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Mas será que tanto controle é mantido diante da união que levará ela
a se entrelaçar a Kai Moreau?
Para todos meus leitores que torcem por mim. Para minha amiga,
Karoll Martinelly, que me ajudou a chegar onde estou chegando. E para
todos que sonham e pedem com fervor. Tudo é possível.
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Epílogo
Observo as pessoas no salão, todas trajando suas melhores roupas da
noite, rindo para os seus amigos e parceiros com risadas espalhafatosas e
gestos exagerados. Às roletas não param de rodar, os dados não tem folga.
Eles apostam cada vez mais e mais. Os massos de dinheiro passam de uma
mão a outra como se fossem insignificantes papeis brancos sem importância.
Não preciso focar muito para ver minhas duas meias-irmãs com seus
pretendentes. Elas se vestiram com a cor que mais destaca a pele branca
como a neve das filhas de Alev Rivera, o Underboss da Filadélfia. A cor é
estratégica para mostrar a legitimidade da família Rivera: cabelos loiros,
olhos verdes e pele branca. Exatamente como o pai e a mãe.
Isso não se aplica a mim. Sou uma bastarda. Tenho a pele em um tom
mais escuro do que minhas irmãs e pai, meus cabelos são castanho claro e
meus olhos são de uma tonalidade de um verde acastanhado. Não são como
esmeraldas como os das minhas irmãs.
A única coisa que me faz parecer com Alev Rivera é o nariz fino e o
mais perto é o tom mais claro da pele. Branca. Mas não um branco alvo
como as minhas irmãs. Uma pele que parece ser bronzeada e só Deus sabe
como, já que não saio muito durante o dia.
Eu não sou um membro de importância ou valor para as cinco
famílias da Cosa Nostra, mesmo sendo filha de um Underboss. Mesmo tendo
sido criada e juramentada a máfia. Eu sou apenas a filha bastarda, fruto de
uma traição de uma noite entre um chefe da máfia e uma violoncelista
italiana que me entregou ao meu progenitor.
Eles são a elite das famílias. Pertencem a Camorra e são donos dos
maiores cassinos de Las Vegas e predomina toda a área. São os mais ricos
das cinco famílias e os quais ninguém quer inimizade.
Meus olhos vão até Kai Moreau. O cabelo preto liso e curto, a pele
branca, quase pálida demais. Uma suave cicatriz rosada se desenha na
bochecha, com um comprimento que começa quase perto do olho. Ele é o
Sottocapo da Camorra. O braço direito do pai e o herdeiro da organização.
Todas as filhas mais velhas das cinco famílias tentaram ser dadas a
ele como esposa, mas os Moreau estão esperando uma boa barganha.
Kai é a besta cruel da máfia.
Aparência e atitudes fatais.
Mas nosso pai achou um bom negócio seu casamento com a nossa
organização, a Famiglia, pertencente à família Italiana que predomina Nova
York. Indiatambém foi dada a mesma família.
— Senhorita Marcella?
— Seu pai pediu para avisar que está dispensada, e quando quiser
voltar para casa sua escolta estará pronta.
Percebo que ter escolhido um modelo de alças finas para a noite foi
uma péssima ideia assim que o vento da noite Nova Iorquina beija minha
pele.
A luz que entra por dentro desse labirinto deixa claro o suficiente o
rosto bonito de Kai Moreau e da sua amante. Eu não a conheço, mas recordo
dessa ruiva com outro homem dentro do salão uma hora atrás, e pela
aparência, digo que já é uma mulher casada.
Continuo olhando pelo arbusto até ouvir risadas vindo ao longe, isso
é o suficiente para eu me ordenar a sair dali, voltar ao meus sentidos. Me
retiro silenciosamente e com pouco ar. Claramente abalada.
Só paro de caminhar quando chego à fonte no início do jardim.
Recobro todo meu ar, sentindo o vento salpicar respingos da água que desce
do chafariz até a fonte. Minha pele parece em chamas e a frieza é calmante.
Não sei quanto tempo se passa comigo ali, quando me viro encontro
o rosto da minha meia-irmã, India.
Indiaé a minha irmã mais velha e a mais bonita de nós três. Mesmo
sendo diferente da aparência delas, eu não posso dizer que sequer chego aos
pés da sua elegância e suavidade.
Não conversamos muito desde que ficamos adultas, eu mal a vejo
agora. Indiaparece ter seus próprios segredos.
— O que?
— Você é como uma sombra, Marcella. Sei que você sabe de várias
coisas que acontecem. Você é como uma sombra que se esconde atrás dos
móveis e é imperceptível. Você tem a confiança de todos os criados e
consegue descobrir os segredos de todos naquela casa — ela sorri
suavemente, mas seus olhos não seguem o movimento — Eu quis pesquisar
sobre você também. Há alguns meses você se encontrou com Nikolai
Vassiliev. Vocês estudaram direito juntos, não?
Ela solta a fumaça pelos lábios e nariz. Sua voz soando baixa e
profunda.
— Veja o que vou fazer como um milagre para sua vida, Marcella.
Sua fama de homem devasso é vasta pelo ciclo. Ouvir das criadas
que foram acompanhar a mãe dele em Nova York, que ele adora sexo com
crueldade. A forma como ele estava apertando o pescoço daquela mulher
deixou isso bem óbvio.
Estou no meu caminho pelo Central Park quando meu celular começa
a tocar. O nome do meu pai aparece na tela e um mal pressentimento sobe
pela minha espinha.
Fico parada por dois minutos, segurando o celular pensando nas mil
possibilidades dessa ligação. Ainda são 10:00 horas da manhã. O que ele
pode querer comigo?
Meu pai está bem atrás da mesa dele, com uma expressão dura no
rosto. Os olhos dos irmãos me medem da cabeça aos pés.
Olho para meu pai, ele se ergue da sua cadeira parecendo tenso. Seus
olhos verdes me avaliam de maneira a me ordenar que eu fique em silêncio.
— É claro que, para manter a paz com a família de Nova York, meu
irmão teve que mexer alguns pauzinhos. E eles ficaram satisfeitos, mas
querem algo em troca para aplacar a vergonha do noivado desmanchado, e
isso te beneficia muito, garota — Otávio fala tranquilamente, no seu tom
calmo que todo conselheiro parece ostentar.
Ivo retesa todos os músculos do seu corpo com as palavras, meu pai
parece satisfeito, mas não demonstra isso.
Olho para Kai Moreau ao meu lado que mantém uma expressão
impassível, eu não acredito nem que ele esteja sóbrio. Nem mesmo sei como
está de pé. O odor insuportável do álcool chega a queimar minhas narinas.
— Não foi uma pergunta, Marcella. Você vai se casar com Kai, se
tornará esposa dele. — Declara meu pai.
— Escolham outra pessoa, devem ter garotas aos montes. Sei que
querem pagar vergonha com vergonha, mas não irão me usar para isso. Eu
faço questão de sair dessa organização imediatamente se isso significa não
ter que me casar.
Ouço apenas os passos do meu pai e antes que eu tenha uma reação,
sua mão grande e forte acerta meu rosto com violência. Fazendo minha
cabeça ir para o lado e a dor me atingir como fogo. Sinto o gosto de sangue
na boca, mas não me atrevo a colocar a mão no rosto ou olhar para meu pai.
— Não vou…
Ivone, uma das criadas, tem trazido água, mas não o bastante para me
manter hidratada. Comida, mas não o bastante para me satisfazer. Alev
pensou em tudo, ele não só me trancou aqui dentro. Ele está tramando contra
mim. A única pessoa a quem eu poderia pedir ajuda é Nikolai, mas Alev
levou meu celular. Estou sozinha e sem chances de fuga.
Olho para ela, catalisando minha fúria no meu olhar. Meus olhos
desviam para seu anelar onde um anel de esmeralda está presente,
substituindo o de diamante que ganhou do seu primeiro noivo.
— Você planejou tudo isso junto com seu noivo? — ouço minha voz
pela primeira vez em dias, e ela é ácida.
Seu tom suave, sua postura elegante… tudo isso me irrita e me faz
querer matá-la. Voar em cima dela, arrancar seus lindos cabelos dourados e
arranhar toda sua pele.
Uma risada sem humor escorre pela minha boca e eu deixo India ver
a fúria nos meus olhos, minha negação a esse casamento. Eu quero apenas
um poder: ter o controle da minha vida.
— Você não tem outra opção, Marcella. Papai sabe onde sua mãe
está. Ele está decidido a matar toda sua família materna, e fazê-la se
responsabilizar por isso. Nós duas sabemos que ele não está blefando, sua
mãe só está viva porque entregou você ao nosso pai. Ele nunca te deixaria
sair da organização — ela respira fundo — Você está fedendo a podridão e
parece imunda. Vamos preparar você. Kai Moreau quer conhecê-la e pedir
sua mão.
— Foi uma boa escolha, Marcella. Uma dia ainda me agradecerá por
isso.
Isso foi a pior decisão que você tomou na sua vida, India. A pior.
— Não interfira nos negócios do seu pai, querida. Venha, vamos para
o seu quarto. — Ela olha para sua outra filha — Venha conosco, India.
Abaixo minha cabeça mais uma vez na minha vida perante esse
homem. Deixo minha dignidade e qualquer orgulho em mim cair por terra.
A rejeição de Marcella Rivera à proposta de se casar comigo me faz
rir. Uma risada ácida e quase sem humor. O que uma garota como ela pode
ter para achar que pode se negar a casar comigo?
— Você vai lutar na gaiola outra vez, meu lobo? — A voz doce de
Evangeline entra nos meus ouvidos.
Além dela ser uma mulher que me deixa fazer o que quiser com ela.
Suprir minha necessidade selvagem.
Uma bastarda que não quer se casar com um Sottocapo. Que ironia.
— Deu tudo certo com o transporte das armas e drogas? Você teve
que vir até aqui, com quem deixou a liderança?
Seu olhar âmbar, igual ao meu, recai sobre mim. A frieza calculista
me medindo. Eu sei que ele me teme. Sou um monstro que ele acha que se
mantém na coleira. Nós dois sabemos que sou pior que ele.
Suas torturas, surras me forjaram em me fazer ser algo que nem ele
esperava.
Olho para meu pai com humor nos olhos, vendo seu
descontentamento sendo um combustível para eu querer ainda mais esse
casamento.
Tomo um banho rápido, visto uma cueca box e vou para a cama
cogitando o que posso fazer amanhã com Marcella Rivera. Relembro do seu
rosto, do cabelo de um castanho claro, ondulado e os olhos redondos.
Amanhã poderei olhar seu corpo com atenção e ver se me agrado tanto
quanto me agradei do seu rosto.
— Estou bem. Já faz uma semana que está aqui em Nova York. Fez
alguma amizade valiosa? — Questiono terminando de me arrumar.
— Sim, eu conversei com sua futura esposa. Marcella parece ser uma
boa menina, ela…
— Uma boa menina? — minha mãe cerra os lábios — Mãe, acha que
uma boa menina conseguirá ficar ao meu lado? Ela só precisa saber o seu
lugar e abrir as pernas para mim.
— Kai!
— Ora, acha que vou querer uma esposa para enfeite? Preciso que ao
menos ela seja boa de cama, será ótimo se ela não for virgem. Não terei
paciência para ensinar uma garotinha sobre o corpo dela — Suspiro.
Ótimo, uma virgem. Era tudo que eu precisava nessa altura: ensinar
uma garota sobre o corpo dela.
Ao contrário das irmãs, ela não tem pernas longas. Ela não é alta.
Suas pernas são curtas, mas extremamente bem preenchidas com músculos
suaves torneado a coxa com uma aparência apetitosa.
Subo meus olhos pelo vestido rosa escuro de seda, justo ao corpo e
de alças finas e um decote composto que comprime seus seios.
Meus olhos se demoram em seu colo. A pele dela não é como neve,
ela tem uma coloração um grau mais baixo que as irmãs dando a ela um tom
bronzeado.
Os sinais que ela tem pelo colo são atraentes o suficiente para me
fazer desviar a atenção dos seios com um volume médio, extremamente
perfeito ao seu corpo pequeno e sua cintura fina.
A morena tem minha atenção total, mas ela não parece tão
interessada em me olhar da mesma forma que eu a olho.
Não quero uma reação dela, quero da sua irmã ao meu lado, que está
calada e inerte ao meu lado. Qualquer hematoma de violência que Alev
possa ter infligido nela, não está amostra. Suas costas brancas possuem
sinais marrons que descem do seu ombro até suas omoplatas. Não muitos,
apenas alguns extremamente difíceis de se desviar os olhos.
— Não vai se levantar? — Sua voz não tem emoções, mas é sonora o
suficiente para causar eco na minha mente.
— Daqui a três meses. Seu pai e tio acham que devemos organizar
uma festa grande e estará de acordo com sua agenda. Sabemos que tem
compromissos com a organização e só estará disponível em julho.
Olho para Marcella que baixou os olhos para seu prato com um
semblante fechado. Ela não disse uma palavra sequer e eu percebo o olhar
duro que Alev lança a ela uma vez ou outra.
Ela ergue os olhos que estão apertados por causa da luz, os fios de
cabelo voando ao vento. Ela está olhando para mim quando responde:
— Sim.
O som claro e obediente. Mas os olhos dela são como esferas de gelo
sendo derretidas pelas suas íris.
Os olhos desse maníaco são insistentes no meu rosto durante todo o
almoço. Não só os deles como os de Alev e Emília também. India e Otávio
parecem satisfeitos com todo o almoço e as conversas que saem dele. India
rompeu o noivado com o filho do nosso Don, e escolheu um homem de uma
máfia oposta.
Eles dois driblaram um jogo corajoso, e nosso Don não iria deixar
barato para a família Moreau. Ele vai se livrar de mim. A bastarda explícita
da Filadélfia. Da Famiglia.
A cada vez que olho para ele, eu temo meu futuro. Ser chamada de
bastarda o resto da minha vida posso aguentar. Mas viver com um sádico
como ele parece que vai me matar todos os dias.
Não sei quanto tempo passo no banheiro, mas quando me dou conta
do tempo passando eu me recomponho e saio do mesmo. No momento que
estou cruzando o corredor, Kai Moreau se materializa na minha frente.
Engulo o grito que quase escapa da minha boca.
Ele parece um corvo vestido de preto da cabeça aos pés. O seu cabelo
é tão negro como a noite.
Meus olhos sobem para os seus, ele sorri. Seu sorriso doentio.
Seu corpo é forte, largo e ele é muito mais alto que eu. Minha cabeça
bate em seu peito e eu preciso dar um passo para trás.
Ele encosta o ombro largo na parede. Seus olhos não saem do meu
rosto.
Kai ri. Um riso curto e sombrio que faz um arrepio subir pela minha
espinha.
— Você sabe que não pode fugir, Bella. Você me pertence de agora
em diante.
Meu sangue escorre quente pelas minhas veias ao ouvir isso. Eu não
sou uma mercadoria.
Ele inspira, um grunhido baixo saindo dos seus lábios e sua mão
tocando a pele quente do meu pescoço. Não consigo me mover. Sua mão é
enorme e brutal
Estou prestes a afastar ele chutando o meio das suas pernas quando
uma voz familiar me faz virar o rosto na direção oposta.
Ele pega minha mão esquerda, sua palma é áspera e causa uma
sensação de choque na minha pele. Ele abre a caixinha com a outra mão
revelando um anel de ouro branco com uma safira redonda e pequena
cravejada de diamante. Ele escorrega o anel pelo meu anelar e o sentimento
de castigo se apossa de mim.
Olho para Alev com a esperança que ele negue de imediato, mas tudo
que ele faz é assentir. Ivo, Alexa e Rosélia se movem para dentro da casa
enquanto Alev conduz tanto eu como Kai Moreau para o escritório.
Estou espantada com seu gesto, tão sem palavras que não consigo
desviar os olhos das cartelas na sua mão.
— Eu não quero filhos nos próximos dois anos, e também não quero
fazer sexo com você usando camisinha. Se vai ser minha esposa, então posso
me dar esse gosto. — Ele estende as cartelas na minha direção — Você já
sangrou este mês? Estamos no início dele.
— Me conte, então.
Balanço a cabeça.
— Eu posso dormir com você, mas não estarei fazendo porque quero.
E eu duvido que você queira uma pedra na cama. Vamos consumar o
casamento e depois disso você pode viver sua vida como sempre foi. Nós
dois sabemos que não precisará de mim para nada, estão fazendo isso apenas
para satisfazer a Famiglia.
Os olhos de Kai agora são esferas douradas, ele tira seu celular do
bolso e mexe nele por alguns segundos antes de olhar para algo na tela.
— Vocês são bem íntimos pela forma como estão juntos, hum? O
braço dele pelo seu ombro, seu sorriso, o rosto de ambos encostados… —
ele analisa a foto — Você sabe que a Camorra e Bratva têm enfrentado
conflitos, não sabe?
— Não tenho nada com ele! — sou firme nas minhas palavras.
— Ele tem seu primeiro beijo? — Pergunta baixo, sua voz profunda
entrando nos meus ouvidos e causando arrepios na minha pele.
— Não.
— Não.
Kai parece satisfeito com minha resposta, sua mão sobre até meu
rosto, segurando minha mandíbula e me fazendo olhar para ele. Seus olhos
são como duas gemas. Ele sorri sombriamente.
Capturo seu lábio inferior com meus dentes e mordo o mesmo, Kai
hesita, mas não desfaz o beijo, ele aperta ainda mais o aperto em meu cabelo
e eu arfo. Sinto o gosto do seu sangue na minha boca.
Ele começa a me levar até a mesa com sua força sobre mim. Posso
não saber sobre como é a sensação de um beijo na boca, mas isso não é nada
bom.
Levo minha mão até a mesa às cegas até achar algo afiado o
suficiente e encontro algo similar com uma caneta. Se for a que estou
pensando, é a de tinteiro de Alev com uma ponta boa o suficiente.
Nossos olhos descem até a caneta que está afundada na sua blusa
grossa. Kai segura minha mão que está segurando a caneta e a afasta.
Procuro por sangue na caneta, mas não encontro.
Ele olha para mim, os olhos como chamas. Uma risada irrompe da
sua boca, doentia.
Ele sai do escritório com uma risada alta e eu deixo a caneta cair no
chão ao ver que ele deixou claro que não concordou com minha proposta.
Os Moreau se vão minutos depois do que aconteceu na biblioteca. Eu
não me despeço de nenhum deles. Fico na biblioteca com lágrimas querendo
queimar meus olhos com a sensação de invasão e desrespeito que me
queima. E eu não posso reclamar, não posso abrir minha boca para dizer o
quão afetada e suja me sinto.
Estou sozinha e entregue a Kai Moreau e a tudo que ele quiser fazer
comigo. Mas ele não terá nada de boa vontade vindo de mim. Eu vou lutar
contra ele, fazer qualquer acordo para que ele me deixe terminar minha
especialização em Direito penal. Faltam dois anos e eu nunca estive tão
perto. Mesmo que eu não vá exercer essa profissão, eu a terei como a única
coisa que conseguir conquistar.
— Claro que vai negar — ele vai até sua mesa e respira fundo —
Está tudo arranjado agora. A notícia do noivado começará a circular e a
nossa dívida com o Don será paga. Convenci Ivo a deixar esse casamento
acontecer em pelo menos dois meses. Um mês é muito cedo para o que
planejo.
Levo minha mão à boca, esfregando o lugar onde Kai Moreau tocou
seus lábios. Enquanto faço isso, eu me deixo ser maltratada por mim mesma,
pelas minhas unhas na minha pele e pelo meu próprio desespero.
E agora entregue a um homem como Kai Moreau. Não sei onde mais
o preso da minha ilegitimidade vai me levar, mas ela está tomando tudo que
eu quase cheguei a ter.
(...)
Pego duas adagas signas, com uma lâmina em espiral. Elas são mais
pesadas que as convencionais e minhas preferidas também. Treinar com elas
sempre me traz uma sensação de conforto e segurança.
Karx é o único que quis me ensinar a lutar e usar armas. Foi com ele
que aprendi a disparar armas de fogo, usar facas, adagas e me livrar de um
explosivo.
— Não assim tão fácil — Subo no ringue, indo para o meu lado
oposto.
Empunho minhas adagas e olho para Karx que está desarmado. Ele
só lutou duas vezes comigo usando armas, para me ensinar a me esquivar.
Hoje em dia, ele me deixa tentar acerta-lo.
— Está com fogo nos olhos, quem sabe seja seu dia de conseguir me
acertar, garota. Vamos lá! — Observa com aprovação.
Bufo.
Eu tento uma vez atrás da outra, sem desistir. Deixo toda minha fúria
focada nessas adagas e quando estou carregada o suficiente eu avanço em
um golpe vertical. Escorrendo sobre meus joelhos e erguendo minha adaga o
suficiente para cortar a posterior da perna esquerda de Karx.
— Eu conseguir! — Constato.
— Sim, você conseguiu. Fique feliz por isso.
Entro no banheiro e pego a maleta surrada com tudo que vou precisar
pra consertar o que fiz em Karx. Ele está parado no quarto que usamos como
enfermaria. Está sentado sob a maca segurando uma toalha que já está
empossada com sangue.
— Também sei o motivo. Garota, não faça nada estúpido, ok? Esse
Sottocapo tem uma fama de crueldade maior que a do pai dele. Todos no
meio o conhecem como anjo da morte — Karx vira o rosto na minha direção
— Anjo pela sua aparência e morte pela forma como mata seus inimigos. Ele
não é alguém que você queira como inimigo. Eu conheço você, seu
temperamento… não faça besteira, ok?
Termino a sutura e ergo meus olhos para Karx. Seu rosto marcado de
cicatrizes do inimigo o deixando com uma aparência brutal e horrenda.
Quando eu o conheci eu tinha apenas 10 anos, sua aparência nunca me
assustou.
Não é o casamento da filha dela, tudo que está fazendo é por ordem
de Alev. O casamento precisa ser impecável, afinal, é um casamento de um
futuro Capo. Não importa que a noiva seja uma bastarda.
Eu olho para elas com descrença. Não é possível que aceitaram isso,
mas no mesmo momento eu lembro que raros são os casamentos por amor
em organizações. São feitos por obrigação. Somos entregues aos homens
completamente inexperientes, sem nem mesmo ter tocado os lábios de outra
pessoa.
Ele terá uma filha casada com o futuro Capo, e outra casada com o
conselheiro da Camorra. A grande e inabalável Camorra.
Antes que eu diga não, ela coloca o espelho na minha frente. Meu
reflexo me causa um breve choque ao me ver vestida com um vestido de
noiva. Eu nunca imaginei que usaria um e ao me ver nele só consigo pensar
que tudo eu temi, está acontecendo.
Continuo olhando para meu reflexo evitando tocar nesse vestido e ser
consumida pelo pânico de estar sendo preparada para o abate.
— Ele tem vindo há alguns dias. Acho melhor acertarem isso logo
antes que uma guerra comece. — O tom de Karx é duro.
Ele se empertiga.
Karx sai da cozinha, deixando claro que estará perto o suficiente para
qualquer eventualidade.
— Acha que sou tão descuidado assim? É claro que tomei todas as
precauções para chegar aqui. Nem Karx percebeu minha entrada.
Tem momentos que tenho certeza que Nikolai esquece que eu sou
uma bastarda.
— Não tem nada que você possa fazer. Por favor, volte para uma
região segura. Tem homens da Camorra por perto, se Kai descobrir que você
se aproximou de mim… — Inspiro ao lembrar o que ele fez comigo na
biblioteca quando achou que algo aconteceu entre Nikolai e eu — Ele vai
acabar com você, Nikolai. Vá embora!
— Vamos juntos. A Bratva está mais forte que nunca e meu pai dará
um jeito em Kai Moreau. Ele não será capaz de ter você, se for comigo,
estará livre, Marcella!
Balanço a cabeça.
— Kai Moreau tem poder sobre as cinco famílias. Se ele desejar que
todas entrem em guerra contra a sua família, simplesmente haverá guerra.
Sabemos que ele faria isso com gosto apenas para reaver o que ele acha que
é dele.
— Eu não sou de ninguém. Mas não são minhas palavras que valem
aqui, e você sabe disso. Vá embora, Nikolai!. — Peço.
— Você disse que em dois anos iria sair daqui e ir para longe. O que
aconteceu com esse plano? Eu achei que lutaria com tudo que tivesse para
conseguir sua liberdade.
Uma risada sem humor algum sai da minha boca e eu olho para
Nikolai com toda a mágoa que vem me castigando nas últimas semanas.
Me afasto dele.
— Têm dois homens vindo para cá. Não são da Filadélfia. É melhor
você sair, garota! — ele olha para Nikolai — Saia pelo mesmo canto que
entrou. Agora!
Nikolai me lança um olhar significativo e some por uma entrada
através da cozinha, me lançando um último olhar
— E então? — questiono.
— Já que não tem nenhum gosto, eu mesmo vou escolher por você.
Saia desse galpão, vá para casa e só saia de lá no dia que for me encontrar
na igreja e ser minha esposa. Se eu desconfiar de que aquele vermezinho da
Bratva chegou perto de você, eu vou me divertir bastante em tirar a pele
dele, com ele bem consciente.
— Não quer fazer isso comigo? Prefiro isso a me deitar com você,
então me faça esse favor.
— Se não quiser ver meus olhos, posso te comer por trás. Vai ser tão
prazeroso quanto por frente, minha doce noiva.
— Talvez seja só isso que terá de mim. A parte de trás das minhas
costas para olhar enquanto se satisfaz.
Não deixo ele falar mais nada, desligo o celular e entrego ao seu
capanga. Saio do galpão sem olhar para trás sentindo meu rosto queimar
com fúria e vergonha. Tenho vontade de gritar, de bater em algo.
Eu a quero. Quero consumir todo seu corpo com o fogo que arde nas
minhas veias.
