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ATENÇÃO AOS GATILHOS:

Esse livro possui cenas de violência e tópicos sensíveis. Não


recomendados para menos de dezoito.

O juramento de uma vida na organização mafiosa das cinco famílias


da Cosa Nostra leva duas pessoas complexas a se tornarem marido e mulher.
Kai Moreau é o filho mais velho do Capo da Camorra, uma das cinco
famílias mais poderosas da organização criminosa da Cosa Nostra. Ele é o
Sottocapo conhecido como a “besta da Camorra’, um homem sádico
acostumado a quebrar mulheres como passatempo. Sua motivação é a
vingança de castigar seu pai e tio, tomando a liderança para si. Seu tio, o
conselheiro da Camorra, usa a filha bastarda de um Underboss de uma
família aliada para manter o sobrinho refém da organização e humilhado. O
que ele não esperava era que a garota de 20 anos fosse se tornar o maior
presente da vida da “Besta da Camorra”. Marcella Rivera, a garota bastarda,
promete a todos que não será quebrada por nenhuma besta. Por nenhum
homem. Ela lutará até o fim contra seus sentimentos, e contra a paixão que
seu futuro marido demonstra desde o primeiro encontro.

Mas será que tanto controle é mantido diante da união que levará ela
a se entrelaçar a Kai Moreau?
Para todos meus leitores que torcem por mim. Para minha amiga,
Karoll Martinelly, que me ajudou a chegar onde estou chegando. E para
todos que sonham e pedem com fervor. Tudo é possível.
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30

Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Epílogo
Observo as pessoas no salão, todas trajando suas melhores roupas da
noite, rindo para os seus amigos e parceiros com risadas espalhafatosas e
gestos exagerados. Às roletas não param de rodar, os dados não tem folga.
Eles apostam cada vez mais e mais. Os massos de dinheiro passam de uma
mão a outra como se fossem insignificantes papeis brancos sem importância.

Claro que é sem importância.

Nenhuma das cinco famílias se importam com a falta de dinheiro.


Eles possuem tanto que poderiam cavar uma cova funda e usar o dinheiro
para cobrir o buraco, ao invés da terra.

Não preciso focar muito para ver minhas duas meias-irmãs com seus
pretendentes. Elas se vestiram com a cor que mais destaca a pele branca
como a neve das filhas de Alev Rivera, o Underboss da Filadélfia. A cor é
estratégica para mostrar a legitimidade da família Rivera: cabelos loiros,
olhos verdes e pele branca. Exatamente como o pai e a mãe.

Isso não se aplica a mim. Sou uma bastarda. Tenho a pele em um tom
mais escuro do que minhas irmãs e pai, meus cabelos são castanho claro e
meus olhos são de uma tonalidade de um verde acastanhado. Não são como
esmeraldas como os das minhas irmãs.
A única coisa que me faz parecer com Alev Rivera é o nariz fino e o
mais perto é o tom mais claro da pele. Branca. Mas não um branco alvo
como as minhas irmãs. Uma pele que parece ser bronzeada e só Deus sabe
como, já que não saio muito durante o dia.
Eu não sou um membro de importância ou valor para as cinco
famílias da Cosa Nostra, mesmo sendo filha de um Underboss. Mesmo tendo
sido criada e juramentada a máfia. Eu sou apenas a filha bastarda, fruto de
uma traição de uma noite entre um chefe da máfia e uma violoncelista
italiana que me entregou ao meu progenitor.

Sou uma mancha e um resultado de desonra.

Me pergunto o porquê meu pai me trouxe para o encontro anual das


cinco famílias. Eu geralmente não participo de nenhuma reunião ou festa
deles. Sou o mais escondida possível.

Meus olhos procuram por um rosto amigo, tentando encontrar uma


família que não está aqui, que não faz parte das cinco famílias, mas é o único
membro de uma máfia que mantenho contato.

Nikolai não estaria aqui. Ele pertence a Bratva. A organização russa.


As cinco famílias da Cosa Nostra e a Bratva não se metem no assunto uma
das outras.

Continuo olhando de cima, observando como todos eles interagem.


Percebo o silêncio que se forma após a porta do salão se abrir.

Todos continuam em silêncio enquanto a família Moreau entra no


recinto. O Capo, sua esposa e o filho deles. O único filho.

Eles são a elite das famílias. Pertencem a Camorra e são donos dos
maiores cassinos de Las Vegas e predomina toda a área. São os mais ricos
das cinco famílias e os quais ninguém quer inimizade.

Todos eles estão vestidos de preto e ostentando uma postura


ameaçadora. Sinto meu corpo estremecer apenas de observá-los. O Capo já é
um senhor de 60 anos, mas ainda possui um físico digno de se lutar em uma
gaiola e todos sabem da sua crueldade, a mesma crueldade que o filho
herdou.

Meus olhos vão até Kai Moreau. O cabelo preto liso e curto, a pele
branca, quase pálida demais. Uma suave cicatriz rosada se desenha na
bochecha, com um comprimento que começa quase perto do olho. Ele é o
Sottocapo da Camorra. O braço direito do pai e o herdeiro da organização.

Todas as filhas mais velhas das cinco famílias tentaram ser dadas a
ele como esposa, mas os Moreau estão esperando uma boa barganha.
Kai é a besta cruel da máfia.
Aparência e atitudes fatais.

— A noite parece agradável com todos reunidos — a voz firme do


Capo da Camorra soa alto o bastante para que eu ouça de onde estou, ele tem
um sorriso sombrio — Voltem aos jogos e diversão.

Como se esperando por essa ordem, todos voltam cautelosamente ao


que estavam fazendo. Observo Emília e Indiaolharem para mim, lançando
um olhar de aviso para que eu me comporte. Quando Emília desvia os olhos,
percebo seu olhar em Kai Moreau, ela o queria.

Mas nosso pai achou um bom negócio seu casamento com a nossa
organização, a Famiglia, pertencente à família Italiana que predomina Nova
York. Indiatambém foi dada a mesma família.

— Senhorita Marcella?

Olho para o lado encontrando um dos soldados do meu pai.

— Sim? — minha voz soa abafada.

— Seu pai pediu para avisar que está dispensada, e quando quiser
voltar para casa sua escolta estará pronta.

Balanço a cabeça suavemente, concordando. Ele se retira


imediatamente e eu dou uma última olhada no salão antes de procurar a
saída mais discreta. Não para ir embora, mas para tomar um ar.

Sair da Pensilvânia é quase como um milagre para mim. Estar em


Nova York é uma oportunidade para ver mais do que vejo todos os dias pelas
ruas da Filadélfia.
Caminho firmemente sobre o salto das sandálias prateadas, mesmo
com o vestido verde escuro de seda, justo, querendo me limitar.

Percebo que ter escolhido um modelo de alças finas para a noite foi
uma péssima ideia assim que o vento da noite Nova Iorquina beija minha
pele.

Estou no jardim dessa grande mansão, olhando para o lago à minha


frente e percebendo o silêncio da noite sendo quase maculado pelo som
abafado que vem de dentro da casa.

Caminho pelo jardim segurando a barra do meu vestido, em busca de


qualquer tranquilidade.

Estou entrando em um labirinto de arbustos quando começo a ouvir


gemidos abafados. Paro de caminhar imediatamente e ergo meus olhos até
uma fenda dos arbustos.

A luz que entra por dentro desse labirinto deixa claro o suficiente o
rosto bonito de Kai Moreau e da sua amante. Eu não a conheço, mas recordo
dessa ruiva com outro homem dentro do salão uma hora atrás, e pela
aparência, digo que já é uma mulher casada.

Ele está pressionando a mulher contra a pequena estátua de um deus


grego, o vestido amarelo da moça está levantado até a cintura e os pés dela
ao redor da cintura dele enquanto ele estoca fundo nela. Agarrado ao
pescoço dela, a sufocando até ela engasgar.

Meu sangue parece circular lentamente enquanto observo a cena,


ficando com pouco ar.

— Meu lobo…— a mulher diz com um fio de voz estrangulada pela


mão dele no pescoço dela, suas mãos agarram o colarinho de Kai Moreau,
ela não está lutando, parece se entregar a esse absurdo. Ele por sua vez nem
a olha nos olhos, só parece interessado em ter outra coisa dela.

Continuo olhando pelo arbusto até ouvir risadas vindo ao longe, isso
é o suficiente para eu me ordenar a sair dali, voltar ao meus sentidos. Me
retiro silenciosamente e com pouco ar. Claramente abalada.
Só paro de caminhar quando chego à fonte no início do jardim.
Recobro todo meu ar, sentindo o vento salpicar respingos da água que desce
do chafariz até a fonte. Minha pele parece em chamas e a frieza é calmante.

Não sei quanto tempo se passa comigo ali, quando me viro encontro
o rosto da minha meia-irmã, India.

O rosto longo, olhos levemente puxados e verdes como esmeralda.

— Por quê fica encarando as coisas dessa maneira? — Pergunta, se


aproximando da fonte. Seu perfume de lavanda entra nas minhas narinas.

— Assim como? — Volto a encarar a fonte sem nenhuma pretensão.

— Você observa as coisas como se estivesse dissecando-as, retirando


camada por camada e vendo o núcleo delas — Sua voz é baixa e moderada,
como sempre.

Indiaé a minha irmã mais velha e a mais bonita de nós três. Mesmo
sendo diferente da aparência delas, eu não posso dizer que sequer chego aos
pés da sua elegância e suavidade.
Não conversamos muito desde que ficamos adultas, eu mal a vejo
agora. Indiaparece ter seus próprios segredos.

— Não faço isso — respiro silenciosamente.

Indiari baixo e ficamos em silêncio por alguns minutos. Ela se vira


para mim pouco depois:

— Você gosta do filho do chefe da Bratva? — Questiona.

— O que?

Seus olhos de esmeraldas focam em mim, analíticos.

— Você é como uma sombra, Marcella. Sei que você sabe de várias
coisas que acontecem. Você é como uma sombra que se esconde atrás dos
móveis e é imperceptível. Você tem a confiança de todos os criados e
consegue descobrir os segredos de todos naquela casa — ela sorri
suavemente, mas seus olhos não seguem o movimento — Eu quis pesquisar
sobre você também. Há alguns meses você se encontrou com Nikolai
Vassiliev. Vocês estudaram direito juntos, não?

Encaro minha irmã de forma calma e sem demonstrar qualquer


sentimento contraditório. Indianão é como Emília. Ela não é tola.

— Nikolai não é nada meu — esclareço, sentindo meu pulso agitado.

— Você sente algo por ele?

Sinto vontade de rir dessa pergunta. Nikolai tem gostos peculiares, e


o que nos aproximou um do outro foi a proibição da nossa amizade. Ele
adora quebrar regras e eu sou uma bastarda da máfia rival, ele não poderia
nem sequer direcionar a palavra a mim… Por isso ele fez.

— Você tem 20 anos, Marcella. Já passou da idade de encontrar um


pretendente. Você sabe o futuro que a máfia reserva para bastardos. Os
homens vão para o combate e as mulheres… Só Deus sabe o que acontece
com as mulheres — ela retira um cigarro de dentro da sua bolsa pequena e
acende o mesmo, dando uma tragada. Ela mantém os olhos em mim
enquanto fala — O que eu vou fazer, vai te beneficiar também. Te darei um
lugar na máfia, querida irmã. Um lugar que nenhuma bastarda sonharia em
chegar.

Percebo imediatamente que Indiadeu algum passo escondido do


nosso pai, procuro saber o que isso me envolve, mas não tenho resposta dela.

— Não me diga o que a máfia me guarda. Não sou você e Emília. Eu


tenho liberdade para sair, ninguém sentirá falta de uma bastarda. Não sei o
que você fez, mas não irá me afetar.

Ela solta a fumaça pelos lábios e nariz. Sua voz soando baixa e
profunda.

— Veja o que vou fazer como um milagre para sua vida, Marcella.

Ela joga o resto do cigarro no chão, pisa o mesmo e me lança um


último olhar antes de sair.
Esse último olhar faz uma onda de pavor em mim. India nunca faria
nada pelo meu bem.

Nenhum deles faria.


Sou a primeira a chegar na mansão que meu pai mantém na cidade.
Eu subo direto para o quarto, retiro o vestido, o colar e minhas sandálias e
caminho para o banheiro. Ligo a água do chuveiro em um jato morno,
entrando de cabeça, fazendo as ondulações sedosas naturais ficarem lisas
temporariamente pela água.

Enquanto me banho penso na cena que vi mais cedo de Kai Moreau e


sua amante. Meu sangue parece borbulhar ao lembrar da cena. Desvio da
imoralidade ao lembrar que Kai Moreau é um ótimo filho da máfia: sem
caráter e adúltero.

Sua fama de homem devasso é vasta pelo ciclo. Ouvir das criadas
que foram acompanhar a mãe dele em Nova York, que ele adora sexo com
crueldade. A forma como ele estava apertando o pescoço daquela mulher
deixou isso bem óbvio.

Enxugo meu corpo, cabelo e visto meu pijama. Tranco a porta do


meu quarto e me jogo na minha cama tentando não me importar com o que
India falou. Eu só preciso concluir minha especialização e dar adeus ao meu
pai, irmãs e madrasta. Não preciso me manter nesse mundo.

Acordo juntamente com os criados, me visto rapidamente e tomo


meu café na cozinha. Às criadas estão quietas hoje, nenhum sussurro ou
qualquer coisa parecida. Parecem até tensas. Termino meu café e saio da
mansão pegando um dos carros disponíveis. Quero conhecer Nova York,
tomar outro ar. Logo terei a liberdade de viver onde eu quiser, e se Nova
York me agradar, pretendo ficar por aqui.
Visito lojas de antiguidades, bibliotecas, caminho pelo Central Park .
Deixo meus olhos observarem tudo ao meu redor, qualquer movimento na
minha direção. Percebo os olhares dos rapazes em mim, olhares descarados e
sorrisos marotos.

Eu nunca me relacionei com nenhum homem sexualmente. Nikolai


até tentou, mas nem mesmo um beijo aconteceu entre nós dois. Pretendo
manter minha virtude até sair da máfia. Por mais que todos sussurrem
mentiras sobre minha castidade por ser bastarda, eu mantenho os valores
comigo. Tenho até dois anos para me manter assim, só pelo caso de eu
acabar casada com algum membro da organização, se isso acontecer, preciso
do lençol manchado com minha virtude para mostrar que não fui corrompida
antes do matrimônio.

Estou no meu caminho pelo Central Park quando meu celular começa
a tocar. O nome do meu pai aparece na tela e um mal pressentimento sobe
pela minha espinha.

— Venha para casa, Marcella.

É tudo o que diz antes de desligar.

Fico parada por dois minutos, segurando o celular pensando nas mil
possibilidades dessa ligação. Ainda são 10:00 horas da manhã. O que ele
pode querer comigo?

Recomponho meu fôlego e volto para o carro e dirijo de volta para a


mansão. Penso no que Alev pode querer de mim, mas não encontro uma
justificativa plausível. Ele só solicita minha presença quando precisa lidar
com papeis dos seus negócios legítimos, mas estamos em Nova York.

Percebo a presença de dois carros que não são nossos na frente da


casa quando estaciono. Saio do carro cautelosamente, sem nenhuma pressa.
Além dos homens do meu pai, tem mais três que não fazem parte da família.

Entro na casa encontrando um homem à minha espera. Ele gesticula


para que eu entre no escritório, e ao fazer isso, eu encontro meu pai, o Capo
da Camorra e o irmão dele.
Ivo e Otávio Moreau. O Capo e seu conselheiro.

Meu pai está bem atrás da mesa dele, com uma expressão dura no
rosto. Os olhos dos irmãos me medem da cabeça aos pés.

Fico consciente da minha roupa despojada, mas com decoro.

Ivo, o Capo da Camorra, sorri com pretensão.

— Ela não se parece com as outras, acho que é mais exótica. —


Comenta.

— Bem, ela é filha de Francesca. — O conselheiro retira os olhos de


mim.

Olho para meu pai, ele se ergue da sua cadeira parecendo tenso. Seus
olhos verdes me avaliam de maneira a me ordenar que eu fique em silêncio.

— Houve mudanças de planos. Sua irmã India desfez o compromisso


com a família de Nova York. Otávio pediu a mão dela, e ela aceitou.

Meus olhos permanecem no meu pai, eu não me viro para olhar


Otávio Moreau. Ele tem 59 anos. India tem 22. E romper com a família de
Nova York não é uma opção. Meu pai já deu andamento nos projetos que o
nosso Don concedeu a ele.

— É claro que, para manter a paz com a família de Nova York, meu
irmão teve que mexer alguns pauzinhos. E eles ficaram satisfeitos, mas
querem algo em troca para aplacar a vergonha do noivado desmanchado, e
isso te beneficia muito, garota — Otávio fala tranquilamente, no seu tom
calmo que todo conselheiro parece ostentar.

Imediatamente lembro das palavras de India na noite passada. No


sorriso de vitória que parecia ostentar nos lábios.

— O que isso tem a ver comigo, senhor? — questiono tão calma


como ele.
Ele olha para o irmão e Capo. O mesmo retira o celular do bolso e
faz uma breve ligação onde só pede para alguém trazer "ele".

Cerca de 10 minutos depois ouvimos uma batida bruta na porta e Kai


Moreau entra ficando ao meu lado. Sua altura é considerável, ele deve ter
1,90 altura. Ele exala o odor de bebida alcoólica. Seus olhos são de uma
tonalidade castanho claro, muito claros. E estão inebriados quando olha com
tédio na minha direção.

— A família de Nova York não ficou feliz com o rompimento, como


eu disse. Então, eles sugeriram algo para a vergonha deles não serem falada
graças ao rompimento do noivado entre os Rivera e Colombo. Decidimos
que seria o suficiente casar você com nosso futuro Capo. Isso foi a única
coisa que eles aceitaram para encerrar tudo da melhor forma possível —
Otávio fala isso da maneira mais calma possível.

Ivo retesa todos os músculos do seu corpo com as palavras, meu pai
parece satisfeito, mas não demonstra isso.

Eu não consigo acreditar nas palavras. Eles estão querendo casar um


Sottocapo com uma bastarda? Isso não faz sentido.

Olho para Kai Moreau ao meu lado que mantém uma expressão
impassível, eu não acredito nem que ele esteja sóbrio. Nem mesmo sei como
está de pé. O odor insuportável do álcool chega a queimar minhas narinas.

— Eu vou sair da organização daqui a dois anos. Não. Eu não vou


me casar com o seu Sottocapo. — Digo de forma firme.

Isso atrai a atenção de Kai, suas íris castanhas, quase douradas me


encaram e eu olho diretamente para o meu pai.

— Não foi uma pergunta, Marcella. Você vai se casar com Kai, se
tornará esposa dele. — Declara meu pai.

Balanço a cabeça, sentido o absurdo em tudo isso. Querer me casar


com um Sottocapo não faz sentido nenhum.
— Ora, para uma bastarda você é muito seletiva, não é? Estamos te
dando uma oportunidade que todas as meninas dessa organização sonham.
Estamos entregando nosso Sottocapo a uma bastarda! — Ivo exclama.

Sempre fui acostumada ao desprezo, às ofensas por ser bastarda. Mas


eu não vou aceitar isso. Não vou aceitar carregar esse fardo a minha vida
toda, e ainda me casar com um adúltero e maníaco como Kai Moreau.

— Escolham outra pessoa, devem ter garotas aos montes. Sei que
querem pagar vergonha com vergonha, mas não irão me usar para isso. Eu
faço questão de sair dessa organização imediatamente se isso significa não
ter que me casar.

Ouço apenas os passos do meu pai e antes que eu tenha uma reação,
sua mão grande e forte acerta meu rosto com violência. Fazendo minha
cabeça ir para o lado e a dor me atingir como fogo. Sinto o gosto de sangue
na boca, mas não me atrevo a colocar a mão no rosto ou olhar para meu pai.

— Você foi criada com as regalias dessa organização, você fez um


juramento a ela. Seu sangue ainda é o meu, sua egoísta! Todos seus luxos
vieram de mim! Não ouse abrir sua boca para me contrariar ou dizer não! —
Sua mão agarra meu braço com violência — Você só sai dessa organização
morta! Lembre-se do seu juramento!

Ergo meu rosto, sentindo o mesmo inchado e ardendo. Meus olhos


estão repletos de lágrimas pela violência, eu encaro Alev.

— Não vou…

Outro tapa forte o suficiente para o sangue explodir dentro da minha


boca quando meus dentes mordem minha bochecha. Meu pai me segura pelo
braço e me arrasta até o sótão da casa. Vejo Emília no caminho junto a mãe
dela, espreitando à porta do escritório.

Alev me joga no quarto empoeirado do sótão com apenas um


colchão, ratos e um cheiro de algo em decomposição.

Seus olhos verdes estão furiosos.


— Você terá uma semana para sair desse quarto com o sorriso mais
radiante do mundo pelo privilégio que estou te dando. Uma semana,
Marcella! Se continuar com o não na boca, farei você se arrepender!

Antes de sair ele arranca o celular do bolso da minha calça jeans, me


lançando o olhar de crueldade que congela todos os meus ossos com
lembranças.

Cuspo o sangue da minha boca sentindo meu rosto ardendo e o lado


interno da minha bochecha queimando.
Viver em uma organização como bastarda, é como ter um alvo nas
costas e ser o bobo da corte. Ninguém tem respeito por você, mesmo sendo
filha de um Underboss. Eu frequentei a mesma escola que minhas irmãs,
mas servia apenas para fazer suas tarefas e carregar suas mochilas. Nunca fiz
amizade com ninguém do ciclo. Eu usei meu desfavorecimento para o meu
bem.

Enquanto todos me evitavam, eu ficava nos bastidores fazendo


amizade com os criados e ouvindo as histórias que cada um deles tinha sobre
cada membro de alto e baixo escalão. Eu conseguiria facilmente fazer um
dos criados agir ao meu favor… mas, agora? Agora não. Não presa aqui.

Já se passaram seis dias que estou dentro deste quarto. O cheiro de


podridão já não é mais tão forte como antes, meu rosto parece ter desinchado
um pouco e o sangue que cuspir no chão está seco. Seis dias.

Ivone, uma das criadas, tem trazido água, mas não o bastante para me
manter hidratada. Comida, mas não o bastante para me satisfazer. Alev
pensou em tudo, ele não só me trancou aqui dentro. Ele está tramando contra
mim. A única pessoa a quem eu poderia pedir ajuda é Nikolai, mas Alev
levou meu celular. Estou sozinha e sem chances de fuga.

Me mantenho atenta a tudo, desde os sons que os ratos fazem ao


passos pelos corredores. É por isso que ouço os passos suaves de India,
reconheço como sendo ela porque sei discernir o movimento de todos dessa
maldita família.
Ela abre a porta do quarto, contraindo o rosto ao sentir o cheiro. Está
vestida com um macacão leve florido e carregando uma bandeja. O cabelo
dourado está solto e liso.

— Trouxe comida para você, e muita água. — Para no meio do


cômodo.

Olho para ela, catalisando minha fúria no meu olhar. Meus olhos
desviam para seu anelar onde um anel de esmeralda está presente,
substituindo o de diamante que ganhou do seu primeiro noivo.

— Você planejou tudo isso junto com seu noivo? — ouço minha voz
pela primeira vez em dias, e ela é ácida.

India coloca a bandeja no chão e cruza os braços um no outro.

— Otávio pressentiu que os Colombo fossem querer apagar a


vergonha deles, manchando os Moreau. Você foi uma alternativa razoável.

Tenho vontade de rir, mas apenas balanço a cabeça.

— Ele está te obrigando a esse casamento? Você ainda é muito jovem


e ele é um velho viúvo.

India balança a cabeça, suspirando.

— Nós nos apaixonamos, sei que é difícil acreditar, mas é a verdade.


Conheci Otávio no ano passado, antes da minha festa de noivado.
Conversamos muito, nos encontramos algumas vezes… apenas aconteceu.

— Apenas aconteceu… — repito a palavra, comprovando que ela é


realmente fácil de falar — Você achou que estaria me fazendo um favor me
casando com um Sottocapo? Que eu iria ficar feliz da vida e te agradecer
imensamente por isso?

Ela não se abala, permanece com sua postura relaxada.

— Para falar a verdade, sim. É um milagre isso acontecer com você,


Marcella. Kai Moreau será o Capo da Camorra. Nós sabemos que a Camorra
é a mais poderosa das cinco famílias.

Seu tom suave, sua postura elegante… tudo isso me irrita e me faz
querer matá-la. Voar em cima dela, arrancar seus lindos cabelos dourados e
arranhar toda sua pele.

— Acha que vou aceitar isso? Kai Moreau é um sádico. Ele é um


poço de violência. Se eu me casar com ele, serei uma vergonha para sua
família e provavelmente só irei servir para parir seus filhos — me mantenho
sentada no colchão imundo, proferindo minhas palavras de forma baixa e
ácida — Serei a esposa bastarda e nunca irei conseguir me livrar desse
título!

India caminha dois passos na minha direção, se abaixando na minha


frente. Seus olhos agora são resolutos.

— Você será respeitada, todos temem Kai Moreau. Todos querem o


agradar. Ele será o Capo em breve. E se ousarem falar algo sobre você, agora
você poderá revidar. Você será uma Moreau. Você terá poder, Marcella. Não
consegue ver a boa barganha que nossa família fez? Que meu casamento já
fez?

Uma risada sem humor escorre pela minha boca e eu deixo India ver
a fúria nos meus olhos, minha negação a esse casamento. Eu quero apenas
um poder: ter o controle da minha vida.

Sair dessa maldita organização.

— Você não tem outra opção, Marcella. Papai sabe onde sua mãe
está. Ele está decidido a matar toda sua família materna, e fazê-la se
responsabilizar por isso. Nós duas sabemos que ele não está blefando, sua
mãe só está viva porque entregou você ao nosso pai. Ele nunca te deixaria
sair da organização — ela respira fundo — Você está fedendo a podridão e
parece imunda. Vamos preparar você. Kai Moreau quer conhecê-la e pedir
sua mão.

O gosto amargo na minha boca desce pela minha garganta, causando


uma contração na minha barriga que me faz querer vomitar. Penso
seriamente em tirar minha vida, mas eu não resolveria nada com isso.
Continuaria condenado minha mãe, meus tios e avó.

Encaro a culpada pela minha situação, controlando com todas minhas


forças o ódio que foi cravado dentro de mim, e que se torna tão tóxico que
eu sinto que matarei India em qualquer chance que eu tiver.

Me ergo do colchão, sentindo meus músculos rígidos e uma breve


vertigem. Ela assente.

— Foi uma boa escolha, Marcella. Uma dia ainda me agradecerá por
isso.

Isso foi a pior decisão que você tomou na sua vida, India. A pior.

Saímos do sótão em direção ao meu quarto, e antes que eu possa


entrar nele encontro meu pai, Rosélia e Emília. Emília tem os olhos
vermelhos como se tivesse chorado e sua mãe, Rosélia, me olha com o
desprezo de sempre.

— Fico feliz que seu rosto se recuperou, o que sobrou do hematoma


acredito que maquiagem cubra. Se alimente bem nesses próximos dias e
aproveite tudo o que compramos para você — Alev sorri para mim.

— Vocês estão cometendo um erro. Deveria ser eu, não ela! —


Emília choraminga — Papai, assim como India conseguiu desfazer seu
noivado, eu também posso. Me dê em casamento aos Moreau. Marcella não
será uma boa esposa, ela trará desonra a nossa casa!

Rosélia olha para a filha, passando os braços pelos seus ombros.

— Não interfira nos negócios do seu pai, querida. Venha, vamos para
o seu quarto. — Ela olha para sua outra filha — Venha conosco, India.

A irmã mais velha sai do meu lado e acompanha a mãe. Ficamos eu e


Alev, sozinhos. Entro no meu quarto com ele logo atrás de mim, o mesmo
me olha com atenção.
— Kai aceitou esse casamento porque ele precisa de herdeiros. Ivo
também precisa que seu filho tenha herdeiros logo. Cumpra seu papel como
esposa, Marcella. Não aborreça Kai e faça exatamente o que ele diz — seu
tom é frio o suficiente para me alertar — A vida da sua mãe e a família dela
depende da sua obediência.

Abaixo minha cabeça mais uma vez na minha vida perante esse
homem. Deixo minha dignidade e qualquer orgulho em mim cair por terra.
A rejeição de Marcella Rivera à proposta de se casar comigo me faz
rir. Uma risada ácida e quase sem humor. O que uma garota como ela pode
ter para achar que pode se negar a casar comigo?

Ainda consigo ouvir o eco do tabefe que a mesma sofreu, lembro


com clareza do rosto bonito sendo maculado com uma mancha vermelha e
os olhos redondos de um castanho esverdeado enchendo-se com lágrimas.
Lágrimas de ódio.

Esse casamento não era da minha vontade. Eu não tinha o desejo de


me casar tão cedo. Iria enrolar meu pai até que ele estivesse na beira do seu
leito de morte, mas meu tio não ia perder a chance de deixar sua cama
esfriar.

— Você vai lutar na gaiola outra vez, meu lobo? — A voz doce de
Evangeline entra nos meus ouvidos.

Levanto da cama para vestir minha calça enquanto ela se estende na


cama completamente nua. O cabelo ruivo descendo pelas costas e a bunda
redonda completamente amostra com os hematomas roxos do meu cinto e
mãos.

— Por quê? Vai enganar seu marido e ir me assistir lutar? — Apanho


minha camisa do chão, desviando meus olhos dessa mulher.

Ela ronrona, se sentando na cama.


— Eu adoraria ir pessoalmente te ver, mas sabe que não posso.
Porém, eu sempre posso cuidar dos seus ferimentos e de outras coisas
também…

Os olhos azuis sobe até minhas costas, onde algumas cicatrizes e


minha tatuagem se encontram. Eu inspiro fundo.

Evangeline é uma das minhas amantes mais experientes. Ela é casada


com um tenente da máfia e é cinco anos mais velha que eu. Estamos
mantendo um caso por mais de um ano, gosto dela porque sabe seu lugar e
tudo o que queremos um do outro é prazer.

Além dela ser uma mulher que me deixa fazer o que quiser com ela.
Suprir minha necessidade selvagem.

Saio do quarto de um dos hoteis da minha família em Las Vegas, que


fica perto da minha cobertura. É aqui onde trato meus assuntos financeiros,
ninguém acha que venho por diversão. O único que sabe a verdade sobre
minhas visitas é Jace, meu soldado.

— Acabaram rápido dessa vez, chefe — Jace comenta quando entro


no carro.

Troco um olhar rápido com ele antes do mesmo colocar o carro em


movimento. São 22:00 da noite e eu preciso descansar. Tenho uma luta se
aproximando no próximo mês e amanhã vou supervisionar um
descarregamento de armas e drogas vindo da Alemanha.

— Alguma notícia sobre os Rivera? Já se passaram uma semana.


Acha que a garota conseguiu encontrar uma forma de desfazer o acordo? —
Pergunta Jace.

O humor negro se forma na minha mente ao pensar naquela garota se


desfazendo desse trato inquebrável. Se passaram uma semana sem notícias, o
que me faz perceber que ela não é uma garota fácil de ser quebrada.

Alev Rivera com certeza está usando alguma forma de tortura, e se


ela está aguentando todo esse tempo, eu só tenho a dizer que ela é
completamente diferente das irmãs, o que me deixa excitado para conhecê-
la.

Uma bastarda que não quer se casar com um Sottocapo. Que ironia.

Subo para minha cobertura, ao chegar na sala recebo uma mensagem


do meu pai, me mandando embarcar novamente para Nova York.

Parece que a firmeza da garota caiu por terra.

Embarco para Nova York no dia seguinte, chegando à noite. Sou


recebido pelo meu pai em um dos nossos apartamentos em Nova York. Meu
tio não está ao seu lado e nem a minha mãe.

Somos só nós dois.

— Deu tudo certo com o transporte das armas e drogas? Você teve
que vir até aqui, com quem deixou a liderança?

— Já estava tudo encaminhado. Deixei Jace cuidando de receber e


guardar tudo no armazém. Não teve nenhum problema.

Meu pai assente.

Seu olhar âmbar, igual ao meu, recai sobre mim. A frieza calculista
me medindo. Eu sei que ele me teme. Sou um monstro que ele acha que se
mantém na coleira. Nós dois sabemos que sou pior que ele.

Suas torturas, surras me forjaram em me fazer ser algo que nem ele
esperava.

A cozinheira traz um prato de comida para mim e eu me sirvo


enquanto meu pai me conta sobre o que tem acontecido na família Rivera.

Como eu imaginei, Alev colocou a filha em rédeas curtas. E Otávio e


sua noiva querem comemorar o noivado, mas só farão isso depois do meu
casamento.
— Seu tio acha que devemos fazer uma festa de casamento grande.
Como futuro Capo, você precisa receber os cumprimentos de todos membros
das famílias e dos nossos aliados — ele leva o copo de uísque à boca — Não
acho que um casamento com uma bastarda seja algo para se comemorar.
Otávio me pagará um preço caro por isso.

Olho para meu pai com humor nos olhos, vendo seu
descontentamento sendo um combustível para eu querer ainda mais esse
casamento.

— Vamos fazer uma grande festa. Deixe todos virem ao meu


casamento me cumprimentar. Eu pouco me importo para as amenidades, só
quero terminar isso o mais rápido possível e voltar a minha rotina. Não tenho
muito tempo para gastar.

Meu pai assente.

— Já separamos o anel que você dará a ela. Amanhã almoçamos na


casa dos Rivera e você poderá fazer suas exigências a sua noiva.

Conversamos por mais algumas horas até eu me retirar para dormir.

Tomo um banho rápido, visto uma cueca box e vou para a cama
cogitando o que posso fazer amanhã com Marcella Rivera. Relembro do seu
rosto, do cabelo de um castanho claro, ondulado e os olhos redondos.
Amanhã poderei olhar seu corpo com atenção e ver se me agrado tanto
quanto me agradei do seu rosto.

Acordo tarde, perto da hora do almoço. O cansaço me pegou de jeito.


Não vejo a hora de voltar para Las Vegas e acabar logo com isso.

Ouço duas batidas na porta antes da minha mãe colocar a cabeça e


entrar. O sorriso dela é suave e seu cabelo castanho escuro está preso em um
coque firme.

Ela beija os dois lados do meu rosto, me mantenho impassível. Fui


criado por uma mãe amorosa, mas nem o amor dela pôde me salvar da
escuridão. Se ela aceitasse a verdade sobre mim, não sorriria para mim dessa
maneira, não me olharia assim.
— Cansado da viagem, querido? — pergunta acariciando meu rosto,
o lado sem a cicatriz.

— Estou bem. Já faz uma semana que está aqui em Nova York. Fez
alguma amizade valiosa? — Questiono terminando de me arrumar.

Observo meu reflexo vendo o conjunto escuro composto por calça de


linho e uma blusa de gola alta. O preto deixa minha pele branca em
evidência, destacando a cicatriz na minha bochecha. Uma linha vermelha
vertical.

— Sim, eu conversei com sua futura esposa. Marcella parece ser uma
boa menina, ela…

Olho para minha mãe com um sorriso divertido.

— Uma boa menina? — minha mãe cerra os lábios — Mãe, acha que
uma boa menina conseguirá ficar ao meu lado? Ela só precisa saber o seu
lugar e abrir as pernas para mim.

— Kai!

Continuo olhando para minha mãe sem perder o divertimento.

— Ora, acha que vou querer uma esposa para enfeite? Preciso que ao
menos ela seja boa de cama, será ótimo se ela não for virgem. Não terei
paciência para ensinar uma garotinha sobre o corpo dela — Suspiro.

Minha mãe me lança um olhar cortante, parecendo nervosa.

— Seu pai pediu a verificação da virtude. O médico alegou que ela é


virgem. O exame foi feito ontem.

Ótimo, uma virgem. Era tudo que eu precisava nessa altura: ensinar
uma garota sobre o corpo dela.

Mas, se eu pensar pelo lado bom da história não terei que me


preocupar com meus gostos. Posso moldar ela a mim.
Minha mãe tira uma caixinha de dentro do bolso do seu sobretudo.
Uma caixa de veludo vermelho e estende na minha direção.

— É o anel de noivado. Ele pertence à família Moreau, foi da sua


avó. Dê a Marcella. Seu pai foi contra isso, mas eu não me preocupo com ela
ser uma bastarda. Ela é tão humana quanto nós — ela me olha com atenção
— Você também é humano, Kai. Você sangra quando se machuca e também
pode morrer.

Encaro os olhos azuis claro da minha mãe com o mesmo


divertimento sádico que não consigo disfarçar. Ela é a única mulher pela
qual eu mataria, mas de maneira nenhuma eu vou me deixar ficar vulnerável
na sua frente.

Saímos juntos do apartamento, os três no mesmo carro com o


motorista. Eu observo meus pais lado a lado e me pergunto se meu pai
quebra a minha mãe como me quebrou. Pela doçura que ela ainda tem, eu
acredito que não. Ele parece se controlar para não mostrar a ela sua face.

Um homem cruel que teme o monstro que criou.

Quando o carro estaciona na mansão dos Rivera, eu deixo meus pais


saírem primeiro. Os Rivera nos espera na porta.

O casal e suas bonecas de porcelana, com exceção de uma.

Meus olhos imediatamente vão até a morena que está prometida a


mim. Suas duas irmãs são brancas como a neve e o cabelo de um loiro claro,
os olhos tão verdes como uma esmeralda. Exatamente o clone da mãe e do
pai. Mas ela… meus olhos vão até os pés que estão calçados com uma
sandália nude de salto médio e sobe pela perna exposta até alguns bons
centímetros acima do joelho.

Ao contrário das irmãs, ela não tem pernas longas. Ela não é alta.
Suas pernas são curtas, mas extremamente bem preenchidas com músculos
suaves torneado a coxa com uma aparência apetitosa.

Subo meus olhos pelo vestido rosa escuro de seda, justo ao corpo e
de alças finas e um decote composto que comprime seus seios.
Meus olhos se demoram em seu colo. A pele dela não é como neve,
ela tem uma coloração um grau mais baixo que as irmãs dando a ela um tom
bronzeado.

Os sinais que ela tem pelo colo são atraentes o suficiente para me
fazer desviar a atenção dos seios com um volume médio, extremamente
perfeito ao seu corpo pequeno e sua cintura fina.

— Ivo. Alexa. É um prazer tê-los em nossa casa. Você também, Kai


— Alev nos cumprimenta.

Continuo olhando para Marcella e seu cabelo ondulado que emoldura


seu rosto bonito. Sua boca é pequena, seus lábios são rosados e bem
desenhados e seus olhos são mais bonitos do que lembrava: redondos e de
um verde acastanhado protegidos por cílios negros longos.

Seus olhos são duros sobre mim.

— Você deve conhecer minhas filhas, Kai. — ele apresenta as duas


primeiras — India. Emília. E Marcella.

A morena tem minha atenção total, mas ela não parece tão
interessada em me olhar da mesma forma que eu a olho.

Alev e sua esposa nos conduzem para dentro. Percebo claramente


Marcella ficando para trás de forma proposital e suas irmãs uma de cada
lado de mim.

Quando chegamos a sala cada um toma seu assento. Me sento sob


um sofá de dois lugares e Marcella fica em pé olhando para o único lugar
disponível, ao meu lado. Sorrio internamente, mas esse sorriso se apaga
quando ela se senta ao meu lado.

O perfume aromático é indescritível, e frio ao toque no olfato, é


extremamente irresistível.

Marcella se senta de forma ereta, as pernas juntas e as mãos sobre


elas. Ela simplesmente não olha na minha direção. Ela não olha na direção
de ninguém.
Sua irmãzinha do meio de cabelo extremamente liso e grande parece
queimá-la com seus olhos de esmeraldas.

— Vocês formam um bonito casal — É India quem fala isso, olhando


diretamente para a irmã — Acredito que possam serem felizes juntos.

— Sim, eu também concordo com isso. Você também, Rosélia? —


minha mãe olha para a mãe das meninas.

Ela força um sorriso nada natural.

— Claro que sim, Alexa. Claro que sim.

Mais uma pessoa chega à sala. Meu tio, o conselheiro da Camorra.


Ele sorri para nós e vai para o lado de India.

— Pena que não possamos retribuir o elogio a você, India. Poderia


ter encontrado um homem da sua idade — Sorrio para ela, vendo o brilho do
desafio no seu olhar.

Não quero uma reação dela, quero da sua irmã ao meu lado, que está
calada e inerte ao meu lado. Qualquer hematoma de violência que Alev
possa ter infligido nela, não está amostra. Suas costas brancas possuem
sinais marrons que descem do seu ombro até suas omoplatas. Não muitos,
apenas alguns extremamente difíceis de se desviar os olhos.

— Vejo que está com um ótimo humor, sobrinho. — Comenta


Otávio.

— E quando não estou? — Ergo meus olhos para ele.

Meu pai pigarreou quebrando a continuação do diálogo. Ele sabe que


tenho a capacidade de tirar seu conselheiro do sério.

— A mesa do almoço já está pronta. Por favor, vamos nos direcionar


ao jardim. Pedi para servirem lá. Poderão ter um tempo melhor. — A
senhora Rivera anuncia.
Todos se levantaram, mas eu permaneço sentado igualmente como
Marcella. Absorvi seus movimentos. Ela sempre é a última a sair e entrar.

Quando ela percebe que permaneço ao seu lado, ela me olha e eu


sinto minha alma quando esses olhos redondos focam em mim. Um fogo
abrasador queima nas minhas veias.

— Que belo olhar você tem, Bella — Sussurro.

Ela pisca os olhos, os cílios longos sendo um charme.

— Não vai se levantar? — Sua voz não tem emoções, mas é sonora o
suficiente para causar eco na minha mente.

O que diabos é essa mulher?

— Depois de você, Bella mia.

Ela não espera outra palavra da minha boca, simplesmente levanta e


começa a caminhar para o jardim. Meus olhos descem até sua bunda e eu me
sinto muito animado com o que vejo.

Adestrar essa mulher na cama será um privilégio. Posso muito bem


aguentar fodê-la na posição papai e mamãe uma vez só para tirar sua
virgindade sem a machucar.

Vou atrás dela, mantendo minha animação dentro da cueca. Nos


sentamos em lados opostos, fico de frente a ela e o que recebo em troca é
uma visão esplendorosa.

O sol bate no seu cabelo, acendendo o mesmo e o vento sopra as


ondulações fazendo ela tirar alguns fios do rosto. Seus olhos se apertam
suavemente para se proteger da claridade. Eu absorvo cada detalhe dela. Os
movimentos que seus lábios fazem… Lindos lábios levemente preenchidos e
bem desenhados com um aspecto de maciez avassalador.

— Quando será realizada a cerimônia de casamento? — Pergunto aos


Rivera.
Rosélia, a madrasta, é quem me responde.

— Daqui a três meses. Seu pai e tio acham que devemos organizar
uma festa grande e estará de acordo com sua agenda. Sabemos que tem
compromissos com a organização e só estará disponível em julho.

Um sorriso repuxa o recanto dos meus lábios. Olho para a garota à


minha frente. Ela não quer se casar comigo. E eu lembro claramente dela
falando que sairia da máfia imediatamente daqui a dois anos. E pela foto que
recebi de Jace a alguns dias… de maneira nenhuma vou perder essa garota
do meu radar, ela entrou nele e será consumida.

— Não precisamos esperar tanto, acredito que vocês possam


organizar tudo em um mês. — me viro para minha mãe — Você pode ajudá-
las com isso.

Minha mãe assente.

— Por que a pressa para se casar? — Alev pergunta.

Olho para Marcella que baixou os olhos para seu prato com um
semblante fechado. Ela não disse uma palavra sequer e eu percebo o olhar
duro que Alev lança a ela uma vez ou outra.

— Vocês irão voltar para Filadélfia neste final de semana, isso


significa que só tenho hoje para conhecer minha futura esposa. Não sei o que
se passa na cabecinha dela diante da sua recusa imediata quando não aceitou
se casar comigo… não quero problemas. Quero esse casamento o mais breve
possível

Alev mantém os olhos em mim.

— Não haverá problemas. Marcella entendeu que isso é para o bem


dela e da família. Não é, Marcella? — Se dirige à filha.

Ela ergue os olhos que estão apertados por causa da luz, os fios de
cabelo voando ao vento. Ela está olhando para mim quando responde:

— Sim.
O som claro e obediente. Mas os olhos dela são como esferas de gelo
sendo derretidas pelas suas íris.
Os olhos desse maníaco são insistentes no meu rosto durante todo o
almoço. Não só os deles como os de Alev e Emília também. India e Otávio
parecem satisfeitos com todo o almoço e as conversas que saem dele. India
rompeu o noivado com o filho do nosso Don, e escolheu um homem de uma
máfia oposta.

Eles dois driblaram um jogo corajoso, e nosso Don não iria deixar
barato para a família Moreau. Ele vai se livrar de mim. A bastarda explícita
da Filadélfia. Da Famiglia.

A Camorra lidera os principais territórios. Ela tem a maior influência


em diversas áreas, principalmente na Europa. O maior dos inimigos deles é a
máfia Rússia. A família de Nikolai. São o Clã da Camorra que nos fornece
as melhores armas e drogas. A Famiglia, o meu Clã, é liderada por
Maximiliano Colombo. Ele é o mafioso que mantém o poder político perante
a toda máfia. Filho do falecido Hugo Colombo, que foi morto pelo cruel
Capo da Alemanha, Hades Baumann alguns anos atrás.

Ouço a conversa de Alev com Ivo na mesa, das minhas irmãs e


madrasta com Alexa Moreau e tudo que consigo fazer é me lembrar do
exame ginecológico feito ontem. Da humilhação de levantar as pernas para
um médico bruto enquanto Alexa e Rosélia estavam presentes na sala.

Eles estão distraídos o bastante para não notar sequer minha


presença. Levanto da cadeira, deixando meu almoço quase intocado. Preciso
de ar. De distância.
Saio do jardim para ir em direção a um dos lavabos. Entro na casa e
adentro no primeiro que encontro, trancando a porta. Caminho até a pia e
abro a torneira erguendo meu rosto para o espelho.

Meus olhos parecem maiores depois da perda de peso da última


semana. Me sinto um animal sendo negociado para o abate e a cada vez que
olho para Kai Moreau eu vejo em seu semblante o sadismo que ele ostenta.
Seus sorrisos são sádicos, seu olhar possui uma aparência cruel. Ele é como
um lobo.

A cada vez que olho para ele, eu temo meu futuro. Ser chamada de
bastarda o resto da minha vida posso aguentar. Mas viver com um sádico
como ele parece que vai me matar todos os dias.

Não sei quanto tempo passo no banheiro, mas quando me dou conta
do tempo passando eu me recomponho e saio do mesmo. No momento que
estou cruzando o corredor, Kai Moreau se materializa na minha frente.
Engulo o grito que quase escapa da minha boca.

Ele parece um corvo vestido de preto da cabeça aos pés. O seu cabelo
é tão negro como a noite.

Meus olhos sobem para os seus, ele sorri. Seu sorriso doentio.

— Fugindo da família, Bella mia?

Seu corpo é forte, largo e ele é muito mais alto que eu. Minha cabeça
bate em seu peito e eu preciso dar um passo para trás.

— Fugindo deles, ou de mim? — Questiona.

Minha vontade é ir o mais longe possível dele. Escapar dessa família


e desse compromisso.

Seus olhos são um castanho tão claros que chega parecer um


dourado. Sua pele branca contém o tom bronzeado do sol de Nevada, e ele
tem um cheiro almiscarado.
— Por que eu fugiria de você? — Pergunto dirigindo-me a ele pela
primeira vez.

Ele encosta o ombro largo na parede. Seus olhos não saem do meu
rosto.

— Então, não está fugindo? Passou quinze minutos dentro daquele


banheiro. Duvido que estava fazendo alguma necessidade fisiológica.

— Estava preocupado que eu fugisse e veio atrás de mim? Não se


preocupe, eu não conseguiria fugir. Meu pai colocou grades nas janelas, as
portas estão vigiadas e tem uma boa quantidade de homens lá fora.

Kai ri. Um riso curto e sombrio que faz um arrepio subir pela minha
espinha.

— Você sabe que não pode fugir, Bella. Você me pertence de agora
em diante.

Meu sangue escorre quente pelas minhas veias ao ouvir isso. Eu não
sou uma mercadoria.

— Se mova. Não preciso conversar com você, nem você comigo. O


intuito desse casamento é só pagar a vergonha com vergonha.

Seus olhos descem pelo meu corpo e eu me controlo para não me


mover.

— E fazer herdeiros, não esqueça. Eu também sou apto em não falar


durante o sexo, mas vamos precisar chegar em um consenso de como você
vai querer sua primeira vez… ou vai entregar tudo nas minhas mãos?

Meu rosto esquenta. O constrangimento e asco por esse homem


aumenta ainda mais dentro de mim. Só de me imaginar em tal situação com
ele me faz querer arrancar minha pele.

— Se mova, por favor! — Peço com educação, o tom saindo ríspido.

Ele se mantém no lugar, olhando para mim.


— Minha presença te incomoda? — Pergunta com presunção.

É demais para suportar, faço a menção de sair, mas ele se coloca no


meu caminho e começa dar passos na minha direção. A cada passo em frente
que ele dar, eu vou para trás até que eu esteja contra a parede e ele próximo a
mim.

Sinto meus batimentos cardíacos acelerados, uma espécie de medo


subindo pelo meu estômago. Ele baixa o rosto na minha direção e eu viro o
rosto. Sinto seu nariz no meu pescoço e logo depois uma inspiração vindo
dele.

Sua mão sobe até meu pescoço e eu lembro imediatamente da cena


dele enforcando aquela mulher enquanto a fodia. Levo minha mão até a sua
que está no meu pescoço, na tentativa de impedir que ele feche a mão ao
redor do meu pescoço, olho para ele. Seus olhos estão brilhantes e os lábios
entreabertos.

— Me solte! — Sibilo com um início de pânico se formando no meu


estômago.

Ele inspira, um grunhido baixo saindo dos seus lábios e sua mão
tocando a pele quente do meu pescoço. Não consigo me mover. Sua mão é
enorme e brutal

— Seu cheiro é diferente. É bom. Chama minha atenção para você —


ele raspa o nariz pela minha mandíbula. Eu engulo a seco — Me diga,
alguém já a beijou ou eu também serei o primeiro?

Estou prestes a afastar ele chutando o meio das suas pernas quando
uma voz familiar me faz virar o rosto na direção oposta.

— O que acha que está fazendo, Marcella?

Olho para Emília com o rosto vermelho e os olhos demonstrando


irritabilidade. Kai nem mesmo se mexe.

— Meus pais estão chamando vocês, está na hora de você receber


seu anel — Sua voz é dura.
Empurro Kai Moreau pelos ombros, tirando sua mão do meu
pescoço. Eu não olho para ele quando volto a caminhar em direção ao jardim
com o corpo quente e o coração acelerado.

— Você é uma puta igual à sua mãe! — Emília sussurra quando


passo por ela. Contenho a raiva que essas palavras me causam e continuo
andando.

Todos ainda estão no jardim, Emília e Kai chegam minutos depois.


Ivo gesticula para Kai e ele vem na minha direção, desvio os olhos dos seus.
Olhar para ele me causa emoções contraditórias que não as reconheço.

Ele pega minha mão esquerda, sua palma é áspera e causa uma
sensação de choque na minha pele. Ele abre a caixinha com a outra mão
revelando um anel de ouro branco com uma safira redonda e pequena
cravejada de diamante. Ele escorrega o anel pelo meu anelar e o sentimento
de castigo se apossa de mim.

Kai se inclina na minha direção e beija os dois lados do meu rosto.


Quando ele se afasta tem um sorriso divertido nos lábios. Eu tenho vontade
de vomitar.

Não tem aplausos e parabenização, Alexa é a única a fazer isso para


mim e Kai. O resto apenas parecem impassível.

— Posso ter um momento a sós com a minha noiva agora? — Kai


olha para os outros — Preciso fazer minhas exigências.

Olho para Alev com a esperança que ele negue de imediato, mas tudo
que ele faz é assentir. Ivo, Alexa e Rosélia se movem para dentro da casa
enquanto Alev conduz tanto eu como Kai Moreau para o escritório.

Caminho para o mais distante possível de Kai Moreau quando as


portas do escritório se fecham. Sinto a presença dele e o seu cheiro.

— Te instruíram a tomar anticoncepcional? — Pergunta.

Me viro na sua direção com a pergunta. Claro que não me instruíram


a isso, eles querem herdeiros o mais rápido possível.
— Você sabe o que sua família quer de mim, é claro que eles não
iriam me fornecer isso. — Respondo.

Ele assente e tira duas cartelas do bolso de trás. São comprimidos


anticoncepcionais.

— Você sabe como usar isso, ao menos?

Estou espantada com seu gesto, tão sem palavras que não consigo
desviar os olhos das cartelas na sua mão.

— Eu não quero filhos nos próximos dois anos, e também não quero
fazer sexo com você usando camisinha. Se vai ser minha esposa, então posso
me dar esse gosto. — Ele estende as cartelas na minha direção — Você já
sangrou este mês? Estamos no início dele.

A mágoa me preenche. O sentimento de abandono. Se eu fosse


uma filha legítima, se ao menos eu fosse respeitada, ele não estaria falando
comigo assim. Ele não teria nem mesmo o direito de ficar a sós comigo, me
causando tanto constrangimento.

Engulo meu constrangimento e balanço a cabeça para ele. Não sou


legítima, sou uma bastarda. Essa é a realidade. O fato de eu estar tendo uma
cerimônia de casamento como uma filha legítima, não muda esse fato.

— Não precisa me ensinar a usar isso, eu sei como se usa — pego as


cartelas da sua mão.

— Me conte, então.

Ergo meus olhos para ele.

— Eu não quero gerar seus filhos, não se preocupe. Eu tenho uma


proposta para você — encontro meu foco em meio a tanta bagunça na minha
mente.

Seus olhos focam em mim, concentrados. Busco fôlego.


— Sei do seu gosto por mulheres e atividades sexuais. Eu não sou e
não serei o que deseja. Você tem 32 anos e uma carreira com mulheres, sei
que deve manter suas amantes — lembro claramente da noite em que o vi
com a mulher no labirinto. Continuo: — Vamos dormir juntos na noite de
núpcias, e depois, não precisará me tocar novamente.

Ele se encosta na beirada da mesa de forma relaxada. Os olhos


parecendo interessados.

— Não quer dormir comigo, então?

Balanço a cabeça.

— Eu posso dormir com você, mas não estarei fazendo porque quero.
E eu duvido que você queira uma pedra na cama. Vamos consumar o
casamento e depois disso você pode viver sua vida como sempre foi. Nós
dois sabemos que não precisará de mim para nada, estão fazendo isso apenas
para satisfazer a Famiglia.

Os olhos de Kai agora são esferas douradas, ele tira seu celular do
bolso e mexe nele por alguns segundos antes de olhar para algo na tela.

— Alguém me enviou uma foto durante o caminho para essa casa. E


sua irmãzinha sussurrou algo no meu ouvido sobre você ter uma historinha
de amor com Nikolai Vassiliev, e pela foto… — ele direciona o visor na
minha direção.

Congelo. É uma foto minha e de Nikolai de dois anos atrás. Nos


bastidores de uma apresentação do curso de teatro da Filadélfia.

— Vocês são bem íntimos pela forma como estão juntos, hum? O
braço dele pelo seu ombro, seu sorriso, o rosto de ambos encostados… —
ele analisa a foto — Você sabe que a Camorra e Bratva têm enfrentado
conflitos, não sabe?

— Não tenho nada com ele! — sou firme nas minhas palavras.

Kai ri e se aproxima de mim.


— O que me garante que não? Você acabou de sugerir que só fodesse
com você uma vez para manchar os lençois. Isso foi bem sugestivo. Tenho o
pressentimento de que no primeiro momento, você correrá para Nikolai.

O olho de forma resoluta.

— Tudo que quero de você é que me deixe concluir minha


especialização. Eu não quero satisfação carnal. — Deixo que ele veja a
verdade nos meus olhos — Se eu tivesse uma história de amor com Nikolai,
eu poderia ter me entregado a ele e você irá comprovar que não fiz isso na
nossa primeira noite. Uma bastarda como eu não tem restrições sobre a vida
sexual, eu poderia ter perdido minha virgindade há muito tempo, mas não
preciso explicar isso a você, você já sabe de tudo isso…

Kai Moreau se aproxima de mim, ficando cada vez mais perto e eu


me mantenho parada até mesmo quando estamos a poucos centímetros um
do outro.

— Ele tem seu primeiro beijo? — Pergunta baixo, sua voz profunda
entrando nos meus ouvidos e causando arrepios na minha pele.

Ergo meus olhos para ele.

— Não.

— Você deu a alguém?

— Não.

Kai parece satisfeito com minha resposta, sua mão sobre até meu
rosto, segurando minha mandíbula e me fazendo olhar para ele. Seus olhos
são como duas gemas. Ele sorri sombriamente.

— É isso que veremos…

Sem meu consentimento, ele capturou meus lábios nos seus. O


espanto me fez arregalar os olhos ao sentir a presença de outros lábios sob os
meus. Em choque, me mantive parada enquanto ele permanecia com os
lábios parados nos meus, mas assim que ele começou a movimentar os seus
nos meus o pânico se apossou do meu corpo, principalmente quando ele
invadiu minha boca com sua língua.

Estapeio seu peito, batendo meu punho no peito forte e o


empurrando. Kai me segura nos seus braços de maneira firme, agarrando a
parte de trás do meu cabelo.

Luto contra ele enquanto o mesmo prova da minha boca e a invade


com sua língua.

Capturo seu lábio inferior com meus dentes e mordo o mesmo, Kai
hesita, mas não desfaz o beijo, ele aperta ainda mais o aperto em meu cabelo
e eu arfo. Sinto o gosto do seu sangue na minha boca.

Ele começa a me levar até a mesa com sua força sobre mim. Posso
não saber sobre como é a sensação de um beijo na boca, mas isso não é nada
bom.

Levo minha mão até a mesa às cegas até achar algo afiado o
suficiente e encontro algo similar com uma caneta. Se for a que estou
pensando, é a de tinteiro de Alev com uma ponta boa o suficiente.

Cravo a mesma na cintura de Kai, o ferindo. Ele tira os lábios dos


meus e se afasta o suficiente para olhar o que acabei de fazer. Estou ofegante
e quente.

Nossos olhos descem até a caneta que está afundada na sua blusa
grossa. Kai segura minha mão que está segurando a caneta e a afasta.
Procuro por sangue na caneta, mas não encontro.

Kai ergue o lado esquerdo da camisa e encontra o lugar com um


corte fundo, mas sem nenhuma penetração profunda. Eu ainda seguro a
caneta firmemente.

Ele olha para mim, os olhos como chamas. Uma risada irrompe da
sua boca, doentia.

Seus olhos são sádicos e quando ele tenta se aproximar de mim, eu


me afasto apontando a caneta na sua direção com a respiração ainda arfante.
Seus lábios estão vermelhos com o sangue, e os meus formigando,
com a sensação de inchaço.

— Você é selvagem, hum? — Ele passa a língua pelos lábios, ainda


me olhando — Agora tenho certeza que fui o primeiro a provar seus lábios e
serei o primeiro e único a entrar em você, Bella. Não gosto de foder virgens,
mas terei um enorme prazer em te foder durante o tempo que eu quiser!

Ele sai do escritório com uma risada alta e eu deixo a caneta cair no
chão ao ver que ele deixou claro que não concordou com minha proposta.
Os Moreau se vão minutos depois do que aconteceu na biblioteca. Eu
não me despeço de nenhum deles. Fico na biblioteca com lágrimas querendo
queimar meus olhos com a sensação de invasão e desrespeito que me
queima. E eu não posso reclamar, não posso abrir minha boca para dizer o
quão afetada e suja me sinto.

Estou sozinha e entregue a Kai Moreau e a tudo que ele quiser fazer
comigo. Mas ele não terá nada de boa vontade vindo de mim. Eu vou lutar
contra ele, fazer qualquer acordo para que ele me deixe terminar minha
especialização em Direito penal. Faltam dois anos e eu nunca estive tão
perto. Mesmo que eu não vá exercer essa profissão, eu a terei como a única
coisa que conseguir conquistar.

Será meu troféu diante dessa organização.

Eu convenci Alev a me deixar estudar direito enquanto ele tinha


planos de me manter trancada em casa, escondida de todos. Posso convencer
Kai Moreau com outra coisa.

— É verdade o que sua irmã me disse, Marcella? — Alev entra no


escritório com um olhar de chateação.

Eu pego a caneta do chão, sentindo minhas mãos trêmulas.

— Estava seduzindo Kai Moreau no corredor. Eu sabia que era


apenas um jogo fingir recusar esse casamento, você não perdeu tempo! —
Sua voz é branda.
Sinto o riso sem humor no meu amargo. Ele não perguntou se era
verdade, ele está afirmando o que sua filha disse a ele. Emília viu tudo, ela
sabe que não foi isso que aconteceu, mas do que vale a verdade?

— Não, senhor. Eu não fiz nada disso — Tento me defender mesmo


sabendo que é em vão.

— Claro que vai negar — ele vai até sua mesa e respira fundo —
Está tudo arranjado agora. A notícia do noivado começará a circular e a
nossa dívida com o Don será paga. Convenci Ivo a deixar esse casamento
acontecer em pelo menos dois meses. Um mês é muito cedo para o que
planejo.

— Tem certeza que isso acontecerá em dois meses? — Questiono.

Alev apenas dá de ombros e gesticula para que eu saia. Eu vou para o


meu quarto evitando qualquer início de conversa com India. Ela quem me
colocou nessa situação e agora quer meus agradecimentos, como se fosse
isso que eu gostaria.

Retiro esse vestido, as sandálias e vou para o banheiro. Encho a


banheira e quando ela está cheia o suficiente, eu entro, deitando dentro dela
até mergulhar minha cabeça completamente. O som some completamente e a
água borra minha visão.

Meus pensamentos vêm até mim como uma enxurrada de abelhas.


Me mantenho parada enquanto sou devorada com o quão perto eu estava da
minha liberdade. Dois anos. Dois malditos anos e eu poderia sair. Iria atrás
da minha mãe e teria minha autonomia. Exerceria minha profissão, apagaria
o sobrenome Rivera e viveria sem a sombra de ser uma bastarda.

Sem piadas. Torturas. O quarto escuro. Assédio.

Começo a gritar. O som mudo saindo da minha boca fazendo a água


borbulhar e meus olhos queimarem. Grito até que a falta de ar queime meus
pulmões e eu precise voltar à superfície em desespero. Me agarro nas bordas
da banheira e deixo minhas lágrimas caírem pelo meu rosto molhado.
Contenho meus gemidos e a própria vontade que tenho de me machucar.
Você é forte. Você aguentará isso também. Não os deixe te quebrar!

Levo minha mão à boca, esfregando o lugar onde Kai Moreau tocou
seus lábios. Enquanto faço isso, eu me deixo ser maltratada por mim mesma,
pelas minhas unhas na minha pele e pelo meu próprio desespero.

Eu fui juramentada a essa organização contra minha vontade. Eu


tinha apenas nove anos. Alev me fez dobrar meu joelho diante do nosso
antigo Don, cortou a palma da minha mão com a lâmina fria e afiada que até
hoje consigo sentir a dor infligida.

"Dada a família para viver, lutar e morrer. Meu sangue é minha


assinatura, e a vontade da minha família é minha sentença. Por eles eu
sangro, e por eles eu morro"

A palma da minha mão ensanguentada foi colocada sobre a


promissória de sangue. E diante dos chefes da máfia eu fui juramentada
como fazem com os homens. A ilegitimidade do meu nascimento requereu
uma promessa desse nível para que eu vivesse entre eles, mas não como um
deles. Eles são a elite, e eu sou o cão de guarda.

Tratada sempre como um.

Sendo a vergonha que pagará a vergonha de uma das filhas da máfia.

E agora entregue a um homem como Kai Moreau. Não sei onde mais
o preso da minha ilegitimidade vai me levar, mas ela está tomando tudo que
eu quase cheguei a ter.

A renovação do meu juramento acontece daqui a dois anos. Eu tinha


a oportunidade de pedir ao Don para me deixar ir, e ele permitiria, não tinha
mais nenhuma serventia a organização.

(...)

Voltamos para a Filadélfia no sábado à tarde. Eu vou para o meu


quarto evitando qualquer contato com minhas irmãs e madrasta. Estou sem
celular e tem seguranças no meu encalço.
Passo a primeira semana aqui dentro, olhando o teto pintado de
branco. Tento arquitetar qualquer plano possível para me tirar dessa situação,
mas nada me vem à mente. Quando sinto que estou prestes a enlouquecer eu
busco alívio na única coisa que me manteve sã durante esses anos.

Visto uma roupa de ginástica composta por uma legging e um blusão.


Pego minha mochila, calço meus tênis e prendo meu cabelo em um rabo de
cavalo.

Evito de ir à cozinha, saindo de casa em jejum. Quando piso o pé


fora encontro dois soldados prontos para me seguir aonde quer que eu vá,
pelo menos não estou impedida de sair. E eu não teria para onde fugir
estando na Filadélfia. Alev manda em todo território e seus homens ficariam
felizes em me capturar, fazer o que quisesse comigo e depois negar pois ele
estaria na vantagem. Mesmo se eu estivesse toda roxa, sangrando aos montes
e ele dissesse que são inocentes, todos iriam acreditar neles.

Esse é o valor que tenho.

Entro no carro e vou em direção ao galpão de luta do terceiro


comando da Filadélfia. São sete da manhã e só tem poucos soldados. Alguns
deles me encaram com descaramento enquanto caminho até as prateleiras de
adagas.

Pego duas adagas signas, com uma lâmina em espiral. Elas são mais
pesadas que as convencionais e minhas preferidas também. Treinar com elas
sempre me traz uma sensação de conforto e segurança.

— Achei que algo tivesse acontecido com você, garota — A voz de


Karx soa atrás de mim.

Me viro para ver o homem careca, o rosto retorcido em cicatrizes e o


corpo de estrutura colossal, me fitando com sua falta de expressão sob o
ringue.

Karx é o único que quis me ensinar a lutar e usar armas. Foi com ele
que aprendi a disparar armas de fogo, usar facas, adagas e me livrar de um
explosivo.
— Não assim tão fácil — Subo no ringue, indo para o meu lado
oposto.

Empunho minhas adagas e olho para Karx que está desarmado. Ele
só lutou duas vezes comigo usando armas, para me ensinar a me esquivar.
Hoje em dia, ele me deixa tentar acerta-lo.

— Está com fogo nos olhos, quem sabe seja seu dia de conseguir me
acertar, garota. Vamos lá! — Observa com aprovação.

Ele se posiciona e eu analiso sua postura procurando a melhor rota.


Avanço sobre ele, mantendo minhas adagas em posição. Ele desvia do
primeiro golpe acertando a mão atrás da minha cabeça.

Bufo.

Vou até ele novamente, e de novo. Sempre avançando, dançando


sobre meus pés, suando a cada tentativa e respirando de maneira correta.

Eu tento uma vez atrás da outra, sem desistir. Deixo toda minha fúria
focada nessas adagas e quando estou carregada o suficiente eu avanço em
um golpe vertical. Escorrendo sobre meus joelhos e erguendo minha adaga o
suficiente para cortar a posterior da perna esquerda de Karx.

Ele xinga e eu ouço a primeira gotícula do seu sangue cair.

Olho para trás, me erguendo e vendo o corte que causei em Karx. O


primeiro ferimento em mais de 10 anos de prática com ele.

Deixo minhas adagas caírem no chão do ringue, observo o corte


fundo e do formato da minha lâmina. Karx olha na minha direção com o que
acho ser um sorriso.

— Feliz, garota? Você conseguiu me acertar — Declara

Minha respiração está ofegante e eu olho para o corte sem conseguir


desviar.

— Eu conseguir! — Constato.
— Sim, você conseguiu. Fique feliz por isso.

— Eu estou. Vou buscar a maleta de primeiros socorros.

Quando me viro para sair do ringue percebo os olhares dos soldados


voltados para mim. E pela primeira vez não é desprezo que vejo, é algo
similar ao respeito. Nenhum deles nunca conseguiu vencer uma batalha com
adagas contra Karx e meu ferimento nele foi grande o bastante para deixar
claro que se fosse uma luta pra valer, eu teria acertado em um ponto vital.

Entro no banheiro e pego a maleta surrada com tudo que vou precisar
pra consertar o que fiz em Karx. Ele está parado no quarto que usamos como
enfermaria. Está sentado sob a maca segurando uma toalha que já está
empossada com sangue.

Me aproximo dele, colocando a maleta na maca.

— Foi um conte fundo, acho que precisará de pontos — Observo o


corte, retirando a toalha empossada de cima. Karx rir.

— Já vi os pontos que você deu em um dos homens, não é ruim.


Acho que vai ser a sutura mais bonita que já recebi no corpo.

Pego a sutura, agulha e o pequeno alicate. Karx fica de costas para


mim, o sangramento mais contido. Limpo a área sem ouvir um único barulho
de Karx, mas consigo ver a tensão que a dor causa nele.

— Não tenho nada para anestesiar. — Informo.

Outro riso abafado.

— Apenas faça, garota.

O corte precisa de no mínimo cinco pontos, e não foi um corte reto


por causa do formato da lâmina. Faço o melhor que consigo. É minha
primeira vez suturando Karx, mas ele já me suturou duas vezes. Uma vez
nas costas, e outra nas coxas. Ele foi tão cuidadoso que não fiquei com uma
cicatriz feia. Elas hoje são linhas quase imperceptíveis.
— Ouvimos que você vai se casar com o Sottocapo da Camorra —
comenta.

Fico em silêncio, passando a linha por sua carne.

— Também sei o motivo. Garota, não faça nada estúpido, ok? Esse
Sottocapo tem uma fama de crueldade maior que a do pai dele. Todos no
meio o conhecem como anjo da morte — Karx vira o rosto na minha direção
— Anjo pela sua aparência e morte pela forma como mata seus inimigos. Ele
não é alguém que você queira como inimigo. Eu conheço você, seu
temperamento… não faça besteira, ok?

Mantenho meus olhos no que estou fazendo lembrando do rosto de


Kai Moreau, da sua boca intrusiva e do gosto do seu sangue.

— Você foi forjada para aguentar, garota. É mais forte


psicologicamente do que qualquer um daqueles soldados lá fora. Você é
repleta de coragem e sabedoria. Se alguém pode passar por isso, esse alguém
é você.

Termino a sutura e ergo meus olhos para Karx. Seu rosto marcado de
cicatrizes do inimigo o deixando com uma aparência brutal e horrenda.
Quando eu o conheci eu tinha apenas 10 anos, sua aparência nunca me
assustou.

— Espero que você esteja certo. Se eu vou viver com o anjo da


morte, preciso não temer morrer.

Karx me lança um olhar significativo como se sentisse muito pela


minha situação.

Bem, somos dois. Eu sinto profundamente.


Os preparativos de casamento começaram antes mesmo de eu ter
alguma noção de que isso estava acontecendo. Pessoas entram e saem da
casa trazendo folhetos com modelos de cerimônia e Rosélia dá a importância
que ela quer: nenhuma.

Não é o casamento da filha dela, tudo que está fazendo é por ordem
de Alev. O casamento precisa ser impecável, afinal, é um casamento de um
futuro Capo. Não importa que a noiva seja uma bastarda.

— Você poderia se interessar mais pelos detalhes da sua cerimônia


— India surge ao meu lado no jardim, onde os promotores de evento
procuram o melhor lugar nesse jardim enorme.

Ela está trajando um vestido verde de tecido leve, soltinho e de uma


cor vibrante. O cabelo loiro preso em um coque bem feito. Esse verde do
vestido deixa seus olhos mais escuros e sua pele brilhante.

— Meu casamento não é por amor, como o seu. Você quem me


colocou nisso, então deveria ir ajudar sua mãe — O ácido escorre por essas
palavras. India não se abala.

Ela cruza os braços, olhando para onde estão os organizadores e


Rosélia. Pelo que estou vendo, as mesas ficarão ao redor da piscina, o
banquete perto da plantação de rosas juntamente com a mesa de bebidas.
Aqui só será comemorado a festa. O casamento acontecerá na igreja como
manda a tradição.

— Não vai nem mesmo escolher seu vestido de noiva? — Pergunta.


— Você está achando que quero isso, não é? Acha que algo em mim
está gostando da situação que seu egoísmo me colocou? — Me viro para ela.

India se mantém impassível.

— Você terá poder se casando com Kai Moreau, Marcella. As


pessoas não terão coragem de te ofender nunca mais. Como pode ser tão
contrária a essa união, que só irá te beneficiar?

O ácido que suas palavras provocam no meu sangue é quase tão


incontrolável que eu ainda dou um passo na direção de India, me segurando
para não dá outro e acabar com ela.

Eu a deixo no jardim e vou para o meu quarto, entro no mesmo,


procurando meu celular. Alev me devolveu ontem por alguma razão. Ele
provavelmente colocou um rastreador nele ou uma escuta. Eu não tenho
mexido nele. A única coisa que faço é apenas verificar as horas.

Três semanas se passam rapidamente e minha presença é


indispensável. Sou levada para tirarem minhas medidas e servir como um
manequim para a costureira idealizar o vestido ideal para mim. Tenho me
sentindo anestesiada nesses últimos dias, a cada vez que as mulheres me
mostram camisolas e falam o que exatamente eu tenho que fazer na noite de
núpcias. O que elas me mandam fazer é relaxar e deixar o meu marido fazer
o resto.

Eu olho para elas com descrença. Não é possível que aceitaram isso,
mas no mesmo momento eu lembro que raros são os casamentos por amor
em organizações. São feitos por obrigação. Somos entregues aos homens
completamente inexperientes, sem nem mesmo ter tocado os lábios de outra
pessoa.

Não temos noção do nosso corpo e somos proibidas de explorar o


mesmo, guardamos isso para o marido na primeira noite. As mulheres que
me rodeiam, a grande maioria, foram violentadas pelos próprios maridos.
Um consentimento obrigado não é um sim. Os casamentos acontecem
geralmente quando chegamos aos 18 anos.
India e Emília estão atrasadas de propósito. Alev não quis entregar
suas preciosidades tão facilmente. Ele queria o melhor partido e Kai Moreau
recusou tanto India como Emília. Então, ele precisou aceitar a proposta do
nosso Don. India deu um trunfo a ele ao selar um compromisso com Otávio
Moreau.

Ele terá uma filha casada com o futuro Capo, e outra casada com o
conselheiro da Camorra. A grande e inabalável Camorra.

— Está pronta, senhorita. Gostaria de se ver no espelho? — Pergunta


a costureira ao terminar os ajustes no vestido de noiva.

Antes que eu diga não, ela coloca o espelho na minha frente. Meu
reflexo me causa um breve choque ao me ver vestida com um vestido de
noiva. Eu nunca imaginei que usaria um e ao me ver nele só consigo pensar
que tudo eu temi, está acontecendo.

A saia do vestido é longa, o tecido é de organza, leve, delicado. A


saia é completamente lisa, com pouco volume. A parte de cima é uma renda
com tule que preenche as mangas que vão até meus pulsos. As costas do
vestido deixa uma parte da pele ali exposta, pouco para ser vulgar, e o
suficiente para deixar a pele amostra.

Rosélia observa o vestido em mim, os olhos verdes não


demonstrando nenhum tipo de emoção. Ela apenas faz um meneio de
cabeça.

— Esse deve servir. Ficaremos com o véu de tule e os sapatos de


salto alto. Altos o suficiente para que o noivo não precise se inclinar muito
para beijá-la. — Ela suspira e olha para a costureira — Encontre algo que a
faça ficar alta o suficiente.

Continuo olhando para meu reflexo evitando tocar nesse vestido e ser
consumida pelo pânico de estar sendo preparada para o abate.

Respiro completamente livre quando saio de dentro dele e visto


minhas roupas. Saio do ateliê diretamente para o galpão. Preciso de um lugar
familiar e um rosto familiar para me situar de que ainda tenho um pouco de
liberdade.
Quando entro no galpão encontro o lugar vazio e com as luzes
acesas. Vou até a cozinha improvisada e entendo o motivo de tudo estar
fechado e vazio.

Karx suspira ao olhar para mim.

— Ele tem vindo há alguns dias. Acho melhor acertarem isso logo
antes que uma guerra comece. — O tom de Karx é duro.

Meus olhos continuam no loiro encostado no balcão com uma


expressão de suavidade ao me olhar. Os olhos azuis escuros me fitando com
uma certa preocupação.

— Você perdeu sua cabeça? Como teve coragem de aparecer aqui?


— Questiono Nikolai sentindo o medo me deixar alertar para qualquer
movimento.

Ele se empertiga.

— Soube do casamento, não se fala sobre outra coisa — seus olhos


ficam frios — O que diabos te fez aceitar isso?

Karx sai da cozinha, deixando claro que estará perto o suficiente para
qualquer eventualidade.

— Você precisa ir embora. Kai Moreau colocou homens dele para me


espionar e se você for visto por eles, uma carnificina começará. A Bratva
não pode circular por aqui agora. — Lembro-o.

Nikolai não se mexe.

— Acha que sou tão descuidado assim? É claro que tomei todas as
precauções para chegar aqui. Nem Karx percebeu minha entrada.

Passo a mão pelo cabelo sentindo o nervosismo passar pelo meu


corpo de um lado para o outro.

— O que faz aqui? — pergunto.


— Você foi entregue para se casar com um filho da puta sádico do
caralho, Marcella. Kai Moreau não pode se considerar um humano. Como
acha que posso deixar você se casar com ele? — ele fala como se fosse o
maior dos absurdos.

Tem momentos que tenho certeza que Nikolai esquece que eu sou
uma bastarda.

— Não tem nada que você possa fazer. Por favor, volte para uma
região segura. Tem homens da Camorra por perto, se Kai descobrir que você
se aproximou de mim… — Inspiro ao lembrar o que ele fez comigo na
biblioteca quando achou que algo aconteceu entre Nikolai e eu — Ele vai
acabar com você, Nikolai. Vá embora!

Nikolai se aproxima de mim.

— Vamos juntos. A Bratva está mais forte que nunca e meu pai dará
um jeito em Kai Moreau. Ele não será capaz de ter você, se for comigo,
estará livre, Marcella!

Balanço a cabeça.

— Kai Moreau tem poder sobre as cinco famílias. Se ele desejar que
todas entrem em guerra contra a sua família, simplesmente haverá guerra.
Sabemos que ele faria isso com gosto apenas para reaver o que ele acha que
é dele.

— E você é dele, Marcella? — Seus olhos ficam duros sobre os


meus.

— Eu não sou de ninguém. Mas não são minhas palavras que valem
aqui, e você sabe disso. Vá embora, Nikolai!. — Peço.

Ele balança a cabeça. Os olhos azuis ficando mais gélidos.

— Você disse que em dois anos iria sair daqui e ir para longe. O que
aconteceu com esse plano? Eu achei que lutaria com tudo que tivesse para
conseguir sua liberdade.
Uma risada sem humor algum sai da minha boca e eu olho para
Nikolai com toda a mágoa que vem me castigando nas últimas semanas.

— Se um dia eu cheguei a sonhar com a liberdade, não devo ter


percebido que meus pés saíram do chão. Não existe nada assim para mim.
Eu ainda tenho pessoas a proteger, e é pela minha verdadeira família esse
sacrifício.

Nikolai toca minha mão com a sua.

— Está falando da sua mãe? O seu pai te ameaçou usando a sua


família materna— Concluiu.

Ficamos em silêncio. Cada minuto que se passa fico mais ansiosa


com a possibilidade de que algum dos homens de Kai ou de Alev entrem
aqui.

— Vou proteger sua família materna. Deixarei eles sobre os cuidados


da Bratva. Meu pai está doente e meu irmão assumirá em breve. Ele me deve
dois favores. Vou cobrar um. — Nikolai toca meu queixo, me fazendo olhar
para ele — Cobrarei o segundo favor quando você encontrar uma saída desse
casamento. Não se case com Kai Moreau, Marcella. Não faça isso. Eu estou
pronto para te raptar, se for necessário. — Seus olhos focam nos meus —
Sua família vai está protegida nos domínios da Bratva. Consiga uma forma
de não chegar o dia do seu casamento com Kai Moreau.

Me afasto dele.

Nikolai pode ajudar minha família, mas não pode me ajudar. A


Camorra nunca perdoaria isso e eu iria trair minha própria organização e
juramento.

— Vá embora, por favor. Antes que…

Karx entra na cozinha.

— Têm dois homens vindo para cá. Não são da Filadélfia. É melhor
você sair, garota! — ele olha para Nikolai — Saia pelo mesmo canto que
entrou. Agora!
Nikolai me lança um olhar significativo e some por uma entrada
através da cozinha, me lançando um último olhar

Recomponho minha postura e saio da cozinha no mesmo momento


que dois homens altos adentram o galpão, vestindo regatas que deixam seus
braços fortes e cheios de cicatrizes, expostos.

— Algum problema? — Pergunto.

Um dos homens passa por mim indo averiguar a cozinha, voltando


minutos depois enquanto seu colega fica de olho em mim.

— Precisamos ficar de olho na senhora. Ordens do Sottocapo. — Diz


um deles.

— E então? — questiono.

O outro pega o celular do bolso, ligando para alguém. Não demora


muito para que ele me entregue o celular depois de dizer ao outro lado do
fone que está tudo limpo.
Pego o celular da mão dele, levando a orelha.
— Alô?

— Tenho uma leve impressão que alguém esteja querendo cobiçar o


que é meu, Bella mia. Pode me dizer que é só minha imaginação?

A voz grave e profunda de Kai Moreau preenche meu ouvido. E é


como se eu pudesse vê-lo. Os olhos claros como duas gemas, o cabelo bem
cortado e tão preto como a noite. Seu rosto e aquela cicatriz.

— É só sua imaginação — Digo.

Sua risada grossa preenche o fone de ouvido e um arrepio sobe pela


minha espinha.

— Não anda muito interessada pelos preparativos do nosso


casamento, Bella. Ouvir dizer que você foge sempre que pode… isso não é
bom. — uma pausa — Qual a cor da camisola que usará na nossa primeira
noite?
Me mantenho em silêncio, me negando a contribuir com sua
provocação.

— Já que não tem nenhum gosto, eu mesmo vou escolher por você.
Saia desse galpão, vá para casa e só saia de lá no dia que for me encontrar
na igreja e ser minha esposa. Se eu desconfiar de que aquele vermezinho da
Bratva chegou perto de você, eu vou me divertir bastante em tirar a pele
dele, com ele bem consciente.

— Não quer fazer isso comigo? Prefiro isso a me deitar com você,
então me faça esse favor.

Os olhos dos homens se desviam de mim, menos Karx que me lança


um olhar de advertência. Kai ri do outro lado.

— Se não quiser ver meus olhos, posso te comer por trás. Vai ser tão
prazeroso quanto por frente, minha doce noiva.

Fecho meus punhos ao notar o som de prazer na sua voz.

— Talvez seja só isso que terá de mim. A parte de trás das minhas
costas para olhar enquanto se satisfaz.

Não deixo ele falar mais nada, desligo o celular e entrego ao seu
capanga. Saio do galpão sem olhar para trás sentindo meu rosto queimar
com fúria e vergonha. Tenho vontade de gritar, de bater em algo.

Mas tudo que faço é entrar no carro e ir para casa.


Lutar na gaiola é meu passatempo preferido. Me sinto bem em
infligir a dor, quebrar os ossos do meu adversário e não deixar nenhuma
vontade sangrenta e macabra sobrando. Por isso, eu atinjo meu adversário
com força. Usando meus punhos e joelhos para o atingir em seus pontos
mais sensíveis.

Eu chuto, golpeio e o jogo no chão indo para cima dele e o


desfigurando com meus punhos até que eu me canse ou o filho da mãe morra
sobre meus punhos. Geralmente, eles acabam morrendo porque ninguém tem
a coragem de me impedir de matar quem quer que seja.

Sempre acontecem mortes na gaiola quando estou de péssimo humor.


Eu não me importo se o sujeito tem uma família, se ele tivesse ou fosse
alguém que valesse o mínimo da minha pena, eu o pouparia. Reconheço
homens sem valor quando encontro com um. E esse que acabei de matar
com meus punhos com certeza não tinha o mínimo valor.

Ouço os berros da torcida pelo galpão, sinto as mãos de Jace me


incentivando a deixar a gaiola enquanto os homens vão verificar se o
brutamontes morreu. Vejo o olhar de um socorrista para o outro confirmando
a morte e um riso escapa da minha boca.

Caminho para o chuveiro com todos gritando meu nome, algumas


pessoas horrorizadas e duas mulheres chorando. Eu pouco me importo com
isso.
Tiro minha bermuda e camiseta, entrando dentro do chuveiro frio,
sentindo a dor nas costelas e no lábio onde o filho da puta me atingiu.

Mas não é isso que a água acalma. É meu pensamento em Marcella


Rivera.

Já faz um mês e alguns dias que não a vejo pessoalmente, só por


fotos e aquela garota tem corroído até meu último pensamento.

