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Copyright ©2021 Alessa Ablle

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Título: Contos da Lawless (01)


Imagens da capa: Depositphotos.com
Ilustração da capa e Diagramação: Artessa.
Revisão: Carla Fernanda

1ª ed. – Rio de Janeiro: Alessa Ablle, 2021


Série Máfia Lawless; Contos.

1. Romance | 2. Ficção | 3. Crime Internacional | 4. Erótico | 5. Suspense

Texto fixado conforme as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa


(Decreto Legislativo n° 54, de 1995).

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos que


aqui serão descritos, são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com a realidade é mera coincidência.
ÍNDICE
Nota da autora
Glossário
O anel
Nascimento de Dante
Encontro Quente
O Tempo
Ele me Beijou
“Você ainda é um monstro.”
Minha Família
O Futuro
Conheça Mais Livros da Alessa
LEIA, É IMPORTANTE :D

meus amores...
Por motivos de que alguns já tinham lido o livro 1 e 2, resolve
colocar a parte extra de DOMINADOS – como Contos num livro só.

Sobre o livro.
Primeiro:
Vamos deixar claro que não compactuo com nenhuma das
atitudes ilegais dos personagens. Não sou favorável a nenhuma
perversidade, maldade, brutalidade ou covardia. Este é um livro de
ficção baseado em estudos sobre a máfia italiana e usando o bom
senso da licença poética, minha criatividade, para criar os cenários
e acontecimentos. Não tentem abolir nenhuma atrocidade aqui para
o romântico ou “defensável”. É um livro. Na vida real é errado.

Para os fãs de Madeleine e Travis.


OBRIGADA POR TUDO!

E é sobre a MÁFIA sim! USO O PLANO DE FUNDO DA


MÁFIA ITALIANA DE FORMA ESTRATÉGICA E TÉCNICA AS
VEZES, MAS É UM ROMANCE! Temos as maldades, tretas, regras
e tradições, porém o forte é o nosso mocinho (anti-herói) se
apaixonar pela mocinha (guerreira), e vice-versa.

Ps.: Sobre os outros livros da série, estou sempre


respondendo no Instagram. Passa por lá >.<
B .
Esse glossário é tanto para vocês como para mim. Vamos ter essa base todos os
livros de máfia meu.

B :
é o CHEFÃO, que toma conta dos Capos. O
supremo poder da máfia. Os Capos aposentados,
mas muito perigosos. Sempre os mais antigos
(muuuito velhos) que conquistaram o cargo a duras
penas. Os postos são passados de pais para filhos,
por isso eles dão tanta importância aos filhos
homens. As mulheres não assumem cargos altos e
nem de longe podem ser Capo e chefe menor.

C :
O cabeça chefe de cada território, só deve
respeito ao Boss, e que comanda as Famiglie
compostas de: Capo, Testa, Underboss, Cinistro,
Consigliere, Soldados, Associados (os que não tem
ligação consanguínea ou italiana, porém atuam e
“trabalham” para a máfia) e Clãs (as distintas
famílias: pais, esposas e filhos).

T : Muito respeitado e temido. Homem de


extrema confiança. Serão os irmãos dos Capos.

U :
Chefe menor ou gerente do Capo,
são incumbidos pelo Capo, a cuidar e zelar dos
territórios dominantes. Aplicam as leias dos Capos,
mas não podem fazer o que quer.

C :
Cada posto principal tem seu
próprio conselheiro (Boss, Capo, Testa e Underboss)
para orientar e muitas vezes frear decisões.

C :
Quem é o braço esquerdo. Muitas vezes
incumbido de fazer a “limpeza”. Mata ou acompanha
as ações.

F :
Nome dado aos grupos organizados.
Eles se denominam assim e defendem a ferro e fogo
seus homens e suas famílias (clãs). É a junção das
várias organizações criminosas que formam A Máfia
Organizada Italiana, que, com a americana, é a mais
importante das organizações mafiosas do mundo.

M I :
As organizações originais da
Máfia Italiana, que se expandiu pelo mundo e nos
Estados Unidos, pelas regiões e ganharam nome,
para defender a ordem, comandar o crime organizado
e etc. São as 4 grandes Famiglie. Cosa Nostra,
Camorra, ‘Ndrangheta e a Sacra Corona Unita.
Porém, há outros países com suas organizações
criminosas; no país. Irei colocar as que serão presentes
no livro.

M M :
Após uma longa pesquisa não
encontrei nada, então vou usar minha licença
poética: H .

M Y :
Famosa por muitos filmes de
Hollywood, é um grupo de crime organizado nativo
que usa ameaças e extorsão para obter o que
querem. Sua origem data do século XVII. Todos os
membros são marcados com tatuagens, e exigem
atos extremos de dedicação que envolvem a
amputação do dedo mindinho quando algum membro
comete um erro. Como uma forma de desculpas.

M R :
é, talvez, a mais perigosa. Teve
origem na extinta União Soviética e agora possui
influência em todo o mundo. Estão envolvidos em
crimes organizados em Israel, Hungria, Espanha,
Canadá, Reino Unido, EUA e Rússia, entre outros.
Denominada de B .

M :
Os homens que são iniciados na “máfia”.
Homem feito.

G : Codinome dado pela Lawless para chamar


os territórios, principalmente os que estão com
restrições.

T : Tatuagens dos prisioneiros russos.


Geralmente denotam o ranking em que está o
criminoso.
Eu realmente cheguei a cogitar adiar o noivado hoje com
Marinne Lozartan, mas meu pai não quis. Foi irredutível. Disse que
era necessário ter essa aliança o quanto antes divulgada para
todos, mesmo que, no momento, nós não seremos beneficiados em
porra nenhuma. E sim, Travis Lozartan, pois neste momento darei a
garantia de que enviarei meus homens se precisar, mesmo ele não
querendo alegando que é um “problema” pessoal. Uma guerra
pessoal e não diretamente com a Bratva, embora isso não garanta
que o chefe desses filhos da puta russos tente alguma coisa.
O motorista que foi me buscar no aeroporto para o carro nas
portas da mansão e saio seguido de Matteo. Eu pretendia
transformá-lo em meu Consigliere quando me tornar chefe, mas ele
é muito bom com as facas não com o cérebro e todo mundo meio
que já espera o fato de ele ser um Executor. Tal pai, tal filho. Nós
sempre acabamos nos tornando uma cópia dos nossos pais.
Sou recepcionado por uma mulher sorridente. Uma senhora
que eu já conheci na outra vez que vim aqui. Ela pede para eu
esperar no lobby da casa. Assinto e vejo-o sumir pelos corredores
da casa.
Ficar parado aqui não é nada de mais, não me importo. Não
importo nem um pouco nem com os soldados que estão dentro da
residência me vigiando. Espero que não tentem nada. Vão morrer
num piscar de olhos.
Alguns minutos depois, Madeleine, agora finalmente a
esposa de Travis, surge com Marinne ao seu lado. A menina
aparenta mais acanhada do que no nosso último encontro. Os
ombros estão caídos, o semblante triste, os olhos sombreados de
lágrimas derramadas e é óbvio que tem a ver com o irmão, Dario
Lozartan.
Acredito que não estaria diferente se tivessem levado um dos
meus irmãos, principalmente se fosse uma das meninas. E por isso
disse que essa merda de noivado deveria ter sido adiado até o
garoto voltar, mesmo que fosse apenas o corpo. Todavia, na
Famiglia, o show tem que continuar. Até mesmo se ele morrer
estaríamos nos casando no dia seguinte. Estratégia e negócios,
somos movidos pelo controle e poder.
Madeleine abre um sorriso para mim, cordial sem muito
entusiasmo também, juntamente com um aceno de cabeça.
— Boa noite, Amândio.
— Boa noite — replico e então espero Marinne erguer os
olhos.
Puta que pariu!
Uma perturbação me atinge quando seus olhos azuis, tão
azuis, parecem perfurar algo em mim quando me encara.
Novamente enxergo a profundidade, a intensidade neles. E aquela
vontade estranha de querer me aproximar. Sentir seu cheiro. Tocar
sua pele. Descobrir algo que eu acredito firmemente que há nela.
Um mistério sob seus olhos. É enlouquecedor não ter controle sobre
isso.
Contendo-me, dou um passo e estendo minha mão,
oferecendo as flores e o presente. Espero que ela goste de joias.
Comprei um colar com diamantes com um pingente,
significativamente grande, de rubi em formato de coração. É lindo,
elegante e mesmo que ainda tenha uma aparência tão jovem,
quando ela se tornar uma mulher – a minha mulher – vai ficar lindo
em seu pescoço elegante. Não tenho dúvidas de que se tornará
uma mulher linda.
E fui um filho da puta egoísta e sádico em dar um presente
que me beneficiará no futuro, pois agora eu não quero ficar
imaginando Marinne como minha esposa... Nem nas minhas mãos,
na minha cama. Agora só vejo que ela tem a idade da minha
irmãzinha Lianne e eu cortaria meu pau se tivesse qualquer tipo de
pensamento sexual. Uma maldita ereção. Sou um assassino
bastardo, mas não um pedófilo sádico para imaginar uma menina de
quinze anos sendo fodida por mim.
Ela é minha. Não tenho dúvidas e não abro mão, porém não
quero vê-la como além de uma menina. Tenho meu domínio sob ela
e uma porra de inquietação para o tempo passar logo.
— Feliz aniversário, Marinne — digo finalmente.
Ela respira baixo, como um suspiro, e levanta mais um pouco
o rosto murmurando:
— Obrigada. — Faz uma pausa. — E obrigada por vir hoje.
— Eu não perderia por nada. — Sou sincero e espero que
ela perceba.
Ela me encara, realmente deixando seu rosto no mesmo
nível que o meu, e eu quase não consigo piscar olhando seus olhos.
Mesmo de longe percebo que sua pulsação acelera e seus lábios
estão levemente separados porque talvez precise respirar um pouco
mais profundo. Então ela morde o lábio inferior quando,
provavelmente, se dá conta de que eu consigo ver sua reação a
mim.
Nós dois estamos curiosos e temos que esperar longos anos
ainda, mesmo que uma das exigências de Travis é de que nós nos
conheçamos durante esse tempo.
Cortando o clima, escuto uma explosão atrás de mim seguida
de passos e eu me viro para ver Travis Lozartan caminhando. Seu
andar firme, a postura enérgica e o olhar compenetrado em mim, é
nítido que está armado em sua armadura de chefe. Maldito seja!
Ele é muito diferente do meu pai. Se porta como um chefe,
não como um babaca sádico como meu pai de vez em quando é. No
entanto, Travis lembra mais o meu avô Cássio; frio, calculista,
dominador e esperto, que provoca meu lado assassino e
sanguinário. Não sei como será nosso convívio no futuro. Não
querer arrancar seu olhar convencido será foda.
Sua esposa o recepciona, indo até ele rápido e, mesmo que
não demonstre nenhum afeto a ela, percebo que eles parecem ter
uma relação boa e até pode ter um sentimento entre eles,
principalmente por ele tê-la escolhido e não ter sido um casamento
totalmente tático.
Travis estende a mão e eu a aperto e me afasto primeiro,
ficando de olho no homem atrás, seu Consigliere, Paolo Dal Moli.
Os dois têm o mesmo olhar distante e ameaçador, devem
estar a mil por hora por conta do garoto que a Bratva pegou. E o
estado de espírito de Paolo é compreensivo. Acabou de perder a
esposa pelas mãos dos filhos da puta dos russos. Ele me dá um
aceno de cabeça rápido, me cumprimentando e eu devolvo.
— Seu pai não veio novamente — Travis diz secamente.
— O compromisso é meu, então preferiu não vir junto. Nova
York não pode ficar sem ele no momento. — E a verdade é que meu
pai é um perigo em Las Vegas. Meu avô prefere que ele se
mantenha em casa.
— Está tudo em ordem?
— São apenas negócios que não podem ser adiados. E acho
que sou mais do que o suficiente para esta noite.
— Justamente — replica entredentes e seu rosto fica neutro,
um pouco da sua armadura se abaixa quando encara a irmã.
— Você veio! — Marinne fala abraçando-o pela cintura,
chegando a fechar os olhos.
Isso não me surpreende. Todo mundo diz que ele foi o pai
que ela não teve. Na verdade, Vincenzo Segundo foi um escroto
com seus filhos, mas rejeitou Marinne.
Quando ela se afasta, seus olhos chegam a brilhar e estão
bem abertos e felizes, vejo o sentimento neles expostos sem medo.
Porém, ela logo se protege, freando essa informação. Só que ainda
tem uma leve faísca que some dos olhos, que vejo nas bochechas
dela que ficam vermelhas. Ela suspira e baixa o rosto,
envergonhada. Eu tenho vontade de rir por sua tentativa de se
esconder. E, porra, meus dedos coçam com a necessidade de tocar
seu rosto. Passar as costas da minha mão nas bochechas rosadas
e sentir seus lábios com meu polegar, para tirar a merda da dúvida
se são realmente macios.
Caralho! Que pensamento infeliz, Amândio.
— Vamos jantar — Travis comunica e agradeço
mentalmente, pois estou prestes a cometer minha morte prematura
e foder com tudo.