O desejo que sinto é tão forte como a raiva que sinto ao saber que
Nikolai Vassiliev tem andado ao redor desde a notícia do noivado. Eles já
podem terem se encontrado, ele pode ter encostado nela e isso não terá
perdão se houver uma confirmação dos meus homens.
Sinto uma mão subindo pelo meu peito no meio dos meus
pensamentos, e imediatamente eu seguro a mesma com agressividades
olhando para trás onde encontro os olhos azuis de Evangeline e suas
madeixas ruivas.
Me viro para ela com o chuveiro ligado caindo água pela minha
cabeça. A olho com seu rosto submisso e sua boca cheia pedindo por mim.
Para fodê-la de forma suja como a puta que é.
Subo para minha cobertura, indo direto para o MacBook sob a mesa
de centro. Abro o mesmo vendo uma pasta com o nome dela. Recebo
primeiro a ficha dela feita por Jace.
Meu sangue escorre para meu pau em uma ereção tão dura que sinto
minhas bolas doloridas. O vídeo tem cerca de 6 minutos e meus olhos não
saem da tela, nem mesmo quando eu libero meu pau e começo a me
masturbar como um adolescente.
Porra!
(...)
Minha mãe respira fundo, lançando um olhar para o meu pai que está
calado.
Olho para ele com um sorriso de canto. Ele fica ainda mais sério.
— E o que um velho pode fazer por mim, Jace? Se você está falando
dele, com certeza tem algo que ele possa fazer — limpo minhas mãos na
minha calça, olho para Jace e seus olhos escuros — O que é que ele sabe
fazer?
Jace sorri.
— Ele tem uma casa funerária atualmente, pensei que seria cômodo
para a organização ter uma via segura de transporte para circular nossas
drogas e armas. Um caixão sempre pode ter um fundo falso. Ele também
mexe com substâncias letais, como veneno.
Jace sempre sabe o que pode nos beneficiar, ele é bom no trabalho
dele e eu o deixo sempre explorar todas as áreas que possam trazer benefício
a nós.
Evangeline sempre supriu bem meus desejos, foi uma ótima foda em
todo momento. Mas, está dentro dela desde que conheci Marcella Rivera não
é a mesma coisa. Preciso voltar ao meu foco, e só farei isso depois de entrar
na minha noiva.
— Você sabe que não é por dinheiro, Kai. E mesmo que fale ao meu
marido, o que ele pode fazer contra o Sottocapo? Ele é apenas um soldado
qualquer. — Cola seu corpo no meu — Eu sou sua, Kai. Sua para o que
quiser. Não me mande embora. Sou a única que consegue compreender seus
desejos, não sou?
Tão fácil. Ver ela sendo dessa forma me faz perder o tesão que tenho
por ela.
Olho em seus olhos, desviando para Jace que está dois metros atrás
dela.
Com uma expressão nada satisfeita, ela apenas assente e sai. Peço
para o cozinheiro levar meu almoço para minha sala.
A primeira coisa que faço ao chegar nela é ligar o telão na parede,
sentar atrás da minha mesa e espelhar as fotos de Marcella Rivera na tela.
Meus pensamentos voam com tudo que posso fazer com essa garota.
Nikolai não me deu mais notícias, mas sei que está tentando localizar
minha família materna. Eu poderia fugir até chegar nos domínios da Bratva,
mas isso seria impossível com os homens de Kai Moreau no meu encalço.
Eles são espertos. Mais espertos que os homens da Famiglia.
Rosélia sempre está aos meus ouvidos gritando para que eu ajude.
Estamos recebendo tantos presentes das outras famílias que me pergunto se
deixei de ser uma bastarda com tamanha consideração da parte deles, chega
até ser engraçado.
Ouço duas batidas na porta, a voz de uma das criadas me avisa que
Alev quer me ver no escritório. Respiro fundo diversas vezes, procurando
racionalidade e paz interior. Olhar para ele é sempre uma lástima.
Desço até seu escritório, o encontrando com uma expressão
impaciente.
— Kai Moreau está vindo para Filadélfia antes, ele chega hoje à
noite. Saia com India para comprar roupas apresentáveis — ele me olha
rapidamente — Vá agora. Ele deve chegar daqui a três horas.
Não sei mais que tipo de ação tomar, eu preciso barganhar com ele
para conseguir minha especialização. Mesmo que eu não chegue a exercer,
eu terei algo a qual me segurar para não enlouquecer se esse casamento for
adiante, e eu seja tratada como uma vaca reprodutora.
— Estou aqui hoje para ajudar minha meia-irmã com roupas para o
dia a dia, e um vestido especial para um jantar. Nada chamativo, mas
também não apagado. Pode ajudá-la com isso?
— Acredito que esse vestido seja perfeito para você receber seu
futuro marido hoje. Bordô combina com você — Ela me mostra um vestido
bordô, com decote quadrado, mangas curtas e uma saia soltinha com uma
estampa de flores negras.
— Fique com ele para você se gostou — Pego uma blusa preta de
mangas e gola alta — Prefiro algo que não mostre nada sugestivo ao
maníaco dos Moreau.
India sorri.
— Já parou pra pensar que talvez ele esteja vindo porque está louco
por você? Pode ter agradado ele de alguma forma, Marcella. Ele antecipou o
casamento e Otávio me falou que ele anda bem obstinado sobre esse
casamento.
Ela tem noção de que eu serei a pessoa que ela e Otávio colocaram
para esperar Kai Moreau na cama. Eu serei a pessoa que ele verá ao dormir e
acordar. O primeiro e o último rosto.
Saímos da boutique duas horas depois, indo direto para casa. India
agora é a pessoa que se mantém em silêncio. Nós duas sabemos como Kai
Moreau não é suscetível a manipulação, mas já ouvimos histórias das
mulheres mais velha sobre como uma mulher pode conseguir tudo do marido
sendo boa de cama.
Tenho certeza que esse é o pensamento que ronda a cabeça da minha
irmã, e que ela irá ligar para Otávio Moreau assim que tiver a oportunidade.
Os olhos dela sobem pelo meu cabelo e ela respira calmamente. Ela
sempre julgou as ondulações do meu cabelo, dizia que eu parecia uma
selvagem. Por vezes, eu alisava meu cabelo, mas sempre o preferi com suas
ondulações naturais.
— Não é como se ele fosse fazer algo com você. Ele precisa dos
lençois manchados e já sabemos a espécie da qual você vem. Nós que temos
que te advertir a não tentar nada com ele — É Emília quem diz essas
palavras com uma expressão tão chateada que seus olhos verdes brilham.
Ignoro-a.
— Alev permitiu que ele ficasse a sós comigo? — Tento mais uma
vez.
Será que alguém pode impedir isso? Se eu ficar a sós com ele, ele
pode tentar mais que um beijo e eu não tenho o mínimo controle de não me
controlar e acabar machucando ele.
— Falando assim, parece que não tem confiança em mim para ficar a
sós comigo, Bella mia. Eu sou um cavalheiro.
— Estamos na casa do seu pai, eu não ousaria fazer nada com você
aqui ou em outro lugar, sem estarmos casados — Ele sorri, se mantendo no
lugar.
Mentiroso.
Ele se demora olhando meu rosto sem emitir uma única palavra, seus
olhos descem rapidamente para minha mão esquerda onde se encontra o anel
e logo depois percorre todo meu corpo.
Odeio a forma como ele me chama dessa forma. Sua voz me causa
sensações estranhas e tudo que mais quero dele é a distância.
— É assim que recebe seu futuro marido? Não vejo nenhuma alegria
em seus olhos, minha querida. Me diga, sente tanta raiva assim de mim?
O olho confusa.
— Uma mesa. — É tudo o que Kai diz. O garçom não hesita diante
do olhar e postura de Kai Moreau.
Somos levados até uma mesa apenas para duas pessoas. Sento na
minha cadeira procurando ao máximo não olhar para nenhuma pessoa aqui
dentro ou para o homem que me trouxe, até mesmo quando ele se senta na
minha frente. Os olhos sempre insistentes em mim.
Mesmo não olhando diretamente para Kai, sei que ele esboçou um
sorrisinho. Alev sempre me disse para não encarar ninguém da máfia, pois
eles se sentiriam insultados. Por causa disso, aprendi a captar as reações sem
olhar diretamente.
Muito bonito.
Por trás desse rosto e corpo lindo tem um monstro cruel que não
poupa nem mesmo crianças.
— Na última vez que nos vimos, você me falou sobre querer fazer
uma especialização…
— Sim.
— Sim.
— Passei minha vida toda atuando, e dormir com você vai ser apenas
uma extensão. Mesmo que eu possa gostar, você nunca saberá. Sou muito
boa nas tarefas que me disponho a fazer.
Ele fica em silêncio, olhando para mim sem diversão alguma. Seus
olhos estão pelo meu rosto, descendo até onde consegue, ele se mexe
inquieto.
Eu o afeto.
— Você não pode usar isso contra mim, não vai funcionar. Será meu
marido, pode até mesmo me impedir de fazer uma especialização, me trancar
dentro de casa. Mas, se eu for arder em sofrimento, levarei você comigo.
Não estou à venda. Não vendo meu corpo pelos meus sonhos.
— Não acha que é uma troca justa? Afinal, nada vem de graça. Não
irei comprar seu corpo já que será minha esposa. Iremos apenas fazer uma
troca — Ele mantém o tom calmo.
— Você foi juramentada, assim como eu. Não existe saída desse
mundo. Entramos com vida, e não saímos. Eu quero você, Marcella. Quero
possuir cada pedaço do seu corpo, e estou disposto a pagar o preço que você
desejar por isso.
Sinto os pelos dos meus braços se arrepiarem com a forma como sua
voz me diz essas palavras. Algo desperta no meu íntimo com a presença do
desejo na voz de Kai. Algo que eu reprimo imediatamente.
Estou sendo ousada com um homem como ele. Posso acabar bem
pior do que estou, mas se fui jogada a isso, não vou me render tão
facilmente.
Seu cheiro entra nas minhas narinas quando inspiro e isso faz meu
sangue correr mais depressa pelas minhas veias.
— Você é ousada, mas tem medo de mim pelo que vejo. Também
tem uma língua afiada — ele diz enquanto para o carro em um lugar deserto
minutos depois.
Percebo tarde demais que ele deixou seus homens para trás
justamente com o segurança de Alev. Provavelmente, ele planejou tudo isso
Seus olhos são felinos e o sorriso ameaçador. Sua mão vai até meu
rosto, os dedos tocam minha bochecha suavemente causando queimação no
lugar.
— Ninguém espera que terá sangue nos lençóis, posso possuir você
aqui mesmo e me saciar — ele sussurra. Por um motivo, sinto que ele está
falando consigo mesmo em voz alta.
Seu dedo desce até meus lábios assim como seus olhos.
— Posso possuir cada parte sua aqui e agora, e não serei punido.
Posso fazer qualquer coisa com você nesse carro e ninguém teria a
capacidade de me enfrentar — ele se inclina ainda mais até que seu rosto
esteja a pouquíssimos centímetros do meu.
Kai desce os lábios até meu queixo, abaixando a gola da minha blusa
com a mão para ter acesso ao meu pescoço. Minhas mãos estão paradas.
Não tenho chances contra ele, se eu o machucar, serei punida.
Fecho meus olhos com mais força, procurando uma saída. Estou
repleta de medo, ansiedade e um sentimento que faz meu ventre pesar.
Respire, Marcella.
Deixo que ele veja a verdade nos meus olhos. Não me importo com a
aproximação de nós dois nesse momento. Só quero que ele veja.
Quero que ele desista de querer me ter, então usarei algo que ele não
será capaz de abrir mão.
É uma festa e tanto. Deve ter custado muito caro, mas com certeza
não saiu do bolso de Alev. Ele nunca daria uma festa dessa para sua filha
bastarda. É os Moreau que estão custeando tudo.
— Está nervosa, senhorita? — Olho para trás, encontrando Justine.
Uma das criadas de Alev que mais sou próxima na casa. E a qual evito
quando Alev está por perto, pelo simples fato dele querer machucá-la se
perceber o quanto ela é preciosa para mim.
Ela coloca sobre minha palma, fechando meus dedos sobre esse
pequeno pacote com um pó branco.
— Não seja pega, menina. Use isso e forje a mancha de sangue. Não
uma mancha de sangue exagerada ou muito vermelha. Você já viu uma
demonstração de lençois antes, conseguirá reproduzir algo parecido.
Ela está nervosa, suas mãos estão trêmulas. Olho para Justine
encontrando seus olhos. Mesmo com medo, ela veio até aqui arriscando
tudo. Isso aciona as emoções que estavam dormentes desde a hora que
acordei.
— Se optar por não usar, então tente fazer algo por si mesma. Ouvi
rumores das coisas que seu futuro marido faz com as amantes. É sádico. Por
favor, se não conseguir colocar na bebida dele, então coloque na sua. Se
você estiver muito tensa, essa droga será como um entorpecente. — Ela me
olha com compaixão — É tudo o que posso fazer por você, menina.
Alexa entra no quarto perto das 14:20 da tarde, ela está com um
sorriso gentil de sempre e eu me pergunto como ela pode ser gentil, é casada
com Ivo Moreau, o Capo que mais adora torturas e violência.
Foi Alexa que me deu os brincos de ouro que estou usando também.
Ela praticamente está agindo como minha mãe, e eu não entendo seu
empenho. Rosélia foge sempre que consegue e não procura comentar sobre
nada. Será ela que estará no altar, a quem vou entregar meu buquê…? Algo
que eu deveria fazer com minha mãe biológica. Sei que isso foi muito
discutido, Rosélia provavelmente não quis passar por essa humilhação visto
que não sou filha dela.
Alev não demonstrar emoção quando me ver vestida assim. Não tem
emoção alguma da parte de ninguém desde o momento que entro no carro e
o mesmo para em frente à igreja.
Saio do carro até a porta da igreja, India ajeita a saia do meu vestido
e o véu.
Olho para dentro vendo diversos convidados e Kai no altar com uma
postura ereta e com um terno preto.
Não.
Tenho certeza que ele tem mantido minha mãe presa a ele, pronto
para cumprir sua ameaça a mim. Alev não blefa.
Kai tem um sorriso no canto dos lábios, ele ergue o véu e toca minha
bochecha suavemente. Eu me arrepio e prendo a respiração. Ele é muito
mais alto do que eu, até mesmo de salto alto é ridículo como pareço tão
pequena diante dele.
Ele se inclina na minha direção, segurando meu rosto com uma mão.
Seu nariz toca o meu e eu fecho os olhos até que sinto seus lábios carnudos e
fortes sobre os meus.
Ele move seus lábios suavemente sobre os meus enquanto seu dedo
escova minha bochecha. Diferente da última vez que nos beijamos, esse é
gentil e me faz ter um pensamento de que ele quer mostrar algo a mim, mas
não faço ideia do que seja.
Uma salva de palmas ecoou pela igreja quando nos separamos. Volto
a respirar enquanto Kai tem um sorriso nos lábios e uma expressão de
vitória. Seus pais vem nos cumprimentar junto a Alev e Rosélia. Ivo faz
pouco caso, apenas um maneio de cabeça na minha direção. A única pessoa
a me abraçar é a Alexa.
Meu coração gela. Ele não pode estar aqui. Se ele for pego, será
morto pela Camorra.
— O que é esse desespero nos seus olhos bonitos, Bella? — Kai
pergunta ao meu lado com sua voz profunda.
Ele sabe que Nikolai esteve presente na cerimônia, por que ele não
está fazendo nada?
Respiro fundo.
— Espere até a noite, então. Você vai está desesperada para eu entrar
dentro de você, esposa.
Assim que me sento deixo meus olhos passearem por todos os rostos
que tenho no meu campo de visão. Vejo membros das cinco organizações:
Camorra, Famiglia, Ndrangheta, Cartel e La Santa.
— Isso foi muito civilizado, Jace — Kai diz ao meu lado, brincando
com um copo de conhaque — Não a bajule muito, ela detesta isso — Olha
para mim: — Não é, Bella mia?
Odeio o arrepio que percorre meu corpo quando ele se refere a mim
dessa forma. Olho para esse tal Jace com o mesmo olhar debochado que ele
olha para mim.
Observo seu copo ao meu lado, me decidindo o que fazer. Ele não é
estúpido. Se eu o drogar, ele saberá e eu não sei o que é capaz de fazer. Se eu
usar em mim, ele poderá me violentar…
Mesmo que ele me possua inconsciente, ele me procurará outra vez e
eu não conseguirei encontrar mais nenhuma saída. Justine também pode
correr perigo se ele descobrir que conseguir uma droga. Com certeza ele não
pouparia esforços e brutalidade para descobrir quem me forneceu.
Ninguém vem falar comigo e eu agradeço por isso. Para eles sou uma
bastarda insignificante, mas eles também não podem me ofender. Se fizerem
isso, estarão ofendendo a família Moreau.
A amante de Kai.
— Obrigada — agradeço.
Ela se aproxima um pouco de mim, como se para tirar alguma sujeira
do meu ombro, mas é apenas para sussurrar no meu ouvido.
— Vou rezar para ele não a machucar demais hoje à noite. Kai é
selvagem e acredito que faz uma década desde que ele teve uma virgem. Se
você quiser, posso tentar falar com ele para ser gentil…
— Sua mão está fria e você está pálida — Kai comenta tomando
minha mão e colocando a sua outra mão na minha cintura.
Todos pararam para nos ver dançar, e assim que os músicos tocam a
primeira música, nós dois começamos a nos mover.
— Você está tão linda de noiva que cheguei a cogitar não rasgar esse
vestido de você, mas é inevitável não rasgar. Estou louco para ver cada
pedacinho do seu corpo e descobrir até onde posso encontrar seus sinais de
nascença. — Sussurra no meu ouvido e eu me arrepio.
Não consigo falar nada, minha boca está seca e uma bola parece ter
se formado na minha garganta. Danço com Kai, Alev, e por último, danço
com Ivo.
Kai estende a mão na minha direção e seu sorriso sádico me faz suar
frio.
Não o olho. Olhar para ele estando assim é deixá-lo ver o medo em
meus olhos. Ver o quão vulnerável eu estou e o quanto ele pode conseguir de
mim estando dessa forma. Seguro com força a saia do meu vestido de noiva
e entro no quarto indo para o meio dele.
Kai olha em meus olhos e a tonalidade âmbar parece escura com tão
pouca luz. Sua mão sobe até meu rosto e ele escova minha bochecha,
mantendo os olhos em mim.
— Não minha boca. Não quero seus beijos — Digo com minha voz
saindo clara o bastante para ele ouvir com autoridade.
Ele agarra meu queixo e me faz olhar para ele, sua expressão não é
nada amistosa.
Ele sorri com sua forma sádica e desce a mão até meu pescoço,
apertando suavemente.
— Você disse que iria colaborar, mas neste momento estou tão louco
para te possuir que não vou me importar com sua colaboração — Ele segura
minha mão e a coloca sobre sua virilha.
Algo pesa no meu ventre. Como se uma pedra fosse colocada nele e
minha intimidade formiga.
Puxo a minha mão e dou um passo para trás, Kai avança na minha
direção e eu o paro colocando minhas mãos no seu peito forte. Seus olhos
estão demonstrando uma fome que agora está me causando um certo medo.
— Vou tirar para você, Bella mia — Sua voz profunda está
levemente afetada.
— Por favor, me dê alguns minutos. — Peço com a garganta seca —
Preciso usar a camisola que as mulheres da família separaram.
Não penso sobre como vou parecer, eu apenas a visto sem me olhar
como fico com ela. O tecido só cobre até quase metade da minha bunda.
Controlo o pânico que está prestes a irromper por mim quando toco a
maçaneta.
— Inferno, como vou pegar leve com você se é tão linda e tentadora?
— Rosna colocando suas mãos no meu corpo, seu nariz vem até meu
pescoço — Não sei se vou conseguir ir devagar.
Sua ereção é tão dura contra minhas costas que eu chego a pensar
que seja uma madeira que ele esteja pressionando no local. O tamanho e
grossura me causa pânico, ele vai me machucar.
Seus dedos estão firmes e sua outra mão segurando meu quadril.
— Que bela bunda você tem, querida. Umas palmadas deixarão ela
bem vermelha, hum? — Sua voz é um rosnado.
Sinto seus lábios beijar minha bunda e passar a língua pela mesma.
Tento relutar contra a sensação que sobe pelo meu corpo, mas é impossível
não sentir meu corpo reagindo a isso.
Kai me vira, soltando meu cabelo e ficando por cima de mim. Seus
olhos são selvagens e a tatuagem de um dragão cuspindo fogo no seu
peitoral largo parece assustadora.
Ele retira a camisola sem cerimônia ou gentileza. Não tem nada de
gentil no que ele está fazendo comigo. Meus seios ficam expostos e os olhos
de Kai vão até eles, tento me cobrir com meus braços, mas ele os segura.
— Não lute contra seu corpo, Bella. Ele me quer — ele circula o meu
mamilo enrijecido com o dedo, causando uma certa eletricidade pelo meu
corpo, logo depois ele desce a mão até chegar no meu monte de Vênus — Se
eu for mais pra baixo, vou encontrar uma umidade deliciosa esperando por
mim? — pergunta.
Quero dizer que não, mas algo em mim está reagindo a ele. Kai se
deita sobre meu corpo tirando um suspiro longo de mim. Uma das suas mãos
prende as minhas sobre a cabeça e meu corpo está à mercê dele.
Ele trilha beijos molhados pelo meu pescoço e aperta meu seio
esquerdo com uma mão, enquanto desce a boca e captura meu mamilo
direito.
Dito isso, ele vai descendo até chegar na minha intimidade. Ele solta
meus pulsos, mas antes que eu possa pensar em afastá-lo, sua boca engloba
minha intimidade e eu arfo.
Passo a língua em uma lambida repleta de desejo nos lábios inchados
da boceta de Marcella recebendo seu sabor doce preenchendo minha língua.
Porra. Se algum fio de lucidez estava em mim, acabou de ser perdido na
loucura ao sentir seu gosto. Um gemido abafado saiu da sua boca junto com
um estremecimento. Eu estou chegando ao meu limite. Meu pau está tão
duro que não sei como ainda não gozei. Lambo suas dobras, deslizando
minha língua pela sua abertura apertada, encontrando mais do seu gosto
derretendo por mim. Subo minha língua até seu clitóris, pressionando minha
língua fortemente no lugar. Marcella fica tensa.
Deslizo minha língua novamente pelo seu clitóris até sua abertura,
encontrando o caminho ensopado com sua excitação.
Não dou tempo para ela pensar em qualquer coisa que não seja minha
língua dentro do seu canal, minha boca sugando seu clitóris. Se eu me
descuidar em qualquer segundo, a resistência de Marcella voltará, e pela
primeira vez, não quero ser violento.
A onda de prazer se aproxima novamente do meu corpo, mais forte
que a primeira que chegou arrebentando minha resistência. Eu não
conseguiria explicar a intensidade de tudo entre nós dois nesse momento,
mas eu não consigo ter controle nenhum sobre meu corpo enquanto sua boca
me chupa..
Fecho meus olhos enquanto tento pensar em algo que me faz feliz.
Kai não parece se importar de estar infligindo essa dor em mim, e tão pouco
faz algo para amenizar. A forma como eu me sinto invadida com seu corpo
nu sobre o meu despedaça a mentalidade forte que me blindei. Eu me sento
perdida e a dor começa a ser uma ótima distração para a traição que cometi a
minha mente, mas até essa dor está se transformando em prazer, e ouvir os
gemidos de Kai só ajuda a essa parte do meu corpo, que se entregou a ele, a
gostar ainda mais do que ele faz.
Abro meus olhos encontrando Kai com uma expressão que me faz
sentir ainda mais prazer. O rosto contorcido de prazer dele, os gemidos
profundos… por que algo em mim gosta disso?
Sua respiração arfante chega aos meus ouvidos como uma prova de
que ele saboreou cada minuto e que eu falhei em tornar essa primeira vez
desagradável para um homem como ele.
Não faço questão de me cobrir com nada, deixo Kai Moreau mirar
cada traço do meu corpo.
— Que boca esperta você tem, hum? Ela serve para outra coisa
também? — Questiona, mirando meus lábios.
Deixo que ele veja a fúria fervilhando em mim, não desvio meus
olhos em um só momento dos seus.
— Eu vou botar meu pau nessa boca bonita e delicada, e foder ela
com tanta força que você vai ficar com a garganta dolorida por dias. E eu
não vou ter que pedir por isso, você vai implorar pelo meu pau, Marcella
Rivera.
— A única coisa que vou implorar a você é que fique longe de mim,
seu filho da puta sádico!
O sexo com ela foi diferente. Espero que tenha sido assim por ser a
primeira vez que a possuí, mas sinto que talvez não seja isso. A eletricidade
pelo meu corpo enquanto eu estava dentro dela, o prazer que nunca sentir tão
forte como nunca sentir com nenhuma outra mulher… não faço ideia do que
porra está acontecendo. Eu já fodi virgens antes, dezenas delas e foi
entediante até o último minuto. Com essa mulher ao meu lado não. Minha
excitação ainda está ativa, clamando para ser saciada dentro de Marcella.
Sorriu.
Seguro seu cabelo, virando seu rosto na minha direção, sedento para
provar seus lábios, quando estou perto o suficiente, ela vira o rosto. Olho em
seus olhos.
— Não vou beijar você, Kai. Eu disse que poderia ter cada pedaço do
meu corpo, mas não da minha boca.
— Posso ter sua boca em outro lugar. Vou te ensinar a me dar prazer.
Afinal, sou seu passe livre para conseguir uma especialização.
Seus olhos ficam duros, continuo sorrindo para ela. Solto seu cabelo
e me afasto.
— Não vou tomar banho com você. Quando você terminar seu
banho, eu tomarei o meu.
Não vou mais receber nenhuma rejeição dela por hoje. Isso está me
chateando. Entro no banheiro e tomo um banho rápido, escovo os dentes e
saio com uma toalha no quadril sem olhar para Marcella quando ela entra no
banho. Percebo seu andar rígido, ela deve estar dolorida.