Seus olhos verdes acastanhados tem me assombrado desde aquele


maldito beijo. Eu a desejo com todas minhas forças. Assim que encostei
meus lábios nos dela eu estava pronto para consumir seu corpo naquele
momento. A excitação que correu pelas minhas veias ao sentir seu corpo
pequeno, aqueles lábios macios e seus peitos pressionando o meu… Faz
muito tempo que desejei uma mulher com intensidade. Não. Eu nunca
desejei nenhuma mulher com essa intensidade.

Eu a quero. Quero consumir todo seu corpo com o fogo que arde nas
minhas veias.

O desejo que sinto é tão forte como a raiva que sinto ao saber que
Nikolai Vassiliev tem andado ao redor desde a notícia do noivado. Eles já
podem terem se encontrado, ele pode ter encostado nela e isso não terá
perdão se houver uma confirmação dos meus homens.

Sinto uma mão subindo pelo meu peito no meio dos meus
pensamentos, e imediatamente eu seguro a mesma com agressividades
olhando para trás onde encontro os olhos azuis de Evangeline e suas
madeixas ruivas.

— Desligue o registro do chuveiro, meu lobo. Não posso molhar o


cabelo.

Me viro para ela com o chuveiro ligado caindo água pela minha
cabeça. A olho com seu rosto submisso e sua boca cheia pedindo por mim.
Para fodê-la de forma suja como a puta que é.

Esses olhos são diferentes dos que me assombram. Esses imploram


por mim, o outro me repele. A pele dessa é muito branca e ela não tem os
malditos sinais pelos ombros e costas.

Agarro o pescoço de Evangeline, a colocando debaixo do chuveiro,


contra os azulejos da parede e mesmo assim ela não protesta mesmo tendo
dito para eu não fazer isso.

Desligo o registro do chuveiro, e pelo pescoço eu a faço se abaixar


até meu pau ereto desde que comecei a pensar em Marcella Rivera. Ela não
resiste nenhum pouco, parece gostar disso. Com sua sabedoria sobre paus,
ela agarra o meu e o leva até a boca. Agarro um punhado do seu cabelo e me
enfio na sua boca indo até a garganta.

Ela agarra minhas coxas e eu me enfio mais dentro da sua boca,


mordendo meus lábios.

Fecho meus olhos e inclino a cabeça para trás ao imaginar a boca de


lábios bem desenhados, levemente preenchidos e macios da morena em volta
do meu pau. Aqueles olhos redondos olhando para mim com desafio.

Fodo a boca que engloba meu pau como se eu estivesse ensinando


uma lição a Marcella Rivera. Uso minhas mãos para determinar o
movimento rápido e fundo ouvindo a mulher ajoelhada perante mim se
engasgando, furando minha pele com suas unhas enquanto luta para aguentar
o ritmo.

Dormir comigo apenas uma vez?

Eu vou foder Marcella Rivera até a exaustão. Descansar e voltar a


fodê-la até eu me saciar.

Com mais cinco estocadas violentas eu gozo com brutalidade na boca


da ruiva, a fazendo cair no chão em busca de ar e com o rosto
completamente vermelho. Ela cospe minha porra tentando respirar e eu
apenas viro as costas, visto minhas roupas e a ouço tossindo, sentada no
chão do chuveiro completamente nua.

Jace está me esperando nos bastidores quando saio do banheiro. Ele


não pergunta ou fala nada. Apenas entramos no carro e vamos para minha
cobertura.
— Encontramos algumas coisas interessantes sobre Marcella Rivera,
chefe. Está no seu notebook. Acho que ficará impressionado — Comenta
Jace com um riso de canto.

Só de ouvir o nome dela eu fico desperto, é como se alguém ativasse


um botão em mim.

Subo para minha cobertura, indo direto para o MacBook sob a mesa
de centro. Abro o mesmo vendo uma pasta com o nome dela. Recebo
primeiro a ficha dela feita por Jace.

Ela concluiu uma faculdade de direito na faculdade da Filadélfia.


Isso é bom. Muitas das mulheres nesse ramo não têm ensino superior.

No arquivo tem fotos dela dentro de um galpão, lutando com um


homem desfigurado. Fotos dela caminhando pelas ruas e chegando em casa.

Por último, tem um vídeo.

Aperto o play com os olhos focalizados na tela. É um vídeo de uma


festinha, provavelmente com a turma da faculdade dela. Um imbecil está
filmando e narrando o que aparece na frente dele. Nada muito interessante
até que Marcella surge vestindo um vestido floral laranja, o cabelo solto e
um sorriso nos lábios.

— Vai dançar para nós hoje, Marcella? — Pergunta o imbecil.

Ela sorri. Os olhos redondos brilhando enquanto ela vira a bebida na


sua mão.

— Vamos lá, pessoal. Vamos fazer a rainha da noite dançar para


nós! Estamos nos formando, porra!

Todos começam a incentivar Marcella a dançar e a mesma demonstra


uma certa timidez. Um coro de pessoas invocando seu nome começa.

Uma das meninas coloca uma cadeira no meio do centro da sala e


uma música sensual começa a tocar. Marcella começa a caminhar até onde
está a cadeira e todos ficam em silêncio deixando a música tocar.
Ela desfaz o sorriso e deixa seu rosto sério. Seus quadris começam a
se mexer de acordo com o ritmo da música. Para um lado e para o outro.
Sensualmente.

Ela segura na cadeira, descendo até o chão com as pernas juntas, se


levantando e jogando o cabelo para trás. Sua bunda rebolando de forma
provocadora nesse vestido solto…

As madeixas balançando, suas mãos passeando pelo seu corpo e os


lábios entreabertos enquanto dança e se senta na cadeira com as pernas
abertas…

Meu sangue escorre para meu pau em uma ereção tão dura que sinto
minhas bolas doloridas. O vídeo tem cerca de 6 minutos e meus olhos não
saem da tela, nem mesmo quando eu libero meu pau e começo a me
masturbar como um adolescente.

A imagem perfeita dessa mulher dançando, desse cabelo caindo pelos


seus ombros e rosto, os lábios rosados e macios, os seios e a maldita bunda
olhando para mim de forma sensual.

Porra!

Onde caralho foi parar minha racionalidade? Estou me masturbando


em frente a uma tela de um computador enquanto vejo a maldita, que só
demonstra frieza por mim, rebolando sensualmente.

Puta que pariu.

Ao sentir meu gozo próximo, eu simplesmente pauso o vídeo em


momento que destaca bem o rosto de Marcella. Intensifico meus
movimentos deixando gemidos guturais saindo da minha boca até que me
liberto com violência, melando toda a tela do meu computador e sendo
tomado pelo cansaço.

(...)

— Os convites já foram enviados. O casamento será daqui a 15 dias,


não é possível realizar a cerimônia antes disso — avisa minha mãe.
— Lembro que eu disse que queria a cerimônia o mais breve
possível. Eu não ligo pra quanto tempo falta, vocês conseguem dar um jeito.
— Rebato.

Minha mãe respira fundo, lançando um olhar para o meu pai que está
calado.

— Filho, por favor, espere só mais 15 dias. Os Rivera estão


organizando tudo o mais rápido possível…

— Qual a pressa em colocar essa bastarda na nossa família? — Meu


pai interrompe minha mãe com uma voz dura.

Olho para ele com um sorriso de canto. Ele fica ainda mais sério.

— Só quero obedecer ao que me foi dado. Você sabe que eu não


resisto a regras, adoro cumprir tudo ao pé da letra — Desvio os olhos pra
minha mãe — Quero a cerimônia para esse final de semana. Tem cinco dias
para organizar.

Levanto da minha cadeira na mesa do jantar deixando claro minha


decisão, não quero mais esperar por esse casamento enquanto o desejo por
aquela mulher me come vivo.

Após o café da manhã eu tenho uma supervisão nos barracões que


estão sendo usados para estocar drogas. Temos uma remessa pronta para
circular por Nova York, Itália e Grécia. É uma droga em experimento que
está sendo muito procurada.

— Não quero nenhuma embalagem chamativa, coloque nas de


sempre, sem logomarcas, número de lote… apenas o selo invisível do
vendedor — Instruo olhando os pacotes.

Jace está ao meu lado, ouvindo tudo.

— Um dos membros me pediu para falar com você sobre conseguir


uma consulta com um dos médicos da Camorra no hospital central. Ele não é
de alta patente, ele procurou seu pai e ele disse não, então me pediu que
viesse falar com você — Jace comunica.
Mantenho meus olhos nos pacotes transparentes com o pó branco
prontos para virar comprimidos e pílulas.

— Esse soldado tem a capacidade de me fazer um favor no futuro?


Quem é ele? — Questiono.

— Apenas um soldado antigo da Camorra, já está velho. A consulta é


pra filha dele de 16 anos.

— E o que um velho pode fazer por mim, Jace? Se você está falando
dele, com certeza tem algo que ele possa fazer — limpo minhas mãos na
minha calça, olho para Jace e seus olhos escuros — O que é que ele sabe
fazer?

Jace sorri.

— Ele tem uma casa funerária atualmente, pensei que seria cômodo
para a organização ter uma via segura de transporte para circular nossas
drogas e armas. Um caixão sempre pode ter um fundo falso. Ele também
mexe com substâncias letais, como veneno.

Jace sempre sabe o que pode nos beneficiar, ele é bom no trabalho
dele e eu o deixo sempre explorar todas as áreas que possam trazer benefício
a nós.

— Marque um horário com o médico, e diga a esse homem para


preparar caixões. Forneceremos a madeira, se precisar.

— Pode deixar, chefe.

Depois da vistoria em mais dois barracões, eu volto para uma das


boates da Camorra. Já é tarde do dia e eu não comi direito. Sempre almoço
na boate com a presença das putas que ficam ensaiando para a apresentação
da noite. É onde gosto de realizar reuniões.

Tenho uma surpresa ao chegar no recinto e encontrar Evangeline.


Está sentada no bar, com um salto alto preto, um vestido colado e o cabelo
preso. Assim que ela me ver, larga a bebida e caminha na minha direção.
— Por que foi embora tão rápido ontem? — Pergunta se referindo a
noite passada, onde a deixei no chão cuspindo minha porra.

Caminho até o bar, solicitando meu almoço.

— Isso é por causa do casamento? Vamos parar de nos ver depois


que se casar? — Sua voz entoa uma certa preocupação.

Olho para ela.

Evangeline sempre supriu bem meus desejos, foi uma ótima foda em
todo momento. Mas, está dentro dela desde que conheci Marcella Rivera não
é a mesma coisa. Preciso voltar ao meu foco, e só farei isso depois de entrar
na minha noiva.

— Se continuar me procurando como se eu fosse seu marido, vou


acabar pedindo pra um dos meus homens levar o recado do que faz por
dinheiro comigo — Digo.

Ela sorri, se aproximando de mim. As unhas pintadas de vermelho


arranhando meu pescoço.

— Você sabe que não é por dinheiro, Kai. E mesmo que fale ao meu
marido, o que ele pode fazer contra o Sottocapo? Ele é apenas um soldado
qualquer. — Cola seu corpo no meu — Eu sou sua, Kai. Sua para o que
quiser. Não me mande embora. Sou a única que consegue compreender seus
desejos, não sou?

Tão fácil. Ver ela sendo dessa forma me faz perder o tesão que tenho
por ela.

Olho em seus olhos, desviando para Jace que está dois metros atrás
dela.

— Vá para casa, não tenho clima para isso. Só apareça quando eu


solicitar. Jace levará você embora.

Com uma expressão nada satisfeita, ela apenas assente e sai. Peço
para o cozinheiro levar meu almoço para minha sala.
A primeira coisa que faço ao chegar nela é ligar o telão na parede,
sentar atrás da minha mesa e espelhar as fotos de Marcella Rivera na tela.

Meus pensamentos voam com tudo que posso fazer com essa garota.

Logo, logo ela se tornará minha esposa.


Os Moreau chegam daqui a três dias. Kai Moreau adiantou o
casamento para esse final de semana por motivos que nem eu mesmo sei,
mas enlouqueceu Rosélia e os preparativos do casamento. Tenho ficado mais
tempo no meu quarto procurando uma forma de escapar mesmo estando sem
esperanças para tal coisa. Eu já revirei minha mente, já procurei rotas, mas
qualquer que seja, tudo acabará em sangue.

Nikolai não me deu mais notícias, mas sei que está tentando localizar
minha família materna. Eu poderia fugir até chegar nos domínios da Bratva,
mas isso seria impossível com os homens de Kai Moreau no meu encalço.
Eles são espertos. Mais espertos que os homens da Famiglia.

Rosélia sempre está aos meus ouvidos gritando para que eu ajude.
Estamos recebendo tantos presentes das outras famílias que me pergunto se
deixei de ser uma bastarda com tamanha consideração da parte deles, chega
até ser engraçado.

Minhas malas já estão prontas para serem despachadas para Las


Vegas, para minha futura casa. Tudo que tenho não passa de duas malas. Ao
contrário das minhas irmãs, não tenho roupas aos montes e vestidos caros.
Minhas roupas se resumem a calças jeans, regatas e jaquetas.

Ouço duas batidas na porta, a voz de uma das criadas me avisa que
Alev quer me ver no escritório. Respiro fundo diversas vezes, procurando
racionalidade e paz interior. Olhar para ele é sempre uma lástima.
Desço até seu escritório, o encontrando com uma expressão
impaciente.
— Kai Moreau está vindo para Filadélfia antes, ele chega hoje à
noite. Saia com India para comprar roupas apresentáveis — ele me olha
rapidamente — Vá agora. Ele deve chegar daqui a três horas.

Sinto um tremor no estômago com a informação de que Kai Moreau


esteja voando para cá. O que ele quer aqui antes da cerimônia? Ele parece
estar com um plano diferente do que seus pais planejaram, e com certeza
estará me usando como uma peça.

Não sei mais que tipo de ação tomar, eu preciso barganhar com ele
para conseguir minha especialização. Mesmo que eu não chegue a exercer,
eu terei algo a qual me segurar para não enlouquecer se esse casamento for
adiante, e eu seja tratada como uma vaca reprodutora.

Saio do escritório encontrando India na sala, me esperando para fazer


compras. Nós duas saímos com quatro homens no nosso encalço. Eu não
digo absolutamente nada no trajeto que o carro faz da casa até uma das
boutiques mais caras da Filadélfia.

India tem os olhos em mim, é como se ela quisesse qualquer reação


da minha parte. Parece que ela espera um agradecimento fervoroso.

— Senhorita Rivera! — A dona da boutique exclama ao ver India.


Ela se apressa em ir na sua direção — Está linda como sempre. Veio renovar
seu guarda-roupas?

India retira os óculos escuros revelando as esmeraldas que são seus


olhos. Ela sorri sutilmente mostrando a fileira de dentes certinhos e brancos.

— Estou aqui hoje para ajudar minha meia-irmã com roupas para o
dia a dia, e um vestido especial para um jantar. Nada chamativo, mas
também não apagado. Pode ajudá-la com isso?

Os olhos castanhos da vendedora vêm até mim, me olhando de cima


a baixo como para ter certeza de que se trata de mim. Muitos já ouviram
sobre a bastarda de Alev Rivera, mas são poucos que me veem
pessoalmente. Ele sempre me manteve o mais escondida possível para não
manchar a presença da sua esposa e filhas.
A mulher na minha frente deve ter uns 54 anos. Está bem
conservada, e com o cabelo castanho sem um fio branco… parece ser bem
vaidosa.

— Ah, sim, claro. Venha comigo, senhorita…?

— Ela será uma Moreau em breve, a chame como me chama. No


próximo encontro de vocês, pode ser que nós duas sejamos duas senhoras
Moreau — India não disfarça a satisfação com que diz essas palavras.

Ela ama a glória. O poder. E se tornar uma Moreau irá satisfazer em


muito sua cobiça.

Os olhos da mulher se arregalam suavemente como se ela finalmente


chegasse a conclusão de que sou a bastarda prometida ao Sottocapo, que está
bem em frente a ela. E a qual ela não vai perder a chance de cair na graça.

Não demora nem um minuto para que uma garrafa cara de


champanhe seja aberta, e vendedoras surgem de todas as partes com roupas
da última estação de estilistas renomados. São colocados vestidos, sapatos e
bolsas na minha frente.

India analisa todos de braços cruzados. Eu me mantenho alheia. Tudo


que eu aceitar aqui será cobrado em dobro.

— Acredito que esse vestido seja perfeito para você receber seu
futuro marido hoje. Bordô combina com você — Ela me mostra um vestido
bordô, com decote quadrado, mangas curtas e uma saia soltinha com uma
estampa de flores negras.

Não sou uma boneca a qual India pode vestir.

— Fique com ele para você se gostou — Pego uma blusa preta de
mangas e gola alta — Prefiro algo que não mostre nada sugestivo ao
maníaco dos Moreau.

India sorri.
— Já parou pra pensar que talvez ele esteja vindo porque está louco
por você? Pode ter agradado ele de alguma forma, Marcella. Ele antecipou o
casamento e Otávio me falou que ele anda bem obstinado sobre esse
casamento.

— Se é tão romântica e fantasiosa porque não decidiu ficar com o


sobrinho, ao invés de se casar com o tio de meia idade? — pergunto,
olhando bem para India— A única razão que faz Kai Moreau querer esse
casamento é o desafio que isso impõe a todos. Você já ouviu histórias sobre
ele, sabe que ele não gosta de nada convencional. Se ele acabasse casado
com uma das meninas tradicionais, acabaria matando a mesma com suas
manias. Ou a feito se matar — Olho para uma calça jeans de tecido escuro
— Sou uma bastarda. Ele poderá fazer o que quiser comigo, e não haverá
consequências. A Famiglia achou uma forma de se vingar e presentear o
futuro Capo ao mesmo tempo. Como você disse, foi um passo bem pensado,
me oferecer a Kai Moreau. Otávio é um ótimo conselheiro — Volto a olhar
para minha meia-irmã, dessa vez com um olhar de aviso — Torça para que
eu não consiga ter nenhuma influência sobre Kai Moreau, se ele ceder a
mim, a primeira coisa que farei é tirar qualquer título que seu futuro marido
possa ter.

Entro no provador vendo um olhar abalado de India pela primeira


vez. Um olhar que me deixa claro que ela não cogitou isso e me faz sentir
satisfação.

Ela tem noção de que eu serei a pessoa que ela e Otávio colocaram
para esperar Kai Moreau na cama. Eu serei a pessoa que ele verá ao dormir e
acordar. O primeiro e o último rosto.

Se eu tiver a oportunidade de influenciar, eu não perderei a chance.

Saímos da boutique duas horas depois, indo direto para casa. India
agora é a pessoa que se mantém em silêncio. Nós duas sabemos como Kai
Moreau não é suscetível a manipulação, mas já ouvimos histórias das
mulheres mais velha sobre como uma mulher pode conseguir tudo do marido
sendo boa de cama.
Tenho certeza que esse é o pensamento que ronda a cabeça da minha
irmã, e que ela irá ligar para Otávio Moreau assim que tiver a oportunidade.

Não consigo apagar meu sorriso interno ao ver o espanto da perfeita


India Rivera.

Quando chegamos em casa notamos carros na entrada e homens que


não são da Filadélfia.

— Ainda faltava uma hora para ele chegar… — India murmura


baixinho.

Um frio sube pela minha espinha ao pensar na pessoa que me espera


dentro de casa. Um arrepio ruim e tendencioso que me faz ter vontade de
correr para o mais longe possível.

India me olha agradecendo por eu ter trocado de roupa na loja.


Substituído as roupas surradas pela blusa de mangas longas e gola alta preta,
juntamente com uma calça de alfaiataria bege.

Os olhos dela sobem pelo meu cabelo e ela respira calmamente. Ela
sempre julgou as ondulações do meu cabelo, dizia que eu parecia uma
selvagem. Por vezes, eu alisava meu cabelo, mas sempre o preferi com suas
ondulações naturais.

— Vamos entrar. Mamãe deve estar precisando de ajuda com a


preparação do jantar — diz India como se Rosélia cozinhasse.

Deixo que ela entre primeiro. Me preparo mentalmente para olhar


novamente para Kai Moreau e seu olhar sádico. O anel no meu dedo parece
pesar sempre que lembro da presença dele no meu dedo e é tão sufocante
como o fato dele ser a prova de que tenho um compromisso com Kai.

Entro na casa procurando manter minha calma e meu rosto sereno.


Não quero dar o gosto de mostrar nenhuma consternação, isso só alimentaria
a loucura de submissão de Kai.

— Graças a Deus, vocês chegaram! — Rosélia vem até nós com as


bochechas rosadas. Ela olha para mim — Ele quer ver você. Disse para levá-
la até ele assim que chegasse.

— Vou ficar sozinha com ele? — Pergunto temendo a resposta.

— Não é como se ele fosse fazer algo com você. Ele precisa dos
lençois manchados e já sabemos a espécie da qual você vem. Nós que temos
que te advertir a não tentar nada com ele — É Emília quem diz essas
palavras com uma expressão tão chateada que seus olhos verdes brilham.

Ignoro-a.

— Alev permitiu que ele ficasse a sós comigo? — Tento mais uma
vez.

Será que alguém pode impedir isso? Se eu ficar a sós com ele, ele
pode tentar mais que um beijo e eu não tenho o mínimo controle de não me
controlar e acabar machucando ele.

— Falando assim, parece que não tem confiança em mim para ficar a
sós comigo, Bella mia. Eu sou um cavalheiro.

A voz grave e profunda de Kai surge pela porta do jardim. Movo


meus olhos até ele, o vendo parado a porta do jardim com suas roupas pretas
e com a luz do final do dia o sombreando. Engulo a seco. A presença dele
causa um pressentimento estranho.

É como se tudo em mim ligasse os botões de perigo.

— Estamos na casa do seu pai, eu não ousaria fazer nada com você
aqui ou em outro lugar, sem estarmos casados — Ele sorri, se mantendo no
lugar.

Mentiroso.

Ele me beijou de maneira suja e tentaria mais que isso, se eu não


tivesse o impedindo com aquela caneta.

Ele ignora completamente as três mulheres ao meu redor e gesticula


com a cabeça para que eu o siga para o jardim.
Encontro o comando dos meus passos em segundos longos. Respiro
baixinho e caminho até ele, passando por ele e seguindo para o jardim.
Caminho para um dos bancos de madeira, perto da piscina e com vista para a
parte traseira da casa.

Um lugar seguro, onde tem os olhos de Alev, Rosélia e suas filhas.

Preciso de forças para me virar e olhar Kai Moreau me fitando com


um olhar que desconheço em um humano, mas se fosse em um animal, eu
apostaria tudo que seria predador.

Ele se demora olhando meu rosto sem emitir uma única palavra, seus
olhos descem rapidamente para minha mão esquerda onde se encontra o anel
e logo depois percorre todo meu corpo.

— Como você está, Bella mia?

Odeio a forma como ele me chama dessa forma. Sua voz me causa
sensações estranhas e tudo que mais quero dele é a distância.

— O que faz aqui tão cedo? O casamento é só daqui a três dias —


Questiono.

— É assim que recebe seu futuro marido? Não vejo nenhuma alegria
em seus olhos, minha querida. Me diga, sente tanta raiva assim de mim?

— O que quer comigo? — Pergunto.

Seus olhos pairam sobre mim, ele se empertiga.

— Vou levá-la para jantar, você pode escolher o restaurante. Vamos


negociar o que você me dará em troca de algo.

O olho confusa.

— Como assim? — questiono.

Ele puxa a respiração.


— Quero saber o que você deseja em troca de se entregar
completamente a mim, Marcella — Ele olha para o meu corpo, me
dissecando sem pudor — Quero seu corpo sem resistência e estou aqui para
te dar o que você quer em troca de me dar o seu corpo.

Fico muda diante das suas palavras ousadas. Minha vontade é de


esbofetear seu rosto e sumir da sua presença. Eu não sou uma mercadoria
para ele querer comprar assim.

— Venha, vamos jantar fora e quando terminarmos você pode chegar


a um pensamento — fala ao notar minha falta de reação.

Eu não espero sua permissão, simplesmente começo a caminhar para


o mais longe dele sentindo ele vindo atrás de mim. É como se eu estivesse
em um estado silencioso e desnorteado.
Alev nem mesmo oferece uma das minhas irmãs ou a esposa para nos
acompanhar nesse jantar. Ele apenas consente como se acreditasse que Kai
Moreau é um cordeiro que não fará nada comigo. Ele manda apenas um
homem dele.

Quando entro no carro junto a Kai, eu procuro respirar o mais


lentamente possível. É de tirar o fôlego estar em um espaço tão comprimido
com ele. E assustador. Percebo a forma como ele aperta o volante e olha de
soslaio para mim. Não consigo dizer nada.

— Tem algum restaurante que goste de ir? — Pergunta, sua voz


rouca e grave preenchendo o carro.

Aperto minha perna para conter meu nervosismo e ansiedade.


Estamos indo negociar o preço do meu corpo, só de pensar nisso sinto nojo
por toda essa situação.
Fico em silêncio diante da sua pergunta, incapaz de falar qualquer
coisa, ainda absorvendo o que ele me disse minutos atrás.

— Qualquer um está bom, então — Ele vira o volante entrando na


rua que leva aos melhores pontos da cidade.

Não me surpreendo nenhum pouco por ele ter escolhido o restaurante


mais famoso da Filadélfia. Assim que ele para o carro, eu retiro meu cinto e
saio do mesmo. Kai circula o carro, vindo na minha direção, eu o espero. O
mesmo me lança um sorriso antes de continuar andando em direção a
entrada do restaurante, eu o sigo, saindo da rua fria para o restaurante
aquecido.
Um garçom vem ao nosso encontro assim que entramos no salão.

— Uma mesa. — É tudo o que Kai diz. O garçom não hesita diante
do olhar e postura de Kai Moreau.

Somos levados até uma mesa apenas para duas pessoas. Sento na
minha cadeira procurando ao máximo não olhar para nenhuma pessoa aqui
dentro ou para o homem que me trouxe, até mesmo quando ele se senta na
minha frente. Os olhos sempre insistentes em mim.

— Você bebe alguma coisa? — Pergunta a mim. O garçom nos


entrega o cardápio e eu procuro focar minha atenção no que está nas minhas
mãos.

Não respondo a pergunta dele, ao invés disso olho para o garçom:

— Uma água com gás, por favor.

Mesmo não olhando diretamente para Kai, sei que ele esboçou um
sorrisinho. Alev sempre me disse para não encarar ninguém da máfia, pois
eles se sentiriam insultados. Por causa disso, aprendi a captar as reações sem
olhar diretamente.

Ele também pede água e o prato principal da noite. Quando o garçom


sai, o silêncio impera entre nós. Ergo meus olhos para ele, o olhando
diretamente pela primeira vez desde que o vi hoje. Os olhos são mais claros
do que imaginei, são quase de uma tonalidade de um dourado. Ele é bonito.

Muito bonito.

Por trás desse rosto e corpo lindo tem um monstro cruel que não
poupa nem mesmo crianças.

— Se continuar me olhando com esses olhos lindos, não vou


conseguir me controlar, Bella.

— O que quer me propor? — Pergunto, cortando o começo da sua


provocação.
Ele se empertiga.

— Na última vez que nos vimos, você me falou sobre querer fazer
uma especialização…

Balanço a cabeça, confirmando.

— Sim.

— Acredito que seja um pouco cômico você como advogada e minha


futura esposa — ele sorri — Advogada e esposa de um homem que quebra
as leis e não é punido… não é engraçado?

Respiro fundo, devagar. Me mantenho séria, o olhando da forma


mais fria que consigo.

— O que têm a me propor?

O sorriso dele cessa, deixando apenas os olhos brilhantes. Um brilho


de perigo que acende todas as alavancas de prudência em mim.

— Tem tomado o anticoncepcional? — Questiona.

— Sim.

— Isso significa que está se preparando para nossa primeira noite


juntos, que não irá resistir, certo?

Um sorriso amargo se forma nos meus lábios com o pensamento de


eu está me preparando para qualquer coisa com ele.

— Pelo contrário, eu estou tomando esse cuidado justamente para me


proteger de você. Eu não posso escapar da nossa primeira noite juntos, mas
não significa que irei me entregar de bom grado — Minhas palavras são
calmas — Você não irá me querer na sua cama por muito tempo quando
perceber que não vou passar de uma estátua.

Seus olhos brilham, ele se inclina um pouco na sua cadeira.


— Pretende se comportar como uma estátua na cama? — uma risada
curta sai dos seus lábios vermelhos — Não acho que conseguirá manter essa
pose por muito tempo. Não sou um homem sem experiência, sei muito bem
o que fazer com uma mulher na cama.

Mantenho meus olhos nos dele.

— Passei minha vida toda atuando, e dormir com você vai ser apenas
uma extensão. Mesmo que eu possa gostar, você nunca saberá. Sou muito
boa nas tarefas que me disponho a fazer.

Ele fica em silêncio, olhando para mim sem diversão alguma. Seus
olhos estão pelo meu rosto, descendo até onde consegue, ele se mexe
inquieto.

Eu o afeto.

De alguma forma, eu causo algo nele.

— Deixo você fazer sua especialização se isso significar não se


reprimir, me deixar te foder do jeito que eu quiser.

Cerro meus punhos. Uma espécie de raiva se enrola dentro de mim


com sua falta de respeito. Ele está me tratando como se eu fosse uma das
mulheres que ele deve estar acostumado a ter. Isso me enche de raiva.

— Você não pode usar isso contra mim, não vai funcionar. Será meu
marido, pode até mesmo me impedir de fazer uma especialização, me trancar
dentro de casa. Mas, se eu for arder em sofrimento, levarei você comigo.
Não estou à venda. Não vendo meu corpo pelos meus sonhos.

— Não acha que é uma troca justa? Afinal, nada vem de graça. Não
irei comprar seu corpo já que será minha esposa. Iremos apenas fazer uma
troca — Ele mantém o tom calmo.

— Troca? Acho que quis dizer "suborno". — Respiro fundo — Não


pretendo dormir com você depois da nossa primeira vez, será a única vez
que irei consentir. Se você tentar novamente, será contra minha vontade.
Uma expressão dura se apossa do seu rosto e ele me analisa como se
eu fosse um manual de instruções.

— Você pode ser feliz ao meu lado, não complique as coisas.


Estando ao meu lado terá respeito, um lar. Posso garantir que qualquer coisa
que passou como bastarda, não irá acontecer novamente sendo minha
esposa. Ninguém irá se atrever a desrespeitar você.

Baixo minha cabeça escondendo o sorriso sarcástico. Tudo que eu


queria era conseguir apagar meu passado, não viver como uma bastarda.
Mas, tudo que vou conseguir é ter o medo das pessoas por ser esposa de um
criminoso cruel e sádico.

— O preço pelo respeito não será nenhum pouco fácil. Nasci


bastarda e morrerei bastarda. A máfia é assim, por isso queria sair dela, mas,
ao invés de me deixarem sair, estão me casando com você para se livrarem
do erro ambulante do meu pai com uma mulher fora da organização —
Sorrio com amargura, levantando meu rosto para Kai — Não vou ter muita
escolha estando ao seu lado. Você é cruel, imbatível. Se for me forçar a me
deitar com você, não terei forças para lutar contra você.

— Posso tornar tudo prazeroso, e ainda te dá o que deseja. —


Sussurra, provocante.

Lembro claramente dele enforcando aquela mulher enquanto faziam


sexo.

— Eu desejo liberdade e uma vida fora dessa organização. Vai me


conceder isso?

Ele fica em silêncio, encontrando suas palavras logo depois.

— Você foi juramentada, assim como eu. Não existe saída desse
mundo. Entramos com vida, e não saímos. Eu quero você, Marcella. Quero
possuir cada pedaço do seu corpo, e estou disposto a pagar o preço que você
desejar por isso.

Sinto os pelos dos meus braços se arrepiarem com a forma como sua
voz me diz essas palavras. Algo desperta no meu íntimo com a presença do
desejo na voz de Kai. Algo que eu reprimo imediatamente.

— Eu não dou a chance às pessoas de me quebrarem. Mesmo


parecendo fraca fisicamente, minha mente é forte o bastante. Se me deixar
ter uma especialização, posso ajudar nos negócios legais da sua família.
Posso ser útil. Se não permitir, então encontrarei outra maneira de manter
minha cabeça no lugar.

Kai está confortável na cadeira, cada vez mais concentrado em me


olhar. Consigo ver seu esforço para encontrar algo que eu queira muito.

Estou sendo ousada com um homem como ele. Posso acabar bem
pior do que estou, mas se fui jogada a isso, não vou me render tão
facilmente.

O garçom traz o jantar e nós dois não nos falamos enquanto


comemos. Não sinto fome, mas procuro comer o quanto conseguir apenas
para não ter que falar com ele.

Quando entramos dentro do carro para ir embora, eu sinto a tensão


tomar conta do meu corpo. Estar com ele em um lugar com outras pessoas já
me causa ansiedade, mas está dentro de um lugar tão fechado e comprimido
como um carro me faz ficar sem ar. Eu simplesmente não sei o que é isso,
acredito que seja medo. Eu perco minha capacidade de lembrar como se
respira no momento que ele assume o banco ao meu lado.

Seu cheiro entra nas minhas narinas quando inspiro e isso faz meu
sangue correr mais depressa pelas minhas veias.

— Você é ousada, mas tem medo de mim pelo que vejo. Também
tem uma língua afiada — ele diz enquanto para o carro em um lugar deserto
minutos depois.

Percebo tarde demais que ele deixou seus homens para trás
justamente com o segurança de Alev. Provavelmente, ele planejou tudo isso

— O que está fazendo? — Pergunto colocando minha mão na


fechadura da porta do carro, pronta para abrir.
Ele apaga os farois e acende a luz interna do carro. Tento abrir a
porta do carro, mas está trancada. Um certo pânico aperta meu peito.

Kai se desfaz do seu cinto de segurança e se inclina na minha


direção. Me encosto na porta do carro, tentando ao máximo colocar
distância.

Seus olhos são felinos e o sorriso ameaçador. Sua mão vai até meu
rosto, os dedos tocam minha bochecha suavemente causando queimação no
lugar.

— Ninguém espera que terá sangue nos lençóis, posso possuir você
aqui mesmo e me saciar — ele sussurra. Por um motivo, sinto que ele está
falando consigo mesmo em voz alta.

Seu dedo desce até meus lábios assim como seus olhos.

— Posso possuir cada parte sua aqui e agora, e não serei punido.
Posso fazer qualquer coisa com você nesse carro e ninguém teria a
capacidade de me enfrentar — ele se inclina ainda mais até que seu rosto
esteja a pouquíssimos centímetros do meu.

Prendo minha respiração ao perceber ela fraquejar. Estou com medo,


mas não vou demonstrar. É isso que ele quer de mim.

Sua respiração calma sopra em meu rosto e eu fecho os olhos quando


ele sobe os dedos pelo meu cabelo, adentrando por trás e me causando
estremecimento.

Seus lábios quentes tocam minha bochecha e o terror de ser tomada


dentro desse carro me faz temer.

Ele pode facilmente arrancar minha virgindade aqui e agora. Pode


tirar de mim algo que eu guardei para mostrar que meu juramento foi fiel
durante todo o tempo que permaneci na organização.

Kai desce os lábios até meu queixo, abaixando a gola da minha blusa
com a mão para ter acesso ao meu pescoço. Minhas mãos estão paradas.
Não tenho chances contra ele, se eu o machucar, serei punida.

Quando percebo o primeiro tremor de medo no meu corpo, eu me


rendo.

Kai está me cheirando, explorando meu pescoço com seus lábios e


isso não é prazeroso. É aterrorizador. É uma honra que guardei para me
defender das calúnias e difamações.

— Essa blusa é justa, perfeita para que eu assuma qual o tamanho


dos seus seios… — Sua mão toca na lateral, o sutiã impede o toque direto no
meu seio, mas ele sente o volume do mesmo. — Se eu a cortar consigo
finalmente visualizar seus seios e me deliciar neles. O que acha? —Sussurra,
passando a língua pelo meu pescoço

Fecho meus olhos com mais força, procurando uma saída. Estou
repleta de medo, ansiedade e um sentimento que faz meu ventre pesar.

Só posso sair disso de uma maneira.

— Eu aceito ser sua mulher! — Digo com o máximo de esforço que


consigo.

Kai para o que está fazendo e ergue a cabeça na minha direção


lentamente. Os olhos acesos.

— É mesmo? — pergunta, presunçoso.

Balanço a cabeça, assentindo.

— Serei sua mulher. Mas tenho condições — Por favor, se afaste de


mim. Me deixe respirar.

— Condições? — Ergue a sobrancelha.

— A única forma de eu fazer sexo sem proteção com você, como


deseja, é que pare de encontrar outras mulheres. Não quero ser humilhada
deitando com um homem que possui diversas mulheres. Se aceitar isso, e me
deixar ter uma especialização… Eu serei sua.
Ele se afasta um pouco mais. Solto minha respiração devagar,
recobrando um pouco mais de raciocínio.

— Se não concordar com a primeira parte, me fará usar camisinha?


— Ele ri — Sabe que eu posso te reivindicar como eu quiser, não é? Você é
ingênua se acha que usarei camisinha para foder minha esposa.

Respire, Marcella.

— Já que não concorda, então me tenha aqui e agora e depois me


mate. Se você não me matar, eu mesma farei isso. Não vou ser possuída
como um animal e deixar isso se repetir por duas vezes. Não me quebro
facilmente porque estou disposta a morrer, se isso for me permitir ser fiel a
mim mesma. Prefiro morrer, a qualquer outra coisa.

Deixo que ele veja a verdade nos meus olhos. Não me importo com a
aproximação de nós dois nesse momento. Só quero que ele veja.

— Não fodo com nenhuma mulher sem camisinha e faço exames


regularmente. Eu estou limpo. — Esclarece.

Quero que ele desista de querer me ter, então usarei algo que ele não
será capaz de abrir mão.

— Se for me ter e ter outras mulheres, também usará proteção


comigo, e eu não serei receptiva como elas. A única forma de você ter
qualquer colaboração da minha parte na cama, é tendo só a mim como
parceira sexual. Se não concorda, então seguimos o que eu disse no
restaurante sobre ser sua apenas na primeira noite. Você também pode me
possuir aqui e agora, mas garanto que ao invés de uma festa de casamento,
você terá uma cerimônia fúnebre para comparecer.

Ele repuxa os lábios em um sorriso de desafio. Seus olhos assumem


um brilho diferente que não sou capaz de descrever. Mas, ele se afasta o
bastante de mim.

— Espero que se prepare o bastante para mim, Bella. Eu terei você


de formas que nem consegue imaginar.
Ele toca meu rosto e sorri com uma certa crueldade. E eu sinto como
se tivesse feito um acordo com um demônio.
Três dias se passam rapidamente, e antes que eu possa encontrar uma
salvação, o dia do meu casamento chega. Rosélia precisou me dar um
comprimido para dormir quando percebeu que eu não iria conseguir pegar
no sono voluntariamente.

Começo ser preparada para o casamento às oito da manhã. Alexa e


Rosélia entram no meu quarto para gerenciar tudo. Me dão apenas frutas no
café da manhã e me limita a quantidade de água que devo tomar, para não
correr o risco de eu querer ir ao banheiro enquanto estiver com meu vestido
de noiva.

Deixo minha mente vagar enquanto as criadas me dão banho na


banheira, esfoliam minha pele e me depilam. É como se eu conseguisse não
sentir nada além de um peso na minha cabeça. Estou sendo preparada para o
meu destino, o qual ficarei presa, mas já busquei tantas formas de escapar
disso que simplesmente não consigo mais pensar em nada. Deixo que me
preparem, que falem comigo enquanto eu não emito nenhum som.

Os poucos minutos que fico sozinha, eu me pego observando o


jardim preparado para a recepção. Está decorado com mesas brancas para
cada família e as comidas irão decorar uma mesa enorme. Olho para o bolo
de cinco andares que India escolheu: branco e com rosas vermelhas.

Os doces são uma réplica da decoração do bolo.

É uma festa e tanto. Deve ter custado muito caro, mas com certeza
não saiu do bolso de Alev. Ele nunca daria uma festa dessa para sua filha
bastarda. É os Moreau que estão custeando tudo.
— Está nervosa, senhorita? — Olho para trás, encontrando Justine.
Uma das criadas de Alev que mais sou próxima na casa. E a qual evito
quando Alev está por perto, pelo simples fato dele querer machucá-la se
perceber o quanto ela é preciosa para mim.

Ela tem 45 anos e é minha fonte de informações, e a pessoa que ficou


responsável por cuidar de mim desde o dia que cheguei nessa casa ainda
recém-nascida.

— Justine, como entrou aqui? — Me apresso em perguntar, com


medo de que alguém ouse destratar ela na minha frente.

Seus olhos castanhos são ansiosos, ela caminha na minha direção,


tirando algo do seu avental.

— Tente fazer seu marido beber isso. É um alucinógeno com uma


capacidade limitada. Vai fazer ele ter uma sensação de que terão dormido
juntos quando acordar.

Olho para o pequeno pacote de plástico na sua mão direcionada a


mim.

— Onde conseguiu isso? — Pergunto, sentindo uma esperança


repentina.

Ela coloca sobre minha palma, fechando meus dedos sobre esse
pequeno pacote com um pó branco.

— Não seja pega, menina. Use isso e forje a mancha de sangue. Não
uma mancha de sangue exagerada ou muito vermelha. Você já viu uma
demonstração de lençois antes, conseguirá reproduzir algo parecido.

Ela está nervosa, suas mãos estão trêmulas. Olho para Justine
encontrando seus olhos. Mesmo com medo, ela veio até aqui arriscando
tudo. Isso aciona as emoções que estavam dormentes desde a hora que
acordei.

— Se optar por não usar, então tente fazer algo por si mesma. Ouvi
rumores das coisas que seu futuro marido faz com as amantes. É sádico. Por
favor, se não conseguir colocar na bebida dele, então coloque na sua. Se
você estiver muito tensa, essa droga será como um entorpecente. — Ela me
olha com compaixão — É tudo o que posso fazer por você, menina.

Meus olhos enchem com lágrimas. Tenho vontade de implorar a ela


para me levar daqui. Chorar como eu fazia quando era uma criança e queria
que ela me levasse para o mercado com ela.

Abraço Justine, engolindo minhas lágrimas e me apegando ao calor


que me englobou durante meus 20 anos.

— Obrigada, Justine. Obrigada por tudo. Por favor, vá antes que um


deles entre nesse quarto.

Com esforço e drenando minhas lágrimas, eu me afasto dela olhando


para seus olhos pequenos uma última vez. Ela se deixa olhar para mim como
se fosse a última vez, com um consentimento, ela se vai e eu fico para trás
com meu destino preste a ser realizado.

Olho para droga na minha mão e a escondo dentro do vestido de


noiva. Presa com uma fita na parte interna da saia. Preciso manter isso perto
de mim.

Alexa entra no quarto perto das 14:20 da tarde, ela está com um
sorriso gentil de sempre e eu me pergunto como ela pode ser gentil, é casada
com Ivo Moreau, o Capo que mais adora torturas e violência.

Será que ele não a maltrata?

— O cabeleireiro e o maquiador irão subir para cuidar de você. —


Ela se aproxima de mim — Está nervosa, não é?

Não estou nervosa. Estou apavorada. Se esse casamento acontecer,


eu não vou conseguir sair da organização. Os casais formados na máfia são
unidos com a certeza de que terão que passar o resto dos dias juntos. Não
existe divórcio na máfia. Não importa como seja a relação do casal.

Eu vou perder minha liberdade.


— A senhora também foi dada ao seu marido? — Pergunto.

Ela nega mantendo um sorriso gentil.

— Não. Ivo e eu nos apaixonamos e ele pediu minha mão. Eu sempre


fui da Camorra, foi por ela que nos conhecemos.

Não consigo acreditar que um monstro como Ivo possa ter se


apaixonado, então eu simplesmente faço um aceno com a cabeça.

O cabeleireiro e o maquiador entram no quarto junto a Rosélia. Ela


escolhe meu penteado: um coque firme que esconde as ondulações do meu
cabelo e dará suporte ao véu com uma cauda grande, e cobre meu rosto. O
tradicional véu blusher.

Entrar no vestido de noiva é o último passo. O vestido de organza.


Ele realça minha aparência, molda meu corpo e me faz parecer o ser mais
inocente que alguém já viu.

Não me reconheço diante da visão que vejo no espelho. Vestida de


branco da cabeça aos pés para ser entregue ao destino que não posso evitar.
Sempre que pensar na minha liberdade, vou me lembrar dessa imagem que
vejo e então saberei que a última roupa que vestir antes de me tornar uma
Moreau foi um maldito vestido de noiva.

— Você está tão linda! — Alexa sorriu, me entregando um buquê de


flores silvestres.

Foi Alexa que me deu os brincos de ouro que estou usando também.
Ela praticamente está agindo como minha mãe, e eu não entendo seu
empenho. Rosélia foge sempre que consegue e não procura comentar sobre
nada. Será ela que estará no altar, a quem vou entregar meu buquê…? Algo
que eu deveria fazer com minha mãe biológica. Sei que isso foi muito
discutido, Rosélia provavelmente não quis passar por essa humilhação visto
que não sou filha dela.

Alev deve ter a persuadido falando que seria um ato de demonstrar a


todos que ela me criou como filha dela e manteve a família unida. Ela
continuará sendo vista como uma boa mulher… algo que ela não é.
Seu interesse é se tornar conhecida como a sogra da esposa do futuro
Capo.

Desço os degraus das escadas de casa com ajuda de India, e duas


criadas. Alexa, Rosélia e Emília já partiram para a igreja.

Alev não demonstrar emoção quando me ver vestida assim. Não tem
emoção alguma da parte de ninguém desde o momento que entro no carro e
o mesmo para em frente à igreja.

O nervosismo avassalador parece querer me devorar. Minhas mãos


estão trêmulas segurando esse buquê.

Saio do carro até a porta da igreja, India ajeita a saia do meu vestido
e o véu.

Ela está elegante, como sempre. E divina em um vestido creme claro


que deixa seus olhos ainda mais brilhantes. Isso tudo é culpa dela, mas ela
ainda sorri diante de tudo, e na minha frente.

— Coloque uma expressão no rosto mais suave, Marcella. Parece que


está prestes a atacar alguém com esse olhar — Diz India.

— Se você sair de perto de mim, talvez eu mude. Esse olhar é


direcionado a você. — Desvio meus olhos dela.

— Chega de drama, Marcella. Hoje você vai se tornar uma Moreau.


Em breve, India também. Nosso poder e influência vão aumentar ainda mais.
Se comporte o suficiente e eu mantenho sua mãe e a família dela segura. —
Alev surge ao meu lado, colocando meu braço esquerdo entrelaçado ao seu.

Eu nunca tive uma aproximação com ele, nunca o toquei. Essa é a


primeira vez. Ele está radiante com toda sua cobiça por poder tão perto de
ser realizada ao colocar duas das suas filhas na Camorra. Me entregando ao
sádico.

India entra e eu encaro a porta enorme da igreja católica da


Filadélfia.
Me vejo apertando o braço de Alev, mas ele não se importa ou finge
não se importar. Quando as portas se abrem, o pânico me predomina e eu
congelo ao ouvir a marcha nupcial.

Sinto como se andar fosse perigoso.

Olho para dentro vendo diversos convidados e Kai no altar com uma
postura ereta e com um terno preto.

— Pense na sua mãe se sufocando com o próprio sangue se você não


conseguir caminhar até o altar — Alev sussurra — Matarei ela na sua frente
e farei você ser presa como a responsável pela morte dela.

Aperto o buquê na minha mão e dou meu primeiro passo, seguido de


outro e outro. Não olho na direção de ninguém, mantenho meus olhos no
chão por baixo do véu.

Continuo caminhando segurada ao braço de Alev até o momento que


chegamos ao altar. Alev passa minha mão para Kai e eu entrego o buquê
para Rosélia. Ergo meu rosto para Kai, absorvendo sua beleza nesse terno
escuro e o cabelo para trás.

Sua cicatriz rosada está em destaque juntamente com seus olhos


âmbar.

Nós dois nos posicionamos diante do padre ouvindo o som das


pessoas se sentando. No momento que a cerimônia começa, eu sinto vontade
de me desligar de tudo, aplacar minha ansiedade dentro de mim.

Me sinto na beira de um ataque de nervos, minhas mãos não param


de tremer e a cada minuto que o padre profere as palavras, é como se eu
estivesse levando um tapa.

— Você aceita Marcella Rivera como sua legítima esposa,


prometendo amá-la e respeitá-la até o dia da sua morte? — O padre pergunta
a Kai.

Estamos de frente um ao outro, ele mantém os olhos em mim como


um falcão. Um divertimento brilha no seu olhar.
— Sim, eu aceito — Sua voz grave e profunda faz com que eu sinta o
choque pela minha espinha.

O padre se vira na minha direção.

— Você aceita Kai Moreau como seu legítimo esposo, prometendo


amá-lo e respeitá-lo, até o dia da sua morte?

Não.

Percebo o silêncio ao meu redor, os olhos de Kai em mim e sua mão


na minha. Ele tem um olhar de desafio no rosto e vejo claramente minha
falta de saída da situação. Ao dizer o sim, eu não vou poder voltar atrás.
Meus olhos estão no dele, minha mão sobre a dele treme e eu sei que ele
percebe minha hesitação e desespero, mas tudo que ele faz é apertar minha
mão como um aviso.

Olho para cima e encontro o olhar de Alev.

Tenho certeza que ele tem mantido minha mãe presa a ele, pronto
para cumprir sua ameaça a mim. Alev não blefa.

— Sim — as palavras saem com dificuldade da minha boca.

Uma menina loira se aproxima de nós dois com as alianças. Kai


segura a aliança dourada e fina com suas iniciais gravadas.

Segurando minha mão esquerda, ele repete as palavras do padre


enquanto escorrega o anel pelo meu anelar.

— Prometo estar contigo na alegria e na tristeza, na saúde e na


doença, na riqueza e na pobreza, amando-te, respeitando-te e sendo-te fiel
em todos os dias de minha vida, até que a morte nos separe. Receba esta
aliança como sinal do meu amor e da minha fidelidade.

Amor? Fidelidade? Tudo isso não passa de absurdos. Essa aliança


representa minha alma presa a esse homem, minha liberdade tirada de mim.
Pego a aliança dele do mesmo modelo da minha. Repito as palavras
em tom baixo e forçado enquanto escorrego o anel pelo dedo dele.

— Em nome do pai, do filho e espírito santo, eu os declaro marido e


mulher. Pode beijar a noiva — Finaliza o padre.

Kai tem um sorriso no canto dos lábios, ele ergue o véu e toca minha
bochecha suavemente. Eu me arrepio e prendo a respiração. Ele é muito
mais alto do que eu, até mesmo de salto alto é ridículo como pareço tão
pequena diante dele.

Ele se inclina na minha direção, segurando meu rosto com uma mão.
Seu nariz toca o meu e eu fecho os olhos até que sinto seus lábios carnudos e
fortes sobre os meus.

Ele move seus lábios suavemente sobre os meus enquanto seu dedo
escova minha bochecha. Diferente da última vez que nos beijamos, esse é
gentil e me faz ter um pensamento de que ele quer mostrar algo a mim, mas
não faço ideia do que seja.

Uma salva de palmas ecoou pela igreja quando nos separamos. Volto
a respirar enquanto Kai tem um sorriso nos lábios e uma expressão de
vitória. Seus pais vem nos cumprimentar junto a Alev e Rosélia. Ivo faz
pouco caso, apenas um maneio de cabeça na minha direção. A única pessoa
a me abraçar é a Alexa.

Caminho para fora da igreja segurando o braço direito de Kai


enquanto seguro o buquê com minha mão livre. Chuva de arroz recai sobre
nós dois na saída até o carro, e quando finalmente entramos nele, eu percebo
o motivo do beijo suave de Kai.

Ele queria que alguém visse.

Nikolai estava assistindo a cerimônia, constato ao perceber um dos


homens dele em um carro na frente do nosso.

Meu coração gela. Ele não pode estar aqui. Se ele for pego, será
morto pela Camorra.
— O que é esse desespero nos seus olhos bonitos, Bella? — Kai
pergunta ao meu lado com sua voz profunda.

Ele sabe que Nikolai esteve presente na cerimônia, por que ele não
está fazendo nada?

Respiro fundo.

— Está ao seu lado me causa isso — respondo o fazendo rir.

— Espere até a noite, então. Você vai está desesperada para eu entrar
dentro de você, esposa.

Desvio meus olhos, lembrando do pó embaixo da saia do vestido.


Talvez, eu não consiga dar isso a ele, mas ainda posso tomar.

Chegamos na recepção sobre olhares e sorrisos. Kai solta do carro


oferecendo sua mão para me ajudar, seguro sua palma grande e bruta
enquanto uso minha outra mão para segurar o véu longo.

Somos aplaudidos e recebemos felicitações enquanto passamos pelas


pessoas até a mesa onde sentaremos ao lado dos nossos pais.

Uma mesa reta para os convidados cumprimentar e nos mostrar os


presentes para o futuro Capo. O assento de Ivo está no meio, o de Otávio ao
seu lado direito, juntamente com Kai, eu estou ao lado do meu marido.

Na direção oposta do meu pai. Não sou mais propriedade dele.

Assim que me sento deixo meus olhos passearem por todos os rostos
que tenho no meu campo de visão. Vejo membros das cinco organizações:
Camorra, Famiglia, Ndrangheta, Cartel e La Santa.

Os membros da La Santa são os mais tradicionais da família e estão


aqui para ver se os lençois terão meu sangue, provando minha virtude. Os
membros costumam casar as meninas um ano depois da menarca.

As cinco maiores famílias da Cosa Nostra estão aqui para


testemunhar uma bastarda e um futuro Capo.
Juntas em um início de noite.

A Camorra é a mais forte e rica. A Camorra e a Ndrangheta são


próximas por virem da mesma região da Itália. A Ndrangheta era a mais
poderosa até ser ofuscada pela Camorra quando Ivo surgiu como Capo.

Um homem alto, moreno e com uma tatuagem subindo pela gola da


camiseta social se aproxima. Ele é forte como Kai, e tem um olhar sério, mas
ele sorri quando se coloca na minha frente.

— Sou Jace, senhora. Braço direito do Sottocapo. Será uma honra


servi-la no que desejar.

Sua postura é rígida, ele tem um tom debochado na voz e me olha


com uma certa diversão. O que percebo imediatamente quando ele fala, é o
sotaque russo.

— Isso foi muito civilizado, Jace — Kai diz ao meu lado, brincando
com um copo de conhaque — Não a bajule muito, ela detesta isso — Olha
para mim: — Não é, Bella mia?

Odeio o arrepio que percorre meu corpo quando ele se refere a mim
dessa forma. Olho para esse tal Jace com o mesmo olhar debochado que ele
olha para mim.

— Boa sorte tentando me agradar, nem seu senhor conseguirá isso —


digo baixinho para mim mesma.

Kai mantém os olhos em mim e eu procuro não prestar atenção em


nada referente a ele. O sol desaparece rápido e o jardim é iluminado com as
luzes amarelas.

O jantar vai sendo servido, mas os homens parecem interessados em


beber, inclusive Kai que está rindo e ouvindo os homens. Ele já saiu da mesa
e está ao lado do seu braço direito sendo um ótimo anfitrião.

Observo seu copo ao meu lado, me decidindo o que fazer. Ele não é
estúpido. Se eu o drogar, ele saberá e eu não sei o que é capaz de fazer. Se eu
usar em mim, ele poderá me violentar…
Mesmo que ele me possua inconsciente, ele me procurará outra vez e
eu não conseguirei encontrar mais nenhuma saída. Justine também pode
correr perigo se ele descobrir que conseguir uma droga. Com certeza ele não
pouparia esforços e brutalidade para descobrir quem me forneceu.

A música, o falatório e o som dos talheres raspando os pratos são


altos. Ivo está em uma conversa longa com o líder da Ndrangheta. India
conversa com outras mulheres da organização enquanto eu permaneço
sentada, sem conseguir comer nada que colocam na minha frente.

Ninguém vem falar comigo e eu agradeço por isso. Para eles sou uma
bastarda insignificante, mas eles também não podem me ofender. Se fizerem
isso, estarão ofendendo a família Moreau.

Levanto da mesa apenas para retirar meu véu e respirar um pouco.


No meu caminho de volta à mesa, uma ruiva se projeta na minha frente. Ela
é alta, magra e muito bonita. Os olhos são de um azul escuro e o cabelo
longo é muito bem escovado.

Ela sorri e eu reconheço imediatamente de onde conheço esse cabelo.

— Sou Evangeline Santini. É um prazer conhecê-la — seu sorriso


revela dentes alinhados e muito brancos.

Ela parece ter a mesma idade de Kai. E é casada. A vendo de perto


consigo lembrar dela com o marido na noite do encontro entre as famílias.
Ela deve ser mais velha que Kai, seu marido é um soldado da Camorra.

A amante de Kai.

— Acho que já a vi em algum lugar, mas não consigo me lembrar


onde — minto olhando para ela. Seu sorriso não vacila e eu percebo uma
alta confiança vindo dela.

— Eu nunca a tinha visto, é a primeira vez. É uma jovem muito


bonita.

— Obrigada — agradeço.
Ela se aproxima um pouco de mim, como se para tirar alguma sujeira
do meu ombro, mas é apenas para sussurrar no meu ouvido.

— Vou rezar para ele não a machucar demais hoje à noite. Kai é
selvagem e acredito que faz uma década desde que ele teve uma virgem. Se
você quiser, posso tentar falar com ele para ser gentil…

Antes que eu possa responder a altura quando ela se afasta, com um


sorriso satisfeito, Kai surge ao meu lado com um olhar frio e cauteloso. Ele
olha da sua amante para mim.

— Está tudo bem? — pergunta ele.

— Sim, tudo ótimo! Eu estava falando o quão adorável ela é. Desejo


um casamento feliz a vocês dois! — A ruiva sorri amplamente.

Kai olha para mim.

— Está na hora da nossa dança — informa.

Ele segura minha mão e me leva até a pista de dança. Gostaria de


dizer que as palavras daquela mulher não tiveram efeito sobre mim, mas
aumentaram o certo pânico dentro de mim.

— Sua mão está fria e você está pálida — Kai comenta tomando
minha mão e colocando a sua outra mão na minha cintura.

Todos pararam para nos ver dançar, e assim que os músicos tocam a
primeira música, nós dois começamos a nos mover.

— Devo estar com a pressão baixa. Não me alimentei muito bem


hoje e não bebi muita água — Digo enquanto ele me roda em seus braços.

— Se alimente bem. Não a quero desmaiada na nossa primeira noite,


estou ansioso para reivindicá-la, Marcella — seu tom é extremamente
profundo.

Sua voz misturada à proximidade dos nossos corpos me faz


estremecer. Ter ele me tocando, meu peito pressionado contra seu corpo
forte… isso não é um bom sinal, deve ser por isso que meu corpo está
estremecendo dessa forma e causando arrepios em mim.

— Você está tão linda de noiva que cheguei a cogitar não rasgar esse
vestido de você, mas é inevitável não rasgar. Estou louco para ver cada
pedacinho do seu corpo e descobrir até onde posso encontrar seus sinais de
nascença. — Sussurra no meu ouvido e eu me arrepio.

Evito olhar nos olhos dele, não quero demonstrar o turbilhão de


emoções nos meus olhos que divergem entre desespero e um medo
avassalador.

Não consigo falar nada, minha boca está seca e uma bola parece ter
se formado na minha garganta. Danço com Kai, Alev, e por último, danço
com Ivo.

Antes mesmo do bolo ser cortado os homens começam a gritar.

— Leve ela para o quarto!

— Vão consumir o casamento!

São vozes gritantes e eufóricas.

Kai vem na minha direção com um sorriso e eu congelo. Seus olhos


estão brilhantes e seus lábios demonstram uma ousadia que me faz ter
certeza que ele não pegará leve comigo.

Por alguma razão, meus olhos se encontram com o de Emília. Ela


está ao lado do seu noivo com uma expressão raivosa.

Kai estende a mão na minha direção e seu sorriso sádico me faz suar
frio.

Minhas mãos tremem e eu perco meu fôlego diante da gritaria dos


homens mandando Kai me levar para o quarto.

Preciso de vários segundos puxando a respiração para mover minhas


pernas, não seguro a mão de Kai. Seguro a saia do meu vestido e subo as
escadas, em direção ao andar de cima.
Caminho na frente de Kai ouvindo meu coração batendo forte ao
ponto de ressoar nos meus ouvidos. Minhas mãos estão suando frio e meu
corpo parece dormente, não sei como continuo caminhando, mas continuo
até chegar a porta do quarto. Eu olho para a mesma sem me mover,
prendendo a respiração.

Kai se aproxima, girando a maçaneta e abrindo a porta


completamente, revelando um quarto a meia luz com uma cama grande
forrada com lençois brancos.

— Primeiro a minha dama… — Gesticula para que eu entre.

Não o olho. Olhar para ele estando assim é deixá-lo ver o medo em
meus olhos. Ver o quão vulnerável eu estou e o quanto ele pode conseguir de
mim estando dessa forma. Seguro com força a saia do meu vestido de noiva
e entro no quarto indo para o meio dele.

Fecho meus olhos e inspiro ouvindo Kai atrás de mim, fechando a


porta e parando a poucos passos atrás de mim.

Respiro. Respiro. Respiro.

Não tenha medo. Você consegue passar por isso.

— Enfim, sozinhos… — A voz profunda e baixa de Kai ressoa atrás


de mim, levantando uma onda de arrepios pela minha pele.

Permaneço parada de costas para ele, apertando minha saia e


ordenando meu corpo a parar de tremer.
As duas mãos dele pousaram sobre minha cintura e ele cola seu peito
nas minhas costas. Seus lábios beija o início do meu pescoço e eu fecho
meus olhos com ainda mais força.

— Não gosto do seu cabelo preso assim, ele esconde as ondulações


perfeitas que esses fios possuem.

Sua mão sobe para o meu cabelo, encontrando os grampos que o


prende. Ele retira um por um, até meu cabelo cair solto pelas minhas costas.
O sinto cheirando meu cabelo como um maníaco que ele é.

Minha pele está completamente arrepiada e quando ele me vira pela


cintura para que eu olhe para ele, deixo que ele veja a dureza em meus olhos
e a indiferença. Mesmo que não seja isso que ele veja, não importa. Estou à
sua mercê. Se eu gritar, ninguém virá. Qualquer tipo de pedido de ajuda será
em vão. O que está por vir é inevitável.

Kai olha em meus olhos e a tonalidade âmbar parece escura com tão
pouca luz. Sua mão sobe até meu rosto e ele escova minha bochecha,
mantendo os olhos em mim.

No momento que ele se inclina para me beijar, eu desvio meu rosto


para o lado, sentindo sua respiração soprar na minha bochecha.

— Não minha boca. Não quero seus beijos — Digo com minha voz
saindo clara o bastante para ele ouvir com autoridade.

Ele agarra meu queixo e me faz olhar para ele, sua expressão não é
nada amistosa.

— Por que? Você deseja o beijo de outro homem?

— Eu só não quero a sua boca sádica na minha. Pode ter tudo de


mim, mas em nenhum momento terá um beijo meu.

Ele sorri com sua forma sádica e desce a mão até meu pescoço,
apertando suavemente.
— Você disse que iria colaborar, mas neste momento estou tão louco
para te possuir que não vou me importar com sua colaboração — Ele segura
minha mão e a coloca sobre sua virilha.

Arregalo os olhos involuntariamente ao sentir a rigidez e tamanho do


que sinto contra minha mão. Meu rosto esquenta e eu luto para tirar minha
mão do seu pênis, mas ele mantém minha mão lá e um gemido sai da sua
boca quando movimento a mão na tentativa de tirar ela do seu membro.

— Seu… — Me falta palavra diante da sua expressão de prazer.

Me mantenho imóvel, com as bochechas queimando e minha mão


onde ele colocou. Minha respiração parece está saindo parcelada e baixa de
dentro de mim. Kai me olha com sede, fome. Os olhos demonstrando uma
necessidade pelo meu toque.

Algo pesa no meu ventre. Como se uma pedra fosse colocada nele e
minha intimidade formiga.

Kai pressiona minha mão sobre sua ereção, a movimentando. Ele


morde os lábios e fecha os olhos soltando um gemido dolorido que faz um
frio percorrer minha espinha.

Sua expressão, esse gemido… não entendo porque isso me paralisa e


me faz querer mais. Eu não posso sucumbir a isso.

Puxo a minha mão e dou um passo para trás, Kai avança na minha
direção e eu o paro colocando minhas mãos no seu peito forte. Seus olhos
estão demonstrando uma fome que agora está me causando um certo medo.

— Me deixe tirar esse vestido — Peço em um fio de voz, tentando


ganhar alguns minutos.

Kai agarra as alças do vestido, tirando um grito surdo de mim quando


ele simplesmente rasga o tecido, como um animal de força sobrenatural.

— Vou tirar para você, Bella mia — Sua voz profunda está
levemente afetada.
— Por favor, me dê alguns minutos. — Peço com a garganta seca —
Preciso usar a camisola que as mulheres da família separaram.

A menção a camisola faz ele frear. Seus olhos dourados parecem em


chamas.

— Você tem dez minutos. Nada mais que isso, ouviu?

Balanço a cabeça e seguro a saia do meu vestido, caminho até o


banheiro fechando a porta do mesmo com as mãos trêmulas. Me seguro na
pia do banheiro com a respiração acelerada. Ergo meus olhos para o espelho
encontrando meu cabelo solto com as ondulações assanhadas. As mangas do
vestido estão em frangalhos.

Meu rosto ainda está vermelho e eu não consigo controlar meus


pensamentos e a sensação da rigidez de Kai na minha mão. Sua expressão e
gemidos me causam uma sensação de eletricidade inexplicável. Não faço
ideia do que está acontecendo comigo.

Encaro meu reflexo no espelho enquanto controlo minha respiração.

— Só preciso deixar ele consumir o que desejar do meu corpo.


Amanhã será outro dia. Seja forte, Marcella. Não vou deixar nenhum outro
sentimento me invadir — Digo a mim mesma enquanto respiro devagar.

Retiro o vestido de noiva encontrando a camisola. Tenho um choque


ao perceber que se trata de um pedaço de pano de seda branca extremamente
escandaloso.

Não penso sobre como vou parecer, eu apenas a visto sem me olhar
como fico com ela. O tecido só cobre até quase metade da minha bunda.

Controlo o pânico que está prestes a irromper por mim quando toco a
maçaneta.

Eu consigo. Já fui rasgada por lâminas. Já fui espancada. Isso só vai


somar a lista. Apenas mais um item.
Abro a porta e encontro Kai completamente nu e ereto perto da cama.
Meus olhos percorrem suas coxas malhadas com cicatrizes de cortes
profundos. Subo os olhos pelo seu tronco encontrando uma barriga
musculosa e um peito largo fechado de tatuagem e… marcas de
queimadura? Não apenas uma. São no máximo cinco.

Não tenho muito tempo para admirar o corpo esculpido porque os


olhos de Kai são insistentes pelo meu corpo. Principalmente nas minhas
pernas e seios. Sinto vontade de me cobrir, mas antes que eu pense nisso, ele
se aproxima de mim.

— Inferno, como vou pegar leve com você se é tão linda e tentadora?
— Rosna colocando suas mãos no meu corpo, seu nariz vem até meu
pescoço — Não sei se vou conseguir ir devagar.

Seu corpo nu me tocando me traz uma sensação desconhecida, algo


me que me faz querer mais proximidade e contato.

Kai me ergue em seus braços sem nenhuma dificuldade e me coloca


na cama. Perco a respiração ao perceber que ele virá por cima de mim logo
em seguida.

Ele abre minhas pernas, erguendo meus joelhos e segurando meus


tornozelos. Um suspiro assustado sai de mim e eu ergo minha cabeça o
encontrando admirando minha intimidade. Tento fechar as pernas, mas seu
aperto nos meus tornozelos é forte.

Sua língua lambe seu lábio e seus olhos parecem chamas


incendiárias.

— O que vai fazer? — Pergunto assustada quando ele coloca a


cabeça entre minhas pernas.

— Vou provar seu gosto.

O pânico me toma. Assumo minha postura de defesa e o chuto nos


ombros, desestabilizando ele com um golpe surpresa. Suas mãos me
soltaram e eu ainda consegui me virar para sair, antes dele me agarrar pelo
cabelo e me colocar na cama novamente, dessa vez, de bruços. Ele agarra
meu cabelo com tanta força que meu couro cabeludo queima, e a força como
ele pressiona meu rosto contra o travesseiro me faz soltar um gemido de dor.

— Você parece um cavalo selvagem, Marcella. Se for preciso que eu


te dome para te possuir, pode ter certeza que vou usar todas as ferramentas
possíveis para te deixar mansa — Ruge. Seu corpo se debruça atrás do meu.

Sua ereção é tão dura contra minhas costas que eu chego a pensar
que seja uma madeira que ele esteja pressionando no local. O tamanho e
grossura me causa pânico, ele vai me machucar.

— Me solte! — Ordeno e ele aperta mais seu aperto na raiz do meu


cabelo, arrancando um barulho de dor de mim.

Seus dedos estão firmes e sua outra mão segurando meu quadril.

— Que bela bunda você tem, querida. Umas palmadas deixarão ela
bem vermelha, hum? — Sua voz é um rosnado.

Sinto seus lábios beijar minha bunda e passar a língua pela mesma.
Tento relutar contra a sensação que sobe pelo meu corpo, mas é impossível
não sentir meu corpo reagindo a isso.

Ainda segurando meu cabelo, ele me aprecia por trás, beijando


minhas costas, mordendo e lambendo. Aperto os lençois em busca de alívio
para a tensão que começa a pesar no meu ventre.

Kai me vira, soltando meu cabelo e ficando por cima de mim. Seus
olhos são selvagens e a tatuagem de um dragão cuspindo fogo no seu
peitoral largo parece assustadora.
Ele retira a camisola sem cerimônia ou gentileza. Não tem nada de
gentil no que ele está fazendo comigo. Meus seios ficam expostos e os olhos
de Kai vão até eles, tento me cobrir com meus braços, mas ele os segura.

Um sorriso de satisfação se forma nos seus lábios.

— Está excitada, meu bem — Afirma com um gosto de vitória nas


palavras ao observar meus mamilos enrijecidos.
Tento me debater, mas isso só o faz me prender com mais força.

— Não lute contra seu corpo, Bella. Ele me quer — ele circula o meu
mamilo enrijecido com o dedo, causando uma certa eletricidade pelo meu
corpo, logo depois ele desce a mão até chegar no meu monte de Vênus — Se
eu for mais pra baixo, vou encontrar uma umidade deliciosa esperando por
mim? — pergunta.

Quero dizer que não, mas algo em mim está reagindo a ele. Kai se
deita sobre meu corpo tirando um suspiro longo de mim. Uma das suas mãos
prende as minhas sobre a cabeça e meu corpo está à mercê dele.

Ele trilha beijos molhados pelo meu pescoço e aperta meu seio
esquerdo com uma mão, enquanto desce a boca e captura meu mamilo
direito.

A sensação que isso me causa me faz erguer os joelhos e deixar Kai


acomodado entre minhas pernas. Seus quadris bem posicionados e sua
ereção me cutucando. Ele chupa com ainda mais força meu bico tornando
quase impossível para mim não emitir nenhum gemido. Tento desfazer meus
pulsos do seu aperto para me livrar dessa sensação de prazer que esse
homem está me proporcionando, mas lutar só causa uma certa dor nos meus
pulsos.

Enquanto ele estimula meu bico com a boca, ele se ocupa em


incentivar o outro com seus dedos e isso é tão impossível de resistir.

Ele ergue o rosto para mim com ainda mais fome.

— Vou descobrir que sabor você tem, Marcella.

Dito isso, ele vai descendo até chegar na minha intimidade. Ele solta
meus pulsos, mas antes que eu possa pensar em afastá-lo, sua boca engloba
minha intimidade e eu arfo.
Passo a língua em uma lambida repleta de desejo nos lábios inchados
da boceta de Marcella recebendo seu sabor doce preenchendo minha língua.
Porra. Se algum fio de lucidez estava em mim, acabou de ser perdido na
loucura ao sentir seu gosto. Um gemido abafado saiu da sua boca junto com
um estremecimento. Eu estou chegando ao meu limite. Meu pau está tão
duro que não sei como ainda não gozei. Lambo suas dobras, deslizando
minha língua pela sua abertura apertada, encontrando mais do seu gosto
derretendo por mim. Subo minha língua até seu clitóris, pressionando minha
língua fortemente no lugar. Marcella fica tensa.

Ela está dificultando para si mesma ao se proibir do prazer. Eu não


vou deixar ela durar muito tempo. Chupo seu clitóris o massageado com
minha língua e a fazendo gemer de verdade e profundamente, esse som
endurece ainda mais meu pau. Seu estremecimento me deixa claro do que
está por vir e eu continuo a chupando. Em apenas alguns segundos toda a
tensão do seu corpo explode em um orgasmo forte que a faz flexionar todos
seus músculos e gemer de forma longa e inocente.

Me ergo até ver ela tentar entender o que aconteceu e buscar


normalizar sua respiração. Seu rosto e colo estão vermelhos pela descarga e
essa é a imagem mais perfeita que eu já vi em uma mulher.

Seu corpo se enche de tensão novamente enquanto ela olha para


mim, um conflito estampado no seu rosto. Eu não vou dar tempo de ela lutar
contra o que está por vir. Eu preciso estar dentro dela nos próximos
segundos, e ela lubrificou o bastante para amenizar a dor que vai sentir.

Deslizo minha língua novamente pelo seu clitóris até sua abertura,
encontrando o caminho ensopado com sua excitação.

Não dou tempo para ela pensar em qualquer coisa que não seja minha
língua dentro do seu canal, minha boca sugando seu clitóris. Se eu me
descuidar em qualquer segundo, a resistência de Marcella voltará, e pela
primeira vez, não quero ser violento.
A onda de prazer se aproxima novamente do meu corpo, mais forte
que a primeira que chegou arrebentando minha resistência. Eu não
conseguiria explicar a intensidade de tudo entre nós dois nesse momento,
mas eu não consigo ter controle nenhum sobre meu corpo enquanto sua boca
me chupa..

Quando o segundo orgasmo me toma, eu fico desorientada o


suficiente para só notar um pouco depois ele se erguendo e se posicionando
entre minhas pernas. Fico imóvel diante dos seus movimentos, e quando ele
mira seus olhos em mim, a imobilidade continua. Kai abre ainda mais
minhas pernas e segura seu pênis na minha entrada. Os olhos dele
permanecem nos meus quando ele entra dentro de mim causando uma dor
intensa. Ele mete dentro de mim sem nenhuma pausa e eu contraio meu rosto
com a dor que faz lágrimas inundarem meus olhos. Minhas unhas afundam
nos seus braços fortes, mas mesmo diante do desconforto, Kai não para, ou
vai mais devagar.

Seu olhar permanecem em mim enquanto ele sai e entra dentro de


mim com tudo.

Fecho meus olhos enquanto tento pensar em algo que me faz feliz.
Kai não parece se importar de estar infligindo essa dor em mim, e tão pouco
faz algo para amenizar. A forma como eu me sinto invadida com seu corpo
nu sobre o meu despedaça a mentalidade forte que me blindei. Eu me sento
perdida e a dor começa a ser uma ótima distração para a traição que cometi a
minha mente, mas até essa dor está se transformando em prazer, e ouvir os
gemidos de Kai só ajuda a essa parte do meu corpo, que se entregou a ele, a
gostar ainda mais do que ele faz.

Abro meus olhos encontrando Kai com uma expressão que me faz
sentir ainda mais prazer. O rosto contorcido de prazer dele, os gemidos
profundos… por que algo em mim gosta disso?

A cada vez que ele entra em mim, retirando o que guardei, é o


mesmo de sentir pedaços da minha alma sendo retirados sem nenhuma
gentileza.
Kai grunhe e aumenta seus movimentos me fazendo gemer baixo e
apertar ainda mais seus braços. Ele goza dentro de mim com satisfação, e
grunhidos excitantes. O corpo dele fica trêmulo e cai ao lado do meu,
levando em sua pele marcas das minhas unhas pela extensão do seu braço.

Sua respiração arfante chega aos meus ouvidos como uma prova de
que ele saboreou cada minuto e que eu falhei em tornar essa primeira vez
desagradável para um homem como ele.

Deixo minha respiração normalizar, mas antes que eu me levante da


cama, Kai se vira na minha direção. Nossos olhos se encontrando e sua mão
repousando sobre minha bochecha. Os olhos dele denunciam seu próximo
movimento, mas antes que seus lábios cheguem aos meus, eu simplesmente
me erguo sentindo o gozo dele escorrendo das minhas pernas junto ao
sangue da minha virtude, que também se encontra no lençol e no pênis dele.

Kai admira a cena.

— Você era mesmo virgem, hum? As famílias ficarão radiantes


quando ver os lençois. — seu tom é ácido, e algo me diz que isso foi por eu
ter negado o beijo — Vai para o banheiro chorar?

Não faço questão de me cobrir com nada, deixo Kai Moreau mirar
cada traço do meu corpo.

— Você não vale minhas lágrimas.

É tudo que eu digo antes de caminhar para o banheiro e me lavar.


Quando volto para o quarto, eu ignoro a presença dele sobre a mesma cama.
Puxo o lençol até meus ombros e deixoi meus pensamentos me consumirem
viva enquanto minha intimidade arde pela inocência arrancada.

— Se tivesse relaxado, teria gozado — Comenta atrás de mim, sua


voz próxima.

Meus olhos ardem com lágrimas de rancor. A raiva de mim mesma


pelo meu corpo ter se rendido faz eu querer ferir o ego de Kai Moreau.
— Nem se eu tivesse relaxado aconteceria, você não é tão bom
quanto pensa. Os minutos que esteve em mim, eu desejei ardentemente que
você desaparecesse — digo com a voz dura.

Sinto o movimento no colchão antes das mãos de Kai Moreau me


virar pelos ombros. Seu olhar é felino e na sua boca tem um sorriso no
recanto dos lábios.

— Que boca esperta você tem, hum? Ela serve para outra coisa
também? — Questiona, mirando meus lábios.

Deixo que ele veja a fúria fervilhando em mim, não desvio meus
olhos em um só momento dos seus.

— Tenho dentes afiados, se quiser experimentar, tente sua sorte.


Nada me dará mais prazer do que arrancar um pedaço seu — tiro suas mãos
dos meus ombros com violência.

Kai sorri mostrando os dentes para mim.

— Eu vou botar meu pau nessa boca bonita e delicada, e foder ela
com tanta força que você vai ficar com a garganta dolorida por dias. E eu
não vou ter que pedir por isso, você vai implorar pelo meu pau, Marcella
Rivera.

É minha vez de sorri mesmo diante da vergonha que queima por


mim.

— A única coisa que vou implorar a você é que fique longe de mim,
seu filho da puta sádico!

Fico feliz que usei metade do pó da droga que Justine conseguiu.


Sinto meu corpo começar a sucumbir ao entorpecimento. Me viro
novamente de costas para Kai Moreau vendo seus olhos doentios brilhando
para mim.
Observo sua respiração ficar pesada quando ela finalmente adormece
ao meu lado, de costas para mim. Seus ombros pequenos e finos
denunciando o ritmo da sua respiração. O cheiro de sândalo parece estar
filtrado no meu nariz, eu só consigo sentir esse cheiro. Isso me deixa
agitado.

O sexo com ela foi diferente. Espero que tenha sido assim por ser a
primeira vez que a possuí, mas sinto que talvez não seja isso. A eletricidade
pelo meu corpo enquanto eu estava dentro dela, o prazer que nunca sentir tão
forte como nunca sentir com nenhuma outra mulher… não faço ideia do que
porra está acontecendo. Eu já fodi virgens antes, dezenas delas e foi
entediante até o último minuto. Com essa mulher ao meu lado não. Minha
excitação ainda está ativa, clamando para ser saciada dentro de Marcella.

Eu desejei profundamente que ela continuasse me afrontando para eu


acabar a noite enfiando meu pau na sua boca.

Ela está tão tranquila dormindo, se soubesse o desejo que está


circulando pelas minhas veias envolvendo ela, não estaria dormindo ao meu
lado.

Levanto da cama para ir até o banheiro tomar um banho frio e me


satisfazer com minhas próprias mãos como eu não fazia desde que tinha
doze anos.

A imagem do corpo de Marcella se torna uma tatuagem no meu


cérebro. Ela é pequena, porém seu corpo é preenchido por curvas suntuosas
e coxas torneadas. A pele é macia e quente e com um perfume viciante.
Relembro de cada pedacinho que eu vi, do seu gosto adocicado, e
principalmente, dos seus gemidos…

Um gemido gutural sai da minha garganta ao imaginar todos os


detalhes que vi enquanto me masturbo embaixo do chuveiro.

Após alguns minutos nesse estado, eu termino meu banho e volto


para o quarto enxugando meu cabelo em uma toalha. Marcella está na
mesma posição. Círculo a cama para poder olhar seu rosto, e assim que
chego nele, um sorriso se forma nos meus lábios. Seus lábios suaves estão
entreabertos e sua mão perto do rosto.

Estudo seu rosto lembrando da sua resistência e tentativa de fugir de


mim. Seus olhos estavam assustados. Ela claramente sentiu dor e a marcas
das suas unhas nos meus bíceps são a prova disso.

Tomo meu lugar na cama, tentando me concentrar em dormir, mas o


sono não me encontra e eu passo a noite em claro revivendo os detalhes da
minha primeira noite com minha esposa.

Quando os primeiros raios de sol batem nas cortinas do quarto,


Marcella se move na cama. Ela fica parada por alguns segundos, até que se
senta na cama em um movimento brusco. Ela vira a cabeça me encontrando
sentado na mesma, encostado na cabeceira.

Os olhos verdes redondos me olham com um certo assombro, e desce


para a mancha de sangue no meio de nós dois. Observo ela apertar o lençol
em torno de si e passar a mão pelo cabelo indomável.

— Bom dia, Bella — encaro seu rosto bonito e sua expressão


desnorteada de quem acabou de acordar.

— Passou a noite aqui? — Pergunta com a voz rouca.

Sorriu.

— Estamos presos aqui. A porta foi trancada pelas mulheres, elas


virão logo em breve pegar o lençol e nos permitir sair.
— Isso não era um impedimento para você, poderia dá um jeito de
sair sem ninguém perceber.

Desço meus olhos pelos seus ombros e costas desnudas encontrando


sinais redondos marrons. Os olhos dela recai sobre meu peito.

Ela observa as cicatrizes das queimaduras de ferro quente e a marca


da Camorra em mim: a letra C em formato quase macabro.

Seus olhos não demonstram repulsa, parece ter uma certa


compreensão.

— Se continuar me olhando assim, vou foder seu corpo novamente,


mesmo você estando dolorida — Aviso, louco para que ela seja teimosa, mas
ela apenas ergue o rosto para mim.

— Você é grosso com as palavras, não tem nenhum pingo de respeito


em você?

Sorrio para ela.

— Sou grosso em outro lugar também, mas você sentiu o suficiente,


não? Tenho a sensação de que achou que não caberia em você. Te rasgou
muito quando entrei na sua bocetinha apertada? —

Ela cora violentamente, desviando os olhos de mim. Me aproximo o


suficiente dela para encostar meu queixo no seu ombro direito e sentir a
tensão que toma seu corpo. Inspiro seu cheiro.

— Está muito dolorida? — Pergunto em um sussurro.

— E isso importa para você? — Sua respiração é artificial. — Você é


um sádico, não é?

Toco meus lábios no seu ombro sentindo ela ficar rígida.

— Eu ainda não comecei a ser sádico com você, querida. Quero


apenas beijar sua pele e saber se está bem o suficiente para relaxar sobre
minhas carícias — passo a língua pelo seu ombro sentindo o gosto doce na
mesma.

Marcella permanece rígida, mas nem isso me faz ter a capacidade de


anular o desejo que me preenche estando tão próximo a ela. Sentindo o gosto
da sua pele, a temperatura… tudo nela desperta algo em mim.

Seguro seu cabelo, virando seu rosto na minha direção, sedento para
provar seus lábios, quando estou perto o suficiente, ela vira o rosto. Olho em
seus olhos.

— Não vou beijar você, Kai. Eu disse que poderia ter cada pedaço do
meu corpo, mas não da minha boca.

Aperto os fios do seu cabelo com a irritabilidade que sua recusa


causa em mim. Se ela acha que outra pessoa vai beijá-la nos lábios, está
muito enganada. Nikolai Vassiliev não chegará perto de Marcella nunca
mais.

Se ele chegar, vai perder as mãos e a cabeça.

Sorriu para minha esposa com a cena de Nikolai sendo decapitado.


Ele ousou aparecer no casamento, isso já se diz muito das intenções dele.

— Posso ter sua boca em outro lugar. Vou te ensinar a me dar prazer.
Afinal, sou seu passe livre para conseguir uma especialização.

