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Disp.

e Tradução: Rachael
Revisora Inicial: Denise
Revisora Final: Fernanda
e Rachael
Formatação: Rachael
Logo/Arte: Dyllan

Uma série de assassinatos em Nova York, uniu as forças da polícia e do FBI, eles

suspeitam que o culpado, é um único assassino que envia mensagens indecifráveis. Mas, quando

dois agentes federais são designados para a investigação do caso, o FBI mantém um interesse

mais pessoal nesses crimes. Agente Especial, Ty Grady, é puxado para fora do trabalho secreto,

depois que seu caso explode na cara dele. Ele é arrogante, abrasivo, e, indiscutivelmente, o

melhor no que faz. Mas quando ele é designado para ser o parceiro do agente especial Zane

Garrett, é ódio à primeira vista. Garrett é a imagem perfeita de um agente: sério, sóbrio e focado,

o que torna a parceria um clichê clássico: opostos totais, o policial padrão e o temperamental,

uma parceira bem estranha. Ambos sabem imediatamente que essa parceria vai representar mais

um obstáculo, além da falta de evidências deixadas pelo assassino.

Antes de iniciarem a missão especial, o assassino ataca novamente, e desta vez, eles são o

alvo. Agora em fuga, tentando rastrear um homem que está focado em matar seus perseguidores,

Grady e Garrett vão ter que descobrir como podem trabalhar juntos, antes de se tornarem mais

dois entalhes na faca do assassino.

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Para todos na minha vida que não tem medo de dizer o que pensam, direito a minha

cara. Quantas vezes forem preciso.

- Abigail

Para Keith, porque ele é mais orgulhoso do que eu mesma. E para sempre e sempre,

- Madeleine

Revisoras Comentam...

Denise: Leitura imperdível e um vício completo! Terminei a revisão e não conseguia parar de

pensar no T&Z, fiquei completamente apaixonada. Ty é um ex fuzileiro naval Recon, super operacional.

Sabe aquele curso que começa com uns 50 e só sobra meia dúzia? Esse é o cara! Ele tem muita atitude, é

dono de uma personalidade super explosiva e uma mente analítica; atualmente trabalha no FBI, com

investigação e elabora perfis criminais em suas missões. Zane... Meu amor! É um homem com muita

bagagem, depois que chegar ao fundo do poço, coloca uma armadura em torno de si e usa uma máscara

polida, bem... Até que Ty aparece e mexe com a sua base! Imagine o encontro de dois machos Alfas, onde

nenhum dos dois quer ceder ou se submeter... É de tirar o fôlego! Aqui não encontramos nada de palavras

românticas ou carinhosas... É algo mais do tipo: - Cale a boca e me foda logo! kkkkkkk

Fernanda: Esse livro foi uma montanha russa pra mim da primeira vez que eu li. Começou meio

lento, eu não conseguia decidir se continuava ou não, ficava desanimada porque era muito longo... até que

comecei a me envolver com os personagens, com o caso. Gente, esses dois, eles... eles são... perfeitos um para

o outro! Eles se encaixam, um provoca, o outro rebate; um desaba, o outro segura as pontas; um antagoniza

o outro como se não fosse nada demais e no final estão rindo, adooooro! E a melhor parte é que eles têm

falhas, defeitos que tornam os dois reais, com problemas graves que não são romantizados. Eles evoluem

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durante o livro, arriscam tudo, quase morrem por causa de um louco, mas enfrentando tudo juntos. Amei,

amei, amei! Viro fã adolescente quando falo deles!

Rachael: Realmente é um livro que te prende do início ao fim. Não sei por quem me apaixonei

mais, mas adorei o Zane e o Ty. Tendo por base quem são, suas vidas, profissão entende-se a relutância

deles em estarem juntos, mas quando o Ty reconhce que só dormia tranquilo com o Zane na cama dele é que

vemos o quanto eles se entendem apesar de todos os percalços que acontecem.

* Cut and Run: de origem militar, na época dos veleiros. Um navio ancorado sob ataque
repentino, sacrificaria a âncora cortando o cabo, permitindo que o navio escapasse rapidamente.
“Cortar e Escapar” era, então, uma tática militar aceita em emergências. Hoje é usado como uma
metáfora para: desistir em face à dificuldade, não querer encarar uma situação difícil, escapar o
mais depressa possível; desertar, recuar, fugir.

* A área tri-state citada, é comumente associada à área metropolitana de Nova York, que abrange
partes dos estados de Nova York, Nova Jersey e Connecticut.

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Capítulo 01

Allison McFadden caminhava lentamente no ar fresco da noite, seus braços firmemente

enrolados em seu corpo magro, para evitar o vento forte. O homem a viu tremer e gentilmente

colocou o braço ao seu redor, enviando um choque elétrico de antecipação através dela.

Ela riu suavemente, um pouco tonta dos martinis que ele tinha comprado para ela a noite

toda. Ele a levou para o bar Bemelmans, no Carlyle Hotel; possivelmente, era o lugar mais

romântico que ela já tinha ido, com música de piano ao vivo e um sofisticado ambiente

antiquado, que a seduziu completamente, tanto quanto ele.

Ele era inteligente e charmoso, bonito e cavalheiresco, quase sem uma falha. E ainda não

tinha roubado um beijo dela.

Allison sorriu quando se lembrou do momento em que ele a levou até os murais que

cobriam as paredes do Bemelmans, e comentou sobre eles; um escritor que viveu no hotel e tinha

pintado alguns livros infantis. Ela tentou ouvir, mas só tinha sido capaz de se concentrar em sua

mão, descansando apenas um pouco mais baixo em suas costas do que no início da noite, e em

seus lábios se movendo próximo ao seu rosto enquanto falava. Ela só se lembrava de que as

pinturas eram de animais do Central Park. Havia um elefante patinando. E ele comentou sobre

um coelho armado perseguindo seus companheiros coelhos com uma arma automática em um

dos murais desenhados.

Ambos riram do humor mórbido dele, e Allison amava o jeito que ele ria.

Agora, ele estava acompanhando-a até sua casa, como um verdadeiro cavalheiro. Ele

pediu ao taxista para parar a vários quarteirões de distância do seu prédio para ter o privilégio

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de acompanhá-la. Era apenas o primeiro encontro, e Allison não podia acreditar que iria fazer o

que estava planejando.

“Você... Você... Quero dizer, gostaria de subir? Para um café, ou...”.

Ele sorriu, e Allison se perdeu na forma como seus olhos ficaram mais quentes.

Ele estendeu a mão e deslizou pelos seus cabelos, observando a forma como os fios loiros

brilhavam sob a luz artificial das lâmpadas da rua.

“E sua companheira de quarto, está em casa?” perguntou baixinho, a voz íntima

cortando o vento frio, diretamente para seu corpo.

Ela lambeu os lábios e assentiu. “Ela não vai nos incomodar,” ela insistiu rapidamente,

suas palavras quase sem fôlego, quando estendeu a mão e alisou sobre sua lapela, sentindo seu

distintivo, sob o material.

“Então, mostre o caminho,” ele murmurou com um sorriso.

Teria sido o momento perfeito se ele a beijasse, ela pensou, enquanto pegava sua mão e o

levava para dentro do prédio. Teria sido tão ridiculamente romântico como o resto da noite. Mas,

ela supunha que nada poderia ser tão perfeito.

Horas mais tarde, quando Allison lutava por seu último suspiro, ela não pode deixar de

imaginar se ele não a tinha beijado porque não queria deixar o seu DNA para trás.

O telefonema não poderia ter vindo em pior hora. O Agente Especial do FBI Ty Grady,

ainda estava chateado e amaldiçoando seu momento infeliz dois dias depois, sentado sozinho em

sua sala de estar.

Quatro semanas de trabalho disfarçado – tocaia 24 horas, escutas telefônicas, fios,

informantes subornados, e alta tecnologia envolvida – mas tudo deu em merda, porque algum

maldito agente esqueceu-se de deixar o celular em casa. Mendigos pedindo esmolas na rua não

poderiam ter celulares que tocavam ao som de uma orquestra de Mozart; e, infelizmente, para a

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equipe de agentes secretos do FBI, cansados de vigiar Antonio de La Veja, seu alvo ficou

consciente de que algo estava muito errado e informações aleatórias foram enviadas e vazadas.

Ele desapareceu tão rapidamente como os ratos nas calçadas de Nova York, Ty e sua

equipe haviam se separado.

A operação foi queimada, seu alvo agora estava em algum outro país onde eles não

tinham jurisdição, e toda a sua evidência seria ensacada, etiquetada e iria rechear uma caixa em

algum porão, para nunca mais ser vista novamente. O fato de que a maioria das provas e

evidências foram encontradas sob a direção de Ty de maneira ligeiramente irregular,

dependendo de alguém de alto nível para impedi-los de ter suas bundas demitidas e jogadas na

cadeia, não estava ajudando o estado mental de Ty.

Estava esparramado no sofá, ainda coberto de suor de sua tentativa de descontar sua

frustração no ginásio do Bureau, em Baltimore e olhava para a cidade através das grandes janelas

atrás da televisão. Podia ver seu próprio reflexo na tela preta da TV de plasma na parede oposta,

e parecia ainda mais exausto do que se sentia. Precisava fazer a barba; seu belo rosto estava

coberto com uma barba de três dias e seu cabelo escuro, provavelmente precisava ser aparado.

Era um homem grande, com quase um metro e oitenta e cinco de altura, e geralmente carregava

sua estrutura como um gato grande e ágil. Porém esta noite, seus ombros largos estavam caídos e

ele não tinha nenhuma intenção de se mexer num futuro próximo.

Não até que o seu celular começou a tocar, exigente. Com um suspiro pesado, ele o

arrancou de sua cintura e abriu. “Grady,” respondeu secamente, seu sotaque arrastado de West

Virginia ainda bem acentuado, mesmo depois de todos os anos que passou longe de casa.

“Agente Especial Grady, o Diretor Assistente Burns gostaria de vê-lo,” uma voz objetiva

e profissional informou.

“Quando?” Ty perguntou sem rodeios.

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“Agente Especial Grady, o Diretor Adjunto do Departamento de Investigação Criminal

não liga para marcar horário. Ele o espera em trinta minutos.”

“Trinta minutos!” Ty falou. “Você tem alguma ideia de onde estou?”

“Sentado usando apenas suas roupas íntimas sujas, sem dúvida. Esteja aqui em trinta,” a

voz respondeu no mesmo tom frio e eficiente antes de desligar.

Ty fechou os olhos e mentalmente chutou alguma coisa. Trinta minutos para chegar em

DC, ia exigir ligar as luzes azuis escandalosas. Ty odiava a porra das luzes azuis.

“Bom trabalho, Agente Especial Garrett, você é um crédito para o Bureau,” o Diretor da

Divisão disse, enquanto apertava sua mão. “Uma recomendação pelo seu trabalho irá para o seu

arquivo, é claro.”

“Obrigado, senhor,” o Agente Especial do FBI Zane Garrett, respondeu secamente,

enquanto os outros agentes murmuravam parabéns, um pouco relutantes.

“Eu tenho que recompensá-lo pelo seu trabalho bem feito,” o Diretor continuou

suavemente. “Você será promovido de divisão, estou muito triste em vê-lo partir,” ele disse,

ainda balançando a mão de Zane vigorosamente.

Zane apertou sua mão sombriamente, seu rosto uma máscara de puro profissionalismo

que cobria os pensamentos brutalmente honestos que ele abrigava. “Gostei muito de trabalhar

para o senhor. Mas você me conhece; sempre procurando estar onde posso ser mais útil para o

departamento.”

“Esse é um bom homem. Diga adeus à equipe e pode subir. O Diretor Assistente Burns,

quer vê-lo em dez minutos.”

Sem mostrar nenhum indício de sorriso - ou desdém pelo elogio por fazer seu entediante

trabalho burocrático - Zane se virou e caminhou através dos outros agentes com quem havia

trabalhado na divisão que solucionava crimes cibernéticos. Ele tinha lidado com eles muito bem,

considerando que ele apenas fazia o seu trabalho, e às vezes os deles também, sempre com foco

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total e absoluto. Zane sabia que alguns de seus colegas de trabalho ficariam felizes de vê-lo indo

embora e alguns se ele ficasse; mas sua estrita aderência às regras e à lógica, e o trabalho

obstinado para alcançar seus objetivos, eram muitas vezes cansativos para aqueles que o

rodeavam. Ele tinha metas, várias metas, e era tudo o que importava. Nenhuma delas incluía

trabalhar nesta divisão por mais tempo do que o necessário.

Olhando ao redor do escritório, Zane sabia com toda a certeza que não sentiria saudade.

Enquanto sua atenção obsessiva aos detalhes lhe serviu perfeitamente durante esses casos, ele

sabia que valia muito mais ao Bureau, do que servir nesse entorpecimento mental e esmagando

números. Agora, ele teria a oportunidade de provar isso.

Sacudindo algumas mãos e ouvindo alguns: “tão triste por vê-lo partir” com tapas nas

costas, ele dispensou o seu “até breve, ex-colegas,” e disse ao administrador do escritório que

estaria de volta mais tarde para limpar sua mesa e deixou o departamento. Estava ansioso para

ver o que o Diretor Assistente de Investigações Criminais tinha reservado para ele. Ele trabalhou

muito duro por esta promoção. Tinha que ser algo bom, pois o homem queria vê-lo

imediatamente.

Zane parou no banheiro para arrumar a gravata e verificar se seu cabelo castanho

cortado rente estava ordenado. O terno que usava era feito sob medida para sua estrutura de

1,95m, mas não escondia os músculos volumosos que se moviam sob o tecido. Tinha um corpo

que você não esperava ver atrás de uma mesa, fato que era constantemente lembrado, quando

olhava para os agentes rechonchudos que trabalhavam ao seu redor. Ele franziu um pouco a

testa, examinando as rugas ao redor dos olhos e a protuberância do nariz duas vezes quebrado.

Com uma avaliação descontente, ele passou as mãos sobre seu rosto bem barbeado, e rejeitou sua

imagem antes de abotoar o paletó e pegar o elevador.

A secretária deu a Ty Grady um olhar por cima dos óculos, que mostrava claramente que

desaprovava até o ar que ele respirava. Ela ergueu o queixo e o olhou de cima a baixo, franzindo

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o nariz para a sua aparência, “Você chegou cedo,” ela anunciou com um toque de surpresa na

voz dela.

Ty a olhou de cima e baixo, a imitando, e inclinou a cabeça para o lado. “Usei as luzes

azuis escandalosas,” disse a ela com seus dedos imitando um movimento de helicóptero.

Ela observou seu rosto com a barba por fazer, a jaqueta de couro surrada, os jeans e as

botas sujas de cowboy. Sua camiseta parecia particularmente terrível para a sua sensibilidade,

apesar de estar limpa, era preta e tinha as palavras Cocke County FBI, em grandes letras brancas,

escritas na frente. Após uma inspeção mais detalhada, encontrou palavras menores entre as

maiores, e foi capaz de ler toda a frase: “Fui sondado em Cocke County, pelo FBI.1“ Ela fez um

pequeno ruído insultado, quando olhou de volta para ele.

Ty a ignorou, deixando-a um pouco escandalizada ao se dirigir para a porta do Diretor.

“Você não pode entrar ainda!” ela sussurrou, apontando de sua mesa para ele.

Ele parou na porta e se virou para olhar para ela, descaradamente colocando a mão na

maçaneta da porta e a empurrando, com um sorriso. Sua boca trabalhou silenciosamente, e ela

rapidamente correu para o interfone, para anunciá-lo antes que ele pudesse entrar.

O Diretor Assistente Richard Burns, olhou para ele com surpresa e irritação quando Ty

entrou no escritório e fechou a porta atrás de si. “Queria me ver, senhor.” Ty cumprimentou, as

palavras soando perfeitamente profissionais, mas o tom, de alguma forma, tão insolente quanto

sempre foi.

“Sente-se” o homem ordenou, com um empurrão de sua perna, em um dos bancos em

frente a sua mesa. “Estamos esperando mais uma pessoa.”

1
Cocke County é um município do estado do Tennessee, porém a palavra Cocke tem a mesma pronúncia que Cock (pênis);
sondado (no original, probed), nesse contexto, significa investigado, mas também pode significar examinado por uma sonda,
daí a insinuação sexual da frase.

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Ty foi até o banco e se sentou, sua jaqueta de couro fazendo subir uma minúscula nuvem

de poeira quando ele caiu no assento. Ele fez um bom trabalho escondendo sua surpresa.

“Alguém mais?” perguntou calmamente. “Estou sendo linchado?”

“Se você mantiver sua boca fechada nos próximos 30 minutos, você não passará a noite

na cadeia, que tal isso?” Burns respondeu seriamente, sem levantar os olhos dos papéis que

estava assinando.

Ty pigarreou e se mexeu desconfortavelmente em seu assento.

Zane Garrett entrou no amplo escritório externo, para ver a secretária do Diretor

Assistente correndo ao redor de sua mesa, obviamente perturbada. Ele fez uma pausa, cruzando

as mãos atrás das costas. “Senhora?” ele perguntou educadamente quando ela não percebeu sua

entrada.

Ela olhou para ele com surpresa, “Agente Especial Garrett, obrigado por ser rápido,”

disse, o olhando de cima a baixo, balançando a cabeça em sinal de aprovação pelo terno azul sob

medida e gravata de seda. “Você pode entrar agora.”

“Obrigado, senhora,” disse calmamentte, se encaminhou para a porta, quando ela o

anunciou através do intercomunicador.

Burns olhou por cima dos papéis nos quais estava remexendo, e o mandou entrar “Entre,

Agente Especial Garrett, temos algumas coisas para discutir,” disse a Zane, com um olhar estreito

para o homem sentado em uma cadeira em frente à mesa.

“Sim, senhor,” respondeu Zane, se sentando onde o diretor indicou. Seus olhos seguiram

o olhar de Burns. Apenas um piscar traiu a surpresa de Zane. O homem descomposto sentado

em frente a Burns estava uma bagunça completa. Zane mal conteve a vontade de sorrir

desdenhosamente dele, mas talvez fosse um informante de algum tipo. Ele tinha aquele olhar

exausto e inquieto ao mesmo tempo.

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Concentrando-se em Burns novamente, Zane esperou, composto e atento, pronto para

começar a saltar os próximos obstáculos.

Ty se mexeu na cadeira, escorregando ainda mais para baixo, para olhar para o homem

que tinha acabado de entrar. Deus, o cara parecia ter saído de uma revista masculina, ou algo

assim. “O que você está fazendo, um manual de como fazer?” Ty perguntou ao Diretor

Assistente sarcasticamente. “O antes e o depois?” ele sugeriu ironicamente, com um gesto para si

mesmo e, em seguida, para o outro homem.

“Sim, você está sentado aqui antes de ser demitido,” Burns respondeu cuidadosamente.

“E ele tomará o seu trabalho depois que você for embora.”

Ty apertou os lábios com força e olhou para a superfície brilhante da mesa sem

expressão, Zane deslocou seus olhos entre o homem e Burns antes de estreitá-los. Ele se

perguntou por que tinha sido convidado para assistir a esta reunião, quando o cara obviamente

seria demitido. Parecia excessivamente cruel. Ele inibiu qualquer outra reação e esperou para ver

o que iria acontecer.

Ty lambeu os lábios e olhou diretamente para os olhos de seu superior, quase

desafiadoramente.

“Felizmente para você, Grady, você tem mais vidas que um gato,” disse o homem com

uma pequena carranca. “E você está recebendo uma nova chance de nos provar que pode fazer

este trabalho sem explodir merda nenhuma. Não vou dizer que é a última, porque Deus sabe que

eu vou continuar lhe dando mais e mais, até que você se mate. Conheça o seu novo parceiro,

Agente Especial Zane Z. Garrett.”

Zane não poderia ficar mais chocado, e demonstrou claramente em sua reação. Este

desastre era seu novo parceiro? “Diretor Burns,” ele começou impulsivamente, mas mordeu sua

língua e apertou ainda mais a cadeira. Que tipo de recompensa era essa?

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“O inferno que ele é!” Ty o interrompeu quando se sentou direito. “Não posso fazer o

meu trabalho com um... Um... Modelo de revista como parceiro,” praticamente gaguejou de

raiva, quando esticou a mão para o homem arrumadinho ao lado dele.

“E você não pode fazer sem um parceiro também, Agente Especial Grady,” Burns

respondeu com um olhar duro.

“Senhor, parece óbvio,” disse Zane, sem se preocupar em manter qualquer margem de

desaprovação em sua voz, “que este agente precisa de mais do que posso oferecer para ajudá-lo.

Francamente, ele vai precisar de um verdadeiro milagre para torna-lo remotamente profissional.

Ninguém vai levá-lo a sério.”

“Me levar a sério?” Ty ecoou em descrença. “Cristo, seus sapatos já viram o pavimento?

Merda!,” ele exclamou em pânico, e subitamente agarrou os braços da cadeira e se inclinou para

frente. “Você está me mandando para a Cyber?” perguntou a Burns, que estava sentado atrás da

mesa, sorrindo como uma criança no Natal.

“Seu tom de voz implica que a investigação de crimes cibernéticos e de terrorismo

podem estar abaixo de você,” disse Zane friamente, nivelando o olhar com o do outro agente.

“Talvez você devesse considerar a solicitação de uma transferência para outra equipe

profissional, ou enviar o seu pedido de demissão.”

“Ei, vai se foder, mariquinha” Ty rosnou, sem olhar para ele.

“Calma, vocês dois!” Burns rugiu de repente. “Grady, você ficará no departamento

criminal até sua bunda ser morta, ou fazer algo tão ilegal, que nem mesmo eu poderei cobrir pra

você, entendeu? Garrett, você só tem que ter certeza de que ele não vai fazer nenhuma dessas

coisas, fui claro? E vocês dois vão gostar.”

Os olhos de Ty se arregalaram, quando ele percebeu que estava lhe sendo atribuída uma

babá, e não havia uma maldita coisa que ele pudesse fazer a respeito. Seu estômago revirou com

o pensamento, mas supôs que era melhor do que ser demitido, ou estar na cadeia.

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Só de pensar em estar ligado a esse causador de problemas imprudente, era quase o

suficiente para fazer Zane perder a compostura. Depois de tudo o que ele tinha feito, de quanto

ele havia trabalhado, era isso o que ele conseguia. O desespero o ameaçou por um momento, e

ele teve que respirar fundo para empurrá-lo de lado. Ele não concordava com Burns, mas não era

o momento de se opor. Faria o melhor que pudesse com este desastre, e depois deixaria este

agente para trás, assim como fez com a Divisão de Crimes Cibernéticos. Isso, ou morreria em

meio a chamas espetaculares.

“Sim, senhor,” reconheceu com os dentes cerrados.

“Espero que vocês aprendam um com o outro,” Burns instruiu, se compadecendo de

Zane Garrett. Era uma sacanagem fazer isso com ele, deixá-lo com um homem como Ty Grady,

depois de ter trabalhado tanto para sair do inferno e se tornar o melhor o agente na Cyber. Mas

para este caso em particular, estes dois homens eram extraordinariamente qualificados. “E o

Bureau espera que você execute de forma eficiente o seu próximo trabalho,” acrescentou jogando

um arquivo do outro lado da mesa, para Ty.

“Respeitosamente, senhor, entendo que precisa de alguém dando uma olhada neste

Agente...,” disse Zane entre dentes. “Mas o que eu deveria aprender com ele?” perguntou, dando

um olhar incrédulo a Grady.

Burns deu a Ty um olhar duvidoso e depois deu de ombros se desculpando, em resposta

à pergunta de Zane. Ele estava bem familiarizado com o passado de Garrett, mas o homem era

engenhoso. Ele tinha que ser. Ele daria um jeito de fazer isso funcionar.

“Você pode aprender a puxar o meu saco,” Ty atirou de volta, enquanto folheava o

arquivo que seu chefe tinha atirado nele. “Assim como você faz com todos os outros,”

murmurou.

O temperamento de Zane acendeu diante dessas afirmações ridículas de Grady,

deixando para trás mais do que um traço de ressentimento. Teria revirado os olhos, se não

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estivesse ciente de como isso poderia ser interpretado. A postura e o linguajar do homem eram

de insubordinação completa e proposital. Parecia que seu novo parceiro era um prêmio, um que,

de algum modo, ganhou o favor do Diretor Assistente de sua nova divisão – assim como ele era o

foco da ira de Burns.

“Senhor, se me permite perguntar, quem é essa pessoa encanttadora que vou chamar de

meu parceiro?” Zane perguntou, o sarcasmo velado.

“Agente Especial B. Tyler Grady,” Burns respondeu enquanto Ty examinava o arquivo,

os ignorando. “Apesar de sua aparência, ele é, infelizmente, muito bom em seu trabalho.”

“Você está nos colocando no caso Tri-State?” Ty perguntou de repente, total descrença

colorindo suas palavras, quando olhou para Burns.

Zane ficou tenso e respirou fundo. Ele sabia tudo sobre o caso Tri-State. Inferno, todos no

Bureau sabiam tudo sobre o caso Tri-State, mesmo aqueles que só tinham trabalhado nele

algumas semanas. Um serial killer calculista e assustador, aparecia a cada poucas semanas – por

quase dois meses dessa vez – em Nova York. Dois corpos foram encontrados do outro lado da

fronteira do estado, perto do marcador Tri-State, e a maioria dos envolvidos consideraram que o

assassino os deixou deliberadamente lá, para envolver o FBI. Recentemente, há apenas dois dias,

de modo que o Bureau passasse a investigar pessoalmente.

Os olhos de Zane se voltaram para Grady. Segundo Burns, ele era muito bom em seu

trabalho. Zane achava que deveria ser trabalho secreto. Drogas ou crime organizado, talvez

importação / exportação. Algum lugar em que a imagem rebelde-sem-causa se encaixasse. Sua

mente começou a trabalhar, calculando suas habilidades pessoais que, possivelmente, poderiam

se complementar, ou não.

“Isso mesmo,” respondeu Burns, com um toque de sua caneta em sua mesa. “E você vai

se apresentar ao escritório de campo de Nova York – adequadamente vestido, Grady – às 11:00 h

de segunda-feira, fui claro?”

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Reconhecendo a dispensa e ficando em pé, Zane assentiu. “Sim, senhor,” disse

secamente. O trabalho mais recente de Zane pode ter sido em um laboratório de informática de

alta tecnologia, mas isso não era tudo o que podia fazer. Ele era um maldito bom agente, e sabia

disso. Mas não podia deixar de pensar em Tyler Grady como uma cobra, que poderia atacar em

um momento crítico e envenenar a sua frágil segurança no emprego. Já dava para ver que não ia

ser fácil. Na verdade, já sabia que ia ser difícil pra cacete. Mas mesmo que houvesse a

possibilidade de uma leve brisa desmanchar sua carreira cuidadosamente reconstruída como

uma torre de cartas, ele também teria uma excelente oportunidade aqui. Se conseguisse se

destacar nesse trabalho, seria um pontapé inicial em seu caminho. E ele não deixaria qualquer

agente desalinhado, que se imaginava o maior fodão, ficar em seu caminho.

Ty olhou para Burns por um longo momento antes de se levantar, e caminhar em direção

à mesa. Colocando as duas mãos sobre esta, se inclinou, amassando o arquivo com a mão

enquanto olhava para seu chefe. “Você me conhece melhor do que isso, Dick,” murmurou.

“Minhas parcerias não duram muito tempo.”

“É melhor essa durar,” Burns respondeu, sem piscar com o tom insubordinado.

“Você me prometeu,” Ty murmurou em tom de acusação.

“Vou considerar,” Burns respondeu, incontrito. “Vá para casa e tome uma chuveirada,

Ty, você está fedendo.”

As vozes eram baixas, mas Zane ouviu o suficiente. A frase de efeito2 de Burns foi clara, e

os lábios de Zane se contraíram enquanto se dirigia para a saída. Este Ty Grady devia ser algum

tipo de super agente, para o Diretor Assistente aturar esse tipo de comportamento. Isso, ou ele

estava chupando alguém mais acima na cadeia alimentar, Zane pensou impiedosamente.

Permitiu-se um leve careta quando parou no lado de fora do escritório. Tinha ouvido os mesmos

rumores sobre si mesmo há algum tempo, mais do que algumas vezes.

2
No original, Parting Shot: comentário, observação áspero/a, desagradável ou contundente, que se faz ao sair ou ao despedir-
se, para maior efeito.

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Ty saiu e olhou para Zane por um longo momento enquanto a secretária continuava a

mostrar sua desaprovação para ele. “Quanto mais cedo acabarmos com isso, mais cedo

poderemos voltar a ser como éramos, entendido?” ele finalmente disse a seu novo parceiro.

Zane não se dignou a enunciar uma resposta. “Posso ver o arquivo do caso, por favor?”

perguntou educadamente.

“Consiga seu próprio arquivo,” Ty respondeu ao se virar e sair do escritório.

Zane ficou ali por um momento, com a boca ligeiramente aberta. Ty Grady era um filho

da puta rude, insuportável e egoísta, e Zane ia precisar descobrir como deixar de prestar atenção

a ele. Caso contrário, a única saída seria ceder à pressão e matar o bastardo, pelo bem da

humanidade.

TY ficou sentado no restaurante 24 h que ficava perto de seu apartamento lendo o

arquivo pela décima quarta vez, enquanto cutucava seu bacon e ovos. O arquivo tinha algumas

impressões digitais gordurosas, e algumas manchas que não eram identificáveis, mas Ty não

ligava. Estava avaliando os fatos do caso. Era um dos casos mais fascinantes que já tinha lido, e

muito pouco tinha sido descoberto. O assassino parecia escolher seus alvos de forma aleatória;

não havia um tipo especifico de vítima. Não havia modus operandi (MO) claros, e deixava pouca

ou nenhuma evidência para trás. A crença atual é que a pouca evidência que havia sido coletada,

tinha sido deixada intencionalmente para trás, e as cenas onde os corpos foram encontrados

foram encenadas.

Oito assassinatos relatados até agora. Os dois únicos que não foram posicionados na cena

do crime após a morte, (ou mortos de forma criativa, como Ty pensava) foram os dois agentes do

FBI que estavam investigando os assassinatos. Dois agentes treinados, ambos com experiência

militar, executados num quarto de hotel antes que um deles pudesse disparar um tiro, foram

pegos de surpresa. E a única razão pela qual o Bureau atribuiu suas mortes ao assassino, era

porque eles estavam trabalhando no caso, e o FBI não acreditava em coincidências.

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Ty balançou a cabeça e suspirou, olhando para o relógio com um piscar de olhos. “Foda-

se,” gemeu, procurando em seu bolso dinheiro para deixar sobre a mesa, enquanto reunia toda a

informação altamente confidencial e, sem cerimônia, a enfiou sob sua jaqueta. Tinha coisas para

fazer amanhã - hoje na verdade - antes de pegar o vôo na segunda de manhã.

Zane sentou-se à mesa da sala de jantar com uma pilha inteira de arquivos copiados

espalhados à sua frente. Detalhes do caso, relatórios, autópsia, fotografias das cenas, provas

forenses... Havia tanta coisa para ler, tantos detalhes. Detalhes que se filtraram na mente analítica

de Zane. Esteve vasculhando notas por horas, tentando identificar padrões, não o caso em si, mas

a estrutura do padrão de investigação: onde era seguido precisamente, onde divergia, onde havia

lacunas na investigação, onde havia informação inútil. Muitas pessoas mexeram neste trabalho,

que já era uma bagunça.

Tudo isso, ele pensou enquanto dava uma mordida no seu jantar tardio de domingo, de

frango e salada de uva, era bem fácil de rastrear. Já tinha decidido fazer algumas ligações para

alguns agentes especiais para fazer algumas perguntas; talvez Serena Scott da Unidade de

Análise do Comportamento, em Nova York pudesse ajudar. Ela analisava assassinatos o tempo

todo, e embora este caso fosse bem atípico, ela poderia explicar algumas coisas para Zane.

Assassinatos não eram exatamente seu forte. Além disso, ela lhe devia um favor.

Um homem não trabalhava no FBI por quase vinte anos e não cobrava favores.

Suspirando, se afastou dos gráficos de comparação que tinha feito com os relatórios do

legista e levou seu prato para a pia da cozinha, lavando-o cuidadosamente antes de limpar a pia.

Olhou para o relógio na parede, endireitou os ombros, e esticou seu pescoço. Teria que sair bem

cedo para o aeroporto, por volta das 05:30 h para ir de Arlington até Dulles e pegar o vôo. Ele

precisaria de toda paciência e coragem que pudesse reunir para passar pelo que sabia que viria.

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Era um vôo comercial, e os bilhetes estavam esperando por eles no balcão da companhia

aérea. Ty virou a cabeça para ambos os lados e afrouxou a gravata, resmungando infeliz

enquanto caminhava pela madrugada nebulosa através do estacionamento. Ele carregava o

paletó sobre um braço e duas mochilas de roupas e equipamentos lançadas sobre seu ombro.

Tinha uma sacola de couro surrada atravessada no peito enquanto andava. Estava um pouco

atrasado, mas não estava exatamente preocupado com isso. Quando chegou lá dentro, sua

gravata estava torta, seu paletó estava amassado, e ele finalmente puxou a bolsa por cima da

cabeça e jogou tudo no chão. Então ele levantou tudo de novo, reposicionou as malas, e

caminhou até a mesa de check-in.

“Eu sabia que você ia se atrasar,” Zane comentou quando Ty passou por ele.

“E eu sabia que você ainda teria aquele bastão enfiado no seu rabo.” Ty respondeu com

um aceno de cabeça, e não diminuiu quando Zane falou com ele.

A resposta espertinha de Ty não recebeu uma resposta. Zane esperou que ele pegasse seu

bilhete e verificasse suas malas, antes de caminhar ao lado dele até a segurança. Eles se

enconraram duas vezes até agora, e Zane teve a mesma impressão fugaz: Ty era um idiota que

teve alguma sorte na Zona Vermelha3 para que deixassem que ele ficasse por tanto tempo. E o

Bureau queria que ele tivesse um pouco mais de sorte, mas não queriam arriscar nada de errado,

(porque Ty era obviamente insano), e foi por isso que, o muito eficiente Zane Garrett foi

encarregado de segurar a coleira.

Zane se cansou só de pensar nisso.

Eles mostraram as identificações e passaram pela segurança após uma breve revista.

Ainda pensando na merda de atitude de Ty, Zane se divertiu pensando no que Ty deve ter feito

para fazer parte do programa. Todos os agentes passavam por dezesseis semanas nas Unidades

de Formação da Academia, e após o treinamento, cada um se especializava em determinadas

3
Red Zone: áreas de alto risco no Iraque após a invasão de 2003.

19
unidades. Por causa de seu perfil, Zane se destacava amplamente nos aspectos da lei. Camadas

de informações. Detalhes. Quebra-cabeças. Zane surpreendia muitas pessoas, pois ele tinha um

excelente cérebro que estava em equilíbrio com os seus músculos, e ele os usava em seu benefício

muitas vezes.

Terminada a formação, foi designado para a Divisão de Investigações Criminais,

trabalhando em crimes financeiros. Conforme seus casos foram se acumulando, foi transferido

para o crime organizado e o serviço infiltrado, onde ficou um breve período no trabalho secreto.

Com desvios profissionais e pessoais e mergulhos selvagens mais tarde, foi transferido do CID

para a Divisão Ciber, desenterrando e tirando a poeira das habilidades de identitificar velhos

padrões e identificar detalhes para se restabelecer e polir sua reputação muito manchada. Ele

tentava não pensar nas manchas muitas vezes.

Ele estava começando a suspeitar que Ty Grady possuísse especialidades completamente

diferentes das dele e Zane estava absolutamente certo de que não combinavam com suas

próprias. Observando seu novo parceiro, Zane observou que Ty, obviamente não teria qualquer

problema com o lado físico do trabalho. Ele era um ou dois centímetros mais baixo do que Zane,

mas sua massa muscular, provavelmente se igualava a sua. Fisicamente ele era impressionante,

sem dúvida, e os dois juntos eram claramente intimidantes enquanto caminhavam através do

terminal.

Eram os aspectos mentais das habilidades de Ty que Zane ponderava quase alegremente

enquanto caminhavam. Zane se perguntava se Ty seria mesmo capaz de lidar com isso, ou se

essa foi a razão pela qual ele tinha sido escolhido para ser parceiro do cara; para ser o cérebro da

operação, por assim dizer.

“Escute, porque só vou dizer isto uma vez,” Ty murmurou enquanto caminhavam até o

portão de embarque. “Não converso durante o voo, eu durmo; e não escuto enquanto como,

entendeu? Não quero ser seu amigo, não quero bater papo,” disse, com uma cadência sarcástica à

20
palavra. “Não quero saber sobre sua infância ou como a sua mãe te batia com uma luva de

borracha ou quanto tempo de terapia você teve que fazer porque foi reprovado na pré-escola;

não quero ouvir sobre o seu sonho de ser Diretor um dia, ou quantas prisões você fez rastreando

aqueles anormais da Internet, ou como você está orgulhoso de seus movimentos intestinais. Não

quero ir às compras na Barney’s com você, e não vou te ajudar a escolher suas gravatas para que

elas combinem com suas meias e, juro por Deus, se eu levar um tiro por sua causa, eu te mato.”

Enquanto seguia o outro agente até o avião e se acomodava em seu lugar, Zane manteve

o comportamento estoico, e não conseguia decidir se estava ofendido, chateado, ou apenas triste.

Espancar seu novo parceiro, provavelmente não seria perdoado, e ele não tinha certeza se Grady

não retribuiria à altura só para não causar uma cena. Mas este homem deve ter tido uma vida

miserável. Bem, ele não foi o único que teve dificuldades. Zane se esforçou para sublimar a raiva

que aquela linha de pensamento tinha causado, mas até agora, Ty só provocou nele o desejo de

estrangulá-lo. O Bureau não adoraria isso?

Decidiu que seria melhor – para todas as partes envolvidas – apenas ignorar o homem ao

lado dele. Apenas continuou, pegou o quadro comparativo que tinha feito com as informações do

legista com notas por toda parte em sua caligrafia minúscula. Pelo menos uma parte do tempo

poderia ser bem gasta.

Ty suspirou profundamente ao cair em sua cadeira e balançou a cabeça enquanto

apertava o cinto de segurança. Seu novo parceiro falhou no primeiro teste. Qualquer um que

calmamente escutasse as merdas que ele tinha acabado de vomitar, sem ao menos um “Foda-se”

em troca, não ia além de um mero bajulador alpinista, que deveria ficar atrás de uma mesa ou

trabalhar no mercado civil; pelo menos seu último parceiro respondia à altura, pensou com um

estremecimento.

Zane ouviu a exalação irritada e ignorou, cerrou os dentes e desejou que houvesse

alguma maneira de sair desse caso. Essa operação seria um fracasso total, e ele provavelmente

21
não seria capaz de fazer nada sobre isso. Perguntou-se a que nível infernal ele seria rebaixado se

isso desse errado, ou que tipo de trabalho civil ele poderia começar a fazer depois de ser expulso

do Bureau. Isso era o que mais o perturbava, pensar em todos os anos que trabalhou indo para o

lixo.

O voo tinha cerca de uma hora de duração, e Ty planejava apenas dormir por todo o

caminho do caralho. O garoto chutando a cadeira atrás dele era a única coisa que o mantinha

acordado enquanto o avião taxiava pela pista. Ele se virou e olhou entre os encostos dos assentos,

e seus olhos castanhos penetrantes encararam o garoto.

“Chute a poltrona mais uma vez, e vou arrancar os dedos dos seus pés e vou comê-los,”

ele prometeu.

“Tenha um pouco de decência,” Zane rosnou com a cabeça virada para o lado, para

verificar a situação. “Ele deve ter apenas três anos, não sabe o que está fazendo.”

“Agora ele sabe,” Ty respondeu se virando em seu assento com satisfação. Atrás dele,

uma jovem mãe horrorizada estava segurando os dedos de seu filho de boca aberta, com os olhos

arregalados e sem palavras.

“Você não tem absolutamente nenhuma habilidade interpessoal,” Zane murmurou,

balançando a cabeça. “Não é à toa que você está afundando rapidamente no Bureau.”

“Sim, eu sou uma âncora bem pesada,” Ty falou lentamente, enquanto inclinava a cabeça

para trás e sorria. “Ouvi dizer que ninguém mais quer trabalhar com você.”

Zane pressionou os lábios e ele não ergueu o olhar de sua papelada. “Você precisa

examinar sua audição,” disse ele, sem rodeios.

“Minha audição é muito boa, espertinho, você foi ‘promovido’, certo?” Ty perguntou

sarcasticamente, dando à palavra citações com os dedos, sem abrir os olhos. “Odeio dizer, mas

ser transferido para outra divisão no mesmo nível, não é uma promoção, é chamado de

remanejar os indesejados.”

22
“É uma informação confiável, tenho certeza, de alguém que está deslizando ladeira

abaixo.”

“Nós dois parecemos estar deslizando e escorregando em direção à sarjeta, Shuffleboard4.”

Ty observou alegremente. “A diferença é que eu não dou à mínima,” ofereceu quando

estendeu a mão, desligou a luz do teto, e ajustou o ar frio para cima dele.

Zane não respondeu, apenas fechou os olhos por um momento, antes de engolir o

aborrecimento. Era verdade, Ty não dava à mínima. Mas Zane se importava, o que significava

que estavam destinados a estraçalharem a garganta um do outro durante todo o tempo em que

fossem forçados a trabalhar juntos.

Ty apenas riu em silêncio, sabendo que ele tinha atingido um nervo. Essa missão poderia

até proporcionar alguma diversão, afinal, ele decidiu; mesmo que acabassem matando um ao

outro.

Zane se manteve focado nas notas. O resto do voo passou em silêncio. Os detalhes das

mortes saltavam em sua cabeça, não tinha estabelecido qualquer tipo de padrão ainda. Ele

estudaria as fotos quando se acomodassem. Talvez pudesse conhecer um pouco mais cada

vítima.

Olhou para cima quando a luz do cinto de segurança acendeu, e depois para Ty, infeliz.

O homem estava cochilado levemente, com a expectativa de um longo dia pela frente, e Zane

decidiu que Ty dormindo era quando parecia mais charmoso. Mas agora tinha que acordá-lo.

“Grady,” murmurou, a voz entrecortada.

“Outra vez não, querida, estou cansado,” Ty murmurou enquanto se jogava para o lado,

empurrando os dois nos assentos apertados.

Sem pensar, Zane empurrou o outro homem. “Grady,” disse com mais insistência.

“Acorde.”

4
Esporte individual no qual os jogadores usam um taco para empurrar os discos que deslizam sobre uma quadra e devem
parar em uma zona de pontuação triangular situada no lado oposto.

23
Ty bufou e abriu os olhos lentamente, olhando em volta, sonolento.

“Hum?”

Zane olhou para ele, levemente surpreso com a queda momentânea na atitude rude.

“Estamos nos preparando para pousar,” murmurou.

Ty gemeu baixinho, deitou de costas novamente, esticou os braços acima da cabeça e

bocejou enquanto virava o corpo ligeiramente, esticando os braços no corredor. A aeromoça que

estava fazendo sua última verificação pelo corredor, passou bem rente a sua mão e suspirou

quando ele a agarrou. Ty deixou cair o braço e girou para olhar para ela. “Desculpe, querida,”

ofereceu com um sorriso impenitente.

Ela bufou um pouco e lhe deu um sorriso irônico quando se virou no corredor. “Já tive

piores,” ela murmurou em resposta, se inclinou e, lentamente, fechou seu cinto de segurança,

“Ponha-se na posição vertical, por favor,” disse em voz baixa antes de se afastar. Ty levantou o

assento obedientemente e sorriu, olhando-a com um sorriso satisfeito quando ela se virou e

continuou a inspeção.

Enquanto Zane silenciosamente invejava Ty em sua atitude livre, no final, ele

simplesmente não podia acreditar na ousadia deste homem. “Como você se tornou um idiota tão

completo assim?” ele perguntou, com curiosidade mórbida.

Ty inclinou a cabeça e observou a mulher se sentar, em seguida, virou-se para Zane. “Eu

não queria,” insistiu ele inocentemente. “Seios daquele tamanho podem me afetar.”

O olhar de Zane era incrédulo. “Eu acho que você decide o que uma pessoa

perfeitamente educada faria, e em seguida, faz o oposto. É como se o objetivo de sua vida fosse

ser o Anticristo.”

“O Anticristo,” Ty ecoou, rindo enquanto balançava a cabeça. “Sim, aposto que você foi o

líder do Clube de Teatro na escola, não é?”

“Você não negou.”

24
“E Deus sabe que tudo o que falo é realmente o que penso,” Ty respondeu com falsa

sinceridade, pressionando a mão em seu coração e se inclinando mais perto de Zane seriamente.

“Você tem aquele olhar,” confirmou Zane, com o rosto calmo e passivo.

Ty riu e se virou para olhar novamente para frente do avião, as rodas gritando na pista e

o avião desacelerando rapidamente. “Você vai ter que arrancar o bastão do seu rabo rapidinho,

se vamos trabalhar juntos,” acrescentou, enquanto o avião taxiava para o seu portão. Ele soltou o

cinto antes que a luz de segurança apagasse e esticou o pescoço.

“Qual é o problema? Com medo que seja contagioso?” Perguntou Zane, sua paciência já

se esgotando. Ele não tinha tempo ou luxo para lidar com as palhaçadas de Ty.

“Não, eu não tenho medo de me transformar em você,” respondeu Ty ironicamente,

rindo baixinho enquanto balançava a cabeça. Inclinou-se mais perto de Zane, quase perto o

suficiente para tocar sua bochecha com o nariz. “Você cheira a Feeb5,” explicou ele, em voz baixa e

séria. Ele era, provavelmente, um dos poucos agentes do FBI que usava o mesmo termo

depreciativo que as outras agências quando falavam sobre eles.

Quando Zane voltou seu olhar sobre o outro agente, seus olhos estavam brilhando

perigosamente e sua voz era fria. “Eu aposto que você fica excitado com isso.”

Ty sorriu lentamente, os olhos brilhando maliciosamente. “Se eu ficasse, você mudaria?”

ele perguntou.

Zane apenas balançou a cabeça como se sentisse pena do outro homem, decidindo não

comentar sobre esse assunto. As palavras na ponta de sua língua eram indelicadas e impróprias,

e ele não podia relatar tudo o que queria. Não que seu comportamento fosse se comparar ao de

Ty.

Ty deu de ombros e se esticou para pegar sua mochila no compartimento de bagagem.

Não disse uma palavra enquanto seguia para a parte da frente do avião e para a saída. A

5
Termo depreciativo para um agente do FBI, geralmente usado por oficiais do NYPD (Departamento de Polícia de Nova York).

25
aeromoça estava ali, sorrindo e dizendo adeus a cada passageiro, e na vez de Ty, ele sorriu

amplamente e acenou para ela descaradamente.

“Tenha uma ótima estadia em Nova York, senhor,” ela disse enquanto estendia a mão, e

lhe entregava discretamente, um pedaço de papel.

“Oh, está ficando cada vez melhor,” Ty respondeu brilhantemente, permanecendo um

momento a mais que o necessário, olhando-a, em seguida, se virou para a saída.

“E como é que a sua imagem deve representar o Bureau melhor do que a minha?” Zane

perguntou em voz baixa, enquanto caminhavam em direção ao saguão.

“Não deve,” Ty respondeu por cima do ombro. “Essa é a porra do ponto, Shuffleboard.”

Com suas longas pernas, Zane facilmente acompanhava o andar dele. “Então, por que

diabos você trabalha para o Bureau se você não dá à mínima?”

“Porque não estou nele pelo reconhecimento,” Ty respondeu jovialmente.

Zane parou de andar e olhou para as costas de Ty com ódio. A implicação de que a glória

era o motivo dele para trabalhar no Bureau, já era demais. Ele o observou caminhar e estava

seriamente considerado ligar para Burns e aceitar a porra do rebaixamento para não ter que lidar

com esse desgraçado. Seu temperamento já estava agitado, e isso não era bom, nada disso era

bom. Sua mão apertou a pasta por um longo momento, tentando controlar sua raiva, observando

Ty caminhar em direção à saída.

Ty sabia que Zane tinha parado, mas não parou de andar. Se o idiota queria ficar de mau

humor, chegaria atrasado para o encontro, era problema dele. Ty iria cuidar do lado dele. Como

sempre.

Ele também tinha um interesse pessoal neste caso em particular.

26
Zane finalmente saiu do terminal principal para o ar fresco, e viu Ty entrando em um

SUV Tahoe negro. Dirigiu-se ao carro e dentro de um minuto, estava sentado no interior, bem na

hora que o SUV deixou o meio-fio, deixando o tráfego do aeroporto.

Ty se jogou no banco de trás, tentando sacudir a sonolência, pensando em novas

maneiras de irritar seu novo parceiro. Olhou para o motorista no espelho retrovisor, vendo olhos

castanhos e maçãs do rosto salientes e cabelo curto e encaracolado. Esse cara era bonito demais

para ser um agente. E parecia ter 15 anos. O cara de cabelos claros no banco do passageiro

parecia ainda mais jovem.

“Quem são vocês, os Hardy Boys6?” perguntou irritado.

Olhando para frente, Zane encarou os dois agentes na frente deles franzindo a testa.

“Isso foi muito espirituoso de sua parte, senhor,” respondeu secamente o motorista, sem

tirar os olhos da estrada. “Eu poderia apontar que nós somos muito jovens para saber quem são

os Hardy Boys, na verdade, e fazer você se sentir muito velho,” acrescentou enquanto seus olhos

castanhos olhavam pelo espelho retrovisor em direção a Ty. “Mas eu nunca faria isso, senhor.”

Os lábios de Zane se contraíram, mas não fez nenhum comentário. Seus olhos exibiam

sua diversão quando olhou com um pouco mais de cuidado para os dois rapazes. Ambos eram

muito jovens, mas Zane sabia que agentes estavam praticamente sendo selecionados nas pré-

escolas nos dias de hoje.

“Bem-vindo a Nova York, Agente Especial Garrett, Agente Especial Grady,” o passageiro

cumprimentou, enquanto se virava ligeiramente em seu assento. “Sou o agente Mark Morrison, e

este é o agente Tim Henninger,” continuou, sua voz mudou um pouco para adicionar uma pitada

de sarcasmo. “Somos os meninos dos pirulitos, enviados para cuidarem de vocês.”

6
The Hardy Boys são os irmãos adolescentes detetives amadores Frank e Joe Hardy, personagens fictícios de histórias de
mistério que apareceram em várias séries de livros para crianças e adolescentes.

27
Ty estreitou os olhos e examinou Morrison e Henninger lentamente, virou a cabeça e

olhou para Zane criticamente. “Eu acho que era para ser uma referência cultural de algum tipo,”

explicou ao seu parceiro. “Não entendi,” ele bufou.

Zane abafou uma risada. “Grande surpresa” murmurou quase silenciosamente.

Morrison se inclinou no assento para olhar para eles. “Vamos ser os seus acompanhantes

e contatos de campo em Nova York, enquanto vocês estiverem aqui. Estamos a caminho do

escritório para encontrar o Agente Especial encarregado. Querem parar em algum lugar no

caminho? Comida? Bebida?”

“O quê, você não embala o seu almoço?” Ty perguntou sarcasticamente, enquanto

mudava de posição no assento e se apoiava na porta. Chutando seu pé para cima, o apoiou no

console entre os dois bancos da frente.

“Claro, na minha lancheira do Bob Esponja Calça Quadrada. Tenho a garrafa térmica

também,” Morrison atirou de volta.

Zane manteve sua boca fechada, os olhos se movendo entre os dois homens, e,

ocasionalmente, de volta para o motorista, que estava casualmente prestando atenção.

Ty olhou para o garoto e estreitou os olhos ainda mais. “Esponja o que?” perguntou sem

rodeios.

Zane nem sequer tentou segurar a risada, quando Morrison olhou para Ty, como se ele

tivesse perdido o juízo.

“Esponja o que? Você está zombando de mim, não é?” Morrison disse. “Henny, ele está

zombando de mim.”

“Sim, bem, isso é o que você merece por esfregar isso na cara dele,” disse o motorista

razoavelmente.

“Que diabos é um Bob Esponja?” Ty perguntou a Zane baixinho do banco de trás.

28
Zane se virou, tomando um momento para avaliar se Ty falava a sério, ou se ele deveria

responder. “É um personagem de desenho animado, muito popular recentemente,” respondeu

em voz baixa. Ele podia ver os olhos do motorista no espelho retrovisor os observando. Os

examinando.

Ty olhou para Zane, incrédulo por um momento e, em seguida, olhou para o lado com

um aceno de cabeça.

“Talvez você prefira o Scooby Doo?” Henninger ofereceu educadamente.

“Está mais para o Cavaleiro das Trevas,” Zane murmurou sem pensar.

Ty sorriu e olhou para ele. “Isso significa que posso chamá-lo de Robin a partir de

agora?” perguntou com um brilho divertido em seus olhos.

“Garoto Prodígio para você,” Zane respondeu categoricamente, virando-se para olhar pela

janela quando Morrison olhou para os dois.

“Ugh,” Ty grunhiu quando desviou o olhar, e apoiou o outro pé em cima do console

central. “Você é muito fácil,” resmungou desconsolado.

Zane mal conteve uma risada irônica quando Morrison piscou, e olhou para seu parceiro.

“Bem, nós pegamos os caras certos,” disse severamente. O agente se virou para olhar para trás,

desconfiado dos agentes mais velhos. “Disseram-nos que era a primeira vez que trabalhavam

juntos, e que, provavelmente, não gostavam muito um do outro.”

“Estavam certos,” Ty e Zane responderam praticamente em uníssono.

“Cale a boca,” Ty bufou para ele.

“Senhores, estou feliz por vê-los chegarem bem. Sou o Agente Especial encarregado

George McCarty, prazer em conhecê-los. Vamos logo dar início, tudo bem?”. O chefe do

escritório de campo de Nova York saudou apressadamente, sem dar a eles qualquer chance de

responderem. Ele deixou cair alguns arquivos sobre a mesa e ajustou a gravata. “Confio que

29
vocês dois estejam familiarizados com o caso? Bom, então podemos passar para os arranjos

necessários.”

Ty levantou uma sobrancelha em um rápido tour e olhou para Zane. Não percebendo,

Zane abriu seu arquivo onde tinha uma lista de notas e perguntas, esperando McCarty continuar.

“Como sabemos, este caso já custou dois dos nossos,” McCarty continuou quando se

inclinou sobre a mesa e olhou para o seu arquivo. “O que tornou este caso uma prioridade. Vocês

terão auxilio dos detetives à frente do caso, os agentes especiais Sears e Ross. Eles não puderam

estar aqui esta manhã, ainda estão no processo de entrevistar o pessoal do hotel onde os agentes

especiais Sanchez e Reilly foram encontrados,” ele disse, tenso. Suspirou brevemente, como se o

pequeno discurso estivesse exigindo muito dele. “Vocês vão receber um carro e um motorista, se

quiserem. Reservamos dois quartos contíguos no Tribeca Grand. Fica a uma curta distância do

escritório e tem a maior segurança. Todos os nossos registros e recursos estão abertos para vocês;

mas vou lhes dizer agora mesmo, o nível de cooperação de seus novos companheiros de equipe

provavelmente será mínima, apesar de minhas ordens para trabalharem com vocês”. Disse-lhes

com franqueza, sem fazer segredo dos sentimentos no escritório de campo, em relação a qualquer

pessoa de fora sendo enviado para lidar com um dos seus casos. “Alguma pergunta?”

“Você forneceu a lista de contatos, certo?” Perguntou Zane.

“Está tudo no arquivo,” McCarty respondeu com um aceno de cabeça. “Qualquer coisa

que você precisar durante o curso de sua investigação está à sua disposição, incluindo a equipe

que os agentes Reilly e Sanchez estavam usando. Mais alguma coisa?”

“Você já descobriu como o assassino sabia onde os agentes estavam hospedados?” Ty

perguntou quando se virou em seu assento e apoiou os pés na cadeira ao lado dele.

O Agente Especial encarregado virou-se para um de seus homens ao seu lado.

“Não,” respondeu Morrison como se obedecendo a deixa. Ele era mais baixo que os

Hardy Boys, mas robusto, com o cabelo louro espetado e olhos azuis brilhantes. “Nós não

30
acreditamos que possa ser um problema de dentro, apesar de tudo. Especulamos que o assassino

possa tê-los vistos em uma das cenas”.

“Serena Scott está na cidade? Gostaria de suas opiniões sobre as cenas de crime”.

Zane perguntou em referência a técnica forense de perfis, a melhor de Nova York.

“Nós não a trouxemos para esse caso, mas pode ser feito.” respondeu Henninger. Fora

do SUV, Zane podia ver que o agente era jovem, alto e magro, e seu corte de cabelo curto não

conseguia conter os cachos escuros que pareciam ser naturais. “Você quer se encontrar com ela

pessoalmente?” ele perguntou com um olhar indiscernível para Ty.

“Absolutamente,” Zane respondeu com firmeza. “Sua visão é de valor inestimável, e

algumas coisas simplesmente não podem ser traduzidas a partir de papel.”

“Nós vamos organizar o encontro o mais rápido possível,” o homem assegurou, olhando

de novo para Ty, quase interrogativamente.

Zane olhou para Ty para ver se ele tinha alguma coisa a acrescentar. Seu novo parceiro

estava com as pernas esticadas na cadeira da frente e olhava para o teto de braços cruzados, com

uma ligeira onda de desgosto em seus lábios.

“Nós não vamos precisar do motorista. Obrigado, senhor,” disse Zane, enquanto fechava

seu arquivo, se levantando.

“Se precisar de mais alguma coisa, apenas passe para os agentes Henninger ou Morrison,

aqui,” disse McCarty com um gesto de seu polegar por cima do ombro para ninguém em

particular. “Eles vão conseguir o que vocês precisarem,” lhes assegurou quando os Hardy Boys

assentiram.

Houve uma batida discreta na porta da sala de reuniões, McCarty se endireito e gritou

“Entre!”

A recepcionista enfiou a cabeça pela porta. “Senhor, o Diretor Adjunto está na linha

quatro, para saber dos agentes especiais Grady e Garrett. Ele diz que é urgente.”

31
“Obrigado, Denise,” McCarty resmungou, e ela retirou-se em silêncio.

McCarty esperou a porta ser fechada novamente, se inclinou e apertou um botão em uma

das unidades no meio da mesa de reuniões. “Richard,” cumprimentou.

“Bom dia, George,” disse a voz de Dick Burns claramente na viva-voz. “Espero que

Grady e Garrett já estejam aí e já causando problemas?”

“Você sempre pegou a aposta segura,” McCarty respondeu ironicamente. “Eu tenho que

repetir minha desaprovação em relação a essa operação, Richard. Eu simplesmente não acredito

que um dos meus funcionários seja responsável por esta loucura.”

“Entendo que a sua posição seja difícil, George,” Burns respondeu calmamente, “Mas,

infelizmente, o Diretor Radshaw e eu discordamos.”

Atrás de McCarty, Henninger e Morrison se moveram um tanto inquietos, e

compartilharam um olhar indiscernível. Ty inclinou a cabeça, franzindo a testa ligeiramente ao

ouvir a conversa no viva-voz. Ele não estava gostando do som desta conversa, mas talvez agora

entendesse o motivo de estarem aqui. Seus olhos castanhos afiados observavam McCarty

curiosamente enquanto os dois homens conversavam por telefone.

McCarty suspirou e olhou para Ty e Zane com os olhos apertados.

“Eles parecem um pouco confusos, Dick,” disse Burns, com uma pitada de diversão.

“Senhores,” disse Burns em voz alta ao telefone. “Peço desculpas por não darem a vocês

o resumo completo enquanto estavam aqui, mas os pontos mais delicados ainda estavam sendo

resolvidos.”

“Pontos mais delicados?” Zane perguntou um pouco mal-humorado por ter sido deixado

de fora.

Ty esfregou o nariz e apertou os olhos. “Por que você sempre faz isso comigo?,” ele

perguntou melancolicamente.

32
“Porque detesto você o suficiente para tortura-lo,” disse Burns com diversão. “Vocês vão

trabalhar no caso Tri-State,” ele continuou, sem esperar por uma resposta. “Vocês vão parecer,

para os membros da equipe de Nova York, inexperientes, incompetentes e indiferentes. Se

acontecer de vocês tropeçarem em alguma pista, bom para vocês”.

Ty olhou para Zane e sorriu, restringindo-se de comentar, Zane se controlou duramente

para não olhar de volta para ele.

“E o mais importante para a missão de vocês, não se concentrem apenas nos assassinatos

em série, mas, na morte dos agentes especiais Reilly e Sanchez.”

“Porque você suspeita de alguém de dentro.” Zane concluiu em voz baixa.

“Precisamente. Acreditamos que se pudermos descobrir como o assassino chegou aos

agentes, vamos conseguir pegá-lo.”

“E os nossos parâmetros para a operação?” Ty perguntou ansiosamente quando se

sentou ereto, mais próximo do viva-voz.

“Não se matem!” Burns ordenou com um sorriso em sua voz. “Todas as perguntas

futuras, venham diretamente a mim, George deve ser deixado de fora do circuito, na chance dele

precisar negar o conhecimento de suas operações,” acrescentou.

Ty e Zane olharam para McCarty, o homem não parecia satisfeito, mas era óbvio que já

tinha conversado com Burns em relação ao plano.

“Isso é tudo senhores, boa sorte,” disse Burns. “George, dê lembranças as suas meninas,”

acrescentou antes da linha ficar muda.

McCarty olhou para os dois agentes sentados em frente a ele e bufou. “Mais alguma

coisa?” perguntou com uma sobrancelha levantada.

“Não, senhor,” Zane respondeu com um aceno de cabeça.

33
McCarty apenas balançou a cabeça. “Agora, se me derem licença, tenho uma reunião

com o prefeito.” Resmungou infeliz, saindo do escritório, deixando Morrison e Henninger para

trás.

Ty sentou, e girou a cadeira de braços cruzados, ficou imóvel quando olhou para os dois

homens mais jovens, divertido. “Como vocês ficaram, encalhados com essa merda?” Perguntou,

por fim.

“Nós somos apenas os meninos de recados, senhor,” respondeu Henninger em voz baixa,

com uma pitada de diversão em seus olhos escuros, quando olhou para Ty.

Ty sorriu torto e assentiu. “Assim como nós,” respondeu com ironia.

Henninger lutou muito para não sorrir.

Zane olhou para os dois agentes e de volta para Ty. “Faíscas milagrosas de insight,

Grady?” ele perguntou.

“Sim,” respondeu Ty enquanto se levantava e tirava o paletó. Arrancou a gravata e a

jogou sobre a mesa. “Preciso encontrar uma Batgirl,” falou lentamente, pensativo.

“Tenho certeza que o Bat Sinal está lá no telhado,” Zane respondeu distraidamente

enquanto folheava a pasta, verificando se havia materiais para pedir. Morrison e Henninger

trocaram olhares duvidosos.

“Você tem muitos desses comentários armazenados para um dia,” disse Ty para Zane em

desaprovação. Virou-se para Morrison e Henninger e fez um gesto largo com a mão. “Leve-nos à

Bat Caverna!” ordenou com uma cara séria.

A mandíbula de Morrison caiu enquanto olhava para Ty, obviamente, pensando que ele

era louco. Seu parceiro olhou para ele e revirou os olhos. “Vamos, Mark,” ele murmurou. “Ele

ainda está te provocando.” Os dois agentes mais jovens lideraram o caminho para fora,

murmurando entre si.

34
“Você sabe que é mais provável que eles nos levem para a Mansão Wayne,” disse Zane

enquanto seguiam adiante, tanto para mostrar seu ponto, quanto para alfinetar Ty enquanto

podia. “Esconder-nos em plena vista e não poupar a conta da despesa.” Triste, mas verdade. Era

uma coisa boa que eles não deveriam estar completamente disfarçados, ou já teriam estragado

tudo.

“Isso não faz muito sentido. Cale a boca, Sidekick7,” Ty murmurou para ele.

Zane se permitiu um pequeno sorriso antes de se lembrar do quanto detestava este

homem.

“Vocês dois querem comer antes de irem ao hotel?” Perguntou Morrison, ele parecia ser

o locutor da dupla.

“A Bat Caverna não é um hotel,” Ty protestou em contrariedade, com alguns estalos dos

dedos. “Subam a bordo na metáfora, crianças”.

“Onde diabos é a Bat Caverna, então?” Henninger perguntou com um suspiro longo de

sofrimento.

“O laboratório cara, nos leve para o laboratório,” Ty ordenou, exasperado.

Zane olhou para os Hardy Boys, e pela forma como os dois pareciam jovens, certamente já

tinham visto alguma versão do Batman. Isso fazia com que se sentisse mais velho.

“Bem, como diabos vamos saber disso? Vocês mais velhos já viram toda essa baboseira

original. O novo filme é muito melhor, e a Bat Caverna não é um laboratório,” Morrison

vociferou.

Zane piscou. Mais velhos? Ele olhou para Ty, imaginando que tipo de fogos de artifício o

comentário iria detonar.

7
Sidekick é o parceiro, ajudante de um super-herói.

35
“Eu pareço ter visto o original de alguma coisa, Bob Esponja?” Ty perguntou com um

sorriso e apontou para o seu próprio peito. “O que você está fazendo lendo quadrinhos, afinal?

Quando tinha a sua idade, já estava no Golfo, cara,” continuou ele.

“Golfo de quê?” Morrison respondeu, com um olhar vazio em seus olhos.

“Golfo Pérsico,” Zane respondeu bruscamente, nem um pouco divertido; ele notou

Henninger fechando os olhos em desespero e balançando a cabeça.

Ty não sabia se estava mais chocado com a idiotice de Morrison ou pelo aparente apoio

repentino de Zane. Apenas olhou para Morrison por um minuto, deixando a brincadeira de lado,

em seguida, olhou para Zane, que encontrou seus olhos por um momento, e suspirou. “As

crianças nos dias de hoje,” ele murmurou, enquanto se colocava entre os dois agentes mais jovens

e apertou o botão do elevador.

A viagem de elevador foi curta, e quando parou no andar, Henninger liderou o caminho

para fora. “A equipe está um pouco espalhada desde a morte dos agentes especiais Reilly e

Sanchez,” disse em voz baixa, enquanto caminhavam pelo corredor. “Todos nós os conhecíamos,

receio que nós não estejamos realmente organizados agora.”

“As equipes tiveram algum descanso?” Perguntou Ty.

Henninger olhou defensivamente, como se esperasse uma zombaria. “Não,” respondeu

secamente, abrindo a porta para o laboratório principal.

“Dê a eles algum tempo enquanto nos familiarizamos com o caso,” Ty ordenou.

Zane franziu o cenho. Ele não tinha nenhum problema em dar a uma equipe

sobrecarregada um ou dois dias de folga, mas como fazeriam o trabalho que Burns ordenou, se

não houvesse nenhuma equipe por perto para observar? “Nós deveríamos ter acesso a todo o

material do caso,” disse lentamente, não discutindo abertamente. “Eu gostaria de passar algum

tempo com as fotos.”

36
“Vou pegá-las,” Morrison respondeu de forma diligente, obviamente sabendo que tinha

insultado os dois agentes mais velhos, na esperança de compensar isso.

“Alguma cena do crime ainda está intacta?” Perguntou Ty.

“Uh... Acredito que apenas a mais recente,” respondeu Morrison com incerteza. “Posso

perguntar por quê?”

“Gostaria de vê-la,” respondeu Ty.

“Eu também,” acrescentou Zane. Imaginou se Serena Scott se importaria de ir junto e ver

a cena em pessoa. Teria que perguntar a ela - a menos que Ty quisesse ir neste minuto.

Esse pensamento o fez perceber que ele realmente não tinha ideia do que Ty foi treinado

para fazer ou como ele se comportaria em um caso real. Ty pelo menos sabia o departamento do

qual Zane veio, apesar de que isso não expunha sua formação. Pesquisar um pouco para

conhecer um pouco mais sobre o idiota do seu parceiro, não seria uma má ideia. Era evidente,

pelo fato de que serviu no Golfo, que tinha sido militar de algum tipo, e Zane ponderou que isso

realmente não seria uma surpresa. Não levaria muito tempo para solicitar um arquivo de Grady.

“Quando você gostaria de ir?” Perguntou Morrison.

“Assim que terminarmos aqui,” Ty respondeu com um aceno de cabeça, para as portas

de laboratório quando eles se aproximaram.

“Isso pode ser um pequeno problema,” Morrison respondeu nervosamente, enquanto

Henninger deslizava seu cartão através do encaixe de segurança.

“Então resolva o problema,” disse Ty friamente.

“Os detetives de NYPD8 designados para o caso, não retornam as nossas ligações há dois

dias, eles não sabem que vocês estão aqui,” Morrison disse.

“Então, qual é o problema?” Zane perguntou, parando na mesa de segurança.

8
Departamento de Polícia de Nova York

37
“Tecnicamente, ainda é um caso articulado, o local foi deixado em cutódia da NYPD.”

Morrison respondeu com um olhar agradecido para Zane, enquanto Ty suspirava exasperado.

“Nós vamos ter que notificá-los sobre as mudanças do caso.”

“Então ande logo com isso!,” Ty interrompeu, saindo pela porta de segurança que

Henninger ainda mantia aberta para ele.

“Vá em frente,” disse Zane baixinho. “Deixe-nos saber quando estiver resolvido.”

Morrison fugiu, seguido por seu parceiro mais calmo, e Zane seguiu Ty, se perguntando

se este seria o padrão do trabalho: o furacão Grady varria tudo, jogando tudo paro o alto, e Zane

varrendo de volta aos lugares devidos, limpando a bagunça.

Não tinha trabalhado pra caramba nos últimos dois anos, para ser um maldito zelador.

Quatro horas depois de entrar no laboratório, Ty estava sentado em meio a uma

enxurrada de papéis e pilhas desordenadas de relatórios. Ele apoiou os cotovelos sobre a mesa,

franzindo a testa fortemente e olhando para o topo de aço inoxidável brilhante.

Do outro lado da mesa, Zane estava ocupado trabalhando em seus gráficos. Olhando

para cima por acaso, a expressão no rosto de Ty o fez parar.

“O que foi?”

Ty não olhou para cima, seus olhos estavam ligeiramente vidrados e a testa franzida.

“Não há nenhum padrão,” murmurou. “As únicas coisas que ligam estes casos, são as pequenas

lembranças que o cara deixa junto ao corpo e o fato de que todos acabam mortos. Fora isso, não

há nenhum tipo de vítima comum, não há MO. Arma, a causa da morte; até mesmo a maneira

como ele organiza tudo. É diferente.”

Ele finalmente concentrou seus olhos e olhou para os arquivos em tom de acusação,

como se fosse culpa deles.

38
“Vitima número um; Kyle Walters” recitou, de repente. “Rico figurão de Wall Street

encontrado em seu quarto ainda vivo, mas meio louco, sofrendo de hipersensibilidade grave à

luz, som, cheiro, e a lista continua. Morreu no hospital, sem dizer uma única palavra coerente. A

causa da morte foi diagnosticada como overdose de metanfetamina. Inferno, a única razão que

sabemos que esse cara foi vítima do serial killer, foi porque a empregada encontrou a lembrança

do assassino uma semana depois; serial killers costumam observar as suas vítimas morrem, ou

sentir o poder de matá-las. Por que razão ele iria deixá-lo vivo e em risco de ser identificado?”

“Talvez ele se divirta assistindo a vítima sofrer.,” Zane sugeriu calmamente, sem levantar

os olhos do papel. Seus dedos se moviam sobre os detalhes, fazendo anotações dos processos. “O

melhor padrão de desenvolvimento é o fato de que as vítimas são diferentes. Ele está escolhendo

especificamente, com base em algum raciocínio. A maioria dos serial killers se fixam em um

determinado estilo: jovens mulheres loiras ou ou homens gays ricos, por exemplo.”

“Sim, querido, estou ciente disso. Esse é o meu ponto. Temos um corretor de trinta e sete

anos de idade, do sexo masculino, morto com uma overdose de metanfetamina de má

qualidade,” disse Ty, fechando os olhos e descansando a cabeça contra sua cadeira. Depois

balançou a cabeça, recitando tudo de memória. “Em seguida, Susan Harris, prostituta de vinte e

poucos anos, encontrada enrolada apenas em um lençol branco de 600 fios, no cemitério mais

exclusivo do estado, sem nenhum dente na boca e sem causa aparente da morte; em seguida, um

duplo assassinato. Duas mulheres jovens: Allison McFadden e Theresa Escobar. Colegas de

quarto, sufocadas, posicionadas em suas camas, como se estivessem dormindo. A única coisa

notável nelas, é que seus cabelos foram tingidos após a morte. Depois nós temos a infame dupla

de gêmeos que envolveu o Bureau, Ryan e Russell Stevens. Mortos no marcador Tri-State, um

homem em cada um dos estados limite, mortos com um tiro. No final dos cinquenta anos,

aparentemente um duplo suicídio, a não ser pela lembrança deixada pelo assassino.”

39
Rolou o pescoço e sacudiu a cabeça, tentando entender. “O primeiro cara era moreno, a

prostituta era uma loira artificial, mas naturalmente morena; a segunda e a terceira, uma era loira

e a outra tinha cabelos negros, então foram tingidas com as cores opostas; os gêmeos eram ambos

ruivos; vítimas de ambos os sexos, nenhum tipo de corpo comum; olhos castanhos, olhos verdes,

olhos azuis... Inferno, ele nem sequer deixa as mesmas lembranças! Caralho!” amaldiçoou.

“Todos os serial killers têm padrões, tem que estar lá,” murmurou para si mesmo.

“Não ter um padrão pode ser um padrão”. A distração paciente era clara na voz de Zane.

“Se ele for inteligente e não completamente insano, ele pode estar deliberadamente

brincando com a gente, é um jogo para ele.” Enquanto Ty estava ficando frustrado, Zane se

manteve focado, analisando os números e os dados. “Eu quero traçar as posições dos corpos para

ter uma ideia do território que estamos vendo.” Olhou para cima para ver Ty carrancudo, e a

curiosidade de Zane levou a melhor sobre ele. “Diga-me, Grady, por que diabos você está aqui?

Por que Burns o colocou neste caso?”

“Entendo que existe um padrão,” Ty respondeu devagar, ignorando a pergunta

momentaneamente. “Eu quero saber que porra de padrão é,” grunhiu pacientemente, se

inclinando para trás e rolou seu pescoço. “E ele me colocou neste caso porque me conhece. Sou

bom em me esgueirar e em jogos mentais.,” disse secamente, optando por não elaborar.

Zane balançou a cabeça lentamente. Estava começando a ver por que foram colocados

juntos neste show de horrores. Ty era bom em jogos mentais, Zane era bom em detalhes e

padrões. E era tão óbvio que eles não funcionavam bem juntos, que nem precisavam fazer uma

atuação para a equipe de Nova York.

“Tenho o suficiente aqui,” anunciou, fechando os arquivos e notebook. “Amanhã vamos

falar com os detetives da NYPD, e Serena Scott deve retornar minha ligação. Se Henninger e

Morrison não nos derem acesso à cena, conseguiremos por conta própria.” Ele se afastou da

mesa. “Você tem mais alguma coisa?” Sua voz era neutra.

40
“Não,” Ty murmurou sem se mover, ainda olhando para os arquivos e franzindo a testa.

Zane o observou em silêncio por um longo momento antes de dizer: “Pronto para ir para

o hotel? Eu não sei quanto a você, mas estou pronto para o jantar e uma bebida.”

“Você bebe em serviço?” Ty perguntou incrédulo quando finalmente tirou os olhos dos

arquivos.

“Não é o que todo mundo faz?” Zane se dirigiu para o corredor. “Tenho um novo

parceiro espertinho para lidar; tenho certeza que ninguém vai me culpar,” murmurou sob sua

respiração enquanto caminhava até a porta, saindo do laboratório. Algumas cervejas com o jantar

nem sequer seriam registradas em um bafômetro com a sua massa corporal, e ajudariam em

novas ideias, mas ele não ousaria. O que não queria dizer que ele não podia sonhar com o

inverso, no entanto.

“Você nunca foi um agente de campo antes, não é?” Ty perguntou com desdém, ainda à

mesa, olhando para os arquivos e fotos da cena do crime.

Zane parou na porta, tomando um momento para ordenar seus pensamentos e afastar os

fantasmas dos seus pesadelos constantes. “Uma bebida de vez em quando não vai acabar com o

mundo. Suponho que você venha de uma missão onde estava trabalhando disfarçado, o que

significa que estava sempre olhando por cima do seu ombro, vivendo o papel cada minuto,

sabendo que um mínimo erro o mandaria para o necrotério”. Zane conhecia muito bem a

situação. “Embora seja admirável, e sem dúvida o trabalho mais difícil que o Bureau faz, você vai

ter que descobrir como desacelerar ou as pessoas com quem trabalhamos vão nos estrangular.

Você não pode trabalhar sem parar e ficar afiado o suficiente para triturar esta quantidade de

dados em sua cabeça como um louco.”

Ty desviou os olhos dos papéis de novo e olhou para Zane, sério. “Você acha que esses

dois agentes no necrotério desaceleraram antes de morrer?” perguntou sem rodeios.

41
“Eu acho que eles estavam trancados, tão seguros quanto poderiam estar Sem nenhuma

razão para pensar que seriam encontrados, muito menos atacados. O que significa uma de duas

coisas,” Zane respondeu, com os olhos castanhos duros e inflexíveis. “Ou eles foderam o caso e

se expuseram ou alguém que sabia onde estavam os entregou, seja por erro ou não. De qualquer

maneira, baixar um pouco a guarda não fez diferença. Eles já estavam mortos.”

Ty apenas balançou a cabeça e bufou com desdém. Sabia que nunca levaria um tiro no

peito enquanto dormia. Você nunca podia presumir que estava a salvo; se sentir seguro pode te

matar.

Zane quase podia ver a tensão exalando de Ty em ondas. “Você vai para o hotel ou está

pensando em ficar aqui o dia todo?” perguntou.

“Estou indo para um hotel,” Ty respondeu quando se levantou, recolheu seu casaco e a

mochila. “Um hotel diferente. E você vem comigo.”

Zane simplesmente nivelou um olhar, à espera de uma explicação. Era a primeira vez

que o outro homem havia indicado, mesmo remotamente, que queria Zane perto dele.

“Não planejo perder outro agente para esta merda, entendeu?” Ty respondeu

bruscamente, enquanto enfiava vários arquivos em sua bolsa, olhando de volta para Zane.

“Mesmo que seja você.”

Zane supôs que deveria se sentir quente e animado em saber que Ty, pelo menos, não

queria que ele fosse cruelmente assassinado e deixado para sangrar em seu chuveiro ou algo

assim. De alguma forma, o sentimento realmente não inspirava muita camaradagem, no entanto.

“Então para onde estamos indo?”

“Holiday Inn, cara,” respondeu Ty. “Se vou pagar a maldita conta, não vou desembolsar

quinhentos dólares por uma noite.”

Zane deu de ombros, um quarto era um quarto. Já tinha se hospedado em melhores e em

piores. Ele seguiu Ty para fora do laboratório, pelo corredor até o elevador. “E depois?” Ele

42
queria saber se a preocupação repentina de Ty com o seu bem-estar incluía permanecerem

próximos; ele planejava voltar depois do jantar para estudar os mapas e anotar mais evidências.

Ty deu de ombros quando apertou o botão do elevador. “Então, veremos o que vai

acontecer,” respondeu distraidamente.

Zane olhou para seu parceiro, exasperado. Primeiro, o foco total e completo no caso, um

caso que não era nem mesmo seu foco principal, e agora isso. “Você faz alguma coisa como uma

pessoa normal?” perguntou, embora a questão fosse totalmente retórica. E nem um pouco cortês.

Ty se virou e olhou para ele com ligeira surpresa quando entraram no elevador. “Só as

coisas divertidas,” respondeu finalmente, depois de um momento olhando para ele, pensativo.

“Coisas divertidas,” Zane ecoou, desviando o olhar de Ty, uma vez que ele ficou preso

nos olhos castanhos do homem.

“Você se lembra dessas coisas, não é?” Ty questionou com um sorriso, quando deixou

seus olhos viajarem para cima e para baixo de um Zane pensativo. “Talvez não,” decidiu com um

suspiro.

Zane sabia com certeza absoluta que não queria que esta conversa continuasse. “Quantas

chances ainda me restam?” ele perguntou abruptamente. Sabia que Ty estava avaliando-o, em

mais de uma maneira.

“Nenhuma,” Ty respondeu imediatamente, mas ficou um pouco surpreso por Zane

sequer fazer essa pergunta.

A sombra de um sorriso autodepreciativo cruzou os lábios de Zane. Sabia que Ty não

tinha respeito por ele, e francamente, Zane não se importava. Não planejava que essa piada de

parceria fosse durar muito tempo. Só queria saber quem mais acima na diretoria decidiu eliminá-

lo junto com Ty. “Então, por que o árbitro não me tirou do jogo?”

“Porque não há árbitros neste jogo em particular,” Ty respondeu a sério quando

chegaram às portas no piso térreo. “E não há regras.”

43
Zane saiu à frente do outro homem. “Então nos viramos sem regras.” Poderia viver com

isso, seria melhor do que trabalhar sob o polegar de outra pessoa, como nos últimos dois anos.

“Ou criamos as nossas próprias.”

“Sim, você parece o tipo que precisa de regras,” Ty respondeu com um sorriso de

escárnio.

Zane não respondeu enquanto caminhavam através da garagem de estacionamento.

Retraiu-se em seu silêncio pétreo, com foco apenas nos próximos passos da investigação, em vez

de dar atenção à insolência de seu parceiro imbecil.

44
Capítulo 02

Depois de fazer check-in em um hotel a apenas uma ou duas quadras do estabelecimento

ostentoso onde eles deveriam ficar, Ty Grady imediatamente entrou no chuveiro na tentativa de

lavar a frustração do dia. Ficou um pouco surpreso quando seu novo parceiro pagou seu próprio

quarto, mas lhe convinha muito bem. Não queria ficar a três metros do filho da puta, a menos

que pudesse evitar. Babaca arrogante. Deus, o homem provavelmente dormia de gravata.

Quartos separados funcionavam bem para Ty, pois pretendia iniciar esse caso do jeito

que sempre fazia. Não estava acostumado com os canais normais e trabalhava muito melhor no

submundo do que da maneira convencional. Duvidava que Zane fosse com ele hoje à noite e, de

qualquer maneira, preferia ir sozinho. Sempre se sentia mais confortável se esgueirando nas

sombras do que acenando sua autoridade.

Em um quarto no final do corredor, Zane Garrett suspirou enquanto largava suas malas e

pasta. Passou as mãos pelo cabelo e depois os esticou. Ele e Ty estavam a várias portas de

distância, mas não longe o suficiente, na opinião de Zane.

Um banho quente era uma boa ideia, então começou a se despir. A ordem seguinte seria

a comida, e então voltaria para o escritório. Lembrou-se de que precisaria, pelo menos, ligar para

Ty e dizer-lhe para onde estava indo. Se fossem verdadeiros parceiros, teriam ficado no mesmo

quarto, mas Zane com certeza não ia sugerir isso. Não era tão masoquista.

Ventindo uns jeans gastos e confortáveis e um suéter vermelho-ferrugem com gola V

após o banho, Zane pegou coldre, verificando-o antes de colocá-lo confortavelmente em seus

ombros. Verificou as bainhas finas que usava na parte interior de seus pulsos, em seguida se

ajoelhou e prendeu outra ao redor de seu tornozelo. Completamente armado, se sentia melhor do

45
que esteve durante todo o dia. Ele odiava aviões. A segurança tendia á ficar um pouco estridente

quando tentava levar suas facas através dos postos de controle, mesmo se você fosse um agente

federal que sempre carregava uma arma.

Sua jaqueta de lona completou o traje e, com um olhar no espelho, revirou os olhos. Ty

provavelmente pensaria que estava tentando copiá-lo, parecendo menos empolado e mais casual.

Zane suspirou, pegou sua carteira, cigarros, isqueiro, um cartão chave e se dirigiu pelo corredor

até a porta do outro agente para um rápido check-in.

Ty respondeu a batida brusca vestindo apenas uma toalha, o corpo ainda todo molhado e

vapor escapando da porta do banheiro atrás de si.

Zane levantou uma sobrancelha quando seu estômago se agitou em reação.

“Sim, isso é muito seguro,” comentou, forçando sua voz para soar irônica.

“O que foi?” Ty perguntou com uma inclinação de cabeça.

Zane olhou significativamente de cima a baixo o corpo de Ty.

Ty olhou para si mesmo e, em seguida, de volta para Zane torcendo o nariz quando

percebeu o disparate que Zane estava falando. “Eu sou uma arma letal, cara,” ele resmungou, se

virando e acenando sobre o ombro, apontando para Zane entrar.

Zane teria rido com desdém, porém ele achou que Ty não estava exagerando. Não havia

como saber o treinamento que Ty havia recebido (embora Zane já tivesse percebido que ele era

militar de algum tipo), mas ele realmente parecia capaz. E em forma. Bastante em forma. Zane

engoliu seco quando entrou e empurrou a porta atrás de si, deixando os sentimentos estranhos

no corredor, incorporando seu personagem profissional por motivos de segurança.

“Achei que você gostaria de saber que não vou estar em casa para o toque de recolher,”

disse ele, deslizando a mão no bolso de sua jaqueta.

“Não sou a porra do seu guardião,” Ty grunhiu enquanto soltava a toalha e pegava sua

cueca. Olhou para trás e, ao ver a mão de Zane no bolso, ficou tenso instintivamente.

46
Os olhos de Zane se estreitaram e ele, lentamente, puxou sua mão deixando-a cair ao

lado de seu corpo. Seu parceiro estava, obviamente, mais tenso do que deixava transparecer.

“Gostaria de lembrar seu comentário: ‘Você vem comigo, eu não planejo perder outro agente’,” disse

suavemente, mais uma vez repreendendo a si mesmo fortemente dentro por cobiçar – e querer

apalpar – quando recebeu esse show gratuito. Suspirou interiormente. Ele estava se comportando

ultimamente. Talvez fosse um pouco certinho demais, como Ty disse. O pensamento o deixou

um pouco doente.

“O que você faz no seu tempo livre não é da minha conta,” Ty estava dizendo enquanto

puxava a cueca e depois enxugava seus ombros e braços molhados. A toalha passou sobre uma

tatuagem no bíceps direito de Ty, mas Zane estava muito longe para discernir, além do fato de

que era um rosto. Ele lutou contra a vontade de apertar os olhos para tentar enxergar melhor.

“Nós vamos ao menos tentar trabalhar juntos, ou vamos apenas nos encontrar a cada

poucos dias para comparar anotações?” Zane perguntou. “Prefiro saber agora do perder mais do

nosso precioso tempo.”

“Você acha que este caso vai ser fácil para um homem?” Ty perguntou em resposta,

quando agarrou sua calça jeans, e se virou para olhar para Zane novamente. “É uma grande

aposta, achar que você é mais inteligente que o assassino.”

“Você ainda não agiu como se me quisesse por perto, Grady. Não comece agora,” Zane

falou.

“Eu não ajo, e não disse que queria você por perto,” Ty respondeu calmamente. “Deixei

subentendido que eu precisava de você.”

“Bem, agradeço minhas estrelas da sorte, estou lisonjeado,” Zane falou lentamente com

aborrecimento. Ty parecia não se importar em agir de forma não profissional, então Zane

aproveitaria a oportunidade para jogar a conduta correta para o alto. Pena que Ty estava tão

47
determinado a ser um bastardo. Eles poderiam ter se dado bem. Compartilhando uma boa garrafa

de whisky. Zane rangeu os dentes.

“Você parece um pouco tenso,” Ty observou ironicamente.

Zane não mencionou sua linha de pensamento. “Você deixou implícito; então, do que

você precisa?” perguntou, em vez de responder ao comentário de Ty.

“Não há problema em ficar tenso, eu estou tenso,” Ty disse a ele com um encolher de

ombros descuidado. “Você vai voltar para o Federal Plaza?” perguntou em resposta à pergunta de

Zane, enquanto vestia uma camiseta preta, com a estampa: “Eu trabalho infiltrado” em letras

maiúsculas brancas.

Zane ficou olhando para a camisa antes de balançar a cabeça lentamente. “Sim, por quê?”

“Quando você voltar, pode verificar se estou aqui?” Ty perguntou, desembaraçado pelo

pedido, enquanto se sentava na beira da cama e calçava as meias.

“Você vai fazer alguma coisa para não estar aqui?”

“Espero que não,” respondeu Ty ironicamente, quando colocou o pé em uma bota de

cowboy surrada. “A alguns quarteirões daqui, há algumas prostitutas trabalhando. Vou falar

com algumas daquelas senhoras.”

“Várias respostas vêm à minha mente.”

“E tenho certeza de que todas serão extremamente inteligentes,” respondeu Ty

sarcasticamente, quando colocou a outra bota. Em seguida, se levantou e se espreguiçou.

Zane deliberadamente olhou para longe do corpo rijo se esticando à sua frente.

“Algumas” reconheceu. “Você quer que eu vá junto?”

Ty levantou uma sobrancelha e deu um lento olhar para Zane. Limpou a garganta e

lambeu os lábios, enquanto esticava os braços sobre a cabeça, em seguida, os deixou cair de volta.

“Alguma vez você já, umm... Pegou uma prostituta?” perguntou com uma cara séria.

48
“Sim.” Tanto dentro como fora do trabalho, mas não era necessariamente pertinente para

a discussão. Zane inclinou a cabeça, quando as sobrancelhas de Ty subiram em surpresa. “Então,

sim ou não? De qualquer forma, vou comer em primeiro lugar.”

Ty inclinou a cabeça, pensando sobre isso; esta poderia ser uma boa oportunidade para

ver como Zane lidaria com a investigação de campo, sem prejudicar muito, já que estavam no

início. “Aham, tudo bem,” concordou finalmente, enquanto pegava a prática jaqueta de lona

verde, estilo militar. Em seguida, olhou para Zane, mantendo uma estreita avaliação, com os

olhos apertados, verificando a forma como ele estava vestido. “Tudo bem,” resmungou

novamente, jogou a jaqueta longe e vasculhou suas coisas, procurando seu outro casaco. Ele não

queria que parecessem uma porra de gêmeos.

Tirou sua camiseta fora enquanto Zane esperava, trocando por uma camisa branca.

Estava muito consciente, quando trocou de roupa, do fato de que a pequena cicatriz redonda na

parte inferior das costas ainda era visível, recente e rosada em sua pele bronzeada. Ele olhou para

Zane e pigarreou conscientemente, olhando para Zane novamente enquanto deslizava a camisa

pelo corpo. Não sabia por que isso o incomodava, que Zane pudesse ver sua cicatriz, mas o que

era. Talvez porque ele não foi o único corpo pelo qual a bala atravessou.

O outro agente viu a cicatriz, reconhecendo-a pelo que era. Enquanto Zane tinha tido

sorte o suficiente para evitar ser baleado, ele tinha muitas outras cicatrizes, por dentro e por fora

de seu corpo. Não fez nenhum comentário e fingiu não ter notado.

“Então, aonde vamos jantar, garçon9?” Ty perguntou enquanto pegava sua carteira e a

enterrava no bolso traseiro da calça.

9
Garçon é uma palavra francesa que tem a acepção primária de “moço, garoto, jovem do sexo masculino”. Em Inglês, e em
vários outros idiomas, foi adotada no sentido específico de garçom, especialmente com um cargo inferior, em um grande
estabelecimento que sirva alimentos e/ou bebidas. No entanto, na França é considerado rude tratar um garçom como garçon;
em vez disso, aborda-se o garçom como monsieur.

49
Arrastando o olhar do corpo de Ty novamente, Zane ignorou mais um novo apelido e

respondeu: “Morrison comentou sobre uma churrascaria a alguns quarteirões daqui. Lugar

familiar, receitas originais.”

“Mmm, churrasco de Nova York?,” Ty respondeu sarcasticamente enrugando seu nariz.

“Não vai rolar. Eu preciso... de peixe.”

“Peixe”. Zane deu de ombros. “Ok, podemos encontrar um lugar, a menos que você já

tenha algo em mente?” Ele realmente não se importava, apenas comeria. Eram os cocktails que o

deixava em apuros.

“Vamos andar,” Ty sugeriu enquanto colocava o coldre de tornozelo e verificava se a

arma de apoio estava carregada. Arrastou seu coldre de ombro e fez o mesmo; em seguida,

enfiou a jaqueta de couro surrada, flexionando os ombros com uma careta.

“A faixa está torcida,” Zane esclareceu. Ele se aproximou e estendeu a mão sob o casaco

para virar a fivela de modo que a alça ficasse na horizontal, ao longo da parte de trás do ombro

de Ty. Ty virou a cabeça sem dizer nada e levantou a sobrancelha quando Zane entrou em seu

espaço, mexendo em seu armamento.

Agora, Zane não era um homem estúpido. Ele percebeu como Ty ficou tenso antes

apenas com a possível ameaça. Não foi ignorância da parte de Zane ficar tão perto sem ser

convidado, mas ele queria que seu novo parceiro soubesse que ele não tinha medo dele; que ele

não era exatamente o engomadinho de escritório cuja imagem ele projetava.

Zane endireitou o comprimento da faixa e puxou a jaqueta de Ty de volta para cobri-lo.

“Vamos. Eu poderia comer uma baleia,” disse distraidamente, já em guerra dentro de si. Ele

realmente queria telegrafar uma mensagem? Ou será que simplesmente aproveitou a chance de

tocar nos músculos rígidos que viu? Zona de perigo, Garrett.

Ty limpou a garganta e seguiu em silêncio. Muitas pessoas não tinham a coragem de

entrar em sua zona de alcance e tocá-lo sem a sua permissão, ou sem algum tipo de advertência.

50
Ou Zane realmente não dava a mínima - o que era contrário à sua conduta - ou ele não tinha

ideia de como Ty era realmente perigoso. A terceira opção era a mais assustadora; ele sabia o que

Ty poderia fazer com ele e não esava preocupado. De qualquer maneira, o deixou um pouco

inquieto enquanto iam à busca de comida.

O hotel estava localizado a uma quadra ou duas de Little Italy10, e eles não tiveram

dificuldade em encontrar um restaurante, o que agradava a Ty. Zane o seguiu quando foram

levados até a mesa, olhando para o bar do outro lado do restaurante com um suspiro interno.

Sentou-se à mesa e logo abriu o cardápio.

Ty, no entanto, deixou o cardápio à sua frente e se virou para a garçonete com um

sorriso. Pediu sua Guinness e um jantar com uma série de insinuações bem afinadas e sorrisos

marotos, que deixou a menina rindo para ele enquanto se afastava.

Zane ignorou o que estava se tornando um comportamento habitual do seu parceiro.

Acomodando-se, ele refletiu que talvez devessem ter continuado a procurar um restaurante

diferente. Um com televisores. Aqui não havia nada a fazer a não ser olhar um para o outro.

Enquanto se sentava, Ty observava os outros clientes no restaurante de braços cruzados,

vendo coisas que a maioria das pessoas não percebia. Sua formação o forçava a perceber quem

estava meio ansioso, quem parecia estar à espera de alguém, ou vestindo um casaco grande

demais e que poderia estar escondendo uma arma, ou que podia parecer meio deslocado. E a

lista continuava. “Então,” suspirou quando olhou para Zane. “E agora?”

“E agora o que?” Zane disse, inclinando-se para trás na cadeira. “Você tinha o plano,

lembra?”

10
Little Italy ou em português “Pequena Itália“ é um bairro de Manhattan, Nova Iorque. É assim chamado por ter sido
ocupado por um grande número de ítalo-americanos durante o início do século XX. Hoje, menos de 10% de sua população
possui ascendência italiana, e boa parte de sua área original foi absorvida pelo distrito financeiro e pelo bairro chinês
(Chinatown). Suas características culturais permanecem em bares e restaurantes em um curto enclave ainda restante do
bairro.

51
“Você me sequestrou para o jantar,” Ty enfatizou enquanto a pequena garçonete

colocavaa bebida de Ty sobre a mesa. “Obrigado, querida,” falou, enquanto ela passava. Deu um

longo gole da garrafa e, em seguida, olhou em volta e colocou a palma da mão sobre a abertura

da garrafa antes de virá-la de cabeça para baixo. Ele se perfumou com a cerveja, como alguém

teria feito com água de colônia, tomando outro gole de vez em quando enquanto borrifava

algumas gotas no pescoço, no peito e, finalmente, esfregou as mãos e acariciou o rosto com a

barba espetando.

Zane apenas assistiu, misturando limão com seu chá, balançando a cabeça.

“Isso é um desperdício de uma boa cerveja. Você deveria ter pedido uma merda como

Bud Light.”

“Pareço beber Bud Light?” Ty zombou antes de virar o que restava da cerveja, ergueu a

mão e chamou a garçonete novamente.

“Você acha que as meninas serão capazes de dizer a diferença?”

“Você subestima o talento delas,” Ty riu quando se inclinou para trás e estendeu as mãos

sobre a sua cabeça. A garçonete se aproximou mais e Ty sorriu para ela. “Traga para o meu

amigo irritante aqui, uma Bud Light, si, querida?”

Ela reprimiu um sorriso de desdém e deu a Zane um aceno antes de se virar novamente.

“Não,” disse Zane bruscamente, a voz muito firme. “Isso não é necessário.”

Ela virou-se e levantou às sobrancelhas em questão. Ty franziu os lábios e, em seguida,

sorriu, balançando a cabeça e gesticulando para ela para trazer de qualquer maneira.

“Seu amigo irritante não tem interesse em cerveja, Grady,” Zane disse entre dentes.

“Não é para beber,” Ty respondeu com um sorriso calmo.

Zane relaxou um pouco, embora ainda estivesse franzindo a testa. “Então, o que você

pretende fazer com ela?” perguntou desconfiado. Ty apenas acenou com a mão para si mesmo

em resposta. Zane revirou os olhos antes que pudesse impedir, e realmente desejou que Ty

52
tivesse esperado até depois do jantar para “refrescar-se”. Seria ruim o suficiente andar com ele

sem sentir o seu cheiro durante todo o jantar, também.

A garçonete trouxe a cerveja ordenada e sorriu para Ty animadamente enquanto

passava. Zane a olhou pensativo e se perguntou se Ty realmente era encantador, ou se ele era

apenas bonito o suficiente para atraí-la. De qualquer maneira, já deixava Zane irritado.

Ty deslizou a garrafa sobre a mesa e acenou com a mão. “Você pode esperar até depois

do jantar, se quiser,” ofereceu caridosamente.

Estreitando os olhos, Zane olhou para Ty, então para a garrafa, depois de volta para Ty.

“Oh, inferno, não. Um de nós cheirando como um bêbado já é demais.”

Ty apenas deu de ombros. O homem não iria com ele sem entrar no papel. Se ele fizesse

isso voluntariamente ou não, não era a preocupação de Ty. Poderia ser até divertido provoca-lo

para ver até onde ele iria, Ty ponderou com um sorriso.

“Então,” olhou de soslaio quando apoiou os cotovelos sobre a mesa novamente. “Conte-

me sobre suas prostitutas, você não parece o tipo,” disse com um olhar aguçado na aliança de

casamento no dedo de Zane.

Zane deliberadamente ignorou a garrafa de cerveja. “E qual é o meu tipo?” perguntou

com uma voz tensa, sua mão esquerda fechada em um punho, antes que a tirasse da mesa e fora

da vista, escondendo o anel. Ele se perguntava com que novos insultos Ty poderia vir para cima

dele. Era realmente um jogo para ele, aparentemente, e isso tornava mais difícil para Zane,

manter sua reserva pétrea.

Ty zombou em resposta. “Aham, tudo bem,” respondeu divertido. “Acho que você teria

que pagar alguém para te tolerar.”

Deixando passar o insulto, por razões além da verdade, Zane provocou de volta. “Tenho

certeza que você tem um perfil muito bem formado e detalhado, pronto para entregar, provando

o quão carente de qualidades eu sou.”

53
A sobrancelha de Ty se levantou, e ele se inclinou para frente. “Você já leu o meu

arquivo?” perguntou curioso.

“Em que momento eu tive chance, nessas 36 horas que passamos, praticamente, juntos?”

Zane perguntou sarcasticamente. “Isso não quer dizer que eu não pensei em pedir a sua ficha.”

Ty estreitou os olhos e, em seguida, dispensou como uma coincidência. “Um perfil seu,

hum?” falou com um sorriso presunçoso.

“Apesar de sua insistência em ser um idiota total, você é inegavelmente educado e

altamente treinado,” disse Zane, baseando-se nas pistas e nos dados que ele estava reunindo a

cerca de Ty, para dar um palpite certeiro. Processando os números, por assim dizer. “Então, eu

aposto que você tenha me avaliado como uma possível ameaça, julgado minha educação,

avaliado os pontos fortes e fracos... sim; um perfil.”

“Sua lógica é irrefutável,” Ty elogiou, ainda sorrindo. “Eu já tracei um perfil,” respondeu

com um aceno de cabeça. “Ainda estou esperando que você o mude.”

O interesse de Zane na linha de conversa se dissipou, assim como qualquer forma de

vida ou faísca em seus olhos escuros, a expressão dele ficou dura novamente. As pessoas

estavam sempre à espera que ele mudasse. “Muito caridoso vindo de você,” disse secamente.

Ty deu de ombros. “Você quer que eu continue a pensar que você é um covarde que se

esconde atrás de uma mesa, tudo bem para mim. Mas não me diga que eu não lhe dei uma

chance,” avisou quando se inclinou para trás em sua cadeira novamente e olhou para a direita

quando alguém se moveu muito rapidamente em sua visão periférica. Observou silenciosamente

com desconfiança por um momento, a tensão súbita irradiando de seu corpo.

“Não há nada que possa fazer para mudar a sua opinião,” disse Zane amargamente, nem

mesmo notando a mudança no comportamento de Ty. “Além disso, não está tão longe da

verdade.” Seu tom tinha ficado decididamente acre, e Zane tomou um longo gole de seu chá

gelado para controlar o aborrecimento.

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“Ah, eu ouço um passado borbulhando ,” Ty respondeu apontando para Zane enquanto

retirava sua atenção de seus companheiros de jantar. “É outra coisa que não quero discutir.”

“Não tenho nenhum desejo de ouvir o lamento de violinos de qualquer maneira,” Zane

comentou.

Ty riu alegremente e acenou com a cabeça. “Assim é melhor,” disse em aprovação.

O nariz de Zane se enrugou, enquanto freava seu temperamento mais uma vez. Algo em

Ty trazia a tona partes dele que ele tentava esconder da luz do dia. Certamente, isso só levaria ao

desastre. “Houve quatro,” murmurou antes de pensar melhor.

“Quatro o quê?” Ty perguntou em aparente confusão.

Zane pigarreou em aborrecimento e olhou ao seu redor.

“Putas,” disse com os dentes cerrados.

“Todas ao mesmo tempo?” Ty perguntou com um tipo de zombaria em seus olhos

arregalados de inocência.

“Não, não as quatro de uma vez.,” disse Zane baixinho.

“Que pena,” Ty falou lentamente com um sorriso. “Por quê?”

Zane suspirou interiormente. “Uma delas estava ocupada com o cara na outra cama,”

disse enquanto levantava seu copo para pedir outro chá. Foi um inferno de uma noite – pelo

menos o que ele se lembrava.

“Isso é fascinante e bizarro,” Ty disse categoricamente. “Mas o que queria saber, é por

que prostitutas,” corrigiu com um sorriso travesso. “Pagar por sexo significa que está fazendo

isso para lidar com as suas frustrações, não porque você aprecia.”

“Ou porque você está tão bêbado que não sabe o que está fazendo,” Zane apontou,

tomando mais um gole de chá.

Ty ergueu as sobrancelhas e inclinou a cabeça. “Você é alcoólatra?” perguntou

diretamente.

55
Os lábios de Zane se torceram em divertimento irônico, tomou mais um gole de chá, em

vez de responder.

“Bem, se entrarmos em algum tiroteio vai ser interessante,” Ty apontou sarcasticamente.

“Desculpe, chefe, eu apontei para o meio!” ele chorava baixinho, enquanto apertava os olhos e

erguia a mão, acenando na frente dele, imitando um homem que estava vendo em dobro,

enquanto tentava mirar.

Os olhos de Zane ficaram estáveis e sem emoção. “Eu não bebo mais,” disse após uma

longa pausa.

“O que isto quer dizer?” Ty cutucou lentamente. “O que, você é um alcoólatra em

recuperação?” perguntou com sarcasmo, enfatizando as palavras.

Tentando dificilmente evitar um súbito desejo de cometer homicídio, os olhos de Zane se

estreitaram e começaram a brilhar com raiva. Deveria saber que Ty iria desrespeitar até mesmo

isso. “Alcoólicos não se recuperaram,” disse bruscamente quando empurrou sua cadeira. “Volto

logo,” murmurou, indo para a porta da frente.

“Eu sei disso,” Ty comentou depois que ele levantou. “Eles não devem ter um tradutor

de sarcasmo na Ciber,” murmurou para si mesmo, rolando seus olhos.

Zane ouviu, mas estava zangado demais para virar, teria que se acalmar ou perderia o

controle sobre o seu temperamento bem praticado. Empurrou as portas e caminhou para a

calçada, andou alguns metros de distância, pegou um maço de cigarros, e acendeu, observando o

tráfego de pedestres passando, enquanto esfriava.

Deixado sozinho no restaurante, com vários clientes olhando para ele com curiosidade,

Ty simplesmente deu de ombros e pegou uma baguete para comer. O alcoolismo não combinava

56
com o perfil mental que tinha criado de seu novo parceiro. Teria que reconsiderar depois de sua

tarefa esta noite.

Depois de fumar seu cigarro lentamente, Zane amassou o filtro quando terminou, e

atirou-o numa lata de lixo do lado de fora do restaurante antes de entrar. As saladas estavam

sobre a mesa, e ele sentou-se e começou a comer sem dizer uma palavra.

“Temperamento explosivo, huh?” Ty o saudou enquanto mastigava. “Essa é uma boa

ideia,” comentou o homem que era conhecido por perder a paciência de forma explosiva. “Sair

assim.”

Zane grunhiu em resposta enquanto dava algumas mordidas na salada, decidindo se

queria responder. “Tive que aprender,” finalmente disse quando pegou uma baguete.

“Você foi policial?” Ty perguntou em contrapartida, a sua mente juntando peças e

usando sua lógica peculiar enquanto ele continuava a mastigar.

“Estamos jogando “vinte perguntas” agora?” Perguntou Zane. “Não, nunca fui um

policial.”

“Eu pergunto porque policiais de grandes cidades são geralmente atormentados por

problemas com bebida e raiva,” Ty informou. “E suponho que começaram e terminaram antes de

você entrar no Bureau, porque você não teria ficado depois se continuasse a desenvolvê-lo.

Militar?” perguntou em dúvida.

Zane sorriu um pouco quando olhou para cima e viu as rodas girando na mente do outro

agente.

“Não. Você tem mais dois palpites.”

“Engraçado, você parece ser da Força Aérea,” Ty falou lentamente com um aceno de

cabeça e um sorriso.

Uma risada aguda escapou de Zane antes que pudesse reprimir.

57
“Infelizmente, a minha imagem de rato de escritório é recentemente cultivada, estou

satisfeito que seja tão convincente,” disse, com pouco brilho. Ainda queria uma bebida, suas

mãos coçavam e a garganta seca só piorava o quadro. “Você é militar, é claro.”

“Fuzileiro Naval,” Ty comentou, quando olhou para Zane, sem mover a cabeça, o garfo

parou quando ele sorriu lentamente. “Force Recon11.”

Os ombros de Zane enrijeceram. Então, Ty era um guerreiro altamente especializado,

treinado para extrair o pior de um ambiente hostil. Estar presente e ser invisível, ser letal. O

conhecimento deixou algo frio dentro de Zane. “Faz sentido,” disse com firmeza. “Qualquer um

que pode ser tão insubordinado, só poderia ser o oposto total em algum ponto no tempo,”

observou Zane, empurrando a tigela de salada à distância, considerando fumar outro cigarro.

Ty bufou e balançou a cabeça em diversão. “Insubordinado” repetiu com um pouco de

risada.

Olhando para cima, Zane já estava resignado a ser insultado, era o Modus Operandi de Ty.

“O que foi?”

“Se eu fosse realmente tão insubordinado assim, sem responsabilidades, você acha que

ainda estaria por aqui?” Ty perguntou curioso. “Quero dizer, sou bom, mas não tão bom assim.”

Zane não tinha sequer que pensar em sua resposta. “Incorreto, significa que você é tão

bom, que pode ser tão insubordinado como você gosta de ser, e se safar. Nós dois sabemos que

há uma diferença entre ser um passivo no campo e um babaca no escritório.”

“Nós certamente sabemos,” Ty concordou com um sorriso de merda. “Idiota.”

“Vindo de você, vou tomar como um elogio.”

Ty apenas deu de ombros e comeu a sua salada feliz, Zane parecia ter uma opinião mais

elevada de suas habilidades do que ele fazia das dele. Era assim que deveria ser, tanto quanto Ty

11
As companhias de Force Reconnaissance (Força de Reconhecimento) ou Force Recon, são operações especiais da Marinha
dos Estados Unidos que fornecem elementos essenciais da inteligência militar para o comando da Marine Air-Ground Task
Force (MAGTF), apoiando seus comandantes de força-tarefa, e suas unidades operacionais subordinados da Fleet Marine Force
(FMF).

58
poderia dizer. Em breve, os pratos principais foram levados e Ty deu a garçonete uma piscadela.

“Então, o que você fez?” perguntou a Zane finalmente.

Zane sabia o que Ty estava perguntando, seus lábios se levantaram em um pequeno

sorriso.

“As prostitutas eram informantes.”

“Oh, é mesmo?” Ty perguntou, seu tom de voz como de um pai paciente, lidando com

uma criança.

A raiva brilhou novamente, e a controlou com esforço sério. “Não preciso de outro

sacerdote maldito, você quer saber ou não? Porque se você está querendo saber só para me

agradar, então vou calar a boca,” Zane rosnou.

“Gênio, gênio...” Ty acenou com o seu garfo no rosto de Zane. “Que tipo de informantes

de Cibercrimes são prostitutas?” perguntou, mudando completamente a direção.

“Nem sempre trabalhei na Divisão de Cibercrimes,” Zane disse para Ty firmemente.

“Huh,” Ty comentou desinteressadamente. “E você estava transando com as suas

informantes?”

Zane encolheu os ombros. O que Ty fazia com ele, para querer perder as estribeiras?

Ty deu um assobio baixo, balançando a cabeça. “Porra, não foi surpresa você ter se

ferrado.”

Zane lhe deu um olhar de ódio. “Não imaginava que quando eles o colocam em uma

coleira, na verdade é uma âncora maldita, não é?” ele perguntou irritado.

“Estava esperando apenas uma bigorna, com um pequeno detalhe em rosa, como anexo,”

Ty admitiu. “Chame-me de Wile E. Coyote12.”

Surpreendido pela franqueza, Zane se inclinou para trás quando a garçonete encheu o

copo de chá, esperando ela sair. “Então o que você fez para irritá-los?”

12
O faminto Coiote, que sempre tenta capturar o Papa-Léguas, encomendando produtos ACME, uma empresa fictícia que
fabrica de tudo.

59
Ty realmente estremeceu quando tomou um gole de água e deu de ombros.

“Isso ainda é confidencial,” respondeu com sinceridade.

“Ouch”. ‘Confidencial’, normalmente significava que a merda bateu no ventilador, e mais

algumas coisas. “Então os tijolos, a bigorna, e os explosivos ACME.”

“Você tem ACME escrito na sua testa.” Ty murmurou e se inclinou para trás na cadeira,

levantou a cabeça com um suspiro audível. “Eu estava no comando da operação,” explicou,

completamente sem vergonha do que sabia que provavelmente deveria tê-lo feito perder o

emprego... E possivelmente ser preso. “Contornamos algumas situações do regulamento, escritos

em algum livro de regras; depois tudo foi para o inferno.”

“Do pouco que sei de você, deve ter sido um bom trabalho, não é?” Zane disse enquanto

seus jantares foram entregues. “Teria valido a pena.”

“Sim,” respondeu Ty sucintamente. “Teria valido a pena.”

Zane levantou os olhos para estudar o outro homem. “Então, o que deu errado?”

Ty olhou para cima e encontrou os olhos sérios dele, olhos castanhos brilhando com raiva

da memória. “Isso é confidencial,” murmurou finalmente, antes de olhar para baixo.

O calor cortado da voz de Ty e a pressão nos olhos dele mantinham certa distância.

“Parece que você tem seus próprios problemas de raiva.”

“Só quando estou chateado,” Ty respondeu com um sorriso forçado.

Bufando, Zane balançou a cabeça. “E isso é o que? Apenas setenta e cinco por cento do

seu tempo?” perguntou sério.

“Estou muito tranquilo agora,” Ty bufou com uma inclinação piedosa de sua cabeça.

“Mm hmm,” cantarolava contente enquanto pegava a sua comida.

Zane balançou a cabeça, sufocando algo quase parecido com uma risadinha.

“Você não está bem da cabeça, Grady, e quero dizer isso da maneira mais respeitosa

possível.”

60
“Mas que merda!?” Ty respondeu com um gesto de mãos.

“Tranquilo uma ova! Você faz de tudo para tornar a vida das pessoas um inferno. Mas

agora me pergunto se é porque você gosta disso, ou se é porque você, honestamente, não se

importa com nada além do trabalho.” Ele já tinha visto isso antes. Inferno, Zane tinha vivido isso

antes.

“Será que isso importa?”

Zane baixou o garfo e olhou através da mesa, os olhos se concentrando em algo sobre o

ombro de Ty. “Eu costumava pensar que sim,” admitiu.

Ty o olhou com uma sobrancelha levantada e expressiva. “E?” convidou a continuar com

um aceno de sua mão.

Olhos escuros se fixaram no rosto de Ty. “A ameaça de castração, desemprego e um

tempo na prisão, me fez repensar as coisas,” Zane forneceu.

“Sim, bem, sair com prostitutas te faz conhecer algumas merdas bizarras,” Ty ofereceu

com uma cara séria.

Os cantos da boca de Zane subiram ligeiramente. “Todo mundo tem os seus hobbies,”

respondeu suavemente.

“Se te fizer feliz, cara,” Ty encolheu os ombros com desdém, obviamente tendo perdido o

interesse na conversa.

Zane voltou a dar atenção ao seu jantar. Ty não era apenas bom em descobrir jogos, ele

era bom em jogá-los. Foi cansativo tentar manter a brincadeira, mas também era quase divertido.

Zane acabou se lembrando de que esta “parceria” poderia não durar tanto tempo, e agora não

conseguia se decidir se se sentia ambivalente sobre isso, ou pior, desapontado. Havia uma ligeira

possibilidade de que eles pudessem ser uma equipe formidável. Mas estava claro que o óbvio

desdém de Ty não permitiria que isso acontecesse.

61
Comeram em silêncio por um tempo e, logo que terminou o seu jantar, Ty limpou as

mãos no guardanapo de linho e acenou para Zane. “Então, me fale sobre o caso,” disse sem

preâmbulos.

O cérebro do outro agente acessou os dados recolhidos em sua mente, sem mais

perguntas. “Oito assassinatos, diferentes locais, nada os ligando. Nenhum padrão na escolha da

vítima, na causa da morte, na hora da morte, ou outro MO estável. Apenas as lembranças

deixadas nas cenas, nenhuma era repetida. Ele está nos provocando,” Zane falou aturdido,

empurrando o prato vazio para longe.

Ty fechou os olhos e balançou a cabeça com impaciência. “Alguma coisa que o lembre de

algo?” perguntou incisivamente.

Zane lentamente agitou seu chá com os olhos distantes, revisando listas e listas de

detalhes em sua cabeça. “Não tenho nada de concreto, mas o estado das vítimas realmente chama

meu interesse. Ele está sendo criativo, isso é muito incomum.”

“Além dos sinais nas cenas, a tintura está me incomodando,” Ty retornou com um aceno

de cabeça. “Sinto que deveria saber por que ele fez isso. Por que tingir uma loira natural de preto;

em seguida, a sua companheira de quarto de cabelos escuros, de loira?”

“Pode ser que ele estivesse tentando mudá-las antes de matá-las, mas elas não foram

violadas,” disse Zane. “Vou ter que analisar mais, analisar os detalhes.”

“Isso é o que você está fazendo agora, gênio,” Ty bufou.

“Não, agora estou apenas jogando as coisas fora. Trabalhar com os detalhes exige mais

concentração e menos distração.” Zane olhou para ele de forma significativa.

Ty revirou os olhos e recostou-se na cadeira. “Você queria trabalhar junto,” lembrou.

“Quando disse isso?” Zane perguntou com a voz baixa.