Ficamos civilizados cada um no seu lugar marcado e, dessa


vez, escolheram meu lugar não na frente de Marinne, mas na porra
da cadeira ao lado. Mil vezes merda! Tenho mil palavrões na cabeça
agora e estou gritando em italiano. E eu só uso da minha língua
ancestral quando estou por um fio.
Fingindo estar tranquilo, como sempre faço em situações fora
do meu controle, mantenho meu foco na comida e no balançar dos
pés de Marinne embaixo da mesa. Ela está nervosa e engole em
seco o tempo todo. Sinto quando fica batendo nos pés mais perto da
minha perna e começa a bater na minha cadeira.
Olho-a de canto de olho e vejo suas mãos tremendo
enquanto parte a carne e enrola o macarrão quinhentas vezes para
tentar subir até seus lábios.
Como tranquilamente como se nada estivesse me afetando
e, de vez em quando, vigio a mesa e Matteo, sentado perto de
Paolo. Ele é mais volátil do que eu. Estamos em alerta e aposto que
Travis quer que acabe logo. Está contando os minutos para sair
para voltar a batalha, mas disfarça muito bem. Paolo nem toca a
comida direito e o jantar se seque silencioso tirando apenas o
momento em que Marinne solta uma gargalhada, no entanto apenas
isso.
Logo, todos esperam cantar o parabéns e Marinne assopra
as velas tão rápido que presumo qual é o seu pedido. Ter seu irmão
de volta. E Madeleine a abraça em seguida e assim vejo seus olhos
marejados quando olha para mim de relance. Porra! Algo dentro de
mim se revira e quero apagar a dor que vejo neles.
Cerro o maxilar e consigo fazer a minha melhor cara de sinto
muito, o que a faz morder os lábios antes de perguntar toda
educada:
— Você come bolo?
— Aceito — respondo. Ela não precisa saber que não gosto
de comer doce.
Observo-a pegar um dos pratos que tem pedaços cortados
do bolo e entregar para mim e, de propósito, encosto nossas mãos.
Pele na pele. Ela não parece ter ficado afetada.
De longe, vejo Travis e Madeleine abraçar a menina, dar um
beijo na sua testa e a Sra. Lozartan lhe dá um sorriso carinhoso
como se fosse a mãe dela. Isso sim me surpreende pra caralho,
mas deixo para lá.
Tirando-me a atenção, Travis me chama:
— Amândio.
Vou para o canto e ele fala:
— Você sabe que não tem condição de ter uma festa, uma
que minha irmã merece, mas espero que você tenha trazido uma
aliança, certo?
— Eu sei que ela merecia e todos esperavam uma festa de
noivado, mas as circunstâncias não significam que voltei atrás ou
que não teremos nosso compromisso desta noite. A aliança está
comigo.
— Ótimo e não vai fazer muita diferença. Todos irão saber do
mesmo jeito.
— Sim.
— Certo.
— Eu gostaria de entregar a aliança para ela a sós, se
possível.
Seus olhos refletem uma fúria histérica e preciso ignorar para
não acertar sua cabeça com uma bala. Puta merda! Ele me dá a
irmã, mas não quer que eu fique sozinho com ela. Que idiota
desgraçado!
— Você quer ficar sozinha com ela?
— Dois minutos — respondo seco e lembro suas palavras
apenas para irritá-lo. — Você falou que queria que nós nos
conhecêssemos. E quero que me responda: como, se você fica
sempre impedindo isso? Eu nem lembrava direito da voz dela, para
ser sincero. Ela não fala nada comigo e é óbvio que está com medo
de mim.
— Ela não conhece você.
— Você disse que não era isso que queria. Dois estranhos se
casando. — Jogo na sua cara sua promessa para ver se ele vai
reclamar.
Ele respira, fazendo suas narinas se alargarem, mas assente
concordando.
— Tudo bem. Vocês podem ir para a sala de piano. Eu vou
até o meu escritório rapidamente e a minha esposa ficará de porta
aberta.
— Parece ótimo — aceito assentindo.
Ele não diz nada, dá-me as costas e chega até Marinne.
— Você está provocando-o — Matteo fala ao meu lado.
Viro meu rosto para ele, lembrando-me agora de que está
comigo aqui e tão perto, e franzo a testa.
— É meu direito ter um momento a sós com minha noiva.
— Ela não é ainda.
Cravo minha fúria através dos meus olhos nele e digo baixo:
— Ela já é minha desde o momento que ele selou esse
acordo com uma merda de aperto de mão com o meu maldito pai.
Matteo engole qualquer comentário e vira-se para a frente,
sigo o olhar e vejo Travis falar com ela e percebo quando a
realização do meu pedido lhe atinge através da sua respiração
profunda de ansiedade e seus olhos que me encaram com
curiosidade antes de assentir.
Quando Travis a guia até a sala do piano, eu mando Matteo
ficar perto, mas não tanto. Lozartan abre a porta de correr, fica perto
da menina, pergunta algo e lhe dá um beijo na testa. Ele vira-se
para mim, me dá um aviso silencioso por seus olhos e se afasta,
indo até o seu escritório. Entro na sala e, antes de encostar a porta,
vejo Madeleine com seus olhos de águia em mim. Não digo nada,
mas deixo uma fresta.
Finalmente a sós com Marinne, me viro e a encaro. Ela
caminha mais para dentro, mexe inquieta no tecido do seu vestido
azul.
— Você quer se sentar?
— Quero — respondo.
Ela mexe a boca como se fosse falar algo e no fim não diz
nada. Respira fundo e caminhamos para um sofá sem encosto no
canto. Sentamo-nos distantes e observo, novamente, seus olhos
incrivelmente marejados. Com um sentimento diferente de
preocupação, me apresso em dizer:
— Eu não quero assustar você.
De cabeça baixa, murmura:
— Você só queria ficar a sós para entregar a aliança.
— Tem algum problema nisso?
— Você está com ela aí? — rebate com outra pergunta.
Isso me lembra demais minha irmã Bella.
— Sim, estou com ela. Algum problema?
— Não é por você. — Ergue o rosto para mim. — Não tem
nada a ver com você.
— É sobre seu irmão Dario?
Seguro sua mão, tentando ser cauteloso. Merda. Eu não sei
direito como fazer isso, mas tento lhe passar tranquilidade.
— Eu acredito de verdade que Travis irá conseguir trazê-lo
de volta.
— Eu não sei — fala dando de ombros. — Tem uma semana
agora e...
— Essas situações não são tão rápidas, porém vejo que
estão determinados em resgatá-lo.
Fica silenciosa de repente e suspira.
— Dario foi teimoso.
Deixo que fale, pois ela parece que quer desabafar com
alguém que não esteja o tempo todo com ela.
— E você, está bem? — pergunto e agora quem parece tão
longe é ela que demora um pouco mais para responder.
— Acho que sim. — Me encara com seus olhos tão azuis. —
Eu estava ansiosa para hoje, mas agora... — Chega o corpo mais
perto, para falar ainda mais baixo. — Sabe quando tem um bolo no
meio do nosso peito, pressionando nosso pulmão e o nosso
coração, e a gente tenta respirar ao mesmo tempo que precisa fazer
o coração bater. Que precisa entender tudo.
— Isso é angústia — digo a ela.
— Eu acho que é isso — murmura.
Aperto sua mão mais forte e parte de mim sente quase que
uma obrigação de tirar esse medo dela, dessa angústia e agitação
que visivelmente está deixando-a muito triste. E me sinto um
fracasso porque ela acaba chorando, soltando algumas lágrimas.
Porra.
— Tudo vai ficar bem, Marinne. Daqui a pouco, ele está aqui
com você.
— Você não sabe. — Sua resposta me dá um sinal da
braveza dela.
— É verdade, eu não tenho certeza, mas não tenho dúvida
de que todos vão fazer todos os meios possíveis para resolver esse
problema. Não é a primeira vez que uma Famiglia é atacada assim.
Ela cerra os olhos e comenta:
— Pensei que você não gostasse do meu irmão Travis.
É claro que noventa e nove por cento dos homens da máfia
não gostam dele, na verdade não há um homem goste de outro da
Famiglia. Somos desconfiados. Somos como leões que convivem
juntos e, às vezes, sentimos vontade de aniquilar o outro para
mostrar poder.
— Posso não ser um fã do seu irmão e, mesmo assim,
acreditar na sua competência; e ele disse que tudo está sob
controle. Na medida do possível está e é isso que você tem que
acreditar.
— Uhum.
Assinto e finalizo essa conversa, ela parece mais tranquila e
aliviada entorno de mim. Agora chegou a hora de pedi-la
formalmente em casamento. Coloco a mão no bolso para tirar a
caixinha com a aliança e ela prende a respiração arregalando os
olhos. Suavizo meus movimentos e estico minha mão abrindo a
caixinha para ela ver o anel de diamante em corte quadrado de ouro
branco.
— Marinne Lozartan, com esse anel eu me comprometo com
a nossa união, você aceita?
Soltando a respiração, ela abre um pequeno sorriso e olha
para mim.
— É muito bonito.
— É sim. — E não é do anel que estou falando.
— Eh... Eu aceito. — Solta uma risadinha.
Balanço a cabeça que sim e tento pegar sua mão, mas ela
puxa de volta.
— Eu posso não usar agora?
— Por quê?
— Porque eu acho que vai ficar grande no meu dedo e
também... Eu não queria usar isso na minha mão agora. Eu não me
vejo sendo uma mulher. Muito menos uma esposa — explica e se
apressa para completar: — Não estou fazendo desfeita. É lindo. É
extremamente lindo. Eu só não me sinto confortável. Me desculpa.
— Não precisa pedir desculpa. Está tudo bem. — Ofereço o
anel de novo, de uma forma agora que ela possa pegar a caixinha.
— Mas você vai aceitar?
Ela pega e fica olhando um bom tempo. Tira o anel de
dentro.
— É lindo e parece ter sido caro.
Pronto, me fez rir. Ela não tem filtro e é engraçada. Deve ser
a idade.
— Eu vou botar no colar — diz e puxa o cordão de dentro do
decote do seu vestido.
Santo inferno! Essa franjinha, esse cabelo, suas mãos e ela
se mexe tão atrapalhada tentando ser adulta e elegante. É óbvio
que é tão menina. Eu sei que não somos tão distantes de idade,
mas comecei a ser tratado como adulto desde os onze anos, então
é difícil, é terrível, olhar para ela e não conseguir ver nada além de
um pré-adolescente. Minha jovem e inocente noiva. Muito doce e
pura para mim.
Calmamente, ela deixa a aliança no cordão e depois fecha.
O anel fica na altura do seu peito brilhando. Me causando uma
reação irreconhecível. Um domínio feroz sobre ela.
— Pronto — solta a respiração e me encara. — Agora eu
sou oficialmente sua.
Puta que pariu!
Levanto-me como se tivesse recebido um choque. Engulo
em seco e estico minha mão para ela não se sentir mal. Marinne
pega e, graças a Deus, ela não é tão baixa, o que ameniza sua
juventude descarada. Limpo a garganta e nem percebo quando a
minha mão tira o cabelo da frente do seu rosto e deixando-a
congelada. Maledizione! Nos encaramos por alguns minutos até que
ela pisca e eu reafirmo o que disse com toda certeza que posso dar:
— Sim, você é minha.
Posso dizer que depois de tudo que aconteceu, todo o drama,
preocupação e vingança, os dias se acalmaram como se fosse uma
forte tempestade. Eu mesma não sinto como se tivesse feito algo
pessoalmente. Na verdade, não ligo pelo que fiz. Agora o céu está
aberto e com um lindo arco-íris.
Hoje faz um mês desde que visitamos Carson City e
eliminamos o Consigliere de Vincenzo. Faz trinta dias que a Lawless
tem dias de tranquilidade e o seu Capo, meu marido, tem como a
maior preocupação quando vou dar à luz. Ele não consegue relaxar.
Bene, ele tem outras preocupações, mas colocou as cartas
na mesa ontem numa reunião com todos os soldados, capitães,
Underboss e seu Consigliere. Todos estão cientes de que agora
Travis detém o seu poder na altura do seu avô. Após tamanha
traição, Vincenzo pediu para o neto cuidar de tudo e só tê-lo como
conselheiro. Ele ainda é o Boss, mas não manda mais em nada.
Os mexicanos deram trégua depois que a Bratva se envolveu
com os motoqueiros do sul e pegaram seu território em Nevada. O
chefe dos russos entrou em trégua (uma farsa, eu sei) com a morte
de Ivon e seus homens. Fora que eles tomaram domínio do Texas e
a briga agora se concentra com os mexicanos e a Diabolos. Nós
nunca seremos amigos, mas de vez em quando rola um conflito de
interesses que a melhor estratégia é não cruzar a linha dos limites.
Eles sabem que Travis pode ser tão maquiavélico e cruel quanto
eles.
Em casa, nós temos a ausência de Colen, que não está
falando com ninguém. Sei que está envolvido com algumas
transações em Nova York. Dario está mais calado e pediu ao irmão
que desse algum dever para ele fazer na Famiglia. Todos estão de
olho nele e Travis anda preocupado com seu novo temperamento
introvertido. Mora conosco desde que teve alta do médico, após a
tortura, mesmo que seja uma sombra em casa. Marinne voltou para
a escola e vive como se nada tivesse acontecido. Eu sinto que ela
precisa desabafar e talvez esbravejar sobre tudo que aconteceu, e
fico apenas esperando o dia.
Eu estou no penúltimo mês de gestação do nosso pequeno e
ainda não consigo acreditar que terei um bebê nos braços em pouco
menos de um mês. Ainda é surpresa se é menina ou menino.
Mesmo eu sabendo que não fará diferença. Ele será o primogênito
de Travis Lozartan e tem tanto poder e inimigos quanto o pai.
Ah... Falando no meu marido. Ele é o meu sonho acordado e
nosso acordo de que dentro de casa seríamos apenas uma família
comum está funcionando. Não falamos de trabalho em casa, talvez
no escritório ele faça e, quando rola, eu estou lá me metendo na
conversa com Paolo. Ele está mais próximo, mais carinhoso. Toda
noite eu sinto ele me abraçar por trás e acariciar minha barriga. E eu
amo quando ele faz isso, chego a revirar os olhos de prazer.
Sorrindo para o espelho, ajeito meu vestido azul de seda que
é bem justo ao meu corpo de grávida. Ah, eu amo estar grávida!
Sem ser esnobe, eu fiquei linda e essa barriga é meu orgulho. Faço
carinho no meu bebê e acabo rindo alto quando o sinto chutar.
— Qual é o motivo da risada? — Travis indaga atrás de mim.
Eu me viro para poder encará-lo vindo em minha direção no
nosso closet e respondo:
— É o seu filho que está chutando.
— Ele é muito pequeno e impossível.
— Acho que puxou a você — cochicho brincando com ele.
Travis me dá um beijo de leve na boca.
— Está querendo dizer que eu sou pequeno? — retruca
chegando perto e colocando as mãos na minha barriga enquanto eu
coloco a mão no seu rosto.
— Não. Estou querendo dizer que ele é impossível e
pequeno você não é em nada, meu amor.
Travis dá uma gargalhada e um beijo na minha boca fazendo
questão de inspirar meu cheiro.
— A mãe dele também não tem nada de tranquila.
Sorrio e, suspirando, me viro para o espelho de novo, agora
para ver uma imagem da minha barriga grande sendo acariciada por
Travis.
— É uma imagem linda — ele comenta olhando-me nos
olhos pelo reflexo do espelho.
— Uma imagem perfeita que eu nunca imaginei que iria ter.
Ele me abraça e beija minha bochecha. E me sinto tranquila.

Alguns dias depois...

Meu Deus, eu nunca fiz tanta força assim e, cada vez que
empurro, sinto como se minhas entranhas fossem sair junto, mas
não posso parar. A médica pede mais uma vez para eu fazer força.
Eu estou suando, cansada, meu coração está batendo tão forte que
chega a doer.
Olho para o lado e vejo Travis todo concentrado e nos seus
olhos um pouquinho de preocupação, mas também determinação; e
ela é que me ajuda a empurrar mais uma vez.
— Vamos, querida! Faz força. Vai! Mais uma vez.
Empurro com tudo de mim soltando um grito bem alto
agarrada à mesa da cadeira de parto, onde estou com minhas
pernas arreganhadas há uns quinze minutos já. Fora as oito horas
de contração.
— Vamos, Madeleine, continua. Ele está vindo! — a médica
avisa e isso me dá mais energia. Com mais um empurrão, escuto o
choro estridente de bebê. Solto a respiração e deixo meu corpo cair
na cadeira totalmente esgotada, ao mesmo tempo que a médica
informa: — É um menino. Um lindo menino.
Eu achei que teria vontade de chorar, mas a realização de ter
dado à luz cai sobre mim, eufórica, que o meu filho nasceu!
Estranhamente me sinto poderosa por ter dado à luz a ele. Por ele
já ter Nevada toda para comandar.
Olho para Travis e ele está com os olhos concentrados nas
enfermeiras que limpam o nosso bebê e apenas relaxa quando uma
delas se aproxima de nós e, bem devagar, passa ele para os meus
braços.
Engulo em seco fitando seu rostinho. Ele é um bebê grande e
lindo. Tem muitos cabelos e são pretos. A pele pálida como a minha
e de Travis. Ele é como imaginei. Sabia que o nosso filho seria uma
versão miniatura de nós dois e só mais para a frente que vamos ver
se as feições puxarão mais para mim ou as do pai.
— Ele é lindo — comento apaixonada e com uma vontade
louca de apertar o meu bebê nos meus braços. Suspiro e me
controlo porque senão eu posso machucá-lo. — Ele é uma versão
de nós dois em miniatura.
Isso arranca um riso rouco de Travis e ele estica a mão para
tocar no narizinho do nosso filho.
— Será aquele nome mesmo?
Nós conversamos muito sobre nomes e como seria o quarto
do bebê, mesmo com a decisão de não descobrir o sexo antes do
tempo.
Assinto para ele e viro-me para o nosso filho.
— Dante Lozartan. — Quando falo seu nome, ele abre os
olhos e me fita de uma forma, que parece que entende quem ele é,
que nasceu para ser importante. Ser o príncipe da Lawless.
Estico meu indicador para ele, que o aperta e não desvia
seus olhos dos meus. Ele não chora, não mais desde que está nos
meus braços e eu amo o pai dele, mas ele revirou meu mundo
completamente.
— Oi. Eu sou a mamãe — sussurro para ele.
Dante pisca seus imensos olhos azuis para mim e desvia sua
atenção para o pai quando Travis toca nele. Eu faço o mesmo e
pergunto:
— Quer pegar ele?
— Não, ele está bem onde está — diz isso de uma forma
doce e delicada.
Entendo perfeitamente o que ele quer dizer. Ele está certo.
Dante está bem onde está e todos os nossos filhos sempre ficarão
muito bem nos meus braços, sob os meus cuidados até crescerem e
se tornarem ferozes e dominadores como precisam ser. Como está
em seu sangue.
Dou um beijinho na testa do meu filho e o encaixo no meu
pescoço, que parece que foi perfeito para ele deitar a cabecinha.
Dio mio. Percebo agora que em dois anos a minha vida se
transformou. Eu me transformei e nunca estive tão feliz. A garota
que foi silenciada uma vez, agora está ao lado de um dos homens
mais poderosos da máfia italiana e que também tem sua força, pois
com Travis eu não me tornei dominada ou frágil, me tornei feroz e
determinada. Deixei claro para todos que também posso tanto
quanto ele pode e esse é um dos maiores presentes que Travis já
me deu. O respeito como mulher, mãe e sua parceira. Eu sei que
somos dominados por nossa paixão e ela que protege nosso
território. Pode vir quem quiser, nós iremos dar conta de todos.
Enquanto encaro a cena que nunca cobicei na vida continuo
ainda sem acreditar que é real. Eu tenho uma esposa, uma mulher
que não é apenas um troféu para exibir. Sua determinação e seus
ideais, a torna perfeita para estar ao meu lado. Não foi amor à
primeira vista. Porra, eu nem sabia o que era amor antes dela. No
entanto, agora é amor o que sinto quando meu coração esquenta
quando a vejo.
Madeleine nina nosso filho com todo carinho em seus braços
protetores e mesmo sendo tão certa da nossa sorte, meus
pensamentos vêm estragar o momento, pois criar um menino em
nosso mundo é impor regras, brutalidade e mesmo eu tentando ser
menos filho da puta que meu pai foi comigo e com meus irmãos,
terei que infringir algumas sessões de torturas para ele aprender a
aguentar. Eu ensinarei Dante a ser o meu reflexo. Focado, cruel e
temido. Ele é o meu filho. O herdeiro da Lawless.
Um toque na porta corta meus pensamentos e me virando,
abro e Marinne entra toda animada e feliz. Ela me abraça,
envolvendo seus braços magros em meu quadril.
— Parabéns, irmão! — diz afastando-se.
— Obrigado.
— Hum... — Faz com tom de deboche e passa por mim, indo
até Madeleine e o bebê. — Oh, ele é tãoooo lindo.
Minha esposa abre um sorriso ainda maior e troca um beijo
no rosto com Marinne, que logo se propõe a pegar Dante.
— Tenha cuidado. Coloque a mão na cabecinha dele.
— Eu sei. Eu sei!
Olhando-os de longe, ela segurando o bebê nos braços não
deixo de pensar que está segurando o seu irmão. Demorei a aceitar
que na verdade eu fui o pai da minha irmã. Madeleine me fez
enxergar claramente isto e agora eu vejo ela segurar meu segundo
filho. Não tenho garantias de que vou acertar com ele como fiz com
Marinne. Ela é tudo o que eu mais prezo e espero que meus filhos
também sejam. Madeleine está ao meu lado dessa vez e ajudará. E
será uma grande alívio.
Meus olhos desfocam de Marinne e Dante para minha
esposa, pois sinto que ela está me olhando. Sorrindo, ela me chama
com uma mexidinha de cabeça e vou até ela.
— Mais perto — murmura.
Assinto concordando e me sento na beira da cama. Dou um
beijo na sua testa e me afasto. Madeleine me dá um sorrisinho e se
joga pra frente.
— Quero ir pra casa.
Afago suas costas de leve e detesto estar de costas para a
porta. Embora isso não me impeça de porra nenhuma.
— Acho que amanhã você vai.
Ela resmunga se levantando e olha dentro dos meus olhos
implorando por mais aproximação.
— Aqui não.
— Mas só tem a Marinne — cochicha e seus ombros
murcham quando tira suas próprias conclusões: — É, ela tem que
entender cedo. Que saco.
Para diminuir a recusa, dou um beijo na sua testa. Madeleine
sempre foi esperta e observadora para entender que, mesmo com
Marinne no quarto, precisamos não ficar esboçando emoções e
intimidade na frente dela, afinal ela precisa aprender logo essa regra
de extrema importância.
Não sei se terá um casamento como o meu, que em nosso
mundo sou obrigado a dizer que é sorte, e mesmo que seja apenas
por convívio, espero que tenha respeito. De toda forma, ela
precisará não demonstrar intimidade com Amândio em público,
principalmente por ele ser o chefe da Darkness.
— Ele é tão perfeito — Marinne comenta sonhadora.
Eu e Madeleine olhamos para ela. Observo minha esposa
limpar os olhos e então eles encontram os meus.
— Você fará um bom trabalho de novo — refere-se à forma
como criei Marinne.
— Espero que sim.
Ela acena que sim, confiante, e segura minha mão, mas não
tem tempo de fazer nada – acho que ia beijar – porque Marinne
volta para perto da cama e fita-me ao dizer:
— Não quer pegá-lo no colo?
Respiro com um pouco mais de força e, quando Madeleine
solta minha mão, olho para ela. Cazzo. Ela está quase implorando
para eu fazer isso desde que Dante nasceu.
Porra. Não sei qual é o meu problema em segurar meu filho
nos braços. A droga dos meus pensamentos perturbados não estão
permitindo que eu faça algo que é de direito meu, tudo porque me
sinto impuro, sujo, pecador demais para pegar um ser humano tão
puro quanto um bebê de dois dias nos braços. Foda-se tudo! Ele é
meu filho. Minha carne e meu sangue e os olhos da mãe dele
marejados, pedindo para eu pegá-lo, é apelativo demais para mim.
Dando a volta na cama, fico de frente para Marinne e pego
Dante em meus braços. Ele não é muito pesado, nem muito grande.
É quente e tem um cheiro de limpeza com um aroma doce. Baixo a
cabeça e olho bem para o seu rosto. Droga, ele é muito parecido
com Dario quando criança e a preocupação de que eu erre com ele,
como errei com meu irmão, piora toda a preocupação do futuro que
virá.
Mas então ele pisca os olhos e me encara. Como se visse o
medo de torná-lo fraco ou quebrado como Dario, Dante mostra que
seus olhos refletem sua mãe e aquela mulher não tem nada que
possa quebrá-la. Eu não estarei sozinho criando um garoto de novo
e sei que com ela ao meu lado acertarei. Eu o ensinarei a ser um
pouco frio e determinado, fazê-lo meu reflexo, e com ela, Dante terá
apoio e orientação, o que faltou para o meu irmão.
— Ele não é o bebê mais lindo que você já viu?! — Marinne
exclama e olho para ela. — Claro que estou falando dos meninos,
porque eu sou a menina mais linda da sua vida.
— Não posso discordar — falo fingindo frieza, o que sei
muito bem que essa espertinha detecta e ri alto vindo ficar ao meu
lado.
Ela tem razão. Marinne é a minha menina e sempre será.

