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Copyright © 2022 Maeve Sahad

CAPA | Tatiane Nunes


REVISÃO | Larissa Oliveira
DIAGRAMAÇÃO | Tatiane Nunes

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas.


Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são
produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua


Portuguesa.

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.

São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer


parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou
intangível — sem o consentimento escrito da autora. Criado no
Brasil. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei
n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Bem-vindos de volta meus amores,
É muito bom estar aqui novamente, para contar um pouco mais sobre a história de Diablo e
Olívia. Escrever o primeiro livro (DIABLO) foi um enorme desafio. Nunca imaginei que esse
casal tão intenso e controverso, conquistaria tantos leitores.
Por isso, resolvi trazer um pouco mais deles, para matarmos a saudade.
DIABLO & OLÍVIA: Além do Epílogo — é um “bônus” do nosso casal. Será um livro curto,
com menos capítulos e conflitos, apenas para nos agraciar com alguns acontecimentos
inéditos da vida dos personagens. Veremos juntinhos um pouco do que aconteceu após os
fatos do primeiro livro.
Como é de se imaginar, mesmo como foco principal nos dois, também surgirão alguns
eventos para nos instigar ao que veremos no livro do WOLF, que mostrará um pouco mais
sobre o braço direito de Diablo, Rose e toda a trama da Nêmesis.
Portanto, quem ainda não leu o livro anterior, recomendo que faça, pois aqui teremos
diversos spoilers.

OBS: Na linha do tempo do universo em que conhecemos essa história, esse livro
acontece entre o fim de “DIABLO” e durante o andamento de “WOLF” (lançamento
futuro) portanto, alguns fatos devem ficar em aberto propositalmente.

Aproveitem a leitura!

Com carinho,
Maeve.
AINDA NÃO CONHECE DIABLO E OLÍVIA?

Diablo Ward foi criado em um mundo onde não havia espaço para dor ou medo.
Capturado, ainda na infância, por um homem impiedoso foi subjugado, atirado em meio ao
caos e violência sendo treinado para ser um assassino cruel e obscuro.
Toda sua vida foi destruída por eles, mas seu juramento nunca seria esquecido. (...)

Vingança.

Moldado como a criação do mal, até que um belo presente é entregue em suas mãos com
um único intuito. Ele foi escolhido para fazê-la sofrer.
A menina doce e inocente lhe mostrará o caminho que tem esperado por tantos anos.
Ela é a chave de tudo; ele jamais a deixará ir embora.
Peças de um jogo perigoso, Diablo e Olívia – seu belo passarinho, vão lutar juntos, para
ganhar essa guerra.
Pessoas que nunca conheceram o amor... sem valores, sem remorso, sem nada, ainda
assim, lutando para sobreviver.
Entre dor, maldade e sacrifícios, reivindicarão da própria sanidade para, enfim,
encontrarem paz.

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1. Contaminated - BANKS
2. Call me Devil – Friends in Tokyo
3. Two Feet – Quick Musical
4. Uncover - Zara Larsson
5. Bishop Briggs - River
SINOPSE

No submundo onde fui criado aprendi que ter uma esposa e


filho com os quais você verdadeiramente se importa é para os
fracos.
Vivendo em meio ao caos e violência, nunca imaginei que
existiria um dia em que esse ensinamento não faria mais tanto
sentido.
Eles me treinaram para ser invencível.
Me tornei melhor do que muitos acreditavam que eu poderia
ser.
Conquistei minha vingança e derrotei meu maior inimigo,
mas… foi só depois que Olívia entrou em minha vida, que pude
entender…
Minha devoção por ela e nosso filho não me fez fraco. Muito
pelo contrário, o homem que posso me transformar para proteger a
minha família, é letal.
E na guerra que estamos lutando, não vou poupar nenhuma
alma que cruzar o meu caminho.
(...)
“Quando você se apaixona pelo diabo, só há uma
certeza: mais cedo ou mais tarde, você será
corrompida.”

PRÓLOGO

O gorgolejo dos animais noturnos ao meu redor soava como


se eles fossem espectadores da minha desgraça e desespero.
A trilha era escura e inóspita à minha frente. O frio, breu, e
pedras em meus pés enquanto eu corria por entre árvores e
destroços parecia insignificante.
Eu podia sentir meu coração batendo nos ouvidos e a
pulsação acelerada no meu pescoço.
Gotas de suor escorriam pelas minhas costas. A quentura
raivosa e poderosa de meu sangue envolvendo meu corpo
lentamente.
Meu peito ficou apertado. Um rugido feroz escapou da minha
garganta quando forcei minhas pernas ainda mais. Uma queimação
dolorosa consumindo meus músculos, como um sinal de que meu
corpo não podia ir além.
Nada disso importava.
Tudo que eu podia pensar era: eles a levaram. Meu belo
passarinho. Minha Olívia foi arrancada de mim.
Seus olhos castanhos atormentados estavam em minha
mente. Seu grito de socorro, implorando para que eu a salvasse. A
pele alva perolada manchada de sangue... seu último toque quente
contra minha pele...
Eu jurei que a protegeria. Jurei que nunca a machucariam.
Eu.... Falhei...
A trilha ficou turva. Minha visão embaçada por raiva e
violência.
Risadas cruéis, que eu conhecia muito bem, começaram a
surgir.
Meus pés derraparam a tempo de que eu me impedisse de
cair.
Um abismo infinito e mortal sinalizava que o caminho havia
chegado ao fim.
Pedras rolaram sob minhas solas, indo direto para o
precipício.
Não havia mais para onde ir.
Nenhum caminho. Nenhuma esperança.
Do outro lado, estavam eles. As criaturas mascaradas que
invadiram minha casa.
Machucaram a minha família.
Um deles, segurava uma faca afiada na garganta de Olívia,
fixando seu olhar no meu com uma fúria muito conhecida por mim.
E eu não podia alcançá-la.
Ele sorriu, pressionando o metal frio contra sua pele.
— NÃO! — gritei, dando um passo à frente.
A primeira gota de sangue escorreu quando o corte se abriu
lentamente.
Um grito desesperado veio de mim. Alto. Abarrotado por um
sentimento que eu não reconhecia há muito tempo.
Medo.
Sangue. Tanto sangue.
É tarde demais.
Os olhos dela piscaram uma última vez, antes de ficarem
vazios. A lâmina cortou de um lado ao outro. A criatura mascarada
sorriu antes de jogar seu corpo para frente, em direção ao abismo.
Caindo. Caindo. Caindo.
Assim como eu, que a segui no mesmo instante.
Eu não pude salvar o meu belo passarinho.
01

Nova Iorque – EUA

Entreguei minha alma sombria a Olívia, diante de Deus - em


uma pequena capela em ruínas, no interior do Texas.
Naquela tarde, jurei minha lealdade e minha vida a seu
espírito doce e inocente, mesmo sendo o maior dos pecadores.
Ele me deu sua liberdade e seu coração, jurando que seria
minha para sempre, mesmo sabendo que eu nunca poderia retribui-
la.
Ela merecia algo puro e genuíno ao invés do órgão mundano
que batia em meu peito.
Isso foi há quase dois anos.
Nosso casamento na capela velha e abatida sempre seria o
mais valioso.
Um momento único e particular, ao qual não havia nenhuma
vingança, motivação ou assunto pendente além de nos tornarmos
um do outro.
O que estaria acontecendo essa noite, seria uma promessa
que fiz a sua mãe, e um gesto de posse diante do mundo de
violência e caos em que fomos criados.
Exibindo minha riqueza, poder e a mulher que me pertencia,
eu mostraria a todos, que ferir a minha família, seria o mesmo que
ferir a mim.
E ninguém seria estúpido o suficiente para ousar ferir o
próprio diabo.

— Lugar apropriado para uma despedida de solteiro. —


Russel observou, sentando-se ao meu lado na banqueta alta do bar.
Grunhindo, terminei o último gole do whisky em meu copo.
— Isso não é uma despedida de solteiro.
— O que estamos fazendo em seu clube de sexo, então?
— Não sei se sabe... Sua casa nesse momento parece a
zona de guerra das princesas da Disney com tantas flores, arranjos,
cores... eu disse que deveria organizar uma festa de casamento e
não um baile de debutante!
— Ah, você não gostou? Quando a empresa que contratei me
perguntou, qual “estilo” dos noivos eu respondi ‘foda-se’. Parece que
eles entenderam bem, então.
— Engraçado. O que estou dizendo é que se eu ficasse
naquele lugar mais um segundo, desistiria dessa merda e voltaria
para casa.
— Olhe isso... a lista de convidados confirmados. Tenho
certeza de que irá te fazer mudar de ideia.
Peguei o celular que ele empurrou para mim e observei os
nomes enfileirados. Muitos, reconheci no mesmo instante. A
maioria, fazia parte da alta sociedade em nosso mundo distorcido.
Não apenas de Nova Iorque, como também, de outros lugares do
mundo.
— Tommaso Romano, esse homem não é o líder da máfia
italiana aqui em Nova Iorque? Pensei que os russos não se
misturassem com os italianos — questionei, arqueando a
sobrancelha.
Ele deu de ombros.
— Meu império não foi construído com leis idiotas e arcaicas.
Se ele for esperto, preferirá conviver em harmonia comigo, do que
declarar uma guerra.
— A última vez que um acordo de paz foi estabelecido, a
Nêmesis nasceu e veja só onde acabamos. Às vezes, a guerra
serve para manter o universo em equilíbrio.
— Que seja, nós veremos isso no futuro. Os demais nomes,
são aqueles que considerei peças importantes para ter como
aliados.
— São bons. Alguns, conheço muito bem... outros... não
tenho certeza. A questão da segurança foi tratada?
— Como se estivéssemos lidando com o casamento real.
— Bom.
Esse era o maior dos empecilhos que tive essa noite. Eu não
confiava a segurança de Olívia e meu filho a mais ninguém.
Por meses, vivemos em nosso mundo isolado de fantasia
sem preocupações. Aqui, eu tinha muitos inimigos para me
preocupar.
— Onde está Wolf? — ele perguntou.
Alguns segundos depois, os olhos azuis gelados e
observadores de Wolf apareceram na entrada da boate.
Ainda era muito cedo, por isso, o bar estava praticamente
vazio, apenas algumas garçonetes circulavam pelo salão em seus
uniformes minúsculos.
Eu podia ter me casado e ser um pai de família hoje em dia,
mas os bilhões em minha conta, ainda eram tão sujos quanto minha
alma.
Cuidei para que as boates fossem coordenadas por pessoas
que eu confiava e ainda lidava com serviços sórdidos no submundo.
Essa era minha vida.
— Muito monótono para uma despedida de solteiro, não?
Deixei escapar um rosnado.
— Não é a porra de uma despedida de solteiro!
Ambos riram, enquanto o barman servia seus copos.
— Ao sangue dos filhos da puta que ainda vamos derramar,
— Russel disse, elevando seu copo.
Com um sorriso, nós brindamos.
Caminhando pela enorme suíte designada para mim, em uma
das alas na mansão de Russel, ajeitei o nó em minha gravata e me
olhei no espelho.
Tudo pronto.
A propriedade de Czar foi o melhor lugar que encontramos
para realizar o casamento com segurança. Além de ser enorme,
com diversos hectares, uma capela bonita e salão de festa, também
possuía um sistema de segurança tecnológico e equipe de soldados
bem treinados que garantiriam que ninguém desse um passo sequer
sem ser observado.
Podia usar minha antiga propriedade, mas nem mesmo um
homem como eu, seria tão insensível de pensar que voltar a aquele
lugar, não despertaria péssimas lembranças em Olívia. Ainda mais
em um dia como esse.
Agora, só esperava que as coisas saíssem bem.
Com uma batida forte em minha porta, me afastei do closet e
marchei pelo quarto. Do outro lado, encontrei Rose com Daniel
enrolado em seu colo.
— Papai!
Pulando de alegria, ele se jogou para frente e o capturei.
— Ei, garoto! Como você está bonito.
Vestindo um terno minúsculo, com gravata borboleta e
cabelos penteados para trás, Daniel parecia uma cópia minha em
miniatura.
— O que houve? Algo está errado?
O olhar de Rose parecia levemente atormentado e isso fez
minha pulsação aumentar.
— Não. Está tudo bem. Eu só queria conversar com você por
um minuto...
— Sobre o que? — com um passo para o lado, dei espaço a
ela para entrar e coloquei Daniel no chão.
Rapidamente ele encontrou algo para se entreter. Seus
passos ainda não eram tão firmes, ainda assim, ele estava
crescendo como uma criança determinada e se virava sozinho
sempre que podia.
Rose caminhou pelo quarto, arrastando seu vestido longo
brilhoso pelo chão. Por alguns segundos fiz questão de observá-la,
agora muito diferente da mulher que conheci no passado, torturada
e desnutrida. Ela havia ganhado peso, sua pele estava mais viva, os
cabelos, um pouco mais curtos em um corte moderno.
Ela se parecia muito com Olivia. Mesma estatura, mesmo tom
castanho em seus cabelos.
Seus olhos, também possuíam a mesma cor, no entanto, ela
ainda escondia segredos e uma escuridão neles, que eu reconhecia
muito bem.
— Minha filha não merece saber tudo que aconteceu. Ela não
precisa descobrir as coisas que tive que fazer ou tudo que vivi
quando... — as palavras se engasgam em sua garganta. Andando
de um lado para o outro, ela para, respira fundo — Eu sei que você
sabe muito sobre o que Kyrios me fez. Olívia tem perguntado para
mim sem parar e sei que se não lhe der algo, ela irá recorrer a você.
Como mãe, estou tentando poupá-la. Eu poderia ter esperado para
te pedir isso, mas acho que não suportaria mais um dia.
Olho para ela, sem dizer nada.
Olívia pode ser muitas coisas. Ela pode ter escolhido ficar
longe de todos os problemas ao nosso redor depois que sua mãe
voltou, para o bem de sua própria mente. Só que minha mulher
sempre foi esperta e determinada. E ela está empenhada em
entender um pouco mais sobre sua mãe e todo o mundo em que
cresceu. Coisa, que devo concordar, ela não merece saber.
— Minhas suposições e descobertas são apenas minhas,
Rose. Tudo que eu puder fazer para proteger Olívia de se
machucar, eu farei.
Ela me olha com profundidade, da mesma forma que sua
filha faz quando tenta ler meus pensamentos. E então, sorri.
— Você pode omitir as palavras a ela e a si mesmo. Só não
se engane Diablo, você ama a minha filha, e por isso, eu te respeito.
Obrigada por protegê-la como eu nunca pude.
Engulo em seco, sem saber como responder. Então pergunto:
— Posso ajudar em mais alguma coisa?
— Não... eu só precisava ter certeza de que Olívia ficará
bem.
— Eu daria minha vida por sua filha. Em um piscar de olhos.
— É bom saber disso.
02

Conter meu nervosismo se tornou quase uma missão


impossível.
— Ah, eu sempre me emociono em casamentos...— a
funcionária da enorme equipe de cabeleireiros e maquiadores, falou
emocionada, ao encontrar meu reflexo no espelho, — você está
magnífica, Olívia. Uma noiva impecável.
— Obrigada. Vocês fizeram um trabalho incrível.
Nunca pensei que me casar pela segunda vez me deixaria
tão nervosa. A primeira vez foi algo casual e singelo que Diablo
pensou, e eu sempre guardaria aquele dia em minha memória com
carinho.
Agora, no entanto, estou há poucos minutos de aceitá-lo
como meu marido na frente de tantas pessoas novamente e meu
coração não consegue parar de correr, com tanta apreensão.
Fiquei reticente de organizar algo tão grandioso. Diablo
insistiu que deveríamos fazer isso, não apenas para nós. Como
também, a todos aqueles que duvidavam de seu poder.
Isso me assustava. Tudo que eu queria, era poder viver a
minha vida em nossa casa, cuidar de nosso filho, e esquecer que
fomos criados em um mundo tão cruel, porém, o sangue correndo
em minhas veias, nunca nos permitiria ter uma vida normal. Meu
marido era um homem perigoso. Nunca estaríamos completamente
seguros. E por nossa proteção, eu enfrentaria qualquer coisa.
Aceitar me casar com ele, na frente de todos na intenção de
deixar claro nossa ligação para o mundo, seria algo muito pequeno
comparado a tudo que já enfrentamos.
Então, quando me olhei no espelho, refletindo em uma
mulher tão diferente daquela que conhecia, fiz questão de pensar
que eu podia enfrentar essa noite como deveria.
Meu vestido era uma mistura de seda e renda adornando
minhas curvas.
Com um decote em formato de coração, mangas longas e
recorte justo, o tecido branco caía elegantemente em meu corpo.
Toda minha pele estava coberta, mas cada centímetro do vestido
era cravejado com pequenas pedras de diamantes, até mesmo a
cauda longa de quase um metro e meio atrás de mim e o véu, que
foi encaixado no coque alto do meu cabelo.
Minha maquiagem estava igualmente iluminada e elegante.
Com tons perolados e lábios pintados em vermelho com nenhuma
joia cobrindo sua marca evidente em meu pescoço.
Puxando uma respiração, para obrigar o meu peito a
desacelerar, olhei para as mulheres em meu quarto e então, para a
caixa – ainda fechada, sobre a cama, e pedi:
— Podem me deixar sozinha por alguns minutos?
— É claro! — todas responderam ao mesmo tempo,
rapidamente, organizando seus pertences para me atender.
Com passos curtos e cautelosos, fui até a cama e me sentei,
pegando a caixa escura em minhas mãos.
Eu sabia que esse era um presente de Diablo, um que ele
deixou muito claro que deveria ser aberto apenas minutos antes da
cerimônia.
Com o coração descompassado, e os dedos trêmulos, desfiz
a trava dourada e virei a tampa para cima. Sentindo minha
respiração travar por alguns segundos ao ver o que estava lá
dentro.
Um colar magnífico, em formato de coração, com detalhes
dourados e pedras escuras.
Corri meus dedos pelo pingente desenhado. Era negro.
Rachado e imperfeito. Assim como ele.
O significado de seu gesto trouxe lágrimas aos meus olhos.
Quando li, as palavras escritas no canto da caixa, com sua
caligrafia rica, minha emoção, alcançou um nível ainda mais alto.