Ver uma mulher de cabelo molhado é uma coisa tão banal, mas
Marcella com cabelo molhado diante de mim se tornou a coisa mais íntima
que eu já tive com alguém. Isso me deixa desnorteado.
A casa dos Rivera está cheia com os membros das cinco famílias. O
rosto de todos se volta para Marcella e eu descendo as escadas. Os homens
imediatamente avançam na minha direção, e eu me afasto de Marcella.
Olho para Jace a fim de ter certeza no que ele acabou de dizer, ele
assente. Se Andrei morreu, quem assume é o bostinha do seu filho mais
velho. Mikhail Vassilliev. Ele tem quase 40 anos, assim como eu. Nascemos
praticamente com um ano de diferença, e ele é tão venenoso como uma
cobra do deserto.
Ele assente, saindo do meu lado para fazer as ligações. Meu pai, Alev
e meu tio se aproximam de mim. Os três começam uma conversa comercial
sobre a Famiglia ajudar a Camorra nas exportações de nossos produtos.
Ouço tudo o que eles falam sem me abalar em nada. Meus olhos
procuram por Marcella no sala, e a encontro sentada em um canto.
Segurando uma caneca de café e com os olhos distraídos. Nenhuma das
mulheres se aproximam dela para ficar muito tempo. Nem mesmo suas irmãs
estão por perto.
Ela fica sozinha, o olhar em um ponto fixo. Ela levanta do lugar onde
está, perto das escadas e caminha para onde eu acho levar a cozinha.
Estou prestes a seguir o caminho que ela fez quando a figura alta e
esbelta de Evangeline se coloca na minha frente. Ela sorri.
Esses olhos azuis escuros sedentos por mim não me causam nada que
eu gostaria que causasse. Percebo nesse momento que perdi o interesse por
Evangeline. Em outra situação, eu não teria hesitado a proposta de levá-la
para qualquer lugar e me satisfazer dentro dela, enquanto a sufoco até ela
chegar perto de desmaiar. Essa vadia gosta de um sexo violento.
— Não a coloque para comer essas coisas, dê algo que contenha mais
energia. Essa menina precisa de suplementos. Ainda bem que consegui
colocar alguns na sua mochila. — É a voz grossa de um homem claramente
mais velho.
— Está na minha hora de ir embora agora. Queria ver você antes que
partisse. Se cuide, menina! — O tal Karx diz a Marcella sem olhar para
mim. Ele toca no ombro dela e lança um olhar para a senhora que tem o
rosto amedrontado ao me ver.
Ela leva a caneca de café até os lábios, evitando olhar para mim.
Seus seios estão muito bem pressionados nesse vestido, sua pele está
ainda mais atraente. Estou louco para provar seus peitos novamente e a ver
se contorcendo. Observo seus olhos que estão com tom mais castanho
misturado ao verde a deixando com um ar mais selvagem. Essa mulher
agora é minha.
Emília me olha com chateação e vira o rosto. Olho uma última vez
para a casa que fui criada e me viro até o carro, onde Kai me espera. Entro
no assento de passageiro, ao lado dele. E quando ele finalmente dá partida,
eu vejo a casa dos Rivera se tornando uma miniatura ao passo que os carros
dos Moreau avançam.
Seis horas depois, pousamos perto das dez da noite, em outra pista
privada. Kai me lança um olhar intenso ao me ver tirar o cinto de segurança.
— Vamos para casa — Kai olha para mim com um brilho felino nos
olhos dourados.
Sua risada ressoa por dentro do carro e a cada protesto ele parece
pisar ainda mais fundo no acelerador, fazendo o carro chegar perto de bater
nos outros diversas vezes, desviando no último segundo. A cada vez que ele
faz isso, meu coração acelera a um ponto de eu sentir vertigem, e ver as
luzes embaçadas. Os carros que ele ultrapassa buzinam e os sons me deixam
ainda mais fora do eixo da tranquilidade.
— Bastava você ter me dito que não era daquele filho da puta que
estava falando, e eu não teria feito isso — A voz profunda e doentia de Kai
ressoa atrás de mim.
— Você ainda não viu nada, Bella mia. — ele se aproxima de mim
— Levante, estamos perto da minha cobertura.
Reúno toda força que me resta para me erguer, olho para Kai Moreau
e seu rosto doentio.
Kai assente.
Não sei por quanto tempo caminho, mas quando chego na frente do
prédio residencial de luxo, eu entro recebendo um olhar curioso do porteiro.
Ele me olha por alguns segundos, diretamente para meus olhos. Não
desvio meus olhos dos seus.
Ele passa a mão pelo lado do rosto sem a cicatriz, quase de forma
inocente.
Ele aperta seu braço ao redor da minha cintura, olhando para mim
com divertimento. Deixo minhas mãos erguidas para não tocar no seu peito
nu, em nenhuma parte da sua pele.
Sua voz é tão profunda que faz todo meu corpo sofrer arrepios
intensos. Kai inverte nossas posições, me colocando contra a parede. Toco
seu peito, com hesitação.
Ele assente.
Ele ri.
— Quero fazer você gozar com meu pau, então fique quietinha e me
deixe trabalhar no seu corpo, querida esposa. — O hálito com álcool sopra
meu rosto, e seus lábios vermelhos grossos sorriem de forma voluntária.
Ele abre meu roupão, com o corpo ainda em contato com o meu, ele
se afasta apenas para me admirar, o que vejo nos seus olhos me enche de
satisfação. Kai admira cada centímetro da minha pele, emitindo um gemido
baixo e os olhos em chamas.
Kai solta meu seio e desce a mão até minha intimidade. Eu enrijeço
com o toque, e me derreto no momento que ele dedilha meu clitóris. A
sensação que me toma é tão boa que qualquer resistência em mim se desfaz
com o gemido que sai dos meus lábios.
— Porra, geme pra o seu marido, Bella! Sou seu homem. Seus
gemidos são música para os meus ouvidos… — Kai morde o lóbulo da
minha orelha depois de sussurrar essas palavras profundamente.
Os olhos de Kai estão no meu rosto, ele parece se deliciar com o que
ele está me causando, seus olhos estão focados em me assistir.
A luz do corredor reflete em seus olhos âmbar, deixando a luxúria
expressada ali. Kai abre sua calça, libertando seu membro grosso e comprido
com uma excitação aparente. Meu estômago se enche de calor e espanto.
Relembro novamente de como foi dolorido para isso entrar em mim.
Abraço seus ombros e ele estoca fundo. Os gemidos que sai da minha
boca são incontroláveis, ele bate em um ponto em mim que faz luzes
piscarem na minha visão. A cada investida dele, nós dois gememos. Não
consigo pensar em mais nada enquanto ele segue com os movimentos
habilidosos e rítmicos. Minhas costas sobe e desce na parede atrás de mim.
Meu corpo em contato com o dele é um combustível que inflama com seus
gemidos.
Não posso gostar disso, não posso gostar de nada com Kai Moreau.
Ele foi minha sentença, mas isso não significa que eu precise aceitar.
Conheço a crueldade de homens como ele, se eu ceder o que tenho em mim
a ele, vou acabar sem nada.
Não olho para sua cicatriz no seu rosto, apenas olho para seus olhos.
— Acha que vou ficar sã vivendo presa aqui, esperando você para
me foder? Eu não cheguei onde cheguei nos meus estudos para desistir. Se
você não permitir, eu não vejo motivo de manter minha cabeça com sanidade
— caminho na sua direção, ficando próxima a ele, ergo minha cabeça para
que ele veja a verdade das minhas palavras — Você deve saber o que
acontece com filhos bastardos, sabe o que somos forçados a fazer, o que
acontece… se acha que mantive minha sanidade intacta por qualquer coisa
que não a mim mesma, está enganado. Não nasci para ficar presa, Kai. Eu
preciso de algo que alimente minha mente.
Seus olhos estão analíticos, ele mantém suas mãos em cada lado do
corpo, a postura ereta e os olhos duros.
Kai não pisca os olhos, sua expressão continua dura, mas seus olhos
cintilam para mim.
Pego uma cueca boxe, quando estou prestes a vestir, Marcella entra
no closet, recebendo a visão total do meu corpo nu. Suas bochechas ficam
vermelhas e ela sobe os olhos para o meu rosto.
— Desculpe.
Sim, ela ainda deve estar dolorida, eu deveria ter dado algum
analgésico a ela, achava que alguma das mulheres iriam fazer isso, mas me
enganei. Deveria deixar ela descansar por dois dias, mas aqui estou eu,
querendo mais.
— Sua boceta está dolorida, mas seu traseiro ainda está intacto —
Mordo o lóbulo da sua orelha.
— Acha que não vou reivindicar seu traseiro? Ele será tão gostoso de
comer tão como sua boceta.
Não vou mudar quem sou por causa de uma boceta virgem.
(...)
Acordo sentindo fios de cabelos pelo meu rosto, abro meus olhos
me encontrando com o rosto em meio aos cabelos de Marcella, que ainda
continua de costas. O cheiro de sândalo enche meu nariz, trazendo uma
sensação de uma manhã perfumada e ensolarada. Deixo minha cabeça
repousar aqui por alguns minutos, apenas para sentir essa sensação de
calmaria.
Marcella Rivera.
Ela frita ovos, bacon e faz torradas com tomates. Na hora de servir,
ela faz um prato para mim também, junto com uma caneca de café quente. A
questiono com o olhar, ela desvia sua atenção e ataca a comida.
— Mandei jogarem suas malas no primeiro lixo visto. Aquilo não são
roupas.
— Você faz o quê?!
— Não quero nada seu! Aquelas roupas eram minhas, tinha coisas
minhas naquelas malas… mande seus homens irem buscar ou me leve até lá,
droga! São minhas coisas! Você não tem esse direito!
— Onde?!
Marcella corre até a sala, vou atrás dela vendo a mesma procurar
algo nas gavetas do armário da entrada. Ela procura com afinco, até não
achar nada. Então, ela vai até Jace com os olhos em chamas e uma postura
ameaçadora.
Jace ri.
— Está brincando?
Seu tom é tão autoritário que Jace olha para mim aturdido. Tomo a
frente da situação.
— Quer ir até esse rio e encontrar suas coisas? Esse é seu plano? Seja
madura, pare de agir como uma criança. — Bufo
— São apenas malas, droga! Por que ela está agindo feito uma louca?
Meu carro, porra! — Jace xinga.
Ela mergulha no rio, nadando até onde suas malas estão boiando.
Uma certa incredulidade passa por mim. Não é possível. Ela se jogou dentro
de um rio imundo.
Ela continua nadando, para cada vez mais longe e fundo. Para a outra
extremidade. Tem todo tipo de sujeira boiando nesse lago, ela continua
nadando, dando braçadas fortes e violentas em direção ao outro lado da
margem do rio onde suas malas estão boiando. Inferno!
— Marcella! — Rujo.
Ela pega suas malas e começa a nadar de volta. São duas malditas
malas que ela está nadando com dificuldade para trazer de volta. Jace está
tão incrédulo quanto eu.
— Volte para seu carro, caralho! Tire os olhos dela! — Exclamo cada
vez mais alterado.
Pego Marcella pelo braço e a arrasto até o meu carro. Ela passou dos
limites.
Ela toma banho na minha frente, deixando seu corpo nu amostra pela
primeira vez sobre uma luz forte. Deixo ela debaixo do chuveiro por dez
minutos. Quando ela sai, eu a coloco sobre a pia do banheiro, pegando a
maleta de primeiros socorros.
— Não tente ser uma louca aqui, Marcella. O único louco desse lugar
sou eu. Se você voltar a se comportar assim, eu vou te castigar duramente —
Jogo uma toalha na direção dela — Jace vai trazer uma roupa para você. Vá
a qualquer loja que quiser e compre roupas decentes.
Pego uma muda de roupas da minha mala, das roupas que Alev
comprou pra mim. Uma calça jeans de lavagem clara e uma blusa branca de
botões, soltinha e mangas na altura do cotovelo.
— Será meu guarda costa? Logo você, que eu, uma garota de 1,67 de
altura, conseguiu driblar tão facilmente? — Uso um tom debochado.
Sorrio.
— Se eu pedir para você me carregar nos braços, terá que fazer isso.
Querendo ou não, sou esposa do seu chefe. — Lembro-o.
Ele expira.
— Talvez, você seja esperta demais. Tome cuidado com o que ouve e
fala por aqui. Nosso Sottocapo é pavio curto, você logo irá perceber.
O sotaque russo dele me causa lembranças.
Percebi seu sotaque quando nos falamos pela primeira vez, mas só
percebi a origem dele, agora. Desço meus olhos pelos seus braços
musculosos expostos graças a regata branca. Procuro a tatuagem que
evidencia que ele foi um membro da Bratva, mas ela não está visível.
Será que ele sabe algo sobre Nikolai? A amizade que nós dois
tínhamos na faculdade?
— Volte para o carro, vou levar algo para você beber lá — Jace soa
nervoso, se colocando na minha frente como se para tampar minha visão.
Franzi o cenho.
O tal Kelsy quase de imediato desfaz o riso do rosto, mas não é isso
que me chama atenção. É o fato de o barman sair de fininho e caminhar até o
corredor e surgir alguns segundos depois com uma expressão de
desconforto.
Ele está vestido de preto, da cabeça aos pés. Na luz do dia, e a alguns
metros de distância de mim, eu volto a perceber o quão alto ele é. Como
invencível ele parece. Ele para e me olha de longe. Meu corpo parece travar
diante da visão bonita que ele está desenhando na minha mente.
Sua voz está calma, mas seus olhos demonstram algo similar a
inquietação.
A fragrância sobe pelo meu nariz e eu ergo meu rosto para ele.
Não digo nenhuma palavra. Sei que ele esteve com outra mulher e
estava fazendo isso lá dentro. O perfume feminino está impregnado nas suas
roupas.
Me afasto.
— Marcella…
Me afasto dele e entro no carro, evitando olhar para ele. É claro que
ele ia continuar com os casos amorosos, os juramentos, as regras só servem
para mim que passei toda minha vida subjugada.
Jace surge alguns segundos depois que entro no carro, ele fala algo
com Kai e entra no carro sem falar nada.
Pego um dos livros que trouxe na mala, feliz por ele não ter sido
ensopado. Leio durante algumas horas, fugindo da minha realidade. Perto do
final da tarde, eu encho a banheira com água morna para poder relaxar e
pensar sobre tudo. Sobre minha mãe, minha quase liberdade…
Passo direto pelo salão, indo para minha sala. Josh foi me avisar que
Marcella estava aqui. Ouvir isso me fez sair de dentro de Evangeline com
um certo entojo de mim mesmo. A coloquei para fora e agora estou sozinho
na minha sala.
Uma raiva por mim mesmo circula pelas minhas veias, eu reprimo.
Não tem nenhum motivo para isso. Eu estava precisando me aliviar.
Marcella ainda não está pronta para meu ritmo, não fiz nada além do que
deveria.
Por volta das 15:00 da tarde, eu recebo uma ligação do meu tio.
Ele não ligou por isso. Ele quer saber onde estou e o que estou
fazendo. Provavelmente, ele vai se reunir com os senadores para discutir
sobre os negócios legais da família Moreau, ele está com medo que eu
estrague alguma coisa aparecendo.
Se ele soubesse que tenho todos na palma da mão. Gosto de fazer ele
pensar que meu pai ainda possui controle de algo da organização.
Desligo o celular, sem humor para qualquer conversa com meu tio.
Estou com tanta raiva dentro de mim que meu corpo parece
tensionado. É por essa razão que ao invés de ir para casa, eu vou para o
barracão lutar com os homens.
Ela não ergue o rosto para mim quando abro a porta, acredito que ela
nem percebe minha presença. Só ergue os olhos quando eu abro mais a porta
para entrar, fazendo a luz do corredor entrar no cômodo. Os olhos redondos
se erguem na minha direção rapidamente e eu absorvo a beleza deles.
— O que faz aqui tão quieta, parecendo que vai se fundir a essa
poltrona? — pergunto, indo até o carrinho de bebidas.
Ela fecha o livro e olha para mim, esses olhos verdes me fitando são
como fogo entrando em contato com querosene.
— Você pode ir com Castello. Você já o deve ter visto ele na entrada
do apartamento, é um dos homens que fará sua segurança.
— Não se atreva a isso, Kai. Não tire mais do que já tirou de mim.
Não seja carrasco a esse ponto, não estou pedindo muito. Não tanto quanto
você já fez de mim, não? — Ela exala acidez.
— Você foi dada a mim. Qualquer decisão sobre sua vida, pertence a
mim.
— Você não merece isso de mim. Eu sabia que não poderia confiar
em você, mas ainda assim achei que você fosse ser honesto, você não foi.
Quero manter o máximo que eu puder de mim durante esse casamento. Você
não terá meus beijos. Não terá uma única demonstração de afetividade da
minha parte. Eu não vou entregar isso a um homem que se casou comigo,
mas nem mesmo honra seus votos a mim. Minha boca não vai encostar em
algo que toca outras mulheres e às possui da mesma forma que faz comigo.
Ou pior
Brinco com a alça fina do seu vestido, a vendo ficar tensa sob meu
toque. Passo a língua pelo meu lábio inferior lembrando do gosto da sua
pele, da maciez…
— Mesmo sem seus lábios, eu posso possuir mais do seu corpo do
que imagina. Então, não ache que está se protegendo de mim. Toda vez que
eu entrar dentro de você, vou levar um pedaço seu comigo até que na sua
mente só esteja o desejo por mim. Nem que seja de ódio.
Nós dois ficamos em silêncio, até ela falar sem olhar diretamente
para mim.
São suas últimas palavras. Ela segura o livro com força e mantém os
olhos baixos. Sua voz soou trêmula fazendo meu coração apertar.
Tiro a manta do meu corpo e levanto indo para a cozinha. Pela hora
no relógio digital sob a mesa, eu deduzo que Kai ainda possa fazer está
dormindo. Ainda são 4:40 da manhã.
Preparo café quente e espero o mesmo ficar pronto. Não acendo as
luzes, deixo apenas as luzes de lá de fora que entram através das janelas de
vidros. O sol está ganhando forma. Deve ser maravilhoso assistir ele da
praia.
Aproveito que ele está na cozinha e vou para o banho. Lavo meu
cabelo e corpo. Escovo meus dentes e vou para o closet enrolada na toalha.
Visto um conjunto de lingerie de renda preta, e uma blusa soltinha
acompanhada de uma calça de tecido mole. O clima aqui é mais quente do
que na Filadélfia.
Escovo meu cabelo, passo um base para esconder a noite mal
dormida e borrifo um pouco de perfume.
— Não sente nojo? — Pergunta Kai com a voz afetada. Percebo que
ele está tenso com meu toque.
Tiro minhas mão da sua pele, olhando para ele com ressignificação e
um pouco de dureza. Levo minha mão até o lado esquerdo do seu rosto onde
se encontra a cicatriz. Encaixo minha mão nessa parte do seu rosto,
escovando sua bochecha com a cicatriz avermelhada com meu dedão.
Kai fica extremamente tenso com o toque, mas ele não me repele ou
se afasta.
Kai mantém seu olhar no meu, assim como eu, seus olhos quebraram
uma barreira diante dos meus com minhas palavras. Espero ver o deboche, o
humor e a glorificação por eu estar falando algo com a qual ele não se
importa.
Mas não.
Volto para a cobertura depois de tomar um café quente. Kai não está
aqui, como o esperado.
Vou para o closet procurar um vestido social para o jantar. Escolho
um preto tomara que caia de tecido fresco, com uma fenda na perna direita.
Aliso meu cabelo com uma chapinha, mas mesmo com a chapinha,
as pontas ficam levemente onduladas.
Um silêncio impera entre nós, Kai mantém seus olhos em mim com a
intensidade capaz de queimar minha pele. É como se ele fosse pular em cima
de mim a qualquer minuto.
Quando Kai surge do quarto, está vestido de preto da cabeça aos pés,
como sempre. Nós dois pegamos o elevador em silêncio, sem nenhuma
interação. É como se cada um de nós estivéssemos em uma bolha, ou só eu
esteja nessa bolha e ele está me observando do lado de fora.
Passo meu braço pelo seu, segurando suavemente seus bíceps. Nós
dois caminhamos para dentro da mansão luxuosa e com mobília antiga.
Kai olha para o homem com a firmeza e a forma sombria que seus
olhos sempre parecem demonstrar.
— Que bom que veio, querida! — Beija os dois lados do meu rosto
— Está com fome? Ninguém se senta à mesa de jantar. Todos ficam em pé
ou pelos cantos tratando de assuntos.
Ando pelo corredor nas pontas dos pés, olhando para cada um das
portas e parando na penúltima do lado direito. Diferente das outras portas de
cerejeira pintadas de preto, essa é a única porta com cor branca e uma
madeira fina.
Entro por completo no quarto sem acender a luz, a que vem de fora,
atravessando as janelas com cortinas finas, é o suficiente.
Sua postura é relaxada e seu rosto duro. Levo a mão até meu peito,
sentindo as batidas desenfreadas do meu coração pelo susto.
— Eu não sabia que era o quarto dela, eu nem mesmo sabia que você
tinha uma irmã mais nova.
Kai se movimenta, com dois passos que suas pernas longas fazem,
ele se senta na cama da irmã com um suspiro baixo.
Fico parada perto da mesa de estudos sem saber o que fazer, ou qual
passo dar.
Kai solta um suspiro longo e olha para o teto, sigo seu olhar vendo
estrelas coladas nele.
O olho confusa.
A luz que vem de fora ilumina o rosto de Kai, deixando esses olhos
âmbar acesos e a expressão faminta dele em evidência para mim.
— Não vou foder minha esposa com camisinha, porra. Quero sentir
você babando meu pau.
— Não vai mesmo, Kai. Pra isso, você vai precisar me tomar a força
— rebato com firmeza.
— Se não posso beijar você na boca como quero, vou beijar sua
boceta.
Ele ergue meu vestido até meu quadril e rasga minha calcinha me
fazendo arfar com a ação. Abrindo minhas pernas, colocando uma sob seu
ombro, ele posicionou a cabeça no meio das minhas pernas.
Com a mão segurando forte minha coxa sob seu ombro, ele passou a
língua pelos meus lábios, encontrando meu clitóris no caminho. Um gemido
baixo sai dos meus lábios, e a sensação de calor se apossa da minha pele.
Kai abre meus lábios com sua língua e acha a minha entrada, ele
circulou sua língua por ela fazendo com que eu segurasse com força a borda
da mesa e fechasse meus olhos. Sua língua subiu até meu clitóris, ele
pressionou o local com força e então chupou com maestria tirando de mim
um gemido alto.
Seus dedos ondulam dentro de mim e ele atinge em cheio meu ponto
G estourando a carga em mim. Meu orgasmo é tão forte que perco meu
equilíbrio e minha visão escurece.
Kai ergue os olhos para mim, os cantos da sua boca melados com
meu suco e um sorriso sádico nos lábios. Meu peito sobe e desce com minha
respiração arfante. Estou aturdida e desorientada.
— Não vou foder com você sem camisinha. Não vou arriscar pegar
nenhuma doença de uma das mulheres com quem você transa — faço a
menção de me levantar, ele me segura pelos quadris para me manter no
lugar.
Eu sei que não. Ele não iria querer arrumar um filho dessa forma,
mas não vou ceder a Kai.
Agarro seus ombros, dessa vez com prazer, não com dor. Kai para
um momento. Fica parado dentro de mim com o rosto repleto de prazer.
Seu corpo fica trêmulo e ele desaba sobre mim, por alguma razão, eu
o abraço, acariciando a parte de trás do seu cabelo sedoso com um cheiro
bom.
Tiro minhas mãos dele, deixando cair ao lado do meu corpo na cama.
Kai beija meu ombro, e depois sobe pelo meu pescoço, quando ele olha para
mim, faço questão que ele veja que tem algo de errado.
Ouço Kai arrumando a roupa atrás de mim, seus olhos estão fixados
em mim.
Ele não diz nada, retira a camisinha na minha frente e joga na minha
direção, saindo do quarto com um baque, como se estivesse chateado.
— Você é tão cínico, Kai. Você me traiu por estar com outra mulher,
você passou por cima da confiança que eu te dei. O que espera de mim? —
Olho para ele com irritação — Fazer sexo com você faz parte do acordo, eu
colaboro como disse que eu faria, mas não espere que eu vá cair aos seus pés
ao terminamos de fazer sexo, eu não vou!
— Eu não quero uma esposa dessa maneira. Eu quero que seja minha
sob a cama e fora dela. Quero que aceite minhas carícias, me deixe tocá-la,
beijar seu corpo… quero tudo com você, Marcella!
Balanço a cabeça.
— Eu não confio mais em você, Kai. Não confio nas suas palavras.
— Você pode confiar no que eu sinto por você, em como reajo diante
da sua presença. Isso não será uma mentira!
Baixo meu tom de voz, sentindo seu toque na minha pele como brasa
queimando o local que ele toca.
Deixo meu peso descansar parcialmente sob o seu e levo meu dedo
até seus lábios, sentindo a maciez, a sensação de tocar veludo. Sou tão louco
por esses lábios.
Eu hesito.
O fato dela ter tocado minhas cicatrizes mais cedo como se desejasse
poder desfazer todas elas de mim, foi algo que eu não esperava. Eu achei que
ela se assustaria, faria o máximo para me manter afastado dela. Mas ela
olhou, as admirou e tocou cada uma com as pontas dos seus dedos, e disse
palavras que eu não esperava. Aquilo me pegou desprevenido.
— Quem manda dentro e fora do quarto sou eu, não gosto de ordens
— Alerto em voz baixa.
Ela podia estar me ameaçando, e mesmo assim eu faria. Sem sair por
completo de cima dela, eu retiro minha blusa e a jogo no chão. Volto para
cima de Marcella, me sustentando nos meus braços.