Madeleine está com dor desde ontem e, quando saímos do


hospital logo que recebeu alta, ela só reclamou no carro. Ainda está
reclamando enquanto chegamos à porta de casa. Infelizmente
ocorreu complicações no parto e ela teve uma pré-eclâmpsia e suas
dores estão refletindo em seu rosto, marcando bem suas feições,
embora agora se alegra quando olha nosso filho e foge dos meus
olhos.
Esticando a mão, tiro o cabelo do seu rosto e digo só para
ela:
— Não tem como esconder de mim o que está sentindo.
Ela suspira e ergue o rosto.
— Só me ajuda a entrar que já irei me sentir melhor.
Assinto e espero o carro parar. Logo Luigi abre a porta e
passo a bolsa grande do bebê para ele e ajudo Madeleine a sair
para depois pegar a cadeirinha com Dante nela. Entro em casa
ajudando minha esposa, que caminha lentamente, e com Marinne
em nosso encalço falando sem parar. Nas escadas paro e viro-me
para a minha irmã.
— Fica com ele rapidinho enquanto ajudo Madeleine a subir
as escadas.
— Claro! — exclama feliz. Espero que continue prestativa
quando ele acordar de madrugada.
— É doce você querer ajudar, mas eu consigo — Madeleine
retruca-me.
— Não, você não consegue — digo e, quando entrego Dante
a Marinne, pego Madeleine no colo e subo as escadas. Não antes
de dar uma olhada e um aviso para minha irmã: — Não se atreva a
subir as escadas com o bebê.
Eu sei que ela não é mais criança, mas está tudo tão
complicado e, depois do susto do parto, não quero levar mais
nenhum.
Rapidamente, chego no quarto e abro a porta. Com calma
deixo-a no chão e ajudo a se deitar. Escuto-a gemendo e arrumo os
travesseiros no alto da cama para ajeitar sua cabeça e cubro o seu
corpo até a cintura.
— Vou lá buscar ele. Espera um pouquinho.
— Está bem —ela concorda.
E rápido como fui, vou buscar nosso filho descendo as
escadas de dois em dois e encontro Rosália, Marie Rose falando
com Marinne e o bebê.
— Parabéns, senhor. Ele é lindo e se parece muito com você.
Abro um sorriso orgulhoso e dou um aceno de cabeça fraco
para elas. Então, se afastam para eu poder pegar meu filho e o
seguro com muito cuidado levando para cima.
No quarto pego Madeleine gemendo de olhos fechados
quase chorando e meu coração quase se parte ao meio por vê-la
sofrendo tanto. Ela sente a minha presença e abre os olhos com um
sorriso porque coloco o bebê no seus braços. Pegando-o com todo
amor e carinho que sempre distribui para todos, murmura baixinho
algo para ele.
Respirando fundo, sento na beira da cama e coloco a mão
em cima da sua perna. E olhando para ela e para tudo que somos
agora, nem reconheço a garota rebelde que encontrei naquele
banheiro da boate. Ela se transformou nessa esposa que é
fundamental para estar ao meu lado, na cunhada e quase mãe de
Marinne, na dona dessa casa, minha conselheira e a mãe do meu
filho. Ela é tão doce, gentil, firme, astuta e todos a admiram e a
temem, na mesma proporção, em Las Vegas e eu sei que ela vai ser
uma mãe espetacular. Já está sendo.
Madeleine envolve mais o bebê nos braços e beija sua testa.
Escuto Dante resmungar dentro da manta e ficando mais perto vejo-
o abrir os olhos lentamente e a boquinha também.
— Você precisa descansar — falo para ela quando percebo
que a intensão dela não é fazer o que o médico recomendou.
— Leonel está na casa?
— Ficará de prontidão se você precisar dele.
É óbvio que ordenei ao médico da família vir e ficar aqui.
Ela sorri fracamente e assente.
— Acredito que vou. Não estou me sentindo cem por cento.
— Então descanse agora.
Ela suspira e olha para Dante.
— Quando ele adormecer, eu prometo que vou também. —
Olha para mim. — E você vai ficar em casa?
— Por hoje e amanhã. Vou trabalhar do escritório, mas não
mais do que isso. Preciso resolver alguns problemas pessoalmente.
— Uhum... Eu sei.
— Mas prometo voltar pra casa cedo e você não estará
sozinha.
— Amor, eu sei disso. — Abre um sorriso sem mostrar os
dentes. — Só perguntei por curiosidade e porque preciso de
carinho.
Abro um sorriso para ela, levanto e me ajeito ao seu lado,
ficando quase atrás do seu corpo, encostando na cabeceira da
cama, abraço seus ombros. Beijo seu rosto e afago Dante nos seus
braços.
— Assim está bom?
— Maravilhoso — responde e nina o bebê falando baixinho.
— Dorme, meu querido. Dorme, meu amor.
— Ele não estava sonolento no hospital?
— Estava, mas parece que chegar na sua casa deixou ele
eufórico. — Ela se desencosta de mim e vira-se. — Pega ele um
pouco.
— O que você vai fazer?
— Preciso ir ao banheiro.
— Vai sozinha? Consegue?
Ela para com o bebê entre nossas mãos e faz uma careta
para mim.
— Não sei — choraminga.
Coloco a mão no seu rosto.
— Vamos colocar ele na cama e depois te levo no banheiro.
Madeleine suspira e aceita. Com cuidado coloco o bebê no
meio da cama e ela ajeita os travesseiros em volta dele. Depois me
levanto e a ajudo a ir até o banheiro e a levantar o vestido.
— Não precisa tanto, Travis.
Assinto e me afasto.
— Vou ver como ele está e já volto.
Ela concordar.
No quarto vejo Dante quietinho e ainda é muito surreal ser
pai dele. Ter a minha família. Puta que pariu!
— Ele é lindo demais.
Viro-me e vejo Madeleine andando bem devagar.
— Por que não me chamou?
— Ah — resmunga e estica a mão para mim, que pego
quando fico perto e lhe dou apoio pondo as mãos nas suas costas.
— Obrigada pela forcinha.
— Ao seu dispor.
Ela solta um gemido, vira-se para mim, pega meu rosto e me
dá um beijo na boca.
— Você é um marido incrível, sabia?
Ergo a sobrancelha com desdém segurando sua cintura.
— Deve ser porque você facilita.
Ela ri alto, mas para quando Dante resmunga. Afastando-se
de mim, ela pega o bebê no colo, tão devagar que fico nervoso e
tento ajudar, porém não precisa e só a assisto encaixá-lo nos braços
e erguer a postura. Virando-se para mim abre um sorriso.
— Por que você não toma um banho e coloca uma roupa
confortável para ficar conosco na cama?
— Acha que estou fedendo?
— Não, amor. Mas você está com essa roupa há dois dias e
não dorme há três. Seria muito bom ver você descansar também. —
Pisca os olhos para mim fazendo charme. — Só por hoje?
— Está bem, eu vou e você me promete ficar deitada
enquanto eu estou longe.
— Não estou invalida, Travis.
— Mas está com dor e vejo como seu rosto se contrai
enquanto tenta esconder a dor de mim. Então fica quieta nessa
cama enquanto tomo banho.
Dando uma gargalhada baixa, ela assente e estica o rosto
para eu beijar sua boca, e eu faço e colocando a mão no seu queixo
digo:
— Agora cama.
Ela concorda e pede para eu ajudar pegando Dante. Eu o
levanto na altura do meu rosto e fito seus olhos. Sinto algo estranho
no meio do peito vendo-o assim. É um sentimento mais poderoso
que o que senti por meus irmãos pequenos, no caso Dario e
Marinne, quando os peguei no colo. É tão forte quanto o que sinto
por Madeleine. Não posso negar que amo meu filho e o quanto torço
para saber lidar com ele e o endurecer para se tornar o chefe da
Lawless sem passar dos limites.
— Pode passar ele agora para mim — Madeleine fala me
despertando do devaneio e com os braços prontos para amparar e
proteger Dante.
Eu entrego nosso filho para ela e com um quê simbólico, pois
enquanto ele for tão pequenino assim, não vou precisar estar
presente para discipliná-lo, apenas educar como qualquer pai. Por
enquanto ele é todo dela.

À noite estamos deitados na cama vendo tevê para relaxar


enquanto o sono não chega e porque Dante acorda o tempo todo.
Estamos assistindo um filme sobre máfia e acho muito incoerente
certas coisas.
— Engraçado esses italianos feios, o meu é lindo —
Madeleine comenta e esfrega o rosto, que já estava apoiado em
mim, no meu ombro.
— A minha italiana também é muito mais bonita.
Ela ri e beija meu pescoço.
— Eu amo você — ela diz isso de um jeito como se fosse um
elogio e, por mais que na primeira vez que ouvi não achei nada
comum, hoje é natural, mesmo que meu coração acelere em ouvi-la
dizer isso.
Deslizo minha mão por suas costas e paro na altura da sua
bunda. Porra! Que saudade de transar com ela e o jeito que seu
corpo fica mais aconchegado a mim percebo que quer também.
— Quanto tempo dura um resguardo?
Ela cai na gargalhada e beija minha garganta erguendo o
tronco para poder ver meu rosto.
— Uns quarenta dias.
— Puta que pariu! — resmungo fechando os olhos e jogando
o braço na minha cara.
— Ah, amor. Não fica assim.
— Difícil — comento e viro meu corpo para ela pegando-a de
cheio. — Não transamos há um mês.
Madeleine joga a perna em cima de mim.
— Eu sei — diz afagando meu rosto e deixa o seu mais
próximo para cochichar enquanto esfrega sua perna na minha. —
Também tenho vontade, Travis, mas não consigo e nem posso.
— Porra, eu sei. Não vou forçar. Está tudo bem.
Ela suspira e me beija.
— Você vai esperar?
— Que pergunta é essa?! — digo me afastando e encarando-
a, fecho o semblante. — Acha que sou capaz de trair você só
porque quero foder e você não pode? Puta que pariu, Madeleine. Eu
não sou esse tipo de homem!
Tento me levantar da cama, mas ela não permite colocando a
mão no meu peito.
— Desculpe. Não foi isso que quis dizer.
— Então foi o quê?
Ela respira fundo e senta-se como eu faço na cama ainda.
— Eu... — Baixa a cabeça. — Não sei o que estava
pensando. Pra ser sincera, eu fiquei com medo de...
— De eu te trair por isso? Por estar com tesão? — E como
ela não levanta o rosto, eu obrigo-a a encarar meus olhos. — Diga.
— De perder você.
— Porra — rosno baixo.
— Travis, você não pode dizer que isso não acontece entre
os homens e mulheres do nosso círculo. Muitos traem as esposas
quando estão grávidas ou no resguardo.
— É verdade, não nego, mas eu não. Quando foi que dei a
entender que sou capaz disso? Cazzo. Eu disse que te amo e você
me pergunta se vou te trair?
— Travis...
— Muitos homens batem nas mulheres e as maltratam, eu
nunca fiz isso com minha irmã, com nenhuma amante que tive e,
principalmente, com você. Por que presumiu que eu comeria outra
mulher enquanto não posso ter você?
Balança a cabeça e dá de ombros.
— Não sei.
Soltando a respiração com força, chego mais próximo e beijo
sua boca.
— Eu disse que amo você. Não foi da boca pra fora e sem
contar... Acima de tudo, que eu quase vi você morrer na mesa de
parto para me fazer uma pergunta ou sugestão dessas. Posso não
ser um homem bom, porém sou leal. Sou leal a você, a nossa
família. Nunca mais pense que o que sinto são meras palavras.
— Nunca pensei isso. Você já me provou seus sentimentos e
antes mesmo de dizer com palavras.
— Então pronto, porra. Não deveria nem cogitar que eu
trairia você. — Beijo sua boca mais uma vez. — Eu quero você,
estou ardendo de tesão por você, sempre estou, mas não é apenas
por sexo. É por você e eu não sou um animal no cio. Posso esperar
e compreender as circunstâncias.
Madeleine sorri desmontando sua careta emocionada e
segura meu rosto.
— É recíproco e desculpe — sussurra. — Desculpe por, sem
querer, duvidar dos seus sentimentos, principalmente porque
demorou tanto para se abrir. — Oferece um sorriso simples. — E
quero que saiba que é difícil pra mim também. Muito mais e mais
ainda porque sinto um incômodo por desejar você. Pelo meu corpo
responder quando viu você sair do banho de toalha e sentir tudo se
revirar aqui dentro. — Respira dramaticamente e me beija. — Vou
ficar o maior tempo de repouso agora para depois aproveitar.
Acho graça do seu comentário, rio e tiro o cabelo da frente do
seu rosto.
— E eu vou ter que usar a imaginação.
Madeleine morde a boca e passa a mão em cima do meu
peitoral e vai descendo até entrar dentro da minha cueca.
Resmungo e seguro seu pulso.
— Não provoque.
Ela pisca os olhos, fazendo charme e me dá um sorriso sem
mostrar os dentes.
— Só quero que você durma bem.
— Eu tô bem. — Afasto sua mão e viro meu corpo a fim de
ficar cara a cara com ela. — Relaxa e dorme. No momento
precisamos descansar e se prepara porque não vai durar muito ele
dormindo.
— É verdade — murmura rindo e esfrega o rosto no meu. —
Mas eu prometo que vou fazer o que você quiser quando pudermos.
Faço um som com a garganta e aperto sua bunda
murmurando no seu ouvido:
— Não se arrependa de dizer isso.
— O quê? — Inclina o rosto para trás e me olha nos olhos.
— Espere e verá.
— Travis...
— Shhh... — Coloco o dedo na sua boca. — Não antecipe a
situação, angele.
— Está beeem — balbucia desconfiada e finge relaxar.
Dando um beijo na sua boca, trago-a para os meus braços e
nos ajeito para voltarmos a dar atenção ao filme e esperar Dante
acordar, porque vai acontecer. Embora na minha cabeça apenas fico
imaginando minha esposa sedutora em todas as posições e sendo
safada só para mim.
Dezembro de 2012

Depois de quase quatro meses sem dividir uma cama de


verdade com meu marido, a espera para o relógio chegar a hora
marcada do encontro de hoje que ele nos reservou, quase me levou
a loucura o dia todo.
Talvez Travis pense que eu não sinto falta de sexo, pois
diferente dele não vivo reclamando ou aparentando tanta fome, mas
a verdade é que estou morrendo de saudade de senti-lo dentro de
mim. De sentir sua pele quente e suada junta a minha. Do seu corpo
sobre o meu. Mesmo a gente praticamente como nunca o oral,
depois do primeiro mês do resguardo que foi quando voltei a me
sentir melhor e meu corpo também parecia ter entendido que o bebê
não estava mais dentro de mim, chegou um momento que para mim
não funcionava mais tão bem.
Não contei para ele esse pensamento porque todas as vezes
que fomos para cama e eu quis chupá-lo, ele fez questão de
devolver e sei que gosta tanto quanto receber. E por Deus, eu não ia
pedir para ele parar de me dar prazer, mesmo num nível inferior de
um foda caprichada que gostamos de realmente compartilhar.
Saio do carro e Luigi vem atrás de mim. Pegando meu celular
na bolsa, mando uma mensagem para Rosália que está cuidado de
Dante com Marinne. Ela está mais para ser vigiada também, mas
gosto de como o protege e zela. Parece mesmo que são irmãos e
isso enche meu coração do mais puro sentimento.
Guardo o celular na bolsa de volta e meu coração acelera ao
entrar no elevador lembrando de Travis falar desse prédio onde fica
um apartamento seu. Ele me contou que veio para cá depois da
nossa primeira vez, quando ficou pensando no erro que cometeu em
tirar minha virgindade. Confessou que ficou fora de si, pois nunca
tinha sentido o que sentiu naquela noite. Isso lhe rendeu um beijo
mais profundo e um boquete caprichado semana passada.
Piscando, deixo meus pensamentos neutros e só não estou
mais tranquila porque Luigi ainda está ao meu lado e tento encontrar
a melhor forma de dizer que ele não precisa. Na verdade, ele tem
que sumir. Hoje eu e Travis vamos tirar o atraso de quatro meses
sem sexo. E porra, eu não preciso do meu segurança para nada.
— Luigi — chamo sua atenção e ele me encara. — Você... Já
pode ir. Travis pode cuidar de mim.
Seus olhos desviam das portas de aço e me encaram sem
emoção.
— Só irei levá-la até o andar, depois voltarei para a recepção.
Franzo a testa e cruzo os braços sem entender virando meu
corpo para o seu.
— Travis ordenou que eu ficasse ao seu lado até o elevador,
depois sumisse do radar.
Pisco algumas vezes tentando não ficar constrangida de ele
– de certa forma – saber o que nós iremos fazer, e assinto deixando
de encará-lo. Homens e sua forma de demonstrar domínio.
Reviro os olhos e respiro de verdade quando o elevador para
no andar da cobertura. E mal espero as portas se abrirem para sair
correndo dele. Sem olhar para trás, adentro o apartamento à
procura do meu marido possessivo maníaco e controlador. Sei que
poderia ser pior como outros homens da Famiglia como: cruel,
sádico e violento. Então não posso reclamar dele nunca.
O apartamento tem uma decoração escura e bem masculina.
A personalidade de Travis quando não está em casa. Consigo
vislumbrar como ele é por dentro, ou era antes de mim. Paredes
cinzas, sofás pretos, um tapete grande vermelho sangue logo na
entrada entre a sala de estar com móveis mogno envernizado e a
cozinha americana. É arejado e grande. Para alguém que vinha
para cá ficar sozinho às vezes é demais. Tem até uma mesa de
vidro com quatro cadeiras um pouco a frente da cozinha de aço inox
bem equipada.
Parando na sala moderna com uma mega televisão, sinto
que aqui era o esconderijo dele das obrigações como responsável
não apenas por Las Vegas como seus irmãos. Não sei porque ele
não escondeu eu e Marinne naquela vez que mandou ficarmos com
Paolo. Acredito que aqui é um ótimo local para ser nosso
esconderijo eventualmente, mesmo no momento querendo cobiçar
paz.
— Travis?
Assim que o chamo escuto passos vindo e sigo até vê-lo
saindo de um corredor todo lindamente impecável com seu traje de
trabalho. Vestido de preto dos pés a cabeça. Meus passos estacam
quando encontro seus olhos e vejo tanta fome e poder. Desejo
lascivo puro e cru.
— Gostei do... — tento falar, mas ele agarra meu rosto com
suas mãos fortes e enormes.
Então ele me beija num movimento rápido deixando-me
totalmente inquieta e sem pressa para me esquivar. Sua boca tem
um gosto de álcool que sei identificar muito bem, Bourbun Whisky, e
está gelada, sinal de que tomou com gelo. É um gosto delicioso.
Seu sabor misturado ao gosto amargo da bebida enquanto sua boca
devora a minha.
Solto sons de prazer ouvindo seus gemidos. Um turbilhão de
sentimentos atravessa meu corpo com a ânsia e saudade que senti-
lo. De ter o seu corpo só para mim. Isso faz as paredes do meu
sexo se apertar sentindo um vazia furioso.
Travis chupa minha língua e força meu rosto à ficar mais para
cima, para ele, e eu agarro seus cabelos e desço minhas mãos até
arranhar e apertar seus ombros, sentindo o tecido do seu paletó
sem enrugar por causa das minhas unhas cravadas na vontade de
sentir a sua pele quente.
Recuperando-me, solto um pouco da pressão no meio do
meu peito e recuo para tomar ar.
Travis me segue ansioso e passa o nariz pela lateral do meu
rosto, os lábios roçando minha pele, meu pescoço e beijando o meu
colo até que sua boca está perto do meu ouvido direito.
— Eu preciso estar dentro de você — mordisca o lóbulo da
minha orelha e suas mãos apertam os lados do meu corpo. — Estou
louco de vontade de te foder a noite toda — murmura.
Gemo fechando os olhos e me agarro a ele agora porque não
confio na força das minhas pernas.
— Eu não tenho nada que reivindicar, também o quero
loucamente. — Enfio as mãos dentro do seu paletó. — Na verdade
estou contando as horas.
Sem que eu perceba, ele me pega no colo e jogando em
cima dos seus ombros, caminha pelo corredor que estava. Então
entramos num quarto.
Tenho poucos minutos para reparar que é tão parecido com o
resto do apartamento. Todo escuro. Móveis de mogno, roupas de
cama cinzas e pretas e um quadro de uma mulher nua sem rosto
em preto e branco na parede da porta. É grande e cheia bem. Ele
deve ter preparado até as luzes para hoje, que estão baixas. Sinto-
me ansiosa.
Travis desliza as mãos em meu corpo conforme me deixa em
pé. Sua boca encontra a minha sedenta e molhada. Gemendo puxo
seu paletó para fora do seu corpo, que ele ajuda a retirar. Minhas
mãos agora passam livremente pelas armas presas no coldre e a
sensação de poder por ele baixar totalmente sua guarda comigo, me
atinge de forma enérgica. Sua confiança é maior que o amor que me
deu.
Se afastando, ele começa a remover minha roupa
vagarosamente, torturando meu psicológico. Ainda bem que escolhi
um sobretudo para proteger-me do frio que meu vestido de seda
vermelho não ajuda em nada. Pelo seu olhar sei que adorou a peça,
nossa cor. Sangue!
Baixando sua boca até meu ombro, deixa um beijo depois
que escorrega a fina alça e depois a outra, e assim o vestido se
junto aos meus pés revelando minha lingerie. Um conjunto de renda
vermelha; bojo sem alça, a calcinha na frente mostrar meu sexo e a
cinta-liga é presa no corpete em minha cintura. Me dediquei muito
na academia e na alimentação para poder usar algo assim e não me
sentir tímida. Na verdade, sinto-me completamente ousada.
— Você é a mulher mais linda que já pus as mãos.
— E a última — murmuro apertando seu cinto.
Ele me dá um beijo na boca bruto e rápido.
— Sem sombra de duvidas, mi angele.
Meu corpo se aquece com suas palavras. Esse homem me
deixa com as pernas fracas e pensar que é meu. Todo meu e para
sempre. Meu mafioso favorito. O pesadelo de muitos homens e o
meu sonho. Meu cavaleiro das trevas. O pai do meu filho e o
protetor feroz. Eu sei que sempre estarei segura, pois Travis tem um
determinação invejável quando quer algo, e o seu objetivo na vida é
cuidar da nossa família e do seu império. Ele prometeu-me que
sangrará e queimará por nós, e eu confio nisso fielmente.
Induzindo-me a deitar na cama, faço de bom grado e quando
estou no meio dela, ele tirar o coldre e a camisa revelando seu
peitoral forte coberto de cicatrizes e marcas, e a tatuagem que fez
quando voltou daquele cativeiro da Bratva, no meio do peito. Asas
de anjo queimadas e o símbolo da Lawless no meio junto com um
círculo que o tatuador não sabe, mas representa nosso casamento.
Ninguém nunca saberá do seu fascínio por mim. Dante e eu
somos as únicas reais fraquezas de Travis agora. Colen sabe se
defender, Marinne já tem seu destino traçado com a Darkness e
Dario, não me preocupo. Os olhos dele me deram a certeza de que
as sombras estão cravadas muito além da maldita marca da Bratva
em sua pele, que não quis remover.
Travis coloca os joelhos na cama e abre minhas pernas com
seu corpo pedindo espaço. Ainda está vestido da cintura para baixo,
e eu sei o que deseja. Isso me deixa toda excitada e carente. O oral
é algo que gosta de fazer em mim antes porque ele sabe que sou
pequena para o seu tamanho avantajado, e como não quer me
machucar.
Abro-me para ele e jogo a cabeça para trás sentindo sua
boca beijar minhas coxas e depois meu sexo sob a calcinha. Seguro
a respiração esperando que tire a calcinha, mas não faz. Ergo a
cabeça e o fito de joelhos no meu das minhas pernas lindo e
gostoso. Ele desliza as mãos em minhas pernas, aperta minha coxa
e a cintura. Com suas mãos afoitas, puxa o bojo do sutiã para baixo
e começa a massagear meus seios, dando atenção aos mamilos.
— Travis — gemo carente.
E antes que eu perceba, sua boca está chupando meus
seios. Agarro seus cabelos e arqueio o corpo me oferecendo. Ele
umedece e provoca um seio, depois passa para o outro e logo vai
descendo, dando beijos e mordidas na minha barriga. E não demora
muito para sua cabeça estar no meio das minhas pernas. Minha
respiração fica afeita quando ele rasga a calcinha no meio como
fosse papel e então sua língua está na minha boceta movendo-se
tão devagar e sedutoramente.
Estou toda excitada e almejando mais. Tudo! Febril e
arrepiada, aprecio o toque aveludado da sua língua no meu clitóris
que cada vez mais fica sensível ao toque. Uma pressão, que há
muito tempo não sinto, forma um nó no meu útero e grito arqueando
as costas quando seu dedo me invade.
— TRAVIS!
Ofegante, aperto meus olhos e sinto seu dedo entrar e sair
suavemente. Mordo meu lábio inferior e agarro as colchas da cama
reprimindo e tentando aguentar o suficiente para me lubrificar e
recebê-lo dentro de mim logo.
Suas habilidades no oral melhoraram ainda mais por conta
das inúmeras práticas feitas no resguardo, e somando as mãos
talentosas dele, fico na borda de um orgasmo louco muito rápido. E
quando ele tiro o dedo e volta com dois, perco as forças e gozo
chamando-o.
— Isso! Quero ver você gozar — diz enquanto continua a
fazer movimento com os dedos dentro de mim exigindo extraviar
mais de mim.
Sua boca volta a dar atenção ao meu clitóris e fico perto de
explodir de novo. O ritmo constante e suave dos seus dedos e
língua, vagarosamente, me fazem respirar com tanta dificuldade que
meus pulmões queimam.
— Goza de novo, Madeleine. — É uma ordem e como meu
corpo é seu escravo, chego ao segundo orgasmo soltando um
gemido alto e abafado.
Agarro as colchas da cama sentindo meus batimentos
acelerados, o suar grudando na minha pele, meus quadris
movendo-se pedindo por mais. Abrindo os olhos, encaro seu rosto,
seus olhos famintos e perigosos e fico pressa neles.
Travis tira os dedos e vem como um leão que capturou sua
presa. Sua boca encontra a minha com tamanha intensidade que a
vontade ascende dentro de mim. Envolvo seu corpo com minhas
pernas e agarro seus ombros. Me deleito sentindo sua pele quente e
amo quando seu peito toca meus seios, as postas dos meus bicos,
e meu corpo remexe involuntário.
— Me come, por favor, me come! — digo entre nossas
respirações ofegantes durante o beijo.
Ganho uma mordidinha no lábio e ele se afasta, sai da cama.
Apoiando-me nos cotovelos observo ir até o armário. Quando volta
para mim vejo que segura uma algema e todo meu corpo fica em
alerta.
Ele já me amarrou com uma fita, mas algemas?
— Não fique com medo. Jamais machucaria você. — Para
nos pés da cama e estica a mão, que aceito e fico sentada. — Se
ajoelhe no meio da cama.
Engulo em seco e com sua ajuda, faço o que mandou.
— Estique as mãos.
Novamente faço e assisti-o colocar as algemas e apertas
quase no limite. Pegando minha cintura com as mãos cheias, abre o
sutiã e o tira de mim. Fitando meus olhos percorre minhas curvas
lentamente com as pontas dos dedos.
— Você está uma delícia.
Solto uma risada ansiosa e vejo-o recuar uns passos para
então remover os sapatos com ajuda dos pés, o cinto bem...
Lentamente e as calças e a cueca junto. Quando apruma a postura
e admiro seu corpo dos pés a cabeça, seu pau avantajado e enorme
apontando para cima, minha boca enche d'água.
— Você também — sussurro sem nem perceber meus lábios
se moverem.
— O quê? — indaga com a testa franzida.
— É uma delícia.
O sorriso predador cruza seu rosto e ele volta a se aproximar.
Puxa meu corpo e sua mão correr em minhas costas até estar na
minha nuca, apertando meu pescoço por trás e levando minha boca
a sua.
Me sinto mole com o encontro dos nossos lábios. Um beijo
que tira minha resistência e entregue, deixo-me levar para as
sensações de puro prazer. Seus dedos encontram meu sexo
inchado e sensível, dedilhando meu clitóris me provoca novos
estímulos. Ele faz isso por alguns estantes enquanto nos beijamos,
então se afasta. Eu o agarraria se pudesse.
— Deite-se e deixe as mãos no alto da cabeça.
Mordo meu lábio e faço o que pede com sua ajuda.
Tendo-me como quer, acaricia minhas pernas e puxa-as
deixando fora da cama, sinto a borda do colchão perto do meu
bumbum. Olho para seu rosto e fico hipnotizada assistindo se
aproximar e segurando seu pau, me provoca com a ponta e
lentamente mete dentro de mim. Gemo completamente incendiada.
Com as mãos prendendo minhas pernas em volta da sua
cintura, Travis impulsiona o corpo contra o meu, indo até o fundo
firme e forte. Ser impedida de tocar seu corpo é uma tortura o que
me deixa mais excitada. Movo meus quadris ao encontro do dele,
gemendo por me sentir alargada. Um prazer indescritível que faz
meus olhos lagrimejarem porque a velocidade, o tamanho e seu
olhar é demais.
Ele solta lufadas de ar, procurando maniacamente sua
libertação e eu também quero. Me abro o quanto consigo e me
entrego totalmente. Fecho os olhos sentindo-o tão fundo.
— Goza — ordena ofegante e animalesco.
Com mais alguns impulsos e a massagem dentro de mim,
meu orgasmo vem e fica mais forte quando ele também goza
explosivamente.