“Para meu belo passarinho,


Um coração, escuro e imperfeito, assim como o meu.
Feito de diamantes, como você merece.
Não se esqueça, essa noite, você é a minha rainha.
Te vejo no altar...”
Parada em frente a porta da capela, olhei para minha mãe e
sorri.
— Pronta?
— Sim. — Sussurrei, sentindo minhas mãos suarem.
Procurando ao redor, meus olhos voltaram para ela — Onde está
Daniel?
— No altar, com seu pai. Quando o viu, não conseguimos
fazer com que ele o soltasse.
Sorrindo, meu coração se acalmou. Não tinha nenhum
problema com isso. Se ele estava com Diablo, era sinal de que
estava seguro.
As notas rítmicas de um piano começaram a surgir, e segurei
o buquê em minhas mãos com mais força.
— É a nossa deixa.
Com um aceno, peguei sua mão e deixei que os auxiliares da
cerimônia terminassem de esticar o véu e cauda do meu vestido.
Do outro lado da porta, eu não fazia ideia de quem iria
encontrar, só imaginava, bem fundo em meu interior, quantas
pessoas lá saberiam quem nós éramos. Provavelmente muitas.
Filha e neta de um homem tão impiedoso e cruel como
Kyrios, se reunindo ao pupilo que conseguiu destruir sua
organização e matá-lo.
Parecia uma história de terror, mas era minha vida. Uma vida
que eu amava e lutaria para manter com unhas e dentes.
Diablo estava certo ao dizer que essas pessoas precisavam
entender que não somos fracos.
Porém, no segundo em que as portas se abriram e o olhei,
vestido em um conjunto de fraque cinza escuro de três peças, com
gravata, os fios escuros de seu cabelo alinhados e uma postura tão
altiva no altar, todos os meus pensamentos sombrios
desapareceram.
Seus olhos nublados se encontraram com os meus. O
aspecto dele era o mesmo de sempre. O ar perigoso e pronto para
matar, beirando a linha tênue entre humanidade e selvageria.
No fundo, apenas entre nós, eu também conseguia enxergar
o desejo pecaminoso e a admiração escondida em seu olhar.
Com minha mãe ao meu lado, guiando-me um passo de cada
vez, o corredor, coberto por um extenso tapete vermelho, parecia
infinito.
Eu estava tão nervosa, tão assustada, que se não fosse ela,
eu teria corrido. Direto para ele.
Diablo estendeu sua mão, quando alcancei as escadas do
altar, ainda segurando Daniel ao seu lado.
— Mamãe bonita!
Entreguei meu buquê para minha mãe.
Sentindo alegria explodir em meu coração, segurei a mão do
meu futuro marido pela segunda vez de um lado, e envolvi os dedos
pequenos do meu filho do outro.
Juntos, subimos as escadas e paramos em frente ao
cerimonialista.
Minha mãe pegou Daniel em seu colo e se afastou, para ficar
ao lado de Wolf no altar, também vestido de forma elegante, polido e
misterioso.
Russel também estava lá, com seus cabelos louros
penteados, terno, gravata e a arrogância habitual estampada em
sua face.
Era uma irmandade ou lealdade estranha essa crescendo
entre eles, ainda assim, isso deixaria ainda mais claro que declarar
guerra contra um, seria o mesmo que declarar guerra contra todos.
Diablo me puxou de volta para nosso momento, colocando
seus dedos firmes em minha nuca.
A intensidade no seu olhar, enviou uma ondulação de prazer
direto para meu núcleo.
Inclinando-se contra mim, sua boca ficou próxima ao meu
ouvido, e ele sussurrou:
— Quando estivermos sozinhos, irei cortar cada centímetro
desse vestido de seu corpo, só para descobrir se o que está
escondendo debaixo dele, consegue ser tão delicioso quanto o que
estava cobrindo-a.
Mesmo diante de tantas pessoas, rodeada de possíveis
inimigos e espectadores, fiquei molhada com suas palavras,
vislumbrando seus planos sujos em minha mente.
Descaradamente, escondendo o sorriso de satisfação por
conseguir me atiçar, ele levantou minha mão, beijando meu pulso
ternamente, bem no ponto onde meus batimentos estavam
frenéticos.
— Você está pronta para se tornar minha, novamente,
passarinho?
— S-sim.
Gaguejei, ainda entorpecida por ele.
O celebrante sorriu, com olhos suaves e foi direto ao ponto.
— Boa noite. Estamos aqui para celebrar a união entre o
senhor Diablo Ward e Olívia... — pigarreou, ajeitando os óculos em
seu rosto — Olívia Rivera.
Uma onda de tensão pareceu se instaurar pelo ar.
Diablo segurou minha mão com firmeza, reafirmando que, ao
lado dele, eu estava segura.
E assim, reafirmamos aquilo que já existia entre nós, desde
nossa capela velha e pitoresca em Uncertain.
Eu sou sua.
Ele é meu.
Para sempre.
Diante de nossa família, e de todo mundo fodido que nos
uniu.
03

— Pelo poder investido em mim, eu vos declaro marido e


mulher. Pode beijar a noiva.
Feito.
Está feito.
De cada porra de jeito que existia, Olívia me pertencia. Para
sempre.
Sem poder mais me conter, apertei meus dedos em seu
pescoço, trazendo seu corpo pequeno para o meu.
Meus lábios capturaram os dela rapidamente, com um beijo
tão desesperado, que se eu não me controlasse, seria capaz de
consumar nosso casamento aqui mesmo, na frente de todos.
Eu nunca imaginei que ela poderia ficar tão magnífica como
estava. Coberta de joias. Com o colar que escolhi para ela em seu
pescoço, minha marca gravada em sua pele. Minha aliança em seu
dedo.
De todas as maneiras. Minha.
Com um esforço sobre-humano, me afastei dela. Passando
minha língua por sua boca doce, com o aviso de que nossa noite
estava apenas começando.
— De agora em diante, todo o mundo sabe quem você é,
passarinho. A mulher que capturou a alma do diabo. — Declarei,
baixinho em seu ouvido.
Todo seu corpo estremeceu em minhas mãos.
Envolvidos por uma salva de aplausos, permiti que ela se
segurasse em mim mais um pouco, antes de nos virarmos para os
convidados. Mesmo sabendo que ela estava segura, Olívia parecia
um pouco apreensiva diante de tantas pessoas.
Multidões, não faziam parte de suas coisas preferidas.
— Cabeça erguida, baby. Estou com você.
Com um olhar agradecido, apertou minha mão na sua.
— Eu te amo, Diablo. Do nosso modo estranho e distorcido,
eu te amo como louca.
Sua declaração, fez meu peito inchar.
Ainda assim, não deixei que isso nos afastasse da tarefa de
caminhar entre essas pessoas, como marido e mulher.
Ajudando-a a descer as escadas, ficamos na ponta do tapete
vermelho, e um passo atrás do outro, passamos entre os
convidados.
Os olhares continham as mais diversas expressões: espanto,
raiva, confusão, até mesmo uma pontada de inveja.
Reconheci como alguns homens olhavam para ela com
desejo, o que quase me fez rugir feito um homem das cavernas.
Minha cabeça foi para um lugar ainda mais escuro, quando
as pessoas começaram a se afastar de seus lugares para
cumprimentar-nos.
Relutantemente, soltei sua mão, e aceitei uma saudação.
O prefeito da cidade do Texas, Maxwell Kincaid me capturou
para uma conversa, me afastando de minha mulher ainda mais, e
quase rosnei em irritação.
Só não o dispensei imediatamente, pois estava abrindo uma
nova boate em sua cidade e precisava de sua mão em alguns
assuntos.
— Meus parabéns, sr. Ward. É uma bela família, essa que
você tem.
— Obrigado.
Percebendo meu desconforto, vi quando Wolf arrastou Rose
para perto de Olívia, tentando tirá-la do meio dos convidados e
minha mente se acalmou.
— Não irei segurá-lo por muito tempo essa noite. Só queria
parabenizá-lo. Vamos nos reunir quando voltar para o Texas, afinal,
temos bons negócios a tratar.
Com um olhar inexpressivo, apertei a sua mão e o observei
partir. Já sentindo que algo em seu tom, simplesmente, não me
agradava.
Mais algumas pessoas vieram falar comigo. Alguns velhos
associados, outros, que eu poderia precisar em algum ponto futuro,
mas nada realmente interessante.
Por mim, essa noite, já havia valido a pena. Meu recado foi
dado e agora, eu estaria mais tranquilo ao pensar que essas
pessoas pensariam duas vezes antes de mexer com Olívia.
Ela e Daniel, me pertenciam. E a fama que construí nos
últimos meses, junto daquela que já possuía há muito tempo,
amedrontavam o suficiente.
Os convidados foram instruídos em direção ao salão, onde
um jantar requintado seria servido. Aproveitei esse tempo de
distração, para perseguir minha esposa, que se afastou um pouco
de todos, com a equipe de organização em sua cola.
Em uma sala privada, a poucos metros de distância da
capela, encontrei-os a ajudando a se livrar da cauda extensa e do
véu preso em seu cabelo. Muito mais confortável, meu belo
passarinho olhou para mim com um sorriso brilhante e meu pau
reagiu, protestando em minhas calças.
Exigindo tê-la agora mesmo.
— Nos deixem a sós.
Com o tom inflexível em minha voz, todos reagiram, fazendo
como pedi.
No segundo em que estávamos sozinhos, agarrei sua cintura
e puxei seu corpo contra o meu.
A sala parecia vibrar, em sintonia com a minha necessidade.
Meus pensamentos corriam, preenchidos por um desejo de estar
dentro dela.
Como se uma voz grossa e retumbante gritasse em minha
cabeça: MINHA! MINHA! MINHA!
Reunindo-a, eu tropecei para trás, trazendo-a comigo.
— Diablo! — com um grito de espanto, ela se agarrou em
meu pescoço.
— Por favor, por tudo que é mais sagrado nesse mundo de
merda não me peça para ter controle, Olívia. Não ouse me dizer que
não posso tomá-la agora mesmo! — balbuciei, imaginando que ela
não tinha a ideia de ser fodida em uma salinha minúscula e
escondida, logo depois da cerimônia de seu casamento, em sua
agenda.
Na minha também não. Eu gostaria de despi-la com calma.
Me deliciar com seu corpo. Preencher todos os seus buracos e
reivindicá-la, como deveria ser, mas planos mudam e nesse
momento, tudo que eu precisava, era dela.
Daquela conexão debilitante e obsessiva que construímos.
Do seu cheiro. Do seu gosto. Do meu prazer enchendo-a por
completo. Porra.
Seus lábios beijaram ao longo da minha bochecha, quase
tocando a concha da minha orelha, causando um arrepio em minha
espinha.
Para minha surpresa, sua voz estava banhada de excitação,
parecendo tão necessitada quanto eu.
— Não quero seu controle, Diablo. Agora, mais tarde. Não
me importo, só preciso sentir você dentro de mim.
Senhor. Eu estava fodido.
Usando uma mesa de madeira como apoio, virei rapidamente
e subi seu corpo sobre o móvel.
Tomei sua boca em um beijo caloroso, revestido com meu
desejo desesperador por ela. Minha língua era tudo, menos gentil
invadindo sua boa com tanta violência, que mesmo correspondendo
a isso, o gemido doloroso escapando por entre seus lábios foi
inevitável.
Com os braços ainda em volta do meu pescoço, ela me
puxou mais perto, deixando nossos corpos tão grudados que era
impossível que ela não sentisse a protuberância do meu pau duro
contra ela.
Sem poder mais me conter, ainda com a boca colada a sua,
minhas mãos foram para baixo, e comecei a enrolar o tecido pesado
de seu vestido para cima com cautela. Tentando não rasgar o tecido
como prometi, isso seria para mais tarde.
Quando cheguei à altura de suas coxas e me separei, para
olhá-la, a visão da lingerie vermelha com cintas ligas que ela estava
usando por baixo, transformou meus movimentos lentos em um
alvoroço.
Puxando sua calcinha minúscula para o lado, meus dedos
contornaram sua boceta.
Eu curvei o indicador dentro dela, e com um grito rasgado de
seu peito, a escuridão vazou para minha visão periférica, como tinta
se espalhando através de uma página branca.
Agarrei sua garganta.
Ela gemeu, contorcendo-se em meus dedos. A mesma
excitação debilitante, contaminando-nos como desesperados.
Era como se eu nunca tivesse a tocado.
Como se não conhecesse cada detalhe de seu corpo. Cada
pinta em sua pele, a cor de seus mamilos, o desenho dos seus
lábios.
— Por favor...— implorou — Depressa.
Com minha mão ainda firme em seu pescoço, olhando no
fundo de seus olhos, tiro meus dedos de sua entrada e desfaço o
cinto, botão e zíper da minha calça. Segurando o membro duro para
fora, bombeio meu pau entre suas pernas abertas.
— Nunca pensei que fazer de você minha esposa pela
segunda vez seria tão excitante.
Enfio minha cabeça inchada e pulsante em sua boceta
encharcada e começo a empurrar para dentro.
— A terceira pode ser ainda melhor —, ela respira sobre
minha boca com um sorriso, movendo seus quadris para me
enterrar mais fundo — Me casarei com você mais mil vezes se
todas terminarem assim.
Um impulso duro e eu estou completamente dentro dela.
Quente e apertada pra caralho.
Rangendo os dentes, meus dedos agarram seus quadris.
Com um vai e vem frenético.
— Vou gozar em dois segundos se continuar dizendo coisas
assim — pontuo, sentindo uma gota de suor escorrer por minha
testa com o esforço que estou fazendo para me segurar.
Se eu fodesse como queria, provavelmente, seria possível
que todos os convidados escutassem seus gritos.
— Bom, é disso que preciso, marido. Você gozando dentro
de mim.
Porra. Sou um caso perdido.
Essa mulher é minha completa ruína.
Puxo seu corpo contra o meu, estocando até o fundo dela.
Seus gemidos soam como uma canção de incentivo. Meu sangue
ferve. Os nervos escapam tão desenfreados que, assim como dito,
leva menos de dez segundos até que estou explodindo.
Em um jato tão forte e poderoso que tenho certeza de que ela
será completamente preenchida.
Com minha testa colada na sua, sem coragem de nos
separar, beijo sua boca, sugando-a com a mesma devoção que
encontrei por ela, quando ainda era um pássaro enjaulado em
minha casa.
Agarrando sua nuca, puxo seu pescoço, para pousar meus
lábios sobre o meu nome em sua pele, e prometo:
— Quando entrarmos naquele salão mais tarde, baby. Quero
que sinta minha porra escorrendo por suas pernas, e pense que até
o fim da noite, não será apenas a sua boceta que terei entupido com
o meu prazer. Tomarei cada buraco do seu corpo, Olívia. Cada. Um.
Deles.
04

Como minha vida tinha mudado tanto em pouco mais de dois


anos, eu não sabia dizer.
Memórias ameaçaram invadir meus pensamentos, indo fundo
e rápido para o canto mais sombrio do meu subconsciente.

“Você é minha destruição? Eu sou sua ruína. Lembre-se


disso.”

“É a hora de me tornar o mestre e roubar minha rainha.”

“Minha lealdade será sua. Para sempre. Não importa o que


aconteça.”

Inúmeros momentos surgem em minha cabeça. Bons. Ruins.


Desesperadores. Sufocantes. Dolorosos. Prazerosos...
Eu dou um passo em direção a porta, me agarrando ao braço
de Diablo. E é inevitável não pensar em todas as possibilidades que
poderiam acontecer, para que o destino, levasse nossa história a um
caminho completamente diferente.
Na primeira vez que ele me disse que nos casaríamos, eu
deveria marchar por essas pessoas, como seu pássaro enjaulado.
Uma prisioneira do homem que vingaria o sangue da minha família.
Ele entrou em minha vida como o próprio carrasco, no meio
de uma batalha em que as chances de vitória eram praticamente
nulas.
Se alguém me dissesse que eu me apaixonaria por alguém
que me aprisionou, marcou e consumiu da forma que Diablo fez, eu
teria rido.
Hoje, tudo era, de fato, diferente.
Nosso mundo poderia ruir em milhões de pedaços. Ainda
seria ao lado dele que eu gostaria de estar.
Mesmo com toda perversão e maldade impregnadas em sua
alma, eu confiava minha vida a esse homem.
As portas abriram para nós. Todos já acomodados em seus
lugares.
Ele segura minha mão, leva ela a sua boca e beija a ponta
dos meus dedos.
— Cabeça erguida, baby. Lembre-se. Todos aqui sabem
quem você é.
Eu sou a mulher que capturou a alma do diabo.
Essa noite, quando caminho entre os convidados ao seu
lado, não me sinto como seu pássaro enjaulado. Muito pelo
contrário.
Meu marido exala poder através de seus ossos. Com passos
firmes e ombros retos, pronto para destruir qualquer um.
Coberta de diamantes, atraindo olhares curiosos e
deslumbrados, correspondo a sua postura, entendendo o que ele
quis dizer com cada uma de suas palavras.
Ao seu lado, eu sou a rainha.
E uma rainha, nunca fugiria da guerra.