“É a contestação silenciosa em seus olhos,” Ty respondeu sarcasticamente.

62
“O que é que vai ser Grady?” Zane perguntou, sentindo-se muito cansado. “Decida

agora, para que possamos começar a trabalhar, juntos ou não?”

Ty olhou para ele, pensativo e depois sorriu lentamente. “Bem, estou gostando mais de

você agora,” respondeu.

Zane estudou aquele sorriso por um longo momento antes de arrastar a sua cadeira para

trás. “Pronto para ir?”

Ty pegou a garrafa de Guinness e a Bud Light e as colocou sob sua jaqueta. “Pronto,” disse

alegremente.

Franzindo a testa para a cerveja escondida, Zane levantou-se e deixou uma nota de sua

carteira em cima da mesa. Ele imaginou que o resto da noite seria interessante. Ty estava

gostando dele até agora. Bem, que sorte.

Assim que chegaram na rua, Ty pegou a cerveja, estendeu a mão e pegou o cotovelo de

Zane, deixando-o em um impasse. O homem mais alto parou e olhou para ele com a sobrancelha

levantada. Ty levantou a garrafa cheia e espirrou a cerveja ao redor, o cheiro flutuando na brisa

fresca da noite.

Zane piscou, e então levantou o queixo bruscamente. “De jeito nenhum.”

“Você faz isso ou eu vou fazer,” disse Ty com naturalidade.

Os lábios de Zane se apertaram firmemente na raiva latente. Não havia nenhuma dúvida

em sua mente que Ty ia seguir adiante. “Idiota,” murmurou, pegando a garrafa da mão de Ty.

Sabia por que Ty queria fazer isso; se eles parecessem policias, elas não iriam chegar perto o

suficiente para fazerem uma pergunta. Mas não significava que ele gostava. Derramando a

cerveja em sua mão esquerda, manchou com o líquido a sua camisa e garganta, e até debaixo do

queixo, onde um bêbado teria deixado escorregar o líquido. Limpando a mão em sua calça jeans,

caminhou até a lixeira mais próxima e jogou a garrafa com tanta força que quebrou quando bateu

no fundo. “Vamos!”

63
Ty nunca deixaria o homem saber, mas o sacrifício lhe valeu um pouco de respeito,

balançou a cabeça e ficou ao lado de Zane, começando a assobiar enquanto andava. Quando

chegaram mais perto de onde as meninas trabalhavam, ele começou a cantar baixinho, as

palavras um pouco mais arrastadas e fora de tom, enquanto balançava, feliz, a garrafa de cerveja

vazia ao seu lado.

Após o quinto quarteirão, Zane e Ty encontraram uma garota que conhecia a segunda

vítima. Levou apenas um par de notas para fazê-la falar no beco onde ela geralmente trabalhava,

e eles acabaram descobrindo que a vítima era de Oklahoma e tinha fugido de seu marido

abusivo.

“Algum motivo para ela ter lençóis caros na casa dela?” Ty perguntou à menina,

observando que ela olhava em volta nervosamente.

“Ela não tinha o dinheiro para comprar coisas caras,” respondeu a garota, enquanto

chutava seu salto plataforma contra o pavimento. “Ela mal tinha dinheiro para se alimentar,” ela

acrescentou com um encolher de ombros.

Ty apenas balançou a cabeça e a olhou com cuidado. Ela olhou para ele

desafiadoramente, parecendo pensar que ele estava contemplando usar seus serviços, afinal. Em

vez disso, ele enfiou a mão no bolso de trás e tirou mais três notas e entregou a ela. “Compre

alguns dias de folga, ok? É mais seguro,” ele grunhiu, enquanto se virava e começava a fazer o

caminho de volta para fora do beco.

Zane se virou silenciosamente, e reparou em como a menina olhava para o dinheiro em

suas mãos.

Caminhando perto de Ty, acendeu um cigarro e puxou o colarinho de sua jaqueta para

cima, quando o vento aumentou. Só fez aumentar seu mau humor, assoprando o cheiro rançoso

de cerveja de sua camisa em seu rosto.

64
Ele quase passou por cima de Ty, que estava observando um casal andando lentamente

pela calçada se aproximando dele, com uma expressão carrancuda impressionante.

“À procura de algo, querido?” a mulher perguntou para Ty, o homem com ela bufou e

balançou a cabeça, olhando para longe e suspirando.

“Você parece um pouco oficial demais para estar fazendo programa,” Ty respondeu

ironicamente. A mulher sorriu e acenou com a cabeça, jogando seu cabelo loiro por cima do

ombro. “Eles nos seguiram,” Ty murmurou quando se virou para Zane e zombou.

Zane fez uma careta, seu humor estava mais ao sul, e seus nervos pareciam pisoteados.

Ele deveria saber que o Bureau iria procurá-los quando não apareceram em seu quarto de hotel

previamente combinado. Irritado, se virou, observando a área ao seu redor, deixando Ty

conversar com os recém-chegados.

“Agente Especial Marian Sears,” a mulher se apresentou, mostrando seu distintivo a eles.

Ty estendeu a mão e a agarrou rapidamente, tomando o braço da mulher não muito gentilmente,

a acompanhando para longe do beco. “E este é o Agente Especial Gary Ross,” a mulher

continuou não se incomodando com o manuseio rude e um pouco violento.

“Você tem alguma ideia do quanto você se destaca?” Ty perguntou para a mulher em

tom de conversa, nem mesmo reconhecendo as apresentações. “Ou o quanto eu já te odeio?”

“Meus sentimentos estão feridos, realmente,” Ross murmurou enquanto seguia junto.

Sears livrou-se da mão de Ty e parou, virando-se para encará-lo. “Entendemos a

necessidade de sigilo em determinadas circunstâncias, Agente Especial Grady,” disse em tom

cortado. “Mas quando a nova unidade de um caso que já perdeu dois agentes para um assassino

em série não aparece aonde e quando eram esperados, tendemos a ficar preocupados.”

“Da próxima vez, vou pedir para mamãe escrever uma nota,” Ty falou ironicamente. Ela

estreitou os olhos para ele.

65
“Vocês dois estão agindo fora de ordens,” Ross zombou em resposta a sua grosseria de

boas vindas.

“Sua tarefa não inclui o trabalho disfarçado entre as meninas que trabalham aqui,”

acrescentou Sears.

“Se é que estão mesmo trabalhando no caso aqui,” Ross murmurou enquanto olhava para

o beco, balançando a cabeça com repugnância.

Sears olhou para seu parceiro com desaprovação aparente, Ross deu de ombros para ela

e, em seguida, olhou de Ty para Zane.

“Embriaguez pública, hem?” Ross se virou para ele. “Eu posso sentir o cheiro da cerveja

em você a partir daqui.”

“Então me prenda,” Zane rosnou.

“Espertinho,” Ross resmungou.

“Estamos trabalhando neste caso ao seu lado, não para você,” Ty rosnou para ambos,

perdendo o brilho bem-humorado em seus olhos, quando interrompeu o agente. “Não nos sigam

quando vocês têm, obviamente, merdas mais importantes para fazer. Se quiseram falar conosco,

peguem a porra de um telefone.”

“Tem um cartão?” Sears perguntou com um pequeno sorriso, sem se intimidar.

Os lábios de Ty se contraíram em ligeira diversão novamente, ele estendeu a mão e

pegou a mão dela. Com a outra mão sob a jaqueta, pegou uma caneta em um dos bolsos internos,

enquanto Ross irradiava raiva. Ty ignorou e segurou a mão da mulher na dele, escrevendo um

número na palma dela e, em seguida, deslizou a caneta de volta no lugar, lentamente, sem soltá-

la.

Ela sorriu para ele, o olhando com diversão e apenas uma pitada de interesse, antes de

soltar a mão dele e pegar o braço de seu companheiro, para puxá-lo para longe enquanto Ty

sorria para eles.

66
Zane deu alguns passos e parou ao lado de Ty, os olhando ir embora, fervendo de raiva.

“Eles vão ser um problema,” murmurou.

“Não, não vão,” Ty sorriu enquanto os observava. A mão de Ross agora estava no

cotovelo de Sears, em vez do contrário, impedindo-a de olhar por cima do ombro, na direção

deles, como se queixando de assédio sexual. “Eles não pensam muito bem de nós, o que é

exatamente o que queremos. Eles vão querer trabalhar neste caso por conta própria, nos manter

fora da jogada; além disso, viu como ele é possessivo? Ele não vai deixá-la chegar perto

novamente,” Ty riu sombriamente, enquanto inclinava a cabeça para admirar o balanço dos

quadris da agente.

Zane olhou para ela. “Ele não vai, huh? O que você fez? Passou a mão nela

discretamente?”

“Vou precisar de um catálogo da Sears quando chegar em casa,” Ty falou lentamente

com um sorriso malicioso.

“Bastardo...,” Zane murmurou, deixou cair a ponta do cigarro no concreto e esmagou sob

o calcanhar.

Ty suspirou e olhou em volta para as esquinas das ruas vazias. “Parece que a nossa busca

não vai mais longe hoje.” Ele rosnou em aborrecimento, começando a caminhar lentamente na

direção de onde tinham vindo. “Por acaso você viu no relatório sobre o tipo de lençol que o corpo

foi envolto?”

“Brancos de algodão egípcio, lençóis de seiscentos fios tamanhos king-size; vendidos em

apenas dois lugares em Nova York; Bloomingdale e Henri Bendel. No varejo custam em torno de

400 a 500 dólares. Não há fios puxados, nem puxões, sem rasgos, sem manchas, nada além de

sangue; ainda cheirava a plástico, recém-tirado do pacote,” Zane desfiou enquanto acendia outro

cigarro.

67
“Será que alguém já verificou isso?” Ty perguntou antes deles atravessarem a rua em

uma corrida.

“Vou ligar para Morrison e pedir-lhe para alguém verificar as lojas. O relatório só diz que

nenhum deles tinha no estoque esses lençóis, por um período de cinco dias, em torno da

descoberta do corpo. Bendel teve uma liquidação de lençois no fim de semana anterior,” disse ele.

“Tenho certeza de que voaram das prateleiras.”

“Ótimo,” Ty gemeu. “Vamos lá amanhã falar com alguém, mais alguma coisa? Além dos

lençóis, e as duas meninas da tintura? Algo no relatório?”

“Nada no relatório disse algo que tenha um padrão.”

“Maldição,” Ty murmurou. Tinha que haver um elemento de conexão.

“Vamos encontrar a maldita coisa,” murmurou para si mesmo.

Zane parou no tráfego, trabalhando o seu caminho através do cigarro. “Ainda quero

voltar para o escritório.”

Ty exalou pesadamente. “Você entende o que estávamos fazendo hoje à noite?” ele

perguntou baixinho.

Zane olhou para ele, não tendo certeza se deveria ficar ofendido, mas ainda um pouco

irritado, apenas princípio. Ty olhou para ele e levantou uma sobrancelha questionando. “Me

ilumine.,” Zane convidou secamente.

“Se for alguém de dentro que pegou Reilly e Sanchez, então ele já pode estar nos

seguindo,” Ty explicou calmamente. “Eu queria ver se poderia detectar alguma coisa.”

“Você está se usando como isca?” Zane perguntou incrédulo.

“Você está ficando histérico?” Ty perguntou ansiosamente. “Posso bater em você?”

Zane apenas suspirou e desviou o olhar, antes que pudesse dar uma resposta mordaz.

68
Ty grunhiu de falsa decepção. “De qualquer forma, se você voltar ao Federal Plaza,

certifique-se de que você não esteja sozinho, e mantenha os olhos abertos. Estou caindo,”

admitiu.

“Posso cuidar de mim mesmo,” disse Zane secamente. Rangeu os dentes quando Ty

bufou, e cada um deles atravessou a rua para chegar à frente de seu hotel. “Costumo acordar às

sete da manhã,” Zane disse a Ty. “E você?”

“Noites,” Ty grunhiu enquanto se dirigia em direção às portas do lobby. “Estive

trabalhando durante as noites, estou em torno de trinta e poucas horas, tentando endireitar meu

horário, então realmente não posso dizer.”

Zane assentiu, apagando o cigarro na parede de tijolo do lado de fora da porta, e jogando

a guimba no cinzeiro na mesinha. “Basta bater na minha porta quando estiver pronto de manhã,

tenho muito para me manter ocupado.” Ele caminhou em direção à garagem, com as mãos nos

bolsos da jaqueta.

Ty apenas grunhiu em troca quando se separaram.

Zane parou e se virou para observar Ty andando os últimos metros até o hotel.

Ponderando sobre o quebra-cabeça que era Ty Grady, Zane fez o seu caminho até o carro. Ele era

irritante na melhor das hipóteses. Um canalha absoluto na pior. E Zane tinha que admitir a

contragosto que ele devia ser bom em seu trabalho.

Zane sentou-se à mesa, os pés apoiados no aparelho de ar condicionado, um bloco de

notas na mão, enquanto olhava através das resmas de relatórios. A papelada estava espalhada

em cima da pequena mesa redonda, no chão, na cama, na cômoda... Mesmo em cima do televisor.

Ele tinha mapas colados à parede, com fotos das cenas dos crimes. Neste momento, estavam em

ordem por datas, mas as movia conforme as ideias se encaixavam. Sua concentração podia estar

sobre os dois agentes mortos, mas a própria série era muito fascinante e frustrante para ser

deixada em paz.

69
Ele refletia sobre as ideias sobre os corpos, a ideia que Ty havia plantado na noite

passada. Tinha feito uma lista simples de como foram encontrados, e ele não podia evitar, mas

sentia que o assassino estava seguindo um script de algum tipo. Abaixando os calcanhares, foi até

a cama pegar as fotos das lembranças deixadas para trás em cada cena.

Havia um espelho dourado encontrado com os gêmeos. Um par de anéis de plástico

ligados, parecido com um tipo encontrado em kits de princesa em trajes para as meninas com as

companheiras de quarto. Um par de dog tags13 foram descobertas pela empregada da primeira

vítima, depois que o homem havia morrido de overdose de metanfetamina. A prostituta deixada

em um lençol no meio de um cemitério havia sido deixada com uma pequena caixa de madeira,

vazia.

Zane sabia que tudo fazia sentido de algum modo. Apenas não estava vendo isso ainda.

A batida lenta na porta o interrompeu e ele olhou para cima, imediatamente em guarda.

Pela teoria, ele deveria ficar bem; se alguém estava lá para matá-lo, provavelmente não iria bater.

Ainda assim... Pegou sua arma em cima da mesa e a segurou ligeiramente atrás dele, enquanto

caminhava até a porta para verificar o olho mágico.

Ty estava no pequeno círculo distorcido a vista de Zane, com a cabeça inclinada para trás

e os olhos fechados, balançando levemente em seus pés enquanto esperava. Zane puxou sua

cabeça para trás e piscou, então retirou a corrente e abriu a porta empurrando a arma na cintura

na parte baixa das costas.

“Estou acordado,” Ty murmurou para ele em saudação.

Zane inclinou a cabeça e abriu a porta mais, se divertindo com a forma que Ty parecia

fora do ar. “Tem certeza?”

“Não,” Ty resmungou. “Não dormi porra nenhuma, e você?”

13
Uma chapa de identificação (por vezes designada dog tag, nome em inglês) é o nome informal para as plaquetas de
identificação usadas por militares.

70
“Na verdade não. Muita leitura antes de dormir. Parece uma natação na minha cabeça.

Vai entrar? Tenho café.”

“Não bebo café,” Ty grunhiu enquanto ainda permanecia no corredor. “Alguma

epifania?”

“Além de pensar que esse cara pode ser algum tipo de gênio criativo do show de

horrores? Nada, ainda.” Zane balançou a cabeça. “Dê-me um minuto para me recompor.”

Ele se virou e voltou para o quarto, parando na cômoda para pegar sua carteira e

empurrá-la no bolso de trás da calça jeans. Eles não estavam com os seus ternos e gravatas usuais

para este trabalho, a fim de promover a fachada inepta, apenas uma Henley fina de algodão e

jeans. Trazia de volta lembranças de seu trabalho antes de ter sido despejado na Ciber. Ele notou

com algum divertimento que Ty usava jeans desbotados, e que estavam perdendo o azul nos

joelhos e uma camiseta de camuflagem que dizia: “Você não pode me ver, mas estou bem na sua

frente” com letras pequenas e amarelas. Sobre a camisa usava a mesma jaqueta que tinha passado

durante a noite. Zane se perguntava se ele coordenava suas roupas para parecer como uma

pessoa relaxada, ou se ele realmente era.

“Eu acho que até descobrirmos que diabos de conexão é essa, temos de nos concentrar

nos agentes,” Ty estava dizendo enquanto entrava no quarto e fechava a porta. Olhou ao redor

para as pilhas de arquivos com uma carranca de sono e passou a mão pelo cabelo curto.

Zane ergueu o coldre da cama e o ajeitou. “Pelo menos com eles podemos retroceder. De

acordo com as notas, a equipe estava tendo problemas... em construir...” Suas palavras sumiram

quando seus olhos ficaram desfocados em pensamentos.

“Huh?” Ty perguntou sem rodeios, cansado demais, se confundindo.

Zane ficou lá parado por um longo momento, depois levantou a mão para fazer um

movimento de espera. Virou-se lentamente em um círculo, olhando para a papelada, tentando

71
cutucar o que chamou sua atenção. Então, seus olhos caíram sobre as datas que ele tinha colado

ao lado das fotos.

“Retrocedendo; a equipe estava tendo dificuldade em descobrir onde as vítimas estavam

naquela noite, naquele dia, mesmo no dia anterior,” Zane resmungou. Virou-se bruscamente nos

calcanhares e olhou para uma pilha especial de papéis.

“Você acha que estavam sendo mantidos em cativeiro? Não havia muita evidência de

restrição ou luta,” Ty apontou com dúvida.

A testa de Zane franziu, puxou as alças do coldre por entre os dedos, passando pelas

datas dos relatórios. “Não, mas acho que ele está observando-os. Estudando seus padrões, em

seguida, pegando-os quando eles estão distraídos.”

“Faz sentido,” Ty acenou com a cabeça enquanto observava Zane com uma sobrancelha

levantada. “Você não vai, tipo... entrar em transe, não é?” perguntou duvidosamente, enquanto

observava o olhar distante nos olhos de Zane.

Zane piscou. “Tente vasculhar vários milhares de pedaços de dados e imagine como você

parecer,” disse brevemente.

Ty bufou de forma depreciativa e balançou a cabeça. “Seja como for, cara, estou sempre

atento,” Ty falou lentamente através de um bocejo.

“Tenho certeza,” Zane murmurou, puxando a arma da cintura, verificando e a

devolvendo ao lugar. “Vamos para a cena, certo? Na rua, também?”

“Que cena?” Ty perguntou quando se inclinou contra a porta.

“A última cena, a que ainda está intacta,” Zane respondeu enquanto afastava sua jaqueta

para colocar duas pequenas lâminas pretas.

“Você já teve notícias daquele cara que eu não lembro o nome pra saber se está tudo

pronto?” Ty perguntou enquanto observava Zane com um pequeno sorriso. “Por acaso os

72
terroristas atacaram enquanto eu dormia?” perguntou sarcasticamente, apontando para a grande

variedade de armas.

“Esteja sempre preparado, certo?” Zane concordou com a cabeça, enquanto empurrava

as mangas e deslizava as bainhas das lâminas; em seguida, as cobriu e vestiu o casaco, poupando

um agradecimento a Deus, pois era outubro e ele não precisava ser criativo para esconder o

armamento. “Sim, Morrison arrumou tudo; vamos para lá depois que encontrarmos os detetives

Holleman e Pierce às duas horas. Então temos três horas e eu vou comer primeiro, porque

provavelmente vamos perder o almoço. E Scott irá nos encontrar às seis.”

“Ah, que bom,” Ty respondeu sem rodeios, batendo as mãos em uma demonstração

simulada de excitação.

Zane pegou as chaves e virou-se para Ty, inclinando a cabeça. “Claro, se você tiver um

encontro quente marcado, se sinta livre. Vão ser reuniões chatas, tenho certeza.” Sentiu seu tom

meio paternalista, não iria ficar tão entusiasmado dando uma resposta.

“Eu não dessa mulher,” Ty respondeu calmamente. “Nem um pouco.”

“Mas ela é muito boa em seu trabalho.”

“Ela também é uma cadela furiosa,” Ty respondeu sem rodeios.

Os lábios de Zane se ergueram. “Sim, e daí?”

Ty apenas deu de ombros com negligência. “Nós temos história, você se importa?”

“Se você não for capaz de trabalhar com ela, então você precisa pular a reunião,” disse

Zane. “Não adianta nada bater de frente.” Ele fez uma pausa. “Mas você parece gostar desse tipo

de coisa...”

“Vá se foder, cara,” Ty bufou.

Zane deixou escapar um sorriso, e a luz iluminou seus olhos escuros. Estudou Ty por

alguns momentos, inegavelmente divertido. “É justo.” Ele balançou as chaves nos dedos. “O

sentimento é mútuo?”

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“Deus, espero que sim,” Ty murmurou.

O sorriso de Zane cresceu e sentiu o desejo de reprimir o riso. “Bem, talvez ela ainda

esteja encantada por você - apesar dela ser uma vadia furiosa, e tudo mais. Um atrai o outro,

entende?” ele disse enquanto caminhava até a porta.

“A lógica aponta para o fato de que você também é uma cadela furiosa, e você me odeia,”

Ty brincou.

Zane olhou para Ty, sem se perturbar mais por qualquer coisa que Ty falasse. “É

verdade.”

“Como foi aquela noite depois que você me deixou?” Ty perguntou enquanto o seguia.

“Silenciosa. Henninger ainda estava no escritório, então arrumou os mapas que eu

queria, rastreou imagens dos objetos deixados em cada cena,” disse Zane, fechando a porta atrás

deles. “Então tomei um café e voltei para cá.”

“Obrigado pelo itinerário, cara,” Ty murmurou sarcasticamente. “Estava me referindo a

alguém seguir você, tentar matá-lo, transar com você, essas coisas.”

“Se pudesse ter tido alguma sorte com o último item,” disse Zane, sua voz seca. “Não,

ninguém me seguiu, ninguém tentou me matar, e ninguém me fez nenhuma proposta”.

“É uma pena,” Ty suspirou tristemente. “Alguma coisa te incomodou?”

“Exceto Henninger ao redor no escritório, não. Ele está tão ansioso, que me faz

estremecer. Morrison é ainda pior. Imagino que você queira matá-los imediatamente”.

“Talvez,” Ty afirmou com um aceno.

Zane riu. “E você me acusou de ser um novato rato de escritório”. Atravessaram o saguão

em direção ao elevador que levava à garagem. “Acho que Burns pensou em nos unir,

imaginando que nós fossemos estrangular um ao outro e fazer o trabalho para ele.”

“Você realmente está na berlinda?” Ty perguntou com alguma surpresa.

74
Caminharam em silêncio por um longo minuto e, quando entraram no elevador e ele

começou a se mover para baixo, Zane finalmente encolheu os ombros, o rosto uma máscara sem

emoção de volta no lugar. “Eu não sei. Talvez. Provavelmente. Já me disseram várias vezes que

estou andando em gelo fino, não importa o quão perfeito seja o trabalho que eu fizer. Acho que

depende de quem esteja precisando de um exemplo na semana.”

“Exemplo de quê?”

Zane olhou para ele de forma significativa. “O exemplo do que não fazer, como não se

comportar. De como não se deve ser. Para mostrar aos outros o que acontece quando você se fode

regiamente. Tenho certeza que você está familiarizado com o sentimento.”

“Não poderia saber o que você quer dizer,” Ty comentou delicadamente quando as

portas do elevador se abriram. Ele saiu e foi em direção ao carro.

Zane bufou, clicando no chaveiro e destravando o carro.

“Então, o que, você é uma versão reformada de mim?” Ty perguntou com um tom

zombador, enquanto se encaminhava para o lado do passageiro.

Zane entrou no carro e colocou o cinto de segurança, o tempo todo se perguntando por

que permitiu que essa conversa continuasse. “Não estou reformado, só quero manter o meu

trabalho,” disse bruscamente quando ligou o carro. “Se isso significa agir como um homem

educado no escritório, vestir um maldito terno, manter as minhas opiniões para mim mesmo, e

bajular os diretores, é o que vou fazer.”

Ty bufou de novo quando ele balançou a cabeça. “Perdoe-me se não acredito.”

“Não acredita em quê?”

“Em você,” Ty respondeu sem rodeios.

“O que é que isso quer dizer, Grady?” Zane perguntou enquanto ligava o carro e

manobrava em sentido inverso. “Não é tão difícil de entender.”

75
“Você parece ter se inventado cuidadosamente. ,” Ty disse com franqueza. “Esta imagem

excessivamente reformada, clara e brilhante que você quer projetar; parece de um filme policial

muito ruim. E eu não acredito nela.”

“E daí?” Por que ele deveria se importa com o que Ty pensava sobre a forma com que ele

lidava com a sua vida agora? Não havia nada de errado com o que estava fazendo para se manter

no trabalho.

“Estou falando sobre o fato do que você quer projetar,” Ty respondeu com uma risada

suave, e balançou a cabeça de novo em diversão. “Se você estivesse realmente reformado, a partir

de qualquer estado de menos do que perfeito, você manteria a boca fechada sobre o seu passado.

Você está dizendo muito e não mostrando o suficiente.”

“Que Deus me ajude, algum dia vou bater em você até quase acabar com sua maldita

vida.,” Zane disse entre dentes, com raiva. Possivelmente porque Ty estava certo, de certa forma;

Zane estava reformado, mas não estava orgulhoso disso. Em algum nível, talvez quisesse que as

pessoas soubessem que esse não era o verdadeiro ‘ele’. “Você me deixa absolutamente insano, e

tenho quase certeza de que faz de propósito.”

“Gosto mais de você quando está com raiva,” Ty respondeu distraidamente enquanto

olhava para fora da janela para a paisagem que passava. “É mais natural para você.”

Zane balançou a cabeça. “O que você gosta mesmo, é de rir de mim,” murmurou.

“Nunca ri de você,” Ty respondeu instantaneamente. “Rir de você, implicaria que algo

em você é divertido.”

A mão de Zane disparou para bater no peito de Ty com as costas de seus dedos. “Idiota”

murmurou. “Você não é divertido mesmo.”

“Ai!” Ty soltou um grito de surpresa, esfregando o peito e carrancudo. “Droga”

murmurou em protesto. “Você não sabe que deveria esperar pelo menos uma semana, antes de

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agredir fisicamente seu novo parceiro?” Ty perguntou melancolicamente enquanto esfregava seu

peito, onde o anel de Zane tinha batido contra seu esterno.

“Devo estar fora de prática, você é o primeiro parceiro que tive em um longo tempo,”

disse Zane, tentando não pensar no último. Um parceiro real. Não apenas um atribuído.

“Pft,” Ty respondeu rolando seus olhos e outro bocejo que tentou e não conseguiu

reprimir.

Zane parou o carro em um semáforo e virou seu queixo, seus olhos parando em Ty. Os

olhos dele estavam meio fundos e sem brilho, e parecia exausto. “Você precisa de um pouco mais

de descanso?” perguntou. “Não vai ser capaz de se concentrar em nada, se estiver cansado.”

“Se preocupe com você mesmo,” Ty reclamou.

Ele pensou que um pouco da nitidez, não tinha voltado à voz de Ty, então Zane não ia

empurrar. Identificando um sinal para um jantar, ele virou na esquina e estacionou em uma

vaga, ao lado de um carro da polícia. “Comida,” disse alegremente.

“Mas que merda!?” Ty murmurou enquanto olhava para o restaurante. “Você não pode

comer bagels velhos e merdas assim como as pessoas normais?”

“Todos nós temos nossos vícios. Se você quer comer um pão velho e alegrar ainda mais a

sua oh-tão-linda disposição com uma prisão de ventre, fique à vontade,” Zane convidou quando

saiu do carro.

“Beije meu rabo!,” Ty atirou de volta quando se sentou no banco e bufou.

“Talvez depois do café,” Zane respondeu com doçura, quando fechou a porta e

caminhou em direção à lanchonete iluminada, fazendo uma pausa ao virar a esquina para fumar.

Depois de alguns minutos, Ty arrumou seu coldre corretamente em sua jaqueta de gola e

se endireitou, e depois se arrastou até Zane, puxando uma cadeira gordurosa. “Acho que fiquei

com azia por osmose,” resmungou enquanto se sentava de frente para Zane. Ele não confiava nos

restaurantes de Nova York.

77
Zane o ignorou, olhando para o cardápio, analisando o conteúdo.

“Mmmmm, waffles,” murmurou, dando a devida atenção.

Ty apenas revirou os olhos e acenou com a mão para a garçonete. “Ovos e bacon,”

ordenou. “E para o meu amigo idiota, ele gostaria um bagel bem mofado,” disse com um aceno

de mão na direção de Zane.

A garçonete ergueu a sobrancelha e olhou para Zane interrogativamente, que apenas

revirou os olhos. “Waffles, salsichas, e suco de laranja.” A garçonete assentiu, mastigando seu

chiclete, e saiu depois de fazer nota de seus pedidos.

“Estou me movendo no mundo,” Zane apontou deliberadamente, provocando Ty em

tudo o que podia, enquanto o homem estava cansado e não tão mal-humorado com ontem.

“Sendo um idiota?” Ty perguntou com uma inclinação de cabeça. “Sim, acho que é um

passo acima do seu estado normal.”

“Melhor do que ter um rabo espinhoso,” Zane comentou, virando a cabeça para olhar

pela janela.

“Além de um resto de chumbo de espingarda, minha bunda é perfeitamente lisa, quero

que você saiba disso,” respondeu Ty com calma.

“Espero que sim, já que tenho que beijá-la depois do café da manhã,” disse Zane

jocosamente quando a garçonete chegou com sua bebida.

“Não faço isso antes do almoço,” Ty advertiu. “Pode me trazer um suco de laranja, por

favor?” ele perguntou à garçonete com um sorriso brilhante, e depois caiu de costas com uma

carranca cansada, logo que ela se virou.

Vendo a mudança de humor, em amplo espectro no rosto de Ty, Zane deixou o momento

ímpar de provocação morrer e, em vez disso, tentou assistir a televisão no canal MSNBC sobre o

ombro de Ty.

“Está vendo? Eu posso ser gentil.,” Ty apontado.

78
Os olhos de Zane se deslocaram para Ty, e ele concordou. “Sim, só estou um pouco

desconfiado do que você vai querer, mas ser gentil é bom. Pra variar. Ocasionalmente.”

Ty ficou lá olhando para ele por um longo momento, com o rosto inexpressivo.

“Cale a boca,” finalmente murmurou.

Zane deu um pequeno sorriso, até que a garçonete veio com a comida.

Ele agradeceu educadamente. “Então, além de ser irritante e se barbear a cada quatro

horas, o que é que você faz exatamente?” Ty perguntou a Zane, enquanto pegava um pedaço de

bacon.

“Acabei de finalizar uma investigação de seis meses nos computadores de uma corretora

do mercado de ações,” Zane respondeu uniformemente.

“Isso é um eufemismo para Inferno?” Ty perguntou seriamente.

“Quase isso,” disse Zane com a voz sombriamente. “Tenho um novo respeito agora pela

pura insanidade dos terroristas após esses hackers arrepiantes.”

Ty murmurou evasivamente e mastigou outro pedaço de bacon, finalmente acordando

um pouco mais, sacudindo o último resquício de exaustão. “O que você descobriu na noite

passada de qualquer maneira?” perguntou finalmente. “Será que posso perguntar isso?”

Zane sorriu um pouco. “Sim, e a resposta é na...”. O sorriso desapareceu de seu rosto e

seus olhos focaram totalmente sobre o ombro de Ty. Sem aviso, se levantou, jogando uma nota

de vinte na mesa. “Hora de ir,” disse bruscamente, puxando o seu telefone celular, enquanto

caminhava, passando pela televisão e saindo.

Ty amaldiçoou em silêncio e reuniu seu bacon em um guardanapo ao acaso, enquanto se

levantava e o seguia, olhando para as letras vermelhas na rolagem da tela da televisão: “NYPD

relata: assassino do Tri-State ataca novamente.”

79
Capítulo 03

“Gripe aviária,” Ty repetiu incrédulo, enquanto a médica legista lhes dava o relatório da

autópsia. Ele segurava uma máscara branca no rosto, recusando-se a colocar os pequenos

elásticos sobre as orelhas. “Que diabos?”

A mulher acenou com a cabeça e deu de ombros quando entregou o arquivo ao Agente

Especial Ross. “‘O ‘que diabos’ não é o meu trabalho,” ela respondeu com um pequeno sorriso que

aparecia em seus olhos. Tinha uma máscara branca que usava por cima do nariz, cobrindo o resto

da expressão.

“Não é um vírus muito raro que causa essa gripe?” Ty perguntou com a voz mistificada.

“Como ele contraiu isso?”

“Bem, mais de duas centenas de casos foram confirmados de infecção humana por vírus

da gripe aviária, notificados desde 2004,” a médica respondeu, soando a Ty, como se estivesse

recitando fatos que ela tinha acabado de verificar.

Ela jogou o cabelo sobre o ombro e franziu a testa. “O vírus não é facilmente transmitido

de humano para humano, mas pode sofrer mutação e ser altamente contagioso, ainda assim...”

ela continuou com um aceno de cabeça, “A fonte mais provável seria a partir da manipulação de

aves mortas que foram infectadas, e, que eu saiba, até hoje não houve nenhum caso relatado na

área de Tri-State, em pelo menos três anos.”

“Então...,” cutucou Ty, se inclinou mais perto em expectativa.

“A menos que ele estivesse viajando pelo leste da Ásia ou Oriente Médio, Agente

Especial Grady, eu não acredito que ele teria sido capaz de contraí-lo por meios naturais.”

“Ele foi intencionalmente infectado,” concluiu Ross com uma careta.

80
“Como.” Zane exigiu antes da médica legista responder.

“Prefiro esperar pelos relatórios preliminares, antes de especular demais,” respondeu

hesitante. “Mas, a maneira mais fácil de fazer isso - e a mais segura para a pessoa que fez - teria

sido uma injeção.”

“Quanto tempo seria necessário para uma injeção dessas infectar alguém?”

A Agente Especial Sears perguntou, fazendo suas anotações. Sears e Ross pairavam perto

da mesa de exame. Ross apenas mantinha sua máscara contra o rosto, como Ty, e olhava para o

corpo em desgosto. Ele entregou o arquivo para Zane distraidamente, sem olhar para cima.

“O período de incubação seria mais ou menos como se estivesse infectado da forma

típica,” respondeu. “Posso dizer que a gripe aviária não tem que ser letal. Na maioria dos casos,

de fato, se for tratada rapidamente, há uma recuperação completa. E essa é a extensão do meu

conhecimento.”

“Então, o que você está dizendo é que, ou ele não sabia que estava doente, ou não se

importava, ou não foi capaz de chegar a um médico?” Ty perguntou com uma careta mais

profunda.

“Praticamente,” a mulher acenou com a cabeça.

“Durante duas semanas?” Perguntou Zane. “Há sinais de contenção ou luta?”

“Nenhuma,” ela respondeu com um aceno de cabeça. “Há mais alguma coisa?” ela

perguntou quando Zane abriu a pasta e começou a ler. “Tenho mais no necrotério.”

Zane fechou o arquivo e olhou de volta para ela. “Obrigada, Karen. Espero não vê-la

novamente enquanto ainda estiver respirando,” ele disse e ela deu uma risadinha.

Ty revirou os olhos e olhou para longe. Ela os cumprimentou e voltou ao trabalho, e

Zane se virou para olhar para Ty. “Número um: precisamos falar com a polícia e verificar por

que não nos chamaram de primeira - antes que a imprensa maldita chegasse aqui; e número dois,

verificar se eles estão tendo um pouco de sorte com as vítimas.”

81
“Esse é o trabalho deles,” Ty respondeu incisivamente quando acenou com a cabeça para

Sears e Ross. Ambos deram olhares enojados, Zane apenas olhou para eles e levantou uma

sobrancelha expectante.

“Vamos dar um jeito nisso,” Sears disse com aborrecimento, quando ela virou a cabeça

para o seu parceiro e ambos sairam da sala.

Ty olhou para o corpo, ainda em cima da mesa, coberto na maior parte por um lençol. “A

gripe aviária” murmurou com uma voz um pouco mistificada.

Suspirando, Zane bateu o arquivo contra sua mão. “É outro símbolo.”

“O que é desta vez?” Ty perguntou desanimado.

“Uma pena preta,” Zane respondeu com uma careta. “É o que fez todo o sentido quando

se considera o método de matar.”

“Hmm,” Ty respondeu distraidamente, ainda franzindo a testa enquanto saiam do

necrotério. “Eu preciso... Preciso ir a algum lugar e só olhar,” finalmente disse em frustração

quando pegou sua máscara e a jogou em um recipiente de lixo nas proximidades.

Zane parou e olhou para seu parceiro enquanto tirava sua própria máscara, inclinando a

cabeça. “Aonde você quer ir? Cena do crime?”

Ty balançou a cabeça. “Algum lugar vazio,” respondeu com uma careta.

“Talvez eles tenham uma sala de reuniões no escritório de campo, com um quadro que

podemos usar,” sugeriu.

“Há salas de aula no Federal Plaza, na maioria das vezes estão vazias, se não há equipe em

formação,” Zane ofereceu. “Henninger me falou sobre elas na noite passada.”

“Oh, sim. O que mais o garoto disse?” Ty perguntou sarcasticamente.

“Ele sugeriu dar um fim em sua tristeza.,” respondeu Zane agradavelmente.

“A sua arma não é grande o suficiente, filho,” Ty falou lentamente com um sorriso.

82
“Correndo o risco de soar clichê, nunca ninguém reclamou antes,” respondeu Zane,

voltando a liderar o caminho em direção ao carro.

Ty permaneceu onde estava e inclinou a cabeça para observar Zane caminhando pelo

corredor. “Só acredito quando vir,” ele zombou, finalmente sorrindo enquanto o seguia.

“De alguma forma, não acredito que você esteja falando sério sobre isso,” Zane

respondeu sem olhar para trás ou perder o passo.

“Sua perda, Brutus,” Ty riu quando se encaminharam para os elevadores, e apertaram o

botão.

A testa de Zane franziu. “Brutus?” perguntou. “Como em Brutus e Cassius?”

“Claro, cara, se você disser que sim,” Ty riu.

Revirando os olhos, Zane entrou no elevador quando a porta se abriu.

“Sabe, no começo ficava insultado pelo jeito que você me tratava, depois percebi que não

é pessoal; você trata a todos como uma merda. Acho que isso não me incomoda tanto mais,”

disse.

“Normalmente, eu só não incomodo as pessoas que quero ver nuas,” disse Ty

seriamente, enquanto o elevador subia. “Então, pare com isso. Você está me assustando.”

Zane observou seu parceiro com curiosamente, enquanto várias pessoas lotaram o

elevador. “Vou manter isso em mente,” disse em voz baixa, enquanto caminhavam para fora. O

tom ligeiramente sugestivo das palavras de Ty o assustou também.

O trajeto até o escritório foi feito em silêncio, e sua mente voltou para o caso. No

escritório, pegaram uma das salas de aula vazias, com mínimo de alvoroço, principalmente

porque Ty não solicitou nenhuma - então pegaram a que estava à disposição.

“Ok” resmungou Ty logo que se instalaram “Então, o que sabemos sobre a última

vítima?” perguntou enquanto jogava uma pilha de papéis em cima da mesa, no meio da sala e foi

até a parede, onde havia um quadro pendurado. Pegou uma caneta e começou a escrever os

83
nomes das vítimas. “A nova vítima” começou. “A tatuagem de prisão no braço estava muito

clara, de modo que ele não estava completamente limpo.”

“O arquivo diz que ele estava em liberdade condicional há dois anos, ficha limpa desde

então,” Zane disse.

“Uh-huh,” Ty murmurou quando começou a escrever as características de cada vítima,

excluindo os dois agentes do FBI. Idade, raça, altura, peso, cor do cabelo, cor dos olhos. “Bem,”

disse, dando um passo para trás, inclinando a cabeça. “São todos caucasianos?” ofereceu

fracamente.

“Na verdade não, o corretor da bolsa era birracial e a companheira de quarto era latina.”

“Maldição,” Ty amaldiçoou, quando fez as correções. “São muito aleatórios para serem

aleatórios,” murmurou, sem perceber e sem se importar se a declaração faria pouco sentido, fora

de sua própria mente.

Zane levantou a sobrancelha. “Não disse isso ontem?” ele perguntou, se esforçando para

ser paciente, de algum modo.

“Você disse, como se eu fosse ouvi-lo,” Ty respondeu de imediato, com um sorriso

puxando em seus lábios.

Zane bufou de irritação, deslizou a cadeira para trás, e cruzou as pernas inquieto.

“Talvez não sejam as vítimas,” Ty continuou quando se sentou na beirada da mesa.

“Talvez estejam apenas no lugar errado, na hora errada.”

“Possivelmente,” Zane concordou. “Mas o que foi feito com eles é muito específico.”

“Mm hmm,” Ty assentiu. “Aí é que encontramos o gatilho, a forma como as cenas são

encenadas ou o método de matar.”

Zane balançou a cabeça lentamente. “Sim, acho que sim.”

“Eu não quero um maldito parceiro que só diz sim, droga,” Ty gritou.

“Cuidado com a atitude, idiota,” Zane rosnou.

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Ty virou a cabeça para olhar para trás e sorriu. “Melhor,” disse com aprovação.

Zane fechou os olhos por um momento e, em seguida, olhou para o teto, sacudiu a

cabeça, se forçando a respirar fundo antes de olhar para os papéis.

Ty continuou a observá-lo, estreitando os olhos enquanto o fazia. “Você deveria fazer

isso mais vezes,” disse. “Solte-se, mande alguém se foder, quero dizer. Faz você parecer menos

como se estivesse prestes a ter um ataque cardíaco.”

“Não parece que vou ter um ataque cardíaco,” Zane opôs rigidamente.

“Claro, você não,” respondeu Ty apaziguador. “Você verificou a sua pressão arterial

ultimamente?”

Zane apertou os olhos. “Não recentemente, está insinuando que deveria?”

Ty deu de ombros evasivamente e deu um sorriso torto. “Isso, ou dar um pouco o seu

traseiro.”

“Puxa, obrigado,” Zane murmurou. “Algum outro conselho que você queira outorgar?”

“Só um conselho amigável,” Ty deu de ombros quando se virou para olhar para o

quadro branco.

Zane observava suas costas, perguntando por que a conversa tinha ficado um pouco

seria, e não gostou. “Por que você se importa?”

Ty olhou para baixo, e um pouco para o lado, sem se mover de outra forma, enquanto

observava Zane na periferia de sua visão. “O que faz você pensar que me importo, campeão?”

respondeu com diversão.

“Estou pensando que um ‘vá se foder’ se encaixaria muito bem agora, por isso, vá se

foder”.

“Por que isso te incomoda tanto?” Ty perguntou divertido quando se virou um pouco e

olhou para seu parceiro. “Por que você se importa com o que eu digo ou faço?”

85
“Eu já te disse, não curto desabafar ao som de violinos, então volte para o seu quadro,”

Zane disse mal humorado. Não ia se abrir para mais críticas. “Não me importo se você me

insultar,” afirmou, percebendo um tom um pouco azedo.

Ty sorriu amplamente e se virou. Gostava de irritar Zane mais do que outros no passado.

Não sabia por que, era um fato. “Nunca ocorreu fazer uma verificação das ligações telefônicas

feitas de, e para Sanchez, no quarto de hotel,” disse abruptamente. “Devemos verificar isso.”

“Reilly e Sanchez,” Zane murmurou.

“Hum?” Ty perguntou distraidamente.

“Eles compartilhavam um quarto,” Zane lembrou. “Eram parceiros. Havia dois deles?”

Ty olhou para o homem por um momento e, em seguida, franziu os lábios antes de olhar

para o quadro. “Que seja,” finalmente grunhiu. “Também gostaria de olhar os seus pertences,”

disse depois de um momento. “Talvez houvesse um objeto deixado lá, e os pesquisadores

simplesmente não reconheceram; poderiam nos dar alguma coisa.”

A testa de Zane franziu. “Eles não reconheceram, mas você acha que vai?” ele perguntou

com um pequeno sorriso de escárnio.

“Nunca se sabe,” Ty respondeu vagamente.

Zane deu de ombros e fez uma nota. “Tão bom quanto qualquer outra coisa que temos.”

Ele deslizou seu dedo para baixo, em outra coluna de anotações. Suspirou baixinho, tentando

lembrar o que estava lendo na noite anterior. “Por que não estou vendo relatórios de laboratório

de pele e unhas raspadas?”

Ty olhou com o cenho franzido, depois de volta para baixo, para o relatório em suas

mãos. “Eu não sei,” disse enquanto folheava as folhas. “Talvez não estejam prontos ainda?”

sugeriu em dúvida.

“Já se passaram quase duas semanas,” disse Zane, enquanto continuava folheando as

folhas. “Deveriam estar prontos, juntos com os outros trabalhos de laboratório.” Disse, se

86
levantando da cadeira. “Vou para o laboratório, talvez estejam apenas presos juntos com as notas

da legista. Quer vir?”

Ty gemeu ligeiramente. “Na verdade, não,” respondeu honestamente, quando olhou de

volta para o quadro.

“Acho que você está levando o objetivo de ser inepto e preguiçoso um pouco longe

demais” Zane reclamou.

“Cale a boca, porra,” Ty murmurou com um olhar sério para Zane.

Zane encontrou seu olhar por um longo momento, antes de virar as costas e sair da sala.

Ele atingiu algum tipo de nervo, e Zane não estava prestes a encarar um fuzileiro da Recon. Não

sem, pelo menos, duas armas na mão. Armazenou a informação, e seguiu pelo corredor

silencioso, com os seus passos ecoando no chão gasto.

Quando entrou na sala de registros do laboratório, não encontrou ninguém no balcão, se

inclinou sobre ele, e disse um olá. Ouviu o movimento na parte de trás, nos arquivos, mas não

viu ninguém. Contornou a mesa e olhou para dentro da reentrância bem iluminada, mas não

visualizou ninguém.

“Posso ajudar em alguma coisa, Agente Especial Garrett?” Henninger perguntou por trás

de Zane, com um toque de diversão em sua voz baixa. Zane olhou por cima do ombro,

escondendo a surpresa. O jovem agente encostou-se ao balcão, aonde Zane tinha acabado de

passar, aparentemente tendo aparecido do nada. “É hora de almoço, ninguém está aqui

embaixo,” disse em voz baixa.

Zane se recuperou de sua surpresa rapidamente e deu ao jovem agente um pequeno

sorriso. “Se você não se importar com a minha interrupção, talvez você possa me ajudar a

encontrar alguns registros?”

“O que está procurando?” Henninger perguntou, fazendo um gesto para Zane a segui-lo.

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“Laudos do médico legista da terceira e da quarta vítima, cerca de duas semanas atrás.

Deveria haver verificação de rotina da pele e raspas de unha e amostras de cabelo, esse tipo de

coisa; não estavam no arquivo que recebemos,” explicou Zane.

“Terceira e quarta,” Henninger respondeu com um aceno de cabeça. “Foram as meninas

com o cabelo tingido, certo?” perguntou a Zane.

“Sim,” respondeu Zane enquanto caminhavam entre as pilhas. “Onde está o seu

parceiro?” perguntou curiosamente, não tinha visto Morrison desde ontem à tarde.

“Apenas tendo um longo almoço,” Henninger respondeu hesitante. “Alguma coisa com a

namorada,” explicou com um olhar para Zane.

Os lábios de Zane se enrolaram ligeiramente, Henninger obviamente acobertava seu

parceiro. Era admirável, e isso o fez se perguntar como seria, de verdade, como o seu próprio

parceiro, se ele iria até mesmo considerar cobrir as suas indiscrições. “Aqui está o número do

arquivo,” ofereceu educadamente, deixando de fora as perguntas, enquanto entregava a

Henninger um pedaço de papel.

“Você já tem o arquivo, certo? A cópia impressa?” Perguntou Henninger. “Posso

procurá-lo no computador, ver se as folhas foram extraviadas,” ofereceu quando apontou para

uma longa fila de prateleiras, e depois em direção a um canto da sala, que abrigava três

computadores. O logotipo do FBI aparecia preguiçosamente em duas das telas, enquanto a

terceira estava com a tela preta.

“Sim, verifiquei a cópia impressa, junto dos outros arquivos na noite passada,” disse

Zane, folheando as próprias notas que trouxe com ele.

Henninger se sentou em frente ao computador do canto esquerdo e começou a bater nas

teclas rapidamente, entrando com o seu número de crachá, digitando seu código e, em seguida,

navegando através de um número de páginas, localizando o arquivo correto. Navegou pelas

88
pastas eletrônicas sem sucesso algum, até que ocorreu um pop súbito e um silvo da máquina,

deixando a tela no escuro.

Zane olhou para ela com um estremecimento, a luz na tela apareceu de novo, e sem

qualquer outro aviso, o monitor explodiu, expelindo vidro, metal e plástico chamuscado.

Henninger gritou e cobriu o rosto, abaixando-se para longe da explosão e cobriu a cabeça

quando o som abafado de vidro rachando e se estilhaçando ecoou através da grande sala. Zane

teve menos sorte, só teve tempo de virar as costas e dar um passo, amaldiçoando quando sentiu o

impacto de vidro, plástico e do ar aquecido em sua direção, batendo em suas costas, os detritos

cortando sua jaqueta, camisa e pele. O calor o fez tropeçar para frente, e ele caiu de joelhos nos

cacos de vidro e metal que cobriam o chão, sentindo a dor queimando através dele.

O computador - ou o que restava dele - chiou com raiva na mesa queimada. Não houve

borrifos de água nas pilhas de papéis para apagar o pequeno incêndio que a explosão causou. No

corredor já havia agentes gritando e correndo, vindo investigar e prestar ajuda.

Zane gemeu e estendeu a mão para tocar a parte de trás do seu pescoço, parecia que

tinha sido cortada em pedaços, e esse sentimento foi confirmado quando sua mão voltou

sangrenta. “Maldição” assobiou. Pelo menos, estava usando a sua jaqueta de lona grossa, foi o

que provavelmente o salvou de ser seriamente retalhado.

O som de pés pesados no vidro avisaram Zane que alguém estava andando por trás dele,

lenta e calmamente através do caos.

“Se tocarem em mim, vou surrar a porra do inferno para fora de vocês,” Zane rosnou

para quem quer que fosse. Podia sentir o vidro movendo-se com sua jaqueta, entrando em sua

pele. Ouch! Ouch!

“Não se mova,” Ty murmurou em seu ouvido, com uma mão suave na parte de trás da

cabeça de Zane.

89
Zane gemeu ao mais leve toque, a pele exposta estava incrustada de fragmentos de vidro,

e o sangue já corria em veios para baixo de seu colarinho.

“O que diabos aconteceu aqui?” Ty perguntou, enquanto mais passos batiam no chão de

concreto. “Chamem uma ambulância!” latiu para os primeiros homens que entraram depois dele,

se esforçando para ajudar.

“A merda do computador explodiu. Onde está Henninger? Ele estava sentado aqui...”

Zane tentou empurrar as mãos, para sentar-se em seus calcanhares.

“Disse para não se mexer,” Ty chiou com raiva, enquanto segurava Zane, olhando ao

redor. “O garoto está aqui; ele está bem.”

Tentando ficar no mesmo lugar, Zane colocou sua mão no chão coberto de detritos. “O

monitor estava com a tela escura quando chegamos,” disse ele. “Os outros estavam com descanso

de tela.” Se encolheu quando sentiu o sangue correr na parte de trás de seu pescoço, escorrendo

para baixo da curva de sua garganta.

Ty franziu o cenho enquanto escutava, arrancando bocados de vidro para fora da jaqueta

de Zane. “Quem arrumou isso não poderia saber quando iria ser usado,” respondeu, tirando

pedaços de vidro do casaco, como um chimpanzé com a sua companheira. “Precisamos nos

mudar.”

Zane fez uma careta quando Ty retirou um pedaço particularmente irregular de vidro.

“Você acha que alguém fez isso de propósito?”

“Não, eu acho que todo mundo gosta de explodir aleatoriamente alguma merda,” Ty

respondeu sarcasticamente. “Onde mais você se machucou? Qualquer coisa interna?”

“Onde mais? Não vê o suficiente?” Zane perguntou bruscamente, puxou uma respiração

lenta e profunda, apesar da dor e do formigamento. “Nada por dentro, mas meu pescoço parece

como se tivesse sido atingido com agulhas, o mesmo nas minhas costas e as minhas pernas, estou

90
sangrando sob o casaco.” Ele podia sentir o sangue quente se espalhando para baixo, até a sua

cintura.

“Oh, sim” Ty levantou a jaqueta suavemente e olhou por baixo; a jaqueta em si estava

arruinada, mas parecia que um monte de pequenos pedaços ainda estava preso a ele. Apenas os

pedaços maiores e os médios eram visíveis na pele. “Você vai viver,” declarou com a voz

descuidada.

A linguagem de Zane degenerou quando murmurou para si mesmo. “Puta merda, quero

um cigarro.”

“Essa merda vai matá-lo,” Ty castigou, tentando manter a preocupação fora de sua voz,

quando se inclinou para ajudar Zane a levantar.

Zane fez uma careta quando seus músculos flexionaram instintivamente e dor o

atravessou. Assobiou quando um agente passou por perto, tornando a arquear as costas para

manter o equilíbrio.

“Vamos lá,” Ty murmurou enquanto pegava nos braços de Zane para levantá-lo.

Assegurou-se que não tinha sido cortada nenhuma artéria, e agora queria dar o fora de lá.

Zane levantou desajeitadamente, tentando não se mover muito.

Uma vez que estava de pé, uma boa quantidade de vidro e plástico caiu no chão,

deixando apenas as peças que estavam muito profundas na pele, manteve a cabeça baixa, pois

parecia que endireitar o pescoço, empurrava os pequenos pedaços de vidro mais profundamente.

“Pronto,” disse Ty com um sorriso satisfeito, quando arrancou um último fragmento de

vidro da parte de trás do pescoço de Zane. “Caminhe para melhorar, cara,” sugeriu com um

sorriso, quando começou a segurá-lo pelo braço, para fora do caos e das pilhas em direção ao

corredor.

“Bastardo,” Zane assobiou, e admitiu, em silêncio, que isso era praticamente nada em

comparação da última vez que tinha sido pego por uma explosão. Foi apenas o choque do que

91
aconteceu que fez com que se jogasse. E doeu como uma cadela. “Você provavelmente diria isso

se eu perdesse uma perna.”

“Nah,” Ty zombou quando saíram para o corredor. Ele olhou para a esquerda e para a

direita; em seguida, moveu Zane para a parede mais distante, para fora do caminho das pessoas

no corredor, e deu um passo atrás dele, correndo seus dedos suavemente na parte de trás do

cabelo de seu parceiro, removendo pedaços de vidro soltos. “Provavelmente diria pra você dar

uns saltinhos” corrigiu com uma risada mal contida.

Zane nem sequer tentou segurar o bufo, com os olhos fechados, sentiu quando os dedos

de Ty escovavam delicadamente seu couro cabeludo. “Essa é boa,” admitiu ironicamente,

movendo o braço com o sangue pingando sobre o tapete.

“Pare com isso,” Ty passou outra vez a mão pelo cabelo de Zane, e mais outro caco de

vidro foi removido. “Você quer esperar pela equipe dos socorristas chegar?” perguntou. “Ou

quer voltar para o hotel, com um par de pinças e um pouco de peróxido para que possamos

evitar a possibilidade de sermos arrancados deste caso?”

“Jogue-me em um chuveiro, uma boa ducha e você tem um acordo, odeio paramédicos:

‘Respire com calma, Agente Especial Garrett’, ‘Não se mova, Agente Especial Garrett’, ‘Não se

preocupe, Agente Especial Garrett, só estamos cortando seu braço com uma serra cega’“.

“Movimente essas pernas, então, Agente Especial Garrett, antes de o verem coberto de

sangue e o pararem,” disse Ty quando pegou o cotovelo de Zane e começou a puxá-lo pelo

corredor em direção ao elevador. Esse sentimento deu a Zane motivação suficiente para se

mover, apesar do formigamento doloroso e dos golpes afiados, e eles conseguiram sair antes que

qualquer pessoal médico aparecesse. Quando as portas do elevador se fecharam, Zane pôs sua

mão contra a parede para se apoiar, mas a puxou de volta, quando sentiu um pedaço de plástico

na palma de sua mão.

92
Ty apenas observava em silêncio, interiormente estremecendo de simpatia. “Pelo menos,

você esava de costas,” ofereceu finalmente.

“Reflexo,” respondeu Zane. “Na verdade estava de lado.” Ele ergueu a mão à boca,

enquanto um filete de sangue escorria da pele maltratada sob a curva de seu queixo.

“Eh, bunda, rosto, a mesma coisa,” Ty murmurou com um encolher de ombros.

A mão boa de Zane bateu em Ty, na parte de trás de sua cabeça. “Ai! Mas que diabos?”

Ty gemeu enquanto esfregava a cabeça, bufando. “Você tem sorte que reprimi o golpe mortal por

sua causa,” murmurou.

Zane fungou e arrancou outro pedaço de vidro na palma da mão. “Já esgotei minha dose

de sorte por hoje.”

“Quer um pouco de queijo junto com essa lamentação14, maestro?” Ty sugeriu.

“Não importa,” Zane respondeu com força, sem querer pensar sobre vinho. A dor era

pior quando se movimentava, e não estava ansioso para sentar no carro. “Vamos para o hotel, me

sinto como uma almofada de alfinetes.”

“Parece como uma, também,” Ty observou secamente, quando as portas do elevador se

abriram. “Depois de você, Oh! Ferido Supremo,” Ty convidou com um gesto largo da mão. “Quer

que eu encontre uma van?” ele perguntou com um pouco de antecipação alegre em sua voz.

Zane olhou para Ty lateralmente. “Por que você sempre tem esse tom tão eu-vou-

aprontar-algo-tão-errado em sua voz?” perguntou desconfiado quando se aproximavam do

carro.

“Eu não faço isso,” Ty respondeu defensivamente. “E não sangre nos bancos,”

acrescentou quando deslizou para o banco do motorista. “Deus, odeio dirigir na cidade,”

murmurou baixinho.

14
Trocadilho com as palavras whine (lamentação), e wine (vinho); as duas têm a mesma pronúncia, porém wine (vinho) vai
muito bem com um queijinho.

93
Fechando os olhos quando se sentou com cuidado e sentindo os pedaços de vidro cravar

suas costas e coxas, o rosto de Zane ficou muito quieto enquanto rangia os dentes. “Não vou usar

o cinto de segurança,” disse enquanto agarrava a maçaneta da porta para manter-se inclinado

para trás.

“Você poderia tentar não se sentar sobre as partes que não foram atingidas,” Ty sugeriu.

“Só nos tire daqui.”

“Você é quem manda,” Ty sorriu quando arrancou do estacionamento em tempo recorde

e acendeu as luzes quando alcançaram o tráfico. “Eu amo essas luzes azuis,” ele disse a Zane

quase alegremente.

Gemendo, Zane apoiou uma mão no assento atrás dele. Apesar da condução imprudente

de Ty, chegaram ao hotel rapidamente, sem deixar nenhuma carnificina para trás, então ele não

disse uma única palavra. No momento em que chegaram, Zane apenas queria várias bebidas

fortes. Inferno, uma garrafa.

“Tire a roupa,” Ty ordenou assim que a porta estava fechada. “E de bruços na cama,”

adicionou quando tirou o casaco e o jogou na parte de trás de uma cadeira, em seguida, começou

a arregaçar as mangas.

Zane caminhou até o canto do quarto e cuidadosamente tirou da jaqueta, vendo os

pedaços de vidro se espalharem sobre o tapete; em vez de tentar retirar o coldre, puxou as faixas

para soltá-las totalmente e, com cuidado, colocou as armas sobre as pilhas de arquivos que

cobriam a pequena mesa redonda. Foi seguido pelas bainhas das facas, menos uma delas que

usou para cortar sua Henley, não disposto a tentar puxá-la sobre sua cabeça. A parte de trás de

sua camisa estava com muito sangue, e deixou-a cair, sibilando de dor, quando o tecido raspou

nos fragmentos de detritos soltos em sua pele.

Desabotoou a calça jeans e a empurrou pelos quadris com outro silvo, deixando as

pernas livres do vidro. Tirou seus sapatos e meias, deixando-os sob o jeans, e deu um passo livre

94
ao pé da cama. Arrastou-se até o colchão, usando apenas a sua cueca boxer, deitando de barriga

pra baixo, estremecendo.

Ty o olhou com a testa franzida, seu rosto estava ilegível, enquanto seus olhos seguiram

as roupas ensanguentadas no chão. Pegou sua KA-BAR15, abriu-a com um tilintar metálico, e se

aproximou da cama.

Apertando os lábios, Zane fechou os olhos. Ocorreu-lhe que deveria ficar um pouco

preocupado, mas descartou a ideia. Não estava tão certo se poderia confiar em Ty, apenas

confiava o suficiente para pensar que ele não iria mutilá-lo ou matá-lo, dada a oportunidade.

Grady já teve essas chances.

Ty se ajoelhou na cama ao lado dele, surpreendentemente gentil tentando não balançar

Zane, apenas se inclinou de lado, colocando sua cabeça ao lado da orelha de Zane, para melhor

olhar para os fragmentos de vidro. “Vou ter que cavar para alguns deles,” disse Zane, com o

mesmo tom antecipatório de voz que tinha usado antes.

“Vá em frente,” Zane murmurou, tenso, sem se mover. Iria doer como o inferno, mas

tinha que sair. Pelo menos, o dano não iria necessitar de uma cirurgia. Teria suspirado com o

prazer aparente de Ty, mas então seria obrigado a se mover.

Ty não o tocou por um tempo, apenas pairou ao lado dele na cama, analisando as feridas

calmamente. Finalmente se moveu, e o farfalhar de suas roupas e o ligeiro mergulho na cama,

eram a única indicação de que ele ainda estava lá. Um momento depois, aço frio tocou a pele da

nuca de Zane. Uma, duas, três vezes, em rápida sucessão, apenas uma escovação sobre a pele,

como se Ty estivesse experimentando a lâmina em sua pele, e, em seguida, novamente. O

movimento foi repetido várias vezes, o único som era o farfalhar do algodão e o tilintar de cacos

de vidro depositados na mão de Ty, depois de cada três ou quatro passagens da faca.

15
Ka-bar é o nome de uma faca, famosa por ter sido usada pelo corpo de fuzileiros navais e marinha dos Estados Unidos da
América durante a segunda guerra mundial. A faca é fabricada pela “Ka-Bar Cutlery, Inc” que produz na sua maioria facas
táticas de combate e facas de caça e lazer, onde se inclui a Ka-bar.

95
Os olhos de Zane estavam bem fechados e seus dedos se enroscaram na colcha, mas por

outro lado, não se moveu ou fez algum som. Estava respirando superficialmente, mantendo suas

costas retas, e pensou que depois que isso acabasse, um bom esculacho seria ideal. Alguns vidros

pareciam como se fossem alfinetes sendo removidos, com Ty raspando e apenas pequenas

picadas. Outras vezes sentia a faca cortando, e sua respiração se acalmando, quando vidro saia,

deixando um pequeno sulco para trás.

“Quando estava no serviço, eles nos fizeram testar essa coisa,” Ty disse a ele, no modo

conversação, quando viu os músculos de Zane tensos. “O treinamento era chamado de Dragon

Skin Body Armor; eles queriam ver o quão longe antes de ceder, sabe, antes de colocar dentro do

espremedor. E como éramos os loucos da Recon, com a reputação de destruir propriedades do

governo, eles perceberam que teria que ser um treinamento perfeito. Bem, nós levamos essas

merdas em todos os lugares, jogamos de aviões, plantamos minas sob elas, jogamos granadas

nelas, inclusive as atropelamos com um Humvee. Meu amigo e eu chegamos a colocar um poste e

tentamos destruí-la com mísseis terra-ar. Deus, foi engraçado como o inferno,” pensou com

carinho óbvio. “O único dano que conseguimos causar foi rasgar o tecido que cobria,” disse

Zane, em um tom que poderia ter sido de respeito. “Mas o Bureau não aprovou, diga-me por que

então, hein?”

“Será porque eles não querem que a gente afrouxe?”.

“Seleção natural, talvez,” Ty respondeu com uma risadinha. “Você não é tão inteligente

para fugir de uma granada, então merece ser eliminado.”

Zane riu e fez uma careta. “Porra, não me faça rir,” praticamente implorou.

“Fique quieto,” Ty advertiu com uma mão pressionada na parte de trás da cabeça de

Zane. Ele riu de repente, quase bufando quando disse, “Eu tive dias como esse.”

“Cristo, ele desenvolveu um senso de humor,” Zane reclamou. “Por favor, quer deixar

um pouco de pele intacta? Vou precisar delas para combinar com as outras cicatrizes”.

96
“Eu poderia apenas conectá-las,” Ty respondeu, passando seu dedo sobre a confusão de

cicatrizes finas e brancas cobertas com sangue. Ele não perguntou o que tinha acontecido. Para

alguém que já tinha visto combates, feridas de carro-bomba ou algo semelhante, era bastante

óbvio. Ele queria perguntar para Zane por que tinha tais cicatrizes, quais eram as lembranças. Ele

evitou, no entanto, principalmente, porque não se importava tanto assim.

“Ia ficar parecendo como uma teia de aranha,” disse Zane, seus músculos ondulando sob

o toque de Ty.

“Vamos chamá-lo de Homem-Aranha,” Ty oferecido com um sorriso. “Não sei o

suficiente dele para fazer piadas,” acrescentou com sincera decepção.

Zane bufou e os músculos de suas costas involuntariamente se apertaram, se deslocando

contra a faca. Ty puxou a faca para trás imediatamente, apertando a cabeça de Zane para baixo,

para não se mover. “Merda” bufou quando sangue jorrou onde a faca tinha cortado na pele de

Zane. “Idiota. Isso não foi minha culpa.”

“Volte ao trabalho,” Zane ordenou bruscamente. “Preciso sangrar um pouco mais, antes

que possa ter a minha tarde de bebedeira”.

“Sim, definitivamente tive encontros como este,” Ty respondeu com um pequeno sorriso.

“Você quer dizer que tem encontros de verdade? Você deve escolher os vencedores,

preciso encontrar um deles,” disse Zane com sarcasmo óbvio em sua voz.

“Boa sorte com isso,” Ty respondeu sarcasticamente.

“Droga,” Zane murmurou, fixando o queixo de volta em suas mãos cruzadas. Então, se

mexeu desconfortavelmente. “Há algo abaixo do meu ombro direito.”

“Eu sei,” respondeu Ty irritado. “Pare de se mover,” advertiu novamente, pressionando

sua mão para baixo na parte de trás da cabeça de Zane. Zane se acalmou, mas o sorriso ainda

estava puxado nos cantos de sua boca, entre caretas. Ty teve de se inclinar mais perto, apoiando a

97
mão livre em Zane, enquanto olhava as costas de Zane. “Isso pode ser metal,” observou de forma

séria. “Vai doer como uma cadela.”

“Que adorável,” disse Zane, enrolando os dedos na colcha e colocando sua testa contra

seus pulsos. “Ainda bem que tomei a vacina antitetânica.”

“Eu sei que você não pode beber, mas e quanto a alguns analgésicos?” Ty ofereceu.

Zane apertou os lábios. “Prefiro não tomá-los,” disse em voz baixa.

“Tudo bem,” disse Ty com um aceno. “Então... quer um pedaço de couro para morder?”

ofereceu.

“Será que está tão ruim assim?”

“Eu não sei,” Ty respondeu honestamente, balançou a cabeça e, finalmente extraiu o

pedaço de metal irregular puxando-o.

A dor foi tão súbita e acentuada, que Zane nem sequer chegou a respirar. Seu pescoço e

suas costas ficaram rígidas, seu rosto branco; começou a engasgar uma respiração, pois era

incapaz de fazer qualquer coisa, apenas ficar ali, tremendo. Após vários segundos falou, a voz

baixa, cortada e sincera. “Caralho!”

“Sim, vai doer,” Ty murmurou, enquanto colocava a mão na parte de trás da cabeça de

Zane novamente e a deixou lá. “Isso é tudo,” disse com um tapinha na nuca dele.

Os músculos das costas de Zane lentamente começaram a flexionar, quando ele se moveu

com cautela para verificar o que podia sentir. “Obrigado,” disse em voz baixa, quando começou a

se levantar.

“Por que não fica deitado?” Ty sugeriu sério.

Zane virou o queixo para olhar para Ty, estudando seu rosto e não viu qualquer sinal de

provocação ou desgosto. Ele suspirou, deixando seus ombros caírem, junto com o cansaço. A dor

se mostrou completa sobre seu corpo, quando voltou a cair na cama, ainda se movendo muito

cautelosa e rigidamente. Um puto dia, e esava só na metade. Ele desviou seus olhos para Ty, mas

98
não tinha mais nada a dizer ao homem. Não queria insultar ou provocar agora, o que era a

extensão do relacionamento deles, além de ter o mesmo empregador.

Ty balançou a cabeça com satisfação e se levantou da cama. “Vou limpar um pouco dessa

merda, ok? Tenho que buscar algumas coisas no meu quarto; logo estarei de volta.”

“Vou estar aqui,” Zane murmurou, não achando graça. Sua paciência, sua energia, e seu

limiar de dor foram ultrapassados. Se se permitisse brincar com isso, talvez pudesse ajudar; mas

não queria abrir mão da pouca reserva de dignidade que lhe restava.

“Não se mova,” Ty ordenou mais uma vez enquanto se dirigia para a porta. Ele saiu do

quarto puxando a trave, para que pudesse voltar. Correu até seu quarto e se moveu rapidamente,

reuniu seu kit médico, sem se preocupar com as luzes. Depois de um breve olhar ao redor do

quarto escuro, percebeu que algo parecia diferente. As cortinas estavam fechadas e não havia

quase nenhuma luz para ele ver. O cheiro do sangue de Zane em suas mãos e em sua camisa

estava começando a atingi-lo; e ele não tinha parado para se lavar. Seu cabelo na parte de trás do

pescoço começou a subir, juntou as malas rapidamente e saiu do quarto o mais rápido possível,

prometendo a si mesmo que voltaria para investigar, pois agora não iria deixar seu parceiro

indefeso e ferido em um quarto aberto.

Quando voltou para o quarto de Zane, as feridas estavam um pouco maiores do que teria

gostado. Zane não tinha se movido; estava deitado na cama, de barriga para baixo, uma bochecha

apoiada em uma das mãos e a outra enrolada na colcha, enquanto respirava com cuidado. Seus

olhos se abriram e olhou diretamente para a porta quando Ty entrou, e então relaxou novamente.

“Como vai?” Ty perguntou com a voz um pouco tensa. Perguntava-se se algo legítimo

tinha causado o seu alarme ou apenas estava no limite há muito tempo, finalmente perdendo o

controle. Decidiu ser apenas a tensão. E não estava disposto a deixar Zane sozinho neste estado.

Zane tentou se mover um pouco, mas parou abruptamente com um estremecimento.

“Está tudo bem” respondeu em voz baixa, olhando para a parede enquanto tentava reunir forças

99
para se levantar e entrar no chuveiro, logo após Ty ter foi feito a limpeza. “Assim que estiver

pronto, vou pular no chuveiro para que possamos voltar ao caso,” disse. Sabia que Ty daria

estaria investigando com tudo em breve, e Zane realmente não queria dar ao homem outra razão

para zombar dele.

“Eu diria que você ganhou o dia de folga,” Ty respondeu quando chegou mais perto.

“Dia de folga?” Zane ecoou com surpresa, esticando a cabeça para olhar para Ty e vacilar

quando seu pescoço doeu.

“Alguém tentou mutilar você hoje, Zane,” Ty respondeu com calma. “Provavelmente a

mim também, mas eles não sabem como sou preguiçoso. Esse alguém, caso tenha escapado de

seu radar, tem acesso a áreas restritas do laboratório, em um prédio federal e estava perto o

suficiente para saber quando detonar a bomba. Praticamente confirmamos as suspeitas de Burns.

Estou pensando que se esse cara espontaneamente explodiu uma propriedade federal, é uma boa

prova de que esse cara é um Fed.”

Zane enrugou a testa contra o travesseiro, esicando o pescoço para aliviar a dor dos

cortes. Ele notou que Ty o havia chamado pelo seu primeiro nome. Soava estranho vindo de seu

novo parceiro. Ele suspirou baixinho. “Então, ele realmente é um de nós,” disse tristemente.

“Pelo menos ele não está tentando nos matar, ainda,” Ty murmurou e franziu o cenho

quando olhou pelo corpo quase nu e sangrento de Zane, preocupado. “A menos que você

estivesse sentado na maldita coisa, uma explosão pequena não iria matá-lo, iria feri-lo apenas o

suficiente para tirá-lo fora do caso.” Ele continuou a olhar para o homem por um longo

momento, pensativo. Com um suspiro, decidiu ir com tudo e tratar Zane como um parceiro

deveria tratar. Durante um minuto, pelo menos. “O meu quarto me deixou tenso,” admitiu.

Zane deslocou o queixo, seus olhos ligeiramente apertados, rastrearam até Ty. “Acha que

alguém esteve lá dentro?” perguntou. Zane sabia que Ty não diria algo assim, se não fosse

100
verdade. Uma coisa boa sobre todo o lixo que ele falava, era que você acabava sabendo quando

ele estava falando a sério.

“Poderia ter sido o serviço de limpeza,” Ty deu um encolher de ombros. “Poderia ser

apenas a minha paranoia, porque estou fedendo e coberto de sangue; não vi nada fora do lugar,

Apenas... Senti. Provavelmente não fosse nada, mas vou dormir aqui esta noite, se você não tiver

objeções.”

Zane não respondeu imediatamente; depois de uma breve pausa, falou em voz baixa.

“Eu vou te avisar, vou ficar ranzinza quando as minhas costas realmente começarem a doer.”

“E eu vou estar atento para esse grande mudança de atitude,” Ty respondeu

sarcasticamente.

Zane revirou os olhos e anulou o impulso de responder na mesma moeda.

“Você provavelmente deve colocar alguma coisa nas minhas costas após o banho, em vez

de antes,” disse pesarosamente, tentando lentamente se apoiar nos joelhos.

“Você precisa de ajuda?” Ty perguntou enquanto o observava sem se mover.

Uma vez que ele estava de joelhos, Zane respirou fundo quando a pele maltratada se

esticou e se espreguiçou. Amaldiçoou sob sua respiração. “Há vidro no chão?” perguntou.

“Realmente prefiro não andar sobre isso.”

“Por que você não ficar ai, para que eu possa te limpar?” Ty respondeu. “Não há

nenhuma razão para você se levantar da cama, que já está manchada.”

Zane virou a cabeça para estudar Ty, se perguntando de onde este lado solícito tinha

vindo. Será que estava tão enterrado sob tanta atitude, que você normalmente não poderia notar?

“Vou aceitar a oferta,” ele murmurou, se deslocando lentamente para o lado.

“Bom,” Ty assentiu com um leve sorriso. “Estamos fazendo progressos, agora você sabe

que eu estou sempre certo,” disse ele por cima do ombro enquanto se dirigia para o banheiro

para espalhar o conteúdo de seu kit médico.

101
Zane suspirou, deveria saber que Ty tiraria algum tipo de proveito, bastardo. Zane

pegou um dos travesseiros e puxou-o, colocando-o sob o peito para deitar-se, seus braços em

torno dele enquanto ele esperava.

Em seu kit médico, Ty tinha iodo e gaze, uma lata de pomada Rawleigh, algumas fitas e

ataduras e, de acordo com o seu mantra sempre preparado, uma garrafa de aguardente sabor

pêssego, feito em sua casa. Nada disso era digno de ser chamado de um kit médico adequado,

mas fazia o seu trabalho. Ele tirou a maior parte do que ia usar e o colocou no longo balcão,

encheu o balde de gelo com água, pegou uma pilha de toalhas de mão, e voltou para o quarto,

Zane estava caído sobre o travesseiro, suas pernas nuas se estendiam sobre a cama.

Ty lambeu os lábios e pela primeira vez, deu uma boa olhada em seu novo parceiro. Seu

corpo havia estado escondido sob a roupa, mas não havia como negar que ele era

impressionantemente musculoso. E quente, de um jeito meio tenso e formal. Quando não estava

coberto de sangue.

Ele deu de ombros para mandar o pensamento para longe e se aproximou, ajoelhando-se

ao lado da cama e colocando a água ao lado dele. “Tenho que desinfetar com iodo,” ele disse,

enquanto examinou os ferimentos. “Vai arder.”

“Claro, o que será um pouco mais de dor?” Zane mordeu com força o travesseiro.

Ty ficou em silêncio enquanto cuidadosamente mantinha várias toalhas sob o corpo de

Zane, para diminuir a bagunça que a água ia fazer. “É preciso ter muita força para dizer não

quando você não precisa.” ele finalmente murmurou enquanto começava a limpar o sangue com

um pano umedecido. “Eu respeito isso, se isso importa para você.”

Zane ficou em silêncio por um longo minuto, enquanto Ty limpava com um pano fresco

com cuidado suas costas. “Obrigado,” ele finalmente disse em voz baixa. Um copo de uísque ou

um punhado de Vicodin não seria uma grande coisa agora? Inferno, até mesmo algum ibuprofeno.

102
Talvez pensasse um pouco mais seriamente em tomar o ibuprofeno, havia outras coisas

que ele diria não para, bem... A maior parte do tempo, coisas que faria melhor não pensar, como

exemplo o homem atrás dele. Zane podia sentir o calor vindo de cima dele.

Ele ficou em silêncio por um tempo antes de falar novamente. Sua voz não era auto

depreciativa ou mesmo simpática; se pudesse catalogar seria um pouco fria e clínica. “Há um

monte de coisas para as quais eu digo não,” Zane murmurou sem pensar sobre a reação de Ty.

“Mas certamente ninguém se importa.”

“Você está dizendo que você não se importa?” Ty perguntou curioso.

Suspirando, Zane pressionou seu rosto no travesseiro. “Eu me importo. Mas é o mínimo

de motivação, Como não pegar uma garrafa porque quero manter o emprego que amo. Isso não

se traduz necessariamente em me importar se estou conservando meus miolos, ou não. Acho que

me tornei muito preocupado desde a minha juventude.”

“Nada de errado em se preocupar consigo mesmo,” disse Ty enquanto limpava uma

última vez as costas de Zane. Em seguida, deixou o pano de lado e estendeu a mão para o iodo.

“Poderia apenas passar a pomada,” ele ofereceu quando olhou para o iodo em dúvida.

“Um acordo,” disse Zane. “Coloque iodo nas piores lesões para não infectarem, o resto

deve ficar bem.”

“Tudo bem,” Ty respondeu, então rapidamente espalhou o iodo nos cortes mais

profundos. “Por que você bebia?” ele perguntou de repente.

Os ombros de Zane ficaram rígidos em resposta.

“Não tem que responder.” Ty continuou com um encolher de ombros descuidado. “Só

por curiosidade.”

Zane apertou os lábios com força. “Minha esposa morreu em um acidente de carro,”

disse sem emoção. “Eu estava do outro lado do país na época; já estava há mais de um mês.”

103
Ty franziu os lábios e continuou com o iodo, os olhos à deriva para o anel no dedo de

Zane. “Meus pêsames.”

Zane soltou um suspiro reprimido. “Eu meio que fiquei... Um pouco fora de controle. É

clichê eu sei, mas, foi o que aconteceu.”

“Acontece,” Ty respondeu com outro encolher de ombros, sem emoção.

“Então, aqui estou; viúvo, alcoólatra e viciado, um babaca completo, que virou o jogo

completamente pela força de vontade, a ameaça de prisão e por puro terror. Acho que não é

surpresa os comentários do tipo ‘uma-dor-na-bunda’ me afetarem,” Zane murmurou.

“Eu não pensaria muito de você se não afetassem,” respondeu Ty, francamente um

pouco surpreso com a auto descrição de Zane. “Todos nós temos nossas histórias tristes. Nada

para se envergonhar. Agora, ser algum tipo de ‘dor-na-bunda’, isso é algo para se envergonhar.”

“Eu não sou um verdadeiro ‘dor-na-bunda’,” Zane objetou. “Eu só ajo como um às vezes.”

Isso deixou Ty rindo, ou quase. “Se você diz assim, cara,” ele praticamente riu depois

que conseguiu o controle de si mesmo.

Zane golpeou com os nós dos dedos as costelas de Ty. “Idiota,” ele disse, de uma forma

vagamente carinhosa.

“Eu não sou um idiota,” Ty opôs oficiosamente. “Eu só ajo como um, às vezes,”

acrescentou maliciosamente.

Zane riu cansado e deitou a cabeça na almofada. “Eu posso viver com isso,” ele

murmurou depois de uma pequena pausa.

“Oh, sim?” Ty comentou com ligeira surpresa.

Zane se perguntou por que Ty parecia não acreditar nele. “Sim.” Ele disse simplesmente,

ainda estava sob a mão de Ty, que espalhava algum tipo de pomada com cheiro horrível nos

inumeráveis cortes. Agora que ele sabia o que esperar – principalmente - a partir de Ty, ele

poderia ignorar o pior de tudo. “Você tem algum problema com isso?”

104
“Talvez,” Ty falou lentamente com um sorriso quando espalhou mais da pomada nas

costas de Zane.

Os lábios de Zane se contraíram. “Como o quê?”

“Dê-me um minuto, eu vou pensar em alguma coisa,” Ty respondeu quando terminou

com a pomada.

A expressão de Zane estava dividida entre uma leve careta e um sorriso divertido, e algo

brilhou em seus olhos para variar.

“Pronto,” Ty bufou finalmente, quando se levantou e olhou por cima de Zane. “Não role,

você nunca vai parar; e essa merda é pior do que lubrificante íntimo.” alertou. “Eu poderia tomar

um banho,” acrescentou pensativo, quando olhou para suas mãos, ainda coberto de sangue que

agora não iria sair, sem esfregar bem.

“Sirva-se, minhas roupas devem te servir, se você não quiser voltar para o seu quarto,”

Zane murmurou, os olhos acompanhando o outro homem.

Ty apenas acenou com a cabeça, não admitindo que estivesse hesitante em deixar Zane

sozinho. “Suas roupas se encaixam em mim como um saco de estopa, trouxe a minha mala,” ele

murmurou enquanto limpava as mãos na toalha ao lado de Zane. “Vou buscar um pouco de gelo

e logo estarei de volta,” acrescentou enquanto pegava o cartão chave do quarto de Zane, ele

preferia não deixar a porta aberta novamente.

“Ei, me dê a minha arma, sim?” Zane perguntou quando se moveu, apenas para

estremecer com a sua pele puxando.

“Por quê? Você está pensando em atirar na minha bunda quando me virar?” Ty

perguntou sarcasticamente quando pegou o coldre.

“É tentador, mas você provavelmente gostaria muito disso,” disse Zane, estendendo a

mão.

105
“Talvez,” Ty falou arrastado novamente, sorrindo amplamente quando colocou a arma

na mão de Zane. A palma de Zane cobriu a arma, e seus dedos se enroscaram firmemente em

torno da mão de Ty. Seus olhos estavam sérios quando olhou para o outro agente. “Por que você

me ajudou?”

Ty olhou para suas mãos e depois para um Zane confuso. “Por que não ajudaria?” ele

respondeu com uma pergunta.

Essa certamente não era a resposta que Zane esperava. Ele achou que fosse receber mais

uma observação espertinha. Seu rosto se suavizou um pouco, e ele balançou a cabeça lentamente,

soltando a mão de Ty. “Obrigado.”

“Não me agradeça,” Ty respondeu com um sorriso. “Só não faça com que essa sua bunda

certinha se machuque de novo.”

“É melhor ir Grady, ou eu poderia começar a pensar que você está tomando um gosto

pela minha bunda certinha,” disse Zane, deslizando a arma debaixo do travesseiro.

“Tenho certeza de que gostaria de partes dela,” Ty atirou de volta enquanto se dirigia

para a porta. “Já volto.”

Zane sorriu e empurrou o seu rosto no travesseiro para abafar sua risada. Talvez Ty não

fosse tão ruim quanto pensava. Ainda um idiota, no entanto.

Ty esteve fora por cinco minutos, enchendo rapidamente o balde de gelo e pegando uma

bebida de uma das máquinas. Ele não conseguia afastar a sensação de estar sendo observado, não

importa quantas vezes se assegurasse de que estava sozinho. Quando voltou para o quarto, todo

seu corpo estava tenso novamente.

Zane deslizou a arma para debaixo do travesseiro, quando viu Ty entrar. “Tudo bem?”

ele perguntou.

“Sim,” respondeu Ty sucintamente, colocou o gelo para baixo e pegou suas malas.

“Como está se sentindo?”

106
“Irritado como o inferno,” disse Zane, francamente. “Não está me matando, mas estou

certamente sentindo essa merda, não fica tão ruim se eu não me virar muito.”

“Bem, sugiro não se mover então,” Ty falou lentamente enquanto colocava as malas na

outra cama e começava a tirar a roupa.

Zane apenas levantou uma sobrancelha em reconhecimento irônico, assistindo de braços

cruzados. Ty tirou a sua camisa e a jogou no chão. Tirou os boots, a calça jeans e suspirou quando

percebeu que teriam que frequentar uma lavanderia para voltarem a cheirar decentemente.

Ele se inclinou e começou a vasculhar sua bolsa em busca de roupa limpa. Seu corpo

suportava as evidências de uma vida vivida nas trincheiras, e era mais fácil ver agora na luz da

tarde através das cortinas. Zane deu uma olhada mais atenta à tatuagem e percebeu que era o

desenho de um bulldog usando uma camisa branca de um fuzileiro naval, com duas armas

cruzadas atrás do cão, a fumaça de seus barris, formando as letras “USMC”. Não foi possível ver

os detalhes mais elaborados, seria necessário que Zane se aproximasse para apreciar a arte. Muito

mais perto.

O resto do corpo de Ty estava coberto de cicatrizes de batalha. Havia feridas que Zane

reconhecia como tiros e cortes de faca, e vários padrões mais antigos e mais interessantes ao

longo da lateral de seu corpo, que poderiam ter sido causados por arame farpado. O que era mais

recente era a que ele tinha notado antes na barriga de Ty. Zane sabia que percorria todo o

caminho até a parte traseira.

Nada disso prejudicava o seu físico, não aos olhos de Zane. Ele também tinha a sua cota

de “lembranças” do trabalho. Mas, para ele, o Bureau era apenas um trabalho, ainda que ele

amasse. Ty vivia aquilo. Fazia o trabalho porque acreditava nele, embora Zane suspeitasse que Ty

nunca fosse admitir isso. Era uma diferença gritante, e Zane abaixou o queixo contra o

travesseiro, para meditar em silêncio sobre suas próprias escolhas.

107
Ty pegou uma nova camiseta, aparentemente do mesmo tipo anterior, uma com “Ex Fed”

escrito na frente em letras roxas e verdes, colocou-a e se virou para Zane. “Está tudo bem?” ele

perguntou, semi vestido.

Zane focou o homem à sua frente, piscando algumas vezes. Ty parecia desconfortável de

repente. Será que estava preocupado que o seu parceiro não estaria à altura da tarefa? Ele passou

um curto minuto pensando no que ele queria dizer. Este lado diferente de Ty - este homem que

atendia seus ferimentos - fez Zane sentir que ele poderia ser um pouco mais aberto, mas o

homem agora na frente dele parecia desconfortável.

“Vou ficar bem,” ele respondeu calmamente.

Ty levantou uma sobrancelha duvidosa e franziu os lábios. Finalmente concordou com a

cabeça e, em seguida, olhou de volta para si mesmo. “Estava indo tomar banho,” ele murmurou,

quase falando sozinho, quando tirou a camiseta limpa novamente e corou ligeiramente

embaraçado, não estava acostumado a se sentir perturbado.

Levantando uma sobrancelha, Zane observava o leve rubor atravessar rosto de Ty.

Vendo o olhar suave do outro homem, algo se agitou dentro de Zane, algo quente que ele

teve de engolir. “Ok,” ele murmurou. “Vou manter o forte seguro.”

Ty acenou com a cabeça e pegou uma bolsa de couro surrada com produtos de higiene

no caminho para o banheiro. Não poderia nem mesmo produzir uma resposta de mal humor.

Zane o viu desaparecer no banheiro, ainda um pouco perplexo. Certamente não disse nada que

pudesse ser interpretado como embaraçoso. Suspirando, balançou a cabeça ligeiramente e

estremeceu quando a parte de trás de seu pescoço doeu. Tentou relaxar, com os olhos atentos.

Levando uma quantidade mínima de tempo no chuveiro, Ty lavou o sangue de seu

corpo e pareceu estar razoavelmente limpo. Saiu do banheiro cheio de vapor, com nada além de

uma toalha ao redor da cintura, e olhou para Zane de perto, tentando determinar se ele estava

108
dormindo. Aproximou-se e se ajoelhou ao lado da cama, apoiando o queixo sobre o colchão para

olhar o rosto de Zane.

Vagamente, Zane percebeu seu parceiro. “O que foi?” murmurou baixinho.

“Nada,” Ty respondeu no mesmo tom suave. “Só tendo certeza de que você não estava

morto.”

O canto da boca de Zane se enrolou. “Sentiria minha falta?” ele perguntou sonolento, a

dormência o embalando para a pergunta estranha.

“Claro,” Ty respondeu em um tom suave, enquanto estendia a mão e acariciava a cabeça

de Zane, com o humor dele.

A risada suave de Zane foi principalmente abafada pelo travesseiro. “Claro que sim,” ele

disse quando foi dormir, confiando em Ty para vigiar.

Ty se agachou ao lado da cama por um longo tempo, franzindo a testa para o rosto

adormecido de Zane, começou a pensar arduamente sobre isso, e percebeu que ele não poderia

perder o cara, mesmo que fosse apenas porque ele era tão divertido para irritar. “Maldito seja”

ele murmurou baixinho.

“Ei, Henny,” Mark Morrison cumprimentou da pequena abertura da cortina, na sala de

emergência. “Você ficará mutilado a vida toda?” Ele sorriu para o seu parceiro.

Tim Henninger olhou para ele e franziu os lábios em um sorriso zombeteiro quando a

enfermeira terminou os seus pontos. “Eu não estou com disposição para humor no momento,”

alertou a sério. “Eu quase perdi meus malditos olhos, cara.”

“Ahhh! Aqueles olhos de cachorrinho que você pisca para as meninas, para lhe darem

um carinho.” Morrison brincou.

Henninger encarou malignamente, estremecendo com o último dos pontos.

109
Morrison revirou os olhos. “Nossa.” Ele olhou ao redor. “Então, onde está Garrett?”

Henninger piscou e enrijeceu. “O que, ele não está aqui?” Ele perguntou preocupado.

Os olhos do outro agente foram de um lado para outro, antes de sair da pequena área de

cortinas, minutos depois, ele voltou para Henninger. “Eu não o vejo, ele poderia ter sido

liberado?”

“De jeito nenhum, ele foi muito mais atingido do que eu,” respondeu Henninger,

tentando não franzir a testa porque repuxava os pontos. “Será que morreu?” ele perguntou em

um sussurro.

Morrison olhou para ele por um momento com os lábios apertados. “Não ouvi nada, o

legista não estava lá,” ele ofereceu categoricamente. “Por que ele não veio para o hospital se

estava ferido?” Seus olhos se estreitaram enquanto pensava sobre isso.

“Talvez ele tenha algo a esconder? Lembro-me de Grady chegar muito rápido lá,” disse

Morrison Henninger em voz baixa.

“Não me lembro de ter visto Grady,” Morrison murmurou. “Mas cheguei lá depois dos

médicos, isso foi antes ou depois da coisa ter explodido?”

“Depois,” Henninger respondeu com uma careta, seus olhos vidraram um pouco,

enquanto tentava recordar os acontecimentos e a sequencia, ele e Garrett tinham abordado os

computadores, ele sentou-se e digitou a senha.

Em seguida, ele teve tempo para fazer várias pesquisas curtas antes da bomba dentro do

computador explodir. Lembrou-se de que ainda estava no chão e sangrando, gritando por

socorro, quando o parceiro idiota de Garrett apareceu do nada e começou a dar ordens. Ele foi

forçado a sentar-se por horas, ser medicado e dar respostas, enquanto Garrett fugiu, o maldito.

Silenciosamente, Henninger foi relacionando o que ele se lembrava ao seu parceiro.

Morrison fez uma careta também. “Se Grady ficou com Garrett, ele não poderia ter se

machucado tanto assim,” disse ele.

110
“Ele estava” Henninger murmurou. “Confie em mim.”

“Então, o que eles estão escondendo? Alguma coisa está acontecendo.”

“Você acha que eles estão envolvidos?” Henninger perguntou em dúvida.

“Não foi o que eu disse,” Morrison se opôs fortemente e olhou ao redor novamente.

“Mas isso parece ruim, sabe? A Investigação vem nos interrogar e vamos ter que dizer o que

vimos.”

Henninger apertou os lábios e olhou para a cortina divisória com um suspiro. “Eu odeio

Investigação,” ele murmurou.

“Merda, Henny, o seu rosto está todo machucado, você não quer saber quem fez isso?”

Morrison perguntou, cruzando os braços.

Henninger olhou para cima e apertou os olhos. “É altamente improvável que a

Investigação vá fazer essa descoberta, não acha?” ele perguntou baixinho. “Além disso, deveria

ser Grady e Garrett a investigar isso.”

“Está dizendo que devemos manter nossas bocas fechadas?” Morrison perguntou em voz

baixa.

Henninger olhou para ele por um longo e silencioso momento, meditando sobre a

decisão. “Sim,” ele finalmente disse com um aceno lento. “Se eles descobrirem que Garrett estava

lá, não vai ser por nós, entendeu?”

“Sim,” Morrison concordou suavemente e olhou fixamente para ele por um longo

momento antes de virar o olhar desconfortavelmente. “Eu odeio Investigação também,” ele

murmurou. “Sempre se metendo na nossa vida pessoal.”

“É, e você deve saber disso,” Henninger cuspiu. “Eu juro por Deus Mark, se eu tiver que

te cobrir mais uma vez, eu vou atirar em você em um lugar bem divertido, um que sangre

muito.”

111
“Cristo, Henny, tudo bem, vou ter mais cuidado com os meus horários de almoço, porra!

Isso funciona pra você?” Morrison perguntou, parecendo um pouco sem graça.

Henninger revirou os olhos e balançou a cabeça. “Você pode esperar até que esteja no seu

horário certo, como as pessoas normais,” ele resmungou em aborrecimento. “É tão antiético, é...”

“Já chega! Nossa! Já vai você para o seu maldito palanque novamente. Você precisa ser

sempre tão certinho?” Morrison murmurou.

“Isso se chama fazer o seu trabalho, cara,” Henninger estalou. “Onde diabos está este

médico?” ele perguntou com um rosnado, resistindo ao desejo de cutucar os pontos. “Eu quero

dar o fora daqui.”

112
Capítulo 04

Ty não tinha certeza de quando adormeceu, mas acordou com um pequeno suspiro e

seus braços dormentes; ainda sentado na cadeira que tinha arrastado para frente do mapa das

cenas de crime que Zane prendeu à parede. Quando olhou em volta do quarto, viu que Zane

ainda estava dormindo depois de ter se mexido muito pouco, ou talvez tenha parado de se

mover por causa da dor em suas costas. Ty olhou ao redor do quarto com uma careta. Ele estava

sonhando, mas não se lembrava de nada, salvo seu despertar. Teria ouvido um som? Ele

resmungou e se empurrou para fora da cadeira, caminhando silenciosamente, até se ajoelhar ao

lado de Zane.

O rosto do agente estava tranquilo enquanto dormia; um pouco ruborizado, apesar de

estar totalmente descoberto no ar frio do quarto. Ele dormia em silêncio, com um braço enrolado

em torno do travesseiro contra o peito, e o outro braço estava sob o travesseiro em baixo de sua

cabeça - provavelmente em torno de sua arma, Ty imaginou. Seu cabelo castanho curto estava

despenteado e ele estava desalinhado com sua barba de um dia e uma noite. Ele parecia um

homem diferente.

Ty estendeu a mão para sentir seu rosto com as costas dos dedos. Não estava febril, pelo

menos.

Tinha acabado de tirar a sua mão quando a vibração em seu quadril o fez saltar com

culpa. Levantou-se rapidamente e afastou-se da cama para atender ao telefone.

“O que foi?” retrucou em voz baixa.

“Agente Especial Grady? Qual é o seu status?”

“Meu status?” Ty perguntou, fingindo confusão.

113
“Houve uma explosão no Federal Plaza hoje; várias testemunhas afirmam que você e o

Agente Especial Garrett estavam presentes e possivelmente feridos no...”

“Não, nós dois estamos bem,” respondeu Ty, cortando a voz. Ele resistiu ao impulso de

perguntar como estava Henninger. “O Agente Especial Garrett e eu estávamos na sala de leitura

quando a explosão ocorreu,” ele disse firmemente. “Nós fomos embora para seguir uma pista e

saímos do caminho dos paramédicos.”

“Essa não foi a informação que nos foi dada senhor. Fomos informados por vários

espectadores que o Agente Especial Garrett estava presente com o Agente Tim Henninger no

momento do incidente, e que ele sofreu ferimentos graves.”

“Sua informação está errada,” Ty respondeu com naturalidade.

Houve um curto silêncio e um ruído de fundo. Ty presumiu que esta agente de mesa não

estava acostumada a mentiras descaradas, e não sabia bem o que fazer com ele. “Muito bem,

Agente Especial Grady,” ela finalmente disse secamente. “Nós pedimos que nos envie relatórios

de observação logo que possível, como estamos, é claro, investigando o incidente. Posso falar

com o Agente Especial Garrett, por favor?”

Ty se virou para olhar para Zane e levantou uma sobrancelha. “Vou dizer-lhe para

retornar a ligação assim que ele sair do banheiro,” ele respondeu antes de desligar.

Zane acordou enquanto Ty estava falando, e descobriu do que se tratava muito

rapidamente. Quando Ty terminou a chamada, ele abriu os olhos para ver o outro homem

olhando para ele. “Banheiro?” ele perguntou com diversão em sua voz grossa de sono.

“Eu poderia ter dito uma série de outras coisas que me vieram à mente.” Ty apontou. “Se

eles souberem que você foi ferido, eles vão tirar você do caso.”

Zane franziu o nariz, enquanto lentamente se levantava, apenas gemendo um pouco.

“Sim, provavelmente.”

“Achei que você não fosse querer isso,” Ty adicionou intencionalmente.

114
“Você achou certo,” respondeu Zane, e se sentou na ponta da cama, movendo

cuidadosamente seu ombro e costas, verificando sua amplitude de movimento. Estava duro no

início, mas logo se movia com bastante fluidez, a dor apenas um mero aborrecimento.

“Você está se movendo melhor, de qualquer maneira,” Ty observou. “Acho que virar

essa sua bunda para cima ajuda a postura, huh?”

Lançando seus braços por trás, para esticar, Zane bocejou, ainda sonolento. “Você ficaria

surpreso com o que virar minha bunda para cima pode ajudar.” Ele levantou-se, se torcendo um

pouco, e caminhou para o banheiro, esfregando os olhos.

“Será que eu quero mesmo saber?” Ty perguntou enquanto ele andava.

Zane riu ao fechar a porta atrás dele, mas parou rapidamente e se inclinou sobre a pia,

olhando para si mesmo. “Provavelmente não,” ele murmurou antes de ligar a água. Esticou-se

novamente com cuidado, fazendo uma careta, olhou por cima do ombro para as costas. Enquanto

a maior parte dele parecia bem, alguns pedaços de pele mais profundos estavam vermelhos e

inchados na aparência. Ele abriu a porta e parou no meio do caminho. “Ei, você pode colocar um

pouco mais desse negócio nas minhas costas? Há alguns...” Zane deixou as palavras morrerem,

quando ele percebeu que Ty estava olhando para a parede, atentamente como se tivesse ouvido

alguma coisa. “O que foi?” perguntou.

“Nada,” Ty respondeu com um encolher de ombros, sua expressão ilegível quando virou

a cabeça para olhar para Zane. Ele se sentou na ponta da cama, uma sobrancelha arqueada

curiosamente enquanto esperava que Zane continuasse o que tinha dito.

Zane inclinou a cabeça, franzindo a testa um pouco. “Me ajuda?” ele perguntou,

apontando o polegar sobre seu próprio ombro.

“Claro que sim,” Ty murmurou enquanto se levantava e caminhava para pegar a

pomada. “Ainda dói?”

115
“Se me mover rápido demais ou me virar para o lado dói; do contrário, apenas uma dor

suportável, algumas pontadas aqui e ali,” disse Zane.

“Mariquinha,” Ty ofereceu com um sorriso.

Zane suspirou. “Vou ter que perder um membro, antes de receber algum respeito de

você, não é?” ele disse inexpressivo.

“Talvez não um membro inteiro,” Ty respondeu pensativamente, enquanto fazia um

gesto delicado de “virar” com o dedo.

Balançando a cabeça, Zane virou lentamente, apresentando a Ty as suas costas. Ele

fechou os olhos ao primeiro toque dos dedos de Ty, se forçando a ignorar o puxão em seu

estomago.

“Relaxe,” Ty murmurou enquanto colocava as mãos sobre os músculos tensos de Zane.

“Você está tão tenso, não me admira que ainda doa.” Ele bufou quando cutucou alguns dos

pontos sensíveis suavemente. Mergulhou os dedos na lata de pomada e começou a esfregar sobre

as feridas abertas; em seguida, massageou as áreas ao redor delas com cuidado.

“Tente receber uma bomba de vidro em suas costas e não se sentir tenso,” Zane opôs,

embora tivesse que admitir para si mesmo que era mais do que isso; algo sobre Ty estava

mexendo com ele; a atitude durona, as provocações, o estilo teimoso - nada se encaixava com os

toques suaves de seus dedos. O corpo de Zane estava percebendo.

“Não, obrigado,” respondeu Ty ironicamente. “Prefiro não ser um babaca.”

“Sinto-me lisonjeado, já passei de babaca para idiota,” disse Zane. “E você já passou de

um babaca altamente repreensível, para um idiota apenas moderadamente irritante.”

“Só?” Ty disse com um bufo. “É preciso fazer esforço para ser rude assim, eu espero que

você perceba.”

“Sim, acho que sim. Mas você faz parecer tão fácil.”

“Eu faço tudo parecer fácil,” Ty respondeu com um sorriso que Zane não podia ver.

116
“Não posso julgar até ver.” disse Zane com um aceno, enquanto revirava os ombros sob

os dedos de Ty.

“Ver o que, tudo?” Ty perguntou divertido.

Zane mordeu os lábios em um sorriso. “Você sendo fácil.”

“Eu sou fácil,” Ty respondeu com uma risada.

“Agora veja, você já provou o contrário. Você não é fácil de conviver, de se entender e

não é fácil de evitar que você chegue e se acomode sob a minha pele16,” Zane enumerou nos

dedos.

“Eu acho que é vidro o que tem debaixo da sua pele, e eu sou perfeitamente

compreensível,” disse Ty enquanto deixava seu sotaque pesado dos Apalaches17 assumir. “Eu

enuncio,” ele respondeu, com ênfase arrastada na última palavra.

Zane riu, quase contra sua vontade. “Eu estava pensando em você mais como um

espinho, na verdade.”

“Ouch,” Ty opôs com falsa sinceridade.

Zane suspirou e inclinou o pescoço para os lados, quando sentiu a textura dos dedos de

Ty esfregando a pomada. “Devemos voltar ao trabalho,” disse ele em voz baixa.

“Temos o resto do dia de folga,” Ty respondeu com firmeza, enquanto continuava a

massagem.

Olhando por cima do ombro, Zane levantou uma sobrancelha. “O que você e eu vamos

fazer com um dia de folga?” ele perguntou. O outro agente estava dizendo que eles iam passar

um tempo juntos? Fora do trabalho?

16
Get under one’s skin – evocar uma resposta emocional em outra. Pode ser no sentido de irritação, aborrecimento, mágoa;
ou no sentido de atração, desejo, fascinação, e por aí vai. O fato é que um não consegue parar de pensar no outro, seja por
qualquer motivo.
17
Os chamados country-accents (sotaques caipiras) dos Apalaches se espalham pela região do meio-oeste – de onde Ty era –
pelo sul, oeste, até a Califórnia.

117
“Eu não sei quanto a você, mas umas boas horas de sono seria ótimo. E podemos

trabalhar muito bem aqui no quarto. Francamente, eu prefiro ficar longe do Federal Plaza, até que

eu possa descobrir mais sobre quem e como.”

Zane balançou a cabeça lentamente. “Certo, concordo com tudo isso.” De repente, se

sentiu estranho ali, de pé com Ty ainda tocando suas costas, especialmente porque Zane não

queria se mover, nem um pouco. E descobriu que era um pouco assustador. Ele poderia ser

parceiro de Ty. Poderia um dia, talvez, ser amigo de Ty. Mas qualquer coisa a mais seria perigoso.

Zane levantou a mão e passou sobre seu rosto, notando a barba. “Eu deveria fazer a barba,” ele

murmurou.

“Por quê?” Ty perguntou, genuinamente curioso, quando terminou de passar a pomada

sobre as manchas sangrentas.

“Por que me barbear?” Perguntou Zane. “Uh”. Ele piscou, tentando pensar. “Não acho

que tenha uma razão,” ele respondeu com um leve encolher de ombros. “Hábito. Manter a cara

limpa, você sabe. Não quero atrair atenção negativa.”

“É, cara, essa atenção negativa, pffft,” Ty respondeu sarcasticamente quando se afastou,

em seguida, empurrou Zane ligeiramente para o lado, para que ele pudesse passar pela porta do

banheiro em direção à pia para lavar as mãos. “Você vai dormir na cama com sangue.”

“Apenas a colcha está suja,” disse Zane, continuando a esfregar o queixo quando saiu do

banheiro e foi até a cama. “Vamos comer mais tarde?” perguntou esperançosamente quando

puxou o cardápio e as propagandas.

“Não, ficaremos em jejum até pegarmos o cara,” Ty respondeu quando saiu do banheiro,

com uma toalha em suas mãos.

Com um grunhido irritado, Zane agarrou um de seus travesseiros e atingiu Ty na cabeça.

“Bastardo!” Ty latiu quando golpeou o travesseiro com a toalha úmida.

Zane riu e atacou novamente. “Agora, quem alguma coisa enterrada no rabo?”

118
“Enfie você,” Ty bufou quando puxou os lençóis de sua própria cama.

Deitado em sua cama, Zane teve o cuidado de ficar de lado e dar uma olhada em Ty,

apenas no caso dele ir partir para um contra-ataque. “Você é um grande molenga,” ele zombou.

“A última pessoa que me disse isso, tomou Viagra em seu café da manhã,” Ty advertiu a

sério.

Zane enterrou o rosto no travesseiro para tentar abafar os sons de sua risada. “Oh, Deus,

é a sua cara fazer isso.” Seus olhos estavam arregalados quando ele o olhou de volta.

“E eu fiz. Ele tinha que interrogar um cara,” Ty disse contou com o início de uma risada

em sua voz. “Três horas depois, ele estava lá, tentando esconder essa ereção furiosa, nunca tinha

visto um suspeito mais apavorado em minha vida.” Ele riu com a lembrança.

Zane puxou o travesseiro sobre o rosto dele, abafando o riso, enquanto tentava manter

seu controle. Finalmente, suspirou e olhou para Ty, balançando a cabeça. “Tudo bem, eu estou

avisado.” Ele manteve uma expressão séria por um longo momento, mas estragou tudo quando

seus lábios tremeram.

“Cale a boca.” Ty gemeu quando caiu para o lado, afastando-se de Zane, e puxou as

cobertas sobre a cabeça.

Rindo, Zane ajeitou o travesseiro de volta sob seu peito e deitou contra ele, se

acomodando onde pudesse olhar para Ty sob os lençóis. Enquanto observava, Ty levantou a

cabeça de novo, pegou o travesseiro e, em seguida enterrou a cabeça sob ele. Zane não pode

deixar de sorrir com o quão inocente e quase infantil a ação parecia. Reconheceu como um hábito

de alguém que estava acostumado a dormir sob a luz do dia, e o pensamento o encantou.

Quem teria pensado que eles brincariam entre si assim? Ele não quis beber ou fumar um

cigarro durante toda tarde. Sentir dor e acompanhar Ty era absorvente. Em um minuto Zane o

odiava e no próximo minuto, pensou, até poderia ser capaz de gostar dele. Em conflito, ele

suspirou, fechou os olhos, e deixou o sono tomar conta dele.

119
Ty mal tinha conseguido encontrar o estado de inconsciência que vinha pouco antes de

dormir, quando o telefone de Zane começou a tocar, exigente. Ele se empurrou e pulou da cama,

ainda meio dormindo e emaranhado em seus lençóis quando seus pés tocaram o chão.

Zane levantou a cabeça e olhou para a mesa de cabeceira, onde seu telefone estava

pulando por causa da vibração. “Ótimo,” ele murmurou. Sentou-se com cuidado, pegou o

telefone, e olhou para o número. Olhou para Ty, que estava de pé e piscando os olhos turvos para

ele, enquanto abria o telefone.

“Olá, Serena.”

Ty arregalou os olhos e balançou a cabeça, e começou a esfregar os olhos como uma

criança cansada, enquanto olhava ao redor do quarto. Ele havia saído do serviço há quase sete

anos, e ainda saia da cama antes de realmente acordar. Na menção do nome do autor da

chamada de Zane, rosnou silenciosamente e tropeçou na lateral da cama com um grunhido.

Tinham esquecido o jantar com a profiler18.

Observando Ty cuidadosamente, Zane fez ruídos agradáveis quando Serena falava.

Então ela disse algo que chamou sua atenção. “É mesmo?” Perguntou Zane. “Você ouviu isso?”

Ty apenas olhou para ele enquanto escutava. “Eu não sabia disso,” Zane finalmente respondeu

quando a profiler ao telefone, continuou falando. “Então, o jantar?” Ele ouviu de novo e balançou

a cabeça. “Certo, estarei lá.” Outra pausa, e os olhos de Zane foram para Ty.

Ty praticamente rosnou para ele, mas fez um gesto para se incluir na reunião. “Sim, ele

vai,” disse Zane baixinho, então, depois de ouvir por mais alguns segundos, um leve sorriso

curvou seus lábios.

“Cadela,” Ty murmurou sob sua respiração, enquanto ficou de pé e caminhou até sua

mala para vasculhar suas roupas.

18
Profissional que traça o perfil de criminosos.

120
“Sim, Serena, okay, nos vemos daqui a pouco.” Zane encerrou a chamada, e observou Ty

em silêncio, enquanto o outro homem se movia; ele estava vasculhando sua mochila e,

aparentemente, tentando encontrar algo que não era capaz de alcançar.

Quando o silêncio se estendeu, ele olhou por cima do ombro para Zane.

“O que ela tem a dizer?” ele perguntou sem rodeios.

Zane colocou a máscara em seu lugar. “Ela está feliz por você estar indo jantar.”

“Oh, sim?” Ty perguntou, fingindo interesse. “Por que, você pôde ouvi-la carregar a

arma?” Ele perguntou quando pegou uma bolsa dobrada e franziu o cenho para ela.

“Afiar uma faca, na verdade,” disse Zane baixinho, quando saiu da cama.

Ty resmungou desconsolado quando abriu o zíper do outro saco e tirou uma camisa

preta, perfeitamente dobrada. “O que ela realmente disse?” ele questionou enquanto a colocava

cuidadosamente sobre a cama e, em seguida, puxava a camiseta por trás.

Zane piscou para a camisa que ele tirou de sua mala, apertou os lábios, tentando decidir

como ou se iria responder. “Ela disse que você é perigoso,” ele finalmente disse.

Ty puxou a camisa sobre a cabeça e olhou para Zane com uma sobrancelha levantada. “O

que?” ele perguntou incrédulo.

Zane olhou por cima do ombro para ver a reação de Ty. “Então? Você é perigoso.” Seria

interessante ouvir a resposta de Ty.

“Eu não sou,” Ty protestou, com a voz insultada.

“Besteira,” disse Zane, puxando uma camisa vermelha de sua bolsa. “Qual é o seu

problema com Serena?”

“Ela é uma cadela furiosa,” Ty respondeu como se isso fosse óbvio.

“E?”

121
“Cale a boca,” Ty bufou, quando pegou outra camisa e a vestiu fluidamente. Flexionou

os ombros inconscientemente contra o material macio e firme, para ter certeza de que não iria

soltar nas emendas, e então olhou em volta, procurando as suas botas.

Zane estudou-o atentamente. “Ela é boa em seu trabalho, uma das melhores,” ele disse,

de forma lenta e cuidadosa, colocando a camisa sobre a cabeça, mas seus olhos se voltaram

imediatamente para Ty.

“Não significa que eu tenho que gostar dela,” Ty resmungou quando sentou na ponta da

cama para colocar suas botas.

“Aparentemente, ela sente o mesmo.” Zane ficou em silêncio enquanto eles terminaram

de se vestir. “Ela disse que eu não deveria confiar em você,” ele finalmente declarou. “Que você é

problema, e só se importa com você mesmo.”

“Ela está certa,” Ty concordou com voz cortada quando terminou de abotoar a camisa e

cuidadosamente a alisou. “Aonde vamos encontra-la?”

Zane colocou o seu coldre com um estremecimento e um careta. “Chinatown. É perto o

suficiente para irmos a pé.”

“Pua merda.”

“Zane Garrett.” Uma mulher esbelta e alta disse enquanto se levantava da sua mesa

pequena no restaurante chinês. “Quase um ano, é muito tempo.”

Zane facilmente aceitou o seu abraço, mantendo-se firme para não estremecer. “Linda

como sempre Serena,” ele cumprimentou antes de beijar a bochecha dela levemente. Ela tinha o

rosto de um anjo e cabelos loiros para corresponder, pena que suas personalidades não se

encaixavam, porque Ty estava certo; ela realmente era uma cadela furiosa se você não vivesse de

acordo com seus padrões.

Serena sorriu brilhantemente. “Adulador”. Ela virou-se para sentar-se. “Grady,” ela

cumprimentou secamente perante a presença de Ty.

122
“Senhorita Scott,” Ty respondeu quando puxou a cadeira em frente a ela e deslizou para

perto dele. Seu tom de voz era surpreendentemente mais civilizado do que o normal.

Os olhos de Zane cintilaram entre eles quando se sentou, se perguntando sobre o

passado deles, que Ty havia mencionado. “Gostaria que pudéssemos ter nos encontrado em

melhores circunstâncias, Serena,” ele disse à mulher.

“Sim, bem, se você viesse à Nova York com mais frequência, não seria um problema tão

grande,” ela disse, apoiando seu queixo em uma elegante pose. “Passou muito tempo desde a sua

última visita.”

Os lábios de Zane se curvaram em um sorriso. “O que você pode me dizer, sobre os

assassinatos?”

Serena suspirou. “Direto aos negócios, não é? Sinto falta do velho Zane,” ela disse,

olhando para Ty. “Você leu sobre os assassinatos?”

Ty revirou os olhos e olhou ao redor para fazer seu pedido. Ergueu a mão e chamou a

atenção de uma mulher passando por outros dois que conversavam. Ela se aproximou, sorrindo

para ele, e ele fez um gesto para que ela se aproximasse. Quando ela se agachou ao lado dele, ele

virou a cabeça e sussurrou em seu ouvido: “Eu vou precisar de algo altamente alcoólico, que se

pareça com água.”

Ela permaneceu imóvel por um momento, e então se endireitou e sorriu para ele

novamente. “O especial de quarta à noite, senhor,” ela disse em voz baixa antes de se virar. Ty

observou-a se afastar, sorrindo em apreciação e, em seguida, voltou sua atenção para a mesa.

“Formamos algumas opiniões próprias,” Zane estava dizendo a Serena, embora ele

assistisse a troca de Ty com a garçonete. “Nós gostaríamos de ouvir a sua, apesar de tudo.”

“Você me o seu primeiro,” Serena convidou com um sorriso coquete.

“Você primeiro, querida,” Zane respondeu no mesmo tom.

Serena sorriu calorosamente para Zane antes de dar a Ty outro olhar desagradável.

123
“Olha, vamos manter o foco nessa investigação, depois eu vou deixar vocês dois à

vontade, ok?” Ty ofereceu encontrou o olhar dela.

“Agente Especial Grady, eu não sabia que você tinha a capacidade de ser razoável e

gracioso.” Serena observou sarcasticamente.

“Eu não tenho essa capacidade,” resmungou Ty. “Chame isso de auto preservação,” ele

ofereceu.