Dou um sorrisinho de pura satisfação e me remexo gemendo,


fazendo questão de passar as mãos e me aconchegar ainda mais
no corpo nu e quente de Travis. Ele libertou minhas mãos,
massageou meus pulsos e nos aconchegou no meio da cama
depois da segunda rodada onde ele me comeu de quatro. Nós
gostamos de lento, porém hoje parece que a opção é levar a
loucura.
— Eu gostei desse... — faço uma pausa analisando. —
Gostei desse apartamento.
Seus olhos me fitam e ele diz tranquilo, como não tivesse
acabado de me foder como um leão num cio.
— Eu sempre tive ele — comenta distraído e deixa de me
encarar como lembrasse de algo. — Desde que saí da casa dos
meus pais. Antes de comprar a casa que nós moramos agora, eu
ficava aqui.
— Por que você nunca me trouxe aqui?
— A gente está junto quase há dois anos.
— E você nunca me trouxe aqui.
Ele desliza a mão pelas minhas costas e deixa em cima da
minha bunda. Dá um aperto me distraindo. Levanto meu corpo para
enxergar seu rosto tentando analisar sua expressão e isso o faz me
encarar.
— Eu não tinha nada de interessante para fazer aqui durante
esse tempo.
Franzo a testa sem entender.
— Como assim?
— Eu usava esse lugar antes de você.
— Antes de mim?
— A única vez que eu vim aqui com você na minha vida,
vamos dizer assim, foi quando a gente transou a primeira vez.
As lembranças vem em minha memória aquela semana. Ele
desapareceu, acho que uma semana, depois daquela festa do
Bellagio. Minha primeira vez.
— Então foi aqui que você veio parar naqueles dias que ficou
sumido?
— Foi e Paolo veio me buscar quase que pelas bolas
dizendo que eu estava negligenciando Marinne. Ele percebeu que
eu estava estranho, mas não sabia o motivo.
— Por que você fugiu? — Bato os cílios fazendo uma cara de
inocente. — Se você quiser me contar.
Sei que nem tudo ele pode me contar, ou quer. É muito poder
sobre uma pessoa. Muito poder dado a mim.
— Eu me senti culpado, um sentimento incomum para mim,
pelo fato de você ser virgem. Porra, você não me contou e eu fui um
pouco áspero para sua primeira vez. Fiquei fodido, tentando
reorganizar minha mente e pensando no casamento.
— Você sempre pensou nisso?
— Como uma saída para o problema, sim. — Ele respira
fundo e me encara com tanta intensidade que perco o fôlego. —
Madeleine, você não quer que eu diga que fiquei apaixonado desde
o primeiro momento que a vi e pedi você em casamento porque não
saberia viver sem você. Eu estaria mentindo.
— Eu sei disso.
— Então quando te propus o casamento foi para impedir
eventuais problemas no futuro e assumindo minha responsabilidade
de tirar sua virgindade. Nós não somos como as pessoas de fora e
tivemos essa conversa mil vezes. No mundo moderno sem regras e
sem tradições, onde casamentos obrigatórios às vezes é por causa
de uma gravidez, mas no nosso basta um toque, um beijo que já
nos obrigam a assumir um compromisso. Eu não pedi você em
casamento, naquele momento, por outro motivo além de manter a
tradição. O dever de honrar a sua virgindade.
Faço uma careta engraçada e concordo. Abro um sorriso,
para ele não pensar que estou brava com isso.
— Acho essas coisas ao mesmo tempo legais, por conservar
as tradições, e um tanto hipócritas. Nós ultrapassamos tantos limites
e regras sobre a civilidade humana. Empatia, amor ao próximo e
mesmo assim nossas tradições nos prendem a coisas tão malucas
às vezes.
Ao dizer isso me sinto aliviada por ter transado antes do
casamento e Travis ser tão determinado a assuntos que lhes
desrespeita. O assunto dos lençóis de sangue nem foi tocado.
Mesmo que exigissem essa tradição, não teria como fazer, e não
porque eu não era mais virgem, mas porque depois da cerimônia
tudo se desenrolou naquela guerra.
Travis fica calado, mas assente concordando.
— Mesmo assim — me apoio em cima do seu peito — eu
não quero fugir. Vou viver para sempre ao seu lado.
— Odiando tudo.
— Mas amando você.
Com um movimento rápido, ele me abraça e gira o corpo
ficando em cima de mim.
— E fazendo com que eu quebre regras.
Dou uma risada.
— Nasci para isso.
— Acredito fielmente que sim, Sra. Lozartan.
Ele me dá um beijo na boca rápido e firme.
— A primeira regra que eu quebrei foi ser maleável com a
minha irmã, até mesmo um pouco antes quando era dedicado a
proteger Dario, não queria que nada o atingisse, e depois veio
Marinne. Assumi ela como uma filha, como minha total
responsabilidade desde o momento que percebi que ela estaria
sozinha e abandonada. Minha mãe morreu e meu pai sempre a
menosprezou, mas eu acho que a maior regra que quebrei foi com
você. Te salvar, levar para minha casa e confiar em você. E
inesperadamente não resistindo. — Sua voz fica mais baixa. —
Mesmo que o seu corpo seja uma delícia e toda sua beleza, eu não
deveria ter feito.
— Arrependido? — pergunto engolindo em seco.
— Claro que não — afirma. — Nunca vou me arrepender de
ficar com você.
Sorrio para ele e acaricio seus ombros.
— E você, está arrependida de ficar comigo?
Minha resposta é me esfregar na sua ereção crescente,
sentindo aponta do seu pênis acariciar meu clitóris.
— É óbvio que não. Acho que eu sempre nasci para ser sua.
Ser sua mulher, sua esposa, companheira e a mãe dos seus filhos.
— E a minha conselheira rabugenta.
Dou uma gargalhada e beijo sua boca.
— Você gosta dos meus conselhos.
— É claro que eu gosto, por isso que escuto.
— E... — me esfrego com mais ímpeto — a diferença entre
eu e Paolo, é que eu te dou conselho na cama.
Travis me penetra, roubando meu ar e murmura no meu
ouvido:
— E peladinha e chupando meu pau no escritório. — Sai um
pouco e entra lentamente. — Fodendo em cima da mesa e deixa eu
te tocar... — Ele aperta meus seios, encontraram meu mamilo e
acariciando até ficar duro.
— Hmm...
— É Paolo não deixa isso não.
— Porra, Madeleine — rugi e mordisca meu queixo. — Não
pensar no Paolo agora.
Perco o riso abrindo a boca e gemo quando ele mete mais
fundo e rápido.
— Ah... Travis. Senti tanta falta disso — murmuro no seu
ouvido dando uma mordida na sua orelha de leve.
— Também senti. — Afasta o rosto e encara meus olhos. —
Amo nosso filho, amo você, mas sinceramente ficar sem trepar com
você, foi difícil.
Resmungo um sim, pois ele ondula a pélvis.
— Acho que... podemos pensar no próximo daqui a quatro
anos.
— Quatro anos é uma boa disposição de tempo.
Rio meio gemendo, e seguro seu rosto.
— Amor, você é incrivelmente cruel — digo e jogo a cabeça
para trás quando ele remete para dentro de mim com um impulso.
— A verdade é que sou louco por você e amo foder seu
corpo... — desacelera segurando minhas coxas, os olhos fixos onde
nos conectamos — de todas as formas, devagar e... — Se afasta
saindo de dentro de mim e nos muda de posição girando meu corpo,
colocando-me de quatro na cama e com uma estocada me
preenche por inteira. — E selvagem.
Dou um grito agarrando os colchas da cama. Adorando como
ele me alarga e massageia meu interior deliciosamente. Acho que
nós não iremos sair daqui tão cedo e se não tomar cuidado, vou
ficar grávida antes do combinado.
Fevereiro de 2015

