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Copyright © 2021 - EVA K

Capa: Mellody Ryu


Revisão: Eva K. e Christine King
Diagramação: Fabi Dias

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos


descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
___________________________________
VOLTA, RITA
1ª Edição - 2021
Brasil
___________________________________
Todos os direitos reservados.

São proibidos o armazenamento e / ou a reprodução de qualquer parte dessa


obra, através de quaisquer meios ─ tangível ou intangível ─ sem o
consentimento escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e


punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Sumário
APRESENTAÇÃO
RITA
PRÓLOGO
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
SOBRE A AUTORA
OUTROS LIVROS DA AUTORA
REDES SOCIAIS
Este conto é uma sátira à música mais genialmente ridícula que ouvi

nos últimos tempos. No meio de algumas taças de vinho, escutei, vinda de


algum lugar, a música que está envenenando as rádios, bares e bailões no
momento.

A música “Rita”, do cantor e compositor Tierry, virou febre e está


invadindo, sem pedir licença, os ouvidos mais puritanos.

Involuntariamente, comecei a rir sem conseguir me controlar e me


peguei imaginando a situação fática descrita na música.

A tragicomédia me seduziu e ali mesmo nasceu o cerne deste conto.

Minhas histórias são românticas, temperadas de hot e recheadas de humor.


Mas tive que fazer algumas adaptações no estilo da minha comédia para se
aproximar mais do estilo da música, por isso deixei os elementos cômicos
mais dramáticos.

Por esse desvio, já peço desculpas, embora não me arrependa.

Com todos esses elementos, espero que se divirtam e tenham


usufruam de muitas emoções com essa leitura.

Aproveitem sem moderação.

*Livro indicado para maiores de 18 anos.


RITA
De Tierrey

Sua ausência tá fazendo mais estrago que a sua traição

Lê, lê, lê
Minha cama dobrou de tamanho
Sem você no meu colchão

Seu perfume tá impregnado nesse quarto escuro


Que saudade desse cheiro de cigarro e desse álcool puro
Rita, eu desculpo tudo

Oh Rita, volta, desgramada

Volta, Rita, que eu perdoo a facada


Oh Rita, não me deixa
Volta, Rita, que eu retiro a queixa

Oh Rita, volta, desgramada


Volta, Rita, que eu perdoo a facada
Oh Rita, não me deixa
Volta, Rita, que eu retiro a queixa

Sua ausência tá fazendo mais estrago que a sua traição


Lê, lê, lê
Minha cama dobrou de tamanho
Sem você no meu colchão

Seu perfume tá impregnado nesse quarto escuro


Que saudade desse cheiro de cigarro e desse álcool puro
Rita, eu desculpo tudo

Oh Rita, volta, desgramada


Volta, Rita, que eu perdoo a facada
Oh Rita, não me deixa
Volta, Rita, que eu retiro a queixa

Oh Rita, volta, desgramada

Volta, Rita, que eu perdoo a facada


Oh Rita, não me deixa
Volta, Rita, que eu retiro a queixa
SAMUEL

— Volta, Rita! Sua bandida!

Hic!

— Você não presta, mas eu te amo mesmo assim...

Hic!

Minha cabeça está rodando... Meu corpo não consegue se mover e


eu não tenho forças para me levantar desta soleira.

Largado na porta daquela que me traiu, minha humilhação é


completa e começo a cantarolar desafinado:

— �� Oh Rita, volta! Eu te perdoo a facada.


Coloco a mão no braço, onde o ferimento ainda dói.

Minha voz sai sem que eu tenha controle. Sou eu mesmo que estou

pronunciando isso? Como eu poderia perdoar aquela traição que perfurou


meu coração?

Jesus, eu estou tão doido que estou rimando em pensamentos!

Mas, em meu íntimo alcoolizado, eu estou mesmo disposto a perdoá-


la.

Ela me ama, eu sei disso. A traição foi um ato de revolta e vingança


por causa de nossa discussão.

Tenho certeza de que foi um ato impensado e sem significância.


Sim, estou tentando enganar a mim mesmo.

Ela vai se arrepender e vai me pedir perdão.

E eu vou perdoá-la porque ela me ama...

E a facada... bem... era outra questão.

Hic

Está tudo girando...

Flashbacks rondam minha mente.

Eu e ela no parque, passeando de mãos dadas entre as árvores


floridas.
Nós dois no cinema, assistindo um filme e dando uns amassos: sua
mão no zíper da minha calça, provocando minha ereção...

Nosso desespero, jogados no tapete da sala, devorando-nos como


animais...

Beijos cálidos ao final da tarde, assistindo ao pôr do sol na praia...

Não.

Eu não poderia viver sem ela.

Eu teria que perdoar sua traição.

De repente, a porta se abre. Minha cabeça recostada nela cai direto


no chão do assoalho e ouço sinos ribombando.

Meus olhos se abrem lentamente e, de cabeça para baixo, vejo


aquelas pernas lindas mal vestidas em uma saia curta. Por baixo dela, consigo
ver a calcinha que mal encobre o meu paraíso.

— �� Ôh, Rita, volta, desgramada!

Sinto um cutucão. Ela cutuca meu ombro com o pé.

— Levanta daí, Samuel. Vai embora, seu cretino.

Eu? Cretino?

Foi ela quem me esfaqueou, feriu meu coração e me deixou


sangrando... Como posso ser eu o cretino?
Mulher desalmada.

— �� Rita, eu te perdoo!

— Perdoa o quê, abestado? Você que é um idiota. Vá pra casa e me


esqueça. Você é um imbecil que pensa que sabe o que viu. Jogou o que
tínhamos pelo ralo. Vou chamar um Uber pra recolher esse lixo da minha
porta.

— �� Ôh, Rita, não me deixa. Volta, Rita, que eu retiro a queixa.

— Saia daí agora ou levo você algemado para a delegacia.

— Algemado? Hummm... gostei da proposta.

Estiro meus braços para a frente para que ela possa me algemar. Já
havíamos brincado antes com seu equipamento de trabalho. E eu só tinha
boas lembranças.

— Af! Não dá para levar você a sério, Samuel. Eu perderia minha

autoridade duramente conquistada se levasse você para a minha delegacia


assim.

Ela dá um suspiro, abre mais a porta e faz um gesto para que eu


entre.

— Venha, vou te dar um café antes de despachá-lo de vez. Sou uma


boa alma.
O céu se descortina para mim. Uma luz divina atravessa a escuridão
e traz um brilho de esperança para a minha retina.

Estou salvo!!!!
SAMUEL

Esbaforido pela adrenalina da indignação, eu entro na delegacia e me


dirijo ao policial atrás de uma escrivaninha.

— Preciso registrar um furto — falo de supetão entre respirações


ofegantes.

— Calma, meu senhor. Vamos por parte. Por favor, sente-se e


comece do começo.

— O senhor não está entendendo, levaram meus bens mais


preciosos: meus equipamentos de fotografia. Sem eles, não posso fazer um
bom trabalho. Estou fodi...

Percebo que quase falei um palavrão na frente de uma autoridade e

tento remendar:

— Ferrado...

Ele se levanta, aponta para a cadeira em frente à mesa e reitera:

— Senhor, por favor, sente-se que vou colher seu depoimento e


abriremos um processo de investigação.

Eu me sento, mas, ainda agitado, passo as mãos nos cabelos e respiro


fundo para ordenar minhas ideias. Ainda estou cheio de rancor e desabafo:

— Eu teria dado o dinheiro para o filho da mãe para que ele não
levasse meus equipamentos...

— Senhor, não adianta desespero. Aqui na delegacia, recebemos


queixas de crimes muito piores: crimes contra a idoneidade física ou contra a

vida. O senhor tem que agradecer por não ter sofrido qualquer agressão
física, pelo que eu entendi. Então acalme-se e responda às minhas perguntas.

Eita paisinho de merda onde eu tenho que agradecer por não ter
levado uma surra ou levado um tiro. Conviver com tais índices de violência é
uma aventura a cada dia. O policial tem sua razão: sou um sobrevivente e
preciso me conformar com isso.

Tento desacelerar meus batimentos cardíacos enquanto respondo às


suas perguntas.

— Senhor, me dê um documento de identidade e informe seu

endereço para começarmos a relatar os fatos no Boletim de Ocorrência.

Passo minha identidade e indico o endereço do meu estúdio no


Leblon, onde também moro.

Enquanto o policial José Francisco, conforme vejo na identificação,


digita os meus dados, percorro os olhos pela delegacia.

Sendo uma delegacia situada na Zona Sul, ela é até bem cuidada. Sei
que algumas delegacias da polícia civil do Rio são horrivelmente decadentes.
Mas essa está com a pintura em dia, o mobiliário parece novo e os
computadores relativamente modernos. Isso é luxo em se tratando do sistema
de segurança da cidade.