“Tudo bem,” disse Serena, em sua voz adocicada, quando tornou a olhar para Zane. “O

que exatamente você quer saber?”

“Bem, em primeiro lugar, porque o NYPD está sendo um empecilho?” Perguntou Zane.

“Guerras territoriais, é claro,” disse Serena, revirando os olhos. “Você sabe tudo sobre

isso, não é, Ty?”

Ty olhou para cima do copo vazio que estava estudando e olhou para ela, não

respondendo sua pergunta.

Zane olhou entre eles e se perguntou se isso seria uma boa ideia, afinal. “Serena, se

comporte,” disse humildemente. Ela virou seus olhos claros e calculistas em sua direção por um

longo momento, e Zane sabia o que ela estava fazendo. Um dia atrás ele estaria ansioso para ver

Ty e Serena discutindo como ele sabia que estavam prestes a fazer. “Já que você pediu

gentilmente” ela disse, finalmente.

“Nos dê um perfil básico sobre este serial, por favor,” Zane solicitou, observando que Ty

ainda estava segurando a língua.

Ty olhou para Zane e estreitou os olhos. Ele não sabia por que estavam aqui, e ele achava

que não precisavam lidar com essa mulher. Ela não poderia dizer nada que eles já não

soubessem, além de ser um pé no saco. Ty e Serena poderiam discutir durante toda a noite,

torcendo facas em velhas feridas e fazer novas, até que os dois ficassem em seus respectivos

cantos, chorando. Eles haviam feito isso antes. A parte que ela mais gostava era de ver Ty perder

124
a paciência e gritar com ela. E a única maneira que poderia evitar fazer isso, seria morder a língua

ou beber, ou os dois. Ele preferiu fazer ambos.

“Eu acredito que ele seja são e esteja enviando uma mensagem de algum tipo. É um

assassino organizado, provavelmente planeja os assassinatos com muita antecedência. Segue a

vítima por dias, talvez semanas, antes de matá-la,” Serena compartilhou. “As probabilidades

indicam que ele já tem a sua próxima vítima, ou, eventualmente, já escolheu alguma para

estudar.”

“Você acha que ele está acompanhando as investigações?” Ty perguntou em voz baixa,

curioso para ver se ela concordava com eles a esse respeito também.

“Intimamente,” ela respondeu com um olhar complacente em Ty, como se regozijando

com o fato de que ele havia pedido sua opinião.

“E não só nos meios de comunicação,” Ty murmurou, deixando-a saber, o que estava

pensando.

“Concordo,” respondeu ela com facilidade, ainda olhando para Ty e parecendo medir o

olhar com ele.

Zane tinha a sensação muito distinta de que Serena sabia muito sobre Ty e seu passado

que Zane não sabia, e ele se perguntou se poderia aprender alguma coisa sobre seu novo parceiro

com o que, obviamente, era uma fonte tendenciosa. Ele poderia ficar sozinho com Serena mais

tarde, apenas para bombeá-la em busca de informações. Ele não poderia se ler os arquivos de Ty

ainda, simplesmente não parecia certo.

“É possível que ele tenha um papel periférico nesta investigação, que lhe permita o

acesso,” ela continuou quando Ty acenou com a cabeça em silêncio. “Você acha que é alguém de

dentro,” ela disse com um pequeno sorriso. “É por isso que trouxe este caso para mim?” ela

perguntou, quando voltou seu olhar para as análises de Zane. “Estão correndo no escuro e com

problemas internos? Tyler é muito bom nesse tipo de coisa.”

125
Zane pigarreou e se aprumou quando a garçonete voltou com a bebida de Ty e tomou os

seus pedidos. Ele descaradamente ignorou o último comentário e continuou. “É possível que seja

alguém do Bureau ou do NYPD,” ele concordou. “Já fiz uma lista de itens que estão em falta nos

relatórios, diferentes informações, pequenas e um tanto inconsequentes. Pode ser por acaso... mas

duvido. Então fui à procura.”

Serena olhou entre os dois homens, os olhos se demorando em Ty desconfiada. “O que

você descobriu?” ela perguntou à Zane.

“Nada,” Zane respondeu com um encolher de ombros. “Eu preciso falar com os agentes

atuantes em cada caso, e, francamente, os detalhes são tão pequenos que não vão se ocupar ou se

preocupar mais, além do fato de que estão faltando.”

A mulher acenou com a cabeça. “Se você precisar de ajuda com o legista, deixe-me saber.

Karen e eu estamos trabalhando juntas.”

O rosto de Zane se transformou quando ele sorriu abertamente, seus olhos brilharam.

“Adoro quando você é tão útil.”

“Você sabe que vai pagar por isso mais tarde,” Serena murmurou quando olhou para Ty

novamente, quase como se o flerte contínuo fosse um desafio para ele. “Então Ty,” ela disse de

repente. “Não vou dizer que é bom vê-lo, mas, pelo menos você tem um bom homem

trabalhando neste caso.”

“Sim, ele é um verdadeiro escoteiro,” Ty respondeu categoricamente quando encontrou

seus olhos infalivelmente.

Embora ela sorrisse para ele, seus olhos eram totalmente frígidos. “Não foda com ele,

como você fez com o seu último parceiro.”

“Serena,” disse Zane bruscamente.

Ela não virou o queixo para olhar para ele. “Qual o problema, Zane? Certamente você

não acha que vou ferir seus sentimentos. Ele não tem nenhum.”

126
“Eu vejo que você ainda está passando mais tempo com os seus colegas do que com os

seus casos,” Ty respondeu calmamente. “Como isso está funcionando?”

“Eu ainda tenho o recorde de perfis bem sucedidos na região. Consequentemente, está

funcionando muito bem, obrigada.,” respondeu a mulher.

“Fácil ser um sucesso quando você passa adiante os casos difíceis,” Ty comentou. “Não

consegue descobrir, então entrega o caso para um Feeb sobrecarregado, e o deixa levar a culpa,

caso ele falhe.”

Ela estreitou os olhos, mas continuou a sorrir. “Às vezes, estender a bandeira branca é

tudo o que você pode fazer em um caso. Você, no entanto, não falhou, não é Tyler? Tornou

aquele caso importane, afinal.”

“Depois que mais quatro pessoas morreram, claro,” Ty respondeu sem vacilar.

“Já chega, Serena,” Zane interrompeu, com a voz baixa e grave. “Liguei para você para

obter informações, e não para que discutisse com o meu parceiro.”

“Mas discutir com o seu parceiro é tão divertido, Zane,” Serena respondeu. “Certamente

você já descobriu isso?”

“Na verdade, não,” Zane respondeu friamente.

Serena fungou e deu uma careta desapontada para Zane. “Você não é mais divertido,

sabia? Gostava mais de você quando você bebia.” Ela estendeu a mão e pegou o copo de Ty,

tomou um gole saboroso e balançou a cabeça em aprovação.

Ty estreitou os olhos um pouco, experimentando uma sensação estranha de posse

quando a mulher falou. Ele poderia reclamar de Zane e sobre seus problemas quanto ele

quisesse, mas ninguém mais poderia. “Vê?” ele perguntou a Zane. “Uma cadela furiosa.”

“Uma cadela furiosa que costumava se preocupar mais com a resolução de assassinatos,

do que provocar uma briga,” disse Zane incisivamente, e Serena passou os olhos para ele.

127
A mulher ficou totalmente imóvel, e seu olhar frio poderia ter matado a muitos homens

no local. “Não se atreva, Zane,” ela alertou de repente.

“Como está o seu marido?” Zane perguntou agradavelmente. “Ainda não fez o acordo

pré-nupcial?”

“Vá se fuder,” ela sussurrou em resposta. “Não peça a minha ajuda novamente; você

pode descobrir essa merda toda por si mesmo,” ela explodiu quando se levantou abruptamente e

olhou entre os dois homens. “Você sabe Zane, eu nunca pensei que diria isso, mas você se

transformou num canalha.”

“Ha!” Ty respondeu com surpresa alegre, ele olhou para a mulher ofendida e para Zane

em diversão e, em seguida, jogou a cabeça para trás e riu.

“Você não está oficialmente no caso, mas eu sei que tem algumas notas,” Zane respondeu

sério. “Envie-nos,” ele disse em um tom que não admitia discussão. “Você me deve.”

Ela estava com tanta raiva, que algumas manchas vermelhas tingiram o seu rosto, e a

mão em sua bolsa se enrolou firmemente como uma garra. “Isso nos deixa quites, Garrett,” ela

cuspiu. “E não pense que não vou me lembrar disso.”

“Foi bom te ver de novo Serena; não vamos deixar passar tanto tempo na próxima vez,”

Zane falou tão sinceramente quanto possível.

Ela deu-lhe outro olhar sombrio e virou as costas para eles, saindo pela porta. Uma vez

que o vidro se fechou atrás dela, Zane se inclinou para trás e fez uma careta. Ty ainda estava

rindo com vontade, possivelmente, era a primeira vez que ele ria assim desde que a sua parceria

tinha começado, e ele estava começando a ter problemas para recuperar o fôlego. Alguns clientes

estavam se virando para olhar, alguns sorrindo contagiados por Ty.

Zane balançou a cabeça enquanto observava Ty. “Estou feliz que você esteja se

divertindo,” ele murmurou. “Ela poderia ter nos ajudado.”

128
“Eu nunca a tinha visto xingar desse jeito!” Ty riu sem fôlego. “Oh, meu Deus, eu acho

que posso morrer feliz agora.”

“Ela é uma cabeça quente, é certo.” Com tanto que não se virasse na direção deles, Zane

imaginava que estariam bem. Ele não duvidava que ela fosse capaz de causar-lhes problemas, só

para irritá-los. “Esse era um bom contato e eu o arruinei, parceiro.” ele disse.

A gargalhada de Ty parou, e ele balançou a cabeça, ainda sorrindo ligeiramente.

“Suponho que lhe devo um agradecimento por ter usado o grande Blue Shield19,” ele disse

a Zane sarcasticamente. “Obrigado,” ele ofereceu sinceramente.

Zane assentiu lentamente e suspirou, finalmente relaxado novamente. “Não queria

chamá-la de qualquer maneira,” ele murmurou; suas costas machucavam o suficiente, e não

precisavam de mais riscos.

“Eh, nós não precisamos dela,” Ty respondeu com desdém, quando tomou outro gole de

sua bebida.

“E por que, oh, Ser Onisciente?” Zane perguntou. A garçonete trouxe a bebida de Zane e

de Serena, que já havia partido. Depois de uma breve explicação para a garçonete, cancelaram as

refeições.

“Ela não disse nada que já não soubéssemos,” Ty apontou logicamente. “Além disso, já

temos um profiler,” acrescentou com um pequeno sorriso, assim que a garçonete os deixou.

“Quem?”

Ty levantou uma sobrancelha zombeteiramente e, em seguida, levantou um dedo com

um pequeno sorriso.

Zane apertou os olhos. “Você,” ele disse sem rodeios. “Você é treinado para analises de

perfis.”

19
O Blue Code of Silence (Código Azul do Silêncio) - também conhecido como Blue Shield (Escudo Azul) - é uma regra não
escrita que existe entre os policiais de não relatar erros ou crimes de um colega. Se questionado sobre um incidente de má
conduta envolvendo outro oficial enquanto segue o código, o oficial a ser questionado deve alegar desconhecimento da
ilegalidade do outro oficial. É considerado corrupção e má conduta policial.

129
“Eu sou, de fato,” Ty respondeu com outro pequeno gole. “Como é que você acha que eu

a conhecia?” Ele perguntou com um gesto de sua cabeça, enquanto gesticulava em direção à

porta. “Fui transferido para Nova York em meu primeiro ano, os casos que ela não podia lidar,

eram jogados para mim,” ele disse com desprezo. “Nós certamente nunca fodemos,” ele

continuou incisivamente.

Os olhos de Zane brilharam. “Você perdeu uma cavalgada, então.”

Ty gemeu com sentimento e realmente estremeceu em aversão. “Eu prefiro foder você do

que ela,” ele murmurou sem pensar, quando olhou para a porta pela qual ela tinha saído.

Bufando, Zane ergueu o copo para beber, mas seus olhos ficaram em Ty, e seu estômago

se apertou desconfortavelmente enquanto o observava.

O estômago de Zane roncou algumas horas depois que entrou no quarto do hotel. Estava

escuro lá fora, e ele estava pensando em se levantar e puxar Ty para sair da cama e ir encontrar

alimento, uma vez que o jantar foi ignorado. Quando ouviu Ty se mexer e murmurar, Zane

sentou-se com estremecimento, acendeu a lâmpada entre as duas camas e inclinou o queixo para

olhar para o outro homem.

Ty rolou de costas, o corpo enroscando nos lençóis. Ele se esticou, murmurou e tornou a

resmungar ruidosamente. Ele parecia diferente no sono; mais suave de alguma forma, o que para

Zane fazia sentido. E mais jovem, também. Ele não teria pensado nisso antes, mas ficou bem claro

agora, que Ty era muito mais jovem do que ele.

Ty fez alguns ruídos sonolentos, se esticou até que seus músculos se moveram com a

tensão, então ele caiu para trás, no centro da cama e rolou para o lado, aconchegando a cabeça

contra o travesseiro e, finalmente, abrindo um olho. “Hum?” perguntou quando encontrou Zane

olhando para ele.

130
“Boa noite,” Zane cumprimentou discretamente, a voz ainda rouca do sono, ele bocejou e

passou a mão pelo cabelo, os cachos curtos estavam desalinhados. “Estou com fome.”

“Ugh,” Ty gemeu sonolento. “Deus, você é pior do que um encontro,” ele murmurou.

“Tenho que alimentá-lo, também?”

“Oh, inferno! Dormimos juntos, e você não vai nem pagar um jantar? Que tipo de pessoa

você é?” Zane saiu cautelosamente para fora da cama e deixou o travesseiro sobre o rosto de Ty,

enquanto caminhava até o banheiro.

“O tipo que dorme quando tem que transar!” Ty comunicou, quando ele pegou o

travesseiro e imediatamente o confiscou, colocando-o debaixo das cobertas, se embrulhando em

torno dele, como uma criança com um ursinho de pelúcia.

Zane se inclinou para fora da porta depois de ligar a luz. “Planejamento ruim de sua

parte,” ele provocou, antes de entrar e fechar a porta.

Ty xingou alto, um pouco estridente e se aconchegou de volta na cama. O colchão era

duro como uma rocha, mas ele já dormiu em piores. “Você quer o serviço de quarto?” ele disse.

Se alongando com cuidado, Zane olhou por cima do ombro para as costas no espelho.

“Sim, tudo bem,” ele respondeu, erguendo a voz. “Vou comer praticamente qualquer coisa.”

“Eu tenho certeza que você vai,” Ty murmurou irritado de seu casulo quente de

travesseiros.

Zane ligou o chuveiro, pronto para arriscar e lavar as suas costas. A água quente o faria

se sentir bem, pelo menos. Empurrou sua cueca para o chão e entrou, ficou em pé de frente para

o chuveiro (que era alto o suficiente para ele, pelo menos isso era bom) antes de virar

ligeiramente, para ver como sua pele danificada iria se sentir.

Ty saiu da cama quando ouviu a água e abriu a porta do banheiro, enfiando a cabeça

para dentro, com olhos arregalados e descrentes. “Você vai molhar suas costas?” ele perguntou

incrédulo, sem sequer ligar para a privacidade de Zane.

131
Empurrando o ombro para fora da água e recuando quando a porta foi aberta, Zane

engoliu a surpresa e tentou acalmar seu pulso.

“O que diabos você está falando? Eu estou no maldito chuveiro; ficar molhado é um

padrão.”

“Vai doer,” Ty protestou quase infantilmente.

Zane se inclinou para trás e puxou a cortina apenas o suficiente para olhar para Ty.

“Bem, sim?” ele disse o rosto mostrando descrença patente com as objeções de Ty.

“Não vai doer tanto quanto o machucado, em primeiro lugar,” ele disse, enquanto

apontava para Ty, puxando a cortina de volta, e mantendo-a fechada; bloqueando o fluxo de ar

fresco. Sentia-se como um idiota, nu no chuveiro, enquanto segurava a cortina entre os dois.

Tomou um fôlego, se virou quase imediatamente, ficando longe o suficiente que a água

quente apenas pulverizasse sobre seu traseiro e coxas, então deu pequenos passos para trás, e a

água quente, começou a molhar em sua parte inferior das costas, ele soltou um gemido baixo,

inconsciente de prazer.

“Vai doer,” Ty sussurrou quando se inclinou contra a porta, esperando quase

alegremente o uivo.

Ignorando-o, Zane recuou novamente, inalando drasticamente à medida que a água

quente espirrava nos cortes, e as contusões. Doeu, mas era um jorro aquecido, que formigava e

zumbia, ao invés de realmente causar uma dor excruciante. Ele suspirou, relaxou e se moveu

mais para trás, para que a água escorresse sobre seus ombros, e gemeu quando sentiu como era

bom, a alfinetada de pequenos espinhos, as picadas de dor, se misturando com a ducha quente

que o relaxava, pacificando seus músculos tensos.

“Gosta de dor, hem?” Ty riu enquanto o ouvia. “Vou deixá-lo então,” ele riu quando se

virou para ir embora.

“Mariquinha,” Zane murmurou com um sorriso, alto o suficiente para ser ouvido.

132
“Masoquista,” Ty atirou de volta.

Zane riu. “Peso-pena.”

Ty saiu do banheiro, sem se preocupar em responder.

O gemido de Zane tinha enviado um choque estranho através de seu corpo, e ele não

tinha certeza de que gostava. Ele precisava... atirar em alguma coisa, talvez.

Foi para o quarto pegar o telefone.

Zane demorou no banho, permanecendo na água quente, até que o vapor tornou difícil

respirar. Com um suspiro, inclinou-se e desligou a água, satisfeito em saber que era mais fácil se

mover agora, deu um passo para fora da banheira, pegou uma toalha para enxugar o rosto, e

ligou o ventilador.

Se ele pudesse fazer com que Ty colocasse mais pomada sobre as feridas, ele poderia

estar pronto para a ação novamente.

No quarto, Ty estava esperando, tentando desesperadamente não pensar em como ele se

sentia. Não tinha necessidade de estar pensando em Zane Garrett em outra forma além de ele ser

um parceiro irritante. Ele olhou para Zane quando o homem saiu do banheiro e bufou fortemente

pelo nariz em aborrecimento. “O que você quer comer?” ele perguntou, deixando seus olhos

caírem nos músculos tonificados de Zane e, em seguida, desligou essa reação instintiva,

voluntariamente.

“Você não pediu ainda?” Zane perguntou afastando a toalha que estava usando para

secar o cabelo, a outra ainda envolta em torno de seus quadris estreitos.

Ty rosnou para ele.

Zane ignorou. “Eu não me importo, hambúrguer, bife, frango, pizza, o que for.” Ele deu

de ombros, foi até sua mochila e começou a procurar.

Ty parecia estar de volta à sua atitude nervosa normal, ele pensava enquanto procurava

cuecas limpas e um par de jeans.

133
“Tome uma maldita decisão,” Ty bufou, antes que alguém finalmente respondesse à sua

chamada.

“Cheeseburger, bacon e batatas fritas, e duas latas de Coca-Cola.”

Zane caminhou de volta para o banheiro com suas roupas.

Ty repetiu o pedido ao telefone e, em seguida, acrescentou seu próprio pedido; o homem

do outro lado tomou os pedidos e, educadamente, terminou a chamada. Ty desligou o telefone

lentamente, enquanto ouvia os movimentos de Zane. Depois de um momento, ele deixou escapar

um suspiro longo, lento e caiu de volta em sua cama. “Como está se sentindo?” Ele perguntou

quando fechou os olhos.

“Melhor,” Zane gritou, antes de fazer uso de sua escova de dente e, em seguida, olhando

distraído, tentando se lembrar de onde estava o seu pente. Ele colocou uma cueca limpa, e a calça

jeans, mas ainda estava distraído, quando voltou para o quarto e procurou em sua mochila.

“Você pode colocar mais dessa merda nas minhas costas?” Ele perguntou enquanto procurava.

“Você vai cheirar como um cavalo de corrida,” Ty respondeu de dentro de seu casulo.

Zane olhou para cima, enquanto procurava em sua mochila, com a testa franzida em

confusão.

Ty riu suavemente e enterrou a cabeça sob o travesseiro novamente, cansado; Zane sorriu

para ele enquanto o olhava, deixando seus olhos deslizarem para cima e para baixo no corpo

magro, mas definido, antes de balançar a cabeça e empurrar os pensamentos. “Você viu o meu

pente?” ele murmurou.

“Sim, eu tenho me apropriado de todos os seus itens pessoais, Agente Especial Garrett,”

Ty respondeu oficiosamente, com a voz abafada comicamente pelo travesseiro.

“Obrigado, Agente Especial Grady, aprecio isso,” Zane respondeu antes de empurrar

para longe a mochila e correr os dedos pelo cabelo. Ele olhou para Ty e inclinou a cabeça. “Como

você pode respirar desse jeito?”

134
“Como?” Ty perguntou debaixo do travesseiro. “Respirar e pensar ao mesmo tempo,

embora seja difícil de dominar, fica natural depois de ter praticado por um tempo, tenho certeza

que você vai pegar o jeito em breve.”

Zane revirou os olhos. “Pelo menos penso com a minha cabeça e não com a minha

bunda,” ele murmurou enquanto abotoava a calça jeans, fechando o zíper.

“Sua bunda é mais divertida de se olhar,” Ty atirou de volta debaixo do travesseiro.

Parado no lugar, Zane olhou para o travesseiro. “Você não acabou de dizer que olhou

para minha bunda.” Meu Deus, a provocação era uma porra inflamatória. Ele não precisava deste

tipo de tortura.

“Você a mostra muitas vezes, é o suficiente,” Ty rebateu em tom manhoso, ainda

abafado.

“Você não quer dizer literalmente,” Zane murmurou quando começou a empilhar as

pastas sobre a mesa, tentando abrir espaço para os alimentos.

Ty finalmente tirou a sua cabeça de sob o travesseiro e se levantou sobre os cotovelos

para olhar por cima do ombro para Zane. “Tudo o que eu digo eu quero dizer literalmente.

Literalmente.” ele disse com ênfase irônica.

Zane suspirou e esfregou os olhos com a mão. “Acho que você faz isso

deliberadamente,” ele resmungou. “Diz o que você quiser, para me fazer subir pelas paredes.” E

Senhor, sua imaginação estava agora extenuada. Zane se virou e olhou para Ty, com os olhos

apertados. “E como fico exibindo meu rabo, pode dizer?”

“Você está respirando,” disse Ty quando colocou a cabeça para baixo do travesseiro.

Zane suspirou, seja em alívio ou exasperação, ele não queria ter que descobrir. Ty estava

brincando com ele. Um cigarro estava começando a soar atraente, e a batida na porta foi uma

dádiva de Deus.

135
Ty olhou debaixo de seu travesseiro e viu Zane ir atender a porta. “Agora você está se

perguntando se eu estou olhando para sua bunda, não é?” ele brincou.

Zane mostrou o dedo do meio enquanto passava a arma para a outra mão.

“Mmmm,” Ty murmurou com um sorriso de auto satisfação.

Após um mínimo de barulho, Zane levou a bandeja de serviço de quarto para o outro

cômodo em anexo, e colocou a arma na parte de trás de sua calça jeans. E porra, Ty estava certo,

o bastardo presunçoso. Assim que ele passou por ele, acabou se perguntando se ele estava

colocando os olhos em suas costas ou em seu traseiro.

“Não é você, é a comida,” Ty ofereceu como se estivesse lendo a mente de Zane.

“Você continua dizendo isso,” Zane falou lentamente.

“Você sabe que sim,” Ty falou lentamente enquanto se esticava novamente. “Dê-me a

comida, cadela,” ordenou com prazer.

Zane bufou. “Eu deveria fazer você levantar essa sua bunda preguiçosa, mas você foi

gentil o suficiente para me ajudar, então...” Ele levou a bandeja para Ty, e a colocou na mesa de

cabeceira entre as camas.

“Obrigado,” disse Ty, quando se sentou e colocou um travesseiro no colo para servir de

apoio.

Zane esboçou um sorriso. “Espero que esteja da sua satisfação, majestade.” Ele falou

antes de voltar para a sua própria comida e sentar-se à mesa.

“Fico feliz em ver que você está sendo tão fácil de treinar,” Ty respondeu alegremente.

Levantando uma sobrancelha, Zane jogou uma batata frita para ele, atingindo-o no peito.

“Hey! Um pouco de respeito com as senhoras da limpeza, hein?” Ty repreendeu.

Zane sorriu e lançou outra batata; desta vez, caiu no prato de Ty, ele levantou os braços

em sinal de touchdown. “Você sabe, estou começando a gostar dessa coisa de incomodar alguém

até o limite do desespero.”

136
“Para você é natural,” Ty respondeu sem rodeios, enquanto olhava para a sua comida

com desgosto.

Zane suspirou e balançou a cabeça, voltando para a sua comida. Parecia que Ty só iria

tolerar determinada dose de seu próprio remédio. Um momento depois, uma batata frita o

acertou no nariz e ricocheteou em seu colo. A mandíbula de Zane caiu, mas ele sorriu, antes de

tirar a batata de sua coxa e colocá-la na boca.

“Mmmm,” Ty cantarolou novamente com um sorriso, pegou um pedaço de seu

hambúrguer e começou a comer. Zane se perguntava se este Ty era mais parecido com seu estado

normal. Ele parecia mais jovem, não tão cansado. “Qual é a sua história?” ele perguntou

impulsivamente.

“Qual?” Ty perguntou entre mordidas, com um aceno de sua cabeça.

“Sobre porque você está sempre com essa atitude hostil e combativa.” Zane perguntou

suavemente. “E o porquê de quando você dorme, você fica cinco anos mais novo do que eu, e

quando você está acordado e puto você parece ter cinco anos a mais.”

Ty levantou uma sobrancelha. “Você estava me olhando enquanto dormia?” ele

perguntou incrédulo.

“Você me observa,” Zane apontou. “E não tente evitar a resposta.”

“Não estava evitando.” Ty protestou divertido. “Isso é... Só... Realmente é muito

estranho, cara,” observou com uma risada. “E já disse a minha história, fui fuzileiro naval da

Force Recon; após a última missão não ter dado certo, fomos diagnosticados com PTSD20. Fomos

liberados com pensões absurdas antes que pudéssemos nos aborrecer. Todas as honras. Mas era

tudo uma mentira completa, e sabíamos disso, mas estávamos tão cansados e um pouco

traumatizados com toda a burocracia,” disse amargamente. “Eles precisavam nos plantar em

algum lugar agradável e seguro, para nos impedir de sofrermos da “síndrome das mãos ociosas,”

20
Posttraumatic Stress Disorder – Síndrome do Stress Pós-Traumático.

137
sabe o que eu quero dizer? Fui enviado para Quantico como uma espécie de ‘ajuda civil’, até que

Burns me encontrou e me convenceu a entrar para o Bureau, pois poderia ser divertido; eu era

um fuzileiro naval com um longo curso, e sinto falta, mas a vida é assim, e aqui estou.” ele

insistiu com um aceno de cabeça.

“Então, por que ser um artista? Usa uma máscara para evitar perguntas? Ou tem apenas

um coração partido?” Zane perguntou depois de outra mordida.

“Todas as alternativas acima,” Ty respondeu prontamente com a boca cheia de comida,

sorrindo e mastigando enquanto observava Zane.

Balançando a cabeça, Zane deu mais algumas mordidas. “Você sabe, quando eu estava

ferrado, acabei me familiarizado com os regulamentos de saúde e com os regimes de tratamento.

Você sabe que eles não liberam para o campo agentes que estão sendo tratados para depressão

ou transtornos de humor?”

“Sim,” respondeu Ty sucintamente.

“Transtorno de estresse pós-traumático cai nessa categoria. Se isso aparecesse em seu

arquivo, você estaria estacionado em uma mesa e nunca seria deixado ir a campo,” comentou

Zane neutramente.

“Sim,” respondeu Ty novamente e quando olhou para Zane sorriu torto.

“Então, você está mentindo para mim,” disse Zane, tão neutro quanto antes. “Você tem

algum motivo em particular porque não quer compartilhar? Além do fato de que eu sou apenas

seu parceiro, que pode ter que socorrer você algum dia.”

“Meu arquivo é classificado assim por uma razão,” Ty respondeu prontamente, como se

soubesse que Zane não acreditaria na história. “Partes dessa história são verdadeiras, embora,”

ele garantiu a Zane bem sério. “Nada em meu passado vai emergir, e morder a mim ou a você na

bunda,” acrescentou com um aceno de cabeça. “Não tenho mistérios, a única coisa que tenho, são

apenas alguns corações quebrados e um monte de burocracia.”

138
Zane estudou-o por um longo momento. “Tudo bem,” ele murmurou, voltando para

suas batatas fritas.

Ty observou-o estreitando os olhos. Finalmente, suspirou alto e olhou ao redor da sala,

depois para Zane aborrecido. “O Agente Especial Sanchez,” ele anunciou com um bufo. “Ele

estava na minha equipe Recon.”

Erguendo os olhos para olhar para Ty, Zane pensou que estava começando a entendê-lo;

entendia por que Ty estava tão determinado a permanecer neste caso, não se importando com a

explosão. E por que ele era um idiota, tentando manter as pessoas bem longe. Era um mecanismo

de defesa, semelhante ao que ele tinha, ainda que por um motivo diferente. Ty e seus

companheiros tinham vivido uma vida perigosa, esperavam perder um ao outro. Entretanto, não

para um serial killer. “É difícil,” disse em voz baixa.

“É difícil entender como esse serial maldito o matou, ele dormia com um arsenal debaixo

do travesseiro e um olho aberto,” disse Ty a sério. “E se alguém olhar os arquivos perto o

suficiente, poderia ver que éramos colegas antes do Bureau, e me arrancariam do caso,”

acrescentou.

“É por isso que você ficou surpreso quando Burns lhe entregou este caso - e por que você

está tão interessado em resolvê-lo,” disse Zane quando as peças se uniram.

“Burns me conhece,” disse Ty como forma de atendimento. “E ele conhecia Sanchez. Ele

nos recrutou, nos tirando da escória do serviço burocrático que estávamos sendo forçados a fazer

em Quantico, pessoalmente nos empurrou para a Academia; ele sabia que eu não deveria estar

aqui. Significa que ele me quer aqui por uma razão, só não consigo descobrir o que diabos é, além

de ser subserviente.”

“Ok, então por que te colocar comigo? Eu estava nos Crimes Cibernéticos por mais de

dois anos, a maior parte do trabalho era fora de campo. Não estive fora assim por quase quatro

anos. Por que ele tentaria te avaliar assim?”

139
Ty olhou para ele, pensativo e inclinou a cabeça curiosamente. “Você vai me avaliar?”

“Claro que não. Mas foi Burns quem tirou minha bunda de ação uma vez, enviou-me

para a desintoxicação com ameaça de prisão. Ele não gosta de mim desde então; por que me deu

essa chance?” Zane perguntou retoricamente.

“Por que ele se importaria o suficiente para colocá-lo na desintoxicação e depois

reintegrá-lo se ele não gostasse de você?” Ty respondeu calmamente.

Zane não tinha uma resposta para isso, era uma pergunta que ele mesmo fazia.

Ty apenas deu de ombros enquanto observava Zane pensar sobre isso. “Nós temos uma

coisa em comum, Garrett,” ele finalmente apontou. “Nenhum de nós pertence a isso aqui, e eles

não esperam que a gente jogue por nenhuma regra, de qualquer maneira.”

“Alguma vez joga pelas regras, Agente Especial Grady?” Perguntou Zane.

“Não consigo pensar em um exemplo,” Ty respondeu com um encolher de ombros

irreverente.

Zane olhou para ele por um longo momento. “Quantos anos você tem, afinal?”

Ty levantou a cabeça e olhou para o outro homem. “Por quê?” perguntou, desconfiado.

“Só para saber, pensei que você tivesse a minha idade ou fosse um pouco mais velho, até

que vi você dormindo,” respondeu Zane.

Ty franziu o cenho. “Tenho trinta e quatro,” ele respondeu de má vontade.

Zane assentiu lentamente e voltou a comer suas batatas fritas, agora mornas, sem

nenhum comentário; nunca teria imaginado que Ty fosse tão jovem.

“Por quê?” Ty cutucou.

Encolhendo os ombros ligeiramente, Zane olhou para ele. “Às vezes você parecer ser

mais velho do que isso, você age como se tivesse mais idade.”

Ty piscou para ele, um pouco perplexo, e olhou de volta para a sua comida com um

franzir de lábios. Zane o observou, tendo um vislumbre de um homem mais ordenado e

140
disciplinado, que Ty escondia sob a fachada de babaca impetuoso. Ele usava uma máscara, como

Zane fazia; era de alguma forma reconfortante e estava começando a ficar claro que a energia

efetivamente gasta por Ty podia ser tão abrasiva quanto à dele. Esse ex-fuzileiro naval, nessa

forma mais calma, que estava começando a aparecer, parecia muito mais natural para ele.

“Quantos anos você tem?” Ty finalmente pediu em troca.

Zane sorriu devagar, ainda o olhando. Ty não tinha olhado para ele. “Você quer dizer

que não me verificou ainda?”

Ty deslizou os olhos para olhar para Zane a sério, o resto do seu corpo imóvel.

Zane sacudiu a cabeça, e sorriu puxando seus lábios. “Tenho quarenta e dois,” admitiu.

“Sim, você parece.” Ty falou lentamente com um sorriso, que era um pouco mais

provocante do que o seu sorriso habitual.

Zane bufou. “Já anedei muito e vi muita coisa vezes demais.”

Ty revirou os olhos e cutucou seu alimento. “De onde você é?” perguntou sem olhar.

“Quero dizer, já que estamos conversando sobre isso e tudo mais.”

“Texas. Austin, para ser mais específico.”

“Eu sinto muito,” Ty ofereceu com simpatia, com um sorriso brincando em seus lábios

novamente.

“De onde você é, seu idiota?” Zane respondeu.

“Bluefield, West Virginia,” respondeu Ty, deixando suas palavras rolar com seu sotaque

pronunciado.

Zane sorriu. “West Virgínia!” disse ele. “Parece com você.”

Ty olhou para cima e sorriu novamente, apontando para seu ketchup com uma batata

frita. “Selvagem e maravilhoso,” ele citou com um riso mal contido.

“Selvagem e maravilhoso,” Zane ecoou com uma breve risada. “Todo o alpinismo

manteve você em forma para o Corpo de Fuzileiros Navais.”

141
“Está mais para espeleologia, mas é tudo sobre as rochas no final.” Ty deu de ombros com

um sorriso. “O filho de um mineiro, não tem muitas opções de carreira,” acrescentou. “Seria

entrar para os fuzileiros ou no negócio da família.”

Zane inclinou a cabeça. “De alguma forma, eu não o vejo como um mineiro de carvão.”

Ty olhou e estreitou os olhos. O desejo de ser a exceção estava escrito claramente em seu

rosto, mas, finalmente deu uma sacudida na cabeça e mordeu a ponta de sua batata. “Basta

adicionar a sujeira,” ele finalmente respondeu com um gesto para si mesmo, ainda que a

indústria de mineração de carvão tivesse deixado Bluefield na década de 1960.

Zane viu o olhar no rosto de Ty antes dele o sacudir.

“Você queria ser um mineiro de carvão?” ele perguntou.

“Ninguém quer ser um mineiro de carvão,” Ty respondeu uniformemente; olhou para

Zane e estudou-o, ponderando a sua resposta. “Mas, ninguém quer levar um tiro também,”

acrescentou pensativo. “Eu não seria um mineiro de carvão, as minas de carvão em Bluefield não

existem mais; mas meu pai cuidava das minas abandonadas. Ele se tornou um zelador, depois

que foram fechadas; significava que ele ainda ficava nas malditas minas o tempo todo,

certificando-se de que ninguém ficasse lá em baixo, perdido ou preso; fazendo o monitoramento

de desmoronamentos; e eu teria feito isso também, ou sair da cidade e fazer outra coisa, tinha

que escolher entre o medo de balas, ou de espaços pequenos,” admitiu. “Acontece que as balas

não são tão assustadoras, afinal de contas.”

Balançando a cabeça, Zane terminou seu hambúrguer. Ele estudou o outro homem

enquanto mastigava, reunindo os detalhes deixados de fora. Essa parte de sua história, tornava

Ty muito mais humano.

Ty voltou sua atenção para a sua comida, mas sentia os olhos de Zane nele; apenas

deixou Zane olhando por um tempo. “Então, o que mais precisa?” ele finalmente perguntou

depois de um momento tenso de silêncio. “Precisa do meu tipo de sangue? Minhas notas?”

142
A testa de Zane se enrugou. “Você foi para a faculdade ou simplesmente se juntou aos

fuzileiros navais?”

Essa pergunta o deixou irritado, mas Ty visivelmente reprimiu a sua reação inicial.

Ele exalou alto e empurrou o prato.

“Você disse suas notas,” Zane lembrou.

“Fui para a faculdade,” Ty trincou os dentes, reconhecendo que tinha de fato aberto essa

porta. “O Governo pagou.”

Zane assentiu lentamente, sentindo-se bem, em ver essa tensão de volta no outro homem.

“Nada de errado com isso,” ele disse. “Você mereceu.”

Ty mandou seu olhar enviesado para Zane, debaixo de suas sobrancelhas abaixadas.

“Você me agradando, Lone Star21?”

Zane pôs o prato na mesa com um baque. “Você serviu ao nosso país nas Forças

Armadas, merece isso.” Ele estava falando sério, e mostrou claramente em seus olhos.

Ty olhou para o homem por um breve momento, e, em seguida, olhou para baixo. “13-

10.” Finalmente respondeu com um aceno de cabeça.

Levantando uma sobrancelha, Zane deu um aceno de cabeça. “Boa pontuação,” elogiou.

“Morda-me,” Ty murmurou enquanto cutucava seu frango e franzia a testa.

“A média nacional é 11-50,” disse Zane, com um pequeno sorriso curvando seus lábios.

Ty era um tipo durão, obviamente, não lidava bem com elogios. Era quase cativante.

“Acho perturbador você lidar bem com esse improviso,” Ty informou ao seu parceiro,

sem rodeios.

Zane deu de ombros. “Dou-me bem com os números e improvisos.”

“Eu acho isso perturbador, também,” Ty brincou.

“Perturbador, hein? Vou tomar isso como um elogio.”

21
Pessoa geralmente sozinha ou independente, geralmente nascida no Texas.

143
“Tudo o que ajudar ao seu ego,” Ty murmurou com um aceno de cabeça.

“Como você caiu nessa, afinal?” ele perguntou pronto para mudar de assunto.

Zane considerou o que compartilhar, Ty poderia reagir de qualquer forma, mas, optou

por desistir e compartilhar. “Eu pulei.”

“E, em seguida, a corda arrebentou?” Ty forneceu.

“Foi mais como: alguém cortou a corda e me deixaram cair,” Zane murmurou, voltando-

se para os arquivos, começando a transferi-los. “Eu estava totalmente despreparado para a

academia.”

“Espere, espere, deixe-me adivinhar,” disse Ty, quando estendeu a mão para Zane.

“Faculdade de Psicologia, com...,” ele estreitou os olhos e inclinou a cabeça, “especialização em

ciência política,” ele adivinhou.

“Estatística e espanhol, antes da faculdade de Direito,” Zane admitiu, olhando para o

outro homem.

“Não me diga que você é um advogado,” Ty gemeu em resposta. “Estava começando a

quase não te odiar.”

Zane bufou e olhou para cima. “Não, eu não sou um advogado, fui salvo desse destino

horrível por um recrutador da academia.”

“Envie flores para esse homem,” Ty ordenou.

Zane riu. “Eu concordo... Entretanto, eu queria esfolá-lo agora, bem devagar.”

“Por quê? Você foi o mascote torturado em sua turma na academia?” Perguntou Ty.

Estreitando os olhos, o bom humor de Zane desapareceu, as más memórias fizeram isso.

“Eu aposto que você era o primeiro da classe em escalar a maldita corda,” ele murmurou mal

humorado. “Para mim, foram quatro meses de inferno absoluto. Então, tive que passar por isso

novamente. Que sorte é essa?”

144
Ty franziu o cenho e inclinou a cabeça, olhando criticamente sobre Zane. “Você foi

reciclado?” ele perguntou incrédulo.

Zane olhou para ele e poderia dizer imediatamente porque Ty fez a pergunta. “No final

do ginásio eu tinha 1,95 m e 59 kg, não tinha uma fibra muscular em mim.”

As sobrancelhas de Ty subiram de surpresa, mas ele balançou a cabeça e encolheu os

ombros. “Você deve ter tido um inferno de média com as partes mentais,” ele arriscou.

A resposta foi um sorriso irônico. “15-80.”

“O que aconteceu com os outros vinte, soletrou seu nome errado?” Ty perguntou com

um sorriso maroto.

Seu sorriso aqueceu um pouco. “Obrigado,” disse Zane inexpressivo.

“Qual é a do nome do meio, Z?” Ty perguntou abruptamente. “Zane Z. Garrett,” ele

meditou com um leve estremecimento. “Mamãe não gostava muito, hem?” ele perguntou com

diversão.

“Nome de família,” disse Zane com um encolher de ombros. “Zachary, nada realmente

assustador, e no Texas, Zane é bastante comum.” Ele olhou para Ty. “Lembro-me de Burns

dizendo o seu nome, algo parecido como Tyler Grady, você usa a inicial de seu primeiro nome;

eu estava muito ocupado ficando horrorizado por ter sido colocado com você como parceiro,

para pegar.”

“Provavelmente foi melhor,” Ty disse a Zane, com um encolher de ombros, obviamente,

não tendo nenhuma intenção de responder ou encontrar os olhos de Zane, enquanto tinha a sua

mente ocupada com o assunto.

Zane levantou uma sobrancelha e considerou forçar, mas como estavam finalmente

conversando, não queria arruinar essa frágil camaradagem, assim, optou pelo humor. “Você

estava certo sobre o nome.”

145
“Claro que estava,” Ty respondeu quase imediatamente, ele olhou para cima e apertou os

olhos. “Certo sobre o quê?” ele perguntou.

Zane suspirou. “Sobre o meu nome e os outros vinte pontos?”

Ty olhou para ele fixamente por alguns longos momentos, finalmente fechou os olhos e

balançou a cabeça. “Você digitou seu nome errado?” ele perguntou, exasperado.

“Não,” disse Zane, sorrindo ligeiramente. “Usei o meu nome do meio.” Seus olhos

brilharam e ele tentou duramente não sorrir.

“Idiota” Ty murmurou sob sua respiração.

O sorriso de Zane se abriu, inclinou a cabeça para trás e olhou para o teto, respirando

fundo e relaxando. “Foi embaraçoso,” complementou, apenas para o efeito.

“Sim, bem, tenho certeza de que você está acostumado a isso,” Ty murmurou. “Que

diabos,” acrescentou com um suspiro. “Não podemos ser perfeitos,” ele comentou quando olhou

de volta para o resto de comida em seu prato, com desgosto. Seu pé estava balançando um

pouco, quando se sentou de pernas cruzadas sobre a cama. Ele estava começando a ficar nervoso

novamente, nem todo o treinamento do mundo, não poderia corrigir um tique nervoso natural.

Zane suspirou baixinho e se voltou para os arquivos. “Longe de perfeito,” ele murmurou.

Ty revirou os olhos e bateu com a cabeça contra a cabeceira da cama.

“Não perca os poucos miolos que você tem,” aconselhou Zane, com olhos nos papéis que

ele tinha exposto na mesa.

“Bem, mas posso perder um pouco com o seu pequeno caso de piedade, então,” Ty

bufou.

“Festa! Legal, onde estão as bebidas?” Zane retrucou.

“Estava quase começando a gostar de você,” Ty suspirou baixinho quando se

espreguiçou e balançou as pernas para o lado da cama.

“Deus me livre.”

146
Ty balançou a cabeça e olhou para o que sobrou de sua comida. Ele tinha perdido o

apetite, pois sentia desejo de passar mais tempo com o seu parceiro auto piedoso. “Eu preciso de

uma pausa dessa porra de quarto,” ele murmurou enquanto se levantava e se esticava.

Zane olhou para cima, de onde estava olhando fixamente para os relatórios.

Ty estava batendo em seu jeans, enquanto procurava sua carteira, finalmente, ele a

localizou e a abriu, recuperando um pequeno pedaço de papel, desdobrando-o com o cenho

franzido.

Zane não disse uma palavra, apenas manteve os olhos na papelada. Lembrou-se de

quando Ty recebeu aquele pedaço de papel, e ele sabia das implicações, e lutou muito para não

se sentir tão ciumento.

Ty pegou o telefone e ligou, desviando os olhos para Zane, cintilando na luz baixa. “Quer

que eu veja se ela tem uma amiga?” ele perguntou com um sorriso.

“Vou passar obrigado,” murmurou Zane, nem mesmo olhando para cima.

Ty acenou com a cabeça olhando para o seu parceiro, quando a bonita aeromoça

respondeu ao telefone. Ty não tirou os olhos de Zane, enquanto armava o encontro, que sabia

que iria livrá-lo da frustração que seu novo parceiro criou. O cabelo na parte de trás do pescoço

de Zane se arrepiou, e Ty continuava olhando para ele. Zane virou o queixo para olhar para ele, e

uma sobrancelha subiu preguiçosamente. Hmm. Ty não devia ser o único a desabafar as suas

frustrações.

Talvez ele fosse encontrar alguém para passar um tempo também, e agora ficou

pensando nisso. Ty sorriu enquanto observava Zane olhar para ele, sorrindo para a voz um

pouco ofegante da mulher, quando ela disse adeus. Ele desligou e olhou para Zane. “Vai ficar

tudo bem por ai, por uma ou duas horas?” ele perguntou sensualmente.

“Eu e minha mão direita ficaremos muito bem, obrigado,” disse Zane para os papéis.

147
“Não vai sentir nenhuma simpatia por mim, Lone Star,” Ty disse a ele enquanto colocava

as suas botas.

“Já passei o meu tempo com você,” ele disse com um aceno de cabeça.

“Eu te ligo se detectar alguma coisa,” acrescentou como uma reflexão tardia.

“Passe um bom tempo,” Zane ofereceu sinceramente, finalmente olhando para cima.

Ty apenas riu enquanto saia pela porta, acenando com o celular por cima do ombro para

deixar Zane saber como entrar em contato com ele.

O outro agente ficou observando a porta fechada, um pouco antes de deslocar-se na

cadeira; se levantou e andou um pouco antes de tomar uma decisão, caminhou até a mesa e

descobriu o guia da área, disponíveis em cada quarto.

Abriu o guia sobre os documentos, e encontrou uma lista de bares e discotecas na área.

Havia até mesmo um pequeno mapa da área com dez quarteirões. Zane decidiu que

poderia muito bem fazer uma pausa enquanto podia. Ele andou até a mochila e tirou uma muda

de roupa. Depois de se vestir, enfiou a carteira no bolso de trás e colocou o seu coldre, embora

estremecesse algumas vezes, então colocou as botas, uma camisa e o blazer para cobrir a arma, e

estava pronto.

Antes de sair, colocou alguns preservativos no bolso da calça, e a porta se fechou atrás

dele.

Ele estava em uma esquina movimentada, na rua em frente ao hotel, onde os agentes

especiais Grady e Garrett estavam usando. Ele, é claro, vinha mantendo o controle da localização

deles, a partir do momento em que desceram do avião. Quando recusaram as acomodações da

Agencia, e se transferiram para outro hotel sem avisar ninguém, ele sabia que estava em apuros.

Isso significava que, ou suspeitavam de alguém com recursos internos ou eram excessivamente

paranoicos. Qualquer cenário que fosse significava mais trabalho para ele. Levou um tempo para

148
encontrar o hotel deles, mas eles não foram paranoicos o suficiente, para usar no check-in nomes

falsos, e ele finalmente pode rastrea-los.

Ter uma nova equipe do FBI no caso era um incômodo, mas até agora, eles não se

revelaram uma grande ameaça como ele esperava. Quando tinha chegado de Washington, o

aviso que estavam enviando uma equipe nova, ele quase se assustou. Para se precaver, ele

invadiu os arquivos no computador do FBI, e retirou pedaços vitais dos relatórios como isca,

antes mesmo deles desembarcarem. Estes dois, no entanto, acabaram por ser outra coisa, menos

uma ameaça.

Ainda assim, era melhor se livrar deles, mais cedo ou mais tarde.

A sonda que explodiu que ele havia criado no computador dos arquivos tinha funcionou

perfeitamente. Exatamente como planejado. O único problema em seus planos foi o fato de que

os agentes especiais Grady e Garrett pareciam não dar a mínima para os outros agentes, ou sobre

como trabalhar um com o outro. Ambos deveriam estar naquele laboratório, mesmo que Garrett

estivesse mutilado, pronto para ser substituído, ele ainda deixou Grady cuidar dele, e Grady era

a ameaça real, ele não seguia todas as regras, o que era mais difícil de esperar, além de ter

formação especializada. Garrett parecia ser uma tarefa mais simples, apenas se arrastando atrás

dele.

Ele deu uma profunda tragada no cigarro, enquanto esperava. Eles tinham que sair em

breve, e quando o fizeram, ele iria cuidar das coisas.

149
Capítulo 05

Ty deslizou a chave do quarto na fechadura eletrônica e estremeceu quando as luzes

piscaram em vermelho. Ele tentou de novo, olhando para o número de porta, para ter certeza de

que era o quarto certo, quando as luzes piscaram em vermelho novamente. Ele suspirou e bateu

na porta com o punho. Esperou alguns instantes e não ouviu nenhum movimento de dentro do

quarto, ele bateu de novo, com mais força.

“Garrett!” ele sussurrou, tentando manter a voz baixa. Já era tarde, afinal de contas, e ele

não queria atrair atenção indevida para si, olhou para cima e para baixo no corredor e

resmungou para si mesmo.

Ele olhou para o cartão aborrecido, percebendo que deveria tê-lo colocado em sua

carteira junto aos cartões de crédito e, provavelmente, desmagnetizado a maldita coisa. Ele

murmurou para si mesmo quando tentou uma última vez sem sucesso; se virou, com a intenção

de ir para seu quarto, mas, antes de dar mais um passo, se lembrou de que seu próprio cartão do

quarto estava dentro do quarto de Zane, junto com o resto de seu material.

Rosnou para si mesmo e olhou para o corredor, em direção ao seu quarto, franzindo a

testa para a placa de não perturbe. E se alguém tinha estado lá antes? E se alguém sabia onde eles

estavam? Com esse pensamento, um frio repentino inchou em seu peito. E se o seu parceiro foi

ferido? E se quando Ty tinha saído alguém atacou Zane? Ele tinha muito pouca confiança na

capacidade de seu novo parceiro se proteger estando bem e saudável, muito menos ferido e

relativamente indefeso.

Ty correu em direção aos elevadores e apertou o botão para o lobby, mas quando levou

muito tempo, se dirigiu para as escadas e começou a descer os oito lances de escadas. Ele

150
murmurou para si mesmo, impaciente e temendo, enquanto pensava sobre a infinidade de coisas

que poderiam ter corrido mal. Tentou dizer a si mesmo que estava apenas sendo paranoico e se

sentindo culpado. Ninguém sabia onde estavam certo?

Exceto por Sears e Ross, que os estavam seguindo mais cedo, e provavelmente todos os

outros agentes no escritório de Nova York, incluindo quem quer que fossem depois. Ele

empurrou as portas das escadas e se encaminhou pelo saguão, tentando acalmar o seu pânico

irracional.

Um momento depois estava no saguão. Teve alguma dificuldade na recepção do hotel,

tentando obter uma chave de reposição para o quarto de Zane, principalmente porque ele não era

exatamente Zane. Por fim, ele teve que mostrar a sua identificação do FBI e rosnar para a mulher

atendê-lo. No momento em que voltou para o quarto de Zane, ele estava tenso e quase tremendo

de medo.

“É melhor ser uma foda de um banho de espuma ou algo assim,” ele murmurou quando

passou o cartão e as luzes piscaram em verde.

Ele ficou ainda mais consternado em encontrar o quarto de hotel vazio. Ficou na entrada

do quarto, se acalmando antes de caminhar ao redor do quarto, em busca de alguma pista de

onde Zane tinha ido. Não havia sinais de luta ou de uma partida apressada. Tudo estava em seu

lugar, e em ordem no meio ao caos de seus arquivos.

Por fim, ele avistou o guia do hotel aberto na cômoda.

Ele se aproximou dele e gentilmente colocou a mão sobre as páginas laminadas, olhando

para baixo, para o pequeno mapa e a lista de casas noturnas e bares.

Com um gemido, Ty percebeu que Zane tinha apenas saído para tomar seu drink.

“Caralho!” ele rosnou para o quarto vazio.

Zane caminhava pela rua movimentada, olhando distraidamente para as lojas e

restaurantes, apenas deixando sua mente vagar. Pensando em nada, era um alívio. Ele parou na

151
esquina, esperando o sinal abrir, e se iluminou. Ele puxou os seus ombros, se encolheu um

pouco, e suspirou. Ele se sentia bastante decente, depois de aliviar um pouco da tensão

provocada entre ele e Ty. Um amasso quente em um banheiro escuro de um clube já resolveu.

Ele olhou para o relógio, 10:10, e imaginou que Ty usaria cada pedacinho de suas duas

horas mencionadas e, em seguida, mais algumas, não que Zane realmente se importasse. Ele

precisava dessa pausa mais do que ele pensava.

Ty sentou em uma das camas, a leu uma lista enviada por fax, que havia recebido

anteriormente, enquanto esperava o slide revelador do cartão, na fechadura da porta. Quando

chegou, ele baixou o fax e olhou para a porta, seus olhos estava duros e irados quando Zane

entrou, o outro agente olhou para cima e parou quando viu Ty. Ele estava obviamente surpreso

por Ty ter voltado mais cedo.

“Hey,” disse Zane. “Se divertiu?”

Ty não respondeu de imediato, tentando desesperadamente ganhar o controle de seu

temperamento. “E você?” Ele finalmente perguntou secamente.

“Sim.” Zane deu de ombros, e olhou para Ty novamente. “Estou supondo que você não

passou um bom tempo?”

“Eu vou te dar três palpites com o que passou pela minha cabeça quando percebi que

você saiu,” Ty respondeu calmamente, fervendo abaixo da superfície.

Os olhos de Zane se estreitaram e um pouco da tensão começou a se reconstruir entre as

omoplatas novamente. “Você não é meu guardião e não perguntei onde diabos você estava indo,

não é?”

“Você sabe que eu não estava enchendo a cara,” Ty rosnou quando levantou o guia do

hotel e o jogou no final da cama.

Levou alguma força de vontade para engolir a raiva. “Eu disse a você,” Zane disse

rispidamente. “Eu não bebo mais.”

152
“Claro, Garrett, e eu não fodo com estranhos se estou entediado,” Ty respondeu

sarcasticamente.

Levou um pouco mais de força de vontade, quando Zane olhou para ele. “Eu posso

cuidar de mim mesmo, Grady, não sou recém-saído da academia, e não preciso da minha mão,”

ele mordeu.

Ty praticamente tremia de raiva, o tipo de raiva que só poderia ser resultado de um susto

e um pouco de culpa. Ele olhou para Zane e, em seguida, olhou para o lado, dando um suspiro

longo e calmo, enquanto olhava para o mapa de locais de crimes na parede. “Só... Me deixe uma

nota na próxima vez, ok?” ele finalmente pediu suavemente.

Zane estudou-o por um longo momento, Ty estava realmente chateado, e Zane não tinha

ideia do por que. Também ficou claro que Ty estava fazendo um grande esforço para tentar

manter a calma. “Sim, tudo bem,” Zane concordou, não querendo balançar o barco adiante. Ele

tirou a arma, pegou o controle remoto da televisão, e se sentou na extremidade da cama de Ty, já

que não havia documentos nela.

“Se você vai se sentar ai, tome um maldito banho primeiro,” Ty reclamou. “Você cheira a

fumaça.”

Olhando por cima do ombro aborrecimento, Zane franziu o nariz.

“Você cheira a perfume e a sexo, o que é um pouco de fumaça?”

“Fumaça é desagradável,” Ty respondeu, deu um suspiro e percebeu que sim, ele

provavelmente tinha cheiro de sexo. Ele se encontrou perguntando se Zane tinha gostado do

mesmo tipo de distração que ele tinha tido, então sacudiu imediatamente este pensamento.

Zane levantou uma sobrancelha em questionamento com o olhar no rosto de Ty,

ganhando um defensivo “O quê?” do homem.

Os lábios de Zane se contraíram. “Desculpe por ter arruinado sua foda de relaxamento,”

ele jogou. Ty deu um suspiro depreciativo e esticou os braços sobre a cabeça.

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“Você deveria,” declarou com altivez.

Zane balançou a cabeça, mas estava sorrindo. “Pelo menos eu não estou mais

estressado,” ele disse enquanto se virava para percorrer os canais.

“Bem, louvado seja,” Ty murmurou quando se levantou e foi para o chuveiro. Ele estava

cansado de cheirar como uma mulher que nunca veria novamente.

Isabelle St. Claire tinha acabado de sair do chuveiro, seu próximo voo não levaria mais

de quatro horas, passariam por Los Angeles, que, sem dúvida, estaria cheio de empresários

bêbados, que gostariam de pegar na bunda dela, enquanto passava por eles. Pelo menos ela teria

algumas boas lembranças para levar neste voo em particular.

Ela correu a toalha por seu longo cabelo novamente, mordendo o lábio contra o sorriso

culpado que tentou borbulhar, quando olhou para os lençóis amarrotados da cama e as roupas

espalhadas pelo chão do quarto de hotel. Tudo pertencia a ela. Ele não tinha deixado nada para

trás.

Um agente do FBI, ele havia dito, seu crachá parecia terrivelmente oficial, de qualquer

maneira, e Ty Grady não parecera ser o tipo de mentir, só para impressioná-la; levá-la para cama

e nunca ligar de novo, sim, mas mentir? Não.

Isabelle sabia que o homem nunca iria ligar novamente, seria melhor assim, porque ele

era o tipo que garotas como ela ficava logo apaixonada, e ele definitivamente não era o tipo que

poderia levar para casa, para conhecer o papai.

Ela se permitiu outro pequeno sorriso e envolveu a toalha em torno de seu cabelo úmido.

Foi divertido, de qualquer maneira, ela não se incomodou em lidar com a bagunça que tinham

feito na cama, em vez disso, começou a arrumar a sua roupa em rolos pequenos, do tipo que você

poderia colocar em uma pequena mala facilmente e não deixar marcas de rugas.

Terminado a mala e já vestindo seu uniforme, ela estava encolhendo os ombros em sua

blusa branca, quando escutou a batida na porta. Ela olhou surpresa, não havia muitas pessoas

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para bater em sua porta, ou eram a Tina ou a Sylvia, suas colegas aeromoças no voo LA,

querendo comer algo, antes de pegar um táxi, provavelmente. Ou poderia ser ele de novo.

Ela mordeu o lábio, incapaz de conter um sorriso esperançoso enquanto foi até a porta e

olhou pelo pequeno olho mágico.

Um crachá do FBI era tudo que ela podia ver, estava tão perto, que tudo ficou

obscurecido, com exceção das grandes letras azuis no cartão.

Ela riu baixinho e balançou a cabeça quando recuou, ela poderia realmente se apaixonar

por esse cara, se ele deixasse. Ela olhou para baixo e desabotoou o botão já tinha fechado em sua

blusa, mordendo a língua em antecipação.

Quando ele apareceu naquela noite, ele simplesmente a agarrou e a jogou para trás, como

se estivessem em uma valsa, e a beijou. Ela se perguntou como ele iria cumprimentá-la agora, já

que eles realmente sabiam os nomes uns dos outros.

“De volta para mais uma rodada tão cedo?” ela falou enquanto destrancava a porta e a

abriu para deixá-lo entrar, ela deu um pequeno suspiro de surpresa quando percebeu que o

agente no corredor não era Ty.

“Desculpe-me, pensei que fosse outra pessoa,” ela gaguejou enquanto corava

furiosamente, abotoando a blusa apressadamente.

“Eu entendo, minha senhora,” disse o homem antes de puxar um pequeno lenço branco e

a agarrar bruscamente, pressionando-o sobre a boca e o nariz, e empurrá-la de volta para seu

quarto de hotel. Ela se debateu e tentou gritar, mas a mão dele cobriu a boca dela, e ela fez as

suas tentativas de bater e chutar; parecia passar despercebida. Ele chutou a porta atrás de si, e

Isabelle lutou enquanto o seu mundo escurecia.

Zane trabalhou profundamente nos arquivos, vasculhando detalhes, resmungando sobre

os relatórios que faltavam quando estava procurando, quando o monitor explodiu. Ele também

encontrou outros relatórios incompletos e peças que faltavam provavelmente o resultado de

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agentes sobrecarregados e o número de departamentos que informavam e filtravam as

informações através da Agencia. Mas não o deixou feliz, nem um pouco.

Ty estava sentado de pernas cruzadas em sua cama olhando para o mapa na parede.

Ele havia pregado as fotos das cenas dos crimes, perto de cada local, onde os corpos

foram encontrados, e ao lado das fotos, as fichas de acompanhamento, tentando dar sentido a

eles. Na primeira, ele murmurava um pouco de vez em quando, mais para si mesmo, depois

ficou perfeitamente imóvel quando olhou por cima das divisões e tomou notas. Mas agora, ele

balançava ligeiramente para trás e para frente e parecia apenas estar olhando estupidamente, se

houvesse alguma atividade cerebral acontecendo, seus olhos não o traiam.

Desgostoso, Zane jogou para baixo os arquivos. “Preciso de um cigarro,” ele murmurou,

levantando-se. “Quer dar um passeio?” Ele perguntou quando pegou o coldre.

Ty virou a cabeça lentamente, puxando sua orelha e fazendo uma careta. “É o meu

cérebro vazando nos meus ouvidos?” ele perguntou irritado.

“É isso que esse material cinza significa?” Zane perguntou, cutucando o lado da cabeça

de Ty. Ty grunhiu e caiu de costas, olhando fixamente para o teto, Zane sorriu para ele, as

últimas horas de trabalho tinham esfriado com sucesso os seus temperamentos, e eles estavam

quase se dando bem novamente.

“Vamos lá, uma caminhada vai te fazer bem, já que estamos sem outras formas de

entretenimento, acho que esgotamos as opções mais cedo esta noite.”

“Eu nunca esgoto as opções de entretenimento,” Ty resmungou.

“Mas você não é particularmente divertido, então vamos lá, talvez possamos encontrar

um lugar para tomar um sorvete ou algo assim.” Zane cutucou o braço de Ty com o joelho de

onde ele estava ao lado da cama.

“Sorvete?” Ty repetiu categoricamente quando se sentou. “Sério?” ele perguntou em

dúvida.

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“Sim,” Zane respondeu. “Por quê? O que há de errado com sorvete?”

“Nada,” Ty resmungou. “Doem meus dentes,” acrescentou com um leve rubor quando

se sentou com a cabeça abaixada.

Zane franziu o cenho. “Você pode ficar aqui, sabe,” ele disse. “Só achei que você poderia

querer uma pausa, também.”

“Estou indo,” Ty murmurou. “Eu odeio esse sentimento,” ele disse a seu parceiro quando

se sentou na ponta da cama e empurrou seus pés em suas botas. “Odeio saber que estou sentindo

falta de algo e não ser capaz de pegá-lo.”

Isso, Zane poderia identificar, ele balançou a cabeça e ajustou as alças do seu coldre, uma

vez que estava sobre os ombros, faz algumas caretas quando raspou sobre as mazelas.

“Antes de pegar o sorvete, vamos passar no quarto de hotel,” Ty sugeriu de repente.

“Quarto de hotel?” Zane perguntou com uma careta.

“A última cena do crime, onde Sanchez e Reilly estavam hospedados,” Ty respondeu

quando pegou o fax que vinha estudando antes. “Esta é a lista de ligações telefônicas feitas a

partir daquele quarto, nos últimos dias que eles estavam vivos, destaquei tudo o que não fosse

para entrega,” disse ele com ironia enquanto acenava para o ar.

Zane pegou o fax e o olhou com uma leve careta. Não havia muitas chamadas, apenas

duas linhas de destaque.

“O primeiro é Tim Henninger,” disse Ty com um aceno de cabeça para o papel. “Ele era

o seu primeiro contato, assim como nós, o segundo está em algum lugar na Federal Plaza, mas

vamos precisar ir lá para descobrir os detalhes do roteamento; meu palpite é que eles usaram

seus celulares na maior parte de tempo, então toda a lista é um grande desperdício de papel,”

continuou ele, com amargura.

“E quanto aos registros do telefone celular?” Zane perguntou quando entregou o fax de

volta para Ty.

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“Outro dia, eles me disseram,” Ty murmurou tristemente. “É por isso que gostaria de ir

ao quarto e fuçar,” ele continuou.

“Porque você acha que algo foi perdido,” Zane inferiu.

Ty deu de ombros, desconfortável e suspirou, não olhando para Zane, enquanto olhava

para o papel. “Eu só gostaria de vê-lo,” ele respondeu vagamente, sua voz de repente mais suave

e quase triste.

Zane o observava com cuidado, lembrando que Ty e o Agente Especial Elias Sanchez

deveriam ter sido bem próximos uma vez. Ele balançou a cabeça em silêncio e se virou para

pegar seu casaco, deixando o outro homem com os seus pensamentos.

Ty olhou para cima e corou ligeiramente, deixando o fax em sua cama, enquanto pegava

o coldre.

“Então, vamos à cena do crime, depois tomar sorvete,” disse Zane, usando um tom um

pouco mais alto do que o necessário.

Ty apenas balançou a cabeça e começou a se armar lentamente, e, em seguida, eles se

dirigiram para fora sem dizer mais nada.

Quando chegaram ao quarto do hotel, no Tribeca Grand, que foram reservados para os

dois agentes mortos, encontraram a fita da cena do crime ainda estampada sobre a porta, o

selando. Ty abriu o seu canivete e cortou ordenadamente a fita e os dois colocaram as luvas

quando eles entraram. Não era realmente uma cena ativa; que tinha sido mantida assim

simplesmente ao seu pedido. Ty sabia que o gerente gostaria de ser capaz de arrancar aquela fita

amarela berrante, que causava murmúrios e olhares furtivos quando alguém passava.

O quarto estava escuro e quase desconfortavelmente quente, as cortinas fechadas

hermeticamente e as saídas de ar fechadas; havia sangue seco ainda endurecido, em uma das

camas, e havia outro ponto no tapete perto da mesa, onde o segundo agente tinha caído. Ty

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estava no centro do quarto, olhando ao redor e começou a sentir a cena. Ele olhou para Zane,

onde seu parceiro estava perto da entrada.

“Você é o assassino,” disse ao homem apontando com o seu dedo. “Tudo bem? Fique aí

mesmo onde está,” ele pediu, apontando para onde o pessoal de balística forense identificou

onde o assassino tinha atirado.

Zane deu a Ty um olhar medido, mas se moveu para ficar um pouco mais próximo do

pequeno cartaz amarelo que marcava o local. Ty se moveu para ficar perto do sangue seco no

chão, virando-se para Zane.

Ele inclinou a cabeça para ele. “Reilly está na cama,” ela disse com um gesto para a cama.

“Eu estou aqui, falando com você sobre, e pensando quem diabos você mataria primeiro para

minimizar as chances de ser mutilado no processo?”

Zane fez um exame superficial na cama, observando que o coldre ainda repousava sobre

a mesa ao lado. Ele olhou para Ty, então ao redor do quarto por alguns instantes. “Sanchez

estava usando a arma dele,” ele respondeu, não vendo a arma do homem na sala, o que

significava que quando ele saiu do quarto, ele já foi pra cima dele.

Ty assentiu, mas permaneceu em silêncio.

“Então, vou matá-lo primeiro,” Zane respondeu sem hesitação, apontou seu dedo para

cima como se fosse uma arma e atirou; então se virou e disparou outro tiro falso para a cama.

“Quatro tiros foram ouvidos,” Ty murmurou quando se virou e olhou para o chão atrás

dele. O sangue no chão não era muito extenso, era uma mancha, um tiro não teria matado

Sanchez. Ele havia se movido, possivelmente tentando puxar a sua arma, para retornar o fogo,

enquanto tentava encontrar um local no chão, mas havia mais dois buracos de bala no tapete em

meio ao sangue. “Ele não teve nenhuma chance,” Ty murmurou para si mesmo.

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Ele fechou os olhos, sentindo-se um pouco doente. Ele podia ver a ação como se tivesse

estado lá, podia ver Sanchez, sabendo que ia morrer, mesmo quando puxou a arma e tentou

salvar seu parceiro.

Ele balançou a cabeça e empurrou para longe as imagens, antes que ele pudesse se abalar

ainda mais; e ele se moveu ao redor do quarto, inquieto, folheando as coisas na mesa, abrindo

gavetas, indo para o banheiro olhar os produtos de higiene pessoal que os agentes tinham

deixado para trás.

Zane ficou parado esperando pacientemente quando ele voltou e resmungou infeliz.

“Eles deram nesse quarto um pente fino, Grady,” disse Zane gentilmente. “Diga-me o

que você está procurando, talvez eu possa ajudar.”

“Eu não sei o que estou procurando,” Ty respondeu frustrado, olhando ao redor do

quarto e suspirou. “Eu tinha certeza de que haveria um símbolo, ou...”

“Talvez o símbolo não seja uma pista para o assassino em si,” Zane sugeriu pensativo.

Ty olhou para ele com os olhos apertados, obviamente, não entendendo.

“Quero dizer, os sinais têm significado para os assassinatos, nós sabemos disso, mas

também sabemos que ele matou esses dois homens e não encontrou o feito digno de deixar um

símbolo,” Zane explicou devagar, pensando nisso enquanto falava. “Eles não se encaixavam em

seu padrão, e por isso eles não recebem tratamento especial como os outros.”

“Faz sentido,” Ty concordou a contragosto. “Mas onde é que isso nos leva?” ele

perguntou.

Zane deu de ombros e balançou a cabeça. “Em nenhum lugar, realmente.”

Ty concordou com a cabeça, olhando ao redor do quarto com decepção. Geralmente, uma

cena de crime mostrava alguma coisa para ele, entretanto, este quarto, não lhe dizia nada.

“Sim,” Ty murmurou, finalmente, quando ele apontou com o polegar para a porta.

“Vamos pegar o seu maldito sorvete,” ele resmungou.

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Meia hora depois, dois cigarros, e uma caminhada, Zane tomava o seu sorvete quando

eles se sentaram em um restaurante. Pediu o clássico sundae de chocolate, e olhou para Ty.

“Agora, este é o caminho para convalescer,” ele disse.

Ty deu-lhe um sorriso de desgosto e rolou seus olhos, Zane deu um encolher de ombros,

deixando cair à tentativa de conversa. Uma risada suave chamou sua atenção, e ele olhou

discretamente para o lado para ver dois homens sentados, com uma taça grande de sundae,

compartilhando-o.

Zane sorriu levemente antes de voltar para seu deleite, embora tenha sido bom ver o

casal, só o fez se sentir mais solitário, vendo um casal feliz interagir.

O sorriso desapareceu e ele esfaqueou seu sorvete; duas garotas passaram, sussurrando

entre elas, olhando para os dois homens, depois mudaram sua atenção para Ty e Zane enquanto

passavam. “Deus, por que todos os casais gays são tão quentes?” uma perguntou

melancolicamente, em seguida, que já estavam fora do alcance da voz.

Estremecendo, Zane suspirou terminando o seu sundae, se arrastou para longe da mesa

sem dizer uma palavra, caminhando para jogar fora a tigela de plástico e a colher. Tinha certeza

que Ty deveria estar chateado com isso, e Zane não queria estar em sua linha de fogo. Era tempo

para uma retirada estratégica. Além disso, todos os pensamentos que combinam Ty e Grady, essa

atração, e formigamento que sentia em relação a ele, estavam condenados desde o início. Já era

ruim o suficiente estar se sentido atraído pelo idiota, e se entregar a essa ideia, iria apenas torná-

la pior.

Os ombros de Ty começaram a ficar tensos novamente, quando ele ficou sozinho na

pequena mesa, e se forçou a não assistir Zane se afastar. Quando era mais novo, Ty se permitiu

desfrutar da companhia de homens e mulheres, e desfrutava dessa sua fantasia na época. Mas,

com o seu tempo passado no ambiente do Corpo de Fuzileiros Navais, o obrigou a suprimir

muitos desses sentimentos e desejos. Havia ficado confuso e zangado com o mundo em geral por

161
um bom tempo, mas conseguiu deixar de lado, a fim de se concentrar em seu trabalho, Agora, o

trabalho era mais fácil e por isso estava escondendo alguma coisa assim.

Depois de sair do serviço, ele tentou se convencer de que estava livre de novo, mas

passou tanto tempo fingindo ser uma pessoa que não estava a fim de se misturar em seu

ambiente, que o hábito não acabava tão facilmente.

O fato de que ele estava atraído por Zane Garrett, adicionava mais frustração a essa

situação. Estava confuso novamente e seriamente irritado. Ele encolheu os ombros um pouco

mais e cruzou os braços sobre o peito, de cara feia para qualquer coisa que se movesse enquanto

esperava Zane para retornar.

“Vamos,” Zane murmurou quando voltou para a mesa, ainda mastigando suas próprias

emoções.

“Graças a Deus,” Ty murmurou irritado como realmente estava; Zane não respondeu,

apenas abriu o caminho até a porta, para voltar para o hotel em silêncio, com longas pernadas no

concreto.

Depois de vários episódios, e tentativas de controlar as suas emoções, Ty finalmente

xingou em voz alta e perguntou: “Que diabos, cara? Você come a sua maldita calda quente e de

repente tudo é se apressar ou esperar?”

“Temos trabalho a fazer,” Zane respondeu brevemente, ele sabia que estava exagerando,

mas precisava voltar ao que ele deveria ser e esquecer o que ele costumava ser; um homem que

não teria medo de sentir algo sobre essa atração. Aquele homem não poderia existir mais, ele

precisava voltar a representar um papel, aquele que o encontrou na primeira vez e o insultou.

Isso era seguro, e seria o trabalho a ser feito. Cristo, ele estava sempre fodido. Zane se perguntou

se deveria ter outro maldito encontro novamente. Ty tinha jogado um maldito laço.

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Ty resmungou e correu de novo para se recuperar. “Você não tomará outro sorvete

novamente,” ele murmurou.

Zane não se opôs. Ele precisava de algo para trazer a sua mente de volta para a pista,

imediatamente. “Um de nós tem de voltar para o escritório e encontrar estes arquivos que eu

estava procurando,” ele disse, enquanto caminhavam. “Eu não retornei a ligação dos

investigadores sobre a explosão, e eu deveria verificar com Henninger e dizer-lhe para manter a

boca fechada.” Sua voz estava de volta ao tom monótono, que ele usava no escritório.

Ty suspirou enquanto escutava, foi breve e agradável, mas o momento da parceria

tolerável parecia ter acabado. “Quer saber?” ele sussurrou finalmente, quando agarrou o braço

de Zane para ele parar. “Estou ficando muito fodidamente cansado de dar uma de Jekyll e Hyde

com você.” Ele estreitou os olhos e se inclinou mais perto de Zane, olhando-o atentamente. “Você

não está tomando nada ainda, não é?”

Zane empurrou o seu braço, para manter a distância e estreitou seu rosto. “Você tem

alguma ideia de que merda eu iria ficar, se eu ainda estivesse bebendo? Foda-se, não, embora

você possa me dirigir a isso!”

“Você realmente se importa com que tipo de merda você toma?” Ty perguntou, quando

Zane eriçou instintivamente.

“Na maioria das vezes, sim, me importo, então saia do meu caminho,” Zane respondeu,

tentando duramente manter a raiva deslizar lividamente. Ele parou em um beco estreito de

serviço e tirou o maço de cigarros agitado.

“Eu vou ficar na porra da sua cola, até que eu esteja convencido de que você não vai me

matar,” Ty rosnou enquanto caminhava atrás dele.

“Eu não sou o único que foi fodido por conta do meu último parceiro, sou?” Zane

retrucou, quando esmagou o cigarro apagado entre os dedos e se virou para enfrentar Ty.

163
Toda a fachada de Ty mudou, como se alguém tivesse virado um interruptor dentro dele,

seu corpo ficou tenso e seus olhos ficaram duros e escuros. “Isso não tem nada a ver com você,”

ele rosnou.

Zane avançou sobre ele, pois já tinha perdido a sua fachada calma e cuidadosa. Ele pegou

o rosto de Ty, se sentindo tanto insultado e ultrajado, pois o homem que era para ser o seu

parceiro, realmente não se importava assim. “Sim, é verdade, porque infelizmente, eu sou seu

parceiro agora, porque o último, aparentemente, não poderia ficar com você, e você não está

inspirando exatamente qualquer confiança.” Zane rosnou.

O controle impressionante de Ty sobre seu temperamento volátil estalou, ele se virou

automaticamente, pegando Zane no queixo com um gancho rápido de esquerda.

Despreparado, Zane só foi capaz de virar o rosto para longe, para diminuir o impacto do

golpe, e cambaleou para trás. Ele largou o maço de cigarros, quando Ty veio para ele novamente

e, finalmente, conseguir reagir; conseguiu girar e desajeitadamente deu uma cotovelada na lateral

de Ty. Ele acertou a arma que Ty tinha no coldre, debaixo do braço e os dois homens grunhiram

de dor.

Ty cambaleou para o lado, mas se moveu tão rapidamente, que Zane não estava pronto,

antes de Ty estar encima dele. Ele pegou o ombro de Zane, o puxou para mais perto, bateu o

joelho na barriga de Zane, e o empurrou para o chão.

Zane grunhiu e cambaleou para trás, mas conseguiu ficar em pé, com o seu reflexo

duramente conquistado, respirou fundo, e avançou os poucos centímetros para o outro homem,

antes que Ty pudesse ficar fora de seu alcance. Zane usou seu próprio peso para empurrar o ex

fuzileiro naval e enviá-lo com força contra a parede de tijolos do beco, e então ele se afastou, com

os punhos para cima e pronto, ofegando com a adrenalina bombeada através dele.

Ty bateu no muro duro com seu ombro, e a dor passou por ele como um relâmpago

rangendo sua articulação, mas ele não registrou nada. Em vez disso, estendeu a mão para o lixo,

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em certa distância e agarrou uma garrafa de cerveja. Ele a quebrou contra a parede e se virou

para Zane, com algo quase como prazer em seus olhos. Ele nunca deu um pensamento para as

armas em seus braços, ou para o número de maneiras que sabia como matar um homem, apenas

usando a mão dele. Seu objetivo agora era mutilar e humilhar, não para matar.

Estreitando os olhos para a nova arma de Ty, Zane concentrou sua atenção

exclusivamente em Ty, quando começaram a circular entre si. Ele podia sentir os nervos agitando

o seu estômago, e ele se esforçou para manter sua respiração calma e seu rosto em branco.

Ele não iria ser derrotado, sua mais dura lição, quando aprendeu a lutar, era saber

esperar, apesar de sua primeira aula tinha sido derrotado. Ele encontrou um súbito momento de

clareza, quando eles estudavam um ao outro, e sabia que, se ele tivesse algum senso de auto

preservação, ele deveria correr agora, porque Ty obviamente sabia várias maneiras da agir e

lutar, mas seu orgulho não iria deixá-lo fazer isso. Se ele se dobrasse agora, Ty nunca teria um

pingo de respeito por ele, e Zane simplesmente não poderia viver com isso.

Ele sentiu as facas em seus pulsos, quando manteve seus punhos fechados; essas facas

era outra lição, uma adaptação para o seu estilo de luta, uma vez que os instrutores da academia

tinha feito com que os músculos aparecessem em seu corpo. Zane pediu a Deus que ele não

tivesse que tirar alguma delas, porque era muito provável que Ty fosse pegá-las e usá-las contra

ele.

Sem nenhum aviso, Ty investiu contra ele, fintando com o vidro quebrado na mão direita

e passando por Zane com sua esquerda. Zane levantou o braço para bloquear o golpe da garrafa,

usando a maior parte do metal da faca contra seu pulso para repelir o golpe, esperando que o aço

das facas inutilizasse a garrafa, fazendo-a colidir com o lixo. Mas o gancho de esquerda pegou-o

no meio, e foi cambaleando para trás, vendo estrelas, mesmo quando agarrou o pulso de Ty e

usou o corpo do outro homem para se mantiver de pé.

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Ty agarrou o pulso de Zane e o girou, puxando o braço de Zane por cima de seu ombro e

alavancando o homem, para mandá-lo de cabeça para baixo, para o chão. Zane foi para abaixo,

mas, Ty perdeu o equilíbrio sob o peso e a dor no ombro e caiu de joelhos ao lado dele.

Apesar do impacto doloroso sobre o concreto e as manchas dançando em sua visão, Zane

puxou seus joelhos até o seu peito e usou o momento para se flexionar e se manter em pé com a

impulsão de seu corpo, ainda que de forma trêmula. Ele imediatamente se moveu e chutou a

lateral de Ty, a parte inferior de sua bota, acertou as costelas do outro homem. Ele não era um

lutador de formação clássica, nem teve um treinamento limpo; Zane era um lutador de rua, um

scrapper, acostumado a usar seu peso e força para atacar e a se defender. Infelizmente, Ty estava

muito perto dele em tamanho e peso, para Zane se sentir bem.

Ty rolou na lama do beco, na poça de água suja, na hora que perdeu o peso do golpe. O

dedo do pé de Zane pousou no ponto sensível em sua caixa torácica enquanto se movia,

alcançando a arma no coldre novamente, Ty se enrolou em um agachamento e, em seguida, se

virou com um pontapé de retaliação nos tornozelos de Zane.

Os pés de Zane deslizaram para fora, antes mesmo de ele saber o que tinha acontecido, e

se viu mais uma vez em suas costas. Conseguiu muito rapidamente se erguer, apenas para Ty

dar outro chute giratório com os seus tornozelos e logo depois, ele já estava em pé.

Ele tentou saltar para fora do caminho, mas sussurrou com raiva quando a bota de Ty

pegou sua panturrilha e o deixou cambaleando. “Maldição!” ele gritou quando se endireitou.

Ty ainda estava de joelhos, e começou a rir dele, enquanto segurava suas costelas

machucadas. Isso era apenas um jogo para ele e aparentemente, este pensamento fez Zane ver

vermelho. Muito louco para recuar, Zane avançou para Ty, e puxou a parte de trás de sua

jaqueta. Ty jogou os braços para trás, como se estivesse nadando de costas, e se deslizou para

fora da jaqueta facilmente, deixando-a nas mãos de Zane; ele se afastou um pouco fora de

equilíbrio, ainda rindo e sem fôlego.

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Jogando a jaqueta de lado, Zane empurrou Ty contra os tijolos da parede mais próxima,

de cara, agarrando-lhe o braço para tentar puxá-lo para trás e segurá-lo. Ele percebeu que Ty não

estava mais rindo, um momento tarde demais.

Ele agarrou o pulso de Zane com facilidade, apertando o ponto de pressão que iria enviar

uma dor cegante pelo braço de Zane.

“Maldição!” Zane uivou novamente, quando perdeu os sentidos em seu braço. Ele

revidou o puxão em Ty com a outra mão e o bateu contra a parede novamente, desta vez com o

antebraço em toda a volta do pescoço de Ty, pois o seu outro braço pendia flácido e inútil. “Pare

com isso,” ele rosnou.

“Não tenho ideia do que você está dizendo, filho,” Ty murmurou calmamente, embora

seu corpo estivesse tenso, quando deu a Zane uma última chance de parar com isto, antes que ele

realmente pudesse feri-lo.

O cabelo na nuca de Zane se levantou, ele se afastou de Ty e começou a recuar para fora

do alcance dele. Ele com certeza não confiava em Ty, não para se virar e levar outro golpe, agora

não.

Ty virou lentamente e olhou para ele, mas não o atacou.

Ele apontou para o chão e rosnou: “Dê-me a minha maldita jaqueta, maldição.”

“Você foi o único que a tirou seu idiota,” Zane cuspiu de volta duramente.

Ele não estava recuando; não agora. Esta seria uma luta que iria até o fim, Ty

provavelmente iria acabar com ele, mas, pelo menos ainda podia se olhar no espelho depois.

Ty se afastou da parede com raiva e o empurrou. Esperando algum tipo de resposta

física, Zane atacou imediatamente com o seu punho direito, acertando Ty na mandíbula. Doeu

demais e repetiu com o seu cotovelo, mas sabia que tinha feito contato um sólido. Ty cambaleou

e deu um passo para trás; mas, voltou com uma velocidade estonteante, atacando com dois

golpes rígidos na barriga de Zane e, em seguida, chutando no interior do joelho, enquanto ele

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estendia a mão para encontrar um ponto no ombro ou no pescoço de Zane. A velocidade e a

ferocidade dos movimentos deixou muito claro que Ty apenas estava brincado com ele antes.

Zane não tinha a menor chance de se proteger, agora, muito menos retaliação.

Grunhindo fortemente, Zane se inclinou quando recebeu os dois golpes no estômago.

Quando o joelho cedeu, sentiu a mão de Ty se fechar bem na parte de trás do seu pescoço, e ele

soube o que estava por vir. Ty estava prestes a quebrar o nariz dele com o joelho. Zane já tinha

visto e feito isso muitas vezes, para saber o que iria acontecer; com outro gemido, Zane agarrou a

panturrilha de Ty, e puxou o pé do homem para frente, tentando desesperadamente tirar o

equilíbrio dele.

Ty pegou na parte de trás do pescoço de Zane e levantou o joelho para o rosto do

homem, com a intenção de quebrar o nariz dele e o deixar sangrando e inconsciente no beco. Mas

Zane o desequilibrou rápido o suficiente e, quando Ty se moveu, o joelho não acertou o rosto de

Zane com força suficiente para nada, mas doeu como um filho da puta.

Ty caiu de costas com um suspiro e ficou momentaneamente atordoado quando o ar

correu de seus pulmões e a parte de trás de sua cabeça rachou contra o pavimento. Zane se

arrastou às pressas e caiu de bunda no chão, deitado e ofegante, enquanto tentava conseguir uma

respiração sólida. Ele balançou a cabeça, tentando limpá-la, e se levantou, tentando, sem sucesso,

ficar de pé. Limpou algo molhado em seu rosto e as costas de sua mão ficaram sangrentas, do

corte de seu lábio superior. Segurando seu braço ainda formigamento e quase entorpecido, olhou

para Ty com cautela, esperando o próximo movimento do homem, enquanto tentava se firmar.

Zane tinha certeza que não seria capaz de fazer mais nada para ajudar a si mesmo se Ty viesse

pra cima dele de novo. Mas ele tinha alguma tentativa.

Ty ainda estava de costas e imóvel, com um dos joelhos levemente dobrado, que foi

lentamente se esticando, onde ele tinha caído na poça rasa de água parada. Ou ele estava muito

atordoado ou planejava o seu próximo ataque.

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“Ow” ele finalmente gemeu lastimosamente.

Zane fez uma careta e se endireitou, tentando controlar a sua respiração errática; colocou

uma mão apoiada em seu joelho e com um impulso final, se manteve ereto.

Tentou equilibrar a respiração enquanto se afastava um pouco mais, tentando colocar

uma maior distância entre eles, apenas para garantir. Ele abriu e fechou o punho, seus dedos

coçando para pegar uma faca, que ele não queria usar, as juntas gritando do impacto de seu soco

no queixo de Ty. Todo o seu rosto parecia estar pegando fogo e seu braço estava começando a

recuperar um pouco dos sentidos; sentia pontadas de espinhos dolorosos por todo o seu corpo.

Ty começou a se mover lentamente, rolando para o lado e se empurrando com cuidado.

Ele se afastou um pouco de onde estava, então, olhou para Zane friamente quando tocou debaixo

do braço, sentindo a arma em suas costelas e estremecendo com a contusão formada. “Você fez?”

ele perguntou sem emoção.

Zane esfregou seu pulso e flexionou sua mão, fazendo uma careta, seu corpo ainda

estava tenso com a raiva e tensão. Mas o que realmente o incomodava, foi ter sentido uma

incrível excitação. Não tinha notado até que empurrou Ty contra os tijolos e o manteve lá, usando

todo o seu corpo. O que diabos havia de errado com ele? Entrar em uma luta feroz com um

homem que poderia facilmente matá-lo?

“Não me questione mais sobre drogas e bebidas,” alertou com a voz grossa, sacudindo

seus outros pensamentos. “Você vai chutar a minha bunda para cima e para baixo neste beco no

final, mas, não vou desistir sem um inferno de uma luta.”

“Foi uma merda de uma pergunta legítima!” Ty cuspiu.

“E eu já tinha lhe dado à maldita resposta,” Zane agarrou. “Não minto sobre isso.”

“Não me importo se você vai mentir, enganar, roubar, e foder tudo o que se move!” Ty

gritou com raiva. “Fique longe dos bares, enquanto estamos trabalhando nessa porra de caso! E

fique fora do meu passado!” ele gritou em voz aflita.

169
“Qual é o seu problema, Grady? Você está sendo um asno idiota em relação ao meu

passado, você sabe muito bem Burns não teria me colocado de volta às ruas, se eu não estivesse

limpo,” Zane ponderou. “Não é de admirar que o seu parceiro tenha sido transferido, com você

lidando como se o cara fosse um maldito suspeito!”

“Ele não foi transferido,” Ty chutou, tentando se acalmar.

As dores das memórias foram assumindo o lugar da raiva, e ele estava se esvaziando

rapidamente.

Zane se encolheu e olhou para Ty por um longo momento, depois fechou os olhos

enquanto o calor ia sendo drenado para fora dele, deixando-o frio. Foda-se tudo. Ele deveria

saber que Serena Scott não consideraria a morte de um parceiro um solo sagrado, era exatamente

esse tipo de ferida que ela picaria. Zane nunca teria agido intencionalmente tão baixo. Ele se

virou sem descanso e passou a mão sobre seu cabelo cortado rente, antes de se inclinar para trás

contra a parede.

Ty deu alguns passos, se curvou para pegar cuidadosamente a sua jaqueta de couro e a

escovou. “Enterrei um amigo,” ele disse a Zane como aconteceu, sua voz estava rouca e tensa “E,

em seguida, diz a sua esposa e ao seu bebe que você o matou; depois, veja o quão bem você pode

trabalhar com outro parceiro, depois disso acontecer,” ele desafiou suavemente antes de dobrar o

casaco sobre o braço, virando a cabeça para a saída do beco.

“Ty.” A voz de Zane foi baixa, já não vibrava com raiva.

Ty desacelerou e finalmente parou com a cabeça baixa e os ombros tensos, enquanto

esperava.

Qualquer excitação foi drenada com a explicação de Ty, e agora Zane se sentia vazio e

doente, ele sabia o quanto doía perder alguém achando que era a sua culpa.

“Peço desculpas,” ele disse em voz baixa. “Eu não sabia.”

170
Ty virou ligeiramente a cabeça como se estivesse ouvindo por cima do ombro, em

seguida, voltou seus olhos para frente, levantando o queixo e enquadrando os ombros, não

respondeu. Zane deu um suspiro lento e começou a andar, cada passo era fisicamente e

emocionalmente doloroso, acabou passando por Ty depois de vários passos.

Ty observou que Zane estava com a cabeça baixa e olhos duros. Por fim, fechou os olhos,

tentando recuperar a calma. “Você ainda pretende voltar para o escritório?” ele perguntou sem

rodeios.

Zane olhou para o relógio e fez uma careta. “É muito tarde, teremos que esperar até

amanhã,” ele respondeu, sem se virar para olhar para ele.

Ty começou a andar de novo, apontando para a entrada do beco. “Depois de você,” ele

murmurou.

“É melhor descansar mais um pouco e começar cedo amanhã,” Zane disse a ele enquanto

se movia em direção ao hotel; não tinha certeza do que mais poderia dizer.

“Claro,” Ty concordou tristemente enquanto caminhavam ao longo do quarteirão.

“Parece que alguma coisa vai nos atingir esta noite,” ele disse incisivamente, quando dobraram a

esquina do edifício do hotel.

“Não literalmente, eu espero,” disse Zane baixinho, limpando o sangue do nariz e no

lábio, enquanto se aproximavam das portas da frente. Eles encontraram vários olhares atônitos

das pessoas dentro do lobby. Os dois estavam sujos e sangrando. As costas de Ty estavam

molhadas e cobertas com pequenos pedaços de cascalho, e suas armas eram claramente visíveis

enquanto segurava a jaqueta na mão. Zane viu Ty mostrar a sua identificação a uma funcionária

do hotel, que foi apressadamente pegar um telefone, enquanto atravessava o saguão, e a mulher

lentamente se acalmou ao ver o seu distintivo. As pessoas sussurravam quando ele passava, e

Zane não poderia deixar de admirar a forma como Ty poderia passar um temido “ar de

autoridade,” quando ele precisava. Zane manteve a cabeça baixa e o seguiu calmamente.

171
No caminho até o quarto, Zane se perguntava se Ty iria voltar para o seu próprio quarto.

Eles não estavam exatamente se dando bem, na verdade, eles basicamente tinham tentado matar

um ao outro, e Zane não tinha ilusões a respeito de quem teria sair por cima. Ele fechou os olhos

enquanto andavam no elevador, tentando não pensar em tudo isso.

Mas Ty nem pareceu hesitar enquanto conduzia Zane para seu quarto.

Talvez Ty só o quisesse no quarto para estrangulá-lo calmamente, ou pegar suas coisas e

depois voltar para o seu próprio quarto. Ainda assim, os ombros de Zane relaxaram um pouco, e

ele deixou o aperto da morte sobre seus pensamentos e ações aliviarem um pouco, quando ele

abriu a porta do quarto. Ty teve a chance de matá-lo mais de uma vez e não o fez, mas, Zane

ainda não confiava no bastardo louco.

“Eu acho que amanhã, nós iremos precisar começar com uma nova campanha nesta

investigação,” Ty estava dizendo, enquanto foi até a sua cama e segurou o casaco para examiná-

lo criticamente, antes de jogá-lo no chão com desgosto. Começou tirando todo o seu armamento,

enquanto falava, olhando para a cama e tentando desesperadamente se afundar nela, em vez de

relembrar a dor das memórias antigas e as novas contusões. “Até agora, ele cometeu apenas um

erro indo atrás de Sanchez e de seu parceiro; por que matá-los se eles sabiam tão pouco sobre o

criminoso? Por que ele iria matar os agentes, e nos deixar saber, que ele estava ciente dos

movimentos do Bureau?”

Zane assistiu Ty enquanto falava, aparentemente, ele planejava ficar.

Balançando a cabeça, Zane se perguntou o que diabos aquela luta maldita tinha

significado, e como diabos Grady já estava colocando para girar as engrenagens de seu cérebro.

A curta luta tinha mostrado a Zane, que certamente Ty era mais do que capaz de cuidar

de si mesmo, mas, Zane também tinha mostrado a ele que podia dar algum trabalho, mesmo que

leve.

172
Ty não foi nada leve.

Suspirando, Zane passou a mão sobre o rosto, deixando-a cair ligeiramente sangrenta;

obviamente, ele também tinha que elaborar algum trabalho em seu cérebro. Não era o momento

de ficar desfocado. Sacudiu-se e deixou sua jaqueta escorregar de seus ombros, suas costas

gritaram por todo o caminho, e Zane assobiou quando a jaqueta passou por seu pulso dolorido.

“Se estivesse trabalhando infiltrado, eu poderia morrer se o meu disfarce fosse descoberto,” ele

murmurou.

“Certo, se descobrissem” Ty respondeu quando tirou a camisa encharcada e a jogou no

canto. “Mas, obviamente, não estavam perto de descobrir, ou eles teriam deixar alguém com eles,

Sanchez não era o tipo de jogar sem rede.”

“A menos que eles não tivessem feito a conexão ainda,” respondeu Zane silenciosamente,

deixando suas facas na mesa e se sentando para tirar suas botas. Caramba, isso era estranho, e

tudo doía, não importa o quão cuidadosamente se movesse. Ele olhou para Ty, tentando avaliar

se o outro homem estava com qualquer dano.

“Então, qual a ligação que eles poderiam ter feito, mas, que não tiveram tempo de se

moverem no caso?” Ty perguntou com ironia quando ele colocou as mãos nos quadris e viu Zane

à toa. Incomodava-o que até agora ele não conseguiu se equilibrar e desprezar o homem, e, além

disso, ainda se sentia um pouco atraído por ele.

Não era justo.

Nem mesmo as dores recentemente ganhadas, não poderiam fazer essas coisas

acontecerem. Inclinou-se para desatar os seus Timberlands, a testa de Zane estava franzida. “A

vantagem de terem os relatórios completos?” Ele colocou para fora, e já que era algo que queria

seguir. “Talvez ele estivessem em algum lugar onde não deveriam estar, ou não deveria ter

encontrado, ou poderiam estar perto de uma pista, ou os agentes encontraram algo estranho e o

assassino ficou com medo ou apreensivo.”

173
“Não sabemos que tipo de arquivos estava faltando, então?” Ty combatida em dúvida.

“Esses arquivos podem ter sido removidos para nos atraírem para a sala de registros e cairmos

naquela armadilha da explosão espontânea do computador.”

Após se sentar na cama, Zane franziu a testa enquanto mastigava essa ideia, descartando

o desconforto da situação e a dor latejante em quase todo o seu corpo. “Isso significa algum

dispositivo de detonação, algo para ser acionado de propósito; ele nem tinha que estar lá, ou,

possivelmente, pudesse estar assistindo.”

“Quem mais estava lá? Você viu mais alguém na sala?” Ty perguntou com uma careta

quando se sentou em frente Zane.

“Só Henninger,” respondeu Zane, revirando os olhos e apertando a ponte do nariz. “Era

a hora do almoço, não havia funcionários.”

“E ele ficou bem ferido, quase como você,” disse Ty desanimado.

Fazendo uma careta, Zane deu de ombros novamente e estremeceu quando moveram

seus ombros, ele olhou para as fotos coladas nas paredes. “Parece-me muito incomum essa

limpeza no cenário.”

“O que você quer dizer com isso?” Ty perguntou distraidamente quando se virou para

olhar para as fotos. Sua imersão no caso estava ajudando com a tensão persistente e as sequelas

da luta ficaram de lado por um momento.

“Nada de evidências, sem DNA, sem fibras, não há impressões digitais, nenhum vestígio

de substâncias estranhas, nenhum padrão nas lesões e nas cenas; não há forma de localizá-lo, não

a partir de qualquer um dos cenários; as cenas estavam inteiramente limpas de qualquer coisa

útil, e ele sabe o que procuramos,” Zane murmurou quando se tornou muito consciente da

proximidade de Ty.

“Sim, mas isso não é tão difícil hoje em dia,” Ty resmungou quando estendeu a mão para

esfregar seu peito; ele não sabia se foi o chute que pressionou a arma em seu corpo, ou quando

174
ele bateu contra a parede ou quando caiu no chão, mas suas malditas costelas doíam por igual.

“Ele é um criminoso organizado, tende a ser mais limpo e mais inteligente do que os

desorganizadas; ele pode até encenar ou preparar a cena do crime antes de pegar a vítima; se

fosse há dez anos, a esterilidade das cenas poderiam apontar para um policial ou um perito

forense,” ele suspirou. “Agora, poderia simplesmente apontar para alguém que vê muito CSI ou

compra livros como o Forensics for Dummies.”

Zane suspirou, deixando cair o queixo, trabalhando com as hipóteses; Ty tinha lhe dado

um jab de esquerda incrível. “Deus... Às vezes odeio tecnologia a moderna.”

“Sim, bem,” Ty ofereceu com um pequeno sorriso, um pouco vago; ele limpou a garganta

e olhou para as contusões e os hematomas de Zane; franziu seus lábios enquanto flexionava seus

dedos. Ele sentiu uma súbita vontade de pedir desculpas a Zane por tê-lo socando, mas,

simplesmente não conseguia reconhecer a si mesmo, para fazê-lo.

“Tem que ter alguma coisa.” Zane cuidadosamente foi até a cadeira e deu a voltar atrás

dele, até a borda da mesa, isso significava que teria de se esticar para colocar a mão no saco de

notas que queria pegar; e estremeceu novamente ao longo do caminho, suas costas reclamaram.

Ele franziu a testa quanto se virou e olhou para suas anotações.

Ty se encontrou observando o movimento de Zane pensativo. Ele suspirou

profundamente, e de repente percebeu que estava pensando em Zane novamente; balançou a

cabeça e desviou o olhar rosnando para si mesmo. Ele tinha pensado uma luta leve e a fodida

recente, iria acalmar esse seu desejo particular.

Ele olhou para Zane e limpou a garganta. “Desculpe-me, por bater em você,” ele ofereceu

a contragosto.

Zane o olhou surpreso de ouvi-lo se desculpar, e balançou a cabeça lentamente, com

cuidado, considerando o que dizer. “Estou grato por você não desencaixar do lugar o meu

pescoço,” ele finalmente disse, olhando para o saco em suas mãos.

175
“Eu não faria isso,” respondeu Ty enquanto observava Zane, apreciando o seu

desconforto com um pequeno sorriso. “Tenho um ombro vagabundo; que ia doer como uma

cadela.”

Zane fez uma careta e olhou de volta para ele. “Puxa, obrigado, estou me sentindo muito

melhor, realmente.” Ty apenas levantou uma sobrancelha com a resposta, e Zane balançou a

cabeça. “Você poderia ter me matado Grady, provavelmente com uma mão, eu sei disso, você

apenas me deixou com alguns delírios de duração, de uma pequena amostra, do que poderia ser

uma luta real com você, não é?”

“Se você diz, parceiro” Ty respondeu, inclinando-se para trás na cadeira e apoiando os

pés calçados com botas em cima da cama.

Zane olhou para o ex fuzileiro naval, com um pequeno sulco entre os olhos; estaria Ty

dizendo que Zane tinha feito um jogo decente? De jeito nenhum!

Ty o olhou de cima a baixo lentamente e inclinou a cabeça. “Você tem a vantagem do

tamanho.”

Suspirando, Zane se inclinou com os cotovelos sobre seus joelhos. “Não muito, você tem

quase o mesmo tamanho, eu sou apenas mais volumoso, isso é tudo; já houve momentos em que

isso já foi mais um obstáculo do que uma ajuda.”

Ty bufou e balançou a cabeça. “Seja como for, homem,” ele murmurou.

Zane apertou os olhos. “O que foi? Você preferiria ser um grandalhão como eu?” ele

perguntou, com a incredulidade clara; ele sabia que havia desvantagens com o seu tamanho e

volume, após anos de treinamento, mas, ele não iria desistir. Ele tinha passado pelo inferno na

academia, para desenvolver suas habilidades e por seguinte, esses músculos, e apesar dos

trabalhos burocráticos dos últimos anos, ele manteve a musculação e um regime de treino.

“Não,” Ty riu suavemente. “Mas, já enfrentei alguns grandalhões como você,” ele disse

inconscientemente esfregando seu peito novamente, e com a testa franzida disse. “Dói,”

176
acrescentou como se precisasse esclarecer o que estivesse em jogo; como ser lançado por cima do

ombro de alguém, ou um mergulho em Nova Orleans e se chocalhar contra um alvo, como um

maldito inseto.

“Sim” Zane murmurou, esfregando o queixo enquanto cuidadosamente girava seu pulso,

estava pensando sobre o que Ty fez com ele em tão pouco tempo e com muito pouco esforço. O

conceito de que seu parceiro ainda não estava tentando machucá-lo, era ao mesmo tempo

impressionante e assustador.

Ty percebeu o movimento e franziu os lábios. “Pode querer colocar gelo sobre isso,”

sugeriu com um gesto para o pulso de Zane. “Doerá muito, antes que melhore.”

Zane olhou para seu pulso onde Ty tinha espremido esse ponto com pressão, e não havia

nenhuma marca, com exceção, talvez, de uma vermelhidão da área onde Zane esfregou, mas doia

como o inferno. Ele sabia que tinha deixado hematomas em Ty, embora o homem não mostrasse

sinais de que estava incomodado. “Sim,” ele disse, e foi até a cômoda pegar o balde de gelo que

estava sob ela, afastando algumas pilhas de pastas.

Ty sorriu enquanto o observava. “Se você perder as sensações e os movimentos, não se

preocupe muito, eu só conheço um cara que não perdeu um membro da mesma forma.”

Zane se virou antes de pegar o cartão e ir para a porta.

“Hey!” Ty o chamou com ligeiro alarme, moveu seus pés rapidamente, e bateu com as

suas pernas na cadeira, fazendo um som baixo.

Zane se voltou, com a mão no trinco da porta. “O que foi?”

Ty franziu a testa e apertou os lábios em uma linha fina. “Tome cuidado,” ele advertiu

em voz baixa. Zane o olhou por um longo momento, depois assentiu e saiu do quarto, puxando a

porta firmemente atrás dele. Ty amaldiçoou desgostoso e se jogou em sua cadeira, cobrindo os

olhos com uma mão enquanto colocava seus pés na cama, murmurando para si mesmo. Ele não

deixaria esse puritano azedo chegar até ele. Ele não faria isso.

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Esfregando os olhos enquanto caminhava pelo corredor até a máquina de gelo, Zane

pensava na montanha-russa dessa última hora. Mais dias como este, e ele não necessitaria de

uma bebida ou das drogas para deixá-lo no limite. Rindo ironicamente, colocou o balde na

máquina, quando acionou o interruptor e fez um som alto da moagem do gelo; o som alto

abafava seus pensamentos, olhou por cima do ombro instintivamente, como se alguém pudesse

tentar deslocar-se por trás dele, enquanto não podia ouvir, mas a única coisa na pequena alcova

era a máquina de gelo, e esta, não conseguia abafar seus pensamentos; o que ele queria esquecer

era a sensação do corpo de Ty sob o seu mesmo apenas por alguns segundos. Ele fechou os olhos

e disse a si mesmo novamente para esquecer, esse era um território que teria que permanecer

inexplorado.

Deixado sozinho no quarto que não era realmente seu, Ty levantou-se rapidamente e

decidiu aproveitar a oportunidade para fazer algo. Ele não achava uma boa ideia ficar neste

quarto hoje à noite por várias razões, mas ele seria condenado se sugerisse que eles se

separassem. Ele estava ficando cada vez mais nervoso sobre o homem que estavam procurando,

e nenhum dos dois, precisava ficar sozinho. Ele pensou em seu novo parceiro e franziu a testa

quando se moveu, Zane tinha durado muito mais, em uma quase luta, que Ty teria dado crédito;

ele havia surpreendido Ty não uma, mas duas vezes, e isso era muito difícil de acontecer, mesmo

quando Ty ficou ferido e rindo incontrolavelmente.

Ty tirou seus jeans úmidos, e percebeu que pela primeira vez desde que conheceu seu

parceiro, ele estava genuinamente curioso sobre ele. Também estava começando a respeitar, meio

a contragosto, as habilidades do homem, e a coragem que o levou a ficar com um fuzileiro naval

em um beco escuro. Amaldiçoou baixinho para si mesmo e jogou seu jeans e cuecas em um canto,

junto ao resto da sua roupa suja, quando o bloqueio eletrônico do quarto apitou.

178
Zane entrou no quarto, para ver a única coisa não o ajudaria a esquecer do que estava em

sua mente: um corpo bem definido e nu de Ty Grady; seus músculos ondulavam sob a pele

bronzeada e definida, quando ele se moveu para pegar roupas limpas em cima da cama. Zane

piscou algumas vezes, fechou a porta atrás dele e se encaminhou em direção para o banheiro,

onde pegou uma toalha para embrulhar o gelo; se ele estava respirando um pouco mais difícil,

quem iria perceber, se não ele?

Ty pegou uma cueca boxe, uma camiseta branca e revirou a sua bolsa. “Você está bem?”

ele gritou de maneira uniforme.

Zane respondeu baixo. “Sim,” respondeu, com a voz surpreendentemente firme quando

se olhou no espelho. “Não tem problema, além dessas contusões malditas que você deu, e a porra

da minha mão que dói.” Ele tentou se focar no gelo, puxou o saco plástico, pegou o balde, e

amarrou o saco antes de cobrir toda a sua mão com a toalha.

“Lamentar sobre isso, não vai fazer a dor ir embora,” Ty sugeriu.

“Morda-me imbecil,” Zane respondeu, mas não havia nenhum calor em sua voz. Ele

havia trabalhado qualquer que fosse a raiva dele naquele beco, naquele momento, respirou fundo

e caminhou para fora, mantendo a mão que estava livre, segurando a que estava com o gelo; ele

parou e inclinou um ombro contra a parede.

Ty sentou na ponta da cama, com um novo par de meias e olhou para Zane em

expectativa. “Trouxe-me algum?” ele perguntou, finalmente quando estendeu a mão esquerda

machucada e ensanguentada. Quando se moveu, as palavras em sua camiseta ficaram mais

visíveis, era uma camisa branca, com os dizeres em marrom, com a inscrição: “Você tem o direito de

permanecer em silêncio... Então cale a boca.”

Zane olhou para a mão de Ty e a sua mandíbula se apertou, estendeu o gelo que havia

preparado, pois, ele poderia pegar outro, se Ty aceitasse.

Ty bufou e sorriu levemente. “Foda-se,” suspirou quando acenou para Zane.

179
“Você vai ser capaz de usar essa mão mais tarde?” Zane perguntou razoavelmente.

“Você vai me fazer bater em você novamente?” Ty respondeu.

“Pareceu-me que você se divertir muito,” Zane respondeu docemente.

“É verdade,” Ty permitiu, quando estendeu a mão e pegou o saco de gelo.

Zane entregou a Ty a bolsa de gelo e se virou, sem comentar mais nada, se voltando para

o banheiro fazer outro. Ele se olhou no espelho e viu outra mancha preta aparecendo ao lado de

sua mandíbula, estendendo-se quase até a maçã do rosto. “Filho da puta,” murmurou, cutucando

a pele.

“O que foi?” Ty falou do quarto.

“Você me faz bem,” respondeu Zane, pensando que se não lutasse por mais alguns dias,

não seria uma má ideia.

“Sim,” Ty suspirou satisfeito.

Zane revirou os olhos e voltou para o quarto, com a mão embrulhada novamente,

sentindo a necessidade de se defender. “Consegui alguns bons pontos se lembra?”

“Sim,” Ty concordou com uma careta, quando pressionou o gelo na mão e depois em

suas costelas, eram dois pontos doloridos, ao mesmo tempo.

Mantendo a sua língua na boca, Zane decidiu se contentar nesse conhecimento.

Ele virou lentamente o queixo para olhar para Ty, e realmente olhou para ele, reparou no

rosto em forma de coração, disfarçado pela barba cerrada, os lábios carnudos, as sobrancelhas

escuras franzidas em concentração, reparou no nariz afilado, coroado por lindos olhos castanhos,

que pareciam mudar de cor, enquanto observava. A boca de Zane se comprimiu, ainda que

levemente, e piscou lentamente, quebrando o momento antes de desviar os olhos e voltar para os

arquivos. Ele teria estremecido se continuasse a olhá-lo, já estava com os ombros tensos,

enquanto tentava anular essa coceira maldita.

180
“Você realmente se preocupava com as contusões?” Ty perguntou quando olhou para

Zane. “Podemos enfiar uma agulha nelas, e vão desaparecer,” ele ofereceu a sério.

Quando Zane não respondeu, Ty inclinou a cabeça e observou-o com uma sobrancelha

levantada e uma pequena carranca. “Você está bem?” ele perguntou de forma neutra.

As narinas de Zane queimaram enquanto refletia sobre os seus pensamentos, e se afastou

da mesa novamente, de repente impaciente e precisando de algum espaço.

Ele andou até a janela, abriu as cortinas para olhar sobre a cidade, mantendo o gelo em

seu pulso.

Ty o observou, ainda tentando descobrir o humor repentino de seu novo parceiro

sofrido, talvez Zane não bebesse mais, mas ele definitivamente iria matar algumas células do

cérebro, ao longo do caminho. “Quer que eu vá embora?” Ty perguntou, no mesmo tom neutro.

Esquecendo-se da janela escura que espelhava o seu reflexo, Zane fechou os olhos

quando fez uma careta como se estivesse sentindo dor, e embalou seu pulso contra o gelo. Se Ty

saísse, ele pode ser capaz de relaxar, mas, simplesmente não conseguiria tirar a imagem do corpo

magro e musculoso de sua cabeça. Ele poderia ser capaz de dormir um pouco, pensar sem a

frustração roendo seu corpo... Depois que ele saísse, provavelmente. Maldição! Sua escapada de

antes não tinha adiantado nada, ele balançou a cabeça em resposta à pergunta de Ty,

independentemente.

“Bom,” Ty respondeu sério. “Porque toda a minha merda está aqui agora e eu sou um

maldito preguiçoso, para mudar tudo agora, por que você não dorme mais um pouco?” sugeriu

suavemente, se ele não estava enganado, estava testemunhando o começo de um caso de

esgotamento. Tinha visto muito isso, até já tinha passado por alguns.

Zane respirou fundo e se obrigou a relaxar. “Sim, sim, soa bem,” ele disse suavemente,

afastou-se da janela, fechando a cortina antes de atravessar o quarto, em direção ao banheiro,

181
com a intenção de se livrar do gelo, sua mão já estava dormente. Ele fechou a porta e sentou-se

no vaso sanitário, jogou a toalha e saco na pia, e cobriu o rosto com as duas mãos.

Foda-se Garrett, se concentre em si mesmo, pensou sombriamente. Seu parceiro duro

como pregos, ia pensar que ele estava caindo aos pedaços. Ele desejava a calma que um cigarro

lhe daria e considerou brevemente sair para fumar um, ou fumá-lo ali mesmo, nesse maldito

banheiro.

Ty permaneceu onde estava tentando decidir sobre um curso de ação.

Finalmente, levantou-se lentamente, pegou um par limpo de jeans, então caminhou em

silêncio sobre os pés descalços, até a porta do banheiro e bateu suavemente. “Ei, Garrett?” ele

chamou suavemente, pouco depois, sua voz tornou-se sarcástica e provocativa. “Você precisa de

um abraço?”

Sufocando uma risada, Zane olhou para a porta, levantando uma sobrancelha.

Só Ty para tirá-lo de um fodido humor, com apenas cinco palavras simples. “Foda-se,

Grady,” ele respondeu, com diversão clara em sua voz; ergueu-se e ligou a água na pia para

encher um copo.

“Eu não vou contar para ninguém,” Ty continuou com a voz zombeteira, mas, sincera,

encostado contra a porta, parecendo uma paródia de um psicólogo clínico, tentando falar de

alguém fora de vista. “Você pode chorar, se você precisar!”

Zane engoliu água e revirou os olhos. “Você é um idiota, você sabe disso?” Mas teve que

admitir; ele estava quebrando o clima de merda e distraindo-o dessa onda de excitação em seu

estômago. Mais ou menos.

“Você não vai ser menos homem!” Ty insistiu quando falou através da porta. “Muito...

Bem, vai, mas...”

182
Bufando, Zane pousou o copo. “Bem, eu acho que deveria me sentir honrado, um

homem a mais para começar considerar,” ele disse com ironia quando olhou para si mesmo no

espelho.

“Você está definitivamente mais como um agora, do que Burns em seu escritório,” Ty

ofereceu com a voz grave, mais uma vez, quando se inclinou contra a porta. “Eu vou levar o

crédito por isso.”

Zane levantou uma sobrancelha, o ego grande de Grady era típico, se olhou no espelho

novamente. Passou um tempo sem se barbear, já eram dois dias de barba cerrada, olhou

ligeiramente para as suas roupas escuras... E a contusão crescendo. “Não estou parecendo um

profissional limpo e barbeado, não é?” Ele perguntou como pegou uma toalha.

“O que não combina com você,” respondeu Ty cuidadosamente quando percebeu o

território que tropeçou novamente. Ele não queria pensar sobre o que fez ou deixou de atender a

Zane, Ty já tinha cruzado a linha mental, onde o seu parceiro estava em causa.

Ligou à água, o suficiente para molhar o pano, Zane suspirou e o passou com cuidado

sobre o seu pescoço quando fechou a torneira, em seguida, limpou cuidadosamente o lábio

superior para tirar o sangue secou. “Sim, eu sei,” ele disse, com uma pitada de resignação em sua

voz.

“Eu poderia ajudar, você sabe,” Ty ofereceu, ouvindo a água e supondo que Zane estava

provavelmente brincando com suas feridas novamente, inclinou-se mais contra a porta,

forçosamente se relaxando. Ele precisava desesperadamente mudar de assunto, para a sua

própria sanidade mental.

Zane demorou um longo momento para decidir o que Ty estava falando.