Seus olhos ficam duros, continuo sorrindo para ela. Solto seu cabelo
e me afasto.

— Vamos tomar banho. Daqui a pouco as mulheres chegarão aqui —


Digo, caminhando até a porta.

Marcella não se mexe.

— Não vou tomar banho com você. Quando você terminar seu
banho, eu tomarei o meu.
Não vou mais receber nenhuma rejeição dela por hoje. Isso está me
chateando. Entro no banheiro e tomo um banho rápido, escovo os dentes e
saio com uma toalha no quadril sem olhar para Marcella quando ela entra no
banho. Percebo seu andar rígido, ela deve estar dolorida.

Visto minhas roupas escuras e me sento no sofá esperando que


venham buscar esses lençois.

Marcella sai do banheiro vestindo um vestido de alças finas, soltinho,


sem estampa em uma cor de nude claro.

Seu cabelo está úmido e ondulado, caindo por um lado do seu


pescoço, o cheiro dela preenche o quarto e eu fecho meu punho para conter a
onda de desejo.

Marcella caminha até a cama para calçar as sandálias preta de salto


médio. Logo depois, volta para o banheiro, fechando a porta do mesmo.
Ouço o barulho do secador, mas a imagem dela com o cabelo molhado está
gravada com uma cor vibrante na minha mente.

Ver uma mulher de cabelo molhado é uma coisa tão banal, mas
Marcella com cabelo molhado diante de mim se tornou a coisa mais íntima
que eu já tive com alguém. Isso me deixa desnorteado.

As mulheres vem retirar o lençol, ao perceber o sangue, vejo a


surpresa no rosto de uma delas. Elas apanham o lençol e nos dizem para
descer.

A casa dos Rivera está cheia com os membros das cinco famílias. O
rosto de todos se volta para Marcella e eu descendo as escadas. Os homens
imediatamente avançam na minha direção, e eu me afasto de Marcella.

— Ela era mesmo virgem? — Jace pergunta baixinho perto de mim.


Seu tom é de surpresa.

— Também achou que o merdinha russo tinha maculado ela? —


Questiono.
— Você viu as fotos. Os dois são próximos. Foi difícil tirar ele da
Filadélfia com tudo que está acontecendo. O pai dele morreu noite passada,
o irmão dele está tomando o poder.

Olho para Jace a fim de ter certeza no que ele acabou de dizer, ele
assente. Se Andrei morreu, quem assume é o bostinha do seu filho mais
velho. Mikhail Vassilliev. Ele tem quase 40 anos, assim como eu. Nascemos
praticamente com um ano de diferença, e ele é tão venenoso como uma
cobra do deserto.

— Aumente a segurança ao redor dos barracões de drogas. Antecipe


a circulação das drogas novas. Mude as rotas dos novos navios que irão
trazer as armas… a Bratva pode tentar de tudo agora. Mikhail tentará de tudo
para se promover como um chefe estável — Aviso Jace.

Ele assente, saindo do meu lado para fazer as ligações. Meu pai, Alev
e meu tio se aproximam de mim. Os três começam uma conversa comercial
sobre a Famiglia ajudar a Camorra nas exportações de nossos produtos.

Ouço tudo o que eles falam sem me abalar em nada. Meus olhos
procuram por Marcella no sala, e a encontro sentada em um canto.
Segurando uma caneca de café e com os olhos distraídos. Nenhuma das
mulheres se aproximam dela para ficar muito tempo. Nem mesmo suas irmãs
estão por perto.

Ela fica sozinha, o olhar em um ponto fixo. Ela levanta do lugar onde
está, perto das escadas e caminha para onde eu acho levar a cozinha.

Estou prestes a seguir o caminho que ela fez quando a figura alta e
esbelta de Evangeline se coloca na minha frente. Ela sorri.

— Parabéns pelo casamento, Sottocapo. A mancha parece ter sido


bem feita, e pelo modo como sua esposa está caminhando… não pegou leve
com ela — ela ri baixinho, os olhos azuis brilhando.

Inspiro devagar. O marido dela deve estar circulando pelo salão,


procurando uma oportunidade de falar comigo. Se ele soubesse que o
envolvo nos meus negócios por causa da boceta da sua esposa, talvez ele
ousasse tentar me matar.
— Não está deixando óbvio demais seu interesse em mim? —
Coloco minhas mãos nos bolsos da minha calça.

— Por que não escapamos por alguns minutos? Tem um quarto


abandonado nos fundos. Pelo que conheço de você, sei que não conseguiu se
satisfazer na noite passada com sua esposinha jovem e inexperiente.

Esses olhos azuis escuros sedentos por mim não me causam nada que
eu gostaria que causasse. Percebo nesse momento que perdi o interesse por
Evangeline. Em outra situação, eu não teria hesitado a proposta de levá-la
para qualquer lugar e me satisfazer dentro dela, enquanto a sufoco até ela
chegar perto de desmaiar. Essa vadia gosta de um sexo violento.

— Está chamando atenção. Volte ao que estava fazendo — digo e


continuo caminhando até o corredor que leva à cozinha.

Todos estão na sala se servindo do café da manhã que os Rivera


prepararam, e admirando o lençol manchado com o sangue da virtude de
Marcella, como se fosse a porra de uma obra de arte.

— … Bolinhos de arroz para você, menina. Fiz ontem à noite e


deixei ele ficar bem ligado como você gosta — Ouço a voz de uma senhora
falando de forma gentil.

— Não a coloque para comer essas coisas, dê algo que contenha mais
energia. Essa menina precisa de suplementos. Ainda bem que consegui
colocar alguns na sua mochila. — É a voz grossa de um homem claramente
mais velho.

As criadas passam por mim, os olhos espantados ao me ver. Faço um


gesto para que fiquem em silêncio e continuem seu caminho com a bandeja.

Olho disfarçadamente para dentro da cozinha e vejo Marcella sentada


na bancada, de costas para mim. A frente dela tem um homem velho com o
rosto retorcido de cicatrizes, e à frente deles se encontra uma mulher de meia
idade atrás do balcão.

— Karx, você tem notícias dele? — Pergunta Marcella de forma


baixa.
Dele?

— É com isso que deveria se preocupar, menina? Você parece


aterrorizada. Está sentindo alguma dor? — A mulher sussurra a última parte,
olhando para Marcella de forma preocupada e aflita — Te deram algo para
dor?

O homem limpa a garganta.

— Eu estou bem. Pode me servir com mais bolinhos de arroz? —


Marcella desconversa, estendendo o prato na direção da mulher.

Os olhos do homem com o rosto desfigurado me miram por cima do


ombro de Marcella. Ele limpa a garganta e levanta da cadeira. Saio de trás da
parede e me coloco no meio da entrada.

— Está na minha hora de ir embora agora. Queria ver você antes que
partisse. Se cuide, menina! — O tal Karx diz a Marcella sem olhar para
mim. Ele toca no ombro dela e lança um olhar para a senhora que tem o
rosto amedrontado ao me ver.

Marcella se vira, me encontrando. Logo desviou os olhos. Caminho


para o seu lado, sentando na cadeira onde o homem estava segundos atrás.

— Veio comer em paz ou só fugir de mim? — Indago olhando para


seu rosto bonito.

Ela leva a caneca de café até os lábios, evitando olhar para mim.

— Já está na hora de irmos embora? — Pergunta.

— Depois do café da manhã. Ainda temos tempo — olho para a


mulher que virou as costas e parece muda diante de mim — Um copo de
conhaque! — Digo.

Ela faz menção de se retirar para pegar, mas Marcella a olha.

— Deixe comigo. Continue fazendo suas coisas — Diz ela à mulher.


Ela se levanta e caminha até o armário de bebidas, pega a garrafa de
conhaque e um copo colocando na minha frente, e me serve.

Seus seios estão muito bem pressionados nesse vestido, sua pele está
ainda mais atraente. Estou louco para provar seus peitos novamente e a ver
se contorcendo. Observo seus olhos que estão com tom mais castanho
misturado ao verde a deixando com um ar mais selvagem. Essa mulher
agora é minha.

Ela empurra o copo na minha direção, dou um gole generoso e a


observo se sentar ao meu lado novamente. Tem um prato com waffles e mel
à sua frente.

— Quem era a pessoa que estava perguntando se o homem que saiu


daqui sabia notícias? — Questiono.

Ela não vacila ou me olha, mas a mulher lavando os pratos


demonstrou nervosismo.

— Um dos soldados mais antigos de Karx — mente de forma


descarada, me fazendo sentir chateado por essa resposta mentirosa.

Era de Nikolai Vassilliev de quem ela queria notícias.


Minhas malas são postas dentro do carro que me levará à pista de
voo. India se aproxima de mim para se despedir, beija os dois lados do meu
rosto e me olha com suavidade.

— Irei encontrar você em breve — Diz, e se afasta.

Alev apenas me manda ter discernimento sobre tudo o que eu for


fazer, e me alerta para o tipo de homem que é meu marido se eu me
comportar mal. Eu não sinto nenhuma espécie de sentimento por estar indo
embora de perto deles. Meu coração pesa ao pensar nas duas pessoas que eu
tenho aqui: Karx e Justine.

Conseguir me despedir deles, mesmo Kai Moreau tendo atrapalhado


no último momento.

Emília me olha com chateação e vira o rosto. Olho uma última vez
para a casa que fui criada e me viro até o carro, onde Kai me espera. Entro
no assento de passageiro, ao lado dele. E quando ele finalmente dá partida,
eu vejo a casa dos Rivera se tornando uma miniatura ao passo que os carros
dos Moreau avançam.

Minha mente processa os comentários que ouvir hoje sobre a mancha


nos lençóis possa ter sido forjada. Ninguém falou isso diretamente, mas
sussurraram, e como sempre, ninguém se aproximou o suficiente de mim.
Encontrei meu lugar costumeiro na cozinha e algo em mim fica aliviado por
isso. Nunca fiz parte da minha própria família, quem dirá da organização.
Estou aliviada de saber que Alev soltou minha mãe e a deixou ir
nessa manhã. Se Nikolai estava agindo para manter minha família materna
segura, ele deve ter a encontrado. Seu irmão se tornou o novo Chefe, isso
muda diversas coisas para Nikolai em questão de poder.

Pegamos o jatinho na pista privada de uma das famílias, e voamos


direto para Las Vegas. Em nenhum momento troquei qualquer palavra com
qualquer um dos Moreau, nem mesmo Alexa. Kai e seu braço direito estão
entretidos em jogar cartas juntos com Ivo enquanto conversam sobre
assuntos da Camorra.

Seis horas depois, pousamos perto das dez da noite, em outra pista
privada. Kai me lança um olhar intenso ao me ver tirar o cinto de segurança.

— Seja bem-vinda à sua nova casa, Marcella. O clima aqui é mais


quente, tem praias lindas. Você vai se adaptar muito bem. — Alexa sorri
para mim.

Balanço a cabeça. Todos começam a sair do jatinho e Kai e eu


ficamos sozinhos. Ele gesticula para que eu faça o mesmo, passo por ele
evitando seus olhos. O vento ameno toca minha pele e sopra meu cabelo
enquanto desço as escadas, Kai vem logo atrás de mim.

Três carros estão na pista. Um carro de luxo e dois esportivos.

Paramos na pista iluminada, na frente de Ivo Moreau. Os olhos dele


focalizando em Kai.

— Mantenha ela longe de problemas, não quero dor de cabeça por


causa de um bastarda. — Diz ele a Kai.

Kai rir ao meu lado. Seu riso sombrio.

— Ela é a esposa do Sottocapo, será impossível mantê-la fora de


problemas. Tudo que acontecer com minha esposa, será responsabilidade
minha.

Os olhos de Ivo demonstram algo similar ao amedrontamento com o


toque frio das palavras de Kai. É como se ele tivesse medo do próprio filho.
Alexa acena e entra no carro, Ivo vai logo atrás.

— Vou à boate cuidar dos assuntos pendentes que mandou — Jace


lança um olhar suave na minha direção e entra no carro.

Só sobra uma Lamborghini prata.

— Vamos para casa — Kai olha para mim com um brilho felino nos
olhos dourados.

Minhas malas foram descarregadas e provavelmente vão ser levadas


por outro motorista. Entro no carro com Kai, e o mesmo acelera o carro
como um maluco, fazendo meu coração bater rápido.

— Está louco? Diminua a velocidade! — Exclamo segurando na alça


de segurança quando chegamos na rodovia.

Ele riu, pisando ainda mais no acelerador.

— Tem medo de morrer? — Questiona.

O carro está disparado, cruzando os outros e acelerando cada vez


mais. Seguro com as duas mãos na alça de segurança, com os olhos
arregalados e o medo apertando meu peito.

— Pare o carro! Eu quero descer! Pare esse carro, droga! — Exclamo


histérica diante do perigo iminente que ele está me colocando.

Sua risada ressoa por dentro do carro e a cada protesto ele parece
pisar ainda mais fundo no acelerador, fazendo o carro chegar perto de bater
nos outros diversas vezes, desviando no último segundo. A cada vez que ele
faz isso, meu coração acelera a um ponto de eu sentir vertigem, e ver as
luzes embaçadas. Os carros que ele ultrapassa buzinam e os sons me deixam
ainda mais fora do eixo da tranquilidade.

— Quer me dizer por que estava interessada em saber sobre Nikolai?


Quer se encontrar com ele? — Pergunta, virando o volante enquanto pisa no
acelerador, fazendo o carro derrapar ao entrar em uma curva.
Estamos em uma pista com ainda mais carros, e espaço suficiente
para ele brincar.

— Kai, por favor! Pare o carro! PARE O CARRO!

Ele pisa no acelerador e lança um olhar sádico na minha direção.

— Vamos voar um pouco, querida. Vou te levar para as nuvens!

Prendo minha respiração o vendo dirigindo em direção a uma carreta


lenta. Olho para ele em desespero, e ele solta o volante deixando o pé no
acelerador.

— NÃO ERA DE NIKOLAI QUE EU ESTAVA FALANDO! —


Grito em desespero.

Kai pisa no freio e os pneus do carro derrapa no chão fazendo um


barulho da borracha marcando o asfalto. Ele freia bem a tempo de o carro
ficar a poucos centímetros da carreta. Por um fio do carro não ter parado
apenas embaixo dela.

Meu estômago revira, meus olhos queimam com lágrimas e eu estou


sem ar.

— Encoste! — Peço com a voz trêmula, ele obedece.

Abro a porta do carro, mas me falta força nas pernas e caio no


acostamento, tossindo e me arrastando enquanto a ânsia de vômito
predomina. Vômito o que comi no café da manhã na Filadélfia. As lágrimas
inundam meus olhos e minhas mãos tremem. Meu corpo está tão gelado que
não sinto nada.

— Bastava você ter me dito que não era daquele filho da puta que
estava falando, e eu não teria feito isso — A voz profunda e doentia de Kai
ressoa atrás de mim.

Viro meu rosto o vendo parado, encostado no carro com um pequeno


sorriso sádico no rosto. Limpo minha boca e respiro fundo.
Eu já estive perto da morte, mas não sabia que podia ser tão
aterrorizante assim quando você está ao lado de alguém que vê a morte
como diversão. Tudo em mim está trêmulo e meu estômago parece retorcido.

— Você é doente. — Sussurro com a voz arranhada pelo esforço que


minha garganta fez ao colocar toda comida do meu estômago para fora.

— Você ainda não viu nada, Bella mia. — ele se aproxima de mim
— Levante, estamos perto da minha cobertura.

Reúno toda força que me resta para me erguer, olho para Kai Moreau
e seu rosto doentio.

— Não entro em nenhum carro com você. Eu vou a pé — Olho para


os metros que faltam para entrar em um bairro.

Kai assente.

— Se você deseja isso, tudo bem. Nos encontramos lá. Quando


avistar o maior prédio dessa localidade, saberá para onde terá que ir. — Ele
abre a porta do carro e olha para mim — Nos vemos em casa. E não pense
em fugir, você está no meu domínio agora.

Observo ele entrar no carro, buzinar e correr com o carro em direção


ao lugar iluminando projetado a frente.

O vento bate forte no meu rosto e braços desnudos, trazendo o frio.


Cruzo meus braços e começo a caminhar com as pernas trêmulas e com
algumas lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

Caminho sobre os saltos pelo acostamento da estrada, alguns carros


passam sem prestar atenção em mim. Uma certa raiva faísca minhas veias,
mas ela não tem nenhuma influência sobre a dormência que o medo, ainda
em mim, está exercendo.

Não sei por quanto tempo caminho, mas quando chego na frente do
prédio residencial de luxo, eu entro recebendo um olhar curioso do porteiro.

— É moradora? — Pergunta ele, me analisando da cabeça aos pés.


Meu cabelo deve estar assanhado pelo vento, e eu estou abraçando a
mim mesma para aplacar o frio da caminhada. Estou tão desorientada que
nem mesmo sei o que falar.

— É minha primeira vez aqui… — Digo com os olhos ainda ardendo


pelo vento tomado.

O homem continua olhando para mim quando um outro homem se


aproxima e sussurra algo no ouvido dele. O porteiro me olha surpreso e me
leva até o elevador.

— Desculpe, senhora. Vou chamar o elevador — ele aperta o botão


que leva a cobertura.

Antes das portas se fecharem, ele faz um aceno respeitoso na minha


direção. Observo meu reflexo pelas portas douradas do elevador, me
sentindo uma mocinha patética.

As portas se abrem revelando a luxuosa cobertura de tons neutros e


elegantes. Cinza, preto e branco. Por um momento, eu hesito em sair do
elevador, mas o calor do interior me convida a entrar.

A sala é a primeira visão que se tem ao entrar, com um sofá grande


em formato de L e uma lareira ecológica acesa.

Vejo as escadas de ferro que levam para o primeiro andar. O quarto


deve ser lá. Preciso tomar banho e dormir. Meus pés e pernas estão doendo,
e a rigidez nas minhas coxas continua desde ontem à noite.

— Demorou mais de uma hora para chegar. Gostou da caminhada?


— Kai surge segurando um copo com uma bebida marrom. Ele veio por um
corredor que deve levar a cozinha.

Ele está sem camisa e descalço. Seu cabelo preto impecável.

Encaro esse rosto sádico sentindo a raiva em mim. Tenho vontade de


avançar sobre ele, arranhar seu rosto com minhas unhas. Eu o odeio.

— Onde fica o quarto que vou dormir? — Questiono, olhando-o.


Ele se encosta em uma das pilastras branca no corredor.

Seu olhar é tão doentio. Como alguém pode ser assim?

— A forma como colocou toda comida que estava no seu estômago


para fora, me faz apostar que esteja com fome. Tem comida na cozinha. —
Diz de forma impassível.

— Onde fica o quarto? — Pergunto novamente, deixando claro que


não quero outra coisa.

Ele me olha por alguns segundos, diretamente para meus olhos. Não
desvio meus olhos dos seus.

— Primeira porta, a direita.

Subo as escadas metálicas, caminhando pelo corredor até chegar à


porta que ele disse. Abro a porta encontrando um quarto de tons escuros e
sem nenhum adereço de decoração. Apenas a cama, uma porta para o closet,
uma poltrona e duas janelas de vidro grande na parede direita, ao lado da
cama.

Procuro o banheiro entre as duas portas nesse quarto. Entro no lugar


grande o suficiente para ser um cômodo de um apartamento de solteiro.

Tiro minhas roupas e entro embaixo de um jato quente de água,


deixando ela limpar meu corpo. É reconfortante e eu chego grunhi com a
sensação de amparo e conforto que a água morna me proporciona. Não sei
quanto tempo passo aqui, mas saio apenas quando me sinto melhor.

Me cubro com um roupão e volto para o quarto em busca de uma


peça de roupa. Quando entro no closet não encontro nada meu. Nem mesmo
uma única peça ou mala.

— Suas malas ainda não chegaram. O motorista deve estar fazendo


algo mais importante — A voz do demônio Moreau cantarola satisfeita atrás
de mim.
Com certeza foi algo proposital. O carro com minhas coisas saiu
primeiro que nós dois, já fazem algumas horas.

Me viro para Kai.

— O que você quer de mim? — Pergunto.

Ele passa a mão pelo lado do rosto sem a cicatriz, quase de forma
inocente.

— Tem algum problema em dormir nua? Na noite passada, não


mostrou nenhum desconforto, mas se não quiser, vai encontrar algumas
camisolas na gaveta.

Abro a gaveta que ele gesticula encontrando peças de rendas. De


várias cores. Apenas de pegar uma percebo o que ele planejou. Guardo tudo
de volta e inspiro baixinho.

Me viro para sair do closet, antes de dar um passo através da porta,


Kai me enlaça pela cintura, fazendo com que eu bata de frente com seu
corpo. Ele sorri com sua forma sádica.

— Você ameaçou a si mesma naquela noite no carro, mas quando


mostrei a você a adrenalina de uma possível morte, você entra em pânico. É
uma garotinha muito controversa, não é?

— Tenho mais estímulo em morrer pelas minhas próprias mãos, não


pelas suas. Não gostaria de morrer ao lado de um sádico de forma tão
patética.

Ele aperta seu braço ao redor da minha cintura, olhando para mim
com divertimento. Deixo minhas mãos erguidas para não tocar no seu peito
nu, em nenhuma parte da sua pele.

— Ainda sente dor? — Pergunta.

Fico em silêncio, sim, eu ainda estou dolorida e pensando comigo


mesma como ele coube em mim. Ele se forçou dentro de mim, seu tamanho
me causou uma sensação de rasgão que ainda sinto no momento. Não quero
sentir aquela dor novamente, não quero deixar meu corpo ser levado pelo
prazer, mas isso é o que a minha mente diz, meu corpo já está reagindo ao
nosso contato físico.

Minhas mãos acabam sob os braços fortes dele, meus olhos


mergulhados nas íris âmbar. A pele dele é quente e convidativa. Nunca tive
uma proximidade assim com nenhum outro homem. E Kai é tão alto que
preciso ficar nas pontas dos pés com ele me segurando pela cintura.

— Se continuar me olhando assim, eu vou acabar perdido nesses


olhos bonitos — ele sussurra de uma forma que penso ser sincera.

— Você me olha como se fosse me devorar — comento.

Ele mantém a expressão calma.

— E eu quero. Quero reivindicar cada pedaço de você, Marcella. Ter


cada pedacinho seu.

Sua voz é tão profunda que faz todo meu corpo sofrer arrepios
intensos. Kai inverte nossas posições, me colocando contra a parede. Toco
seu peito, com hesitação.

— Ainda estou dolorida… — Sussurro com a mão sobre seu peito


forte coberto de tatuagens e cicatrizes.

Ele assente.

— Não irá sentir muito desconforto nessa posição. Preciso entrar em


você, Bella mia. Preciso muito, porra! — Ele arfa contra minha orelha,
colando o corpo no meu. Sua ereção pressionada na minha barriga.

— Não importa o que você precisa, não vai me machucar de novo.

Ele ri.

— Quero fazer você gozar com meu pau, então fique quietinha e me
deixe trabalhar no seu corpo, querida esposa. — O hálito com álcool sopra
meu rosto, e seus lábios vermelhos grossos sorriem de forma voluntária.
Ele abre meu roupão, com o corpo ainda em contato com o meu, ele
se afasta apenas para me admirar, o que vejo nos seus olhos me enche de
satisfação. Kai admira cada centímetro da minha pele, emitindo um gemido
baixo e os olhos em chamas.

Seus lábios beijam a pele do meu pescoço, mordendo e chupando o


local. A sensação é estranhamente boa. Sua mão segura meu seio com força,
e ele desce a cabeça até abocanhar meu bico enrijecido. Solto um gemido
baixo, segurando ainda mais forte os seus braços.

Kai solta meu seio e desce a mão até minha intimidade. Eu enrijeço
com o toque, e me derreto no momento que ele dedilha meu clitóris. A
sensação que me toma é tão boa que qualquer resistência em mim se desfaz
com o gemido que sai dos meus lábios.

— Porra, geme pra o seu marido, Bella! Sou seu homem. Seus
gemidos são música para os meus ouvidos… — Kai morde o lóbulo da
minha orelha depois de sussurrar essas palavras profundamente.

Um dos seus dedos entram em mim, e eu arfo com a invasão. Olho


para seus olhos espantada pelo choque.

— Estou preparando você.

Ele movimenta os dedos, o desconforto se torna uma sensação


distante a cada segundo que ele explora meu canal. Mordo meus lábios,
segurando os braços dele com tanta força que meus dedos doem. Ele
movimenta seus dedos em mim, ondulando lá dentro, arrancando gemidos de
mim e amolecendo minha resistência.

Os olhos de Kai estão no meu rosto, ele parece se deliciar com o que
ele está me causando, seus olhos estão focados em me assistir.
A luz do corredor reflete em seus olhos âmbar, deixando a luxúria
expressada ali. Kai abre sua calça, libertando seu membro grosso e comprido
com uma excitação aparente. Meu estômago se enche de calor e espanto.
Relembro novamente de como foi dolorido para isso entrar em mim.

— Vai doer… — Arfo em receio.


Kai mantém os olhos em mim, sua mão tocando os dois lados da
minha cintura. Vejo algo impaciente em seus olhos, e ele respira fundo
inclinando a cabeça para beijar meu pescoço.

— Passe suas pernas ao redor do meu quadril, Bella! — ordena —


Garanto que você vai gostar mais dessa vez.

Ele me ergue em seus braços e eu passo minhas pernas em torno do


seus quadris. Sua ponta pincela minha entrada molhada e nós dois gememos.

Kai vai entrando em mim. Centímetro por centímetro. Dessa vez, a


penetração não é dolorosa como ontem, hoje sinto um prazer latente ao ser
preenchida por ele e isso estampa em nossos rostos. Quando ele está
completamente dentro de mim, nós nos olhamos com a respiração ofegante.

Abraço seus ombros e ele estoca fundo. Os gemidos que sai da minha
boca são incontroláveis, ele bate em um ponto em mim que faz luzes
piscarem na minha visão. A cada investida dele, nós dois gememos. Não
consigo pensar em mais nada enquanto ele segue com os movimentos
habilidosos e rítmicos. Minhas costas sobe e desce na parede atrás de mim.
Meu corpo em contato com o dele é um combustível que inflama com seus
gemidos.

Seus gemidos são tão excitantes como suas estocadas.

No terceiro acerto no ponto de prazer dentro de mim, o meu orgasmo


me arrebenta de forma avassaladora, Kai continua metendo em mim até que
seu corpo fica rígido e seus gemidos mais acelerados. Sinto seu líquido
espirrar forte dentro de mim e o corpo dele tremer ao liberar seu gozo.

Sua cabeça cai sobre meu ombro e nossas respirações ofegantes se


misturam. Nosso peito arfante em contato com o outro. Deixo meu queixo
sobre seu ombro, enquanto ainda o abraço de forma inconsciente. Ele é tão
quente. Seu corpo está suado assim como o meu.

A descarga de prazer vai embora, trazendo de volta minha


consciência. Uma culpa pesa na minha mente e retorce à minha sanidade. Eu
me deixei ir facilmente pelo prazer com esse homem, não posso fazer isso.
Me solto dos braços dele, apanhando o roupão do chão. O remorso
me deixa pesada e eu caminho para o quarto com esse peso.

Não posso gostar disso, não posso gostar de nada com Kai Moreau.
Ele foi minha sentença, mas isso não significa que eu precise aceitar.
Conheço a crueldade de homens como ele, se eu ceder o que tenho em mim
a ele, vou acabar sem nada.

— Vamos tomar banho juntos — Kai surge no quarto, com a calça


desabotoada e o cabelo assanhado pelas minhas mãos, minutos atrás.

Seus olhos dourados ainda parecem em chamas.

— Prefere a banheira ou a ducha? — Pergunta com o olhar em mim.

Com todas as luzes acesas do quarto, eu vejo seu peitoral por


completo. Ele tem cicatrizes de facadas no abdômen, a marca de ferro quente
com um C em um formato macabro, no seu peito esquerdo, poucos
centímetros acima do mamilo. Tem outras queimaduras, mas essas parecem
terem sido infligidas com algo como um atiçador de fogo.

O peitoral é forte, firme como uma rocha e seu abdômen parece


esculpido com músculos. Ele é lindo. Uma beleza perigosa mesmo tão
maculada com as cicatrizes e a tatuagem do dragão raivoso cuspindo fogo. A
tinta preta deixa sua pele branca em destaque.

— Vou encher a banheira — diz ele, se virando e eu perco a


respiração ao ver as marcas nas suas costas.

Ele foi chicoteado?

Eu sentir sua pele ontem à noite, mas não me atentei ao fato de as


cicatrizes serem essas marcas. A pele está enrugada com as dezenas de
linhas feitas por um chicote. A pele tão pálida dele acaba se tornando rosada,
onde cada cicatriz enroladas umas nas outras se encontram

— Kai…? — Minha boca formula seu nome antes que eu possa


controlar.
Os olhos dourados parecem ter sido abalados com o fato de eu ter o
chamado pelo seu nome.

Ele é um homem quebrado.

Homens quebrados na máfia, tem como passatempo quebrar a alma


de todas as pessoas ao redor deles.

Não olho para sua cicatriz no seu rosto, apenas olho para seus olhos.

— Quero fazer minha especialização. Estou colaborando com você.


Se não quiser uma esposa louca, então me deixe fazer minha especialização
— Digo.

Ele me olha com atenção, um sorriso no canto dos lábios.

— Acha que pode ordenar alguma coisa a mim, Marcella?

Sua voz profunda pronunciando meu nome causa uma descarga de


arrepios na minha espinha.

Mantenho meu olhar no seu rosto.

— Acha que vou ficar sã vivendo presa aqui, esperando você para
me foder? Eu não cheguei onde cheguei nos meus estudos para desistir. Se
você não permitir, eu não vejo motivo de manter minha cabeça com sanidade
— caminho na sua direção, ficando próxima a ele, ergo minha cabeça para
que ele veja a verdade das minhas palavras — Você deve saber o que
acontece com filhos bastardos, sabe o que somos forçados a fazer, o que
acontece… se acha que mantive minha sanidade intacta por qualquer coisa
que não a mim mesma, está enganado. Não nasci para ficar presa, Kai. Eu
preciso de algo que alimente minha mente.

Seus olhos estão analíticos, ele mantém suas mãos em cada lado do
corpo, a postura ereta e os olhos duros.

— Por que quer tanto uma especialização, se nunca vai poder


trabalhar com isso? — questiona.
— Porque estudar foi a minha salvação para cada pensamento
negativo. Eu sei que nunca vou poder exercer, mas me distraio tentando
conseguir um diploma que me deixa sonhar como seria minha vida fora da
máfia.

Kai não pisca os olhos, sua expressão continua dura, mas seus olhos
cintilam para mim.

Ele se vira para ir ao banheiro, mas não me chama para acompanhá-


lo dessa vez.
Deixo a porta do banheiro aberta para ela entrar, espero por alguns
minutos até perceber que ela não virá. Ligo o chuveiro e entro nele
recebendo o jato de água fria com alívio. A sensação do corpo dela em
contato com o meu está impregnado na minha pele. É como uma desgraça de
vício recém adquirido. Eu fico querendo ela a cada minuto.

Seus olhos são lindos, e tão cheios de ferocidade que me deixa


perdido ao admirá-los. Marcella é um complexo de fatores, talvez seja isso
que me atrai a ela.

Relembro como seus olhos percorreram minhas cicatrizes minutos


atrás, nenhuma repulsa ou terror capturou o seu olhar. Ela pareceu admirar
cada detalhe, demonstrando algo similar a compreensão. O olhar dela me tira
do eixo, e eu não vou deixar isso acontecer por muito tempo.

Saio do banho com uma toalha em volta do quadril. Marcella está


sentada na cama, abraçando os joelhos e com o queixo sobre eles. Ela olha
para mim, sigo para o closet desviando minha atenção dela.

Pego uma cueca boxe, quando estou prestes a vestir, Marcella entra
no closet, recebendo a visão total do meu corpo nu. Suas bochechas ficam
vermelhas e ela sobe os olhos para o meu rosto.

— Desculpe.

Permaneço com a cueca na mão, completamente nu na frente dela.


Os olhos dela parecem estarem lutando para se manter no meu rosto.
— Deseja algo? — Pergunto com provocação.

Ela crispa os lábios bonitos e macios. Acompanho o movimento que


sua língua faz sobre os lábios, queimando de desejo por beijá-la.

— Poderia me emprestar uma das suas blusas? — A voz baixa e


inofensiva. Educada.

Sorriu, cruzando os braços e mantendo uma pose relaxada. Vou


acabar fodendo ela novamente, e dessa vez, vai ser de forma violenta.

— Venha pegar, Bella.

Ela respira fundo, dando o primeiro passo. O roupão está bem


fechado, mas ela está emanando seu perfume de sândalo, seu cabelo está
levemente úmido pelo banho de uma hora atrás. Nunca senti qualquer coisa
em ver uma mulher com o cabelo molhado, mas Marcella desse jeito é um
inferno de desejo nas minhas veias.

— Qual posso pegar? — Pergunta olhando para as fileiras de


camisetas brancas e pretas bem organizadas. Estou atrás dela. Duro como
uma rocha.

— Qual você quiser, Bella — Sussurro, afetado pelo desejo


lancinante.

Percebo uma tensão nos ombros dela, observo o lado direito do


pescoço exposto com alguns sinais na área. Me aproximo o suficiente para
enlaçar ela pela cintura e comprimir suas costas no meu corpo. Minha ereção
aperta contra suas costas e Marcella prende o ar.

Desço meus lábios da sua orelha até seu pescoço, avistando as


marcas que deixei no lugar minutos atrás.

— Não estou pronta para mais sexo. Minha intimidade está


dolorida… — Ela diz de forma tímida e receosa.

Sim, ela ainda deve estar dolorida, eu deveria ter dado algum
analgésico a ela, achava que alguma das mulheres iriam fazer isso, mas me
enganei. Deveria deixar ela descansar por dois dias, mas aqui estou eu,
querendo mais.

— Sua boceta está dolorida, mas seu traseiro ainda está intacto —
Mordo o lóbulo da sua orelha.

Marcella reage, se virando na minha direção com o rosto assustado.

— Não. Ontem já foi o bastante que aguentei de você, não vou me


submeter a mais dor pelo seu prazer. Você é um sádico! — Empurra meu
peito, pegando a blusa no cabide.

Mantenho meu olhar nela, sentindo minha ereção começar a ficar


dolorida.

— Acha que não vou reivindicar seu traseiro? Ele será tão gostoso de
comer tão como sua boceta.

Ela bate a palma da sua mão na minha bochecha. Um tapa forte o


suficiente para me fazer sentir a ardência, mas não o suficiente para me
deixar menos convicto do que quero.

— Eu já perdi as contas das vezes que você foi desrespeitoso


comigo, e eu não vou tolerar isso. Eu não sou um animal, uma prostituta. Fui
dada a você como sua esposa, para ser igual a você em todos os quesitos do
matrimônio — ela está furiosa — Não sou uma das suas amantes ou as
prostitutas que está acostumado a possuir. Posso ter vivido abaixo de
qualquer respeito, mas não vou permitir que minha liberdade seja tomada de
forma tão baixa.

Ela sai do closet furiosa, entrando no banheiro. Suas palavras


ressoam na minha mente com a imagem do seu olhar raivoso, ferido. Minha
ereção se desfaz.

Visto a cueca e espero alguns segundos para voltar para o quarto.


Quando volto, Marcella está saindo do banheiro vestida com minha blusa
preta. A blusa fica enorme nela, bate em seus joelhos, mas é extremamente
sexy vê-la vestida com algo meu.
Ela não troca nenhuma palavra comigo, apenas se deita do lado
esquerdo da cama, de costas para mim. Suspiro baixo.

Não vou mudar quem sou por causa de uma boceta virgem.
(...)

Acordo sentindo fios de cabelos pelo meu rosto, abro meus olhos
me encontrando com o rosto em meio aos cabelos de Marcella, que ainda
continua de costas. O cheiro de sândalo enche meu nariz, trazendo uma
sensação de uma manhã perfumada e ensolarada. Deixo minha cabeça
repousar aqui por alguns minutos, apenas para sentir essa sensação de
calmaria.

Isso dura alguns minutos antes de eu voltar a mim. Levanto da cama


evitando olhar para a mulher deitada na minha frente. Vou para o banheiro,
tomo uma ducha fria e visto roupas frias para o dia de trabalho.

Marcella ainda dorme, ou finge dormir. Ela deve estar faminta.


Vomitou tudo o que tinha comido ontem e ainda não se alimentou. Uma hora
ou outra ela vai procurar comida.

Pego uma jaqueta no closet e vou até a cozinha. Não tenho


governanta ou alguém que cozinhe para mim. Costumo comer fora todos os
dias, pouco é o tempo que passo nessa cobertura.

Pego o tablet e me sento na banqueta do balcão, analisando em


tempo real os rastreamentos das nossas mercadorias. Uma mensagem de
Jace chega no meu celular perguntando o que quero como café da manhã.

Marcella Rivera.

Essa é minha resposta mental.

E como se meus pensamentos fossem capazes de invocar sua


presença, ela surge. Vestida com minha camiseta, o cabelo preso em um
coque e o rosto lavado.

— Achei que já tinha saído — Se espanta ao me ver, parando onde


está. Deixo meus olhos subirem dos seus pés descalços até seu rosto.
— Faça um sanduíche, deve estar faminta. — Digo, voltando a
minha atenção para o tablet, para não sucumbir ao desejo de possuir minha
bela esposa no chão da cozinha.

Ela caminha até a ilha, abrindo os armários e a geladeira. Pela forma


como ela procura as coisas, percebo de imediato que está faminta.

— Você sabe cozinhar? — pergunto, olhando para sua bunda bem


marcada nessa blusa.

Umas boas palmadas a deixaria tão sexy.

— Você não tem uma cozinheira? — Rebate.

— Uma diarista da organização vem fazer a limpeza e encher os


armários, apenas. Agora que está aqui, fique encarregada pela sua
alimentação. Comida na geladeira é o que não falta — Desvio meus olhos
dela para o tablet, pegando uma última expressão de desdém dela.

Não é como se eu conseguisse me concentrar com ela estando no


cômodo. Meus olhos insistem em observar cada movimento, cada parte do
seu corpo, e principalmente suas pernas e bunda. Nunca pensei que uma
mulher com menos de 1,70 fosse tão atrativa assim.

Ela frita ovos, bacon e faz torradas com tomates. Na hora de servir,
ela faz um prato para mim também, junto com uma caneca de café quente. A
questiono com o olhar, ela desvia sua atenção e ataca a comida.

Realmente estava faminta.

— Preciso das minhas roupas. Quando elas chegarão? — Pergunta,


engolindo a comida.

Provo a comida, encontrando um bom sabor nos ovos, bacon e


torrada.

— Mandei jogarem suas malas no primeiro lixo visto. Aquilo não são
roupas.
— Você faz o quê?!

Ela larga a comida, se posicionando na minha frente. Suas íris


dilatadas com a chateação e descrença.

— Pode ficar à vontade andando nua pela casa, tem as camisolas no


closet… não é como se você precisasse sair daqui para outro lugar — A
provoco.

— Preciso das minhas roupas para ir até uma universidade. Não


importa se eram trapos ou não. Eram minhas roupas! — Seu tom é alterado e
irritado.

Me viro para ela.

— Compro roupas novas para você.

— Não quero nada seu! Aquelas roupas eram minhas, tinha coisas
minhas naquelas malas… mande seus homens irem buscar ou me leve até lá,
droga! São minhas coisas! Você não tem esse direito!

A irritação dela beira em torno do desespero, ela avança na minha


direção, segurando minha blusa, os olhos raivosos me dando ordens.

— Me leve até onde jogaram! Me leve imediatamente, Kai!

O elevador se abre, Jace entra na cobertura e vem em direção a


cozinha. Ele ver a cena dela agarrada a minha blusa com violência. Ele
analisa a situação, mas antes de uma reação, Marcella vai até ele.

— Sabe onde os homens de vocês jogaram minhas malas? Me leve


até lá, por favor! — Pede com uma certa aflição.

— Foram jogadas em um rio qualquer. Já devem estarem longe… —


Jace fala com sua voz relaxada.

— Onde?!

Jace olha para mim, confuso.


— Perto do aeroporto, não tenho certeza.

Marcella corre até a sala, vou atrás dela vendo a mesma procurar
algo nas gavetas do armário da entrada. Ela procura com afinco, até não
achar nada. Então, ela vai até Jace com os olhos em chamas e uma postura
ameaçadora.

— Me dê as chaves do seu carro!

Jace ri.

— Está brincando?

— A porra das chaves, agora! — Ordena.

Seu tom é tão autoritário que Jace olha para mim aturdido. Tomo a
frente da situação.

— Quer ir até esse rio e encontrar suas coisas? Esse é seu plano? Seja
madura, pare de agir como uma criança. — Bufo

Seus olhos são capazes de queimar nesse momento, e com


movimentos habilidosos de defesa, ela empurra Jace pelo peito, segura um
dos seus braços, imobilizando atrás das suas costas, coloca a mão no bolso
de trás da sua calça jeans, tirando dele a chave do carro. O movimento foi
tão rápido e inesperado que Jace não teve reação.

— Você é um inferno na terra, Kai Moreau! — Cospe as palavras


saindo da cobertura descalça e com apenas minha camiseta.

Jace e eu nos olhamos.

Começo a ir atrás de Marcella, mas as portas do elevador se fecham e


precisamos esperar. Assim que se abre, Jace e eu descemos até a garagem a
tempo de ver ela saindo a toda velocidade com o Jaguar de Jace.

— Puta merda! — Exclama Jace.


Entro no meu carro, com Jace logo ao meu lado. Sigo para onde o
carro dela está indo, mas a diferença da distância é considerável.

— São apenas malas, droga! Por que ela está agindo feito uma louca?
Meu carro, porra! — Jace xinga.

Me mantenho em silêncio até ver o Jaguar parado no acostamento


perto do rio de água suja perto do aeroporto. Marcella já saiu de dentro dele.

Ela mergulha no rio, nadando até onde suas malas estão boiando.
Uma certa incredulidade passa por mim. Não é possível. Ela se jogou dentro
de um rio imundo.

Corro até a beirada do lago.

— Saia dessa água imunda, Marcella! Você vai se afogar! — Grito


ordenando para que ela volte, minha voz saindo alta e autoritária.

Ela continua nadando, para cada vez mais longe e fundo. Para a outra
extremidade. Tem todo tipo de sujeira boiando nesse lago, ela continua
nadando, dando braçadas fortes e violentas em direção ao outro lado da
margem do rio onde suas malas estão boiando. Inferno!

— Marcella! — Rujo.

Ela pega suas malas e começa a nadar de volta. São duas malditas
malas que ela está nadando com dificuldade para trazer de volta. Jace está
tão incrédulo quanto eu.

Quando ela sai do lago, está completamente ensopada e carregando


as duas malas. Sua respiração está arfante e a blusa está colada ao seu corpo.
Os olhos estão enormes e direcionados repletos de raiva para mim.

Percebo um corte na sua coxa com sangue escorrendo.

— Você é louca, porra? — Vocifero.

— Você é a porra do dono do mundo? Quem acha que é para decidir


jogar as únicas coisas que tenho?
Chuto uma das malas por pura raiva. Ela mantém sua postura
desafiadora nesse corpo pequeno que está sendo marcado sem nenhum pudor
por essa maldita blusa. Seus peitos redondos com os bicos enrijecidos
desenhado na blusa, o abdômen malhado e as curvas da sua cintura e quadril.

Percebo o olhar de Jace no corpo dela.

— Volte para seu carro, caralho! Tire os olhos dela! — Exclamo cada
vez mais alterado.

Pego Marcella pelo braço e a arrasto até o meu carro. Ela passou dos
limites.

A faço colocar essas malditas malas no porta-malas e levo ela de


volta para a cobertura. A arrasto pelo braço até o banheiro e a coloco
debaixo do chuveiro na maior intensidade de água fria.

— Você deve estar cheia de doenças daquela água! — Exclamo


tirando essa blusa dela, me molhando junto a ela.

— A culpa é toda sua, seu sádico!

— Cale a boca e ensaboe seu corpo, ou eu mesmo farei usando uma


escova.

Ela toma banho na minha frente, deixando seu corpo nu amostra pela
primeira vez sobre uma luz forte. Deixo ela debaixo do chuveiro por dez
minutos. Quando ela sai, eu a coloco sobre a pia do banheiro, pegando a
maleta de primeiros socorros.

Ela ainda está furiosa, e eu também.

Pego o antisséptico e derrubo sobre o corte, não escutando nenhuma


reclamação da parte dela. Enquanto cuido do corte na sua coxa, eu percebo
uma cicatriz de um corte suturado perto do quadril e coxas, e pelo espelho
atrás dela, consigo ver uma nas suas costas.

— O que merda tem de tão importante naquelas malas? Duvido que


fez todo esse alarde por roupa velhas. — Bufo colocando um curativo sobre
o corte.

— Não te interessa. Não volte a mexer em nada que é meu.

Subo meus olhos para seu rosto, segurando seu queixo.

— Não tente ser uma louca aqui, Marcella. O único louco desse lugar
sou eu. Se você voltar a se comportar assim, eu vou te castigar duramente —
Jogo uma toalha na direção dela — Jace vai trazer uma roupa para você. Vá
a qualquer loja que quiser e compre roupas decentes.

Ela ainda parece chateada, exalando chateação por todos os poros,


deixo que ela veja o que realmente é chateação nos meus olhos antes de sair
do banheiro.
Espero que ele se vá para trazer as duas malas médias até o banheiro,
são de um material impermeável, e mesmo tendo ficado horas na água, eu
espero que não tenha molhado nada dentro. Abro a primeira mala,
procurando o fundo falso em busca do motivo que me fez ir atrás dessas
malas.

Algumas roupas estão úmidas, felizmente o fundo está seco e intacto.


Abro o fundo, tirando dele um relicário e uma fotografia. Sento no chão do
banheiro, ainda vestida com um roupão. O alívio toma meu peito, mas ele
aperta logo depois assim que abro o relicário e vejo o rosto da minha mãe, o
seu sorriso e os cabelos castanhos ondulados.

A preocupação por ela preenche meu corpo de pânico, inquietação e


aflição. Meus olhos ardem com lágrimas enquanto olho para sua fotografia.
É a única coisa que tenho dela. Justine conseguiu esconder de Alev no dia
que cheguei na casa dos Rivera, nos braços da minha mãe. Ela foi negociar
com Alev em troca de ficar comigo, ela estava disposta a tudo, até dar sua
própria vida para que eu não crescesse na organização.

Alev só me pegou dela para ferir os sentimentos da minha mãe, a ver


pedindo clemência.

Ele a machucou de uma forma que ela passou anos internada em um


hospital psiquiátrico. Depois que ela saiu, eu não tive mais notícias. Meu
intuito era sair da organização e procurar por ela, mas, aqui estou eu, sentada
no chão do banheiro, segurando minhas lágrimas e entregue a besta dos
Moreau.
Kai já deixou claro que adora infligir dor, ontem ele sabia que se me
tomasse, eu iria ficar ainda mais dolorida, e aqui estou eu.

Pego uma muda de roupas da minha mala, das roupas que Alev
comprou pra mim. Uma calça jeans de lavagem clara e uma blusa branca de
botões, soltinha e mangas na altura do cotovelo.

Penteio meu cabelo, secando o mesmo e deixando ele com suas


ondulações, visto as roupas e saio do banheiro indo para a sala. Guardei o
relicário em um lugar seguro, Kai não irá mexer nos meus livros de direito
dentro das malas, escondidas em um canto remoto do closet.

Tenho um sobressalto ao ver Jace parado na sala, com uma postura


ereta e passiva.

— Estou aqui para levá-la às compras, senhora. Está pronta?

Ele fala com tédio, como se tivesse encarregado de um fardo. Cruzo


os braços, olhando para ele.

— Será meu guarda costa? Logo você, que eu, uma garota de 1,67 de
altura, conseguiu driblar tão facilmente? — Uso um tom debochado.

Ele suspira frustrado.

— Eu estava distraído, não esperava um ataque. Você teve sorte. Se


eu tivesse reagido, poderia nem estar com a capacidade de falar mais.

— Se você está dizendo…

Sigo para o elevador com ele no meu encalço.

— Vou precisar de um celular. Tenho permissão para comprar? —


Pergunto.

Jace se mantém neutro. Ele parece um cara de pavio curto.

— O chefe irá arrumar um celular seguro para você. Hoje só iremos


comprar roupas, e eu espero que seja rápida nas escolhas e não me faça
carregar as sacolas.

Sorrio.

— Se eu pedir para você me carregar nos braços, terá que fazer isso.
Querendo ou não, sou esposa do seu chefe. — Lembro-o.

Ele cerra a mandíbula.

— Tudo tem limites.

— Então, conheça os seus — Aviso.

As portas do elevador se abrem na garagem, reconheço o carro dele


de imediato. Não vou ser maltratada aqui, não deixarei ninguém me tratar
mal. Tenho o sobrenome Moreau, e se foi me dado, não vou deixar na
gaveta.

Jace me leva às lojas de renome, ficando nos bastidores mexendo no


celular. Duas vendedoras vem me atender, colocando diversas peças de
roupas na minha direção, roupa íntima, biquínis e sapatos. São diversas
peças para escolher.

No fim das compras, Jace colocou um dos funcionários da loja para


carregar as sacolas e nós dois saímos de carro pela manhã ensolarada de Las
Vegas. A cidade é muito movimentada, o trânsito quase caótico.

— Ouvir que você é formada em direito. Interessante… — Jace


comenta, os olhos castanhos olhando rapidamente para mim com um certo
interesse.

— Ouviu isso do seu chefe ou descobriu quando me investigou? —


Pergunto olhando através da janela ao meu lado — As pessoas que contratou
para tirar fotos minhas, não foram muito discretas.

Ele expira.

— Talvez, você seja esperta demais. Tome cuidado com o que ouve e
fala por aqui. Nosso Sottocapo é pavio curto, você logo irá perceber.
O sotaque russo dele me causa lembranças.

Percebi seu sotaque quando nos falamos pela primeira vez, mas só
percebi a origem dele, agora. Desço meus olhos pelos seus braços
musculosos expostos graças a regata branca. Procuro a tatuagem que
evidencia que ele foi um membro da Bratva, mas ela não está visível.

Será que ele sabe algo sobre Nikolai? A amizade que nós dois
tínhamos na faculdade?

Me mantenho relaxada no meu assento, passeamos por Las Vegas até


o celular de Jace tocar. Ele atende em um tom solene.

— Chegou mercadoria nova, Jace. Preciso de você ou do chefe para


avaliar. — Diz a voz masculina pelo fone.

Jace franziu o cenho rapidamente.

— O Sottocapo não está na boate?

Ouço o barulho de música tocando e algumas pessoas falando por


trás do celular.

— Ele está acompanhado no escritório dele.

— Chego em cinco minutos.

Jace desliga a chamada e olha para mim.

— Você vai comigo, mas não sairá do carro. Vai ficar no


estacionamento me esperando voltar.

Fico em silêncio. Eu não tenho interesse em conhecer as boates de


prostituição da Camorra, por mais famosas que sejam.

Jace estaciona o carro em um estacionamento particular e salta do


carro me dando um aviso silencioso para permanecer no carro. Suspiro em
resposta, mas sua ordem me faz querer desobedecê-lo.
É quase meio-dia. Estou começando a ficar com fome e com sede.
Kai não irá me ver se eu entrar, ele está com alguém, provavelmente algum
dos homens da organização.

Saio do carro, caminhando pelo estacionamento e entrando na boate


logo em seguida. As paredes vermelhas repletas de globos de luz me
recebem, assim como a música sensual. Olho em volta vendo o palco, os
pole dance, os sofás acolchoados e o bar.

Tem duas mulheres apenas de roupa íntima ensaiando no palco, elas


olham para mim com curiosidade, parando o que estão fazendo.

Jace está no bar conversando com um homem baixo, de olhos miúdos


e careca. Ele está mostrando uma maleta a Jace.

Os olhos do barman vem na minha direção, e ele limpa a garganta e


fala algo a Jace.

— O que está fazendo aqui dentro? — Jace se vira na minha direção.

Caminho até ele.

— Quero algo para beber — Respondo, percebendo o olhar do


negociador em mim. Os olhos passeando de cima para baixo pelo meu
corpo, um sorrisinho nojento no canto da boca.

— Volte para o carro, vou levar algo para você beber lá — Jace soa
nervoso, se colocando na minha frente como se para tampar minha visão.

Franzi o cenho.

— Eu vou beber água e ir embora. Qual o seu problema?

— Quem é essa linda garota, Jace? Namorada nova? — pergunta o


negociador, com o sorriso ainda mais malicioso.

Seus olhos agora são insistentes em mim, Jace cerra a mandíbula.


— Ela é a esposa do Sottocapo, Kelsy. Se eu fosse você mantinha
esses olhos longe, juntamente com os pensamentos. — Jace adverte.

O tal Kelsy quase de imediato desfaz o riso do rosto, mas não é isso
que me chama atenção. É o fato de o barman sair de fininho e caminhar até o
corredor e surgir alguns segundos depois com uma expressão de
desconforto.

— Vá para o carro e me espere lá — Jace me entrega uma garrafa de


água e me empurra para a saída.

Caminho para fora sentindo os olhos das duas mulheres sobe ao


palco. Elas parecem terem cerca de trinta anos e uma delas me olha com
atenção, e depois sorri. Um sorriso sem malícia. Eu retribuo o sorriso por
alguma razão.

Espero Jace do lado de fora do carro, bebendo a água da garrafa e


observando qualquer movimento nesse estacionamento. Alguns minutos se
passam e ao invés de Jace aparecer, quem surge na porta da boate é Kai.

Ele está vestido de preto, da cabeça aos pés. Na luz do dia, e a alguns
metros de distância de mim, eu volto a perceber o quão alto ele é. Como
invencível ele parece. Ele para e me olha de longe. Meu corpo parece travar
diante da visão bonita que ele está desenhando na minha mente.

Vê-lo ao longe, vestido e tão resoluto faz a imagem de nós dois


juntos se desenrolar na minha mente. Os momentos em que nossos corpos
estavam unidos. O quão forte ele me tomou para si nas últimas duas noites.

Ele começa a se aproximar e eu aperto a garrafa de vidro na minha


mão. Me mantenho séria.

Seus olhos brilham recebendo o sol que os deixa ainda mais


castanhos. Ele para a um metro de distância.

— Comprou tudo que precisava? — Pergunta, a voz sempre


profunda.

Passo minha mão pelo cabelo, respirando baixo.


— Acredito que sim.

— Você poderá sair para comprar algo que chegar a precisar, é só


falar comigo.

Sua voz está calma, mas seus olhos demonstram algo similar a
inquietação.

Em alguma parte da minha mente, eu sinto que acabei de atrapalhar


algo que ele estava fazendo com alguém.

Me aproximo dele, devagar, ficando próxima o suficiente para sentir


seu cheiro. Kai se mantém parado, imóvel. Coloco minha cabeça no centro
do seu peito e inspiro.

A fragrância sobe pelo meu nariz e eu ergo meu rosto para ele.

Não digo nenhuma palavra. Sei que ele esteve com outra mulher e
estava fazendo isso lá dentro. O perfume feminino está impregnado nas suas
roupas.

Me afasto.

— Onde está Jace? Quero voltar para a cobertura.

— Marcella…

Me afasto dele e entro no carro, evitando olhar para ele. É claro que
ele ia continuar com os casos amorosos, os juramentos, as regras só servem
para mim que passei toda minha vida subjugada.

Jace surge alguns segundos depois que entro no carro, ele fala algo
com Kai e entra no carro sem falar nada.

Ele me deixa em casa, sozinha, com dois homens na porta para me


vigiar e me manter aqui dentro. Faço um almoço rápido para mim, o qual
como em silêncio. Lavo a louça, ando pela cobertura verificando todos os
cômodos e pego um MacBook para pesquisar sobre universidades que
oferecem especialização. Eu faço de tudo para distrair minha mente do fato
de que Kai estava com outra mulher mais cedo.

Tínhamos um trato, se achei que eu teria algum tipo de respeito, é


claro que me enganei completamente. A única diferença na minha situação é
meu estado civil e o lugar onde estou morando.

Pego um dos livros que trouxe na mala, feliz por ele não ter sido
ensopado. Leio durante algumas horas, fugindo da minha realidade. Perto do
final da tarde, eu encho a banheira com água morna para poder relaxar e
pensar sobre tudo. Sobre minha mãe, minha quase liberdade…

Tudo parecia promissor, e agora nada mais que cinzas da minha


liberdade assombra minha mente.
Ajeito minha calça e blusa depois de me lavar. Limpo os vestígios de
Evangeline do meu corpo, da minha roupa antes de sair para ver Marcella.
Jace tenta me advertir a não fazer isso, mas um certo nervosismo me faz
contrariar seu conselho e sair para o estacionamento.

Minha conversa com ela dura exatos três minutos. E o fim da


conversa a faz ficar com os olhos distantes e perturbados.

— Vou levá-la para casa e voltar para negociar a mercadoria — Diz


Jace, entrando no carro.

Observo os dois partindo e eu solto minha respiração. Eu não tenho


porque dar satisfação para Marcella ou me sentir mal por estar fodendo outra
boceta. Nosso casamento é por conveniência. Exatamente como todos nessa
maldita máfia.

Preciso colocar isso na minha cabeça e voltar ao centro da pista.


Marcella é só uma mulher como todas as outras, a diferença é que temos
uma certidão de casamento e ela será mãe dos meus filhos.

Entro na boate recebendo os olhos injetados de Kelsy em mim. Ele


faz um meneio de cabeça respeitoso na minha direção, sem coragem de dizer
uma única palavra que possa me deixar contrariado. Todos aqui conhecem o
tipo de monstro que eu sou.

Passo direto pelo salão, indo para minha sala. Josh foi me avisar que
Marcella estava aqui. Ouvir isso me fez sair de dentro de Evangeline com
um certo entojo de mim mesmo. A coloquei para fora e agora estou sozinho
na minha sala.

A mesa está bagunçada, a camisinha se encontra no lixeiro…

Uma raiva por mim mesmo circula pelas minhas veias, eu reprimo.
Não tem nenhum motivo para isso. Eu estava precisando me aliviar.
Marcella ainda não está pronta para meu ritmo, não fiz nada além do que
deveria.

Os olhos redondos com cílios longos aparecem na minha mente,


deixando minha mente turbulenta.

Passo o resto do dia me ocupando de trabalho, verificando tudo o que


está saindo de Las Vegas e entrando. Negocio prostitutas e despacho novas
drogas para Ásia.

Por volta das 15:00 da tarde, eu recebo uma ligação do meu tio.

— Ora, meu tio preferido ligando. Isso é inusitado — Suspiro


enquanto observo os carros com as drogas partindo do galpão.

— Como está a circulação da droga nova?

Ele não ligou por isso. Ele quer saber onde estou e o que estou
fazendo. Provavelmente, ele vai se reunir com os senadores para discutir
sobre os negócios legais da família Moreau, ele está com medo que eu
estrague alguma coisa aparecendo.

Se ele soubesse que tenho todos na palma da mão. Gosto de fazer ele
pensar que meu pai ainda possui controle de algo da organização.

— Pergunte ao Capo, conselheiro. Não sou a porra de uma secretária


para te passar relatórios. Suje um pouco seus sapatos caros e venha ver por si
mesmo.

Desligo o celular, sem humor para qualquer conversa com meu tio.
Estou com tanta raiva dentro de mim que meu corpo parece
tensionado. É por essa razão que ao invés de ir para casa, eu vou para o
barracão lutar com os homens.

Tento extravasar essa tensão nocauteando os homens que luta


comigo, um depois do outro. São três homens, no total. Alguns dos melhores
soldados.

Quando chega às 20:40 da noite, os homens vão se dispensando. Eu


tomo um banho, visto minhas roupas e vou embora me sentindo 1% mais
aliviado. Dirijo até a cobertura ciente de que vou vê-la, e torço para que eu
não sinta nada quando estiver diante dela. Sentimentos são coisas de merda,
que fodem com tudo. Estou desse jeito porque ainda não a comi o suficiente
para enjoar.

Às portas de metais se abrem e eu caminho para dentro da minha


cobertura com poucas luzes acesas. Vou até a cozinha beber um pouco de
água, depois sigo para o quarto pronto para confrontar Marcella e seus olhos.

O quarto está vazio e arrumado. O banheiro também. O único


vestígio de que ela esteve aqui, é seu cheiro.

A procuro pelos cômodos, deixando o escritório por último. E é lá


que eu a encontro. Encolhida na poltrona lendo um livro. O escritório está
escuro, a única luz é a do abajur ao lado dela, que ilumina sua leitura.

Ela não ergue o rosto para mim quando abro a porta, acredito que ela
nem percebe minha presença. Só ergue os olhos quando eu abro mais a porta
para entrar, fazendo a luz do corredor entrar no cômodo. Os olhos redondos
se erguem na minha direção rapidamente e eu absorvo a beleza deles.

O cabelo dela está solto e úmido. A luz alaranjada destaca a pele


macia e hidratada do seu rosto, pescoço, e colo descoberto.

— O que faz aqui tão quieta, parecendo que vai se fundir a essa
poltrona? — pergunto, indo até o carrinho de bebidas.

Ouço um breve suspiro da parte dela.


— Lendo — Seu tom é baixo e indiferente. Me sirvo com um pouco
de gim.

— Passou o resto do dia aqui dentro?

Me viro, vendo sua expressão concentrada no livro. Suas pernas


estão dobradas sob a poltrona, ela está com um vestido casual de alças finas.

— Explorei a casa, almocei, tomei banho e achei esse lugar. Pretendo


ficar por aqui a maior parte do tempo. Esse escritório não parece ser muito
usado, de qualquer forma — suspira, virando a página do livro.

Fico em silêncio, olhando para ela. Sua presença me afeta, isso eu


não posso negar. A forma como o cheiro dela causa um choque em mim é
inegável dizer que seja normal. O desejo que sinto por ela é difícil de frear.

Observo suas pernas curtas, torneadas comprimidas pela posição, o


vestido mostrando uma parte da coxa. Levo o copo de gim até os lábios. Ela
não sabe o que fiz hoje enquanto estava na boate. Se soubesse, estaria tão
calma assim?

Ela fecha o livro e olha para mim, esses olhos verdes me fitando são
como fogo entrando em contato com querosene.

— Alev entregou meus documentos a você? — Pergunta.

Confirmo com a cabeça.

— Preciso da minha identidade, vou até uma universidade amanhã


fazer minha matrícula para a especialização.

— Já encontrou uma universidade assim tão rápido?

— Assim como você quebrou os votos de casamento.

Cerro o maxilar. Os olhos dela permanecem em mim, sem desviar.


Meu corpo enche com tensão novamente, como se minha mente estivesse se
enchendo com a porra da culpa.
Marcella mantém os olhos duros, ela baixa eles rapidamente para o
livro deixando claro a decepção deles.

— Pode deixar meus documentos em algum lugar fácil para que eu


possa pegar amanhã? Vou sair cedo. Posso pegar um táxi ou…

— Você pode ir com Castello. Você já o deve ter visto ele na entrada
do apartamento, é um dos homens que fará sua segurança.

Ela crispou os lábios.

— Não colocará eles para me seguir dentro da universidade também,


não é? Não preciso de vigia estando lá dentro.

Cerro meu punho só de imaginar ela cercada de homens


desconhecidos que a faculdade terá. Ela vai conhecer todo tipo de gente lá.

— Se preciso for, eles entrarão até dentro da sala com você.

Ela fecha o livro, a chateação se mostrando nos seus olhos.

— Não se atreva a isso, Kai. Não tire mais do que já tirou de mim.
Não seja carrasco a esse ponto, não estou pedindo muito. Não tanto quanto
você já fez de mim, não? — Ela exala acidez.

Me mantenho no meu lugar, tentando manter a calma.

— Você foi dada a mim. Qualquer decisão sobre sua vida, pertence a
mim.

Ela dá um passo na minha direção, os olhos parecendo tempestade de


chateações.

— Não ouse tentar tomar qualquer decisão sobre minha vida.


Ninguém mais fará isso. Eu te dei tudo que queria, te dei meu corpo e
mesmo assim você quebrou nosso acordo e ficou com outra mulher — ela
engole a seco — Eu sei o que você estava fazendo na boate, não aja como se
eu fosse estúpida, sabemos que eu não sou. Mantenha sua palavra de me
deixar fazer minha especialização, serão apenas dois anos.
Engulo em um só gole o restante do gim no copo. Passo a língua
pelos meus lábios e encaro Marcella.

— Por que não me deixa beijar seus lábios? — Pergunto. Em meio a


tanta raiva, tensão e chateação essa é a única pergunta que quero fazer a ela.

Eu desejo esses lábios desde o dia que a vi. Sinto necessidade em


beijá-la, mas ela me nega isso.

Marcella parece confusa, sua expressão assumindo a dureza que suas


palavras entoam quando ela finalmente se dirige a mim

— Você não merece isso de mim. Eu sabia que não poderia confiar
em você, mas ainda assim achei que você fosse ser honesto, você não foi.
Quero manter o máximo que eu puder de mim durante esse casamento. Você
não terá meus beijos. Não terá uma única demonstração de afetividade da
minha parte. Eu não vou entregar isso a um homem que se casou comigo,
mas nem mesmo honra seus votos a mim. Minha boca não vai encostar em
algo que toca outras mulheres e às possui da mesma forma que faz comigo.
Ou pior

Observo sua expressão obstinada e magoada enquanto ela me diz


essas palavras. Suas palavras soam claras o suficiente para não deixar
nenhuma dúvida.

— Só preciso dos seus gemidos, e do seu corpo para gerar meus


filhos. — Minto. Me aproximo dela, devagar e o suficiente para sentir ela
ficar em alerta — Fico satisfeito sabendo que serei o único homem da sua
vida a possuir seu corpo. Você é minha, Marcella, e sempre será até o último
dia da sua vida.

Ela mantém os olhos duros em mim, e eu a desejo ardentemente


nesse momento.

Brinco com a alça fina do seu vestido, a vendo ficar tensa sob meu
toque. Passo a língua pelo meu lábio inferior lembrando do gosto da sua
pele, da maciez…
— Mesmo sem seus lábios, eu posso possuir mais do seu corpo do
que imagina. Então, não ache que está se protegendo de mim. Toda vez que
eu entrar dentro de você, vou levar um pedaço seu comigo até que na sua
mente só esteja o desejo por mim. Nem que seja de ódio.

Ela se mantém parada, sem movimentar um único músculo.

— Tenha o mínimo de decência e respeito por mim hoje. Não faça


sexo comigo quando estava com outra mulher horas atrás, nem você pode
ser tão ruim assim. Mantenha esse mínimo de respeito.

Ela se afasta de mim, voltando a se sentar na poltrona escondendo


seus olhos de mim.

Nós dois ficamos em silêncio, até ela falar sem olhar diretamente
para mim.

— Pode ficar com o quarto para você hoje.

São suas últimas palavras. Ela segura o livro com força e mantém os
olhos baixos. Sua voz soou trêmula fazendo meu coração apertar.

Sem qualquer resistência, eu saio do escritório deixando ela sozinha.


Não consigo ter mais do que algumas mínimas horas de sono.
Deitada no sofá do escritório, com o livro aberto, tudo se torna uma espécie
de tortura na minha mente. Eu não esperava ser traída tão rápido assim, isso
fez com que mais dúvidas surgissem na minha mente. Se Kai foi tão rápido
em quebrar os votos, então o quão mais ligeiro tentará me quebrar?

Eu tive a terrível sensação de que ele iria cumprir o acordo comigo.


Acreditei nele. Me sinto tão ridícula e furiosa comigo mesma. Fui eu quem
perdi minha virtude, quem deixou ele tomar a única coisa que guardei com
tanto afinco.

Cheguei até mesmo a matar um homem por tentar me abusar. Ainda


tenho pesadelos com isso. A cada vez que minha mente volta aquela manhã,
é como se o mundo congelasse e eu voltasse a sentir o sangue nas minhas
mãos. Minha respiração oscila de modo a me deixar quase sem oxigênio. Se
não fosse Karx a me ajudar a esconder o corpo, eu teria sido julgada e
condenada por matar um soldado da organização, mesmo que meu único
crime tenha sido me defender.

Meu coração está absurdamente pesado, não sinto vontade de me


levantar, quero ficar aqui nesse escritório frio e escuro massacrando minha
mente com minha estupidez, culpa e autocomiseração. Mas não tenho tempo
para isso, não vou chegar a cair de joelhos e me entregar.

Tiro a manta do meu corpo e levanto indo para a cozinha. Pela hora
no relógio digital sob a mesa, eu deduzo que Kai ainda possa fazer está
dormindo. Ainda são 4:40 da manhã.
Preparo café quente e espero o mesmo ficar pronto. Não acendo as
luzes, deixo apenas as luzes de lá de fora que entram através das janelas de
vidros. O sol está ganhando forma. Deve ser maravilhoso assistir ele da
praia.

Me sirvo com uma caneca de café e me sento no balcão, olhando


para o lado de fora, assistindo o sol brilhar. A beleza da luz me faz desejar
sair e me esquentar com ela.

São tantos pensamentos que ficam pausados na minha mente, que eu


nem mesmo noto quando Kai surge na cozinha pingando de suor. O moletom
preto ensopado. Ele olha na minha direção rapidamente antes de se virar
para se servir de café.

Ajeito minha postura, passando minhas mãos pela caneca quente.

Olhar para ele agora é tão decepcionante.

Mantenho meus olhos baixos, encarando a caneca de café. Decepção


e fúria se entrelaçam dentro de mim.

— Seus documentos estão sob a cabeceira da cama. Teremos um


jantar na casa dos meus pais hoje, voltarei para casa mais cedo — avisa com
sua voz profunda.

— Será apenas sua família? — Pergunto.

— Alguns membros da elite podem estar lá. Nunca é apenas um


jantar. Escolha um vestido bonito.

Levanto da cadeira, levando a caneca para a pia. Até mesmo ouvir a


voz de Kai está inflamando ainda mais a raiva dentro de mim.

Aproveito que ele está na cozinha e vou para o banho. Lavo meu
cabelo e corpo. Escovo meus dentes e vou para o closet enrolada na toalha.
Visto um conjunto de lingerie de renda preta, e uma blusa soltinha
acompanhada de uma calça de tecido mole. O clima aqui é mais quente do
que na Filadélfia.
Escovo meu cabelo, passo um base para esconder a noite mal
dormida e borrifo um pouco de perfume.

Como Kai disse, meus documentos estão na cabeceira. Encontro


tudo, até a certidão de casamento. Coloco na bolsa tudo que irei precisar.

Quando estou calçando minhas sandálias sem salto, Kai entra no


quarto, retirando o moletom na minha frente. Meus olhos vão até seu peito
forte coberto de tatuagem por cima das cicatrizes aparentes

Ele me olha da cabeça aos pés. Os olhos dourados atentos.

Eu também o observo. Kai é belo. Todas essas cicatrizes sobre seu


peito, as queimaduras cicatrizadas… todos podem associar sua aparência a
de um monstro, mas não eu. Ver suas cicatrizes me faz querer beijar cada
uma delas até que ele possa esquecer a dor que foi adquirida com elas.

Esse pensamento parece ser desenhado no meu rosto, pois Kai se


aproxima de mim e eu me ergo ainda olhando para suas cicatrizes, cada uma
delas. Ele para a centímetros de mim e eu ergo minha mão lentamente.

Com a ponta do dedo, eu toco a cicatriz de queimadura com a marca


da Camorra. Desenho o relevo dela sentindo meu corpo se encher de
admiração por ele está vivo.

Desço meus dedos pelas outras cicatrizes de queimaduras, de facas…


eu o toco sem ressalvas. Não tenho medo ou nojo.

Conheço o peso de cicatrizes, e se eu pudesse, apagaria todas essas


que vejo.

— Não sente nojo? — Pergunta Kai com a voz afetada. Percebo que
ele está tenso com meu toque.

Ergo meus olhos, encontrando ele me olhando intensamente.

— Suas cicatrizes não o tornam desprezível, elas são a marca da sua


resistência. Da sua sobrevivência. Elas são como palavras gritantes dizendo
que você sobreviveu à dor — Sussurro, meus dedos descem até seu abdômen
onde uma cicatriz de um corte de 6 centímetros se estende — A maldade que
você foi exposto, a violência te tornaram um guerreiro, moldaram seu
caráter…

Tiro minhas mão da sua pele, olhando para ele com ressignificação e
um pouco de dureza. Levo minha mão até o lado esquerdo do seu rosto onde
se encontra a cicatriz. Encaixo minha mão nessa parte do seu rosto,
escovando sua bochecha com a cicatriz avermelhada com meu dedão.

Kai fica extremamente tenso com o toque, mas ele não me repele ou
se afasta.

Olho para seus olhos ao sussurrar com firmeza:

— Elas provavelmente te fizeram não confiar em ninguém, mas


também te moldaram a ser um traidor.

Kai mantém seu olhar no meu, assim como eu, seus olhos quebraram
uma barreira diante dos meus com minhas palavras. Espero ver o deboche, o
humor e a glorificação por eu estar falando algo com a qual ele não se
importa.

Mas não.

Kai parece distante.

Dou um passo para me afastar dele, depois outro até me virar de


costas e pegar minha bolsa e sair da sua presença, o deixando na mesma
posição.

O segurança e o motorista estão me aguardando na sala.

Só quando eu estou dentro do carro é que solto minha respiração.

Deixo meus pensamentos vagarem, até o carro parar em frente a


universidade. Sigo para dentro observando o Campus repleto de alunos
jovens bronzeados.

Felizmente, nenhum dos homens de Kai me segue.


Caminho até a sala da direção me sentindo como uma pessoa normal.
Apenas uma jovem adulta em meios a outros. Sem nenhum rótulo de
bastarda e mafiosa.

Faço minha matrícula nas aulas de direito penal.

Na hora de preencher minhas informações, eu preencho com meus


dados de solteira. E ao invés de entregar minha certidão de casamento, eu
entrego apenas minha identidade.

O sobrenome Rivera é apenas um sobrenome qualquer aqui em Las


Vegas para quem não faz parte do mundo mafioso.

Já o Moreau é uma sentença em qualquer lugar. Eles comandam Las


Vegas. Não é preciso ser do mundo da organização para saber a origem desse
sobrenome.

Termino minha matrícula e caminho pelo campus com a mente mais


calma. Paro no meio da grama verde e olho para um carvalho a alguns
metros longe de mim.

Sinto meus dedos formigando com a sensação da textura da pele de


Kai, com a temperatura e a forma como olhei para ele e fui olhada de volta.

A forma como ele se projeta na minha mente chega a ser


pecaminosa.

Almoço em um bistrô a poucos quilômetros da praia. Os dois homens


de Kai mantém os olhos em mim, e eles não são nada discretos. Na
Filadélfia eu podia sair sem escolta, ninguém me incomodava com isso.

Como meu almoço concentrada na minha refeição e em olhar ao


redor. O bistrô está cheio, tem várias pessoas com roupas de banho e casais
conversando alto. O sotaque é diferente do que estou acostumada.

Volto para a cobertura depois de tomar um café quente. Kai não está
aqui, como o esperado.
Vou para o closet procurar um vestido social para o jantar. Escolho
um preto tomara que caia de tecido fresco, com uma fenda na perna direita.

Aliso meu cabelo com uma chapinha, mas mesmo com a chapinha,
as pontas ficam levemente onduladas.

Tomo um banho rápido, visto o vestido preto e faço uma maquiagem


suave. Calço sandálias de salto e volto a coloco minha aliança de casamento
que tirei quando entrei na faculdade.

Fito meu reflexo no espelho vendo a aparência diferente que meu


cabelo liso causa. Ele é longo estando ondulado, mas liso chega em um
comprimento na altura da minha cintura.

Estou colocando um par de brincos pequenos que trouxe de casa,


quando Kai surge no quarto. Seus olhos vêm diretamente na minha direção.
Ele parece analisar meu cabelo e se mantém parado até eu me levantar.

A forma como ele me olha faz meu ventre pesar.

É um olhar tão forte que me faz sentir medo.

— Alisou o cabelo — Sua voz profunda preenche o quarto.

Engulo a saliva acumulada na minha boca e balanço a cabeça. Os


olhos dele desceram até meus pés, contemplando o vestido justo.

— Fez bem em escolher preto. Minha família é devota da cor,


combina conosco.

Um silêncio impera entre nós, Kai mantém seus olhos em mim com a
intensidade capaz de queimar minha pele. É como se ele fosse pular em cima
de mim a qualquer minuto.

Eu desvio meus olhos do dele.

— Vou deixar você se arrumar. Estarei esperando lá fora… — Passo


por ele, sentindo o momento que seus dedos tocam minha mão causando
eletricidade, continuo andando como se nem ao menos fosse afetada por
isso.

Mas minha pele formiga onde os dedos fizeram contato.

Quando Kai surge do quarto, está vestido de preto da cabeça aos pés,
como sempre. Nós dois pegamos o elevador em silêncio, sem nenhuma
interação. É como se cada um de nós estivéssemos em uma bolha, ou só eu
esteja nessa bolha e ele está me observando do lado de fora.

O carro que estamos é seguido pelos homens de Kai até chegarmos


na mansão dos Moreau. Uma mansão reclusa, luxuosa e cercada por homens
e cachorros.

A fachada branca com detalhes pretos está iluminada, e os homens


estão por toda parte.

Kai estaciona o carro na frente da casa e sai de dentro com uma


respiração entediada. Abro a minha porta e saio sentindo a atmosfera pesada.

Ele me espera, e surpreendentemente, me oferece o braço. Olho para


ele confusa pelo gesto.

— Somos recém-casados, não quero ninguém me importunando com


perguntas. Venha, segure.

Passo meu braço pelo seu, segurando suavemente seus bíceps. Nós
dois caminhamos para dentro da mansão luxuosa e com mobília antiga.

São mais de que alguns membros, tem em torno de duas dezenas de


pessoas na sala de entrada, e um banquete de comida e bebida estão
dispostos para os convidados.

Os olhos se voltam para a entrada de Kai, desviando para mim. A


maior parte dessas pessoas são compostas por homens, poucas são as
mulheres.

Os homens mais velhos e novos fazem um gesto de cabeça para Kai,


e ele retribui com um sorrisinho sombrio.
— Kai, esperava ver você essa noite. — Um homem alto, de cabelo
grisalho e um terno de três peças explicitamente caro, se aproxima de nós
dois.

Os olhos escuros do homem vem até mim.

— A nova senhora Moreau, filha de Alev Rivera… É uma linda


esposa. — O homem sorri para Kai.

— E sua esposa, onde está? — Pergunta Kai.

— Circulando por aí, Sottocapo. Podemos conversar, a sós?

Kai olha para o homem com a firmeza e a forma sombria que seus
olhos sempre parecem demonstrar.

Solto minha mão do braço de Kai e peço licença, me afastando dos


dois e caminhando pelo salão sob o olhar de todos. Parece que eles estão
interessados em observar cada um dos meus movimentos.

— Marcella! — A voz da mãe de Kai surge atrás de mim, me viro


para ver ela com seu sorriso encantador.

Ela está de preto, com um vestido longo e solto. A beleza explícita


em cada parte do seu corpo.

Não consigo ficar séria diante da sua expressão sempre sorridente,


ela sempre consegue um sorriso meu.

— Que bom que veio, querida! — Beija os dois lados do meu rosto
— Está com fome? Ninguém se senta à mesa de jantar. Todos ficam em pé
ou pelos cantos tratando de assuntos.

Olho ao redor comprovando suas palavras. Todos os homens


parecem interessados em chamar a atenção de Otávio, Ivo e Kai.

— Vamos para um lugar mais discreto, querida.


Ela segura minha mão, caminhando até o jardim. Paramos no terraço
iluminado com uma bela vista da piscina e das luzes por todo jardim. Nós
duas sentamos em poltronas opostas.

Uma jovem se aproxima de Alexa. É jovem demais, menor de idade.


Pelas roupas, ela é uma criada.

— Duas taças de vinhos tinto, Marly.

A menina assente e sai tão silenciosa como chegou.

Os olhos azuis de Alexa estão em mim, com um sorriso carismático.

— Como está se adequando essas últimas semanas no seu novo lar?


— Pergunta, ainda com um sorriso.

Alexa me deixa desconfortável. Ela fala e age como se não fizesse


parte de um mundo mafioso. Quando ela me pergunta sobre isso, parece que
me pergunta sobre o que estou achando do clima.

— É uma cidade bonita, senhora — respondo, medindo as palavras


para não cometer nenhum erro.

— A convivência com Kai tem sido boa?

Me mantenho em silêncio e a analiso. Ela não sabe que tipo de


homem é o filho dela ou só está agindo assim por pensar viver em outro
mundo? Alexa não parece ser uma mulher quebrada. Ela parece não ter
passado por nenhum sofrimento.

Respondo positivamente todas suas perguntas que me deixam ainda


mais desconfortáveis. Em um momento ou outro, entre uma taça e outra de
vinho, ela parece sorrir ainda mais.

Algumas mulheres chegam até nós, e quando sou apresentada vejo o


brilho de malícia no olhar delas. Todas se envolvem em uma conversa sobre
decoração de casas, e as mulheres não escondem o fato de estarem me
excluindo. Elas nem mesmo percebem quando me levanto e saio pelo
terraço, procurando uma porta que leve a outro cômodo.
Encontro uma porta que dá para a cozinha, a porta de vidro está
entreaberta. Ouço o barulho do fogão ligado, das panelas, e de pessoas
conversando. Escutar atrás da porta é um passatempo produtivo para mim.
Em todas as festas que Alev dava em casa, eu ficava na cozinha, dentro da
dispensa ouvindo o que todos falavam sobre o que acontecia no salão.

— … Ela já secou duas garrafas de vinhos. Peguei algumas das


mulheres falando que ela tem vício em bebida para suavizar a culpa pela
filha está em coma há mais de dez anos… — Fala uma das criadas.

De quem ela está falando?

— É só da senhora Alexa de quem estão falando, por acaso? O


Sottocapo trouxe a esposa bastarda. As mulheres mais jovens estão correndo
para o banheiro apenas para fofocar sobre a aparência da menina. — Diz
uma voz masculina.

— Menina? Ela é jovem assim?

— Deve ter em torno de 20 anos…

— A menina Niki tem 21 agora. A senhora Alexa deve achar que a


nora pode aplacar a culpa, talvez…

Eles continuam a falar enquanto eu junto o que ouvir na minha


mente. O casal Moreau tem uma filha? Eu nunca ouvi sobre isso. E pelo que
falaram, ela está em coma. Preciso apurar se é verdade.
Faço um arrodeio pela casa, nos limites em que os seguranças se
mantêm afastados. Encontro outra porta, e essa leva diretamente para uma
biblioteca escura e vazia, com um cheiro forte de livros. Fecho a porta atrás
de mim e caminho até a porta que deve dar para um dos corredores que não
estão ocupados pela festa.

Encontro o corredor vazio, e logo na frente dele está a escada que


deve levar para o primeiro andar da mansão. Pela posição, acredito que seja
a escada que os empregados usam para atender os Moreau. Subo pela
mesma, até chegar no primeiro andar cercado por portas de cerejeira pelos
dois lados.

Cinco portas de cada lado. Tudo no corredor está vazio. Apenas


móveis bem organizados e limpos.

Ando pelo corredor nas pontas dos pés, olhando para cada um das
portas e parando na penúltima do lado direito. Diferente das outras portas de
cerejeira pintadas de preto, essa é a única porta com cor branca e uma
madeira fina.

Toco a maçaneta, hesitante. Viro a mesma me surpreendendo por


estar aberta. Abro a porta devagar, recebendo a visão de paredes cor de rosa,
quadros infantis e uma decoração juvenil.

Entro por completo no quarto sem acender a luz, a que vem de fora,
atravessando as janelas com cortinas finas, é o suficiente.

O quarto é grande. Possui uma cama de solteirão com edredons de


unicórnio na cor lilás. Tem bonecas espalhadas pelo chão como se alguém
houvesse brincado e esquecido delas, e ninguém voltou a tocar novamente.

A mesa de estudo está cheia de livros bem organizados, um diário e


um porta-retrato. Me aproximo o suficiente para ver a foto.

Uma garotinha de sorriso grande igual ao de Alexa, com um


penteado de maria chiquinha. Ela está abraçada ao pescoço de Ivo e sorrindo
como se ele tivesse dito algo engraçado a ela.

Os Moreau têm uma filha mais nova.


Observo a foto associado a aparência dessa garotinha a Alexa. A
única coisa que ela se parece com o pai é a tonalidade escura do cabelo,
assim como o de Kai.

— Perdeu o medo de ser pega no quarto dos outros, Bella mia?

A voz profunda atrás de mim faz com que eu tenha um sobressalto e


um grito surdo saia da minha boca. Kai está parado, encostado na porta
fechada atrás de si.

Sua postura é relaxada e seu rosto duro. Levo a mão até meu peito,
sentindo as batidas desenfreadas do meu coração pelo susto.