Enquanto eu passo os olhos pelo ambiente, sou atraído pela visão de


uma mulher sentada do outro lado de uma janela de vidro que separava a sala.

Meu olhar parece ter atraído o dela porque, no mesmo instante, seus
olhos castanhos se voltam para mim. São olhos atentos, determinados. Gosto
do que vejo e desço minha apreciação para os lábios finos, bem desenhados,
pintados com um vibrante batom vermelho. Ousada, essa moça, concluo.

Seus olhos escrutinadores também me analisam, mas, em um súbito,


ela corta nossa ligação e volta-se novamente para a pessoa com quem está
falando: um homem gordo, de cara vermelha, que parece estar com uma ira
mal contida.

Desperto da minha avaliação quando o policial começa a me


interrogar. Sim, foi assim que eu me senti dali em diante: interrogado.

— Onde se deu o fato? A que horas? Descreva o que aconteceu. O


senhor viu o meliante?

— Meu carro estava estacionado em frente ao meu estúdio de


fotografia. Coloquei todo o equipamento dentro dele porque ia trabalhar com
eles hoje... — começo.

— Droga, preciso avisar meus contratantes que teremos que adiar as


fotos — conjecturo antes de retomar o fio da história.

— Percebi que o tempo estava nublado e subi rapidamente para


buscar outra lente que achei que seria mais adequada para imagens externas
com este tipo de luz.

Balanço a cabeça desconsolado.

— Talvez, se eu não tivesse esquecido a lente, nada disso tivesse


acontecido.

— Ou talvez o senhor tivesse levado um tiro. Reafirmo: agradeça


que está tudo bem com o senhor — retruca o policial.

Esse espírito “Poliana” do José Francisco não está surtindo muito


efeito em mim. Continuo muito aborrecido.

— Certamente, o senhor tem razão. Mas precisarei de um tempo

para engolir minha indignação.

— Continue com os fatos, senhor Samuel.

— Pois bem, quando eu voltei, poucos minutos depois, o vidro do

meu carro estava quebrado e meus equipamentos haviam sumido. São


equipamentos profissionais, muito específicos e valiosos. Não conseguirei
adquirir outros tão cedo. Tanto pelo custo, quanto pela especificidade. Quase
todos importados.

— O senhor viu alguém suspeito?

— Não. Não vi ninguém. Olhei para todos os lados. Perguntei aos


transeuntes. Se alguém viu, não quis se comprometer.

— Anote aqui neste papel todos os itens que foram furtados. Talvez

possamos identificá-los com algum atravessador.

Bastante desiludido, pois não via como seria possível rever meus
equipamentos, começo a listá-los. Um gemido de sofreguidão sai do meu
peito a cada item do qual me lembro: lentes (aiii), tripé (aiii), drone (ai, ai,
ai)...

— O senhor precisa ter mais fé no serviço de investigação dos


nossos policiais. Tenho um pressentimento que poderemos encontrar tais
equipamentos. — A voz vem do canto da sala onde eu havia reparado na
mulher de batom fatal.

Olho para lá e vejo a tal mulher encostada no batente da porta da


sala de vidro. Ela veste uma calça jeans justa que evidencia suas formas
generosas e sensuais. A camisa branca de alfaiataria mal disfarça os seios
fartos que empurram os botões. Entre os seios está pendurado um distintivo.

Mas, ora vejam, a moça super gata é a delegada.

Tenho vontade de bater continência para ela. Que tolo. Continência é


para militares, não civis. Mesmo assim, eu queria.

— Um pressentimento? Gostaria de dizer que fico mais tranquilo


com isso. Mas não sou muito crédulo de bruxarias — respondo de forma
pouco cordial por causa do mal humor.

Arrependo-me, afinal ela é uma aliada, e é muito gostosa. Então


tento consertar:

— Mas, logicamente, acredito na eficiência dos seus investigadores,


dona delegada. E talvez acredite um pouco em seus dons também, afinal, já
estou hipnotizado.

Caralho! Onde é que eu estou com a cabeça para dar em cima da


delegada de forma tão descarada?

O policial José Francisco tomou a iniciativa de defender a chefe:


— Olha o respeito, rapaz...

Mas a delegada o interrompeu com um gesto de “pare”, com a mão.

— Pode deixar, Zé. Eu me resolvo com o engraçadinho aqui.

Mas antes que tivesse que ouvir um sermão, eu mesmo fiz minha
penitência:

— Desculpe-me, senhora delegada. Foi uma brincadeira infeliz.


Quando estou nervoso, meu cérebro não funciona direito. Saiu sem querer.
Não vai mais acontecer.

Ela me olha de forma avaliativa antes de decidir me dar uma nova


chance.

— Está certo, senhor Samuel. Desta vez, passa. Que não se repita.

Ops, reparo que ela gravou meu nome. Isso é bom sinal, né?

Ela dá uns passos à frente e pega a lista que fiz dos meus

equipamentos que foram subtraídos por um meliante que eu gostaria de


estrangular... só um pouquinho.

— O que eu quis dizer é que equipamentos tão especiais são difíceis


de revender. Existem poucos atravessadores que trabalham com isso... Por
isso há grandes chances de encontrarmos com alguém que já estamos
investigando. Minha “intuição’, na verdade, é uma análise bem pragmática.
Pode ficar tranquilo que não faço bruxaria.
Ela fala com uma expressão bem firme, mas seus olhos parecem
brincalhões. Sinto-me confuso e começo a acreditar que ela tem poderes

sobrenaturais mesmo.

Tenho vontade de dizer: “se quiser, pode fazer bruxarias comigo”.


Mas sou esperto o suficiente para ficar calado.

— O Zé vai terminar de pegar seu depoimento e logo começaremos

as investigações. Faremos o possível para reaver seus instrumentos de


trabalho.

Ela fala, devolvendo o papel à mesa e virando-se para voltar à sua


sala. Não tenho certeza, mas acho que, enquanto anda, ela joga um pouco
mais os quadris para que eu aprecie sua bunda. E que maravilha da natureza...

Concluo meu depoimento e, enquanto o policial termina sua


digitação, telefono para os representantes da fundação ambientalista que
pretende me contratar para um serviço de fotografia de paisagens.

Esclareço o ocorrido e digo que, na parte da tarde, farei um ensaio


usando um equipamento sobressalente que possuo. O equipamento não tem a
mesma qualidade, mas dará para dar uma ideia do meu trabalho.

Estou assinando o depoimento impresso quando percebo, de rabo de


olho, que a delegada passa por mim na direção da porta de saída. Levanto-me
rapidamente, entrego o papel para o Zé e despeço-me.
— Obrigado, policial. Aguardo qualquer informação. Espero que
consigam encontrar meus instrumentos de trabalho. Preciso ganhar a vida.

Tenha um bom dia.

Aperto a mão dele e saio correndo no rastro da delegada.

Lá fora, alcanço a gata com a mão na maçaneta de uma viatura.

— Ei, delegada, eu nem sei seu nome. Gostaria de agradecer-lhe a


atenção.

— Rita, delegada Rita. E não precisa me agradecer. É meu trabalho.

— Mas eu faço questão de agradecer e até retribuir. Posso te


perguntar uma coisa? Flertar com a senhora aqui fora também poderia me
causar problemas?

Percebo que ela foi pega de surpresa. Claro que ela não esperava que
eu fizesse uma nova investida assim tão direta. Mas eu tenho um lema: “na

sedução, é matar ou morrer”.

— O senhor é um irresponsável, sabia? Quase um suicida. Estou fora


da delegacia, mas estou a serviço. Contenha-se, senhor Samuel.

Dito isso, ela se vira para o veículo, abre a porta, senta-se no banco
do motorista e bate a porta.

Mas, em um novo ímpeto, eu me debruço na janela do carro.


— E a que horas a senhora sai do serviço e retira o distintivo?

Ela arregalou os olhos ainda mais surpresa. Deu uma manjada no

meu peito que aparecia parcialmente pela camisa semiaberta, deu uma
suspirada e respondeu simplesmente:

— Encerro o expediente às 18 horas.

— Estarei ali na esquina... ao seu comando, delegada. Serei discreto.

Ela apenas balança a cabeça assertivamente e arranca com o carro.

Por fim, parece que meu dia não foi uma desgraça total. Infeliz no
jogo, feliz no amor. Perdi por um lado, ganhei pelo outro. Talvez ela esteja
apenas debochando de mim, mas prefiro manter a fé.

Caminho até o meu carro com o coração mais aliviado. Estou mais
conformado. Saio na direção do meu estúdio onde vou pegar meu
equipamento sobressalente e fazer o que for possível com ele.

O final desta tarde será promissor e estou empolgado.


SAMUEL

Recostado no meu carro, estacionado a certa distância da delegacia,

aguardo a saída da delegada Rita.

Perto das 18:30, vejo-a sair com uma bolsa e as chaves do carro na
mão.

