
— Eu não fui atrás de você aquele dia pra tentar mostrar que eu estava
certo. Você tinha ciência que estava sozinha, aquelas meninas não são suas
amigas.
— Eu sei, eu errei.
— Você não me deve respeito, mas pra Maressa sim, ela é sua mãe.
Aprende a conversar com ela, respeitá-la — fito-a. — Ela ficou a madrugada
toda preocupada com você.
— Obrigada. — Confirmo.
Lara aproxima-se, sem pedir e falar, seus braços envolvem a minha cintura.
Eu não sou bom em expressar sentimentos, não recordo a última vez que
abracei alguém na minha vida. Então permaneço neutro, não afasto seu corpo.
— Eu te amo como um irmão, Edgar.
Sinto o calor do seu pequeno corpo envolvido no meu. Sou todo fechado
para sentimentos, não nego isso, mas admito que a considero para caralho
desde quando nasceu, desde quando a peguei nos braços.
— Deu, pode soltar. — Ela me solta, limpando as lágrimas, que não
paravam de escorrer. — Tá chorando por quê? Não morri.
— Todo ogro — solta uma risada. — Um beijo? — Viro o rosto
permitindo um beijo rápido na minha bochecha. — Pede desculpa pra moça.
— Que moça? — Franzo as sobrancelhas.
— Acho que fui sem educação com a mocinha na sua casa, eu não sei o
que ela é sua, mas ela é muito fofinha pra ser prostituta. — Me olha de lado,
mas não revido. Levo a mão até meu bolso, pegando a chave do carro.
— Ela não é prostituta, Lara. — Falo sério.
— Então tem sentimentos?
Ando em direção ao meu carro, permaneço quieto. Sentimentos?
— Vou te deixar na tua casa, vamos. — Corto o assunto.
Antes de entrar no carro, eu pego o meu celular no bolso quando vibra em
uma simples mensagem. Gil.
Vou pegar minha blusa hoje.
À noite estou no mesmo lugar pra você me encontrar, 22h00min.

Gil: Irmão, quero que você tenha noção do que está fazendo. Sou seu
parceiro, mas essa parada está toda errada. Estou oferecendo meu conselho, a
garota é a única inocente.

Alinho minhas sobrancelhas com meu dedo. Ergo meu olhar, e em uma
distância do outro lado da rua, com pouca iluminação, Gil chegou agora há
pouco ao lado de outros rapazes. Nossos olhares se cruzam enquanto ele
arruma seu boné na cabeça.
Diante da sua mensagem, Maitê havia mandado outra.

Maitê: Eu aceito seu trato, Italiano.

Minha respiração fica presa ao ler a simples mensagem da Maitê. Eu sinto


meu sangue ferver.
— O que aconteceu? — Lara reclama dentro do carro.
Sem responder nada, sento no banco do motorista, fechando a porta.
Horas depois estou junto a ela, que termina de comer seu lanche sentada
em uma das cadeiras, com seus dois braços em cima da mesa. Ela e o seu
lanche saudável. Saudável mesmo, não tem nada além de um pão, alface e
tomate. Está comendo pão com vento.
— Eu estava com fome.
— Quinta vez falando isso, entendi. — Falo enquanto ela termina de
comer.
— Estava bom.
— Na sua casa não tem janta?
— Tem. — Assim que termina de mastigar, pega o copo de suco, bebendo.
Para variar natural de laranja.
— Mas qual o problema de pagar um lanche para Maitezinha comer? —
Me fita dessa vez.
— Maitezinha? — Franzo as sobrancelhas.
— Está surdo? Precisa ir ao médico, cara. Maitezinha vem de Maitê. Você
é surdo, mudo, é cego também?
— Qual foi? — Pergunto, cruzando os braços.
— Bem que pela cara emburrada deve ter cinquenta, mais os trinta e
quatro, oitenta e quatro. — Sua voz sai baixa como um pensamento. — Deve
ter nome de velho também.
Porra…
— Você não sabe meu nome.
— Por isso mesmo, você esconde seu nome. Deve ser de velho. — Com
uma expressão sarcástica, molho meus lábios com a língua.
Filha da puta.
Oitenta e quatro é foda, irmão. Fico estressado com essas piadas sem
graça, oitenta e quatro?
— Qual é o seu nome? Posso saber algo sobre sua vida pessoal? — Pede
com os olhos pretos na minha direção.
Talvez eu jamais devesse deixar a emoção dizer mais alto na minha vida,
mas é quase inevitável. Eu falo, simplesmente falo meu nome.
— Edgar.
— Meu Deus. Que nome de velho.
Respiro fundo com sua risada gostosa.
Continuou olhando para ela, observo os óculos de grau no seu rosto, cabelo
preto alinhado para trás, rosto limpo e nariz empinado. A imagem de quando a
avistei no banco, passa por um flash na minha cabeça, os outros óculos eram
menores e estava todo desajeitado no seu rosto. Ela tem uma correntinha de
prata escrito Maitê no seu pescoço. Regata de tecido leve e um short preto, de
tecido fino, curto. Aliás, curto para caralho. Seus pés são pequenos e bonitos,
deve ser número 35.
— Levanta. — Ergo minha atenção para seu rosto novamente.
— Pra quê?
— Levanta e vem aqui, Maitê. — Sem interrogação, me obedece.
Assim que ela se aproxima, seguro sua cintura, trazendo-a mais perto.
Deslizo a minha mão por sua bunda, subindo por debaixo do short, sua pele é
macia, assim que sinto a calcinha, suspiro fundo.
— Você sai com esse short na rua? Está parecendo pijama. — Solto-a,
olhando a bunda no short.
— Qual o problema? Você vai implicar com tudo?
Ela apoia a mão direita no meu ombro, sentando de pernas abertas e passa
as duas pernas na minha cintura.
— Sobre nós dois — falo e encaro seu rosto. — Quero que você mantenha
isso só para você, não fale pra ninguém.
Maitê mal me ouve, ela segura meus dois braços, colocando-os em volta da
sua cintura.
— Você pediu todos os dias pra nos vermos. — Segura meu pescoço.
Tento tirar minhas mãos, mas ela força a ficar. — É pra ficar assim, Edgar.
Sinto sua cintura fina e meu corpo arrepiando com suas unhas cravadas no
meu pescoço. Porra, o que essa garota tem que me deixa assim desde o
primeiro dia que a vi?
— Tinha uma vizinha quando eu era moleque, ela me odiava, tinha cara de
maluca e vivia dizendo que ia me jogar feitiço. Acho que você é um — ela faz
uma expressão estranha. — Esquece, pensei alto.
— Você quer me ver todos os dias e me comer a cada dois dias. — Aperto
sua cintura nas minhas mãos — Então o que vamos fazer no outro?
— Maitê...
— Já sei. — Solta uma risada baixa.
— Eu estou obcecado. Eu estou obcecado por você e por seu leite.
— Obcecado? — Escuto seu tom baixo, fecho os olhos devagar.
— Maitê, eu nunca fiquei com uma mulher dessa forma — abro os olhos.
— E essa porra está acabando com minha cabeça, desde o primeiro dia que te
vi. Ninguém vai conseguir me afastar de você. Meu pior sentimento é esse,
estar obcecado por uma mulher, como nunca estive antes.
— Não tem sentimentos?
— Eu não sei o que é sentimentos, Maitê.
Não sei o que é sentimentos, mas sei o que é a porra de uma atração
fodida. Enquanto estou aqui com ela, minha cabeça não sai da mensagem do
Gil e da conversa da madrugada.
Com respirações tensas, levo minha mãe até sua nuca, beijando seus lábios
gelados. Ela não resiste a cravar mais as unhas no meu pescoço. Em uma
sintonia, minha língua encaixa com a sua, e eu simplesmente penso o quanto
isso está levando ao lugar mais difícil de controlar.
Maitê rebola desesperadamente por cima do meu pau duro. Ela sente a
mesma sede que eu, a mesma devoção de prazer entre quatro paredes. Desço
meus beijos pela primeira vez por seu pescoço, exploro seu gosto, sua pele
quente e seu cheiro bom… mordisco devagar, eu quero senti-la por completo.
Levanto-a com facilidade, suas pernas asseguram com força na minha
cintura. Com seus lábios grudados nos meus, eu vou para o quarto. Abro a
porta com o pé, empurrando, devagar a coloco na cama, devagar, com
delicadeza.
Caralho...
Mas minha onda é cortada com o meu telefone vibrando no bolso, ela me
olha, sentada na cama. Tiro o telefone do bolso, é o William. Não tem um dia
que tenho paz.

Gil: Você está por aqui? Te procurei e não achei, bandido mau.
Italiano? Mão me diz que está com ela.

Coloco o celular no modo off-line, tirando minhas coisas do bolso e coloco


na cômoda ao lado, em seguida tiro minha bermuda.
Subo em cima do seu corpo, passando meus lábios devagar no seu, sinto
sua respiração pesada, ela abre os olhos me fitando. Beijo seus lábios, exploro
cada parte do seu rosto e pescoço com beijos. Maitê se contorce por baixo do
meu corpo, delirando a cada toque da minha boca quente.
Abaixo as alças da sua regata, depois de ajudá-la a tirar o sutiã. Consigo
ver os mamilos rígidos expostos para mim. Me concentro em suavizar minha
língua por cima, chupando em seguida. O gosto do leite se espalha na minha
boca, eu ergo meu olhar: ela gosta, sua expressão é nítida ao prazer.
Pareço estar nervoso.
Minha boca desce devagar por sua barriga exposta em um encaixe da
minha boca na sua pele.
Estou quebrando meu trato com os caras e estou quebrando meu trato
comigo mesmo, quando prometi não tocar nela de forma diferente.
CAPÍTULO 24

Quando penso que estou conseguindo conhecer o Italiano, ele mostra o


contrário, admito não estar preparada para conhecer a verdadeira versão dele.
Bom, pelo menos sei que seu nome é Edgar. Isso é um passo, eu acho.
Italiano explora meu corpo com sua barba, afligindo minha pele quente. Eu
estou completamente nua e ele também, o que faz o calor dos corpos
transmitirem um para o outro. Ele aperta minha pele com sua mão.
Ele admitiu uma vez no banheiro enquanto tomávamos banho. Hoje
enxergo como verdade. Ele nunca fez um sexo calmo e prazeroso, seu
nervosismo entrega a primeira sensação.
Inclino meu quadril, gemendo baixo quando sinto sua língua na minha
boceta. Ele suga os lábios vaginais com vontade e provoca meu clitóris,
oferecendo-me prazer. Sinto suas mãos nas laterais da minha cintura e seu
rosto entre minhas pernas, que apertam seu rosto.
— Que delícia... — Minha respiração fica pesada. Meu coração está
acelerado.
Seguro seu cabelo enquanto solto gemidos prazerosos. Oh, céus…como é
bom quando ele me come. Ele me fode de uma forma que acho que nenhum
outro homem me foderia.
— Oh, isso, Italiano… continua… — Eu xingo, eu solto gemidos. Estou
prestes a gozar, vou gozar pra ele. — Eu vou gozar na sua boca.
— Goza, Maitê. — Sua voz rouca ordena.
Meu clitóris pulsa, quando ele o abandona para falar. A sensibilidade se
torna algo insustentável, pois basta ele voltar a chupá-lo, eu não resisto. Meu
coração parece escola de samba, minhas pernas tremem descontroladamente.
Eu gozo, gozo rebolando contra sua boca. Italiano esfrega sua boca contra
minha boceta lubrificada.
Uau...
Esse homem me desmonta inteiramente.
Mordo meu lábio inferior observando-o levantar. A visão que tenho é
prazerosa, seu pau duro, o tamanho, a espessura grossa, suas veias. O volume
é bruto, é grande e apto para o tamanho de homem na minha frente.
Me levanto da cama, não resisto a vontade de afrontá-lo, então coloco
minhas duas mãos no seu peitoral. Fazendo-o sentar na cama.
— Maitê... — Sua voz é grossa.
— Hum? — Ele aperta os lábios pela forma sacana que ergo meu olhar,
ajoelhando na sua frente.
Apoiada nas suas coxas grossas, começo a chupar sua ereção rígida. Minha
língua molha sua cabecinha, gostoso… como é gostoso. Masturbo, chupo e
dou lambidinhas, exploro a sensação de chupar suas bolas inchadas de
esperma.
Um gemido rouco sai entre seus lábios, agora ele segura meu cabelo entre
seus dedos. Vulnerável com a sensação, não consegue me forçar no boquete.
Ergo meu olhar safado, chupando seu pau. Os olhos esverdeados fecham
quando se encontram com os meus. O prazer, o tesão, sua boca entreaberta
respira e emite som dos gemidos roucos.
Ele está prestes a gozar na minha boca.
Poderia segurar mais um pouco.
Suas mãos abandonam meu cabelo, me envolvendo para sentar nele. As
mãos firmes apertam cada lateral do meu braço, apoio no seu ombro. No calor
do momento ligamos apenas para o prazer.
— Senta nesse caralho. — O braço forte me firma por cima do seu pau
duro.
Cada um dos meus joelhos fincam na cama. Segurando seu ombro, deslizo
no pau encaixado na minha boceta. Olho dentro dos seus olhos, consigo
enxergar uma mistura de sensações. Uma energia jamais explicada, uma
obsessão que a qualquer momento pode se tornar algo mais enraizado por ele.
Entre tapas e beijos, eu sento no seu pau melado do meu gozo. Deslizo
como uma puta pra ele, rebolo e beijo-o. Meus seios saltam a cada quicada,
seus gemidos intensificam-se. Italiano gruda sua testa na minha, enquanto
envolve seu braço firme na minha cintura e deixa tapas com a outra mão na
minha bunda.
Deslizo minha boca por seus lábios entreabertos, nossas respirações
quentes lançam uma na outra.
— É muito gostoso. — Sustento seu olhar.
Beijo seus lábios mais uma vez, nocauteado de rapidez e vontade. Deixo
uma mordida em seu lábio inferior e rebolo lentamente, quicando.
— Eu vou gozar. — Diz, ofegante.
Olho diretamente nos seus olhos, ele me encara sem cortar contato visual,
como nunca havia feito antes. Edgar poderia ter olhado direto nos olhos, em
algum momento, mas depois de segundos olhando, ele sempre cortava o
contato. Dessa vez ele continua olhando dentro dos meus olhos: observo sua
barba feita, boca entreaberta com sua expressão de prazer.
Edgar me puxa para perto, sugando meu mamilo com vontade, sinto sua
boca, puxando o leite e fazendo questão de deixar vazar.
Deslizo até sua cabecinha, apertando-a e sento com força. Ele geme rouco
e alto.
— Por que tem que me fazer sentir tanto prazer assim? — Pergunto.
Cravo minhas unhas por seu peitoral, arranhando com força, ele fecha os
olhos, diminuindo a estocada, visivelmente controlando para não gozar.
— Você é gostosa pra caralho. — Apalpa minha bunda com as duas mãos.
— Eu acho isso errado. — Falo.
Italiano me olha, focado nos meus olhos, ergue comigo nos seus braços,
com uma facilidade que meu corpo parece frágil perto dele. Sem sair de dentro
de mim, caímos em cima da cama. Ele enfia no fundo, sem movimentar,
trazendo a dor de chegar ao limite dentro de mim, entre minhas pernas.
Ouço sua respiração pesada quando sua boca se aproxima do meu rosto.
— Eu te prometo o mundo quando, principalmente agora, depois que você
aceitou estar comigo. — Aperto minhas pernas na sua cintura. — Mas em
troca você vai fazer tudo o que eu mandar. — Deixo minha boca entreaberta.
Sinto um misto de sensações como nunca senti em toda a minha vida. Meu
corpo arrepia por baixo do seu, mesmo com o calor irradiando.
— O que tenho que fazer? — Minha voz sai em um sussurro.
Ele afasta um pouco o seu rosto. Seu pau duro pulsa de duro dentro da
minha boceta.
— Você não está achando isso errado? — Encaro-o.
— Sim...
— Eu também acho, mas estou aqui te dando prazer, porra.
Começa a movimentar devagar dentro de mim, com facilidade pela
lubrificação, ele entra e sai. Ele apoia somente o cotovelo do lado direito do
meu rosto, e sua outra mão desce por minha cintura, apalpando minha pele.
Em uma sintonia de encaixe dos nossos corpos, volta a me comer de novo
em cima da cama. Com força, nossos pulmões procuram por ar. Sem controlar
como estou sedenta por ele, eu rebolo freneticamente prestes a gozar de novo
no seu pau duro dentro de mim.
— Maitê, não faz assim. Eu vou… ah, foda-se, caralho. — Sua voz rouca
transmite uma sensação gostosa.
Italiano coloca minhas duas pernas no seu ombro enquanto começa a foder
com mais força. Eu gozo rápido, tremendo. Ele geme baixo com a sensação do
meu gozo, diminuindo o movimento e nitidamente gozando dentro de mim.
Seu pau pulsa dentro da minha boceta, lançando todo sêmen.
Ele geme baixo, sentindo prazer ao gozar.
Alguns minutos para recompor a situação, Italiano entra no banheiro em
silêncio, e eu aguardo na cama.

HORAS DEPOIS…

Abro os olhos rapidamente, minha respiração está pesada enquanto meu


peito sobe e desce em uma respiração forte. Tudo bem na minha cabeça,
poucas horas atrás, o quarto que não é meu. A cama ao meu lado está vazia,
então na sacada aberta surge Italiano. Seus olhos atentos na minha direção.
— O que foi? — Me encara após colocar seu celular na cômoda.
— Eu tive um pesadelo horrível — deixo minhas costas na cabeceira. —
Do dia do assalto.
Olhando para um ponto fixo a minha frente, sinto seu olhar na minha
direção.
— Qual foi seu pesadelo?
— Eu… — Com medo, volto minha atenção para ele.
Meus olhos percorrem por seus pés descalços, imagino a bota preta. Mais
um pouco para cima, nas suas pernas, a calça preta, e no seu peitoral, a blusa
de frio preta. Minha expressão não é das melhores quando imagino a balaclava
preta no seu rosto. Assustada, fecho os olhos e volto a abri-los, dessa vez com
o rosto do Edgar na minha frente.
Esse foi meu pesadelo.
Com pouca iluminação, Italiano me observa, ele me encara sério. Seus
olhos semicerrados na minha direção.
O que passa pela sua cabeça?
Talvez eu esteja fazendo uma expressão assustada e medrosa, a mesma
expressão de que fiz no dia do assalto.
Cubro meus seios com o lençol, sinto-os doloridos por causa de Edgar.
— Por que está me olhando assim? — Franze as sobrancelhas, confuso. —
Fiz algo que deixou você com medo?
Levanto da cama, e nua, caminho até ele. Abraço seu corpo em volta da
sua cintura. Primeiramente ele não retribui, mas acaba colocando suas mãos
fortes nos meus ombros em forma de conforto. O calor do seu corpo apenas
com a cueca aquece o meu. Coloco meu rosto abaixo do seu peitoral, seu
coração bate normalmente.
— Às vezes penso que estou ficando maluca.
— Qual foi seu pesadelo?
— Eu te vi no assaltante... no cara que me colocou como refém. — Seu
coração continua a bater normalmente, nenhum nervosismo.
Sinto sua mão deslizar no meu cabelo, alisando devagar com receio, ele
passa várias vezes ali, então escuto seu suspiro fundo.
— Vamos dormir. — Me solta.
Depois dele fechar a porta da sacada, aguardo-o na cama. Aninho ao seu
corpo quente, colocando minha cabeça no seu peitoral pela primeira vez desde
quando nós nos conhecemos.
— Desculpa por ter esse pesadelo, mas talvez minha cabeça esteja
colocando uma pessoa que estou começando a conviver em uma pessoa que eu
sentiria ódio em ver na minha frente.
Dessa vez ergo meu olhar, ele molha teus lábios. Seu olhar revela frieza,
neutro e sem ação.
— Esquece essa parada, pode dormir — fala. — Vou estar aqui, relaxa —
confirmo.
Pelo menos vou me sentir tranquila dessa vez para voltar a dormir.

Olho mais uma vez a tela do meu celular, sentado na ponta da cama, giro-o
entre meus dois dedos, pensando em várias coisas. Tenho vários problemas
para serem resolvidos, entretanto, nenhum deles chegava nem perto a como
qual forma Maitê reagiria caso realmente soubesse a verdade.
Como ela se comportaria diante dessa informação. O sonho dela foi
sensitivo.
Viro meu rosto, olhando-a por cima do meu ombro: ela dorme com a
coberta até sua cintura, seios expostos no sutiã, cabelo preto espalhado pelo
travesseiro branco. Seu cheiro é bom, impossível não sentir. Quando ela se
remexe, abrindo os olhos pretos, eu viro minha atenção para frente.

São 7h00min da manhã, posso afirmar que dormi mais ou menos quatro
horas tranquilas de sono, o restante passei pensando.
— São quantas horas?
— 7h00min. — Respondo sério, com minha atenção no meu celular
desligado.
— Está aí desde que horas? — Passo a mão esquerda na sobrancelha,
ajeitando os fios. — Hein?
— Fazem uns dez minutos.
— Acordou mal humorado? — Sinto o colchão atrás afundando, na
medida que ela se aproxima, seus dois braços passam em volta do meu
pescoço. — Hum... esqueci, quando não está mal humorado?
Seu corpo fica ajoelhado atrás do meu, seus seios encostam nas minhas
costas nuas.
— Maitê...
— Maitê o quê?
Suspiro fundo.
Deixo meu celular sob minha coxa, tentando tirá-la do meu pescoço, mas
seus braços firmam.
— Maitê. — Repreendo.
— Eu acordo de bom humor, estou na flor da idade ainda, você está muito
velho, oitenta e quatro anos — forço o pulso dela, apertando. — Está
machucando.
— É pra doer mesmo.
— Está tentando me machucar sem ser na cama? Pode tirar a mão do meu
braço.
— Você é abusada. — Alívio seu pulso, e um beijo é instalado no meu
maxilar.
— Sua respiração ficou pesada. — Ironiza.
Ela se levanta e vem para a frente do meu corpo. Quando tira o celular da
minha coxa, senta de pernas abertas para mim, suas pernas passam em volta da
minha cintura. Seguro seu corpo na sua cintura com minhas duas mãos.
— Nosso trato. — Olho nos seus olhos pretos.
— Qual é? — Questiono.
— O que você quis dizer em ter que fazer tudo que você mandar? Eu quero
entender.
— Com o tempo você vai descobrir. — Fito sua corrente de prata no
pescoço.
— Eu não vou poder dormir com você toda vez, minha mãe…
— É só falar, eu te levo embora. — Corto sua fala.
— Posso saber qual sua intenção comigo?
— Te comer? — Encaro-a. — Ser minha puta? — Maitê engole a própria
saliva.
Ela não responde nada, apenas balança a cabeça confirmando, como se
tivesse entendido minha fala.
— Dá tempo de sair fora.
— Não. — Nega. — Eu concordo. Eu quero que você me foda. — Sinto
suas pernas apertarem minha cintura.
— Por que suas pernas estão tremendo?
— Nunca fiz antes, principalmente com um traficante.
— Você não me conhece pra dizer que sou apenas um traficante.
— Eu sei.
— Não sabe, Maitê — sinto suas unhas cravando no meu pescoço sem
machucar. — Eu te conheço pra caralho, mas você não conhece nada da minha
vida.
— É, eu não te conheço — molho meus lábios com a língua. — Eu não te
conheço — repete para si mesma. — Você conhece meu lanche favorito e o
meu suco, eu nem sei qual sua cor favorita.
— Preto — respondo, sério. — O que foi? Minha cor favorita é essa.
— Minha cor favorita é lilás. — Sussurra baixo. Deslizo minha mão por
suas costas até sentir o cabelo macio em minha mão direita.
— Posso te dar um beijo no pescoço?
Maitê confirma, não penso muito. Simplesmente puxo seu cabelo
levemente para trás, possibilitando o pescoço ficar livre. Eu beijo
demoradamente e cheiro seu pescoço em seguida.
— Gosta de preto por quê?
— Por causa dos seus olhos. — Um murmúrio baixo sai dos meus lábios
contra seu pescoço. Deslizo meu nariz sentindo seu cheiro.
— Eles são enormes, não são?
— Uhum, são. Iguais duas jabuticabas. — Fecho os olhos, sentindo sua
unha arranhar meu pescoço.
Maitê se aproxima para um abraço. Deixo minhas duas mãos na sua
cintura, enquanto ela se aninha no meu pescoço. Seu corpo mais próximo faz
seus seios encostarem no meu peitoral. Maitê puxa o ar para sentir o meu
cheiro.
Caralho…
Maitê está acabando com a minha vida agindo dessa forma. Acabo
permitindo como se fosse um abraço, na realidade, é um abraço. A sua forma
me faz pensar que todas as mulheres que já foram comidas por mim, não são
iguais a ela. Seu jeito, a forma que sinto vontade em foder com ela selvagem e
ao mesmo tempo fazer um sexo tranquilo.
Quando a vi conversando com aquele otário que tirou sua virgindade,
minha vontade era bater naquele cara. Uma raiva que nunca havia sentido na
minha vida antes.
Ainda na mesma posição, olho para o lado, em cima da cama vejo a
ligação silenciosa no meu celular, o nome HG aparece na tela. Tínhamos uma
reunião pela manhã, olho a tela do celular até parar de tocar.

Mais tarde, dentro da comunidade, eu vejo a mensagem do Cleiton no meu


celular.

Cleiton: O combinado era mais cedo.


Você não foi para a reunião.
Não conseguimos decidir nada sem você, chefe.
Está vacilando com a quadrilha, Italiano.

— Acabei de ler a mensagem do Cleiton. — Falo para o HG.


Em seguida coloco o celular no bolso.
— E ele não tá errado. — Aperto meus olhos pela claridade e encaro seus
olhos.
— Eu sei — passo a língua no canto da boca. — Eu sei, porra. — Vejo-o
travar a mandíbula ao me encarar sério.
— Agora são 9h00min, marcamos o encontro pra ser de manhã.
— Eu estava resolvendo problemas. — Ajeito minha camiseta por cima da
minha arma na cintura.
— Resolvendo problemas? — Solta o ar pelo nariz. — Você continua com
o mesmo pensamento em defender mulher. — Cruza os braços.
— Caso algum dia você tiver algum problema em relação a garota, seja
porque mandou um de nós para as grades ou outro problema, você — aponto
na sua direção — abre essa porra dessa sua boca pra continuar a falar merda.
Enquanto isso, você fica na sua e não vem com histórias sem sentido, me
fazendo perder tempo com sua revolta em tão pouca coisa. — Ele confirma,
dessa vez manso, desviando o olhar.
Aponto com a cabeça para os meus seguranças e eles entendem o recado
para me seguirem.
— De cabeça cheia basta a de baixo, não estou com vontade de ficar com a
de cima cheia também. — Reclamo para HG antes de sair.
Passo o resto da manhã cuidando da contabilidade, no aguardo do Gil
aparecer. O relógio de ouro no meu pulso marca 12h00min e Gil ainda não
apareceu. Isso soa estranho, já que nunca aconteceu.
— Viu o Gil? — Pergunto para o pessoal quando saio de dentro da minha
sala, onde estava resolvendo meus problemas.
— De manhã, chefe, o vi conversando com a Lara em uma das ladeiras
daqui, dentro do carro dele. — Oli, o principal da minha segurança avisa.
Lembro que pedi ontem para Gil levar a Lara, hoje de manhã para resolver
as coisas dela, mas porra, ela precisava de manhã, agora marca 12h00min.
— Não viu nenhum dos dois depois?
— Não, ele não apareceu mais aqui, a Lara eu não sei. — Dá de ombros.
Olho seu cabelo cortado e o armamento passado no seu ombro. — Nunca a
vejo, mas Gil eu não vi. — Responde.
Sem pensar muito, ligo para a Lara. Um toque…dois…três…caixa postal.
Faço o mesmo no telefone do Gil, não chama.
— Estão de sacanagem. — Reclamo.
CAPÍTULO 25

— Eu estou ligado. — Gil murmura sério e arruma o boné na cabeça. —


Falei a porra de um horário e cheguei atrasado.
Com uma expressão séria, olho o relógio no meu pulso. São exatamente
13h30min, e William chegou agora há pouco. A sua expressão não é uma
das melhores, está sério e quieto, o que dá a entender que ele está estressado.
Mas nada justifica sobre meu combinado com ele, sou certo e quero lealdade
dele também.
Os olhos pequenos e vermelhos me olham.
— Vai fazer o quê, me punir? — Franzo as sobrancelhas com sua frase.
— Está falando sobre o quê?
— Está com uma expressão de dominador. — Dá uma risada forçada,
ficando sério de novo. — Vai me amarrar e me bater?
Porra, eu converso com geral, geral respeita minha conversa, o único
palhaço daqui é esse cara.
— Quer me estressar mais? — Pergunto.
— Eu estava tentando resolver uns problemas, entendeu? — Passa a mão
direita no pescoço, suspirando. — Acabei não resolvendo nada — nega
sério. — Deixei a Lara na casa dela cedo e depois fui atrás dos meus
problemas.
— Podia ter avisado, dado uma ideia. Tenho duas bolas, mas nenhuma é
de cristal! — Falo, ríspido.
Gil simplesmente confirma sem dialogar com meu tom de bolação.
— O dinheiro está guardado, o valor e a quantia foram aqueles. —
Balanço a cabeça. — Dentro das porcentagens das bocas de fumo,
mensalidades de empresários, mensalidade dos integrantes e os golpes — ele
tira o valor em um papel, colocando-o em cima da mesa.
Pego o papel onde está escrito em caneta azul com as vírgulas e os
pontos. A organização hoje movimenta mais de quarenta toneladas de
cocaína nas fronteiras do país e para os complexos, somos conhecidos pela
maior destruição, da maior facção do Rio. O controle do fluxo e dos
pagamentos é minucioso nas anotações das contabilidades, irmão. Morro do
Alemão está em minhas mãos.
Posso afirmar, que está sendo mais direcionada a facção aqui dentro
comigo, do que quando o antigo chefe comandava. Para falar a verdade, ele
não duraria muito tempo aqui, se a polícia não matasse, ele morreria de
bobeira, aquilo que você vende, você nunca deve consumir.
— O valor diferenciou de quando o Iguinho estava no comando...
— Eu sei — corto sua fala. — Eu sabia que aumentaria. — Tiro meu
olhar do papel.
Nossos olhares encontram-se, não precisa sair uma palavra da minha
boca para ser entendido.
— Eu estou ligado. Iguinho foi avisado várias vezes e não escutou
nenhum de nós dois.
— Ele morreu ou está vivo? — Interrogo.
— Morreu, Italiano.
— Não vejo motivo de ficar tocando no nome dele, aqui dentro quem
está morto não serve de nada — amasso o papel entre meus dois dedos. — O
valor foi conferido e está correto?
— Tudo certo, chefe. Vou resolver mais umas paradas. — Avisa antes de
dar as costas.
Quando ele dá alguns passos em direção a porta fechada, eu pergunto:
— Está tudo bem contigo?
— Fumou quantos? — Vira. — Perguntando se estou bem, o que foi?
Pelo menos a Ma...
— Não toca no nome. — Oriento. — Se for fazer piada pode sair, mete o
pé.
— Eu estou bem. — Fala antes de sair.
É nada, William está com a cabeça quente e dá para perceber,
principalmente quem convive com ele no dia a dia.
Um tempo depois estou sentado no banco atrás do balcão na padaria da
Maressa, olhando o rosto da Lara. Ela termina de fazer as coisas, virando-se
na minha direção.
— Pelo jeito não vai parar de me olhar. Quer saber o quê? — Sua voz é
irônica.
Termino de beber o café no copo e deixo em cima do balcão.
— Que hora você chegou na sua casa?
— Hum... Eram 7h00min, Gil me levou pra resolver as coisas rápido. O
que foi, Edgar?
— Ele está diferente, o que aconteceu?
— Não sei — faz uma expressão confusa. — Vai saber — dá de ombros.
— Às vezes está sofrendo por amor, eu nem converso com ele.
— Hum.
— Você disse pra moça, é... como ela chama? — Pensa por um segundo.
— Maitê.
— Pede desculpas pela forma que a tratei.
— Nova integrante da família? — Maressa surge dos fundos da padaria.
— Não… — Respondo firme.
— Ele fala isso, mãe, mas ela não é puta, então é nova integrante. —
Solta uma risada e volta a fazer o que estava fazendo.
— Quando comecei a me relacionar com o pai da Lara, ele era igual a
você, todo desconfiado e problemático. Mas terminou casado comigo e você
se lembra de como ele ficou bobo quando descobri a gravidez da Lara.
— Mãe...— Lara sussurra. — Não lembra do que machuca.

— Isso não machuca, Lara. São memórias boas.


— A senhora ficou sozinha, perdeu a irmã e o cunhado mesmo sendo um
drogado. — Cerro meu maxilar, olhando para baixo quando se refere aos
meus pais. — E perdeu o meu pai, então isso te machuca sim. — Alterno
meu olhar.
— Estou indo embora. — Murmuro.
— Você nunca vai querer escutar a história da tua mãe? Toda vez que
toca no assunto da morte dela, você sempre sai. — Lara me encara.
— Pra quê? Ela está morta, não é?
— Mas...
— Lara. — Maressa interrompe a filha.
Para não ouvir mais nada, saio logo de dentro da padaria. Passo o resto
da tarde com alguns assuntos. À noite, na mesma ladeira de sempre, em
frente a um bar, eu estou ao lado do Gil.
— Minha mãe não voltou até agora, mulher maluca. — Paro de girar a
moeda.
— Desde que dia?
— Ontem. — Fala baixo. Guardo a moeda no meu bolso.
Vejo a rua sendo iluminada por algumas luzes. Não julgo a Erica em
querer transar, ela é nova, mas nunca respeitou o Gil, toda vez o vejo
estressado por algo que ela faz. Ele sempre está mais quieto, não brinca, o
que soa estranho.
— Ela está na idade de querer isso mesmo.
— De querer esses otários? — Viro o rosto na sua direção. — De dar pra
esses fodidos? Ela deveria pelo menos dar um aviso. — Passa a mão no
rosto, nervoso.
— Está estressado hoje.
— Ficar do seu lado é contagiante. — Brinca.
Gil foca sua atenção para o outro lado da rua em direção ao bar. Eu
acompanho seu olhar que está fixado em uma garota de cabelo preto e
pontas onduladas, a menina usa um vestido, ao lado da amiga.
— Nunca viu mulher, porra? — Seu olhar vem até meu rosto.
— Eu desisti de mulheres, vou virar gay, minha opção é você. Quer fazer
o teste?
— Cala a boca.
— Preciso de um banho e dormir. Beijo na boca, bandido mau. Cuidado
que a noite é uma brincadeira. — Se despede.
Gil some do meu campo de visão ao entrar no seu carro, um Golf preto, e
sair pela rua. Questão de segundos para meu celular vibrar em uma chamada
da Maitê.
— Está me ouvindo? — Sua voz soa em maio sons no fundo.
— Tá onde? — Pergunto bolado.
— Eu preciso… — A voz dela sai chorosa. — Tem como...
— Onde você está, porra?
— Eu estou em um bar, eu preciso que você me tire daqui.
Sinto a raiva me consumindo por dentro, enquanto tento entender o que
está acontecendo.
— Tirar? — Passo minha língua no canto da boca. — Dentro de um bar,
tá bêbada?
— Não pergunta... apenas vem! Vou te enviar a localização. Eu não
quero ir pra casa.
Fecho meus olhos, passando meus dois dedos na testa em movimentos
circulares.
— Maitê… — Uma voz feminina preenche no fundo.
— Sai, eu disse pra ficar longe! — A voz é de choro. Ela está chorando.
Minha amizade com a Lorena é de anos. A conheci no colegial, tinha
quatorze anos, Lorena sempre foi uma amiga, mesmo com seu jeito. Eu
sempre fui a mais quieta da sala de aula, sem muitas amizades, até conhecê-la.
Ela é meu oposto, brincalhona e mais famosa. Mas a mentira vai atrapalhar
nossa amizade, assim como imaginei. Prefiro lidar com a verdade, entretanto a
pessoa prefere camuflar algo que jamais permanecerá escondido.
E hoje talvez seja o último dia em que Lorena tem minha consideração
como amiga.
— Maitê, cara! — Sua voz é firme.
Algumas pessoas no bar olham em nossa direção, curiosos. Por
coincidência estava passando na mesma rua do bar. Eles não fizeram questão
de se encontrarem em um local mais longe, aqui é praticamente a rua da minha
casa.
Passo perto de algumas mesas na rua, em direção a calçada ouvindo
cochichos em relação à nossa discussão.
— Me escuta. — Lorena me segue.
— Te escutar no quê? — Paro de caminhar, olhando seu corpo mais alto,
pela pouca iluminação nossos olhos se cruzam. — Em dizer que é a fodona e
está dando pro marido da minha mãe? — Solto um riso sem humor com as
lágrimas secas no meu rosto.
— Maitê... — Seus olhos me encaram, observo pela pouca claridade
lacrimejando também — Tenta me entender.
— Lorena, você vai todos os dias na minha casa, todos dias! — Aponto
para a rua.
Arrumo meu vestido e o blazer preto. Minha cabeça começou a doer agora
há pouco, eu quero ir embora o mais rápido possível.
— Eu tentei sair dessa relação, eu juro, eu tentei te afastar, tentei mantê-la
longe. Mas eu gosto do seu pai, eu gosto de estar com ele.
Mordo o canto da minha boca com força, sentindo a raiva enraizando, em
seguida o gosto de sangue alastra por minha saliva. Pela primeira vez posso
admitir: a raiva que estou sentindo da Lorena é enorme, como a dor de uma
traição.
— Emanuel não teve coragem de vir até aqui, pelo menos tentar defender a
putaria de vocês dois, ele está sentado na mesa bebendo. Ele está pouco
ligando para o que eu iria sentir! — Jogo meu cabelo todo para trás. — Dele
eu esperava, na verdade espero o pior de vocês dois... só não pensei que seria
dessa forma, vindo de você.
— Eu me envolvi por prazer, eu não queria, mas aconteceu. Eu gostei…
— Cala a boca — corto sua fala. — Minha mãe te ama como uma amiga, e
na realidade você entrava dentro da casa dela, com a mesma boca que beijava
o rosto dela, estava chupando o pau do marido dela no dia anterior. — Ela abre
a boca diversas vezes, por fim acaba ficando calada.
— Eu te peço pra não falar pra sua mãe, pensa como ela vai ficar. — Olho
em seus olhos.
Minha mãe vem na minha cabeça, penso como ela irá reagir diante dessa
notícia. Lorena não sai de dentro da minha casa e todas as vezes se fazia de
amiga, mas na verdade estava com o meu pai.
— Isso vem desde quando meu pai morava em casa?
— Maitê...— Levanto a mão, fazendo-a parar de falar.
— Por isso todas as vezes em que ia na minha casa, nunca queria encontrar
meu pai. — A fito, ela passa a mão no cabelo cacheado. — Você não passa de
uma vadia — falo o que está preso na minha garganta.
— Por favor...
— Não quero te ver nunca mais na minha vida! — Puxo o ar no fundo do
meu pulmão e seguro minhas lágrimas.
— Seu pai sempre me amou — ela começa a falar. — O motivo do término
deles foi eu. Mesmo sabendo que perderia minhas duas melhores amigas, eu
continuei, eu quis. Eu amo o seu...
Corto sua fala mediante um tapa que desfiro em seu rosto com força.
Nem uma palavra sai da sua boca, seus olhos falhos me olham, com a mão
sob seu rosto, ela controla sua respiração.
— Eu nunca pensei que ia ter esse sentimento por você, Lorena. Sua
amizade não vale de nada, tanto homem, Lorena — aumento meu tom de voz.
— Vários homens, você quis ser uma vadia.
Ela levanta a mão direita para desferir um tapa no meu rosto, mas impeço,
eu seguro seu pulso com força.
— E sabe? Eu sou mesmo! Você está enchendo a boca pra falar, vou
admitir, eu amo dar pro seu pai! — Aproxima o rosto com uma risada
orgulhosa.
Como se dar para homem casado fosse algo extraordinário.
— Eu estava sentindo pena de você e da tua mãe, mas agora não sinto
mais. Seu pai não liga pra vocês! Principalmente pra você, ele não fez questão
de sair da mesa onde está sentado pra ver se eu vou te humilhar ou acabar com
esse seu rostinho. Sai daqui, Maitê, vai embora, abre a sua boca para alguém e
te quebro na porrada como ninguém fez. Em qualquer lugar eu te encontro,
entendeu? Acabo com esse seu rostinho medonho. Sai daqui, sai e não olha
pra trás.
Engulo o ar com medo. Solto seu pulso pela sua fala, e com dois passos eu
afasto de perto. Meus olhos ardem, as lágrimas quentes molham meu rosto. A
dor no fundo do meu peito aumenta, viro rapidamente em direção a rua sem
ligar para as pessoas. Eu tento controlar minha emoção, mas só consigo
enxugar minhas lágrimas.
Eu me sinto apreensiva e com medo por isso, percebo que nunca vou
conhecer a versão final de ninguém, pra alguns pode ser algo fútil, mas me
sinto uma pessoa otária por ter ficado ao lado de alguém assim, me sinto uma
idiota por ter compartilhado minha vida inteira com alguém como ela. São
anos…
Viro na primeira rua entre meus passos. A rua do quarteirão do bar, o
Azera preto está estacionado, os vidros fumês e o carro ligado.
Ele veio como pedi.
Termino de limpar meu rosto e caminho em direção ao carro.
CAPÍTULO 26

Depois de fechar a porta da sala, analiso a Maitê ir para dentro da casa sem
olhar para trás, em passos, ela caminha até o banheiro, fechando a porta.
Coloco sob o balcão meu celular e a carteira.
Viemos o caminho todo em silêncio. Maitê entrou no meu banco carona
com receio e assim ficou, quieta, na defensiva desde o primeiro minuto.
Vou em direção a sacada do quarto, na intenção de fumar meu cigarro de
maconha. O bairro com as luzes acesas ilumina a cidade. Trago uma vez e
solto a fumaça.
Não minto, estou bolado por ela ter ido em um bar, mas também quero
tentar entender a primeira garota, pelo menos uma vez em trinta e quatro anos.
A voz embargada que tinha escutado não era de bebida, era de choro e podia
sentir uma raiva em pensar que alguém a fez chorar.
Puxo mais uma tragada e apago o meu baseado, após colocar no cinzeiro
em cima da cômoda, vejo Maitê entrando no quarto, passo meu olhar por seu
corpo. Coloco minhas duas mãos no bolso da minha bermuda, ela senta na
cama na minha frente, se abaixando pra tirar a sandália.
— Eu tiro. — Quando ela ouve minha voz, ergue o olhar.
Seus olhos estão inchados e seu rosto vermelho. Ela realmente estava
chorando. De imediato penso que algum rapaz tenha feito isso, se a fez chorar
por medo ou por outra coisa.
— Obrigada. — Agradece.
Aproximo em passos lentos, tiro as duas mãos do bolso ajoelhando na sua
frente, meu joelho esquerdo vai no chão e deixo a minha coxa pra ela colocar
o pé direito. Concentro no seu pé pequeno, ao tirar a sandália de salto baixo.
Estudo cada detalhe dos dedos curtos e pé pequeno com a esmaltação
vermelha nas unhas.
— O que você foi fazer no bar? — Pergunto.
— Edgar — solta o ar pelo nariz. Termino de tirar a outra sandália, me
levantando.
— Eu estou tentando ser paciente, sabe? Mas uma parada que nunca fui e
estou sendo contigo é ser paciente. Então me responde o que você foi fazer em
um bar sozinha? — Arrumo meu boné na cabeça.
Ela me encara e nega devagar com meu questionamento.
— Você está preocupado se eu fui atrás de homem, não é? — Pergunta,
séria. — É apenas isso que importa para você.
Passo minha língua no canto da boca. A realidade é essa mesmo, estou
querendo saber isso.
— É — cruzo os braços. — Você foi?
— Você não se importa com nenhum sentimento, não é mesmo? Nem
sequer perguntou o porquê da minha cara de choro ou pelo qual motivo te
liguei. — Se levanta.
— Responde a minha pergunta.
— Eu não faço questão de responder. Não quero responder a sua pergunta.
— Respiro fundo.
A minha pior versão é essa, sentir ser dono de alguém. A minha obsessão
me fascina de uma forma inexplicável, como nunca senti por toda minha vida.
Ela tenta sair, mas minha mão direita a impede, segurando-a.
— Não me dá as costas.
— Qual seu problema, Italiano? O problema com minha vida não foi
homem. — Nós nos entreolhamos.
— Desde a hora que você entrou dentro do carro, não me falou uma
palavra. Nenhuma, Maitê, eu quero saber quem te deixou assim. Quem te fez
chorar a ponto de me ligar.
— Tá começando a apertar forte. — Alivio o aperto, mas não solto.
Cerro meu maxilar, olhando para o seu rosto, os olhos com pouco de
lágrimas, destaca na iluminação.
— Senta nas minhas pernas, vamos conversar. — Falo.
Sento na poltrona do meu quarto, com receio e uma expressão séria, Maitê
senta no meu colo. Ela apoia seu braço em volta do meu pescoço.
— Eu estou tentando ser paciente. Não curto mulher assim em bar sozinha,
papo reto.
— Sua única preocupação é essa?
— Não, Maitê, mas estou falando o que vi até agora. Você não falou uma
palavra até agora do que aconteceu. A gente tinha um trato de nos vermos
todos os dias por isso. — Sua sobrancelha franze.
— Do que está falando?
— De ter você só pra mim, isso que estou falando.
— Eu sei.
— Então o que rolou, qual é o problema?
— Eu estava passando perto do bar, na verdade tinha ido na farmácia, mas
acabei vendo meu pai e minha melhor amiga Lorena no bar. Estou sentindo
tanto ódio.
— Ela fez alguma coisa?
— Me ameaçou. — Minhas veias queimam com sua expressão facial.
— Lorena é a de cabelo cacheado? — Maitê confirma. Passo meu boné
para trás.
Minha mente pensa em várias possibilidades de pegar Lorena dentro da sua
própria casa, bater para caralho, sem ela saber quem vai entrar, para servir de
recado. Minha mente ferve em pensar alguém ameaçando Maitê, um ódio
enorme passando por meu sangue, o mesmo ódio de quando vi HG ameaçando
em falar aquelas merdinhas dele.
— Só não pensei que ela tinha essa coragem, do meu pai até esperava o
pior, mas dela? E confiava nela, compartilhei meus melhores momentos com
ela.
Molho meus lábios, olhando sua boca, seus olhos vermelhinhos pelo
choro, cílios molhados, as sobrancelhas feitas.
— Oitenta e quatro anos? — Nego sua piada.
— Essas piadas são chatas.
— Não são, eu gosto — fala baixo, sinto sua mão direita saindo do meu
pescoço e vindo até minha barba feita. — Sabia que ficou muito lindo assim?
Sua mão desliza por meu rosto, minha barba feita de cavanhaque. Maitê
concentra no meu rosto.
— Olha aqui — fito-a. — Ninguém vai encostar em você. Você vai chegar
amanhã na sua casa e falar para sua mãe. Ninguém vai encostar um dedo em
você. — Ela confirma quando escuta minha voz.
Minha mão esquerda vai até sua nuca, sinto sua pele e os fios por cima da
minha mão.
— Está de calcinha?
— Não quero apanhar de novo, não por enquanto. — Brinca sem humor.
Puxo seu corpo para mais perto, aproveitando do seu pescoço para cheirar
seu aroma doce. Ela permite, e em seguida, deixa vários selinhos demorados
nos meus lábios, transformando em um beijo suave. Porra, essa garota vai
acabar comigo. Sinto vontade de fazer com ela o que nunca fiz com nenhuma
outra mulher, um sentimento muito além do prazer em comer sua boceta.
— Vamos tomar um banho?
— Seu pau está duro. — Sinto o volume pulsando por baixo da cueca.
— Mas hoje você vai ficar suave. Vou preparar um banho pra você relaxar.
— Eu vou ser forte em superar essa situação com ela — fala. — E
obrigada, mesmo amando da forma que você me fode, eu quero conhecer seu
outro lado. Eu sei que você tem outra versão sem ser essa casca dura.
— Eu te conto cada dia uma parte da minha vida, só basta me obedecer.
— Mas então pode falar uma pequena coisa, eu não sai sem calcinha. —
Crava as unhas no meu pescoço.
— Pergunta o que quiser.
— Hum... quero que comece da sua infância.
— A cicatriz na perna? — Interrompo sua fala, ela balança a cabeça,
confirmando.
Que droga. Quando imaginei que um dia teria que explicar minha vida para
uma mulher? Ao mesmo tempo a sensação é boa, estou tirando os
pensamentos ruins da cabeça dela com essa história idiota sobre minha vida.
— Não lembro muito da minha mãe, mas lembro-me do meu pai —
olhando por cima do seu ombro, vejo a porta da sacada e o céu clareando
pelos raios da chuva. — Minha mãe morreu quando eu tinha dois anos de
idade, não sei muito bem como e nem quando. Mas do meu pai eu lembro,
morreu de overdose — molho meus lábios. — Um pela saco, como qualquer
um, pior que o seu. Ele me bateu umas oito vezes e na última, ele me bateu
como nunca apanhei na vida…
— Meu Deus...
— Deixa eu falar. — Aperto a lateral do seu quadril.
— Desculpa.
— Ele morava com minha madrinha, não tinha onde cair morto. Minha
madrinha me criou, então todos dias via a desgraça daquela família. Na sétima
vez que ele me bateu, ele me disse, não abre a boca pra sua madrinha —
respiro. — Eu tinha medo, mas acabei falando, ele descobriu, Maressa ficou
revoltada e no dia seguinte, ela o mandou cair fora de casa, o desgraçado saiu
e no mesmo dia que ele saiu de casa — passo a língua no canto da minha
boca. — Ele foi atrás de mim dentro da escola, estava no banheiro masculino.
— Não precisa terminar...
— Odiava estudar — solto o ar pelo nariz, negando em ironia. — E depois
desse dia passei a odiar todo mundo da escola, não só as aulas, mas todos...
meu pai me bateu dentro daquele banheiro, acabou com minha perna e meu
rosto.
— Eu não imaginava, eu sinto muito. — Aproxima, beijando o canto da
minha boca.
— Não sinta, hoje em dia não ligo. — Dou de ombros. — Vamos tomar
um banho e vou pedir pra eles entregarem um lanche aqui. — Ela confirma,
mas antes aproxima o rosto, colocando-o entre meu pescoço.
Abraço seu corpo devagar, envolvo seu calor contra o meu. Vou contar
uma parte da minha vida para ela todas as vezes que eu ver que ela merece.
Detalhar minha entrada no crime. Porém, mesmo assim, ela nunca vai saber
tudo da minha vida.
— Obrigada por ter me tirado de lá.
— Seu pai e sua amiga não merecem seu choro. Qualquer coisa, me avisa.
Sinto raiva quando penso que alguém pode bater nela, qualquer um que
seja. Tudo que tenho na minha mão, ninguém tocou, não vai ser agora que vão
tocar.
Sentada na cama, olho para a tela do meu celular, ainda sonolenta, vejo as
mensagens do meu pai. São oito horas da manhã, várias ligações perdidas.