— Desculpe. Eu apenas entrei sem pensar em muita coisa —


Sussurro.

— Hum, logo no quarto da minha irmã?

— Eu não sabia que era o quarto dela, eu nem mesmo sabia que você
tinha uma irmã mais nova.

Kai se movimenta, com dois passos que suas pernas longas fazem,
ele se senta na cama da irmã com um suspiro baixo.

— Ninguém fora da nossa organização lembra que Ivo Moreau tem


outro filho. Faz mais de dez anos que ela está no hospital — Sua voz é baixa,
quase pesada.

Fico parada perto da mesa de estudos sem saber o que fazer, ou qual
passo dar.

Kai solta um suspiro longo e olha para o teto, sigo seu olhar vendo
estrelas coladas nele.

— O que aconteceu com ela? — pergunto.

Ele fica em silêncio, mirando o teto como se assistisse a algo. Tenho


vontade de me aproximar, mas Kai está tão grande e obscuro nesse quarto
semi escuro que eu penso duas vezes em qualquer passo que eu possa dar.
— Nicoletta Moreau, o nome dela. Todas a chamavam de Niki
porque ela gostava do apelido, e era como eu a chamava. Ela era a menina
dos olhos do nosso pai, a prova viva de que ele tinha um coração… — Kai
vira o rosto para mim — Te dei informações, o que eu ganho em troca?

O olho confusa.

— Como assim? — Questiono.

Kai se ergue na cama, vindo na minha direção, eu me aproximo ainda


mais da mesa de estudo para colocar algum espaço entre nós.

O cheiro masculino entra nas minhas narinas, me fazendo quase


perder a respiração.

— Você sabe como funciona, Marcella. Uma recompensa por cada


informação. E eu te dei duas, ou três… — Ele se inclina para ficar cara a
cara comigo — Posso dizer o que quero?

Respiro devagar com a proximidade entre nós dois, estamos quase


nos tocando. A respiração calma dele sopra meu rosto.

— Não pedi informações, não tenho que recompensar nada a você.


— Seguro as bordas da mesa com as mãos, para manter meu corpo firme no
chão.

A luz que vem de fora ilumina o rosto de Kai, deixando esses olhos
âmbar acesos e a expressão faminta dele em evidência para mim.

— Você me tocou hoje, me fez te dar informações e eu não ganhei


nada com isso ainda. Está na hora de mudarmos o jogo. — Sua voz é baixa e
carregada, ele está sendo bastante sério no que diz — Quero ouvir você
também, Marcella. Quero a porra dos seus gemidos, quero sua boceta
apertada e molhada em torno do meu pau. Quero enfiar meus dedos e minha
língua em você e te foder bem forte só para sentir seu corpo sendo meu
novamente. Você está uma delícia nesse vestido, e desde a última vez que
estive dentro de você que estou louco para entrar novamente. E de novo. E
de novo. — Ele inspira forte no meu rosto, o hálito com uísque — Sem
fugas. Sem rejeição.
Minha respiração está pesada, meus braços arrepiados e o meu ventre
contraído diante das suas palavras. Meu corpo reagiu a cada palavra dele,
quase ronronando por ele.

— Trouxe proteção? Você quebrou nosso acordo. Não vou deixar


você entrar dentro de mim sem está com proteção.

Um rugido baixo arranha a garganta de Kai.

— Não vou foder minha esposa com camisinha, porra. Quero sentir
você babando meu pau.

— Não vai mesmo, Kai. Pra isso, você vai precisar me tomar a força
— rebato com firmeza.

Ele me olha com desafio, os olhos brilhando com malícia. Kai


começa a se ajoelhar diante de mim, me pegando de surpresa. O olho
assustada, ele apenas sorri.

— Se não posso beijar você na boca como quero, vou beijar sua
boceta.

Ele ergue meu vestido até meu quadril e rasga minha calcinha me
fazendo arfar com a ação. Abrindo minhas pernas, colocando uma sob seu
ombro, ele posicionou a cabeça no meio das minhas pernas.

Com a mão segurando forte minha coxa sob seu ombro, ele passou a
língua pelos meus lábios, encontrando meu clitóris no caminho. Um gemido
baixo sai dos meus lábios, e a sensação de calor se apossa da minha pele.

Kai abre meus lábios com sua língua e acha a minha entrada, ele
circulou sua língua por ela fazendo com que eu segurasse com força a borda
da mesa e fechasse meus olhos. Sua língua subiu até meu clitóris, ele
pressionou o local com força e então chupou com maestria tirando de mim
um gemido alto.

— Deus… — a sensação de sufoco com o prazer e o medo de ser


pega se misturaram dentro de mim.
Mordo meus lábios com força. Eu não posso gemer. Não nesse
quarto. Pessoas podem ouvir.

Kai me chupa com ainda mais força, determinado a ter os meus


gemidos, sua língua é dura contra meu montinho de nervo. Quando penso
que posso suportar essa tortura prazerosa sem liberar muitos dos meus
gemidos, ele me surpreende ao penetrar dois dedos dentro de mim.

Agarro seu cabelo e o gemido escapa da minha boca antes que eu


possa sufocá-lo. Kai parece sorrir. Ele me fode com seus dedos enquanto me
chupa e a sensação disso é me fazer ferver em um caldeirão de prazer,
despertar todas as mínimas e máximas sensações. É como eu está em uma
montanha russa em queda livre.

Aperto minha perna em torno do seu pescoço, me contorcendo e


gemendo baixinho, querendo gritar e liberar o prazer e toda tensão com
meus gritos.

Kai aumenta os movimentos dos seus dedos, da sua sucção e eu


deliro de puro prazer com esse homem ajoelhado diante de mim, me fazendo
essa exaltação.

Seus dedos ondulam dentro de mim e ele atinge em cheio meu ponto
G estourando a carga em mim. Meu orgasmo é tão forte que perco meu
equilíbrio e minha visão escurece.

Kai ergue os olhos para mim, os cantos da sua boca melados com
meu suco e um sorriso sádico nos lábios. Meu peito sobe e desce com minha
respiração arfante. Estou aturdida e desorientada.

Kai me pega nos braços e me coloca no meio da cama de ferro. Sua


expressão é faminta.

— Camisinha… — digo, ainda arfante.

Ele abre a sua calça social, os olhos concentrados em mim.

— Você entende que preciso possuí-la sem nenhuma barreira nesse


momento? Que eu preciso está dentro de você com urgência? — Sua
respiração está pesada, ele parece vociferar as palavras.

Encaro seus olhos castanhos.

— Não vou foder com você sem camisinha. Não vou arriscar pegar
nenhuma doença de uma das mulheres com quem você transa — faço a
menção de me levantar, ele me segura pelos quadris para me manter no
lugar.

Parecemos dois animais ofegantes diante de uma luta que nenhum


quer perder.

— Acha que eu foderia alguém sem proteção? Não sou estúpido a


esse ponto.

Eu sei que não. Ele não iria querer arrumar um filho dessa forma,
mas não vou ceder a Kai.

— Eu não confio nas suas palavras. Você quebrou nosso acordo —


Lembro-o

Os olhos de Kai se tornam ainda mais vorazes.

— Que seja, Marcella. Eu preciso estar dentro de você, porra!

Ele retira uma embalagem dourada do bolso de trás da calça, a rasga


com habilidade e a veste. Observo o mastro à minha frente, pressentindo dor.

Kai abre mais minhas pernas e se posiciona entre elas. Minha


respiração fica ainda mais pesada junto com a dele. Ele pincela minha
entrada, e ela alarga o suficiente para ele entrar. Nós dois gememos a cada
centímetro dele dentro de mim.

Agarro seus ombros, dessa vez com prazer, não com dor. Kai para
um momento. Fica parado dentro de mim com o rosto repleto de prazer.

Ele se sustenta nos cotovelos, e olha para mim;


— Você é tão apertada e curta — Geme se movimentando
lentamente, contraio os dedos dos pés com a sensação — Porra, isso é bom
para caralho!

Outra estocada, seguida de outra e outra. Dessa vez, não consigo


conter meus gemidos com ele tão dentro de mim, me preenchendo
completamente e se mostrando tão bem sobre mim.

Passo minhas pernas em torno do seu quadril.

Kai estoca como se não tivesse pressa, como se estivesse se


deliciando só por estar dentro de mim. Seus olhos estão nos meus, eles são
ferozes e essa ferocidade começa a ser mostrada nos movimentos rápidos de
entra e sai que ele começa a estabelecer. Me agarro a ele, desejando que ele
não estivesse de camisa.

Seu pau bate fundo dentro de mim, causando choques e picos de


prazer que não senti nas últimas vezes que ele esteve dentro de mim. O
prazer se enrola dentro de mim e Kai desata um por um dos nós, até eu
explodir, contraindo minhas paredes internas ao redor dele. Kai chega ao seu
ápice com um grunhido longo.

Seu corpo fica trêmulo e ele desaba sobre mim, por alguma razão, eu
o abraço, acariciando a parte de trás do seu cabelo sedoso com um cheiro
bom.

Nossas respirações se misturam e vão se controlando, é um momento


íntimo.

Sinto o lábio de Kai no meu pescoço em um beijo silencioso e


demorado. Seu beijo congela meu corpo.

Tiro minhas mãos dele, deixando cair ao lado do meu corpo na cama.
Kai beija meu ombro, e depois sobe pelo meu pescoço, quando ele olha para
mim, faço questão que ele veja que tem algo de errado.

— Você já teve sua recompensa. Pode sair de cima de mim agora? —


Pergunto com a voz baixa e oca.
Kai parece ficar magoado.

— Por que? Eu sou seu marido, não sou?

Empurro seu peito.

— Sou eu quem deve ser lembrada de que tenho um marido, ou você


de que tem uma esposa? —O empurro com mais força, levantando da cama e
baixando meu vestido — É melhor você descer, devem estarem te
procurando — Falo baixinho, com a voz rouca enquanto eu me arrumo,
vendo minha calcinha sem serventia pela força com a qual foi rasgada de
mim.

Ouço Kai arrumando a roupa atrás de mim, seus olhos estão fixados
em mim.

Ele não diz nada, retira a camisinha na minha frente e joga na minha
direção, saindo do quarto com um baque, como se estivesse chateado.

Organizo o quarto, pego os vestígios do que aconteceu e jogo no lixo


no quintal da casa.

Kai é chamado assim que chega na andar de baixo, e eu sou evitada


por outras mulheres. Meu coração parece vazio e minha mente perturbada.
Kai faz um gesto para que eu fique do seu lado e eu vou, percebendo que as
pessoas mudam de comportamento comigo quando estou perto dele.

Otávio e Ivo parecem determinados em me ignorar.

Kai se dispensa rápido e vamos para casa. Ele dirige rápido,


concentrado e nitidamente chateado. Fico em silêncio, me sentindo exausta e
confusa comigo mesma.

Ao chegar na cobertura eu vou para o quarto para tomar um banho,


mas antes que eu possa abrir a porta do banheiro, Kai invade o quarto.

— Você é uma garotinha dura na queda, hum? Só demonstra prazer e


depois me repele como se eu fosse um prostituto. Eu sou seu marido,
caralho! Se eu quisesse a porra de uma vadia fria do caralho, eu não teria me
casado com você! — Ruge, claramente irritado.

Olho na sua direção, vendo o descontrole na sua expressão e voz.


Sinto uma faísca nas minhas veias ao olhar para ele e lembrar que ele me
traiu.

— E você não é um fornicador? Tem uma esposa em casa e fode as


mulheres de fora. Combina algo comigo e desfaz nosso acordo. Se eu não
tivesse aparecido, você iria continuar me traindo e fazendo sexo comigo sem
culpa nenhuma! — Rebato.

Ele dá um passo na minha direção, os olhos glaciais.

— Foi um boquete. Não entrei dentro de outra mulher. — Mente


descaradamente

Uma risada sem humor escapa de mim junto com a incredulidade.

— Você é tão cínico, Kai. Você me traiu por estar com outra mulher,
você passou por cima da confiança que eu te dei. O que espera de mim? —
Olho para ele com irritação — Fazer sexo com você faz parte do acordo, eu
colaboro como disse que eu faria, mas não espere que eu vá cair aos seus pés
ao terminamos de fazer sexo, eu não vou!

Seus olhos castanhos estão me deixando amostra todo tipo de


emoções contrárias.

— Eu não quero uma esposa dessa maneira. Eu quero que seja minha
sob a cama e fora dela. Quero que aceite minhas carícias, me deixe tocá-la,
beijar seu corpo… quero tudo com você, Marcella!

Balanço a cabeça.

— Se desejasse isso não teria procurado outra mulher alguns dias


depois do nosso casamento. Estou decepcionada porque no fundo de alguma
parte em mim, eu confiei em você, Kai. Achei que cumpriria pelo menos
seus votos! — Exclamo deixando a raiva sair na minha voz.
— Não me importa outra mulher, Marcella. Eu quero você! Apenas
você, porra! Não ver como estou louco?

Ele avança na minha direção, me segurando pela cintura com as duas


mãos. O empurro, mas é em vão.

— Eu não confio mais em você, Kai. Não confio nas suas palavras.

Seus olhos encaram os meus com intensidade.

— Você pode confiar no que eu sinto por você, em como reajo diante
da sua presença. Isso não será uma mentira!

Estamos gritando um com o outro, como dois amantes revoltados


com a ação do outro, exatamente o que é esse cenário. Passo a mão pelo meu
cabelo, respirando fundo. Ainda em volta dos seus braços.

Baixo meu tom de voz, sentindo seu toque na minha pele como brasa
queimando o local que ele toca.

— Não confio em traidores. Se você é capaz de trair a mulher que


dorme ao seu lado, que ficará do seu lado até a morte, então qual tipo de
moral você tem? Qual tipo de confiança acha que pode transmitir a mim? —
Questiono.

Kai aperta seus braços em torno da minha cintura, e me segurando


por ela, sem esforço algum, ele me joga na cama. Ainda estou de saltos e
com a roupa do jantar. Ele cobre meu corpo com o seu, colocando uma das
pernas no meio das minhas e descansando sua pélvis na minha.

O encontro dos nossos olhos incendeia o quarto. A tensão, o desejo


entre nós dois é como fogo vivo. Extremamente letal e perigoso. Doloroso.
Odeio como eu o quero apenas para mim, tirar suas roupas e me deixar ser
possuída pelo paraíso corrompido que é ele.

— Eu quero você, Marcella. — A voz profunda faz com que meu


couro cabeludo formigue com a sensação de carícia que sua voz patina no
meu sistema.
Minhas mãos estão sob os bíceps dele, sentindo seus músculos por
baixo da blusa social de manga longa.

Minha respiração é arfante, não consigo desviar meus olhos dessas


gemas diabólicas.
Os olhos dessa garota vão me consumir com meu próprio desejo por
ela. Os cílios longos e negros, a forma como ela pisca esses belos olhos… os
lábios finos bem desenhados, sempre rosadas e úmidos. Porra, eu encontrei a
porta do paraíso.

— Eu poderia ter te contaminado com minha sujeira. Te fodido como


fodo toda boceta que encontro ao meu agrado, mas me controlo para não
assustar você — observo as oscilações nos seus olhos — Gosto de incitar a
violência no sexo, Marcella. Não gosto de contato nos olhos, carícias… eu
fodo como forma de punir as mulheres e me dar prazer.

— É isso que quer fazer comigo? — Sua voz é controlada, mas é só o


exterior dela, Marcella está temerosa.

— Eu quero dar prazer a você, te ver se contorcendo embaixo de


mim, gemendo alto e gozando. — Olho para o volume dos seus seios,
sentindo meu pau ficar mais endurecido — Quero manchar sua pele com
palmadas e te fazer perder a consciência de tanto prazer… Mas, acima de
tudo isso, eu quero te beijar.

Deixo meu peso descansar parcialmente sob o seu e levo meu dedo
até seus lábios, sentindo a maciez, a sensação de tocar veludo. Sou tão louco
por esses lábios.

— Tire a blusa! — Sua voz suave entoa as palavras com desejo.

Eu hesito.
O fato dela ter tocado minhas cicatrizes mais cedo como se desejasse
poder desfazer todas elas de mim, foi algo que eu não esperava. Eu achei que
ela se assustaria, faria o máximo para me manter afastado dela. Mas ela
olhou, as admirou e tocou cada uma com as pontas dos seus dedos, e disse
palavras que eu não esperava. Aquilo me pegou desprevenido.

— Quem manda dentro e fora do quarto sou eu, não gosto de ordens
— Alerto em voz baixa.

Ela mantém o rosto calmo.

— Não estou ordenando, estou pedindo.

Ela podia estar me ameaçando, e mesmo assim eu faria. Sem sair por
completo de cima dela, eu retiro minha blusa e a jogo no chão. Volto para
cima de Marcella, me sustentando nos meus braços.

Os olhos verdes passeiam pelo meu peitoral, e, de novo, é aquele


olhar de fascínio. Não algo fanático, mas compreensivo, empático.

Sua mão toca a cabeça do dragão cuspindo fogo pelo meu peito. Uma
mão pequena, quente e macia. Ela engole a seco.

— Você já me arrastou para o fogo que queima em você, Kai Moreau


— ergue seus lindos olhos para mim — Então, me queime.

A onda de prazer que essas palavras fazem deslizar pelo meu corpo é
traiçoeira. Ela nem mesmo chegou perto de queimar no meu fogo. Sou o
próprio satanás. Um homem como eu, repleto de demônios e sede por
sangue vai acabar machucando ela.

Mas já é tarde demais.

Não consigo deixar Marcella sair desde o momento que ela entrou, e
agora ela está pedindo por mim. O quão longe ela acha que consegue ir?

Baixo minha cabeça até chegar na altura dos seus lábios, ela mantém
a cabeça parada, sem desvios. Passo minha mão por trás da sua cabeça,
mergulhando meus dedos nos fios sedosos.
Olho para seus lábios, a sentindo respirar cada vez mais
artificialmente embaixo de mim. Tão indefesa.

Com um único e rápido movimento eu a viro de costas, tirando um


grito surpreso da sua boca. Agarro seu cabelo e puxo sua cabeça para trás, o
suficiente para senti-la gemer pelo aperto.

— Quer conhecer o inferno, Bella? Farei questão que seja queimada


o suficiente — Rosno como um demônio infernal.

Marcella agarra o lençol da cama, seu corpo completamente tenso.


Ergo o vestido dela, encontrando sua bunda desnuda. Um sorriso diabólico
se forma nos meus lábios.

Acaricio as bandas da sua bunda, descendo meu dedo pela curva até
achar sua abertura úmida. Ela está excitada e arfa com meu toque. Isso é
ótimo.

Com a mão livre, eu retiro o cinto da minha calça. Ajeito ele o


suficiente na minha mão sentindo minha excitação no ápice ao imaginar a
coloração da sua bunda daqui a alguns segundos. Marcella está com a
bochecha comprimida no colchão, minha mão enrolada no seu cabelo
fazendo pressão na sua cabeça.

Imobilizo suas pernas com meu peso, sentando sob elas. Passo o
cinto de couro da Armani pela sua bunda, sentindo Marcella ficar cada vez
mais tensa. Eu espero que ela relaxe com minhas carícias na sua bunda
usando meus dedos, e quando ela menos está esperando, eu estalo o cinto na
sua bunda.

Ela grita, mordendo os lábios e fechando os olhos. Sua respiração


fugindo dela. As mãos agarram o lençol com ainda mais força.

Desvio meus olhos do seu rosto para ver a mancha vermelha do cinto
na sua bunda e o demônio em mim se alegra. Não deixo Marcella se
recompor, faço novamente fazendo ela sacudir o corpo inteiro, e depois de
novo porque é maravilhoso ver a bunda pálida ganhando esse tom de
vermelho, seu rosto também, e sua luta contra mim.
Repito o movimento lentamente vendo cada coloração que o couro
faz ao bater na sua bunda, a excitação nas minhas veias endurecem meu pau
de forma dolorosa. Os gritos de Marcella enchem o quarto, mas não me
importo com eles, e sim como a sua bunda está ficando bonita toda vermelha
e marcada.

Estou prestes a bater o cinto novamente quando ela se defende.


Como foi treinada, Marcella usa seu peso a seu favor e me subjuga ficando
por cima de cima, sentada no meu quadril com o rosto transtornado de dor,
medo, fúria e lágrimas... Sua mão está apertando meu pescoço com força e
seus olhos estão lacrimejando.

Ela esmurra meu rosto fazendo uma dor boa se espalhar na área. Não
gosto apenas de infligir dor, eu gosto de sentir quase na mesma intensidade.

— Filho da puta! — Cospe as palavras com fúria e a respiração


ofegante.

Olho para ela sentindo o filete de sangue na minha boca. Ela tem um
bom soco. Forte e preciso.

— Você disse que queria se queimar, fiz o que pediu. E nem mesmo
cheguei a fazer nada ruim. — Digo duramente, olhando em seus olhos
molhados.

Ela tira a mão do meu pescoço, desfazendo a pressão.

— Isso é doentio. Não é possível que tenha mulheres que possam


gostar disso, é doloroso! — sua voz possui uma certa angústia misturada ao
choro.

Ver ela dessa forma ainda me excita, mas não tanto como minutos
atrás. Os olhos assustados dela fazem algo se mover inquieto dentro de mim.

— A dor se torna prazerosa quando se convive muito com ela. As


mulheres com quem saio gostam disso, da intensidade, dos palavrões, de
serem tratadas como lixos e serem sufocadas. Punição como prazer.
Marcella sai de cima de mim, fazendo uma careta ao se sentar,
atordoada. Os olhos dela repletos de lágrimas. Eu bati com força o suficiente
para machucá-la. Eu não estava brincando, ou testando-a.

— Eu não sou essas mulheres, Kai. Eu luto contra a dor física, não
me submeto a ela dessa forma. Você nem mesmo parou quando gritei para
que parasse.

Me ergo. Marcella está com o rosto contorcido pelas lapadas que


devem estar ardendo o suficiente para ela sentir como queimaduras. Uma
parte de mim quer pedir desculpas e aninhar ela em meus braços, mas a
outra parte está imensamente desejosa e cada vez mais excitada.

— Vou preparar um banho de água fria para você, e pegar arnica para
passar na sua bunda — evito olhar para ela, estou começando a ficar com
raiva de mim mesmo.

— Apenas me deixe sozinha! — Pede com uma voz chorosa.

Olho rapidamente para ela, minha voz saindo sombria pelo conflito
dentro de mim.

— Você não conseguirá fazer isso sem ajuda, Marcella. É por


experiência própria que digo isso.

Acendo a luz do banheiro, tiro meus sapatos e ligo o chuveiro na


temperatura mais fria. Volto para o quarto encontrando Marcella tentando
não chorar e segurando firme o lençol da cama, me coloco na sua frente, me
abaixando para tirar suas sandálias.

— Não consigo fazer sexo estando dessa maneira, Kai. Não


consigo… — Lágrimas molham seu rosto, fazendo um aperto cruzar meu
peito. — Não se atreva.

— Vou te ajudar com a dor, não vou mais ferir você.

Ela assente.
Retiro o vestido dela, deixando ela completamente nua. Ofereço
meus braços para ela se segurar e andar até o banheiro, no primeiro
movimento um grunhido angustiado sai da sua boca, e a cada passo até o
banheiro.

— Fique de costas, apenas seu bumbum na água vai aliviar a


queimação — Instruo, a colocando de costas no chuveiro e me deixando ser
um apoio para ela.

Quando a água bate nas suas costas e desce pelo sua bunda, Marcella
arfa, inclinando seu tronco para mim. O calor do seu peito nu no meu é
acalentador. Ela segura em meus braços, deixando a testa descansar sob meu
ombro.

Deixo ela embaixo da água fria por cinco minutos inteiros. A enrolo
em um roupão e a levo para o quarto, fazendo ela deitar de bruços.

Pego a pomada no armário do banheiro e volto para o quarto. Ergo o


roupão dela vendo sua bunda.

Fico em silêncio, me consumindo. O prazer que senti infligindo isso


a ela desapareceu por completo, deixando em mim apenas uma culpa capaz
de me estilhaçar.

As manchas na sua bunda são horríveis de ser ver. Estão vermelhas


como queimaduras e eu aposto em tudo que ficará hematomas roxo amanhã.
Eu não medi a força que usei, nem as quantidades de vezes que lancei o
cinto sobre sua pele, não ouvi nem mesmo seus gritos desesperados para eu
parar.

O aperto em torno do meu coração é sufocante.

Quando Ivo me batia aos nove anos, usando um cinto quase idêntico
a esse, as dores eram insuportáveis. Eu não conseguia nem mesmo me
mexer. Mas esqueci a dor do cinto quando ele começou com o chicote e o
fogo.

Eu machuquei Marcella gravemente.


Passei de qualquer limite que houvesse entre nós dois.
Passo a noite em vigília, Marcella demorou a pegar no sono, ela
chorou por mais algumas horas até suas forças drenarem. Fiz compressa fria
nos locais que machuquei e passei pomada. Fiquei perto dela durante todo o
momento, ouvindo ela chorar, soluçar e fungar. Ela não disse nenhuma
palavra. Nada do que eu pudesse falar faria bem a ela, ou aplacaria sua dor.

Ela levará uns dias até poder sentar novamente, ficará de bruços por
algum tempo e isso é culpa minha. Não ouvir seus gritos, seu pedido para
parar. A minha parte doentia estava amando o que eu causei, todos os
segundos que se passaram.

Nunca me arrependi de nada que fiz, mas isso? Meu peito parece
estar em compressão. Meu ódio por mim mesmo nunca foi tão forte. Olhar
para Marcella dormindo depois de derramar lágrimas de dor… essa é uma
sensação que não quero sentir nunca mais.

Passo a noite colocando gelo nos machucados, sempre finalizando


com a pomada.

Quando o relógio marca às 8:00 da manhã eu mando mensagem para


Jace cuidar dos assuntos que requerem minha presença.

Marcella acorda por volta das 9:00, muito tarde para seu padrão
normal dos últimos dias. Ela abre os olhos, e ao fazer menção de virar, seu
rosto retorce em uma careta dolorida vinda com um gemido. Observo ela
tentar encontrar uma posição, sem sucesso.
— Em três dias você vai estar melhor, poderá sentar normalmente —
Apareço na sua frente, mantendo meu rosto impassível para não demostrar a
tortura que está sendo ver ela desse jeito.

Seus olhos estão levemente inchados, o olhar dela na minha direção é


dolorido.

— Preciso ir ao banheiro — Sussurra, aturdida. A voz rouca de quem


acabou de acordar.

Com um esforço extraordinário ela se ergue sozinha, dispensando


minha ajuda. Seu rosto inteiro contorce em dor, ela morde os lábios com
força.

— Deixe-me ajudá-la… — meu tom é baixo e carregado — Por


favor.

Seu olhar se volta para mim, quieto, com um brilho de lágrimas.

— Estou bem. Vá para o trabalho, eu consigo me virar. Você não fez


nada que eu não pedi. Não culpo você. Eu quem pedi por isso, então
continue seu dia — Diz baixinho, caminhando a passos duros e lentos para o
banheiro.

Observo ela entrar no mesmo, fechar a porta e demorar longos


minutos lá dentro. Quando ela sai, está com o rosto vermelho como alguém
que fez muito esforço. Seus olhos estão lacrimejando, ela ergue eles na
minha direção.

— O que ainda está fazendo aqui? — Pergunta.

— Acha que vou embora e deixar você ferida dessa forma? Eu não
consigo deixar você assim — Engulo em seco.

Por quê é tão difícil apenas ignorar ela e seguir como se nada disso
me atingisse? Por que tenho que me importar tanto com essa garota?

— Você agiu com meu consentimento. Foi violento, passou dos


limites, mas fui eu quem pedir por isso — ela respira fundo — Alev já fez
coisas piores comigo, já passei por coisas que nem chegaram aos pés disso.
Ficar sem sentar por um tempo… posso aguentar isso, mas não quero que se
repita. Eu não gostei. Prazer e dor não é algo que se misturam em mim.

Os olhos dela estão sérios. Tão duros como rochas impenetráveis. Me


aproximo dela e ela recua.

A lembrança de Alev dando um tabefe em Marcella acendeu na


minha mente como luzes rodoviárias. O que aquele filho da puta já fez com
ela além daquele tabefe?

Marcella passa por mim, indo para o closet.

Preparo o café da manhã dela, mas ela recusa e se tranca no


escritório. Mesmo assim, eu não saio de casa.

Os dias que se passaram se resumiam a Marcella dentro do escritório,


lendo todos os livros que ela encontrava. Ela pouco comia e mal falava.

Deixei Jace em casa com ela no final de semana para fazer presença
nos cassinos. Quando cheguei em casa, por volta das 23:00 horas, encontrei
os dois na cozinha com embalagens de comida japonesa pela bancada.
Ambos conversando.

— Você domina mesmo as técnicas de krav maga? Te dou cem


dólares se acertar meu traseiro — ouço Jace falando a ela enquanto diminuo
meus passos para ouvir mais da conversa.

— Já driblei você uma vez, fazer de novo não exigiria muito esforço.
Você é lento porque é alto e pesado. Se fossemos para o combate corpo a
corpo, eu perco por menos.

Jace riu de forma afetada, seu riso abafado.

— Vou esvaziar o barracão e comprovar sua teoria, então.

Percebo imediatamente o que Marcella está fazendo antes de ver seu


rosto. Ela está usando Jace para praticar, se exercitar. Já faz mais de duas
semanas que ela está em Las Vegas, não saiu da cobertura para muita coisa.
As aulas dela começarão em um mês. Ela deve estar entediada tendo em
vista que ela ia lutar todos os dias.

Entro por completo na ilha da cozinha recebendo os olhares dos dois.


Marcella está de pé, com uma calça de tecido fino e uma blusa composta.
Ela já consegue se sentar sem muito desconforto, fiz questão de continuar
cuidando dos seus machucados antes dela dormir.

As marcas demorarão para sumir, a maioria persiste.

— Perdi algo enquanto estive fora? — Olho dela para Jace com
cautela.

Ele enche a boca com sushi, Marcella fica em silêncio, cutucando o


sashimi com os hashis de madeira. Ela sempre se mantém quieta diante da
minha presença agora.

— Ela estava dizendo que conseguiria me nocautear, acredita nisso?


Ela tem um metro e sessenta e seis. E olhe para mim…

Vou para o lado de Marcella sentindo a mesma ficar tensa.

— O tamanho é a vantagem dela. Se ela diz que consegue te


nocautear, eu não duvidaria — pego um uramaki, levando a boca.

Jace suspirou alto, limpando as mãos.

— Preciso ir agora que chegou, meu trabalho como babá acabou por
hoje. Se precisar de mim, sabe onde me achar, chefe.

Faço um aceno e o observo ir embora dando um olhar zombeteiro a


Marcella, que respondeu com indiferença.

Ficamos em silêncio até eu terminar de comer, antes que ela se


levantasse, eu me adiantei calmamente.

— Vá para o quarto. Preciso passar pomada em você e ver como


está.
Ela pisca os olhos.

— Posso fazer isso.

— Quarto, Marcella. Sem discussões.

Deixo ela ir primeiro e me preparo mentalmente para ver novamente


as marcas que causei nela.

Marcella está sentada na cama quando entro, trocou a calça por uma
camisola, ao me ver entrar ela circula a cama e deita de barriga para baixo.
Pego a pomada sobre a mesa de cabeceira e sento ao seu lado, erguendo a
camisola.

A coloração roxa está ficando esverdeada, não está mais tão feio
como antes e não ficará nenhuma mancha.

— India está vindo para Las Vegas. Otávio a convidou para passar
alguns dias aqui. Acredito que ela irá querer ver você — Comunico a
Marcella, mergulhando os dedos na pomada e esquentando entre os dedos
antes de colocar na sua pele.

Uma risada curta e ácida sai da sua boca.

— Ela provavelmente veio até aqui para saber se o plano dela e do


seu tio está dando certo. Eles só se casarão quando sentirem a segurança de
que você não irá me descartar.

Faço movimentos circulares na pele macia da sua bunda.

— No começo, eu achei que vocês tinham tramado juntas para


acontecer esse casamento, mas na primeira vez que te vi, soube de imediato
que você era a última pessoa a querer se casar comigo.

Suspira pesadamente.

— Todos acham que você foi a salvação da minha vida. Uma


bastarda que se casou com o Sottocapo… seria uma bela história se eu não
tivesse planos. Eu deveria ter saído da organização quando completei
dezoito anos, mas India sempre encontrou uma forma de me deixar presa,
tanto ela quanto Alev.

Termino de passar a pomada e cubro sua pele, toco seu quadril para
que ela se vire para mim e continue falando. Os olhos de Marcella estão
quase inexpressivos. Ela baixa a saia da camisola, os olhos distraídos.

— Eu havia conseguido autorização do Don para sair aos dezoito


quando já estava no terceiro ano da faculdade de direito, mas India me
ludibriou. Ela disse que o pai dela me deixaria ver minha mãe se eu
continuasse ao lado dela. Alev sempre fez tudo o que a filha mais velha quis,
se ela pedisse a ele pra me deixar ver minha mãe, assim seria.

— Há quanto tempo você não vê sua mãe? — pergunto.

Marcella abraça os joelhos.

— Eu nunca a vi. Sei que tenho avó, tios por parte de mãe porque
India me mostrou fotografias quando eu tinha doze anos e tinha acabado de
voltar do meu juramento a Famiglia. Desde então, eu coloquei na cabeça que
iria sair da organização e viver com eles — sua expressão fica distante —
Outra coisa que não irá acontecer.

Fico em silêncio. Os bastardos são separados da sua família no


nascimento. Uma criança com sangue da máfia não pode ser criada em outro
mundo, se não o do crime. Os meninos viram soldados ou matadores de
aluguel, cachorros de caça. Com as mulheres é diferente, se é filha de um
dos homens de baixo escalão, é enviada para as boates ou são dadas como
incubadora para os viúvos como forma de agrado. Pelo que sei de Marcella,
Alev permitiu que ela estudasse, mas testou sua sanidade mental a colocando
para executar trabalhos de soldados como matar o filho bastardo de uma
família da Filadélfia.

Às vezes eu a sinto revivendo isso na sua cabeça quando seus olhos


ficam distantes, repletos de névoas do passado.

— O merdinha do Alev quem causou as cicatrizes que tem na coxa e


nas costas? — Minha voz é pesada, nutro uma sede pelo sangue de Alev
Rivera desde quando ouvir da boca de Marcella que ele fazia coisas piores
com ela.

Ela começa a brincar com um fio invisível da sua camisola.

— Ele gostava de me bater usando luvas de boxe, sempre me


acertava no estômago, costelas, por qualquer coisa que irritasse ele. Acho
que foram tantas as pancadas que levei, que hoje em dia eu não consigo
comer em grandes quantidades.

Ela baixa o rosto procurando o fio invisível que ela pensa está
enrolando nos dedos. Nervosismo. Ansiedade.

Sinto tanto ódio dentro de mim ao imaginar Alev batendo em


Marcella, que na minha cabeça eu só consigo imaginar eu e ele lutando, até
eu acabar com ele por completo.

Nos últimos dias eu percebi o fato de Marcella comer feito um


passarinho, eu achei que fosse por estética… maldito seja Alev fodido
Rivera.

Marcella ergue os olhos para mim, estão atentos, receosos.

Nós dois nos olhamos sob a luz do quarto, Marcella está encolhida,
abraçando as pernas. Ela é tão pequena. Tão linda e tão fácil de quebrar.

Nesse momento, eu só tenho vontade de aninhar ela em meus braços,


algo que nunca senti. Nunca houve qualquer instinto de proteção em mim.

— Posso usar o seu celular? — ela pergunta com receio.

Ergo a sobrancelha.

— Meu celular?

— Ainda tenho duas pessoas com quem me importo e que se


importam comigo. Você pode ficar e ouvir a conversa, não é nenhum truque.
Provavelmente ela queira falar com a criada e aquele homem com o
rosto retorcido de cicatrizes. Eles são os únicos que Marcella demonstrou ter
qualquer proximidade enquanto esteve na Filadélfia. Recebi fotos dela com a
cozinheira no mercado, pelas ruas e com o velho no barracão de treinamento.

— Vou conseguir um celular para você.

Surpresa pisca em seus olhos, e ainda assim ela assente aturdida.

Meus olhos descem dos seus lábios até o decote discreto que deixa o
volume dos seus seios bem à vontade. Meu sangue corre rápido para meu
pau. É instintivo. Eu a desejo mais do que posso controlar e faz dias que não
a possuo. Nem ela ou qualquer outra mulher. Mais de uma semana sem fazer
sexo, esse é o maior tempo que já passei sem sexo desde que comecei minha
vida sexual.

Marcella pisca os olhos, percebendo o que se passa comigo. A olho


com fome, desejo e ela parece queimar com o contato dos nossos olhos.

— Sem violência como da última vez — Sussurra, com uma certa


dureza na voz.

— Eu não vou. Prometo.

Sua guarda baixa, e ela faz um maneio de cabeça me dando


permissão. Me debruço sobre ela, devagar. Estendo minha mão para tocar
sua coxa por baixo da camisola fina, deposito meus lábios na pele quente do
seu pescoço. Seu corpo vibra com o contato enviando uma onda deliciosa de
êxtase pelo meu corpo.

Marcella abre as pernas, se deitando comigo entre elas. Exploro a


pele do seu pescoço, mordiscando, chupando enquanto minhas mãos
apertam suas pernas, subindo para seus seios receptivos para mim.

Quero rasgar esse tecido de seda, encontrar sua pele e possuir cada
pedaço, mas não vou me descontrolar e deixar o demônio sanguinário se
libertar e machucar Marcella. Nunca mais.
Tiro a camisola, a deixando apenas com a calcinha preta fio dental.
Um rugido se propaga na minha garganta ao ver sua linda pele nua para
mim.

Observo minha esposa com a satisfação cantarolando nas minhas


veias. O cabelo ondulado caindo pelos seus ombros como um véu castanho
sedoso. Esses olhos verdes redondos… o demônio em mim me excita a
manchar Marcella com perversão, dessa vez, ele está perdendo.

Tiro minha blusa, voltando a beijar a pele de Marcella, a me deliciar


com os bicos enrijecidos enquanto exploro sua boceta com meus dedos.

O gemido de Marcella amplifica meu desejo, ela perde o ar quando


enfio dois dedos dentro dela, arqueando os mesmos dentro dela. Ergo meus
olhos para assistir sua boca aberta entoando gemidos e seus olhos frenéticos.

Vou fazê-la gozar com minha boca no bico do seu peito, meu dedão
movendo círculos no seu clitóris enquanto tenho mais dois dedos dentro da
sua boceta apertada e encharcada de desejo por mim. Suas mãos agarram
meu cabelo, ela se contorce e eu uso meu peso para mantê-la sob meu
domínio.

Sempre gostei de xingar as mulheres com quem fodo, mas a


Marcella, quero rasgar elogios. Quero ser a porra do escravo dela. Ela pode
fazer o que quiser de mim, porra.

— Kai… — Engasga perto do seu orgasmo.

Chupo com mais força o bico do seu peito, aumentando os


movimentos de entra e sai com meus dedos e a pressão no seu clitóris.

Marcella grita com um gemido arrebentador, suas paredes se


contraem ao redor dos meus dedos, e o líquido dela espicha na cama,
molhando minha calça no percurso. Um sorriso toma meus lábios, olho para
baixo comprovando o que realmente aconteceu: Marcella teve um squirt.

Retiro meus dedos encharcados de dentro dela, o desejo tombando


nas minhas veias. Olho para Marcella, seu rosto está vermelho, sua
respiração arfante e uma desorientação passa pelo seu rosto.
Ela se ergue para olhar o que aconteceu, e ao ver o lençol molhado,
minha calça, seu rosto se enche de constrangimento.

— Eu fiz xixi…? — O constrangimento na sua voz me fez perceber


o quão inocente ela é.

Me levanto o suficiente para tirar minha calça e cueca. Estou tão


duro e depois dessa maravilha, eu quero me arrebentar em Marcella.

— Não, Bella mia. Isso se chama squirt, mais conhecido como a


ejaculação feminina.

Massageio a cabeça babona do meu pau dolorido, sedento por estar


dentro de Marcella. Estou tão louco por ela. Pela boca dela. A sua boceta.

— Isso não é normal. Mulheres não ejaculam — Seus olhos estão


arregalados.

Me sento sob meus joelhos na cama, olhando fixamente para a boca


de Marcella que está levemente aberta pela surpresa.

— São raras às vezes, mas acontece de a mulher ejacular. Não se


assuste com isso. Não é nojento, é a porra de um paraíso. Vou fazer com que
você tenha mais e mais squirt, Bella mia.

Os olhos de Marcella descem até meu pau, o fogo se acende neles


junto com a hesitação. Ela passa a língua pelos lábios e esse gesto faz com
eu sinta uma fisgada no meu pau.

— Quero foder sua boca, Marcella — rosno com desejo, quase a


puxando na minha direção pelos cabelos.

Seu corpo fica tenso, uma luta interna parece estar sendo travada.

— Vai me sufocar com seu comprimento na minha garganta? Já vi


como os homens perdem o controle — sua voz é assustada.

— Você pode amarrar minhas mãos, será no seu ritmo até que
estabeleça uma forma confortável para você, e consiga explorar — engulo
minha respiração ofegante de desejo, estou prestes a ser consumido por tanto
— Por favor, me coloque dentro da sua boca. Tem algemas dentro da mesa
de cabeceira, use elas para prender minhas mãos atrás das costas. Por favor.

Caralho, estou implorando a essa mulher para me chupar. Eu nunca


implorei por nada, a ninguém e aqui estou eu diante de uma mulher com
metade da minha altura, implorando para que ela me algeme e me chupe.

Uma faísca brilha nos olhos de Marcella, ela fica sob os joelhos e se
inclina até a mesa de cabeceira, pega as algemas e vem para trás de mim, me
lançando um olhar capaz de me fazer arder.

Coloco minhas mãos atrás das costas para que ela me algeme. Gemo
ao sentir o metal na minha pele.

Marcella volta para minha frente, ficando de joelhos assim como eu.
Nós dois nos olhamos, estou prestes a implorar para que ela se apresse, mas
percebo que ela se diverte com minha expressão.

Ela segura meu pau com firmeza me fazendo gemer pelo contato e
aperto, inclina a bunda bonita para trás e se debruça.

— Mantenha os olhos em mim enquanto me coloca na boca,


Marcella — Ordeno com autoridade.

Seus olhos redondos e atraentes se erguem para mim. Ela está


perfeita inclinada assim, com o cabelo espalhado pelas suas costas.

Marcella captura a cabeça do meu pau com a língua primeiro


irradiando eletricidade pelo meu corpo. Rosno. Tento soltar minhas mãos
apenas para ser bruto com ela e me enfiar na sua boca até o talo da sua
garganta.

Mordo meus lábios com força e forço as algemas para me libertar.


Marcella brinca com meu pau, sua língua fazendo carícias.

— Com força, Bella.


Sua boca pequena finalmente engloba meu pau e ela o enfia na sua
boca. Um gemido gutural sai da minha garganta quando finalmente estou
quase por inteiro na sua boca, e quando ela começa a me chupar minhas
bolas doem querendo mais.

Ela tem o movimento inexperiente, claramente é sua primeira vez,


mas estou pouco me importando com isso. Só de ter essa boca pequena
tentando me colocar todo na boca e me chupar a todo custo… porra, posso
gozar só com isso.

Forço meu demônio a ficar quieto dentro de mim para não machucar
Marcella, ter me algemado foi uma boa decisão. Meus pulsos estão ficando
em carne viva com o esforço que meu lado bestial está usando para se
libertar.

Marcella me suga com força, tenta me enfiar por completo dentro da


sua boca pequena e as sensações são tão intensas que meu gozo bate à porta.

Meu pau bate na sua garganta com uma sensação avassaladora e sem
nem mesmo ter tempo de avisar, eu gozo na sua boca, preenchendo ela
inteira com minha porra. Marcella agarra minhas coxas, engasgando, ela
olha para mim com a boca cheia e eu apenas consigo ordenar uma das coisas
que quero que ela faça.

— Engula!

Seu rosto não se abala diante da minha ordem, ela fica ereta e
olhando em meus olhos, ela engole toda minha porra.

Sorrio satisfeito e tão desejoso por ela que inclino meu corpo para
frente e toco meus lábios com os seus. Marcella fica tensa, mas não se
afasta. Mantenho meus lábios parados sobre os seus, sentido a suavidade
deles, a textura de pêssego.

Movo meus lábios sobre os dela, abrindo espaço para entrar com
minha língua, estou quase conseguindo quando Marcella se afasta
abruptamente.

Ela desvia os olhos dos meus, agitada.


— Eu disse que não quero seus beijos, Kai. Nem hoje, e nem nunca.
— Diz enquanto se enrola com o lençol, de costas para mim.

Gostaria de dizer que não sinto nada com suas palavras, mas foi
como ter uma adaga cravada no meu coração. Principalmente porque ela fala
isso sem olhar nos meus olhos e com uma falta de sentimentos que chega a
ser cruel.
Kai não usa qualquer moderação quando o quesito é foder.
Praticamos um sexo cru, sujo e beirando ao animal. Ele me molda ao seu
gosto, e eu me vejo gostando da forma como ele investe forte e duro dentro
de mim, arquejando palavras que chegam a ser ofensivas, mas misturada ao
prazer que ele me proporciona… é excitante.

Mais uma semana se passa rapidamente, os momentos entre nós dois


durante ela foi regada a sexo e satisfação mútua. Não posso dizer que esse é
meu estilo de sexo, mas só conheço esse e, ele me satisfaz de uma forma que
qualquer descrição não chegue perto de definir. A violência se tornou bem-
vinda, mas sem nenhuma gravidade o suficiente como quando ele usou o
cinto.

— Suas aulas começam daqui a duas semanas? — Kai pergunta


assim que nos sentamos em uma mesa no lado externo de um bistrô.

Estamos perto da praia, posso ouvir o som das ondas de onde estou.
A manhã está ensolarada e as ruas movimentadas. Kai foi a pessoa que
sugeriu esse almoço.

— Sim.

Ele assente, e eu o observo. A claridade deixa os olhos dele mais


claros, o cabelo negro brilhando e a pele amostra reluzindo. Kai usa blusa de
mangas até mesmo em dias quentes como hoje. E sempre são peças pretas.

— Você vai ter dois homens a sua disposição, e seu celular terá um
rastreador. Não se distancie muito da universidade ou saia sem avisar — Sua
fala profunda está repleta de autoridade.

O garçom nos traz bebidas, as mulheres vestindo poucas roupas não


tiram os olhos ambiciosos de Kai. Olhares descarados e famintos. Me movo
inquieta na minha cadeira.

— India não deveria ter vindo para Las Vegas na semana passada? —
Questiono, tirando fios de cabelo que voam para meu rosto.

— Otávio precisou viajar para Roma. Meu pai deve estar planejando
uma expansão ou a retomada de alguma aliança — ele inspira pelo nariz,
entediado, os olhos me olhando com o brilho letal que eles sempre parecem
ostentar — Achei que não queria ver sua irmã.

— E não quero, estou apenas me preparando para quando ela surgir


na minha frente em busca de agradecimentos. Não posso matá-la, então
preciso de controle para me manter na linha.

Uma risada curta vibra na garganta de Kai.

— India é culpada, sim, mas ela está sendo manipulada. Existe um


jogo de interesses acontecendo, unir nós dois foi essencial.

— Qual interesse em casar você com uma bastarda? Você é um


Sottocapo, será Capo da Camorra um dia. Foi um desperdício ter se casado
comigo, poderia ter conseguido uma aliança poderosa casando com a filha
do conselheiro da Ndrangheta — Digo, olhando atentamente para Kai, assim
como ele está olhando para mim.

Um sorriso sombrio desenha o recanto dos seus lábios. Ele está


confortável e em volta da sua escuridão.

— Otávio planejou tudo desde o começo para me manter subjugado.


Ele sabe que no momento que eu assumir a Camorra, eu mandarei matá-lo,
então ele está fazendo de tudo para que eu não assuma. — Kai brinca com o
copo de água sob a mesa — Você foi uma peça fundamental para manter um
certo afastamento entre eu e a Ndrangheta, sem ela, não tenho apoio o
suficiente para me tornar o Capo quando chegar o momento. Otávio foi
bastante estratégico em sussurrar palavras de amor a sua meia-irmã, elevar a
ambição dela com qualquer que seja a promessa que ele fez a ela.

Pequenas peças começam a procurar seu lugar na minha mente. Sou


uma pessoa de raciocínio rápido, preciso de poucas coisas para montar um
quebra-cabeça.

— Otávio está usando India? — questiono.

— Ele de fato vai se casar com ela, acredito que só esteja esperando
Massimo completar a maior idade para casá-lo com a filha do conselheiro da
Ndrangheta. Ele conseguindo isso, só faltará matar meu pai e assumir a
Camorra.

— Por que ele não quer você como Capo? Ele deve estar planejando
isso por muito tempo, ele ter me escolhido para casar com você não foi
precipitado, ele sabia o que estava fazendo… Otávio deve estar tramando
isso há um bom tempo, Kai. Por quê?

O sorriso sombrio e ácido alarga seus lábios, ele se inclina


brevemente na minha direção, sua cicatriz se projetando com mais nitidez na
sua face.

— Eu destruirei o legado de Ivo, e de Otávio. Queimarei os aliados


deles e farei surgir uma nova Camorra. Otávio teme o que me tornei e o que
eu posso fazer. Minha meta de vida é acabar com Ivo Moreau, o irmão dele
irá com ele de brinde.

A voz dele é obscura, rancorosa e carregada. Os olhos dele brilham


com as emoções retidas atrás das íris. Kai parece uma nuvem carregada de
relâmpagos, chuva e trovões.

— Foi o seu pai quem te causou as cicatrizes nas suas costas? —


Mantenho meus olhos nele, sentindo a nuvem pesada ao meu redor, mas não
sob minha cabeça.

— Ele quis me moldar ao gosto dele, mas não imaginou que eu me


tornaria um monstro sedento por sangue. Eu preciso me livrar do meu pai e
do meu tio.
Percebo de imediato o jogo que fui posta como um peão de um jogo
de xadrez. Fui uma concepção indesejada para a máfia, mas perfeita para o
plano de Otávio Moreau. Ele pode driblar o tabuleiro. Kai ficou sem acesso
direto a Ndrangheta, e ele precisa dela para se tornar o Capo.

O casamento seria perfeito para a aliança.

— Você não conseguirá o apoio da Ndrangheta. Eles são inflexíveis e


possuem senso de lealdade. Se Otávio casar o filho com a filha de um
deles… o apoio será todo de Otávio — relato.

Kai sorri.

— Sim, isso é uma verdade. Mas um filho morto não é garantia de


nada, é? — o sorriso cruel brinca em seus lábios levando uma onda de
choque pela minha espinha.

— Você irá matar Massimo Moreau, seu primo? — minha voz é


fraca ao fazer essa pergunta.

Kai cruza os braços, a crueldade brilhando em seus olhos.

— Daqui a cinco meses, Massimo será iniciado na Camorra. Ele


lutará na gaiola com os homens da organização até cada um dos seus
oponentes estarem mortos.

Respiro fundo. Conheço por alto a iniciação dos meninos na Camorra


que consiste no banho de sangue usando facas. É preciso lutar com quantos
oponentes o desafiar, até o limite. Se sobreviver, é digno de viver nesse
mundo.

— Ele fez algo a você, seu primo? Ele tem 17 anos. Você vai matá-lo
por causa do pai dele? — Questiono.

Kai fica sério, envolto em mistério.

— Massimo tem 17 anos, é viciado em pornografia infantil. Ele paga


fortunas para conseguir sexo com crianças, compra as meninas que nem
chegaram a menstruar, dos pais dela. Ou manda os homens do seu pai pegar
qualquer criança de rua. Ele faz isso tanto com meninas como meninos.

Meu sangue congela. O horror de imagens como o que Kai acaba de


falar se projeta em minha mente, fazendo o asco, chateação e ódio se
tornarem nauseantes. Cerro meus dentes molares com tanta força que sinto a
pressão doer minha mandíbula.

— Massimo lutará com homens que Otávio irá escolher a dedo para
o filho não ser machucado. É o único filho dele e a garantia de sucesso para
se tornar Capo. Otávio tentará me manter longe no dia da iniciação do filho,
mas não será possível. Eu vou entrar na gaiola, desafiar Massimo e matá-lo.
— A satisfação vibra na sua voz. É como se Massimo fosse uma presa
suculenta para Kai.

Eu engulo em seco o bile que sobe pela minha garganta.

— Você ainda não terá nada a oferecer ao Capo da Ndrangheta.


Otávio também não terá.

Kai baixa os olhos até minha barriga.

— Com a morte de Massimo e a revelação dos seus vícios, haverá


revolta pela parte do Capo da Ndrangheta. Otávio ter ousado dar uma das
meninas para o filho doente dele… até um homem cruel como Angelo sabe
medir o bom senso, não importa a recompensa.

Quase não consigo falar, mas ainda assim pergunto.

— O que dará a eles em troca de apoio?

Kai retira os olhos da minha barriga para olhar em meus olhos. Ele
está sério.

— Nosso primeiro filho será prometido a futura filha de Angelo


Ricci. Se tivermos uma menina, e ele um menino, então nossa filha será uma
Ricci, esposa do Capo. Se eles tiverem uma filha, e nós, um menino, a filha
deles será a esposa do Capo da Camorra. E se tivemos crianças do mesmo
sexo, faremos bebês até encaixar o gênero.
Um suor frio desce pelas minhas costas e minha garganta fica seca.
Os Ricci são uma família tão letal quanto os Moreau.

Se eu engravidar de um menino, terei ele sobre meus olhos. Mas, se


for de uma menina…

Kai elaborou uma jogada perigosa.

E ainda me usou nela.

— Quero que você se aproxime da sua irmã, deixe ela ciente de que
o nosso casamento está indo bem. Tente tirar informações dela e de Otávio,
sei que é boa em extrair informações e ser discreta — Ele tira algo do bolso
da calça jeans e desliza pela mesa.

Um celular.

Ele está me envolvendo nos seus planos sem me perguntar nada. Ele
não está pedindo minha cooperação, está exigindo.

Minha vida teve o proprietário trocado, é isso que ele pensa.


Tenho falado com Justine toda tarde, sempre pedindo notícias de
Karx. É por ela que fico sabendo que Emília tem desafiado Alev a encontrar
um pretendente com mais prestígio na organização, ela não quer ser a esposa
de um mero soldado enquanto a irmã bastarda é esposa de um Sottocapo. A
casa de Alev está do mesmo jeito de sempre, eles estão comparecendo a
mais eventos e ocasiões com o Don.

Sempre que pergunto por Karx, Justine me diz que ele está bem. A
única vez que ele falou comigo pelo celular foi quando liguei pela primeira
vez. Deu pra perceber que ele estava esperando uma má notícia, e ao ouvir
minha voz ficou aliviado.

Nunca converso por muito tempo com minha única amiga e babá. Só
falamos o suficiente. Kai tem acesso a todas minhas conversas. Ele monitora
tudo.

Felizmente, eu não fico presa. Quando saio de casa, sou


acompanhada por Jace ou os meus dois seguranças. Jace é sempre uma boa
companhia, embora seja rude. Tenho tentado descobrir como um membro da
Bratva chegou a Camorra, mas Jace não toca no assunto e é esperto o
suficiente para saber quando estou tentando colher informações.

O edifício tem uma academia, então tenho focado minha energia nela
durante duas horas por dia. Usando o espaço livre para praticar Krav Maga,
não quero que meu corpo esfrie aos exercícios físicos ou eu perca a prática
que levei anos para ter.
Subo da academia por volta das 11:00 da manhã e vou para uma
ducha fria. India está chegando hoje à tarde, e estará vindo direto para cá.
Ela não pode ficar desacompanhada ou sozinha com Otávio, então ficará
aqui por alguns dias.

Kai deve ter calculado isso, embora não fique nenhum pouco
confortável com a presença de India pela sua cobertura. Vou seguir seu plano
de me aproximar dela, deixar ela ver agradecimento no meu rosto e uma
felicidade que não estou sentindo.

Ter Kai como Capo vai proporcionar a ruína do homem que acabou
com minha liberdade, e ainda fazer India infeliz. Ela sabe dos planos de
Otávio. Se tornar a esposa de um Capo seria a realização de vida para uma
mulher ambiciosa como India Rivera.

Escovo meu cabelo, deixando as madeixas lisas porque sei que ela irá
gostar de me ver assim. Visto um shorts branco soltinho, regata e calço
sandálias de dedos.

A diarista de Kai já limpou a cobertura, preparou o quarto de


hóspedes e o almoço.

— Sua irmã está perto daqui, senhora — Castello comunica quando


chego à sala.

Faço um aceno afirmativo e espero por India na sala. Castello fica


por perto, ele só fica no corredor quando Kai está em casa. Sua estrutura
colossal, a cabeça raspada e o rosto sério demonstram que ele é um homem
calado e profissional. Me faz lembrar Karx.

Ouço o som do elevador e alguns minutos depois as portas de metais


se abrem revelando India em um macacão de verão que demarca seu corpo
esguio e escultural. O cabelo loiro solto com uma escova perfeita e os olhos
de esmeralda brilhantes.

Está acompanhada de Andreas, o outro homem que cuida da minha


segurança. Ele está carregando as duas malas que ela trouxe.
— Marcella! — Exclama com um sorriso amplo, olhando a cobertura
enquanto sai do elevador — Que lugar tão… acolhedor?

Seus olhos examinam tudo que consegue antes dela focar eles em
mim.

— Fez uma viagem segura? — Pergunto, me esquivando de qualquer


contato físico.

— Com certeza. Otávio cuidou de tudo para que eu tivesse uma boa
viagem, ele pediu para o jatinho da Camorra me buscar.

Seu sorriso amplo é cheio de arrogância, uma característica de India.


Ela é sempre arrogante e cheia de si.

— Aposto que sim. — Olho para Andreas — Coloque as coisas dela


no terceiro quarto do corredor.

— Sim, senhora.

— Obrigada.

India olha com avidez ao redor de tudo, tocando em alguns móveis.


Os olhos dela parecem brilhar com divertimento.

— Que bela cobertura essa que está morando, Marcella. Seu antigo
quarto parece um motel de beira de estrada comparado a isso, não é?

— Devo agradecer essa promoção de ambiente a você, India. Tenho


uma cama grande e confortável, pessoas para me servir e um marido jovem e
bonito — As palavras soam pacíficas, mas o gosto é amargo.

O sorriso dela fica ainda maior.

— Isso finalmente é um agradecimento? — Caminha na minha


direção, eufórica — Viu, Marcella? Eu salvei você de uma vida miserável.
Te fiz ter um lugar no mundo e no topo dessa cadeia alimentar que vivemos.
Eu disse a você uma vez que cuidaria de você, não disse? — Segura minha
mão com força.
Olho para nossas mãos unidas, meu sangue fervilha nas minhas
veias. Passei anos da minha vida sendo um bichinho de estimação dela,
fazendo tudo que a agradava até perceber que nunca passei de um
divertimento para ela.

— Você tem razão. Devo tudo isso a você. — Sorriu, puxando minha
mão da sua gentilmente — Está com fome? A cozinheira preparou o almoço.

— É claro que você tem uma cozinheira, isso é mais uma coisa que
você deve me agradecer.

Cerro meu punho e me viro para ir até a mesa de jantar onde o


almoço está posto. India está extremamente animada e falante.

— Otávio está fora ainda, ele vai voltar em três dias. Tenho esses
dias que ele está ausente para saímos e conhecemos Las Vegas. Podemos ir
até a boate e cassinos. Otávio disse que estaria tudo bem por ele, afinal,
tenho isso… — Ela ergue seu anelar com seu anel de esmeralda — Todos
saberão que sou a futura esposa de Otávio Moreau.

Será impossível engolir a comida quando tudo em mim está


fervilhando e querendo eclodir. Ter uma faca tão próxima a mim é tentador,
eu só precisaria de um pulo para cravar ela na jugular de India.

— Quando vão finalmente se casar? O que estão esperando? Já se


passou um mês desde o meu casamento… — Comento amistosa.

A cozinheira começa a nos servir, India pede que ela sirva uma taça
de vinho a ela.

— Em breve. Falta poucos meses para o ano acabar, vamos esperar a


agitação desse final de ano passar, e então vamos nos casar.

Mantenho um sorriso dolorido no rosto enquanto ela fala sobre tudo,


e sobre como o velho Otávio Moreau é maravilhoso e tudo que ele faz por
ela. Lembro do que Kai me disse sobre o destino dele, e imediatamente
lembro do filho de Otávio, Massimo. Ainda não o conheci, mas daqui a
alguns dias ele não terá mais um fio de vida.
Depois do almoço, India insiste em conhecer meu quarto e de Kai. A
sua forma invasiva me deixa apreensiva. Se Kai ver isso, não ficará nenhum
pouco contente.

India examina meu closet, o banheiro e por fim se senta na cama,


sentindo os lençois.

— Como foi? — Pergunta, olhando para mim.

— Como foi o quê? — Questiono.

Seus olhos brilham.

— Sua primeira vez. Como foi? Doeu muito?

Sinto um leve peso no estômago com a lembrança.

— Sim, doeu, mas uma dor suportável. Depois da primeira vez, tudo
melhora.

Ela assente.

— Ele é agressivo com você?

O sexo que fazemos não é carinhoso, e pela forma como meu corpo
está dolorido é uma prova de que não tem nada afável no sexo entre Kai e
eu.

— Ele é ótimo comigo, Índia. Kai não é o monstro que as pessoas


falam, pelo menos, não comigo.

Ela semicerra os olhos, com dúvida.

— E onde está ele?

— Cuidando dos assuntos da organização, você o verá à noite.

— Eu vi a mancha do lençol, Marcella. Ele não parece ter sido gentil


com você…
Suspiro silenciosamente me lembrando do quão invadida eu me senti
naquela noite, e de como Kai realmente não foi carinhoso.

— Sangramentos são singulares, não lembra o que sua mãe nos


contou sobre isso? Kai não foi violento. — Afirmo, encerrando o assunto.

Se estou com indigestão só de ter almoçado apenas com India, talvez


eu melhore quando Kai chegar e rebater cada palavra que India falar.
India me sonda através de perguntas camufladas de curiosidade que
todos têm sobre um casal recém-casado. Percebo nitidamente como ela faz
seu jogo de palavras enquanto finge desinteresse, mesmo seus olhos estando
atentos a cada expressão minha. India não é sorrateira, mas ela é
extremamente cirúrgica. Alev sempre se gabou do fato da primogênita dele
ter a habilidade de ensacar pessoas com as palavras.

De nós duas, India seria a melhor advogada. Ela liquidaria os


promotores e teria o júri nas mãos. Mas, para minha felicidade, fui a única a
insistir em entrar em uma faculdade. Concluí meus estudos médio aos 15
anos, e aos 16 entrei na faculdade de direito. Concluí a faculdade há menos
de nove meses e antes de qualquer empenho para começar a exercer minha
profissão, acabei casada e presa nesse momento.

— Você vê seus sogros com frequência? — Pergunta.

Estamos sentadas na varanda da cobertura, tomando sol e bebendo


um drink de cereja gelado. São quase cinco da tarde.

— Não os vejo há duas semanas. A última vez que os vi foi em um


jantar com membros da organização. Otávio também estava lá — Respondo.

— Ele comentou que a viu lá.

India continua me falando sobre como andam as coisas na Filadélfia


e o que ela quer fazer amanhã por Las Vegas. Os minutos são longos ao lado
de uma narcisista como India. Estar perto dela me faz voltar ao passado e ver
o quão longe eu podia ter ido se não tivesse me prendido a um estúpido amor
de irmã que sentir por ela..

Quando enfim chega à noite, eu peço a cozinheira para colocar a


mesa. Vou para o quarto, suspirando aliviada quando me encontro sozinha e
em silêncio.

Antes que eu entre no banho, olho para o celular verificando as


horas. Kai deve chegar em poucos minutos, provavelmente chegue enquanto
eu estiver no banho, e se isso acontecer ficaremos lá por mais alguns
minutos. Um arrepio sobe pela minha espinha ao imaginar nós dois
entrelaçados embaixo do chuveiro.

Recobro minha consciência e vou para o banho, e ao contrário do que


imaginei, Kai não aparece. Nem mesmo quando me visto.

Vou até a sala e encontro Castello me esperando. Seus olhos sérios e


apáticos baixam quando ele fala:

— O Sottocapo não voltará para casa hoje, senhora. Surgiu um


assunto de emergência.

Balanço a cabeça, concordando.

Terei que aturar India sozinha essa noite, revirar meus olhos
internamente a cada palavra dela.

— Seu marido não vai se juntar a nós? — India pergunta enquanto


desce as escadas vestindo um bonito vestido de seda branca colado ao corpo.
O cabelo loiro preso em um rabo de cavalo arrumado e uma maquiagem
suave.

Sempre me perguntei como ela conseguia ser provocante e castra ao


mesmo tempo. India é um conjunto de definições que não se pode confiar.

Suspiro, me sentando ao lado da cabeceira da mesa quadrada de


vidro.
— Ele está cuidando de assuntos da organização. — Gesticulo para a
mesa — Temos a melhor comida, venha desfrutar.

Ela toma o assento na minha frente e espera ser servida pela


cozinheira. Faço meu prato sozinha, colocando uma pequena quantidade de
comida, India observa meu prato com um brilho no olhar.

— Ainda não consegue comer uma refeição inteira? Você adorava


comer quando tinha 13 anos, depois dos 15 mudou completamente esse
gosto…

Aperto o garfo na minha mão. Ela sabe o que aconteceu. Foi por ela
que levei aqueles socos que me deixaram sequelas até hoje. Abro um sorriso
para minha meia-irmã.

— Gostos mudam, e como você disse, pela minha estrutura é muito


fácil ganhar peso, então quanto menos eu comer, melhor é — Levo a taça de
vinho até a boca evitando olhar para ela.

Ouço sua risada seguida dos talheres raspando o prato de porcelana.

— Tenho ótimos planos para nós duas amanhã. Espero que tenha um
cartão de crédito a sua disposição. Vamos nos divertir muito.

Apenas sorriu e assinto.

Quando finalmente caio na cama, o vazio me preenche, e por alguma


razão, me pego sentindo falta do proprietário do lado esquerdo da cama.

(...)

Os planos de India não me surpreendem. Gastar dinheiro com


roupas e cabelo é o que ela mais ama fazer. Vamos até um salão de beleza,
arrumamos nossos cabelos e depois passeamos por algumas lojas, sempre
comprando peças em cada uma que entramos.

Na última que paramos, ela insiste para que eu escolha uma roupa
para visitarmos uma das boates.
Minha mente parece se iluminar com isso. A última vez que estive
em uma boate, eu fui de forma clandestina com Nikolai e foi a melhor noite
da minha vida, uma noite que me senti viva rodeada de música, pessoas
eufóricas e de Nikolai.

Os momentos com Nikolai eram sempre muito agradáveis, mesmo


sendo tensos com a possibilidade de sermos pegos.

Escolho um vestido preto, de alças finas e de tecido macio e


levemente brilhante. Ele é curto e acinturado, perfeito para se usar com um
salto fino prateado.

Meu cabelo está solto, com suas ondulações naturais. Preciso de um


delineado e um batom vinho. Terei essa noite como uma recompensa por
estar aturando India e relembrando tudo que quero esquecer com sua
presença.

Ao sair do provador, eu encontro India com um vestido vermelho


escuro justo ao corpo esguio. A maquiagem impecável e o cabelo escovado
caindo liso pelas suas costas. Seus olhos verdes estão bem marcados, assim
como os meus.

Um sorriso pequeno se forma nos seus lábios ao me ver.

— Um pouco provocante demais para a esposa de um Sottocapo, não


acha? — Questiona, me analisando.

Suspiro baixo, sorrindo brevemente. Retribuo seu olhar.

— E eu diria que você está vestida para ser o centro das atenções,
mas tenho certeza que você sabe, já que é sua intenção.

Ela riu.

— Sempre fomos ótimas juntas, Marcella. Seremos a atração por trás


dos nossos maridos quando eu estiver aqui em Las Vegas — Declara.

Se Otávio estiver vivo para chegar a se casar com você.


Retribuo seu sorriso dando a entender que sou uma tola fantasiosa.

Nós duas terminamos de nos arrumar na loja que foi fechada a


pedido de India. Assim que saímos da mesma, Castello nos olha da cabeça
aos pés, principalmente para mim. Vejo um breve desconforto no seu olhar
ao abrir a porta do carro.

— Nos leve para a melhor boate de Las Vegas — India diz


animadamente enquanto entra no carro.

Castello olha para mim, procurando confirmação. Eu assinto.

— Não quero me meter, senhora, mas eu devo avisar ao Sottocapo.

Suspiro.

— Eu já o avisei, não se preocupe. Apenas nos leve para a boate. Seu


Sottocapo provavelmente não voltará para casa hoje, não teremos problema
— Declaro enquanto entro no banco de trás do carro, ao lado de India.

Ela vai o caminho inteiro falando, e eu apenas me concentro em


pensar em como estarei longe de qualquer pensamento de chateação.

Kai. India. Otávio. Ivo…. Todos eles vão desaparecer por hoje.

A boate é luxuosa, e possui uma fila enorme de pessoas querendo


entrar. Assim que saímos do carro e chegamos a entrada, o segurança só olha
para Castello e abre espaço. Ouço as pessoas resmungando na fila, mas isso
só dura alguns segundos antes de sermos engolidas pelo lugar quente e com
música alta.

O interior da boate é de tirar o fôlego. Luzes piscam, mulheres semi


nuas dançam em uma espécie de vitrine de vidro, e os homens jogam
dinheiro pelas brechas. O DJ está em uma espécie de cúpula no topo com
globos de luzes e camarotes sofisticados. Esse lugar esbanja dinheiro.

India sorri, olhando de um lado para outro. Castello abre espaço entre
a multidão com seu tamanho para chegarmos ao bar. Todos os funcionários
parecem conhecer o careca mal encarado e claramente aborrecido.
Os homens que estão no bar, e alguns do camarote olham na nossa
direção. É o efeito India Rivera os atraindo.

— Todos falam das boates da Camorra, mas não imaginei que fossem
tão boas assim! — India grita — ISSO É FANTÁSTICO!

A batida da música parece ressoar dentro de mim, excitando a


vontade de me soltar e dançar. Estou eufórica por dentro.

— O que vão querer beber, senhoritas? — Pergunta o barman.

— Qualquer coisa sem álcool — Responde Castello.

Olho feio para ele.

— Três doses de tequila para mim, por favor. — Peço, sedenta para
me soltar o mais rápido possível, dissolver a única barreira que me prende.

India assente.

— Para mim também!

— Senhora, o chefe…

— Seu chefe está ocupado demais para se importar com o que eu


estou fazendo — interrompo Castello e lanço um olhar de pressa para o
barman.

Não demora muito para que ele comece a nos servir as tequilas. Bebo
as minhas três doses, uma atrás da outra, deixando para fazer careta quando
o líquido escorre pela última vez pela minha garganta.

Pego India pela mão e a levo até a pista de dança. Não me importo se
ela vai dançar ou não, preciso apenas que ela fique por perto e mantenha os
homens concentrados nela. Não quero atenção de ninguém, só quero dançar.

E é isso que eu faço. Deixo a batida da música sexy e envolvente


entrar no meu corpo, mesclar meus sentimentos até eles se tornarem apenas
um. Movo meus quadris enquanto passo a mão pelo meu corpo no ritmo da
música. Meu corpo vibra e a animação ferve nas minhas veias. Sinto o
sorriso nos meus lábios e meus pensamentos se dissipando.

India também está dançando, mas estamos a uma distância segura


uma da outra.

A batida da música é como um amuleto que faz tudo de ruim em


mim se tornar em uma energia positiva. Rebolo nesse ritmo, deixo minhas
pernas me levarem até o chão e subir lentamente. Percebo os olhos
masculinos na minha direção, e também Castello impedindo alguns de
chegarem até mim com ajuda de outros seguranças da boate. Meu sorriso
aumenta. A adrenalina e a animação estão misturadas ao álcool. India já não
está mais ao meu lado.

Quando me viro rebolando meus quadris encontro um par de olhos


dourados ferozes me fitando. Olhos possessos.

É sob seus olhos que eu desço até o chão, jogando meu cabelo e
passando a mão pelos meus quadris.

A boate parece ficar imóvel, Kai caminha na minha direção como um


lobo analisando sua presa antes do ataque. Quando ele chega perto o
suficiente, sua mão agarra a parte de trás do meu cabelo, puxando. Ele me
olha com raiva e eu sorrio para ele. Sua mão livre segura meu quadril para
me manter imóvel, mas o desejo em seus olhos querem me deixar terminar
uma dança e depois outra. Ele quer que eu me esfregue nele, dance com meu
corpo em contato com o dele…

— Sua putinha safada… — Rosna, agarrando meu cabelo com ainda


mais força.

Antes que eu possa ter qualquer movimento, Kai me arrasta da pista


de dança pelos cabelos, exalando fúria. Algo nisso me faz rir e eu associo às
três doses de tequila.

Percebo que Castello está batendo em um homem, e tem mais dois


homens caídos… Quando isso aconteceu?
Kai me arrasta até um corredor, abre uma porta à prova de som e me
joga lá dentro, trancando a porta que faz o som desaparecer.

Ele me empurra com força suficiente para eu bater meu quadril na


mesa de madeira. Um gemido baixo de dor pelo impacto sai dos meus
lábios, e antes que eu possa me recompor, a mão de Kai está nos meus
cabelos, o puxando com força e inclinando meu rosto na sua direção.

Ele está exalando raiva de todos os poros. Seus olhos estão brilhando
com esse sentimento.

— O que porra deu em você de vir dançar na minha boate como a


porra de uma dançarina profana? Perdeu a cabeça, Marcella? — Rosna,
puxando ainda mais meu cabelo.

Tenho vontade de rir, mas ele está começando a me deixar chateada.

Seguro a mão dele que está puxando meu cabelo, na tentativa de


diminuir o aperto.

— Eu estava fazendo algo de errado? Só estava dançando! Não posso


nem mesmo fazer isso? — Questiono com chateação.

Seus olhos cintilam.

— Todos meus homens e esses vagabundos estavam olhando para


você! Ousaram até mesmo te tocar. Ninguém toca no que é meu, Marcella.
Ninguém! — Sibila.

Encaro Kai.

— Eu não sou sua, Kai. Não sou de ninguém. A única pessoa a quem
pertenço sou eu mesma.

Um sorriso diabólico desenha seus lábios.

— Vamos ver se ainda acha isso, sua putinha.


Ele me coloca sentada sob a mesa, abrindo minhas pernas e se
colocando no meio delas. Com apenas uma mão, ele se desfaz do seu cinto e
abre sua calça, revelando mastro duro com a cabeça brilhante. Meu
estômago pesa com a visão e minha respiração falha.

Ele coloca minha calcinha para o lado e dedilha minha intimidade


encontrando-a com umidade, eu arfo com o contato, e contenho um grito
quando ele me penetra com o dedo. Seus olhos chateados não saem de mim
em nenhum segundo.

Antes que eu possa sentir falta dos seus dedos em mim, Kai se
introduz dentro de mim com força e por inteiro. Eu engasgo com a sensação,
minhas paredes apertam seu pau e ele geme assim como eu.

Sua mão solta meu cabelo e agarra meu pescoço, circulando o


mesmo com facilidade e pressão.

Kai estoca com força causando uma sensação forte de prazer


misturado à dor. O gemido que sai da minha boca é longo e dolorido. A
respiração dele está arfante. Ele estoca de novo, e de novo. Cada vez com
mais força, os olhos nos meus e a mão tirando meu ar ao redor do meu
pescoço. A mesa balança com o ritmo acelerado dos nossos movimentos,
dele se enfiando em mim e das minhas pernas em torno do seu quadril.

— A quem você pertence, Marcella? — Ruge estocando dentro de


mim com maestria.

Tento conter os gemidos, mas é impossível. Isso chega a ser doloroso


de tão bom. E eu derrubo os objetos sob a mesa na tentativa de esticar mais
meu corpo, ficar à disposição de Kai para que ele me foda com mais força e
arranque todo prazer que ele causa em mim.

— Diga, Marcella. Diga que é minha. Apenas minha! — Sua


respiração é pesada e entrecortada, a cada vez ele entra mais fundo me
fazendo apertar os dedos dos pés.

Seu aperto ao redor do meu pescoço ganha mais pressão, tirando meu
fôlego, mas ainda assim o prazer parece ser maior.
Nossos olhos não desviaram em um só momento.

Kai está determinado, os olhos ordenando que as palavras saiam da


minha boca como se ele precisasse ouvir isso como se precisasse de ar para
respirar.

— Você é minha. Minha. Seu corpo, e essa boceta apertada e


suculenta me pertencem! — Vai mais fundo, arrancando uma respiração
pesada de mim — Sou eu quem te faz gozar de monte e encharcar a calcinha
só de chegar perto. Então, abra essa boca linda e diga que é minha, Bella!

A tensão se enche no meu corpo, denunciando meu orgasmos. A sola


do meu pé formiga.

O aperto na minha garganta parece cada vez mais apertado.

Arranho a mão que aperta meu pescoço e desafio Kai.

— Sou… sou minha. Apenas minha — Minhas palavras sai em


engasgo e Kai arrebenta a minha barreira de prazer me fazendo jorrar e
apertar seu pau dentro de mim.

Meu orgasmo é tão intenso que luzes piscam na minha visão, sinto o
líquido de Kai dentro de mim. Ele encosta a cabeça no meu ombro,
respirando pesado.

Descanso minha cabeça na curva do seu pescoço, inalando seu


cheiro. Ele está suando, assim como eu.

Nossas respirações ofegantes se misturam e o silêncio impera. A


boca da Kai está no meu pescoço, e eu sinto o ar quente que sai dela, isso me
arrepia.

Kai é tão quente. Forte, e tem um cheiro que me transmite segurança.

O desespero me preenche com o pensamento de estar associando Kai


Moreau como um lugar seguro. Eu nunca tive ninguém que me fizesse sentir
isso.
Estou repetindo meu erro de me deixar confiar em alguém, gostar de
alguém, como fiz com India?

Meus olhos enchem com lágrimas e eu afasto Kai, tentando não


deixar ele ver meus olhos.

— Está chorando? — Seus dedos seguram meu queixo.


Observo seus olhos marejados, a tristeza neles. Ainda a pouco
enquanto eu estava dentro dela eles estavam acesos com puro fogo e prazer.
Como pode ter mudado tão rápido?

— Eu te machuquei? — Pergunto, segurando seu queixo.

Marcella nega, baixando a cabeça e respirando fundo. Seu peito sobe


e desce como se ela estivesse prestes a ter um ataque de pânico.

— Marcella, olhe para mim…

Ela baixa a cabeça até o seu queixo está batendo no seu peito.
GrunhidoS sai da sua boca na tentativa de respirar, ela me afasta, tentando
em vão respirar devagar.

O pânico parece consumir ela em questão de segundos, as lágrimas


descem pelo seu rosto e ela funga e respira de forma ruidosa.

Eu a abraço, a tomo em meus braços com força, acariciando seu


cabelo.

— Ei, está tudo bem, ok? É só ansiedade. Está tudo bem, Bella.
Respire — Me afasto para olhar para ela e mostrar como se respira —
Inspire, expire… assim, isso…

Seus olhos focam em mim, ela imita a forma como a induzi respirar.
Aos poucos sua respiração vai normalizando, suas mãos param de tremer e
ela aperta minha blusa.
Me aproximo dela, abraçando seu corpo pequeno, sinto seu rosto no
meu peito e suas mãos agarrando minha blusa nas costas. Ela está
retribuindo meu abraço nesse momento de desespero dela. Meu coração
parece ser acariciando com isso.

— Eu não quis causar isso, só fiquei chateado e enciumado de te ver


dançando daquele jeito para todos verem — Assumo.

Marcella respira fundo, me afastando. Sua maquiagem está borrada e


seus olhos vermelhos. Ajeitei minha roupa e peguei lenços umedecidos para
nos limpar.

— Não foi você quem me deixou assim, foram outras coisas — sua
voz é baixa e rouca. Totalmente carregada de emoções contidas.

Limpo sua boceta com meu gozo, suas pernas e devolvo a calcinha
ao lugar dela. Descarto o lenço sujo e pego outro. Seguro seu queixo e
começo a limpar ao redor dos seus olhos, onde o rímel escorreu. Marcella
não consegue manter os olhos em mim.

— Quer me falar sobre o que foi isso? — Limpo sua bochecha macia
e corada, tirando todo o borrado da maquiagem.

— Não gosto quando me trata bem, não gosto nem quando é decente
desse jeito comigo. Pare de perguntar coisas quando estou assim, de cuidar
de mim.

Olho em seus olhos.

— Você é minha esposa. A única pessoa que devo cuidar nesse


maldito mundo — Declaro.

— Não. Nosso casamento não tem esse propósito, você sabe disso.
Fui usada para te atrapalhar nos seus planos, não tenho nenhum valor a
agregar.

Jogo os lenços e olho para Marcella em silêncio. Seus olhos


demonstram estarem pesados de sentimentos contraditórios. Marcella
sempre parece pesada em relação a sua bagagem sentimental.
É como se ela sentisse dor apenas por respirar.

— Vamos para casa. Você precisa de um banho e uma boa noite de


sono — Digo.

Ela assente como se não tivesse nenhuma força para retrucar.

Mandei India para casa assim que perdi a cabeça vendo dois filhos da
puta observando e comentando sobre Marcella enquanto ela dançava. Uma
confusão se alastrou e Andreas tirou ela às pressas.

Pego meu casaco para cobrir Marcella e dou minha mão a ela. Nós
dois saímos da boate pelas portas dos fundos e eu dirijo até em casa
deixando ela ficar em seu silêncio.

Pesada. Tão pesada.

Como pode uma garotinha tão pequena carregar tanto peso dentro de
si? Seus ombros são finos e pequenos… eles vão se quebrar se o mundo
continuar entregando mais e mais atribulações.

India parece estar dormindo quando chegamos, Marcella vai direto


para o banheiro e eu a acompanho. Ela não diz nada, apenas tira sua roupa e
entra na ducha, eu faço o mesmo.

Ela fica de costas para mim como se olhar para mim fosse a última
coisa que ela quisesse no momento.

Termino meu banho primeiro e visto uma calça de moletom. Eu


nunca dormi com nenhuma mulher ou fiquei muito tempo sem camisa com
uma. Mas, com Marcella me sinto à vontade de dormir sem a parte de cima e
ficar despido sem nenhum receio.

Não exponho minhas cicatrizes, nem mesmo nas lutas de gaiola.


Odeio a forma como as pessoas olham para elas. Só não odeio o olhar de
Marcella diante delas.

Quando volto para o quarto, Marcella está vestindo sua camisola que
fica ao lado da cama. Ela não diz absolutamente nada, apenas se deita.
Suspiro baixo, tomando meu lugar na cama.

— Você pode ter sido um plano para Otávio me deixar de mãos


atadas, mas eu não teria me casado com você se não quisesse. Você não me
atrapalhou em nada, Marcella. Gostei de você desde o primeiro momento
que coloquei meus olhos em você. Você foi o risco que eu decidi correr. Foi
algo que eu quis desde muito tempo. — Deixo minhas costas relaxarem na
cabeceira enquanto externo meus pensamentos — Por muito tempo, eu não
queria nada. Não desejava nada. Por muito tempo, ficar sozinho e levando
uma vida obscura era o suficiente. Mas então, você apareceu e eu nunca quis
algo como eu quero você. Nunca desejei nada como desejo você. E eu juro
por qualquer Deus que existir que você foi a primeira coisa em anos que
cheguei a desejar com fervor.

Marcella se vira para mim, os olhos me focando.

— A última vez que achei que alguém gostava de mim, que eu


pertencia a algo, acabei por ser espancada e pisoteada com tudo que sentia.
Eu não vou mais cometer esse erro, Kai. Deveria fazer o mesmo — sussurra.

— É por isso que não me beija? Tem medo de se apaixonar por mim?

— Tenho medo de você destruir o que sobrou de mim, eu precisei de


muito esforço para catar esses pequenos pedaços que sobraram de mim. Se
eu quebrar novamente, não terei mais forças.

Engulo em seco e fico em silêncio. Não posso fazer nenhuma


promessa a ela mesmo que eu queira.

Saio da cama e caminho até a poltrona na frente da cama, me abaixo


o suficiente para tocar o lado interno dela, assim que acho o gravador, eu
mostro a Marcella.

Uma certa decepção brilha em seus olhos.


Nos primeiros minutos com India Rivera, percebo de imediato o
quão insuportável ela é. Sua língua é afiada, seus lábios não param de se
mover o tanto que ela fala e é de revirar os olhos a forma como ela é
invasiva. Ela deixa Marcella tensa, envolta de silêncio e sorrisos forçados.

Estar na presença de India faz Marcella agir diferente, com uma


cautela maior. É como se ela estivesse sendo torturada estando perto dela.