Ela me vê, dá uma olhada ao redor para verificar se não há mais


ninguém observando e faz um sinal para que eu a siga.

Eu entro no carro, espero seu veículo passar por mim e coloco-me no


seu encalço.

Sinto-me num filme de ação... fazendo uma perseguição policial. Só

que, no caso, é o policial que está sendo perseguido. Rio-me da situação.


Estou me divertindo como uma criança travessa.

Ela segue em direção ao Leblon e estaciona na orla, bem perto da


minha casa. Claro que ela sabe que eu moro por ali. Escolheu o local de

propósito. Está reconhecendo o meu território e, ao mesmo tempo, mantendo-


me longe do dela.

Mulher astuta!

Eu paro atrás dela e descemos juntos do carro. Ela se aproxima e dita


as ordens:

— Você queria uma chance. Estou aqui. Vamos tomar uma água de
coco naquela barraquinha de praia. Vamos ver como você se sai.

Com esse desafio, ela sai rebolando e se senta um uma mesinha de


praia.

— Estou honrado com esse gesto benevolente, senhora delegada.


Mas ainda não sei se você está mesmo me dando uma chance ou brincando
de gato e rato comigo. De toda forma, assumo o risco.

Sento-me ao lado dela na mesinha. Posicionados de frente para o


mar, apreciamos o lindo início da noite que se apresenta no horizonte.
Faço sinal para o rapaz da barraca e peço dois cocos gelados.

— Você deve estar com fome. Saiu do trabalho agora. Essa barraca

tem umas coisas boas de comer. Vou pedir o cardápio para você escolher.

Ela concordou ainda olhando para o mar.

— Conte-me, dona delegada...

— Rita. Aqui, somos Rita e Samuel.

— Sim, claro... Rita.

O nome dela, desacompanhado do cargo, pareceu um presente para


mim. Uma permissão para ir avante.

— Então conte-me, Rita, como foi seu dia? Prendeu muitos


bandidos, salvou muita gente?

— Na verdade, foi relativamente tranquilo, nenhuma grande


operação ou mandados de busca a cumprir. Isso é um alívio. Um dia menos

estressante. E o seu, Samuel? Como foi seu dia de trabalho? Como se virou?

— Não foi muito bom, como pode imaginar. Usei um equipamento


mais rústico do que estou acostumado. Fiz algumas imagens da poluição da
Ilha do Fundão para uma fundação ambientalista. Não foi meu melhor
trabalho, mas, mesmo assim, eles gostaram e me deram o contrato.

— Esse é o tipo de fotografia que você faz?


— Sim. Gosto de fotografia de paisagens e da diversidade cultural
humana. Cursei faculdade de comunicação e me especializei em fotografia,

minha grande paixão. Eventualmente, faço trabalhos encomendados, com


menos liberdade criativa. Mas adoro quando posso expandir meu universo...
Tento promover exposições autorais pelo menos uma vez ao ano.

Encerro minha apresentação pessoal e volto a olhar para a Rita para

tentar captar sua reação. Ela me encara com indiscrição. Percebo que ela
estava avaliando a veracidade e a honestidade das minhas palavras. Quanto a
isso, eu estou tranquilo. Sou sempre sincero em minhas palavras e
sentimentos. Sou até mesmo meio abestado.

Minhas namoradas anteriores diziam que eu tenho alma feminina.

Acho isso sexismo da parte delas. Só porque sou homem não posso
ser sensível? Sou emotivo e romântico. E daí? Já já começo a cantar: “Ser um
homem feminino, não fere o meu lado masculino”.

— Seu trabalho deve ser interessante. Acho que passear por


paisagens e sorrisos deve ser uma aventura enriquecedora...

Ponto pra mim.

— O seu trabalho também deve ser muito interessante. Passear pela


mente humana e seus desvios, lançar-se em uma caçada misteriosa contém
grandes desafios. Acho que também é muito artístico.
Ela me fita um pouco perdida, como se estivesse digerindo o que eu
havia dito.

— Nunca havia pensado sob esse ângulo. Mas acho que você tem
razão.

Ela suspende seu coco, convidando-me a brindar com ela.

— Um brinde aos artistas: ao fotógrafo da linda natureza e à


caçadora da natureza humana.

Levanto o meu coco e brindamos.

— Tim-tim. Que venham lindas aventuras e nenhuma desventura.

Ela apenas sorri para mim, mas seu sorriso aberto, despudorado,
tranquilo e amistoso sinaliza que estamos nos entendendo. O caminho está
sendo calçado com pedrinhas de brilhantes para o Samuel passar.

Estou otimista e feliz. Em meu peito, cresce um sentimento de

conforto e boas novas. Sinto-me aquecido com o seu sorriso e sua


disponibilidade. Tenho vontade de acariciar-lhe o rosto. Mas tenho noção de
que ainda é cedo. Devagar, Samuel.

Mas, fico embasbacado quando ela toma a iniciativa e acaricia meu


queixo com o dedo indicador.

— Sabia que você não era apenas uma carinha bonita. Percebi logo
que por baixo daquele lindo homem frustrado na delegacia, havia algo
aproveitável.

Lindo? Eu? Uau!

Sei que tenho uma boa aparência, as mulheres não escondem sua
cobiça, mas é muito alentador ouvir isso da pessoa que realmente me
interessa.

Por outro lado, acho “aproveitável” um termo dúbio. Quero ser mais
que isso para ela, afinal, sou orgulhosamente um romântico. Mas teremos
tempo. Eu vou me empenhar e chegarei a um degrau mais alto em sua
classificação.

Isso porque também a percebo como algo único e especial. Sinto que
há algo que vai além do meu tesão por aquela raba maravilhosa.

Isso, sim, é bruxaria.

Já estou caído de amores por essa delegada. Sou mesmo uma

manteiga derretida. As mulheres possuem um misterioso poder sobre mim. E


essa superou.
RITA

Depois do nosso encontro na praia, eu e o Samuel fizemos outros


programas, ainda inocentes: fomos ao cinema, saímos para jantar...

Por mim, eu já teria levado aquele espetáculo de homem direto para


a minha cama logo no primeiro dia e devorado ele todinho, sem talheres.

Aqueles bíceps bem torneados explodindo na camiseta, as pernas


musculosas delineadas na calça e o farto volume proeminente no zíper me
faziam ter sonhos eróticos.

Mas deixei que ele fizesse as coisas no seu ritmo. Por alguma razão,
eu estava a disposta a conceder um pouco mais do meu tempo, mais do que
somente a esfregação, o suor e os fluídos embaixo dos lençóis, como costumo

fazer.

Enquanto a gente se mantinha nesse “reme-reme”, ele estava


tentando adquirir novos equipamentos para realizar o trabalho para a
fundação. De outro lado, eu e meus investigadores estávamos fuçando no

meio de atravessadores de mercadorias roubadas, tentando identificar quem


compraria aquele tipo de produto.

Mas minha paciência estava chegando ao fim. Não posso negar: eu


estou muito a fim de “pegar” esse cara. Ele é muito tesudo: alto, corpo bem
torneado, cabelos sedosos e olhos significativos. Seu rosto tem um maxilar
masculino e sua presença é marcante. Mas não era apenas isso. Ele tem um
calor interno que emana de si e ecoa ao seu redor em ondas de testosterona.

É sexy como o demônio.

Hoje eu o convidei para jantar na minha casa. Já era hora de darmos


um passo à frente na nossa brincadeira. Hora de sermos gente grande. Eu o
desejo e sei que sou correspondida. Vejo as chamas em seu olhar. Somos
duas bombas hormonais prestes a explodirem.

Já é hora.
A campainha toca. Abro a porta e lá está ele, lindo, cheiroso e
sorridente com uma garrafa de vinho nas mãos.

Dou-lhe dois beijinhos bem demorados e bem molhados nas


bochechas: meu recado do que nos espera. Ele sorri ainda mais largamente e
aperta minha cintura com força e determinação.

É hoje!!!!

— Entre, Samuel. Venha abrir essa garrafa enquanto termino o


molho do camarão.

Ele entra, analisando o meu apartamento na Barra da Tijuca. É


pequeno, mas moderno e aconchegante. Ele parece aprovar o ambiente.

Segue-me até a bancada da cozinha. Aponto o abridor e ele se põe na


tarefa de tirar a rolha. Coloco duas taças à sua frente e ele nos serve.

— A uma noite feliz e agradável — brindo.

— A uma noite deliciosa e quente — insinua ele.

Que descarado! Mas eu gosto disso nele. É direto e sem


subterfúgios. Muito autêntico e assertivo, sem deixar de ser infantilmente
carinhoso.

Termino de elaborar nosso jantar enquanto beliscamos umas


castanhas e queijos. Sentamo-nos à mesa e jantamos ao som de risadas e pop
rock da década de 80 que descobrimos que somos apreciadores.
O calor sensual está presente a todo momento. Sua camisa aberta no
peito exibe um peitoral malhado e bronzeado, com pelos esparsos. Seus

ombros largos lhe dão um aspecto viril. Suas mãos grandes parecem que vão
destruir a frágil taça onde servi o vinho.