Emanuel: Maitê, está onde?


Responde à mensagem e atende.
Está com homem, caralho?
Quero que me retorne agora.

Eu sinto nojo, uma raiva enraizada no fundo do meu peito mistura-se com
nojo. Penso como a pessoa tem a coragem como ele tem, de fazer algo tão
nojento e ainda assim, querer sobressair por cima. Ele ficou com a minha
melhor amiga, consequentemente amiga da minha mãe.
Eu desconfiava todas as vezes que meu pai chegava falando sobre eu ter
dormido fora, era a Lorena e minha intuição não falhou quando desconfiei.
Sem responder nenhuma mensagem, bloqueio a tela do telefone,
colocando-o de lado. A minha atenção vai para os meus seios doloridos e
vermelhos, como todas as vezes que Edgar me vê, mas essa noite ele quis ir
mais a fundo com os meus seios.
Ergo meu olhar, Edgar surge no meu campo de visão. O cheiro de
hidratante masculino, camiseta clara, calça jeans preta e cabelo penteado para
trás. Suas tatuagens destacam a formação estrutural do seu corpo. Como é
gostoso.
Faço uma expressão triste de bico.
— O que houve pra me olhar assim? — Pergunto.
— Não vai comer alguma coisa? Eu comprei. — Franzo as sobrancelhas.
Ele não respondeu sendo um ogro?
Os olhos verdes tomados por uma vermelhidão me encaram. Sua expressão
é séria quando analisa meus seios inchados, eu cubro com minha mão,
envergonhada. Coloco o sutiã tomara que caia, acompanhado da calcinha.
— O que foi? Está pensando no seu pai ainda? — Escuto sua voz grossa,
ele aproxima-se e encosta na cômoda.
— Vou tentar conversar com minha mãe, isso está me matando por dentro.
Quando vou caminhar, sua mão segura minha cintura, forçando-me ficar
perto dele. Meu corpo gruda no seu, o impacto choca nossos corpos um no
outro. Ele segura minha cintura com suas duas mãos fortes.
— Eu preciso escovar os dentes — falo, mas ele apenas me olha sério. —
Doeu. — Sinto meus seios doloridos contra sua camiseta.
— Você desconfiava da Lorena e do seu pai? — Vejo sua corrente fina, de
ouro no pescoço.
— Ela nunca tinha dado motivo, mas comecei a desconfiar quando tudo
que eu fazia, meu pai sabia. — Subo meu olhar até seus olhos, ele franze as
sobrancelhas.
— Falou sobre nós dois? — Nego.
— Não falei nada sobre nós dois.
— Tem certeza?
— Sim, não falei, mas mesmo assim ela queria motivo pro meu pai brigar
comigo.
— Otários — murmura sério. — Ninguém vai encostar a mão em você,
entendeu? — Depois de alguns segundos, ele fala de novo. — E aquele
fodido?
— Fodido?
— Seu ex.
— Ele não é meu ex, foi só uma vez.
— Conversa com ele ainda? Responde, hum?
Penso em não responder, mas acabo falando a verdade.
— Não o vi desde aquele dia, Edgar.
— Não te quero do lado daquele cara.

— E sua vida? — Pergunto, sabendo que ele não vai me responder. —


Como é sua vida, as mulheres? — Dessa vez ele fica calado.
Não sei nada em relação a isso, e cada dia que passa, sinto que me afundo
mais nesse mundo de perdição sem rumo.
— Come algo, vou deixar você em sua casa. — Diz, simplesmente.

Quando atravesso a porta de casa, minha mãe está em frente ao fogão.


Sinto alívio em saber que meu pai não está aqui. Seu uniforme de trabalho e
cabelo arrumado, ela está radiante e bonita.
Na minha cabeça vem meu pai e Lorena juntos, tento controlar minha
emoção em olhar ela feliz.
Minha mãe sempre batalhou pelo casamento, ela sabe como doeu quando
meu pai foi embora por causa do trabalho, mas vai doer mais quando ela
souber o motivo da ida dele para fora de casa.
— Dormiu onde? Hum... tá cheirando a... — Corto sua fala.
— Eu sei. — Dou um sorriso fraco.
— Quando vai trazer pra tua mãe conhecer?
— Não sei. — Encosto no balcão da cozinha.
Do jeito que o Edgar é, a última coisa que acho que ele irá fazer é ver
minha mãe.
— Vai trabalhar?
— Sim, tenho algumas unhas pra fazer agora de manhã.
— Posso conversar com você?
— O seu pai me ligou hoje cedo, ele pediu pra te chamar pra jantamos
juntos.
O silêncio me corrói por dentro dessa vez. Uma dor no meu peito ouvi-la
dizer isso.
— Mãe...
— Hum? — se vira na minha direção. — Parece que alguém morreu.
— Eu estou querendo dizer algo, é sobre a Lorena e o Emanuel. — O rosto
dela muda a expressão.
— Do que está falando, Maitê?
— A Lorena, ela está com meu pai. Eu vi os dois ontem.
— Está falando sério? — Franze as sobrancelhas e eu confirmo. — E por
que não veio pra casa?
— Eu fiquei sem saber o que fazer, mãe.
— Maitê, tem certeza?
— Acha que estou mentindo?
—Não — nega. — Eu não disse isso, mas a Lorena — ela para de falar. —
Eu tenho uma enorme consideração por ela, eu... — Vejo o peito dela subir e
descer em uma respiração pesada. — Eu não acredito que ela teve essa
coragem, ela não tem essa coragem, Maitê.
É, ela teve essa coragem.
CAPÍTULO 27

— Vamos entrar sem falar nada, vocês vão fazer como mandei. — Minha
voz sai em um murmúrio sério.
As duas garotas que eu havia levado me olham em silêncio.
Gil me olha apreensivo no banco do passageiro, com a sua máscara de
palhaço em mãos. Consegui um carro com chassi falsificado e estamos
parados em uma rua deserta, o breu da noite abraça o Rio de Janeiro.
Coloco a minha balaclava, assim Gil faz também com a máscara dele. As
duas garotas fazem o mesmo. Não lembro o nome delas, nem me importa. O
que eu preciso é que façam o que é preciso.
Arrumo a minha arma no cós da minha calça e molho meus lábios secos
por baixo da máscara.
— Justo eu? Porra! — Ele reclama abafado por baixo da máscara.
As garotas continuam em silêncio, apenas nos acompanhando.
Gil tem uma máscara de palhaço no seu rosto, combinando com sua
personalidade.
— O que aconteceu? Não poderia ter mandado alguém vir fazer isso?
— Eu vou fazer isso pessoalmente. — Saio do carro. — Só não vou eu
mesmo arrebentar essa puta, porque é fora da ética.
— Você calculou certo agora? — Desce do outro lado.
— Não é assalto, caralho!
— Mas estamos fodidos da mesma forma se formos pegos. Mesmo com as
meninas. — Prendo minha respiração, arrependendo de tê-lo chamado para
isso.
— Fiquei três dias calculando esse caralho, agora cala a boca e me segue!
— Saio na sua frente com o vento fresco da madrugada. As meninas na nossa
cola.
Três dias passaram desde aquele dia que peguei a Maitê chorando naquele
bar. Fiquei três dias com isso na cabeça, três dias sem dormir direito, e não
vou enquanto não resolver esse problema.
Certamente Lorena está sentada em frente à televisão ou computador,
como observei nesses três dias. Ela mora em uma quitinete no mesmo bairro
que a Maitê. Podia vir pessoalmente, de cara limpa e arrebentá-la com minha
mão, mas prefiro não arriscar minha face. Na realidade, eu nem queria trazer
as duas mulheres, Gil foi quem me convenceu.
Odeio quando alguém ameaça algo que é meu, principalmente quando se
trata da Maitê. Odiei vê-la triste naquele dia, toda quieta, não estou aqui por
causa do pai dela estar com Lorena, mas estou aqui pela ameaça. Nesses três
dias, Maitê pediu para não me ver, eu respeitei o espaço dela.
Estou puto para caralho, na verdade fiquei puto durante todos esses três
dias.
— Você tem que andar mais rápido, mermão, estamos muito atrasados! —
Ele murmura mais uma vez atrás. — Vai, chatonildo.
Ouço a sua respiração pesada atrás, e os passos das meninas, após
pularmos um muro e adentramos outro local.
Chatonildo?
Depois de alguns minutos, estamos os quatro de frente para Lorena. Ela
está de costas, em frente a tela do seu notebook, paro poucos passos atrás dela.
A pouca iluminação da sala reflete. Mesmo com a balaclava que permite ver
os meus olhos, é impossível que ela os veja no escuro. Ela se sente ser
observada.
Com medo, gira a cadeira. Sua expressão muda rapidamente para uma
expressão assustada quando nos vê, cada um com a porra de uma balaclava na
cara, e um pouco atrás, Gil, com sua máscara de palhaço. Meus pulsos fecham
pelo ódio que carrego.
— O... que.... eu, aqui não tem nada de valor — sua voz sai trêmula
quando ela empurra a cadeira para trás com os pés no chão, seu notebook cai
virado para baixo, fazendo a sala mergulhar no breu. — Por favor... — Ela
coloca as mãos na cabeça fechando os olhos.
Seu peito sobe e desce em uma respiração pesada, por baixo do pijama
sexy que ela veste. Na minha mente vem a cena da Maitê chorando, posso
estar cego de raiva, mas garanto que não irei me arrepender de cada murro
dado nesse rosto. Porque eu com toda certeza vou dar ao menos um.
Ela vai tentar achar o motivo, mas no fundo ela vai saber. Isso vai fazê-la
pensar duas vezes antes de entrar no caminho de alguém a quem estou
começando a considerar na minha vida.
Sou conhecido por ser frio, mas estou começando a considerar, ao ponto de
sentir falta do cheiro da Maitê em apenas três dias. Estou com insônia por não
a ver.
— Não. — Sua voz sai trêmula mais uma vez.
Me aproximo, bruto, agarro seu cabelo. Puxo com força para trás e sinto
seu couro cabeludo contra meu dedo. O grito é alto, mas tampo sua boca com
minha mão esquerda e deixo um tapa forte para ela ficar quieta.
Chora. Ela chora alto.
Derrubo seu corpo com a cadeira no chão.
— Eu não fiz nada. — Implora.
Sem sair uma palavra da minha boca, faço sinal para as meninas, que
começam a socar o seu rosto contra o chão e chutar suas costelas. A escuridão
toma conta da minha pele, absorvendo minha adrenalina. Eu sinto mais
saciedade a cada murro que elas deixam por seu corpo.
— Para, por favor... — Chora.
O ódio faz eu me juntar a elas para bater. O ódio que juntei nestes três dias
vou descontar. Puxo o pijama, rasgando-o. Seus seios ficam expostos, ela tenta
cobrir com as mãos e alternar para proteger seu rosto.
Vou fazer chegar à inconsciência dentro da sua própria casa.

— Não vai me falar sobre ontem? — Gil questiona.


Em silêncio, termino de fumar meu cigarro. Olho a comunidade por longos
segundos antes de encará-lo.
— Falar o quê? — Passo o baseado para ele, Gil encosta dando uma
tragada no baseado.
— Aquela é a amiga da Maitê.
— Era.
— Era?
— Era, ficou surdo?
— Termina o papo.
— Brigaram. — Dou de ombros.
— E você me mete nesse problemão? — Fico quieto. — Você acabou com
a garota.
— Não vamos tocar nesse assunto. – Falo sério.
— Que vacilo, você está apaixonado, Italiano. — Sua voz sai baixa.
Encaro seu rosto, seus olhos castanhos se mantêm na minha direção e eu
sustento seu olhar.
Minha única vontade é estar com ela. Senti-la contra minha pele quente,
seu cheiro, sua pele macia e tocar seu corpo.
O jeito dela, o cabelo, a maneira em que ela fica na minha mente o dia
inteiro como nenhuma mulher nunca ficou. Porra, ela está acabando comigo
da forma em que ela não tem noção. Está acabando com meus pensamentos
em apenas três dias sem vê-la. Fico sem entender quando deixei essa porra
passar da vontade em comer sua boceta, e se transformar assim.
Espanto meus pensamentos com o cheiro da maconha.
Não respondo e nem confronto a pergunta, não quero responder o que não
sei falar.
Só sinto que vou tentar cuidar daquela garota até meu último suspiro, mas
no mesmo momento sinto que sou a pessoa que mais vai machucá-la. Sou uma
rosa com espinhos.
— Está quieta há três dias, mas hoje é demais. — Fala séria e senta ao meu
lado no sofá. Me ajeito um pouco, dando espaço para ela sentar ao meu lado.
— Vai sair. Cadê o rapaz que você estava saindo? Ele deve estar louco pra te
rever.
— Está muito. — Olho de relance para tela do meu celular, sabendo que
não respondi as últimas mensagens.
— Não toma a dor dos outros, vai viver a sua vida.
— Dos outros? — Encaro-a e ajeito meus pés em cima do sofá. — Você
não é os outros.
— Você não está assim por minha causa, está assim por causa da Lorena e
seu pai.
— Não é assim, você não entende.
— Maitê, meu casamento com seu pai sempre foi bom, mas há uns meses
antes dele sair de casa, Emanuel ficou diferente, pensei que era minha cabeça,
até o dia em que ele foi embora.
— Não era coisa da tua cabeça.
— Era a Lorena. — Suspiro baixo. — Eles queriam isso, eu estou seguindo
minha vida, não quero saber do seu pai e nem dessa menina aqui dentro de
casa. — Fala. — Quer vê-lo? Da porta pra fora, mas aqui dentro da minha
casa, não vou mais aceitar.
— A culpa foi minha em tê-la trazido pra cá quando a conheci.
— Olha aqui, Maitê — levanto meus olhos encarando-a. — A culpa não é
só dela, o mais culpado nessa parte é o seu pai, ele foi um safado e ela uma
vagabunda, agora você não tem culpa de nada — seus olhos inchados pelo
choro me observam. — Assim como você, eu também confiei que ela era uma
amiga.
— Mas eu a trouxe até aqui, quando a conheci na escola. Eu era sozinha,
não tinha amigas... ela foi a única que queria conversar.
— Oh... meu amor, chega.
Ela segura minhas pernas, me fazendo colocar os dois pés para baixo, que
não chegam no chão de piso da sala e me puxa para um abraço.
— Você não tem culpa de nada — sinto sua boca beijando minha cabeça.
— Hoje eu chorei a última vez, prometi não derramar mais uma lágrima por
quem não merece. Então sai de casa e vai viver, apenas esquece e toma
cuidado pra não te machucarem, está bem? Só não quero ver você saindo
machucada dessas coisas, não quero mesmo. — Suspira fundo. — Obrigada
por ter me contado a verdade.
Solto uma respiração fraca, abraçando-a. Jamais esconderia algo da minha
mãe, da minha melhor amiga.
Mesmo me sentindo culpada por ter trazido a Lorena até minha mãe, a
apresentando como minha amiga anos atrás. Esses três dias que passaram
foram os piores para minha cabeça, minha mãe mesmo arrasada e triste,
colocou um sorriso no rosto e todos os três dias viveu normal, mas eu
enxergava sua tristeza pelos seus olhos inchados de tanto chorar, quando
acordava.
— Vai dormir pelo menos, já é quase 12h00min, fica tranquila e descansa.
— Confirmo para ela quando me solta.
— Tá bom.
— Precisamos conversar sobre outras coisas, seu hormônio. O médico
disse que pode entrar em contato com ele, caso queira inibir. — Ela se levanta.
— É o Dr. Eduardo?
— Sim — me encara, olho para o seu cabelo claro, amarrado em um coque
e seu pijama marcando seu corpo. — Vou te enviar o contato — confirmo. Ela
se despede com um boa noite antes de sair para o quarto.
No meu celular tem mensagens do Edgar. Sim, ele passou todos esses dias
perguntando como eu estava, perguntava pela manhã e de noite.

Maitê: Está com tanta saudade de mim?

A mensagem não cai no telefone dele, o visto por último faz horas, coloco
meu cabelo atrás da orelha, sentindo um aperto no peito. Na verdade, quem
está com saudade sou eu. Saudade de ser comida por ele, de sentir seu corpo
caloroso, de sentir a tranquilidade de quando ele mama nos meus seios. Por
que Edgar tem que ser tão gostoso e misterioso ao mesmo tempo?
Parece que a vida dele é um enigma, mas estou determinada a descobrir
tudo.
A rua de casa está vazia, o único barulho que ouço é de um carro, quando
olho para o lado de fora da minha casa. Arrumo meu pijama nos seios e calço
meu chinelo, quando levanto.
Depois que atravesso a porta de casa, eu destravo o portão, abrindo com
minha chave. A rua está deserta, passa uma moto de entregas e mais à frente
tem um carro parado. Minha atenção fica na traseira do carro preto, engulo o
ar quando a luz de ré é acionada. Penso em correr e fechar o portão, porém
fico parada. O carro para bruscamente na minha frente.
— Entra. — Franzo as sobrancelhas ouvindo a voz do Italiano.
Ele está em outro carro.
— Eu só vou fechar a porta de casa.
Fecho a porta e travo o portão do lado de fora. Abro a porta do carona e
entro. Não sei como sou mandada automaticamente para perto dele.
Seu cheiro de hidratante masculino… como é bom! Estudo seu corpo no
banco: bermuda na cor bege, marcando suas coxas, camiseta preta envolta dos
seus bíceps e peitoral. Ele está sem boné. Sobrancelhas grossas e feitas, a
língua surge nos lábios para molhar, deixando bem detalhado.
Tinha esquecido a sensação de estar à sua mercê, nesse momento me sinto
uma palhaça em ficar olhando-o.
— Oi...
— A porta está aberta. — Seu corpo vem contra o meu em direção a porta.
Escuto o barulho dele abrindo e fechando a porta devagar. Quando penso
que ele voltaria para seu lugar, o rosto abaixa em direção do meu pescoço,
inclino minha cabeça para o lado direito e deixo meu pescoço exposto para ele
cheirar.
— Se fosse um sequestrador, te sequestrava fácil. — Seu hálito quente bate
contra minha pele do pescoço.
— Eu ia correr.
— Não correu. Tem que ser mais esperta, Maitê. — Volta a posição para
seu banco.
— Mas eu sabia que era você.
Ele coloca sua mão no banco, atrás da minha cabeça e me olha. Seus olhos
avelãs esverdeados me fitam, eu tenho sensações múltiplas. Como ter a minha
boceta pulsando com seu olhar.
— Como sabia? O carro é outro. Não deve sair assim na rua, ainda mais
com esse pijama transparente — fita meus seios e ergue seus olhos na minha
direção. — Entendeu?
— É uma ordem?
— É.
— Tá bom, tem alguma outra ordem?
— Você sai assim na rua? — A mão dele desce para minha coxa, sinto a
dor quando ele aperta minha pele. — Está transparente pra caralho, Maitê.
— Dói.
— Você me estressa.
Sua mão grossa vem até minha barriga, ele simplesmente a enfia dentro do
meu short do pijama. Minha respiração pesada sai entre meus lábios. Sua
respiração tensa fica mais pesada, ele me sente sem calcinha e desliza seu
dedo por meu clitóris inchado, mais um pouco pra baixo… estou molhada. Ele
sente.
Meus olhos estão fixos na fúria do seu olhar.
— Eu estava em casa e sai pra ver o carro, fiquei com medo de ser meu
pai. — Minha voz sai falha.
— Não me estressa assim, linda. Na moral. Estou estressado pra caralho
esses dias por sua culpa.
— Por minha culpa?
A mão continua no meu clitóris, abro minhas pernas trêmulas e seguro
firme em cada lado do banco.
— Ninguém ameaça o que me pertence.
Tento controlar minha respiração, a tensão grita alto. Algo difícil de
controlar, de se explicar. Meus olhos descem até sua bermuda, o volume duro
por baixo da bermuda é notável. Mordo meu lábio inferior e sinto dor pela
forma que mordo.
— Vai me punir? — Tento aproximar minha boca da sua, mas ele desvia,
fazendo pegar no canto.
— Você quer que eu te bata como uma puta, hum? É isso que você quer
sentir? Ser submissa, ser minha submissa? — Seus olhos esverdeados me
analisam. Eu concordo.
Basta minha confirmação, Italiano tira sua mão do meu corpo e liga o
motor do carro novamente, saindo pela rua.
CAPÍTULO 28

Olho na direção da Maitê, ela está de costas, de pés no chão e debruçada de


barriga para baixo na cama do quarto onde tem meus objetos de submissão.
Seus braços amarrados para trás. A visão que me proporciona é da sua bunda
empinada. Ela sabe como me deixa maluco de raiva e tesão ao mesmo tempo,
como nenhuma outra mulher fez na minha vida.
A bunda é uma miragem sem nada para tampar, as costas nuas, com o
cabelo grande, acompanhando seu rosto de lado no colchão. Sua respiração é
tensa, lutando com a sensação do meu corpo atrás do dela. Porra, estou
estressado, não minto, minha vontade de espalmar essa bunda com força não
vai passar.
— O que você quer falar? — Aproximo e aperto a corda. Coloco meu
corpo caloroso contra o dela.
O volume do meu pau duro bate contra sua nádega, em excitação solto
uma respiração pesada.
— Tem alguma palavra de segurança?
— Não — um murmúrio ríspido sai dos meus lábios. — Você estava
parecendo uma puta na rua, o único lugar que quero ver você sendo puta, é na
minha cama.
— Eu sabia que era você. — Molho o canto da minha boca.
Apalpo sua bunda com minha mão direita e desço entre suas pernas, sua
boceta molhada pulsa contra meus dedos. A vagabunda está molhadinha.
Aperto os lábios carnudos da boceta entre meus dedos com uma certa força,
ouvindo-a gemer e xingando algo contra o lençol.
— Poderia estar fazendo amor comigo, mas você prefere ver meu lado
bruto contigo.
— Pode ser alternando, hoje bruto, amanhã amor? — Não contenho um
sorriso irônico de canto nos meus lábios.
— A minha sessão de terapia é descontar minha raiva em você.
Maitê prende a respiração. Deslizo três dedos por sua boceta e sem que ela
espere, os enfio para dentro. Seu canal vaginal molhado suga meus dedos, ela
geme baixo e inclina o rosto para trás, com a sensação prazerosa.
— Então me mostra o ódio que você está sentindo, me tortura.
Movimento levemente meus dedos. Vai e vem… ela geme. Geme gostoso,
ela está gostando, por enquanto, daqui a pouco quero vê-la chorar com meu
pau latejando dessa boceta melada.
— Sabe o que vou fazer com você agora? — Tiro meus dedos de dentro
dela. — Vou deixar essa bunda marcada como você nunca viu.
Saio de trás dela por poucos segundos, e vou até a cômoda, onde contém
coisas envolvidas para um sexo bruto, eu pego um dos acessórios. A
palmatória para deixar sua bunda marcada.
— Italiano…
— Quieta.
Minha mão desfere a primeira palmatória na sua bunda, que deixa
vermelho. Seus pulsos contorcem para trás, ela remexe e grita contra o lençol.
É necessário cuidado e atenção, já que essas são áreas muito sensíveis e
podem machucar a carne.
— Está doendo. — Sua voz sai baixa.
— Eram seis vezes, agora são oito, você reclamou. Eu não quero que
reclame — aperto sua bunda. — Fica quieta, fica.
Deixo mais uma vez sobre sua pele, a cor vermelha ressalta e seu gemido
agride minha audição. Mais um…outro…outro. As oito vezes são dispersas
enquanto Maitê se contorce, agora com mais força. Eu sei o quanto está
doendo.
Deixo a palmatória na cama. Simplesmente grudo minha mão no seu
cabelo, enrolando entre meus dedos e puxando-a para trás. Seu corpo é
erguido com a força que puxo seu cabelo, o impacto faz seu pequeno tamanho
bater contra meu tórax.
— Não aguenta? — Meu hálito quente soa contra a lateral do seu rosto
perto da orelha. — Você é minha, vai ter que aguentar essa porra direto... Eu
lido com você assim, eu faço você ficar calma. Posso te respeitar do lado de
fora, mas aqui dentro, você me respeita.
Eu falo antes de amarrá-la na cama para começar a foder com seu corpo.

Encaro a tela do meu celular. Gil não atende minha chamada, na sacada,
dígito mensagens.

Italiano: Está de sacanagem?


Resolveu o problema que pedi sobre aquele dinheiro?
Vacilão pra caralho.

Nenhuma das mensagens foram recebidas. Molho meus lábios e bloqueio a


tela do meu celular. Estressado, solto o ar pelo nariz.
Olho as casas pela sacada e reflito. Estou pouco me fodendo para a vida
pessoal do William, mas minha relação com ele em questão de trabalho tem
que ser resolvida conforme oriento. Ele simplesmente some do mapa? Odeio
vacilo e ele está começando a vacilar comigo.
— Eu terminei de comer. — Ouço a voz da Maitê no quarto.
Atravesso a porta da sacada e fecho a porta, passando minha mão pelo
cabelo ainda úmido.
— Preciso resolver umas coisas. — Deixo o celular em cima da cômoda.
Seus olhos me fitam enquanto visto uma camiseta. Maitê está sentada na
beira da cama de pijama, marcando suas curvas.
— Você quer dormir comigo ou ir embora? — Me aproximo e seguro sua
mandíbula.
— Mas agora são quase 1h00min da manhã, o que tem pra fazer agora? —
Olho seus olhos grandes e pretos.
— Não tem, mas combinei com um rapaz, pelo jeito está de sacanagem
comigo.
— Vai demorar muito?
— Tem medo de ficar sozinha? — Ela balança a cabeça, confirmando. —
Não pode me esperar, linda? Volto rápido. — Falo a verdade.
Estou cansado desses últimos dias mal dormido, enquanto quero voltar
logo e dormir com ela. Tê-la completamente para mim.
— Eu te espero aqui. — Diz ela e confirmo.
— Espero que entenda o motivo por que eu fiquei quieta esses três dias.
— Não precisa explicar. Eu te entendo. — Suavizo um toque no seu rosto.
— Você ficou com alguém? — Pergunta.
— Está falando sobre o que?
— Não sei como é sua vida, com quantas fica…
Respiro fundo sem desviar meu olhar do seu.
— Não tem ninguém.
— Hum… não confio, mas tudo bem.
— Não confia em mim?
— Não, não sei nada sobre você fora da cama. Só sei que você fode bem e
gosta de me bater como se eu fosse uma vagabunda. — Suas palavras saem
como um atracamento.
Passo minha língua no canto dos meus lábios.
— Está falando sério sobre minha vida mesmo? Quer saber com quem
converso, com quem estou no dia a dia? – Ela coloca seu cabelo atrás da
orelha.
— Estou falando sério. Você sabe da minha, não é mais que justo eu saber
da sua?
— Hum. Um dia te apresento para os mais íntimos. Não tem muita pessoa.
— Tudo bem.
Abaixo meu rosto, forçando-a a beijar meus lábios. Ela retribui
vagarosamente o beijo contra sua língua quente. Segurando sua mandíbula,
inclino para lateral, cheirando seu pescoço com o cheiro de baunilha.
— A Lorena voltou a te falar algo? — Questiono quando solto seu rosto e
coloco minhas mãos no bolso da bermuda.
— Não, eu a havia bloqueado.
— Continua assim, não quero você trocando assunto com ela. — Mando.
— Uhum, mais um pra lista, vou começar a anotar, Levi…— Aperto os
olhos quando escuto o nome desse pela saco saindo da sua boca. — Agora a
Lorena — ela mostra dois dedos — Dois para a lista.
— Só obedeça. — Falo. — Volto em vinte minutos, vou rápido.
— Tá bom, cuidado.
— Me liga qualquer coisa.
Pego meu celular e deixo o quarto para trás. Estou relaxado em ter
transado com ela, caso contrário Gil iria aguentar meu estresse dez vezes pior
com a porra das minhas bolas roxas e inchadas de porra.
Deixo a porta trancada do lado de fora da casa e enfio meu corpo no carro
dentro da garagem. Minha cabeça estuda o que Gil pode estar fazendo,
principalmente por saber que corro o perigo de ir sozinho até a comunidade.
Um tempo depois do trajeto. Eu estou na comunidade, com meu corpo
encostado no meu novo carro, um volvo XC60. Peguei o carro ontem de tarde,
é preta com os vidros fumês, são reluzentes. Passo a mão pela segunda vez no
meu rosto, impaciente.
Cerca de trinta minutos, Oli aproxima-se com alguns rapazes. Eu encaro
seu rosto e cruzo os braços. Ele arruma a arma na cintura e sustenta o olhar à
minha direita.
— Está suave? — Oli questiona.
— Não, não tem nada suave — ajeito meu cabelo. — Quero saber do Gil.
— Não o achamos.
— Porra — falo sério. Molho meus lábios. — Nem a porra do carro? Não
sabe se ele saiu, ou se não está dentro da comunidade?
— Não vi — ele vira o rosto para trás, olhando os outros rapazes. — Vocês
viram o Gil ou o carro dele por aqui?
— O vi do outro lado, no morro da Alvorada. — A voz de um deles entra
no meu ouvido.
— Qual foi? Ele está atrasando seu lado, não está? — Oli me encara.
Suspiro fundo.
— Isso não é papo pra você, só queria saber dele mesmo. — Respondo.
— Ultimamente ele anda afastado, está mais na defensiva.
— Não quero saber de história triste, Oli. Tem um compromisso que eu
pago pra fazer? O trato é fazer, estou fornecendo a confiança para fazer,
sacou? É mais bonito mandar a real, falar que não pode ter a porra de um
compromisso comigo — ele confirma mais uma vez, ficando quieto ao me
encarar. — Procura ele em cada beco daqui e manda vir ao meu encontro –
dou as costas e abro a porta do meu carro. — Quero dois seguranças comigo e
manda os outros atrás dele. — Falo estressado e entro no carro.
Um tempo depois, o celular vibra no painel do meu carro. É o Gil, de
imediato atendo sua ligação.
— Está onde?
— Estava resolvendo problema — escuto a voz na defensiva. — Com a
Érica.
— Estou pouco me importando com quem estava metido em problemas. O
único trato que estou lembrando era você pegando o dinheiro com o Dinho.
Estou te esperando no mesmo local aqui na ladeira, perto da rua 01, uma das
primeiras. — Encerro a ligação na mesma hora.
Suspiro fundo mais uma vez.
Respira e inspira.

Mensagem da Maitê.

Maitê: Trancou a porta por fora?

Meus olhos sonolentos lêem a mensagem.


Italiano: Tentou abrir?
Maitê: Tinha alguém chamando aqui.

Franzo as sobrancelhas.
Italiano: Você respondeu algo?

Maitê: Não, era um rapaz, não sei quem, mas deve ser que confundiu
também, apenas batendo no portão e perguntando se tinha alguém em casa.

Italiano: Não responde, fica no celular e me liga,


não sai desse celular. Daqui a pouco vou embora.

Ligo o motor do carro. Coloco o celular no painel ligado na mensagem da


Maitê.
Gil surge no meu campo de visão, parando o carro em uma certa distância
e vindo em minha direção.
— Eu fui resolver o problema, Italiano. Eram 8h00min da noite. Só vou
confirmar o valor.
— Era só ter atendido a porra desse telefone ou ter avisado — encaro-o. —
Você me sair da minha outra casa pra brotar aqui com raiva, deixei a minha
mulher sozinha — ele franze as sobrancelhas. — Estou bolado com você,
William, não quero mais vacilo, sacou?
— Estava resolvendo problemas.
— No morro do Alvorada? — Desço o olhar até o pescoço com a corrente
fina de ouro. Ele engole a própria saliva.
— Foi depois de resolver a pendência do dinheiro — cruza os braços,
olhando meu rosto. — Não te interessa onde eu estava depois. — Passo a
língua no canto da boca e solto uma risada irônica.
— Pelo menos atende o celular ou avisa.
— Quando não fiz meus trabalhos? Não brinco de casinha com você,
Italiano — fico quieto. — Está achando o que? Que sou sua mulherzinha pra
atender o telefone quando você quiser? Fui atrás do dinheiro e consegui,
amanhã vai estar contado na sua mão, como combinamos.
— Segura sua onda, caralho! — Ele olha para os lados e solta uma risada
baixa.
— Saudades do cara que fica enchendo teu saco, bandido mau?
— Não.
— Está sim.
Nesses últimos dias, ele se afastou depois da madrugada em que mandei ir
comigo até a casa da Lorena.
— Vou embora. — Falo.
Sem esperar sua resposta, volto a olhar a tela do meu celular. Entro no
número da Maitê e disco uma chamada.
— Depois preciso conversar com você. — Gil avisa.
— Sobre o quê?
— Sobre umas coisas que estão acontecendo, quero conversar com você —
me olha nos olhos. — Quero assumir uma pessoa e quero que seja o primeiro
a saber.
— O que tenho com isso? — Olho para o celular e vejo que Maitê não
atendeu. Disco de novo.
— Vai saber quando for conversar comigo.
Tento ligar mais uma vez e a ligação não é atendida, porra, o que
aconteceu? Minha mente ferve só de pensar várias coisas acontecendo com ela
por minha culpa.
CAPÍTULO 29

Estou na cama do Italiano e as manchas escuras estão fixas no meu corpo,


principalmente no meu pulso, pelo aperto forte que ele deixou quando
transamos. Já é de manhã, eu simplesmente amanheci na cama, o que lembro
foi ter apagado no sofá da sala com o celular no meu rosto.
Subo a alça do meu pijama. Meus seios doem um pouco. Eu fico relaxada
sabendo que meus seios o acalmam. A cama ao meu lado está vazia, mas tem
sinal que ele acordou agora há pouco.
Saio da cama na intenção de lavar meu rosto inchado pelo sono e escovar
meus dentes. Assim faço, quando entro no banheiro. Logo após, vou em
direção a cozinha com meu cabelo penteado para trás e solto.
Sinto cheiro de café…
— Conseguiu resolver seus negócios ontem? — Minha voz interroga na
cozinha.
Edgar que tem os olhos mantidos no celular, sentado em uma das cadeiras
da cozinha, traz sua expressão tranquila em direção ao meu rosto. Ele
preparou uma mesa com coisas para comer e café.
Fala sério!
— Eu — encosto na mesa e bato levemente minhas unhas sob a madeira.
— Estou com fome, parece estar bom, posso comer com você? — Pareço uma
criança pedindo doce.
Ele aponta a cadeira ao seu lado e coloca o celular em algum lugar na
mesa. Sento ao seu lado, com um sorriso de canto em meus lábios, eu olho-o.
— Está tudo bem?
— Resolvi sim. — Confirma a pergunta anterior.

— Uhum... eu não te vi chegando.


— Claro, você dormiu, pô. Pedi pra ficar no celular.
Estudo sua expressão, ele não tem o cansaço que tinha ontem. Veste uma
camisa escura, o tecido marca seus bíceps, seu peitoral. Bermuda clara. Seu
cabelo penteado para trás. Um verdadeiro Deus grego.
— Eu lembro que você acordou de madrugada pedindo por meus seios. —
Ele desvia seu olhar para meu pescoço, envergonhado. — Está com vergonha?
Respira fundo.
Ele nega sério. Hum... Está sim, eu vejo sua vergonha estampada no rosto.
— Você sabe quem veio aqui?
— Não sei, não conheço. — Dou de ombros.
— Te viram? — Nego. Seu silêncio paira sobre o ar.
— Como? Você me trancou aqui dentro... poderia ter pulado a janela. —
Falo, pensativa.
— Vou arrumar algo pra você conhecer minha madrinha. Aqui mesmo, te
apresento os meus mais próximos — sua mão direita vem até minha coxa onde
ele aperta. — Me deixa passar o nariz no teu pescoço, deixa, linda?
Próximo a ele, seu corpo virado para o meu lado, eu inclino minha cabeça
para o outro lado. Ele passa seu nariz pelo meu pescoço várias vezes, com a
respiração quente. Meus pelos arrepiam com seu toque.
Como é bom tê-lo dessa forma.
— Você me tem pela metade.
— Metade? — Seu rosto duvidoso afasta um pouco e seus olhos
semicerrados me olham. — Não me contento com metade — sua voz grossa
fala. — Está falando de outro homem? — Seu tom muda.
— É porque a outra metade está com fome. — O escuto soltando o ar.
— Não me deixa estressado, minha linda. Quero tratá-la bem. — Sua boca
vem contra a lateral da minha.
Viro meu rosto em sua direção, beijando-o, com a sensação múltipla do seu
hálito com gosto de maconha. Cara, logo de manhã? Mas é bom a sensação, é
relaxante. Minha língua quente desliza na sua, enquanto uma das suas mãos
puxa o meu cabelo na nuca. Louca de tesão por ele, a minha fome some e
quando caio na realidade, já estou sentada no seu colo, em cima da ereção do
seu pau duro.
— Está sem cueca? — Rebolo lentamente e fecho meus olhos.
Edgar cola sua testa na minha, gemendo baixo contra meus lábios. Eu sinto
a textura real do seu pau, o tamanho, a grossura por baixo do meu pijama.
— Quer comer ou me dar? — Pergunta.
Abro meus olhos, me encontrando com os olhos verdes avelãs. Ele desfere
um tapa na minha bunda, o tecido fino do pijama não protege a ardência. Sua
mão enorme encaixa correntemente.
— Posso te foder nessa mesa, hum, o que você acha? Minha puta. — A
voz grossa me causa calafrios. — Você está acabando comigo, a cabeça do
meu pau vai explodir.
Sei muito bem que ele já transou com todas as mulheres, interessantes, de
todas as cores, jeitos e posturas. Mas ouvindo-o em meio a esse tesão
exalando, eu me sinto lisonjeada de poder acabar com a cabecinha do pau
dele.
Ele é o número um da sua aldeia, e eu, como uma safada, estou louca para
ser sua presa fixa. Estou louca para me entregar dessa maneira para esse
homem. Os prazeres que ele me proporciona são inimagináveis. A forma
como ele domina cada ato comigo, eu não ligo em transar com ele quando e a
hora que ele quiser.
Entre beijos, ele me deixa nua, sem nenhuma roupa no corpo, e assim faço
também, deixando-o pelado. Apoiando na sua perna, ajoelhada no chão, eu
olho seu pau duro enquanto ele está sentado na cadeira. Seus olhos me olham
com desejo, eu aproximo minha boca do seu pau e deslizo minha língua,
sentindo o pré gozo na sua cabecinha, como é gostoso.
Meu Deus.
Desço a língua, contornando seu pau, levo minha boca até seu saco e sugo,
ouvindo seu gemido rouco. Grande... grosso, gostoso, cheiroso e dominante,
as veias, a textura. Uau…
Edgar encaixa suas duas mãos no meu cabelo. Com o começo do boquete,
ele empurra minha boca levemente contra seu pau, e eu chupo, eu lambuzo.
Me satisfaço com seu pau dentro da minha boca. Ele geme, a textura
aveludada da minha boca o deixa louco, posso ver sua expressão facial e seus
músculos tensos.
— Você mama gostoso pra porra, assim não vou aguentar muito tempo,
linda. — Sua voz grossa fala quando seu pau vai no fundo da minha garganta.
O tesão é gritante. Entre tapas no meu rosto, eu faço seu pau pulsar com
tesão em gozar.
— Gostosa! Ah, caralho, eu vou gozar. Vou gozar na sua boca, foda-se.
Suas mãos forçam-me para movimentos mais brutos no seu pau. Seus
músculos ficam mais rígidos, o líquido quente da porra invade o fundo da
minha garganta. Forçada, eu engulo tudo e o restante escorre pelo canto da
minha boca, pingando no meu seio, enquanto seu pau incha entre meus lábios.
— Engole. — Manda, ofegante entre gemidos.
Me afasto, respirando forte, com uma leve dor na garganta. Me levanto, e
ele simplesmente me segura quando se levanta. Fácil, suas mãos me levantam,
colocando minha bunda sob a mesa, onde está vazia.
— Você gosta de me ter assim? — Entre minhas pernas, segura minha
mandíbula. — Gosta de ser feita de refém no meu sexo? Ser amarrada, não ver
nada? — Engulo saliva com ar, exalando luxúria.
Edgar deixa uma mordida na lateral do meu pescoço. Eu solto um gemido
baixo, quase implorando para ele me fazer gozar. Suas mordidas contornam,
descendo por meu pescoço, ele chega em direção ao meu mamilo direito.
Apoio minhas mãos nos seus ombros e cravo minhas unhas. Sua boca alimenta
minha alienação da sensação gostosa dele sugar meu mamilo direito e deixar
um pouco de leite vazar.
Tesão.
Seus dedos deslizam por minha boceta molhada. Ele mantém uma
expressão de prazer em me ver gemendo e revirando meus olhos. Essa é a
última visão, antes de fechar meus olhos, tomada pelo prazer. Edgar me fode
com o dedo, na boca... com a barba passando no meu clitóris, e eu toda
exposta para ele na mesa.
— Goza. — Ordena.
Jogo minha cabeça para trás, apertando minhas mãos contra a mesa. Três
dedos entram e saem com facilidade, deslizando... Ele me faz gozar entre
gemidos, respirações pesadas e pernas trêmulas.
Mais tarde, antes de voltar para casa do mercado, eu encontro Lorena em
frente da padaria. Tento passar sem olhá-la, mas sua voz toma conta da minha
audição.
— Parece estar mais bonita. — Franzo as sobrancelhas.
Seu rosto está repleto de hematomas roxos. A marcação é gigantesca que
nem a base disfarçou.
— Está indo para sua casa? Deve ter chegado tarde hoje, não é?
Seu tom de voz é sarcástico. Ela brinca com minha cara como se nunca
tivéssemos sido amigas. De dentro da padaria, uma menina olha atenta para
nossa direção, cabelos ondulados e uma expressão de interrogação.
— Foram na minha casa — volto minha atenção para o rosto da Lorena. —
Te falaram que me bateram? — Nego e passo por ela sem dar a devida
atenção, mas sua mão me segura com força.
— Eu não sei de nada, Lorena, me solta. — Sinto as unhas na minha pele.
— Deve saber sim, foi depois daquele dia com seu pai! — Encaro seus
olhos e nego mais uma vez.
Lorena é alta, maior que eu, siliconada.
— Mandei você não abrir a boca pra sua mãe e você falou justo pra ele! —
Entredentes fala. — Por sua culpa, eu apanhei.
— O que você queria, que eu te ajudasse a dar pro meu pai?
— Maitê! — Ela engole em seco, sabendo que as pessoas em volta
ouviram.
— Deixa ela — a menina de dentro da padaria aproxima. — Solta ela,
Lorena. — Ela aperta com força meu pulso e solta. — Sai daqui, vai logo.
Com uma última olhada em meu rosto, Lorena sai em direção a rua.
— O que…
— Fica tranquila, está tudo bem? — A menina me olha. — Prazer, Stella.
Ergue a mão na minha direção. Respiro fraco e seguro sua mão.
— Você conhece a Lorena?
— Quem não conhece? — Fito seus olhos. — Ela é famosa tanto aqui,
quanto em todas as favelas do Complexo do Alemão. Ela te tratou bem mal,
mas não liga, Lorena uma hora acha o karma dela.
— Eu sei. — Ela dá um sorriso.
— Mora por aqui?
— Sim. — Aponto a cabeça para a rua acima.
— Moro aqui também, mas nunca te vi, deve ser porque moro do outro
lado. Foi bom te conhecer, seu nome?
— Maitê. — Sussurro.

Giro a moeda entre meus dedos. Depois de alguns minutos, ergo meu olhar
em direção ao HG, que mantém assuntos com alguns rapazes. Estou sentado
em uma das cadeiras, na laje, cheguei dentro da comunidade pela manhã e
hoje quero ficar um pouco afastado dos problemas.
— Está geral da comunidade comentando sobre a mãe do Gil. — Escuto
um deles falar para o HG.
— O que foi a fofoca dessa vez?
— Eles te viram com a Érica, saindo da base na Penha. — Guardo a moeda
no bolso e arrumo meu boné na cabeça.
O tempo todo que estou aqui, eles estão comentando sobre esse assunto. O
pessoal da comunidade agora está com esse assunto e não irão parar tão cedo.
Ainda mais por HG ser considerado como amigo do Gil e terem crescido um
do lado do outro.
Pego meu baseado, que já estava na ponta e acendo, dando uma tragada,
puxo um pouco. Solto a fumaça pelo ar.
— Você viu o Gil hoje? — A voz do HG entra na minha audição quando
ele se aproxima.
— Ele é minha mulher pra saber dele o tempo todo? — Olho em direção
aos rapazes e não revido o olhar do HG. — É? — Encaro-o na minha frente.
— Não o viu hoje?
— Não — trago o cigarro e solto a fumaça mais uma vez. — Está
comendo a mãe dele?
— Que caralho — resmunga, se abaixando ao lado da minha cadeira. — O
pessoal agora está com essa merda na boca, isso vai chegar no ouvido do cara.
— Já deve ter chegado. — Solto o ar pelo nariz.
— Me passa o baseado. — Viro meu rosto na direção dele e acabo
passando. — Ele vai querer cobrar.
— Cobrar é pouco. Ele mesmo disse sobre alguém daqui se envolver com
a mãe, e eu não vou entrar nisso, sacou? — Sustento seu olhar. Ele tenta
entregar o baseado de volta, mas não pego. — Ele vai fazer o que bem
entender.
— Não vai impedi-lo?
— Ele já deixou todos cientes, eu vou ir contra ele? Não.
— Ele vai me chamar para trocar ideias — suspira fundo. — Mas não me
arrependo de nada, se fosse pra comer de novo, eu comia. Ela é foda e nada
tira aquela mulher da minha cabeça, mesmo sendo mais velha que eu e mãe do
cara que eu considero pra caralho. — Fico quieto.
Depois de ficar um tempo no meio das fofocas entre eles, vou direto para a
padaria da minha madrinha. São quase 13h00min e a fome bate na porta do
meu estômago, preciso tomar um café da tarde.
— Estava sumido há quatro dias, resolveu aparecer? — Minha madrinha
pergunta. Sento no banco alto de madeira, em frente ao balcão da padaria.
— Estou de cabeça quente.
— O que você quer?
— A mesma coisa de sempre.
— Você está bem? — Confirmo.
— Final desta semana — começo a falar, olhando-a preparar o pão. — Vou
te levar até minha outra casa.
— O que tem lá?
— Vou te apresentar uma mulher.
Silêncio.
Ela para de fazer o que está fazendo, fica alguns segundos paralisada e vira
na minha direção. Continuo sério, olhando-a. Sua expressão é de interrogação,
ela tenta entender o que estou falando.
— Mulher? É um milagre, quantos anos ela tem?
— Dezoito.
— Você com trinta e quatro anos, pronto para os trinta e cinco, acha isso
certo? — Passo minha língua no canto da boca. — Dezesseis anos de
diferença, a mãe dela sabe? — Dou de ombros. — Meu Deus... — Ela volta a
fazer o pão.
— Não estou forçando-a a nada.
— Mas às vezes tá iludindo, Edgar — ela coloca o prato com o pão em
cima do balcão, ao lado da caneca de café. — Ela é nova, está começando a
vida agora, você é maluco e surtado!
— Sou tranquilo. — Começo a tomar o café.
Nunca perguntei para Maitê em relação às idades. A idade não importa
entre um cômodo de quatro paredes, e se para ela está normal, então é
tranquilo... ela sabe minha idade, mesmo sendo nova, Maitê foi a única que
me segurou por tanto tempo assim. Mesmo sendo impossível, ela sabe que
será minha mulher.
— Lara te disse alguma coisa? — Coloco a caneca do café em cima do
balcão, ouvindo Maressa.
— Sobre o quê?
— O dia que foi buscar ela no churrasco? — Nego. — Eu notei ela
diferente, perguntei...
— O que ele disse?
— Que ela perdeu a virgindade — minha expressão muda. — Nesse
churrasco.
Solto uma respiração forte.
— Quem foi o filho da puta?
— Não adianta, Edgar, ela quis e o cara também quis! Escolhas dela, ela
não sabe quem é o rapaz, disse que queria e ele também quis, então não
pensou duas vezes antes de perder a virgindade com qualquer um.
O sangue das minhas veias ferve. Um ódio que antes não estava sentindo,
começa a aparecer. Lara é nova, não vou aceitar ela transando com quatorze
anos e, principalmente, transando com qualquer um. Ela estava na idade de
estudar, de desfrutar a adolescência, procurar um futuro.
— Lara não tem idade pra essa porra.
— O que eu vou fazer? Amarrá-la?
— Ela precisa levar uma surra. Você a deixa passar assim por cima de
você, vai se arrepender, depois aparece grávida ou com doença. — Oriento.
Minha atenção vai para a chamada do rádio, com a voz do Oli.
— Gil está furioso com o HG aqui na comunidade. O clima entre os dois
está tenso, é pra deixar rolar? — Oli pergunta.
— Deixa. — Falo, simples.
CAPÍTULO 30

Meu celular vibra em uma única mensagem. Eu pego na intenção de ver


quem é, e meus olhos analisam uma foto da Maitê.
Abusada e safada.
A foto é dela, com apenas uma calcinha tampando sua boceta depilada. O
braço esquerdo tampa os seios enormes e o ângulo da foto é puxado de cima,
onde ela está sentada na cama. Guardo o celular de imediato no meu bolso por
conta dos rapazes à minha volta.
Na minha mente, passa a forma de fodê-la com a calcinha no seu corpo,
apenas colocando de lado na boceta.
Sem tocar no seu corpo e o calor começa a enraizar. Abro uma garrafa
pequena de água e bebo um pouco.
— Vi sua mãe preocupada na porta da sua casa, Gil. — A voz do Oli entra
na minha audição.
— Agora? — Gil questiona em uma das cadeiras na mesa do bar.
— É, agora há pouco, antes de descer para cá. — Não entro no assunto.
Gil não fala nada. Em silêncio, pega seu copo de cerveja e bebe, está
sistemático. Ainda mais pelo que aconteceu hoje, HG ficou machucado da
surra que levou dele.
Eu faria pior, sendo quem sou e da forma que lido com meu ódio, a pessoa
iria ser detonada em minhas mãos.
— Ela está querendo saber de você. — Oli volta a tocar no assunto.
— Agora ela deve estar preocupada com o que penso — Gil rebate. — Na
hora de dar a boceta para um amigo do filho, não pensou.
— Sua mãe é velha pra saber o que está fazendo.
— Eu sei, Oli. Mas pelo menos uma consideração dos dois eu tinha que
ter. Ela pode ficar com ele, mas não olho nunca mais na cara de nenhum dos
dois. — Diz. — Eu perdi a consideração com o HG.
Duas mulheres entram no bar. O silêncio prevalece entre nós três, sentados
na mesa, observando-as. A primeira é a Brenda, seu cabelo loiro e um vestido
vulgar. A outra é baixa, tem uma saia preta e um body nude no seu corpo,
cabelo jogado de lado. Ela mantém sua postura séria e ereta, sabendo que tem
bandidos no mesmo local que ela.
William observa a menina, os olhos acompanham a bunda na saia preta
quando ela vai para o balcão ao lado da amiga.
— Carne nova na comunidade? — Gil pergunta.
— A loira não. — Respondo, olhando para a loira.
— A cara de safada dela. — Oli brinca. — É puta.
Brenda olha na minha direção. Seu sorriso cresce em seus lábios, e eu
mantenho minha expressão séria.
— Conhecida na comunidade da Penha, famosa do Instagram, na boca de
bandido é conhecida por Brendinha. Essa Brenda é da Olaria. — Falo.
Mesmo lugar onde a Maitê, penso.
— E a outra? — Gil investiga.
— Não conheço. — Respondo.
Brenda é conhecida por alguns bandidos. Recebe pra foder, pra fazer
boquete e dar o cu. Certeza que a outra não sabe o quanto a amiga é atiçada
por bandido.
Um tempo depois, à noite. Eu vou para a casa da Maressa. Do lado de fora
do meu carro, aproveito para digitar a mensagem da Maitê.