— Então, vocês estão se dando bem, hum? Otávio e eu merecemos


um agradecimento, não? — India cantarola

Marcella só deu três garfadas no seu café da manhã e simplesmente


parou.

Eu limpo minha boca no guardanapo e olho para India.

— Você quem deveria estar me agradecendo. Fui eu quem serviu


para você anular seu compromisso e ficar com um velho como meu tio. Se
alguém deve agradecer, é você — Digo.

O rosto bonito se abala rapidamente, se recompondo na mesma


rapidez.

— Se devo agradecer a você, Marcella deve agradecer a mim. É


justo. Ainda não ouvir isso dela — India olha para Marcella — Quando vai
me agradecer? Tudo o que têm agora foi por causa de mim.

Percebo Marcella se encher de chateação e uma raiva sombria. Ela


aperta o garfo com força, fazendo os nós dos seus dedos ficarem brancos.
Coloco minha mão sobre sua perna por baixo da mesa.

— Por causa de você? — sorrio — Não seja tão abundante nas suas
palavras. Marcella não te deve nenhum agradecimento. Ela se casou comigo
por mérito próprio. Se ela tivesse a aparência que você e sua irmã tem… eu
nunca teria me casado com ela — Olho para minha esposa com um sorriso
satisfeito — Marcella me agrada de diversas maneiras. Ela é linda,
inteligente e sabe muito bem como ser interessante. Diferente de você, não
é? Pelo que deu pra perceber, você é bastante volátil e previsível. Deve ser
por isso que meu tio quer casar com você: ele sabe que é só mexer nas suas
cordinhas de marionete para que faça exatamente o que ele quer.

O rosto de India fica violentamente vermelho, mas ela não é capaz de


dizer nada. Com certeza vai falar tudo a Otávio, e ele prometerá a ela minha
cabeça. Previsível demais.

Não vou deixar Marcella no mesmo ambiente que essa mulher.

— Vá trocar de roupas, vou levar você para praticar um pouco —


digo a Marcella, que não espera que eu repita.

Levanto da mesa, dando as costas para India. Tenho certeza que ela
achará uma diversão por si própria.

Cerca de trinta minutos depois, eu e Marcella paramos o carro em


frente ao meu dojo de luta. São 10:00 da manhã. Não costumo treinar tão
tarde, mas isso é por Marcella, ela precisa esvaziar a mente.

— Não poderia colocar uma calça legging? — Questiono quando


saímos do carro, olhando para o short legging marcando sua bunda e coxas.

Marcella dá de ombros.

— Não é como se algum dos homens lá dentro vá olhar para mim,


sou sua esposa. Eles acabariam mortos. Você é um idiota possessivo — Diz.

Um sorriso divertido cruza meus lábios e começamos a caminhar


para dentro. O espaço está com poucos dos homens, cerca de doze. Todos
olham na nossa direção quando entramos, fazendo um aceno respeitoso com
a cabeça. Toco nas costas de Marcella para que ela continue andando.

— Vou me trocar no vestiário, vá se aquecendo — aponto para a área


de aquecimento, ela assente e se dirige para lá.

Caminho até o vestiário, sendo rápido para substituir minha calça por
bermuda e minha blusa por uma regata.

Volto para o centro percebendo os olhares dos homens em Marcella.


Ela está se aquecendo sem olhar para nenhum deles. Lanço um olhar mortal
na direção dos meus homens e caminho até o ringue que Marcella está.

— Quero ver suas habilidades com as adagas. Escolha alguma e


vamos praticar juntos — Digo, subindo no ringue.

Marcella para seus aquecimentos e olha para a parede com todo tipo
de armas.

— Eu posso te machucar com elas — Avisa.

— Se você conseguir me atingir, ficarei extremamente orgulhoso e


aliviado. Vamos, escolha uma.

Ela desce do ringue e escolhe duas adagas Signas com as lâminas em


espiral. São mortais. Os golpes delas profundo, dilaceram o tecido, músculos
e órgãos.

Ela sobe no ringue empunhando as adagas com habilidade em cada


uma das suas mãos. Coloco meus braços para trás, e faço um aceno positivo
para minha esposa.

Marcella se posiciona, os olhos ferozes em mim, em cada


movimento. Ela respira fundo assumindo uma postura de combate. Espero
seu avanço, e quando ela faz, consigo desviar com facilidade, fazendo ela
escorregar para frente.

Ela não se desequilibra ou cessa seu ataque, após o primeiro, ela


tenta novamente, e de novo. Ela é rápida, suas mãos são habilidosas em cada
movimento. Mas eu sou um velho lutador. É difícil me acertar.

— Mantenha seus pés firme no chão, pare de focar tanto nos meus
movimentos e crie uma rota de ataque e defesa — Me defendo do seu braço,
a segurando por trás com os dois braços imobilizados.

Ela está arfante e vermelha.

— Catalise sua raiva para as lâminas, Marcella, não para seus


movimentos. Sua fúria não pode cegar seu ataque — Instruo

Ela se solta de mim, voltando a ficar de frente para mim. Ela está
suando e arfante. Eu continuo da mesma forma como subir.

Marcella assume sua postura de combate novamente, seus olhos são


duas chamas ardentes. Ela avança, e eu abafo seus ataques.

Dessa vez, ela não toma nenhum descanso. É um ataque atrás do


outro que me pega de surpresa os movimentos, me fazem ter que suar para
me defender e acelerar meus próprios movimentos. Tento desarmá-la, mas é
impossível diante dos seus movimentos rápidos.

Três golpes e ela consegue cortar levemente a pele do meu antebraço.


Mais dois movimentos e ela passa a ponta da lâmina pelas costas da minha
mão.

Ela estava me estudando, medindo meus passos e me atacando com o


mínimo da sua habilidade até captar tudo.

Consigo deter seu último golpe e a desarmo.

Passo meu braço em torno do seu pescoço com um sorriso no rosto.


Colo meus lábios na sua orelha.

— Você é boa, Bella. Mas precisará ser mais que isso para me ferir
em um combate — sorriu.

Os homens pararam o que estavam fazendo para nos olhar.


Marcella se solta de mim, os olhos nos dois cortes superficiais que
contém pouco sangue. Um sorriso debochado desenha seus lábios bonitos.

— Conseguir chegar em você, é isso que importa, por agora.

Balanço a cabeça, me aproximando dela.

— Você me deixou excitado o suficiente, Bella mia. Vamos para


algum lugar, quero te dar uma recompensa por ter tirado sangue de mim.

O brilho em seus olhos é excitante.

Me viro para os meus homens.

— Vocês têm exatamente dois minutos para pegar suas coisas e


sumir daqui. O dojo estará fechado por algumas horas.

Eles não protestam, apenas pegam suas coisas e vão se dispensando.


Olho para minha esposa e a seguro pela mão. Nós dois precisamos de um
banho e de muito sexo.

Arrasto Marcella até o banheiro, a colocando nos meus braços, com


as pernas em volta do meu quadril. Devoro a pele do seu pescoço, apertando
sua bunda enquanto a coloco com força contra o azulejo do banheiro, ela
geme e meu pau endurece com força.

Ligo o chuveiro fazendo a água fria cair por nós dois. A solto apenas
para tirar seu short, com desespero e famintos pela sua pele. Me ajoelho
diante dela, abrindo suas pernas e capturando os lábios da sua boceta
suculenta, recebendo seu gosto em cheio.

Marcella geme alto, agarrando meu cabelo.

Devoro sua intimidade com minha língua, abrindo os grandes lábios


e passando minha língua pela sua entrada até estar acariciando o fundo dela.
Os gemidos de Marcella são músicas para os meus ouvidos e combustível
para o meu pau ficar cheio.
Eu nunca vou enjoar do gosto dela. Isso é viciante pra uma porra.
Tudo nela é.

Ela está prestes do seu primeiro orgasmo, não quero que ela goze na
minha boca. Quero ela no meu pau. Me levanto, vendo seu rosto por baixo
da água do chuveiro carente pela falta da minha boca.

Abaixo minha bermuda e seguro uma das suas pernas para ter
abertura suficiente de me enfiar dentro dela. Me meto por completo na
boceta suculenta e apertada. Nós dois gememos com a sensação de choque
prazeroso pelo nosso corpo.

Porra, essa boceta aperta meu pau com tanta devoção.

— Essa bocetinha apertada ama ser maltratada pelo meu pau… —


Gemo dolorosamente enquanto me afundo por completo na sua carne.
Marcella agarra meus ombros.

Meto nela com força, sem gentileza, fazendo nós dois olharmos um
para o outro cheios de prazer e gemidos que não são abafados pela água que
cai por nós dois.

— Oh, Kai… Deus, isso é tão bom. — geme de olhos fechados,


arranhando a pele do meu pescoço.

Levo minha mão até seu pescoço fino e macio, me metendo mais e
mais fundo dentro dela.

— Sua boceta é tão apertada, amor… porra!

Sinto as paredes dela se contraindo em volta do meu pau fazendo


meu gozo jorrar sem moderação. Nós dois apertamos um ao outro enquanto
gememos em nosso ápice.

Marcella deixa sua cabeça cair sobre meu ombro e eu a encosto na


parede por completo, com meus músculos tremendo pela descarga de prazer.
A água do chuveiro aplaca o calor que nosso corpo acaba de produzir nos
deixando mais calmos.
Sinto o corpo pequeno sobre o meu, as pernas e braços ao meu redor.
O cheiro do seu cabelo inunda meu nariz.

Estou condenado. Completamente viciado por uma boceta.


São poucas as vezes que Kai e eu passamos uma noite inteira na
mesma cama desde que nos casamos. Mas, em algumas dessas noites,
percebo seu sono perturbado e agoniante. É como se ele estivesse preso
dentro de um lugar de pura tortura. Acredito que ele saiba que não consegue
ficar quieto durante o sono, e é por essa razão que ele faz sexo comigo até
que eu fique exausta a ponto de cair no sono profundo.

Ou então, ele simplesmente cochila e se levanta antes de mim.

Mas não hoje.

Hoje ele pegou no sono primeiro que eu, na nossa cama.

Levanto para ficar atenta aos seus movimentos brutos e os grunhidos


que sai da sua boca. Seu rosto se contorce em expressões de agonia.

As cicatrizes de queimaduras na sua barriga e peito me fazem pensar


que ele esteja revivendo o dia que foi marcado com elas.

Sua mão aperta o travesseiro com força, ele encolhe todo seu corpo e
o recanto dos seus olhos molham com lágrimas.

Meu coração aperta ao vê-lo dessa forma, estico minha mão até seu
peito para tentar despertá-lo. O meu toque é como uma válvula que o faz
abrir os olhos rapidamente. Ele não me ataca ou me imobiliza, ao invés
disso, seus olhos focam nos meus.

Os olhos âmbar repletos de lágrimas, pavor e dor. O pânico brilha


nessas íris bonitas. Seu peito sobe e desce repleto de tensão. Ele está
acordado, mas preso no seu pesadelo.

Suas mãos começam a tocar os lugares onde estão as queimaduras,


arranhando-as com força e terror. Como se elas estivessem queimando e
longos gemidos altos saindo da boca de dele.

— Kai! Kai! — Exclamo vendo ele se erguendo da cama com


desespero, como se seu corpo estivesse queimando.

Pulo da cama, indo na sua direção com medo dele se ferir.

Agarro suas mãos com toda força que consigo e olho nos seus olhos.
O pavor neles é de uma dimensão capaz de me colocar medo.

— Kai, você está bem. Está na sua casa. Eu estou aqui! — Aperto
suas mãos nas minhas, tentando transmitir firmeza nas minhas palavras.

Ele para de se mexer, mas seus olhos estão vidrados. Com o coração
cheio e a mente barulhenta, eu faço a única coisa que me proibir de fazer.

Fico nas pontas dos pés e colo meus lábios nos dele com firmeza,
segurando sua bochecha onde se encontra a cicatriz.

O fogo que me queima parece congelar, o barulho dos meus gritos se


silenciaram e tudo que consigo sentir é os lábios dela nos meus. Calmos,
macios e singelos.

Uma lufada de ar frio nas chamas que derretem minha pele. Fecho
meus olhos sentindo uma lágrima solitária descer pelo meu olho direito e
molhar minha bochecha. Ela passa o braço pela minha cintura e mantém a
mão no meu rosto. Seus lábios não cessam a pressão suave sobre os meus. E
eu desejo que continuem. Sem eles, posso voltar para o inferno.

Sua mão é suave, delicada e me abraça. Recupero o controle dos


meus braços, com necessidade, eu abraço Marcella. Abraço seu corpo
pequeno movendo meus lábios sobre os dela. Preciso disso para livrar minha
mente do terror, minha alma das chamas ardentes que carrego sempre que
caio na inconsciência.

Beijo o meu anjo salvador com paixão, com ferocidade e exaltação.


Eu a abraço com tudo dentro de mim com medo de que ela desapareça e me
deixe voltar para onde eu estava.

Marcella retribui o beijo de forma inexperiente, mas perfeita para


mim. Seus lábios são macios e quentes.

Arfo contra sua boca, escorregando a língua para sua boca. O braço
dela me abraça por trás, e ela segura meu ombro.

Não tem nada de sexual nisso. Nenhum teor.

É um beijo de salvação.

Separamos nossos lábios lentamente, arfando contra a boca um do


outro, com dificuldade de separar nossos lábios.

Marcella leva a mão até meu rosto, seus olhos abertos e concentrados
em mim.

— Você está bem? — Pergunta, engolindo a seco.

Não sou capaz de soltá-la neste momento.

Nossas testas estão coladas.

— Não queria te acordar… — levo minha mão até sua nuca,


deixando meu outro braço circular sua cintura fina.

Suas duas mãos agora estão no meu rosto, acariciando os dois lados.

— Me conte o que aconteceu com você. Se eu souber, talvez eu


possa te ajudar. Falar vai ajudá-lo, por favor.
Sento na cama, trazendo seu corpo comigo. Marcella fica sentada sob
minhas pernas, os braços ao redor do meu pescoço. Respiro fundo e olho
para ela, concentrado no seu rosto.

— Minha irmã tinha 11 anos quando sofreu o acidente que a deixou


em coma até hoje. Eu tinha 21 anos nessa época. Já era um homem da máfia
com todas as cicatrizes que você vê hoje. Eu era o brinquedo do meu pai. A
bolinha de estresse dele. — aponto para a queimadura em formato oval perto
no final das minhas costelas direita — A primeira queimadura. Eu tinha 14
anos. Minha mãe tinha sofrido um aborto e ele estava furioso e triste —
Aponto para a segunda queimadura não muito longe da primeira — Ele usou
o atiçador de fogo para me causar essas outras, todas feitas no mesmo dia.
Não sei o porquê, mas lembro dele está furioso… ele me trancou no porão
da mansão, me deixou sem comida por cinco dias, amarrado em pé a uma
coluna. Por dias, tudo que eu conseguia sentir era o cheiro da minha carne
queimando e talvez por está com fome, eu achava o cheiro atrativo.

Deixo Marcella sair do meu colo para ela ver as cicatrizes redondas
de cigarros pelas minhas coxas. Os olhos dela pairam pelas cicatrizes,
repletos de emoções doloridas. Respiro fundo, empurrando a exaustão para
longe.

— Dois dos homens dele costumavam apagar o cigarro na minha


pele. Na época que passei dias no porão, eu era queimado de diversas
formas. E espancando também. Ivo só parou com seu gostinho por me
machucar quando minha irmã nasceu. No dia que ela sofreu o acidente, e o
médico disse que ela poderia ficar em coma por meses, Ivo veio atrás de
mim, mas ele não encontrou mais aquele garotinho. — Respiro fundo.

Minha voz está mais profunda que o normal, pesada e rouca.


Marcella está ouvindo tudo atentamente, suas mão tocando minhas cicatrizes
suavemente.

— Eu já tinha 21 anos. Minha cabeça já estava fodida pra caralho.


Quando ele veio até mim, pronto pra me machucar, eu mostrei a ele o
monstro que ele havia feito.

— O que você fez? — Marcella pergunta, hesitante.


Olho para ela, vendo a hesitação em descobrir o que eu fiz.

Não posso chorar. Não quero que ele veja esse tipo de sentimento em
mim enquanto conta sobre o que ele passou. Quero ouvir tudo, deixar ele
desabafar tudo sem mostrar minhas emoções conturbadas e agonizantes em
mim.

Os olhos de Kai assumem uma espécie de brilho bestial com minha


pergunta, suas íris brilham e eu vejo claramente o mesmo prazer sombrio
retumbante dentro dos seus olhos.

— Eu desliguei os aparelhos da minha irmã, Marcella. Deixei os


aparelhos dispararem enquanto tirava o tubo da sua boca. — Ele se
empertiga — Ivo chegou no quarto um pouco cedo demais, e salvou a filha.
Se ele não tivesse chegado tão rápido, de Niki só teria os ossos agora.

Sinto uma batida errante no meu coração. Meu estômago contrai e


um gelo assombroso sobe pela minha espinha.

Ivo deve ter visto esse olhar demoníaco que estou vendo agora nele.

Ele quem transformou o filho nisso.

— Ela já estava em estado vegetativo, desligar os aparelhos foi um


favor que Ivo não deixou ser realizado. — Digo.

Kai ri. Uma risada profunda e doentia. Os olhos brilhando e o rosto


ainda mais obscuro.

— Querida, eu a deixei sem oxigenação por exato dez minutos. Os


danos cerebrais que causei com minha vontade de mostrar ao nosso pai em
que ele me transformou, deixou minha irmã sem a possibilidade de acordar
novamente. — A risada se transforma em um sorriso cruel — Ela está em
estado vegetativo por minha causa. Consegue entender agora?
Isso é como um baque no meu corpo inteiro, me falta um pouco de
ar. Eu poderia chamar Kai de monstro, era isso que eu devia fazer agora.
Mas eu simplesmente consigo entender o que ele fez.

As queimaduras no seu corpo são a prova viva do abuso do seu pai.


Os seus terrores noturnos são acionados pela dor que essas cicatrizes
simbolizam.

Eu sei o que é sentir ódio por alguém. O que é querer lutar contra o
abuso, e durante todo momento só queremos nos libertar do nosso agressor.

Não tenho medo de Kai, não o culpo quando não sei o que eu faria no
seu lugar.

Levo minha mão até sua coxa nua e acaricio as cicatrizes de


queimaduras de cigarros. Deve ter uma dezena. Circulo a cicatriz de faca
também na sua coxa.

— E as cicatrizes de faca, como conseguiu? — É tudo que pergunto.

Kai parece ser pego de surpresa com minha curiosidade. Ele


provavelmente achou que eu ficaria com medo dele.

Eu já vi monstros de verdade em homens. Ivo e Alev são exemplos.


Não irei associar Kai a eles. Não hoje.

Kai está me olhando com uma certa confusão, mas posso perceber
que seus ombros estão mais relaxados agora. Eu seguro sua mão, olhando
para a palma grande demais perante a minha.

— Nos tornamos consequências do abuso, resultados falhos, e


extremamente inédito das ações que nos fizeram chegar aqui. — Puxo o ar
denso, sentindo o calor da palma de Kai — Não posso condenar você diante
do que você passou quando não sei o que eu faria se fosse você. O mundo
prega o amor, mas esse amor continuaria intacto se sofresse queimaduras,
retalhos de faca na pele, fome e sede da pessoa que deveria protegê-lo?

Nossos olhos se conectam, a mão dele fecha sobre a minha


entrelaçando nossos dedos. Sei que tudo que ele me disse algumas noites
atrás foi mentira. Não estou fazendo nada disso para consolar sua alma
quebrada, eu apenas estou deixando meus pensamentos saírem livremente.

Não sei por quanto tempo nos olhamos e ficamos com as mãos
entrelaçadas, mas deduzo que o tempo preciso para fazer Kai voltar a si.
Kai e eu parecemos sempre estarmos andando em direções opostas.
Quando penso que daremos um passo à frente, sempre retrocedemos. Não há
chance de aproximação dessa forma. A noite em que conversamos acabou
por fazer Kai se tornar mais cauteloso perante mim, como se eu fosse uma
fraqueza indesejada.

Já fazem três dias que ele não me leva para o galpão e que não treina
comigo. Tenho ido sozinha, aproveitando todos os momentos para fugir de
India. Otávio finalmente chega hoje, e felizmente ela passará o dia inteiro
fora se arrumando para ele.

— Nenhum homem aqui vai lutar com você — a voz relaxada de


Jace me alcança.

Olho na sua direção o vendo encostado nas grades do tatame. O


sorriso debochado e o olhar sarcástico.

Estou sob o tatame, segurando duas adagas, treinando para nunca


perder o jeito. O suor está escorrendo pelas minhas costas e testa.

— Então deveria subir aqui e mostrar que é um homem de verdade


— Arfo, desfazendo minha postura de ataque.

— Eu sou homem, é por isso que não chego perto de você. Por isso
que ninguém aqui chega. O Sottocapo é bastante expressivo, e todos aqui
adoram o fato de terem as mãos no lugar, e os olhos também.
Puxo minha respiração fortemente, largando as adagas para pegar a
garrafa de água no recanto. Jace vem até o meu lado, mantendo uma
distância respeitosa.

— Você é rápida, mas seus pés se mantêm muito pesados durante o


ataque. Tente suavizar isso — Aconselha.

— Não era você quem queria lutar comigo? Suba aqui e lute. Duvido
que Kai machucaria você por causa disso — bebo uma dose generosa de
água, acalmando meu corpo.

Jace ri.

— Obrigado, minha senhora, mas não sou adepto a tentações que


irão me levar pra um caixão. Beba sua água e vamos sair.

Nos últimos três dias, Jace tem assumido o papel como um segurança
pessoal. Acredito que Kai o tenha colocado pra ficar de olho em cada passo
meu. Mas não entendo o porquê de ter sido Jace. Eu só saio da cobertura
para cá ou para a faculdade. Minhas aulas começaram ontem e tem sido um
alívio ter algo para pensar e fazer.

Tomo uma ducha no banheiro do galpão e visto uma calça jeans,


camiseta branca e deixo meu cabelo preso.

— Quero tomar um sorvete. Podemos parar na praia? — Pergunto a


Jace.

Ele suspira.

Temos feito isso nos últimos dias após os treinos: tomar sorvete
assistindo as ondas se quebrarem na área.

Deixo ele comprar e me sento na calçada alta. O sol frio e laranja do


final da tarde ilumina a água e torna tudo ainda mais bonito de se ver. São
momentos como esse que eu sinto todo o prazer por estar respirando.

— Só vamos ficar por dez minutos — Avisa Jace me entregando meu


sorvete de baunilha. Ele fica de pé, os olhos atentos e a postura ameaçadora.
Eu suspiro baixo provando meu sorvete. O toque gelado nos meus
lábios e língua é reconfortante. O sol frio na minha pele é acalentador e o
som das ondas, o cheiro de água salgada… sinto uma falsa liberdade.

— Eu sempre adorei a praia. Fazia planos de que quando saísse da


organização, eu iria visitar quantas praias eu conseguisse, e terminar meu dia
assistindo o sol de pôr por ela. — Puxo meu ar, sentindo a brisa me acariciar
— Fazer isso nos últimos dias tem sido uma realização.

Um som de desdém sai de Jace.

— Tem praias ao redor da Filadélfia, e você nunca foi?

— Alev sempre foi com a família. Eu ficava em casa com os criados.


Uma vez pedi a Alev para me levar, eu tinha nove anos na época, eu acho.

— E ele te levou?

Olho para Jace que está contra o sol, uso minha mão para proteger
meus olhos da claridade e poder enxergar ele.

— Não. Nesse dia, eu aprendi com ele a nunca insistir em algo e


quando preciso me lembrar disso, eu passo minha língua pelo lado interno
do meu lábio inferior para sentir a cicatriz do primeiro machucado profundo
que ele causou em mim — Sorriu para Jace com a lembrança.

O rosto dele fica sério, os olhos escuros focando em mim de forma


carregada. Ele desvia os olhos e eu faço o mesmo, terminando de tomar meu
sorvete.

— Peça a Kai para trazê-la em um final de semana, assim você


poderá nadar como os outros estão fazendo — Preconiza com sua voz dura.

Sinto vontade de rir, mas apenas sorrio. Kai e eu não temos nem nos
falado direito na última semana. Nem mesmo na hora do sexo.

A cada vez que ele está dentro de mim é como se eu fosse apenas um
corpo usado para um meio de prazer dele. Com a mesma facilidade que ele
entra dentro de mim, ele se vai depois do ato, me dando as costas e me
deixando bagunçada.

Não existe uma forma pior de se sentir usada.

Jace e eu voltamos para a cobertura, o sol ainda está no final.

— Você vai ficar sob a responsabilidade de Andreas e Castello.


Tenho negócios a tratar — Jace avisa quando as portas do elevador se abrem.

Concordo e saio do elevador, caminhando até o quarto. Troco minhas


roupas por um short de tecido mole e uma blusa mais suave.

Volto para a cozinha e faço o jantar apenas para mim. Kai nunca
chega em casa antes das 23:00. Só fica eu, e os dois seguranças e India.

Uma hora dessas, ela deve estar com Otávio.

Me retiro para o escritório depois de jantar, pego um livro e deito no


sofá. Leio até os meus olhos começarem a pesar de sono.

Acordo no mesmo lugar em que dormir na noite anterior, um sinal de


que Kai não voltou para casa ou avisou qualquer coisa.

Me arrumo para ir até a faculdade estranhando o fato de Jace não


estar me esperando hoje.

Quem me conduz até a universidade é Andreas e Castello. Antes de


sair do carro, eu retiro minha aliança e coloco dentro da bolsa. Não quero
chamar atenção por ser casada tão jovem, isso faria todos se interessar por
conhecer o meu marido.

Vou esconder o sobrenome Moreau até meus últimos dias aqui.

Assisto minhas aulas com atenção, deixando de lado os sussurros


masculinos. Tenho certeza que se algum deles se aproximar de mim, Kai
saberá.
Quando estou saindo da universidade, Castello está me esperando
com o rosto tenso.

— Temos que levá-la ao hospital, senhora. O Sottocapo pediu que a


levássemos até lá.

Um frio sobe pela minha espinha juntamente com um mal


pressentimento. O que Kai faz em um hospital? Por que ele não voltou
ontem à noite?
Os homens da Camorra estão na entrada do hospital, uma explicação
óbvia de que o Capo deles esteja aqui. Sou conduzida até o quinto andar, e
ao chegar no corredor encontro Jace de vigília. Me aproximo dele,
segurando forte o casaco sob meu braço.

Seus olhos escuros se levantam na minha direção.

— Hum, você chegou. É melhor entrar. — Fala

Olho em direção a porta fechada.

— Quem está aí nesse quarto? — Pergunto, segurando com ainda


mais força a manga do casaco.

Jace suspira e empurra a porta, abrindo espaço para mim sem tirar
seus olhos do meu rosto. Ele faz um gesto com a cabeça para que eu entre,
demoro cinco segundos inteiros até forçar minhas pernas em direção a porta.

Kai, Alexa e Ivo estão ao redor de uma cama. Kai está aos pés da
cama, Alexa parada ao lado direito da cabeceira e Ivo um pouco mais perto
de Kai. Os olhos dos três vêm na minha direção, e os meus vão até a jovem
sob a cama.

Alexa abre espaço para que eu veja com mais nitidez a cópia fiel
dela. O mesmo cabelo negro, a pele pálida e o nariz e boca similares.

— Essa é Nicoletta, nossa filha caçula. — Alexa acaricia o cabelo da


garota inconsciente com um respirador conectado a ela — Se aproxime,
Marcella.
Olho para Kai em busca de algum sinal, mas ele apenas desviou os
olhos dos meus. Ivo, por outro lado, está me olhando como um falcão.

— Ela teve uma melhora hoje depois de anos. Os médicos disseram


que ela respondeu aos estímulos — A voz de Alexa é esperançosa — Nossa
filha pode acordar.

Relembro o que Kai me disse sobre isso ser impossível, e mesmo não
querendo, eu penso em como ele está se sentindo nesse momento. Se o que
Alexa falou for verdade, isso pode está atingindo Kai.

— Eu fico feliz por isso, senhora. Espero que ela se recupere — Digo
em tom moderado.

Ivo continua me olhando, se ele pudesse matar alguém com o olhar,


eu estaria morta.

— Passamos a noite aqui. Gostaria que você também viesse para


conhecer Nicoletta pessoalmente, como pode ver, ela é quase da sua idade.
Acredito que ela morreria de ciúmes de você por ter se casado com o irmão
dela — Alexa sorri segurando a mão da filha.

A esperança que ela tem sobre sua filha abrir os olhos chega a doer
em mim. A forma como ela se segura na garota decidida a esperar o tempo
que for…

Alexa parece ignorante diante do que acontece entre o marido e o


filho. A maior dor que parece ter passado foi perder a filha desse jeito.

— Chega de alvoroço em torno da minha filha — Ivo finalmente fala


pela primeira vez, irritado — Alexa, você precisa de um banho e descansar
— ele olha para mim — Leve seu marido para casa também.

— Quero ficar um pouco mais, não tenho pressa de ir embora — A


voz profunda de Kai enche o quarto.

Os ombros de Ivo ficam rígidos. Ele não vai sair desse quarto
enquanto Kai estiver aqui. Seu maior tesouro está deitado nessa cama, e a
pessoa que pode acabar com ele também está no quarto.
Deixo eles e vou para o corredor. Jace está navegando no celular
quando fecho a porta. Ele olha para mim com atenção.

— Te expulsaram? — Pergunta.

Balanço a cabeça.

— Ela vai acordar?

É a vez de ele balançar a cabeça.

— Não sei. Talvez acorde, ou não. Já faz uma década e ela está desse
jeito. Quando fui acolhido pela Camorra, ela já estava nesse estado.

Acolhido.

Jace é Russo e foi acolhido pela Camorra.

A porta se abre atrás de mim revelando a família Moreau. Todos


vestidos de preto e parecendo exaustos.

— Vamos embora — Kai diz para mim.

Os três caminham na frente, diminuo meus passos para ficar perto de


Jace. Os Moreau são uma presença intimidadora pelos corredores e eu
pareço uma boba perto deles. Me sinto mais confortável estando ao lado de
Jace.

O elevador se abre com mais algumas pessoas dentro dele. Os


Moreau entra, mas eu permaneço parada fora dele, ao lado de Jace, quando
as portas estão prestes a se fechar, Kai a segura com a mão e ergue os olhos
para mim.

— Não vai entrar? — Questiona.

Balanço a cabeça.

— O elevador está cheio, vá em frente com os seus pais. Encontro


você em casa. Ficarei com Jace.
Os olhos de Kai vão até Jace, estão glaciais. Ele não diz nenhuma
palavra, apenas deixa as portas se fecharem mantendo os olhos determinados
em mim.

Jace e eu esperamos o elevador sem conversar. O silêncio entre nós


dois não é desconfortável. Posso ficar horas em silêncio na sua presença sem
sentir nenhum incômodo.

— Você deveria ter entrado no elevador com ele. Kai vai ter um
acesso de fúria com seu comportamento — Jace alerta quando entramos no
carro.

— Se ele me quisesse por perto, teria saído do elevador ou me


esperado no estacionamento. Kai já perdeu o interesse por mim, e você já
deve ter percebido isso — Comento.

Jace olha rapidamente para mim enquanto dirige.

— Eu o conheço há mais de uma década, e nunca o vi tão obcecado


por uma mulher como ele é por você. Ele pode parecer distante e não
demonstrar interesse, mas sei que isso o está consumindo por dentro.

Viro meu rosto para a janela para Jace não ver meu riso de
incredulidade. Kai não está sendo consumindo por nada.

Sou um meio dele conseguir recuperar um apoio e alguém que ele


terá que passar a vida.

Eu estou empenhando meu papel na vida dele e pretendo permanecer


na minha zona de segurança sem me envolver com os sentimentos dele, e
nem ele com os meus.

Chegamos na cobertura juntos, Jace sobe comigo e encontramos Kai


no bar da sala bebendo algo que deduzo ser uísque.

— Você pode ir embora, Jace. Está dispensado por hoje — Diz ele
com a voz implacável.
Jace nem mesmo sai do elevador, ele junta as mãos na frente do
corpo e acena em direção a Kai mesmo que ele não esteja olhando.

Observo as portas do elevador se fecharem atrás de mim e respiro


fundo. Kai não quis conversar comigo nos últimos dias, espero que hoje ele
prossiga com isso.

Começo a caminhar até o quarto quando ele me faz parar.

— Está muito próxima de Jace, hum? É o sotaque russo que te atrai


nele? — Seu tom é ácido e debochado.

Fico parada no meio do corredor, olho para ele percebendo a forma


bruta como segura o copo.

Ele está com raiva.

Suspiro baixo.

— Você precisa descansar, deve estar com a cabeça cheia. Tem


comida na geladeira — Digo com calma.

Ele se vira para mim. Os olhos brilhando como chamas.

— Venha até aqui! — Ordena.

Não saio do meu lugar.

— Venha aqui, porra!

Começo a sentir a chateação nas minhas veias, a fúria tomando forma


com o tom de voz que ele usa e a maneira como acha que pode me ordenar a
fazer alguma coisa.

— Não me dê ordens! Não sou sua para estar agindo com tamanha
falta de noção! — Cerro meu punho.

Uma risada ácida atravessa seus lábios e ele caminha na minha


direção como um predador.
— Você não é minha? — Sua mão captura uma mecha do meu
cabelo — O que a faz pensar que não é minha, Marcella? Me diga o que te
faz pensar nisso, e eu vou te mostrar o quão errada está. Você é minha.
Minha mulher. Minha propriedade!

Meu sangue corre depressa pelas minhas veias e meus batimentos


aceleram diante dessas palavras. O toque dele é gélido e seus olhos estão
parecendo brasas vivas.

— Você é doente, Kai. Possessivo e arrogante. Se acha que vou me


calar e me submeter a você porque somos casados, está enganado. Eu não
sou sua, e nunca serei! — Digo essas palavras olhando em seus olhos com
toda raiva dentro de mim.

Sua mão agarra a minha e ela a ergue até meu rosto. Um sentimento
frio se apossa de mim.

— Onde está sua aliança?

Percebo tarde demais que eu não a coloquei de volta na saída da


faculdade.

Puxo minha mão da dele, mantendo meus olhos o mais firme


possível nos seus.

— Você não usa sua aliança, por que me cobrar a fazer o mesmo?
Por que sou mulher? Não seja um conservador agora e muito menos tente
ditar o que eu devo fazer!

Ele me agarra pela cintura fazendo minha bolsa e casaco cair no


chão. Sai me arrastando até o sofá, me jogando no mesmo e cobrindo meu
corpo com o seu. Suas mãos mobilizam meus braços pelo punho.

Tento chutá-lo com meus pés, e usar meu corpo para me desvencilhar
dele, mas Kai é mais pesado, muito mais alto que eu.

— Me solte, Kai! — Ordeno.


Ele sorri de forma diabólica, seu hálito de uísque soprando meu
rosto.

— Você não é minha, Marcella? — Questiona com a voz profunda.

Olho para ele ofegante, sentindo meus nervos tensos e meu corpo
elétrico.

— Você é a porra da minha perdição, mulher. É minha maior


fraqueza perante meus inimigos e a causa dos meus pensamentos mais
sedentos durante todo o dia. Esses olhos, lábios e sorriso estão me fazendo
acreditar que tenho uma alma — Suspira pesadamente — Eu desejo você
com tanta força, com tanta necessidade que sinto meu corpo queimar… e
ainda assim você tem a coragem de falar que não é minha. E sair por aí sem
o acessório que te marca como tal.

— Eu não sou sua, e nem de ninguém. Se você tem problemas


comigo, os resolva em silêncio consigo mesmo e não me incomode. Passou
dias me evitando e agora vem exigir minha posse? — Respiro com força —
Volte ao estado que estava e me deixe em paz.

Seus olhos não sai dos meus. São intensos e repletos de emoções
ferventes, é como se eles pudessem me queimar.

— Vou fazer uma marca mais óbvia de que você tem um dono.

Sua cabeça mergulha no meu pescoço e seus dentes fincam na área


sensível arrancando um grito de mim. Tento chutá-lo, bater nele enquanto
grito e o xingo, mas estou imobilizada. Meus olhos se enchem de lágrimas
pela dor infligida e quando ele finalmente para de me morder, eu estou com
o corpo quente pela dor.

Ele olha para mim.

— Se deixar de usar a sua aliança, eu vou fazer pior. Não quero


nenhum homem a cobiçando, pairando ao seu redor na universidade. Se eu
descobrir que algum filho da puta tocou em você, eu vou matá-lo, Marcella.
E eu não estou brincando — Fala com autoridade.
Quero bater nele, lutar contra Kai e o fazer sentir dor como ele fez
comigo. Detesto o fato dele ser mais forte que eu.

— Você é um filho da puta sádico! Saia de cima de mim! Me deixe


em paz! — Exclamo.

Ele suspira, encostando a testa na minha.

— Porra, Marcella. Será que não ver o quão perdido estou em você?

Fico em silêncio, apenas ouvindo a minha respiração pesada ao redor


de nós dois. Meu corpo está desperto e reagindo a cada centímetro de Kai
sobre mim. Tenho medo da maneira como reajo perto dele.

Kai já mostrou ser uma pessoa de lua. Uma hora ele está com um
humor, e em outros momentos está terrivelmente distante.

Eu não suporto a indiferença que ele me submete. Odeio a forma


como às vezes quero mendigar sua atenção. Odeio ele por me fazer sentir
isso.

— Saia de cima de mim, Kai. Não quero lidar com suas emoções
agora! — Peço.

Mas ele não sai.

Ao invés disso, ele baixa a cabeça na minha direção, tocando seus


lábios com os meus de forma delicada. Sinto o tremor nos meus lábios com
o toque dos deles sob os meus.

Suas mãos soltam meus pulsos e vão em direção ao meu rosto, seu
beijo aprofunda nós dois e eu me pego retribuindo a ele.

Os lábios de Kai são quentes e macios, sua língua toca a minha com
vastidão, arrancando de mim um gemido de satisfação.

Sinto suas mãos abrindo minha calça e procurando a calcinha por


baixo como sempre fazem.
Ele vai entrar em mim, nos dar prazer e se retirar como um
desconhecido. Não quero me sentir usada hoje por mais que meu corpo
queira ele nesse momento.

Desvio meu rosto do seu, o fazendo procurar minha boca.

— Não quero fazer isso hoje. Estou cansada — Sussurro, pesada.

Kai toca os lábios no meu pescoço dolorido atraindo a onda de calor


para esse lugar.

— Tudo bem. Podemos apenas dormir…

Não digo nada, Kai se posiciona atrás de mim no sofá, passando um


dos braços embaixo do meu pescoço e o outro pela minha cintura. Ele me
puxa para ele, me abraçando e mergulhando o rosto no meu cabelo.

Seu dedão faz círculos pela minha barriga em uma carícia inocente.

Ele é quente e cheiroso. Seu corpo é grande e seguro. Todo seu corpo
é forte e me traz uma sensação de refúgio.

Ouço sua respiração no meu ouvido ficar mais pesada ao passo que
ele vai adormecendo.
Abro meus olhos ao sentir as pontadas na minha barriga, mas ainda
assim, eu não me movo. Estou nos braços de Kai. Seus braços estão ao meu
redor e uma das suas pernas sobre as minhas. A respiração soprando no meu
ouvido. Ele está dormindo pesado.

Tento não me mexer, porém as cólicas ficam ainda mais fortes e se eu


não fizer nada, vou acabar manchando o sofá. Faço a menção de tirar os
braços dele de cima de mim, suavemente, mas esse único movimento faz sua
respiração sair do modo artificial para o desperto. Ele se mexe atrás de mim,
me apertando ainda mais e trazendo meu corpo para o dele.

— Por quanto tempo dormimos? — Pergunta com a voz rouca e


baixa, esfregando o nariz na minha bochecha.

— Não sei. Preciso ir ao banheiro.

Ele me aperta em seus braços mais um pouco.

— Só mais alguns minutos, ainda estou cansado e sempre durmo


melhor quando estou do seu lado.

As pontadas na minha barriga parecem se intensificar, me movo


inquieta e me viro para Kai. Ele percebe a expressão no meu rosto e se afasta
alguns centímetros.

— O que foi?

— Estou com cólica. Preciso ir ao banheiro — Levanto do sofá,


sentindo o líquido da minha menstruação descer com o esforço.
Vou em direção ao banheiro, baixo minha calça e calcinha vendo
apenas a calcinha manchada. Suspiro. Não tomei nenhum tipo de remédio
para prevenir as dores menstruais nos últimos dois meses, agora vou pagar
por isso.

Estou na privada, pressionando minha barriga até está encurvada para


ter alívio da dor quando ouço Kai bater na porta.

— Precisa de algo? Tem comprimidos para dores no balcão do


banheiro — avisa.

Duvido que qualquer remédio aqui sirva para cólica menstrual. A


maioria dos medicamentos são para dores musculares.

— Estou bem — Tranquilizo-o.

— Tem tudo o que precisa aí? Se não tiver absorventes, peço para
alguém comprar — Sua voz soa abafada por trás da porta.

Um certo aquecimento toma meu coração pela forma como ele está
se importando com isso.

— Sua diarista encheu o balcão. Já estou aqui há menos de três


meses, está tudo sob controle — Contraio meu rosto ao sentir outra pontada
forte.

Kai parece ir embora. Saio da privada e encho a banheira com água


morna. Entro dentro dela para aliviar as dores e relaxar o máximo possível.

Meus pensamentos vão para o momento passado quando estávamos


no sofá. A sensação quente do corpo de Kai, a forma forte do seu corpo que
proporciona um sentimento de proteção…

Pensamentos insistentes sobre cada momento com ele é visto como


um aviso na minha mente, isso tira um pouco da paz que tenho.

Me enxugo, coloco um absorvente interno e limpo o banheiro antes


de sair enrolada em um roupão. Encontro Kai no quarto, me esperando.
Ele estende um comprimido e uma garrafa de água.

— A atendente da farmácia disse que esse era bom para dores


menstruais fortes. — Coloca na palma da minha mão — Tome e deite na
cama. Vou pegar uma compressa quente para você colocar na barriga.

Ele sai antes que eu possa agradecer.

Meus olhos enchem com lágrimas com esse gesto. Pode ter sido a
coisa mais simples e o mínimo que ele poderia fazer… mas pra quem nunca
teve uma mísera consideração a vida toda, esse gesto se torna um dos
maiores do mundo.

Pessoas que não tem nada, ganham tudo com pequenos gestos,
mesmo eles sendo o mínimo.

Tomo o comprimido, visto um pijama e vou para cama. Já escureceu


lá fora, um sinal de que dormimos muito naquele sofá.

Kai volta para o quarto com uma bolsa térmica, estou deitada de
barriga para baixo com um travesseiro comprimindo minha barriga. Ele sobe
na cama, os olhos em mim.

Com minha permissão, ele coloca a bolsa por baixo da minha barriga
e eu sinto a dor melhorar por uma fração de segundos. Kai se senta ao meu
lado. Está descalço e meio desbotado.

— Dói muito? — Pergunta.

Balanço a cabeça.

— É suportável. Faz anos que não sinto cólicas fortes. Esses meses
eu tive um descuido em não tomar medicamentos e não cuidar da minha
alimentação — Suspiro baixo — Meu professor de autodefesa uma vez me
fez lutar com cólicas, disse que seria bom, mais produtivo… e foi.

Um som de desprazer sai dos lábios de Kai.


— Ele não está errado, mas também não está certo. No treinamento
tudo é possível, no confronto você percebe que suas chances são menores.
Com dor, sem dor… você tem que lutar na briga de verdade.

Concordo.

Kai mantém os olhos em mim, com suavidade e o brilho violento que


seus olhos sempre parecem ostentar.

Nós dois estamos tendo paz de India e Otávio, já recusamos vários


convites para jantar. Kai e eu acabamos de voltar a nos falar e a atmosfera
finalmente deixou de ser uma zona ansiolítica.

— Acredito que teremos que ir à Filadélfia daqui a alguns dias.


Angelo marcou um encontro, e a Filadélfia é um ambiente neutro —
Comunica.

Por mais que eu fique feliz em saber que poderei ver Karx e Justine,
o sentimento de peso recai sobre mim ao pensar que verei Alev.

— Vamos ficar na casa de Alev? — Pergunto temerosa.

Os olhos de Kai assumem uma sombra nas íris.

— Talvez. Se ele nos convidar, teremos que ir. E será uma ótima
desculpa usar a intenção de você ir visitar sua família — Ele se ajeita na
cama, empertiga-se — O que Alev fazia com você quando era criança? Eu
não sou o único a ter pesadelos a noite, Marcella.

Meu estômago contrai com as lembranças, meu sangue corre mais


rápido e meus batimentos aceleram diante das imagens que se projetam na
minha cabeça.

— Ele te oferecia a outros homens? — A voz de Kai é obscura.

Balanço a cabeça.

— Não, não chegou a isso. Era apenas… apenas violência física e


psicológica — minha voz é tão baixa que chego a pensar que Kai não ouviu.
Mas ele ouviu e está prestando atenção em mim.

— Nos meus 16 anos, um garoto quase da minha idade afrontou


Emília na escola. Ela correu para contar ao pai, e a noite, enquanto eu estava
me preparando para dormir, Alev entrou no meu quarto, me pegou pelo
braço e me levou até um terreno baldio — Engulo em seco, minhas mãos
começando a ficar trêmulas como sempre acontece quando penso sobre isso
— O garoto estava lá. Lembro até hoje dos olhos azuis, do rosto machucado
e a expressão de derrota nele… Alev me deu a arma e me mandou atirar
nele. Disse que eu devia colocar os vermes em seus devidos lugares, caso
contrário, ele iria colocar a minha mãe.

Me ergo para sentar, a inquietude dessas lembranças não me deixa


nem mesmo respirar direito.

— O garoto era um bastardo. Alev me fez matá-lo e enterrar seu


corpo. Eu sabia que se não fosse ele, seria eu. Desde aquela noite, eu fiquei
esperando pelo momento que Alev fosse abrir a porta do meu quarto e
finalmente me matar — Sussurro com a voz pesada e embargada.

Sinto Kai se mexer ao meu lado, ele não fala nada por algum tempo.
Quando fala, sua voz é profunda.

— Alev não viverá por muito tempo quando eu me tornar o Capo. A


única satisfação que ele vai ter é casar a filha Emília, talvez ela seja a única a
ser salva. India não se casará com Otávio. Ele não viverá o suficiente para
isso.

Os fios do meu braços se atiçam com o arrepio que vem das pontas
dos meus pés.

Sei que Kai não está sendo subjetivo, ele realmente fará isso. E eu
não vou impedir. Não serei mais o escudo de India. Temos vidas diferentes e
eu prometi que ela se arrependeria por ter me casado com Kai Moreau.

— Vamos jantar. Não comemos nada desde a hora que chegamos —


Ele fala enquanto sai da cama em direção a cozinha.
Olho na sua direção vendo suas costas largas, à altura considerável e
a postura letal. As cicatrizes das chicotadas por baixo dessa blusa preta me
dão a certeza de algo.

Ele irá queimar todos que forem contra ele.


Hoje é minha primeira luta na gaiola depois que me casei. Tenho
acumulado o estresse dos meus planos em tomar a Camorra e me tornar o
Capo. Ivo não está sendo tão bobo como imaginei, e Otávio está fazendo sua
rede de teias de aranha. O ciclo está se fechando. Massimo precisa morrer o
mais breve possível, e esperar mais alguns meses pode ser perigoso…

Tenho agido com Jace, mantendo meus planos em segredo e


disseminando a ideia da minha liderança como produtiva para todos os
chefes atuais. Eu tenho o apoio de todos, menos da Ndrangheta, mas isso é
algo que irei mudar.

Angelo Ricci é um fã de linhagem familiar e pura. Marcella tem o


sangue de Alev, e ela é prima da esposa de Angelo. Nossos filhos terão
parentescos e eu posso concordar em deixar a Ndrangheta entrar em
sociedade no meu negócio secreto que vem rendendo bastante dinheiro nos
últimos tempos.

— Você trouxe sua esposa para assistir a luta? — Jace perguntou.

Enrolo minhas mãos com a faixa para não machucar meus punhos
demais. Estamos no vestiário, nos preparando para a luta daqui a alguns
minutos.

— Não, ela está ocupada com algo da universidade. — Olho para ele
— Qual seu interesse nisso?

Ele dá de ombros.
— Só acho que ela não deve estar em ambientes assim. Aqui todo
mundo trata os outros sem o mínimo de respeito, e o que ela não precisa é
está sendo lembrada que é uma bastarda.

Jace tem ouvido muito vários membros da máfia fazendo piadas


sobre Marcella, a xingando de bastarda e outros nomes que não espero que
chegue nos ouvidos dela. Para esses homens estarem todos afoitos e a
vontade desse jeito, isso significa que Otávio está deixando claro que eu não
vou assumir o posto de Capo.

— Você fez o que eu pedi? — Inquiro.

Um sorriso cruel desenha o canto da sua boca.

— Todos os cinco filhos da puta que estavam falando dela, vão entrar
na gaiola. Ao mesmo tempo, Sottocapo.

Fecho a porta do armário com força guardando três adagas por baixo
da minha blusa.

Se eles acham que podem ter o nome de Marcella na boca, estão mais
perto de conhecer a verdadeira face do demônio.

Saímos do vestiário sob gritos, algazarra e a luz forte do galpão de


luta. Caminho de cabeça erguida, olhando diretamente para a gaiola onde os
cinco homens robustos estão dentro, com sorrisos debochados e em união
para acabar comigo.

Subo os degraus até está dentro da gaiola, meus olhos concentrados


em cada um filho da puta na minha frente. Mantenho o capuz da minha blusa
e respiro calmante. A porta da gaiola se fecha e a gritaria aumenta, os
brutamontes formam um círculo sedento para me encurralar.

Quando o primeiro avança na minha direção, eu saco a adaga e


arremesso no primeiro, a lâmina crava no seu peito e ele para, caindo de
joelhos no chão com os olhos arregalados.

Os outros avançam e eu arremesso as duas outras adagas vendo uma


atravessar pelo olho direito de um, e outra na coxa do outro.
Corro em direção ao dois homens que estão livres de ferimentos,
chuto com força o joelho ouvido o osso e ligamentos se estourar e ele urrar
de dor, me esquivo do soco que meu outro oponente difere na minha direção,
seguro o braço que usou para me atingir e o estico o bastante para quebrá-lo
quando o levo até meu joelho e o quebro como se fosse um pedaço de
madeira seca.

Ele grita com a dor e cai com o braço mole e com uma fratura
exposta. Os cincos agora estão nocauteados, os gemidos de dor se
misturando, mas não estou satisfeito.

A plateia parece mais calma agora, os gritos cessaram e mesmo que


não olhando, sei que estão horrorizados.

Tiro a adaga do corpo do primeiro filho da puta que caiu morto e


caminho para os dois que ainda estão com vida e gemendo de dor. Me
abaixo diante deles.

— Quero sua língua — Declaro com a voz sombria e macabra.

Ele grita não enquanto clama para que eu não faça isso enquanto
segura o joelho quebrado.

— Não fizemos nada! — Exclama.

Olho para ele.

— Ousaram falar da minha esposa com a língua imunda que irei


arrancar da boca de vocês dois. Vou deixar vocês dois viverem para serem
um exemplo do que acontece quando qualquer filho da puta fala da minha
esposa — Chuto o joelho deslocado e quebrado, já está começando a ficar
roxo pela falta de circulação — Você nunca mais vai conseguir usar sua
perna novamente, e você… — Olho para o lado direito onde um dos
brutamontes está segurando o braço como se ele ainda tivesse algum jeito de
voltar ao lugar — Acho que terei que quebrar seu outro braço pra nunca
mais bater nenhuma punheta.

Uma risada macabra escorre da minha boca quando eles me xingam.


Antes que falem outra coisa, eu coloco meu joelho no pescoço do primeiro e
abro sua boca o suficiente para puxar a língua e arrancar a mesma sem
nenhum cuidado. O grito agora é acompanhado de sangue e um som vazio.

Vou para o outro, ele tenta se afastar rastejando no chão, mas só com
dois passos eu o alcanço e tiro dele sua maldita língua.

Seguro as duas na palma da minha mão e olho para trás, vendo o


homem que apenas deixei um pequeno ferimento.

Ele está sentado no chão com a adaga cravada na sua coxa. Seus
olhos são injetados, apavorados. Fico de pé diante dele.

A plateia volta a gritar pedindo que eu o mate, mas não é isso que
vou fazer.

Tenho outros planos.

— Você será o único com língua. Quando pensar em se referir a


minha esposa, pensará no seu desejo de viver e de ter uma língua — abro um
sorriso para ele — Como diria Jesus: Vá e pregue as boas novas para todos
que não conhecem as consequências de insultar minha esposa.

Os gritos se tornam ainda mais altos, saio da gaiola jogando as


línguas que arranquei aos pés dos donos delas que se debatem e fazem
barulho guturais de pura agonia.

Entro no vestiário vazio, não tiro minha roupa quando ligo o


chuveiro e deixo a água fria esfriar meu corpo. Minha mente está vazia, sem
nenhum remorso ou autocomiseração.

Eu sou um filho da mãe fodido. Matar, torturar, despedaçar… isso


não me afeta mais.

Desligo a água do chuveiro depois de alguns minutos, troco minha


roupa encharcada por uma calça jeans escura e um moletom.

A presença feminina de Evangeline entra no vestiário quando estou


prestes a sair. O cabelo vermelho está com cachos e sua maquiagem está
suave como ela nunca usou antes.
— Meu lobo… — Caminha na minha direção, passando suas unhas
pelo meu pescoço. Os olhos azuis sorriem para mim — Que belo espetáculo
você deu lá fora, merece uma recompensa das melhores.

O perfume dela…. É similar ao de Marcella, mas não chega a ser o


mesmo.

— O que está fazendo? — Pergunto.

Ela desce as mãos até o cós da calça.

— Quero te recompensar pela vitória lá fora. Faz meses que não


ficamos juntos, desde aquele dia na boate — Seus lábios fazem um biquinho
— Estou com saudades e sei que você também deve estar de mim. Vamos
para o nosso apartamento.

Tiro suas mãos do meu corpo e me afasto.

— Saia daqui. Volte para o que tem com seu marido e com os outros
homens da máfia. Nosso lance de foder acabou. Não preciso mais dos seus
serviços.

Os olhos azuis ficam duros. Ela balança a cabeça.

— Não, não acabou. Sou a única que pode te saciar, passamos um


ano inteiro juntos e você nunca enjoou de mim! — Insiste.

Respiro fundo.

— Não faça cena, apenas saia. Nosso relacionamento acabou. Meus


homens manterão você em segurança, apenas isso. Nada de dinheiro meu ou
qualquer outra serventia.

— Kai…

— Não me chame pelo nome, nunca mais. Conheça seus limites e o


que eu falo. Se estou dizendo que chegamos ao fim, é isso que você tem que
colocar na sua cabeça e sair da minha frente — declaro.
Ela fica parada, me olhando como um cão abandonado. Só existe
duas mulheres que podem conseguir algo comigo apenas de olhar na minha
direção, e ambas estão em casa.

A que mais aprecio deve estar no escritório, encolhida enquanto lê. É


ela quem quero encontrar agora e me perder em seus braços e pele.

Saio do vestiário sem olhar para trás, escuto o momento que


Evangeline grita e joga algo no chão.
— Eu… eu não consigo. Por favor, vamos sair daqui — Imploro a
Kai enquanto me seguro com força em uma grade. O instrutor coloca os
equipamentos em mim enquanto tremo dos pés à cabeça.

Meu estômago está revirando, estou suando frio e minhas pernas


parecem gelatinas. O vento forte daqui de cima arde na minha pele,
causando uma secura completa na minha boca.

— Calma, Bella. Já vai acabar e você vai ver que não é tão ruim
como imagina — Kai está parado diante de mim, já todo equipado e com o
rosto tranquilo.

Eu nem mesmo consigo ficar de pé sob as grades. O instrutor começa


a conectar nosso equipamento, meu coração bate loucamente e sou incapaz
de olhar para baixo.

Ontem à noite Kai e eu tivemos uma conversa sobre medos, cometi o


erro de falar a ele que eu morria de medo de altura. Que a sensação do vento
forte no rosto e tudo minúsculo de quando estamos em cima de algo é
aterrorizante. Hoje, no final do dia, ele me trouxe até a SkyJump Las Vegas.
Um dos prédios mais alto de Las Vegas onde algum louco achou que criar
salto de bungee jump com paraquedismo seria uma ideia sensacional.

Kai se abaixa até onde estou sentada com as pernas tremendo, ele me
ergue e eu agarro seus braços. O vento é tão forte daqui de cima que chega a
ser congelante. O sol está indo embora e deixando tudo escuro não ajuda em
nada.
Ele olha para mim com um sorriso, as mãos na minha cintura, me
tranquilizando.

— Respire, é só um salto. Você vai viver uma experiência


maravilhosa e ainda perder seu medo, confie em mim — acaricia meu cabelo
preso.

Tento respirar, mas é impossível conseguir isso com êxito quando o


medo está entrelaçado em cada parte do meu corpo e mente. Meus olhos
marejam e se eu tivesse algum fôlego em mim, eu teria gritado no momento
que Kai começou a nos levar para o final da grade onde ele irá soltar.

Abraço ele com força e fecho meus olhos.

— Kai, por favor… — tento implorar mais uma vez com a voz tão
trêmula como minhas pernas.

Ouço sua risada.

— Pule em mim, querida. Passe suas pernas em torno do meu


quadril.

— Isso é uma loucura…

Com a força que me resta, eu faço o que ele pede e o abraço com
muita força, apertando minhas pernas e braços em torno dele.

— Pronta?

Balanço a cabeça em negação, escondendo meu rosto na curva do seu


pescoço. Ele ri mais uma vez e me abraça forte e então cai de costas me
levando com ele. O grito finalmente sai da minha boca quando estamos
caindo. O vento se intensifica e a sensação é de condenação.

Seguro Kai com tanta força e permaneço de olhos fechados porque


tudo isso é insano e meu coração parece que vai parar de bater a qualquer
momento. Grito em um único fôlego enquanto caiamos, o vento forte
cortando o ar e tirando toda minha capacidade de respirar. Aperto tanto Kai
que provavelmente estou cortando ele com minhas unhas.
A corda amarrada a nós dois sobe e desce com nosso peso quando
chegamos ao fim dela. E eu continuo gritando.

Ficamos de ponta cabeça, com a corda oscilando e o vento cada vez


mais forte. Meu estômago está completamente revirado e eu quero vomitar.

— ABRA OS OLHOS! — Kai grita contra a gravidade.

Me agarro a ele com ainda mais força, se é que é possível. Isso é uma
loucura. Meu Deus, me tire daqui!

— ABRA OS OLHOS E VEJA, MARCELLA!

Por pura indignação, eu abro meus olhos vendo tudo de cabeça para
baixo. A altura ainda é considerável e eu estou atrepada por uma corda.
Porém, o pânico parece cessar diante da vista dos edifícios de cabeça para
baixo, o céu escuro e o barulho do vento e do tráfego lá embaixo, juntamente
com o clique que a corda que nos segura emite.

Tudo aqui é tão… pacífico.

Sem nenhuma consequência ou mácula na beleza. Apenas pacífico e


bonito.

Não consigo parar de admirar por nenhum momento, nem mesmo


quando subimos e voltamos para o observatório onde podemos ver mais
pessoas pulando, e toda a vista da cidade.

Kai está ao meu lado, a mão tocando a minha enquanto olhamos a


vista com o crepúsculo. Minhas pernas ainda tremem, meu coração está
acelerado, mas acredito que eu esteja fascinada demais para ir embora.

— É lindo, não é? — Kai sussurra enquanto observamos Las Vegas


por uma parede de vidro.

Balanço a cabeça.

— É mais que isso… é tão calmo.


— Foi bom termos vindo no pôr do sol, é o melhor horário.
Conseguimos pegar o crepúsculo, no final.

A voz dele é tranquila, diferente do que costumo ouvir quando


estamos em terra firme. Ele parece mais relaxado estando aqui também.

— É um ótimo lugar para desestressar qualquer pessoa. Acredito que


até a pior pessoa do mundo se comoveria diante dessa plenitude — comento.

Kai sorri.

— Sim, talvez. Fico feliz que tenha gostado de ter vindo até aqui, e
que isso possa ter ajudado no seu medo.

— Não perdi meu medo, mas agora sei que não é um abismo que me
espera na descida. — Movo minhas pernas trêmulas — Não quero mais
fazer isso.

Outra risada e seu braço circula minha cintura, me trazendo para


perto dele. Eu deixo minha cabeça descansar no seu peito e inspiro seu
cheiro. Os últimos dias têm sido tão tranquilos entre nós dois. Estou
conhecendo um lado de Kai que não achei que existisse.

— Você já fez, se acontecer de fazer novamente, saberá a sensação.


A pior sensação é sempre nas primeiras vezes, quando você faz pela segunda
vez, já sabe o que deve fazer e não tem a inexperiência da primeira vez.

Ergo meu rosto para ele, a sombra de um ferro cobre metade do seu
rosto, principalmente a cicatriz. Mas, os olhos claros ainda estão aqui.

— Por que eu sinto que você está me preparando para um futuro? —


Questiono baixinho.

Ele se vira na minha direção, as mãos nos meus braços e os olhos


calorosos na minha direção.

— Você me ensina sobre você todos os dias, e é através disso que


consigo distinguir as coisas boas. Quero que aprenda comigo também, e na
minha percepção, não existe nada de tomar fôlego ou tempo, é só mergulhar
e enfrentar — Seus dedos colocam uma mecha do meu cabelo atrás da
minha orelha e o toque na minha bochecha causa calor no local.

Não nos beijamos desde aquele dia no sofá, cinco dias atrás, ainda
continuo achando que devo me preservar. Mas, é difícil fazer isso quando ele
me olha assim.

Inclino minha cabeça para cima e seguro sua camisa, Kai preenche o
espaço que falta até que seus lábios quentes e macios estejam sob os meus.
Diante dos conflitos que se enrolam durante os dois meses, eu
consigo notícias da família materna de Marcella. Pedi a Jace para procurar a
mãe dela depois de ter achado um relicário dentro de uma das malas que ela
lutou para recuperar quando meus homens jogaram em um rio sujo. Eu não
estava sendo invasivo quando mexi nas suas coisas, apenas fiquei curioso
para saber o conteúdo dentro das malas.

Encontrei o relicário com uma foto de uma mulher jovem, com um


sorriso quase idêntico ao da minha esposa.

Mas, o que descobrir procurando pela mãe dela me pegou


desprevenido.

— Você tem certeza disso? — Insisto em perguntar a Jace.

Sua postura está tensa, o rosto demonstrando o retesamento o qual


deixa ele inquieto sempre que ouve algo da organização que pertencia.

— Ela está sob os cuidados da Bratva, por isso demoramos tanto


tempo para ter notícias dela, e nossas investigações não chegavam a lugar
algum — Jace coloca as mãos atrás das costas, nervoso — Ninguém de fora
tem acesso a ela e ao restante da família.

Levo a mão até o meu queixo ponderando o que acabei de ouvir.

— Desde quando? — Inquiro.

Jace engole em seco.


— Desde quando Mikhail assumiu o poder. Meu contato disse que
foi um pedido pessoal do irmão mais novo, e ele tem protegido a mãe de
Marcella como se fosse um membro da Bratva.

Deixo meu peso fazer a cadeira que estou sentado ranger. O barulho
começa a ecoar na minha mente como trilha sonora enquanto junto todas as
peças. Eu sei que Nikolai esteve na Filadélfia antes do meu casamento com
Marcella, ele a procurou, e provavelmente ela possa ter pedido isso a ele…

Ele está protegendo a família dela. E eu sei que não é gratuitamente.


Já consegui impedir a presença dele de chegar a Marcella por três vezes
desde que me casei com ela. Ele também estava lá naquele dia do
casamento… não foi uma visita amigável, ele foi para buscá-la. A morte do
seu pai naquele dia pode ter frustrado seus planos, assim como a ascensão do
seu irmão como novo chefe.

O filho da puta quer minha esposa.

Se está com a família dela, protegendo-os, é porque tem esperança de


conseguir Marcella.

— Pode sair, Jace. Mantenha seus ouvidos sobre qualquer sussurro


desse assunto e até qualquer movimentação da Bratva — Ordeno
calmamente.

Jace assente e sai da minha sala da boate com os ombros tensos.


Remeter a máfia que quer sua cabeça deve deixá-lo bastante inquieto.

A Bratva não tocará em nada que me pertence, e isso inclui minha


esposa e meu soldado. Se aquele merdinha acha que conseguirá algo com
Marcella… se ele sonha em tê-la vou acabar com as esperanças dele.

Marcella e eu estaremos voando para a Filadélfia hoje sobre uma


desculpa de estar visitando a família dela. Vamos encontrar Angelo Ricci e
descobrir o que ele irá querer em troca de apoiar por livre e espontânea
vontade minha ascensão natural como Capo.

Otávio tem se movimentado com mais descuido, e isso está tomando


muito da sua saúde.
Dispenso o trabalho antes da hora do almoço e vou para a cobertura.
Hoje é sexta-feira, Marcella deve estar indo para casa daqui a pouco, vou
espera-la e descobrir algumas coisas importantes nesse momento.

Caminho em direção ao closet quando chego na cobertura. Uso um


banco para conseguir chegar ao topo do armário onde uma das malas dela
está, ela provavelmente colocou aqui porque sabe que é uma área de
desinteresse para mim.

Pego a mala desgastada e coloco sob o chão, abro ela vendo as peças
de roupas surradas por cima do fundo falso. Tateio o fundo até achar a
abertura e tirar dela o livro, que na verdade, é apenas um livro falso para
guardar coisas

Na última vez que mexi, não quis ser invasivo, apenas peguei o
relicário e deixei de lado o pequeno envelope de carta. Agora, além do
relicário na minha mão, estou abrindo o envelope e vendo pela primeira vez
fotos de Marcella.

Fotografias dela com o seu treinador Karx, dela sorrindo andando


pelos corredores da faculdade em uma versão mais jovem e feliz. E por
último, uma fotografia dela ao lado da empregada, do treinador em um
momento que parece ser a formatura dela.

São fotos inocentes, ou seriam se eu não questionasse sobre quem foi


o fotógrafo. E como para responder minha pergunta, viro os versos das fotos
encontrando uma dedicatória na foto em que ela está com a empregada que a
criou e o homem que a treinou.

" Uma lembrança de que sempre estaremos ao seu lado, Рыбка"

Leio a expressão mais de uma vez, assimilando a caligrafia.

Peixinha.

Ele a deu um apelido. E compartilharam momentos juntos.

O ciúme é um veneno amargo e letificante. No momento que entra na


corrente sanguínea, é tarde demais para remediar.
Guardo tudo da forma que encontrei e vou para a sala, no mesmo
momento que Marcella está saindo do elevador. Hoje ela escolheu um
vestido fresco de verão, com alças finas. O tecido parece ser suave e a
estampa floral a deixa jovial. Ela é jovem, afinal. Tem meros 20 anos.

— Oi, você está em casa — Diz calmamente ao me ver parado na


sala.

Nenhum sorriso, mas um tom amistoso.

Olho para suas pernas desnudas, os pés calçados com uma sandália
de tiras e o cabelo solto com as ondulações perfeitas. Os castanho dos seus
olhos parecem se sobressair ao verde hoje, uma clara evidência de que ela
está alegre.

— Como foi na universidade? — Pergunto calmante, a observando


atentamente enquanto coloca sua bolsa sobre o sofá.

— Tudo bem. Tivemos uma palestra com um defensor público… —


Passa mão pelo cabelo, a aliança cintilando no seu dedo.

Seus lábios estão hidratados e brilhantes com o gloss de cereja que


ela sempre usa, e o qual não sou permitido provar desde que ela queira me
beijar.

Sei muito bem que essa aliança não estava em seu dedo quando ela
estava na faculdade, e não por vergonha, mas por preservação. Marcella não
quer que ninguém saiba que é casada, e quem é seu marido.

Me aproximo dela, meus olhos sempre no seu rosto. Ela nota o


intuito da minha aproximação e prende o fôlego como para esconder a
excitação de me ter por perto.

Ou será outra coisa?

A enlaço pela cintura, abaixando minha cabeça para beijá-la, ela se


afasta como faz quando sua guarda não está baixa. Ela só me beija quando
bem entende.
— Castello e Andreas estão no corredor — Diz baixo, desviando os
lábios da minha direção.

— Você fala como se já não tivéssemos fodido com eles por perto —
Seguro seu queixo a fazendo olhar para mim.

Suas mãos seguraram os meus braços em busca de apoio.

Os olhos verdes redondos brilham na minha direção com excitação.

— Quero algo seu. Algo que ainda não reivindiquei por estar sendo
paciente, e por você ter me distraído — Digo olhando em seus olhos
enquanto seguro seu queixo.

Seus olhos demonstram confusão, e antes que ela possa pensar por si
própria, eu desço minha mão até sua bunda vendo o brilho de espanto e
medo no seu olhar.

— Kai, isso é depravado… — Sussurra com timidez, as bochechas


corando.

A tal empregada a criou sobre dogmas religiosos, mas foi uma


lástima que ela me encontrou. E encontrou seu lado fogoso.

— Já fizemos coisas mais depravadas, Bella mia. Eu já fodi sua boca,


sua boceta, e você tem aprendido com esplendor a fazer um boquete em mim
— esclareço com a voz branda.

A timidez queima suas bochechas ao ponto de ela ficar tão rubra


como carmesim. Por falta de palavras da sua parte, eu a coloco ajoelhada no
sofá, de costas para mim e apoiada nas costas do sofá.

Puxo suas mãos para trás e retiro meu cinto para prender as mesmas.
Posso ouvir a respiração dela começar a ficar pesada.

— Relaxe, você vai gostar. Quanto mais você relaxar, mais prazeroso
será… — Fico de joelhos no chão, colocando seu cabelo longo para o lado e
erguendo seu vestido.
A pele dela se arrepia com meu toque, observo a bunda delgada e
macia com uma calcinha branca fio dental.

Praguejo mentalmente.

Minha mente caiu sobre o encanto desse corpo, dessa pele ao ponto
de assumir um vício por ela. Eu já não consigo viver um dia sem ter
Marcella, sem sentir ela embaixo de mim. Está dentro dela virou os melhores
momentos da minha existência.

E ainda assim querem tomar ela de mim? Nem pensar! Sou fodido o
suficiente para incendiar o mundo a me separar dela.

Rasgo seu vestido, a deixando apenas de calcinha e com as sandálias.


Beijo suas costas macias, passando a língua pela sua espinha, sentindo
Marcella estremecer com o contato e gemer baixo. Esse gemido desperta
ainda mais meu pau, causando choques elétricos por todo meu corpo.

Beijo sua pele, passando a língua em cada centímetro a minha frente


até chegar na sua bunda. Seguro suas nádegas perfeitas enquanto beijo a pele
ali.

Marcella se inclina na minha direção, se mexendo inquieta. Levo


meu dedo até seu núcleo por cima da calcinha sentindo o lugar quente e
úmido, isso me enche de excitação e orgulho.

Ela reage muito bem e depressa diante do marido dela.

— Seu corpo sabe que o dono chegou, Bella mia — Sussurro


enfiando o dedo por baixo da sua calcinha, um ganido sôfrego sai dos seus
lábios no momento que belisco seu clitóris — Tão malditamente molhada
implorando por mim…

Coloco a calcinha dela mais para o lado e brinco com meus dedos na
sua boceta molhada e inchada, até chegar o momento que ela não consegue
mais ficar sem nada dentro dela.

— Por favor…. Coloque dentro… Kai — ela rebola a bunda em


busca de tentar acertar seu buraco suculento nos meus dedos e capturá-los.
Está gemendo de frustração e pingando nos meus dedos e tão
inchada... Agarro seu cabelo com força, puxando sua cabeça até ver seus
lábios se entreabrindo e suas costas ficando arqueadas.

— Você me quer, Marcella? — Questiono brincando com seu clitóris,


sua entrada enquanto colo meus lábios na sua orelha e mordo o local.

Ela balança a cabeça, engolindo a saliva e se mexendo ainda mais.

— Pronuncie as palavras, não quero gestos, quero palavras — sibilo


no seu ouvido, puxando ainda mais seu cabelo.

A pele do seu rosto está em chamas.

— Quero você, Kai. Quero você. Me faça gozar… — Arqueja com


sofrência.

Círculo sua entrada empossada.


Solto seu cabelo, usando a mão livre, eu abro minha calça para
colocar meu pau duro e latejante para fora. Eu poderia fazê-la gozar com
meus dedos, mas quero que seja meu pau dentro dela quando ela explodir em
pedaços.

Debruço ela sob as costas do sofá e sem aviso, eu substituo meus


dedos pelo meu pau, entrando dentro dela com força suficiente para ela
gritar e tentar soltar suas mãos causando o dobro do prazer da penetração em
mim.

Fecho os olhos e mordo os lábios com força quando sua boceta


molhada e apertada abraça meu pau. Tão quente… caralho!

Eu poderia gozar sem me mover apenas com esse primeiro contato.


Marcella é uma delícia e um vício sem freio.
Agarro seu cabelo e seu quadril enquanto me movo dentro dela
lentamente enquanto ela geme com um prazer nítido.

Ela pode ser tímida, mas não é adepta de conter seus gemidos. Ela
não consegue e é isso que aumenta meu vício nela. Seus gemidos e sua
boceta me apertando é uma combinação perfeita.
Aumento a velocidade das minhas estocadas grunhido a cada
centímetro meu entrando e saindo dela. Observo suas costas delgadas, a
bunda batendo na minha pélvis e na minha mão agarrando uma banda da sua
bunda para aumentar a intensidade de cada metida nela. Quanto mais fundo,
mais Marcella geme e eu chego perto do abismo.

Seu ápice chega quase que rapidamente junto ao meu. Suas costas
arqueiam e ela geme de forma longa e sofrida jogando a cabeça para trás
enquanto suas paredes contraem ao redor do meu pau fazendo eu gozar forte
dentro dela.

Nós dois ao mesmo tempo.

O corpo dela cai para frente, o suor escorrendo pela sua espinha e a
respiração tão arfante como a minha. Abraço seu corpo, deixando alguns
segundos passar até me levantar e pegar o pequeno frasco com lubrificante
no bolso da minha calça.

Marcella vira o rosto cansado e corado na minha direção. Eu sorrio.

— Isso vai doer muito, mas prometo que sentirá prazer na mesma
intensidade. — Arranco sua calcinha, voltando a me ajoelhar diante da sua
bunda — Quando eu terminar, você estará ainda mais marcada como minha
mulher. Minha propriedade!
A excitação parece brasas ardendo nas minhas veias diante da visão
da sua bunda empinada na minha direção. Marcella está agarrada nas costas
do sofá, o corpo tenso. A abraço pela cintura beijando seu dorso com
delicadeza, a sentindo relaxar com isso. Seguro seu cabelo para mantê-la
firme nos meus braços e em mim.

Abro sua boceta com meus dedos para a deixar excitada. Levo minha
boca até os lábios inchados e melado com o gozo dela e o meu. Marcella
começa a se mover inquieta, reagindo ao estímulo.

— Ah, Kai… — Arqueja deixando a exaustão dar lugar a luxúria.

Afasto minha boca dela e pego o lubrificante, despejando uma boa


quantidade entre meus dedos. Ao penetrar o primeiro dedo no seu buraco
apertado e inexplorado, Marcella fica tensa, a distraio da tensão usando
minha outra mão para estimular sua boceta e relaxar ela enquanto alargo seu
outro canal.

Ao introduzir dois dedos no seu traseiro, percebo que ela está pronta
para me receber. Visto uma camisinha e volto a estimular sua boceta com
meus dedos.

— Preciso que relaxe agora, Bella. Prometo que você vai gostar —
Me posiciono na entrada do seu traseiro.

Entro devagar, indo aos poucos e sentindo a resistência e os gemidos


doloridos de Marcella.
— Kai, ai…. — Arfa com dor.

Fecho meus olhos sendo preenchido pelo prazer que é entrar aqui tão
apertado, mesmo com tanto lubrificante, ela ainda está tensa. Seguro nos
seus quadris indo mais fundo. Forçando minha entrada e tomando o que é
meu.

Marcella me suga para dentro e eu estou tomado de prazer e tesão


com cada centímetro meu dentro do seu traseiro redondo. O suor se acumula
nas minhas costas e começa a escorrer com o puro prazer que queima
minhas veias.

Nossas respirações estão ofegantes, a de Marcella mais que a minha.


Espero que ela se acostume comigo dentro dela, e então começo a me mover
gemendo tão alto quanto Marcella e me enterrando totalmente dentro dela.

Aperto seu quadril enquanto parece relaxar com meu pau por
completo dentro dela. Meto com mais rapidez em busca de ouvir seus
gemidos se tornarem prazerosos. Meto em Marcella tomando dela a sua
alma, a sua pureza e seus gemidos. A cada vez que entro dentro dela tiro
algo que é meu, torno seu corpo na minha propriedade.

O prazer começa a chegar para ela, a mesma joga a cabeça para trás e
começa a gemer com satisfação. Meus gemidos se tornam mais insistentes
quando chego perto do meu gozo, meu pau tão duro e minhas bolas
doloridas, massageio o clitóris de Marcella e percebo ela querer mais…

Vou mais fundo até macular por completo o corpo da minha jovem
esposa. E quando ela goza fortemente, eu encerro minha tomada com chave
de ouro. Gozo com força e com gemidos, meu esperma quente na camisinha.

Marcella cai de costas, exausta contra meu peito. Saio de dentro dela
lentamente, retirando a camisinha com meu gozo e jogando por perto.
Abraço o corpo dela e nos deixo cair sobre o sofá.

O corpo dela está exausto e a vejo lutando para manter os olhos


abertos. Beijo sua testa trazendo seu corpo mais para o meu.
— Você é minha. Está marcada com minha para sempre e nunca
poderá se desfazer disso. Cada pedaço seu me pertence agora, Marcella. —
Sussurro autoritário no seu ouvido.

Marcella ainda ergue os olhos enevoados de sono na minha direção,


mas está tão exausta que não consegue falar nada, ela simplesmente dorme
contra meu corpo.

Minha. Totalmente minha.


Chegamos a Filadélfia depois de um voo de mais de seis horas.
Pegamos um avião comercial, para dispensar qualquer alternativa de Otávio
acabar com minha vida. Ele tem sido audacioso no último mês, quer se livrar
de mim antes do filho lutar na gaiola. Está pressentindo o que pode
acontecer e vai fazer de tudo para não permitir isso.

Marcella dormiu o suficiente até a hora do nosso voo, e durante o


voo. Seu nervosismo fica evidente ao passo que vamos chegando à mansão
dos Rivera, toda sua expressão corporal fica tensa a cada metro mais perto.
Inicialmente, planejei ficarmos em um hotel, mas Alev pode ser um
aliado e ele diz querer conversar comigo.

— Acha que terão coragem de serem hostis com você? — Questiono


quando o carro cruza o portão da mansão de pedra em pleno meio-dia.

Marcella respira baixo, os olhos ficando duros enquanto olha através


da janela.

— Voltar a essa casa me remete a memórias que quero apagar. Não


tenho medo de Alev, nem das suas filhas. Tenho medo de ficar presa nessas
lembranças — sussurra com pesar.

Coloco minha mão sob a dela no momento que o carro para diante da
bonita casa de milhões de dólares do Underboss da Filadélfia.

Sorriu para Marcella apertando sua mão firmemente.


— Você era apenas uma bastarda quando saiu daqui, agora está de
volta como a futura senhora da máfia mais poderosa das cinco famílias da
Cosa Nostra. São eles que precisam se curvar a você, querida.

Ela olha para mim e eu mantenho meu sorriso diante do brilho de


ferocidade no seu olhar. Abro a porta para sair ao mesmo tempo que o
motorista abre a de Marcella. Vou para o seu lado, e juntos, começamos a
caminhar para dentro da mansão.

Alev, a esposa e a filha do meio estão nos esperando na sala da


entrada. India está de volta à Filadélfia, mas não está aqui para nos
recepcionar.

— É muito bom ter a visita de vocês na nossa casa — Alev dá um


passo adiante, estendendo a mão na minha direção.

Observo sua mão, deixando ela suspensa por alguns segundos antes
de apertar. Olho nos olhos desse verme como se ele fosse um mero
indigente.

— Obrigado por nos receber. Marcella estava com saudades de casa,


resolvi trazê-la para um final de semana — Digo, sinto Marcella tensionar
com essas palavras, mas ela se mantém em silêncio.

Alev olha para a filha com os olhos verdes vis. Ele a toca nos ombros
e eu posso ver claramente o espanto no olhar de Marcella.

— Você deve sentir muita falta daqui, Marcella. Principalmente da


comida e da sua babá, não é? Devo chamar ela aqui?

Marcella fica em silêncio, cada vez mais tensa. A voz de Alev não
esconde a mensagem sublime.

— Por que eu sentiria falta de uma mera empregada? Voltei para


respirar o ar fresco e me sentir melhor. Las Vegas não é tão maravilhosa
como disseram — sua voz soa oca e baixa.

— India disse que você se diverte muito por lá — a voz dócil da irmã
do meio chega até nós.
Olhamos na sua direção. Capto sua imagem delicada, cabelos loiros
bem escovados e longos assim como os de India. Diferente da irmã mais
velha, essa tem uma aparência de uma boneca de desenho animado. Seus
olhos são uma espécie de verde com um toque diabólico da inveja e cobiça.

— Eu tento de tudo para a divertir por lá, mas quando se é


acostumado com algo, é difícil mudar isso — olho para uma versão mais
velha de India, sua mãe — Senhora Rivera.

Ela faz um aceno de cabeça.

— Bem-vindo, Kai. Pedi para prepararem um almoço para vocês


dois, também arrumei um dos quartos. Espero que fiquem confortáveis nos
dias que passarem aqui.

Sorrio na direção da família.

— Estou mesmo faminto. Na verdade, nós estamos, não é? — Olho


para Marcella que apenas assente.

Somos conduzidos até a sala de jantar onde o almoço é posto. Alev


nos observa e começa a matar sua curiosidade.

— É uma honra tê-lo na nossa casa, Kai. Nunca imaginei que um dia
fosse se tornar meu genro — diz com um sorriso exagerado.

Bebo um pouco de água mantendo o mesmo sorriso doentio que ele.

— Depois que eu recusei suas duas primeiras filhas, suponho?

Os olhos de Emília vão em direção a Marcella, rasgando-a com um


olhar letal. Minha esposa mantém o olhar firme na meia-irmã.

— São águas passadas. India e Emília estão bem encaminhadas.


Terei duas filhas com o sobrenome Moreau, afinal.

Apenas uma.
Quando eu acabar com Otávio e Ivo só restará minha mãe, irmã,
Marcella e eu com esse sobrenome. A única pessoa que poderá manter a
linhagem será eu e Marcella.

Logo, Marcella se tornará a mulher mais importante de toda a máfia,


e respeitada entre todos da Camorra.

— Que as duas possam ser muito felizes, Alev. Muito felizes —


Escondo o sorriso cruel e deixo que ele fale.

Marcella parece sofrer um choque ao meu lado quando a empregada


que cuidou dela chega à mesa para nos servir. É nítido para mim a troca de
olhares desesperados entre as duas, mas Marcella disfarça e age como se não
se importasse com a presença da mulher, mas eu vi. Vi seus olhos se
iluminarem.

Somos conduzidos até o nosso quarto depois do almoço. Foi


separado um quarto de casal perto da suíte dos Rivera.

Marcella deixa a respiração sair dos seus lábios e seus ombros


relaxarem. Os olhos dela estão marejados, mas transborda quando a
empregada entra no quarto.

Marcella corre até a mulher, a abraçando forte com um grunhido


dolorido saindo da sua boca. Ela abraça a mulher tão forte que parece que
tudo irá desaparecer se ela a soltar.

— Graças a Deus. Graças a Deus… — murmura chorando como uma


criança — Você está bem? Ele te machucou?

A mulher se afasta para olhar Marcella, os olhos varrendo o corpo


inteiro dela. Vejo a preocupação e aflição nos olhos dessa mulher enquanto
toca Marcella.

Assim que ela percebe minha presença no quarto, assume uma


postura cautelosa.

— Está tudo bem. Ele não se importa — Diz Marcella limpando as


lágrimas do seu rosto.
Mesmo assim, os olhos escuros da mulher são desconfiados.

— Eu fico tão grata a Deus por te ver bem, minha menina. Eu orei
todas as noites para que você estivesse segura — Sussurra para Marcella
acariciando o rosto dela.

Marcella beija sua mão.

— Você está bem? Alev tem implicado com você? — Pergunta.

Ela balança a cabeça.

— Não, ele não faz. Karx sempre está por perto de mim e eu
conseguir um emprego em Nova York para trabalhar com a filha de um
soldado da organização. Ela vai se casar e sua madrasta me recomendou a
ela.

— Você vai embora, Justine? — sua voz corta.

Justine assente.

— Quero ficar perto de você, mas não posso sair tão depressa daqui
assim. Estou sendo paciente, indo aos poucos.