Meus pensamentos voam pecaminosamente.

Já imagino essas mãos percorrendo o meu corpo e se depositando no

meu centro de prazer. Ai, que calor.

Seu rosto expressa pensamentos iguais aos meus.

Ele me olha com lascívia. Derrama seu olhar no vão entre os meus
seios, aparentes no decote do vestido, e escorregam para meu ventre e minhas
ancas... como uma carícia.

Estou exercitando meu controle. Minha vontade é pular em cima


dele e lambê-lo todo.

Levanto-me para buscar a sobremesa. Mas sinto sua aproximação


por trás. Seu corpo se cola no meu.

— Rita. Oh, Rita. Eu não aguento mais esperar. Quero você. Diga,
por favor, que você também me quer.

Ele me abraça apertado. Cola sua ereção na minha bunda. Acaricia


meus seios com as mãos e rosna em meu pescoço, dando pequenas mordidas.

Estou entregue. Minhas entranhas se revolvem. Minhas partes


íntimas ficam molhadas de luxúria. Meus seios se eriçam.

Não haveria necessidade de expressar em palavras.

Apenas esfrego meu traseiro em sua calça e puxo sua cabeça para
um beijo sôfrego.

Elaboramos uma dança primitiva de entrega e prazer.

Eu me viro e ficamos frente a frente. Ele abaixa as alças do meu


vestido e meu tronco fica desnudo, meus seios à mostra.

— Coisa mais linda. Muito mais do que eu mereço — diz ele antes
de abaixar-se e dirigir seus lábios para meu seio e sugá-lo com devoção.

Jogo minha cabeça para trás, facilitando seu acesso. Que delícia!!

— Rita, desde que a vi, sabia que você era especial e que eu
precisava tê-la.

Saio do torpor passivo e também inicio minha ação. Tiro sua camisa

para aumentar nosso contato. Deslizo minhas mãos pelo seu dorso trabalhado
e beijo seu pescoço.

Sinto suas mãos descerem para minha bunda, acariciando-a,


apalpando-a. Rapidamente, ele me ergue em seu colo e segue rumo ao quarto.

Ao ser depositada no chão, não perco tempo e me desvencilho do


vestido. Não uso calcinha ou sutiã, então posto-me como uma vênus,
totalmente nua, para a sua apreciação.

Seu olhar predador me diz tudo que preciso saber. Ele está voraz.

Assim como eu.

Ele retira sua própria roupa e eu quase me engasgo quando o vejo


sem as calças.

Ele precisaria de um porte especial de arma. Ele anda com uma 48


calibre grosso!

Em um reflexo, quase levanto as mãos ao alto.

Ele e sua arma colam-se ao meu corpo. Nossos corpos ser procuram.
Nossas mãos passeiam por nossa pele.

Seus dedos procuram os lábios entre as minhas pernas enquanto


nossos lábios se procuram. Sinto meu ponto sensível ser massageado e
estimulado. Entro em um túnel de prazer.

Nossas bocas trocam salivas e meus fluidos molham seus dedos.


Meu corpo, involuntariamente, se estreita ao seu. Minhas mãos apertam nuas
nádegas firmes e suas costas musculosas.

— Quero você em mim — falo em um tom autoritário. Um deslize


da minha personalidade.

Ele apenas assente.


— Às suas ordens, delegada.

Abaixa-se e pega a camisinha nas roupas largadas no chão, veste a

capa naquela pistola maravilhosa e volta às suas investidas.

Encosta-me na parede e me penetra com voracidade.

Sinto-o entrando em mim como se algo estivesse atravessando as

barreiras do meu corpo e além.

Suas investidas causam um delicioso frisson... sinto comichões em


minha entrada e ela se contrai.

Estou quase lá. Percebo pela sua face contraída e pela pegada firme
que ele também está em desespero. Está se controlando.

Mais alguns movimentos, contrações, lambidas, mordidas, e


entramos em erupção. Sinto espasmos e mais espasmos nas minhas entranhas
e sinto seu corpo enrijecer e me acompanhar. Dentro de mim, sinto seu

membro explodir várias e várias vezes.

Após algum tempo, começo a voltar à terra.

Meu peito começa a se acalmar, mas sinto que sua respiração ainda
está acelerada. Ele parece um trem descarrilhado. Mas, aos poucos, ele
também vai se acalmando.

Nossas testas ficam encostadas enquanto nos recuperamos.


— Mulher, o que é isso que você fez comigo? Rita, definitivamente,
sou seu devoto, seu vassalo. Você me tem.

Acho linda essa declaração dele. Ele é muito impetuoso, entregue.


Diferentemente de mim, que sempre ergo uma couraça, ele parece ser
totalmente aberto e disponível. Ele é apaixonante.

Depois desse “aperitivo”, nós nos entregamos à “Festa de Babete”

durante toda a noite. Foi uma deliciosa esbórnia!

Esse homem é uma perdição.


RITA

— Vem, Samuel, corre. Vou chegar atrasada. Ainda tenho que


deixar você no seu estúdio.

— Mas não são nem 5 horas da madrugada...

— Para o meu objetivo, está tarde. Vamos...

— Você poderia ligar sua sirene... chegaríamos mais rápido.

— Já disse pra você que isso não é brincadeira. Você parece uma
criança querendo brincar de carrinho de polícia.

Ele me agarra pela cintura, esfrega-se em mim:


— Sou uma criança querendo brincar de polícia e ladrão. Vem me
pegar, dona delegada.

Quando ele fala assim, eu quase me derreto. Samuel possui uma


sedução leve e, realmente, quase infantil.

Quando eu o conheci, pensei em fugir de sua aproximação. Nunca


gostei de homens bonitos demais. Costumam ser arrogantes, cheios de si e

egoístas. Mas Samuel era diferente. Ele parecia não se aperceber do quão
lindo e sexy ele era com aquele porte físico alto e musculoso, cabelos negros
e sedosos, um sorriso imaculado.

Deu mesmo vontade de “pegar”... Mas tenho senso de dever. A


responsabilidade em primeiro lugar.

— Vamos. Tenho uma operação importante hoje. Talvez tenha boas


notícias para você no fim do dia.

— O quê? Diga-me que vai me dar aquele “anel” que estou

querendo...

— Deixa de ser cachorro, Samuel. Estou falando sobre o furto dos


seus equipamentos. Mas não posso te adiantar nada. Apenas torça para que eu
esteja certa.

— Assim não vale, Rita. Vou ficar ansioso o dia todo. O que você
está aprontando?
— Já disse que é segredo. Já falei demais. Vá fazer seu trabalho que
eu vou fazer o meu. Vamos nos encontrar no fim do dia.

Empurro ele para dentro do carro, sento-me no lado do motorista e


parto em direção ao seu estúdio.

Ontem foi meu dia de não beber. Antes de sairmos, tiramos no par
ou ímpar quem iria poder beber... o outro dirigiria. Então busquei o Samuel

em sua casa para sairmos.

Em frente ao seu estúdio, ele desce do carro sob resmungos sem fim.
Queria ir comigo... o que eu estava aprontando... eu preciso tomar cuidado...
blá, blá, blá.

— Samuel, chega! Cada um faz seu trabalho. Você vai fotografar


suas lindas paisagens e eu vou pegar bandidos. Ponto.

Dou-lhe um beijo na boca com uma mordidinha, pois não resisto ao


gosto dos seus lábios, e deixo-o largado na calçada com cara de coitado.

Ele é uma gracinha...

Corto esses pensamentos “cute-cute” e assumo meu lado


profissional, frio e organizado. Saio à caça. Hoje pretendo pegar uma
quadrilha de atravessadores de equipamentos importados. Com sorte, os
equipamentos do Samuel estarão lá.

Na delegacia, reúno o meu pessoal e, munida dos devidos mandados


judiciais, sigo para o endereço indicado pela inteligência da polícia.

Escondidos, aguardamos o relógio indicar 6 horas. Policiais

especializados colocam um pequeno dispositivo explosivo na porta. Ele


incandesce, estoura e abre a porta em um rompante.

Policiais armados, usando coletes, invadem o depósito e entram


prontos para atirar. Por sorte, apenas dois homens estavam no interior e se

renderam sem maiores problemas.

Mesmo estando na polícia há anos, ainda sinto a adrenalina de cada


ação como se fosse a primeira. O coração acelera a um estado crítico, sinto-o
pulsar na boca. As mãos suam, o corpo reage às emoções conflitantes que vão
desde o medo até a euforia. Eu gosto do meu trabalho, sinto-me importante
ao tirar da sociedade pessoas que destroem as famílias e os sonhos dos
outros.

Lá dentro, há de tudo: muamba, contrabando, desvio, roubos,

drogas... É uma super apreensão.