Italiano: Fica com essa calcinha. Quero te ver com ela no corpo.
Gostosa. Vou colocar ela de lado e enfiar meu pau duro dentro de você.

Não espero sua resposta e entro para dentro da casa da minha madrinha.
— Eu falar o que? Te dar parabéns? Lara, você tem apenas quatorze anos,
quatorze! — A voz alta da Maressa invade minha audição.
Lara está sentada no sofá, enquanto sua mãe, em pé, encara a filha no sofá.
— Pelo menos usou preservativo? — Maressa pergunta.
— A senhora nunca transou? — Fecho a porta. A voz da Lara é defensiva.
— Lara, se fosse com um rapaz que você soubesse quem é! — Maressa me
encara.
— Desculpa. — Lara pede para a mãe.
— Quem foi? — Aproximo e cruzo os braços. — Fala quem foi o cara,
Lara.
— Pare, Edgar. Eu queria, eu estava bêbada, mas eu queria... eu não sei
quem é, não lembro bem. — Sussurra com medo.
— Você tem apenas quatorze anos, porra. Idade de estudar, de procurar um
futuro pra você. — Aponto o dedo para ela. Maressa suspira fundo. — Não
está na idade de sair atrás de homem! — Passo minhas duas mãos no rosto.
— E vocês? Vocês perderam a virgindade com quantos anos? Com trinta
não foi, não é? — Ela se levanta.
— Não estamos falando de virgindade, Lara — Maressa aumenta o tom de
voz. — Você sequer usou a porra de um preservativo, não sabe com quem. Eu
sempre te expliquei sobre isso, sempre te ensinei sobre preservativo.
— Foi com alguém daqui? — Questiono.
— Não. — Nega.
— Alguém daqui já tentou algo com você? — Ela nega com receio.
— Eu vou para o meu quarto. — Fala em um sussurro.
Sem esperar nenhuma palavra, Lara sai em direção ao corredor.
— Eu tento não entrar na vida dela, não sou pai. — Falo.
— Mas você que me ajudou a criar, Edgar.
— Ela precisa abrir os olhos, enxergar como a vida é de verdade, uma hora
vai engravidar ou pegar uma doença. Ela tá agindo como criança, Maressa.
— Eu tento ensinar, mas ela está ficando velha, parece que fica pior.
Pelo jeito a tendência é piorar.

Giro o volante do carro, estacionando dentro da garagem na minha casa,


aciono o controle do portão e ele fecha atrás do carro.
Maitê pega uma bolsa pequena em seus pés, pronta para sair do carro.
Quando ela faz menção de descer, seguro seu pulso. A porta fecha de novo e
os olhos pretos vem na minha direção, o movimento a faz jogar o cabelo todo
para trás, fazendo o cheiro gostoso pairar no ar.
— O que aconteceu? — Pergunta, confusa.
Levo minha mão esquerda até sua bochecha e tiro uma sujeira pequena.
— Você acha isso errado? — Ela franze as sobrancelhas. — De idade, você
acha que sou muito velho pra você? — Observo um sorriso e as covinhas
destacando-se.
— Na verdade sim — pensa, semicerro meus olhos. — Oitenta e quatro
anos é muita coisa.
— Oitenta quatro anos — murmuro, bolado. — Mas na hora do meu pau
ficar duro não é oitenta e quatro anos? — Dou um tapa fraco no rosto dela e
seguro sua mandíbula. — Responde, linda. Quando meu pau está no fundo da
sua boceta, é oitenta e quatro anos?
— Não. — Sussurra.
— Você vem todo dia louca pra me dar, nessa hora não é oitenta e quatro
anos. — Ela engole em seco, dou um sorrisinho de canto.
Deixo-a toda vez assim, fraca na minha mão, pronto para fazer o que
quiser com ela.
— Veio com a calcinha?
— Vim — a voz trêmula e vergonhosa sussurra, saindo entre os lábios,
onde ela morde em seguida, arrastando os dentes devagar. — Nós gozamos
hoje cedo... e minha menstruação desceu.
— Tem nojo? — Ela nega. — Meu pau também não. — Sua risada baixa
sai entre seus lábios.
— Meu Deus! Você vai ficar brocha muito cedo de tanto jogar esses
espermatozoides para fora. — Reviro os olhos.
Levo minha mão até o porta-luvas, olho a Glock entre as coisas. Ela olha
por um tempo, mas não fala nada. Minha mão vai até uma caixa pequena, tiro
de dentro do porta-luvas, fechando em seguida.
— O que é isso?
Encosto no banco, entregando a caixinha para ela.
— Pra você, abre — ela abre. Seus olhos brilham com o anel ouro rosê,
com diamante dentro da caixa. A pedra de diamante pequena na cor preta
destaca. — Da cor dos seus olhos.
— Meu Deus... isso deve ser muito caro — ela tira de dentro. — Edgar...
— Me olha e volta, olhando para o anel.
— Coloca. — Demora um tempo olhando, até ela colocar no dedo.
— Ficou perfeito o tamanho, a cor — sussurra. — Mas não posso aceitar.
– É seu.
— O diamante preto...
— Minha cor, ainda mais depois de conhecer seus olhos pretos. A cor
combinou com você.
Recordo desses olhos pretos no dia que a encontrei no banco. Ela não
imagina que está na mão do vilão dessa história toda.
Seus braços passam em volta da minha cintura, e sua boca deixa um beijo
no meu rosto.
— Obrigada. — Aliso seu cabelo nos meus dedos.
Passamos a noite juntos. E depois de transar com ela mais uma vez,
estamos deitados. Pensei que jamais falaria isso, mas Maitê está me dando
paz. Com ela, o tempo passa rápido.
— Edgar. — Solto um dos seios dela.
– Hum? – Passo a mão pelo meu cabelo ainda molhado e deito com a
cabeça no travesseiro ao seu lado.
— Vou começar a fazer algumas aulas. — Ela sobe a alça do pijama.
– Aula? — Encaro sem entender.
— De Pollerina. — Seus olhos pretos me fitam.
— Papo reto?
— Vou começar amanhã.
— Quem vai te ver?
— Minha professora e algumas meninas do mesmo horário. — Suspiro
fundo.
Tô ligado que é pole, aquelas porras de dança.
– Não te quero nisso.
— Sério? – Ela se senta. — Eu vou, Edgar, eu quero.
— Você é maluca pra me ver estressado com você. — Sento na cama. —
Por que não falou antes?
— Eu marquei hoje.
— Vai mesmo, vai para o caralho que fica passando mostrando sobre seu
corpo, porra. — Reclamo, estressado. — Você vai arrumar briga comigo.
— Arrumar briga?
– É, com um monte de homem te querendo, isso daí vai dar visibilidade
para outras coisas e você vai aceitar.
— Meu Deus. Eu não opino em nada da sua vida, na verdade eu não sei o
que você faz! — Me encara. — Eu não sei nada sobre você, Italiano. Irei
começar as aulas e caso eu tenha oportunidade em patrocínios de fotos ou
vídeos, eu vou aceitar mesmo! — Molho o canto da minha boca com minha
língua.
Sem olhá-la de novo, eu saio do quarto para evitar uma discussão.
CAPÍTULO 31

Alguns dias depois …


TERÇA-FEIRA|15H00MIN

Jogo meu cabelo todo para trás, colocando-o atrás da orelha. Minha
respiração está tensa em movimentos singulares com meu peito. A professora
me olha, ela parece contente com meu último movimento finalizado na dança.
Hoje é meu segundo ensaio ao lado de algumas meninas.
Os olhos da professora me analisam, como se quisesse saber de toda a
minha vida.
— Fez alguma aula além da minha? — Nego. — Então dançou alguma
vez?
Se aproxima em passos lentos. Seu cabelo está preso em um coque e sua
roupa é uma roupa de academia.
— Nunca fiz pole dance, mas quando eu era criança, brinquei muito no
balé. — Falo séria.
— Você tem um dom pra isso, Maitê. — Me observa. – É o seu segundo
ensaio, nenhuma se destacou tanto quanto você.
— Agora ela vai ficar elogiando essa garota. — A voz de uma das duas
meninas que estão no mesmo horário que o meu, surge mais no fundo.
Uma chama-se Júlia e a outra Caroline.
— Podem se preparar para sair. — A professora avisa.
De roupa trocada e mochila no ombro, calço minha sandália.
— Continue, Maitê. — A professora se aproxima. — Muitas entram e
desistem.
— Irei continuar. Estou apaixonada por tudo aqui, eu quero.
— Quem sabe tornar-se uma profissional? Tem talento e o melhor, sua
beleza é natural. — Seus olhos passam por todo meu rosto e descem por meus
seios, cintura e coxas.
– Obrigada. — Agradeço seu elogio.
Sabrina sorri e caminha em direção às outras meninas reunidas. Realmente,
a energia que o local transmite parj minha imaginação é surreal. Algo que me
prende de uma forma inexplicável.
Deixo a sala de dança, entrando no corredor em direção a saída. Mas, por
ironia, no corredor, uma menina traz um déjà vu de tê-la visto antes. Seu
cabelo preso em um coque, roupa simples e um celular em ambas as mãos.
— Oi. — Abro um sorriso, me aproximando.
Seu rosto vem na minha direção. Os olhos duvidosos, ganham tonalidades
de lembranças do meu semblante.
— Maitê! — Ela sorri.
— Eu estava saindo. Você faz alguma aula?
— Não — Troco um beijo em seu rosto. — Eu sou faxineira, trabalho aqui.
Você faz aula?
— Sim, comecei há uns dias, essa foi a segunda aula.
— Vai se destacar. Moramos no mesmo bairro, eu lembro de você falando,
podemos trocar contato? Marcamos alguma coisa.
Troco meu número de contato com ela. Stella é a moça que tomou voz no
dia do meu encontro inesperado com a Lorena.
– Te chamo depois, agora volto a trabalhar. – Stella sorri.
Antes de sair do local, me despeço dela. Não demora muito tempo para eu
chegar em casa. Eu noto que minha mãe está sentada em frente ao espelho do
seu quarto, quando passo pela porta. Ela se maquia com agilidade por ser
maquiadora, cabeleireira e manicure.
— Vai sair?
— Ah…você está me olhando? — Me encara através do espelho,
terminando de espalhar o pó. — Vou para o aniversário de uma amiga.
— Está muito arrumada para ser só com as amigas.
— Hum. Terão alguns homens. — Abro um sorriso fraco. — E você, não
vai sair?
— Sim... eu acho. — Dou de ombros.
— Então se arruma. Já são 21h00min.
— Posso conversar com você? — Minha mãe coloca o pincel em cima da
penteadeira e vira-se na minha direção.
Seu corpo envolta de um vestido azulado, chama a atenção.
— Ultimamente não estou ficando com você, estou trabalhando muito. —
Faz uma expressão. — Desculpa.
— Não tem problema, mãe. Não sou mais um bebê — nego. — Você
avistou o pai nos últimos dias?
— Ele passa direto em frente ao meu trabalho.
— Desde daquela última vez, eu não conversei com ele, e não quero você
sofrendo.
— Ele jamais me terá de volta.
— Espero, mãe. Você merece algo melhor.
— Mudando de assunto, esse anel deve ser caríssimo. Primeira vez que
estou vendo-o. — Levo minha mão à frente, olhando aquele anel de ouro rosê
com o diamante preto. – Isso deve ser caro pra caralho.
— Eu ganhei.
— Deve ser rico, Maitê.
Eu pesquisei em vários sites e parece ser caro, no meu dedo destaca em
qualquer lugar que eu passe.
— Ele é rico. — Murmuro.
Na verdade, deve ser podre de rico, mas dinheiro do crime.
Deixo-a terminando de se arrumar. Caminho em direção a sala, a
mensagem no meu celular avisa ser número novo, é a Stella.

Stella: Sou eu, Stella.


Estou indo para o Complexo do Alemão com uma colega.
Como não nos conhecemos ainda, não quero ser chata em ficar te
chamando, mas quer ir?

Maitê: Oi, tudo bem?


Salvei seu número.
Deixa para próxima.

Stella: Está bem, Mai.

O meu sentimento enraíza a mensagem do Italiano no meu celular. Até em


uma simples foto de perfil, esse homem consegue ser absurdamente gostoso.

Italiano: Está fazendo o que?

Maitê: Sentada, respondendo você.

Italiano: Fica pronta, passo na sua casa em trinta minutos.


Vou apresentá-la para minha madrinha.

Maitê: Está falando sério?

A mensagem que recebo em seguida é um áudio.

Italiano: Estou, pô. Eu disse que te apresentaria os mais próximos.


Estou resolvendo um problema para te pegar. Fica pronta pra mim.

Um sorriso se expande em meus lábios. Não resisto em digitar uma


mensagem de volta a ele.
Nesses dias que passaram, depois de ter falado sobre minha aula, Edgar
ficou alguns dias quieto. Qual foi a necessidade? Não sei, porque é algo que
quero e me vejo, nas duas aulas que fiz, eu estou ficando viciada e querendo
cada dia mais... Ele tem as necessidades dele e eu tenho as minhas.
Ele pode querer mandar, pode querer ser meu dono, mas não vai sair de
dentro de quatro paredes, como no nosso trato. Sei que vou bater a cabeça toda
hora com aquele rosto sério, toda vez que contrariar o pensamento dele, me
importo? Não.
— Maitê, tinha um agente querendo seu número de novo. O caso está indo
por água abaixo — Escuto o barulho do salto. — Estão deixando de lado, não
conseguiram nada. — Bloqueio a tela do meu celular.
— Um deles entrou em contato.
— Estão te fazendo mal?
— Não, eu fiquei tranquila com os agentes dessa vez, não me pressionaram
como os outros que abandonaram o caso.
— Estou saindo, cuidado e me liga qualquer coisa.
— Acho que tem que ser ao contrário, vou me arrumar também.
Ela se aproxima com um sorriso irônico nos lábios e beija o topo da minha
cabeça.

— Preciso saber o horário para levar sua madrinha. — Analiso Gil parado
na minha frente, enquanto limpa a camiseta no seu corpo.
— Você está fedendo maconha, irmão.
— Estou? Queria que fosse seu cheiro, florzinha. — Ajeito meu corpo na
cadeira.
— Florzinha? — Passo a mão na minha barba feita, arrastando meu dedo
até o bigode e passo em volta da minha boca.
— Combinou com você, bandido mau.
— Tem mais apelidos? Sou Florzinha — cruzo os braços. — Bandido mau,
mosqueteiro um, o que mais?
— Pau de… — Ele fica calado quando observa minha expressão mais
séria. — Não tem, momento errado, estou brincando.
Depois de quase uma semana pagando de maluco e sério, William voltou
com a personalidade de palhaço. Era estranho vê-lo quieto e pensativo. Estou
ciente que não é apenas pela mãe dele estar envolvida com o HG, tem algo a
mais, mas ainda não descobri o que é.
Gil senta ao meu lado em uma das cadeiras na laje. O movimento da
comunidade está em uma porcentagem maior, pela bagunça do pessoal.
Crianças brincando na rua, churrasco e pessoal reunido. Vários da hierarquia
aguardando as meninas subirem, patricinhas e carne nova na comunidade,
principalmente no baile de hoje.

Lara: Oi, eu e a mãe estamos prontas.


Na hora que quiser passar aqui.

Italiano: Vou pedir para alguém levar vocês.


Lara: Por que não podemos ir com vocês? Cara.

Italiano: Vou ficar na outra casa. Então é melhor


alguém levar vocês.

Lara: Por qual motivo não trouxe a garota aqui? Ela não pode subir pra
cá?

Suspiro fundo.
Guardo o celular no bolso da minha bermuda sem responder as mensagens.
— O que foi? — Gil questiona meu posicionamento.
— Maitê.
— O que tem ela?
— Caralho. É difícil manter algo, não posso sair com ela. — Encaro-o.
Seus olhos castanhos me fitam.
— Você está errado desde quando se envolveu com essa garota, Italiano.
Isso daí vai sobrar pra nós dois.
— Pra nós dois não, o problema é meu. Sou homem para assumir qualquer
coisa que eu faça.
— Eu sei. Mas eu não falei nada para ninguém, não irei falar, estou
quebrando um dos nossos mandamentos. Aliás, que essa menina vai sofrer
com o restante da quadrilha. — Alerta.
— Ninguém encosta nela.
Sinto o todo sangue das minhas veias esquentar, uma sensação de remorso
que nunca senti na minha vida.
— Deveria ter pensado antes, agora está apaixonado por alguém totalmente
proibido. Ela já sabe da verdade? — Nego. — Porra, Italiano, vacilo do
caralho. — Umedeço meus lábios.
— Ela vai saber.
— Quando?
— Eu vou contar pra ela.
— Você vai entrar em uma emboscada feia. Eu entrei em uma e não estou
sabendo sair, a sua é pior, vai estar de frente para o restante da quadrilha e o
crime não é brincadeira. — Solto um sorriso irônico.
— Meu único problema é ela, com esses filhos da puta eu resolvo depois.
— Você acha que ela não vai falar a verdade para os agentes? Ela pode nos
colocar na cadeia.
— Ela não vai falar.
— Como você sabe?
— Eu conheço aquela garota até o último suspiro dela, William, ela não
vai falar nada.
— Conhece transando. — Levanto minha mão e deixo um tapa fraco no
pescoço dele.
— Cala a boca, porra.
— Toma cuidado com as decisões.
— Entrou em qual emboscada, é mulher? — Questiono.
— Depois vou conversar com você sobre isso. — Confirmo sem
interrogar.
— Vou para minha outra casa, leva minha madrinha e a Lara daqui trinta
minutos. — Levanto.

MINUTOS DEPOIS...

Saio de dentro do banheiro, enxugando minha mão na camiseta preta do


meu corpo mesmo.
— Eu trouxe toda essa comida, olhem. — Olho para a mesa cheia de
coisas quando minha madrinha diz.
— Ficou ótimo, eu ajudei. — Lara se gaba.
Ela aproxima-se do meu corpo e segura em meu braço, ficando nas pontas
dos pés, beijando meu rosto.
— Vou esperar vocês no carro. — Gil ajeita o boné na cabeça.
— Fica. — Aviso. — Caso demorar muito, pode ir curtir o baile e elaboro
um jeito de levá-las embora.
Lara dá as costas até a mesa, separando alguns copos e pratos. Encaro os
olhos do Gil. Passo a língua no canto da minha boca, observando-o confirmar.
— Cadê a Maitê? — Lara pergunta.
— Estou aqui, desculpe a demora. — Maitê sai do quarto arrumando seu
cabelo.
Seu rosto livre de marcas ou maquiagem tem um brilho da sua pele macia.
Seu corpo está dentro de um vestido bege e seus olhos analisam todos. Não
parece que há uns minutos atrás demos uma rapidinha.
Gil se aproxima do meu corpo, parando ao meu lado.
— Meu Deus, que linda! — Minha madrinha abre um sorriso.
— Obrigada! — Maitê agradece, abraçando-a.
— Satisfação, Gil, — Maitê se aproxima, pegando em sua mão. — Famosa
Maitê, suave?
— Famosa? — Ela questiona.
— Italiano não para um segundo de falar no seu nome, parecendo um disco
riscado, essa Florzinha.
— Sério? — Ela pergunta, sorrindo.
— O dia que ele admitir, o mundo acaba. — Gil brinca.
— Oi, Maitê — Lara troca um abraço rápido com a Maitê. — Aposto que
o Edgar não falou sobre o dia do churrasco, eu queria pedir desculpas pela
forma que te tratei.
— Não tem problema.
Puxo a cadeira da cozinha para Maitê. E todos nós sentamos em uma
cadeira da mesa de jantar. Eu ao lado da Maitê, Lara e Maressa do outro lado e
Gil na ponte esquerda.
— Qual sua idade? — Maressa começa a questionar.
Curiosa para caralho.
— Dezoito.
— Nossa. O Edgar com Trinta e quatro, você não sente uma diferença em
namorar com ele? — A voz da Lara soa debochada por causa da minha idade.
— Menos, Lara. — Maressa tenta cortar a onda.
— Ela está na fase de curtir, o Edgar viveu o que tinha que viver. É velho e
enjoado. — Encaro Lara.
— Às vezes você é desnecessária pra caralho, pirralha e adolescente. —
Rebato sua voz. Gil solta uma risada irônica.
— Ele não é velho assim, Lara. — Maitê diz. — Mas não estou em fase de
curtir, eu quero crescer profissionalmente.
— Qual é a carreira? — Lara pergunta mais uma vez.
— O pole me chama a atenção. — Fico em silêncio.
— Hum. Conheço várias que ganham cachê alto.
Eu fico em silêncio. Somente meu silêncio que essa conversa recebe. Não
sei lidar com mulher que é minha sendo cobiçada em uma profissão igual ao
pole. A minha neurose sempre será a mesma, até o fim da minha vida.
CAPÍTULO 32

— Eu gostei de conhecer você — ouço a voz da Maressa enquanto ajudo-a


a lavar os pratos.
— Obrigada.
— Quando quiser ir à nossa casa me fala, te levo pra conhecer vários
pontos do complexo. — Lara avisa.
— Eu fui uma vez na comunidade. — Respondo.
— Baile? — Lara questiona.
— Foi, mas estava tendo comemoração do chefe e Lorena conhecia
muitos.
— Hum… então conheceu o Edgar?
— Foi.
— Meu Deus, coragem, essa coragem eu não tenho. — Fico em silêncio e
termino de ajudar a limpar as coisas.
Lara tem seu jeito de contrariar qualquer fala possível, de todos a sua volta.
Edgar e Gil estão afastados. Os dois trocam assuntos que nós não
conseguimos ouvi-los. Percebi a forma que o Edgar reagiu quando eu disse
sobre o Pole dance, sua postura mudou com minha decisão.
Viro meu rosto um pouco, para prestar a atenção na conversa, mas sou
dispersada com seu olhar sério na minha direção. Mordo meu lábio inferior,
pela energia da sua serenidade. Estudo-o por longos segundos: cabelo cortado,
rosto sério. Uma camiseta preta que intensifica seus bíceps e peitoral, bermuda
moletom em suas coxas. Suas tatuagens são notáveis sob meu olhar.
Eu ligo para ele dando uma de opressor? Não, eu simplesmente não vou
ficar questionando sua decisão. Não vou deixá-lo mandar na minha vida.
— Sua mãe mora aonde? — Volto minha atenção para Maressa.
— Nós moramos na Olaria...
— Estou lembrando de você, acho que na padaria.
— O destino não brinca em serviço — solto uma risada baixa quando a
Lara brinca. — Mas vai conhecer nossa casa, conhecer a outra casa do Edgar,
manda esse velho chato te mostrar.
— Ele tem outras casas?
— Nós sabemos que são apenas essas duas. Esse velho vive trocando de
carro. — Lara diz.
— É um milagre ele apresentar uma mulher pra nós. Ele nunca apresentou
ninguém, comentei com a Lara uma possível chance de ele ser gay…—
Maressa sorri, lembrando. — Seu jeito o encantou.
Esse homem pode ser um puta gostoso, mas não vai mudar minha ideia de
trabalhar.
— Estou indo embora, preciso resolver problemas. — Gil vem na minha
direção.
Seguro sua mão, apertando. Meus olhos encontram-se com os olhos
castanhos do Gil. Sua mão com um relógio de ouro segura a minha.
— Foi bom te conhecer, Maitê. Morena de cabelo grande. — Solto uma
risada baixa, enquanto a expressão séria do Italiano está na nossa direção. —
Cuidado com a florzinha, às vezes ele é um bandido mau.
— Vamos mãe.
Quando penso em entrar na brincadeira, Lara corta minha fala, pegando as
coisas ao lado da mãe.
Me despeço de todos, esperando-os sair. Alguns minutos depois o opressor
volta para dentro, fechando a porta. Ligo a televisão com o controle, sentada
no sofá.
— Vai ficar com essa cara agora? — Para ao meu lado.
— Minha cara é essa, sempre foi.
— Não é, linda, você sabe que não. Quem tem que ficar assim sou eu, não
você.
— Você? — Continuo mexendo no controle. — Eu estou tentando seguir
minha vida com algo. Estou gostando do Pole, não quero lidar com um
opressor. — Um sorrisinho irônico surge em seus lábios.
— Você está certa, eu estou errado.
— Está mesmo.
— Depois não vem encher meu saco quando eu pegar neurose com você.
— Pode deixar, não vou encher seu saco, nada vai sair do meu conceito. Se
eu entrar em algum relacionamento, vou dever uma fidelidade enorme.
Levanto do sofá e passo por ele, mas a mão firme vem no meu braço,
segurando.
Encaro seus olhos, o par de olhos avelãs iluminam pela claridade.
— Está começando a machucar.
— Você é só minha, Maitê, está me entendendo? Ninguém encosta em
você.
— Então aprende a conviver comigo, caralho. Meu único trabalho era
dentro do banco e me tiraram de lá, quando cinco bandidos resolveram
assaltar! — O aperto passa a ficar mais forte, seus olhos me encaram com
mais frieza.
Por um triz de segundos, o aperto é aliviado.
— Nada e ninguém vai tirar essa minha ideia sobre o pole, caso surjam
oportunidades, vou aceitar. — Alerto.
— Vai? — Sua voz grossa entra na minha audição.
Confirmo.
O Edgar tenta me mandar pelo olhar, pela forma de tratar, e sinceramente?
Não vou cair nesse papo.
Deixo-o com suas opiniões na sala e vou em direção ao quarto. De banho
tomado, camisola no meu corpo e cabelo penteado, saio do banheiro. Em
frente ao espelho, passo um óleo nos fios do meu cabelo.
Paro de fazer qualquer coisa quando as duas mãos firmes vêm até minha
cintura, apertando firme e forte. O corpo masculino por trás do meu deixa
minhas pernas fracas.
— Você vai pra essa porra de pole e se surgir alguma oportunidade, vai
aceitar — sinto seu hálito quente. — Mas cada desgraçado que colocar
neurose na minha cabeça, vai apanhar e vou descontar todo meu ódio em você.
— Entre quatro paredes? — Olho-o através do espelho.
— Onde eu quiser — umedeço meus lábios. — Você vai me dever a porra
dessa fidelidade. Só não quero dormir brigado com você, vem deitar comigo.
— Antes de sair, passa a mão na minha bunda.
Deito ao seu lado, aninhando no corpo quente. Seus lábios pedem pelo
meu, eu beijo-o, deslizando minha língua quente sob a dele. Deslizo minhas
unhas por seu corpo sem camisa, até sua bermuda e aperto a bunda gostosa por
baixo do tecido. Chupo sua língua, ofegante.
— Me deixa sugar seus seios? — Pede contra meus lábios.
— Uhum, você sabe que pode.
Ele deita ao meu lado, ajeitando... deixo meus seios livres, pronta para
pegar no sono com ele sugando meus seios, deixando esse homem tranquilo
no sono.

SEGUNDA-FEIRA

— Passou rápido o final de semana.


Estou de passagem pela mesma padaria em que conheci a Maressa, hoje
quem está é a Lara. Domingo passou rápido.
— Vocês passaram bem? — Pergunto ao seu lado, do lado de fora.
— Um pouco. — Suspira, olho nos seus olhos, franzindo minha testa.
— Aconteceu algo? Ontem vi o Italiano e ele não me disse nada… —
Pergunto.
— Não, nada muito sério. Só algumas merdas que andei fazendo com um
cara.
Ela suspira fundo, olhando atenta para a rua. Ajeito meus óculos de grau
sem desviar minha atenção do seu rosto.
— Amor na adolescência. — Brinco.
— Não é isso, estou muito apaixonada, Maitê. Não sei se posso contar isso
para você... mas estou e sou capaz de tudo para dar certo, mesmo ele estando
agora furioso por uma mentira. — Dá de ombros. — É o Gil.
— Não... você não deveria ter me falado quem é, por favor. — Sussurro.
— O Edgar.
— Não, ele não sabe. — Quem suspira fundo dessa vez sou eu.
Odeio mentira, como vou olhar na cara do Edgar agora, sabendo disso?
Melhor amigo com a prima.
— Eu não sei como opinar.
— Eu menti sobre virgindade, menti sobre estupro, mas ele descobriu
sobre a virgindade e foi me questionar, falei logo tudo sobre as mentiras...
agora estou sem ele.
— Mas você é nova, pode...
— Maitê, imagina você com o chefe...
Fico em silêncio e apenas confirmo com a forma em pensar, quem sou eu
pra mudar a cabeça dela?
— Espero que pelo menos fique bem e não me meta em suas confusões. —
Falo, séria.
Saio em direção à minha casa. Talvez ela esteja confusa por ser nova, Lara
é nova, inclusive, muito nova, é desenvolvida com o corpo e algumas formas
de pensar, mas ainda assim, continua sendo nova.
Antes de entrar em casa, olho as mensagens da Stella, havia mandado
ontem sobre o baile no Complexo do Alemão.
essas coisas. A Brenda ficou no baile, eu vim embora cedo.
Stella: Oi, Mai, fui sim, mas sou muito medrosa para
Maitê: Conheceu alguém lá?

Stella: Tem um rapaz me querendo, mas ele é envolvido, estava armado,


deve trabalhar para o chefe do Alemão. Infelizmente tenho um ex doente e
psicopata, não quero mais problemas
— Bota, bota pra trocar, porra. Eles vão levar! – A voz de um dos soldados
entra na minha mente pelo rádio. — Eles estão indo para covardia com os
moradores.
Operação policial desde a madrugada dessa porra de terça-feira, sem fechar
os olhos direito, estamos nas firmas do tráfico de drogas mais prósperas e com
maior poder armado.
A operação policial está tentando derrubar um por um aqui dentro, mas vai
conseguir? Não. CV vai ficar pequeno quando eles quiserem botar a cara.
Vão engolir bala se tentarem passar.
Suspiro fundo.
Passo a mão no meu rosto. A maioria dos soldados ao meu lado, armados
como uma segurança para garantirem minha vida.
— Um dos que vão subir é o filho da puta do BR, o policial… — Gil
alerta.
— Que matou o Iguinho. — Antigo dono do morro. Completo a frase.
Passo a língua no canto dos meus lábios secos. Troco um olhar sério com o
Gil, ele não interroga e não fala nada. Deslizo a mão na minha barba, sério. No
meu celular tem mensagens da Lara.

Lara: A mãe está preocupada, Edgar.

Italiano: Estou vivo até agora, Lara.

Lara: E o Gil? A mãe mandou perguntar.

Solto o ar pelo nariz. Ergo meu olhar, levando em direção ao Gil: ele está
afastado, sua expressão séria vem na minha direção. Sua camisa branca
amarrotada e o cabelo bagunçado.
Lara não tem minha resposta, sem respondê-la, entro na mensagem da
Maitê. A última mensagem dela é um vídeo dançando no pole dance.
Não vou mentir, pela capa está gostosa, e é esse motivo que me deixa
estressado.
— Desliga essa porra de telefone, caralho, está maluco? — Gil alerta.
Guardo o celular imediatamente.
— Faz quantas horas? — Pergunto sobre a invasão.
— Chegaram embaixo às 17h00min. Está acontecendo há doze horas.
Quero vê-los subindo! — Responde.
Diante da sua frase, o barulho dos foguetes explodindo invade nossas
audições. É um aviso, está acontecendo, eles estão subindo o morro.
Minha única preocupação… caralho! Preocupação? Quando sinto
preocupação na vida? É deixá-la para trás, a Maitê. Um aperto no meu peito
cresce, a dor percorre por meus braços, enraizando vários pensamentos ruins.
Minha imaginação viaja enquanto no fundo tem barulho de conversas
apavoradas e barulho de rádio.
— Estão botando a cara, daqui vai ficar na mira do meu fuzil, eles vão
botar a cara no miolo. Estão subindo! Copiou? Copiou, rapaziadinha? — O
rádio transmite a voz de um dos soldados.
— Copiei, parceiro, copiei! — Gil afirma.
Os tiros começam a ser trocados. Com vinte minutos de tiroteios entramos
no beco. Vários fazem oração, pediam pelo menos uma chance, mesmo do
lado errado.
— Fica atrás. — Me olha atento, correndo com os caras mais à frente.
Eu sou cercado por vários, tentando sair da comunidade. A defesa do meu
nome não quebra, primeiro é minha vida, depois a deles. Estou com dois
coletes no peito e um fuzil para cima, enquanto andando por becos em direção
contrária dos policiais.
— Eu fui baleado, irmão. — Um deles avisa no rádio. — Eu estou baleado.
— A linha corta por uns segundos — Eles estão subindo forte.
Aqui é como uma selva, sobrevive quem tem mais coragem e mente de
sanguinário. É saber lidar com o sangue do inimigo escorrendo e saber lidar
quando o sangue de um dos seus amigos escorrer.
Minutos com uma troca de tiros intensa. Concentro no momento que
preciso começar a atirar com meu fuzil. O suor escorre pela testa, sem
nenhuma saída a não ser sobreviver. O tempo está nublado, mostrando o dia
com uma energia ruim.
Esse aqui é o motivo de não querer ninguém com minha vida pessoal.
Penso quando chegar a notícia que eu fui morto com vários tiros. Não quero
colocar ninguém com a cabeça na minha vida fodida, assim como não quero a
Maitê sabendo de como é minha vida, não quero colocá-la em risco. Sou capaz
de tudo por aquela mulher.
Adrenalina por todos os moleques quando pulamos muros e telhados
fugindo da morte. Na verdade, o maior corrupto da história é o governo.
— Porra, eles estão chegando no miolo. — Controlo minha respiração no
peito.
— Tem morador baleado. — Ouço o rádio mais uma vez. Encostado em
uma parede, respiro fundo.
— Porra, agora o que importa aqui é nos sairmos vivos dessa! Foda-se
todo mundo! — Respiro fundo quando falo.
Peço piedade, seja de quem estiver no céu.
CAPÍTULO 33

— Não precisa se afastar, Maitê. Ainda sou seu pai. — A voz de


repreensão do meu pai invade minha audição. — Aposto que sua mãe está
colocando merda na sua cabeça.
— Minha mãe não falou nada! Eu não quero te ver por vontade própria. —
Respondo. Ele ajeita a posição, encostado no seu HB20 prata.
Seu rosto está sério na minha direção. Ele fica fazendo joguinhos
psicológicos, para colocar minha mãe contra mim, e não duvido que todas as
coisas que eu fizer de errado, ele usará minha mãe como culpada.
Desvio minha atenção para os carros que passam na rua. Estava saindo do
Pole dance, quando nos encontramos na rua.
— O que você faz neste salão de dança? — Aponta com a cabeça em
direção ao local atrás do meu corpo.
— Não estou fazendo nada. — Corto a frase.
— Vamos, eu te levo na sua casa.
— Não precisa, vou a pé.
— Pelo jeito sua mãe vai conseguir me afastar de você mesmo?
— Você foi um filho da puta com ela, fez aquela mulher sofrer muito, pai.
Mas ela não é suja, você é, ela não. Então se eu não quero conversar com
você, é por opinião própria.
— O casamento não tinha mais chance, Maitê, ela sabia disso.
— A traição com uma amiga dela foi a solução? O casamento acabou por
sua culpa.
— Maitê.
— Maitê? A Lorena estava dentro da casa da minha mãe todos os dias,
você acha isso certo? No dia do bar você não se levantou da cadeira para se
explicar com sua própria filha.
— Sinto muito, não quero afastar você da minha vida. — Sustento seu
olhar.
Ele é meu pai, mas não parece, não mais. Minha mentalidade não quer
estar perto dele, quero afastá-lo do meu ciclo do dia a dia. Minha mãe sofreu,
vê-la sofrendo criou uma parede para envolver meus sentimentos com meu pai
novamente. Me sinto culpada na maioria das vezes.
— Mas afastou, minha mãe é a pessoa que mais amo na minha vida.
— Pelo jeito nada vai te fazer mudar de pensamento.
— Não, não vai. — Afirmo.
Seu silêncio é duradouro agora. Ele me encara uma última vez antes de dar
a volta no seu carro e entrar no banco do motorista sem olhar para trás. O
barulho do carro some pela rua.
Calada e pensativa, começo a caminhar em direção a minha casa, que não
fica muito longe. Mais ou menos uns quinze minutos a pé. Há um tempo atrás
não pensava em passar por momentos como esse, de um pai que eu idolatrava
estar trabalhando para ajudar a família, mas a realidade é outra. Ele
definitivamente acabou com a família.
Quinze minutos depois, espanto meus pensamentos, abrindo o portão de
casa e trancando-o. Através da garagem, ao atravessar a porta, eu recebo a voz
da minha mãe.
— Você ficou sabendo das notícias no Instagram, sobre a comunidade do
Alemão?
— O que foi? — Deixo a mochila em cima do sofá.
— Olha. — Ela traz o celular na minha direção.
Minha mão não hesita em pegar o celular.
" Complexo do Alemão em invasão desde às 15h00min, segundo as
informações, a troca de tiro durou uma hora e meia seguida."
" Temos uma notícia nesse momento, dois moradores baleados, um em
estado grave, outro sem informações."
"Autoridades policiais confirmaram que ao menos dez pessoas morreram,
incluindo traficantes e moradores, mas notícias na imprensa indicam que o
número de vítimas pode ser maior. A ouvidoria da Defensoria Pública do Rio
de Janeiro disse que há relatos de sérias violações de direitos humanos,
incluindo invasão de casas, agressões físicas, tortura, ameaças e não
prestação de socorro à pessoas feridas.”
“Lamentamos profundamente que a população do Rio de Janeiro mais
uma vez tenha assistido a uma ação policial com grande número de mortes e
fortes impactos na comunidade, desta vez no Complexo do Alemão.”
— Meu Deus... — Sussurro.
O Edgar e a família dele. Experimento uma sensação que jamais tive por
ninguém, um aperto no peito em forma de preocupação, por ele
principalmente. Ele é envolvido nesta vida.
São quase 18h00min de terça-feira. Imagino o estrago causado.
— Por um desses motivos não quero você para o lado de lá. Se envolver
com bandido não é vida, Maitê.
— Mas às vezes a pessoa que está no crime nunca teve uma oportunidade
diferente. — Ela me encara quando entrego seu celular de volta.
Respiro fundo.
— Você está defendendo esse tipo de coisa?
— Não…
— Filha, justo você? — Olho seus olhos.
— Eu acho melhor ir para o quarto…
— Você está falando sobre bandidos, isso não é brincadeira mesmo, não te
quero envolvida nisso, Maitê.
— Tudo bem. Vou para o quarto.
Sigo em direção ao meu quarto, pego meu celular na bolsa. Deixo a
mochila na cama e sento na cadeira da escrivaninha. A última mensagem com
o Edgar foi o vídeo que eu havia enviado para ele.

Maitê: Você está bem?


Me responde.

Nenhuma das mensagens cai no celular. Impaciente, eu suspiro fundo. Fico


preocupada, não nego, Edgar deve ser poderoso na comunidade. Penso como a
família consegue lidar com tanta pressão, em questão da preocupação, no dia a
dia é perigoso, imagina sendo bandido, com a vida comprometida para uma
facção forte.
Entro no contato da Lara e decido chamar no seu número, que havia
trocado com ela durante o jantar.
Maitê: Oi, aqui é a Maitê, quero saber do seu primo,
Lara. Ele não está recebendo mensagem.

A mensagem cai e logo é visualizada, não demora muito para aparecer o


digitando.
Lara: Oi.
Bem machucado, parece que avisaram à mãe que ele foi
baleado. Estamos esperando mais notícias. Ele não te avisou?
Maitê: Não, não avisou. Creio que não tenha
como me avisar.
Lara: Hum, mas ele deve estar bem, deve estar ralado,
um pouco machucado, mas está vivo. Sempre foi assim,
toda a vida dele no crime. Acho melhor se acostumar.
Maitê: Não tem nenhuma forma que possa vê-lo? Ou
não sei... tentar alguma coisa pra poder conversar com ele,
eu estou preocupada, Lara. Lara: Não tem.
essas que te informei.
para esperar sobre as notícias, as únicas que deram, foram
A única forma são os meninos, mas até eles pediram

Maitê: Obrigada.

Permaneço com o olhar no celular, aguardando qualquer mensagem que


venha do Edgar.
Eu tento fazer algo durante o começo da noite para aliviar minha mente,
mas a única coisa que consigo, é tomar um banho e colocar alguma roupa
fresca. Estou há uns minutos sentada na mesa da cozinha, ouvindo Stella e
minha mãe.
— Não vai comer agora? — Stella questiona. Dou de ombros com
indiferença.
São 21h00min, não tive notícias de ninguém, mandei mensagens para a
Lara, mas ela não respondeu mais.
— Minha família mora aqui mesmo em Olaria, tenho um irmão de vinte e
cinco anos, minha mãe e meu pai... — Stella mexe sua comida no prato.
— Trabalham com o quê? — Minha mãe curiosa, questiona.
— Minha mãe trabalha como empregada, tem um emprego fixo na casa de
um rapaz rico, meu pai é pedreiro e meu irmão é segurança. O Darlan foi
muito cabeça fraca no passado, ficou no crime dos treze até os dezoito, foi
pego em flagrante em um assalto — engulo minha saliva, todas as vezes que
tocam em assalto sinto um receio. — Ficou preso até os vinte e três.
— Agora ele está tentando a vida de outra forma?
— Sim, graças a Deus, pagou o que tinha que pagar na cadeia, quase
morreu de tanto apanhar da polícia, saiu... estudou, agora é um dos melhores
seguranças.
— Fico feliz por isso, Stella — fico em silêncio. — Aconteceu algo,
Maitê?
— Não, nada. — Coloco um pouco de comida no prato com as vasilhas em
cima da mesa.
— E sua vida amorosa? — Minha mãe pergunta para Stella.
— Agora terá que aguentar minha mãe, querendo saber de tudo. — Brinco.
— Não tem problema. — Nega. — Comecei a namorar com quatorze anos,
mas sempre fui madura, sabe? Só que infelizmente o cara é um maluco e
doente, e fica me perseguindo até hoje. Namorei durante um ano e seis meses.
— Você tem qual idade? — Trago a primeira colherada na boca, ouvindo
minha mãe e Stella.
— Dezoito anos.
— Meu Deus, não parece.
— Trabalho e estudo.
— Fico feliz por pensar dessa forma. Bom, a conversa está boa, mas
preciso ir ao banheiro, cinco minutos. — Minha mãe avisa antes de sair pelo
corredor e se trancar no banheiro.
— Você está bem mesmo? — Ouço a voz da Stella.
— Um pouco. Me fala do baile, quem você conheceu?
— Ele é conhecido por Gil.
Nego levemente. Meu Deus!
— Rolou algo?
— Não, ainda não, mas aquele homem me olha há tempos na comunidade,
toda vez o vejo. É uma pena ser o gerente.
— Tem medo?
— Muito, pelo olhar, pela forma de agir.
Não parece ser o Gil que eu conheci. Quer dizer que ele tem dupla
personalidade, pelo jeito.
Termino de jantar ao lado da minha mãe e Stella. Ainda angustiada, sento-
me no sofá. Um pequeno sentimento de esperança cresce no meu peito, mas
acaba quando vejo a mensagem do meu pai.

Emanuel: Fique bem, boa noite.

Mando apenas um 'boa noite' de volta, voltando a ficar pensativa.

Estava lutando com meus pensamentos para dormir sentado em um


cômodo. O papo de agitação dos meus funcionários me mantém desperto. São
vários assuntos que não faço questão de entender, apenas quero sair da porra
desse local. Todos os rapazes com a cabeça a milhão depois da invasão às
20h00min da noite.
Estou machucado, a sorte é que a bala no meu braço foi de raspão. A
ardência do meu corpo ralado está grande, mesmo após ter feito curativos com
a enfermeira.
A comunidade ficou pequena no dia de hoje, vários tentando fugir pela
mata e adivinha? Foram mortos, a porra desses filhos da puta estava em todas
as áreas. E eu me sinto doente, cabeça doendo e coração levemente acelerado.
Preciso dormir.
— Vamos sair daqui. Cinco rapazes vão fazer sua segurança. — Gil avisa,
sentando ao meu lado no chão. — Está melhor?
— Um pouco.
— Qual foi? Você está velho pra isso, bandido mau, não quer aposentar?
— Rolo os olhos.
Papo reto? Quero apenas paz essa noite, colocar minha cabeça em um
travesseiro e descansar minha mente, tirar todos os pensamentos dessa vida
fodida e perigosa.
— Vou sair da comunidade em outro carro. — Aviso. — Vou ir pra outra
casa.
— Entendo. Vou mandar o papo para os olheiros também.
— Você acha que aquele policial sabe de algo? — Um murmúrio baixo e
duvidoso sai dos meus lábios.
— Não, ele está fazendo o trabalho dele. — Responde em um tom de voz
baixo. — Ele obedece.
A confiança é ingrata. A maioria do pessoal acha que cumprimento,
apertando a mão em condição de confiança, mas não é. No dia a dia a traição é
fatal, principalmente no crime, onde o dinheiro, mulher e luxo são os mais
cobiçados. Imagina o crescimento em um meio onde o seu amigo está
crescendo, enquanto você fica para trás. A primeira sensação de querer viver o
mesmo que ele é uma inveja disfarçada, e depois você nota o quão inveja, é ter
a vida do seu amigo.
Iguinho tinha um gerenciamento bom, mas não tão bom quanto o
gerenciamento de hoje em dia.
Eu pegava na mão dele, olhando firme naqueles olhos, mas desejando estar
no lugar dele.
— Você acha que alguém desconfia? — A voz grossa e baixa do Gil
pergunta.
Passo a mão direita no meu maxilar e encaro-o. Fito seu bigode feito e os
olhos vidrados no meu.
— Você falou para alguém? — Ele nega. — Então ninguém sabe além de
você.
Eu comecei novo nessa vida do crime. Cresci, mas como sempre, alguém
se destaca melhor: o Iguinho. Ele me considerava como um amigo, eu era seu
braço direito e organizava assaltos, mas não era o suficiente. Ele confiava, mas
minha real intenção era outra. No dia da viagem, elaborei uma denúncia
anônima, onde ele foi morto e a esposa quase morreu. Foi presa em flagrante
com drogas e armas.
Tudo ocorreu uma semana após meu último assalto no Banco do Brasil,
onde botei Maitê de refém.
Sou filho da puta, não nego, mas ninguém passou pelo que passei na pele.
Hoje estou sendo um caçador, mas não sei o dia que vou virar a caça. Da
mesma maneira que trai, posso ser traído por alguém.
Gil é braço direito, mas não confio 100%.
Estou fazendo mais filhadaputagem em colocar a Maitê no meio da minha
vida. O único problema é que ela sabe me acalmar, como ninguém. Apenas ela
sabe me fazer pensar direito. Quero ser verdadeiro para ela, quero mostrar
meu real lado, o lado que ela não conhece, meu lado de mente sanguinária, de
ser um filho da puta. Se ela vai ficar? Certeza que não, mas pelo menos uma
pessoa vai me conhecer. Os dois lados da minha personalidade.
O jeito de menina me fez permanecer, o jeito da minha linda. Ela é tudo
que eu procurei durante todos esses meus anos de vida.
Ela mal sabe que fui o motivo dos pesadelos dela. Se vou viver com ela?
Não sei, mas ela mudou minha forma de pensar.
— Vou mandar avisar sua madrinha — Gil avisa e levanta com celular em
mãos.
Passo minhas duas mãos no rosto e alinho meu cabelo.
— Cinco rapazes vão te acompanhar, o caminho está limpo, vão mandar
um carro para você. — Gil avisa.
Me levanto do chão e ajeito minha bermuda. Jogo a chave do meu carro
em direção do William, ele pega no susto.
— Cuidado com meu carro, porra! — Um sorriso irônico cresce em seus
lábios.
— Vou cuidar, bandido mau ou sai uma guerra de espada entre nós dois?
— Brinca.
— Porra, papo feio. — HG fala no fundo.
— Esse Gil é uma onda errada. — Cleiton entra na brincadeira.
— Qualquer problema, chama a gente. — Nando se aproxima.
— Não vou precisar. Se eles não resolvem, eu mesmo resolvo. Pode
descansar. — Respondo-o.
Deixo-os para trás, sem me despedir, saio do local.

Um tempo depois, saio do banheiro com a toalha em volta da minha


cintura, seco meu corpo tomando cuidado com os ralados e machucados. Visto
uma cueca preta. Pego meu celular em cima da cômoda, conectando na
internet. Sento na cama e, mediante a sensação de euforia, eu acendo um
baseado.
Maitê: Edgar?

Estou preocupada

Leio várias mensagens no meu celular. Trago o meu cigarro e solto a


fumaça no ar, discando o número da Maitê na tela do meu celular.
— Hum? — Ouço a voz de sono.
— Sou eu.
— Edgar, como você está?
— Estou bem.
— Machucado, baleado?
— Estou um pouco machucado, mas vivo. Sai da comunidade com várias
mães chorando por causa dos filhos mortos.
— Eu vi a notícia, foi muito triste ver aquilo, os moradores. Como está sua
madrinha?
— Bem.
— Eu quero te ver. — Suspiro fundo.
— Não.
— Como não? — Interroga.
— Não tem como.
— Mas eu quero.
— Não tem medo?
— Apenas queria poder cuidar de você, mas tudo bem. Eu entendo, estava
preocupada com você.
— A casa aqui está sendo vigiada, não tem como te trazer. É perigoso pra
você ser exposta dessa maneira.
Porra... mermo com essa vontade de vê-la.
— Muda para chamada de vídeo, quero te ver.
Mudo a câmera, olhando-a quando atende minha ligação. Abro um
pequeno sorriso de canto com o gosto amargo da maconha entre meus lábios.
Ela está deitada com um pijama de alça fina, enquanto segura o celular no
alto. O rosto avermelhado pelo sono e cabelo bagunçado.
— Minha linda. — Minha voz grossa sai entre meus lábios.
— Você está muito machucado?
— Mais ou menos, amanhã tento algo para melhorar.
— Queria te abraçar agora. — Prendo minha respiração.
— Amanhã te busco, você pode vir pra cá?
— Aham. — Responde.
Mesmo conversando por ligação com ela, não matou essa vontade no peito
de vê-la.
CAPÍTULO 34

— Você encontrou o Edgar hoje? — Lara questiona.