Horas se passaram, até que pudéssemos ficar sozinhos


novamente.
Minha mandíbula já estava doendo de tanto sorrir.
— Eu retiro o que disse. Essa será a última vez que faremos
isso, — profiro, assim que cruzamos a porta da suíte que separaram
para nós.
Era ampla e elegante. Com móveis de madeira escura, uma
cama de dossel enorme coberta com pétalas de rosas vermelhas.
Pisquei para a beleza de todo o ambiente por um momento.
Exalando de alívio por saber que consegui chegar ao fim desse dia.
Devo dizer que estava ansiosa para voltar para casa. O ar
puro, o barulho dos animais e o clima quente de Uncertain tinha me
conquistado.
Estar em uma cidade grande como essa por semanas, para
organizar a festa estava me matando.
Agora, no entanto, ainda me restava aproveitar o fim da noite
com meu marido.
Daniel estava seguro com minha mãe. Felizmente, não houve
nenhum derramamento de sangue na cerimônia ou jantar.
Eu estou viva. Minha família também.
Isso era tudo que importava.
— Pobre menina. — Sorrindo, vejo Diablo tirar o casaco de
seu terno, seguido do colete. E todos os meus incômodos
desaparecem, num piscar de olhos.
Jesus. Como ele conseguia ficar tão bonito?
Parecendo notar a mudança em meu olhar, seus movimentos
diminuíram. De repente, meus pensamentos foram de um lugar
monótono do cotidiano, a lembrança de seu prazer quase secando
no meio das minhas pernas.
Desenhando em minha cabeça, cada promessa sussurrada em
meus ouvidos.
Assisti quando ele enfiou a mão em seu bolso, retirando o
canivete prateado de dentro.
— Chegou a hora de desembrulhar a noiva.
Sem me dar a chance de pensar, com dois passos firmes e
determinados, suas mãos estavam sobre mim. O decote desenhado
em meu peito foi o primeiro a ir embora.
Com o objeto afiado, o tecido sofreu em suas mãos,
centímetro por centímetro, assim como o prometido, até cair
espalhado pelo chão em dezenas de farrapos.
O assobio de luxúria que ele deixou evadir quando me viu
vestida com o espartilho, cinta liga e calcinha vermelha, deixou claro
que a visão, era tão pecaminosa quanto sua mente perversa
pensara.
— Nem mesmo em meus sonhos mais fodidos e sujos, eu
esperaria algo tão bonito. Porra.
Com um olhar atormentado, deu um passo para trás,
pegando minha mão para me ajudar a sair do meio da bagunça de
tecido espalhados pelo chão.
Quando chegamos à beirada da cama, esperei que ele me
atacasse, como era de costume. Para minha surpresa, embora,
seus dedos deslizaram por meus braços, as pernas dobraram, e de
joelhos, com as mãos firmes na parte traseira das minhas coxas,
Diablo inclinou a cabeça, encontrando meu rosto.
— Fiz isso por você uma vez, Olívia. E estou repetindo essa
noite, para dizer que minha devoção e minha vida, sempre irá te
pertencer.
— Diablo... — vibrando com emoção, toquei sua bochecha e
suas mãos poderosas me agarram com mais força.
— Não me iludo acreditando que sou o melhor para você e
essas besteiras. No entanto, sei que sou perfeitamente capaz de
fazê-la feliz. E mesmo sendo um filho da puta, minha palavra é lei.
Você é livre menina, mas a noite… é na minha gaiola que você
entrará, por livre e espontânea vontade, e é nela que irei satisfazer
todos os seus desejos.
Minhas pernas tremem, sem poder conter o prazer que estou
sentindo. A felicidade. Meu peito parece brilhar com a mistura de
sentimentos dessa noite.
— Diga-me, passarinho, do que você precisa? Eu te darei
qualquer coisa do mundo que quiser.
— Agora? — questiono, com um sorriso travesso — Só
preciso que você me foda como prometeu. Quero senti-lo em todas
as partes.
Igualmente feliz, e deslumbrado com o meu pedido. Ele beija
o monte liso entre minhas pernas.
— Seu desejo é uma ordem, minha bela esposa.
Suas calças foram as últimas a sair.
Lambendo meus lábios, observei quando ele deslizou o
tecido para baixo. Sua ereção saltou de seu confinamento, com
raiva e latejante.
As veias em seu comprimento eram tão pulsantes, que eu
quase podia ver a pressão do sangue correndo através delas.
Suas bolas penduradas baixas entre as duas coxas
musculosas, balançando quando ele tomou um passo na minha
direção, só aumentaram ainda mais a umidade entre minhas pernas.
Não reparando ou se importando com a queimação em meus
olhos diante de sua visão magnifica, ele recuperou o canivete sobre
a cama e sem um aviso, passou o lado cego e frio em minhas
costas.
Meu corpo deu um espasmo com o susto. Sua risada baixa,
rouca e sedutoramente perversa acelerou meus batimentos
cardíacos.
— Você está magnifica baby, mas ainda prefiro vê-la
completamente nua.
Com dois movimentos rápidos nas laterais do meu corpo, ele
repetiu sua ação com o tecido delicado da minha calcinha, rasgando
a renda para me deixar exposta.
Seguindo com a mesma urgência e ferocidade, ele
prosseguiu com o resto da minha lingerie. Desde o espartilho
apertado que mantinha meus peitos juntos e elevados, até a cinta
liga e meias. Tudo foi cortado fora do meu corpo e largado junto com
os farrapos empilhados no chão.
Beijando meu pescoço, e minhas costas, esfregando sua
ereção evidente contra minha bunda, proferiu, sorrindo em minha
pele.
— Agora sim... perfeita.
De frente para mim, ele me fez sentar na cama e
pressionando meu peito inclinou meu corpo sobre a lençol cheio de
pétalas vermelhas espalhadas.
Com as pernas abertas, pronta para servi-lo como um
banquete, Diablo me manipulava como um verdadeiro mestre.
Seu rosto estava a centímetros de distância da pele úmida e
necessitada da minha boceta, mas eu não conseguia parar a minha
própria vontade de prová-lo. A visão tão deliciosa de seu pau duro,
quase doendo para ser liberto, estava queimando em meu interior.
Ele se inclinou para cobrir-me completamente com a sua
boca. E as palavras escaparam, sem que eu pudesse impedir.
— Eu quero chupar seu pau... por favor... me deixe... —,
sussurrei, antes que ele me lambesse.
Seus olhos grudaram nos meus, todo o corpo ficou imóvel, o
pescoço pulsou retardando os movimentos. Ele não falou, apenas
reagiu.
Deitando-se sobre a cama ao meu lado, me puxou para
sentar sobre ele de costas.
Com agilidade, manejou meu corpo até que eu estava
sentada no meio de seu peito, com seu pau ereto bem na minha
frente.
Sua mão grande e calejada bombeou o membro duro. A
outra, agarrou os fios soltos do meu cabelo que eu havia soltado do
coque.
— Repita passarinho. Diga-me o que você quer.
— Quero chupar o seu pau. Quero o seu gosto em minha
boca. Por favor...
— Acontece... que também quero sentir seu gosto. Não
apenas quero, como preciso. Portanto, se incline e atenda seu
desejo, minha bela esposa. Me faça gozar em sua boca, ao mesmo
tempo em que como sua doce boceta.
Meu Deus.
Dedilhando seus dedos pela lateral do meu corpo, ele
encontrou a ponta do meu mamilo, rodando-o com força até me
fazer gemer.
Me aquecendo, empurrou meu torso para frente e se deitou
no colchão.
— Como... como...? — questionei, sem saber a lógica de sua
ideia.
Puxando meus quadris, ele me faz sentar quase sobre seu
rosto e antes que eu pudesse entender, o calor de sua língua
circulando minha vulva me estremeceu.
Sem poder dizer nada, mas ainda no controle de tudo, uma
de suas mãos me empurrou para frente até que fiquei frente a frente
com a sua ereção entendendo que dessa forma, nós dois,
alcançaríamos nossos desejos.
Sem mais uma palavra, circulei sua base com as minhas
mãos e fechei os lábios ao redor de sua glande.
A explosão de sal líquido em minhas papilas gustativas se
tornou a coisa mais deliciosa que já senti. Minha garganta se abriu
completamente, e ele me preenche até o fundo. Meus dentes
rasparam seu eixo, provocando-o, e o som de seu grunhido com
minha ação, só causou um impulso de sua língua mais
profundamente dentro de mim.
Suas lambidas eram precisas.
O aperto da minha boca ao seu redor, também.
Juntos, trabalhamos como um uníssono em busca do prazer.
Sua língua era minha perdição. Minha umidade enchia tanto
sua boca, que eu podia sentir minha carne inchando e entrando em
combustão com seus movimentos lentos e certeiros.
Sem suavidade, fui girando-o dentro de mim, correndo minha
língua por todas as partes que era capaz de alcançar, enquanto
arrulhava agradecida, ao sentir seu sangue pulsando nas veias
salientes sobre minha língua.
Com golpes duros e profundos como ele fez mais cedo com a
minha boceta, ele me sugava gota por gota, centímetro por
centímetro até me deixar em completo desespero.
Mesmo com a boca cheia e sentindo seu gosto tão delicioso.
Era impossível fazer meu cérebro funcionar com tantas sensações
ao mesmo tempo.
Com as mãos em minha coxa, ele me apertou-me com mais
força. Uma espécie de aviso de que estava na hora.
Eu o entendi muito bem. Empenhada em minha tarefa, engoli
todo seu comprimento enquanto sentia as ondas do meu orgasmo
atingirem a borda.
Os segundos pareceram correr em câmera lenta. Minha
garganta estava inundada e sofrendo com o meu esforço de mantê-
lo dentro dela por mais tempo.
Sua língua circulava o ponto sobre o meu clitóris.
Seus dedos me arranhavam.
Sua boca emitia sons que faziam o meu cérebro se desligar
de tudo. Pressionando meus lábios com mais força, acariciei suas
bolas e suguei com tudo que havia em mim.
E em segundos, explodimos. Juntos. Desesperados e em
perfeita sintonia.
Minha umidade escorria diretamente sobre ele, seu gozo
preenchia-me completamente e nossa noite, só estava começando.

Depois de minutos deitados tentando encontrar o caminho de


volta do abismo prazeroso que colidimos, Diablo me puxou para
perto.
Movendo meu corpo ainda mole sobre o seu, sua respiração
e os beijos que ele deu em minha pele incitaram pontos, que me
deixaram pronta para mais quase instantaneamente.
Ataquei ele com um beijo, compartilhando o gosto salgado
ainda em minha língua que se misturava com o meu sabor em sua
própria boca. Agora que o provei, estava ainda mais desesperada
para sentir seu pau me preenchendo em todos os cantos.
Seus dentes mordiam meus lábios com força, a ponto de
arrancar gotas de sangue. E com os dedos entre os fios de seu
cabelo, eu o puxava com um desejo de que ele nunca me soltasse.
Nunca.
— Você é a minha ruína, Olívia —, ele expele. Parecendo tão
atormentado por essas sensações quanto eu.
— E você, a minha destruição, Diablo —, afirmo.
Rolando minha cabeça para trás, ofereci minha garganta,
pois tinha certeza de que ele estava ansioso para devorá-la.
Sentindo mordidas selvagens e dolorosas em minha pele
sensível, eu busquei pela forma rígida e longa entre nós. Seu
membro pulsava em minhas mãos como se não tivesse acabado de
gozar.
Nós dois gememos quando eu o segurei em busca do
encaixe em minha entrada. Sua boca era frenética. Os movimentos
urgentes. Colocando-o na direção certa, empurrei meus quadris até
que ele me preencheu até a base.
Seus dedos afundavam em minha carne, cavando as unhas
em minha pele sem dó, para me guiar em cima dele.
Suas estocadas eram dolorosas e raivosas.
Uma. Duas. Três.
Tão fortes e profundas, que tudo que eu queria era paralisar
nessa sensação pelo resto da vida.
Seu pau latejava dentro de mim e eu me contorcia enquanto
sofria para respirar. Nosso suor e sexo se misturavam.
Ele deslizou a mão entre nós, alcançando o ponto desejado e
esfregou meu clitóris. Lentamente, quase dolorosamente, me
aproximando do orgasmo.
— Dessa vez, quero sentir seu gozo escorrendo sobre meu
pau, passarinho. Não vou parar, até que o deixe todo encharcado.
Oh Deus.
Seus dedos continuaram indo e vindo indo e vindo, no tempo
em que ele entra e saia e entrava no mesmo ritmo. Lento.
Desesperador.
— Eu preciso gozar. Preciso gozar... por favor...
— Quanto você precisa? — perguntou com um tom perverso,
segurando-me sobre ele com sua outra mão.
— M-muito.
— Então me peça, baby. Me peça para te fazer gozar. Me
peça para te foder tão forte que você não esquecerá da sensação
por dias.
— Por favor, me faça gozar. Por favor me fode... c-com
força... Me faça doer até a alma, Diablo.
Olhando no fundo dos meus olhos, mostrando-me quase tudo
que estava escondido dentro dele, Diablo atendeu o meu pedido.
Com os dedos e estocadas firmes, eu gozei tão forte sobre ele, que
no último resíduo dos segundos dolorosos, cai em seus braços,
absolutamente saciada.
Eu estava me tornando uma viciada.
E por incrível que pareça, estava perfeitamente bem com
isso.
Meu marido seria a minha droga para sempre.
05

Nova Iorque — EUA

SEIS MESES DEPOIS

As velhas paredes de pedra pareciam as mesmas.


A escuridão e o cheiro acre tão característico, mesmo com
toda a destruição, ainda emanava através do ar penetrando por
minha circulação com tanta força, que era como se eu pudesse
sentir a atmosfera sombria e violenta desse lugar.
Nêmesis.
Onde tudo começou.
Ouço os passos atrás de mim, sem precisar me virar para
saber que Wolf e Russel foram os únicos com coragem o suficiente
para entrar.
A equipe que nos acompanhava essa noite como
seguranças, tinha visto o suficiente ao longo dos últimos dois anos
para entender que mesmo aos pedaços, o peso de caminhar por
solo tão profano como esse, pode ser irreparável.
O abandono misturado a fuligem que queimara cada cômodo
do teto ao chão pode ter acabado com tudo, mas... mesmo
consumido pelo fogo, destroçado por Kyrios no passado em uma
tentativa de nos despistar, esse lugar, ainda se parece com o inferno
para mim.
Eu sigo meus passos em direção ao corredor que leva até as
celas.
Paro na entrada, e olho para a frase esculpida em uma placa
de madeira que está caída em frente a porta.