Com um suspiro, ele decidiu que Ty provavelmente não estava se oferecendo para ajudá-

lo com sua “Masculinidade”. Lançando o pano, puxou sua camiseta sobre a cabeça e virou-se

para olhar a sua volta, não parecia bem, havia novos arranhões, seu pulso e queixo estavam

183
ambos matando-o. Ele certamente poderia culpar o seu mau humor, o que foi culpa de Ty, depois

de tudo, se inclinou e abriu a porta.

Ty quase caiu no banheiro quando a porta desabou sob seu ombro sem aviso prévio,

reagindo instintivamente, Zane deslizou seus braços ao redor de Ty segurou-o contra o seu peito,

impedindo a queda.

Ty tentou não agarrá-lo, sabendo que as costas de Zane estavam doloridas e sensíveis,

mas, ou era isso ou cair no chão de mármore; e ele realmente não queria bater no chão

novamente esta noite, considerando que ele tinha estado pronto para chutar a merda do outro

homem antes, ele não se sentia muito culpado por isso.

Deu uma maldição e grunhiu quando envolveu um braço ao redor do pescoço de Zane e

se debateu para tentar ficar na posição vertical. Ele pensou se teria sido capaz de ficar em pé, se

Zane não tivesse o segurado e tentado ajudá-lo, como estava, ele saiu de seu equilíbrio e

praticamente o abraçou enquanto lutava para não cair.

“Peguei você,” disse Zane quando puxou Ty contra ele, um braço circundando sua

cintura e o segurando firme, facilmente suportando o peso do outro homem, até que Ty poderia

encontrar seus pés.

A única resposta de Ty foi um atordoado silêncio, ele olhou para cima e encontrou os

olhos de Zane; ficaram trancados em um abraço desajeitado. “Merda,” ele finalmente murmurou.

Os olhos de Zane se arregalaram quando seu estômago reagiu à proximidade, e ele parou

de respirar quando Ty não tentou se afastar imediatamente. Ficou registrado como o corpo de Ty

se sentia contra o dele, de alguma forma, se encaixando perfeitamente contra o seu corpo

ligeiramente mais alto e mais amplo. E como seu corpo reagiu novamente. Os segundos se

passaram, e ele não conseguia desviar o olhar, Oh, seu coração estava com uma batida acelerada

de merda, mais...

184
Os pensamentos de Ty estavam correndo em uma linha muito semelhante. Ele podia

sentir a reação física de Zane à proximidade, limpou a garganta e se endireitou, se empurrando

levemente contra o peito de Zane para se apoiar. “Uhh...”

Enquadrando lentamente seus ombros, Zane literalmente teve que se forçar a se mover,

se afastando de Ty completamente. “Você está bem?” respondeu asperamente, seu pulso estava

acelerado, entre outras coisas.

“Talvez,” Ty respondeu quando recuou e inclinou à cabeça, desviando o olhar dos olhos

escuros de Zane, franzindo a testa em confusão, ele se encontrou estranhamente incapaz de

pensar em outra coisa para dizer, enquanto lutava contra sua própria reação ao incidente.

As mãos de Zane caíram ao longo de seu corpo, e mudou sua postura. “Talvez?” ele

perguntou, franzindo o cenho; não era comum Ty não ter uma observação mordaz, seus nervos

começaram a borbulhar no estômago, enquanto esperava.

Ty fechou os olhos e levantou a cabeça, se virando para o outro lado, como um cão

tentando ouvir um som distante. “Esqueci-me do que estava tirando sarro de você,” ele

murmurou.

Confuso, Zane só o assistiu, ele parecia quase nervoso.

Constrangido, talvez? Ser pego de surpresa o suficiente para cair, quando ele abriu a

porta? Ou ele achou muito inadequado a excitação de Zane? Tenso, Zane engoliu e recuou a um

passo de distância; isso não era uma coisa boa, ele deveria fechar a porta de novo e tomar um

banho. Uma boa chuveirada era sempre uma boa ideia para relaxar. Merda! Merda! Merda!

“Eu acho que você poderia estar me chamando de alguma coisa nova,” ele murmurou,

mantendo um pouco de distância.

“Certo,” Ty bufou quando se virou e voltou para o quarto. “Porque se você precisar, tem

mais pomada aqui,” ele falou tão casualmente quanto possível, quando pegou sua mochila e

caminhou lentamente em direção ao banheiro, tentando se acalmar.

185
Zane se inclinou, se apoiando sobre a pia, quando seus dedos se enroscaram contra a

porcelana, não haveria nenhuma maneira dele dormir bem em breve.

Uma ducha fria, esse era o plano; uma boa ducha fria, e depois dormir. Ele ouviu Ty

voltando e se amaldiçoou mentalmente, ele não podia tomar um banho depois que Ty passasse a

pomada nesses cortes. Ele abaixou a cabeça e tentou respirar uniformemente. De vez em quando,

ele conhecia alguém que fazia isso com ele, e o deixava louco; Deus, por que tinha que ser Ty

Grady? Por que agora?

Ty estava na porta e viu Zane por um momento, lambeu os lábios e pensativo, franziu a

testa. Ele havia notado um monte de pequenas coisas, que se somaram sobre o comportamento

de Zane, muitas coisas foram despertadas por sua proximidade. Antes, ele não achava que Zane

fosse transar com ele, Ty tinha as suas próprias preferências sexuais, e não parecia óbvio, que

depois de quatro dias, um completo estranho poderia perceber que ele tinha preferência pelos

dois lados. Talvez fosse apenas uma série de coincidências mórbidas que fez parecer com que

Zane poderia ter a mesma preferência.

Sim, porque coincidências eram muito mais prováveis para um agente do FBI treinado

em descobrir as coisas...

Ele simplesmente tinha que pisar levemente a partir de agora, apenas no caso de Zane

perceber e quiser usar isso contra ele, ou ele teria que descobrir com certeza. Ele realmente não

queria que Zane tivesse qualquer munição em cima dele, mas sua curiosidade sempre foi mais

forte do que o seu sentido de auto preservação.

A mudança de peso advertiu a Zane que Ty tinha voltado, e ele se endireitou, olhando no

espelho. Sem uma palavra, ele abaixou a cabeça novamente e empurrou a toalha molhada em

cima do balcão para Ty, a mesma que usava para limpar as suas costas. Zane decidiu que iria

trabalhar nos detalhes do caso, até que caísse de exaustão. Ou até que ele pudesse ter outra noite

fora Ele meio que desejava que pudesse dizer alguma coisa, fazer uma piada sobre isso. O calor

186
junto a ele estava tão inebriante, que desejou ter a coragem de fazer algo sobre isso, mas a

coragem faltou para essa luta.

Ty molhou o pano e, em seguida, cobriu as feridas nas costas de Zane liberalmente com

pomada, esfregando com cuidado, mordendo o lábio por todo o tempo, tendo o cuidado de não

olhar para o espelho e encontrar os olhos de Zane. Ele ainda estava lutando com ele, tentando

decidir o que dizer, porque um incidente como esse, não poderia ficar sem nada a dizer.

Talvez tenha sido o calor e a frustração o cercando, mas Zane pensou que Ty parecia

quase arisco, meu Deus! Pelo menos ele não estava com raiva, Zane sabia que Ty lutava muito

mais sujo do que ele.

Inclinando-se sobre o balcão, Zane murmurou para si mesmo. “Esse caso vai ser a minha

morte.” Se o trabalho não o pegasse, a atração que sentia por seu parceiro e essa ondulação

dentro dele certamente; ele estremeceu um pouco com a pomada fria em sua pele.

Ty tirou os dedos das costas de Zane quando viu o arrepio correr por ele, e apertou os

lábios com força, olhando para cima e longe, quando se resignou com o que estava prestes a

fazer. Abordar o assunto poderia custar-lhe o emprego se Zane fosse dedurar para os seus

superiores, sobre assédio sexual ou algo assim, mas Ty ia fazê-lo de qualquer maneira.

“Precisa dizer alguma coisa para mim?”

O outro homem parecia tão calmo, enquanto Zane estava uma pilha mental de nervos,

seria um longo caminho para se acalmar. Ty não estava interessado em trabalhar as suas

frustrações de qualquer outra forma, além de uma briga. Zane manteve os olhos em suas mãos e

manteve seus dedos apertados, pensando o que ele faria com Ty, se fosse lhe dada uma

oportunidade.

E ele não estava pensando em chutes nas costelas.

O visual do corpo nu de Ty brilhou por trás das pálpebras de Zane, e ele falou antes de

pensar. “Nada que você queria ouvir,” ele murmurou quando enfrentou o espelho, na esperança

187
de apaziguar a situação. “Obrigado pela ajuda,” ele acrescentou, querendo desesperadamente

fugir dessa tensão.

“Você tem certeza disso?” Ty perguntou quando seu estômago vibrou nervoso. Sua voz

finalmente traiu os seus nervos. “Tente ser um verdadeiro parceiro aqui Zane, se você precisa me

dizer algo, então aqui está sua chance.”

A incerteza na voz de Ty surpreendeu Zane o suficiente para que ele olhasse para o

reflexo de Ty no espelho. Quatro dias. Levou apenas quatro dias para Ty chegar tão longe em sua

pele, que Zane estava perdendo o controle; era hora de fazer algo sobre esta atração que vinha

crescendo, então, talvez fosse capaz de se concentrar novamente, outro soco de Ty faria o truque.

Zane lentamente se virou para o outro homem, seus olhos estavam escuros e sérios;

ignorando os sinos de alerta explodindo em sua cabeça, ele se encostou ao balcão e estendeu a

mão para deslizar com as pontas dos dedos, na frente do cós da calça jeans de Ty, e o puxou para

frente.

A cor sumiu do rosto de Ty quando Zane o puxou para mais perto, seu estômago se

transformou e deu uma cambalhota agradável, com borboletas nervosas. Levou apenas um

momento para ele sentir o calor, e olhar nos olhos de Zane cautelosamente, quando todo o seu

corpo ficou tenso. Se isso fosse uma brincadeira, Ty ia bater o bastardo em sua bunda.

O cuidado que se evidenciou no olhar de Ty foi um aviso muito claro.

Zane afrouxou os dedos e quase o deixou ir, mas Ty não se afastou, era agora ou nunca.

Zane deu uma respiração lenta e profunda e abaixou o queixo, inclinou a cabeça para o lado, e

deslizou seus lábios firmemente contra os de Ty.

Ty recuperou o fôlego quase ofegante, quando Zane finalmente tocou seus lábios. Ele

tremia e seus lábios estavam timidamente entreabertos, mas seus olhos desconfiados não se

fecharam. Cedeu, quando Zane o puxou para mais perto e levantou uma mão na sua bochecha,

junto ao seu corpo, quando ele aumentou a pressão de seus lábios contra Ty.

188
Ty gemeu baixinho e finalmente relaxou contra o beijo, e o devolveu provisoriamente; ele

sabia que iria se arrepender disso, tão logo eles se separassem, mas, não conseguia parar.

A tensão apertava o estômago de Zane, enquanto os lábios de Ty se moviam, e ele

aprofundava o beijo, toda o formigamento e o aquecimento dentro dele aumentaram, enquanto

seus lábios confrontaram os de Ty, com a língua. Ah, isso ia ser uma merda de uma confusão

absoluta, ele simplesmente sabia, mas, mesmo assim, tirou os dedos da cintura de Ty e enrolou o

braço em torno da cintura dele, quando se inclinou para aprofundar o beijo perigoso. Sua mão na

bochecha de Ty tremeu.

Ty entregou-se ao beijo mais profundo, por um longo momento terrivelmente tentador,

antes de puxar a cabeça para trás, apenas o suficiente para quebrar o contato e empurrar

gentilmente o peito de Zane. “Isso foi o que pensei,” ele murmurou, enquanto seu hálito soprava

contra os lábios de Zane.

Zane abriu os olhos devagar, seus lábios pairando a um simples sopro de distância, ele

baixou a mão, para que ambas se estabelecessem nos quadris de Ty. “Pensou o que?” ele

perguntou.

“Isso... Mas pensei que você apenas iria transar comigo,” Ty trincou fora, quase com

raiva, quando se forçou para não pressionar os seus lábios mais uma vez.

Zane apenas balançou a cabeça, afastando-se da crescente ira de Ty.

“Não é sobre isso,” disse ele a sério, já começando a ficar tenso e se preparando para um

balanço.

Ty o beijou em seguida, respirando pesadamente pelo nariz, como se estivesse prestes a

mergulhar sob a água, quando puxou Zane mais para si mesmo, e rosnou um pouco. Ele

imaginou se Zane iria transar com ele agora, então, ele parecia estar gostando bastante.

Apertando os braços, Zane se fechou mais em torno Ty, quando ele recebeu o beijo com

mais força; tonto com a surpresa, o desejo explodiu através dele. Este beijo estava além de louco,

189
além de negligente, era apenas... Além. Todo o ódio e raiva foram se transformando em calor e

paixão, e ele não tinha ideia do que pensar sobre isso.

De repente, Ty se afastou novamente do beijo cada vez mais aquecido, dando um passo

para trás e dando no peito de Zane, um bom tapa com as costas de sua mão. “Idiota,” ele

engasgou quando tentava se controlar.

“Ai!” Zane gritou quando a mão de Ty picou contra sua pele nua, ele engasgou uma

risada quando se inclinou para trás. “Eu?” Ele perguntou incrédulo, contorcendo-se no lugar,

onde praticamente sentou sobre o balcão.

Ty o agarrou e o puxou para fora do balcão para beijá-lo novamente, obrigando-se a não

pensar nas consequências. Se ele pensasse sobre isso, ele teria cortado isso, tão longe e tão rápido

quanto pudesse. Zane resmungou quando caiu contra o peito de Ty, sua postura diminuiu o

suficiente, para obter os centímetros necessários para estar na mesma altura que Ty. Segurando

os ombros de Ty, Zane jogou o seu peso, para empurrar o outro homem de volta para a porta.

Ty bateu contra a porta, e uma corrente de ar expeliu de seus pulmões, seu quadril bateu

próximo a maçaneta, e, com o impacto a porta se fechou, mas, nenhum dos dois notou. Eles

estavam muito distraídos com a súbita mudança de eventos. “Percebi que você era um problema

em um minuto,” Ty engasgou acusadoramente, entre o duelo apressado de seus lábios.

Zane mordeu o lábio inferior de Ty ligeiramente e o chupou entre os lábios, antes de

soltá-lo. “Seu nome do meio é o problema,” ele disse, enquanto corria a mão pelo corpo de Ty,

sentindo os músculos rígidos em apreciação.

Ty chiou com a mordida e rosnou perigosamente, ele não podia se decidir se estava com

raiva ou apenas realmente muito ligado, de qualquer forma, era tudo culpa Zane porra de

Garrett....

Puxando uma respiração profunda, quando seu corpo reagiu ao som áspero, Zane

colocou seu antebraço contra a porta, por cima do ombro de Ty, fazendo seus peitos, quadris e

190
virilhas endurecidas, ficarem juntas. “E agora?” ele respirou. “Você queria saber, e agora você

sabe.”

Ty bateu a cabeça na porta e fechou os olhos, bufando pelo nariz enquanto tentava

recuperar algum controle. “Eu menti,” ele gemeu lastimosamente. “Eu não quero saber.”

Zane não pode deixar de sorrir silenciosamente. “Tarde demais figurão,” ele disse.

“Bastardo.”

“Vindo de você, isso é praticamente um carinho.” Ainda sorrindo, espantado com a

flexibilidade de Ty, Zane se inclinou para frente para roubar um beijo firme. Os lábios de Ty se

separaram quase contra sua vontade, e ele gemeu um pouco. Zane não poderia resistir a esse

pequeno som, e se moveu para capturá-lo, deslizando sua boca mais lentamente ao longo de Ty,

esfregando sua língua, deslizando entre os lábios inchados. Ty parecia derreter contra ele,

perdendo a tensão que estava sempre com ele; perdendo o escudo cáustico, que ele raramente

deixava cair. Ele deu alguns murmúrios incoerentes quando deslizou a mão no cabelo de Zane.

Zane passou os braços ao redor de Ty, quando ele relaxou, não era apertado, apenas o

suficiente para manter seus corpos em constante contato, os pequenos sons e primeiro toque real

de Ty, abalou o mundo de Zane.

“Temos que parar,” Ty gemeu finalmente, se puxando para trás, tanto quanto ousou;

seus lábios ainda se tocavam quando falou. “Não podemos continuar com isso,” ele murmurou,

respirando ainda mais difícil, quando seu corpo gritava por mais contato.

Não era a desculpa certa, Zane sabia, mas, teria de servir.

Isso poderia levar ao desastre; ele se endireitou lentamente, vendo o desejo nos olhos de

Ty. De alguma forma, deu um passo para trás, deslizando as mãos em cada lado da caixa torácica

de Ty, até que elas caíram.

Ty abaixou a cabeça, mas, continuou olhando para Zane sob as sobrancelhas abaixadas, e

apertou os lábios com força. “Foda-se,” ele finalmente observou categoricamente.

191
Zane deu mais um passo para trás, deslizou uma mão no bolso de trás para mantê-lo fora

Ty, e encostou-se ao balcão novamente. Erguendo a outra mão, ele correu um dedo levemente

sobre seu lábio partido, sentindo o retorno da dor, quando o formigamento e as emoções se

dissiparam. Ele poderia ecoar o sentimento de Ty, mas, a vontade de tocar e sentir o gosto dele,

ainda o devastava, e ele estava dando tudo o que tinha para não pegar Ty e se imprensar contra

ele; fechou os olhos, numa tentativa de recuperar algum controle.

“Que porra vamos fazer agora?” Ty perguntou frustrado.

Depois de apertar os olhos por um longo momento, Zane deu mais um passo para trás.

“Você vai voltar para o seu quarto, e eu vou tomar um banho de água fria.” E se virou para pegar

uma toalha.

“Huh uh,” Ty protestou teimosamente. “Mas, poderíamos transar agora, completamente,

melhor do que ficarmos separados,” acrescentou com um rubor, que fazia parte do

constrangimento e parte desejo de fazer exatamente o que disse.

Zane se virou para ele, sua falta de paciência muito clara. “Saia do banheiro agora ou

você vai ser fodido, é o que você vai conseguir,” ele rosnou.

Outra emoção percorreu o corpo de Ty e ele inclinou um pouco a cabeça em desafio, o

convite era claro. Foda-se, ele nunca tinha seguido as regras de qualquer maneira.

Com os olhos brilhando, Zane estendeu a mão, e agarrou o braço de Ty, puxando-o para

si, o manteve de costas, e o empurrou contra a pia, com a barriga dele apoiada no balcão. Zane

imediatamente se imprensou contra ele por trás, esfregando a sua virilha, contra a bunda de Ty,

inclinou-se e mordeu a parte de trás do ombro de Ty, duro, antes de olhar para cima e encontrar

os olhos de Ty no espelho.

“É isso o que você quer?” Zane disse entre dentes. “Duro e confuso, em um maldito

banheiro de hotel?” Apertou-o com mais força contra o balcão da pia.

192
Ty olhou para cima para encontrar os olhos de Zane no reflexo do espelho, e ele sorriu

lentamente.

O temperamento de Zane queimou, e seu estômago caiu dolorosamente quando

percebeu que Ty estava apenas brincando com ele. “Filho da puta,” ele assobiou, o puxou de

volta, abriu a porta do banheiro e, em seguida, empurrou Ty para fora com força o suficiente

para que o homem batesse na porta do armário espelhado do quarto, na parede oposta, como um

chocalho. Em seguida, fechou a porta do banheiro, os mantendo separados.

Ty ficou praticamente onde colidiu contra o armário, por um longo momento, respirando

pesadamente e apoiando a testa contra a superfície fria do espelho para se acalmar. Duro e

confuso em um banheiro de hotel tinham soado muito, muito divertidos, na verdade. Cristo,

Zane era um caso de Jekyll e Hyde22, porra.

Chegando ao chuveiro para abrir a água fria em plena explosão, Zane tirou a sua calça

jeans e cuecas com um grunhido, o calor da sua ira combinando com o desejo turvo pelo homem

que acabara de jogar para fora. “Babaca do caralho,” ele sussurrou enquanto entrava

completamente na ducha fria do chuveiro, puxando a cortina.

Como ele poderia ter julgado mal as reações de Ty? O desgraçado devia estar brincando

desde o primeiro momento em que seus lábios se tocaram.

“Maldição, que todos vão para o inferno,” ele rosnou. A água fria mal fazia qualquer

efeito, ele bateu na parede com o seu punho contra o azulejo, só para xingar novamente, agora de

dor; fechou seu punho novamente, e a dor reverberou por entre seus dedos e por seu braço.

Ty ouviu o baque de dentro do banheiro e finalmente ergueu a cabeça, se virou para

olhar a porta e apertou os olhos, assim, a regra número um, aparentemente, era que ele não

estava autorizado a abrir um sorriso durante as preliminares.

22
O médico e o monstro

193
“Entendi,” ele murmurou para si mesmo quando tirou a camisa e a jogou de lado, antes

de ir até a porta e a abrir.

A cabeça de Zane disparou quando a porta bateu na parede, mas que diabos? Então, e

somente então, ocorreu-lhe que Ty poderia estar gostando, quando mostrou aquele sorriso. Foda-

se!

Ty já estava meio despido, portanto, não levaria tanto tempo para terminar o trabalho,

mas, em vez disso, ele puxou a cortina do chuveiro e entrou, sem tirar as calças, ele pegou Zane e

o bateu contra o azulejo, nos fundos do chuveiro.

Ele meio que esperava por isso, mas Zane ainda estava surpreso com a veemência do

outro homem. Ele engasgou e rosnou quando suas costas bateram na parede azulejada

dolorosamente.

Ty estendeu a mão para os botões do chuveiro e virou a temperatura da água, até algo

mais tolerável, mantendo seu braço sobre o peito de Zane. “Nós realmente teremos que trabalhar

com esse seu temperamento,” ele falou quando se apertou contra o corpo de Zane.

A respiração de Zane estremeceu, quando Ty espalhou as palmas de suas mãos contra o

azulejo, mantendo a cabeça de Zane entre elas. A água quente que caia no corpo de Ty estava

fazendo o truque de deixá-lo completamente duro novamente. “Ty,” ele disse asperamente.

“Cale a boca,” Ty vaiou em resposta, todo o seu corpo vibrou, para o modo de enfrentar

e expulsar todos os outros pensamentos de sua mente. Ele abaixou a cabeça para lamber um

rastro de água escorrendo pela clavícula de Zane e, em seguida, mordeu-o levemente.

Zane gemeu e seus olhos reviraram, suas mãos se moviam com o pensamento de agarrar

os quadris de Ty. “Você me deixa absolutamente louco, porra!” ele disse densamente.

“Odeio contradizê-lo, mas, eu acho que você já estava muito louco, antes que eu

aparecesse,” Ty murmurou, depois, levantou a cabeça e beijou Zane lentamente.

194
Uma mão de Zane se deslocou para a parte de trás do pescoço de Ty enquanto se

beijavam. Zane afastou mais seus pés, para que Ty ficasse na mesma altura, contra seu corpo. Sua

paciência e bom senso foram soprados; ele não queria dizer não a isso, era muito melhor do que

qualquer bebida alcoólica ou drogas. Seu sangue zumbia com ele; seu peito e barriga estavam

tensos, tanto quanto Ty.

“Você pode achar que será um pouco mais difícil me jogar fora da próxima vez,” Ty

assobiou quando uma mão serpenteou por baixo do corpo de Zane, entre eles.

A respiração de Zane quase travou, quando ele engasgou com a mão de Ty deslizando

entre seus corpos, eram muito suaves, em comparação com o jeans molhado, que raspava contra

a sua barriga nua. Não, ele não imaginava jogar Ty pra fora em qualquer lugar, seus olhos se

abriram. “Da próxima vez?” ele perguntou com a voz rouca. A mão de Ty se fechou em torno do

pênis de Zane.

Zane jogou a cabeça para trás e bateu contra o azulejo, ele apertou os ombros de Ty,

reagindo às suas palavras, quando um suspiro estrangulado escapou dele.

“Foi o que pensei,” Ty respondeu com um sorriso, enquanto acariciava-o lentamente.

“Quando foi a última vez que você comeu alguém que não pagou, Zane?” ele perguntou em um

tom quase coloquial, enquanto a água caia entre eles.

Tentando abrir os olhos, Zane encontrou os olhos de Ty, seus cílios estavam pontilhados

com gotas de água. “Um tempo maldito,” disse humildemente, Ty o beijou novamente, quase

antes que as palavras deixassem a boca de Zane; sua mão acelerou ligeiramente, enquanto

pressionava seu corpo contra o de Zane.

Sentindo como se estivesse prestes a queimar, como uma batata frita, Zane se sacudiu

todo, enquanto seus quadris se deslocavam para se moverem contra a mão de Ty. “Oh, Deus...”

Ele gemeu e jogou a cabeça para trás, os olhos fechados contra a água que espirravam por seu

195
ombro, não importava que ele tivesse saído cerca de seis horas atrás. Ele estava duro e muito

excitado.

A outra mão de Ty deslizou por trás da cabeça de Zane, para amortecer a batida de seu

crânio contra os azulejos, e beijou Zane novamente, enquanto o continuava masturbando

implacavelmente.

Ele não ia demorar muito mais tempo, o beijo duro, a mão de Ty o masturbando, e a

tensão toda acumulada em uma espiral crescente, de mais e mais, Zane rosnou na boca de Ty.

“Vamos lá,” Ty pediu, nem um pouco preocupado com os registros de terra, velocidade

ou decoro.

Zane rangeu os dentes quando a eletricidade do toque de Ty brilhou através dele,

grunhiu e baixou o queixo, em seguida, abriu os olhos e estendeu a mão para pegar na mão de

Ty, lhe dando um beijo animalesco, foi quando seus quadris se sacudiram e gozou forte. Ty foi

jogado contra a parede e o beijou de volta, apreciando o resultado de seus esforços, quase tanto

como Zane. Com o corpo se contorcendo através do clímax, Zane estava ofegante contra os lábios

de Ty, gemendo, e travando sua respiração, quando a mão de Ty continuou se movendo,

enquanto ele ficava cada vez mais sensível.

Ty finalmente teve pena dele e deslizou sua mão para trás do corpo de Zane, se

envolvendo em torno dele e o beijou mais lentamente, à medida que dava uma chance de Zane se

recuperar. Trêmulo e corado, Zane relaxou com fluidez para os braços de Ty e o beijou com a

raiva se desprendendo de seu corpo, junto da água em seu caminho para o ralo.

Depois de um momento longo e vagaroso, Ty se afastou da parede e sorriu enquanto

lambia os lábios. “Iah,” ele bufou, parecendo muito satisfeito consigo mesmo. “Agora você pode

parar de ser tão mal-humorado por um tempo.”

Zane bufou e riu fracamente, levantando as duas mãos para esfregar o rosto. “Cristo,”

disse com grande sentimento, quando caiu de costas contra a parede.

196
Ty sorriu e fez a sua característica expressão de auto satisfação “Mm hmm” antes de

puxar as cortinas para trás e sair da banheira com cuidado, com as suas meias molhadas.

Zane o observava, a água respingando sobre a borda da banheira, as calças de brim de Ty

estavam totalmente encharcadas e se agarravam a ele, como uma segunda pele, e Zane teve que

engolir em seco. “Boa sorte em sair daqui tão graciosamente,” ele murmurou com um leve

sorriso, ainda encostado na parede.

“Boa sorte, é algo a se pensar para a próxima hora,” Ty atirou de volta com um sorriso.

“Merda,” Zane murmurou, virando o spray para se lavar, antes de se inclinar e fechar a

torneira.

Ty ficou de pé, em silêncio e pingando no meio do banheiro, e observou-o atentamente.

Quando Zane se virou, a água ainda escorria do seu pescoço, como um riacho até os ombros e no

peito; quando saiu do chuveiro e ficou a poucos centímetros do outro homem. Ty lambeu os

lábios e inclinou a cabeça, esperando o próximo movimento de Zane. O outro homem ficou ali

um longo momento, depois estendeu a mão para a calça de brim desabotoada de Ty, puxando

lentamente o zíper para baixo, Ty mordeu os lábios e inclinou a cabeça para trás, seus olhos não

deixavam os de Zane, mesmo quando seu corpo vibrava com o contato.

“Será uma boa sorte, se conseguir sair dela graciosamente,” ele repetiu com ironia, a voz

baixa, mesmo que estivesse sorrindo. Zane, na verdade sorriu, quando abaixou o queixo e

deslizou suas mãos para o jeans molhados sobre os quadris de Ty, tirando junto do jeans a cueca

molhada. Os olhos de Ty se fecharam, e ele inclinou a cabeça até o rosto de Zane, gemendo

baixinho.

O movimento aqueceu Zane por dentro, e ele apoiou seu rosto contra a testa de Ty,

enquanto ele trabalhava lentamente no jeans molhado, tentando tirá-lo de seus quadris.

197
A coisa toda era um concurso desconcertante, mas Ty não queria que Zane parasse, para

observar isso em voz alta. Sem aviso, Zane ergueu Ty e o sentou no balcão, se movendo entre os

seus desajeitados joelhos, os abrindo, para reivindicar outro beijo.

Ty quase se debateu, Cristo, ele nunca foi pego assim durante o sexo antes. Ele agarrou

os braços de Zane com força e devolveu o beijo, mas, interrompeu brevemente para avisar com a

voz rouca: “Eu não sei ficar muito bem por baixo.”

“É isso mesmo?” Zane demorou. “E como deveria ter tomado aquele sorriso sensual que

você deu um tempo atrás, como um convite?” ele perguntou sua forma se tornando mais

sedutora.

“Talvez,” Ty respondeu com uma voz, que era mais um sussurro incerto.

“Não vai te fazer menos um homem,” Zane repetiu, batendo na testa de Ty levemente

com a sua.

“Oh, seu filho da puta,” Ty resmungou, começando a lutar contra a posição vulnerável

que Zane o tinha colocado, Zane riu e se empurrou ainda mais entre as pernas de Ty, mesmo

com ele lutando; envolveu um braço em volta de sua cintura, e segurou a parte de trás do seu

pescoço com a outra mão. “Você fica tão deslumbrante quando está com raiva, seu porra,” ele

murmurou antes de esmagar suas bocas juntas, a gentileza ímpar de últimos minutos atrás,

foram apagadas.

Ty se agitou em seguida, proferindo uma exclamação abafada de ódio contra os lábios de

Zane. Zane sorriu no beijo enquanto escutava. Ele costumava pensar que seria capaz de parar de

beber de uma vez, se ele estivesse algo para preenchê-lo, e já estava morrendo de medo de que

não fosse funcionar com Ty também. Mas a fome o estava consumindo, tanto, que já estava quase

duro novamente.

“Porra,” Ty finalmente murmurou quanto eles quebraram outro beijo quente.

“Isso é um comentário ou um pedido?” Zane perguntou sem fôlego.

198
Ty abaixou a cabeça para pressionar os lábios contra o ombro de Zane e fechou os olhos.

Masturbá-lo no chuveiro era uma coisa, ser fodido seria inteiramente diferente, mas, inferno, Ty

não era de parar, quando o que queria estava à sua frente.

“Ambos,” ele respondeu com a voz rouca.

Zane deslizou as mãos para os quadris de Ty, apertando-os e puxando seu corpo em

direção a ele para a beira do balcão.

“Deixe-me tirar essas minhas malditas meias primeiro,” Ty rosnou quando tentou tirar

os jeans molhados, que ainda se agarravam em seus tornozelos. Zane se abaixou e os tirou, uma

perna de cada vez, em seguida, tirou as meias de Ty com impaciência, antes de levantar e

envolver seus braços ao redor dele, para beijá-lo novamente e impulsivamente.

Ty murmurou e tentou entrar em uma luta, como um símbolo para Zane, quando ele

começou a arrastá-lo para fora do banheiro, em direção à cama, mas, a pequena resistência e as

ações de Ty alimentaram ainda mais o desejo de Zane.

Depois de alguns tropeços, os dois chegaram ao pé da cama que Ty havia reivindicado,

Ty se afastou um pouco e teve um breve momento de lucidez.

“Você tem alguma coisa guardada ai para esse tipo de empreendimento?” ele perguntou

a Zane, antes que ficasse longe para encontrar seus olhos.

Zane andou até a sua mochila, a abriu e retirou um pequeno kit de barbear preto,

trazendo-o de volta e o jogando na cama, parou a um pé de distância e olhou para Ty

uniformemente. O desejo corria desenfreado por ele, e ele sentiu como se estivesse morrendo de

sede. “Você é pior do que uma bebida maldita,” ele murmurou.

Ty ergueu o queixo e lambeu os lábios, não tinha certeza se isso era bom ou não, mas,

com certeza se sentia bem, o que resumia praticamente sobre tudo o que se sentia, sobre toda

essa situação.

199
Zane já havia tomado sua decisão, ele não ia ser capaz de se concentrar no caso, neste

estado que se encontrava, então, ele poderia muito bem fazer algo sobre isso. E o fato de que Ty

estava pronto, disposto e capaz, seria um caminho para deixar essa situação muito mais

agradável. Moveu-se para frente, até encontrar o peito de Ty. “O que você quer?”

Ty inclinou a cabeça para o lado, olhou para a boca de Zane e, em seguida, para os olhos

dele e sorriu lentamente. “Eu não fico bem por baixo,” alertou novamente suavemente.

O calor flamejou nos olhos de Zane. “Está tudo bem,” ele disse em uma voz

enganosamente sedosa, um pouco depois, agarrou o braço de Ty e o girou rápido, puxando a

bunda de Ty contra ele, enquanto envolvia seu braço em volta dele. Zane sabia muito bem que

Ty ia deixá-lo fazer isso, ele apenas estava deixando o interlúdio mais tentador. Sua voz estava

escura e latejante, quando ronronou, “Eu vou com tudo para uma boa transa dura.”

Ty fechou os olhos e deixou a cabeça encostar-se ao ombro de Zane, as palavras ásperas

dele, enviaram um pulsar em sua virilha. Quando ele não lutou, Zane deixou suas mãos o

percorrem, para conhecer e sentir a pele de Ty, e abaixou a cabeça para lamber da clavícula até

sua orelha, Ty deixou escapar um suspiro através do nariz e se moveu contra a musculatura dura

atrás dele.

Zane mordeu levemente na junção de pescoço e ombro de Ty, enquanto tateava seu

caminho para baixo do corpo de Ty. “Você vai lutar comigo?” perguntou, querendo saber o que

esperar antes de jogar Ty na cama e, literalmente, atacar a sua bunda.

“Não desta vez” Ty gemeu, surpreso com o quanto realmente queria ser dominado, um

nítido contraste com a luta dolorosa no beco.

Só assim, Zane ficou dolorosamente ereto, se esfregou contra a bunda de Ty, quando

articulou algumas palavras na parte de trás do ombro dele. “Não dessa vez,” ele concordou antes

de empurrar Ty para baixo na cama. Ele iria gostar disso também, mas, por enquanto, ele só

queria afundar em Ty e ficar bem fundo nele.

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Ty caiu no colchão em suas mãos e joelhos, mas, quase imediatamente se abaixou em seu

estômago, Zane rapidamente se rastejou sobre ele. Sua altura extra deu-lhe o tamanho que

precisava para pressionar um beijo quente na parte de trás do pescoço de Ty e pressionar a sua

virilha contra a bunda de Ty, quanto ele se atrapalhou com o kit.

Por alguma razão, Ty não podia fazer nada além de reagir, seu corpo estava reagindo,

sua mente estava reagindo, e ele estava aceitando cada um dos atos de Zane com uma reação

carente, quase desesperada de sua autoria. Caso fosse necessário, ele agir pelo seu país nesse

momento, não teria sido capaz de sair da cama. Ele não tinha certeza se gostava do efeito

submisso que Zane estava fazendo sobre ele, mas seu corpo certamente gostava.

De joelhos entre as coxas de Ty, Zane passou seus dedos pelas costas dele e os arrastou

para baixo, esperando um pouco de tensão de Ty, quando o tocasse mais intimamente. Ele

realmente desejava que Ty lutasse com ele, embora, desse modo, fosse incrivelmente tentador. Se

ele lutasse, Zane seria mais duro e inflexível, e receberia tudo o que poderia de seu rabo

apertado, mas isso, Deus, era incrível e inesperado, estava sentindo Ty se contorcendo e flexível

sob ele.

O toque íntimo o fez se sentir como um idiota, mas Ty revirou os ombros e enfiou os

dedos lençóis, sacudindo a tensão. Ele esperava que Zane percebesse o quanto de esforço fazia

para não derrubá-lo. Zane se inclinou para murmurar em seu ouvido enquanto deslizava os

dedos para frente e para trás, sondando, penetrando, alargando, onde esperava logo se enterrar.

“Ty, pare com essa porra de movimento,” ele rosnou. “Você não vai me jogar para fora tão

facilmente.”

Ty virou a cabeça para o lado, roçando sua bochecha contra os lábios de Zane.

Ele se moveu então, mas só para se empurrar contra a cama e levantar mais a sua bunda

contra os dedos de Zane. Gemendo, Zane passou seu pênis dolorido contra a pele de Ty e

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empurrou outro dedo lubrificado dentro do outro homem. Era difícil ir devagar. Oh, tão difícil,

mas, se ele fizesse isso agora, logo poderia foder Ty nesse maldito colchão.

Ty gemeu lastimosamente, tencionando involuntariamente e se contorcendo.

Zane parou. “Dói?” ele perguntou.

“Cale a boca e continue,” Ty rosnou com voz tensa.

“Inferno,” Zane respirava duro, quando continuou os movimentos, mais alguns

empurrões e colocou outro dedo, se inclinou o suficiente para pressionar a testa contra a

omoplata de Ty, enquanto tentava respirar uniformemente. Tendo gozado uma vez, iria durar

algum tempo, talvez, mas com Ty, todas as apostas eram incertas. Abaixo dele, Ty arqueou as

costas, tentando se empurrar contra ele e dando gemidos encorajadores. Apressou-se, sem

vontade de esperar muito mais tempo; O corpo de Ty estava lhe dando todos os sinais certos,

mas, estava preocupado caso Ty pudesse de repente mudar de ideia e chutar a bunda dele para

fora. Zane pegou um preservativo e teve pouco trabalho com ele, o colocou em seu pênis, pois

uma mão no quadril direito de Ty, e a outra no ombro esquerdo dele.

Ty abaixou a cabeça e levantou mais o quadril, fechou os olhos e respirou lentamente, na

expectativa de que sabia que ia doer, entretanto, ele queria isso, queria muito; todo o seu corpo

tremia com o desejo.

Zane passou a mão sobre as costas de Ty e empurrou lentamente, ele não era pequeno, e

maldito fosse, Ty estava tão apertado. Ele empurrou um pouco, e então começou a se mover

suavemente, Ty gemeu e ainda permaneceu quieto por um breve momento, tentando lidar com a

dor ardente, antes de empurrar de volta, contra a intrusão, em uma demanda em silêncio por

mais.

Puxando o ar em uma respiração instável, Zane respondeu ao movimento de Ty, com um

pouco mais de força adicionado ao seu movimento, afundando um pouco mais profundamente

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de cada vez. Zane se apoiou com uma mão no ombro de Ty, e a que estava no quadril, deslizou

sob a barriga de Ty, para pegar o pênis endurecido dele.

“Garrett,” Ty respirou suplicante, ele não tinha certeza do que estava pedindo, apenas

sabia que era bom pra caralho, ele mal podia suportar.

Ofegando baixinho, Ty virou o rosto contra o peito dele, e Zane empurrou com mais

força, afundando mais da metade de seu pênis, antes de retirar e novamente se afundar no corpo

de Ty, era uma atração irresistível. Zane deslizou seu punho para frente e para trás, sentindo a

reação de Ty, além de ouvi-lo. Ele ficou emocionado, era tão diferente do sarcasmo, da raiva e da

apatia fria. Ele sentimento foi direto para a barriga de Zane e ele estremeceu.

Ty tremia sob ele, e, finalmente, afundou com seu estômago na cama, trazendo Zane com

ele, Zane tirou todo o peso de seu corpo, para fixá-lo no colchão. “Vamos lá,” ele insistiu, usando

as mesmas palavras que ele sussurrou no chuveiro, ele precisava disso. Precisava.

Zane fechou os olhos, o rosnado na voz de Ty drenou um pouco de seu controle. O

balanço suave parou quando ele puxou sua mão debaixo de Ty, e pegou nos quadris dele,

metendo duro, se enterrando profundamente, dando um gemido de prazer.

Ty respondeu com um grito involuntário, ele se empurrou de volta, implorando por mais

fisicamente, com choques de prazer e dor quente o percorrendo.

Grunhindo, Zane se deslocou um pouco, para que pudesse se empurrar contra o corpo

de Ty em um movimento áspero, enquanto agarrava seus quadris, mesmo quando se afastou, foi

cercado pelo calor do corpo de Ty, e Zane foi progressivamente perdendo sua mente de novo,

quando seus joelhos deslizaram dos lençóis.

Cada impulso estava fazendo o mesmo com Ty, embora ele tentasse desesperadamente

não choramingar. “Mais duro,” implorou com a voz rouca, rascante.

Com os seus dedos segurando duramente Ty, Zane se apoiou em um joelho e soltou o

pouco do controle que lhe restava. Ele realmente fodeu Ty e, em seguida, acama rangeu forte, os

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dois estavam abalados, e os travesseiros caídos no chão. Ele resmungou com cada impulso, um

rosnado baixo crescendo no fundo de seu peito, se soltando cada vez mais, enquanto Ty recebia

cada vez mais e mais, querendo claramente. Porra... Se fosse sempre assim? Zane não conseguia

se lembrar de alguma vez que não teve medo de ferir o seu parceiro de cama.

E ambos estavam aqui, lutando para respirar, a tensão rolando um contra o outro.

“Ty...,” Zane finalmente conseguiu encontrar a voz rouca, quando sentiu seu corpo

apertar em advertência, mas Ty não podia responder, sua respiração estava ofegante e cada

impulso forçava um gemido dele, quando sentia a força da penetração.

Zane soltou uma maldição e assobiou quando passou por cima da borda, seus quadris

perderam o ritmo e se empurrou de forma irregular, o calor e a pressão do corpo de Ty arrastou

o clímax dele.

Ty gemia muito e alto, quando Zane montou o seu orgasmo, ele apertou todos os

músculos do seu corpo já tensos e fechou suas mãos nos lençóis, seus dedos se curvaram

involuntariamente em simpatia ao prazer. Zane gritou, com a voz grosa e torturada, realmente

foi pego pela pressão. O calor o atravessou, ele estremeceu, dando um suspiro antes de puxar

para fora e se levantar sobre seus joelhos. Ty permaneceu onde estava, o rosto pressionado contra

o colchão e os olhos fechados, balançou os ombros de forma quase imperceptível.

Zane se deslocou para sentar-se pesadamente ao lado do outro homem. “Ty,” ele

respirou, olhando para ele e o vendo tremer. Ele se inclinou de lado, enfiou a cabeça sob o queixo

de Ty e o beijou. “Deixe-me,” ele sussurrou contra os lábios de Ty, uma mão passando por

debaixo dele, para alcançar a sua ereção, lutando contra a cama.

Ty gemeu e se levantou, em seguida, empurrou imediatamente seus quadris contra a

mão de Zane, enquanto o beijava avidamente. Zane fechou os dedos ao redor do pênis de Ty e

apertou seu punho enquanto sua boca estava à procura de Ty. Seu pulso dolorido doía com o

movimento, mas ele não dava a mínima naquele momento. Ty puxou a mão e deu um gemido

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abafado. Ele levantou o braço para fixar Zane debaixo dele, como um cão de grande porte faria

para capturar um gato; e ele se balançou contra ele, nunca quebrando o beijo. Vários golpes

depois, o prazer na virilha de Ty aumentou e ele se impulsionou mais contra a mão de Zane. Seus

dedos puxavam o cabelo curto de Zane, e ele gemeu lastimosamente, quando gozou na mão dele.

Zane suspirou contra os lábios de Ty quando ele relaxou; o sêmen aquecido de Ty estava

pingando sobre seus dedos, lhe assegurando do prazer de Ty. Suas costas ardiam, seu pulso doía,

e seus dedos machucados doíam como o inferno; acrescentando, tendo ficado um pouco além da

borda com a saciedade avassaladora que o ameaçava mandá-lo dormir ali mesmo.

Ty quase desabou contra ele, sem conseguir gerenciar energia para cair para o lado, em

vez de apenas em cima dele. “Foda-se,” ele ofereceu fracamente, fechando os olhos enquanto

rolava em suas costas.

“Sim,” Zane concordou, seus olhos estavam borrados, então, ele apenas os fechou.

“Nós deveríamos ter feito isso na sua cama,” Ty finalmente resmungou.

“Idiota,” Zane murmurou sonolento.

“Hmph,” Ty respondeu sem se mover.

“Estou com frio,” Zane falou junto a ele, com a voz grossa.

“Como se me importasse,” Ty resmungou baixinho, entretanto, se forçou a se mover; foi

até a beira da cama, e pegou no chão o cobertor, e em seguida, se deslizou para debaixo das

cobertas, com um movimento gracioso.

Zane resmungou e se virou em suas mãos e joelhos, recuando até o lado da cama, e em

seguida, ficando em pé. Eliminou o preservativo usado, se limpou com uma das toalhas no canto

do quarto, passou as duas mãos sobre o seu rosto e cabelo, em seguida, olhou para Ty.

“O que foi?” Ty o questionou, quando se enterrava debaixo das cobertas.

“Quero dormir aqui com você,” Zane admitiu com petulância.

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“Como você vai conseguir isso?” Ty desafiou com um pequeno sorriso, curioso para

saber o que Zane faria.

Bem, ele estava receoso que Ty fosse detê-lo, entretanto, Zane puxou os lençóis para

baixo, à esquerda de Ty e se deslizou no o algodão quente, as pernas se estendendo facilmente.

Ele colocou o seu travesseiro sob a sua cabeça e rolou para o lado, para ficar de frente para Ty.

Ele iria abrir a boca para dizer “obrigado” ou “boa noite” ou, “por favor, me toque de novo” mas

em vez disso, não disse nada.

Ty ficou o olhando sem expressão, finalmente, sua mão deslizou sob as cobertas até o

quadril de Zane, e o puxou para mais perto, enquanto gentilmente acariciava a pele de seu

quadril e cintura. Ty chegou mais perto, até que finalmente estava com o braço envolto em torno

de Zane e seu outro braço por baixo do pescoço de Zane, para apoiar a cabeça dele.

Ele firmou o rosto entre Zane e o travesseiro. “Isso não quer dizer que eu ainda não odeie

você,” ele murmurou quando esfregou o nariz e a boca contra o braço de Zane e fechou os olhos.

Zane sorriu, seu braço inferior se deslocou para que pudesse colocar a palma da mão

sobre o coração de Ty, e seu braço superior se enrolou sobre sua cintura. Ele se aconchegou a Ty,

sentindo-se incrivelmente confortável, ouvindo a respiração constante de seu peito.

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Capítulo 06

A mulher magra de uniforme estava com seu cabelo escuro puxado para trás, em um

coque severo; parou ao lado da mesa do detetive Steve Pierce. “Tem algumas mensagens para

você, Detetive.” ela disse, segurando alguns pedaços de papel rosa.

Pierce olhou para cima. “Obrigado Branson; vou colocar outra ordem de trabalho em seu

correio de voz,” prometeu a ela.

“Claro que sim, senhor, não é nenhum problema, a não ser que entremos para a reserva,”

ela respondeu antes voltar para frente do balcão, do outro lado da sala grande.

O Detetive Steve Holleman olhou para o seu companheiro de mesa e de trabalho, e

levantou uma sobrancelha para ele. Pierce recostou-se na cadeira, que chiou, folheou o bilhete, e

fez uma careta para um nome em particular e olhou para ele com ódio.

“Pode compartilhar?” Holleman finalmente cutucou.

“Caramba, Feebs de novo,” Pierce murmurou, jogando o bilhete em sua mesa. “Sobre os

crimes em série.”

“O que mais há de novo?” Holleman murmurou quando voltou para o relatório que

estava preenchendo.

“Segundo esse cara, Henninger, há uma nova equipe aqui,” disse Pierce, pegando seu

café com uma mão e girando seu mouse no computador, para o monitor acordar.

“Bem, sim,” Holleman bufou como se isso deveria ser óbvio. “Os últimos foram mortos.”

Pierce lançou um olhar descontente para o seu parceiro, mas não disse nada.

“Eu ainda acho que eles precisam verificar o seu próprio território.”

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“Diga-lhes isso merda, um daqueles caras quase explodiu, quando um dos uniformes

mencionaram a cena do último crime.”

“Sim, eu sei, mas nós provavelmente reagiríamos da mesma forma, entretanto, eu odeio

saber que eles podem marchar e fazer o que diabos querem, é por isso que este coisa não foi

resolvida ainda, muitos dedos na panela mexendo a maldita sopa.”

Holleman arremessou a caneta para baixo e olhou para o seu parceiro com uma careta.

“Você não está começando com essas analogias de comida de novo, não é?” ele perguntou sem

rodeios.

Pierce revirou os olhos. “Eles têm muitas pessoas que lidam com os detalhes, fodendo as

provas, e então eles se perguntam por que o caso está tão ferrado, então, é claro, eles nos chamam

e esperam que os ajudemos, estou pensando neste momento que eles podem esperar.”

“Sim, isso não vai irritá-los,” Holleman murmurou enquanto pegava sua caneta

novamente. “Não importa, tenho muita merda para fazer, isso é o que é.”

“Vou chamá-los amanhã de manhã, você tem que papelada de Trenton?”

“Em algum lugar,” Holleman respondeu distraidamente. “Você tem a declaração da

garota que não gostava de abotoar sua blusa?” Ele perguntou quando olhou para cima.

“Sim, em alguma pilha ali,” Pierce apontou para o canto de sua mesa.

“Singleton vai colocar uma foto lá, também, é claro.”

Holleman vasculhou a pilha até que encontrou a pasta, ele tirou-a da pilha e olhou para a

foto com um sorriso, a virou para mostrar à Pierce, riu e disse: “Acho que tem alguma coisa do

seu rosto?”

Pierce olhou por cima e puxou o ar com força. “Ah, merda, Singleton vai colocar a sua

bunda em um estilingue.” Ele esfregou as mãos sobre os olhos. “Os casos que continuo

recebendo são estranhos, e depois, este maldito serial aparece novamente.” Ele suspirou e olhou

para cima para olhar através das mesas, o seu parceiro.

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A língua de Holleman estava saindo de sua boca novamente, meio de lado, como sempre

acontecia quando estava imerso em pensamentos. “Quer ir buscar comida?” Ele finalmente

perguntou depois de ter ponderado sobre o universo por um tempo.

Levou um momento para Pierce piscar, e encontrar o seu olhar. “Ah... Sim, claro, poderia

tomar mais um café.”

“Então, podemos chamar aqueles palhaços e acabar logo com isso,” Holleman

murmurou enquanto se levantava e se afastava da mesa.

Pierce seguiu Holleman para fora do escritório, resmungando para si mesmo,

desconsolado por todo o caminho.

Ty deslizou cuidadosamente para fora da cama e caminhou ao redor do quarto, se

limpou e se vestiu quase em silêncio, arriscou dar alguns olhares para o seu companheiro de

cama e sua carranca se aprofundou cada vez que fazia isso. O que diabos eles tinham pensado?

Eles não tinham parado apenas naquela primeira vez; horas depois de adormecerem nos

braços um do outro, haviam despertado e transado novamente, sem qualquer pensamento para

as consequências. Ty tinha tomado a sua vez, e tinha sido tão bom, tanto quanto tinha sido

quando Zane o tomou; pelo menos os dois estariam doloridos como o inferno hoje.

Ty balançou a cabeça e foi até a janela, olhando para fora na chuva, todo o seu corpo

doía, e não totalmente de um jeito bom, franziu a testa ainda mais enquanto ele estava na janela,

à espera de Zane acordar.

Uma pequena dor desconfortável empurrava Zane de seu sono e ele lentamente se virou

sob o lençol; fez um som suave no fundo de sua garganta, quando rolou com cuidado sobre suas

costas. Não era apenas a volta da dor, abriu os olhos para se concentrar no teto, antes de virar os

olhos para a cama, e encontrar o espaço vazio.

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Ele virou seu queixo e viu Ty de pé na janela, ele parecia cansado e tenso, Zane abafou

um suspiro, deveria saber que encontraria algo assim.

Ty olhou por cima do ombro quando ouviu o farfalhar e limpou a garganta. “Hey,” ele

ofereceu pouco convincente.

Zane levantou a mão ilesa para esfregar os olhos. “Que horas são? Por quanto tempo

dormimos?”

“São nove e meia,” Ty respondeu sem olhar para o relógio, olhou para de Zane e voltou a

olhar para fora da janela. “Como está se sentindo?” ele perguntou, enquanto olhava para a chuva

caindo.

“Grogue,” disse Zane, sua voz ainda grossa e quente do sono, passou a mão pelo cabelo e

bocejou, considerando se virar e voltar a dormir.

Ty abaixou a cabeça e considerou os prós e contras de admitir o quão dolorido ele estava,

e em todos os lugares. Poderia aliviar um pouco da falta de jeito de qualquer maneira. “Minha

bunda dói,” ele finalmente admitiu com um pequeno sorriso irônico.

Zane reabriu os olhos para olhar para o outro homem, e não tinha ideia de como

responder a isso, então apenas olhou para ele. Ty deu de ombros quando Zane não respondeu, o

telefone celular em seu quadril começou a tocar, poupando-o de ter que dizer algo mais,

respondeu com um murmúrio, depois de olhar o número.

Uma vez que Ty estava distraído, Zane deixou seus olhos deslizarem para o corpo

definido, magro e meio vestido de Ty; a bunda dele doia, os lábios de Zane se contraíram. Não

era uma boa ideia rir, ele tinha certeza, mas caramba... Era um bom estímulo para o seu ego,

afastou o lençol e saiu da cama.

Levantou os braços lentamente e começou a alongar o seu corpo, balançou a cabeça de

um lado para o outro, e os ossos estalaram, aproveitou por um momento os alongamentos, antes

de ir para sua mochila, procurar uma roupa.

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Ty o observou, escutando distraidamente o homem ao telefone enquanto observava Zane

se alongando, percebeu com algum aborrecimento, que estava ponderando sobre as vantagens de

saltar seu parceiro novamente. Finalmente, desviou o olhar e balançou a cabeça, estava ao

telefone depois de um longo tempo apenas ouvindo, e não era em inglês.

Zane olhou por cima quando a linguagem lírica derramou em uma voz rouca de Ty, não

sabia que língua era, parecia algo do Oriente Médio para ter aquele som. Talvez Farsi. Muito

mais melódico do que o espanhol rápido de Zane, entretanto, o som não parecia se enquadrar na

voz de Ty.

A conversa não durou muito tempo, e Ty se despediu antes de terminar a chamada e

colocar o telefone de volta em seu cinto, se virou e olhou para Zane, pensativo. “O que você acha

de fazermos uma caminhada hoje?” ele perguntou, nem mesmo fingindo tentar explicar o que

tinha sido no telefone.

“Claro,” respondeu Zane, descartando a curiosidade. “O transporte irá deixar as minhas

costas muito duras.” Antes de pensar melhor, Zane olhou para Ty, em seguida para a sua bunda,

e depois, os seus olhos; Ty levantou uma sobrancelha e zombou dele, Zane conteve o sorriso e

pegou suas roupas. “O que você tem em mente?” perguntou enquanto caminhava em direção ao

banheiro.

“Quero ver o local onde um corpo foi despejado,” Ty falou em resposta, dizendo a si

mesmo para deixá-lo ir. Ele tinha dado uma pequena informação de si mesmo, depois de tudo,

sabia que se arriscou um pouco, mas, talvez estivesse procurando uma resposta sincera, algo

para construir um pouco de confiança, em vez do que tinha ganhado, Ah, bem!

“Você vai chamar Morrison ou Henninger? Ou ainda estamos sob a orientação clara do

escritório?” Zane entrou no banheiro e não conseguiu conter o sorriso por mais tempo, então

sacudiu a cabeça e começou a se limpar, para sair.

211
“Nenhum deles mantiveram a área isolada, só preciso dar uma olhada,” Ty respondeu

quando se virou para a janela e franziu o cenho para o seu reflexo aquoso.

Zane deu um passo ao entrar no quarto e encarou Ty por um longo momento. Quando

falou, sua voz estava baixa, mas, grave. “Traçando um perfil?”

Ty inclinou a cabeça para o lado e estalou o pescoço com uma careta.

“Sim,” ele admitiu. “Só preciso ver por que o deixou lá.”

Considerando essa resposta, Zane olhou para as fotos pregadas na parede, não tinha

pensado sobre por que os corpos foram deixados como estavam. “Bem, se mexa Marine, temos

um trabalho a fazer.” Sua voz ainda estava calma, apesar das palavras.

Ty virou e bufou para ele novamente. “Está chovendo,” informou o homem quando

pegou a camiseta que tinha separado para vestir, era uma T-shirt de estilo acampamento, branca

com uma tenda marrom na frente, cercada pelas palavras “Acampamento Runamuck”.

Zane inclinou a cabeça o lado, quando Ty colocou a camisa. “De onde você tira essas

camisas?”

“O que você quer dizer com isso?” Ty perguntou inocentemente.

Zane riu. “A Marinha em um Acampamento Runamuck!,” ele murmurou quando

começou a carregar seus bolsos.

Ty olhou para seu peito e sorriu levemente. “Tenho um ex irmão de armas, que as envia

para mim,” ele respondeu. “Recebo uma nova a cada dois ou três meses.”

“Uma vez um fuzileiro naval, sempre um fuzileiro naval,” Zane citou quando vestia uma

jaqueta leve.

“Gostava de ser um fuzileiro naval,” Ty respondeu defensivamente.

Zane olhou para ele de maneira uniforme, vendo um trecho da tatuagem de Ty, que

espreitava para fora, sob a manga da camisa. “Você ainda é um fuzileiro naval,” ele disse.

212
Ty parou seus movimentos e inclinou a cabeça para Zane, tentando decidir se ele estava

falando sério ou apenas fazendo graça para ele.

“Tenho um irmão de lei, que é um fuzileiro naval,” disse Zane. “Ele sempre me disse que

você é um fuzileiro a vida toda.” Ele esperou pela resposta de Ty.

Os olhos de Ty dispararam para Zane, pensativo. “Ele estava certo,” ele murmurou

finalmente, antes de olhar para longe e pegar a sua jaqueta de couro.

Zane manteve os olhos nele por alguns momentos, antes de se virar para pegar sua arma;

verificou e a deslizou no coldre. “Pronto?”

Ty apenas balançou a cabeça enquanto deslizava a carteira no bolso de trás e olhou para

cima, seus olhos estranhamente coloridos encontraram os escuros de Zane. Mil coisas para dizer

passaram pela cabeça de Ty, e ele mesmo abriu a boca para falar, mas, lambeu os lábios e abaixou

a cabeça antes que pudesse falar alguma coisa; fez um gesto para a porta para encobrir o seu

desconforto.

Embora Zane estivesse fascinado com o comportamento de Ty, se virou e saiu, talvez, Ty

apenas trabalhava em si mesmo, para ser um bastardo e, desde que ele tivesse algumas rodadas

de alívio do estresse e uma noite de sono, ele se manteria calmo; Zane suspirou e abriu a porta

para o outro homem, desejando que soubesse como construir um perfil, apostaria um bom

dinheiro, que o perfil de Ty se assemelharia a um Rorschach.

Ty deslizou as mãos nos bolsos e manteve a cabeça baixa enquanto caminhava para os

elevadores, ele perdeu o controle com Zane, e não conseguia chegar a um acordo com o que ia

deixar acontecer. Não só tinha fodido, mas Ty tinha deixado Zane fode-lo. Ele tinha desistido de

cada grama de seu controle, para um homem que mal gostava, e Ty tinha gostado imensamente.

Zane esmurrou o botão do elevador e esperou; Ty estava silencioso e quase taciturno ao

lado dele. Ambos tinham muito em que pensar; pelo menos Zane pensava, e ele resistiu ao

213
impulso de olhar para Ty e tentar ler seu rosto. Ele assistiu a mudança dos números do elevador,

se aproximando do andar deles. “Ty,” ele disse em voz baixa.

Ty olhou para ele e franziu a testa ligeiramente.

“Minha bunda dói também,” Zane admitiu calmamente enquanto as portas se abriram,

com outras pessoas no elevador.

Ty olhou de Zane para as várias pessoas no elevador e mordeu os lábios contra um

sorriso. Se eles tinham ouvido o que Zane tinha acabado de dizer, era difícil saber, mas só o fato

de que Zane havia dito, tirou um pouco do peso dos ombros de Ty. Ele não podia foder alguém

sem senso de humor, simplesmente não ficaria bem para ele, limpou a garganta, tentando não rir

quando eles entraram no elevador.

“Ok,” foi tudo o que conseguiu dizer em resposta.

Eles não disseram mais nada enquanto caminhavam pelo lobby e saiam para chamar um

táxi, não era necessariamente um silêncio confortável, parecia mais como uma trégua temporária.

O táxi deixou-os na entrada do enorme portão, da época da Guerra Civil, que marcava a

entrada principal para o cemitério de Green-Wood. A chuva tinha diminuído, mas tinha trazido

com ela um frio, que passava através de suas roupas e beliscava sua pele nua. Ty enfiou as mãos

nos bolsos e olhou para cima, através da chuva que cai como pedra, quase como uma reverência.

Ele já podia ver o apelo do local, era quase como um indicativo de algo.

Zane estava a vários metros de distância, olhando ao redor, o tempo estava perfeito para

apreciar os detalhes e a tristeza do lugar, acrescentando a inerente calma no cemitério, mas não

tirava a estranha beleza do lugar. Ele estudou o enorme no arco com algum interesse e

apreciação, antes de olhar para Ty.

Ty ainda estava olhando para cima quando ele falou. “Hooker foi encontrado envolto em

seus lençóis em um dos túmulos,” disse Zane baixinho.

“Sem dentes, o resto estava intocado.”

214
Os olhos do outro agente se voltaram para os monumentos que ficavam mais a frente do

cemitério, para a grama escurecida e o âmbar folhas, que contrastava fortemente com a sujeira do

mármore das pedras. Algo dentro de Zane começou há doer um pouco, e ele franziu a testa

ligeiramente, enfiando as mãos nos bolsos.

Ty olhou para ele quando ele não respondeu. “Você está bem?” ele perguntou com uma

careta.

Os olhos de Zane cintilaram, mas ele balançou a cabeça imediatamente. “Sim,” ele disse

calmamente. Ele podia sentir o peso do lugar em torno dele, imaginava se Ty também sentia. O

ambiente era muito majestoso para não senti-lo profundamente. “Vá à frente.”

Ty observou-o por um momento e, em seguida, balançou a cabeça, inclinando a cabeça

na chuva enquanto se dirigia para a porta. Cemitérios sempre falavam com Ty, de uma forma as

outras não faziam. Este em particular era belo, e estava falando com ele também, contando sobre

o assassino, enquanto caminhava sobre a grama encharcada em direção aos túmulos mais

antigos.

Zane seguiu atrás dele, com os olhos para baixo. Eles caminharam em silêncio enquanto

a chuva continuava a tamborilar através das árvores acima deles. O solo encharcado estava

coberto com folhas amarelas, obscurecendo as lápides, destacando uma das outras. Ty parou

debaixo de uma das árvores e olhou para a pedra envelhecida com apreço, puxou uma folha de

papel do bolso e estudou por um momento, então olhou para a distância, franzindo a testa.

Quando Ty fez uma pausa, Zane quase correu para ele. Ele estava muito ocupado

verificando o local ao redor deles; a grande variedade de pedras, os pensamentos por trás dos

monumentos. Era muito diferente aqui... Mais do que ele esperava. O clima tinha caído, deixando

as árvores em cores brilhantes, pintando um local normalmente triste, com cores alegres, era uma

dicotomia estranha, que fazia seu peito doer ainda mais.

215
Ty finalmente determinou que eles estavam relativamente no ponto certo, dobrou o

papel e colocou-o de volta no bolso. “É isso,” ele murmurou.

Eles ficaram no caminho que serpenteava pelo pátio, perto de um conjunto de túmulos

familiares, todos alinhados em quadrados perfeitamente talhados. Zane não disse nada. Em vez

disso, esperou para ouvir as ideias Ty. Este lado da pesquisa não era algo que Zane tinha muita

experiência; ele foi treinado para seguir trilhas físicas e detalhes, não analisar pensamentos e

motivações de outras pessoas.

Ty ficou em silêncio enquanto Zane esperava, andando ao redor do local lentamente com

a cabeça para baixo. Era um lado totalmente diferente dele; calmo e focado, parecia totalmente

em desacordo com a sua habitual abrasividade, Zane não podia dizer qual lado dele era o

verdadeiro.

“Isso tem reverência para ele,” Ty finalmente murmurou curiosamente, depois de quase

10 minutos de silêncio e reflexão. “Quase... romântico, não havia marcas de pneus ou de

máquinas em qualquer lugar, ou seja, ele trouxe o corpo pela entrada.” Ele olhou para trás, pelo

caminho que fizeram, era um longo caminho para andar com um fardo pesado em seus braços.

Ele olhou para Zane e franziu a testa.

“É uma sensação de idade, antiquado,” continuou com uma voz que soava um pouco

confusa. “Como algo que o assassino viu em um filme ou leu em um livro e quisesse reviver.”

Zane ouviu, mas ele realmente não iria opinar ainda, olhou ao redor do cenário, virando

as costas para os monumentos, olhou para trás, para fora do jardim onde havia uma cova coberta

com pilhas de flores frescas, que chamaram a atenção dele. Era impossível não traçar paralelos

com a sua última vez em um cemitério; após vários batimentos cardíacos depois que ouviu as

palavras de Ty, Zane respondeu. “Sim, sim ele faz,” ele concordou em voz baixa.

“Nenhum dos outros pareceu ser assim, foram deixados em suas próprias camas, ou em

lugares aleatórios,” Ty murmurou, falando mais para si do que para Zane. “Por que isso aqui foi

216
especial? Ou todos os crimes foram especiais, e esse foi apenas mais um elemento diferente que

temos de acrescentar a este assassinato em particular?”

Piscando algumas vezes, Zane voltou a sua atenção ao seu parceiro.

“Não tenho certeza em dizer se foi especial, nós nem sequer sabemos se ela foi morta

aqui ou se ela já estava quando veio parar aqui.”

Ty olhou ao redor do cemitério, tentando deixar o cenário falar com ele. “Não,” ele

murmurou. “Ela não foi morta aqui,” ele declarou, embora não soubesse o que o fez pensar isso.

“Mas ela foi deixada aqui por uma razão, eu tenho certeza disso.”

“Poderíamos afirmar então, que todos eles foram deixados onde estavam e como

estavam, por uma razão,” acrescentou Zane, deslocando seu peso e tentando ver as várias etapas

ao longo do caminho, antes de virar para olhar em volta novamente.

“Não necessariamente,” Ty argumentou obstinadamente. “Você mesmo disse que o

padrão está no método, e se parte do método é o posicionamento do corpo, em um dos casos,

mas não em outro? E se importasse mais onde este corpo foi deixado e como ela foi morta, mas

mais importante do que como o outro foi morto em uma determinada maneira e não onde eles

foram deixados?”

Os lábios de Zane se contraíram. “Você sabe, eu realmente entendi isso,” ele disse,

balançando a cabeça, respirou fundo e soltou o ar lentamente. “Acho que nós vamos ter que

descobrir isso em ambos os sentidos, até que obtenhamos alguma vantagem,” ele ofereceu.

Ty zombou dele e desviou o olhar, franzindo os lábios pensativamente, enquanto olhava

através da chuva. Estava esfriando mais, puxou a gola da jaqueta, fazendo-o estremecer. Ele

definitivamente já tinha passado pelo pior, mas ainda era desconfortável.

O início da chuva deu a Zane um calafrio, e sua atenção foi atraída de volta para os

túmulos. Ele observou as gotas de chuva batendo em um espaço vazio de terra e escorrer com o

gotejamento. Riachos de água manchavam as flores coloridas, que estavam colocadas ao longo de

217
algumas das lápides, o olhar de Zane estava suave e sem foco. Chuva nas flores. Terra molhada.

A dor inchou em seu peito e ele não podia ignorar as lembranças por mais tempo.

Ty se virou para dizer mais alguma coisa e pegou o olhar no rosto de Zane, fechou a boca

e franziu a testa. “Você está bem?” ele perguntou de novo com um toque de irritação. O outro

homem não o reconheceu, ele estava parado no mesmo lugar, não tinha nem virado a cabeça, ele

nem sequer o olhou, como se tivesse tomado um fôlego.

Seus olhos foram se fechando, e olhavam para algo indefinível.

“Garrett!” Ty latiu alto.

Alguns momentos silenciosos se passaram antes que Zane olhasse para Ty

deliberadamente. Seu rosto estava agora com uma máscara sem emoção, a mesma que ele não

tinha usado por uns dias, seus olhos estavam secos, as luzes em seus olhos foram embora, e seu

olhar estava vazio.

“Que diabos, cara?” Ty questionou aborrecido. “Você está bem?” ele repetiu.

“Você encontrou o que estava procurando?” Perguntou Zane, sua voz estava frágil, mas

ele não desviou o olhar de Ty.

A testa de Ty franziu em confusão e inclinou a cabeça. Ele olhou ao redor do cemitério,

sabendo que poderia passar o dia inteiro lá e não encontrar o que estava procurando, mas seria

inútil, se Zane estava vacilante em torno dele. “Claro,” finalmente respondeu. “Vamos!”

Zane virou inteligentemente nos calcanhares e começou a andar.

Ty permaneceu onde estava por um momento e o observou confuso, finalmente, se

inclinou, pegou uma folha amarela perfeita e a deslizou no bolso, e seguiu seu parceiro

lentamente.

Zane não parou até que passou pelo portão e voltou para a rua, sinalizando para um táxi.

O primeiro continuou, e ele manteve um olho afiado para fora, ainda se sentia doente. Tinha

218
saído do nada, o fantasma com as memórias de cinco anos atrás, que ele pensava que estava

enterrado, junto como a sua esposa.

Ty correu para alcançá-lo quando um segundo táxi parou para a convocação de Zane.

Subiu e sacudiu a água, Ty deu ao motorista o nome do seu hotel. Ele tinha a esperança de ver

mais algumas cenas, mas ele preferia fazê-lo sozinho, a fazer assim.

Cinco minutos de passeio, Zane finalmente fechou os olhos e relaxou um pouquinho. Ele

apoiou o cotovelo contra a janela e esfregou os olhos. Deus, ele odiava as memórias às vezes,

traziam de volta os pesadelos que ele não queria lembrar.

Francamente, ele não queria nem saber das boas lembranças, ou as más, porque as boas

eram ainda piores. Ele sabia que Ty queria saber o que estava acontecendo, mas Zane não tinha

certeza se poderia mesmo cuspir as palavras.

“Quando estiver pronto,” Ty cutucou irritado.

Zane inclinou um olhar igualmente irritado para Ty. “Más lembranças, ok?” ele

murmurou.

Ty olhou para ele do seu lado do assento por um momento e depois desviou o olhar com

um longo suspiro. É óbvio que havia mais do que isso, e Ty se viu irritado quando Zane não

continuou, ele não pediria novamente, embora.

Depois de um longo silêncio, Zane deu um suspiro. “Becky morreu nesta época do ano,”

disse Zane baixinho. “Mesmo clima, mesmo tipo de cemitério.” Ele deu de ombros.

“Quem é Becky?” Ty perguntou, exasperado.

Zane manteve os olhos voltados para fora da janela. “A minha esposa.”

Ty olhou para ele por um longo momento, os olhos foram até o anel de casamento que

Zane ainda usava, mas nunca tinha falado, em seguida, ele desviou o olhar sem comentar. Ele

apertou os lábios com força enquanto mantinham o silêncio. “Sinto muito,” ele finalmente

ofereceu.

219
Balançando a cabeça lentamente, Zane finalmente disse: “Obrigado.” Era quase

inaudível.

Ty não respondeu. Sua reação imediata seria dizer para Zane, que se tinha uma porra de

um problema com cemitérios, ele deveria ter dito alguma coisa, em vez de desperdiçar seu tempo

zoneamento lá fora. Teria sido melhor deixar Zane no portão e levar o seu tempo. Um dia antes,

ele teria dito isso em voz alta, mas agora ele segurou a língua. Era uma ação que ele não estava

acostumado, ou se sentia confortável. Forçando-se a não dizer nada muito duro para o homem

que alimentava o ressentimento de Ty.

Alguns minutos se passaram. “Necessita voltar?” Zane perguntou em tom neutro.

Ty observou a arquitetura passando e suspirou inaudível. “Vamos ver,” finalmente

respondeu secamente.

Zane desligou a parte de si mesmo que se sentia mal por aparentemente mexer com o

trabalho de Ty. Ele simplesmente não comparava os pensamentos e os sonhos, as luzes de morte

giravam em sua mente. Ele precisa de algum tempo para limpar essas teias de aranha, então,

poderia voltar ao trabalho.

O resto da viagem de táxi passou em tenso silêncio.

220
Capítulo 07

Ty estava inegavelmente chateado, e passou o resto do dia distraído. Quanto mais ele

ficava distraído com essa situação com Zane e as suas interações pessoais, mais furioso se

encontrava. Eles tinham um assassino para encontrar e Ty tinha a morte de um irmão para

vingar, ele não precisa ser absorvido por esta pequena aventura que haviam iniciado. E ele nem

podia mais gritar com Zane para liberar a sua frustração. Não parecia certo depois do que havia

acontecido entre eles; ele não estava acostumado a ficar com raiva, sem descontar, o estava

deixando para baixo.

Tinham finalmente retornado ao Federal Plaza para verificar o que tinha acontecido com o

computador que explodiu. Eles foram questionados sobre as contusões, e sobre por que eles

haviam deixado à cena, já que eles sabiam que seriam questionados. Ty tinha sido forçado a fazer

uma chamada para Dick Burns, a fim de tirar os pesquisadores descontentes de fora de suas

costas, já que eles tinham sido enviados para questioná-los.

O resto do dia foi passado no hotel, pesquisado os arquivos e as notas, procurando por

um fio condutor.

Estava começando a chover mais uma vez, as gotas batiam na janela do hotel, quando Ty

finalmente colocou o seu trabalho para baixo e apoiou os cotovelos sobre a mesa; esfregou as

mãos sobre o rosto e gemeu lastimosamente. “Será que vamos almoçar?” ele perguntou de mau

humor.

“Não,” respondeu Zane distraidamente. Ele finalmente conseguiu se afundar em

relatórios de autópsia algumas horas atrás, e esse assunto foi mais do que suficiente para anular

quaisquer impulsos físicos; de fome, sexo, ou de outra coisa.

221
“Podemos almoçar agora?” Ty perguntou sarcasticamente.

Zane jogou sua caneta com um suspiro. “Claro,” ele concordou.

Ty recostou-se na cadeira, observando Zane cuidadosamente como se ele fosse um leão

no zoológico. Estava irritado com ele, por razões que iam além do fato de ter deixado o cemitério

mais cedo. Principalmente, Ty estava irritado agora, quando Zane fazia algo, ele se encontrou

perguntando o porquê disso.

Empurrando as pastas de arquivos para longe, para realizar algumas manobras por trás

da mesa, Zane esticou um pé de cada vez, jogou os braços acima da cabeça, e fechou os olhos,

enquanto rolava o seu pescoço. Tinha estado tenso durante toda a manhã, e ficar debruçado

sobre caso durante toda à tarde, não tinha ajudado também.

“Quer encerrar o dia?” Ty perguntou neutra.

Zane arqueou as costas e várias vértebras estouraram, relaxou a musculatura, antes de

abrir os olhos. “Vou ficar bem depois de uma pausa, toda essa merda está nadando em torno de

mim agora,” ele murmurou com um aceno de sua mão para a sua cabeça.

Ty apenas balançou a cabeça, olhando para Zane impaciente.

Zane voltou o olhar impassível. “Então, serviço de quarto? Ou quer sair?”

O pensamento de um cigarro era reconfortante, uma vez que parecia que não iriam foder

tão cedo; o fato de que Ty estava chateado era muito fácil de decifrar.

Ty apertou os lábios com força e inclinou a cabeça para o lado pensativo. “Sair pode ser

arriscado,” observou em tom plana. “Não tenho visto alguém nos seguindo ainda, mas isso não

significa que não temos alguém por ai.”

Zane assentiu distraidamente e caminhou até a cômoda onde pegou o cardápio do hotel.

Pensava que Ty quisesse sair e vaguear, inquieto como o homem obviamente estava, mas, ele

aprendeu ontem, que não havia como dizer o que Ty faria. Tentar antecipa-lo era um esforço

fútil, que muitas vezes produziram uma dor de cabeça. Ele folheou o cardápio que estava no topo

222
da peça de mobiliário. Os olhos de Ty ficaram em cima dele, enquanto ele se movia, parecia estar

esperando por algo, o silêncio se estendeu e Zane fez o possível para ignorá-lo.

“Devo voltar para o meu quarto esta noite?” Ty perguntou de repente. “Ou será que

vamos ser capazes de trabalhar juntos e foder um ao outro, ao mesmo tempo?”

Zane olhou para Ty com os olhos arregalados por um longo momento, abriu a boca para

dizer alguma coisa e a fechou de volta antes de tentar novamente. “Eu posso trabalhar dessa

forma,” ele disse; Jesus Cristo soava como um idiota!

Ty bufou. “Bom,” ele disse categoricamente, o sorriso apareceu novamente. “Enquanto

mantivermos nesse nível, estaremos bem.”

Estreitando os olhos, Zane virou-se para Ty, trazendo o cardápio com ele. “Nesse nível?”

ele perguntou curiosamente; sim, eles pareciam ter um inferno de um monte de química, e

também passaram por alguns momentos de ternura assustadora, mas Zane sabia melhor do que

ler qualquer coisa nas entrelinhas.

“Certo,” respondeu Ty, tentando ficar alheio à questão implícita, ou aos detalhes.

Ao invés de forçar para conseguir uma resposta, Zane estendeu o cardápio, mas manteve

os olhos em Ty, observando-o.

“Eu vou querer o que tive na noite passada,” Ty respondeu quando olhou para o

cardápio e deu a Zane um pequeno sorriso.

O outro homem levantou uma sobrancelha, dando a Ty um olhar irônico de diversão,

enquanto puxava o cardápio de volta. “Achei que você iria querer o que você teve no seu café da

manhã,” ele jogou de volta, quando caminhou até o telefone.

Ty riu sombriamente, o som quase perturbador quando ele se sentou no canto sombrio

do quarto do hotel e balançou para trás em sua cadeira. Ele observou Zane, rastreando-o como

um predador acompanha sua presa.

223
Zane pediu o serviço de quarto o jantar e a sobremesa, muito consciente dos olhos de Ty

o seguindo. Murmurando um adeus breve, ele desligou o telefone e sentou-se à mesa,

empurrando as pastas e tendo a oportunidade de olhar para mais fotos da autópsia, antes que a

comida chegasse, evitou olhar para Ty, era melhor para sua saúde mental dessa maneira.

Ty inclinou a cabeça, de braços cruzados se perguntando por que Zane estava tão

diligentemente ignorando-o agora. Por fim, ele deu de ombros e pegou um arquivo que um

mensageiro tinha entregado vindo de Washington mais cedo naquele dia.

Ty tinha pedido a um amigo no escritório principal, para procurar por quaisquer

assassinatos inexplicáveis nos últimos dez anos, e depois colocá-los em uma lista. Ele tinha

verificado a lista de assassinatos, solicitando os arquivos que poderiam caber em seu caso, para

tentar localizar o homem responsável.

Ele também tinha uma lista de arquivos de todos os agentes que trabalharam no

escritório de Nova York nos últimos dez anos, incluindo o seu próprio arquivo. Ele iria passar

por todos esses, depois que terminasse com os arquivos antigos, e iria fazer uma lista dos locais

que cada agente tinha trabalhado, antes de ser designado para Nova York.

Tudo o que ele tinha a fazer era encontrar um assassinato que se adequasse a esses

crimes em série, que era mais fácil de dizer do que fazer, considerando que esse cara tinha MO, e

depois combinar os locais.

“Esta merda seria mais fácil se um nerd de computador fizesse esse trabalho,” ele

resmungou com o lápis em seus dentes.

Zane olhou para ele e bufou baixinho, em seguida voltou para os seus relatórios.

Ty olhou para ele, franzindo a testa inconscientemente, depois voltou para o arquivo que

tinha em sua mão, encontrou um assassinato não solucionado em Baltimore, cerca de cinco anos

atrás. Enquanto lia, começou a franzir a testa. “Eu sei disso,” ele murmurou enquanto folheava as

224
páginas. “Jesus, eu me lembro disso,” ele murmurou para si mesmo. “19 de janeiro,” ele

continuou, não se importando se Zane estava prestando atenção a ele ou não.

A vítima foi encontrada no campus da Universidade da Faculdade de Direito de

Maryland. Morreu depois de ter sido arrastado pelas ruas, ao que parecia ser um pequeno

veículo em movimento, além de envenenamento por álcool. A coisa realmente interessante foi

que Ty tinha se lembrado deste caso, a identidade da vítima. Na época, haviam sido espalhados

os boatos de um homem, Poe Toaster de Baltimore, que desde 1949 visitava o túmulo do autor

Edgar Allan Poe e o brindava com conhaque. As visitas, que na verdade haviam sido

testemunhadas por muitos na cidade, tinha parado depois daquele ano.

“Encontrou algo interessante?” Zane perguntou, enquanto o observava.

Ty respondeu com um grunhido. Um pedaço de papel tinha se juntado ao lápis na boca,

tinha alguns arquivos em seus joelhos, e cada mão estava segurando várias folhas de papel,

enquanto lia sobre o que se lembrava, ele acenou para Zane e apontou o arquivo.

Zane sorriu quase com carinho antes de tirar o papel e lápis que estavam entre os lábios

de Ty, quando sentou ao seu lado, para olhar o arquivo. “Escola de Direito de Maryland, hem?”

“Lembro-me disso,” disse Ty a ele. “Tem todos os sinais, infelizmente é tão aleatório

como todos deste serial, mas havia um sinal deixado,” ele disse quase animadamente, enquanto

apontava para as notas no arquivo original. “Uma pena, pois sabemos que ele estava em

Baltimore,” ele declarou em uma voz que era quase surpresa.

“Se ele estava em Baltimore na universidade, ele poderia muito bem ter entrado no

Bureau em algum momento, sem necessariamente, ter passado pela escola de lá,” Zane

murmurou. “Ou ele entrou como forense ou para a aplicação da lei e se familiarizou com o

Bureau apenas por causa da proximidade.”

“Devemos confrontar todos os agentes que estavam em Baltimore, em ‘01,” Ty sugeriu.

Zane concordou com a cabeça. “Parece que ele poderia ter dado uma pausa.”

225
“Aqui,” Ty grunhiu quando entregou o arquivo. “Dê uma olhada.”

Zane pegou o arquivo e começou a ler sobre o caso.

“Lembro-me de que uma que aconteceu,” Ty disse quando se levantou e começou a

andar. “Foi rotulado como um típico crime de ódio, ou alguma coisa assim,” ele continuou.

“Você vê, a vítima era um cara chamado Poe Toaster, ele era, na verdade, o neto do Toaster

original, o homem se esgueirava em um cemitério todos os anos no aniversário de Edgar Allan

Poe e o brindava com conhaque; às vezes, eles deixam pistas, bem, em noventa e nove por cento

dos casos. Esse cara começou depois que seu pai morreu, e ele deixava pistas cada vez mais

elaboradas. Um ano ele disse que conhaque francês não era suficientemente bom para Poe; foi

logo depois do 11/9, eu acho, e os franceses haviam se recusado a participar da caçada terrorista.

Então, em 2004, ele deixou um bilhete dizendo que os Ravens23 iam perder o Super Bowl, ele

chateou muitas pessoas.”

“Deus, qualquer coisa, mas a rivalidade da NFL24 era demais,” Zane murmurou. “Então,

o envenenamento por álcool leva um inferno de tempo, especialmente se ele não fosse alcoólatra,

seria mais como um afogamento.” Ele folheou as páginas, olhando para o relatório da autópsia.

“Ele também foi arrastado pelas ruas,” Ty apontou. “Pela na neve, mas não me interessa

muito em quem era a vítima, como pensava inicialmente, a morte em si é mais importante.”

“Estranha combinação de métodos,” Zane murmurou, lendo o relatório.

“Ele não era um alcoólatra, seu fígado estava bom.”

Ty observou Zane sem responder, havia coisas sobre este caso que estavam esvoaçando

em sua mente, como morcegos ao redor da boca de uma caverna. Estavam o deixando louco, e

ele não poderia pegar uma única pista. “Os pensamentos?” ele perguntou baixinho.

23
O Baltimore Ravens é um time de futebol americano da cidade de Baltimore, Maryland, que disputa a NFL. Seu mascote, o
corvo, tem sua origem no poema O Corvo, de Edgar Allan Poe, que passou seus últimos dias de vida na cidade.
24
A National Football League – Liga de Futebol Nacional - é a maior liga de futebol americano do mundo, com trinta e dois
times nos Estados Unidos. Em termos de renda e número de fãs, a NFL é a maior liga de esportes na América do Norte e uma
das maiores do mundo.

226
“Ou alguém lhe entregou uma quantidade enorme de bebida ou foi injetado”

Zane disse com certeza, e leu o relatório novamente. “Mas nenhum indício de luta

encontrado.”

“Você acha que ele conhecia o seu agressor?” Ty perguntou suavemente.

A testa de Zane franziu. “Não há sinais de luta, exceto as marcas das cordas usadas para

arrastá-lo, nada encontrado sob as unhas, ele já estava inconsciente quando foi arrastado.”

Balançando a cabeça, ele deixou seus olhos saírem de foco. “Eu aposto que sim, aposto que ele o

conhecia, possivelmente confiava, talvez um amigo ou colega, alguém para comemorar, ou beber

mais do que o habitual, possivelmente deslizou um medicamento para deixá-lo mais flexível e

apto a beber ainda mais.”

Ty estava balançando a cabeça em concordância. “É o epicentro,” ele murmurou. “Vou

ligar para Burns contar-lhe sobre a nossa investigação.”

“Diga a ele sobre a sinalização do que queremos fazer, exija a cidade de Baltimore, a

escola, e até mesmo a família,” disse Zane distraído, ainda olhando através do arquivo.

“Uh huh,” Ty respondeu quando soltou o telefone do cinto.

Enquanto Ty conversava, Zane deu uma olhada mais profundamente no arquivo e,

apertando os olhos, levantou outra pilha de papéis de outros arquivos de caso sobre a mesa. Ty

retransmitia o que tinham descoberto a Burns, logo que ele assegurou que a linha estava segura.

O homem parecia em dúvida sobre a conexão com Baltimore no início, mas não demorou muito

para que Ty para o convencesse, Zane observou. Por mais que Ty perecesse um bandalho, Burns

sempre confiava nele e o tratava quase como um filho. Zane não poderia deixar de se perguntar o

motivo.

Logo, Ty desligou o telefone e começou a andar novamente, finalmente parou e olhou

para Zane. “Estou com fome.”

227
“Mmmm,” Zane respondeu fracamente, com três arquivos de casos na frente dele. Ty

franziu o cenho e o observou.

“Você encontrou alguma coisa?” ele perguntou esperançoso.

“Não,” disse Zane, puxando-o para fora, pois ainda estava lendo. “Eu não, nenhuma

luta.”

“O que foi?” Ty perguntou confuso.

“Nenhuma luta, não há sinais de luta, às vezes, as vítimas são amarradas ou

embrulhadas, mas não havia hematomas, sem marcas de unhas, sem escoriações, nenhum sinal

de que lutaram antes que de serem assassinados,” disse Zane, franzir a testa profundamente

quando pegou outro arquivo. “Isso não pode estar certo.”

“Como isso é possível?” Ty perguntou suavemente. “Ele não poderia ter conhecido todas

as suas vítimas, você acha que ele estaria usando um crachá para fazê-los cooperar?”

“Por que ele não poderia ter conhecido as suas vítimas?” Zane perguntou calmamente

quando olhou para cima.

“Porque seria meio óbvio para seus outros conhecidos, que estavam lentamente

diminuindo as amizades de maneiras horríveis,” Ty argumentou. “A menos que eles não sejam

contatos profissionais,” ele corrigiu lentamente.

“Ou uma mistura, profissional, pessoal, familiar? Amigos antigos da escola ou da

faculdade,” Zane propos.

“Você sabe o quão improvável isso pode ser?” Ty perguntou duvidosamente,

inconscientemente, assumindo o mesmo tom que Burns tinha usado com ele. “Além disso, eu

não me importo o quão bem eu conheço alguém, se começarem a tentar me picar eu vou lutar, e

deixar para tras,” ele declarou.

228
“Não é provável, mas é possível, Nova York é um inferno de uma grande cidade, você

poderia ter amigos em todos os tipos de lugares e eles nunca se conhecerem,” disse Zane,

fechando os arquivos e os empilhando juntos.

“Oh, foda-se você e sua lógica, Garrett,” Ty gruniu quando começou a andar de novo.

“Dê-me a sua geometria qualquer dia,” Zane murmurou. “Eu odeio álgebra.”

Ty parou. “Deveríamos verificar as vítimas Priores,” afirmou. “Se o assassino é um Fed,

ele poderia se encontrar com as suas vítimas através de seu trabalho.”

“Precisamos de todo tipo de conecção, Priores, trabalho, igreja, família, escola... qualquer

um desses pode ser uma conexão, inferno, clandestino, namorado, o círculo do tricô,” o outro

agente murmurou.

“Também devemos verificar os arquivos de testemunhas,” Ty murmurou. “Eles podem

não ser criminosos, se ele estava investigando, poderiam ter sido testemunhas, mas ninguém vai

me convencer de que um distintivo pode impedir que alguém lute por sua vida.”

“Clorofórmio,” disse Zane, de repente, apontando para o papel na frente dele. “O

relatório da autópsia registrou traços de clorofórmio.”

“Isso faz sentido,” admitiu Ty com uma careta.

“Sim,” Zane concordou, balançando a cabeça, e se assustou um pouco, quando houve

uma batida na porta.

“Eu vou,” Ty murmurou enquanto se levantou e começou a embaralhar os pés descalços

até a porta. Os cabelos na parte de trás do seu pescoço, de repente ficaram em pé, e a sensação de

que algo estava errado o pegou da mesma forma, quando às vezes estava no serviço. Ele

diminuiu a velocidade ao aproximar-se da porta, avaliando a reação instintiva para a batida e

lambendo os lábios quando hesitou, finalmente, se aproximou do olho mágico e espiou, com uma

mão sobre a arma na parte baixa das costas.

229
Zane ficou tenso quando viu Ty alcançar sua arma, e ele pegou a sua própria da cômoda

ao lado dele, e observou cuidadosamente, ficando apenas fora da linha direta de visão da porta.

Mas Ty relaxou quando viu o servidor fora do hotel com a comida, e ele se perguntou

por que estava tão nervoso. Ele abriu a porta e cumprimentou o funcionário sem mais alarme, a

comida foi colocada dentro do quarto, Ty olhou para Zane e encolheu os ombros. “Estou um

pouco tenso,” admitiu baixo, não era a primeira vez que dizia essas palavras para Zane.

“Mais do que um pouco.” Zane olhou para ele de maneira uniforme. “Não ignore seus

instintos, com certeza são melhores do que o meu.”

“Cale a boca,” Ty bufou imediatamente. Ele estreitou os olhos quando levantou a tampa

de seu prato, deu um olhar para Zane e sorriu. “Por que você acha que vou dormir aqui com

você?” perguntou ironicamente. “Porque eu me assusto facilmente.”

“Pensei que fosse por conta da minha conversa excitante,” disse Zane.

“É por uma coisa excitante, de qualquer maneira,” respondeu Ty distraidamente quando

se sentou e puxou o prato para ele.

Zane riu e pegou seu prato, mas, antes pegou um frita de Ty, ele tinha recebido

mussarela em varetinhas, em vez de batatas fritas, e decidiu no calor do momento, dispensar os

anéis de cebola, por via das dúvidas...

“Ladrão,” Ty murmurou de mau humor.

Zane piscou e estendeu um pedaço da mussarela para acalmá-lo.

Ty olhou para ele teimosamente e, em seguida, arrancou-a da mão de Zane.

“Você já reparou que alguém está nos seguindo?” ele perguntou antes de morder a ponta

da vara de mussarela e gemeu quando o queijo quente bateu em sua língua.

“Claro, e não disse nada, porque eu sou um idiota,” Zane respondeu levianamente.

“Jesus, você não me diz essas malditas coisas,” Ty grunhiu quando puxou o fio de queijo

de sua boca e tentou sem sucesso a agitá-lo em seu dedo.

230
“Achei que o fato de estarmos sendo seguidos, poderia indicar uma pista,” Zane

demorou.

“Cale a boca,” Ty murmurou enquanto se mexia na cadeira inconscientemente, sentindo

um pouco da dor persistente na bunda.

A testa de Zane franziu enquanto observava Ty se mover desconfortável, e piscou

quando percebeu o motivo. Ele estava tentando duramente não sorrir, mas seus lábios se

contorceram.

“Pare com isso,” Ty murmurou para ele, enquanto tentava comer o queijo grudado em

seu dedo.

Zane cuidadosamente manteve a fachada em seu rosto, embora seus olhos estivessem

brilhantes. Zane levando a melhor sobre Ty era tão raro, que ele não poderia deixar isso passar,

pelo menos ainda não. “Avise-me se você não vai conseguir lidar com algo quente e picante,” ele

brincou, dando outra mordida da vara de queijo quente, provavelmente, estava brincando com a

sua sorte, mas, inferno se isso não era bom.

“Outro trocadilho ruim, e eu vou bater em você,” Ty advertiu.

Zane não pode resistir. “Como você pode saber se eu não gostaria?”

Ty olhou para ele, ponderando essa pergunta com os olhos apertados, revendo a

persistência de Zane nessa luta, o telefone celular em seu quadril começou a tocar exigente,

provavelmente, salvando Zane de outro gancho de esquerda no queixo.

Ty pegou o celular no cinto e olhou na tela, amaldiçoou quando abriu o telefone. “É

sobre a porra do tempo,” ele reclamou ao telefone enquanto colocava o prato na mesa. “É o Steve

número um, ou Steve número dois?” perguntou ao detetive na linha sarcasticamente.

“Hey,” o homem do outro lado da chamada protestou. “Estávamos apenas entrando em

contato com vocês seu merda, não comece comigo.”

231
“Temos pares adequados de saltos para estes malditos dias!” Ty gritou enquanto Zane

empurrava o seu prato e se levantava para ir ao banheiro.

“Não é a minha culpa que a porra dos garotos do governo precisa de alguém para

segurar seus paus para vocês,” o detetive Steve Pierce castigou. “Em quanto tempo você pode

chegar aqui?”

“Dê-me uns trinta,” Ty gemeu quando empurrou o seu próprio prato e olhou para o

banheiro, ouvindo a água correr. “Não, dê-nos uma hora,” corrigiu, enquanto tentava calcular o

tráfego. Levantou-se e começou a tirar os sapatos, quando Zane retornou para o quarto.

Ty trocou mais algumas palavras com o detetive Pierce, e, em seguida, terminou a

chamada, se jogando de volta em sua cama com um longo gemido sincero.

“Então, será que eles sequer sabem que estamos aqui?” Zane perguntou

conscientemente.

“Disseram que descobriram esta manhã,” respondeu Ty em dúvida. “Estou realmente

começando a me sentir como um salmão daqui...”

“Nadando contra a corrente? Sim, entendo esse sentimento também,” Zane concordou

enquanto colocava uma camisa cinza clara; deu uma boa olhada em Ty, e percebeu que ele

parecia cansado. “Você parece exausto,” disse francamente. Ele não tinha notado antes, mas Ty

tinha o olhar de um homem, que estava queimando ambas as extremidades da vela. “Você não

conseguiu dormir bem?” ele perguntou, preocupado.

“Não tome a minha insônia pessoalmente,” Ty respondeu ironicamente. “Eu não sei.”

Zane olhou para cima. “Insônia.” Ele franziu a testa e voltou para as suas botas.

“Desculpe,” ele disse secamente. “Já ouvi falar que é uma porcaria.”

“O que foi?” Ty cutucou quando viu a reação dele.

“O quê?” Zane perguntou, sem levantar os olhos do laço.

“Que olhar é esse?” Ty perguntou defensivamente.

232
Zane afastou os nervos ameaçadores e apertou o cerco contra a sua reação emocional,

que veio à superfície rápido demais para o seu gosto.

“Não havia nenhum olhar,” disse teimosamente.

“Besteira,” Ty bufou quando se sentou e inclinou-se para trás, apoiado em suas mãos.

Zane terminou de amarrar um sapato e começou o segundo, deliberadamente não

olhando para Ty. Ele não iria ficar para trás em nada, e finalmente tinha conseguido de Ty uma

convivência um pouco mais humana. De jeito nenhum ele iria estragar isso. Zane já se sentia

totalmente fora de ordem, algo que ele gostaria muito de culpar o outro homem, e seu

autocontrole por vezes era trêmulo. Ele odiava se sentir instável. Recordava-lhe muito de seu

passado.

Ty pegou um travesseiro e o atirou, atingindo-o no topo da cabeça, quando ele se

inclinou. Zane fechou os olhos e rosnou perigosa e profundamente em sua garganta. Ok, talvez

uma condição humana fosse um ligeiro exagero.

Ele continuou atando seus sapatos. A próxima coisa que ele previa, seria Ty o acusando

de não comer novamente.

“Tudo bem,” Ty suspirou rolando seus olhos quando levantou da cama. “Você quer ter

uma úlcera em aos quarenta anos, seja meu convidado,” ele resmungou.

“Foda-se,” Zane murmurou, ele não teve uma úlcera por algum milagre, mas não se

lembrava de seu quadragésimo aniversário; na verdade, nem tinha certeza se lembrava de

qualquer um. Inclinou-se sobre seus joelhos e fechou os olhos com a cabeça baixa. Zane desejava

não se lembrar dos sonhos horríveis de cortar o coração, que o tinha atormentado depois que

Becky morreu, e certamente não queria tentar explicar como desejava e como já desejou ter

algum tipo de insônia, para evitá-los.

“Oh, Cristo, de novo não Garrett,” Ty murmurou exasperado. “Realmente?” ele

perguntou incrédulo. “Precisamos arrumar um psiquiatra para você?”

233
Com a raiva queimando, Zane se levantou abruptamente. “Não existe nenhum maltido

psiquiatra que pode me ajudar neste momento, seu idiota; você quer saber o que eu estava

pensando? Estava pensando que houve noites em que teria recebido a insônia com uma bênção,

agora, acabe com essa porra de orquestra e se vista, para que possamos sair daqui.”

“Idiota,” Ty vaiou depreciativamente. “Você está tão acostumado a correr e se esconder

de seus problemas, que você não pode colocar sua cabeça para fora de sua bunda, você está

deixando o seu passado controlar a sua vida, e eu estou ficando cansado disso, porra.”

“Eu suponho que você tenha todas as respostas, Dr. Grady? Tem alguma dica brilhante

nesse seu manual de bolso bem agradável e brilhante? Você não tem idéia do que eu tenho no

meu passado para lidar,” Zane rosnou.

“E eu não quero saber,” afirmou Ty sem compaixão. “Passado é passado por uma razão.”

“E alguns de nós teve algo bom o suficiente em algum ponto, para querer se lembrar,

apesar de todos os pesadelos,” Zane retrucou. “Até que você entenda o que significa ter a sua

cabeça colocada em um maldito liquidificador, enquanto você tenta ficar com algo precioso,

então pare de me dar esta merda.”

Ty olhou boquiaberto para o homem, perguntando se ele ainda tinha o direito de trazer

para o hoje, todas as noites no inferno que ele e seus companheiros do Recon passaram por ao

longo dos anos.

Zane sabia dos tipos de sonhos que teve, e não poderia estar reclamando tanto.

Finalmente, decidiu que esse argumento era estúpido e não era digno de trazê-lo à tona, e acabou

acenando com a mão, em desdém. Zane piscou quando Ty explodiu com ele. “Seu grande

fodido,” murmurou, virando-se para começar a empurrar suas coisas nos bolsos. Estava

trabalhando com um idiota emocionalmente atrofiado. Pensar sobre isso, explicava muita coisa.

Zane teve de engolir a raiva residual, pois, não se atreveria a fazer com que o outro homem

sentisse pena dele.

234
Ty se arrumou rapidamente, pois não queria se atrasar até o edifício federal, ficou na

frente do espelho do banheiro e balançou a cabeça com raiva, resmungando para si mesmo. Zane

estava começando a irritá-lo novamente. O que era bom supôs. Isso significava que a vontade de

lambê-lo todo estava passando, pelo menos. Respirou fundo, voltou para quarto, e pegou a sua

jaqueta de couro. Zane estava na janela, de braços cruzados, olhando para o nada, perdido em

pensamentos.

“Perdido em pensamentos, eu vejo,” Ty observou com ironia, passando a mão em seu

peito, para ter certeza que não estava fazendo muito volume as suas armas, antes de colocar a sua

jaqueta. “Melhor do que ficar sempre se lamentando, eu acho.”

Zane ficou em silêncio por um momento antes de grunhir e se mover até a mesa, para

começar a empilhar as pastas. “Sim, bem, acho que você não transou o suficiente comigo pare se

lamentar de algo,” ele murmurou.

“Vai demorar mais, mais do que poderia esperar,” Ty atirou de volta, reunindo o seu

distintivo e carteira.

Balançando a cabeça, Zane ficou em silêncio novamente. Ele não podia manter o

argumento que tinha a intenção de se comportar corretamente no trabalho.

Tudo o que levaria, seria uma boa reclamação de Burns, sobre a sua falta de

profissionalismo. E por mais que os policiais locais odiassem os federais, Zane não queria correr

nenhum risco. Ele empurrou vários arquivos em uma pasta de lona e, em seguida, pegou sua

arma.

Ia ser um longo dia de merda.

235
Capítulo 08

O olhar do detetive Steve Pierce deslizou de seu parceiro de volta para Zane. “Nós

estivemos neste caso desde o início, outra pessoa não pode lhe dar mais informações, e não temos

nenhuma, converse com o médico legista, talvez, ou aquela senhora de perfis, Scott.”

“Já falamos com a Scott,” Ty disse com um franzir de seu lábio. “Não quero saber o que

aconteceu, queremos saber o que pensam, aqui está a sua grande chance de nos mostrar, que

vocês realmente têm algumas sinapses.”

O detetive se inclinou para trás em sua cadeira, com os olhos cintilando de Ty para Zane,

sentado à mesa com ele. Ele cruzou os braços e olhou para eles teimosamente em silêncio.

Os olhos de Zane se estreitaram ainda que levemente, e ele desviou o olhar de Pierce,

para abordar Holleman. “Você já esteve em todas as cenas, certamente você tem algum tipo de

sentimento trabalhado em relação a tudo isso.”

Ty revirou os olhos e olhou para o lado, sua atenção vagando para os cartazes de

procurados nas paredes. Ele desprezava esses homens. Policiais que ele gostava, eram poucos. Às

vezes, ele pensava que teria sido melhor ser um policial do que um Fed.

Mas estes dois homens, em particular, eram paus completos.

“Você quer ouvir o meu sentimento?” Holleman respondeu com hostilidade. “Meu

sentimento é que você e as outras pessoas de sua central estão mais preocupadas com as suas

reuniões e papeladas, e você está desperdiçando o nosso tempo com isso. Poderíamos estar lá

fora agora mesmo trabalhando.”

“Sim, você tem feito um excelente trabalho até agora, Steve,” Ty falou lentamente, sem

desviar o olhar do cartaz mais próximo.

236
Zane teria rido se não estivesse tão irritado. Estes dois idiotas os estavam empurrando

por quase uma hora, e agora, faziam comentários sarcásticos sobre as vítimas e até mesmo

comentários ofensivo sobre as operações do FBI. “A única razão pela qual estamos nesta reunião

é tentar obter alguma ajuda, como Pierce disse, vocês estiveram aqui o tempo todo, ninguém sabe

mais sobre o caso, quanto mais cedo você terminarem de nos encher, mais cedo todos nós

estaremos lá fora.”

Pierce sorriu presunçosamente. “Tudo bem então, vou dar-lhes o resumo, alguns destes

casos são em série, com certeza, mas nem todos, como poderemos contribuir para uma visão

geral?”

“Quais você acha que não são os crimes em série?” Ty exigiu.

“O viciado em drogas, por exemplo, a prostituta com certeza e as outras duas meninas

companheiras de quarto. Nós fizemos algumas escavações e acontece que as garotas não tem

nada em comum com o serial,” disse Pierce a eles.

A mão que Zane tinha na coxa em baixo da mesa fechou em um punho esbranquiçado.

“É mesmo?” ele perguntou, com a voz enganosamente calma. Os comentários anteriores sobre as

vítimas foram ruim o bastante, e isso já era o suficiente para fazer o sangue ferver de Zane.

“E daí?” Ty perguntou indiferente, sem registrar a irritação de seu parceiro. “Elas não

tem nada em comum com a sua mãe, mas ninguém tingiu o cabelo dela de roxo e a sufocou.”

O rosto de Pierce se torceu. “Idiota,” ele rosnou. “Elas tem algo em comum, como

quaisquer meninas de faculdade que se prezem deveriam,” ele insistiu.

“Cristo,” Ty riu incrédulo. “Você já andou em algum campus universitário

ultimamente?” ele perguntou.

“Achamos que foi um encontro casual,” continuou Pierce, implacável “E apenas pegaram

o cara errado para levarem para casa.”

237
“O que faz você pensar que estavam juntas?” Ty perguntou quando se inclinou para frente

e inclinou a cabeça.

“Lista de clientes,” resmungou Pierce.

“Também conhecido como um caderno de endereços?” Ty perguntou ironicamente.

“Foda-se, Grady,” Pierce rosnou.

Zane podia sentir a fúria agitando seu estômago, assim como seus dentes rangendo. Ele

dirigiu sua pergunta a Holleman. “Tem certeza que você não quer adicionar algo construtivo

para essa conversa, para oh..., não sei fazer valer mais do que um desperdício de oxigênio?”

“Ao contrário dos pombinhos, meu parceiro e eu concordamos com essas teorias,”

Holleman respondeu calmamente.

“Então,” Ty disse alto, quando se inclinou para frente em seu assento. “Você decidiu que

os dois agentes foram enganchando, isso é maravilhoso. Você percebeu isso imediatamente ou

você tentou acompanhar o seu círculo relativamente pequeno de “clientes ocasionais,” como você

os chama, e incluiu uma referência cruzada, feita com todos os conhecidos das vítimas?” ele

perguntou incisivamente.

“Desperdício de tempo,” Pierce insistiu. “Esses casos relacionados ao serial, tem um elo

muito fino de merda os mantendo juntos, e este caso das meninas, obviamente, pareceu um

encontro mal sucedido; foram encontradas quinquilharias de plástico, quero dizer, vamos lá,

provavelmente esse cara tem seus admiradores, um imitador, e pegou uma prostituta qualquer.”

“Um imitador?” Ty repetiu com um sorriso predatório. “Quer dizer que você lançou esse

detalhe para o público? Que ele deixa pequenos objetos sem sentido com as suas vítimas?” ele

falou com conhecimento de causa.

Pierce parou no meio da respiração. “Eu não disse isso,” ele latiu.

238
“Na verdade, sim, que você fez,” Zane retrucou incapaz de ficar quieto por mais tempo.

“Assim como você disse que explodiu o procedimento comum para conectar casos de

assassinato.”

“Foda-se, Garrett, você não tem idéia dos procedimentos que requerem o NYPD.” Pierce

agarrou.

“Sim, ter o QI quarenta, provavelmente ajuda,” Ty indicou em diversão.

Holleman estendeu a mão e olhou para eles. “Calem a boca, espertinhos, as fichas não

foram liberados para o público em geral, tudo bem?” disse-lhes.

“Pelo menos você fez algo inteligente,” Zane murmurou, ele sabia que estava perdendo

rapidamente a preensão de seu temperamento.

“Fizemos coisas melhores do que você dois, seus idiotas, tentando se assenhorear das

coisas daqui, nesta torre de marfim,” Pierce rosnou para Ty. “Se você e esse seu manuseador de

papeis aqui, saissem com a gente para ver uma cena de crime na rua, eu provavelmente teria um

ataque cardíaco e morreria.”

“Promete?” Ty respondeu calmamente. Em contraste com os outros homens, Ty parecia

realmente estar gostando da reunião, o que estava deixando os dois detetives ainda mais

irritados. “Olha, apesar do fato de sermos dois idiotas, e eu particularmente, estar entediado,

estamos todos trabalhando para a mesma coisa aqui. Você pode providenciar para nós vermos

mais algumas cenas, e vamos considerar a sua teoria sobre um imitador,” ele mediava. “Mesmo

que seja uma teoria estúpida,” acrescentou depois de uma breve pausa.

Pierce olhou para os dois homens na sua frente antes de responder. “Você sabe Grady?

Você é ainda mais irritante do que me lembro; você deixa Garrett aqui, parecer como uma porra

de um passeio no parque,” disse, quase agradavelmente. “A Secretaria teve que cavar bem

fundo, eu acho, você quer ver as cenas? Você atravessa o escritório do chefe e pode pedir acesso

como todo mundo.” Holleman suspirou um pouco, sacudindo a cabeça e fechando os olhos.

239
“Olha, mesmo se pudéssemos conceder-lhe pessoalmente o acesso, infelizmente, não

podemos,” ele teve o cuidado de informar aos agentes do FBI, e Pierce cresceu mais e mais, de

forma bem rabugenta, “Todas as cenas estão sendo liberadas, não há mais nada para se analisar.”

Seu parceiro teimoso recostou-se, parecendo que estava mastigando um limão.

“Não há mais nada para você ver,” Ty corrigido com um sorriso agradável.

“Você não pode me dizer que acha que têm alguma habilidade especial ou merda assim,

para deixá-lo recriar uma cena maldita de assassinato, semanas ou meses mais tarde.” Pierce

zombou, seu ceticismo era claro.

“Ele tem habilidades que você não poderia aprender mesmo que estivesse com um ferro

quente de marcar gado na sua bunda,” disse Zane, o temperamento em ebulição.

Ty olhou para Zane, mas permaneceu em silêncio, estava um pouco surpreso ao ouvir

Zane defendê-lo, e um pouco lisonjeado, mas não queria que Zane rompesse, não aqui.

“Oh, que tocante,” disse Pierce, com uma risada incitada. “Não tenho razão para gostar

de você, Garrett, muito menos confiar em você e em seu parceiro qualificado; vocês dois Feebs,

chegam aqui, como Anjos do Inferno esperando pegar nossos casos e magicamente resolvê-los.

Bem, estou chamando de blefe. Sem acesso a cenas, sem boa vontade, e sem partilhamento de

informações, e se vocês querem afugentar e tentar encontrar com quem essas meninas estavam

transando, podem fazê-lo sem a gente.”

Com a sua pressão arterial aumentando vertiginosamente, Zane se levantou tão rápido,

que a sua cadeira tombou para trás e bateu no chão. “Preciso de um pouco de ar fresco,” ele

murmurou, enquanto passava pelos detetives até a porta e saiu, batendo com força a porta atrás

dele.

Holleman observou o homem sair como uma tempestade porta a fora e, em seguida,

virou-se para Ty com uma sobrancelha levantada. “Nunca pensei que veria o dia em que você

seria a parte calma da equação,” observou divertido.

240
“Sim, bem, sou uma pessoa calma, e você é o único inteligente aqui,” Ty suspirou

enquanto se levantava lentamente. “Sim, em Virgínia, existe Papai Noel.”

Pierce se sentou com um sorriso satisfeito. “O que você fez para ficar com essa porra de

roupa?” ele perguntou Ty.

Ty caminhou ao redor da mesa lentamente, com as mãos nos bolsos, como se estivesse à

toa vagando pela sala, parou atrás da cadeira de Pierce e se inclinou na direção dele, colocando a

mão não tão amigável em seu ombro. O homem ficou tenso, nervoso, virando um pouco a

cabeça, como se esperasse que Ty fosse realmente feri-lo. “Verei vocês mais tarde,” Ty falou

lentamente, com a voz baixa e amigável, antes de endireitar a postura e sair da sala.

Pierce relaxou e deu um pequeno suspiro, balançando a cabeça em aborrecimento.

Assim que Ty fechou a porta atrás dele, Holleman virou-se na cadeira e olhou para

Pierce. “Eu sei que é divertido irritá-los, mas Cristo, o homem parece um inferno!” afirmou.

Pierce bufou e concordou com o seu parceiro. “Eles precisavam ser derrubados desse

pedestal deles e seguirem adiante, mas, pelo menos não temos que nos preocupar com uma

investigação séria desses Feebs.”

Holleman franziu a testa e balançou a cabeça. “Não sei, Grady pareceu não dar a mínima,

mas Garrett parecia bem... para ele.”

Fazendo uma pausa, Pierce olhou para o seu parceiro. “Não deixe ele te enganar, tive um

resumo de Serena Scott, Garrett costumava ser um pouco útil, mas agora ele está com um

histórico ruim e embaralhado, ele provavelmente está amparado por alguém em DC.”

“Ou ele fodeu com Serena e fugiu, e ela ficou chateada,” Holleman apontou com

diversão. “Olha, seja o que for eu não sei quanto a você, mas, estou mais do que feliz em entregar

este crime para eles, vamos deixá-los perseguir suas caudas com este caso, assim, poderemos

voltar para o nosso trabalho de verdade.”

241
“Mas eles estão com casos em nosso quintal, e eu não quero que eles fiquem ai fora

brincando,” Pierce insistiu.

Holleman franziu a testa ligeiramente. “Por que não?” Ele perguntou curiosamente; os

ombros de Pierce endureceram, e seu rosto escureceu. “‘Porque esses Feebs não pertencem para o

trabalho de rua, eles fazem as coisas parecerem ruins, é por isso; e Garrett é um idiota.”

“Então é isso,” Holleman riu com carinho. “Vamos! Estou com fome.” Pierce murmurou

baixinho e seguiu o seu parceiro para fora.

Zane abriu a porta da sala de leitura, batendo-a contra a parede, enquanto espreitava o

seu interior, imediatamente pegou seus cigarros e acendeu as luzes. Nenhuma política maldita

contra fumar aqui, pensou sombriamente. Depois de um dia de cão, ele achou que merecia algo

desse tipo, para não ficar totalmente fora do ar.

Após o primeiro cigarro, ele parou por um tempo suficiente, até acender outro e chutou

forte uma cadeira, enviando-a ruidosamente pela sala.

Ty estava levando o seu próprio tempo, visivelmente irritado, o suficiente para que as

pessoas saíssem do seu caminho, enquanto caminhava pelos corredores. Ele abriu a porta da sala

de leitura, o único lugar que ele já conhecia só de olhar, e a tempo de ver a pequena birra em

silêncio de seu parceiro.

“O que diabos você quer?” Zane rosnou enquanto jogava as cinzas no tapete industrial,

ele não queria ser educado com Ty, nem sequer civilizado.

“Qual é o seu problema?” Ty pediu com calma, deslizando as mãos nos bolsos da calça

cáqui, encostado na porta.

Zane virou as costas para Ty e ficou olhando o quadro branco. Algumas de suas notas

ainda estavam escritas desde o dia em que o computador explodiu, ele acalmou-se à força e

conteve a raiva e a frustração. “Eles são uns idiotas, esse é o problema.”

242
“Eu vou dizer para eles irem brincar em outra caixa de areia, então,” Ty respondeu

ironicamente.

“Eles não deveriam ficar com esse ar tão blasé e indiferente, e sugerir que as duas jovens

deliberadamente atraíram o assassino para a casa delas para sexo,” Zane cuspiu.

“É assim que eles estão programados para pensar,” Ty respondeu com uma voz paciente.

O som invulgarmente calmo da voz de Ty fez o truque, contra a vontade de Zane, porque

ele realmente queria ficar com raiva, e ter o calor drenado para fora dele, sendo substituído por

um frio oco. “Eu só ficava pensando,” ele disse em voz baixa. “Em como aquelas meninas

deveriam ter ficado assustadas, e eles aqui, sentados, rindo e fazendo graça, enquanto o

desgraçado está lá fora, provavelmente escolhendo sua próxima vítima.” Ele agitou um pouco a

cabeça, dando outra longa tragada no cigarro.

“Espere até que ele mate alguns homens de uniforme azul, e logo em seguida, eles

estarão por toda parte,” Ty respondeu no mesmo tom calmo e quase indiferente.

Zane bufou e balançou a cabeça, dando outra longa tragada. “Eles disseram alguma coisa

depois que eu saí?”