Marcella assente.

— E Karx? Como ele está?

Justine balança a cabeça em sinal afirmativo.

— Do mesmo jeito de sempre, menina. Ele sente sua falta. Todos nós
sentimos.

Observo as duas conversando, chorando na presença da outra. O


tempo delas é limitado e a mulher se vai tão rápido quanto chegou.

Tomo um banho frio e me arrumo para sair. Marquei o encontro com


Angelo para as seis da tarde, o tempo já está correndo.
— Me levará com você? — Pergunta Marcella enquanto me visto.

Balanço a cabeça em sinal negativo.

— Angelo e eu teremos uma conversa franca a sós. Mas sairemos


juntos. Sei que você quer ver seu treinador. — Pego minha arma e a coloco
no coldre por baixo da jaqueta — Deixarei você no galpão e seguirei ao
ponto de encontro com Angelo.

Marcella assente.

— O que acha que Angelo pedirá a você em troca do apoio dele? —


Pergunta.

Suspiro.

— Iremos descobrir em breve.

Marcella olha para mim, temerosa. Nós dois sabemos que quando um
chefe de máfia quer algo, eles não são moderados. A exigência e o preço são
altos.

Só me resta torcer para que Angelo peça algo razoável.


Deixo Marcella no galpão e sigo para o ponto de encontro com
Angelo. Ele escolheu um lugar discreto, longe dos olhos dos homens da
Filadélfia. Tenho certeza que Alev colocou alguém em meu encalço, por
essa razão eu dirijo por curvas e abandono meu carro em uma estrada
movimentada e pego um táxi. Não tenho paciência para os joguinhos de
Alev Rivera, ele terá o que é dele logo em breve.

Os homens de Angelo estão na porta do prédio em construção que ele


marcou o encontro, perto de uma área residencial. Seus homens me revistam
quando chego na entrada retirando todas minhas armas.

Entro dentro do prédio calmamente vendo Angelo sentado em uma


cadeira de ferro com uma postura relaxada e fumando.

O cabelo ruivo puxado para trás, os olhos pretos mortais e vestido


com uma roupa surrada. Ele tem 57 anos. Está na chefia quase o mesmo
tempo que meu pai.

— Kai Moreau — Anuncia quando me aproximo. A voz rouca


fazendo eco.

— Angelo. — Faço um aceno relaxado na sua direção, puxando a


cadeira para me sentar à sua frente — Alguém sabe que está na Filadélfia?

Ele ri. Tragando o cigarro com afinco.

— É mais fácil saber sobre a localização do presidente da merda dos


Estados Unidos, do que da minha — Solta fumaça pelo nariz e boca.
Cruzo os braços mantendo minha postura relaxada. Angelo presta
atenção em cada movimento que faço. Ele não parece nada em forma. Está
gordo e com uma barriga enorme. Antigamente, ele era conhecido por suas
lutas na gaiola, com esse físico, me pergunto se ele ao menos consegue
correr.

— Onde está sua bela esposa? A vi no dia do casamento. Uma


menina muito bonita, hum?

— O que Otávio propões a você não deve ter sido tão atrativo assim,
já que está se encontrando comigo — observo.

Ele traga o cigarro, os olhos ficam escondidos pela parede de fumaça


que ele faz.

— Otávio ficou muito ganancioso, não o quero como o chefe da


Camorra. Também não quero unir nenhuma das meninas da minha
organização com o filho dele — ele joga o cigarro no chão, pisando no
mesmo — O que tem a me oferecer, Kai Moreau?

— Desde o dia que marcou esse encontro, eu soube que você já teria
algo em mente. Não sou eu quem está aqui para negociar, é você. Então, me
fale suas condições para o apoio absoluto na minha sucessão como Capo —
falo com paciência, observando cada expressão facial no seu rosto.

Angelo ri. Uma risada tão rouca quanto sua voz.

— Você é um caralho de um homem tenaz, hum? Gosto disso. Me


darei melhor com você, do que me dou com Ivo.

Ele se mexe na cadeira, fazendo a mesma ranger com seu peso.

— Me diga, o que importa mais para você: sua vingança e tomada


pelo poder, ou a família? — Questiona.

Suspiro baixo, entediado.

— Vai me ajudar de acordo com meus valores? — pergunto.


Outra risada.

— Eu só quero saber se o que eu vou exigir, vai tomar muito de você.


Responda, garoto. Família ou poder?

Nunca tive uma família, o mais perto que chego a ter disso é
Marcella. Ivo foi meu torturador, não tive muito tempo com minha irmã, e
minha mãe é algo que irei proteger até o fim. Mesmo que eu vá destruí-la
quando matar Ivo.

— Parece que sua ambição é maior, isso é ótimo. Você merece a


fama que conquistou como besta da Camorra. Impiedoso, frio e letal…

Observo Angelo com o tédio consumindo minhas veias. Me chateia


ao extremo a forma como esses velhos gostam de dar palestras antes de
dizerem o que querem.

— Vou ser mais curto e ir logo ao assunto — Diz com atenção em


mim.

— Por favor.

— Dissolva seu casamento com a filha de Alev Rivera, a entregue a


mim e te darei apoio absoluto. Meus homens estarão à disposição para
qualquer guerra que você vier a causar enquanto assume sua posição como
Capo.

Fico em silêncio.

Meus olhos são letais em Angelo e eu descasco as palavras que ele


acabou de me dizer. Ele está pedindo que eu entregue Marcella a ele.

— Por que eu entregaria ela a você? — Questiono impassível.

— Ela parece ser valiosa para os russos, e eu quero algo com eles.
Quero que eles deixem meu território em paz e me reembolsem tudo que
perdi nos últimos anos. Me dê a garota, e eu te dou o que tanto quer.
Meus músculos ficam tensos de puro ódio. Meu sangue corre quente
como lavas pelas minhas veias e o demônio dentro de mim ruge para ser
solto. Posso sentir ele tentando se soltar das correntes que o prende.
O merdinha Vassilliev esteve planejando tudo, procurando uma
abertura. O que diabos é isso que ele sente por Marcella?

Ela foi entregue a mim como minha esposa. Não como uma moeda
de troca.

— Os russos a querem? — Sorrio para Angelo — Parece algo bem


simples. Eu só preciso entregar ela a você e ter o que quero? — formulo.

Angelo assente.

— Muito simples mesmo — levanto da cadeira, esticando meu


pescoço — muito simples…

— Ouvir do mais novo dos irmãos que a menina é uma amiga dele.
Não sei ao certo, mas ele a quer e está disposto a negociar comigo — Ele
também se levanta — Eu ajudo você, e você me ajuda. Pode até se casar
com uma das meninas da minha organização, eu farei de tudo para encontrar
uma mulher mais bonita do que sua esposa.

Um sorriso diabólico se forma nos meus lábios. Olho para Angelo


desejando o sangue dele, sua carne dilacerada e ele sangrando por todas as
artérias, mas não posso. Não assim, e nem aqui.

— Isso me pegou de surpresa. Gostaria de comemorar nosso acordo.


O que acha de uma bebida? — Proponho.

Os olhos negros dele brilham de triunfo.

— Claro. Isso significa que temos um acordo?

Sorrio.

— Sim, vou livrar você dos russos.


Seu sorriso é amplo e ele estende a mão na minha direção. Sorrio
para ele com benevolência.
— Achei que não voltaria mais para Filadélfia. Dizem que você
nunca sai de casa em Las Vegas — Karx empurra uma caneca de café na
minha direção.

Já se passaram mais de três horas desde que Kai me deixou aqui. O


sol já se foi e Karx e eu conversamos. Voltar a ver ele e Justine foi essencial
para acalmar a ansiedade em mim, deixar minha mente em paz.

Pego a caneca de café forte, observando Karx se sentar na cadeira à


minha frente. Ele está diferente, um pouco mais cauteloso do que o habitual.

— Eu vou para a universidade também, treino em um dos galpões…


não vivo presa, apenas não gosto de sair — digo enquanto levo o café
fervente aos lábios.

— Aquele garoto deu um jeito de entrar em contato com você? —


Karx pergunta.

— Nikolai?

Karx levanta da cadeira e vai até seu quarto, voltando de lá minutos


depois com um envelope. Ele estica na minha direção, os lábios, que
também não saíram ilesos de cicatrizes, em uma linha firme. Pego o
envelope da sua mão enquanto ele dá as costas para vigiar a porta e me dá
privacidade.

Abro o envelope simples de madeira tirando de dentro dele


fotografias. Meu coração acelera. São fotos da minha mãe. Fotos recentes
dela sorrindo, tocando violino e todas elas foram tiradas por Nikolai. Por
último, é uma foto de uma cabana charmosa no alto de uma montanha. Pego
a carta que está no final das fotos.

Meus olhos marejam e lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto


a cada palavra que leio.

Querida Marcella,

Espero que quando ler essa carta, possa se sentir melhor. Não sei o
que está passando, mas não acredito que tenha algo bom acontecendo.
Estou tentando de tudo para te resgatar, já conseguir refúgio para sua mãe,
seu tio e avó. Eles estão felizes aqui na Rússia, estão sendo tratados com
todo o respeito e cuidado. Eu disse a você que um dia faria isso, e agora
estou fazendo. Deito todas as noites pensando em você e no que está
passando em Las Vegas. Ainda não consigo entrar nos domínios da
Camorra, o sádico de Kai Moreau tem fechado todas as entradas
clandestinas e as legais. Isso não significa que vou desistir.
Estou sendo torturado com o único pensamento de qualquer
interação entre você e esse sádico. Eu prometo que vou te resgatar, aguente
mais um pouco. Eu estou indo até você, peixinha.

As lágrimas que sai dos meus olhos são silenciosas e de alívio.


Alívio por finalmente ter minha família a salvo. Alev não colocará as mãos
na minha mãe, ou poderá me chantagear a usando. É como me livrar de um
preso enorme. As palavras de Nikolai nessa carta me fazem sentir falta dele,
do amigo que conheci e o qual está fazendo o maior ato de consideração que
alguém poderia fazer por mim.

Guardo tudo no envelope e entrego a Karx novamente enquanto


enxugo meu rosto.

— Ele saberá que estive na Filadélfia, não posso deixar um recado,


mas você sabe que o que ele fez tirou o maior peso de mim, não sabe? —
Karx assente — Você me viu. Sabe que estou bem, que estou terminando
minha especialização… diga a ele o que você viu, Karx. Diga que estou
bem, que sou grata e que ele não tente fazer nada maluco — meus lábios
tremem e uma lágrima insistente desce quente pela minha bochecha — Diga
a ele, por favor.

Posso ver a aflição nos olhos duros de Karx. Enxugo minhas


lágrimas e sorriu bravamente para o homem que me ensinou a aguentar as
dores do mundo.

— Preciso ir. Já está quase na hora do jantar, preciso estar lá mesmo


que Kai não esteja. Obrigada por tudo, Karx. Cuide de Justine, cuide de
você. Se Nikolai voltar a Filadélfia… — Olho para Karx com desespero —
Vá com ele. Leve Justine. Vocês estarão protegidos lá.

— Não posso deixar a organização. Fui juramentado a proteger, e


farei isso até morrer — a voz firme ecoa pelo galpão.

— Não posso perder você e Justine, Karx — Tento controlar as


lágrimas que descem dos meus olhos.

— Farei Justine ir, menina. Ela estará em segurança, eu prometo isso


a você. Mas eu não posso.

Não, ele não pode. Foi juramentado, construiu seu lar aqui. Foi
ferido, deixado para morrer e marcado com todas as cicatrizes… e mesmo
assim precisa permanecer. Olho para Karx e seus olhos escuros que
demonstram carinho por mim. Se ele soubesse o quanto significa para
mim…

— Tenho que ir mesmo agora… adeus, Karx.

Ele faz uma reverência com a cabeça na minha direção. Durão


demais para me abraçar como quando fazia quando eu era uma criança.

— Adeus, Marcella.

Ouvir meu nome saindo da boca dele corta meu coração. Começo a
caminhar para fora do galpão lutando contra minhas lágrimas, contra a dor
que aperta meu peito… Justine e ele são a família mais próxima que tive, e
agora preciso deixar eles irem quando eu nem tive tempo suficiente para
fazer algo por eles.
Sigo caminhando para a casa de Alev, o vento frio da noite batendo
no meu rosto e enxugando minhas lágrimas. Caminho a passos lentos até a
sensação dos meus olhos inchados finalmente ir embora. Cruzo o portão com
a cabeça erguida, Alev não tem mais o que usar contra mim. Finalmente
estou liberta.

Liberta do meu carrasco.

Do homem que chegou a destruir minha vida diversas vezes apenas


para me ver tentando reconstruí-la. Por muito tempo, Alev pensou que eu era
seu brinquedo perfeito.

Enquanto ando até chegar dentro da casa eu relembro dos socos com
luva de Boxe, dos chutes nas minhas costelas, do meu braço quebrado, do
empurrão das escadas…

Isso acabou.

Adentro a mansão ouvindo falatórios vindo da sala de estar. Encontro


India, Emília, Rosélia e Alev conversando como uma família perfeita.

Os olhos verdes se voltam na minha direção e eu os encaro. Nenhum


medo em mim. Não mais.

— Onde está seu marido? Já vamos servir o jantar — pergunta Alev,


impaciente.

O cabelo loiro, a estrutura alta e magra não são mais assustadoras.


Chega a ser uma piada diante de mim agora.

Me encosto no batente da porta.

— Talvez, tenha encontrado uma alma ruim e está devorando o corpo


— Sorrio — Ele adora queimar pessoas, sabia? Diz que é uma forma de
purificar a alma dos fodidos que cruzam o caminho dele. Se eu fosse vocês,
não faria muitas perguntas quando ele chegar. Kai de mal humor é um
péssimo confronto para se ter.
Os olhos de Alev, suas filhas e esposa para mim são incrédulos
diante do meu tom de voz e palavreado.

— Não quero jantar, aliás. — Olho para India— Você está linda,
como sempre. Me pergunto até quando essa beleza ficará em você, India.

Antes que ela possa falar algo, eu me viro e começo a caminhar sobre
minhas botas até meu quarto, sorrindo de satisfação com o olhar assustado
no rosto de India.

— O que foi isso? Por que ela está assim? — Ouço Emília perguntar
antes de sumir por completo da sala.

Entro no quarto de hóspedes que eles separaram, não o meu quarto,


mas o de hóspede. Fizeram isso para Kai, não para mim. Tiro minhas botas,
calças jeans, casaco e blusa ficando apenas de lingerie. Entro no banheiro
para tomar banho deixando as fotos da minha mãe causarem emoções em
mim. Consigo sorrir por ter visto o sorriso dela, de ver ela tocando violino…
me pareço tanto com ela fisicamente.

Não suportaria se eu fosse uma cópia feminina de Alev.

Me enxugo e me visto com uma camisola fina, mas recatada. No


momento que estou ajeitando os travesseiros para deitar, Kai surgi. O rosto
calmo, mas os olhos com um brilho felino.

Seus olhos vão dos meus pés até a cabeça e eu fico ereta.

— Estou sentindo uma atmosfera diferente na casa. Alev está sendo


cauteloso e India parece ameaçada — Ele tira sua blusa deixando seu
abdômen definido amostra.

Me sento na cama, encostando minhas costas na cabeceira.

— Como foi com Angelo? Conseguiu?

Ele tira os sapatos e vem na minha direção.


— Digamos que o que ele quer, eu não estou disposto a dar, mas ele
vai aprender uma boa lição… abra as pernas pra mim, isso assim. — Kai
começa a beijar o interior das minhas coxas, passando a língua pela carne
sensível — Odeio quando tentam me subestimar, querida. Pareço ser uma
pessoa que é ameaçada?

Mordo meu lábio diante da sua língua no alto da minha coxa, sua
boca se mexendo com ele tão perto da minha boceta.

— Ninguém seria capaz de subestimar você, Kai — Sussurro com a


respiração pesada.

Ele coloca minha calcinha para o lado e lambe minha abertura


fazendo o choque e o tesão repercutir por todo meu corpo. Aperto os lençóis.

— Relaxe, querida. Planejo deixá-la cavalgar na minha cara hoje.

Ele ergue o rosto com um sorriso divertido e sombrio. Eu o olho


assustada. Kai escorrega para o outro lado da cama, ficando deitado de
barriga para cima.

— Tire a calcinha e monte na minha cara. Quero levar uma surra de


boceta de você hoje e te ver gozar e relaxar.

A adrenalina e excitação fazem qualquer inibição em mim


desaparecer. Tiro minha calcinha e vou até Kai. Com a ajuda dele, me
posiciono no seu rosto, descendo o suficiente para sentir seus lábios na
minha boceta. Inspiro fundo diante da sensação quente.

Ele segura minha bunda por baixo da camisola, com força suficiente
para seus dedos se afundarem na minha carne. Monto no seu rosto e sua
língua entra no meu canal. Agarro a cabeceira da cama com força e mordo
meus lábios restringindo um gemido avassalador.

Kai me chupa e me penetra com sua língua causando tanto prazer que
eu simplesmente busco por mais, e começo a rebolar sobre sua língua e
lábios. É quase impossível conter os gemidos, estou mordendo meus lábios
com tanta força que sinto o gosto do sangue, mas nem por isso quero parar
de rebolar na língua de Kai, na cara dele.
Seus dedos afundam na minha bunda causando uma dor prazerosa,
sua língua é dura e experiente no que está fazendo e diversos arrepios sobe
pela minha espinha e se espalham pelo meu corpo. Deus… como isso é bom.

Kai mordisca meu clitóris e o captura entre os dentes e então começa


a chupar. Isso é o suficiente, e tão certeiro que não levo menos de dois
minutos para sentir meu orgasmo me arrebentar. O prazer se forma no meu
estômago e explode como fogos de artifícios. Levo minha mão à boca para
não gritar ou gemer muito alto. Mordo minha mão ao passo que o prazer vai
se consumindo.

Saio de cima de Kai com as pernas bambas, ele vira o rosto na minha
direção com a luxúria brilhando nos seus olhos.

— Seu gosto é bom para caralho, querida. Eu poderia passar o dia


bebendo da sua excitação — Rosna com os cantos da boca brilhando com
meus sucos.

Olho para o volume gritante na sua calça e um sorriso se forma nos


meus lábios. Me direciono até lá, montando nas suas pernas.

— Não sou a única que precisa relaxar, Kai. Vamos fazer você gozar
também.

O sorriso de luxúria estampa seus lábios. Me debruço na direção do


seu pau enquanto abro o cinto e o tiro para fora mantendo meus olhos em
Kai. Assim que capturo a cabeça do seu pau, ele pragueja e segura com força
a cabeceira da cama.

— Boca gostosa do caralho!

E então, afundo ele na minha boca, até o limite da minha garganta


ouvindo Kai gemer e segurar nos lençóis até os nós dos seus dedos ficarem
brancos.
O domingo chega de maneira preguiçosa, e após o banho matinal,
Kai e eu ficamos no quarto para conversar sobre o que Angelo exigiu dele
ontem. Meu cabelo está úmido, estou com uma roupa quente enquanto Kai
ainda está vestindo suas costumeiras roupas pretas.

— Angelo aceitou sua proposta de casar nossos futuros filhos? —


Pergunto, me sentando na cama, encarando as costas nuas de Kai.

— Ele achou a proposta boa, e vai aceitá-la.

Sinto um baque com a resposta, eu esperava outra alternativa, outro


tipo de resolução. Sei dos meus deveres, mas esperava concluir meu objetivo
antes de engravidar.

— Devo parar de tomar a pílula? — Questiono.

Kai se vira na minha direção, os olhos sombrios e inquietos, como se


algo estivesse errado. Ele se aproxima de mim, tocando meu queixo.

— Não agora. Quando for o momento, eu direi a você. Prometi que


terminaria sua especialização, e você vai.

O alívio me enche, mas uma sombra se esconde. Kai está estranho,


suas palavras e posturas tensas.
Nós dois saímos do quarto para tomar café e toda família Rivera está
à mesa, silenciosos e elegantes. Kai puxa a cadeira na frente de Emília e se
senta, tomo a cadeira ao lado dele.
Ninguém dirige a palavra a nós dois, nem mesmo Alev. O café da
manhã é de completo silêncio. Quero encontrar uma deixa para ir até Justine,
mas enquanto os olhos de Alev estiverem em mim, isso será impossível.

— Vão embora hoje? — Alev quebra o silêncio.

Kai leva uma garfada de ovos à boca.

— No começo da tarde. Apressado para que vamos embora, sogro?

Alev se mexe desconfortável na cadeira, limpa a garganta e procura


manter o olhar firme em Kai. Ele não é corajoso o suficiente para perguntar a
Kai o que ele realmente veio fazer aqui.

— Achei que ficariam mais tempo, só isso.

Kai mantém o sorriso sombrio no recanto dos lábios e eu permaneço


em silêncio parando de comer depois da quinta colherada, porque meu
estômago já não aguenta mais. Ouço uma risada curta e ergo meu rosto até o
rosto do dono dela. Seus olhos tem um brilho maníaco, satisfeito.

— Ainda não consegue comer muito, Marcella? Parece um


passarinho — seu comentário parece inocente, mas pra nós dois, sabemos
que ele está sendo presunçoso. Foi ele quem fez isso.

Limpo meus lábios com a língua e deixo meus olhos em Alev,


percebendo cada ponto de glorificação nesses olhos doentios.

O dia em que ele me levou até o sótão, nos trancou lá e usou as luvas
de boxe para acertar meu estômago em diversos pontos porque me culpou de
India ter caído do balanço em que brincávamos e ter levado pontos por causa
disso… esse dia volta com tudo na minha mente. Lembro de cada golpe. Da
dor. Da minha voz implorando para ele parar e do momento que fiquei grata
quando perdi a consciência depois de tanto ser espancada.

Sinto a mão de Kai por baixo da mesa sob minha perna e eu volto
para esse momento, saio da minha mente e volto a respirar calmamente.
— A levarei ao médico, saberei qual o problema com minha esposa,
e se for um agente externo que causou isso, vou punir com o mesmo afinco.
Sangue, ossos quebrados e dedos decepados… o que acha, Alev? — a voz
de Kai é coberta de sombra e fúria contida.

Alev mantém sua postura neutra, os olhos denunciando um ameaça


na minha direção para que eu não diga nada a Kai.

— Não foi nada externo. Marcella nasceu desse jeito. Sempre comeu
pouco.

O aperto da mão de Kai na minha coxa fica mais forte.

— Torço para que seja isso. Do contrário, quem possa tê-la


machucado, pagará da pior forma.

Emília pigarreia.

— Gosta tanto assim dessa bastarda? — Questiona.

Os olhos de Kai vão até ela, cobertos de advertência.

— Tome cuidado na forma como se refere a minha esposa,


bonequinha da Barbie. Eu não sigo o pensamento dos outros homens de não
machucar mulheres.

— Não ameace minha filha, Kai — Alev sibila na direção de Kai.

Meu marido gargalha.

— Ora, não é uma ameaça. Ameaças precisam de convicção, e eu


nem cheguei perto disso — Ele sorri — Se eu fosse ameaçá-la, levaria
comigo um pedaço dela para dar credibilidade, Alev. Pelo amor de Deus, sou
lá homem de ameaça? — ele levanta da mesa estendendo a mão na minha
direção — Vamos tomar um banho de piscina, querida. O dia está um pouco
abafado.

Olho para sua mão estendida, e então peço algo que parei de pedir
depois de levar um soco pela ousadia.
— Podemos ir à praia? A mais próxima fica perto daqui. Voltaremos
a tempo de pegar o voo — Peço.

Kai olha para mim, e sem pestanejar, ele assente.

— Claro.

Seguro sua mão, entrelaçando meus dedos nos seus e levantando da


cadeira deixando Alev e sua família ver que Kai Moreau agora faz até o
inferno congelar se eu pedir.

Ele me deu a besta da Camorra, mas não esperava que eu fosse


doma-lo

(...)

Cerca de três horas depois, estamos na praia mais próxima da


Filadélfia. Kai percorreu 150 km para chegarmos aqui, e ainda parou em
uma loja para que eu comprasse um biquíni.

Estamos parados no meio da areia, a praia está cheia e muitas


pessoas olham para nós dois, principalmente para Kai que está de calça
jeans, blusa de manga e completamente de preto.

— Não vai tirar a blusa e a calça? — Pergunto, olhando para ele


parado como meu guarda costas.

Ele suspira.

— Não, e eu espero que não esteja pensando em ficar apenas de


calcinha e sutiã no meio de tanta gente — Sua voz é autoritária.

— Sim, eu vou. Tem milhares de mulheres de biquíni aqui e ninguém


vai reparar em mais uma.

Seus olhos pairam sobre mim, depois de analisar todo o perímetro


como um falcão.
— Fique com a parte de cima, não quero você mostrando sua bunda
para ninguém.

Suspiro. Uma hora ou outra eu vou tirar o short e ele não vai me
impedir. Por enquanto, vou deixar ele pensar que tem esse poder sobre mim.
Tiro a parte de cima da blusa e fico com biquíni simples na cor preta. Me
sento na areia e Kai acompanha meu movimento, parecendo desconfortável
e grande demais.

O sol está quente e ele deve estar fritando dentro dessa roupa escura.

— Tire a blusa. Você deve estar morrendo de calor aí dentro — Digo.

Ele balança a cabeça apoiando os braços nos joelhos erguidos.


Percebo de imediato o porquê de ele não tirar a blusa. Nem nas lutas dele,
ele não a tira. Nunca o vi sem camisa na frente de outras pessoas…

As cicatrizes de queimaduras e chicotadas.

— Deveríamos ter vindo no final do dia, não acho que esse sol seja
tão bom quanto imaginei. Podemos olhar ele do carro. — Suspiro olhando
para o mar.

— Não tente me confortar, sei que está adorando o sol sob sua pele e
a sensação de calor. — ele pega um punhado de areia — Eu não me importo
com o sol. Não estou desconfortável e nem uma merda desse tipo. Não gosto
de ficar despido na frente de ninguém, que não seja você. As pessoas olham
para minhas cicatrizes e sentem nojo, ou não conseguem tirar os olhos
horrorizados delas.

Meu peito aperta diante das suas palavras, por mais relaxado que ele
fale isso, não consigo não notar que ele se importa sim. Aposto que ele
gostaria de tirar suas roupas e pular na água junto comigo.

Olho para ele. O sol está fazendo seu cabelo negro brilhar, e os olhos
âmbar ficarem acesos. A pele dele é pálida, e contra o sol fica tão bonita
quanto uma tela em branco, sem manchas. O nariz dele, os lábios são tão
atraentes. A forma analítica como ele olha tudo e sua expressão…
— Por que está me encarando? — Questiona com a voz profunda.

— Porque você é lindo — Sussurro com firmeza vendo seus olhos


âmbar brilharem.

Um sorriso se desenha no recanto dos lábios dele.

— Ah, é? — O recanto dos seus lábios aumenta o sorriso


provocativo.

— Sim. Você é lindo. Com roupa, sem roupas… prefiro sem roupa e
sob minha pele. De todas as formas, você é lindo Kai.

Fui muito longe nos elogios para voltar atrás, e eu não quero voltar.
Eu poderia ficar sentada aqui o elogiando sem parar. Ele é mesmo lindo. Um
verdadeiro anjo da morte se ele tiver uma aparência nítida.

— Lembra quando me levou para jantar na Filadélfia, antes do nosso


casamento? — Pergunto.

Ele assente.

— Quando ficamos sozinhos no carro, e você quis me tomar nele, eu


fiquei apavorada. Meu corpo reagiu a você desde o primeiro momento. E
quando você ficou perto daquele jeito, eu morri de medo ao pensar em como
você era bonito e se seria isso que fazia meu corpo responder a você.

Kai fica em silêncio, olhando para mim com atenção. Pisco os olhos
e tomo uma lufada de ar.

— A primeira vez que eu vi você, eu o achei tão lindo como um céu


estrelado de verão. E quando vi seus olhos de perto, eu perdi o fôlego diante
da beleza que eles possuem. Simplesmente lindo, Kai. Tudo em você.

Nós dois ficamos em silêncio, o vento e o som das ondas se


quebrando abafando nossas respirações pesadas.

Nesse momento, estamos tão profundamente dentro do outro que


chega a ser mais íntimo do que quando estamos fazendo sexo. Eu sinto isso,
e sei que ele também.

— Eu quero tatuar seus olhos na minha pele, Marcella. Quero ter


esses olhos redondos me olhando por cada segundo do dia, porque quando
olho para eles eu sinto que posso conquistar o mundo. Sinto que tenho
esperança, e de que eles são a porta para o paraíso — Ele olha para o meu
cabelo — Eu amo cada fio ondulado do seu cabelo e odeio quando o alisa.
Esses fios ondulados são uma característica unicamente sua. Da mulher que
tem meu coração e a qual eu lutarei para que permaneça do meu lado até o
fim. — Ele inspira fundo, externando com leveza tudo o que está dentro da
sua mente e vibra pelo seu corpo — Eu amo a forma como seu corpo
pequeno se encaixa ao meu, como nossos lábios parecem serem feitos para
estarem colados. Tudo em mim se conecta perfeitamente com você, e é até
irônico, você tem 1,67 de altura e eu 1,92. Mas, nós dois nos encaixamos,
não é? Adoro a sensação das suas pernas envolvendo meus quadris e das
suas mãos no meu cabelo e em todo meu corpo. Tudo o que existe em mim
parece ter sido criado para você, Marcella. Tudo.

Meu coração parece bater lentamente com as últimas palavras. Da


mulher que tem meu coração. Ele foi firme nas palavras e seus olhos
travaram diante dos meus como duas chamas anunciando bravamente que
ele me quer como sua.

Que nós dois somos o encaixe perfeito.

Me falta ar diante da sua declaração e meus olhos se enchem com


lágrimas.

Me aproximo dele, deixando meu ombro tocar em seu braço. Não


tenho palavras, então simplesmente viro minha cabeça na sua direção e ele
inclina a sua na minha, e nossos lábios se tocam suavemente, e de uma
forma mais íntima do que fazer sexo.

Kai me ama?
Chegamos em Las Vegas na segunda à tarde, e tão logo quanto
chegamos, Kai se retira para cuidar dos seus negócios. Falta poucos dias
para ele enfrentar Massimo na gaiola e sua reunião com Angelo Ricci para
ter tido uma resposta positiva. Kai está mais forte que nunca. E Otávio não
será páreo para ele.

Eu vou para o escritório verificar meus e-mails. Todos os conteúdos


da especialização vêm parar aqui. Não tenho conteúdos novos ou qualquer
assunto pendente. Por alguma razão, eu verifico minha caixa de spam e vejo
o e-mail.

Posso sentir o frio de ansiedade e medo subindo pela minha espinha.


Expectante, eu abro o email com um link para uma chamada de vídeo. Sei
quem é a pessoa por trás disso. Nikolai. Não posso abrir esse link. Não sei se
o escritório possui câmeras ou alguma escuta. O computador também não é
seguro. Apago o e-mail e fecho a tampa do notebook sentindo meu estômago
pesado com a sensação de ansiedade fulminante.

Eu tomo um banho frio, visto um macacão soltinho e saio com


Castello e Andreas fazendo minha escolta. Desde que cheguei a Las Vegas,
não sair para passear, e pelo que vi na internet, para uma leitora como eu,
existe vários pontos a serem visitados e é para um dos sebos que estou indo.

Passo algumas horas admirando, folheando e lendo alguns livros.


Compro cinco e saio do sebo no momento que começo a perceber os olhares
desconfortáveis e invasivos das pessoas em Castello e Andreas. Sigo pelas
ruas de Las Vegas com minha escolta a poucos metros, sempre atentos. Não
sei se eles percebem, mas eu sinto olhares na minha direção. Um olhar
insistente capaz de fazer minha pele formigar.

Viro o rosto para o outro lado da rua, e encontro um par de olhos


azuis familiar. O medo se entrelaça com a ansiedade dentro de mim. Lutando
contra minha mente, eu desvio o olhar e continuo andando para não levantar
suspeitas a Andreas e Castello.

Atravesso a rua e paro diante de uma livraria. Olho para os dois


homens mal encarados fazendo minha vigília.

— Esperem aqui. O espaço é muito pequeno e não quero atenções.

— Senhora…

Suspiro.

— É só uma livraria, por Deus!

Abro a porta e entro dando as costas aos dois, olho por cima do
ombro para ter certeza de que acataram minha ordem. Com a respiração
artificial, eu caminho para a última fileira de livros, onde uma grande
prateleira se encontra. Duas mulheres estão folheando livros e conversando
baixinho. Vou até o final e quando me viro, Nikolai está na minha frente.

Nosso primeiro instinto é se abraçar. Passo meus braços em torno do


seu pescoço e fico na ponta dos pés. Seu corpo é forte contra o meu e um
grunhido de angústia sai da minha boca.

O abraço não dura mais que alguns segundos, quando nos separamos
paramos para analisar um ao outro. Ele está de chapéu, o cabelo loiro
coberto, o rosto mais magro e os olhos azuis enormes e preocupados.

— Você está bem? — Pergunta com seu sotaque russo familiar.

Balanço a cabeça, ainda analisando ele.

— Você perdeu peso — Sussurro.


Ele passa a língua pelos lábios rosados, os olhos estreitando a vista
ao nosso redor. O nervosismo e o medo cantam dentro de mim, se Kai
souber disso será o fim. Ele matará Nikolai.

— Você só tem esses dois homens na sua cola? — pergunta.

Balanço a cabeça, aturdida.

— Sim… você deve ir embora. Como entrou em Las Vegas? Se Kai


descobrir que você está aqui…Nikolai, por favor — Peço.

— Vou tirar você daqui. Chega de esperar. Chega de planos ou


cautela! Kai Moreau está planejando uma chacina e usará você para algo
pior — Ele saca o celular do bolso, averiguando uma mensagem. Seus olhos
estão nervosos — Vou fazer você de refém e te levar comigo. O avião está
nos esperando. Podemos nocautear esses dois, juntos.

Nikolai está nervoso e furioso, seus olhos azuis estão exalando tanta
fúria que seu rosto pálido está ganhando uma tonalidade carmesim.

Ele veio para me buscar, e vai fazer isso agora. Ele está pronto para
arriscar tudo e claramente não tem um plano. Nikolai está no território da
Camorra, todos têm a permissão de matá-lo aqui, Kai estendeu um
comunicado pela cabeça dele se alguém o visse aqui.

Isso é loucura.

Seguro as mãos dele, olhando para ele com firmeza.

— Eu não posso ir com você. Você é louco? Só de estar na cidade


sua vida está em risco! Se um dos homens pegar você, acabou! Eu preciso de
você vivo e longe daqui — levo minha mão até seu rosto para que ele preste
atenção a cada palavra dita — Volte para um lugar seguro. Eu estou bem.
Está tudo sob controle.

— Não, não está. Tem ideia do que ele planeja fazer com você,
Marcella? Aquele sádico irá… — sua voz falha perante a onda de fúria e
angústia nos seus olhos. Ele agarra minha mão — Vamos embora. Agora!
Meus olhos enchem com lágrimas ardentes. Pisco diversas vezes para
que nenhuma caia. Não vou arriscar a vida de Nikolai. Kai o matará, não
importa se fosse causar uma guerra.

— Volte para a Rússia, Nikolai.

Solto minhas mãos das dele, do aperto firme como uma corda de
salvação. Ele tenta me segurar, com um gemido de dor vindo dele quando eu
o atinjo em um ponto crítico e ele cai de joelhos, sem forças.

Meus olhos queimam com as lágrimas tempestuosas. A cada passo


que dou em direção aos homens de Kai, estou dando adeus a vida que
sempre quis com minha mãe, com Justine e até Nikolai.

Ele veio até aqui. Ele tentou me salvar arriscando sua vida.

Preciso tirar os homens de Kai deste perímetro. Nikolai precisa voltar


em segurança. Se algo acontecer com ele, eu não vou me perdoar.
Otávio tosse, levando o lenço até a boca, e ao abaixá-lo, a mancha de
sangue fresco se encontra. Franzo o nariz diante da cena repugnante, e ao
mesmo tempo satisfatória. Seu corpo está definhando. Ao redor dos seus
olhos se encontram bolsas escuras causadas por noite insones, o cabelo está
ralo e até mesmo com um paletó de três peças, ele parece acabado.

— Você quer que eu vá a Roma daqui a três dias? Se não me engano,


esse é o dia que Massimo irá ser iniciado — Comento casualmente enquanto
levo meu uísque à boca.

Otávio assente tossindo mais uma vez, meu pai olha rapidamente
para o irmão maribondo antes de olhar para mim.

— Sim. Queremos levar a droga nova que você começou para a


organização de lá começar a circular também. Faremos milhões se você
conseguir negociar a porcentagem. — Meu pai fala com sua voz profunda e
rouca ecoando pelo escritório da mansão.

Ele está sentado na sua cadeira de couro, atrás da sua mesa. Otávio
está em pé, ao seu lado e eu estou no recanto da sala bebendo o uísque mais
caro que ele tem aqui. Odeio a presença dos dois, o fato de saber que essas
reuniões irão acabar, me faz querer comemorar. E eu vou. Quando eu chegar
em casa, vou comemorar dentro da minha jovem esposa.

O pensamento de estar dentro de Marcella, enterrado nela faz uma


onda de calor descer para minhas regiões de baixo. Posso sentir meu pau
pulsar apenas de imaginar ela nua e com as pernas abertas para mim… eu
devia ter fodido mais ela dentro daquele avião, eu deveria saber que aquelas
horas de voo em que eu estava dentro dela não seria suficiente. Nunca é.

Ela é um vício ao qual não consigo passar muito tempo sem. Fico em
estado de carência e irritabilidade muito tempo sem ela.

— Farei isso, então — bebo o resto do uísque em um só gole vendo a


expressão de alívio no rosto do meu pai e tio.

Eles acham que venceram. Querem manter a besta longe do príncipe


da máfia, o garotinho que vai assumir meu lugar como antecessor se eu não
o matar ele daqui a quatro noites.

Coloco o copo de cristal em cima da mesa de bebidas e olho para


meu pai e tio.

— Mais alguma coisa? — Pergunto, como um Pitbull alimentado de


carne, obediente.

— Alev Rivera ligou para mim hoje cedo, disse você o desrespeitou
na casa dele — Meu pai se encosta na sua cadeira, os olhos da mesma
tonalidade dos meus, me encarando — Isso é verdade?

Sorrio com humor.

— Meu sogro achou desrespeitoso a forma como me portei na casa


dele? — Uma risada crua escorre dos meus lábios — O que ele achou
desrespeitoso, exatamente? Eu ter defendido minha esposa ou ter feito ela
gritar enquanto eu estava dentro dela?

Os olhos do meu pai escurecem com a pura contenção da sua cólera.


Eu sinto em cada poro, respiração o quão ele quer me destruir. Ele está
apostando tudo em Otávio para acabar comigo e não me deixar assumir a
liderança da organização.
No começo, eu queria matar meu pai, mas agora, eu quero que ele
fique vivo e me veja destruindo seu legado e construindo o meu. Isso será
melhor que sua morte.
— Parece que está usando a bastarda como uma boa prostituta,
sobrinho. Ainda bem que achamos alguém de baixo nível e ela está saciando
você — Otávio comenta com sua voz suave.

Finco meus olhos nele, absorvendo sua nova aparência morbifica.


Ele parece um cadáver ambulante e será tarde demais quando ele perceber
que a única pessoa que pode salvá-lo disso sou eu. Sorrio para meu tio.

— Não desconte em mim o fato de que não conseguirá tratar a boceta


da sua futura esposa com maestria, tio. Pelo seu estado, acho que nem
conseguirá ter um ereção — deixo outra risada escapar — Não vá morrer em
cima dela, ok?

Sua mandíbula trinca e eu vejo claramente quando ele começa dá um


passo na minha direção, mas é parado pela mão do irmão. Continuo rindo até
o momento que saio do escritório. Minha mãe não está em casa. Desde que
houve uma leitura diferente nos exames de Niki, ela tem feito plantão no
hospital.

Ela nem mesmo se importa com o fato de ter um filho vivo.

Saio da mansão Moreau as 23:00 horas, e no momento que coloco


meu pé para fora, Jace se aproxima com a blusa suja de sangue e uma
expressão sombria no rosto.

— O que foi? — Questiono.

Ele nem mesmo pisca ao me dá uma excelente notícia.

— Pegamos Nikolai Vassilliev enquanto ele tentava deixar Las


Vegas. Nossos homens o levaram para o porão.

Um sorriso sombrio desenha meus lábios no momento que Jace me


mostra uma filmagem de Marcella e o filho da puta em uma livraria, se
abraçando. Jace mostra antes que eu possa perguntar se ele chegou perto de
Marcella.

Meu sangue ferve como lavas apenas de ver os lugares que ele tocou,
e onde ela se deixou ser tocada. Ela segurando o rosto dele…
Entro no carro, indo em direção ao galpão onde colocamos meus
prisioneiros no porão. Não hesito nem mesmo quando chego lá, desço as
escadas e encontro Nikolai Vassilliev preso por trás das grades de uma das
nossas celas.

Ele está amarrado, pés e mãos. Sentado no chão com o nariz


nitidamente quebrado e os olhos inchados. Ele parece ter lutado bastante.

Assim que percebe minha presença, ergue a cabeça. O rosto está


manchado de sangue, e mesmo assim os olhos estão me amaldiçoando.
Gesticulo para que um dos meus homens abra a porta, e eu entro. Analisando
esse filho da puta da cabeça aos pés.

— Muito ousado vir até meu território. Eu deixei claro para ficar
longe — Digo, olhando sua fisionomia furiosa.

Ele cospe sangue no chão.

— Deixe-a ir embora. Estou ciente dos seus planos, sua besta. Você
planeja trancar Marcella quando conseguir se tornar Capo, e assumirá a filha
do conselheiro da Ndrangheta como esposa — ele tenta avançar na minha
direção, mas as correntes o mantém no lugar — Marcella não nasceu para
ficar encurralada, seu animal! Ela não nasceu para ser uma incubadora!

Mantenho meu olhar nele.

— Como chegou a essa conclusão? — Questiono impassível.

— Angelo me comunicou que você tomaria a sobrinha dele como


esposa. Sei que irá matar Alev Rivera, e como India não irá se casar com
ninguém de alto nível. Será o segundo filho de Marcella que herdará a chefia
da Filadélfia. Você não planeja se divorciar dela. Vai usá-la como mãe dos
seus filhos, e se casar com a filha dos Ricci para manter o poder sobre a
Camorra. Você é um verme!

Inspiro devagar.

Angelo realmente tem um senso de lealdade, desfez o acordo com a


Bratva e imediatamente se colocou do meu lado quando eu disse que me
casaria com sua sobrinha. Ele nem mesmo piscou.

Me abaixo diante do filho da puta.

— Veio atrás de Marcella quando soube? — Indago.

Ele mira os olhos com hematomas em mim. Não tem nada de cruel
nele. Sua aparência é igual à de um fodido ator de Hollywood. Nenhuma
cicatriz.

— Deixe-a ir comigo. Ela não o ama e não quer ficar ao seu lado.
Marcella me ama, e eu a amo. A deixe ir comigo. Você a fará se matar
trancando-a em algum lugar, longe de tudo e das pessoas que ela ama.

Marcella o ama? Ele quer levá-la embora?

Isso é o suficiente para transbordar a fúria dentro de mim.

Começo chutando Nikolai Vassilliev como se ele fosse um saco de


pancadas, finalizo tirando sua consciência com socos. Desfigurado o rosto,
adicionado cicatrizes a sua pele intocada.

Nem ele, nem ninguém tirará Marcella de mim.


E eu irei provar que ela sente algo por mim, calarei a boca desse filho
da puta. Farei ele ver que Marcella é minha. Toda minha.
Kai não amanhece o dia ao meu lado, mas recebo uma mensagem de
texto dele avisando que estará em casa quando eu voltar da universidade.
Pergunto por mensagem se está tudo bem, em busca de saber se Nikolai foi
pego, ter uma única pista. Kai responde com um único sim e encerramos
nosso bate-papo.

Saio para a universidade escoltada com Castello e Andreas. Jace


parece ter sumido e eu tenho sentido falta da sua companhia. Por mais
ranzinza e autoritário que ele seja, eu tinha mais liberdade de ir onde quiser
sem muita escolta.

Meus pensamentos estão em Nikolai durante toda a manhã, a cada


conteúdo que o professor passa. Me pergunto se ele conseguiu chegar a
algum lugar seguro, se está longe dos domínios da Camorra. Kai não se
importaria em matá-lo, mesmo que isso significasse a guerra entre as duas
máfias. O poder de Kai aumentará em breve e por mais tentador que foi
Nikolai me pedindo para fugir com ele, meu senso de lealdade a Kai me faz
permanecer aqui.

Não só lealdade. Algo mais. Sem definição para um rótulo. Eu


apenas quero estar onde ele está. Quero ver o declínio de India, Alev,
Otávio… todos eles.

Encerro minhas aulas antes do meio-dia e vou direto para casa com a
ansiedade me causando um peso no estômago. Poderei saber se algo
aconteceu com Nikolai se eu ver Kai, olhar para ele me dirá se ele pegou
Nikolai.
Quando chego na cobertura percebo o silêncio, deixo minhas coisas
no sofá da sala e caminho até o quarto. Não encontro Kai nele. Sigo para o
escritório e o encontro sentado na poltrona de couro vermelho, sem camisa,
apenas de calça jeans e com um copo de uísque nas mãos.

Ele ergue os olhos âmbar na minha direção, o cabelo negro está


despenteado o deixando ainda mais fatal e sexy. Engulo a seco a sua
presença. Meu corpo reage a Kai de uma forma que não sou capaz de
controlar, ele é lindo. Mesmo com tantas cicatrizes sob a pele, ele é lindo. Se
o demônio tem uma forma humana, ele pareceria com Kai. Deslumbrante
como um paraíso corrompido.

— Venha até aqui, Marcella — Sua voz profunda e autoritária faz


meu núcleo sofrer um puxão. Odeio que ele consiga tão facilmente me ter
nas mãos.

Começo a caminhar até ele, quando estou próxima e seus olhos sobe
das minhas pernas cobertas por uma calça, até meus olhos, eu fervilho. Sem
pensar muito, eu subo em Kai. Passo minhas pernas ao redor do seu quadril e
meus braços pelo seu pescoço. Ele sorri. O sorriso diabólico que faz o medo
se entrelaçar com a excitação.

— Sentiu saudades, Bella mia? — Sua mão toca meu rosto fazendo o
contato queimar minha pele.

— Onde você esteve ontem? Por que não voltou para casa? —
Questiono.

Seus olhos parecem brasas e um sorriso sombrio repuxa seus lábios.


Ele leva o copo com a bebida até a boca, terminando ela em um só gole.

— Não importa. O que importa nesse momento, é que estou aqui, e


sinto que seu corpo e sua boceta está pedindo por mim — Ele coloca o copo
no chão e sobe sua mão para minha cintura — Quer que eu a foda no chão
desse escritório, Marcella?

Engulo a seco.
Por mais que eu queira manter essa atração por ele longe, não me
entregar ao desejo… é impossível quando ele está perto de mim. Kai Moreau
se tornou um ponto fraco na minha resistência. Eu deveria odiá-lo. Repudiar
todo tipo de contato entre nós dois, mas meu corpo o quer. Ele me viciou
nele e nas sensações que me causa.

Ele abre o zíper da minha calça, brincando com a minha calcinha.

— Você me quer, querida? — Pergunta suavemente.

Eu não deveria, mas quero.

Balanço a cabeça, em sinal afirmativo. Ele sobe a mão até meu


cabelo, agarrando meu rabo de cavalo e o puxando para trás. Uma respiração
rala sai dos meus lábios.

— Use as palavras, Marcella. Diga o que você quer — Vocifera.

Sinto sua ereção embaixo de mim, e mesmo sem ele ter me tocado
direito, eu já estou pingando. Minha calcinha está úmida.

— Quero você. Você dentro de mim — Arfo ao sentir sua boca no


meu pescoço, seus dentes fechando ao redor da área sensível.

— Me mostre que me quer, Bella mia. Me beije com o desejo que


sente por mim — Sussurra com dureza.

Olho na sua direção, confusa com o que ele disse, mas ciente de que
sou capaz de fazer qualquer coisa para o ter dentro de mim. Preciso da sua
boca, dedos… tudo.

Estou pingando por ele, necessitada do seu contato com minha pele.

Olho para Kai, meus olhos descem até seus lábios e é pra eles que eu
vou. Seguro seu rosto nas minhas mãos e pressiono meus lábios contra os
seus, beijando-o suavemente. Kai não demora pra reagir e logo está forçando
sua língua contra a minha, o gosto de uísque me acertando em cheio. Uma
corrente de eletricidade parece explodir com esse beijo e todo meu corpo
queima. Me movo sobre sua ereção dura, arranhando sua pele. Kai retribui o
beijo com ferocidade e em questão de segundos, as mãos dele estão me
erguendo.

— Tire a roupa, Bella mia. Todas as peças. Tire-as! — Rosna com os


lábios ainda nos meus.

Me afasto dele com o corpo em chamas e a respiração pesada,


fraquejando. Tiro meus tênis, logo depois a calça e blusa ficando apenas de
lingerie. Kai observa tudo com os olhos devorando cada pedaço de pele que
estou expondo, um rugido saindo da sua boca enquanto me olha.

— Solte o cabelo! — Ruge.

Tiro o elástico do meu cabelo, e fico apenas vestida com o conjunto


de lingerie de renda vermelha. Kai se aproxima de mim, a ereção querendo
romper o tecido da calça.
A forma como ele me olha faz meu corpo arder. Kai se ajoelha na
minha frente, passando uma das minhas pernas pelo seu ombro, afasta minha
calcinha para o lado e passa a língua pelas minhas dobras me fazendo
arquear as costas.

— Porra, que sabor delicioso você tem, Marcella. Isso é a ambrósia


dos deuses!

Seguro em seus ombros e ele mergulha a língua dentro de mim,


subindo-a até meu clitóris. A sensação de prazer queima tudo dentro de mim
e eu engasgo em um grito no momento que ele prende meu clitóris entre seus
dentes e o chupa forte.

Céus, vou derreter!

Minhas pernas fraquejam com a sensação forte da primeira sucção e


eu finco minhas unhas nos seus ombros largos. Kai não para de chupar e no
momento que sua língua entra na minha abertura, lágrimas inundam meus
olhos e eu engasgo diante da intrusão da sua língua dentro de mim e do seu
dedo circulando e pressionando meu clitóris sem nenhum tipo de piedade.
Ele sabe onde tocar. Parece ter decorado todos os pontos de prazer, mapeado
os lugares que clama por ele.
Meu ápice se aproxima no momento que ele abre minhas dobras com
os dedos e mergulha a língua dentro de mim, movimentando ela de forma
vil. O nó no meu estômago é desfeito pela sua língua e eu gozo com um
grito abafado e fino sentindo a descarga de prazer fazerem minhas pernas
fraquejarem. Eu só não caio porque Kai me segura em seus braços, se
erguendo com os lábios úmidos com meu líquido assim como o recanto dos
seus lábios.

Seus olhos parecem chamas incendiárias e eles focam no meu colo


avermelhado.

— Eu sou capaz de matar qualquer um que ver o quão linda você fica
quando goza, Marcella — ele agarra meu cabelo, fitando meu rosto com um
brilho diabólico — Você nunca conseguirá ter outro homem sob sua pele. Eu
estou em todos os poros do seu corpo e me tornei o primeiro e último
pensamento que você tem no dia.

Seus dedos apertam os fios do meu cabelo fazendo meu couro


cabeludo queimar, eu gemo baixo mantendo meus olhos nos dele. Suas
palavras estão certas. Ele é meu primeiro pensamento no dia, e o último. Os
olhos âmbar são insistentes na minha mente, e meu corpo é atraído por ele
como mariposas pela luz.

Kai pode me descartar a qualquer momento, mas seus olhos, seu


corpo… ele me quer tanto quanto quero ele. Estamos viciados um no outro.

— Estamos no mesmo barco, Kai. Sou seu objeto de desejo. A


chama que queima nas suas veias e a luz que te atrai. Eu sou seu tormento
tanto quanto sua calmaria — Ronrono entre dentes sentindo seu aperto ainda
mais firme no meu cabelo.

Posso ver seus olhos castanhos assumirem uma sombra. É como se as


chamas fossem aplacadas por breves segundos diante da verdade. Kai me faz
ficar de joelhos diante dele. A ereção apontando na calça jeans.

Os olhos dele brilham de cima, me olhando com satisfação. Ele me


ordena para que eu abra sua calça, e meu corpo reverbera as palavras
autoritárias.
Seguro seu mastro grosso e longo, o capturando entre meus lábios
ouvindo um assovio sair entre os dentes de Kai quando o tenho na boca. Ele
segura firme meu cabelo. E ao contrário das últimas vezes, ele não me deixa
no controle. Ele se força dentro da minha boca e meus olhos enchem com
lágrimas pelo tamanho e grossura.

— Eu sei que você aguenta, querida. Me chupe com essa boca


gostosa — Geme molhando os lábios.

Seus gemidos relaxam os músculos da minha garganta e eu relaxo.


Kai se força ainda mais dentro da minha boca e eu engasgo fincando minhas
unhas nas suas coxas. Ele mete na minha boca com agressividade e lágrimas
de esforço escorre pelo recanto dos meus olhos, mesmo assim eu o chupo
apertando minhas bochechas em torno do seu comprimento. Sua mão move
minha cabeça para frente e para trás e eu focalizo minha atenção nos seus
gemidos e na sua expressão de prazer.

Sinto ele se armando para gozar, antes que aconteça ele se liberta da
minha boca e ruge na minha direção.

— Deite! Vou foder essa boceta apertada até ela chegar à exaustão e
você implorar para que eu pare.

Minha intimidade pulsante contrai com sua ameaça. É tão errado eu


ficar desse jeito. Parece que meu corpo reage positivamente às ameaças de
Kai enquanto minha mente luta contra ele. Em vários momentos, minha
mente venceu, ela sempre venceu quando meu corpo não conhecia as
sensações que Kai Moreau poderia proporcionar a ele. E ele tem tanto de
mim agora…

Me deito no carpete, mas Kai me olha com um olhar sombrio como


se eu houvesse feito algo errado. Ele gira o dedo.

— De quatro. Você não merece ser bem tratada hoje. Vou te comer de
quatro como uma boa putinha apaixonada pelo meu pau.

Estou em chamas e perdida demais com a luxúria para me impor.


Trêmula de desejo, eu fico de quatro. Minhas mãos e pernas ameaçando
fraquejar a qualquer momento. Sinto a ponta de Kai pincelar minha entrada,
e lentamente, ele enfia a cabeça me fazendo perder o ar, e me empinar na sua
direção. Ele se retira soltando uma risada abafada.

— Você está pingando feito uma torneira, Marcella. Parece que adora
ser tratada como uma vagabunda, hum? — Rosna atrás de mim.

Eu rebateria o termo que ele usou contra mim se minha mente não
tivesse travando uma batalha contra a luxúria.

— Kai, por favor… — Imploro como uma verdadeira vagabunda.


Ele está certo no que disse e metade de mim se envergonha por isso, mas a
outra metade está ocupada implorando por ele.

Quando acabar, eu irei me arrepender por isso. Eu sinto


profundamente que isso acontecerá e minha mente não pegará leve ao me
pregar na cruz.

Kai entra em mim arrancando um gemido alto. Suas estocadas são


profundas, duras e lentas. Ele está me torturando, me fazendo implorar por
ele e me comprimir contra ele. Toda minha boceta aperta ao redor do seu pau
a cada metida violenta dele fazendo Kai rosnar.

Chega um momento que ele simplesmente me senta em seu colo,


enfiando seu pau profundamente dentro de mim, me entalando com ele.
Engasgo com seu tamanho inteiro dentro de mim, me sentindo tão
preenchida que fica difícil respirar. Kai agarra meu pescoço e o usa para
pegar impulso nas metidas. Meus peitos saltam como os movimentos
bruscos e selvagens e meus gemidos se tornam mais altos, estrangulados e
dolorosamente prazerosos.

Aperto todo seu pau quando gozo e Kai pulsa, jorrando seu esperma
dentro de mim. Tenho certeza que quando ele se retirar de mim, nossos
gozos escorrerão como uma torneira aberta.

Meu corpo está pingando de suor, e sem forças, deixo minhas costas
cair para trás encontrando o peito firme de Kai. Ele descansa a cabeça no
meu pescoço e seu corpo está tão suado como o meu. A desorientação faz
com que vagalumes brilhem na minha vista e eu sinto a necessidade de
fechar os olhos e simplesmente cair na inconsciência depois de um orgasmo
tão violento.

Isso é interrompido no momento que Kai sai de cima de mim, e me


coloca no carpete com nosso gozo escorrendo pelas minhas pernas. Observo
ele se levantar e vestir a cueca, cobrindo a bunda redonda.

Ele passa a mão pelo cabelo, colocando os fios para trás e respira
fundo. Suas costas largas malhadas e com as cicatrizes de chicotadas estão
me encarando. Quando Kai se vira na minha direção, vejo pouco brilho em
seus olhos.

Ele me encara por minutos longos, sem olhar para o meu corpo nu,
apenas para meus olhos. Uma batalha parece estar sendo travada por trás das
íris incandescentes.

É esse olhar que me deixa claro que ele tem Nikolai. O terror toma
conta do meu corpo e eu não consigo me mover.

Eu deveria ter notado isso quando entrei, era pra eu ter descoberto
isso no momento que entrei, mas deixei meu corpo ser encantado pelo desejo
e agora o terror é tão forte dentro de mim que não consigo me mover, e nem
respirar.

Desvio meus olhos de Kai para que ele não veja. Não posso deixar
ele perceber. Nikolai está vivo. Capturado, mas vivo. Kai não o matará
quando pode usar ele para conseguir apoio dos russos nesse momento.

Preciso procurar Nikolai.


Falta apenas dois para a luta na gaiola entre Massimo e Kai. Alexa
parece aérea, focando apenas na filha, mas eu vejo claramente a tensão ao
redor da boca de Ivo enquanto temos um almoço juntos. Ele nos convidou, e
não demorou muito para eu perceber que seu convite se tratava de confirmar
que Kai irá viajar verdadeiramente.

Ivo mal olha na minha direção, e quando olha, o desgosto e a


antipatia brilha nos olhos da mesma tonalidade do filho. Alexa é a única na
mesa que mantém o diálogo. Ela pergunta quando vamos visitar a irmã de
Kai no hospital. Todas suas falas são referentes a Nicoletta. Em nenhum
momento ela olhou para Kai e perguntou como ele estava.

Alexa é tão culpada quanto Ivo é o vilão da história de Kai. Se ela


mantivesse a atenção no filho, teria poupado grande parte das cicatrizes que
ele tem hoje. Se ao menos ela demonstrasse 1% da devoção que tem com a
filha doente, talvez Kai pudesse viver sem tanta escuridão e raiva o cercando
até ele se tornar a personificação da pura crueldade.

— Vai levar ela com você? — Ivo pergunta com desdém no meio do
almoço.

Kai ergue os olhos até ele, o olhando de forma impassível.

— Marcella ficará em casa, não será uma viagem longa — a voz de


Kai é calma, mas eu reconheço todos seus tons para saber quando ele está
querendo ludibriar alguém.
— A mantenha na cobertura, não a quero circulando pelo meio da
organização como se fosse um troféu — Ivo suspira.

Ele fala como se eu fosse um cachorro e isso só faz meu sangue


correr mais grosso nas minhas veias. Não importa em qual lugar eu chegue,
o destrato parece ser enraizado.

— Marcella é sua nora, Ivo. A trate com respeito. — Alexa chama a


atenção do esposo, colocando a mão sob o braço dele. Ele cerrou a
mandíbula, olhando para mim de forma feroz.

Kai joga o guardanapo em cima da mesa e empurra a cadeira,


levantando da mesa de forma rude. Ele lança ao pai um olhar de alerta.

— Eu tomaria cuidado com o modo em que se refere a ela, pai.


Marcella pode estar em uma situação melhor que a sua muito em breve. —
O tom umbroso repercute por toda sala de jantar — Ela é a minha esposa.
Será mãe dos meus filhos e a senhora legítima dessa organização. Um dia,
talvez, você chegue a implorar nos pés dela por algo que deseja muito.

É um aviso. Kai está dando a ele um aviso e Ivo fica rígido na sua
cadeira, com uma expressão catatônica. Kai começa a andar para fora da sala
de jantar; viro minha taça de vinho tinto em um só gole e o sigo.

Nós dois nos encontramos em frente à casa, perto do carro prata.


Meu corpo fica rígido perto do dele, não por medo, mas alerta. Já faz um dia
desde o episódio e desde então, eu procuro por Nikolai.
Passei a esperar Kai adormecer para procurar nas suas roupas
qualquer pista de onde ele esteve. Estou sem pistas. Tenho tentado extrair de
Andreas e Castello com perguntas evasivas, mas nada é relevante. Estou
ficando desesperada a cada minuto que passa, e manter minha postura de
inerente diante da situação está por um fio.

— E pensar que eu considerava matá-lo. Será mais prazeroso ver Ivo


assistindo eu destruir seu reinado de merda, e construindo o meu — Kai
ronrona com um prazer sombrio, se encostando no carro.

Seus olhos encontram os meus, e mais uma vez me pego em silêncio


o olhando. A cada vez que ele me olha, preciso controlar a necessidade de
implorar para que ele me diga onde está mantendo Nikolai.

— Você não vai matá-lo? — Pergunto sentindo o vento forte soprar


os fios do meu cabelo.

O sorriso sombrio está pendurado no canto da sua boca. Tão


casualmente cruel.

— Tenho outros planos, querida. Excelentes planos.

Uma onda de arrepios sobe pela minha espinha, e antes que eu possa
dizer algo, um carro de luxo escoltado entra na propriedade, parando atrás do
de Kai. De dentro dele sai um garoto jovem, alto e com cabelos pretos.

Seu porte é elegante, e ele se veste de forma cuidadosamente social.


Os olhos são azuis claros. Ele se move com elegância para alguém da sua
altura, e no momento que seus olhos cravam nos meus, eu percebo quem ele
é.

Massimo Moreau.

O príncipe da máfia.

Seu rosto é bonito. Pálido, sem nenhuma mancha. Maçãs do rosto


discretas, uma mandíbula naturalmente harmonizada e um nariz aristocrata.

Ele ajuda outra pessoa a sair do carro, Kai se vira para assistir
também. Ouvir boatos de que Otávio estava doente, mas não imaginei que
ele estivesse com uma aparência cadavérica.

Observo o esforço descomunal que ele usa para se arrastar para fora
do carro, se apoiando no filho e em uma bengala. O que vejo de Otávio
Moreau não condiz com nada do senhor elegante, com o cabelo sempre bem
penteado. Ele mal tem cabelo agora, e seus olhos estão tão fundos sobre
bordas de olheiras escuras e bochechas tão escassas que o osso das suas
maçãs do rosto estão apontados.

Prendo a respiração.
India nem mesmo chegará a usar o vestido de noiva.

— Ora, olhem quem está aqui! — Massimo sorri amplamente, um


sorriso lindo, digno de algo celestial.

Relembro de cada palavra que Kai me disse sobre ele. Pedófilo.


Doente.

Ele se aproxima com o pai apoiado nele, ainda sorrindo como um


verdadeiro príncipe.

— Marcella, não é? — Pergunta.

Balanço a cabeça, assentindo.

— Você é muito mais bonita pessoalmente. Eu não fui ao casamento,


mas vi todas as fotos. Desculpe por me apresentar tão tardiamente. Sou
Massimo, primo de Kai.

Mantenho meus olhos nele, daqui a poucos dias não terá mais vida
nesse corpo. Kai irá trucidá-lo com prazer.

— Olá, Massimo. — Minha voz é impassível assim como meu olhar.


Não consigo sentir pena ou me colocar no lugar dele. Abusadores merecem
mais que a morte.

Otávio tosse levando a mão com um lenço até a boca, ele se


recompõe e olha para Kai.

— Veio pegar as cordenadas para sua viagem? — Questiona.

Kai o olha de maneira entediada.

— Já foi ao médico, tio? Está ficando cada vez pior — Fala.

Otávio tosse mais uma vez.

— Os médicos não sabem de nada, garoto. Eu ficarei bem logo, é só


um mau momento — seus olhos quase mortos me olham — Sua irmã India
não precisa saber que estou doente.

— Não é como se me interessasse contar — suspiro.

Ele olha para Kai e gesticula para que o filho continue andando.
Massimo sorri uma última vez para mim, e tudo que consigo enxergar nele é
seu corpo retalhado. Tenho certeza que quando Kai acabar de matá-lo, o
rosto bonito não permanecerá com ele.

Quando os dois estão a uma distância segura, eu sussurro para Kai


sem olhar nos seus olhos:

— O que usou em Otávio?

Ele sorri.

— Tálio. Conheci um alquimista talentoso, e ele me apresentou a


substância. Deixarei Otávio assistir a morte do seu filho, minha tomada pelo
poder e, então deixarei ele morrer na própria poça de sangue — Kai
empertiga-se, seus olhos com um brilho cruel cobrindo meu rosto.

Um peso de um formato de uma rocha se forma no meu estômago e


as palmas da minha mão soam frias. Preciso encontrar Nikolai. Ele pode
estar sofrendo todo tipo de maus tratos e cada segundo que passa é crucial.

Tenho uma ideia do que eu possa fazer, só espero que Jace esteja
distraído o bastante. Kai e eu entramos no carro, indo para casa. O percurso
está tranquilo até Kai começar a ficar tenso e checar o retrovisor diversas
vezes. Na terceira vez que ele olha, pisa no acelerador com força e começa a
mexer no painel do carro.

— O que foi? — Pergunto, assustada.

Ele tira uma arma do porta-luvas e disca o número de Jace no painel.

— Estão nos seguindo. — Sua voz é calma.

Olho para trás vendo dois carros pretos nos perseguindo, e


justamente nesse momento, eles começam a atirar.
— Se abaixe! — Kai ordena enquanto pisa no acelerador. Jace atende
o celular — Tem dois carros sem placas nos perseguindo, Jace.

— PUTA MERDA! SÃO OS RUSSOS!

Mantenho minha cabeça baixa diante do barulho dos tiros batendo no


vidro blindado, os carros não parecem tão veloz quanto o de Kai, mas se eles
acertarem o pneu, podem causar um acidente.

Kai olha para mim de forma tranquila. Como ele pode estar tranquilo
nessa situação?

— Consegue assumir o volante? — pergunta.

Ergo meus olhos para ele, tirando minhas mãos da minha cabeça. Por
mais nervosa que eu esteja, nem a pau vou morrer dessa forma. Faço um
aceno positivo para Kai e simultaneamente nos movemos para trocar de
lugar. Assumo o volante e Kai prepara sua arma.

— Vou levá-los para o próximo cruzamento, diga a Castello e


Andreas acabar com os filhos da puta, Jace! — Kai esbraveja enquanto se
move para o banco traseiro — Pise fundo no acelerador, Marcella! Dirija em
curvas e não pare.

Faço exatamente o que ele pede enquanto os tiros batem na ferragem


do carro causando um barulho absurdo. Meu medo está se transformado em
adrenalina. Kai abre o teto solar e eu grito.

— Você vai morrer! Saia daí! — Exclamo aterrorizada.

Ele não me dá ouvidos, simplesmente se eleva sob o teto solar e


começa a atirar. Seu primeiro tiro parece ser certeiro, o carro mais próximo
perde o equilíbrio como se o motorista tivesse sido atingido e pela
velocidade, acaba batendo no acostamento com agressividade fazendo o
veículo ficar completamente amassado, mas os tiros não param e Kai volta
para dentro do carro.

— Entre na curva! — Ordena.


Piso no freio e viro o volante fazendo os pneus rasparem no chão e
Kai escorregar com violência para o outro lado do assento. Piso no
acelerador e entro na curva. Assim que faço isso, duas caminhonetes grandes
estão saindo dessa curva e avançam em direção ao último carro que resta nos
perseguindo.

Eles esmagam o carro, mas não paro para ver o resultado. Continuo
dirigindo para o mais longe possível dessa cena enquanto meus nervos
começam a sair do estado entorpecente.

— Filhos da puta — Kai sibila entre os dentes, me viro para ele


vendo o sangue encharcar sua blusa.

— Ai, meu Deus! — Exclamo, encostando o carro.

Kai foi atingido.


Ajudo Kai a chegar na banheira da cobertura, Jace está a caminho,
mas eu duvido que Kai mantenha a consciência até ele chegar. O sangue que
sai da ferida de bala alojada no seu bíceps é abundante. Kai está com os
dentes trincados e a testa molhada de suor. Rasgo sua blusa e abafo o gemido
de apreensão quando vejo que a bala apenas entrou, e não saiu. Está alojada
em Kai.

— Precisamos ligar para o médico da organização. A bala está dentro


de você, e quando tirar ela, você vai sangrar mais — constato tentando
estancar o sangramento com uma toalha.

Kai grunhi, movendo as pernas longas de forma inquieta dentro da


banheira.

— Tire. Tire a bala! — ordena.

— Você está louco? Não posso fazer isso!

Ele me olha repleto de dor e fúria. Os lábios vermelhos estão


começando a ficarem pálidos.

— Eu sei que você consegue, Marcella. Tire essa bala logo… por
favor… tire isso de mim — grunhi com intensidade fazendo meus olhos
encherem de lágrimas.

Onde está Jace? Por que ele não chega logo?

— Kai…
— Marcella, por favor!

Balanço a cabeça na sua direção, levanto correndo e vou até a


cozinha. Pego um litro de uísque, e uma faca juntamente com um maçarico.
Volto para o banheiro jogando tudo no chão, próximo a banheira. A toalha
no braço de Kai está completamente encharcada com o sangue dele. Retiro
ela da ferida e abro o uísque.

— Beba. Não tem nada para te anestesiar — murmuro entregando a


ele a garrafa de uísque destampada.

Levo a garrafa a boca dele e a viro, deixando Kai beber o máximo


que conseguir. O que estou prestes a fazer vai doer como um inferno e eu
não quero que ele sinta essa dor completamente. Tiro a garrafa da sua boca e
jogo o conteúdo no buraco da bala no seu bíceps, tirando um grunhido da
boca de Kai.
Olho para o buraco, sentindo a abertura dele. A bala está próxima,
mas funda o suficiente.

Olho para Kai, meus olhos tremeluzindo com lágrimas, assim como
meus lábios.

— Me desculpe — Digo antes de comprimir meus lábios e enfiar


meu dedo dentro da ferida de Kai.

Ele grita. Um grito contido e cheio de angústia. Mantenho meus


olhos repletos de lágrimas na ferida enquanto procuro a bala com meu dedo,
tomando cuidado para não empurrar mais fundo. O sangue de Kai estanca
com meu dedo dentro, e eu sinto o líquido viscoso do seu sangue ao redor do
meu dedo. Assim que toco na bala, o alívio me preenche. Enfio meu dedo
mais fundo até conseguir chegar ao início da bala, ouvindo Kai grunhi
entredentes.

Empurro meu dedo para fora fazendo a bala cair sob o peito de Kai, e
escorregar até a banheira fazendo um som metálico ao chegar no piso da
banheira. Sem pensar, ou hesitar. Eu coloco mais uma toalha sob o
sangramento que ficou incontrolável com a saída do projétil.
Pego o maçarico e a faca ligando o fogo e esquentando a lâmina da
faca o máximo possível, até que ela fique em estado de brasas. Quando o
metal está vermelho, eu o levo em direção ao braço de Kai e as lágrimas
agora escorrem pelos meus olhos.
Afasto a toalha e comprimo a ferida ouvindo o barulho de
queimadura que faz na pele de Kai e o cheiro de carne que sobe pelo ar. Kai
trinca ainda mais os dentes e ruge até segundos depois de eu cauterizar sua
ferida.

Deixo tudo cair das minhas mãos e entro dentro da banheira, levando
minha mão suja de sangue ao rosto dele. Minhas lágrimas descem
copiosamente e eu o abraço.

— Me perdoe. Me perdoe. É a última dor de queimadura que você irá


sentir, Kai. Me perdoe! — Choro abraçando seus ombros e o trazendo para
mim.

Um gemido dolorido sai dos seus lábios, sua respiração é agitada e


todo seu rosto está molhado de suor. Oro para que ele perca a consciência e
pare de sentir dor, mas isso não acontece. Kai permanece acordado absorto
na dor. Olho para ele, encontrando seus olhos castanhos distantes e sem
nenhum brilho.

— Não chore por um filho da puta como eu, Bella. — murmura com
a voz rouca e baixa.

Passo uma toalha limpa pelo sua testa suada, deixando ele descansar
a cabeça no meu peito. A posição que estou, apoiada nos meus calcanhares,
não é confortável, mas quero dar o máximo de conforto que consigo para
Kai. Seu braço direito machucado está fora da banheira. A marca da
cauterização é horrível de se ver. E o cheiro da sua carne queimada ainda
está no ar.

Isso me faz lembrar de quando Kai me disse que o cheiro da sua


carne queimada, era o cheiro mais atraente que ele sentiu por dias sem
comer. Meu coração se parte em tantos pedaços por ele. Como uma criança
suportou tanto? O homem nos meus braços, sem forças faz com que eu
deseje que o abraço que estou dando nele possa chegar a criança que ele foi.
— Você é um homem bom, Kai. Um homem corajoso e destemido…
e eu amo que seja assim — Sussurro entre lágrimas passando meus dedos
pelo seu cabelo sedoso e úmido de suor.

Não ouço nada vindo dele, ele deve ter caído na inconsciência.
Continuo abraçando ele, e é assim que Jace nos acha. Ele xinga em russo ao
ver o estado de Kai, o sangue pela banheira, em mim, as toalhas sujas e toda
a bagunça.

Com sua ajuda, colocamos Kai na cama depois de tirar suas roupas e
o lavar. Faço um curativo no seu braço com gases e faixa. Jace observa tudo
com o maxilar cerrado.

— Ele quem pediu, eu… eu queria chamar o médico, mas ele não
quis — Digo ao ver os olhos de Jace em mim. Minha voz soa fraca, abalada
demais.

Jace assente.

— Não foram os russos que estavam perseguindo Kai, foram os


homens de Ivo e Otávio. Queriam que ele sofresse um acidente. A luta de
Massimo está mais perto que nunca.

Olho para o bíceps dele enfaixado. Eles conseguiram, de alguma


forma. Kai pode ter lesionado o músculo, tendão ou os nervos.

— Não ter chamado o médico foi bem pensado, se ele viesse, poderia
agravar o estado de Kai a pedido do Capo. Você fez bem — Jace suspira —
Vou cuidar do resto. Ele precisa de uma transfusão de sangue, e já está a
caminho.

Pelos minutos seguintes, eu observo Jace habilidosamente fazer todo


o processo de transfusão de sangue em Kai. Pelo modo como ele analisa
tudo, e cuida de Kai me faz questionar Jace com o olhar.

— Eu era um estudante de medicina, tinha começado a estagiar


quando sair da Bratva — responde ao meu olhar enquanto regula a bolsa de
sangue.
— Por que saiu? — Pergunto.

Ele limpa a garganta.

— Não tive escolha. Cometi um erro de cobiçar alguém que não


deveria e fui caçado. Felizmente, cheguei a Camorra a tempo suficiente de
encontrar Kai e ele me acolher.

Caçado.

Jace está na Camorra há mais de dez anos, pela sua aparência eu


atribuo que ele esteja na casa dos 40. Ser caçado pela máfia é como viver
entre o inferno de olhos abertos. Jace nunca terá sossego. Será uma caça o
resto da vida dele. A família dele provavelmente deve ter acabado morta e
isso explicaria a sombra no seu olhar.

Nós dois ficamos em silêncio por horas até começarmos a ver a pele
pálida de Kai voltar a ficar corada, e os lábios voltarem à cor natural.

O alívio me preenche junto a vontade de chorar. Em meio a


felicidade e alívio, Nikolai se acende na minha mente. A visão clara do rosto
dele e o lembrete de que ele está correndo perigo.

Verifico as horas no relógio digital sob a cabeceira da cama. Olho


para Jace que está sentado na poltrona, ao lado de Kai.

— Alexa me pediu para ir ao hospital. Se não quisermos levantar


suspeitas sobre o que aconteceu com Kai, é bom que eu vá — Falo.

Jace assente.

— Castello e Andreas não estão disponíveis no momento. Estão


cuidando de desaparecer com os corpos dos homens que tentaram machucar
você e Kai.

Sim, eu sei.

— Irei sozinha. Não vou pegar nenhum caminho estranho e terá


homens da Camorra no hospital — Digo calmamente.
Os olhos de Jace são analíticos.

— Ele não iria deixar você sair sem segurança.

Levanto da cadeira onde estou, esticando minhas costas.

— O alvo do pai e tio dele não sou eu, é o próprio Kai. Nada
acontecerá comigo. Você vai poder me rastrear pelo celular, e o hospital não
fica nem a vinte minutos daqui.

Após um minuto demorado com Jace ponderando, ele finalmente


assente.
Tomo um banho demorado, visto uma calça jeans, uma camiseta
branca e calço tênis deixando meu cabelo solto. Desço em direção a
garagem, e pego o carro de Kai. A Lamborghini prata em que tudo
aconteceu, ela ainda está suja com o sangue de Kai, mas isso não é
importante.

Entro dentro e verifico o GPS procurando o lugar que Kai tem ido
nos últimos dias. De todos os pontos, ele sempre se demora em um único
lugar. Um lugar perto do barracão de luta.

Saio da garagem e paro perto de um ponto de ônibus. Analiso os


rostos das pessoas que estão aqui e me convenço de uma adolescente. Saio
do carro e caminho até ela vendo o cabelo curto tingido de rosa sendo
soprado pelo vento. Ela ergue os olhos pretos assim que me aproximo, e os
lábios grossos se abrem ligeiramente.
Ela deve ter uns 19 anos, e pela forma como está vestida, parece ter
saído do seu turno de trabalho de alguma lanchonete.

— Você quer ganhar 100 dólares? — Pergunto

Ela ergue a sobrancelha, de forma divertida.

— E o que eu devo fazer? — Me encara com deboche.

Tiro meu celular do bolso de trás da minha calça.


— Leve esse celular até o Valley Hospital Center, e o coloque em
qualquer lugar de lá. Te dou até 150 dólares se não fizer perguntas.

Sem fazer qualquer tipo de pergunta, ela assente de imediato.


Entrego o celular a ela junto com duas notas. Olho bem para ela.

— Faça exatamente o que eu disse, não tente bancar a espertinha. —


Aconselho.

Ela sorri.

— Você acabou de me dar uma quantia que recebo em um mês de


trabalho na biblioteca. Pode deixar comigo.

Pego um táxi para ela e dou as coordenadas. Depois dela partir, eu


entro dentro do carro e sigo até onde Nikolai possa estar.
O lugar é vigiado por dentro e por fora com homens assustadores e
robustos. O galpão tem uma aparência velha, desgastada. Estou a uns bons
metros de distância procurando uma rota para entrar. Se eu me aproximar,
eles ligaram para Jace, e ele virá aqui imediatamente. Não tenho muitas
opções a não ser esperar. Tenho poucas horas, e apenas um palpite de que
Nikolai esteja aí dentro. Eu posso está muito certa ou errada, e em todos os
casos eu vou acabar sofrendo as consequências. Enganei Jace e deixei Kai
em casa, machucado e inconsciente.

A cena da carne dele sendo queimada, do ferimento, das minhas


mãos na carne dele não sai da minha mente como uma tortura lenta,
agoniante. Preciso sacudir minha mente diversas vezes para achar um pouco
de clareza. Não posso pensar em Kai agora, preciso ajudar Nikolai a sair
daqui. Já se passou uma hora desde que cheguei aqui e os homens ainda não
trocaram de turno.

Já são quase oito da noite. E o tempo parece passar cada vez mais
rápido. Se eu não me apressar, Jace mandará averiguar se estou no hospital.
Preciso agir.

Olho ao redor da rua deserta de pessoas, apenas com movimentos de


carro. Não há nenhuma outra maneira de eu entrar nesse lugar sem revelar
quem eu sou. Jace será acionado, Kai também, mas terei minha dúvida
sanada e verei como Nikolai está com meus próprios olhos.

Fui jogada aos lobos várias vezes na minha vida, voltar a correr deles
será uma memória reativada. Ajeito minha postura e deixo minha expressão
de ansiedade ser substituída por uma máscara de indiferença. Começo a
caminhar até o barracão ouvindo os três homens conversarem. Os olhos
deles se voltam para mim quando me aproximo, um deles solta o cigarro e se
levanta da cadeira de plástico que está sentado.

— Podemos ajudar, moça? — Um homem alto, cheio de músculos e


com um rosto oval, pergunta com um tom bruto.

Os outros três homens me olham com curiosidade. Eles não sabem


quem sou. São meros soldados, é claro que não saberiam. Ainda não sair
com Kai publicamente e os poucos lugares que fomos juntos não tinha
presença de muito dos seus homens.

— Fui mandada aqui por Jace. Ele disse para eu averiguar o


prisioneiro — Minha voz soa o mais confiante possível.

Os três brutamontes continuam me encarando como se eu fosse


apenas uma sombra densa.

— E quem é você? — Questiona o segundo homem de cabelo


raspado, e uma tatuagem de aranha no pescoço.

Mudo o peso de um pé para o outro.

— Se está duvidando, ligue para Jace. Não tenho tempo a perder com
perguntas — Suspiro em tédio.

— Ele não avisou sobre nenhuma visita.

— Eu não seria uma tola de vir até aqui, um ponto da Camorra,


mentir e ainda usar o nome do braço direito do Sottocapo. — Olho para os
três — Se quiserem averiguar, fiquem a vontade, mas, enquanto fazem isso
me deixem entrar. Tenho horários a serem cumpridos e pacientes para
atender.

Os três ficam em silêncio, olhando um para o outro. Poucas pessoas


de fora da organização sabem quem é Kai Moreau pessoalmente, e ainda
mais quem seria seu braço direito. A fama de Kai e da sua família é vista nos
jornais. As pessoas veem fotos dele, mas não o associam quando o veem
cara a cara já que o medo de o afrontar é maior do que se fascinar com o
herdeiro da máfia. As pessoas apenas o admiram e se afastam.

Finalmente, os três homens parecem ser vencidos pela minha postura


arrogante e determinação. Um deles me conduz até a sala onde o prisioneiro
está enquanto os outros dois irão verificar com Jace. Tenho pouco tempo. Só
preciso saber quais são os planos de Kai para Nikolai e comprovar que ele
está vivo.

O galpão é como os outros que eu fui, repleto de armas para treino,


ringues e aparelhos de exercícios físicos. Caminho com o homem por um
escada que dá para o porão, assim que chegamos ao ambiente escuro,
repletos de celas e umidade, ele me leva até uma porta.

— Ele está aí dentro, não somos autorizados a entrar. Vou abrir a


porta. Bata com força quando quiser sair — O homem largo e mal encarado
destranca a fechadura e um nó de forma na minha garganta.

Ele deixa para que eu abra a porta metálica, e eu faço isso com as
mãos trêmulas. O homem se afasta enquanto eu abro a porta e no momento
que entro dentro do quarto, eu prendo a respiração.

Minhas pernas parecem virar gelatinas e meu coração bate


violentamente. A primeira coisa que vejo não é Nikolai deitado ao chão
acorrentado com a cabeça entre os braços.

O que eu vejo é repugnante, assustador e faz meu estômago se


revirar. Meus olhos não conseguem se fixar só em uma parede, e meus
ouvidos parecem doer com o som que preenche o quarto sem nenhum
móvel. Apenas uma privada na parede.

— Você está pingando feito uma torneira, Marcella. Parece que


adora ser tratada como uma vagabunda, hum?

A voz de Kai é como um trovão, e logo após vem a minha própria


voz implorando por ele. Ele nos filmou no escritório. Está tudo aqui. A única
coisa que ele fez foi borrar meu corpo, mas deixou tudo explícito. O terror
que me corta é tão intenso que eu fico paralisada repetido as palavras na
minha mente.
Ele nos gravou. Ele me gravou!

Meus olhos enchem de lágrimas e eu vou baixando meu olhar porque


é insuportável assistir ao vídeo. Meus olhos vão até a figura de Nikolai
encolhido no chão protegendo a cabeça. Corro na sua direção, me abaixando
ao seu lado.

— Nikolai… — murmuro tocando seus braços rígidos.

Ele está protegendo os ouvidos e os olhos deixando claro que não


suporta mais ver o que está sendo reproduzido.

Toco seus braços com minhas mãos cada vez mais trêmulas e a voz
vacilante. Ele está imundo. O cabelo loiro encardido de sangue seco e
sujeira.

— Nikolai…

Um gemido dolorido sai dos lábios dele.

— Desliguem! Desliguem! — Geme com agressividade ficando


ainda mais rígido.

Uso toda força que consigo para tirar seus braços da sua cabeça e
quando ele ergue os olhos na minha direção, meu coração se parte em mil
pedaços. O rosto dele… não existe um só local onde não se encontre um
hematoma.