UBI FUGIO, INFERNUS EST. EGO SUM INFERNUM IPSUM

— O que isso significa? — a voz carregada de Russel


pergunta, sem a mínima questão de esconder seu forte sotaque
russo.
— Para onde eu fujo é o inferno, — eu e Wolf falamos ao
mesmo tempo — Eu mesmo sou o inferno.
— Bizarro.
— Isso é para lembrar que não importa o lugar, tudo o que se
vive aqui, segue com seus prisioneiros. Você nunca se esquece. O
inferno nunca sai de você. — Falo, com um tom monótono.
— Kyrios era um louco do caralho. Eu gostaria de ter
acabado com o filho da puta antes.
— Bem-vindo ao clube —, concluo.
— O que exatamente vocês acham que podemos encontrar
aqui? Não vejo sentido em acreditar que...
Sem prestar muita atenção no que ele diz, chuto a placa
pesada de madeira para fora do nosso caminho e empurro a porta.
Chame de instinto, ou seja, lá o que for, mas eu sabia antes
mesmo de olhar para o que estava do outro lado que
encontraríamos algo aqui.
Meus olhos treinados se adaptaram bem à escuridão. Ainda
assim, precisei da lanterna em minhas mãos para enxergar o que
nos aguardava.
— Que porra é essa?! — Wolf foi o primeiro a dizer, com um
tom exageradamente surpreso para o meu gosto.
O silêncio era um lugar muito mais confortável para mim
nesse momento.
— Blyad¹ — Russel xingou, logo atrás de mim.
Nós três paramos, poucos passos depois da entrada do
enorme salão onde a Nêmesis e seus torturadores costumavam
manter os prisioneiros e olhamos para o corpo pendurado no teto.
Correntes pesadas seguravam a carcaça mais alto que
nossas cabeças, os ratos que consumiam o sangue na poça que se
formava no chão fugiram e alguns urubus que provavelmente
encontraram algum jeito de entrar pelos buracos do lugar seguindo
o cheiro da podridão voaram para longe.
A metade superior do rosto estava mastigada, tornando-o
irreconhecível. O corpo claramente apresentava sinais de tortura,
com machucados e marcas profundas que se misturavam a
destruição que os animais fizeram. A única coisa que era possível
reconhecer através da estrutura óssea e nudez do corpo, é que a
vítima era um homem.
O cheiro da morte que eu conhecia muito bem já subia pelo
ar, dando a entender que a putrefação estava começando a
acontecer.
Com um passo à frente, me aproximei um pouco mais,
tentando encontrar algo fora do comum.
Meus olhos estreitaram quando identifiquei um desenho
sobre a pele de seu peito, que mesmo exibindo marcas evidentes
das bicadas dos pássaros e com mosquitos corroendo envolta, era
possível ler com algum esforço.
— Ele tem o número seis desenhado em seu peito.
— E assim como os outros, os lábios foram costurados. —
Russel disse, ao meu lado, olhando com a mesma atenção.
— Deixe-me adivinhar, mais um recado para nós?
— É o que parece. — Grunhi.
— O que vamos fazer? — Ele questionou friamente.
Esfregando minha têmpora, acalmo o presságio maligno
corroendo minhas entranhas, olhei para Wolf que estranhamente,
não disse nada. Então pigarreio.
— Vocês eu não sei. Eu vou para casa.
Duas semanas malditas longe da minha mulher. Seguindo
pistas e mais pistas que não nos levou a lugar algum.
Isso não estava nada bom e eu não perderia mais meu tempo
longe de casa.
— Isso ainda não acabou, Diablo.
De costas, pronto para ir embora, paralisei, olhando sob os
ombros.
— Acabar? — ri amargamente — Aparentemente, isso só
está começando.
Uncertain, Texas — EUA

Caindo. Caindo....
— DIABLO!
O suor e a queimação em minhas vísceras quando despertei
de mais um pesadelo do caralho eram verdadeiros.
Assim como o terror debilitante de perdê-la.
Tantas maneiras diferentes, cada vez mais sangrentas e
assombrosas fizeram parte dos meus sonhos nas últimas semanas
e em nenhuma delas a sensação que corroía meu peito ao vê-la
morrer foi diferente.
Sempre assim, esmagador e sufocante.
Torci meus olhos lentamente, abrindo-os com relutância, para
encontrar o semblante preocupado de Olívia em cima de mim.
O peito dela subia e descia em harmonia com seus olhos que
brilhavam de pavor.
Respirando fundo, tentei fazer com que ela se deitasse ao
meu lado para se acalmar e então voltarmos a dormir, mas suas
pernas estavam travadas ao meu redor.
— Deus! Já é a terceira vez em menos de uma semana,
Diablo. Por que não me diz o que está te aterrorizando tanto? Você
acorda suando, aos berros como louco. Fale comigo... me deixe te
ajudar...
Meus músculos ficaram um pouco mais tensos. Os nervos se
dissipando para dar luz a outros pensamentos com a posição dela
sobre mim. Com os cabelos tão selvagens, voz firme e determinada.
A visão era deliciosa de se ver, mas definitivamente, eu não
gostava dela me segurando como se tivesse algum controle.
— Olívia...
— Me fale! Fale comigo... talvez se...
Interrompendo-a, agarro seus quadris, e rolo seu corpo
trocando nossas posições. Com ela debaixo de mim, tão quente e
viva, meu mundo pareceu entrar em sintonia novamente.
Os últimos resquícios de terror em meus sonhos,
adormeceram e assentaram em meu subconsciente.
— Não tente entrar em um lugar tão fodido como minha
mente, passarinho. Eu já disse que está tudo bem, então, é nisso
que deve acreditar. — Murmurei, deslizando minhas mãos por seu
estômago, trazendo meus dedos para cima em direção ao seu colo,
até alcançar minha marca gravada em seu pescoço. — Nada disso
é importante. Porém, se ainda quiser me ajudar com alguma coisa...
— Sua mente vai de zero a “vamos resolver qualquer assunto
com sexo” tão rápido. — Resmungou, rolando os olhos. Sorri para
ela, sentindo meu lado predador aflorar.
— Quando se trata de você, esposa. Com certeza. Meus
pensamentos podem ficar sujos em questão de segundos.
Me inclinei para beijá-la, sentindo seu gosto doce em minha
língua. Um sabor que eu nunca me enjoaria.
Quando nos afastamos, sua respiração estava rápida e
descompassada, mas os olhos, ainda tentavam me desvendar de
alguma forma.
Sua mão passou suavemente por minha bochecha, os dedos
pequenos e delicados me tocando como se eu fosse algo valioso.
— Eu te amo, Diablo.
Suspirando, voltei a me deitar e puxei seu corpo sobre o meu,
alisando seus cabelos para acalmá-la.
— Vou te proteger com a minha vida, passarinho. Para
sempre. — Sussurrei, depois de muito tempo, quando senti que ela
estava perto de adormecer.
Essa era a única coisa que eu não me importava nenhum
pouco de compartilhar com ela nesse momento.
O resto, eu teria que lidar sozinho.

No meio da madrugada, sem nenhuma esperança de


adormecer novamente, deixei Olívia dormindo e sai do quarto.
As últimas semanas foram turbulentas.
Desde que finalmente matei Kyrios, estamos vivendo nossa
vida como uma montanha russa.
Nossa festa de casamento, assim como pensei, me trouxe
bons aliados e causou a impressão de que eu gostaria. Fora
daquele mundo, conseguimos viver como se nada além dessa
pequena cidade esquecida pudesse nos abalar. Por um tempo.
Olívia pode ir para suas aulas, brincar com nosso filho no
jardim, passear pelo lago Caddo e eu pude fingir que a única vida
que levo tem a ver com todos os meus negócios sujos funcionando
fora de Uncertain.
A realidade é muito diferente da fantasia que criamos. E ela
explodiu em minha cara, mais rápido do que pensei.
Como um ritual, passo pelo quarto de Daniel, vou até a
beirada de seu berço e assisto seu sono por alguns minutos. Seus
cabelos escuros estão brilhando mesmo na escuridão, sendo
iluminados apenas pelo reflexo prateado da lua cheia entrando em
seu quarto.
Mesmo tão pequeno e alheio a todos os perigos ao seu redor,
é impressionante como ele conquista minha lealdade e devoção
todos os dias.
Assim como Olívia, eu o protegeria com a minha vida.
Passo minha mão por seus cabelos, olhando-o com
admiração uma última vez e saio de seu quarto.
Já em meu escritório, sentado em minha mesa, ligo o
computador e olho mais uma vez para as fotos que recebi de
Russel.
O sangue envolta dos corpos não traz a indiferença e apatia
que estou acostumado.
Muito pelo contrário. A maneira violenta e familiar que as
mortes aconteceram me levam a pensar que quem quer que seja,
não está matando por matar.
Nada disso é por acaso.
Muito menos um ato impensado no mundo em que vivemos.
O fim que veio junto da morte de Kyrios, terminou décadas de
sofrimento e prisão, mas também, despertou uma guerra. Singela e
silenciosa que está caminhando para nossas vidas rapidamente.
Nenhum de nós está a salvo.
Nunca estivemos.
Provavelmente nunca estaremos.
E minha maior certeza diante de todos esses fatos, é que não
permitirei que nada disso chegue à minha família.
06

— Está na hora de acordar, passarinho.


Algo macio e quente deslizou contra minha pele, despertando
uma sensação tão relaxante, que por um momento, pensei estar
deitada sobre as nuvens.
Todos os meus músculos cederam.
Eu só podia estar no céu.
No próprio paraíso.
Totalmente desperta, levantei a cabeça para olhar em direção
ao homem que estava empenhado em levar embora qualquer
resquício de sono restante em meu corpo e fiquei sem fôlego.
Os raios de sol alaranjados do Texas, começavam a
desabrochar no horizonte, fazendo a luz da manhã filtrada pelas
cortinas de nosso quarto transformar a visão que já era bela, em
algo absolutamente magnífico.
Suas costas musculosas e bronzeadas estavam estancadas
no meio das minhas pernas espalhadas. Os ombros largos, lado a
lado com minhas coxas dobradas sob o lençol branco amontoado
entre nós. Minha camisola foi enrolada até o meio do meu estômago
e a calcinha, estava desaparecida enquanto as veias inchadas de
seu torso tensionavam a cada vez que sua língua se mexia dentro
de mim.
Eu podia contar cada gomo de seus músculos, se fosse
capaz de prestar atenção em alguma coisa por mais de alguns
segundos.
Seu cabelo escuro brilhava de forma feroz a cada vez que ele
impelia para frente, empurrando profundamente em minha entrada,
mas mesmo a visão mais deliciosa do mundo, ficou em segundo
plano quando a onda de prazer escalou pelo meu corpo depressa
ao movimento de sua boca quente e poderosa.
Um gemido fraco escapou por meus lábios entreabertos e
meus dedos dos pés se enrolaram.
A sobrancelha de meu marido subiu, quando ele inclinou
levemente seu rosto e olhou para mim por entre as pernas. Sem
afastar-se de sua tarefa.
Seus lábios roçaram desde meu clitóris até a minha vulva, em
um caminho lento e sôfrego para meu total desespero. Fazendo
com que tudo em mim se agitasse.
— Eu gosto do que estou fazendo, mas preciso de você
totalmente acordada para o que tenho planejado para depois. Então
me diga, baby, devo continuar?
Uhhh.
Lambendo meus lábios secos, balancei a cabeça,
concordando. Algo que não pareceu o suficiente, já que ele não se
moveu.
Com um esforço, engoli em seco e expulsei as palavras da
minha boca.
— S-iim. Estou acordada. Muito acordada e atenta —
Gaguejei com a voz levemente afetada e rouca, fazendo-o sorrir.
— Bom.
Sem que eu precisasse implorar, ele se abaixou e circulou
minha carne com entusiasmo, sugando como se minha boceta fosse
seu alimento precioso. Seu empenho foi tanto, que não demorou
nem mesmo meio minuto para que meu orgasmo viesse. Rápido e
intenso.
Meu coração bateu com força e todo meu corpo ficou denso,
aprisionado a aquela sensação por longos segundos enquanto me
esforçava mordendo os lábios para abafar a vontade de gritar.
Nosso tempo juntos andava curto. Com Daniel crescendo,
minhas aulas e os acontecimentos que exigiam que Diablo estivesse
fora da cidade por períodos cada vez mais longos, qualquer
segundo deveria ser aproveitado como o último. Algo que fazíamos
com muito empenho, mesmo sabendo que nunca seria suficiente.
Num piscar de olhos, fui virada de bruços na cama e sua mão
bateu na minha bunda. A ardência quente tomou conta de mim e
mordi meu lábio ainda mais para conter o gemido.
Me levantei nos joelhos e cotovelos, preparando-me para
mais, e orgulhosamente, escutei seu suspiro satisfeito.
— Nunca vou me cansar de manhãs como essa. Sentir seu
gosto em minha língua pouco antes de enfiar meu pau na sua
boceta quente e molhada, sem dúvidas, é a melhor forma de
começar o dia. — Sussurrou, se mexendo na cama para ajoelhar ao
meu lado.
Seu elogio foi praticamente ronronando, contendo uma
empolgação que fazia meu coração vibrar em desespero. Ouvi-lo
feliz me excitava mais do que qualquer outra coisa.
Ele se moveu para trás, para posicionar-se e eu curvei
minhas costas, estendendo-me em sua mão que percorreu minha
espinha. Eu amava essa ardente antecipação que sempre
acontecia, quando ele estava prestes a me foder.
— Queria viver em um momento como esse para sempre.
Sem medo de que algo possa acontecer e... — Confessei baixinho,
sabendo que ele saberia o significado de cada uma de minhas
palavras.
Seu corpo se esticou, para que sua boca pousasse em meu
ombro, sem uma resposta.
Tivemos que passar por um inferno para chegar até aqui. E
ultimamente, estava mais do que nítido que tudo que enfrentamos
para acabar com Kyrios, era apenas o começo do caos em nossa
vida.
A guerra instaurada para tirar minha mãe das mãos de
Dominic junto com as consequências da morte de Kyrios, estava
crescendo e ganhando uma proporção perigosa.
Por mais que ele se recusasse a compartilhar o que estava
acontecendo comigo, eu sabia.
Quando Wolf trouxe minha mãe para casa, revivi todo o
pesadelo ajudando-a a se recuperar e por uma decisão egoísta,
decidi que não queria saber dos perigos no mundo lá fora. No
começo, isso me deu paz. Eu precisava de um pouco de
tranquilidade para organizar a minha cabeça e tentar, de alguma
forma, reconstruir todos os pedaços soltos que restaram depois de
tudo que vivi.
Pelo meu filho e pela minha família, eu não podia quebrar. E
esse foi o modo mais seguro que encontrei para continuar de pé.
Diablo ficou mais do que satisfeito em fingir que a vida existia
para nós além da fantasia que criamos aqui.
Mas, pouco antes de começarmos a planejar nosso
casamento e ainda mais depois, comecei a perceber que me
esconder desse mundo como uma covarde não ajudaria.
O assisti nas últimas semanas. Por mais que ele acreditasse
que sempre tinha tudo sob seu controle, estava nítido que dessa
vez, as coisas não eram tão simples.
Tanto ele, quanto minha mãe, estavam fugindo de mim como
insetos.
O que só alimentou ainda mais a minha percepção de que
esse paraíso ilusório estava chegando ao fim.
Nunca haverá um antídoto contra a maldade que nos rodeia.
O caos pode vir de todos os cantos, a qualquer momento.
Não há para onde fugir.
E pessoas que conheceram o verdadeiro inferno, nunca
devem esperar por um milagre.
— Estamos aqui agora, passarinho. Só você, eu. Nada mais
importa.
Sua voz dissipou todas as preocupações, porém não rápido o
suficiente. Antes que minha mente pudesse se reorganizar, como
prometido, seu pau duro estava dentro de mim, em uma estocada
feroz que me pegou de surpresa.
— Diablo! — gritei, com um gemido sôfrego.
Caindo para frente no colchão, meu equilíbrio falhou, e todo
meu corpo relaxou sem poder se segurar na posição. Obviamente
ele estava lá para me manter firme. Antes mesmo que eu me
movesse, suas mãos agarraram meus quadris me prendendo e
ainda dentro de mim, seu membro deslizou lentamente, reafirmando
nossa conexão.
Garantindo que cada pensamento meu estava junto com ele.
Com seu peito quente pressionado em minhas costas e a
respiração pesada em meu ouvido, inclinei meu pescoço para poder
olhar para ele. Nossos olhos se encontraram, e o sorriso banhado
em luxuria e calor que vi transformou nosso sexo em algo frenético.
Com um rosnado baixo, ao sentir meus quadris se agitarem,
pressionando os músculos ao redor de sua ereção, sua mão em
minha nuca empurrou minha cabeça para baixo, e seus dentes
cravaram em minhas costas, movendo o pau com mais força.
— Você é tão deliciosa, porra! — Ele diz, apressando-se um
pouco.
Sem forças para responder, sentindo meus joelhos tremerem
com a combinação de sua boca, e as mãos grandes tocando meu
corpo como queriam, a segunda onda forte começou a se
aproximar. Puxando meu corpo, ele se sentou na cama de joelhos e
me colocou sobre si, abrindo minhas pernas para que seus dedos
alcançassem a junção de nossos corpos. Enquanto um de seus
braços segurava-me contra seu peito com firmeza, serpenteando
meu estômago. Eu o segui automaticamente, com a necessidade de
rebolar como louca.
Seus dedos ajudaram a onda prazerosa a aumentar, trazendo
à tona um segundo orgasmo que me atingiu com mais força que o
primeiro.
Eu podia sentir o fluido escorrendo entre nós, caindo sobre
ele.
Meu corpo se tornou seu parque de diversões.
Agarrando com mais ímpeto, suas mãos me firmaram,
grudadas em minha lateral. Diablo me guiou, subindo meu peso
alguns centímetros apenas, permitindo que a gravidade me
colocasse de volta para baixo, deslizando em seu comprimento por
algumas vezes seguidas até que seu próprio prazer aconteceu em
um jato forte dentro de mim.
Mole e suada, cai para frente e estremeci com o toque de sua
boca, depositando beijos ternos ao longo da minha espinha, assim
que ele me colocou deitada de volta na cama.
— Isso é infalível. Apenas a visão do seu gozo escorrendo
sobre meu pau, me faz explodir como a porra de um adolescente, —
murmurou divertido.
— Eu sei. — Balbuciei, sorrindo contra os lençóis.
Suas mãos massagearam minhas costas por alguns
segundos, antes de se levantar, me arrancando um lamento.
Esticando os músculos do meu corpo que agora estavam
deliciosamente doloridos, apenas escutei o barulho dele andando
pelo quarto, de olhos fechados.
Desde o nascimento de Daniel, eu fazia um
acompanhamento regular com um médico, portanto, havíamos
abdicado o uso do preservativo. O sexo assim, estava se tornando
cada vez mais delicioso para nós. Além de ser uma decisão sábia,
manter um controle de natalidade, já que a ideia de ter mais filhos,
trazia pesadelos tanto para mim, quanto para ele. Eu amava meu
bebê até a morte, mas tinha plena consciência de que a vinda dele
ao mundo, foi pavorosa.
Tanto pela situação, quanto por tudo que estava ao nosso
redor.
Construir essa conexão com Diablo não foi algo que
aconteceu da noite para o dia, tudo que passamos deixou cicatrizes
que ainda estavam presentes e muito vivas em meus pesadelos. Às
vezes, acordava suando e gritando ao meu lembrar de certos
momentos, e mesmo que ele recusasse a me dizer, estava
passando pelo mesmo.
Seu controle obsessivo e extrema necessidade de
segurança, era um reflexo pequeno comparado a aqueles que ele
escondia de mim.
Portanto, foi uma escolha boa o suficiente, já que eu não
tinha a certeza de como lidaríamos com outro filho. E de como outra
gravidez poderia afetar nosso casamento.
Precisávamos, acima de tudo, de tempo... muito tempo juntos
para talvez, pensar em algo como isso.
Com uma toalha úmida em suas mãos, ele retornou para
limpar a bagunça de nossos corpos.
Sentei-me na cama, ainda atordoada com a junção de sono e
orgasmos maravilhosos e me inclinei para beijar seu peito nu. Ele
me puxou para perto, subindo ao meu lado e por alguns segundos
ficamos assim, apenas sentindo o toque um do outro.
— Não tenho planos até o almoço. Tenho que fazer algumas
ligações agora pela manhã e então podemos tentar... — Seus olhos
escuros escorregaram do meu rosto, direto para meus seios e sua
língua passou sobre os lábios. — Fazer uma visita ao galpão.
Meu núcleo pulsou com a ideia. Desde que nos casamos,
foram poucas as vezes que conseguimos visitar o galpão que Diablo
construiu para seus jogos.
De certa forma, eu estava sentindo falta disso também.
— Eu acho um....
Sem que eu pudesse terminar, o monitor na cabeceira da
cama piscou, emitindo um chiado choroso, seguido de gritos
exigentes.
— Mamãe!
Chutando os lençóis, preparei para me levantar, mas Diablo
foi mais rápido. Vestindo apenas uma cueca, caminhou até a porta
para ir buscar Daniel em seu quarto.
Assim como seu pai, o menino parecia ter um cronometro
interno que o fazia despertar todos os dias no mesmo horário, faça
chuva ou faça sol.
— Ei, garoto. O que está acontecendo? — escutando através
do monitor, meu sorriso se estendeu ainda mais ao ouvir a conversa
entre os dois. Por mais grudado que Daniel fosse comigo – pelo
tempo que passávamos juntos, a relação entre ele e Diablo era algo
inexplicável. Eles se entendiam através de um olhar ou com poucas
palavras. E eu nunca me cansava de assistir.
Já sabendo que provavelmente Daniel estaria com fome,
levantei-me para jogar uma água no rosto e me recompor antes de
começar o dia. Seguindo até o banheiro fiz isso rapidamente,
esperando encontrá-los no quarto quando voltasse, mas depois que
longos minutos se passaram sem que aparecessem, decidi ir até lá
para ver o que estava acontecendo.
A porta adjacente que levava ao quarto ao lado do nosso
estava entreaberta, e o brilho suave do raiar do sol era nítido pelo
corredor. Com passos silenciosos, empurrei e entrei no cômodo
espaçoso, sendo presenteada com outro belo momento naquela
manhã.
Meu marido estava sentado próximo a janela, na cadeira de
balanço que eu usava para amamentar, com as pernas esticadas e
o corpo pequeno de nosso filho estendido sobre seu peito. Em seus
braços abertos, Daniel permanecia com o rosto choroso e inchado
de sono colado ao lado de seu coração, onde meu nome foi
marcado em sua pele cheia de cicatrizes, absorvido por um sono
seguro e tranquilo.
Ao mesmo tempo em que meu coração inchou de felicidade,
meu peito também se espremeu, revivendo todos os pensamentos,
de que a qualquer momento, tudo isso, poderia escapar por entre
meus dedos.
Essa felicidade.
Esse amor.
A sensação de finalmente pertencer a um lugar. Ter uma vida.
Poderia acabar. Num piscar de olhos.
07