— Ainda não — respondo. Arrumo minha postura na cadeira. — Vou ir
pra casa dele mais tarde.
— Hum, hoje ele não apareceu na comunidade, somente os funcionários,
mas ele não.
Faz uns dez minutos que desci a rua da minha casa na Olaria. Agora é
12h00min, por coincidência encontrei Lara por cá. Então resolvemos sentar
e tomar um suco juntas.
— Vou comer alguma coisa, não quer? Estou morrendo de fome e até o
carro vir pra me buscar vai demorar um pouco. — Pergunta.
— Está com quem?
— Um amigo do Italiano me trouxe — ela arruma seu corpo em um
vestido. — Vamos comer.
— Acabei de almoçar com minha mãe, vou ficar no suco pra te
acompanhar.
Ela pede algo para comer e não demora para voltar sentar à minha frente
com seu salgado em mãos.
— Lembra que te falei sobre o Gil? Não fala para o Italiano, eu sei que
vocês estão juntos, mas não posso falar por agora.
— Qual motivo me falou? — Sustento seu olhar, bebendo um pouco do
meu suco.
— Você parece ser bem simpática em escutar os outros.
— Sou, mas não sou burra para me foder junto com você. Você conhece
seu primo — falo sendo sincera — Quando ele descobrir não quero que
sobre pra mim.
— Não vai, jamais vou envolver seu nome em algo.
— Desde o início sempre quis isso?
— Eu insisti no William, foi tanto, que ele teve que ficar comigo de
qualquer jeito — bebo mais um pouco do meu suco, ouvindo-a. — Ele é
apaixonado por mim, sempre foi e eu também sou apaixonada por ele.
Analiso sua mordida no salgado, quando ela termina de mastigar,
questiono mais um pouco.
— Ele aceitou sua mentira?
— Claro que não, Maitê. Na verdade, não quer me responder mais e nem
me ver desde quando falei a verdade pra ele... ficou bolado e meio chateado,
mas fazer o que? Eu errei. — Dá de ombros.
— Você sabe com quem perdeu a virgindade?
— Não lembro direito — sua voz muda o tom. — Eu não me recordo.
— Você é louca, cara. Toma cuidado com as coisas que faz, uma hora
sobra pra você.
— Vou tomar cuidado com minha vida, mas vou viver.
— Lara, estou te aguardando dentro do carro. — Escuto a voz masculina
firme na entrada da padaria.
Viro meu rosto em uma pequena rotação. Eu sinto ser observada, e é
como imagino. Suas sobrancelhas franzidas e o olhar frio estão na minha
direção. Ele parece procurar um pecado pela forma que me olha, o boné
branco virado para trás e uma camiseta preta da Lacoste, chama a atenção. A
sensação de desconforto me atinge, então olho para a frente novamente.
— Está bem, já vou.
Ouço apenas uma porta de carro batendo fortemente na rua.
— Quem é o cara que tá contigo?
— O HG? É um dos confiáveis do Edgar pra me carregar.
— Hum... Não conheço.
— Ele é tranquilo. Vou embora, Maitê. — Limpa a boca no guardanapo e
amassa, deixando na mesa.
Lara troca um beijo no meu rosto, saindo. Eu permaneço sentada,
olhando algum ponto fixo, enquanto uma sensação péssima me agride.
Alcanço o copo de suco, dou um gole na bebida, olhando ao meu redor.
Lara não se incomoda pelas decisões. Me pergunto qual motivo dela agir
de tal forma. Algo como o modo que foi criada talvez reflita na sua vivência.
Sou despertada com uma mensagem no celular, é o Edgar.

Italiano: Estarei na rua da sua casa 13h30min

Maitê: Tudo bem.

Troco algumas palavras com minha mãe à tarde. Passo um tempo em


casa, e de banho tomado, com um macacão solto na cor vermelha, eu arrumo
minha mochila no ombro. Estou com meu cabelo solto, quando o vento no
final da rua movimenta os fios.
Eu caminho em direção ao carro vermelho com os vidros fumês parado
na contramão. Abro a porta e me sento diante do seu olhar.
— Oi. — Falo, batendo a porta.
— Está cheirosa — seu tom de voz desperta sensações múltiplas. — Me
cumprimenta direito.
Deixo a mochila no chão entre minhas pernas e me aproximo. Suas mãos
grossas seguraram meu rosto e com leveza seus lábios sela os meu, se
transformando em um beijo lento, onde trocamos carícias de língua. Seguro
no seu pescoço quente.
— Eu fiquei preocupada com você. — Sussurro contra seus lábios.
— Estou vivo, minha linda. — Deixa um beijo no meu pescoço.
— Está muito machucado?
— Um pouco no braço esquerdo e na coxa.
Olho cada detalhe do seu rosto: seu cabelo penteado para trás, lábios
vermelhos, levemente molhados e sobrancelhas grossas feitas. Encosto meu
rosto no seu peitoral. O cheiro de um 212 é notável em sua camisa de
lavagem clara, acompanhada de uma bermuda escura.
— Parece que sou casada com você. — O som de uma risada baixa sai
dos meus lábios. — E nem namoramos. — Completo.
Sua mão direita mexe no meu cabelo, alisando entre seus dedos e diminui
o ritmo.
— Isso é piada pra rir? — Nego com sua voz questionando. — Esse
assunto, quer namorar comigo?
— Quando você pedir algo, quem sabe eu não aceite.
— Mesmo sabendo da minha vida, você aceitaria? — Me afasto um
pouco.
— Hum. Quem sabe eu não seja louca por um traficante? — Seus olhos
esverdeados me fitam.
— Entrei pro crime na adolescência — coloca meu cabelo atrás da orelha
com cuidado. — Comecei novo, eu queria sustentar minha madrinha. Tenho
trinta e quatro anos, nunca passou por minha cabeça abandonar o crime —
sustento seu olhar. — Eu passei por muitas coisas e fiz paradas que você não
tem noção. Esse cara que você conhece não é o Italiano, não é o cara que
conheço.
— Eu sei…
— Você não sabe. Minha madrinha descobriu sobre minha entrada no
crime. Apanhei de madeira da mão dela em casa... isso me deu mais ódio e
mais vontade de continuar no crime.
— Eu…
— Matei várias pessoas nesses anos de vida, eu já fiz muita merda de
cabeça quente, enfrentei fuga, enfrentei a morte, vivendo dez anos em dois...
— Você é um traficante. — Nossos olhos se encontram por longos
segundos.
— Não apenas traficante. Tenho um relatório da minha vida, e de uma
pessoa que conheço em um desses.
— Às vezes eu tenho medo, às vezes é bom.
— Você não precisa ter medo – olho para o machucado no seu braço. —
Não vou fazer nada com você, se fosse pra fazer, tinha feito há um tempo
atrás.
Fico em silêncio. Não consigo entender se essa frase soa boa ou ruim…
talvez um pouco dos dois?
DIA SEGUINTE…

Entre meus dedos, eu fumo um cigarro. Desde o momento que cheguei


na comunidade essa manhã, HG não tirou os olhos da minha direção. Trago
meu cigarro e sopro a fumaça para algum lado, fixo minha atenção na mesa
enorme, onde ocorre o embalo das drogas.
Ergo meu olhar diante da entrada do Gil no local. Seus passos vêm na
minha direção enquanto ele mantém as duas mãos para trás. Desconfiado,
franzo minhas sobrancelhas.
— Está melhor? — Olha para o meu machucado. Confirmo.
— Cadê a chave do meu carro?
— Está no meu bolso.
— Me entrega — apago o cigarro e guardo. — O que foi? Porra.
— A forma de demonstrar um amor por você.
Sua mão direita traz uma flor vermelha. Seu dedo destaca um anel de
ouro enquanto segura a rosa na minha direção.
— Que porra é essa? — Um murmúrio baixo sai entre meus lábios.
— Uma flor para você. Comprei por lembrar de vocês. — Ouço a risada
dos rapazes ao redor.
Em pé, eu simplesmente pego a flor da sua mão. Papo reto? Esse cara é
maluco.
— Agora cadê a chave do meu carro?
— Aqui. — Entrega.
— Vou resolver algumas coisas.
— Depois quero trocar um assunto com você, pode ser?
— Segura os problemas. Mais tarde nos falamos.
Caminhando, escuto alguém me seguindo, acompanhando meus passos
do lado direito. Viro meu rosto e encaro HG vindo ao meu encontro.
— Preciso resolver um assunto com você.
— Fala logo. — Reclamo, impaciente.
— Por que não resolver isso aqui?
Sua mão traz a tela do celular na minha direção. Engulo minha saliva em
uma puta lentidão, meu coração parece inchar dentro do meu peito quando
vejo a foto tirada de dentro do carro. As costas dela e o cabelo jogado para
trás. Sentada na padaria de frente para Lara.
— Que merda é essa? — Pergunto, sem paciência.
— Resolve o problema dela, essa garota.
Fecho meu pulso direito, a mesma mão que seguro a chave e a aperto
entre meus dedos. O vento da lateral faz meus machucados arderem, a
mesma ardência do sangue correndo por minhas veias quentes.
É apenas tocá-la, seja da forma que for, sinto cada veia do meu corpo
mandando sangue com mais força. Fico desnorteado, fico mais ainda em
pensar que essa porra é tudo por minha culpa.
— Você está envolvido com ela, Italiano — murmura baixo. — Por
ironia a Lara chamou-a para a padaria, eu peguei os pontos e perguntei para
Lara, ela respondeu “está envolvida com meu velho."
Respiro fundo.
— Você sabe que essa porra é errada? Caralho, irmão.
— Apaga a foto.
— Qual foi?
— Apaga a foto na minha frente.
Ele não hesita na minha raiva. Analiso determinado momento que ele
exclui a foto do seu celular.
— Você vai acabar com a quadrilha, você pode ser um chefe agora, mas
era da quadrilha, em primeiro vem o que? O crime, o que você fez? Foi atrás
da refém — nega. — Ela pode nos colocar na cadeia, caralho. Eu não quero
ir pra aquela porra de lugar por causa de uma decisão sua.
Fico em silêncio.
— O restante da quadrilha vai saber. — Ameaça.

— Fala pra eles, vai mandar o papo, porra. Amanhã você vai amanhecer
com a boca cheia de formigas, me entendeu? — Ríspido, falo. — Vou te
matar da pior forma que imagina. A garota é inocente, toca na porra do nome
dela e vai sentar no colo de diabo mais cedo.
Agora é a vez do seu silêncio. Sua respiração pesa com minha voz.
— Chefe, está tudo tranquilo? — Oli questiona de longe.
— Espero que tenha entendido minha posição sobre isso. — Olho nos
olhos do HG.
Com raiva, saio do local em direção ao meu carro parado na rua. Sento
no banco e bato a porta com força, apertando o volante e seguidamente de
dois murros.
Droga! Droga!
Tiro meu celular do meu bolso, segurando-o e entro na mensagem do Gil.
Italiano: HG está sabendo.

Papo reto, a Lara fez uma merda, mas nem tem como encher o saco dela,
ela não sabia

Gil: Sabendo da Maitê?


Italiano: É sobre ela.

Gil: Porra, e se o Cleiton e Nando souberem ficará pior.


Italiano: Você sabe que faço, porra.
Gil: Não faz as coisas de cabeça quente.
Italiano: Na Maitê ninguém encosta, pode crê? Se
alguém tentar alguma parada com ela, o bagulho vai ser
mais embaixo, mato e enterro sem ninguém saber. Um por
um.
Reviro os olhos.
Gil: Caralho, Italiano. Me levou pra merda junto com
você, é a mesma parada que sentar naqueles paus grossos.
Italiano: Fica na sua, caralho, não abre a boca.

Não vai sobrar nada pra você

Ligo o motor do carro após guardar meu celular. Com alguns minutos e
um da minha segurança me seguir, adentro na favela Morro do Adeus.
Um pouco a frente, Fernanda está encostada na parede, olhando em
direção ao meu carro e mexendo no seu cabelo.
O que essa mulher faz aqui?
Sua roupa é vulgar, destacando seu silicone. Ela usa um vestido colado
em seu corpo, mas não ligo para isso, apenas desço do carro. Sem olhar para
o lado, sou seguido por dois seguranças em direção a um beco estreito.
O beco está vazio, com alguns passos. Vejo Emanuel descer uma
pequena escada da casa onde está.
— Pessoalmente — ele fala ao estender a mão, aperto firme, em seguida
cruzo meus braços. — Está tudo aqui dentro.
A bolsa cheia de dinheiro das drogas reflete meus olhos. Aponto com a
cabeça fazendo-o entregar para Oli.
— O valor está certo? Sem um real a mais ou menos? — Questiono, ele
confirma sério. — Como estão as vendas aqui?
— Ótimas, ficaram loucos por essa cocaína e o crack.
Há um tempo atrás liberei pra Emanuel vender dentro da comunidade.
Por ironia ele é o pai da menina que estou afim.
— Amor, vem aqui. — Ouço a voz da Lorena vindo de dentro da casa.
— Vou entrar. Tudo correto? — Encaro-o.
— O Gil me confirma amanhã centavo por centavo. — Murmuro sério.
Saímos do beco em direção ao mesmo local. Notável observar a loira
encostada no meu carro.
— Italiano? Quanto tempo.
Olho em alguma parte do seu rosto sem olhar diretamente em seus olhos.
— O que você quer?
— Todo machucado, sinto muito... Fico livre esse final de semana, você
sumiu dos bailes. O que aconteceu?
— Sem tempo pra papo ruim igual ao seu.
Ela não espera ouvir o meu nervosismo e simplesmente sai da minha
frente, liberando a porta. Enfio meu corpo dentro do carro, segurando o
celular.
Maitê: Quase, estou no caminho, opressor
Maitê: Oi, acabei de sair do Pole, fiz um vídeo hoje.
Você quer ver? Italiano: Onde está? Em casa?
Italiano: Você posta esses vídeos?
Maitê: Que safado.
Me manda o vídeo, vou ver na hora que for tomar
Italiano: Toma cuidado, linda. banho.
Maitê: Quando eu for pra parceria, eles vão postar, mas não por
enquanto.

Italiano: Não fode.

Maitê: Você concordou.

Sem respondê-la de volta, ligo o motor do carro, evitando de falar algo


estando com raiva de ciúmes por ela.
CAPÍTULO 35

— Onde você estava, Lara? — Maressa questiona.


— Na padaria com a Maitê, mas quero saber o motivo de não poder falar
dela — me olha do outro lado do balcão. — Não pode falar da Maitê para os
outros, não pode trazê-la aqui, eu hei. — Lara revira os olhos, sem paciência.
— Ele não quer falar, só não falar, Lara. Nem todo mundo tem que ter a
mesma opinião que a sua. — Maressa alerta.
— Quero saber o motivo, mãe.
— Porra, quer escutar mais o que? Estou falando pra você não sair
falando! — Respondo sério.
Alcanço o copo de suco à minha frente e dou um gole, sentado no banco
em frente ao balcão da padaria.
— Tudo bem, Italiano, eu entendi. É difícil explicar? — Coloco meu
cotovelo em cima do balcão, movimentos circulares eu passo sob minha testa
sem paciência.
Às vezes Lara é difícil para caralho em aceitar as opiniões. Na moral, não
vou explicar nada, na real nem devo falar mais sobre a Maitê.
— Dá pra notar que você gosta dela, cara — olho nos olhos dela. — Você
está escondendo-a.
— Não escondo ninguém.
— Ela é sincera com você, pelo menos.... não é? — Franzo minhas
sobrancelhas com seu tom de voz.
— Onde você quer chegar com esse assunto? — Meu tom de voz é firme.
— Estou ressaltando, lembre-se de ser sincero com ela também, pelo jeito
você tem muita coisa por trás dessa figura masculina, meu velho...
— Vai terminar seu trabalho no fundo, Lara — Maressa toma a voz. Lara
olha pela última vez, antes de sair para o fundo. — Às vezes Lara enche a
paciência.
— Preciso resolver alguns problemas. Qualquer coisa me chama depois. –
Murmuro sério e arrumo meu boné na cabeça, saindo da padaria.
Saio da padaria na intenção de ir ao encontro do Gil. Ele havia marcado
algo comigo, então vou cumprir como combinado. Subo na minha moto e vou
em direção ao local. Um tempo depois, paro em frente ao local onde ocorrem
as reuniões, um cômodo vazio, só com alguns utensílios do tráfico.
— O que foi? Quer trocar assunto, não pode ser em uma porra de bar, tem
que ser aqui? — Minha voz grossa questiona sua decisão.
Cruzo meus braços e aguardo qualquer palavra que seja dele.
— O que foi?
— Vou assumir meu problema com você. — Raspo meu dente no lábio
inferior.
— Manda, está esperando o que? Ficar dando volta no assunto, não queria
trocar assunto? Estou aqui.
— É sobre a Lara. — Franzo minhas sobrancelhas.
Cerro meu maxilar diante aos meus pensamentos. Várias coisas passam
por minha cabeça, certeza que ele se meteu em algo.
— O que tem a Lara? — Escuto seu suspiro fundo entrando no meu
ouvido. Com dois braços me aproximo dele. — Fala logo.
— Vou ser homem em te falar, Italiano, pra você não descobrir por outra
pessoa — o barulho de uma risada irônica sai dos meus lábios. — Eu me
envolvi com a sua prima.
Sentimentos ruins envolvem minha cabeça. Não sou bobo, eu desconfiava
sobre isso há um tempo. Os dois eram tão burros que deixavam pontos soltos
em relação a esses envolvimentos. Mas mesmo assim, eu resolvi confiar no
William. Confiar que ele não teria a mínima coragem de colocar os olhos em
uma menor de idade.
Aperto meu braço um no outro, com eles ainda cruzados no meu peito, que
sobe e desce em uma respiração moderada, mantenho a atenção fodida em seu
rosto.
Filho da puta.
— Você encostou nela? — Pergunto sério.
— A história… — Descruzo meu braço, fechando meu pulso pesado em
seu rosto.
O barulho do murro agride minha visão, levemente em um grau, seu rosto
vira pelo impacto e a dor.
— Falso do caralho, pau no cu, porra, não fode sua vida comigo. — Ele se
afasta. Com as duas mãos passa por seu rosto vermelho.
— O que está acontecendo? — Um dos meus seguranças pergunta na porta
fechada.
— Bateu na porra do peito, impôs uma regra no HG e eu permito. —
Aponto o dedo na cara dele. — Eu fiquei do seu lado, porra, pra você ficar de
brincadeira a com minha cara?
— Sua prima não é santa.
— Ela te forçou, caralho? Ela te obrigou a foder com ela?
— Estou assumindo que fui homem de ir atrás, sou homem pra sustentar.
— Você me conhece, William, você sabe o cara que está lidando. Qual a
porra da sua cabeça em fazer isso?
— Estava apaixonado por ela. — Solto mais uma risada irônica.
Porra!
— Vacilão! Você é um vacilão!
Passo minhas duas mãos na minha boca, nervoso. Sinto raiva, um ódio
incontrolável.
— Você me fez começar a pegar confiança na sua palavra e no final riu da
minha cara como se eu fosse um otário.
Ele vai lidar com minha pior personalidade a partir de agora. Meu peito
arde em pensamentos nítidos dele transando com a Lara, eu sinto raiva, irmão.
Desde o começo, ele está sabendo muitas coisas da minha vida… pode vir
quem for, mas ele vai sustentar comigo agora.
— Tenta me entender, Maitê! — A voz do meu pai é direcionada a minha
direção.
Ele está lidando até hoje com o pensamento de que eu tenho que aceitá-lo
com a Lorena, como se fosse algo normal. Faz vinte minutos que o meu pai
está na porta do salão, tentando resolver as coisas do jeito dele. Agradeci por
ter vindo ajudar minha mãe a limpar o salão hoje, e ele não a encontrar
sozinha.
— Mandei você ir embora, Emanuel! — Minha mãe exclama.
— Vocês não querem me escutar — encara minha mãe. — Depois não fala
que não avisei! — Alterno meu olhar entre os dois. Franzo minhas
sobrancelhas.
— Você está ameaçando-a? — Cruzo os braços na altura do peito.
— Sua mãe me conhece.
— Agora você quer ameaçar como se você fosse o certo da história. Você a
traiu, Emanuel! — Respiro forte. — Vai embora, Emanuel. não volta aqui
mais.
— Eu sou seu pai.
— Deixou de ser há muito tempo, quando resolveu transar com a minha ex
amiga, não te quero aqui.
— Vai embora, cara! — Minha mãe avisa uma última vez.
Sua íris expressa raiva. Ele troca um breve olhar com minha mãe antes de
sair em direção ao carro prata estacionado. Respiro mais calma quando ele
entra no carro e liga o motor, saindo pela rua.
Ainda de braços cruzados, me viro na direção do salão. Minha mãe segura
a vassoura, começando a passar pelo salão novamente. O silêncio é matador
entre nós duas, de uma forma surreal.
— Mãe...
— Está tudo bem.
— Não, ele ameaça você todas as vezes? — Ergo meu olhar.
— Não. — Suspiro fundo.
— Isso não é brincadeira. — Falo séria.
— Você quer que eu faça o quê? — Sustenta meu olhar. — Que eu te
coloque no meio dessa merda toda?
Seu cabelo fica amarrado em um coque. Calça jeans e a camisa do
uniforme do seu salão.
Sei que nada do que eu disser fará diferença para ela. O comportamento de
ameaça do meu pai é notável, pode ter certeza que algum dia, ele demonstrará
a raiva que vem sentindo por não ter o perdão da minha mãe.
Passo o restante das horas no salão, ajudando minha mãe. Por volta das
16h00min, estou no salão de danças. E hoje foi dia de aperfeiçoar mais os
meus movimentos na barra, assim fizemos. Passo cerca de quarenta minutos
treinando, quando me dou conta, o tempo passou rápido, e agora, a paz
envolve minha cabeça.
— Vamos iniciar a dança. — Sabrina fala alto. — Quero todas com os
passos ensinados.
As duas meninas ao meu lado encaram meu rosto com uma expressão de
desdém. Minutos atrás, o olhar delas não saía do anel que o Edgar me
presenteou.
A sala toda fica em silêncio, engulo em seco olhando para Sabrina,
regulando a câmera do celular dela. É a primeira vez dançando vestida com
algo vulgar, todas as outras vezes foram com roupas. Uma lingerie preta por
meu corpo, acompanhada do salto.
— A pista é sua, Maitê, faz o que sabe.
— Cuidado para não cair. — Ouço a voz irônica de uma das meninas.
Minha resposta é um olhar sério, antes da música iniciar.
A música "Darkside" começa a tocar pela sala, as quatro paredes refletem
os toques e envolvimentos da melodia. Meu corpo acompanha cada
movimento, apto para os passos na barra de ferro. Eu pareço uma boneca
envolvida pela barra, meu corpo faz cenas com uma certa leveza.

Posso dizer que seja um refúgio da minha realidade, e talvez minha maior
meta seja viver do dinheiro do meu talento. Sendo eu, Maitê, com minha
essência, sendo reconhecida por isso.
Meu peito sobe e desce em uma respiração. Eu me conecto com algo a
mais, com o universo. Três minutos passam rápido, mesmo abatida pelo
cansaço, eu finalizo a dança. A última cena é jogar minha cabeça para trás, e
conforme faço, meu cabelo acompanha.
A câmera da Sabrina é encerrada, então ela acende a luz principal. Ouço
sua risada satisfeita.
— Perfeito, arrasou, Maitê! Simplesmente maravilhosa, esse vídeo vai ser
uma das maiores parcerias que tenho. Eles vão analisar cada detalhe e vão
chamá-la para analisar sua dança, tem homens e mulheres. Estou oferecendo
essa oportunidade, basta aceitá-la. — Um sorriso cresce em meus lábios.
— Eu aceito. — Respondo.
Pela noite. Em casa, vejo a mensagem do Edgar.

Italiano: Estou saindo da comunidade agora.


Você não tinha nada pra me falar, Maitê?
Maitê: Sobre o quê?

A mensagem é visualizada rapidamente.

Italiano: Estou passando na rua da sua casa em quinze minutos, vou


resolver com você pessoalmente.

Imediatamente as lembranças da Lara e Gil invadem minha imaginação.

Maitê: Lara, você falou algo para seu primo?


Pode me falar o que?
Lara: Maitê, por favor... aqui está uma bagunça.
O Gil todo machucado, e óbvio que o Italiano veio me
cobrar, ele ficou de cabeça quente.
queria falar sobre você.
O Italiano fez pressão psicológica, eu juro que não

Franzo minhas sobrancelhas, sentada no sofá de casa após ter tomado meu
banho e lavado meu cabelo, leio mais uma vez.

Maitê: Meu Deus, Lara.


Eu te avisei sobre essa merda toda e mesmo
assim me colocou no meio.
Lara: Não tenho culpa.
O Italiano acabou de sair da comunidade.
Me desculpa, Mai

Meu coração entra em um descompasso por essa falta de noção vindo da


Lara. A Lara é nova, mas nada justifica os erros cometidos um em cima do
outro. Ela vem vacilando muito com todos a sua volta, principalmente comigo.
CAPÍTULO 36

— Cobrou a lealdade do Gil? — HG questiona.

Cruzo meus braços, nitidamente nervoso. Consideração é o pilar para


qualquer pessoa na minha vida. William sempre foi o primeiro a saber de
qualquer merda que eu fiz durante anos. Eu sempre confiei, mas nunca havia
admitido, confesso.
Porra, ele se envolveu com uma menina de quatorze anos e,
principalmente, é minha prima. Ela pode ser adolescente, mas Gil sempre
esteve ciente da idade.
Desconfiei dos dois há um tempo, mas preferi depositar minha confiança
no Gil.
Estou na casa da Maressa, enquanto seguro meu celular em mãos,
notando que Maitê visualizou minha mensagem sem dizer nada. Para
completar, Maitê soube do envolvimento do William e da Lara, e não me
disse nada.
Assim que guardo o celular no bolso, olho para Lara, suas mãos estão
trêmulas de medo e euforia do momento.
— Gil me falou sobre tudo, Lara — respiro forte. — Mentiu de um abuso
sexual pra ele?
— Eu... eu...
— Não gagueja, fala olhando na porra do meu olho — sustento seu olhar
— Você não tem um pouco de responsabilidade. Aprende que a porra do
mundo não essa bolha cor de rosa que você vive! — Seguro seu braço com
força, forçando-a olhar nos meus olhos.
Fito o cabelo curto solto e os olhos tremendo ao me encarar parado na
sua frente.
— Me solta.
— Eu não sou teu pai e não sou sua mãe — estremeço entre dentes. —
Mas eu cuidei de você desde quando nasceu, abre a porra da sua boca e fala
tudo que fez com o Gil.
— Está me machucando, Edgar. — Observo os olhos lacrimejando.
— Fala, Lara, fala logo! — Maressa diz alto.
— Eu sempre fui apaixonada pelo William, é isso que vocês querem
ouvir? — Umedeço meus lábios, sinto-os secos. — Eu menti, eu queria o
William. Ele não ia me querer caso soubesse que eu tinha perdido a
virgindade com qualquer um. Eu menti sobre o abuso — seu tom de voz fica
baixo, tornando-se choro. — Quando ele soube, ele se afastou.
— Pilantra. — HG murmura ao nosso lado.
— Cala a boca, caralho! — Encaro-o.
O que esse rapaz está fazendo aqui ainda?
— Caso você fosse minha filha, eu iria acabar com você. Fazer se
arrepender de qualquer coisa e educar, já que não tem uma porra de
consideração nesse caralho.
— Me solta agora, Italiano.
— Não te quero perto do Gil, me entendeu? Caso eu veja, qualquer
acontecimento com ele, a culpa será sua — aponto meu dedo em seu rosto,
ainda seguro com minha outra mão. — Ele vai acabar morrendo por sua
culpa, não vou aceitar, caralho.
— Ele não me quer há tempo, Edgar. — Lara puxa o braço fortemente.
Libero, não contendo uma respiração forte.
— Eu não sabia que a Lara estava envolvida com esse rapaz, e a Maitê
sabe — de canto, olho para o HG com a frase da Maressa. Ele permanece
calado, atento.
— Maitê não tem culpa, acha certo a sua filha ter a liberdade de condená-
la? — Falo ríspido.
— A Maitê você defende, Italiano. Quando soube que o HG sabia, veio
aqui falar sermão, como se eu tivesse culpa daquela garota... — A voz da
Lara soa como deboche.
— Não a coloque nos seus problemas! — Aviso.
— Vai defendê-la? — Coloca as duas mãos na cintura.
— Vou defendê-la de qualquer pessoa que entrar na porra do meu
caminho. Achei que você fosse ter uma consideração por quem sempre fez
algo pra você, Lara, ingrata. — Murmuro.
— Vai embora, Edgar, está todo mundo de cabeça quente. Eu vou
resolver essa situação com a Lara — minha madrinha toma voz. — Como o
Gil está?
— O Gil? Destruído... mas ele sabia do problema que carregaria. — HG
fala.
Sem nenhuma paciência, eu saio de dentro de dentro da casa. Deixo as
duas se resolverem sozinhas. Meu aviso está dado.
— Tudo suave, chefe? — Oli questiona perto do meu carro — Vai sair da
comunidade?
— Vou.
Já é noite. Por volta das 19h00min no meu relógio do pulso.
Enfio meu corpo dentro do carro quando e abro a porta. A voz do Oli
vem do lado de fora.
— Mas fica tranquilo, chefe. Ficar estressado com coisas assim prejudica
a sua saúde. — Termino de abaixar o vidro.
— Italiano — HG se aproxima. — Gil está com outra mulher, há dias
atrás eu o avistei conversando com uma garota, eles trocando número de
telefone — continuo calado. — Ele pode ser pau no cu, mas ele é seu
gerente, não tira ele do cargo. Ele sabe o que faz, pode acreditar, William faz
de tudo por você, e mulher é traiçoeira, você sabe perfeitamente.
— Virou conselheiro?
— Ele está certo, Italiano. O Gil é firme com você. Eu não sou falso, mas
entre nós, o único que você deve confiar, é ele. — Sustento o olho do Oli.
Na minha imaginação vem determinado momento que ele pedia para
parar de desferir madeiradas na pele das suas costas. Cada soco e chute da
minha mão penetrava no corte do tecido da pele.
Flashback on…
Meu olhar envolvia raiva. William estava deitado no chão, sem força
alguma por suas pernas fracas. Ele respirava forte, enquanto protegia sua
cabeça com os dois braços. A raiva que eu sentia da sua traição me fazia
desferir vários ataques por sua pele, com uma madeira entre minhas duas
mãos.
A madeira era moldada especificamente para momentos como esse,
abrir na pele quente cortes profundos. Carregar para o túmulo uma
lembrança do meu ódio.
— Aí, caralho! — Ele geme, ofegante.
Seu gemido tem transtorno de medo e euforia. Ele sempre soube como é
lidar comigo, lidar com o meu lado Italiano é um dos meus piores defeitos.
William sabia melhor do que qualquer outra pessoa na minha vida. Quando
me viu perdidamente obsessivo por uma refém. Quando soube que sou capaz
de matar qualquer um por causa de uma mulher que eu mesmo queria como
refém.
Um chute na sua boca do estômago o fez tossir. Tinha sangue espalhado
por sua camisa branca, na verdade, encharcada de sangue, visivelmente nas
costas.
— Essa porra de sentimento, a sua mulher vai ter — um sorriso irônico
escapou dos meus lábios. — Ela vai te deixar sozinho, como você merece
ficar, Italiano! — Sua frase é carregada de raiva.
Abaixei a sua frente, deixando a madeira no chão. Apoio meus cotovelos
nas minhas coxas e agachei. O cheiro de ferrugem atingiu minhas narinas,
cheiro de sangue.
— No mínimo uma distância da Lara. Caso eu souber que foi atrás, eu
vou mandar te matar — Os olhos lacrimejando me olharam.
Seu rosto um pouco erguido escorria suor. A expressão labial estava
reprimida por dor.
— Imagina quando a Maitê souber quem você realmente é?
— Ela vai saber — sustentei seu olhar trêmulo. — Ela sempre soube na
verdade quem sou eu, ela sente que não deve confiar em mim.
— Você…
— Cala a boca! — Aumentei meu tom de voz.. — Não quero saber de
você bancando ser meu amigo, você não é. Você traiu minha confiança,
William, eu confiava em você como nunca confiei em outro. Boceta você
conseguiria em qualquer lugar nesse mundo. — Ergo meu corpo.
A sola do meu tênis foi de encontro da sua mão no chão, seus dedos
ficaram por baixo do meu pé. Eu pisei em cima, ouvindo sua respiração
ficar mais pesada.
— Entendeu? — Questiono.
— Entendi… — A voz saiu trêmula.
— Fala mais alto, porra.
— Eu entendi, Italiano!
Cerrei minha mandíbula. William recebe meu último olhar antes que saia
pela porta, e ainda perto, consegui ouvir seu diálogo com o HG.
— Eu avisei, Willian — a voz do HG era de pena. — Olha a situação que
você ficou, porra.
— Vai me ajudar mesmo depois da surra que te dei? — Gil brincou
mesmo quase morto.
— Claro, porra, você é meu amigo.
— Me tira daqui, por favor… — Foi a última frase do Gil que ouvi antes
de seguir meu caminho.

Flashback off

Espanto minhas lembranças quando vejo Maitê do lado de fora do carro,


batendo na janela lateral do banco do passageiro. Abro a porta pra ela.
— Entra. — Ordeno.
Ela ajeita o vestido no seu corpo. A porta do carro continua aberta, ela
simplesmente olha receosa para dentro.
— Agora. — Falo mais uma vez.
— Não vou entrar pra ouvir sermão de algo que não tenho culpa. — Sua
voz sai firme.
Encosto minha cabeça no banco, ela continua em silêncio, assim como
eu. Deslizo minha língua por meus lábios. De relance viro meu rosto na sua
direção, ela entende meu olhar duro nos seus olhos e entra.
— Opressor. — Bate a porta do carro.
Como sempre, seu cheiro preenche o carro. Ligo o motor, começando a
dirigir.
— Eu não tenho culpa da sua prima.
— Eu falei que tem? — Questiono. — Fica suave, o problema não é seu.
— Sério? — Seu olhar está na minha direção. — Milagre, me entendeu
pela primeira vez.
— Continua com essa brincadeira que me arrependo de pensar assim. —
Ela solta uma risadinha medrosa.
— Conhecendo você, o Gil deve ter ficado em um estado péssimo…
— Você não me conhece. — Presto atenção no trânsito.
— Bom, o pouco que conheço…
— Todos que entram com má intenção na minha vida, tem uma sequela.
Ele traiu minha confiança, eu fiz com que pagasse por isso.
— A paixão às vezes deixa a gente cego.
Respiro fundo.
Ficamos alguns minutos dentro do carro. Chegamos na minha casa e meu
relógio no pulso marca quase 21h00min. Tranco a porta da sala, olhando
Maitê
— Vem... — A chamo. Sento no sofá, querendo ficar com o calor do seu
corpo. — Não vai sobrar nada pra você.
Ela senta no meu colo, segurando meu pescoço.
— Eu pensei que sobraria, fiquei com medo.
— Você tem medo do cara que você vê praticamente todos os dias? —
Sustento seu olhar. — Hum?
— Como você disse, eu não te conheço. Não sei qual é a sua intenção
comigo.
— Oh, linda. Minha intenção com você é a melhor. — Os olhos pretos
brilham com a iluminação da luz.
Deslizo minha mão na sua coxa macia. Elevo por baixo do seu vestido,
quando sinto a calcinha, eu abro um sorriso de canto.
— Muito bem, minha linda. — Ouço a risada alta.
Sem desviar por nenhum momento, meus olhos são mantidos nos seus. A
forma como enxergo a íris do seu olhar é algo de outro mundo, eu me
amarrei desde o primeiro momento nesses olhos pretos.
— O que foi?
— Preto te deixa mais linda. — Falo.
Estudo seu vestido: alça fina, cor preta e detalhes por sua cintura fina.
— Você acha?
— Acho, preto diz muitas paradas sobre você — sinto sua bochecha com
meu dedo. — O que te lembra preto?
— Você... sombrio, frio e obscuro. Preto também me faz lembrar a
pessoa que fez maldade para as pessoas no dia do assalto no banco.
— Ele te tocou?
— Eu... não sei... eu… — Gagueja.
— Não tenha medo. Sou eu, Edgar, pode contar. O que você sentiu?
— Medo... só medo.
— Nenhum deles vai encostar em você de novo. — Seu corpo quente
cola no meu.
— Como você me garante? — Seguro sua nuca. Aproximo sua boca da
minha.
Meus lábios deslizam sob o dela, trocamos a conexão de uma respiração
quente.
— Ninguém encosta na minha mulher. — Suas unhas cravam no meu
pescoço.
— Para eu ser sua mulher, preciso ser sua dona. Eu sou?
— O que você acha? — Sustentamos com um fio de olhar.
— Eu sou. — Se garante.
— Você viu o vídeo? — Eu paro qualquer movimento.
— Não, não deu tempo — solto-a. — Posso ver agora?
— Sim, veja.
Tiro o celular do meu bolso, enquanto suas duas mãos acariciam minha
nuca.
— Está entrando direto na galeria, não pode entrar nas mensagens? —
Solto uma risada forçada.
— Posso.
Saio da galeria do telefone e vou para as mensagens. Os meus contatos
estão zerados, apaguei. Não pelo fato de conversar com outras, mas na
maioria das vezes mulheres ficam enchendo a porra do saco com várias
mensagens. Com a mão livre, aperto o quadril dela, entrando no vídeo.
O conjunto de hot para pole dance deixa suas curvas intensamente
marcadas. Controlo minha respiração no peito a cada movimento do seu
corpo na dança. Tudo no vídeo soa sexy, a música, a luz do salão e seu corpo
a cada balanço com o cabelo.
— Esse vídeo é para uma parceria da minha professora. — Ergo meu
olhar.
— Vulgar assim?
— Não é vulgar.
— Não? — Ouço o vídeo tocar, mas minha atenção está fixada no rosto
dela. — Eu estou estressado por causa do meu dia, o William acabou com o
meu dia.
— Aham, mas isso não tem nada a ver com ele. Apenas estou falando
sobre meu trabalho para você, e você é a primeira pessoa a saber. —
Bloqueio a tela do celular, colocando-o no sofá. — Você concordou, amor.
— Não concordei com essa porra.
— Não precisa concordar.
— Você gosta de aparecer assim, quer ter vários homens querendo você?
— Sua expressão é duvidosa.
— O quê?
— Eu fico de pau duro vendo o vídeo, imagina outro homem, caralho.
— Eu não vou deixar de fazer o que quero por causa disso. Eu só quero
ganhar meu dinheiro.
— Mostrando o corpo pra homem. — Ouço a risada irônica.
Quando ela faz menção de me afastar, eu agarro seu corpo com força,
prendendo-a comigo.
— Opressor. Me solta, Italiano.
— Você é minha. — Minha voz rouca soa com raiva.
— O único lugar que você manda em mim é entre quatro paredes, fora,
você não manda. — Diz firme.
Me levanto com ela, seguro com facilidade seu corpo com meus dois
braços. Ela agarra meu pescoço na intenção de se segurar.
— Então vamos para o quarto, quem sabe lá eu não consiga descontar a
raiva em você.
Caminho, a bermuda limita meu pau duro dentro da cueca a cada passo
em direção ao quarto.
CAPÍTULO 37

Prendo minha respiração no peito, quase sufocada. As chicotadas na


minha nádega provocam uma ardência horrível. Eu sinto as contrações por
todo meu corpo. Italiano gosta de me provocar a sensação angustiante de
dor, assim como as mordidas espalhadas por todo meu corpo.
Meu corpo tremula, fica parado. Estou na cama, amarrada com meus
braços para trás, meu rosto respira sufocado contra o lençol gelado. Eu
mordo o lábio inferior quando sinto a minha boceta abrindo na sua mais
profunda entrada. Seu pau grosso dilata minhas paredes vaginais e um
gemido alto escapa dos meus lábios.
Sinto o exato momento do seu pau inchar dentro de mim pelo tesão. A
minha lubrificação provoca o choque dos nossos corpos quentes.
— Ah…Edgar. — Sua mão enrola meu cabelo fortemente, puxando-o
para trás.
— Fica quieta, caladinha, me ouviu? — Deixa um tapa forte na lateral
do meu quadril.
Seu corpo estremece contra o meu. Edgar começa a me foder com força,
suas investidas dentro de mim causam arrepios por meu corpo. Não minto,
a dor é irreversível, ao mesmo tempo mistura-se ao prazer. Porém, dessa
vez, seu ódio está sendo descontado na minha boceta. Sua mão grande bate
forte e várias vezes seguidas na região da minha bunda, provocando uma
dormência na minha pele quente.
Visivelmente, minha expressão facial contagia a dor, a sensação de
dominação. Oh, é tão fundo que consigo senti-lo. Ele desperta em mim
questionamentos, como pode ter uma energia surreal assim? Como pode ser
tão gostoso e ao mesmo tempo doente, ao ponto de soar ser um obsessivo
por minha vida?
Sinto que não devo confiar nas suas palavras, mas quando vejo, estou de
volta à sua cama.
Aperto minhas unhas contra a pele da minha própria mão, que rasgam.
Meu corpo contra o lençol movimenta, seu membro inchado e lubrificado
fode com rapidez e ferocidade a minha boceta.
— Que caralho. — Contra os barulhos alto dos nossos corpos, solto um
gemido.
Estou prestes a gozar. Eu vou gozar com a pior sensação de dor do seu
corpo pesado em cima do meu. Italiano está me fazendo gozar. Minhas
pernas tonteiam, tremem freneticamente. Minha lubrificação fica mais
intensa, é um orgasmo, eu sei pela sensação do meu corpo arfando até o
último segundo.
Meu gozo proporciona uma sensação nocauteante para ele, pois no
último segundo, gemendo rouco, seu corpo encaixa no fundo da minha
boceta. Quase parando o movimento, seu pau incha dentro de mim e pulsa
sua porra, escorrendo o líquido quente.
— Por favor, me solta. — Minha voz sai falha.
Devagar, seu corpo me abandona, suando frio. Ele tira a algema dos
meus pulsos, ergo meu corpo com uma certa dificuldade. Tento confortar a
dor envolta dos meus pulsos vermelhos e marcados.
Sem uma palavra, eu pego minha roupa no chão. Em impasse, sua mão
me segura. Os olhos esverdeados me encaram com dúvidas. Edgar está
parado, seu rosto suado, assim como o corpo nu, seu peito sobe e desce em
uma respiração pesada. Uma lágrima solitária quentes molha meu rosto.
— O que foi? — Me encara.
— Quero tomar banho. Me solta.
Ele fica em silêncio, e quando me livro, vou direto para o banheiro do
corredor. Permaneço por alguns minutos sentada no vaso sanitário. Após
tomar meu banho gelado e vestir o mesmo vestido, aliso minha bunda
marcada.
Essas marcas no meu corpo ficaram horríveis para o dia da dança.
Eu o conheço, não da forma como queria. Mas entendo como é o seu
jeito de jogar, de sentir-se superior às coisas.
Edgar está encostado no ferro da sacada. Ele mantém seu olhar para a
paisagem: veste uma cueca vermelha e uma camisa preta. Os fios unidos do
cabelo estão penteados para trás.
— Vai ficar me olhando assim? — Sua voz grossa questiona.
Em pequenos passos, me aproximo. Não posso e não vou deixá-lo
mandar na minha vida, não posso deixá-lo pensando que manda nas minhas
coisas, nas minhas atitudes.
Vejo a rua deserta quando paro na sacada.
— Eu acho que nunca senti algo assim. — Ouço sua voz falar.
— Assim como?
— Algo por alguma mulher, assim como sinto por você — fito seus
olhos. — Querer mandar, querer tê-la só pra mim, ao ponto de privar de
fazer o que mais gosta — engulo minha própria saliva. — Isso deve te
assustar.
— Um pouco, mas eu nunca vou obedecer a nada. — Escuto seu suspiro
fundo.
— Isso se tornou algo que não tenho mais controle, Maitê. Eu nunca me
perdi assim durante trinta e quatro anos da minha vida. — Ele olha para a
paisagem novamente.
Ele trava sua mandíbula, levemente dá um suspiro e abaixa o olhar.
— Você é um dominador, Italiano, você é sombrio, obscuro, eu não
conheço quase nada da sua vida, acha que vou deixar de fazer algo que
quero, para te agradar? — Seus olhos vêm na minha direção novamente.
— Eu não tenho cabeça pra ver homens cobiçando minha mulher. Acha
mesmo que sendo mulher de um cara como eu, sairá barato essa sua vida?
— Eu…
— Eu estou dizendo a verdade, se por acaso fosse para assumir ficaria
suave assim?
— Eu não sei — volto minha atenção para a rua. — Se sente bem
descontando todo seu ódio, igual descontou hoje? — Meu tom de voz
pergunta.
— Você gostou, linda. Foi com seu consentimento — respiro fraco. —
Eu sempre vivi assim. Minha vida é matar ou morrer, enterrar ou ser
enterrado, trair ou ser traído. — Murmura, olhando dentro dos meus olhos.
— É ser um lobo, caçando, mas estar preparado para ser caçado um dia.
— Eu imagino.
— Quando entrei no crime conheci um rapaz, Igor. Ex chefe do Alemão,
ele me considerava como seu amigo desde o começo da minha vida. Eu era
seu gerente, cuidava do seu gerenciamento.
— Como um confidente.
— Mas a traição vem de quem você menos espera. Ele era respeitado,
era bem conhecido, ganhava muito, mulheres caíam aos pés por uma noite
com ele — seu olhar desvia para algum ponto fixo. — Eu denunciei o local
onde estaria com a mulher. Foi morto.
Engulo saliva.
— Eu não sou esse cara que você conhece, linda, eu sou pior e você
precisa estar preparada pra minha versão. — Aperto minha mão no ferro da
sacada.
— Eu não sei o que dizer.
— Não precisa falar, apenas vem aqui.
Se vira, encostando. Ele libera para ficar perto do seu corpo quando
passa seu braço em volta do meu ombro e me puxa para perto. Aninho no
seu corpo musculoso e quente. O cheiro masculino do hidratante invade
minhas narinas quando deslizo meu rosto sob sua camisa.
Como é gostoso.
— Vamos deitar juntos? — Pede. Sua mão alisa meu cabelo.
— O que você quer? — Abraço sua cintura. Sua boca beija o topo da
minha cabeça.
— Deitar com você — passo a ponta do meu dedo no lugar onde seu
machucado está quase cicatrizando. — Preciso dormir um pouco, esquecer
o dia de hoje. — Ergo meu olhar e fito seu olhar cansado.
Vou para a cama com ele. Eu troco o vestido por uma camisa para
dormir, e claro, não posso esquecer, ele quer meus seios para dormir. Passo
minha mão por seu cabelo macio enquanto tenho seu rosto contra meus
seios. Italiano pega no sono mais gostoso e relaxado, com meu mamilo em
sua boca.
Cerca de três horas depois, acordo do cochilo. Abro meus olhos,
claramente perdida, então recordo que estou na casa do Edgar. O quarto está
escuro e a cama ao meu lado, vazia. Me sento, ainda sonolenta, eu levanto
para acender a luz.
Quando volto para a cama, na intenção de ver o horário, eu pego meu
celular em cima da cômoda. Mas minha mão trava, o celular envolta dos
meus dedos, caem sob a madeira da cômoda novamente. Minha respiração
falha como um impasse.
O coração do meu peito bate fortemente e no meu olhar, o meu crachá
está visível: nome Maitê, jovem aprendiz. Trêmula, pego o crachá.
Estou vivendo todos os momentos novamente. Uma dor forte na cabeça
traz todas lembranças de volta para a minha realidade.
Ergo meu rosto para a porta do quarto e lá está ele. Edgar Mazza, o
Italiano. Seu olhar é frio, ele ainda veste sua camisa preta e a cueca
vermelha.
Desço meu olhar para meu crachá novamente, sem reação. Mas eu faço
como minha mente imagina, meus olhos vagam por seus pés descalços,
imaginando-o com uma bota preta. Calça preta e uma blusa preta, no rosto
uma balaclava onde possibilita ver os olhos avelãs.
— Você? — Engulo minha saliva. Como um espinho desce perfurando
minha garganta seca.
Sério, olho para Maitê encostada na cabeceira da cama. Minha mente fria
raciocina, determinado momento que ela está assustada, e eu mantenho minha
expressão mais séria. Como se não me importasse. Sem nenhum remorso,
sustento seu olhar perdido.
Eu quero mostrar para ela o filho da puta que sou, o cara que ela está
prestes a lidar não é o cara que ela deita nessa porra de cama todos dias. A
minha verdadeira versão, o meu lado que todo mundo conhece de transtornado
e maluco. O homem que sempre fui nesses meus trinta e quatro anos de idade:
frio, calculista e otário.
— Jovem aprendiz, no meu alvo há dois meses, filha da Laís e do
Emanuel. — Encaro-a. Suas mãos trêmulas seguram o crachá.
Ela me olha com o mesmo olhar de quando a conheci, expressão de medo,
dúvidas. Seus lábios reprimem um no outro e os olhos pretos vem até meu
rosto, com um olhar diferente. Medo.
— Te conhecia há meses, lembra de mim? — Minha voz grossa soa entre
meus lábios. Cruzo meus braços. — Na verdade, não tem como esquecer. —
Deslizo minha língua quente no canto da minha boca.
O silêncio reina entre nós dois, ela parece digerir a situação. Talvez mais a
forma como me olhar irá me causar arrependimento pela maneira que eu estou
mostrando-a como realmente sou.
Por mais que doa aqui no meu peito, eu fiz isso tudo acontecer, é minha
culpa, meu lado por essa atração irresistível por ela.
— Meu Deus — seus olhos me fitam, segurando o crachá. — Eu quero ir
embora. — Faz menção de se levantar.
Dou apenas um passo rígido, fazendo com que seu corpo colapse mais ao
medo e fique na mesma posição.
— Não levanta. — Ordeno.
Seu peito sobe e desce ao escutar minha voz autoritária. Ela joga a cabeça
para trás, encostando na cabeceira. Seu corpo por baixo da manta, treme e seus
olhos fecham, derrubando lágrimas.
— Você. Meu Deus. — Leva as duas mãos no rosto e chora.
Tento controlar minha respiração no peito. Passo minha mão direita no
meu maxilar.
— Você planejou tudo? — Questiona sem me olhar. — Justo comigo,
Italiano — ergue seu rosto até o meu. — Você me usou. Você é um mentiroso!
Seu corpo treme junto ao barulho do seu choro. Ela busca o ar, respirando
forte.
— Eu comandei o assalto, eu queria você como refém, para me aproximar
de você. Quando te observei naquele assalto, eu desejei você pra mim. É uma
obsessão que eu não sei controlar — passo minha língua por meus lábios que
tem gosto de maconha. — Pela primeira vez na minha vida, eu não agi como
deveria agir. Eu estava maluco por você, Maitê, como um psicopata. O louco
que sou, porra!
— Cale a boca, nojento. — Ela passa as duas mãos pelo rosto e enfia no
seu cabelo para desfazer o coque, seu cabelo preto e grande espalha por seu
ombro.
O rosto vermelho toma o tom avermelhado conforme mais lágrimas
molham.
— Que caralho — sussurra para si de cabeça baixa. — Meu sonho, eu
sonhei com essa merda... e estava dormindo ao seu lado, como sou burra, ele
sempre queria saber de tudo — ela conversa consigo mesma. — Você é uma
burra, Maitê, burra!
— A quadrilha tinha cinco membros, eu era o comandante. Eu analisava os
passos de cada um, eu mandava, até no dia que ordenei esse assalto. Eu me
lembro de cada passo seu quando segui, cada lugar, te conheci antes de você
imaginar. Sabia o horário que você fazia suas caminhadas e sabia a cor da tua
roupa no dia do assalto. Eu me aproximei de você no assalto, aquela foi a
primeira vez me aproximando de você, te olhando de mais perto. — Escuto
seu choro mais alto. — Você me deixou louco antes de chegar perto de você,
antes de tocá-la.
— Não quero ouvir mais!
Leva as duas mãos nos ouvidos, tampando-os com força. A manta desce do
seu corpo, revelando a minha camisa que usou para dormir.
Respiro forte dessa vez, parado no mesmo lugar, eu fico olhando seu
transtorno de medo e nojo. Eu coloquei o crachá ao lado da sua cama para ela
vê-lo.
— Por favor — sua voz falha. — Não faz nada comigo, eu prometo não
falar nada com ninguém, só me deixar em paz. Eu prometo… prometo. —
Repete.
Pego seu vestido. Ela evita me olhar, não encara meu rosto. Eu evitei não
me envolver, evitei essa atração que sinto por ela: seu corpo pequeno, seu
cabelo, seu jeitinho, seu cheiro, os olhos pretos e depois que descobrir sobre
seu leite, me deixou mais fascinado por essa garota.
Eu não conseguia mais dormir sabendo que ela não conhecia minha
verdadeira versão. Quem realmente sou.
— Veste a sua roupa. — Me aproximo.
Ela se afasta para o outro lado da cama quando pega com força da minha
mão.
Respiro fundo.
Pego minha bermuda no chão, vestindo-a. Meu peito envolve uma dor
como se rasgasse, envolvendo a escuridão. Achava que jamais poderia sentir
uma sensação de perda como essa.
Maitê termina de colocar o vestido e sua calcinha. Em silêncio, seus passos
vão até a porta. Rápido, aproximo, bato a porta, impedindo-a de sair. Seguro
seus pulsos para trás, uma das minhas mãos concentra na sua nuca. Prendo seu
corpo perto do meu.
A respiração dela é forte, o choro silencioso. Ela se recorda da cena do
assalto, seu corpo está trêmulo. Minha mente fria e calculista embora aos
poucos.
— Eu jamais te machucaria. Não fisicamente, Maitê — falo perto do seu
ouvido. — Pelo contrário, eu farei de tudo pra ninguém, nenhum desgraçado
deles se aproximar de você.
— Meu Deus, eu tenho medo de você, não entende isso? Me deixe em paz,
Italiano.
— Quer me entregar? Pode ir, me entrega e faz denúncia do seu sequestro,
eles vão me achar. Apenas não envolva mais nenhum da quadrilha. Não
envolve o Gil...
— Eu não vou entregar ninguém. Você acha que sou burra a esse ponto?
De entregar bandido? Pode me achar burra de ter transado com você, mas não
sou burra de ir em um departamento de polícia falar de alguém que acabou
com meu psicológico — solto seu corpo lentamente. — Eu vou sair por essa
porta, não quero você atrás... Pelo menos isso faça por mim.
CAPÍTULO 38

A cada respiração pesada envolve uma mistura de dor na região peitoral.