— Marcella, é mesmo você? — sussurra com a voz distante, sem


nenhuma chance de estar falando como se acreditasse que eu fosse real.

Engulo o nó na minha garganta e balanço a cabeça.

— Sou eu. Por favor, olhe para mim! — Exclamo agoniada. A única
luz dentro dessa cela são as cores do vídeo.

E eu não consigo mais suportar a reprodução dele. Estou com tanto


nojo de mim mesma.
Nikolai levanta a cabeça, os olhos azuis quase sem vida, ganhando
um brilho ao perceber que é realmente eu. Estou tão sem forças e sem
qualquer reação que apenas olho para Nikolai e o deixo me tocar para ter
certeza de que sou eu.

O pouco brilho nos seus olhos desaparece.

— Ele sabe que está aqui? Foi ele quem te trouxe? — Pergunta com
a voz rouca e arranhada.

Nego. Não tenho muito tempo.

— Me diga o que fazer para te tirar daqui! — Imploro.

Ele está tão machucado, sua camisa branca agora está manchada de
sangue fresco.

— Ele não vai me matar. Está me usando para conseguir algo do meu
irmão — ele se movimenta, fazendo as correntes presas nas suas pernas
tilintar pelo chão.

— Como posso te tirar daqui? — Insisto. Ver ele dessa forma está me
custando um esforço que não sou capaz de ter.

Seus lábios estão cortados, sua bochecha e seu olho direito está roxo
e inchado. A aparência angelical completamente arrancada.

— Você precisa chegar ao meu irmão, Marcella. Precisa sair do lado


dessa besta o quanto antes, ele está te usando…vai te usar para…

Antes que ela possa falar a porta é aberta com agressividade, fazendo
o som dos meus gemidos pelas caixas de som serem abafados pelo barulho
da porta batendo na parede.
Kai surge com o rosto ainda pálido, mas com uma expressão de pura
fúria. Ele olha na nossa direção, principalmente nas minhas mãos sobre as de
Nikolai.

Uma risada sai da sua boca enquanto nos observa.


— Veio visitar seu amiguinho, querida? — Questiona.

Um grunhido sai da boca de Nikolai e ele ergue o rosto para Kai. Eu


não consigo olhar para ele sem sentir raiva e constrangimento. Não consigo
nem mesmo olhar para Nikolai.

— Está apreciando o quanto minha esposa passa bem em casa com


um marido como eu? — Kai olha ao redor onde o vídeo está sendo
reproduzido uma vez atrás da outra — Não é lindo a forma como ela grunhi
de prazer quando goza?

A vergonha queima por dentro de mim. Sinto cada músculo dentro de


mim ficar tão rígido que nem mesmo consigo me mexer. Ele está acabando
com minha dignidade.

Kai se aproxima de nós dois, no chão e Nikolai está espumando de


raiva.

— Ele disse que você não sentia nada por mim, querida. Disse que
tudo o que poderia sentir por mim era nojo, então precisei mostrar a ele o
quão bem eu trato você.

— De quatro. Você não merece ser bem tratada hoje. Vou te comer
de quatro como uma boa putinha apaixonada pelo meu pau. — Essa fala
repercute pela cela me fazendo cerrar o maxilar com força.

Kai continua rindo.

— Esse vídeo não mostra nem metade do que fazemos sozinhos, não
é? — pergunta para mim, os olhos felinos no meu rosto — A forma como
você implora por mim quando estou por perto, como se desmancha…

— Chega! — Sibilo entredentes fechando meus olhos com força.


Engulo o constrangimento em mim — Chega, Kai. Pare de falar! — Peço
com aspereza.

Ele passa a mão pela blusa preta de forma distraída. O silêncio


impera por alguns minutos e eu tiro minhas mãos de Nikolai.
— Diga a ela o que planeja fazer. Diga a ela que irá usá-la como uma
incubadora só para expandir seu poder pela organização e a trancar enquanto
toma outra mulher como sua esposa. Diga a ela! — Nikolai ruge.

Kai se mantém imbatível.

Olho para ele para buscar a confirmação, mas ele está tão doentio em
sua postura que eu chego à conclusão de que isso é verdade. O que ele possa
ter negociado com Angelo provavelmente envolveu casamento e uma chance
de fazer Kai se livrar de mim.

Eu não consigo sentir nada diante de tudo isso, tudo que quero agora
é que Nikolai seja livre e volte para casa. A humilhação que me queima é
forte o suficiente para que eu deseje nunca mais ver Nikolai e nunca mais
deixar Kai me tocar. Me sinto tão suja que nem toda água do mundo será
capaz de me lavar. Não consigo olhar para nenhum dos dois e o som do
vídeo sendo reproduzido está me deixando doente.

— Desligue, por favor! — me deixo cair no chão, derrotada —


DESLIGUE! — Grito com a voz trêmula. Minha cabeça parece estar prestes
a explodir com tanta informação.

Nikolai tenta se aproximar, mas eu me afasto. Levo minhas mãos até


meu ouvido e fecho os olhos. Como ele pode fazer isso? Como ele pode me
expor dessa forma?

Ele não desliga. Olho para Kai agora com sangue nos olhos, com a
raiva circulando como eletricidade pelas minhas veias. Eu o olho com
selvageria e fúria, deixando que ele veja o quanto eu o odeio nesse
momento.

— Deixe-o ir! Você já teve o que queria. Deixe ele ir! — Levanto do
chão, avançando na sua direção.

Kai mantém um sorriso de canto.

— Não vou matá-lo, querida. Fiz uma boa barganha com o irmão
dele, ele ficará livre depois que Mikhail cumprir nosso acordo. Enquanto
isso, vou deixar ele assistindo a cena de você sendo reivindicada por mim até
ele aceitar o fato de que você me pertence.

Eu explodo em uma só onda de fúria. Cerro meu punho e acerto ele


no rosto de Kai com força suficiente para ele virar o rosto. Quando ele se
volta para mim, vejo o sangue escorrendo do seu lábio em um filete. Mostro
ele minha revolta e ódio em um único olhar.

— Você é doente, e isso me enoja. Eu não sou sua e nunca serei.


Procure um tratamento, seu doente do caralho!

Passo por ele praticamente correndo, deixando Nikolai para trás.


Preciso ir para longe. Distância. Quero correr para longe e não ser pega.
Preciso deixar o ar fugir dos meus pulmões até a sensação de humilhação ser
substituída por outra coisa.

— PEGUE-A, PORRA! — Ouço Kai gritando.

Mas eu não paro de correr, e quando um dos homens tentam me


segurar, eu me defendo derrubado um deles e pegando a arma do mesmo.
Aponto ela na direção de Kai e dos seus homens que estão a alguns metros
na minha frente.

Meus olhos estão secos, e eu estou com ódio o suficiente para


disparar essa arma.

— Se vierem atrás de mim, eu juro por Deus que eu coloco o cano


dessa arma na minha boca e explodo meu cérebro! — Esbravejo vendo os
olhos de Kai assumir cautela — Se eu ao menos senti que estou sendo
seguida, não vou hesitar em fazer isso.

Observo eles parados e então baixo a arma, segurando ela


firmemente na minha mão. Viro as costas e começo a caminhar para fora do
galpão, e adentrar a noite amena de Las Vegas.
— Sei que está preocupado com ela, chefe. Mas isso não é um
momento para preocupação, hoje subirá no ringue para lutar contra Massimo
e tomar a liderança da Camorra — Jace aconselha enquanto nos
empenhamos em aumentar a certeza de Otávio achar que já estou em Roma.
Ele atrasou a luta de Massimo em três dias, apenas para averiguar que está
tudo sob controle.

Marcella desapareceu do meu radar há dois dias. Nem uma única


notícia. A imagem dela com aquele revólver tortura minha mente juntamente
com sua expressão sombria. Ela estava determinada a puxar aquele gatilho
contra ela. Desde o começo, eu sempre senti que Marcella era valente
demais para tomar decisões fieis a ela mesma, e foi por isso que eu a deixei
ir sem nenhum dos homens em seu encalço. E agora, não sei onde ela está.

Os homens já vasculharam Las Vegas de cabeça para baixo, Jace tem


mantido um grupo de homens procurando por ela… nada. Onde quer que ela
possa está escondida, é um lugar que até mesmo eu não consigo alcançar e,
isso está me deixando ansioso. Massimo pode ter uma vantagem de acabar
comigo, se for esperto. Minha cabeça não está no lugar.

— Continuem procurando por ela. — Ordeno a Jace com a voz tensa.

A pressão no meu peito é incômoda, minha mente está agindo a mil


por hora pensando em terríveis cenários. Otávio não colocaria as mãos em
Marcella, e nesse momento, o inimigo da Camorra está ao meu lado. Hoje é
a noite da minha ascensão como Capo e o dia da morte de Massimo. Por
mais preocupado que eu esteja com Marcella, não posso deixar isso me
consumir. Quando eu me tornar Capo, ela estará ao meu lado.
Me odiando. Ela está me odiando.

A imagem dela vendo nosso vídeo, a maneira como sua confiança se


quebrou na minha frente rasgou meu coração. Não sei o que se passou na sua
mente, mas seus olhos demonstraram todo o ódio por mim. O que eu vi nos
olhos dela… ela não vai me perdoar.

Organizo minhas adagas no coldre e visto um blazer preto. Me


preparo para sair do hotel em que estou ficando e seguir para o
estacionamento, onde não só os homens leais a mim me espera, mas também
os homens que Hades Baumann, o Capo da Alemanha, enviou para me
ajudar a subjugar os homens que se levantarem contra mim.

Fiz um bom acordo com ele. Hades ficou interessado na droga que
desenvolvi e no meu acordo de permitir que ele use uma das nossas rotas
marítimas para transportar pessoas traficadas. Hades Baumann não foi fácil
de trazer para o meu lado, e acredito que ele só aceitou para deixar
Maximiliano Colombo com medo. Ele nunca irá perdoar a família que
abandonou a esposa dele. Hades Baumann é a porra de um sociopata que não
deixaria ninguém tocar sua esposa, e todos que destrata Athena acaba com a
porra do ânus para fora, cabeça e mãos decapitadas. O cara é um demônio.

Sou apto a colocar fogo em qualquer um que chegar perto de


Marcella e a destratar. Depois de hoje à noite, o meu próximo alvo será Alev.
Posso ser um filho da puta para Marcella, mas em nenhum momento vou
deixar ninguém que a fez tanto mal viver.

Os homens da máfia alemã se dispensam pelo estacionamento,


entrando nos carros que irão levá-los até os homens de Otávio e Ivo. Os
homens que ainda se mantém fiel, os quais não conseguir comprar.

Jace e eu vamos para o galpão onde ocorrerá a iniciação de Massimo.


Ficarei na surdina até ele entrar na gaiola. Me mantenho em silêncio,
concentrando meus pensamentos em acabar com Massimo e ver Otávio
perdendo o único filho.

Essa noite foi ensaiada por mim durante muito tempo, e ela
finalmente chegou. Com o apoio de Hades, fiz Angelo recuar com sua oferta
de me casar com a filha do seu conselheiro, graças a captura de Nikolai,
conseguir fazer a Bratva atender o desejo de Angelo. E ele recuou.
Minha esposa será a única mulher que terei, a senhora suprema da
Camorra, a mãe dos meus herdeiros e do próximo Capo. O sangue de
Marcella correrá nas veias da próxima geração de liderança que virá sobre
essa máfia. O que ela falar, se tornará lei. Marcella Moreau irá romper o céu
negro da Camorra quando eu surgir como Capo. Ela será a estrela brilhante
da noite escura que eu sou.

Eu sei que ela voltará para mim. No fundo, eu sei que ela me ama,
não entendo como aconteceu, mas ela me ama. E eu a amo. A amo desde a
primeira vez que aqueles olhos verdes redondos pousaram em mim. Vou até
o inferno por ela e desafio o satanás se ele entrar na frente.

— Ivo está presente no galpão essa noite, ele próprio fará a


cerimônia de Massimo — Jace informa quando paramos no estacionamento
do barracão de luta.

É claro que ele faria isso.

— India Rivera está presente? — Pergunto.

Jace balança a cabeça.

— Acredito que Otávio não queira que ela veja o estado dele. O
velho veio se arrastando até aqui, Capo.

Olho para Jace com uma surpresa escondida pelo modo como me
chamou. O moreno abre um sorriso largo.

— Você sempre foi meu Capo, e para os outros homens também.


Daqui a algumas horas, será oficialmente nosso Capo e todos nós iremos
fazer nosso juramento a você — Ele bate no peito onde se encontra a cicatriz
da marca da Camorra — Vivendo para servir, e morrendo para cumprir
nosso destino, Capo.

Olho para Jace, um homem fugitivo que encontrou um lar. Um


homem quebrado pra caralho e sem família. Ele deu tudo dele para me
servir, e morreria por mim essa noite se fosse preciso. Faço um aceno em
respeito na sua direção.

— Saluta la Camorra, fratello.

Nós dois olhamos um para o outro demonstrando nossa determinação


e respeito, e então saímos do carro. Caminhando como sombras da noite em
caminho ao confronto da vitória. Deixo meu rosto ser tomado pela máscara
de mármore, a cada passo que dou, meus homens me cercam e caminham
juntos comigo. Passei minha vida inteira lutando ao lado deles, confrontando
tudo que eles passaram, lutando por nós. Não é só por me temer que eles me
seguem, eles têm respeito por mim. Respeito e medo são combinações
perigosas. E perigo é a sombra que me espreita a cada passo que dou na
vida, é o que trago a vida das pessoas. Meu nome é sinal de morte e tenho
pena das pessoas que o ouvem, dependendo de quem seja, sabe que a
próxima coisa que acontecerá na sua vida é uma morte lenta e dolorosa
como queimaduras.

Na entrada do galpão, já fechado para a luta, os homens de Hades


estão esmagando os homens de prontidão que Ivo deve ter colocado. E no
meio dos homens, está a figura colossal de Hades Baumann, estrangulando
um homem com sua adaga.

Ele ergue os olhos sem nenhuma expressão para mim, limpando as


mãos e sua lâmina na roupa do homem que acabou de matar.

— Não gosto de ter que sujar minhas mãos por brigas dos outros, Kai
Moreau. Sua recompensa terá que ser maior que o que sugeriu — a voz fria
como uma lâmina é plena. Nenhum indício de emoção ou chateação. Apenas
o sotaque alemão.

É simplesmente oca.

Olho para ele, encarando os olhos negros como breu, e seu cabelo
loiro pálido.

— Prometo recompensar isso dando um bom presente a sua esposa


— Digo.
Hades me olha com atenção.

— O que seria? — Ele guarda sua adaga no coldre de forma casual.

— Maximiliano estará bastante suscetível a qualquer pedido meu. E


minha esposa também é da famiglia. Ela se tornará a senhora da Camorra e
Maximiliano fará de tudo para agradá-la… sua esposa ficará feliz em ter um
momento com a tia dela? — Proponho.

Hades me olha com seu jeito frio, ponderando. O homem ao seu


lado, seu braço direito, esboça um sorriso debochado.

— Espero que sua esposa seja agradável o suficiente para convidar a


minha mulher a almoçar com a família de Nova York, Kai Moreau — Hades
finaliza nossa conversa, fechando mais um acordo entre nós dois.

Com os homens do meu pai subjugados, eu começo a caminhar um


passo na frente de Hades até o galpão, que agora não tem segurança
nenhuma para salvar Massimo Moreau. Assim que adentramos os olhares
das centenas de pessoas que estão aqui, pousam sobre nós. O silêncio impera
e nós caminhamos mais para frente, descendo os degraus até o meio.

Massimo já está dentro da gaiola com um calção de luta e os poucos


músculos amostra. O sorriso de soberba e arrogância nos seus lábios
congelam ao me ver.

Mas, a melhor reação é a do meu pai e do irmão dele. Os dois


praticamente perdem a cor e qualquer indagação é engolida ou entalada na
garganta de ambos ao me ver ao lado de Hades. Otávio provavelmente
pensou que eu havia me ferido gravemente e fugido para Roma.

Sorrio. Um sorriso amplo e perverso.

— Eu, Kai Moreau, desafio Massimo Moreau a me deixar ser seu


oponente na sua iniciação. Dou minha palavra de que se ele me derrotar, eu
renuncio a todos meus postos na organização e me permitirei ser morto pelas
mãos dos homens dessa organização — Viro a cabeça em direção às duas
repartições de arquibancadas do lado direito e esquerdo, antes de voltar a
olhar para o meu pai — Porém, se eu matá-lo, assumirei o posto de Capo e
levarei a morte a cada um que resistir. Principalmente, o meu pai.

Minha voz passeia por todo galpão em silêncio e eu sorrio ao ver o


choque nos rostos de todos que estão aqui. Meu pai, que está no camarote
acima da gaiola, tem seu rosto pálido e uma expressão mórbida no rosto. Ele
deveria saber que ao criar monstros, coisas ruins acontecem.

— Você não pode tomar o poder Kai, não tem permissão das cinco
famílias — Ivo se ergue do seu assento enquanto Otávio entra em uma crise
de tosse.

Sorrio para o meu pai e procuro o olhar de cada representante das


cinco famílias que vieram prestigiar meu primo. De um a um, eles vão se
levantando entre as pessoas nas arquibancadas.

Famiglia.

Ndrangheta

Cartel

La Santa.

Todos aqui. Depois de anos de persuasão e negociação na surdina. A


La Santa foi a única que não tive problemas, eles apoiam a sucessão do
primogênito. São tradicionais. Cartel, eu tive ajuda de Evangeline como
espiã em troca de dinheiro e sexo. Ndrangheta e a Famiglia logo se renderam
quando Hades Baumann veio para o meu lado e eu tomei como refém
Nikolai Vassilliev, o irmão mais novo do chefe da Bratva.

Otávio cai de joelhos, sufocando com a própria saliva cheia de


sangue enquanto meu pai olha para os traidores que estão me apoiando. Seus
homens se levantam, mas não é para defender ele. É para se curvar diante de
mim como novo Capo porque Massimo acaba de desistir de lutar, e no meio
da gaiola, está de joelhos pedindo clemência.

Pedófilo não tem direito ao perdão e sair impune.


Gesticulo para Jace, e ele vai até Otávio dá uma pequena dose do
antídoto só para que ele veja eu acabando com seu único filho. O príncipe da
máfia.

Vou acabar com a vida de Massimo de forma rápida, mas sem antes
deixar de mostrar a meu pai e tio o poder que a destruição deles em mim, me
tornou.
Os olhos de Massimo estão aterrorizados, e ele se levanta do chão,
indo para o outro lado da gaiola. Fugindo como um maldito covarde. Os
membros da Camorra estão em silêncio nas arquibancadas, o único som é a
lamúria de Massimo e Otávio. Meu pai está petrificado no lugar. Otávio está
sendo forçado a olhar enquanto Jace o segura e mantém sua cabeça reta.
Retiro minha blusa e deixo que todos vejam as cicatrizes que formam meu
corpo.E a marca de Hades subindo pelo meu pescoço, a tatuagem de uma
serpente.

Cicatrizes feitas pelo meu pai a cada coisa que ele se frustrou.
Chicotadas, queimaduras. As únicas cicatrizes não feitas pelo meu pai foram
as de facada, e a da bala no meu braço com a pele queimada para estancar o
sangramento.

— Kai… eu não tenho culpa… primo, por favor! — Massimo


murmura comprimindo suas costas contra as grades da gaiola. Os olhos azuis
estão repletos de terror.

Tiro meus sapatos e me desfaço de todas as adagas, menos uma.


Quero desfigurar o rosto desse pedófilo.

— Você também ouviu muitos lamentos assim das meninas que


tinham menos de 13 anos, Massimo? — Pergunto enquanto estalo meu
pescoço. Minha voz soando fria e calculada.

Massimo arregala os olhos.


— Eu nunca as forcei… elas iam pelo dinheiro. Você nunca disse
nada… por quê isso agora? — Ele está segurando as grades com tanta força
que suas mãos estão tremendo.

Olhar para ele desperta meu demônio sanguinário. Esse filho da puta
com essa aparência angelical se forçou dentro de crianças até que não
sobrasse nada além de nojo por elas mesmas. Ele ferrou a mente de várias
meninas, fez garotinhos se suicidarem. Comprou crianças como bois e as
estuprou como um maldito criminoso que merece a morte. A cada gota de
sangue que derrubar dele, irei lembrar dos rostos das vítimas dele.

— Pegue uma das adagas, seu filho da puta. Eu sei que você não é
um homem, mas aja com um pouco de dignidade. Te ver tremendo, só me
faz querer beber seu sangue! — Exprimo.

— Você vai mesmo me matar? Nós somos primos! — Exclama com


desespero.

Deixo uma risada escapar da minha boca.

— Acha que família é sinônimo de alguma coisa? — abro meus


braços — Dê uma boa olhada no meu corpo e veja o que meu pai foi capaz
de fazer. Matar um pedófilo como você irá arrancar o mal pela raiz — Olho
com intensidade para meu primo antes de erguer meus olhos para Otávio.

Ele está tendo fortes emoções, o Tálio está em ação no seu corpo e
ele está começando a espumar pela boca. Ele vai morrer logo, eu preciso
deixar que ele veja eu acabar com seu filho.

Dou mais uma oportunidade para Massimo pegar uma adaga, e


quando ele pega e assume uma postura medíocre de combate, eu me controlo
para não pular em cima dele e estrangulá-lo. Deixo que ele avance primeiro
e me vejo decepcionado ao ver que Massimo, mesmo com 18 anos, não foi
treinado como deveria. Ele é como um rato correndo em círculos tentando se
proteger, e eu sou uma ratoeira. Ele tenta me acertar, mas sem coragem de
chegar perto demais. O nosso público começa a se manifestar, os que ainda
estão do lado de Ivo e Otávio ordenam que Massimo reaja.
A cada vez que ele chega perto de mim, a lâmina da minha adaga
corta sua pele branca e imaculada arrancando urros de dor dele. É tão tedioso
lutar com ele que eu avanço na sua direção vendo os olhos azuis serem
consumidos pelo pânico. Caio por cima de Massimo, o derrubando no chão
com baque e deixando minha adaga retalhar um pedaço da sua coxa. O grito
que sai da boca de Massimo é agoniante e se revela parecer como de uma
criança. Ele chora, berrando e pedindo por clemência. O seu sangue suja
meu shorts e o piso, e mancha sua pele branca. Levo minha mão até seu
pescoço, imobilizando sua cabeça.

O rosto dele está vermelho, os dentes amostra, lágrimas pingando


pelo seu rosto.

— Grite, chore e peça para eu parar, assim como as crianças fizeram,


Massimo. Grite mais alto para seu pai vir salvar você! — posiciono a ponta
da adaga na sua bochecha. Deixo ele ver o diabo em meus olhos — Seu pai
não salvará você dessa vez.

Puxando da sua orelha e descendo até o canto dos seus lábios, eu o


corto. Massimo grita e contorce embaixo de mim e todas as pessoas aqui
parecem ficarem em silêncio completo. Posso ouvir a voz de Ivo gritando
que fará tudo que eu quiser, ouço Otávio agonizando…

Mas eu não paro. Depois de uma bochecha, eu vou para outra. E


quando termino de cortar profundamente o rosto do príncipe da máfia, eu
começo a escrever a inicial que demarca todo pedófilo na máfia que morreu
pelas minhas mãos. Escrevo a inicial do meu nome na testa de Massimo com
a ponta da minha adaga. Quando finalizo, ele já perdeu a consciência.
Minhas mãos estão sujas com seu sangue e seu rosto está tomado pelo
próprio. Suas bochechas agora tem dobras, e dentes laterais junto com a
gengiva exposto em um sorriso macabro.

Se Massimo Moreau um dia teve beleza, ficou no passado. Agora, ele


é uma aberração. Seu caixão terá que ser fechado. Tenho certeza que o
médico irá costurar suas bochechas, mas Ivo não irá querer mostrar a marca
que fiz na testa do sobrinho dele.

No último golpe de misericórdia, eu sou rápido.


Enfio a adaga na garganta de Massimo o vendo abrir seus olhos pela
última vez e olhar para mim enquanto abre a boca em um último sopro. A
vida desaparece dos seus olhos azuis e a cabeça demora alguns segundos
para prender para o lado, sem vida. Seu sangue escorre quando tiro a adaga e
então eu ouço. Um grito desesperador.

Olho para cima vendo esse grito vindo de Otávio. Jace o solta e com
a última força que resta nele, ele se arrasta até a gaiola. Seus olhos não me
olham quando ele entra, ele apenas olha para o filho e se derrama sobre ele.
Puxando o rosto retalhado na sua direção e urrando como se a pior dor do
mundo estivesse sendo infligida a ele.

Não consigo sentir nada. Absolutamente nada.

Estou com sangue por toda parte do meu corpo, e acabei de realizar
minha vingança. Mas não sinto nada e é exatamente isso que se define a
vingança. Podemos ter vencido os inimigos, mas não temos sucesso em
comemorar isso, porque passamos tempo demais morrendo por dentro para
chegar ao fim.

Me viro na direção do meu público e encontro todos de pé, voltados


para mim. Homens e mulheres. Centenas de pessoas. Todos eles me fazem
um juramento diante do meu pai ainda vivo. E todos eles me saúdam e me
reconhecem.

— Vita al Capo!

Essa frase é dita por uma pessoa, depois por outra até todo o galpão
inteiro está urrando em saudação. Meus homens vêm até mim, me carregar
nos braços e me saudar como novo chefe da Camorra. Sou carregado pelos
meus homens. Novos e velhos. Meu corpo banhado com o sangue do meu
primo é meu cartão de entrada triunfal como Capo da maior organização da
Cosa Nostra.

Meu pai é levado para o lugar que reservei para ele, e eu me deixo
ser socalegado pelos meus homens enquanto tudo dentro de mim grita por
Marcella.
Tudo o que quero é correr e me aninhar em seus braços. Receber o
abraço dela, seu olhar e a confirmação de que fiz o certo. Preciso dela com
desespero.

Eu consegui, me tornei o Capo diante do meu pai e tio. Destruir os


dois. A Camorra agora me pertencia e carregaria meu legado de sangue, e
ninguém poderia esperar menos de alguém que chamavam como “Besta da
Camorra’’ pelas costas.
— Finalmente me dirá seu nome? — Pergunta a mulher de cabelo
loiro com fios grisalhos e os lábios pintados de vermelho.

Por mais paciência que ela esteja mostrando, sei que está no limite.
Já estou aqui há três noites e sem dinheiro, não tenho como pagar pela minha
hospitalidade e ela está deixando claro que não está gostando disso.
Depois de dormir uma noite na praia, dentro de um banheiro, acabei
vindo parar em uma casa de prazeres depois de defender duas garotas que
estavam sendo assediadas. Elas foram educadas e mostraram seu
agradecimento me oferecendo um teto ao ver meu estado.

— É dinheiro que você quer? — Questiono mesmo sabendo a


resposta.

Ela cruza as pernas cobertas por uma meia calça preta. Seu olhar
castanho puxado examina meu corpo de cima abaixo, atenta. Ela me olhou
assim desde o momento que cheguei aqui.

— Sua estadia não pode ser de graça, menina. Não é uma casa de
caridade, aqui é uma pousada de prazer. Todas as meninas lá embaixo
também não têm dinheiro, por isso vendem o corpo… por que não faz o
mesmo? Seria uma conquista imensa ter alguém com sua aparência aqui —
ela levanta da poltrona surrada, caminhando até o centro do quarto — Os
mafiosos do mais alto calão vem para cá, facilmente você cairia nas graças
de um. Há duas noites, os homens estão vindo para comemorar a ascensão
do novo Capo.
Engulo a seco. Os pelos dos meus braços se arrepiam com a menção.
Kai se tornou Capo há dois dias e as histórias que estou ouvindo são
tenebrosas. Ele mutilou Massimo na frente de Otávio, e não permitiu que o
primo fosse ao menos velado. Otávio está no hospital depois de Kai fornecer
o antídoto para ele, e ter planos de fazê-lo viver em agonia o resto da vida
lembrando da morte do filho dele.

Ele não matou seu tio e pai, está fazendo algo pior com eles.

Olho para a mulher de meia-idade em pé na minha frente. Estou


sentada na cama de solteiro de ferro, vestindo apenas uma camiseta velha
que deve ter pertencido a algum homem qualquer.

— Se vender meu corpo for o pagamento, posso fazer isso. Não


passo de uma prostituta — deixo essas palavras amargas saírem da minha
boca como veneno.

Desde o dia que entrei naquela cela e vi Kai expor nosso momento
íntimo como uma forma de mostrar a Nikolai o quão submissa eu era a ele…
isso me deixou doente. A própria forma como eu parecia desesperada por
ele, a maneira como ele teve tudo o que quis de mim porque confiei nele. Ele
poderia ter facilmente me apunhalado no peito e a dor não seria tão forte.

Não quero voltar a fazer sexo com ninguém, a ser vulnerável. Não
quero nem mesmo ter qualquer aproximação com outro homem.

— Você não é uma menina que faz esse tipo de coisa. Tem o olhar e a
expressão de uma puritana — Madame Ross diz com uma risada baixa —
As roupas com as quais chegou aqui eram de marcas, tenho certeza que faz
parte de alguma família rica que deve estar procurando por você. Então, me
diga seu nome e sobrenome.

Se ela soubesse a quem estou ligada…


Tenho certeza que ela correria para me entregar a ele e ter uma boa
recompensa. Kai deve está me procurando para ocupar o lugar de incubadora
e garantir que seu segundo filho seja o Underboss da Filadélfia. Ele se casará
com outra mulher, e isso faz uma espécie de rasgão no meu peito. Odeio me
sentir assim, porque se sinto incômodo com o fato dele tomar outra esposa,
significa que sinto algo por ele. E eu não posso deixar isso me consumir. Kai
é um traidor.

— Me dê apenas mais essa noite e eu irei embora. Você receberá seu


pagamento em breve — Digo a Madame Ross.

Ela parece se contentar com isso e sai do quarto me deixando sozinha


com meus pensamentos. Já fazem seis dias desde que fugir. Precisei
abandonar minha arma em um lugar seguro, e para circular por Las Vegas
preciso ser cuidadosa. Pelo que sei, tem homens por toda parte procurando
alguém.

Traidores, segundo uma das meninas. Mas, na verdade, sou eu quem


estão procurando. É por isso que não saio desse quarto. E evito contato com
todas, menos Nicole.

Nicole foi a garota que defendi e quem me trouxe para cá. É ela
quem está me mantendo informada de tudo e a pessoa que aceitou dividir
seu quarto com uma única cama de solteiro. Estou dormindo no chão, e de
longe é o lugar mais desconfortável ao qual fiquei.

Nikolai foi solto e voltou para Rússia com seu irmão que fez uma
promessa de revidar o que Kai tramou contra ele. Hades Baumann está junto
a Kai e dia após dia desde a tomada pelo poder, Kai está matando pessoas.
Pessoas que vão contra ele.
Para eu sair de Las Vegas, preciso ir até uma cidade distante daqui.
Preciso sair da rota de Las Vegas e ir para qualquer lugar mais calmo,
mesmo sendo improvável o estado de Nevada está calmo. O submundo está
se revirando. Isso está afetando tudo.

Preciso ir para o mais longe possível, e então entro em contato com


Karx. Ele saberá me orientar sobre meu próximo passo. Não posso pegar
nenhum avião, preciso ser o mais discreta possível.

Ouço passos pelo corredor, e então a porta se abre revelando Nicole.


Os olhos pretos estão arregalados, o cabelo roxo despenteado. Ela me olha
com assombro.

— O que foi? — Pergunto.


Ela entra no quarto, fechando a porta. Seu olhar é de puro assombro.

— Você é a esposa de Kai Moreau, a porra do Capo? — pergunta


com pavor.

O frio escorre pela minha espinha e me deixa petrificada. Minha


expressão dá a resposta a ela. Nicole passa a mão pelo cabelo.

— Os homens dele estão lá embaixo, mostraram uma foto sua na


entrada. Você precisa ir antes que seja pega… meu Deus, vão matar todas
nós se descobrirem que você esteve aqui. — Murmura.

Levanto da cama com o medo pesando no meu estômago. Minha


mente repete tudo o que ela disse e minha ficha vai caindo rapidamente. Ele
me encontrou.

— Me ajude a fugir e eu prometo que nada irá acontecer a você —


Peço com desespero.

— Você só tem alguns minutos, assim que o Norman disse que você
estava aqui, eles começaram a ligar pra alguém. Eles estão…

Antes que ela possa completar a frase, passos pesados começam a


serem ecoados pelo corredor. Pego a faca que deixei embaixo do travesseiro
e coloco Nicole atrás de mim. A porta se abre em um chute e a figura alta e
magra de Jace surge.

Os olhos dele me mira da cabeça aos pés, e um certo alívio passa


pelo seu rosto. Ele está sozinho. E eu me sinto aliviada por ser ele, e não
Kai.

— Vamos embora, senhora — Seu tom autoritário é respeitoso.

Seguro o cabo da faca de cozinha com força enquanto tento controlar


o tremor nas minhas mãos.

— Eu não quero, Jace. — Digo com firmeza — Você vai lutar


comigo se eu me recusar a ir embora?
Ele dá um passo adiante, os olhos focando na faca na minha mão
direita. Seus olhos estão calmos.

— O Capo está vindo para cá, e eu não posso machucá-la. Por favor,
venha comigo calmamente.

Nem nos sonhos de Kai e Jace que irei de bom grado. Não vou me
entregar sem lutar e me deixar ser um trunfo tão fácil.

Balanço a cabeça.

A janela está próxima, estou no terceiro andar. Já rotulei toda minha


fuga se tivesse que fugir. Tem um telhado no segundo andar, e uma lata de
lixo próxima. Irei me ferir, mas tenho chance de ganhar tempo. Se Jace veio
acompanhado, os homens devem estar na frente e não atrás do prédio. Tenho
uma certa vantagem.

— Desculpe por isso, Nicole — Sussurro para a jovem atrás de mim


antes de lançá-la na direção de Jace com força, fazendo ela gritar de espanto.

Isso desequilibra Jace por alguns segundos que são suficientes para
me deixar ir em direção a janela aberta e pequena demais para alguém do
tamanho dele. Atravesso ela com dificuldade, me espremendo e sentindo o
vidro lascado cortar meu quadril e coxas desnudas enquanto chuto as mãos
de Jace que luta para me puxar, isso só faz o vidro me cortar ainda mais, me
livro das suas mãos quando chuto seu peito e pulo da janela com força,
caindo sentada no telhado de metal do zelador, contendo um grito quando
meu calcanhar direito queima com uma dor absurda. Com a adrenalina no
meu corpo, eu pulo até a lata de lixo e saio dela correndo em direção ao
muro do quintal da casa.

Ouço Jace xingando e chamando os homens, mas estou em


vantagem.

Sangrando, e com uma provável torção, a adrenalina no meu corpo


deixa ele capacitado o suficiente para que eu encontre forças e consiga pular
através do muro. Ignoro qualquer dor e me deixo correr até chegar em uma
rua residencial.
Os olhares das pessoas são assustados enquanto me veem correr, me
arrastando, sangrando e apenas com uma camiseta que vai até o meio das
minhas coxas. E minha mão segurando uma faca de cozinha.

Não tenho tempo a perder, preciso correr e me esconder. Não posso


ficar na rua.

Corro por becos abertos que dão a outras ruas. O vento frio da manhã
me faz ficar consciente do corte da minha perna a cada segundo que o vento
bate nele, e meu tornozelo parece doer a cada centímetro. Gemendo e com
lágrimas borrando a minha visão, eu finalmente encontro um beco escuro,
vazio repleto de sujeira e uma lata de lixo. Me escondo atrás dela ouvindo o
som dos carros passando pela rua lá fora.

Minha respiração está tão ofegante que meus pulmões ardem. Olho
para minha coxa vendo o sangue escorrendo, meus pés também estão
machucados e meu tornozelo direito está inchado e vermelho. A dor é
excruciante e eu não consigo dar mais nenhum passo.

A blusa está com uma mancha de sangue onde o vidro também


cortou meu quadril.

— Droga, droga, droga! — Gemo deixando meu corpo escorregar


pelo chão enquanto mordo os lábios para aguentar a dor.

Mordo meus lábios com tanta força para não emitir nenhum grunhido
que sinto o gosto de sangue. Na minha cabeça, tudo que sou capaz de pedir é
que Kai não me encontre. Que nenhum dos seus homens me encontre aqui.

Fico sentada no chão imundo desse beco, sentindo o cheiro de podre


e minhas dores tão altas que luto contra a inconsciência. Pressiono minha
mão contra o corte na minha coxa, o sangue molhando e manchando minha
palma, foi um corte profundo, preciso cuidar antes que infeccione. Não
posso ficar nesse beco, mas se sair dele serei pega. Minha única opção no
momento é suportar por algumas horas.

Não sei quanto tempo se passa, mas a manhã dá lugar a tarde. É


difícil dizer pela luminosidade desse beco, mas pela forma como a
temperatura fica abafada, é notável que a tarde caiu. O sangramento da
minha perna parece cessar. Mas meu tornozelo está me matando e eu não
consigo dar nenhum passo. Até mesmo me mover é difícil.

Inspiro fundo, e eu então sinto.

O perfume dele.

— Está fugindo de mim com tanto afinco, Marcella…

A voz de Kai surge pelo beco e meu sangue parece congelar, não
consigo mexer um músculo sequer diante da presença dele entrando nesse
beco, tão próximo de mim. Minha perna machucada está dormente. O terror
com a voz de Kai se aproximando de mim é tão grande que não conseguiria
me mexer mesmo se quisesse.

Os passos deles soam mais próximos até que Kai surge, vindo para
minha frente, vestido completamente de preto. Os olhos castanhos dourados
me olham da cabeça aos pés, Seu rosto se contorce ao ver meu estado e ele
se abaixa na minha direção, as mãos vindo até minha coxa cortada.

—Não me toque! — Sibilo entredentes, mas é em vão.

Kai passa os braços por trás dos meus joelhos e os braços pelas
minhas costas e me ergue do chão, um grito mudo sai dos meus lábios
fechados.

Seus olhos percorrem todo meu corpo suspenso em seus braços, e seu
rosto fica duro. Tento manter meu olhar no dele, mas não consigo. Não
depois do que ele fez.

— Me coloque no chão ou me entregue a um dos seus homens. Não


quero suas mãos em mim, não quero ter que aguentar isso! — murmuro com
decepção.

As palavras não parecem atingi-lo. Ele começa a caminhar comigo


nos braços para fora do beco. Um carro preto está estacionado e alguns
homens dele estão ao redor, é um deles que abre a porta do carro para que
ele me coloque no banco de trás.
Kai busca meus olhos, mas tudo o que ele recebe de mim é o lado
direito do meu rosto para olhar.

Uma pessoa que você ama pode te trair com mais força que um
inimigo, e se tornar seu inimigo mais poderoso. Nunca esperamos a
decepção de um parceiro, por isso doi tanto e nos deixa desorientados.
Coloco Marcella sob nossa cama enquanto Jace chama o médico. Ela
não diz uma palavra ou olha na minha direção. Seus olhos estão distantes,
canalizando todo tipo de sentimentos que ela não me deixa chegar perto e
isso é o suficiente para me deixar inquieto. Estou morrendo de saudades dela
e a ver tão ferida assim sabendo que chegou nesse ponto para fugir de
mim… Prefiro mil vezes a dor física do que isso.

— Vou te levar e colocar uma roupa sua — Digo contendo meu


ciúmes e chateação ao ver ela vestida com uma blusa masculina.

De todos os lugares, ela estava em uma casa de prazer. Ela está com a
roupa de outro homem, e ferida. Meus sentimentos divergem entre ciúmes e
preocupação.

— Chame alguém. Não quero você tocando em mim, não quero sua
aproximação! — Diz com a voz baixa e oca.

— Eu farei o que eu quiser, Marcella. Você é minha esposa, porra.


Para de agir desse jeito comigo!

— Marido? — Ela finalmente olha nos meus olhos — Tive outros


maridos esses dias também. E acredite, você não é inesquecível, Kai
Moreau.

A onda quente de ciúmes percorre minhas veias como veneno e eu


cerro os punhos para conter a explosão. Não acredito que ela tenha se
deitado com outro homem, Marcella não seria capaz disso.
Me aproximo dela na cama, mantendo meu olhar trovejante no seu.

— Você sabe que não consegue me enganar, querida. Se isso


aconteceu, você será responsável por muitas mortes. Começarei matando a
dona daquele bordel até aquela garotinha com a qual estava dividindo o
quarto.

Seu olhar não vacila, ela esboça um sorriso vingativo.

— Terá que me matar também, Kai. Duvido que conseguirá conviver


com o fato de que eu possa ter me entregado a outros homens, e essa é uma
dúvida que você terá para sempre. — suas palavras escorrem como aço frio
— Foram seis dias. Como você deixou claro na minha mente, tudo que sou
capaz de fornecer a homens é o prazer, não é?

Desvio meus olhos dos seus. É insuportável olhar para ela e pensar
que outro homem a tocou. Saio do quarto para não cometer nenhuma
loucura, eu não acredito que ela possa ter dormido com outros homens, mas
a voz do merdinha russo está na minha mente. Ele disse a mim o quanto eu
acabara de destruir Marcella a expondo, e a maneira como ela fugiu. Ela
pulou da porra do terceiro andar para fugir de mim, se cortou profundamente
e está um trapo.

Caminho até a cozinha com uma mistura de sentimentos me


bombardeando por todos os lados. Estou tão pesado que se explodir, irei
acabar com toda essa cobertura.

— Precisa de algo, senhor?

Olho para uma das criadas que trouxe da mansão Moreau para ficar
na minha cobertura. Com todo o movimento que estou fazendo na
organização, presumi que Marcella fosse precisar de companhia. Então,
trouxe uma das criadas para cá.

— Ajude sua senhora a se lavar e colocar uma roupa — Digo antes


de caminhar para o escritório a passos duros.

Bato a porta com força e me sirvo de uma dose de uísque, mas antes
que eu tome, a raiva me preenche e eu arrebento o copo na parede, derrubo o
carrinho com todas as bebidas. Extravaso toda minha raiva nos objetos desse
escritório. A única coisa a qual não toco, é os livros que ela adora. Posso
destruir tudo, menos algo que ela ame.

Porque eu me importo demais com cada opinião dela. Com as coisas


que ela gosta e com tudo que a faz feliz.

Marcella Rivera capturou a porra do meu coração e isso está me


consumindo agora. Estou ardendo em chamas quentes de ciúmes e medo de
perder algo que eu nem merecia, mas fui agraciado.

Deixo meu corpo cair sob a poltrona que permanece de pé enquanto


minha cabeça procura organização. Meus pensamentos são sufocantes e
ardentes. Tenho vivido com a agonia da ausência dela nos últimos seis dias,
e agora, essa agonia parece ter se multiplicado com a suspeita de que
manchei tanto Marcella com minhas ações, que ela preferiu se perder a se
preservar.

Fico no silêncio do ambiente por vários minutos. Alguém bate na


porta e a abre. Jace coloca a cabeça para dentro observando a destruição.
Ergo meu rosto para ele.

— Ela levou pontos. Teve uma torção no tornozelo e o médico a


tratou. Vai ter que ficar imobilizado por alguns dias… ela está bem. —
Informa.

Meus braços estão descansando nas minhas pernas e estou inclinado


para frente, com a cabeça baixa.

— Disse ao médico para não usar nenhum tipo de medicamento


nela? — Questiono.

— Sim. Ele usou pomada anestésica no tornozelo e aplicou anestesia


local. Isso não será prejudicial se ela estiver esperando um bebê.

Levo minha mão ao rosto e inspiro fundo. Sou horrível de diversas


maneiras, e fui uma besta com Marcella. Escondi dela o fato de ter trocado
seus anticoncepcionais por placebos nos últimos meses porque achei que o
que mais importava para mim era minha vingança. E nada seria mais
perfeito do que Marcella ficar grávida rápido.

— Gostaria que eu investigasse o que aconteceu enquanto ela esteve


no bordel? — Jace pergunta.

Passo a mão pelo rosto, exausto.

Por mais insuportável que seja, eu não quero saber. Se ela me traiu,
eu não posso fazer nada além de lidar com isso. Não a quero longe de mim e
não sou capaz de viver sem ela. O que ela fez foi motivado por mim e eu irei
arcar com as consequências. Mas irei matar o filho da puta que a tocou.

— Esqueça isso. — Levanto da poltrona, me recompondo — Você


disse que Alev Rivera quer falar comigo, hum?

Jace assente.

India foi informada de tudo que aconteceu e o estado de Otávio. O


relacionamento dos dois chegou ao fim e as famílias lamentam o fato de
India ter ficado viúva antes de se casar. Otávio nunca mais conseguirá
levantar de uma cama, até conseguiria, se eu deixasse ele ser tratado. Eu
quero ver ele definhar até a morte, e é o que estou fazendo.

— Alev Rivera é ambicioso, e está furioso com o fato do plano dele


ter dado errado. Ele queria que Marcella desaparecesse e que India ocupasse
o lugar de senhora da Camorra com Otávio como Capo. Ele deve estar
querendo tirar algum proveito, e também deve está desesperado pelo futuro
da filha mais velha — Calcula Jace.

Jace é meu conselheiro. Ninguém melhor que ele para tal função. Ele
é mais calmo que eu, e um ótimo analista. Temos um equilíbrio e iremos
construir uma nova Camorra.

— Vou visitar Alev logo depois que terminar o que tenho que fazer
por aqui. Tenho algo guardado para ele — Digo a Jace.

Saio do escritório deixando ordens para vigiarem Marcella e atender


os pedidos dela. Tudo ainda está agitado e os traidores estão sendo
eliminados. Estive muito ocupado para visitar meu pai na prisão especial que
reservei para ele.

Chego na mansão Moreau algumas horas depois, perto do final da


tarde. Minha mãe me recebe. Os olhos inchados de tanto chorar e totalmente
descuidada de si mesma. Ela tem me implorado para soltar meu pai e eu não
posso deixar de notar o horror que ela sente só de olhar para mim.

— Ele é seu pai! Você não pode usurpar o lugar dele, Kai! De uma
forma ou de outra, você seria o Capo. Por quê fez isso?

Paro de caminhar no meio do salão da entrada e olho para minha


mãe. Os olhos azuis estão vermelhos também e sua beleza parece decaída
com as noites insones. Ela me olha como se eu fosse um monstro.

— A senhora realmente não sabia o que se passava no porão dessa


casa ou está fazendo de idiota? — Questiono-a.

— Ivo sempre foi um bom pai. Um bom homem. Ele sempre tratou
Niki como uma princesa e a amou…

— SABE O QUE ELE FEZ COMIGO?

Minha mãe tem um sobressalto com meu tom de voz.

Deixo minha calma e sutileza escapar de mim. É claro que ela sabia
do que acontecia nessa casa. Eu gritava. Ivo me prendia por semanas e
quando eu voltava a circular pela casa não era nada além de um trapo
ambulante vestido com roupas de mangas. Eu cheirava a carne assada
estragada. E me arrastava porque não era capaz de andar depois de dias de
espancamento e chicotadas.

— Eu tinha 14 anos! A porra de 14 anos quando ele me chicoteou.


Você viu minha blusa completamente ensopada de sangue, você viu quando
ele usou a adaga para cortar meu rosto por eu ter dito que gostaria de
frequentar uma faculdade…você sabia de tudo, não sabia? — Questiono
com a decepção em cada palavra.
Não tinha como ela não saber. Ela é minha mãe e vivíamos sob o
mesmo teto. Ela foi conivente. Nunca interferiu e tudo que fazia era sorrir
para mim e dizer que me amava, quando na verdade, ela só amava o fato de
ter dado o filho homem ao Capo.

— Ele é seu pai, de toda forma. Tudo o que ele fez foi para te tornar
um homem forte. É assim que os homens da família devem ser criados —
sua voz soa com dureza mesmo estando embargada.

Os olhos azuis estão repletos de lágrimas que não me comovem.


Posso ser seu filho de sangue, mas ela nunca me viu como se eu fosse algo
digno de ser criado como tal.

Retiro minha blusa pela cabeça e deixo que ela veja. Deixo que ela
veja cada uma das 40 marcas de chicotadas que tenho pelas costas, deixo que
veja as queimaduras que até hoje coçam e queimam na minha pele. As
cicatrizes são insuportáveis. Quase todo o tempo me incomodam.

Os olhos da minha mãe varre meu corpo, e se antes estavam


assombrados, agora se tornam puro terror. Ela desvia os olhos quando chega
nas cicatrizes das minhas costas. Ela parece querer vomitar e isso me enche
de rancor.

— Todos os verões escaldantes usando roupas de mangas. Vendo


Massimo aproveitando praias, piscinas enquanto eu não podia nem sonhar
em tirar minha blusa… — Sorrio para minha mãe com desprezo — Você
sabia de tudo isso, e eu ainda achei que fosse uma boa mulher, mas só é a
porra de uma pessoa que não merece nada! Fico feliz que sua única alegria
seja uma vegetal que nem a ela você conseguiu salvar.

Minha mãe reage, mas logo se desarma. Ficou ofendida quando falei
da sua filha, mas não demonstrou nada sentimental ou me pediu perdão…
vaca alcoólatra.

Visto minha blusa e não deixo a raiva, a tristeza pela mãe que nunca
tive me tomar. A única mulher na minha vida é Marcella, e se fui amado por
alguém, foi por ela.
— Arrume o que puder. Você irá para Roma. E não, Niki não irá com
você. Vou mandar desligar aqueles aparelhos e fazê-la descansar em paz.

— NÃO! VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO! — Grita com desespero


e fúria.

Começo a caminhar até onde Ivo está, ouvindo ela vindo atrás de
mim, gesticulo para um dos seguranças por perto e ele simplesmente a
arrasta para longe e seus gritos vão desaparecendo juntamente com qualquer
sentimento que eu tinha por ela.

Recobro minha postura e expressão antes de descer ao porão onde


Ivo está. Não deixarei ele ver qualquer lacuna em mim.
Meu pai está preso na mesma cela que usava para me torturar. Ela é
totalmente escura e abafada. Só é aberta pelo lado de fora e tem uma
fechadura digital. Não é preciso vigilância do lado de fora, para entrar na
cela basta um código que apenas eu tenho posse.

Observo Ivo Moreau sem camisa, jogado no chão em busca de


refrescância. Ele ergue a cabeça ao me ver, a pouca luz das lamparinas
iluminando seu rosto ao qual o meu é tão parecido. Coloco minhas mãos
atrás das costas e sorrio para meu pai.

— Parece exausto, e não se passou uma semana ainda — Comento.

Ele se senta no chão, esticando o tronco para aliviar a tensão do


corpo. O cabelo preto com fios grisalhos está úmido de suor, e ele não está
com os melhores dos cheiros.

— Veio me matar? — Pergunta com a voz arranhada. Dei ordens


para que dessem água e comida a ele, mas não o suficiente para saciar.

— É o que eu deveria fazer, mas quero que veja o que a Camorra irá
se transformar — Dou um suspiro longo e entediado — As outras famílias
estão com muitas expectativas. Se você foi um conquistador, então eu posso
ser mais do que isso, não? Estão me chamando de subjugador… eu gostei.

Ivo mantém os olhos furiosos em mim.

— Você foi o maior erro da minha vida! — Grunhi.

Balanço a cabeça.
— O maior erro da sua vida, foi você próprio. Deus ou o diabo te deu
tudo nas mãos, e você fodeu tudo. Não me culpe, paizinho. Você arruinou
seu reinado e agora eu preciso colocar tudo no lugar.

— Não ouse desfazer tudo que fiz, Kai. Eu conquistei a Camorra! Eu


fui o responsável por ela ser o que é hoje! — Rosna.

— Achou que eu fosse me dispor aos seus pés para sempre? Me diga,
pai. Realmente, nessa sua cabeça fodida, achou que iria me humilhar e isso
não teria retorno? — Inquieto com a voz austera.

Ele engole uma grande quantidade de saliva e se move sem muito


esforço. Sua barriga tem a cicatriz da facada que sofreu quando eu ainda
nem era nascido, e quase o matou. Além dela, ele só tem a marca de
Camorra no peito.

— Você era fraco. Não iria durar muito vivo se eu não tornasse você
imbatível. Graças a mim, você acabou sendo o que é hoje.

— Um monstro? — Ergo a sobrancelha.

— Não, você se tornou isso depois. Eu queria apenas que você fosse
algo mais forte que qualquer outro, porém eu vi você se transformar na
aberração que é hoje e eu sabia que precisava eliminar você. — Os olhos da
mesma tonalidade dos meus me fitam — Você ia matar sua irmã. Você a
matou. Ela não acordará mais e a culpa é sua! — Esbraveja seu rancor.

Sorrio para ele.

— Deveria ter me matado na época — Sussurro.

Ele se ergue, ficando a uma distância segura de mim.

— Eu tentei, mas não podia. Não podia ficar sem herdeiros e você
podia me servir até eu engravidar sua mãe novamente.

Mantenho meu olhar nele, Ivo continua falando com amargura.


— Alexa não conseguiu engravidar depois de Nicoletta. E quando
conseguiu, acabou perdendo. Tudo foi uma lástima. Minha chance era passar
a sucessão para Otávio assim que Massimo fosse iniciado… Eu subestimei
você, essa é a verdade. Sabia que tinha ambições, mas não achei que fosse
fazer o que fez. Como conseguiu apoio? O que deu a eles?

Me mantenho em silêncio, observando a forma patética do meu pai,


Se ele soubesse quanto da minha alma precisei perder fazendo acordos com
as famílias, e quanto de mim mesmo eu perdi. Tenho a sensação de que ele
talvez saiba. Ele não teve que lutar para chegar à liderança da Camorra, mas
precisou sangrar para fazê-la ser a mais influente. E ele sempre foi ótimo
nisso.

Antes de odiá-lo, eu admirava cada parte dele, mas tudo chega ao fim
quando saímos de trás da cortina de ilusão.

— Os aparelhos da filha de vocês serão desligado, e você continuará


preso até eu não ter mais a paciência de mantê-lo vivo. — Aviso.

— E sua mãe? Não terá piedade da mulher que te colocou no


mundo?

Olho para meu pai uma última vez. Ele ama minha mãe assim como
ela o ama. A condenação dos dois será eu. Deixo ele sem respostas e ele
corre até a porta gritando para que eu diga o que irá acontecer a sua esposa.
Ele esmurra a parede de pedra e grita com todo fôlego nos seus pulmões com
desespero. Esse é o pior castigo que posso dar a ele.

Não volto para casa de imediato. Por mais que tudo que eu queira é
Marcella, morro de medo de olhar para ela e tudo que eu ver seja a frieza e
decepção que ela agora sente por mim. Estou mais quebrado que antes, e
com tantos buracos em mim que é difícil respirar sem sentir dor e vontade de
morrer.

Ainda não acabei com todas as pendências, tenho muito a fazer para
ficar estável como Capo e construir um lugar seguro para meus filhos com
Marcella.
— Senhor? — A voz do barman da boate preenche o escritório, e eu
olho para ele. Sua expressão é inquieta — A senhora Santini está aqui
pedindo para ver o senhor.

Suspiro baixo. Evangeline tem tentado de todas as formas se


aproximar de mim, agora que me tornei Capo, isso só piorou. Mas, tenho
que dar essa oportunidade a ela, foi ela quem disse para procurar Marcella
no bordel e eu preciso saber como ela sabia disso. Gesticulo para que a deixe
entrar, e segundos depois, Evangeline surge com um vestido preto colado,
salto alto e o cabelo vermelho solto. A maquiagem forte para a noite
deixando seus traços atraentes em evidência.

Todas as curvas marcadas nesse vestido justo. A aparência dela é


uma evidência de sucesso no ramo mafioso. Todos a querem. E ela ama isso.

— Finalmente posso ter um momento a sós com o Capo da Camorra


— Cantarola fechando a porta atrás de si.

Deixo meu peso cair por completo na cadeira giratória. Não tenho
mais paciência por hoje.

— Como soube que minha esposa estava em um bordel? —


Pergunto, a olhando como olho para os meus homens.

Ela sorri, deixando a bolsa de lado e sentando próxima a mim sob a


mesa. As pernas longas totalmente amostras na minha direção.

— Ela não é tão puritana como imaginei que seria. — Ela se inclina
na minha direção — Parece que é não nem tão pura assim depois desses
dias.

Sinto meus músculos se retesando e o calor dos ciúmes surgindo


dentro de mim. Os olhos azuis de Evangeline brilham para mim e sua boca
vermelha sorri ainda mais.

— Disseram que ela tem uma pele macia e sinais de nascença pelas
costas…
A barreira de contenção que fiz é rompida me deixando cego e
possesso com a ideia de que alguém viu Marcella nua, tocou sua pele e a
maculou. O choque que isso me causa é tamanho que eu prendo minha
respiração e fico inerte. Qualquer movimento da minha parte pode causar
uma destruição.

Evangeline passa as mãos pelo meu pescoço, as unhas arranhando


minha pele. Ela monta nas minhas pernas em um só movimento; ela cola o
rosto no meu, a boca sussurrando no meu ouvido.

— Faz tempo que não ficamos juntos, meu Lobo. Me coloque sob
essa mesa e me foda da maneira como adora… Preciso tanto disso como
você. Estou morrendo de saudades.

Cerro os punhos sentindo meu pau ganhar vida diante do misto de


sentimentos na minha mente. Judiar de Evangeline enquanto me sacio seria
maravilhoso e ideal para minha situação. Estou tomado de sentimentos e
pesado como uma pedra. Gozar com violência seria uma ótima distração…

Me impregnar com o corpo de outra mulher, com seu cheiro faria


Marcella sentir na pele o que estou sentindo. Isso iria puni-la.

Aperto as coxas de Evangeline e a olho, mas apenas de olhar para os


olhos azuis, consigo enfiar minha revolta no fundo da minha mente.

A única mulher que quero é Marcella. E eu não vou trair o corpo e o


coração da mulher ao qual pertenço. Não importa o quê.

Circulo o pescoço de Evangeline, fazendo uma pressão ameaçadora.

— Como soube onde minha esposa estava? É melhor contar a


verdade, ou eu acabo com seus privilégios na máfia! — Sussurro apertando
seu pescoço.

Ela segura meus braços, focando os olhos azuis em mim. Aperto um


pouco mais seu pescoço. Ela engasga e tenta sair de cima de mim, mas eu a
mantenho onde está.
— Eu sou sócia do bordel, sei quem entra e sai. Me mostraram ela
pelas câmeras… — Diz com dificuldade, tentando tirar minha mão do seu
pescoço.

— Como sabe sobre os sinais no corpo dela? Eu duvido que minha


esposa tenha tido outro homem.

Ela engasga. Ser enforcada não deve ser tão prazeroso quando não se
tem um pau dentro da boceta.

Evangeline não responde essa pergunta, e eu posso deduzir como ela


sabe sobre isso. Todos os bordéis tem câmeras, são usadas para filmar o sexo
das prostitutas e serem vendidos online.

Deixo a ameaça bem explícita a ela, de modo que ela se lembrará a


cada segundo.

— Vaze qualquer imagem de Marcella, e eu farei você perder a


textura da sua pele como a minha. Deixo seu rosto tão desfigurado que você
mesma fará o favor de se matar — Sibilo no seu ouvindo antes de arremessar
ela no chão.
Ficar na cobertura sozinha, parcialmente sozinha, enquanto os
homens estão do lado de fora me causa uma certa ansiedade. Kai não tem
vindo ao quarto, e isso é um alívio. Olhar seu rosto depois do que ele fez
comigo exige muita força e controle sobre mim mesma. Estou divergindo
entre sentimentos de ódio e revolta. Me sinto traída de uma forma que não
sei descrever, além do vazio. Um vazio tão grande que parece estar drenando
tudo de mim. Confiar nas pessoas exige um custo que só é cobrado quando
essa confiança é posta à prova. Nunca esperamos que alguém que confiamos
vá nos trair, e quando nos trai, ficamos como cacos quebrados
propositalmente.

Meu ânimo se foi com esses cacos, e minha vontade de ter uma
especialização parece ter sido dissolvida. Por mais que eu esteja com uma
tempestade de sentimentos, ao mesmo tempo me sinto tão oca. A ansiedade
está me consumindo. E não tenho feito nada além de ficar no quarto ouvindo
os homens de Kai passando pela cobertura.

Como novo Capo, Kai tem passado mais tempo fora de casa. Já se
passaram três semanas…

Levanto da cama por volta das nove da manhã e tomo um banho,


vestindo uma blusa de gola alta e uma calça jeans. Jace retirou meus pontos
há duas semanas, deixando uma cicatriz quase imperceptível na minha coxa,
meu tornozelo também se recuperou bem.

O natal está chegando e o clima está começando a esfriar. Prendo


meu cabelo em um coque justo. Minha aparência é de alguém que passou
meses sem dormir, e é assim que me sinto. Extremamente pesada, carregada,
deprimida…

Caminho para a cozinha percebendo a ausência de movimento hoje.


Encontro Milla, a criada que Kai trouxe para cá, preparando comida. Ela
toma um leve susto ao me ver, mas logo sorri. Ela é jovem, mas olhar pra ela
me faz lembrar de Justine e a saudade esmaga meu peito.

— Olá, senhora! Veio tomar café? — Pergunta, se disponibilizando


para mim.

Sento na banqueta e pego uma das canecas guardadas no escorredor.

— Pode me dar um pouco de água quente e um sachê de chá, por


favor? — minha voz soa baixa e rouca.

Estou começando a sentir meu corpo começando a ficar doente,


preciso fazer algo se eu não quiser deixar minha mente consumir tudo. Milla
assente com um sorriso gentil e ferve a água para mim, me dando um sachê
de chá de erva doce.

Enquanto ela se ocupa, eu volto a pensar no que Jace me disse sobre


India e Alev querer falar comigo. India está em Las Vegas e já tentou
diversas vezes entrar na cobertura. Ela deve está desesperada e acha que vou
ajudá-la. Ou, então, veio tentar fazer alguma chantagem emocional e eu não
estou com cabeça ou ânimo para ver ninguém.

— Aqui, senhora — Milla serve minha caneca e eu passo minhas


mãos ao redor da caneca quente.

Sovo um gole do chá quente sentindo ele descer de forma


reconfortante pela minha garganta.

— Devemos providenciar uma árvore de natal? — Milla pergunta de


forma simpática enquanto se ocupa com as panelas.

Suspiro.
— Não creio que seja necessário, fale com seu Capo, talvez ele tenha
uma opinião diferente — Respondo.

— Ele disse para eu perguntar a senhora…

Estou prestes a dizer a ela que não sou nada nessa casa, que logo ela
terá uma nova senhora, mas antes que eu diga algo sinto a presença de Kai
ao meu lado. Seu corpo forte vestido de preto. Não sou capaz de erguer os
olhos, meu corpo inteiro se arrepia com sua presença e ele fica próximo de
propósito.

A ferida que nem tem uma casquinha de cicatrização parece ser


cutucada.

— Você não tem a obrigação de me perguntar nada, Milla. Logo em


breve, a sua verdadeira senhora estará aqui — Levanto da banqueta,
deixando a caneca sob o balcão — Obrigada pelo chá.

Saio da ilha pela direção oposta em que Kai se encontra, começo a


caminhar em direção ao escritório onde poderei me trancar e ele não poderá
entrar. Estou quase chegando nele quando ouço os passos de Kai atrás de
mim, tento ser rápida de entrar e trancar a porta, porém Kai usa seu corpo
grande e forte para inibir o movimento.

Caminho para o meio do escritório que está com outra decoração e


móveis. Fico de costas para Kai, controlando minhas emoções dentro de
mim.

— Por que disse aquilo? — sua voz profunda tem o efeito de lâminas
cegas passando pela minha pele.

Perigosas mesmo não sendo capazes de ferir sem colocar muita


pressão.

— Você vai trazer a filha do conselheiro de Angelo para cá, estou


ciente disso. Aliás, pode me dizer quando embarco para Filadélfia?

— Não vou trazer nenhuma outra mulher para cá, Marcella. Você é a
única mulher que carregará o meu sobrenome depois das nossas filhas. Fui
dado a você como marido e você a mim como esposa. Até o fim das nossas
vidas.

Respiro fundo deixando uma risada curta e ácida sair da minha boca.

— Você é tão cínico…

— Marcella, por favor… — Sua voz profunda ondula e eu me encho


de fúria.

Me viro na sua direção percebendo seu corte de cabelo baixo, a


tatuagem de uma serpente no pescoço e um ferimento na sua sobrancelha e
lábio inferior.

Kai parece ficar desnorteado ao olhar meus olhos e absorver minha


aparência. É como se ele não me visse há muito tempo e esse contato
causasse um choque que faz ele perder as palavras.

— Eu quero que se case com outra mulher, que tenha uma penca de
filhos com ela. Quero que faça tudo que permita que eu vá embora. Eu não
suporto olhar para você, ficar sob o mesmo teto do homem que usou minha
vulnerabilidade da forma mais baixa possível. — Declaro com a voz firme e
magoada.

Os olhos de Kai assumem uma expressão arrependida, quase


dolorida.

— Se eu soubesse que isso te faria agir assim comigo, me olhar desse


jeito… eu nunca teria feito.

Sorrio de forma amarga.

— E o que achou que iria acontecer? — Caminho um pouco mais


para longe — Acha que eu iria engatinhar na sua direção, suplicar por você
como Evangeline Santini faz?

Baque. Ele sofre um baque com a menção ao nome da sua amante.


Eu continuo.
— Sabe, aquele dia na boate, no nosso segundo dia de casados,
quando você estava naquela boate me traindo… eu fiquei me perguntando
quem era a mulher, se era alguma das meninas da boate… mas, acabou
sendo a mesma mulher com quem você fode há anos. Foi com ela com quem
você me traiu.

Ele engole em seco, ficando rígido.

— Eu reconheço meu erro, Marcella. Reconheço meu erro e te peço


perdão. Eu nunca voltei a trair nossos votos depois daquele dia, eu não estive
com nenhuma outra mulher…Juro por tudo.

— Eu não preciso que você me jure nada! Tudo que quero de você é
que me mande para bem longe. Um lugar longe o suficiente para que eu não
pense na humilhação que você me submeteu e na quebra de confiança que eu
tinha em você.

Kai se aproxima de mim, passos vacilantes como se a cada passo, ele


estivesse verificando se pode se aproximar. Seus olhos não estão com o
brilho sádico de sempre. Eles parecem humanos, beirando a tristeza
profunda.

— Me perdoe, por favor. Eu não sabia o que fazer. Achei que você o
amasse e que iria fugir com ele na primeira oportunidade… eu estava
desesperado, Marcella! — declara com a voz vacilando.

Minha garganta parece estar se fechando com a comoção dos meus


sentimentos, que eu não sou capaz de distinguir de tão emaranhados que
estão.

— Você colocou a prova o que quer que tivéssemos por não confiar
em mim. Você me exibiu, mostrou o quão pateticamente eu te queria… —
Fecho meus olhos com força lembrando do vídeo, do som — Aquilo…
aquilo foi demais. Eu preferia que você tivesse me esfaqueado, seria mais
fácil te perdoar já que sua natureza é ser cruel.

Minhas palavras parecem acertá-lo em cheio. Kai vacila, mas isso só


dura por alguns segundos que ele olha para os meus olhos. Aos poucos, sua
postura volta a ser desafiadora e ele engole a seco. Assumindo a máscara de
mármore na sua expressão facial.

— Querendo ou não, você ficará ao meu lado porque eu preciso de


você. Minha vida não tem mais sentido sem você e eu não vou deixá-la ir
embora, Marcella. Eu nunca tive nada de valioso na minha vida, e posso ter
errado, mas você ainda está aqui e tenho a chance de valorizá-la como você
merece, de cuidar de você como devo cuidar. — Ele dá um passo na minha
direção, levando a mão rapidamente até seu peito e inspirando fundo — Por
muito tempo, eu achei que não era capaz de amar e ser amado. Eu era um
monstro no escuro, uma besta sem a razão de existir, servindo ao mundo
como um saco de pancadas. Eu morri aos 14 anos quando meu pai se
encarregou de ferrar comigo, com minha pele, mente e coração.

Ele sustenta seu olhar no meu, Kai está nitidamente se esforçando


para manter a voz firme. A forma como sua mandíbula está tensa, como seus
braços estão firmes em cada lado do seu corpo… ele continua falando.

— Passei o resto dos vinte anos achando que não tinha coração, e que
nunca mais seria capaz de sentir raiva, vontade de destruir o mundo… mas
finalmente sentir meu coração batendo com uma emoção verdadeira e
saudável. Não a emoção de estar correndo perigo ou estar à beira da morte,
não. A emoção que senti quando vi você pela primeira vez e você me
encarou com esses lindos olhos… — O recanto dos seus lábios se repuxam
rapidamente — Me senti privilegiado. E eu nunca senti isso na minha vida,
mas sinto todas as vezes que olho para você. É como se a cada momento que
meus olhos recai sobre os seus, eu revivesse. Parece que tenho uma boa vida
quando estou do seu lado e não existem demônios na minha cabeça dizendo
o quão desprezível eu sou. Eu pedia tanto a qualquer Deus que pudesse me
escutar enquanto eu estava naquele porão por um salvação, e ele me trouxe
você, anos depois. Anos que valeram totalmente a espera.

Sinto meu coração batendo forte com cada palavra dolorida que sai
da sua boca com esforço. Ele está se desfazendo das suas amarras e me
deixando ver seu coração. E é nitidamente algo difícil para ele ficar
vulnerável. Ele está lutando contra ele mesmo.
— Minha vida só tem um significado porque tenho você. Tenho algo
pelo qual vale a pena lutar. Você é o meu coração, Marcella. Minha alma e a
responsável por eu estar vivo da forma certa. Sou um homem quebrado, um
assassino, um filho da puta doente e você é a única coisa boa em mim. Eu te
machuquei e estou sofrendo por isso como um condenado que preferia está
agonizando do que está recebendo sua frieza. — Ele inspira com força —
Me perdoe, não posso deixá-la ir. Quero que fique ao meu lado, que tenha
meus filhos e construa um império comigo. Quero que fique ao meu lado e
me ajude a ser um bom pai. Quero que aceite que meu coração dilacerado
fica completo quando você está por perto e, acima de tudo, quero que saiba
que eu a amo, e o simples fato de você ficar triste ou magoada por minha
causa me faz ter vontade de sangrar até a morte.

Outra inspiração forte, ele me olha com firmeza e é com a mesma


voz firme da primeira vez que o ouvir, que ele pronuncia as palavras pela
segunda vez.

— Eu amo você, Marcella Moreau. Ardentemente. Profundamente e


sem nenhuma resistência quanto a isso. Eu te amo com cada célula do meu
corpo e eu não me importo que você não me ame. Tenho amor suficiente
para amar por nós dois.

O silêncio recai sobre nós dois após essas palavras. Meu coração bate
tão forte que penso que ele esteja escutando. Suas palavras me deixaram sem
palavras e ar, e tudo que faço é olhar para Kai com os olhos arregalados. Ele
acabou de se desfazer na minha frente, de abrir seu coração e declarar seu
amor. E por mais vontade que eu tenha de caminhar na sua direção e passar
meus braços em torno do seu pescoço… eu simplesmente não consigo.

Tudo que faço é me sentir paralisada. Com cada partícula do meu


corpo congelada diante das palavras de amor que nunca esperei ouvir.

Inspiro o ar, sentindo meus lábios tremerem.

— Não se destroi e humilha a pessoa que você ama, Kai. Você me


expôs. Me deixou sentir como se eu fosse uma mulher impura e nojenta —
murmuro.
Ele balança a cabeça.

— Queria que ele soubesse que você gostava de mim, da minha


companhia. Queria que ele soubesse o que eu te faço sentir quando se
entrega a mim.

Balanço a mão para que ele pare de falar.

— VOCÊ NÃO TINHA O DIREITO! — Esbravejo, respirando


fundo e voltando a me controlar — Eu nunca mais serei capaz de olhar para
o rosto do meu melhor amigo. Você se deixou levar pelo ciúme doentio e
isso te custará caro, Kai. Entende que eu nunca mais vou ter confiança de me
deitar com você novamente? De confiar em você?

Seus olhos vacilam por alguns segundos, a dureza tremeluzindo.

— Eu irei recuperar sua confiança, Marcella. Farei tudo o que for


preciso para ter você de volta nos meus braços.

Fico em silêncio. Totalmente incrédula e revoltada com ele.

— Saia. Me deixe sozinha.

Kai me olha por mais alguns minutos, e ao perceber minha falta de


reação, ele simplesmente vai embora fechando a porta atrás de si. E quando
ele se vai, eu deixo meu corpo escorregar para o chão e antes que eu tenha a
percepção, lágrimas silenciosas estão escorrendo pelas minhas bochechas.
Kai e eu estamos nos vendo com mais frequência. Ele tem dormido
na frente da porta do nosso quarto, esperando minha permissão para voltar a
dormir na cama. Kai tem sido paciente e respeitoso… duas coisas que não
fazia parte dele quando nos conhecemos. Tenho ciência de que ele está
demonstrando com esses gestos que suas palavras declaradas há uma semana
são verdadeiras. E eu gostaria que isso bastasse para tirar do meu
pensamento que não existe mais nenhuma câmera me filmando.

Passei a adquirir o hábito de procurar câmeras em qualquer cômodo


que eu entro dessa casa, antes de dormir, eu revisto o quarto, banheiro, closet
mais de três vezes. Minha confiança nele está mais que abalada, e chego a
pensar que talvez nunca volte a confiar.

Kai aparece no quarto por volta das 10:00 da manhã, vestido com
uma roupa esportiva e o corpo molhado de suor. Ele olha na minha direção,
com a respiração ofegante.

— Nós vamos viajar — anuncia.

Olho para ele.

— Assuntos da organização?

Ele balança a cabeça, passando a mão pela testa suada para tirar o
excesso de suor.

— Não, vamos para nossa lua de mel. Não podemos passar o resto da
nossa vida juntos desse jeito.
Levanto da cama inquieta, com minha pele formigando diante das
palavras dele.

— Lua de mel? — Inquiro — Seu plano de me engravidar não deu


certo?

Ele me olha com atenção agora, eu suspiro.

— Eu percebi que meu comprimido não era o mesmo que eu tomava


há algum tempo. O gosto era diferente. Não entendo porque trocou sem me
dizer, eu disse que quando você quisesse, eu pararia de tomar. Mas, foi
melhor me enganar, não é?

— Você queria terminar sua especialização, e eu prometi que você


terminaria e não poderia quebrar essa promessa. As coisas aconteceram
depressa, precisei fazer o que fiz.

Uma risada irônica sai dos meus lábios e eu começo a caminhar na


direção de Kai. Foco meus olhos nos seus, inclinando minha cabeça para que
ele veja todo meu rosto. Seus olhos ficam suaves.

— Você acha que vou ser capaz de relaxar ao ponto de transar com
você novamente? — Inspiro — Eu não vou conseguir, Kai. Você bagunçou
minha cabeça, me deixou paranoica. Quebrou minha confiança. Posso até ter
seus filhos, mas não será da forma convencional.

Seu olhar é austero.

— Está dizendo que vai gerar meus filhos através de uma


inseminação artificial?

— Se você quiser filhos comigo, será dessa forma. Eu não tenho


mais coragem de me deitar com você, de te ter dentro de mim.

Kai preenche a distância que nos separa e coloca a mão na minha


cintura. Seu toque causa a eletricidade a qual meu corpo entende e se derrete
ao contato. A outra mão de Kai vem até meu rosto e eu prendo a respiração.
Seus olhos são tão intensos que é difícil não ver o fogo neles.
— Eu preciso de você, Marcella. Como um louco. Preciso do seu
corpo, da sua companhia… e parceria!

Sua mão mantém meu rosto firme olhando para ele. Ela não é suave.

— Eu não consigo… — Sussurro.

Kai me envolve em seus braços, um abraço apertado com sua mão


mergulhada no meu cabelo. Meu rosto fica contra seu peito suado e o calor
do seu corpo me faz querer chorar. A proximidade é algo que temo, mas que
surpreendentemente meu corpo acolhe ao invés de repelir como minha
mente está fazendo.

— O que eu preciso fazer para que me aceite novamente, Bella mia?


Me diga, por favor. Imploro a você para me deixar te tocar! — Sua voz é
dolorosa e angustiante.

Seus braços ao redor de mim, me apertam com força. Não consigo


ficar próxima a ele sem que o medo dele me quebrar como fez, volte a me
chicotear sem piedade.

Tento sair dos seus braços, mas Kai me segura com força como se me
soltar não fosse uma opção. Começo a empurrá-lo, arranhar seus braços
cobertos, puxar sua camisa enquanto um soluço preso sai da minha garganta.

— Me solte! Solte… — Bato minhas mãos nas suas costas, acerto


suas pernas com as minhas.

Kai me mantém firme nos seus braços e lágrimas começam a querer


transbordar dos meus olhos enquanto soluços saem da minha boca. Luto
tanto com ele, tento com afinco me soltar que minhas forças ficam moles a
resistência. Kai me conduz até a cama, me deitando na mesma com seu
corpo sobre o meu.

Seus olhos pairam pelo meu rosto com uma expressão de dor
misturada a uma calma forçada. Ele desce seus lábios até minha bochecha e
enxuga minhas lágrimas com seus lábios. Eu fecho os olhos com força
fazendo mais lágrimas caírem. Kai se posiciona em cima de mim de forma
confortável enquanto lambe as feridas que ele me causou.
Seus lábios descem até o recanto dos meus lábios, e lá ele deposita
um singelo beijo, começa a mover seus lábios até o centro e quando chega
nele, comprime seus lábios com os meus em um beijo calmo. Sem nenhum
movimento. Apenas um beijo.

Meus lábios tremem e eu sou incapaz de abrir meus olhos porque


parece que todo meu corpo ficou exausto de tanto lutar, e só quer desligar de
tudo. Kai movimenta seus lábios nos meus, fazendo os meus acompanharem
o movimento. Sua mão acaricia meu rosto e eu sinto como se uma parte
minha estivesse aqui e a outra parte, uma parte enorme, estivesse caindo na
inconsciência e sentindo tudo de longe.

Quando ele para de me beijar, ele deixa seu rosto descansar na curva
do meu pescoço enquanto seus dedos escovam minha pele. Posso jurar que
sinto lágrimas contra a pele do meu pescoço, mas não posso ter certeza, não
sei se estou sonhando ou acordada porque eu simplesmente sinto meu corpo
se desligar.

(...)

Acordo ouvindo batidas fortes na porta do quarto, Kai também


desperta olhando rapidamente para seu corpo entrelaçado ao meu. Ele passa
a mão pelo cabelo e pula da cama, indo atender a porta. Fico sentada,
desnorteada com a brutalidade com a qual fui tirada do meu sono.

— O que foi? — Kai abre a porta parcialmente.

— Capo, Alev Rivera mandou uma encomenda para a sua esposa —


É a voz de Jace.

O nome de Alev me deixa atenta e eu levanto da cama, indo até a


porta. Kai abre espaço para mim e eu olho para Jace.

— Que tipo de encomenda? — Pergunto.

Jace crispa os lábios, tensionando a mandíbula. Kai toma a frente e


Jace nos conduz até ao escritório. Assim que chegamos nele, eu vejo uma
caixa grande bem embrulhada.
— O que tem na caixa, Jace? — Pergunta Kai.

Jace não responde, eu caminho até a caixa sentindo meu coração


bater lentamente. Dou um passo de cada vez sentido cada partícula do meu
corpo. Seguro a tampa da caixa sentindo meus músculos ficando rígidos e
meu sangue correndo frio pelas minhas veias.
Desfaço o laço, e, lentamente, eu abro a caixa e assim que termino de
abrir um grito desesperador sai da minha boca. Um grito tão forte é cheio de
desespero que arranca de mim todo ar do meus pulmões.

— NÃO, NÃO, NÃO, NÃO, NÃO!!! — Grito enquanto olho para


dentro da caixa, colocando minhas mãos dentro.

Sinto os braços de Kai me envolverem e tentarem me afastar, mas eu


luto contra ele e Jace enquanto me agarro com o que Alev fez.

Meus gritos preenchem todo o escritório e minhas lágrimas


explodem pelos meus olhos. A dor partindo todo meu corpo é demais. A
angústia apertando minha garganta, o desespero partindo meus ossos…

— MARCELLA, POR FAVOR!

Kai grita sobre meus gritos para tentar me tirar do estado em que
estou. Chuto Kai, indo até a caixa.

Deixo minhas pernas cederem enquanto seguro a cabeça de Karx nas


minhas mãos. Olho para olhos sem vidas, o rosto com as cicatrizes…

Karx está morto.

Não, não, não!

Meu Deus! Não! Karx não!

— NÃOOOOOOOOO! — Urro com lágrimas caindo pelos meus


olhos e a dor me partindo em diversos pedaços enquanto seguro a cabeça
decapitada do homem que me criou.
Aninho a cabeça dele nas minhas mãos enquanto os gritos vão dando
lugar a soluços incontroláveis.

— Por favor, Deus. Não! Ele não! POR FAVOR! POR FAVOR —
Olho para Kai com desespero — Faça alguma coisa. Ele não pode ter
morrido. Karx nunca deixaria ser morto desse jeito… POR FAVOR, KAI!

Kai desvia os olhos de mim, o próprio rosto retendo agonia. Volto a


olhar para Karx enquanto imploro a Deus para estar tendo um pesadelo.
— Junte nossos homens, uma dezena. Embarque todos para a
Filadélfia imediatamente! — Ordeno a Jace.

— Farei isso imediatamente. Maximiliano não vai interferir nas suas


decisões com Hades estando do seu lado.

Passo a mão pelo cabelo, totalmente desnorteado com a imagem de


Marcella horas atrás. Os gritos de angústia, dor enquanto segurava a cabeça
do homem. A forma como ela estava segurando a cabeça decapitada está
cortando minha alma. A imagem da minha esposa completamente destruída
nunca saíra da minha cabeça. Ela passou horas segurando aquilo, e só
conseguimos separar ela dele aplicando um tranquilizante.

— Alev estava muito carente da minha atenção, e fez um belo


espetáculo. Devo retribuir seu presente — puxo o ar calmamente — Não
quero fraquezas nas nossas defesas, Jace. Ele deve estar nos esperando com
os traidores. Selecione os homens mais fortes que temos, os mais doentes e
sedentos por sangue. Diga a eles que mate todos que se mexerem na mansão
Rivera, menos as crianças e mulheres. Alev será meu, entendido?

— Sim, Capo. — Jace mantém os olhos firmes em mim — O


calmante que injetei nela vai fazê-la dormir por algumas horas mesmo com a
agitação. Milla está ao lado dela, e deixei Castello na porta. — Informa.

Me viro de costas deixando meu rosto ser retorcido pela dor que
Marcella sentiu hoje. Ela ficou tanto tempo gritando e chorando que quando
se acalmou passou horas aninhada a cabeça decepada de um homem que ela
tinha como pai. Alev a feriu cruelmente. Tirou dela alguém que ela amava e
a dor dela é a minha.

Eu irei estilhaçar Alev, matarei quem ele mais ama na frente dele se
isso o fizer chegar perto do inferno que Marcella esteve hoje.

— Esqueça. Eu mesmo irei até os homens.

Visto meu coldre e coloco duas armas de fogo nele. Caminho para
fora do apartamento, para o salão que reúno meus homens. Jace faz a
ligação, e eu os espero. Meus pensamentos estão com Marcella e em como
quero estar do seu lado quando ela acordar. Sou o marido dela, e o homem
que a ama. Se seu mundo está caindo por sua cabeça, irei ser aquele que irá
segurar cada centímetro desse céu.

Observo os meus homens entrando no salão. Cada um com sua pior


face, sorrindo cruelmente em provocação um para o outro. As outras
famílias podem ter bons assassinos, mas eu tenho homens doentes e sem
nenhum escrúpulos. Os piores monstros. E eles irão invadir a Filadélfia e
trazer para mim a cabeça das pessoas que quero.

Emília e India serão uma das vítimas, se for esse o desejo de


Marcella. Junto com a caixa, estava um bilhete de India.

Você me tirou alguém que eu amava, estou retribuindo na mesma


moeda, sua bastarda. Ele não será o último. Apareça na minha frente e
repare o mal que me fez.

India Rivera será uma ótima incubadora para os homens dessa máfia.
O posto de rainha que ela almejou vai se tornar o que ela desejou a Marcella
todos esses anos. Eu farei questão de que ela leve uma vida miserável.

Meus homens ficam em silêncio para ouvir minha ordens, eu me ergo


da poltrona e olho para cada um deles.

— Machucaram minha esposa. A senhora a quem vocês servem e


juraram suas vidas quando me aceitaram como Capo — começo, minha voz
soando obscura.
Os homens erguem o pescoço diante da menção que faço a Marcella.
Eles a aceitaram. Ela é uma de nós. Mataremos e morreremos por ela.