“Nada sobre você,” respondeu Ty em breve. Olhando por cima do ombro, Zane levantou

uma sobrancelha questionadora. Ty simplesmente encolheu os ombros com negligência, deu

meia volta como se estivesse indo embora. “Comida.”

Apertando os dentes, Zane deixou cair o cigarro e o triturou com o seu sapato no carpete,

levantou e seguiu Ty, mastigando seu aborrecimento e tentando enfiá-lo onde o sol não brilhava

para que pudesse voltar a ser o Srº FBI novamente. Ele não estava muito certo de que seria muito

bem sucedido.

Ty andava facilmente pelo corredor e olhou por cima do ombro, como se sentisse que

Zane o alcançava. “Eles gostam de ficar em seu papo, sabe,” aconselhou neutro.

243
“Sim,” Zane murmurou. “Eu costumava ser melhor nisso, estou ficando fora de meu

próprio jogo.”

“Não me diga,” Ty respondeu com ironia.

Zane de repente sorriu. “Vai se foder.”

“Se sente nele e de uma rodada,” Ty atirou de volta enquanto passava pelas portas de

segurança.

“Mais recentemente o seu estilo,” Zane atacou.

Ty parou, então bufou e sorriu levemente. “Tenho que admitir,” ele riu bem-humorado.

Zane riu cheio de alívio depois do dia estressante, e pegou as chaves do carro. “Tem

mesmo, estou logo atrás,” ele disse, dando de ombros e apertou o botão do alarme quando eles se

aproximaram da garagem.

Alguns momentos depois, e a poucos passos do carro, acorreu uma explosão na frente

deles.

A bomba acionou uma cadeia de reações em Ty, que observava tudo, como se fosse uma

espécie separada de seu corpo, “Eu acho que meu braço está pegando fogo,” pensou antes de bater no

concreto. Alarmes de carros começaram a serem acionados, borrifadores de água foram armados

por causa da fumaça e do fogo, quando as chamas da destruição do carro lamberam o teto de

cimento, os alarmes soaram no interior do edifício do governo por trás deles, e pedaços de

plástico e metal retorcidos em chamas choviam em meio à fumaça. Em breve, eles ouviram

passos batendo no cimento e gritos de vozes e Ty não reconheceu quando as sirenes começaram a

soar na distância.

Zane balançou a cabeça enquanto se sentava. “Foda-se! Isso é um inferno muito pior,” ele

murmurou quando se virou para o lado e olhar para Ty, deitado de costas.

“Você está bem?”

244
Tudo que Ty poderia fazer para responder era fechar os olhos e deixar a cabeça rolar

para o lado. O couro grosso de sua jaqueta salvou seu braço de um pedaço de estilhaços

fumegantes e cheirava a vaca em chamas. Ele não conseguia formar palavras ou pensamentos.

“Merda, quem decidiu que iríamos revezar?” Zane arrancou o couro no braço de Ty; que

parecia ter sobrevivido, apesar de ter sido queimado, deslizou um braço sob as costas de Ty e

ajudou-o a sentar-se. “Eu estou pensando em dar a mesma desaparecida como no outro dia, pode

ser uma boa ideia,” ele insistiu. “Esse era o nosso carro.”

Ty ficou olhando para o veículo em chamas, quando o sangue começou a escorrer por

seu pescoço, ele estremeceu e abaixou a cabeça. “Ajude-me,” ele pediu com voz rouca.

Zane assentiu e ficou de pé antes de agachar para ajudar Ty, e ele viu o sangue. “Ty?

Você bateu sua cabeça? Algo bateu em você?”

Ty virou a cabeça obedientemente para Zane o olhar e fechou os olhos, tremendo de

novo. O sangue já emaranhava o seu cabelo e cobria toda a parte de trás do seu pescoço.

Os lábios de Zane se comprimiram, e ele pegou o braço de Ty. “Vamos lá,” ele disse,

puxando Ty em direção à escada lateral, para longe da garagem, onde apareceriam, assim como

eles vieram, para investigar. O fato de que Ty não protestou por ser levado para qualquer lugar,

deveria ter causado mais preocupação em Zane. O homem ferido praticamente manteve os olhos

fechados enquanto se moviam. Era óbvio qua a sua cabeça que estava confusa, e o sangue fluía

livremente para baixo de seu pescoço, por sob o colarinho e pelas costas.

Zane os levou para dentro da escada, onde deixou Ty contra a parede para olhar para

trás, através da pequena janela, quando os agentes invadiram a garagem, gritando e circulando.

Franzindo a testa, ele colocou o braço de Ty por cima de seu ombro e acompanhou-o para descer

as escadas até o andar térreo. Ele ajudou Ty se sentar no primeiro degrau e tocou em seu rosto,

tentando chamar a atenção dele. “Ty? Fique aqui! Eu vou arrumar um carro, ok?”

245
Ty pigarreou e piscou para Zane, estreitando os olhos. “Acho que poderia precisar de um

médico, cara,” ele murmurou lentamente.

“Vou levá-lo para uma sala de emergência, sem outros agentes ao redor, fique aqui, ok?”

Zane disse atentamente, segurando o queixo de Ty.

“Sim,” murmurou Ty, com medo de acenar com a cabeça e ela girar mais rápido.

Zane se moveu rapidamente, com um propósito, não fazendo qualquer pretensão de se

esconder. O funcionário na guarita tinha saído; assim Zane pegou a primeira chave que viu,

apertou o botão da trava e viu os faróis de um SUV piscando de tamanho médio. Logo, ele o

trouxe até a escada e saiu para pegar Ty. Quando ele voltou para a escada, encontrou Ty na

escada onde ele o deixou quanse inconsciente.

Tim Henninger se agachou ao lado de Ty, com a mão em seu ombro, apoiando-o. O

agente mais novo ainda estava enfaixado, por conta da explosão na sala de registros, com o rosto

e os braços com alguns cortes e costurado em alguns lugares. Sua cabeça estava abaixada,

tentando olhar para o rosto de Ty enquanto ele deslizava a mão no casaco, aparentemente para

pegar um telefone para pedir ajuda.

Henninger se virou rápido, quando a porta se abriu, tenso, e depois relaxou um pouco

quando viu Zane, que parou no lugar, com os olhos apertados.

“Henninger, vamos sair daqui,” ele disse, quando se ajoelhou na frente de Ty e deslizou

o braço sob o seu parceiro. O movimento pareceu despertar Ty ligeiramente, e sua mão agarrou a

jaqueta de Zane. “Mantenha a boca fechada sobre isso.”

“Mas que merda!?” Henninger questionou. “Olha, ele está machucado, por que não

chamamos os paramédicos aqui e...”.

“Porque é muito arriscado, vou levá-lo para uma sala de emergência, agora, você vai

ajudar ou não?” Zane perguntou em um tom que não admitia resposta contraria a dele, enquanto

ajudava Ty se levantar, preocupado quando Ty nem sequer olhou para ele.

246
“Muito arriscado?” Henninger perguntou enquanto o seguia pela porta. “O que diabos

está errado com vocês dois? Deixe-os tomar conta dele!”

“Não,” disse Zane, enquanto levava Ty para o banco do passageiro. “Você vai até lá e

dizer-lhes que fomos tomar um café e estávamos longe do carro, você entendeu?”

Henninger abriu a porta, a mão a mantendo aberta, até que os nós dos seus dedos

ficaram brancos. “Mas por quê? Eles vão saber que é o seu carro,” ele disse logicamente.

“Sim, e até lá, vamos estar onde ninguém pode chegar até nós,” disse Zene, enquanto

praticamente levantava Ty no banco de trás do SUV.

“Você acha que alguém no departamento está tentando matá-lo?” Henninger perguntou

incrédulo, as sobrancelhas quase em cima de seu couro cabeludo.

“Pode não ser uma má idéia você se esconder por um tempo depois disso, também,”

disse Zane, sem responder à pergunta. “Você estava muito próximo ao computador.”

Henninger empalideceu e repetiu. “Você realmente acha que alguém de dentro está

tentando matá-lo? Mas, isso significa que sabiam o motivo de vocês serem enviados para cá.”

“E agora você vê o problema,” respondeu Zane, fechando a porta com cuidado. Ele se

virou para o outro agente. “Agora garoto, você é a única pessoa em quem confio além dele,”

disse com um movimento de cabeça para Ty, que tinha caído no banco traseiro. “Olha, pode ligar

para o meu telefone celular, uma vez que estivermos distantes com esse carro, e me avise sobre o

que está acontecendo ok? Há, obviamente, alguém infiltrado lá dentro.”

O rosto de Henninger ficou duro quando ele seguiu Zane ao redor do SUV. “Entendi,”

ele murmurou em voz baixa.

Zane assentiu e subiu no SUV. Antes de fechar a porta, ele estendeu a mão, que

Henninger ofereceu. “Cuide de si mesmo e chame Morrison para ficar perto de você.”

247
Henninger assentiu, Zane fechou a porta, ligou o carro e saiu da garagem, deixando

Henninger para trás e cobri-los. Até o momento em que o SUV recebeu a luz do dia, Ty estava

inconsciente.

Levando seu parceiro ensanguentado para a sala de emergência, sem nem sequer

levantar as sobrancelhas, Zane teve que mostrar o seu distintivo, e logo todos se moveram

ocupados e rápidos. Ty recebeu um bom golpe na cabeça; um corte longo e fino que estava

sangrando muito, mas, levou apenas alguns pontos, e algumas pequenas queimaduras e

hematomas logo abaixo do braço. Além do ferimento imprevisível na cabeça, a pior lesão foi em

sua caixa torácica. Nada foi quebrado, mas alguns músculos se contundiram profundamente,

com dolorosos hematomas e escoriações ao longo das costas, que impediriam o seu movimento

por algum tempo; semanas, definitivamente; possivelmente meses, foi o que o médico havia dito

a Zane.

Zane estava sentado em uma cadeira, inclinando, com os cotovelos sobre os joelhos, ao

lado da cama onde Ty estava esparramado ligado a um IV e todos os tipos de equipamentos de

monitoramento. Ele precisava tirá-los daqui em breve. Desde o momento que tinha usado seu

crachá para entrar, teria que de voltar para o escritório, mais cedo ou mais tarde. O médico tinha

insistido em manter Ty durante a noite, para assistir a concussão e ter certeza de que não teria

uma reação adversa, eles haviam mantido Ty acordado até tarde da noite, e ele havia ficado

muito irritadiço, mal-humorado, e muito difícil de lidar, ainda mais do que seu normal. Agora,

ele estava cochilando, e Zane esperava impacientemente o médico.

Olhou para o relógio mais uma vez, e logo o médico entrou, “Ele teve um pouco de

danos internos, um inchaço no crânio que pode incomodá-lo por alguns dias, e uns belos e

grandes hematomas pelo corpo,” o médico comunicou antes de Zane questioná-lo. “Ele

respondeu bem a alguns exames e parece estar indo bem, exceto com a dor. Leve-o para casa,

coloque uma bolsa de gelo sobre ele e fique de olho; o acorde uma ou duas horas antes de dar-lhe

248
os remédios para dor, apenas se precisar, do contrário, não dê as pílulas, estou falando de uma

dor agonizante e se ele estiver se contorcendo,” ele disse severamente. “O mantenha em um

lugar tranqüilo por alguns dias até o inchaço diminuir, um ferimento na cabeça como esse, pode

ficar rapidamente ruim, assim, como disse anteriormente, fique de olho nele; se ele sentir

tonturas, visão turva, tremores, confusão, náuseas e assim por diante, chame uma ambulância;

esse inchaço na cabeça é o pior problema, e isso pode causar alguns problemas de memória,

alguma pergunta?” ele perguntou.

Zane balançou a cabeça em silêncio. “Vou chamar alguém para ajudá-lo, então,” disse o

médico.

Zane já estava de pé, sacudindo a cabeça. “Não, só limpe a sala, e vou nos tirar daqui,”

disse Zane.

O médico franziu a testa e inclinou a cabeça teimosamente. “Ou ele sai daqui em uma

cadeira de rodas de forma ordenada,” ele disse calmamente, “ou ele não sai.”

As narinas de Zane queimaram com raiva. “Eu vou fazer um acordo,” ele ralhou. “Vou

empurrá-lo, e seu enfermeiro pode acompanhar atrás.”

O médico apertou os olhos e balançou a cabeça, tirou o IV de Ty, e contornou a cortina

para começar a papelada.

Zane tentaria fazer uma fuga rápida; sacudiu o ombro de Ty levemente, curvando-se

perto do ouvido do outro homem. “Ty? Você quer acordar, para que possamos sair daqui?”

Ty virou a cabeça ligeiramente, sua testa empurrou o queixo de Zane enquanto ele gemia

em resposta. “Só me deixe aqui com as drogas.”

Zane riu, ele sabia que não tinham dado a Ty nada para a dor, por causa da concussão,

mas, Ty não saberia diferenciar nada do jeito que estava. “Eu tenho um bolso cheio de drogas

para mantê-lo feliz,” Zane cantava para ele. “Vamos lá garotão.” Ele deslizou o braço sob os

ombros de Ty e começou a levantá-lo lentamente para a posição sentada.

249
Ty deu um tapa nele e tremeu quando sua cabeça latejou. “Tem certeza que é bom me

mover daqui?” ele perguntou duvidosamente quando balançou as pernas para fora do leito. Ele

geralmente não ficava muito incomodado com lesões, mas uma pancada na cabeça e perda de

tempo, o incomodava. Ele não conseguia se lembrar de nada, desde o momento que saiu das

portas do edifício Federal, até que acordou no hospital. “Pare de me tocar,” ele murmurou com

um golpe fraco nas mãos de Zane. “Não acha que deveria ser uma bonita enfermeira para me

tirar da cama? Acho que você assustou os médicos para me liberarem,” ele acusou, quando um

enfermeiro entrou com uma cadeira de rodas.

“Claro que assustei, porque eu sou um cara grande e assustador,” Zane disse com uma

nota de orgulho.

“Isso não é inteiramente uma coisa boa,” Ty resmungou enquanto Zane cuidadosamente

o colocava na cadeira de rodas. Ele já tinha visto homens tentarem recusar a saída de um

hoapital, em uma cadeira de rodas. A maioria eram uns idiotas machistas, e muitos deles

acabaram encontrando o chão, por conta de seus problemas de saúde. Ty não reconhecia o ponto,

e mesmo que fosse desse tipo de homem, ele sabia que não poderia andar em linha reta agora de

qualquer maneira.

Zane riu quando se postou ao lado da cadeira, sua insistência em empurrá-la, foi

dissolvida, assim que Ty começou a falar, embora ele mantivesse um olho afiado sobre seu

entorno, apenas no caso. Eles saíram pelos fundos do hospital, onde o manobrista já havia

manobrado o SUV antecipadamente, para acomodar Ty. “Repouso e gelo para você hoje à noite,”

disse a Ty, quando o ajudou em seu assento.

“Gelo,” Ty zombou. “Um bloco de gelo de merda, isso é tudo que eu vou ter?” ele

perguntou incrédulo. “Tenho uma ferida grave na cabeça,” ele insistiu, com um gesto para a

parte de trás de sua cabeça e um olhar ofendido. “Preciso de pelo menos um banho de esponja.”

250
“Você quase não levou pontos, seu grande bebê,” disse Zane quando estendeu a mão

para ajudar com o cinto de segurança de Ty, uma vez que fecharam a porta.

“Sinto como se meu cérebro estivesse vazando pelos meus ouvidos,” Ty resmungou

enquanto observava as mãos de Zane. “Eu realmente tenho que ser apertado assim?” ele

perguntou com algum divertimento.

“Sim, tem,” Zane disse obstinadamente. Ele afivelou o próprio cinto e foi embora do

hospital; ignorou o hotel que estava hospedado, e se encaminharam para uma quadra

ligeiramente luxuosa.

“Novas acomodações?” Ty perguntou, enquanto observava a paisagem passar. Ele fez

uma careta e virou a cabeça para longe da janela.

“Mais ou menos, acho que há ainda um quarto de luxo reservado para nós, com os

nossos nomes neles, penso que ninguém pensaria em procurar por nós lá agora,” disse Zane.

Ty acenou distraidamente. “Bem pensado,” ele murmurou. “Não há haverá mais novos

quartos com os nossos nomes para dar a ninguém mais chumbo.”

Zane assentiu quase desapontado quando sua previsão não teve mais nenhuma reação

de Ty. “Vou pegar as nossas coisas depois de escurecer enquanto você descansa,” ele disse,

parando em uma vaga de estacionamento na garagem do hotel.

“Não deveria ir sozinho,” lembrou Ty, embora sua voz ainda tivesse o tom ligeiramente

desfocado.

“Vou ter cuidado, agora vamos,” disse Zane, depois que estacionou e desligou a ignição.

“Você precisa ficar horizontal.”

“Não é a melhor cantada que eu já ouvi, mas vai contar por agora,” Ty respondeu, com a

voz mais leve, novamente, ainda um pouco grogue.

Zane andou ao lado de Ty, o amparando em direção à recepção do Tribeca Grand, foi

uma caminhada lenta e cuidadosa, Ty estava se movendo e olhando em volta de seu entorno; ele

251
se arrastava lentamente, e o fazia parecer como o personagem de Rainman e Zane teve que lutar

muito para não rir da imagem.

Logo, Zane estava levando Ty para o elevador, passaram por vários andares e entraram

em um corredor ricamente decorado, onde Zane abriu a porta para uma suíte executiva.

“Boas acomodações,” Ty murmurou quando parou na entrada do quarto minimalista e

estreitou os olhos. “O Bureau pagou tudo isso para nós?” perguntou enquanto olhava para o

quarto.

Zane jogou os cartões-chave sobre a mesa baixa de madeira, que estava na frente de um

sofá estofado branco. “Por que você não vai se deitar um pouco, e eu vou pegar um pouco de

gelo para essa contusão, e alguns comprimidos de codeína, se quiser, o médico disse que estava

tudo bem em tomar alguns analgésicos depois de algumas horas.”

Ty engoliu enquanto olhava ao redor, antes de finalmente encontrando os olhos de Zane.

“Eu prefiro estar bem lúcido quando pegar as nossas coisas.” Zane manteve o olhar em Ty por

um longo momento, então balançou a cabeça lentamente. “Certo, vá em frente,” ele acenou com a

cabeça em direção ao quarto e pegou o balde de gelo, indo para fora da porta com o cartão-chave

na mão, fechando a porta atrás dele.

Assim que a porta fechou, Ty cuidadosamente passou a mão na parte de trás de sua

cabeça e cautelosamente cutucou o que parecia ser um ovo de ganso. Ele fez uma careta quando a

dor se lançou através de sua cabeça, e quando baixou novamente sua mão, ele estava tremendo

um pouco de dor. Lentamente, fez o seu caminho até a cama, deitou e se enterrou sob as camadas

de lençóis cor de chocolate macio, e admitiu a derrota do dia.

Apenas alguns minutos depois, Zane voltou. Fechou, bloqueou e trancou a porta antes de

tirar o paletó, as facas e as armas; encheu o saco plástico pesado que veio com o balde meio cheio

de gelo e cuidadosamente triturou o gelo sobre o tapete, não fazendo muito barulho, envolveu-o

em uma toalha e foi para o quarto. Ty estava obviamente sob os lençóis e cobertores de alta

252
contagem de fios. Deixou o saco de gelo de lado, e Zane começou a afastar as camadas de lençóis.

Um gemido suave encontrou seus esforços, e, finalmente, ele descobriu que Ty não tinha se dado

ao trabalho de tirar o paletó.

“Ty,” Zane suspirou baixinho, Ty parecia miserável.

“Vamos, sente-se e tire algumas roupas, você vai sentir um inferno mais confortável.” Ele

ajudou Ty sentar-se e começou a retirar o casaco arruinado primeiro.

Ty bufou e gemeu baixinho quando a jaqueta foi removida, com o braço dolorido e as

costelas protestando. “Quer tirar o resto?” Zane perguntou baixinho quando se sentou ao lado de

Ty.

“Foda-se,” Ty gemeu. “Deixe-me ficar miserável, ok?” ele pediu irritado.

“Tudo bem,” disse Zane suavemente. “Deite-se e fique de costas ok,” ele disse sorrindo

um pouco.

“Cale a boca,” Ty xingou, mas, obedeceu prontamente. Zane não respondeu a farpa,

apenas pegou o bloco de gelo e o colocou cuidadosamente sobre a área inchada na parte de trás

do crânio de Ty e o manteve lá. O cabelo ainda estava com sangue seco e Ty assobiou em sinal de

protesto e fechou os olhos, tremendo duramente.

Zane esfregou a mão livre ao longo do corpo de Ty, do ombro a lateral, logo atrás dos

hematomas; ele não queria que Ty se machucasse mais, aumentando assim a sua dor. “Quer

alguma coisa para comer ou beber? Eu tenho que mantê-lo acordado, pelo menos, por mais

algumas horas,” ele disse.

“Ugh,” Ty respondeu lamentavelmente, tudo o que ele queria fazer era dormir.

“Eu sei, já passei por isso, que tal você segurar esse gelo, e eu chamar o serviço de

quarto? Algum alimento favorito, que pode manter sua atenção?” Zane perguntou quando

apertou o ombro de Ty.

“Não,” Ty murmurou quando fechou os olhos.

253
Suspirando, Zane levantou, acendeu as luzes e ligou a televisão HD, bombeando o

quarto com volume alto, no que parecia ser um filme de ação violenta. Ele desamarrou as botas

de Ty, quando voltou para perto dele. “Sem dormir,” ele lembrou.

“Mmkay,” Ty murmurou enquanto empurrava sua cabeça debaixo do travesseiro e

prontamente começou a sonolência.

Zane olhou para ele e puxou para longe o travesseiro e, em seguida, todos os lençóis.

“Ty, falei claramente para não dormir,” ele disse com firmeza.

“Seu nazista,” Ty acusou miseravelmente.

“Sim, claro, me odeia por querer me certificar de que você não vai entrar em coma,” disse

Zane quando cutucou Ty da parte inferior das costas. “Agora se sente, e não se esqueça do gelo.”

“Olha, Florence Nightingale25, aumentar o som da TV na cara de alguém com dor de

cabeça é cruel,” Ty apontou irritado.

Zane acenou para ele e entrou na saleta em frente para pegar o cardápio, antes de voltar

para o quarto. Ty estava sentado de pernas cruzadas sobre a cama, mas sua cabeça estava

abaixada enquanto mantinha o gelo na parte de trás, seus olhos estavam fechados e sua testa

franzida, inconscientemente, de dor.

Zane suspirou baixinho e colocou o cardápio na mesa de cabeceira, pegou o controle

remoto e desligou a TV, em seguida, sentou-se na beira da cama, um pouco atrás do outro

agente. “Aqui, deixe comigo,” murmurou Zane, erguendo a mão para tocar a de Ty sobre o bloco

de gelo. “Você realmente não quer algo para tomar?” ele perguntou.

“Eu já te disse,” Ty murmurou palavras quase inaudíveis, “Se você vai sair, vou querer

ficar lúcido.”

Se aproximando mais, Zane puxou as costas de Ty contra o seu peito, ainda segurando o

gelo. “Isso vai esperar,” ele murmurou.

25
Florence Nightingale foi uma enfermeira britânica que ficou famosa por ser pioneira no tratamento a feridos de guerra,
durante a Guerra da Crimeia.

254
Ty estremeceu quando se inclinou para trás, mas, estava muito ferido e cansado para

protestar por estar sendo mimado.

“Vamos lá, cara durão, tenho certeza que você já teve coisas piores que isso.”

“Minha cabeça dói, seu burro,” Ty murmurou, com os olhos fechados enquanto

descansava contra o peito de Zane.

Zane sorriu, sabendo que Ty não podia vê-lo. “Dói mais que a sua bunda?”

“Cale a boca,” Ty choramingou mergulhado em um mau humor profissional. “Jesus,

basta parar com esse fodido falatório.”

Zane riu. “Você não pode ganhar no cara ou coroa agora.” Ele enrolou um braço em

volta da cintura de Ty para segurá-lo com firmeza. “Anime-se, Marine; você é feito de material

mais duro.”

“Morda-me, Força Aérea,” Ty gemeu quando tentou se virar para o lado e se enrolar na

cama.

Zane sorriu e virou-se para que Ty pudesse inclinar-se lateralmente contra ele. “Diga-me

uma coisa Ty; quanto desse bastardo durão é realmente você, quanto é Marine, e quanto é um

show?” ele perguntou.

Ty ficou em silêncio, o único som era a respiração suave, vinda de seu corpo imóvel.

Finalmente, respirou profundamente e perguntou grogue, “Você está se aproveitando de

uma concussão para me bombear de informações?”.

“Droga, foi direto,” disse Zane imediatamente.

Após um longo momento Ty simplesmente falou admirado, “Legal”.

Zane sorriu um pouco e afastou um pouco o bloco de gelo para olhar o ferimento na

cabeça. “Aprendi isso de você.”

“Não é uma perda completa, então,” Ty murmurou.

255
“Não,” disse Zane quando recolocou o gelo suavemente. “Nem um pouco, nunca teria

pensado assim, mas aconteceu.”

“Hum?” Ty perguntou sonolento quando o gelo começou a lhe tremer novamente.

“Ty,” disse Zane em advertência, um pouco mais alto; ele afastou o bloco de gelo, pegou

Ty pelos ombros e o puxou para cima em uma posição vertical. Ele se sentou ao lado dele quando

virou os ombros e abaixou a cabeça para tentar pegar os olhos de Ty. “Você não vai dormir em

cima de mim, quero dizer, que vou fazer coisas más e covardes com o seu corpo, se você dormir.”

Ty arregalou os olhos e piscou sonolento, enviando o sono à distância, dando a cabeça

um pouco de agitação, ele limpou a garganta. “Você já fez isso,” lembrou a Zane sério.

“Estou feliz por você se lembrar,” disse Zane ironicamente. “Você recentemente levou

uma pancada na cabeça.”

“Vai-me foder assim, sololento né? E vai me manter acordado a porra da noite, você é um

sádico,” Ty queixou sonolento quando fechou os olhos.

“Droga, Ty, não me faça desejar você assim, Jesus, tudo bem, um tempo para uma ducha

fria,” disse Zane, praticamente arrastando Ty com ele para fora da cama em direção ao banheiro.

“Não,” Ty gritou em alarme quando cravou os calcanhares no chão “Claro que não!”

Zane o ignorou, puxando-o junto ao blindex do banheiro com azulejos, Ty chutou a parte de trás

da coxa e puxou-o pelo braço, determinado a não tomar uma ducha fria.

Descaradamente explorando a ligeira fraqueza de Ty, Zane envolveu os braços ao redor

dele, puxando-o contra o peito. “Você está acordado agora?” ele perguntou, tentando não rir.

“Sim,” Ty gemeu lastimosamente. Zane agarrou o queixo dele e inclinou-se para olhar

em seus olhos, encontrando um ligeiro brilho neles. Ty apenas piscou para ele miseravelmente,

permitindo que lidasse com ele com uma carranca.

256
“Você está parecendo um pouco melhor,” disse Zane. “Portanto, sem ducha fria, mas,

você vai se sentar aqui e me deixar lavar esse sangue,” ele disse, apontando para a camisa

manchada.

“Peróxido pode tirar o sangue,” Ty ofereceu, sem pensar que encontrar peróxido agora

seria um pouco difícil de localizar.

“Claro que sim,” disse Zane com indulgência. “Mas a água quente vai ser boa para o seu

pescoço e as costas.” Zane o levou até a cadeira acolchoada no balcão de aço inoxidável e o

deixou sentado, antes de ir para a pia para absorver com água quente uma toalhinha. “Você

nunca teve uma concussão antes?” ele perguntou.

Ty finalmente abriu os olhos um pouco cansados, com um sorriso maroto, respondeu:

“Não que eu me lembro.”

Zane sorriu por cima do ombro e torceu o pano. “A camisa, por favor.”

Ty gemeu, deu um sorriso vacilante e tirou a camisa ensanguentada com dificuldade. Ele

examinou-a com o cenho franzido e distante. Era uma camisa marrom, com remos cruzados na

frente em branco, com os dizeres: ‘Cidade de Schitt Creek’, as letras brancas estavam com manchas

secas de sangue escuro.

“O que foi?” Zane perguntou quando se aproximou e começou a limpar o sangue em

crosta no pescoço de Ty.

“Eu gosto desta camisa,” Ty respondeu suavemente.

Zane olhou para as mãos de Ty, ainda limpando as manchas. “Eu prefiro ficar com a

camisa sangrenta, do que ver você com ela.”

Ty franziu a testa enquanto olhava para o sangue seco e sentia os golpes suaves de Zane

limpando a parte de trás do seu pescoço, finalmente, olhou para baixo, até encontrar um ponto

de interesse no chão e perguntou: “Você estava preocupado?”

257
Zane apertou os lábios, decidindo o que quer dizer, para não ofender Ty. “Nah, você é

durão, eu sabia que poderia lidar com isso.” Mas, sua voz era suave, com nenhuma borda ou

brincadeira com ele; a expressão de Ty estava escondida dele, e a única resposta que Zane podia

ver era a cabeça de Ty, enquanto o pano deslizava com mais facilidade contra o seu pescoço.

Esfregando suavemente, especialmente perto da ferida, Zane cuidou do resto do sangue

que pode alcançar. No último momento, suspirou, inclinou-se e apertou os lábios na parte de trás

do pescoço de Ty. “Está quase pronto,” ele murmurou incapaz de explicar o gesto incomum.

Ty abaixou a cabeça um pouco mais e estremeceu novamente, finalmente virando a

cabeça para roçar sua bochecha contra a de Zane.

“Você está com frio?” Zane perguntou, franzindo a testa um pouco, mas, esfregando o

rosto levemente contra o de Ty, em troca.

“Pare de esfregar água fria em cima de mim e eu não vou ficar,” Ty murmurou em

resposta, com a cabeça girando um pouco mais, até que seus lábios se moviam contra a pele de

Zane.

O pano molhado ainda estava quente na mão, mas, Zane o afastou para longe do pescoço

de Ty de qualquer jeito, com cuidado para não se mover, fechou os olhos enquanto ainda o

segurava, deixando Ty fazer o que quisesse.

Todo o corpo de Ty tremeu quando o ar frio atingiu a pele molhada na parte de trás do

pescoço. A sensação do corpo arrepiado de Ty, fez com que Zane se ajoelhasse ao seu lado. Ele

não tinha certeza do que pensar; Zane sabia que uma concussão podia fazer com que a pessoa se

sentisse meio fora do ar, e Senhor, saber que Ty já tinha um número suficiente disso era demais,

mas, o tremor era novo. Talvez Ty ainda estivesse com dor? Ele tinha várias lesões para lidar, e

estar com dor podia fazer coisas estranhas ao seu corpo. “Eu sinto como se eu não estivesse

ajudando muito aqui, que tal um banho quente?” ele sugeriu.

258
“Essa é uma grande mudança, desde a ameaça de uma foda dura no banho gelado,” Ty

murmurou.

Zane sorriu com carinho. “Funcionou, não é?”

Ty gemeu e fechou os olhos, inclinando-se até o queixo descansar no topo da cabeça de

Zane, fechou os olhos, totalmente preparado para dormir assim.

Zane suspirou, Ty poderia ser tão difícil de lidar, principalmente porque, mesmo quando

estava sendo teimoso, era quase cativante. “Levante e vá, você precisa ficar acordado, pelo menos

por mais meia hora, senhor, como vou entretê-lo por tanto tempo?”

“Fazer sombras com as mãos?” Ty sugeriu enquanto se levantava com cuidado.

Rindo, Zane se levantou, dando Ty algum espaço, mas, ficando por perto. “Que tal

comida? Vou pedir alguns hambúrgueres, perdemos o café da manhã.”

Ty franziu a testa quando voltou sua mente ao fator alimentação. “Parece bom,” ele disse

com a voz um pouco surpresa.

Zane sorriu. “Bom.” Ele voltou para o quarto, pegou o cardápio, e chamou o serviço de

quarto.

Arrastando atrás dele, Ty inclinou-se contra a porta, fechou os olhos quando o quarto

começou a girar um pouco, e se concentrou na voz de Zane.

Zane desligou o telefone e olhou em volta, para ver que Ty parou na porta. “Você está

bem?” ele perguntou com cautela.

Ty grunhiu em resposta e abriu os olhos. “Eu preciso me sentar,” ele admitiu.

“Precisa de uma mão?” Zane perguntou neutro, não querendo ofender Ty. Em vez disso,

Ty apenas balançou a cabeça e estendeu o braço vacilante. Zane caminhou e pegou seu cotovelo,

então deslizou o outro braço ao redor de sua cintura. “Temos uma poltrona legal e confortável

aqui, você pode se sentar e me insultar tudo o que você quiser,” disse Zane.

259
Ty apenas balançou a cabeça, ou não ouviu ou não se importou; Zane o ajudou com a

cadeira, em seguida, sentou-se na beira da cama e começou a desamarrar as botas, mantendo um

olho em Ty o tempo todo. O outro agente usava apenas uma camisa fina agora e havia manchas

sangrentas ao longo da parte de trás dele, também.

Recostado na poltrona profunda e surpreendentemente confortável, Ty fechou os olhos

assim que viu Zane destinado a afastar algumas roupas.

Ele poderia realmente ser capaz de adormecer enquanto Zane estivesse distraído.

Afastando as botas, Zane levantou-se, deu dois passos, e se ajoelhou aos pés de Ty,

afastando suas pernas, os olhos de Ty se abriram, e ele tentou os empurar de volta quando olhou

para Zane com os olhos arregalados. “O que você está fazendo?” ele perguntou com a voz um

pouco mais alto do que o habitual.

Zane olhou para ele inocentemente quando começou a tirar as botas de cowboy de Ty.

“Você quer se sentir mais confortável para que possa me bater depois de comer, certo?”

“Não,” insistiu Ty quase nervosamente.

“Não seja bobo,” Zane admitiu, não se tocaram, não se esfregaram, não faz uma única

coisa desagradável quando retirou as botas de Ty.

Ty fechou os olhos e estremeceu novamente, inclinando-se para trás na cadeira e caindo

quando descansou o cotovelo no braço da cadeira, mantendo a cabeça para cima.

Finalmente, ele abriu os olhos e viu Zane descaradamente, cedendo ao fato de que ele

gostou. Os lábios de Zane apareceram quando ele deslizava as mãos para cima, passado pelos

tornozelos de Ty para retirar cada meia, jogando-as de lado. Em seguida, ele afastou os joelhos de

Ty um pouco mais e se inclinou para frente.

“Provocador,” Ty acusou suavemente.

“Eu tenho sua atenção agora?” Zane demorou.

“Você nunca a perdeu,” Ty respondeu antes de pensar melhor.

260
Zane sorriu e colocou cada mão em um joelho de Ty e as deslizou lentamente até as coxas

dele. “Você quase parece ficar melhor quando está com uma concussão,” ele disse em voz baixa.

Ty piscou para ele e engoliu em seco, incapaz de responder.

Uma batida forte na porta os interrompeu. Zane se levantou e capturou a boca de Ty em

um beijo antes de ir pegar os alimentos. Ele deixou Ty sentado lá, confuso, com a cabeça um

pouco atordoada, os dois lados latejando.

Zane pegou a bandeja, trancou a porta atrás dele, levou a comida para o quarto, abriu a

Coca-Cola, levantou a tampa dos recipientes de comida e tirou três cápsulas de gel do bolso. Ele

abriu as cápsulas e colocou o pó em uma das latas, jogou as cápsulas vazias na boca e as engoliu,

bebendo um pouco de coca-cola da outra lata. “Ty, vem comer,” ele gritou quando colocou o

prato de Ty com a coca-cola na bandeja de metal resistente, na mesa de madeira e começou a

desembrulhar a comida.

Ty piscou e lambeu os lábios, finalmente, se levantou com cuidado, esperando até ter

certeza de que estava firme antes de desabotoar e tirar os seus jeans e empurrando-os até os

tornozelos, e cautelosamente tirar os jeans. “Estúpido,” ele chamou baixinho enquanto se

encaminhava para a sala exterior ao quarto.

Assim que o cheiro o atingiu, sua boca começou a salivar, mas, também o deixou um

pouco enjoado, era uma sensação incomum.

Zane apenas sorriu enquanto se sentava e deu uma mordida de seu hambúrguer. “Um

acordo,” ele disse depois de engolir. “Coma e então você pode dormir.”

“Hmph,” Ty ofereceu quando se sentou em frente a Zane e lambeu os lábios lentamente.

Zane espremeu algum ketchup em seu prato, junto com suas batatas fritas e começou a

comer. Ty seguiu o exemplo, comendo suas batatas fritas lentamente, apenas no caso de ficar

doente. Ele não conseguia comer nada, apenas o cheiro das batatas fritas e do hambúrguer, o

261
faziam estremecer. Sua coca-cola estava nojenta, mas, sempre estava. Dê-me apenas um Dr.

Pepper26 ou a morte.

Zane terminou o hambúrguer e as batatas fritas e abriu o saco de Doritos, tomando goles

de coca-cola entre as mordidas. “Como está indo?” ele perguntou, olhando para Ty.

“Estou cansado,” respondeu Ty irritado, como se isso fosse óbvio, depois de quase

implorar para tirar uma soneca.

“Ótimo, você comeu o suficiente, se você quiser pode deitar-se agora,” disse Zane, em

tom resignado, ele deixou sua bolsa com as fichas na mesa e se levantou. “Seu bolo vai ter que

esperar até mais tarde.”

Ty colocou sua comida para baixo e olhou através da mesa para ele. “Por quê?” ele

perguntou como outro arrepio o percorrendo.

Zane franziu o cenho. “Você disse que estava cansado, coma o bolo agora, se você quiser;

percebi que quando finalmente deixasse de olhar você, você estaria na cama rápido como um

tiro; o médico pediu uma ou duas horas, e...” ele olhou para o relógio. “Se passaram 2 h e10

minutos, então, pode ir para a cama, ou, eu poderia retomar de onde parei,” ele disse com os

olhos queimando com calor quando sorriu.

Ty olhou para ele por um momento antes de se empurrar de seu assento vacilante. “Eu

vou para a cama,” ele murmurou.

Zane pairava por perto quando Ty entrou no quarto e se sentou na cama, e então ele

apagou as luzes, deixando o quarto em silêncio e nas sombras.

“Você vai ficar, certo?” Ty perguntou baixinho, olhando para Zane através da fraca

luminosidade.

Zane se sentou ao lado dele na cama. “Claro que vou,” disse calmamente, alisando o

cabelo curto de Ty e depois seu rosto.

26
Refrigerante.

262
Ty lutou contra o peso que não estava acostumado, e virou a cabeça lentamente para

estreitar os olhos para Zane. Ele podia imaginar Zane saindo por aquela porta, para fazer algo

perigoso, no momento em que ele estivesse dormindo, só para provar que podia, mas, não havia

nada que Ty pudesse fazer sobre isso e ele estava lutando contra o cansaço. Esfregou os olhos e se

virou, rastejando lentamente para cima da cama e se acomodando debaixo das cobertas,

enquanto colocava cuidadosamente a cabeça no travesseiro.

Zane puxou o lençol, o rosto ficando de pedra, ele sabia muito bem que Ty ficaria muito

puto, quando ele descobrisse o que Zane tinha feito. Mas ele teria que fazer o que sentia que era

certo. Com esse tipo de contusão na cabeça, Ty tinha que descansar, e Zane sentia que ele não

descansaria, até entrar em um colapso absoluto, e não importava o quanto ele pedisse para

dormir. Zane não podia receber um não depois de hoje e ambos precisavam estar no topo de seu

jogo; porque a jogada acabou ficando muito maior. Ele podia confiar que Ty ficaria na cama por

pelo menos algumas horas agora, e ele poderia sair e recuperar as suas coisas, enquanto o

homem dormia.

“Você não vai sair,” Ty murmurou em advertência enquanto lutava contra o sono.

Zane suspirou, reconsiderando. Ele podia esperar para voltar para o Holiday Inn, ou

poderia ir agora, uma ação que certamente deixaria seu parceiro insano, além de qualquer

esperança de serem civilizados um com o outro novamente. “Por que está tão preocupado?”

perguntou no impulso do momento. “Eu posso cuidar de mim mesmo.”

“Porque ele está perto de nós,” Ty arrastou a resposta. “Ele está à nossa frente.”

Zane assentiu sério, embora sua voz fosse leve. “E eu que pensei que você me odiava.”

“Eu,” Ty murmurou enquanto seus olhos se fecharam involuntariamente. Zane olhou

para ele por um longo tempo antes de tomar sua decisão. Levantou-se, deu a Ty um último olhar,

e deixou o quarto.

263
Capítulo 09

Um baixo zumbido do ar condicionado era o único som no quarto bem sonorizado. Não

havia bebês chorando ou gritando para Ty ouvir. As luzes estavam apagadas, as cortinas

estavam fechadas contra o sol da manhã, permitindo apenas uma tênue claridade aparecendo em

torno do tecido pesado. Dois corpos estavam espalhados sobre a cama king-size.

Ty gemeu baixinho e rolou, enterrando a cabeça debaixo do travesseiro para abafar a luz

filtrada. Ele se empurrou e puxou sua cabeça para trás com um suspiro de dor quando o

travesseiro bateu no nó latejante na parte de trás de sua cabeça. De repente, ficou hiper alerta, e

se empurrou nos cotovelos e olhou ao redor do quarto, quase em pânico, tentando se lembrar de

onde estava.

Com os olhos piscando rapidamente, e sentindo o movimento da cama, Zane se levantou

ligeiramente. “Ty, está tudo bem,” ele disse sonolento. “Estamos no hotel.”

“Foda-se,” Ty gemeu quando sua cabeça girou desagradavelmente, ele se ajoelhou na

cama, ficou em cima de suas mãos e joelhos e fechou os olhos, em seguida, começou a engatinhar

desajeitadamente para a beira da cama.

Zane sentou-se para vê-lo se mover. Ele esperava que Ty não fosse cair da cama e bater a

cabeça novamente. Zane fez uma careta com o pensamento, mas Ty conseguiu sair da cama e

cambaleou até o banheiro, mal chegando, antes de vomitar violentamente.

Zane suspirou e esfregou o rosto, ele estava ferrado. Com a concussão, Ty poderia ter

ficado doente assim, mas, com a experiência de Zane, não afetava assim tão de repente. A menos

que ele fosse sensível às drogas. “Merda.” E Zane tinha lhe dado muito, ele se levantou e pegou

sua calça jeans. Isso não ia ser bonito; ele podia sentir isso em seus ossos.

264
Ty estava de joelhos com a cara na privada, a cabeça pendurada enquanto ofegava para

respirar. Assim que ele se moveu rapidamente depois de acordar, seu estômago virou, e ele sabia

que ia perder o minúsculo jantar de ontem à noite. Quando ele caiu miseravelmente em frente ao

vaso sanitário, ele sabia que provavelmente havia mais aqui do que a concussão. Zane lhe dera

algo, provavelmente alguma coisa para dormir, para que ele pudesse sair por conta própria e que

Deus soubesse o quê. A cabeça de Zane apoiada na porta do banheiro esta manhã, praticamente

confirmou isso. Ty não manuseava com qualquer tipo de produtos químicos, até mesmo Tylenol

tinha uma tendência a deixá-lo enjoado.

Quando teve certeza que não iria cair, se levantou e segurou no balcão da pia, para logo

espirrar água em seu rosto.

No quarto, o rosto de Zane estava sombrio, eles tinham muito que fazer hoje, incluindo

descobrir quem tentou matá-los. Mas... Decidiu não esperar, começou a se vestir, colocando uma

camiseta sobre a cabeça. Ele desejava um começo menos merda para esta manhã, mas, ele supôs

que só tinha a si mesmo para culpar. Pegando o coldre, ele negou seus pensamentos, ele estava

aqui para trabalhar e não ficar todo sentimental ou se entregar; já tinha estado sobre a linha com

Ty muitas vezes.

“Você, seu seu filho da puta!” Ty chamou com a voz rouca do banheiro.

Zane bufou, era o que esperava ouvir, mas, um pouco mais criativo.

“O que você me deu?” Ty exigiu com raiva.

Os lábios de Zane se contrairam. “Cloridrato de difenidramina,” ele respondeu, pegando

meias e uma blusa de botões de manga comprida de sua mochila.

“Maldito Benadryl! Que diabo, homem!” Ty exclamou com a voz rouca, incrédulo. “Você

estava tentando me colocar em coma?” ele perguntou, irritado. “Quanto você me deu?”

“Apenas três cápsulas,” Zane respondeu sem rodeios.

265
Para Ty, três cápsulas eram quase uma overdose. Cristo, ele estaria se contorcendo por

semanas depois disso, ele fechou os olhos e bufou como um touro preparado para carga,

tentando se acalmar. “Você pegou as nossas coisas?” ele perguntou com uma voz mal controlada.

Zane apareceu na porta, puxando seu coldre sobre a camisa, e depois ficou ali olhando

para ele por um longo momento. “Não,” ele disse pouco antes de sair para o quarto principal.

“Traga o seu traseiro de volta aqui,” Ty rosnou para ele quando ele o deixou.

Ignorando-o, Zane parou perto da mesa baixa, em frente ao sofá e começou a encher os

bolsos. Carteira, chaves, papel com números de telefone, e o cartão-chave do Holiday Inn.

Ty se virou e o seguiu cambaleante e furioso novamente, Zane não tinha a porra de

direito de estar chateado, ele encarou as suas costas, esperando que se virasse novamente.

Zane sabia que Ty estava atrás dele, também sabia que Ty estava com raiva, mas ele

também estava. Ele desejava que Ty não tivesse se machucado, porque a atitude de Ty assim tão

reduzida, o incomodava um pouco. Ele não foi para frente do hotel, mas, ele poderia muito bem

ter pegado as suas coisas, e Ty ficaria totalmente chateado com ele.

Zane se virou e olhou para ele, esperando.

Ty encontrou seus olhos, as narinas estavam dilatadas, enquanto tentava manter a calma.

Ele realmente confiava no filho da puta, mesmo com algo tão pequeno, como colocar Benadryl

em sua coca-cola, foi um enorme negócio para alguém que estava acostumado a ter sua vida na

linha todos os dias. Ele estava tomando um enorme esforço para não exagerar, e estava fazendo

sua cabeça doer.

O que doeu mais era saber que tinha que trabalhar com Zane e tentar confiar nele,

mesmo depois desta merda. Ele deu uma respiração lenta e profunda. “Diga-me que você não vai

fazer isso de novo,” ele pediu, após um longo momento de silêncio, sua voz finalmente se

acalmando novamente.

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Levantando uma sobrancelha lentamente, Zane considerou; isso não era o que ele

esperava. Ele esperava que Ty fosse explodir ou até mesmo tentar dar um golpe nele. Mas será

que Zane realmente conhecia o seu parceiro novo? Saber o que ele fez agora, como Ty reagiria

fisicamente, havia apenas uma resposta lógica. “Tudo bem,” disse ele lentamente. “Não vou fazer

isso de novo.”

Ty ficou em silêncio, à espera de mais, por um pedido de desculpas de algum tipo.

“Vou descer para pegar um pouco de café para nós e alguma coisa para comer,”

acrescentou Zane, com isso, ele se virou e saiu do quarto, com a porta fechando atrás dele.

Ty ficou de pé no meio do quarto, confuso e com raiva e se sentindo traído por alguém

que não sabia que ele tinha confiado.

Zane estava de volta em vinte minutos, com um saco branco de alimentos em uma mão e

uma garrafa de café na outra. Ele puxou o cartão-chave e abriu a porta, fechando-a com firmeza

atrás de si. Ty não estava visível na suíte, uma breve procura em todos os compartimentos, e não

achou nada. Em uma inspeção mais próxima, no entanto, encontrou uma massa em forma de Ty,

debaixo das cobertas na cama, que diziam que seu parceiro tinha desistido da luta e se arrastou

de volta para o travesseiro.

Colocando o saco e a garrafa em cima da mesa, Zane sentiu outro surto de raiva. Por que

diabo Ty estava fazendo isso? Ele deveria levá-lo de volta para o hospital? Zane não achava que

uma pequena concussão manteria um ex-fuzileiro naval Recon assim para baixo, daí o sonífero.

Ele estava começando a pensar que se Ty ficasse gravemente ferido, drogá-lo, seria uma ideia

muito ruim. A raiva diminuiu rapidamente, e foi imediatamente substituído por preocupação, e,

em seguida, outro surto de raiva irracional.

Apertando os lábios, ele caminhou até o quarto e ficou ao lado da cama, com as mãos nos

quadris. “Ty, você vai se levantar ou não?”

“Vá se foder,” foi à resposta grogue e abafada.

267
“Eu não sou tão flexível,” Zane murmurou. “Você sabe, eu realmente não acho que uma

concussão o manteria assim para baixo, por que mais que tente deixá-lo dormir e dormir assim?

Por duas vezes este imbecil chegou perto o suficiente para nos machucar, você não pode ficar

fora da comissão e vulnerável assim.”

“Ainda bem que eu não tomo algum tipo de droga para dormir,” com a voz

desencarnada, Ty respondeu friamente de debaixo dos travesseiros.

“Eu não me droguei agora, eu fiz?” Zane disse tão friamente. “Tire sua bunda da cama

ou eu vou sem você.”

“Por que diabos você está tão chateado?” Ty perguntou irritado, um pouco atrapalhado

quando se sentou sem primeiro afastar o travesseiro. Ele fracassou em tom melodramático e

quase caiu no chão; Ty olhou para Zane com os olhos apertados.

“Apenas me diga isso, por que você está com raiva de mim?”

Zane beliscou a ponte de seu nariz. “Eu não estou com raiva de você,” ele disse com a

voz tensa de tensão reprimida. “Estou com raiva, porque você se machucou muito, certo?” Ele

cerrou os dentes, que porra inútil de se dizer, e aqui apareceriam os comentários: frouxo e idiota

novamente.

Mas, Ty ficou em silêncio, olhando com furiosa petulância por um momento, antes de

relaxar um pouco. “Bem, pare de se preocupar por mim, tudo bem?” ele finalmente murmurou.

“Eu tenho uma porra de dor de cabeça.”

Suspirando, Zane sentou-se na beirada da cama ao lado dele. “Sinto muito,” ele disse em

voz baixa, poderia dizer mais, mas isso não faria a menor diferença.

“Pode ter certeza que sim,” Ty murmurou.

“Como você se sente?” Zane perguntou suavemente. “Realmente.”

“Eu não... Eu realmente não me lembro de muita coisa da noite passada e ontem,”

admitiu Ty com a voz baixa. “E algum tempo antes disso também.”

268
“Sim, eu acho que você bateu a cabeça muito forte,” disse Zane. “Então, você não se

lembra de cruzar o quarto e dançar em cima da cama?” ele perguntou solenemente.

“Cale a boca,” Ty atirou de volta com pouco sentimento.

Zane suspirou, afastando o cabelo de Ty para longe de seus olhos, os olhos de Ty

fecharam automaticamente, e ele se inclinou contra o toque de forma inconsciente. “Farei

qualquer coisa que puder para ajudá-lo a se sentir melhor,” Zane ofereceu suavemente. “Isso não

vai incluir drogas, eu prometo.”

“Ugh,” Ty ofereceu quando esfregou os olhos.

A vibração do celular de Ty na mesa ao lado da cama levou o idiota a dar um salto, e em

seguida, gemer melancolicamente quando lentamente colocou a cabeça para baixo e a segurou

em suas mãos, para parar a sacudida abrupta.

Zane esfregou o ombro de Ty calmamente e pegou o telefone, aceitando a chamada.

“Sim?” ele perguntou.

“Grady?” a voz do outro lado perguntou em dúvida.

“Não, quem é?” Perguntou Zane, sua voz estava baixa e sem emoção.

Para ele, qualquer um era um suspeito agora. Qualquer um, menos o homem que estava

praticamente em seus braços.

“Quem diabos é você?” a voz exigiu em tom indignado. “Onde diabos está Ty?”

“Não está disponível, você pode falar comigo,” respondeu Zane, com a voz contida.

Houve um silêncio na linha, por fim, a voz perguntou em voz baixa: “Ele se machucou?

Ele está machucado?”.

A testa de Zane franziu, e ele olhou para Ty, considerando. “Ele está bem,” ele disse sem

se comprometer, mas, sua voz não estava mais tão dura.

Ty virou a cabeça e olhou para Zane com os olhos apertados. “Quem é?” perguntou

quando o silêncio na linha esticou mais uma vez, Zane estendeu o telefone, e Ty o atendeu com

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uma carranca, se sentando lentamente. “Olá?” ele disse ao telefone, logo que o pôs ao ouvido. Ele

escutou por um longo minuto, os gritos do outro lado da linha, alto o suficiente para que Zane

pudesse ouvi-lo e, finalmente, Ty sorriu cansado e respondeu com: “E eu também te amo, seu

idiota... Não, não foi o nosso carro... Não, não, eu não estou mentindo para você, eu nunca

mentiria para você,” ele continuou com ironia, o que produziu mais palavrões.

Finalmente, Ty disse ao homem que tinha que sair, e não esperou pelas últimas

maldições antes de terminar a chamada com um pequeno sorriso. “Esses meninos ex-Recon

podem te sufocar como uma mãe.” Disse a Zane a guisa de explicação. Seu rosto anuviou, e ele

franziu a testa ligeiramente. “A notícia da bomba no carro já se espalhou, e que fomos os alvos.”

Balançando a cabeça lentamente, Zane processou que mais pessoas, além do assassino,

estariam os procurando, e que Ty tinha pessoas que se preocupavam com ele e o acompanhava;

isso deixava Ty parecer um pouco mais humano. “Eu não confio em nossos próprios homens

agora,” ele disse enquanto tentava não pensar em Ty. “Mas não temos muita escolha, além de

trabalhar com eles, precisamos de contatos.”

“Contatos,” Ty murmurou frustrado. “Ligue para Henninger, vamos encontrá-lo em

algum lugar... No outro quarto de hotel,” sugeriu. “Matar dois coelhos com uma viagem,” ele

grunhiu quando se arrastou para fora da cama lentamente.

“Você está bem?” Zane perguntou, observando o movimento de Ty tão cuidadosamente.

“Eu vou viver,” Ty murmurou.

Zane tirou o celular do bolso, abriu-o, e fez a chamada, levou alguns toques para

atenderem.

“Henninger,” veio à resposta cortada.

“É Garrett,” disse Zane brevemente. “Qual é o clima?”

“Muito dócil, considerando os fatos,” Henninger respondeu com a voz completamente

diferente, um pouco mais confortável. “Estão perguntando por vocês, mas não muito

270
diligentemente; algumas pessoas estão se perguntando quanto tempo vocês levariam para

comprar a porra de duas xícaras de café, mas, eles estão ainda muito distraídos com a cena na

plataforma de estacionamento para dar a mínima para vocês,” ele continuou em voz baixa, quase

sussurrando. “Onde vocês estão?” ele perguntou com cuidado.

“Em um local seguro,” disse Zane vagamente. “Nós vamos precisar de alguma ajuda, e

você é o nosso homem, você está dentro?”

Silêncio. Finalmente, Henninger respondeu cuidadosamente, “Eu vou fazer o que posso.”

“Nós vamos almoçar no Hard Rock,” disse Zane, deliberadamente, escolhendo um lugar

bem movimentado na cidade, apesar da sugestão de Ty. “Tente manter os capangas fora das

nossas costas, tudo bem?”

“A que horas?” Henninger perguntou baixinho, com a voz muito longe, como se tivesse

virando acabeça para trás, olhando enquanto falava.

Zane olhou para o relógio, eram 10h30min. “Meio-dia,” ele disse secamente, e terminou a

chamada.

Ty olhou com uma sobrancelha levantada. “Hard Rock?” ele perguntou com uma careta.

Oferecendo ao outro homem um sorriso, Zane deu de ombros. “É popular, ocupado e

barulhento.” Colocou o telefone de volta no bolso e levantou-se para se esticar lentamente, se

alongando.

“Que romântico” Ty respondeu sem rodeios, enquanto esfregava o pano molhado que

tinha recuperado da parte de trás da sua cabeça e olhou para a sua roupa. “Ele disse que iria nos

encontrar?”

“Disse que ia fazer o que pudesse,” respondeu Zane. “Eu acho que ele vai se apresentar

ansioso, com as orelhas para trás e tudo mais.” Ele gemeu quando seus braços se elevaram muito

acima dele e alongou o seu pescoço. “Cristo, há quanto tempo tenho esse trabalho? Estou o

chamando de filhote de cachorro, maldição! Ele deve estar com os seus vinte e tantos anos.”

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“No arquivo dele informava trinta,” Ty respondeu sem pensar, quando finalmente

localizou as suas calças.

Zane olhou para Ty divertido. “Você lê arquivos?” Seus olhos se estreitaram. “Você leu o

meu arquivo, também, não é? Pelo menos o que não estava classificado.”

Não era uma pergunta.

Ty olhou para Zane e corou ligeiramente. “Eu não li o seu,” ele respondeu em ligeiro

embaraço.

Inclinado à cabeça, Zane colocou suas mãos no quadril. “A maneira como você disse isso,

me faz pensar que você adquiriu o meu arquivo, então, por que não o leu?”

Ty franziu os lábios e balançou a cabeça. “Arquivos não contam toda a história,” ele

finalmente murmurou. “Acho que estava esperando que você se mostrasse nas entrelinhas”.

“Será que me mostrei?” Zane perguntou, sem se mover.

Ty ficou em silêncio e imóvel por um longo momento, finalmente, deu um aceno quase

imperceptível, e disse: “Certamente nunca esperava que você me drogasse”.

Os lábios de Zane se contrairam. “Você meio que tem um cara com domínio sobre as

drogas em suas mãos, homem,” disse antes de caminhar até a mesa para pegar o coldre e depois

de um longo momento, acrescentou, “E não houve qualquer malícia por trás disso.”

“Eu sei,” respondeu Ty antes que pudesse se conter. “Imbecil.”

Zane não conseguiu conter o grunhido, apenas balançou a cabeça, deu de ombros e foi

colocar o coldre. Parecia que eles estariam bem. Por enquanto, pelo menos.

“Coloque as suas calças, Ty, nós não precisamos atrair esse tipo de atenção”.

“Sim, minha bunda está tão dolorida, que provavelmente há um alvo sobre ela,” Ty

resmungou enquanto entrava em seu jeans.

“Chorão,” disse Zane com um sorriso calmo quando se virou para olhar para Ty

enquanto vestia a camisa. “Você acha que foi esquiar e teve um momento terrível.”

272
“Eu acho,” Ty bufou. “Mas, mal me lembro.”

“Você já provou que é um bom mentiroso; não há necessidade de prática,” Zane

respondeu.

“Eu não sou um mentiroso,” Ty respondeu com um grunhido ofendido.

Zane levantou uma sobrancelha, obviamente, incrédulo. “‘Não, não foi o nosso carro, eu

nunca mentiria para você’,” repetiu as palavras de Ty ao telefone com um sorriso.

“Pft,” Ty ofereceu enquanto vestia a camisa. “Ele sabia que eu estava mentindo através

de meus dentes.”

“Isso não muda o fato de que você estava mentindo, através de seus dentes, bem alegre,

mesmo,” disse Zane.

“Cale a boca,” Ty resmungou.

Zane cruzou os braços. “Você não está pronto ainda? Você demora tanto quanto uma

mulher, levando uma eternidade para se preparar para sair,” ele cavou.

Ty parou o que estava fazendo e olhou para cima, encontrando os olhos de Zane.

“Isso acontece quando se droga uma pessoa,” ele disparou de volta.

Não havia nada a dizer sobre isso. Zane já tinha estado lá, muitas vezes.

Ele sabia que não deveria ter empurrado, suspirou, balançou a cabeça, e foi para a sala na

frente do quarto.

Ty apenas revirou os olhos e sentou-se para colocar as botas. “Você sabe, se eu estivesse

realmente chateado com você, teria apenas te dado uns socos, certo? Ou tentar, de qualquer

maneira,” falou ironicamente, embora estivesse um pouco chateado com isso, e assim continuaria

a ser, foi uma merda estúpida de se fazer.

“Isso era realmente o que eu esperava,” Zane falou de volta quando abriu o saco

esquecido da pequena refeição e tirou iogurte e alguns bagels. Ty teria um acesso de raiva

quando visse isso e Zane sorriu.

273
“Quer que eu bata em você, então? Para você não ficar decepcionado?” Ty ofereceu

quando levantou devagar e fez o seu caminho para a saleta.

Zane não olhou pra ele. “Se isso for deixar você se sentir melhor,” ele disse, enquanto

misturava o açúcar no café. Ele estava bem consciente de onde Ty iria, no entanto.

“Talvez, quando minha cabeça não estiver tão mal,” Ty deu de ombros negligentemente

quando olhou para baixo, para o café da manhã. “Que merda é essa?”

Zane riu e acrescentou creme no café.

“Seu maldito amor-perfeito,” Ty murmurou sob sua respiração.

Zane riu um pouco mais. “Eles têm comida quente no lobby, mas, desde que estamos

indo almoçar, não precisamos comer aquela porcaria.”

Ty pegou a magra oferta, resmungando sem palavras. “Vamos dar o fora daqui,” ele

finalmente murmurou, enquanto pegava sua jaqueta de couro surrada, parou e suspirou quando

ele a examinou. “Preciso de um casaco novo, eu acho,” ele disse quase para si mesmo, sua voz

melancólica e um pouco triste.

Zane se aproximou, passou o dedo ao longo da manga queimada, e disse baixinho:

“Agora ela tem caráter.”

“Tinha caráter antes,” Ty murmurou com uma carranca enquanto embalava a jaqueta em

seus braços. “Agora tem sangue e cheiro de vaca queimada.”

“Você está preocupado com a jaqueta ou consigo mesmo?” Zane perguntou, ainda

deslizando os dedos ao longo do couro.

“Eu cheiro como vaca uma queimada?” Ty perguntou inocentemente em troca, Zane

sacudiu a cabeça, ironicamente expectante. “O que foi?” Ty perguntou enquanto segurava o

casaco em seu peito defensivamente.

Zane não podia acreditar, entre todas as coisas, ele estava absolutamente encantado por

esse lado de Ty. Ele pegou o queixo de Ty entre os dedos, inclinou-se e o beijou com firmeza.

274
Ty enrijeceu de surpresa, então relaxou um pouco e devolveu o beijo inesperado. Não foi

suave ou doce, mas, não estava fora de um controle quente, também. Ele resmungou baixinho

contra os lábios de Zane, confuso com as ações, mas as apreciando de qualquer maneira. “Isso

não é bom para se fazer em um homem com uma concussão,” ele advertiu em voz baixa quando

suas bocas se separaram.

“Por que não?” Zane perguntou, os lábios se curvaram, deixando às mãos caírem,

esperando.

“Porque eu fico facilmente confuso,” Ty respondeu sem pensar muito no significado que

as suas palavras poderiam ter.

“Eu duvido,” Zane murmurou; eles estavam de pé, peito a peito, mas não se tocando,

apenas a jaqueta entre eles.

Ty o cutucou suavemente no estômago, tentando colocar alguma distância entre eles

novamente, para dissipar o calor desconfortável.

“É o melhor que você pode fazer? Você deve estar sentindo mais dor do que eu

pensava,” Zane alfinetou.

“Eu estou” Ty respondeu suavemente, dando um passo para trás e lambendo os lábios

nervosamente.

Zane balançou a cabeça lentamente; tudo bem, se é assim que ia ser, e pegou as chaves

em cima da mesa. “Vamos então,” ele disse quando embolsou os cartões-chave.

“Você está... Você está sentindo isso também?” Ty perguntou contra os seus melhores

instintos.

Houve um percalço no movimento de Zane, em reação às palavras de Ty, e sua mão

ficou atolada em seu bolso, quando mudou de posição e, em seguida, seus olhos voltaram para

Ty. Zane procurou no olhar do outro homem alguma pista, algum sinal, mas, a sua apreensão

leve foi esmagada pela falta de sinais.

275
Queria algo de Ty que não podia definir; Zane não disse sim... Mas não disse não.

“Precisamos dar um jeito nisso, de uma forma ou de outra,” Ty continuou

fervorosamente com um pequeno aceno de sua mão.

O tom de voz de Ty fez Zane sorrir. “De uma forma ou de outra, não é?”

“Você é bom em regras, certo? Precisamos de regras,” Ty respondeu com uma careta

sincera. “Eu prefiro as regras que ainda nos permitam porra!”

Os olhos de Zane se arregalaram. Ele limpou a garganta e esfregou a parte de trás do

pescoço com uma mão. “‘Regras que ainda permitam porra!’,” ele repetiu, com a voz um pouco

trêmula, enquanto estava realmente se esforçando para não pegar Ty, jogá-lo sobre a mesa, e

chupá-lo até que ele gritasse. “Que tipo de regras? O que você quer?”

“Sem mais beijos surpresa,” Ty exigiu com um abanar de seu dedo.

“Ok,” Zane concordou, um pouco perplexo.

Ty limpou a garganta e franziu os lábios como se tivesse pensado que haveria um

argumento. Os beijos impulsivos, embora muito agradável, borravam as linhas para ele e ele não

gostava de linhas borradas, a menos que ele estivesse tentando atravessá-las.

“Isso é tudo o que eu posso pensar,” ele terminou com uma careta e um leve corar.

“Você não parece muito certo sobre isso,” Zane apontou amavelmente.

“Eu me reservo o direito de adicionar regras,” Ty respondeu corando mais

profundamente, quando cruzou os braços protetoramente sobre sua jaqueta.

“E eu?” Zane perguntou, fascinado pela mente de Ty em ação, apesar do em

baralhamento sofrido, o homem estava obviamente lutando com algo que ele não queria admitir.

Zane pensou, talvez, Ty o quisesse e não queria admitir isso. Talvez.

“E você?” Ty perguntou desconfortável.

“Eu posso formular regras?” Zane perguntou, movendo-se um pouco mais perto.

276
Algo em Ty tinha mudado, ele parecia mais acessível, mais moldável, definitivamente

mais disposto a foder. Possivelmente, o golpe na cabeça abatera um pouco da teimosia abrasiva

dele.

“Talvez,” Ty permitiu com cautela.

Dando outro passo para frente, ficaram praticamente peito a peito novamente.

“Apenas, talvez?” Zane retumbou.

Ty respirava pesadamente pelo nariz e inclinou a cabeça para o lado sem descanso.

Zane inclinou a cabeça para igualar a ele. “Que tal nos revezar fazendo as regras?” ele

ronronou, colocando as duas mãos sobre a jaqueta de couro e puxando-a para fora. Isso ele

poderia fazer, sexo ele poderia fazer, sexo com Ty, ele definitivamente poderia fazer.

Ty apenas lambeu os lábios e olhou para o casaco como se fosse uma tábua de salvação

indo embora. Zane o pôs de lado sobre a mesa, estendeu a mão e virou o queixo de Ty em

direção a ele. Inferno, por vezes, apenas olhar para ele, deixava Zane duro, e todo o bom senso

saia voando pela janela do oitavo andar. Estar tão perto de Ty, fazia isso com ele... Ty era um

maldito narcótico.

“E quanto a beijos?” Zane disse asperamente.

Ty engoliu em seco e inclinou ligeiramente a cabeça, o queixo ainda nas mãos de Zane.

“Acho que esses ainda não foram proibidos,” ele finalmente respondeu com voz rouca.

Zane percebeu que ele finalmente tinha Ty tão fora de si, como ele mesmo ficava. E Ty

era um homem muito forte, forte de vontade, forte de opinião.

“Bom,” respondeu Zane. “Só queria isso esclarecido; e agora, você quer que eu lhe dê um

beijo sem surpresa ou você quer ir embora?”

“Não,” Ty respondeu rispidamente, baixou a cabeça teimosamente antes de agarrar o

pescoço de Zane e puxá-lo mais próximo de si, um último centímetro mais perto e beijá-lo.

277
Juntando-se no beijo, Zane puxou Ty duro contra seu corpo, envolvendo seus braços ao

redor dele. Foda-se, por que eles sempre falavam tanto? Esta era a maneira como eles

relacionavam melhor. Esta foi à maneira que eles encontraram. O que eles deveriam fazer com

isso?

Ty finalmente se afastou e o manteve à distância de um braço. “E agora?” ele ofegou sem

fôlego, a respiração engatando dolorosamente, enquanto suas costelas protestaram com as

festividades.

Zane balançou a cabeça. “Você está sentindo isso também?” respondeu asperamente. Isto

era um prazer insano, a fome muito perto do auge, a dor ao fundo, contrastada por breves

momentos de ternura, que pareciam tão fora do lugar. Zane certamente não tinha certeza de

onde vinha, mas, oh, Deus...

Ty observou-o, ainda tentando desacelerar a respiração e o mantendo a distância de um

braço. “Não,” ele mentiu alegremente.

Sabendo muito bem o que Ty estava dizendo, Zane soltou um suspiro reprimido antes de

balançar a cabeça lentamente. “Nem eu,” ele disse, a voz com mais inclinação do que queria que

fosse e seus olhos ficaram cravados inabalavelmente em seu parceiro.

Ty estava balançando a cabeça quase fervorosamente, até quando Zane falou. “Bom,” ele

respirou calmamente. “Que bom!”

Zane balançou a cabeça lentamente. “É... bom.”

Cerca de uma hora mais tarde, Zane e Ty se sentaram em uma cabine no Hard Rock Café,

Ty se deslocava inquieto em um casaco novo, ele tinha jurado que nunca iria gostar dele, e ambos

fingiam que não estavam verificando a porta.

“Não sei por que você está tão irritado com o casaco,” disse Zane, admirando o couro

preto quando bateu com o cigarro apagado na mesa. Era uma droga essas regras de não fumar

278
em restaurantes. “Eu deveria ter comprado uma também, já faz uns anos desde que comprei uma

jaqueta de couro nova.”

“É preta,” Ty bufou. “E cheira a novo.”

“Eles tinham marrom,” Zane apontou, com os olhos estudando a multidão agitada. “Não

tem como tirar o cheiro de novo, a menos que você queira encontrar alguma sujeira por ai e rolar

em torno dela, talvez você possa passar por cima dela algumas vezes com o SUV.”

“A minha outra jaqueta já foi atropelada por uma motocicleta uma vez,” respondeu Ty,

se inclinando sobre os cotovelos. “E a marrom era muito pequena.”

Zane sorriu, percebendo que o sotaque de Ty ficava mais forte e a sua gramática ficava

pior quando ele estava irritado. Quanto mais chegava a conhecê-lo, mais óbvio se tornava, que

Ty Grady tinha uma fachada ou várias camadas de máscaras. Zane não tinha certeza se ele iria

ver ou conhecer o homem real, e isso o deixava um pouco triste, pensava que realmente gostaria

conhecer o homem real.

“Você poderia ter esperado,” ele ressaltou. “Deus sabe que existem suficientes lojas nesta

cidade.” Ele se encostou para trás na cadeira, esticando as pernas para o lado da mesa, quase no

corredor. “Talvez eu vá procurar alguma ainda.”

“Sim, isso vai ser divertido, vamos parecer gêmeos,” Ty murmurou sob sua respiração.

Finalmente, ele rosnou, tirou a jaqueta de couro nova e a jogou sobre a mesa para Zane.

“Porra, pode ficar com ela,” ele murmurou.

Pegando a jaqueta, antes ela batesse em sua cara, Zane sorriu e a balançou, olhando para

ele alegremente. Sem sequer piscar, ele murmurou, “Henninger está aqui,” antes de dizer mais

alto: “Obrigado, Grady, mas não é mesmo o meu aniversário.”.

“Você pode ir se foder,” Ty murmurou alto o suficiente para Henninger ouvir quando ele

se aproximou da mesa.

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“Bem, é... Bom ver que vocês ainda são o mesmo par doce,” Henninger murmurou

enquanto acenava para eles, olhando ao redor à toa, antes de sentar na cabine ao lado de Zane.

“O que posso dizer, ainda estamos na fase da lua de mel,” Zane respondeu secamente,

pegando seu chá gelado.

“Meus pêsames,” respondeu categoricamente Henninger, acenando para Zane. “O que

diabos está acontecendo?” Ele perguntou quando Ty rosnou as palavras.

“Diga-nos,” Zane respondeu, perecendo calmo e relaxado. “Eu imagino que a merda

ainda está batendo no ventilador no escritório.”

“E está pingando nas paredes,” Henninger balançou a cabeça em resposta. “Existe uma

razão especial, para vocês dois não voltarem ainda?” ele perguntou com cuidado. “Você está

bem?” ele perguntou quando Ty fez uma pequena carranca.

Zane olhou para Ty, que estava fazendo um bom trabalho com o seu olhar entediado e

desinteressado. Isso ou sua cabeça ainda latejava e ele realmente não estava prestando atenção.

Ainda era difícil para Zane lê-lo. “Ele está com um pouco de dor de cabeça, mas ele está bem,”

ele respondeu para o outro homem. “E nós estamos apenas cuidando de nossas peles,” ele

continuou. “O escritório parece ser um celeiro de oportunidades para assassinatos neste

momento,” disse Zane. “Você pôde conseguir as informações que precisamos?”

“Você acha que alguém no Bureau está tentando matá-lo,” Henninger murmurou quase

baixinho, repetindo suas palavras do dia anterior, mas soando um pouco mais convencido. O

barulho do movimentado restaurante cobria perfeitamente a conversa. “Como ele pôde descobrir

a razão de estarem aqui?” ele perguntou, aparentemente querendo que eles soubessem que

concordava com as suposições. “E por que arriscar confirmar, o que até agora, são apenas

suspeitas?”

Zane apenas ergueu a sobrancelha, e ficou em silêncio, enquanto um atendente apareceu

para pegar os pedidos de Henninger, e trazer o aperitivo de Zane e Ty. Saindo de seu suposto

280
torpor, Ty estendeu a mão e pegou com seus dedos o frango, enquanto observava Henninger

pensativo. O garoto parecia estar tendo alguma dificuldade em chegar a um acordo com o fato de

que o serial realmente poderia ser um homem do FBI.

“Não são apenas nós dois que ele está tentando pegar,” disse Ty para o jovem. “Houve

uma tentativa com você, no caso de você ter se esquecido,” ele lembrou suavemente. “Este cara

sabe o que estamos fazendo, antes de fazê-lo, ele sabe como entrar e sair sem aparecer nas

filmagens; está a um passo à frente de todos nós em seu caminho.”

“Olha, nós não voltaremos, e não vamos relatar novamente o caso, até obtermos alguma

prova concreta para levar para alguém do alto,” disse Zane. “Você pode trazer as informações

que precisamos de dentro e você já provou que pode manter sua boca fechada.” Ele estendeu a

mão e pegou uma batata com queijo. “Nós vamos cuidar do resto,” ele murmurou, encontrando

os olhos de Ty.

Ty apenas permaneceu sentado, olhou e observou Henninger entre eles, com uma

carranca. “Não gosto disso,” ele finalmente murmuro, ele se mexeu desconfortavelmente e

desviou o olhar. Ele tinha vários cortes se curando em seu rosto e uma laceração que havia sido

costurado em seu pescoço. Ty observava-o com uma pequena carranca. Era um ato muito

corajoso desse garoto, vir até aqui e conhecê-los, saber que eles eram AWOL* (desertores, termo

militar). E ele parecia ser sincero, o que Ty achava quase surpreendente, sem nenhum motivo

aparente. Arriscar o pescoço para tentar ajudá-los, poucos dias depois de receber metal e

plásticos estilhaços no rosto, o garoto estava ganhando o respeito relutante de Ty.

“Ok,” Henninger finalmente disse suavemente quando olhou para Zane e, em seguida,

para Ty.

Zane deu um sorriso torto. “Ótimo, aqui está o que precisamos.”

Do lado de fora, fumando um cigarro ao lado do SUV, Zane esperava Ty terminar de

falar com Henninger, antes de seguirem caminhos opostos. O garoto tinha bolas, isso era certo,

281
mas, ele ainda parecia tão malditamente ingênuo. Balançando a cabeça, ele se encostou à porta,

batendo as cinzas, que flutuavam até o chão.

“Essa merda vai matá-lo, você sabe disso,” Ty murmurou enquanto caminhava até ficar

ao lado do SUV.

Zane deu-lhe um olhar divertido quando tirou o cigarro dos lábios. “Este era o vício

menos destrutivo dos meus vícios, sair com muitos como eu fazia, apenas mantenho este, para

manter os outros na linha.” Ele pensou sobre isso por um minuto. “Acho que eu poderia ter-me

prostituido em seu lugar.”

“Isso vai matá-lo, também,” Ty respondeu simplesmente.

Dando mais uma tragada, Zane inclinou a cabeça. “Vou pensar sobre isso quando não

precisar de algum alívio para o estresse,” e soprou a fumaça no ar, para longe de Ty e riu

sombriamente. “Eles são bons para isso.”

“Por que não encontra outras opções?” Ty perguntou curiosamente, incapaz de ajudar a

si mesmo. “Você é um cara de boa aparência, você acabou de receber um chute para fumar isso?”

Zane sorriu. “Será que recebi um elogio?” ele perguntou, sacudindo as cinzas para o lado

enquando olhava para seus pés. Ele deu outra tragada no cigarro antes de responder. “Quebrar

as regras é viciante, também.”

Ty inclinou ligeiramente a cabeça e olhou para Zane através das lentes escuras de seus

óculos modelo aviador marrom. “Como diabos você passou nos exames de psicologia?” ele

perguntou finalmente, exasperado.

Zane respirou profundamente e soprou a fumaça para fora, parecia resignado. “Você não

é o único bom em mentir por entre os dentes.”

Ty ficou em silêncio por um longo momento antes de se inclinar mais perto e abaixar os

óculos de sol o suficiente para encontrar os olhos de Zane. “Se você for o assassino, eu vou ficar

muito, mas muito chateado, entendeu?” alertou.

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Zane jogou a cabeça para trás e riu. “Eu tenho planos para fazer muito mais coisas, antes

de receber qualquer golpe de misericórdia, homem,” ele disse, dando uma última tragada no

cigarro, antes de deixá-lo cair e o triturar sob sua bota.

Ty bufou em resposta e olhou para cima e para baixo da calçada lentamente, antes de

alcançar a maçaneta da porta e abrir a porta ao lado do passageiro.

“Vamos dar o fora daqui,” ele murmurou. “Eu tenho uma dor de cabeça.”

Com as chaves tilintando na mão, Zane entrou no SUV juntamente com Ty.

“Henninger disse que tinha colocado a papelada no carro, de modo que não vai chamar a

atenção para isso,” disse Ty, depois que ambos se estabeleceram no banco. “Ele também disse

que nunca, na verdade, recebeu esses arquivos pessoais malditos, e eu poderia jurar que eu fiz.”

“Acho que nos distraimos com a comida, então a polícia de Nova York chamou e lá

fomos nós,” Zane respondeu com pesar. “Ele disse que ia ficar com ele?”

“Ele disse que eu precisaria dos arquivos originais e estão no nosso antigo quarto,” Ty

respondeu.

“Holiday Inn?” Perguntou Zane.

Ty assentiu. “Eu quero a minha outra jaqueta,” resmungou em resposta.

Zane olhou para sua nova jaqueta e sorriu. “Lá vamos nós, então.” Ele ficou em silêncio

por um longo minuto, enquanto o rádio tocava. “Chorão.”

“Cale a boca,” Ty murmurou, tentando não ver o tráfego passando, isso poderia deixá-lo

doente. Ele tirou os óculos escuros e esfregou os olhos. “Eu não deveria ter comido,” ele

murmurou depois de um momento, inclinou a cabeça contra a mão e cobriu os olhos com os

dedos.

Olhando para Ty, a preocupação se mostrava no rosto de Zane. “Podemos voltar para o

Tribeca por um tempo,” ele ofereceu.

283
“Eu particularmente não quero que você me veja vomitando as tripas.” Ty falou, se

sentindo tão ruim que não discutiu, engoliu pesadamente e concordou com a cabeça. Zane virou

na próxima direita e vinte minutos depois, pararam em frente às portas. “Vá em frente, vou

estacionar o SUV,” disse Zane.

“Não,” Ty respondeu com um aceno de cabeça quando olhou para o hotel. “Precisamos

ficar juntos o quanto pudermos.”

Sem dizer uma palavra, Zane colocou o SUV em movimento e o levou para dentro da

garagem, quando parou o carro em uma vaga, olhou para Ty e ficou mais preocupado. “Ty, você

não parece bem.”

“Eu não me sinto tão bem,” Ty murmurou quando tremor violento o percorreu, ele olhou

para Zane com uma careta, tinha perdido a sua cor, e estava se sentindo um pouco tonto.

Os olhos de Zane se arregalaram. “Já sentiu esse sintoma antes? Ainda está sensível às

drogas?”

“Eu acho que é a concussão,” Ty murmurou enquanto soltava o cinto de segurança e

abriu a porta com um ligeiro solavanco. “Estive lutando durante toda a manhã,” ele murmurou.

“E não são mais as drogas!” ele falou quando saiu do carro e fechou a porta.

Zane tirou o cinto de segurança e saiu do carro, encontrou Ty no pára-choque traseiro, e

avançou para pegar o outro homem quando ele cambaleou. “Cristo,” Zane vaiou baixo, sem

fôlego, deslizou um braço debaixo de Ty e ajudou-o a andar.

“Eu disse que deveria ter ficado na porra do hospital,” Ty resmungou enquanto se

segurava em Zane firmemente. “Jesus, pelo menos não fiz isso na frente do garoto,” ele

murmurou enquanto tentava e não conseguia andar em linha reta. “Talvez eu precise voltar,”

disse em dúvida.

“Não era seguro no hospital,” respondeu Zane, apertou o braço em volta Ty quando

pararam no elevador e estendeu a mão para apertar o botão. “Qualquer um pode circular pelos

284
quartos, você está melhor aqui, mas, desta vez, vai tomando o Tylenol para ajudar com o inchaço

e a febre,” ele repreendeu, Zane podia sentir o calor que irradiava de seu parceiro.

“Febre,” Ty bufou duvidoso, fechou os olhos, e protelou outra onda de náusea. “Eu

nunca tive uma concussão antes,” acrescentou com a voz distante.

“Nunca?” Zane disse incrédulo enquanto ajudava Ty entrar no elevador.

“Você já estave no Recon, um mariner, foi aceito no FBI, e você nunca teve uma

concussão? Como diabos você conseguiu isso?”

“Eu apenas me abaixava,” Ty respondeu com uma voz pueril e honesta.

“Você se esquivou,” Zane murmurou. “Seu espertinho”. Deixou que Ty ficasse mais

próximo a ele, o amparando com o seu corpo, quando a porta se abriu. “Pense, você pode

conseguir se segurar mais um pouco, até sairmos desse elevador?” ele perguntou, olhando para o

corredor.

“Uh huh,” Ty respondeu com um aceno de cabeça que o fez estremecer, engoliu em seco

e se endireitou, fechou os olhos e tentou usar sua força de vontade para impedir que a cabeça

continuasse girarando. “Talvez,” ele emendou.

Zane olhou para ele com ar de dúvida, mas abriu o caminho até o elevador, pairando ao

lado de Ty enquanto caminhavam lentamente até os elevadores. Por sorte, como era o meio da

tarde, era escasso encontrar pessoas. Ele apertou o botão para subirem.

Ty não sabia o que era pior, manter os olhos abertos e ver o ambiente girar ou fechá-los e

senti-los girando. Ele colocou a palma da mão contra a parede e se apoiou pesadamente contra

ela, ficando mais branco, enquanto tentava puxar o ar.

“Qual hotel é esse?” ele perguntou a Zane quando finalmente fechou os olhos

novamente.

Os olhos de Zane brilharam para Ty, vendo-o pálido. “Tribeca Grand,” ele murmurou,

aproximando-se e deslizando o braço em volta Ty, na parte inferior das costas.

285
“Então, eu posso falhar?” Ty aventurou esperançosamente, inclinando-se contra Zane

novamente, quando as portas do elevador se abriram.

“Sim, você pode,” Zane concordou não o deixando, enquanto saiam do elevador. Cinco

minutos depois, estavam no quarto, e Zane ajudou Ty a subir na cama. “Aqui estamos nós

novamente,” ele disse com um suspiro. “Você pode se sentar um tempinho enquanto eu pego o

Tylenol?”

“Sim,” respondeu Ty com um profundo rubor de vergonha.

Zane se agachou na frente dele e segurou seu rosto. “Hey, não é você, ok? É o golpe na

cabeça, nada para se envergonhar, e se sentir uma merda, acredite em mim, já estive lá.”

Ty apenas balançou a cabeça, mal encontrando os olhos de Zane.

Zane levantou o queixo de Ty. “Jarhead27 teimoso,” ele murmurou, com um pouquinho de

carinho em sua voz, então se levantou e foi até o banheiro.

Ty abaixou a cabeça e lambeu os lábios lentamente, suspirando de alívio quando a

tontura começou a diminuir. Odiava não ter controle sobre seu corpo, odiava ser ferido, e lesões

na cabeça sempre foram um de seus maiores medos. Ele já tinha visto o que poderiam fazer até

nos mais forte dos homens, depois de dias, até meses após a lesão.

Voltando com dois comprimidos e um copo de água, Zane se agachou novamente. “É

Tylenol, vê? Apenas dois,” brincou calmamente, mostrando as palmas para cima. “Beba a água

com os comprimidos, você precisa dormir.”

“Ugh,” Ty comentou calmamente enquanto tomava as pílulas.

“Apenas alguns minutos,” insistiu teimosamente.

“Por quê?” Perguntou Zane.

27
Um membro dos Fuzileiros Navais. Quando usado por civis pode ser considerado pejorativo, mas é usado frequentemente
entre os fuzileiros. O termo origina-se do corte de cabelo “alto e forte” que muitos fuzileiros usam, que faz a cabeça parecer
uma jarra.

286
“Saímos sem licença,” disse Ty com dificuldade, usando a terminologia errada e nem

mesmo percebendo. “Tenho que fazer alguma coisa.”

Zane franziu o cenho. “O que é isso? Algo que eu posso fazer?”

“Não, é só... Alguma coisa, qualquer coisa,” Ty esclareceu.

Balançando a cabeça, Zane colocou uma mão no braço de Ty. “O que você precisa fazer é

dormir,” ele insistiu. “Então nós poderemos fazer alguma coisa, mas não assim, você não

consegue nem andar.”

“Ponto,” Ty permitido quando se deixou cair lentamente na cama.

Zane assentiu e tirou as botas de Ty antes de empurrar as pernas dele para cima da cama

e puxar os lençóis. “Grite se precisar de mim,” ele murmurou, deslizando a mão pelo cabelo de

Ty suavemente, Ty grunhiu em resposta, sonolento.

Ficando de pé, Zane esfregou o rosto com uma mão e suspirou, olhando sem rumo, se

saisse do quarto, Ty ia bater a merda fora dele quando acordasse, Zane estava certo disso, então,

com um suspiro, tirou a jaqueta de couro e foi para a saleta da frente da suíte esperar.

Horas mais tarde, Ty acordou com um suspiro, procurando por uma faca, que não tinha

dormido com ela por quase sete anos. Zane o olhou de onde estava sentado, em uma mesa

pequena no canto do quarto, onde estava escrevendo em um bloco de notas do hotel. “Ty?” ele

disse calmamente.

Ty olhou para ele, com os olhos arregalados e tensos por um breve momento antes de se

acalmar. Sua respiração ainda estava difícil, e ainda estava tenso como uma corda de arco.

Cautelosamente, Zane soltou a caneta e manteve as duas mãos sobre a mesa, movendo-se

tão pouco quanto possível, Ty parecia muito assustado. E um Force Recon da Marinha assustado,

com uma lesão na cabeça, não era alguém para se brincar. “Como você está se sentindo?” ele

perguntou.

287
Ty observou Zane por um longo tempo antes de baixar os olhos, como se estivesse

procurando a resposta para a pergunta. Ele olhou para a janela, com suas pesadas cortinas

fechadas, e ele olhou para os dedos dos pés com suas meias, antes de lamber os lábios e balançar

a cabeça. “Ok,” ele respondeu com cautela.

“Precisa de mais Tylenol? Alguma coisa para beber?” Zane perguntou o observando de

perto. Ele pensou que Ty parecia um pouco melhor. Não tão pálido, sem suores, e firmeza em

volta de seus olhos. Mais ou menos. Não havia nenhum sinal de reconhecimento por parte de Ty

e isso enviou uma fatia fria de preocupação por ele.

“Não,” respondeu Ty no mesmo tom cauteloso, estendeu a mão e lentamente acariciou

sua panturrilha esquerda, não encontrou o que estava procurando e franziu a testa enquanto

olhava ao redor da cama procurando o que estava faltando.

“O que você está procurando?” Zane perguntou, franzindo o cenho.

Ty olhou de volta para Zane, como se não tivesse certeza se ele era real. “A minha faca,”

ele respondeu com ar de dúvida, lambeu os lábios e viu Zane por um segundo, antes de limpar a

garganta e resmungar: “Eu não tinha a minha faca?”

Zane apertou os lábios. “Não,” ele disse, balançando a cabeça.

Ty o olhou ligeiramente ferido, enquanto olhava para Zane, percebeu a cautela, e

finalmente balançou a cabeça em aceitação.

“Você sabe quem eu sou?” Zane perguntou uniformemente.

Ty balançou a cabeça novamente, revirando os ombros para tentar aliviar um pouco da

tensão.

“Que tal um pouco de água?” Zane perguntou, realizando uma manobra na cadeira trás

da mesa.

“Ok,” Ty respondeu com cautela, ainda de cara feia para Zane e o notando com cautela.

“Você sabe quem você é certo?” Zane se aventurou, parando no pé da cama.

288
“Sim,” Ty murmurou irritado. “Estúpido,” acrescentou, deixando Zane saber que ele

realmente se lembrava dele.

Zane sorriu e inclinou-se. “Hmmm, poderia beijá-lo para recebê-lo de volta a terra, mas é

contra as regras”.

Ty piscou para ele, arregalando os olhos lentamente no pronunciamento altamente

incomum. “Regras?” ele perguntou com a voz rouca de repente.

Mordendo os lábios, Zane balançou a cabeça. “Bem,” ele murmurou, “apesar do que

você pensa, eu nunca fui um cara bom em regras.” Ele estendeu a mão para segurar o queixo de

Ty e beijou-o com firmeza, um pouco de alívio tirou a tensão no corpo de Zane.

Ty ficou tenso e devolveu o beijo, como se estivesse muito surpreso de não fazê-lo, mas

depois relaxou lentamente e inclinou-se para ele. “Espero no inferno me lembrar de onde veio

isso,” ele murmurou com um pequeno sorriso.

Zane cantarolava contra os lábios humildes de Ty. “Bom,” ele disse, com a voz um pouco

áspera; apenas um beijo o deixou excitado. Zane fechou os olhos por um momento, respirando se

firmando e depois se empurrando para longe da cama.

“Isso... isso é muito, muito bom,” disse Ty baixinho enquanto Zane se afastava dele. Zane

fez uma pausa e olhou para trás com os olhos escurecidos, antes de Ty se sentar de frente para ele

na cama, esperando para ver o que ele faria. Esse era o verdadeiro Ty? O que ficou escondido sob

camadas de formação na Marinha com sarcasmo forçado? Ou foi apenas à concussão na cabeça?

Ty observou-o em silêncio, com os olhos estranhamente calmos e muito mais claros, mais

uma vez. “Eu me lembro de querer muito você,” ele finalmente admitiu.

Zane ficou em silêncio por vários segundos. “Quer... Então?” ele perguntou.

Ty apenas balançou a cabeça e deu um pequeno sorriso envergonhado.

“Sim... Eu quero.”

Um sorriso lento escapou da boca de Zane. “O sentimento é mútuo.”

289
Ty lambeu seus lábios e sorriu lentamente. “Eu vou negar isso depois, dizendo que era a

minha cabeça doendo,” disse a Zane rispidamente.

“Eu não esperaria menos, não posso ameaçar o meu status de amor-perfeito-e-burro nessa

relação,” Zane brincou.

Ty levantou uma sobrancelha e inclinou o queixo para o lado com a palavra relação.

“Relacionamento?” ele perguntou com uma pequena risada, se lembrou de brincar com

Zane. “Não me lembro de nenhum “relacionamento,” por assim dizer”.

Zane revirou os olhos, apesar do salto de sua pulsação com a reação de Ty.

“Não literalmente, somos parceiros, depois de tudo.” Ele mudou o seu peso, e deu um

passo para trás. A mão de Ty levantou com uma velocidade surpreendente e o agarrou. Zane

parou no lugar, questionando Ty com os olhos. Ty inclinou a cabeça e deu um leve puxão na mão

de Zane.

Ty deslizou a outra mão sobre a coxa de Zane, e Zane se aproximou mais, interessado,

mas também um pouco desconfiado. Ty era um desgraçado desonesto e Zane poderia esperar

um beijo... Mas, ele tinha quase certeza que Ty iria empurrá-lo no chão. Tudo em tom de

brincadeira é claro.

“Estamos fazendo a coisa certa?” Ty perguntou sem fôlego quando olhou para Zane.

Zane olhou para a mão que ainda segurava seu pulso e depois para Ty, o desejo estava

escrito nele. “Eu não sei,” admitiu com a voz grosa, enfrentando o dilema, um de frente ao outro,

juntos. “Mas com certeza nos sentimos bem.”

Ty apenas balançou a cabeça e lambeu os lábios, dando muita atenção aos olhos de Zane.

“Não quis dizer isso, me refiro ao caso, devemos mesmo permanecer assim?” ele perguntou com

a voz áspera.

Com as bochechas vermelhas, Zane piscou rapidamente para ele. “O caso, sinceramente

não sei mais,” disse calmamente.

290
Um momento se passou em silêncio, nem mesmo o som de sua respiração quebrou o

momento, finalmente, Ty puxou Zane para mais perto e o beijou apaixonadamente.

“Bom Deus, Ty,” Zane murmurou quando se separaram para respirar.

“Acho que talvez uma chuveirada possa cair bem agora,” Ty murmurou com um beijo

final. Ele foi à procura de uma razão para não irem em frente com o que haviam começado e se

sentia muito fora de controle para se sentir confortável. Ele beijou Zane novamente, de forma

impulsiva e depois o afastou da cama e começou a empurrá-lo com cuidado para o banheiro. Ele

sentia que poderia cair se movesse muito rapidamente.

Ficando ao lado de Ty, Zane acompanhou Ty. “Sim,” ele sussurrou; Cristo, o que é um

ponto de vista. Ele fechou os olhos por alguns segundos. O que ele iria fazer quando Ty voltasse

a ser... Ty? Por mais que este Ty cativante e sexy como o inferno fosse, era desconcertante o jeito

de ser tão totalmente diferente do homem que Zane tinha conhecido, no sexo e tudo mais. Era

como encontrar um novo parceiro, que era muito mais fácil de trabalhar, amigável e carinhoso, e

Zane simplesmente não sabia o que pensar sobre isso. Pior ainda, ele podia sentir o fascínio

perigoso dele, ameaçando arrastá-lo sob esse novo querer.

Ty permaneceu no banheiro por alguns momentos antes de fechar o jato de ducha

quente, e logo estava no quarto novamente, com uma toalha enrolada na cintura e outra em seu

cabelo curto, enxugando cuidadosamente, enquanto observava Zane, se aproximou dele. Todo o

seu lado direito estava coberto de hematomas púrpuro e desagradável, e andava sentindo um

pouco o seu passo. “Que dia é hoje?” ele finalmente perguntou com uma careta.

“Sexta” Zane murmurou, ele estava deitado com o braço jogado sobre seus olhos.

Ty franziu o cenho, mas não disse nada em resposta, se aproximou mais da cama e jogou

sua toalha sobre as coxas de Zane. “Você está bem?” ele perguntou.

Zane ergueu o braço, sua testa estava franzida quando olhou para Ty.

291
“Sim.” O que Ty estava perguntando? Sobre o seu estado de espírito? Zane moveu a mão

para pegar a toalha quando olhou para Ty, que estava se elevando sobre ele. Deus, ele estava

incrível com este aspecto, mesmo todo espancado, corado e macio depois de um banho quente.

“Tem certeza?” Perguntou Ty. “Sinto como se eu fosse mais um obstáculo do que uma

ajuda,” admitiu.

“Não para mim,” Zane respondeu uniformemente.

Ty assentiu e abaixou a cabeça, recuperando a toalha das mãos de Zane, sem dar mais

outra palavra.

Zane sentou-se e olhou para o seu parceiro. “Você ainda está se sentindo confuso? Será

que precisamos te colocar de cabeça pra baixo para o seu cérebro ir para o lugar?” ele perguntou,

preocupado.

Ty abaixou a cabeça e olhou para Zane com as sobrancelhas abaixadas.

“As coisas ainda estão meio nebulosas,” admitiu depois de um momento de autoanálise

honesta. “Lembro-me de coisas importantes; mentalmente estou bem, fisicamente, nem tanto. Eu

acho que se entrasse em uma luta hoje à noite, seria mais um peso,” acrescentou com uma careta

de dor quando abaixou a cabeça novamente.

“Então, vamos ficar no hotel e ficar tranquilos, preciso fazer alguns telefonemas e dar

uma saída para pegar as nossas coisas e os arquivos para Henninger, essa agora, é a nossa única

pista; fora isso, infelizmente estamos sem muitas opções para prosseguir com o caso. Eu odeio

dizer isso, mas, poderá ocorrer mais um assassinato e teríamos sorte de encontrar algumas novas

evidências.”

“Talvez, se nós não estivéssemos sendo procurados pelo assassino, poderíamos ter

cobrindo todos esses dias e teríamos feito mais progresso,” Ty murmurou amuado quando se

sentou na beira da cama. “Onde estão os arquivos novos?”

292
“Na saleta,” Zane respondeu uniformemente, tentando não mostrar o quão preocupado

estava, vendo Ty com dificuldade para se lembrar. “Eu vou pegá-los e depois pegar alguma

comida que não seja serviço de quarto e alguns petiscos, volto logo,” ele continuou indiferente.

Ty olhou para ele, algo como mágoa e ressentimento em seus olhos.

“E quanto a Henninger? Você vai chamá-lo para ir com você?” ele perguntou finalmente

resignado.

Zane virou seu queixo e olhou para ele de maneira uniforme. “Preferia ter você lá

comigo, mas sim, eu posso chamá-lo”.

Ty apenas o olhou fixamente, mantendo a fachada dos primeiros dias, que retornava

lentamente. Os lábios de Zane se contorceram com tristeza, era esse o “seu” Ty. Era algo parecido

como uma armadura protetora, se Ty se sentisse ameaçado, ele se transformava em outro

homem. Zane se levantou e foi até a saleta da frente para chamar Henninger.

Pelo menos com este Ty ele sabia como lidar. O outro homem, o mais suave, jogava

totalmente com ele, mas, estranhamente, o peito de Zane estava ferido. Foi algo que ele havia

dito que fez com que esse novo homem desaparecesse novamente.

“Eu vou com você, se você confiar em mim nisso,” veio uma voz suave do quarto.

Rasgado, Zane segurava o celular em uma das mãos. Passado um dia e meio, Ty havia

lhe ameaçado de lesão corporal, se ele voltasse para o Holiday Inn sem ele; em um primeiro

momento, Zane achava que Ty tinha desdém por suas habilidades, mas, mais tarde descobriu

que Ty apenas se preocupava com ele. Agora, Ty estava agindo como se Zane fosse o único que

estava julgando as habilidades de Ty. Deslizando o telefone no bolso, Zane caminhou de volta

para a porta do quarto.

“Você sabe que não é só apenas eu aqui,” disse Ty sem rodeios quando se sentou na

beirada da cama, com as mãos entrelaçadas entre os joelhos.

293
“Mesmo não sendo apenas você, você é ainda melhor do que eu,” disse Zane. “E você

pode acreditar em mim ou não.” Ty era um Recon, um maldito fuzileiro naval, um agente secreto

de nível superior. A sobrevivência foi enraizada em seus instintos e reflexos, coisas que

simplesmente não vinham naturalmente para Zane.

Ty levantou levemente a cabeça e olhou para Zane, o avaliando. “Dê-me um minuto para

me vestir, então,” ele finalmente murmurou.

Zane assentiu e se encaminhou até a penteadeira onde tinha colocado as suas armas e

começou a ajustar seu coldre. Ty se vestiu lentamente, em silêncio, temendo outro ataque de

tontura ou náusea. Finalmente, olhou por cima do ombro enquanto abotoou a camisa e

murmurou: “Eu não gosto de me sentir inútil.”

“Eu sei,” Zane respondeu se virando de onde estava verificando suas armas. Ty se virou

e observou os movimentos dos ombros de Zane quando ele verificava se as armas estavam

carregadas e funcionando corretamente. Ele se aproximou com os pés descalços no tapete,

deixando se movimento quase silencioso. Ele parou apenas fora do alcance do braço e deslizou as

mãos nos bolsos.

“Zane, existe alguma coisa que eu não esteja me lembrando?” ele perguntou com a voz

baixa e as palavras lentas.

Zane olhou para cima, mas não se virou, suas mãos ainda estavam em movimento,

verificando as arma. “Como o quê?”

“Eu não poderia dizer,” Ty respondeu em confusão silenciosa, ele podia sentir que Zane

esperava alguma coisa dele; e ele sabia que o que quer que fosse ele não estava entregando.

A voz vacilante de Ty fez os ombros de Zane endurecerem. Ele se virou. “Ty,” ele

suspirou. “Eu só estou preocupado, tudo bem? Você não é... Exatamente... Você; e não é ruim,

não é errado, apenas não é o mesmo, e isso me preocupa, fico preocupado com o que você vai

294
pensar sobre isso depois, o que você vai pensar de mim, Ok?” Ele estendeu a coronha da arma

para Ty.

Ty olhou para a arma e, em seguida, ficou confuso com a confissão de Zane.

“O que eu vou pensar de você?” ele repetiu soando um pouco perdido.

O sorriso de Zane era autodepreciativo. “Estou bastante certo da porra do lado que você

está, e nem todos gostam de mim, lembra-se dos comentários amor-perfeito-e-burro?” Ele ofereceu

a arma novamente. “Você quis fazer esses comentários de todo o coração, e não imerecidamente,

eu acho.” Ele deu de ombros e olhou para Ty uniformemente, e sua voz estava um pouco mais

lisa. “Não pense muito sobre isso, dê-lhe um ou dois dias, e você vai ficar bem, então, tudo isso

pode passar por um mero desencontro de sua memória, o que você quiser.”

Ty franziu a testa duramente quando pegou a arma. “Tudo bem,” disse suavemente,

verificando automaticamente para ver se a arma estava carregada.

Por que doía quando Ty se virou, Zane não sabia e se recusava a pensar nisso.

No caminho para o Holiday Inn veio à transmissão via rádio.

Outro assassinato.

O operador do rádio deu o endereço, o nome do hotel e o número do quarto, e Ty inalou

bruscamente.

“Eu conheço este esse número,” ele disse com a voz baixa. “Por que eu sei esse número?”

ele perguntou a Zane em frustração. Sua cabeça latejava, mas Zane não precisa saber disso, ou da

visão escura, em torno de sua visão periférica.

Zane olhou para ele preocupado enquanto dirigia.

“Vá lá,” Ty pediu. “Vá para a cena.”

Zane assentiu e traçou o endereço no GPS, então ligou à sirene para chegarem mais

rápido através do tráfego em direção ao hotel. A entrada da frente já estava ocupada com

policiais da cidade e do FBI forense. Uma ambulância estava ociosa na zona tow-away.

295
Ty abriu a porta e saiu do carro antes de Zane estacionar, e Zane amaldiçoou de forma

bem criativa e o seguiu apressadamente. Ty foi para o meio das pessoas, e Zane poupou o

pensamento de que foi uma coisa muito boa à rua ter sido isolada, ou Ty teria apenas enfrentado

o tráfego e o ignorado. O fato de que seu parceiro não estava definitivamente bem, e que tudo

desabou sobre ele tão rápido, doía.

“Jesus, Garrett,” Ty engasgou em horror quando olhou para a fachada do edifício do

hotel. “É ela,” disse sem fôlego.

“Quem?” Zane perguntou confuso.

“Eu estive aqui, esse é o número do quarto,” respondeu Ty enquanto sua respiração

começou a acelerar ainda mais. “Era dela.”

“Quem?” Zane perguntou frustrado.

“A aeromoça,” Ty sussurrou. “A do voo.”

“A garota que você comeu naquela noite?” Zane perguntou com medo, quando olhou de

volta para o caos dos veículos da polícia.

“Encontrarão evidencias minhas por todo quarto,” Ty disse com a voz baixa. “Ela estava

indo embora naquela noite, se for ela, eu fui à última pessoa com ela.”

“Foda-se,” Zane assobiou quando passou a mão pelo cabelo.

“Sim,” Ty murmurou quando sua mente cambaleou. “Eu acho que é hora de me

denunciar,” ele sussurrou, “antes que eu seja acusado de assassinato nessa porra”.

Zane assentiu, tirou seu celular e começou a discar.

Quatro horas da madrugada, eles estavam do lado de fora do quarto, conversando em

voz baixa com os agentes especiais Sears e Ross, com os membros da equipe forense e os outros

que trabalharam ativamente.

Havia sido dada uma oportunidade a eles para olharem a cena antes de tudo ser tocado e

analisado. O corpo Isabelle St. Claire foi pendurado na janela do hotel, com um lençol branco e

296
limpo. Ela estava nua e sangrando, coberta com várias cores de tinta à base de água, e

emoldurada pelo invólucro de madeira pintada da janela como um retrato.

Ty olhou para a cena imóvel, ficando perigosamente pálido quando olhou para a paródia

obscena de um retrato emoldurado na parede. Zane finalmente pegou seu cotovelo e o puxou

para longe, incapaz de ver o efeito que a cena tinha sobre ele.

“Então você conhecia a vítima?” Sears perguntou para Ty quando estavam no corredor.

Ty acenou com a cabeça, mas depois balançou a cabeça. “Ela era uma pessoa conhecida,”

disse ele, com a voz vazia, incapaz de tirar os olhos da porta.

“Ou seja, você transou com ela, em seguida a largou,” Ross forneceu.

Zane pigarreou, mas Ty apenas balançou a cabeça de novo, em resposta, sem pensar nas

palavras duras.

Zane pairou perto. “Ele ficou fora por menos de duas horas naquela noite,” ele forneceu

com a voz dura. “Ele não estava coberto de tinta ou sangue quando voltou, acho que eu teria

notado, pelo menos, estivemos um com o outro praticamente 24/7 desde então,” disse-lhes.

Ty se virou para olhar para Zane brevemente, mas nada acrescentou.

Ross e Sears olharam entre si, em uma comunicação silenciosa, antes de Ross voltar a sua

atenção para os agentes. “Certo, temos os seus números caso haja qualquer coisa que venha à

tona, agora saiam daqui,” resmungou.

Ty não se mexeu; seus pés estavam enraizados no chão em frente à fita amarela da

polícia, que havia isolado o quarto. “Como ela morreu?” ele perguntou com a voz rouca. “Ela

ainda estava viva quando ele a colocou lá em cima?” Ele perguntou quando o elevador apitou no

corredor.

Ele esperou que os seus dois colegas agentes se entreolhassem novamente, Sears

respondeu finalmente. “Há uma grande quantidade de sangue, parece que talvez ela estivesse

viva,” ela murmurou com pesar.

297
Ty fechou os olhos e virou a cabeça para o lado, lutando contra o desejo de ficar doente,

Zane teve que lutar muito para não tocá-lo ou confortá-lo de qualquer maneira, finalmente,

colocou a mão suavemente em seu ombro.

Houve um baque nauseante quando o corpo foi retirado do lençol e colocado em uma

peça de plástico no chão.

Sears fechou os olhos e olhou para longe. “Às vezes, eu odeio meu trabalho,” murmurou,

se virando para olhar seu companheiro, que estava assistindo a tudo desapaixonadamente.

Outra mão em seu outro, fez Ty abrir os olhos novamente, e se virou para ver que

Henninger se juntou a eles, Ty nem sequer pensou em perguntar por que ou como.

“O que faz aqui?” Zane perguntou, franzindo um pouco a testa. Ele olhou por cima do

ombro, em direção ao jovem, para ver Morrison a vários metros de distância, verificando a

papelada de um dos policiais da cidade, que foram chamados para proteger o local.

“Achei que vocês poderiam estar aqui quando ouvi a chamada,” Henninger respondeu

calmamente. “Estão verificando a área?”

Zane olhou para Ty, o homem estava, obviamente, em estado de choque. “Não”.

“Vamos embora,” ele murmurou enquanto pegou o braço de Ty, puxando-o em direção

das escadas, na extremidade oposta do corredor. Henninger os seguiu, olhando por cima do

ombro para ver Morrison absorto em uma discussão, de costas para elas.

“Para,” Ty murmurou quando chegaram à porta de incêndio. Ele balançou a cabeça e

olhou para os dois homens, em seguida, virou-se para olhar para trás, observando as atividades

atrás deles.

“Se desaparecermos novamente, eles vão suspeitar,” ele lembrou vagamente.

Os lábios de Zane pressionaram duramente e ele mordeu a sua vontade de protestar.

Embora Ross e Sears tivessem terminado com eles por enquanto, isso não garantia que iria ficar

desse jeito. “Merda,” ele jurou sob sua respiração. “Foda-se, não quero estar onde aquele filho da

298
puta sabe onde estamos.” Ele se virou e acenou para Henninger voltar à atividade, em seguida,

pegou o cotovelo de Ty e colocou a mão na porta pesada da escada.

Henninger assentiu e voltou pelo corredor até a cena do crime, junto de seu parceiro,

olhando por cima do ombro, preocupado com eles.

“Tenho um mau pressentimento sobre isso,” Zane murmurou enquanto abria a porta da

escada e fez um gesto para Ty o acompanhar, Ty não respondeu quando entrou na escada e ficou

olhando para os degraus de baixo.

Zane começou a descer as escadas, então parou e se virou quando percebeu que Ty não o

estava seguindo.

As mãos de Ty estavam mole ao lado de seu corpo e ele inclinou a cabeça ligeiramente.

“Ele sabia que eu tinha estado aqui,” Ty murmurou. “Ele me seguiu, ele sabia que

poderia me ferir através dela; ele sabia que nós nos hospedaríamos em quartos diferentes dos

que nos foram designados, e mesmo assim nos encontrou. Ele sabia que íamos ficar naquele

quarto, mesmo depois de você ser ferido e ele planejou isso, e não incluía sermos mortos,” ele

divagava lentamente. “Ele está nos perfilado,” ele sussurrou, com um pouco de choque em sua

voz.

“Sim,” Zane concordou. “Então, nós não vamos chegar a lugar nenhum.” Ele parou por

um longo momento. “A menos que quebremos o perfil.”

Ty balançou a cabeça e franziu o cenho. “Precisamos levar isso para Burns,” ele disse

suavemente, como se ele pudessem ser ouvidos. “Porque agora, o suspeito número um seria eu.”

Os olhos de Zane se estreitaram. “Foi o seu último trabalho aqui em Nova York?” ele

perguntou.

Ty apertou os lábios com força, preparado para oferecer o seu discurso habitual “Que está

classificado, sim,” mas, não havia realmente nenhum ponto nisso. “Sim,” respondeu, finalmente.

299
A mandíbula de Zane apertou e olhou para Ty por um longo minuto. “Você não é o

assassino,” ele finalmente disse uniformemente. “Não haverá provas para te rastrear e o acusar,

assim como não há provas para ligá-lo aos crimes e prendê-lo, apenas temos que encontrar o

assassino.”

Ty devolveu o olhar meio ilegível, finalmente, balançou a cabeça e olhou para suas botas.

“Ty,” Zane disse, tentando chamar a atenção dele. “Eu não posso fazer isso sem você.”

“Você sabe que eles vão nos tirar deste caso, certo?” Ty respondeu suavemente. “Nós

dois estaremos, provavelmente em liberdade condicional até que estejamos limpos.”

“Você disse isso antes, Burns nos colocou neste caso por uma razão; nós dois já estamos

tão fodidos, que deveríamos ter sido demitido ou enterrados, ele vai nos manter no caso,”

afirmou Zane quando estudou o outro homem. “Quanto ainda está faltando em sua cabeça?”

“Por quê?” Ty perguntou defensivamente.

“Podemos usar isso a nosso favor, você não está em seu estilo normal, podemos usar

isso,” Zane apontou sério. “Claro, você pode acordar depois de um cochilo de trinta minutos e

estar de volta à sua conduta irascível de costume.”

Ty olhou para ele por um minuto e, em seguida, seus lábios se contraíram em um meio

sorriso. “Irascível?” ele repetiu fracamente, esfregou as mãos sobre os olhos com um suspiro de

frustração súbita, e deu de ombros. “É como nadar através de algodão, tentando se lembrar das

duas últimas semanas,” ele respondeu. “Lembro-me de alguns pequenos detalhes, mas, outras

coisas, coisas grandes, não me lembram de nada.”

Dando poucos passos para que pudesse alcançá-lo, Zane afastou as mãos de Ty de seus

olhos. “Não se esforce em lembrar, é o que os médicos me disseram; tentar se forçar a lembrar,

vai apenas dar-lhe uma dor de cabeça.”

Ty olhou para ele, perplexo. “Eu já tenho uma dor de cabeça,” admitiu.

300
Zane sorriu tristemente e olhou para Ty cuidadosamente, ainda segurando os dois pulsos

de Ty nas mãos. “Você parece... bem,” ele murmurou com uma careta.

“Eu não posso pensar,” Ty murmurou em resposta, se remexendo tanto quanto um

homem podia quando estava empoleirado no topo de uma escada com as duas mãos sendo

manuseadas por outra pessoa.

Zane ficou sério e observava seus movimentos agitados, liberando lentamente as mãos

para que ele pudesse andar, se quisesse. “Ty, você tem que se acalmar, não há muita coisa que

podemos fazer agora; mas isso não significa que não seremos capazes de fazer mais tarde.”

“Eu não posso” Ty finalmente disse a ele com um show atípico de emoção. Sentou-se no

degrau mais alto, se curvou, colocou as mãos em cada lado da cabeça e fechou os olhos, como se

estivesse tentando bloquear tudo; começou a se balançar para frente à para trás lentamente,

enquanto falava. “Eu não consigo me concentrar em qualquer coisa, não quando tudo o que

posso pensar é em você, e agora, com essa porra de dor de cabeça,” ele grunhiu de frustração,

sem terminar seus pensamentos quando fechou os olhos mais uma vez e segurou a cabeça entre

as mãos. “Eu me sinto doente” ele finalmente adicionou lamentavelmente.

A respiração de Zane travou em seu peito. Isso não era o que ele esperava. Ty estava,

obviamente, tendo mais dificuldade com o abalo, do que aparentemente parecia, e o deslize em

admitir que não conseguia se concentrar em nada, deixou o corpo quente de Zane

desconfortável, era difícil decifrar o que realmente significava o que Ty falava através do

balbucio.

“O que você sugere?” Zane perguntou baixinho, tentando falar o mais destacado quanto

possível, pelo menos um pouco mais.

Ty apertou os lábios com força e respirou lentamente pelo nariz. “Eu acho que preciso

solicitar uma licença médica,” ele respondeu por fim, com a voz rouca e cheia de dor. Era óbvio

que ele antes nunca foi forçado a admitir, que não estivesse fisicamente capaz de algo assim.

301
A máscara caiu e Zane parecia atordoado. “Ty... Eu...” Ele não sabia o que dizer, suas

mãos se fecharam em punhos.

“Isto não pode ser feito por si só; nós já estabelecemos que...” Ty respirava. “E eu não

posso pensar...” ele grunhiu de frustração. “Se eu pedir isso antes que nos suspendam, a

suspensão não vai passar em seu arquivo,” acrescentou.

Zane assentiu lentamente, sentindo-se impotente, sem mais forças... Ele levantou as duas

mãos e esfregou os olhos.

Ty permaneceu sentado e abaixou a cabeça com um sentimento de naufrágio. “Nós dois

sabemos que eu não sou bom para você,” ele disse finalmente. “Inferno, eu estou tonto agora.”

Soltando suas mãos, Zane abriu os olhos para olhar para Ty. “Deite-se antes de cair,” ele

disse com a voz baixa e o tom suave, com preocupação. “Por favor.”

Ty inclinou a cabeça para cima, e sua expressão se suavizou quando olhou para Zane.

“Você não vai sentir minha falta,” murmurou para ele em voz baixa. Ele sabia que era a decisão

certa se retirar do caso, mas, não tinha que gostar.

Zane estendeu a mão para correr os dedos pelo cabelo de Ty, mas, quando as pontas de

seus dedos o tocaram, um barulho alto da porta da escada sendo aberta, os assustou e

interrompeu o gesto de carinho.

Ty abaixou a cabeça novamente quando um agente entrou na escada e, em seguida, ele

olhou para cima para encontrar os olhos de Zane novamente. Eles se olharam fixamente durante

vários batimentos cardíacos, antes de Ty ficar de pé cambaleante e se virar para o homem.