Uma crise de ansiedade começa a se desenvolver novamente, depois de
tempo sem sentir. Ele traz de volta minha dor. A ansiedade me deixa sem ar,
uma formação de uma bola dentro da minha garganta. O ódio que eu sinto
pelo sequestrador e assaltante, é ele… eu sinto raiva por ele, pelo cara que eu
transava todos os dias.
Me sinto humilhada, seus toques fervem na minha pele. Eu não consigo
esquecer seus toques, sua mão passando por cada centímetro do meu corpo,
seus beijos. Estou despedaçada de várias formas possíveis, quebrada por
dentro.
Eu sabia que no fundo Italiano tinha uma outra versão, mas não pensei
que iria me destruir assim, que iria me sentir usada por alguém que estou
apaixonada. Frio e calculista, a forma... o jeito que ele me olha, tudo faz
sentido, as pistas dadas, a cor preta, a forma que ele me queria apenas pra
ele, o trato de nos vermos todos os dias.
Sua mão ainda está nos meus pulsos, dessa vez fraco. Seu corpo firme e
forte por trás do meu. Meu cabelo se espalha pelo rosto, grudando junto com
as lágrimas.
— Você vai me matar? Eu não fiz nada, eu prometo que não vou fazer,
me deixa em paz... por favor...
— Eu não vou tocar em você. Difícil você entender essa porra? Eu não
vou te machucar fisicamente, Maitê. — a voz grossa murmura atrás do meu
corpo. — Quero que saiba, eu tentei não me aproximar, eu tentei, mas eu não
consegui. Quero que você saiba do seu pai, ele é envolvido no crime...
— Do meu pai eu espero tudo — minha voz falha sai. — Do meu pai
espero o pior.
Mas de você, de você não esperava…
Penso mentalmente, mas minha boca permanece fechada. Sinto medo,
sinto ódio, uma mistura de sentimentos.
Ele fazia do jeito que eu adorava, sabia proporcionar momentos no meu
ouvido e prometer um mundo com promessas na cama, porém promessas são
feitas para serem quebradas. Os olhares, o sexo e paixão talvez fossem
apenas momentos em minha vida, com a pior pessoa que eu conheci.
Mesmo sendo submissa a ele no sexo, eu amava a forma... sempre quis
ele dessa forma me fodendo, do jeito que ele sabe fazer, dando dor e prazer
ao mesmo tempo, e também fazendo amor. Vivi esse tempo todo sendo
usada, até pelo Gil: — Famosa Maitê. — Era a Maitê do assalto.
— Me solta. — Seu aperto alivia, mas ele não solta.
— Você vai embora de madrugada sozinha?
— Quer o que? Que eu espere uma carona do cara que me fez de refém?
Eu tenho medo de você. — Mordo meu lábio inferior, segurando o choro
abafado.
Sua respiração é pesada. Ele sente que minhas palavras pensam, então
me libera. Sem olhar para trás, abro a porta, atravessando por ela.
Caminho em direção a saída com a intenção de sair daqui, pegar um
Uber e sair de perto do território. Como posso ter deixado isso tudo
acontecer? Como fui tão burra ao deixar algo me destruir dessa forma por
estar amando-o.
A pior sensação é saber que eu estou apaixonada pelo comandante do
assalto.
Passo minutos até conseguir o primeiro Uber com meu celular. Quando
estou próximo a casa, eu atravesso o portão, trancando-o por dentro com
minha chave. Na primeira oportunidade, eu me sento no sofá, minha
ansiedade me consome. Meu choro se torna algo difícil de controlar. Coloco
meus dois pés em cima do sofá, envolvendo meus joelhos.
É uma dor insuportável, uma dor pior do que quando sofri o assalto. É
como se me destruísse em vários pedaços, nada sai da minha cabeça, tudo
que passei ao seu lado vai se encaixando, tudo vai fazendo sentindo, aqueles
olhos na cor de avelã foi o motivo do meu medo.
A casa está com a luz apagada, não quero acordar minha mãe. Mas é em
vão, o barulho na porta do quarto faz a luz do corredor acender e a claridade
da luz da sala preencher meus olhos inchados. Sua expressão não é uma das
melhores quando caminha descalço e observa a situação da sua filha.
— Maitê, o que está acontecendo? — Se aproxima.
Fico em silêncio, até decidir desabafar.
— Era ele. — Continuo olhando para um ponto fixo na minha frente,
enquanto as lágrimas escorrem no meu rosto.
Minha mãe entra na minha frente, de relance vejo o pijama na cor preta e
ela me olha, mas não revido nenhum olhar a sua direção.
— Ele mentiu pra mim.
— Maitê, olha aqui pra mim — nego devagar. — Quem mentiu pra
você? Filha... — Respiro forte.
— O Edgar — ergo meu olhar até seu rosto. — Ele me usou, aquele filho
da puta me usou.
— Você está muito abalada, olha seu rosto, seu cabelo, o seu estado está
horrível... — Senta ao meu lado. — Edgar é o rapaz que estava saindo?
— Mãe — engulo minha saliva. — Edgar não é quem você imagina, ele
é pior.
— Hum?
— Mãe — afasto. — O comandante do assalto... ele é o Edgar.
Sua expressão facial muda drasticamente, seus olhos fixam no meu rosto.
Ela se afasta, levantando-se.
— Ele mentiu pra mim desde o começo.
— Maitê — passa as mãos no cabelo, desesperada. — Isso não é
brincadeira.
— Eu queria estar brincando, eu queria que toda essa merda voltasse lá
atrás! Eu fui usada, usada... eu estou me sentindo a pior pessoa do mundo...
Eu me odeio por amar esse desgraçado.
— Meu Jesus. — Passa a mão mais uma vez no cabelo, andando de um
lado para o outro.
— Eu o encontrei pela primeira vez em um baile, foi no Complexo do
Alemão — ela para de andar. — Eu sabia que ele era um cara forte do
tráfico... — Mexo o anel em volta do meu dedo, olhando a pedra preta. —
Mas não sabia que ele era o comandante do assalto.
— Eu te avisei várias vezes sobre ir para festa de bandido — aponta o
dedo na minha direção. — Você estava se relacionando com um traficante,
Maitê. Tem noção do quanto isso é perigoso? Como está comprometendo
sua vida com um homem assim? E olha pra ver, ele era o comandante. Meu
Jesus — respira fundo. — Eu não vou aceitar minha filha nas mãos de
homem assim... meu Deus, Maitê. — Sinto sua raiva misturada no tom de
voz.
— Desculpa por não ter te falado. — Passo a mão no nariz.
— Desculpa? É fácil pedir desculpas, mas como vou dormir agora
sabendo onde você se meteu? Olha tua situação, olha como esse rapaz
deixou minha única filha. Pensa no passado, lembra-se de quantas vezes eu
— bate no próprio peito. — Eu acordei de madrugada com seus transtornos,
você só se acalmava com calmantes. Saiu daqueles transtornos de ansiedade,
e quem você deixa entrar na sua vida? Um traficante, um rapaz que não
sabia metade da vida dele... cadê o juízo, cadê a responsabilidade? Maitê,
cadê?
Suas palavras carregam verdades. Ela está certa, não discordo de nenhum
momento.
— Esse assunto não pode sair daqui, tá me entendendo? — Avisa. —
Ninguém pode saber disso.
Tento controlar minha respiração mais uma vez, mas não consigo o
suficiente.
— Respira... você vai estar com uma crise de ansiedade, vou pegar água.
— Diz antes de sair pelo corredor.
Eu poderia ter me aproveitado da situação e a usado. A intenção era essa,
usá-la. No entanto, eu fiquei louco pela refém. Ela é instigante, de uma
forma que eu nunca encontrei em uma outra mulher. Não só eu, mas ela
também estava cada vez mais envolvida nesse nó que nossa relação tinha.
Espanto meus pensamentos, recordando que Oli fala há alguns minutos
ao meu lado sobre alguns negócios. Já é cedo, quase 8h00min. Três dias se
passaram.
— O dinheiro do Emanuel foi conferido — fico em silêncio. — Você
ouviu?
— Sim. Resolve o assunto dos moradores, tem um pessoal cobrando
sobre a cesta básica.
— Eu passei a informação para o Gil. — Alerta.
Estamos sentados em uma das cadeiras de um bar vazio. Na verdade,
quando chegamos tinham alguns idosos bêbados, mas foram embora.
— O Gil está roxo. — Avisa.
— O problema é dele, porra! — Falo, sem paciência.
— Eu sei, mas o psicológico dele deve estar abalado.
— Quem arrumou esse problema foi ele. Na primeira oportunidade ele
ficou com uma menina de quatorze anos. Uma menina que praticamente
criei. Eu cuidei da garota desde quando ela nasceu, e acha que vou ficar de
braços cruzados, aplaudindo?
— A Lara é nova e você sabe como é a adolescência.
— Não estou justificando o erro dela, mas sim o dele, ele é velho e é
ciente.
— Não quero ir contra sua opinião.
— Então não enche meu saco.
Como todos tem alguém de confiança, eu tinha o meu, William sempre
se destacou entre vários homens na minha vida. Principalmente quando ele
assumiu vários problemas ao meu lado. Com o tempo ele conseguiu uma
confiança que outro nunca havia conseguido. E no final, ele resolveu
estragar por causa de uma garota de quatorze anos. Isso mudou minha
mentalidade, eu perdi a confiança.
Assim como a Maitê perdeu a confiança quando descobriu…
— Vai voltar pra comunidade quando?
— Saio daqui amanhã de manhã — respondo sua pergunta. — Pode ir
descansar.
— Vai ficar sozinho?
— Eu não estou sozinho. Pode ir.
Oli concorda com minha fala, antes de se levantar, arruma a arma na
cintura e levanta, caminhando em direção a rua.
Faz três dias que resolvi me afastar um pouco dos meus problemas. Estou
ficando mais em casa, aqui em Higienópolis, ao lado do Complexo do
Alemão. Três dias que não a vejo, que não a sinto comigo e aquele jeito de
menina, tudo naquele quarto lembra ela.
Sinto falta de tudo, do corpo, cabelo, o seu cheiro e o que mais me
tranquilizava, os seios... Três dias que não durmo direito, que estou ficando
acordado, a mente está sendo meu pior inimigo.
Uma mão feminina no meu ombro afasta meus pensamentos. Ergo minha
mão esquerda na intenção de tirá-la, a testa é macia e fina. Meu olhar se
encontra com o rosto da Brenda. A enfermeira e a menina que um dia tentou
fazer um boquete bom.
— Não encosta. — Tiro sua mão.
— Está distraído. — Seus passos vão para a cadeira à minha frente, onde
apenas a mesa divide nós dois.
Estudo seu corpo antes de sentar: vestido branco curto, extremamente
curto ao ponto de mostrar a polpa da sua bunda. Inclusive, quando ela senta,
consigo observar a cor vermelha da sua calcinha.
— Como sempre, muito cheiroso. — Coloca os dois cotovelos em cima
da mesa, na intenção de mostrar o decote.
Ergo meu olhar. Fito os olhos castanhos, semicerrando meu olhar.
— Não preciso ver seu decote.
— Primeira vez que me olha nos olhos e com essa resposta? Não estou
afim de te dar, Italiano.
— Mas parece, desde o dia que me atendeu naquela porra de hospital. —
Evito contato visual dessa vez.
— Seus olhos são bonitos e raro em ver, você é o primeiro com um olhar
assim, cor avelã?
— Agora tenho que saber cor de olhos?
Tento transparecer que não estou afim dela.
— É diferente, um castanho com uma cor verde — fico calado. — Não
está na comunidade?
— Volto amanhã.
— Vai ao baile? — Dou de ombros com indiferença.
Brenda tem um gloss nos seus lábios. Ela ainda está na intenção de
chamar minha atenção para seus seios.
— Um dia você vai me dar outra chance. Agora vou comer algo para o
café da manhã. — Se levanta.
Ela joga o cabelo para trás, mostrando um pouco da bunda por baixo do
vestido, quando levanta. Seus passos caminham em direção ao balcão.
Desvio meu olhar para algum outro local, pensando o quanto ela é uma
piranha.
Mais tarde, quase a noite, depois de entrar no meu C40 e vir para a casa.
Eu tomo um pouco do whisky na mesa da sacada. Alcanço o copo, virando
outro gole na bebida. O gosto é forte, desce por minha garganta e esquenta
meu corpo. Um...dois…três goles.
O assobio do vento bate contra a cortina da porta da sacada. Meu peitoral
sem camiseta absorve o vento fresco. Acendo um cigarro, olhando a vista
das luzes e os pontos do Rio De Janeiro.
Coloco o copo em cima da mesa redonda de madeira. Isso é na intenção
de tirar os pensamentos da minha cabeça, quem sabe assim eu não consiga
dormir essa noite. Trago o cigarro e sopro a fumaça no ar.
No stalker do meu celular. Observo o visto por último do contato da
Maitê, três dias atrás, ela trocou o número de telefone para não receber
nenhuma mensagem minha.
Faço trinta e cinco anos daqui seis meses, em dezembro, mas estou com a
cabeça em uma garota de dezoito anos.

Lara: Você não deveria ter machucado o Gil daquela forma.


Que ódio de você, Italiano!

Três dias atrás essas mensagens.

Lara: A mãe está preocupada com você.


Onde você está?
Me responda.

Italiano: Estou bem.

Essa é a forma que sempre vivi, sem dever satisfação a ninguém, muito
menos a minha madrinha e dessa forma vou voltar a ser. Apenas o crime me
interessa a partir de hoje, como sempre foi. Amanhã estou de volta à
comunidade para cuidar dos meus negócios.
CAPÍTULO 39

— Eu estou tentando ser paciente com você, Maitê, está enfurnada nesse
quarto há três dias.
Consigo ouvir a voz da minha mãe na porta do meu quarto. Seu tom de
voz dessa vez é carregado de repreensão.
— Parece que alguém da sua família morreu. Vamos, levanta! — A
claridade da manhã invade o quarto quando ela arrasta a cortina.
Puxo a coberta, tampando minha cabeça.
— Toma um banho, toma café e volta a fazer suas coisas.
Não minto, minha cabeça está a milhão, mil pensamentos passando por
ela, não para um segundo de pensar. O mal da minha ansiedade é esse.
Eu nunca senti algo assim, é novo para mim. Meus sentimentos estão
confusos. Sinto ódio e medo, hoje posso afirmar que o ódio é o mesmo
sentimento da paixão. Mal dormi esses dias, passei acordando com pesadelos
horríveis.
— Vamos levantar, lavar o cabelo, comer, não quer ir para a academia?
Sento na cama. Encostada na cabeceira, eu passo as mãos no meu rosto.
O tempo do lado de fora está aberto e ensolarado. Deve ser 7h00min da
manhã.
— Sabia que o meu pai é um dos traficantes?
— Do seu pai podemos esperar tudo. Ele é um incompetente.
Minha mãe veste seu uniforme do salão, está perfumada e com seu
cabelo solto.
— Você está muito chateada, Maitê. Olha a situação que você conseguiu
chegar, filha.
— Sabe o que mais me consome por dentro? É saber que estava tão na
cara e mesmo assim fui burra. — Lamento.
— Isso é paixão, talvez a paixão nos deixe cegos.
Respiro fundo.
Já não tenho mais lágrimas, todas foram esgotadas nesses dias que
passaram.
— Vocês transaram sem proteção? — Ergo meu olhar. Confirmo sem
mentir. — Você não toma anticoncepcional, caralho.
— Eu faço uma tabela — ela solta uma risada forçada e nega. — Dessa
última vez eu tomei pílula.
— Isso não é brincadeira. Um filho com esse homem acabaria com sua
vida.
— Não vai acontecer.
— Vá tomar banho. Vou pedir para uma amiga te levar de carro até o
pole dance — segura meu rosto com as duas mãos. — Nós vamos nos mudar
daqui, vou vender e vamos morar em outro bairro, tudo bem? Toma cuidado
com todos à sua volta. — Abro um sorriso fraco.
— Não está brava comigo?
— Eu não te quero nessa vida rasa. Eu não quero ver minha filha vivendo
com um rapaz assim, minha única filha, meu único fruto, Maitê, está
entendendo? — Seus olhos fitam os meus. — Eu mal consegui dormir
pensando em você. Mal fechei os olhos, sabendo que minha filha estava nas
mãos daquele rapaz. Quando você tiver seu filho, entenderá esse sentimento
de mãe. Toma cuidado, eu te amo. — Beija minha testa.
— Eu também te amo...
— Os agentes do departamento da polícia vão fechar o caso, já que não
tem pistas e nada, então mantém sua calma, caso for chamada e não fale
nada, absolutamente nada. Daqui uma hora a Gabi vem te pegar, fica pronta.
— Sorri antes de sair do quarto.
Então assim faço. Decido me levantar, arrumar a cama. Separo uma
roupa, uma calça jeans pantalona e um body preto. Debaixo do chuveiro, eu
lavo meu corpo e meu cabelo. A água morna acalma meus músculos tensos,
como se fosse uma terapia.
Não hesito em tomar um café reforçado pela manhã. Depois de quarenta
minutos, quase 9h00min, a amiga da minha mãe me deixa na porta do salão.
— Sai com ele. — Stella vem ao meu encontro, feliz.
— Com o Gil? — Troco um beijo no seu rosto.
O silêncio reina entre nós duas.
— Ele me tratou bem... o que foi, Mai? Parece distante.
— Não estou. Apenas pensando nas minhas próprias horas da aula de
dança.
Nesses dias que passaram, me aproximei da Stella. Posso dizer que nos
tornamos mais comunicáveis, parece que nossa amizade a cada dia ficará
mais forte.
— Vou terminar a faxina na outra sala.
— Nunca pensou em começar no pole? — Questiono.
Ela me olha e franze as sobrancelhas. Parece duvidar da sua capacidade
nas danças.
— Nunca pensei em começar no pole, na verdade nunca me deu essa
vontade, quem nasce para ser burro, burro será. — Uma risada fraca sai entre
meus lábios.
— Não é assim também, Stella. Se quiser posso te passar as habilidades
que aprendi, é um valor baixo nas aulas. Tenta por um mês, caso não der
certo, pode sair.
— Posso pensar?
— Pode pensar.
— Acho que isso é pra quem tem habilidade e dom. E inclui outras
coisas sobre o meu corpo.
Stella é mais magra que eu, mas é bonita, eu a acho maravilhosa. Ela
veste uma calça legging e uma camiseta confortável, própria para o trabalho.
— O que tem seu corpo? — Encaro-a. — Você é linda, cara.
— Até pode ser, mas tenho uma certa insegurança com isso.
Suspira fundo.
— O pole vai te ajudar a ter mais autoestima, então isso não é desculpa.
— Vou pensar. Boa aula, gatinha, vou voltar a trabalhar. — Me despeço
com um sorriso em meus lábios.

Mãe: Oi, filha, como está?


Foi pra aula?

Maitê: Oi, sim.


Estou na aula e está tudo bem.

Troquei meu número de celular há três dias. Salvei apenas alguns


contatos importantes nesse meu novo número. Não quero nada que fique me
causando ansiedade, quero distância.

E ele me trouxe essa ansiedade de volta, o medo horrível sem conseguir


controlar, tudo me lembra dele... os toques, a forma como me olhava. Dói
muito, uma dor insuportável no meu peito, algo que está doendo mais que a
traição da minha ex melhor amiga.
— Maitê? — A sala está vazia quando Sabrina entra.
Guardo meu celular na bolsa, deixando-o de lado. Cumprimento Sabrina
com um abraço forte.
— Duas parceiras estão dispostas, a primeira é sobre as roupas do pole.
Vamos recebê-los aqui.
Meu corpo entra em um envolvido de boa sensação.
— Câmeras e pessoas irão avaliar tudo em você. Eles são donos de um
dos maiores shows de várias Pollerinas. Caso você se destaque nos vídeos,
terá muitas chances na sua vida.
Sinto meu coração batendo forte, será um novo caminho para minha
vida? Uma nova chance para conquistar minhas coisas. Sem pensar,
confirmo para ela, que estou disposta a aceitar qualquer oportunidade.
— Eu vou receber por isso?
— Claro! É um trabalho, Maitê. E caso tenha chance, a oportunidade
para jogar no time deles em shows, entrará em um time entre as melhores.
Não estou falando de uma simples dança, é um show pra várias pessoas e
cada um do time deles ganha seu cachê.
— Ficou quatro dias sem dar uma notícia pra minha mãe, Edgar! —
Encostado na parede, eu observo Lara se aproximar.
— A filha dela é você, Lara, quem tem que dar alguma satisfação é você.
— Minha voz grossa sai entre meus lábios. — Pode sair daqui.
Ela não liga para minha frase, caminhando no meu território, onde vários
homens olham para ela. Ela me olha com raiva.
— Você é chato, mas hoje está pior, caralho.
Guardo meu celular no bolso. Oli olha atento ao meu lado. Seguro o
braço da Lara firmemente, tirando-a do meio dos rapazes.
— Caia fora daqui, falei uma vez para não vir atrás de mim, caralho! —
Suspiro fundo, saindo com ela do lado de fora, na rua.
— Para de apertar.
— Rebelde, você está precisando levar uma moral.
— Eu queria conversar com você, não pode mais? Que mania chata de
querer tudo do teu jeito. — Bufa.
— Mas não aqui, Lara, porra. Os meus funcionários estão armados, lá
rola as embalagens de drogas. Isso aqui é perigoso.
— Você é neurótico, problemático, o que mais? — Cerro meu maxilar.
Solto seu corpo quando pisamos na rua. Eu cruzo meus braços diante da
frustração por ela ser rebelde.
— Eu só vim ver se você estava bem — fita meus olhos. — Apesar de
tudo que está acontecendo, eu ainda te amo e me preocupo com essa sua
vida, Edgar, mas que porra!
— Acabou de confirmar que ainda estou vivo, agora sai daqui, mete o pé.
— Murmuro.
Mudo meu foco de atenção para o HG, ele vem pelo fim do beco em
passos lentos, ouvindo a conversa. Fofoqueiro.
— Quer que eu leve? — Oli questiona ao meu lado, saindo de dentro da
boca de fumo.
Confirmo sério, ainda em um impasse, estreito meus olhos antes de falar.
— É pra levar, apenas isso, me entendeu?
— Acha que sou traidor? — Os olhos castanhos me fitam.
— Gil era, quem dirá você.
Oli e Lara somem do meu campo de visão em direção ao carro dele. Os
passos do HG tornam-se próximos, ele me olha antes de começar a falar.
— Pode trocar umas ideias?
— Manda.
Com minha postura séria do dia a dia, tiro um cigarro de dentro do bolso
da minha bermuda. Eu acendo com o isqueiro e trago.
— Caralho, seu primeiro dia de retorno aqui na comunidade, você
chegou aqui fodendo com todo mundo.
Sopro a fumaça em direção ao seu rosto.
— Você mal chegou e toda comunidade está comentando.
— Sempre comentaram — dou de ombros, indiferente. — Sou bandido,
sou chefe e de frente. É normal falarem mesmo, estranho seria não falarem.
— É sobre a garota? — Travo meu maxilar.
Umedeço meus lábios. Meus olhos analisam sua pele bronzeada com os
olhos castanhos na minha direção. Tento não lembrar, mas a única garota que
vem na minha cabeça, é a Maitê.
— Qual?
— A Maitê. — Diz mais baixo, olhando para os lados e passa a mão na
boca.
— Eu e ela não temos nada.
— Mas tinha, Italiano, ela descobriu sobre você?
— Não, e caso ela saiba de algo, você não tem nada a ver. A mulher é
minha, o problema é meu.
— Sua? Você acabou de afirmar que não tem nada com ela — solta uma
risada forçada. — Eu não tenho nada com essa garota, que ela fique longe da
minha vida. Mas caso eu rodar, a responsabilidade é sua. Se apaixonou por
essa garota. Quero ver quando o Cleiton souber, ele é da hierarquia mais
alta.
— Mais alto para o seu cargo. Na hierarquia a que ele pertence, eu sou o
chefe.
— Caso todos forem contra sua atitude, vai assumir um problema
enorme. Espero que isso não chegue até ele, ou eles vão fazer essa garota
jurar uma fidelidade no crime.
Nossa atenção fica diante do celular tocando. É o dele, e o nome da Érica
fica visível quando ele tira do seu bolso.
— Vou atender. — Avisa antes de sair.
Fico em silêncio. Eu passo algumas horas com alguns rapazes, tomo
whisky e fumo meu baseado para tentar esquecer algumas coisas.
Tenho problemas até meu último dia de vida. Mas um deles jamais será a
consciência pesada que alguém se aproximou dela. Seja HG, Nando, Cleiton
ou Gil. Eu mato e enterro, ninguém saberá o paradeiro.
O dia passa com falas e conversas. Meu relógio marca exatamente
19h00min.
— Vai cheirar mais um? — Nego a pergunta do Oli.
Passo a mão no nariz duas vezes seguidas e jogo um pino de cocaína no
chão.
O tempo está escuro, daqui de cima de uma laje escuto os sons da favela.
Estou aqui desde a parte da tarde, sentado em uma das mesas com vários ao
meu lado. Minha cabeça dói, meu rosto está queimando. Esse é o efeito da
droga, euforia.
— Vai com calma, está bêbado e nem bebida você gosta. — Alcanço
meu corpo de whisky com energético, e dou mais um gole.
— Agora sabe o que gosto?
— Te observo todos os dias. — Arruma sua postura na cadeira.
— Vai se aproximar, me fazer confiar em você e trair minha confiança?
— Não tenho má intenção com ninguém.
Meu olhar está turvo pela bebida, eu encaro-o.
— Falar, até papagaio fala, pô.
— Preciso ir embora. — Deixo a bebida no chão quando falo.
Preciso sair daqui antes que comece a passar algum mal estar. Meu rosto
ferve.
— Quero apenas dois dos meus seguranças. — Aviso.
Começo a sair do local sem falar com ninguém. Nos últimos degraus da
escada, vejo a Brenda entrando no meu campo de visão, ela entra na minha
frente, me fazendo parar.
— Você cheira a bebida e maconha. — Faz uma expressão de nojo.
Sem ligar para ela, eu termino de descer a escada, mas ouço o barulho
dos passos seguindo meu caminhar.
— Posso? — Aponta para meu carro.
— Não.
— Vai me negar? — Joga o cabelo loiro para o lado.
— Qual resposta você ouviu?
— Um não.
— Essa é a resposta. — Abro a porta e enfio meu corpo dentro do carro.
Não consigo estar com outra mulher entre quatro paredes, não por
enquanto...
CAPÍTULO 40

Depois de sair da aula de dança. Eu e Stella viemos juntas até minha casa.
— Leva sua mãe na minha casa. Vamos fazer um jantar, eu e meus pais. —
Faço uma expressão pensativa.
— Não vou negar o seu convite, quem vai?
— Ninguém demais, eu, você, sua mãe, meus pais, com toda certeza meu
irmão estará lá, hoje é dia de folga do local onde ele trabalha. Até agora
somente vocês. — Encaro seu rosto.
— Seus pais não acharão invasivo?
— Não, eles são tranquilos em relação às minhas amizades, na verdade,
eles querem te conhecer. Ultimamente tenho falado um tanto sobre nossa
aproximação. — Abro um sorriso.
— Tudo bem, eu vou.
— Ouvi que vai conseguir as parcerias e que na próxima, várias pessoas
irão para o salão de dança te maquiar, arrumar e gravar... fazer propaganda das
roupas.
O anoitecer atrás do seu corpo intensifica seu rosto.
— Sim?
— O pole não é pra mim, Mai, sinto muito.
— Está tudo bem, Stella. Temos que fazer o que gostamos — digo com
indiferença. — Vou entrar, mais tarde nos encontrarmos na sua casa…
Paro de falar quando sinto uma energia enraizando nas profundezas da
minha imaginação. Eu sinto ser observada por alguém, a mesma sensação de
antes vem à tona. A rua tem pessoas normais, crianças e famílias.
Uma onda de sentimentos enche meu peito, pela forma que ocorre a
sensação. Minha mente tem alguns flashs dos olhos nas cores avelã, aqueles
olhos raros em ver. Umedeço meus lábios. Minha intuição passa por cada lado
da rua, até meus olhos pararem na Stella, vendo sua expressão de dúvida.
— Terra chamando Maitê, está por onde? Marte, lua?
— No inferno. — Ela abre a boca e fecha rapidamente, ficando calada.
— Misericórdia, meu Deus.
— Foi mal, pensei alto. Eu preciso entrar… minha mãe vai chegar daqui a
pouco. Você não quer entrar comigo até minha mãe chegar? — Tento parecer
firme, mas minha voz sai rápido.
— Fala um pouco devagar, mas vamos entrar até sua mãe chegar — abro o
portão. — Parece assustada, tá com medo?
Pareço estar sob efeito ainda de um trauma. Eu tento não transparecer, mas
acho impossível, ela apenas recebe meu silêncio. Não tem como eu falar algo
sobre isso para alguém, e não vou falar.
Assim que ela entra, tranco o portão por dentro. O iphone da Stella toca no
bolso, em questão de segundos, ela atende, entrando dentro da minha casa.
— Oi, Brenda... sim... Chego em casa daqui a pouco... Está bem... —
Encerra a ligação.
Seus olhos me fitam.
— Algum problema para a Brenda estar no jantar? Não estava nos planos.
— Não há problema. — Dou de ombros. Não conheço mesmo.
Quase uma hora mais tarde. De banho tomado e com um vestido longo, me
remexo em frente ao espelho. Faz tempo que não me sinto bem dessa forma.
Meus mamilos estavam inchados e doloridos, mas agora está aliviado, a
bombinha me ajudou nessa questão.
Os trovões e relâmpagos do lado iluminam mais a casa. Caminho pelo
corredor, ouvindo os passos na minha sandália baixa.
— Como está linda! — Ouço a voz da minha mãe.
— Obrigada, a senhora também está linda. — Elogio o seu macacão bege.
Seus traços são jovens, a maquiagem ressalta sua pele e o cabelo loiro está
alinhado aos fios.
— Estou indo para esse jantar por causa da Stella.
— Sua mente ficará melhor quando nos mudarmos de casa, tá bom?
Chegou a hora. Ir para um jantar e conhecer a família da Stella.
Quase 20h00min, o jantar está rolando. Do lado de fora a chuva cai, e
possibilita o barulho ser ouvido por nós. Conheci os pais da Stella, Sérgio e
Vanda. A energia deles é calma, já a energia da Brenda, amiga da Stella, não
posso dizer o mesmo. Os olhos dela não saem do meu corpo, meu rosto e
principalmente do meu anel no dedo. O anel que o Italiano me deu. Creio que
não seja um problema usá-lo, afinal, uma coisa não tem nada a ver com a
outra.
— Conversem… — Stella pede.
— Sempre morou na Olaria? — O questionamento da Brenda vem ao meu
alcance. — Agora estou morando aqui e no Complexo do Alemão, fico mais lá
por causa do meu trabalho.
— Ela é enfermeira, uma das melhores. — A mãe da Stella enaltece.
O pai e a mãe lembram muito a Stella, ela herdou o nariz da mãe, queixo
do pai e olhos do pai, uma mistura.
— E você, Maitê? Trabalha com o quê? — Brenda questiona mais uma
vez.
— Maitê está se destacando no pole dance. — Abro um sorriso fraco com
a voz da Stella.
— Mas pole dance não é sobre stripper e prostituição? — Engulo em seco
pela forma que Brenda soa irônica.
— Não, não sou stripper. O pole onde frequento dá visibilidade para todo
mundo. Com a dança podemos fazer parcerias de divulgações de roupas, entre
shows — respondo com um ar irônico. — Eu não ganho dinheiro com
homens.
— Eu preciso fazer uma ligação. — Brenda se levanta da mesa e
simplesmente sai.
— Desculpa, às vezes ela é meio problemática. — Encaro Stella.
— Tudo bem. — Respondo-a.
— Pai. — A voz grossa surge.
A porta da sala é aberta, e logo uma figura masculina surge pela entrada da
cozinha. O rosto sério do irmão da Stella observa todos nós sentados. A
primeira pessoa que ele nota, é minha mãe ao meu lado.
— E aí, filho, entra. — Sérgio levanta da cadeira, cumprimentando o filho
com um abraço.
Seu rosto é sério, ele veste uma camisa clara e bermuda jeans. Tatuagens
pelo braço esquerdo. Sua barba está feita.
— Esse é o Darlan, meu irmão. Darlan, essa é a Maitê e a mãe dela, Laís.
— Darlan se afasta do pai.
Ele cumprimenta nós duas com um balanço da cabeça. Abro um sorriso
tímido, já minha mãe responde um “boa noite.”

A primeira sensação é a sensação de prazer, depois vem a taquicardia, a


mão formigando. A euforia manda sinais por todas as correntes de veias do
meu corpo, isso aumenta o meu estado de alerta. Mais autoconfiança, o
momento proporcional para arrumar alguma briga.
Essa é a sensação da cocaína ao ser aspirada pelo meu nariz, o pó foi
absorvido rapidamente pela corrente sanguínea. Esse é o prazer do momento.
Mas amanhã tudo será diferente, talvez daqui duas horas será tudo diferente, o
segundo estágio ao usar a cocaína, a irritabilidade, o ataque da ansiedade e a
confusão mental.
Essa é a segunda vez usando cocaína depois de mais de vinte e cinco anos,
era moleque quando experimentei, foi a primeira vez, para nunca mais. E
agora, depois de velho, estou aqui procurando ao menos um refúgio da minha
própria mente.
Aperto firme meu copo de whisky na mão direita, o som do baile entra
junto com os zumbidos na minha audição. Meus olhos analisam cada pessoa
no baile, uma preocupação, você fica mais ligado ao seu redor.
Aperto o pino entre meus dedos e jogo no chão. Meus olhos atentos
analisam Oli ao meu lado. Ele arruma seu fuzil na bandoleira.
— Isso está lotado pra caralho — encaro-o. — Onde você estava mais
cedo? Era umas 19h00min, te procurei pela comunidade.
Movo meu maxilar. Solto uma respiração fundo das minhas narinas,
frustrado.
— Qual seu interesse? Estava resolvendo meus problemas
— Cuidado, porra. Não deve ficar sozinho. — Alerta.
Algumas mulheres dançam um pouco mais à frente, atraindo os olhares de
todos os homens. Olho um pouco mais à frente, onde consigo imaginar a cena
de quando Iguinho era vivo, e ainda me tinha ao seu lado como amigo.
Seu rosto um pouco abatido. Expressão um pouco acabada, a mãe dele
tinha falecido, e isso o levou ao vício das drogas, uma delas, a cocaína.
Talvez neste momento esteja entendendo-o. Quando ele perdeu a mãe, a
saída foram as drogas, mas nenhum amigo estava disposto a ajudá-lo. Eu
presenciei os momentos de angústia da sua vida. Meu peito envolve um
aperto, recordando que poderia ter ajudado, mas preferi ser mais um qualquer
na sua vida.
— Vou pegar meu carro. — Aviso, eufórico.
— Vou te acompanhar.
— Não, Eu vou sozinho.
Jogo o resto do copo de whisky no chão. O resto da bebida derrama-se aos
pés de quem está perto, mas nenhum olhar no meu rosto.
— Você está alterado, caralho! — Passo as duas mãos no rosto.
— Não quero ninguém comigo. Me acompanha até o final do baile.
Sem olhá-lo novamente, saio na sua frente. Oli acompanha meus passos até
o final do baile. O som e as vozes do pessoal ficam para trás, tomando o
zumbido mais forte na minha audição. Encosto minha mão direita sobre a
porta do meu carro.
Minha mente está a milhão, rosto fervendo, sinto meu sangue quente
correndo por toda veia. Tento controlar minha respiração pesada, e meu corpo
queima involuntariamente.
— Segundo estágio da cocaína daqui uma hora mais ou menos? Italiano.
— aA voz conhecida do Gil desperta. — Está drogado, consegue ir embora?
Encaro-o.
— Sai daqui, William. — Minha voz grossa murmura baixa.
— Quero saber se consegue chegar na sua casa, como seu gerente e seu
funcionário.
Arrumo minha arma no cós da minha bermuda. Com a visão embaçada,
passo meu olhar por cada parte do seu rosto. Seu corpo está com uma camisa
preta, bermuda jeans e um cordão de ouro.
— Mandei sair. Eu me viro sozinho, não preciso de você pra nada.
— Quem diria que você ia se perder rápido assim — ele diz. — Vai ficar
igual ao Iguinho.
Cerro meu maxilar. Sustento seu olhar.
— Cuidado para não morrer igual ele também, Italiano. — Em silêncio,
demonstro minha raiva.
William dá as costas e sai do meu campo de visão. Arrumo minha postura,
abrindo a porta do carro e enfio meu corpo dentro.
Apenas seis dias sem ela. O que me condena talvez seja a culpa por tê-la
feito sofrer. Por saber que ela tem medo de estar perto. Ela não confia em
mim. Isso mostra como todos me enxergam, com ela não seria diferente.
Não resisti, eu fui atrás dela hoje. Queria pelo menos vê-la de longe.
Mesmo sabendo que machucaria meu psicológico, eu fui. A encontrei pela
primeira vez sem tocá-la. A forma que minha obsessão enraizou por ela,
tornou-se uma proporção gigante. Maitê não voltará para minha vida e assim
tem que ser, não suporto saber que ela se machuca ao meu lado.
Ligo o motor do carro, colocando-o em movimento para a rota da minha
casa. Cerca de vinte minutos, o trânsito favorece minha chegada na garagem
da minha casa.
Quando entro no meu quarto, respiro fundo. O quarto está revirado. Tiro
meu tênis, calçando um chinelo e pego uma manta. Mediante ao mal estar, eu
volto para o sofá para deitar um pouco.

10H00MIN
DIA SEGUINTE

— Faltou dinheiro na contabilidade do dinheiro do Emanuel. — HG avisa.


— Mas eu entreguei o dinheiro para Gil. Ele conferiu o valor que tinha —
falo sério. — Agora estão com outro assunto? Você veio falar há dias que
estava tudo conferido. Estão com duas palavras, caralho?
— Eu achei que ele tinha conferido o dinheiro do Emanuel.
— Achou? Não tem achismo — atrás da mesa, deixo um murro contra a
madeira da mesa, assustando-o. — É certeza ou não, porra.
— Foi mal, chefe.
— Foi péssimo, caralho.
— Eu sei, mas o erro foi meu em ter falado que a grana estava conferida
sem o Gil ter me dado a palavra certa.
— Na moral? Esse leva e traz pra mim não vai funcionar mais. Manda o
Gil vir aqui em dois minutos, ele vai resolver comigo. — Oli confirma sério,
saindo.
Sinto minha cabeça começar a doer conforme sento na cadeira.
Tudo bem, Italiano.
Respira fundo e solta a respiração.
Eu tento fazer isso pelos próximos minutos. De olhos fechados, sentado na
minha cadeira.
— Italiano — abro os olhos. William está na minha frente. — Sobre o
dinheiro do Emanuel, faltam três mil.
— Você vai resolver essa situação — Gil confirma. — Qualquer problema,
é pra falar diretamente comigo a partir de agora.
CAPÍTULO 41

— O comando é na Penha, Morro da Paz — murmuro sério para Oli. —


Meu nome vai ecoar lá dentro, vou entrar no comando de mais uma favela.
— Viro meu rosto. Observo seu corpo agachado ao meu lado.
No bar toca uma música baixa nas caixas de som. Acabei de comer uma
quentinha no almoço, depois da minha conversa com o William. Mesmo
com o estômago ruim, eu comi um pouco. Estou tentando manter meu corpo
estável, mal dormi a madrugada, ultimamente ando mais acordado, a insônia
me consome a cada dia.
— Como sabe sobre isso? A reunião com os da hierarquia mais forte não
aconteceu ainda — Umedeço meus lábios com sua voz.
— Ainda não, vai ser mais tarde.
— Então não tem como saber o que eles estão querendo com você.
— Eu já sei o que é. Eles me querem no comando do morro da Paz, o
chefe de lá foi morto na madrugada anterior.
— Você vai assumir caso for? — Sua voz interroga.
Admiro as mesas do bar vazia. Algum pessoal passa pela rua e o ar
ressoa entre nossos corpos
— Vou fazer o certo, estou nessa vida mesmo. Vou deixar passar batido?
— Minha voz grossa sai entre meus lábios.
A atendente do bar encara nós dois, tentando descobrir um pouco da
conversa. Seu corpo envolta do uniforme do bar e cabelo cacheado solto
intensifica seus traços.
Meus olhos passam pelo balcão, observando-a, cabelo cacheado
amarrado em um coque, analiso só o uniforme preto do bar. Seus olhos vêm
na minha direção e depois para sobre o Oli, não encaro no rosto,
rapidamente ela desvia sua atenção, mostrando medo.
— Sabe quanta responsabilidade é?
— Meu comando aqui é forte, eles sabem como sou — falo sério. Tenho
a maior certeza. Olho a moeda na palma da minha mão e volto a girá-la. —
Eles sabem com quem estão lidando, eu sou um dos mais respeitados. —
Passo minha língua no canto da minha boca.
— Muito poder assim pode acabar afundando sua vida, estou falando
isso como um colega agora. Se fosse como um soldado qualquer, iria te
apoiar para subir de peito aberto pra lá.
— Eu sei o que faço, você sabe que não deixo isso entrar na minha
mente, como entrou na mente do Iguinho.
— Mas não esquece, você está cheirando em bailes, está cheirando a sua
própria cocaína.
— Uma ou duas vezes. — Falo.
— Uma ou duas vezes te leva ao vício. Observando você há anos, eu sei
que não bebia e ultimamente está bebendo pra caralho — paro de girar
minha moeda, encarando-a. — Acha que mais um comando em outra favela
vai conseguir administrar?
Meu olhar sério passa por seus olhos castanhos, refletindo a luz das
12h00min, observo seu cabelo meio bagunçado e desço o olhar até seu
pescoço, onde ele engole o acúmulo da própria saliva.
— Tem razão — murmuro. — Mas algo que não brinco é na minha
administração, por isso sou um dos mais fortes, então fica suave. Meu
comando sempre será um dos melhores que qualquer traficante já teve. —
Desvio meu olhar do seu rosto.
Solto o ar pelo nariz e guardo minha moeda no bolso. Ajeito meu pulso
direito, olhando o horário no meu relógio de ouro.
— Duas horas para a reunião — me levanto. Caminho em direção ao
balcão — Deu qual valor? — Sem olhar na direção da menina, tiro minha
carteira do bolso.
— Deu quinze reais. — A voz baixa soa.
Ouvindo tantas vozes, nenhuma é tão doce e calma quanto a da Maitê.
Nenhuma.
— É... moço, deu quinze reais. — Ela fala mais uma vez.
Espanto meus pensamentos e tiro uma nota de cinquenta reais,
colocando-a em cima do balcão. Ela se concentra para pegar o troco, seu
uniforme tem seu nome gravado, “Laura”. Dou no máximo dezessete anos
para essa menina.
Sem olhar para ela, guardo o troco na carteira.
— Entrou no mundo do sobrenatural? — Ouço HG brincar, caminhando
ao meu lado. — A droga começou a consumir seu cérebro. — Brinca.
— Está andando muito com o Gil.
Entro dentro do meu carro C40. Pego meu celular, pronto para avisar ao
Gil.

Italiano:
A reunião é daqui duas horas.

Apenas mando essa mensagem, guardando meu celular no meu bolso.

Morro da Paz- Penha


15H00MIN

— Eu falei que a reunião poderia ser à mercê de umas bebidas. — A voz


firme do Vinhedo entra na minha audição.
Vinhedo é o chefe do morro da Penha. Sua atualidade nos negócios é
boa. Vários dos seus homens estão presentes para sua devida segurança,
entre eles, os meus também estão presentes.
— Qual seu grau de entendimento sobre essa reunião? — Ele senta na
cadeira. Sento ao seu lado.
— É sobre o morro da Paz, Penha. O comandante da região foi morto. —
Ele solta o ar pelo nariz.
— Gosto de pessoas assim, você é diferente, Italiano, muito diferente do
Iguinho. Em pouco tempo ganhou um respeito enorme por vários. —
Mantenho minha respiração calma.
— Foi merecido. — Falo sério.
— Ele foi um usuário de drogas, mas sempre deixou uma ótima visão
sobre você, do quanto você é esperto e não tem medo de nada. Iguinho era
um amigo nosso, mas de longe nós tínhamos a visão sobre o respeito dele
por você.
— Ele não sabia o que estava fazendo perante a ninguém, nem a mulher
dele, ele sabia comandar, imagina um negócio grande como comandar um
tráfico de drogas? — Dessa vez encaro-o. — Mas era um cara de coração
bom, em momento errado e no lugar com os vícios.
Mantenho minha calma em ação, assim como o dia que Maitê sonhou
sobre o assalto e me imaginou na cena, meu coração bate calmo no peito.
Minha frieza reina em cada veia do meu corpo, nunca demonstro nervosismo
e nunca irei demonstrar, mesmo que minha mente esteja vagando por vários
ocorridos.
Ele me encara, parece com medo? Ou talvez esteja vendo no fundo do
meu olhar o quanto estou pronto para qualquer ação.
— Meu assunto hoje é sobre o morro da Paz — desvia o olhar. — A
favela está em caos, estava antes, agora ficou pior, e o comando de lá exige
muito trabalho, assim como o morro do Alemão estava. Eu não vou assumir,
então pensei em uma alternativa melhor, seu gerenciamento.
— Hum...
— Ganhará mais respeito entre nós, ou seja, você estará mais forte na
hierarquia.
— E quando posso subir? — Vejo um sorriso crescer em seus lábios.
— O comando vai estar no seu nome. — Estende a mão direita na minha
direção.
Tiro meu antebraço direito tatuado da cadeira e aperto firmemente sua
mão.
Ficamos cerca de quarenta minutos conversando. Vinhedo faz ligações
para alguns rapazes, mantendo respeito para o gerenciamento com os
soldados do Morro da Paz. Vinhedo comanda mais de quatro favelas na
Penha, incluindo a Vila Pinheiro.
Quando são 18h00min, Oli está ao meu lado, dessa vez estamos na
comunidade do Alemão. Quase uma hora após a reunião ser encerrada.
— Ficou o dia todo pensando nessa decisão? — Oli pergunta ao meu
lado, enquanto estamos encostados no muro de um beco.
— Desde ontem.
Levo minha mão direita ao bolso, tirando meu bic. Acendo a minha
frente, trago o cigarro de uma forma para proporcionar algum relaxamento
aos meus músculos.
Nando e Cleiton têm a confiança sobre Vinhedo. Os dois tentam gozar
com o pau do Vinhedo, com o forte cargo do Vinhedo. Mal sabem o que
aguarda qualquer um deles, vou me tornar um dos mais próximos do
Vinhedo, como eu desenhei na minha mente o dia todo.
Observo a atenção do Oli na sua tela do celular, enquanto fumo meu
cigarro na minha postura séria. A tela acesa do seu celular reflete sob nossos
olhos.
Prendo a respiração.
Ele assiste a um vídeo de dança. Consigo vê-lo prestar atenção em cada
passo envolvente. Meus instintos condizem com uma defesa pessoal, me dão
uma autoria por determinado vídeo. É ela.
A atenção do Oliezer vem na minha direção. Seus olhos me encaram
perdidos, quando percebe minha atenção. Ele confirma sério, sem nenhuma
palavra sair da minha boca, entrega seu celular na minha mão. Pego seu
iphone branco e assisto um pouco do vídeo.
— Essa é gostosa, não é? — Encaro Maitê deslumbrante no pole dance.
— Cala a boca, caralho! — Murmuro, bolado.
Apago meu cigarro e jogo no chão sem ligar.
— É uma conta de mulheres famosas nessas danças, não sei como
chama, como chama? Acho que é… — Pensa. — Pole dance. Os vídeos têm
mais de cinquenta mil curtidas e esse está sendo um dos mais famoso em
poucas horas de postados.
— Mandei calar a boca.
A roupa vulgar enaltece seu corpo. Ela acompanha a sintonia da música,
sozinha, como se fosse a atenção de várias pessoas. Porra, por qual motivo
ela consegue pregar no fundo da minha cabeça sem sair? Meu corpo inteiro
entra em um colapso de ciúme por essa desgraçada. Ciúmes? É isso mesmo,
ciúmes
— Toma. — Devolvo o celular para ele.
Caminho em direção à rua, na intenção de me aproximar do meu carro.
— Está indo pra onde?
— Se eu te ver mais uma vez olhando o vídeo dessa garota, te meto uma
porrada. Quando vê-la dançando, passa direito. — Resmungo sem olhar para
trás.
— Caralho... ela é a sua mulher? Não está indo atrás dela por causa de
um vídeo, está? — Sem respondê-lo, caminho.