Abrindo um sorriso, saúdo algumas pessoas no salão do hotel


e continuo meu caminho para o cassino. Hoje não sou apenas mãe
e dona de casa, mesmo que ela me dê muito trabalho e Dante não
seja um menininho muito quieto, também sou um dos olhos e
ouvidos para a Lawless, principalmente dentro do Bellagio. E isso
não menospreza meus serviços. Daqui tiro muitas informações,
negócios e assuntos favoráveis para nós. Também ajudo na
contabilidade, me deixando muito satisfeita em usar os anos e
dinheiro que gastei na faculdade para algo realmente útil com meu
diploma.
Travis cumpriu sua promessa e me fez ser algo importante
dentro da Famiglia, para a máfia e para ele. O mundo se
modernizou e a máfia precisou se equiparar a elas, isso inclui
colocar as mulheres para serem mais do que apenas uma boceta e
incubadora para seus descendentes. Ainda não chegamos aonde
desejo, aonde, se eu tiver uma filha, aspiro que ela usufrua dos
proveitos de ser filha do Capo assim como Dante terá tudo em suas
mãos.
O tempo passou e me tornou alguém importante, e
transformou Travis também. São quatro anos como Capo, o chefe
de toda a Lawless, e ele é impiedoso, determinado, com uma força
de vontade de exterminar os inimigos e problemas. Preocupante
para quem o está devendo.
Travis está mais estrategista e controlado. Acredito que
nosso filho foi um dos fatores, mas a verdade é que depois da
traição de Lucian e a tortura que passou nas mãos da Bratva na
tentativa de resgatar Dario, o deixou disposto a derramar sangue
sem precedente. Traí-lo nunca foi algo bom a se fazer, hoje é
eminente sua retaliação. Como ele gosta de dizer: “Sou mais
demônio do que homem quando puno meus traidores”. Errado ele
não está.
No ano seguinte que matou Lucian, ele fez questão de
exterminar, essa é a palavra mais do que correta, todos os antigos
Underboss escolhidos por seu pai. Ele não conseguia confiar
nesses homens e diferente de uma simples cerimônia de iniciação
como um subchefe, ele fez todos os atuais caçar e matar os antigos.
Não posso esquecer que começou com essa forma de “tratar os
ratos” desde Colorado com Costa, que foi o primeiro traidor dos
Underboss que morreu sob juramento de Travis. E apenas sei dessa
informação porque é comentada por toda a Lawless como Travis foi
monstruoso.
E nos últimos anos podemos dizer que estamos mais
tranquilos sobre os traidores ou futuros, porque os atuais homens de
confiança não excitaram em demonstrar lealdade a Travis.
Chego no salão do cassino e cumprimento com aceno de
cabeça os soldados e Antonio, o gerente. Pelo nome é óbvio que faz
parte da Famiglia. Com passos largos chego a porta e abrindo,
caminho pelo corredor que dá ao escritório e salas de contagem, e a
famosa sala de interrogatório. Eu nunca preciso entrar nela, essa
tarefa fica para Paolo ou Travis, e é fim de jogo quando Luca se
envolve.
— Pensei que não viria para esse lado hoje — comenta
Paolo saindo do escritório de Travis.
— Precisei resolver um problema com as fichas das
maquinas novas.
— E?
Como sempre ele sabe que tem mais.
— Um babaca estava contando as cartas e Roberto preferiu
liberá-lo para o hotel, me entregando de bandeja.
— Quer que eu resolva?
Pondero sua oferta e me aproximo para os soldados e Luigi,
atrás de mim, não ouvirem.
— Isso vai depender da “agenda” do meu marido.
Paolo curva os lábios de lado, seu sorriso macabro, e enfia
as mãos nos bolsos me oferecendo sua postura decidida.
— Ele não vai se importar.
— Certeza?
— Sim — responde assentindo. — Ele está organizando tudo
para o aniversário de dezoito anos de Marinne.
Sorrio pelo tópico da sua preocupação, mesmo sabendo que
isso levará ao Bellagio ter uma quantidade insana de soldados por
toda volta, em todas as entradas e saídas. Em cada andar e
ambiente, para proteger nossa família. Ela pediu uma festa, e ele
aceitou dar-lhe a melhor de todas. É nossa despedida. Os últimos
meses com ela por aqui.
— Se é assim, faça bom uso — digo com ironia e fúria. Eu
não gosto desses espertos tentando roubar meu cassino.
Ele acena e passa por mim. Viro-me para vê-lo caminhar
pelo corredor e aprumo a postura inspirando. Paolo também teve
suas mudanças, principalmente depois do casamento com Nina, e
segundo os olhos dela, parece que dentro de casa temos um pai e
um marido bom. Isso me conforta. Odeio ficar sabendo de maus
tratos nos casamentos.
Dou um toque na porta antes de abri-la e sorrio quando
Travis ergue as sobrancelhas me fitando atrás da sua pomposa
mesa.
— O que está fazendo aqui? Não deveria estar cuidando dos
preparativos com Marinne?
— Eu já estou indo — respondo caminhando até ele, e por
estar só, fico à vontade. Paro na sua frente, me inclino e lhe dou um
beijo. — Mas antes vim dar um beijo no meu Capo.
Seu olhar fica penetrante e quando dou por mim, estou no
seu colo.
— Se é assim — diz e agarra minha nuca.
Guiando minha boca a sua. Seus lábios furiosos e quentes
acariciam os meus, então sua língua invade minha boca
impacientemente. Soluço um gemido e o beijo tão forte quanto.
Apoio minhas mãos em seu peitoral, tomando cuidado para não
amarrotá-lo. Precisamos ser discretos.
O beijo não é tão duradouro quanto intenso, e mesmo assim
fico sem fôlego.
— Agora você pode ir para casa — Travis fala com sua voz
rouca na minha boca e dá um aperto na minha bunda.
Solto uma gargalhada e dou-lhe um selinho antes de sair do
seu colo.
— Sim, senhor, meu Capo.
Vejo-o abrir seu sorriso discreto que apenas eu conheço.
Nesses momentos eu esqueço o que somos, o que cometemos,
porque a maior sensação que tenho é sobre o amor. As vezes acho
surreal que em agosto, quando é a festa do Bellagio, iremos fazer
quatro anos juntos. Mesmo que para todos os quatro anos só
constam em dezembro quando casamos.
Mais um pedacinho do livro Escolhida Para ele
Eu nem acredito que estou fazendo dezoito anos. Okay,
basicamente já tenho. Hoje é apenas a festa do meu aniversário e
me dá um frio na barriga porque daqui a seis meses eu vou para
Nova York.
Tentando acabar um pouco com a minha ansiedade, pego
meu celular de novo e procuro o nome dele. Encontro logo de cara
uma reportagem feita por uma revista famosa. E fico alguns minutos
admirando sua fotografia todo de preto e o rosto marcado pela
mandíbula rígida. Não parece relaxado por ser fotografado. Okay.
Os Homens Feitos nunca gostam de ser expostos e em público são
extremamente cautelosos para não dizer desconfiados.
Fitando melhor seu rosto tenho a clareza de que nunca tinha
percebido, quando era mais nova, o quanto Amândio é bonito.
Agora que eu tenho um pouco mais de noção e não sou mais
criança, percebo como ele realmente é lindo... e atraente. Não o
vejo mais com os olhos de que ele é um estranho, um homem mais
velho do que eu. Talvez ele se torne um marido cruel como muitos
ou me surpreenda sendo como o meu irmão é para a sua esposa e
filho.
O que sinto agora passa de uma ansiedade enorme para
uma curiosidade tentadora. E por isso fiquei tão chateada por ele
não ter vindo me ver nos últimos dois anos. Ele fez questão de dar
os presentes nos dias comemorativos, mas nunca com uma palavra
sua. Para mim, eu não tive nada. Não sou ligada a bens materiais.
Isso Travis sempre me deu, até demais.
Ele sumiu desde o meu aniversário de dezesseis anos e não
me lembro se falei ou fiz algo. Se aconteceu alguma coisa que o
chateou. Droga! Homens como Amândio não ficam chateados.
E depois de tanto tempo sem vê-lo, eu estaria mentindo se
não quisesse ele aqui hoje. Queria que viesse pelo menos neste
aniversário, que será o meu último em Las Vegas, mesmo estando
bem zangada por ele ter desaparecido como se eu não fosse nada,
absolutamente nada, apenas um casamento estratégico. Como se
ele não tivesse honrado o acordo com Travis de me conhecer
nesses três anos de noivado.
Meu irmão só não ligou, ou reparou sua ausência, porque
talvez eu não me senti mal “visivelmente”, não reivindiquei, não
reclamei e foram tantas coisas que ele teve que enfrentar nesses
últimos anos que tudo bem mesmo Amândio não vir.
Respirando fundo, fecho o aplicativo de fofocas, coloco meu
celular em repouso e largo em cima da escrivaninha do quarto.
No espelho ajeito os meus cabelos, que cortei para ter um
visual novo de dezoito anos. Estava muito grande. Agora eles estão
um pouco abaixo da altura dos meus seios. Gostei da minha nova
aparência. Pareço mais adulta e as aulas de yoga e bike na
academia deixaram meu corpo seco e a professora (Travis não
deixa que eu fique perto de outros homens, só Mario meu guarda-
costas) disse que ganhei massa magra, e levando em conta que
minha calça jeans mais justa não dá mais, sei que é verdade. Meu
bumbum está maior e durinho. Eu gosto de me cuidar, distrai minha
cabeça. Isso quando não estou lendo, vendo séries ou aprendendo
a desenhar no iPad ou no papel mesmo. Toda menina da máfia é
prendada, tem seus dons. O meu é os desenhos.
Sorrio lembrando-me dos comentários que não tenho mais
carinha de criança e que eu poderia ser modelo. Sempre rio disso
porque nunca vai acontecer. Eu me expor desse jeito? Talvez em
outra vida.
Ajeitando o decote, para não aparecer demais, do meu
vestido e colocando uma jaqueta de couro que ganhei de Dario,
passo o gloss de morango de novo na minha boca, coloco meu
celular na bolsa e saio do meu quarto.
Descendo as escadas correndo, vou direto para a cozinha
escutando Dante gritar.
— Ei, garoto, o que que você está fazendo aí?
— Irmã! — Ele vem me abraçar e eu abro um sorrisão.
Adoro o fato de ele achar que eu sou sua irmã e não tia.
Bem, eu também não gosto de me sentir tão velha ao ponto de ser
tia e o amo como se fosse o meu irmão. Eu o amo demais e já sinto
muito sua falta.
Pegando-o no colo, beijo seu rosto e ganho um beijo
também. Nosso príncipe não é mais um neném pequenino com seus
dois anos e meio, mas ainda meu bebê elegante. Madeleine gosta
de vesti-lo como Travis. Um mini Capo como todos falam.
— O que você está aprontando?
— Quero bolo.
Solto uma gargalhada.
— Bolo só mais tarde, agora não.
— Bolo!
— Escuta, hoje é meu aniversário e terá bolo.
Ele toca meu peito com o seu dedinho e concorda com um
aceno. Dante está lindo com uma calça e blusa social preta. Já está
se habituando a vestir preto.
— Que tal a gente brincar no quintal e depois a gente come
bolo?
— Mas já está quase de noite.
— Eu sei, Dante, mas agora não.
— Dante! — Escutando alguém chamá-lo, viro-me.
— Mamãe. — Ele estica os braços e Madeleine o pega no
colo.
— O que que você quer?
— Ele quer bolo, mas já disse que só mais tarde.
Ela vem para mim, me abraça de novo e fica conosco nos
braços, embora esteja só me abraçando e ele no colo.
— Hoje tem festa — Madeleine fala como se fosse um
segredo, nos fazendo rir.
— Senhora Lozartan.
Vemos Luigi aparecer, roubando nossa atenção.
— O que é?
— Já está na hora.
— Oh sim, sim. Eu sei — ela fala e vira-se para mim. — Você
deixou sua bolsa pronta?
— Larguei na sala antes de vir para cá encontrar esse
monstrinho.
Dante segura minha mão antes de eu conseguir apertar suas
dobrinhas. Enquanto ele for criança, será tratado como tal.
— Então vamos. Travis já está nos esperando — Madeleine
comunica e vira-se para Luigi colocando-se em movimento. — Ligue
para Dario e o mande ir para lá logo. Não quero que se atrase e não
aceito que não vá.
Luigi assente e some pelas portas da casa. Eu viro-me para
Madeleine e beijo seu rosto.
— Sou tão feliz por você existir.
Ela me dá um sorriso neutro e pega minha mão apertando.
— Eu também sou feliz por estar aqui.
Hoje como será meu aniversário de dezoito anos, um dia
histórico, e acho que Travis está tentando se despedir de uma forma
escandalosamente glamorosa sendo a última festa de aniversário
que ele poderá me dar, que realmente estarei em casa. Minha festa
será no salão clássico do Bellagio.
No quarto do hotel, eu subo para o quarto de luxo que Travis
reservou para mim. Não é o máster, porém é um dos melhores e
não estou no top dos top porque não quis. Eu pedi a ele para ser
uma garota normal hoje. Ele riu e disse: “Você não é normal, mas te
darei o que pede”.
Depois de umas horas na banheira, relaxando e esfoliando
minha pele. Saio para começar a me preparar. Uma cabeleireira
vem fazer meu cabelo. Só escovei e ondulei as pontas. Logo que
estou a sós de novo, eu me apronto.
Parada em frente ao espelho de corpo inteiro do quarto, me
olho e mordo o lábio por estar tão “não eu”. Hoje não sou a doce
menininha de Travis que todos temem encostar desde que ele me
assumiu.
Uso um vestido vermelho colado ao meu corpo até o alto das
minhas coxas e solto pra baixo. Ele tem uma fenda da altura da
minha coxa direita até o chão. É lindo e sexy. Segura bem meus
peitos, que graças a muitos exercícios, genética e alimentação são
firmes e não muito grandes. Minhas sandálias prateadas com
diamantes cravados. Na minha boca escolho um batom nude com o
gloss de morango para combinar com a maquiagem leve, apenas o
delineador de gatinho que adoro.
Estou um escândalo, mas Travis não poderá falar nada
contra. O vestido é até comportado e Madeleine que escolheu
comigo, e como ela é minha mãe, ele não tem que falar nada.
Botando perfume de novo, estou prestes a sair quando paro
encarando a porta. Respiro fundo lembrando do colar.
Então eu volto vou até minha mala e acho o presente. O
primeiro presente que ele me deu. O colar de coração de rubi. Eu
nunca usei. Achei que era demais para mim naquela época, mas
hoje...
Por fim, pego e me encarando no espelho coloco ele sobre o
meu colo. Analiso se uso ou não hoje. Tiro de cima de mim, coloco
de volta e com toda a coragem do mundo o coloco de uma vez. O
frio dos diamantes na minha pele me deixa arrepiada e o peso do
rubi é até confortável sob meu pescoço. Sorrio satisfeita porque
combinou.
— Perfeito — digo em voz alta.
Saio do quarto e chegando na sala, alguém bate na porta e
eu saio do meu devaneio de me fingir ser outra garota hoje. Nossa,
já deve estar na hora de descer.
— Eu já vou — grito e pego meu celular na mesa. Ajeitando
meu cabelo abro a porta e meu coração parece que cai nos meus
pés. — Amândio.
— Oi, Marinne — ele me cumprimenta.
Acho que parei de respirar.
Ele realmente está na minha frente depois de dois anos e se
eu estava achando ele bonito nas fotos, pessoalmente ele arrancou
meu fôlego. Meu Deus!
Ele parece mais maduro, seguro e firme. Está todo de preto e
o seu cabelo agora está mais baixa e escuro. Não lembrava que era
tão castanho. Seu rosto tem uma barba por fazer cultivada e a
parada, parece que arranha. Seus olhos cinza profundos e intensos
como eu me lembrava.
Consigo perceber debaixo do paletó seus músculos tão
aparentes e na mão direita tem um anel no dedo mindinho e não sei
se é, mas parece uma tatuagem saindo por debaixo do colarinho da
camiseta. Ele não está de camisa social. Dá para perceber também
o couro do coldre por baixo do paletó. Calça, camisa, paletó e
sapatos preto. Perfeitamente pretos e polido.
Engulo em seco com toda a parcimônia que consigo para ele
não enxergar meu nervosismo e volto meu rosto para o dele.
Madre del cielo!
Ele é tão... É extraordinariamente bonito.
— Posso entrar? — Ele pergunta.
— Não acho que é apropriado. — Olho para Mario, meu
segurança do outro lado do corredor olhando para mim.
—Eu já pedi e me falaram que não tem problema. Só quero
— ergue a mão mostrando o embrulho de presente — entregar isso
para você.
Tem uma musiquinha boba na minha cabeça nesse
momento.
Sorrio e dou de ombros. Ele e essa mania de me entregar
presente sozinho.
— Tudo bem, se deixaram.
— Cinco minutos — Mario fala alto.
Amândio não olha para ele quando diz:
— Não se preocupe. Cinco minutos.
Segurando a respiração, deixo que ele passe por mim e
feche a porta. Observando ele indo mais para sala parando quase
no limite das portas do meu quarto, solto o ar lentamente e caminho
até ele.
Amândio se vira e me encara com tanta intensidade. Porra!
Eu juro que estou tentando respirar normal, mas meus pulmões
falham. Acho que preciso de um balão de oxigênio.
— Eu trouxe isso para você da Itália. Espero que goste.
— Era lá que você estava? — digo sem me mexer para
aceitar o presente.
— Como? — ele franze a testa e chega mais perto,
diminuindo nossa distância e sinto seu perfume. O cheiro
almiscarado de perfume masculino seco e não enjoativo. Na
verdade, é viciante.
— Esse tempo todo que você me ignorou estava na Itália?
Eu cheguei a ler sobre ele estar na Itália, mas nada
confirmado pela Darkness.
— Na verdade — ele dá outro passo e agora dá para
observar melhor os traços do seu rosto — eu precisei ir.
— Podia ter ligado. Dado um sinal de alerta, qualquer coisa.
Achei que não o veria hoje só no casamento. Quebrou o acordo de
Travis de nos conhecermos.
— Marinne — range os dentes e coloca a mão livre dentro do
bolso. — Saiba que não foi minha intensão sumir por tanto tempo.
— Tudo bem, mas perdemos a oportunidade de nos
conhecer. — Eu não deveria me sentir tão abalada por isso, mas
fiquei porque no fim ele é um estranho. Não sei nada sobre ele além
do óbvio e vou precisa dormir na mesma cama. Morar na mesma
casa e numa cidade nova da noite pro dia.
— Vou tentar compensar.
— Como exatamente? — De onde está vindo tanta
coragem?!
Então ele está perto de mim, bem perto de mim, tão perto de
mim que eu quase perco ar e seja o que tiver dentro do embrulho,
ele deixa cair no chão e sua mão desliza pela minha cintura,
puxando-me ao seu encontro e a mão que estava no bolso chega no
meu rosto.
Congelo e apenas sinto seus dedos correndo pela minha
nuca e ele toca sua boca nos meus lábios. Em choque me dou
conta de que: Ele Acabou De Me Beijar ! Rápido como uma
promessa. E me surpreende novamente deixando um beijo na
minha testa antes de encarar-me nos olhos.
— A gente tem a vida toda para nos conhecermos. Não liguei
porque não podia, estava a negócios na Itália e não foi minha
intensão deixá-la chateada.
Sinto como fosse um pedido de desculpas sem as próprias
palavras. Um Homem Feito não pede desculpas, não lamenta, não
diz: sinto muito.
— Eu não cumprir minha palavra, sei disso, mas quero que
saiba que honro meus compromissos e que não fiz porque
realmente não foi possível, Marinne.
— Está com medo do meu irmão?
— Se eu tivesse não tinha acabado de te beijar.
Isso faz eu abrir um sorriso e assentir. Seus olhos ficam
escuros, o azul sumindo, ficando totalmente cinza.
— Já tinha sido beijada? — ele pergunta.
— É claro que não — falo rápido. — Eu sou sua desde os
quinze anos. Nunca cheguei nem perto de outro homem e...
Sou interrompida por sua boca afoita beijando-me de novo.
Suas mãos seguram meu rosto e mesmo que não coloque força, o
jeito que seu corpo projeta-se, o jeito como domina até o ar em
nossa volta. Seus lábios amassam os meus e curiosa abro os meus.
Sinto a umidade da sua língua tentando contato e permito.
Meu corpo todo se arrepia, meu coração parece que quer
parar ao mesmo tempo que acelera como um motor de um carro
subindo uma ladeira. Seu jeito de lamber minha boca parece que
sou um aperitivo, que está me dando uma mostra e fico agitada.
Fecho minhas mãos soltas ao lado do meu corpo. Não sei o que
fazer. Se retribuo, agarro ou empurro ele. Não sei de nada porque
ele me beijar é bom. É incrível.
Respirando fundo, ele dá um beijo rápido e seco no meus
lábios, se afasta acariciando meu rosto, colocando o cabelo atrás da
minha orelha, seus olhos focam no meu pescoço e algo primitivo
reflete neles.
— Você está usando.
Olho para o mesmo local e entendo que está falando do
colocar de rubi. Levanto a cabeça e fito-o.
— É claro.
— Quando eu te dei imaginei você assim; uma mulher linda,
não uma menina doce demais usando.
— Era assim que você me via? Uma menina? Uma criança?
— Eu via você da mesma forma que olhava para minha irmã
mais nova. Para mim era inaceitável ter qualquer tipo de
pensamento além deste com você.
— Você tem moral — solto e me arrependo.
— Sobre isso sim.
Como dou de ombros, ele se afasta de uma vez, não antes
de acariciar meu lábio inferior com seu polegar.
— Ainda me vê como criança?
— Acha que sim depois de beijar você?
— Não — murmuro.
Recuperado, se agacha com toda elegância e pega o
embrulho. Levanta-se e me entrega.
— Espero que goste.
Sorrio com educação e desembrulho. Vejo que é uma caixa
de veludo como a do colar de rui e pergunto a ele.
— Outro cordão?
— Esse é um colar de família, por isso espero que você
goste.
— Está bom — digo com um sorriso e olho para a caixinha,
abrindo-a vejo um colar totalmente diferentes do outro. Esse é de
ouro, cordão simples com um pingente pequeno, um crucifixo
adornado de ouro de 3 cm.
— E esse é do meu avô.
Franzo a testa e pego uma nova caixinha, abro e encontro
um relógio de ouro fino, simples da Ralph Lauren.
— Adorei. Muito obrigada e estou em choque com o presente
dele.
— Eu estava por lá e ele quis lhe dar boas-vindas a nossa
família.
Isso significa muito em nosso círculo. Alguns podem até nutri
uma raiva de mim por inveja. Não é todos que tem essa honra de
Cassio D’Ângelo. É notória sua frieza.
— Espero ter a oportunidade de agradecer pessoalmente a
ele.
— Você terá em nosso casamento.
Assinto e voou colocar os presentes sobre a mesa. Voltando,
Amândio me olha dos pés a cabeça e de novo o olhar primitivo,
quase perigoso quando nossos olhos se encontram de novo.
Limpo a garganta e ele olha o relógio.
— Acho que os cinco minutos já acabaram e se você não
quer que Mario entre e tente lhe dar um tiro, é melhor sair.
Dando dois passos, acaba com nossa distância e murmura
com a voz perigosa.
— Ele nem teria chance — o sorriso perverso cruza seu rosto
e se afasta. — Mas é melhor ir.
— Sim — dou de ombros. — Eu também já estou indo.
Concorda com um simples aceno.
— Antes limpe sua boca e retoque o batom.
Um frio na minha barriga quase faz eu vomitar de nervoso e
corro para dentro do quarto. Escovo os dentes, coloco spray bocal,
retoco a maquiagem perto da boca e coloco o batom com muito
gloss. Merda se Travis souber. Nós apenas nos beijamos, eu sei,
mas é contra as regras de etiqueta.
Encaro-me no espelho, vejo um sorriso de vergonha
misturado com nervosismo e coloco mais perfume.
Inspiro e sentindo-me pronta, vou ao seu encontro, que
permaneceu parado no lugar e quando me vê, se aproxima e põe a
mão em minhas costas. A sensação. Aquele calor de novo volta e
percorre todo meu corpo e parece explodir no meu coração.
Nós saímos do quarto e ele se afasta imediatamente vendo a
cara de Mario que não está mais do outro lado do corredor. Está ao
meu lado e gentilmente sem me tocar me direciona a ficar do lado
oposto de Amândio.
— Temos um trato, não temos?
— Pelo fato de você ter cumprido os cinco minutos, não vou
falar — Mario fala bem sério. — E não acredito que tenha
acontecido nada.
Acontecido nada?
— A senhorita Marinne pode confirmar — Amândio fala
olhando em meus olhos.
Engulo em seco e fito Mario.
— Ele só me deu meu presente.
— Então tudo bem e ela é seu noiva, o que é que eu posso
fazer.
Prefiro manter essa conversa em sigilo, Travis o mataria. Na
verdade as tradições pedem que a gente não fique sozinho antes de
estar oficialmente casados para não correr o risco de quebrar a
nojenta tradição do lençol da virgindade. Essa droga é tão antiga e
cruel com as mulheres. Acho que a Cosa Nostra não deveria ter se
inspirado nos ancestrais sobre isso. É repugnante. Espero que um
dia seja abolida de uma vez por todas.
Quando vi o lençol da nova esposa de Paolo corri para
vomitar. Quando Madeleine e Travis casaram eu não tinha noção
disso, era proibido para mim porque era muito jovem, e eles nem se
preocuparam em honrar essa droga porque o noivado e
relacionamento deles quebrou inúmeras tradições. Sem contar que
mesmo que tivesse que fazê-la não teria como pelo ocorrido pós
cerimônia.
Assentindo olho meu noivo, que estava me olhando e
sussurro:
— Está tudo bem.
— Certo, agora vamos senhorita.
Sem dar mais nenhuma palavra, dou um aceno para
Amândio, viro-me com Mario e o outro soldado, e caminho pelo
corredor com o pensamento no meu primeiro beijo. Errado ou não,
foi o melhor presente deste dia porque matou uma enorme
curiosidade. Acho que gosto de beijar.
Outubro de 2017