“Preciso de um médico,” ele disse com voz rouca para o agente.

“E eu quero que saibam que isso de maneira nenhuma vai afetar negativamente seus

registros. Grady, você foi inocentado de qualquer envolvimento no assassinato, não que nós

esperávamos problemas lá,” disse Burns, o diretor assistente, quando olhou para os dois homens.

302
Não recebeu nenhuma resposta, nos últimos dez minutos e continuou falando. “Garrett, você foi

colocado de volta na ativa para atribuição imediata,” ele continuou.

Os dois agentes na sala com ele estavam tão diferentes, quanto dia e noite, desde a última

vez que os tinha visto. Ty sentou-se calmamente, um pouco distante e reservado. Ele havia

permanecido em um hospital em Nova York sob observação por quase uma semana,

diagnosticado com uma concussão grave e PTSD. Quando teve alta do hospital, voou

diretamente para DC, e foi conduzido para essa reunião. Burns notou que ele ainda usava a

pulseira do hospital em seu pulso.

Enquanto isso, Zane tinha sido levado direto para Washington para ser interrogado

repetidamente, enquanto a investigação interna continuava. Sua atitude foi, compreensivelmente,

uma merda o tempo todo. Conseguir cooperar com qualquer coisa foi uma luta, mas Burns,

realmente não culpava o homem.

Agora, Ty estava marcado para revisão médica no Walter Reed em duas horas, e olhando

para ele sentado em seu escritório, Burns não tinha certeza de que ele fosse passar pelos exames,

nunca tinha visto Ty Grady parecendo tão derrotado. E Burns tinha suas dúvidas sobre a

disposição de Zane para voltarem a trabalhar em conjunto. Zane estava na janela, olhando para

fora, com os braços cruzados, parecia distante. Burns suprimiu uma carranca, o velho Zane

Garrett parecia ter feito uma reaparição: calça jeans escura, camiseta, jaqueta de couro preta, pelo

menos dois dias sem fazer a barba. Burns podia sentir o cheiro da fumaça de cigarro saindo dele

a três metros de distância. Foi só porque ele viu revisão médica de Zane no dia anterior, que

Burns sabia que o homem não tinha voltado para mais alguns de seus velhos hábitos.

Era quase como se os dois trocaram de lugar, ele balançou a cabeça. Esse não era o seu

objetivo quando colocou os dois juntos. Ele deveria saber que Ty poderia corromper alguém.

“Vocês dois têm alguma pergunta?” Perguntou Burns. Ty balançou a cabeça, e Zane

apenas continuou olhando pela janela, sem responder. Burns suspirou.

303
“Vocês serão transferidos,” ele continuou. “Eu não vou compartilhar o paradeiro com

ninguém, além de vocês individualmente; se vocês disserem um ao outro, isso não é da minha

conta.” E Burns iria deixar por isso mesmo. Ele olhou entre eles mais uma vez, nenhum dos dois

falou. “Bem, tenho uma reunião lá embaixo, tomem cuidado.” E com isso ele partiu, deixando-os

sozinhos na sala quando a porta se fechou atrás dele.

Ty estava sentado olhando para o chão com indiferença, incapaz de olhar para Zane.

Zane não se moveu da janela, e os minutos de silêncio se passaram, não era tenso, apenas vazio.

“Você quer saber para onde vou?” Ty perguntou finalmente, a dúvida evidente em sua

voz.

Zane não se virou da janela. “Licença médica, eles vão fazer os procedimentos médicos,

terei que ficar um tempo no Walter Reed e em alguns lugares especiais por um tempo, em

seguida, serei enviado para outra cidade; Norfolk talvez, Atlanta ou possivelmente voltar para

Baltimore; ficar em silêncio por um período de tempo predeterminado, consultar um médico três

vezes por semana,” ele disse em um tom monótono.

Ele sabia o que fazer; ele sabia disso muito bem.

“Acho que é um não, né?” Ty afirmou categoricamente, limpou a garganta e se levantou,

pegou a sugestão de Zane e não perguntou onde o outro homem seria enviado. “Bem,

provavelmente é o melhor, certo?” ele murmurou enquanto vestia o casaco cuidadosamente.

Suas costelas ainda estavam doloridas, mesmo após as semanas que se passaram. “Boa sorte,

Garrett,” ele ofereceu com um pequeno suspiro, não se permitindo pensar por que se arrependeu

deste fim.

“Fique bem, Grady, precisam de você,” disse Zane, sem se mover.

Ele tentou decidir por que isso doía tanto, eles se conheciam apenas há poucas semanas,

com certeza, eles tinham ferrado um ao outro como loucos, mas, por que isso o fazia se sentir tão

mal?

304
Ty o observou por um momento, um sentimento se afundando em seu peito quando

percebeu que Zane nem sequer pretendia se virar e dizer a porra de um adeus. Moveu-se

silenciosamente em direção à porta, as botas gastas sem som no tapete industrial.

“Ty”

Ty parou com a mão na maçaneta da porta, voltando-se para olhar para Zane.

Zane se virou para olhá-lo, e ele estava sem o seu comportamento frio e revelava um

toque de vulnerabilidade incomum. “Você disse que eu não iria sentir sua falta.” Ele deu um

longo suspiro, e sua voz era ainda mais silenciosa quando falou novamente. “Você estava

errado.”

Ty ficou em silêncio e imóvel quando encontrou os olhos de Zane. “Estava errado sobre

um monte de coisas,” ele disse finalmente, sua voz com um tom suave e melancólico.

Ele girou a maçaneta e rapidamente deslizou para fora da sala.

Voltando-se para a janela, Zane encostou a testa contra o vidro e fechou os olhos.

305
Capítulo 10

A motocicleta acelerou pela estrada bem iluminada, muito acima do limite de velocidade,

o motociclista encurvado a bordo, estava envolto em couro preto e usando um capacete full-T. A

moto desviava do trânsito, correndo ao redor de carros e caminhões sem um pingo de hesitação

antes de sair da estrada e cair para uma velocidade mais lenta em uma saída de acesso.

A moto acelerou novamente, uma vez que entrou em seu destino, em uma parte mais

degradada e escura da cidade, onde a cidade apodrecia de dentro para fora. O piloto guiou em

um labirinto de ruas antes de parar na frente de um pequeno armazém. Com um controle

remoto, uma grande porta do compartimento se abriu, e o piloto conduziu a moto para dentro,

antes que a porta se fechasse atrás dele.

Uma vez que a moto parou, o piloto se levantou e passou a perna sobre ela, deixando as

chaves na moto enquanto se aproximava de uma mesa antiga, tirou o capacete e o colocou nela

antes de olhar ao redor.

Zane estava em Miami há quase quatro meses, trabalhando no interior da cidade,

conseguindo desarmar alguns dos principais negócios de drogas com um pouco de sucesso.

Muito de seu sucesso era pura obstinação e ousadia; seu contato no Bureau já o tinha alertado

para ser mais cuidadoso três vezes. Mas a segurança não importava para ele, desde que começou

com esse trabalho.

Ele jogou suas luvas ao lado do capacete e abriu o zíper de sua jaqueta, enquanto

caminhava mais para dentro do armazém, em direção a um loft; subiu os degraus, tirando a

jaqueta de couro preta, revelando uma T-shirt colante e suada, coberta por um coldre duplo de

ombro e as bainhas segurando facas afiadas e perversas, nas alças em seus pulsos.

306
Depois de se desarmar, mas, mantendo uma arma na parte de trás da cintura, foi até um

armário antigo, com vários frascos e garrafas muito vazias e pegou uma meio vazia de tequila.

Deu uma longa golada, antes de tirar um cigarro de um maço amarrotado. Ele sentou no sofá

irregular, tomou outro longo gole do licor duro, inclinou a cabeça para trás para olhar o teto e se

perder em seus vícios. Seria uma solitária e silenciosa noite quente.

Sentado na varanda de sua casa operacional em Baltimore, fumava um Montecristo No.

4, e soprava os anéis de fumaça para o céu sem estrelas. O charuto era de uma produção limitada

(apenas 100 mil destes foram feitos em Cuba) e foram embalados em caixas pretas e elegantes de

vinte charutos, cada caixa com a etiqueta com um número em ouro, entre 1 e 5.000. Na parte de

trás do armário de Ty, ele tinha cinco caixas destas em um cofre, numeradas, que iam de 12 a 16.

Era bom ter amigos engenhosos trabalhando em Guantánamo.

“Ty?” a voz de uma mulher o chamava de dentro do quarto. “Se você não voltar para a

cama, eu vou embora.”

Ty abaixou a cabeça e tocou a ponta de seu dedo em sua garrafa de cerveja.

“Ty, quero dizer que vou para casa.”

Outro anel de fumaça indo em direção ao céu nublado, e em algum lugar na cidade, uma

buzina soou com raiva.

“Você é um cabeça de merda!” a mulher gritou. “Porra, eu sabia que era um erro,” ela

murmurou para si mesma com o farfalhar de lençóis e roupas nos ouvidos de Ty, um momento

depois, a porta da frente se fechou.

Ty suspirou e respirou o ar fresco de fumaça de charuto perfumado, estava sentado com

os pés descalços apoiados no parapeito, nada além de um par gasto de moletom o protegendo do

frio, e viu o sol nascer em silêncio.

Fazia quase quatro meses desde que a sua licença médica foi concedida; foram avaliadas,

as suas lesões e para o que foi considerado exaustão severa e choque; foi tratado, e novamente

307
tratado, ficou em observação um pouco mais, e, finalmente, foram dadas três semanas de férias

para “colocar a cabeça de volta no lugar.” Ele teve mais treze dias sem nada a fazer, senão

garçonetes. Ele poderia realmente ficar louco antes disso.

Zane tirou a jaqueta e a jogou no chão, subindo os degraus para o sótão em direção ao

banheiro, acendeu a luz, se virou para o espelho e encontrou o corte sangrento na lateral de seu

braço; estava com raiva.

Murmurou em espanhol. Fodidos. Ficou no meio de um tiroteio, quando ele entregou o

que eles queriam e muito mais. Ele teve mais satisfação do que a habitual, batendo a merda fora

de um par deles, antes que chamasse a cavalaria para prender todo o lote deles.

Ele chiou com raiva quando derramou peróxido liberalmente sobre a ferida de bala,

cobriu com messily e com creme antibiótico, ignorando que ainda estava aberto e sangrando, e o

envolveu, caminhou em direção à cozinha, ainda resmungando com raiva, quando deslizou um

cigarro entre os lábios.

Andando até a secretária eletrônica, torceu o nariz ao ver a luz vermelha piscando. A

única pessoa que ligava para aqui era o contato no Bureau, e ele definitivamente não queria falar

com ninguém agora. Xingando baixinho, apertou o botão e tirou suas armas, as verificando e se

desarmando.

“Agente Especial Garrett, quem fala é o assistente do diretor Richard Burns.”

A cabeça de Zane se virou ao redor para que pudesse olhar para a máquina. “Não se

atreva a me ignorar, ligue para mim, não importa a hora.” Ele deixou um número desconhecido

de retorno e desligou.

Pressionando o botão de apagar, Zane franziu a testa e bateu as cinzas do seu cigarro, era

estranho ter que voltar com o seu acento Inglês.

“O que ele quer?” murmurou para si mesmo, o acento espanhol fluia facilmente. Ele

memorizou o número por um longo momento, antes de pegar e marcar o número que tinha

308
facilmente memorizado. Dois minutos depois, estava ligado para Burns, presumivelmente em

casa, já que era o meio da noite.

“Agente Especial Garrett, Obrigado por retornar minha ligação assim prontamente,”

disse Burns em forma de saudação, nenhum indício de censura ou sonolência em sua voz.

Zane caminhou com o aparelho até o sofá e tirou um frasco de analgésicos. “O que você

quer Burns?” Zane murmurou em seu bem praticado acento Inglês, colocou o cigarro em um

cinzeiro cheio demais. Despejou um punhado de pílulas em sua mão e colocou três em sua boca,

sentou na beira do sofá e segurou o braço para olhar para ele.

“Sempre o conversador, agradável sotaque por sinal, você acompanhou algo após os

assassinatos do Tri-State?”

A mandíbula de Zane apertou. “Não,” ele disse breve.

“Ótimo, venha para DC, quero você aqui às três e meia, amanhã”.

“DC?” Zane objetou. “Estou no meio de todos os tipos de merda aqui, Burns, não posso

simplesmente deixar isso cair!”

“Você vai entregar todas as informações e material para o Agente Especial Black, que está

esperando muito pacientemente à sua porta, venha aqui, e não se atrase.”

Burns desligou, deixando Zane olhando para o aparelho. Depois de um longo momento,

atirou o telefone na parede, falando palavrões estrangeiros que fluíam de sua língua, uma vez

que quebrou.

Ty não dormia bem à noite. Ele nunca dormia, mesmo quando era uma criança. Quando

era militar, foi forçado a arranjar isso, e nos anos seguintes trabalhando disfarçado,

principalmente à noite, deixava seu corpo mais preparado para dormir durante o dia e espreitar

inquieto durante as horas de atraso, quando ele não tinha mais nada para mantê-lo ocupado. E

assim, quando o telefone tocou cerca de duas horas da tarde, enviou Ty para cima, em um pânico

completo antes que fosse capaz de rastrear o celular vibrando e rosnar para ele.

309
“O que foi?” respondeu num acesso de raiva, esfregando os olhos sonolentos e

balançando a cabeça para acordar inteiramente.

“Agente Especial Grady,” uma voz familiar soou.

“Dick?” Ty respondeu em choque. “Não fui eu,” ele disse imediatamente. “Seja o que for,

não fiz isso, estou de férias,” ele insistiu na defesa.

Houve uma risada em resposta. “Eu sei que você está de férias, Ty, é por isso que estou

ligando, como você se sente?”

“Uhh....”

“Eu preciso que você interrompa,” disse Burns, solenemente. “Você está acompanhando

os assassinatos da Tri-State?”

“Não,” respondeu Ty imediatamente.

“Bom, venha aqui; uma hora”.

“O que foi?”

“E não venha cheirando a cerveja e charutos baratos!” Burns informou antes de desligar.

Zane parou a moto quando chegou ao portão do estacionamento do Bureau. Mostrou seu

distintivo e foi entrando, embora estivesse recebendo um par de olhares estranhos. Ele não se

preocupou em se vestir adequadamente, apenas trazia o básico nos alforjes em sua moto, e o

couro, é claro, já que estava pilotando. Sua jaqueta favorita tinha um corte no braço da noite

passada, mas ele não iria desistir. Estacionou a moto na garagem e puxou a perna por cima,

arrancando do pavimento uma batida, tirou o capacete e passou a mão pelo seu cabelo

desalinhado, deixou o capacete na moto e saiu em direção ao prédio.

A recepcionista piscou para ele quando entrou no escritório do Diretor Assistente. “Eles

estão esperando por você...,” ela gaguejou para ele.

Zane lhe ofereceu um sorriso jovial antes de alcançar a maçaneta para abrir a porta.

310
“E eu posso assegurar que os charutos não são baratos,” uma voz dizia em tom de

conversa do outro lado da porta. “A cerveja é,” o homem acrescentou: “mas nunca os charutos”.

“Eu não preciso saber sobre aqueles charutos,” Burns respondeu com voz cansada.

Zane parou de imediato, depois de captar as palavras naquela voz, ele sabia que nunca

esqueceria; em vez de se concentrar em Burns, que olhava para ele, Zane focou no homem que

estava sentado em frente ao diretor assistente.

“Garrett, que bom que se juntou a nós com meia hora de atraso,” Burns cumprimentou,

mas não parecia muito perturbado.

Ty ficou tenso na cadeira e lentamente virou a cabeça para olhar para Zane, e a reação foi

muito atordoada e instantânea para se esconder.

Zane engoliu em seco, olhando para o rosto de Ty. Ele parecia... Bem, muito bem,

finalmente, encontrou a coragem de falar. “Olá, Grady.” As palavras saíram ainda tingidas pelo

sotaque.

“Garrett,” Ty cumprimentou em choque ainda hesitante, se virou para Burns e

perguntou: “O que é isso?”

Zane desviou os olhos de Ty e olhou para Burns.

“Apesar de como o seu último trabalho terminou, precisamos de vocês dois em Nova

York novamente,” respondeu Burns e seu sorriso desapareceu. “O assassino ficou quieto, sem

mostrar nenhuma sombra, por cerca de três meses depois dos dois serem retirados do caso, como

se ele... Se perdesse,” disse com uma incerteza estranha. “Até duas semanas, desde então, tem

havido mais de um assassinato, e dois dias atrás, os dois agentes que estavam no caso, ficaram

gravemente feridos na explosão de uma tubulação de gás.”

“Você está nos colocando de volta no caso Tri-State?” Ty deixou escapar em choque.

“Juntos?”

311
O diretor assistente assentiu. “De certa forma,” ele respondeu vagamente. “Vocês dois

são os únicos que trabalharam no caso e podem dizer algo sobre ele; os outros podem não ser

capazes de fazê-lo.” Ele suspirou. “E eu sei que é importante para ambos, por muitas razões,”

acrescentou em silêncio com um olhar para Ty.

Zane deu alguns passos em direção à mesa de Burns. “Nós vamos ficar algemados como

da última vez?”

“Algemados?” Burns perguntou confuso. “O que vocês fazem em seu próprio tempo

livre, não é preocupação da Casa,” acrescentou com uma piscadela para Ty, que revirou os olhos

e se sentou lentamente.

“Muito engraçado,” disse Zane categoricamente. Ele havia estado na estrada ha mais de

15 horas em uma moto, e não achou nenhuma graça. Não importava o quanto pulou por dentro

com a chance de ver Ty novamente, Zane sabia que estaria voltando para um fogo descontrolado,

que poderia facilmente incendiar a ambos, mas, foi a melhor notícia que ouviu há meses. “Nós

tivemos uma restrição em cima de nossas bundas e muitas pessoas olhando sobre os nossos

ombros, e isso não impediu aquele bastardo de nos rastrear em qualquer lugar.” As palavras de

Zane estavam cortadas e foram executadas em conjunto, combinadas com o seu acento. Ele olhou

para Ty, tentando obter alguma sensação dele, depois de quatro meses de intervalo.

Ty estava sentado em silêncio, com a cabeça ligeiramente inclinada e o corpo

completamente imóvel enquanto observava Burns com as sobrancelhas abaixadas. Não havia

qualquer batida nervosa de seu joelho ou espasmos, como sempre teve antes, quando era forçado

a ficar parado. Ele também estava bem barbeado e seu cabelo ainda estava cortado rente, o único

remanescente de seu guarda-roupa anterior era a camisa branca ligeiramente enrugada que ele

usava sob o paletó, para fora da calça e desabotoada no pescoço. Ele olhou para Burns sem

emoção, nenhum fogo costumeiro em seus olhos.

312
“Vocês serão enviados de forma não oficial, sem outros recursos do Bureau, além desses

que eu tenho aqui para vocês,” respondeu Burns sério quando mostrou um envelope pardo.

“Vocês dois têm uma experiência única, vocês entendem.”

Zane ainda estava observando o outro agente, vendo a etiqueta médica em um pulso

dele, lembrando-se da surra que ele levou. Ele vivenciou isso com ele, e foi uma bagunça do

caralho para lidar. Estava se perguntando, se ele teria quebrado o condicionamento auto-

imposto, se não tivesse conhecido Ty. Como diabos Ty deveria se libertar dele?

“Grady?” Zane perguntou abruptamente. “Você está dentro?”

“Isto não é realmente um pedido, senhores,” disse Burns suavemente.

Zane latiu de volta algo áspero em espanhol antes de responder. “Beije minha bunda

Burns; depois do que passamos na última vez, acho que temos algo a dizer sim,” Zane rosnou.

O Diretor Adjunto estreitou os olhos, mas não discordou.

Os olhos de Ty se moveram de Burns para Zane, e ele apenas balançou a cabeça em

resposta.

Zane o estudou por um longo momento, tentando não se perder nos detalhes. “Certo,

estamos dentro, dê-me as instruções; eu quero sair daqui, nem deveríamos ter vindo para o

escritório, para começar, teremos que estar fora do radar e nos manter em movimento.”

Burns deslizou um envelope sobre a mesa. “A aprovação para esta operação vem do

próprio Diretor Principal; ter um assassino aqui dentro, como este, é uma terrível falha de

sistema e tem que ser corrigido.” Ele olhou entre eles. “Eu não vou repetir isso, mas, vocês tem

carta branca, cartões de crédito sem limites e identificações alternativas no envelope, se for

necessário; quero apenas esse desgraçado fora daqui.”

“Você não o quer na cadeia?” Zane perguntou bruscamente.

O Assistente de Diretor se virou e caminhou até a janela. “Boa sorte, senhores.”

313
Ty se levantou e assistiu Burns por um momento, depois se virou para encontrar os olhos

de Zane, lambeu os lábios hesitante, incapaz de pensar em nada para dizer. Apenas acenou com

a cabeça na porta e deu um último olhar para Burns.

Zane pegou o envelope e abriu caminho para fora, sem nem mais uma palavra para o

Diretor Assistente. Ele assumiu que Ty o seguiria, mas, parou na sala externa de estar, para dar

outra boa olhada no homem que tinha pensado demais nos últimos quatro meses. Ty o seguiu,

ignorando os cílios rebatidos da secretária, que já havia olhado para ele com tanto desdém. Em

vez disso, ele parou lado de Zane, sem olhar nos olhos dele.

“Você está com boa aparência,” comentou em voz baixa.

Zane levantou uma sobrancelha sardônica, não que Ty pudesse vê-lo realmente. Ele

parecia um motoqueiro infernal, usando roupas de couro, uma barba de três dias, e seu cabelo

estava bagunçado. Era uma imagem que ele cultivou por um tempo, e que agora, ele estava até

confortável, mas, Ty...

“Você está parecendo diferente,” respondeu Zane com a voz baixa. “Está bem, mas

diferente.”

“Cale a boca,” Ty murmurou quando começou a se mover lentamente pelo elevador.

“Fico feliz em saber que o senso de humor irônico ainda está si,” Zane murmurou para

ele.

Ty olhou para ele enquanto caminhava, um sorriso discreto e um pouco triste, enfeitou

suas feições, ambos estavam tranquilos no elevador, que os levava até o nível da plataforma de

estacionamento.

Quando as portas do elevador se abriram, Zane perguntou: “Você tem um carro?”.

“Eu peguei um táxi,” Ty admitiu. “Não estava bastante sóbrio quando recebi o

telefonema.”

314
Um sorriso puxou os lábios de Zane quando ele abriu o zíper de sua jaqueta, colocou o

envelope dentro, e o fechou novamente. “Você pode vir comigo, então,” ele disse casualmente

quando saíram do elevador para a plataforma de estacionamento.

“Por que tenho a sensação de que será uma coisa ruim?” Ty perguntou cautelosamente

enquanto o seguia.

A resposta de Zane foi uma risada presunçosa e baixa, e um minuto depois, estava ao

lado de uma moto azul cobalto Honda Valkyrie. Zane segurava o capacete para Ty, um desafio em

seus olhos.

“Não,” respondeu Ty imediatamente. “Claro que não,” acrescentou.

“Vamos lá, baby, você não quer sentir esse ronronar de muito poder entre suas coxas?”

Zane demorou.

“Não,” respondeu Ty fervorosamente com um aceno de cabeça quando deu uma tapinha

no assento da moto se desculpando.

Zane fez um beicinho. “Suponho então que terei de encontrá-lo em algum lugar,” ele

ofereceu, com os lábios se contraindo; montou na moto, girou a chave e o motor voltou à vida;

um rosnar lento, rouco e bonito exatamente como Zane tinha dito.

“Casa,” Ty respondeu imediatamente. “Estou indo para casa pegar minhas coisas.”

Olhando para Ty, Zane estava sentado com as pernas abertas enquanto colocava as

luvas. “E onde é a sua casa?” ele perguntou. “Você realmente quer que eu vá até lá ao invés de ir

à frente, para procurar alguns quartos, em algum lugar?”

Ty suspirou profundamente e olhou para Zane quando ele se acomodou na moto.

“Sim,” ele murmurou quase desanimado. “Eu quero você lá,” ele disse incisivamente.

Zane sorriu lentamente sob a avaliação franca de Ty, talvez eles ainda estivessem na

mesma sintonia. “Diga-me onde,” ele pediu. “A menos que você tenha mudado de ideia...,” ele

disse inclinando a cabeça para o banco de trás.

315
“A minha dignidade e o meu bom senso não vão permitir isso,” Ty respondeu quando

acenou para a entrada da garagem. “Siga-me,” ele disse de forma sucinta quando se virou e

começou a caminhar para o dia.

Rindo, Zane esperou um momento e então colocou a moto atrás dele, foi uma viagem

angustiante através tráfego de DC, e mais tarde eles entraram em Baltimore, rodando sobre ruas

de paralelepípedos quando passaram através do labirinto da cidade velha em direção à casa de

Ty. Zane estacionou no passeio, que levava à casa de Ty e viu quando Ty pagava ao taxista

robusto.

Ty ficou para trás e viu o táxi voltar para o tráfico, então se virou lentamente para olhar

para trás, e ver Zane; levantou a cabeça e estreitou os olhos enquanto se aproximava. “Eu

conheço essa jaqueta,” ele murmurou quando parou bem na frente de Zane, com as mãos nos

bolsos. O couro estava maltratado e surrado, com alguns arranhões aqui e ali, alguns rasgos, e

um corte profundo em seu braço.

Abusado sim, mas a amava. “Você conhece?” Zane perguntou inocentemente.

“Eu teria cuidado melhor dela,” Ty respondeu arrogantemente quando colocou o dedo

no corte no braço, que não parecia de perto tão desgastado quanto os outros rasgos. “Este é

novo?” ele perguntou sério.

Zane olhou para seu braço. “Feito na noite passada, não me movi rápido o bastante,

mesmo que me movesse rápido, não daria para me esquivar de duas balas de uma só vez.”

Ty estalou a língua e balançou a cabeça tristemente. “Então não é o homem que pensei

que fosse.” Ele suspirou com tristeza quando puxou um pedaço no couro e olhou o pelo no braço

de Zane. Zane balançou a cabeça e gentilmente afastou seu braço.

A atadura branca ainda estava lá, aparecendo sob a camiseta vermelha que usava sob o

couro preto. O que ele não sabia, era que apareciam algumas manchas de sangue de cor escura

316
na gaze; ele não tinha verificado isso desde que tinha parado em um café, cerca de dez horas da

manhã.

“Você está sangrando,” Ty disse, falando do assunto com naturalidade quando inclinou a

cabeça em direção à porta da frente. “Vamos! Vou derramar um pouco de álcool nisso, vai me

fazer sentir melhor,” ele ofereceu com um sorriso.

“Você quer seus tímpanos estourados também? Você finalmente vai começar a me ouvir

gritar,” Zane murmurou, fechando a mão sobre seu braço de forma protetora e com o olhar

petulante.

“Vai ser um bônus,” Ty cantarolou enquanto pegava o braço bom de Zane e o levava

com força à porta, Zane resmungou sob sua respiração, mas não resistiu quando Ty o puxou.

“Parece que você estava em um algum lugar bem áspero,” Ty observou enquanto abria a porta.

“Eles o colocaram disfarçado?”

“Sim,” disse Zane, olhando para Ty, imerso em suas feições; pensou nele tanto nos

últimos quatro meses, e ainda não conseguia acreditar que estava aqui olhando para ele.

“Miami.”

“Explica o sotaque, mas, foi um desperdício de seu tempo,” Ty murmurou quando

empurrou a porta e fez um gesto para Zane entrar “A única coisa que vai consertar Miami é a

porra de ataque nuclear”.

“É verdade,” Zane concordou com um encolher de ombros. “Mas me mantive ocupado e

um pouco longe de Burns, eu acho.” Ele entrou na casa e parou a alguns passos dentro da sala. O

ambiente estava limpo, completamente em desacordo com a fachada que Ty mostrava para o

mundo. Os móveis eram confortáveis e bem conservados, para não falar das correspondências, e

não era o único item que parecia fora do lugar. Fotos emolduradas cobriam as paredes da

pequena sala de estar, cada quadro idêntico ao próximo; eram impressões em preto-e-branco, e

contava a história da vida e da carreira de Ty, o mostrava sorrindo e rindo com uma variedade

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de indivíduos fortemente fardados e armados, em vários locais exóticos e não tão exóticos. Havia

vários outros que Zane tinha certeza que eram da família de Ty.

Ty observou Zane por trás, deixando-o observar, os lábios de Zane se apertaram com

força. “Você tem certeza que está e a casa certa?” ele finalmente perguntou.

Meu Deus! Isso não era nada parecido com o que ele esperava encontrar de um cara do

tipo de Ty. A dicotomia do homem que ele conheceu, era ainda mais profunda do que tinha

suspeitado.

Ty franziu o cenho para ele. “Eu sou um cara puro,” ressaltou suavemente.

Zane lhe deu um sorriso. “Eu vou ter que aceitar os seus cuidados médicos na cama,

Jarhead”. Ele abriu o zíper da jaqueta e a deslizou de seus ombros, apertando o curativo.

“Você pode ir para o meu quarto, esperar na minha cama,” Ty ostentava enquanto abria

caminho para a cozinha, procurou debaixo da pia e tirou uma antiga caixa de metal de primeiros

socorros. A cruz vermelha na frente estava desbotada e arranhada, e o metal estava com marcas e

arranhões, porém, quando abriu a caixa, o conteúdo era todo novo, puxou uma gaze, uma lata de

pomada medicinal da Rawleigh, e um pouco de fita médica.

Zane jogou a jaqueta sobre a bancada e empurrou na manga da camisa quando se

estatelou em um banquinho; tirou o curativo de uma só vez com uma careta e cutucou o

ferimento vermelho, ocupava uns bons três centímetros de comprimento em seu braço, e tinha

tirado um bom pedaço de carne. Supôs agora, que alguns pontos não seriam uma má ideia.

Ty olhou para ele e imediatamente gemeu baixinho. “Mas que merda!?” ele murmurou.

“Eu não estou vou costurá-lo em minha cozinha,” ele insistiu. “Isso precisa de um médico.”

“Só curativo,” disse Zane com teimosia. “Outra cicatriz não vai importar.”

Ty franziu a testa com ar de dúvida, mas cortou a fita em tiras e as colocou ao lado do

balcão, em seguida, abriu à lata de pomada, colocando uma boa dose do remédio dentro da

ferida, sem esperar para ver se Zane lhe permitiria tocá-lo. Ele trabalhou rapidamente e,

318
finalmente, uniu a ferida, colocou um pequeno pedaço de gaze sobre ela, cuidou da pele

danificada o melhor que pôde, e fez tudo isso sem uma palavra. Zane ficou imóvel, rangendo os

dentes. Isso dói! Muito!

“Copo de água?” ele solicitou após Ty terminar.

Ty simplesmente assentiu e foi até um armário perto da geladeira para pegar um copo, o

encheu de uma garrafa que estava em cima do balcão e o entregou sem mais palavras para Zane.

Pegando a jaqueta, Zane procurou no bolso e tirou uma bisnaga de comprimidos de Tylenol,

pegou um par de pílulas, e as engoliu.

“Tipo durão, hein?” Ty perguntou sarcasticamente. “Eu aposto que você teve todos os

tipos de ação com essa rotina em Miami,” ele murmurou enquanto o olhava com o cenho

franzido.

Zane abaixou o copo e olhou para Ty, o avaliando, quando ele colocou a garrafa à

distância. “Depende de que tipo de ação que você está falando,” ele disse, sendo

deliberadamente vago. Ty poderia estar falando sobre a luta “ação”.

Possivelmente, Ty estava procurando outro tipo de ação... A que não foi com ele.

Ty apenas levantou uma sobrancelha e encolheu os ombros. “Se você pagou por

prostitutas mais de uma vez, então eu quero exames de sangue antes de tocar em você

novamente,” ele disse quando se virou para a pia atrás dele e começou a lavar as mãos.

Rindo, Zane levantou de seu banco e estendeu a mão para prender Ty em torno da

cintura e começar a puxá-lo. “Nem sequer uma vez, não paguei ninguém, nem peguei qualquer

um.”

Ty bufou uma risada e se deixou ser puxado para mais perto, fechando a torneira antes

que estivesse fora do alcance e se afastando apenas o suficiente para parecer um pequeno esforço.

“Contrariando a tendência, então,” ele demorou. “Como você deve estar orgulhoso.”

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“Mmmmm”. Zane estendeu o outro braço para puxar Ty para mais perto, de frente para

ele, então, deslizou os lábios ao longo da curva do pescoço de Ty. “Eu peguei alguns traseiros,”

ele admitiu antes de raspar os dentes na pele de Ty por um momento, e acrescentou: “Mas,

nenhum homem”.

Ty baixou o queixo até sua bochecha roçar a de Zane, franziu a testa e balançou a cabeça.

“Bom,” ele respondeu suavemente.

Fechando os olhos, Zane inalou o cheiro de Ty lentamente e se deixou levar pelo som de

sua voz, despertou por um momento. “As bundas? Ou o fato de não ter pegado homens?” Ele

murmurou, movendo-se ligeiramente para esfregar as bochechas.

“Não me importo,” Ty respirou a resposta quando virou a cabeça e apertou os lábios

contra os de Zane, em um beijo com fome e de boca aberta.

A mão de Zane se fechou em volta do pescoço de Ty, quando ele tentou vencê-lo no beijo

e se uniram com muito desejo. Cristo, ele tinha perdido isso, perdeu Ty. Ele nunca esperava isso,

e mentiu para si mesmo sobre o quanto se feriu quando ficou sem ele, foi incapaz de

compreender como ficou tão ligado a este homem no espaço de sete dias agitados e terríveis. Sua

outra mão apertou a cintura de Ty, o unindo contra seu corpo.

Ty se debateu brevemente, tentando não pegar no braço que tinha acabado de enfaixar, e

gemeu baixinho no beijo, tentou não pensar em sua breve passagem em Nova York juntos; parte

dele, ainda não se lembrava, e que só piorava a situação, quando tentava forçar as memórias.

Agora, porém, tudo parecia voltar e ele deixou isso acontecer, envolvendo os braços em torno de

Zane e o puxando para mais perto até que não havia mais espaço entre eles.

Os sons suaves que Ty fazia, contorcia a cabeça de Zane com a mais pura paixão; era

poderoso o suficiente para ele a tremer, essa emoção que o embalava, e que mantinha afastada

em uma pequena caixinha em algum lugar dentro de si, se soltou, e tudo o que ele tentou negar

borbulhava. Uma vez que o beijo finalmente terminou, ele abaixou a cabeça no ombro de Ty,

320
virando o rosto no pescoço dele, e o agarrando com força, sem vontade de deixá-lo. Ainda não.

Não até que a dor solitária que vinha crescendo nos últimos quatro meses fosse desbotada.

Ty deu um pequeno whuff de surpresa quando Zane se agarrou a ele, mas, lentamente

deslizou seus braços ao redor dele e o abraçou, apoiando o queixo contra o rosto de Zane. “Você

está bem?” ele perguntou em um sussurro.

Zane lentamente balançou a cabeça, esperou alguns instantes antes de admitir: “Estou

agora,” disse em um sussurro, havia tanta coisa que ele queria dizer, mas não se atreveu.

Ty fechou os olhos quando a resposta enviou um calafrio através dele, tinha medo disso,

estava aterrorizado. Zane tinha significado muito mais para ele, do que apenas uma parceria de

uma semana ou algumas fodidas selvagens.

Ele havia o conhecido, deu uma chance para Zane, que poderia significar muito para ele.

E agora, parecia que uma parte desse sentimento voltou para Zane, talvez mais. E Ty não sabia

como lidar com isso. Ele nem sabia se queria. Ele engoliu em seco e deslizou a mão pelas costas

de Zane até o seu cabelo, segurando sua cabeça enquanto corria os dedos pelos cachos

bagunçados.

“Você precisa de um corte de cabelo,” ele murmurou finalmente, incapaz de dizer o que

realmente queria.

Zane deu de ombro levemente, não tão disposto a se mover, a menos que Ty o

empurrasse, ele estava tentando memorizar a sensação do corpo de Ty contra o seu.

“E um chuveiro,” Ty continuou em voz baixa, virou a cabeça e apertou o nariz e a boca

contra o rosto de Zane suavemente. “E um pouco de sono, eu aposto.”

Zane sabia que estava exausto, mas estava tão acostumado que mal sentia mais, estava

totalmente paralisado, até que ouviu Ty novamente, ou talvez tivesse perdido a cabeça. “Todas

as alternativas acima?,” ele respondeu. “E comida?”

“Sim,” Ty sorriu contra a pele de Zane. “O que você quer comer?”

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“Qualquer coisa, menos comida cubana,” disse Zane imediatamente antes de sorrir e

beliscar um pouco no ombro de Ty.

Ty riu novamente, desta vez mais alto quando outro arrepio o percorreu.

“Não tenho nenhuma comida cubana, mas duvido que goste muito,” alertou quando se

afastou. “Que tal uma pizza?” ele sugeriu. “Posso buscá-la enquanto toma um banho.”

“Pode ser,” disse Zane com relutância, ou seja, Ty o deixando para escolher os alimentos.

“Você de mau humor, esse geralmente sou eu que faço,” Ty informou friamente quando

se afastou.

“Eu só preciso de prática,” Zane opôs, se inclinando para prender o braço de Ty, antes de

chegar muito longe. “Que tal uma contraoferta?”

“Depende do tipo de oferta,” respondeu Ty cautelosamente, enquanto olhava a mão de

Zane nele, para os seus olhos.

Zane o puxou suavemente. “Que tal você tomar um banho comigo, e então nós dois

vamos pegar a pizza?” Era que evidente, Zane sabia, era um jogo sem rodeios por atenção, agora

que tinha Ty tão perto, não queria deixá-lo fora do alcance. Ele podia sentir o calor em espiral

entre eles e tudo o que ele queria fazer era atiçar as chamas.

Ty levantou uma sobrancelha e se aproximou lentamente. “Você quer que eu tome banho

com você?” ele perguntou com diversão. “Precisa de ajuda em suas costas, não é?” ele perguntou

com um sorriso.

“E em outros lugares,” disse Zane, olhando para Ty de cima a baixo, de forma

significativa.

“Eu posso pedir a vizinha, que é uma senhora, a bucha,” Ty brincou suavemente. “Um

banho de espuma, talvez?”

“O que você quiser, contanto que fique comigo,” Zane respondeu com sinceridade.

322
“Sutil, Garrett,” Ty riu suavemente. “Cara, você realmente derrubou essa falsa camada,

não é?” observou.

Zane deu de ombros. “Alguém me lembrou de que era melhor ser eu mesmo” ele disse

sério, puxando o braço de Ty novamente. “Ele parecia gostar de mim desse jeito.”

“Deve ter sido um gênio essa pessoa que você estava lidando,” disse Ty descaradamente

enquanto permanecia a alguns passos de distância.

“Sim, tenho que admitir, ele era muito inteligente, embora brincasse com ele de outra

forma,” disse Zane, enrolando os braços em torno de Ty e relaxando quando ele se aproximou.

“Eu lamentei mais tarde, a provocação, quero dizer.”

Ty franziu o cenho e se inclinou para trás para que pudesse olhar nos olhos de Zane.

“Uma das vantagens de provocar um homem com uma cabeça rachada é que ele não se lembra

depois,” ele ofereceu.

O rosto de Zane ficou imóvel. “Quanto você se lembra?” ele perguntou em voz baixa, os

olhos cheios de perguntas silenciosas.

Ty lambeu os lábios nervosamente e deu de ombros. Ele odiava quando as pessoas

perguntavam isso, odiava admitir quando não conseguia se lembrar de alguma coisa.

“Lembro que beijar você não era uma coisa muito estranha para fazer,” ele respondeu

vagamente. Ao invés de ficar surpreendido ou confuso, Zane pareceu desapontado.

Então, Ty se lembrava de que tiveram um bom tempo, mais ou menos, mas isso era tudo,

aparentemente. Zane assentiu e ofereceu um pequeno sorriso, forçado. Pelo menos ele tinha isso.

Teria algo a fazer enquanto descobrisse como fazer o desejo e o fogo entre eles pararem.

Ty observou sua reação cuidadosamente, estava confuso por ele. “O que estou

perdendo?” ele perguntou frustrado. Ele trabalhou durante semanas para recuperar as

lembranças perdidas, sabia que ainda faltavam algumas, que talvez nunca fossem voltar, mas até

323
certo ponto, ele não tinha encontrado todos os furos que pareciam importantes, seja para ele ou

para outra pessoa.

Zane engoliu em seco quando deslizou a sua mão para unir seus dedos com os de Ty.

“Você está sentindo isso também?” ele perguntou, ecoando o que se perguntaram um ao outro,

meses atrás, apenas para deixar de lado, mas não esquecido.

Ty observou seus dedos entrelaçam, lutando contra a agitação em seu estômago quando

Zane falou, levantou a cabeça bruscamente para encontrar os olhos de Zane, isso ele lembrava,

embora tivesse lamentado essa conversa há meses, corando furiosamente, sempre que pensava

nisso, mesmo quando estava sozinho. Ele balançou a cabeça e engoliu em seco. “Não,” ele

respondeu com a voz rouca, ecoando a resposta que tinha dado antes.

Lentamente, Zane levantou a outra mão para vermelhidão no rosto de rosto de Ty. “Nem

eu,” ele respirou antes de se inclinar e beijar suavemente Ty.

Ty gemeu melancolicamente para quebrar o beijo, e deu um passo para trás para colocar

alguma distância entre eles. “Jesus Cristo, Zane,” ele murmurou exasperado. “Eu fui horrível

para você, por que você ainda está aqui?”

Zane apertou o cerco contra a emoção rodando dentro dele, forçando-se a ser tão

razoável quanto podia. Algumas declarações insanas não iriam levá-lo a lugar nenhum, apenas

deixá-lo mais chateado e estrondoso. “Senti sua falta,” admitiu com voz rouca. “Todo o maldito

tempo.”

Em vez de perguntar por que diabos Zane tinha perdido tempo com alguém que foi um

merda com ele, na maioria de seu tempo juntos, Ty decidiu aceitar como um dom e balançou a

cabeça, aproximando-se novamente. “Também senti sua falta,” admitiu.

Um pequeno sorriso puxava os lábios de Zane quando Ty voltou para seu alcance.

“Faltou um fala garoto-propaganda: amor-burro-e-perfeito?” ele brincou quando puxou Ty

contra ele.

324
“Eu tinha um ferimento na cabeça,” Ty respondeu defensivamente, murmurando contra

o rosto de Zane.

“Você já me chamava disso antes da lesão na cabeça,” Zane alfinetou.

“Exatamente,” afirmou Ty com um pequeno sorriso de encontro à pele de Zane.

Os lábios de Ty encontraram os de Zane, mais feliz do que poderia se lembrar em algum

tempo. Quatro meses, se fosse honesto, o que realmente tentou evitar.

Ty virou a cabeça, respirando o cheiro de Zane. “Por que não voltar para a ideia de uma

festa,” ele sugeriu suavemente, afastando novamente.

Zane manteve a mão de Ty, mesmo quando o outro homem se afastou, sentia-se ao

mesmo tempo aliviado e assustado, e era uma disputa acirrada ficando cada vez mais forte.

“Sua ideia da festa? Ou a minha ideia da festa?”

Ty bufou baixinho e olhou de volta para suas mãos unidas. “O que você prefere?”

perguntou com um pequeno sorriso.

“A minha idéia,” Zane admitiu, inclinando a cabeça para o lado, enquanto levantava os

punhos combinados. “Mas, isso não vai pegar a minha comida em breve.”

Ty sorriu maliciosamente, reconhecendo a piada óbvia que poderia fazer e devolver a

Zane. “Vou dizer que,” ele murmurou enquanto puxava as mãos e trouxe Zane mais perto.

“Enquanto você toma um banho, eu vou pedir a pizza e trocar os lençóis da cama,” ele ofereceu.

O ronronar começou baixo no peito de Zane e aumentou quando colocou seu corpo

contra o de Ty, para mais um beijo envolvente. “Perfeito,” ele murmurou.

Ty sorriu contra seus lábios e gentilmente se afastou. “O que você quer em sua pizza?”

Ele perguntou enquanto se afastava, antes de Zane pudesse prendê-lo novamente.

“Qualquer coisa, menos cebola e peixe,” disse Zane, enquanto pegava o casaco. “Vou lá

fora fumar um cigarro primeiro, ok?”

“Essas coisas te matar,” Ty advertiu enquanto se dirigia para o telefone.

325
Zane tinha o cigarro entre os lábios quando se dirigiu para a varanda dos fundos. “Acho

que as balas vão me pegar primeiro,” ele disse com ironia quando saiu e fechou a porta atrás de

si.

Ty ficou olhando para ele por um momento pensando, não tinha certeza do que se

tratava a situação, que o deixou se sentindo estranho. Ele suspirou e discou para a pizzaria mais

próxima, faz o cadastro e deu o seu número de telefone para a entrega; estão subiu as escadas

estreitas para o quarto na frente e começou a arrancar os lençóis da cama. Eles cheiravam a

garota do bar e charutos caros e, possivelmente, algumas outras coisas também. Ty estava um

pouco vago sobre os detalhes, independentemente disso, Zane não precisa sentir o cheiro de

qualquer uma dessas coisas.

Tomando seu tempo com a fumaça, Zane olhou para a cidade, com os seus morros e

telhados de arenito; passou alguns minutos tentando avaliar os seus próprios sentimentos, por

que se sentia ao mesmo tempo mais estável e mais frágil em meses, entretanto, mais firme,

porque estava com Ty. Tinha que ser isso, mas as implicações o sacudiram; não tinha idéia de

como tinha se tornado tão dependente do outro homem, mesmo sem sentir isso acontecer.

Como faria algo a respeito? Mais importante ainda... Queria fazer algo sobre isso?

Meu Deus! Ele balançou a cabeça, Zane nem sabia o que “ele” era, mas sabia que estava

com medo que isso pudesse desaparecer. Ele não queria ver Ty indo embora novamente.

Terminou o cigarro, apagou-o sobre o concreto, e deixou a guimba no cinzeiro, que parecia ser

usado para essa finalidade. Zane se perguntou brevemente quem havia fumado aqui, se Ty era

tão contra o cigarro, e ele respirou fundo. Ele conhecia os hábitos de Ty, e não suportava pensar

nisso. Banho primeiro, então iria ver que outras emoções agitavam sua cabeça. Esperava que

pudessem ser sentimentos compreendidos.

Encontrou Ty no andar de cima, procurando lençóis para repor e resmungando para si

mesmo, enquanto vasculhava a prateleira de cima do armário.

326
Zane parou na porta. “Tem toalhas aqui?” ele perguntou, pegando no corpo de Ty e

empurrando para trás o desejo, que reviveu dentro dele.

Ty olhou por cima do ombro e sacudiu a cabeça. “Banheiro,” ele respondeu. “Estava

apenas procurando lençóis limpos.”

Zane assentiu e olhou para dentro do armário por alguns instantes, e ficou surpreso ao

ver um velho e surrado capacete de moto na prateleira de cima. Ele não disse nada sobre isso ou

até mesmo demonstrou que viu, mas, olhou para Ty curiosamente quando se afastou. O banheiro

foi fácil de encontrar, tirou suas roupas e franziu o cenho para o curativo fresco.

“Oh, droga,” ele murmurou e torceu o nariz. Poderia muito bem tirá-lo, apenas para ficar

molhado, pegajoso e gosmento de pomada com a água.

Ele puxou o curativo o mais rápido que pode, e ficou agradavelmente surpreendido

quando não tirou muita pele. Virou-se para o espelho, cutucou o ferimento de novo, e viu uma

fina corrente de fio vermelho do corte mais profundo dela.

“Você sabe, eu acho que isso vai doer ainda mais se eu começar molhando isso,” ele

murmurou para si mesmo, pegou um pano no balcão e entrou no chuveiro, segurando o pano

sobre o seu braço.

“Precisa de ajuda?” Ty perguntou em voz baixa através da porta.

Zane virou o queixo para olhar através da cortina de chuveiro claro, Ty estava um pouco

ondulado, mas reconhecível. “Esqueci o curativo,” disse Zane. “Tirei-o para que não iria ficasse...

Gosmento.”

“Gosmento,” Ty ecoou com um aceno de cabeça, como se fizesse sentido. “Precisa de

ajuda?” ele repetiu.

“Sim.”

327
Ty deu um pequeno sorriso e entrou no banheiro, tirando sua camisa sobre a cabeça e a

jogando no chão. Então, tirou sua calça do terno e cuecas e as deixou no chão também, bem antes

que entrasse no chuveiro e gentilmente apertasse a mão no pano sobre o braço de Zane.

Uma vez que Ty segurou o pano, Zane virou as costas para a água e inclinou a cabeça

para o spray, se molhou, correndo a mão através do cabelo. Deixou a água quente cair em seu

rosto, gemendo baixinho enquanto escorria para baixo sobre seus ombros e corpo. Sem aviso, Ty

entrou com ele na água e o empurrou com força contra a parede do chuveiro, beijando-o

avidamente enquanto a água em cascata caia sobre os dois.

O gemido de Zane não diminuiu quando os lábios de Ty afastaram, ele passou o braço

bom em volta Ty e deu outro beijo tão intenso quanto aquele que recebeu; o desejo cresceu

dentro dele, assim como todas às vezes anteriores. Ansiava por ele; tentou o esquecimento no

álcool e nas drogas, mas não tinha sido capaz de encontrar qualquer coisa para este jogo. O toque

de Ty era único e insubstituível. A ideia o surpreendeu, e vacilou um pouco, se segurando contra

a parede com uma mão.

Ty murmurou suavemente e se apertou com força contra o corpo de Zane com um

rosnado. Zane abaixou o queixo para esfregar seu rosto contra o de Ty, se achatando contra a

parede, praticamente fora da água para manter Ty o mais próximo possível. Ele moveu seu

quadril, deslizando seu pau mais do que interessado contra a coxa molhada de Ty. Ty murmurou

baixinho e mordeu o lábio de Zane, esfregando o quadril em Zane, enquanto suas mãos

percorriam seu corpo molhado, deslizando e pegando o pênis dele de forma possessiva.

Ofegante, Zane manteve o ritmo do quadril de Ty, para se esfregarem um contra o outro. Um

gemido rouco de sua garganta ecoou em torno deles antes de ser abafado pela água caindo.

Ty se afastou ofegante de repente, e colocou a mão no peito de Zane e recuou

cuidadosamente no chuveiro. “Você termina seu banho,” ele murmurou sem fôlego. “Então,

vamos fazer isso direito,” ele prometeu.

328
Estendendo a mão para segurar o pano no braço, Zane levantou os olhos vidrados para

olhar Ty, enquanto puxava sua respiração. Ele estava vermelho por toda parte, tanto da água

quente, quanto da atenção que recebeu.

Ty estava, obviamente, tão ligado quanto ele estava, com o peito arfando, enquanto

tentava recuperar a compostura, e corpo em alerta total quando a água bateu em cima dele.

“Podemos até comer primeiro,” acrescentou com um sorriso torto.

“Saia do banho antes que eu o pegue e o foda bem aqui,” Zane alertou com um rosnado.

“Insistente,” Ty observou quando se virou e saiu do chuveiro, ficou ali de pé por um

momento para se acalmar, antes de pegar um robe fino.

Zane fechou os olhos e se virou, pressionando seu rosto aquecido contra o azulejo frio

quando a água começou a molhar o pano que tinha sobre seu braço. O que Ty tinha que o fazia

perder o controle? Inalou drasticamente à medida que o braço incomodava dolorosamente,

apenas deixou o pano cair, se virou para pegar o sabonete e começar a se limpar.

No momento em que terminou, Ty já tinha recebido a pizza de um entregador,

impressionado por ser recebido por uma pessoa toda molhada e ainda usando um robe, e

colocou um par de refrigerantes sobre o balcão da cozinha.

Assim que saiu do chuveiro, Zane balançou seu jeans e franziu a testa para eles; estava

uma bagunça, apenas os deixou no chão e envolveu uma grande toalha na cintura. Não era como

se precisasse de roupas por tanto tempo. Deu alguns passos para se juntar a Ty na cozinha e

gemeu feliz. “Pizza, alimento dos deuses”.

Ty apenas deu um sorriso torto e empurrou a caixa de pizza na frente dele, não demorou

muito para os dois comerem. Apesar de estarem com fome, ambos queriam algo mais.

Finalmente, Zane se levantou do banquinho, com a toalha precariamente abaixo de seu

quadril, e jogou a sua lata vazia no lixo, Ty o observava enquanto terminava a sua bebida,

aguardando.

329
Uma fome crescia muito maior dentro de si e era quase irresistível. Zane se virou e

caminhou de volta para Ty, pegou a lata de sua mão e a colocou na bancada, e pegou o queixo

dele. “Quero você na cama, debaixo de mim, agora.”

O corpo de Ty reagiu imediatamente às palavras, lambeu os lábios em antecipação e

ficou de pé, pressionando seus corpos juntos. “Meio perdido, hem?” ele apostou com um

pequeno sorriso.

“Porra,” Zane murmurou, puxando Ty para mais perto. “Você é pior do que heroína.”

Ty parou e inclinou a cabeça para Zane. “Não tenho certeza de que é um elogio,” ele

murmurou.

Zane inclinou a cabeça para o lado e suspirou, não sendo capaz de encontrar os olhos de

Ty. “Eu desejo a heroína.”

“Ah, Cristo,” Ty gemeu quando se moveu novamente e se afastou Zane. Ele caminhou

lentamente até o balcão da pia, esfregando o seu pescoço e resmungando para si mesmo. “Você

sabe, você continua se transformando em uma ideia cada vez pior.”

Zane suspirou e se deslocou para sentar-se no banco mais próximo novamente, e apoiou

os cotovelos sobre o balcão. “Você está certo,” ele disse esfregando o rosto com uma das mãos. “É

outro vício, você é o que eu desejo.” Não importa que ele temesse esse vício, já estava enraizado

dentro dele.

Ty ficou de costas para Zane, com a mão aberta em cima pia, enquanto olhava para o

reflexo das luzes do teto do aço inoxidável. Ser associado a um vício, não estava parecendo bem

para ele, especialmente vindo de um viciado, e começou a se preocupar sobre como Zane estava

vendo esse arranjo. Ty abaixou a cabeça e franziu a testa para o ralo, lhe ocorreu perguntar um

monte de coisas para Zane naquele ponto, mas, a única coisa que Ty sabia que poderia pedir sem

se fazer de tolo, foi: “Você ainda está usando?”.

330
Zane fechou os olhos. “Só você,” foi a melhor resposta, a resposta que queria dar, mas

não era a resposta correta, e ele não tinha o direito de mentir. “E bebida,” ele finalmente admitiu;

foram meses autodestrutivos, quando chegou a Miami, e se perguntava se Ty se importaria.

Ty se endireitou e se virou para olhar para Zane. “Você voltou para a garrafa?” ele

perguntou de forma neutra.

Nada além de clareza, quando encontrava os olhos de Ty, iria convencê-lo do contrário, e

Zane não faria isso, não mentiria; deu de ombros. “Sim.”

Ty olhou para o lado e balançou a cabeça, andando em silêncio, indo para o segundo

andar. Zane suspirou enquanto se sentava na cozinha, antes de lentamente se levantar para

segui-lo. Ty pegou a calça de moletom que estava usando, antes de ser chamado ao escritório de

Burns, jogou seu robe de lado, e estava pisando neles quando Zane chegou ao topo das escadas.

“Bem, então,” ele disse logo que ouviu Zane entrar no quarto. “Você não vai se importar

se eu tomar uma bebida,” ele disse bruscamente quando passou por Zane e desceu as escadas

para a cozinha novamente.

Zane suspirou; isso respondia a essa pergunta. “Fique à vontade,” ele disse, indo para o

banheiro colocar suas cuecas e o jeans sujo de volta e dar outra olhada no rasgo em seu braço.

Suspirou e se aventurou para baixo das escadas estreitas para enfrentar Ty, que tinha pegado

uma garrafa da geladeira e estava de pé no balcão da cozinha, bebendo enquanto rolava a tampa

da garrafa sobre seus dedos, como se fosse uma ficha de pôquer.

Zane sentou no banquinho em frente a ele, deslizando a mão pelo cabelo molhado. “E

agora?” ele perguntou, era uma pergunta que tinha muitos significados.

“Quer uma bebida?” Ty ofereceu sarcasticamente.

Estreitando os olhos, Zane balançou a cabeça bruscamente. “Só quando estou

trabalhando a noite,” ele murmurou.

331
“Bem, isso faz com que me sinta melhor,” Ty respondeu no mesmo tom sarcástico. “Nós

todos sabemos que os Chicos em Miami dormem como bebês.”

O rosto de Zane ficou duro. “Por que você está dando uma merda sobre isso, se você não

se importa?”

“Será que estou soando como um homem que não se importa?” Ty perguntou, tentando

manter a hostilidade fora de sua voz.

Isso trouxe Zane de volta, e sua resposta afiada morreu em sua garganta. Ty parecia...

Triste? Ele certamente parecia irritado, depois de quatro meses de intervalo, ele estava com raiva

porque Zane tinha começado a beber de novo; ele não sabia o que dizer sem voltar para esse

território emocional perigoso. “Então, você quer que eu saia de novo?” ele perguntou com a voz

neutra.

Ty fechou os olhos e bufou exasperado quando abaixou a cabeça. Esfregou os olhos e fez

uma careta, balançou a cabeça e disse: “Esse é o tipo de ideia que todo o ser que puxa a carroça

tem”.

“E eu, obviamente, tenho muito respeito por todo o ser que puxa o vagão,” Zane

retrucou, deslizando para fora do banco e subindo para pegar a sua camisa. Isso não estava indo

bem, e ele não via nenhuma razão para ficar e receber mais abuso. Ele fez sua decisão no

momento e naquele momento tinha feito sentido. Ouviu o som da garrafa de cerveja de Ty bater

contra a parede mais próxima, seguido de sua saída.

Zane parou no meio do caminho nas escadas e se virou para olhar para Ty quando o

homem se pôs no meio da cozinha. “Qual é a porra do seu problema?”

“Você não se importa, não é?” Ty perguntou acaloradamente, enquanto escorria da

parede a espuma da cerveja. “Você não dá a mínima se você morresse por lá.”

332
Zane inclinou seu ombro contra a parede, jogando a cabeça para trás para olhar para o

teto. O que você responderia a uma pergunta como essa? A verdade? “Por que deveria me

preocupar? Fiz o trabalho, e ninguém com quem trabalhei foi ferido.”

Ty olhou para ele por um momento antes de abaixar a cabeça mais uma vez e colocar as

mãos sobre a bancada para se acalmar. “Tudo bem então,” ele finalmente disse com uma voz

suave.

A raiva brilhou novamente em Zane, e não fez nada para reprimi-la. “Então, agora você

vai julgar mais de quatro meses da minha vida sem uma explicação? Foda-se, Grady.” Ele andou

até o banheiro. Por um longo momento, quase tinha sido convencido que Ty se preocupava.

“Você me disse:” Ty gritou com raiva, subindo os degraus atrás dele, “quanto tempo se

passou desde que alguém deu a mínima para você! Você faz esta porra ser impossível de

acontecer!” ele gritou quando se virou para a porta do banheiro.

Zane congelou com as mãos na pia enquanto olhava para a dor que surgia em seus olhos

e atravessava o seu rosto, apesar de seu esforço para engolir isso. Depois de um silêncio tenso,

sentia que Ty estava por perto, e disse com a voz rouca, “Adicione mais quatro meses na

contagem”.

“Você vai gravar um disco?” Ty perguntou acaloradamente. “Porque eu não dou a

mínima para as pessoas que estavam trabalhando na porra da Flórida.”

“O que está dizendo, Ty? Porque já mudei de ideia umas quatro vezes sobre o que eu

acho que você está dizendo,” Zane retrucou antes de emendar. “Eu não dou mais a mínima para

o que aconteceu há cinco anos, não foi nada sobre isso”.

“Estou dizendo,” Ty respondeu em um tom lento e teimoso, “que eu seria ferido se algo

acontecesse com você”.

A raiva de Zane murchou e ele apenas olhou para Ty, enquanto ele ficava lá e doido por

dentro. “Eu não quero te machucar.”

333
Ty não tinha nada a dizer sobre isso, apenas suspirou e balançou a cabeça. “Será que isso

vai interferir com o que nós temos que fazer?” ele perguntou resignadamente depois de um

longo momento de silêncio tenso.

“Eu vou parar com a bebida,” Zane finalmente prometeu depois de uma longa pausa,

voltando-se para pegar sua camisa do chão.

“E o outro... Vício?” Ty perguntou lentamente.

Zane inclinou a cabeça, tentando esticar um pouco a tensão de seu pescoço antes de olhar

novamente para Ty. “Vou manter sob controle,” ele murmurou, fixando os olhos escuros no

corpo de Ty, o avaliando.

Ty tremeu um pouco no ar frio de seu quarto, e desviou o olhar para a janela e a pequena

varanda. “Você vai ficar aqui esta noite?” ele finalmente perguntou com a voz abatida.

Olhando para si mesmo no espelho, Zane sabia qual resposta deveria dar, mesmo não

querendo que seja. “Não, vou em frente encontrar um lugar para trabalharmos,” ele disse com a

voz baixa; não seria uma boa ideia ficar tão perto de Ty; era muito, muito tentador, e sabia que

não seria capaz de resistir.

Ty suspirou e rolou a cabeça para trás e para frente. “Que tal isso, então?” ele disse

exasperado. “Quero que você fique aqui,” disse a Zane lentamente.

Zane suspirou e se virou para andar até Ty, deslizando os braços em volta de sua cintura

e se inclinando para unir as suas testas juntas abruptamente. Ty havia pedido; Zane iria quebrar.

“Então,” ele murmurou. “Esse é um vício que eu posso ter?”

Os olhos de Ty se fecharam assim que eles fizeram contato, e virou a cabeça para o lado e

suspirou baixinho quando passou os braços em torno de Zane. “Pelo menos não é um vício que

vai matá-lo,” ele respondeu sem rodeios.

A boca de Zane se inclinou em seu rosto, e não estava muito certo do que disse. “Eu vou

ficar” ele murmurou.

334
Ty apenas balançou a cabeça, em resposta, sem se mover do abraço hesitante.

Ele apoiou o queixo no ombro de Zane e exalou lentamente, Zane apertou os braços

timidamente. “Nunca um momento maçante,” ele murmurou; soltavam farpas e eram

estrondosos desde o primeiro momento que se conheceram.

“Sim, bem, se você não fosse um babaca...,” murmurou Ty com um pequeno sorriso.

Zane riu. “Funciona bem, pois você é um idiota.”

“Nós vamos ter que falar sobre estes trocadilhos”. Ty gemeu quando se afastou e se

arrastou lentamente para a cama, nem estava pensando em sexo por mais tempo. Ficou evidente

na queda de ombros de Ty, que ele tinha esgotado a energia quando ficou chateado.

“Mm hmm,” respondeu Zane o acompanhando. Dormir um pouco não iria desvalorizar

o momento, dependendo, se ele dormia bem após o sexo, ou com vários goles de uísque

primeiro.

“O próximo trocadilho ruim que você der, vou chutar a sua canela, e não me importo

onde nós estamos” Ty ameaçou quando se virou e ergueu o queixo.

“Ah ah ah, você se esqueceu, a dor não é um incentivo para eu sair,” Zane cutucou,

cruzando os braços.

Ty respondeu com um chute na canela de Zane, Zane riu e pegou Ty em torno da

cintura, e o levantou, praticamente o mantendo fora de seus pés e o girou ao redor. Ty se debateu

sem graça, um homem de seu tamanho e comportamento, não estava acostumado a ser lançado

ao redor, como uma boneca de pano, e ele demonstrou. Com a vantagem do tamanho de Zane,

finalmente valeu a pena, ele riu e deixou Ty em seus pés. “Você ama isso,” brincou.

“Jesus,” Ty estalou enquanto segurava Zane por mais um momento, para ter certeza que

realmente estava no chão novamente, Zane manteve seus braços em volta dele, e se inclinou para

acariciar o lado do pescoço de Ty. “Bem, isso é... Algo embaraçoso,” Ty murmurou quase para si

mesmo.

335
Zane sorriu e manteve o rosto no pescoço de Ty, para que ele não conseguisse vê-lo e

ficar irritado novamente. Ty simplesmente se deixou abraçar com um suspiro resignado. Incapaz

de segurar um bocejo, Zane murmurou contra a pele de Ty, não querendo avançar ainda.

“Cama, hem?” Ty murmurou quando finalmente passou os braços em torno de Zane e

bateu na cabeça dele.

Zane assentiu sonolento, pela primeira vez em muito tempo, sem a ajuda de grandes

quantidades de álcool.

“Tire esse jeans desagradável antes de colocar a sua bunda em meus lençóis limpos,” Ty

advertiu. Zane se despiu obedientemente enquanto Ty o observava, deixando apenas a cueca

para dormir, então Ty recuou e acenou para ele ir para a cama. “Porra, mais tarde,” ele prometeu

com um sorriso cansado.

Zane resmungou para ele, arrastou os pés para cama e deslizou na cama, com a barriga

para baixo, com um suspiro suave, nem mesmo se preocupou em pegar um travesseiro. Ty ficou

observando-o por um momento, em seguida, caminhou até a porta e apagou a luz antes de

rastejar atrás dele.

“Você vai ficar aqui?” Zane perguntou sonolento, movendo uma mão para tocar o braço

de Ty. “Se eu não estiver, olhe na varanda,” Ty respondeu baixinho enquanto rolava para o lado

e deslizava sua mão sobre as costas de Zane.

O outro homem murmurou algo baixinho e caiu rapidamente no sono; com os olhos

fechados, as sombras e a magreza de seu rosto ficaram mais pronunciadas. Ty suspirou baixinho

enquanto olhava para ele.

Havia uma familiaridade óbvia nesta situação; exceto que anteriormente, os papéis foram

invertidos, e Ty ainda não foi forçado a recorrer a substâncias para manter sua sanidade. Ele

estendeu a mão e passou as pontas dos dedos no rosto de Zane com uma careta. Não havia muito

a ser feito para ele, ou, nada que Zane não pudesse se ressentir.

336
Capítulo 11

Zane conseguiu dormir algumas horas, antes que os sonhos e os tremores o acordassem

com um grito assustado. Ele sentou-se rapidamente, para alcançar a arma que não estava ali e

olhou em volta, confuso. O homem na cama ao lado dele gemeu em resposta com o salto do

colchão e se virou de lado. Vendo isso, Zane se lembrou de onde estava e com quem, e seu

coração começou a se acalmar. Ele olhou para Ty, embora não pudesse ver muito no escuro,

olhou para o relógio e suspirou; duas malditas horas. Estava bem acordado agora, com pouca

chance de dormir mais.

Ele sentou e se inclinou contra a cabeceira para olhar para a escuridão, tentando ordenar

os seus pensamentos, no dia anterior, ele teria pegado uma garrafa, Agora... Ele puxou um dos

joelhos até o peito e suspirou.

“É mais difícil voltar a dormir quando você está sentado, imbecil,” Ty murmurou

sonolento, sem mover ou abrir os olhos.

Um sorriso puxou os lábios de Zane. “Eu não sabia disso, que graça,” ele murmurou,

estendendo a mão para passar pelo cabelo de Ty. Era reconfortante tê-lo aqui, embora Zane não

fosse admitido isso em voz alta.

Embora, ele percebeu, que já tinha dito isso de uma maneira, não tinha?

Ty deu um tapa nele irritado e murmurou de novo, jogando um braço sobre o colo de

Zane, quando se aproximou dele. Ele descansou o rosto contra o quadril de Zane e suspirou

sonolento.

Passando a mão no cabelo de Ty novamente, Zane o acariciou suavemente enquanto

deixava sua cabeça cair de volta. Não haveria mais bebidas; seria difícil conseguir dormir à noite,

337
difícil de ativar as engrenagens. Ele provavelmente seria uma bagunça pela manhã, e Ty com

certeza não iria tolerar as pílulas para mantê-lo acordado. Ele fez uma careta, deveria colocar

outra bisnaga de pílulas em sua jaqueta, antes que Ty tivesse motivos para encontrá-la.

“Vá dormir,” Ty murmurou contra seu quadril. “E pare de pensar em beber.”

Zane bateu em seu ombro. “Bastardo,” ele amaldiçoou em silêncio antes de se permitir

voltar a deitar. Procurou se acalmar, olhando para a sombra escura do homem enrolado contra

ele. Não passaram muito tempo juntos, nem vários meses para desenvolverem esse tipo de

conforto, mas, no entanto estava lá.

“Vamos,” Ty murmurou quando levantou a cabeça e se deslizou para trás, dando um

tapinha na cama ao lado dele.

“Ty,” disse Zane cansado. Não daria certo, assim que ele voltasse a dormir, acordaria

novamente. Gastaria seu tempo fazendo carinho no cabelo de Ty, mas, não queria manter Ty

acordado, então deslizou para a cama e ficou de lado, de frente para ele, e colocou a cabeça para

baixo.

“Role pra baixo” Ty ordenou com a voz rouca e sonolenta quando deslizou o braço sob a

cabeça de Zane, e deu com o seu ombro um empurrão, para se afirmar.

Com o cenho franzido, Zane o deixou empurrá-lo em suas costas, Ty o acomodou, até

que estava do seu lado novamente, de costas para ele, e Ty se aconchegou contra ele. Ele passou

o braço sobre Zane de forma protetora e esfregou o nariz no cabelo de Zane com um suspiro.

“Sono,” ele sussurrou suavemente, sabendo que se Zane não dormisse, ele também não

iria; era impossível descansar com um corpo tenso ao lado dele.

Zane ficou assim por um longo momento, surpreso, mas começou a relaxar com Ty o

segurando de perto. Foi... Indescritível; ele podia sentir sono chegando novamente, e Zane

esperava que pudesse passar por uma mudança. Contorceu-se um pouco quando começou a cair

338
no sono; o calor do corpo de Ty e o som de sua respiração aliviou Zane o suficiente para que

cochilasse, sentindo-se mais seguro nos braços de Ty, depois de um longo tempo.

O próximo a acordar, foi Ty, despertando sem se mover; a luz da manhã estava vazando

pelas janelas e ele gemeu baixinho. Zane ainda estava deitado de lado, exatamente onde Ty lhe

havia manobrado, profundamente adormecido com Ty cingido. Ele não tinha sequer se movido,

muito menos acordado novamente. Ty levantou cuidadosamente e caminhou até o banheiro,

fazendo o mínimo de som possível. Quando voltou, Zane ainda não tinha se movido.

Ty deslizou de volta para a cama quente, ao lado dele; lentamente beijou seu pescoço, se

aninhando na pele quente. Zane se moveu ligeiramente e sua respiração parou quando começou

a acordar, reconhecendo o toque como algo fora do comum.

“Bom dia,” Ty murmurou baixinho quando sentiu Zane se mexer; Zane murmurava

baixinho, quase interrogativamente. “Levantar,” Ty sussurrou.

Começando a se mover um pouco, Zane respirou mais fundo e virou o rosto na direção

de Ty, os olhos ainda fechados. “Hora de acordar já?” ele perguntou com a voz suave e pesada

de sono.

“Você tem uma hora antes de ter que sair da cama,” respondeu Ty enquanto continuava

acariciando a pele de Zane.

Zane fez alguns sons apreciativos e se aproximou de Ty. “Não quero acordar... isso é

bom,” ele murmurou.

“Quer dormir mais um pouco?” Ty perguntou com uma voz mais suave.

“Mmm, só se você ficar,” Zane murmurou fracamente, prestes a cair de volta para um

cochilo.

“Se ficar, poderia fazer coisas inconvenientes para você,” Ty advertiu em voz baixa,

enquanto sua mão se movia lentamente para baixo de Zane.

339
O canto da boca de Zane apareceu. “Mmmm, contanto que não esteja sonhando,” ele

murmurou, passando a mão para baixo, sobre o colchão em frente de si mesmo.

Ty se aproximou, puxando Zane pelo quadril enquanto se levantava mais. “Isso está se

tornando uma distração,” informou a Zane baixinho, os lábios se movendo contra a orelha de

Zane.

Zane riu com voz rouca e finalmente abriu os olhos. “Eu?” ele perguntou, cobrindo a

mão de Ty com a sua própria, só para tocar; os dedos de Ty puxaram o quadril de Zane devagar,

e ele flexionou os quadris contra ele.

“Acordar todas as manhãs assim, teria suas vantagens,” Ty murmurou sem pensar

quando beijou o pescoço de Zane.

Mordendo os lábios, Zane tentou ignorar o quanto esse pensamento lhe agradava, mas

ele não podia ignorar a onda de desejo. “Sim,” ele concordou.

Ty se empurrou ainda mais e virou Zane, para deitá-lo de costas, beijando-o

languidamente enquanto sua mão vagava para cima e para baixo, contra a pele quente. Zane

deslizou o braço por cima da cintura de Ty quando ele o deixou controlar o beijo; Deus, ele

poderia se acostumar com isso.

Ele queria se acostumar com isso.

Gemendo baixinho, Ty montou em uma das pernas de Zane, empurrando o joelho entre

elas, as forçando a abrirem.

“Sim,” incentivou Zane, deslizando as mãos pelas costas de Ty e agarrando sua bunda,

mantendo suas virilhas próximas. Ty rosnou e o beijou com mais força, se insinuando entre as

pernas de Zane e deslizando as mãos sob os ombros para mantê-lo no lugar. Com o corpo

relaxado e maleável do sono, Zane se moveu quando Ty virou a boca para beijá-lo, dando todo o

acesso a Ty, o corpo de Zane acelerando enquanto tentava balançar contra ele.

340
Ty ofegou suavemente na boca de Zane e passou uma mão em seus cabelos, mantendo o

ritmo em suas virilhas, unidas pela fricção. O telefone na mesa de cabeceira começou a tocar e

vibrar exigente, e Ty praticamente rosnou, antes de roubar outro beijo de Zane.

As mãos de Zane se apertaram contra Ty, ele queria tanto dizer “esqueça o telefone, você

deveria estar me fodendo,” mas recebeu o beijo final, em vez de alongá-lo.

Ty se esticou para pegar o telefone, e gemeu enquanto seu quadril se empurrava contra

Zane ainda mais duramente, pegou o telefone e abriu.

“O que?” ele gritou em resposta quando se acomodou sobre o corpo de Zane. A voz do

outro lado estava alta o suficiente para quase ser distinguida, e era obviamente feminina, Ty

inclinou a cabeça para simular que cortava o pescoço, enquanto escutava.

Um zumbido retumbou no peito de Zane quando colocou as mãos no quadril de Ty,

dando-lhe o ângulo para puxá-lo contra ele enquanto lentamente acariciava o seu corpo.

Ty se aproximou novamente da mesa de cabeceira, deixando o telefone ligado, quando

puxou uma gaveta. Ele se atrapalhou com a gaveta aberta, antes de finalmente pegar um tubo de

lubrificante e, em seguida, uma caixa rasgada de preservativos. Beijou Zane novamente, trazendo

o telefone próximo ao ouvido de Zane, e ele pode ouvir uma breve, mas sincera maldição. Zane

sorriu contra os lábios de Ty.

Obviamente, não era crítico o suficiente para impedir que Ty transasse com ele, então,

não poderia se importar menos, que a pessoa do outro lado da linha estivesse chateada. Para

ajudar, Zane ergueu o quadril, e tirou sua cueca com uma das mãos, a empurrando para baixo de

suas coxas.

“Sim,” Ty sussurrou quando estendeu a mão para ajudar a tirar a cueca e o beijou

novamente. O telefone caiu de sua mão e deslizou para baixo do travesseiro, ele estendeu a mão

até o lubrificante, enquanto se metia entre as pernas de Zane e as mantinham ainda mais

341
afastadas, com o joelho. Zane chutou a cueca para o lado e afastou ainda mais as pernas, para dar

mais espaço para Ty. Seu pênis já estava ereto e erguido.

Não levou muito tempo, para tocar em Ty, nunca levava, ele respirou fundo, e virou a

cabeça, e ainda podia ouvir a voz feminina falando ao telefone.

“Ty?” a voz questionou distande e irritada. “Ty! Você está me ouvindo?” gritou.

Ty pegou o telefone e o colocou em seu ouvido novamente, se posicionando entre as

pernas de Zane. “Ouvindo,” ele grunhiu sem convencer, antes de passar o telefone longe de sua

boca e beijar Zane novamente, enquanto deslizava um dedo dentro dele.

Mordendo os lábios contra um grito suave, Zane arqueou na mão de Ty, fechando os

olhos e segurando os lençóis; foda-se, ele queria muito isso, e o fato de que era Ty, fazendo isso

com ele, apesar do telefonema, só o deixava mais louco. Zane colocou a mão em torno de seu

pênis, e levemente correu o dedo sobre a cabeça inchada e dolorida.

Ty mal conseguia formar pensamentos complexos, muito menos lidar com a mulher do

outro lado do telefone. Ele queria Zane e apenas Zane, e queria com intensidade, deslizou outro

dedo dentro dele lentamente, praticamente vibrando com o desejo de ir mais rápido.

“Você me deve um pedido de desculpas!” a voz da mulher gritou no telefone celular, e

Ty deixou o telefone cair novamente, para puxar o cabelo de Zane e trazer a dele cabeça para

trás, para que ele pudesse morder seu pescoço. “Ty!” a mulher gritou.

Zane engasgou para respirar um pouco, inclinando a cabeça para trás e passando sua

mão livre em Ty, quando sentiu os dentes dele rasparem contra sua pele. Zane apertou o controle

sobre seu próprio pênis, o prazer crescendo dentro dele, ficando cada vez melhor. A voz irritada

era um pequeno zumbido que ele não se incomodava em notar. Toda a sua atenção estava nas

mãos de Ty. E os dedos de Ty o estavam esticando cada vez mais, se torcendo perversamente

dentro de Zane, enquanto arrastava os dentes em seu pescoço.

342
Outro grito da mulher no telefone fez Ty se erguer um pouco e pegar o telefone. “Stacey,

vou ligar de volta,” ele ralhou no telefone antes de desligar, jogando-o por cima do ombro, até

cair precariamente na beira da cama, a seus pés. Ele se curvou para beijar Zane novamente,

gemendo alto com o contato.

Zane não aguentava mais. “Ty... por favor,” ele choramingou.

Como para fazer o seu ponto, o telefone começou a tocar e a vibrar no final da cama. Ty

apenas o ignorou, toda a sua atenção estava focada em Zane, o preparando para uma boa foda

áspera. Ele beijou-o avidamente quando o telefone caiu dos lençóis de cama emaranhados, pegou

a camisinha, rasgou a embalagem, tirou os dedos de dentro de Zane e deslizou a palma da mão

até o pênis de Zane, o provocando.

Zane engoliu um grito quando sentiu a mão de Ty sobre ele, e não conseguia parar de

mover o seu quadril, enquanto a mão de Ty o estimulava. “Foda-se,” ele respirou. “Porra, Ty...”

“Ainda não,” Ty respondeu asperamente enquanto rolava o preservativo, e puxava a

parte de trás da coxa de Zane. O telefone finalmente parou de tocar, e Ty o beijo novamente de

forma descontrolada. Segundos depois, Ty estava se empurrando lentamente contra o corpo de

Zane, quando o telefone fixo começou a tocar.

Zane rosnou. “Quem é ela?” ele exigiu, mantendo suas mãos sobre Ty, as passando nos

músculos rígidos. “Não importa,” ele engasgou enquanto Ty se movia para dentro dele. “Ela só

quer o que eu tenho.” E Zane propositadamente inclinou seu quadril para Ty se afundasse ainda

mais profundamente dentro dele.

Ty sussurrou, o som muito perto de um gemido quando apertava os lábios no queixo de

Zane e metia com mais força.

A voz de Ty na secretária eletrônica pode ser ouvida vinda da cozinha, avisando para

não deixar uma mensagem, porque ele nunca a voltaria de qualquer maneira, e, em seguida, um

343
sinal sonoro alto soou, quando Ty colocou suas mãos para cima e flexionou os quadris. “Não dê

ouvidos,” disse a Zane com a voz firme quando começou a penetrar mais fundo dentro dele.

“Foda-se,” Zane respirava. “Você acha que eu posso prestar atenção em mais alguma

coisa, além de você?” Ele lutou para se concentrar em Ty se movendo dentro dele; ele sentiu a

falta disso durante esses quatro meses, e agora que ele tinha? Não ia perder mais.

“Vamos lá, foda-me,” ele rosnou com os dedos cavando os ombros de Ty.

Ty extravazou um pouco com o seu rosnado, sua mão segurou o cabelo de Zane, para

mantê-lo no lugar, quando começou realmente a se empurrar contra ele. A cama balançava com

seus movimentos, a cabeceira da cama rangia e na distância, uma voz feminina gritou com raiva

em uma secretária eletrônica. Mas os ouvidos de Zane estavam preenchidos com o som de seu

próprio coração e os suspiros ofegantes de Ty. Ele gritou o nome de Ty quando começou a se

empurrar contra ele, intensificando o efeito dos impulsos. Serpenteou a mão entre eles para

bombear o seu pênis, e as ondas de choque se multiplicaram.

“Foda-se, sim,” Ty assobiou quando enterrou o rosto no pescoço de Zane e usou os

músculos de suas costas e as pernas para meter com mais intensidade.

Os movimentos deixaram arco de seu corpo tenso, um torpor quase lânguido com o

balanço, o deixando ainda mais insano que qualquer quantidade de batidas frenéticas poderia

realizar. Sob tudo isso, ele podia ouvir a voz da garota, mas ele não podia pensar nisso naquele

momento, se sentia malditamente incrível, para se concentrar em qualquer outra coisa.

Um gemido baixo se construiu no peito de Zane quando intensificou a masturbação em

seu pênis, junto ao movimento de rítmico de Ty, construía um fogo superior, mas não fornecendo

faísca suficiente. “Ty... Pelo amor de Deus... Tenho que implorar?” Zane perguntou impotente,

levantando os joelhos, para tentar fazer com que Ty se movesse mais rápido e empurrasse com

mais força.

344
Ty não respondeu, apenas acelerou o ritmo de suas estocadas com um grunhido de

esforço.

Zane ofegante o encorajou, jogando a cabeça para trás quando sentiu o orgasmo

apertando dentro dele, apertou seus dedos em seu pênis, aumentou a fricção. “Não vou durar

muito...” falou gemendo.

“Vamos lá, Garrett,” Ty persuadiu com a voz baixa e retumbante. “Vamos lá, goze em

cima de mim,” ele sussurrou contra a pele de Zane.

O corpo de Zane começou a apertar, e sua mão se moveu ainda mais rápida em torno de

seu pênis. “Ty...,” gemeu. E com mais alguns golpes, se empurrou contra Ty e gritou quando

gozou, o líquido quente se espalhou entre eles com cada impulso que seu corpo dava, e ele

gritava mais, quase delirando de prazer.

Ty fechou os olhos e gemeu, se empurrando mais e grunhindo com cada impulso de seu

quadril. “Um dia,” ele grunhiu com dificuldade, “Só vou ficar sentado em um canto vendo você

se masturbar,” ele prometeu quando sua barriga se esfregou contra os músculos lisos de Zane.

Apenas o pensamento foi o suficiente para mandá-lo sobre a borda, tentou retardar seus

movimentos para evitar o orgasmo, mas, os atritos eram demais, e ele gozou com um grito que

foi alto o suficiente para abafar o bip da secretária eletrônica.

O estômago de Zane se agitou novamente em reação às palavras de Ty. Foda-se, Zane

adoraria isso, sentir os olhos de Ty em cima dele, quando estivesse se masturbando. Ele gemeu o

nome de Ty longo e baixo. Ty se moveu lentamente, aumentando a fricção torturante e,

finalmente, entrou em colapso, com um pequeno suspiro, ofegante. O telefone celular no final da

cama começou a vibrar e a tocar à beira da cama e, em seguida, caiu no chão com um barulho.

Ty se empurrou para cima trêmulo e beijou Zane quase sem fôlego, se retirando dele com

cuidado e gemendo quando fez isso. Zane o agarrou sem pensar, tentando mantê-lo ainda dentro

de si, mas Ty rolou para o lado e puxou Zane com ele. Ty beijou Zane mais uma vez, quase

345
delicadamente, e, em seguida, caiu de costas. O telefone parou de tocar em algum lugar no chão

no final da cama, Ty suspirou alto e fechou os olhos, aliviado.

“Estava com ela na noite de anteontem,” ele admitiu com a voz baixa, sem fôlego.

Suspirando suavemente, Zane se deslocou para ficar ao lado de Ty, se fixando em seu

rosto, em seu braço. Ele pensou preguiçosamente sobre o quanto Ty parecia mais forte agora. Ele

não parecia diferente, mas, parecia mais forte de alguma maneira. Talvez Zane estivesse muito

preso, antes de notar as mudanças. Ele podia imaginar que Ty tivesse muito pouco tempo para

ocupar-se com outros tipos de esforços físicos, no entanto. Se lembrou de como era estar com

licença médica, sob ordens de não fazer nada mentalmente “extenuante,” a única coisa que

restava a alguém tão ativo quanto Ty fisicamente e mentalmente.

“Espero que tenha sido melhor do que naquela noite,” Zane murmurou distraidamente,

sua mente se voltando para a ferida de bala, que agora pulsava com raiva.

Ty virou ligeiramente a cabeça e apoiou o queixo contra a cabeça de Zane quando passou

o braço em volta dele com cuidado. Ele não disse nada, sabendo que tudo que vinha à mente

seria algo vago para Zane ou uma mentira.

Zane estava apenas respirava calmamente, e finalmente sorriu. “Sentar-se em um canto e

me ver masturbar?” ele demorou. “Mau, mau.”

Ty corou ligeiramente, embora com a luz de manhã, não ficasse totalmente perceptível.

“Parece divertido,” ele explicou brevemente.

“Mmmm... Concordo” Zane murmurou quando colocou os lábios na pele de Ty e se

apertou contra ele, suspirou, e o som ficou abafado contra o ombro de Ty. “O que você tem que

me faz querer lançar tudo para o alto e transar com você de novo?” ele perguntou sério.

Ty piscou com surpresa e virou a cabeça ligeiramente. “Deve ser o Old Spice,” ele brincou

fracamente, Zane bufou e balançou a cabeça, embora ele tenha virado a cabeça para inalar o

346
cheiro de pele suada de Ty. “Eu não sei não,” Ty murmurou mais sério com uma inclinação de

seu queixo.

Zane ficou em silêncio por um longo momento, não poderia dizer sobre o que sentia, sem

soar como um idiota absoluto. Os nervos estavam rastejando de volta, e ele podia sentir os

tremores o ameaçando. Ele rolou para as suas costas, levantando as duas mãos para esfregar o

rosto, antes de enrolar os punhos, porque eles estavam tremendo visivelmente. Droga! Maldita

bebida. Tinha esperanças de que teria um pouco mais de tempo, antes do desejo batere. E ele não

podia beber quando era hora de começar a trabalhar. “Precisamos ir,” ele murmurou baixinho e

fez uma careta quando saiu soando totalmente fraco.

Ty ficou imóvel por um momento, perplexo com a súbita mudança de assunto. “Sim,” ele

finalmente concordou com um grunhido enquanto rolava e balançava os pés sobre a borda da

cama, se ergueu e se arrastou para o banheiro se limpar.

Zane assistiu Ty levantar, com um turbilhão de emoções confusas.

Foda-se, ele precisava se controlar. Lançando as pernas para fora da cama, Zane desceu

as escadas, até o pequeno banheiro, então pegou a sua jaqueta. Ele tinha que se livrar dos

malditos comprimidos, ou se arrebentaria como um louco, o que tornaria algo muito mais difícil

para se controlar, estando em torno de Ty. Sem mencionar, em ter Ty regiamente atacando os

seus ouvidos.

Ty ouviu o farfalhar dos lençóis quando Zane se levantou, e ficou na frente do espelho do

banheiro com o pano úmido, e esperou alguns instantes antes de encontrar algo suspeito e seguir

em silêncio. Colocou uma cueca e a calça jeans, esperando que ele não fosse encontrar Zane

fazendo o que achava que ele estava fazendo. O fato de que ele já estava com uma forte

necessidade, era óbvio, e Ty conhecia muito bem os viciados, para saber que o esconderijo de

Zane estaria perto.

347
Zane vasculhou o casaco e encontrou a lata com os comprimidos, não a abriu, apenas

bateu na lata nervosamente na manga de couro, mais uma vez tentando se livrar deles. Ele ainda

estava lá quando Ty veio por trás dele e se inclinou em silêncio sobre o balcão da cozinha. Zane

estava tão envolvido em sua luta interna que não ouviu Ty se aproximando, e ele se manteve

batendo nervosamente na lata, acelerando, retardando, acelerando.

Ty observou-o em silêncio, a carranca se aprofundando, enquanto Zane continuava a

lutar visivelmente com ele mesmo.

A mão de Zane sacudiu, se enrolou em torno da lata, e fechou os olhos.

Ele poderia desistir, ele podia, não era o seu corpo que queria a droga, era a sua cabeça.

Ele respirou fundo, abriu os olhos, se virou e congelou no local quando viu Ty. Ty encontrou

seus olhos sem emoção e, em seguida, olhou lentamente para baixo, para a lata em suas mãos.

“Balas?” ele perguntou sem rodeios.

“Não.”

A mandíbula de Ty apertou e depois relaxou novamente. “Um pouco cedo para isso,

hein?”

Zane se debatia em explicar por cerca de dois segundos. Em vez disso, estendeu a mão e

agarrou a mão de Ty, colocando a lata na palma da mão dele e fechando seus dedos sobre ela, e,

em seguida, passou por ele, indo para o banheiro. Ty o observou ir, então olhou de volta para a

lata e franziu os lábios. Com um suspiro, deslizou no bolso de trás e voltou para o quarto, que

começava a ficar lotado.

Zane ligou a água fria no chuveiro e se sentou na borda da banheira, amaldiçoando a si

mesmo. Deveria ser mais fácil que isso, ele parou antes, e tinha sido muito mais difícil e pesado

que essa merda. Esses poppers não eram grande coisa.

Ele entrou no chuveiro; então, por que sentia que tinha muito mais a perder? O desejo

por drogas ecoaram em sua cabeça, o desejo de encontrar uma bebida enrolava em seu intestino,

348
e o desejo por um cigarro davam espasmos. Deus, ele se fodeu; na época, não tinha nada para se

importar. Ele achava que não iria durar o suficiente para ser um problema; seu corpo tremeu, e

ele se inclinou contra a parede, lutando pelo controle.

Nada mais foi dito entre os dois, até que estavam esperando no aeroporto, o voo

comercial que Ty tinha apressadamente reservado. Sentaram-se na área do bar do aeroporto e

assistiam a CNN, Ty batia com os dedos na mesa, impaciente.

Zane estava instável e distraído durante toda a manhã; nervoso e tenso enquanto

esperava em seu lugar. Estava tão cheio de tiques causados pelas drogas, que se perguntava o

que Ty poderia fazer sobre isso. Ele sabia que não havia nada que pudesse fazer para mudar a

opinião de Ty sobre eles, e foi isso que o incomodava; que tivesse danificado a opinião de Ty

sobre ele. Ty não tinha sequer aludido às pílulas que Zane tinha lhe entregue.

Finalmente, depois de meia hora de atraso e estar muito inquieto para ficar quieto por

mais tempo, Ty olhou para a televisão montada no canto de Zane e inclinou a cabeça. “Qualquer

preferência quanto ao local aonde vamos nos hospedar na cidade?” ele perguntou sem rodeios.

Zane piscou e saiu de seus pensamentos, olhou para Ty e encolheu os ombros. “Em

algum lugar imprevisível, Queens talvez, “ ele meditou. “Ou Chinatown.”

Ty balançou a cabeça e tomou um gole de seu suco de laranja. “Boa ideia,” ele

respondeu, incapaz de pensar em mais nada a dizer ao homem.

Quando Ty ficou em silêncio novamente, Zane voltou para seus pensamentos, tentando

se concentrar em suas memórias sobre o caso, afastando suas preocupações, mas, não estava

tendo muito sucesso, especialmente com o bar tão próximo do outro lado do ambiente. Ele

estremeceu quando um grupo estridente de garrafas bateram entre si. Deus, ele não queria estar

aqui, queria voltar para o apartamento de Ty, e ficar enrolado e quente, como no início desta

manhã.

349
Ty sentou e o observou sem emoção, suspirou e olhou para o relógio, com o seu joelho

saltando inquieto. “Você ainda pode se afastar deste caso,” ele disse para Zane baixinho.

Zane levantou os olhos para encontrar Ty. “O caso não é o problema, eu sou o

problema,” ele murmurou, colocando os cotovelos sobre os joelhos.

“É o meu problema,” Ty lembrou.

“O seu problema?” Zane perguntou, franzindo a testa.

“Se você não pode se controlar, então você é o meu problema,” Ty esclareceu. “Nós

estabelecemos antes, que este não é um trabalho que pode ser feito sozinho.”

O rosto de Zane ficou imóvel e ele desviou os olhos para as janelas. “Eu vou me

controlar,” ele disse com a voz rouca. Não seria facil, mas ele ia lidar com isso.

“O que você tem tanto medo?” Ty perguntou de repente.

Olhos escuros de Zane ficaram sombrios, Zane não sabia se poderia explicar a resposta

para si mesmo, muito menos para Ty. “Eu...” Ele apertou os lábios e tentou o humor. “Com medo

de me envergonhar?”

“Não acredito nisso,” Ty respondeu após um momento de reflexão, levantou a cabeça e

olhou para Zane cuidadosamente. “O que é? Morrer? Estar sozinho? Morrer em paz?” ele se

aventurou com sarcasmo. “Pelo menos essas são coisas legítimas para ter medo,” acrescentou

antes que Zane pudesse responder.

“Não tenho medo da morte,” Zane murmurou, era o oposto, na verdade. Não tinha

medo de ser um moribundo, isso era apenas algo pegajoso e sentimental, pensou sombriamente,

enviando seu humor ainda mais para baixo.

“Vamos lá, Garrett,” Ty murmurou quando se inclinou mais perto. “Se pudemos foder

um ao outro sem sentido, podemos ser honestos um com o outro também.”

350
Os olhos de Zane se viraram para Ty, e depois se afastou rapidamente, e quando falou,

foi um sussurro. “Você se lembra de quando eu disse que não dava a mínima para qualquer um

em cinco anos? E como que tinha mudado?”

“Sim.” Ty respondeu questionando; na época, ele pensava que Zane se referiu à mulher

que havia perdido, mas agora, neste novo contexto, ele tinha a sensação de que estava errado.

Um sorriso triste torceu os lábios de Zane. “Becky morreu há cinco anos,” ele mencionou,

aparentemente de improviso.

“Foi a sua esposa,” disse Ty cuidadosamente, ficando um pouco mais confuso.

“Sim, nunca pensei que me preocuparia com alguém depois dela,” Zane respondeu

calmamente. “Já estaríamos com quase dez anos de casados, era como se metade de mim

desaparecesse de repente, não posso explicar isso de outra maneira.”

Ty balançou a cabeça lentamente, deslizando a parte superior do frasco plástico sobre a

mesa sem descanso.

“Vá em frente,” ele convidou.

Meu Deus! Zane se sentia como um idiota. “Não me importei com ninguém, nem comigo

mesmo, e quando me importei...” A mandíbula de Zane se apertou, e manteve os olhos voltados

para a janela, menos no homem sentado em frente a ele. “Eu o deixei ir embora.”

Sem nem mesmo perceber, Ty havia comprimido a lata de comprimidos em sua mão

quando Zane falou, ele bateu a lata oca quase com raiva na mesa. “Então, este é você?” ele disse

com atitude “Ansiar por alguém e deixá-lo ir embora.”

Zane olhou para a mesa com surpresa, vendo a pequena lata; olhou para Ty em estado de

choque e percebeu que Ty, ou não pegou o significado de suas palavras ou simplesmente não

aplicou para si mesmo. Embora se sentisse aliviado, também se sentia pior do que antes. Ele

olhou para a lata. “Você não deveria ter trazido isso aqui.” Evite a pergunta. Evite a pergunta.

Esqueça a questão, Ty. Você não quer saber a resposta.

351
Ty apenas olhou para ele sem expressão. “Pensei que se você continuasse assim, eu

poderia precisar deles,” ele finalmente estalou.

“Droga,” Zane vaiou com a mão saltando para pegar a lata. “É você, seu idiota,” ele

disse.

“O que eu sou?” Ty exigiu defensivamente.

“Deu as costas,” ele acrescentou com um silvo e um movimento da mão. Zane se inclinou

e agarrou a frente da camisa de Ty, puxando-o para frente. “Você foi o único que foi embora,” ele

rosnou antes de sacudi-lo um pouco e empurrá-lo de volta na cadeira.

A cadeira de Ty balançou precariamente antes dele se endireitar novamente, mas Ty não

pareceu notar, enquanto olhava para Zane com olhos castanhos chocados. “O que foi?” ele

perguntou estupidamente, sua voz rouca e um pouco maior que o normal.

“Foda-se,” Zane murmurou, levantando-se e embolsando a lata. “Preciso de uma

bebida.” Ele andou em direção ao bar. Que situação fodida.

“Garrett,” Ty gritou atrás dele.

Zane parou depois de quatro passos, seu corpo se sacudiu em um impasse, em resposta à

voz de comando de Ty. Ele lentamente endireitou os ombros e virou o queixo para indicar que

estava ouvindo.

“Você não precisa de uma bebida,” disse Ty lentamente com palavras medidas.

Inalando acentuadamente, Zane prendeu a respiração durante um longo momento,

quando fechou os olhos e baixou a cabeça. Suas mãos lentamente se enterraram nos bolsos da

jaqueta de couro, e apenas ficou lá parado. Então, o que agora? Vá para frente? Volte? Ele desejou

novamente o esquecimento do álcool, mas as palavras de Ty ecoaram nele, e ficou no lugar.

“Deixe-me ficar com essas pílulas,” Ty solicitou após um momento de silêncio tenso.

Zane se virou automaticamente, caminhou de volta, e estendeu a lata, a procurando em

todos os lugares, para entregar a Ty. Ty tomou-a, e olhou para Zane de forma penetrante. Ele

352
colocou a lata em um bolso dentro de sua jaqueta de lona e, em seguida, mudou de posição na

cadeira. Com um longo suspiro, fechou os olhos e esfregou a ponta do seu nariz.

“Então, você está dizendo... o quê?” ele murmurou, finalmente, com um aceno de sua

mão. “Você está apaixonado por mim?”

“Não,” Zane foi rápido em insistir. “Estou dizendo que eu descobri que me importava

com você e, em seguida, o deixei ir embora,” ele respondeu com teimosia. Ele não tinha ideia

alguma sobre amar Ty. Todo o conceito o assustava, e simplesmente se recusou a sequer

considerar essa possibilidade. Ele poderia se preocupar com o seu parceiro, certo? Nenhum mal

nisso.

“Ok,” Ty respondeu devagar, balançando a cabeça. “Então, agora você está tentando me

empurrar para longe ou está tentando se autodestruir,” ele arriscou. “Talvez as duas coisas,” ele

deu de ombros, enquanto continuava esperando pelo contato visual de Zane. “O que eu não

entendo é o por que.”

Zane rangeu os dentes, então seus ombros e se comportamento cedeu, ele parecia

exausto. Ele olhou para cima, e seus olhos estavam cheios de resignação. “Não é possível puxá-lo

para mais perto, posso?” ele perguntou.

Houve um longo e tenso momento de silêncio, quando Ty encontrou nos olhos de Zane

emoção. “Talvez não em público,” ele respondeu finalmente.

Zane olhou para ele, em silêncio, e ele balançou a cabeça minuciosamente. Ty estaria

brincando à sua custa? Ele parecia inexplicavelmente solene.

“Sério,” Ty advertiu, abaixando um pouco a cabeça e olhando para Zane com os olhos

apertados e uma contração quase imperceptível de seus lábios. “Não me venha apalpar em

público.”

Zane piscou e se encolheu um pouco, totalmente surpreso. Isso não era nada do que ele

esperava em termos de resposta do homem sentado na frente dele.

353
“Tudo bem?” ele respondeu com a testa franzida. Ele ainda não tinha certeza se Ty

estava puxando sua cadeia. Meu Deus! Tudo o que Zane queria, era ser capaz de foder Ty e se

certificar que o homem não fosse morto; não era algo simples?

“Ok,” Ty repetiu com um aceno de cabeça, olhou ao redor do saguão do aeroporto e, em

seguida, de volta para Zane elevando-se sobre ele. “Você está chamando um pouco de atenção,”

ele informou ao seu parceiro.

Ainda não tendo certeza do que tinha acontecido, Zane balançou a cabeça, e se dirigiu

para o banheiro dos homens; sem o álcool, seus pensamentos estavam nublados; e ainda tinha

um parceiro de trabalho, que Zane não conseguia manter suas mãos longe. Bem, tudo bem. Eles

apenas tinham que se acostumar um com o outro novamente, certo? O sexo insanamente

gratificante e viciante era apenas um bônus. Qualquer outra coisa que ele sentia, seria empurrado

para longe, tanto quanto poderia empurrá-lo.

Deixado sozinho, Ty revirou os olhos e cedeu seus ombros enquanto Zane se afastava.

Era muito mais difícil lidar com Zane, quando o seu coração sentia e tinha que agir como um

idiota com ele.

Zane chegou ao banheiro, lavou o rosto com água fria e olhou para seu rosto, encontrou

nele, círculos escuros sob os olhos. Apenas uma noite de sono, não compensaria meses de

privação. Ele percebeu que parecia uma merda no espelho; por que não tinha notado antes?

Quase parecia que estava com morte o espreitando. Não admira que Ty estivesse preocupado.

Zane jogou mais água em seu rosto; tinha que tirar essa merda de fora de sua cabeça ou ia ficar

louco. Quando parou sobre a pia, os alto-falantes no teto crepitavam com vida, anunciando o voo

que estavam aguardando para o embarque.

Depois de um último fôlego, Zane pegou algumas toalhas de papel, secou o rosto e as

mãos, e deixou o banheiro para se juntar a Ty.

354
Assim que chegaram em seus lugares, Ty se virou para Zane com uma pequena carranca.

“Quando Burns te ligou, ele perguntou se você estava acompanhando o caso?” ele perguntou

abruptamente.

“Sim,” respondeu Zane enquanto colocava o cinto de segurança. “Por que?”

“O que você disse a ele?” Perguntou Ty.

Zane levantou uma sobrancelha quando olhou para seu parceiro. “Disse a ele que não.”

“Disse a verdade?” Ty pressionou.

Zane franziu o cenho. “Sim, estava enterrado no bairro há quase 14 semanas, não tinha

ouvido ou lido nada que não fosse em espanhol, em muito tempo.” Se moveu no banco, tentando

esticar as pernas compridas.

Ty assentiu, essa era a resposta que ele esperava. “Eu menti,” admitiu.

“Por que?”

“Não tenho certeza,” Ty respondeu com um encolher de ombros. “Foi a primeira coisa

que veio a minha cabeça; ele perguntou se eu estava acompanhando, e eu disse que não, até

pensei sobre isso despois.”

“E depois, o que você disse?” Zane cutucou.

“Que não olhava para trás,” Ty respondeu imediatamente e entregou uma pasta de couro

fino para Zane.

“O que é isso?” Zane perguntou surpreso quando pegou a pasta fina e olhou para ela

com cautela.

“São todos os recortes que guardei sobre o caso enquanto estava no hospital e depois,”

respondeu Ty enquanto cruzava os braços sobre o peito defensivamente se mexendo na cadeira.

Zane olhou com surpresa. “Você se manteve com isso o tempo todo? Por que faria isso?

Com toda a confusão em sua cabeça que você estava tentando arrumar?” Lembrando claramente

do olhar no rosto de Ty, quando ele viu a garota pendurada na janela.

355
“Eu não gosto de ser enganado,” Ty respondeu com a voz suave e determinada. “E não

gosto de me sentir culpado,” admitiu.

Zane levantou a cabeça e olhou sério para ele. Ele tinha dado como certo, que um homem

como Ty, seria capaz de livrar-se do passado com facilidade. O seu comportamento e a sua

atitude deixava implícito que ele vivia no aqui e agora, mas, Zane o conhecia bem o bastante para

ver que ele levava tudo a sério, especialmente suas falhas. E Zane sabia que Ty considerava a

morte daquela mulher culpa dele. O assassino nunca teria voltado suas atenções para ela, se Ty

não tivesse ficado com a garota. De repente, tudo o que Ty coletou naquela pasta, parecia muito

importante para Zane. Dizia muito mais do que apenas o caso, dizia sobre as ações de Ty, um

homem que se importava profundamente.

“Destaquei alguns parágrafos, sublinhei os mais importantes e... Rabisquei, eu estava

entediado,” Ty murmurou defensivamente.

Zane inclinou a cabeça, seus olhos aquecidos, e sorriu levemente. “Tudo bem,” ele disse

em voz baixa, tentando não rir. Fechou suas feições e olhou de volta para a pasta solenemente.

“Há alguma coisa que deveria saber antes de olhar?” ele perguntou, deslizando sua mão sobre o

couro.

Ty franziu os lábios e, em seguida, acenou com a cabeça. “Os últimos assassinatos

foram...” Ele pareceu hesitar, sem saber como continuar, Zane franziu o cenho, preocupado.

“Foram encontrados no necrotério,” Ty disse com a voz rouca.

“O necrotério?” Zane perguntou, sentindo uma queda súbita na boca do estômago.

“A ML e seu assistente,” Ty respondeu quando abaixou a cabeça.

A cabeça de Zane girou. “Karen? Mas que diabos?” ele perguntou.

Ty não olhou para cima, apenas manteve a cabeça baixa, como se fosse de alguma forma,

sua culpa. Zane olhou de volta para a pasta com medo, em seguida, a abriu e olhou a primeira

356
página. Os artigos não estavam em algum tipo de ordem, estavam simplesmente na forma como

Ty os havia encontrado.

A primeira página, no entanto, era sobre a garota; estava detalhada com todo o prazer

sangrento da imprensa popular, e Ty sabia palavra por palavra. Ele desviou o olhar da fotografia

de Isabelle St. Claire em seu uniforme da companhia aérea. “A forma como ela foi encontrada,”

ele disse com uma voz rouca, “Me fez começar a pensar na forma como os corpos foram

encontrados, e é ainda mais importante do que pensávamos a princípio.”

Zane olhou para ele antes de voltar para o artigo. “Vá em frente,” ele convidou.

“Não são realmente as vítimas que ele está procurando,” Ty conjecturou. “São as

situações,” ele continuou apontando a próxima página. “Suas vítimas têm se ajustado à situação

que ele está atrás, mas, ele realmente não se importa em quem elas são; ele foi atrás da ML e seu

assistente em seguida.”

Zane olhou para ele com um estremecimento.

Ty assentiu tristemente. “Mas não foi da mesma maneira como os agentes que ele matou,

ou como nós, ou com as outras pessoas que ele estava apenas tentando se livrar; não, era mais

uma situação que ele estava procurando ou trabalhando; foi metódico, acho que foram vítimas

planejadas, os mortos no necrotério, foram assim por algum motivo,” ele disse com ênfase.

Folheando as páginas, Zane parou naquele artigo, vendo a imagem da mulher de cabelos

escuros que havia trabalhado com ele, e balançou a cabeça. Ty deve ter trabalhado nisso até os

últimos dias, até receber a ligação de Burns. Ele ainda estava se mantendo no caso de alguma

forma, o peito de Zane machucou com o pensamento.

“Maldição,” ele murmurou. “Eles foram trancados no laboratório da autópsia, mas por

que? Você tem razão; há algo nisso, sempre encontramos algum tipo de posicionamento

estranho, estavam lá.”

357
“Certo, o necrotério, comecei a olhar para trás, para as outras cenas; a primeira com o

cara encontrado em sua cama, a segunda com a prostituta encontrada no cemitério, que alias é

um dos cemitérios de elite da cidade,” acrescentou, apontando com seu dedo o fichário. “Em

seguida, as duas meninas com o cabelo tingido que estavam uma em cada cama; não acho que

importa como foram mortos, ou de que forma, mas, como foram encontrados.”

“E o cara com a gripe aviária? Ou os gêmeos que pareciam uma execução mútua? De que

forma o lugar poderia significar?” Perguntou Zane.

Ty suspirou e balançou a cabeça, olhando para fora da janela quando o avião começou a

taxiar pela pista. “Esse é o problema com a minha teoria,” admitiu. “Os gêmeos foram mortos

fora da jurisdição, eles foram a razão do FBI ser acionado, essa seria a importância da localização

deles, mas, além disso? Não havia nada de especial onde ou como foram encontrados, apenas

que foram mortos.”

“Um homem com uma doença rara e um par gêmeos?”

“Uh huh, nada mais se destaca.”

“Foram diferentes de todos os outros,” disse Zane.

Ty murmurou enquanto olhava para fora da janela com diligência. “Não há uma

resposta, mas, ainda não estou vendo todo o desenho,” acrescentou frustrado.

Zane se manteve folheando o fichário silenciosamente, revendo os casos mais antigos e,

em seguida, lendo sobre o que havia acontecido desde então.

Um arrepio percorreu Ty e ele fechou os olhos e abaixou a cabeça novamente. “Eu odeio

reconhecer que esse filho da puta é mais esperto do que eu,” ele murmurou.

A cabeça de Zane virou. “Ele não é mais esperto do que você,” ele disse com firmeza.

“Ele só tem informação privilegiada.”

358
Ty zombou com a pouca e lógica e bufou. “Você está dizendo que ele é um garoto na sala

de aula, com cópia do livro do professor?” perguntou ironicamente quando o joelho começou a

saltar inquieto.

“É exatamente o que estou dizendo, é fácil alcançar os resultados dos testes das outras

crianças quando você tem onde procurar as respostas,” Zane apontou.

Ty fechou os olhos e os esfregou. “Não significa que as outras crianças têm que gostar,”

ele murmurou quando os motores rugiam e o avião decolou.

Quando chegaram em Nova York, uma breve discussão foi estabelecida, se entrariam em

contato com Tim Henninger no Bureau. Seria bastante seguro e, provavelmente, a maneira mais

conveniente de fazer as coisas, ele arriscou o pescoço antes para ajudá-los, e apesar da inerente

falta de respeito de Ty com o garoto, ambos confiavam nele em suas próprias maneiras.

Quando ligaram, ele parecia quase feliz em ouvi-los.

Ty praticamente podia ouvi-lo vibrando ao telefone quando ele perguntou onde queriam

se encontrar.

Quando Henninger chegou na lanchonete, Zane estava comendo e Ty bebia um copo de

suco, sentaram à mesma mesa, e Zane ficou um pouco espremido na cabine, Ty estava sentado

reto e ligeiramente duro. Henninger piscou para eles, percebendo as mudanças externas; Ty

recebeu um olhar mais polido e profissional. Pela primeira vez, foi fácil ver o ex-fuzileiro naval

no agente do FBI.

“Gente, é ótimo vê-los,” disse Henninger calmamente quando deslizou para dentro da

cabine, na mesa deles, olhando para eles com uma confusão suave; se inclinou mais perto,

olhando para eles, de forma um tanto estranha. “Mas por que vocês estão de volta?” ele

perguntou com uma careta.

Ty deu a Zane um olhar e, em seguida, olhou para Henninger sério.

359
“Eles queriam alguém que pudesse voar sob o radar do Bureau, por assim dizer, e o... O

sentimento geral era de que o assassino... Está bem escondido,” ele respondeu, hesitante.

Os olhos escuros de Henninger se iluminaram com diversão, sorriu e acenou com a

cabeça enquanto ria baixinho. O sorriso deu a ele um visual completamente diferente, que Ty

provavelmente teria achado atraente em outras circunstâncias. “Parece que ele fez,” disse

Henninger com algum divertimento quando a garçonete passou para pegar o seu pedido. “Então,

vocês estão aqui para atraí-lo?” ele continuou depois pediu. “Se vocês vão ficar sob o radar, como

é que pretendem se fazerem conhecidos para ele?”

Ty apenas franziu a testa, não era exatamente por isso que estavam aqui, mas, fazia um

certo tipo de sentido quando colocado dessa forma. Se o assassino ficou em silêncio porque eles

tinham abandonado o caso, então era lógico que sua mera presença iria expulsá-lo de volta, para

fazer algo estúpido; também significa que a sua simples presença, poderia custar a vida de

alguém.

Zane empurrou um pedaço de waffle para a bandeja em frente a ele. “Não é exatamente

o plano,” ele murmurou meio para si mesmo.

“Mas você espera chamar a atenção do assassino?” Henninger perguntou enquanto

observava garfo de Zane distraidamente.

“Nós não queremos a sua atenção,” Zane respondeu com cuidado. “Queremos que nos

conte sobre os casos, nós dois estivemos fora do circuito.”

“Sério?” Henninger perguntou com os olhos arregalados, olhando para trás e para frente.

“Então não sabe nada sobre os dois últimos assassinatos?” ele perguntou, com vincos na testa.

Ty balançou a cabeça em resposta, os lábios pressionados firmemente.

“Nem sequer falararam com os outros agentes?” Henninger perguntou incrédulo.

Zane balançou a cabeça. “Só o básico,” ele disse com firmeza.

360
Henninger olhou entre eles, claramente surpreso, Ty olhou para ele, não parecendo nem

um pouco perturbado.

“Os assassinatos ressurgiram com a médica legista Karen Bryce e sua assistente, Mina

Holmes,” Henninger disse com pesar. “Foram encontradas no necrotério, trancadas; há indícios

de uma luta sangrenta e desagradável a garganta de Karen foi cortada, e Mina foi estrangulada.”

Zane amaldiçoou em silêncio e olhou para o lado, lutando contra o desejo de jogar

alguma coisa.

Henninger franziu o cenho. “Como é que vocês esperam fazer progressos para encontrar

esse cara se vão começar de novo? Quero dizer, vocês saíram no meio das coisas, e não foram

mortos nem nada; estavam à frente da curva,” ele apontou com ironia. Seus olhos se voltaram

para trás e para a frente entre os dois, ainda tentando entender as mudanças neles.

“A batida na minha cabeça foi um pouco pior do que pensávamos no início,” Ty

respondeu brevemente. “Eu não estava fazendo muito sentido no final.”

Henninger o observou em silêncio por um momento, franzindo a testa e os lábios.

Finalmente, parecendo aceitar.

Zane empurrou o prato, incapaz de comer mais após a notícia sobre Karen. “A

Inteligência interna praticamente aceitou o fato de que ele é um de nós, certo? Alguém já fez

alguma coisa sobre a segurança nos escritórios?”

“Além de mais portas trancadas no prédio e códigos de acesso mais longos? Nada além

disso,” Henninger respondeu com um aceno de cabeça. “Eles não querem assustá-lo.”

“Jesus Cristo, que caralho,” Zane cuspir em voz baixa, e com um baque, cruzou os

braços.

Henninger olhou para eles. “O que vocês fizeram? Trocaram de cérebros?”

Ty ficou sentado em silêncio e olhou para o garoto, lembrando-se do por que poderia não

gostar dele, o olhar de Zane acompanhou o de Ty, e Henninger recuou um pouco.

361
“Desculpe,” ele murmurou.

“Isso é o que vai acontecer,” Zane cuspiu, depois um pouco mais objetivo. “Você vai

pegar todos os Case Files originais, não quero as cópias dos arquivos que estávamos trabalhando

antes; quero as listas de manifesto, e as evidências, incluindo todos os que entraram e saíram do

caso, incluindo aqueles que contribuíram com apenas um único pedaço de papel, neste caso.”

“E você está de folga, e isso vem do alto neste momento,” Ty acrescentou. “Não se

esgueire mais que o necessário.”

Henninger piscou, e parecia vagamente preocupado, abriu a boca para dizer uma

palavra óbvia, mas, reconsiderou bem na hora. “Eu não quero saber, não é?”

Ty apenas deu de ombros e olhou para a sua comida intocada.

“Só arrume isso, então ligue para nós quando conseguir, e vamos nos encontrar

novamente para buscá-lo, você tem o meu número.” Zane deslizou para fora da cabine, puxou

um maço de dinheiro do bolso, e jogou uma nota de vinte na mesa.

Henninger o assistiu levantar com um olhar ligeiramente ferido e, em seguida, olhou

para Ty, que ainda estava sentado e olhando para ele fixamente. “Eu meio que gostava mais dele

quando ele não era você,” Henninger resmungou para ele.

Ty lhe deu um fraco sorriso simpático e deslizou para fora da cabine.

Zane revirou os olhos e cutucou Ty para se mover, Ty o cutucou de volta, firme e rosnou

para ele quando deixaram o restaurante. Henninger se virou em seu assento e os assistiu saírem,

carrancudo e pensativo.

Zane tirou um cigarro e o acendeu, logo que estavam do lado de fora. “Ainda não gosto

dele,” ele disse à medida que começou a andar.