Nervosa, essa é a sensação desde o momento que começamos a remover


alguns móveis dos cômodos. A casa onde eu cresci desde a minha infância,
tornou-se vazia, restando as memórias de criança, adolescente e uma menina
mulher. Jamais pensei que algum dia fossemos sair da onde eu passei dezoito
anos. Hoje, quase 9h00min, me encontro dentro de cômodos vazios, mas
cheios de lembranças.
— No que você tanto pensa? — Stella questiona.
Estou sentada no chão de piso, minhas pernas em posição borboleta.
Darlan e Stella estão nos ajudando nessa mudança, o que facilitou muitas
coisas.
— Em nada — nossa conversa ecoa no cômodo vazio. — Seu irmão e
minha mãe vão levar a última viagem das coisas? O caminhão está
esperando do lado de fora faz tempo. — Ergo meu olhar. Meu estômago
ronca de fome.
— Estão vindo, na verdade eles sumiram — olha para o corredor. —
Meu irmão não parece ser o chato que negou até o último segundo vir me
ajudar.
— Não deveria tê-lo forçado a vir
— Fala sério, o que custava ele mostrar uma forma de demonstrar sermos
amigos de vocês? Darlan às vezes é vergonhoso, por isso não queria vir.
— Vergonha do quê?
— Não sei — dá de ombros. — Ainda bem que vocês não vão pra muito
longe. — Rodo o anel no meu dedo, desviando minha atenção.
Escuto seu suspiro. Stella senta na minha frente e coloca as pernas em
posição de borboleta também.
— O que foi?
— Nada. — Respondo.
— Maitê, ultimamente você está mais distante, não parece ser a mesma.
— Eu estou normal.
— Não. Olha... nem te contei que estou apaixonada, ou que marquei um
encontro amanhã com esse homem e que talvez finalmente irei dar uma
chance pra alguém. Te falei sobre meu ex maluco, doentio e que eu
apanhava — sussurra. — Pode contar comigo, Mai.
— Eu sei, mas não tem nada para contar. — Ergo meu olhar até seu
rosto.
— Tudo bem, não vou forçá-la a falar. Amanhã nós duas vamos fazer
algo depois do meu trabalho, nós podemos conversar coisas simples, sabe?
Sobre o pole e eu falo sobre algumas coisas comigo. — Miro seus olhos e
confirmo, observo seu cabelo preso em coque.
— Aham.
— Combinado — paramos de falar ao escutarmos os passos da minha
mãe e Darlan vindo do corredor. — Vocês estavam fazendo o quê? — Minha
mãe franze a testa, envergonhada.
Darlan vem atrás dela segurando uma mesa de cabeceira, branca
pequena.
— Pare de ser assim, Stella. — Minha mãe alerta.
— Cara — Stella se levanta, assustada. — Essa mesinha já passou aqui
dez vezes! — Coloca as duas mãos na cintura, olhando o irmão passar ao seu
lado em direção a porta.
— Cala a boca. — Darlen murmura baixo.
Solto uma risada fraca entre meus lábios. O dia todo Stella implica com
irmão de alguma forma.
— Vou esperar no caminhão de mudanças com o Darlan, é a última
viagem. — Stella avisa antes de sair.
Minha mãe me olha assim que a Stella some do nosso campo de visão,
atrás do irmão.
— Vou ser um pouco mais rude com você — agacha na minha frente. —
Sabe, se eu fosse uma mãe chata, te mandaria levantar agora — encaro-a. —
Mas não sou e essa sua angústia está me matando.
— Desculpa.
— Eu te quero sorrindo — a luz da sala ilumina seu rosto. — Feliz,
filha... eu estava assistindo seu primeiro vídeo lançado na Internet, ficou
maravilhosa.
— Você me disse isso dez vezes. — Abro um sorriso de canto.
— E vou falar outras dez vezes. Estamos mudando, pelo menos nesse
bairro aqui nós duas não queremos mais ficar. — Confirmo. — Uma nova
vida vai começar. Sua primeira parceria, começou a ganhar o seu dinheiro,
ninguém pode tirar isso de você.
— Eu sei.
— Então vamos, no caminhão tem só mais um lugar, mas você pode ir no
meu colo. — Nego.
— Pode ir, vou esperar vocês aqui.
— Sozinha não, Maitê. Nós vamos demorar, acha que vou te deixar
sozinha aqui?
— Qualquer coisa grito os vizinhos, eles escutam bem. Vou aproveitar
para ir na padaria e comer algo. — Ela suspira e confirma.
— Tranca o portão e a porta, me liga qualquer coisa. — Avisa. Eu apenas
concordo.
Minha mãe sai de casa. Com seus passos, ouço quando ela tranca a porta
e o portão.
Eu me levanto do chão. Tiro da minha mochila, uma roupa confortável,
composta por um short de tecido leve e uma camisa. Caminho em direção ao
banheiro, trancando a porta. Quando minha visão fica embaçada, e minhas
pernas perdem a noção, me agarro no lavatório do banheiro. A tontura
demora a passar, fico alguns minutos parada, quando sinto forças.
A fome está me deixando sem forças. Eu preciso comer o mais rápido
possível.
Relaxo meu corpo no banho. Meus músculos aliviam o estresse. Lavo
meu corpo e meu rosto. Após minutos, pego a toalha e visto minha roupa,
pronta para comer algo com meu dinheiro em mãos.
Umedeço meus lábios secos e coloco meu cabelo atrás da orelha, agora
solto. No corredor, eu ouço algum tipo de barulho, o que faz minha mente
começar a raciocinar mais rápido.
— Mãe? — Olho na direção do corredor, mas não tem ninguém. — É
minha imaginação, pelo amor de Deus. — Sussurro baixo.
Meus passos vão pelo chão em direção a sala. A porta meio aberta faz
meu coração acelerar. Fico nervosa e sinto medo. No automático, dou três
passos para trás, a porta se abre, mordisco meu lábio inferior com força. Os
olhos verdes com as írises escuras e frias me observam.
— O que você está fazendo aqui? — Minha voz praticamente não sai dos
meus lábios.
CAPÍTULO 42

Analiso cada parte corporal da Maitê. Controlo minha respiração pesada


no peito, olhando-a. Antes de entrar, eu observei a mãe e outras pessoas
retirando a maioria das coisas de dentro da casa. Primeiro ela iria mudar de
número, depois tentar sair de perto onde sei que ela mora e próximo passo
dela é crescer nessa porra de dança sensual para caralho.
Paro de forçar meus pulsos. Então cai a porra da minha ficha, o que estou
pensando em fazer aqui? Noto seu peitoral subindo e descendo em uma
respiração pesada. No fundo sei que ela está lutando contra seus
pensamentos.
Ela tem medo de mim…
A forma como me olha, a proteção que seu corpo demonstra ter contra
minha presença.
— Por que veio aqui? — Escuto sua voz depois de dias sem escutá-la.
Sinto a falta da sua voz, do seu corpo. Maitê dá passos firmes, passando
ao meu lado em direção a porta. Nervosa, termina de abrir a porta atrás do
meu corpo. Me mantenho de costas para ela.
— Sai daqui. — Pede. — Eu estou mandando você sair daqui, Italiano.
Me viro de frente. Estudo seu rosto na minha frente: cabelo solto, os fios
colocados atrás das suas orelhas. Seu rosto limpo de qualquer sujeira, e os
olhos pretos na minha direção, demonstrando raiva e medo.
Sua mão segura a maçaneta da porta. Ainda visível no seu dedo, está o
anel que dei para ela.
Os pequenos detalhes dela... e não posso tocar em nada.
— Não vou te machucar. — Minha voz sai entre meus lábios.
— Você machucou, não importa se vai me machucar com uma dor física
— solta uma risada fraca. — Pra mim tanto faz o que vem de você, Italiano,
só não deixa minha mãe te ver aqui, então sai. Quer me matar? Sei lá, faz,
mas faz quando eu estiver sozinha, minha mãe vai voltar daqui a pouco. Pelo
menos deixa ela pensar que a única filha dela está bem!
Mesmo ouvindo-a falar essas palavras, não deixo de lembrar o motivo
que vir atrás dela. Mas o que vou exigir da sua vida? Nada, não posso exigir
nada da sua vida. A culpa desse problema é toda minha, mesmo sentindo
ciúmes por ela. Algo que jamais pensei em sentir por alguma mulher na
minha vida.
— Vai embora, Italiano. Saia daqui, por favor, eu não quero te ver, não
por vontade própria. — Os olhos enchem de lágrimas. — Saia, eu não quero
ouvi-lo. O motivo de vir aqui é meu vídeo? Me deixa viver!
— Viver para os homens te desejarem?
Maitê nega levemente, sua expressão demonstra questionamento com
minha fala.
— Viver pra ganhar meu dinheiro.
— Desse jeito? — Aumento meu tom de voz.
— Meu Deus, você é louco! Agora vai me seguir e controlar tudo que
faço?
— Vem comigo, vamos conversar.
— Não, eu não tenho mais nada com você. — Sussurra. Tiro minhas
mãos do bolso da minha bermuda.
— Me escuta, Maitê.
Me aproximo do seu corpo, seguro-a pelo braço. Meus dedos e minha
mãos grandes circulam seu pulso pequeno, mas ela fica parada, buscando ar
no pulmão. Parece entrar em transe com meu toque.
Seu rosto tem uma expressão assustada. Seis olhos não me olham. Maitê
reprime os lábios em forma de segurar seu choro. Meu peito enraíza um
sentimento estranho, próximo a ela, meu corpo obtém sua energia. Quando
lágrimas escorrem pelo seu rosto, eu solto-a.
— Está com medo do meu toque? — Silêncio.
Me afasto um passo do seu corpo, observando-a chorando em silêncio.
— Vai embora, por favor... — Traz seus olhos até os meus. Encaro os
cílios molhados e os olhos pretos, amedrontados. — Me deixa viver em paz,
o que você quer de mim? Italiano, o que mais? Tá com ciúmes de uma
pessoa que não é sua? — Chora baixo, passando a mão no rosto forte.
Dói para caralho ao vê-la assim por minha culpa, entre quatro paredes
prometi o mundo para ela, não havia sido de momento, eu realmente estava
disposto a isso, mas não pode ser dessa maneira, vacilando como vacilei com
ela. Papo reto, eu não sei o que me deu de vir aqui.
Essa cena fode mais com minha cabeça.
Confirmo sério, alternando meu olhar entre seus dois olhos. Tento
controlar minha respiração e meu nervosismo, mas é em vão, não consigo
controlá-los.
Ela é meu ponto fraco, Maitê é meu ponto fraco.
Olho pela última vez no fundo do seu olhar, antes de sair pela porta
aberta. Caminho em passos rápidos na direção do meu carro. Destravo-o no
alarme e enfio meu corpo dentro dele. O barulho da porta batendo com força
me faz mover minha mandíbula. Nervoso, deixo um murro no volante do
carro.
Droga! Eu sou um merda, irmão.
Ligo o carro em direção a minha casa... lá vou me entender entre bebidas
e drogas, meu único refúgio dessa porra toda a minha toda.

16H00MIN
DIA SEGUINTE, SÁBADO.
PENHA, VILA CRUZEIRO

— Ele era um pé no saco, sempre queria se garantir ao lado de vários e


na realidade um fodido — se refere ao antigo dono do Morro da Paz, era
conhecido por Nego. — Sempre queria ser melhor que todos...
— Eu sei como é — coloco minhas duas mãos no muro baixo da laje,
destacando algumas tatuagens e meu relógio. Olho daqui de cima da
comunidade Vila Cruzeiro, o sol frio aperta no meu olhar. — Eu sei como
eles são. — Encaro-o.
O homem de aproximadamente quarenta e dois anos me encara, sua
barba feita, cabelo na régua e os cordões no pescoço. Ele ostenta, diferente
de mim, o máximo que ando é com um cordão fino e relógio no pulso, para
mim isso basta.
— Era a maior onda errada desse rapaz — olho nos seus olhos e
confirmo sério. — Antes de ontem fizeram um encontro para lamentar a
morte dele e hoje estarão no baile do novo chefe, maioria estará
comemorando ao seu lado.
Olho dentro dos seus olhos, ele desvia para a frente, seu olhar vai para as
casas. Fico calado. Passo a língua no canto dos meus lábios, umedeço.
— O comando no morro da Paz precisa de você mesmo e geral te quer lá.
— Antes do Nego morrer você teve algum desentendimento com ele? —
Cruzo meus braços.
Me viro de costas para o muro, encostando, olho para a laje na minha
frente, vazia.
— Está falando sobre o quê? — Se vira.
— Isso mesmo que você escutou — murmuro. — Sim ou não?
Ele suspira fundo, virando o rosto na minha direção, sustento seu olhar
na dureza.
— Está dizendo que ele morreu por minhas mãos? — Solto uma
respiração densa.
Xeque-mate.
— Não. Eu fiz uma pergunta, pô. É só responder.
— Nós éramos praticamente irmãos, não apoiava a forma dele gerenciar,
mas nunca iria desejar mal pra ele.
Raciocínio por alguns segundos.
— Nego não tinha muito inimigo, tinha? — Ele nega.
— Poucos.
— Ele foi morto dentro da casa dele, você acha que seria fácil assim
subir?
Vinhedo engole a própria saliva. Um sorriso irônico cresce em meus
lábios. Nego rápido e desfaço o sorriso.
— O que foi?
— Tem coisas no meio e vou descobrir, quero assumir o comando
sabendo qual é a índole de quem vai estar do meu lado.
Levo minha mão no bolso na minha calça de moletom na cor bege e pego
a chave do meu carro.
— Está errado de entrar nessa parada pensando em confiar em alguém.
— Mas não estou pensando. Pelo menos vou saber qual a chance de ser
apunhalado pelas costas por alguém, e quero agir mais rápido, porque
ninguém entra no meu caminho, muito menos no meu comando. —
Murmuro sério. Vejo um sorriso no seu rosto.
— Eles têm razão.
Franzo minhas sobrancelhas em dúvida com sua fala. Mas logo ele
continua.
— Falar para você. Raro ver alguém com essa sua mente. Eu matei o
Nego — me olha nos olhos, murmurando mais baixo. — Não por minhas
mãos, mas eu mandei matar — ouço. — O cara tirou tudo que eu tinha
quando mais novos, meu dinheiro e quando ele estava no poder, eu tirei tudo
dele, porra. Você acha que é o único esperto, Italiano? Eu também sou.
Nos encaramos, olho do fundo do seu olhar. Ele parece ser sincero com
suas palavras, elas guardam rancor, é isso que vejo em seus olhos, rancor.
— Não vou vacilar contigo, só não vacilar comigo, aqui tem o retorno do
que vem, demorou? — Diz, sério.
— Faço do seu assunto o mesmo que o meu. — Falo.
Sua mão direita vem na minha direção, troco a chave de mãos, com
minha destra, agarro firme a sua, apertando-a sem tirar meu olhar do seu.
Depois de mandar meus funcionários me seguirem, faço o meu caminho
de volta pra comunidade do Alemão. As horas passam, mas pra mim parece
a porra de uma eternidade, na moral
A Maitê ronda minha cabeça sem pausa. Mesmo sabendo lidar com
minha postura, ninguém sabe como passei a madrugada atordoado, a quero
comigo... nem droga e bebida conseguem tirá-la da minha cabeça. Sou difícil
em reconhecer meus sentimentos, mas sei reconhecer quanta falta ela me
faz. Talvez seja o peso da culpa que tem me deixado mais atordoado.
Desvio minha atenção para a tela do meu celular tocando no painel do
meu carro. Pego com minha mão direita. Ligação da Maressa. Atendo e
começo a dirigir o carro com apenas uma mão.
— Qual foi? — Questiono.
— Edgar, eu preciso que você venha aqui em casa.
— O que aconteceu?
— Por favor, não pergunta, só vem. Eu não sei mais o que fazer e acho
que você é a única pessoa que pode fazer algo. — Encerro a ligação.
Coloco meu trajeto mais rápido a sua casa. Depois de alguns minutos,
entro na casa da Maressa. Ela levanta do sofá ao notar minha presença, fito o
cabelo curto e seu olhar.
— Qual é? — Pergunto.
— A Lara, ela está trancada no quarto desde manhã, eu fui trabalhar e ela
não saiu em nenhum momento, eu a escutei chorar... eu não sei o que fazer.
— Caminho em direção a porta do quarto dela.
— Lara — bato na porta, mas só recebo a porra do silêncio. — Abre
aqui.
— Ela não quer abrir desde de manhã.
— Lara, abre a porra dessa porta ou vou entrar de outro forma. Caralho.
— Reclamo.
Diante de alguns segundos, o barulho da porta destrancando é ouvido por
mim e Maressa. Lara está com o rosto vermelho, isso mostra quanto estava
chorando. Olhos inchados, cabelo bagunçado. Ela passa por meu corpo,
caminhando até sua mãe e abraçando-a.
— O que foi, Lara? O que está acontecendo? — Pergunta quando a filha
começa a chorar em seus braços.
Ergo meu olhar pelo quarto. Em cima da cama tem algumas coisas, algo
igual palitos. Recordo de ter visto em algum vídeo…
Propaganda de teste de gravidez.
Me aproximo da cama, olhando quatro testes na minha frente. Os
primeiros que pego, mostram dois riscos na cor vermelha.
— Que porra é isso? — Murmuro baixo.
— Eu…— Lara chora no pescoço da mãe, tentando falar.
Viro na direção das duas, negando sério, ajeito o boné na minha cabeça.
Deixo essa porra em cima da cama.
— Lara… — Maressa alisa o cabelo da filha.
— Agora você vai passar a mão na cabeça como sempre fez? — Cruzo
os braços. — Caralho. Você está grávida, Lara? — Pergunto.
— Lara, calma… — Maressa tenta acalmar o choro dela, mas isso não
me comove.
— Responde. — Aumento minha voz.
— Eu... Estou. — Sussurra baixo.
Minha respiração sobe e desce no peito, encaro o rosto da Maressa, ela
me olha perdida.
— Quatorze anos e grávida. — Falo.
Solto o ar pelo nariz.
— Você sabe quem é o pai? — Maressa questiona.
— Eu transei duas vezes, e eu só transei sem proteção com o... Gil —
Sussurra baixo, quase sem sair sua voz.
Sinto minha cabeça até doer ao escutar essa porra.
— Caso você fosse filha minha…— Penso antes de falar, e decido ficar
quieto. — Você acabou com sua vida, Lara.
Maressa fica sem reação como sempre, por isso acontece esse problema
todo com a garota. Não tem um posicionamento, uma fala.
Saio do quarto e começo a caminhar em direção da porta da sala, escuto
os passos da Lara.
— Edgar, onde você vai? Para, me escuta, eu sei que você queria que
alguém te escutasse agora ou tentasse te entender, então me escuta agora,
pelo menos dessa vez.
Paro, sem olhá-la, fixo minha atenção na porta.
— O Gil não tem culpa de nada. Eu e ele que somos culpados. — Escuto
seu choro mais uma vez.
— Porra, você só sabe chorar? Faz algo além de chorar, caralho — me
viro, olhando-a. — Olha a porra da sua idade, quatorze anos, irmão. Eu
avisei várias vezes. Eu cuidei de você desde quando nasceu, acha que é fácil
assim? Acha que é só colocar um filho no mundo? Você vai perder sua vida,
seus estudos. — Falo nervoso.
— Eu te falei, Lara, eu avisei, eu te bati e nada adiantou — Maressa
completa.
Resolvo não falar mais nada e sair rapidamente da sua casa.
Não consegui ficar na casa da Maressa por muito tempo. O choro da Lara
entrava na minha audição e estava me deixando maluco vê-la lamentar. Tudo
à minha volta estava tirando minha paz.
Observo a porta de madeira, meu olhar passa por cada detalhe. Penso…
penso…e penso… porra.
Lara está grávida.
Controlo minha adrenalina da mente para não fazer merda como sempre
faço. Sentado na cadeira, passo as mãos no meu rosto mais uma vez,
nervoso.
Lara tem quatorze anos, é adolescente, mas também está ciente de tudo
que faz. Um filho não é fácil lidar, principalmente para ela que não tem um
emprego onde ganha o próprio salário. Mal dormi nos últimos dias, e agora
mais essa para me deixar mais louco
Espanto meus pensamentos quando vejo a porta ser aberta. Encostado na
minha cadeira, fito William à minha frente. Mantenho meu olhar no seu
rosto.
— Falaram que queria trocar uma ideia comigo — fecha a porta. — Se
for sobre o Emanuel, já está resolvido.
Levanto da cadeira, caminhando até a frente da mesa. Encosto, cruzando
meus braços. Seus olhos passam por meu rosto, a íris de dúvida me encara.
— Tenho uma ideia para trocar contigo.
— Sobre o quê? — Pergunta sério.
— Lara. — Desço meu olhar até seu pescoço, ele engole em seco e ergue
a sobrancelha.
— Aí, pô, na moral, você deu o papo para não me aproximar de novo. Eu
respeito sua decisão, não me aproximei dela e nem penso.
— Mas tinha se aproximado, caralho. — O escuto suspirar fundo,
colocando as duas mãos no bolso, olhando para o chão.
— Eu estou ligado — sustenta meu olhar. — Eu gostava dela, estava
decidido a querer algo, ia tentar de tudo para ganhar sua confiança de novo
— olho no fundo do seu olhar. — Mas a Lara fez palhaçada com minha cara,
agindo feito maluca, ela mentiu, porra. Pode parecer que não, mas eu fiquei
malzão por isso, pelas palhaçadas que ela havia feito.
— Você tem mais de vinte anos. Você tem mais experiência, tem a ideia
de como funciona essas adolescentes, mas na primeira oportunidade não
pensou duas vezes em foder minha prima, uma menina que criei, porra.
— E quem não erra? Garanto que você erra pra caralho — solta o ar pelo
nariz. — Me arrependo, Italiano. Quer ouvir que não vou me aproximar dela
de novo? Eu não vou.
— Mas na hora de comer não pensou em consequências — aumento meu
tom de voz, de braços cruzados o encaro. — Na hora de transar sem
camisinha com uma garota de quatorze anos não pensou em uma porra de
consequência.
Seu começa peito subir e descer em uma respiração.
— Está falando sobre o quê?
— Você vai assumir esse problema inteiro, entendeu? — Aponto o dedo
na direção dele. — A Lara está grávida e você vai assumir o seu problema.
— Ele estreita os olhos.
Seu maxilar se move enquanto se perde nos próprios pensamentos.
— Grávida?
— É, porra, grávida! — Ele fica calado.
Minha vontade é de mata-lo aqui mesmo. Todas as minhas veias mandam
um sinal de estresse e euforia por todos os meus pensamentos. Recordo de
quando dei aquela surra nele, e minha vontade agora é de fazer algo pior.
William reconhece minha fúria pelo olhar e dá um passo para trás, quase
encostando na porta.
— Não me olha com essa porra de cara não, está parecendo sonso do
caralho. — Reclamo.
— Está agindo de cabeça quente em jogar essas paradas na minha cara...
— Estou? — Solto o ar pelo nariz. — Eu confiava em você, caralho —
fecho meu pulso. — Não demonstrava, mas confiava e na primeira
oportunidade mente na minha cara, mente olhando na porra do meu olho e
estava de mal intenção com ela. A Lara está vacilando, ela está pagando
pelas decisões, mas meu papo é de lealdade entre mim e você! Tinha moral
com geral em ser meu braço direito. — Falo, decepcionado.
— Eu errei — olha no meu olho. — Nada aqui vai mudar o que fiz. Mas
a garota estava em um churrasco, transou com qualquer um, acha mesmo
que vai falar que o filho é de quem? Ela deve nem saber quem é o cara. Se
for meu eu assumo, se for comprovado por um teste de DNA, eu assumo.
Posso ter errado, ela pode ter feito as palhaçadas, mas se for meu, eu arco
com as responsabilidades. — Murmura sério.
— Sai daqui, mete o pé antes que eu faça merda. — Murmuro baixo.
Em passos rápidos, caminho em direção a porta, abrindo com força por
trás do seu corpo. Meus olhos percorrem por Oli e HG na porta, os dois me
olham sérios, afastando-se rapidamente.
— Eu queria conferir se estava tudo certo, chefe. — Oli tenta se explicar.
Gil passa entre os dois com raiva, sem olhar na direção de ninguém.
— Caso eu veja um de vocês dois querendo saber mais uma vez de
problemas da minha vida, vocês dois estão fodidos. — Encaro os dois,
medrosos.
Passo pelos rapazes sem olhar para trás.
Seu caminho, você escolhe, e olha as merdas em cima da outra na vida
da Lara. A mentira a levará a várias coisas ainda. Grávida e sem saber quem
é o pai, se for o Gil, mesmo odiando-o, pelo menos saberia que ele arcará
com as consequências, mas o outro, ela mal sabe o nome.
Estou decepcionado com a Lara há um tempo, não vou esconder isso de
ninguém, muito menos dela.
Quando são 21h00min, já de banho tomado, estou em pé ao lado da
cômoda, eu olho para a tela do meu celular. Ver o vídeo da Maitê e ler
mensagens antigas me acalma. Mesmo bolado de ciúmes, sinto desejo por
ela dançando. Jamais pensei que chegaria ao nível de ficar com as bolas
roxas de vontade de foder uma mulher.
Respiro fundo.
Coloco o celular em cima da cômoda, e visto uma cueca. A calça jeans
acompanha uma camiseta na cor preta. Após pentear meu cabelo e passar
meu hidratante masculino, pego minha arma, enfiando-a no cós da minha
calça.
Meu destino será o Morro da Paz, onde vou ser reconhecido como o
novo comandante de uma das favelas na Penha.
Antes de sair de casa, ajeito a Glock na
— Toma. — Oli diz quando piso do lado de fora de casa.
Com um pouco de iluminação a noite, encaro dois pinos de cocaína em
sua mão.
— Não vou andar com essa porra, pede pra alguém levar. — Murmuro
sério passando por ele.
Enfio meu corpo dentro do meu carro. Hoje será o dia em que vários
conhecerão o Italiano na gerência do morro da Paz. O respeito crescerá mais,
e estou entendendo que tudo que eu queria há anos está acontecendo.
CAPÍTULO 43

Quatro meses depois…


DEZEMBRO/ SEXTA-FEIRA/ 21H00MIN

Faltam exatamente vinte minutos…vinte minutos. Apenas vinte minutos.


Repito mentalmente várias vezes. Eu controlo minha respiração de uma
forma que posso amenizar minha ansiedade, e assim consigo fazer. Me
tranquilizar. Minhas mãos suam pelo nervosismo.
O primeiro show começa daqui a pouco na cidade do Rio de Janeiro. É
um evento que ocorre todos os anos na cidade, para shows de danças do
Pole, com venda de ingressos limitados.
Eu visto um conjunto sensual na cor verde, detalhado para a dança. Meu
cabelo está amarrado em dois rabos de cavalo dividido no topo da cabeça.
Mesmo quebrada em vários pedaços por esses meses que passaram, eu
estou indo bem. Mesmo que ainda tudo lembre ele, às vezes fico pensando
como seria se eu o visse na minha frente novamente, como ele está? Eu
ainda me lembro dele. Tenho certeza que ele está destruído, tanto quanto eu,
pela forma que nos vimos pela última vez na minha casa antiga.
Os dois estavam destruídos.
Os fiscais fazem averiguação do local. Antes de subir para o palco, eu
mando uma mensagem para minha mãe.
— Fiz a faxina nos camarins, pelo menos deu para vir aqui conversar
contigo. — Stella desperta minha atenção, aproximando-se. — Vai arrasar.
— Queria que minha mãe tivesse vindo.
— Ela decidiu tirar férias justo nessa semana — suspira fundo. — Com
meu irmão. — Rola os olhos.
— Deixe os dois. — Me refiro à minha mãe e a Darlan.
Darlan e minha mãe estão juntos há três meses. Eu estou feliz por ela.
Esse relacionamento me aproximou muito da Stella e da família deles.
— Sobe no palco e arrasa, olhos de jabuticaba — Stella me olha,
sorrindo. — Vou sair antes que eles me xinguem. — Segura minha mão e
deixa um beijo rápido.
— Stella — a chamo. — Sobre a Lara… — Ela umedece os lábios.
— Ela não quer fazer o teste de DNA, quatro meses, quase cinco e ela
ainda está negando — Reprimo meus lábios.
— Às vezes não a entendo... parece tão sem ideia em tudo. — Nego
devagar.
— Só tenho medo de me machucar nisso tudo. — Fito seus olhos.
— Mas o Gil é um bom rapaz, acho que ele não te machucaria. —
Respondo.
Mesmo sabendo que ele também estava envolvido no assalto, tento
tranquilizá-la.
— Machucaram você, Maitê, imagina eu... — Stella solta uma risada
fraca. — Mas está tudo bem, vou aguardar ao lado do Gil esse resultado. —
Confirmo.
Stella sai pelo local onde conseguirá assistir aos shows. Eu contei a ela...
na verdade não tudo, não que eu amo o comandante de um assalto que me
fez de refém, não contei sobre o envolvimento do Gil, mas contei a ela sobre
o Italiano, falei que ele mentiu e que isso foi o motivo do meu afastamento.
Stella me falou sobre a gravidez da Lara, ela levantou a voz dizendo ser
do Gil e está nessa até hoje, mas sem teste para comprovar depois de quatro
meses. A realidade é que depois do que Lara fez comigo, não confio nela e
não a defendo em nada.
Arrumo minha roupa no corpo, os detalhes destacam, é uma roupa
própria para o pole dance, a cor verde destaca na minha pele, meu salto
enorme branco com o conjunto black velvet, a parte de cima trança nos meus
seios.
Algumas meninas são minhas parceiras na dança, mas no festival são
shows individuais. Jogo meu cabelo todo para trás, me certificando que está
bem preso.
Somos cinco e a primeira da turma do Daniel sou eu.
— Vai entrar em cinco minutos. — Daniel se aproxima.
Poucas vezes rolará o show aqui no Rio de Janeiro, mas ele cobrirá todas
nossas entradas.
Meu coração dispara, sinto uma energia surreal. Caminho, assim que
chamam pelo meu nome, seguro no corrimão da escada com força. Conto até
dez... enquanto subo, o palco todo apagado, caminho entre as duas barras e
posiciono na barra onde a luz vermelha reflete no palco. A silhueta da
música inicia, fazendo iniciar meu movimento em uma das barras.
Na minha frente tem várias pessoas me assistindo, entre elas homens e
mulheres, não faço questão de olhar no rosto de ninguém, focando no meu
movimento sensual em cima do palco como ensaiei por quatro meses. Da
mesma forma quando fui a única aceita entre as meninas da aula da Sabrina.
Minutos passam com meus movimentos. Minha mente alivia, minha
respiração pesa pelos movimentos. Quando escorrego no chão, levo meus
dois braços a frente pelo chão e empino minha bunda, de frente para o palco
abro um sorriso. Volto rapidamente, meu corpo desliza com facilidade em
cada passo, com aquele salto enorme, atraio aplausos e gritos, muitos gritos
e assobios.
Sinto os olhares queimando na minha direção, mas é como uma energia
forte por alguém na plateia. Um sentimento enraizado como se alguém
estivesse me observando, e isso me tira um respiro fundo entre os
movimentos, mas não é de cansaço…
Sinto que meu coração bate fortemente no peito e procuro algum olhar
pelo povo entre meus movimentos. A música continua tocando e continuo
procurando em cada rosto, mas nenhum me olha da forma como estou
sentindo, da forma que está fazendo quase sair correndo desse palco.
A luz vermelha dificulta um pouco, tento mais uma vez.
Minhas pernas ficam fracas, meu coração bate com muita força, meus
pelos arrepiam mais, porém sei que não é só pela dança. Tem alguém me
observando de uma outra forma. Respiro mais forte, rebolando entre o piso e
meu salto quando me jogo no movimento no chão, arremesso meu cabelo de
lado, trazendo mais um sorriso de frente para o palco.
Só um homem consegue me fazer sentir assim, só um homem tira esse
suspiro do fundo do meu pulmão.
A dança é encerrada com um último movimento meu, escorregando no
ferro. Deslizo até o chão, levando meu dedo na frente da minha boca em
forma de silêncio. Os aplausos iniciam junto com assobios, alguns caras
passam cantadas, mas meu foco é outro.
Ergo meu olhar, meus olhos se encontram com um único par de olhos em
uma certa distância. Minhas pernas tremem. Pela pouca iluminação e por
falta dos óculos, encaro o cabelo penteado para trás, o rosto sério me olha, a
barba destaca em seu rosto, de relance observo uma camiseta preta de gola.
É ele... ele está aqui e isso me causa borboletas no estômago como uma
adolescente ao descobrir o primeiro amor.
Me levanto do palco quando a iluminação é apagada. Com alguns passos
para trás, não consigo encontrá-lo de novo.
— Desce, Maitê! — Saio do meu transe com a voz do Daniel.
Caminho em direção às escadas, e com alguns passos, me sento na
escada com a intenção de tirar meus saltos rapidamente. Abro o zíper.
— Próxima... — Escuto a voz do Daniel — Maitê, sai da escada, mas o
que está acontecendo? — Sua voz fina entra no ouvido, ele coloca a mão na
cintura.
Eu preciso ir embora...
Levanto da escada com meus saltos em mãos. No camarim, troco de
roupa rapidamente, apenas coloco minha roupa por cima, blazer e a calça
preta.
Saio do corredor, passando por algumas pessoas, na parte mais afastada
escuto a voz da Stella atrás.
— Ei — encaro-a. — Cara, foi fantástico!
— Está falando sério?
— Você arrasou, Mai! — Dá um sorriso.
— Obrigada, eu preciso ir agora.
— Você não tem que esperar... — Olha por cima do meu ombro. Sua voz
é cortada.
— O que foi? — Pergunto.
Quando viro meu corpo para trás. Meu olhar se encontra com o par de
olhos na cor avelã, agora mais próximo.
Como ele conseguiu entrar aqui na parte de dentro?
— Stella, estão precisando de você. — Uma das funcionárias avisa.
— Vai, amiga. — Falo para ela, quando me encara questionando se vai
ou não.
Meu coração incha ao bater mais forte quando sem pensar muito, Italiano
vem na minha direção. Estudo seu corpo: sua calça jeans, tênis preto baixo e
a camiseta preta de gola, seu cabelo está penteado para trás e as tatuagens
destacam-se em seus braços.
Minhas pernas ficam fracas, não sei distinguir meus sentimentos agora.
Não sei se é ódio ou amor ao vê-lo na minha frente. Não sei o que fazer,
além de ouvir na própria consciência os batimentos cardíacos acelerados e as
respirações lutando no meu peito.
— Vamos sair daqui. — Sua voz mais grossa que o normal ecoa no meu
último subconsciente.
Os olhos cor de avelã me fitam, agora não são em sonhos, é na realidade.
Sinto seu cheiro, é o mesmo cheiro de antes, o mesmo cheiro de quatro
meses atrás.
Meu corpo entra em colapso, eu continuo parada. Como ele consegue ter
essa força sobre o meu corpo? Queria saber como ele consegue fazer vários
sentimentos enraízam dentro de mim. Ele consegue me deixar fraca com
apenas um olhar, perto assim, me deixa sem voz. Apesar de todos os meus
sentimentos, a minha cicatriz ainda está aberta. Ainda machuca um pouco
sobre a mentira. Machuca ainda lembrar e pensar que poderia ser tudo
diferente.
— Você vai comigo? Eu estou com uma identidade falsificada no meu
bolso, não posso ficar dando bobeira. — Escuto sua voz mais uma vez.
Penso por vários segundos, e se eu der uma chance em escutá-lo?
— Vamos comigo, me escuta pelo menos uma vez, pelo menos uma
última vez nessa porra da minha vida. — Ele alterna o olhar entre meus dois
olhos, pela iluminação encaro seus olhos na cor de avelã me fitando
severamente, sombrios e vazios.
Penso em negar, mas o único sinal que foi com a cabeça é um “sim”.
— Posso? — Aponta para minha mão vazia.
Seus olhos sobem até meus olhos novamente. Balançando a cabeça mais
uma vez, confirmo. Sua mão grande envolve seus dedos na minha mão
direita. Seguro minhas lágrimas nos olhos e acompanho seus passos.
Controlo minha vontade de chorar.
— Vamos sair pela multidão, na parte daqui tem seguranças e os caras
me conhecem, entendeu? — Confirmo.
Quando entramos na multidão, ele me coloca na sua frente, sinto sua mão
direita vir no meu ombro e a outra segurar minha cintura. Mesmo tão perto,
ele segura com receio, parece com medo do seu toque sob meu corpo.
Fecho meus olhos e volto a abri-los. A música no fundo reflete em
nossas audições.
Respiro fundo.
Meus sentimentos estão à flor da pele. Algumas pessoas me encaram
conforme caminho pela multidão, mas quando passam o olhar para trás,
desviam rapidamente. Quando paro de frente para alguns velhos, Edgar
aperta minha cintura com suas duas mãos. Meu corpo cola no seu corpo
masculino e grande atrás do meu. Eles vão abrindo espaço quando entendem
que estou acompanhada.
Saímos de dentro do evento com Italiano segurando minha mão. O vento
frio bate no meu rosto. Meus pés doem pelo salto que usei para dançar, e
meus sentimentos alvoroçados. Ficar na sua frente me faz lembrar de tudo.
Vejo tirar uma chave do carro e destravar o alarme. Não olho para os
lados, mas sei que tem um dos seus homens aguardando-o.
Italiano abre a porta do meu lado, entro dentro do carro. Uma respiração
forte sai das minhas narinas quando ele bate à porta do lado de fora. Em
seguida ele entra do outro lado, fazendo com que seu cheiro invada o carro.
— Quer ficar dentro do carro, linda? — Encaro-o.
Seus olhos verdes pela iluminação do lado de fora refletem na minha
frente. Eu sinto medo... eu tenho todo sentimento possível por ele. Uma
mistura.
Encolho no banco, confirmando. Continuo em silêncio, sem dizer nada
até agora. Viro meu rosto para a frente mais uma vez, mexo com a mochila
entre meus dedos, me distraindo. Ele me encara em uma intensidade fodida e
posso sentir, mas logo dá partida no carro.
Alguns minutos com o carro em movimento. As luzes vão se afastando,
formando o local mais silencioso. O motor do carro desliga e minha
respiração fica pesada. Talvez eu possa ter agido por momento ao ter
aceitado em vir, mas eu quero escutar o que tem para me dizer.
— Não vou tocar em você para te machucar, se é isso que tá pensando.
— Diz. Ergo meu olhar na sua direção.
— Mas você machucou — falo pela primeira vez. — E machucou muito.
Seus olhos estão com uma cor avermelhada, talvez por cansaço.
— Eu vacilei mesmo, mas não me arrependo de ter te conhecido, Maitê.
Eu faria tudo de novo pra poder te tocar — os pelos do meu corpo arrepiam.
— Me arrependo por ter mentindo para você, por ter levado aquela parada
pra frente, mas estava com medo de falar. De acontecer o que aconteceu, de
te perder como te perdi
— Ia acontecer de todo jeito. Eu estava apaixonada por você.
— Estava, não é mais?
Sua íris me olha confuso, sinto meu peito doer e penso em uma forma de
falar que "sim" mas fico calada, quando vejo seus olhos lacrimejando pela
iluminação, ele alterna o olhar entre meus dois olhos.
— Eu... eu estou te dando uma chance de se explicar, eu jurei pra mim
mesma nunca mais trocar nenhuma conversa com você.
Eu realmente prometi isso, mas quando Stella me disse sobre ele estar
usando drogas por um comentário do Gil, ela havia dito que ele não usava e
que estava usando ultimamente.
— Não. Sou apaixonada pelo Italiano que eu conheci, pelo Italiano que
me contou a verdade naquela frieza só sinto raiva. Você me prometeu o
mundo entre quatro paredes, mas em um único dia me fez enxergar o quanto
eu estava sendo burra. O quanto eu fui otária, você não tem noção o medo...
— Encaro-o. — O nojo que eu senti de vocês nesses últimos meses, eu me
odiava por te amar, eu me cobrei de uma forma que eu não conseguia seguir
minha vida.
— Eu machuco muitas pessoas, Maitê, geral que entra na minha vida,
mas você eu nunca tive a intenção de machucar, não era para nós dois nos
envolvermos, mas não aguentei essa porra de atração por você
— Poderia ter sido diferente...
— Me fala o que fazer então, caralho? — Me fita. — Me mostra o que
faço pra te ter volta? Pra sair dessa porra de vida que estou — murmura. —
Como eu seria diferente? Eu sou o comandante do assalto, eu não confiava
em você, porra.
— Você está usando alguma droga? — Ele suspira fundo e encosta a
cabeça no banco.
Seu maxilar se move, e o silêncio se mantém.
— Responde. — Peço.
— Estou.
— Com qual frequência?
— Ultimamente quando bebo — nego devagar. — Eu não quero falar
sobre isso, eu quero saber sobre você. Qual a chance de te reconquistar, fala
pra mim o que faço pra te ter de volta? — Sua voz rouca sai baixa.
— Qual a chance de você mentir de novo? Não adianta ficar pedindo
perdão… — Sua mão direita vem até meu rosto, esquivo um pouco,
desviando.
— Não faz assim, pô, me machuca pra caralho. — Sussurra.
— Você acha fácil, Italiano?
Dói muito...
— Me responde se você acha? — Aumento meu tom de voz.
— Não, Maitê, porra, eu tenho sentimento de culpa.
Me olha sem desviar.
— Faz quatro meses que não durmo direito, quatro meses. Posso ter te
assustado pra caralho, mas a forma que te mostrei foi a forma que todos me
conhecem, eu fiquei instigado te olhando de longe e esse foi meu jeito, foi
sendo essa porra de cara que sou — me olha no fundo dos olhos, observo
seus olhos lacrimejando e ficando mais vermelhos sem escorrer nenhuma
lágrima. — Foi sendo o cara que aprendi a ser desde menor. Eu não sei o que
é demonstrar sentimento, eu nunca toquei em alguma mulher como eu te
tocava.
A tensão no carro vai ficando mais forte.
— Eu não sei o que é ter pai, o amor de uma mãe, eu não sei. Foi uma
péssima forma como nos conhecemos, mas o que eu posso fazer? Eu sou
assim. Você não me quer por perto? Tem medo ainda? Está suave, não vou te
obrigar a nada, te deixo onde quer e vou embora como da última vez. —
Ouço sua voz grossa.
Ele respira fundo, passando as mãos devagar no rosto. Seu rosto vira para
o outro lado da janela. Observo-o limpar rapidamente seu rosto. Franzo as
sobrancelhas, confusa.
— Edgar? — Ele não me encara. — Olha pra mim. — Peço.
Ele vira o rosto devagar, olho três lágrimas escorrerem seguidas no seu
rosto. Aprecio o abdômen quando ele sobe a camiseta para enxugar.
— Tem chance de me reconquistar não mentindo, tem chance de me
reconquistar não entrando no meio do meu trabalho, procurando ciúmes por
tudo como foi atrás de mim na última vez, tem chance de me ter de volta
parando com essa bobeira de usar drogas, isso não é vida, Edgar. — Nego.
Ele fica calado.
— Vem aqui. — Solto o ar pelo nariz com sua voz fraca pelo choro.
Segurando sua mão firme, coloco a bolsa no chão, ele me ajuda a sair do
meu banco e pular para o seu colo. Sento nas pernas dele de lado, com as
costas para a porta. Seus braços firmes passam por minha cintura, fecho os
olhos passando meus braços por seu ombro e o abraço. Enfio meu rosto
contra a pele quente do seu pescoço.
Quando deslizo minha mão por seu cabelo, sinto seus fios macios. A
energia dos nossos corpos entra em um colapso de união novamente. Edgar
respira forte no meu peito, enquanto lágrimas escorrem, molhando meus
seios. Ficamos minutos assim, um curtindo o outro em um abraço, seus
braços me apertam com uma força, que parece que vai quebrar minha
coluna.
— Papo reto, me perdoa — funga baixo e rouco. — Eu tinha te
prometido que ninguém iria te machucar, mas eu mesmo fiz isso.
Fecho os olhos, deixando algumas lágrimas silenciosas escorrerem pelo
meu rosto.
Limpo-as com minha mão e ele faz o mesmo. Levo minhas duas mãos no
seu rosto, segurando-o. Estudo-o: barba, seus olhos vermelhos e puro
lágrimas, assim como o rosto vermelho,
Abro um sorriso fraco entre minhas lágrimas silenciosas. Admiro a
sobrancelha grossa feita, os lábios entreabertos e os olhos avelã. Ele me olha
na mesma intensidade de sempre.
Tomo sua boca em um beijo lento, escorrego meus lábios contra os seus,
beijando-o devagar. Um beijo de saudades, nossas línguas entrelaçam uma
na outra como um encaixe. Ele tira um suspiro entre o beijo, ao escorregar a
mão direita por minha bunda e apertar devagar.
— Vamos sair daqui? — Pede.
Sua voz grossa murmura contra meus lábios, confirmo rapidamente de
olhos fechados, colando minha testa na sua. Sinto seu hálito quente contra
minha boca ao respirar forte.
Um tempo depois estamos na casa dele, fazem mais ou menos uns
cinquenta minutos que ele está deitado por cima do meu corpo no sofá
aberto da sala, sinto seu rosto contra meu peito. Os dois tentando entender
um ao outro.
É difícil.
Os dois estão destruídos.
— A casa está cheirando bem. — Aninho meu corpo no seu.
Continuo deslizando minha mão por seu cabelo.
— Agora, três horas atrás não estava. — Sua voz sai baixa contra meus
seios. Ele parece cansado.
— Hum...
— Posso te fazer uma pergunta? — Ergue o olhar na minha direção.
Observo seu cabelo bagunçado, rosto amassado e vermelho.
— Você inibiu seu leite? — Nego devagar.
Sem pedir, Edgar abaixa a alça da minha roupa e abaixa a parte de cima
do meu conjunto. Meu mamilo do seu lado fica exposto para ele. Sua boca
começa a sugar devagar meu mamilo. Eu estava sentindo saudade disso.
— Não dorme. — Sussurro.
Fecho os olhos. Ele grunhi baixo. Ajeitando a posição. Minutos passam
até sentir o peso do seu rosto
— Edgar? — Chamo-o. — Foram só cinco minutos e dormiu? Nem quer
transar?
A única resposta que tenho é da sua respiração pesada e ele vulnerável no
meu peito...
CAPÍTULO 44

O horário na tela do meu celular marca 9h00min. Passo uma mão no meu
rosto, faz uns cinco minutos que acordei sozinho no sofá, o cheiro dela está
pregado no meu corpo inteiro... o completo que estava sentindo no peito some
agora, me sentindo sozinho de novo sem ela aqui.
Dormi tranquilo pra ela ir embora sem falar.
Fito minhas duas meias nos pés e a calça jeans ainda no meu corpo. Sério,
olho para tela do meu celular. O número da Lara na barra de notificação.

Lara: Tem como você vir aqui em casa? Precisamos conversar.

Italiano: Qual foi? Eu estou ocupado agora, mas qual é o assunto?


A criança está bem, precisa de quê?

Lara: O Gil veio aqui hoje de novo e tudo ele tem que colocar o teste de
DNA no meio, eu vou fazer, Edgar. Só quero que você converse com ele,
preciso de mais tempo. Está tudo difícil pra mim e você sabe

Italiano: Ele te pressionou?