Sua mão toca a cabeça do dragão cuspindo fogo pelo meu peito. Uma
mão pequena, quente e macia. Ela engole a seco.
A onda de prazer que essas palavras fazem deslizar pelo meu corpo é
traiçoeira. Ela nem mesmo chegou perto de queimar no meu fogo. Sou o
próprio satanás. Um homem como eu, repleto de demônios e sede por
sangue vai acabar machucando ela.
Não consigo deixar Marcella sair desde o momento que ela entrou, e
agora ela está pedindo por mim. O quão longe ela acha que consegue ir?
Baixo minha cabeça até chegar na altura dos seus lábios, ela mantém
a cabeça parada, sem desvios. Passo minha mão por trás da sua cabeça,
mergulhando meus dedos nos fios sedosos.
Olho para seus lábios, a sentindo respirar cada vez mais
artificialmente embaixo de mim. Tão indefesa.
Acaricio as bandas da sua bunda, descendo meu dedo pela curva até
achar sua abertura úmida. Ela está excitada e arfa com meu toque. Isso é
ótimo.
Imobilizo suas pernas com meu peso, sentando sob elas. Passo o
cinto de couro da Armani pela sua bunda, sentindo Marcella ficar cada vez
mais tensa. Eu espero que ela relaxe com minhas carícias na sua bunda
usando meus dedos, e quando ela menos está esperando, eu estalo o cinto na
sua bunda.
Desvio meus olhos do seu rosto para ver a mancha vermelha do cinto
na sua bunda e o demônio em mim se alegra. Não deixo Marcella se
recompor, faço novamente fazendo ela sacudir o corpo inteiro, e depois de
novo porque é maravilhoso ver a bunda pálida ganhando esse tom de
vermelho, seu rosto também, e sua luta contra mim.
Repito o movimento lentamente vendo cada coloração que o couro
faz ao bater na sua bunda, a excitação nas minhas veias endurecem meu pau
de forma dolorosa. Os gritos de Marcella enchem o quarto, mas não me
importo com eles, e sim como a sua bunda está ficando bonita toda vermelha
e marcada.
Ela esmurra meu rosto fazendo uma dor boa se espalhar na área. Não
gosto apenas de infligir dor, eu gosto de sentir quase na mesma intensidade.
Olho para ela sentindo o filete de sangue na minha boca. Ela tem um
bom soco. Forte e preciso.
— Você disse que queria se queimar, fiz o que pediu. E nem mesmo
cheguei a fazer nada ruim. — Digo duramente, olhando em seus olhos
molhados.
Ver ela dessa forma ainda me excita, mas não tanto como minutos
atrás. Os olhos assustados dela fazem algo se mover inquieto dentro de mim.
— Eu não sou essas mulheres, Kai. Eu luto contra a dor física, não
me submeto a ela dessa forma. Você nem mesmo parou quando gritei para
que parasse.
— Vou preparar um banho de água fria para você, e pegar arnica para
passar na sua bunda — evito olhar para ela, estou começando a ficar com
raiva de mim mesmo.
Olho rapidamente para ela, minha voz saindo sombria pelo conflito
dentro de mim.
Ela assente.
Retiro o vestido dela, deixando ela completamente nua. Ofereço
meus braços para ela se segurar e andar até o banheiro, no primeiro
movimento um grunhido angustiado sai da sua boca, e a cada passo até o
banheiro.
Quando a água bate nas suas costas e desce pelo sua bunda, Marcella
arfa, inclinando seu tronco para mim. O calor do seu peito nu no meu é
acalentador. Ela segura em meus braços, deixando a testa descansar sob meu
ombro.
Deixo ela embaixo da água fria por cinco minutos inteiros. A enrolo
em um roupão e a levo para o quarto, fazendo ela deitar de bruços.
Quando Ivo me batia aos nove anos, usando um cinto quase idêntico
a esse, as dores eram insuportáveis. Eu não conseguia nem mesmo me
mexer. Mas esqueci a dor do cinto quando ele começou com o chicote e o
fogo.
Ela levará uns dias até poder sentar novamente, ficará de bruços por
algum tempo e isso é culpa minha. Não ouvir seus gritos, seu pedido para
parar. A minha parte doentia estava amando o que eu causei, todos os
segundos que se passaram.
Nunca me arrependi de nada que fiz, mas isso? Meu peito parece
estar em compressão. Meu ódio por mim mesmo nunca foi tão forte. Olhar
para Marcella dormindo depois de derramar lágrimas de dor… essa é uma
sensação que não quero sentir nunca mais.
Marcella acorda por volta das 9:00, muito tarde para seu padrão
normal dos últimos dias. Ela abre os olhos, e ao fazer menção de virar, seu
rosto retorce em uma careta dolorida vinda com um gemido. Observo ela
tentar encontrar uma posição, sem sucesso.
— Em três dias você vai estar melhor, poderá sentar normalmente —
Apareço na sua frente, mantendo meu rosto impassível para não demostrar a
tortura que está sendo ver ela desse jeito.
— Acha que vou embora e deixar você ferida dessa forma? Eu não
consigo deixar você assim — Engulo em seco.
Por quê é tão difícil apenas ignorar ela e seguir como se nada disso
me atingisse? Por que tenho que me importar tanto com essa garota?
Deixei Jace em casa com ela no final de semana para fazer presença
nos cassinos. Quando cheguei em casa, por volta das 23:00 horas, encontrei
os dois na cozinha com embalagens de comida japonesa pela bancada.
Ambos conversando.
— Já driblei você uma vez, fazer de novo não exigiria muito esforço.
Você é lento porque é alto e pesado. Se fossemos para o combate corpo a
corpo, eu perco por menos.
— Perdi algo enquanto estive fora? — Olho dela para Jace com
cautela.
— Preciso ir agora que chegou, meu trabalho como babá acabou por
hoje. Se precisar de mim, sabe onde me achar, chefe.
Marcella está sentada na cama quando entro, trocou a calça por uma
camisola, ao me ver entrar ela circula a cama e deita de barriga para baixo.
Pego a pomada sobre a mesa de cabeceira e sento ao seu lado, erguendo a
camisola.
A coloração roxa está ficando esverdeada, não está mais tão feio
como antes e não ficará nenhuma mancha.
— India está vindo para Las Vegas. Otávio a convidou para passar
alguns dias aqui. Acredito que ela irá querer ver você — Comunico a
Marcella, mergulhando os dedos na pomada e esquentando entre os dedos
antes de colocar na sua pele.
Suspira pesadamente.
Termino de passar a pomada e cubro sua pele, toco seu quadril para
que ela se vire para mim e continue falando. Os olhos de Marcella estão
quase inexpressivos. Ela baixa a saia da camisola, os olhos distraídos.
— Eu nunca a vi. Sei que tenho avó, tios por parte de mãe porque
India me mostrou fotografias quando eu tinha doze anos e tinha acabado de
voltar do meu juramento a Famiglia. Desde então, eu coloquei na cabeça que
iria sair da organização e viver com eles — sua expressão fica distante —
Outra coisa que não irá acontecer.
Ela baixa o rosto procurando o fio invisível que ela pensa está
enrolando nos dedos. Nervosismo. Ansiedade.
Nós dois nos olhamos sob a luz do quarto, Marcella está encolhida,
abraçando as pernas. Ela é tão pequena. Tão linda e tão fácil de quebrar.
Ergo a sobrancelha.
— Meu celular?
Meus olhos descem dos seus lábios até o decote discreto que deixa o
volume dos seus seios bem à vontade. Meu sangue corre rápido para meu
pau. É instintivo. Eu a desejo mais do que posso controlar e faz dias que não
a possuo. Nem ela ou qualquer outra mulher. Mais de uma semana sem fazer
sexo, esse é o maior tempo que já passei sem sexo desde que comecei minha
vida sexual.
Quero rasgar esse tecido de seda, encontrar sua pele e possuir cada
pedaço, mas não vou me descontrolar e deixar o demônio sanguinário se
libertar e machucar Marcella. Nunca mais.
Tiro a camisola, a deixando apenas com a calcinha preta fio dental.
Um rugido se propaga na minha garganta ao ver sua linda pele nua para
mim.
Vou fazê-la gozar com minha boca no bico do seu peito, meu dedão
movendo círculos no seu clitóris enquanto tenho mais dois dedos dentro da
sua boceta apertada e encharcada de desejo por mim. Suas mãos agarram
meu cabelo, ela se contorce e eu uso meu peso para mantê-la sob meu
domínio.
Seu corpo fica tenso, uma luta interna parece estar sendo travada.
— Você pode amarrar minhas mãos, será no seu ritmo até que
estabeleça uma forma confortável para você, e consiga explorar — engulo
minha respiração ofegante de desejo, estou prestes a ser consumido por tanto
— Por favor, me coloque dentro da sua boca. Tem algemas dentro da mesa
de cabeceira, use elas para prender minhas mãos atrás das costas. Por favor.
Uma faísca brilha nos olhos de Marcella, ela fica sob os joelhos e se
inclina até a mesa de cabeceira, pega as algemas e vem para trás de mim, me
lançando um olhar capaz de me fazer arder.
Coloco minhas mãos atrás das costas para que ela me algeme. Gemo
ao sentir o metal na minha pele.
Marcella volta para minha frente, ficando de joelhos assim como eu.
Nós dois nos olhamos, estou prestes a implorar para que ela se apresse, mas
percebo que ela se diverte com minha expressão.
Ela segura meu pau com firmeza me fazendo gemer pelo contato e
aperto, inclina a bunda bonita para trás e se debruça.
Forço meu demônio a ficar quieto dentro de mim para não machucar
Marcella, ter me algemado foi uma boa decisão. Meus pulsos estão ficando
em carne viva com o esforço que meu lado bestial está usando para se
libertar.
Meu pau bate na sua garganta com uma sensação avassaladora e sem
nem mesmo ter tempo de avisar, eu gozo na sua boca, preenchendo ela
inteira com minha porra. Marcella agarra minhas coxas, engasgando, ela
olha para mim com a boca cheia e eu apenas consigo ordenar uma das coisas
que quero que ela faça.
— Engula!
Seu rosto não se abala diante da minha ordem, ela fica ereta e
olhando em meus olhos, ela engole toda minha porra.
Sorrio satisfeito e tão desejoso por ela que inclino meu corpo para
frente e toco meus lábios com os seus. Marcella fica tensa, mas não se
afasta. Mantenho meus lábios parados sobre os seus, sentido a suavidade
deles, a textura de pêssego.
Movo meus lábios sobre os dela, abrindo espaço para entrar com
minha língua, estou quase conseguindo quando Marcella se afasta
abruptamente.
Gostaria de dizer que não sinto nada com suas palavras, mas foi
como ter uma adaga cravada no meu coração. Principalmente porque ela fala
isso sem olhar nos meus olhos e com uma falta de sentimentos que chega a
ser cruel.
Kai não usa qualquer moderação quando o quesito é foder.
Praticamos um sexo cru, sujo e beirando ao animal. Ele me molda ao seu
gosto, e eu me vejo gostando da forma como ele investe forte e duro dentro
de mim, arquejando palavras que chegam a ser ofensivas, mas misturada ao
prazer que ele me proporciona… é excitante.
Estamos perto da praia, posso ouvir o som das ondas de onde estou.
A manhã está ensolarada e as ruas movimentadas. Kai foi a pessoa que
sugeriu esse almoço.
— Sim.
— Você vai ter dois homens a sua disposição, e seu celular terá um
rastreador. Não se distancie muito da universidade ou saia sem avisar — Sua
fala profunda está repleta de autoridade.
— India não deveria ter vindo para Las Vegas na semana passada? —
Questiono, tirando fios de cabelo que voam para meu rosto.
— Otávio precisou viajar para Roma. Meu pai deve estar planejando
uma expansão ou a retomada de alguma aliança — ele inspira pelo nariz,
entediado, os olhos me olhando com o brilho letal que eles sempre parecem
ostentar — Achei que não queria ver sua irmã.
— Ele de fato vai se casar com ela, acredito que só esteja esperando
Massimo completar a maior idade para casá-lo com a filha do conselheiro da
Ndrangheta. Ele conseguindo isso, só faltará matar meu pai e assumir a
Camorra.
— Por que ele não quer você como Capo? Ele deve estar planejando
isso por muito tempo, ele ter me escolhido para casar com você não foi
precipitado, ele sabia o que estava fazendo… Otávio deve estar tramando
isso há um bom tempo, Kai. Por quê?
Kai sorri.
— Ele fez algo a você, seu primo? Ele tem 17 anos. Você vai matá-lo
por causa do pai dele? — Questiono.
— Massimo lutará com homens que Otávio irá escolher a dedo para
o filho não ser machucado. É o único filho dele e a garantia de sucesso para
se tornar Capo. Otávio tentará me manter longe no dia da iniciação do filho,
mas não será possível. Eu vou entrar na gaiola, desafiar Massimo e matá-lo.
— A satisfação vibra na sua voz. É como se Massimo fosse uma presa
suculenta para Kai.
Kai retira os olhos da minha barriga para olhar em meus olhos. Ele
está sério.
— Quero que você se aproxime da sua irmã, deixe ela ciente de que
o nosso casamento está indo bem. Tente tirar informações dela e de Otávio,
sei que é boa em extrair informações e ser discreta — Ele tira algo do bolso
da calça jeans e desliza pela mesa.
Um celular.
Ele está me envolvendo nos seus planos sem me perguntar nada. Ele
não está pedindo minha cooperação, está exigindo.
Sempre que pergunto por Karx, Justine me diz que ele está bem. A
única vez que ele falou comigo pelo celular foi quando liguei pela primeira
vez. Deu pra perceber que ele estava esperando uma má notícia, e ao ouvir
minha voz ficou aliviado.
Nunca converso por muito tempo com minha única amiga e babá. Só
falamos o suficiente. Kai tem acesso a todas minhas conversas. Ele monitora
tudo.
O edifício tem uma academia, então tenho focado minha energia nela
durante duas horas por dia. Usando o espaço livre para praticar Krav Maga,
não quero que meu corpo esfrie aos exercícios físicos ou eu perca a prática
que levei anos para ter.
Subo da academia por volta das 11:00 da manhã e vou para uma
ducha fria. India está chegando hoje à tarde, e estará vindo direto para cá.
Ela não pode ficar desacompanhada ou sozinha com Otávio, então ficará
aqui por alguns dias.
Kai deve ter calculado isso, embora não fique nenhum pouco
confortável com a presença de India pela sua cobertura. Vou seguir seu plano
de me aproximar dela, deixar ela ver agradecimento no meu rosto e uma
felicidade que não estou sentindo.
Ter Kai como Capo vai proporcionar a ruína do homem que acabou
com minha liberdade, e ainda fazer India infeliz. Ela sabe dos planos de
Otávio. Se tornar a esposa de um Capo seria a realização de vida para uma
mulher ambiciosa como India Rivera.
Escovo meu cabelo, deixando as madeixas lisas porque sei que ela irá
gostar de me ver assim. Visto um shorts branco soltinho, regata e calço
sandálias de dedos.
Seus olhos examinam tudo que consegue antes dela focar eles em
mim.
— Com certeza. Otávio cuidou de tudo para que eu tivesse uma boa
viagem, ele pediu para o jatinho da Camorra me buscar.
— Sim, senhora.
— Obrigada.
— Que bela cobertura essa que está morando, Marcella. Seu antigo
quarto parece um motel de beira de estrada comparado a isso, não é?
— Você tem razão. Devo tudo isso a você. — Sorriu, puxando minha
mão da sua gentilmente — Está com fome? A cozinheira preparou o almoço.
— É claro que você tem uma cozinheira, isso é mais uma coisa que
você deve me agradecer.
— Otávio está fora ainda, ele vai voltar em três dias. Tenho esses
dias que ele está ausente para saímos e conhecemos Las Vegas. Podemos ir
até a boate e cassinos. Otávio disse que estaria tudo bem por ele, afinal,
tenho isso… — Ela ergue seu anelar com seu anel de esmeralda — Todos
saberão que sou a futura esposa de Otávio Moreau.
A cozinheira começa a nos servir, India pede que ela sirva uma taça
de vinho a ela.
— Sim, doeu, mas uma dor suportável. Depois da primeira vez, tudo
melhora.
Ela assente.
O sexo que fazemos não é carinhoso, e pela forma como meu corpo
está dolorido é uma prova de que não tem nada afável no sexo entre Kai e
eu.
Terei que aturar India sozinha essa noite, revirar meus olhos
internamente a cada palavra dela.
Aperto o garfo na minha mão. Ela sabe o que aconteceu. Foi por ela
que levei aqueles socos que me deixaram sequelas até hoje. Abro um sorriso
para minha meia-irmã.
— Tenho ótimos planos para nós duas amanhã. Espero que tenha um
cartão de crédito a sua disposição. Vamos nos divertir muito.
(...)
Na última que paramos, ela insiste para que eu escolha uma roupa
para visitarmos uma das boates.
Minha mente parece se iluminar com isso. A última vez que estive
em uma boate, eu fui de forma clandestina com Nikolai e foi a melhor noite
da minha vida, uma noite que me senti viva rodeada de música, pessoas
eufóricas e de Nikolai.
— E eu diria que você está vestida para ser o centro das atenções,
mas tenho certeza que você sabe, já que é sua intenção.
Ela riu.
Suspiro.
Kai. India. Otávio. Ivo…. Todos eles vão desaparecer por hoje.
India sorri, olhando de um lado para outro. Castello abre espaço entre
a multidão com seu tamanho para chegarmos ao bar. Todos os funcionários
parecem conhecer o careca mal encarado e claramente aborrecido.
Os homens que estão no bar, e alguns do camarote olham na nossa
direção. É o efeito India Rivera os atraindo.
— Todos falam das boates da Camorra, mas não imaginei que fossem
tão boas assim! — India grita — ISSO É FANTÁSTICO!
— Três doses de tequila para mim, por favor. — Peço, sedenta para
me soltar o mais rápido possível, dissolver a única barreira que me prende.
India assente.
— Senhora, o chefe…
Não demora muito para que ele comece a nos servir as tequilas. Bebo
as minhas três doses, uma atrás da outra, deixando para fazer careta quando
o líquido escorre pela última vez pela minha garganta.
Pego India pela mão e a levo até a pista de dança. Não me importo se
ela vai dançar ou não, preciso apenas que ela fique por perto e mantenha os
homens concentrados nela. Não quero atenção de ninguém, só quero dançar.
É sob seus olhos que eu desço até o chão, jogando meu cabelo e
passando a mão pelos meus quadris.
Ele está exalando raiva de todos os poros. Seus olhos estão brilhando
com esse sentimento.
Encaro Kai.
— Eu não sou sua, Kai. Não sou de ninguém. A única pessoa a quem
pertenço sou eu mesma.
Antes que eu possa sentir falta dos seus dedos em mim, Kai se
introduz dentro de mim com força e por inteiro. Eu engasgo com a sensação,
minhas paredes apertam seu pau e ele geme assim como eu.
Seu aperto ao redor do meu pescoço ganha mais pressão, tirando meu
fôlego, mas ainda assim o prazer parece ser maior.
Nossos olhos não desviaram em um só momento.
Meu orgasmo é tão intenso que luzes piscam na minha visão, sinto o
líquido de Kai dentro de mim. Ele encosta a cabeça no meu ombro,
respirando pesado.
Ela baixa a cabeça até o seu queixo está batendo no seu peito.
GrunhidoS sai da sua boca na tentativa de respirar, ela me afasta, tentando
em vão respirar devagar.
— Ei, está tudo bem, ok? É só ansiedade. Está tudo bem, Bella.
Respire — Me afasto para olhar para ela e mostrar como se respira —
Inspire, expire… assim, isso…
Seus olhos focam em mim, ela imita a forma como a induzi respirar.
Aos poucos sua respiração vai normalizando, suas mãos param de tremer e
ela aperta minha blusa.
Me aproximo dela, abraçando seu corpo pequeno, sinto seu rosto no
meu peito e suas mãos agarrando minha blusa nas costas. Ela está
retribuindo meu abraço nesse momento de desespero dela. Meu coração
parece ser acariciando com isso.
— Não foi você quem me deixou assim, foram outras coisas — sua
voz é baixa e rouca. Totalmente carregada de emoções contidas.
Limpo sua boceta com meu gozo, suas pernas e devolvo a calcinha
ao lugar dela. Descarto o lenço sujo e pego outro. Seguro seu queixo e
começo a limpar ao redor dos seus olhos, onde o rímel escorreu. Marcella
não consegue manter os olhos em mim.
— Quer me falar sobre o que foi isso? — Limpo sua bochecha macia
e corada, tirando todo o borrado da maquiagem.
— Não gosto quando me trata bem, não gosto nem quando é decente
desse jeito comigo. Pare de perguntar coisas quando estou assim, de cuidar
de mim.
— Não. Nosso casamento não tem esse propósito, você sabe disso.
Fui usada para te atrapalhar nos seus planos, não tenho nenhum valor a
agregar.
Mandei India para casa assim que perdi a cabeça vendo dois filhos da
puta observando e comentando sobre Marcella enquanto ela dançava. Uma
confusão se alastrou e Andreas tirou ela às pressas.
Pego meu casaco para cobrir Marcella e dou minha mão a ela. Nós
dois saímos da boate pelas portas dos fundos e eu dirijo até em casa
deixando ela ficar em seu silêncio.
Como pode uma garotinha tão pequena carregar tanto peso dentro de
si? Seus ombros são finos e pequenos… eles vão se quebrar se o mundo
continuar entregando mais e mais atribulações.
Ela fica de costas para mim como se olhar para mim fosse a última
coisa que ela quisesse no momento.
Quando volto para o quarto, Marcella está vestindo sua camisola que
fica ao lado da cama. Ela não diz absolutamente nada, apenas se deita.
Suspiro baixo, tomando meu lugar na cama.
— É por isso que não me beija? Tem medo de se apaixonar por mim?
— Por causa de você? — sorrio — Não seja tão abundante nas suas
palavras. Marcella não te deve nenhum agradecimento. Ela se casou comigo
por mérito próprio. Se ela tivesse a aparência que você e sua irmã tem… eu
nunca teria me casado com ela — Olho para minha esposa com um sorriso
satisfeito — Marcella me agrada de diversas maneiras. Ela é linda,
inteligente e sabe muito bem como ser interessante. Diferente de você, não
é? Pelo que deu pra perceber, você é bastante volátil e previsível. Deve ser
por isso que meu tio quer casar com você: ele sabe que é só mexer nas suas
cordinhas de marionete para que faça exatamente o que ele quer.
Levanto da mesa, dando as costas para India. Tenho certeza que ela
achará uma diversão por si própria.
Marcella dá de ombros.
Caminho até o vestiário, sendo rápido para substituir minha calça por
bermuda e minha blusa por uma regata.
Marcella para seus aquecimentos e olha para a parede com todo tipo
de armas.
— Mantenha seus pés firme no chão, pare de focar tanto nos meus
movimentos e crie uma rota de ataque e defesa — Me defendo do seu braço,
a segurando por trás com os dois braços imobilizados.
Ela se solta de mim, voltando a ficar de frente para mim. Ela está
suando e arfante. Eu continuo da mesma forma como subir.
— Você é boa, Bella. Mas precisará ser mais que isso para me ferir
em um combate — sorriu.
Ligo o chuveiro fazendo a água fria cair por nós dois. A solto apenas
para tirar seu short, com desespero e famintos pela sua pele. Me ajoelho
diante dela, abrindo suas pernas e capturando os lábios da sua boceta
suculenta, recebendo seu gosto em cheio.
Ela está prestes do seu primeiro orgasmo, não quero que ela goze na
minha boca. Quero ela no meu pau. Me levanto, vendo seu rosto por baixo
da água do chuveiro carente pela falta da minha boca.
Abaixo minha bermuda e seguro uma das suas pernas para ter
abertura suficiente de me enfiar dentro dela. Me meto por completo na
boceta suculenta e apertada. Nós dois gememos com a sensação de choque
prazeroso pelo nosso corpo.
Meto nela com força, sem gentileza, fazendo nós dois olharmos um
para o outro cheios de prazer e gemidos que não são abafados pela água que
cai por nós dois.
Levo minha mão até seu pescoço fino e macio, me metendo mais e
mais fundo dentro dela.
Sua mão aperta o travesseiro com força, ele encolhe todo seu corpo e
o recanto dos seus olhos molham com lágrimas.
Meu coração aperta ao vê-lo dessa forma, estico minha mão até seu
peito para tentar despertá-lo. O meu toque é como uma válvula que o faz
abrir os olhos rapidamente. Ele não me ataca ou me imobiliza, ao invés
disso, seus olhos focam nos meus.
Agarro suas mãos com toda força que consigo e olho nos seus olhos.
O pavor neles é de uma dimensão capaz de me colocar medo.
— Kai, você está bem. Está na sua casa. Eu estou aqui! — Aperto
suas mãos nas minhas, tentando transmitir firmeza nas minhas palavras.
Ele para de se mexer, mas seus olhos estão vidrados. Com o coração
cheio e a mente barulhenta, eu faço a única coisa que me proibir de fazer.
Fico nas pontas dos pés e colo meus lábios nos dele com firmeza,
segurando sua bochecha onde se encontra a cicatriz.
Uma lufada de ar frio nas chamas que derretem minha pele. Fecho
meus olhos sentindo uma lágrima solitária descer pelo meu olho direito e
molhar minha bochecha. Ela passa o braço pela minha cintura e mantém a
mão no meu rosto. Seus lábios não cessam a pressão suave sobre os meus. E
eu desejo que continuem. Sem eles, posso voltar para o inferno.
Arfo contra sua boca, escorregando a língua para sua boca. O braço
dela me abraça por trás, e ela segura meu ombro.
É um beijo de salvação.
Marcella leva a mão até meu rosto, seus olhos abertos e concentrados
em mim.
Suas duas mãos agora estão no meu rosto, acariciando os dois lados.