Na delegacia, meu pessoal faz o levantamento dos bens apreendidos


enquanto eu interrogo os membros da quadrilha que foram detidos no local.

A confusão é grande.

Mas, no meio da movimentação, dou uma olhada nos objetos que


foram recuperados e fico ainda mais satisfeita ao ver um drone e uma câmera
fotográfica sofisticada. Acho que o Samuel deu sorte.

Já eram 19 horas quando conseguimos reestabelecer a ordem na

delegacia.

Mas, ainda precisávamos de mais respostas dos membros da


quadrilha. Precisávamos identificar os demais.

Volto a questioná-los separadamente e um deles entrega um novo


endereço.

Reúno uma força policial para tentarmos pegá-los em flagrante, sem


necessidade de mandato.

Saindo da delegacia, vejo o carro do Samuel estacionado ali perto.


Ele está de pé em frente ao carro e parece angustiado ao ver a correria e o
grande número de polícias entrando nos carros. Eu já estou acostumada, mas
compreendo o medo dele e sinalizo para que ele se tranquilize.
Racionalmente, sei que ele não deveria estar ali. Mesmo assim, sinto-me

reconfortada com seus cuidados.

De forma profissional, entro em um dos carros e sigo com os


policiais. Preciso estar no comando. Preciso me manter fria.

Chegamos a um bairro sombrio do Rio, entramos por umas


“quebradas” mal iluminadas e sinistras até chegarmos no endereço.

Minha adrenalina sobe, meu coração está acelerado e um arrepio


percorre o meu corpo pressentindo o perigo.

A equipe invade o ambiente e tira de lá outros três bandidos que são

vistoriados e algemados.

Um deles tem o ar arrogante e ostenta roupas de grife e joias,


indicando estar em um nível hierárquico superior. Decido tomar sua custódia
para mim.

Esse cara é a chave do negócio, percebo isso. Não é só a minha


experiência falando ali, é o meu faro. Minha mãe dizia que eu tinha o dom de
ver o coração das pessoas e isso seria útil para me manter afastada dos
cafajestes no futuro. Eu acho que esse faro me ajuda a descobrir no olhar o
caráter das pessoas. Do nada, lembro-me do olhar de Samuel. Ele não é
encrenca, sinto isso. Ele é bom até demais.

Coloco os pensamentos românticos para escanteio e pego o safado


pelo braço, algemado à frente do corpo, e o levo até a minha viatura. No

trajeto, sinto um formigamento na nuca, uma sensação ruim.

Ao chegarmos em frente à delegacia, retiro o prisioneiro do veículo,


conforme os protocolos, mas o impossível acontece.

O filho da mãe tira uma pequena lâmina enfiada na gola da camisa


social e tenta me atacar.

É tudo muito rápido, sinto minhas veias dilatadas, o sangue percorre


o meu corpo em alta velocidade e meus movimentos acompanham todo o
ritmo. Encaro-o raivosa e ele me olha com ódio, tentando me intimidar, mas

não me dou por vencida.

Minha mente age rapidamente e meus treinamentos me ajudam.


Tomo a lâmina dele e a uso no contra-ataque. Entramos em um emaranhado
de braços, disputando o poder. Puxo o ar para controlar o coração acelerado,

ele força, eu resisto.

Mas algo ainda mais absurdo acontece. Alguém entra naquele corpo-
a-corpo e a lâmina que eu estava apontando para o agressor, rasga o braço do
desgraçado.

Retomo o meu controle sobre o bandido com a ajuda de outro


policial e volto-me para xingar o idiota que se intrometeu.

Que surpresa!

O idiota é o Samuel.

Ele se meteu entre mim e o bandido e levou uma facada...

Eu dei uma facada no Samuel!!!


RITA

Sentados no sofá da minha sala de trabalho, dentro da delegacia, eu

passo um antisséptico no braço do Samuel e coloco um curativo da caixinha


de primeiros socorros enquanto ele geme exageradamente.

— Aiiii.... Uiiiii... Tá doendo...

Para sorte dele, foi apenas um arranhão.

— Veja a besteira que você fez, Samuel. Você poderia ter se


machucado feio... poderia ter morrido.
— O que você queria? Que eu ficasse olhando aquele bandido
machucar você?

— Eu queria que você ficasse em casa, preparando um jantar para


nós e não atrapalhasse o serviço da polícia

— Mulher ingrata. Eu fui te salvar.

Eu dou uma cutucada bem onde está o machucado.

— Veja aqui o salvamento que você fez.

— Aiiii... mulher má.

— Samuel, eu não vou permitir que você interfira nos meus assuntos
profissionais. Por acaso eu vou lá dar palpite nas suas fotos?

Respiro fundo buscando paciência. Sei que ele agiu com boa
intenção, mas foi imprudente e fez uma grande merda.

— Ouça bem, Samuel: nunca mais, mas nunca mais mesmo, interfira

nas ações policiais. Deixe isso para os profissionais treinados.

Ele me encara com olhos magoados, tristes. Mas eu mantenho a


frieza das minhas palavras.

— Também não quero ver você por aqui, na delegacia, me


rondando. Isso tira a minha autoridade aqui dentro. Fica parecendo que
preciso de uma babá. Sabe o quanto é difícil para uma mulher conquistar o
respeito dos demais colegas em um ambiente tão masculino?

Ele continua com um ar desalentado, desgostoso, ofendido.

— Não apareça mais por aqui ou acabo com essa brincadeira não
importando o quanto seja bom transar com você.

Foi a gota d`água. Samuel se levanta e, com um tom magoado, mas

altivo, retruca:

— Então é isso que eu sou para você? Apenas uma boa transa?

— Não vou discutir esse assunto aqui no meu trabalho, Samuel. Vá


para a sua casa descansar que eu ainda vou encerrar umas coisas por aqui
antes de ir embora. Amanhã nos falaremos.

— Se é assim que você encara a nossa relação, não precisamos mais


conversar nada. Encerramos aqui — diz ele levantando e pegando sua jaqueta
da poltrona para ir embora.

— Samuel, você está nervoso. Vá para casa e amanhã, com mais


calma, conversaremos.

— Amanhã vou viajar para uma sessão de fotografias aéreas das


queimadas no pantanal. Ficarei por lá uma semana. E não quero ficar
sofrendo por alguém que não me corresponde.

Ele anda a passos marcados e pesados na direção da porta e, de


forma melodramática, anuncia.
— Adeus, Rita. Foi bom enquanto durou.

Fico lá, parada, tentando analisar a situação e meus próprios

sentimentos.

Admito que fui rude com ele, estou uma pilha de nervos. O dia foi
extremamente desgastante. Mas pretendia esclarecer melhor as coisas no dia
seguinte. Eu não contava com essa reação precipitada.

Fico ali parada, analisando meus próprios sentimentos. Sinto-me


triste, vazia. Samuel, na verdade, é mais que uma transa para mim. Ele enche
meu coração de ternura e sua presença é um delicioso bálsamo para essa vida
atribulada que levo.

Suspiro.

Esperarei ele voltar da sua viagem e tentarei esclarecer a situação.


Haverá solução. Só não existe solução para a morte.

Quando Samuel voltar, poderei também lhe dar a boa notícia de que
recuperamos quase todos os equipamentos dele. Ele ficará feliz.

Com esse pensamento otimista, volto às minhas atividades para


concluir aquele dia exaustivo e ir para casa ter uma excelente noite de sono.
SAMUEL

Minha semana no pantanal tem sido ótima e péssima.

Sob o aspecto profissional, está sendo muito enriquecedor. Registrei

imagens maravilhosas da vegetação e da fauna ainda preservadas e ao mesmo


tempo das queimadas que assolam a região.

Estou muito impactado com todas as imagens que vi e colhi com


minha câmera. Sinto-me ao mesmo tempo orgulhoso em relação ao tesouro
que temos neste país e ao mesmo tempo envergonhado com o que estamos
fazendo com ele.
A equipe de trabalho é ótima. Muito eficiente, dinâmica e
extremamente divertida. As imagens que estive captando serão utilizadas para

um documentário. Na equipe, há um roteirista, uma diretora e um produtor,


além do piloto do helicóptero.

A diretora é muito gata e me deu um “mole” danado. Mas a bandida


da Rita ainda ocupa minha mente e rouba meu tesão. Desgramada.

Até tentei pegar a diretora...

Na terceira noite aqui em Cuiabá, fomos todos a um bar. A diretora


sentou-se ao meu lado e não perdeu uma única chance de se esfregar em
mim, de me tocar ou cochichar no meu ouvido.

Tomei umas doses de uísque e pensei: que se dane a Rita, vou comer
essa gostosa e arrancar de vez a maldita do meu corpo e do meu coração.

Mas o cheiro do perfume da mulher parecia enjoativo, o timbre da


sua voz me irritava, seu toque não fazia meu pau subir.