“O que quer dizer, ainda?” Perguntou Ty.

“Ele é um cachorrinho, será que podemos evitar ter essa conversa?” Zane disse em torno

de seu cigarro, e parou na calçada para esperar o sinal abrir.

362
“Eu não acho que você teve algum problema com ele?” Ty questionou.

“No começo não, mas acho que é porque estava tão envolvido em me irritar com você,”

Zane admitiu. “Mas, caramba, ele está ansioso, eu nunca fiquei com aquele maldito brilho.”

Ty deu a Zane um olhar de soslaio e deu de ombros. “Acho que isso depende para quem

você for perguntar,” disse ele.

Zane olhou para Ty, com os olhos apertados. “Você encontrou uma caricatura e sabe

disso.”

“Sim, mas ainda é divertido assistir você se incomodar com tudo isso,” Ty riu

suavemente, vendo um vislumbre do Zane que conheceu brilhando através de seus olhos.

Estavam rindo enquanto atravessavam a rua, Zane sorriu e piscou para Ty.

“Você só gosta de picar e picar e me irritar,” ele disse com um duplo sentido proposital.

“Tenha isso em mente,” disse Ty com um sorriso, e então parou de repente e chutou

Zane na canela.

“Ai!” Zane gritou, mas, estava rindo um pouco surpreso quando Ty voltou a andar.

“Vou arrumar umas botas com biqueira de aço,” disse Ty sobre seu ombro.

Zane bufou enquanto caminhavam, parou sem aviso enquanto olhava através da rua.

“Oooh, um pequeno desvio.”

“O que foi?” Ty perguntou confuso quando se virou e depois seguiu Zane olhando

preocupado.

“Vamos!” Zane ordenou, na verdade, ele parecia feliz, de repente.

Ele puxou Ty para junto dele, e em seguida, atravessou a rua em direção a frente de uma

vitrine de loja chique, que era uma livraria e cafeteria.

“O que foi?” Ty perguntou novamente quando olhou para a moldura esculpidas à mão.

“Ouvi sobre este lugar,” disse Zane, olhando para a moldura. “É onde encontramos

todos os mistérios, suspenses e aventuras...” Ele quase saltou no lugar.

363
“Você não se cansa dessa merda em sua vida real?” Ty perguntou rolando seus olhos.

“Vamos lá,” ele ordenou quando se afastou. “Eu não curto livros.”

“Bem, eu gosto, tome um café ou algo assim,” Zane disse, abrindo a porta para entrar.

“Eu não gosto de expressos,” Ty gritou para ele teimosamente, enquanto estava do lado

de fora da porta com os ombros caídos, e logo em seguida, entrou obedientemente atrás de Zane

na loja.

Zane já estava navegando em um balcão intitulado “Antigos Favoritos” quando Ty entrou

pela porta. Um Jazz tocava ao fundo, e um homem magro, de cabelos brancos, de óculos estava

sentado atrás do balcão de leitura. Um bar café e expresso, completava o ambiente, com um

cardápio variado de pães e bolos.

Ty se esforçou para não gemer, ele odiava esses malditos lugares. Dê-lhe apenas um café

preto, um McDonald e uma cópia do Guns and Ammo para ler no banheiro. Ele nem sequer

gostava de café.

“Eu vejo que você é um homem de ação e não de reflexão,” disse o velho de repente, seus

olhos estavam brilhantes olhando por cima dos óculos.

Ty ficou um pouco surpreso ao ser abordado, mas se recuperou rapidamente o suficiente

para responder com: “Gosto de cortes em papel.”

O homem riu e fechou o livro, usando um marcador. “Seu amigo está feliz em estar

aqui.”

“Ele fica feliz em estar em qualquer lugar,” Ty resmungou com um desfavorável olhar

para Zane.

“Talvez ele fique melhor para o resto do dia, café?”

Ty balançou a cabeça e olhou para Zane novamente com o cenho franzido. “Você pode

acreditar nisso,” disse ao homem com um resmungo quando olhou para o relógio.

364
Levantando sua xícara de chá, o homem tomou um gole e olhou para Zane

especulativamente. “Isso muda a imagem de alguém assim, você não acha?”

Ty olhou confuso para o homem idoso e, em seguida, olhou para Zane novamente. O

agente estava praticamente radiante, o Jekyll e Hyde estava completamente controlado nestes

cinco minutos. Ty observou-o por um longo momento, piscando com a surpresa da reviravolta

em seu peito, por fim, deu ao idoso um outro olhar e limpou a garganta.

“Fique a vontade,” o idoso ofereceu.

Ty suspirou e se aproximou com cautela de uma cadeira. Ele percebeu que não estava

acostumado com as pessoas se dirigindo a ele assim, especialmente estranhos. A maioria das

pessoas se esquivava dele, por causa de sua ameaça implícita, e seu ar mal-humorado. Algo

estava diferente ou este homem era apenas louco?

O homem se acomodou em sua cadeira, pegando seu livro novamente. “Talvez ele tenha

pena de você em breve,” ele disse, abrindo as páginas e voltando para a sua leitura, olhando

através dos óculos que se sentaram baixo no nariz.

“Duvido muito disso,” murmurou enquanto Ty voltava a sua atenção para Zane,

cruzando os braços sobre o peito.

Dentro de um minuto, Zane sentiu os olhos de Ty sobre ele, olhou por cima do ombro,

oferecendo a Ty um sorriso, então, acenou com a cabeça e olhou para os livros que escolheu. Dos

três escolhidos, colocou um de volta, e em seguida, caminhou até o balcão.

“Nem vai dar uma olhada?”

Ty suspeitava que Zane não estaria gostando tanto dessa atração, se soubesse que Ty não

se importava de vê-lo, assim, manteve seu ar um pouco mal-humorado e balançou a cabeça.

Zane olhou para o idoso que estava lendo, aparentemente, sem lhe dar nenhuma atenção.

“Ok, estou bem, podemos ir depois que eu pagar por estes.” Ele não tinha ficado nem dez

minutos na loja.

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Ty olhou para ele e, em seguida, suspirou suavemente, permitindo um pequeno sorriso

aparecer. “Nós temos tempo,” ele murmurou em voz baixa.

Zane tentou não sorrir como um tolo, ele adorava livrarias, e era uma distração bem-

vinda de suas preocupações. “Obrigado,” ele disse em voz baixa com um olhar indefinível em

seus olhos, então se virou e desapareceu nas estantes mais ao fundo da loja.

Assim que ele se foi, Ty revirou os olhos para o céu e se largou em sua cadeira derrotado;

aquele olhar nos olhos de Zane iria ficar marcado nele.

O velho não fez um som e nem olhou por cima de seu livro, mas ele estava sorrindo.

“Cale a boca,” Ty murmurou, e olhou para ele de novo, lendo a letras de ouro no livro do

homem, que dizia:

As Obras Completas de Edgar Allan Poe.

Ty franziu o cenho para o volume encadernado em couro quando algo enterrado no

fundo de sua memória começou a clicar. Qualquer um que tenha vivido em Baltimore por

qualquer período de tempo, tiria lido pelo menos uma história Poe. As únicas histórias que Ty se

lembrava, era a de pessoa com coração nas tábuas do chão, o cara emparedado em uma adega,

bem como o nome do último que leu, Os Assassinatos da Rua Morgue.

“Posso ver isso?” ele perguntou de repente, apontando para o livro antigo.

O homem olhou para ele, com uma pequena ondulação de sorriso em seus lábios. “É

claro,” ele disse gentilmente, colocando o marcador cuidadosamente na página, antes de fechá-lo

e o entregar a Ty.

Ty foi para o índice, onde encontrou uma lista das histórias incluídas no volume. “Você

já leu tudo isso antes?” perguntou sem olhar.

“Muitas vezes,” respondeu o homem.

“Duas pessoas trancadas em um necrotério,” Ty murmurou.

“Essa é uma delas,” respondeu o homem, achando que Ty ainda estava falando com ele.

366
“Existe uma com uma mulher loira e uma morena, talvez trocando de lugar?” Ty

perguntou quando olhou para o homem. “Ou uma sobre uma pintura? A garota ficando sem

seus dentes?”

O velho assentiu com um olhar confuso para Ty e depois para o livro.

Ty levantou-se rapidamente, empurrando o livro de volta nas mãos do velho. “Garrett!”

ele gritou com entusiasmo.

Zane apareceu em torno de uma das longas estantes, movendo-se em direção a ele

rapidamente e, obviamente, alarmado. “O que foi?” ele exigiu preocupado.

“Eu acho que você acabou de resolver essa porra de caso,” Ty disse para ele com um

sorriso.

“Vá encontrar uma cópia desse livro,” ele ordenou quando apontou para o livro de capa

dura que o velho segurava cautelosamente em suas mãos.

367
Capítulo 12

Zane assistia a atividade por entre as cortinas de uma pequena loja em frente a cena do

crime, já estava assistindo por vinte minutos, sem se mexer. Ty estava ao lado dele, um pouco

mais longe da janela, porque estava agitado e não conseguia ficar parado.

Eles assistiram a polícia local criar um perímetro para impedir a entrada de curiosos,

isolar possíveis testemunhas, e espalharem agentes à paisana no meio da multidão para

encontrar e detectar possíveis suspeitos. Assistiram os Detetives Pierce e Holleman circulando e

coçando a cabeça em confusão, e Ross e Sears chegando com Henninger e Morrison a reboque,

coçando a cabeça, também. Assistiram o novo médico legista chegar, seguido por dois técnicos e

um saco preto para o corpo.

“Parece meio caótico, acho que podemos entrar e sair sem sermos visto,” Ty murmurou

para Zane. “O ML é novo, não vai nos reconhecer, e você sabe que agora, eles estão muito

concentrados analisando o corpo.”

Zane assentiu lentamente, ainda olhando pela janela, pegou seu telefone, discou alguns

botões, e esperou; na rua, Henninger pegou seu telefone.

“Vamos nos encontrar como o ML, mantenha o resto fora,” Zane disse brevemente.

Depois de um longo tempo, onde o outro agente estava respondendo, fechou o telefone

com um olhar triste no rosto. “Vamos,” ele disse em voz baixa. “Podemos contornar o bloco por

trás e entrarmos por lá.”

Ty acenou com a cabeça e seguiu em silêncio, estavam deixando a livraria com sua

coleção recém adquirida das histórias de Poe, quando receberam a ligação, e estava quase ansioso

para ver se este novo assassinato caberia em sua teoria.

368
Eles se dirigiram para fora contornando o bloco, bem longe de onde a multidão estava

reunida, entraram no beco onde a ambulância estava estacionada. Havia apenas um par de

policiais de guarda. Uma olhada rápida em seus crachás e alguns grunhidos dos oficiais do

governo para os homens com excesso de trabalho, e eles entraram; Zane enfiou as mãos nos

bolsos e caminhou cuidadosamente no corredor estreito, onde o plástico estava colocado sobre o

piso escorregadio e pegajoso. Cada quarto estava sangrento e encontraram o novo ML na sala de

estar.

O homem olhou por cima do ombro para eles. “Vocês são da equipe do Bureau?”

Ty olhou para Zane e depois de volta para o ML. “O que você pode nos dizer?” ele

perguntou, sem responder à pergunta.

“O ocupante da casa é um homem de setenta e um anos de idade, nós não sabemos se ele

é a vítima do serial, que está longe de ser encontrado. Ainda não há forma de deferir o tempo da

morte, por conta do congelamento do sangue; diria que em qualquer lugar entre as três e as cinco

horas,” disse o ML. Ele se levantou de onde estava agachado, cuidadosamente mantendo as mãos

longe de seu próprio corpo, suas luvas estavam colocadas quase até os pulsos. “Ainda estamos

encontrando pedaços ao redor da casa, mas acho que a parte maior da vítima está aqui.”

“Como a cena foi descoberta?” Zane perguntou estoicamente.

O ML olhou para eles. “O coração da vítima foi entregue ao Federal Plaza com este

endereço em uma etiqueta.”

“O coração?” Ty ecoou categoricamente. O ML assentiu e olhou para Ty, enquanto Zane

passava as mãos sobre os olhos, encolhendo-se dolorosamente. Ty olhou ao redor e franziu os

lábios. O sangue que estava visível, começava a secar e ficar mais escuro. Havia de fato pedaços,

assim como o homem havia dito. Era como uma cena de algum filme de terror de acampamento.

Mas Ty não estava tentando registrar o horror absoluto da cena, com que ele estava calmamente

369
lendo. Em vez disso, estava tentando encaixar essa cena no perfil que ele tinha feito do assassino

em todos esses meses.

“Qualquer outra coisa que mereça destaque?” Zane se forçou a perguntar, mas a

verdade, era que ele queria sair da cena, muito em breve. Estava mexendo com sua cabeça.

“A arma do crime,” o ML respondeu com um aceno de cabeça; na cena do crime tinha

uma cômoda próxima, que foi decorada com um pano branco e velas em castiçais de prata, e em

uma bandeja de prata, estava um pano manchado no centro, com uma serra com sangue já seco.

Zane deu uma boa olhada, balançou a cabeça bruscamente e se afastou, apertando suas

mãos trêmulas em punhos apertados. Não era o sangue e carnificina que o incomodava tanto; era

a ideia de que alguém fez isso com outra pessoa viva, que tudo foi tão obviamente planejado.

Ty não percebeu as reações de seu parceiro, em vez disso, olhou para onde a arma do

crime foi colocada, estava curioso e intrigado. “Foi descoberta desse jeito?” perguntou.

O técnico acenou com a cabeça. “Nós somos os únicos que estiveram nesta sala, senhor.”

Ty se virou e olhou ao redor, olhando para Zane e, em seguida, de volta para o chão

ensanguentado novamente. “Mais alguma coisa?” perguntou ao cara da cena do crime.

“Outra coisa que encontrei de estranho é um buraco cortado nas tábuas, tenho quase

certeza de que a arma do crime foi usado para fazer o buraco,” disse o técnico.

“Onde está esse buraco?” Zane exigia.

“No quarto, venha por aqui, eu vou mostrar,” o homem respondeu, apontando para uma

porta próxima. “Mas o buraco não está aparente, o assassino o cobriu novamente,” acrescentou

apressadamente quando os levou para o quarto na frente da casa. “Nós não levantamos a tampa

ainda, acabamos de tirar as fotos.”

Ty franziu o cenho com o corte grosseiramente no chão. “Esse cara é mais doido que uma

merda de esquilo,” ele murmurou.

O técnico olhou para ele e mordeu o lábio para não sorrir.

370
Zane cuidadosamente se ajoelhou, olhando para as rachaduras na madeira. “Luvas,” ele

pediu, segurando uma de suas mãos.

O ML piscou para ele, em seguida, olhou para Ty.

“Você não acha que talvez deva deixar os caras encarregados da cena do crime fazerem

isso, Hoss?” Ty a perguntou Zane incisivamente.

“Dê-me as malditas luvas,” Zane rosnou.

O técnico tirou algumas do bolso e as entregou sem questionar. Depois de colocá-las,

Zane começou lentamente a traçar as rachaduras nas tábuas com os dedos. Ty observava em

silêncio, reconhecendo as engrenagens de Zane girando, mas muito irritado com ele para ajudar.

Ty sabia que o criminoso estava ficando frustrado com a falta de progresso que os Feds

vinham fazendo, e agora, ele estava dando um show. Era quase como se estivesse animado. A

cena tinha um senso de alegria maníaca, algo que nenhuma das outras cenas tinham. Ty olhou

por cima do ombro, na direção da sala com a bandeja e a arma do crime, ladeada por castiçais de

prata. Parecia uma festa, uma festa de boas-vindas, com sangue e confete. Mas isso não seria

possível, e Ty franziu a testa quando começou a se perguntar sobre a sua própria estabilidade

mental. O assassino não tinha como saber que eles estavam de volta ao caso. Se a sua teoria

estava correta, ele não tinha nada para comemorar.

Ajoelhado no chão, Zane puxou o piso de madeira recortado com os dedos, mas estava

muito apertado para levantar, enfiou a mão na manga da jaqueta e tirou uma de suas facas,

deslizando-a para o espaço entre as tábuas e aplicando pressão com cuidado.

A tábua levantou facilmente, ele a puxou e a colocou no chão ao seu lado, em seguida,

estendeu a mão para a próxima.

“O que você está fazendo?” Ty perguntou em alarme quanto Zane começou a destruir a

cena do crime.

371
Zane olhou severamente para dentro do buraco quando levantou outro pedaço do piso.

“Dê uma olhada,” ele disse para Ty quando se sentou no chão.

Ty e o ML se dobraram em cima do buraco, olhando para dentro dele, e encontraram um

simples pedaço de papel de linho em branco; com um desenho com sangue no meio de um

coração estilizado.

“Estranho,” o técnico observou secamente.

Ty virou a cabeça para olhar para o homem, em seguida, para baixo, para Zane.

“Provavelmente o nosso símbolo, o que você esperava encontrar?” Ty perguntou curiosamente.

Zane deu de ombros distraidamente. “Eu não sei, pisos de madeira geralmente são

usados para esconder as coisas sob eles,” explicou com a voz preocupada; se levantou, tirou as

luvas e as entregou ao ML. “Obrigado.” disse em voz baixa antes de virar as costas e sair da sala.

Ty ficou parado e viu Zane recuar com uma carranca, então olhou de volta para o bilhete

deixado sob o assoalho; suspirou e olhou para cima, mesmo aqui, muito longe do que parecia ser

a cena principal do crime, havia muito sangue.

“Só um louco para fazer isso a outro ser humano,” o ML disse em voz baixa da porta

onde estava assistindo.

Ty deu ao ML um olhar e balançou a cabeça, tentou recriar a cena, para avaliar a forma

de como o assassino poderia fazer isso fisicamente, ao invés de analisar o seu padrão mental ou

moral. Ele se levantou e caminhou lentamente até a porta, ficando de pé ao lado do homem.

“Mais assustador ainda,” ele murmurou para o médico legista enquanto olhava através

da casa, para a varanda dos fundos, onde Zane estava. “Eu não acho que ele é um louco

completo,” ele disse suavemente quando saiu do quarto com cuidado, certificando-se de andar

no plástico com cuidado.

Zane estava do lado de fora, com um cigarro aceso. Ele não se moveu quando Ty saiu

para a varanda. Os círculos escuros sob os olhos de Zane estavam pronunciadas, e ele parecia

372
exausto e doente. Seus olhos ainda estavam distantes, como se estivesse pensando em algo com

tanta força que quase o tirava de seu eixo.

Ty estendeu a mão e tirou o cigarro de entre os lábios dele, apagando contra o seu jeans

grosso, depois colocou a guimba apagada no bolso da calça e desviou o olhar em direção ao beco.

Porra! Zane tinha que estar fora de sua mente, para fumar assim em uma cena de crime, ou ele

não sabia o que evidência da fumaça poderia destruir.

“É melhor sairmos antes que alguém tente entrar,” Ty disse a ele com aborrecimento.

“Henninger não pode segurá-los por muito tempo.”

Eles se abaixaram em torno da ambulância, assim que ouviram a voz profunda de Gary

Ross, e Zane liderou o caminho de volta para fora do beco em direção à rua, longe da cena do

crime. Eles pararam de se mover depois de seis quarteirões de distância, e Zane pegou outro

cigarro, ficando com aquele olhar profundo em seus olhos novamente.

Ty tirou novamente e suavemente o cigarro de seus dedos.

“Diga-me o que você está pensando,” ele pediu com calma.

Os olhos de Zane seguiram o cigarro apagado em confusão, e piscou como uma coruja

quando olhou para Ty. “O que foi?” ele perguntou, tentando tomar o cigarro de volta.

Ty o afastou mais, o mantendo fora do alcance quando olhou para Zane incisivamente.

As sobrancelhas de Zane se juntaram, e ele levou alguns segundos para revisar o último

minuto. “Ah... Estava pensando sobre as tábuas do piso,” ele disse, olhando para a mão de Ty e

depois de volta para seus olhos.

“O que há sobre elas?” Ty cutucou.

“The Tell-Tale Heart,” Zane respondeu com um aceno de cabeça. “Você estava certo, ele

está reencenando as histórias de Poe, onde isso nos deixa, eu não sei, embora, seja um alívio

finalmente encontrar um padrão.” Ele torceu o nariz, e puxou o maço amassado do bolso para

pegar outro cigarro.

373
Ty suspirou e entregou o cigarro. “Tudo bem,” ele disse.

“Então, nós temos o livro agora, faça uma lista dos assassinatos, e vamos enviá-lo para

Henninger,” Zane sugeriu.

“Você está certo, mas isso não nos leva para nenhum lugar perto dele, essa cena foi

diferente... ,” acrescentou com a voz cansada, a mente ainda trabalhando sobre a nova forma de

seu perfil.

Zane pegou o cigarro e o bateu contra a embalagem, ele estava se concentrando mais na

reação de Ty para acendê-lo agora. Ele não queria que Zane fumasse, devia ser isso. Lembrou-se

da voz irônica de Ty: “Essas coisas vão te matar.” Ele deslizou o cigarro de volta no maço e

enfiou-o no bolso. “Como assim?” ele perguntou tardiamente.

Ty apenas deu de ombros e olhou para baixo, franzindo a testa. “Vamos lá,” ele disse

suavemente quando deu um passo para o lado e começou a se mover novamente, “Eu preciso

escrever alguma merda sobre isso.”

Zane passou a mão sobre o rosto, e eles voltaram para onde haviam estacionado.

Demoraram um pouco para voltar ao motel decadente que tinham escolhido, e ambos estavam

tranquilos durante todo o caminho. Uma vez no quarto, Zane tirou a jaqueta, as armas e as botas,

e imediatamente se deitou na cama, talvez se cochilasse, algo viria a ele.

Ty não seguiu o exemplo de Zane, em vez disso, andava perto da cama com a caneta na

mão, batendo-a contra sua coxa enquanto se movia. Ele estava pensando sobre a festa de boas-

vindas, sobre sua incapacidade de ficar horrorizado com o sangue, e sua carranca se aprofundou

ainda mais enquanto andava.

“Por que você está andando assim?” Zane murmurou após alguns minutos. “Não é

possível que você se sente para pensar?”

“Não,” Ty respondeu. “Deixe-me em paz.”

374
Zane sentou-se, obviamente irritado, rosnando baixinho, caminhou até sua jaqueta, tirou

os cigarros e o isqueiro antes de virar para a varanda.

Ty o observou ir, encarando os cigarros na mão dele; Zane abriu a porta, empurrou o

trinco até abrir, e saiu para a varanda de concreto quando levantou uma fumaça de seus lábios.

“Por que ele montou uma cena como essa?” Ty perguntou antes que a porta pudesse se

fechar.

Se assustando um pouco, Zane quase deixou cair o isqueiro, empurrou a porta para ficar

parcialmente aberta. “A cena?” ele perguntou com o cigarro entre os lábios enquanto falava.

“Ele colocou a arma do crime como se fosse uma oferenda,” Ty respondeu, expressando

o que o estava incomodando. “Como um dom...”

“Em uma bandeja de prata, sim, eu não estava me divertindo,” disse Zane, soprando a

fumaça para longe da porta. “Mas, aposto que ele estava.”

Ty piscou para ele e seus lábios se separaram um pouco como se estivesse surpreso com

o que Zane tinha dito, olhou para o tapete fino e piscou novamente, a boca trabalhando

silenciosamente por alguns momentos. “Nós não estávamos nos divertido,” ele murmurou.

Zane assistiu Ty, confuso. “O que está passando pela sua cabeça?” ele perguntou

suavemente, sua frustração aumentando.

“Eu acho que perdi completamente o perfil,” Ty respondeu confusamente.

Zane piscou surpreso, e enfiou o cigarro apagado atrás da orelha e reentrou na sala,

fechando a porta atrás dele, fechando o trinco.

“Diga-me,” ele solicitou.

“Estávamos assumindo que ele estava jogando, ostentando o quão bom ele era, e à espera

de alguém que valesse a pena entrar no jogo” Ty respondeu rapidamente quando começou a

andar de novo. “Burns disse que havia um sentimento geral de que o assassino ficou deprimido

depois que saímos, desanimado e calado. Assumimos, porque geralmente quando se faz parte do

375
FBI, o ego é um requisito, e ele achava que nós éramos bons o suficiente para jogar esse jogo;

mas, por que ele achava isso?” ele parou quando olhou para Zane. “Nós ficamos aqui em um

total de, o que? Uns sete dias? Não fizemos nenhum progresso, não mais do que qualquer um

dos outros, e a única coisa que conseguimos fazer, foi quase sermos mortos, ele não está tentando

reproduzir as cenas, ele está tentando agradar.”

“Tentar agradar? Você quer dizer para nos manter ocupado? Para dar-lhe a nossa

atenção? E então, quando nos perdeu, ficou infeliz?” Zane perguntou.

Ty balançou a cabeça. “Você lê romances policiais e filmes de detetive, certo?” ele disse

ansiosamente. “O estereótipo é quase sempre um policial aborrecido; ele quer algo interessante

para cravar os dentes, quer ação, quer... Um grande caso para trabalhar,” ele divagava quase

animadamente. “Certo? Apesar de toda sua inteligência e talento, este criminoso comprou essa

imagem, ele admira os policiais,” ele continuou, começando a formar um novo perfil, enquanto

falava. “Seu pai ou a figura paterna pode até ter sido um guarda de segurança ou algum tipo

pseudo-policial, é por isso que ele se tornou um Fed, se ele é um de nós; os admirava, ele quer

agradar as pessoas que ele admira, dar-lhes algo para valer em seu tempo; como um caso assim.”

Ele fechou os olhos e ergueu o queixo, levantando o rosto para o teto.

Zane reprimiu um sorriso, e olhou para a pilha de livros de crime, suspense e romances

que havia comprado. “Ok, eu posso ver isso, então, ele está contando em nos dar um bom jogo,

então, se nós descobrirmos isso, o que o irá impedir de mudar a jogada?”

“Ele provavelmente pode mudar, mas, vai ter muito cuidado com a ciência forense e o

profiling; ele vai pensar que está se escondendo mudando o seu modus operandi, mas, ele ainda vai

ter um padrão. Ele pode ter escolhido esse, porque oferecia métodos diferentes, ou pode ter um

significado mais especial para ele; ele matou Poe Toaster, em Baltimore, e podemos ter a certeza

de que foi um ponto de prática ou de partida; foi escolhido por causa de quem ele era. Poe é a

cartilha que ele está aderindo, a fim de permanecer seguro; ele não está matando pelo prazer de

376
matar, não como os seriais normais; o que ele gosta, é o verdadeiro ritual e o pós-efeitos,” Ty

explicou o perfil que se desenrolava diante dele, como um roteiro mental. “O que ele almeja é a

atenção das autoridades depois dos crimes, não a imprensa, e nem o público; apenas os policiais

e os agentes federais; ele não apenas volta à cena do crime; ele revive a cena, ele absorve o caos

depois, fisicamente ou prosperando nos relatórios oficiais; é por isso que ele está enviando o

material pelo correio; ele está ajudando as pessoas que ele admira, tentarem resolver o caso.”

“Então, não poderia ser alguém da Casa, talvez um policial da cidade que tem acesso,”

Zane contribuiu. “Alguém que trabalha para os dois lados neste caso, mesmo com um papel de

menor relevância; como os Steves, que são policiais e estão ligados a este caso”. Ele jogou o maço

de cigarros em cima da mesa e sentou-se na cama. “Gostaria que tivéssemos essa maldita lista de

todo o pessoal que já tocou em alguma coisa dessa confusão.”

“O novo perfil indica um policial com um complexo de inferioridade,” Ty concordou.

“Mas com o acesso que ele tem, eu ainda estou suspeitando de alguém do FBI; também me faz

pensar em algo que fizemos, que disse a ele que estávamos desfrutando do que estávamos

fazendo,” ele continuou mais hesitante. “Podemos ter expressado de alguma forma, admiração

por sua habilidade ou interesse, do modo como ele executou as cenas e nenhum dos outros

agentes notou; seja o que for, ele pensou que finalmente tinha encontrado alguém que estava

colhendo os frutos de seu trabalho.”

O rosto de Zane ficou branco e, em seguida, ele empalideceu. “Então, ele vem fazendo

isso especificamente... Para nos divertir? Você e eu?”

“Não em primeiro lugar,” Ty respondeu com um aceno de cabeça. “E nem mesmo agora;

assumir isso seria supor que ele sabe que estamos de volta, os dois especificamente; acho que de

alguma forma ele ouviu falar do envio de novos agentes; sabe essa última cena? Era a sua festa

de boas-vindas.”

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Zane fechou os olhos, sentindo-se um pouco mal com o pensamento; essa foi, talvez, a

cena mais horrível que já tinha testemunhado, e já tinha visto muita coisa, mas, Ty parecia estar

pensando nisso, como apenas mais um degrau para encontrar seu assassino. Abriu os olhos e

realmente olhou para Ty, o estudando, sentindo a ligeira mudança que se estava sobre ele, desde

quando se reuniram. Mesmo tendo voltado para a sua casa em Baltimore, se lembrou da reação

de Ty quando viu a mulher encontrada em seu quarto de hotel meses atrás, e experiência que

Zane tinha com a psicologia, indicava o que estava acontecendo, Ty ainda estava em estado de

choque. Ele fez o tratamento como um bom soldado, mas, ele realmente não tinha processado a

terapia; ele basicamente cortou qualquer relação com as emoções mais profundas, para evitar ser

machucado.

Ty bufou e continuou a andar, ignorando o estudo de Zane sobre ele.

“Devemos chamar Henninger,” ele finalmente murmurou. “Diga a ele para mudar o

perfil.”

“Vai passar algumas horas até que ele esteja fora da cena e seja capaz de falar,” Zane

lembrou, e se sentia por Ty; não apenas porque Ty estava tão distante, mas, de outras maneiras

também, e se assustou com a jeito que seu peito apertou, enquanto observava o ritmo de seu

parceiro.

“Vamos chamar de qualquer maneira, essa merda é importante,” Ty grunhiu em

aborrecimento enquanto pegava o seu próprio telefone.

“Certo, chame Henninger, então o quê?” Perguntou Zane. “Precisamos estar em algum

lugar maior do que este, e espalhar os arquivos que ele deveria nos trazer e fazer um bom estudo;

vamos provavelmente mudar de hotel de qualquer maneira, só no caso.”

Ty estava muito quieto, deixando as últimas palavras se afundarem dentro dele “Você

acha que ele sabe que estamos de volta?” ele perguntou de forma neutra.

Zane engoliu, pensando no que eles tinham falado minutos antes. “Sim.”

378
“Nós, especificamente?” Ty perguntou em voz baixa.

Os olhos de Ty se encontraram com os de Zane, e se perguntou se a ansiedade em seu

rosto, era evidente. “Sim.”

“Também acho,” Ty respondeu na mesma voz calma.

“Não vai demorar muito até que ele...”

“Ele precisa de nós,” Ty interrompeu com confiança. “Ele precisa de nós para fazê-lo se

sentir que está indo bem; ele não vai tentar nos machucar de novo, eu tenho certeza disso,” ele

mentiu.

A mentira não passou despercebida, mas Zane não tinha um plano para comentar,

apenas olhou para Ty, que parecia infeliz, querendo dizer alguma coisa, qualquer coisa diferente

do que as palavras suaves que se aglomeram na garganta. Ele engoliu em seco novamente, e não

sabia o quanto mais poderia “falar,” para o que pudessem fazer; finalmente, um sentimento se

soltou, e falou com a voz grosa. “Eu não vou te perder, não agora.”

“Eu não pretendo ficar mais perdido do que já estou,” Ty respondeu asperamente, se

virou rapidamente, se afastando da cama enquanto abria seu telefone.

Zane fechou os olhos e amaldiçoou em silêncio, enrolou os punhos, saiu da cama, vestiu

o casaco, e recuperou o isqueiro, pegando o cigarro que estava atrás da orelha, enquanto

caminhava em direção à porta novamente.

Ty o observou ir com as sobrancelhas abaixadas, esperando Henninger atender, quando

o agente mais novo respondeu; Ty rapidamente falou sobre a mudança de perfil e o padrão que

tinham descoberto.

“Poe?” Henninger perguntou em voz baixa, obviamente tentando não ser ouvido. “Tem

certeza?”

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“O último assassinato praticamente foi uma remontagem,” Ty respondeu. “Temos em

mãos uma dessas malditas antologias, vamos analisar e ver o que encontramos; você teve a

chance de reunir esses arquivos de pessoal para mim?”

“Ainda não,” respondeu Henninger hesitante. “Vou recebê-los pela manhã,” prometeu

rapidamente. “Você queria encontrar alguém que trabalhou ou viveu em Baltimore entre 2000 e

2002, correto?”

“Certo,” Ty respondeu com um aceno de cabeça inconsciente. “Agora, passe a palavra

adiante sobre o padrão, encontre analistas e toda esta merda, temos que chegar à frente dele.”

“Certo, mas como faço para chegar até eles com isso?” Henninger perguntou

preocupado. “O que eu digo a eles?”

“Faça alguma coisa, leve o crédito,” Ty instruiu.

“O que?” Henninger perguntou com a voz um pouco atordoada.

“Diga a eles que você descobriu isso com este último assassinato; é muito óbvio quando

você pensa sobre isso,” Ty sugerido. “Diga-lhes sobre o assassinato em Baltimore e como você fez

a conexão, se eles pedirem,” ele teve o cuidado de instruir. “Eles provavelmente não vão

perguntar, por isso, não ofereça qualquer informação que você não precisa; provavelmente irão

ficar felizes em ter algo para ir em frente, se forem cavar muito, apenas diga que você recebeu

uma dica de um amigo no FBI, que não quer ser identificado; dê-lhes o meu nome e meu número

em Baltimore, se eles exigirem.”

Ele esperou Henninger pegar um bloco de notas e deu o seu número, caso ele precisasse.

“Mais alguma coisa?” Henninger perguntou com um suspiro pesado.

“Basta ter cuidado, suspeitamos que ele já sabe que estamos de volta, e se ele sabe, pode

associá-lo com a gente,” Ty advertiu preocupado, não gostava da ideia de ser o responsável por

quaisquer vidas inocentes; ele ainda via Isabelle St.

O rosto de Claire, quando dormia.

380
“Não se preocupe senhor,” Henninger murmurou; Ty terminou a chamada e suspirou

com tristeza, apesar do que deveria ter sido considerado dois grandes saltos no caso, ele não se

sentia como se tivesse feito qualquer progresso.

Zane voltou para o quarto, com cheiro de fumaça e perecendo preocupado. “Hora de nos

mudarmos?” ele perguntou a Ty.

Ty acenou com a cabeça sem dizer nada, e começaram a reunir a pequena quantidade de

coisas e para levá-las até o carro alugado. A sensação de que o assassino estava em seu encalço, e

não o contrário, caiu pesadamente para ambos; não disseram uma palavra um ao outro enquanto

Zane estava atrás do volante e começou a dirigir sem destino em mente.

Finalmente, Ty olhou para ele e observou-o por um longo momento.

“Poderíamos apenas recuar,” ele sugeriu suavemente, observando Zane de perto.

Mantendo à força seus olhos na estrada, Zane apertou os lábios, suas mãos se enrolando

firmemente em torno do volante. “É um sonho bom,” ele finalmente respondeu, com a voz tão

instável quanto o resto do corpo. “Mas, não seria capaz de dormir, e nem você,” ele disse com a

voz baixa.

Ty não pôde deixar de sorrir. “Sim,” ele respondeu quando olhou pela janela.

Eles ficaram em silêncio por vários minutos, enquanto estavam sentados no trânsito do

meio-dia.

“Ok então, mudança de local,” Zane disse, de repente com a voz um pouco mais alta do

que pretendia, na esperança de dissipar o medo que se instalara sobre eles.

“Que tal um lugar com jazzy, como em Greenwich? Bons restaurantes, grandes bares.”

“Você está falando de hotéis?” Ty perguntou em dúvida.

“Algo mais como um tipo de bangalô, com aluguel semanal, um lugar mais artístico,”

explicou Zane. “É diferente.”

“Pareço um tipo artístico para você?” Ty perguntou, um pouco eriçado.

381
Zane nem sequer pensou. “Podemos fazer sexo com as suas pernas em voltas a mim;

você vai se misturar bem, não há problema.”

“Eu juro por Deus, se você tentar me colocar em calças de couro ou alguma merda assim

eu vou te matar,” Ty advertiu apontando seu dedo para Zane.

“Eu estava pensando em um nu mais artístico, sem calças, baby,” disse Zane com um

sorriso. “Em nosso quarto, de qualquer maneira.”

Isso deu a Ty uma pausa e ele apertou os lábios, considerando. “Sim, tudo bem” ele

finalmente concordou com um sorriso.

Zane chegou em um bairro eclético, com lojas boêmias, galerias de arte, e com pessoas

em todo o lugar. Eles tiveram sorte e encontraram um apartamento mobiliado para alugar, em

vez de um hotel, e o proprietário ficou feliz em alugar por um tempo não especificado, que veio

com o pesado pagamento que ofereceram, e sem perguntas. Centenas de pessoas entravam e

saiam de Greenwich a cada ano, e estes dois homens não tinham nada de especial.

O apartamento tinha três quartos, e ocupava a metade do terceiro andar de um triplex, e

foi decorado com cores quentes e tecidos confortáveis. Não havia nada eletrônico, com exceção

de um telefone, e a internet sem fio vinha de algum lugar, provavelmente, do pequeno café do

outro lado da rua.

Zane colocou sua bolsa e caixa na mesa redonda na sala da frente, se virou para ver Ty

andando pela sala com cautela, e isso o fazia sorrir.

“Está tudo bem?”

“Eu não sei,” Ty franziu o cenho. “Tem o cheiro parecido a cânhamo e incenso?”

“Só a cama,” disse Zane impassível.

“É uma pena,” Ty respondeu sério. “Esse era o único lugar que estava olhando de forma

positiva.”

382
Os lábios de Zane se contraíram. “Ainda tem o sofá,” ele disse, tentando fazer com que

Ty fosse para a sala.

Ty deu um passo para dentro do quarto e parou com teimosia. “Eu sinto que a minha

masculinidade escoa de mim,” ele murmurou.

Zane colocou a sua jaqueta em uma poltrona e depois puxou a garrafa de Mountain Dew

para fora. O apartamento era bonito e pitoresco; ninguém jamais esperaria encontrar dois agentes

do FBI ali; tirou a arma do coldre e a colocou sobre a mesa, enquanto Ty ainda se aventurava

pelos quartos.

Quando Zane voltou sua atenção para o seu parceiro, Ty estava de costas para ele, sem o

paletó, e seu coldre estava pressionado em sua camisa azul. Ele estava esfregando a nuca, e

olhava para a cama na frente dele, com uma mão livre em seu quadril. Zane olhou para os

sapatos que Ty usava e o terno caro, feito sob medida, por esse ângulo, ele poderia muito bem ter

sido uma pessoa diferente da que Zane tinha trabalhado antes.

Zane se perguntava o que tinha acontecido com as camisetas loucas de Ty, elas se

encaixavam muito bem em sua imagem e em seu estilo. Ele provavelmente deve tê-las guardado,

Zane pensou, embaladas com todos os seus velhos hábitos e pensamentos, quando a terapia

física e mental assumiram.

Zane perdeu essas camisetas.

Observando-o, Zane considerou puxar Ty para os seus braços, com a esperança de que o

homem pudesse relaxar um pouco; mas, a vibe de Ty indicava claramente que o toque de

qualquer tipo, não era a maneira ideal de relaxá-lo. Se alongando, Zane suspirou e foi procurar

em sua mochila, uma camiseta limpa. Infelizmente, tudo o tinha era bem simples.

Ele foi para a cama e puxou as cobertas para trás, passando a mão sobre os lençóis antes

de ir ao banheiro, foi um longo dia, e estava mais do que pronto para descansar.

383
Ty o seguiu e se encostou no batente da porta que dava para o banheiro, Zane foi até o

espelho oval antigo em cima da pia. Zane estava lavando seu rosto, quando Ty se aproximou

dele, e, endureceu de surpresa, quando Ty passou os braços ao redor dele por trás.

“É bom ter você aqui,” Ty disse impulsivamente.

Zane se deslocou para ficar mais próximo ao corpo de Ty, e deslizou seu braço para trás e

ao redor da cintura de Ty, para se pressionar ainda mais contra ele. Ty o segurava em silêncio, e

fixou seu queixo no ombro de Zane, respirando lentamente. Zane virou o seu rosto para o de Ty,

e fechou os olhos, e Ty esperou tensamente por algum tipo de resposta, levemente ruborizado

por ter dito as palavras que proferiu.

“Eu não teria concordado em vir aqui, se não fosse você,” Zane murmurou finalmente.

“Você não sabe disso?”

Ty se afastou um pouco surpreso, mas não o soltou. “Por que?” perguntou em um

sussurro.

Zane fechou os olhos e manteve juntas suas bochechas pressionadas. “Eu confio em

você.”

Um rubor de culpa varreu Ty com essas palavras, ele não poderia dizer o mesmo sobre o

porquê dele concordado em voltar para este caso. Ele teria vindo sozinho, era uma vingança para

ele, pura e simples. Negócios inacabados. Ele virou mais a cabeça e apertou o nariz contra o rosto

de Zane. “Então, você é um idiota,” ele disse com a voz rouca.

Zane riu. “Sim, mas você já sabia disso.” Ty estava em silêncio.

Zane se afastou suavemente e passou por ele, sem imaginar nenhum outro comentário

para Ty, e dar mais significado a coisa toda; saiu em direção a sala principal e pegou sua mochila

para pegar o seu kit de banho.

384
Ty o deixou se afastar, com uma sensação de peso no peito e de instabilidade em toda a

parte. Ele não conseguia sentir nada, apenas a culpa e este sentimento por Zane estar perto dele.

Por que isso? Por que ele precisava de Zane para sentir?

“Fazemos o nosso melhor quando estamos transando,” Ty murmurou para si mesmo,

enquanto o seguia para o quarto.

Zane resmungou baixinho. “Lanches de última hora,” ele disse quando se sentou na

beira da cama e começou a desamarrar as botas.

385
Capítulo 13

Zane foi para o quarto e largou o saco de lanches e bebidas que tinha acabado de pegar

na loja de conveniência no bloco próximo. Ele não tinha sido capaz de dormir, e ficou feliz em

saber, que alguns lugares ficavam abertos às quatro da manhã. Jogou sua jaqueta de lado e se

dirigiu para a mesa descarregar seu equipamento. Ele olhou para Ty enrolado na cama,

aparentemente dormindo; Zane o observava à luz da rua que filtrava através da janela, Ty

grunhiu em seu sono e rolou, enredando os lençóis em seu corpo quando fez isso.

Sorrindo um pouco, Zane parou para olhar para ele, Ty nunca dormia tranquilo, exceto

quando Zane estava na cama o segurando; se perguntava o que Ty estava sonhando.

Normalmente, Ty acordava quando Zane se movia; o fato de que ele ainda estava dormindo,

significava que já estava acordado e percebeu que ele não era mais necessário, ou, estava muito

cansado, ou mesmo doente. Pensativo, Zane cuidou de sua arma e carteira, colocando-os

cuidadosamente de lado.

Ty murmurou em seu sono e virou sua cabeça irregularmente, com o cenho franzido,

Zane se aproximou e se agachou ao lado da cama, olhando para o rosto de Ty, pois estava torcido

ligeiramente. Zane queria acordá-lo, apenas para interromper os sonhos ruins, mas, não ia tocá-

lo, até que Ty soubesse que ele estava lá, só no caso. Ty tinha todos os tipos de treinamento

militar arraigado instintivamente em seu corpo, e Zane não gostaria de ser atacado por um

fuzileiro naval Recon em seus flashbacks.

“Ty,” ele murmurou, o que levou o outro homem a acordar um pouco, quando ele se

protegeu ao lado da cama.

“Hum?” Ty respondeu, quando virou a cabeça novamente e rolou para trás, até Zane.

386
“Você está se mexendo muito, não pode estar descansando,” disse Zane baixinho.

Os olhos de Ty se abriram e ele olhou para Zane sem parecer reconhecê-lo, o olhou por

um momento e, em seguida, fechou os olhos; suspirou, se mexeu um pouco na cama, e em

seguida, abriu os olhos de novo. Seus olhos estavam claros quando ele encontrou os olhos de

Zane. “Cale a boca,” ele murmurou, sonolento.

Zane riu. “Você estava meio mal-humorado quando foi para a cama.”

“Eu não estava mal-humorado,” Ty insistiu sonolento quando fechou os olhos

novamente e rolou de costas. Ele se estendeu com prazer, bocejando e enrolando os dedos dos

pés com satisfação. “Eu estava sonhando,” ele murmurou.

“Mm hmm,” Zane concordou, sentando-se na beira da cama e estendendo a mão

levemente para o peito de Ty. “Sonhando com?”

“O deserto,” Ty respondeu em um murmúrio, e se moveu de novo, arqueando-se na mão

de Zane, como um cão querendo um carinho na barriga.

Zane começou a esfregá-lo agradavelmente, observando os movimentos de Ty. “Deserto,

hem?”

Ty respirou profundamente e então suspirou, abrindo os olhos novamente para olhar

para o teto. “Fez meu dedo coçar.”

“Areia me fez comichar,” Zane respondeu alegremente. “Uma das razões por ter

escolhido Miami, ao invés do Novo México.”

Ty virou ligeiramente a cabeça e olhou para Zane confuso.

Zane levantou uma sobrancelha. “O que foi?”

“O que foi?” Ty perguntou com a voz perdida.

Zane balançou a cabeça. “Você definitivamente não está acordado, uma das razões para

eu ter recusado essa atribuição no Novo México, é porque eu odeio comer areia e não gosto de

cascavéis.”

387
Ty piscou rapidamente e então olhou ao redor do quarto, antes de se mover para uma

posição sentada. “Que atribuição no Novo México?”

Ele perguntou esfregando os olhos.

Olhando para ele com ar divertido, Zane decidiu explicar, mesmo parecendo que Ty

estava fora do ar. “Foi a missão que me foi oferecida, antes de ficar preso em Miami, agentes

bilíngues são escassos ultimamente,” ele disse.

“Oh, sim,” Ty respondeu sem rodeios com um aceno, enquanto se movia. “Isso é muito

importante,” assegurou a Zane bruscamente, quando voltou a deitar e enterrar a cabeça debaixo

do travesseiro.

Zane riu e afastou o travesseiro. “Atordoado?” ele brincou.

Ty gemeu baixinho e depois bufou, irritado. “Não é possível um homem dormir em paz

por aqui?”

“Aparentemente não quando ele sonha com o deserto,” Zane brincou, e se inclinou para

pressionar os lábios contra a testa de Ty. “Volte para o sono, então,” ele murmurou.

“Eu sempre sonho com o deserto,” Ty murmurou amuado, enquanto pressionava o rosto

contra o colchão, recusando-se a ser despertado.

Os lábios de Zane foram para os olhos fechados de Ty. “Por que?” ele murmurou.

Ty se contorceu, se virou e bateu com o cotovelo nas costelas de Zane. “É onde eu

morava,” ele resmungou.

Zane passou a mão sobre o braço de Ty em um movimento suave e virou o rosto para

colocá-lo contra o de Ty por um momento.

Ty suspirou novamente e relaxou sob a pressão do corpo de Zane. “Você tem uma

manutenção alta,” ele murmurou contra o travesseiro.

Sorrindo, Zane passou o braço sobre as costas de Ty e esfregou lentamente sua mão em

seu quadril. “Sim, eu concordo.”

388
“Cale a boca,” Ty ordenou.

Zane passou as costas da mão sobre o rosto de Ty e rolou para longe. “Sono, seu

irritadiço.”

Ty gemeu e rolou de costas. “Bem, que foda Garrett, estou acordado agora,” ele

murmurou desconsoladamente.

“Desculpe,” murmurou Zane, deixando seu braço cair entre eles, enquanto olhava para

Ty.

Ty olhou para ele com irritação por um momento antes de deixar a fachada cair e sorrir

ligeiramente. “Você é uma visão muito boa ao acordar, mais do que costumo admitir,” admitiu.

Zane deu um sorriso torto. “E o que é isso?”

“Você realmente não quer saber, não é?” Ty perguntou em dúvida.

“Eu já sei a respeito da mulher que estava gritando no telefone,” Zane apontou.

Ty limpou a garganta e desviou o olhar, olhando para o teto com uma carranca.

“Normalmente,” ele finalmente disse com uma carranca, “Eu não acordo com qualquer pessoa,

então, eu acho que você vai ter que fazer algo.”

“Existe um elogio escondido em algum lugar?” Zane perguntou suavemente.

“Mendigos não podem escolher,” Ty murmurou com um pequeno sorriso.

Zane bateu no quadril de Ty. “Eu não peço,” acrescentou.

Ty o empurrou e riu baixinho, virando um pouco, caso Zane decidisse bater nele

novamente. “Eu discordo,” ele riu.

Zane bateu em Ty novamente, um pouco mais duro agora. “Eu não consigo pensar em

uma razão, não uma legítima, de qualquer maneira.”

“O que seria uma razão ilegítima para mendigar?” Ty perguntou, ainda rindo baixinho.

A mão de Zane parou, assim como seu rosto; seus olhos vagaram pelo quarto, sem

entender. “Elas existem,” ele disse vagamente.

389
Ty estreitou os olhos para o seu companheiro e, em seguida, os rolou quando desviou o

olhar. “Rabugento,” ele acusou, quando sentou novamente e se esticou.

“Rabugento?” O rosto de Zane contraiu. “Eu poderia tentar lembrar sobre a última vez

que implorei por minha vida, e, realmente, não poderia ter me importado menos, pensei apenas

que se dissesse a você, eu receberia esse tratamento novamente.”

“Você estava certo, e isso não é uma razão ilegítima, idiota,” Ty disse a ele quando

balançou seus pés sobre a borda da cama.

“Eu estava me referindo a ‘parte que realmente poderia ter me importado menos,’ na

verdade” Zane disse, fechando os olhos e deixando a cabeça inclinar-se para trás contra a parede.

Ty estava sentado de costas para Zane, olhando para a parede oposta, com a cabeça

inclinada, pensativo. “Foda-se,” ele comentou com um leve aceno de cabeça.

Zane abriu os olhos e olhou para as costas de Ty. “Talvez mais tarde,” ele disse,

enquanto pegava a pasta do arquivo novamente. “Eu disse que fiquei fodido quando estávamos

separados.”

“Por que não conseguiram te matar?” Perguntou Ty. “Por que pedir isso a todos?”

“Reflexo instintivo, eu acho,” disse Zane baixinho. “Realmente não penso sobre isso,

exceto que não era algo que ia perder, também estava com medo, apesar que, se recebesse um

tiro na cabeça, não tinha como apelar muito.”

“Seria mais rápido do que um monte de outras maneiras,” Ty apontou quando se virou

um pouco e encontrou os olhos de Zane. “Eu sempre tive medo de morrer de forma lenta,” ele

disse, pensativo.

A boca de Zane ergueu. “Já joguei esse jogo, também.” Ele fechou a mão em um punho

enquanto seus dedos começaram a contrair-se.

“Que jogo?” Ty perguntou, confuso.

390
“Descobrir o que vai matá-lo de forma mais lenta e fácil,” disse Zane, abrindo o punho e

esfregando a palma da mão contra a sua coxa. “A dor nunca foi levada em consideração.”

Ty olhou para ele por um longo momento. “Por que você iria quer de forma lenta?” ele

finalmente perguntou.

A boca de Zane ergueu. “Para que pudesse apreciar.”

Ty levantou uma sobrancelha expressiva, lambeu os lábios e desviou o olhar. “Meu pai

costumava se importar com as minas quando eu era pequeno,” ele disse de repente. “Eu

costumava sonhar que estava preso lá embaixo, e não me importaria de congelar até a morte,”

afirmou de forma abrupta. “Ficando dormente e depois ir dormir, mas, acho que iria querer de

forma rápida; tenho muito para olhar para trás e me arrependeria se tivesse mais tempo para

refletir sobre tudo isso.” Ele olhou para Zane. “Apenas outra coisa que não temos em comum.”

“Arrependimentos? Talvez, às vezes acho que mereço toda a merda que já passei, fiz isso

para mim mesmo,” disse Zane, e encontrou os olhos de Ty. “Mas, acho que você pode não

concordar, você não parece ser do tipo que se auto-flagela.”

“Vamos fingir que eu não sei do que você está falando,” Ty respondeu com um fantasma

de um sorriso; seus arrependimentos eram uma coisa que ele não estava pensando em ter de

novo com Zane, em breve. Ou nunca.

Zane balançou a cabeça lentamente. “Tudo bem,” ele murmurou, obviamente era um

tópico para evitar. “Então, com isso você está dizendo que acha que eu não tenho

arrependimentos?”

“Não, apenas comentando sobre o fato de que você teria pouco tempo para se perder

com eles no final,” Ty corrigiu. “E essa é uma conversa mórbida, o que diabos está de errado com

você?” ele perguntou num acesso de raiva quando esfregou as mãos pelo cabelo.

“Eu?” Zane perguntou, incrédulo. “Eu não disse que queria perder tempo com qualquer

coisa, só que se eu tivesse que morrer, iria querer aproveitar isso.” Ele deu de ombros

391
ligeiramente. “Você acaba não tendo muito foco para refletir sobre muita coisa, quando se tem a

heroína, esse é o encanto.” Sua mão se contraiu novamente.

Ty suspirou e desviou o olhar novamente com um aceno de cabeça. “Há quanto tempo

foi isso?” ele perguntou, cansado.

“Quanto tempo, o quê?”

“A heroína?” Ty perguntou secamente quando olhou por cima do ombro.

“Quatro e meia, talvez cinco semanas, eu acho,” respondeu Zane.

“Então, eu tenho que assumir que não era uma coisa constante?” Ty perguntou

firmemente. “Desde que você não está gritando de dor com a abstinência, eu quero dizer?”

Zane olhou para ele por um longo momento. “Não, não era constante, usei apenas

quando tive que parar a dor quando levei um tiro.” Sua mão foi para o seu abdômen, onde Ty

sabia que havia uma cicatriz fresca, e mal curada. “Eu sei o que posso lidar.”

Ty examinou-o por um longo tempo, e, em seguida, virou a cabeça para a parede

novamente, e suspirou baixinho. “Ok,” ele finalmente reconheceu calmamente. Não valia a pena

a luta que poderia se transformar, continuando com essa conversa, e Ty estava ficando cansado

de falar sobre isso.

“Alguma vez você usou?” Zane perguntou, curioso.

“Nunca,” Ty respondeu imediatamente.

“Mas você bebe,” Zane murmurou, olhando para suas mãos, perguntando se havia

alguma maneira de explicar a Ty, para que ele pudesse ter alguma ideia de como era ser viciado.

“Beber demais e ainda querer mais?”

“Toda vez que eu bebo demais, eu juro ficarei longe da bebida por uma semana,” Ty

murmurou.

392
“Mas, posso pegar a garrafa no próximo fim de semana, no dia seguinte, ou talvez até

mesmo naquela noite,” disse Zane baixinho. “Só até me satisfazer, sabe, sem ferir ninguém, uma

vez que já tive o suficiente, eu paro; e não vou beber demais dessa vez.”

Ty virou a cabeça um pouco, mas não chegou a olhar para trás, Zane. “Eu entendo o que

é um vício,” ele disse em voz baixa, com força. “Nem todo mundo é tão fraco.”

O corpo de Zane ficou totalmente imóvel. “Todo mundo tem suas fraquezas, mesmo

caras que fodem uma mulher diferente a cada noite, apenas para esquecer alguém.”

Os ombros de Ty ficaram um pouco tensos, quando ele olhou para a parede.

“Touché,” ele disse abruptamente.

Zane levantou uma sobrancelha, olhando para o outro homem. “Touché? É isso? Cinco

meses atrás, você teria me cronometrado com isso.”

“O que você quer de mim, Garrett?” Ty perguntou em frustração; virou a cabeça um

pouco mais, mas sem encontrar os olhos de Zane.

Sentando-se, Zane chegou mais perto dele. “Olhe para mim, Ty,” ele disse com firmeza.

Ty olhou por cima do ombro, sua mandíbula apertada com raiva.

“O que você vai dizer primeiro? Antes de você ter essa consciência recém-instalada em

seu cérebro, você teria dito mais alguma coisa?” Zane perguntou, os dedos se apertando nele.

Ty olhou para os dedos de Zane enquanto cavavam em seu braço, em seguida, deu uma

olhada de soslaio para Zane. “Alguma versão criativa de ‘foda-se’, eu tenho certeza” ele

respondeu com firmeza.

“Então, por que você não disse isso? Cristo, você já me xingou de cada coisa, por que não

agora?” Zane cutucou, se Ty não colocasse para fora a raiva, de alguma forma, ele iria implodir e

Zane já tinha visto isso acontecer.

Zane tinha presenciado isso acontecer.

“Porque,” Ty respondeu teimosamente.

393
“Porque?” Zane repetiu, recusando-se a recuar. “Acho que não pode levá-lo?”

“Você está tentando começar uma briga?” Ty perguntou quando balançou o braço da

mão de Zane.

“Aparentemente, e você está determinado a ficar ai deitado, todo embotado e sem ferir

meus sentimentos,” Zane disse, pegando o braço de Ty novamente, desta vez o antebraço. “Deixe

isso sair, não há ninguém mais aqui.”

“Quantas palavras duras, você vai colocá-las dentro de uma garrafa?” Ty perguntou

quando puxou seu braço e bateu na mão de Zane. “Não é um trabalho maldito, eu estou

supondo.”

“Quantas vezes vou ter que tentar empurrar estas paredes que você mantém em torno de

si, elas podem cair precisamente no momento errado!” Zane o agarrou, seus dedos o segurando e

o apertando apesar do tapa. “Por quanto tempo você vai manter tudo isso ai dentro? Porque

acredite em mim, você não terá como manter isso para sempre.”

Ty pegou a mão de Zane, de repente, apertando o pulso dele para libertar o seu braço

assim que os dedos de Zane saíram, Ty estendeu a mão e deu um desajeitado soco nele.

Se Zane fosse um homem menor, ele poderia ter caído com o golpe, como não era, seu

queixo foi para o lado com a força do soco, e quando olhou para Ty, teve que lamber uma gota de

sangue de seu lábio cortado.

Quando falou, sua voz era forte, com o aval da experiência pessoal duramente

conquistada. “Se você não aprender a deixar a raiva e a frustração saírem de alguma forma, elas

vão comer você por dentro,” aconselhou. “E eu não quero que você se esconda no fundo de uma

garrafa ou entre as coxas de um estranho.”

Ty fechou os olhos e olhou para o lado, tentando se acalmar.

394
“Sinto muito,” ele finalmente murmurou, se virou um pouco e se aproximou de Zane,

deslizando a mão contra o seu rosto, enquanto limpava o sangue dos lábios de Zane com o

polegar, com pesar.

Zane pressionou sua bochecha na mão de Ty, olhando para ele com olhos mais suaves, e

sua boca se curvou. “Bem, eu merecia isso,” ele disse. “Eu não quero que você passe pelo que eu

passei.”

Ty não tinha certeza do que dizer em resposta, e mostrou isso claramente em seu rosto.

Em vez de dizer alguma coisa, virou a cabeça, afastou sua mão para longe do rosto de Zane, e

pegou a mão dele, a virando com um triste aceno de cabeça. “Você é muito suscetível a esse

movimento,” ele repreendeu suavemente, enquanto seu polegar deslizava suavemente sobre o

ponto de pressão que tinha utilizado.

Fazendo uma careta, Zane rolou seu pulso. “Sim, uso as facas a tanto tempo, que não

estou acostumado a ter meus pulsos vulneráveis, é difícil mudar um hábito como aquele.”

Ty murmurava pensativo e colocou suas mãos para trás.

“De onde as facas vieram?” ele perguntou abruptamente.

“Jack Tanner,” respondeu Zane.

Ty levantou uma sobrancelha e inclinou a cabeça para que pudesse ver Zane melhor.

“Você trabalhou com Jack na Academia?” ele perguntou com evidente surpresa, Jack

Tanner era um ex-SEAL, empregado pelo Bureau para ensinar os agentes da Academia o básico

para não serem mortos em um combate corpo-a-corpo.

Quando Ty chegou, Tanner já tinha idade suficiente e já estava bem ranzinza, para não

dar mais aulas; ele simplesmente escolhia alguns protegidos para dar lições e os supervisionava.

Zane sorriu levemente e assentiu. “Eu precisava de ajuda,” ele disse. “Você se lembra

quando te disse sobre ter que ir para o segundo tempo?”

“Sim.”

395
“Jack é a razão de eu ter conseguido passar no segundo tempo.”

“Eu não sabia que ele dava lições individuais,” Ty comentou com um pequeno sorriso.

“Somente em casos especiais,” disse Zane. “Isso, e Becky era realmente uma boa

cozinheira.”

Ty acenou com a cabeça e desviou o olhar, desconfortável. “Jack sempre foi um otário

com um bom lombo,” ele murmurou.

Zane inclinou a cabeça. “Outra história aí?” ele perguntou.

“Há sempre outra história em algum lugar,” Ty respondeu vagamente.

“Você quer que isso acabe rápido,” disse Zane, decidindo que já tinha empurrado o

suficiente, e sabia mais sobre o passado de Ty, do que Ty sabia do dele. Supôs que teve sorte

nesse aspecto. Suspirando, esfregou seus olhos. “Ficar sonolento, e depois dormir,” ele

concordou finalmente. “Eu acho que agrada a muita gente a nossa linha de trabalho, estamos

mais propensos a ser espancados, baleados, esfaqueados, explodidos, atropelados por um carro,

torturados...”

Ty apenas acenou com a cabeça ligeiramente inclinada, e estava distante, enquanto

olhava para fora a janela.

“Por que você aceitou este trabalho?” Zane perguntou curioso. “Depois que eles o

colocaram para fora da Recon? Porque não disse para o governo que daria um voo e compraria

uma mina de carvão?”

Ty coçou o queixo e inclinou a cabeça. “Porque tenho medo das minas de carvão,” ele

respondeu secamente.

“Eu sabia que você era um homem inteligente,” disse Zane.

“Não é preciso ser um homem inteligente para ter medo das minas de carvão,” Ty

respondeu sério.

“O que é preciso? Para você ter medo?”

396
Ty virou a cabeça rapidamente e franziu a testa para Zane. “Você não acha que eu tenho

medo?” ele perguntou.

“Se você não tem, então está muito além da fixação,” Zane reivindicou. “Eu quero saber

o que o faz ficar com medo, eu já vi isso, algumas vezes, em seus olhos, em seu rosto, mas não

conseguia descobrir o porquê; não a verdade.”

Ty deu de ombros e olhou para o lado antes que Zane pudesse ver mais alguma coisa em

seus olhos. “Eu não sei,” ele respondeu defensivamente. “Coisas normais, eu acho.”

“Ty,” disse Zane baixinho, vendo a evasão nele.

“O que foi?” Ty bufou.

Zane suspirou e balançou a cabeça, mas, teve que rir um pouquinho. “Eu acho que nunca

conheci alguém tão teimoso quanto você.”

“Cale a boca,” disse Ty, desconfortável.

“Não é um insulto, inferno.” Zane suspirou e se encostou na cabeceira da cama,

observando Ty por um longo minuto. O homem o olhava impaciente, na borda. “Ty, cold.”

“Você me acordou,” disse Ty acusador. “Por que você quer saber? Quem se importa com

o que tenho com medo?” ele perguntou obviamente incapaz de deixar a conversa acabar.

Zane piscou surpreso. “É importante para mim,” ele disse calmamente. “Eu quero saber,

então eu...” Sua voz sumiu e ele engoliu em seco. “Então, eu posso te proteger.”

Ty fungou. “Me protejer de ter medo?”

“Protegê-lo de quando você estiver com medo,” corrigiu Zane.

Ty murmurou baixinho para si mesmo e balançou a cabeça. “Ok,” ele finalmente aceitou.

“Você quer saber do que eu tenho medo?” Ele perguntou quando virou a cabeça ligeiramente e

olhou para Zane. “Eu tenho medo de espaços pequenos,” ele disse quando levantou a mão e

começou a contar nos dedos. “Tenho medo de espaços pequenos e escuros, tenho medo dos

397
espaços pequenos, escuros e com insetos ou roedores, e tenho medo de saltar sem um pára-

quedas, satisfeito?” ele perguntou sarcasticamente.

Zane se recusou a morder a isca. “Obrigado,” ele disse simplesmente, apenas observando

Ty, querendo saber o que estava o deixando tão mal-humorado. Ele tentou uma briga, tentou

argumentar com ele, mas Ty ainda estava tenso, relutante ou incapaz de deixar a frustração sair e

gritar com ele. “Eu faço você se sentir desconfortável?” ele perguntou, parecendo desesperado.

“Depois de tudo o que fizemos?”

Ty fechou os olhos e ergueu o queixo ligeiramente, suspirando baixinho. “Um pouco,”

admitiu. “Eu não estou acostumado a responder perguntas, ok?” explicou defensivamente. “Eu

só... é muito estranho para mim.”

Zane assentiu de onde estava encostado na cabeceira da cama, e um pouco de sua

própria tensão escoou. “Venha aqui,” ele pediu, estendendo um braço.

Ty olhou para ele para ver se ele estava brincando com ele; quando não viu qualquer

sinal de brincadeira, estreitou os olhos ligeiramente. “Foda-se; Sua puritana,” ele ofereceu com

um pequeno sorriso.

Os olhos de Zane brilharam e ele colocou a mão sobre o joelho, o apoiando.

“Quem você está chamando Puritana, Sr. adequado e brilhante?” ele zombou.

“Se isso vai gerar xingamentos, eu tenho que bater em você, Spanky,” Ty advertiu com

um sorriso.

“Como você sabe, Jarhead?” Zane respondeu.

“Porque eu posso fazer isso,” Ty explicou em uma voz calma. “E você não,” ele

continuou apontando para Zane, com o dedo mindinho estendido para o lado delicadamente,

como se estivesse bebendo um chá.

Sorrindo, Zane se sentou e pegou Ty, o arrastando para baixo da cama e sob o peso de

seu corpo mais alto. “Eu vou meter em você, mas, você vai bater a merda fora de mim.”

398
Ty se debateu brevemente quando foi preso, e piscou para Zane desconfiado quando

flexionou os dedos sob o aperto de Zane. “Abuso de poder,” ele acusou suavemente.

Zane balançou as sobrancelhas. “Eu lhe dei uma chance de vir de forma pacífica.”

“Você se distrai facilmente, não é?” Ty brincou.

“Não é verdade,” disse Zane sem problemas, arrastando uma mão pelo peito de Ty. “Eu

ainda estou focado em você.”

Ty estremeceu quando os dedos de Zane arrepiaram todo o seu corpo. “E esse é o ponto

crucial do nosso problema,” ele lembrou suavemente.

“Problema?” Zane fez eco, com a mão continuando a sua descida.

“Todos os tipos de problemas,” Ty afirmou; ele estendeu a mão que Zane tinha deixado

livre e a bateu suavemente ao lado da cabeça dele.

“Foco,” ele repreendeu; Zane fez uma careta antes de olhar para Ty sério.

“Você não é um problema, não para mim.”

“Claro que eu sou,” Ty argumentou. “Nós sabemos o mínimo sobre o outro, e me corrija

se eu estiver errado, é apenas a maneira como queremos levar isso; queremos levar o outro para a

cama, mas não temos muito para ir em frente, e para mim, exemplifica todos os tipos de

problemas,” apontou gentilmente. “Eu não disse que estava reclamando,” acrescentou.

“Grady...” Zane gemeu e rolou para o lado, então enrolou um braço em volta da cintura

de seu parceiro. “Eu não estou tentando comprar uma briga aqui, mas, o que você propõe para

fazermos sobre isso? Nenhum de nós é bom em falar, na verdade, eu diria que fazemos outras

coisas melhores a dois, que falar.”

“Que tal você parar de fazer tantas perguntas,” Ty sugeriu. “E eu vou começar a dar à

mínima, quando você precisar de um abraço,” acrescentou descaradamente.

“Você já dá a mínima,” Zane retrucou.

399
Ty apenas sorriu e seus lábios se mexiam como se estivesse tentando parar, Zane sorriu e

roubou um beijo dele.

“Cala a boca,” Ty murmurou, espetando Zane nas costelas suavemente e rolando para

fora de seu alcance.

Resistindo ao impulso de manter Ty de volta em seus braços, Zane o deixou se afastar

um pouco, ficou apenas ali, olhando para ele. Ty se sentou e balançou as pernas na borda da

cama, em seguida, levantou a cabeça e olhou para a parede distante, pensativo.

“Do que você tem medo?” ele perguntou depois de quase um minuto de silêncio.

O silêncio se estendeu, e Zane lutou com o que ia dizer. “Não estar lá,” ele finalmente

murmurou.

Ty virou ligeiramente a cabeça, para olhar por cima do ombro. “Não estar aonde?” ele

perguntou confuso.

Zane parecia assombrado. “Eu não estava lá quando Becky foi morta, eu não estava lá

quando o meu primeiro parceiro foi um estúpido e dirigiu para a casa bêbado; e eu perdi os

dois.”

“Sim.” Ty respondeu com simpatia. “Eu estava lá quando o meu parceiro foi baleado e

morto,” ele disse com a voz baixa. “Eu também levei um tiro, exatamente como ele,” ele disse,

apontando para um ponto em seu abdômen, onde uma cicatriz contava a história. “Não fiz ao

meu parceiro morto, nenhum maldito bem; você estando lá, não significa que será menos

trágico.”

Zane fechou os olhos e deu de ombros. “Se eu estivesse lá, eu poderia ter sido capaz de

fazer alguma coisa, mas não estava, e perdi.”

“E se você estivesse lá,” disse Ty suavemente, “eu teria perdido você.”

Zane lentamente abriu os olhos, e encontrou Ty de costas; sua respiração parou. “Eu não

vou deixar você ir embora novamente,” disse com a voz grossa sem pensar.

400
Ty deu de ombros e depois acenou com a cabeça, não se voltando para olhar para trás, e

encontrar Zane. “É discutível, foi você que se afastou,” ele disse com a voz baixa.

Zane respirou fundo, o segurou e o soltou lentamente. “Nós... Não poderíamos ter feito

aquilo, então, não sabíamos...”

Ty acenou com a cabeça, pensativo quando finalmente se virou para olhar para Zane,

mas, o olhar em seu rosto, dizia claramente que ele discordava.

“Como?” Zane perguntou, inclinando a cabeça.

“Como o quê, chefe?” Ty perguntou suavemente.

“Como teria funcionado?”

Ty franziu os lábios e deu de ombros novamente. “Do mesmo jeito que é agora, eu acho,”

ele respondeu, mostrando a mesma indiferença que o velho Ty sempre lidava com situações

emocionais. “Exceto, sem bebidas, sem drogas, e sem grandes quantidades de sexo anônimo, eu

imagino,” acrescentou com um acento de sua cabeça.

Os lábios de Zane se contrairam. “Sexo Anônimo? Eu achava que eram apenas

mulheres.”

“Bem, eu fiz depois de alguns minutos,” Ty apontou corando um pouco.

Um sorriso se soltou. “Você fez melhor do que eu, então,” o outro homem murmurou,

mas, não era consciente sobre isso.

“Eu não quero saber,” Ty disse imediatamente, fechando os olhos e balançando a cabeça.

Zane riu e bateu de brincadeira no braço de Ty. “Venha aqui,” ele disse de novo. “Nós

podemos dormir até Henninger nos chamar.”

“Você dorme, e eu vou acordá-lo durante o meio de um sonho,” Ty prometeu humorado.

“Você estava tendo um pesadelo!” Zane insistiu.

“Você sabe do que eu não tenho medo?” Perguntou Ty. “Sonhos maus!” Ele deu um tapa

na mão de Zane em apreensão e, em seguida, começou a engatinhar em direção a ele lentamente.

401
“Sonhar, significa que vou dormir, e dormir, significa que não está se tentando acordar,

quando se tenta dormir. Entendido?” Ele perguntou quando chegou próximo ao rosto de Zane e

roçou o nariz contra o dele.

“Eu entendo,” Zane repetiu obedientemente, esfregando a ponta do seu nariz contra o de

Ty, de antes de se levantar o suficiente para pressionar um beijo suave contra seus lábios.

“A primeira noite que dormi bem, sem desmaiar bêbado em quatro meses, foi àquela

noite que dormi na sua casa,” ele disse com a voz quase inaudível.

Ty fechou os olhos e suspirou baixinho, antes de deitar ao lado de Zane.

Zane sabia que Ty não queria ouvi-lo, mas, disse isso a ele de qualquer maneira; se sentia

mais próximo quando comunicava o que sentia, e o quanto precisava de seu parceiro. Ele se

moveu, deitou ao lado de Ty, deixando seus olhos se fecham, enquanto apenas focava em senti-lo

próximo.

O braço de Ty serpenteava em torno dele, puxando-o para mais perto. “Após este caso

terminar,” ele disse em voz baixa, enquanto olhava para o teto de braços cruzados, se moveu e

afastou uma mecha de cabelo de Zane, “prometa que vai buscar ajuda.”

Zane inspirou e expirou lentamente. “Eu prometo,” ele sussurrou.

Ty apenas acenou com a cabeça e continuou brincando com o cabelo de Zane. “Então,

qual foi exatamente o ponto de me acordar e tentar começar uma briga?” ele perguntou

finalmente.

“Hmmm?” Zane resmungou, ele sabia muito bem o que Ty estava pedindo, “O que?”

Por enquanto, Zane sentia o prazer de ter o irritadiço e rude Ty volta. Ele poderia se relacionar

com este Ty, sem assustá-lo e o fazendo se sentir incrível; as desconcertantes emoções, ele tentava

manter a distância.

Ty revirou os olhos e balançou a cabeça novamente. “Estúpido,” ele acusou quase com

carinho, mas era incapaz de ficar quieto por muito tempo. “Eu quero dizer,” ele disse

402
incisivamente: “Eu sei por que quero meter em você, mas onde está a diversão me cutucando?

Por que começar argumentos apenas por uma questão de luta?” perguntou.

Zane abriu os olhos, considerou provocar, mas, poderia beirar a crueldade neste

momento. “Você está mais você mesmo agora, que da última vez que te vi de novo,” ele disse

sério.

Ty piscou para o teto. “Mas que merda!?” ele finalmente perguntou.

Levantando uma sobrancelha, Zane levantou a cabeça e apoiou o queixo no peito de Ty

enquanto olhava para ele. Não respondeu.

Ty estreitou os olhos novamente e suspirou profundamente. “Você está tentando me

deixar louco, não é?” ele finalmente perguntou.

“Depende, eu acho,” disse Zane. “Se isso ajuda a me livrar do condicionamento da

droga, vou fazer o que tenho que fazer.”

Ty inclinou a cabeça e fez uma careta. “Condicionado,” ele murmurou.

“Comportamento adequado?” Zane disse, soando como se estivesse repetindo conselho

um médico. “Todas essas coisas que o psiquiatra disse que era a coisa certa a fazer, quando você

realmente sente as emoções?”

Os olhos de Ty se estreitaram ainda mais e ele resmungou baixinho no fundo da sua

garganta.

Zane considerou cuidadosamente o que dizer. “Há um pedaço de você faltando, ou que

você enterrou, um que eu acho que nós vamos precisar para este caso”.

Ty ficou em silêncio enquanto empurrava Zane para longe dele e se sentou, se

encostando à cabeceira da cama enquanto olhava para o seu parceiro em expectativa.

“Você não acha?” Zane perguntou de maneira uniforme, observando Ty atentamente.

403
“Então você está tentando me analisar,” Ty respondeu sem pensar. “Deixar-me irritadiço,

vai me ajudar de alguma forma, resolver um caso insolúvel, quem diabos é você Zane, a Little

Rascal?”

Os olhos de Zane brilharam com um pouco em impaciência antes de se acalmar, e se

sentou para olhar para o outro homem. “É a sua paixão o que está faltando Ty; você quer resolver

o caso, e quer desesperadamente dar uma pausa nele, essa teoria que teve... Foi incrível. Quero

dizer, pelo amor de Deus! Você descobriu o padrão que esse cara segue! Isso te deixou louco

quando estivemos aqui antes, mas agora, parece que você não dá à mínima!”

Ty se inclinou para frente e suas narinas estavam dilatadas com raiva. “Talvez haja um

monte de merda que você perdeu, com a cabeça tão longe da sua bunda,” ele rosnou.

Zane apenas sorriu, observando Ty com algo que parecia com prazer misturado com

fome e um toque de diversão.

Ty parou quando viu a reação, se recostou contra a cabeceira, desconfiado. “Não olhe

para mim desse jeito,” ele murmurou.

“Por que não?” Perguntou Zane.

“Porque,” Ty bufou quando rolou para fora da cama e começou a andar sem descanso.

Zane sacudiu a cabeça devagar, ainda olhando para ele. “Volte aqui,” tentou, mas não se

moveu de sua posição na ponta da cama.

Ty lançou-lhe um olhar sujo e parou de andar, cruzou os braços desafiadoramente e

franziu os lábios para ver o que Zane faria, mas Zane apenas esperou um momento, então deu

um tapinha na coxa e levantou uma sobrancelha.

Ty bufou e olhou para ele, incrédulo. “Vá se foder,” ele aconselhou.

“Prefiro te foder,” Zane respondeu; Ty apenas bufou teimosamente e se virou para

continuar a sua caminhada; Zane sorriu e caiu de costas na cama. “Bem, duro e sempre,” ele

acrescentou, inclinando a cabeça para trás contra a cabeceira da cama, olhando para o teto.

404
“Isso também faz parte da porra do seu plano louco?” Ty perguntou de repente.

Zane trouxe o queixo para baixo, de volta para Ty. “Eu quero transar com você,

independentemente de qualquer coisa,” ele disse. “Você tem alguma ideia de quão longe você

chegou sob a minha pele?”

Mais uma vez, os pelos nos braços de Ty se levantaram e se peito se apertou

ligeiramente, balançou a cabeça em silêncio e fez uma careta.

“Maldição, Ty, fico de pau duro só de olhar para você,” Zane rosnou. “Não me diga que

não notou.”

Ty deu um passo involuntário para trás e piscou para Zane estupidamente. “Eu não

notei,” ele insistiu e balançou a cabeça quando finalmente olhou para longe.

Zane inclinou a cabeça. “Isso te incomoda?” perguntou, com a voz revelando sua

surpresa.

“Não,” Ty respondeu defensivamente. “Eu só não percebo...”.

“Será que não percebeu o quê?” Zane perguntou em voz baixa, sentando e apoiando os

cotovelos sobre os joelhos.

Ty recuperou lentamente o equilíbrio, e quando fez isso, sorriu lentamente. “Que você

era tão fácil,” ele respondeu com um sorriso.

Zane riu e recostou-se novamente. “Culpe as prostitutas.”

Ty ficou sério mais uma vez e deu um passo mais perto. “É a mesma coisa?” ele

perguntou baixinho.

O sorriso no rosto de Zane esmaeceu. “Não fica nem remotamente perto de você.”

Ty parou quando Zane falou e, em seguida, deu mais um passo. “Você tem alguma

idéia,” ele disse em voz baixa, “o quão longe você chegou sob a minha pele?”

Zane acalmou completamente. “Não,” ele disse honestamente, com a voz baixa.

405
Ty se aproximou e ficou em frente à Zane. “Você deveria,” ele murmurou enquanto

estendia a mão e passava os dedos pelo cabelo de Zane.

Os olhos escuros de Zane estavam focados nele. “Como, se você não acredita o mesmo de

mim.”

“Eu não sei?” Ty perguntou suavemente.

Com o olhar suave, Zane estendeu a mão para tocar a mão de Ty, embora ele não

interferisse com o seu movimento. “Eu não sei,” ele sussurrou.

Ty suspirou e inclinou-se, deixando suas mãos se apoiarem nas coxas de Zane, deslizou

até o chão, e ficou entre os quadris de Zane, ajoelhado, olhando para ele. “A garota que ligou de

manhã para a minha casa,” ele disse de repente. “Ela ficou muito chateada, porque a peguei,

mas, passei o resto da noite na varanda com uma cerveja e um cigarro raro pra caralho, apenas

pensando em você.”

Zane podia sentir seu coração batendo forte, e se perguntava se Ty podia ouvi-lo; moveu

suas mãos para descansar sobre os antebraços de Ty. “Pensando sobre o quê?” ele perguntou.

“Onde eu estava?”

“E quem estava com você, e o que estava fazendo,” Ty respondeu com um aceno lento.

“O que tínhamos feito, o que deveríamos ter feito...”

“Eu deveria ter...” Zane parou e balançou a cabeça. “Eu pensei em você,” ele admitiu.

“Você deveria ter feito o quê?” Ty pressionou suavemente.

Zane suspirou e fechou os olhos. “Eu deveria ter ficado,” ele respirou. “Eu só não sei

como.”

Ty observou-o atentamente, franzindo a testa. “Você não poderia ter ficado,” ele

finalmente respondeu.

“Eu sei,” respondeu Zane. “Não significa que não tenha pensado nisso.”

Ty permaneceu de joelhos, franzindo a testa para Zane, sem nada a dizer.

406
Ele puxou a mão de Zane em sua direção e beijou o interior de seu pulso

impulsivamente, o pulso de Zane estava correndo, e Ty podia senti-lo saltando sob seus lábios.

“Por que você está nervoso?” ele sussurrou confuso.

Respirando fundo, Zane soltou seu maior medo. “E se acontecer alguma coisa com

você?” Ele estava fora do campo, com certeza, mas, parecia que o comia a partir de seu interior.

Ty levantou um pouco a cabeça, olhando sério para Zane quando o soltou. Ele

lentamente se sentou de pernas cruzadas ao lado da cama e apoiou os cotovelos nos joelhos.

Toda essa situação relembrava a esposa de Zane, ele percebeu. Era uma reação muito comum,

quando alguém perdia uma pessoa que amava, se fechar e tentar se recusar a cuidar de alguém

ou deixar alguém próximo se aproximar. A merda era que não havia nenhuma maneira de se

proteger contra uma perda novamente.

“Eu não posso prometer nada,” ele finalmente respondeu com um encolher de ombros.

Zane assentiu. “Eu sei,” ele disse com uma voz triste. “Mas ainda quero você.”

“Então qual é o problema?” Ty pediu suavemente.

Zane levantou um ombro e o encolheu confuso. “Você disse que: nós nos damos bem

melhor quando estamos transando; como é que vamos fazer esse trabalho?”

“Nem tudo precisa ser planejado, Zane,” Ty respondeu com um tom de frustração. “Nem

tudo precisa de um por que, ou como.”

“Então, apenas vamos ver como vai ser?” Perguntou Zane e Ty respondeu com um aceno

de cabeça e sorriu. Zane sorriu levemente, em troca, o aperto em torno de seu peito finalmente

relaxou. “Eu vou tentar.”

Ty estendeu a mão e acariciou o joelho quase delicadamente e, em seguida, levantou-se

do chão.

As mãos de Zane coçavam com a necessidade de tocar Ty novamente, mas, enrolou os

punhos e amaldiçoou seus nervos. Ver como vai ser, bem, não ia a lugar nenhum neste exato

407
momento. Saiu da cama e caminhou até sua jaqueta, cutucando através dos bolsos, procurando

seus cigarros. Ty estava assistindo-o em silêncio, um sorriso torto curvando seus lábios.

Zane se virou, quando viu que Ty o assistia, e não se mexeu; apenas ficou lá com os seus

cigarros em uma mão e a outra livre.

“Essas coisas vão matá-lo,” Ty aconselhou divertido.

Olhando para Ty pesarosamente, Zane balançou a cabeça e virou enquanto caminhava

até a porta. “Deixe-me com pelo menos um dos meus vícios?” ele pediu.

Ty suspirou e observou enquanto ele alcançou a porta. “As pílulas estão na minha bolsa,”

ele ofereceu calmamente.

Parando na porta, Zane olhou por cima do ombro para Ty. Sim, ele queria as pílulas

malditas; apenas um único pensamento, e estaria morrendo para tê-las, para ter a confiança

artificial delas. Tê-las por perto, era como uma rebarba presa em sua camisa, raspando sua pele.

Ele se virou. “Dê as para mim, por favor,” pediu em voz baixa.

Ty esperou um momento e, em seguida, caminhou até o saco vasculhar e encontrar a

lata. Ergueu a lata e a sacudiu, e em seguida, a jogou para Zane, sem uma palavra. Zane pegou a

lata com destreza e olhou para ela por um longo momento. Em seguida, se moveu, passando por

Ty até o banheiro, onde abriu a lata.

Ty abaixou a cabeça, ouvindo atentamente e esperando ouvir o vaso sanitário fazer

barulho, em vez de um copo se enchendo.

Zane olhou para as pequenas pílulas cor de rosa; como isso se tornou um grande

negócio?

Elas não faziam mal a ninguém, mas, ele... E Ty. Zane virou seu queixo em direção à

porta. Ty não queria que ele se envolvesse com drogas, preso nesse pensamento, virou a lata e

observou as pílulas caírem no vaso sanitário, deu a descarga e observou as pílulas irem embora

na porcelana branca, fechou a tampa sanitária e jogou a lata vazia no lixo com um tinido.

408
Quando Zane se virou, viu Ty parado lá, deu dois passos e capturou a boca de Ty com a

sua própria, suas mãos fechando suavemente sobre seu rosto.

Ty devolveu o beijo com sentimento, deslizando as mãos em volta dos quadris de Zane e

puxando-o para mais perto. “Bom garoto,” ele murmurou entre beijos.

409
Capítulo 14

Henninger ligou pontualmente às nove da manhã, apenas algumas horas depois que

Zane expulsou suas pílulas. O jovem agente disse a Ty, que providenciou para que as cenas dos

crimes anteriores fossem abertas para eles, porque ele sabia o quanto Ty gostava de olhar, e eles

tinham que encontrá-lo o mais rápido possível, antes de alguém ficasse sabendo disso. Ele

também tinha os arquivos de todo pessoal envolvido, e havia algumas coisas interessantes lá.

“Como o quê?” Ty perguntou curioso.

“Como o número das pessoas envolvidas com este caso que estavam em Baltimore em

2001,” Henninger respondeu ironicamente. “Você e eu estamos incluídos, e o agente especial

Grady,” acrescentou.

“Ah, foda-se,” Ty murmurou ao telefone. “Traga-os de qualquer maneira, garoto,” ele fez

um gesto para Zane se apressar e se armar com toda a sua merda. “Vamos vê-lo em trinta anos.”

“Sim, senhor,” respondeu Henninger antes de terminar a chamada.

Assim que a chamada foi mais, Zane e Ty se mexeram, se encaminharam para o seu carro

de aluguer em tempo recorde, e conduziram por toda a cidade para encontrar o outro homem.

Ty se encontrou ponderando pelo caminho, sobre o que Tim Henninger havia feito

enquanto dirigia no trânsito a setenta quilômetros por hora; ele subestimou seriamente esse

garoto e teria que comprar-lhe o jantar ou algo assim, em desculpas.

No banco do passageiro, Zane folheava um bloco de notas de seus próprios rabiscos. “Eu

ainda estou infeliz com essa falta de evidência,” ele disse.

“O que foi?” Ty perguntou sem rodeios.

410
“As coisas diferentes de cada caso,” disse Zane. “Sem padrão, as notas suplementares do

ML, sem pele raspada; as peculiaridades.”

Ty olhou para ele e franziu a testa. “E?”

“Suposição Grande: Se ele está cometendo um erro diferente de cada vez e conseguindo

limpar depois, isso pode ser capaz de criar informações adicionais do perfil,” disse Zane. “Há

áreas que ele é fraco, suponho que pode ser alguma coisa, ou apenas um mero erro humano.”

“Pode ser” Ty demorou. “Seria como tentar ver um quebra-cabeça, depois que foi todo

pintado.”

“Você ainda pode combinar as arestas,” disse Zane distraidamente quando começou a

fazer anotações em um bloco amarelo no colo.

“Há alguma trilha de assassinatos que ocorreram após o computador explodir alguma

coisa?” Perguntou Ty.

Zane folheou suas notas, franzindo a testa. “Não, por quê?”

“Eu ainda acho que ele fez essa merda como isca,” Ty reivindicou.

“Eu não estou convencido,” Zane murmurou.

Os papéis se espalharam em seu colo quando um carro bateu duro por trás deles.

Ty foi jogado para frente com o impacto, mas, manteve o carro em linha reta quando sua

cabeça aprumou; olhou para o espelho retrovisor e franziu o cenho quando viu o táxi amarelo

atrás deles. O para-brisa estava escurecido de forma ilegal, de um jeito, que você mal podia ver

através dele, e os números da placa foram removidos. “Uh oh,” ele murmurou.

Virando-se no banco, Zane tentou olhar quando o táxi bateu de novo, mais forte dessa

vez. “Mas que merda!?” ele assobiou; antes que pudesse reagir, o táxi desviou ligeiramente para

a lateral do passageiro de seu carro, empurrando-os para a parede de concreto.

Ty ficou tenso, sua mente ficou em branco, contando com o treinamento e o instinto

comum, quando lidava com o veículo quase fora de controle. Ele viu o táxi com o canto do olho,

411
a fim de antecipar o próximo ataque, e manteve sua atenção sobre a barreira de concreto e as

mãos no volante.

Zane puxou sua arma, olhando para o veículo se aproximando, para atingi-los

novamente, desta vez, o motor acelerou mais, empurrando-os. A colisão foi forte o suficiente

para empurrar os dois, e Zane teve que pegar na maçaneta da porta; os outros carros nas pistas à

sua esquerda buzinaram e desviaram violentamente, derrapando para não bater neles ou na

parede.

“Porra!” Ty rosnou. Esta foi a melhor tentativa para matá-los, ele tinha certeza disso.

“Espere,” ele disse para Zane com um brilho perigoso em seus olhos, e pisou no freio, fazendo

com que a traseira do seu veículo, colidisse com a frente do táxi.

Zane mordeu uma maldição, e se preparou contra o painel de instrumentos, bem na

hora, com a mão livre, pois foi empurrado para trás e para frente novamente, Ty pisou no freio

mais uma vez e acelerou, deixando o taxi para trás.

“Maldição, eu não posso vê-lo,” Zane cuspiu, tentando olhar pelo para-brisa escurecido,

quando o táxi avançou novamente, se mantendo bem ao lado do passageiro, para atirar apenas

no táxi. “A placa não peguei, também.”

“Ele não correria o risco de ser visto,” disse Ty rangendo os dentes quando desviou o

carro alugado do táxi, com o chiado de metal e o mau cheiro da borracha queimando. Quem quer

que fosse o homem, era bom com um carro em alta velocidade. Em vez de manter o controle do

carro, ele virava o táxi para empurrar, e bater os dois carros juntos, com tanta força que as faíscas

voaram e a fumaça começou a aparecer na grelha arruinada do táxi.

“Eu não posso tentar dar um tiro, mesmo para atingir os pneus, pode matar alguém além

de nós,” disse Zane drasticamente à medida que o motorista acelerava o motor do táxi para bater

ao lado dele, no passageiro. O motorista desviou mais uma vez, para esmagar os carros

novamente, atingindo o lado do passageiro, empurrando-os a poucos metros do muro, enquanto

412
Ty tentava desesperadamente mantê-los, sem perder o controle do carro. Zane podia ver o táxi se

aproximar de seu lado para outra tentativa. “Ele está vindo...”

“Cale a boca,” Ty gritou, quando a lateral do seu carro bateu contra o concreto. O táxi

bateu na lateral novamente e o metal da porta do passageiro gritou e a porta caiu de forma

alarmante. Ty olhou para Zane, tirando os olhos da estrada por um segundo, para ver vê-lo se

inclinando e lutando para manter seu braço longe do espaço da porta caida. Se o táxi colidisse

novamente, um deles ficaria muito machucado, e Ty poderia facilmente ver quem ia ficar; olhou

no espelho retrovisor de novo, vendo que o tráfego diminuiu drasticamente, depois desse duelo

de amplo espaço. “Espere,” ele respirou quando sua visão periférica captou que o táxi estava se

desviando, para outro impacto.

Ele pisou no freio para evitar a colisão, as rodas traseiras esfumaçaram quando freou

forte, e o veículo derrapou perigosamente, enquanto o Ford se esforçava para passar de noventa

para nenhuma quilometragem. Apesar do cinto de segurança, Zane foi jogado para frente e

pousou a mão livre no painel para si proteger, sua arma caiu no console, entre os bancos. O táxi

desviou na pista, não encontrando nada para bater, uma vez que eles não estavam mais ao lado

dele, então ele acelerou em uma explosão de fumaça negra. O Ford finalmente derrapou, e

perdeu o controle, batendo na parede com a traseira esquerda. O pneu dianteiro estourou, dessa

forma, a parte traseira do carro alugado saiu do chão, girando graciosamente no ar e, em seguida,

caindo de volta para baixo, mas, de lado.

Zane suspirou em voz alta quando o cinto de segurança pegou dolorosamente no seu

peito e o atirou contra a porta, quando o carro inverteu. O Ford estava esmagado contra o asfalto

do lado do passageiro e foi deslizando, até bater contra um motorista infeliz, antes de cair de

volta em suas quatro rodas.

O carro amassado finalmente parou, há apenas alguns centímetros do concreto do

acostamento, enquanto o táxi desaparecia da vista deles. Ty estava sentado, com as mãos

413
segurando o volante, os nós dos dedos brancos e respirando com dificuldade, quando as sirenes

começaram a soar em algum lugar distante.

Ao lado dele, Zane se inclinou contra a porta do passageiro inexistente, todo o seu lado

direito inundando dor, olhou para o lado do motorista, e Zane não vi nenhuma cor em Ty,

enquanto o homem ficava olhando para fora do para-brisa.

Zane olhou à sua volta para ver se ajuda estava perto, só para ver o táxi a cerca de

cinquenta metros de distância, de frente para eles, e ele podia ver os pneus girando enquanto o

motorista pressionava o freio e ligava o motor. Todo o tráfego do seu lado da estrada havia

chegado a um ponto; as pistas estavam repletas de carros destruídos e motoristas atordoados.

A voz de Zane estava tensa e surpreendeu enquanto falava. “Ty, Ty, temos que sair, tire

seu cinto de segurança.” Ele tentou se afastar do banco do passageiro, mas, uma dor insuportável

atravessou todo o seu corpo em ondas, tirando seu fôlego.

Ty ficou olhando para a grade dianteira ameaçadoramente esmagada do táxi, na

distância e imóvel, enquanto Zane dava na porta arruinada, vários chutes fracos, tentando

libertar-se. Calmamente, como se estivesse em transe, Ty estendeu a mão e começou a tirar os

cacos de vidro do teto solar.

Zane engoliu em seco quando sua visão começou a desvanecer-se e confundir, estava

entrando em choque. “Eu não posso sair dessa forma,” disse a Ty, rangendo os dentes.

Ty olhou para ele, ainda em uma espécie calma de neblina. “Você está preso,” ele

murmurou enquanto estendia a mão sobre o peito de Zane e cutucava a barra de metal, onde

Zane estava preso. Ele olhou para o táxi, em seguida, estendeu a mão do colo de Zane para o

assento no banco de trás. Ele não se moveu, e Ty virou a cabeça ligeiramente, seu nariz roçando

no rosto de Zane. Ele olhou novamente para ver o táxi começar a sua corrida, indo em direção a

eles, em rota de colisão com certeza. Ganharia velocidade, e então o impacto aconteceria, o aço

pesado do táxi, destruiria o Ford tão duramente agredido e em pedaços.

414
Ty subiu no console central do carro, se elevando para fora do teto solar, quando sacou a

arma, esperou meio segundo e, em seguida, abriu fogo.

A tinta amarela no capô do táxi começou a amassar e explodir quando as balas o

atingiram, e o vidro do carro estilhaçou, mas não quebrou. O vidro escuro e ilegal no interior do

para-brisa impediu o vidro de cair aos pedaços enquanto era preenchido de buracos de bala. Ty

não podia ver o motorista ou dizer se ele se feriu, seu objetivo passou para os pneus, mas sua

arma ficou vazia, e gritou uma maldição frustrado.

Ele estendeu a mão para seu carregador, enquanto o táxi vinha em direção deles, mas

não conseguia alcançá-lo nos pequenos limites. Ele se contorceu com dificuldade e roubou a

arma de Zane, de onde ele havia pousado no painel durante a perseguição, endireitou-se para

trás, apontando para a parte inferior do carro.

“Droga, Ty, saia do carro!” Zane gritou sua voz quebrando quando a dor começou a

oprimir seu controle emocional. Seus olhos brilharam entre o carro que se aproximava e seu

amante, e ele se empurrou contra as pernas de Ty com a mão livre.

Um dos pneus dianteiros estourou enquanto Ty esvaziava a arma novamente, ignorando

as exigências de Zane, mas o táxi continuou a mancar em direção a eles a uma velocidade

alarmante. Estava quase sobre eles, se o acidente não os matasse, o homem dentro do táxi faria.

Ty recuou no último momento, em seguida, recuou e jogou a arma vazia no táxi em

frustração total, antes de entrar de volta no carro. Ele apenas balançou a cabeça em silêncio, de

joelhos sobre o console enquanto tentava libertar o braço de Zane, que estava entre o metal

rasgado da porta e o painel amassado.

Ele sabia que, mesmo se livrasse Zane agora, já era tarde demais, mas não iria parar e

desistir.

“Merda, Ty, você não pode pegar o meu maldito braço! Por favor... baby,” a voz de Zane

estava rachada com agonia, enquanto puxava o ar entre as respirações ofegantes e irregulares.

415
“Sai do carro,” ordenou com voz fraca.

Ty respondeu com um pequeno beijo, casto. Quando ele ouviu o rugido do motor do táxi

se aproximando, se enrolou de forma protetora em torno de Zane, na esperança de protegê-lo do

impacto do acidente. Ele não estava tenso, mas sua disciplina física não era páreo para o simples

instinto humano. Enquanto o táxi vinha em direção a eles, ele encolheu os ombros e se preparou

para o impacto.

“Sinto muito,” ele respirou enquanto fechava os olhos com força e esperava.

“Ty...” Zane engasgou enquanto enrolava o braço livre em torno das costas de Ty,

segurando-o com força e virando o rosto em seu pescoço. Meu Deus! Esqueça não estar lá; este

era o pior pesadelo de Zane.

O som das sirenes estava mais próximas agora, e através de suas pálpebras fechadas, Ty

podia ver a luz mudando, o que lhe dizia que as luzes estavam em cima deles. Houve um som de

pneus cantando e o cheiro de borracha queimada. Ele levantou a cabeça e abriu os olhos, sabendo

que o impacto já deveria ter chegado; se virou e olhou para fora da janela quebrada no borrão

amarelo do táxi, quando o motorista virou no último minuto, girando para direita, ao lado de seu

Ford destruído na rodovia. Ele se virou para fora da rotação, acelerou o motor e se dirigiu para o

outro lado. Vários carros da polícia foram em perseguição, voando pelo tráfico, em uma chama

de luz e som.

O motorista sabia que não poderia acabar com eles e ainda fugir, apenas escolheu lutar

outro dia, e tinha deixado Ty e Zane vivo para isso.

Quando Ty se moveu, Zane abriu os olhos para ver as luzes e o táxi recuando, e carros da

polícia parando em torno deles; começou a tremer. Choque.

Ele estava entrando em choque. Seu braço já estava dormente, e a dor ainda estava

percorrendo seu ombro e costas; seu lado direito gritava e não podia sentir sua perna. “Quando

sairmos do carro vou chutar a sua bunda” respondeu asperamente.

416
Ty não respondeu, já estava subindo pelo teto solar, segurando seu distintivo e sua arma

vazia, indicando um código, que indicava um agente ferido.

Zane estava sentado na parte de trás da ambulância com um cobertor sobre os ombros e

outro no colo, enquanto EMT trabalhava nele. Ele ficou intrigado e intimidado com uma pequena

mulher, que latiu para ele quando tentou sair sem tratamento médico. Tudo o que ele tinha

permitido era um IV de líquidos claros, e verificou os sacos. Estava dolorido como no inferno (ele

também insistiu em não tomar analgésicos, depois de algumas poucas palavras com ela sobre o

registro de vício no passado), de modo que ele estava se concentrando duramente, no que estava

acontecendo fora da ambulância.

Ty estava conversando com alguns dos policiais, felizmente, eles não lhe deram nenhum

problema, nenhum que Zane pode ter visto de qualquer maneira. A EMT encontrou outra costela

quebrada e Zane vaiou, a empurrando para longe instintivamente.

“Ainda está ai, agente especial Garrett?” a EMT perguntou.

“Ainda estou aqui,” ele respondeu com a voz rouca, depois de afastar a máscara de

oxigênio, seus olhos ainda estavam vidrados de dor.

“Sentindo-se tonto de novo?” ela perguntou, fazendo uma pausa em seu exame.

“Só se acabar com isso,” ele disse fracamente, inclinando a cabeça para o lado, contra a

parede da ambulância.

“Eu já te disse, eu não posso fazer mais nada por você daqui, você vai ter que ir para o

hospital e...”

“É só o que não pode acontecer,” interrompeu Zane. “Eu apenas tenho que ser capaz de

usar o braço.” Seu braço direito, engoliu em seco. “O enfaixe, e faça o que tem que ser feito.”

A EMT fitou-o em silêncio, quando falou, sua voz era fina. “Você sabe o quanto você vai

se machucar?”

417
Zane virou seu queixo para que pudesse olhar o braço mutilado e depois pra ela. “Sim,

eu sei, basta fazê-lo.”

Franzindo a testa profundamente, ela se levantou e subiu na ambulância com facilidade

praticada, Zane apenas fechou os olhos, ele ia desmaiar; sabia disso. Quando abriu os olhos

novamente, descobriu que Ty tinha finalmente conseguido romper com os policiais,

respondendo suas perguntas e foi fazendo o seu caminho apressadamente em direção à

ambulância.

Ty viu que um homem tentou detê-lo, mas foi em vão, e se aproximou de Zane com uma

sensação de torção em seu intestino; ele poderia sentir dor, mas não conseguia lidar com as

pessoas que passam por isso. Especialmente pessoas que ele cuidava.

“Por que eles não drogaram você ainda?” ele perguntou a Zane com indignação.

Zane tirou a máscara para responder, mas a EMT o fez por ele.

“Ele se recusou a receber o tratamento contra dor,” ele disse, com a voz desaprovando

claramente.

“Bem, foda-se, dê a ele de qualquer maneira,” Ty perguntou com uma carranca

impressionante.

“Não,” disse Zane bruscamente. “Se me forem me dar algo forte o suficiente para ajudar,

eu vou ficar fora do caso por dois dias e, em seguida, vou sofrer mais uma semana, com desejos.”

“Uma anestesia local não fará com que fique com a fissura pela droga, seu idiota!” Ty

gritou com raiva.

Zane apenas balançou a cabeça teimosamente.

A EMT olhou entre eles, franzindo o cenho pesadamente. “Agente Especial Garrett, por

favor, reconsidere,” ela perguntou, com a voz macia. “A dor dos ossos quebrados só vai piorar;

você já está em choque, e o seu parceiro está certo, posso dar-lhe uma local para o seu braço e não

tem nada a ver com...”

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Zane olhou para Ty e balançou a cabeça, cortando-a. “Vá fazer arranjos para um carro,”

respondeu asperamente ao seu parceiro. “Você não me ouviu antes, então ouça agora, vá e

volte.”

“Foda-se,” Ty bufou. “Dê-lhe as drogas,” disse ao EMT.

“Eu não posso dar-lhe drogas, se ele não der o seu consentimento,” disse a mulher,

impotente.

O canto da boca de Zane apareceu triunfante, e seus olhos estavam perfurados em Ty,

mas ele ainda estava tremendo ligeiramente.

“Ele está gravemente ferido,” Ty argumentou calmamente, olhando para a mulher

atentamente. “Ele não está mentalmente capaz de tomar uma decisão,” ele disse incisivamente.

Seus olhos se estreitaram e ela olhou dele para Zane, pelas costas.

“O que foi? O inferno que eu não estou,” disse Zane com voz rouca. “O que você está

tentando fazer comigo?” ele exigiu para Ty.

“Eu estou tentando mantê-lo fora da porra de um hospital,” Ty rosnou.

“Dê um tiro nele,” disse a mulher. “Você sabe, se ele ficar catatônico de dor, teremos que

levá-lo ao hospital, e atire depois em mim, porque eu vou ter que matar alguém.”

“Ty, droga, temos coisas para fazer, eu não posso ser apedrejado para fora da minha

mente por uma hora, muito menos um dia.”

“Uma local não faria isso!” Ty interrompeu frustrado.

“E se esse filho da puta voltar... Que o inferno?” Zane se levantou com pressa e sua

cabeça foi em direção a EMT, que recuou, puxando uma seringa vazia da linha de alimentação

IV.

Ty apontou para ela e deu um acendo triunfante, “Ha!”

“Agora, Agente Especial Garrett, você está exibindo fortes sintomas de choque,” ela disse

suavemente, colocando sua mão sobre a intravenosa em seu braço, certificando-se de que ele não

419
fosse arrancá-la. Seus olhos passaram do braço gravemente quebrado de Zane, para Ty. “Você

precisa se sentar agora, dei-lhe sedativo e algo para ajudar com a dor.”

Zane deu dois passos para a direita, em direção ao rosto de Ty. “Você não pode fazer isso

com um parceiro e esperar que haja qualquer nív... Nível de con-conf...” Seus joelhos começaram

a ceder, e piscou lentamente.

Ty pegou o braço bom de Zane e o levou para a maca, onde antes havia se recusado a

usar. “Vamos falar sobre confiança depois, Agente Especial Garrett,” ele murmurou enquanto

forçava Zane a deitar.

Balançando enquanto se sentava seus olhos vidrados foram para Ty. “Ty,” ele disse

suplicante quando caiu contra a maca, colocou a mão plana em Ty, enquanto o paramédico se

movia em seu corpo. “Não.”

Ty o manteve deitado, até que estava certo de que Zane não fosse cair. “Sinto muito,” ele

murmurou, enquanto seus olhos observavam os de Zane se fecharem. Ele olhou para a EMT e

suspirou desanimado. “Obrigada.”

A mulher sorriu, mas parecia perplexa. “Eu não posso acreditar que ele seja tão frio,

devemos levá-lo ao hospital.”

“Não é possível ir a um hospital,” Ty disse a ela suavemente. “Não é seguro lá.”

Ela balançou a cabeça como se entendesse, depois olhou entre eles pensativo. “Então ele

é seu parceiro?” ela perguntou com cuidado.

Ty acenou com a cabeça quando olhou de volta para Zane, sem nem mesmo ter captado

que havia mais de um significado na pergunta. “Nós estamos trabalhando em um caso,” ele

respondeu distraidamente quando tirou seu distintivo e o mostrou a ela; a ação era

completamente habitual. “Já esteve muito ruim,” ele murmurou baixinho.

A EMT olhou para o crachá. “Então ele é seu parceiro no trabalho,” ela esclareceu.

Ty olhou para ela e piscou estupidamente. “O que foi?” ele perguntou confuso.

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A mulher sorriu um pouco. “Perguntei se ele é seu parceiro no trabalho, mas, você me

pareceu um pouco vacilante; por que não se senta, Agente Especial...”

“Grady,” Ty forneceu franzindo a testa. “Sim, ele é meu parceiro no trabalho,” ele repetiu

ainda confuso com seu interesse. “Eu não preciso me sentar,” acrescentou teimosamente.

“Tudo bem,” ela disse. “Apenas pensei que você pudesse querer ficar por aqui, ele deve

ficar fora por cerca de trinta minutos, ainda vai doer quando acordar, no entanto; ele me contou

sobre por que não queria que as drogas”. Ela deu-lhe um mesmo olhar. “Quem é você para

contrariar a decisão dele?”

“Sou seu parceiro,” Ty respondeu na defensiva, começando a se incomodar um pouco

sob o escrutínio. “Sabia você, que eu sei que ele será capaz de lidar com isso, o senso comum

prevalece sobre alcoolismo todos os dias da semana, Sunshine, ele vai nos agradecer mais tarde.”

“Mas você sabe que é mais do que o alcoolismo, não sabe?” ela perguntou quando

instruiu outro EMT para cuidar do braço de Zane e envolvê-lo enquanto ele estava fora.

“É por isso que você é tão protetor,” ela continuou quando pegou o braço de Ty e o

puxou suavemente. “De seu parceiro.”

Ty estava ficando irritado e começava a suspeitar que ela pudesse dizer que ele não tinha

exatamente conseguido sair do veículo ileso. Ele podia sentir o desejo de latir para a mulher,

apenas esperando para fugir sem ser medicado. “Qual é o seu ponto, princesa?” ele perguntou.

Os olhos da mulher brilharam. “Honestamente? Estou apenas tentando decidir se você se

importa o suficiente com ele, para cuidar dele depois disso; ele vai ficar uma bagunça por uns

dias, pelo menos, têm ossos quebrados por toda parte, o sedativo e suas reações a ele me

pareceram que estava preocupado o suficiente, para ser mais do que apenas um parceiro. Talvez

um amigo?” Ela se levantou e se endireitou sem dar atenção à sua baixa estatura. “Agora, diga-

me o que eu quero ouvir, ou eu vou enviá-lo para o Lenox Hill, se desabotoar sua camisa e

encontrar hematomas,” ela exigiu quando apontou para o pescoço de Ty.

421
“O que você quer ouvir?” Ty perguntou quando puxou o topo de sua camisa, para

esconder o ferimento do cinto de segurança, com a voz frustrada, um pouco maior do que

normalmente fazia.

“Grady?” uma voz suave chamou no meio da multidão de policiais, bombeiros e

paramédicos. Ty virou distraidamente e viu Henninger fazendo o seu caminho de forma precária

no meio da multidão.

“Espere,” ele disse ao homem com uma onda de desprezo de sua mão, olhando para a

mulher.

“Você vai cuidar dele?” ela perguntou sem rodeios. “Ou preciso encontrar outra

pessoa?”

“Que tal um maldito médico? Isso é o que ele precisa, certo?” Ty perguntou exasperado.

“O que diabos aconteceu?” Henninger perguntou quando correu até eles.

“Jesus, ele está morto? “ Ele perguntou quando olhou para Zane.

A mulher sacudiu a cabeça, e o rosto endureceu. “Vá cuidar de seu negócio, Agente

Especial Grady.” Ela se virou e se juntou ao outro paramédico atendendo aos ferimentos mais

graves de Zane. Eles trabalharam no braço, um segurando uma cinta pré-formada enquanto o

outro enfaixava o braço nele.

Ty lutou contra a vontade de estender a mão e estrangular a mulher irritante. Ele olhou

para Zane e suas feições suavizaram inconscientemente enquanto os observava levantá-lo com

cuidado para embrulhar suas costelas com força. “Quanto tempo vai doer?” Ele perguntou

quando Henninger se aproximou e olhou para Zane também.

Zane foi empurrado quando a maca foi movida, o levando para a parte de trás da

ambulância. O agente nem sequer protestou como eles o moveram, só olhava lentamente para o

nada, o que parecia se inconsciente. “Vai doer por um tempo, uma semana, pelo menos, duas é

mais provável, não ficaria surpreso se for três ou quatro; ele deslocou o ombro, quebrou dois

422
ossos do antebraço, rachou quatro costelas, teve seu cérebro agitado em seu crânio, e seu quadril

está machucado,” ela disse severamente.

“Parece que o joelho pode estar deslocado também, ele está uma bagunça, eu não sei

como ele esperava ser operado sem analgésicos.”

“Então, ele está fora do caso,” Ty murmurou com um olhar derrotado em Zane enquanto

trabalhavam nele.

Ela encolheu os ombros como resposta.

“Mas como...” Henninger começou, mas tanto Ty e a EMT o fizeram calar.

Ty estava rasgado, passou do limite, forçou a anestesia em Zane, embora a EMT não

tivesse aplicado uma local, ele não podia adivinhar; ela, obviamente, sabia mais sobre tudo isso

que ele sabia.

Se ele ligasse para Burns e avisar que Zane estava fora de serviço? Ele certamente não

seria muito bom para o caso agora, talvez Ty devesse pedir a Burns enviar uma nova pessoa, ou

ele poderia continuar por conta própria até que Zane se recuperasse, embora soubesse que não

poderia fazer isso sozinho. Ele não era tão inteligente como o assassino, e não sabia o que fazer, e

a indecisão era tão irritante para ele, como era incaracterístico.

“Garrett não pode ficar assim, você vai ter que informar e o retirar do caso,” Henninger

aconselhou enquanto observava Ty pensando sobre isso.

“O caso é a última coisa que o Agente Especial Garrett deve se preocupar,” a EMT

ofereceu.

“Hum?” Ty pediu um tanto distraído. “Como você chegou aqui?” perguntou ao jovem

agente, com irritação súbita.

“Estava esperando para encontrar vocês, ouvi sobre essa bagunça no rádio, e tive um

mau pressentimento sobre isso; quando vocês se atrasaram, decidi dirigir até aqui apenas no caso

e eu vi você em pé entre os policiais,” Henninger respondeu defensivamente, olhando para a

423
EMT com incerteza, ela revirou os olhos e caminhou os poucos degraus para subir na ambulância

com seu paciente.

“Olha, Grady,” continuou Henninger. “Pegar esse serial é mais importante do que

manter Zane Garrett no trabalho.”

Ty estava ficou tão chocado que quase concordou com o sentimento, ele piscou para o

homem e, em seguida, olhou para Zane, que estava obviamente lutando contra os efeitos das

drogas. “Você já foi convidado a essa pergunta: Quem você escolheria salvar? Uma centena de

estranhos ou um membro da família?” ele perguntou baixinho.

Henninger recuou de surpresa com uma pitada de preocupação. “Não,” ele disse com

cautela. “Mas eu responderia uma centena de estranhos, esse é o nosso trabalho.”

“Essa é a resposta nobre, não é?” Ty murmurou quando olhou para Zane.

“Nós temos uma responsabilidade, se isso é ser nobre, então...” Henninger deu de

ombros, franzindo o cenho quando notou a atenção de Ty vacilar. “Você sabe que é a coisa certa a

fazer,” ele insistiu.

“Você se importa, de qualquer maneira?” Ty perguntou em sussurro um pouco

desesperado.

“Eu me preocupo em capturar o cara que está cortando todo mundo em pedaços tão

pequenos, que você poderia fazer um Hamburger com eles!” Henninger replicou. “Eu me importo

com isso mais do que me preocupo com um homem que eu mal posso trabalhar.”

Ty ainda estava consciente o suficiente de seu entorno para não discutir esse ponto.

“Você tem o seu carro?” ele perguntou com a voz rouca para Henninger sem responder.

Henninger piscou com a súbita mudança de assunto. “Sim,” ele respondeu com cautela.

“Ele pode se mover?” Ty chamou o EMT dentro do veículo.

“Se você pode fazê-lo assinar esta versão, ele é todo seu,” a mulher gritou de volta.

424
Ty se encolheu e olhou para Henninger. “Vá buscar o seu carro,” disse ao garoto

baixinho. “Nós vamos sair fora daqui,” ele murmurou enquanto se dirigia para a ambulância.

Antes que Ty pudesse chegar lá, Zane desceu da ambulância, segurando firmemente à

barra, com o paramédico realizando a transferência e a liberação assinada, se manteve firme e

olhou para Ty. Os olhos vidrados de Zane estavam em chamas e com raiva, e ele tremia de dor e

as drogas. “Você, seu pedaço maldito de merda,” ele disse com a voz grossa, obviamente,

tentando livrar-se dos efeitos do sedativo.

“Eu sei,” Ty concordou assumidamente quando estendeu a mão para apoiar Zane. Como

o homem estava andando, ele não sabia.

Zane estava vacilante e fraco, e odiava que a forma como se sentia como se estivesse se

movendo através da água e vendo através de uma névoa. Uma névoa vermelha, mas ainda assim

uma neblina.

Ele teve que se apoiar pesadamente em Ty com o seu braço bom.

Pensou em xingar um pouco mais, mas tudo o que saiu, foi um silvo de dor, e os seus

joelhos tentaram desabar. “A cadela me deu um tiro, porra,” ele murmurou mais para si mesmo.

“Estou tão fodido.”

“Eu sei,” Ty repetiu enquanto tentava apoiá-lo sem machucá-lo ou a si mesmo. “Você vai

ficar bem,” ele prometeu. “Henninger tem cigarros para você,” ele disse, tentando consolá-lo

quando acenou para o garoto.

Henninger os assistiu com olhos arregalados e confusos antes de concordar rapidamente,

pegando suas chaves. “No carro,” disse Zane agradavelmente.

Zane fez uma careta. “Por que tudo dói quando apenas um lado ficou machucado? E por

que teve que ser o braço que empunho a arma?” ele meio que gemia enquanto Ty o amparava,

ainda que cambaleando seguiu Henninger, que foi em frente para pegar o carro e o tirarem dali.