A situação da Lawless andou muito bem durante os quatro


últimos anos. Não tenho o que reclamar sobre a lealdade de Paolo e
Luca, que são os meus braços e estão dispostos a defender nossa
Famiglia com suas vidas, embora para Paolo ficou mais estreito
esse tipo de decisão. Ele pode esconder o quanto for e de quem
quiser, mas sei que seu casamento não é mais para agradar nossas
tradições e ter uma mãe para sua filha.
Por sorte, Luca continuou sendo um baderneiro sanguinário,
não se casou e se tem um filho é porque não consegue segurar o
pau – até hoje – nas calças. O garoto foi um problema a ser
resolvido com urgência e tendo minha interferência.
Filhos bastardos recebem muitos olhares de repudio e Remo
foi descoberto quando já estava para completar quatro anos, e
justamente em dois mil e treze. O ano quando todos já estavam de
olho em mim por conta das decisões de Colen.
Ah, Colen. Meu irmão. Sempre pensei que ele seria meus
braços, ouvidos e se acontecesse algo, meu sucessor até um filho
meu poder tronar minha cadeira. Então fez sua escolha de mulher e
gerou um conflito direto com a Bratva. Que interferiu nossa aliança
com a Darkness, e nós mesmos. Muitos soldados questionaram-me
e depois de anos, meu avô voltou a Las Vegas. Foi uma merda das
grandes e por pouco não gerou uma guerra generalizada que teria
que vir interferência da própria Cosa Nostra e a Camorra. Quis de
verdade matá-lo. Eu tinha uma merda de corda no pescoço: ele ou
eu.
No fim tudo se ajeitou, mesmo eu sabendo que alguns
soldados não aceitaram o ultimato dado entre eu e meu avô sobre o
assunto.
Amândio ponderou, mas tocou o foda-se e saiu de cena,
rápido até demais. Tive a sensação de que Marinne teve tudo a ver
com sua decisão final, e Cassio não apoiaria o neto entrar em
guerra conosco por tão pouco.
A Bratva recuou com o rabo entre as pernas assim que a
Camorra mando-lhes um aviso no estilo dos filhos da puta russos.
Atualmente estamos “civilizados”. Nós não nos tornamos amigos,
isso jamais, nunca, acontecerá, mas por enquanto estamos nos
ignorando. Silêncios e esperando o passo errado do outro para
atacar. Sei tanto disso que duro com um olho no Texas e Chicago,
onde eles estão mais fixos nos conflitos.
E no final de dois e quinze tive algo a comemorar com direito
a promoção nos cassinos e bônus para os meus soldados. Vitorio
Malvez morreu.
Enfim, Malvez saiu de vez do meu radar da forma que eu
adoraria ter feito com minhas próprias mãos. Ele mereceu e espero
que agora a Blood Hands tenha um líder mais firme, mesmo
sabendo da juventude de Santino D’Antônio. Entretanto, com Cassio
D’Ângelo supervisionando-o de perto, não terá erro.
Antonio Basso está cada ano mais fraco e não vejo uma
melhora para sua retaguarda, a não ser um acordo com uma das
Famiglia, e isso só faz Amândio querer com mais ímpeto o território
daquele gordo imundo. Se ele for pra guerra, acredito que Santino
não interferirá e eu com certeza ajudo. Eu não amava meu pai,
nunca amei, porém ainda quero vingança contra Antonio por
compactuar com Vitorio.
Enquanto os outros territórios têm seus próprios problemas, o
meu foco é a preocupação de proteger meu filho e esposa. Estou
puto e aflito com as invasões aos estabelecimentos da Famiglia em
Reno. Os malditos dos MCs não querem me ouvir quando devolvo
os corpos cortados dos invasores. Eles continuam causando tumulto
as luzes do dia pela cidade, deixando a polícia em alerta. Alguns eu
tive que mandar matar porque não aceitaram dinheiro para ficarem
quietos. E agora eles partiram para Las Vegas. Não sei quanto
tempo vou manter minha forma blasé de exterminar os “problemas”.
Estou mantendo meu monstro recuado porque se ele sair
não conseguirei voltar para casa e abraçar minha esposa e filho.
Dante é pequeno demais para lidar com esse meu lado ainda.
Paolo anda me pressionando sobre o assunto e com minha
conduta. Brigamos ontem por ele me acusar de estar amolecendo
por culpa de Madeleine. O desgraçado disse que estou com medo.
Cazzo. Eu não tenho medo de mostrar minha verdadeira natureza,
tenho medo do depois. Invés de me acusar de tal coisa deveria me
perguntar como enjaular meu lado sádico de volta na masmorra.
O foda é que não tenho apenas sua voz na minha cabeça.
Meu avô, depois que a avó morreu ano passado, quer meu
lado furioso de volta. Enzo e Luca me dão olhares questionáveis
quando os ordeno a cuidar dos MCs ou abater soldados inimigos.
Antes eu ia junto.
Sei que preciso voltar a sujar minhas mãos de sangue. Eu
nasci para isso, não sou a merda de um empresário milionário dono
de cassinos e hotéis, como as revistas falam. Eu sou um assassino.
Um demônio em carcaça de humano. Estão me provocando para
ser mau. Bene, eu serei o pior, mas com a minha mulher não.
Manter meu lado civil demorou muito para aprimorar, mesmo
que em casa por Marinne eu sempre tivesse cuidado, era apenas
nos fins de semana. Então Madeleine veio e eu precisei guardar a
fera todos os dias, falhando algumas vezes.
Respirando fundo, ajeito a arma no coldre debaixo do paletó
e saio do carro. Encaro a faixada da minha casa e passo rápido
pelos degraus.
Depois de uma manhã cheia e uma reunião com meu avô
que voltou a morar na antiga casa em Paradise, chegar em casa era
tudo que eu precisava.
Na porta, sinto meu celular vibrar e atendo.
— Por que é tão difícil falar com você?
— Estava ocupado. Por que tanta urgência? — Ruge do
outro lado da linha Colen.
Esse envolvimento demais com as pessoas de fora o
deixaram literalmente fora dos negócios e eixo. Eu gosto de Ethan
Brown, o cara é um excelente homem e também guarda dentro de si
uma fera. Reservada a cuidar da sua esposa e filhos. Ele foi uma
aliança que gostei de fazer, mesmo meu avô odiando a ideia.
Merda. Nós nossos parceiros e ele me paga para cuidar da
segurança da sua família como nenhum outro afiliado a Famiglia
faz. Ethan e eu temos algo absolutamente em comum. Eu não
descanso quando o assunto é a segurança da minha família
também.
— Os Brown tiveram problemas de novo?
— Não. Está tudo tranquilo em Malibu e Vito me contatou
para dizer que o Underboss de São Francisco anda irritado com o
Consigliere. Vou precisar cuidar disso.
— Você está aonde? — Pergunto já sabendo da resposta.
Eu não sei o que Colen viu em Los Angeles, mas nunca mais
foi o mesmo, principalmente depois que a esposa de Ethan foi
sequestrada e quase morreu. Algo me diz que ela lhe deu gatilhos
profundos sobre Kira.
Colen preferiu migrar para Califórnia, levar nosso executor
mais brando com mulheres, Vito para ser seu Testa, virar o
Underboss e mandar Orazio cuidar de San Diego.
O estado é grande para precisar de três subchefes, e todos
sabem que Colen optou ficar por lá por dois motivos. Os Brown e os
olhos enojados para sua esposa. Fez isso por si mesmo e por mim.
Quase um exílio para proteger-me das más línguas dos Clãs
tradicionais demais que nunca vão aceitar uma mulher da Bratva
entre nós, principalmente na família do Capo.
— Na estrada. Rocco está no comando e Vito está comigo.
— Certo. Quando chegar em São Francisco me ligue e fala o
que está acontecendo.
— Claro — responde e desliga.
Colocando o celular no bolso, entro em casa com a sensação
apaziguadora. Vou direto para o quintal ouvindo os gritos de Dante,
os latidos dos cachorros e Maria, a babá.
Nas portas duplas vejo Maria sentada no gramado, um pouco
ao longe da área da piscina, batendo as mãos para Dante. Ele grita
e corre em sua direção, mas quando me vê alarga seu sorriso e vem
para mim.
— Pai! — Grita com sua voz infantil de cinco anos.
Deixo escapar um riso fraco e me preparo para o seu ataque
em minhas pernas.
— Ciao, mio piccolo capo — falo em italiano, porque ele
gosta e quero que saiba a língua de origem da nossa família. Nós
falamos em inglês e italiano em casa.
Pego-o no colo e ajeito sua camisa social. Adoro que ele já
goste de vestir preto e quer me imitar. Sinto falta da Marinne rindo
disso e falando que Madeleine é tão apaixonada por mim que quer
fazer do nosso filho minha cópia.
— Onde está a mamãe?
— No trabalho. Vou lá busca-la daqui a pouco — respondo e
observo-o mexer na gola do meu paletó.
Amo esse garoto. Minha carne e sangue. Eu sangrarei por
ele e matarei. Estão todos errados pensando que enfraqueci por
conta da superproteção com minha mulher e filho. Eu vou mostrar
que não e aí todos se arrependerão.
— Posso ir com você?
Antes que eu responda, meu celular vibra de novo. Beijando
sua testa, coloco-o no chão e atendo Paolo. Não é coisa boa. Ele
não me liga à toa.
— O que houve?
— Achamos Gabriel.
Assinto em automático sentindo a cólera passar por mim.
Pelo visto o monstro voltará a superfície antes do esperado.
Com uma afobação incomum, me guiam para fora do Bellagio
e eu vou acompanhando seus passos largos e olhares sabidos.
Quem sabe sobre nós, não disfarça a curiosidade, os alheios deve
pensar que sou alguém importante. E, a verdade, é que sou mesmo.
— Por que tanta pressa pra me fazem ir embora? —
pergunto para o motorista.
— Foram ordens do senhor Travis.
Se não fosse nada grave, ele não mandaria eu ir pra casa,
não é comum. E quando Luca entra no carro com Luigi ao telefone
na parte da frente, meu sangue gela.
— Me fala o que que houve — peço a Luca.
— Não tem nada.
— É claro que tem alguma coisa errada. Travis não me
manda pra casa desse jeito. — Ele não me trata assim. Está
nitidamente me dando um ultimato. — Então me fala o que que foi,
Luca.
Ele respira, pensativo e acaba cedendo.
— Encontramos Gabriel.
— Filho de Orazio?
— É.
Meu coração para um batida e penso em Bárbara. O irmão
dela tinha fugido do território da Lawless depois de matar dois
soldados. não se sabe a razão e pelo que tono no timbre da voz da
Luca, saberão esta noite.
— Para onde o levaram?
— Para o lugar de sempre. A balcão. Faremos uma reunião
com Vincenzo, Orazio e Travis.
Balcão seria melhor dizer; lugar de sacrifício. E reunião é
uma forma muito singela de dizer o que eles fazem lá. Mesmo que
de vez em quando se reúnem para falar sobre distribuição de
drogas e armas, e alguns planos de retaliação contra os
motoqueiros, os mexicanos e a maldita Bratva.
— Então você vai me levar pra lá.
Há algum tempo Travis anda pensativo e com o olhar frio.
Tenho receio do que possa fazer. Independente da sua causa,
Gabriel irá morrer.
— Sabe que não é pra você ficar se envolvendo nesses
negócios. Só deixaram você participar uma vez, Madeleine. Por
favor, não peça isso.
— Está me pedindo por favor, então tenho boas chances de
você aceitar. — Mudo minha postura, largando minha bolsa pro lado
e me inclinando para encarar seus olhos azulados. — Então em vez
de fazer eu gastar minha saliva, me poupe mandando o motorista ir
pra onde está o meu marido.
— Travis não deveria te dar tanta ousadia.
Dou um suspiro irritado, sentindo minhas narinas alargar e
fixo meus olhos nos seus, apertando e intimidando.
— Nunca mais você vai repetir isso para mim, Luca Bracy —
digo entredentes e sentindo meu rosto repuxar de ódio. — Eu sou o
que preciso ser. Meu marido não reclama, então quem é você pra
falar alguma coisa.
— Madeleine...
— Pode ser — interrompo-o — que você esteja preocupado
do que Travis vai pensar de eu ter te persuadido tão bem pra me
levar aonde eu quero, quando eu quero. Talvez ele queira arrancar
um dedo seu. — aprumo a postara. — Resolvo com ele depois.
Você não está fazendo nada demais e tudo que eu for ver lá, não vai
ser grandes coisas pelo que eu já passei. Mas nunca mais pense
em falar comigo como falou.
Engolindo a saliva visivelmente puto, acena que sim.
— Tudo bem, Madeleine. — Ele bate na parte que divide o
espaço do motorista e ordena: — Vamos para o balcão.

Respiro fundo e caminho pelo corredor escuro do prédio maior


do balcão. Luca vem atrás de mim falando sem parar com Luigi. Os
dois as vezes fazem minha segurança. Bem, a verdade, é que Luigi
e Luca só ficam atrás de mim quando Travis não está. Eu não acho
isso uma coisa ruim, mesmo muito puta com Luca no momento, eles
são mais treinados e capazes do que eu em um eventual ataque a
mim.
Chego no andar e corredor onde fica os quartos dos cativos e
tortura, e respiro fundo de novo. Apreensiva, lembro de Travis sendo
um prisioneiro e meu estômago embrulha.
O corredor tem uma mancha de sangue enorme e o cheiro
de ferro é terrivelmente nojento e enjoativo. Quando viro para o
quarto que Luca entrou antes de mim, arregalo os olhos vendo
Travis apertar sem vacilar com as duas mãos o pescoço de Gabriel
coberto de sangue e cortes no abdômen feito por facas e umas
parecem unhas.
Engulo em seco percebendo que Travis não está de luva e
ele sempre fala que odeia sangue nas unhas. Mio Dio.
Vislumbro a fera que todos ainda tem muito pavor de
provocar. Muitos dos homens de Travis tem receio de dizer algo e
deixá-lo desenfreado.
Inicialmente fico um momento em silêncio porque não quero
que ele perceba que estou aqui.
Ele continua estrangulando Gabriel com os olhos
admiradores de Paolo e Luca.
Mio Dio. Ele não vai parar.
Assim vai matar Gabriel sufocado em seu próprio sangue
assim que conseguir quebrar seu pescoço, e não demorará muito
pois escuto daqui um dos ossos instalarem no pescoço de Gabriel e
ele segurar com toda força, os mãos entrelaçadas em volta do seu
pescoço.
— Travis?
Ele nem me ouve, focado em sua vingança.
— Travis? — chamo de novo e de novo.
Finalmente ele respira. Pisca os olhos como tivesse em
transe e vira o rosto lentamente pra mim. Eu não preciso perguntar
a ele que está desapontado e enfurecido por me ver aqui. Engolindo
em seco, respira profundamente e como se fosse um pedaço de
pano velho, joga o homem no chão que está banhado de sangue e
caminha até a mim com passos largos, que parece que vão quebrar
o chão.
— O que você está fazendo aqui? — diz com sua voz gélida.
— Eu mandei Luca te levar pra casa.
— Você não me manda, Travis.
Seus olhos ganham um brilho perigoso, mas sei que nunca
me machucaria.
— E por que que você está tentando matar aquele homem
com a suas próprias mãos? Você ia esmagar o pescoço dele. —
Arregalo os olhos pois é terrível demais.
— Não se meta em como faço meus serviços, Madeleine.
Eu não consigo enxergar o meu marido agora, mesmo assim
dou dois passos, um palmo nos separando, e fito dentro dos seus
olhos tentando enxergar o real motivo desse ato.
— O que que está acontecendo?
— Nada! — Ele responde seco.
Balanço a cabeça me recusando a aceitar sua resposta.
— Me fala. Apenas me fala o que que é.
Eu consigo não apenas ver como ouvir ele cerrar a
mandíbula. Ouvir os dentes batendo um no outro e quando sua mão
segura o meu antebraço tem uma força, um toque e um peso brutal.
Ele me leva para fora do quarto. Seguimos por uma escada e
quando dou por mim estamos num quarto. Bate a porta com toda
força e me solta no meio de um quarto até visualmente decente para
onde estamos.
— Não se meta nos meus negócios.
Sinto meu queixo tremer e fico irritada por parecer fraca
assim.
Mio Dio! Acho que sei o que é. Porra. Eu realmente não sei o
que fazer se for o que eu acho que é.
— Qual o motivo disso.
— Madeleine — me avisa, porém não recuo. Não tenho
medo.
— Me diga.
Após uma longa pausa, inspirando e expirando como tivesse
correndo uma maratona, murmura raivoso:
— Eles estão duvidando de mim.
Franzo a testa e meu coração parece que faz o mesmo, se
esmaga porque odeio toda essa animosidade que representa todos
nós.
— Eles estão achando que estou fraco, que estou mole, que
perdi a minha garra de antes.
— Estão querendo dizer que você ficou bonzinho?
— Não leva na brincadeira — fala áspero.
— Eu não estou — digo afirmando. — Só acho um absurdo.
Nós estamos casados há cinco anos e quantas vezes você saiu e
fez o que tinha que fazer?! Matou, torturou e sacrificou quem tinha
que receber seu ódio. Você cortou em pedaços, sem remorso o cara
do Beauty. E ainda chegou em casa e transou comigo como um
selvagem e conseguiu dormir tranquilamente. Você ainda é o
mesmo... — pauso pra respirar. — Quer que eu fale alto?
Seu semblante fica mais fechado, raivoso e o brilho nos seus
olhos é de puro ódio. Odeio de si mesmo.
— Você ainda é um monstro — as palavras me ferem. —
Ainda é o bicho papão que todos eles têm que temer, mas não é
com sua esposa, seu filho e nem com seus irmãos. É assim que tem
que ser um homem de honra. Então, se você está me dizendo que
acham que você ficou mole por causa de mim e de Dante, lamento
informar que vai piorar.
— Por quê? — Franze a testa e vislumbro meu marido agora.
— Eu estou grávida, Travis.
Seu rosto mostrar a batalha interna e mesmo sabendo que
estou lhe colocando mais pressão, continuo.
— A forma como você quer matar Gabriel porque traiu a
Lawless, se for da sua vontade, faça. Ele merece que você o mate e
parta em pedaços, taque fogo, afogue, mas se não for por você,
liberte-o.
— Você não me dar ordens. — Segura meus braços
firmemente.
— Não. Eu não te dou ordens, mas você sempre escuta
meus conselhos e sinceramente se Paolo pudesse falar com você,
aconselharia a mesmice coisa.
— Como se ele me pressiona também.
— Então foda-se, Travis. Você não precisa provar nada pra
nenhum desses filhos da puta. Você é ainda o mesmo carrasco para
os que roubam, traem e causam desordem para sua cidade e a
Famiglia. Você não precisa sacrificar suas convicções pra provar
nada. — Seguro seu rosto e inclino para mim. — Foda-se que você
gosta da sua esposa e a trata bem. Isso te torna um homem
honrado. Eles deveriam seguir o seu conselho, não ficar falando
merdas.
Estou muito tranquila e ele percebe. Minha pulsação não se
altera. É tanto minha verdade esse sentimento, que ele afrouxa o
aperto em meus braços. E mesmo sabendo que suas mãos estão
com sangue, deixo que segure meu rosto. Seus lábios tocam os
meus com fúria.
— Você me amar não lhe torna fraco — digo fixando nosso
olhar.
— Eu sei disso.
— Sim, você sabe disso. — Beijo sua boca. — Pelo amor de
Deus, são seis anos juntos e só porque você agora não sai matando
que nem antes, significa que a culpa é do seu casamento? Isso
demonstra que está mais estrategista e cauteloso. Querem que
você seja um psicopata? Matar por diversão. — Balanço a cabeça.
— Não foi com esse homem que eu casei. Você é cruel, frio e sim
um assassino, mas não um maníaco. Aceitei casar com você porque
sempre achei você era justo e um ótimo julgador de caráter. Por
favor não se transforma no seu pai.
As palavras o acertam e suas mãos apertam-se em meu
rosto.
— Eu sempre fui um ótimo julgador de caráter e não é como
se eu precisasse matar as pessoas à toa, mas de vez em quando eu
preciso que as pessoas entendam.
— Eu sei.
— E o que Gabriel fez não posso tolerar ou puni-lo como um
simples roubo nos cassinos. Sua punição precisar doer em todos
que o ajudaram, nos que pensam igual e nos seus pais.
— O que ele fez? — Engulo em seco.
— Ele foi pego se agarrando com dois homens pelos
soldados da Famiglia. Invés de tentar conversar ou mesmo fugir
antes, embora já fosse uma traição. Gabriel matou os soldados e
fugiu levando uma mala de dinheiro de Orazio dando a entender que
o pai acobertou sua fuga. São muitos erros numa única situação.
Assinto me afastando dele e sento na cama. Travis caminha
até a mim e eu levanto o rosto para enxergá-lo.
— Ele já iria morrer por ser gay, não negue.
— Não fiz as regras, Madeleine, mas lhe garanto que até
desertaria ele para o Canada ou pra puta que pariu, mas ele matou
dois homens meus e incriminou o pai. Se não tivessem descoberto
tudo, agora eu estaria procurando um novo Underboss para San
Diego.
E fazendo Bárbara chorar pelo pai e pelo irmão. Iria manchar
ainda mais os Mancini.
— Hipocrisia de tradições — resmungo.
Travis respira com força e senta ao meu lado.
— Sabe que concordo com você sobre isso e se pudesse
mudar algumas coisas eu mudaria. Mas o fato não é ele beijar
homens, e sim estar na rua, colocando-se em risco e matar
soldados da Famiglia. Ele traiu a ele mesmo.
— Então vai lá e... — perco a voz e começo a chorar.
— Ei — ele me coloca no seu colo e abraça. — Por que isso?
— Tenho medo do nosso filho...
— Shu... — Ele me silencia com o dedo na minha boca. —
Não pense isso.
Fungo, escondo meu rosto no seu peito e permito-me aliviar
meus medos e a imagem dele enforcando Gabriel. Mais calma, me
afasto e levanto do seu colo, e não vou longe. Suas mãos seguram
minha cintura e olha da minha barriga para meu rosto.
— É verdade mesmo?
Sorrio fracamente e assinto.
— Descobriu quando?
— Hoje de manhã e agora... estou com medo dos nossos
filhos ultrapassarem algum limite da Famiglia.
Travis não diz nada e seu olhar muda fitando minha barriga.
Posso imaginá-lo pedindo a Deus essa misericórdia. Ele não
conseguirá punir nem Dante e nem esse bebê em meu ventre. Só
que nós somos tão pecadores que não podemos pedir nada aos
céus.
Fecho os olhos e abraço sua cabeça quando descansa na
minha barriga.
— Vai ficar tudo bem. Nossos filhos nos orgulharão.
E do fundo do coração, Travis não merece um desgosto
assim. Um filho traidor.
Julho de 2020