Desisti antes que passasse o vexame de broxar.

Fingi que estava mais bêbado do que realmente estava e despistei


suas investidas. Maldita, Rita.

No cômputo da semana, diria que profissionalmente foi nota dez e


para o meu coração foi nota zero.

Pensando sobre isso, arrumo minha mala para embarcarmos de volta


para o Rio logo mais à noite.

Não tenho como negar. Continuo apaixonado pela Rita. �� Sua

ausência faz mais estrago do que a desilusão. [1]

Estou decidido a tentar retomar de onde paramos. Sei que ela gosta
de mim. Ela precisa apenas de mais tempo para estabelecer outros
sentimentos além do desejo sexual.

Meu coração bate por ela. Meu peito dói de saudade. Minhas
memórias percorrem nossos momentos dentro e fora da cama. Meu corpo
queima de desejo pela desgramada. �� Minha cama dobrou de tamanho
sem ela no meu colchão.[2]

— �� Oh, Rita, eu desculpo tudo...

— �� Rita, eu perdoo a facada...


SAMUEL

Acabo de chegar no aeroporto do Rio. É quase uma hora da manhã.


Despeço-me da equipe no próprio aeroporto. A diretora insiste para que eu

ligue para ela para marcarmos um encontro. Alego que estarei muito ocupado
nos próximos dias e saio fora.

Minha ansiedade para rever a Rita supera meu bom senso e, ao invés
de ir para minha casa, dou o endereço da Rita para o Uber.

Estou louco para apertá-la em meus braços, sugar seus lábios, enfiar-
me em sua entrada quentinha, cheirar aquele cangote...
— �� Que saudade daquele cheiro.

Chego à porta do seu apartamento perto de 1:30 da madrugada.

Certamente ela está dormindo. Já ia colocando o dedo na campainha quando


me lembrei da chave extra que ela deixa escondida na caixa do extintor de
incêndio.

Tenho a genial ideia de fazer-lhe uma surpresa. Eu iria me enfiar em

seus lençóis e fazer um sexo fenomenal com aquela bruxa. Ela vai ficar de
quatro por mim... depois de ficar de quatro para o meu pau.

Abro a porta e, pé ante pé, sigo para o seu quarto. Abro a porta com
cuidado e, na penumbra, percebo seu corpo deitado sob os lençóis.

Puxo a beirada do lençol, enfio-me por baixo e a abraço.

Sussurro:

— �� Rita, volta pra mim. Eu perdoo a facada.

De repente, levo um empurrão e sou jogado do outro lado do quarto.


Uma voz masculina berra:

— Que merda é essa?

Fico atordoado e vou na direção do interruptor. Ao acender a luz,


levo a verdadeira facada no coração: há um enorme cara barbudo, seminu, na
minha frente.
Antes que eu tivesse outra reação, Rita entra no quarto, vestida
apenas com uma camisola curta.

— O que está acontecendo? — ela pergunta olhando de um para o


outro.

— Esse cara tarado tentou me agarrar — berra o barbudo gigante.

— Eu não sou tarado e não tentei agarrar você... eu queria agarrar,


quero dizer, abraçar a Rita... Mas estou vendo que ela já está muito bem
agarrada...

Volto-me para a Rita indignado.

— Não é, Rita?

Dito isso, viro-me na direção da saída do apartamento. Pego minha


mala que havia deixado na sala e saio morto de ódio, soltando fogo pelas
ventas.

Essa desgramada me esfaqueou novamente. Desta vez, meu coração


está dilacerado.

Ainda ouço seus berros atrás de mim:

— Samuel, espere! Não é o que você está pensando. Deixe de ser


infantil e vamos conversar...

Mas eu a ignoro e parto para o meu próprio inferno onde vou sofrer
as dores de um corno apaixonado.
SAMUEL

Tentei retomar minha vida como antes. Mas o punhal enfiado no


meu peito parecia que o perfurava mais a cada dia. Parecia aquele espinho

que não conseguimos extrair e fica cutucando e espetando a carne...


entranhando-se cada vez mais fundo.

Até as minhas fotos pareciam mais esmaecidas, como o meu humor.


Nas imagens que eu captava com a câmera, faltavam alma, vida, alegria. A
ausência da Rita influenciava meu ânimo e eu me sentia apático.

Rita tentou me ligar. Mas eu não atendi. Também mandou


mensagens, que eu não li. Meu orgulho estava ferido.

Sei que eu havia brigado e terminado com ela. Mas no fundo do meu

peito eu achava que ela gostava de mim mais do que queria admitir e que eu
seria bem recebido de volta.

Doce ilusão. Ela já estava na cama com outro.

Agora meu orgulho de macho estava falando mais alto, sentia-me


como se tivesse sido traído.

Mas para a minha total vergonha, mesmo me sentindo um corno, eu


ainda tinha ímpetos de correr atrás dela e perdoá-la por não me esperar.

Enquanto sofria minhas agruras, recebi uma notificação da delegacia


para que fosse buscar meus pertences que foram recuperados naquela batida.

Eu compareço à delegacia em um momento que sei que ela não


estará. Espero perto dali a hora em que ela sai para o almoço.

Ela sai conversando com uma outra policial e, de longe, ainda


admiro suas curvas, seu belo rosto e o andar determinado e ao mesmo tempo
sensual. Praga. Essa mulher está me consumindo.

Lá dentro, os policiais, que já sabiam do nosso envolvimento,


olham-me com um misto de pena e de deboche. Alguns devem estar
simpatizando com minha dor, enquanto outros estão fazendo escárnio.

Faço-me de sonso, pego meus objetos, assino os documentos


necessários, agradeço a atenção de todos e saio. Eu deveria estar dando pulos
de alegria por reaver meus equipamentos. Mas não me sinto assim.

Quando estou na calçada em frente à delegacia, quase esbarro em


alguém: Rita. Ela já havia voltado do seu almoço.

— Samuel...

Ela falou meio desconcertada. Pega de surpresa com a minha


presença.

Fico mudo. Não sei o que dizer. Nossos olhares se cruzam, uma leve
brisa traz seu cheiro até minhas narinas. Meu corpo todo se eriça.

— Você não atendeu meus telefonemas, nem respondeu minhas


mensagens... — ela se queixa.

Tento raciocinar e dar-lhe uma resposta coerente. Mas nada me


ocorre exceto: �� “Oh, Rita, volta, desgramada”. Respiro fundo, coloco as

ideias no lugar.

— Estive ocupado e... sinceramente, acho que não temos mais nada
para falar — respondo com uma falsa frieza.

Confusão passa por seus olhos. Imagino que deva estar em dúvida se
apenas me ignora ou me dá um soco.

— Está bem, Samuel. Se é assim que você deseja, que seja. Só lhe
digo uma coisa: você está enganado sobre o que pensa que viu. E está sendo
injusto ao não me deixar esclarecer.

Ela me olhou diretamente nos olhos para que eu visse a veracidade

de suas palavras e continuou:

— Você esteve enganado sobre meus sentimentos por você e


também sobre o que viu em meu apartamento.

Fico paralisado... as engrenagens do meu cérebro remoendo o


significado daquilo.

— Mas, como eu disse antes. Se é assim que você deseja, deixemos


tudo no passado.

Ela se vira em direção à delegacia e apenas anuncia:

— Adeus.

Fico ali parado, abestalhado. O que ela quis dizer? Ela admitiu ter
mais sentimentos por mim do que apenas sexo? Como assim “estou enganado

sobre o que eu vi”?

Muitos questionamentos vieram à minha mente.

Se ela gosta de mim, por que estava com outro? Será que ela queria
apenas se vingar pela nossa briga?

Meu coração traidor começou a procurar desculpas para justificar os


atos daquela bandida. Um homem apaixonado fica mesmo imbecil.
Nem sei como saí dali, pois meus pensamentos vagavam apenas nas
cenas que protagonizei com aquela mulher: lençóis revirados, nossa nudez,

nossos banhos juntos, ela montando em mim, eu montando nela, nossos


beijos, nossas carícias.

Durante à tarde, meu trabalho não rendeu nada. Estive ausente e


indiferente à vida ao redor.

No fim do dia, eu estava um bagaço emocional. Precisava de uns


drinks.

E assim, com sentimentos conflituosos, a mente em desalinho, e o


coração dolorido, abanquei-me no balcão de um bar.

— Uísque, por favor. Dose dupla.


Prólogo

SAMUEL

— Volta, Rita! Sua bandida!

Hic!

— Você não presta, mas eu te amo mesmo assim...

Hic!

Minha cabeça está rodando... Meu corpo não consegue se mover e


eu não tenho forças para me levantar desta soleira.
Largado na porta daquela que me traiu, minha humilhação é
completa e começo a cantarolar desafinado:

— �� Oh Rita, volta! Eu te perdoo a facada.

Coloco a mão no braço, onde o ferimento ainda dói.