— O que você quer dizer com “tudo desapareceu”? — grunhi,


em um tom perturbadoramente lento.
— Exatamente isso. Não há mais nada lá, está vazio, como
se nunca tivesse existido. — Russel respondeu, tentando omitir sua
própria frustração. — Limpamos o que foi possível logo depois que
você saiu. Não podia deixar meus homens expostos, ainda mais
com o risco de algum espertinho enfiar o nariz em nossas coisas,
então o que ficou para trás cuidaríamos depois. Precisava que a
poeira baixasse antes de voltar. Três dias atras foi quando enviei
uma equipe para o local, mas aparentemente, alguém chegou antes
de nós. A casa, o subterrâneo, qualquer vestígio de sua antiga
propriedade, desapareceu. É um terreno vazio e abandonado agora.
Como se tivessem explodido tudo!
— Isso… isso está me irritando, porra! Primeiro as mortes...
agora, invadem minha antiga casa. Eu não acho que isso foi uma
limpeza e sim que eles levaram o que estava lá para encontrar
alguma pista e fizeram questão de nos mostrar isso.
— É no que estou apostando também.
— Algum novo assassinato aconteceu?
— Não. A coisa boa continua sendo que todas as vítimas
faziam parte da nossa lista de qualquer maneira... — resmunga, em
um tom sarcástico.
— Certo, e então nós fazemos o que? Agradecemos? Ou
ficamos em dívida com quem quer que seja essa alma caridosa que
está fazendo todo trabalho de “execução” por nós?
— Você sabe tão bem quanto eu que almas bondosas não
existem no mundo em que vivemos. Eu sei muito bem que nada
disso está certo. Algo está acontecendo e a ideia de não saber o
que é, não me deixa nada feliz.
— Eu sei. Não gosto de dever nada a ninguém, muito menos,
quando não faço ideia de quem seja.
— Acredite, você não é o único. — Seu tom, dessa vez, não
escondia a raiva. Suas palavras saíram arrastadas, acentuando
perfeitamente sua irritação.
Massageando minha têmpora, pressionei com mais força o
ponto tentando acalmar a pulsação em minha cabeça.
Nos últimos meses, mais da metade dos associados de
Kyrios que estávamos caçando, foram torturados e brutalmente
assassinados. No começo, fizeram parecer como mortes acidentais.
Agora, no entanto, o modo que faziam para que soubéssemos dos
assassinatos estava ficando cada vez mais criativo.
E isso estava me atormentando de forma muito alarmante.
Não me importa se esses filhos da puta mereciam morrer de
qualquer maneira, era meu papel caçá-los.
Wolf também deveria querer uma parcela disso, porém, sua
preocupação maior neste momento, não parecia concentrada no
mesmo que nós. Já que ele nem respondia mais a porra das minhas
ligações.
Eu queria estar errado no que sua atitude me fazia supor.
Com certeza, eu estava errado. Tinha que estar.
No momento, eu só tinha Russel para contar. E mesmo que
não estivéssemos de certa maneira, do mesmo lado, ainda
tínhamos em comum o desejo de derrubar a escória envolvida com
nosso passado. Principalmente, para ter a certeza de que todo o
esquema da Nêmesis fosse aniquilado.
— Sabe muito bem que não podemos mais continuar com
isso. Wolf está escondendo alguma coisa, e eu não gosto de ser
feito de idiota. Essa situação está saindo do controle! Posso ter
ajudado a derrubar Kyrios, mas não vou deixar meu trabalho e todo
o risco que corri ser em vão, Diablo. Minha paciência está esgotada.
— Eu vou lidar com ele. Deixe isso comigo. — falei, de forma
mordaz.
Desde o resgate de Rose, nos confins de uma propriedade
no fodido México, as coisas com Wolf estão estranhas.
Ele e Rose alegam que Dominic está morto. Eu não acredito
nisso nenhum pouco.
E agora, com todas essas coisas acontecendo, está mais do
que na hora da brincadeira acabar.
Enquanto eles não me falarem onde enterraram o bendito
corpo, para que eu possa ter certeza de que o maldito desgraçado
está apodrecendo no inferno, não vou sossegar.
Olívia podia acreditar que sua mãe é uma alma boa e
imaculada, mas eu, reconheço muito bem a escuridão por trás de
seus olhos.
A mulher, provavelmente, guarda mais segredos do que
todos nós imaginamos.
E não consigo entender, onde Wolf se encaixa em tudo isso.
Chega dessa merda.
— Faça isso depressa. Não vou me esconder como um rato
por mais tempo. Se querem guerra contra nós, vou fazer com que
percebam muito rapidamente que não fujo de conflitos.
Desabrochando um sorriso distorcido no canto de meus
lábios, murmurei:
— Nenhum de nós foge. Se é uma guerra que está vindo,
estaremos prontos.

— Isso... isso não pode estar certo. E se não foi ela que
escreveu? E se alguém...
Olívia balançou a cabeça e vi as linhas de frustração em sua
testa.
No meio da manhã naquele dia, mais uma bomba explodiu
sobre minha cabeça.
Sem Rose no café da manhã, todos nós acreditamos que ela
havia saído para dar algumas voltas na cidade antes de
acordarmos, só muito mais tarde, quando Olívia foi a seu quarto e
encontrou um bilhete de sua mãe, dizendo que estava partindo, pois
precisava de um tempo sozinha. Que entendemos que ela havia ido
embora.
— Eu confirmei com a equipe de segurança. Ela saiu logo
pela manhã, com uma mala. Também verifiquei com um funcionário
da rodoviária que confirmou que ela comprou uma passagem para
Austin. Sua mãe é adulta, Olívia. Terá de confiar, que ela sabe o que
está fazendo.
— E todos os perigos que ela irá correr sozinha lá fora?
Todas as pessoas que podem desejar fazer mal a ela por ser filha
de quem é. Isso... isso não pode ser seguro.
Eu queria dizer que ela não deveria se preocupar. Mas todas
as possibilidades eram muito reais.
No entanto, eu duvidava que Rose estava sozinha nesse
momento. Por mais estranho que fosse tudo isso, eu podia sentir
que sua partida não foi algo pensado de uma hora para outra.
Sem querer revelar tudo isso a Olívia, desviei meus olhos e
fui até o closet. Peguei uma das minhas camisas, a vesti e demorei
certo tempo encaixando cada um dos botões.
Por anos, ditei minha vida baseada em regras que me
afastaram cada vez da humanidade e quase me tornaram
exatamente como o homem que mais desprezei na vida.
Eu ainda não me sentia como alguém sentimental.
Provavelmente, nunca sentiria.
Por muitas vezes, era difícil tentar lidar com minha mente
caótica e violenta em meio a calmaria de Olívia.
No entanto, quanto mais tempo passamos juntos, mais
natural se torna o fato de que eu me importo com o que ela sente.
Vê-la infeliz, se tornou algo que eu não consigo ignorar.
Totalmente vestido, caminhei até onde ela estava sentada na
cama e levantei seu rosto com a ponta dos dedos.
— Tudo bem. Eu planejava fazer uma visita a Wolf para
resolver algumas pendências. Com isso, acho que vou adiantar e
verificar se ele sabe alguma coisa sobre ela. Se foi escolha dela
partir, baby, não há o que possamos fazer. Ela viveu como
prisioneira por muito tempo. Mas vou garantir que ela esteja segura,
tudo bem?
— Toda vez que tocamos no nome de Wolf, ela foge. Eles
não se veem desde o nosso casamento, segundo ela. Por que
acredita que ele saberia alguma coisa? — ela questiona,
desconfiada. Como se soubesse que estou escondendo algo dela.
— É apenas uma intuição. Portanto, vou pegar um voo ainda
essa noite e irei até a casa dele... só para verificar.
Envolvo meus dedos ao redor de sua nuca, trazendo seu
rosto mais para perto.
Seus olhos atormentados fixam nos meus.
— Tudo bem, — murmurou, com os lábios colados em minha
boca — Obrigada...eu... Obrigada.
Segurei seu rosto entre minhas mãos, para que ela me
olhasse com firmeza e acreditasse em minhas palavras.
— Sua mãe é uma mulher forte, Olívia. Assim como você, ela
pode enfrentar muitas coisas.
— Eu espero que esteja certo.
Aproveitando mais alguns momentos com meu filho antes de
partir, me sento com ele no jardim.
Bruce o cachorro idiota de Daniel, está correndo ao nosso
redor, brincando com os jatos do irrigador.
— Vêm aqui! — ele ordena, com sua voz infantil, muito sério.
Quando o cachorro pega a bolinha em sua boca e corre para longe.
Com passos apressados, ele tenta correr atrás dele e me
chama quando percebe que não consegue alcançá-lo com tanta
rapidez.
Eu assobio, fazendo Bruce trotar até nós e Daniel pula de
alegria exibindo um sorriso sincero.
Ele brinca com seu bicho de estimação, alegre e inocente e
isso faz meu peito inchar.
Daniel se distrai, olhando para o ponto atrás de mim e vejo
que a babá que está substituindo a licença de Sra. Reynard – que
se afastou com problemas de saúde -, aparece com um prato cheio
de frutas cortadas em cubos.
A jovem loira de olhos amarelados, olha para mim, antes de
colocar o prato de comida sobre o tapete de Daniel e algo me diz
que o tipo de olhar, não é tão inocente e educado quanto quando ela
está com Olívia.
— Posso te servir alguma coisa, senhor?
— Não. Obrigado.
Com um aceno, ela se afasta silenciosamente e deixo o fato
passar sem importância.
Em uma cidade minúscula como essa, certamente existem
muitos patrões que costumam foder empregadas, nas costas de
suas mulheres.
Não é o meu caso.
Olívia aparece no limiar da porta, com os cabelos soltos e um
vestido longo florido e cada vez que olho para ela, é como se meu
mundo fodido estremecesse.
— Ei, meu amor... — Ela se aproxima, e se senta ao meu
lado, estendendo os braços para pegar Daniel em seu colo, que
vem correndo até nós com a boca cheia e sua cara toda lambuzada
de morango.
Beijando seus cabelos escuros, ela faz cosquinhas em sua
barriga fazendo-o gargalhar, mas como o esperado, ele não
consegue ficar muito tempo parado, então logo, pula de seu colo
para correr pela enorme área arborizada nos fundos de nossa casa.
O pôr do sol já começa a acontecer além no horizonte, caindo
sob a linha do lago Caddo.
Minha esposa coloca sua mão pequena contra minha perna,
e eu capturo seus dedos nos meus.
A aflição ainda é nítida em seu rosto, e como egoísta fodido
que sou, coloco minha mão livre nos fios soltos de seus cabelos e
puxo suavemente, trazendo seus olhos aos meus.
Seu rosto ganha um tom cor de rosa, quando ela entende onde
estão meus pensamentos e com um sorriso distorcido, me inclino
para dizer:
— Meus chicotes devem estar com uma saudade imensa da
sua pele, baby.
— Oh... — ela emite, sem desviar os olhos — Isso é um
problema.
— Um problema, que planejo resolver assim que voltar.
— Vou aguardar ansiosamente, marido.
— Eu espero que sim, meu belo passarinho.
08

Seu beijo de despedida foi brutal. Ele me atacou com a


língua, assumindo seu controle a ponto de fazer meus joelhos
fraquejarem.
Ofegante, se afastou para me olhar nos olhos uma última
vez. Seu rosto, como sempre, estava limpo de qualquer expressão,
mas seu olhar era caloroso o suficiente para que eu reconhecesse
tamanha intensidade.
Apertando meus dedos sobre seu peito, afastando aquela
sensação dolorosa de despedida em toda vez que ele partia, fiquei
na ponta dos pés para depositar um último beijo terno sobre o canto
de sua boca.
— Volte para mim.
— Sempre, baby. E você, se cuide.
Com as pontas de seus dedos em minha bochecha, ele
ordenou e assenti. Daniel acenou alegremente em meu colo e
Diablo se abaixou, beijando sua cabeça.
— Proteja sua mãe, — disse, sério.
— Mamãe — ele repetiu, como se concordasse.
Um pouco reticente, olhei para o lado, percebendo que
quando Diablo partisse, eu estaria sozinha. Senti meu coração
afundar no peito nesse momento.
— Tem certeza de que vai ficar bem?
— Sim. Não se preocupe! — tento manter a minha voz firme
— Por favor, descubra alguma coisa. Se pelo menos souber que ela
está segura...
— Eu vou.
Com um último beijo em minha testa, se despediu.
Três homens da equipe foram designados para acompanhá-
lo e os demais, ficariam na propriedade. Diablo nunca era negligente
quando se tratava de segurança.
Fiquei olhando eles entrarem no carro e saírem pelo caminho
de cascalho, com o coração tão apertado quanto antes.
Segurando Daniel com mais força, voltei para dentro de casa
rezando para que tudo terminasse bem.
Senhora Reynard, a senhora tão doce contratada por Diablo
ainda estava de licença, a nova funcionária – Caroline, estava me
ajudando em meio período para cuidar de Daniel e da casa.
Ela era muito doce, educada e extremamente discreta.
— Precisa de alguma coisa, senhora? — terminando de
empilhar alguns pratos sobre a pia na cozinha, perguntou, quando
me viu entrar.
— Oh não... não, muito obrigada, Caroline. Não teremos
jantar hoje, irei comer alguma besteira e tentar dormir mais cedo.
Você pode terminar aqui e se retirar, tudo bem?
— Tudo bem, dona Olívia. O patrão está viajando de novo?
— Sim, ele vai ficar fora por alguns dias.
— Certo. Eu volto amanhã no mesmo horário de sempre
então.
— Combinado.
— Tenha uma boa noite, dona Olívia — falou, com um
sorriso.
— Você também.
Com a noite caindo, levei Daniel para o quarto, contei
algumas histórias para fazê-lo adormecer e fui para cama.
Esperando que o dia seguinte, levasse um pouco do peso em meu
peito embora.