Sentada na espreguiçadeira da piscina, tomando um sol


gostoso do verão, cada vez mais forte em Nevada, escuto leves
passos em minha direção e imediatamente abro um sorriso porque
sei quem é. Espero ansiosamente.
— Mamãe! — Giulia exclama batendo de leve nos meus
ombros como fosse fazer algum estrago.
— Oi, querida — digo quando ela para na minha frente.
— Você não levou um susto? — pergunta com a sua vozinha
tão fofa e um pouco atrapalhada ainda.
Minha pequena e doce Giulia acabou de fazer dois anos,
mas é mais inteligente do que uma criança de dez.
— É claro que a mamãe levou um susto. Só não foi muito
grande porque ela está dormindo — digo afagando minha barriga de
oito meses.
Ela faz uma cara desesperada, franzindo a testa e fita meu
corpo inteiro antes de falar:
— Você vive cansada porque sua barriga está enorme?
Solto uma risada e respondo:
— É, meu amor. A mamãe está cansada porque está
carregando a sua nova irmãozinha.
— Você fica cansada de me carregar?
— Não do jeito que a mamãe está carregando ela.
— Como?
É óbvio que faria uma pergunta dessas. Dante e Giulia são
muito inteligentes e gostam de saber de tudo. Amo o jeito deles
serem assim, principalmente porque é uma mistura minha com
Travis perfeitamente. E preciso confessar que Dante com seus oito
anos é a coisa mais linda que eu já, assim como Giulia. Eles têm os
cabelos negros, a pele branquinho e olhos azuis enormes. Ainda
não sabemos se os olhos são meus ou de Travis. Como eu já
presumia, nossos filhos parecem muito com Marinne.
Desfocando do rostinho de Giulia, vejo Dante se aproximar.
Suspiro com seu jeitinho polido de andar. Meu homenzinho.
— Mãe.
— Sim, querido.
— Quer ajuda?
Sorrio e assinto.
— Com certeza. — Estico a mão. — Ajuda a mamãe a
levantar.
Ele ajuda com seu jeitinho independente e bruto, é óbvio que
ele ainda é um pouco delicado pelo fato de ser criança, mas já tem
vigor em suas mãozinhas e braços. Ele ama correr como Colen.
Não que Travis não seja um bom corredor, mas o temperamento é o
tio totalmente. Dante adora Colen.
— Quando o papai vai chegar? — Indaga enquanto ainda me
ajuda.
— Agora — uma voz profunda faz meu corpo todo se arrepiar
e sorrio mordendo os lábios.
Vindo pelas portas da varanda da casa e levanto o rosto para
ver meu lindo e irresistível marido. Sua máscara de Capo está do
lado de fora.
Desde que descobriu a gravidez de Giulia e tivemos a
conversa sobre ele não precisar ser o que querem, Travis se
fortaleceu perante seus homens e aprendeu a deixar sua máscara
de monstro – a todo vapor – fora de casa totalmente.
Embora não esteja sorrindo agora, parece tranquilo. Chega
até nós, pegando Giulia no colo, afaga e beija a cabeça do filho e
segura minha mão para ajudar-me a levantar de uma vez.
— Eu ia fazer isso — Dante exclama.
— Eu sei, mas você ficou distraído. — Sorrio para Dante. —
Está tudo bem, querido.
— Ele está certo — Travis diz. — Ele tem que cuidar da
mamãe.
Meu coração quase transporta quando escuto Travis falar
assim.
Uma coisa que Travis dá prioridade desde o primeiro
momento do nascimento do nosso filho, é que Dante me trate com
muito carinho, respeito e amor.
Eu sei que Dante tem que ser forte e que já nasceu com uma
coroa de chefe da máfia na cabeça. Um posto de crueldade e
brutalidade que exigirá que ele tenha trevas dentro de si para saber
lidar com as situações. No entanto, enquanto ele for criança e não
começar a ser iniciado como Madman, daqui a seis anos, meu filho
será tratado com o maior carinho do mundo. Ele vai saber que o
amor existe e que nos torna mais fortes, não ao contrário.
— Vamos entrar. Papai está com fome — Travis diz.
E da mesma forma que nosso filho é criado para me respeitar
e amar, é também para venerar seu pai. Travis foi criado de uma
forma terrível, nunca teve atenção da mãe e muito menos do pai.
Tudo que sua vida na infância o marcou, foi o transformando
em frieza. Ele não quer isso para os nossos filhos, muito menos
para o seu primogênito. O seu sucessor.
Sorrio acariciando minha barriga vendo meu pequeno Dante
correr para dentro de casa chamando Rosália. Outra que adora
meus filhos imensamente. Quando olho para Travis que percebo
que ele estava me encarando. Olhando de um jeito que me deixa
louca. As pernas fracas.
— O que foi?
— Nada — ele retruca e chegando mais perto, toca meu
rosto com um beijo terno nos lábios.
— Eu só estava admirando.
Sorrio como uma boba e engulo em seco. Eu nunca me senti
tão feliz.
A gente conseguiu encontrar um equilíbrio em uma vida
marcada de terror e uma luta constante. Nunca teremos uma paz
eterna, isso não existe no nosso mundo, porém com certeza temos
equilíbrio e procuramos em nossos lares a felicidade que nos cabe.
Eu estou repleta de amor e felicidade. E por isso que eu sou
tão forte. Meu coração está cheio de sentimentos bons e vê-lo com
nossa menina nos braços, me deixa boba.
— Chão! — Giulia pede e ele a satisfaz.
— Não saia daqui.
Ela assente atenta e obediente e vai brincar na grama.
Quando estamos à sós, porém atentos em Giulia, jogo meus braços
sobre os ombros de Travis e deixo que ele me beije de verdade.
Chego a ficar excitada.
— Eu sempre acho incrível o gosto de morango no seus
lábios.
Dou uma risadinha pelo seu comentário e um selinho no sua
boca.
— Você sempre vê uma coisa erótica aonde não tem.
Faz um gesto de desdém com a cabeça e alisa meu vestido
de grávida. Ele é salmão claro, preso apenas nos meus seios e o
resto todo solto fazendo minha barriga ficar ainda maior.
Falta só um mês para a nossa filha nascer e eu não veja a
hora de assistir Travis com a nossa nova menininha no colo. Eu sei
que ele vai continuar sendo um pai incrível para ela.
— Está ansioso? — pergunto baixinho.
— Um pouco — fala fazendo uma expressão pensativa. —
Eu vou ter que cuidar de você e delas agora. — Pousa as mãos na
minha barriga.
— Você já cuida de mim, querido. Você só vai ficar mais
possessivo e ciumento.
— Isso você pode ter certeza.
Rio do seu comentário e coloco a minha mão sobre a sua
quando a nossa bebê chuta.
— Eu acho que ela não gostou desse comentário e nem vem
falar de novo que ela só vai se casar com trinta anos.
— Até lá a gente conversa, tenho Giulia primeiro pra vigiar.
Sorrio de novo porque é a única coisa que faço agora.
— Me sinto tão feliz.
— Isso é bom.
Rio e assinto.
— Você é o amor da minha vida, sabia? Eu tenho uma
grande necessidade de dizer o quanto eu amo você todos os dias.
Ele bate a sua boca na minha e depois aproxima do meu
ouvido, dá um beijo no local e sussurra:
— Você é e sempre será o único amor da minha vida,
Madeleine. — Se afasta para fixar seus olhos nos meus. — Eu
sempre vou proteger você e nossos filhos. Quantos tivermos. Vocês
são minhas maiores riquezas. Fico motivado todo dia a ser um bom
líder para Lawless e um bom marido e pai par nossa família.
Sinto o gosto salgado das lágrimas e noto a quentura em
meus olhos. Travis fazer declarações é algo raro.
— Sabe o que eu queria.
— O quê? — ele pergunta, já de pronto com a mente
decidida a fazer tudo por mim.
— Queria renovar nossos votos, mas só para mim e você.
Ergue as sobrancelhas interessado.
— Dessa vez a gente vai poder dizer que se ama, sem se
importar com quem estiver por perto e vou poder ter um vestido para
guardar para mim como uma boa lembrança.
Ele limpa o canto do meu rosto a lágrima, que eu nem
percebi e dá um aceno concordando.
— Isso parece um bom plano. Vou providenciar e a gente
pode fazer isso na Itália, em uma daquelas igrejas pequenas. O que
você acha?
— Parece que você já tinha pensado nisso.
Ele tenta esconder o sorriso antes de falar:
— Não é que eu tenha pensado, ou não, no entanto eu
sempre gosto de ver você sorrindo e a última imagem do nosso
casamento é terrível. Já se passaram quase nove anos e mesmo
assim aquele sangue em você... — Faz uma pausa soltando a
respiração. — Eu queria que não tivesse sido assim.
— Aquilo não foi a pior coisa da minha vida — respondo
tocando a cicatriz que ficou no seu rosto. Hoje está bem mais leve,
quase não dá para ver, mas eu quase o perdi pelo plano mirabolante
de se entregar a Ivon.
— Eu sei, querida e mesmo assim faz muito tempo. Não tem
mais porque ficar pensando nisso. — Beija minha testa. — E está
combinado. A gente pode fazer esse casamento depois que a nossa
filha nascer. Não dá para correr o risco de você viajar assim.
— Acho ótimo. Podemos ir quando ela fizer uns três meses.
— Isso é bom — murmura maliciosamente na minha boca. —
Assim você já vai poder transar.
Dou uma risada tão forte que quase faço xixi.
— Você é terrível, amor —digo ainda rindo.
— Eu não sou terrível. Eu quero casar e consumar o
casamento — responde apertando minha bunda de leve.
Inspiro mordendo o lábio para parar de sorrir.
— Nós vamos poder sim fazer muito sexo. Com um bebê de
meses, uma menina de quase três anos e Dante, muito curioso,
atrás de nós.
— Mamãe! Papai!
E como mágica, o Dante chama.
— Eu não disse?!
Meu marido da sua risada forte, e rara, e vira-se para pegar
no ar nosso filho que corria para nós. Essa imagem faz o meu
coração transbordar. Eu tenho absolutamente tudo. Sou
completamente dominada por toda essa alegria e vou defendê-la até
meu último suspiro.
— Nunca pensei que seria tão feliz nesse mundo —
sussurro.
Travis escuta e vira o rosto para mim.
— Eu também. — Ele beija meu rosto e sussurra em italiano:
— Ti amo, angele.
Dezembro de 2024

— Está pensativo, querido.


Tiro meu foco das crianças brincando na piscina e olho para
minha esposa, de novo grávida e especialmente linda. Combinamos
que é o último filho e nós tivemos sorte, é um menino. Estou feliz
desde que soube, mas com os conflitos entres as Famiglie, ando
muito preocupado com a segurança deles.
— Estou pensando num jeito de cuidar de você e das
crianças e a Famiglia.
Madeleine suspira e senta no meu colo. Minha mão vai direto
para cima da sua barriga de sete meses. Nosso Nestor. Ela
escolheu esse nome por causa do seu bisavó por parte de mãe.
Nestor Beluzzo foi um grande Capitão na Camorra.
— Eu sei que você está preocupado há algum tempo e fico
me perguntando porque esconde de mim.
— Não sei.
Fixo meus olhos em Dante, hoje com doze anos. Madeleine
está me implorando para ele ser iniciado apenas ano que vem, mas
não sei se conseguirei lhe dar isto. Ele precisa se fortalecer e entrar
na academia. Já tem alguns treinamentos táticos e de luta, mas é
pouco. Ainda não passou nem pela metade da iniciação. Minha
querida e esperta Giulia com seis e Aria com quatro, ainda inocente
demais.
Realmente não sei porque escondo, ou tento, a situação da
minha mulher. Madeleine sabe que não está nada bem o conviveu
entre as Famiglie no momento. Cazzo. Quando esteve? É tudo um
jeito de olhar para nossos conflitos e problemas. A Diabolos estar
forte e atacando não era para tirar meu sono.
— Não quero trazer esse assunto para casa.
— Eu sei — murmura.
Cerro a mandíbula e a encaro.
— Eu não deveria ter deixado acontecer tudo isso. Ter
deixado as coisas correr um pouco solto. Relaxei acreditando que a
Darkness iria nos dar mais domínio.
— Travis, — ela afaga meu rosto, — nada do que aconteceu
foi culpa sua e você sabe disso.
— Não importa agora. Eu apenas preciso cuidar de você e
das crianças.
— Você já cuida — fala e me dá um beijo. Então vira-se para
Dante e Giulia saindo da piscina, ele sempre protegendo-a.
Eu queria ter outro filho. Madeleine e eu conversamos sobre
isso, mas nas circunstâncias não achei que seria bom. Como que eu
iria protegeria três crianças e uma mulher grávida. Bene, os planos
mudaram e a surpresa veio. Afagando sua barriga lembrando da
conversa quatro meses atrás:

— Queria outro filho — falei depois que gozei e joguei


meu corpo para o lado.
Madeleine suspirou e veio se apoiar em meu peito.
— Estava pensando o mesmo.
— É. — Afaguei seu rosto. — Seria bom, mas como
cuidar das meninas e um novo bebê. Minha cabeça já fica
fervendo com Dante já ter onze anos e precisar iniciar
como um Madman.
Ela não disse nada, apenas baixou a cabeça.
— É complicado, mas nós podíamos tentar outro —
falei para aliviar sua tensão.
Madeleine abriu um sorriso enorme e mordeu o lábio
do jeito ansioso que fazia.
— Está falando sério?
— Claro que sim. Se você quer, a gente dá um jeito.
— Então... já que você falou isso, fico aliviada porque
estou grávida de três meses.
Coloquei-me sentado na cama, apoiando as costas na
cabeceira.
— E não me contou?
— Estava tentando não enlouquecer e eu não sabia
descobri tem muito tempo. Foi semana retrasada.
Pegando seu rosto, beijei sua boca demoradamente.
— Ficou com medo da minha reação?
— Não — murmura com o rosto bem perto do meu
ainda. — Talvez apreensiva com a situação, só isso.
— Não fique, eu vou fazer funcionar.