Minha voz sai sem que eu tenha controle. Sou eu mesmo que estou

pronunciando isso? Como eu poderia perdoar aquela traição que perfurou


meu coração?

Jesus, eu estou tão doido que estou rimando em pensamentos!

Mas, em meu íntimo alcoolizado, eu estou mesmo disposto a perdoá-


la.

Ela me ama, eu sei disso. A traição foi um ato de revolta e vingança


por causa de nossa discussão.

Tenho certeza de que foi um ato impensado e sem significância.

Sim, estou tentando enganar a mim mesmo.

Ela vai se arrepender e vai me pedir perdão.

E eu vou perdoá-la porque ela me ama...

E a facada... bem... era outra questão.

Hic

Está tudo girando...


Flashbacks rondam minha mente.

Eu e ela no parque, passeando de mãos dadas entre as árvores

floridas.

Nós dois no cinema, assistindo um filme e dando uns amassos: sua


mão no zíper da minha calça, provocando minha ereção...

Nosso desespero, jogados no tapete da sala, devorando-nos como


animais...

Beijos cálidos ao final da tarde, assistindo ao pôr do sol na praia...

Não.

Eu não poderia viver sem ela.

Eu teria que perdoar sua traição.

De repente, a porta se abre. Minha cabeça recostada nela cai direto


no chão do assoalho e ouço sinos ribombando.

Meus olhos se abrem lentamente e, de cabeça para baixo, vejo


aquelas pernas lindas mal vestidas em uma saia curta. Por baixo dela, consigo
ver a calcinha que mal encobre o meu paraíso.

— �� Ôh, Rita, volta, desgramada!

Sinto um cutucão. Ela cutuca meu ombro com o pé.

— Levanta daí, Samuel. Vai embora, seu cretino.


Eu? Cretino?

Foi ela quem me esfaqueou, feriu meu coração e me deixou

sangrando... Como posso ser eu o cretino?

Mulher desalmada.

— �� Rita, eu te perdoo!

— Perdoa o quê, abestado? Você que é um idiota. Vá pra casa e me


esqueça. Você é um imbecil que pensa que sabe o que viu. Jogou o que
tínhamos pelo ralo. Vou chamar um Uber pra recolher esse lixo da minha
porta.

— �� Ôh, Rita, não me deixa. Volta, Rita, que eu retiro a queixa.

— Saia daí agora ou levo você algemado para a delegacia.

— Algemado? Hummm... gostei da proposta.

Estiro meus braços para a frente para que ela possa me algemar. Já

havíamos brincado antes com seu equipamento de trabalho. E eu só tinha


boas lembranças.

— Af! Não dá para levar você a sério, Samuel. Eu perderia minha


autoridade duramente conquistada se levasse você para a minha delegacia
assim.

Ela dá um suspiro, abre mais a porta e faz um gesto para que eu


entre.

— Venha, vou te dar um café antes de despachá-lo de vez. Sou uma

boa alma.

O céu se descortina para mim. Uma luz divina atravessa a escuridão


e traz um brilho de esperança para a minha retina.

Estou salvo!!!!
RITA

Coloco o Samuel para dentro do meu apartamento antes que os


vizinhos venham reclamar do barulho.

Não sei se sinto raiva, pena ou apenas rio desse homem. Está
completamente bêbado, fazendo declarações amorosas e perdoando o que ele
pensa que eu fiz.

Como devo avaliar isso?

Enquanto ele esteve viajando, refleti sobre meus sentimentos e


percebi que gostava dele mais do que queria admitir e fiz minha
autoconfissão. Quando ele retornasse da viagem, eu tentaria corrigir meu
erro. Eu me entregaria a esses novos sentimentos e a esse homem.

Mas tudo degringolou quando ele encontrou o Vitor na minha cama.


A situação era mesmo muito suspeita. Mas se ele pelo menos tivesse me
ouvido...

Tentei entrar em contato e esclarecer as coisas. Mas sua teimosia

vigorou e encontrei um muro inexpugnável. Não havia mais o que ser feito.
Que ele fosse para o inferno procurar o que fazer que eu iria tocar minha
vida.

Mas nosso encontro de hoje me abalou novamente. Aquele rosto


másculo um pouco mais encovado, seus olhos um pouco mais fundos e
perdidos, sofridos, confrangeram-me.

Agora estou aqui, tentando curar o porre desse homem que invadiu
minha vida e a bagunçou por completo.

— Vamos, Samuel, sente-se aqui na cozinha. Vou te dar um café.

Ele me agarra pela cintura e balbucia:

— Não me deixe, Rita. Fique aqui comigo. Não quero café. Quero
você.

— Samuel, criatura, você está um lixo.

Desvencilho-me dele, pego um copo com água de mando que ele


beba.

— Tome, beba tudo.

Ele tenta recusar, mas eu enfio o copo entre seus lábios e o obrigo.

Vou na cafeteira e começo a fazer um café... Mas quando eu me


viro, vejo-o com a cara amassada na bancada da cozinha, quase desmaiado.

Decido levá-lo para a cama. Com muita dificuldade, consigo que ele
se levante e, apoiando-o em mim, levo-o para o meu quarto. Deito-o na cama
e ele apaga de vez.

Olho aquele lindo espécime masculino jogado na minha cama e


pensamentos pecaminosos vêm à minha mente. Mas o momento não é para
isso.

Decido tirar-lhe as roupas para deixá-lo mais confortável. Arranco a


camisa por cima, desabotoou a calça e desço por suas pernas. Deixo-o de

cueca e dou uma manjada no volume daquela pistola. Mesmo em repouso,


seu equipamento é magnífico.

Haaa, Samuel... Por que foi estragar o meu prazer?

Estamos no meio da noite e eu também preciso dormir. A cama do


quarto de hóspedes não está arrumada. Retirei os lençóis depois que dormi lá
quando emprestei minha cama para o Vítor.

A melhor solução será dormir aqui com o Samuel. Afinal, não somos
estranhos.

Pensando assim, joguei-me ao seu lado e tentei retomar meu sono de

onde ele o interrompeu.


SAMUEL

Acordo com uma réstia de luz entrando pela janela. Minha mente
ainda está nublada.

Minha boca tem aquele gosto característico de cabo de guarda-


chuva. Aos poucos, vou retomando a consciência. Primeiro sinto um calor e
um aroma reconfortantes.

Meus braços e pernas estão enlaçando um corpo quente, cheiroso e


aconchegante. Tomo consciência também do meu corpo. Meu pau está duro
e, involuntariamente, pressiono-o contra a bunda que me é oferecida e
cutuco-a.

Hummm... delícia de bunda. Meu pau a reconhece antes mesmo de

mim. Aparentemente, meus sentimentos nascem de baixo e sobem para o


coração porque é na ponta do meu cacete que minha sensibilidade aflora.

Dou-me conta que estou agarrado à Rita: o objeto do meu desejo, a


musa dos meus sonhos românticos e profanos... a safada que me esfaqueou e

me traiu.

E agora? Quero estar aqui. Quero permanecer aqui. Sei que ela
também tem sentimentos por mim. Apenas não quer admitir.

Mas... e a traição? Bem... a rigor, não foi uma traição. Eu havia


terminado nossa relação...

Quer saber? Dane-se o orgulho ferido. Dane-se o ego masculino. Eu


quero essa mulher. Podemos nos acertar.

Levanto-me bem devagar para não a acordar. Vou ao banheiro,


alivio a bexiga, lavo o rosto e dou uma geral no bafo de onça.

Se vou me humilhar, espero estar pelo menos digno.

Volto e a encontro na mesma posição. Deito-me novamente de


conchinha e começo a dar-lhe beijos e lambidas atrás da orelha.

Ela resmunga, move-se um pouco, mas continua imersa em sono.


Retomo as investidas: beijos, lambidas, apertões e cutucões em sua
bunda com minha arma de grosso calibre.

Ela começa a entender o que está acontecendo. Espero em


expectativa para ver sua reação. Após um segundo, ela relaxa e se aninha de
volta contra o meu corpo.

Minhas mãos deslizam por seu corpo, desenhando sua silhueta.

Apalpo seu seio, beliscando o biquinho. Desço a mão para o seu púbis, faço
alguns afagos em sua bocetinha antes de enfiar um dedo na sua entrada e
fazer movimentos de vai-e-vem.

— Rita, deixa eu enfiar meu longo punhal em você. Eu te devolverei


a facada e estaremos quites — falo enfiando meu pau no meio de suas pernas.

— Samuel, precisamos conversar... hummm... — ela resmunga entre


gemidos, sem muita convicção.

— Depois. Estou com muita saudade e com muito tesão. Nem sei se

isto é sonho ou realidade. Então quero aproveitar.

Beijando seu pescoço, levanto de leve sua perna e coloco-me entre


elas. Enfio a cabeça e a lambuzo com seus líquidos antes de investir com
mais força. Entro todo.