Dois dias se passaram. Então três, depois quatro, até que a


viagem rápida de Diablo se transformara em uma semana.
Cada dia que ele me ligava, as informações se tornavam
mais veladas e misteriosas, me fazendo entender que o que quer
que ele tinha encontrado na casa de Wolf, não podia ser bom.
— Você precisa me dizer alguma coisa! — insisto, pela
segunda vez em menos de cinco minutos.
— Olívia, — com a voz cansada e banhada de frustração, ele
suspira do outro lado da linha — eu já disse. A única coisa que sei,
é que sua mãe está bem. Há muita coisa acontecendo agora, coisas
que estou tentando resolver antes de voltar para casa. Não posso te
dizer mais nada além disso.
— Não pode, ou não quer?
— Isso importa? Se eu escolhi não compartilhar com você,
tem um bom motivo. Ponto final.
Meus dedos apertaram o telefone com força. Não adiantava
nada discutir com ele agora.
— Tudo bem. Quanto tempo mais vai ficar por aí?
— Na verdade, estou... — um barulho estridente, cortou sua
frase — Merda. Vou ter que desligar agora. Nos falamos mais tarde.
— Tudo bem, eu te am... — O bip, bip da ligação encerrou a
chamada.
Me jogando de volta na enorme cama vazia, olhei para o teto,
com os pensamentos correndo.
Estava farta de me sentir assim, tão desamparada. Com
minha mãe aqui, pelo menos, eu sabia que podia conversar com
alguém. Sem ela, e sem Diablo...
Era como se eu estivesse vivendo a realidade que acreditei
que viveria, quando cheguei até aqui. Grávida, sozinha e com o
coração despedaçado.
Essa não era a minha vida. Eu tinha muito mais pelo que lutar
agora e não queria ser apenas a mulher que esperava em casa
enquanto o mundo se desintegrava em minha cabeça.
Eu não pensava em coisas tão drásticas. O que Diablo fazia.
Isso se tornou parte dele.
Meu pensamento tinha mais a ver com o fato de que ficar no
escuro estava acabando comigo. Definitivamente, quando ele
voltasse, precisaria esclarecer que saber o que esperar. Entender
esse mundo cheio de segredos, me manteria sã.
— Dona Olívia? — a voz baixa de Caroline interrompeu meus
pensamentos, seguida de uma batida na porta.
Marchei pelo quarto, abrindo uma pequena brecha para
encontrá-la.
— Sim?
— Desculpe te incomodar. Só queria dizer que acabei de
colocar Daniel na cama, e já vou embora.
— Ah, é claro. Muito obrigada. Vejo você amanhã.
— Sim... eu trouxe o chá que a senhora toma antes de
dormir. Vai te fazer bem relaxar um pouco. Parece preocupada
esses dias.
Com um sorriso agradecido, peguei a xicara fumegante de
suas mãos.
— Tem razão. Você é muito atenciosa, Caroline.
Acenando, fiquei olhando enquanto ela ia embora, e voltei
para me deitar. Com o monitor do quarto de Daniel ao meu lado,
sentei-me na cama e meu estômago revirou em desconforto,
voltando a pensar em Diablo... e minha mãe...
Eles são fortes. Eles estão bem. Você está bem.
Reafirmei, expulsando as ideias sangrentas e obscuras
invadindo minha cabeça.
Deitada contra os travesseiros, busquei abrigo no sono,
mesmo sabendo que seria mais uma noite banhada em pesadelos.
Vozes que eu não conhecia, invadiram o inferno abstrato da
minha prisão.
Tentei gritar por socorro. Minha voz não saia.
Lutando contra as garras, galhos e correntes que tentavam
me engolir, meus braços empurram com mais força, impulsionando
até que cai, em uma superfície macia e quente.
Meus olhos se abriram.
— Mamãe?
A voz do meu bebê me trouxe de volta a realidade. Virando
na cama, procurei pelo corpo quente de meu marido, só para me
lembrar que estava sozinha.
— Shii bebê, está tudo bem.
Aquela voz... a mesma que escutei em meu pesadelo,
reapareceu, parecendo distante, mas – estranhamente, muito
realista.
— Eu quero a mamãe.
Medo percorreu todo meu corpo. Meu sangue estava frio em
minhas veias e meus olhos se arregalaram com a compreensão.
Alguém estava aqui. Em nossa casa. Com meu filho.
Olhando para o lado, agarrei o monitor que usava para
observar seu quarto e digitei os comandos que acessavam as
câmeras. Quando a imagem apareceu, todo o meu mundo
desmoronou.
A tela podia estar trêmula e levemente distorcida, ainda assim,
eu entendi que havia um intruso no quarto do meu bebê.
— Nós vamos dar um pequeno passeio.
Inclinando-se para Daniel, escutei a pessoa falar baixinho.
Minha onda de pânico cresceu.
Não. Não. Não.
Com o coração batendo na garganta, me levantei. O instinto
protetor e uma calma sinistra conduzindo cada uma das minhas
decisões.
Primeiro, fui até a janela para ver se algum segurança estava
do lado de fora. Todo o gramado de nossa casa estava escuro como
breu. Eu não conseguia encontrar ninguém e mesmo se fizesse,
seria impossível chamar atenção sem alertar a pessoa que estava
no quarto bem ao lado do meu.
Reagi da forma que podia, pensando que a única pessoa que
eu tinha para contar nesse momento, era eu.
Peguei meu telefone, amaldiçoando por lembrar que logo
depois que falei com Diablo esqueci de colocá-lo para carregar e ele
já estava sem bateria.
Pensando rapidamente, fui para a última alternativa.
Vasculhei a gaveta da minha cabeceira, procurando por um
objeto em específico, no caminho esbarrei com a xicara de chá
intocada sobre a superfície e deixei o líquido escorrendo pela
madeira. Com aquilo que procurava em minhas mãos, corri para a
porta.
Tantos cenários passavam por minha cabeça. O choro de
pavor do meu bebê alimentava pensamentos sombrios e
devastadores.
Não, balancei minha cabeça. Eu me recusava a deixar
qualquer coisa acontecer com ele. Sem pensar duas vezes, eu já
estava puxando a maçaneta e saindo para o corredor. Menos de dez
segundos depois, eu pulei sobre o intruso e o puxei de cima do
berço de Daniel.
Ele estava em pé, com suas mãozinhas firmes em volta do
apoio de seu berço, com o cabelo desgrenhado, cara amassada de
sono, mas bem. Vivo.
Empurrando a pessoa do meu caminho, fiquei entre eles e
olhei nos olhos de quem tentara arrancar o bem mais precioso da
minha vida das minhas mãos. Com uma blusa grande de moletom, e
o capuz cobrindo sua cabeça, quase não consegui reconhecê-la.
— Caroline? O que você está fazendo aqui?
A surpresa em seu rosto não passou despercebida.
Sua postura defensiva durou cerca de três segundos até que
ela deixou seus ombros caírem.
— Dona Olívia, — engasgou, com o tom doce e educado que
ela costumava usar — não é o que a senhora está pensando... eu
estava apenas...
— Apenas?
— Eu notei que você parecia tão esgotada esses dias que
fiquei preocupada. Resolvi ficar por aqui essa noite, escutei Daniel
chorando e vim olhá-lo.
Meus olhos estreitaram.
Mentira, essa mulher estava mentindo bem na minha cara.
— Eu quero que saía daqui. Agora mesmo.
Balançando em seus pés, ela assentiu. Os fios loiros
escondidos de seu cabelo caíram por seu ombro.
Eu me virei, para pegar Daniel em meu colo, e logo depois,
senti algo cutucando minhas costas.
— Riqueza atrai perigo. Será que você e seu marido não
sabem disso? — lentamente, eu olhei para trás sobre meus ombros,
e ela empurrou com mais força — Isso deveria ser fácil. Você
deveria estar dormindo. Eu levaria a criança, sua família sofreria por
alguns dias e depois, tudo estaria resolvido. Agora, Dona Olívia,
serei obrigada a fazer as coisas do jeito mais difícil.
Uma arma. Ela tinha uma arma bem nas minhas costas.
Engolindo em seco, fechei os olhos.
— Caroline... você está cometendo um erro.
— Cale a boca. É melhor ficar quietinha se quiser que você e
seu filho não se machuquem.
Suas palavras, colocam todo o pavor em minhas entranhas
em espera. Algo que nunca senti, nem mesmo quando Kyrios me
capturou, começa a surgir dentro de mim.
— Não ouse tocar nele.
— Isso não é você quem decide. Saia de perto do berço.
Sem escolha, com medo de que ela por impulso fizesse uma
besteira, atendi sua ordem com um passo cauteloso para trás.
Daniel me olha, com os enormes olhos castanhos cheios de
lágrima e meu coração aperta por não poder ampará-lo.
— O que quer com tudo isso? É dinheiro? Eu posso te
ajudar... sabe que eu e meu marido podemos te oferecer uma boa
quantia.
— Cale a boca! — aumentando sua voz, senti que a arma em
minhas costas tremia — Tudo que você tinha que fazer era beber a
merda do chá. Agora, veja só onde estamos. Tudo isso é culpa sua.
Ela parecia desesperada, como se não tivesse previsto nada
do que estava acontecendo.
Eu não podia perder a cabeça agora; não podia deixá-la
pensar que estava encurralada. Passei por um inferno para
entender que pessoas desesperadas podem ser muito perigosas.
No meio do quarto, ela tentou me puxar para a saída. Me
desesperei, sem saber se ela tinha alguma outra pessoa a
ajudando. Com toda a segurança em silencio dessa maneira,
abandonar meu filho, podia ser o mesmo que o entregar direto ao
perigo.
— Escute. Os seguranças estão por toda casa. Se sairmos
daqui assim, aí sim, não terá chance. Eu vou com você se me
prometer que ninguém irá machucar Daniel.
— Os seguranças devem estar em um sono muito tranquilo
com o lanche que preparei para eles no jantar — confessou
alegremente — Quer saber? Foda-se essa merda. Vou levar você e
a criança. Aposto que meu chefe ficará extremamente feliz com
isso.
— Não!
Toda minha calma evaporou quando ela tentou me virar para
pegar Daniel. Eu tentei me jogar contra ela, mas a mulher foi rápida,
empurrando meu peso com força para que eu caísse de joelhos ao
lado do berço.
— Se você se mexer, eu atiro. — grunhiu, com sua arma
voltada para o corpo pequeno e choroso a sua frente.
Meu coração afundou ao mesmo tempo em que o mundo
pareceu escurecer.
— Fique longe dele — sussurrei, com uma voz baixa e tão
crua, que pude ver sua mandíbula ficar dura de tensão — Tire essa
arma de perto do meu filho agora, ou eu juro que se arrependerá.
— Não acho que esteja em posição de ameaçar ninguém
agora, dona Olívia. Basta me desafiar — ela engatilhou a arma,
fazendo Daniel se assustar e começar a chorar mais alto.
Uma força que eu nunca soube que tinha, me consumiu. Meu
filho olhava para mim, com lágrimas escorrendo por seu rosto
delicado, e nesse momento, não esperei nada mais para tirar essa
mulher de perto de nós.
O canivete que peguei antes de sair do quarto estava
escondido entre o tecido da minha camisola. Ele quase escapa dos
meus dedos quando tento pegá-lo sem que ela veja, mas
rapidamente, sou capaz de alcançá-lo.
No segundo seguinte, eu pulo contra ela e a derrubo no chão.
Nós lutamos duramente. A arma em suas mãos cai para o
lado e consigo cortar seu braço antes dela acertar uma joelhada em
meu estômago que me deixa sem ar.
Ela chuta minha mão e com um gemido de dor, deixo o
canivete cair no chão. Caroline pula sobre mim e agarra meu
pescoço, sem me dar a chance de reagir. Suas pernas me prendem
e o peso de seu corpo me seguram no lugar, os joelhos impedindo
meus braços de se mover.
Eu só enxergava seus olhos a minha frente. Tão loucos e
desesperados.
Seus dedos esmagavam minha traqueia, deixando marcas na
minha pele. Ainda assim, eu lutei. Ao som do choro desamparado
do meu filho e com o pensamento de que eu já tinha passado por
muito para morrer dessa forma, empurrei e chutei com todas as
minhas forças.
Minha visão começou a ficar embaçada. Meu pulmão
protestava para respirar.
Eu me lembrei de um dia no passado quando fui atacada na
propriedade de Diablo e ele estava lá para me salvar.
Dessa vez. Não havia ninguém.
Nenhum monstro possessivo para reivindicar sua presa e
matar quem tentou machucá-la.
— Eu não queria ter que te matar. — Confessou Caroline,
apertando seus dedos em volta da minha garganta com força.
Ela não parecia arrependida ou bondosa nesse momento.
Reconheci o ar ardiloso no fundo de seus olhos.
Ela era má o suficiente para tomar uma vida sem culpa. Só
tinha errado em sua escolha, ao tentar tomar a vida de alguém que
nasceu em um mundo como o meu.
Com força e muita determinação, alcancei alguma coisa
perdida no chão, e fechei os olhos, antes de sussurrar com a voz
rouca e tão baixa, que certamente ela mal pode escutar.
— Acredite em mim. N-nem eu.
Com o canivete em minhas mãos, acertei seu pescoço. Seus
olhos arregalaram, o corte abriu e começou a jorrar. Minhas mãos
se apertaram, lutando contra a decisão que eu possuía, e sem
pestanejar, girei a lâmina, deslizando contra sua pele até o outro
lado. Seus olhos tremularam, o corpo sobre mim gorgolejou com
espasmos e com um último suspiro, ela caiu sobre mim.
Morta.
Com a respiração entrecortada, suja e assustada, não
consegui me mover.
Por alguns segundos, permaneci com o corpo oco sobre mim,
a imagem de seus olhos esvaziando em minha mente, tentando
encontrar algum arrependimento.
Eu cavei fundo em minha alma, até perceber que não existia
nenhum.
Ela iria machucar Daniel. Ela iria me machucar.
E eu nunca permitirei isso.
Com uma sensação estranha em meu peito, empurro
Caroline para o lado, me levanto, sem me incomodar com toda a
sujeira e pego meu filho.
Beijo sua cabeça, acalmando-o e saio do quarto.
Pensando que no final das contas, talvez eu não seja tão
diferente do meu marido.
09