Deixo Marcella sair do meu colo para ela ver as cicatrizes redondas
de cigarros pelas minhas coxas. Os olhos dela pairam pelas cicatrizes,
repletos de emoções doloridas. Respiro fundo, empurrando a exaustão para
longe.
Não posso chorar. Não quero que ele veja esse tipo de sentimento em
mim enquanto conta sobre o que ele passou. Quero ouvir tudo, deixar ele
desabafar tudo sem mostrar minhas emoções conturbadas e agonizantes em
mim.
Ivo deve ter visto esse olhar demoníaco que estou vendo agora nele.
Eu sei o que é sentir ódio por alguém. O que é querer lutar contra o
abuso, e durante todo momento só queremos nos libertar do nosso agressor.
Não tenho medo de Kai, não o culpo quando não sei o que eu faria no
seu lugar.
Kai está me olhando com uma certa confusão, mas posso perceber
que seus ombros estão mais relaxados agora. Eu seguro sua mão, olhando
para a palma grande demais perante a minha.
Não sei por quanto tempo nos olhamos e ficamos com as mãos
entrelaçadas, mas deduzo que o tempo preciso para fazer Kai voltar a si.
Kai e eu parecemos sempre estarmos andando em direções opostas.
Quando penso que daremos um passo à frente, sempre retrocedemos. Não há
chance de aproximação dessa forma. A noite em que conversamos acabou
por fazer Kai se tornar mais cauteloso perante mim, como se eu fosse uma
fraqueza indesejada.
Já fazem três dias que ele não me leva para o galpão e que não treina
comigo. Tenho ido sozinha, aproveitando todos os momentos para fugir de
India. Otávio finalmente chega hoje, e felizmente ela passará o dia inteiro
fora se arrumando para ele.
— Eu sou homem, é por isso que não chego perto de você. Por isso
que ninguém aqui chega. O Sottocapo é bastante expressivo, e todos aqui
adoram o fato de terem as mãos no lugar, e os olhos também.
Puxo minha respiração fortemente, largando as adagas para pegar a
garrafa de água no recanto. Jace vem até o meu lado, mantendo uma
distância respeitosa.
— Não era você quem queria lutar comigo? Suba aqui e lute. Duvido
que Kai machucaria você por causa disso — bebo uma dose generosa de
água, acalmando meu corpo.
Jace ri.
Nos últimos três dias, Jace tem assumido o papel como um segurança
pessoal. Acredito que Kai o tenha colocado pra ficar de olho em cada passo
meu. Mas não entendo o porquê de ter sido Jace. Eu só saio da cobertura
para cá ou para a faculdade. Minhas aulas começaram ontem e tem sido um
alívio ter algo para pensar e fazer.
Ele suspira.
Temos feito isso nos últimos dias após os treinos: tomar sorvete
assistindo as ondas se quebrarem na área.
— E ele te levou?
Olho para Jace que está contra o sol, uso minha mão para proteger
meus olhos da claridade e poder enxergar ele.
Sinto vontade de rir, mas apenas sorrio. Kai e eu não temos nem nos
falado direito na última semana. Nem mesmo na hora do sexo.
A cada vez que ele está dentro de mim é como se eu fosse apenas um
corpo usado para um meio de prazer dele. Com a mesma facilidade que ele
entra dentro de mim, ele se vai depois do ato, me dando as costas e me
deixando bagunçada.
Volto para a cozinha e faço o jantar apenas para mim. Kai nunca
chega em casa antes das 23:00. Só fica eu, e os dois seguranças e India.
Jace suspira e empurra a porta, abrindo espaço para mim sem tirar
seus olhos do meu rosto. Ele faz um gesto com a cabeça para que eu entre,
demoro cinco segundos inteiros até forçar minhas pernas em direção a porta.
Kai, Alexa e Ivo estão ao redor de uma cama. Kai está aos pés da
cama, Alexa parada ao lado direito da cabeceira e Ivo um pouco mais perto
de Kai. Os olhos dos três vêm na minha direção, e os meus vão até a jovem
sob a cama.
Alexa abre espaço para que eu veja com mais nitidez a cópia fiel
dela. O mesmo cabelo negro, a pele pálida e o nariz e boca similares.
Relembro o que Kai me disse sobre isso ser impossível, e mesmo não
querendo, eu penso em como ele está se sentindo nesse momento. Se o que
Alexa falou for verdade, isso pode está atingindo Kai.
— Eu fico feliz por isso, senhora. Espero que ela se recupere — Digo
em tom moderado.
A esperança que ela tem sobre sua filha abrir os olhos chega a doer
em mim. A forma como ela se segura na garota decidida a esperar o tempo
que for…
Os ombros de Ivo ficam rígidos. Ele não vai sair desse quarto
enquanto Kai estiver aqui. Seu maior tesouro está deitado nessa cama, e a
pessoa que pode acabar com ele também está no quarto.
Deixo eles e vou para o corredor. Jace está navegando no celular
quando fecho a porta. Ele olha para mim com atenção.
— Te expulsaram? — Pergunta.
Balanço a cabeça.
— Não sei. Talvez acorde, ou não. Já faz uma década e ela está desse
jeito. Quando fui acolhido pela Camorra, ela já estava nesse estado.
Acolhido.
Balanço a cabeça.
— Você deveria ter entrado no elevador com ele. Kai vai ter um
acesso de fúria com seu comportamento — Jace alerta quando entramos no
carro.
Viro meu rosto para a janela para Jace não ver meu riso de
incredulidade. Kai não está sendo consumindo por nada.
— Você pode ir embora, Jace. Está dispensado por hoje — Diz ele
com a voz implacável.
Jace nem mesmo sai do elevador, ele junta as mãos na frente do
corpo e acena em direção a Kai mesmo que ele não esteja olhando.
Suspiro baixo.
— Não me dê ordens! Não sou sua para estar agindo com tamanha
falta de noção! — Cerro meu punho.
Sua mão agarra a minha e ela a ergue até meu rosto. Um sentimento
frio se apossa de mim.
— Você não usa sua aliança, por que me cobrar a fazer o mesmo?
Por que sou mulher? Não seja um conservador agora e muito menos tente
ditar o que eu devo fazer!
Tento chutá-lo com meus pés, e usar meu corpo para me desvencilhar
dele, mas Kai é mais pesado, muito mais alto que eu.
Olho para ele ofegante, sentindo meus nervos tensos e meu corpo
elétrico.
Seus olhos não sai dos meus. São intensos e repletos de emoções
ferventes, é como se eles pudessem me queimar.
— Vou fazer uma marca mais óbvia de que você tem um dono.
— Porra, Marcella. Será que não ver o quão perdido estou em você?
Kai já mostrou ser uma pessoa de lua. Uma hora ele está com um
humor, e em outros momentos está terrivelmente distante.
— Saia de cima de mim, Kai. Não quero lidar com suas emoções
agora! — Peço.
Suas mãos soltam meus pulsos e vão em direção ao meu rosto, seu
beijo aprofunda nós dois e eu me pego retribuindo a ele.
Os lábios de Kai são quentes e macios, sua língua toca a minha com
vastidão, arrancando de mim um gemido de satisfação.
Seu dedão faz círculos pela minha barriga em uma carícia inocente.
Ele é quente e cheiroso. Seu corpo é grande e seguro. Todo seu corpo
é forte e me traz uma sensação de refúgio.
Ouço sua respiração no meu ouvido ficar mais pesada ao passo que
ele vai adormecendo.
Abro meus olhos ao sentir as pontadas na minha barriga, mas ainda
assim, eu não me movo. Estou nos braços de Kai. Seus braços estão ao meu
redor e uma das suas pernas sobre as minhas. A respiração soprando no meu
ouvido. Ele está dormindo pesado.
— O que foi?
— Tem tudo o que precisa aí? Se não tiver absorventes, peço para
alguém comprar — Sua voz soa abafada por trás da porta.
Um certo aquecimento toma meu coração pela forma como ele está
se importando com isso.
Meus olhos enchem com lágrimas com esse gesto. Pode ter sido a
coisa mais simples e o mínimo que ele poderia fazer… mas pra quem nunca
teve uma mísera consideração a vida toda, esse gesto se torna um dos
maiores do mundo.
Pessoas que não tem nada, ganham tudo com pequenos gestos,
mesmo eles sendo o mínimo.
Kai volta para o quarto com uma bolsa térmica, estou deitada de
barriga para baixo com um travesseiro comprimindo minha barriga. Ele sobe
na cama, os olhos em mim.
Com minha permissão, ele coloca a bolsa por baixo da minha barriga
e eu sinto a dor melhorar por uma fração de segundos. Kai se senta ao meu
lado. Está descalço e meio desbotado.
Balanço a cabeça.
— É suportável. Faz anos que não sinto cólicas fortes. Esses meses
eu tive um descuido em não tomar medicamentos e não cuidar da minha
alimentação — Suspiro baixo — Meu professor de autodefesa uma vez me
fez lutar com cólicas, disse que seria bom, mais produtivo… e foi.
Concordo.
Por mais que eu fique feliz em saber que poderei ver Karx e Justine,
o sentimento de peso recai sobre mim ao pensar que verei Alev.
— Talvez. Se ele nos convidar, teremos que ir. E será uma ótima
desculpa usar a intenção de você ir visitar sua família — Ele se ajeita na
cama, empertiga-se — O que Alev fazia com você quando era criança? Eu
não sou o único a ter pesadelos a noite, Marcella.
Balanço a cabeça.
Sinto Kai se mexer ao meu lado, ele não fala nada por algum tempo.
Quando fala, sua voz é profunda.
Os fios do meu braços se atiçam com o arrepio que vem das pontas
dos meus pés.
Sei que Kai não está sendo subjetivo, ele realmente fará isso. E eu
não vou impedir. Não serei mais o escudo de India. Temos vidas diferentes e
eu prometi que ela se arrependeria por ter me casado com Kai Moreau.
Enrolo minhas mãos com a faixa para não machucar meus punhos
demais. Estamos no vestiário, nos preparando para a luta daqui a alguns
minutos.
— Não, ela está ocupada com algo da universidade. — Olho para ele
— Qual seu interesse nisso?
Ele dá de ombros.
— Só acho que ela não deve estar em ambientes assim. Aqui todo
mundo trata os outros sem o mínimo de respeito, e o que ela não precisa é
está sendo lembrada que é uma bastarda.
— Todos os cinco filhos da puta que estavam falando dela, vão entrar
na gaiola. Ao mesmo tempo, Sottocapo.
Fecho a porta do armário com força guardando três adagas por baixo
da minha blusa.
Se eles acham que podem ter o nome de Marcella na boca, estão mais
perto de conhecer a verdadeira face do demônio.
Ele grita com a dor e cai com o braço mole e com uma fratura
exposta. Os cincos agora estão nocauteados, os gemidos de dor se
misturando, mas não estou satisfeito.
Ele grita não enquanto clama para que eu não faça isso enquanto
segura o joelho quebrado.
Vou para o outro, ele tenta se afastar rastejando no chão, mas só com
dois passos eu o alcanço e tiro dele sua maldita língua.
Ele está sentado no chão com a adaga cravada na sua coxa. Seus
olhos são injetados, apavorados. Fico de pé diante dele.
A plateia volta a gritar pedindo que eu o mate, mas não é isso que
vou fazer.
— Saia daqui. Volte para o que tem com seu marido e com os outros
homens da máfia. Nosso lance de foder acabou. Não preciso mais dos seus
serviços.
Respiro fundo.
— Kai…
— Calma, Bella. Já vai acabar e você vai ver que não é tão ruim
como imagina — Kai está parado diante de mim, já todo equipado e com o
rosto tranquilo.
Kai se abaixa até onde estou sentada com as pernas tremendo, ele me
ergue e eu agarro seus braços. O vento é tão forte daqui de cima que chega a
ser congelante. O sol está indo embora e deixando tudo escuro não ajuda em
nada.
Ele olha para mim com um sorriso, as mãos na minha cintura, me
tranquilizando.
— Kai, por favor… — tento implorar mais uma vez com a voz tão
trêmula como minhas pernas.
Com a força que me resta, eu faço o que ele pede e o abraço com
muita força, apertando minhas pernas e braços em torno dele.
— Pronta?
Me agarro a ele com ainda mais força, se é que é possível. Isso é uma
loucura. Meu Deus, me tire daqui!
Por pura indignação, eu abro meus olhos vendo tudo de cabeça para
baixo. A altura ainda é considerável e eu estou atrepada por uma corda.
Porém, o pânico parece cessar diante da vista dos edifícios de cabeça para
baixo, o céu escuro e o barulho do vento e do tráfego lá embaixo, juntamente
com o clique que a corda que nos segura emite.
Balanço a cabeça.
Kai sorri.
— Sim, talvez. Fico feliz que tenha gostado de ter vindo até aqui, e
que isso possa ter ajudado no seu medo.
— Não perdi meu medo, mas agora sei que não é um abismo que me
espera na descida. — Movo minhas pernas trêmulas — Não quero mais
fazer isso.
Ergo meu rosto para ele, a sombra de um ferro cobre metade do seu
rosto, principalmente a cicatriz. Mas, os olhos claros ainda estão aqui.
Não nos beijamos desde aquele dia no sofá, cinco dias atrás, ainda
continuo achando que devo me preservar. Mas, é difícil fazer isso quando ele
me olha assim.
Inclino minha cabeça para cima e seguro sua camisa, Kai preenche o
espaço que falta até que seus lábios quentes e macios estejam sob os meus.
Diante dos conflitos que se enrolam durante os dois meses, eu
consigo notícias da família materna de Marcella. Pedi a Jace para procurar a
mãe dela depois de ter achado um relicário dentro de uma das malas que ela
lutou para recuperar quando meus homens jogaram em um rio sujo. Eu não
estava sendo invasivo quando mexi nas suas coisas, apenas fiquei curioso
para saber o conteúdo dentro das malas.
Deixo meu peso fazer a cadeira que estou sentado ranger. O barulho
começa a ecoar na minha mente como trilha sonora enquanto junto todas as
peças. Eu sei que Nikolai esteve na Filadélfia antes do meu casamento com
Marcella, ele a procurou, e provavelmente ela possa ter pedido isso a ele…
Pego a mala desgastada e coloco sob o chão, abro ela vendo as peças
de roupas surradas por cima do fundo falso. Tateio o fundo até achar a
abertura e tirar dela o livro, que na verdade, é apenas um livro falso para
guardar coisas
Na última vez que mexi, não quis ser invasivo, apenas peguei o
relicário e deixei de lado o pequeno envelope de carta. Agora, além do
relicário na minha mão, estou abrindo o envelope e vendo pela primeira vez
fotos de Marcella.
Peixinha.
Olho para suas pernas desnudas, os pés calçados com uma sandália
de tiras e o cabelo solto com as ondulações perfeitas. Os castanho dos seus
olhos parecem se sobressair ao verde hoje, uma clara evidência de que ela
está alegre.
Sei muito bem que essa aliança não estava em seu dedo quando ela
estava na faculdade, e não por vergonha, mas por preservação. Marcella não
quer que ninguém saiba que é casada, e quem é seu marido.
— Você fala como se já não tivéssemos fodido com eles por perto —
Seguro seu queixo a fazendo olhar para mim.
— Quero algo seu. Algo que ainda não reivindiquei por estar sendo
paciente, e por você ter me distraído — Digo olhando em seus olhos
enquanto seguro seu queixo.
Seus olhos demonstram confusão, e antes que ela possa pensar por si
própria, eu desço minha mão até sua bunda vendo o brilho de espanto e
medo no seu olhar.
Puxo suas mãos para trás e retiro meu cinto para prender as mesmas.
Posso ouvir a respiração dela começar a ficar pesada.
— Relaxe, você vai gostar. Quanto mais você relaxar, mais prazeroso
será… — Fico de joelhos no chão, colocando seu cabelo longo para o lado e
erguendo seu vestido.
A pele dela se arrepia com meu toque, observo a bunda delgada e
macia com uma calcinha branca fio dental.
Praguejo mentalmente.
Minha mente caiu sobre o encanto desse corpo, dessa pele ao ponto
de assumir um vício por ela. Eu já não consigo viver um dia sem ter
Marcella, sem sentir ela embaixo de mim. Está dentro dela virou os melhores
momentos da minha existência.
E ainda assim querem tomar ela de mim? Nem pensar! Sou fodido o
suficiente para incendiar o mundo a me separar dela.
Coloco a calcinha dela mais para o lado e brinco com meus dedos na
sua boceta molhada e inchada, até chegar o momento que ela não consegue
mais ficar sem nada dentro dela.
Ela pode ser tímida, mas não é adepta de conter seus gemidos. Ela
não consegue e é isso que aumenta meu vício nela. Seus gemidos e sua
boceta me apertando é uma combinação perfeita.
Aumento a velocidade das minhas estocadas grunhido a cada
centímetro meu entrando e saindo dela. Observo suas costas delgadas, a
bunda batendo na minha pélvis e na minha mão agarrando uma banda da sua
bunda para aumentar a intensidade de cada metida nela. Quanto mais fundo,
mais Marcella geme e eu chego perto do abismo.
Seu ápice chega quase que rapidamente junto ao meu. Suas costas
arqueiam e ela geme de forma longa e sofrida jogando a cabeça para trás
enquanto suas paredes contraem ao redor do meu pau fazendo eu gozar forte
dentro dela.
O corpo dela cai para frente, o suor escorrendo pela sua espinha e a
respiração tão arfante como a minha. Abraço seu corpo, deixando alguns
segundos passar até me levantar e pegar o pequeno frasco com lubrificante
no bolso da minha calça.
— Isso vai doer muito, mas prometo que sentirá prazer na mesma
intensidade. — Arranco sua calcinha, voltando a me ajoelhar diante da sua
bunda — Quando eu terminar, você estará ainda mais marcada como minha
mulher. Minha propriedade!
A excitação parece brasas ardendo nas minhas veias diante da visão
da sua bunda empinada na minha direção. Marcella está agarrada nas costas
do sofá, o corpo tenso. A abraço pela cintura beijando seu dorso com
delicadeza, a sentindo relaxar com isso. Seguro seu cabelo para mantê-la
firme nos meus braços e em mim.
Abro sua boceta com meus dedos para a deixar excitada. Levo minha
boca até os lábios inchados e melado com o gozo dela e o meu. Marcella
começa a se mover inquieta, reagindo ao estímulo.
Ao introduzir dois dedos no seu traseiro, percebo que ela está pronta
para me receber. Visto uma camisinha e volto a estimular sua boceta com
meus dedos.
— Preciso que relaxe agora, Bella. Prometo que você vai gostar —
Me posiciono na entrada do seu traseiro.
Fecho meus olhos sendo preenchido pelo prazer que é entrar aqui tão
apertado, mesmo com tanto lubrificante, ela ainda está tensa. Seguro nos
seus quadris indo mais fundo. Forçando minha entrada e tomando o que é
meu.
Aperto seu quadril enquanto parece relaxar com meu pau por
completo dentro dela. Meto com mais rapidez em busca de ouvir seus
gemidos se tornarem prazerosos. Meto em Marcella tomando dela a sua
alma, a sua pureza e seus gemidos. A cada vez que entro dentro dela tiro
algo que é meu, torno seu corpo na minha propriedade.
O prazer começa a chegar para ela, a mesma joga a cabeça para trás e
começa a gemer com satisfação. Meus gemidos se tornam mais insistentes
quando chego perto do meu gozo, meu pau tão duro e minhas bolas
doloridas, massageio o clitóris de Marcella e percebo ela querer mais…
Vou mais fundo até macular por completo o corpo da minha jovem
esposa. E quando ela goza fortemente, eu encerro minha tomada com chave
de ouro. Gozo com força e com gemidos, meu esperma quente na camisinha.
Marcella cai de costas, exausta contra meu peito. Saio de dentro dela
lentamente, retirando a camisinha com meu gozo e jogando por perto.
Abraço o corpo dela e nos deixo cair sobre o sofá.
Coloco minha mão sob a dela no momento que o carro para diante da
bonita casa de milhões de dólares do Underboss da Filadélfia.
Observo sua mão, deixando ela suspensa por alguns segundos antes
de apertar. Olho nos olhos desse verme como se ele fosse um mero
indigente.
Alev olha para a filha com os olhos verdes vis. Ele a toca nos ombros
e eu posso ver claramente o espanto no olhar de Marcella.
Marcella fica em silêncio, cada vez mais tensa. A voz de Alev não
esconde a mensagem sublime.
— India disse que você se diverte muito por lá — a voz dócil da irmã
do meio chega até nós.
Olhamos na sua direção. Capto sua imagem delicada, cabelos loiros
bem escovados e longos assim como os de India. Diferente da irmã mais
velha, essa tem uma aparência de uma boneca de desenho animado. Seus
olhos são uma espécie de verde com um toque diabólico da inveja e cobiça.
— É uma honra tê-lo na nossa casa, Kai. Nunca imaginei que um dia
fosse se tornar meu genro — diz com um sorriso exagerado.
Apenas uma.
Quando eu acabar com Otávio e Ivo só restará minha mãe, irmã,
Marcella e eu com esse sobrenome. A única pessoa que poderá manter a
linhagem será eu e Marcella.
— Eu fico tão grata a Deus por te ver bem, minha menina. Eu orei
todas as noites para que você estivesse segura — Sussurra para Marcella
acariciando o rosto dela.
— Não, ele não faz. Karx sempre está por perto de mim e eu
conseguir um emprego em Nova York para trabalhar com a filha de um
soldado da organização. Ela vai se casar e sua madrasta me recomendou a
ela.
Justine assente.
— Quero ficar perto de você, mas não posso sair tão depressa daqui
assim. Estou sendo paciente, indo aos poucos.
Marcella assente.
— Do mesmo jeito de sempre, menina. Ele sente sua falta. Todos nós
sentimos.
Marcella assente.
Suspiro.
Marcella olha para mim, temerosa. Nós dois sabemos que quando um
chefe de máfia quer algo, eles não são moderados. A exigência e o preço são
altos.
— O que Otávio propões a você não deve ter sido tão atrativo assim,
já que está se encontrando comigo — observo.
— Desde o dia que marcou esse encontro, eu soube que você já teria
algo em mente. Não sou eu quem está aqui para negociar, é você. Então, me
fale suas condições para o apoio absoluto na minha sucessão como Capo —
falo com paciência, observando cada expressão facial no seu rosto.
Nunca tive uma família, o mais perto que chego a ter disso é
Marcella. Ivo foi meu torturador, não tive muito tempo com minha irmã, e
minha mãe é algo que irei proteger até o fim. Mesmo que eu vá destruí-la
quando matar Ivo.
— Por favor.
Fico em silêncio.
— Ela parece ser valiosa para os russos, e eu quero algo com eles.
Quero que eles deixem meu território em paz e me reembolsem tudo que
perdi nos últimos anos. Me dê a garota, e eu te dou o que tanto quer.
Meus músculos ficam tensos de puro ódio. Meu sangue corre quente
como lavas pelas minhas veias e o demônio dentro de mim ruge para ser
solto. Posso sentir ele tentando se soltar das correntes que o prende.
O merdinha Vassilliev esteve planejando tudo, procurando uma
abertura. O que diabos é isso que ele sente por Marcella?
Ela foi entregue a mim como minha esposa. Não como uma moeda
de troca.
Angelo assente.
— Ouvir do mais novo dos irmãos que a menina é uma amiga dele.
Não sei ao certo, mas ele a quer e está disposto a negociar comigo — Ele
também se levanta — Eu ajudo você, e você me ajuda. Pode até se casar
com uma das meninas da minha organização, eu farei de tudo para encontrar
uma mulher mais bonita do que sua esposa.
Sorrio.
— Nikolai?
Querida Marcella,
Espero que quando ler essa carta, possa se sentir melhor. Não sei o
que está passando, mas não acredito que tenha algo bom acontecendo.
Estou tentando de tudo para te resgatar, já conseguir refúgio para sua mãe,
seu tio e avó. Eles estão felizes aqui na Rússia, estão sendo tratados com
todo o respeito e cuidado. Eu disse a você que um dia faria isso, e agora
estou fazendo. Deito todas as noites pensando em você e no que está
passando em Las Vegas. Ainda não consigo entrar nos domínios da
Camorra, o sádico de Kai Moreau tem fechado todas as entradas
clandestinas e as legais. Isso não significa que vou desistir.
Estou sendo torturado com o único pensamento de qualquer
interação entre você e esse sádico. Eu prometo que vou te resgatar, aguente
mais um pouco. Eu estou indo até você, peixinha.
Não, ele não pode. Foi juramentado, construiu seu lar aqui. Foi
ferido, deixado para morrer e marcado com todas as cicatrizes… e mesmo
assim precisa permanecer. Olho para Karx e seus olhos escuros que
demonstram carinho por mim. Se ele soubesse o quanto significa para
mim…
— Adeus, Marcella.
Ouvir meu nome saindo da boca dele corta meu coração. Começo a
caminhar para fora do galpão lutando contra minhas lágrimas, contra a dor
que aperta meu peito… Justine e ele são a família mais próxima que tive, e
agora preciso deixar eles irem quando eu nem tive tempo suficiente para
fazer algo por eles.
Sigo caminhando para a casa de Alev, o vento frio da noite batendo
no meu rosto e enxugando minhas lágrimas. Caminho a passos lentos até a
sensação dos meus olhos inchados finalmente ir embora. Cruzo o portão com
a cabeça erguida, Alev não tem mais o que usar contra mim. Finalmente
estou liberta.
Enquanto ando até chegar dentro da casa eu relembro dos socos com
luva de Boxe, dos chutes nas minhas costelas, do meu braço quebrado, do
empurrão das escadas…
Isso acabou.
— Não quero jantar, aliás. — Olho para India— Você está linda,
como sempre. Me pergunto até quando essa beleza ficará em você, India.
Antes que ela possa falar algo, eu me viro e começo a caminhar sobre
minhas botas até meu quarto, sorrindo de satisfação com o olhar assustado
no rosto de India.