Quem está aí?
Lara: Não, ele só está cobrando sobre esse assunto.
Ele não entrou aqui dentro, só veio na porta e no carro a
mulher dele.
Italiano: Queria estar do seu
lado, mas o cara está certo, você está enrolando demais.
Faz logo essa porra e para de ficar lamentando as coisas.
Lara: Eu sei. Eu só quero mais um pouco de tempo, tá
tudo tão... sei lá. j
Italiano: Mais tempo do que? O cara que está
arcando com tudo mesmo sem saber se o filho é dele. Você
já vai descobrir o sexo hoje.
coisas no lugar, Lara.
não é dele? Não quis fazer a criança? Então assume logo as
mas o cara está correndo atrás das coisas, e no final o filho
Eu e o William estamos sem nos falar até hoje,

Desvio minha atenção para a porta da sala sendo aberta. Bloqueio meu
celular colocando-o no sofá.
Meu peito preenche de novo quando analiso a minha frente. O cheiro dela
invade o cômodo inteiro.
— Você demorou pra acordar, eu fui comprar alguma coisa pra comer. —
Escuto sua voz suave em ouvir.
Meu coração bate mais forte, escutando-a na minha frente. Quatro meses
longe dela me afundaram mais do que estava, eu passei esses quatro meses
tentando saber dela e mesmo só olhando de longe não matava 1% da minha
saudade. Saudade do cheiro, do jeito, dos olhos pretos.
Não dá pra negar, nenhuma mulher vai conseguir substitui-la na minha
vida.
— O que foi? – Pergunta ainda parada em frente a porta.
Olho cada detalhe do seu corpo. Seu cabelo ainda preso em dois rabos de
cavalo para cima.
— Eu pensei que tivesse ido embora. — Minha voz rouca sai entre meus
lábios.
Umedeço meus lábios e me levanto do sofá, caminhando ao seu encontro.
— Eu estava com fome e deu o que fazer para tirar teu corpo de cima do
meu. — Olho seus olhos pretos.
— O que não dormi em quatro meses, descansei essa noite ao seu lado.
Solto o ar pelo nariz, dando um sorrisinho de canto com o seu cabelo.
— Não zoa, eu vou tirar agora.
Levo minha mão direita até sua cintura, puxando-a para perto.
— Não vou, está bonita. Sexy.
Minha outra mão segura seu maxilar, sua mão esquerda pequena vem
contra meu corpo, ela agarra a camiseta entre seus dedos
— Me deixa te cheirar? — Peço.
Ela joga o pescoço de lado, possibilitando-me cheirar seu pescoço. Seu
cheiro de baunilha suave, o cheiro que eu amava cheirar há meses atrás. Deixo
um beijo na sua pele quente do pescoço. Com meus dedos envolta do seu
maxilar, eu beijo sua boca.
— Está com mau hálito, vai escovar os dentes e vem pra comermos.
— Quando era você, eu não reclamava. — Estreito os olhos.
— Fala sério. — Sorri.
Diante do seu sarcasmo, eu vou escovar os dentes, tomar um banho e fazer
minhas necessidades. Coloco uma bermuda preta de tecido leve e calço meu
chinelo.
Vinte minutos depois estou na cozinha.
— Eu preciso estar em casa daqui trinta minutos. — Olho a mesa com as
coisas para comer e o café para tomar.
Me aproximo, sentando em uma das cadeiras.
— E depois? — Questiono
— Depois o quê? — Ela pergunta sentada ao meu lado.
— A noite.
— Eu preciso ajudar minha mãe, ela vai voltar de uma viagem daqui a uma
hora mais ou menos — fala começando a comer um pedaço de pão. — E ela
vai pedir minha ajuda como sempre com o salão.
Ouço em silêncio, e começo a comer. Nós dois tomamos o café da manhã
juntos, e quase vinte minutos depois, eu a chamo.
— Vem aqui — Maitê senta no meu colo, se aninhando ao meu corpo. —
Você está feliz com o seu trabalho?
— Estou, muito — desliza a mão por meu ombro. — Me ajuda a
desamarrar o cabelo
Ela continua sentada no meu colo, levo minhas duas mãos, desamarrando
do lado direito, em seguida do lado esquerdo. Seus fios marcados caem sob
seu ombro.
— Não ri, pelo menos serviu pra ganhar meu cachê. — Faz um coque.
Coloco os mini elásticos que prendiam seu cabelo em cima da mesa.
— Hum... Não estou rindo. Qual o valor que você ganhou?
— Em cachê ontem ganhei mais de trinta mil, nos últimos quatro meses eu
ganhava mais que o salário em parceria — sustento seu olhar. — Esse olhar.
— Não adianta você mandar eu ficar calado em questão de ciúmes. Eu
sinto, pô, vou fazer o que? Aplaudir um bando de pela saco babando em você?
— Aperto sua cintura pequena.
— Mas isso sempre tem, eu ignoro todo mundo. — Dá de ombros.
— Você viu a forma que todos te olhavam? Parecia um pedaço de carne
pra eles.
Ontem quando a tirei do festival, geral que estava em baixo me dava uma
certa raiva, minha vontade era de sair batendo em geral. Eu sinto ciúme
mesmo, sinto ciúmes em pensar qualquer cara fazendo algo de errado com ela.
— Os shows de dança são raros de acontecer no ano e nenhuma dançarina
pode descer em meio à multidão... eu vou levar um porre por isso depois.
— Só você dizer que estava com uma urgência.
— Qual? — Pergunta.
Deslizo minha mão da sua cintura, escorregando por sua coxa e acaricio.
— De conversar com teu homem. — Respondo, mas meu olhar continua
no seu corpo.
Escuto uma risadinha baixa saindo dos seus lábios e posso imaginar seu
rosto tímido e safado ao mesmo tempo. Quando fico longe, da forma que
fiquei, eu tenho febre de tesão por ela. Perto assim, sinto todo meu
subconsciente pedindo por ela.
— Quer discutir de uma outra forma? — Ergo meu rosto, questionando.
Minha mão direita sobe até seu pescoço, apertando. Maitê puxa o lábio
inferior e morde devagar. Nossa conexão é algo que parece entrar em transe
pelo choque. Quando duas almas se encaixam.
Eu consigo sentir meu pau pulsar dentro da cueca. A vontade de fodê-la é
surreal. Tomo sua boca contra a minha, seus lábios gelados escorregam pelos
meus, procuro por sua língua com urgência. Com meu braço esquerdo,
contorno em volta da sua cintura, puxando-a contra o meu corpo. O
movimento provoca meu pau duro por baixo da cueca.
Estou prestes a ficar maluco, quando ela geme contra minha boca, eu sinto
o comando por todo meu corpo.
Depois de tirar sua calça e ela voltar para o colo, faço questão de deslizar
meus dedos com força e deixar um tapa com força na lateral do seu quadril.
— Meu Deus, tão cheiroso... tão gostoso. — Desliza sua boca contra meu
pescoço e as unhas cravam contra meu peitoral nu.
Afasta o rosto, ela desliza as unhas por meu peitoral, escorregando até meu
abdômen, seus dedos passam pelas tatuagens e vai deslizando até meu pau
duro. Com a boca entreaberta, solto um gemido rouco, para sentir sua mão
apertar meu pau por cima da bermuda leve.
— Me fode, Edgar, eu quero te sentir de novo... — Implora.
— Shhhh…
Minha mão direita explora sua calcinha molhada. Jogo de lado, e uma
respiração mais funda me deixa quase sem ar. Molhada, extremamente
molhada.
— Caralho. — Exclamo.
Meus dedos escorregam com facilidade por seu clitóris. Seu corpo mole,
facilita minha mão quando ele abre as pernas ainda no meu colo.
— Fala pra mim como quer ser fodida? Com dois ou três dedos?
Responde, linda. — Minha voz grossa murmura.
Meu coração bate forte no peito.
— Com três — sussurra. — É com três dedos, e depois com seu... — Ela
fica caladinha, soltando um suspiro e um gemido dos seus lábios quando enfio
três dedo sem avisar — Caralho...
— Gostosa... como está pulsando no meu dedo.
Começo a movimentar meus dedos dentro dela, e com o polegar masturbo
seu clitóris inchado. Quase perdendo o ar, ela respira fundo. Geme, contorce
seu quadril no meu colo. A provocação a faz ficar louca de tesão, seu corpo
em chamas, está prestes a gozar com as melhores expressões faciais do seu
rosto. Suas pernas travam, em uma única sintonia, ela goza no meu dedo.
Italiano cola sua testa na minha, nossas respirações estão misturadas
enquanto seu pau duro invade cada centímetro dentro de mim. Agarrada no
seu pescoço e com suas duas mãos fortes por baixo da minha bunda, Edgar me
fode.
Sem dúvidas que Edgar já transou com várias mulheres, é sem dúvidas que
todos os tipos de mulheres deveriam ser siliconadas. Mas a forma como me
olha com seus olhos penetrantes, me tira a mais sincera sensação de me sentir
única.
Seu pau grosso desliza dentro de mim sem nenhuma pausa. Nosso encaixe
do corpo deixa visível a sensação de tê-lo deslizando dentro da minha boceta.
“Oh, vai, Italiano”. “Isso. Assim”. “Me fode”. São frases que meus lábios
secos reprimem.
Que caralho...
Os bicos dos meus seios rígidos, movimentam sob seu peitoral nu a cada
estocada, por baixo, fazendo com que meu corpo salte levemente.
— Está doendo. — Solto um gemido rouco.
— Assim que eu gosto. Te machucar, minha putinha. — A voz rouca me
deixa fraca.
Arranho suas costas com minhas unhas, sentindo as gotas da água. Um
tapa com força estrala na minha bunda, tirando mais um gemido da minha
boca.
— Eu sou muito apaixonada por você. — Seguro seu cordão fino.
Seus olhos cativantes me olham, ao perceber meu rosto na sua direção. As
pupilas dilatadas me fitam por um momento.
— Eu sou muito mais por você, linda. — Murmura rouco e baixo,
sustentando meu olhar.
Levo minha boca na sua e tomo em um beijo fodidamente prazeroso,
tapando meu gemido, enquanto tenho um pau duro indo e voltando dentro de
mim.
— Não faz assim pra abafar seu gemido. — Murmura contra minha boca.
— Quero você gemendo pra mim, gostosa. — Bate com força na minha
bunda.
— Como consegue me foder assim tão gostoso? — Pergunto contra sua
boca.
Sinto os movimentos parando, ele sai de dentro, me colocando no chão.
Bruscamente suas duas mãos me forçam a ficar de costas para ele, a direita
vem no meu cabelo, puxando com força para trás, minha cara vai contra a
parede gelada do banheiro.
— Sente como você me deixa instigado por você.
Deixa um tapa com muita força. Coloco minhas duas mãos contra a
parede, tentando segurar meu corpo fraco. Ele tira mais um gemido, quando
deixa outra tapa com mais força. Sua mão grossa e grande circula meu
bumbum. Posso imaginá-lo com cara de safado e cafajeste nesse momento.
Sem tempo para pensar, Edgar enfia seu pau na minha boceta. Ele
escorrega para dentro, segurando-me com suas duas mãos na cintura. O que
facilita o encaixe da minha bunda contra seu quadril.
— Empina mais pra mim, empina. — Manda, ofegante.
Eu obedeço e nossos corpos começam a entrar na sintonia do barulho alto.
Com tapas e puxões de cabelo, eu deixo gemidos pelo banheiro. Seu pau
grosso faz minha boceta melar de tesão. Italiano não dá tempo de respirar, pois
seu pau agora me fode com força.
Ele me provoca sensações como se minhas pernas não existissem mais.
Meu coração palpita mais rápido no meu peito e minha respiração enrosca
com uma sensação de euforia.
— Puta, gostosa do caralho. — Deixo um sorriso safado em meus lábios.
Um comandante de assalto comigo, eu estou amando um comandante do
assalto onde fui feita de refém. Eu o perdoei por isso. Uma energia forte e
surreal passa por minha cabeça ao lembrar dos seus olhos quando o vi no
banco, seus olhos claros voltam com tudo como um flash na minha cabeça por
baixo daquela máscara.
Puta que pariu...
Sinto seu corpo batendo contra o meu cada vez mais forte, tapas
estralando, o barulho ecoa por todo o banheiro, nossas respirações misturam-
se. Meus olhos lacrimejam cada vez que sinto ele no fundo e voltando, é
gostoso...
Uma fraqueza é mandada para minhas pernas, sinto meu corpo tremer por
inteiro e meu orgasmo atingir por completo. Eu gozo no seu pau. Ele solta
meu cabelo, levando as duas mãos no meu quadril, seu gemido rouco sai dos
seus lábios e ele aperta meu corpo contra o seu, gozando dentro
Seu pau incha dentro das minhas paredes vaginais. Ele ejacula com a
melhor sensação
— Caralho, eu não estava aguentando segurar essa porra. — Solta um
gemido rouco.
Olho por cima do ombro. Admiro a paisagem dele olhando minha bunda
com uma cara de cafajeste e sua expressão safada.
— Eu te deixei precoce? — Pergunto quando ele sai de dentro.
— Quero experimentar outra sensação com você. — Me puxa de frente
para o seu corpo mais alto e forte.
Interrogo-o com minhas sobrancelhas arqueadas.
— Vamos tentar fazer um sexo anal? — Sinto seu corpo molhado contra o
meu.
— Mas precisa de lubrificante.
— Eu tenho no outro quarto, vai me dar? — Seus dedos da mão direita
envolvem o meu pescoço.
— E se doer? — Questiono.
— Eu paro.
Eu e Italiano fomos para a cama quando desligamos o chuveiro. A
sensação que tenho é do gélido do seu dedo passando o lubrificante no meu
ânus. Uma sensação que faz meu corpo congelar rapidamente. Estou deitada
de lado na beira da cama, toda exposta para ele.
Mordo meu lábio inferior, olhando-o. E seu pau duro desliza no meu ânus
levemente, com a camisinha. Mordo meu lábio inferior com força, quando a
primeira sensação da cabecinha começa a entrar.
— Relaxa pra mim — pede. — Tira essa carinha, estava gemendo agora há
pouco para mim.
— Mas agora é diferente. — Molho meus lábios.
— Eu vou enfiar um plug anal em você.
Ele desliza o plug super gelado por minha superfície anal. Sinto os meus
pelos do meu corpo arrepiarem conforme ele começa a enfia-lo dentro de
mim. Fecho meus olhos com a sensação completamente diferente do que já
senti. Edgar fica alguns minutos brincando com o plug, e quando ele tira, seu
pau é encaixado na entrada do meu ânus.
Solto um gemido alto entre meus lábios. Sua cabecinha afunda na entrada,
tirando um gemido dolorido de mim. Estremeço meu corpo, quase em um
impasse de começar a sentir uma dor.
— Está doendo. — Meus olhos lacrimejando.
Edgar se movimenta devagar, dessa vez quase parando.
— Relaxa um pouco. — Solta um gemido rouco.
Ele começa a se movimentar dentro de mim. A cada centímetro um gemido
dolorido sai dos meus lábios.
— Está doendo muito, para… Por favor.
Edgar sai de dentro de mim. Sua respiração pesada fica calma, ele me olha
com uma expressão neutra, para me tranquilizar.
— Desculpa. — Peço.
— Pelo quê? Não precisa pedir desculpa. Algum outro dia podemos tentar
de novo, linda. — Estende a mão.
Eu agarro seus dedos, me levantando. Vamos direto para o banheiro,
ligando o chuveiro.
— Vamos nos ver à noite? Vou te levar para comer algo. — Edgar agarra
minha cintura para debaixo da água do chuveiro.
Meu cabelo já não tem mais o coque. Está molhado e posso senti-lo
pedindo socorro.
— Mas e se alguém ver a gente? — Questiono.
— Ninguém encosta em você. — Segura meu maxilar.
— Você está forte no tráfico? — Contorno meu dedo no seu peitoral. — Eu
percebo isso.
Ele balança a cabeça levemente, confirmando.
— Toma cuidado. — Peço.
— Por você, eu tomo — deixa um beijo na minha testa. — Minha linda.
— Promete?
— Prometo. — Sussurra contra minha testa.
Depois de passar um pouco de tempo com Edgar. Ele me deixa em casa.
Estamos morando em Ramos, um dos bairros do Rio de Janeiro.
São 10h30minquando entro dentro de casa. O carro da minha mãe está
estacionado na garagem, o que diz que ela está em casa.
— Estava aonde? — Sua voz me questiona do sofá. — Seu cabelo está
todo molhado, Maitê.
— Ah... eu estava...
— Eu pedi para Stella ficar de olho em você, mas ela disse que não te
encontrou depois do seu show.
— É, ela não me encontrou. — Aperto a alça da minha mochila.
— Ela disse que você saiu com uma amiga.
— Eu fui com uma amiga comemorar, desculpa por não ter te avisado.
— Que amiga? — Sustento seu olhar.
— Ela chama Ivone, já é maior de idade — respiro fundo. — Eu estou
bem.
— Eu fiquei preocupada por causa daquela confusão do rapaz que você
estava se envolvendo, ele não vale nada e não duvido tentar fazer alguma
maldade com você.
— Está tudo bem — ela concorda. — Desculpa por não te avisar, meu
celular descarregou.
— Eu percebi por ter te ligado mais de dez vezes seguidas, da próxima
deixa uma mensagem avisando pelo menos. Tem certeza de que está tudo
bem? — Confirmo. — Eu assisti o vídeo da sua dança e foi maravilhosa.
Me aproximo do sofá e deixo um beijo na sua testa.
— A transferência caiu agora de manhã — falo. — Eu estou muito feliz
por estar conquistando minhas coisas. — Ela sorri.
— Só não deixa nenhum passado te afetar como estava te afetando. Nunca
suportaria em pensar aquele cara voltando pra sua vida e tirando sua paz de
novo.
Umedeço meus lábios sem dizer nada com sua fala.
— Você vai querer ajuda no salão? — Corto o assunto.
— Não precisa, vai descansar.
Deixo-a na sala e vou direto para o meu quarto. A casa tem dois quartos,
uma sala, a cozinha e dois banheiros, garagem e área, é menor do que nossa
antiga casa, mas é aconchegante.
De frente ao meu espelho, nua, vejo os vermelhos nos seios através do
espelho na minha frente, na bunda inteira destaca e arde, no pescoço aparece
um pouco pelos apertos, então tudo vem à tona na minha cabeça.
Mais uma vez ele me tem por inteiro.
CAPÍTULO 45

Espanto meus pensamentos quando passo pela enorme mesa carregada de


drogas. Meus funcionários me olham, mas minha atenção foca apenas nos
meus próximos passos.
Entro na parte onde Oli e HG estão sentados em duas cadeiras, um do lado
do outro, os dois me encararam, desviando a atenção da tela do celular entre as
mãos do Oli.
Franzo minhas sobrancelhas quando Oli guarda o celular rapidamente no
bolso da bermuda jeans. Meu instinto não falha, nunca falharam, irmão. Penso
por uns segundos. Fico sério como sempre, sem abrir a cara para nenhum.
Passo a língua no canto da minha boca, com as duas mãos no bolso.
Contorno à direita dentro do bolso, brincando com a moeda.
— Eu acabei de sentar. — HG me olha, falando.
— Eu também, pô, não faz dois minutos. — Oliveira acrescenta
— Estou cansado, sentei para descansar, mas estou saindo, descansei
muito. — HG levanta, ajeitando a camiseta cinza, ele dá um sorriso medroso
na minha direção e passa ao meu lado.
Dou dois passos, paro em frente ao Oli. Vejo o olhar subindo na minha
direção e engolir em seco.
— O que você está vendo? — Questiono.
— Eu estava mostrando umas paradas pra ele, é uma garota que estou
conversando.
— Hum — estreito meu olhar. — Vou precisar de cinco funcionários na
minha bota, daqui vou partir pra Penha, analisa a porra do caminho e pede
informações.
— Pode crê — se levanta. — Posso ir?
Umedeço meus lábios, soltando um ar pelo nariz, ele entende minha falta
de paciência.
— Já é, estou indo então, pô. — Me olha antes de sair.
Viro meu rosto por cima do ombro, olhando-o passar pela porta e caminhar
sem olhar para trás.
Caminho até o cômodo onde gerencio minhas coisas e passo a maior parte
do tempo. Estou fazendo minha gerência na Penha, Morro da Paz ser uma das
melhores. Meu braço direito, FZ gerencia meus comandos lá dentro.
FZ é um dos mais respeitados daqui, por ser considerado entre os rapazes.
Meu braço direito no Morro da Paz.
Para falar a verdade, estou cada vez mais forte entre uns da hierarquia.
Principalmente pelo Vinhedo. Ganhei o respeito dele. Todas as vezes se
satisfaz com a minha presença.
Do jeito que eu planejava…
Seguro meu celular em mãos, sinto alguma presença entrando na sala.
Sentado na minha cadeira, levanto meu olhar para o William, mas volto
atenção sob a tela do meu celular depois de ter salvo o novo número da Maitê.
— Quer o que aqui? — Guardo o celular.
— Posso trocar uma ideia com você? – Fecha a porta. Ele anda até a frente
da minha mesa.
— Qual foi?
— É sobre a Lara, estou te chamando para trocar uma ideia. — Ajeita o
boné na cabeça. Fico calado, escutando-o. — Você sabe que ela não quer fazer
o DNA ainda. Desenrola essa parada com ela, Italiano, papo reto, ela
descobriu o sexo do bebê ontem. — Sustento seu olhar. — Vai chegar na porra
de um momento e se essa criança não for minha, eu vou ficar com raiva. Eu
criei um sentimento pela criança e na moral, se não for meu, vou ficar
neurótico.
— Ela vai assumir esse problema.
— Demorou. Espero pelo menos algo de você, tudo que fiz no passado
pensando em você foi de coração…
Respiro fundo.
— Mesmo não nós não nos falando mais. — Passo minha mão direita na
minha barba, deslizo os dedos, coçando devagar e confirmo.
Gil me dá uma última olhada, saindo. Dessa vez não fico estressado. Maitê
é minha cura, ela me tranquiliza de tudo nesse meu mundo maluco.
Maitê: Eu tô em casa.
Estou quase dormindo.
Italiano: Hum.
Consegue me ver depois? Linda. Maitê: Tão assim?
Tem que ser mais cavalheiro pra me reconquistar, seu
pau reconquistou, mas você ainda não.
Italiano: Você me deu hoje e ainda não te reconquistei? Foi pele na pele. .
Maitê: Seu pau reconquistou.
Você ainda não, opressor.

Dou uma risadinha baixa e nego. Filha da puta gostosa do caralho.


Italiano: Sai comigo hoje? Te levo pra comer.

Ela visualiza e demora pra responder, mas responde.

Maitê: Onde?

Italiano: Pode ser em qualquer lugar que você quiser.


Maitê: Está bem.
Vou te dar um ponto por isso.
Não é comida de motel, né?

Italiano: Não.

Maitê: Hum... vou aceitar, velho safado.

Rolo os olhos lendo a mensagem, bolado. Velho o caralho.


Um tempo depois, vou direto para a casa da Maressa. Entro pela porta da
entrada, o cheiro da comida invade minhas narinas, e no fogão, Lara faz um
almoço. Assim que nota minha presença, sua atenção vem para minha direção
conforme ela se vira.
A barriga de cinco meses é grande no vestido.
— Que susto. — Leva as duas mãos no peito.
— Você vai ligar em algum laboratório, vai marcar para fazer um teste de
DNA com o Gil, está me entendendo? — Ela volta a atenção para a panela. —
Você está enrolando pra caralho, Lara, qual foi?
— Eu preciso...
— De tempo? — Cruzo os braços. — Tempo pra que, porra? São cinco
meses a partir da semana que vem, não são cinco dias, Lara.
— Eu preciso de tempo pra pensar... você acha que quero minha filha sem
pai? — Encaro-a. — Eu sei... eu fiz, vou assumir sim minhas
responsabilidades, mas eu só quero...
— Segurar o Gil — solto o ar pelo nariz, ela me olha nos olhos. — Você
quer ter contato com ele, quer ele assim com você. Ele estava aqui agora
mesmo, não estava? — Lara engole em seco. — Vira mulher, porra. Assume
seus problemas. Está iludindo o cara de novo, mentirosa da porra. Esse filho
não é dele, — Aponto o dedo na direção do seu rosto.
Ela respira fundo, tentando segurar suas lágrimas em seus olhos. Mas, ela
permite algumas lágrimas e enxuga-as em seguida, assim que desliga o fogo
do fogão.
— Você sabe que não é. — Murmuro. Seus passos vêm rápidos, mas
impeço, segurando-a. — Amanhã vai vir a porra de um carro de manhã te
pegar, você vai entrar dentro desse carro e vai ir para o laboratório calada. Não
precisa ligar, eu mesmo vou resolver!
— Ok. — Confirma, engolindo sua própria saliva, fito uma última vez seus
olhos castanhos lacrimejando. — É uma menina.
Sinto um aperto no peito quando ouço que é uma menina. Meus dedos
liberam seu braço, antes que ela saia, me olha.
— Se quiser almoçar, tem comida. — Escuto seus passos em direção ao
corredor e o barulho de alguma porta batendo fraco.
Mais tarde., às 17h00min, com o tempo começando a escurecer, estou na
favela Morro da Paz. Dessa vez com o Vinhedo ao meu lado.
— Tem dois rapazes fortes da hierarquia querendo te conhecer, vai rolar
um churrasco no final de semana. — Vinhedo avisa.
— Quem vai?
— Cara, estou querendo fazer a parada mais reservada. Será eu, você e
mais dois. Convidamos alguns, já é? E uma mulher pra cada. — Passo a mão
na minha barba, coçando e confirmo parado ao dele.
— Entendi. — Ajeito a Glock na cintura.
— Te aviso quando for acontecer. Não sei qual era seu plano em assumir o
morro da Paz, mas seu comando está tão forte que seu respeito cresce a cada
dia. Dentro das cadeias, os comandantes estão sabendo de você.
Eu sabia que ia ter consequências, assim como soube desde a primeira vez
que entrei para esse mundo.
— A melhor gerência foi Iguinho ter saído e ter dado essa oportunidade
pra você — sinto minha respiração calma no meu peito sobre seu olhar. —
Mas a morte dele foi uma parada maluca. Parece que alguém estava
planejando aquilo para aquele momento. — Ele diz.
— Acha?
Os cordões de ouro são visíveis no seu pescoço.
— Eu acho. — Me encara.
— Se tivesse sido algum traidor, a pessoa seria descoberta. — Umedeço
meus lábios.
— Ou não, talvez seja mais esperto que qualquer um. — Sua voz é firme.
Nesse momento só vem o rostinho da minha linda triste ao saber o quanto
estou envolvido no crime.

Ouço a voz do pastor enquanto o pôr do sol reflete nas janelas da igreja, o
que mostra ser mais ou menos 18h00min da terça-feira. É horário de oração e
maioria olha para minha direção e da Stella, mesmo desviando e escondendo
os olhares, dá para perceber algumas pessoas olhando. Elas tentam entender
qual o motivo de estarmos aqui.
Eu frequento raramente a igreja, mas quando dá vontade de sentir, eu
sempre vou em alguma igreja orar. A maioria das vezes ia na igreja onde
morava antes de me mudar e hoje estou em uma nova igreja. Talvez seja por
esse motivo que algumas pessoas me olham.
— Eu acho melhor sairmos daqui — falo para Stella. — A maioria está
olhando pra cá, eles conseguem ver nossos pecados?
— Talvez tenha uma chama de fogo à nossa volta — sussurra de volta. —
Será que eles sabem que estamos envolvidas com bandido?
Eu fico em silêncio, tentando entender. Logo sua risada me desperta.
— Você é muito boba, cara, nem estão olhando assim para nós. — Suspiro
fundo.
— Jesus envia um recado a todos que confiamos nele, orais nos momentos
difíceis, pois serão muitos — seu olhar passa pelo meu e pela multidão. —
Acredita na palavra de Jesus? — Sinto a mão da Stella vim a na minha coxa,
por cima da minha calça a apertar, então confirmo devagar olhando para o
pastor. — Então procure por ele, clame por ele e acredite no momento certo
dele, mas lembre-se, Jesus não é culpado por nenhuma má decisão de algum
dos seus filhos aqui na terra.
É como se ele soubesse de algo na minha vida ou no meu futuro próximo.
Continuo com meu olhar baixo, fitando minhas sandálias nos meus pés,
termino de ouvir o culto ao lado da Stella.
— Vocês duas são novas aqui?
O pastor questiona, quando estamos prestes a sair da igreja. Viro de frente.
O pastor usa uma camisa e uma calça social, ambas pretas. Passo a mão no
meu cabelo, colocando-o todo atrás da orelha.
— Sim. — Stella afirma.
— Moram por aqui? — O pastor questiona.
— Eu não, a Maitê sim.
— Sejam bem-vindas — me olha. — Sou o pastor Soares, Maitê e... —
Desvia o olhar para Stella.
— Stella. — Ela diz.
— Jesus trouxe vocês duas até aqui, ele tem um chamado pra vida de cada
uma. Então vão embora em paz.
— Obrigada, Pastor — Stella se despede. — Você não tem língua? — Diz
assim que saímos da igreja.
— Língua? Neste momento não tenho nem pernas, Stella — sussurro para
ela. — Não sabia o que fazer e nem falar, parece que sabem até dos meus
pecados.
Caminho ao seu lado pela calçada.
— Você tem tantos assim? Parece ser tão santinha.
— Namorar um bandido é pecado?
— Não sei... talvez, mas quem está pecando é ele, não você. Agora transar
com ele é sim pecado.
— Deus que me perdoe, Jesus. — Sussurro baixo, engolindo minha saliva.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, andando em direção à minha
casa. Stella está triste e meio calada, percebi isso tem meses, ela age mais na
cautela e nos pensamentos.
— Meu ex... eu o vi ontem. — Ela diz.
— Ele disse o quê?
— Nada, mas a forma que ele ficava me olhando... o jeito dele de doente,
parecia querer até minha alma.
— O Gil sabe sobre isso? — Questiono.
— Não quero encher mais a cabeça dele... na primeira semana do nosso
envolvimento a menina apareceu grávida dele, então ele está focado apenas
nisso. — Paramos de andar em frente minha casa.
— Vocês dois estão juntos.
— Sim, Mai, mas não como eu queria, querendo ou não, eu tenho medo de
me machucar nisso tudo.
— Então conta pra ele, Stella, talvez ele evite algo pior, tenho certeza que
ele vai te escutar.
— Não posso falar assim, não por enquanto, como ele tá agindo.
— A Lara fez o DNA? — Nega. — E não vai fazer?
— Não sei quando...
— Ela é meio sem juízo.
— Nunca tive oportunidade de conversar com ela, mas da última vez que a
vi, a barriga dela estava grande. É meio estranho tudo isso e o problema é
gostar tanto do William. — Respira fundo.
— Mas a criança não pode atrapalhar vocês dois, entende? Se for do Gil, o
problema será dele e da criança, não ele e Lara. Não deixe isso atrapalhar
vocês dois, cara — abro um sorriso de lado. — E conta pra ele do seu ex, isso
não é brincadeira, homem doente e psicopata não está brincando, avisa seu
irmão também.
— Tudo bem.
— Vai fazer isso? — Olho nos seus olhos.
— Sim.
— Eu vou entrar e tomar um banho, tenho que sair daqui a pouco.
— Vai sair com ele, né?
Respiro fundo com sua pergunta.
— Não precisa responder, essa expressão diz tudo. Então estão de boa?
— Sim, eu estou tentando.
— Que bom. Vai lá então, amiga, fala pro Darlan que vou esperar ele aqui
fora mesmo. — Me despeço da Stella antes de entrar em casa.
Ao entrar na sala, noto minha mãe e Darlan conversando sobre algo no
sofá. Entro fazendo barulho para evitar qualquer constrangimento.
— O que é isso, Maitê? — Minha mãe me olha por cima do sofá. — Não
precisa fazer barulho assim.
— Cadê a Stella? — Ouço a voz do Darlan ao lado da minha mãe.
— Oi, Darlan — aceno com a mão e entro. — Ela está te esperando lá fora.
— Está tranquila? — Ouço a voz do Darlan.
— Uhum, tudo na paz.
Vou em direção a cozinha que é dividida por um balcão. Abro a geladeira,
tiro uma maçã e separo ao lado de uma banana, pronta para fazer uma batida
com leite.
— Sua filha está sem educação, está fazendo alguma parada pra comer e
nem oferece?
Viro meu pescoço olhando o Darlan. Minha mãe dá um sorriso enquanto
ele fala sério.
— Você é meu homem por acaso? — Questiono.
— Qual foi, faz algo pra nós comermos! — Darlan brinca.
— A Stella está te aguardando, ela vai ficar brava igual da última vez. —
Alerto.
— Vai lá, amor. À noite você volta. — Minha mãe diz. Escuto o estalo de
um selinho.
Preparo meu lanche da tarde enquanto minha mãe sai com o Darlan.

A alguns metros, o carro preto estacionado do outro lado da rua fica a uma
certa distância de casa. Arrumo meu vestido longo que bate até um pouco
abaixo dos meus joelhos e tem uma fenda de um lado da coxa. Caminho com
minhas sandálias baixas.
A onda do Edgar é irresistível, que quando entro no carro, consigo sentir
sua energia me abalando. Seu cheiro amadeirado bem fraco misturado com
couro do carro invade minhas narinas.
Nossos olhares se encontram quando bato a porta, pela luz interna acesa,
passo meu olhar por seus olhos nas cores avelã.
— Oi. — Falo.
Os olhos do Edgar me devoram por completo. Mesmo sabendo quantas
vezes ele já me teve nua, ainda assim, eu me sinto envergonhada.
Principalmente por saber o quanto ele é gostoso e lindo.
Edgar veste sua calça jeans, camiseta vinho de gola e o cabelo penteado
para trás. Calado ele me analisa, seu olhar passa por minha coxa exposta no
vestido, a cintura. Fixa em seguida no anel do meu dedo.
Meu coração parece sair pela boca com o olhar desse homem, ele me deixa
fraca.
— Está gostosa pra caralho. — Ouço sua voz.
Edgar segura meu rosto com suas duas mãos. Sinto seu hálito quente na
minha bochecha e sua boca com um gosto de bala beijando o cantinho da
minha.
— Como você está, linda? — Murmura perto do meu rosto.
— Estou bem, e como você está?
— Então eu também estou. — Sussurra baixo e rouco.
Edgar cheira meu pescoço e beija em seguida com várias lambidas. Tomo
sua boca, beijando-o. Cravo minhas unhas no seu pescoço. Procuro pela sua
língua, sentindo melhor o gosto da bala, é hortelã... tão gostoso. Nosso beijo se
encaixa com a sintonia e conexão que temos juntos.
— Melhor parar por aqui. — Falo, grudando meus lábios no dele.
— Parar? É só um beijo, pô. — Desço minhas mãos até a gola da sua
camiseta. Aperto entre meus dedos.
— Mas você me deixa muito molhada com apenas um beijo, te sentir
perto...é tão gostoso — Falo falho.
Ele dá uma risada baixa e grossa, mostrando seus dentes alinhados, dando
um selinho rápido e encosta no seu banco.
— Mandei você escolher onde quer comer. Fala, pra onde quer ir? —
Escuto o carro sendo ligado e o barulho do motor.
Levo minha mão esquerda até sua coxa, acariciando-a.
— Pode ser qualquer lugar que tenha comida. Não sendo comida de motel,
está ótimo.
— Já comeu comida de motel? — Me olha pelo canto dos olhos.
— Não, foi aquele nosso segundo ou terceiro encontro. Foi meio medonho,
por isso tenho medo de voltar em algum motel.
— Hum...
— Aquele dia você foi um... filho da puta comigo. — Sussurro baixo.
— Eu era fechado com essas coisas.
— Quais?
— Sair com alguma mulher como estava saindo com você, Maitê. — Fala
sério.
Italiano acelera o carro. Com rapidez ele corta um carro, algumas pessoas
olham pela entrada proibida. Rapidamente volta para a direção certa, agora na
frente do outro carro que ficou para trás. Cravo minhas unhas na sua coxa.
— Não faz mais isso. — Me refiro a entrada brusca.
— Sou treinado pra isso. Vamos comer em algum restaurante longe daqui.
— Mas cadê os seus homens? Você precisa.
— Eles estão me seguindo em um carro.
— Eu não vi nenhum carro parado perto quando me pegou.
— Eles fazem camuflagem, entendeu?
— Sério? E como ficam camuflados?
— Camuflando. — Solta uma risada grossa de ironia. Reviro os olhos.
Por alguns segundos pensei que isso seria possível.
— Vamos pegar a principal e ir pra um restaurante, demorou? Lá nós
tomamos algo e comemos. — Me avisa.
CAPÍTULO 46

Minha mão direita está lançada entre os dedos da Maitê. Jantamos juntos
em um restaurante. Enquanto eu jantei, ela pediu um prato e vinho. Dá para
perceber que ela abusou do vinho, seu semblante de bêbada é visível.
A poucos metros de distância, o carro do Oliveira está estacionado. Um
Golf preto. Pela pouca iluminação da rua, em plenas 23h00min, meu olhar
bate em seu rosto enquanto está encostado no capô do seu carro, olhando
para cá.
— Entra no carro. — Falo sério.
— Eu vou entrar no carro. — A voz sai falha.
Me aproximo com ela do lado do passageiro e destravo as portas. Os
retrovisores abrem conforme o alarme é desligado.
— Aqueles são os homens da sua contenção? — Pergunta com os olhos
na minha direção.
— É, pô... entra no carro. — A ajudo a entrar.
Assim que senta, bato a porta, não vejo mais nada pelo vidro todo fumê.
Em passos lentos, me aproximo na direção do Oli. Meu olhar bate na
camiseta do flamengo e o boné no seu rosto.
— Eu vou daqui pra minha casa. — Aviso. Ele me encara e confirma.
— Estou com os dois dos seus funcionários no carro, mantemos sigilo
esse tempo todo. — Sinto o cheiro de maconha no seu hálito. — O caminho
está livre.
— Não teve nenhum problema durante esse tempo?
— Nenhum movimento estranho, mas não é bom ficar dando bobeira por
aqui, estamos no meio de vários cachorros, prontos pra te atacar. —
Confirmo mais uma vez.
— Suave. Vamos agora. — Falo.
Umedeço meus lábios, e saio em direção ao meu carro. É impossível não
sentir o cheiro da Maitê quando enfio meu corpo dentro dele. Ligo o motor e
começo a dirigir pela rua.
— Está tranquila? — Pergunto. Levo minha mão direita na coxa dela,
apertando. — Ficou quietinha, pô.
— Se eu vomitar aqui dentro, tem caô?
Do canto dos meus olhos, consigo ver sua mão no rosto. Olhos fechados
e encostada no banco.
Solto o ar pelo nariz.
— Tem — murmuro. — Depois limpo com sua cara, papo reto. —
Aperto a coxa dela entre meus dedos.
Viro a primeira rua pela esquerda.
— Que maldade. Eu sou muito fraca pra bebida.
— Está bêbada mesmo?
— Um pouco.
— Vou aproveitar pra te perguntar algo. — Falo.
Tiro a mão da coxa dela e direciona no volante, segurando-o. Eu viro a
terceira rua do bairro na intenção de sair. O silêncio reina um pouco até eu
falar.
— Esses quatro meses, você sozinha, tu ficou com alguém? — Pergunto,
sério.
Penso em qualquer pessoa que seja, minha mente ferve. Só em pensar
sinto raiva. Eu sou assim, tudo que é meu, é meu e ninguém encosta. Se tem
um lado meu que jamais vou deixar te ter é esse.
— Eu não lembro. — Encaro-a de relance e volto atenção para a direção.
Piso um pouco no acelerador, aumentando a velocidade quando pego a
rua principal.
— Não lembra o caralho, porra! — Aumento meu tom de voz.
— Eu não queria você, Edgar, quem dirá outro homem, eu estava fodida
psicologicamente — respira fundo. — E quando me recuperei estava com
vontade de transar... adivinha com quem eu transei? — Solta uma risada
nervosa. — Com quem me fodeu psicologicamente.
Respiro mais aliviado ao ouvir isso. Maluca, papo reto. O vinho a
derrubou mesmo.
Termino o trajeto até minha casa. Quando entramos, eu ajudo Maitê no
banho e tomo o meu. Com apenas uma bermuda, entro no quarto.
— Era pra eu ir embora. — Fala mais calma, dessa vez parece menos
bêbada.
— Quer ir? — Puxo pela cintura. Sento na cama e ela senta no meu colo.
— Eu te levo, eu volto. Tu que sabe, linda. — Maitê encosta seu rosto no
meu ombro, cheirando meu pescoço.
Acaricio seu cabelo na minha mão. Seu corpo está envolta de um pijama
fresco, os pés mal alcançam o chão.
— Eu quero dormir com você. Obrigada pela noite, eu gostei, na verdade
amei. — Afasta o rosto e segura no meu pescoço. — Fazia tempo que não
bebia assim. — Ela encosta seus lábios nos meus.
Não nego, sempre a quis assim comigo... desde da primeira vez que a
conheci de verdade, o jeito dela de menina mulher, sempre mexeu com
minha cabeça. Essa garota me deixa maluco, papo reto, no sexo e na rotina
do dia a dia. E ela adora minha marra, dá para notar como ela fica à minha
mercê.
Desvio minha atenção para tela do meu celular, ele toca em cima da
cômoda baixa, passo meu olhar. É um número privado. Aperto a cintura da
Maitê, ela sai do meu colo e senta na cama. Desligo a chamada
imediatamente quando me levanto e volto a sentar com o celular em mãos.
— Desligou? — Me olha.
— Não é nada importante — coloco o celular do lado na mesa de
cabeceira. — Vamos deitar?
— É mulher, não é?
Suspiro fundo.
— Ou vai dizer que é uma amiga? Não queria acabar com o clima de
hoje, mas não fica me cobrando, entende? Tu é solteiro e eu também sou.
— Solteira o caralho.
— Então quem era, Italiano? Estava me cobrando isso há minutos atrás
no carro. Agora eu estou te cobrando, quem era?

Tento levantar da cama, mas a mão grande me impede. Ergo meu rosto,
olhando nos olhos avelã.
O único questionamento que vem na minha cabeça é que ele tenha outra
mulher. Só não quero que ele exija nada das minhas coisas. A verdade é que
eu ainda não conheço o Edgar.
E isso dói... dói muito.
Não minto, eu não estava com cabeça para me envolver com alguém, eu
estava destruída mentalmente e queria apenas ficar sozinha nesses quatro
meses. Estava destruída psicologicamente.
— Para de arrumar problemas, Maitê! — A expressão dele é neutra. —
Senta aí.
— Eu só quero ir embora, minha mãe deve estar preocupada.
— Você não queria ir e agora quer? Senta. — Manda mais uma vez e
nego. Ele respira fundo, soltando o aperto no meu braço.
— Só não fica cobrando nada, entende? Quer cobrar e não quer ser
cobrado? — Solto uma risada nervosa. — Mas está tudo bem em receber
uma ligação no sigilo, você é solteiro e tem esse direito.
— Caralho — exclama e cruza os braços. — Quer saber o quê?
— Eu não quero saber mais nada.
— É a Brenda. É isso que quer saber? Ela que ligou nessa porra de
número privado.
— A Brenda? — Sussurro baixo, pensando. — A melhor amiga da
Stella?
— Eu não sei e nem quero saber, pô.
— Vocês dois...? — Silêncio. — Tudo bem. — Não espero sua resposta e
levanto.
Começo a desabotoar meu pijama na frente, já que ele é todo de botão.
— Para de criar problema! — Sua voz é um murmúrio.
— Problemas? Você estava me cobrando, na verdade sempre cobrou, a
Brenda é melhor amiga da Stella, Brenda sabia que eu estava envolvida com
você.
— Elas sabem?
— Não do assalto — encaro-o. — Mas sabem que eu estava sofrendo por
você, eu falei. Eu só quero ir embora, eu pego um Uber. — Tento puxar meu
braço com força, mas ele segura firme, olhando nos meus olhos.
— Foram quatro meses, não quatro dias.
— Foda-se que foram quatro meses! Foda-se, Italiano. Eu deveria ter
feito nesses quatro meses uma aventura com vários homens que me queriam,
na verdade querem ainda.
Ele aperta com mais força no meu braço, olhando dentro dos meus olhos,
alterno o olhar entre seus olhos.
— Eu não transei com ela, caralho — sua expressão é vergonhosa. Sua
pele parece esquentar. — Quer saber dessa porra? Eu não transei com
nenhuma mulher. Eu. Não. Transei. Com. Ninguém. — Fala pausadamente.
Respiro forte, sentindo meu coração batendo no peito, seu olhar
buscando qualquer deslize que seja.
— E você quer se aventurar com outros homens? — O olhar frio me
encara.
— Eu… não muda o foco da conversa, me solta ou vou te denunciar por
abuso. — Ele estreita o olhar, olhando meu rosto.
— Abuso?
— Está tentando me amansar com esse seu jeito.
Coloco minhas duas mãos abaixo do seu peitoral, empurrando-o, mas
nem faz cócegas em seu corpo.
— Eu não confio em você. — Falo.
— Quer ver o celular? — Aponta com a cabeça em direção ao celular em
cima do criado.
— E se eu quiser?
— Eu te mostro, caralho. Está desconfiada, então te mostro que não tem
razão para desconfiar.
Italiano descruza os braços e pega o celular em cima da mesa de
cabeceira. Seu corpo sentado ao meu lado, começa a abrir as mensagens.
Meu número antigo está fixado. Franzo minhas sobrancelhas.
— Meu antigo número está fixado. Me dá o celular. — Ele entrega na
minha mão.
Vejo o número da Brenda com várias mensagens não visualizadas, assim
como o nome Laura destaca, mas clico no meu número fixado.
— Você mandou mensagem sabendo que eu não ia receber? — Começo a
ler, ou pelo menos tentar, mas sinto-o tirar o celular da minha mão.
Velho ranzinza.
— Me deixa ler, cara. — Tento pegar o celular novamente, mas ele
afasta.
— Quer ver as coisas sem razão pra ver, depois vai ficar enchendo meu
saco — ele clica na mensagem da Brenda, mostrando de longe. — Vê essa
porra. — Resmunga.
— Mas que velho chato.
Na tela do celular, vejo várias mensagens da Brenda seguidas, todas sem
responder. E mesmo depois que ela soube que eu sou apaixonada por Edgar,
ela continuou.
— E você tem o número dela? — Questiono.
— Oli passou, mas bloqueio, não tem problema — ele respira calmo.
Sem me olhar bloqueia o contato. — Agora não tem nada aqui.
— E quem é Laura?
— Trabalha no bar, só tem conversa dela avisando pra pegar as
quentinhas — mostra a tela do celular. — A garota tem quinze anos. É
criança pra mim, da idade da Lara. Agora para de arrumar briga comigo.
— Eu nunca tive a oportunidade de conhecer teu lado sentimental com
mulher. — Sento no seu colo quando ele afasta o celular na cama.
Seu braço envolve a minha cintura, conectando nossos corpos.
— Eu nunca tive lado sentimental com mulher além de você.
— Hum — deixo um beijo no seu maxilar. — Eu li as mensagens por
cima e você me mandou uma escrito: "estou com saudades" mesmo sabendo
que eu não iria receber ou ler.
Sinto seu cheiro gostoso e fecho meus olhos. A mão grossa desliza por
minha barriga, subindo em direção aos meus seios, ele aperta devagar.
— Vamos discutir de outra forma? — Provoco-o.
— Levanta — faço como ele manda. — Tira o pijama pra mim.
De frente para ele, começo a tirar meu pijama. Eu provoco com meu
corpo, e sei que está funcionando quando o volume na sua bermuda fica
aparente. Edgar me devora com seus olhos.
— Está gostando do que vê?
Com apenas a calcinha e o sutiã. Eu coloco minhas duas mãos no seu
ombro, aproximo meus lábios dos seus e deixo um selinho demorado. Suas
duas mãos ficam firmes na minha cintura, colocando-me de frente para ele,
no meio das suas pernas.
— Por ter me feito passar estresse, hoje não temos nada. — Eu falo. Sou
mais rápida, tiro sua mão, ouvindo-o gemer de frustração.
Com um sorrisinho nos lábios, pego meu pijama no chão sem olhar em
seu rosto.
CAPÍTULO 47

Fazem vinte minutos que estou acordado, são quase 9h00min. Vejo as
mensagens da Lara. Ontem resolvi todos os problemas pra ela e Gil fazerem o
teste de DNA.
Lara: Oi, sim, foram me pegar pra fazer o DNA.
Minha mãe veio comigo.

Italiano: São quantos dias para o resultado?


resultado por ser de paternidade.
Lara: Eles disseram que em vinte dias conseguem o

Italiano: Hum, estão aguardem até lá.

Lara: É a única alternativa, Edgar.

Italiano: Só não tenta falsificar.

Digito a última mensagem, ela visualiza e não manda nada em retorno.


Respiro fundo.
Lara às vezes precisa entender que agora ela será mãe de uma criança, e
não uma boneca. Maitê dá os próximos passos para dentro do quarto, de
toalha. De costas, ela tira a toalha e se agacha um pouco à minha frente.
Minha respiração pesa, observando-a pegar a roupa em forma de provocação.
— Estou sentindo esse seu olhar comendo cada parte do meu corpo. —
Sussurra.
— Como sabe? — Questiono.
Arrumo minha bermuda preta, me levantando. Sinto o ar-condicionado
transmitir o vento fresco contra meu peitoral sem camiseta.
— Da pra sentir de longe. — Ela diz.
Passo minhas duas mãos envolta da sua cintura, agarrando-a antes que ela
comece a vestir sua roupa.
— Cheirosa pra caralho. — Abaixo meu rosto e passo minha boca no seu
ombro.
Passo meu nariz pela pele quente do pescoço, cheirando-a por completo.
— Hum. — Geme baixo.
— Eu fiquei a madrugada inteira com meu pau duro. — Roço contra a
bunda dela.
Abro minha boca, mordendo o pescoço dela levemente. Exploro o corpo
nu com minhas duas mãos e deixo um tapa forte na bunda dela. Sem reação,
minhas duas mãos a manuseia perfeitamente, virando-a de frente pra mim.
— Não quer gemer pra mim enquanto te fodo, linda? — Falo perto da sua
boca.
De tesão, meu coração bate mais forte no peito. A respiração pesada me
atinge.
— Edgar. — Sussurra falho e crava as unhas no meu abdômen.
Minha gostosa.
Minha puta.
Minha linda, porra.
Minha.
Até onde dê pra ir por ela, eu vou, seja na porra de um mundo fodido do
caralho, eu vou.
— Minha puta na cama e minha dama na rua — deslizo meus lábios no
dela. — Eu te prometi o mundo e eu vou te dar.
Sem a deixar, tomo sua boca em um beijo, minha mão esquerda desliza da
sua cintura até a bunda pelada para mim. Apalpo com força, sem segurar meu
tesão por ela.
Nossos lábios se encaixam fodidamente em um beijo, enquanto aliso seu
corpo por inteiro, com minhas duas mãos. Um gemido sofredor sai dos meus
lábios, quando ela aperta meu pau por cima da bermuda.
— Que homem gostoso do caralho. — Sussurra contra minha boca.
— Você me negou ontem à noite — murmuro rouco. — Sente como meu
pau está melado por sua causa... Dá pra mim agora? — Seu semblante safado
não nega o quanto ela quer me dar.

— Olha, sobre o Vinhedo... — Oli mostra seu celular na minha direção.