Quando viajei naquele dia, eu esperava encontrar tudo,


menos, a casa de Wolf completamente vazia.
Tanto ele, quanto Rose, simplesmente, desapareceram como
num passe de mágica.
No começo, aquilo foi preocupante. Por dias, tive que revirar
Nova Iorque de cabeça para baixo, acreditando que eles poderiam
estar correndo algum tipo de perigo.
Até que uma ligação, mudou tudo.
— Você precisa confiar em mim. — A voz dele era precisa.
Sem um pingo de inflexão.
— Wolf...
— Não, Diablo. Não. Você não entende. Nesse momento,
ficar por perto não vai nos ajudar. Confie em mim. Essa é a minha
bagunça e irei resolvê-la sozinho.
— E onde Rose se encaixa nisso tudo? Ela deixou minha
casa, dizendo que precisava de um tempo sozinha, agora, depois de
dias, você me diz que ela está com você e que os dois, juntos, vão
se afastar. Isso faz algum sentido?
— Irá fazer, quando eu puder te contar tudo. Por agora, eu só
vou te dizer uma vez e preciso que escute: mantenha distância.
Fique fora disso. Volte para casa, proteja sua família e deixe as
coisas como estão.
— Dominic está vivo, não está?
— Fique fora disso.
— Wolf...
Nada mais.
Ele desligou, sem me dar mais nada.
Apenas um monte de perguntas e um sinal de alerta do
caralho.
Eu não estava feliz.
Russel não estava feliz.
Olívia não estava feliz.
E minha vida podia ser declarada como um absoluto caos.
Minha antiga propriedade foi limpa com um pente fino.
Não que eu tivesse deixado muito para trás, mas, quem
passou por lá, foi em busca de algo importante.
Misteriosamente, os assassinatos não aconteceram
novamente, pelo menos, não no tempo em que eu estava na cidade.
Tudo que podia ser feito e investigado, foi. Nada relevante
apareceu e agora, não me restava mais nada, a não ser esperar... e
essa era uma das coisas que eu mais odiava fazer.
Não posso acreditar no que meus olhos estão vendo.
Eu. Não. Posso. Acreditar...
Com uma calma descomunal, Russel se levanta da cadeira e
contorna a mesa de seu escritório. Sua camisa está amassada, as
calças meio abertas e o seu pau, evidentemente duro em sua
cueca.
Meus dedos afundam na madeira da porta, enquanto tento
controlar a minha frustração.
Essa merda só vai atrasar ainda mais a minha volta para
casa.
— É bom saber que enquanto estou queimando a minha
bunda para descobrir quem está tentando nos foder, você está
trancado em seu escritório recebendo um boquete em plena luz do
dia.
Ele dá de ombros, ajeitando os botões meio abertos de sua
roupa, e ajusta a gravata em seu pescoço.
Finalmente, a mulher que estava do outro lado de sua mesa
se levanta e toda a minha indignação, se transforma em raiva. Raiva
cega e incontrolável.
Eu avanço em cima dele com dois passos, agarrando seu
pescoço com tanta violência, que a única coisa que me impede de
afundar a sua cabeça na parede, é o fato de que preciso dele vivo.
— Ela? ELA?! Seu filho da puta de merda, eu juro que vou te
matar! Você disse que a levaria para casa! — eu estou gritando
como louco e não me importo.
Kiara, o belo pássaro número seis. Aquele poupei matar no
cativeiro de Kyrios. Aquele que deveria estar bem longe daqui, em
segurança, era a mulher que estava com Russel.
— Oh meu Deus, por favor não o machuque... Por favor... —
ela ousa implorar, tentando me tirar de cima dele.
Eu estou muito furioso para ser impedido. Ela tenta e tenta
até perceber que não vai conseguir.
Russel, no entanto, nem mesmo se incomoda. Com o rosto
vermelho pelo meu aperto em sua garganta, ele permanece com as
mãos paradas na lateral de seu corpo, sem nenhuma intenção de
me impedir.
Afinal, ele sabe que eu não vou matá-lo. Não ainda.
Fechando o punho, eu impulsiono com um único golpe,
socando sua boca com força suficiente para tirar sangue.
Ele xinga, em russo, e da um passo para o lado quando me
afasto. Kiara corre até ele, no tempo em que limpo o sangue das
costas da minha mão na minha camisa.
— Essa foi a primeira e última vez que fez isso Diablo,
marque minhas palavras.
Ignorando-o. Eu puxo a mulher loira e aflita longe dele e
obrigo que ela me olhe.
Seu rosto está corado, a pele brilhante. Com um vestido
elegante e parecendo saudável, ela me encara com altivez, ao invés
de medo.
— O que está fazendo aqui?
— Senhor... — ela balança a cabeça, reformulando seus
pensamentos e exala — Eu estou aqui, fazendo aquilo que me disse
quando me libertou. Estou fazendo minhas escolhas. Russel me deu
uma oportunidade de emprego e eu aceitei.
— Como sua prostituta?
Ela dá um passo para trás, chocada e eu esfrego minha
têmpora.
— Jesus. — Russel rosna — Eu juro que se continuar sendo
um idiota irá sair daqui em um saco preto.
— Tudo entre nós é consensual, eu juro. Estou trabalhando
como sua advogada. Eu tinha acabado de me formar quando...
quando aquele homem me capturou. Russel está me ajudando.
Estreitando os olhos, eu analiso seu rosto, então olho para
ele, ainda impassível.
— Não é da minha conta quem você escolhe para foder,
Kiara. Só espero que Russel tenha sido honesto. Afinal, ele tem
uma noiva na Rússia, e irá se casar em alguns meses. Apenas
quero garantir que não está sendo enganada.
Eu vejo a cor sumir de seu rosto, reconhecendo que a
informação, foi descaradamente omitida por ele.
— N-noiva? — com um semblante amargurado, seus olhos
voam para ele, depois para mim.
— Kiara... — Russel tenta dizer, se aproximando. Ela desvia
de seu toque e sorri.
Respirando fundo, ela endireita suas costas.
— Não se preocupe, Diablo. Isso é irrelevante. O que tivemos
foi apenas casual, não irá acontecer novamente. Se me der licença.
Sem mais uma palavra, caminha em direção a porta e nos
deixa sozinhos.
— Qual é a porra do seu problema?
— O meu? — sorrio descaradamente, ao me sentar no sofá
de canto em seu enorme escritório — Conheço homens como você,
Czar. Vi a forma como olhou para ela desde a primeira vez. Ao
menos seja honesto com a garota.
— Nada disso é da sua conta!
— Aí é que se engana. Observo todos os meus passarinhos
de perto... Levei muito tempo trabalhando em suas mentes para
qualquer idiota arruinar tudo.
— Você é um hipócrita de merda.
— Pense como quiser. — Dou de ombros — Agora o que
tenho a dizer, é que continuamos na estaca zero.
— Wolf entrou em contato mais alguma vez?
— Não. — Nego e complemento — Não nos resta mais
nenhuma alternativa. Vamos confiar em sua palavra e dar o tempo
que ele precisa. Se as coisas não caminharem, então, as medidas
drásticas podem ser necessárias.
— E qual seriam essas medidas?
— Vamos pensar nisso, caso as coisas fujam do controle. Por
enquanto... deixe as coisas como estão.
— Eu só espero que ele não esteja metido em alguma
besteira. Salvei a bunda de vocês uma vez, não espere que eu faça
de novo.
— Entendido.
Respondo indiferente. Mas no fundo... não posso deixar de
pensar.
Em que merda Wolf está se metendo?
O jato pousou em Dallas uma hora atrás, o restante do
percurso, faríamos de carro. A distância até Uncertain durava pouco
mais de duas horas.
Fechei meus olhos, tentando amenizar a exaustão caindo em
meus ombros depois dessa semana, mas, era como se meu corpo
pudesse sentir que Olívia estava perto.
Quando estou fora de casa, tento não pensar como os dias
sem ela parecem tão... desinteressantes. Nunca imaginei que ter
uma esposa seria algo tão delicioso. Às vezes, nem se tratava de
sexo.
Apenas a presença dela, fazia com que todo o mundo escuro
em que eu vivia ganhasse alguma cor.
Uma alusão tão piegas para nos definir, no entanto,
verdadeira.
Eu, escuro, fodido, quebrado e caótico. Enquanto ela... era o
pleno sol. Com sua doçura, inocência e felicidade.
O som do meu telefone, abafou meus pensamentos.
Alcançando o aparelho no bolso do meu terno, olhei para tela
e tive que piscar algumas vezes para a notificação do sinal do alerta
de segurança em minha casa apitando.
Antes mesmo que eu pudesse dizer - Dexter, um dos meus
seguranças, já estava com seu próprio telefone no ouvido, bradando
ordens.
— O que está acontecendo? — perguntei a ele, tentando
controlar a agitação crescendo em meu peito.
— Temos uma situação na casa senhor...
— Que situação?
— A nova babá drogou a equipe de segurança e tentou
atacar Olívia e Daniel.
— Me leve para lá. Imediatamente!
Todos os pesadelos que tive nos últimos meses passam por
minha mente. Os cenários sangrentos. Olívia machucada e morta
em meus braços. Meu filho... o corpo pequeno dele em minhas
mãos.
Meus punhos se fecham a ponto de ranger os ossos.
Minha cabeça ferve.
Meu peito parece querer explodir.
Fecho os olhos novamente, mas dessa vez, não há descanso
no mundo que vivo.
Apenas...
Aquele sentimento.
Enterrando no canto mais fundo e podre da minha alma.
Medo.
Contaminado com a violência que chega a me cegar.
Se alguém ousou machucá-los. Irá sofrer nas minhas mãos.
Sofrer até que a morte seja seu único desejo.
Quando o carro para no meio do nosso gramado, e vejo
Olívia sentada nos degraus de nosso deck com Daniel aninhado em
seu colo, é como se eu pudesse respirar novamente.
Ela se levanta com cautela. E eu corro até estar a
centímetros de distância.
— Graças a Deus você está aqui. Eu estava tão assustada
e…
Suas mãos, rosto e a parte da frente de sua camisola
estavam sujos de sangue. Muito sangue. Marcas arroxeadas
pintavam sua garganta como se alguém tivesse tentado estrangulá-
la. A testa tinha um arranhão profundo que escorria por seu pescoço
com gotas que ela parecia nem notar.
Minha avaliação, durou cerca de dez segundos e até o fim
dela, toda minha raiva havia triplicado.
— Não. Eu não quero ouvir nada. Não agora. — Declarei,
interrompendo sua fala urgente com um beijo que externava tudo
que eu guardei pela última hora.
Seus machucados não me importavam nesse momento. Eu
precisava senti-la para ter a certeza de ela estava aqui e estava
viva.
Seu cabelo encheu a minha mão, os fios macios aprisionados
aos meus dedos com um aperto de morte.
Nossas bocas se uniram em uma conexão poderosa e
intensa que nenhum de nós queria quebrar.
O mundo ao redor não importava.
Seu medo. Sua dor. Nada disso importava porque tudo que
eu queria saber é que ela estava aqui para me acompanhar nesse
mundo fodido por mais um dia.
Para ser minha esposa. Mãe do meu filho. A mulher que
capturara tudo que eu possuía.
Ofegante, depois de muito tempo, consegui no separar e as
palavras saíram da minha boca com a mesma urgência.
— Senti como se um pedaço do meu corpo fosse arrancado,
porra. Quando ouvi o que estava acontecendo, quando pensei que
você estava ferida… — minha voz sumiu e meu peito rachou,
encharcado de raiva e indignação — E em que merda aquela
mulher estava pensando? Eu vou matá-la Olívia. Eu juro que farei
com que ela sofra até o fim de seus dias.
Eu estava quase gritando. Demasiadamente descontrolado.
A ideia de perdê-la me deixava além de furioso.
Seu rosto muda com minhas palavras e ela dá um passo para
trás.
— O que houve? — pergunto, quando percebo o nítido
desconforto em seu semblante — O que está errado?
Ela abre a boca, e fecha em seguida, como se não tivesse
coragem de dizer as palavras.
Vejo seu rosto se contorcer, com um pouco de frustração e
sem poder mais esconder, ela revela:
— Você não terá que torturá-la, Diablo. Não poderá fazê-la
sofrer porque eu mesma a matei.
10

— Te amo querido, durma bem. — Com um beijo em sua


testa, coloco o corpo quase adormecido de Daniel dentro do berço.
— Te amo mamãe... — ele responde com sua voz doce e
sonolenta.
Há poucos dias, foi quando ele me disse as palavras pela
primeira vez e mesmo que tenha repetido diariamente, como se
tivesse descoberto algo novo, todas as vezes encheram o meu peito
de emoção como se fosse a primeira.
Tive medo de que as lembranças daquela noite
assombrassem sua vida e marcassem sua inocência. Felizmente,
mais de uma semana depois, seu comportamento já estava voltando
a normalidade.
Na primeira noite, tive que colocá-lo para dormir em minha
cama, pois ele não parava de chorar.
Aquilo rachou meu coração em tantos pedaços que depois de
horas, quando ele finalmente adormeceu, eu é que não consegui me
segurar. Deitada nos braços do meu marido chorei por horas até cair
em um sono turbulento e exaustivo.
No dia seguinte, no entanto, era como se todo o pavor tivesse
acumulado em meu peito, com uma energia pesada e estranha.
Desde então, não consegui falar sobre aquela noite.
Diablo assistiu tudo pelas imagens de segurança. Ele
conhecia cada detalhe, cada segundo de tudo do que aconteceu,
mas nada saiu da minha boca.
Mesmo que ele tenha insistido com perguntas e mais
perguntas, era como se eu precisasse manter aqueles sentimentos
enterrados muito profundamente dentro de mim.
Mesmo que a qualquer momento, tudo pudesse explodir.
Tomei a vida de uma pessoa.
Vi sua alma desaparecer de seus olhos enquanto o sangue
dela escorria sobre minha pele e... eu não conseguia me
arrepender.
Mesmo que ela permanecesse em meus sonhos diariamente.
Seu rosto jovem e saudável, olhando para mim, confessando todos
os planos que a impedi de viver.
A ideia de que eu faria tudo novamente para proteger minha
família, era uma certeza no fundo da minha alma.
Uma certeza que eu recusava proferir.
Diablo se empenhou em descobrir tudo que havia no passado
de Caroline para entender por que ela atacou nossa casa. Só depois
de muita investigação, ele descobriu sua ligação com Maxwell
Kincaid. Um homem que fora ao nosso casamento com o qual
Diablo cortou relações depois de uma divergência de opiniões em
seu negócio meses atrás.
Quando ele me disse que o faria pagar, confesso que desejei
que ele usasse toda sua crueldade sobre ele.
Eu não podia controlar a minha raiva a cada vez que pensava
que meu filho poderia ter sido arrancado de nossa casa.
Não quis saber mais detalhes desde então. Com sua viagem
a cidade na noite passada, eu tinha certeza, a pessoa que ousou
mexer com a minha família pagou como merecia.
Saindo do quarto, voltei para minha suíte e antes que eu
pudesse fazer alguma coisa vi uma caixa escura sobre minha cama.
Olhando para os lados, procurei por meu marido, mas não
havia nenhum sinal dele.
Com passos curtos, me aproximei e me sentei para desfazer
o laço vermelho que escondia o que estava lá dentro.
Meus batimentos engataram quando encontrei o objeto
prateado.
Meus dedos afundaram nas palmas da minha mão,
impedindo o desejo obscuro de tocá-la.
O que... o que...
Agarrando a caixa, sentindo raiva misturar-se com uma
centelha de sentimentos em meu peito, sai em busca de Diablo pela
casa.
Se esse era mais um de seus jogos estranhos, eu não gostei.
Nem um pouco.

Depois de visitar todos os cômodos e não o encontrar em


nenhum deles, prossegui até o único local que eu estava evitando
visitar todos esses dias.
Descendo as escadas do galpão, fixei meus olhos em direção
ao lustre central, que banhava todo o ambiente em uma luz baixa
amarelada.
Meus batimentos cardíacos corriam como um trem a
duzentos quilômetros por hora.
Eu não queria estar aqui, pois sabia que dentro desse lugar,
todas as minhas vulnerabilidades estariam expostas.
Nos mais de dois anos que se passaram desde que o
conheci, aprendi muito bem o quanto meu marido possuía a
habilidade de entrar na mente de alguém.
E nesse momento, essa era última coisa que eu queria.
Minha raiva, no entanto, não era capaz de entender nada
disso.
Caminhando até a poltrona onde ele estava sentado
confortavelmente com as pernas estucadas para cima, joguei a
caixa em seu colo e rosnei, muito nervosa para velar minha irritação.
— O que é isso?
Seus olhos escuros levantaram do livro que ele estava lendo.
Uma calma irritante impregnada em sua face.
Abrindo a tampa da caixa, ele empurrou os papeis que
cobriam a arma prateada e reluzente, pegando a em suas mãos
com uma familiaridade que me arrepiava até os ossos.
— Você sabe o que é isso, Olívia.
— Sim, eu sei o que é. O que quero dizer, é porque estava
em nosso quarto embrulhada como um presente?
Um sorriso apareceu no canto de sua boca.
— Porque é um presente.
Balançando a cabeça em indignação, comecei a caminhar de
um lado para o outro.
— Não. Não, Diablo... você não vai me entrar em minha
cabeça. —quase gritei, afundando o indicador em minha têmpora —
Eu sei que não me daria algo assim se não tivesse alguma intenção.
Faça o favor de pegar o seu presente e...
Antes que eu pudesse terminar minha frase, ele estava sobre
mim. Uma mão firme em meu cabelo, o outro braço serpenteando
minha cintura, o rosto a centímetros de distância do meu e um olhar
tão assustador que eu mal conseguia respirar.
— Meu belo passarinho... será que você esqueceu quem é o
homem com que se casou?
— O-o que... — balbuciando, tentei afastá-lo, mas seu toque
era firme e doloroso — Me solte. Me deixe ir agora.
— Ir? Ah não, eu não penso assim... já faz muito tempo que
não a recebo para uma visita. Já que está aqui, essa me parece a
hora perfeita para brincar.