— O que foi isso? Por que ela está assim? — Ouço Emília perguntar
antes de sumir por completo da sala.
Seus olhos vão dos meus pés até a cabeça e eu fico ereta.
Mordo meu lábio diante da sua língua no alto da minha coxa, sua
boca se mexendo com ele tão perto da minha boceta.
Ele segura minha bunda por baixo da camisola, com força suficiente
para seus dedos se afundarem na minha carne. Monto no seu rosto e sua
língua entra no meu canal. Agarro a cabeceira da cama com força e mordo
meus lábios restringindo um gemido avassalador.
Kai me chupa e me penetra com sua língua causando tanto prazer que
eu simplesmente busco por mais, e começo a rebolar sobre sua língua e
lábios. É quase impossível conter os gemidos, estou mordendo meus lábios
com tanta força que sinto o gosto do sangue, mas nem por isso quero parar
de rebolar na língua de Kai, na cara dele.
Seus dedos afundam na minha bunda causando uma dor prazerosa,
sua língua é dura e experiente no que está fazendo e diversos arrepios sobe
pela minha espinha e se espalham pelo meu corpo. Deus… como isso é bom.
Saio de cima de Kai com as pernas bambas, ele vira o rosto na minha
direção com a luxúria brilhando nos seus olhos.
— Não sou a única que precisa relaxar, Kai. Vamos fazer você gozar
também.
O dia em que ele me levou até o sótão, nos trancou lá e usou as luvas
de boxe para acertar meu estômago em diversos pontos porque me culpou de
India ter caído do balanço em que brincávamos e ter levado pontos por causa
disso… esse dia volta com tudo na minha mente. Lembro de cada golpe. Da
dor. Da minha voz implorando para ele parar e do momento que fiquei grata
quando perdi a consciência depois de tanto ser espancada.
Sinto a mão de Kai por baixo da mesa sob minha perna e eu volto
para esse momento, saio da minha mente e volto a respirar calmamente.
— A levarei ao médico, saberei qual o problema com minha esposa,
e se for um agente externo que causou isso, vou punir com o mesmo afinco.
Sangue, ossos quebrados e dedos decepados… o que acha, Alev? — a voz
de Kai é coberta de sombra e fúria contida.
— Não foi nada externo. Marcella nasceu desse jeito. Sempre comeu
pouco.
Emília pigarreia.
Olho para sua mão estendida, e então peço algo que parei de pedir
depois de levar um soco pela ousadia.
— Podemos ir à praia? A mais próxima fica perto daqui. Voltaremos
a tempo de pegar o voo — Peço.
— Claro.
(...)
Ele suspira.
Suspiro. Uma hora ou outra eu vou tirar o short e ele não vai me
impedir. Por enquanto, vou deixar ele pensar que tem esse poder sobre mim.
Tiro a parte de cima da blusa e fico com biquíni simples na cor preta. Me
sento na areia e Kai acompanha meu movimento, parecendo desconfortável
e grande demais.
O sol está quente e ele deve estar fritando dentro dessa roupa escura.
— Deveríamos ter vindo no final do dia, não acho que esse sol seja
tão bom quanto imaginei. Podemos olhar ele do carro. — Suspiro olhando
para o mar.
— Não tente me confortar, sei que está adorando o sol sob sua pele e
a sensação de calor. — ele pega um punhado de areia — Eu não me importo
com o sol. Não estou desconfortável e nem uma merda desse tipo. Não gosto
de ficar despido na frente de ninguém, que não seja você. As pessoas olham
para minhas cicatrizes e sentem nojo, ou não conseguem tirar os olhos
horrorizados delas.
Meu peito aperta diante das suas palavras, por mais relaxado que ele
fale isso, não consigo não notar que ele se importa sim. Aposto que ele
gostaria de tirar suas roupas e pular na água junto comigo.
Olho para ele. O sol está fazendo seu cabelo negro brilhar, e os olhos
âmbar ficarem acesos. A pele dele é pálida, e contra o sol fica tão bonita
quanto uma tela em branco, sem manchas. O nariz dele, os lábios são tão
atraentes. A forma analítica como ele olha tudo e sua expressão…
— Por que está me encarando? — Questiona com a voz profunda.
— Sim. Você é lindo. Com roupa, sem roupas… prefiro sem roupa e
sob minha pele. De todas as formas, você é lindo Kai.
Fui muito longe nos elogios para voltar atrás, e eu não quero voltar.
Eu poderia ficar sentada aqui o elogiando sem parar. Ele é mesmo lindo. Um
verdadeiro anjo da morte se ele tiver uma aparência nítida.
Ele assente.
Kai fica em silêncio, olhando para mim com atenção. Pisco os olhos
e tomo uma lufada de ar.
Kai me ama?
Chegamos em Las Vegas na segunda à tarde, e tão logo quanto
chegamos, Kai se retira para cuidar dos seus negócios. Falta poucos dias
para ele enfrentar Massimo na gaiola e sua reunião com Angelo Ricci para
ter tido uma resposta positiva. Kai está mais forte que nunca. E Otávio não
será páreo para ele.
— Senhora…
Suspiro.
Abro a porta e entro dando as costas aos dois, olho por cima do
ombro para ter certeza de que acataram minha ordem. Com a respiração
artificial, eu caminho para a última fileira de livros, onde uma grande
prateleira se encontra. Duas mulheres estão folheando livros e conversando
baixinho. Vou até o final e quando me viro, Nikolai está na minha frente.
O abraço não dura mais que alguns segundos, quando nos separamos
paramos para analisar um ao outro. Ele está de chapéu, o cabelo loiro
coberto, o rosto mais magro e os olhos azuis enormes e preocupados.
Nikolai está nervoso e furioso, seus olhos azuis estão exalando tanta
fúria que seu rosto pálido está ganhando uma tonalidade carmesim.
Ele veio para me buscar, e vai fazer isso agora. Ele está pronto para
arriscar tudo e claramente não tem um plano. Nikolai está no território da
Camorra, todos têm a permissão de matá-lo aqui, Kai estendeu um
comunicado pela cabeça dele se alguém o visse aqui.
Isso é loucura.
— Não, não está. Tem ideia do que ele planeja fazer com você,
Marcella? Aquele sádico irá… — sua voz falha perante a onda de fúria e
angústia nos seus olhos. Ele agarra minha mão — Vamos embora. Agora!
Meus olhos enchem com lágrimas ardentes. Pisco diversas vezes para
que nenhuma caia. Não vou arriscar a vida de Nikolai. Kai o matará, não
importa se fosse causar uma guerra.
Solto minhas mãos das dele, do aperto firme como uma corda de
salvação. Ele tenta me segurar, com um gemido de dor vindo dele quando eu
o atinjo em um ponto crítico e ele cai de joelhos, sem forças.
Ele veio até aqui. Ele tentou me salvar arriscando sua vida.
Otávio assente tossindo mais uma vez, meu pai olha rapidamente
para o irmão maribondo antes de olhar para mim.
Ele está sentado na sua cadeira de couro, atrás da sua mesa. Otávio
está em pé, ao seu lado e eu estou no recanto da sala bebendo o uísque mais
caro que ele tem aqui. Odeio a presença dos dois, o fato de saber que essas
reuniões irão acabar, me faz querer comemorar. E eu vou. Quando eu chegar
em casa, vou comemorar dentro da minha jovem esposa.
Ela é um vício ao qual não consigo passar muito tempo sem. Fico em
estado de carência e irritabilidade muito tempo sem ela.
— Alev Rivera ligou para mim hoje cedo, disse você o desrespeitou
na casa dele — Meu pai se encosta na sua cadeira, os olhos da mesma
tonalidade dos meus, me encarando — Isso é verdade?
Meu sangue ferve como lavas apenas de ver os lugares que ele tocou,
e onde ela se deixou ser tocada. Ela segurando o rosto dele…
Entro no carro, indo em direção ao galpão onde colocamos meus
prisioneiros no porão. Não hesito nem mesmo quando chego lá, desço as
escadas e encontro Nikolai Vassilliev preso por trás das grades de uma das
nossas celas.
— Muito ousado vir até meu território. Eu deixei claro para ficar
longe — Digo, olhando sua fisionomia furiosa.
— Deixe-a ir embora. Estou ciente dos seus planos, sua besta. Você
planeja trancar Marcella quando conseguir se tornar Capo, e assumirá a filha
do conselheiro da Ndrangheta como esposa — ele tenta avançar na minha
direção, mas as correntes o mantém no lugar — Marcella não nasceu para
ficar encurralada, seu animal! Ela não nasceu para ser uma incubadora!
Inspiro devagar.
Ele mira os olhos com hematomas em mim. Não tem nada de cruel
nele. Sua aparência é igual à de um fodido ator de Hollywood. Nenhuma
cicatriz.
— Deixe-a ir comigo. Ela não o ama e não quer ficar ao seu lado.
Marcella me ama, e eu a amo. A deixe ir comigo. Você a fará se matar
trancando-a em algum lugar, longe de tudo e das pessoas que ela ama.
Encerro minhas aulas antes do meio-dia e vou direto para casa com a
ansiedade me causando um peso no estômago. Poderei saber se algo
aconteceu com Nikolai se eu ver Kai, olhar para ele me dirá se ele pegou
Nikolai.
Quando chego na cobertura percebo o silêncio, deixo minhas coisas
no sofá da sala e caminho até o quarto. Não encontro Kai nele. Sigo para o
escritório e o encontro sentado na poltrona de couro vermelho, sem camisa,
apenas de calça jeans e com um copo de uísque nas mãos.
Começo a caminhar até ele, quando estou próxima e seus olhos sobe
das minhas pernas cobertas por uma calça, até meus olhos, eu fervilho. Sem
pensar muito, eu subo em Kai. Passo minhas pernas ao redor do seu quadril e
meus braços pelo seu pescoço. Ele sorri. O sorriso diabólico que faz o medo
se entrelaçar com a excitação.
— Sentiu saudades, Bella mia? — Sua mão toca meu rosto fazendo o
contato queimar minha pele.
— Onde você esteve ontem? Por que não voltou para casa? —
Questiono.
Engulo a seco.
Por mais que eu queira manter essa atração por ele longe, não me
entregar ao desejo… é impossível quando ele está perto de mim. Kai Moreau
se tornou um ponto fraco na minha resistência. Eu deveria odiá-lo. Repudiar
todo tipo de contato entre nós dois, mas meu corpo o quer. Ele me viciou
nele e nas sensações que me causa.
Sinto sua ereção embaixo de mim, e mesmo sem ele ter me tocado
direito, eu já estou pingando. Minha calcinha está úmida.
Olho na sua direção, confusa com o que ele disse, mas ciente de que
sou capaz de fazer qualquer coisa para o ter dentro de mim. Preciso da sua
boca, dedos… tudo.
Estou pingando por ele, necessitada do seu contato com minha pele.
Olho para Kai, meus olhos descem até seus lábios e é pra eles que eu
vou. Seguro seu rosto nas minhas mãos e pressiono meus lábios contra os
seus, beijando-o suavemente. Kai não demora pra reagir e logo está forçando
sua língua contra a minha, o gosto de uísque me acertando em cheio. Uma
corrente de eletricidade parece explodir com esse beijo e todo meu corpo
queima. Me movo sobre sua ereção dura, arranhando sua pele. Kai retribui o
beijo com ferocidade e em questão de segundos, as mãos dele estão me
erguendo.
— Eu sou capaz de matar qualquer um que ver o quão linda você fica
quando goza, Marcella — ele agarra meu cabelo, fitando meu rosto com um
brilho diabólico — Você nunca conseguirá ter outro homem sob sua pele. Eu
estou em todos os poros do seu corpo e me tornei o primeiro e último
pensamento que você tem no dia.
Sinto ele se armando para gozar, antes que aconteça ele se liberta da
minha boca e ruge na minha direção.
— Deite! Vou foder essa boceta apertada até ela chegar à exaustão e
você implorar para que eu pare.
— De quatro. Você não merece ser bem tratada hoje. Vou te comer de
quatro como uma boa putinha apaixonada pelo meu pau.
— Você está pingando feito uma torneira, Marcella. Parece que adora
ser tratada como uma vagabunda, hum? — Rosna atrás de mim.
Eu rebateria o termo que ele usou contra mim se minha mente não
tivesse travando uma batalha contra a luxúria.
Aperto todo seu pau quando gozo e Kai pulsa, jorrando seu esperma
dentro de mim. Tenho certeza que quando ele se retirar de mim, nossos
gozos escorrerão como uma torneira aberta.
Meu corpo está pingando de suor, e sem forças, deixo minhas costas
cair para trás encontrando o peito firme de Kai. Ele descansa a cabeça no
meu pescoço e seu corpo está tão suado como o meu. A desorientação faz
com que vagalumes brilhem na minha vista e eu sinto a necessidade de
fechar os olhos e simplesmente cair na inconsciência depois de um orgasmo
tão violento.
Ele passa a mão pelo cabelo, colocando os fios para trás e respira
fundo. Suas costas largas malhadas e com as cicatrizes de chicotadas estão
me encarando. Quando Kai se vira na minha direção, vejo pouco brilho em
seus olhos.
Ele me encara por minutos longos, sem olhar para o meu corpo nu,
apenas para meus olhos. Uma batalha parece estar sendo travada por trás das
íris incandescentes.
É esse olhar que me deixa claro que ele tem Nikolai. O terror toma
conta do meu corpo e eu não consigo me mover.
Eu deveria ter notado isso quando entrei, era pra eu ter descoberto
isso no momento que entrei, mas deixei meu corpo ser encantado pelo desejo
e agora o terror é tão forte dentro de mim que não consigo me mover, e nem
respirar.
Desvio meus olhos de Kai para que ele não veja. Não posso deixar
ele perceber. Nikolai está vivo. Capturado, mas vivo. Kai não o matará
quando pode usar ele para conseguir apoio dos russos nesse momento.
— Vai levar ela com você? — Ivo pergunta com desdém no meio do
almoço.
É um aviso. Kai está dando a ele um aviso e Ivo fica rígido na sua
cadeira, com uma expressão catatônica. Kai começa a andar para fora da sala
de jantar; viro minha taça de vinho tinto em um só gole e o sigo.
Uma onda de arrepios sobe pela minha espinha, e antes que eu possa
dizer algo, um carro de luxo escoltado entra na propriedade, parando atrás do
de Kai. De dentro dele sai um garoto jovem, alto e com cabelos pretos.
Massimo Moreau.
O príncipe da máfia.
Ele ajuda outra pessoa a sair do carro, Kai se vira para assistir
também. Ouvir boatos de que Otávio estava doente, mas não imaginei que
ele estivesse com uma aparência cadavérica.
Observo o esforço descomunal que ele usa para se arrastar para fora
do carro, se apoiando no filho e em uma bengala. O que vejo de Otávio
Moreau não condiz com nada do senhor elegante, com o cabelo sempre bem
penteado. Ele mal tem cabelo agora, e seus olhos estão tão fundos sobre
bordas de olheiras escuras e bochechas tão escassas que o osso das suas
maçãs do rosto estão apontados.
Prendo a respiração.
India nem mesmo chegará a usar o vestido de noiva.
Mantenho meus olhos nele, daqui a poucos dias não terá mais vida
nesse corpo. Kai irá trucidá-lo com prazer.
Ele olha para Kai e gesticula para que o filho continue andando.
Massimo sorri uma última vez para mim, e tudo que consigo enxergar nele é
seu corpo retalhado. Tenho certeza que quando Kai acabar de matá-lo, o
rosto bonito não permanecerá com ele.
Ele sorri.
Tenho uma ideia do que eu possa fazer, só espero que Jace esteja
distraído o bastante. Kai e eu entramos no carro, indo para casa. O percurso
está tranquilo até Kai começar a ficar tenso e checar o retrovisor diversas
vezes. Na terceira vez que ele olha, pisa no acelerador com força e começa a
mexer no painel do carro.
Kai olha para mim de forma tranquila. Como ele pode estar tranquilo
nessa situação?
Ergo meus olhos para ele, tirando minhas mãos da minha cabeça. Por
mais nervosa que eu esteja, nem a pau vou morrer dessa forma. Faço um
aceno positivo para Kai e simultaneamente nos movemos para trocar de
lugar. Assumo o volante e Kai prepara sua arma.
Eles esmagam o carro, mas não paro para ver o resultado. Continuo
dirigindo para o mais longe possível dessa cena enquanto meus nervos
começam a sair do estado entorpecente.
— Eu sei que você consegue, Marcella. Tire essa bala logo… por
favor… tire isso de mim — grunhi com intensidade fazendo meus olhos
encherem de lágrimas.
— Kai…
— Marcella, por favor!
Olho para Kai, meus olhos tremeluzindo com lágrimas, assim como
meus lábios.
Empurro meu dedo para fora fazendo a bala cair sob o peito de Kai, e
escorregar até a banheira fazendo um som metálico ao chegar no piso da
banheira. Sem pensar, ou hesitar. Eu coloco mais uma toalha sob o
sangramento que ficou incontrolável com a saída do projétil.
Pego o maçarico e a faca ligando o fogo e esquentando a lâmina da
faca o máximo possível, até que ela fique em estado de brasas. Quando o
metal está vermelho, eu o levo em direção ao braço de Kai e as lágrimas
agora escorrem pelos meus olhos.
Afasto a toalha e comprimo a ferida ouvindo o barulho de
queimadura que faz na pele de Kai e o cheiro de carne que sobe pelo ar. Kai
trinca ainda mais os dentes e ruge até segundos depois de eu cauterizar sua
ferida.
Deixo tudo cair das minhas mãos e entro dentro da banheira, levando
minha mão suja de sangue ao rosto dele. Minhas lágrimas descem
copiosamente e eu o abraço.
— Não chore por um filho da puta como eu, Bella. — murmura com
a voz rouca e baixa.
Passo uma toalha limpa pelo sua testa suada, deixando ele descansar
a cabeça no meu peito. A posição que estou, apoiada nos meus calcanhares,
não é confortável, mas quero dar o máximo de conforto que consigo para
Kai. Seu braço direito machucado está fora da banheira. A marca da
cauterização é horrível de se ver. E o cheiro da sua carne queimada ainda
está no ar.
Não ouço nada vindo dele, ele deve ter caído na inconsciência.
Continuo abraçando ele, e é assim que Jace nos acha. Ele xinga em russo ao
ver o estado de Kai, o sangue pela banheira, em mim, as toalhas sujas e toda
a bagunça.
Com sua ajuda, colocamos Kai na cama depois de tirar suas roupas e
o lavar. Faço um curativo no seu braço com gases e faixa. Jace observa tudo
com o maxilar cerrado.
— Ele quem pediu, eu… eu queria chamar o médico, mas ele não
quis — Digo ao ver os olhos de Jace em mim. Minha voz soa fraca, abalada
demais.
Jace assente.
— Não ter chamado o médico foi bem pensado, se ele viesse, poderia
agravar o estado de Kai a pedido do Capo. Você fez bem — Jace suspira —
Vou cuidar do resto. Ele precisa de uma transfusão de sangue, e já está a
caminho.
Caçado.
Nós dois ficamos em silêncio por horas até começarmos a ver a pele
pálida de Kai voltar a ficar corada, e os lábios voltarem à cor natural.
Jace assente.
Sim, eu sei.
— O alvo do pai e tio dele não sou eu, é o próprio Kai. Nada
acontecerá comigo. Você vai poder me rastrear pelo celular, e o hospital não
fica nem a vinte minutos daqui.
Entro dentro e verifico o GPS procurando o lugar que Kai tem ido
nos últimos dias. De todos os pontos, ele sempre se demora em um único
lugar. Um lugar perto do barracão de luta.
Ela sorri.
Já são quase oito da noite. E o tempo parece passar cada vez mais
rápido. Se eu não me apressar, Jace mandará averiguar se estou no hospital.
Preciso agir.
Fui jogada aos lobos várias vezes na minha vida, voltar a correr deles
será uma memória reativada. Ajeito minha postura e deixo minha expressão
de ansiedade ser substituída por uma máscara de indiferença. Começo a
caminhar até o barracão ouvindo os três homens conversarem. Os olhos
deles se voltam para mim quando me aproximo, um deles solta o cigarro e se
levanta da cadeira de plástico que está sentado.
— Se está duvidando, ligue para Jace. Não tenho tempo a perder com
perguntas — Suspiro em tédio.
Ele deixa para que eu abra a porta metálica, e eu faço isso com as
mãos trêmulas. O homem se afasta enquanto eu abro a porta e no momento
que entro dentro do quarto, eu prendo a respiração.
Toco seus braços com minhas mãos cada vez mais trêmulas e a voz
vacilante. Ele está imundo. O cabelo loiro encardido de sangue seco e
sujeira.
— Nikolai…
Uso toda força que consigo para tirar seus braços da sua cabeça e
quando ele ergue os olhos na minha direção, meu coração se parte em mil
pedaços. O rosto dele… não existe um só local onde não se encontre um
hematoma.
— Sou eu. Por favor, olhe para mim! — Exclamo agoniada. A única
luz dentro dessa cela são as cores do vídeo.
— Ele sabe que está aqui? Foi ele quem te trouxe? — Pergunta com
a voz rouca e arranhada.
Ele está tão machucado, sua camisa branca agora está manchada de
sangue fresco.
— Ele não vai me matar. Está me usando para conseguir algo do meu
irmão — ele se movimenta, fazendo as correntes presas nas suas pernas
tilintar pelo chão.
— Como posso te tirar daqui? — Insisto. Ver ele dessa forma está me
custando um esforço que não sou capaz de ter.
Seus lábios estão cortados, sua bochecha e seu olho direito está roxo
e inchado. A aparência angelical completamente arrancada.
Antes que ela possa falar a porta é aberta com agressividade, fazendo
o som dos meus gemidos pelas caixas de som serem abafados pelo barulho
da porta batendo na parede.
Kai surge com o rosto ainda pálido, mas com uma expressão de pura
fúria. Ele olha na nossa direção, principalmente nas minhas mãos sobre as de
Nikolai.
— Ele disse que você não sentia nada por mim, querida. Disse que
tudo o que poderia sentir por mim era nojo, então precisei mostrar a ele o
quão bem eu trato você.
— De quatro. Você não merece ser bem tratada hoje. Vou te comer
de quatro como uma boa putinha apaixonada pelo meu pau. — Essa fala
repercute pela cela me fazendo cerrar o maxilar com força.
— Esse vídeo não mostra nem metade do que fazemos sozinhos, não
é? — pergunta para mim, os olhos felinos no meu rosto — A forma como
você implora por mim quando estou por perto, como se desmancha…
Olho para ele para buscar a confirmação, mas ele está tão doentio em
sua postura que eu chego à conclusão de que isso é verdade. O que ele possa
ter negociado com Angelo provavelmente envolveu casamento e uma chance
de fazer Kai se livrar de mim.
Eu não consigo sentir nada diante de tudo isso, tudo que quero agora
é que Nikolai seja livre e volte para casa. A humilhação que me queima é
forte o suficiente para que eu deseje nunca mais ver Nikolai e nunca mais
deixar Kai me tocar. Me sinto tão suja que nem toda água do mundo será
capaz de me lavar. Não consigo olhar para nenhum dos dois e o som do
vídeo sendo reproduzido está me deixando doente.
Ele não desliga. Olho para Kai agora com sangue nos olhos, com a
raiva circulando como eletricidade pelas minhas veias. Eu o olho com
selvageria e fúria, deixando que ele veja o quanto eu o odeio nesse
momento.
— Deixe-o ir! Você já teve o que queria. Deixe ele ir! — Levanto do
chão, avançando na sua direção.
— Não vou matá-lo, querida. Fiz uma boa barganha com o irmão
dele, ele ficará livre depois que Mikhail cumprir nosso acordo. Enquanto
isso, vou deixar ele assistindo a cena de você sendo reivindicada por mim até
ele aceitar o fato de que você me pertence.
Fiz um bom acordo com ele. Hades ficou interessado na droga que
desenvolvi e no meu acordo de permitir que ele use uma das nossas rotas
marítimas para transportar pessoas traficadas. Hades Baumann não foi fácil
de trazer para o meu lado, e acredito que ele só aceitou para deixar
Maximiliano Colombo com medo. Ele nunca irá perdoar a família que
abandonou a esposa dele. Hades Baumann é a porra de um sociopata que não
deixaria ninguém tocar sua esposa, e todos que destrata Athena acaba com a
porra do ânus para fora, cabeça e mãos decapitadas. O cara é um demônio.
Essa noite foi ensaiada por mim durante muito tempo, e ela
finalmente chegou. Com o apoio de Hades, fiz Angelo recuar com sua oferta
de me casar com a filha do seu conselheiro, graças a captura de Nikolai,
conseguir fazer a Bratva atender o desejo de Angelo. E ele recuou.
Minha esposa será a única mulher que terei, a senhora suprema da
Camorra, a mãe dos meus herdeiros e do próximo Capo. O sangue de
Marcella correrá nas veias da próxima geração de liderança que virá sobre
essa máfia. O que ela falar, se tornará lei. Marcella Moreau irá romper o céu
negro da Camorra quando eu surgir como Capo. Ela será a estrela brilhante
da noite escura que eu sou.
Eu sei que ela voltará para mim. No fundo, eu sei que ela me ama,
não entendo como aconteceu, mas ela me ama. E eu a amo. A amo desde a
primeira vez que aqueles olhos verdes redondos pousaram em mim. Vou até
o inferno por ela e desafio o satanás se ele entrar na frente.
— Acredito que Otávio não queira que ela veja o estado dele. O
velho veio se arrastando até aqui, Capo.
Olho para Jace com uma surpresa escondida pelo modo como me
chamou. O moreno abre um sorriso largo.
— Não gosto de ter que sujar minhas mãos por brigas dos outros, Kai
Moreau. Sua recompensa terá que ser maior que o que sugeriu — a voz fria
como uma lâmina é plena. Nenhum indício de emoção ou chateação. Apenas
o sotaque alemão.