— Hummm, delícia, Samuel. Coloca mais. Quero tudo.

Não nego nada a essa mulher. Enfio com mais força e convicção.
Meu cacete está latejando. Sinto o sangue correr em minhas veias e o meu
pau crescer... e crescer... preenchendo-a ao máximo.

Ela rebola contra mim, oferecendo-se mais. Acaricio seus seios,


mordo seu ombro, aperto seus quadris...

Ela geme, geme...

— Haaaa... estou gozando, Samuel. Vem comigo, amor.

Amor??? Ela disse amor??? Por um segundo, perdi a concentração,


mas então aquela palavra se tornou um afrodisíaco e eu a estoquei bem fundo
antes de me derramar todo ao mesmo tempo em que suas paredes apertavam
meu punhal.

— Toma, Rita, eu te devolvo a facada.


SAMUEL

Sentados na mesa da cozinha, depois de muito sexo de toda


qualidade — lentinho, feroz, descabelado, cansado, no banho —, estamos

recuperando as energias com um bom café da manhã. Muita proteína e


carboidrato para repor o gasto calórico.

Mas os assuntos pendentes continuam dançando à nossa volta.

Eu, sinceramente, prefiro enterrar o assunto de vez. Deixar para o


passado e seguir em frente. Mas, conhecendo a personalidade da Rita, eu já
sei que isso não será possível.
— Samuel, precisamos esclarecer umas coisas.

Aí vem a merda da DR que eu temia. Não quero escutar sobre o que

rolou entre a Rita e o gigante barbudo. Estávamos separados. Eu briguei com


ela. Eu a perdoo. Ponto final.

— Rita, tem certeza de que quer conversar? Estou pressentindo que


levarei outra facada e nem terminei meu café.

Ela ri, aperta minhas bochechas e me dá um selinho antes de


recomeçar:

— Calma, bobinho. Acho que você vai gostar do que eu tenho a


dizer.

Seu sorriso e gestos carinhosos me animaram. Meus receios se


arrefeceram. Agora quero ouvir o que ela tem a dizer. Estou todo
animadinho, como criança no Natal.

— Primeiramente, devo desculpas pela forma rude que falei com


você na delegacia, após a operação policial. Eu estava estressada e você se
colocou em risco.

Ela toma mais um gole do café e continua:

— Sinto-me lisonjeada pelo seu gesto, digamos, heroico. Mas


também foi tolo e irresponsável. Temi por sua vida. Não quero que nada lhe
aconteça.
— Rita, eu não poderia vê-la naquela situação e ficar apenas
observando...

— Por isso peço que, para sua segurança, não interfira nos assuntos
da polícia. Por favor, Samuel...

Ela me faz um pedido sincero e compreendo suas razões.

— Ok, vou tentar, Rita. Mas, sendo sincero, não sei se conseguirei.

Recebo um olhar reprovador e uma declaração peremptória.

— Daqui em diante, vou me certificar de que você não se envolva,


seu teimoso.

— Pra isso, vai ter que me algemar na cama... — falo com um olhar
safado.

— Isso será fácil.

Ela se aproxima mais de mim, segura minha mão e a leva ao próprio

colo de forma carinhosa antes de prosseguir.

— Segundo ponto. Você não é somente uma transa para mim. Tenho
mais sentimentos por você do que gostaria de admitir. Mas, naquele dia,
naquele instante, não havia clima para falarmos sobre isso.

Ela torce o nariz em uma careta e conclui.

— Só não conhecia ainda esse seu lado intempestivo e


“emburradinho’. Prometo ser mais “jeitosa” com as palavras se me prometer

que será menos esquentadinho. Ok?

— Acho que posso fazer isso. Deixarei para esquentar apenas a


nossa cama, mulher gostosa...

Aproveito que minha mão está em seu colo, próximo do seio, e a


enfio dentro do roupão que ela está usando, acariciando delicadamente seu

bico.

Após um momento terno, meu amigo desperta novamente e volto a


me esfregar nela.

— Pare, Samuel. Estou prejudicada. Essa manhã foi muito intensa.

— Só um pouquinho, Rita. Prometo ser delicado. Coloco entre as


pernas... e vou tomar muito cuidado com sua florzinha.

Agacho-me à sua frente, abro seu roupão e dou pequenas

lambidinhas delicadas em seu clitóris.

Ela geme um pouco antes de retirar minha boca dali e me puxar para
eu me reerguer.

— Seu devasso. Está me tornando viciada em sexo.

— Em sexo, não. Em mim.

Corrijo cheio de confiança.


Mas a Rita, persistente, prossegue com sua DR.

— Não me enrole. Deixe eu terminar o que preciso dizer... Terceiro

e último ponto: Vítor, o homem que você viu na minha cama...

Ao ouvir isso, gelei. Tive vontade de tapar os ouvidos e sair


correndo. Não queria ouvir sobre aquilo. Mas ela continuou antes que eu
conseguisse um subterfúgio para fugir daquele papo.

— Ele é meu primo e eu o hospedei por dois dias quando ele veio a
trabalho. Eu apenas emprestei minha cama porque, como você mesmo
constatou, ele é enorme e meu sofá-cama do escritório é muito pequeno para
ele. Eu e ele não temos e nunca tivemos nada.

Minha mente demorou alguns segundos para depreender toda a


situação. Imagens daquela noite vieram à minha memória. Ele estava na cama
dela, mas ela havia surgido pela porta, vinda do outro quarto.

Jesus!!!

A Rita não havia me traído!

Oh, Rita, sua desgramada. Por que me deixou nessa angústia?

Haaa, lembrei. Porque eu não lhe dei chance de se explicar.

Burro. Burro. Burro. Sou muito burro.

Aliviado, agarro minha namorada e dou-lhe vários beijos no rosto,


na boca, na testa, no ombro.

— Obrigado, Rita. Não sabe o alívio que sinto. Não sabe o suplício

que passei achando que você havia me trocado.

— Sofreu à toa, de besta que é. Se eu também não tivesse sofrido


junto, teria achado bem feito.

— Você sofreu, Rita?

— Nem vem, Samuel. Não abusa. Chega de vasculhar esse assunto.

Fico um pouco desapontado, pois gostaria de ouvir mais uma


declaração de amor daquela mulher perversa.

— Uma coisa me deixou surpresa. Você se dispôs mesmo a superar


a minha suposta traição...

— Devo me envergonhar por isso?

— Não. Na verdade, é um gesto grandioso. Costumamos julgar as

pessoas sem entender seus sentimentos. Acho que o amor verdadeiro também
é perdão e superação.

— Sim, Rita. Eu estou entregue a você. Sempre estarei disposto a


superar os empecilhos. Mas, não abuse...

— Não vou abusar e conto com você para retribuir. Vamos ficar
juntos e aproveitar ao máximo nossos deliciosos momentos juntos sem mais
desgaste. Certo?

— �� Oh, Rita. Não me deixe...

— Estou aqui, querido. Inteira pra você.

Nossas bocas se buscam e um beijo terno e caloroso sela nosso


pacto.

FIM
AGRADECIMENTOS

Devo às maravilhosas autoras independentes do Wattpad e Amazon


o despertar do meu interesse em escrever e publicar e a elas apresento meus
calorosos agradecimentos.

Gratidão devoto especialmente às autoras Christine King, Fabi Dias e


Anne Krauze que sempre fazem uma segunda leitura dos meus contos e os
incrementam com interpretações, trechos e até algumas abobrinhas para que
fiquem ainda mais divertidos.

Meus agradecimentos não ficariam completos sem apresentar um


enorme obrigado ao agente principal de todo esse processo: o senhor leitor!

Àquele que acompanha e apoia a literatura nacional, àquele que tem


paixão suficiente para priorizar a literatura em seus momentos de lazer,

àquele que tem fome de ler, àquele que se diverte e se entretém com nossos
livros: um grande, um enorme, um verdadeiro, muito obrigada!
SOBRE A AUTORA

Sou, antes de tudo, uma leitora.

Mas fui corrompida e contaminada pelo universo literário do


Wattpad e da Amazon e acabei cooptada a escrever de forma independente!

Gosto de escrever contos bem-humorados e românticos com


personagens que retratam pessoas do nosso dia-a-dia!

Minha maior alegria é oferecer alegria aos leitores!

Espero que se divirtam com meus rabiscos!!!

Conheçam minhas histórias disponíveis na Amazon e no Wattpad:


OUTROS LIVROS DA AUTORA

Na Amazon
“Chupa-me

“Todo machista será castigado”

“Entre tapas e beijos”

“A vida nua e crua”

“Amor nu”

“Comer, comer e amar”

“Os sete pecados de Hedonê”, na antologia de contos “Mulheres e


seus prazeres”

No Wattpad

“Você decide”

“Help”
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[1]
Referência à música “Rita”, de Tierry.
[2] Referência à música “Rita”, de Tierry

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