Demorou cerca de dez minutos para que ele conseguisse me


deixar nua.
Lutei contra ele, gritei e expressei minha raiva de diversas
maneiras, algo que foi absolutamente ignorado.
Inflexível e determinado, suas mãos hábeis arrancaram o
vestido do meu corpo, calcinha e sutiã em seguida.
Me jogando sobre seu ombro como um homem das cavernas,
caminhou pelo galpão, indo direto em direção a mesa de couro na
área exposta com todos os seus objetos BDSM.
Sua masmorra particular, parecia ganhar novos itens de
decoração a cada dia.
Me colocando sobre o local que ele queria, Diablo tentou
agarrar meu pulso para prendê-lo nas algemas que já estavam fixas
nas laterais, mas dessa vez, o empurrei.
Pânico se misturava a luxuria impregnada em meus ossos
com as lembranças que eu tinha desse lugar.
Momentos tão prazerosos, que ele estava prestes a estragar.
Segurando meu cabelo para ficar a centímetros do meu rosto,
ele disse raivosamente:
— Pare de lutar Olívia. Sabe que isso vai acontecer, goste ou
não.
Goste ou não? Goste ou não?
Infectada com os piores sentimentos, eu me debati contra ele
novamente, como se estivesse testando seus limites. Ele não podia
estar falando sério.
Com isso, sua mão bateu contra meu rosto.
O tapa me pegou tão de surpresa, que por alguns segundos,
fiquei paralisada.
Não foi forte o suficiente para doer, mas pesara em minha
alma com um gosto amargo.
Nossos olhos trancaram um no outro.
— Você é minha Olívia. E com você, posso fazer o que eu
quiser, não é mesmo?
Os dedos apertaram, puxando meu couro cabeludo com
força. Os olhos injetados como duas bolas sem alma.
Esse não era meu marido.
Esse era o homem que eu conheci no inferno e ele… eu
nunca permitiria me possuir.
Nunca.
Empurrando seu corpo com toda força que eu tinha, consegui
afastá-lo o suficiente para que minha mão fechada batesse contra
seu peito.
Tudo em mim pareceu desmoronar.
Fiquei louca e cega naquele segundo.
Minha mão acertou-o de volta. Eu o soquei com tanta força
que pude sentir meus dedos rangerem.
Sem me conter, capturei o tecido de sua camisa, puxando os
botões até estourá-los.
Com minhas unhas, marquei sua pele, sentindo minha visão
nublada de raiva e desamparo.
— NÃO! Você não vai fazer isso comigo, não vai me destruir
dessa maneira, você NÃO PODE! NÃO PODE!
Eu não parava. Meus gritos eram altos e desesperados
enquanto eu me debatia, socava e puxava sua roupa, como se
aquilo pudesse me tirar desse pesadelo.
— Não posso? — me segurando com força, usando suas
mãos para impedir meu ataque, ele me pegou pela nuca, trazendo
meu rosto contra o seu — Não posso? Então o que, passarinho? O
que você quer de mim agora? O que você precisa?
Eu precisava…. Dele.
Precisava de sua paixão e devoção. De sua força.
De tudo, menos desse olhar que eu via agora.
Eu queria consumi-lo até que não restasse mais nada.
Puxando-o para perto, agarrei a ereção dura entre nós.
Nós éramos o caos.
O gosto salgado das minhas lágrimas se misturou quando
puxei seus cabelos e o beijei.
Minhas mãos frenéticas agarraram os farrapos de sua
camisa, empurrando para fora. Depois, desfiz o botão de sua calça
e procurei pelo membro duro.
Ele estava excitado, e eu... eu não sabia dizer o que estava
sentindo, mas definitivamente, precisava de alguma conexão antes
que pudesse enlouquecer.
Com um aperto em minhas laterais, ele empurra minhas
pernas abertas. Eu pressiono meus dedos ao redor de seu pau com
tanta raiva que ele deixa escapar um assobio de agonia.
Ele se abaixa e com um grito abafado e incoerente, protesto
quando seus dentes mordem meus mamilos, sugando e puxando-os
entre seus lábios.
Aquilo me arrepia, ao mesmo tempo em que desperta o lado
mais primitivo escondido em algum canto dentro de mim.
Eu puxo seus cabelos, arranho suas costas. Ele me morde,
me beija e envolve os dedos em minha garganta, cobrindo as
marcas ainda desaparecendo em minha pele como se quisesse
substitui-las pelas suas.
Numa luta violenta e caótica, sinto seu pau me invadir de
uma vez. Sem me dar tempo para pensar em mais nada, me
fodendo com tanta força, que não havia dúvida, eu o sentiria por
dias.
Lutando contra todos os sentimentos que estavam em meu
peito nesse momento, mesmo com sua mão ainda firme em meu
pescoço e o ar quase me faltando. Agarrei seus pulsos, afundando
minhas unhas em sua pele com brutalidade para que me olhasse.
— Por quê? Por que está fazendo isso conosco? Por que,
Diablo? — A dor em minha voz era real, como se eu estivesse
arrancando um pedaço de mim.
Ele soltou minha garganta, abaixando os braços para me
agarrar e sacudir. Seu pau ainda firme e latejante dentro de mim.
Indo tão profundamente, como se quisesse nos fundir.
— Por quê? — raivoso, ele perguntou, sem diminuir suas
estocadas. Jogando a cabeça para trás, uma risada louca, fria e
inquieta escapou de seus lábios. — Porque eu te amo, porra!
Gritou, com os olhos selvagens colados com os meus.
— Eu te amo como a merda de um louco e não vou permitir
que me afaste dessa maneira! Eu estou cansado de vê-la
atormentada desse jeito. Se a única solução é te machucar para que
volte para mim... eu vou Olívia, não duvide que sou capaz de
qualquer coisa, qualquer coisa por você.
Meu mundo pareceu entrar em combustão. Completa,
absoluta, desenfreada combustão que eu não estava preparada
para conter.
— Você o que? — com a voz embargada, foi a única coisa
que consegui dizer.
Com raiva, ele ainda me segurava e com essa mesma raiva,
me obrigou a permanecer olhando para o fundo de sua alma que
parecia tão perdida quanto a minha.
— Só pode ser isso, certo? Que outra coisa seria? Eu não sei
como é possível, não me faça ter que explicar como conseguiu
reviver alguma coisa aqui dentro, e muito menos, espere me ouvir
dizer de novo..., mas não há outra explicação. A ideia de te perder
me mata. Rasga-me por dentro e me faz querer voltar para os anos
de tortura, só para não sentir... isso! Eu só posso te amar como um
psicótico.
A emoção tão profunda e devastada em seus olhos me
afetou.
Sem dizer nada, envolvi meus braços ao redor de seu
pescoço e aprofundei nossa conexão com um beijo que
rapidamente se tornou frenético. Nossas línguas se unindo com dor
e desespero.
Sem se retirar de dentro de mim, ele continuou. Meu corpo
tremia com a mistura de excitação e emoção desse momento. O
vazio que ele havia deixado em meu peito, foi preenchido pelo
sentimento que eu sempre acreditei estar lá, mas nunca tive
certeza.
Nesse momento, nem eu e muito menos ele, estava em um
bom lugar.
Mesmo que eu tivesse ouvido as palavras que tanto desejara
de sua boca, eu sabia o quanto era perturbador aquilo que existia
entre nós.
E ainda assim, eu não podia desejar que nada fosse
diferente.
A verdade nua e crua da minha vida.
Quando você se apaixona pelo diabo, só há uma certeza:
mais cedo ou mais tarde, você será corrompida.
EPÍLOGO

Uma sensação estranha percorria minha carne.


Olhando para Olívia, depois de muito tempo em que
permanecemos agarrados e ofegantes, como se o mundo estivesse
acabando e precisamos nos destruir juntos -, encontro seus olhos,
endireito minha coluna e levanto meu queixo.
Hoje, eu fui além de tudo que compartilhávamos para
alcançá-la. Eu permiti que ela me usasse para acalmar a escuridão
impregnada em sua alma por tomar uma vida. Ela me feriu, me
usou, descarregando tudo que estava perturbando sua mente em
um sexo duradouro. Fodemos por horas até ficarmos assim, gastos
e exaustos.
Mas eu ainda não tinha acabado.
Meu peito parecia em carne viva com os arranhões. Seu
corpo era uma tela pintada com as marcas de minhas mordidas e
minhas mãos.
Nesse momento, no entanto, era minha vez de usá-la.
Inclinando seu pescoço para trás, com um aperto firme em
seus cabelos, traço as marcas em seu pescoço, com beijos ternos e
suaves, que não representam em nada o estado de espírito em que
estou.
A raiva ferve em meu intestino. Raiva dela. De mim. Da
mulher maldita que a feriu. Do homem desgraçado que matei na
noite passada por causar tudo isso.
Estou vivendo no limbo de caos e perturbação desde aquela
noite. Pensando na minha mulher, vulnerável a todos os perigos do
mundo.
No meu filho.
Em como eu morreria por dentro ainda mais se os perdesse.
E de tudo que sinto, quero puni-la por me fazer amá-la tanto.
Por despertar algo que nem deveria existir em um coração tão podre
como o meu.
— Você confia em mim, passarinho? — perguntei, mesmo
sabendo que depois de hoje, todos os nossos limites foram
ultrapassados. Mais uma vez.
A verdade única e absoluta entre nós, era uma só: Eu faria
qualquer coisa por Olívia, seja boa ou ruim.
E tenho certeza de que ela faria tudo por mim também.
— S-sim. — ela diz, levemente apreensiva.
Agarrando seus pulsos, a viro de bruços. Com movimentos
rápidos prendo seus braços e tornozelos a estrutura de madeira e
couro da mesa que usamos.
Recuperando o cinto da minha calça e um pedaço da camisa
que ela conseguiu rasgar do meu corpo, vou até ela, amarro o
tecido esfarrapado sobre seus olhos e prendo o couro ao redor de
seu pescoço.
Tudo isso é rápido. A antecipação passando entre nós é
nítida.
Com o comprimento do cinto em minhas mãos, fico por trás
dela. A visão de sua boceta exposta me obriga a atingi-la com
golpes duros. Acerto sua carne inchada e avermelhada com a palma
da minha mão, arrancando gritos de sua boca.
Gritos que abafo com um puxão firme apertando sua
garganta até fazê-la engasgar.
O monstro adormecido dentro de mim ronrona de pura
felicidade a cada vez que ela emitia aquele som e se debatia.
— Eu vou te bater até minha mão se cansar, esposa. Depois
vou comer o teu rabo... profundamente... lentamente, só para ter
certeza de que você vai sofrer essa noite por mim, assim como eu
sofri por você, todos esses dias. Esse é o seu castigo.
— Oh meu Deus...
— Deus? — eu falo, sorrindo — Não baby, apenas o diabo
essa noite.
Como prometido, corto minha mão para baixo, em sua bunda
dessa vez. Os tapas são pesados e certeiros, para causar-lhe uma
dor moderada.
Sua pele alva e perolada já está ganhando cor. Eu desço a
mão contra suas coxas, nádegas e boceta até sentir os meus
músculos queimarem.
Só então, enterro meus dedos em seu cuzinho que irá me
atender como necessito.
Não preciso de nada para nos lubrificar, pois tanto eu, quanto
ela, estamos escorrendo nesse momento. Bombeio o meu pau com
violência, poucas estocadas firmes e dolorosas até que parte do
meu gozo cai em suas costas, escorrendo até encontrar sua entrada
apertada.
Fazendo a volta do cinto enrolado em seu pescoço em uma
das minhas mãos, com a outra, pressiono meu membro para cima e
para baixo entre a rachadura de sua bunda, antes de começar a
entrar.
Lentamente, vou deslizando para dentro. Primeiro a cabeça,
esticando o contorno, puxando a pele envolta como um intruso.
Empurrando dentro e fora, para que as paredes internas se
acostumassem, eu paraliso com a tensão em suas costas alguns
poucos segundos, até avançar novamente.
Seus gemidos começam a mudar. O gorgolejo a cada vez
que roubo um pouco de seu ar, serve para me deixar ainda mais
duro. Minhas bolas pesam, mesmo que eu tenha estado dentro dela
e gozado outras vezes, é como se eu estivesse esperando por esse
momento a noite toda.
Houve resistência a cada milímetro que eu entrava. Calor.
Pressão. Tudo misturando-se ao meu estranho apreço por amá-la e
odiá-la, ao mesmo tempo.
— Ah — quando me empurrei até o fim, suas costas
arquearam. Eu puxei o cinto com mais força, sabendo que eu tinha
sua vida em minhas mãos e comecei a estocar. Meus quadris se
moviam lentamente. Eu queria fazê-la sofrer dessa vez, centímetro
por centímetro.
Ela respirava com dificuldade, apenas o pouco que eu
permitia. Seu corpo tremendo em desconforto até cair naquele
abismo viscoso de prazer doloroso.
— Você quer gozer, passarinho? — perguntei, afrouxando
meu aperto enquanto ainda me movia dentro dela.
Sua respiração engatou, a voz parecia rouca e minúscula
ainda assim, ela foi capaz de dizer.
— Sim... oh sim, eu quero.
— Então goze baby — aumentando meu ritmo, deslizei minha
mão para baixo. Mesmo pensando que ela não merecia nenhum
prazer nesse momento, eu dei o que ela queria, porque não importa
o quão fodida minha cabeça estava, essa mulher tinha conquistado
tudo.
Absolutamente tudo.
Entrando e saindo, com minhas bolas pesadas batendo
contra sua bunda, não parei até sentir o primeiro espasmo de seu
corpo. Naquele momento, os músculos de sua bunda pressionaram
ao meu redor e em questão de segundos, eu estava gozando dentro
dela. Assim como ela, estava escorrendo em meus dedos.
Me inclinei sobre suas costas, beijando sua espinha, os
ombros, a nunca enquanto ouvia seu juramento:
— Eu te amo Diablo. Para sempre.
Um juramento que eu retribuiria com muito prazer.

— O que está errado? — perguntei, quando finalmente


conseguimos tropeçar fora da mesa para chegar até a cama.
Depois de horas tão loucas, eu estava exausto. Corpo e
mente completamente esgotados. No entanto, podia sentir um
pouco de sua tensão.
Essa noite ficaria em nossas memórias para sempre.
Eu não podia ordenar as minhas emoções ainda.
Era muito cedo para aprender como conviver com esses
novos sentimentos para lidar.
— Aquela... arma. Eu ainda não sei o que espera com aquilo.
Acariciando seus cabelos, beijei suavemente os fios
desgrenhados.
— Aquilo é para sua defesa. Eu sei que a ideia do que fez,
ainda te perturba, mas... a vida é como é, Olívia. Vivemos em um
mundo perigoso demais. E pensar e você tão exposta e vulnerável,
me assombra. Não quero que viva dessa maneira. Por mim e por
Daniel, vou ensiná-la a de defender.
— Eu... eu não sei se é uma boa ideia.
— Não precisamos decidir nada agora. Pense sobre isso, e
falaremos depois.
— Se sua ideia era essa, por que não conversou comigo? Eu
ficaria muito mais calma e não jogaria o “presente” na sua cara
daquela maneira.
— Oh, baby. Você me conhece, nunca escolho o caminho
mais fácil. Foi uma provocação, que você recebeu, exatamente
como eu pensava.
Um bufo indignado escapou de sua boca.
Agarrando sua nuca, inclinei a cabeça para alcançar seus
lábios.
Beijando-a com paixão, circulei minha língua na sua, indo
fundo até ouvir um doce gemido transcorrendo por seu corpo.
— A imagem de você, tão selvagem e raivosa, irá me
perseguir por dias. Eu nunca estive tão duro como naquele
momento.
— Oh meu Deus, eu te odeio, sabia? Odeio.
— Ah não... você me ama. — Ela rolou os olhos e deitou a
cabeça contra meu peito novamente. Mesmo ainda abalada, pude
sentir uma centelha da mulher que eu conhecia passando por seu
rosto.
Dez fodidos dias depois daquela noite, consegui trazê-la para
mim.
Olívia colocou sua vida em minhas mãos — voluntariamente,
livremente.
Ela confiou em mim e eu falhei.
Não apenas em protegê-la, mas também, pensando que
deixá-la vulnerável e alheia ao mundo real seria a melhor escolha.
Ela foi concebida nesse inferno. Não era justo que eu a
conservasse inocente e pura apenas para alimentar o meu lado
primitivo que acreditava que o único a cuidar dela deveria ser eu.
Desse jeito, eu acabaria quebrando minha própria promessa
e a faria uma prisioneira de novo.
Eu nunca quis que ela se contaminasse dessa maneira.
Sujando suas mãos para proteger a nossa família, mas... nosso
mundo fodido, nunca foi um lugar de escolhas.
Essa era nossa vida.
Assim era o que tínhamos.
Seu amor por mim, era leal e sonhador. Ela era a luz e a
bondade da nossa união, mesmo corrompida.
E eu era a maldade e obsessão.
Minha devoção por ela era perigosa e destrutiva.
Meu amor... era louco e obstinado.
Nenhuma ilusão de normalidade para nós dois.
Vivemos sobre dor e violência.
Tortura e degradação.
Manipulação e prisão.
Nenhum ser humano pode sair disso intacto.
Ainda assim, ajudarei meu passarinho a caminhar por esse
inferno, quantas vezes forem necessárias.

FIM...
BÔNUS

Vagueei pela crueldade e pelo horror.


Manchei minhas mãos de sangue e banhei minha natureza
em um mundo distorcido, carregando segredos que pesavam mais
que a minha alma culpada.
Nunca achei que teria a chance de me redimir.
Até que a encontrei.
Prisioneira. Quebrada. Vazia e despedaçada em tantas
maneiras, que eu não podia mais fingir que não me importava.
Porém, antes que eu pudesse a ajudar, minha bela rosa
escapou por minhas mãos.
Eu revirei o mundo para encontrá-la e jurei que não permitiria
que nenhum mal a machucasse... nunca mais...
Eu só não imaginava, que o mal que existia, estava dentro
dela.
E muito menos, que ele poderia ser tão contagiante.

(...)
— Uma última palavra? — pergunta, com a faca
ensanguentada contra sua garganta.
O homem robusto se debate, lutando contra suas amarras.
— Você é tão louca quanto seu pai — ele comete o erro de
dizer.
Minha bela rosa sorri, seus dedos cavando o cabo da faca
como se ele pudesse fundir em sua pele.
— Você não faz ideia... — ela diz, subindo em seu colo.
Usando a sua arma para terminar a própria obra.
Com uma assinatura precisa sobre seu peito exposto e
torturado, antes de finalizar, cortando sua garganta de um lado ao
outro.
OITO.
Quando termina, salta a poça de sangue, formando um
tapete vermelho líquido ao seu redor e segue até mim.
Suas pernas estão bambas. O olhar nebuloso.
Toda a sua altivez começa a se esgotar quando dou um
passo à frente, para alcançá-la.
Ela falha, caindo direto em meus braços.
O sangue em todo seu corpo, se agarrando a minha pele
instantaneamente.
— S-sinto muito — gagueja, com a faca ainda em suas mãos
e claramente atormentada — Sinto muito.
— Shii... eu estou aqui. Estou aqui.
Levantando sua cabeça, nossos olhos se encontram. Toda a
dor e escuridão misturada dentro dela me deixa em êxtase.
— Não me deixe. Por favor, não me deixe.
Segurando seu rosto em minhas mãos, me inclino para beijá-
la. O encontro suave, muito necessário para seu estado nesse
momento.
— Não vou a lugar algum. Não enquanto não terminarmos.
— Eles vão me odiar. Todos vão me odiar.
Retiro a faca de suas mãos delicadamente, jogando-a para o
lado.
— Eles não vão. Ninguém irá, se não quiserem ter um
problema comigo.
— Você promete?
— Sim, bela rosa. Eu prometo.

EM BREVE...
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