É simplesmente oca.
Olho para ele, encarando os olhos negros como breu, e seu cabelo
loiro pálido.
— Você não pode tomar o poder Kai, não tem permissão das cinco
famílias — Ivo se ergue do seu assento enquanto Otávio entra em uma crise
de tosse.
Famiglia.
Ndrangheta
Cartel
La Santa.
Vou acabar com a vida de Massimo de forma rápida, mas sem antes
deixar de mostrar a meu pai e tio o poder que a destruição deles em mim, me
tornou.
Os olhos de Massimo estão aterrorizados, e ele se levanta do chão,
indo para o outro lado da gaiola. Fugindo como um maldito covarde. Os
membros da Camorra estão em silêncio nas arquibancadas, o único som é a
lamúria de Massimo e Otávio. Meu pai está petrificado no lugar. Otávio está
sendo forçado a olhar enquanto Jace o segura e mantém sua cabeça reta.
Retiro minha blusa e deixo que todos vejam as cicatrizes que formam meu
corpo.E a marca de Hades subindo pelo meu pescoço, a tatuagem de uma
serpente.
Cicatrizes feitas pelo meu pai a cada coisa que ele se frustrou.
Chicotadas, queimaduras. As únicas cicatrizes não feitas pelo meu pai foram
as de facada, e a da bala no meu braço com a pele queimada para estancar o
sangramento.
Olhar para ele desperta meu demônio sanguinário. Esse filho da puta
com essa aparência angelical se forçou dentro de crianças até que não
sobrasse nada além de nojo por elas mesmas. Ele ferrou a mente de várias
meninas, fez garotinhos se suicidarem. Comprou crianças como bois e as
estuprou como um maldito criminoso que merece a morte. A cada gota de
sangue que derrubar dele, irei lembrar dos rostos das vítimas dele.
— Pegue uma das adagas, seu filho da puta. Eu sei que você não é
um homem, mas aja com um pouco de dignidade. Te ver tremendo, só me
faz querer beber seu sangue! — Exprimo.
Ele está tendo fortes emoções, o Tálio está em ação no seu corpo e
ele está começando a espumar pela boca. Ele vai morrer logo, eu preciso
deixar que ele veja eu acabar com seu filho.
Olho para cima vendo esse grito vindo de Otávio. Jace o solta e com
a última força que resta nele, ele se arrasta até a gaiola. Seus olhos não me
olham quando ele entra, ele apenas olha para o filho e se derrama sobre ele.
Puxando o rosto retalhado na sua direção e urrando como se a pior dor do
mundo estivesse sendo infligida a ele.
Estou com sangue por toda parte do meu corpo, e acabei de realizar
minha vingança. Mas não sinto nada e é exatamente isso que se define a
vingança. Podemos ter vencido os inimigos, mas não temos sucesso em
comemorar isso, porque passamos tempo demais morrendo por dentro para
chegar ao fim.
— Vita al Capo!
Essa frase é dita por uma pessoa, depois por outra até todo o galpão
inteiro está urrando em saudação. Meus homens vêm até mim, me carregar
nos braços e me saudar como novo chefe da Camorra. Sou carregado pelos
meus homens. Novos e velhos. Meu corpo banhado com o sangue do meu
primo é meu cartão de entrada triunfal como Capo da maior organização da
Cosa Nostra.
Meu pai é levado para o lugar que reservei para ele, e eu me deixo
ser socalegado pelos meus homens enquanto tudo dentro de mim grita por
Marcella.
Tudo o que quero é correr e me aninhar em seus braços. Receber o
abraço dela, seu olhar e a confirmação de que fiz o certo. Preciso dela com
desespero.
Por mais paciência que ela esteja mostrando, sei que está no limite.
Já estou aqui há três noites e sem dinheiro, não tenho como pagar pela minha
hospitalidade e ela está deixando claro que não está gostando disso.
Depois de dormir uma noite na praia, dentro de um banheiro, acabei
vindo parar em uma casa de prazeres depois de defender duas garotas que
estavam sendo assediadas. Elas foram educadas e mostraram seu
agradecimento me oferecendo um teto ao ver meu estado.
Ela cruza as pernas cobertas por uma meia calça preta. Seu olhar
castanho puxado examina meu corpo de cima abaixo, atenta. Ela me olhou
assim desde o momento que cheguei aqui.
— Sua estadia não pode ser de graça, menina. Não é uma casa de
caridade, aqui é uma pousada de prazer. Todas as meninas lá embaixo
também não têm dinheiro, por isso vendem o corpo… por que não faz o
mesmo? Seria uma conquista imensa ter alguém com sua aparência aqui —
ela levanta da poltrona surrada, caminhando até o centro do quarto — Os
mafiosos do mais alto calão vem para cá, facilmente você cairia nas graças
de um. Há duas noites, os homens estão vindo para comemorar a ascensão
do novo Capo.
Engulo a seco. Os pelos dos meus braços se arrepiam com a menção.
Kai se tornou Capo há dois dias e as histórias que estou ouvindo são
tenebrosas. Ele mutilou Massimo na frente de Otávio, e não permitiu que o
primo fosse ao menos velado. Otávio está no hospital depois de Kai fornecer
o antídoto para ele, e ter planos de fazê-lo viver em agonia o resto da vida
lembrando da morte do filho dele.
Ele não matou seu tio e pai, está fazendo algo pior com eles.
Desde o dia que entrei naquela cela e vi Kai expor nosso momento
íntimo como uma forma de mostrar a Nikolai o quão submissa eu era a ele…
isso me deixou doente. A própria forma como eu parecia desesperada por
ele, a maneira como ele teve tudo o que quis de mim porque confiei nele. Ele
poderia ter facilmente me apunhalado no peito e a dor não seria tão forte.
Não quero voltar a fazer sexo com ninguém, a ser vulnerável. Não
quero nem mesmo ter qualquer aproximação com outro homem.
— Você não é uma menina que faz esse tipo de coisa. Tem o olhar e a
expressão de uma puritana — Madame Ross diz com uma risada baixa —
As roupas com as quais chegou aqui eram de marcas, tenho certeza que faz
parte de alguma família rica que deve estar procurando por você. Então, me
diga seu nome e sobrenome.
Nicole foi a garota que defendi e quem me trouxe para cá. É ela
quem está me mantendo informada de tudo e a pessoa que aceitou dividir
seu quarto com uma única cama de solteiro. Estou dormindo no chão, e de
longe é o lugar mais desconfortável ao qual fiquei.
Nikolai foi solto e voltou para Rússia com seu irmão que fez uma
promessa de revidar o que Kai tramou contra ele. Hades Baumann está junto
a Kai e dia após dia desde a tomada pelo poder, Kai está matando pessoas.
Pessoas que vão contra ele.
Para eu sair de Las Vegas, preciso ir até uma cidade distante daqui.
Preciso sair da rota de Las Vegas e ir para qualquer lugar mais calmo,
mesmo sendo improvável o estado de Nevada está calmo. O submundo está
se revirando. Isso está afetando tudo.
— Você só tem alguns minutos, assim que o Norman disse que você
estava aqui, eles começaram a ligar pra alguém. Eles estão…
— O Capo está vindo para cá, e eu não posso machucá-la. Por favor,
venha comigo calmamente.
Nem nos sonhos de Kai e Jace que irei de bom grado. Não vou me
entregar sem lutar e me deixar ser um trunfo tão fácil.
Balanço a cabeça.
Isso desequilibra Jace por alguns segundos que são suficientes para
me deixar ir em direção a janela aberta e pequena demais para alguém do
tamanho dele. Atravesso ela com dificuldade, me espremendo e sentindo o
vidro lascado cortar meu quadril e coxas desnudas enquanto chuto as mãos
de Jace que luta para me puxar, isso só faz o vidro me cortar ainda mais, me
livro das suas mãos quando chuto seu peito e pulo da janela com força,
caindo sentada no telhado de metal do zelador, contendo um grito quando
meu calcanhar direito queima com uma dor absurda. Com a adrenalina no
meu corpo, eu pulo até a lata de lixo e saio dela correndo em direção ao
muro do quintal da casa.
Corro por becos abertos que dão a outras ruas. O vento frio da manhã
me faz ficar consciente do corte da minha perna a cada segundo que o vento
bate nele, e meu tornozelo parece doer a cada centímetro. Gemendo e com
lágrimas borrando a minha visão, eu finalmente encontro um beco escuro,
vazio repleto de sujeira e uma lata de lixo. Me escondo atrás dela ouvindo o
som dos carros passando pela rua lá fora.
Minha respiração está tão ofegante que meus pulmões ardem. Olho
para minha coxa vendo o sangue escorrendo, meus pés também estão
machucados e meu tornozelo direito está inchado e vermelho. A dor é
excruciante e eu não consigo dar mais nenhum passo.
Mordo meus lábios com tanta força para não emitir nenhum grunhido
que sinto o gosto de sangue. Na minha cabeça, tudo que sou capaz de pedir é
que Kai não me encontre. Que nenhum dos seus homens me encontre aqui.
O perfume dele.
A voz de Kai surge pelo beco e meu sangue parece congelar, não
consigo mexer um músculo sequer diante da presença dele entrando nesse
beco, tão próximo de mim. Minha perna machucada está dormente. O terror
com a voz de Kai se aproximando de mim é tão grande que não conseguiria
me mexer mesmo se quisesse.
Os passos deles soam mais próximos até que Kai surge, vindo para
minha frente, vestido completamente de preto. Os olhos castanhos dourados
me olham da cabeça aos pés, Seu rosto se contorce ao ver meu estado e ele
se abaixa na minha direção, as mãos vindo até minha coxa cortada.
Kai passa os braços por trás dos meus joelhos e os braços pelas
minhas costas e me ergue do chão, um grito mudo sai dos meus lábios
fechados.
Seus olhos percorrem todo meu corpo suspenso em seus braços, e seu
rosto fica duro. Tento manter meu olhar no dele, mas não consigo. Não
depois do que ele fez.
Uma pessoa que você ama pode te trair com mais força que um
inimigo, e se tornar seu inimigo mais poderoso. Nunca esperamos a
decepção de um parceiro, por isso doi tanto e nos deixa desorientados.
Coloco Marcella sob nossa cama enquanto Jace chama o médico. Ela
não diz uma palavra ou olha na minha direção. Seus olhos estão distantes,
canalizando todo tipo de sentimentos que ela não me deixa chegar perto e
isso é o suficiente para me deixar inquieto. Estou morrendo de saudades dela
e a ver tão ferida assim sabendo que chegou nesse ponto para fugir de
mim… Prefiro mil vezes a dor física do que isso.
De todos os lugares, ela estava em uma casa de prazer. Ela está com a
roupa de outro homem, e ferida. Meus sentimentos divergem entre ciúmes e
preocupação.
— Chame alguém. Não quero você tocando em mim, não quero sua
aproximação! — Diz com a voz baixa e oca.
Desvio meus olhos dos seus. É insuportável olhar para ela e pensar
que outro homem a tocou. Saio do quarto para não cometer nenhuma
loucura, eu não acredito que ela possa ter dormido com outros homens, mas
a voz do merdinha russo está na minha mente. Ele disse a mim o quanto eu
acabara de destruir Marcella a expondo, e a maneira como ela fugiu. Ela
pulou da porra do terceiro andar para fugir de mim, se cortou profundamente
e está um trapo.
Olho para uma das criadas que trouxe da mansão Moreau para ficar
na minha cobertura. Com todo o movimento que estou fazendo na
organização, presumi que Marcella fosse precisar de companhia. Então,
trouxe uma das criadas para cá.
Bato a porta com força e me sirvo de uma dose de uísque, mas antes
que eu tome, a raiva me preenche e eu arrebento o copo na parede, derrubo o
carrinho com todas as bebidas. Extravaso toda minha raiva nos objetos desse
escritório. A única coisa a qual não toco, é os livros que ela adora. Posso
destruir tudo, menos algo que ela ame.
Por mais insuportável que seja, eu não quero saber. Se ela me traiu,
eu não posso fazer nada além de lidar com isso. Não a quero longe de mim e
não sou capaz de viver sem ela. O que ela fez foi motivado por mim e eu irei
arcar com as consequências. Mas irei matar o filho da puta que a tocou.
Jace assente.
Jace é meu conselheiro. Ninguém melhor que ele para tal função. Ele
é mais calmo que eu, e um ótimo analista. Temos um equilíbrio e iremos
construir uma nova Camorra.
— Vou visitar Alev logo depois que terminar o que tenho que fazer
por aqui. Tenho algo guardado para ele — Digo a Jace.
— Ele é seu pai! Você não pode usurpar o lugar dele, Kai! De uma
forma ou de outra, você seria o Capo. Por quê fez isso?
— Ivo sempre foi um bom pai. Um bom homem. Ele sempre tratou
Niki como uma princesa e a amou…
Deixo minha calma e sutileza escapar de mim. É claro que ela sabia
do que acontecia nessa casa. Eu gritava. Ivo me prendia por semanas e
quando eu voltava a circular pela casa não era nada além de um trapo
ambulante vestido com roupas de mangas. Eu cheirava a carne assada
estragada. E me arrastava porque não era capaz de andar depois de dias de
espancamento e chicotadas.
— Ele é seu pai, de toda forma. Tudo o que ele fez foi para te tornar
um homem forte. É assim que os homens da família devem ser criados —
sua voz soa com dureza mesmo estando embargada.
Retiro minha blusa pela cabeça e deixo que ela veja. Deixo que ela
veja cada uma das 40 marcas de chicotadas que tenho pelas costas, deixo que
veja as queimaduras que até hoje coçam e queimam na minha pele. As
cicatrizes são insuportáveis. Quase todo o tempo me incomodam.
Minha mãe reage, mas logo se desarma. Ficou ofendida quando falei
da sua filha, mas não demonstrou nada sentimental ou me pediu perdão…
vaca alcoólatra.
Visto minha blusa e não deixo a raiva, a tristeza pela mãe que nunca
tive me tomar. A única mulher na minha vida é Marcella, e se fui amado por
alguém, foi por ela.
— Arrume o que puder. Você irá para Roma. E não, Niki não irá com
você. Vou mandar desligar aqueles aparelhos e fazê-la descansar em paz.
Começo a caminhar até onde Ivo está, ouvindo ela vindo atrás de
mim, gesticulo para um dos seguranças por perto e ele simplesmente a
arrasta para longe e seus gritos vão desaparecendo juntamente com qualquer
sentimento que eu tinha por ela.
— É o que eu deveria fazer, mas quero que veja o que a Camorra irá
se transformar — Dou um suspiro longo e entediado — As outras famílias
estão com muitas expectativas. Se você foi um conquistador, então eu posso
ser mais do que isso, não? Estão me chamando de subjugador… eu gostei.
Balanço a cabeça.
— O maior erro da sua vida, foi você próprio. Deus ou o diabo te deu
tudo nas mãos, e você fodeu tudo. Não me culpe, paizinho. Você arruinou
seu reinado e agora eu preciso colocar tudo no lugar.
— Achou que eu fosse me dispor aos seus pés para sempre? Me diga,
pai. Realmente, nessa sua cabeça fodida, achou que iria me humilhar e isso
não teria retorno? — Inquieto com a voz austera.
— Você era fraco. Não iria durar muito vivo se eu não tornasse você
imbatível. Graças a mim, você acabou sendo o que é hoje.
— Não, você se tornou isso depois. Eu queria apenas que você fosse
algo mais forte que qualquer outro, porém eu vi você se transformar na
aberração que é hoje e eu sabia que precisava eliminar você. — Os olhos da
mesma tonalidade dos meus me fitam — Você ia matar sua irmã. Você a
matou. Ela não acordará mais e a culpa é sua! — Esbraveja seu rancor.
— Eu tentei, mas não podia. Não podia ficar sem herdeiros e você
podia me servir até eu engravidar sua mãe novamente.
Antes de odiá-lo, eu admirava cada parte dele, mas tudo chega ao fim
quando saímos de trás da cortina de ilusão.
Olho para meu pai uma última vez. Ele ama minha mãe assim como
ela o ama. A condenação dos dois será eu. Deixo ele sem respostas e ele
corre até a porta gritando para que eu diga o que irá acontecer a sua esposa.
Ele esmurra a parede de pedra e grita com todo fôlego nos seus pulmões com
desespero. Esse é o pior castigo que posso dar a ele.
Não volto para casa de imediato. Por mais que tudo que eu queira é
Marcella, morro de medo de olhar para ela e tudo que eu ver seja a frieza e
decepção que ela agora sente por mim. Estou mais quebrado que antes, e
com tantos buracos em mim que é difícil respirar sem sentir dor e vontade de
morrer.
Ainda não acabei com todas as pendências, tenho muito a fazer para
ficar estável como Capo e construir um lugar seguro para meus filhos com
Marcella.
— Senhor? — A voz do barman da boate preenche o escritório, e eu
olho para ele. Sua expressão é inquieta — A senhora Santini está aqui
pedindo para ver o senhor.
Deixo meu peso cair por completo na cadeira giratória. Não tenho
mais paciência por hoje.
— Ela não é tão puritana como imaginei que seria. — Ela se inclina
na minha direção — Parece que é não nem tão pura assim depois desses
dias.
— Disseram que ela tem uma pele macia e sinais de nascença pelas
costas…
A barreira de contenção que fiz é rompida me deixando cego e
possesso com a ideia de que alguém viu Marcella nua, tocou sua pele e a
maculou. O choque que isso me causa é tamanho que eu prendo minha
respiração e fico inerte. Qualquer movimento da minha parte pode causar
uma destruição.
— Faz tempo que não ficamos juntos, meu Lobo. Me coloque sob
essa mesa e me foda da maneira como adora… Preciso tanto disso como
você. Estou morrendo de saudades.
Ela engasga. Ser enforcada não deve ser tão prazeroso quando não se
tem um pau dentro da boceta.
Meu ânimo se foi com esses cacos, e minha vontade de ter uma
especialização parece ter sido dissolvida. Por mais que eu esteja com uma
tempestade de sentimentos, ao mesmo tempo me sinto tão oca. A ansiedade
está me consumindo. E não tenho feito nada além de ficar no quarto ouvindo
os homens de Kai passando pela cobertura.
Como novo Capo, Kai tem passado mais tempo fora de casa. Já se
passaram três semanas…
Suspiro.
— Não creio que seja necessário, fale com seu Capo, talvez ele tenha
uma opinião diferente — Respondo.
Estou prestes a dizer a ela que não sou nada nessa casa, que logo ela
terá uma nova senhora, mas antes que eu diga algo sinto a presença de Kai
ao meu lado. Seu corpo forte vestido de preto. Não sou capaz de erguer os
olhos, meu corpo inteiro se arrepia com sua presença e ele fica próximo de
propósito.
— Por que disse aquilo? — sua voz profunda tem o efeito de lâminas
cegas passando pela minha pele.
— Não vou trazer nenhuma outra mulher para cá, Marcella. Você é a
única mulher que carregará o meu sobrenome depois das nossas filhas. Fui
dado a você como marido e você a mim como esposa. Até o fim das nossas
vidas.
Respiro fundo deixando uma risada curta e ácida sair da minha boca.
— Eu quero que se case com outra mulher, que tenha uma penca de
filhos com ela. Quero que faça tudo que permita que eu vá embora. Eu não
suporto olhar para você, ficar sob o mesmo teto do homem que usou minha
vulnerabilidade da forma mais baixa possível. — Declaro com a voz firme e
magoada.
— Eu não preciso que você me jure nada! Tudo que quero de você é
que me mande para bem longe. Um lugar longe o suficiente para que eu não
pense na humilhação que você me submeteu e na quebra de confiança que eu
tinha em você.
— Me perdoe, por favor. Eu não sabia o que fazer. Achei que você o
amasse e que iria fugir com ele na primeira oportunidade… eu estava
desesperado, Marcella! — declara com a voz vacilando.
— Você colocou a prova o que quer que tivéssemos por não confiar
em mim. Você me exibiu, mostrou o quão pateticamente eu te queria… —
Fecho meus olhos com força lembrando do vídeo, do som — Aquilo…
aquilo foi demais. Eu preferia que você tivesse me esfaqueado, seria mais
fácil te perdoar já que sua natureza é ser cruel.
— Passei o resto dos vinte anos achando que não tinha coração, e que
nunca mais seria capaz de sentir raiva, vontade de destruir o mundo… mas
finalmente sentir meu coração batendo com uma emoção verdadeira e
saudável. Não a emoção de estar correndo perigo ou estar à beira da morte,
não. A emoção que senti quando vi você pela primeira vez e você me
encarou com esses lindos olhos… — O recanto dos seus lábios se repuxam
rapidamente — Me senti privilegiado. E eu nunca senti isso na minha vida,
mas sinto todas as vezes que olho para você. É como se a cada momento que
meus olhos recai sobre os seus, eu revivesse. Parece que tenho uma boa vida
quando estou do seu lado e não existem demônios na minha cabeça dizendo
o quão desprezível eu sou. Eu pedia tanto a qualquer Deus que pudesse me
escutar enquanto eu estava naquele porão por um salvação, e ele me trouxe
você, anos depois. Anos que valeram totalmente a espera.
Sinto meu coração batendo forte com cada palavra dolorida que sai
da sua boca com esforço. Ele está se desfazendo das suas amarras e me
deixando ver seu coração. E é nitidamente algo difícil para ele ficar
vulnerável. Ele está lutando contra ele mesmo.
— Minha vida só tem um significado porque tenho você. Tenho algo
pelo qual vale a pena lutar. Você é o meu coração, Marcella. Minha alma e a
responsável por eu estar vivo da forma certa. Sou um homem quebrado, um
assassino, um filho da puta doente e você é a única coisa boa em mim. Eu te
machuquei e estou sofrendo por isso como um condenado que preferia está
agonizando do que está recebendo sua frieza. — Ele inspira com força —
Me perdoe, não posso deixá-la ir. Quero que fique ao meu lado, que tenha
meus filhos e construa um império comigo. Quero que fique ao meu lado e
me ajude a ser um bom pai. Quero que aceite que meu coração dilacerado
fica completo quando você está por perto e, acima de tudo, quero que saiba
que eu a amo, e o simples fato de você ficar triste ou magoada por minha
causa me faz ter vontade de sangrar até a morte.
O silêncio recai sobre nós dois após essas palavras. Meu coração bate
tão forte que penso que ele esteja escutando. Suas palavras me deixaram sem
palavras e ar, e tudo que faço é olhar para Kai com os olhos arregalados. Ele
acabou de se desfazer na minha frente, de abrir seu coração e declarar seu
amor. E por mais vontade que eu tenha de caminhar na sua direção e passar
meus braços em torno do seu pescoço… eu simplesmente não consigo.
Kai aparece no quarto por volta das 10:00 da manhã, vestido com
uma roupa esportiva e o corpo molhado de suor. Ele olha na minha direção,
com a respiração ofegante.
— Assuntos da organização?
Ele balança a cabeça, passando a mão pela testa suada para tirar o
excesso de suor.
— Não, vamos para nossa lua de mel. Não podemos passar o resto da
nossa vida juntos desse jeito.
Levanto da cama inquieta, com minha pele formigando diante das
palavras dele.
— Você acha que vou ser capaz de relaxar ao ponto de transar com
você novamente? — Inspiro — Eu não vou conseguir, Kai. Você bagunçou
minha cabeça, me deixou paranoica. Quebrou minha confiança. Posso até ter
seus filhos, mas não será da forma convencional.
Sua mão mantém meu rosto firme olhando para ele. Ela não é suave.
Tento sair dos seus braços, mas Kai me segura com força como se me
soltar não fosse uma opção. Começo a empurrá-lo, arranhar seus braços
cobertos, puxar sua camisa enquanto um soluço preso sai da minha garganta.
Seus olhos pairam pelo meu rosto com uma expressão de dor
misturada a uma calma forçada. Ele desce seus lábios até minha bochecha e
enxuga minhas lágrimas com seus lábios. Eu fecho os olhos com força
fazendo mais lágrimas caírem. Kai se posiciona em cima de mim de forma
confortável enquanto lambe as feridas que ele me causou.
Seus lábios descem até o recanto dos meus lábios, e lá ele deposita
um singelo beijo, começa a mover seus lábios até o centro e quando chega
nele, comprime seus lábios com os meus em um beijo calmo. Sem nenhum
movimento. Apenas um beijo.
Quando ele para de me beijar, ele deixa seu rosto descansar na curva
do meu pescoço enquanto seus dedos escovam minha pele. Posso jurar que
sinto lágrimas contra a pele do meu pescoço, mas não posso ter certeza, não
sei se estou sonhando ou acordada porque eu simplesmente sinto meu corpo
se desligar.
(...)
Kai grita sobre meus gritos para tentar me tirar do estado em que
estou. Chuto Kai, indo até a caixa.
— Por favor, Deus. Não! Ele não! POR FAVOR! POR FAVOR —
Olho para Kai com desespero — Faça alguma coisa. Ele não pode ter
morrido. Karx nunca deixaria ser morto desse jeito… POR FAVOR, KAI!
Me viro de costas deixando meu rosto ser retorcido pela dor que
Marcella sentiu hoje. Ela ficou tanto tempo gritando e chorando que quando
se acalmou passou horas aninhada a cabeça decepada de um homem que ela
tinha como pai. Alev a feriu cruelmente. Tirou dela alguém que ela amava e
a dor dela é a minha.
Eu irei estilhaçar Alev, matarei quem ele mais ama na frente dele se
isso o fizer chegar perto do inferno que Marcella esteve hoje.
Visto meu coldre e coloco duas armas de fogo nele. Caminho para
fora do apartamento, para o salão que reúno meus homens. Jace faz a
ligação, e eu os espero. Meus pensamentos estão com Marcella e em como
quero estar do seu lado quando ela acordar. Sou o marido dela, e o homem
que a ama. Se seu mundo está caindo por sua cabeça, irei ser aquele que irá
segurar cada centímetro desse céu.
India Rivera será uma ótima incubadora para os homens dessa máfia.