E eu estou fazendo funcionar. Redobrei a segurança deles


todos e a vigília na casa inteira 24 por 7. Luca, por mais que seja útil
na linha de frente para os combates, entendeu que cuidar da minha
família é ainda mais importante neste momento. Luigi se manteve
fiel a Madeleine todos esses anos e é um alivio não ter casado. Ele
entregou sua vida para protegê-los. Casou-se com a morte em meu
nome. Sua lealdade é o alívio para eu conseguir sair de casa.
Fitando seu perfil sorridente, para os filhos, sinto uma grande
gratidão por Madeleine. Ela é a parte iluminada da minha vida. Ela e
nossos filhos.
— Giulia está crescendo muito rápido — comenta distraída.
Olho para nossa filha e parece que foi ontem que quase
cabia em minhas mãos. Madeleine quer mantê-la na escola interna,
que Marinne estudou. Não quer que nossa filha não tenha amigas e
conviveu com outras crianças, e agora quer Aria também estudando
lá. Eu estou muito receoso em tirá-las de casa.
— Preciso arrumar alguém para vigiá-la mais de perto.
Madeleine suspira e vira o rosto para mim.
— Mais?
— Preciso encontrar alguém para ser a sombra dela como
Luigi é a sua. Por enquanto apenas Giulia precisa, Aria ainda é
muito dependente de nós, mas Giulia já dá os traços da juventude e
com ou sem guerra, ela não vai querer ficar enjaulada dentro de
casa.
— E nem eu quero isso para ela. Para nenhuma delas. —
Sua voz é decidida. — Mesmo sabendo que Nestor terá as mãos
manchadas de sangue, me causa um conforto ele não precisar
dessa superproteção.
Dante e Nestor que terão respeito e colocarão proteção
sobre as irmãs e um dia a Lawless.
— Eu entendo essa necessidade de protegê-la, mas não
quero um homem velho cuidando de Giulia tão de perto. Acho
esquisito.
— Como assim?
— Poderia ser alguém que ela possa confiar e até faz uma
aliança.
— Para manobrar e chantagear como você faz com Luigi?
— Não. — Madeleine ri alto e me beija. — Para não ser tão
sufocante. — Fica séria e continua. — Se eu não me desse bem ou
detestasse Luigi, lhe garanto que seria horrível ter sua presença
vinte e quatro horas no meu pé. Fique satisfeito de eu me dar bem
com ele.
— Eu fico, pode apostar.
Ela assente sorrindo e mordo o canto da boca.
— Existe algum soldado jovem em mente que possa cuidar
dela?
— Na verdade eu pensei em um e por enquanto vai continuar
com Mario cuidando da sua segurança. Ele deve se aposentar daqui
a alguns anos e será uma idade considerável para quem eu pensei
tomar seu lugar.
— Quem?
— Remo Bracy.
Madeleine ergue as sobrancelhas surpresa. É claro que está.
Diferente de outros Capos, eu não menosprezei um filho bastardo
de um soldado. Luca me deu sua palavra que o filho iria morrer em
nome da Lawless pela chance que eu estava lhe dando colocando
para ser um dos homens de frente.
Remo completa dezesseis anos daqui a alguns meses e eu
irei vigiar suas ações até completar dezoito anos e Mario preparar-
se para se aposentar. Ele cuidou de Marinne depois que o antigo
guarda-costas dela morreu e foi muito útil, por isso deixei vigiar
Giulia.
Remo não vai ser tão mais velho que Giulia. Ela não ficará
tão assustada com a ideia de um novo soldado vigiando-a. Por
enquanto ele recebe toda o ensinamento do próprio pai. Luca é um
babaca com o garoto. Remo é tortura como eu fui um dia e espero
que isso o fortaleza. Ele será o segurança da minha filha e terá que
dar sua vida por ela se for preciso.
Madeleine continua em silêncio olhando para Giulia e Dante.
— O que foi? Fala logo.
— Só estou pensando que se ele seguir os passos do pai,
será frio e maníaco como Luca. — Vira o rosto para mim e sai do
meu colo. — Eu sei que você está tentando fazer o melhor para ela,
mas me preocupa.
Levanto também e toco o seu ombro.
— Quem melhor para proteger minha filha do que um filho de
Executor?
— Você está querendo colocar um leão para cuidar da sua
filha.
Cerro a mandíbula e mantenho a voz baixa.
— Todos somos animais ferozes e sanguinários. Não temos
piedade nenhuma. Você acha que eu tenho?
— É diferente, Travis. Você não é só um assassina como
Luca. É o chefe dessas cidade. — Toca meu peito. — Eu fico feliz
de você considerar o garoto, de verdade, mas me preocupa ser ele.
Por que não pode ser um soldado qualquer?
— Ele é um soldado ainda.
Ela baixa a cabeça e vira as costas para mim. Não deixo ir
longe e pego-a pelo braço e faço virar para mim. Nunca sou bruto
com ela, jamais, e gravida tomo mais cuidado ainda. Fitando seus
olhos pergunto:
— Qual o verdadeiro problema?
— De Reme se transformar em uma cópia de Luca. Eu gosto
dele e mesmo assim sei como Luca é volátil. Porra! Você usa ele
para as piores barbaridades e pega Vito para cuidar das meninas.
Como quer que eu fique tranquila com o filho dela cuidando da
minha menininha?! Não consigo acreditar que você está pensando
em confiar a vida da sua filha nele.
— Eu entendo — falo com sinceridade. — E pensei nisso.
Não ia escolher qualquer um para cuidar de Giulia, assim como não
escolhi para cuidar de você. Remo é a melhor solução.
— Um monstro vai cuidar dela.
— Eu sou um também — afirmo.
Sua reação me pega de surpresa. Vendo as lágrimas encher
seu olhar, abraço-a.
— Não vai acontecer nada, Madeleine. O garoto lambe o
chão que eu piso e só irá ser o guarda-costas dela se mostrar sua
lealdade.
Inclina a cabeça para trás encarando-me.
— Você fará um grande evento seu juramento, não vai.
Mesmo não sendo uma pergunta, assinto.
— Preciso que seja assim. Ele precisará sangrar antes de me
dar sua vida para cuidar de alguém tão precioso para mim.
— Se você confiar nele, como poderei discordar.
— Sendo a mãe dela. — Tiro o cabelo do seu rosto. — Você
está aqui para lhe dar amor e proteção. Sei que a pessoa que mais
poderia proteger nossos filhos é você, mas você precisa de ajuda.
Madeleine sorri e me abraça forte.
— Obrigada por me ouvir.
Curvo o canto da boca em um quase sorriso, beijo sua testa
e afasto seu rosto.
— Eu que agradeço por me proporcionar sensações que
nunca almejei. Uma vida que não mereço, mas luto diariamente
para ter. — Beijo sua boca de leve. — Te amo, mi angele. —
Sussurro para ela.
— Eu também e muito. Hun? — Faz assustada e olha para
baixo. — Oi, querida.
Aria está agarrada a perna da mãe.
— Colo.
Meu peito se enche de sentimentos bons e me abaixo e
pego-a no colo.
— Mamãe — Aria reclama.
Madeleine sorri e estica os braços. Como não adianta falar,
deixo que coloque nossa filha no colo, mas fico perto para distribuir
o peso. Ela não deveria pegar peso no seu estado.
— Quero sorvete!
Minha esposa sorri e beija o rosto da nossa caçula, por
enquanto.
— Você quer sorvete?
— Quero!
— Tudo bem. Vamos entrar para pegar.
Pedindo com os olhos, entrega Aria para mim, que não
reclama ainda bem.
Caminhamos para a cozinha. Dante se junta a mãe
abraçando sua cintura com um braço, Madeleine pousa a cabeça no
topo de sua cabeça. Ele é muito alto. E Giulia fica perto de mim.
Estico a mão para ela. Minha garotinha é mais apegada a mim e
Dante visivelmente a Madeleine.
— Quero aprender a atirar.
Franzo a testa e olho para baixo, para a cabeça de Giulia.
seus cabelos idênticos ao de Marinne. Ela a lembra demais.
— Atirar?
— Sim. Como Dante — responde no momento que
chegamos na cozinha e ele escuta.
Cerro a mandíbula dando um olhar severo para ele e deixo
Aria na banqueta do balcão e me concentro em Giulia.
— O que seu irmão andou falando para você?
— Eu não disse nada.
Giulia lhe direciona um olhar penetrante, me orgulhando
internamente, e vira-se para mim erguendo o queixo.
— Que vai fazer como você, papai. Vai atirar e mutilar os
traidores.
Bene, isso não é mentira.
— Mas que eu não posso porque sou menina. Sou fraca. —
Ela finaliza e cruza os braços.
Vendo da minha visão periférica, acompanho Madeleine se
aproximar. Aprumo a postura, dou uma boa olhada no seu corpo
lindo e rechonchudo, sua barriga de grávida. Fico louco em vê-la
assim e ela sabe porque me dá um olhar de aviso antes de parar na
frente da nossa filha.
— Giulia, querida, escuta o que a mamãe vai falar.
— O pai pensa o mesmo — me adianto.
É verdade, sobre nossos filhos eu sempre penso igual a ela.
Não merecia essa sorte. Casar com alguém perfeito para estar ao
meu lado.
Madeleine revisa os olhos e fica séria de novo.
— Você não é fraca, mas é a nossa menininha. Você e Aria,
e seu pai irá sempre protegê-las, assim como seu irmão e eu. Se
depender de mim, você nunca tocaria numa arma, mas se precisar,
irá. No entanto, esse não é o assunto para termos agora.
— Quando?
— Quando você for maior.
— Como Dante?
— Não, mais velha — me meto e Madeleine reafirma:
— Isso, mais velha porque agora precisa apenas brincar e
estudar.
— Por que o Dante não?
— Eu estudo sim. — Ele vem ficar do meu lado olhando a
irmã. — E não precisa mexer em armar porque eu vou cuidar de
você.
Orgulhoso espalho seu cabelo no topo da cabeça. Ele
resmunga, mas não se afasta. A mãe olha para ele e o faz ficar na
perto de Giulia.
— Fala que você não queria dizer que ela é fraca.
Ele reluta um pouco encarando Madeleine e fala num tom de
voz risível.
— Você não é fraca.
— Mas? — emendo fazendo-o me encarar. — Diz o que você
está pensando. — Eu jamais vou errar sobre pensamentos ocultos
como fiz com Dario. Por afrouxar meu irmão que ele acabou sendo
uma das minhas falhas.
Dante respira fundo e olha a irmã de novo, ficando mais
perto.
— Mas eu sou mais forte. Disse que você é fraca para poder
me sentir maior.
— Você é um bobo.
— Não sou.
— Crianças não comecem, está bem. — Madeleine ajeita a
postura e afaga a barriga. — Não existe mais ou menos forte. E, na
verdade, ninguém vai mexer em armas agora.
Dante cruza os braços e eu me aproximo. Vendo que todas
estão distraídas, graças a minha esposa brincalhona, levo meu filho
para a sala do piano.
— O senhor vai brigar comigo?
Fecho as portas de correr e viro-me para ele.
— Eu deveria. Você esqueceu o que aprendeu?
— Não, pai.
— Você não deve tentar pôr medo ou diminuir sua irmã. Não
é isso que eu lhe ensino.
Baixando a cabeça, assente.
— Não farei mais.
— Sua mãe está certo.
Olha para mim de novo.
— Você não irá tocar nas armas agora. Ainda é cedo.
— Tio Colen tocou com dez anos.
E vou contar a língua dele por isso.
— Ninguém é como outra pessoa. Cada um é um. E não é
porque Colen tocou com dez anos que você fará o mesmo. Não é
questão de porque, e sim merecer.
— Eu não mereço? — Seus olhos ganham um brilho
misterioso.
— Por enquanto eu quero seus punhos fortes e a mente ágil.
Não se antecipe.
— Quero ajudar o senhor.
Aceno que sim e toco seu ombro.
— Você será meus braços, olhos e coração um dia, Dante.
Mas agora é meu filho e um soldado. Precisa respeitar o tempo. —
Contemplo seus olhos tão azuis quanto os meus. — Você é meu
legado, filho. Quero você o mais forte para proteger seus irmãos e a
Famiglia. Não se preocupe que tudo chegará no seu devido tempo.
Dante assente respirando fundo e eleva a postura. Ele leva
meu sangue, minha carne e quero que seja meu coração.
— Lembre-se: honrar seus pais, seus irmãos e a Famiglia.
Isso inclui cuidar e respeitar sua irmã. Nunca mais repita o que fez
com Giulia.
— Juro que não irei.
— Ótimo. Vamos voltar para cozinha.
Em silêncio voltamos e pegamos as meninas sorrindo e
comendo sorvete com bolo. Madeleine está de pé na ponta do
balcão ajudando Aria. Vou até ela, porém paro para observar Dante
ir até Giulia e beijar sua testa. Ela sorri timidamente e o abraça.
Escuto um som estranho e pego Madeleine choramingando.
— São os hormônios — se desculpa e limpa os olhos.
Sorrio e beijo sua têmpora. Ela pousa a cabeça no meu peito
e afaga sua barriga. Minha mão encontra a dela e contemplo meus
filhos. Sinto-me um desgraçado sortudo por essa vida. Irei morrer e
matar por eles. Em nosso juramento damos a palavra de honrar,
proteger e respeitar a Famiglia e as regras. Quando casei com
Madeleine tudo mudou. Minha causa é ela. Meus esforços são para
nossa família.
Fecho os olhos relembrando minha infância e como estava
errado.
O amor é resistente.
A dor é meu combustível.
O ódio, minha força.
Eu era um homem forte, agora sou imbatível.
Jurei proteger os meus.
No meu mundo os sentimentos ainda são um alto risco,
porque quando eles veem cria-se uma besta que talvez uma bomba
atômica consiga aniquilar.
Las Vegas traz meu coração, mas é Madeleine que o faz
bater. Precisarão remover pedra sob pedra para me alcançarem.
Alessa Ablle já sabia o que queria desde criança: deixar um
pedacinho dela no mundo. Sempre sonhadora pensou até em ser
astronauta (risos), mas aprofundou-se na dramaturgia e suas
infinitas possibilidades. O teatro foi sua primeira paixão e logo
depois vieram os livros, que se tornaram seu escape da realidade
após conseguir superar sua depressão. Escrever não é apenas sua
terapia favorita como também a sua melhor forma de superar sua
dislexia, dando exemplo para muitas pessoas de que não será uma
deficiência que irá pará-la.
Seu primeiro lançamento na Amazon, Ensina-me o prazer,
alcançou o ranking em primeiro lugar e teve mais de um milhão e
meio de leituras on-line nas duas primeiras cenas. Tem mais de 3
mil e-books e 2 mil exemplares vendidos em todo o Brasil. Seu
segundo lançamento também alcançou o ranking no top 5,
Profundamente Apaixonado, e hoje a Saga Profundamente já bateu
mais de 27 milhões páginas lidas pelo Kindle Unlimited. Hoje Alessa
já tem mais de 4 mil exemplares vendidos, dos livros publicados em
físicos, e mais de 40 milhões em páginas lidas na Amazon.
É uma legítima geminiana, carioca, que vive ainda na Cidade
Maravilhosa com sua família e seus amados cachorros. Falante,
animada, adora fazer LIVEs em suas redes sociais. Aberta ao
público e humorada. Conhecida por sua sinceridade e palhaçadas.
Para conhecer mais dessa autora regada a humor, siga-a em
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Alice está prestes a realizar o seu maior sonho, se casar. E seu noivo é
maravilhoso, o sonho de qualquer mulher... Até ela viajar para Las Vegas uns
meses antes do seu casamento e conhecer um irresistível americano.
No final ela terá que decidir...
Aceita ou não?

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Linda, falante, teimosa e tentando achar seu lugar no mundo,
Amber Vasconcelos estava vivendo um grande dilema na sua vida
depois que um moreno tentador aparece no seu caminho e a deixou
completamente viciada. Jordan Saldañas é o famoso: “o cara”.
Lindo, olhos intensos, fala macia e tão sincero que chega a ofender,
também não parava de pensar na “sereia”.
Era para ser apenas algo casual, para matar o desejo, mas
não foi isso que acabou acontecendo e Jordan em pouco tempo
notou que Amber tinha se tornado sua. Porém, o maior dos
problemas não era ter que lidar com uma garota meio desmiolada e
ser seu próximo “desamor”, e sim com todos as outras pessoas que
tinham saído dos esgotos decididas a acabar com a sua paz e seu
relacionamento com Amber.
Será que ele vai conseguir ficar com a garota no final?

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Tudo que foi quebrado, um dia esteve perfeito. E talvez para Adam Stella
é exatamente assim que ele se sente. Após uma terrível tragédia ter abatido sua
família e principalmente a ele, Adam sente-se imperfeito. Há seis anos sua vida
sofreu uma reviravolta e o garoto mais querido e cheio de amigos, o neto mais
amado, o filho mais aclamado por seus dotes e inteligência nos próximos
segundos depois do acidente deixou de existir. Se ruiu por entre as chamas. Ele
deixou tudo para trás em cacos. Adam se tornou um homem estilhaçado,
quebrado. Vivendo cada dia após o acidente com culpa.
Sua família não suporta mais vê-lo viver desta forma, então sua mãe em
uma nova tentativa encontra uma nova forma de salvá-lo de si mesmo. Colocando
a menina curiosa de olhos azuis em sua vida. Tão quebrada quanto ele, mas
cheia de vontade de viver, Belinda o fará ver o lado ruim de ter deixado a vida pra
depois.
Será que Adam vai conseguir aproveitar essa nova chance e colar as
partes que ele deixou-se perder pelos anos de culpa?

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Nascida em berço de ouro, Victoria Colton carregava em seu coração
muito mais que sonhos. A “pobre menina rica” rodeada por holofotes,
inseguranças e uma vingança gerada por um segredo guardado há muitos anos,
contava os dias para se livrar do medo e dos traumas de sua infância.
Ethan Brown nunca pode reclamar de sua boa vida. Nada nunca lhe
faltou e aprendeu cedo demais que o dinheiro tinha seus prós e contra. Após anos
longe de casa, retorna com ambições para com sua carreira, mas logo de cara
algo entra em seu caminho e ele precisará saber o que é mais importante.
Totalmente opostos um do outro, deixam as diferenças de lado, quando
após um reencontro – nada convencional –, não conseguem mais ficar separados.
Mas eles precisarão de muito mais do que sentimentos para ficarem juntos.

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Eles não esperavam que fossem se apaixonar tão profundamente.
Victoria e Ethan se tornaram inseparáveis, e ficar longe um do outro é um desejo
que não almejam. O intenso e profundo amor que construíram, sofrerá altos e
baixos, e sustos que colocará em prova seu futuro juntos e o desejo de viver o
“felizes para sempre”.
Victoria vem determinada a lutar com Ethan, que está ainda mais
apaixonado e profundamente envolvido por sua princesa, focado em destruir o
inimigo, na continuando da história de amor épica, que ficará para sempre na sua
cabeça.
Um reencontro que marcou a vida dos dois.
Uma aventura que se transformou em amor verdadeiro.
Um amor que durará a vida toda?
QUEM SABE?!

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No terceiro volume da Saga Profundamente, Victoria viverá seu pior
pesadelo e verá seu mudo sofrer grandes perdas e um grande choque.
Ethan enfrentará todos os demônios para viver ao lado da mulher que
ama. E terá que fazer coisas que apenas esteve em seus piores pensamentos e
precisará descobrir um jeito de trazer Victoria de volta para ele.
Agora o inimigo é o tempo e a mente, onde ninguém pode corromper.
E mesmo um homem profundamente apaixonado, terá seus momentos
de desespero e arrependimento enquanto sua amada não sabe o que é real ou
fantasia.
Novamente o mais forte salvará os dois de cair no mais profundo abismo.
Um amor tão profundo que ultrapassa todas as barreiras. Que enfrenta o
medo.
Uma promessa de amor eterno.
Mas será que depois de tudo, ainda restará algo além de estilhaços?

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Agora parece que todos os problemas já estão resolvidos, que os
traumas foram deixados para trás e só lhes restam viver e serem felizes.
Victoria ultrapassou todos os obstáculos que apareceram em sua vida.
Foi forte, confiante e corajosa, mas claro que nada seria a mesma coisa sem seu
príncipe “encantado”. A sua vida é um verdadeiro milagre e ela quer mais do que
nunca viver intensamente a segunda chance que teve.
Ethan deixou totalmente seu passado para trás e se transformou em um
homem de sucesso e maduro. A felicidade está batendo em sua porta, finalmente.
E só resta aproveitar essa jornada com sua princesa.
Mas será mesmo que todos os espinhos foram retirados de suas vidas?
Não perca o desfecho desta história linda e profundamente apaixonante.

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“Muito mais do que sobre um romance. Uma história de almas. De amor eterno.”

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2 - NOVA LEITURA.
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Travis Lozartan é o mais novo Capo da máfia da Costa Leste dos Estados
Unidos, herdando o cargo de seu pai. Com a fama de “O Cruel”. Mau, impiedoso,
frio e calculista, não mede esforços para derramar sangue de seus inimigos e
defender a Lawless. Desde muito novo sabia que seria o próximo a liderar Nevada
e os negócios; e, quando seu pai morreu, ele ganhou poderes e inimigos. Porém,
não esperava ter que honrar um acordo de anos atrás, que salvou a todos.
Madeleine Beluzzo também foi nascida nesse mundo cruel e insano, mas
quando seu pai, um policial “duvidoso”, decide fazer um acordo com a máfia rival,
é introduzida no lado ainda mais obscuro e perigoso, tornando sua vida um terror;
quando ela começou a atrapalhar os negócios com suas opiniões, foi mandada
para longe. Agora está de volta e terá que se aprofundar nesse caos e na vida do
homem que a dominará muito além do que era o acordo.

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Madeleine Beluzzo lutou o quanto pôde para não se render à
encantadora e magnética beleza e poder do Capo da Lawless, mas em vão. Em
pouco tempo se viu rendida e o desejando o tempo todo. Agora, ela assumiu o
quanto está dominada por ele e o quanto de sacrifício será capaz de suportar e
fazer para tê-lo em sua vida e ficar na dele.
Travis Lozartan quer o domínio do seu território, do seu nome, seu poder
e da mulher que escolheu para ser sua esposa. Ele ainda não se deu por vencido
de que, na verdade, ela é muito mais do que quer admitir, porém seus inimigos o
farão enxergar não só que sentimentos o tornam mais forte, como ainda mais
perigoso.
Em “Dominado Por Ela” teremos a redenção das crenças de Madeleine e
os sentimentos de Travis. Iremos presenciar o retorno desse casal, agora unidos,
focados e ainda mais fortes.
E, se separados eles faziam todos temerem e se armarem, juntos eles
forçarão todos a ficarem de joelhos e pedirem arrego.

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Cecillia Romanoff é uma jovem nerd, conhecida por ser muito curiosa. Uma
de suas maiores curiosidades é, justamente, sobre algo que nunca fez: sexo.
Henry Frinsheens tem uma vida agitada, porém responsável. É um jovem
que possui um currículo ótimo, é estudioso e amigável. Diferente do típico cara
babaca de faculdade. Em uma aula de Biologia, por força do destino, os dois se
esbarram. Dois jovens diferentes, mas iguais em um sentido: são solitários e
buscam algo que os complete.
Quebram a velha (e ultrapassada) rixa entre nerd e playboy e viram amigos
de verdade. Vencidos pela forte química que existia entre eles, os dois se rendem
a uma noite que os envolvem ainda mais e poderia mudar tudo. Talvez tenha sido
um tremendo erro e a amizade tão sólida correria perigo. Eles sabem que seus
sentimentos estão indo além de carinho e, no meio dessa relação vão perceber
que um precisa do outro muito mais do que podem admitir.
No final qual será a escolha certa a se tomar?

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Um relacionamento que começou sem pretensão de ser alto mais do que
amizade e realmente os transformaram em grandes amigos, mas os sentimentos
mudaram e cresceram. Henry e Cecillia aprenderam a não saber viver um sem o
outro. De uma amizade nasceu um amor verdadeiro.
Os anos se passaram, a vida seguiu sem curso perfeitamente e eles estão
à passos de dizer o sim mais importante da vida deles e começar sua própria
família. Até que uma farpa do passado volta e dá um choque de realidade em
suas vidas.

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Finalmente reunidos em um único livro a história de amor de Henry &
Cecillia. Os amigos que se apaixonaram.
Mais de 8 Milhões de leituras online.
Com 1.500 exemplares físicos vendidos
Mais 2.000 e-books.
Primeiro lugar de mais vendido da AMAZON.
O Clichê que todos amam.
Dois corações solitários, que se tornam melhores amigos e depois de tanto
lutarem para ficarem juntos, se rendem a paixão.

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Amanda Frinsheens, ou Mandy para os íntimos, é uma garota
determinada, sonhadora e uma Frinsheens. O que a torna sensível. Assim como
seu irmão Henry, foi cursar sua faculdade de Medicina em Massachusetts, na
aclamada Cambridge. Ela ama sua rotina, que intercala em estudar e curtir sua
juventude.
Maximus Smith é um médico dedicado e, mesmo com trinta e três anos, é
um molecão que vive apenas para o trabalho. Talvez o que lhe ocorreu anos atrás
tenha deixado cicatrizes maiores do que possa admitir.
Logo de cara, Mandy e Max sentem uma forte atração, que agora terá que
ser enfrentada no mesmo ambiente de trabalho, já que por destino ela fará
residência no hospital em que ele é cirurgião.
Será que Mandy vai conseguir manter o profissionalismo perto dele?
E Max, será que vai conseguir ficar longe da irmã do seu melhor amigo,
agora sua aluna também?

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continuar a amadurecer, melhorar ou saber o quanto vocês amaram
(tenho que ser otimista, né) o livro.
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livro. Eu adoro gradar meus leitores.

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