— Quero que busquem vingança por ela, junto a mim. Com ou sem a
permissão da Famiglia, nós iremos invadir a Filadélfia. Iremos lavar o chão
da mansão de Alev Rivera com o sangue de todos que se impor em nosso
caminho. Eu ordeno que cada um de vocês acionem seus contatos e
comecem a se locomover para Filadélfia. Meu inimigo espera por uma
conversa diplomática, mas ele receberá sangue e dor.

— Queime aquela casa com ele dentro.

Viro minha cabeça em direção a porta da entrada do salão junto com


meus homens vendo Marcella cruzando ela. Os olhos inchados e vermelhos
estão repletos de fúria e ela está vestindo peças pretas da cabeça aos pés. Seu
cabelo selvagem está solto, e ela ostenta autoridade.

Olho para ela com preocupação, ela caminha até está ao meu lado,
diante dos nossos homens sanguinários.

— Me desculpem por estar aparecendo na frente de vocês pela


primeira vez em tanto tempo — Sua voz está rouca pelos gritos de mais
cedo, mesmo assim, carregada de autoridade — Não matem Alev Rivera na
primeira oportunidade. Amarre-o as escadas da mansão e coloquem fogo
com ele dentro dela.

Jace olha para Marcella com o rosto duro, totalmente focado em


cumprir o que ela disser.

— Façam o que for preciso para encontrarem um corpo sem a


cabeça. Enfrente tudo o que vem pelo caminho, mas não venham até mim
sem achar esse corpo. Vocês os reconhecerão quando verem — Mesmo com
a voz apática, consigo reconhecer a dor em casa frase e dentro dela.

Os homens fazem uma breve reverência em direção a Marcella e eu


antes de começarem a se dispensar com sorrisos maníacos no rosto de quem
acabou de ganhar um ótimo presente.
Jace se vai com eles.
Quando resta Marcella e eu, minha esposa deixa a máscara da frieza
cair e seus lábios tremem, mas nenhuma lágrima sai dos seus olhos. Eu a
puxo para meus braços e a aperto neles.

— Levarei a desgraça até Alev, Bella mia. Quero que ele sinta o que
você sentiu. Ninguém tem o direito de machucar você. Derramarei quanto
sangue for necessário, travarei uma guerra se isso for preciso para vingar o
que fizeram a você — Prometo com meus lábios contra sua testa.

Marcella me afasta para olhar em meus olhos, suas mãos agarradas a


minha blusa.

— Eu serei o castigo de Alev e o inferno de India. — Seus olhos


fitam os meus com um brilho assassino — Seja meu carrasco e capture Alev,
mas deixe India comigo. Emília e sua mãe poderão serem entreguem a
Famiglia, mas India não. Ela será minha.

Levo minha mão até seu rosto, acariciando sua bochecha e


espelhando o mesmo olhar dela.

— Me peça qualquer coisa, e eu farei, Bella mia — Declaro.

Suas mãos sobe até meu próprio rosto e ela o traz para perto do seu.
A intensidade da sua sede por vingança queimando nós dois em um fogo
amigo leal. Pela primeira vez, minha linguagem violenta dialoga com
Marcella.

— A Filadélfia pertencerá ao nosso segundo filho. Queime junto com


seus homens todo legado Rivera e deixe o sobrenome Moreau, ao qual
começa agora com nós dois, se espalhar pelo lugar. Prepare o lar que nosso
filho pertencerá e comandará. — Seu pedido soa tão claro como a luz do dia.

Ela une nossas mãos, entrelaçando nossos dedos e encostando sua


testa na minha.

— Queimaremos tudo, e faremos o novo surgir das cinzas, Kai. Nós


dois. Juntos.
Levo meu olhar para o dela ainda mais fundo, sentindo cada vez mais
profundo a nossa conexão se transformando em algo palpável. Meu coração
se abre para Marcella como alguns dias atrás e se sente acolhido.

Seus olhos dizem exatamente o que eu preciso saber. E em nenhum


momento vou questionar isso. Não posso deixar a alma de Marcella
obscurecer, por isso, eu serei seu carrasco.

Ninguém vai tirar mais nada dela.

— Eu queimarei esse mundo por você, Marcella. Me diga a quem


devo matar, e eu farei isso. Me diga a quem devo poupar, e eu também farei.
Vou até o fim do mundo a seu pedido. Do céu ao inferno. Só precisa me
dizer. — Declaro em um sussurro enquanto afundo meus dedos no seu
cabelo.

Ela fecha os olhos fortemente fazendo uma lágrima cair.

Ela traz meu rosto ainda mais para perto do seu rosto e encosta os
lábios nos meus fortemente. Eu a beijo de volta com toda intensidade dentro
de mim.

Esse beijo está selando nossa promessa ao outro. Nosso mais sincero
voto de vida e morte. Nossas promessas naquele altar se transformaram em
algo apenas para os outros verem.

O que está valendo desde agora, é esse momento selado. Uma


promessa que jamais será quebrada.
Alev deixou seus homens de sobreaviso sobre minha chegada, é
notável pelo modo como todos eles me escoltam até a mansão. Enfio minhas
mãos dentro do bolso do sobretudo e caminho até a porta principal assim que
saio do carro. Dou uma boa olhada nessa maldita mansão, e torço para que o
fogo consuma tudo.

Entro na mansão encontrando India a minha espera. Percebo o


semblante decaído, o cabelo preso e as olheiras escuras ao redor dos seus
olhos. Ela passou semanas em Las Vegas atrás de mim, sem resposta, voltou
para cá, pediu para matarem Karx e chamar minha atenção. Ela e Alev estão
temendo o que pode acontecer.

— Se eu soubesse que a cabeça daquele monstro fosse te trazer tão


depressa, eu teria feito antes — Diz.

Cerro meu punho. Não posso perder o controle. Ainda não. Preciso
ganhar tempo enquanto os homens de Kai procuram pelo corpo de Karx e
domina o pessoal de Alev.

Coloco um sorriso forçado nos lábios.

— Presumo que queira saber qual será seu futuro daqui pra frente,
hum? — Caminho pela sala sob os saltos da bota de cano alto — Onde está
seu pai? Chame-o.

India balança a cabeça.


— Me diga o que tem a me oferecer, Marcella. Kai matou Massimo,
e Otávio está como um vegetal. Não posso me contentar em ser a esposa de
um soldado qualquer, você sabe que eu não nasci para isso! — Pela primeira,
sinto a angústia na sua voz.

Justine não está nessa casa, ela conseguiu escapar. Tenho certeza que
Karx levou ela pra um lugar seguro. Se ela estivesse aqui, India teria me
recebido com ela como sua refém. Isso me enche de alívio.

— Você achou que Otávio iria conseguir se tornar o Capo da


Camorra. Você realmente achou isso, India? — Questiono.

— Otávio tinha um plano, e estava correndo tudo bem. Aquela besta


acabou com tudo!

Balanço a cabeça.

— Eu disse a você que iria se arrepender de ter me colocado no seu


plano, não disse? — Olho para minha irmã, absorvendo com toda raiva
dentro de mim. — Eu não vou te ajudar, India. Não vir aqui para ser
misericordiosa, eu vir aqui para acabar com você e seu pai.

Ela arregala os olhos, e eu me aproximo dela vendo a mesma se


afastar assustada.

— Foi ideia sua matar Karx? — Questiono com a voz fria.

Ela nega de imediato.

— Foi do nosso pai, ele disse que isso faria você vim correndo para
cá!— Ela tenta fugir, mas eu agarro pelos cabelos.

Um gritinho surdo sai dos seus lábios.

— Você tirou muitas coisas de mim, India. Tirou minhas esperanças


de viver com minha mãe, de realizar meu sonho… — viro o rosto dela na
minha direção — Por sua causa, Karx está morto e isso eu não vou perdoar.
Vou fazer você viver em um inferno e arrancar de você qualquer esperança
que tenha.
Seguro seu cabelo fortemente e acerto um soco na sua face, fazendo
India gritar e girar o pescoço. Ela volta a me olhar com o lado esquerdo do
rosto todo vermelho e o lábio cortado. Tenta fugir, mas eu acerto novamente
a deixando cair no chão.

Seus gritos trazem sua mãe, irmã e pai para a sala. Mas antes que
Alev possa se meter no meio, os homens de Kai começam a entrar na
mansão, e imobilizar Alev.

Kai também está aqui.

Olho para India no chão, encolhida com as mãos protegendo o rosto.

— Marcella, por favor…

Com o bico da bota de couro pontuda, eu acerto o primeiro chute nas


costelas dela fazendo ela ir ao inferno com a dor.

— PARE COM ISSO! — Alev ordena.

Olho para o rosto furioso do homem que me quebrou, e tirou de mim


uma das pessoas mais importantes. Estou olhando muito bem para ele
quando chuto novamente o estômago de India a fazendo não ter forças nem
pra se debater enquanto o sangue escorre da sua boca.

— Onde está o corpo de Karx? — Inquiro ao homem que é meu pai.

Um sorriso diabólico desenha seus lábios.

— Eu sabia que aquela monstruosidade significava alguma coisa


para você. Eu queria que fosse a empregada, mas ela deu um jeito de fugir.

Justine. Meu sangue ferve ao ouvir Alev se referir a ela. Tenho


certeza que ela foi a pessoa que Alev pegou, e Karx conseguiu tirá-la daqui e
morrer no lugar dela. Todo esse pensamento me faz ter mais ódio
condicionado dentro de mim. Karx deu a vida por Justine porque sabia que
eu não conseguiria viver em um mundo no qual os dois não existissem, e se
sacrificou.
Ele só esqueceu que eu também precisava dele.

Tiro a adaga de dentro da minha bota e me ajoelho diante de uma


India ainda consciente. A viro de costas, e solto seu cabelo, segurando um
punhado do mesmo.

— Não, por favor. Marcella… — É Rosélia quem está pedindo agora


enquanto abraça Emília no alto da escada.

Passo a lâmina pelo cabelo de India, arrancando todo o comprimento.


India ruge, tentando se livrar das minhas mãos, mas tudo que faço é jogar
seu cabelo cortado na sua cara e finalizar meu último golpe nela acertando
seu rosto com o cabo da adaga. Ela finalmente perde a consciência e Alev
me olha com fúria.

— Vocês não podem fazer isso, Maximiliano irá pedir sua cabeça,
Kai Moreau. Sua cabeça junto com a dessa bastarda! — Exclama enquanto
tenta se soltar dos homens.

Kai sorri.

— Ora, foi ele quem disse para aceitar isso como um presente pela
minha sucessão a Camorra — meu marido pisca na minha direção — Meu
presente é ver minha mulher feliz, e se isso a faz feliz. Então, que assim seja!

Olho para Jace e os homens ao seu redor.

— Entreguem Emília e Rosélia a Maximiliano. E levem India para


um dos prostíbulo. Ela servirá como uma ótima incubadora de bastardos.

Rosélia choraminga junto a Emília, mas é um urro de Alev que


chama minha atenção. Ele se desvencilhou dos homens de Kai e vem na
minha direção. Segurando meu pescoço com força, ele me derruba no chão,
ficando sobre mim.

Seus olhos verdes são insanos de puro ódio e ele aperta meu pescoço.

— EU DEVERIA TER MATADO VOCÊ JUNTO COM SUA MÃE.


DEVERIA TER DEIXADO SER ESTRUPADA E MORTA PELOS
HOMENS DESSA MÁFIA. EU MESMO DEVERIA TER TE MATADO!

Perco meu ar com a força que ele está exercendo no meu pescoço,
mas não vou dá a ele o gosto de me ver perdendo.

— Sim, você deveria ter feito isso… — digo com a voz sufocada.

Kai tira Alev de cima de mim, jogando o mesmo no chão e pisando


no pescoço dele. Eu me ergo, ficando sentada no chão enquanto recupero
meu fôlego. Kai me lança um olhar para saber se estou bem, e assim que tem
a confirmação volta a sua atenção para Alev.

— Essa é a última vez que você toca nela. A partir desse momento,
você será a pessoa a ser violentada, Alev Rivera — Declara.

Os homens tira Rosélia e Emília aos gritos, enquanto India é


carregada. Quando todas elas se vão, eu assisto Kai massacrar Alev do
mesmo jeito que Alev fazia comigo. Mas ao invés de usar luvas de boxe, ele
usa socos ingleses e acerta Alev em todos os lugares.

— Onde colocou o corpo de Karx? — Pergunto a Alev.

Ele cospe o sangue acumulado na sua boca, o corpo amarrado em


uma coluna está vacilante. O inchaço já tomou conta do seu rosto.

— Você… jamais… encontrará — Sua fala é pausada, interrompida


por gemidos.

Kai acertou em cheio no estômago fazendo ele cambalear para frente.

— Sabe o que vai acontecer, Alev? — Kai pergunta a ele, enquanto


tira os socos ingleses calmamente.

Alev levanta os olhos na direção dele, Kai mostra a ele seu olhar
bestial.

— India será desconsiderada da organização, e sua linhagem


terminará em Marcella, sua última filha. Sendo assim, os filhos de Marcella
que terão direito a chefia da Filadélfia, e Marcella junto a Maximiliano quem
determinará o próximo Underboss até que o nosso segundo filho nasça e
esteja pronto.

Os olhos de Alev parecem se arregalar, ele balbucia algo inaudível.


Kai continua.

— Homens crueis são comuns na máfia, claramente. Filhos da puta


feito você é o mais comum de se achar, e é por isso que não posso deixar
nenhum dos meus filhos crescer com um avô feito você, entende? — Sua
voz está descontraída e ele parece estar batendo um bom papo com Alev —
Olha, cara, eu poderia dizer que não é nada pessoal, mas sabemos que é. Por
isso, eu vou te dar a opção de responder a pergunta da minha esposa em
troca de uma morte mais rápida.

Alev fica em silêncio. Kai suspira e estende a mão para Jace que
entrega a Kai um maçarico. Observo os homens da Camorra saírem e
entrarem com vários galões de gasolina rumo à cozinha enquanto evacua
todos os criados.

Jace arranca a blusa de Alev, e Kai sorri enquanto aproxima a chama


do maçarico na pele da barriga de Alev. O grito é estrondoso e faz meus
ouvidos doerem. Kai mantém a chama por 30 segundos em que Alev se
debate e grita.

O cheiro da carne queimando faz o bile subir pela minha garganta,


mas, ainda assim. Eu permaneço onde estou. Alev sentiu prazer em matar
Karx, em ver seus homens arrancando a cabeça dele.

Por Karx, eu ficarei até ver essa mansão virar escombros.

Karx não me treinou para ser frágil. Ele me criou para ser tão forte
como todos. E é por ele que eu farei as chamas do inferno cair sobre Alev e
toda sua família.

Alev finalmente fala onde o corpo de Karx está quando Kai começa a
queimar a ponta dos dedos dele até ficarem em carne viva, e como Kai não
deu sua palavra de que ele não teria uma morte lenta, os homens terminam
de derramar a gasolina por todos os lugares, até mesmo em Alev que implora
aos gritos e chora como um bebê.
Quando as primeiras chamas começam a subir, eu olho uma última
vez para o homem que é meu pai, e nem mesmo remorso consigo sentir.

Kai segura minha mão, e juntos começamos a sair da mansão que


começa a arder em chamas e os gritos de Alev ficam cada vez mais longe.
Marcella tem o rosto lívido enquanto observa a mansão que cresceu
se tornando cinzas. Estamos observando há duas horas, no alto duma colina.
Apenas nós dois. Ela não moveu nenhum músculo desde que chegamos aqui
e eu dou esse espaço a ela. O fogo está queimando sua prisão e levando seu
carcereiro com ele. Os sonhos dela foram mortos nesse lugar, seu corpo
conheceu a violência tão cedo aqui. A cada centímetro queimado é uma
despedida permanente de um lugar que só trouxe impiedade.

Quando o fogo se transforma em apenas fumaça, Marcella libera sua


respiração e deixa uma última lágrima descer pela sua bochecha. Uma
lágrima pesada de libertação. Eu me aproximo dela, passando meus braços
em torno do seu corpo, suas unhas cravam nas minhas costas enquanto ela
me segura e respira fundo. Beijo o alto da sua cabeça, inspirando seu cheiro
e sentido sua presença.

— Os monstros foram embora, Bella mia. Estamos libertos para


sermos felizes — Marcella chora, um soluço dolorido escapando da sua boca
enquanto me segura com mais força — Vamos ser felizes, eu prometo.
Vamos formar uma família bonita e um novo legado.

Ela concorda com a cabeça enquanto soluça. Suas mãos agarrando


minha blusa com força, como se eu fosse me dissolver a qualquer momento
enquanto ela treme em meus braços. Eu a seguro a mim de forma que ela
sinta com cada fibra do seu corpo que eu nunca vou deixá-la sozinha nesse
mundo.

Otavio tramou me condenar me dando Marcella como esposa, e esse


foi o erro dele. Ela se transformou em um milagre, na luz da minha vida. A
razão para eu chegar até o fim. Ela foi o maior presente que um Deus me
abençoou. Minhas orações respondidas em forma de uma mulher que entrou
na minha vida e desfez cada nó obscuro envolta do meu coração.

(...)

Marcella realiza o funeral do seu treinador em uma tarde de inverno,


ela escolhe uma colina onde o sol bate fortemente e é distante da civilização.
Os homens leais a Karx acompanham o sepultamento. Todos vestidos de
preto. Marcella fez questão de que Karx fosse enterrado por inteiro. O corpo
com todos seus membros. Seguro sua mão fortemente enquanto observamos
o caixão ser baixado na terra pelos homens, com a bandeira do brasão da
Famiglia.
Todos fazem sua reverência de despedidas, jogam um punhado de
terra no caixão e vão embora, mas antes de irem, os dez homens que vieram,
se dirigem a Marcella. O líder deles, um homem jovem, alto e solene é quem
fala:

— Juramos nossa lealdade à senhora. Apenas a senhora e a seus


filhos. Não a organização. Não aos Capos, Don.. A senhora — ele tira sua
arma do coldre e coloca diante Marcella — Minha lealdade, minha honra e
palavra é tudo que tenho, estou entregando-a a sua pessoa, minha senhora.
Juro pela minha vida que irei servi-la em tudo que me pedir sem questionar.
Servirei aos seus filhos com a mesma lealdade. Eu, Francis Magno, me
juramento em nome da herdeira da Filadélfia. — Francis olha no fundo dos
olhos de Marcella — Da primeira e última aprendiz de Karx.

Olho para Marcella, seu cabelo serpenteando no ar frio, seus olhos de


um verde brilhante destacado pela grama verde. Minha esposa observa os
homens tirarem as adagas e cortarem a palma da mão deles perante a sua
nova líder. Não é a mim a quem juram, não é a nenhuma organização.

É a Marcella.

São dez homens juramentados a ela. Homens que irão, se ela pedir,
desafiar o mundo. Eu observo isso com fascínio.
Marcella olha para cada um deles como uma igual e eu posso sentir a
aura de poder que sai da minha esposa quando ela aperta a mão de cada um
dos seus homens.

Quando eles se vão, nós dois ainda permanecemos, olhando para o


túmulo recém feito.

— Ele me salvou de diversas maneira. Quando eu não passava de


uma criança assustada e rejeitada, Karx me fez uma guerreira — A voz de
Marcella é baixa, repleta de respeito — Ele e Justine nunca me deixaram
perder a fé em mim mesma.

Coloco minhas mãos atrás das minhas costas enquanto observo ela
abaixada, de costas para mim, com a mão na terra. Tão vulnerável, e ao
mesmo tempo cheia de jugo. Ela sempre terá essa dualidade dentro dela.

— Tenho certeza que ele se orgulhou até o último minuto de você,


Marcella. — Asseguro.

— Ele era uma parte de mim, Kai. Sempre será. E eu vou me culpar
o resto da minha vida pela sua morte, porque foi por mim que ele acabou
dessa maneira.

— Você tem esse direito, minha querida. Mas, você sabe que o
destino dele seria a morte em prol de proteger alguém. Nós morremos pelo
nosso, e ele morreu fazendo o dever que ele jurou silenciosamente a você e a
Justine.

Marcella assente, virando o rosto de lado para limpar as lágrimas


com a manga do seu casaco.

— Eu pedi para ele ir embora daqui, e levar Justine, mas ele se


recusou a ir. Odeio o fato de estar o enterrando na terra da organização que o
traiu, mas sei que me odiaria se eu não fizesse isso.

Ela se ergue, enxugando as últimas lágrimas. Seus olhos nublados me


olham com aceitação. A Marcella que eu conheci está enterrada por minha
culpa tanto como de Alev. Uma outra Marcella emergiu e eu vou amar essa
tanto quanto eu amo a que conheci.
— Você vai ficar bem, eu te garanto isso. Secarei todas suas lágrimas
e não a farei chorar novamente, a não ser que seja de felicidade. — O vento
bate forte no meu rosto, frio demais, mas apaziguador. Olho para Marcella, e
mais uma vez, eu declaro com toda força dentro de mim — Eu te amo,
Marcella.

Ela pisca os olhos com a mesma surpresa do dia que me declarei no


escritório.

— Eu não espero que me ame de volta, não depois de tudo que fiz.
Tudo que imploro é que fique ao meu lado e me deixe amá-la. Não existe
mais um mundo para mim em que você não exista — Confesso com a voz
profunda.

Ela caminha na minha direção, preenchendo o espaço entre nós dois.


Sua mão pequena se entrelaça com a minha, seu olhar recai sobre os meus.
Com a mão livre, ela acaricia minha bochecha, o lado da cicatriz. Fica na
pontas dos pés e beija a mesma. Os lábios quentes e macios contra minha
pele. Fecho meus olhos por breves segundos com o toque quente dela contra
minha pele. Quando ela se afasta, faz questão de apertar minha mão e abrir
um pequeno sorriso.

— Você é minha família, Kai Moreau. Meu lugar é ao seu lado, e


sempre será.

O vento parece ficar mais forte diante das palavras dela, trago
Marcella para os meus braços, desejando voltar a possuir seu corpo nesse
campo gélido e me queimar com meu amor e paixão por ela, mas serei
paciente. Preciso atender o pedido de Hades antes de partirmos para casa.
Chegamos a fortaleza do Don da Famiglia no horário marcado por
Maximiliano e sua esposa. Não somos nós que nos atrasamos. Carolina
Colombo, a esposa de Maximiliano, nos leva para a biblioteca para
aguardamos Maximiliano e Hades Baumann, que estão tendo uma conversa
particular no escritório, e Kai é convocado, assim que chegamos, a
participar.

Fico sozinha com Carolina na biblioteca. Ela é cinco anos mais velha
que eu, eu a via em algumas ocasiões, nunca chegamos a nos falar. Seu
casamento com Maximiliano foi às pressas. Eles já estavam noivos, mas
precisaram se casar imediatamente quando Hades Baumann acabou com
Hugo. Lembro da agitação que foi para organizar tudo.

Carolina é uma mulher linda, de cabelos cor de cobre, olhos azuis


escuros e uma pele alva. Todos diziam que depois de Athena, ela era a mais
bonita da Famiglia.

— Deseja beber algo, Marcella? — Pergunta com sua voz suave


como uma brisa de verão.

Balanço a cabeça de forma negativa. Carolina mantém um sorriso


suave no rosto. Ela parece tão delicada, em todos os sentidos. Ela é alta, mas
elegante. Suas roupas possuem a mesma delicadeza que ela, tudo em
Carolina Colombo parece fluir como águas de uma nascente.

Ela se senta na poltrona oposta a mim, alisando a saia do vestido. Os


olhos azuis escuros focam em mim com um sentimento genuíno.
— Sinto muito pela perda do seu treinador.

— Obrigada.

— Maximiliano não ficou tão satisfeito como que seu marido


revidou, mas ele não se opôs. Quero que saiba disso.

Percebo de imediato que ela está querendo evitar qualquer atrito que
possa ter na nossa relação. Na relação entre a Camorra e Famiglia. Ela é uma
mulher pacífica, como somos ensinadas a ser desde o início da criação. Ela
deve ser uma ótima senhora e esposa.

— Kai está ciente de tudo, não tem com o que se preocupar.


Agradeço pela hospitalidade que estão nos oferecendo desde o momento que
chegamos aqui. — Agradeço.

Ela assente.

— Bom, você agora também é a senhora de uma máfia. Quando eu


for a Las Vegas, ou quando nos encontrarmos nas reuniões das famílias,
espero que possamos nos dar bem — Diz.

Eu concordo.

— O que farão com Emília? Deixarão ela se casar com o noivo? —


Questiono.

Carolina crispa os lábios, tensa.

— Ela será entregue aos cuidados de outro soldado. O noivo se


negou a seguir com o compromisso, mas, ainda existia alguém que aceitou
se casar com ela. Emília e Rosélia ficarão aos cuidados da família Russo.

Busco a associação do sobrenome às pessoas, e demoro a encontrar


as pessoas por trás. Carolina me conta quem são eles. Se trata de um viúvo
de quarenta anos que tem dois filhos, e se aposentou dos confrontos após
perder a mobilidade de um lado do corpo após um AVC.
Emília deve estar querendo morrer, mas é ambiciosa demais e o
homem tem dinheiro para suprir suas necessidades tanto como da mãe dela.

— Sobre India, nós decidimos respeitar sua decisão. Os filhos dela e


Emília perderão a legitimidade como herdeiros Rivera… esse é o presente de
Max, a nova senhora da Camorra — Carolina finaliza, com uma expressão
lívida.

Balanço a cabeça, em sinal afirmativo.

— Agradeço pelo gesto, e eu não esquecerei disso.

— Obrigada.

A porta da biblioteca é aberta, tanto eu como Carolina viramos o


rosto na mesma direção e eu me levanto do sofá de imediato sem entender
meu gesto. Mas, acredito que seja um instinto de qualquer pessoa que sinta
uma energia superior.

— Estou atrapalhando vocês duas? — A voz de Athena é rouca. Um


tipo de voz que você adoraria passar o tempo ouvindo.

Eu a observo, com uma expressão de pura admiração. Todos sempre


falaram de como ela era linda, mas não chega aos pés de qualquer definição
de beleza ver ela pessoalmente. Vestida com um conjunto branco de inverno,
a pele pálida exposta do seu corpo fica ainda mais clara. Os olhos dela são
de um cinza metálico tão hipnotizantes que eu preciso lutar contra minha
mente para desviar minha atenção deles, assim como do seu cabelo negro.
Tão escuro que brilha como orvalho. Sempre ouvir que ela tinha uma
aparência celestial, e essa é a definição mais fiel que se pode fazer de Athena
Baumann, a mulher que derreteu o coração frio do maior assassino e
torturador do submundo. Que o fez matar todos os homens que a
machucaram.

— Você é Marcella Moreau, não é? — Seus olhos hipnotizantes me


encaram e eu fico sem palavras, mas concordo com a cabeça. Ela sorri de
forma divertida — Devo agradecê-la. Graças a você, eu pude rever minha
tia.
Engulo minha saliva, encontrando o fio da minha sobriedade. A
beleza dela é tamanha que chega a embriagar os sentidos.

— É um prazer conhecê-la, Athena.

Ela caminha até nós, a bota de salto ecoando pelo piso de porcelana.
Ela olha na direção de Carolina, que simplesmente parece murchar diante de
Athena.

— Bom vê-la novamente também, prima. Você está bem?

Carolina olha para a prima com o rosto sereno.

— Sim, eu estou. E vejo que você também.

Athena tem uma postura de altivez que é desafiadora. Ela faz um


maneio em direção a Carolina, que simplesmente começa a se dirigir a saída.

Ficamos apenas Athena e eu. Ela se senta ao meu lado, com


centímetros de distância e eu me forço a fazer o mesmo. Ela mantém um
sorriso agradável nos lábios, mas seus olhos estão afetados por algo.

Acredito que o reencontro com sua tia não foi tão bem assim.

— Eu não vou fazer mal a você, Marcella. Sei que todos falam que
sou terrível, assim como Hades, mas isso não é verdade. — Sorri de lábios
fechados.

Balanço a cabeça.

— Não estou com medo de você, estou só absorvendo você. Sempre


ouvir falar da menina que foi levada pelo sociopata e se transformou na
ruína dos homens da Famiglia.

Ela passa a mão pelo cabelo, os olhos desviando dos meus


rapidamente.

— São histórias e tanto que repercutem por mim pela organização.


Entendo porque estava proibida de voltar aqui. Agradeço ao seu marido ter a
mesma sede de vingança de Hades. — Ela cruza as pernas, me olhando com
simpatia — Já contou a ele?

A olho de forma confusa, e ela baixa os olhos para minha barriga, a


qual estou protegendo com as mãos, inconscientemente.

Athena me olha com atenção.

— Ele é cruel com você? — Questiona.

Nego.

— Não. Kai é apenas…Kai. — Respiro fundo — Ele nunca foi cruel


comigo, mas suas ações não são tão favoráveis à nossa relação. — É minha
vez de a olhar com atenção — Hades é cruel com você?

Seus olhos ficam distantes por alguns segundos, antes dela voltar a
si.

— Ele já foi. Hades não consegue sentir emoções. Nos primeiros


meses do nosso casamento não houve um só momento que ele não tenha
sido cruel. Ele não era cruel por consciência, mas por perturbação.

Fico em silêncio, a ouvindo. Acabamos de nos conhecer, mas ambas


estamos quase na mesma linha trágica de ser dadas a homens com problemas
sombrios. Ela está respondendo minhas perguntas pelo fato de ambas se
entenderem.

— Hades começou a ter pequenas emoções por causa da minha


presença, e essas pequenas emoções em alguém que não sentia nada… é
perturbador. Ele ficou perto de perder a sanidade. Ele me amava de forma
diferente, inconvencional e cruel… e eu me submetia a isso porque precisava
desesperadamente que ele demonstrasse emoções reais. Então, eu me dava
com um brinquedo a ser quebrado.

Minha respiração é quase superficial. Eu já fui uma pessoa


desesperada por amor, já me deixei entrar em situações tão horríveis por
migalhas que me deixaram sequelas até hoje. Eu imagino o que Athena
passou com Hades, e meu estômago revira.
Quando estamos famintos por amor, comemos de tudo.

— Ele continua sendo cruel com você? — minha voz é um sussurro.

Ela balança a cabeça, fazendo os fios negros lisos sacudir


suavemente. Ela olha em direção a minha barriga e uma dor é projetada
junto a sua voz.

— Eu fui cruel com ele também, Marcella. Tirei dele algo que ele
achou que não queria, mas era tudo que ele precisava. — Athena se levanta,
olhando para mim — Conheci seu marido quando ele foi à Alemanha em
busca do apoio de Hades. Ele a ama. Diga a ele que carrega o filho dele na
sua barriga. Ele merece saber disso.

Abro minha boca para perguntar a ela como conseguiu permanecer


ao lado de Hades, mas somos interrompidas pela porta, mais uma vez. Dessa
vez, é Kai e Hades que entram. Lado a lado.

Kai e Hades parecem ter o mesmo tamanho, mas Hades tem uma
estrutura colossal. Levanto do sofá, recebendo Kai ao meu lado. Hades me
lança um olhar inexpressivo, ele fica ao lado da sua esposa. A mão na
cintura dela de forma dominante, os olhos dele busca os dela, e Athena abre
um pequeno sorriso que parece contar uma história para Hades.

Ele fica mais calmo após olhar para ela.

— Já podemos voltar para casa. Todas nossas pendências com a


Famiglia foram sanadas — Declara Kai, olhando para mim.

— Podemos voltar para casa? — Pergunto e seus olhos brilham ao


me ouvir chamando Las Vegas de casa.

Kai assente.

— Sim, nós podemos.

— Terão alguns meses de sossego, mas não se acomodem. Ainda tem


muito por vir — Hades adverte com sua voz fria e o sotaque alemão.
Eu olho para ele, mostrando meu respeito pela primeira vez.

— Muito obrigada por ter nos ajudado — agradeço.

Ele olha para Athena rapidamente, e depois para mim.

— Vocês se tornarão úteis, no futuro.

Kai entrelaça minha mão a dele, apertando firme.

— E vamos estar aqui para o que precisar, Hades Baumann. — Deixa


claro.

Nos despedimos de Hades e Athena, e seguimos para Las Vegas,


antes de irmos embora, eu entrego a Carolina uma fotografia de Justine, e
peço para que entre em contato quando ela aparecer. Sei Justine virá a Nova
York quando as notícias se espalharem, ela tem parentes aqui. Quando isso
acontecer, eu virei buscá-la.

Durante todo o caminho de volta a Las Vegas Kai e eu ficamos


abraçados, em silêncio, apenas sentido um ao outro, eu crio coragem para
falar a ele que estou esperando um bebê.

Mas, a cada vez que tento pronunciar essas palavras, pareço perder a
capacidade de falar.
Ainda não sou capaz de curar a ferida que ele me causou.
Kai e eu paramos em uma das boates assim que chegamos a Las
Vegas. Os homens requerem a presença dele, e Jace pediu a ele para vir até
aqui, onde alguns dos homens estão reunidos. Antes de me deixar no salão,
ainda fechado, ele deu ordens para o barman e as meninas que estão
ensaiando se comportar. E após eu lhe lançar um olhar autoritário, ele saiu
de cena.

Me sento em uma das banquetas do bar, o jovem barman de cabelo


claro me pergunta em um tom educado e atencioso o que vou beber. Eu peço
uma água gelada. Olho ao redor da boate de luxo vendo as cinco meninas,
apenas de lingerie, ensaiando em cima do palco. Os olhos delas são curiosos
sobre mim, e eu arrisco um sorriso, elas desviam os olhos com vergonha.

— Quantos anos têm essas garotas? — pergunto ao barman, me


questionando a idade do mesmo.

Ele serve minha água, mantendo o rosto jovial tranquilo.

— A mais velha delas, é a Cameron. Ela tem 25 anos, senhora.

Olho para a morena ensaiando uma pose no pole dance. Ela é muito
bonita. A maquiagem dela e das outras quatro meninas claramente foi feita
para elas parecerem mais velhas.

— Como elas vieram parar aqui? — pergunto.

Karx e Nikolai já me contaram algumas histórias de algumas das


mulheres que iam parar nas boates e bordeis da máfia. Tem as mulheres que
são atraídas a trabalhar por cafetões que as enganam e a fazem ficarem
presas nessa vida até não ter mais idade para continuar trabalhando, outras
por dívidas a máfia, tráfico e outras por puro vício.

— É um bico, senhora. Uma forma de fazer dinheiro fácil para pagar


os estudos ou sustentar a família. As mais novas que está vendo são do
interior do Texas. Vieram parar aqui para custear a vida em Las Vegas.

Continuo olhando para mais jovem, ela deve ter em torno de 19 anos,
e claramente está se esforçando para aprender os passos que as outras estão
ensinando. Viro meu rosto quando percebo que elas estão ficando
desconfortáveis com minha atenção. Bebo minha água pensando na família
dessas meninas e em como chegaram à decisão de vender o próprio corpo. A
realidade delas deve ser mais difícil do que imagino ou outras pessoas
imaginam. Escolhas são feitas a partir das circunstâncias, e por mais que eu
sinta pela situação delas, não existe nada que eu possa fazer.

— Um bico, você disse? — Questiono.

O barman assente enquanto limpa os copos que serão usados daqui a


algumas horas quando a boate será aberta.

— Elas só trabalham quando realmente precisam de dinheiro. Elas


não são frequentes na boate. Trabalham duas noites por semana.

Respiro fundo.

Essa podia ser minha vida, ou de qualquer outra pessoa.

Passo minha mão pelo meu cabelo, sentindo meu estômago roncar.
Comemos no avião, mas não pareceu suficiente. Meu apetite dobrou no
último mês, e eu conheço a causa.

Ouço a fala de Jace, e olho em direção ao corredor ao lado do bar


vendo Jace e Kai saindo do escritório conversando baixo.

— … Verifique as notas no malote, pegue os 15% e divida entre os


homens. Verifique as madeiras vindo do Brasil. Quero mais caixões feitos
para circular com as drogas. — Instrui Kai a Jace.
Jace simplesmente assente e seus olhos se erguem na minha direção.
Um olhar respeitoso.

— Olá, Jace — Cumprimento-o.

— Minha senhora — Sua cabeça se curva respeitosamente na minha


direção.

Ele é diferente quando está por perto de Kai. É mais fechado e parece
ter medo de lançar um olhar errado em qualquer direção.

Quando éramos apenas nós dois, ele parecia mais à vontade.

— Vamos para casa — Kai estende a mão na minha direção, e eu a


seguro. Saindo da boate com ele em direção a cobertura.

Quando as portas de metais do elevador da cobertura se abrem, eu


não deixo de mostrar meu rosto surpreso ao ver a entrada e a sala
completamente decorada com enfeites de natal, inclusive, uma árvore com
guirlanda. Caminho para dentro, observando tudo. A lareira está ligada e um
cheiro delicioso de comida enche o ar.

Em cima da lareira, tem dois pares de meias. Uma azul e outra


vermelha. Ainda em cima, tem fotos preto e branco. Fotos minhas, tiradas
em momento distraído por dentro da cobertura. Fotos minhas secando o
cabelo com a toalha, estudando na bancada da cozinha, lendo livros na
biblioteca…

Todas essas fotos foram tiradas por Kai, ele era o único ao meu lado
nesses momentos.

A cobertura está tão quente e familiar. Um clima leve e até arrisco


dizer feliz. Olho para trás, onde Kai está parado com as mãos atrás das
costas, parecendo deslocado e tímido. Ansioso.

— Fez tudo isso? — Pergunto baixinho.

— Milla organizou tudo ao meu pedido.


— Por quê fez isso?

Kai engole a seco, respirando baixinho. Os olhos determinadas nos


meus.

— Porque merecemos isso. Será nosso primeiro natal juntos e eu


quero que festejamos ele como uma família normal. Quero se torne uma
tradição em nossa família. Quero comprar e embrulhar presentes para você,
para que abra na manhã de natal. Quero que tenha um natal de verdade. Um
natal que nunca nos deixaram ter.

Olho para Kai vendo a expressão de desconsolo misturada a tristeza


que fez seus olhos brilharem. Vejo nele uma esperança que faz seu corpo
brilhar e afastar as sombras.

Uma mistura de um menino e um homem esperançoso renascido.

— Eu nunca comemorei o natal — Sussurro olhando para Kai.

— Eu também não, Bella

Inspiro fundo.

— O cheiro está delicioso.

— Pedi para Milla preparar um Peru com batatas e todo tipo de


comida que se serve no natal.

Olho em direção a cozinha e começo a caminhar com Kai bem atrás


de mim. Vejo a mesa posta, com a comida ainda quente. Olho paga toda
extensão dela repleta de comida e um sorriso triste se forma nos meus lábios.

Karx e Justine iriam adorar.

— Vamos fazer nosso prato e comer ao lado da árvore. Perto da


lareira. — Digo.

Kai assente.
Começamos a fazer nosso prato, coloco mais comida do que como
usualmente. Me sirvo de tudo e me sento na frente da lareira. Kai toma seu
lugar ao meu lado, descalço. Olho para as luzes brilhantes na árvore e algo
se acende de esperança em mim.

— Quando tirou essas fotos? — Pergunto.

Ele olha para a lareira, onde minhas fotos estão.

— Ter sua imagem na minha mente, não é o suficiente. Eu sempre


adorei fotografias e você é a pessoa mais linda para mim, então comecei a
registar os momentos em que você parecia extremamente brilhante de tão
linda.

Levo um pouco de água a boca, mantendo os olhos em Kai.

— Eu confio em você, Kai. Como carrasco. Mas, eu oscilo entre


confiar em você novamente como homem depois do que fez.

Ele balança a cabeça, assentindo.

— Farei o que for preciso para restaurar sua confiança em mim,


Marcella. Você é a única pessoa que me importa e eu irei esperar até me
aceitar na cama novamente.

Os olhos âmbar brilham com um sentimento condescendente que eu


entendo bem, e aprecio.
Ele precisa saber. Não posso esconder isso mais dele. Eu não irei
fugir. Minha vida é estar ao lado dele.

Deixo meu prato com a comida quase no fim, ao meu lado.


Mantenho meus olhos em Kai e ele em mim.

— Nesses últimos dois meses, nós dois passamos por muitas coisas.
Você, principalmente ao se tornar Capo. Quando eu fugir aquela noite,
quando fui para longe de você eu estava com raiva. Com muita raiva e não
planejava mais te ver porque você foi longe demais, Kai…

— Eu sei — Baixa a cabeça, parecendo pesado.


— Eu não terei mais coragem de olhar para Nikolai, não depois
daquilo. E não é por eu gostar dele como mulher, mas é por amá-lo como
irmão e saber que ele está profundamente magoado comigo. Eu me entreguei
ao inimigo dele. Ele nunca me perdoará — baixo minha cabeça para não
deixar que a tristeza aparente na minha voz — Minha mãe está segura com
ele. Nikolai nunca a usará como retaliação ou moeda de troca com você.
Também não deixará ninguém fazer mal a ela.

— Posso trazê-la para você. Para viver conosco. Esse é um plano que
tenho — Sua voz é profunda.

Balanço a cabeça, enxugando uma lágrima no recanto dos olhos.

— Minha mãe não me quer. Esses anos todos, ela estava fugindo de
mim porque eu era a garantia de dinheiro dela. Alev me dizia que era me
queria, mas isso era apenas pra manter o medo de não ter uma vida feliz ao
lado de uma pessoa que eu achei que me amava, que talvez tenha lutado para
ficar comigo estava sendo obrigada a ficar longe para o meu bem. Mas, não
era isso. Ela me entregou a Alev sabendo de tudo, e ganhou dinheiro para
manter uma boa vida enquanto eu sentia medo pela vida dela.

Kai não diz uma palavra. Ele chegou a essa conclusão primeiro que
eu há muito tempo. Foi por isso que nunca disse que traria minha mãe para o
meu lado mesmo tendo o poder.

— Você está certo sobre sermos a única família do outro, Kai. E é


por isso, que eu peço desculpas a você.

Kai me olha com confusão.

— Por quê está me pedindo desculpas, Marcella?

Sua voz é analítica e profunda. Ele está me estudando.

Engulo minhas lágrimas e olho no fundo dos seus olhos. Minha voz
tenta se manter firme mesmo embargando quando eu confesso.

— Por ter tentado fugir com um filho seu na minha barriga.


As pupilas dos olhos de Kai dilatam e ele fica extremamente inerte.
Os olhos em puro choque. Seu corpo está tenso e seu olhar é indecifrável. E
eu me preparo para o pior.
Observo Kai se levantar do chão, andar até o começo da cozinha e
parar ali. Suas costas demonstram toda a tensão do corpo, ele passa a mão no
cabelo diversas vezes, balançando a cabeça. Não posso ver seu rosto, mas
tenho certeza que esteja torcido por uma expressão de pura incredulidade. Eu
me ergo, colocando minha mão na minha barriga de forma protetora.

Kai se vira na minha direção, o rosto torcido e os olhos âmbar


brilhando de puro sentimentos contraditórios.

— Há quanto tempo sabia que carregava um filho meu na barriga? —


sua voz profunda repercute pela sala, fazendo os pelos dos meus braços se
arrepiarem.

— Descobrir no bordel. Uma das meninas comprou um teste. —


Tento manter a voz firme, mas é extremamente difícil.

Kai balança a cabeça, passando a mão pela boca de forma ansiosa.


Repetida.

— E você pulou de uma janela, se feriu e estava disposta a morrer do


que voltar para mim?

Engulo a seco.

— Eu estava com raiva de você. Não só pelo fato de ter feito aquele
vídeo, mas de ter conhecido sua amante e descoberto que foi com ela que me
traiu duas noites depois de ter reivindicado meu corpo — Exprimo com uma
sensação descontente na voz. — Ela me contou coisas sobre vocês, tudo o
que eu conseguia sentir era raiva.

Kai passa a mão pelo cabelo com força, o rosto cada vez mais torcido
por emoções divergentes.

— Tudo o que fiz, Marcella foi para manter você ao meu lado na
hora do desespero. Na minha mente fodida, você iria embora com Nikolai
Vassilliev na primeira oportunidade porque sou doente demais para você. —
Sua voz é pura angústia misturada a raiva assim como sua expressão —
Achei que você iria embora e levar a porra do meu coração com você, e
viver com outro homem enquanto ignorava minha existência, apagava
minhas digitais de você. Aquele final de semana na praia me fez ter
esperança de que você pudesse sentir algo por mim, mas isso passou tão
rápido quanto chegou na minha mente porque eu sei que não sou bom o
bastante para você. — Ele bate o indicador com força na sua têmpora
enquanto exprime seus sentimentos — Isso aqui é muito fodido para achar
que uma mulher como você possa me amar. Procurei outra mulher dois dias
depois ter tido você porque precisava punir a mim mesmo com a sujeira de
um sexo sujo e violento para tirar a impressão de que você havia limpado
meu corpo, acalmado minha mente e matado a parte sádica em mim que me
fazia querer punir qualquer mulher, menos você. A cada vez que fazíamos
sexo, eu me sentia purificado… o demônio em mim odiava você ser tão
limpa. Meu maior desejo é fazer amor com você, ser delicado e saborear sua
pele, cada pedacinho dela… mas, eu tenho fome por você. Fome de estar sob
sua pele, de sentir você se contraindo, gemendo e me olhando com esses
lindos olhos redondos tomados de desejo…

Kai respira fundo, mordendo os lábios com força e fechando o


punho. Seus olhos desviam dos meus rapidamente.

— Tudo o que eu podia te oferecer como seu homem era o sexo e


uma vida onde não faltasse nada. Então, foi isso que fiz. — Declara com a
voz trovejante.

Olhar para ele agora é diferente de qualquer maneira que eu já o


tenha visto. O Kai na minha frente é uma tempestade carregada, não só de
raios. Já o vi de diversas formas, mas agora, ele parece particularmente mais
inofensivo pela primeira vez, mesmo estando com tanta raiva dentro de si.

— Você acha que isso justifica o que fez comigo? me expor daquela
forma me fez duvidar de qualquer consideração que você possa ter tido
comigo, Kai. Eu me sentir tão traída, tão suja que comecei a me odiar por ter
deixado você se impregnar tão profundamente na minha pele. Eu estava tão
envolvida com você, com meus sentimentos entrelaçados aos seus que a
cada dia que amanhecia, eu temia me apaixonar por você e acabar destruída
quando você resolvesse me descartar. Nikolai me contou do que planejou
com Angelo… Eu só quis ir embora.

— Eu nunca teria deixado outra mulher ocupar seu lugar! Você


sempre será minha esposa, Marcella! — Declara como um rosnado.

Cerro meus punhos.

— Se tivesse me falado, perguntado tudo para mim, eu teria te


falado, Kai. Se ao menos tivesse tido a consideração de pesar meus
sentimentos…

Ele fica em silêncio, o rosto torcido e uma postura ansiosa. Nós dois
nos olhamos, medindo o ponto que chegamos. Ele parece tão machucado e
cansado que quando fala sua voz está repleta de pesar.

— Eu me tornei um monstro sádico por falta de amor e atenção. O


que acha que eu teria me tornado se não a tivesse encontrado e você fugisse
de mim com esse bebê no seu ventre? — um sorriso triste, sem esperanças se
forma rapidamente no recanto dos seus lábios.
Meus olhos ardem com o peso das suas palavras e o sentimento mal
de ser uma má pessoa invade minha mente. Ainda dou um passo na sua
direção, pronta para o abraçar e espantar as trevas ao redor dele, mas eu me
detenho quando ele se vira de costas e tira a blusa. Minha boca se abre e
meus olhos se arregalam. A pele castigada pelas cicatrizes das chicotadas
continuam no lugar, mas acima delas, na área entre o meio das suas costas,
quase perto da sua cervical onde a pele não possui nenhuma cicatriz, se
encontra uma tatuagem.
Eu quero tatuar seus olhos na minha pele, Marcella. Quero ter esses
olhos redondos me olhando por cada segundo do dia.

Ele realmente quis dizer isso, e fez acontecer. Meus olhos estão
tatuados na sua pele. Um desenho minimalista, a tinta preta fazendo o
desenho, e a cor verde colorindo minhas íris assim como os pequenos raios
de castanhos. Levo a ponta dos meus dedos até sua pele, Kai se agita com
meu toque, ficando rígido.

— Você… — começo a falar, sendo interrompida quando ele se vira


na minha direção e me deixa sem palavras mais uma vez.

Meus olhos agora estão no seu peitoral, mirando a tatuagem do


dragão cuspindo fogo com feridas que ainda não foram cicatrizadas.
Pequenas queimaduras redondas ao redor do seu peitoral. Descendo até o
estômago. Cicatrizes de queimaduras com formato redondo, similar a uma
vela de carro.
Subo meus olhos assustados para os de Kai, vendo seus olhos com
um brilho tão dolorido ao qual se desenha nos seus lábios em um sorriso
zombeteiro.

— Quem fez isso com você? — Pergunto com altivez, pronta para ir
atrás da pessoa que o fez relembrar suas feridas.

Kai mantém os olhos nos meus, brilhando com uma expressão de


expiação.

— Foram dias longos lutando contra meu demônio interior, Marcella.


— Sua voz é sombria — Eu precisava dar tempo a você. Ficar longe e não te
tocar… ficar sem ter você foi como enfrentar uma abstinência, só que mil
vez pior. Ou eu me distraia com isso, ou ia atrás de você e te tomava a força,
e isso mataria qualquer chance de ter seu coração.

Olho para as dezenas de queimaduras desnorteada, assimilando as


que foram feitas recentemente, e as que estão aqui há pouco tempo. Meu
peito comprime tão fortemente que dou um passo vacilante para trás, com
meus olhos inundando de lágrimas. Minha alma parece mais dolorida do que
minutos atrás e o choque me toma tão fortemente a cada respiração que eu
fico zonza e com a boca seca.

— Não quero sua piedade, Marcella. Quero que olhe para mim e
enxergue o quanto estou tentando mudar a mim mesmo para ser melhor para
você. E agora, ser melhor para o nosso filho.

Fecho os olhos com força ouvindo seu tom de voz ficando emotivo
quando ele se refere ao bebê que está na minha barriga. Nosso filho.

Eu teria o destruído se eu fosse embora, não teria?

Cerro meus punhos, segurando minhas lágrimas.

— Eu poderia fugir de você, Kai. Mas eu nunca conseguiria te odiar


— minha voz é vacilante, tento manter meus olhos nos deles — Você sempre
será uma parte minha que nunca morrerá. Você foi um recomeço para mim.
Todas as vezes que tentei te afastar, eu estava mais envolvida com você. É
cruel e doloroso pensar que você poderia me descartar, então era mais fácil
dizer a mim mesma que te odiava. Mas, a verdade é que… — lágrimas
escapam dos meus olho e eu a enxugo rapidamente.

Kai vem na minha direção, ficando tão próximo que preciso inclinar
minha cabeça para o olhar. Seus olhos brilham como gemas postas à luz da
noite.

Suas mãos vem para minha cintura. Firmes. Eu estremeço.

— A verdade é que eu aprendi a gostar de você. De apreciar sua


companhia e ansiar pelos nossos momentos juntos. — Confesso.

Kai encosta a testa na minha, nossos olhos focados um no outro. Suas


mãos sobem para minhas costas e as minhas vão até às suas.

— Você me ama, Marcella? — Sua voz é profunda.

Um soluço irrompe da minha garganta, e mais lágrimas descem pelo


meu rosto. Eu balanço a cabeça, assentindo.
— Eu amo, Kai. Eu amo você.

Posso sentir o corpo de Kai estremecendo com minhas palavras. Seus


olhos se fecham e eu juro ver uma lágrima escorrendo pela sua bochecha.
Ele planta um beijo suave nos meus lábios e fica de joelhos.

Suas mãos no meu quadril estão trêmulas, e seu olhar na minha


barriga é cheio de significado. Ele ergue minha blusa e olha com atenção
para minha barriga que já contém uma pequena saliência.

Kai passa sua mão por ela, delicadamente ao seu jeito. Sua garganta
parece estar com um nó. Lágrimas solitárias escorrem dos seus olhos
fazendo meus olhos transbordarem.

— Eu vou te amar como eu nunca fui amado, meu bebê. Vou ser o
melhor pai e o melhor ser humano que você precisar. Minha alma e corpo
pertencem a você e a sua mãe. Eu prometo que farei um lugar melhor para
vocês nem que para isso eu coloque fogo neste mundo. Eu prometo.

Com lágrimas pelo rosto, o tronco desnudo e uma expressão


singela… Kai cola seus lábios quentes na minha barriga, selando a promessa
ao seu primeiro filho. E Deus sabe o quanto eu acredito nisso.

Quando ele se ergue, me toma em seus braços. Me beijando com


fome e devoção. Eu enlaço meus braços ao redor do seu pescoço e
correspondo ao seu beijo.

Ele me guia até o sofá, sem pausar nossos beijos sedentos. Caímos no
sofá, Kai sob mim com grunhidos famintos.

Abro minhas pernas para o alojar bem ao meu corpo, abraçando suas
costas desnudas, arranhado a pele quente e trazendo ele para mim.

— Está dentro de você não vai machucar o bebê? — Afasta sua boca
a dura custas para perguntar.

Seus olhos âmbar são famintos e curiosos sobre os meus.


— Não, eu acho que não. — Arfo, sentindo-me ficar mais úmida ao
sentir sua ereção tão dura contra minha coxa.

— Porra, eu quero muito, mas não vou machucar nosso bebê!. — Ele
se afasta de mim, o cabelo assanhado pelas minhas mãos.

Totalmente desnorteado assim como eu.

Olho para ele.

— Sexo não vai fazer mal para o bebê, Kai. É até recomendado —
me sento no sofá, aturdida.

Ele passa a mão pelo cabelo, a fome em seu olhar.

— Porra, eu quero muito fazer amor com você, Bella mia. Estou
prestes a estourar minha calça de tão duro. Mas não posso sem saber se está
tudo bem aí dentro com nosso filho. Amanhã vou te levar para fazer todos os
exames. Só vou estar dentro de você quando souber que não tem nenhum
perigo para o nosso bebê — Declara com uma voz determinada e dolorida.

Um suspiro longo sai da minha boca. Kai coloca sua mão no meu
joelho e abre um pequeno sorriso.

— Desculpa, linda. Prometo te comer gostoso do jeito que gosta


depois que eu tiver certeza de que não será prejudicial — ele me coloca
sentada nas suas pernas, arrumando meu cabelo — Vai ser uma delícia te
comer grávida. Você vai ficar ainda mais gostosa e com os peitos cheios de
leite para mim.

Ergo a sobrancelha, abrindo um sorriso minúsculo.

— Está cobiçando o alimento do nosso filho? — Questiono.

Ele sorri ainda mais, retirando minha blusa e admirando meus seios
pesados no sutiã preto.

— Você vai produzir ainda mais leite para ele. Para nós dois… uau,
estão lindos!
Seu tom é de uma facilidade infantil ao olhar meus seios inchados e
os segurar nas suas mãos. Os olhos um puro brilho travesso.

Vendo isso, eu não consigo me conter. Uma risada alta e longa sai
dos meus lábios. Uma risada tão cheia de vida que fico em choque comigo
mesma.

Quando estou me recuperando da minha risada, Kai está me olhando


com um semblante ainda mais abobalhado.

— O que foi? — Pergunto com um sorriso.

— Pode fazer de novo?

— O quê?

— Rir dessa forma. Pode fazer de novo?

Fico em silêncio, mantendo o sorriso no rosto, mas pequeno dessa


vez. Kai está com um rosto sério.

— Você nunca sorriu antes. É o som mais lindo que já ouvi. Você é
tão linda, Marcella! — Sussurra com um brilho no olhar.

Levo minhas mãos até seu rosto.

— Não seja bobo, foi apenas uma risada — sussurro.

Ele balança a cabeça.

— Vou tatuar essa data na minha pele também, Marcella. A primeira


vez que riu para mim. Como eu te amo, mulher. Farei você sorri assim
sempre!

Brinco com seu cabelo, olhando para ele com um sorriso tímido.

— Você é tão bobo, Kai Moreau.

Ele sorri e eu sorrio de volta.


Unimos nossos lábios, com um sorriso nos lábios. Essa é a primeira
vez que sorrimos tão sinceramente um para o outro. E felizes.
— Os bebês estão saudáveis. Um ótimo peso e desenvolvimento para
nove semanas — A médica declara, enquanto examina a barriga de Marcella
com o aparelho de ultrassom — Vamos ouvir os batimentos?

Marcella aperta minha mão de forma ansiosa. Minha palma está


úmida, meu próprio coração acelerado, ressoando nos meus ouvidos e minha
boca seca. Devo estar à beira de uma crise de ansiedade com tanta
preocupação sobre o bem estar de Marcella e do nosso bebê.

— Sim, por favor — Marcella responde a médica com uma voz


suave.

Em um segundo, a sala é preenchida por batidas abafadas de um


coração muito acelerado. É o som mais reconfortante que já ouvi na minha
vida. E está vindo do pequeno pontinho no monitor. Meu filho. O mundo
fica em completo silêncio e minha mente para de funcionar. A crise de
ansiedade que estava se formando, bate em retirada imediatamente e tudo
que consigo sentir é uma alegria que vem do fundo da minha alma, engloba
meu corpo e beija minha pele como um consolo para todas as feridas abertas.
Meu filho.

— Os fetos estão muito bem dentro da senhora — A médica sorri. Eu


paraliso.

Marcella olha para a médica, os olhos arregalados.

— Desculpe, o que disse? Fetos?


A médica abre a boca e posiciona o aparelho na barriga de Marcella.

— Sim. Olhem aqui — aponta para o primeiro ponto na direita, indo


para a esquerda — São duas bolsas e apenas uma placenta.

Minha boca seca ainda mais. Não apenas um bebê, mas dois. Dois
bebês.

— Kai, você está bem? — Ouço a voz de Marcella soando a


distância.

Levo minha mão até minha testa, tirando o excesso de suor. Engulo
minha saliva e puxo uma cadeira.

— É melhor tomar um ar fresco, senhor — recomenda a médica com


um tom preocupado.

Balanço a cabeça e volto a olhar para o monitor vendo minhas duas


sementinhas. Minha benção em dose dupla. Isso é uma recompensa divina
depois de tudo que passei?

Um sorriso estampa meus lábios e eu olho para Marcella encontrando


seus olhos verdes atenciosos em mim.

— Me deixe a sós com minha esposa — Digo a médica sem tirar os


olhos da minha esposa.

A médica guarda o equipamento e limpa a barriga de Marcella.


Quando ela se vai, eu abraço minha esposa. Abraço tão forte que a sinto sem
ar.

— Vamos ter gêmeos! — Exclamo.

Ela balança a cabeça.

— Meu Deus, sim!

Me afasto dela o suficiente para que ela veja a felicidade nos meus
olhos. Sou capaz de fazer tudo o que ela quiser. Até me aposentar da vida de
criminoso. Encosto meus lábios nos dela. Dando diversos selinhos enquanto
agradeço como uma prece.

A médica nos fornece as imagens, e eu peço uma cópia de vídeo da


ultrassom. Quero ouvir os batimentos dos meus bebês a cada segundo da
minha vida, o som que ouvir naquelas sala me salvou um pouco mais, e eu
sei que sempre serei salvo por eles. Pela minha família.

Deixamos a clínica e vamos para casa, durante o percurso de carro,


eu dirijo com a mão na barriga da minha esposa, sentindo o pequeno volume
que nossos gêmeos já estão marcando. Minha ficha simplesmente não cai,
nem mesmo quando levo Marcella para o quarto. Nós dois nos olhamos, com
um sorriso incrédulo. Ela circula meu pescoço com seus braços, levando a
mão até minha nuca.

— Estou assustada, mas muito feliz. Não sei como vai ser daqui para
frente, como você irá fazer para se manter seguro por nós… — Ela engole a
seco, se afastando de mim com os olhos serenos — Nós precisamos
conversar sobre muita coisa, Kai.

Seguro sua mão pequena e macia, levando ela até meus lábios. Deixo
que Marcella veja meus olhos e a promessa explícita neles. Há muito no que
eu faço que ela nunca poderá ter noção, para seu próprio bem mental. E ela
sabe disso.
— Eu prometo a você que estarei em casa todas as noites antes de
você dormir. Eu estarei em casa quando você precisar, e a tempo de colocar
nossos filhos na cama. Eu prometo que serei presente na vida de vocês e
protegerei com minha vida tudo que for essencial para vocês.

Os olhos verdes fixam ainda mais em mim, úmidos e firmes. Ela


balança a cabeça.

— Preciso de você vivo e bem, Kai. Tudo o que estou pedindo é que
não se machuque, que não tome tiros. Preciso de você vivo, ok? Eu não
consigo sem você. — Murmura com a voz trêmula, um pedido angustiado.

— Você não vai precisar. — Prometo, a trazendo para meus braços.


E eu prometo isso a mim mesmo. Não posso deixar Marcella sozinha
nesse mundo com nossos filhos.

Abaixo minha cabeça e ergo seu queixo para beijar seus lábios
macios, deslizo minha língua para sua boca e a sensação do fogo sendo
alimentado pela querosene explode meu sistema. Apanho Marcella do chão,
levando-a para nossa cama, sem interromper nosso beijo. Tomo cuidado ao
colocar meu peso sobre seu corpo, mas não sou nenhum pouco cuidadoso ao
distribuir mordidas e beijos molhados pelo pescoço de Marcella, ela se move
inquieta por baixo de mim, fazendo sua coxa esfregar meu pau duro contra
meu jeans. Eu rosno com a sensação de necessidade de estar dentro dela. E
de frustação de ainda estarmos com tantas roupas. Monto no quadril de
Marcella e tiro minha blusa recebendo um olhar sem fôlego dela, cheio de
luxúria. Seus olhos sobe para a lateral do meu pescoço tatuado com a marca
de Hades. Uma serpente do deserto. Antes que a preocupação dissolva o
tesão dela, eu me ocupo em tirar sua blusa e encontrar seus seios à minha
espera.

Me inclino até eles, sugando o mamilo direito ouvido Marcella se


contrair e gemer. Meu corpo inteiro é afetado por esse som tão inocente que
sai da sua boca.

— Brinque depois… — Ofega com força.

Aperto seus dois seios inchados, tão perfeitamente suculentos e


lindos. Mordisco o bico fazendo ela apertar suas pernas contra meu quadril e
tentar se esfregar na minha ereção.

— Sem paciência para preliminares, mamãe? — Murmuro como um


gato traiçoeiro em busca da recompensa.

Marcella está ruborizada, e arfante. O corpo da minha pequena está


implorando por mim e eu vou gozar nas calças só com a visão desse paraíso
totalmente meu.

— Tá com pena de me foder com força, papai? — A voz rouca


provocante me desafia e eu juro que me arrepio da cabeça aos pés.
Sorrio de forma perversa para minha jovem esposa, rasgando o
tecido mole da sua calça junto com a calcinha. Uso tanta força que Marcella
grita com espanto.

— Você adora brincar com o perigo, não é, querida? Vou fazer você
ficar um bom tempo sem fechar as pernas, daí você verá a pena que estou de
meter em você, Marcella Moreau.

Ela se contrai inteira, mordendo os lábios e apertando as pernas. Os


olhos redondos arregalados como os de um coelho. Eu a olho atentamente
enquanto retiro minha calça e cueca. Minhas bolas estão doloridas, e meu
pau tão duro como uma pedra, eu acaricio a cabeça úmida, olho para boceta
rosa e pequena de Marcella, vendo a excitação encharcando os lábios,
escorrendo. Subo na cama novamente, abro as pernas delas o suficiente para
deixá-la totalmente aberta e ouvir sua respiração falhar, ela brilha para mim
com o sol da tarde pintando seu corpo e fazendo sua excitação reluzir.

— A médica deixou claro que o sexo não prejudica nosso bebê e que
é até benéfico, não? — Pergunto, passando o dedo pelas suas dobras.
Marcella morde seus lábios com mais força.

— Si-sim — Gagueja

Sorrio. Levo meu dedo inchado até minha boca provando o gosto
adocicado. Meu pau pulsa com o gosto e as brasas fervem nas minhas veias.
Olho para Marcella com esses lindos olhos em mim, o desejo e urgência
brilhando neles. Ela é tão perfeita.

— Você é linda, meu amor. E eu te amo. Mas nunca deveria ter


aberto essa boquinha linda para perguntar se eu estava com perna de te foder,
você sabe o quão insaciável eu sou, mas se esqueceu, vou te fazer lembrar.

Sem um único aviso, eu entro dentro dela, tão duro e com força
fazendo Marcella gritar e enterrar as unhas nos meus braços. O canal quente
abraça meu pau com força e eu gemo com a sensação preenchedora e
completa. Não deixo ela se recuperar da dor e do prazer. Saio e entro com
força. Como um animal faminto comendo da melhor comida. Marcella geme
e grita, me rasgando com suas unhas e se contorcendo embaixo de mim.
Seus olhos com lágrimas que divergem entre o prazer e a dor, e não uma dor
ruim pela forma como ela tenta se encaixar em mim a cada vez que saio
dela. Isso é um paraíso.
O caixão de Nicoleta é negro, e apenas uma coroa de flores está
sobre ele. Uma dada por Jace, que também está no cemitério conosco.
Apenas eu, ele, Kai e o coveiro. Os aparelhos dela foram desligados ontem à
tarde, e o corpo liberado no dia seguinte. Ontem começou a nevar, e a
temperatura está chegando a quase abaixo de zero. Kai disse-me que o natal
era a época preferida da irmã, e eu me pergunto se o seu sepultamento nesta
data foi proposital ou uma coincidência.

Mantenho minhas mão em torno do braço coberto por um grosso


casaco negro. Olho para ele vez outra procurando alguma comoção em seus
olhos, mas eles estão resignados. Focados em observar o caixão da irmã,
onde flocos de neve molham o material negro assim como o cabelo e cílios
de Kai.

— Posso baixar o caixão? — pergunta o coveiro, um senhor de meia


idade aparentemente com uma vida normal.

Kai fez um aceno positivo com a cabeça e Jace solta um suspiro


baixo. Nós três observamos o sepultamento. Tenho a sensação de que o
pensamento de Jace é similar ao meu. Kai está enterrando a irmã, e a mãe
dele juntas. Alexa não irá viver em um mundo onde a filha e o marido não
estejam do lado dela, ela deixou isso bem claro ao tentar se matar ontem.

— Uma nova fase começa agora. Morre um Moreau, e nascerá dois


— Kai abraça meus ombros.

Jace sorri para mim, um brilho diferente nos olhos escuros. Alegria.
— Você é um filho da mãe sortudo em dose dupla, Capo. Vocês dois!

Seguro a mão de Kai que está no meu ombro e sorrio para Jace.
Depois de Kai e Justine, ele é a pessoa que mais confio e a pessoa que sei
que estará aqui para o que eu e meus filhos precisarmos.

— Você terá que fazer muito dinheiro para presentear seus afilhados
em dose dupla, Jace. Tanto você como Kai terão muito trabalho. Nós três
teremos — Comento com um sorriso enquanto saímos do cemitério.

Jace foi o primeiro a saber da gravidez, e que é de gêmeos. Ele e Kai


beberam todas e comemoraram como dois adolescentes se formando no
ensino médio.
Os dois chegaram ao consenso de só informar minha gravidez
quando eu estivesse perto de dar à luz. Kai ainda está causando alvoroço
com sua sucessão, e quanto mais informações omitimos, melhor será.

Nós três vamos para casa, Jace em seu carro e Kai e eu no nosso. Eu
olho para o meu marido, o lado da cicatriz na minha direção. Ele também
perdeu algo nele com a morte da irmã, seu rosto pode estar pacifico, mas eu
conheço Kai. Sei de todos os sentimentos que se passam por baixo das suas
camadas. Ele nunca irá superar isso, assim como eu também nunca irei
superar a morte de Karx.

— Deveríamos nos mudar — Kai diz quando chegamos a cobertura


aquecida, e o cheiro do almoço no ar.

Tiro meu sobretudo, pendurando no cabide da entrada. Olho para Kai


com a testa franzida. Ele sorri e assente.

— Procure uma casa grande e bonita para a gente, Marcella. Decore


a casa da forma que você quiser, com sua personalidade. Uma casa com um
escritório e uma biblioteca para você, e vários quartos para os filhos que
iremos ter.

Meu coração bate lentamente e um sorriso se forma nos meus lábios


com suas palavras. Começo a caminhar até ele, a mão de Kai alcança meu
rosto e ele acaricia o mesmo. Os olhos brilhando.
— Essa cobertura ficará pequena para o que planejo para o nosso
futuro. Quero uma casa. Uma casa grande com seu toque nela. Quero chegar
em casa, olhar ao redor e saber que você está em tudo que decora a casa.
Quero chegar e saber que estou em casa e terei um sorriso seu.

Lágrimas inundam meus olhos, uma alegria formigando por toda


minha pele, coração.

— Eu sinto que finalmente posso respirar depois de anos. Graças a


você, estou aprendendo o que é ter um lar e pertencer a ele — Sussurro com
um sorriso largo.

Kai beija minha bochecha, encostando o nariz no meu. Sua mão


desce até minha barriga e seus dedos acariciam o local. Uma carícia quente e
delicada.

— Você é minha casa, Marcella. Meu lar. Onde você estiver, eu


estarei. E serei o homem mais feliz do mundo.

Encosto meus lábios aos dele, em um selinho suave, passo meus


braços em torno do seu pescoço ficando nas pontas dos pés. Meu coração
transborda imensamente, meu corpo está elétrico e tudo isso por um único
homem.

Se Karx estivesse vivo, ele finalmente diria que eu encontrei a paz, e


teria que lutar contra qualquer coisa que ousasse ameaçá-la. E é por isso que
ainda tenho uma última coisa a fazer pela minha família.

(...)

No último dia do ano, eu marco um encontro com meu amigo do


passado, ao qual tenho uma enorme gratidão. Kai está ciente de tudo, e
autorizou a presença de Nikolai em Las Vegas.
Nosso encontro será em um dos restaurantes da organização,
esvaziado para que possamos conversar. Apenas dois dos meus homens
estão aqui, e pelo que vejo através da parede de vidro, Nikolai não trouxe
mais do que três homens.
O sino da parte soa quando ele abre a porta, seus olhos azuis
circulam pelos ladrilhos hidráulicos, as mesas redondas pretas e os quadros
decorativos nas paredes, mas é em mim que seus olhos se demoram. Eles são
tomados de choque ao me ver. Eu estou em pé, parada diante do balcão onde
se encontra o cozinheiro. Os olhos de Nikolai descem até o volume da minha
barriga, marcada no vestido preto justo de frio. Seu choque é minha
gravidez.

— É bom ver você depois de tudo o que passou, Nikolai — Sou a


primeira a falar vendo o rosto dele e seu corpo tão inerte — Por favor,
vamos nos sentar.

Coloco minha mão na minha barriga, de forma distraída, já virou um


hábito tocar no volume redondo e durinho. Tomo meu assento e espero
Nikolai fazer o mesmo. Demora alguns minutos, mas ele me acompanha.

Os olhos azuis com um misto de confusão.

— Soube o que aconteceu com Karx. Eu sinto muito, Marcella. De


verdade. — São suas primeiras palavras.

Eu balanço a cabeça, assentindo. Ouvir o nome de Karx faz meu


coração pesar com a injustiça da sua morte.

— Você o enterrou? — Pergunta.

— Em uma colina na Filadélfia, do jeito que ele desejava. — Minha


voz é um sussurro.

Percebo a força que Nikolai está fazendo para não me tocar. Olhando
para ele, percebo que ganhou peso, o rosto não tem nenhum hematoma. Ele
está fisicamente bem.

— Por que me chamou até aqui, Marcella? — Questiona com um


tom frio.

Claramente ele já juntou todas as peças ao me ver tão confortável em


Las Vegas, grávida e a morte de Karx vingada por Kai. Ele sabe que estou
aqui como uma verdadeira esposa. E isso o está deixando com raiva.
— Eu queria te ver pela última vez, saber se está bem e te agradecer
por tudo que fez por mim, Nikolai. Durante minha adolescência, você sabe o
quanto significou ter sua amizade e presença na minha vida. Sem você,
Justine e Karx… eu não estaria mais aqui.

Ele crispa os lábios rosados.

— Você poderia ter vindo para mim, Marcella. Poderia ter saído da
Filadélfia e ficado ao meu lado — Declara.

Olho em seus olhos com respeito e um afeto amigável.

— Você sabe que não, Nikolai. Eu era juramentada, seu pai não
entraria em guerra e muito menos seu irmão. Fico feliz que hoje possamos
estar aqui, conversando civilizadamente como duas pessoas normais, algo
que antes seria totalmente impossível.

— Eu teria dado um jeito.

— Por favor, não vamos mais falar sobre isso. Tudo o que aconteceu,
já passou. E agora tenho um pedido para você.

Nikolai mantém os olhos enevoados em mim, captando qualquer


centelha de esperança de que eu vá pedir a ele para me tirar daqui. Ele
sempre mantém a esperança, até o último segundo. E eu sinto muito por
desapontar ele.

— Meu último pedido a você é algo que talvez você não queira me
dar por pura decepção, e eu entenderia isso. Conheço você, Nikolai. Não o
filho caçula de um mafioso, mas o jovem de verdade que você é. Sei o
quanto me amou e se arriscou por mim, e é por isso que tenho esperança e a
cara de pau de te pedir que me ajude a manter minha família unida.

O choque que a palavra família saindo dos meus lábios causa nele.
Eu estar me referindo a Kai Moreau e a sua organização como família deve
ser perturbador para Nikolai, e eu me odeio por esse sentimento que causo
nele.
— Me entregue a promissória de Jace Petrova, para que eu possa
destruí-la. Cancele todas as recompensas pela vida dele. Por favor, Nikolai.
Eu peço isso do fundo do meu coração.

Nikolai fica em silêncio, desvia os olhos de mim e parece controlar a


própria respiração. É como se ele estivesse esperando por tudo, menos por
isso. Ele fica em silêncio por um longo momento, minutos inteiros ao qual
não sou capaz de penetrar.

Quando ele finalmente esboça uma reação, eu ouço a cadeira arrastar


e ele se levantar fazendo um aceno para seus homens do lado de fora. Meus
homens retiram suas armas do coldre e eu me preparo para o pior.

Mas não é o pior que acontece.

Vejo o momento em que Justine sai do carro, quase correndo em


direção ao restaurante. Eu me ergo da cadeira, trêmula e com o coração
batendo acelerado. Assim que ela abre a porta e vem na minha direção, com
lágrimas nos olhos castanhos, eu mesma choro.

Percorro o caminho que me separa de Justine e a abraço forte. A


abraço como eu fazia quando era criança e sentia medo e precisava do calor
e do cheiro dela.

— Minha menina! — Me abraça forte, mergulhando seus dedos no


meu cabelo, e dando tapinhas nas minhas costas — Minha linda menina!

Abraçada a Justine, eu olho para Nikolai que esconde seu olhar do


meu. Antes de ir embora, ele faz um maneio positivo com a cabeça e o alívio
toma meu coração junto a gratidão.

Com meu coração tão cheio de sentimentos bons, eu me pergunto


com pesar se um dia Nikolai deixará de me amar.

Ele merece alguém que o ame nessa intensidade, e eu não posso e


nem vou me sentir mal por amar Kai. Não tenho como dizer que Nikolai não
me amou, porque eu sei que ele me ama ao ponto de odiar a si mesmo. Seu
último olhar me disse isso.
Marcella sentiu primeiro o desconforto na lombar quando foi se
deitar, mas atribuiu isso a gravidez avançada dos gêmeos. Não tinha mais
um dia em que ela não sentisse dor desde que entrou no segundo semestre da
gravidez. Porém, quando sua bolsa estourou, no meio da madrugada, a
fazendo acordar empossada com o líquido, ela teve a certeza que os seus
dois garotos estavam prestes a nascer.

Ela levantou o tronco com dificuldade, fazendo Kai abrir os olhos


com o movimento.

— O que foi? — perguntou o moreno com a voz e os olhos atentos


na esposa.

Marcella tirou o lençol fino que cobria suas pernas e apontou para as
pernas, o colchão e os lençois encharcados.

— Chame Justine. Vittorio e Alessio acabaram de anunciar que estão


prontos para saírem! — Marcella arfou ao sentir um dos meninos se
mexendo.

Os chutes deles haviam começado a ficar doloroso nos últimos


meses. Era pouco espaço para dois bebês.

Kai pulou da cama, apanhando uma blusa e acionando o botão de


pânico que faria Jace acordar a casa toda e trazê-los para o quarto do casal.
Desorientado, ele olhou para Marcella, sem saber o que fazer além de
segurar a respiração.

— Está sentindo dor? O que devo fazer? — Perguntou a esposa com


a ansiedade e o medo entoando na voz.
Marcella estava encostada na cabeceira da cama, com as pernas
abertas e o rosto suave.

— Prepare o carro, querido. E as bolsas dos meninos e a minha.


Chame Justine, ela sabe o que fazer.

— Não vou sair do seu lado.

Jace e Justine entraram no quarto, Jace percebeu de imediato o que


estava acontecendo só de olhar para Kai. Justine abriu um sorriso para sua
menina ao ver o colchão molhado.

— Está na hora, minha menina! — Exclamou, indo para o lado de


Marcella.

Jace foi até Kai, vendo seu Capo claramente nervoso. Juntos, eles
arrumaram tudo o que foi organizado no último mês. Kai e Justine banharam
Marcella e a vestiram. O marido perguntando a todo tempo se ela estava com
dor, mas quem parecia estar com dor era ele.

O temido Capo da Camorra estava apavorado. Com medo de cada


segundo que estava por vir e mais ansioso do que nos últimos meses.

— Kai, vai ficar tudo bem. Nossos garotos e eu iremos ficar bem —
Marcella garantiu, olhando para Kai e vendo o pavor nos olhos âmbar.

Ele apertou a mão da esposa, procurando o calor e a segurança


emanando dela. Ele tentou sorrir, mas seu rosto se contorceu em uma careta.

— Tudo precisa ficar bem, Bella mia. Eu preciso de você. Dos


nossos filhos!

Marcella abriu um sorriso para ele, um sorriso que afrouxou o nó no


peito de Kai. Deus e Kai eram os únicos que sabiam como ela podia
conseguir tudo dele apenas com um sorriso.

Jace assumiu a direção enquanto Kai, Marcella e Justine iam atrás,


segurando a mão de Marcella que começará a sentir as contrações. Todos
eles contavam os intervalos de cada uma. A cada vez que uma começava, o
mundo parecia escurecer para Kai Moreau.

— Tragam a doutora Stuart! — Kai brandou no momento que


rompeu a recepção da clínica segurando sua esposa.

Todos que estavam de plantão se mexeram, correndo para acatar a


ordem do Capo da Camorra. Levaram Marcella para o quarto, e entre um
grito e outro, ela finalmente notou o horário, e que já era 18 de junho. Ela
olhou em direção a Kai.

— É seu aniversário! — Exclamou com um grunhido.

Kai arregalou os olhos, mirando a esposa com confusão.

— Nossos filhos vão nascer no seu aniversário. Faremos uma festa


única para os três! — ela encostou a testa suada na do marido — Feliz
aniversário, meu amor! Daqui a pouco você irá segurar seus dois presentes
de aniversário… Aaah! — gemeu entredentes.

Kai gargalhou de forma nervosa. Seu único desejo era que pudesse
pegar logo seus filhos e Marcella passasse por aquela dor.

O parto levou horas. Horas dolorosas para Marcella que insistia no


parto normal, sem cesárea. Ela queria sentir todo o momento e mesmo Kai
implorando para ela acabar com aquilo, Marcella prosseguiu insistindo até
alcançar a dilatação.

Os gêmeos Alessio e Vittorio nasceram às 16:30 da tarde. Uma hora


a mais do horário do pai. Alessio foi o primeiro. Cabelo escuro como o breu,
pele branca e com um choro agudo. O irmão três minutos mais novo, era
idêntico ao mais velho, mas não chorava tanto quanto. Ele foi mais
silencioso.

Alessio se calou de imediato quando foi posto nos braços do pai, que
por sua vez estava trêmulo e fascinado com a criatura pequena nos seus
braços. Vittorio foi colocado nos braços de uma Marcella exausta que tinha
lágrimas misturadas ao suor. O sorriso de pura felicidade nos lábios ao
segurar o filho enquanto seu corpo todo parecia do avesso.
Kai se aproximou com Alessio nos braços. Juntos, ele e Marcella
olharam para os dois bebês idênticos. Nem ela e nem Kai poderia dizer o que
estavam sentindo, eles apenas estavam… felizes, completos.

— Olá, garotos, eu sou o pai de vocês — Foi a primeira frase de Kai


para os filhos. A voz vacilando diante da emoção.

Marcella chorou, olhando para seus meninos. Vendo sentido na vida,


na sua jornada. Porque tudo o que passou valeu a pena para ela ter esse
momento.

— Eles tem meu queixo e lábios — murmurou, chorosa.

Kai assentiu, piscando várias vezes para espantar as lágrimas. Ele


queria chorar, mas não iria. Só depois, quando ele e Marcella estivessem a
sós e ele pudesse se desmanchar na frente dela e agradecer por tudo aquilo.
Ela era a única que podia ver ele assim. A única pessoa digna.

Após as enfermeiras levarem os gêmeos para serem limpos e vestidos


com o pai e o padrinho atentos a tudo. Marcella foi levada para o quarto
onde chorou nos braços de Justine. Lágrimas de felicidade e saudades.

Chorou por Karx e pelo desejo que ele estivesse presente. Acima de
tudo, chorou por ter sido capaz de sobreviver para sentir o amor
incondicional de ser mãe. E chorou ainda mais quando amamentou seus dois
filhos.

Kai, Justine e Jace ficaram ao lado de Marcella e dos gêmeos. Os três


eram barreiras firmes ao redor da mãe e dos filhos.

Nos três primeiros dias os gêmeos não dormiam à noite, e Kai e


Marcella também não. Embora Marcella insistisse para que Kai fosse dormir
para cuidar dos assuntos da organização. Ele se recusou, e em nenhum
momento saiu do lado de esposa e dos filhos.

Apenas duas semanas depois encontraram um modo de regular o


sono dos gêmeos. Eles sempre dormiam por horas depois do banho e da
mama.
Vittorio era o mais faminto pelo leite da mãe, e o mais quieto.
Alessio parecia não ter pausas. Energia não faltava a ele, e sempre que o pai
olhava na direção dele, encontrava os olhos verdes da mãe deles olhando de
volta. Ambos com a tonalidade dos olhos de Marcella. Cabelos negros, e
olhos verdes. Seriam o sonho de consumo das meninas da organização
segundo Jace e Kai.

As notícias do nascimento se espalharam rapidamente, e logo o


batizado foi marcado. Alessio e Vittorio eram o futuro da Camorra. Alessio
seria o Capo, e Vittorio o Underboss da Filadélfia. Kai havia marcado uma
geração apenas com uma única gravidez da esposa. Ele era sortudo e sabia
disso.

No dia do batismo, a igreja se encheu com os membros da elite das


cinco famílias. Todos vieram para se mostrar diante dos herdeiros e do Capo.
Oferecer apoio, favores e devoção. A Camorra estava mais poderosa que
nunca.

Quando Marcella entrou na igreja carregando Alessio, e Kai


segurando Vittorio. Todos ficaram em total silêncio, de pé, observando a
senhora e o senhor da máfia. As mulheres que um dia olharam para Marcella
com desprezo, agora não tinham nada além de cobiça e respeito.

Sua meia irmã Emília estava entre os convidados, mas impedida de


chegar perto. Rosélia havia entrado em reclusão com a vergonha de India ter
se transformado em amantes de homens mais velhos em busca de filhos
bonitos. India tentou diversas vezes chegar a Marcella, mas nenhum recado,
nenhuma carta jamais foi respondida.

Marcella havia se tornado uma das mulheres mais importante da


organização. Das cincos famílias, ela era a mulher mais poderosa. Era esposa
do Capo, mãe do futuro Capo e do Underboss da Filadélfia. Ela estava
fazendo a história dela ao lado de Kai.

Toda noite, antes de dormirem. Um encontrava o corpo do outro na


cama e se entrelaçavam. Os sorrisos na face de ambos. Estavam cobertos de
cicatrizes que não foram causadas por eles, mas foram curadas pelo outro
curo.
— Você é meu mundo, Marcella — Kai sussurrava com firmeza e
devoção para a esposa jovem.

— E você o meu, Kai.

As feridas que um dia sangraram com toda intensidade, haviam sido


limpas e cicatrizavam com cada momentos juntos com os filhos e ao lado
um do outro. A cada olhar, eles demonstravam o quanto se amavam.

E era por sua família amorosa que Kai precisava continuar sendo
uma besta fora de casa. Não importava quanto sangue por dia ele derramava,
não conseguia sentir culpa ao chegar em casa, segurar seus filhos e fazer
amor com sua esposa. O que ele fazia era para a segurança deles. E nem o
diabo poderia investir contra o milagre na vida dele.

Não importava quanto sangue fosse preciso derramar, ele não


deixaria sua família ser abalada. Ele era uma besta, afinal.

Ele e Marcella haviam se juramentado novamente.

Juramentados a família deles. Os filhos. Os gêmeos, e os futuros


filhos que já estavam a caminho. Após os gêmeos terem completado 2 anos,
Marcella engravidou novamente de uma menina.

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