O posto de rainha que ela almejou vai se tornar o que ela desejou a Marcella
todos esses anos. Eu farei questão de que ela leve uma vida miserável.
— Quero que busquem vingança por ela, junto a mim. Com ou sem a
permissão da Famiglia, nós iremos invadir a Filadélfia. Iremos lavar o chão
da mansão de Alev Rivera com o sangue de todos que se impor em nosso
caminho. Eu ordeno que cada um de vocês acionem seus contatos e
comecem a se locomover para Filadélfia. Meu inimigo espera por uma
conversa diplomática, mas ele receberá sangue e dor.
Olho para ela com preocupação, ela caminha até está ao meu lado,
diante dos nossos homens sanguinários.
— Levarei a desgraça até Alev, Bella mia. Quero que ele sinta o que
você sentiu. Ninguém tem o direito de machucar você. Derramarei quanto
sangue for necessário, travarei uma guerra se isso for preciso para vingar o
que fizeram a você — Prometo com meus lábios contra sua testa.
Suas mãos sobe até meu próprio rosto e ela o traz para perto do seu.
A intensidade da sua sede por vingança queimando nós dois em um fogo
amigo leal. Pela primeira vez, minha linguagem violenta dialoga com
Marcella.
Ela traz meu rosto ainda mais para perto do seu rosto e encosta os
lábios nos meus fortemente. Eu a beijo de volta com toda intensidade dentro
de mim.
Esse beijo está selando nossa promessa ao outro. Nosso mais sincero
voto de vida e morte. Nossas promessas naquele altar se transformaram em
algo apenas para os outros verem.
Cerro meu punho. Não posso perder o controle. Ainda não. Preciso
ganhar tempo enquanto os homens de Kai procuram pelo corpo de Karx e
domina o pessoal de Alev.
— Presumo que queira saber qual será seu futuro daqui pra frente,
hum? — Caminho pela sala sob os saltos da bota de cano alto — Onde está
seu pai? Chame-o.
Justine não está nessa casa, ela conseguiu escapar. Tenho certeza que
Karx levou ela pra um lugar seguro. Se ela estivesse aqui, India teria me
recebido com ela como sua refém. Isso me enche de alívio.
Balanço a cabeça.
— Foi do nosso pai, ele disse que isso faria você vim correndo para
cá!— Ela tenta fugir, mas eu agarro pelos cabelos.
Seus gritos trazem sua mãe, irmã e pai para a sala. Mas antes que
Alev possa se meter no meio, os homens de Kai começam a entrar na
mansão, e imobilizar Alev.
— Vocês não podem fazer isso, Maximiliano irá pedir sua cabeça,
Kai Moreau. Sua cabeça junto com a dessa bastarda! — Exclama enquanto
tenta se soltar dos homens.
Kai sorri.
— Ora, foi ele quem disse para aceitar isso como um presente pela
minha sucessão a Camorra — meu marido pisca na minha direção — Meu
presente é ver minha mulher feliz, e se isso a faz feliz. Então, que assim seja!
Seus olhos verdes são insanos de puro ódio e ele aperta meu pescoço.
Perco meu ar com a força que ele está exercendo no meu pescoço,
mas não vou dá a ele o gosto de me ver perdendo.
— Sim, você deveria ter feito isso… — digo com a voz sufocada.
— Essa é a última vez que você toca nela. A partir desse momento,
você será a pessoa a ser violentada, Alev Rivera — Declara.
Alev levanta os olhos na direção dele, Kai mostra a ele seu olhar
bestial.
Alev fica em silêncio. Kai suspira e estende a mão para Jace que
entrega a Kai um maçarico. Observo os homens da Camorra saírem e
entrarem com vários galões de gasolina rumo à cozinha enquanto evacua
todos os criados.
Karx não me treinou para ser frágil. Ele me criou para ser tão forte
como todos. E é por ele que eu farei as chamas do inferno cair sobre Alev e
toda sua família.
Alev finalmente fala onde o corpo de Karx está quando Kai começa a
queimar a ponta dos dedos dele até ficarem em carne viva, e como Kai não
deu sua palavra de que ele não teria uma morte lenta, os homens terminam
de derramar a gasolina por todos os lugares, até mesmo em Alev que implora
aos gritos e chora como um bebê.
Quando as primeiras chamas começam a subir, eu olho uma última
vez para o homem que é meu pai, e nem mesmo remorso consigo sentir.
(...)
É a Marcella.
São dez homens juramentados a ela. Homens que irão, se ela pedir,
desafiar o mundo. Eu observo isso com fascínio.
Marcella olha para cada um deles como uma igual e eu posso sentir a
aura de poder que sai da minha esposa quando ela aperta a mão de cada um
dos seus homens.
Coloco minhas mãos atrás das minhas costas enquanto observo ela
abaixada, de costas para mim, com a mão na terra. Tão vulnerável, e ao
mesmo tempo cheia de jugo. Ela sempre terá essa dualidade dentro dela.
— Ele era uma parte de mim, Kai. Sempre será. E eu vou me culpar
o resto da minha vida pela sua morte, porque foi por mim que ele acabou
dessa maneira.
— Você tem esse direito, minha querida. Mas, você sabe que o
destino dele seria a morte em prol de proteger alguém. Nós morremos pelo
nosso, e ele morreu fazendo o dever que ele jurou silenciosamente a você e a
Justine.
— Eu não espero que me ame de volta, não depois de tudo que fiz.
Tudo que imploro é que fique ao meu lado e me deixe amá-la. Não existe
mais um mundo para mim em que você não exista — Confesso com a voz
profunda.
O vento parece ficar mais forte diante das palavras dela, trago
Marcella para os meus braços, desejando voltar a possuir seu corpo nesse
campo gélido e me queimar com meu amor e paixão por ela, mas serei
paciente. Preciso atender o pedido de Hades antes de partirmos para casa.
Chegamos a fortaleza do Don da Famiglia no horário marcado por
Maximiliano e sua esposa. Não somos nós que nos atrasamos. Carolina
Colombo, a esposa de Maximiliano, nos leva para a biblioteca para
aguardamos Maximiliano e Hades Baumann, que estão tendo uma conversa
particular no escritório, e Kai é convocado, assim que chegamos, a
participar.
Fico sozinha com Carolina na biblioteca. Ela é cinco anos mais velha
que eu, eu a via em algumas ocasiões, nunca chegamos a nos falar. Seu
casamento com Maximiliano foi às pressas. Eles já estavam noivos, mas
precisaram se casar imediatamente quando Hades Baumann acabou com
Hugo. Lembro da agitação que foi para organizar tudo.
— Obrigada.
Percebo de imediato que ela está querendo evitar qualquer atrito que
possa ter na nossa relação. Na relação entre a Camorra e Famiglia. Ela é uma
mulher pacífica, como somos ensinadas a ser desde o início da criação. Ela
deve ser uma ótima senhora e esposa.
Ela assente.
Eu concordo.
— Obrigada.
Ela caminha até nós, a bota de salto ecoando pelo piso de porcelana.
Ela olha na direção de Carolina, que simplesmente parece murchar diante de
Athena.
Acredito que o reencontro com sua tia não foi tão bem assim.
— Eu não vou fazer mal a você, Marcella. Sei que todos falam que
sou terrível, assim como Hades, mas isso não é verdade. — Sorri de lábios
fechados.
Balanço a cabeça.
Nego.
Seus olhos ficam distantes por alguns segundos, antes dela voltar a
si.
— Eu fui cruel com ele também, Marcella. Tirei dele algo que ele
achou que não queria, mas era tudo que ele precisava. — Athena se levanta,
olhando para mim — Conheci seu marido quando ele foi à Alemanha em
busca do apoio de Hades. Ele a ama. Diga a ele que carrega o filho dele na
sua barriga. Ele merece saber disso.
Kai e Hades parecem ter o mesmo tamanho, mas Hades tem uma
estrutura colossal. Levanto do sofá, recebendo Kai ao meu lado. Hades me
lança um olhar inexpressivo, ele fica ao lado da sua esposa. A mão na
cintura dela de forma dominante, os olhos dele busca os dela, e Athena abre
um pequeno sorriso que parece contar uma história para Hades.
Kai assente.
Mas, a cada vez que tento pronunciar essas palavras, pareço perder a
capacidade de falar.
Ainda não sou capaz de curar a ferida que ele me causou.
Kai e eu paramos em uma das boates assim que chegamos a Las
Vegas. Os homens requerem a presença dele, e Jace pediu a ele para vir até
aqui, onde alguns dos homens estão reunidos. Antes de me deixar no salão,
ainda fechado, ele deu ordens para o barman e as meninas que estão
ensaiando se comportar. E após eu lhe lançar um olhar autoritário, ele saiu
de cena.
Olho para a morena ensaiando uma pose no pole dance. Ela é muito
bonita. A maquiagem dela e das outras quatro meninas claramente foi feita
para elas parecerem mais velhas.
Continuo olhando para mais jovem, ela deve ter em torno de 19 anos,
e claramente está se esforçando para aprender os passos que as outras estão
ensinando. Viro meu rosto quando percebo que elas estão ficando
desconfortáveis com minha atenção. Bebo minha água pensando na família
dessas meninas e em como chegaram à decisão de vender o próprio corpo. A
realidade delas deve ser mais difícil do que imagino ou outras pessoas
imaginam. Escolhas são feitas a partir das circunstâncias, e por mais que eu
sinta pela situação delas, não existe nada que eu possa fazer.
Respiro fundo.
Passo minha mão pelo meu cabelo, sentindo meu estômago roncar.
Comemos no avião, mas não pareceu suficiente. Meu apetite dobrou no
último mês, e eu conheço a causa.
Ele é diferente quando está por perto de Kai. É mais fechado e parece
ter medo de lançar um olhar errado em qualquer direção.
Todas essas fotos foram tiradas por Kai, ele era o único ao meu lado
nesses momentos.
Inspiro fundo.
Kai assente.
Começamos a fazer nosso prato, coloco mais comida do que como
usualmente. Me sirvo de tudo e me sento na frente da lareira. Kai toma seu
lugar ao meu lado, descalço. Olho para as luzes brilhantes na árvore e algo
se acende de esperança em mim.
— Nesses últimos dois meses, nós dois passamos por muitas coisas.
Você, principalmente ao se tornar Capo. Quando eu fugir aquela noite,
quando fui para longe de você eu estava com raiva. Com muita raiva e não
planejava mais te ver porque você foi longe demais, Kai…
— Posso trazê-la para você. Para viver conosco. Esse é um plano que
tenho — Sua voz é profunda.
— Minha mãe não me quer. Esses anos todos, ela estava fugindo de
mim porque eu era a garantia de dinheiro dela. Alev me dizia que era me
queria, mas isso era apenas pra manter o medo de não ter uma vida feliz ao
lado de uma pessoa que eu achei que me amava, que talvez tenha lutado para
ficar comigo estava sendo obrigada a ficar longe para o meu bem. Mas, não
era isso. Ela me entregou a Alev sabendo de tudo, e ganhou dinheiro para
manter uma boa vida enquanto eu sentia medo pela vida dela.
Kai não diz uma palavra. Ele chegou a essa conclusão primeiro que
eu há muito tempo. Foi por isso que nunca disse que traria minha mãe para o
meu lado mesmo tendo o poder.
Engulo minhas lágrimas e olho no fundo dos seus olhos. Minha voz
tenta se manter firme mesmo embargando quando eu confesso.
Engulo a seco.
— Eu estava com raiva de você. Não só pelo fato de ter feito aquele
vídeo, mas de ter conhecido sua amante e descoberto que foi com ela que me
traiu duas noites depois de ter reivindicado meu corpo — Exprimo com uma
sensação descontente na voz. — Ela me contou coisas sobre vocês, tudo o
que eu conseguia sentir era raiva.
Kai passa a mão pelo cabelo com força, o rosto cada vez mais torcido
por emoções divergentes.
— Tudo o que fiz, Marcella foi para manter você ao meu lado na
hora do desespero. Na minha mente fodida, você iria embora com Nikolai
Vassilliev na primeira oportunidade porque sou doente demais para você. —
Sua voz é pura angústia misturada a raiva assim como sua expressão —
Achei que você iria embora e levar a porra do meu coração com você, e
viver com outro homem enquanto ignorava minha existência, apagava
minhas digitais de você. Aquele final de semana na praia me fez ter
esperança de que você pudesse sentir algo por mim, mas isso passou tão
rápido quanto chegou na minha mente porque eu sei que não sou bom o
bastante para você. — Ele bate o indicador com força na sua têmpora
enquanto exprime seus sentimentos — Isso aqui é muito fodido para achar
que uma mulher como você possa me amar. Procurei outra mulher dois dias
depois ter tido você porque precisava punir a mim mesmo com a sujeira de
um sexo sujo e violento para tirar a impressão de que você havia limpado
meu corpo, acalmado minha mente e matado a parte sádica em mim que me
fazia querer punir qualquer mulher, menos você. A cada vez que fazíamos
sexo, eu me sentia purificado… o demônio em mim odiava você ser tão
limpa. Meu maior desejo é fazer amor com você, ser delicado e saborear sua
pele, cada pedacinho dela… mas, eu tenho fome por você. Fome de estar sob
sua pele, de sentir você se contraindo, gemendo e me olhando com esses
lindos olhos redondos tomados de desejo…
— Você acha que isso justifica o que fez comigo? me expor daquela
forma me fez duvidar de qualquer consideração que você possa ter tido
comigo, Kai. Eu me sentir tão traída, tão suja que comecei a me odiar por ter
deixado você se impregnar tão profundamente na minha pele. Eu estava tão
envolvida com você, com meus sentimentos entrelaçados aos seus que a
cada dia que amanhecia, eu temia me apaixonar por você e acabar destruída
quando você resolvesse me descartar. Nikolai me contou do que planejou
com Angelo… Eu só quis ir embora.
Ele fica em silêncio, o rosto torcido e uma postura ansiosa. Nós dois
nos olhamos, medindo o ponto que chegamos. Ele parece tão machucado e
cansado que quando fala sua voz está repleta de pesar.
Ele realmente quis dizer isso, e fez acontecer. Meus olhos estão
tatuados na sua pele. Um desenho minimalista, a tinta preta fazendo o
desenho, e a cor verde colorindo minhas íris assim como os pequenos raios
de castanhos. Levo a ponta dos meus dedos até sua pele, Kai se agita com
meu toque, ficando rígido.
— Quem fez isso com você? — Pergunto com altivez, pronta para ir
atrás da pessoa que o fez relembrar suas feridas.
— Não quero sua piedade, Marcella. Quero que olhe para mim e
enxergue o quanto estou tentando mudar a mim mesmo para ser melhor para
você. E agora, ser melhor para o nosso filho.
Fecho os olhos com força ouvindo seu tom de voz ficando emotivo
quando ele se refere ao bebê que está na minha barriga. Nosso filho.
Kai vem na minha direção, ficando tão próximo que preciso inclinar
minha cabeça para o olhar. Seus olhos brilham como gemas postas à luz da
noite.
Kai passa sua mão por ela, delicadamente ao seu jeito. Sua garganta
parece estar com um nó. Lágrimas solitárias escorrem dos seus olhos
fazendo meus olhos transbordarem.
— Eu vou te amar como eu nunca fui amado, meu bebê. Vou ser o
melhor pai e o melhor ser humano que você precisar. Minha alma e corpo
pertencem a você e a sua mãe. Eu prometo que farei um lugar melhor para
vocês nem que para isso eu coloque fogo neste mundo. Eu prometo.
Ele me guia até o sofá, sem pausar nossos beijos sedentos. Caímos no
sofá, Kai sob mim com grunhidos famintos.
Abro minhas pernas para o alojar bem ao meu corpo, abraçando suas
costas desnudas, arranhado a pele quente e trazendo ele para mim.
— Está dentro de você não vai machucar o bebê? — Afasta sua boca
a dura custas para perguntar.
— Porra, eu quero muito, mas não vou machucar nosso bebê!. — Ele
se afasta de mim, o cabelo assanhado pelas minhas mãos.
— Sexo não vai fazer mal para o bebê, Kai. É até recomendado —
me sento no sofá, aturdida.
— Porra, eu quero muito fazer amor com você, Bella mia. Estou
prestes a estourar minha calça de tão duro. Mas não posso sem saber se está
tudo bem aí dentro com nosso filho. Amanhã vou te levar para fazer todos os
exames. Só vou estar dentro de você quando souber que não tem nenhum
perigo para o nosso bebê — Declara com uma voz determinada e dolorida.
Um suspiro longo sai da minha boca. Kai coloca sua mão no meu
joelho e abre um pequeno sorriso.
Ele sorri ainda mais, retirando minha blusa e admirando meus seios
pesados no sutiã preto.
— Você vai produzir ainda mais leite para ele. Para nós dois… uau,
estão lindos!
Seu tom é de uma facilidade infantil ao olhar meus seios inchados e
os segurar nas suas mãos. Os olhos um puro brilho travesso.
Vendo isso, eu não consigo me conter. Uma risada alta e longa sai
dos meus lábios. Uma risada tão cheia de vida que fico em choque comigo
mesma.
— O quê?
— Você nunca sorriu antes. É o som mais lindo que já ouvi. Você é
tão linda, Marcella! — Sussurra com um brilho no olhar.
Brinco com seu cabelo, olhando para ele com um sorriso tímido.
Minha boca seca ainda mais. Não apenas um bebê, mas dois. Dois
bebês.
Levo minha mão até minha testa, tirando o excesso de suor. Engulo
minha saliva e puxo uma cadeira.
Me afasto dela o suficiente para que ela veja a felicidade nos meus
olhos. Sou capaz de fazer tudo o que ela quiser. Até me aposentar da vida de
criminoso. Encosto meus lábios nos dela. Dando diversos selinhos enquanto
agradeço como uma prece.
— Estou assustada, mas muito feliz. Não sei como vai ser daqui para
frente, como você irá fazer para se manter seguro por nós… — Ela engole a
seco, se afastando de mim com os olhos serenos — Nós precisamos
conversar sobre muita coisa, Kai.
Seguro sua mão pequena e macia, levando ela até meus lábios. Deixo
que Marcella veja meus olhos e a promessa explícita neles. Há muito no que
eu faço que ela nunca poderá ter noção, para seu próprio bem mental. E ela
sabe disso.
— Eu prometo a você que estarei em casa todas as noites antes de
você dormir. Eu estarei em casa quando você precisar, e a tempo de colocar
nossos filhos na cama. Eu prometo que serei presente na vida de vocês e
protegerei com minha vida tudo que for essencial para vocês.
— Preciso de você vivo e bem, Kai. Tudo o que estou pedindo é que
não se machuque, que não tome tiros. Preciso de você vivo, ok? Eu não
consigo sem você. — Murmura com a voz trêmula, um pedido angustiado.
Abaixo minha cabeça e ergo seu queixo para beijar seus lábios
macios, deslizo minha língua para sua boca e a sensação do fogo sendo
alimentado pela querosene explode meu sistema. Apanho Marcella do chão,
levando-a para nossa cama, sem interromper nosso beijo. Tomo cuidado ao
colocar meu peso sobre seu corpo, mas não sou nenhum pouco cuidadoso ao
distribuir mordidas e beijos molhados pelo pescoço de Marcella, ela se move
inquieta por baixo de mim, fazendo sua coxa esfregar meu pau duro contra
meu jeans. Eu rosno com a sensação de necessidade de estar dentro dela. E
de frustação de ainda estarmos com tantas roupas. Monto no quadril de
Marcella e tiro minha blusa recebendo um olhar sem fôlego dela, cheio de
luxúria. Seus olhos sobe para a lateral do meu pescoço tatuado com a marca
de Hades. Uma serpente do deserto. Antes que a preocupação dissolva o
tesão dela, eu me ocupo em tirar sua blusa e encontrar seus seios à minha
espera.
— Você adora brincar com o perigo, não é, querida? Vou fazer você
ficar um bom tempo sem fechar as pernas, daí você verá a pena que estou de
meter em você, Marcella Moreau.
— A médica deixou claro que o sexo não prejudica nosso bebê e que
é até benéfico, não? — Pergunto, passando o dedo pelas suas dobras.
Marcella morde seus lábios com mais força.
— Si-sim — Gagueja
Sorrio. Levo meu dedo inchado até minha boca provando o gosto
adocicado. Meu pau pulsa com o gosto e as brasas fervem nas minhas veias.
Olho para Marcella com esses lindos olhos em mim, o desejo e urgência
brilhando neles. Ela é tão perfeita.
Sem um único aviso, eu entro dentro dela, tão duro e com força
fazendo Marcella gritar e enterrar as unhas nos meus braços. O canal quente
abraça meu pau com força e eu gemo com a sensação preenchedora e
completa. Não deixo ela se recuperar da dor e do prazer. Saio e entro com
força. Como um animal faminto comendo da melhor comida. Marcella geme
e grita, me rasgando com suas unhas e se contorcendo embaixo de mim.
Seus olhos com lágrimas que divergem entre o prazer e a dor, e não uma dor
ruim pela forma como ela tenta se encaixar em mim a cada vez que saio
dela. Isso é um paraíso.
O caixão de Nicoleta é negro, e apenas uma coroa de flores está
sobre ele. Uma dada por Jace, que também está no cemitério conosco.
Apenas eu, ele, Kai e o coveiro. Os aparelhos dela foram desligados ontem à
tarde, e o corpo liberado no dia seguinte. Ontem começou a nevar, e a
temperatura está chegando a quase abaixo de zero. Kai disse-me que o natal
era a época preferida da irmã, e eu me pergunto se o seu sepultamento nesta
data foi proposital ou uma coincidência.
Jace sorri para mim, um brilho diferente nos olhos escuros. Alegria.
— Você é um filho da mãe sortudo em dose dupla, Capo. Vocês dois!
Seguro a mão de Kai que está no meu ombro e sorrio para Jace.
Depois de Kai e Justine, ele é a pessoa que mais confio e a pessoa que sei
que estará aqui para o que eu e meus filhos precisarmos.
— Você terá que fazer muito dinheiro para presentear seus afilhados
em dose dupla, Jace. Tanto você como Kai terão muito trabalho. Nós três
teremos — Comento com um sorriso enquanto saímos do cemitério.
Nós três vamos para casa, Jace em seu carro e Kai e eu no nosso. Eu
olho para o meu marido, o lado da cicatriz na minha direção. Ele também
perdeu algo nele com a morte da irmã, seu rosto pode estar pacifico, mas eu
conheço Kai. Sei de todos os sentimentos que se passam por baixo das suas
camadas. Ele nunca irá superar isso, assim como eu também nunca irei
superar a morte de Karx.
(...)
Percebo a força que Nikolai está fazendo para não me tocar. Olhando
para ele, percebo que ganhou peso, o rosto não tem nenhum hematoma. Ele
está fisicamente bem.
— Você poderia ter vindo para mim, Marcella. Poderia ter saído da
Filadélfia e ficado ao meu lado — Declara.
— Você sabe que não, Nikolai. Eu era juramentada, seu pai não
entraria em guerra e muito menos seu irmão. Fico feliz que hoje possamos
estar aqui, conversando civilizadamente como duas pessoas normais, algo
que antes seria totalmente impossível.
— Por favor, não vamos mais falar sobre isso. Tudo o que aconteceu,
já passou. E agora tenho um pedido para você.
— Meu último pedido a você é algo que talvez você não queira me
dar por pura decepção, e eu entenderia isso. Conheço você, Nikolai. Não o
filho caçula de um mafioso, mas o jovem de verdade que você é. Sei o
quanto me amou e se arriscou por mim, e é por isso que tenho esperança e a
cara de pau de te pedir que me ajude a manter minha família unida.
O choque que a palavra família saindo dos meus lábios causa nele.
Eu estar me referindo a Kai Moreau e a sua organização como família deve
ser perturbador para Nikolai, e eu me odeio por esse sentimento que causo
nele.
— Me entregue a promissória de Jace Petrova, para que eu possa
destruí-la. Cancele todas as recompensas pela vida dele. Por favor, Nikolai.
Eu peço isso do fundo do meu coração.
Marcella tirou o lençol fino que cobria suas pernas e apontou para as
pernas, o colchão e os lençois encharcados.
Jace foi até Kai, vendo seu Capo claramente nervoso. Juntos, eles
arrumaram tudo o que foi organizado no último mês. Kai e Justine banharam
Marcella e a vestiram. O marido perguntando a todo tempo se ela estava com
dor, mas quem parecia estar com dor era ele.
— Kai, vai ficar tudo bem. Nossos garotos e eu iremos ficar bem —
Marcella garantiu, olhando para Kai e vendo o pavor nos olhos âmbar.
Kai gargalhou de forma nervosa. Seu único desejo era que pudesse
pegar logo seus filhos e Marcella passasse por aquela dor.
Alessio se calou de imediato quando foi posto nos braços do pai, que
por sua vez estava trêmulo e fascinado com a criatura pequena nos seus
braços. Vittorio foi colocado nos braços de uma Marcella exausta que tinha
lágrimas misturadas ao suor. O sorriso de pura felicidade nos lábios ao
segurar o filho enquanto seu corpo todo parecia do avesso.
Kai se aproximou com Alessio nos braços. Juntos, ele e Marcella
olharam para os dois bebês idênticos. Nem ela e nem Kai poderia dizer o que
estavam sentindo, eles apenas estavam… felizes, completos.
Chorou por Karx e pelo desejo que ele estivesse presente. Acima de
tudo, chorou por ter sido capaz de sobreviver para sentir o amor
incondicional de ser mãe. E chorou ainda mais quando amamentou seus dois
filhos.
E era por sua família amorosa que Kai precisava continuar sendo
uma besta fora de casa. Não importava quanto sangue por dia ele derramava,
não conseguia sentir culpa ao chegar em casa, segurar seus filhos e fazer
amor com sua esposa. O que ele fazia era para a segurança deles. E nem o
diabo poderia investir contra o milagre na vida dele.