Sentado na cadeira ao meu lado, Oliveira vira seu celular na minha
direção. Eu olho a Fernanda na tela do seu celular. Ela está em um camarote,
sentada no colo do Vinhedo.
— Essa Fernanda… — Ele investiga.
— Era ela que vivia me querendo, e meu dinheiro. — Falo sério,
lembrando.
— Não sabia que ela estava se envolvendo com ele.
— Agora está sabendo — falo. — Tem alguma parada com ela? —
Encaro-o. Ele nega. — Então. Ela vive por isso, ganha dinheiro de bandido,
me conta novidades, isso estou ciente.
Olho meu relógio no pulso. Estou virado em uma fome de dez mendigos
desde as 11h00min, e agora, 12h00min, estou aguardando uma quentinha no
mesmo local de sempre.
— O churrasco é esse final de semana ao lado do Vinhedo? — Questiona.
— Você será um dos que vão comigo.
— Combinado, chefe.
Ouço o barulho do bic e logo o cheiro de cigarro no ambiente, vindo da
direção do Oli. Quando Laura notifica a chegada da quentinha, eu me levanto
indo até ela, para pegar.
— Obrigada. — Laura diz.
Laura e Lara são amigas. Pelo jeito estudam juntas, as duas são da mesma
idade pela forma de agir e rosto.
Nego sério. Me recordo da Maitê desconfiada até dessa garota, porra.
Estou com trinta e cinco daqui três dias e com uma garota de quinze anos
iria pesar a consciência. Maitê é nova: dezoito. Mas é maior de idade e sabe o
que faz.
— Apaga essa porra, na moral. — Resmungo quando me sento em uma
das cadeiras da mesa.
— Foi mal, come sua comida. Essa Laura mora por aqui mesmo?
— E eu vou saber? — Dou de ombros. — Vai perguntar, pô. — Escuto a
risada dos seus lábios.
— Vou lá, vai me liberar pra dar dois passos até lá? — Meu olhar é sério
na sua direção.
Oli entende o que quero dizer, e se levanta caminhando direto para o
balcão onde Laura está.
Quase vinte minutos depois, jogo a vasilha descartável no lixo. Com uma
garrafa d'água em mãos, eu dou um gole na minha água, pronto para sair. Mas,
na entrada, olho Gil e HG.
— Encontro dos dois. — HG resmunga de referindo ao Oli. — Vamos
comer em outro lugar, Gil?
— Estou de saída, fiquem à vontade. — Oli rebate a fala.
Ele não dá tempo quando guarda o celular em frente ao balcão da Laura. O
safado conseguiu o número dela, é visível no seu semblante.
Na saída, Gil entra na minha frente.
— Posso conversar com você? Valeu por ter desenrolado o assunto com
sua prima. Vou tirar esse assunto da gravidez da minha mente. Sendo minha
ou não, valeu mesmo. — Confirmo sério. Ele estende a mão.
Suspiro fundo.
Não nego seu aperto de mão. William abre um sorriso de canto quando
nossos dedos entrelaçam.
— Desumilde, estou aqui também. — HG rebate.
Não olho para trás e caminho para o meu carro, enfiando meu corpo dentro
dele.
Quando sento no banco, percebo que os óculos da Maitê estão no banco do
outro lado. Guardo-o no porta-luvas. E a lembrança do churrasco que é daqui a
três dias vem na minha cabeça. Não quero ir com ela. Não quero a submeter a
um local como vou estar.
Eu sei que se for comigo, vou assumir o problema de uma refém estar
comigo.
A última possibilidade nesse mundo, seria afetá-la de alguma forma. Antes
de sair com o carro, o meu celular toca no número privado. Então atendo no
terceiro toque sabendo quem é.
— Oi, Italiano… — Brenda.
— Terceira vez me ligando — minha voz grossa sai entre meus lábios. —
O que você quer?
— Me desbloqueia do WhatsAp. Faz dias que estou ligando, eu liguei
ontem e você desligou na porra da minha cara.
— Você sabe como bloquear ligações? — Questiono.
— Não. Você disse que ia pensar sobre sairmos, eu estou há quatro meses
tentando e lembra aquela vez que bebemos juntos? Nem olhar pra mim, você
olhou, nem bêbado, Italiano. Qual é o seu problema? Eu quero te dar, quero te
beijar e nunca consegui isso, nem um toque!
Solto o ar pelo nariz pronto pra desligar, mas a escuto falando.
— A Fernanda está com o Vinhedo e vai rolar um churrasco esse fim de
semana com vários, e você vai, ela disse. Seu nome é o maior comentário por
ser um dos mais fortes, um churrasco reservado com vários da hierarquia. Eu
vou estar lá, Italiano, fui convidada como uma das mulheres. Eu quero te ver
lá…
Antes que ela continue com o papo, encerro a ligação. Garota chata, irmão.
Jogo o celular no banco do lado.
Depois de fazer meu trajeto até a comunidade. Resolvi vir até a padaria da
minha madrinha, mas com o celular entre meus dedos.

Italiano: O que você faz agora?

Maitê: Oi, amor. Estou ajudando a minha mãe no salão.


O que aconteceu?
Italiano: Está tranquila então? Calcinha e roupa
comportada?

Os emojis revirando os olhos surgem no meu campo de visão.

Italiano: Revirou os olhos pra mim?

Maitê: Sim.
Italiano: Abusada, vai apanhar. Italiano: Que velho opressor.
mãe aqui.
Está tudo bem então? Vou terminar de ajudar minha

Italiano: Está.
Depois quero trocar um assunto pessoalmente com você.
Maitê: Hoje eu tenho que dormir em casa, minha mãe
não pode desconfiar muito e no final de semana durmo
contigo, tá? Italiano: Demorou, linda.
Qualquer problema me liga.

Maitê: Beijos.

Mando uma figurinha para ela, com corações em forma de demonstração


de carinho.
Maitê: Que coisa de velho!
Aliás, quem te mandou?
Italiano: Maressa.

Maitê: Hum.

Ergo meu olhar quando noto Lara me olhando. Seus olhos estão na minha
direção, enquanto ela está sentada no banco ao meu lado, encostada no balcão.
— O Gil veio com você? — Lara questiona. — Ele disse que iria vir aqui.
— Fazer o quê? — Pergunto ao guardar meu celular.
— Ele tinha falado que ia me entregar uns negócios.
— Sobre o bebê? — Maressa questiona do lado de trás do balcão, e Lara
confirma ainda me olhando.
— Está me olhando assim por quê? — A expressão duvidosa da Lara é
foda.
— Não pode mais olhar? — Franzo as sobrancelhas.
A barriga está enorme por baixo do vestido.
— Quer passar a mão? Ela se mexe de vez em quando.
— Passar a mão? — Nego, sério.
— Como é ogro — Maressa brinca. — Ele mal te pegava no colo quando
era recém-nascida, Lara, uma vez quase te deixou cair. — Rolo os olhos e
corto a fala da Maressa.
— Quero um café. — Peço.
— Mesmo assim, o amo. — Lara diz.
Ela se segura no balcão, descendo do banco. Suas duas mãos macias
seguram meu braço esquerdo. Ela beija meu rosto de lado.
— O William vai trazer alguns negócios, pega pra mim, mãe. Vou ir pra
casa, agora que as aulas acabaram, vou dormir um pouco e limpar a casa. —
Lara falando enquanto caminha para fora da padaria.
O único vestígio que ela deixa na padaria é a tensão no ar.
— Ela está...
— Com medo. — Completo a frase da Maressa.
— Medo? — Me olha. Fito seu olhar, acabou dando de ombros em
indiferença.
— Do filho não ser do William, o cara vai ficar mal, desde o primeiro
minuto ela está afirmando que é ele, pô. Demorou cinco meses pra fazer esse
teste.
— Pode ficar pronto em sete dias.
— Ele vai trazer o quê aqui?
— Roupas — respira fundo e coloca a caneca do meu café em cima do
balcão. — Disse que ia comprar uma saída de maternidade.
— Espero que a Lara coloque um amadurecimento na cabeça com essa
filha, papo reto... eu avisei que ia dar essa merda toda.
— Ela está mandando bem.
— Mesmo assim, ela está preocupada que o filho não tenha um pai, e ficar
segurando o Gil? Afeta o cara querendo ou não. — Murmuro.
— O problema é ela gostar dele.
— Eu sei — travo meu maxilar. — Mas gostar não segura ninguém, ela
mentiu pra caralho pro Wiliam. Ele foi errado em lealdade comigo, mas ela foi
errada com ele.
— Só espero que isso passe logo, caso o Gil não for pai, fazer o quê?
Alcanço a caneca de café e trago até minha boca. Começo a saborear o
gosto do líquido quente entre meus lábios.
— Escolheram um nome? — Questiono.
— Lara disse que chamará Malia.
A menina nem nasceu e estou imaginando como será uma criança na
minha vida de novo. Quando cuidei da Lara, era bem mais novo, tinha uma
cabeça mais firme do que hoje em dia. Não minto, eu considero a Lara como
uma filha mesmo, sempre tentei dar conselhos mesmo sendo do meu jeito. Eu
acompanhei os primeiros passos dela. Eu fui o cara que a levou no primeiro
dia de aula.
— Maressa — saio dos meus pensamentos, escutando Gil entrar na
padaria. — A Lara está aqui?
— Ela mandou você deixar comigo.
William se aproxima do balcão e deixa uma bolsa de maternidade na cor
branca, com detalhes rosa em cima do balcão.
— Elas estão bem? — Gil pergunta.
— Ótimas. — Maressa responde.
Ouço tudo calado.
— E você, bandido mau? Está tudo suave? — Me olha. Minha única
resposta é confirmar sério.
— Não quer comer nada? — Maressa interroga mais uma vez.
— Não, vou levar minha mulher em um exame, estou atrasado.
— Como? A Stella está bem?
— Alguns problemas de saúde, mas com os exames acho que vai dar certo.
— Wiliam se despede ao sair da padaria.
Calado, olho o rosto da Maressa. O barulho do carro é ligado do lado de
fora, e some pela rua.
— Bandido mau — Semicerro os olhos com a brincadeira da Maressa. —
Ele disse, cara.
CAPÍTULO 48

O salão da minha mãe está limpo, e todos os objetos do trabalho


organizados. Sempre tento não transparecer meu cansaço, mesmo estando
cansada por ficar horas ajudando minha mãe.
— A Stella disse que ia vir. — Minha mãe avisa.
— Ela tinha um exame e o Gil iria levar ela. — Respondo.
— O que ela tem? — Reprimo os lábios.
— Estava com dores e manchas no corpo, mas ela disse que sempre teve.
— Hum, deve ser alergia de algo.
— Aham. — Respondo. — Posso ir pra casa? — Ela confirma.
— Maitê. Seu pai tentou contato contigo?
— Não, faz quatro meses que não converso com ele.
— Melhor assim.
— Ele te disse algo? — Suspira.
— Ele só está tentando se comunicar comigo de alguma forma, não sei
como, mas acho que ele descobriu sobre o Darlan estar comigo.
— Mãe. Você tem que dar um basta, caso ele tome alguma atitude.
— Vai pra casa, avisa quando chegar e toma cuidado.
Sempre soube que na primeira oportunidade meu pai abandonaria a filha
por causa de uma mulher, e assim ele fez. Isso condiz com a índole de mal
caráter que ele tem.
Caminhando pela rua em direção a minha casa, espanto meus pensamentos
ao ouvir uma voz masculina atrás.
— Moça, deixou cair. — A voz traz calafrios por meu corpo.

O rapaz tem em sua mão uma nota de cinco reais em minha direção.
— Ah... não é meu.
Estudo seu corpo: calça jeans, camiseta azul clara. Seu tom de pele meio
bronzeada e o corpo magro. Algumas tatuagens destacam-se por seu corpo.
— Qual seu nome? — Pergunta.
— Isso foi uma jogada pra começar uma conversa comigo? — Cruzo os
braços.
Um sorriso largo surge em seus lábios.
— Te achei gata pra caralho, papo reto. Na verdade, sei quem você é,
Maitê. Famosa.
— Famosa? — Franzo minhas sobrancelhas.
— Dançarina, não é? — Dá um sorriso. — Te conheço por algumas
danças.
— Entendi — Respondo-o — Eu estou atrasada…
— Meu nome é Cleiton. Prazer te conhecer, algum dia desses vamos nos
rever novamente.
O clima tenso paira sobre o ar. Ele simplesmente dá as costas em direção a
um carro, em uma certa distância, e eu fico intacta, olhando determinado
momento que ele sai.
Que cara estranho…
Às 21h00min, me encontro à mercê do Edgar mais uma vez. O vício em
uma pessoa nos faz perder a noção do tempo.
— Eu senti falta dos meus óculos. — Falo, assim que pego a caixinha da
sua mão.
Abro a caixinha, colocando-o nos olhos. Sei que minha face ficou bonita,
pois a forma que o Edgar me olha, diz tudo a respeito da minha aparência.
— Ficou com cara de safada — segura minha cintura. — Vamos assistir
algo, depois vou comprar uma janta pra nós dois.
A calmaria reina, quando estamos deitados no sofá. Aninho meu corpo ao
seu, com o calor das nossas peles. Sinto a calmaria que ele transmite, contra
seu peitoral, eu aliso sua camisa. Exploro sua coxa na bermuda e subo
novamente por baixo da sua camisa.
Como sou safada. Agora estou alisando seu abdômen.
— Hum... — Fecho os olhos enquanto sua mão faz um carinho no meu
cabelo. — Seu coração está acelerado e é raro ver seu coração acelerado.
— Você me deixa assim. — Ergo meu olhar.
Seu cabelo está penteado para trás. A iluminação da TV ligada, mostra o
brilho dos seus olhos.
— Mentira. Você está infartando? — Sério, me fita.
— Daqui a três dias é meu aniversário.
— E não me disse antes? — Apoio no seu peitoral. — Oitenta e cinco
anos. — Ele continua me olhando sério.
Abro um sorrisinho, e me aproximo, deixando um beijo no cantinho da sua
boca.
— Vamos comemorar?
— Você que sabe — Edgar cheira meu pescoço de uma forma relutante. —
Está me acostumando a ter você todo dia de novo.
— Reconquistando sua linda aos poucos.
— Sábado tenho um compromisso pra ir. — Deposita um beijo no meu
pescoço.
Bem que eu desconfiei.
— Vai ter mulher? — Encaro-o.
— Sim. Você não confia em mim depois de tudo? Não quero te colocar em
perigo por causa das minhas decisões.
— Por suas decisões?
— É churrasco de homens envolvidos. Você já foi no baile do Alemão,
sabe como é, o churrasco vai ser reservado e terá uns caras mais fortes.
— Tudo bem, pode ir.
— Vai ficar bolada por causa disso?
— Não, pode ir. — Vejo um sorriso fraco em seus lábios.
— Não vou por causa de mulher.
— Mas vai ter mulher. Você vai para um lado e eu vou para outro. — Ele
desfaz o sorriso.
A mão na minha bunda desfere um tapa forte.
— Não fala assim comigo.
— Doeu muito.
— Desfaz essa cara, linda. — Tento me afastar, mas ele me segura.
— Eu te entendo.
— Quer ir? Te levo, mas não queria te expor assim. Vai ficar conhecida
como uma mulher de bandido, e não é qualquer bandido. — Murmura,
olhando no fundo do meu olhar.
Sinto minha respiração pesada e por alguns segundos vejo o lado do
Italiano nesse olhar sério. Me passa a sensação de frio e calculista, a pupila
não está dilatada como sempre fica. Os olhos nas cores avelãs sustentam meu
olhar.
Rapidamente ele desvia a atenção para a TV.
— Tudo bem? — Pergunto.
— Você não merece meu outro lado, Maitê — solta o ar pelo nariz. — E eu
não sei até onde meu outro lado vai, eu não sei onde eu vou parar, e eu não
vou parar, eu não posso. Antes de pensarem em me matar, eu vou estar
enterrando. — Continua olhando pra TV.
— Eu não sei o que dizer.
— Ainda vai tentar me entender quando eu não fizer mais sentido? E ficar
comigo quando tiver visto o pior lado de quem eu sou? Quando estiver do meu
lado e saber da minha vida no dia a dia? — Seus olhos me olham.
— Eu... eu…
Respiro forte.
— O problema é que eu não escolhi esse sentimento por você, e eu te amo,
Edgar.
Seu peito sobe e desce em uma respiração pesada, a pupila dilata ao me
fitar sobre a iluminação da televisão forte, que clareia perfeitamente. Sinto
meu coração bater no peito fortemente. Sem reação, ele olha no fundo dos
meus olhos. Percebo que nesse momento derrubei seu lado Italiano.
Olho no fundo dos olhos pretos. A fito à minha frente, como é possível?
Ela tem um comando sobre meu corpo que não consigo controlar, e ouvi-la
falar que me ama. Porra. É uma frequência incontrolável, meu coração bate
forte no peito.
É a primeira vez que ouço isso de uma mulher.
— No pouco e no muito? — Minha voz grossa murmura.
— Aham. — Confirma.
Ela encosta sua cabeça contra meu peito novamente, enquanto massageia
meu abdômen. Nossos corpos quentes estão interligados, eu consigo sentir.
Fico sem reação alguma nos primeiros minutos, como se fosse uma
dopamina. Levemente beijo sua cabeça, ouvindo-a respirar meu cheiro. Passo
meus dois braços em volta do corpo pequeno, envolvendo-a em um abraço.
— Eu... — Respiro fundo, ficando calado.
Caralho!
— No momento certo você vai retribuir a fala, não precisa ficar nervoso
por não falar agora. — Beijo mais uma vez sua cabeça.
Ficamos minutos curtindo um ao outro em um abraço suave.
— A Lara fez o teste? — Questiona.
— Fez.
— Quantos dias pra ficar pronto?
— De sete a vinte dias.
— Stella tinha falado que o Gil comprou as coisas da bebê, e se não for
dele? Ele vai ficar chateado — fico em silêncio. — Você tem que voltar a falar
com ele, Amor... Stella me conta e fala como ele é um parceiro enorme para
você.
— Pra ele bancar uma de sem lealdade de novo?
Afasto meu rosto, observando-a levantar a cabeça e me olhar.
— Mas eu te perdoei, o que tem você dar uma segunda chance pra ele?
Igual te dei uma segunda chance? Você vai me machucar de novo? — Nego
com a pergunta. — Então.
— Eu não perdoo. — Ela respira fundo.
— Mas vai perdoar, tu vai dar uma chance pra ele sim, não adianta fazer
essa cara de velho chato do caralho. — Rolo os olhos.
— Velho agora. Mas não hora do meu pau duro ficar entrando na sua
boceta não reclama. Fica fazendo cara de puta. — Escuto a risada gostosa sair
dos lábios.
Quieta, tomo sua boca em um beijo. Nossos lábios se encaixam um no
outro, assim desenvolvendo um beijo entre nós dois. Minhas veias esquentam
rapidamente com qualquer toque dela e tê-la em cima de mim assim, me deixa
maluco. Resmungo baixo quando ela aperta meu pau com sua mão.
— Não faz isso — solto um gemido contra os lábios entreabertos. Meu pau
fica duro, depois vou dormir com a porra de vontade de te foder igual da
última vez. — Murmuro rouco.
— Quem disse que vou deixar você dormir com vontade?
Sua provocação a faz segurar no ombro e subir em cima de mim. Suas
pernas encaixam de cada lado da minha cintura. Um sorriso cafajeste surge em
meus lábios quando sinto-a rebolar no meu pau. Apalpo a bunda quente contra
meus dedos, e deixo um tapa mediado da sua sacanagem, ela segura meus dois
pulsos, segurando-os acima da minha cabeça, contra o sofá.
— O que pensa que está fazendo? — Pergunto com meus olhos cravados
no seu rosto.
Sua resposta é apenas uma: expressão facial safada e rebolar várias vezes
no meu pau. Um gemido sôfrego de tesão sai dos meus lábios. Tento tirar
minhas mãos, mas é em vão, ela joga sujo.
— Você tem mais força, não força pra tirar as mãos, ou te deixo de pau
duro. — Respiro forte.
— Vagabunda. — Reclamo.
Mais uma rebolada é o suficiente para me deixar calado.
— Agora vou tirar sua roupa.
Comandando, ela começa a tirar minha camisa e minha bermuda. Seus
olhos brilham olhando o volume bruto na minha cueca. Na minha frente, com
vontade de provocar, ela tira a roupa que veste. Resta apenas sua calcinha
vermelha tapando a boceta depilada.
Aguçado de tesão, eu não resisto, agarro com força a lateral da calcinha,
rasgando-a com força.
— Edgar! Eu falei pra não encostar, vai ficar sem sexo…
— Na moral, você me deixou com tesão. Meu caralho está duro dentro da
cueca — seguro sua cintura no encaixe do meu corpo. — Vai deixar eu foder
com essa boceta. — Viro-a com força por baixo do meu corpo, contra o sofá.
— Quem comanda sou eu, não você, vagabunda. — Meu hálito quente fica
contra o rosto dela.
As pernas vêm automaticamente na minha cintura, abrindo. Sinto os bicos
dos seios rígidos contra meu peitoral. Roço meu pau contra a boceta pulsando.
A TV com barulho some dos nossos campos de audição, eu só consigo senti-
la. Meu foco é ela, na minha mulher gostosa.
Descontrolado de tesão, eu exploro a pele do pescoço quente. Minha língua
vaga por sua pele, até o mamilo com bicos rígidos expostos para mim. Entre
meus lábios, encaixo seu mamilo esquerdo, começando a chupar e explorar
seu gosto.
— Amor... — Diz falho.
O gosto do leite me dá prazer, eu consigo obter comandos a mais de prazer
por ela. É como a porra de uma conexão, algo que eu precisava há muito
tempo para me sentir bem.
Tiro meu pau duro de dentro da cueca, afastando minha boca do seu
mamilo. Ela fecha os olhos e reprime os lábios com o encaixe da minha
cabecinha, invadindo cada centímetro da entrada molhada.
— Meu Deus. — Ela abafa o gemido mais alto contra meu ombro.
Suas unhas cravam no meu ombro.
— Gosta quando eu te fodo? Sente como estou prestes a gozar só entrando
dentro de você? — Deslizo meu pau no fundo.
Um gemido rouco sai dos meus lábios mais uma vez. Começo a fodê-la,
louco para gozar com ela apertadinha. Sua boceta molhada suga cada
centímetro do meu pau, a cada entrada, o barulho do encaixe dos nossos
corpos toma conta do local. O que antes ouvia, o choque dos nossos corpos
tomou conta. Nossas bocas estão juntas, os dois respirando fundo, e eu sinto
que estou cada vez mais maluco por ela.
Não falo isso só porque a tenho agora, com as pernas abertas, enquanto eu
dilacero sua boceta úmida e pingando de tesão. Eu falo isso por amá-la como
nunca amei outra mulher.
— Oh, como eu amo te sentir me fodendo. — Geme contra minha boca.
— Goza no pau do seu homem. — Rouco, mando.
Deixo alguns tapas ardidos na lateral do seu quadril, sem piedade alguma.
Analiso cada detalhe minucioso do seu rosto, olhos semiabertos revirando de
prazer, boca soltando gemidos e a respiração mais fundo contra a minha.
— Duvido que algum cara te fode e te come assim. Fala que você é minha,
minha linda! — Aperto o pequeno pescoço contra minha mão esquerda.
— Eu sou sua.
Nossos corpos entram em transe, ficam tensos. O ritmo do barulho e
encaixe torna-se algo mais prazeroso. Suas pernas travam, ela respira mais
forte, e meus olhos vidrados no seu rosto, com a expressão mais gostosa de
analisar. Ela está prestes a gozar, então proporciono a ela esse prazer, sem
parar, ela rebola seu quadril quase a um passo de gozar. As unhas arranham
mais forte meus ombros. Ela procura algo que demonstre o quão está louca,
me dando nesse momento.
— Eu vou gozar… — Isso, goza pra mim.
Seu rosto vai de encontro ao meu ombro, a mordida é forte. Então ela
lubrifica cada vez mais o meu pau, mais intensamente. Sem controlar, eu gozo
junto com ela.
— Gostosa do caralho — bato forte na sua coxa. — Porra... — Respiro
fundo.
Meu pau incha dentro dela, expulsando todos os espermatozoides.
— Que gostoso… — Rebola, dizendo.
— Eu... te amo pra caralho. — Murmuro baixo contra seu pescoço.
Mas sei que ela ouviu perfeitamente quando me abraça, misturando mais
nossos suores e os corpos quentes.
CAPÍTULO 49

Aquilo que se faz por amor,


está sempre além do bem e do mal.

Três dias se passaram. Hoje é o dia que rolará o churrasco na favela.


— A favela daqui e da Penha está com movimento. — Oli fala ao meu
lado.
Passo a mão na minha barba. O sol das quatros horas da tarde está visível
desde sábado. Estou completando meus trinta e cinco anos.
Espanto meus pensamentos, quando vejo Brenda descendo a ladeira. Ela
suspende mais o short jeans entre suas pernas, vindo na nossa direção.
— Lá vem ela — Oli resmunga. — Garota chata.
— Oi. — Brenda fala ao aproximar.
Ela passa a mão nos fios do cabelo, alisando.
— Eu vou estar no churrasco hoje. Seu nome está na boca de vários.
— O que você quer, Brenda?
— Você disse que iríamos sair algum dia — olho diretamente pra boca
dela. — E hoje vamos estar no mesmo lugar, vai estar sozinho.
— Estamos atrasados, chefe. — Oli reclama.
— Italiano — Brenda chama. — Pode me dar uma carona? Eu vou subir...
— Porra, você acha um moto táxi fácil, Brenda. — Aviso.
Tiro a chave do meu bolso sem olhá-la de volta, e caminho até meu carro.
Enfio meu corpo no banco de couro. Sendo seguido por meus homens, eu vou
até a boca de fumo onde me encontro com o Gil quando entro.
Nós dois caminhamos em silêncio, passando pela mesa repleta de drogas.
— Vai rolar o churrasco, quero você do meu lado. — Falo.
— Lá na Penha, eu sei. Geral está comentando, tem noção pra onde está
indo?
— Não voltamos pra esses assuntos de conselhos ainda. — Olho nos seus
olhos.
— Mas estou falando como parceiro, como parceiro de anos atrás.
— Vai começar com esses assuntos? Te quero lá como a porra do meu
gerente, sendo fiel nos meus trabalhos. — Sustento seu olhar.
— Eu sei, Italiano. Estou te dando um conselho, geral está pouco querendo
saber de você, o crime tem duas temporadas, a primeira como você passou até
hoje. A segunda temporada é mais arriscada, você vai assumir vários inimigos.
Você tem noção que está na boca dos maiores presos em cadeias?
— Eu sei, William.
— Está preparado para sua segunda temporada em consequência como
entrou com a cabeça nesses quatro meses?
— Quer ir ao meu lado? Estou partindo antes das 21h00min para o morro
da Paz. — Aviso.
Dito isso, olho uma última vez em seus olhos antes de sair.
Eu sei que o salário do pecado é a morte. Mas estou nessa há anos. Eu
queria me tornar esse Italiano, e estou me tornando. Minha cabeça tá valendo
ouro, eles só não sabem como pegar, antes deles pensarem em me matar, eu
vou estar enterrando.
Às 21h00min estou de banho tomado e vestido com uma camiseta vinho e
calça jeans, acompanhando meu tênis e hidratante.
Maitê: Está indo agora?

Italiano: Estou partindo agora.

Maitê: Me avisa.

Jogo meu 212 na minha roupa, enquanto olho para a tela do meu celular.
Italiano: Estou indo, linda.

Você tem certeza? Sabe como estou por sua decisão.


Maitê: Uhum.
Em seguida a mensagem da Lara cai no meu celular.
Caso você queira ir comigo pode vir me buscar, eu
escolhi ir, mas caso não queira, tudo bem... eu vou
entender.
Lara: Oi, parabéns por estar tão velho assim, minha
mãe disse pra você vir almoçar aqui amanhã. Felicidades, minha e da Malia, te amamos.
Abro um sorrisinho, retornando a mensagem com um obrigado.
Estou há três dias sem ver a Maitê, segundo ela, para evitar desconfiança
da mãe, e eu tenho que aceitar isso calado. Quando foi que deixei uma mulher
mandar na minha vida?
Do lado de fora de casa, Oli está do lado do William, os dois tem uma mini
discussão entre eles. Os dois usam a mesma cor de roupa, camiseta preta e
bermuda jeans. Gil tem um boné na cabeça, cobrindo parte do rosto, enquanto
Oli está com o cabelo penteado para trás.
— O que aconteceu agora? — Pergunto sério, fechando o portão. — São
irmãos gêmeos, porra?
— Na moral, não tem uma roupa pra me emprestar? — Oli questiona.
— Você que está me copiando, irmão, qual foi? — Gil resmunga.
— Parecem duas crianças. — Reclamo, passando por eles.
— Está sozinho? — Gil caminha ao meu lado, questionando.
— A Maitê vai. — Encaro o rosto dele.
— Você sabe minha resposta — fala sério. — Sua vida é muito fácil, uma
hora alguém vai cobrar. Quer assumi-la diante de todos? Mostra, mas fica
preparado.
— Na minha mulher ninguém encosta.
— Ela está conhecida no pole dance... vai rolar fofoca, só a mantenha
informada dessas coisas.
— Ela sabe. — Ele suspira fundo.
— Está nas suas mãos...
— Vão direto pro morro da Paz? — A voz do Oli questiona.
— Eu vou pegar minha mulher antes. — Falo.
Oli manda um joia na minha direção, em seguida volta para o outro carro,
que está com alguns rapazes. Franzo minhas sobrancelhas quando William
pensa em ir com eles.
— William, vem comigo. — Falo, pegando a chave do meu carro.
Meu vestido marca cada detalhe das minhas curvas. Com meus dedos
entrelaçados no do Edgar, eu caminho ao seu lado. Atrás estavam os homens
dele, seguindo os passos.
Quando entramos no local, os olhares atentos vêm na nossa direção. O som
atinge meu ouvido, assim como o barulho das conversas. São vários homens
armados, bancando cordões e uma postura. Mulheres siliconadas, algumas
sentadas no colo de uns e outras em pé.
Meus dedos levemente apertam a mão do Edgar.
— O que foi? Está com medo? — Edgar questiona ao meu lado. —
Relaxa, linda, está comigo. — Passa a mão na minha cintura.
Abro um sorriso fraco. A atenção de vários está na direção do Edgar,
principalmente as mulheres, elas olham para o meu homem.
Edgar cumprimenta dois homens que vêm ao nosso encontro.
— Quem é a moça? — Um deles questiona.
— Minha mulher. — O murmúrio convencido sai dos lábios do Edgar.
— Sou Vinhedo. — Aperta minha mão.
— Maitê. — Abro um sorriso fraco em meus lábios.
Edgar me puxa para sentar no colo dele, em uma parte mais afastada. A
maioria das mulheres estão sentadas no colo de algum homem. Edgar coloca
sua mão na parte superior do meu vestido, impedindo de olhar. Quem seria
louco em me olhar? A energia de poder é surreal, todos fazem questão de vir
cumprimentá-lo.
— Quer beber alguma coisa? — Edgar pergunta.
Nego e arrumo minha postura em suas pernas.
— Sua primeira vez em um local assim? — Fernanda, sentada no colo do
Vinhedo ao nosso lado, questiona.
— Sim.
— Vai ficar muito conhecida.
— Eu sei. — Respondo-a.
— Caso queira beber, pode beber comigo. — Em silêncio, apenas retribuo
o sorriso.
— Vamos ficar quarenta minutos e vamos embora... Tudo bem? Quero
curtir o resto da noite do meu aniversário com você. — Edgar diz quando
Fernanda volta atenção para o Vinhedo.
Abro um sorriso fraco e confirmo. Sei que Fernanda é ou era a melhor
amiga da Lorena, e que as duas sempre estavam juntas. Mas não deixo que
isso afete minha troca de conversa com ela.
— Não vai beber? — Deslizo minhas duas mãos pelo ombro do Edgar.
— Não gosto de beber.
— Hum…
Não minto, sinto medo de estar aqui, mas eu quero estar com ele. Não sei
qual serão as consequências. Por mais que eu queira vê-lo distante dessas
coisas, eu não tenho culpa por amar alguém como ele.
Espanto meus pensamentos quando minha atenção vai até Brenda. Ela
termina de subir as escadas do local onde estamos. A mão grande do Edgar
escorrega pela minha cintura. Brenda se questiona com uma expressão
duvidosa ao me notar no colo do Edgar. Sua expressão é estranha, mas ela
percebe o clima tensionado e caminha em direção a outros rapazes.
— Você sabia que ela estaria aqui? — Perto da sua orelha, pergunto. Ele
confirma sem nenhum remorso. — E não me disse?
— Se eu falasse, você não iria vir.
— Mas vai chegar na minha mãe.
Respiro fundo.
— Não quer ser minha mulher? — Me observa sério. — Então vamos
assumir juntos, nós dois. Eu e você contra todo mundo. Eu queria que ela te
visse comigo, você não estava confiando em mim, mostrei pra ela que tenho
mulher, e está sentada no meu colo. — Meu coração dispara com sua voz
grossa murmurando.
Horas passaram-se. O barulho da conversa e sons torna-se algo normal,
assim como o uso das drogas e bebidas. Homens fortemente armados, prontos
para a defesa dos chefes.
Meu olhar se fixa em um rapaz. A mesma roupa que ele usa é a do Gil,
seus olhos estão na minha direção. Quando ele nota o meu olhar, desvia para
algum outro rapaz, conversando algo.
— Amor… — Aproximo minha boca perto do seu ouvido, chamando sua
atenção. Ele corta a fala com o Vinhedo trazendo os olhos no meu rosto. —
Você vai demorar muito aqui?
A mão direita posta na minha coxa aperta devagar.
— Não. — Me olha sério.
— Eu vou ao banheiro, onde é?
— É lá no canto, eu vou com você, quero ir lá também. — Fernanda diz ao
levantar do colo do Vinhedo, abaixando o vestido vermelho.
Faço menção de levantar, a mão do Edgar segura firme.
— Eu vou com ela. — Edgar olha de relance para Fernanda sem focar no
rosto.
Sem nenhum questionário, Fernanda confirma rapidamente.
— Então acompanho minha mulher no banheiro. — Vinhedo se levanta.
— Qual é o problema? — Pergunto.
— Não sai de perto de mim, vamos lá. — Avisa.
Eu caminho ao seu lado em direção ao banheiro. Edgar segura minha
cintura como se eu fosse uma posse dele, e realmente sou. Várias mulheres
siliconadas rodeadas de homens.
Aguardo do lado de fora da porta do banheiro fechada. Com suas duas
mãos, Edgar me cola a sua frente, passando o braço direito por baixo dos meus
seios.
Gostoso.
— Está nervosa comigo? — Escuto sua voz rouca perto do meu ouvido.
— Depois nós dois conversamos. — Respondo, fazendo meu charme.
— Se eu falasse que aquela garota estaria aqui, você não iria estar ao meu
lado.
— Não. Minha mãe vai ficar sabendo e pensou nas consequências?
— Tudo para você agora vai ter consequências, tanto com sua mãe, quanto
para seu trabalho.
— E o que vou fazer? — Ergo meu olhar. — Eu vou tentar falar algo pra
minha mãe... eu não sei. Ela vai ficar chateada.
— Ela sabe? Que foi eu comandei o assalto?
— Ela sabe, a única. — O observo travando o maxilar devagar.
— E tu confia nela?
— Quê? — Franzo minhas sobrancelhas. — Claro que sim, é minha mãe.
— Confia mesmo? Ela está de relacionamento novo, aquele dia que fui na
sua antiga casa, eu a vi com o irmão da sua amiga.
— Minha mãe não falou pro Darlan e não irá falar. — Respondo de volta.
A porta do banheiro é aberta e de dentro sai Fernanda e Vinhedo. O
barulho do som reflete aqui, o cheiro da maconha chega junto com as
conversas abafadas.
— Deixa sua mulher do lado da Fernanda depois e vamos trocar umas
ideias ao lado da Gil e FZ. — Vinhedo avisa para Edgar.
— Combinado, dez minutos estou lá em cima. — Ouço a voz do Edgar.
Caminho para dentro do banheiro, sendo acompanhada por ele. Depois de
fazer minha necessidade, quase cinco minutos depois, voltamos para a área de
cima.
— Fica ao lado da Fernanda. Jajá vou até você. — Sua mão direita segura
minha mandíbula, desfrutando um selinho rápido.
Na cadeira ao lado da Fernanda, eu me sento na intenção de ficar olhando-
o. Principalmente quando vejo vários cumprimentos a ele na intenção de
mostrar o quão ele está poderoso.
Não julgo a vida do Edgar, muito menos o motivo dele entrar nisso, mas
hoje percebo o quanto isso tudo é um verdadeiro beco sem saída, o quanto ele
está forte.
Um verdadeiro vilão. Dez bandidos de frente um para o outro em uma
reunião a uma certa distância de nós mulheres, o alvo da atenção é Italiano,
sinto meu coração acelerando quando dois deles ficam de frente pra ele,
mantendo uma atenção sobre ele ao conversarem.
— Está assustada? — Fernanda questiona.
— Um pouco.
— Eu lembro de você no baile do Alemão, ao lado da Lorena — confirmo.
— Nunca mais te vi, muito menos ela.
— Eu me distanciei dela.
— Eu também. Soube que ela está com seu pai — dá de ombros. — Pior
tipo de amizade talvez seja a dela. — Fala pensativa.
— Talvez.
— Ela sempre mostrou o quanto é baixa. Nós só não enxergamos.
O barulho da conversa entre os homens fica mais firme. O barulho dos
foguetes é ouvido por nós. Trinta e cinco anos. A parabenização acontece com
abraços.
Então me dou conta. Estou com um dos mais fortes da hierarquia, e não sei
onde ele pode parar com certas decisões.
Mais tarde. Quando nós deixamos o local, quase quarenta minutos depois,
eu e Edgar entramos dentro da casa.
— Poderia ter falado sobre a sua amiga. — Me refiro a Brenda, enquanto
tiro minha sandália.
Deixo-os no chão e caminho em direção ao sofá.
— Ela não é minha amiga. Eu só queria te mostrar pra eles e pra elas. Você
disse que estava ciente e que queria ir, de uma forma ou outra sua mãe vai
saber, seja por ela ou por outra pessoa. — Sento no sofá.
— Mas eu mesma poderia falar a ela, não ficar sabendo assim.
— Conta antes. Chega de manhã e fala. Eu assumo meu problema diante
dela. Eu quero te assumir. — Fica em pé a minha frente.
— Um comandante e uma refém.
— Garante sua palavra comigo que o resto eu cuido. — Edgar segura
minha mandíbula. A mão grande fica em volta do meu rosto. — Garante que
não terá nenhuma denúncia ou muito menos algo envolvendo a quadrilha?
Engulo minha própria saliva mais uma vez. Sustento seu olhar na minha
direção.
— Eu nunca sei quando você está jogando por amor ou por causa. — Ele
reprime os lábios.
— Olha nos meus olhos, você sabe quando eu vou estar me retirando do
meu amor por você.
O sofá afunda ao meu lado. Ele abandona meu rosto, se sentando ao meu
lado.
— Me garante, linda? — Observo a pupila dilatada e seus olhos me
olhando.
— Eu jamais colocaria minha vida em perigo, denunciando um bandido.
— Então só faz o que eu mandar, não quero te perder. — Sua mão me puxa
para seu peito.
— Eu te dei parabéns?
— Quatro vezes — sinto sua mão grossa segurar a lateral do meu rosto. —
Obrigado. — Abro um sorriso.
— Meu presente é sentar no seu pau. Pra aguentar tem que ser forte. — Ele
solta uma risada baixa e grossa, beijando minha cabeça.
— Minha linda...
— Meu gostoso, vamos dormir juntinhos hoje, que amanhã minha cabeça
vai explodir de tantas coisas pra pensar... — O abraço com força.
Sinto uma energia se misturando com ele nesse momento, uma conexão
enorme só em estar perto...
Dia seguinte, a tela do meu celular está marcando 9h00min. De manhã
estava no pole, tinha duas parcerias assinadas.
E agora entro dentro de casa.
— Chegou que horas? — A voz da minha mãe me deixa em transe.
— Do pole?
— De ontem, Maitê... do churrasco que você foi. — Seu tom de voz
aumenta.
— Mãe...
— O quê? Iria contar? — Fecho a porta devagar. — Você está sendo uma
vagabunda em ficar com esse cara, a Brenda me disse... ela contou
detalhadamente tudo hoje de manhã, eu neguei tudo, Maitê. Mas os pontos se
ligam, tudo faz sentido.
Ela tem uma expressão triste e chateada, ao mesmo tempo raivosa.
— Você voltou pra ele assim? Voltou para um marginal desse tipo? Um
bandido, traficante. Ele te fez de refém, ele te colocou de frente para os
policiais enquanto rolava um tiroteio de um assalto. Lembra de quando entrou
pela porta da nossa antiga casa morrendo de ansiedade e chorando feito uma
boba por causa dele? — Sinto meus olhos lacrimejando ao encará-la. — Eu
não vou te aceitar com esse bandido de merda!
— Mãe... — Limpo as lágrimas que imediatamente escorrem.
— Eu não preciso ouvir nada, Maitê, filha... ele tá fazendo pressão
psicológica em você? Me fala, eu dou um jeito. — Me encara.
— Não... eu o amo.
Seu semblante muda para nojo quando ouve minha frase. Ela nega,
desapontada.
— Eu não vou permitir minha única filha ficar com um cara desse tipo,
você irá fazer uma denúncia agora.
— Está maluca? — Aumento minha voz. — Quer me ver morta?
— Morta? Eles não vão falar quem fez a denúncia, você vai entregar esse
cara! — Nego mais uma vez.
— Eu não vou entregar ninguém. — Mordo meu lábio inferior, segurando
meu choro.
— Você liga para os agentes ou eu mesma ligo, eles deram a palavra da sua
segurança, não vai acontecer nada! — Meu coração bate desesperadamente no
peito.
Seus olhos penetrantes da cor avelã invadem minha imaginação. Na
verdade, tudo com ele passa pela minha cabeça, meus momentos ao seu lado,
o dia que disse pra ele que o amava, como ele ficou me olhando, racionando
ao escutar aquilo pela primeira mulher.
Eu o amo muito…
Mas eu também amo minha mãe, ela é minha mãe, é a mulher que eu mais
devo respeitar na minha vida e no fundo entendo seus pensamentos.
Mas qual será minha decisão? Dar as costas pra ela ou para um amor?
CAPÍTULO 50

De manhã já havia deixado Maitê em casa. Estou no Morro da Paz. Hoje


estou resolvendo várias coisas com o FZ. Dou uma última tragada no meu
baseado, apagando e descarto a ponta no chão. Entrando na boca de fumo,
ouço a voz do Gil atrás.
— Anda olhando pra frente! — Chama a atenção do Oli.
Viro meu corpo para trás. Meus olhos encaram os dois. Mas logo a atenção
vem na minha direção.
— Qual foi? Ele tropeçou na parada. — Gil rola os olhos.
Oli tira a Glock do cós da calça, raspando a garganta. Isso atrai os olhares
dos rapazes que embalam as drogas.
— Foi mal chefe, eu não enxerguei essa madeira no chão. — Oli aponta
com a ponta da Glock em direção ao chão e guarda na cintura. — Foi mal
mesmo.
Em resposta, dou as costas para eles, e caminho para frente. Mesmo
ouvindo os dois resmungarem um para o outro.
Porra, eles acham que sou surdo? Dois patetas.
Arrumo minha camisa preta quando entro no cômodo do fundo. FZ surge
no meu campo de visão, sua pele negra se destaca em um conjunto de roupa.
Ele ergue os olhos, saindo de traz da mesa.
— Achei que ia demorar — para em frente a mesa. — O valor desse mês.
Mostra um papel. O valor da quantia alta reflete nos meus olhos. A
gerência vai trazer alta quantia de dinheiro para meu bolso.
— Tem uma carga para ser recebida essa madrugada, daqui e do outro
morro, as duas tem o mesmo horário — cruzo os braços. — Caso notarem
algum movimento estranho, não quero que essa entrega aconteça, entendeu?
— FZ e Gil alternam os olhares e confirmam sério.
— Não tem nenhum problema daqui, tudo na linha, tanto com clientes,
quanto os caras que vendem. — FZ avisa.
— No morro do Alemão evoluiu no último mês. — Umedeço meus lábios
com a voz do Gil.
Assim vai continuar sendo. Eu estou faturando milhões nessa vida, mesmo
sabendo que o meu destino é implacável.
— Você ganhou respeito pra caralho e vai subir mais. Será um erro caso
alguém vacilar no seu poder. — FZ me encara sério. — Ainda mais com
Vinhedo do seu lado.
— Não preciso do Vinhedo, minha gerência é a única. — Falo sério,
encarando-o.
Dois meses para ser melhor que o Vinhedo. Vinhedo tem quarenta e dois
anos, assumiu a gerência há alguns anos e em pouco tempo vou me destacar
melhor que ele.
Nunca vacilei, e nunca irei vacilar no meu comando. Ninguém irá me tirar
dessa vida.
Troco alguns assuntos com eles, e do lado de fora ouço o Gil com Oli, no
meio dos meus funcionários assim que pisamos do lado de fora.
Tiro meu celular do bolso da minha bermuda, a mensagem que enviei há
um tempo para Maitê não foi recebida e muito menos respondida. Isso está me
deixando agoniado sem saber o que aconteceu. Me lembro que ela iria
conversar com a mãe.
Umedeço meus lábios, respirando forte.
— Como você sabe que foi bloqueado de um número? — Pergunto para o
Gil do meu lado.
— Dá pra saber, o que foi? — Gil questiona.
Viro minha tela do celular em sua direção. Quando sua mão agarra meu
celular, ele lê as mensagens.
— Aparecia status? Tinha foto? — Pergunta.
— Tinha.
— Você foi bloqueado. — Devolve o celular.
Clico na ligação normal, discando o número rapidamente na tela, na
mesma hora caixa na caixa postal.
— Brigaram de novo? — Nego sério para a pergunta. — Está bloqueado,
Italiano, não adianta mandar mensagem.
Apenas tenho um sentimento surreal sem vê-la dar alguma notícia. Minha
cabeça começa a doer quando penso que vou prendê-la de novo.
— Ei! — Oli aumenta o tom de voz, se aproximando com o celular em
mãos. — Escuta aqui essa porra.
Na ligação a voz do HG surge com falha no viva-voz.
— Tem polícia no mato. Tem policiais subindo de trás e na frente. O chefe
está aí? Estão subindo querendo derrubar alguém! — Respira fundo, quase
perdendo a noção. — Eu estou baleado.
— Porra! Qual foi, HG? — Gil tonifica a voz de preocupação.
— Eu não sei, irmão... Vão tentar me salvar, mas está doendo muito.
— Fica acordado, Henrique — pede. — Qual foi?
— Eu não sei, mas o rosto do Nando foi estampado como um dos
assaltantes do banco. — HG solta uma risada fraca. — Eu falei que um dia nós
íamos passar por isso... mas está suave, pelo menos não foi você aqui, Gil.
— Henrique, fala pra mim qual é o seu estado? — No fundo da ligação é
ouvido vozes e gritos. — Henrique? Fala. — Gil tenta mais uma vez.
— Eu fui baleado em dois locais, eu não sinto minhas pernas… — HG fala
na ligação.
Em seguida a ligação é cortada, o barulho da troca de pessoa é notável.
Então a voz de um dos meus funcionários surge.
— O Nando foi detido. Pegaram o Nando, sabiam onde encontrá-lo. Os
polícias estão atrás da quadrilha.
— Cadê o Cleiton? — Gil questiona.
— Fugiu. Vou socorrer o HG, ele está baleado, porra. Ensanguentado. — O
corpo do Gil treme ao ouvi-lo na ligação.
Eu me mantenho neutro. Na real, pela primeira vez na minha vida, não sei
o que pensar ou fazer. Eu não sei como isso tudo aconteceu, ou melhor, eu não
quero pensar que ela tenha algo envolvido com isso. Talvez o meu amor por
ela esteja me cegando.
Será que no final das contas todos estavam certos, e eu sou o único errado
em afirmar que Maitê não teria essa coragem?
HG e Gil sempre foram amigos, desde a infância nunca desgrudaram, e eu
sinto daqui como estão os sentimentos do William.
— Porra! Caralho! Porra, qual foi? — Gil levanta o tom de voz. —
Ninguém vai fazer nada? Eu vou atrás dele.
— William. — Seguro-o pelo braço. — Não.
— Ele é meu amigo, caso você não ligue para seus amigos, eu me importo,
Italiano. — Sustento seu olhar.
— Você não vai sair daqui.
— A quadrilha foi descoberta, um da quadrilha foi preso, o rosto do Nando
está estampado nos jornais e a única que sabia dessa porra era a tua mulher. —
Respiro mais forte.
Travo meu pulso livre, apertando meus dedos com força quando sua voz
soa um baque pra minha cabeça.
— Bate, porra, quer bater? Bate logo. — Gil não abaixa a cabeça.
— Se acalme, vai piorar a situação. — A voz do Oli me faz abandonar o
braço do William.
— Vamos sair daqui, logo vai ser invadido também, vamos embora pra
algum canto. — Gil sai na frente.
Na minha cabeça só passa uma parada, traição, e não acredito que ela fez
isso comigo, não agora que mostrei pra ela meus sentimentos. Meu coração
parece partir em pedaços Tento controlar meu ódio dentro do peito, sentindo o
sangue correndo nas minhas veias.
Dentro do meu carro. O celular do Willian toca, é a mulher dele, e na
primeira oportunidade ele atende.
— Está em casa, Stella? — Questiona.
— Sim, mas a Maitê não... por favor — a voz é de preocupação. — A
Maitê desapareceu faz duas horas, duas horas, William.
— Calma, Stella e a mãe dela?
— A mãe dela está aqui... chorando...
— Porra! — Murmuro e deixo um murro forte no volante.
— E se foi ela? Italiano... e se foi ela que denunciou? — Encerra a ligação.
— Ela quer te foder e vai conseguir... ela sumiu, a mãe dela está fazendo show
de choro pra dar entender que não foi ela. Maitê foi no churrasco com você, a
mãe dela descobriu e fez a garota fazer isso.
Minhas veias saltam pelo corpo de ódio. Eu nunca senti maldade nela, não
quando estava com ela transando ou compartilhando a porra da minha vida.
Meu mundo desaba agora, nunca senti medo, mas pela primeira vez eu
sinto medo. A vontade de chorar depois de anos me corrói, a última vez que
chorei na minha vida foi aos meus doze anos quando caí de uma bicicleta. Mas
transformo a vontade de chorar em raiva.
— Estão subindo a Penha. — Oli grita do carro atrás.
O barulho do foguete pela Penha é ouvido por nós.
— Vamos sair daqui. — Murmuro no rádio de transmissão.
— Como? — Gil pergunta.
— Vamos dar um jeito, porra, pular o matagal, não sei, não vamos ficar
aqui! — O carro canta pneu quando começo a dirigir pela rua.
Prestando atenção na direção, lembro do jeito dela, ela é minha mulher.
Nossa história termina assim. Pensei o dia inteiro nela, ela me tira desse
mundo louco. Não faz sentido o motivo da minha paz ser o motivo da minha
desgraça. Eu a amo e essa porra dói aqui no peito. E se foi ela, eu prometo
fazê-la pagar por essa porra de traição.

FIM...
Agradecimentos

Agradeço de coração a todas as leitoras envolvidas nessa leitura comigo,


desde o começo foi uma trajetória inexplicável, e tirar esse livro do wattpad
foi uma das experiências mais lindas que ganhei na minha vida. As leitoras
antigas e as novas estão guardadas no fundo das minhas lembranças, ah,
claro… as brigas também!
Cada sensação surreal ficará registrada no meu coração, Italiano e Maitê
são um dos principais casais na minha vida, saibam que estou realizando
meu sonho.
Wellen, minha amiga, obrigada por tanto, por ser uma das mais loucas
que acompanhou essa trajetória, que enxugou minhas lágrimas mesmo de
longe e me obrigou a continuar. Eu te amo!
Obrigada por todas as meninas envolvidas nessa obra. Vocês são
surreais!
Kimberly, Milena, Mayra, Karen, Ana Alice, Eline, Giovania, Jussara
Ferreira, Luciana, Joana, Luiza, Sobral, Katiussia, Dhenifer, Marli,
Dayanne, Clara, Allana, Riza, Joyce, Letícia, Jaqueline, Ana Júlia, Giulia,
Rayane, Beatriz, Geissi, Jussara, Yara, Maria, Kelly, Camila, Gracieli,
Larissa, Erica, Naiara.
Obrigada a todos vocês!
Em breve o segundo livro estará disponível para vocês acompanharem!
Para ficarem por dentro das notícias, sigam meu Instagram

@monik__regis

Com todo amor do mundo, Monik.

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