425
“Eu usei toda a sua munição de qualquer maneira,” Ty resmungou. “E, em seguida, jogou

a arma em um carro, divirta-se preenchendo a papelada.”

Zane conseguiu limpar através da neblina o suficiente para olhar para Ty enquanto

andavam pela multidão. “Você está ferido?” ele perguntou.

“Se eu disser que sim, vai impedir de você ficar com raiva de mim?” Ty perguntou quase

provocadoramente, com a voz um pouco tensa, com o peso e a altura de Zane bem maior.

“Não,” Zane mordeu, e ficou em silêncio enquanto caminhavam várias etapas. “Eu pedi

para você sair do carro.”

“Não devo ter ouvido você falar,” Ty murmurou em resposta.

“Eu implorei,” disse Zane fracamente, mas sua mão apertou o braço de Ty. “Bastardo.”

“Eu sei,” Ty repetiu baixinho, olhando em volta para as várias pessoas sendo atendidas e

entrevistadas como eles foram, e o seu caminho foi praticamente despercebido por eles, seguindo

Henninger em direção à barreira de concreto.

Henninger parou quase em frente a eles, pois conseguiu se libertar do perímetro do local

do outro lado da rodovia fechada, e Ty gemeu quando olhou para a parede de dois metros de

altura de concreto.

Henninger se afastou e parou do outro lado indeciso, sem saber como ajudar.

Zane focou na parede e suspirou. “Merda, nunca é fácil, não é?”

Respirando fundo, piscou com força e manteve se peso para longe de Ty, para ficar em

pé. Por força de vontade, deu dois passos até a barreira e passou por cima dela. Tanto Ty e

Henninger tinham as mãos em torno dele, pairando protetoramente, parecendo pais assistindo

seu primogênito dar um passo. Zane não pode deixar de rir quando os dois o pegaram, e mais

três depois, estavam no carro. “Ok, eu estou pronto,” ele sussurrou enquanto a dor em seu lado

direito ecoou dentro dele.

426
Ty pulou a barreira atrás dele, enquanto Henninger abria a porta traseira para ele.

“Onde?” Henninger perguntou preocupado, Ty ajudando Zane na parte de trás.

“Eu não me importo,” Ty respondeu em um rosnado baixo. “Em algum lugar seguro.”

Zane caiu para trás contra o assento e fechou os olhos, segurando seu braço contra seu

peito protetoramente. Sua manga da jaqueta estava pendurada sobre o ombro, cortada em vários

pedaços longos.

Balançando a cabeça, o jovem agente foi para o tráfego e os manteve em movimento.

“Você vai precisar de ajuda, Grady, devo ligar para Sears e Ross?”

“Não,” Ty grunhiu em resposta. “Você vai me ajudar,” ele disse com a voz baixa.

“Eu?” Henninger baliu, olhando para o espelho novamente. “Eu não tenho experiência

de campo, Sears e Ross seriam de muito mais ajuda, desde que Garrett não pode...” Ty estava

olhando para ele no espelho retrovisor, e limpou a garganta. “Tudo o que eu estou dizendo é que

precisamos de apoio,” ele continuou com a voz baixa.

“Você não acha que sua presença em Nova York vai ser conhecida por todo o Bureau

agora que essa merda aconteceu?”

Ty esfregou os olhos e olhou para fora da janela, depois para Zane mais uma vez, a

cabeça dele estava deitada em ombro, e Ty não estava nem se movendo para não incomodá-lo,

Ty pensava que ele poderia ter desmaiado. “Chame-os,” ele resmungou baixinho.

Henninger assentiu. “O que você vai fazer com Garrett?”

“Eu não sei porra!” Ty respondeu com frustração enquanto lutava com as decisões.

“Alguma sugestão?”

Henninger olhou para ele, hesitante. “Poderia levá-lo para a minha casa,” ele ofereceu.

Ty franziu o cenho para ele, balançando a cabeça. Zane não confiava em Henninger, na maioria

das vezes, nem mesmo Ty. Eles poderiam deixar Zane em sua casa com um guarda e então irem

427
atrás do filho da puta. Havia um rastro quente para seguir, e parte de Ty se ressentia do fato de

que estava no carro com seu parceiro ferido e não em que trilha agora.

“É seguro,” Henninger assegurou. “Tenho um cartão-chave para entrada, esse tipo de

coisa.”

“Leve-nos lá,” Ty encomendou, quando tirou de sua mente o homem que estava contra

ele e de volta ao homem que mais uma vez, quase matou os dois.

Depois de trinta minutos de carro através de tráfego, Henninger estacionou o carro na

garagem em seu prédio e se virou para olhar para eles. “Como é que vamos levá-lo lá para

cima?”

“Qual é à distância?” Ty perguntou quando fez um balanço de seus próprios ferimentos.

Ele não mencionou a possível costela quebrada ou pulso torcido para o EMT, e seu peito estava o

matando, onde o cinto de segurança tinha cortado a pele, mas, ele podia levar Zane, se tivesse

que fazer.

“Cerca de doze metros para o elevador, depois outros quinze até o apartamento,”

Henninger disse, parecendo inseguro. “Poderia ser mais.”

Ty gemeu e balançou a cabeça, não iria chegar tão longe, e não havia nenhuma maneira

de arriscar cair com Zane, causando mais prejuízos.

“Garrett,” ele murmurou no ouvido de Zane. “Acorda, cara, precisamos de você para

andar.”

Zane se mexeu. “Eu estou acordado,” ele murmurou. “Chegamos?”

“Sim,” Ty respondeu com uma enxurrada de alívio, ele não apreciava a ideia de arrastar

o pesado Zane através do edifício. “Vamos lá,” ele murmurou com um tapinha na cabeça de

Zane, lutando contra o desejo de fazer um gesto mais íntimo na frente de Henninger.

O maior homem gemeu e sentou-se. “Sinto que fui atropelado por um caminhão, e é tudo

culpa sua” ele acusou fracamente.

428
“Eu sei, é tudo minha culpa,” Ty murmurou agradavelmente enquanto deslizava para

fora da parte traseira do carro e puxava Zane cuidadosamente. “Tecnicamente, você deve estar se

sentindo muito bem,” ele corrigiu.

“Muita dor, anula os efeitos felizes das drogas,” Zane resmungou quando Ty saiu do

carro. “Muito abuso nega a reação do corpo,” acrescentou muito familiarizado com o raciocínio

médico, e se inclinou na porta.

“Onde?” ele perguntou cansado. Seu rosto estava cinza, e os ombros curvados quando

embalou seu braço e sentiu suas costelas.

“Elevador,” disse Henninger. “Vamos! Quando chegarmos lá em cima, eu vou ligar para

Ross e Sears ajudá-los.”

“Para quê?” Zane perguntou, com voz nítida de surpresa.

“Plano reserva,” Ty respondeu quase num sussurro enquanto deslizava o braço bom de

Zane, e o aparava a andar antes de cair.

“Para quê?” Zane repetiu quando fizeram o seu caminho até o elevador. Ele não estava

se inclinando tanto sobre Ty, mas, ainda estava tonto e cambaleante.

“Eles vão tomar conta de você,” Henninger ofereceu.

Zane parou de supetão. “O que foi?” ele berrou.

Ty fez uma careta e apertou seus braços. “Obrigado, Henninger,” ele estalou em

aborrecimento. “Garrett, vamos antes de cairmos.”

“Essa conversa não acabou,” Zane rosnou quando começou a andar novamente.

Henninger chegou primeiro ao elevador e apertou o botão para subirem. “Vamos lá,

Garrett, seja realista, você não pode ir para o campo nesta condição, você é um peso morto

agora,” observou clinicamente.

Ty estremeceu novamente com a lógica dele, mas, ele sabia que era verdade.

429
“Sinto muito,” ele sussurrou para Zane. “Era isso ou o hospital, com um guarda, você

não está indo para o campo,” declarou com determinação.

Zane não respondeu quando entraram no elevador, e não disse nada pelo resto do

caminho até o apartamento, seu rosto estava tenso e branco quando eles entraram.

Henninger apontou para o quarto. “Este é um edifício restaurado da virada do século, de

modo que as portas são largas; o que deve ajudar,” ele disse. “Eu amo a arquitetura.”

Ty acenou desinteressadamente.

“A garagem foi a melhor regalia,” Henninger divagava. “Não são muitos os edifícios

como este, e eles ainda mantiveram os túneis originais abaixo do edifício intacto para unidades

de armazenamento, ninguém os usa, no entanto, eles costumavam ser...”

“Fascinante,” Ty grunhiu enquanto guiava Zane em direção ao quarto.

A cama estava pronta e limpa, com uma precisão quase militar, que mesmo um fuzileiro

naval poderia apreciar. A sala, assim como o resto do apartamento, foi organizada, quase de

forma espartana em sua simplicidade. De alguma forma, não se encaixa na imagem que ele tinha

de Henninger. “Garrett?” Ele respirou quando o ajudou com a cama.

Abaixando-se até a beira da cama, Zane olhou para cima lentamente, não para Ty, mas

para o outro agente, Henninger deu um passo atrás. “Uh, vou chamar os outros e trazê-los aqui

mais tarde,” ele disse antes de desaparecer.

Deixado sozinho com Zane, Ty estava em silêncio, esperando o que fosse, ou o que ele

temia, o completo silêncio. E foi o que conseguiu quando Zane olhou para o chão, e levantou sua

mão para esfregar os olhos. Parecia que ele estava pronto para cair, Ty engoliu em seco e colocou

a mão na testa de Zane. “Por que você não deita um pouco?” disse em voz baixa, com um tom de

renuncia.

Zane pegou o pulso de Ty em um aperto firme e puxou a mão dele, mas não a soltou. Ty

ainda estava prendendo a respiração enquanto esperava.

430
Lentamente, Zane olhou para ele. Seus olhos escuros regados com dor e emoção.

“Nós ainda podemos escapar,” ele sussurrou.

O peito de Ty apertou, e suas entranhas pareciam ser guinadas com as palavras. Ele

acenou com a cabeça quando deixou seus dedos curvados, tentando tocar a mão que ainda

segurava seu pulso. “Nós vamos, mas preciso ter a minha vingança primeiro,” ele disse com a

voz baixa.

A testa de Zane franziu quando soltou os dedos. “Por quem?” ele perguntou.

“Por você,” Ty respondeu simplesmente.

Zane exalou dolorosamente, e puxou suavemente a mão de Ty, tentando fazê-lo se

inclinar, Ty se moveu e lambeu os lábios nervosamente.

Zane apenas o olhou nos olhos enquanto ele se aproximava. “Você volta pra mim,

entendeu?” ele falou atentamente. “Se eu tiver que ir atrás de você, haverá um inferno absoluto

para se pagar.”

Ty fechou os olhos e bateu a cabeça contra a testa de Zane.

“O que poderia dar errado, hein?” Ele perguntou suavemente, com um pequeno sorriso

brincando em seus lábios. “Eu tenho o garoto comigo, não sabemos para onde estamos indo, o

que estamos procurando, ou o que vamos fazer quando o encontrarmos... É infalível.”

Os dedos de Zane agarraram o queixo de Ty, e se moveu para beijá-lo desesperadamente,

com a palma deslizando para a nuca de Ty, enquanto seus lábios se moviam um contra o outro.

Ty respirava pesadamente com o beijo, quase perdendo sua determinação de fazer exatamente o

que Zane tinha sugerido: escapar. Deixar tudo isso para trás e manter os dois em segurança. Ele

deslizou a mão sobre o rosto de Zane e o beijou como se fosse à última vez.

Toda a dor, medo, chateação e desejo enrolaram no intestino de Zane, e sua respiração

parou quando ele agarrou o ombro de seu amante. “Volte para mim.”

431
“Eu vou,” Ty o assegurou com a voz baixa, e da sala exterior ouviram o crepitar óbvio de

um rádio e a resposta abafada de Henninger. Ty se afastou e olhou para os olhos de Zane. E

entregou a ele uma arma junto de um carregador.

“Qualquer um que chegue muito perto, você o exploda,” ele murmurou. “Distintivo ou

não,” acrescentou incisivamente, sua voz tão baixa que era um sussurro.

Soltando um suspiro, Zane pegou a arma com a sua mão esquerda, e depois a deslizou

com um estremecimento profundo. “Sim,” ele concordou com os olhos treinados sobre Ty.

Ty se levantou e tirou um frasco plástico de prescrição para fora do bolso de trás, e o

colocou ao lado de Zane, o outro agente piscou para ele. “O que é isso?” ele perguntou,

desconfiado.

“Pílulas que tirei da EMT,” Ty murmurou. “Se precisar.” Zane olhou para a garrafa e

depois para Ty, e balançou a cabeça lentamente. Ty começou a recuar para longe da cama

lentamente. “Vejo você em breve,” ele sussurrou antes de se virar e sair do quarto rapidamente.

Zane respirou para falar, mas Ty se foi, e Zane não tinha força ou capacidade de correr

atrás dele, lentamente deitou em seu lado bom, com a cabeça apoiada em um travesseiro fino. As

palavras que ele queria dizer estavam presas em sua garganta, e fechou os olhos bem apertados,

sentindo pequenas gotas cintilantes em seus cílios.

Na sala da frente, Henninger se virou quando Ty voltou. “Tudo resolvido?”

“Ficou estabelecido como vai ser, de qualquer maneira,” Ty murmurou enquanto

esfregava um ponto de tensão na parte de trás do pescoço.

“Acabei de receber um telefonema de um amigo no NYPD,” Henninger disse excitado.

“Eles localizaram o táxi que foi usado.”

Ty se animou e olhou para ele com expectativa, a campainha ao lado da porta tocou, e

Henninger se encaminhou para o intercomunicador para responder. “E então?” Ty perguntou

impaciente. “Onde eles acham que está?”

432
“Nem a duas quadras daqui,” Henninger respondeu com um sorriso quando pressionou

o botão para deixar Sears e Ross entrarem.

A adrenalina começou a bombear através do corpo de Ty quando a perspectiva de pegar

o homem se tornou mais plausível. Se eles pegassem o táxi, eles poderiam seguir a trilha, e Ty

poderia controlar tudo e todos, sertão, deserto, ou as ruas de Nova York, e estava confiante de

desse fato.

Levaria apenas um minuto ou mais, antes de Sears e Ross entrarem pela porta, mas a

espera por eles foi torturante; enquanto esperavam, Ty e Henninger foram até as grandes janelas

que cobriam o apartamento, e Henninger explicou o que estava ao redor do bairro, enquanto

formaram um plano de ação.

“Grady, não posso dizer que é bom vê-lo de novo,” a Agente Especial Sears

cumprimentou, jogando o seu cabelo loiro por cima do ombro. “Como ele está?” ela perguntou

com preocupação real.

“Ele está muito ferido,” Ty respondeu severamente.

Ross estava ao seu lado, olhando irritado. “Tentamos ligar para você,” ele disse para

Henninger.

“Neste edifício a recepção é uma merda,” murmurou Henninger desconfortavelmente

quando olhou para o telefone que não tocou.

Ty acenou para os dois, de repente, muito consciente dos respingos de sangue do

acidente, que manchavam a sua roupa amarrotada e do fato de que parecia como se tivesse sido

girado em alta rotação por uma hora. Parecia tudo um fracasso, até agora, ele ainda não tinha

sido capaz de proteger seu parceiro, e muito menos pegar o assassino.

“Obrigado por terem vindo,” ele disse para os dois em silêncio, sem um traço de pedido

de desculpas ou constrangimento em seu tom, havia apenas impaciência, e ele estava

praticamente vibrando em seus sapatos.

433
Sears olhou para ele, mas não fez nenhum comentário. “Podemos ficar um par de horas

antes de começarem a perguntar onde diabos nos metemos,” ela disse em tom de desculpa.

“Então é melhor você ir andando a menos que façamos isso de forma oficial.”

“Deixei nossas notas sobre o caso com Garrett,” Ty disse rispidamente.

Ninguém vivia o suficiente para compartilhar alguma coisa deste caso, e o que tinham

encontrado, não ajudava em muita coisa. “E há uma pilha de arquivos de pessoal aqui, que tem o

nome de nosso assassino em algum lugar,” ele acrescentou, apontando para os arquivos que

Henninger tinha colocado na mesa de café.

Henninger balançou a cabeça e olhou entre eles, desconfortável. “Você quer mudar a sua

camisa, Grady?” ele perguntou finalmente, os olhos à deriva sobre a pequena quantidade de

sangue.

Ty olhou para ele e, em seguida, balançou a cabeça em silêncio. “Não haverá mais nada

dela com o que vamos fazer,” ele disse em voz baixa e suave.

Ross e Sears se entreolharam. “Não hesite em chamar reforço,” Sears lembrou em

desaprovação.

Henninger balançou a cabeça, se virou para pegar um pequeno saco, e liderou o caminho

para fora da porta e para o elevador.

Nenhum dos dois falou enquanto se dirigiam para fora do apartamento. Desceram no

elevador em silêncio, com Henninger olhando para Ty a cada segundo, como se quisesse dizer

alguma coisa. Finalmente, quando o elevador parou na plataforma de estacionamento, ele

limpou a garganta e disse: “Antes de começarmos esta perseguição, só quero que você saiba

Agente Especial Grady, que tem sido um verdadeiro prazer trabalhar com você. Com os dois.”

Ty olhou para ele quando as portas se abriram silenciosamente. “Da mesma forma,” ele

disse baixinho para o garoto.

434
Ele saiu do elevador enquanto Henninger deu um sorriso quase tímido. Ele olhou para a

plataforma de estacionamento escura e deu um passo adiante, mas o seu progresso foi

interrompido quando uma mão de repente, cobriu a parte inferior de seu rosto. Ele lutou quando

sentiu o cheiro adocicado que cobria o lenço, mas já tinha inalado muito do clorofórmio, quando

caiu de joelhos, impotente, incapaz de alcançar sua arma ou mesmo atacar o seu atacante.

O último som que ouviu foi um grito e uma luta que parecia estar a quilômetros de

distância e uma conversa distante, quando seu corpo inerte caiu no chão de concreto.

435
Capítulo 15

Zane estava na cama por um tempo, cochilando, até que tudo começou a doer muito para

descansar. Tentando manter os olhos abertos, passou um longo minuto olhando para o frasco de

comprimidos que Ty deixara. Não havia nada mais tentador do que um frasco de analgésicos,

quando você tinha uma razão legítima para tomá-los, mas, não ia usá-los. Em vez disso,

cambaleou para fora da cama e foi para a sala principal, e encontrou Ross andando e Sears

sentada assistindo seu parceiro com calma.

“Hey,” ele murmurou.

Ambos olharam para ele como se eles não esperassem vê-lo.

“Você não deve estar na cama,” advertiu a Sears quando ela se levantou e fez seu

caminho até ele. “O que você precisa?”

“De uma bebida forte,” Zane murmurou, se movendo para se sentar em uma poltrona.

“Ficaria mais confortável se você voltasse para a cama,” disse Sears a ele suavemente,

olhando para seu companheiro intencionalmente.

“Deixe-o ficar se ele quiser,” Ross respondeu com um aceno de mão.

“Posso tomar uma bebida? Por favor?” Zane perguntou lamentavelmente. “Eu não me

importo com o que, água da torneira, qualquer coisa.”

Sears suspirou, aceitando o fato de que Zane não estava pensando, e se dirigiu para a

cozinha de Henninger enquanto seus saltos batiam no chão de madeira e ecoavam no espaço

amplo. Ela começou a vasculhar na geladeira quando Ross chegou mais perto de Zane.

“Então, a Casa os enviou para ficar sob o radar,” ele disse para Zane com desdém óbvio.

“Porque eles achavam que não podiam lidar com isso por conta própria?”

436
Zane rolou a cabeça ao redor com cuidado. “Seis funcionários da Casa já haviam sido

mortos ou feridos,” ele corrigiu. “Você não trabalhou em Baltimore, em 2001, não é?”

Ross bufou infelizmente, mas balançou a cabeça em resposta, quando se afastou

novamente, andando inquieto, da mesma forma que Ty sempre fazia. Zane o observava com uma

carranca até que Sears voltou com um copo de líquido espumante. “Isso foi tudo o que pude

encontrar, além da água,” ela disse. “É suco de romã, pensei em colocar um pouco de açúcar,

pode fazer bem.”

“Obrigado,” Zane murmurou, pegando o copo e dando um longo gole. “Então, vocês

dois vão tomar conta de mim.”

“Estamos na prateleira, agora, de qualquer maneira,” Sears respondeu em voz alta antes

que Ross pudesse responder. “Se não estivéssemos aqui,” ela continuou mais suavemente

quando se sentou à mesa de café em frente Zane e cruzou as pernas delicadamente, “Estaríamos

nos afogando em papelada.”

Zane olhou entre os dois com um sorriso crescente. Ross fez uma careta e começou a

andar de novo. “Papelada, amor, eu preciso,” ele comentou quando os seus olhos realmente se

iluminaram um pouco. “Ultimamente, gostaria de ter tido mais do mesmo e menos morte e

destruição.”

Sears esticou o braço e colocou a mão em seu joelho suavemente. “Você tem certeza que

não quer ficar no hospital?” ela perguntou em voz baixa. “Poderíamos manter um guarda lá,

você deve estar sentindo muita dor.”

“Cristo, Marian, deixe o homem em paz,” Ross bufou. “E pare de piscar seus cílios para

ele,” acrescentou irritado.

“Não estou fazendo tal coisa,” Sears respondeu calmamente enquanto mantinha o

contato visual com Zane. “Será que eles lhe deram analgésicos?” ela perguntou.

437
Zane olhou para ela de forma constante e mentiu através de seus dentes, sem revelar

nada. “Sim, já tomei alguns, e estou bem, apenas desgastado.”

Sears estreitou os olhos, mas depois acenou com a cabeça como se aceitasse o que ele

disse como a verdade. Ela parecia não ter mais ideias, e olhou para seu parceiro em busca de

ajuda.

Ross, que ainda estava andando atrás Zane inquieto, apenas deu de ombros e fez um

gesto para ele com agitação.

“Você deveria estar descansando,” Sears insistiu quando ela se sentou e observou Zane.

Ela não estava apenas olhando para ele, estava o observando. Lembrava o modo que Ty

observava as pessoas às vezes. Tudo parecia lembrá-lo de Ty recentemente. Ross deu a volta e

sentou sem graça em uma cadeira próxima.

Ciente do interesse de Sears, Zane deixou seu ombro ferido ceder um pouco e com o

esgotamento, deu um show. Não havia necessidade que eles soubesse exatamente o quão ruim

ele estava... só no caso. Ele não estava tão certo sobre Ross. “Você confia em Henninger o

suficiente para vir correndo assim, quando ele chama?” ele perguntou. “Eu mal conheço o

garoto.”

“Henninger é um bom agente, melhor do que geralmente dão crédito,” Sears respondeu

neutra. “Se ele diz que precisa de ajuda, então ele precisa de ajuda.”

“Você mal conhece o garoto e ele ainda é o seu contato lá dentro?” Ross perguntou em

dúvida.

“Ele foi o nosso contado quando fomos enviados para o escritório de Nova York, quando

chegamos aqui,” Zane permitido. “Quando voltamos, o usamos porque ele nos ajudou antes, nós

precisávamos de alguém que pudesse nos trazer informação rápida e suja.”

“Não é à toa que ele tem estado tão nervoso ultimamente,” Ross riu suavemente.

“Pobre garoto,” Sears acrescentou com um sorriso carinhoso.

438
“O que foi? Ele recebendo alguma crítica no escritório?” Perguntou Zane.

“Cada vez que havia um barulho em algum lugar, ele batia no teto,” Sears disse com um

sorriso que tentava esconder. “Aparentemente, ele tinha uma consciência culpada.”

Zane franziu a testa um pouco. “Ele parecia bem quando estava falando com a gente,”

ele murmurou. “Huh”. Ele mudou de posição e caiu na cadeira um pouco. “Então, qual é a

história de vocês dois?” ele falou, olhando entre eles.

Ambos os agentes olharam para ele com súbita e ilegível expressão. Finalmente, Sears

sorriu lentamente. “Eu vou te mostrar o meu se você me mostrar o seu” ela respondeu.

Zane quebrou imediatamente, com um sibilo de riso. “Você está brincando, certo?”

“Vamos,” Sears mostrou com um sorriso. “Falarei do meu parceiro, se você me contar

sobre o seu.”

Zane bufou e olhou para Sears quando Ross protestou ruidosamente. “Cuidado,” disse a

mulher com um sorriso. “Eu vi o quanto Grady se comporta em torno de uma mulher, ele é um

bastardo total.”

Ele suspirou e a diversão morreu. “Quanto a mim,” ele disse em voz baixa e baixou os

olhos, olhando o anel pensativo: “Eu não posso ter outra mulher sem pensar em minha esposa.”

A provocação se afastou, e Sears sorriu suavemente. “Eu sinto muito,” ela murmurou em

um tom de voz que sabia que a esposa de Zane tinha morrido em vez tê-lo deixado.

“Vocês meninas, terminaram de lixar suas unhas?” Ross perguntou com um bufo.

“Foda-se, Ross,” Zane mordeu, mostrando seu agravamento.

“Meninos, meninos,” Sears murmurou quando se levantou e revirou os olhos.

Ross manteve a boca fechada e deu a Zane um sorriso irritante. “Você parece um pouco

inquieto, Garrett,” ele observou com falsa simpatia.

439
“Henninger nos contou sobre a sua teoria de Poe quando exigimos saber por que ele

precisava de nós aqui, por que você não explicou para qualquer um de nós, que precisava fazer

alguma coisa assim?”

Revirando os olhos, Zane olhou para a parede de estantes nas proximidades. “Veja se

você pode encontrar uma cópia do livro de Poe ali,” ele pediu. “Vamos ver o que podemos

encontrar.”

Um som de constante, o cheiro de mofo e umidade, foi às primeiras coisas que bateram

nos sentidos de Ty, ele gemeu involuntariamente e sua cabeça pendeu, com o queixo apoiado no

peito, como se estivesse em pé ao invés de sentado.

Lentamente, com mais esforço do que gostaria, forçou um olho a se abrir, porém, sua

pálpebra estava muito pesada, e logo o fechou e levantou a cabeça para deixá-la descansar,

contra a superfície fria e áspera atrás dele. Ele estava de pé, percebeu, mas não entendia como ele

era capaz de ficar em pé, ou mesmo sentado. Ele ficou logo ciente, de uma respiração difícil, que

não era a sua, e vinha de algum lugar perto, e depois detectou mais sons próximos a ele.

Escutou um som estranho, seguido de algumas pancadas que ecoavam de forma oca, e

de coisas se raspando.

“Grady? Agente Especial, você está bem?” A voz desconhecida ecoou na escuridão,

saltitando na úmidade e distorcendo de sua forma surreal.

Ty não tinha certeza de que tinha realmente ouvido. “Tudo bem?” ele repetiu com

dificuldade, sua língua estava inchada e seca, e sua garganta estava arranhada e dolorosa

enquanto falava. Sua cabeça latejava, e seus ouvidos haviam sido preenchidos com concreto. Ele

reconheceu com os olhos turvos as sequelas de clorofórmio, e um medo frio começou a torcer em

seu peito.

“Sim, você está bem, achei que você poderia querer falar comigo enquanto eu trabalho,

faz o tempo passar mais rápido.”

440
Ty levantou um pouco a cabeça, forçando seus olhos secos a ficarem abertos novamente e

piscando contra a luz fraca e bruxuleante de uma vela, que estava no chão ao lado dele. Estava

escuro de qualquer forma. Nem um pouco luz natural fluía em torno dele, e o frio e a umidade

lhe deu a nítida sensação de estar no porão de sua avó.

“Trabalho,” ele repetiu testando a palavra. Ele engoliu dolorosamente e, em seguida,

limpou a garganta. O ruído de raspagem estranho parou por um momento.

“Bem, sim, você só fica ai e descansa enquanto estou trabalhando, não parece muito

justo, não é? Mas eu tenho certeza que você não iria cooperar, é por isso que você está

amarrado”.

Ty bateu a cabeça contra a superfície fria atrás dele, era dura, como tijolo ou pedra

talhada. Ele tinha pensado que seus membros estavam demasiado pesados para se mover, mas,

puxou as restrições em seus braços com a percepção de que estava bem contido. Um som como

um tilintar de cadeia foi reconhecido por seus ouvidos, e ele franziu a testa em confusão. Ele foi

acorrentado a uma parede? Sério? Ele percebeu, depois de ouvir as palavras do homem, que

havia uma corda de algum tipo ferindo e amarrando seus braços e em volta do peito, segurando-

o na posição vertical, mesmo quando caiu, e havia grilhões nos tornozelos, o mantendo preso à

parede.

Ele olhou de volta para a escuridão bruxuleante, o homem parecia trabalhar à luz de

velas também. Ty olhou para a vela ao seu lado, era uma poça de cera derretida aos seus pés.

Olhando para a vela, se lembrou dos boatos de sua infância, que realmente nunca tinham surgido

em sua vida adulta. Os antigos mineiros em sua cidade natal, em West Virginia, sempre

contaram histórias sobre as velas que carregavam com eles no subsolo, bem como as lanternas.

Quando a luz da vela apagava, você deveria apressar o seu traseiro para fora de lá, pois o

oxigênio estava acabando, e a morte estava próxima. Era mais barato do que um canário.

“Nós estamos no subsolo,” afirmou estupidamente.

441
“Muito bem!” a voz distorcida disse sarcasticamente. “Você deve estar mais desperto do

que eu esperava, felizmente, eu planejei isso também.”

Ty franziu a testa e virou a cabeça para o lado, gemendo quando o movimento causou

dor. “Você matou o garoto?,” perguntou ao homem com um tom de angústia, que tinha

vergonha de deixar influenciar em sua voz.

O homem respondeu com uma risada curta. “Você vai descobrir que ele está muito

bem,” respondeu, e em seguida, fez uma pausa, como se pensasse melhor. “Na verdade, não,

você não vai, mas alguém o fará, talvez o seu parceiro.”

Ty fechou os olhos quando um lance de dor que passou por ele com esse pensamento.

Zane. Sua mente estava nebulosa, e ele tentou desesperadamente reuni-la.

“Garrett não vai se divertir com isso,” disse ao homem, tentando em vão apertar as mãos

nos grilhões de antigos. Eles estavam muito apertados, e o metal áspero cortava a sua pele,

quando ele puxava. “Você escolheu a pessoa errada para brincar.”

“Eu acho que não,” respondeu o homem, sua voz ricocheteando nas paredes

subterrâneas. “Você é muito mais perigoso do que o seu parceiro, ele é um viciado e um

alcoólatra, e você era a única coisa que o impedia de se foder mais e cair, você e eu sabemos

disso.” A voz soava estranhamente satisfeita.

Ty sentiu o sangue gelar enquanto escutava, o homem o conhecia bem, quase como se

estivesse com eles em suas lutas pessoais. E Ty sabia que este homem não tinha nenhuma

intenção de deixar Zane vivo, também, Ty foi escolhido como o primeiro, porque Zane estava

ferido.

“Você viu o meu presente de boas-vindas?” a voz perguntou abruptamente.

A pergunta soava quase esperançosa, como se ele estivesse tentando agradar. Ty ficou

em silêncio, ouvindo o som de raspagem estranha, quando um arrepio violento passou por ele.

442
“Eu vi,” ele finalmente respondeu baixinho, percebendo que falar sobre Zane não iria levá-lo a

lugar nenhum. “Gostei especialmente do confete.”

Outra risada suave cumprimentou suas palavras. “Isso requereu um monte de

planejamento, eu queria que você soubesse o quanto eu aprecio as pessoas que prestam atenção.”

Houve uma pausa pensativa, enquanto a raspagem “o trabalho,” continuava. “Que vergonha, se

você não tivesse encontrado o meu arquivo tão rapidamente, você poderia ser capaz de

continuar.”

“Seu arquivo?” Ty perguntou com voz rouca.

O homem murmurou em resposta. “Estou naquela pequena pilha que você tem;

Baltimore ‘01,” ele respondeu com pesar. “Eu entendo que você foi à pessoa que associou ao Poe,

também, bravo Ty, devo dizer, eu esperava que fosse Zane a conseguir associar primeiro, ele

seria o cérebro da equipe e tudo mais.”

Ty franziu o cenho. Se ele soubesse tanto sobre os arquivos e soubesse do fato de que Ty

não tinha lido ainda; tinha sido o único a descobrir sobre Poe, então ele ainda tinha que ter

alguma coisa.

Provavelmente todo o Bureau.

“Você ainda está tentando resolvê-lo, não é você, Grady?” a voz distorcida perguntou

divertida. “Você estava se divertindo, não estava? Talvez não o seu parceiro, mas você estava

amando este caso,” ele disse com confiança. “Onde você escondeu o agente especial Garrett, pelo

caminho?” ele perguntou maliciosamente, como se já conhecesse a resposta. “Eu espero que ele

esteja seguro.”

Ty engoliu em seco e lambeu os lábios ressecados; enquanto a conversa continuava o

homem ainda soava completamente são, e isso era, possivelmente, o mais assustador do que a

situação em si. Seria mais fácil lidar com ele se estivesse delirante ou algo assim.

443
“Ele está mais seguro do que você,” Ty murmurou, amaldiçoando sua estupidez. Se

estivesse pensado claramente, teria dito ao homem que Zane estava morto ou gravemente ferido

e destroçado. Agora, ele havia praticamente selado a morte de Zane e o sentenciado também.

A raspagem parou, e a voz respondeu com simpatia pura. “Ele está machucado, não

está? Ele está machucado, e você o deixou para trás, para trabalhar no caso, não é, Grady?” Ele

resmungou em desaprovação. “Você simplesmente não podia deixá-lo, essa sua necessidade de

vingança, oh, não se surpreenda; eu sabia sobre você e Sanchez, ele descobriu a conexão em

Baltimore também, ele chegou a fazer uma chamada para um velho amigo Recon, Ty Grady em

Maryland, para perguntar a ele sobre isso, mas você nunca respondeu o seu telefonema, não é

Ty? Você está se perguntando, que se atendesse a essa chamada não estaria aqui, não é? Você não

estava lá por Sanchez, e você não vai estar lá para Garrett também.”

Ty fechou os olhos e abaixou a cabeça, sentindo a dor em peito, com as acusações do

assassino.

“Ah! Você o deixou, não foi? Está envergonhado, não está? Isso não é maneira de tratar

um parceiro, você deveria ter vergonha de si mesmo; o que ele vai pensar quando você não

voltar? Ele vai pensar que você o abandonou; o deixou porque ele não valia nada.”

Ty lambeu os lábios e abriu a boca para falar, mas as palavras não vieram. Ele engoliu em

seco com dificuldade e, em seguida, tentou de novo, com a voz rouca: “Eu tenho certeza que ele

vai ficar aliviado ao se livrar de mim.”

“Hmmm, não tenho certeza se acredito em você, Grady, com quem mais ele vai

trabalhar? Quem mais poderia trabalhar com ele? Ele é um canhão a solta.” Houve uma risada

suave. “Mas então, assim como você, pelo menos você dispara munição real, e ele será mais fácil

de cuidar, sem você por perto.”

Mais uma vez, Ty ficou em silêncio, e os sons estranhos começaram novamente. Foi um

processo lento, esmagando, como um sapato preso na lama, e então um longo arranhão seguido

444
por várias outros menores. Ty não conseguia identificá-lo, mas quando ouviu, aceitou, com uma

sensação de afundamento, que ele ia morrer.

Sears trouxe para Zane outro copo de suco, enquanto ele estava sentado folheando as

páginas do couro antigas, da antologia de Poe, que Ross tinha encontrado. Ross sentou-se com

uma caneta e papel, fazendo anotações enquanto Zane procurava as semelhanças entre os casos e

as histórias que ele lia.

“Os Assassinatos da Rua Morgue,” ele disse em voz baixa.

“A ML,” Sears forneceu com um estremecimento.

“Certo, na história, a cabeça de uma mulher é praticamente cortada, e a outra estava

recheando uma chaminé”. Com o cenho franzido, Zane balançou a cabeça.

“A localização é o que é importante, certo?” Ross perguntou quando fez uma nota.

Zane assentiu e virou a página. “Ligeiramente,” anunciou. “A primeira coisa, a mulher

na história morre,” ele disse rigidamente, fez uma careta e continuou a ler. “O homem da história

se casa novamente, mas, está convencido de que sua nova esposa é a antiga, que reencarnou ou

algo assim; e ele envenena lentamente a segunda esposa, e ela morre também. A segunda esposa

foi descrita como morena, a primeira era loira,” afirmou em tom cortado.

“As colegas de quarto,” disse Ross com um aceno de cabeça, sem tirar os olhos do papel.

“Isso não foi sobre local, mas o posicionamento do corpo.”

“E os anéis de casamento de plástico, explica à condição de esposa,” Zane forneceu

cansado. “Colocadas juntas, para simbolizar que as duas eram realmente uma pessoa, sem

dúvida.”

“Jesus,” Sears murmurou com um aceno de cabeça. Ela estava folheando os arquivos que

estavam nas proximidades, fazendo as anotações. Henninger tinha pegado os arquivos de todos

445
que tinham vivido, ou trabalhado em Baltimore, em 2001, o que incluía grandes áreas, como

Washington, DC, a pilha era enorme.

Uma estranha sensação de medo se alojou em Zane, enquanto olhava para os arquivos.

Era como procurar uma agulha especial em uma fábrica de agulhas do caralho. Como eles

saberiam qual era o arquivo relevante? Até os arquivos de Ty estava naquela pilha, e os dedos de

Zane coçaram para procurá-lo. Em vez disso, folheou o livro e encontrou outra história, que

havia lido, quando estava na escola. “O Tell-Tale Heart,” anunciou.

Ambos os agentes levantaram os olhos de suas anotações, Zane não precisava explicar

essa cena.

“Você tem sido um bom conversador, mas está quase na hora de eu ir embora.”

A voz distorcida estava mais abafada e a luz da vela muito fraca.

Demorou um pouco, mas Ty finalmente soube o que era o som. Em retrospecto, isso o

incomodava, por isso levou tanto tempo para descobrir. Ele passou um verão, quando tinha treze

anos de idade, ajudando seu pai construir um pequeno anexo em sua propriedade. Não tinha

sido grande coisa, mas era de concreto e viga, e ainda precisou usar argamassa e uma espátula.

Ele havia aprendido a amar o som de colocar a argamassa naquele verão; e ele estava tentando

chegar ao fato, de que esse som, seria um dos últimos que iria ouvir.

O filho da puta fabricou uma estrutura e o colocou dentro, reconheceu que agora iria

parecer como se sua cabeça tivesse desaparecido e ele sabia o que estava acontecendo. Esta tinha

sido a única história de Poe que Ty tinha lido e realmente apreciado. Irônico que seria a que o

matasse.

Ele virou a cabeça na escuridão, e podia ver o contorno de um homem no topo do muro

que estava construindo. Quando ele falou, sua voz ecoou pelas paredes cavernosas da catacumba

e voltou muito distorcida até mesmo decifrar um acento, e muito menos se era familiar.

446
Mais uma vez, Ty sentiu a fluência de pavor frio sobre ele. Este era o seu pior pesadelo, o

que nunca havia sonhado; sabendo que seu amante estava em perigo e que ele não podia fazer

nada sobre isso. Seus pulsos e tornozelos estavam sangrando de sua luta silenciosa contra as

algemas. Ele estava tremendo de frio e umidade, mas ainda não tinha desistido. Ele não podia,

não sabendo que a próxima parada do assassino seria Zane.

“Ele vai te matar,” disse ao homem que estava no processo de assassiná-lo. “Ele vai fazer

você sentir dor.”

“Eu vou ficar desapontado se ele não tentar,” o homem respondeu com sinceridade.

“Bom, faltam três tijolos à esquerda, Agente Especial Grady, hora de dizer adeus, se quiser.”

Ty ficou em silêncio enquanto o homem fazia alguns sons sussurrantes, como se estivesse

amassando um saco de lixo. Em breve, um punhado de plástico branco, foi recheando o orifício

deixado na parede de tijolos. Era um terno de plástico que obviamente protegia a roupa do

homem contra o barro e argamassa. O plástico caiu no chão e a vela cintilou ameaçadora. Assim

que caíram, o plástico aqueceu e a chama deflagrou, banhando o pouco espaço em uma explosão

de luz. Iluminou o pequeno espaço, mostrando a água escorrendo do tijolo e as paredes

brilhando.

Ty podia ver os suportes perfurados que o prendiam aos tijolos com correntes grossas, e

a parede sólida de tijolos a alguns metros na frente dele, que o fechavam na pequena alcova. Ele

soube imediatamente que ninguém iria encontrá-lo aqui.

Não há tempo.

Ele olhou para o rosto no buraco na parede de tijolos e engoliu em choque, quando

finalmente vi a cara do homem.

“Parabéns,” ele conseguiu proferir para o rosto olhando para ele.

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“Ora, obrigado Ty, é muita gentileza da sua parte, a propósito, não se preocupe com o

garoto, ele precisa estar vivo, o suficiente para passar a noticia sobre o seu desaparecimento, mas,

tenho medo que eu não possa fazer a mesma promessa sobre o seu parceiro.”

Três tijolos a mais para a esquerda.

Ty lutou contra o pânico que borbulhava; até mesmo o vislumbre do rosto do homem

não o atingiu tanto, quando a cortina de frio e medo caiu sobre ele. O que de bom ele fez, para

finalmente saber quem era a caça, se ele ia morrer aqui?

Dois tijolos.

A vela cintilou quando o muro estava quase concluído, uma rajada suave de ar frio e

umidade foi liberada através do pequeno buraco restante. Em seguida, houve um baque, um

plop molhado, um longo arranhão, e um deslizar tranquilo de argamassa pegajosa.

O último tijolo.

Ty engoliu quando o mundo exterior foi excluído, ele olhou para a vela, a chama ainda

firme, mas, fraca. Quando lhe correu, o que ele faria agora?

“Temos mais cinco vítimas para explicar,” Ross disse Zane enquanto escrevia

rapidamente.

“Berenice,” Zane respondeu quando todo o seu lado direito queimou com palpitação, e

uma dor incessante. “A mulher cujos dentes foram tirados, estava embrulhada em uma mortalha

e foi jogada no cemitério; então nós temos o Retrato Oval, a mulher que foi pintada com seu

próprio sangue e presa em uma tela.”

“Meu Deus, é tão fácil ver agora,” Sears gemeu.

“Um pouco mais e teremos todos eles, exceto os agentes que chegaram muito perto”.

Zane estava tremendo enquanto continuava a folhear o livro.

“Jesus, ele estava lá todo esse tempo,” sussurrou Ross.

“Você disse ao diretor assistente sobre isso, certo?” Sears perguntou de repente.

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“Henninger foi designado para retransmitir,” Zane respondeu com um suspiro.

“É melhor ter certeza,” Ross murmurou enquanto pegava seu telefone celular e

começava a esmurrar os botões, enquanto Sears pegava seu bloco de notas.

Zane se virou para olhar o índice, enquanto Ross xingava ao telefone e andava até a

janela. “Vamos ver,” ele murmurou enquanto examinava os nomes das histórias que se lembrava

de ter lido anos atrás. “O Queda da Casa de Usher,” ele anunciou a Sears enquanto ela escrevia

rapidamente.

“O personagem sofre de hipersensibilidade extrema, pederia ser o primeiro cara, a

overdose de metanfetamina.”

Sears assentiu sem olhar para cima de sua escrita.

Zane folheou mais um pouco com a mão boa. “Há mais um, William Wilson,” ele disse.

“Um homem mata seu gêmeo, essa explica a morte dos gêmeos”.

Ele continuou a repassar história após história. “Há um clássico,” ele murmurou para si

mesmo. “The Raven,” ele meditou, virou a página de volta ao índice.

“Espere,” Sears disse quando estendeu a mão e pegou a de Zane. “A gripe aviária,” ela

sussurrou.

Ross fez uma pausa em seu ritmo, ainda brincando com seu telefone, e ele olhou para

eles com ironia. “Bem, isso é uma espécie inteligente,” ele comentou antes de jogar o telefone no

sofá e puxar o de Sears para fora de sua bolsa.

O rosto de Zane estava sombrio. “Tem de haver mais de vinte histórias aqui que ele pode

jogar.”

“E agora? Descobrimos o padrão, mas, isso não nos leva para mais perto dele,” Sears

protestou com nojo.

“Nos ajuda a entender como ele pensa,” Zane apontou.

449
“Até que o seu companheiro de perfil voltar, não nos fará muito bem,” Ross apontou

enquanto andava e esperou que a chamada fosse passada.

“Nós ainda não sabemos quase nada sobre ele,” Sears apontou. “Mesmo que nós

encontrássemos algo, não podemos deixá-lo aqui sozinho, sem fazer nada sobre isso.”

“Sim, você certamente pode foder,” Zane insistiu. “Eu não preciso de uma babá, e Grady

e Henninger vão precisar de apoio, liguem para eles.”

“Não podemos ligar daqui, algo no edifício bloqueia o celular,” Ross informou em

frustração enquanto acenava para o celular inútil.

“O telefone fixo de Henninger,” Sears sugeriu logicamente.

Exceto que Henninger não tinha um telefone fixo.

“Vou para a garagem e, em seguida, até a frente do prédio, ok? Estarei de volta,” Ross

declarou e foi para a porta.

Zane assentiu e se empurrou para fora da cadeira para pegar um dos arquivos pessoais.

“Cristo, tem que haver alguma maneira de encontrar este idiota,” ele murmurou.

O Agente Especial Gary Ross não tinha ido longe ao estacionamento às escuras, quando

tropeçou em algo no chão, enquanto corria com seu telefone estendido na frente dele, e quase

caiu. Ele se endireitou e se virou para olhar, amaldiçoando criativamente, quando percebeu que

era um homem no chão, se ajoelhou ao lado dele e senti seu pulso.

“Foda-se,” ele sussurrou, reconhecendo o cabelo escuro e encaracolado de Henninger,

agora emaranhado com sangue. “Tim?” ele murmurou enquanto o homem gemia. “Por que

diabos você não tem a porra de um telefone fixo?” ele perguntou aborrecido quando começou a

levantar o homem do chão. Ele olhou para os sinais de saída ligados aos limites da plataforma de

estacionamento, sabendo que com apenas mais alguns passos teria um sinal, mas precisava

manter Henninger seguro, antes que pudesse pedir ajuda.

“Telefone?” Henninger murmurou fracamente enquanto se mexia.

450
“Vamos lá,” Ross grunhiu, levantando Henninger e o arrastando de volta, em direção aos

elevadores.

Sears estava andando e Zane ficaria melhor, se fosse capaz de andar, à espera de Ross

voltar. “Como é que vamos encontrá-lo?” Zane murmurou quando se inclinou de lado sem jeito,

tentando manter a pressão longe de suas costelas quebradas. “Não precisamos de outro

assassinato, precisamos fazer alguns pontos se conectarem.”

“Ele tem que escorregar em algum momento, especialmente porque sabemos o que

procurar agora,” Sears assegurou. “Estamos fechando o perímetro sobre ele.”

“O que só o torna mais perigoso,” Zane apontou através da dor.

A batida na porta os interrompeu, Zane olhou para Sears, que puxou a arma debaixo de

sua jaqueta e acenou com a cabeça em direção à porta. Ela cuidadosamente caminhou para o lado

da porta, até que estava contra ela, antes de olhar pelo olho mágico. “Merda, ela gritou, abrindo a

porta.

Ross estava ofegante enquanto Henninger tentava, sem conseguiu ficar em pé. Eles

estavam passando pela porta em conjunto. Ross jogou o homem no sofá com um suspiro, e Sears

chutou a porta e correu para ajudá-los.

“O que aconteceu?” ela exigiu quando se ajoelhou ao lado de Henninger no sofá,

tentando verificar o ferimento na cabeça.

“Acertaram-nos,” Henninger resmungou em resposta quando estremeceu com o seu

toque. Era como se alguém o tivesse atingido no lado da cabeça com algo grande e sem corte.

Havia sangue suficiente para que tivesse escurecido o lado de seu rosto, e provavelmente iria

doer como o inferno, mas ele não estava em perigo mortal. “Eu o vi pegar Grady com um pano

ou algo assim e, em seguida, as luzes se apagaram, acho que eram dois deles”.

“Pano?” Zane respirava, e fechou os olhos com força.

“O clorofórmio,” ele gemeu, estava certo sobre esse aspecto, de qualquer maneira.

451
“Henninger,” ele disse densamente. “Precisamos chamar o FBI.”

“O que foi?” Henninger perguntou atordoado.

“Ele está tão fora de si, que não tem uma idéia do que você está falando,” Ross

murmurou, caminhando até a janela para olhar para fora como se alguém pudesse estar lá fora

agora, olhando culpado; Sears foi até a cozinha pegar gelo.

“Foco, Henninger,” Zane tentou desesperadamente, sem ser capaz de pensar em Ty nas

mãos de um monstro.

“Ok,” Henninger murmurou enquanto se sentou e segurava a cabeça, olhando para

todos eles. Ele parecia estar tendo dificuldade em compreender a urgência de um telefone. Sua

necessidade era ainda mais urgente agora; eles precisavam de cada unidade na cidade à procura

de Ty e seu captor.

“Precisamos ligar, como diabos você recebe as suas mensagens?” Ross perguntou irritado

quando apontou para o telefone novamente.

Henninger engoliu em seco e esfregou suas costelas cautelosamente quando olhou para o

outro agente. “Eu desativo o bloqueador de sinal na janela,” ele respondeu sem rodeios.

Ross se virou para ele, a confusão marcando o seu rosto, e Sears voltou para a sala,

olhando para eles de forma estranha. Henninger se encolheu, como se desculpando, antes de

puxar uma arma silenciada debaixo de seu casaco. Com dois tiros tranquilos, rápidos e

silenciosos, a arma enviou os dois agentes para o piso de madeira. Ele se levantou rapidamente e

se virou para Zane, que só teve tempo para se levantar da cadeira e der alguns passos de

distância.

“Seu filho da puta,” Zane sussurrou através da dor súbita.

Henninger deu de ombros e deu um pequeno sorriso, com a arma apontada para Zane

infalivelmente.

452
Zane permaneceu imóvel, com a mão baixa ao seu lado, o braço direito ferido estava

inútil. “Onde está Ty?” respondeu asperamente.

“Morrendo,” Henninger respondeu sem rodeios, sua arma virada para o lado, quando

falou.

Zane deu tudo de si para ficar em pé, quando a agonia rasgou através dele. “Por quê?”

Henninger riu suavemente, a diversão escrita em seu rosto com um pouco de sangue.

“Você sabe, Grady teve o bom senso de não fazer uma pergunta tão estúpida.”

Zane soltou um suspiro trêmulo, morrendo, significava ainda não estavo morto;

sustentou o pensamento firmemente. “Ele é um homem inteligente.”

“Ele era, de fato,” Henninger concordou. “E você também, se vocês dois fossem um

pouco menos inteligente, não teria dois agentes mortos em nossas mãos,” disse a Zane com um

aceno de cabeça para corpos no chão. “Você encontrou o meu arquivo na pilha?” ele perguntou.

“Estávamos muito perto,” Zane percebeu em voz alta. “Assim como Reilly e Sanchez,

você os matou em seu quarto de hotel, você foi ao encontro deles, não foi? Sobre o caso, eles

confiaram em você,” ele grunhiu. “Nós confiamos em você.”

“Olhe para mim,” Henninger riu. “Todo mundo confia em mim, Garrett, mesmo os

estranhos,” ele sorriu maliciosamente.

Zane balançou a cabeça lentamente, levantando seu braço machucado contra ele, com

uma careta. “Por que todos os assassinatos? Você é muito sensato para isso.”

“Pare de se mover, Garrett,” Henninger ordenou sério. “Você sabe, cada vez que alguém

me pediu, eu dava a resposta que queria, é uma pergunta tão banal, realmente, mas é a única

coisa que uma pessoa que está morrendo pode pensar, aparentemente, mas você,” ele continuou,

quando começou a se aproximar um pouco mais “Você, eu não consegui ler bem o suficiente

para dar-lhe uma resposta, eu não sei o que é que você quer ouvir.”

453
“Que bom para você,” Zane rosnou e se afastou, quando o desespero dava lugar à raiva.

“Largue a maldita arma.”

“Você não está realmente em uma posição para dar ordens, Agente Especial Garrett,”

Henninger murmurou. “Mais alguma pergunta antes de te matar? Estou com pouco tempo, você

vê, ter todos esses cadáveres inesperados em torno, e encontrar uma boa mentira,” ele disse

divertido.

“Por que você precisa de mim para me dar a resposta?” Zane tentou, estremecendo e

ofegando de dor quando bateu contra a porta com o braço ferido, podia sentir a arma que Ty lhe

dera descansando pesadamente, mas, teria que usar a mão esquerda para atirar.

Henninger inclinou a cabeça e estreitou os olhos, intrigado com o desafio. “Por que você

voltou?” ele perguntou, por fim, a diversão e o prazer claro em sua voz. “Por que você voltou

para um parceiro como Ty e a probabilidade muito real de ser morto? Grady, ele voltou para se

vingar, mas você? Por que não ficou longe? Longe, para beber e se drogar tranquilamente?”

Zane se empurrou contra essa aparente surpresa, batendo o braço inútil contra a porta. E

gritou, agarrando o cotovelo, e a mão boa correndo para apoiá-lo. Ele fez uma decisão consciente

de deixar a dor se mostrar claramente em seu rosto. Ele ia precisar de sua força para outras

coisas... Ele esperava.

Pesando em suas opções enquanto Henninger o assistia divertido, Zane tentou decidir o

que dizer para obter o máximo de reação dele, reação suficiente. Ele respirou. “Eu o amo.”

Com isso, Henninger surpreso, então, começou a rir. “Você o ama?” ele repetiu com uma

risada alegre. “Oh, que rico! Não me admira que ele parecesse tão esmagado, quando lhe disse

que era por causa dele, que você ia morrer.”

As palavras de Henninger passaram por ele, e Zane puxou outra respiração. “Eu o amo,”

ele repetiu, com a voz mais forte.

454
Henninger riu mais forte em face de condenação de Zane. Dentro de um piscar de olhos,

Zane afastou seu braço esquerdo para longe dele, e puxou o estilete fino de sua faca, o

arremessado em direção ao assassino, com velocidade suficiente para que Henninger não

pudesse evitar. A faca se enterrou profundamente em seu tórax, perto do ombro, de seu braço

com a arma.

Gritando com raiva e surpresa, Henninger se empurrou para o lado com a faca ainda

cravada, e disparou inutilmente para o lado, dando a Zane apenas o tempo suficiente para tirar

sua própria arma e abrir fogo. O tiro o acertou e o feriu perfeitamente, pois Zane queria

interrogá-lo, ante que ele morresse de uma forma lenta e dolorosa.

Henninger cambaleou para trás, olhando para a mancha crescente de sangue em estado

de choque. Lentamente, seus joelhos cederam, e ele começou a afundar no chão.

Tremendo, Zane manteve a arma apontada para ele, enquanto caminhou até ele e

chutava a arma da mão de Henninger, a deslizando para embaixo do sofá. Ele se agachou na

frente dele, pegou o cabo da faca, furando o ombro de Henninger ainda mais, e torceu.

Henninger clamou em estado de choque, e a dor o atingiu duramente, batendo no

ferimento de Zane com tanta força, quanto um homem ferido de morte poderia reunir. Zane

rangeu os dentes quando toda a sua perna explodiu em chamas, mas, continuava torcendo.

“Onde ele está?” ele moeu fora. “Diga-me onde ele está, e eu vou chamar uma

ambulância.”

O sangue sumiu do rosto de Henninger quando a dor o pegou de novo.

“Você é tão inteligente,” ele falava enquanto lutava fracamente. “Desista,” ele respondeu

asperamente.

“Fale ou você vai sangrar muito aqui.”

Henninger simplesmente ria dele com voz rouca, rosnando, Zane recuou o punho e

bateu no intestino de Henninger, perto da ferida de bala.

455
As bordas da visão de Henninger escureceram quando borbulhava e engasgava, mas,

quando a dor diminuiu, deu outra risada. “Ele disse que ia me matar,” ele murmurou enquanto o

sangue começava a pingar no canto da boca.

“Ele disse que ia me fazer doer,” disse a Zane.

Raiva e o terror se construíram igualmente, Zane se levantou e puxou a faca do ombro de

Henninger, ignorando o grito agonizante de dor dele. Ele levantou a arma e a empurrou contra a

testa do assassino, olhando para o homem, ficou ajoelhado diante dele. “Ele está bem, onde ele

está?”

Henninger fechou os olhos e balançou a cabeça, sabia que seria entregue a pena de morte

se encontrassem Grady vivo. Ele também sabia que, no fundo, Garrett iria matá-lo, mesmo

dizendo onde estava Grady. Garrett era esse tipo de cara, Grady tinha muita honra de fazer isso,

mas Garrett iria puxar o gatilho em um piscar de olhos. Ele, provavelmente deveria ter pegado

Garrett primeiro, agora que ele pensava nisso.

Era tarde demais, considerando o fator surpreendente de que foi baleado no intestino e ia

morrer com uma morte lenta e dolorosa, se Garrett não fizesse isso rápido; e ele preferia rápido.

Não seria difícil fazer Garrett ficar irritado e fazê-lo perder a paciência, e então... O esquecimento

doce.

Os lábios de Henninger se contorceram em um sorriso divertido e lento. “Você já pensou

sobre o que vai acontece quando eu morrer, não é?” ele perguntou com a voz fraca de dor. Ele

ganharia de qualquer maneira, mesmo na morte. “Ninguém vai acreditar em você, você vai se

tornar o suspeito número um, sem Grady para apoiá-lo,” ele disse com uma confiança tranquila.

“Como você vai viver sabendo que seu amor ficou tão desesperado para encontrá-lo?” Ele

perguntou quando abriu os olhos. “Como será que vai ficar sóbrio?” ele perguntou com um

sorriso de escárnio desdenhoso.

“Sabendo que é apenas auto-preservação que o está deixando tão desesperado?”

456
O rosto de Zane ficou muito quieto enquanto suas emoções se estabeleceram em uma

certeza sólida, momentaneamente bloqueando a dor. Ele usou o cano de sua arma para cutucar o

queixo de Henninger, para que ele pudesse ver seus olhos, e colocou a arma de volta à testa do

outro homem. Então sorriu friamente.

Os olhos de Henninger se abriram, preenchidos em uma dúvida súbita, que se

desvaneceu rapidamente de volta para as profundezas. De todos eles, Garrett acabou sendo o seu

maior problema; como um camaleão, que não poderia decidir sobre sua cor. Ele tinha sido

previsível no início, mas, depois começou a mudar, a ponto de Henninger não conseguir mais

decidir o que fazer com ele. Mesmo agora, Henninger não tinha certeza do que fazer com ele.

Quando Garrett olhou para ele, Henninger podia sentir, pela primeira vez, a possibilidade de

derrota rastejando sobre ele.

Zane se levantou e deu um suspiro firme ao falar. “Felizmente, você não precisa se

preocupar com isso,” ele disse em voz baixa, então puxou o gatilho.

O corpo de Henninger se empurrou e bateu no chão. Levantando-se, Zane foi até a janela

para procurar o bloqueador de sinal. Finalmente, encontrou e puxou o cabo, em seguida, pegou o

telefone da mão flácida de Ross e acertou os botões com o polegar, enquanto balançava

perigosamente. Caiu de joelhos, quando toda a sua lateral direita pulsava e ardia violentamente.

A chamada foi atendida imediatamente, Zane deu os códigos para os oficiais e se preparou, e em

seguida, comunicou o local com o melhor de seu conhecimento, antes de jogar o telefone na mesa

de café, ainda em aberto, para que pudesse ser rastreado.

Dolorosamente, se empurrou em de joelhos e se arrastou para verificar o pulso de Ross.

Fazendo uma careta quando não encontrou nada, Zane se deslocou sem jeito e se virou para

Sears. Ela se foi, também. Ele abaixou a cabeça, deixando um gemido agonizante escapar. Ele

olhou para o corpo do assassino, não havia necessidade de verificar o pulso dele. O sentimento

de satisfação sombria lhe deu a força para pegar o livro que tinha deixado na poltrona. A

457
resposta estava lá, em algum lugar. Ele tinha certeza que Henninger tinha pensado em Ty como

mais uma vítima, e não apenas alguém em seu caminho. Sentado ali esparramado no chão, ele

começou a folhear novamente, tremendo, enquanto rezava para que recebesse alguma pista.

“Foda-se,” ele sussurrou olhando para o corpo de Henninger. “Deus, por favor...Ty..., “

ele sussurrou enquanto passava, história após história, a angústia o invadindo quando nenhuma

inspiração o alcançou, até que não pode mais se conter. Ele agarrou o livro com força, e o enrolou

em si mesmo, enquanto lágrimas quentes deslizavam soltas, pontilhando as páginas. Ele mal

podia pensar com a dor e a perda de sangue.

Derrotado, olhou para o corpo de Henninger, o sangue estava emaranhado em seu

cabelo. O sangue de Ty? Manchando suas mãos, junto com vestígios do que parecia ser areia e

pó, do concreto da plataforma de estacionamento.

Ele devia ter levado Ty com o clorofórmio, porque Zane sabia que Ty o teria ferido

gravemente se tivesse tentado algum outro método, em seguida, bateu na própria cabeça com

força suficiente para aumentar o fluxo de sangue; tudo o que ele tinha a fazer era se deitar no

chão, fingindo estar inconsciente, até que alguém o encontrasse.

As lágrimas deram lugar à esperança renovada, quando os olhos de Zane continuavam

descendo o corpo do assassino, em busca de alguma pista. Henninger estava de joelhos e caiu

para trás, com os calcanhares o empurrando para o lado que tinha morrido.

Levou um longo tempo para Zane registrar o que estava vendo, os fundos dos sapatos de

Henninger, estavam cobertos de lama cinza. A lama estava nas laterais do sapato, que estava

coberta com um pó. Zane se aproximou mais perto, quase sem energia. Estendeu a mão

lentamente, o tocou com seus dedos a lama, e ficaram cobertos com uma lama grossa e úmida.

Ele olhou fixamente para o corpo morto, eles estavam na cidade, que não havia chovido durante

toda a semana. Onde iria encontrar lama fresca?

“Eles ainda mantém os túneis originais abaixo o edifício intacto...”

458
“Jesus,” Zane sussurrou, agarrando o livro, ignorando o rompante corajoso, passando

sua mão sobre as páginas, ele encontrou o que estava procurando: O Barril de Amontillado.

“Jesus!”

Cambaleando em seus pés, Zane desabou novamente com um grito áspero, pegando no

braço do sofá com a mão boa, estava muito fraco, e doía tanto, que mal podia tolerar, mas, se

concentrou na única coisa que lhe dava força.

Ty.

Ty estaria louco, preso em algum lugar pequeno e, no escuro, como na história.

Ele precisava de algo para usar, até que pudesse chegar até Ty.

Tropeçando para o quarto, deixou a mesa de cabeceira e pegou a embalagem que Ty lhe

dera. Puxando a parte de cima, viu os comprimidos marcados OC dentro e os jogou na cama.

Dez comprimidos, sem um pensamento para a dosagem, ele pegou um punhado, e os jogou na

boca e começou a mastigar. O gosto de química acentuou em sua boca, e encheu seus sentidos

quando engoliu em seco, se empurrou até a sala da frente de novo e pegou a arma e a faca

sangrenta. Pegou a arma de Sears, respirou fundo quando sentiu a primeira onda de energia

induzida por drogas. Teceu perigosamente seu caminho, enquanto se dirigia para a porta, com os

medicamentos já entrando em vigor desde que tinha levado seu tempo os mastigando. No

momento em que entrou no elevador, já estava ‘alto’, a adrenalina correndo por ele.

“Eu estou indo Ty,” ele murmurou quando às portas do elevador se fecharam. “Eu estou

indo.”

TY lutou e gritou por socorro até que sua voz ficou rouca e seus pulsos abusados

pingavam sangue para baixo de seus braços. As cordas o mantinham firme, e nada mais além da

cintilação da vela, percebia a sua angústia.

Logo, começou a hiperventilar, e se forçou a respirar lentamente, em uma tentativa

desesperada de se acalmar. Ele certamente morreria se não mantivesse a calma. Ele fechou os

459
olhos, mas percebeu imediatamente que a escuridão era mais pesada sem a luz da vela. Abriu-os

e olhou ansiosamente para os tijolos, estavam tão perto nesse espaço pequeno, mas ainda

inacessíveis.

Tim Henninger, Ty ainda estava tentando obter a sua mente em torno de como

horrivelmente tinha julgado mal o garoto, deixando todas as provas incriminatórias dentro do

túmulo de Ty. Seu equipamento de proteção de plástico, suas ferramentas, o balde de argamassa

e de secagem e, provavelmente, o mais cruel de tudo, eram as chaves das algemas de Ty, fora do

alcance no chão.

Ty olhou para a vela com um crescente sentimento de calma, ia morrer aqui. No escuro.

Engoliu o pesado aperto de sua garganta e observou a vela. A chama tinha enfraquecido de

forma alarmante, e agora o seu círculo de luz, nem sequer alcançar os pés de Ty. Enquanto Ty a

assistia, a chama ia do azul, a escuridão crescente.

Ty deu uma respiração profunda do ar viciado e úmido.

Sua cabeça subiu com o som de uma voz ecoando vagamente, do outro lado do muro,

será que ele estava tendo alucinações? Podia jurar que tinha ouvido uma mensagem em algum

lugar à distância. Ele olhou fixamente para a parede de tijolos na frente dele, sacudindo

convulsivamente quando o choque frio o invadindo. A seus pés, a pequena vela, cuspiu a sua

última chama, e em seguida, apagou.

Tentou gritar por socorro, mas sua voz se foi.

O desejo de simplesmente fechar os olhos e deixar o sono levá-lo para longo era quase

irresistível. Ty inclinou a cabeça quando ouviu o som de novo.

“Zane,” ele sussurrou para a alucinação, o som apenas uma palavra enquanto a sua

cabeça girava e engasgou com o ar quase inexistente.

Zane surgiu no porão escuro, iluminado apenas por um par pendurado de lâmpadas.

Estava tremendo de novo, desta vez com a energia maníaca, em vez de dor e exaustão. As drogas

460
haviam tomado conta de forma rápida e a adrenalina e os produtos químicos agitavam através

de seu corpo em grande velocidade. Ele passou por um grande forno, olhando em volta

rapidamente, com a arma na mão. Ele não tinha ideia se Henninger tinha um cúmplice ou não.

Ele saiu em cima de um longo corredor, mal iluminado, que tinha portas cobertas com cerca de

arame em cada lado. Unidades de armazenamento.

“Ty!” Zane gritou sua voz ecoando pelo grande espaço enquanto ele se movia pelo

corredor. O eco era a única coisa que respondia às suas chamadas.

Finalmente, viu um buraco escuro na parede no fim do corredor, que não estava aceso.

Túneis, Henninger havia dito.

Zane não podia ver pela passagem tosca, e rapidamente começou a dar tapinhas nos

bolsos da jaqueta e encontrou seu isqueiro. Graças a Deus, que ele não parou de fumar, irritado

com a restrição, puxou o braço dele e o deixou cair, em seguida, acendeu o isqueiro, e olhou para

o chão. Estava cinza, como os sapatos de Henninger.

“Ty!” ele gritou novamente, indo para as catacumbas, ignorando as caixas velhas e os

restos de construção.

Andando com passos largos, o braço machucado levantado para abrigar a chama, Zane

quase continuou, quando percebeu que tinha passado por um espaço de parede, onde um vão

espacia. Voltando, seu coração apertou, quando viu um quadrado, claramente novo, de tijolo na

parede.

“Ty...Ty!” ele gritou, correndo para a inserção, tocando a parede; a argamassa ainda

estava molhada. Ele empunhou a faca e começou a tirar o tijolo com uma mão e o empurrou, até

que o ouviu batendo no chão, dentro da pequena alcova, acompanhado pelo barulho de plástico.

Então desalojado outro, e outro.

De dentro ouviu um barulho de correntes e um gemido suave.

461
Zane freneticamente começou a puxar os tijolos, facilmente ignorando os machucados e

os cortes que faziam suas mãos. Os tijolos mais firmes se soltaram; e a argamassa estava mais

distorcida, de quando começou. Quando fez uma abertura áspera, Zane se inclinou com o

isqueiro.

“Ty?” Ele murmurou com o pulso batendo com adrenalina.

Ty estava preso à parede da pequena alcova, com as mãos esticadas para os lados e,

acima de sua cabeça, o sangue escorria e coagulava em seus pulsos. Seus pés estavam espalhados

na largura dos ombros, acorrentados à parede, de modo que ele não podia nem chutar para fora,

e uma corda em volta do seu peito, o impedia de se mover para frente. Em todos os lugares que

as restrições o tocavam, havia sangue. Sua cabeça estava inclinada, o queixo apoiado em seu

peito, e seus dedos pendurados molemente em suas mãos algemadas. Ele não se moveu, mas um

pequeno gemido disse a Zane, que ele ainda estava vivo. Mal.

Olhando em volta dentro da alcova, Zane viu o plástico e o balde de argamassa. Ele

amaldiçoou em voz baixa antes de ver a vela e um conjunto de chaves de ferro enferrujado.

“Aquele filho da puta,” ele respirou, se inclinando sobre os tijolos, chegando a acender a vela,

para que pudesse embolsar o isqueiro e começar a afastar os tijolos novamente. As drogas

rolando em seu sistema construiram uma preocupação maníaca, e começou a trabalhar

febrilmente, sem se importar com a dor, ou sua frequência cardíaca mais alta e as vertigens. Uma

vez que o buraco estava grande o suficiente para que pudesse colocar uma perna dentro, foi até o

seu parceiro. Não havia muito espaço. Não teria encontrado muito mais ar, morreria ali,

claustrofóbico.

“Ty?” ele sussurrou, colocando suavemente o queixo para cima e o levantando, rezando

para que ele não estivesse muito longe. A cabeça de Ty estava pesada em sua mão, mas, outro

gemido saiu de seus lábios rachados e secos e ele se mexeu.

462
Com respirações duras, Zane abaixou cuidadosamente o queixo de Ty antes de se mover

e pegar as chaves que tinha visto no chão. Agitado e amaldiçoando as fechaduras, ele começou

com os pés de Ty, em seguida, se moveu para abrir as algemas em seu pulso sangrento e cortado.

Ele lutou, Zane notou com uma guinada de seu estômago. Oh, Senhor, ele tinha lutado.

Com o coração doendo, Zane teve uma mera ideia do quão difícil foi para Ty, ter lutado tanto,

para cortar os pulsos e o peito como estavam. Quando o corpo de Ty caiu, Zane o envolto com o

braço livre sobre seu ombro e lutou para desbloquear a última manilha. Ty desmoronou contra

ele, e tentando soltá-lo, Zane não poderia levá-lo para longe da parede. Ele tocou a corda, e com

um rosnado tirou uma de suas facas e a cortou. Olhando para o buraco irregular, manteve Ty

contra ele e os levou em direção a ele.

“Zane,” Ty respirou lamentavelmente, o som torturado quase inaudível.

O som de seu nome quase rasgou o coração de Zane. “Estou aqui, baby, vou te tirar

daqui,” prometeu.

Ty parecia estar chegando, ofegando no ar viciado, como se fosse à coisa mais doce, que

nunca tinha experimentado. “Você é real?” ele perguntou a Zane quando se apertou contra ele,

ainda fraco. Suas palavras eram dificilmente reconhecíveis.

A risada de Zane foi tingida com um pouco de desespero. “Sim, sou tão real quanto você,

baby,” ele respondeu, empurrando os tijolos. Ele deu várias respirações rápidas, rangeu os

dentes e levantou Ty totalmente do chão. Moveu-se muito lentamente e com cautela, para passar

por cima do muro quebrado, pondo o pé entre os tijolos tombados, onde tropeçou.

Os pés de Ty bateram no chão desigual quando Zane o tirou do buraco, e ele caiu em

suas mãos e joelhos. “Henninger,” ele engasgou enquanto sua cabeça girava. “É Henninger,”

disse com urgência, com a voz ainda rouca do clorofórmio dos gritos desesperados de socorro.

De joelhos ao lado dele, as duas mãos de Zane bateram no chão, na tentativa de pegar a

si mesmo. O chocante não doeu, e nem o fato de ter levantado Ty. Em vez disso, ele estava

463
quente, com tonturas e vertigens. Seu pulso acelerou perigosamente, e seu intestino queimava

com náuseas; estava zumbindo por toda parte. Ele sabia o que estava acontecendo.

“Morto, está morto,” Zane mordeu violentamente enquanto tentava se lembrar de tempo

quando ia durar, sem ter comido nada sólido e que tipo de comprimidos ele tomou. Tinha

tomado um punhado inteiro, mas, a sua memória parecia brilhante e difusa.

Ty piscou para o homem, ambos em suas mãos e joelhos e parecendo como se tivessem

acabado de perder uma luta, em vez de ganhado. Ele engoliu em seco e assentiu com a cabeça,

incapaz de pensar em nada para dizer, estava aliviado e confuso.

Zane fechou a mão em torno de Ty, olhando para ele com os olhos vidrados. “Eu tenho

que te tirar daqui,” ele disse asperamente, quando outra forte onda de adrenalina e neblina o

inundou, apenas mal reprimiu o impulso de rir histericamente. “Correndo contra o tempo.”

“O que há de errado com você?” Perguntou Ty, sua cabeça estava limpando e ele estava

começando realmente a funcionar mais uma vez. “Será que ele te machucou?”

Zane conseguiu sacudir a cabeça e levantou desajeitadamente em seus pés, ajudando Ty,

e eles se apoiaram pesadamente, um sobre o outro, quando começaram a se mover em direção à

luz fraca. Zane estava suando agora, seus braços e mãos estavam úmidos e tremendo, quando

falou com Ty, estava mais firme. “Depois que eu o matei, eu mal podia me mover, tomei os

comprimidos que você deixou, para que pudesse encontrá-lo.”

“Todos eles?” Ty perguntou em horror.

Zane riu; um barulho alto, estranho, totalmente diferente do sorriso dele.

“Você teve uma overdose,” Ty murmurou. “Foda-se,” ele gemeu quando tentou reunir

suas forças e pegar mais do peso de Zane. Tropeçou com a tentativa.

Dando uma risada fraca, Zane tentou se segurar, mas todo o seu corpo tremia

incontrolavelmente. “Já estive pior.” Na verdade não, embora... “Tinha que chegar aqui, tinha

que encontrá-lo.” Ele deu uma guinada para o lado quando as tonturas o acertaram, e os dois

464
homens caíram de joelhos, nem deles estava forte o suficiente para suportar totalmente o outro.

“Você estava no escuro.”

Ficaram lá chafurdando por muitos momentos antes de Ty levantar e segurar o braço

ileso de Zane, para puxá-lo de pé fracamente. “Vamos,” ele murmurou. “Pensei que nunca veria

a luz do dia; não posso morrer aqui com você agora.”

Zane riu novamente. “Luz do dia, já vejo as estrelas nos meus olhos,” ele falou quando

tropeçou junto de Ty. Ele engoliu em seco quando caíram no porão. “Ty...,” ele suspirou

fracamente.

“Não,” Ty rosnou quase com raiva, com os joelhos fracos e as mãos dormentes por

perderem sangue por muito tempo. “Não se atreva.”

Se empurrando para longe, Zane virou e caiu de joelhos, vomitando violentamente,

estava muito longe, drogado para se sentir constrangido ou preocupado. Tudo o que podia fazer

era tentar respirar. Atrás dele, Ty caiu de joelhos novamente, incapaz de permanecer em pé.

Ele abaixou a cabeça e estremeceu. Depois de um momento se forçou de novo e puxou

Zane de pé com dificuldade.

“Eu preciso de você, Ty, mais do que qualquer coisa,” Zane admitiu com a voz rouca

quanto o elevador entrou a vista.

Ty fechou os olhos, se inclinando contra Zane, os unindo mais com as palavras

inesperadas. Ele pegou mais do peso de Zane para si mesmo e praticamente arrastou seu

parceiro ofegante até as portas do elevador de serviço. Até o momento que conseguiu levá-los

para dentro, ele orou por ajuda, Zane não estava mais respirando.

465
Capítulo 16

Ty caminhava lentamente pelo corredor estéril do hospital, observando seus pés com

cuidado, para não pensar muito sobre por que ele estava aqui. Depois de Ty atravessar o que

achava ser o corredor mais longo da história, ele encontrou a sala e entrou pela porta,

inconscientemente, mordeu os lábios, enquanto olhava para a figura imóvel na cama.

Ele engoliu em seco e fez o seu caminho lentamente pelo quarto, parando ao lado da

cama e olhando para baixo. Zane parecia horrível, sua pele estava manchada com feios

hematomas, e estava de uma cor cinza insalubre sob a luz suave do quarto do hospital. Ty lutou

contra a vontade de sentir pena de si mesmo, quando se sentou ao lado da cama e olhou para a

miríade de tubos e IVs anexados nas mãos e nos braços de Zane.

Zane não tinha percebido o quanto que ele tinha rasgado as mãos tirando todos os tijolos

do inferno, e o maior ferimento, era o seu braço quebrado, que tinha passado pela cirurgia para

corrigi-lo.

As bandagens em volta de suas palmas e os dedos estavam brancos, contra seu

bronzeado.

Ele estava no hospital há uma semana e ainda parecia muito mal; a morte a espreita. E o

pior clichê, era a overdose, foi o que caiu pior sobre ele. No momento em que os paramédicos

haviam chegado a eles, Zane estava em uma parada cardíaca completa.

Mas ele estava vivo, e isso era tudo o que Ty se preocupava. Ele se sentou em silêncio,

apenas observando Zane, enquanto ele dormia. Depois de um tempo, sua visão se desfocou e ele

se manteve simplesmente olhando para o cobertor do hospital que cobria o corpo de Zane,

quando se sentou ao seu lado.

466
“Hey.”

Ty fez uma careta ao ouvir seu nome suavemente.

Ele não tinha tido a chance de ver Zane, quando ele foi tirado do elevador de serviço.

Durante a semana passada, ninguém o deixou ver seu parceiro, até que ele mesmo oficialmente

se liberou, e deu alta a si mesmo. Apenas diziam a ele que Zane estava vivo, e deixaram por isso

mesmo. Durante o tempo em que foi confinado em sua cama de hospital, Ty encontrou um

monte de tempo para pensar sobre o que queria dizer a Zane. Sempre consciente dos ouvidos

curiosos e olhos ao seu redor, porém, engoliu as mais ternas palavras que poderia ter dito. Ele

não se sentia bem em sua língua, de qualquer maneira.

“Hey,” ele repetiu oco.

Os olhos escuros de Zane estavam fundos, mas, estavam abertos, claros e focados.

“Como você está?” ele sussurrou.

“Horrível,” Ty conseguiu responder com um sorriso fraco. “Eles me dizem que eu não

estou autorizado a dar uma surra ainda.”

Uma sobrancelha lentamente subiu em questão. “Beije minha bunda, que você disse?” Os

olhos de Zane brilharam e o canto de sua boca virou-se ligeiramente.

Ty olhou por cima do ombro de forma rápida e, em seguida, se levantou para pressionar

um beijo nos lábios de Zane. “Pensei que tinha perdido você,” murmurou em tom de acusação.

Zane se iluminou um pouco depois do beijo. “Eu sou muito teimoso para morrer quando

eu tenho uma razão para viver,” ele murmurou, observando Ty com reverência.

“Você está bem ficando melhor,” Ty murmurou quando ele se sentou, mantendo as mãos

juntas, como se quisesse fazer alguma coisa com elas.

“Porque eu vou bater a merda em você mais tarde.”

“Promessas, promessas,” disse Zane baixinho. “Devo-lhe um inferno de uma surra,

também.” Ele parou por um momento, enquanto apenas se olharam.

467
“Quer fazer isso mesmo?” Ty fez um show, pensando sobre a oferta e, em seguida, deu

um leve sorriso.

O sorriso caiu lentamente, e ele olhou sério para Zane. “Você está saindo daqui, certo?”

ele perguntou suavemente.

“Sim, você vai esperar por mim, certo?” Zane perguntou.

Os lábios de Ty se comprimiram em uma linha fina e ele desviou o olhar, com um rubor

culpado. Zane inclinou a cabeça para o lado, e seu sorriso ficou um pouco triste.

Depois de tudo o que passaram depois, depois do que acabou de dizer, parecia que a

mentalidade militar estava muito arraigada em Ty, para que ele se sentisse confortável;

admitindo o que sentia por seu amante, agora, que a situação calamitosa tinha passado. Zane se

perguntava, se ele ainda sentia alguma coisa.

“De qualquer maneira.” Zane suspirou cansado, deixando seus olhos se fecharem.

“Deixe-me saber.”

“Eles não vão me deixar ficar por aqui,” Ty disse baixinho quando abaixou a cabeça.

Zane se acalmou por um longo momento, e então abriu os olhos para ver Ty à beira do

leito, com a cabeça baixa. “‘Eles estão sendo apenas o Bureau,” ele disse, sem questionar.

Ty olhou para ele com desespero aberto, como se estivesse implorando que Zane lhe

dissesse o que fazer.

Pura alegria se inchou silenciosamente dentro de Zane. “Você não quer ir,” ele percebeu,

levantando sua mão com dificuldade para acariciar o rosto de Ty.

“Não agora,” Ty sussurrou com algo próximo à indignação. “O que você está pensando?

Que vou me afastar dessa sua bunda depois de tudo isso?” ele perguntou incrédulo.

Zane balançou a cabeça lentamente, o sorriso reaparecendo. “Desculpe, estou um pouco

lento, vou culpar as drogas que me deram para combater as drogas,” ele murmurou. Ele não

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tinha que ter medo. De repente, era fácil de aceitar isso. “Você se preocupa com minha bunda,”

acrescentou com a voz baixa, virando os olhos que se expressavam claramente para Ty.

Ty estava em silêncio, os nós dos dedos ficando brancos quando apertou as mãos.

“Preocupo-me,” ele finalmente concordou. “E trate de esquecer isso,” ele repreendeu

suavemente.

Ao invés de responder de imediato, Zane virou a cabeça totalmente para o lado, para que

pudesse descansar e ver Ty ao mesmo tempo. Ele estudou o cabelo dele e o rosto mais fino e

escuro, com barba por fazer. Ele percebeu que Ty deve ter vindo direto para cá depois de ser

liberado, mas para Zane, ele estava lindo. “Ok,” ele concordou, em seguida, lambeu os lábios.

“Então, eles vão nos enviar para algum lugar?” ele perguntou, dando ênfase ao “nós”.

“Teremos uma palestra de circuito,” Ty respondeu amargamente. “Mais uma vez”. Ele

desviou o olhar e, em seguida, baixou a cabeça, corando profundamente. “Eles não podem me

colocar em um caso até... Terem a certeza que não vou pirar no escuro.” Ele suspirou e fechou os

olhos, incapaz de olhar para cima. “Eles tiveram de deixar uma lâmpada acesa,” admitiu

timidamente.

“Vamos lá, olhe para mim Ty,” Zane murmurou.

Ty não respondeu e apenas abriu os olhos, para olhar o fino cobertor sobre o corpo de

Zane, e depois do que pareceu uma eternidade, levantou lentamente os olhos para encontrar os

de Zane.

“Você é um homem corajoso,” Zane disse asperamente. “E espero que a próxima vez que

estiver com você no escuro, você vai me deixar te abraçar,” disse Zane.

“Você vai ter que fazer isso,” Ty respondeu com uma risada quebrada “Porque todas as

evidências atuais apontam para o fato de que vou chorar como uma menina.”

“Tudo bem,” Zane murmurou, sem humor, levantando o braço esquerdo para que

pudesse acariciar o rosto de Ty suavemente com os dedos trêmulos. “Ainda quero você.”

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Ty olhou por cima do ombro nervosamente e depois de volta para Zane culpado.

Zane sorriu, seus olhos brilharam para a porta fechada. “Não se preocupe,” ele disse em

voz baixa. “Não há ninguém observando.”

A expressão de dor tomou conta do rosto de Ty antes que ele desviasse o olhar

novamente.

Zane assentiu, relaxando um pouco contra os travesseiros. “Eu entendo,” ele disse

suavemente. Ele não tinha o hábito de quebrar; baixou o braço e o encostou na cama novamente.

“Quando você vai embora?”

“Agora,” Ty murmurou incapaz de olhar para cima.

A respiração de Zane parou por um longo momento, até que ele se obrigasse a exalar.

Não havia mais nada a dizer. E nada mais a ser feito.

Mais uma vez, ele teria que assistir Ty indo embora, e não podia fazer nada dessa vez.

“Um beijo rápido antes de ir?” ele pediu sabendo que seria difícil para Ty, quando ele estava tão

verdadeiramente na borda, da forma como estava agindo.

Ty fechou os olhos e estremeceu. “Eu quero você,” ele sussurrou. “Eu quero que você me

encontre assim que estiver livre” ele murmurou enquanto olhava para cima.

Zane assentiu e observou a batalha guerreando nos olhos castanhos e expressivos de Ty.

Doeu mais do que tinha esperado. “Cuide-se,” ele disse, quebrando o passado de seu

esgotamento.

Ty impulsivamente se aproximou e alisou o cabelo de Zane para trás de sua testa. Ele

ficou de pé, e se curvou para pressionar um beijo na testa. “Nós ainda podemos escapar,” ele

murmurou contra a pele quente.

Engolindo em seco, Zane estremeceu quando a esperança passou por ele. Esperança para

algo diferente que o caso ocasional, o que passaram um com o outro durante o trabalho. Ele tinha

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que tentar ignorar o aperto que sentia ao pensar em deixar seu trabalho suado e bem-amado para

trás. “Basta dizer a palavra,” ele disse densamente.

Ty fechou os olhos, apertando os dedos no cabelo de Zane. Ele estava propondo que

ambos desistissem do trabalho que amavam; desistir de tudo o que sabiam fazer. “Podemos abrir

uma loja de flores e orquídeas, e vendê-las no mercado negro,” ele ofereceu com um ligeiro

percalço em sua voz.

Zane sorriu com a brincadeira, embora soubesse que era o mecanismo de defesa de Ty.

“Basta dizer a palavra,” repetiu em voz baixa, embora soubesse que Ty nunca a diria, e se

perguntou o que ele próprio faria se chegasse a esse ponto. “Vá em frente, vai, enquanto estou

muito drogado para impedi-lo.”

“Mesmo se eu sair agora, eu não poderia ficar mais aqui,” Ty respondeu quase na

defensiva, como se estivesse tentando convencer a si mesmo de ir. “Eu não poderia ficar com

você.”

Calmo em face da luta interna de Ty, Zane assentiu. “Você está certo,” ele disse

calmamente.

Ty se moveu rapidamente e deu um beijo na boca de Zane. “Tenha cuidado Zane,” ele

respirou, então, se levantou e rapidamente se afastou da cama do hospital, sem olhar para trás,

enquanto desaparecia pela porta.

A moto acelerou ao longo da Interestadual 35, sob a luz do sol brilhante, habilmente

pilotada pelo condutor usando couro marrom, e um capacete full-face. A moto se movia

constantemente em meio ao trânsito tranquilo. O piloto alcançou e tocou um botão, quando o

fone de ouvido em seu capacete indicou um telefonema.

“Garrett,” ele gritou por cima do barulho do motor.

“Garrett Agente Especial.”

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Zane piscou e olhou de um lado para outro quando desacelerou a moto. “O que você

quer Burns? Estou de férias.”

“Sim, eu sei, cinco meses em Miami e você ganha três semanas de férias, como você está,

Zane?” Ainda mais surpreso ao ser chamado pelo nome, Zane inclinou a cabeça. “Eu estou bem,”

ele respondeu com cautela.

“Onde você está, pode dizer?”

“Em casa,” Zane respondeu lentamente.

“Como está o Texas? Está quente?” Burns perguntou educadamente.

“Não, estamos no meio de uma nevasca,” Zane brincou.

“Bem, sua sagacidade é tão acentuada como um maldito palito quebrado,” disse Burns

com um suspiro. “Suas férias terão mais quatro dias, eu quero você aqui em DC na quinta.”

Zane apertou os lábios enquanto guiava a moto na saída da Intersestadual, para uma via

menor. “Você é o chefe,” ele finalmente disse.

“E você não vai voltar para Miami,” disse Burns apaziguador.

“Miami é uma fossa,” Zane murmurou inconscientemente repetindo um sentimento que

parecia ter passado anos atrás.

“Esteja aqui em cinco dias, a Secretaria vai pagar o transporte, se você quiser; coloque em

sua cabeça a possibilidade de alguns trabalhos fáceis e um parceiro enquanto você está nisso,”

Burns instruiu.

O estômago de Zane apertou dolorosamente. “Eu já lhe disse, não quero um novo

parceiro, o que aconteceu com o meu velho parceiro?”

Burns geralmente o ignorava quando ele perguntava sobre Ty, mas, agora ele limpou a

garganta e disse: “Isso é confidencial, vou vê-lo em cinco dias, Garrett.” E o diretor assistente

desligou.

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Zane teve de se forçar a prestar atenção no tráfego quando seu estômago se agitou, não

queria que outro parceiro. Ele só queria Ty.

“Deus... Ty.” Quase seis meses se passaram, e nem uma palavra, nem uma mensagem.

Nada além da esperança cega para continuar. O trabalho tornou mais fácil esquecer, mas, depois

de ser ferido uma segunda vez em Miami neste último trabalho; Zane se afastou do perigoso

trabalho depressivo e descobriu que era melhor ouvir o pedido de Ty, para ter cuidado ou ele

cortaria suas chances de vê-lo novamente. Ele pediu férias e uma transferência, e, pela primeira

vez em cinco anos, voltou para casa, para o Texas.

Essas três últimas semanas foram cheias de memórias; antigas e novas, boas e más. Ty

estava sempre ali, à beira de sua periferia, e Zane sentia que uma parte de si estava faltando.

Quais eram as chances de Burns colocá-lo de volta junto a Ty? Zane estava sem nenhuma notícia,

absolutamente nada, mas, estava otimista. Se Zane foi colocado de volta à ativa, então, poderia

ter acontecido o mesmo com Ty. Ty era operacional, afinal de contas, e o seu trabalho o

classificava e o confirmava. Mas ele não poderia ter sido deixado esperando, Burns pelo menos,

poderia estar disposto a dizer-lhe como entrar em contato com Ty, quando faltavam apenas cinco

dias.

A moto acelerou para fora da cidade, dando tempo para o piloto pensar.

TY estava sentado no final do bar, observando os Orioles pela TV perdendo novamente,

enquanto bebia um Sam Adams. Ele conhecia o bartender pelo nome, sabia o nome da garçonete.

Sabia o nome do cara bêbado jogando dardos no alvo no canto. Tinha passado muito tempo neste

bar.

“Quer outro, querido?” Cindy perguntou enquanto se inclinava contra o bar ao lado dele,

com uma bandeja de copos sujos e garrafas de cerveja vazias descansando em seu quadril.

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Ty olhou para ela e balançou a cabeça, oferecendo um sorriso fraco. Ele deslizou a cesta

vazia de chips em direção a ela, e ela sorriu para ele enquanto continuava o seu caminho. Ty

olhou para a televisão, assistindo, mas não vendo.

Os Orioles estavam péssimos nesta temporada. Finalmente, esvaziou a cerveja, colocando

o copo vazio com uma batida, junto a uma nota de cinquenta.

Ele acenou para as pessoas que pensavam que o conhecia e saiu para o ar quente da

noite. Ele suspirou e se afastou do canto onde os táxis faziam ponto, caminhando em direção a

sua casa, em vez de ir em linha reta, pegou um caminho mais longo; era uma boa caminhada,

mas Ty não se importava. A caminhada o ajudava a abafar uma parte dele, que rezava para que

um dos carros ao longo da estrada estreita o acertasse, quando atravessava para o outro lado da

rua.

A vida não era mais divertida. O trabalho não era mais divertido. Os maus podiam fugir,

porque para ele, não valia nem a papelada. Ele não conseguia nem assistir ao jogo de baseball,

sem sentir a necessidade de cortar os pulsos.

Foda, estúpido.

Ele tinha verificado que Zane voltou para Miami, para um trabalho secreto onde Ty não

poderia contatá-lo. Eles não poderiam tê-lo mandado de volta lá, a menos que ele tivesse

aceitado, e Ty ficou com nada, mas, se perguntava por que Zane faria isso.

O telefone celular em seu bolso de trás começou a vibrar, enquanto caminhava

lentamente, apreciando a noite. Ty resmungou baixinho, pegou o celular e o abriu, respondendo

com um negligente, “O que foi?”

“Pare de andar,” disse a voz do outro lado da linha “E me espere para buscá-lo.”

Ty parou e engoliu em seco, resistindo à vontade para olhar ao redor. “Você está me

seguido?” ele perguntou incrédulo.

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“Só quando você está pensando em sair sem permissão,” O Diretor Assistente Burns

respondeu com um sorriso em sua voz.

Ty fervia, quando um carro preto Yukon Denali parou no acostamento, estacionando ao

lado da calçada e esperava pacientemente por ele. “E quando foi isso?” ele exigiu em um

rosnado.

“Meia noite, quatro horas atrás,” Burns falou com conhecimento de causa. “Como estão

os dedos quebrados?”

“Quebrados,” Ty grunhiu em resposta. “Por que estou sendo seguido?”

“Você tem uma nova missão.”

“Mas,”

“Señor de la Vega teve um acidente de avião desagradável no Caribe”

Burns informou com voz baixa. “Parece que o mecânico que trabalhava em seu avião,

ficou com alguns dedos quebrados, ninguém o conhecia, e ele nem soube apertar todas as porcas

e parafusos; agora, entre no maldito carro e me deixe levá-lo para casa, eu quero você em DC ao

meio-dia.”

“Você e seus novos trabalhos podem ir se foder, Dick,” Ty resmungou. “Meus dedos

estão machucados, e o mais importante, não vão se levantar por si só.”

“Portanto, os mantenha unidos, como em um rebanho,” aconselhou Burns divertido.

Ty bufou. “Rebanho de pássaros, é engraçado,” ele murmurou desconsoladamente para

si mesmo, enquanto olhava para o veículo do governo teimosamente.

“Ty,” Burns suspirou, sua voz assumindo o tom do mentor que já foi um dia. “Não jogue

tudo o que você ama pela janela, hein? Você amarra as suas pontas soltas, e você pode começar a

torturar o seu novo parceiro de amanhã; ao meio-dia, vejo você depois,” ele disse antes de

terminar a chamada.

475
Ty olhou para o telefone, como se tivesse sido ofendido de alguma forma, depois olhou

para o agente, pacientemente esperando por ele, com a porta traseira do Yukon aberta.

A mandíbula de Ty se apertou quando olhou para cima e para baixo da calçada.

Finalmente, suspirou e se arrastou onde o veículo estava esperando, deslizando na parte de trás

do carro, sem dizer uma palavra.

Zane ignorou a oferta de transporte de Burns, e ao invés de passar mais alguns dias com

seus pais, pegou sua moto e foi para o leste. Ele realmente não se importava com o tempo que

levaria até DC. Depois de tudo, Burns não tinha especificado.

Ele parava as noites ao longo do caminho e tentava não pensar sobre o que estava

esperando por ele. Um novo parceiro.

Depois de passar alguns minutos depois do meio-dia, Zane entrou no estacionamento do

Bureau e mostrou sua identificação. Uma vez que estacionou, teve uma incrível sensação de déjà

vu. Ele tinha chegado assim da última vez, na mesma moto, com o mesmo tipo de jaqueta de

couro. Sua mãe insistiu para que ele cortasse o cabelo, embora, estivesse aparado e arrumado

mais uma vez, ele tinha muito mais cicatrizes. Não tinha contado a ninguém sobre isso. Ninguém

para conversar realmente.

Franzindo o nariz, Zane deixou o capacete no assento e fez o seu caminho para dentro do

prédio, resmungando para si mesmo.

Com todos os seus contatos, ele conseguiu apenas descobrir, que Ty tinha sido liberado

do Walter Reed no dia que Zane o vira pela última vez, mas, em seguida, ele entrou em um beco

sem saída. Como era possível Ty simplesmente sair do hospital e desaparecer, ele não sabia;

agentes em missão, geralmente eram muito mais fáceis de encontrar, através da Casa. Ele não

participou do circuito de palestras como tinha dito que faria, isso era certo. A única coisa que

Zane poderia imaginar era que Ty estava trabalhando em algo fora dos livros, nem mesmo à

paisana, mas, algo grave e coisas do tipo, e isso significava que ele não seria encontrado. Foi

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frustrante como o inferno, o quanto Zane procurou por ele. E agora aqui estava, diante de um

parceiro que não queria, e em um trabalho que rapidamente estava se tornando algo que não o

atraia tanto.

“Bom te ver bem, Agente Especial Grady,” a secretária cumprimentou com sinceridade

quando Ty entrou no escritório.

“É bom ver que o meu pau ainda se mantém firmemente apresentado, Princesa,” Ty

respondeu enquanto passava por ela e acenou, indicando a sala de Burns, para anunciá-lo; Ela o

fitou com raiva e apontou para o interfone para anunciá-lo.

Ty entrou no escritório de Subdiretor e parou. Nas últimas cinco ou seis horas atrás, ele

se permitiu esperar que seu novo parceiro fosse o seu antigo. Que Burns, finalmente tirou Zane

daquele inferno em Miami e o trouxe de volta para a unidade de Crimes Especiais. Mas, agora

viu com uma sensação de afundamento, que seu novo parceiro já estava aqui, sentado em uma

das cadeiras opostas a Burns, com uma carteira de couro no colo, tomando notas.

Santo Jesus! Ele estava tomando notas.

O jovem olhou para cima do seu ombro para estudar Ty, quando Burns começou a falar.

“Agente Especial Grady, obrigado por se juntar a nós, este é David Reese”.

O homem loiro se levantou, segurando a pasta contra seu peito, e ainda tinha uns

brilhantes olhos verdes, que apareciam através dos óculos de aro. “Agente Especial Grady,” disse

Reese. “É muito bom conhecê-lo.”

Ty permaneceu plantado onde estava, olhando para o garoto, e depois encarou Burns

com indignação pura, brilhando em seus olhos. “Que merda é essa?” ele perguntou.

Reese piscou e olhou para Burns, que estava sorrindo. “David é um júnior em

Georgetown, ele está estagiando comigo neste verão, diga olá, Ty” O Subdiretor ordenou

agradavelmente.

Ty olhou para ele, um pouco perplexo quando olhou para o garoto.

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“Merda,” ele finalmente murmurou em tom de desculpa, quando se aproximou e pegou

a mão em saudação. “Eu pensei que você fosse o meu novo parceiro,” ele disse com uma risada.

“Jesus,” Reese murmurou enquanto apertava a mão de Ty. “Já sinto pelo o seu novo

parceiro, homem, ele vai cagar nas calças.”

Burns bufou.

“Sim, bem, ele também não vai parecer ter doze anos, então ele vai ficar bem,” Ty bufou

em troca.

Reese sorriu levemente, mas não parecia se divertir com a piada sobre sua idade.

“David, o Agente Especial Grady aqui é um dos agentes mais não convencionais que

você pode encontrar aqui no Bureau, não o inclua em seus exemplos,” Burns advertiu com um

sorriso quando se inclinou para trás em sua cadeira.

Reese acenou e sorriu ironicamente. “Espero que não, senhor,” ele respondeu. “Eu nem

imagino como você trata os novos recrutas.”

“Nós os alimentamos com os militares,” Ty resmungou quando se aproximou e sentou

na cadeira vazia. “Então, onde está esse idiota, afinal?” ele perguntou com o cenho franzido.

“Você não pode me dizer que eu sou o único que chegou na hora certa.”

“Na verdade, você está na hora, embora ele não esteja muito atrasado, a segurança me

informou, que ele chegou há alguns minutos atrás,” disse Burns, então olhou para Reese. “Você

vê, David, um dos trabalhos mais árduos que temos aqui é descobrir como reunir os agentes que

trabalham juntos; o Agente Especial Grady aqui, se apresenta um desafio particularmente difícil,

como eu tenho certeza que você pode imaginar.” O jovem olhou para Ty, obviamente, concordar

com o sentimento.

Burns inclinou a cabeça quando ouviu a porta externa ser aberta e passos ecoando para a

porta do escritório, que se abriu e Reese virou com curiosidade. Ty estava quase com medo de

fazer o mesmo, mas a curiosidade levou a melhor sobre ele.

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Zane Garrett já estava no batente da porta, com os olhos mirando intensamente Ty.

“Agente Especial Garrett, como é encantador você se juntar a nós,” Burns, demorou.

“Este é David Reese, meu mais novo estagiário, acredito que você já conheça o agente especial

Grady.”

Após uma breve pausa, Zane assentiu levemente.

Ty se viu lutando para dizer algo, enquanto piscava estupidamente para Zane. A falta de

reação era desconcertante; Ty tinha tentado todos os truques em seu livro, tentando encontrar

uma maneira de entrar em contato com Zane, depois que a licença médica tinha terminado. Mas,

uma operação secreta superou as emergências familiares, mesmo falsas, e Ty não foi capaz de

chegar a algum lugar, antes de suas próprias atribuições começarem. Ele se encontrou

perguntando, não pela primeira vez, se Zane recebeu uma atribuição, por que sabia que iria

mantê-lo com um propósito, apenas para ficar longe dele, após a névoa das drogas terem

acabado.

“Bem, David, é hora do seu próximo compromisso,” disse Burns incisivamente,

mandando o aluno para fora da porta, passando por Zane. O Diretor Assistente fechou a porta

atrás dele e se virou para olhar os dois homens. O escritório estava tranquilo.

Ty finalmente engoliu seu choque e olhou de Burns para Zane incerto. “Hey,” ele

ofereceu.

Zane olhou para Burns, e de volta para Ty. “Oi,” ele disse com a voz baixa, olhando para

a expressão de Ty.

E parecia não haver mais nada a dizer, Ty finalmente olhou para baixo, sem vontade de

encontrar os olhos ilegíveis de Zane.

“Bem,” disse Burns quando se moveu em sua cadeira atrás de sua mesa. “Garrett, você

pode optar por se deslocar de Arlington, para um lugar mais próximo de sua nova atribuição; a

Secretaria vai pagar pelas acomodações temporárias, até que você encontre um lugar para se

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estabelecer em DC, a papelada está no e-mail,” disse quando acenou com a mão no ar, embora

não houvesse a menor torção de um sorriso em seus lábios.

Zane piscou surpreso e esperou com ansiedade em seus olhos. “Você está... Nos

mantendo como parceiros?”

“Contanto que vocês não explodam nada ou matem ninguém, sim,” respondeu Burns,

com algum divertimento, quando Ty olhou de volta para Zane, com surpresa. “Vocês vão

trabalhar na área de DC, por enquanto, no trabalho secreto, sem grandes casos até que estejam

um tanto... Mentalmente estáveis” disse com um sorriso irônico.

“Isso quer dizer que será uma parceria permanente?” Ty perguntou com a voz baixa e

um pouco rouca. Burns apenas riu e se recostou na cadeira novamente.

Zane que teve que tirar os olhos de Ty disse. “Nenhuma objeção,” em voz baixa.

“Ótimo!” Burns respondeu com um sorriso. “Agora deem o fora do meu escritório,” ele

disse como o sorriso, e voltou para a sua carranca habitual. “E tomem uma merda de banho,” ele

ordenou. “Os dois.”

Zane deu um passo desajeitado para trás, observando Ty novamente, e deu um passo

para trás, para pegar a maçaneta; abriu a porta e esperou. Os lábios de Burns se contraíram

enquanto ele observava, e balançou a cabeça levemente.

Ty olhou para o Diretor Assistente com incerteza e, em seguida, assentiu

obedientemente, olhando para Zane enquanto passava por ele, para fora da porta. Zane o assistiu

por todo o caminho e, em seguida, fechou a porta quando saíram. Ele estava completamente

alheio ao secretário olhando para eles.

Ty deu uma parada e se virou para encontrar os olhos de Zane. Ele olhou para o

secretário e depois de volta para Zane, voltando a se manter em movimento, sem dizer nada.

Depois de um momento de pausa, Zane piscou e foi atrás dele, em direção ao corredor, o

encontrando no elevador.

480
Ty estava com a cabeça para baixo, esperando as portas se abrirem. “Como tem

passado?” ele perguntou com a voz baixa, sem olhar para cima.

Zane se lembrou dos seus longos cinco meses no inferno em Miami. “Uma merda,” ele

respondeu no mesmo tom suave. “E você?”

Ty olhou um pouco para cima, mas não respondeu. As portas se abriram, e entraram no

elevador. Zane não hesitou em segui-lo, apertou o botão para o estacionamento, e as portas se

fecharam. “Eu tentei entrar em contato com você,” Ty finalmente murmurou sem olhar para

Zane. “Disseram que você estava inacessível, você voltou para Miami,” ele disse com amargura,

a voz em um tom quase acusador.

“Eu não tinha muita escolha, era isso ou o Novo México,” disse Zane; ele não tentou se

desculpar. “Eu... Eu não sabia que você estava me procurando, fomos enterrados.” Ele se

encostou contra a parede. “Eu liguei algumas vezes, mas não me disseram nada sobre você,” ele

rosnou.

Ty olhou para Zane de lado, realmente o olhando pela primeira vez.

“Você foi baleado novamente, não é?” ele perguntou em resignação.

Zane não tentou mentir, só deixou seus olhos caírem. Ty balançou a cabeça e olhou para

o lado, a agitação em seu estômago era quase insuportável.

“Você conseguiu colocar sua cabeça no lugar?” Zane perguntou quando o elevador

parou e as portas se abriram.

Ty ficou ali, olhando para o deck parking, com uma espécie de distância em sua expressão,

o que era bem comum nos últimos tempos. “Não,” ele respondeu suavemente.

O peito de Zane apertou, estendeu a mão, indicou a porta aberta e acenou para Ty

passar.

481
Ty passou por ele, com a cabeça para baixo de novo, e as mãos nos bolsos enquanto se

dirigia para seu carro; de repente, parou e olhou para cima, inalando profundamente. “Você fez

uma escolha,” ele murmurou.

Zane parou no lugar, e considerou a outra opção. Uma vez, fugazmente. “Não,” ele disse

claramente. “Eu não queria desistir de vê-lo.”

Os olhos de Ty vagaram ao longo do teto de cimento da estrutura do estacionamento,

ainda de costas enquanto considerava a resposta de Zane. “Mas, não valia a pena para sair,” ele

finalmente murmurou como se estivesse falando para si mesmo.

Engolindo a dor, Zane fechou os olhos por um longo momento.

Quando falou, foi com uma voz grosa. “Nós ainda podemos escapar.” Seus ombros se

apertaram. “Mas, agora não precisamos mais.”

Ty ficou lá por mais um momento antes de se virar lentamente para olhar para Zane. Ele

olhou para o couro e as cicatrizes recentes, deixando seus olhos transitarem intencionalmente.

“Você não ouviu absolutamente nada do que disse a você,” ele disse com a voz baixa. “E você?”

Zane se encolheu, e verdadeiro arrependimento foi claro em seu rosto. “Não,” ele disse

miseravelmente. “Não era por muito tempo, mas, eu não estava...” Ele bufou. “Eu não estava

lá...” ele disse fracamente, acenando com a cabeça.

“Você não deveria ter que estar lá para ter cuidado,” Ty rosnou em resposta. “É senso

comum porra, Garrett!” ele gritou de repente, sua voz ecoando através da estrutura.

Nervoso, Zane lambeu seu lábio superior, estremeceu e endireitou os ombros. “O que

você quer que eu diga, Ty?” ele perguntou. “Não vai mudar isso.”

“Eu quero que você diga que sente muito,” Ty exigiu obstinadamente. “E eu quero que

você me diga o quanto está chateado comigo por ter saido, do jeito que fiz!”

“Estava com tanta raiva que vi vermelho por semanas,” Zane admitiu. “Mesmo sabendo

que você não poderia ter feita uma maldita coisa sobre aquilo,” ele continuou com a voz ficando

482
mais alta, quando permitiu a emoção romper. “Eu estava furioso com o Bureau, por ter me

mandado de volta para o inferno, e estava chateado comigo mesmo por deixá-los fazerem isso;

por um tempo, a melhor coisa que poderia fazer, seria esperar por uma lesão, para me mandarem

de volta para a porra do hospital,” ele rosnou furioso, seus olhos piscando. “Eu teria feito

qualquer coisa; qualquer coisa para voltar para você, e não posso dizer que sinto muito por isso.”

Ty exalou lentamente, se acalmando. “Melhor,” ele disse com a voz baixa dando um

aceno com a cabeça.

Tremendo, Zane deu alguns passos em direção a Ty, colocou uma mão em seu peito, e o

empurrou com força contra o pilar de concreto atrás dele. “Isso é tudo o que você tem a dizer?”

ele exigiu com a fúria ainda clara.

Ty se moveu de repente, empurrando Zane para longe, antes de pegar o rosto dele com

as duas mãos e o beijar com força, bem ali na garagem.

Zane recuou alguns passos, quando o peso de Ty bateu nele; perdeu o equilíbrio e pegou

os dois braços de Ty, dando passos para frente novamente, colocando Ty contra a parede. Foi um

beijo gloriosamente violento, que derramava e exprimia toda a sua angústia e raiva.

Ty o agarrava sem pensar, nem mesmo se preocupando com a possibilidade das câmeras

de segurança os capturassem, quando tiravam os últimos cinco meses de frustração um no outro.

Finalmente, empurrou Zane, ofegante. Pressionado por Ty novamente, Zane se virou e deu

alguns passos de distância. Ficou ali, tentando recuperar o fôlego, e limpou a boca com as costas

da mão. “Eu não me arrependo,” ele murmurou enquanto arrastava a mão por seu cabelo curto.

Ty descansou a cabeça contra a parede de concreto e fechou os olhos. “Eu, sim,” ele

sussurrou.

As emoções de Zane se mostraram abertamente em seu rosto; não estava nem tentando

escondê-las. Ele estava ferido, estava confuso, e estava com medo. Pelo que? Ele perguntou, com

dor em sua voz; mas, não conseguia se mover novamente, para ficar próximo a Ty.

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“Partindo,” Ty respondeu quando abriu os olhos novamente.

A frustração e a raiva desapareceram quando Zane deu uma boa olhada nele.

Ele parecia o inferno, estava bronzeado o suficiente para ver que andou em algum lugar

exótico, mas os árduos últimos cinco meses, estavam marcados nele. Seus olhos estavam fundos e

cansados, e o seu rosto estava desalinhado, e mesmo que tivesse dormido, ele ainda parecia

abatido. Três dedos da mão direita estavam quebrados e enfaixados; e a fumaça dos charutos

caros que fumava, estava forte o suficiente para Zane sentir o cheiro.

Zane considerou gritar com ele por não ter se cuidado, mas, simplesmente não estava na

hora. Depois de tanto tempo separados, ele não queria machucar mais.

Lentamente, seus pés se moveram, levando-o para mais perto de Ty, até que ele estava a

menos de um braço de distância. Zane não conseguiu sufocar o suspiro, e resistiu ao desejo de

alcançá-lo e tocá-lo. “Pensei que você devesse ficar melhor com uma licença de convalescença,”

ele murmurou.

“Talvez eu tivesse alguns negócios inacabados para cuidar primeiro,” Ty respondeu com

ironia, a voz baixa e rouca.

“Cristo,” Zane murmurou. “Nós dois estamos parecendo a porra de uma bagunça.”

“Fiquei preocupado com você,” Ty admitiu.

Zane suspirou e abaixou a cabeça, olhando para Ty debaixo de sobrancelhas abaixadas.

A proximidade aliviou sua dor, tanto quanto qualquer coisa. “Eu não conseguia parar de pensar

em você.”

“Por que diabos você não veio para casa?” Ty perguntou, deixando a angústia vazar.

“Pela mesma razão que você foi embora,” Zane sussurrou.

“Porque você não sabia nada sobre orquídeas no mercado negro?” Ty perguntou

fracamente.

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A risada de Zane estava embargada, mas ainda era uma risada. “Alergias?” ele ofereceu,

tentando mergulhar a cabeça para encontrar o olhar de Ty.

Ty ergueu o queixo e fez o contato visual. “Eu bebi,” ele desabafou. “E ainda fumo

cubanos ilegais; e ainda levo garçonetes para casa e as fodo, quando pensava muito em você.”

O ligeiro humor deixou os olhos de Zane, substituído por um olhar muito bem

guardado. Ele não havia tocado uma gota de álcool, não havia ingerido uma pílula, não tinha

fumado um cigarro, porque era isso o que Ty queria. E não conseguiu tocar em qualquer outra

pessoa. Foi à única maneira que encontrou para ficar ligado em Ty, se convenceu de que Ty ainda

poderia querê-lo, quando finalmente se encontrassem novamente. “Será que isso é para me

assustar?” ele finalmente perguntou.

“É necessário que você saiba,” Ty respondeu calmamente.

Zane balançou a cabeça lentamente. “E o que você precisa saber?”

“Você ainda me quer por perto?” Ty perguntou depois de um momento de consideração.

“Sim,” Zane disse Zane, ainda sem tocá-lo como queria. “Você ainda me quer?”

“Sim,” Ty sussurrou a palavra quase inaudível.

Zane soltou um suspiro reprimido e desviou o olhar. “Vamos sair daqui,” ele sugeriu

quando estendeu a mão para Ty. O som das portas do elevador se fechando, fez Ty saltar

imperceptivelmente. Zane empurrou sua mão para trás, então, balançou a cabeça e olhou ao seu

redor; tinha se esquecido de que estava na maldita garagem. “Você vai ter que pegar um carro ou

um táxi,” ele disse em tom de desculpa. “Estou de moto.”

“Estou com o meu SUV,” Ty murmurou. “Eu não sabia que o meu novo parceiro gostaria

de me levar para casa,” ele disse com um sorriso um pouco malicioso.

“Porra, queria ter você desse uma volta comigo na minha Valkyrie,” Zane murmurou.

“Não no inferno,” Ty respondeu instantaneamente. “Tirei essas coisas fora do meu

sistema, há uma década.”

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Zane revirou os olhos e deu um passo atrás. “Merda, Grady, desisti de beber, de me

drogar e do tabagismo só por você, eu não vou dar a minha moto.”

Ty sorriu lentamente, com uma sugestão de travessuras em seus olhos.

Zane cruzou os braços teimosamente, de mau humor.

“Bem, isso é impróprio,” Ty murmurou quando estendeu a mão e pegou o cotovelo de

Zane. “Venha comigo,” ele sugeriu com um sorriso. “Vamos para casa, depois pegamos a moto.”

“Bem!” Zane deu um suspiro e começou a caminhar ao lado dele. “Mas, nós vamos

andar com a Valkyrie.”

“Tudo o que você quiser parceiro,” Ty murmurou agradavelmente.

O sorriso de Zane estava grande e bobo. “Então, Baltimore hein? Acha que iremos

encontrar alguma ação por lá?” Ele perguntou quando Ty o levou em direção a um Ford verde e

antigo.

“Talvez,” respondeu Ty sério. “Quando os Ravens perdem você pode encontrar um bom

número de pessoas bêbadas vagando pelas ruas, à procura de conforto físico sem sentido, e as

duas vezes que ganharam no ano passado, foi o Ó de muito emocionante.”

“Você é um fã dos Ravens?” Zane perguntou quando abriu a porta do passageiro. Ele fez

uma pausa enquanto olhava para o banco do passageiro e a porta que ele segurava, e tentou

acalmar uma centelha de seu medo irracional. Era por isso que ele andava de moto quase

exclusivamente agora, a lógica que se dane, com a moto se sentia mais seguro do que em um

carro. “Quero dizer, você é um... Um fã f-futebol?” ele se forçou, inconscientemente esfregando

seu braço direito quando entrou no carro.

Ty o olhou quando o ouviu gaguejar. “Os Ravens entraram para a história, você sabe,”

ele disse enquanto observava Zane; ambos tinham as suas cicatrizes, por dentro e por fora. Ele

podia ver isso agora.

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Zane encontrou seus olhos e lentamente relaxou. “Não,” ele disse calmamente. “Eu não

sabia disso.”

“Eu aposto que há muita coisa que você não sabe,” Ty disse a ele com um pequeno

sorriso provocante.

Os cantos da boca de Zane apareceram. “Sim,” ele concordou.

Uma vez que estavam na estrada, Ty estendeu a mão e alisou os dedos Zane hesitante.

Seu polegar esfregou distraidamente sobre o anel de casamento que Zane ainda usava, então,

apertou a mão dele e manteve os olhos na estrada movimentada, não mencionando o anel ou

todas as complicações que a sua nova parceria poderia acarretar. Ty tirou os olhos da estrada,

pelo tempo suficiente para olhar para Zane e dar um sorriso torto. “Será mais fácil para dormir

esta noite,” ele disse baixinho.

“Sim, será.”

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